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Consequências

Alice Reis
Este livro é uma ficção, qualquer semelhança com
a realidade é mera coincidência.

Criado e escrito pelo heterônimo Alice Reis.


Capa e diagramação: K.A.Digital

Copyright © 2020 — Alice Reis


Direitos adquiridos para esta edição pela autora.

A reprodução de parte ou do todo do presente texto, em qualquer meio


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Índice
Avisos Importantes
Anelise
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Ágatha
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Anelise
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Ágatha
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Anelise
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Ágatha
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Anelise
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Posfácio por Ágatha
Você é perfeita!
Capítulos extras
Bom dia, minha menina!
Cinema
Domme
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Avisos Importantes
Este livro é destinado a maiores de 18 anos
· Contém cenas de sexo explícito;
· Contém cenas de violência;
· Faz referências a abusos psicológicos e físicos;
· Gatilho para ansiedade, depressão e relacionamento
abusivo;
· Traz referências claras ao mundo BDSM onde as
siglas se traduzem em Bondage, Dominação, Sadismo,
Submissão e Masoquismo.
Anelise
Capítulo 1
Dias Atuais
Eu estava na porta do quarto olhando seu corpo nu largado na cama.
Aquela manhã chuvosa me convidava a permanecer na cama. Ainda era cedo,
cinco e meia, chequei meus e-mails, ainda observando seu sono. Nada de
extraordinário para ser feito naquele dia que se iniciava preguiçoso. Eu vestia
apenas uma calça social cinza bem alinhada, ainda estava sem sutiã. Guardei
o celular no bolso e ela se esparramou mais na cama. Tínhamos recebido
alguns amigos na noite passada e após algumas taças de vinho e uma transa
dormimos agarradas e nuas. Toda manhã o dilema poderia ser sempre o
mesmo, largá-la sozinha e ir trabalhar ou não.
Mas isso tudo é ilusão da minha cabeça, raramente eu acordo e me
deparo com essa cena, apesar de sempre desejá-la.
Se pudesse, hoje eu me atrasaria por ela, chegaria com os cabelos
úmidos para a reunião das dez, tomaríamos café na cama e, depois, ela me
olharia sorrindo enquanto o diretor faria sua explanação sobre as metas do
trimestre. Mas isso não vai acontecer, nunca aconteceu e eu me pergunto de
onde surgiu tanta saudade.
Ela é minha secretária e a empresa toda desconfia ou sabe do nosso
envolvimento. Não escondemos mais, no começo fazíamos de tudo para
esconder, hoje deixamos que cada um tire sua própria conclusão. Tentamos
não chegar juntas no trabalho, mas isso, muitas vezes, é inevitável. Já faz
quase um ano que somos assim. Outras pessoas? Eu não tenho e ela diz que
também não tem. Seria melhor que não tivesse, uma pessoa a menos nesse
redemoinho de emoções. Fui na sua casa apenas uma vez. Ela diz que divide
o apartamento com mais três pessoas, minha casa é confortável e me sinto
acuada em ambientes que não conheço. Por isso nosso refúgio é aqui.
Olhei o celular novamente. Cinco e quarenta da manhã. Fui até a
cozinha. Coloquei água no reservatório da cafeteira, pó no coador e liguei.
Observei a água se tornar o líquido preto que iria me acordar, pois esquentar
seria difícil. Voltei ao quarto para vestir um sutiã e uma camisa social. A
cama estava vazia. A visão dela dormindo voltou à minha cabeça, mas era
tudo ilusão. Ela não estava ali naquela manhã e o que eu olhava era uma
cama vazia e perfeitamente arrumada. Nem um fio de lençol fora do lugar,
como se eu tivesse passado ferro na cama toda, perfeitamente alinhada. Vesti
um sutiã e escolhi a camisete que ela havia me dado para acompanhá-la em
um casamento. Marsala, sua cor favorita.
Voltei para a xícara de café que me esperava fumegante, tomei dois
goles e cuspi na pia a tentativa de tomar o terceiro. Eu não sabia fazer café
quando pensava nela. Os amigos da noite passada? Existiram. A transa?
Também! Mas o dormir agarradas e nuas, não. A sala era nosso lugar favorito
para o sexo e minha cama era sempre a última opção. Chamei um táxi para
ela ir embora, deveria ter pedido para ficar, mas não pedi. Eu quase nunca
peço para ela ficar e sempre me arrependo disso.
No trajeto para a empresa ouvia sua risada ao pé do meu ouvido. Eu
sorria lembrando de sua mão me explorando, minha mente gosta de me fazer
sofrer. Estacionei o carro na vaga para a diretoria, tinha meu nome na placa,
mas do que aquilo adiantava? Eu queria o nome dela em mim, ela em mim.
Dominadora, eu? Não! Submissa. Sentada eu não sentia tanto, mas andando,
minhas nádegas ardiam dos tapas da noite anterior. O pano roçava no
vermelho da minha bunda e me fazia lembrar dela. Entrei no elevador e
apertei o nono andar.
Um… dois… três… quatro… parou, entrou duas moças. Cinco…
seis… sete… as duas moças saíram. Oito… meu coração disparou. Nove. A
porta se abriu, andei com as mãos no bolso, como sempre faço, ela não estava
em sua mesa. As mãos no bolso é meu refúgio, uma forma de não mostrar ao
mundo tudo o que acontecia em minha mente, era a única forma que eu sabia
para não demonstrar minha ansiedade. Respirei fundo. Entrei em minha sala e
ela entrou junto. Apareceu não sei de onde. Nossos olhares se cruzaram e eu
contive o sorriso bobo que queria se formar em meu rosto. Ela segurava uma
xícara de café e uma cartela de remédio. Entregou-me a xícara e eu a encarei,
me mostrou o remédio e perguntou se eu estava sentindo alguma dor. Não
respondi e me aproximei tirando uma mecha do seu cabelo de seu rosto.
Encostei meus lábios no dela e me afastei falando que estava perfeitamente
bem. Aceitei o café e ela saiu da sala. Bebi um gole do líquido preto olhando
pela janela, adorava o movimento dos carros e dos pedestres.
Olhei o celular enquanto tomava mais um gole de café. “Essa cor lhe
cai muito bem.” Era uma mensagem simples, mas que dizia que eu tinha
agradado com a escolha da roupa. Sentei em minha cadeira para, enfim,
começar meu dia tedioso.
Quando relógio marcou, nove e cinquenta, ouvi duas batidas na porta e
a maçaneta girou. Entrou, eu encostei na cadeira para observá-la, fechou a
porta e andou devagar até mim. Colocou uma pasta sobre a minha mesa e
olhou minha caneca ainda com café, parecia intocada. Encarou-me como
quem não tinha gostado da desfeita e eu apenas retribui o olhar. Não
tínhamos uma relação normal, longe disso, muito longe. Éramos entregues a
algumas práticas de submissão e dominação. Mas ela é livre, eu sou livre,
ninguém quer prender ninguém e muito menos admitir que nos completamos
muito bem.
— Eu mesma fiz o café, não gostou? — não estava brava, mas parecia
chateada com o café ainda na xícara.
— Eu tomei antes de sair de casa.
— Aquilo que você faz não pode ser chamado de café. — Ela me
sorriu.
Eu apenas balancei a cabeça e lhe sorri de canto de boca. Levantei da
cadeira e me aproximei dela.
— Obrigada pelo café.
— Achei que não ia ser uma boa menina.
Ela me sorriu e eu lhe beijei a face. Olhou o relógio que eu o havia
dado no último aniversário e disse que precisávamos ir para a reunião.
Andamos pelos corredores frios como se fôssemos duas desconhecidas.
Eu com as mãos no bolso e ela segurando as pastas. Eu diminui um pouco o
passo só para vê-la andar rebolando na minha frente. Minha mente fervia
pensando na noite passada. Tapas e beijos, gozos e gemidos, o pano da calça
tocando suas marcas em mim me faziam querer beijá-la ali no corredor.
A reunião foi cansativa, três horas para concluirmos que a empresa
estava falindo novamente, coisa que eu já tinha previsto. Ninguém me escuta
nessas reuniões, mas a bomba sempre cai no meu colo. Impressionante como
esses homens não sabem nada do que estão fazendo. A única coisa boa
durante a reunião, foram os pés dela passeando pelos meus. Hábito antigo,
sempre gostei de participar das reuniões sem sapatos.
Após esta infernal reunião, voltei para minha sala sem sua companhia.
Era uma da tarde e eu estava faminta e pelo jeito que ela entrou pela porta,
ela também estava. Olhava-me profundamente, fechou a porta atrás de si e se
aproximou rápido. Levantei da cadeira e ela me enlaçou o pescoço me
puxando para um beijo sedutor e apaixonado. Minha mão se apossou de sua
cintura nos aproximando mais. O beijo tornou-se intenso e sua mão já me
apertava a bunda. Gemi em sua boca e ela apertou novamente. Gemi e ela me
olhou sorrindo.
— Vai ficar até tarde hoje?
— Infelizmente… esses imbecis não sabem fazer nada sozinhos.
— Quer jantar comigo?
— Só se for aqui.
Beijou-me novamente e com desejo me empurrou até a viga que separa
as duas janelas de vidro que cercam minha sala. Nosso beijo ardente e
urgente tornou-se exagerado, turbulento. Sua mão me explorava por cima do
tecido alinhado, um apertão nos seios me fez gemer novamente. Sua cintura
pressionou meu corpo contra a parede prensando minha bunda, suspirei
profundamente evitando demonstrar minha excitação. Enlaçou seu corpo com
minhas pernas e ergueu minhas mãos segurando-as firme.
— Gostei do presente que me mandou ontem. — Sorriu
maliciosamente.
Atacou minha boca sem me deixar responder, arranhou minha bunda
por cima da calça e meu corpo se contorceu querendo ao mesmo tempo fugir
e se entregar a ela. Apertou meu seio direito e me soltou se afastando sem
olhar para trás. Minha respiração ofegante denunciava o quanto ela mexia
comigo. Ela saiu me deixando em chamas e poucos minutos depois a porta se
abriu novamente e ela trouxe meu almoço. Deixou sob a mesa e saiu, naquele
dia ela não almoçaria comigo.
Enquanto comia revia inúmeras planilhas e a tarde passou mais rápido
do que normalmente passa. Eu precisava apresentar um plano de salvação na
segunda-feira e o tempo estava contra mim, assim como sempre parecia estar.
Recebi uma mensagem às seis da tarde: “Nosso jantar chega às 19h.”
Eu não respondi, continuei mergulhada nos números. Pontualmente, ela abriu
a porta. Ignorei sua presença por alguns minutos. Na minha sala, eu tenho
uma mesa de centro, um tapete felpudo, duas poltronas e um sofá de dois
lugares. Antigamente a mesa era de vidro, hoje é de madeira maciça, ela
mesma tomou a iniciativa de mudar o móvel. Não me opus, já usamos para
algumas brincadeiras. Parou ao meu lado.
— Vou ter que ficar brava contigo?
Eu ri e terminei de anotar algumas coisas em uma planilha que estava
impressa na minha mesa. Levantei e lhe beijei a testa. Segurou minha mão e
me puxou até os móveis. A bandeja com os sushis estava no sofá. Abriu a
bolsa e tirou a caixa que eu havia enviado para sua casa. Uma caixa pequena,
retangular, preta e a letra inicial do nome dela gravado em dourado.
— Vamos nos divertir antes de eu te alimentar?
Eu apenas sorri concordando e vendo seu sorriso malicioso recair em
cima do meu corpo. Abriu a caixa e sentou-se no tapete encostando no sofá.
Enquanto ela desenrolava as fitas de seda eu abria os botões da minha
camisete. Tirei-a de dentro da calça e comecei debaixo para cima, devagar,
olhando-a mexendo com as fitas. Ela fica linda concentrada, pensando o que
fazer com meu corpo. Eram cinco tiras de seda, duas pequenas, duas de três
metros e uma de dois metros. Ela esticou as fitas menores na mesa e as
maiores deixou-as enroladas, também em cima da mesa. Observou eu
terminar os últimos botões e me livrar da peça. Seu sorriso safado era
provocante. Tirei o sapato encarando-a e abri o botão da minha calça. Virei-
me de costas e desci a calça empinando a bunda para ela.
— Essa cor combina com você.
Ela se referia ao vermelhidão de minhas nádegas. Eu sorri sem que me
visse e com um elástico prendi meus longos cabelos em um rabo de cavalo
alto. Deixando minhas costas livre para ela. Virei-me de frente e tirei meu
sutiã com ela me encarando. Colocou duas almofadas perto das pernas da
mesa e me mandou ajoelhar, sua voz aveludada de excitação me preencheram
com uma sensação de desejo. Levantou-se e livrou-se do sapato, pegou uma
das fitas menores e ajoelhou-se atrás de mim beijando meu ombro. Puxou
meu braço e beijou meu pescoço, puxou o outro e enquanto amarrava meus
pulsos um no outro, beijava minha nuca. Quando terminou perguntou se eu
estava confortável.
— Sim, senhora.
Beijou meu ombro, nuca e desceu beijando até a lombar. Beijou minha
nádega direita e meu corpo reagiu querendo fugir, mas a mesa me deteve.
— Calma, não vou fazer nada com essa bundinha linda, só beijar.
Mordeu devagar minha lateral e eu me segurei para não fugir de sua
boca. Beijou minha nádega esquerda e mordeu a lateral novamente. Beijou
minhas costas da lombar até a nuca me arrepiando. Levantou-se e ficou do
outro lado da mesa e me sorriu tirando a blusa. Abaixou o zíper lateral da saia
e desceu devagar me provocando. Ajoelhou e pegou a fita maior e me sorriu
pedindo para que eu deitasse. A madeira em contato com meu corpo me
excitou sabendo o que viria pela frente. Ela se levantou, arrumou meu cabelo,
deixando-o de lado. Sentou em minhas costas com as pernas me apertando a
lateral do corpo, me arranhou levemente o corpo e eu me retorci arrepiada.
Passou a fita por baixo da mesa e senti ela passando a da esquerda para a
direita e vice-versa. Fazia como se estivesse passando um cadarço no tênis.
Repetiu os gestos até o fim da fita e amarrou as pontas na minha lombar.
Senti a fita cruzada pelas costas, ela adorava desenhar as amarras pelo meu
corpo. Beijou minha nuca e distribuiu beijos pelos ombros. Sentou-se no
tapete novamente. Pegou uma bandeja de sushi e colocou alguns nas minhas
costas.
— Não vale derrubar nosso jantar.
Ela falou levantando. Não conseguia ver o que ela estava fazendo. Senti
algo de metal passar por baixo do pano da minha calcinha, cortou o tecido,
repetiu do outro lado. Retirou o pano vendo o quanto eu já estava molhada.
Minha cabeça estava relaxada na mesa, eu estava confortável e minha mente
estava concentrada em seus passos. Ouvia sua respiração e sentia a minha
aflorar. Senti que começou a amarrar minha coxa ao pé da mesa, afastando
ainda mais minhas pernas. Passava a fita e o toque suave da seda me
arrepiava. Repetiu o mesmo com a outra coxa. Beijou minha nádega e
lambeu-a devagar. Soltei um gemido pelo toque inesperado. Alisou minhas
coxas e apertou levemente minhas nádegas. Sua boca me beijou suavemente
e senti ela passando um lenço umedecido por toda a extensão do meu sexo.
Passou mais uma vez, suavemente me provocando. Sua mão percorreu o
mesmo caminho do lenço e senti um leve tapa na buceta. Mais um tapa leve.
Outro. Senti seu corpo encostando no meu e ela comeu um sushi que estava
nas minhas costas. Lambeu o local e enfiou uma calcinha em minha boca,
não sabia se era a minha ou a dela, mas mesmo assim o gesto me excitou.
Beijou minha nádega novamente e o gemido foi abafado pelo tecido. Lambeu
meu sexo e foi quando me dei conta do quão presa à mesa eu estava. Lambeu
novamente e meu corpo reagiu com excitação. Ela iniciou um beijo grego
adorável e meu corpo queria mais estímulos. Suas mãos passeavam pelas
minhas coxas, subiam até a bunda e percorriam as costas. Sua língua me
castigava lentamente. Senti que passou gel lubrificante em meu ânus e
lambeu minha buceta, eu só tinha reações mentais as corporais estavam muito
bem presas. Meu corpo pedia por mais e recebi um tapinha me ardendo a
buceta, sua língua me acalmou da ardência e seu dedo invadiu meu ânus, eu
queria gritar, mas não dava. Enfiou outro dedo e me chupou. Seus dedos
entravam e saiam devagarinho e sua língua me lambia em câmera lenta. Seus
dedos foram substituídos por um plug anal. Penetrou rápido e me deu outro
tapa na buceta. Sua língua me castigou mais um pouco. Sentou-se ao meu
lado no tapete, eu estava ofegante e vidrada por mais, olhava-a e ela me
sorria. Ela tinha minha atenção e meu corpo exigia suas mãos, mas ela não
me tocaria mais. Seu olhar era penetrante, sedutor, sexy e provocativo. Olhou
o relógio, tirou o pano da minha boca e ajeitou o hashi na mão. Comeu outro
sushi e minha respiração estava alterada e o objeto enfiado em mim começou
a vibrar devagar. Ela comeu outro sushi e a velocidade da vibração
aumentou. Estava explodindo de vontade de gozar, mas não queria que fosse
tão rápido. Ela me sorriu e com a voz rouca de tesão me mandou gozar. Meu
corpo sempre a respeitava, senti as contrações musculares do gozo me tomar
o corpo e ela me sorria sabendo que eu estava obedecendo-a. Uma corrente
elétrica me percorreu o corpo anunciando que eu ia ter outro orgasmo, as fitas
me segurando contra a mesa me fascinavam tanto quanto a vibração. Ela me
olhava sorrindo e eu era puxada pelo mar negro dos seus olhos. Explodi em
um gozo maravilhoso e ela comeu o último sushi que estava em minhas
costas me olhando. Voltou o pano na minha boca e desligou o vibrador, eu
estava mole, meu corpo estremecia de êxtase e ela me penetrou com sua
cinta. Ainda bem que eu estava sem poder falar, pois pensei em alguns
palavrões para lhe dizer. Por alguns segundos ela ficou parada esperando meu
corpo se acalmar da invasão e do êxtase. Quando percebi, meu corpo já
clamava por ela novamente e sabendo disso, suas estocadas eram fortes,
enérgicas de encontro à minha bunda sensível me arrancavam gritos de
prazer, abafados pelo pano. Enfiadas precisas e fundas, fizeram com que
gozássemos juntas e ela tirou a calcinha de minha boca, eu estava ofegante e
ela também. Ela beijava minhas costas e aos poucos senti as fitas serem soltas
e meu corpo sendo libertado. Mesmo solta, permaneci deitada, sem forças
para levantar. Ela me ajudou a sentar no tapete, me aninhou em seus braços
até eu me acalmar. Pegou o celular e me mostrou a foto que tinha tirado de
mim amarrada, sorri e beijei-a. Permaneci acolhida em seus braços enquanto
me servia o jantar na boca. Entre um sushi e outro nos beijamos e trocamos
carícias.
— Amanhã vou dormir na sua casa. — Beijou meu rosto.
Encarei-a sorrindo, passei a mão em seu rosto e beijei-a delicadamente.
— Fica o fim de semana todo. — Minha voz quase não saiu.
— Vai aguentar tudo o que tenho para lhe proporcionar?
Eu ri e beijei-a com desejo.
— Você sabe cuidar de mim muito bem. — Sussurrei em seu ouvido e
ela sorriu.
Deitei-a no tapete e chupei sua buceta devagar, apreciando os gemidos
e a respiração cortada. Naquele momento eu não sabia, mas seria nossa
última noite juntas. Ela não apareceu para trabalhar no dia seguinte, não
apareceu na minha casa e não passou o final de semana comigo. Seu gozo
escandaloso ficou marcado em mim e na segunda-feira pela manhã ficamos
sabendo oficialmente do seu sumiço, ninguém tinha visto ela após o
expediente. Eu fui a última que, em teoria, tinha visto-a com vida.
Quando a porta do elevador se abriu naquela segunda-feira ensolarada,
haviam policiais em minha sala, perambulando pelo andar todo. Respirei
aliviada por saber que ela não passou o fim de semana comigo por ter
sumido, mas meu desespero veio logo em seguida. Como uma pessoa podia
sumir daquele jeito. Um detetive se aproximou de mim fazendo perguntas e
eu não escutava o que ele perguntava. Apenas me lembrava do seu gosto, do
seu cheiro e do seu sorriso. Lembrava de seu último gozo e sua última frase:
“Sua língua é muito boa no que faz.”
— Anelise Arantes, a senhorita precisa nos acompanhar.
— Para onde? — foi o que consegui responder.
— Delegacia.
Ele pegou meu braço e me puxou em direção do elevador e ver a porta
da minha sala aberta, era como se minha vida fosse escancarada a todos e isso
não podia acontecer.
Capítulo 2
Um ano atrás
Lembro até hoje do celular tocando e eu saindo correndo ansiosa para
atender. Coisa rara de acontecer. Era uma resposta da entrevista de emprego
que eu havia participado. Tinha sido selecionada dentre quase quinze CFOs
(Chief Financial Officer, ou seja, Diretor Financeiro) com currículos
melhores do que o meu. Estava oficialmente empregada em uma das
empresas de tecnologia mais conceituadas da América do Sul, Corporate &
T.I.
No primeiro dia de trabalho, acordei cedo e procurei em meu guarda-
roupa algo para vestir. Tenho camisetas sociais femininas de todas as cores e
modelos, as calças variam na tonalidade de cinza e preto com bolsos. Nada
me deixa mais desconfortável do que não ter onde colocar as mãos. Preciso
de bolsos para mostrar ao mundo minha calma externa evitando demonstrar a
agitação interna.
Fui de táxi até a empresa, estava sem carro momentaneamente. Tive
uma reunião de apresentação e uma pessoa me chamou a atenção naquela
sala. Uma. Apenas uma. Ágatha. Esse era o nome da mulher que ia virar o
meu mundo de ponta cabeça.
Ela vestia uma blusa branca, uma saia cintura alta e salto alto. Nossos
olhares se cruzaram intensamente. Meu coração reagiu a ela como se nunca
tivesse visto uma mulher sexy. Seu olhar percorreu meu corpo sem pudor.
Ajeitou-se na cadeira e de leve pousou a caneta nos lábios. Um par de olhos
pretos e arredondados, perseguidores e brilhantes não me largavam.
No fim da reunião, vi Samuel, o CEO (Chief Executive Officer, ou seja,
Diretor Executivo) da empresa, conversando com ela e sua insistência em
tocar a moça me irritou. Ela se afastou dele, deixando-o nervoso. Odiava
diretoria de empresa multinacional, sempre tinha um homem que se achava
no direito de assediar as mulheres. Ela foi designada a apresentar minha sala
e seria minha secretária. Segui-a por um longo corredor do nono andar. Ela
andava na frente e eu atrás. Minhas mãos no bolso e a tentativa de parar de
olhar suas ancas me incendiavam. Isso não poderia estar acontecendo de
novo, minha cabeça até se emaranhava quando me lembro do meu último
relacionamento.
— Um desafio enorme assumir a diretoria financeira de uma empresa
como essa. — Ágatha disse abrindo a porta e me olhou sorrindo.
A sala era enorme, além da minha mesa eu teria sofás, estantes e um
banheiro privativo.
— Com certeza. — Encarei-a.
— Quer algo? Café, água…
— Estou bem, obrigada.
Entrei na sala e ela fechou a porta.
Estava nervosa. Muito nervosa, mas eu tenho certeza que ninguém
notou, eu mesma não notaria se não soubesse a verdadeira ansiedade que este
trabalho já estava me trazendo. Sentei na cadeira de couro e tudo era novo.
No meio da manhã, Ágatha entrou na sala depois de bater.
— Quer algo para o almoço?
Olhei-a curiosa. Deixou uma pasta sob a minha mesa.
— Você não tinha secretária no seu antigo emprego?
— Tinha, mas ela não cuidava da minha alimentação. — Meu tom de
voz saiu como se eu estivesse brava, mas estava apenas curiosa.
— Eu já peço o almoço de quase toda a diretoria, incluir o seu não vai
me tomar tempo algum.
— Ok. Sou vegetariana, qual sua sugestão?
Ela me olhou levantando uma sobrancelha.
— Você não tem cara de que é vegetariana.
— Existe padrão estético para ser vegetariana?
— Desculpe, não quis ofender, só achei que estava me testando.
— Vegetariana desde os vinte anos.
Encarou-me.
— Mandarei as opções no seu e-mail.
— Ok!
Eu abri a pasta que ela tinha me levado e senti seu olhar em cima de
mim. Olhei-a e ela me encarou.
— Posso te ajudar em alguma coisa?
Ela me sorriu de canto de boca e não respondeu de imediato, me
encarou alguns segundos.
— Você é muito jovem para ser diretora de finanças de uma
multinacional.
— E você é muito abusada para uma secretária executiva.
Ela riu e eu me encantei com seu sorriso. Eu precisava fazer muitas
coisas antes do almoço e aquela garota estava me distraindo. Apontei a porta
apenas com um dedo, discretamente, e disse que ela podia sair. Ela apenas
me sorriu e saiu andando devagar, para chamar minha atenção a ela. E
conseguiu.
Meia hora depois, vejo uma notificação em meu e-mail. Algumas
opções de prato e o nome dos restaurantes que servem comida vegetariana.
Embaixo de tudo, havia um comentário dela: “Infelizmente as opções são
poucas aqui perto da empresa, mas posso ampliar o raio e ver em outros
bairros.” Eu não queria ser rude, mas respondi: “Por isso que eu mesma
cuido da minha alimentação.” Não obtive resposta e eu mesma providenciei
meu almoço.
No fim daquele dia cansativo e cheio de novidades, precisava me
distrair, mandei mensagem para Maitê, mas não obtive uma resposta
imediata. Arrisquei um aplicativo de paquera que tinha instalado
recentemente por recomendação de tentar me abrir mais para novas
oportunidades de relacionamento. Li o perfil de algumas garotas, mandei
algumas mensagens, mas não me empolguei com nenhuma delas. Saí do
aplicativo e ouvi batidas na porta. Ágatha entrou e se aproximou séria.
— Estou de saída, precisa de algo?
Apenas olhei-a e ela me encarou. Seus olhos me consumiam e eu não
conseguia desgrudar deles.
— Não quis ser rude com a resposta do e-mail. — Tentei entender suas
emoções.
— Estou acostumada a coisa pior. Amanhã pedirei seu almoço e você
não se decepcionará.
— Ágatha, fique tranquila, não precisa disso.
— Você tem gostos peculiares, por ser vegetariana, mas isso não me
assusta. Vou conseguir achar um restaurante interessante para você.
— Obrigada. — Em um gesto automático sorri para ela.
Ela me sorriu curiosa. Saiu da sala e logo em seguida eu também saí.
Que reação foi essa perto de uma desconhecida? Eu me perguntei sem
entender o porquê eu havia acabado de sorrir a ela.
Naquela noite, saí para me divertir e encontrar uma das garotas do
aplicativo, mas foi mais um encontro furado. Conversas sem fundamento e a
garota era sem graça. Quando percebi, estava pensando em Ágatha e seu jeito
estranho de querer pedir meu almoço. Senti um olhar em minha direção,
quando finalmente vi de onde vinha, meu coração disparou, era ela.
Caminhou em minha direção, eu estava encostada no balcão do bar, tomando
água com gás, mas eu saí andando como se não tivesse visto sua chegada. Eu
não deveria me envolver e sabia que acabaria acontecendo, me conheço
muito bem.
Saí da boate e instintivamente caminhei com as mãos nos bolsos. Ouvi
alguém falar meu nome e tocar meu ombro.
— Já vai? — Ágatha me sorriu.
— Sim!
— Quer tomar um drink? Sei que é nova na cidade, não deve conhecer
muita gente.
— Anda me investigando?
— Tem medo de eu descobrir algo que não deveria?
Dei de ombros e um sorriso.
— Não me importo.
— Deve se importar sim. Não tem redes sociais, não tem namorados ou
namoradas e todas as pesquisas relacionadas ao seu nome, são entrevistas
sobre finanças falando do quão inteligente você é.
— Posso considerar isso uma perseguição?
Ela me sorriu e eu pedi um táxi pelo celular.
— Eu…
— Você?
— Só estou tentando te entender, você é uma das minhas chefes agora.
— Você me conheceu hoje, não precisa me entender. — Olhei-a brava
— Você só precisa fazer seu trabalho direito. Atender ligações, anotar recado,
entregar documentos… me entender é a última coisa que você vai querer ou
precisar. Se com os outros diretores, você tem outras funções, eu não me
importo e não as quero.
— Você é excêntrica.
Minhas mãos estavam novamente no meu bolso. Eu não respondi e
ignorei o fato dela estar atormentando minha imaginação. A todo momento
eu a via nua. Seu olhar era fixo em meu corpo. Alguns minutos em silêncio e
o carro parou no meio fio para que eu entrasse.
— Não precisa fugir de mim.
— Até amanhã, Ágatha.
Entrei no carro e no percurso para casa me arrependi de a ter deixado
para trás. Desci do carro e caminhei devagar até o elevador. Eu ainda estava
impactada com o comportamento invasivo de Ágatha. Enquanto o elevador
subia, chequei minhas mensagens e não havia nada de novo. Entrei no
apartamento, tirei o sapato ao lado da porta e fui até um dos quartos extra da
casa. Havia instalado um saco de pancadas, precisava descarregar minhas
emoções nele. Desabotoei a calça e tirei a camisete de dentro. Enquanto abria
os botões pensei nos olhos pretos que me encaravam de forma diferente e
nada discretos. Pendurei a camisa em um mancebo e em seguida fiz o mesmo
com a calça. Amarrei o cabelo em um alto rabo de cavalo, desenrolei uma
bandagem e comecei a passá-la no pulso e na mão. Repeti o gesto na outra
mão, vesti a luva e treinei por cerca de uma hora.
Estar suada e cansada, após um treino de boxe, geralmente, era um
início para que minha mente se acalmasse e se preparasse para uma tranquila
noite de sono. Naquele dia, isso não foi suficiente. Tomei um banho gelado,
fiz uma vitamina e sentei no sofá com o notebook nas pernas. Digitei o nome
da garota no buscador e o resultado foi inúmeros perfis de diversas redes
sociais. Analisei as fotos, uma variedade imensa de amigos, festas e selfies.
Eu queria hackear o computador dela, então mandei um link falso no
seu e-mail, fingindo ser de um restaurante vegetariano que eu queria que ela
pedisse meu almoço no dia seguinte. Mandei no e-mail empresarial com
cópia para o particular, torcendo para ela abrir pelo computador dela ou pelo
celular.
Algumas horas depois, vi que ela havia aberto o link, como minhas
habilidades em hackear eram mais amplas do que a maioria das pessoas tem,
invadi seu computador e descobri a senha do seu e-mail. Se ela queria
perseguição era o que teria. Além do e-mail, descobri a senha das suas redes
sociais, deixei anotado, caso precisasse algum dia.
Na caixa de e-mail, não havia nada comprometedor, apenas algumas
propagandas e conversas com a mãe. Eu odiava me sentir ameaçada, então fiz
com que cópias dos seus e-mails fossem enviados para o meu. Tudo o que ela
receber, eu saberei. Fiquei curiosa com a pasta de imagens do computador,
mas não me atrevi a entrar, deixaria para outro dia. Ágatha me intriga e isso
não é nada bom.
Capítulo 3
Dias atuais – Interrogatório
Eu estava em uma sala de interrogatório há mais de duas horas,
ninguém me falava nada. Estava sozinha e sem celular. Já tinha tentado sair,
mas a porta estava trancada. Quando finalmente alguém abriu a porta, dois
policiais entraram na sala. Uma mulher e o mesmo detetive que me puxou
para fora do andar quando cheguei na empresa naquela manhã.
— Qual sua relação com a senhorita Ágatha Ribeiro?
— Ela é minha secretária.
A policial abriu uma pasta e me mostrou algumas fotos. Em todas eu
estava amarrada, algemada ou em alguma posição de submissão. Eu sempre
aparecia de costas, mas minha tatuagem me dedurava. Foi estranho rever
aquelas fotos dentro de uma delegacia.
— Reconhece estas fotos?
— Sim. — Olhei-o curiosa.
— Qual sua relação com a senhorita Ágatha Ribeiro?
— Ela é minha secretária, não temos uma relação. — disse nervosa.
— Como ela tirou estas fotos? Ela estava chantageando a senhorita?
— Estas fotos foram tiradas com minha autorização, mas isso não
muda minha relação com ela.
A policial estava nervosa e pegou uma foto na mão. Era a primeira foto
que Ágatha tinha pedido para tirar.
— Esta data é de um ano atrás.
— Sim. Data da mesma época que eu entrei para trabalhar na empresa.
Eu não tenho vergonha de gostar de ser submissa, se é isso que estão
insinuando.
— Por que Ágatha tem estas fotos no celular e no computador dela?
— Porque ela gosta de ser domme. Ela gosta de fotografar as nossas
cenas. O que as fotos têm a ver com o sumiço dela?
— Você é a principal suspeita. O que aconteceu entre vocês na quinta-
feira?
— Nós jantamos na empresa e levei ela para a casa dela.
— Esta foto, — me mostrou uma em que eu estava amarrada na mesa
da minha sala — diz que vocês fizeram mais coisas além de um jantar.
— Sim, fizemos uma cena. Quer que eu a descreva?
— Uma cena?
— Sim. Quando interpretamos papéis de submissão e dominação
envolvendo ou não sexo. Eu não sumi com a Ágatha. Deixei-a na casa dela,
as câmeras de segurança do saguão do prédio irão comprovar isso. Posso ir
embora agora?
— As câmeras de segurança deram defeito naquela noite e não filmou
nada.
— Muito conveniente isso. Eu quero minha advogada. Sem
comentários daqui para frente. — falei brava encarando-a.
— Ágatha estava te chantageando com as fotos?
— Não. Eu quero minha advogada.
— Qual relação você tinha com Katherine Suarez? — a policial estava
brava.
— Sem comentários.
— Por que ela tem uma ordem de restrição contra você?
— Vocês estão violando os meus direitos.
— Ela era sua domme?
— É muito mais complicado do que isso.
— Por que a ordem de restrição? O que você fez contra ela?
— Sem comentários.
— Tivemos relatos de gritos vindo da sua sala naquela quinta-feira.
Eu peguei a foto que a policial tinha me mostrado e apontei minha
boca.
— Olhe bem para essa foto! — falei brava mostrando a foto à mulher
— Você já tentou gritar com uma calcinha na boca? — olhei-a nervosa — Eu
quero minha advogada e meu celular.
— Responda, qual sua relação com a Ágatha Ribeiro? O que você fez
contra Katherine Suarez?
— Sem comentários, quero minha advogada.
— O que aconteceu naquela noite?
— Sem comentários, quero minha advogada.
A policial me olhou brava, fechou a pasta das fotos e saiu acompanhada
pelo detetive. Como alguém poderia achar que eu queria o mal da Ágatha? A
mesma policial voltou sozinha.
— É a sua última chance de falar a verdade.
— Eu não sei o que aconteceu com a Ágatha.
Ela me encarou e eu franzi a testa, nossos olhares ficaram inquisitivos
até ela parar de me olhar e sair da sala. Meia hora depois voltaram com o meu
celular e ficaram me observando ligar para minha advogada.
— Maitê? Preciso da sua ajuda, estou na delegacia.
— Não fale nada sem a minha presença. — disse nervosa.
Desliguei e devolvi o celular à policial. O detetive me olhava sisudo e
eu encarei-o até deixá-lo sem graça. Minha salvadora entrou na sala em
menos de vinte minutos após a ligação. Ela parou ao meu lado com sua cara
de má e expulsou os dois policiais da sala. Eu me levantei e abracei-a com
força e ela retribuiu.
— O que você aprontou? — me fez olhá-la.
— Nada. Dessa vez eu não fiz nada.
— Qual a acusação?
— Minha secretária sumiu e alegam que eu fui a última pessoa a vê-la.
— E foi? — me fez olhá-la.
— Como vou saber? Deixei-a na casa dela e fui para a minha.
— Ela é sua nova domme? — perguntou ciumenta.
— Podemos dizer que sim. — Respondi sem jeito.
— Saudade das nossas cenas. — Ela se sentou me olhando saudosista.
— Eu também tenho, me tira dessa confusão e você poderá me castigar
por fazer você perder seu tempo. — Passei a mão em seu rosto — Eles têm
fotos minhas tiradas por ela. — Também sentei — E sabem que tenho acesso
ao computador dela.
— Você e sua mania de voyeurismo.
— Dessa vez a mania era dela também.
— Vocês eram exclusivas uma da outra?
— Não oficialmente.
— Ela tinha outras submissas?
— Não sei. Nunca ousei perguntar.
— O que aconteceu na última vez que se viram?
— Ela me amarrou em uma mesa que tenho na minha sala, fizemos
uma cena e jantamos sushi.
— Preciso conhecer essa sala. — Ela me sorriu.
— Eu a levei para casa e fui para a minha. Eu tenho câmeras no hall de
entrada do meu apartamento e tenho na sala também, isso me ajudaria?
— Sim, mas você foi direto para casa, sem paradas?
Olhei-a e respirei fundo.
— Não.
— Então não vai ajudar.
— Mas vai mostrar que eu não saí de dentro do apartamento até na
manhã seguinte e depois vai mostrar eu voltando da empresa. Eu não saí de
dentro do apartamento até na segunda-feira. — Eu disse brava e nervosa.
— Não sei se ajudaria, posso colocar como prova e álibi, mas essas
coisas não costumam ajudar em nada.
Eu olhei-a sem saber o que fazer. Os policiais voltaram.
— Minha cliente já pode ir embora?
— Não. Ainda temos perguntas não respondidas. — Disse o detetive —
Por que a senhorita tinha acesso ao computador da sua secretária?
— Eu… ela… ela gostava de se exibir para mim quando estava em
casa.
— Então vocês tinham uma relação?
— Depende do que o senhor chama de relação. Eu era submissa da
Ágatha, mas apenas isso. Sem envolvimento emocional.
Ele abriu a pasta de fotos novamente e vi Maitê se controlar para não as
pegar e ver de perto.
— Estas fotos são antigas, de um ano atrás, correto? — ele disse.
— Sim e o senhor já me perguntou isso. — disse brava.
— Do que estão acusando minha cliente? De ser submissa? Vocês não
têm nada contra ela.
— Ágatha está desaparecida e…
— Está, mas nada leva até a minha cliente, suas especulações sobre a
relação das duas é infundada. — Maitê estava muito brava.
— Sua cliente foi a última pessoa que viu a desaparecida.
— Vocês não têm provas disso.
— Temos um vídeo da garagem do prédio da empresa.
— Qual o horário do desaparecimento? — Maitê encarou o detetive.
— Ainda não temos certeza. As colegas de quarto disseram que ela não
voltou para casa na noite de quinta-feira. Elas deram queixa no sábado à
tarde.
— Eu a deixei na porta do prédio dela. — Eu disse brava — O que ela
fez depois disso não é minha responsabilidade.
— O que você fez depois de deixá-la em casa?
— Fui a um bar chamado Lado B.
— Tem como comprovar?
— Paguei em dinheiro, mas conheço a dona do bar, conversei com ela
naquela noite.
— Podem liberar minha cliente?
— Manteremos contato.
Os dois saíram da sala.
— Por que mentiu? — ela sussurrou.
— Eu não menti.
— Você detesta a Samantha, por que foi lá?
— Detesto, mas ela ainda é minha sócia. O bar é perto da casa da
Ágatha e eu queria beber algo. Ela veio falar comigo, tentou me instigar a
passar a noite com ela, mas eu fui embora quando terminei minha cerveja.
— Você tem certeza que a Samantha vai confirmar que conversou
contigo?
— A essa altura não sei de mais nada. Eles me perguntaram sobre a
Katherine.
— Eles não têm como relacionar uma coisa com a outra.
— Tem certeza?
— Ainda não, mas terei em breve.
Saímos da sala e a policial me olhou de longe e eu me apressei para
acompanhar Maitê. Andamos até o estacionamento da delegacia.
— O que faremos?
Ela me olhou brava.
— Você tem certeza que é inocente?
— Por que eu mentiria para você?
— Voltamos a conversar mais tarde.
Ela se afastou de mim e me olhou antes de entrar no carro.
Voltei ao escritório e não tinha mais policiais no andar, a mesa de
Ágatha estava bagunçada e a minha sala um rebuliço. Entrei, fechei a porta e
encostei nela sem saber como reagir a tudo. Seu sumiço me revirou o
estômago. Sentei no chão olhando os papéis jogados pela sala, a mesa sem
computador e olhando para o celular rezei para que tudo fosse apenas um
sonho.
Bateram na porta e eu me levantei respirando fundo. Era Samuel,
entrou sem pedir. Nossa relação nunca foi boa e com o sumiço de Ágatha só
tendia a piorar. Encarou-me bravo.
— O que você fez com a Ágatha?
— Nada.
Coloquei as mãos no bolso.
— A polícia disse que você é a principal suspeita.
— Eu fui a última pessoa a vê-la, mas isso não quer dizer nada.
— Quer sim.
Ele se aproximou de mim, eu dei um passo para trás e mantive as mãos
no bolso e a postura.
— Se for para me atacar, por favor, saia da minha sala.
— Essa investigação não será arquivada tão cedo e sua máscara de boa
moça cairá.
— Eu nunca fui uma boa moça. — Encarei-o e apontei a porta — Mas
não mato, sequestro ou sumo com pessoas.
— Você está afastada do seu cargo até o final das investigações. Sem
cargo e sem salário, até provar sua inocência.
Ele me fuzilou com o olhar e saiu. Eu não tinha mais motivos para estar
naquela sala. Olhei o celular em busca de notícias e de Maitê, mas ele estava
sem nenhuma notificação. Peguei minha carteira na gaveta e fui para casa. O
que mais podia fazer, além de esperar?
No caminho para meu apartamento comecei a ter a horrível sensação de
que eu perderia Ágatha para sempre. Estacionei o carro na garagem, desci,
coloquei a fina carteira no bolso traseiro e o celular no da frente. Tranquei o
carro enquanto andava em direção do elevador, meus pensamentos agitados
não me ajudavam a raciocinar. Queria lembrar se ela tinha me dito algo ou o
nome de alguém que pudesse ser suspeito. Nossas conversas eram sempre tão
pontuais que eu não conhecia ninguém da vida dela, além de seu passado
com Samuel algumas preocupações com sua mãe, carreira e vida financeira.
Com esse sumiço repentino percebi que sabia muito pouco sobre sua vida. No
elevador, apertei para subir e contei até cem mentalmente, precisava me
acalmar.
Entrei em casa, tirei o sapato ao lado da porta e busquei meu notebook
no quarto. Sentei na sala e tentei acessar o computador de Ágatha, mas estava
bloqueado. Tentei algumas artimanhas, mas nada adiantou. Deixei o
notebook no sofá e fui fazer meu treino de boxe. No quarto, tirei minha
camisete de dentro da calça, abri os botões pensando em tudo o que eu já
tinha vivido com ela e pendurei-a no mancebo. Seu desaparecimento na sexta
foi anormal, mas eu raramente me intrometo na vida dos meus subordinados,
principalmente se eu estou tendo um envolvimento de submissão.
Na quarta-feira, ela disse que precisava levar a mãe no médico, então
não me preocupei tanto quando não apareceu na sexta.
Comecei a passar a bandagem pelo pulso.
Na quinta, na hora que nos despedimos, ela me beijou calorosamente e
me sorriu, como sempre fazia quando queria me pedir algo.
Passei a bandagem na outra mão.
“Quero que você seja minha sub exclusiva.” Foi o pedido que ela me
fez, no momento que me pediu para ser dela, sentimentos ruins afloraram em
mim e eu não respondi.
Tirei a calça e me aproximei do saco de pancadas, não iria usar luva.
Fiz uma sequência de seis socos e parei olhando o saco se movimentado bem
lentamente. Fiz mais uma sequência e apoiei a cabeça no saco quase
abraçando-o. Tentei deter as lágrimas, mas foi inevitável. Enquanto chorava
eu voltei a golpear. Nada fazia sentido. Dez, quinze, vinte minutos de socos e
meu corpo não se acalmava. Eu me ajoelhei e ainda ofegante senti as
lágrimas voltarem. Eu poderia ter sido dela e agora a perdi para sempre. Meu
celular me salvou daquele devaneio. Atendi e ninguém me respondeu.
Tomei um banho e voltei para a sala, abri o notebook e não consegui
rastrear nenhuma compra nos cartões de crédito no nome da Ágatha. Se ela
tivesse sumido por vontade própria ou tivesse sido assaltada, os cartões
teriam sido usados, pelo menos é o que eu penso. Tentei acesso ao seu
computador novamente e usando de outro truque tecnológico consegui.
Entrei em uma pasta de imagens com o título de “Sub” e cliquei na pasta
com meu nome. Ela tinha registrado todas as nossas cenas, com exceção das
primeiras. Verifiquei o histórico de navegação e não encontrei nada que
pudesse simbolizar planos para uma viagem. Desloguei do computador dela e
pelo meu celular entrei em um aplicativo que me mostrava a localização do
seu celular. O aparelho mostrava que o dela estava desligado desde de sexta-
feira de manhã. Deitei no sofá e coloquei o notebook no chão. A sensação de
impotência estava mais do que aflorada. Liguei para Maitê.
— Você descobriu algo?
— Que eles vão alegar suas invasões no computador e os aplicativos no
celular como perseguição e as fotos como chantagem dela para conseguir
algo de você.
— Mas ela consentiu tudo e eu também.
— Você tem por escrito?
— Não.
— Então eles vão usar isso contra você.
— Tenho uma conversa via aplicativo, isso conta?
— Depende do juiz. Manda para mim, verei o que posso fazer.
— Você está bem?
— Não!
— Você gosta dela?
— Pergunta difícil, Mazinha.
— Eu sei bebê, eu sei.
— Ela pediu para que eu fosse exclusiva dela, na quinta quando a
deixei em casa.
— Você aceitou?
— Não respondi e mandei ela descer do carro, como se ela tivesse me
pedido um absurdo.
— E é um absurdo?
— Não.
— Então você gosta dela.
— Acho que para você posso admitir que ela me faz bem. Ou fazia, já
não sei mais qual tempo verbal usar.
— Acalme-se. Quer passar a noite aqui em casa?
— Não! Sua mulher me mataria.
— Ela não está.
— Eu não estou no clima, quando tudo isso terminar, deixarei você se
aproveitar do meu corpinho mais uma vez.
Ela riu alto, adorava a gargalhada dela e eu sorri.
— Pode me ligar a qualquer hora, tente dormir.
— Samuel me proibiu de voltar para a empresa, estou suspensa e sem
salário até tudo se resolver.
— Vou cuidar de você, bebê, como sempre cuidei.
— Obrigada.
Desligamos e comi alguma coisa. Liguei a televisão e procurei um
filme para me distrair. Desliguei-o na metade e fui para a cama, não
conseguia me concentrar. Deitei apenas de calcinha e fiquei olhando o teto
até o sono me invadir.
Pela manhã, a campainha de casa tocou, vesti um roupão que sempre
deixo no mancebo do quarto e fui em direção da porta. Como era a
campainha do hall e não do prédio, achei estranho, mas podia ser algum
vizinho ou Maitê, o porteiro a conhecia.
— Polícia! Abra a porta! — ouvi murros na porta e voltei para o quarto
pegar meu celular e avisar Maitê — Polícia! Abra a porta ou vamos invadir!
Ela atendeu sonolenta.
— Maitê eles vão me prender de novo. Eles estão na porta de casa.
— Vá com eles, não demonstre resistência, te encontro na delegacia.
Alcancei a porta e abri. O detetive entrou acompanhado da mesma
policial do interrogatório. Eu não pude ter reação, ela me agarrou os braços e
me algemou. Eu ainda estava de roupão e ele se abriu, mostrando meu corpo
ao delegado.
— Posso ao menos por uma roupa? — perguntei tentando me soltar da
policial.
Não me responderam, a policial fechou meu roupão e foi me puxando
para fora do apartamento.
— Qual a acusação dessa vez? — gritei com o detetive.
— A possível morte da senhorita Ágatha Ribeiro.
Eu parei de me debater e fui arrastada até o elevador.
Capítulo 4
Um ano atrás
Ágatha sempre estava impecável com uma saia e uma blusa semi
decotada. Eu prestava atenção em seus movimentos quando entrava na minha
sala, parecia que ela ensaiava cada um deles antes de ir falar comigo. Depois
do encontro no bar ela insistia em saímos para tomar um drink depois do
trabalho, mas eu resistia firmemente. Mesmo sonhando com o beijo dela, eu
resistia e fingia que não tinha interesse nenhum nela.
Ela me venceu na briga sobre pedir meu almoço e passei o endereço do
restaurante que eu gostava para facilitar. Eu tinha esquecido do alerta que eu
tinha colocado no e-mail dela, depois do encontro no bar, vi que ela tinha se
cadastrado em um site de filmes eróticos. Ela entrava na sala apenas depois
de bater na porta e o seu andar até a minha mesa, era lento, como se quisesse
fazer eu parar de olhar o computador para olhá-la e isso funcionava toda vez.
Nas reuniões que tive durante a semana com a diretoria, ela estava
presente na maioria delas, pois os diretores exigiam uma pauta de tudo o que
foi falado. Em vários momentos eu percebi ela me “comendo com os olhos”.
Não gosto muito dessa expressão, mas era o que ela fazia, às vezes, eu me
sentia nua perante seu olhar preto e intenso.
Quando tinha que me trazer algum documento para assinar, ela fazia a
volta na minha mesa e ficava parada ao meu lado para mostrar onde eu
precisava assinar. Eu estava me sentindo assediada com a forma que ela
invadia meu espaço e essas atitudes dela estavam me deixando acuada.
Ágatha deve ter percebido os sinais do meu corpo ao lado dela, afinal mesmo
sem falar nada, minha respiração era outra quando ela estava próxima.
Em um fim de tarde, entrou e se aproximou da mesa.
— Você…
Encarei-a brava.
— Você não vai mesmo aceitar o drink que propus?
— Garota qual aposta que você fez com suas colegas de trabalho? —
ela me olhou brava — Diga que você conseguiu o que apostaram que eu
confirmo, mas pare com isso. Não te conheço e não te dei liberdade para
querer sair comigo.
— Ok! Você me venceu! Era uma aposta, posso falar que consegui o
que queriam?
— Pode! — voltei a olhar os papéis sob a minha mesa.
— Mas você não sabe o que é.
— Não quero saber, desde que me deixe em paz.
Ela se aproximou de mim e ficou parada do meu lado. Aproximou seu
rosto do meu.
— Excêntrica. — Ela me sussurrou e colocou uma pasta na minha
frente.
— Por que está tendo esse comportamento comigo?
Nossos rostos ficaram próximos.
— Porque você me chamou a atenção desde o primeiro minuto que
entrou na empresa, no dia da sua entrevista para a vaga de emprego e não
apenas hoje.
Eu estava tentando me controlar com ela tão perto do meu rosto. Minha
atenção era dela, desde o primeiro minuto dentro da empresa. Ela era um ímã
para meus olhos e pelo jeito eu estava sendo para ela também e isso me
deixou excitada.
— Cuidado com o que deseja, Ágatha.
— Eu não tenho medo do perigo.
— Por favor, saia da minha sala.
— Vou sair, mas você me deve um drink.
— Isso é assédio!
— E você gosta. — Ela falou tão perto do meu ouvido que precisei
respirar fundo para não a beijar.
Ela saiu da sala e meu corpo reagia a ela de forma estranha e totalmente
nova para mim.
Na sexta-feira de manhã, vi Samuel perto da mesa de Ágatha, ela
parecia estar acuada e para salvá-la parei ao lado do diretor executivo e lhe
estendi a mão.
— Perdido no nono andar, Samuel?
Ele me olhou meio constrangido e apertou minha mão.
— Vim deixar essa pasta. — Ele colocou a pasta na mesa de Ágatha.
— Não precisava se incomodar, sua secretária pode me trazer da
próxima vez.
— Aproveitei para esticar as pernas.
Ele sorriu e se despediu.
Eu abri a pasta quando ele se afastou e não tinha nada nela. Encarei
Ágatha e voltei a fechar a pasta.
— Ele sempre faz isso?
Ela ficou sem graça e pela primeira vez naqueles dias, a vi
envergonhada por alguma coisa.
— Sim. Era um código para que eu fosse até a sala de reuniões com ele.
— Vocês estão junto?
— Não.
— Não aceite intimidação da parte dele.
Ela me sorriu e eu entrei em minha sala, tentei focar no que eu
precisava fazer. No fim do dia, depois de uma semana cheia adaptações, meu
treino de boxe não ia ser o suficiente para me acalmar e fazer meu corpo
descansar. Entrei no aplicativo de paquera em busca de algo diferente, mas já
estava preparada para a decepção. Decepção confirmada e ouvi uma batida na
porta. Ágatha entrou para me entregar um documento. Olhei-a e ela retribuiu.
Ela era uma garota linda e provocante.
— Quantos anos você tem?
— Eu não posso saber nada sobre você, mas você quer saber de mim?
— me sorriu e cruzou os braços.
— Não gosto de repetir perguntas.
— E eu não gosto de respondê-las.
— Mas gosta de fazê-las?
Ela me sorriu de canto de boca.
— Não vamos a lugar nenhum desse jeito. — Ela disse brava.
— A pergunta é simples.
— Eu só respondo se me pagar um drink.
— Você é soltinha assim com todo mundo?
— Só com quem me fascina. — Sorriu maliciosamente.
— Eu te fascino?
— Você é excêntrica.
— É a terceira vez que a senhorita usa essa palavra para me descrever.
— Não existe definição melhor. Um drink, hoje, às sete?
Eu olhei para o celular e voltei a olhá-la.
— Eu não saio com colegas de trabalho.
Eu vi que ficou enfurecida com minha resposta, saiu da sala e bateu a
porta.
Fui para casa e após meu treino de boxe abri o notebook para espioná-
la, não achava certo, mas ela me causava estranhas sensações, ora boas, ora
não exploradas por mim. Ela estava em um site chamado “Spank Me” com
vídeos eróticos de BDSM (sigla de bondage, disciplina, dominação,
submissão, sadismo e masoquismo). Naquele momento entendi o porquê de
suas tentativas de sair comigo, eu era parecida com a garota do vídeo que ela
estava assistindo e pelo seu histórico de navegação, aquele filme era seu
favorito.
Invadi sua webcam e pela sua expressão, deveria estar se masturbando
enquanto via a garota do vídeo amarrada sendo chicoteada. Eu gostava da
prática de BDSM e ver sua cara de excitação me deixou mais atordoada do
que antes. Se ela já me deixava seduzida, agora seria impossível evitar seu
olhar. Só não sabia se ela estava excitada por se imaginar batendo em alguém
ou por pensar em estar amarrada. Naquela noite, procurei um clube de
práticas BDSM, pois aquele vídeo me deixou excitada e nenhuma garota
comum iria dar conta do meu tesão acumulado.
Passei o fim de semana me recuperando da sessão de sexta e na
segunda-feira quando a vi, a primeira lembrança que me veio à cabeça foi seu
rosto de excitação vendo o filme. Ela entrou em minha sala e meu sexo
correspondeu à sua elegância em andar e se vestir.
— Hoje você não precisa providenciar meu almoço.
— Achei que já tínhamos passado dessa fase. — disse brava.
— Eu cuido de mim mesma, obrigada.
— Por que mudou de ideia?
— Você faz pergunta demais. — Eu disse brava e encarei-a.
— Parece que uma semana entre estes diretores sem educação já
mudaram seu comportamento. — Ela se aproximou de mim.
— Sim. Falta de educação contagia. Eu não gosto de provocações em
falso. Não gosto que invadam minha vida e tentem ultrapassar a linha entre
chefe e subordinado.
Ela me olhou assustada e eu me levantei me aproximando dela.
— Você está assim porque te chamei para tomar um drink? —
perguntou brava.
— Por que insiste em me agradar? É alguma aposta com suas colegas?
— Eu não sou mulher de fazer apostas. Quando eu quero alguém eu
consigo.
— Qual seu envolvimento com o Samuel? Vejo que ele sempre está de
olho em você nas reuniões. E o fato dele vir aqui entregar uma pasta vazia,
quer dizer que ele ainda quer algo.
— Nós já namoramos.
— Mais um motivo para você se afastar de mim.
Ela se aproximou de mim e saber que ela gostava das mesmas práticas
sexuais que eu, lhe dava um charme à mais do que o seu natural. Sua mão
tomou posse da minha nuca e me puxou para um beijo sedutor e arrebatador.
Entreguei-me por alguns instantes e o beijo me envolvia enquanto as cenas
do vídeo repassavam em minha cabeça me excitando. Seu corpo me
dominava perfeitamente. Sua mão me puxava contra o seu corpo, uma mão
na lombar me impedindo de me afastar e a outra apertando minha bunda.
Seu beijo intenso e ludibriante me arrancaram um gemido abafado. O
celular vibrando em meu bolso me trouxe de volta a realidade. Afastei-me e
atendi a chamada. Nossos olhares não se desgrudavam enquanto eu falava ao
telefone.
— Saia da minha sala. — Foi o que disse ao desligar o telefone.
Mesmo eu pedindo para que não providenciasse meu almoço ela
continuou a fazer isso. Naquela semana tivemos uma reunião por dia, todas
de pelo menos uma hora e meia. Eu sempre odiei usar sapatos, sejam sociais,
de salto ou sapatilhas. Nestas reuniões eu ficava descalça e ela fazia questão
de sentar ao meu lado. Eu não dava liberdades para ela, mas meu olhar me
denunciava, meu corpo e minha respiração me acusavam. Entre uma
explicação e outra minha atenção se voltava até ela, como ímã. No fim de
uma das reuniões, eu estava pondo meu sapato e ela sentada ao meu lado. Ela
me fez olhá-la e me beijou suavemente e eu correspondi.
— O que você quer comigo, garota? — Tentei me fazer de brava, mas
não consegui.
— Eu descobri algumas coisas sobre você essa semana.
— O que? — Encarei-a.
— Descobri que o link daquele restaurante que você me mandou dava
acesso ao número do meu IP e por isso você invadiu meu computador e
recebe cópias dos meus e-mails.
— Isso só pressupõe que você deveria usar um antivírus melhor.
Ela emaranhou a mão em meus cabelos e puxou-os levemente para trás.
— Eu deveria te punir por isso. — Ela disse rouca e me encarando.
Eu retribui o olhar e sorri de canto de boca.
— Eu sei do que você gosta. — Beijei-a com desejo e lhe apertei a
perna — Mas não vamos brincar com fogo aqui dentro. — Beijei-a
novamente e subi um pouco da sua saia.
— Como sabe?
— Eu invadi seu computador, esqueceu? Não entrei apenas no seu e-
mail, vi seu histórico de navegação também. Vi os vídeos que você assistiu
recentemente.
— Isso é invasão de privacidade!
Subi sua saia e invadi sua calcinha. Percorri seu sexo com o dedo e seu
corpo estremeceu.
— Quer me punir? — beijei sua orelha.
Segurei seu clítoris entre meus dedos e apertei-o massageando, ela se
retorceu na cadeira gemendo.
— Quer? Responde, garota!
— Qu… ero. — Ela sussurrou me encarando.
— Vamos ver do que sua mente é capaz. Hoje você vai embora comigo
para a minha casa. Sem desculpas, sem medo. Apenas sexo.
Tirei minha mão do meio das suas pernas e levantei.
Capítulo 5
Dias atuais - Segundo interrogatório
Durante o percurso até a delegacia tentei me acalmar, mas eles estavam
querendo me humilhar para poder contribuir, só poderia ser essa a estratégia.
Duvido que levem suspeitos para a delegacia vestidos apenas de roupão e
calcinha. Eu permaneci quieta, me desceram do camburão e a policial entrou
na delegacia me empurrando. Todos os olhares estavam voltados para mim,
meu roupão insistia em abrir e vi alguns policiais rindo da cena.
Levaram-me até uma sala, não era a mesma da outra vez, se era, eu não
estava prestando atenção. Minha mente começou a ficar inquieta.
Empurraram-me para dentro da sala e me apontaram uma cadeira. Os dois me
olhavam como se eu fosse uma criminosa muito perigosa.
— Podem soltar as algemas? — Perguntei cansada da situação.
— Qual sua safeword? — O detetive me perguntou.
Eu ri e olhei-o.
— Alguém andou fazendo pesquisas, gostou do que descobriu?
Ele se aproximou de mim e eu dei um passo para trás.
— Onde está o corpo da senhorita Ágatha Ribeiro?
— Não sei.
— A senhorita sabe, só não quer nos contar.
Ele se aproximou e eu dei outro passo para trás e encostei na parede.
— Vocês estão abusando da autoridade de vocês, me soltem. — Eu
encarei-o.
— Diga…
— Não direi nada sem a presença da minha advogada.
— Temos um mandado para vasculhar seu apartamento e seu carro.
— Podem olhar, não vão encontrar nada. — O detetive se afastou
observando meu corpo.
Aquilo não podia ser um procedimento padrão, não era possível que
tratavam a todos daquela maneira.
— Na verdade, você vai encontrar um quarto cheio de objetos que irão
despertar ainda mais sua curiosidade sobre mim. — Eu ri e me aproximei
dele — Vai deixar o senhor excitado. — Encarei-o.
Ele ficou bravo e apertou meu braço, me puxando para perto da
cadeira. Eu ri e ele me empurrou para sentar. Olhei a policial e deixei o
roupão abrir de tudo, eu estava ofegante e percebi seu olhar em meu ventre.
— E a senhorita? Não vai falar nada hoje? — Encarei a policial — Está
excitada comigo seminua e algemada?
— Onde você enterrou o corpo da senhorita Ágatha? — O detetive me
fez olhá-lo apertando o meu rosto.
— Não direi nada sem a presença da minha advogada.
Ele apertou mais meu rosto.
— Você terá que fazer mais do que me algemar e apertar meu rosto
para saber minha safeword.
— Onde você enterrou o corpo da senhorita Ágatha? Como a matou?
— Se você não tem corpo, como quer me acusar?
— Não piore sua situação, senhorita Anelise. — Ele apertou meu rosto
novamente.
— Eu não matei ninguém. Até ontem eu era acusada de um sumiço,
agora sou acusada de morte. Decidam-se.
As algemas começaram a me pressionar o pulso e minha mão ficar
dormente. Eu sentia dor, mas não a dor que eu estava acostumava a gostar de
sentir. Ficar sentada naquela cadeira fria e desconfortável me fez pensar que
Ágatha estava em perigo e eu estava sendo acusada de algo que não fiz. Ou
ela podia mesmo estar morta. Minha mente brincava comigo, me fazendo
lembrar de sua risada, de seu beijo, do toque macio em minha pele. Eu não
podia admitir que a amava, não podia, mas precisava, precisava mostrar que
não era fria. Meu braço direito estava dormente, o pulso esquerdo latejava e
minha vista estava embaralhada.
— Eu amo a Ágatha, nunca faria mal a ela. — falei tentando achar uma
posição melhor para ficar sentada.
A porta foi aberta abruptamente e vi uma Maitê enfurecida entrando e
jogando a bolsa na mesa.
— Eu vou processar vocês!
Ela se aproximou de mim.
— Anelise?
— Me tira daqui.
Ela avançou para cima do detetive.
— As chaves? Cadê as chaves?
Eu não sentia os dois braços e minha visão estava cada vez mais
embaçada. Eu iria desmaiar a qualquer momento. Ouvia berros e o perfume
de Maitê invadiu minhas narinas, eu não conseguia mais me manter na
cadeira. Senti a pressão das algemas afrouxar em meus pulsos e Maitê me
envolver em um abraço.
— Ei, olha para mim. — Segurou meu rosto.
Encostei na cadeira e ela se levantou, a policial não estava mais na sala.
— Vocês não têm nada contra minha cliente. Ela está colaborando com
tudo, por que este tratamento brutal?
— Porque ele gosta de mostrar quem está no comando. — Eu sussurrei.
— Estamos com mandados de apreensão para o carro e para analisar o
apartamento.
A policial entrou de volta e me ofereceu água. Meus braços estavam
voltando ao normal e minha vista menos embaralhada.
— Eu não tenho nada a esconder. Se tivessem me tratado decentemente
não precisariam de mandados. — Eu bebi a água e amarrei meu roupão.
— Se não tem nada contra minha cliente, por que a trouxeram para cá?
— Maitê olhou-os.
Alguém bateu na porta e um terceiro policial entregou uma pasta ao
detetive. Ele abriu-a, o policial saiu, o detetive sentou-se e mandou Maitê se
sentar. Abriu a pasta e nos mostrou as fotos de um cadáver queimado.
— Este corpo foi encontrado durante a noite no meio de um canavial e
acabamos de confirmar a identidade, Ágatha Ribeiro. — Eu peguei a foto na
mão e o detetive se aproximou de mim.
— Eu não fiz isso. — Eu me levantei e me afastei dele.
— Senhorita Anelise… — Ele tentou segurar meu braço.
— Eu não fiz isso! — Olhei minha advogada — Maitê!
— Vocês terem achado o corpo não diz que minha cliente cometeu o
crime. — Ela disse brava.
Ele segurou meu braço.
— Ela terá que ficar detida até cumprirmos os mandados de busca e
apreensão.
— Vocês já abusaram demais da minha paciência hoje. — Eu disse.
— Nós encontramos fios de cabelo na cena do crime... — A policial
começou a falar.
— Por que eu mataria Ágatha? — Me soltei da mão do detetive.
— Ela estava te chantageando com fotos e vídeos comprometedores.
— Não! Eu estou pouco me importando com os vídeos e as fotos, se ela
quisesse me chantagear teria que achar alguma coisa bem pior do que fotos
da minha submissão a ela. Eu gostava de ser submissa dela, ela estava
autorizada a tirar estas fotos.
Foram horas de discussão sobre meu envolvimento com Ágatha.
Bateram na porta novamente e o mesmo policial entregou outra pasta, percebi
que o copo que eu havia tomado água tinha sumido. O detetive leu o
conteúdo interno da pasta, mostrou para a policial e me olhou. Aproximou-se
de mim e me virou contra a parede.
— Anelise Arantes, a senhorita está presa pelo assassinato de Ágatha
Ribeiro. — As algemas se fecharam em meu pulso novamente.
Maitê se aproximou tentando impedi-lo, mas não conseguiu. Ela
roubou a pasta da mão da policial e me olhou. O detetive começou a me
empurrar para fora da sala.
— Maitê!
Ela apenas me olhava.
— Maitê, eu não fiz isso!
Ele abriu a porta e eu saí empurrada gritando pelo nome da minha
suposta advogada, pois naquele momento me senti abandonada. Seu olhar me
culpava, julgava e condenava, assim como todos os outros. Ela nunca foi de
me condenar, sempre me ouviu e agora, parece ter perdido essa habilidade.
Fui jogada em uma cela dentro da própria delegacia. Minha condenação
estava feita? Era assim? Fácil de acusar uma pessoa por algo que não fez?
Na cela que fui enfiada, tinham mais duas mulheres. Uma aparentava
ser prostituta e a outra estava drogada e alucinada vendo coisas que só ela
podia ver e falando asneiras que ninguém conseguia entender. O cheiro de
fezes era forte, o vaso sanitário que havia ali estava entupido e cheio de água
suja até a boca. Era difícil respirar pelo nariz sem sentir ânsia. Permaneci em
pé perto da grade, encostada na parede, o mais longe possível do vaso.
Relembrei do nosso último jantar, eu e Ágatha saímos do prédio juntas.
No trajeto da minha sala até o meu carro, fomos uma ao lado da outra, sem
falar muita coisa. Abri a porta para ela entrar e depois de me dar um beijo
na bochecha sentou no banco do passageiro. Já tínhamos intimidade o
suficiente para que eu lhe tocasse o seu corpo sem receios. Minha mão
direita pousava em sua coxa e massageava sua pele enquanto minha mente
prestava atenção no trânsito quase morto até a sua casa. Sua mão levou a
minha até a sua boca e senti uma leve mordida no dorso da mão. Pequenos
gestos que mostravam que sua admiração por mim era crescente.
O barulho de porta se abrindo me chamou de volta para a realidade.
Procurei de onde vinha o barulho e vi Maitê se aproximando com um policial
atrás dela. Ela parou na minha frente e eu encarei-a brava. Queria poder
abraçá-la, mesmo se ela me achasse culpada, eu precisava do seu abraço. Ela
esticou a mão em minha direção e eu segurei-a me aproximando mais da
grade.
— Eu não fiz isso. — Sussurrei.
Ela apertou minha mão e me fez olhá-la.
— Sabe quem poderia querer matá-la?
— Eu achei que ela era uma garota de fazer amigos e não inimigos…
devia ter apresentado ela a você antes disso acontecer.
— Alguém está querendo te incriminar com essa morte. Encontraram
fios de cabelo na cena do crime que batem com o seu DNA.
— Eu não fiz isso. — Sussurrei — Você acredita em mim?
— Eu já vi você batendo na Katherine, já vi você perdendo a paciência
com a Samantha, mas não acredito que você tenha matado a Ágatha.
— Vai me defender?
— Até o fim, bebê. Até o fim!
Ela me fez olhá-la e sorriu. O policial disse que o tempo tinha acabado.
— Eu volto para te tirar daqui.
Enquanto observava ela se afastar da cela, minha mente voltou naquela
noite. Ágatha estava diferente, mais carinhosa, me mordia o dorso da mão
levemente e me beijava logo em seguida. Ela brincava com meus dedos e era
como se estivesse apenas ela e minha mão ali no carro. Eu sorri da cena e ela
me olhou também sorrindo. O trajeto não era longo, estávamos quase
chegando quando ela entrelaçou nossos dedos e me olhou travessa. “Quero te
pedir uma coisa.” Parei o carro e olhei-a curiosa. “Quero que você seja
minha sub exclusiva.” Meu sorriso se desfez e ela me olhou preocupada.
Voltei à realidade com uma das detentas vomitando perto do vaso
sanitário. Eu não estava muito longe de também vomitar, mas pensar em
outras coisas me ajudavam a esquecer o fedor da cela. Frases com sua voz
aveludada ficavam se repetindo em minha mente. “Quero que você seja
minha sub exclusiva.” “Quero você.” “Seja minha.” “Sub exclusiva.”
“Exclusiva.” “Exclusiva.” “Você, minha.” Eu não acreditava que nunca
mais iria vê-la, senti-la ou beijá-la. Era um fim trágico. Era um fim,
literalmente, matador. Eu sentei no chão, encolhida como uma criança
abandonada. Eu precisava descobrir quem queria me incriminar. Tinha como
obrigação vingar a morte dela. Uma morte que me deixaria marcada pelo
resto de minha vida.
Capítulo 6
Um ano atrás
Depois daquela reunião e do ultimato que dei em Ágatha, eu precisava
me preparar para ver quem estava brincando com fogo, eu ou ela. Voltei para
minha sala e tentei me concentrar no que precisava, mas minha mente não
deixava. Já imaginava ela me dominando de inúmeras maneiras. Espero não
estar errada quanto a isso. No fim do expediente, saí da minha sala e olhei-a
profundamente esperando alguma desculpa qualquer, mas ela me seguiu em
silêncio. No elevador, minhas mãos se escondiam nos bolsos da calça social
preta.
— Não vejo a hora de marcar esta pele com minha cor favorita. — Ela
me sussurrou e eu apenas sorri sem olhá-la apertando o botão para a garagem.
Pedi um táxi e sentamos no banco traseiro. O trajeto foi silencioso e
quando descemos do carro, ela me olhou extasiada com a entrada do prédio.
Era um dos prédios mais cobiçados da cidade para se morar. Eu não me dava
muitos luxos, mas morar em um lugar bonito e tranquilo era essencial.
No elevador tivemos companhia, mas isso não impediu sua mão de
passar pela minha cintura pousar em minha bunda. Ao entrar no apartamento,
eu tirei meu sapato deixando ao lado da porta, ela seguiu meu gesto e eu
apenas sorri com isso. Ela era agitada em seus gestos e movimentos.
— Você já fez isso?
— Entrar em um apartamento tão organizado como esse? Não! — ela
tentou amenizar o clima.
— Você sabe que isso é um assunto sério e que não é uma
brincadeirinha à toa? Um videozinho pornô qualquer...
— Eu não brinco com BDSM, se é isso que você quer saber. Eu levo a
prática muito a sério.
Encarei e ela me correspondeu, me aproximei e passei o dedo indicador
pelo seu rosto.
— Você tem uma mente inquieta demais.
Passou a mão em minha nuca e me puxou para um beijo ardente e de
tirar o fôlego.
— Culpa sua e seu jeito …
— Excêntrico?
Ela sorriu e me beijou novamente.
Mostrei para ela onde poderia tomar banho.
— Não vai me acompanhar?
— Não. Você precisa acalmar sua mente.
— Eu quero que você me observe tomar banho, ajoelhada aqui no
tapete. — Me beijou.
Encarei-a e sorri. Ajoelhei-me ao seu lado e ela foi até a sala buscar
uma almofada. Colocou-a embaixo dos meus joelhos e me deu um selinho.
Um gesto simples, mas que demonstrava preocupação com o meu possível
desconforto.
Ela tirou a blusa e colocou no chão na minha frente, abriu o zíper da
saia e me encarou.
— Alguma restrição durante a cena?
— Estou me recuperando de uma torção no pulso esquerdo e não
suporto sufocamento ou ser deixada amarrada sozinha.
— Trauma?
— Sim. Uma domme me deixou amarrada sem supervisão e eu
desmaiei.
— Qual sua safeword? — tirou a saia.
— Lucro.
— Já conheci várias safeword, mas essa é a mais original. — Ela me
sorriu e tirou o sutiã.
Olhei-a sem pudor, morena, seios médios e algumas dobrinhas no lugar
certo. Aproximou-se de mim e mordi seu ventre.
— Prefiro não receber tapas no rosto. — Olhei-a.
— Gosto de bundas vermelhas, seu rosto é muito bonito para ser
marcado. — Passou a mão em meu rosto colocando meu cabelo para trás.
— Não gosto de praticar com pessoas que consumiram álcool antes da
sessão.
— Não bebo antes ou durante uma sessão, às vezes, depois. Depende
da companhia. Eu tenho uma cena perfeita para fazermos. Isso fará com que
eu te conheça e você saberá entender melhor minhas exigências.
Abaixou a calcinha, me olhou, tirou-a, pendurou-a no meu bolso e
entrou no box para ligar o chuveiro. Enquanto a observava se molhar, estava
com as mãos para trás e perseguindo seus movimentos cuidadosamente. Não
sei dizer se ela estava tentando me seduzir durante o banho ou apenas
aproveitando a ducha. Ensaboava-se devagar e lavou os cabelos com calma.
Olhando-a tentei deixar minhas preocupações de lado e aproveitar o
momento de voyeurismo. Inúmeras perguntas sobre ela e Samuel começaram
a surgir, mas eu precisava me manter calma. Ela saiu do box enquanto as
perguntas me rondavam. Parou na minha frente e me fez olhá-la.
— Levante-se e me enxugue.
Obedeci e peguei a toalha. Delicadamente apalpei seu corpo enquanto
passava a toalha pela sua lateral. Juntei meu corpo ao dela e beijei-lhe o
pescoço enquanto enxugava os ombros.
— Não pedi para me beijar.
— Não resisto a um pescoço desnudo. — Beijei-a novamente e virei-a
de frente para mim.
— Onde vamos fazer a cena, em seu quarto?
Apenas balancei a cabeça negando e passando a toalha por seus seios.
Ela pegou a toalha da minha mão e me fez olhá-la, beijou-me com delicadeza
e me mandou tomar banho depois de dar um leve tapa na minha bunda.
— O quarto é o último do corredor, tem lingeries novas no armário, se
quiser vestir alguma coisa.
Saí do banheiro e fui para meu quarto. Tranquei a porta e tirei a roupa
me dirigindo ao meu banheiro. Tomei uma ducha rápida, porém caprichada e
ao sair amarrei o cabelo em um alto rabo de cavalo. Protegi meu pulso com
uma munhequeira e vesti um conjunto de lingerie preto e um roupão de seda,
também preto. Destranquei a porta do quarto e vi que ela estava parada no
corredor, olhando o quarto onde treino boxe. Ela estava com um conjunto de
lingerie vermelho, sexy. Olhando suas redes sociais, descobri que ela tinha
vinte e oito anos, isso faria dela, cinco anos mais nova do que eu. Olhá-la de
longe, somente de lingerie, me proporcionou tesão e essa cena nunca mais
sairia da minha cabeça. Ela no meio do corredor, de micro calcinha, sutiã
meia taça e um sorriso no rosto.
— Não foi nesse quarto que eu disse para você entrar.
Ela me sorriu e se aproximou.
— Mais um motivo para eu te achar uma mulher excêntrica, quem tem
um quarto para treinar boxe? — ela disse animada.
Eu apenas ri e lhe conduzi ao quarto certo.
— Achou tudo o que queria? — perguntei ao entrarmos no quarto.
— Você tem um belo arsenal de apetrechos sexuais.
— Eu tinha muitos outros, porém mantive só o que realmente gosto.
O quarto não tinha muitos móveis, apenas um cavalete acolchoado,
uma cadeira e uma caixa de madeira retangular com altura de uns sessenta
centímetros com argolas na lateral. Poderia ser usada para imobilização,
castigo ou spanking erótico. Um espelho gigante e o chão era protegido com
tatame. No guarda-roupa embutido, eu tinha algumas fantasias e diversos
tipos de chicotes, cintas penianas, cordas, algemas, mordaças, entre outras
coisas. Em cima do retângulo de madeira, ela tinha separado uma coleira
postural, um flogger com muitas tiras de couro, um gancho anal com três
bolinhas na ponta, lubrificante, uma fita de seda e uma corda longa que ela já
havia amarrado em um dos ganchos que havia no teto. Ganchos estavam
espalhados no teto e nas paredes. Tirei o roupão perto do mancebo enquanto
olhava os objetos que ela havia separado. Ela me encarava enquanto eu
tirava-o, sua maneira de me olhar me aquecia.
— Tira tudo, não vamos precisar de roupas. — Eu tirei a calcinha e o
sutiã e me aproximei — Ajoelhe-se na caixa de madeira.
Havia um espaço deixado estrategicamente para caber minhas pernas
dobradas entre os objetos. Senti ela se aproximar, passou a mão pela minha
tatuagem, um lobo selvagem uivando para a lua.
— Linda tatuagem.
Desfez meu rabo de cavalo. Alisou meus cabelos e separou-o em três
partes, começou a fazer uma trança.
— Está de acordo com os objetos selecionados?
— Sim, senhora.
Ela beijou meu pescoço. Ela tinha atitudes de domme muito diferente
de outras.
— Quantas domme você já teve? — pelo espelho vi que terminou a
trança
— Duradoura? Três. Quantas sub você teve?
— Muitas e não tive nada duradouro com nenhuma delas.
Eu ia perguntar sobre Samuel, mas não era a hora certa. Pegou a fita de
seda, amarrou no começo da trança e passou-a por dentro, deixando um longo
pedaço sobrando. Pegou a coleira e ficou de frente para mim, com ela eu
ficaria com o pescoço perfeitamente esticado, colocou-a em mim e me beijou
o rosto. Fez com que eu a olhasse, passou a mão em meu rosto afastando
alguns fios de cabelos que teimavam em cair.
— Levante-se! — pegou o gancho e o lubrificante — Afaste-se da
caixa e coloque as mãos no meio dela e abra bem as pernas empurrando o
corpo para trás.
Ela deu a volta em meu corpo e me deu um tapa inesperado na minha
bunda. Passou o gel no meu ânus e me penetrou o gancho de uma vez, me
mantive quieta, mas gemi de dor. Elevou meu tronco e me mandou voltar à
caixa. O restante da fita de seda que estava preso à trança ela amarrou na
ponta do gancho imobilizando ainda mais meus movimentos com a cabeça,
pois se fosse para frente sentia o objeto se mexer em mim. Ela puxou a corda
e elevou meus braços envolvendo-os rapidamente com ela. Amarrou-me e
beijou meu rosto. Estava com os movimentos controlados, restritos e
extremamente excitada. Ela me sorriu e me beijou a boca calorosamente.
Pegou o flogger e me beijou novamente. Andou até ficar atrás de mim.
— Eu vou bater na sua nádega direita e quero que conte mentalmente.
Quando eu parar, vou começar com a esquerda e você vai falar para eu parar
quando der a mesma quantidade de açoites da direita, entendeu?
— Sim, senhora.
Ela me beijou a orelha fazendo eu me contorcer toda, senti o gancho se
encaixar ainda mais em meu corpo. Afastou-se de mim e senti o primeiro
golpe. Tentei me manter imóvel. No segundo golpe, minha cabeça fez o
objeto se mover em mim e eu gemi alto. No terceiro, dei um gritinho de dor.
Ela desferiu três golpes seguidos e parou. Eu estava ofegante e excitada
acima do normal. Minha nádega esquerda foi golpeada sem aviso prévio e
meu corpo se contorceu. Acertou três seguidos e eu gemi baixinho ofegante.
O penúltimo golpe foi forte e meu corpo arqueou para frente movimentando
o gancho em mim. No último, gritei que era o sexto e senti seu corpo colar no
meu. Minha bunda ardia colada ao seu corpo quente, sua mão buscou meu
sexo e enquanto me masturbava me beijava o pescoço e a nuca.
— Goza para mim!
Sua massagem me fez estremecer o corpo todo. As contrações
corporais me lembravam da minha submissão e do gancho. Esperou meu
corpo se acalmar beijando meu pescoço e ombro. Afastou-se de mim devagar
e me golpeou a bunda novamente.
— Não precisa contar, apenas aproveite.
Os golpes foram certeiros, uma sequência de mais seis de cada lado. Eu
sentia uma batida e meu corpo se retorcia de prazer. Senti seu corpo colar no
meu novamente. Eu estava ofegante. Sua boca beijava meu pescoço e minha
orelha. Sua mão massageava minha buceta novamente.
— Goza para mim.
Seu dedo focou em meu clitóris e meu corpo explodiu em um êxtase
profundo e arrebatador. Segurando-me com força, ela soltou meus braços, eu
ainda tremia pelo recém gozo e desfez o laço que tinha feito para atrelar o
gancho à trança. Deitou-me no chão, eu estava ofegante e meu corpo tremia.
Devagar ela tirou o gancho de mim e deitou-se atrás do meu corpo me
puxando para perto dela. Aninhou-me em seus braços, beijava meu pescoço
enquanto eu tentava voltar à minha respiração normal. Tirou a coleira. Fez
cafuné em meus cabelos e soltou a trança aos poucos. Afastei-me dela e deitei
no chão de barriga para cima e olhei-a. Ela me sorria com um ar travesso.
Virei-a contra o tatame, sentei sob seu ventre e beijei-a demoradamente.
Colocou as mãos em minha bunda e eu meu corpo reagiu gemendo em sua
boca.
— Escolhe uma cinta e me fode de quatro.
Ela sussurrou e me beijou com volúpia. Levantei e abri o guarda-roupa,
ela ficou de quatro empinando a bunda no meio do tatame. Vesti uma cinta
com um pênis grosso e longo, coloquei uma camisinha e me posicionei de
joelhos atrás dela. Afastei sua calcinha e penetrei-a. Ela gemeu gostoso e não
precisei de muitas estocadas para ouvir seu primeiro êxtase. Não deixei ela se
acalmar e continuei com os movimentos, seu segundo gozo foi ouvido depois
de várias estocadas. Ofegante ela deitou de bruços no chão, eu me levantei e
guardei a cinta. Vesti meu roupão e saí do quarto.
Alguns minutos depois ela apareceu na cozinha com a mesma roupa
que estava durante o dia. Eu estava faminta e cansada.
— Vou lhe pedir um táxi.
— Como hackeou meu computador?
— Foi fácil. — Olhei-a.
— Como sabe fazer isso?
Eu pedi o táxi.
— Seu táxi chega em cinco minutos, melhor descer.
— Anelise…
Andei até a porta e abri devagar.
— Você já fez perguntas demais hoje.
Ela se aproximou de mim e meu coração disparou, preferiria que ela
fosse embora sem me beijar ou me tocar novamente, mas ela envolveu minha
nuca e me puxou para um beijo ardente e caloroso. Saiu sem me olhar e eu
fechei a porta querendo que ela ficasse.
Pedi algo para jantar e fui tomar banho. A água gelada em contato com
meu corpo ainda quente me fez pensar nela instantaneamente. Após o banho,
verifiquei se o táxi tinha deixado ela em sua casa, aparentemente estava tudo
certo e minha comida chegaria em dez minutos. Olhei minha bunda no
espelho, quase não tinha marcas, estava apenas mais rosada do que o normal.
Duvidei da capacidade dela de manusear um flogger com tiras de couro, mas
fui surpreendida positivamente. Vesti um roupão e na cozinha me preparei
um Martini com uma azeitona. Recepcionei a minha janta e voltei para a
cozinha. Sentei na banqueta ao lado da ilha central e me dei conta que a dor
em minhas nádegas eram suaves, mas me fariam lembrar dela cada vez que
eu sentasse. Comi pensando no trabalho que essa garota ia me dar.
Na manhã seguinte, saí do elevador e fui bombardeada por um olhar
escuro e curioso. Andei e parei ao lado da sua mesa.
— Bom dia. Preciso que encontre um professor de boxe, para dar aula
no meu apartamento, quatro vezes na semana. Segunda à quinta, das sete às
oito e meia da noite.
Ela me olhou curiosa, minhas mãos estavam no bolso escondendo a
munhequeira que eu usava.
— Bom dia. Providenciarei. Isso chegou para você. — Entregou-me
uma caixa.
— Não estou esperando nenhuma encomenda.
— Mas está com seu nome.
Estiquei a mão esquerda para pegar e ela me olhou assustada.
— Eu machuquei você?
Ela fez menção de colocar a mão em meu pulso, mas eu me afastei.
Quis deixá-la preocupada e me retirei como se estivesse magoada. Entrei na
minha sala e ela me seguiu. Coloquei a caixa na minha mesa e fiquei de
costas para a porta. Escutei-a trancando a porta e se aproximando rápido.
— Eu não tive a intenção de te machucar.
Eu sorri com sua preocupação sem que ela me visse, peguei um estilete
para abrir as fitas da caixa. Ela me fez olhá-la.
— Olha para mim. — Ela segurou meu pulso — Quer que eu marque
um médico?
Passei meu dedo indicador para afastar uma mecha de cabelo de seu
rosto e lhe sorri.
— Sua cara de preocupada é fofa, mas desnecessária.
— Tem certeza?
— Absoluta.
Voltei a abrir a caixa, era uma nova luva de boxe, tinha esquecido da
compra.
— Você me deixou preocupada de propósito?
Apenas encarei-a.
— Não faça isso. Odiaria saber que te machuquei de alguma forma. Eu
prezo por todas as boas condutas dentro do BDSM e não me perdoaria se algo
desse errado.
Eu lhe sorri.
— Eu já estava machucada antes de você aparecer, não se culpe. Estou
usando a munhequeira apenas como proteção. Você foi muito bem ontem.
— Por que confiou em mim? Eu poderia ter te machucado ou invés de
lhe proporcionar prazer.
— Eu não confiei em você, eu estava te desafiando, queria saber até
onde a sua curiosidade iria nos levar.
— Eu não sou de rejeitar desafios.
— Bom saber, agora pode sair da minha sala.
Ela se aproximou de mim e me pressionou contra a mesa. Afastou meu
cabelo, separou minhas pernas e beijou minha nuca.
— Eu não paro de pensar naquele quarto e em você nua. — Sua mão
apertou minha cintura.
Não admitiria que também pensava nela naquele quarto.
— Quando vou poder voltar lá? — ela apertou minha bunda e meu
corpo respondeu tentando fugir de sua mão.
— Precisa fazer por merecer, não é tão fácil voltar lá pela segunda vez.
Ela beijou minha orelha me arrepiando.
— Ágatha, não vai ser me assediando que conseguirá o que quer. —
Minha voz saiu áspera e ela se afastou de mim.
— Excêntrica!
Ela andou em direção da porta e eu me virei para observá-la se afastar.
— Como sabia que eu não iria querer te dominar?
Ela parou e virou-se para me olhar.
— Eu arrisquei.
— Por quê?
— Porque por você eu até aceitaria ser submissa.
— Você não me conhece...
— Mas você me fascina.
— Pela minha excentricidade?
Ela sorriu.
— O que vai querer para o almoço?
— Surpreenda-me.
Continuou andando e saiu da sala.
Eu sentei em minha cadeira e me lembrei o porquê estava evitando esse
momento, uma dorzinha bem leve tomou meu corpo e me arrepiou me
lembrando de todas as chicotadas da noite passada.
A manhã atribulada e cheia de problemas financeiros para ajustar
passou rápido. Naquele dia não teríamos reunião e eu agradeci por isso. Não
queria ver Samuel ou os outros velhos da diretoria, eles me olhavam como se
eu fosse uma ave de rapina. Não entendia o porquê eu tinha sido escolhida
para aquela vaga se eles me achavam tão fora do padrão da empresa. Acredito
que tenha sido pela inteligência, preferia me apoiar nisso.
Ágatha bateu na porta e entrou na sala com meu almoço. O pacote
parecia ser de um restaurante diferente. Sou vegetariana, mas confesso que
não levo isso à risca. Se tem opção de comida vegetariana eu prefiro, se não
têm, escolho algo bem próximo do que seria apropriado. Alguns conhecidos
falam que sou uma vegetariana fajuta, mas o que posso fazer, não gosto de
limites e restrições. Sou vegetariana por não gostar de carne, apenas isso.
Encostei em minha cadeira para observar sua aproximação. Quando ela
percebeu que minha atenção era dela, andou mais devagar.
— Onde você costuma almoçar?
— Na cozinha com as outras secretárias.
Ela colocou o pacote sob a minha mesa. Eu me levantei e fui até o
banheiro lavar as mãos e pelo espelho percebi seu olhar me perseguindo. Seu
rosto parecia ter saído da adolescência recentemente e, para mim, isso a
tornava mais fascinante. Uma mente dominadora em uma moça tão jovem.
Enxuguei minhas mãos, parada na porta, observando-a.
— O que geralmente come?
— Curiosa pela minha dieta? — guardei a toalha e saí do banheiro
acompanhada pelo seu olhar apreciador. — Não quer saber o que eu pedi
para o seu almoço?
Parei na sua frente e coloquei as mãos no bolso.
— Você sabe da minha, por que não poderia saber da sua?
— Eu não tenho gostos exóticos, sou uma mulher normal.
— Eu não sou normal por ser vegetariana? — me aproximei mais de
seu corpo e ela respirou fundo.
— Você gosta — ela disse com a voz entrecortada quando me
aproximei mais — de distorcer o que eu falo.
— Eu intimido você? — perguntei perto do seu ouvido.
— Às vezes. — respondeu baixo.
— Precisamos mudar essa visão que você tem de mim. — Eu sussurrei
em seu ouvido.
— Você está me assediando.
— Não. — falei mais perto de seu ouvido — Eu não lhe toquei, apenas
estou próxima.
Ela me encarou e seus braços envolveram minha nuca e a boca se
apossou da minha. Um beijo arrebatador e cheio de posse. Minhas mãos
permaneceram no bolso. Sua boca gananciosa me envolvia em mais um beijo
e eu me aproveitava para mostrar que eu tinha mais domínio sobre ela do que
vice-versa. Ela me olhou ofegante.
— Isso sim foi assédio. — Olhei-a profundamente.
Eu me afastei de seu corpo mesmo querendo tocá-la por inteiro e sentei
na minha cadeira. Peguei o pacote com meu almoço e percebi que ela estava
encostada em minha mesa se recuperando do beijo. Afastei as planilhas e as
pastas de documentos da mesa e peguei um pano de prato na gaveta, eu
usava-o para não sujar a mesa.
— Vai ficar parada aí? — ela não respondeu e se aproximou de mim,
percebi que estava brava — A partir de segunda-feira, — eu abri um dos
recipientes plásticos e peguei um garfo que ela havia me trazido — você irá
almoçar comigo.
— Eu não vou fazer isso.
— Toda sexta-feira, irá tocar a campainha do meu apartamento… —
experimentei o risoto de cogumelos ao vinho branco.
— Você não man…
— Eu não estou mandando. Estou avisando que estes são os meus
termos para que você conquiste um lugar no meu quarto. — Comi mais um
pouco — Não seja uma garota teimosa.
— Você está me testando?
— Você me mostrou que sabe o que está fazendo quando tem um
chicote na mão. — Olhei-a e limpei a boca com um guardanapo — Eu gosto
de ter algumas regras, — me levantei e encarei-a — pois eu preciso confiar
em você. — Passei o meu dedo afastando uma mecha de cabelo do seu rosto
— Eu já sofri por irresponsabilidades dentro de uma cena e fora dela.
Katherine não entendia o que era liberdade e a Samantha não praticava
BDSM de forma segura e eu só descobri isso tarde demais.
— E — ela repetiu o gesto de afastar uma mecha do meu rosto — a
terceira?
— Quando conheci Maitê, eu era um bicho assustado e ela me ensinou
a confiar nela. Eu preciso aprender a confiar em você e vice-versa.
— Concordo com o fato de que temos que ter confiança uma na outra.
Quanto tempo faz que está sem domme?
— Muito tempo.
Ela depositou um selinho em meus lábios, pegou meu pulso esquerdo,
tirou a munhequeira e beijou-o.
— Comigo você não precisará de proteções. Coma, vai esfriar. — Me
sorriu e andou em direção à porta.
Voltei a me sentar e almocei tranquila.
No meio da tarde, Samuel entrou em minha sala e vi que Ágatha entrou
apressada atrás dele.
— Tentei fazer ele esperar. — Ela me disse sem graça.
— Não preciso ser anunciado para entrar em uma sala. — Ele disse
ríspido.
— É apenas uma questão de educação, Samuel. Pode deixar, Ágatha,
obrigada.
Ele olhou-a saindo da sala. Um olhar de posse e excitação.
— Preciso de uma análise sobre as ações da empresa, quero convencer
o conselho a abrir as portas da empresa para novos investidores
— A empresa não tem perfil para aguentar esse tipo de manobra
financeira.
— Eu não perguntei se tem perfil, mandei você convencer o conselho.
Preciso disso para ontem.
Ele saiu da minha sala sem me dar chance para responder, deixou a
porta aberta e se aproximou da mesa de Ágatha, vi ela balançando a cabeça
de forma negativa e quando ele se afastou ela me olhou. A porta permaneceu
aberta e voltei a me sentar, da minha mesa tinha a visão perfeita dela e voltei
às minhas atividades e entre uma responsabilidade e outra olhava-a pela
porta. Ela estava sempre pronta para retribuir.
Aquele ato de voyeurismo me deixou excitada e recebi uma mensagem
no celular: “Voltei de viagem, está tranquila para um jantar hoje?” Era
Maitê. Respondi que sim e ela me passou a localização. Continuei tentando
encaixar as peças do pedido de Samuel em minha cabeça, não era viável abrir
a venda de ações, não naquele momento.
No caminho para o jantar, me arrependi de ter aceitado. A noiva de
Maitê gostava de me testar e se ela estivesse junto teria que aguentar suas
piadinhas sobre o meu passado com sua noiva. Eu gosto muito de Maitê, ela
apareceu em minha vida em um dos momentos mais perturbadores que tive.
Katherine sempre foi abusiva em suas atitudes, ela passava do bom senso da
relação de uma domme e uma sub. Quando saí da casa dela, ela não aceitou o
fato de me perder e começou a me perseguir. Aparecia no meu trabalho sem
avisar, contava mentiras sobre mim para meus colegas de trabalho e eu tentei
ao máximo apaziguar a situação dizendo que ela não mandava mais em mim.
Só piorei o cenário. Um dia perdi a paciência e lhe dei um tapa no meio de
um restaurante movimentado. Ela usou este ato isolado contra mim por vários
meses, dizendo que ia me denunciar. Eu não tinha o temperamento que tenho
hoje, era muito mais explosiva e com isso ataquei-a com socos e tapas na
frente da minha casa. Ela entrou com um processo de agressão contra mim e
Maitê me ajudou a fazer com que ela não pudesse mais chegar perto de mim.
A ordem de restrição está em meu nome, mas foi a forma que Maitê viu de
tirar as acusações dela contra mim e fazer com que o assunto fosse encerrado.
Entrei no restaurante e avistei-as de longe, seria uma longa noite. Maitê
me recepcionou em um abraço caloroso e um beijo longo na bochecha.
— Como está meu bebê?
Ela riu e Cíntia também me abraçou. Eu ainda não entendia o porquê
ela gostava de me atacar, afinal Maitê me largou para ficar com ela. Sempre
que eu vejo Maitê tenho boas recordações em mente. Ela foi minha amiga por
muito tempo, sua presença sempre me deixa mais tranquila.
— Estou bem e vocês? — me sentei e elas também.
— Temos novidades. — disse Cintia — Marcamos a data do
casamento.
— Até que enfim, estão noiva há quase três anos. — Eu disse rindo.
Maitê pediu uma taça de Martini para mim e eu sorri com o gesto.
— Queremos que seja uma das madrinhas. — disse Cíntia.
— Está me zoando?
— Nunca! — disse Cíntia — Você é importante para Maitê e vice-
versa. Tenho minhas implicâncias, mas não deixaria você de fora.
— Na verdade, você quer esfregar na minha cara que levou a Mazinha
de mim. — Segurei a mão de Cíntia.
Maitê riu alto e Cíntia me olhou como quem olha para uma criança que
fez arte.
— Você não presta. — Maitê comentou.
— O que vão querer de presente?
— Sua felicidade. — Maitê me sorriu.
— Calma, não é fácil se reconstruir emocionalmente depois de dois
péssimos relacionamentos.
Ela estendeu a mão na mesa e eu segurei-a.
— Eu sei, bebê.
O garçom trouxe minha bebida.
— E o emprego novo? — perguntou Cíntia.
Contei como estava sendo a difícil adaptação, mas omiti as investidas
de Ágatha. Passamos a noite falando de como seria o casamento. Jantamos e
eu recebi uma mensagem: “Desculpe a invasão de privacidade, mas você
comentou sobre toda sexta-feira eu ir ao seu apartamento. Hoje é sexta-feira,
mas não sei qual o horário que devo aparecer.” Eu sorri com a mensagem,
estava na minha quarta taça de Martini e Maitê quis saber o que eu havia
recebido, Cíntia estava no banheiro.
— Minha secretária é um pouco invasiva demais.
— Cuidado, não quero ter que te salvar dela também.
— Vire sua boca para lá.
Procurei em meu celular a gravação do dia que ela havia ido em casa,
gosto de deixar a câmera de vigilância ligada mesmo quando levo alguém
para o meu quarto de brincadeiras. A minha casa tem vigilância vinte e quatro
horas, apenas nos banheiros que não. Sinto-me mais segura dessa forma.
Quando o vídeo começou, eu já estava nua e ajoelhada na caixa de madeira.
A fisionomia de Maitê mudava de preocupação para excitação. Quando
terminou, me devolveu o celular.
— Já chegou arrasando corações. — Maitê me piscou.
Eu apenas sorri. Cíntia voltou e sentou-se. Aproveitei para responder
Ágatha. “Essa semana você chegou tarde.” Obtive uma resposta imediata.
“Esse convite só vale de sexta-feira?” Não respondi e Maitê roubou meu
celular.
— Nada de celular na mesa. — Ela disse brava.
Eu ri e Cíntia me olhou sorrindo.
— Tem alguém para entrar na igreja com você ou podemos escolher
seu par?
— Desde que eu use terno, vocês podem escolher. — Eu sorri.
Conversamos mais algumas coisas sobre a data, que seria dali alguns
meses. E nos despedimos. Fui para casa de táxi e já estava começando a
pensar em comprar um carro novo.
Entrei no apartamento e liguei a televisão sentando no sofá.
Respondi a ela: “Apenas sexta.”
Conectei o celular com a televisão.
Ela respondeu: “Você é má!”
Sorri com a resposta.
Mandei um link para ela: “Entre nesse link e verá o que é maldade.”
O link abriria a câmera de segurança da minha sala. Levantei e na
televisão coloquei o vídeo da nossa cena.
“Não acredito que nos filmou sem meu consentimento.” Vi sua
mensagem aparecer na televisão. Ela teria uma visão estratégica da televisão
e metade do sofá. Eu estava de costas para a câmera. Tirei meu sapato e
desabotoei minha calça, abaixei-a e vi outra mensagem no aparelho: “O que
você está aprontando?”
Desabotoei a camisete e tirei-a, colocando no sofá. Tirei a calcinha e o
sutiã. Sentei no sofá e apertei play. O acesso ao link duraria menos do que o
vídeo todo e minha exibição era apenas encenação. Pelo menos era o que eu
tinha planejado. O meu toque no meu corpo me excitou mais do que o normal
e assistir nosso encontro sabendo que ela estava me vendo, foi prazeroso. Eu
me masturbei, mesmo sabendo que meu prazer não iria ser perfeito. Quando
o acesso de Ágatha acabou, vi uma mensagem na tela: “Não acredito!” Eu
sorri e terminei de ver o vídeo com calma.
Tomei um banho e deitei na minha cama pensando em tudo o que vinha
acontecendo nas últimas semanas. Eu precisava ir com calma, não só em
relação à Ágatha, mas a tudo. Verifiquei meu celular e tinha novas
notificações dela. “Você não devia ter cortado o meu acesso. Manda o vídeo
para mim! Quero vê-lo com calma.”
Não respondi e deitei na cama.
O celular vibrou mais uma vez. “Se você não entendeu, isso foi uma
ordem!”
Eu gravei um áudio: “Eu não recebo ordens, boa noite!”
Desliguei o celular e fechei os olhos com a imagem de seu rosto
gravado em mim.
No sábado pela manhã, acordei e ainda sonolenta liguei o celular.
Inúmeras mensagens dela apareceram.
“Que voz sexy, mas eu mando sim.”
Depois que percebeu meu silêncio me enviou “Anelise me manda o
vídeo!” várias vezes.
Sentei na cama e digitei: “Existem coisas na vida que nós não pedimos
ou exigimos, apenas conquistamos.”
Ela me respondeu instantaneamente: “Como conquistar você e sua
excentricidade?”
Eu olhei a tela do celular por um tempo e respondi: “Uma das
definições do verbo conquistar é: alcançar algo por esforço ou
merecimento.”
Levantei e sua resposta demorou um pouco mais do que o normal, mas
veio: “No sentido figurado, conquistar é: suscitar, provocar, granjear para
si.”
Eu ri e respondi: “Porém também pode ser: atrair a consideração, a
empatia ou o amor de alguém; cativar.”
E ela respondeu: “Ser bem-sucedido numa proposta amorosa também é
uma das explicações do verbo conquistar.”
Eu sorri e respondi: “Use a melhor aplicação com sabedoria.”
Ela respondeu: “Essa discussão só fez com que minha vontade em te
ter ajoelhada me observando tomar banho aumentasse.”
Eu parei de responder e fui até a cozinha, me servi de leite e
achocolatado em uma tigela.
“Já perdi sua atenção?”
No armário, peguei um recipiente onde eu guardava granola.
“O que preciso fazer para ter sua atenção?”
Comi a granola com leite e não respondi mais. Bloqueei seu número,
vesti um biquíni e fui até a piscina do prédio tomar sol. Passei o final de
semana com o número dela bloqueado e apesar da curiosidade e da vontade
de falar com ela não me atrevi a desbloquear. Eu precisava controlar minha
vontade de me entregar.
Capítulo 7
Um ano atrás
Na segunda-feira pela manhã, após ter deixado seu número de celular
bloqueado durante o fim de semana, fui recebida com um olhar curioso e
bravo. Olhei-a e me segurei para não sorrir da cena. Passei pela sua mesa e
desejei bom dia, ela não me respondeu, entrei na sala e logo escutei a porta se
abrir novamente. Virei-me e ela estava parada com meio corpo para dentro e
meio para fora.
— Eu queria me…
Encostei na minha mesa e peguei meu celular no bolso.
— Entre! — olhei-a — Sente-se! — apontei a cadeira na minha frente.
Entrou e fechou a porta trancando-a. Aproximou-se e ficou parada na
minha frente, olhando meu celular. Entrei na lista de números de celulares
bloqueados e tirei o dela.
— Você tem uma lista imensa de números bloqueados.
Coloquei o celular na mesa e olhei-a.
— E você está com sorte de sair dela.
— O que eu fiz de errado para perder sua atenção durante nossa
conversa na sexta-feira?
— Nada!
Ela me fez olhá-la.
— Por que me bloqueou? — ela me encarou.
— Porque eu precisava pensar e você é invasiva demais.
— Desculpe, eu achei que você estava gostando da conversa.
— Eu não devia ter me exibido para você na sexta.
— Eu gostei. — Ela me sorriu — Curto exibições.
Eu olhei o relógio do celular.
— Essa semana vamos almoçar juntas, se quiser pedir seu almoço na
minha conta, fique à vontade.
Eu fiz menção de me afastar da mesa para sair de perto dela, mas
segurou meu rosto e colou no dela, sussurrando em meu ouvido.
— Não tenha medo de mim. Não sei dos seus traumas, mas quero curá-
los.
Beijou meu pescoço e fez com que a olhasse. Sua boca se apossou da
minha, um beijo calmo e suave se revelou mais excitante do que um
arrebatador e intenso. Nossos lábios se tocavam delicadamente, as línguas
bailavam e se enlaçavam com facilidade. Puxou meu corpo com posse para
perto do seu. Sua mão passeava pela minha nuca e seu beijo me deixava
tonta. Fez com que eu a olhasse.
— Você — voltou a me beijar — tem uma boca — me deu um selinho
— deliciosa. Viciante! — me deu outro selinho — Volto para o almoço e
quero que me envie o nosso vídeo.
— Conquiste-o! — encarei-a.
Ela apenas me encarou e saiu da sala.
Sentei na minha cadeira e abri meu e-mail para começar meu dia.
Contradições financeiras começaram a me atormentar, planilhas de viagens
que não condiziam com os recibos de gastos. Eu gerenciava, além das
finanças da empresa, os gastos dos diretores e pelo jeito ia ter que ficar atenta
com eles. Gastavam muito mais do que o teto permitido pela empresa.
Eu já tinha esquecido que havia pedido por um professor particular de
boxe, Ágatha me mandou um e-mail com vários nomes e preços, deixei para
ver com calma depois do expediente.
Quando eu percebi, já estava na hora do almoço. Ágatha bateu na porta
e entrou com o meu almoço e com o dela. Devagar fui até o banheiro lavar as
mãos e quando voltei ela já estava organizando tudo na mesa de centro perto
dos sofás.
— Venha, vou te alimentar.
Ela se aproximou e me puxou para sentarmos no chão, acompanhei-a.
Sentamos e eu me encostei no sofá respirando fundo, estava com a cabeça
doendo.
— Você está com um semblante péssimo. — Ela abriu um dos
recipientes e mexeu com o garfo.
Eu não respondi e ela me serviu uma garfada na boca.
— Não precisa me servir na boca. — A frase saiu ríspida, ela me olhou
brava e entregou o recipiente para mim.
Afastou-se de mim e abriu sua marmita.
— Você pode me fazer cinco perguntas por almoço. As perguntas não
são acumulativas para o dia seguinte e muito menos para horários durante o
expediente. E eu responderei se achar que devo.
Ela não falou nada e comeu uma garfada do arroz e feijão que ela tinha
levado. Após algumas garfadas, ela me olhou séria.
— Por que é vegetariana?
— Não gosto de carne.
— Mas você comeu carne até os vinte anos de idade mesmo não
gostando?
— Eu sempre evitava comer pratos com carne por não gostar. Comia
peixe de vez em quando, mas parei totalmente quando completei os vinte
anos.
— Como e por que invadiu meu computador?
Comi um pouco e olhei-a depois de mastigar.
— Eu estudei linguagens de programação por hobby e acabei
aprendendo muita coisa errada com esses estudos. Invadi porque eu queria
descobrir algumas coisas sobre você, você me deixou acuada com suas
investidas para sairmos.
— Eu não tinha essa intenção, mas, como já disse, você me fascina.
— Por quê?
— Você é linda e seu jeito de se vestir e agir me deixam com a
imaginação a mil.
— Nós começamos errado, não devia ter te levado para minha casa sem
confiar em você. Eu não costumo fazer isso, mas confesso que sua coação me
deixou curiosa.
Ela me sorriu e continuou a comer.
— Você quem fez sua comida?
— Sim! Quer experimentar?
Ela me ofereceu uma garfada de arroz, feijão e brócolis refogado, abri a
boca e ela me serviu. Mastiguei olhando-a.
— Muito bom. — Sorri-lhe.
— Posso fazer para você também, se quiser.
— Um passo de cada vez, não me deixe mais acuada do que já estou,
você vai sair perdendo com isso.
— Ok!
— E não me olhe contrariada.
Ela me olhou levantando uma sobrancelha.
— Você já sabe ler minhas expressões?
— Pelo jeito sim. Você ainda tem duas perguntas. — Olhei o relógio do
celular — Mas seu tempo acabou.
— Você ainda não terminou de comer.
— Não quero mais.
Ela me olhou brava, pegou o recipiente e me ofereceu uma garfada.
— Você não comeu nem metade do que eu pedi.
— Seu tempo acabou.
Eu me levantei do chão e senti sua mão acertar em cheio minha nádega
direita. Ela se levantou ao meu lado e se aproximou do meu corpo.
— Isso é para você deixar de ser uma menina malcriada e almoçar
direito. — Ela sorriu.
Olhei-a de relance e me contive para não sorrir. Ela me abraçou por trás
e desabotoou minha calça, segurei sua mão e me virei de frente segurando-lhe
o pulso.
— O que pensa que está fazendo?
— Eu vou tirar sua calça.
Soltei-a.
— Você não tem o meu consentimento para isso.
Ela me deu outro tapa, olhei-a e senti outro tapa arder minha nádega.
— Eu disse que você tinha direito a perguntas e não tapas. — Segurei
seu pulso.
— Você me irrita…
— Se for para me espancar, que seja por prazer e não raiva. Raiva e
BDSM não combinam.
— Você não me obedece…
— Não espere isso de mim aqui dentro.
— O que eu devo esperar de você?
— Eu aprendi a ser submissa sem perder minha personalidade.
— Excêntrica! — me encarou brava.
— Nunca mais encoste a mão em mim por estar irritada comigo.
Precisamos criar um laço de confiança e não medo. — Fiz com que me
olhasse — Medo não dá prazer. — disse brava.
Ela segurou meu rosto entre as mãos e me deu um selinho.
— Desculpe, você tem razão, foi uma brincadeira infantil e
desnecessária.
— Termine de comer e depois saia da sala. — Me afastei e sentei na
minha cadeira.
— É assim que eu perco sua atenção? Falando ou fazendo besteira?
— Sim. — Olhei-a.
— Sábado eu perdi sua atenção quando disse que te queria ajoelhada
me vendo tomar banho?
— Sim.
— Mas era o que eu queria naquele momento.
Não respondi e ela voltou a se sentar no tapete e não falou mais nada,
enquanto fingia anotar algumas coisas na agenda, observei-a comendo
pensativa. Após alguns minutos ela recolheu todas as coisas de cima da mesa
e saiu da sala. Encostei na cadeira e me perguntei o porquê estava brincando
com fogo se sabia que no fim sempre acabava me queimando.
Samuel me ligou dizendo que estava indo até a minha sala e quando
chegou ficou horas me azucrinando sobre a abertura de capital da empresa.
Quando digo horas, não é apenas expressão. Foi a tarde toda tentando pôr na
cabeça daquele sem noção que a empresa estava fraca para fazer o que ele
queria. Respirei aliviada quando ele saiu da sala, às sete da noite. Saí logo em
seguida e Ágatha ainda estava sentada em sua mesa.
— O que ainda faz aqui? — olhei o relógio do celular.
— Não sabia se iria precisar de mim para alguma coisa.
— Não precisa estender seu horário por minha causa, quando precisar
que fique avisarei.
— Ok!
Ela pegou sua bolsa e eu andei até a porta do elevador e apertei o botão
para chamá-lo. Parou ao meu lado.
— Podemos mudar nossos encontros para jantares, fora da empresa?
— Não.
O elevador parou e as portas se abriram. Entramos juntas.
— Por que tudo tem que ser do seu jeito?
Eu entrei, apertei o botão do térreo e ficamos uma ao lado da outra.
Coloquei as mãos no bolso e percebi que ela estava irritada com meu
silêncio, permaneci sem falar. Olhei meu celular e pedi um táxi para o
endereço dela, sabia que ela usava transporte público. E outro para mim.
— Seu táxi tem a placa ZRE-9901 e é um Vectra Branco.
O elevador parou no térreo, saí e ela me seguiu. Vi alguns olhares em
nossa direção, não sabia se era para mim, para ela ou para ambas. Seguranças
e recepcionistas atentos aos nossos passos.
— Você poderia ao menos responder quando te faço perguntas. — Ela
andava ao meu lado.
Quando saímos do prédio, o táxi dela estava encostando na sarjeta, abri
a porta e antes de entrar ela me olhou perdida.
— Convença-me a fazer as coisas do seu jeito. — Olhei-a e vi que meu
táxi parou logo atrás.
Afastei-me sem deixar tempo para ela me responder.
Ágatha tinha o poder de me deixar inquieta e excitada ao mesmo
tempo. Seu temperamento de garota mimada que quer mandar em tudo me
deixava, muitas vezes, confusa. Minha excentricidade, como ela mesma gosta
de falar, deve deixá-la intimidada e curiosa. Quando conheci Katherine, eu
tinha apenas dezenove anos e não sabia muita coisa sobre sexo, orgasmo e
nunca tinha ouvido falar de BDSM. Ela tinha vinte e nove anos, quando
começamos a nos relacionar. Aprendi muita coisa com ela e conheço meus
limites, pois Katherine me desafiava a sempre aguentar mais. Seu
temperamento abusivo e suas humilhações começaram depois de dois anos de
relacionamento. Pelo aplicativo, vi que o motorista tinha deixado ela em sua
casa. O meu trajeto ainda demoraria um pouco. “É fácil te convencer de
algo?” Eu sorri com a mensagem, mas não respondi.
Entrei no apartamento, tirei o sapato ao lado da porta, fui até a cozinha
e separei uma banana e alguns morangos para bater com leite de soja. Lavei
os morangos e recebi uma foto com a legenda: “Reconhece?” Ágatha vestia
o conjunto de lingerie que usou no dia em que esteve no meu quarto. Procurei
pelo nosso vídeo em meu celular e dei play. Em uma cena que ela aparecia de
forma evidente, pausei e tirei um print da tela. Enviei a foto sem falar nada.
“Eu quero esse vídeo, o que preciso fazer para tê-lo?”
Não respondi, peguei o liquidificador e coloquei o leite e as frutas nele,
liguei-o e recebi outra foto. Ela estava apenas de calcinha e cobrindo os seios
com o braço. Despejei o líquido no copo e mandei o print de outro pedaço do
vídeo.
“Eu mandei fotos e você me respondeu com fotos, se eu mandar vídeo,
você me responde com vídeo?”
Bebi a vitamina e fiquei olhando a foto que enviou, estava linda.
Recebi um arquivo pesado e quando baixou, vi que era um vídeo dela com o
conjunto de lingerie na frente do espelho. Ela olhava o espelho diretamente
para a câmera enquanto tirava o sutiã. Fez menção de tirar a calcinha, mas
cortou a gravação. Fui até o quarto de treino e mandei um link de acesso para
a câmera de segurança. Desabotoei a camisa social, pendurei no mancebo e
repeti o gesto com a calça. Fiquei de frente para a câmera enquanto passava a
bandagem nos pulsos e entre os dedos. Fiz meu treino, normalmente como se
não estivesse sendo assistida e ela teria acesso ao vídeo todo, se quisesse. Eu
estava de calcinha e top, treino assim quando estou sozinha, me sinto mais
leve e livre para os movimentos.
Após uma hora e quinze minutos de treino, peguei meu celular e vi que
ela ainda estava on-line no link e tinha uma mensagem: “Você é linda
demais!” Recebi um vídeo dela, quase uma hora de duração. Apertei o play e
ela havia gravado um vídeo dela se masturbando enquanto assistia ao meu
treino de boxe. Como o celular estava na sua mão imaginei que tinha gravado
pelo computador. Eu sorri e cortei seu acesso à câmera.
Tomei um banho e jantei. Deitei na cama e abri o vídeo que ela tinha
me mandado. Não assisti inteiro, mas foi o suficiente para dormir excitada e
desejando seu corpo.
Pela manhã, tentei acertar a quantidade de café, mas eu era horrível
para fazer isso. Segui para a empresa sem conseguir tomá-lo. Dentro do
elevador, olhei a passagem de números no visor até o nono andar. As portas
se abriram e ela estava sentada conversando com a secretária de Samuel. As
duas pararam de falar assim que me viram. Desejei bom dia e passei por elas
em direção à sala. Como ela não me seguiu, voltei até sua mesa e ao sair da
minha sala ouvi a outra secretária dizer: “ela é diferente demais.” Como ela
não tinha me visto parei atrás dela.
— Está perdida no nono andar?
A garota levou um susto e saiu andando em direção do elevador sem
me responder. Ágatha se segurou para não rir alto, mas se soltou quando o
elevador se fechou. Sua risada era graciosa. Eu apenas sorri com a cena e lhe
pedi uma xícara de café. Ela me sorriu e disse que já levava.
Quando entrou, eu estava em pé perto da janela olhando o movimento.
Observei sua aproximação e antes de me dar a xícara, depositou um beijo nos
meus lábios. Sorriu e me entregou a xícara.
— Eu mesma quem fiz.
Tomei um gole e era infinitamente melhor do que o meu.
— Obrigada! — beijei-lhe a testa — Você é sempre acanhada para
gemer? — sussurrei em seu ouvido.
Ela me beijou a bochecha.
— Eu divido o apartamento com mais três pessoas, não podia gemer
mais alto. — Ela me beijou a orelha me arrepiando — Mas no seu quarto
posso gemer o quão alto você quiser.
Aproveitei a proximidade de nossos rostos e lhe beijei a orelha.
— Ouse não gemer. — Sussurrei.
Passou a mão pelo meio das minhas pernas e apertou minha buceta.
— Não me provoque. — Beijou-me a boca com delicadeza e eu lhe
sorri.
— Não provocarei.
Seus lábios buscaram os meus e nos beijamos com calma, sua mão me
envolvia a cintura enquanto a outra estava em minha nuca. Meu cérebro
mandava eu me afastar e minha libido mandava eu me entregar. Minhas mãos
queriam avançar em seu corpo, mas me contive. Findou o beijo me sugando o
lábio inferior e um selinho demorado. Ela saiu da sala e eu terminei o líquido
enquanto ainda estava quente. A cena dela se masturbando assistindo meu
treino de boxe voltou à minha cabeça e eu sorri lembrando de seus gemidos
acanhados.
Minha manhã foi tranquila perto do que estava sendo nos últimos dias.
A hora do almoço demorou mais para chegar por conta disso. Como
tranquilidade não condiz com esse trabalho, Samuel e o presidente da
empresa entraram na minha sala faltando poucos minutos para meu horário
de almoço.
— Eu estava de saída, precisamos conversar agora?
— Sim. — respondeu o presidente.
A conversa foi produtiva, pois era para tentar amenizar a vontade de
Samuel de abrir a empresa para capital estrangeiro.
Duas horas depois, quando saíram, Ágatha entrou com meu almoço.
— Depois da bronca de ontem, eu já almocei.
— Fez bem.
— Posso te acompanhar se quiser.
Levantei e fui até o banheiro lavar as mãos e voltei observando sua
arrumação na mesa de centro. Aproximou-se de mim e me deu um selinho.
Puxou-me para me sentar no tapete. Deixei-me ser conduzida, queria ver até
onde ela iria. Sentamos e ela me serviu a primeira garfada. Encarei-a
aceitando a comida. Algo estava diferente naquela comida, mais saborosa,
menos oleosa.
— Como machucou o pulso?
Ofereceu-me outra garfada e eu aceitei. Seus olhos pretos me
interrogavam, estavam inquietos esperando minhas respostas e sua boca
estava pronta para outra pergunta.
— Em uma luta. Você trocou de restaurante?
— Sim! Você luta de verdade? — ela me ofereceu outra garfada.
— Por que trocou de restaurante? — segurei a mão que estava o garfo e
afastei o rosto dela.
— Não estou tentando te envenenar. — disse brava.
— Ágatha, me responde!
— Como identificou que troquei de restaurante?
— Ágatha, me responde!
— Apenas as almôndegas de soja são do restaurante. — Eu me levantei
do chão.
— Saia da minha sala.
— Anelise, pare de ser radical. — ela também se levantou — Eu não
fiz nada com carne, eu só…
— Você me desobedeceu, eu disse que iria me deixar acuada com essa
atitude e você fez do mesmo jeito. Teimosa!
Ela não respondeu e eu saí da sala. Desci correndo pelas escadas até o
sétimo andar e fiquei parada no meio do caminho. Odiava me sentir
controlada fora de uma cena. Demorei anos para estabelecer o equilíbrio que
tenho hoje e não posso permitir que uma garota invada minha vida querendo
me controlar dessa maneira. Katherine, no fim do nosso relacionamento,
controla tudo, inclusive o que eu comia. Terminei de descer as escadas e fui
para casa, não tinha mais cabeça para trabalhar do escritório. Não queria
voltar a vê-la. No caminho para casa bloqueei seu número, pois sabia que me
procuraria. Eu precisava respirar.
Passei a tarde sentada no tapete da sala de meu apartamento, tranquila,
sem interrupções. Entre um cálculo e outro, uma planilha e outra tentei não
pensar em Ágatha. Consegui abstraí-la, mas no dia seguinte ela estaria lá, no
mesmo lugar.
Após meu treino e um banho, adormeci no sofá tentando ver um filme.
Acordei no meio da noite assustada, levantei sonolenta e fui para o quarto.
Meu celular estava cheio de mensagens de um número diferente, não li, voltei
a dormir.
Pela manhã, acordei cansada e irritada, respirei fundo e me vesti. No
caminho, não consegui pensar em nada além da minha irritabilidade. Quanto
mais tentava me acalmar pior eu ficava. Passei por sua mesa e não disse nada.
Entrei na sala e tentei relaxar e me concentrar, mas Samuel me ligou e ainda
insistia no mesmo assunto.
— Samuel, vamos combinar uma coisa? — disse ríspida — Vamos
organizar a casa e daqui dois meses voltamos a falar sobre abertura de capital.
Eu não vou aceitar sua pressão, não vou ser irresponsável com o resto da
empresa porque você está agindo como um homem mimado.
— Anelise você tem…
— Não tenho, Samuel. Você sabe dos riscos e eu só vou aceitar falar
sobre isso daqui dois meses.
Desliguei o telefone. Abri meu e-mail e pelos assuntos, teria um dia
com enormes problemas para resolver.
Na hora que Ágatha trouxe meu almoço, ignorei-a e continuei anotando
números em uma folha perto do computador. Ela se sentou na cadeira em
frente à minha mesa e abriu sua marmita, como se eu não estivesse ali. Peguei
meu garfo e o pacote do restaurante. Abri e me servi de uma garfada. Comida
ruim em comparação a do dia anterior. Continuei a fazer cálculos e anotar
informações nas folhas.
— Você não devia trabalhar enquanto come.
— Você não devia tentar mandar em mim.
— Grosseria veio de complemento hoje?
— Ágatha…
— Você é sempre dominadora dessa forma com suas domme?
Não respondi e continuei comendo.
— Eu só estava tentando te trazer uma comida mais saudável,
restaurantes geralmente abusam de sódio, conservantes e gordura para
preparar as refeições.
Novamente permaneci em silêncio.
— Não era uma questão de controle, eu só queria agradar.
— Quando eu disser: “Não faça tal coisa.” Você não faz! É simples,
não tente bater de frente comigo. — Minha voz saiu forte e ríspida — É
invasivo — tentei amenizar a dureza da minha voz — quando eu digo que
não quero que você faça minha comida e você faz e ainda tenta me enganar.
— Se eu tivesse te avisado que eu tinha feito sua comida, você teria
uma reação diferente?
— Não sei. — Respondi sem graça.
— Por que você tem que dominar tudo? Deixa-me te agradar.
— Você me agrada me obedecendo.
— Nós não vamos dar certo assim. — ela disse se levantando e saindo
da sala.
Coloquei o garfo na mesa e encostei na cadeira respirando aliviada por
estar sozinha. Aproveitei o tempo livre e marquei com um professor de boxe
para experimentar sua aula particular. No fim daquele dia, saí da sala olhando
o celular e lendo as mensagens que Ágatha tinha me mandado no dia anterior
de um novo número. Nada de interessante, um monte de tentativas de me
pedir desculpas pelo que fez. Andei até o elevador e apertei o botão para
chamá-lo. Ela parou ao meu lado.
— Quais são as regras do seu jogo?
Eu segurei um sorriso de canto de boca e olhei-a profundamente. As
portas do elevador se abriram e eu entrei.
— Estou falando sério, quais são as suas regras? — ela ficou parada no
meio do caminho para as portas não se fecharem — Eu preciso saber quais
são para não as burlar.
Ela entrou no elevador, as portas se fecharam e me puxou para um
beijo lascivo e decisivo. Não resisti e nosso envolvimento foi intenso.
— Não me atacar como se estivesse no cio é uma delas. — Eu disse
tentando parar de beijá-la, mas eu queria aquele contato.
— Isso é impossível. — Me beijava com mais desejo e envolveu seu
corpo com as minhas pernas — Deixa eu ir para sua casa. — Apertou minha
bunda e me beijou com mais calma — Deixa eu te chamar de minha. —
Voltou a me beijar lascivamente.
Sua boca era insanamente gostosa, carnuda, suas mãos se apossaram de
mim com dominância e senti um tapa na bunda me fazendo puxar seu corpo
para perto do meu.
— Você precisa deixar eu dominar seu corpo. — Ela me bateu de novo
e eu gemi em resposta ao ato — Pare de fugir do óbvio. — Ela me beijou
novamente.
Soltou-me e se afastou a tempo de o elevador parar e logo abrir a porta.
Saí atrás dela e ainda ofegante e excitada andei rápido até a calçada. Afastei-
me alguns metros sentindo seu beijo se apoderando de minha mente, olhei em
volta e respirei fundo. Ainda era quarta-feira e me arrependi de tê-la
convidado para almoçar comigo a semana toda.
Durante o trajeto para o meu apartamento, percebi que se eu me
entregasse à Ágatha, iria ter um tsunami em minha vida e eu não estava
pronta para isso. Os dois números de celulares que ela usou para se
comunicar comigo estavam bloqueados. O professor foi pontual e nosso
treino proveitoso, não quis arriscar testar outro e contratei-o.
Deitada na cama após um banho, relembrei de nosso beijo no elevador,
meu corpo reagiu arrepiado e excitado. Não vou negar que nosso
envolvimento está sendo rápido e não faço ideia do porquê ela insistir tanto
em mim. Por mais que ela já tenha me dito que eu a fascino, ainda acho que
tudo está sendo rápido demais. Estou sem tempo de pensar direito, pois ela
invadiu minha mente como um vírus perigoso invade um computador. Meu
disco rígido está sendo corrompido por um vírus chamado Ágatha.
Ao chegar na empresa no dia seguinte ela não estava em sua mesa.
Entrei na minha sala e quando abri meu e-mail vi um com seu nome de
remetente. Abri e li: “Acho que aqui ainda não estou bloqueada, já que meus
dois números de celulares estão. Tentei te ligar inúmeras vezes, mas não
consegui respostas. Minha mãe acordou passando mal e estou no hospital
com ela, mas assim que sair daqui vou direto para o escritório.”
Desbloqueei seus números e mandei uma mensagem: “Tire o dia de
folga e cuide direito de sua mãe.”
Ela me respondeu de imediato: “Seu almoço já está confirmado e
Soraia vai me substituir até eu chegar.”
Respondi: “Avise que ela vai te substituir até o fim do dia, não ouse
aparecer aqui. Cuide direito de sua mãe.”
Ela respondeu: “Não quero perder nosso almoço, precisamos
conversar.”
Respondi: “Não seja teimosa, me obedeça.”
Ela respondeu: “Serei recompensada por te obedecer?”
Eu sorri com a pergunta e respondi: “Talvez!”
Sua resposta foi: “Isso já é melhor do que um não.”
Meu dia foi tedioso sem sua presença fiquei me segurando para não
mandar mensagem. Mas ela quebrou o silêncio no fim do dia. “Obrigada
pela folga, estava precisando dar atenção para minha mãe. Soraia foi uma
boa substituta?”
Não respondi imediatamente, não ia dar chance ao azar e demonstrar
minha ansiedade. Respondi só quando já estava deitada na cama, depois de
treinar, comer e tomar banho.
“Não posso reclamar da garota, mas não é a mesma coisa.”
Em resposta imediata: “Então você confessa que fiz falta?”
Eu ri alto da mensagem e não respondi. Ela é um vírus altamente
perigoso e meu disco rígido está totalmente destruído, não há mais arquivo
sem estar infectado.
Capítulo 8
Um ano atrás
Na sexta-feira, quando a porta do elevador se abriu ela me olhou e
sorriu. Eu fiz um esforço para não retribuir, ela estava linda. Tocou o telefone
enquanto passei por sua mesa e ela não me seguiu. Só fui vê-la na hora do
almoço, entrou colocou nossas comidas sob a mesa de centro e eu só observei
fingindo estar fazendo contas em uma calculadora. Ela se aproximou da mesa
e apoiando um braço na mesa aproximou seu rosto do meu ouvido beijando-
o. Ela tirou a caneta da minha mão.
— Você não vai precisar disso.
— Já chegou me assediando? — Perguntei brava.
— Confessa que você gosta.
— Já disse mais de uma vez que não gosto. — Fiz com que ela se
afastasse.
Levantei abruptamente da cadeira.
— Você gosta de me ver irritada?
— Você é linda de qualquer jeito. Irritada, mal-humorada, — Ela se
aproximou de mim — séria, concentrada, cansada… — Me deu um selinho
— Por que não gosta que eu te assedie?
— Já tive problemas em outro emprego por causa de assédio.
— Vou tentar me controlar perto de você, mas não prometo nada.
Ela me sorriu e foi até a mesa de centro e sentou-se no tapete.
Aproximei-me depois de lavar as mãos e também me sentei.
— Você tem família?
— Sim. — Me servi antes que ela começasse com a mania de querer
me alimentar.
— Pai, mãe, irmãos, avós?
— Filha única, pais problemáticos, sem avós. Não falo com minha mãe
há anos e não sei que fim levou meu pai. Sua mãe está bem?
— Sim. Você sempre participa de campeonatos de boxe?
— Depois da minha torção no pulso, pretendo dar um tempo em
campeonatos, só vou treinar.
— Quando vou poder ver um treino ao vivo?
Eu apenas ri e não respondi.
— Você deveria sorrir mais vezes. — Ela me encarou — E isso é um
pedido e não uma ordem.
— Qual sentimento que eu faço aflorar em você?
— Alguns bem confusos, na maioria das vezes. Seu corpo me diz uma
coisa e sua mente me fala outra.
Ela passou a mão em meu rosto.
— Eu sou confusa para você? — Perguntei me servindo.
— Na maioria das vezes. Eu quero você e parece que você também me
quer, afinal, não acredito que você goste de almoçar com qualquer pessoa.
Diga suas regras, pare de ter medo de mim.
— Eu tenho meus traumas e ter outra dominatrix na minha vida não
estava ou está em meus planos.
— Vamos apenas nos curtir, sem denominações. Eu sinto um tesão
enorme por você desde o primeiro dia que vi sua foto na internet, quando
Samuel me pediu para marcar uma entrevista contigo.
— Eu não sou de curtições.
— Eu não ganho uma com você?
— Você precisa ganhar?
— É difícil conversar quando um dos lados não é maleável a propostas.
— Qual tua proposta, garota?
— Quando me chama de garota, você me brocha.
— Ok! Qual tua proposta, Ágatha? Melhor assim?
— Sim. Meu nome na sua boca me deixa excitada. — Ela me sorriu e
eu acabei retribuindo — Antes de fazer minha proposta, me fale, qual seu
trauma com sua ex dominatrix?
— Katherine foi abusiva no final da nossa relação, não aceitava mais o
fato de eu ter um emprego, ter amigos, era ciumenta demais e me controlava
de todas as formas possíveis. Eu não gosto que dominem minha vida. Quando
terminei nossa relação ela surtou e me perseguiu por meses. Samantha não
era abusiva, tínhamos uma boa relação, mas praticava o BDSM sem seguir
regras básicas de segurança.
Ela me fez olhá-la.
— Eu sei que não nos conhecemos e eu estou sendo invasiva, na
maioria das vezes. Infelizmente é o meu jeitinho. — Ela riu — Deixa eu
entrar na sua vida pela porta da frente ou melhor pelo quarto dos fundos. —
Ela se sentou mais perto de mim — Você não precisa me contar nada da sua
vida, e se quiser se envolver com outras pessoas, não vou querer saber. Se
quiser fingir que eu não existo durante a semana e me encontrar apenas em
dias e horários determinados, não me importa. Eu só quero ter o prazer de te
ter naquele quarto, o que você fará fora dele é assunto seu. — Ela me beijou
delicadamente — Deixa eu te bater, — Beijou meu pescoço — algemar, —
Beijou minha boca — amarrar… — Apossou-se dos meus lábios vorazmente.
Entreguei-me ao beijo e me senti preenchida por uma sensação boa e
tranquila, mas me afastei quando percebi que meu corpo estava se entregando
demais.
— Você sempre se afasta na melhor parte. — Ela me olhou confusa.
Não respondi e apenas encarei-a.
Terminamos o almoço em silêncio, preferi assim, pelo menos não
precisaria responder sua proposta. Ao terminar me levantei e fiquei olhando o
movimento da rua pela janela do escritório com as mãos no bolso. Ela se
aproximou, se posicionou atrás de mim, encostou seu corpo em mim e
colocou as mãos dentro dos meus bolsos junto com as minhas.
— Eu vou te assediar. Eu vou te atacar como se estivesse no cio. Eu
vou te enfrentar, principalmente quando eu não souber como agir. Mas
nunca, nunca vou ter posse sobre você. Você é livre. Você pode deixar eu
cuidar de você sem se sentir dominada fora do quarto. Eu gosto de cuidar,
alimentar e mimar minhas subs de vez em quando. Você tem duas opções,
também aceitar minhas vontades ou não teremos mais nada.
Eu apertei-lhe a mão delicadamente e encostei minha cabeça na dela.
Ela beijou meu pescoço.
— Confia em mim, deixa eu mostrar que não sou um monstro
possessivo. Sou só uma garota que está fascinada por você e não sabe como
agradar.
— Vai me usar até achar algo mais fascinante?
— Você me irrita com essa mania de distorcer o que eu falo.
— Você é invasiva.
— Pare de lutar contra o desejo do seu corpo. — Ela me lambeu a
orelha me arrepiando — Vou aparecer na sua casa, hoje às oito e não tente
fugir de mim. Quero que me receba vestindo uma lingerie preta e um rabo de
cavalo bem alto para destacar seu rosto.
Ficamos naquela posição por um tempo, o calor do seu corpo junto ao
meu me acalmava, apesar da minha mente estar a mil com sua proposta.
Virei-me de frente para ela. Com o indicador tirei uma mecha de cabelo de
seu rosto e encarei-a ainda indecisa sobre como responder.
— Eu aceito sua proposta com algumas condições.
— Quais?
— Nossa relação é apenas dentro do quarto, aqui fora, eu mando, eu
sou sua chefe e não quero me sentir acuada de nenhuma forma.
— Quando você me disser para não fazer algo, eu vou cumprir,
prometo.
— Suas colegas não podem nem sonhar com o que acontece conosco.
— Eu não tenho esse intuito.
— Você disse sério sobre não querer saber da minha vida?
— Disse. Aqui fora não seremos nada, vou tentar ser menos invasiva,
não garanto eficácia nisso, pois sou curiosa, mas vou tentar.
— Não tenho lingerie preta limpa. — Eu disse sorrindo — Vai ter que
ser outra cor.
— Já vai me desobedecer antes mesmo de eu chegar na sua casa? —
Ela me encarou e eu dei de ombros fazendo-a sorrir — Eu tenho um pedido
para lhe fazer.
— Diga.
— Eu gostaria de te alimentar na boca quando almoçarmos ou
jantarmos apenas nós duas.
— Por quê?
— Porque eu sinto que estou te protegendo e cuidando de você.
— Ok, Ágatha! Desde que isso seja apenas entre nós e nunca em
lugares públicos.
— E você pode recusar quando quiser, é um pedido e não uma ordem.
Eu olhei a hora no celular e lhe encarei.
— Eu sei, meu tempo acabou. — Ela riu.
Beijou-me delicadamente e saiu da sala depois de limpar a sujeira que
fizemos. Sentei em minha cadeira e me entreguei ao trabalho, bom, pelo
menos era o que queria ter feito. Ágatha ficou em minha mente a tarde toda e
minha libido já estava querendo saber o que ela iria aprontar comigo.
Capítulo 9
Dias atuais
Maitê conseguiu me enviar roupas, afinal ainda estava apenas de
roupão e calcinha. Isso aconteceu às cinco horas da tarde. Duvido que ela
tenha me levado roupas apenas àquela hora. Aquele detetive filho da puta
estava de sacanagem com a minha cara. Tenho certeza que ele me deixou
com aquelas roupas para me humilhar, pois de tempos em tempos passava um
policial pela cela para me ver, estava me sentindo um macaco de zoológico.
Depois que me vesti não me senti melhor do que antes, passei a tarde toda
tentando não sentar e não encostar em nada, mas o cansaço estava começando
a aparecer. Além do vaso sanitário entupido e cheio de fezes e papel
higiênico molhado, haviam dois bancos, um bem ao lado do vaso e outro
perto de onde eu estava. No banco mais longe, a garota que estava drogada
estava sentada na ponta longe do vaso, pois o restante estava vomitado, por
ela mesma. A que aparentava ser prostituta, estava deitada tomando todo o
outro banco. Eu queria ir embora, quem não iria querer um banho quente e
uma cama fofa? Não seria pedir demais, já que eu não faço ideia do que
aconteceu com Ágatha.
Por falta de opção, eu tive que sentar no chão, abracei minhas pernas e
deitei minha cabeça em meus joelhos. Nunca mais eu veria Ágatha e minha
esperança de sair desta armadilha estava cada segundo mais fraca, não estou
convencida de que Maitê está do meu lado. Fechei os olhos por um instante e
me lembrei de quando fui à praia com Ágatha, deixei a cena dela de biquíni
me acalmar. Adormeci por poucos minutos, acredito eu, pois logo me
assustei com a cela sendo aberta.
— Sua advogada está aqui, levante-se! — Disse o policial.
Levantei e ele me virou contra a grade de forma agressiva. Puxou meu
braço direito para trás para me algemar.
— Isso é necessário?
— Ouvi dizer que você adora. — Ele me pressionou contra as grades
algemando o braço esquerdo também.
Não respondi e ele me puxou para sairmos da cela. Andamos por um
enorme corredor até a sala onde Maitê me esperava. Quando entrei ela me
olhou e percebi que meu mundo iria desabar mais um pouco.
— Esqueci a chave lá na minha sala. — O policial disse sarcástico.
Ele saiu da sala e me aproximei da mesa onde ela estava sentada me
encarando.
— Esses policiais estão de sacanagem comigo. Por que está com essa
cara?
— Sente-se.
— Como se fosse fácil fazer alguma coisa com estas algemas.
— Você sabe fazer muita coisa algemada. — Ela disse sarcástica e eu
me sentei — Seu chefe está te denunciando por roubo.
— O quê? Como assim?
— Samuel denunciou uma transferência de dez milhões para uma conta
na Suíça e a conta tem seu nome e foi feita com sua senha e através do seu
computador.
— Filho da puta! — eu gritei — Filho da puta! — eu levantei e
comecei a andar feito barata tonta.
— Todos os seus bens estão bloqueados. Todos!
— Maitê, você precisa me tirar dessa. Samuel está aprontando comigo,
não é possível. Eu não roubei nada. — Eu estava agitada e as algemas
apertadas.
— Ele tem muitas provas contra você. A polícia relacionou as fotos que
Ágatha tinha de você como chantagem. Estão acusando você de assassinato,
pois alegam que Ágatha sabia do seu plano de roubar a empresa.
— Não! Eles estão loucos! — Eu estava agitada e as algemas
começaram a cortar meu pulso, pois eu estava tentando me soltar.
O detetive entrou na sala e eu avancei para cima dele.
— Me solta! Eu não fiz nada! — Eu sentia o ferro cortar minha pele a
cada tentativa de me soltar.
O policial que tinha me deixado algemada voltou e vendo o estado do
meu pulso ficou paralisado.
— Me solta! — Eu gritei.
Ele me soltou e eu empurrei-o contra a parede. Meus pulsos estavam
cortados e vermelhos.
— Olha o que você fez imbecil! — Mostrei o machucado para o
policial — É assim que te ensinam a tratar as pessoas?
O detetive me puxou para longe do policial e Maitê veio em minha
direção, me puxando para o outro lado da sala.
— Anelise, essa atitude não vai te ajudar em nada. — Maitê me
sussurrou.
— Porra, Maitê! Você também está achando que eu fiz tudo isso? —
Encarei-a.
Ela não me respondeu.
— Você é uma idiota se estiver acreditando nisso tudo. — Eu falei
brava.
Eu olhei o detetive e ele me encarava como se eu fosse uma selvagem,
naquele momento, talvez eu estivesse mesmo agindo como uma. Mas como
eu deveria estar agindo perante essas acusações insensatas?
— Anelise, a senhorita está sendo acusada de assassinato e roubo, mas
posso acrescentar agressão contra policial também, se preferir.
— Eu não roubei ou matei. E eu ameacei um policial, não agredi. O
senhor faz muitas acusações em falso.
— Até o seu julgamento, ficará presa. O juiz decretou uma fiança de
meio milhão de reais para poder responder em liberdade.
— Como se dinheiro nascesse em árvore. — Eu disse brava analisando
o estrago em meu pulso.
— O sargento Garcia acompanhará sua prisão.
O policial se aproximou de mim e eu estiquei os braços e olhei Maitê.
— Você ainda é minha advogada?
— Sim. — Ela respondeu brava — Por que não seria?
— Não tenho dinheiro, o pouco que tinha está bloqueado. — Olhei o
policial e ele me algemou sem apertar até o fim.
— Não se preocupe.
— Eu já estou preocupada, Maitê. — Eu me aproximei dela — Você
tem noção do que essas mulheres vão fazer comigo quando descobrirem que
gosto de apanhar? — Sussurrei — Eu vejo que você não acredita em mim. Eu
preciso que você acredite em mim.
— As provas são…
— Como você quer ser minha advogada sem acreditar em mim? Provas
são forjadas a todo momento.
— Seu tempo acabou, garota. Vamos dar sequência à sua prisão. — O
detetive disse com um meio sorriso no rosto.
— Você ainda não venceu. — Eu disse brava.
Ele apenas riu e mandou Garcia me levar para fazer a minha ficha.
Seguimos por um corretor frio e mal iluminado. Entramos em outra
sala e fui fotografada para ser fichada. A mesma policial que acompanhou os
interrogatórios me entregou um kit com camiseta, calça e roupas íntimas para
vestir. Garcia ainda estava na sala, estiquei meus braços para ele me soltar
das algemas.
— Pode me soltar ou pretende que eu faça mágica e me troque
algemada?
Ele me olhou bravo e abriu as algemas, meus pulsos tinham marcas de
sangue seco e estavam arroxeados. A policial segurou minha mão quando viu
os machucados e me olhou com compaixão. Ela foi a primeira a fazer isso
desde de que entrei neste inferno.
— O que houve?
— Pergunte ao seu amigo Garcia. Posso lavá-los antes de me trocar?
Ela apontou um banheiro e olhou brava para o colega. Coloquei as
roupas sob a mesa ao lado do banheiro e entrei. Deixei a água correr sobre os
cortes, ardiam como se eu tivesse me machucado com folha sulfite. Passei
sabonete e soltei um palavrão por estar extremamente sensível, percebi que
Garcia estava olhando toda a cena e a outra policial também. Encostei a
cabeça na parede sentindo a água gelada nos pulsos. Até aquele momento
meu esforço em parecer forte era quase que natural, mas saber das acusações
de roubo me desmoronaram, derrubaram as últimas esperanças de sair dali.
Eu comecei a chorar, fechei a torneira e sentei no chão desesperada. A
policial se aproximou.
— Não temos tempo para isso. Vista-se, precisamos te transferir para a
penitenciária. Sugiro que use o banheiro, este é o último banheiro limpo que
verá por um bom tempo.
Respirei fundo tentando me acalmar. Levantei e fiz o sugerido. Ela me
passou o uniforme de presidiária e eu me vesti sem relutar. Afinal, não tinha
muitas opções. Garcia tinha saído e quando terminei ele entrou na sala
novamente e se aproximou.
— Eu sinto muito pelos machucados. — Ele me mostrou dois pedaços
de gaze — Vou pôr nos seus pulsos para protegê-la e não se ferir mais.
Eu não sei o porquê os dois estavam sendo bonzinhos comigo, eu
apenas acatei. Ele fez o curativo, me algemou e me acompanhou até o lado de
fora delegacia. Entrei em uma van junto com outras detentas e ele sentou-se
no banco da frente. Por sorte sentei ao lado da janela e durante todo o trajeto
consegui olhar a paisagem, era uma estrada com serras e eu não fazia ideia
para onde estavam me levando. Imaginei mil coisas que poderiam ter se
passado com Ágatha antes dela morrer e me culpei por não a ter protegido
melhor.
O trajeto foi curto e logo estávamos descendo em um pátio com
vigilantes armados, cercas altas e arames farpados por todos os lados. Em fila
única fomos levadas para uma sala, retiraram as algemas e nos enfileiraram
lado a lado. Uma agente penitenciária parou na minha frente.
— O que fez nos pulsos? — perguntou brava — Tentou se suicidar?
— Não, senhora! Machuquei com as algemas.
— Você deve ser a garota que gosta de ser amarrada, gosta de
apanhar… — Ela riu e me virou de costas para ela — Tire a roupa. Mãos na
parede e pés atrás da linha amarela.
Meus gostos fariam com que minha estadia ali dentro fosse uma eterna
perseguição. Obedeci a suas ordens e senti seus dedos me invadirem para
uma revista íntima. Enfiou três dedos de uma vez e eu segurei um palavrão.
Encostei minha boca em meu braço para não gritar, pois ela abriu os três
dedos forçando o meu canal vaginal. Retirou-os de dentro de mim e enfiou
dois dedos no ânus. Resisti em xingá-la e logo ela me deixou em paz. Duvido
que fez o mesmo com as outras.
Depois de revistada, me vesti e seguimos por um outro corredor até as
primeiras grades. Meu coração estava apertado e acelerado. Eu não sabia o
que esperar de um lugar como aquele. Nunca tinha entrado em uma prisão.
Entregaram-me uma sacola com papel higiênico, pasta, sabonete e escova de
dente e uma troca de roupa. Uma mulher nos acompanhou até outra ala e de
lá, outra foi quem nos guiou. O lugar era mal iluminado, as celas tinham no
mínimo dez mulheres amontoadas e o teto tinha infiltração do andar de cima.
Descobri que existiam duas alas, uma para quem ainda não estava
condenada e outra para quem já estava condenada. Uma pior do que a outra.
Tive sorte de não ficar em uma cela superlotada. Entrei e escutei a grade
sendo fechada atrás de mim. Olhei as quatro mulheres que estavam na cela,
havia apenas dois colchões e um vaso sanitário sujo. Uma das detentas se
aproximou de mim e eu segurei a sacola com mais força, pela situação do
lugar, era melhor cuidar do pouco que tinha. Encaramo-nos por instantes e
ela se afastou. Eu me agarrei àquela sacola e sentei em um canto afastada de
todas, tinha certeza que como novata minha vida não ia ser fácil.
Dormir? Impossível. Eram vozes e barulhos externos atormentando o
tempo todo. A posição também não ajudava, dormir sentada não é
confortável. Pensar em Ágatha não é confortável. Pensar que alguém está rico
e tomando champanhe em alguma ilha paradisíaca não é confortável. Nada
aqui dentro é confortável.
Uma das presas sentou ao meu lado.
— O que fez nos pulsos? — perguntou curiosa.
— Os guardas me machucaram.
— Eu não gosto daqui.
A garota tinha um comportamento infantil e alienado. Talvez sofresse
de algum problema mental ou apenas consequências deste lugar.
— Eu também não.
— Eu me chamo Joana.
— Anelise.
Ela continuou ao meu lado. As outras três me olhavam desconfiadas.
Eu encolhi as pernas e deitei a cabeça no joelho tentando me acalmar. Pelo
cansaço adormeci um pouco, mas logo abriram a cela dizendo que era hora
do banho.
Eu segui o fluxo e tentei não chamar a atenção, mas infelizmente isso
era impossível. O banheiro era uma fileira enorme de chuveiros, sem
privacidade ou individualidade. Haviam cabines para uso do vaso sanitário,
aproveitei para usar, pois na cela talvez não conseguisse. O estado de limpeza
não era muito diferente do que o vaso das celas, mas me arrisquei. Levei a
sacola comigo, não poderia perdê-la.
Para tomar o banho, percebi que não havia toalha disponível para todas
e a maioria das presas se vestiam molhada ou ficavam em pé no banheiro
para se secar um pouco. Não era possível isso, não existia um pingo de
humanidade com as presas?
Tirei minha roupa, guardei dentro da sacola e peguei o sabonete que
haviam me dado. Amarrei-a e pendurei no registro, abri a torneira e um jato
de água gelada caiu sobre o meu corpo. Rezei para que fosse apenas os
primeiros segundos de água gelada, mas infelizmente a temperatura só
despencou. Não ousei olhar para os lados. Lavei-me rapidamente, pois a água
gelada doía no corpo. Desliguei o chuveiro e fiquei parada tentando me
decidir se me vestia molhada ou se esperava, mas meu corpo tremia de frio.
Sequei algumas partes do corpo com a camiseta e me vesti.
Depois do banho, veio o jantar, se é que se pode chamar aquilo de
jantar. A fila única era obrigatória e o uso da bandeja de plástico também. A
mulher que entregava a bandeja já com um purê não identificável estava na
mesma cela que eu, descobri que seu nome era Hortência. A pilha de bandeja
ficava do seu lado esquerdo e a comida à sua frente. Ela me olhou e vi que as
bandejas não eram um exemplo de louça limpa. Encarou-me e olhou a pilha
de bandeja. Eu não disse nada, mas ela procurou uma que aparentava estar
mais limpa e colocou uma colherada da comida. A mulher ao lado dela,
colocou uma colherada de algo verde e também não identificável. A última,
entregou um pão estranho e com aspecto de ser de dois dias atrás. O refeitório
estava lotado e Joana me acenou de longe me chamando para sentar com ela.
No caminho até a mesa fui interceptada por uma mulher afrodescendente e
gorda. Tentei desviar, mas ela me seguiu.
— Posso passar?
— Não!
— Eu não quero encrenca.
Ela riu alto e colocou a bandeja dela sob a mesa ao nosso lado. Tentou
pegar minha sacola e eu não deixei. Também coloquei a bandeja sob a mesa.
Ela tentou me dar um tapa na cara, mas eu me esquivei fazendo-a errar. Eu
não queria revidar, mas ela tentou novamente e eu empurrei-a. Ela me acertou
um soco e eu lhe devolvi dois. Um guarda se aproximou berrando e nos
separando.
— Solitária para as duas! — Ele falou bravo.
— Eu não fiz nada. — Eu disse.
— Claro que fez, me impediu de passar e ainda me bateu. — A mulher
disse com cara de choro.
O guarda me puxou para longe dela e me levou até um corredor.
— É melhor você ficar na solitária. Não tente revidar as ameaças aqui
dentro. — Ele me disse calmo — Vai ser pior para você.
Andamos por um corredor também mal iluminado e com infiltrações.
— Como se consegue uma toalha por aqui?
— Aqui é tudo na base da troca. Se quiser, posso arranjar uma para
você. — Ele abriu a porta — Como você é novata só vai custar um boquete.
Ele me empurrou para dentro da cela e fechou a porta. Pelo menos eu
ainda tinha minha sacola e iria ter um colchão para dormir. Ele abriu uma
portinha e me olhou.
— Me avise sobre a toalha.
— O que mais você consegue pelo mesmo preço? — Olhei-o.
— Drogas?
— Não! Um canivete.
— O preço é mais alto para um canivete do que uma toalha.
— Qual é o seu preço?
— Aceito dinheiro ou sexo, quinhentos reais ou uma foda completa.
— O que é uma foda completa para você?
— Boquete, buceta e cu.
— Eu quero um canivete novo, nada de me dar lâminas enferrujadas. E
não esquece a camisinha.
— Prepare a buceta e o cu.
Eu apenas ri e ele fechou a portinha. A sacola estava segura, mas minha
dignidade, não. Sentei no canto da cama e a indignação de estar em um lugar
como aquele só aumentava.
Capítulo 10
Um ano atrás
Eram sete e cinquenta e nove da noite quando a campainha tocou. Eu
estava com uma lingerie azul marinho e um rabo de cavalo alto como ela
tinha pedido. Deixei a porta aberta após a campainha tocar. Esperei-a parada
dentro do apartamento, saiu do elevador e me sorriu. Ela vestia um sobretudo
preto e uma bolsa a tiracolo. Eu estava descalça e ela com um salto alto que a
deixava elegante. Entrou e tirou o sapato ao lado do meu. Fechou a porta e
deixou a bolsa no aparador perto da entrada. Olhou-me e abriu o sobretudo.
Vestia apenas um conjunto de lingerie roxo, sutiã meia taça rendado com
fecho na frente e uma calcinha fio-dental rendada.
— Azul marinho ficou bom em você. — Ela sorriu e se aproximou
parando em minha frente.
— Você está linda de roxo. — Lhe sorri.
— Finalmente recebi um elogio seu.
Aproximei meu rosto do dela e ela me roubou um selinho.
— Eu nos filmei sem seu consentimento na outra cena, mas hoje só vou
gravar se você deixar.
— Vai ser egoísta novamente e ficar com o vídeo somente para você?
— Não.
— Então pode filmar.
— Quer ir ao quarto escolher o que vai usar?
Ela não me respondeu de imediato me olhou pensativa.
— Eu já sei o que quero fazer com você. — Ela sorriu.
Passou a mão pela minha nuca e me beijou calorosamente. Recebi seus
lábios com desejo e lhe segurei a nuca para beijá-la lascivamente. Ela sugou
meu lábio inferior e me puxou em direção ao quarto. Eu ri da expressão de
feliz que ela fez quando entramos no cômodo.
— O que é engraçado?
— Sua carinha de felicidade, parece criança em parque de diversão. —
Eu ri e ela deu de ombros.
— Seu quarto é um paraíso para mim. — Me deu um selinho — Tire a
calcinha e o sutiã.
Enquanto tirei as peças vi que ela abriu o guarda-roupa onde ficavam
minhas cordas.
— Quer que eu passe as cordas nos ganchos?
— Sim.
Ela me entregou a corda e enquanto eu arrumava-as ela escolheu uma
palmatória redonda de couro. Separou também um plug anal, lubrificante e
uma mordaça que era acoplada em uma algema de couro. Aproximou-se de
mim e me pediu para ajoelhar na sua frente e estender a mão. Colocou sob a
palma da minha esquerda o plug e o lubrificante e na direita à palmatória. Ela
me fez morder a mordaça que era um rolo maciço de silicone. Seu olhar não
desgrudava do meu e minha excitação era crescente. Amarrou a mordaça e a
tira de couro com as algemas ficou pendurada em minhas costas.
— Eu vou te algemar e te amarrar presa ao teto, mas antes vou afastar
suas pernas e amarrá-las nos ganchos das paredes laterais. Eu não quero que
seu corpo fuja das palmadas, então, controle-o. — Ela me beijou mesmo eu
estando amordaçada.
Ela afastou minhas pernas e amarrou-as primeiro. Passou uma corda na
coxa esquerda e amarrou-a no gancho da parede. Fez o mesmo com a direita.
Passou mais uma corda perto do joelho e repetiu as amarras. Não tinha mais
como fechar as pernas. Pediu para que eu lhe desse o plug e o lubrificante e
ficasse de quatro. Senti sua língua me dando um beijo grego de tirar o fôlego,
meu gemido abafado me deixava mais excitada ainda. Sua língua me castigou
a ponto de eu chegar perto de um pré-gozo. Senti falta de sua língua e ela
sabia disso. Deu dois tapas em minha buceta, suspirei alto pelo susto e pelo
prazer. Passou o gel em meu ânus e levantou-se. Minha excitação estava a
mil, pelo que percebi ela adorava fazer todos os passos devagar, isso me
excitava e me acalmava. Pegou a palmatória e posicionou-se com meu corpo
embaixo dela, entre suas pernas. Ela puxou meu braço direito para trás e
algemou-o. Puxou o esquerdo e também o algemou. As algemas eram de
couro e macias ao toque na pele. Eu estava bem exposta a ela e agora presa,
sem forças para levantar meu tronco, mesmo porque ela estava me prendendo
naquela posição. Senti o toque da ponta do plug em meu ânus. Eu queria
demonstrar meu prazer, mas a mordaça não deixava. Era uma das sensações
mais conflitantes e deliciosas que eu já havia passado. A penetração anal com
a imobilização me alucinou. O plug ainda não tinha entrado por inteiro, ela
demorou para me penetrar por completo. Os músculos do meu ânus se
adequaram ao objeto e meu prazer aumentava, minha buceta clamava por
atenção e eu recebi o primeiro golpe com a palmatória nela, ardeu e me
excitou, tentei não fugir com o corpo achando que receberia outra. Ágatha
sabia o momento certo para fazer as coisas, esperou meu corpo se acalmar e
me acertou de novo. Eu estava ofegante e ela saiu de perto de mim e me
ajudou a levantar o tronco, nessa hora percebi o quanto eu estava babada e
excitada. O plug se adentrou ainda mais em mim. Ela tirou a mordaça e me
beijou o rosto pedindo para eu me acalmar e retomar a respiração. Ela me deu
um selinho, passou a corda por baixo dos meus seios, deu a volta nas costas e
passou pela frente novamente por cima dos seios. Ela amarrou nas costas e
esticou a corda até meu tronco ficar bem ereto. Beijou-me novamente.
— Você está indo bem. —Me sussurrou, voltou a mordaça na minha
boca e me sorriu.
Pegou a palmatória e ficou em pé atrás de mim, fez com que eu
segurasse o lubrificante.
— Como não pode falar, se quiser parar deixe o lubrificante cair no
chão. —Beijou meu pescoço — Você contará mentalmente, quero saber se
está prestando atenção no que faço com seu corpo.
Meu corpo já esperava por uma palmada após sua fala, mas ela não fez
nada. Por longos segundos fiquei esperando que fizesse algo, minha
respiração me denunciava, eu queria que me batesse logo. Se estivesse sem
mordaça teria pedido para que não demorasse. Senti a primeira palmada forte
e meu corpo estremeceu. A contração dos músculos para tentar não o mover
me lembraram do plug. O segundo golpe veio em seguida, o terceiro e o
quarto também. Sua mão era pesada e minha excitação gritante. Minha buceta
latejava, minha respiração era falha. Ela foi até o guarda-roupa e pegou
grampos para os mamilos, mas não os colocou em mim de imediato. Ela me
deu seis palmadas seguidas e meu corpo se contraiu inteiro. Ela ficou de
frente para mim e quando colocou os grampos percebi o quanto estava com
os bicos dos seios sensíveis. Fez com que eu a olhasse e perguntou se tudo
bem, concordei com a cabeça e me beijou a testa. Voltou a ficar atrás de mim
e me bateu mais quatro vezes. Minha buceta estava explodindo com tantas
sensações ao mesmo tempo e meus seios me fascinavam. Ela completou vinte
palmadas e me lambeu as nádegas me enlouquecendo com sua língua quente
afagando a dor. Senti mais dez palmadas e minha respiração estava ofegante
e se conseguisse estaria suplicando por um gozo. Ágatha deitou na minha
frente e colocou a cabeça entre minhas pernas. Senti a ponta da sua língua me
tocar e meu corpo queria sentar no seu rosto e rebolar para gozar, mas era
impossível. Suas mãos apertaram minhas nádegas e meu corpo vibrou de
prazer. Ela me lambeu uma vez e me deu um tapa na bunda, ela me lambeu e
me bateu. Lambeu e bateu. Foram dez lambidas e dez tapas. Eu estaria
gritando de prazer se pudesse.
Ela se ajoelhou na minha frente e me fez olhá-la. Ela tirou a mordaça
toda babada e me sorriu.
— Pede para mim o que você quer.
— Eu quero gozar.
Ela me sorriu e me beijou aproximando nossos corpos espremendo
meus seios contra os dela. Eu respirei fundo para não a morder, pois estava
sensível com os grampos. Ela me beijou mais uma vez e me bateu na bunda.
Gritei em sua boca e ela continuou a me beijar. A mistura do beijo e da
sensibilidade nos seios me excitavam cada vez mais, como se fosse possível.
Enquanto me beijava foram mais dez tapas. Soltou os grampos e chupou os
seios devagar aliviando a pressão e aumentando a minha excitação. Voltou a
me amordaçar e deitou entre minhas pernas novamente, mas desta vez sua
língua me presenteou com lambidas longas e gostosas. Eu estava a ponto de
explodir em sua boca, faltavam poucos estímulos quando ela parou
novamente. Eu gritei de decepção. Ela se levantou, pegou a caixa de madeira,
desamarrou meu tronco e deitou-me nela. Vestiu uma cinta peniana e me
penetrou fundo, gostoso. Estocadas fortes e seu corpo de encontro à minha
bunda dolorida me fizeram gozar sem demora. Foi um gozo explosivo e
arrebatador. Soltei a bisnaga que eu estava segurando.
Senti que ela me soltou os braços e em seguida as pernas, mas eu não
queria sair daquela posição, eu estava exausta. Ágatha me envolveu o corpo,
me tirou de cima da caixa e me sentou em suas pernas, me aninhando.
Acariciava meus cabelos e me apertava contra seu corpo.
— Você foi muito bem! — Ela me sussurrou.
— Cinquenta palmadas na bunda e duas na buceta. — Eu sussurrei.
— Eu já fiz essa cena com outras submissas e elas desistiram na
vigésima palmada. — Ela me beijou a testa.
Ficamos em silêncio e meu corpo relaxava em seus braços.
— O que eu devo fazer para recompensar o prazer que me
proporcionou? — Eu sussurrei entre a vontade de descansar e a vontade de
começar tudo de novo.
— Você já me recompensou, relaxa, deixe seu corpo receber meus
carinhos. Por que aqui dentro você é tão obediente e uma submissa exemplar
e lá fora você quer me afastar?
— Eu não confio nas pessoas.
Afagava meus cabelos com delicadeza e me entreguei ao cansaço.
Acordei deitada em minha cama. Levantei rápido, vesti um roupão e saí
do quarto apressada e não a encontrei no outro quarto, banheiro ou sala, senti
um vazio tomar conta de mim. Fui até a cozinha e em cima da ilha central vi
uma bisnaga e um bilhete: “Use isto na sua bunda. No micro-ondas tem um
prato de comida para você repor as energias.” Ela tinha ido embora. Ágatha
estava cumprindo o que prometeu, o que eu queria? Eu pedi por isso. Tem
horas que eu me odeio por ser tão idiota.
Tomei um banho e passei o creme que ela me recomendou, diante do
espelho vi o estrago que ela tinha feito, ainda bem que era sexta e ficaria em
casa o fim de semana, usar roupa com essa bunda vermelha ia ser terrível.
Tirei uma foto e lembrei dela falando que as outras submissas tinham
desistido da cena na metade, me senti orgulhosa e enciumada. Não podia
sentir ciúme, não era justo, mas meu corpo reagiu a essa lembrança com a
sensação de já pertencer a Ágatha de alguma forma.
Na manhã de sábado eu jurava que teria mensagens de Ágatha em meu
celular, mas não tinha. Passei o dia pensando nela enquanto fazia meu hobby
favorito, criar jogos para celular. No fim do dia, salvei o vídeo da nossa cena
e enviei para ela: “Como prometido, não guardarei apenas para mim.” Ela
não me respondeu de imediato e acessei suas redes sociais. Descobri que ela
estava em uma festa desde a hora do almoço e nas últimas fotos apareceu
abraçada à uma garota com a legenda: “Eternamente juntas”. Desliguei o
computador e fui treinar, precisava relaxar e tirá-la da minha cabeça. Treinei,
não relaxei e não tirei ela da minha cabeça. Parabéns, Anelise, você está mais
envolvida do que pensava.
Domingo amanheceu sem nenhuma notícia de Ágatha e eu não estava
entendendo nada da sua reação. Entre seriados e filmes gastei meu dia com
inutilidades e besteiróis. Antes de dormir fiquei olhando o celular, ansiosa
por alguma resposta, mas a mensagem tinha sido lida, mas não respondida.
Eu iria agir da mesma forma que ela estava agindo, afinal foi o nosso
combinado. Passei por sua mesa e agimos como se fossemos duas estranhas,
naquele momento preferia que isso fosse verdade e tudo o que aconteceu
entre nós tivesse sido um mero sonho.
A diretoria teve a brilhante ideia de fazer reuniões semanais às dez da
manhã, toda segunda e quinta, para mim, seria perda de tempo, afinal nada é
resolvido nestas conversas. A minha secretária, a de Samuel e a do presidente
geralmente participavam de todas as reuniões para anotarem decisões
tomadas e nestas não seria diferente.
Eu entrei na sala de reuniões e lá estava ela, olhou-me curiosa e tentei
ignorar sua presença, mas era impossível não a olhar. Percebi que Samuel
também a olhava com cobiça e eu queria voar em seu pescoço. Eu sentei ao
seu lado e ela fingiu que eu não existia. No fim da reunião, vi que ela deu
atenção para Samuel, sai de lá emputecida com a cena, mas eu não podia
querer que fosse diferente daquilo, ou podia?
Achei que ela ao menos almoçaria comigo ou pediria por isso, mas ela
estava jogando duro e apenas deixou o meu almoço na minha e virou-se para
sair.
— Ágatha! — ela parou no meio do caminho e voltou até perto da
mesa.
Encarei-a e não falei nada, olhou-me e se afastou novamente. Parou
perto da porta e me olhou.
— Recebi o vídeo, estou aguardando o outro.
— Aquele você tem que conquistá-lo, já disse isso.
Ela me sorriu e saiu da sala.
Eu almocei e essa foi a única interação que tivemos naquele dia.
Na terça-feira, quando cheguei para trabalhar, Samuel estava perto de
sua mesa e isso me deixou irritada. Aproximei-me, mas ele não me viu, pois
estava de costas, deixou uma pasta sob a mesa dela e foi em direção à sala de
reuniões. Ela me olhou e se levantou indo atrás dele. Abri a pasta e vi que
estava vazia. Fui para minha sala e fiquei imaginando o que os dois estariam
fazendo na sala de reuniões. Passei a manhã com a imagem dos dois se
beijando e não consegui trabalhar. Ela trouxe meu almoço.
— Qual sua relação com o Samuel?
— Se eu não sei da sua vida, você não sabe da minha.
— Como vou confiar em você?
— Você pediu por isso e agora não quer? Estou agindo como
combinamos. Aqui fora você manda, eu obedeço.
Eu a encarei, ela tinha razão, mas eu não queria mais aquele trato.
Admitir que eu estava errada? Também não! Ela saiu da sala e a partir
daquele momento, nossa relação estava seguindo um caminho que eu não
estava gostando. Não nos falamos mais pelo resto do dia e eu precisava rever
o que queria daquele envolvimento.
Durante a quarta-feira ela não me dirigiu a palavra, no fim do dia, pedi
que fosse até a minha sala. Esperei-a encostada em minha mesa, quando
entrou andou até mim e ficou parada na minha frente.
— Por que foi embora da minha casa sem se despedir?
— Por que isso te importa?
— Eu fiz uma pergunta primeiro.
— Porque achei que fosse assim que você iria preferir, já que na outra
noite você me expulsou da sua casa após nossa cena.
— Eu pedi para você não me deixar acuada e sua atitude está me
deixando acuada.
— Tudo te deixa acuada, Anelise.
— Eu estava me acostumando com o seu jeitinho invasivo… — eu
disse encarando-a.
— O que eu tenho que fazer para te agradar e não te deixar acuada?
— Seja você mesma, esse banho de água fria que você está me dando
não está me fazendo bem.
Ela segurou meu rosto entre as mãos e me beijou, puxei-a para perto de
mim e beijei-a com desejo.
— Eu não sei o que preciso fazer para te agradar e não te deixar
acuada, mas eu vou descobrir o que é. — me beijou novamente.
— Você ainda tem alguma coisa com o Samuel?
— Não!
— Por que foi com ele até a sala de reuniões?
— Para pôr um ponto final na nossa relação e falar para ele, pela
enésima vez, que não temos mais nada.
— Ele era teu submisso?
— Não. Ele não gostava das práticas de BDSM.
— Tome cuidado com ele.
Ela não respondeu e me beijou.
— Você não sabe como foi difícil não te agarrar segunda-feira, como
foi difícil não te mandar mensagens no fim de semana. Eu vi nosso vídeo
umas quatro vezes domingo. Você é uma sub perfeita. — Ela me beijou com
desejo — Com segurança e consentimento, quero testar todos os seus limites.
— Você estava em uma festa sábado.
— Alguém andou me espionando. — Ela riu.
Eu ri e beijei-a.
— Estava e tive que deixar meu celular com uma amiga e fazer ela me
proibir de te mandar mensagem. — Ela sorriu.
— O que você vai fazer este fim de semana?
— Preciso ver minha agenda. — Ela me olhou séria.
Eu olhei-a curiosa pela resposta e ela começou a rir.
— Não vamos ter nosso encontro na sexta?
— Essa semana será no sábado, mas será apenas um passeio sem sexo.
— Eu consigo te convencer do contrário?
— Terá o sábado todo para isso.
— Já é melhor do que um não.
Ela saiu da sala e eu não sei se respirei aliviada por ter conversado
francamente com ela ou se respirei aliviada por ela ter saído da sala. Sabe o
tal do vírus Ágatha? Então, está se transformando em epidemia dentro de
mim.
Capítulo 11
Dias atuais
Maitê conseguiu vir me visitar logo no dia seguinte. Dormir na solitária
foi tão impossível quanto fora dela. Ouvi choros e gritos a noite toda. Entre
apagadas e acordadas passei a noite mal, com dores de estômago e cabeça. A
visita foi cedo e quando a vi, foi um alívio para meus olhos. Não podíamos
nos abraçar.
— Como está?
— Fazendo inimigas e dormindo na solitária. Eu preciso de dinheiro
para agora, ou não vou sobreviver neste lugar. Não tenho direito nem a toalha
e colchão. Isso é desumano.
— Calma!
— Calma é o escambau, queria ver você aqui dentro.
— Consegui adiantar seu julgamento, mas não tenho boas notícias. Não
tenho como comprovar que você é inocente. A polícia me passou o relatório
dos mandados no seu carro e na sua casa. Encontraram sangue no banco do
passageiro e no porta-malas, além de cabelos e unhas que condizem com o
DNA da Ágatha.
— E você me pede calma?
— Sim! Até o dia do julgamento vou ter como provar sua inocência.
— Como se você acreditasse em mim.
— Eu acredito, bebê.
— Você não tem o direito de me chamar de bebê sem resolver minha
situação.
— Não fala assim, estou tentando, mas quem arquitetou isso, fez muito
bem. Se não acharmos um motivo para outra pessoa ter matado a Ágatha, a
coisa vai ser feia no tribunal.
— Existe a chance de ela estar viva e ter participado disso tudo?
— Eu teria que ter acesso ao corpo que encontraram.
— E não tem?
— Não.
— Então, com estas provas ridículas e falsas, vou ser julgada por um
homicídio doloso direto?
— Sim! Além do roubo de dez milhões.
Olhei-a sem esperanças de sair dali tão cedo.
— Eu preciso de dinheiro até lá, ou vou ter que comprar uma toalha
através de um boquete.
— Eu trouxe algumas coisas para você, vão te entregar depois.
Ela segurou minha mão e senti um rolo de notas nela, peguei-as e
escondi no elástico da calcinha.
— Como sabia que eu ia pedir dinheiro?
— Eu trabalho como advogada há vinte anos, sei como as mulheres são
tratadas nas prisões do Brasil. Não faça inimigas dentro da sua cela. Eu
trouxe um item que raramente se acha dentro das prisões, absorvente íntimo.
Negocie a paz com ele, você vai precisar. Quantas presas estão na sua cela?
— Cinco.
— Está com sorte.
— Sim. Você pretende me tirar daqui como? Por que não pagou minha
fiança?
— Vou te responder com suas palavras: Acha que dinheiro dá em
árvore?
— Você é uma vaca quando quer ser.
— Mesmo se eu vendesse meu carro e meu apartamento, eu não teria
meio milhão de reais para te tirar daqui.
Eu me levantei e voltei para dentro do corredor que levava até as celas.
O mesmo guarda que me levou para a solitária me entregou as coisas que
Maitê me trouxe.
— Acho que a encomenda que fiz vai ter que ser cancelada.
Ele me olhou sarcástico.
— Ainda me deve quinhentos reais, pois consegui o canivete.
— Está com você agora? Só pago quando receber o produto.
— Não. Você é muito espertinha para uma novata.
Eu apenas ri.
Mal sabia ele que eu já havia trabalhado com um traficante aos treze
anos. Aprendi altas negociações com ele, tive sorte, pois quando a polícia
invadiu a casa dele eu não estava. Sorte eu nunca tive, mas naquele dia posso
dizer que usei toda a sorte da minha vida ali. E hoje, estando neste buraco,
reforço a teoria de ter usado toda a minha sorte não estando no lugar errado e
na hora errada.
Quando entrei na cela, Joana veio me perguntando um monte de coisas.
Fiz com que ela me olhasse.
— Calma, não precisa perguntar tudo de uma vez.
Hortência me olhou com curiosidade.
— Eu não quero dormir com inimigas, ok? — Estendi para ela quatro
absorventes.
As outras ficaram em pé ao meu lado, como se eu fosse papai Noel.
— Por que está fazendo isso? — Hortência me olhou desconfiada.
— Porque eu não quero ser inimiga de ninguém aqui nesta cela.
— Até mês que vem você está a salvo, branquela. — Nádia me disse
pegando os absorventes que lhe entreguei.
Eu sentei em um canto e Joana sentou ao meu lado.
— Não dá muita trela para a Joana, ela não vai mais largar do seu pé.
— Disse Hortência.
Eu apenas sorri e Joana começou o interrogatório novamente.
— Joana, você tem que deixar eu responder. Uma pergunta de cada
vez.
— Ok. O que você fez para estar aqui?
— Se eu disser que não fiz nada, você acredita em mim? — Ouvi
Hortência rindo.
— Acredito! — Ela parecia ter a idade de uma criança de dez anos.
— Então, eu não fiz nada.
Hortência e as outras duas riram alto.
— Você é engraçada branquela. Fala a verdade, o que fez?
— Estou sendo acusada de assassinato e roubo, mas eu não fiz isso.
— Matou o amante e roubou ele?
— Já disse que não matei. A acusação é contra a morte da minha
secretária.
— Vocês eram amantes? — Perguntou Nádia.
Olhei-a e apenas concordei com a cabeça.
— Não devia ser das boas, já que você a matou. — Disse Hortência.
Eu não respondi e fui sugada para o passado, quando estávamos nos
conhecendo e ela me provocava durante o expediente. Depois me relembrei
de como éramos boas juntas na cama, ela me dominando e testando todos os
meus limites e gostos. Sua falta já era imensa e saber que nunca mais iria
abraçá-la, beijá-la ou receber um tapa seu me dava vontade de chorar e ficava
angustiada em pensar sobre meu futuro.
— Você gostava dela? — Perguntou Joana.
— No começo, ela me deixava acuada com o jeito invasivo ela, depois
descobri que era esse jeitinho dela que havia me conquistado. — Olhei-a.
— Eu tive um namorado e também matei ele, porque ele tinha outra
namorada. — Joana disse olhando para frente — Foi por isso que matou sua
namorada?
— Eu não a matei. — Eu sussurrei.
Eu encostei a cabeça na parede e parei de conversar. Ninguém
acreditava na minha inocência e eu não conseguia parar de pensar no sorriso
travesso de Ágatha. “Quero que você seja minha sub exclusiva.” Eu devia ter
respondido: “Eu já sou sua exclusiva.”
Quando voltei dos meus pensamentos eu estava sozinha na cela,
aproveitei para contar quanto de dinheiro Maitê tinha me dado, mil reais em
notas de cem. Talvez fosse hora do café-da-manhã, mas eu não me mexi. Eu
não tinha inimigos declarados e não fazia ideia e como tudo isso tinha se
voltado contra mim.
Eu estava alienada de que horas eram, as outras voltaram depois de um
tempo, que não sei mais determinar se foi longo ou curto. A ociosidade fazia
o tempo parar. Não podíamos sair das celas sem ser em horários
determinados. Maitê me tirou todas as esperanças contando sobre o sangue
encontrado no carro.
Eu passei a manhã olhando o corredor, o guarda ia e voltava pelo longo
corredor mal iluminado e sujo. Contei que ele fez o trajeto doze vezes. Ouvia
vozes nas celas, ouvia vozes na minha cabeça: “Samuel quis te ferrar, mas
por que matar a Ágatha? Você precisa descobrir o motivo da morte dela.” A
cela se abriu e o almoço foi anunciado. Joana me chamou para ir com ela,
levantei e fomos. A fila única já estava formada, quando chegou minha vez,
Hortência me deu uma bandeja e me avisou para não arranjar briga. Sentei
com Joana e Nádia e me forcei a comer, pois sabia que sem comer seria pior.
Dizer que aquilo era nutritivo, era mentira, mas pelo menos estava menos
empapado do que a janta. Saudade de quando Ágatha brigava comigo para
poder fazer minha comida.
Capítulo 12
Um ano atrás
Tínhamos marcado de sair às sete e meia da manhã e eu já estava
esperando-a no carro, em frente ao seu prédio. Iriamos fazer a primeira
parada em uma cafeteria no Forte de Copacabana. Ela entrou no carro com
um short jeans curto, uma regata aparecendo as alças do biquíni e uma
pequena mochila. Estava linda.
— Vim com o modelito errado? — Me perguntou rindo — Ou entrei no
carro errado? —beijou meu rosto.
Eu ri e neguei com a cabeça. Eu vestia minha calça social e uma
camisete de manga curta. O motorista seguiu na direção que estava
programada e ela me olhou curiosa.
— Você vai passar calor com essa roupa.
Eu ri da sua tentativa de cuidar de mim e ela me olhou brava.
Descemos perto da entrada do Forte e entramos na fila para comprar os
ingressos do museu.
— Posso te pedir uma coisa?
Olhei-a e concordei.
— Tente não ficar na defensiva hoje.
— Ok, Ágatha! Vou tentar.
Ela me sorriu satisfeita.
— Podemos terminar o dia vendo o pôr-do-sol no Arpoador? — ela me
sorriu.
— Sim.
— Vamos almoçar na praia? Qual seu itinerário? — estava agitada.
— Só faço questão de ir no Pão de Açúcar.
— Posso fazer uma sugestão?
— Sim.
— As coisas aqui no Forte costumam demorar…
— Eu reservei uma mesa, então não teremos que esperar muito.
Ela me olhou e não prosseguiu com seu pensamento.
A fila andou rápido e comprei nossas entradas. Ela parecia contrariada
de estar ali. Conversei na recepção e logo nos encaminharam até uma mesa
com vista da Praia de Copacabana. Ela olhou o cardápio assustada e eu tirei-
o de suas mãos.
— Eu vou escolher para você, afinal você faz isso a semana toda para
mim.
Ela me sorriu ainda contrariada. Chamei o garçom e fiz o pedido.
— Por que a cara de contrariada?
— Nada.
— Depois sou eu quem fico na defensiva.
Ela apenas me olhou e eu fiquei em silêncio admirando a vista. Tirei
algumas fotos da paisagem e logo fomos servidas. Tomei um gole do café
enquanto olhava-a fazer o mesmo. Segurei-lhe a mão quando soltamos a
xícara.
— Eu não sei o que fez seu sorriso sumir, posso ajudar em algo?
— Eu não ganho para frequentar lugares como esse.
— Você precisa pedir um aumento para sua chefe. — Ela me olhou e
riu.
— Minha chefe é uma carrasca. — Me olhou zombeteira.
— Ágatha, não se preocupe com o dia de hoje, eu convidei, o dia é por
minha conta, pode comer e fazer o que quiser.
— Cuidado com isso. — Ela riu — Por baixo dessa roupa elegante e
sexy, você tem um biquíni?
— Sim.
— Menos mal.
Ela riu e tomamos nosso café-da-manhã em silêncio trocando olhares e
sorrisos bobos.
— Qual era sua sugestão?
— Subirmos no Pão de Açúcar para passar o resto da manhã lá. Voltar
para Copacabana para passar a tarde e terminar o dia no Arpoador.
— Me parece um bom plano.
— Sério? Vai acatar sem relutar?
— Preciso aprender a confiar em você.
— Hoje está sendo um teste?
— Sim. — Eu peguei minha carteira no bolso e entreguei a ela —
Estou à sua mercê.
— Tem certeza? Não vai se sentir acuada ou algo semelhante a isso?
— Não tenho certeza, mas preciso confiar mais em você fora de uma
cena.
— Como você consegue confiar em mim dentro do quarto e fora não?
— Não sei, talvez seja porque dentro do quarto você se transforme em
outra pessoa e aqui fora você parece uma criança deslumbrada no parque de
diversões.
Ela riu e se levantou para conhecermos o Forte. Após um passeio
agradável, fomos para o Bondinho do Pão de Açúcar.
— Comprei os ingressos pela internet. — Entreguei-lhe o celular.
Ela me sorriu e entramos. Ágatha fazia questão de me dar a mão e vê-la
sorrir era gratificante. Subimos no primeiro bonde e ainda não tinha muito
movimento, me posicionei atrás dela e encostei meu corpo no dela, puxou
meus braços para envolvê-la melhor.
No primeiro andar passeamos pelo espaço e eu tirei fotos da paisagem.
— Fica aí. — Pegou meu celular — Vou tirar uma foto sua.
Eu não queria, mas concordei. Ela pediu para uma pessoa tirar uma foto
nossa e me deu um selinho em agradecimento. Estava sendo agradável tê-la
ao meu lado.
— Você se mudou para cá faz quanto tempo?
— Uns quatro meses.
— Você já conhecia o Rio de Janeiro?
— Eu sempre morei aqui, mas me mudei por causa da Katherine, morei
quase quatro anos em São Paulo com ela. Fugi dela voltando para cá e me
mudei para Curitiba por causa de emprego, voltei para cá por causa de outro
emprego. Tive um relacionamento rápido com a Samantha e pedi
transferência para uma filial da empresa onde eu estava e morei em Portugal
até pedir demissão e voltar.
— Por que pediu demissão?
— Porque eu não gostava do que eu fazia lá.
Caminhamos observando a vista da Ponte Rio-Niterói, Aeroporto
Santos Dummont e a orla carioca.
— Por que fez questão de vir aqui?
— Porque eu me sinto tranquila aqui.
Subimos no segundo bonde e ela me abraçou por trás. Andamos até um
espaço aberto e eu me apoiei na grade observando as ondas e o sol batendo na
água. Percebi que ela tirou uma foto minha com o celular dela, eu ia falar
alguma coisa, mas deixei quieto. Ela parecia feliz com a conquista.
— Você quer água? — ela abriu a mochila e me ofereceu uma garrafa
térmica — Você deve estar derretendo nessa roupa.
Eu sorri, aceitei a garrafa e ela me roubou um selinho. A água ainda
estava gelada e meu corpo agradeceu pelo cuidado. Ela me olhava
intensamente e eu retribui.
— Queria poder ler seus pensamentos. — Ela me disse séria.
— Nesse momento? Estou querendo uma água de coco e um banho de
mar.
Ela me sorriu.
— Então vamos descer, conheço um quiosque ótimo para ficarmos.
Caminhamos mais um pouco e logo descemos. Ela pediu um táxi pelo
meu celular. Quando o carro chegou, ela abriu a porta para mim e deu a volta
para entrar pelo outro lado. Pelo trajeto, ela me olhava curiosa.
— Às vezes, me sinto um extraterrestre com você me olhando assim.
— Desculpe, mas não consigo evitar de te olhar.
Eu olhei pela janela e não respondi.
Chegamos no destino em silêncio e descemos do carro longe uma da
outra. Ela se aproximou e me fez olhá-la.
— Você não tem noção da sua beleza, né?
Não respondi.
— Quando eu estou olhando para você, tenha certeza que é admiração e
não julgamento.
— Ok! — tentei responder com suavidade, mas não consegui.
Ela me olhou séria.
— Não quero ficar na praia com você desse jeito.
— Daqui a pouco passa, vamos.
Ela me deu um selinho.
Andamos pelo calçadão e logo ela me puxou para a areia em direção à
um quiosque perto da água. Pediu duas cadeiras e um guarda-sol. Eu estava
em pé e ela de frente para mim.
— Quero tirar sua roupa, posso?
Concordei e ela começou tirando a camisete de dentro da calça.
Desabotoou de cima para baixo e eu lhe beijei a testa. Ela me sorriu e tirou a
minha blusa, dobrou-a com cuidado e a colocou na bolsa. As pessoas em
volta de nós estavam prestando atenção em nossos movimentos. Ela abriu o
zíper e o botão da minha calça e eu tirei o sapato. Ela pediu minha água de
coco para um dos atendentes e deixou minha calça cair pelo meu corpo. Tirei-
a de meus tornozelos e lhe entreguei a calça. Sorriu, dobrou-a
cuidadosamente e guardou na mochila. Em um momento impensado, puxei-a
para um beijo caloroso. Ela retribuiu se apossando da minha cintura e me
apertando contra seu corpo.
— Senhorita, sua água. — O atendente interrompeu um novo beijo.
Ela tomou um gole e me entregou o coco. Sentamos nas cadeiras.
— Você mora com sua mãe?
— Não! Ela se mudou para cá recentemente, eu moro com três amigas.
— Ela está bem?
— Estamos tentando descobrir o que aconteceu, depender do sistema
de saúde do governo nem sempre é fácil.
Eu lhe ofereci mais água e ela me fez careta.
— Não gosto.
— Mas você acabou de tomar. — Eu ri.
— Era só teatro. — Ela riu — Você também não come camarão?
— Não.
— Mas estamos na praia.
— Pede para você, eu como outra coisa.
— Mas estamos na praia.
Eu ri.
— Não entendo quem não gosta de carne.
Eu ri de novo.
— O que você vai almoçar, aqui não tem muita opção.
— Ágatha, — Fiz ela me olhar — pede o camarão, eu como um e pede
batata frita para mim. Você não precisa se preocupar tanto assim.
— Está bem.
Eu me levantei e disse que entraria no mar. Afastei-me e adentrei
devagar para me acostumar com a temperatura da água. Precisava me acalmar
já que eu estava tendo novas sensações ao lado dela. Quando eu digo que
Katherine era possessiva em seu comportamento é porque ela não gostava de
sair de casa sem mostrar que eu tinha “dona”. Mostrar que ela mandava em
mim, chegava a, muitas vezes, me humilhar e hoje não senti nada disso. Mas
é cedo para qualquer afirmação. De longe vi que ela estava conversando com
o atendente do quiosque, gesticulava e falava e gesticulava e falava, parecia
nervosa. Aproveitei o mar por mais alguns instantes e vi que ela comprou
algo de um ambulante. Quando voltei para perto dela, ela me mostrou um
short rosa florido.
— Comprei para você.
Olhei-a e respirei fundo. Eu não queria ser grossa, estava tentando levar
o dia da forma mais agradável e leve possível, mas eu não gostei do que ela
fez e fiquei analisando uma forma de dizer sem magoá-la. Puxei a cadeira e
sentei no sol um pouco longe dela. O sol estava extremamente forte e meu
corpo secou em poucos minutos de exposição.
— Se for ficar no sol, melhor passar filtro solar. — Ela me estendeu o
produto.
Ela colocou a cadeira ao meu lado. Pegou algo na mochila e me
mostrou um short masculino de tactel preto.
— Você achou mesmo que eu ia te comprar um short rosa florido? —
Ela riu, guardou o short e sentou ao meu lado.
— Katherine — Olhei-a chateada — comprava minhas roupas e muitas
vezes tive que usar roupas que eu não gostava para agradá-la.
— Eu — ela me fez olhá-la — não tive essa intenção. Só queria te
deixar confortável para andarmos até o Arpoador, porque colocar uma calça
social cheia de areia, não deve ser nada confortável.
Eu ri e fiquei com vontade de beijá-la, mas não me mexi, apenas
admirei sua beleza. Ela pegou o filtro solar da minha mão para passar nas
minhas costas. Sua mão quente percorrendo minha pele me deixou excitada.
Deixei que passasse na parte da frente também e percebi alguns rapazes nos
olhando. Olhei-a e ela estava compenetrada passando filtro solar em minha
barriga, braços e por fim no colo e pescoço. Ela me olhou intensamente,
como se pedisse permissão para passar o filtro perto dos seios. Olhei
discretamente para os rapazes e olhei-a sorrindo. O meu biquíni era frente
única amarrado no pescoço, ela passou o filtro solar em volta dele e entrou
com as pontas dos dedos por baixo do pano. O meu seio recebeu seus dedos
com excitação e eu respirei fundo pelo contato. Ela segurou o bico do meu
seio entre o dedo médio e o indicador e apertou-o me fazendo respirar fundo
novamente. Nossos olhares não se desgrudavam e eu sorri com o apertão para
evitar gemer. Apertou novamente e mordi os lábios tentando me conter.
Passou a mão pelo meu colo e entrou por baixo do outro pedaço de pano, ela
me sorriu e apertou meu bico do mesmo jeito que fez com o outro e eu me
contive para não falar um palavrão. Ela me sorriu e fomos interrompidas por
um ambulante tentando vender chapéus. Eu comecei a rir e ela também.
Peguei o chapéu da mão do moço e coloquei na cabeça dela.
— Ficou bom em você.
Alcancei a mochila dela e peguei minha carteira, acertei com o
ambulante e ela ficou me olhando com um sorriso bobo.
— Obrigada.
Passei a mão em seu rosto e sorri. Voltamos a sentar embaixo do
guarda-sol e o atendente nos serviu o que ela tinha pedido.
— Consegui fazer com que ele tirasse a carne do bolinho de aipim, pedi
também palmito, bolinha de queijo e a batata frita.
— E seu camarão?
Ela me olhou envergonhada.
— Tem bastante comida aqui, dá para nós duas.
— Você não vai sair dessa praia sem comer camarão.
— Quero comer o que você come.
— Você não precisa fazer isso.
— Ok, mais tarde eu peço.
Comemos em silêncio e o celular dela começou a tocar, vi o nome
Elizabeth no visor e me senti estranha. Estava falando sobre festa, sair, balada
e eu comia enquanto tentava não prestar a atenção em nada. Ela desligou e
continuamos comendo em silêncio.
— Você bebe cerveja, caipirinha, algo alcóolico?
— Martini.
— Não vai ser fácil achar isso aqui. — Ela riu.
— O que você bebe?
— Cerveja...caipirinha… cuba libre.
— O que quer beber? Acompanho você.
— Cerveja?
Concordei e ela ficou me olhando comer.
— Sua fascinação por me olhar comer é estranha.
— Também tenho outros gostos diferenciados.
— Quais?
Ela aproximou seu rosto do meu.
— Buceta com cobertura de brigadeiro. — Ela sussurrou.
— Com ou sem granulado? — Encarei-a séria e passei o indicador em
seu rosto.
— Você também gosta? — Ela me olhou fascinada.
— Não. Prefiro seios com chantilly.
— Com cerejas?
Ela me beijou lascivamente, ainda bem que estávamos em um lugar
público, suas provocações estavam aumentando minha vontade de atacá-la.
— Sabe do que eu gostei na nossa segunda cena? — ela me sussurrou e
beijou minha orelha — Do seu cuzinho receptivo, adorei dar um beijo grego
nele.
— Ele adorou sua língua. — Eu sussurrei mordendo o lóbulo da sua
orelha.
— Vamos pular o pôr-do-sol e ir para sua casa? — Me beijou.
— Você ainda não me convenceu a fazer mudanças no plano do nosso
sábado sem sexo.
— Você pode escolher a cena de hoje. — Ela beijou meu pescoço —
Pode escolher como vai ser amarrada. Como vou te bater. Como…
Coloquei o dedo em seus lábios em sinal para ficar em silêncio.
— Não, essa função é sua.
Eu me levantei da cadeira para não a beijar e fui em direção do mar.
Precisava me acalmar, essa garota me tira do sério e eu estava aprendendo a
gostar disso. Fiquei no mar por um longo tempo e quando saí ela estava no
celular, parei bem na sua frente e ela desligou-o.
— A regra de não fazer sexo hoje é irreversível? — Ela mordeu
levemente meu ventre.
— Já disse que precisa me convencer.
— Como que eu te convenço de alguma coisa? Ainda não aprendi isso
e estou louca de tesão vendo você de biquíni.
Estiquei a mão para ela e a levantei da cadeira. Pedi para o atendente
olhar nossas coisas e puxei-a em direção do mar. Entramos até a água ficar na
altura de nossos seios. O mar estava calmo comparado a hora que chegamos,
mas ainda haviam pessoas perto de nós.
— Quero que você entenda uma coisa sobre mim. — Sussurrei em seu
ouvido — Eu sou maleável, mas só vou ceder se eu tiver uma boa
recompensa.
— O que seria uma boa recompensa para você? — Ela me olhou
curiosa.
— Não posso entregar o jogo assim, né?
— Precisava me trazer até aqui para dizer isso?
— Não queria que alguém escutasse. Eu curto voyeurismo, essa é a
única dica que vou te dar.
Ela me olhou por alguns instantes.
— Não me ajudou muito. — Me olhou pensativa.
— Eu gostei do vídeo que você me mandou enquanto se masturbava na
sua cama vendo meu treino de boxe.
— Você quer que eu me masturbe aqui?
— Ia ser interessante ver essa cena, mas temos mais pessoas por perto.
Eu invadi seu computador por dois motivos, o primeiro já te falei, porque
você estava me deixando acuada e sendo invasiva. O segundo é porque quero
permissão para poder acessar sua webcam e ver você sem você saber.
— Não acha um pouco tarde para me pedir permissão?
— Eu vou tirar o meu acesso ao seu computador se disser que não quer.
— Pode acessar, desde que você seja minha hoje.
— Amanhã. Hoje vamos estar cansadas do dia e uma cena exige muito
de mim.
— Amanhã que horas?
— Você é muito ansiosa.
— Culpa sua. — Ela riu.
— A hora que você quiser.
— O dia todo?
— Sim.
— Quantas vezes eu quiser?
— Sim.
— Isso quer dizer que vou dormir na sua casa?
— Se quiser.
— Na sua cama?
— No sofá.
Olhou-me decepcionada.
— Um passo de cada vez. — Eu pedi.
— Melhor do que nada.
— Você parece frustrada.
— Um pouco.
— Não sou tão interessante quanto você imaginava?
— Não é isso.
Fiz com que ela me olhasse.
— O que é então?
— Eu não gosto de ser contrariada.
— Isso eu já percebi.
Ela ainda estava decepcionada.
— Estou tentando ser agradável e leve, pelo jeito não estou agradando.
— Está agradando sim...
— Mas?
— Você quer controlar tudo.
— Está desse jeito por eu não querer fazer uma cena contigo hoje?
— Também.
— Ágatha, seja mais específica. — Eu disse brava.
— Você não pode só aceitar o que eu peço?
— Eu aceitei, só mudei alguns termos.
— Ok! Não vou discutir contigo.
Afastou-se voltando para a praia. Mergulhei e demorei para sair da
água. Não estava entendendo onde eu tinha errado para deixá-la daquele jeito.
Andando em direção ao nosso guarda-sol, vejo que ela está
acompanhada pelo rapaz que estava nos observando mais cedo. Sentei na
minha cadeira e ele me olhou com desejo. Ignorei os dois. Ela estava
tomando uma cerveja e logo eu a escutei dizer: “Eu preciso cuidar da minha
namorada, se puder me dar licença.” Ele me olhou e levantou bravo.
Afastou-se e ela aproximou sua cadeira da minha. O atendente trouxe uma
dose de Martini e ela me sorriu. Entregou-me o copo e levantou sua lata para
brindarmos. Aceitei o gesto.
— Namorada?
— Ele estava me enchendo o saco, tive que reforçar que estávamos
juntas.
Tomei um gole de Martini e olhei-a.
— Você quer fazer uma cena hoje só para afirmar seu controle sobre
mim?
Ela não me respondeu.
— Eu fiz tudo o que você propôs. Eu prefiro ficar na Praia de
Ipanema, mas estamos aqui, em Copacabana por sugestão sua. Eu não pedi
nada além de batatas fritas e comi o que você pediu. Eu não reagi de forma
negativa com o short rosa florido, até usaria ele se fosse verdade. Eu disse
que comeria camarão contigo e você fica contrariada por eu querer entregar
meu corpo para você amanhã e não hoje? Isso para mim já é ação de garota
mimada e não de uma dominatrix.
— Eu não sou mimada.
— Ágatha, quando eu vou fazer uma cena, eu gosto de me preparar
fisicamente e mentalmente. Se eu não estiver com os dois em sintonia, não
consigo me entregar. E com isso vou deixar você insatisfeita. Nós estamos
tendo um dia cheio de contrariedades para mim e uma cena hoje, me deixaria
incomodada.
— Desculpe…
— Você prefere uma cena mal feita ou uma que te deixe orgulhosa?
— Orgulhosa, claro!
— Respeita meu tempo, por favor!
— Desculpe. — Ela me puxou para um abraço — Eu vou respeitar,
você é sempre tão cheia de si que esqueço que tem um passado ruim. —
Beijou minha bochecha — Seu sofá é macio pelo menos?
Eu ri e ela me beijou carinhosamente.
Ficamos mais um pouco na praia e ela sugeriu de irmos andando até a
Pedra do Arpoador. Aceitei e ela foi fechar nossa conta. Andamos de mãos
dadas, ela fazia questão de mostrar que estava comigo.
Em cima da pedra ela estendeu uma canga e sentamos para apreciar a
vista. Eu sentei primeiro e ela sentou atrás de mim, me abraçando e puxando
meu corpo para perto do seu. Ficamos em silêncio e ela beijava meu pescoço,
fazia carinho em minhas mãos e eu relaxava com o calor do seu corpo me
envolvendo.
— Eu quero que você saiba que eu tive um dia maravilhoso ao seu
lado. — Ela me sussurrou e eu beijei-lhe o dorso da mão.
Virei meu corpo de frente para ela e busquei sua boca com desejo.
Minha mão tocava seu rosto delicadamente e nossas bocas estavam se
conhecendo devagar. Aquele beijo, dentre vários que já tínhamos trocado, foi
o mais tranquilo e sem saber ele se tornou um dos nossos melhores beijos.
Meu corpo fervia ao seu lado e meus lábios tomavam os dela com
tranquilidade, como se fôssemos nos completar. Meio que sem fôlego fiz com
que me olhasse e ela sorriu me fazendo vê-la como uma mulher madura e não
a garota que me deixava acuada. Beijei-a novamente e ela sorriu beijando-me
com desejo. Aquele momento raro de carinho me deixou perdida e quis
aproveitá-lo da melhor forma, beijando-a. Os beijos calmos foram findados
com um abraço apertado e eu não queria mais soltá-la. Após alguns minutos
abraçadas, eu me soltei aos poucos e Ágatha segurou meu rosto entre suas
mãos.
— Você é perfeita em todas as suas imperfeições. — Me sorriu e eu
não entendi sua frase, mas não ousei questioná-la.
O pôr-do-sol foi espetacular e ela tirou uma foto nossa e da paisagem.
Dali seguimos para o meu apartamento, no trajeto ela deitou a cabeça
em meu ombro e eu segurei-lhe a mão. Ao entrar no apartamento, tiramos os
sapatos ao lado da porta e ela me sugeriu que tomássemos banho para
jantarmos. Eu acatei e ela me beijou com desejo, minha boca sentiu saudade
quando se afastou.
Um banho calmo e tranquilo seria o suficiente para me acalmar das
sensações do dia. Controlar meus impulsos, muitas vezes agressivos e
incompreendidos, era doloroso. Após anos estando apenas na defensiva, o dia
de hoje me mostrou que a insistência de Ágatha em me querer está me
trazendo à tona emoções conflitantes. Saí do banheiro e me vesti com uma
camisola de seda preta, deixei meu cabelo solto e encontrei-a na sala sentada
no sofá. Sentei na sua frente e ela me olhou sorrindo.
— Você fica linda de cabelos molhados e soltos. — Eu lhe sorri —
Nosso jantar chega em quarenta minutos.
Ágatha se aproximou e me beijou suavemente. Passei a mão pela sua
nuca e beijei-a com desejo. O encaixe de nossas bocas era perfeito e natural.
O mundo ao meu redor parava quando ela me tocava e quando beijava era
como se fosse explodir meu corpo de sensações boas. Sugou meu lábio
inferior e findou o beijo com um selinho demorado.
— Posso pedir algumas coisas para você?
Olhei-a curiosa.
— Quero te alimentar e isso, hoje, é uma ordem. Quero que você veja
como um gesto de agradecimento pelo dia que passamos juntas.
— Tudo bem.
— Quero saber mais sobre sua relação com Katherine, assim vou poder
entender você melhor. Fale o que se sentir confortável.
— Ok, acho justo você saber mais sobre essa relação.
Ela me sorriu.
— E quero saber mais sobre seus gostos no BDSM.
— Ok. Eu conheci Katherine com dezenove anos e nunca tinha ouvido
falar de BDSM. Ela me apresentou o bondage, em primeiro lugar. Fiquei
gamada na sensação de privação de movimento e ela me amarrou de diversas
formas diferentes. Depois de um ano, mais ou menos, ela me apresentou o
spank erótico. A partir daí, o lado sádico dela começou a evoluir muito
rápido e sair de dentro de casa para humilhações em público. Além disso, ela
me estabeleceu regras de comportamento e vestimenta e eu não concordava
com nada daquilo. Só que quando eu não concordava com algo ela me
castigava. — Eu parei de falar e olhei-a.
— Como?
— Das formas mais bizarras. O último castigo que eu sofri foi terrível e
vexatório. — Olhei-a — Era um feriado prolongado e por três dias ela me fez
usar um cinto de castidade com um pênis de borracha enfiado em mim. Ela
deu uma festa e eu tive que servir a todos usando apenas o cinto.
Ela me puxou para um abraço e aceitei tentando tirar a lembrança de
Katherine rindo de mim durante a festa da cabeça.
— Ela te privou de banho e banheiro? — ela me olhou ainda
inconformada.
— Eu tinha que me humilhar pedindo para ela deixar eu usar o
banheiro e o banho era de mangueira frio no quintal.
— O que você fez para isso acontecer?
— Me recusei a usar um vestido.
— Ela certamente tem distúrbios sérios.
— Depois desse episódio eu fugi de casa. Ela controlava tudo, dinheiro,
salário, documento, cartões, comida… Eu fugi com três notas de cinquenta
reais que achei na carteira dela e peguei o primeiro ônibus para o Rio de
Janeiro.
— Sinto muito por essa experiência. — Ela me abraçou.
— Eu não fico acuada à toa. — Eu disse ainda em seus braços.
— Se algum dia eu passar dos limites com você me avise. — Ela me
fez olhá-la.
— Com Katherine não adiantou avisar.
— Eu não sou a Katherine. Lembre-se disso. Eu sou a Ágatha e não
quero fazer nada de errado com você.
Ela me aninhou em seus braços e eu aceitei o carinho, ficamos em
silêncio até a campainha tocar. Eu ia me levantar, mas ela não deixou.
Atendeu a campainha, pagou o entregador e levou a pizza para a cozinha.
Voltou com dois pratos e as fatias de pizza cortadas em pedaços pequenos.
Sentou-se na minha frente, espetou um pedaço, assoprou e me ofereceu com
o garfo. Aceitei e ela me sorriu. Aquele tipo de cuidado era estranho, mas ela
demonstrava estar feliz com o gesto. Passei a mão em seu rosto e lhe sorri,
vê-la feliz me deixava como uma tonta apaixonada.
— Ser amarrada é a prática que eu mais gosto. — disse depois de
mastigar e ela me sorriu.
— E o spank erótico?
— Eu gosto, mas sem conotação de castigo ou represália. — Ela me
serviu outro pedaço — Se for uma encenação de castigo, tudo bem, mas o
lance de ser castigada por não estar agradando, não me dá nenhuma sensação
boa. Prefiro uma conversa franca sobre meus comportamentos do que um
castigo de verdade. É uma questão meio delicada, tem dominatrix que gosta
de castigar suas submissas... — Ágatha colocou o indicador em meus lábios.
— Eu gosto de meninas comportadas, mas um castigo é o último
recurso que uso para disciplinar alguém. — Me beijou — Gostou do peso da
minha mão?
Eu sorri e encarei-a.
— Sim!
Ela me encarava sorrindo e terminamos nosso jantar apenas nos
olhando intensamente. Ofereceu-me mais e não aceitei, segurei seu rosto e
beijei sua boca com delicadeza agradecendo-a pelo jantar. Com o
agradecimento seu olhar tornou-se brilhante e vivo e seu sorriso encantador,
só por este gesto eu aceitei mais meia fatia. Levantou empolgada e foi buscar
mais. Serviu-me com felicidade nos olhos e eu não deixei de agradecer pelo
cuidado.
Sugeri de assistir um filme, ela aceitou e deixei que escolhesse. Abri os
assentos do sofá e nos deitamos, ela atrás de mim, envolvendo meu corpo
junto ao seu. Escolheu uma comédia romântica e o cansaço do dia começou a
aparecer. Eu não sei ela, mas eu dormi antes da metade do filme com a
melhor sensação me envolvendo, paz.
Capítulo 13
Dias atuais - Primeira semana
Hoje completa uma semana que estou presa e digo que não estão sendo
dias fáceis. Maitê conseguiu me mandar um colchão e me mandou outros
produtos de higiene pessoal, com os quais fiz minhas negociações dentro da
minha cela. Se fosse para morrer, não seria naquela cela. Joana está sempre
por perto e, às vezes, ela fala sozinha. Eu já não ligo mais para suas
conversas consigo mesma. Hortência e Nádia são desconfiadas e gostam de
me ver irritada. Tem uma das presas que não fala com ninguém, não sei seu
nome, muitas vezes parece ser invisível na cela.
Estou comendo o mínimo necessário, Hortência, às vezes, rouba pão da
cozinha para nós, um pão menos velho do que é o servido no jantar ou café-
da-manhã. A ociosidade está me matando. Podemos tomar banho de sol
apenas duas vezes na semana e nessa hora todas as presas ficam juntas,
condenadas ou não. O guarda conseguiu o canivete que eu queria, quando
veio me cobrar e lhe paguei em dinheiro ele não me pareceu muito contente.
A mesma mulher que me fez ir para a solitária quando cheguei, passou a
semana toda tentando fazer com que eu perdesse a paciência para me levar
para a solitária, mas me contive. Ali era regra principal conseguir sobreviver,
pois viver não era o que eu estava fazendo.
Maitê voltou a me visitar hoje e meu poço foi cavado mais um pouco.
— Além dos fios de cabelos, encontraram pedaços de unha cravados na
pele do corpo. Unhas suas.
— Ah, não! Aí você já está de sacanagem comigo. Como assim?
— Não sei, estão com muitas provas contra você e não sei de onde isso
está aparecendo.
— Maitê, puta merda! Isso só pode ser uma armação muito boa. Como
iam conseguir minhas unhas? Esse laboratório está sendo comprado.
— Eu não consigo provar nada disso, se for armação, o esquema está
muito bem planejado.
— Se for? É lógico que é armação!
— Eu sei que é, mas ainda não consigo provar nada. Não existem
conexões ou erros visíveis.
— Você não pode pedir uma análise em um laboratório da sua
confiança?
— O resultado seria descartado, vão alegar que nós corrompemos o
resultado ao seu favor.
— E eles podem corromper o resultado?
— Não vai adiantar você ficar brava, temos que pensar.
— Samuel é a resposta para tudo. Tenho certeza que ele está armando
tudo para me incriminar.
— Qual o motivo?
— Dinheiro. Ele vive de status, você precisa encontrar um elo entre o
roubo e ele.
— E a morte da Ágatha? Por que ele mataria Ágatha?
— Isso é o que não faz sentido, mas eles podem ter feito isso em
parceria, afinal eu estava gamada nela. Ela entrava na minha sala a toda hora,
pode ter ajudado ele de alguma forma.
— Mas você tem certeza que ela iria te trair desse jeito?
— Eu não tenho muita sorte em escolher meus relacionamentos, você
bem sabe. Posso ter julgado ela errado. Você conseguiu falar com a
Samantha?
— Ela provaria que você esteve lá por meia hora e o resto do tempo?
— Eu estava em casa, minhas câmeras de segurança podem provar.
— Você tentou contato com a Ágatha depois que deixou ela em sua
casa?
— Não! Eu a mandei descer do carro de forma ríspida e brava, ela não
gosta muito desse meu comportamento. E como ela tinha me dito que a mãe
estava doente. Imaginei que seu silêncio fosse por causa das duas coisas. Ela
tinha pedido uma folga na sexta-feira para acompanhar a mãe ao médico. A
mãe dela não sabe de nada?
— Não, a mãe acha que ela está morta, assim como todo mundo. Teve
até um funeral. Você foi apresentada à mãe da Ágatha?
— Sim. Na festa de aniversário dela. A mulher não foi muito com a
minha cara.
— Por que foi até o bar da Samantha?
— Porque era o que estava no meu caminho.
— O que conversaram?
— Está me perguntando como advogada ou amiga?
— Amiga.
— Eu fiquei perdida com o pedido de Ágatha. Ia fazer quase um ano
que estávamos envolvidas, mas ela não deixou parecer que me queria
exclusivamente. Sempre me dava liberdade, fazia as coisas como eu pedia e
raramente intervia em minha vida. Talvez até tenha deixado passar uma coisa
ou outra coisa, me dando indiretas, mas sempre levei na brincadeira. Eu fui lá
com as piores intenções, mas tomei uma cerveja e acabei percebendo o
quanto eu queria ser exclusiva da Ágatha.
— Piores intenções?
— Eu ia pedir por uma sessão para eu ter certeza que não queria a
Ágatha, mas enquanto tomei a cerveja me dei conta que eu não precisava de
outra pessoa além da Ágatha.
— Você não costuma beber cerveja.
— Ágatha bebe cerveja e eu acabei me acostumando a beber para
acompanhá-la.
— Essa garota mudou muita coisa em você.
— Infelizmente sim. E não poderei mais usufruir de sua companhia.
Maitê segurou minha mão.
— Eu sinto muito pela sua perda.
— Eu também.
— Vou investigar o Samuel, ver se eu acho alguma brecha nisso tudo.
— Obrigada.
Eu me levantei chateada e ela se aproveitou de um momento de
desatenção da guarda e me abraçou me dando um selinho rápido.
— Se cuida.
— Me tira daqui.
— Vou tirar!
Eu voltei para a cela e Joana estava tendo um ataque de fúria com
Nádia. O guarda que me acompanhou não fez nada para separá-las e eu
abracei Joana por trás puxando-a para longe de Nádia.
— O que está acontecendo? — Olhei Nádia.
— Ela me roubou, pegou meu shampoo.
— Nádia, já disse que não precisamos brigar.
— Você é uma branquela privilegiada e vem falar sobre necessidades?
Joana ainda estava nervosa e agitada em meus braços.
— Ei, calma, está tudo bem, calma.
Abracei-a por mais um tempo e ela se acalmou. Fiz com que se
sentasse em meu colchão.
— Deita no colchão para dormir um pouco, vou conversar com a Nádia
enquanto você descansa.
Ela me olhou chateada e deitou.
— Foi ela quem começou. — Joana sussurrou.
— Eu sei. — Passei a mão em seu rosto.
Eu me levantei e me aproximei de Nádia.
— Eu não sou uma branquela privilegiada, lutei muito para ter o que
tenho. Você não vai mais chegar perto dela, ok?
Ela não respondeu e riu.
— Eu estou falando sério, Nádia, a garota tem idade mental de uma
criança, pare de agir como imbecil.
— Por que está defendendo uma assassina?
— Ela não devia estar presa aqui, ela deveria estar em uma instituição
psiquiátrica.
— Você chega aqui querendo mandar em tudo.
— Eu só quero paz na nossa cela, é pedir muito?
Ela ficou quieta e foi se sentar no colchão que dividia com Hortência.
Eu sentei no colchão com Joana e encostei na parede. A risada de Ágatha
invadiu minha mente sem sobreaviso e eu me segurei para não chorar. Não
quero acreditar na sua morte, mas infelizmente é o que tenho para agora.
Na hora do banho, eu estava andando pelo corredor quando fui
interceptada por quatro mulheres, uma delas sendo a mesma da outra noite,
descobri que se chama Célia. Eu estava com uma mão no bolso pronta para
pegar o canivete quando uma delas me segurou pelo pulso me empurrando
contra a parede. Derrubei minha toalha e o sabonete que eu estava segurando
com a outra mão. Minha roupa estava escondida por dentro da calça, presas
entre o elástico e a cintura. Os machucados que as algemas me causaram no
dia que fui presa ainda doíam e eu tentei me soltar, mas o corpo da mulher
me pressionava contra a parede. Ela era mais alta e mais forte do que eu.
— Você anda sendo o alvo de muitas fofocas. — Célia me sussurrou.
A mulher que estava me segurando apertou ainda mais meu pulso me
fazendo soltar um palavrão. Puxou-me para um canto afastado do corredor,
Célia abriu uma porta e nós três entramos enquanto as outras vigiavam. Era
um depósito de produto de limpeza.
— Descobrimos alguns detalhes sobre você que são bem interessantes.
— O que? — Perguntei brava.
— Que você tem uma grã-fina que manda coisas de higiene pessoal
para você. Nós queremos entrar nessa fila de presentes.
— Tudo bem, tenho algumas coisas guardadas na minha cela. Não
precisavam dessa agressividade toda, podiam ter pedido.
Ela riu e a outra apertou ainda mais meu pulso.
— Ainda não acabamos nossa conversa.
— O que mais vocês querem?
— Descobrimos que você gosta de apanhar e que tem muita gente
querendo te bater. Então é melhor você se comportar.
— BDSM não é só questão de gostar de apanhar.
Ela me deu um tapa na cara.
— Eu mandei você se comportar.
A mulher que segurava meu pulso me apertou com mais força e chutou
a parte de trás dos meus joelhos me fazendo cair ajoelhada na frente de Célia.
— Quero meus presentes ainda hoje.
— Vou te entregar.
— Boa garota.
A mulher me soltou e as duas saíram do depósito. Quando saí vi que
minha toalha e meu sabonete não estavam mais no corredor, meu pulso
latejava de dor. Nádia se aproximou de mim.
— O que elas queriam com você?
— Encrenca.
Joana se aproximou de nós.
— Salvei isso para você. — Entregou minha toalha e meu sabonete.
Passei a mão em seu rosto e agradeci. Entrei no banheiro e fui até uma
das cabines, meu pulso estava vermelho e extremamente sensível. Eu estava
com raiva, muita raiva. Usei o banheiro e fui tomar banho. Joana estava ali
fora e disse que olharia minhas roupas e minha toalha. Deixei minhas coisas
com ela e liguei o chuveiro. A água gelada caiu sob meu pulso aliviando um
pouco a dor. Mesmo depois de uma semana tomando banho gelado meu
corpo ainda não estava acostumado à temperatura da água. Quando desliguei
o chuveiro, Joana me estendeu a toalha e ficou olhando meu corpo.
— Você é bonita.
— Você também é. — Eu lhe sorri.
Vesti-me e fomos jantar. Eu vi Célia e suas capangas de longe, ela me
fez um gesto de que estava de olho em mim. Sentei junto com Nádia e Joana,
mas comi apenas duas colheradas de uma pasta marrom e com gosto bem
duvidoso. Enquanto eu voltava para minha cela, a mesma mulher que torceu
meu pulso me seguiu. Entreguei a ela tudo o que eu tinha e deitei no colchão
olhando o teto. Como eu tinha entrado nessa fria? Ficava me perguntando
onde eu fui enganada e não conseguia entender como tinham usado meu
nome para roubar dez milhões.
Capítulo 14
Um ano atrás
Eu fui acordada com beijos espalhados pelo rosto, ombro e pescoço.
— Eu não queria te acordar, mas não aguento mais ficar só olhando
você dormir sem te tocar.
Eu ri da frase, apesar de ainda estar sonolenta. Virei de frente para ela e
me aninhou em um abraço.
— Ainda estou com sono. — Resmunguei.
— Eu fiz waffles, vitamina de banana e maçã e café.
— Você está quase me convencendo a levantar. — Eu sussurrei.
— O que será que faria você levantar? — Ela riu — Saber que eu já
pensei em duas cenas para hoje ajuda?
— Ajuda sim. — Eu ri afundando minha cabeça em seu pescoço.
Ela levantou do sofá e me puxou para levantar também. A ilha central
na cozinha estava até bonita de se ver, raramente eu comia pela manhã.
Sentei na banqueta e vi que já eram quase dez horas. Ágatha me serviu
waffles com cream cheese e queijo branco e uma xícara de café. Eu fiquei
olhando-a.
— Não vai comer? — Me sorriu.
Tomei um gole de café.
— Você sabe que você se alimenta mal, né?
Eu levantei uma sobrancelha e encarei-a.
— E não se alimenta?
Eu ri e puxei-a para perto de mim.
— Então me alimente.
Ela sorriu com o pedido e pegou o prato com o waffle sem dar tempo de
eu mudar de ideia. Cada pedaço que eu comia, ela parecia extasiada com o
ato. Tomei o café alternando com as garfadas que ela me dava.
— Eu gosto de tirar foto das minhas cenas, você se importa?
— Não, desde que você me passe elas.
— Vamos ver se você vai merecê-las.
Eu ri e ela terminou de me servir.
Após o café-da-manhã, sentamos no sofá e eu mostrei para ela como
ela fazia para remover o meu acesso ao computador dela, caso ela quisesse.
— Me ensina a invadir computadores? — Ela riu.
— Não é tão fácil assim.
Ela me beijou o rosto. Apresentei a ela o novo jogo que eu estava
desenvolvendo e ela se divertiu por quase duas horas. Era o jogo da velha
repaginado, poderia ser jogado contra o computador ou um convidado. Ela
jogou contra o computador e ganhou poucas vezes.
— É muito difícil, Ane.
— Existem duzentos e cinquenta e cinco mil cento e sessenta e oito
possibilidades de vencer neste jogo.
— Você fez o computador muito inteligente, tem que fazê-lo perder, às
vezes. — Ela riu.
— Esse é o nível difícil, não é para amadores.
Ela riu e me beijou, me levantei e deixei ela jogando mais algumas
partidas. Tomei um banho rápido e vesti apenas um roupão de seda e uma
munhequeira para proteger meu pulso. Voltei para a sala e quando ela me viu
largou o computador na mesa de centro e se levantou.
— Vem, vamos jogar outra coisa. — Eu disse.
Sorriu maliciosamente e eu lhe segurei a mão para irmos em direção do
quarto. Ela não conseguiu esconder a felicidade em estar naquele quarto
novamente. Abriu o guarda-roupa e ficou pensativa, enquanto eu tirava o
roupão.
Ela escolheu duas cordas longas. Tirou a roupa me olhando. Pediu que
eu deitasse no chão e amarrou a corda na minha coxa direita, passou pela
panturrilha deixando-a junto da coxa me impossibilitando de esticar as
pernas. Fez o mesmo com a outra perna. Eu observava sua paciência em me
montar para a cena que ela havia pensado. Puxou a perna esquerda
levantando-a para perto do meu tronco, me expondo um pouco, amarrou em
um dos ganchos da parede, puxou a direita, me expondo totalmente e
amarrou-a em outro gancho longe do primeiro. Eu não conseguia abaixar as
pernas e minha buceta estava totalmente à sua mercê. Ela ficou em pé na
minha frente e sorriu. Pegou uma terceira corda e esticou meus braços acima
da minha cabeça. Abriu minhas mãos e juntou-as, fez nós de shibari
começando pelo antebraço até finalizar nas mãos, amarrou a corda em um
gancho e voltou a ficar em pé de frente para mim. Sorriu e se ajoelhou
aproximando seu corpo do meu, mas sem se deitar em cima de mim.
— Eu tenho algumas coisas para te falar antes de começarmos. — Ela
me olhava intensamente — Você fica linda amarrada. Eu adorei passar o dia
de ontem contigo. — Passou a mão em minha buceta — Cada segundo ao seu
lado foi valioso para mim. — Passou a mão novamente e eu respirei fundo —
Agora que está amarrada, posso dizer meu verdadeiro gosto diferenciado,
pois você não vai poder fugir. — Ela me sorriu e passou a mão em minha
buceta — Meu primeiro gosto, é pelo sexo anal, o segundo por tapas na
buceta, o terceiro por sub amordaçada e amarrada, o quarto penetração com
cintas penianas na sub e em mim. — Ela me olhava sem trégua e seu rosto
estava muito perto do meu.
— Somente quatro? — eu sorri.
— Esses padrões vão se repetir nas cenas...
— Como você mesma disse, não tenho como fugir de você. — Eu sorri
maliciosamente e lambi sua boca — Eu gosto de falar palavrão, ser amarrada,
tapas, lambidas, anal e penetração. Exatamente nesta ordem.
Ela me sorriu e me beijou lascivamente. Levantou-se e pegou um
strapless, lubrificante e um plug anal. Ajoelhou-se de frente para minha
buceta e me sorriu.
— Vamos fazer uma brincadeira diferente. Vou te dar um tapa e você
vai me responder com um palavrão. Não podem ser repetidos. A cada cinco
tapas, eu vou lamber sua buceta.
— E se eu falar repetido?
— Você perde as lambidas e a contagem começa do zero novamente.
— Palavrões aleatórios?
— Sim!
— Ok.
Passou o lubrificante em meu ânus e me penetrou devagar, milímetro
por milímetro. Eu me segurei para não falar o primeiro palavrão ali mesmo.
Quando o plug entrou por inteiro ela deu o primeiro tapa.
— Piranha!
Segundo tapa.
— Biscate.
Terceiro tapa.
— Caralho.
Quarto tapa.
— Buceta.
Quinto tapa.
— Vaca.
Ela me sorriu e me lambeu. Sua língua explorou minha buceta e minha
virilha querendo tirar de mim um orgasmo antes da hora. Ela parou e me
bateu.
— Cadela.
Sétimo tapa.
— Filha da puta.
Oitavo tapa.
— Safada.
Nono tapa.
— Porra.
Décimo tapa.
— Puta que pariu.
Eu estava ofegante e dolorida, mas extremamente excitada.
— Vejo que você realmente gosta de palavrão. — Ela introduziu um
dedo em minha buceta e eu respirei fundo.
Ela chupou o dedo que estava melado e caiu de boca em minha buceta.
Precisei pensar em coisas aleatórias para não gozar. Ágatha parou quando
percebeu minha excitação muito alterada e passou a mão em minha buceta
me olhando.
— Acalme-se, ainda não é hora.
Eu respirei fundo e ela me sorriu.
— Boa garota. Seu repertório tem mais cinco xingamento?
— Sim.
Minha buceta estava latejando e o plug em meu ânus me lembrava da
minha submissão. Senti um tapa no interior da coxa e não disse nada. Ela
apenas me sorriu. O segundo tapa foi em cheio na buceta.
— Merda.
Décimo segundo tapa.
— Cacete.
Décimo terceiro tapa.
— Puta merda!
Décimo quarto tapa.
— Cu.
Décimo quinto tapa.
— Louca.
— Muito bem. Vou aceitar louca como palavrão, mas não é. — ela
pressionou minha buceta com a palma da mão para aliviar a dor — Ainda não
é hora de gozar, mas eu vou te lamber, contenha-se.
Sua língua me percorreu com desejo e ganância, meu corpo dizia que
era impossível não gozar, minha mente lutava contra o gozo pensando em
outras coisas e minha respiração me denunciava. Ela diminuiu o ritmo das
lambidas, beijou meu ventre e se apossou da minha boca encostando sua
buceta na minha. O beijo era intenso, lascivo e o contato de nossos sexos me
arrancava gemidos em sua boca.
Ela se afastou de mim, pegou o strapless, penetrou-se e tirou meu plug
devagar, passou mais lubrificante em mim e me penetrou me encarando.
Ágatha não estava com pressa de me fazer gozar, ficou parada sem se mover
para eu me acostumar com a invasão. Ela começou um vai e vem devagar,
passou o dedo pelo meu clítoris e meu corpo estremeceu. As cordas me
imobilizando e sua penetração estavam me enlouquecendo.
— Mete mais.
— Não!
— Por favor!
Ela diminuiu ainda mais o ritmo até parar e deu um tapa na minha
buceta.
— Me fode!
Ela se posicionou melhor e iniciou as movimentações novamente.
Forte, gostoso, me arrancando gemidos altos e alucinantes.
— Goza para mim, putinha.
Ela não precisou pedir duas vezes. Meu clímax foi vigoroso e mesmo
com meu corpo relaxado ela exigia mais. Suas estocadas não pararam e o
segundo gozo foi febril, meu corpo queria se contorcer, fugir, mas era
impossível. Ágatha diminuiu o ritmo e eu respirava descontrolada. Senti que
saiu de dentro de mim e colocou a mão em meu peito, me pedindo calma.
Olhei-a e seu olhar tranquilo me acalmou. Soltou minhas pernas, virou meu
tronco de lado, para não sair da posição de uma vez, soltou meus braços e
deitou atrás de mim me envolvendo em um abraço. Comecei a respirar mais
tranquila e ela esticou minhas pernas devagar.
— Você está bem? — ela me fez um carinho na cabeça.
Concordei balançando a cabeça. Ela me fez cafuné enquanto meu corpo
se recuperava. Depois de alguns minutos recebendo carinho, me virei para
ela.
— Você sente prazer com o que especificamente?
— Não se preocupe.
— Eu me preocupo.
— Eu sinto prazer durante a cena toda, mas meu êxtase maior é
penetrar você para te fazer gozar gostoso e deixar seu corpo mole.
— E quando isso não te satisfazer?
— Você será avisada.
Eu me virei de costas novamente.
— Katherine disse que eu parei de dar prazer a ela, por isso ela tinha
que ser cada vez mais intensa.
— Ei, olha para mim. — Me virou de frente para ela — Isso foi apenas
desculpa para um comportamento doentio. Se eu não me sentir satisfeita com
a cena, você será avisada. Você está indo muito bem. — Ela me beijou com
delicadeza — Não se cobre tanto.
Ficamos deitadas no tatame por um longo tempo, apenas nos olhando.
Nunca tive momentos como esse com uma domme. Quando vou a clubes de
BDSM, não gosto muito dos pós cena, pois não gosto de romantizar com
quem eu não conheço. Com Ágatha é diferente. Ela quer esse momento, ela
exige corporalmente por isso.
— Você tem esses momentos com todas suas subs?
— Não! Eu tenho muitos cuidados com quem é minha sub, mas não
como faço contigo.
Olhei-a desconfiada e ela me beijou suavemente.
— Eu preciso confessar uma coisa, tive apenas uma submissa fora dos
clubes de BDSM que eu frequento.
— Seu comportamento de garota mimada está explicado.
— Eu não sou mimada.
— É sim. — Eu ri.
— Um pouco, talvez. Tentei ter outra exclusiva, mas a garota falou que
eu sou boazinha demais nas cenas, que preferia uma domme mais hard.
— Você não é boazinha, mas presta a atenção em todos os detalhes
corporais da sub, isso é importante. — Sorri-lhe — Seu relacionamento com
o Samuel era baunilha?
— Sim, por quê?
— Por que aceitou isso?
— Porque eu estava deslumbrada com o mundo dele, mas nos
relacionamos apenas por quatro meses. Achei que podia fazer ele mudar de
ideia sobre o BDSM, mas não consegui.
— Ele tem cara de quem trepa com meias.
Ela riu alto e me beijou.
— Posso considerar isso uma cena de ciúme?
— Não, eu apenas não gosto dele. — sentei e me levantei.
Coloquei o roupão.
— Disse algo errado?
— Não, apenas preciso ir ao banheiro. — Tentei passar naturalidade,
mas não consegui.
Fui até o meu banheiro e me olhei no espelho acima da pia,
“deslumbrada com o mundo dele”. Seria pelo dinheiro dele?
Voltei para o outro quarto e ela estava enrolando a corda.
— Você está bem?
— Sim.
— O lance do ciúme era brincadeira.
— Eu sei, Ágatha.
— Você prefere que eu vá embora?
— É o que você quer?
— Claramente você está irritada.
— Eu não vou negar que estou irritada, mas se quiser ficar, fique.
— Você quer um tempo sozinha?
— Vamos assistir um filme.
— Se preferir ficar sozinha, vou entender, está comigo há mais de 24
horas e...
— O que você quis dizer com “deslumbrada com o mundo dele”?
— Ele frequenta festas de alto padrão, coisa que eu nunca tinha ido na
vida. Balada com entrada custando duzentos, trezentos reais. Ele me dava
roupas caríssimas e me levava a restaurantes da alta classe carioca.
— Então você estava deslumbrada com o dinheiro dele?
— Como não estaria? Ele gastava na balada o que eu ganhava no mês.
Mas ele era um péssimo namorado.
— Por quê?
— Tenho certeza que ele saía comigo e outras mulheres também. E ele
é o típico cara que não sabe ouvir não.
— Ele te machucou?
— Uma vez ele tentou me forçar a fazer sexo e foi quando terminei
com ele.
— Ele anda te perseguindo?
— Antes de você começar a trabalhar lá ele não me olhava na cara, mas
ele deve ter percebido nossos olhares dentro das reuniões e voltou a me
assediar.
— Fique longe dele.
— Ficarei. — Ela se aproximou e me beijou com desejo — Quando
quiser me perguntar algo, não hesite, pergunte, vou responder com
sinceridade. Não fique remoendo as coisas na sua cabeça sem saber da
verdade.
Eu juntei seu corpo no meu e nosso beijo foi voluptuoso e intenso.
Enquanto nos beijávamos ela me empurrou até a parede e envolveu seu corpo
com minhas pernas. Gemi pelo encontro brusco de nossas bucetas.
— Está dolorida?
— Apenas sensível.
Minha boca buscou a sua em um ato de desejo e excitação, ela encostou
mais seu corpo no meu e eu gemi em sua boca. Meu corpo ardia de desejo
por ela. O beijo era indecente e sensual, o baile das línguas demonstrava todo
o nosso desejo interno. Eu apertava mais seu corpo contra o meu e suas mãos
me arranhavam a lateral do corpo sem pudor. Ela remexia a cintura me
causando frisson com o contato de nossas bucetas. Ela segurou meus braços
acima da minha cabeça e seu olhar sensual me fez sorrir, dentro daquele
quarto ela se transformava em uma mulher feroz e deliciosa. Minha boca
buscou a sua e ela me negou o beijo virando o rosto. Sua cintura me castigava
com o encontro carnal que acontecia.
— Eu quero te amarrar e comer sua bucetinha bem gostoso.
— Faça o que quiser!
Ela me beijou com desejo e soltou meus braços e se soltou das minhas
pernas. Tirei meu roupão e ela pegou quatro cordas. Mandou-me ficar de
quatro no meio do tatame e separou minhas pernas. Passou a primeira corda
pelo meu ventre e depois de dar um nó na altura da lombar amarrou-a no
gancho do teto, me suspendendo levemente. Passou uma corda na coxa
direita e amarrou na parede, fez o mesmo do outro lado. Não poderia fechá-
las. Passou meus braços por baixo do meu corpo e amarrou meus pulsos
puxando a corda para ser amarrada na outra parede.
— Rattan de duas varas ou o cinto de couro, qual você prefere?
— Rattan.
Enfiou uma calcinha em minha boca e o primeiro golpe acertou as duas
nádegas de uma vez. Meu corpo estremeceu. O rattan tem duas finas varas
semelhantes ao bambu e a sensação é de estar recebendo dois golpes ao
mesmo tempo. O segundo e o terceiro golpe foram seguidos em lugares
diferentes, um na coxa perto do joelho e outro no meio da coxa. Ela bateu
mais duas vezes nas nádegas e meu corpo recebeu os golpes com excitação.
Eu estava ofegante, a posição não era a mais confortável de todas, mas as
lambidas que ela começou a dar nas marcas do rattan me fizeram esquecer
tudo. Sua língua percorria tudo com maestria e passeou por minha buceta me
enlouquecendo.
Ela me bateu mais uma vez e eu gritei, mas fui abafada pelo pano.
Outro golpe e sua língua voltaram a me lamber. Apertou meu clitóris entre os
dedos e sua língua me penetrou causando espasmos corporais. Entrava e saía
com a língua aumentando minha excitação. Eu tentava mais contato, mas era
impossível. Meu gozo estava próximo e ela parou. Eu gemi de insatisfação.
Ela tirou a calcinha da minha boca.
— A putinha quer gozar? — ela me deu um tapa na bunda — Quer?
— Quero!
Ela me deu outro tapa na bunda e com o strapless encostou a ponta em
minha buceta, sem penetrar muito.
— Pede pra mim o que você quer? — ela me deu outro tapa.
— Quero que você me foda.
Penetrou até o fim e me bateu na bunda.
— Vou te comer, mas você tem que contar os tapas direitinho. — Tirou
o pênis até a metade.
Bateu e me penetrou.
— Um.
Ela fazia os gestos devagar. Repetiu e me bateu.
— Dois.
Bateu e me penetrou.
— Três.
O ritmo das batidas e estocadas foram aumentando e minha excitação
também.
— Quatro. Cinco.
Meu corpo queria fugir daquela posição. Ela me bateu seguidas vezes e
eu perdi a conta. Meu gozo veio para ser arrebatador e suas estocadas
aumentavam junto com os tapas. Gozamos juntas e eu me senti completa ao
ouvir seus gemidos de satisfação. Ela me soltou e deitou-se atrás de mim me
abraçando e beijando meu ombro e pescoço.
— Gozei junto com você, minha menina gostosa.
Seus carinhos me relaxavam e eu dormi com aquela frase repetindo em
minha cabeça.
Acordei na minha cama, sem nada e levantei correndo com medo que
ela tivesse ido embora. Procurei-a na sala, mas não estava. Escutei barulho na
cozinha e sorri indo em direção do som. Parei na porta, mas minha vontade
era de sair correndo e abraçá-la com força e lhe beijar a boca. Não fiz, apenas
olhei-a de longe e me contive em sorrir com a cena dela cozinhando de
calcinha e sutiã. Como ela não tinha me visto, voltei para o quarto e vesti
uma calcinha e um roupão de seda.
Voltei para a cozinha e a vontade de agarrá-la voltou, mas eu não podia
demonstrar afeto. Não neste momento. Tenho que ir com calma. Ela abriu um
largo sorriso quando me viu entrando na cozinha e eu retribui.
— Fiz algo para o nosso almoço.
Eu sentei na banqueta, não contive uma careta de dor e ela me serviu
um prato de macarronada alho e óleo com brócolis e palmito.
— Parece bom. — Enrolei o macarrão no garfo e comi.
Ela ficou me olhando na expectativa da minha aprovação.
— Gostei. — Sorri-lhe e ela me olhou intensamente — Quer me
alimentar?
— Quero.
Entreguei-lhe o garfo e ela se aproximou ficando ao meu lado.
— Está dolorida? — Serviu uma garfada.
— Um pouco sensível.
— Por que preferiu o rattan?
— Porque eu prefiro ser amarrada com o cinto do que receber cintadas.
Odeio cintadas.
— Bom saber disso. — Ela me sorriu — Eu não sei se você está
gostando do que eu ando propondo, saiba que você pode me… — coloquei o
dedo em sua boca para que não falasse mais.
— As cenas são sua responsabilidade, eu apenas obedeço.
— Mesmo sendo minha responsabilidade, não quero que você faça o
que não se sente bem.
— Já que quer saber. A posição que fizemos por último é bastante
incômoda.
— Eu sei, por isso não estendi muito. — Passou a mão em meu rosto
— Você é perfeita. — Ela me beijou suavemente — Se está na cidade há
apenas poucos meses, por que construiu o quarto? Você me disse que não
tinha intenção de ter uma dominatrix tão cedo.
— Eu estava negociando com uma domme de ter sessões particulares
em casa. Os objetos eu já tinha, quando me mudei de país, deixei na casa da
Maitê e quando voltei precisei de um lugar para guardar tudo.
— Ainda pretende negociar com essa domme?
— Ciúme?
Ela riu e me fez olhá-la.
— Sim. Não quero ninguém pondo a mão em você.
Eu lhe sorri e neguei com a cabeça.
Ela terminou de me alimentar e disse que precisava ir embora. Eu
queria que ficasse, mas não insisti e concordei com sua ida. Despediu-se com
um beijo tranquilo e me passou um endereço diferente quando fui pedir seu
táxi. Não questionei, mas fiquei me perguntando onde ela iria àquela hora.
Assim que saiu pela porta senti sua falta.
Capítulo 15
Dias atuais - Segunda semana
Maitê tentou fazer minha mudança para uma cela especial, pois tenho
diploma em contabilidade e finanças, mas foi negado. Alegaram que não há
celas especiais para as prisões femininas, se é verdade não sei, mas seria bom
sair daqui.
Célia está sempre me cercando tentando me tirar do sério, estou
tentando me segurar, mas ela quer ver o circo pegar fogo. A ociosidade aqui
dentro deixa qualquer uma louca e com ideias erradas na cabeça. Não que
elas já não tenham essas ideias, mas não fazer nada o dia inteiro propicia a
criação de atitudes erradas. Eu até tentei treinar boxe socando o colchão em
pé na parede, mas os guardas me ameaçaram, dizendo que se continuasse me
mandariam para a solitária por uma semana.
Os banhos gelados ainda eram gelados e eu não consigo me acostumar
com isso. No alto verão carioca tomar banho gelado é a melhor coisa que um
cidadão pode querer, mas aqui não tenho como sentir o calor gostoso da
cidade que tanto amo. Até parece que estou em uma realidade paralela onde o
prédio em que vivo é úmido, gelado e sujo. Baratas são nossas companheiras,
se bobear tomam seu colchão e fazem dele a casa delas. Aqui não tem vez,
bobeou, perdeu.
E por falar em bobear, Joana sempre me seguia até o banheiro na hora
de tomarmos banho. Ela segurava minha roupa enquanto eu tomava banho e
eu segurava a dela. Mas um dia, Célia resolveu ameaçá-la enquanto segurava
minha roupa. A garota ficou assustada e cedeu à ameaça deixando minha
roupa com Célia. Quando me virei e vi que era Célia quem segurava minhas
roupas não sabia qual reação ter. Raiva foi o que senti, mas eu precisava
pensar. Sai debaixo do chuveiro, desliguei-o e me aproximei dela.
— O que você quer?
Ela fez um sinal para uma das capangas dela e a mulher estendeu um
sabonete para mim. O banheiro estava lotado.
— Se você quer que eu guarde seu segredo, me dê banho.
Imediatamente me lembrei de Ágatha, seu corpo e nossos banhos
juntas. Ela me deu um tapa na cara por eu não ter pego o sabonete.
— Prefiro ficar pelada.
Afastei-me delas e fui cercada por mais duas mulheres. Eu estava em
desvantagem, mas não queria me entregar. Uma delas me deu uma chave de
braço me virando de frente para Célia.
— Você é teimosa, não é garota?
Senti outro tapa arder no meu rosto. Ela andou até embaixo do chuveiro
e ligou-o. A outra mulher me entregou o sabonete e torceu meu braço. Eu me
livrei dela chutando sua canela, peguei o sabonete e joguei em direção à
Célia, ela desviou e num descuido das suas capangas roubei minhas roupas e
sai correndo. Naquele dia pensei que era bom quando as coisas aconteciam
no banheiro, pois os guardas nunca ficavam sabendo dos ocorridos.
Eu corri muito e me escondi na mesma sala que Célia tinha entrado
comigo outro dia. Vesti-me e esperei o toque de recolher para sair dali. Eu
mal respirava, sentei encostada na porta tentando entender a merda que eu
tinha acabado de fazer. Quando cheguei na cela, meu colchão estava todo
rasgado e o interior dele esfarelado por todo o corredor. Voltei a dormir no
chão. Ódio e raiva, eram dois sentimentos que tomavam conta de mim estes
dias.
Joana me pediu inúmeras desculpas por ter fugido, eu aceitei, mas a
cena de Célia pelada querendo que eu a tocasse me deixava com a estranha
sensação de náusea. Não por ela, mas pela ansiedade que seu nome causava
em mim.
Esse episódio por enquanto está sendo ignorado por Célia e sua gangue,
mas eu duvido que não haverá mais represália por elas. Vivem me olhando e
rindo da minha cara.
Recebi uma visita de Maitê hoje, ela estava em lua-de-mel e não veio
me visitar desde nossa última conversa.
— Como foi a lua-de-mel sabor baunilha? — eu ri sentando em sua
frente.
— Você não presta, Anelise. — Ela riu.
— Preciso rir de alguém já que minha vida está cada dia pior.
— E esse rosto avermelhado?
— Descobriram que eu gosto de apanhar e estou passando dias super
divertidos aqui. — falei brava.
— Eu imagino que esteja sendo um inferno.
— Maitê, você precisa descobrir a verdade sobre Samuel. Essa semana
eu estive pensando que sozinho ele não deve ter feito uma armação tão boa
quanto essa parece ser. Ele é diretor executivo, mas a inteligência não é sua
maior virtude. Você tentou investigar o Hélio? Diretor de tecnologia da
empresa, esse sim é inteligente. E se a Ágatha ainda está viva por aí?
— Você anda pensando mais claramente sobre tudo ou está tentando
incriminar essas pessoas?
— Eu estou com bastante tempo ocioso e não consigo parar de pensar
em tudo.
— Eu não parei de fazer investigações mesmo na lua-de-mel, mas não
tem brecha. Só se esse Hélio tiver algo que faça conexões.
— A Cintia deve estar me odiando por ter feito você trabalhar na lua-
de-mel de vocês.
— Como se ela não tivesse trabalhado. — Ela riu.
— Menos mal.
— Ela está me ajudando com seu processo, aliás, minha equipe toda
está.
— Eu vou te recompensar por isso, ainda não sei como, já que agora a
senhora é uma mulher casada, meus métodos de pagamento podem não ser
aceitos. — Eu ri.
— A palavra senhora soa tão bem na sua boca. — Ela riu — E quem
disse que não é aceito?
— E a Cintia?
— Participa junto.
Eu ri alto.
— Afinal ela te acha linda.
Eu ri alto.
— Pelo menos vou ter no que pensar enquanto aguardo o julgamento.
— Eu ri.
Ela segurou minha mão e beijou-a.
— Meu bebê, estamos tentando de tudo para te tirar daqui.
— Eu sei, Mazinha, eu sei. — Apertei-lhe a mão — Mas como diz a
música de Gilberto Gil, “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”.
— Tente não arrumar muita encrenca aí dentro.
— Eu juro que estou me comportando, mas essas mulheres são loucas.
— Olhei-a — E por falar em louca. Você pode ajudar uma presa?
— Não começa a prometer coisas para essas mulheres.
— Juro que não prometi nada, ela nem sabe que estou falando com
você sobre ela. Eu tenho certeza que ela tem problemas mentais, eu queria
que você tentasse uma transferência para uma instituição psiquiátrica, aqui
não é lugar para ela.
— Vou analisar o caso dela.
— Joana Barros, condenada por matar o namorado.
— Vou ver se tem alguma coisa que possa ser feito.
— Obrigada.
— Eu sei que a comida daqui não deve ser das melhores, mas você
precisa se cuidar, está cada vez mais magra.
— Se eu comer mais, eu preciso ir ao banheiro mais vezes e ir ao
banheiro aqui não é uma tarefa muito fácil.
Ela apenas me olhou sem ter o que responder.
Maitê se despediu e eu voltei para a cela.
Sentei ao lado de Joana no que havia sobrado do meu colchão e ela me
sorriu como se soubesse que eu estava tentando defendê-la daquela sina que
nós duas estávamos vivendo.
Capítulo 16
Um ano atrás
Eu levantei atrasada, meu celular, aparentemente, não despertou. Se
tocou não escutei. Cheguei na empresa faltando poucos minutos para a
reunião das dez. Ainda bem que na sexta eu tinha deixado tudo pronto.
Ágatha não estava em sua mesa.
Durante a reunião, que eu estava conduzindo, ela não tirou os olhos do
meu corpo. Era um olhar fixo e penetrante, parecia que queria ler minha
alma. Eu queria que todos desaparecessem para poder tê-la só para mim. A
minha explanação foi de vinte minutos, os diretores ficaram loucos com a
meta de redução de gastos da própria diretoria e começaram a discutir comigo
o fato de eu querer tirar os privilégios que eles tinham com algumas despesas
sendo pagas pela empresa.
— Vocês me contrataram para organizar as finanças da empresa, é isso
que estou fazendo. Vocês gostando ou não, essa é a meta do trimestre e não
vou alterá-la para massagear o ego de diretor mimado. Se vocês acham
mesmo que estou sendo louca com este plano, me mandem embora.
Ninguém respondeu.
A reunião foi encerrada e Ágatha me acompanhou pelo corredor e
quando chegamos em sua mesa ela me olhou sorrindo.
— Podemos almoçar juntas? — Ela me perguntou.
— Sim.
— Aqui mesmo?
— Não. Vamos em algum lugar tranquilo e que seja aqui perto.
— Vou pesquisar algum lugar.
Afastei-me dela e percebi seu olhar em mim. Virei meu rosto e ela me
sorriu maliciosamente, eu apenas ri e fui para minha sala.
Perto da hora do almoço, ela me mandou uma mensagem “Achei um
restaurante a duas quadras daqui, inaugurou semana passada. Vegetariano e
vegano.” Respondi: “Perfeito! Encontro você lá daqui dez minutos.”
Eu estava de saída da minha sala quando Samuel entrou junto com o
diretor de tecnologia e informação. Avisei que tinha que sair, mas me
ignoraram, disseram que seria dez minutos. A conversa se estendeu por quase
uma hora. Minha ansiedade estava elevada e minhas respostas não eram as
mais educadas, precisei me controlar quando Hélio pediu dinheiro para novos
investimentos em tecnologia. Eu só conseguia pensar em Ágatha sozinha no
restaurante. Só se deram satisfeitos quando disse que acharia uma forma de
fazer os novos investimentos. Acompanhei-os até a porta e Ágatha já estava
de volta na sua mesa. Quando se afastaram, eu olhei-a intensamente e
chamei-a para entrar em minha sala. Ela me olhou, mas não se moveu.
— Seu almoço. — Ela apontou uma sacola sob a mesa dela.
— Por favor, entre na sala comigo.
Ela respirou fundo e levantou brava. Pegou a sacola e entrou na sala.
Entrei e tranquei a porta. Ágatha estava em pé perto da minha mesa, me
aproximei e abracei-a por trás.
— Não era isso que tinha planejado para nosso almoço. — Eu virei-a
de frente para mim — Desculpe.
— Você podia ter mandado uma mensagem.
— Desculpe, eu não consegui.
Fiz com que me olhasse, seus olhos estavam avermelhados e lhe beijei
suavemente.
— Sinto muito por isso.
— Você me assustou com esse sumiço, achei que tinha feito de
propósito para me deixar constrangida.
— Por que eu faria isso? Que péssima visão você tem de mim. — Fiz
com que me olhasse e lhe beijei os lábios — Você me desculpa? Não quero
começar a semana brigada com você.
— Desculpo, mas eu estava empolgada com nosso almoço.
Beijei-a com desejo.
— Como posso te recompensar pelo desencontro de hoje? — beijei-a
novamente.
Ela passou os braços pelo meu pescoço e eu lhe puxei para mais perto
de meu corpo.
— Me beija mais. — Sorriu-me.
Minha boca encontrou a sua e nosso beijo foi tão delicioso que eu não
quis parar de beijá-la. Sentei-a na minha mesa e nossas boca continuavam
grudadas, nossos corpos juntos querendo se fundir. Subi sua saia, o beijo se
intensificava e eu queria me desculpar apropriadamente. O meu desejo por
seu corpo aumentava a cada encontro de nossas línguas. Abracei-a e levantei-
a da mesa andando em direção do sofá. O beijo continuava se intensificando,
sentei com ela em minhas pernas e afastei sua calcinha percebendo o quanto
ela estava molhada.
— Eu quero… — tentei falar entre um beijo e outro
— Não peça, faça! — disse ofegante.
Deitei-a no sofá e lhe tirei a calcinha. Sorri ao vê-la exposta para mim.
Minha língua explorou seu sexo com devoção e seu corpo já se retorcia de
prazer. Eu penetrei-a e seu gemido de êxtase foi gostoso de ouvir. Chupei-a
com intensidade e suas mãos seguraram minha cabeça emaranhando os dedos
em meus cabelos. Um gemido abafado foi o anúncio de um pré-gozo e
aumentei o ritmo. Vi que ela tapou a boca para não gemer ou gritar. Suguei
seu clítoris e penetrei-a com vigor. Seu corpo estremeceu em meus dedos e
eu sorri com a sua respiração ofegante. Coloquei suas pernas no sofá e sentei
no chão ao seu lado. Passei a mão em seu rosto e beijei seu braço.
— Você pode perder mais vezes a hora do almoço se essa for à sua
maneira de se desculpar. — Me puxou para um beijo nos lábios.
Eu ri e me levantei indo buscar minha comida, estava faminta. Quando
voltei, ela já estava sentada no chão me esperando. Sentei ao seu lado e ela
me sorriu como se quisesse me pedir algo.
— Posso te alimentar?
Entreguei-lhe o garfo.
— Você almoçou?
— Sim e paguei com o seu cartão. Ele ficou na minha bolsa.
— Foi justo. — Lhe sorri.
Ofereceu-me uma garfada e me olhou sorrindo.
— Este ato realmente te deixa feliz, não é?
— Sim.
— Você fazia isso com a sua outra sub?
— Às vezes, ela não curtia muito. — Ofereceu outra garfada — Você
gostou?
— Ainda é estranho, mas você fica com uma carinha tão feliz que não
consigo negar. Ninguém nunca me alimentou na boca, então é uma sensação
bem diferente.
— Nem sua mãe?
— Minha mãe? — eu ri — Não vamos falar daquela vadia.
— Outro dia conversamos sobre ela, pelo jeito é um assunto delicado.
— Muito delicado.
Ela me ofereceu outra garfada.
— Posso fazer uma pergunta sobre a Katherine? — olhei-a desconfiada
— Só responda se quiser.
— Ok.
— Você disse que ela se tornou intensa, o que isso quer dizer?
— Ela parou de respeitar meus limites. Ela sempre achava que eu podia
aguentar mais do que eu já estava aguentando.
— Ela ignorava sua safeword?
— Sim. Se eu falasse a safeword durante um spanking, ela continuava a
bater. Ela não me batia para sentirmos prazer, como você, a Samantha e a
Maitê fazem. Ela queria me machucar, batia com muita força e em lugares
inapropriados. Eu tinha que implorar para ela parar. — Olhei-a chateada.
— Como superou isso? Você ainda gosta de apanhar apesar disso tudo?
— Maitê me ajudou muito quando eu a conheci. Ela me ensinou a
descobrir do que eu realmente gosto. A Katherine me ensinou coisas que ela
gostava e com a Maitê eu descobri que eu não gostava de tudo o que a
Katherine tinha me ensinado. Tive a ajuda de uma psicóloga também, mas
Maitê foi quem melhorou vários traumas meus.
Ela me abraçou e beijou meu rosto.
— Ela te ajudou sendo sua domme?
— Não. Ela me ajudou como amiga, me levou em clubes de BDSM e
me ensinou a ver que Katherine era uma pessoa descontrolada e abusiva.
Fizemos cenas juntas, mas apenas para eu poder diferenciar o que eu gostava
do que não gostava. Ela é uma pessoa muito importante na minha vida, se
não fosse por ela, talvez, tivesse morrido nas mãos da Katherine.
— Você é uma garota de sorte por tê-la em sua vida.
— Sim. Mais alguma dúvida sobre Katherine?
— Sim, mas vamos devagar com estes relatos. Não quero aflorar
sentimentos ruins em você.
— Obrigada pela compreensão.
Ela voltou a me alimentar e ficamos nos olhando entre uma garfada e
outra.
— Qual seu maior sonho? — eu perguntei na última garfada.
— Tenho vários.
— Qual deles faria você largar tudo sem medo de se arriscar?
— Ter meu próprio restaurante.
Eu limpei a boca com o guardanapo e olhei-a.
— Algum motivo especial?
— Minha mãe tinha um restaurante no interior do Paraná, ajudei muito
ela.
— O que te trouxe ao Rio de Janeiro?
— Calor, praia e a tentativa de fazer uma faculdade.
— Desistiu da faculdade?
— Ainda não, mas estudar para o vestibular e trabalhar está sendo
difícil.
— Precisa de ajuda em algo?
— Anatomia.
Eu olhei-a séria pela brincadeira e ela me sorriu zombeteira.
— Nessa matéria você passa de olho fechado.
— Você está leve hoje, tranquila...
— Passei um final de semana agradável com uma garota maluquinha,
mas divertida.
— Nossa, ganhei meu dia com esse…hum... posso chamar isso de
elogio? — ela me beijou os lábios.
Eu ri concordando e ela se apossou da minha boca com desejo. Um
beijo lascivo e cheio de tesão nos envolveu. Puxei-a para sentar-se sob
minhas pernas de frente para mim. O beijo continuou me envolvendo, meu
corpo queria o seu calor e as suas mãos puxavam minha nuca para aumentar
o contato de nossas bocas. Subi sua saia e arranhei suas coxas, gemeu em
meus lábios e eu puxei-a para mais perto de mim. Nosso envolvimento era
intenso, o beijo gostoso, extasiante e eu queria vê-la nua e ter sua pele na
minha. O telefone da minha sala tocou nos assustando.
— Merda! Telefone maldito! — ela murmurou saindo de cima da
minha perna.
Respirei fundo, pois a interrupção me deixou atordoada. Levantei e
andei rápido para atender. Falei por alguns minutos de costas para onde
estávamos sentadas e quando desliguei, ela não estava mais lá. Senti sua falta
imediatamente, mas voltei a trabalhar.
No fim da tarde, chequei meu e-mail pessoal e vi que tinha mais e-
mails duplicados de Ágatha em minha caixa de entrada do que meu. Dei uma
bisbilhotada em suas redes sociais e vi que a mesma menina que estava na
festa com ela no outro fim de semana, tinha marcado ela em algumas fotos de
uma festa durante o fim de semana que passou comigo dizendo que ela fazia
falta. “Depois me diz que não tem tempo de estudar.” Pensei comigo.
Quando saí da minha sala, ela não estava em sua mesa e pela hora, ela
já devia ter ido embora. Saí do elevador e escutei uma risada conhecida. Era
Ágatha conversando com a recepcionista do prédio, olhei-as sério e vi que era
a mesma garota das fotos. Fiquei incomodada, não era ciúme, era incômodo
pela forma que a recepcionista me olhou. Parecia que ela sabia o que
tínhamos feito. Chamei o táxi pelo celular e esperei alguns minutos até que
chegasse. Entrei no carro e Ágatha entrou do outro lado.
— O que está fazendo?
— Indo para sua casa com você.
Pedi para o motorista esperar.
— Está maluca? Nós não combinamos nada para hoje. Pare de ser in…
— Invasiva?
— É! Você gosta de me ver irritada?
— Motorista, pode ir, no caminho convenço ela a deixar eu entrar no
apartamento dela.
Ele acatou a ordem dela.
— Quero continuar o que começamos na hora do almoço. Tivemos
momentos agradáveis hoje, por que não podemos continuar?
— Ágatha, nosso combinado é de sexta-feira e não segunda ou a
semana toda.
— Eu quero você a semana toda, estou viciada em você.
Vi que o motorista estava nos olhando.
— Se você quer isso, precisa conquistar isso. Não adianta invadir meu
táxi e dar um barraco e se fazer de louca.
— Como eu consigo as coisas com você?
— Eu já disse que sou maleável.
Ela me beijou e eu cedi. Afastei-me e editei a rota do trajeto e avisei o
motorista.
— Você não é.
— Me escuta. — Segurei seu rosto e fiz com que me olhasse — Essa
atitude de garota mimada que quer tudo na hora que quer, não vai me
amolecer. Isso vai me afastar e se eu me afastar, você perde muito mais do
que uma noite. Você me perde por inteira, é isso que quer?
— Não.
— Vou te deixar na sua casa e você vai se acalmar. — Encostei minha
testa na dela — Tenha paciência, é só o que te peço.
Ela me beijou a boca delicadamente.
— Você me enlouquece. — Ela me sussurrou — Desculpe, eu perco a
cabeça perto de você.
— Não pode deixar isso acontecer.
Abracei-a. Permanecemos naquele abraço até o táxi parar na frente da
casa dela.
— Quero assistir você tomando banho depois do meu treino de boxe.
— Eu sussurrei beijando-lhe o rosto.
Ela me deu um beijo gostoso de despedida.
— Quero assistir seu treino. — Ela me sorriu e deu um selinho.
Eu sorri concordando e ela saiu do carro. O taxista não perdeu um lance
entre nós. Esperei ela entrar no prédio e seguimos para meu apartamento.
— O relacionamento de vocês é intenso, né? — ele me perguntou
quando paramos em um semáforo.
Eu não respondi e fiquei olhando os prédios durante o trajeto.
Desci em frente ao meu prédio e vi a nítida diferença entre os dois
bairros. Senti-me estranha por não ter deixado ela vir comigo para casa, mas
eu precisava parar de perder a noção do tempo e do medo ao lado dela.
Quando Bento chegou em casa, mandei o link para ela ver o treino pela
câmera de segurança. No meio do treino, eu comecei a imaginar ela se
masturbando como fez da outra vez e acabei levando um cruzado de direita
no rosto. Bento ficou totalmente sem ação quando viu que me acertou, o
exercício era para eu me esquivar de seus golpes, mas minha cabeça não
estava ali, estava em Ágatha. Continuamos com o exercício, mas eu sentia
meu rosto arder. O soco não foi leve e no fim do treino, vi que o olho estava
roxo. Bento se desculpou mais uma vez e eu apenas ri.
— Eu já recebi socos piores, fique tranquilo.
Ele se despediu e meu celular começou a tocar e vi que era Ágatha,
atendi no viva-voz enquanto pegava gelo no freezer, coloquei-o em um saco
plástico.
— Você está bem?
— Foi só um soco.
— Ele é maior e mais forte do que você.
— Fique tranquila, essas coisas acontecem nos treinos. — Eu ri —
Treinamos para isso.
— Ficou roxo?
— Vai ficar!
Coloquei o gelo no rosto.
— Podemos fazer uma chamada por vídeo?
Desliguei e chamei-a pelo vídeo. Mostrei o machucado quando
atendeu.
— A empresa inteira vai comentar. — Ela riu — Vai ficar horrível.
— Se toda vez que eu levar um soco você ficar assim, você vai viver
preocupada.
— Se eu estivesse aí ia te encher de beijo para sarar logo.
Eu apenas sorri e houve um pequeno silêncio.
— Desculpe pelo lance do táxi. Eu fui impulsiva e não devia ter feito o
que fiz. Acho que você tem razão quando diz que sou invasiva e mimada.
— Vamos esquecer isso. Eu quero me abrir mais com você, ter mais
confiança, mas não posso e não quero me sentir acuada. Quando você faz
essas coisas, infelizmente, a imagem da Katherine vem à minha cabeça.
— Não quero que você me associe a ela.
— Peça quando quiser algo, não tente impor suas vontades. Se você
tivesse pedido para vir até a minha casa hoje, talvez eu tivesse reagido
diferente do que reagi dentro do táxi e aceitado sua visita.
— Eu vou me lembrar disso amanhã. — Ela sorriu.
— Lembre-se que você está causando sentimentos controversos em
mim e não queremos explosões desnecessárias.
— Ok, vou tentar melhorar minha impulsividade.
— Obrigada.
Eu tirei o saco de gelo do rosto.
— Quando disse que iria me assistir tomar banho como imaginou?
— Pensei que poderia ser pela webcam do notebook, mas se preferir,
pode ser pelo celular.
— Por que quer me ver tomar banho?
— Preciso de um motivo? — franzi a testa.
— Não, mas estou curiosa com seu pedido.
— Você gosta que assistam você tomando banho?
— Sim.
— Então, sempre que eu puder vou assistir para te deixar feliz. Eu
gosto de saber que estou agradando.
— Está, apesar de você ter me negado hoje.
— Já conversamos sobre isso… só me dê tempo.
— Darei.
Ela andou com o celular até o banheiro e eu fui até a sala e sentei no
sofá. Ela apoiou o celular em alguma coisa na pia, me dando ampla visão do
banheiro. Ágatha tirou a roupa devagar enquanto encarava a câmera. Seu
olhar preto e penetrante me provocava. Se eu queria estar com ela? Sim.
Fiquei sem reação quando a vi nua novamente. Deveria falar algo, mas sua
beleza me calou. Observá-la se exibindo para mim era hipnotizante. O vírus
Ágatha estava mais espalhado do que eu imaginava. Em breve, todos os
cantos do meu cérebro estarão gritando por ela. Eu estava vidrada em seu
banho, a água caindo pelo corpo e o cabelo sendo lavado com delicadeza. Era
uma visão bonita e cativante, o som da água me trazia paz. O vídeo foi
abruptamente interrompido e eu fiquei esperando o celular tocar novamente.
Como isso não aconteceu, tentei ligar, mas estava ocupado. Levantei e fui
tomar meu banho e jantar. Quando sentei para comer ela me ligou.
— Desculpe, uma ligação desligou nosso vídeo.
— Uma pena ter sido interrompido dessa maneira.
— Só liguei para me desculpar pela interrupção, era minha mãe.
Quando ela começa a falar não para mais.
— Não precisa se desculpar por tudo.
— Perto de você eu sinto que só faço besteira.
— Não pense assim. Foi bom ter ligado, amanhã e quarta tenho
reuniões na hora do almoço e não vamos poder almoçar juntas.
— Eu vi na sua agenda. Samuel e Hélio gostam de fazer reuniões na
hora do almoço.
— Eu detesto.
— Quinta e sexta almoçaremos juntas?
— Sim, espero que nada nos atrapalhe.
— Se for para você me chupar como pedido de desculpas até quero que
algo nos atrapalhe.
— Eu vou me arrepender do que vou dizer, mas não precisa esperar
imprevistos para que eu te chupe, basta pedir.
— Cuidado com as palavras, Ane.
Eu ri.
— Eu disse que me arrependeria.
Ela riu alto, sua risada sempre me fazia bem.
— Dorme bem, Ane!
— Você também, Ágatha.
Desliguei. Jantei calmamente e antes de dormir recebi uma mensagem:
“Amei te beijar durante o almoço de hoje, adorei ver seu treino e ser
observada durante o banho.”
Impulsivamente respondi, “Você é linda!”
Ela me respondeu apenas com um emoticon com uma carinha
envergonhada. Como não sabia o que responder, mandei um emoticon
piscando. Deitei na cama me sentindo leve e tranquila. O vírus Ágatha pode
estar se alastrando, mas não estou sentindo corrosões em meu disco rígido.
Capítulo 17
Dias atuais - Terceira semana
O começo da minha terceira semana, foi definido por um encontro nos
corredores da prisão. Era hora do almoço e Célia ficou atrás de mim na fila.
— Você acha que pode negar o que te peço e sair impune?
Eu não respondi. Ela me deu um beliscão no braço.
— Estou falando com você.
Tentei sair de perto dela, mas ela segurou minha camiseta. Senti uma
ponta fina apertando minha costela esquerda. Então foi ela quem pegou meu
canivete, tinha desconfiado de Nádia erroneamente. Eu me afastei dela, mas
ela voltou a colocar a ponta do canivete em minha costela.
— O que você quer? — eu perguntei sussurrando.
— A gata resolveu falar? Quero mais produto de higiene.
— Não tenho mais.
Ela me furou com a ponta do objeto e sujou minha camiseta com um
pouco de sangue. Dei um passo à frente, mas ela me seguiu.
— Não minta.
— Eu não tenho.
Célia me furou mais fundo e em uma reação explosiva empurrei-a para
longe, fazendo-a cair no chão. O refeitório todo parou para nos olhar e os
guardas já começaram a se aproximar. Ela levantou e veio em minha direção
apontando a lâmina, eu desviei de seu corpo, mas a lâmina cortou meu braço.
Um dos guardas segurou-a e desarmou-a. O corte não tinha sido profundo,
mas meu braço estava todo ensanguentado. Hortência e Nádia me puxaram
para a cozinha e enfiaram meu braço debaixo da pia para lavá-lo. Vi que
Célia estava conversando com o guarda que a segurou e colocou uma nota de
cem reais no bolso dele. Provavelmente era para ela não ser denunciada nem
ser levada para a solitária.
— Você é idiota de revidar essa mulher? — disse Nádia.
— Eu não tive escolha. — Eu levantei a blusa para ver o furo que ela
havia me feito.
— Ela quer ver você perder a paciência. — disse Hortência.
— E ela está conseguindo, cada dia mais.
Eu desliguei a torneira e peguei um guardanapo de papel para secar
meu braço. Voltei para a cela sem almoçar e Joana já estava ali, sentada em
nosso pano, porque não poderíamos chamar aquilo de colchão.
— O que houve com seu braço? — ela segurou meu braço depois que
sentei ao seu lado.
— Célia me cortou.
— Eu não gosto dessa mulher. — Ela deitou a cabeça em meu ombro.
— Ninguém gosta.
Na manhã seguinte, Maitê veio me ver.
— O que aconteceu bebê? — ela segurou meu braço.
— O de sempre, represália. — sentei na cadeira — Nunca te perguntei
isso, mas por que você me chama de bebê?
Ela se sentou na outra cadeira.
— O dia que você chegou no meu escritório pedindo ajuda para se
afastar e se separar de Katherine, você chorava tanto que eu não consegui
pensar em te chamar de outro jeito.
— Se você tivesse se negado a me ajudar, eu não sei o que seria da
minha vida.
Ela apenas segurou minha mão e ficamos quietas por alguns instantes.
— Você não gosta do apelido?
— Gosto, mas não sabia o porquê dele.
— Você ama a Ágatha?
— Se eu disser que sim, isso me ajuda em alguma coisa?
— Eu quero a verdade.
— Eu amo a Ágatha e faria qualquer coisa para vê-la feliz.
— Fico feliz que tenha tentado se abrir para o amor novamente.
— Eu só me ferro fazendo isso.
— Ainda estamos atrás do Hélio e do Samuel, mas não tenho nenhuma
novidade.
Ficamos nos olhando por um tempo.
— E a Cíntia? Como vocês estão?
— Bem.
Eu ri.
— Não me convenceu.
— Estamos tendo dias tumultuados.
— Sente falta de ser domme?
— Você me entende tão bem, bebê. — Ela disse chateada.
— Eu disse que esse negócio de ser baunilha não estava no seu sangue.
— Eu disse brava.
— Eu amo a Cíntia.
— E ela? Ama você ou ama seu dinheiro?
— Ela tem muito mais dinheiro do que eu.
— Hoje, sim, há quatro anos atrás, não.
— Não faça insinuações.
— Infelizmente é o que vejo quando olho para vocês.
Ela me olhou chateada.
Os guardas anunciaram o fim da visita.
— Preciso voltar à minha cela, super confortável e cheirosa.
Ela me olhou enquanto era algemada e me mandou um beijo de longe.
Quase três dias depois da visita, os guardas me entregaram o que Maitê
havia me mandado. Eu e Joana escondemos atrás do vaso sanitário e havia
um envelope junto com as coisas. Abri e vi uma barra de chocolate. Sentei
junto com Joana, Nádia e Hortência em um canto da cela e dei um pedaço de
chocolate cada. Guardei o resto. Nunca imaginei que o gosto do chocolate
seria tão apreciado por mim. Não mordi, esperei ele derreter em minha boca e
as três fizeram o mesmo, agora era somente nós quatro a outra mulher havia
sido julgada e condenada.
Aquele pedaço de chocolate me lembrou imediatamente de Ágatha,
quase tudo me fazia pensar nela, mas o chocolate me fez mais. Nós duas
estávamos almoçando em meu apartamento, era um sábado. Ela tinha
cozinhado e eu tinha preparado brigadeiro. No meio da tarde, ela havia
lambuzado meu ventre com o doce, ela lambia o brigadeiro e me beijava com
gosto de chocolate na boca. Depois desse dia eu nunca mais consegui comer
chocolate sem pensar nela.
Capítulo 18
Um ano atrás
Na terça e na quarta daquela semana, não nos falamos muito na
empresa, não tive tempo para lhe dar atenção, mas a noite me ligou e
conversamos amenidades tirando todo o peso do meu dia com risadas e
piadinhas bobas.
Quinta-feira teríamos um almoço juntas e eu estava com dor de cabeça,
mas não queria cancelar o encontro. Nos encontramos no restaurante e ela me
olhou curiosa quando sentei ao seu lado.
— Está tudo bem?
— Minha cabeça está me matando hoje.
Ela tirou uma cartela de remédio da bolsa e me estendeu uma drágea,
pediu um copo de suco de laranja e me segurou a mão.
— Você não se alimenta direito pela manhã, não é?
— Não tenho fome pela manhã.
— Mas precisa comer. — Eu sorri pela preocupação.
O garçom serviu o suco e eu tomei o remédio. Dei uma olhada no
cardápio e escolhi um prato, ela fez o mesmo e fez nosso pedido ao garçom.
Estávamos em uma mesa reservada, bem escondida no fim do restaurante.
Ágatha me fez olhá-la e aproximou seu rosto do meu, encostei minha testa na
dela e nossas bocas se tocaram devagar. Um beijo calmo e saudosista nos fez
esquecer que estávamos em público.
— Estava com saudade da sua boca. — Ela me sussurrou.
Eu sorri e beijei-lhe o rosto.
Nosso almoço não demorou para ser servido e eu percebi que ela ficou
incomodada de uma hora para outra. Olhei pelo ambiente e vi a mesma garota
das fotos entrando no restaurante. As duas se olharam e fingiram não se
conhecer.
— Algum problema? — Segurei-lhe a mão por baixo da mesa.
— Nenhum. — Ela respondeu ríspida.
Eu continuei comendo e ela olhava para a garota com raiva.
— Comer com raiva dá indigestão.
Ela me olhou e continuou comendo. Ágatha só se acalmou quando a
garota saiu do restaurante. Eu queria muito saber qual a relação das duas, mas
tínhamos combinado de não falar de nossas vidas além do necessário. Eu pedi
um pedaço de bolo de chocolate e ela um pedaço de bolo de prestígio. Ela
pediu a conta e quando o garçom trouxe, ela me olhou meio perdida.
— Você ainda está com o meu cartão, não está?
— Sim. Queria poder pagar com o meu dinheiro. — Ela olhava o valor
da conta — Mas não posso.
Eu segurei sua mão e fiz com que me olhasse.
— Eu vou pedir um cartão adicional para você…
— O que? Não! Eu não vou aceitar isso.
— Você ainda não ouviu os termos para poder usar o cartão.
— Você e seus termos... — Ela riu — mas não posso aceitar.
— Eu vou pedir mesmo assim.
— Ok! Não vou discutir. Quais são seus termos?
— Sua lista de frequência no cursinho.
— Estou estudando por conta, não faço cursinho.
— Então vai escolher um para te ajudar a passar no vestibular.
— Ane, eu não tenho muito tempo livre para frequentar aulas,
geralmente eu estudo de madrugada.
— Então, eu vou aplicar provas de vestibulares antigos para ver se você
está estudando direito.
— A gente vai brincar de professora e aluna, é? Gostei disso.
Eu ri da insinuação dela.
— Garota, você só pensa em sexo?
— Quando eu estou com você? Sim!
— E quando não está?
— Também! Fico imaginando nós duas naquele quarto…
Eu ri.
— Eu estou falando sério sobre o cartão e o vestibular. Quero ver você
realizando seu sonho.
— Por que quer me dar um cartão de crédito?
— Eu sei o quanto você ganha e tenho certeza que não é o suficiente
para pagar tudo o que você gostaria de ter. É apenas um presente, use se
quiser.
— Você pode estar dando asas a uma mulher sem controle e que vai
torrar seu dinheiro.
— Eu estou te dando um voto de confiança com este cartão.
— Então é um teste?
— É um presente que tem que ser usado com sabedoria. Se você souber
usar vai poder usar sempre.
— Vou ter um limite para usar? Vou poder usar com qualquer coisa?
— Eu vou te dar um limite e você pode gastar com qualquer coisa, só
não se esqueça que a fatura vai vir para mim, então vou saber com o que
gastou.
— Justo.
— Você está se sentindo preparada para o vestibular?
— Para esse ano? Não. — Me olhou chateada.
— Em quinze dias quero que você faça uma prova para podermos ver
onde precisamos melhorar seus estudos.
— Por que esse interesse em minha educação?
— Porque você é inteligente e tem capacidade de estudar e trabalhar
com o que realmente te motiva.
— Você gosta do seu trabalho?
— Sim.
— Por que não fez nada com os estudos de linguagem de programação?
— Eu faço jogos de computador e celular como hobby, mas trabalhar
com tecnologia e informática nunca foi minha intenção.
— Você quer ser minha cobaia quando eu estiver inventando os pratos
para meu restaurante?
— Claro! Se não tiver um cardápio vegetariano e vegano não vou
deixar você abrir o restaurante.
— Você já está pensando muito lá na frente.
— Um cardápio perfeito não é elaborado de um dia para o outro.
Ela me sorriu e concordou me beijando suavemente.
— Precisamos ir.
Ela me beijou novamente.
— O tempo passa muito rápido ao seu lado. — Ela me sussurrou —
Posso ir para sua casa hoje?
— Amanhã teremos mais tempo, hoje tenho treino e a senhorita vai
começar a estudar para o teste que iremos fazer daqui quinze dias.
— Você é má. — Ela me sorriu.
— Amanhã, você vai para minha casa direto da empresa, comigo, no
mesmo táxi e vai poder fazer o que quiser com meu corpo. — Beijei-a
delicadamente.
— Nunca desejei tanto uma sexta-feira à noite. — Ela me beijou com
desejo.
— Você vai preparar nossa janta, nada de pedir em restaurantes. Já
pensa no que precisará para fazer a receita e me avise.
— Essa noite está cada vez melhor.
Eu sorri e me levantei. Beijei-lhe a testa, ela segurou minha mão me
puxando de volta.
— Não é assim que uma boa menina se despede. — Ela me sorriu e eu
lhe depositei um longo selinho nos lábios e saí do restaurante em direção à
empresa.
No fim da tarde, ela entrou em minha sala para deixar uma pasta com
documentos do departamento de compras e me fez olhá-la, pois eu estava
concentrada em vários cálculos.
— Mandei a lista do que precisarei no seu e-mail. Não vai embora
tarde, te ligo antes de dormir. — Me deu um selinho e saiu da sala.
Eu quase não percebi o furacão Ágatha passando e voltei aos meus
cálculos.
No elevador, verifiquei o e-mail que ela havia mandado. Talvez faltasse
apenas um ingrediente, mas eu precisava verificar em casa. Quando saí do
elevador, a mesma mulher das fotos e do restaurante me encarou, como se eu
estivesse fazendo algo muito errado e ela repudiasse o que tinha visto no
restaurante. Alguma coisa aconteceu entre Ágatha e essa garota, não fazia
sentido as publicações e o jeito que me encarava.
Em casa, treinei com Bento por uma hora e meia e quando ele saiu,
verifiquei os ingredientes que faltavam. Creme de leite e leite de vaca.
Mandei uma mensagem para Ágatha: “Sua receita vai leite de vaca e creme
de leite, duas coisas que eu não consumo normalmente. Pode ser leite de soja
e creme de leite vegano?”
Ela respondeu: “Não sei, nunca fiz com esse tipo de produto, mas
vamos testar, se não der certo a gente pede uma pizza.” Mandou emoticons
rindo. Eu respondi com emoticons rindo também, afinal, seria apenas um
teste. Fui ao mercado perto de casa e comprei os dois ingredientes, leite
condensado de soja e mais algumas coisas que estavam faltando em casa.
Voltei e mandei uma foto do leite condensado ao lado do chocolate em pó,
mas não visualizou.
Quando estava deitada, quase dormindo ela me ligou.
— Essa foto é uma sugestão de sobremesa? — ela riu.
— Sim.
Ela riu.
— Liguei só para desejar boa noite, preciso voltar a estudar, se não, não
ganho limites no cartão de crédito.
— Você não deveria fazer isso pensando apenas no limite do cartão. —
Eu falei sonolenta.
— Foi só uma piadinha para te irritar. É bom saber que vou ter alguém
para me ajudar a estudar.
— Ainda bem que estou com muito sono para ficar irritada...
Ela riu alto.
— Boa noite, Ane!
— Boa noite, Ágatha!
Na sexta-feira, antes de sair fiz o brigadeiro para a sobremesa da noite e
tive que desmarcar nosso almoço, Hélio quis uma reunião com um novo
fornecedor de peças de informática e tive que aceitar o almoço com eles. No
fim da tarde, eu estava em pé pegando minha carteira e meu celular na gaveta
para, enfim, ir para casa. Ágatha bateu na porta e entrou depois de trancá-la.
Ela se aproximou devagar e com o olhar que eu já reconhecia de longe, iria
me pedir alguma coisa. Ela segurava sua bolsa e eu olhei-a curiosa.
— Eu posso te pedir uma coisa?
— Se eu puder dizer não.
— Eu gostaria que dissesse sim, pensei nisso o dia todo e não almoçar
com você me deixou com pensamentos criativos.
Apenas olhei-a. Ela abriu a bolsa, pegou um saquinho preto e tirou um
plug anal metálico de dentro.
— É novo, nunca foi usado. E está esterilizado. Quero que você use até
chegarmos no seu apartamento.
— E depois que chegarmos lá?
— Vou te dar banho depois de você me assistir tomar banho.
Eu abri o botão da minha calça e ela me olhou surpresa. Aproximei-me
dela e fiquei de costas, desci minha calça até o joelho, olhei-a de lado e
estendi meu corpo até a mesa empinando minha bunda para trás. Ela
ajoelhou-se atrás de mim e afastou minha calcinha mordendo minha nádega
direita. Vi ela remexendo na bolsa e pegando um sachê de lubrificante.
Lambuzou meu ânus e o plug, antes de enfiá-lo, apertou minha bunda e
afastou minhas nádegas. Senti a ponta forçando minha entrada. Seus gestos
eram lentos e meticulosos. Eu empurrei meu corpo para trás, mas ela não
deixou o plug ser penetrado.
— Não faça isso. — Ela me deu um tapa na bunda.
Voltou a introduzi-lo devagar e eu abafei minha boca com meu ombro,
pois eu iria soltar um gemido a qualquer momento. A parte mais grossa do
plug estava passando pela minha entrada quando ela parou e meu corpo
correspondeu com excitação. Enfiou-o e eu respirei fundo para não falar um
palavrão. Eu continuei na mesma posição, voltou minha calcinha no lugar,
porém deixou o elástico sob o clítoris e o pano me excitou mais ainda. Ela
subiu minha calça e fez com que eu ficasse ereta e olhando-a de frente.
Minha respiração estava lenta e ela me olhou preocupada. Fechou o zíper e o
botão da calça.
— Quer tirar? Está tudo bem?
— Estou bem, apenas extremamente excitada. Posso ficar com sua
calcinha no bolso?
Ela me sorriu, tirou a calcinha, colocou em meu bolso e depositou um
beijo em meus lábios. Estendeu a mão e me pediu meu celular e minha
carteira. Dei a volta na mesa sentindo o plug se acomodar em meu corpo,
peguei os objetos e entreguei a ela.
— Você é oficialmente minha até a hora que eu quiser?
— Sim, senhora.
Ela me beijou com desejo e saímos da sala. Eu achei que me adaptaria
fácil ao plug em meu corpo, mas ele insistia em me lembrar que estava ali.
No elevador, ela me olhou tentando entender minhas sensações. Do elevador
até o táxi que ela tinha pedido, eu quase tive um orgasmo. Sentei no banco do
passageiro, atrás do motorista e ela sentou ao meu lado, no meio, segurando
minha mão. A cada balançar do carro eu precisava me segurar. Ágatha pediu
para o motorista ligar o rádio. Quando faltavam apenas alguns minutos para
chegar em casa, ela abriu o zíper da minha calça e roçou o dedo em meu
clítoris. Apertei seu pulso para que parasse com o gesto, ela apenas sorriu e
tirou a mão de dentro da minha calça. Descemos e no elevador ela apertou
para parar em um andar antes do meu.
Saiu do elevador e me puxou junto, até a porta das escadarias.
Entramos e ela me puxou para um beijo urgente e delicioso. Sua mão invadiu
minha calcinha e constatou o quanto eu estava excitada, ela me beijava
lascivamente e sua mão me provocava. Meu corpo queria seu contato, mas
quando percebeu meu êxtase ela se afastou e subiu as escadas correndo.
Ignorei as sensações do plug se movimentando conforme eu corria escada
acima e alcancei-a agarrando-a por trás.
— Você é má.
Ela me sorriu e entramos no apartamento. Tiramos os sapatos.
— Tire a roupa, aqui no começo da casa, não precisará delas.
Obedeci e me despi devagar, enquanto ela também ficava nua.
Pegou uma almofada e puxou-me para o banheiro, ligou o chuveiro me
mandando ajoelhar no tapete. Ágatha estava tão excitada quanto eu e tentava
não transparecer. Ela se molhou e lavou suas partes íntimas enquanto eu a
olhava querendo tocá-la. Em um momento de distração, levantei e entrei no
box agarrando-a por trás. Minha mão se apossou de sua buceta e ela abriu as
pernas para me recepcionar.
— Goza para mim, eu sei que você quer. — Eu sussurrei em seu
ouvido e seu corpo se contorceu com o toque em seu clítoris.
Agarrei-a com força e masturbei-a com vigor. Senti sua mão em minha
buceta. E nosso êxtase não demorou a acontecer. Deixamos a água escorrer
pelos nossos corpos, eu ainda estava agarrada a ela. Não era a melhor
posição, mas tirei o plug do meu ânus, não queria soltá-la. Coloquei o objeto
na saboneteira e beijei o seu pescoço. Era uma sensação maravilhosa estar
grudada a ela. Comecei a ensaboá-la devagar e ela se virou de frente
buscando minha boca em um beijo lascivo e cheio de significados. Entre
beijos e passadas de mão tomamos nosso primeiro banho juntas.
— Você é perfeita, obrigada por aceitar usar o plug. — Ela me beijou
desligando o chuveiro.
— Eu quem agradeço as novas sensações proporcionadas. — Lhe sorri
e saímos do box. Enxuguei-a e depois me enxuguei.
— Tenho mais coisas para essa noite.
— Imaginei que isso seria só o começo. — Lhe sorri.
Ela me puxou até a sala e sentou no sofá, pedindo para eu ficar em pé.
— Vou explicar o que vou fazer contigo e você escolherá entre
algumas opções que vou te dar.
— Sim, senhora.
— Você vai sentar de costas para mim e descer o tronco até o chão
deixando seu cu e sua buceta bem expostos para mim. Já fez isso?
— Não, senhora.
— É uma posição desconfortável, então não vou te amarrar. O peso do
seu corpo estará em seus braços, igual quando você faz prancha na academia.
Gostaria muito que você ficasse amordaçada, mas como é uma posição que
exige força e respiração, não vou te forçar a nada.
— Posso soltar a mordaça no meio da cena se eu precisar, já que estarei
com os braços livres?
— Sim, pode.
— Então eu aceito a mordaça. Você vai me bater?
— Sim, palmadas com a mão. Vá até o seu quarto, escolha a mordaça,
um vibrador e uma cinta peniana e prenda o cabelo em um coque.
Eu me afastei dela e fui até o quarto, abri o guarda-roupa e peguei uma
mordaça roliça e os outros objetos junto com um lubrificante e camisinhas.
Fui até o banheiro que tomamos banho e amarrei o cabelo em um coque.
Olhei o plug na saboneteira, peguei-o, lavei e voltei para a sala com tudo.
Ajoelhei-me e coloquei os brinquedos ao seu lado em cima do sofá. Ela me
sorriu e se levantou para vestir a cinta. Ela era linda com a cinta. Voltou a
sentar e bateu em suas pernas. O que eu tinha que fazer era sentar de costas
para ela e dobrar os joelhos ao lado das pernas dela.
— Conforme você vai descer o tronco para frente, você vai vir para trás
e vai encaixando as pernas ao lado do meu corpo. — Eu estava um pouco
ofegante de excitação — Não fique ansiosa. — Passou a mão pelas minhas
costas para me acalmar — Quanto mais calma estiver, menos desconforto
sentirá. Qualquer desconforto é só levantar o tronco que eu te ajudo a sair da
posição.
Ela massageou minhas costas por longos minutos até eu me acalmar.
Avisou que colocaria a mordaça e esperou mais alguns minutos para me fazer
descer o tronco até o chão. Ágatha massageava minhas pernas que estavam
dobradas ao lado do seu corpo e passava a mão pelas minhas costas. Passou
lubrificante em meu ânus e me penetrou o plug rapidamente, me dando um
tapa em seguida. Meu corpo se retorceu, mas o peso nas mãos me fez voltar à
posição inicial. Exposta e tendo que me segurar para não cair de suas pernas
senti outro tapa. Senti mais dois tapas. E minha buceta estava encharcada pela
posição e pela ardência nas nádegas. Mais dois tapas e ela ligou o vibrador e
eu queria falar um monte de palavrão, mas não podia. Aproximou o vibrador
do meu clítoris, ele mal tocava meu corpo, mas eu sentia uma excitação
enorme me preencher. Encostou o vibrador e me bateu. Minha buceta pedia
por atenção, mas ela tirou o vibrador e me bateu. Encostou o vibrador
novamente e meu corpo tentou fugir do seu, senti suas pernas travarem meu
corpo e o vibrador aumentar a rotação. Os tapas, o plug, a vibração e os meus
braços começando a ficar cansados me deram um gozo anormal e
estremecido. Eu tremia por inteira. Ela tirou o plug, desligou o vibrador e
esperou minha respiração se acalmar.
— Eu vou subir seu corpo e enquanto faço isso, vou penetrar sua
bucetinha bem devagar. Relaxa o corpo e confia em mim.
Eu tirei a mordaça, não confiei que ela não iria me machucar ou me
derrubar. Mas seus braços me puxavam devagar e eu sentia o pênis deslizar
para dentro do meu corpo sem dor, só prazer. Meus braços estavam
amolecidos e tremiam pelo esforço. Ela me abraçou por trás beijando minhas
costas, deixando meu corpo se acostumar com tudo. Abraçada a mim sentia
que ela me subia e descia no pênis de borracha, devagar, quase que parando,
meu corpo se aninhava nela e pedia por mais. Minha excitação aumentou
quando alcançou meu clítoris com o vibrador. Meu corpo tremia buscando
mais prazer e eu gozei em seus braços gemendo de prazer e alucinação. Ela
me deitou no sofá, tirou a mordaça que estava no pescoço e logo me abraçou
por trás. Eu estava ofegante e meus braços ainda tremiam. Sentia beijos pelo
ombro e pelas costas, meu corpo estava exausto. Sua mão massageava meus
braços e meu cérebro parecia estar desligado. Virei-me de frente para ela e
puxei-a para um beijo. Deitei-a no sofá e beijei seu colo, chupei seus seios e
desci beijando e mordendo sua carne até encontrar sua buceta sedenta por
minha língua. Chupei-a arrancando-lhe gemidos altos e seu gozo foi
escandaloso, delicioso de escutar. Olhou-me e me chamou para deitar com
ela, me entreguei ao seu cafuné e ao cansaço.
Acordei assustada, horas depois. Ela não estava mais deitada comigo e
lembrei que havia sonhado que ela tinha caído em um precipício. Levantei
correndo e fui até a cozinha, lá estava ela, cozinhando de lingerie.
Aproximei-me devagar e quando me viu me sorriu.
— Está com fome?
— Sim.
— Vá colocar um roupão.
Eu me aproximei dela e puxei-a para um beijo delicado. Sorriu-me e fui
buscar um roupão.
Quando voltei, sentei na banqueta observando-a.
— Vi que fez brigadeiro. — Ela me olhou maliciosamente.
Eu apenas sorri e continuei observando-a.
— Você sempre apaga depois de uma cena?
— Estou destreinada e ficando velha.
Ela me serviu um copo de suco e me olhou sorrindo enquanto se
aproximava de mim.
— Você não está velha e não me parece destreinada. — Beijou meu
rosto — É fofo ver você pegando no sono depois de uma cena.
— Como eu te disse, quando faço uma cena, gosto de me entregar de
corpo e alma, deve ser por isso que me sinto cansada quando acaba.
— Você é perfeita! — me beijou.
— Se repetir isso toda vez, vou acabar acreditando. — Beijei-a com
desejo.
— É para acreditar.
Tomei o suco e ela me beijou o rosto.
— Você sempre tem momentos de carinhos com suas submissas?
— As que tinha no clube não.
— Qual clube você frequentava?
— Eu frequentava o Lado B, mas não volto mais lá. A dona do lugar é
uma louca e o sócio um desregrado.
Eu engoli em seco e ela me olhou desconfiada.
— Você conhece a Samantha? — ela perguntou — Ela é a tal da
Samantha que te deixou desmaiar?
— Sim! Eu sou sócia deles no clube.
— Você frequenta lá?
— Não! Eles estão me devendo uma nota e o lugar vai de mal a pior.
Sou investidora anônima e acho que não vou ver o retorno desse investimento
tão cedo.
— Dupla dinâmica que você teve como dominatrix, hein?
— Não posso dizer que sou uma garota de sorte. Minha vida toda foi
um desastre, até conhecer Maitê.
— Preciso conhecer essa tal de Maitê. — disse indo até o fogão para
mexer a panela.
Eu não a respondi e a observei terminando nosso jantar. Ela despejou o
que estava na panela em refratário e colocou no forno. Sentou-se na banqueta
ao meu lado e acertou o celular para tocar dali vinte minutos. Nas
notificações vi que haviam mensagens da tal Elizabeth, mas não disse nada.
— Você e Katherine se conheceram como?
— Em uma balada, eu estava trabalhando de garçonete e ela tinha ido
com algumas amigas. Katherine é uma mulher afrodescendente lindíssima e
quando ela começou a me cantar e me chamar para sair, acabei aceitando.
Achei que não ia dar em nada, mas continuamos a sair e acabamos
namorando e casando.
— Casaram no papel? Cartório e assinatura?
— Sim.
Eu peguei o celular dela sob a mesa e entrei numa das redes sociais e
busquei o nome de Katherine, abri o perfil e mostrei uma foto para ela.
— Linda mesmo. Por que você não tem redes sociais?
— Porque ela me perseguiu em todas.
— Isso é paranoico demais.
— Você não viu nada. Eu não podia postar nada que ela comentava que
estava com saudade e que eu devia voltar para ela. Eu a bloqueei em todas as
redes sociais, ela começou a usar o perfil da irmã dela. Foi bloqueado
também. Ela começou a usar de algumas amigas dela que eu tinha
adicionado. Até que chegou um momento que era mais fácil eu não ter mais
redes sociais.
Ela apenas me puxou para um abraço e me beijou. Ágatha rodou o feed
de Katherine e parou em uma publicação de poucos meses atrás e me
mostrou. Era a foto de Katherine na Escadaria Selarón com uma outra
mulher e a legenda: “O Rio continua lindo!” E alguns dias antes dessa foto,
ela tinha marcado que havia se mudado para o Rio de Janeiro. Um arrepio
estranho tomou conta do meu corpo e minha respiração demonstrou toda
minha ansiedade em saber que ela estava por perto. Ágatha me fez olhá-la e
eu tentei disfarçar que estava tensa e com vontade de chorar. Ela ficou em pé
na minha frente e me abraçou com força.
— Eu vou te proteger. — Me fez olhá-la — Qualquer tentativa de
contato dela com você, quero que me avise.
Eu não respondi e deitei minha cabeça em seu ombro, ela me envolveu
em um abraço forte e reconfortante até o celular avisar que nosso jantar
estava pronto. Ela me beijou a testa e se afastou, eu queria continuar nos seus
braços.
— Deixa eu te alimentar e depois vamos assistir um filme para
esquecermos essa louca.
— O que você cozinhou? O cheiro está bom. — Eu disse olhando-a.
Ela desligou o forno e me sorriu.
— Lasanha quatro queijos.
Ela serviu dois pratos e voltou a se sentar do meu lado. Cortou o
pedaço em vários pedaços menores e assoprou a primeira garfada. Eu peguei
o garfo da mão dela, colocando-o de volta no prato.
— Não quero que se preocupe com a Katherine.
— Já estou preocupada, eu não quero nem imaginar essa mulher perto
de você. Ane, por favor, não deixe de me avisar se ela voltar a te atormentar.
Olhei-a e ela passou a mão em meu rosto. Eu peguei o garfo e me servi
do primeiro pedaço. Com esse gesto, deixei claro que eu não queria ser
alimentada por ela, me beijou a face respeitando meu pedido silencioso.
Jantamos em silêncio e agradeci o jantar depois do segundo pedaço.
— Qual nota você dá para esse prato?
— Eu sou aficionada por queijo gorgonzola e acho que faltou colocar
um pouco mais para ele se sobressair perante os outros queijos. Mas como
isso é um gosto totalmente pessoal, dou nota sete e meio.
— Você não tem jeito de que dá uma nota dez para qualquer coisa.
— Não mesmo. — Eu ri.
— Além do gorgonzola, preciso aprimorar mais alguma coisa?
— Regular um pouco o sal, como são queijos fortes, achei que ficou
um pouco salgado.
Ela pegou o celular e anotou alguma coisa nele, olhei-a curiosa.
— Anotando os comentários da mesa julgadora. — Ela riu.
Ela pegou o brigadeiro e fomos para a sala, colocou o prato com o doce
em cima da mesa de centro e nos aconchegamos no sofá, ela deitada atrás de
mim e eu na frente. Não lembro o que ela escolheu, mas acordei sozinha na
sala e na mesa de centro vi meu celular, minha carteira e o meu cartão de
crédito ao lado. Uma sensação horrível de abandono me tomou o corpo.
Mandei uma mensagem para Maitê: “Katherine está morando no RJ.” Ela
me ligou imediatamente. Eram cinco e meia da manhã.
— Como soube disso?
— Redes sociais. — Enviei a foto dela na escadaria para Maitê.
— Ela tentou contato?
— Não. E acho que nem vai, está de mulher nova.
— Como está se sentindo?
— Com medo.
— Qualquer tentativa dela de te contactar, me avise.
— Eu não gosto da sensação ruim que essa notícia me causa.
— Calma, bebê. Ela não pode fazer nada contra você e se fizer, vai se
ver comigo.
— Eu me sinto impotente com ela por perto.
— Eu sei, mas não fique. Acalme-se!
— Vou tentar, boa noite.
— Boa noite.
Desliguei e vi que não havia nenhuma mensagem de Ágatha. Fiquei
tentada em mandar uma, mas não mandei. Levantei tomei água e acabei
voltando para o sofá, vi que ela tinha guardado o brigadeiro. Voltei para a
cozinha e com uma colher me servi do doce. Enquanto comia, andei pela casa
nervosa com o fato de não saber exatamente como agir quando Ágatha fosse
embora no meio da noite.
Capítulo 19
Dias atuais - Quarta semana
Célia me infernizou tanto durante a minha quarta semana na cadeia que
ela conseguiu fazer eu perder a paciência, soquei-a no pátio onde tomávamos
banho de sol. Ela já estava deitada no chão e eu ainda estava socando sua
cara, ninguém tentou ajudá-la. Foram inúmeros socos, só parei quando um
dos guardas viu que ela não estava mais reagindo. Resultado disso? Uma
semana na solitária. E, apesar de ser assustador, pude me exercitar sem
ninguém me interromper ou dizer que não podia fazer aquilo.
A semana que fiquei ali, naquele lugar quase inóspito, a imagem de
Katherine vinha diariamente à minha cabeça, na verdade eu pensava nela o
tempo todo. Por quê? Não sei. Eram lembranças dela me batendo e eu
implorando para que parasse alternando conosco duas rindo e aproveitando a
vida em algum lugar chique de São Paulo.
Eu tive momentos bons com Katherine, não posso negar isso. Foram
dois anos ótimos, antes dela começar a me tratar como objeto e não pessoa.
Viajamos muito juntas. Tentávamos sempre aproveitar os finais de semana
para ir até alguma praia perto da capital para eu poder matar a saudade do Rio
de Janeiro. Claro que não era a mesma beleza, mas banho de mar é bom em
qualquer lugar. Quando me mudei para São Paulo com ela, consegui uma
vaga no departamento financeiro da empresa que ela iria trabalhar e por isso
nossa convivência era próxima o dia todo. O assédio dela comigo também.
Eu não gostava que ela me atacasse no trabalho, principalmente pelo
cargo que ela exercia, era chefe do departamento de vendas e eu uma mera
analista de finanças. Suas investidas no assédio resultaram na minha
demissão. Eu assumi a culpa e disse que a perseguia pelos corredores para
que ela não se prejudicasse.
Depois dessa demissão, eu consegui outro emprego, que não me pagava
tão bem, mas pelo menos não tinha ela por perto para me assediar. No dia que
fui promovida, ela também foi e passou a ganhar o quádruplo do que eu
ganhava.
Sua insistência em fazer eu desistir do emprego era diária, dizia que eu
não precisava trabalhar, que minha função era ficar em casa e cuidar de tudo.
Eu sempre odiei trabalhos domésticos, mas sempre trabalhei fora e cuidei da
casa com dedicação, porém isso começou a não bastar.
Eu sempre fui uma garota de poucos amigos e nossa mudança para São
Paulo me afastou das poucas pessoas que eu conhecia no Rio. O primeiro
espancamento que ela me deu, foi brutal. Estávamos fazendo uma cena, como
sempre fazíamos. Eu estava amarrada de bruços na cama, amordaçada com
uma mordaça que é uma argola, fazendo minha boca ficar aberta o tempo
todo. Meu corpo era um X na cama e minha bunda já estava marcada do dia
anterior. Sempre que eu era amordaçada ela me dava um brinquedo que tem
um apito para que eu sinalizasse que queria parar, naquele dia ela não me deu
nada. Ela me bateu com um cinto de couro dobrado ao meio. Eram cintadas
com força, para doer, machucar e não tinha nenhuma conotação sexual
naquilo. Era violência e não tesão. Eu desmaiei depois de inúmeras cintadas.
Quando acordei, o céu da minha boca estava todo machucado por causa da
mordaça e minhas costas e coxa marcadas e ensanguentadas. No lençol perto
da minha boca, havia uma enorme mancha de sangue e meus lábios estavam
cortados. A dor no corpo era tanta que eu não conseguia me mexer.
Depois dessa surra, ela me fez abandonar o emprego. Eu cedi. E a sua
piora foi exponencial. Minha recuperação demorou quase quinze dias, mas
ela não me deixou recuperar por completo e já me deu outra surra. Eu pedia,
implorava para que ela pegasse leve, mas ela ria. As marcas já não davam
mais para serem escondidas e eu já não queria mais sair de casa.
Fugi quando ela me obrigou a usar um cinto de castidade por três dias e
servir seus amigos completamente nua. Peguei o primeiro ônibus para o Rio
de Janeiro e na rodoviária, pedi a lista telefônica de um bar emprestada e
procurei o nome de uma advogada. Liguei para quatro nomes, mas apenas
Maitê podia me atender no mesmo dia. Olhei o quanto tinha me sobrado de
dinheiro, meu estômago estava roncando de fome, mas o endereço que eu
tinha que ir era longe. Optei pela passagem de ônibus.
Cheguei no escritório dela, era um prédio bonito cheio de segurança e
porteiro, quase não consegui entrar devido ao meu estado. Calça velha,
camiseta amassada e suja e um tênis rasgado. Quando Maitê me viu na
recepção do seu escritório, ela ficou sem reação e me mandou entrar na sala
com cara de quem não estava entendendo a minha situação.
— Eu preciso da sua ajuda. — Eu disse manso e sentando na cadeira na
sua frente.
— Em que posso ajudar?
Eu comecei a chorar e não conseguia parar. Por minutos ela ficou
parada, sentada em sua cadeira, me vendo chorar. Eu soluçava e tentava me
acalmar, mas quanto mais eu tentava parar, mais eu chorava. Ela se
aproximou e me levantou me abraçando com força, eu gemi de dor com o
aperto e ela levantou minha camiseta. Minha costela estava roxa e minhas
costas com vergões.
— Eu vou chamar a polícia.
— Não. — Eu sussurrei — Ela está com tudo o que é meu. Todas as
roupas, todos os documentos e todo o dinheiro.
— Por isso mesmo, isso é um caso de polícia.
— Por favor, ela vai me matar se eu falar com a polícia.
Ela me fez sentar.
— Você tem para onde ir?
Eu neguei com a cabeça. Maitê me olhou e me sorriu.
— Nós vamos resolver isso tudo, bebê. Fique calma.
— Eu não tenho dinheiro para te pagar.
— Eu não quero dinheiro, quero sua segurança. Tem um hotel aqui do
lado, vou hospedar você lá e te comprar roupa e comida.
— Eu quero me separar dela e quero minhas coisas de volta.
— Faremos tudo isso, confie em mim, está bem?
— Ok.
No quarto do hotel, ela me pediu para tomar banho e quando saí ela
tinha uma roupa confortável para eu vestir. Vesti a roupa e ela me pediu para
deitar na cama e relaxar.
— O que quer comer? Pode me pedir qualquer coisa.
Ela sentou do meu lado e eu olhei-a receosa.
— Macarrão à carbonara.
Maitê me sorriu e me deu a chave do quarto. Disse que precisava
resolver mais algumas coisas no escritório e que voltaria com o macarrão em
breve. Com a adrenalina abaixando e o cansaço da fuga, eu adormeci e
acordei algumas horas depois com batidas na porta. Abri e ali estava meu
anjo com um prato de comida quente e um sorriso no rosto. Entrou, colocou a
comida em cima da mesinha e me entregou um pote de pomada.
— Passe nos seus hematomas.
Eu peguei o pote e fui até o banheiro, ergui a blusa que eu estava
usando e me olhei no espelho, eu não reconhecia meu corpo, eu não me
reconhecia naquele espelho. Vi que Maitê me olhava enquanto estava com a
blusa levantada e seu olhar de compaixão e empatia me fizeram respirar
aliviada por ter encontrado uma pessoa que poderia me ajudar. Passei a
pomada e voltei para o quarto. Maitê tinha arrumado o prato para eu comer,
me sentei na cadeira e comecei a comer.
— Quantos anos você tem?
— Hoje é meu aniversário de vinte e quatro.
— Hoje?
Apenas concordei com a cabeça e continuei a comer, eu não via um
prato de comida decente há dias.
— Quer me contar o que sua esposa fez com você?
Eu neguei com a cabeça. Ela tentou segurar meu braço e eu me afastei
instintivamente. Voltei a comer. Maitê colocou sob a mesa, um celular, um
cartão de crédito e notas de cem reais.
— Você vai ter que aprender a confiar em mim. O celular é para você
conversar comigo, não ligue para sua esposa, não diga onde está. O dinheiro
e o cartão são para você comer e se vestir até eu reaver todas as suas coisas.
— Obrigada. — Eu olhei-a e ela me sorriu.
— Nós vamos vencer sua esposa e você vai voltar a ser feliz, é uma
promessa de aniversário.
Ela estendeu a mão e mesmo receosa eu segurei-a. Eu tive que confiar
nela e ela me saiu melhor do que qualquer outro advogado caro e cheio de
pompa. Desde este dia, Maitê cuida de mim e eu cuido dela.
Sigo na solitária até segunda ordem, minha cabeça está alienada com o
passado, principalmente com o passado recente que tive com Ágatha. Eu
queria que ela estivesse viva. Mas infelizmente acordar e ver que ainda estou
neste pesadelo me lembra que ela morreu e eu não pude me despedir ou
protegê-la.
Capítulo 20
Nove meses atrás
Eu não deveria exigir nada de Ágatha, o trato era esse, certo? E ela não
exigiria de mim. Porém temos um impasse em todo esse envolvimento de um
mês. No dia em que descobrimos que Katherine está morando no Rio de
Janeiro de novo, ela foi embora sem se despedir. Quando acordei fiquei meio
sem saber o que fazer. Pensei: “Mandar mensagem ou não mandar?” Antes
de mandar, verifique suas redes sociais. E descobri que ela não tinha ido para
casa. Ágatha tinha ido para o samba com a garota que trabalha na recepção
do prédio da empresa. Descobri que a moça se chama Elizabeth, a mesma das
mensagens. Aquela história me remoeu o fim de semana todo, mas deixei
quieto. Ela me mandou mensagem no sábado à tarde, como se fosse normal a
atitude dela ter saído da minha casa e ido para o samba.
Naquela semana não conseguimos almoçar juntas e eu, apesar de sentir
sua falta, me senti um pouco aliviada por poder almoçar sozinha com meus
pensamentos. Além disso, todo dia quando saía para ir embora, via Elizabeth
em seu posto e minhocas começavam a procriar em minha cabeça. Durante a
semana toda tratei-a com um pouco de grosseria, típico de quando estou
acuada e sem confiança na pessoa que está comigo. Eu percebi que ela estava
tentando entender meu comportamento, conversando coisas aleatórias, se
convidando para ir para minha casa e me ligando antes de dormir. Mas nada
disso amenizou o fato dela ter saído do calor do meu corpo e se jogado em
uma roda de samba. Nada.
Sexta-feira ela foi em casa, mas deveria ter cancelado aquele encontro,
eu não estava a fim de sexo, de cena, de nada. Ela chegou com algumas
sacolas, me depositou um beijo e foi direto para a cozinha guardar o que
havia comprado. Eu fiquei parada no meio da sala e ela voltou ficando parada
na minha frente.
— Eu vi que você teve uma péssima semana na empresa, relevei suas
respostas secas e atravessadas, mas não é só o trabalho que está te
atormentando é?
Olhei-a e não respondi. Puxou-me para sentarmos no sofá.
— Você falou tanto em confiança e agora está se fechando novamente.
O que eu fiz de errado essa semana? O que fez você se afastar?
— Ágatha, é melhor nos afastarmos de vez.
— Ao menos me fala o que fiz de errado.
— Eu não estou pronta para ter um relacionamento com outra pessoa.
— Nós passamos a semana passada como se fôssemos namoradas há
meses e agora você vem com essa de que não está preparada?
— Eu não estou pronta para outro relacionamento tumultuado.
— Tumultuado? — Ela perguntou brava.
— Sim. — Eu me levantei.
— Defina relacionamento tumultuado.
— Do jeito que fala parece que não se lembra mais do que fez sexta-
feira.
— O que eu fiz? Eu te machuquei? — Se aproximou de mim.
Eu comecei a rir pela encenação que ela estava fazendo.
— Você saiu da minha casa com cheiro de buceta na cara, foi para o
samba e vem ser dissimulada comigo? — Fui até a porta e abri — Sai da
minha casa.
— Elizabeth é minha melhor amiga, você não tem a sua?
— Eu não te abandono no meio da madrugada para ir pro samba se
esfregar com ela. Eu não posto inúmeras foto ao lado dela e deixo ela por
como legenda: “Eternamente juntas!”
— Você está entendendo tudo errado.
— Estou? Então explica! — Fechei a porta.
— Ela está passando por uma fase difícil, só estou tentando ajudar.
— Fase difícil e vai para o samba todo fim de semana? Quando eu
passei por um momento ruim na minha vida, eu não tinha forças para sair da
cama. — Olhei-a chateada — Ágatha, melhor parar tudo por aqui. Você já
sabe o caminho da rua, passar bem.
Eu fui para o meu quarto e me tranquei lá até ter certeza que ela tinha
ido embora. Pela câmera de segurança eu vi que ela voltou a sentar no sofá.
Esperou por um tempo, mas como não saí do quarto ela foi embora. Os
sentimentos que eu tinha ao ver o nome Elizabeth eram ruins e eu não queria
passar por uma mulher ciumenta, apesar de estar sendo.
Eu deitei na cama e fiquei olhando o teto, remoendo o fato dela ter
saído do calor do meu corpo para o meio de uma roda de samba.
Durante o fim de semana, concentrei minhas energias nos jogos que
estava desenvolvendo e não vi o fim de semana passar. Eu bloqueei seus
números e no fim do domingo descobri que ela estava na companhia de
Elizabeth o tempo todo. Se eu era apenas diversão, o parque estava fechado.
Ser fria e não demonstrar o que estou sentindo ou pensando é uma das
minhas especialidades. Até o meio da semana nossa relação foi silenciosa,
cheia de olhares rancorosos e esbarradas nos corredores. No fim daquela
quarta, ela entrou na minha sala e trancou a porta.
— Nós podemos conversar? — Ela ainda estava longe da mesa.
— É algo relacionado a trabalho?
— Não.
— Então pode ir embora que seu expediente já acabou.
— Ane, por favor. Eu não tenho nada com Elizabeth e não quero ter.
Eu errei em sair da sua casa e ir encontrá-la, mas ela disse que estava tendo
uma crise de ansiedade, eu só fui ajudá-la.
Eu não respondi e voltei a fazer o que estava fazendo. Ela se
aproximou.
— Me desculpa, eu devia ter avisado, ou melhor, não devia ter ido.
— Se ela estava com crise de ansiedade, por quê nestas fotos ela parece
não ter problema nenhum? — Abri as fotos que Elizabeth tinha postado junto
com Ágatha e sozinha.
— Quando eu cheguei no bar ela já estava melhor, uma outra amiga
havia ajudado ela.
Eu desliguei meu computador, peguei minha carteira e meu celular e
fui em direção da porta.
— Anelise!
Ela correu e ficou entre mim e a porta.
— Não quero usar da força bruta para te tirar do meu caminho.
— Perdoe meu equívoco, não farei mais isso.
— Sabe quem fazia isso? Fazia merda e depois se desculpava?
Pelo olhar chateado que me deu não precisei responder que suas
atitudes me lembravam Katherine e ela saiu da minha frente.
Naquele mesmo dia, após o treino de boxe deitei no tatame e fiquei
olhando o teto, imaginando o que ela estaria fazendo. Eu estava reagindo mal
a tudo isso ou realmente deveria reagir dessa forma? Não queria me entregar
de primeira, de uma vez, mas o que realmente me impedia de tê-la, mesmo
ela tendo outras? Posse? Nunca fui uma pessoa possessiva ou fui e nunca
havia me deparado com uma situação que me expusesse dessa forma?
Ciúme? Antes eu tinha medo dela querer tomar conta da minha vida e agora
quero que ela tome conta de mim. Como Ágatha conseguiu, em tão pouco
tempo, me deixar tão confusa?
Levantei do tatame e indo em direção à cozinha mandei uma mensagem
para Maitê: “Preciso de colo.” Demorou alguns minutos para responder.
“Estou em Niterói, o que houve?” Olhei para o aparelho desapontada.
“Esqueci que de quarta você dorme na casa da Cintia. Não é nada grave,
dorme bem.” Ela me ligou.
— Diga! O que houve?
— Nada, não, Mazinha, vá cuidar da sua mulher. Foi uma carência
momentânea.
— Você não costuma ser carente.
— Vai dormir aí?
— Na verdade, estou parada no trânsito da ponte, voltando para o Rio.
Nós brigamos, estou voltando para casa.
— Brigaram, por quê?
— Muitas coisas, bebê, muitas coisas.
— Quer um drink?
— Pelo andar da carruagem, vou demorar muito para passar a ponte.
— Estarei aqui, se mudar de ideia.
— Se eu for, nós vamos acabar fazendo besteira, não vamos?
— Sim, vamos!
— Aviso quando sair da ponte.
— Estarei esperando.
Desligamos e ela me avisou que tinha saído da ponte quase uma hora e
meia depois. A campainha tocou depois de vinte minutos. Ela entrou e eu a
recepcionei com um copo de whisky. Tomou um gole e me puxou para perto
de seu corpo me beijando devagar com sentimento de culpa pelo ato. Beijei-a
com desejo e Maitê me ergueu do chão passando minhas pernas por seu
corpo. Nossas bocas não se desgrudaram até o quarto onde eu guardava meu
arsenal do sexo. Fizemos a cena como ela quis, mas eu não senti nem metade
do desejo que eu sinto quando estou com Ágatha. O toque de Maitê em meu
corpo é mais rude e bruto. Os tapas não tinham a sutileza de Ágatha e as
chicotadas que me deu, apenas me fizeram desejar ainda mais as mãos de
Ágatha.
Acordei na minha cama com Maitê deitada atrás de mim me abraçando.
Beijei sua mão e sentei para me levantar. Peguei o celular que estava no
criado mudo para ver a hora e ainda sonolenta vi uma mensagem: “Volta!
Sinto sua falta.” Meu coração disparou quando li, fiquei sem ar e levantei da
cama sem saber o que responder. Estava prestes a responder quando percebi
que estava com o celular de Maitê em mãos e o sentimento de euforia passou
a ser de arrependimento. Era quase uma da manhã, procurei meu celular e
encontrei-o na sala. Voltei para o quarto e Maitê estava sentada encostada na
cabeceira da cama respondendo a mensagem de Cíntia, fiquei com inveja dela
ter recebido aquela mensagem. Sentei ao seu lado e meu celular não tinha
nenhuma mensagem.
— Onde sua cabeça estava hoje?
— Longe.
— Não devíamos ter feito isso.
— Não. — Encostei minha cabeça em seu ombro.
— Pelo menos passou a carência?
— Não. Só piorou.
Ela beijou minha testa deitou-se e eu me aninhei em seus braços.
— Por que relacionamentos tendem a ser complicados? — eu sussurrei.
— Acho que, na maioria das vezes, somos nós quem complicamos
tudo. O amor é simples, ou você gosta ou não gosta, mas nós, seres humanos,
tendemos a querer entender o amor. O amor não é para ser entendido, apenas
sentido.
Ela me apertou contra seu corpo e voltamos a dormir.
Pela manhã, ela preparou um café e se despediu com um abraço
apertado.
— Desculpe pela noite de ontem. — Eu disse.
— Para mim, você foi perfeita. — Me deu um selinho se despedindo
novamente.
Aquela frase me fez lembrar de Ágatha imediatamente e quando fiquei
sozinha, verifiquei suas redes sociais e não vi nenhuma atualização. Eu tinha
instalado um programa no computador dela para rodar a webcam sempre que
ela ligasse o notebook. Além de ligar a webcam, ele também gravava os
vídeos em um gerenciador de arquivos on-line. Acessei os vídeos da semana
e em todos ela aparecia estudando. No vídeo de ontem à noite, Elizabeth
apareceu em seu quarto convidando-a para sair, mas ela recusou. “Obrigada,
mas vou estudar mais um pouco e dormir cedo. Aproveitem!”
Vi seu histórico de navegação na internet e ela só tinha acessado o e-
mail pessoal e um site de estudos para vestibular. Eu deixei o vídeo rodar em
velocidade normal, os outros eu havia acelerado. Ela estava com o cabelo em
um coque sendo segurado por um lápis e uma regata preta. Parecia estar
estudando matemática, pois estava com um caderno ao lado do livro, escrevia
e apagava a todo momento. Sua concentração se dispersou após meia hora.
Pegou o celular e vi que digitou algo e colocou o celular sob a mesa. “Você
não vai fazer isso, Ágatha.” Ela disse sussurrando e se levantou sumindo da
frente da câmera, quando voltou a aparecer, estava com outra roupa. Abaixou
a tampa do notebook e o vídeo foi interrompido.
Na manhã seguinte, a hora que o elevador se abriu, vi Samuel perto de
sua mesa, os dois riam de algum comentário e eu me aproximei e desejei bom
dia aos dois indo para minha sala. Foi o primeiro bom dia que dei a ela
durante a semana. Samuel entrou me acompanhando, conversamos
rapidamente e quando saiu, fechou a porta de forma errada e ela se abriu
novamente. Ágatha me olhou de sua mesa com intensidade e eu retribui o
olhar. Sentei e deixei a porta aberta e ela não se manifestou em fechar. Passei
a manhã tentando disfarçar minha fascinação por ela, mas naquele momento,
naquela tentativa de tirar o olhar dela, percebi o quanto a queria.
Almocei em um restaurante qualquer, perto da empresa e quando
voltei, ela estava na recepção do prédio conversando com Elizabeth. Quando
me viu parou de falar e acompanhou meus passos com o olhar até o elevador.
No fim da tarde, eu estava pronta para ir embora quando ela entrou para
deixar documentos sob a minha mesa. Ela se aproximou devagar e nos
encaramos por segundos demorados.
— Quando vamos conversar decentemente?
— Eu não tenho o que conversar com você.
— Me dá uma chance para mostrar que eu não tenho nada com a
Elizabeth.
— Eu aprendi da pior forma que dar chances nunca é bom e nunca é o
suficiente.
— Eu não sou a Katherine!
— E eu não sou idiota, essa garota gosta de você e finge que vocês são
um casal e só você não vê.
— Ela é apenas uma amiga.
— Ágatha, vou pedir sua transferência de setor na segunda-feira, eu
não quero mais te ver.
— Não faça isso, por favor.
Ela pegou o celular e me mostrou a foto de tela do celular dela, era uma
foto nossa no Pão de Açúcar.
— Isso não prova nada, você pode ter posto antes de entrar na sala.
— Eu estou apaixonada por você! Seus olhos, sua boca e seu corpo me
dizem uma coisa e você me diz outra. Eu fiz merda de sair do seu sofá e ir de
encontro com a Elizabeth? Fiz! Confesso que saí do seu sofá quase chorando
por escutar o chamado dela. Eu queria ter acordado ao seu lado, feito seu
café, mas eu nunca sei como reagir…
— Não jogue a culpa em mim. Sexta-feira eu disse que seria
oficialmente sua até a hora que você quisesse, não disse?
— Sim!
— Então! Por que sair de mansinho e se enfiar num samba com a sua
melhor amiga se eu estava ali sendo sua, como você pediu, como você quis,
por quê, Ágatha? Eu fiz tudo o que me pediu, garota.
Ela ficou quieta.
— O gato comeu sua língua?
— Eu já me expliquei.
— Achei sua explicação fraca e totalmente infantil. Eu sei o que é ter
crises de ansiedade e a Elizabeth não estaria sorridente e feliz depois de uma
crise no meio de uma multidão.
Ela me deu o celular para eu ler a conversa das duas. E realmente
Elizabeth disse sobre a crise de ansiedade, mas eu devolvi o celular e saí da
sala sem falar nada. Ela me seguiu e entrou no elevador comigo.
— Quer que eu apague as fotos?
— Apagar fotos não apagará seu erro.
— Você é uma mulher muito difícil de lidar.
Eu apertei o botão para o elevador parar.
— Eu confiei em você. Eu me abri pra você. Contei coisas dolorosas
para receber isso como respostas? Você não passa de uma garota mimada e
inconsequente.
— O que eu preciso fazer para mudar essa visão que você tem de mim?
Apertei o botão para o elevador continuar.
— Se afaste de mim, Ágatha. Será melhor para nós duas.
O elevador parou e quando abriu, quem eu vejo parada na porta do
prédio? Elizabeth! Ela veio toda contente para conversar com Ágatha e eu
aproveitei o momento e saí do prédio quase que correndo, andei rápido por
várias quadras e quando me senti longe o suficiente pedi um táxi. Eu não sei
o que faria para remover o vírus Ágatha do meu disco rígido, mas eu
precisava começar a reagir a essa invasão.
Capítulo 21
Dias atuais - Quinta semana
Consegui sobreviver à solitária, só não sabia se conseguiria sobreviver
aqui fora. Depois de tudo o que Maitê fez por mim para me afastar de
Katherine, ela me ensinou a me safar de amarras simples que muitas vezes
são usadas no BDSM. Maitê insistia nesse treino, pois acreditava que me
daria segurança para voltar a praticar o bondage, uma técnica que me dava
prazer antes de Katherine se tornar abusiva.
Durante os primeiros dias fora da solitária, eu me lembrei de todas as
vezes que Maitê me ajudou a superar um trauma. Estar amarrada durante uma
cena nos deixa à mercê da pessoa dominante e isso pode ou não ser
prazeroso. Ela era cuidadosa em todas as propostas que me fazia. Mas antes
desse trabalho com meus traumas começarem ela conversou muito comigo,
me disse que o leque dentro do BDSM é imenso e eu não precisava gostar de
tudo, mas precisava saber do que eu gostava.
Com paciência, cuidado e carinho ela me mostrava que o que Katherine
fez comigo não era aceito dentro do BDSM e me ensinou a repensar em todos
os traumas que eu tinha. Ela me treinar para eu me safar das amarras e
algemas em caso de emergência ou abuso foi primordial para eu voltar a me
sentir excitada quando me amarrassem em uma cena.
Após uma semana na solitária, sua cabeça fica um pouco contaminada
com a vontade de se isolar e não falar com o mundo. Joana me fazia
perguntas constantemente e eu não respondia. Queria ficar quieta pensando
no meu passado, assim não precisaria pensar no presente. Maitê soube que eu
estava na solitária e que meu colchão tinha sido destruído e me mandou um
novo. As presas me viam como privilegiada e elas não estavam erradas em
pensar aquilo. Era um privilégio ter amigas fiéis, mesmo sabendo que Maitê
duvida da minha inocência, ela está tentando. Eu ficava deitada no colchão o
dia todo e quando Joana me fazia perguntas eu a puxava para se deitar
comigo. A minha mente já não queria diferenciar a verdade da realidade que
eu criei na minha cabeça. Joana, nestes momentos, era Ágatha e eu me
agarrava a ela como se fosse verdade, eu queria que fosse verdade. Eu queria
sua presença.
Os ensinamentos que Maitê me deu sobre fuga de cordas e algemas foi
mais útil em uma cadeia do que em uma cena de BDSM. No fim da quinta
semana, eu estava saindo da cela para ir até o refeitório, eram seis da manhã e
uma das capangas de Célia me sequestrou. Ela me puxou até um porão onde
tinham vários arquivos jogados e prateleiras cheias de caixa. Deveria ser
algum depósito de arquivo esquecido pelo mundo, mas como ela podia entrar
ali? Não sei.
A capanga dela me sentou em uma cadeira, meu corpo não queria lutar,
naquele momento eu desejava me encontrar com Ágatha. Fui amarrada com
os braços para trás e minhas pernas nos pés da cadeira.
— Fiquei sabendo que ganhou outro colchão. Quem te protege tanto?
Eu fiquei quieta, seu rosto ainda estava marcado por causa dos meus
socos. Célia rasgou minha camiseta com um canivete, fez um corte bem no
meio e expôs meu corpo para ela.
— Eu também quero um colchão novo.
A capanga rasgou um pedaço da camiseta e me fez abrir a boca, como
não abri, me deu um tapa forte na cara. Tentou enfiar o pano novamente, mas
não deixei. Ela chutou minha canela, mas resisti. Outro tapa na cara. Eu não
ia desistir, mas ela apertou o bico do meu seio com força e só parou quando
eu abri a boca para ela colocar o pano. Amordaçou-me com um outro pedaço
de camiseta e Célia fez um corte no meu abdômen. Eu me debati na cadeira,
mas recebi um tapa na cara como resposta. Ela fez outro corte.
— Tenho um serviço para você.
Olhei-a desconfiada.
— Você será minha vendedora aqui dentro. Eu trago a droga e você
vende.
Ela me cortou mais duas vezes e eu estava com a respiração ofegante.
— Se estiver tudo bem para você, acene que sim com a cabeça.
Não me movi e ela me cortou mais uma vez. O alarme para voltarmos
para a cela foi acionado, as duas se afastaram rindo e me deixaram amarrada
e sangrando. Os guardas não fazem a contagem das presas corretamente,
apenas passam o olho pela cela e se tiver faltando alguém, eles não notam
com facilidade. É um aglomerado imenso de mulheres para ser contado.
Os cortes ardiam e os nós que me amarravam eram fortes. Meus pulsos
estavam mais ferrados do que antes, principalmente o esquerdo. As tentativas
de me soltar me faziam grunhir de dor, mas eu não desisti. Maitê sempre me
dizia que era preciso ter concentração para encontrar um ponto fácil de puxar
um dos braços. Mas concentração sentada naquela cadeira era a última coisa
que eu tinha. Senti um perfume conhecido no ar, era minha mente me
pregando uma peça, eu sabia que era. Ela estava ali na minha frente, apenas
de calcinha e sutiã, pretos e rendados. Seu beijo era doce. Sua mão me
acariciava o rosto. Queria sair dali o pano secava minha boca e minha mente
me trazia o fantasma de Ágatha para me hipnotizar. Ela dançava para mim e
eu comecei a me deixar levar pela imaginação. Dançava e eu até ouvia uma
música ritmada dando mais veracidade à cena. Ela me provocou fingindo que
ia tirar o sutiã e me sorria com aquele sorriso safado que só ela tinha. Um
sorriso que eu tinha tão marcado na memória que parecia real.
Olhei em volta e ela sumiu. Só havia um porão sujo e cheio de pó a
minha volta.
Meus braços doíam, mas a tentativa de me soltar continuava. Agora
quem apareceu ao meu lado não era Ágatha, era Maitê. “Concentra, Ane!”
Ela me sussurrava. “Você consegue.” Ela estava apenas de lingerie azul
marinho, seu corpo trabalhado pelo crossfit estava mais musculoso. Ágatha
apareceu ao lado dela. As duas sentaram nas minhas pernas, uma na direita
outra na esquerda. Eu respirei fundo e olhei para o teto.
Precisava sair dali, voltei a olhar os arquivos e as prateleiras, minha
mão estava cansada de tentar me desamarrar, mas em um puxão rápido
consegui livrar a mão direita. “Muito bem, Ane!” ouvi a voz de Maitê ao meu
lado. Arranquei a mordaça e tirei o pano da boca, respirando descompassada.
“Você foi perfeita!” era a voz de Ágatha.
Desamarrei minhas pernas e escutei barulho, pela risada, era Célia.
Quanto tempo fiquei ali? Fingi que ainda estava amarrada e amordaçada e
quando ela se aproximou, esperei alguma reação dela antes de me mexer.
— Agora que pensou na vida, vai fazer minhas vendas?
Eu não respondi e ela abriu o canivete para me fazer outro corte, mas
antes ela me deu outro tapa na cara. Eu me soltei e lhe dei um chute no
estômago empurrando-a para trás.
— Na cara, não, cacete!
A capanga dela veio para cima de mim, mas eu lhe dei um soco e com a
distração saí correndo dali. O porão era um acesso ao lado da cozinha e
quando saí, Hortência me viu e levou um susto com meu estado. Puxou-me
para dentro da cozinha.
— Se algum guarda te ver fora da cela, você está ferrada. O que a Célia
fez?
— Aquela mulher é louca, por mais que eu tente manter distância ela
vem me azucrinar. Ela quer que eu venda drogas para ela.
— Você não aceitou, não é?
Disse que não e mostrei minha barriga. Hortência me deu um papel
com álcool para limpar os machucados e me escondeu na cozinha até ser
seguro eu poder voltar para a cela. Quando consegui voltar, Joana me
recepcionou com um abraço.
— Eu achei que você tinha morrido.
— Deveria ter morrido, mas estou viva. — disse brava.
Eu ainda vestia a camiseta rasgada já que não tinha outra. Deitei no
colchão e Joana deitou comigo depois de passar a mão pelos cortes.
— Está doendo?
— Um pouco.
Ela sentou, beijou os machucados e voltou a se deitar comigo.
— Já já sara.
— Obrigada.
Abracei-a contra meu corpo e vi Nádia sorrindo para nós. Desejei que
Ágatha ou Maitê estivessem ali, ou ambas. Precisava das duas, mas não tinha
nenhuma. Olhei Nádia e ela me olhava de forma diferente dos outros dias.
— Quer deitar aqui também? — Perguntei brincando.
— Sai fora, branquelinha.
Eu ri e meu abdômen reclamou de dor.
— Deixa de ser durona. — Joana se virou de frente para ela rindo.
Ela riu, permaneceu sentada, mas seu olhar era intenso para meu corpo
seminu. Eu e Joana tínhamos criado um esconderijo para os chocolates que
Maitê conseguia nos mandar, não era muito, mas era nossa distração em
momentos ruins. O lugar para guardá-los era uma pedra solta embaixo do
nosso colchão. Eu peguei um pedaço cada uma e logo Hortência se juntou a
nós. Pelo jeito eu fiquei amarrada naquela cadeira o dia todo, pensando em
Ágatha e Maitê, duas mulheres que me arrepiam de formas totalmente
diferentes. Enquanto o chocolate derretia em minha boca, fiquei olhando o
teto sujo e cheio de infiltração. Minha mente começou a me fazer joguinhos
novamente e o rosto de Ágatha estava perto do meu, sorrindo pronto para me
beijar. Adormeci com aquela cena, com aquela vontade de beijá-la que não
passa nunca. Fui acordada por uma boca macia me beijando, era minha mente
de novo, me enlouquecendo? Não! Era Nádia. Correspondi ao beijo, já que eu
não tinha nada a perder. Puxei-a para se deitar sobre o meu corpo e ela se
afastou me olhando séria. Segurei seu rosto e beijei-a novamente. Ela se
afastou rapidamente e Hortência entrou na cela logo depois.
— Trouxe pão para você, já que não sai de dentro dessa cela. — Ela me
esticou um pão murcho, eu aceitei e agradeci.
Ofereci metade para Nádia e ela aceitou.
— Você precisa se alimentar se quiser sobreviver a isso. — Hortência
me disse brava sentando ao lado de Nádia.
— Não quero sobreviver.
— Vira essa boca para lá, branquela. — disse Nádia.
Eu apenas dei de ombros e deitei pensando em todas as merdas que
estavam acontecendo comigo.
Capítulo 22
Nove meses atrás
Eu queria transferir Ágatha de setor, mas só de imaginar meu dia sem
ela por perto, me senti perdida. Pedi para ela se afastar de mim, mas eu não
queria isso de verdade, porém ainda estava magoada com a atitude dela ter
ido ao samba.
No sábado pela manhã, Maitê me ligou.
— Preciso de um favor seu. — Ela disse constrangida.
— Pode pedir.
— Eu preciso vender meu carro.
— Por quê? O que houve?
— Eu preciso de dinheiro rápido.
— Posso te emprestar sem você precisar vender o carro.
— Legalmente preciso te vender o carro.
— Eu não estou te entendendo, em que merda você se meteu?
— Eu estou devendo dinheiro para um agiota.
— Eu já disse para você organizar sua vida financeira direito e parar
com esses empréstimos idiotas.
— Sim, falou.
— Traga os documentos da venda do carro que eu assino a compra.
Mas nós duas vamos sentar e organizar suas finanças e isso vai ser hoje. Você
não precisa de empréstimos para viver. Sua renda é boa para ter que fazer
isso.
— Ok, bebê, faremos isso. Quer almoçar comigo?
— E a Cíntia?
— Estou dando um gelo nela.
— O que ela fez?
— No almoço conversamos.
Concordei e me despedi.
No restaurante, quando cheguei ela já estava sentada com um copo de
whisky e um de Martini sob a mesa. Ela me recebeu com um abraço e um
selinho.
— O que a Cíntia fez?
— Ela surtou com alguns detalhes do casamento e eu fiquei brava
porque ela já excedeu nosso orçamento em mais de dez mil reais.
— Cíntia tem gostos caros, você a tirou da asa dos pais bilionários,
queria o que?
— Os pais dela não estão ajudando e o que ela ganha não cobre quase
nada dos gastos que ela quer ter. Eu vou ficar louca com essa mulher.
— Eu te disse que ela era muita areia para seu caminhão. Vocês deviam
fazer um teste antes de assinarem papéis e darem festa. Você não nasceu para
um relacionamento baunilha. Quantas vezes nós já traímos a Cíntia? Quantas
vezes você já foi a clubes para satisfazer suas vontades de dominatrix?
— Não fala assim, Anelise. Eu gosto da Cíntia. Nós já a traímos
inúmeras vezes, mas isso não quer dizer que não posso viver em um
relacionamento baunilha.
— Maitê, pelo amor de Deus, pare de se enganar. Vocês estão juntas há
quase cinco anos e nós duas sabemos quantas vezes você teve que buscar
satisfação fora do relacionamento de vocês. Nós sabemos quantas vezes você
me procurou para se satisfazer sexualmente.
Ela encostou na cadeira tomando um longo gole de whisky.
— Eu não quero te ver infeliz pelo resto da vida. — Eu disse bebendo
um gole do meu Martini. — Você é a pessoa mais importante da minha vida,
aliás, a única. Não posso te ver presa desse jeito sem falar nada.
Maitê pegou uma pasta em sua bolsa e me fez ler o contrato de venda
do carro. Assinei e fiz a transferência do dinheiro para sua conta. Peguei seu
celular e entrei em sua conta bancária para ver suas finanças. Encontrei uma
bagunça enorme. Contas pessoais misturadas com as da empresa.
— A partir de hoje, sou sua contadora pessoal e não vou deixar Cíntia
exceder nos gastos do casamento. — No aplicativo do banco cancelei todos
os cartões que Cíntia tinha — Ela vai chorar, mas você não vai ceder, pois se
ceder, o caos estará enorme antes mesmo de vocês se casarem. Se ela quiser
aumentar os gastos, vai ter que aumentar a renda dela. Estamos entendidas?
Se você me pedir dinheiro para pagar agiota novamente, vou ter que negar o
pedido.
Além de cancelar os cartões, separei as duas contas.
— Ok, bebê. Faça como achar melhor.
O celular dela começou a tocar e era Cíntia.
— Seja firme, sabe a dominatrix que você colocou no armário? Faça
ela sair e pôr ordem na casa, porque a Cíntia vai te esfolar se continuar sendo
frouxa desse jeito.
— Chata!
Ela pegou o telefone e atendeu. Enquanto falou com Cíntia, me olhou
brava e eu apenas ri da cena delas duas brigando. Quando terminou desligou
o celular e riu.
— Gostou da sensação de mandar na Cíntia, não é?
— Você é uma garota muito esperta. — Ela aproximou o rosto do meu
e eu beijei-a suavemente — Vamos levar o almoço para a minha casa? Quero
usar seu corpinho e agradecer pelo que fez hoje.
Eu ri e aceitei o convite. Nós duas sempre tivemos uma ligação muito
boa, dentro e fora de um quarto, mas nunca consegui vê-la além de uma
amizade forte e positiva. Acredito que ela também me veja assim, afinal
nunca me falou nada sobre termos um relacionamento diferente da amizade.
No fim, não fomos para a casa dela, fomos para a minha, ela queria fazer
coisas que na casa dela não dariam certo. Eu sinto que o relacionamento dela
com a Cíntia a deixa mais nervosa do que feliz, mas não adianta nada eu falar
com ela.
Cíntia é filha única de bilionários cariocas e os pais não aprovam muito
o relacionamento dela com Maitê. A garota sempre teve tudo o que quis e
trabalhar não é seu forte, atualmente ela é diretora de marketing na empresa
dos pais, mas já mudou de emprego infinitas vezes. Eu não gosto das duas
juntas, mas eu vou apoiar Maitê sempre que precisar.
Após a cena, eu estava dolorida, meu pulso anda reclamando
novamente e Maitê me olhou preocupada. Comentei sobre a lesão e a dor que
estava sentindo e ela foi imediatamente buscar gelo para colocar na região
dolorida.
— Você não anda se cuidando, não é? Essa lesão já está crônica.
Eu apenas olhei-a enquanto cuidava do meu pulso.
— Preciso de um conselho.
— Se for amoroso, sou a pessoa errada. — Ela riu segurando o gelo no
meu pulso.
— Lembra do vídeo que te mostrei?
— No dia que jantamos com a Cíntia?
— Sim. A garota veio em casa, fizemos outras cenas interessantes, ela
fez o jantar e apagamos no sofá vendo um filme. No outro dia, acordei
sozinha e descobri que ela tinha ido para o samba.
— Abandonou você para ir sambar? — me olhou pasma.
— Sim.
— Quem em sã consciência abandonaria uma mulher como você para ir
sambar?
Eu ri e não respondi.
— Bebê, o que você sente por ela?
— Eu não sei.
— Então precisa descobrir.
— Eu só penso nela e ter feito estas duas cenas com você só me deixou
com mais vontade de revê-la.
— Então coloque as cartas na mesa, diga como se sentiu e...
— Eu tenho medo de me envolver novamente.
— Tente e se precisar estarei aqui.
Eu me sentei e abracei-a agradecendo.
O telefone dela começou a tocar na sala, correu para atender, demorou
alguns minutos e voltou até o quarto. Parou na porta.
— Cíntia me pediu desculpas e quer passar o resto do fim de semana
comigo para conversarmos melhor.
— Vai lá, Mazinha. Espero que vocês se acertem.
Ela veio até mim e se ajoelhou para me beijar os lábios.
— Obrigada por tudo e cuide desse pulso. — Ela beijou minha mão e
saiu do quarto.
Deitei no tatame e senti remorso por ter feito uma cena com Maitê
novamente. Meu corpo pedia por outra pessoa. Levantei do chão e fui tomar
um banho. Antes de sentar na cama para ler, vi que minhas nádegas estavam
avermelhadas pelo uso do rattan de três varas, passei uma pomada e coloquei
uma munhequeira com tala para imobilizar meu pulso. Vesti uma camisola
preta e fui até a cozinha comer alguma coisa e no meu celular havia uma
mensagem de um número desconhecido. “Você é uma garota difícil de ser
encontrada. K.” Fiquei paralisada olhando o aparelho. Era Katherine. Minha
respiração estava alterada e eu me sentia engasgada com alguma coisa.
Minhas mãos tremiam e o ar faltava constantemente. Respirei fundo tentando
reaver o ar, mas o sufocamento só aumentava. A agitação que eu sentia
demorou longos minutos para passar. Não queria ligar para Maitê, mas tive
que ligar. O medo estava tomando conta da minha mente.
— Já está com saudade?
— Katherine. — Eu falei tremendo
— O que tem ela? Ela está aí?
— Me mandou mensagem.
— Mude agora de número, está me entendendo?
— Eu… eu... não consigo me mover.
— Eu estou indo para aí.
Ela desligou o telefone e eu literalmente me sentia presa naquela
banqueta, minha mente gosta de me enganar quando estou nervosa. Minhas
pernas pareciam amarradas à cadeira. Eu me sentia cada vez mais engasgada,
precisava sair dali, mas não conseguia. Era uma prisão imaginária, uma
tortura invisível. Meus músculos faciais estavam enrijecidos, o maxilar
travado e eu tremia com o coração acelerado. Por quanto tempo fiquei assim?
Não sei, só saí de todo esse transe quando Maitê me abraçou e me fez olhá-la.
Cíntia estava ao seu lado.
— Trouxemos um chip novo para seu celular. — disse Cíntia com
expressão de preocupada.
Maitê me abraçou novamente.
— Eu não quero viver esse pesadelo de novo. — Sussurrei.
— Não vamos deixar. — disse Maitê me abraçando forte e beijando
meu rosto.
— Quer passar o fim de semana conosco? — perguntou Cíntia me
abraçando também.
— Não quero atrapalhar, prefiro ficar em casa.
— Você não deveria ficar sozinha. — disse Cíntia.
— Aqui é seguro. — Eu disse.
Meu celular começou a tocar assustando-nos, era Ágatha. Meu coração
saltou de ansiedade e medo para felicidade de um segundo para outro.
— Atenda. — Maitê disse enfática.
Obedeci e as duas saíram da cozinha.
— Oi. — Minha voz estava rouca.
Demorou alguns segundos para responder.
— Oi.
— Oi. — Ainda estava rouca.
— Não esperava que atendesse. Tudo bem?
— Não.
— O que houve?
— K… Ka… the…
— O que ela fez? Onde você está? Eu estou indo para sua casa.
— Descobriu o número do meu celular.
— Você está na sua casa? Posso ir até aí? Não quero te deixar sozinha.
— Pode.
Desligamos e fui até a sala, as duas estavam abraçadas no sofá. Deitei
na perna de Cíntia e ela subiu minha camisola vendo minha bunda marcada
pelas chicoteadas de Maitê.
— O que você fez nessa bundinha linda? — ela me fez olhá-la.
— Uma sessão de spank. — sentei no sofá olhando-as.
— Como gosta do seu corpo marcado desse jeito?
— As marcas são consequências do prazer que eu sinto durante a cena.
— Me afastei delas.
Ela olhou Maitê.
— Você devia tentar qualquer dia desses. — Eu disse séria.
— Está louca?
Maitê me olhou como quem está condenada a uma prisão e eu olhei
Cíntia com firmeza.
— Não deveria falar em loucuras sem experimentar.
Não queria causar mais discórdia, então parei de falar.
— Não precisam se preocupar comigo, vou receber uma visita.
Maitê me sorriu e as duas se despediram.
— Troque o número do celular e me avise se ela aparecer. — Maitê
disse antes de sair.
— Ok. — Abracei-a e ela beijou meu rosto demoradamente.
Deitei no sofá e me acalmei ouvindo uma música instrumental.
Mais de meia hora depois a campainha tocou. Atendi e deixei a porta
aberta, logo ela entrou fechando-a atrás de si. Ela tirou os sapatos ao lado da
porta e depositou a bolsa no aparador.
— Você está bem? Ela tentou mais algum contato? Vim o mais rápido
possível.
Aproximou-se de mim e eu não deixei que falasse ou fizesse algo,
beijei-a e puxei seu corpo para mim. O gosto recente de menta tornou o beijo
lascivo e intenso. Eu queria seu corpo e precisava esquecer de Katherine.
Passei suas pernas pelo meu corpo e andei com ela colada em mim até o meu
quarto principal, deitei-a na cama e ela me olhava intensamente. Tirei a
camisola ficando apenas de calcinha. Voltei a beijá-la, enquanto tirava sua
saia e sua blusa. Nossas bocas se beijavam mais, meu corpo acendia como
uma brasa encoberta e as mãos dela me percorriam com desejo. Tirei seu
sutiã e chupei seus seios com vigor. Algo naquele corpo me hipnotizava e
seduzia. Puxei sua calcinha e lambi seu ventre enquanto abria sua perna.
Passei a mão por sua buceta para senti-la molhada. Passei a ponta da língua
em seu clítoris, bem devagar e seu corpo reagiu com tesão àquele ato. Repeti
e seu ventre demonstrava sua respiração falha. Intensifiquei o contato e
aumentei as lambidas, ouvir seu gemido novamente foi delicioso e um
incentivo para chupá-la mais. Minha boca estava com saudade daquele corpo,
minhas mãos arranhavam suas coxas e seu gozo queria afastar seu corpo de
mim, não deixei. Lambidas certeiras arrancaram mais um espasmo corporal e
enquanto ela se recuperava eu beijava sua coxa, seu ventre, suas costelas.
Beijei-a com desejo e ela me correspondeu. Virou-me de encontro ao
colchão, arrancou minha calcinha com agressividade e abriu minhas pernas.
Eu imaginei que ela iria me bater, mas ela ficou me olhando, percorria com
olhos cada detalhe do meu corpo. Beijou a parte interna da minha coxa, meu
ventre e me mordeu levemente a lateral do corpo. Caiu de boca na minha
buceta. Sua língua me percorria e eu percebi o quanto o meu corpo estava
com saudade dos toques dela, como um computador que não sabe mais
sobreviver sem o vírus que invadiu seu disco rígido. Minha respiração
alterada e meus gemidos denunciavam um gozo e ela parou de me chupar.
Ela me beijou lascivamente e nossas bucetas se encontraram sedentas por um
toque mais carnal. Beijou-me mais e seu corpo dominou o meu em
movimentos rápidos e prazerosos, meu gozo foi escandaloso e meu corpo
vibrou por inteiro. Ela deitou ao lado do meu corpo apoiando-se no braço
direito. Eu estava deitada de barriga para cima com minha mão esquerda sob
meu ventre.
— Essa semana eu vou marcar um ortopedista para esse pulso. — Ela
pousou a mão sobre a minha e eu apenas olhei-a — Você estava certa sobre
Elizabeth. Ela não teve nenhuma crise de ansiedade, descobri isso hoje pela
manhã.
— Eu só quero ser avisada se você estiver com outra pessoa. A
Elizabeth me causou estranhas sensações quando vi as fotos dela ao seu lado
e quando vi o seu comportamento no restaurante quando ela chegou.
Ela me fez carinho no rosto.
— Eu fiz com que Elizabeth ocultasse todas as fotos que ela tem
comigo nas redes sociais. E eu fiz o mesmo com as que tenho nas minhas
redes sociais.
— Não precisava fazer isso, mas obrigada por fazer.
— Esses dias sem você só me fizeram ver o quanto eu fui idiota em ter
saído da sua casa de madrugada sem falar nada.
— Eu quis me afastar, mas eu não consigo te tirar da minha cabeça. —
Passei a mão em seu rosto.
Ela me beijou com delicadeza e eu me virei de frente para ela, seu olhar
percorreu meu corpo percebendo que haviam marcas por ele.
— Você — ela me olhou chateada — fez uma cena com alguém?
— Sim.
Ela se sentou na cama e fez com que eu deitasse de bruços na cama. Ela
estava nitidamente chateada com o que via. Fiz com que ela me olhasse.
— Eu não acredito que deixou outra pessoa bater em você... tocar você
dessa forma... — passou a mão de leve sobre a marca em minha nádega me
fazendo contraí-la.
Ela estava chorando, me sentei e abracei-a.
— Não fique assim, passei a cena todo pensando em você.
Ela me olhou e se levantou da cama.
— Vai embora? — Perguntei chateada — Nós acabamos de nos
acertar…
— Você não devia ter feito isso.
Ela me olhou chateada e saiu do quarto. Fui atrás dela e abracei-a.
— Ágatha! — Eu a virei para mim.
— Você deixou outra pessoa bater em você e nós ficamos separadas
por apenas duas semanas.
Eu olhei-a brava.
— E você levantou da minha cama e foi para o samba com uma garota
que é apaixonada por você. E nós não tínhamos brigado e não estávamos
separadas. Naquela noite eu me entreguei a você, disse que seria sua até
quando quisesse e você fez o que com isso? Jogou fora, como se não se
importasse.
— Eu já me desculpei por isso, disse que errei, assumo que fui uma
idiota em fazer isso.
— Eu tenho ciúme de você com ela, ok?
— Você podia ter beijado e ter feito sexo com outra pessoa, mas você
deixou alguém invadir meu espaço com você, marcou você como se você
fosse dela.
— Eu disse que seria sua por quanto tempo quisesse e você foi embora,
sem ao menos se despedir. Por quê? Você me provocou a semana toda e
quando me teve à sua disposição mostrou que se cansa facilmente de mim. —
Fiz ela me olhar — Eu teria passado o fim de semana todo com você e se
quisesse podia ter pedido para ficar na segunda, na terça…
— Eu errei em ter saído da sua casa naquela noite, me desculpe.
— E eu não devia ter feito uma cena com outra pessoa.
— Por que fez isso?
— Eu precisava tirar a dominância que você tem em meu corpo.
— Tirou?
— Isso só fez com que meu corpo pedisse por você.
Ela me beijou fazendo eu olhá-la.
— Se você soubesse o que causa em mim, não seria tão insegura. —
Passou a mão em meu rosto.
— O que eu causo em você?
— Você já se sentiu excitada por ver alguém sair do elevador?
— Não. — Eu ri.
— Meu dia já começa assim. Você saindo toda elegante de dentro do
elevador, com as mãos no bolso, serena e tranquila, me fazendo pensar mil
coisas erradas.
Eu ri.
— Eu não quero mais ver seu corpo marcado por ter feito cena com
outra pessoa.
— Eu não quero mais você perto da Elizabeth.
Ela me beijou
— Eu prometo que vou me afastar dela. Eu quero te entender, quero
fazer as coisas do seu jeito, quero você e mais ninguém. Quero que confie em
mim cegamente. — Ela me beijou com desejo — Agora vamos fazer algumas
coisas erradas, pois já fiquei muito tempo longe de você. — Me beijou rindo.
Acordei às quatro da manhã agarrada ao corpo dela, dormíamos de
conchinha, eu atrás abraçando-a com medo que fugisse novamente. Beijei-lhe
o ombro e levantei devagar, não queria acordá-la. Usei o banheiro e fui até a
sala procurar pelo meu celular. Sentei no sofá para trocar o número do celular
e vi mais uma mensagem do mesmo número. “Você não precisava ter saído
da minha vida do jeito que saiu. Precisamos conversar. K.” Havia também
uma foto com a legenda: “Para você lembrar o quanto éramos felizes.”
Ríamos na foto, era de uma viagem que tínhamos feito para o litoral norte
paulista, não recordo o nome da praia, mas foi uma das nossas primeiras
viagens depois da mudança para São Paulo. A mesma sensação de engasgo
começou a tomar conta de mim. Mandei um print da conversa para Maitê e
desliguei o celular. Troquei o chip com as mãos tremendo, liguei o aparelho e
cadastrei as informações necessárias para a mudança de número sem avisar
todos os contatos. Mandei mensagem para Maitê: “Novo número e minha
tranquilidade já era.” Coloquei o celular na mesa de centro e o de Ágatha
recebeu uma mensagem: “Larga ela e vem pro samba com a gente.” O
remetente não preciso dizer que era Elizabeth. A sensação de sufocamento
voltou e levantei indo para o quarto onde treino boxe, abri a janela balcão que
dava para uma mini varanda e tirei a proteção que estava usando no pulso e
passei a bandagem. Soquei o saco de pancadas como se estivesse vendo o
rosto de Katherine na minha frente, ela não podia voltar para a minha vida
daquele jeito.
Capítulo 23
Dias atuais - Sexta semana
Eu perdi as esperanças. Tudo o que Maitê vem investigando não está
nos levando a lugar nenhum, apenas a ver que o sumiço de Ágatha está
diretamente ligado a mim. E perder as esperanças é a única coisa que faz
sentido em tudo o que estou vivendo atualmente.
Eu contei que Joana sempre está comigo na cela, pois eu estava
negando os sinais de Nádia. Não queria falar sobre isso, não me sinto pronta
para deixar o luto por Ágatha, mas a solidão nestas seis semanas é dominante.
Por mais que tente me concentrar em achar algum motivo para eu ser a
culpada de coisas que não fiz, eu não vejo mais brechas. Se achasse um
motivo, talvez encontraria uma falha nesse plano.
Você já tentou ficar seis semanas sem fazer nada? Sem ler, sem ouvir
música, sem ver televisão, sem poder andar mais do que dois metros durante
o dia todo? Sua cabeça definha, seu cérebro fica lento, a reação à vida fica
pausada. É como se o mundo vivesse e você não, você apenas está ali, mas já
não sabe mais o que fazer para não enlouquecer.
Quando penso que posso ficar aqui por dez, vinte ou trinta anos é
perturbador. Não é à toa que as mulheres daqui gostam de arrumar encrenca,
vide Célia que está aqui há seis anos. Ela se acha a rainha da prisão, mas na
verdade acho que ela é a única que ainda não entregou os pontos. Que
procura algo para fazer, mesmo que esse algo seja infernizar as outras presas.
Nádia está esperando o julgamento do seu caso há quase um ano. Eu
não quero esperar tudo isso para ser julgada, não é justo.
Eu percebi o primeiro olhar diferente de Nádia para mim quando
estávamos na hora do banho e ela estava no chuveiro ao meu lado. Seu olhar
era invasivo. No banho eu sempre tentava não olhar para os lados, pois
quando eu olhava dava a estranha sensação de estar invadindo a privacidade
da pessoa. Isso é outro artigo de luxo aqui dentro, privacidade. Depois deste
dia, sempre que conseguia ela usava o chuveiro ao meu lado.
Um dia estávamos sentadas na cela, logo nos primeiros dias que eu
estava aqui, ela ao meu lado e Joana distraída com suas conversas consigo
mesma.
— A garota que você matou era sua namorada?
— Não exatamente.
— Como assim?
— Tínhamos um lance diferente do namoro.
— Amizade colorida?
— Não. Ela era minha dominatrix.
— O que é isso?
— Nós duas gostamos de algumas coisas na cama que envolvem
bondage, disciplina, dominação, submissão, sadomasoquismo… Nossa
relação era mais sexual do que outra coisa.
— Mas você gostava dela?
— Sim. Eu não admitia isso, mas gostava.
— O que uma dominatrix faz?
— A dominatrix é uma mulher que assume o papel de dominadora em
uma relação BDSM.
— E você?
— Eu era submissa.
— Ela batia e você apanhava? — ela riu
— Assim você está simplificando muito todo o significado do BDSM,
mas para ficar fácil de entender, era isso. Ela me dominava e eu aceitava suas
vontades.
— Você tem mais postura de quem domina do que quem é dominada.
Eu ri do comentário.
— Eu já tentei ser dominatrix, mas não gostei tanto quanto ser sub.
Ela me olhou maliciosamente.
— Gostei dessa ideia de ser dominadora de alguém.
Eu ri alto e ela também.
Depois dessa conversa, ela sempre me perguntava sobre BDSM com
curiosidade e interesse. Eu estava disciplinando uma dominadora sem ter essa
intenção? Talvez.
Depois da semana que passei na solitária, percebi que Nádia estava
querendo se aproximar mais. Conversava bastante comigo e muitas vezes me
sorria sem motivos aparentes. Eu não deixei de corresponder, afinal, como
disse, estou sem esperanças de sair daqui. O beijo foi gostoso, mas eu estava
pensando em Ágatha. Seis semanas sem ideia do que vai acontecer com meu
futuro, seis semanas sem contato físico com ninguém. O beijo foi bom, mas
eu realmente queria que fosse o beijo de Ágatha e não estava nem perto de
ser parecido com o dela.
Célia continuava tentando me cercar, como ela era da ala das
condenadas, nos víamos pouco. Eu invejava a insistência dela. Em um dos
jantares, ela se aproximou e Nádia se colocou entre nós.
— Arranjou guarda-costas? — ela perguntou empurrando Nádia — Ou
essa é quem chupa sua buceta antes de dormir? — ela riu alto.
Eu larguei a bandeja que estava em minha mão e empurrei Célia com
todas as minhas forças. Ela deu alguns passos para trás e quando voltou para
perto de mim, a recebi com um cruzado de direita acertando seu nariz. Meu
alimento preferido dentro daquele lugar era a raiva, nestas últimas semanas
me alimentei apenas disso e Célia foi quem recebeu a descarga de energia
que meu corpo precisava. Foram vários socos seguidos, antes dela conseguir
se esquivar e me revidar. Eu ri do soco que levei e a capanga dela me segurou
os braços, fazendo uma chave de braço para me imobilizar. Célia se
aproximou para me bater novamente e Nádia a empurrou para longe. Com
uma cotovelada no estômago me livrei da capanga dela, puxei Nádia para
fora do refeitório e de longe vimos as duas serem contidas pelos guardas.
— Ei, vocês duas, voltem aqui. — O guarda gritou.
Segurei na mão de Nádia e saímos correndo em direção do banheiro.
Não fomos seguidas e ela me puxou para um beijo ofegante e cheio de
adrenalina. Ela me encostou na parede e me beijou de novo. Eu fiz ela me
olhar.
— Não posso fazer isso.
— Ela está morta, Anelise. Morta! Você a matou.
— Eu não matei ninguém.
Saí de perto dela e voltei para a cela. Deitei no colchão tentando não
chorar, fechei os olhos revivendo nossos últimos momentos juntas “Quero
que você seja minha sub exclusiva.” Senti que alguém pisou no colchão e
abri os olhos assustada, era Célia.
— Acabou a brincadeira, garota.
Atrás dela, Nádia estava sendo ameaçada com um canivete apontado
para o seu pescoço. Célia se ajoelhou ao meu lado.
— Não ouse gritar.
Ela amarrou meus pulsos e me virou de bruços, ela abaixou minha
calça e minha calcinha.
— Para com isso, Célia!
Nádia tentou intervir, mas eu senti a primeira chinelada acertar minha
bunda. Meu corpo tentou fugir, mas Célia colocou o joelho sobre as minhas
costas e me pressionou contra o colchão. Acertou outra chinelada, com mais
força que a primeira.
— Célia! Para! — Nádia estava tentando se soltar da mulher que a
segurava.
Consegui soltar meus pulsos, mas o peso em cima de mim aumentou.
— Onde pensa que vai? — ela acertou minha coxa.
— O que você quer? — ela me acertou de novo.
Eu me debatia tentando tirar ela de cima de mim. Senti alguém segurar
meus tornozelos com força.
— Trouxe um amigo para brincar conosco.
Eu não conseguia ver quem era, mas imaginei ser o guarda que me
vendeu o canivete. Eu não vi como, mas Nádia roubou o canivete da capanga
de Célia e conseguiu afugentar os três para fora da cela. Levantei do colchão
com raiva, vesti minha calcinha e a calça e corri atrás deles. Célia estava
contando vantagem quando os alcancei por trás e pulei nas costas dela. Passei
meu braço em seu pescoço enforcando-a. Ela me bateu contra a parede duas
vezes e eu só a soltei quando o guarda me apontou uma arma.
— Chega dessa baboseira. Você vai para a solitária.
— Filho da puta! Bandido! Você quem devia estar preso.
Ele engatilhou a arma e me mandou ajoelhar.
— Atira! — coloquei a testa na ponta do revólver — Covarde! Atira!
— eu gritava para quem quisesse escutar.
Nádia me puxou para longe dele.
— Se essa vagabunda se aproximar de mim novamente, eu juro que
atiro. — O guarda disse para Nádia.
— Para com o show, Anelise! — ela me puxou até a cela.
Não tinha nada no estômago, mas estava com ânsia. Eu gritava e Nádia
tentava me abraçar. Ela me abraçou com força até os gritos e a raiva virarem
um choro ininterrupto e dolorido. Nádia me segurou nos braços e me fez
sentar no colchão, agarrei-me em seu pescoço e não a deixei sair de perto de
mim. Ela sentou encostada na parede e me puxou para perto de seu corpo,
meu choro continuava.
— Eu não mereço estar aqui, eu não fiz nada. — Eu disse soluçando e
me afastando dela.
Nádia me puxou para perto de seu corpo novamente.
— Ninguém merece, mesmo quem fez alguma coisa.
Ficamos alguns minutos em silêncio. Devagar eu me acalmei e
continuei em seus braços.
— O que fez para estar aqui?
— Matei minha mãe.
— Ela mereceu?
— Ela me prostituía para poder se drogar.
— Então mereceu. — Eu olhei-a.
— Foi um momento de raiva, ela não merecia ter morrido.
Encostei em seu corpo novamente e ela me beijou a testa. Seus dedos
acariciavam levemente meus cabelos e percorriam minhas costas me fazendo
carinhos aleatórios. Minha mão esquerda acariciava seu pescoço.
— Não coloque mais a sua cabeça na frente do cano de um revólver,
isso não vai resolver sua raiva e sua angústia.
— Por que me salvou? — perguntei sussurrando — Podia ter deixado
ele me levar para a solitária ou me matar.
— Eu não podia arriscar, ninguém merece morrer antes de um
julgamento.
Ficamos em silêncio mais uma vez.
— Por que me beijou?
— Para você tudo precisa ter motivo?
Eu ri e o silêncio voltou por mais um tempo.
— Eu me senti excitada vendo você recebendo chineladas. — Ela me
sussurrou no ouvido me arrepiando.
— O que Célia fez foi agressão. — Olhei-a brava.
— Eu sei, mas minha imaginação ficou bem fértil depois disso.
Eu ri e voltei a encostar nela.
— Esse lugar não me deixa excitada com nada. — disse chateada — Só
penso em como acabar com esse pesadelo. Eu preferia morrer do que estar
aqui.
Hortência entrou na cela preocupada.
— Fiquei sabendo o que houve, você está bem? — ela se ajoelhou ao
meu lado.
— Sim.
Ela olhou para Nádia e eu não soube descrever sua expressão.
— Vocês estão se pegando?
— Ela quase foi estuprada queria que eu a largasse chorando sozinha?
— Você não presta, Nádia.
Hortência se levantou e saiu da cela, pois precisava terminar seu
trabalho na cozinha. Eu me afastei dela.
— Vocês tiveram alguma coisa?
— Hortência tentou...
— Quando isso aconteceu?
— É lance antigo, antes de você chegar. Nós transamos algumas vezes,
mas eu não queria me envolver com ela.
— Ótimo! Mais uma para me odiar.
— Ela não te odeia.
Nádia me puxou para perto do seu corpo novamente e tentou me beijar,
mas me afastei.
— Eu não posso ter nada com você. Não seria justo, eu ainda penso
muito na Ágatha.
— Eu sei, você resmunga o nome dela durante a noite.
Ela me beijou a testa e eu fiquei assustada com aquela revelação.
Voltou a fazer carinho no meu cabelo e eu me perdi em meus pensamentos
aleatórios sobre Ágatha.
Capítulo 24
Oito meses atrás
Ágatha me encontrou sentada no quarto onde eu estava treinando boxe
para tentar me livrar da raiva que eu sentia por Katherine voltar a me
atormentar. Meu braço esquerdo tremia e o pulso latejava. Ela sentou ao meu
lado, eu estava ofegante e suada. Meus dedos estavam vermelhos, pois não
tinha usado a luva para me proteger. Segurou minha mão e desenrolou a
bandagem devagar, ela sentia meus músculos estremecendo, minha mão
tremia, mas minha raiva ainda permanecia em mim. Tirou a bandagem da
outra mão. Ela sentou no meio das minhas pernas de frente para mim e me
puxou para um abraço, eu estava sem reação, apenas deitei minha cabeça em
seu ombro.
— Não fique assim, não vou deixar nada acontecer com você.
Trocar o número do meu celular foi uma decisão sensata, afinal não
recebi mais mensagem de Katherine. Foi um alívio, mas sempre que eu saio
em algum lugar aqui no Rio, me sinto perseguida. Sensação ruim de estar
sendo vigiada, claro que deve ser tudo paranoia da minha cabeça, mas
quando se tem uma pessoa abusiva querendo reatar contato o delírio parece
ser real.
Meu convívio com Ágatha está mais tranquilo. Ela agendou um
ortopedista para ver meu pulso, pois se dependesse de mim, eu deixaria
quieto. Era uma entorse leve e que precisaria de repouso por uma semana e
Ágatha me fez cumprir o repouso à risca. Eu passei a ignorar o fato de
Elizabeth querer atrapalhar nossos encontros, pois Ágatha passou a deixar o
número dela bloqueado durante o tempo que ficava comigo em casa ou em
algum lugar que íamos.
Nossos almoços aconteciam com dias predeterminados, mas não era
sempre que eu conseguia fugir de Samuel e Hélio. A empresa estava
começando a reagir com os planos de contenção de gastos que fiz, era o
segundo mês de um plano de quatro meses. E quando eu não conseguia fugir,
ela se fazia de emburrada só para eu me sentir mal e lhe recompensar
sexualmente.
— Você faz isso de propósito, não é? — eu perguntei rindo depois que
ela gozou em meus dedos.
— Você ainda tem dúvidas? — ela me beijou com desejo.
Estávamos na sala de reunião, ela sentada na mesa, agarrada à minha
cintura e meus dedos penetrando-a.
— Posso passar o fim de semana com você?
— Não pode.
— Deixa eu cuidar de você. Semana passada não fizemos nada por
conta do seu pulso e segunda é feriado. Você sabe que cuidarei de você, não
sabe?
Ela me beijou com desejo e apertou minha bunda com força. Eu tirei a
mão de sua calcinha e lhe sorri.
— Sei. — Chupei o meu dedo com seu gosto — Vou pensar na sua
proposta. — Lhe beijei suavemente e saí da sala.
No fim da tarde daquele dia, ela entrou na minha sala, estava
preocupada.
— Eu vou precisar levar minha mão ao médico, ela me ligou falando
que não está bem.
Dei a volta na mesa e peguei minha carteira, entreguei-lhe um cartão de
crédito com o nome dela.
— Eu ia entregar hoje à noite, mas leve e use para o que precisar.
Cadastre-o no aplicativo de táxi. Você quer que eu vá com você?
— Não precisa se preocupar, deve ser a pressão novamente ou as
náuseas que, às vezes, ela tem.
— Me mande notícias.
— Obrigada pelo cartão. — Ela me beijou a boca suavemente.
— Não hesite em usar.
— Você é perfeita! — ela me abraçou rapidamente e saiu correndo da
sala.
Em menos de dois meses, era a terceira vez que a mãe dela ia ao
hospital e isso estava começando a me preocupar. Pesquisei alguns convênios
médicos, mas como não sabia a idade exata dela, fiquei sem saber quanto
seria por mês.
Maitê me ligou naquela noite, eu tinha organizado as finanças dela de
tal forma que ela não estava mais preocupada com os gastos mensais.
— Cíntia fez as pazes com os pais e conseguiu uma promoção na
empresa, agora ela faz parte da diretoria da empresa. Ganha mais do que eu.
— Ela riu.
— Viu só como uma briga faz a pessoa pensar mais claramente sobre
as coisas.
Ela riu alto.
— Obrigada por arrumar minhas finanças, se não fosse você eu ainda
estaria achando que não tinha dinheiro para viver.
— Você sempre foi desorganizada.
— Sim, sempre, em tudo. — Ela riu — Liguei para avisar que fiz uma
transferência para você. Eu vendi o carro. Agora foi uma venda de verdade,
consegui mais do que previ e te devolvi a quantidade que me emprestou mês
passado.
— Que bom!
— Os pais da Cíntia vão bancar todos os luxos da filha no casamento,
então estou tranquila novamente.
— Isso não faz seu casamento com ela ser o ideal, mas quem sou eu
para falar alguma coisa, não é?
— Não começa, bebê. Eu sugeri dela vir morar comigo.
— Espero que o teste drive seja positivo. — Eu ri.
— Eu também. Como que a Katherine te convenceu a conhecer o
BDSM?
— Saudade de bater em uma bunda? — eu ri alto.
— Anelise, você é uma peste quando quer.
— Ela apenas me disse: “vou te algemar na cama!” E eu gostei.
Simples assim.
— Fala sério, Anelise!
— A Cíntia sabe que você curte BDSM, vai ser mais fácil conversar
com ela sobre isso. Seja honesta, é a única forma dela tentar. Eu não sabia
desse gosto que a Katherine tinha por BDSM, descobri só depois de casada.
Nós duas namoramos quatro meses e não quatro anos, vocês têm um elo de
confiança muito maior do que eu tinha com a Katherine. Você é uma ótima
professora, se a Cíntia abrir a mente para aprender, vocês serão um casal mais
feliz.
— É sempre bom falar com você, bebê. No mundo da Cíntia, às vezes,
me sinto um ser de outro planeta.
— Você tem medo de ser a verdadeira Maitê ao lado dela, isso vai te
anular cada dia mais.
— Você é muito sincera…
— Se fosse para concordar com você, tenho certeza que você teria
ligado para outra amiga e não para mim. — Eu ri.
Ela concordou e também riu. Conversamos mais um pouco e
desligamos.
Mandei uma mensagem para Ágatha: “Como está sua mãe?”
Respondeu imediatamente: “Não sei, os médicos querem deixá-la em
observação até amanhã.” Liguei para ela.
— Quer que eu vá até aí ficar com você?
— Não precisa, mesmo porque não tem onde você ficar aqui.
— Você quer que eu peça transferência para outro hospital ou um
quarto particular?
— Ane, não se preocupe. Ela deve ter comido algo que fez mal, apenas
isso.
— Ok. Qualquer coisa me liga.
Ela concordou e nos despedimos.
Tive uma noite de sono agitada pensando nas duas no hospital. Pela
manhã, me vesti e peguei um táxi até o hospital. Antes de entrar na recepção,
procurei uma padaria para lhe levar algo para comer. Comprei pão-de-queijo
e café e liguei para ela avisando que estava ali fora, pois não era hora de
visitas e não poderia entrar. Ela saiu do corredor com os olhos vermelhos e
me abraçou. Beijei-lhe o topo da cabeça e abracei-a com força.
— Trouxe café e pão-de-queijo.
Ela não respondeu e continuou abraçada a mim. Ficamos assim por
longos minutos. Senti a aproximação de alguém e quando olho para o lado
vejo Elizabeth. Ágatha não se soltou dos meus braços, mas a amiga se
aproximou e beijou-lhe o rosto demoradamente.
— Trouxe chocolate quente para você. — Elizabeth fez carinho em seu
rosto — O que os médicos disseram sobre a sua mãe?
Ela continuou quieta e eu queria tirá-la dali, lhe dar carinho e fazê-la
sorrir. Uma enfermeira chamou-a de volta ao quarto, pois o médico queria
conversar com ela. Afastou-se de mim e seguiu a enfermeira. Eu segui as
duas, mas a enfermeira não me deixou entrar no corredor. Andei para fora do
hospital e Elizabeth acabou me seguindo.
— Você é a tal da Anelise?
— E você a tal da Elizabeth?
— Ágatha fala de mim para você?
— Só os podres.
Ela me olhou brava. Ficar ao lado daquela garota estava me dando
vontade de ir embora, mas eu não ia sair dali sem saber o que estava
acontecendo. Após, quase, vinte minutos, Ágatha saiu de dentro do hospital,
Elizabeth se colocou no caminho dela para recepcioná-la, mas ela veio em
minha direção e me abraçou. Beijei-lhe a cabeça e puxei-a para sentar em um
banco. Elizabeth sentou ao nosso lado e fiz com que Ágatha tomasse o café e
comesse pelo menos um pão-de-queijo.
— Ela está com problemas sensoriais, formigamentos e redução na
sensação de tato. Ainda precisam fazer alguns testes para saber o que é.
— Você vai deixar eu transferir sua mãe de hospital ou vai teimar
comigo?
— Eu não posso deixar você fazer isso. — Ela me olhou chateada.
— Ela vai receber um diagnóstico aqui e nós vamos marcar um médico
para ver o que ele pensa sobre tudo isso.
— Não vou teimar sobre isso. Precisaremos de uma segunda opinião.
Eu lhe entreguei outro pão-de-queijo e ela comeu encostada em meu
ombro.
— Seu chocolate vai esfriar. — Elizabeth lhe entregou o copo e ela
aceitou.
— Obrigada por terem vindo.
Recebemos o diagnóstico da mãe dela, no fim da manhã. Neuropatia
periférica. Ágatha me puxou para longe de Elizabeth.
— Eu vou para a casa da minha mãe, vou passar o fim de semana com
ela.
— Qualquer coisa — fiz com que me olhasse — que precisar me ligue.
Ela vai com você? — me referi a Elizabeth com certo rancor.
— Não, minha mãe precisa descansar e eu vou aproveitar para estudar.
Ágatha me deu um selinho e foi até Elizabeth, vi que a garota ficou
brava com o que ouviu e saiu andando com raiva. Ela me acenou de longe e
eu não queria me afastar, mas chamei um táxi para ir embora.
Passei a tarde tentando programar o jogo que eu estava desenvolvendo,
mas estava difícil me concentrar. A imagem de Elizabeth beijando o rosto da
minha garota ficava se repetindo na minha cabeça. Deitei no sofá e liguei
para ela.
— Oi. — Eu disse meio sem graça.
— Oi. — Ouvi um barulho de campainha do outro lado da linha.
— E sua mãe?
— Tomou os remédios, está se sentindo melhor. Não tenho uma notícia
muito boa. — Ouvi risadas ao fundo — Minha mãe convidou Elizabeth para
vir visitá-la.
Escutei alguém chamando-a e ela falando que estava ocupada. A voz se
aproximou do telefone e tive certeza do meu ódio por Elizabeth quando disse:
“Vem eu trouxe bolo de prestígio, seu favorito.”
Ágatha respondeu: “Eu estou ocupada, depois pego um pedaço.”
A garota respondeu: “Depois que você conheceu aquela mulher, você
está cada dia mais chata!”
“Sai daqui, Elizabeth, não era para você estar aqui. Eu disse que não
era para você vir”
“Sua mãe quem me convidou!” Ouvi uma porta batendo.
Ágatha tinha parado de sair com os amigos dela todos os finais de
semana, saía de vez em quando, mas foi sua opção fazer isso. Eu disse que
não me importava desde que soubesse onde estava e que não me largasse no
meio da madrugada.
— Ane! Ainda está aí?
— Sim.
— Desculpe, eu disse para minha mãe não a chamar.
— Eu só acho as atitudes dessa sua amiga muito abusivas. Você sabe
que relacionamentos abusivos não acontecem somente entre casais, não sabe?
Amigos, familiares, também podem se tornar abusivos.
— Eu sei, Ane! Estou tentando me afastar, mas ela é insistente. Não
brigue comigo por causa dela.
— Não estou brigando, só tentando entender as atitudes da sua amiga.
— Você só precisa entender uma coisa.
— O que?
— Que eu estou com saudade de você.
Eu fiquei muda, sem saber o que responder e o silêncio permaneceu na
linha por um tempo.
— Eu preciso desligar e ver se minha mãe tomou o remédio. Ela passou
algumas horas do dia confusa, deve ser algo que deram no hospital. — Ela
disse nervosa — Ligo mais tarde para desejar boa noite.
— Está bem, comporte-se.
Por que eu não tinha respondido que também sentia sua falta? Não sei.
Gostaria de ser mais solta para falar sobre o que sinto. Um dia quem sabe…
Naquele sábado, eu jantei e dormi cedo, estava cansada pela noite mal
dormida. Não escutei sua ligação e tão pouco a ligação de um número
desconhecido que apareceu na lista de chamadas perdidas me deixando
cismada. Como tinha acordado cedo esperei para retornar à ligação de
Ágatha, apenas deixei uma mensagem antes de começar a mergulhar nos
jogos que eu estava desenvolvendo. “Bom dia! Ontem dormi e não escutei
sua ligação.” Por curiosidade, entrei em suas redes sociais e vi que Elizabeth
tinha postado uma foto com a mãe de Ágatha e ela. “Melhores companhias
para um sábado à tarde.” era a legenda que acompanhava a foto das três.
Antes de começar a codificar o jogo, criei um perfil na rede social que as
duas mais usavam, mas parei no meio do processo me lembrando da
perseguição de Katherine. Deletei tudo o que tinha feito e deixei o celular de
lado. Não podia dar alguma brecha sobre meu sumiço virtual, ter um perfil
social era dar aberturas para Katherine me achar. Olhei a foto novamente e
percebi o quanto aquela garota conseguia me irritar sem precisar abrir a boca.
Eram quase onze da manhã quando o meu celular me assustou. Era o
mesmo número da noite passada, não atendi e a pessoa foi insistente. Anotei
o número e mandei para Maitê. Alguns minutos depois ela me mandou uma
mensagem dizendo que o número era de algum telemarketing de operadora
de celular. Respirei aliviada ao saber disso, cheguei a achar que era Katherine
novamente. Ágatha me ligou logo depois desse acontecimento.
— Sua mãe está bem?
— Sim. Acordou melhor. Você tem algum plano para hoje?
— Sim. Por quê?
— Ia me convidar para ir até a sua casa.
— Pode vir, mas não estarei aqui.
— Não teria sentido ir até aí sem poder te ver. Não sei se você já viu,
mas Elizabeth postou uma foto comigo e com minha mãe, ontem.
— Vi. Você não é parecida com sua mãe.
— Eu sou irmã gêmea do meu pai. Eu tentei impedir, mas minha mãe
ficou feliz com a visita e com a foto, acabei não confrontando Elizabeth na
frente dela. Desc…
— Você não precisa se desculpar por isso.
— Eu queria muito te ver.
— Nosso dia de se encontrar passou.
— Eu sei. — Ela estava com a voz estranha.
— O que houve?
— Eu…
— Ágatha?
— Você está distante desde ontem quando chegou no hospital e eu
estou preocupada com isso.
— Não fique.
— Por que eu tenho a estranha sensação de que você está mentindo
para mim?
— Por que eu mentiria para você? Eu já fui bem clara sobre os meus
pensamentos em relação ao comportamento da sua amiga. Ela me preocupa
porque eu vejo que você está sendo manipulada por ela. Eu entendo que
vocês são melhores amigas desde quando se mudaram para o Rio, mas
amigas sabem dos limites. Eu juro que não estou brava com você. Estou
incomodada com o fato dela estar te cercando como se você fosse algo dela.
Ela ficou em silêncio.
— O meu compromisso é até às três da tarde, quer me encontrar para
tomar um café?
— Sim.
— E repito, eu não estou brava com você, entendeu?
— Sim, Ane, me sinto menos estúpida sabendo disso.
— Você não é estúpida.
Desligamos depois de nos despedir. Eu não tinha compromisso
nenhum, apenas queria ficar sozinha em casa, mas não queria deixá-la
preocupada. Enviei o endereço de onde nos encontraríamos, uma cafeteria na
Lagoa Rodrigo de Freitas.
O dia estava quente, beirando os quarenta graus carioca que adora nos
deixar derretendo. Vesti uma roupa leve e saí de casa após pedir um táxi.
Cheguei ao local alguns minutos antes do combinado, ela já estava ali,
sentada com um vestido floral curto. As mesas eram na calçada protegidas
por ombrelones. Olhei-a de longe e sorri com a cena dela tomando um suco
enquanto mexia no celular, todas as minhas angústias sumiam quando eu
olhava para ela. Liguei para seu número.
— Vamos ter que remarcar, não vou poder te encontrar.
— Mas eu já estou aqui, podia ter avisado antes.
Andei até a mesa que ela estava.
— Desculpe, mas meu compromisso não acabou.
Ela estava de costas para mim e não me via andando até ela.
— É muita sacanagem desmarcar em cima da hora desse jeito. E que
compromisso é esse que você não pode deixar de lado? Hoje é domingo,
podíamos nos divertir juntas. Onde você está? Que horas vai terminar o que
está fazendo?
— Sinto muito, mas não vai rolar.
— Anelise! Você aparecer aqui é uma ordem!
Eu já estava atrás dela, desliguei o celular e peguei minha carteira no
bolso. Aproximei meu rosto do seu ouvido.
— Sim, senhora! — beijei seu ouvido assustando-a.
Coloquei minha carteira e o celular na mesa e ela levantou para me
xingar pelo susto que eu havia dado nela. Eu estava sorrindo pela sua reação
e ela apenas ficou parada me olhando numa mistura de braveza e alívio.
— Você está linda! — puxei-a para um abraço.
— Você me assustou de verdade. — Ela falou baixo e me olhou
sorrindo — Você acabou de me elogiar gratuitamente?
Busquei sua boca para um beijo saudosista, passou os braços pelo meu
pescoço e me beijou com desejo.
— Não me assuste mais desse jeito.
Eu apenas ri. Quando sentamos, ela viu a minha carteira e o meu
celular na sua frente e me olhou sorrindo.
— Uma prova de que não estou brava contigo.
— Eu vou dormir na sua casa.
— Como quiser.
Ela franziu a testa, pois eu não havia respondido como ela gostava e eu
apenas lhe sorri. Aproximei meu rosto do seu.
— Sim, senhora.
— Estas duas palavras são lindas na sua boca. — Ela me deu um
selinho — Já quero ir para sua casa.
— Apressadinha. — Beijei-lhe o rosto.
— Coma alguma coisa antes de irmos, você está com cara de quem não
anda se alimentando direito.
Ela olhou o cardápio e fez o pedido ao garçom. Eu estiquei minha mão
para ela segurá-la. Segurou-a e me olhou sorrindo.
— Quero que você saiba que eu sei que a Elizabeth está agindo por
conta própria e você está cortando-a como pode. Eu quase fiz um perfil social
para comentar na foto que ela publicou ontem.
— Jura? O que ia comentar.
— Que você é mi…
Fui interrompida pela chegada do garçom. Ela se levantou e sentou de
lado nas minhas pernas me beijando com desejo.
— Eu sou sua, Ane! Desde o primeiro dia que você entrou naquela
empresa. — Ela me deu um selinho e eu apertei sua coxa lhe arrepiando o
corpo.
— Essa garota desperta o pior em mim. — Arranhei-lhe a coxa.
— Lembre-se, você me deixa molhada só de sair do elevador pela
manhã. — Ela me sussurrou e eu lhe beijei com desejo.
Ágatha me sorriu e se levantou. Sentou na outra cadeira e me olhou
sorrindo. Ela tinha pedido um kibe de abóbora com recheio de provolone e
um kibe de carne com recheio de requeijão para ela. Eu olhei o prato com o
kibe e olhei-a cortando o dela. O garçom me trouxe um suco de laranja e ela
me olhou confusa por eu estar parada olhando-a. Peguei o garfo e entreguei a
ela.
— Estamos em público. — Ela disse surpresa.
— Eu sei. Você quer me alimentar?
— Sempre quero.
Cortou um pedaço do kibe e me ofereceu. Entre uma garfada e outra
percebi sorrisos discretos em seu rosto, tentava disfarçar a felicidade de estar
me alimentando. Passei a mão em sua face e ela me olhou feliz me
oferecendo o último pedaço.
— Obrigada.
Sempre que eu agradecia a ela após ser alimentada, seu sorriso sincero
era a recompensa por eu aceitar o ato. Vê-la feliz me deixava tranquila e
realizada, sabia que aquela sensação era perigosa, foi assim que me perdi com
Katherine. Coloquei-a em um pedestal e ignorei minhas próprias vontades.
— Ane? Está tudo bem?
Olhei-a dizendo que sim.
— Tem certeza? Você está preocupada com algo?
— Tenho certeza, está tudo bem. Vamos embora?
Ela segurou minha mão com delicadeza.
— Você mudou de humor e semblante repentinamente...
— Eu só tive um dejavu.
— Posso ajudar em algo?
— Não se preocupe, já passou. — Tentei beijá-la, mas afastou o rosto.
— Você precisa confiar em mim.
Eu respirei fundo e lhe encarei.
— Foi um pensamento ruim sobre meu casamento com a Katherine.
Ela tomou conta demais da minha vida.
— Eu não quero isso. Eu sou adepta ao diálogo, conte-me qualquer
coisa que esteja lhe preocupando. Quero você dedicada de corpo e alma hoje
e sempre.
— Katherine sempre ignorou minhas vontades.
— Peça o que quiser, eu também quero te entregar a melhor
experiência possível. Eu também quero me entregar de corpo e alma durante
nossas cenas e nosso convívio.
Ela me beijou com delicadeza.
— Não quero pedir nada específico, foi apenas um pensamento ruim.
— Olhei-a.
— Eu sou diferente da Katherine, não me compare a ela. Por favor,
tente me ver sem pensar no que você passou com ela.
— É difícil.
— Eu sei. Gostaria muito de apagar seu passado para vivermos em paz.
— Um passo de cada vez e aos poucos apagaremos o passado.
— Não hesite em me contar seus pensamentos ruins.
Olhei-a e beijei-lhe a face.
— Obrigada.
Ela pagou a conta e chamou um táxi. No caminho, ela sentou ao meu
lado, entrelaçou nossos dedos e deitou a cabeça em meu ombro.
Permanecemos em nossos pensamentos individuais durante o trajeto todo.
Descemos de mãos dadas e andamos devagar até o elevador. Esperamos a
chegada após acioná-lo pelo botão. Entramos e me abraçou por trás beijando
minha nuca. Apertou um botão três andares antes do meu.
— Me espere nua, ajoelhada e algemada com as mãos para frente no
meio do quarto.
O elevador parou e ela saiu depois de apertar o número do andar do
meu apartamento. Obedeci às suas ordens e após alguns minutos ouvi a porta
da sala sendo aberta e fechada logo em seguida. Ela entrou no quarto descalça
e se aproximou parando na minha frente. Ajoelhou-se e vi que segurava uma
caneta hidrográfica preta na mão direita, colocou-a ao lado da chave das
algemas.
— Eu — ela pegou a chave — quero libertar você. — Ela abriu uma
das algemas — Quero libertar você do passado ruim que teve. — Ela me fez
olhá-la — Libertar você dos seus pensamentos ruins. — Abriu a outra algema
— Estou aqui por você e para você, em todos os momentos, não apenas nos
sexuais. Sejam eles bons ou ruins, estarei aqui.
Fez com que eu a olhasse e começou a tirar o vestido.
— Estou me despindo diante de você, prometendo ser transparente em
todos os meus atos e nunca ultrapassar seus limites, suas dores e seus medos.
Ágatha me entregou seu vestido e seu sutiã.
— Escolha uma parte do meu corpo.
Olhei-a perdida com as palavras que ela havia me dito. Olhei seu corpo
com desejo e curiosidade.
— Uma parte que você goste de beijar, morder, acariciar…
— Ventre.
Entregou-me a caneta depois de destapá-la.
— Com esta caneta, você vai assinar meu ventre. Esta assinatura é para
eu saber que você entendeu tudo o que eu disse, para saber que você
concorda com o que lhe disse.
Eu estava ansiosa com todas aquelas palavras, segurei a caneta e olhei-
a emocionada.
— Só assine se for seu desejo. Isso não é um discurso sem fundamento
e muito menos para você ser minha submissa exclusiva. Estou sendo sincera
em todas as palavras que lhe disse, quero o seu bem. Essa oratória toda é
minha promessa para cuidar de você enquanto você deixar. A sua assinatura
será o aval para eu conquistar sua confiança por inteiro.
Eu hesitei por um momento e com a mão trêmula assinei seu ventre, a
assinatura ficou enorme pegando toda a extensão da pele e eu devolvi a
caneta para ela.
— Essa caneta será o símbolo dessa promessa. Quando você confiar em
mim, cento por cento, sem nenhuma dúvida, quero assinar sua nádega direita.
— Eu…
— Pode demorar o tempo que for, mas tem que ser cem por cento, sem
dúvidas e sem medos. Eu sei que não vai ser hoje, nem amanhã, nem na
semana que vem.
Puxei-a para perto de mim e beijei-a com desejo. Deitei-a no chão e me
deitei sobre o seu corpo. Naquele momento eu consegui me sentir uma
mulher sortuda e nossos beijos quentes e lascivos nos levaram a esquecer o
mundo. Aquela tarde e aquelas palavras, me convenceram a me entregar a
ela, mesmo que devagar. Eu me entregaria por inteira como me entreguei em
nosso sexo no meio do tatame. Sua gana por meu corpo não cessava, sua
boca me arrancava gemidos. Minhas mãos tateavam seu corpo desvendando
cada centímetro e o nosso êxtase foi quase uníssono. Nossos envolvimentos
sexuais fora das cenas de BDSM, estavam cada vez mais recorrentes e isso
fazia eu me apaixonar cada dia mais por ela.
Capítulo 25
Dias atuais - Sétima semana
Depois que Nádia me salvou da tentativa de estupro, evitava sair da
cela sozinha. Eu estava comendo cada vez menos por dia, só tomava o café
da manhã que era um pouco mais completo do que as outras refeições.
Hortência sempre me trazia um pão pós almoço e se sobrasse me trazia uma
gelatina. Durante a noite eu tinha pesadelos recorrentes com Katherine
matando Ágatha ou Elizabeth beijando-a enquanto minhas mãos sempre
estavam ensanguentadas e em alguns dias algemadas. Maitê não vinha me ver
já faziam quase quinze dias e eu achei que ela tinha desistido de mim. Não
deve ser fácil ser advogada, ter que defender mesmo duvidando da inocência
do cliente.
Eu recebi um aviso sobre sua visita, seria no dia seguinte. Ela não me
visitava, mas me mandava chocolate. Na noite anterior, eu precisei ir tomar
banho sozinha, não tinha ninguém na cela. Eu já estava descartando a
possibilidade de fazer isso sozinha, mas eu precisava de um banho, seria o
terceiro dia sem, se eu não fosse. Respirei fundo e tomei coragem de sair da
cela. No corredor até o banheiro, fui interceptada por Célia.
— Você acha que eu esqueci do que aconteceu no nosso último
encontro?
— Por favor, me deixa em paz. O que eu te fiz para me perseguir desse
jeito?
— Eu não preciso de motivos para nada.
— O que você quer para me deixar e paz?
— Não é assim que eu trabalho. — Ela segurou meu braço.
— Como é então?
— Garota, você é atrevida demais sabia? — Apertou meu braço com
força.
— Me solta!
— Ou o que?
Eu fiz com que me soltasse o braço e me afastei dando-lhe as costas.
Ela segurou meus cabelos e me puxou para perto de seu corpo.
— Aquelas chineladas que te dei, não é nem o começo do que quero
fazer com você. — Puxou meu cabelo com mais força — Você gosta de
apanhar e eu gosto de bater. — Beijou minha orelha.
Eu lhe dei uma cotovelada, outra e outra, até me soltar. Virei-me de
frente para ela e empurrei-a contra a parede.
— Essa brincadeira de gato e rato já deu o que tinha que dar. — Dei um
cruzado de direita em seu rosto — Se encostar a mão em mim de novo, você
não vai levantar do chão com vida. — Dei-lhe uma sequência de cruzados e
ela tentou se proteger e eu me afastei dela — Você não é nada sem sua
capanga? Sem seus guardas? — ela baixou a guarda e eu dei uma sequência
de jabe e direto e me afastei.
Ela me olhava com raiva e partiu para cima de mim, esquivei e lhe
soquei a lateral do corpo. Ela veio para cima de mim novamente e entrei com
uma sequência de cruzados que fez Célia se afastar. Aproximei-me e não dei
tempo para ela pensar, jabe, direto e cruzado, e vi ela caindo no chão.
Olhava-me com raiva, me aproximei dela.
— Eu também gosto de bater. Quer mais? Você não é valente? Levanta
desse chão e vem me bater.
Algumas presas passaram por nós e viram o rosto de Célia sangrando.
Ela não se manifestou mais e eu fui tomar meu banho. A água naquele dia
não parecia tão gelada, ou era o calor do meu corpo que estava a ponto de
ferver. Naquela noite não tive pesadelos.
Na visita de Maitê, no dia seguinte, ela me abraçou mesmo não
podendo.
— Você está bem?
— Perguntando por educação, não é? — me sentei na cadeira.
— Não faça malcriação comigo. — Ela também se sentou.
— Estou péssima e você?
— Também! Cintia foi embora definitivamente.
— Como assim? Você não dá notícias por quase quinze dias e me solta
uma bomba dessas sem ao menos me preparar?
— Ela disse que estou envolvida demais com seu caso e não admite que
eu acredite em sua inocência.
— Mas eu sou inocente!
— Eu sei, bebê! Eu sei.
— Mas não tem como provar, tem?
— Não. Ainda não.
— Quando é meu julgamento?
— Hoje sou apenas portadora de notícias ruins, daqui dois meses.
— Eu vou ficar aqui mais nove semanas? Na verdade, a chance de eu
sair daqui é mínima, não é?
— Por enquanto sim.
— Desculpe acabar com seu casamento.
— Você sempre esteve certa sobre esse relacionamento, não dava para
querer que funcionasse sem eu ser eu mesma.
— Por um lado é bom, pelo menos você volta a ser só minha. — Eu ri.
Ela segurou minhas mãos e viu os machucados por ter batido em Célia.
— Nunca deixei de ser sua.
Eu ri alto e apertei suas mãos.
— Eu vou ficar louca aqui dentro sabendo que você está solteira. Não
tem nenhuma novidade sobre o Hélio?
— Infelizmente não.
— Eu sonho com a Ágatha sendo assassinada todo dia, no meu sonho
quem mata ela é a Katherine.
— Existe alguma chance de isso ser real?
— Mas por que ela faria isso?
— Ela é louca!
— Depois de tudo o que aconteceu, duvido que ela teria voltado.
— Nós achamos que ela nunca voltaria depois do divórcio e ela voltou.
Eu fiquei pensativa.
— Você — ela segurou minha mão de novo — precisa parar de
emagrecer. Estou ficando seriamente preocupada com essa sua aparência.
Você precisa comer direito.
Apertei sua mão e lhe beijei o dorso.
— Queria poder comer direito, mas aqui dentro não dá. Não tenho
vontade de nada. Só consigo sentir raiva.
— Não deixe ela te consumir.
— Eu… eu quase fui estuprada.
— O que? Como? Quem?
Contei para ela o que havia acontecido e vi sua raiva se aflorar. Eu não
havia mostrado os cortes que Célia havia feito no dia que me amarraram na
cadeira e quando mostrei só faltou ela sair correndo para bater em alguém.
— Tenta me isolar, pede para me colocar na solitária, sei lá… preciso
ficar longe dela. Vou acabar machucando-a de verdade e isso vai piorar meu
julgamento.
— Agressões não seriam bem vistas pelo júri, mesmo sendo em uma
presa condenada.
— Ontem à noite eu perdi a paciência e bati nela. Bati muito e ela vai
me dar o troco, mais cedo ou mais tarde. Você vai acabar tendo que vir
buscar apenas meu corpo.
— Vira essa boca para lá, bebê. Não brinque com uma coisa dessas.
— Ela não tem nada a perder, me matar não vai mudar nada na vida
dela.
Ela me olhou chateada.
— Eu já tentei te isolar por causa da faculdade, mas não existe ala
diferenciada para isso.
— A fiança ainda pode ser paga?
— Sim. Mas é um valor alto.
— Você pode vender meu apartamento?
— Seus bens estão congelados.
— O apartamento está no seu nome, esqueceu? Fizemos isso para eu
me esconder da Katherine.
— Você tem certeza disso? Você escolheu aquele apartamento com
tanto carinho.
— Do que vai me adiantar tê-lo e não poder usufruir… se eu for
condenada vou ficar uns trinta anos aqui.
— Não vai adiantar vender, você vai usufruir pouco da sua liberdade
antes do julgamento.
— Eu pagaria muito mais do que estão pedindo para poder sair daqui
por apenas um dia.
— Não vou desistir de você, nunca, entendeu?
— Mas você acredita que eu não matei a Ágatha?
— Sim! Pare de achar que eu não acredito em você. Eu não estaria aqui
se não acreditasse.
— A essa altura do campeonato, até eu estou duvidando de mim.
— Não faça isso.
Nosso tempo estava acabando.
— Eu não quero perder minha sanidade aqui dentro, mas eu vejo a
Ágatha viva pelos corredores, eu sinto o cheiro dela em mim, às vezes, eu
sinto até o seu cheiro em mim. Eu oscilo entre querer brigar para viver e
querer desistir e morrer.
— Escolha viver, por favor.
— Estou tentando, juro que estou.
Ela segurou minha mão novamente e puxou sua cadeira para perto da
minha. Encostei minha testa na dela.
— Eu te amo, bebê, não desiste. Se for preciso, eu invadirei essa prisão
para te libertar.
Eu ri e fiz com que ela me olhasse.
— Eu também te amo. Estarei esperando para ser resgatada.
Um dos guardas nos chamou a atenção pela aproximação.
— Você conseguiu ver o processo da Joana?
— Estou redigindo uma apelação para uma avaliação psicológica.
— Obrigada. Agora sem a Cíntia na sua vida, posso te pagar sem
remorso.
Ela me olhou brava.
— Como se você sentisse remorso das outras vezes.
— Nas últimas vezes eu senti sim.
— Foi pela Ágatha e não pela Cíntia.
— Você tem razão, eu gostava de saber que você ainda era minha,
mesmo tendo um compromisso com a Cíntia. — Eu sorri maliciosamente.
Ela riu e ficamos um minuto em silêncio.
— Você acha que a Ágatha pode estar viva? — Eu perguntei olhando-
a.
— Todos os documentos dela foram encontrados perto do local onde o
corpo foi encontrado, inclusive passaporte. Se ela está viva, está com outra
identidade e bem longe do Rio de Janeiro.
Encostei na cadeira e olhei-a desanimada.
O nosso tempo havia chegado ao fim e eu me levantei para voltar para
minha cela. Ela me beijou o rosto e eu me afastei chateada.
Voltei para minha cela e Nádia estava sozinha, era hora do almoço.
— Vi sua advogada de longe, ela é bonitona.
— Sim, mas é casada.
Sentei ao lado dela.
— Se é bonita é para ser elogiada.
Joana logo se juntou a nós e passamos a tarde tentando explicar para ela
qual era a diferença entre pato e ganso. Vou ficar muito feliz se conseguir
tirá-la daqui, pelo menos uma pessoa não seria injustiçada.
Na manhã seguinte, após o café-da-manhã, estava saindo do banheiro
quando fui atacada por trás, seguraram meus braços e cobriram minha cabeça
com um saco de juta, daqueles usados para transportar batata. Tentei me
defender, mas a pessoa fechou o saco rente ao meu pescoço me dando um
puxão para trás e eu perdi o ar.
— Quieta!
Fui puxada com brutalidade até o mesmo depósito de caixas da outra
vez, só descobri isso depois de muito tempo com o saco na cabeça. Minhas
mãos foram amarradas para trás, lutar era em vão, haviam três pessoas
diferentes me segurando. Usaram uma braçadeira de nylon para evitar minha
fuga. Os socos na costela e no abdômen foram sequenciais. O saco rente ao
meu pescoço me sufocava e os socos na cara eram desferidos alternados com
os do estômago. Com o pé tentei medir a distância em que a pessoa estava de
mim e onde estava a outra. Acertei o chute na perna de uma e a outra se
afastou e eu errei. Tentei de novo, mas segurou minha perna enquanto a outra
me batia. Eu perdi o equilíbrio por estar com uma perna só e me deixaram
cair no chão. Caí em cima do ombro direito e me encolhi esperando o pior.
Recebi um chute nas costas e me viraram de barriga para cima. Sentaram em
meu ventre e tiraram o saco da minha cabeça. O peso de Célia em cima de
mim apertava meus braços contra o chão.
— Covarde! — Cuspi em seu rosto.
— Você é bem resistente para uma branca franzina.
— Eu não tenho medo de você. Me solta, vamos lutar de igual para
igual.
— Não, eu perderia. — Ela riu.
— Eu não entendo sua fixação em me perseguir.
— É divertido! Você poderia parar de resistir, vender minhas drogas e
seríamos boas amigas.
— Nunca!
— Pensa bem, você ganharia uma grana aqui dentro.
— Não vou fazer isso.
— Pela sua ficha, vou ter muitos anos para te convencer sobre isso.
Ela me deu um tapa na cara, meus braços estavam dormentes com o seu
peso.
— Você deveria rever seu padrão de amizade aqui dentro.
— Do que está falando?
— Nádia, foi ela quem me contou seu segredinho, eu poderia ter
espalhado, mas não, guardei só para mim. Eu sou mais sua amiga do que ela.
Eu olhei-a sem acreditar no que me falava e ela se levantou.
— Mas chega de conversa.
Ela se aproximou, ajoelhou-se e tirou meu chinelo, enquanto a outra me
abaixava as calças e a terceira pisava em meu peito para não me deixar
levantar. Relutei, mas recebi um chute na costela direita. Levantaram-me do
chão e Célia retalhou minha blusa com o canivete. Aproximou-se e me
apontou a garganta com o canivete e me mandou abrir a boca, não abri e ela
me furou de leve com a ponta da lâmina. Insistiu e afundou mais a faca. Senti
um fio de sangue escorrendo pelo pescoço e ela me ameaçou de novo. Abri a
boca e ela me enfiou vários pedaços de pano na minha boca. Uma delas
voltou o saco na minha cabeça e os socos recomeçaram. Senti minhas pernas
serem amarradas também. O saco me sufocava, os pedaços de pano na boca
secavam minha saliva. Uma das três me imobilizou ainda mais passando os
braços pelos meus. O próximo golpe não foi um soco, foi uma paulada no
estômago. Perdi o ar com a força. Outra paulada… outra… outra… eu já
estava prestes a desmaiar quando soltaram meu corpo e eu caí no chão
batendo com o rosto. Os chutes foram incontáveis, soltaram meus braços e eu
não conseguia me mover. Senti caixas serem jogadas em cima de mim,
desmaiei depois disso.
Capítulo 26
Nove meses atrás
Depois de todas as palavras, promessas e alguns gozos ela se levantou e
me olhou sorrindo.
— Vamos nos divertir?
Eu concordei vendo a satisfação em seu rosto e meu nome assinado em
seu ventre.
— Você quer escolher com o que vou te bater?
— Tem certeza? Não vou estragar a cena?
— Se precisar, eu adapto a cena, quer escolher?
— Sim, senhora.
Abri o armário onde eu tinha os chicotes e palmatórias e sem pensar
peguei o flogger com tiras de couro. Quando viu o que eu havia escolhido,
pediu para que eu deitasse de bruços no meio do quarto, esticou minhas mãos
no chão acima da cabeça e amarrou-as deixando um longo pedaço de corda
sobrando. Levantou-se e afastou minhas pernas. Passou lubrificante em meu
ânus e penetrou a ponta de um gancho anal, devagar, me arrancando gemidos.
Eu queria levantar meu quadril para ficar mais fácil a entrada, mas senti um
tapa na bunda.
— Não mandei empinar a bunda, não se mexa.
Enfiou e puxou-o para cima para entrar tudo o que podia. Ela dobrou
meus braços para cima em um ângulo de noventa graus, formando um “L” e
puxou a corda amarrando-a ao gancho bem rente. Qualquer movimento dos
meus braços para frente, eu estaria mexendo com o gancho também. Eu
estava ofegante me acostumando a todas as sensações que a posição me dava.
— Eu vou te bater com o flogger que você escolheu. Não vou te
amordaçar, conte mentalmente. Suas pernas estão soltas e eu não quero vê-las
se movendo. Caso elas se movam, vamos ter que começar do zero. Se você
ouvir: “Vamos repetir!” É porque você se mexeu, entendeu?
— Sim, senhora.
— Você prefere que eu amarre suas pernas?
— Eu vou me comportar
—Tem certeza?
— Sim, senhora.
— Se você não se comportar posso te castigar?
— Sim, senhora.
Eu estava excitada e nervosa pelas ordens que ela estava me dando.
Ágatha parou em pé ao meu lado na mira da minha visão, vi seus pés e logo
sua calcinha caiu entre nós. Ela me fez segurar um tubo de lubrificante e
enfiou a calcinha em minha boca.
— Mudei de ideia, não quero deixar sua boca livre.
Senti as tiras de couro percorrendo minhas costas.
— Se quiser parar, solte o lubrificante.
O primeiro golpe fez meu corpo todo estremecer e se mexer, eu não
esperava pela chicotada.
— Vou ignorar esse primeiro movimento do seu corpo, quero você
quieta.
Novamente senti o couro deslizando pelas costas e a surpresa do golpe
me fez contrair as nádegas, mexer as pernas e me lembrar do gancho.
— Vou ignorar este movimento também, mas é a última vez que
permito seu corpo se mover.
O golpe aconteceu e involuntariamente meus braços quiseram fugir
movimentando o gancho em mim. Ela não disse nada, ajoelhou ao meu lado e
tirou a calcinha da minha boca.
— Eu estou sendo dura demais com você?
— Não, senhora.
— É pedir muito para ficar quieta?
— Não, senhora, me desculpe. É involuntário. Sinto muito.
— Eu estou decepcionada com você. Vou te desamarrar.
— Não, faça isso. Vou melhorar prometo.
— Você só tem mais uma chance.
— Não vou te decepcionar.
Ela voltou a calcinha em minha boca e eu estava agitada e nervosa com
a situação, precisava me acalmar. Senti que ela colocou os pés embaixo das
minhas coxas e me deu um golpe na nádega direita. Eu sei que me mexi, pois
senti o corpo todo se retrair, mas ela não me corrigiu. Ela sabia que eu mesma
estava decepcionada com meu comportamento. Para o segundo golpe eu
contraí o corpo e me mexi menos, mas ainda não era o ideal.
— Concentre-se, Ane.
O terceiro golpe aconteceu e eu consegui imobilidade, mas estava com
as nádegas contraídas.
— Relaxe o corpo.
Eu obedeci e tentei relaxar e me concentrar. As tiras de couro
passeavam pelas minhas costas. O quarto golpe aconteceu e fiquei mais
estática do que as outras vezes. O quinto e o sexto golpes foram seguidos.
— Comece a contar.
Foram cinco golpes seguidos e meu corpo se comportou
adequadamente. Minha respiração estava descompassada. As tiras percorriam
minhas costas e deslizavam até a panturrilha. Mais cinco golpes seguidos. Eu
estava excitada com tudo o que a cena estava me proporcionando. Sensações
controvérsias, mas excitantes. Ela acertou um golpe inesperado em minha
coxa e meu corpo reagiu querendo fugir.
— Vamos repetir.
Fiquei chateada pela falha e senti as tiras percorrerem meu corpo. O
primeiro golpe demorou para acontecer e eu me mexi novamente.
— Vamos repetir.
O golpe foi logo no fim da frase, me assustando e me fazendo me
contrair toda. Ela não disse nada e continuou a me chicotear e eu tentei me
controlar, mas eu gozei assim que ela me deu o décimo golpe daquela
tentativa.
— Eu não permiti que você gozasse. Vamos repetir.
As contrações que os golpes implicavam em meu corpo me excitavam e
meu gozo continuou acontecendo. Nunca tinha sentido tal sensação,
orgasmos múltiplos, seguidos, minha respiração estava descontrolada. Meu
corpo se aquietou do êxtase e os golpes também cessaram, como se ela
soubesse tudo o que estava acontecendo comigo. Estava com os olhos
fechados e senti um beijo em cada nádega. Ela puxou meu braço
delicadamente para trás para afrouxar a corda e retirou o gancho com
cuidado. Desceu meus braços devagar, pois fiquei bastante tempo na mesma
posição, tirou a calcinha da minha boca. Desamarrou a corda e mandou eu
ficar deitada naquela posição até eu me acalmar. Beijou minhas costas,
percorreu ela toda e beijou minhas nádegas novamente. Meu corpo reagia ao
toque de seus lábios contraindo-se de arrepio. Meus olhos permaneciam
fechados, seus carinhos continuaram até a panturrilha e voltaram pelo mesmo
caminho.
— Precisamos treinar mais sua imobilidade. — Ela me sussurrou.
— Desculpe não ter agradado.
— Você me agradou sim.
Ela me virou de lado para olhá-la.
— Mas você não está satisfeita com a cena, está?
Ela me sorriu e me beijou.
— Precisamos melhorar sua imobilidade, mas hoje você foi muito bem,
melhor do que outras subs.
Olhei-a chateada.
— Não gostou da cena?
— Não gosto de ser comparada às outras subs que teve.
— Desculpe a comparação. — Me sorriu passando a mão em meu rosto
— Você não deveria ser comparada a ninguém, você é melhor do que todas
elas juntas.
— Não exagere. — Olhei-a — Tem mais alguma coisa que eu posso
fazer hoje para lhe agradar?
— Vá tomar um banho que vou preparar nossa janta.
— Apenas isso?
— Você me serviu muito bem hoje. Obrigada pela sua submissão.
Eu olhei-a profundamente e ela me sorriu.
— Quer me pedir algo?
— Posso te chupar em forma de agradecimento pela cena de hoje?
— Você não precisa fazer isso.
— Eu ainda não sei como te agradar...
Ela colocou o dedo em meus lábios e me beijou delicadamente.
— Você está sendo perfeita, antes, durante e depois da cena. Tome seu
banho, vou fazer nossa janta.
— Antes de ir, deixe eu te chupar. Agradecer por hoje.
Ela me beijou e se deitou abrindo as pernas para que eu lhe chupasse.
Eu sempre gostei deste ato pós-cena. Saber que minha dominatrix estava
satisfeita com minha submissão era prazeroso, mas fazê-la gozar em minha
boca era afirmação de que eu estava agradando. Ágatha estava saborosa,
extremamente sensível e era perceptivo que havia gozado recentemente. Isso
me deixou mais convencida de que estava fazendo tudo corretamente. Seu
êxtase aconteceu rapidamente e ela me puxou para deitar ao seu lado.
— Você é perfeita.
Foi o que ouvi depois de um cafuné na cabeça.
Acordei no meu quarto, levantei e andei nua até a sala. Encontrei-a
sentada no sofá. Aproximei-me devagar e ela mandou eu me ajoelhar na sua
frente.
— Descansou?
— Sim, senhora!
— Você se lembra que disse que eu poderia te castigar?
— Sim, senhora.
— O que eu pedi para você fazer?
— Ficar quieta.
— E você me obedeceu?
— Não, senhora.
— Você merece um castigo por não ter me obedecido?
— Sim, senhora.
— Deite-se nas minhas pernas.
Levantei e obedeci. Ela passou a mão delicadamente sob minhas
nádegas avermelhadas.
— Serão dez tapas de castigo. Me diga o porquê está sendo castigada.
— Porque eu não me comportei durante a cena.
— Nós vamos treinar mais vezes sua imobilidade e espero não ter que
castigá-la novamente.
— Não precisará, senhora.
— Não quero ouvir gemidos ou murmurinhos durante o castigo. Não
quero que contraia a bunda, se contrair começaremos do zero. Seu treino de
imobilidade começa agora. Não se mexa!
Ela me deu dois tapas na nádega direita e dois na esquerda. Eu estava
imóvel e recebi os outros seis tapas com a mesma imobilidade dos primeiros.
— Ajoelhe-se.
Levantei de suas pernas e me ajoelhei na sua frente.
— Espero que sua obediência continue sendo aprimorada.
— Obrigada por estar sendo paciente comigo.
— Faremos em breve essa cena novamente.
— Sim, senhora! Posso fazer uma pergunta?
— Sim.
— Por que me castigou agora e não depois da cena?
— Porque você me agradou durante a cena. Não queria que você
relacionasse o castigo como se tivesse me desagradado.
— Mas se você está me castigando é por que não agradei.
— Não. — Ela me fez olhá-la — Eu estou te castigando porque você se
mexeu, mas a cena foi extremamente excitante. Você foi muito bem. — Ela
me beijou os lábios — Mas aposto que na próxima vez será ainda melhor.
— Sim, senhora. Não irei me mexer.
Ela me beijou com desejo. Pediu para eu me sentar nas suas pernas de
frente para ela e voltou a me beijar. Seu dedão posicionou-se em cima do
meu clítoris e ela me olhou sorrindo. Continuamos a nos beijar e seu dedão
me massageava com vigor. Minha bunda roçando em sua coxa me lembrava
dos tapas, das chicotadas e minha excitação aumentava. Deu um tapa em
minha coxa esquerda e aumentou o ritmo da fricção em meu sexo.
— Goza para mim, putinha.
Eu sorri pelo palavrão e lhe obedeci. Meu corpo amoleceu em seus
braços e ela me abraçou beijando meu pescoço.
— Sua submissão me surpreende positivamente a cada cena.
Olhei-a sorrindo e beijei-a com desejo. Encostei minha testa na dela e
lhe dei um selinho.
— Obrigada, domme.
Beijamo-nos novamente e suas mãos se apoderaram de mim com
ganância. Deitou-me no sofá e nos amamos com desejo e entrega.
O cheiro do jantar já estava invadindo a casa quando terminamos de
nos consumir no sofá. Eu estava deitada em seus braços, recebendo cafuné e
beijinhos pelo rosto. A frase “eu te amo” estava implícita em todos os nossos
gestos, mas nenhuma das duas ousou se entregar ao significado destas
palavras.
— Eu estou com fome e curiosa para saber o que você fez para o jantar.
— Olhei-a sorrindo.
Ela riu e me beijou.
— Tente adivinhar.
— O que eu ganho se aceitar?
— O que quiser.
Eu sorri.
— Pensando nos ingredientes que eu tinha na geladeira, você deve ter
usado berinjela, shimeji, gorgonzola e tomate. Lasanha de berinjela com
gorgonzola e shimeji?
— Errou. — Ela riu — De entrada tem antepasto de aspargo com
shitake e gorgonzola. O prato principal fiz berinjelas recheadas com tomate
picado, shimeji e alho frito cobertas com muçarela.
— Pratos exóticos, gostei da criatividade. Comprei sua cerveja favorita.
— Eu vi, obrigada.
Ela sorriu e eu lhe beijei o ventre onde ainda tinha meu nome assinado
nele. Nós levantamos do sofá e ela me puxou nua até a cozinha. Sentei na
banqueta e ela pegou dois pratos para nos servir. Serviu a cerveja em um
copo e eu roubei um gole do copo dela enquanto me servia Martini. O
antepasto foi servido em torradas e logo depois o prato principal. As torradas
eu comi observando-a comer as dela. Na hora de comer as berinjelas
recheadas, entreguei meu garfo a ela e o sorriso foi imediato. Eu estava
começando a me acostumar com aquele gesto, era íntimo, exclusivo e, muitas
vezes, sexy.
— Trinta e seis. — Olhei-a aceitando a última garfada.
Olhou-me curiosa tomando um gole de cerveja.
— Chicotadas. — Olhei-a intensamente — Você pediu para eu contar,
foram trinta e seis.
Ela me beijou com desejo e me fez olhá-la.
— Você só me surpreende. — Me beijou novamente — Se você tivesse
acertado o jantar, iria me pedir o que?
— Para se masturbar em um local público.
— Posso realizar seu desejo, qualquer dia desses. — Ela me piscou.
Eu lhe sorri e me servi de mais uma torrada com antepasto.
— Qual nota para os pratos de hoje?
— Berinjelas recheadas, oito e meio. Antepasto, nove e meio.
Ela me sorriu e me beijou.
Antes de deitarmos na sala para assistir algum filme, Ágatha ligou para
a mãe e passou um creme cicatrizante com vitaminas em minha bunda.
Escolhemos um filme de suspense e antes de começar perguntei sobre sua
mãe.
— Parecia bem. Eu esqueci de bloquear o número da Elizabeth e tinha
um monte de mensagem dela no meu celular.
Eu respirei fundo.
— Você sente falta de sair com seus amigos?
— Não.
— Tem certeza?
— Não vou mentir dizendo que não sinto falta de uma roda de samba,
mas estar com você é mais importante e mais prazeroso.
— Você deveria sair com seus amigos, eu já disse que não vou ficar
chateada.
— Se eu sair com meus amigos, Elizabeth estará junto e não quero ela
perto de mim fora do nosso convívio em casa. Ela está cada vez mais chata
comigo.
— Quer que eu te leve para o samba?
— Você gosta de samba?
— Já frequentei muitas rodas de samba, mas faz anos que não vou em
uma.
— Você aceitaria ir comigo?
— Sim.
Ela me beijou sorrindo.
— Somente nós duas.
— Melhor ainda.
Beijou-me e deitamos para ver o filme. Abraçou-me por trás e
sussurrou que eu sou perfeita.
O tempo junto com Ágatha voava e quando estávamos quase
completando três meses ela me contou que a mãe dela tinha piorado. Eu
havia sugerido um médico para avaliarmos o primeiro diagnóstico, mas ela
negou a ajuda. No mesmo dia que soube que ela havia piorado marquei uma
consulta com um especialista para reavaliar as condições da mãe dela. Ágatha
ficou brava, mas acatou levar a mãe ao médico. O diagnóstico foi semelhante
ao outro, mas o médico disse que era preciso ficar de olho nas dores de
cabeça que ela vinha apresentando, pois poderiam vir associadas a confusões
mentais severas.
Samuel e Hélio estavam com planos megalomaníacos para o setor de
vendas da empresa e isso me assustava mais do que a vontade de Ágatha
querer me levar para uma roda de samba. No dia que aceitei acompanhá-la, a
noite estava quente e convidativa para uma saída. Infelizmente quando
chegamos ao lugar que ela escolheu, nos deparamos com os amigos dela. Eu
me policiei para não estragar a noite, mas eu não queria nem ter entrado no
recinto quando soube que eles também estavam lá. Ágatha jura que não sabia
que eles estariam ali, eu preciso acreditar nela, mas a coincidência era
duvidosa.
Fiquei aliviada quando ela me contou que eram dois amigos de um
antigo emprego e que eles não conheciam Elizabeth ou a turma que ela saia
com mais frequência. Mas meu alívio acabou quando Elizabeth chegou ao
local. Quando a avistei, ela estava indo para perto de Ágatha que estava
dançando sozinha enquanto eu pegava uma cerveja para nós. Eu vi aquela
garota cheia de dedos abraçando Ágatha. Falando, sorrindo, colocando a mão
na cintura da minha garota. Eu me aproximei rápido e com raiva. Parei ao
lado das duas e Elizabeth fingiu que eu não estava ali e continuou falando
com Ágatha que tentava se safar da mão dela. Deixei a cerveja com Ágatha e
segurei o pulso de Elizabeth. Segurei seu braço com força e puxei-a para
perto de mim, passei seu braço dobrado para trás e seu corpo se aproximou
ainda mais do meu.
— Saia de perto da Ágatha.
— Ou o que?
— Não me provoque, Elizabeth.
Apertei seu pulso e torci mais seu braço.
— Ágatha está comigo, você querendo ou não, gostando ou não. Esse
vai ser o único aviso que vou lhe dar. Afaste-se dela ou vamos ter uma
conversinha onde seu rosto vai ficar desfigurado.
— Eu não tenho medo de você.
— Deveria ter.
Senti o toque de Ágatha em meu ombro.
— Ane, não vale a pena perder a paciência com ela.
Soltei-a e Ágatha me puxou para longe dela. Eu estava à flor da pele e
ela me puxou para um beijo no meio da roda, apertei-a contra meu corpo e
beijei-a com desejo. Eu estava com um sentimento horrível dentro de mim.
Ódio e ciúme, muito ciúme. Nunca tinha sentido isso antes, não nessa
intensidade, não com esse medo e esse aperto no peito. Minha garganta
estava travada, ouvia zumbidos no lugar da música, o coração acelerado,
querendo sair pela boca. Precisava de ar. Eu respirava e não sentia o ar entrar
no meu corpo. Fui puxada para fora do prédio e finalmente consegui respirar.
Foi como se eu tivesse ficado debaixo d'água por muito tempo.
— Ane! Ane!
Busquei seus olhos em meio a minha imensidão de sentimentos. Ela
segurava meu rosto, eu segurei seus pulsos com delicadeza.
— Nunca mais me faça sentir ciúme desse jeito.
Minha respiração ainda estava ofegante.
— Eu sou apaixonada por você! Ninguém tem chance comigo.
Ninguém!
Eu encostei minha testa na dela e ela me abraçou.
— Não quero sentir ciúme de você, não quero ser possessiva… — eu
sussurrei.
— Eu sou sua, nunca se esqueça disso.
— Desculpe ameaçar sua amiga.
— Ela não é minha amiga agindo deste jeito e ela estava merecendo um
susto. — Me beijou — Desculpe trazer você aqui. Posso te levar para casa?
— Por favor!
O caminho foi silencioso e quando entrei em casa, ela devolveu meu
celular, pois havia recebido uma mensagem. Eu fui até o meu quarto, queria
trocar de roupa e ela foi até a cozinha. Quando abri a mensagem, era uma
foto minha e da Ágatha na frente do bar em que estávamos a pouquíssimos
minutos atrás. “Problemas no paraíso? K.” Eu gritei ao ler a mensagem e
ainda estava gritando quando Ágatha entrou no quarto. Ela entrou a tempo de
me ver jogar o celular contra o espelho. Eu estava chorando, me ajoelhei no
chão e gritei de novo. Eu só queria gritar e chorar. Ágatha me abraçou por
trás e eu tentei fugir dela. Eu ainda gritava e ela nos deitou no chão e
imobilizou meus braços com os seus e passou as pernas pelas minhas para
também me imobilizar.
— Eu só vou te soltar quando parar.
Eu me debatia e chorava. Minha crise de choro durou tempo suficiente
para eu assustar Ágatha.
— Eu não quero essa mulher na minha vida. — Eu sussurrei ainda
chorando.
— Ane! Você é uma mulher forte, a Katherine não tem como te atingir.
— Ela me deitou no chão soltando meu corpo devagar e me fez olhá-la — Eu
vou te proteger.
— Ela vai acabar conosco. Ela vai me destruir de novo.
— Eu não vou deixar. — Ágatha me sentou e me abraçou.
— Ela não tem limites.
— Eu vou te proteger.
Eu fiz com que ela me olhasse.
— Ela não tem limites.
— Eu te amo, Anelise. Nada vai te machucar, nada e nem ninguém. Eu
vou te proteger.
Eu voltei a olhá-la e abracei-a.
Capítulo 27
Oitava e nona semana
Acordei com Maitê ao meu lado, a visão embaçada e a dor no ombro
direito me fizeram voltar a fechar os olhos. Senti que estava com um braço
algemado na lateral da cama.
— Bebê! — ela me beijou a face.
— O que houve? — resmunguei.
— Pergunto o mesmo. Você foi encontrada desacordada no meio de um
monte de caixa e estantes em um depósito velho do presídio. Como foi parar
lá?
— Onde estou?
— Em um hospital. Você se lembra de alguma coisa?
— Célia me arrastou para o depósito, me deu uma surra e eu desmaiei.
— Foi uma bela surra… você estava em coma há uma semana e meia.
— Foram três contra mim e eu estava amarrada, mas não justifica eu ter
ficado em coma.
— Quem te deu uma paulada na cabeça?
— Eu não lembro de paulada na cabeça.
— Os médicos disseram que foi uma pancada com algo duro e
provavelmente com muita força.
— Se me bateram na cabeça, foi depois de eu ter desmaiado.
— Covardes!
Eu não respondi, ainda estava aérea.
— Agora você vai conseguir proteção para mim lá dentro?
— Estou tentando.
Ela segurou meu rosto entre suas mãos e eu encarei-a.
— Eu não me perdoaria se acontecesse algo com você.
— Eu queria ter morrido.
— Não deseje a morte perto de mim, por favor.
— Eu não quero viver e ter que voltar para aquele lugar.
Maitê me olhou com lágrimas nos olhos.
— Você não pode desistir. Isso é uma ordem! — seu olhar era intenso.
— Eu não tenho pelo que lutar.
— Você tem a mim.
Seu rosto estava perto de mim, sua respiração era descompassada e
lágrimas rolavam. Passei a mão em seu rosto e ela me beijou devagar. Puxei
seu pescoço para mais perto de mim e nossas bocas ficaram grudadas com o
gosto salgado das lágrimas. O selinho me alertou do quão dolorido meu rosto
estava, mas eu não me importei, o contato com sua boca era o mais
importante. Sua mão arranhou minhas costas e eu gemi de dor em seus lábios.
Ela me olhou e sorriu.
— Desculpe, não devia ter te beijado. — Maitê afastou o rosto —
Mantenha-se viva para podermos te tirar dessa situação.
Ela beijou minha testa e se levantou da cama.
— Por que me beijou?
— Emoção em ver você viva. — Maitê me olhou intensamente.
— E as coisas com a Cíntia?
— Estou com os papéis do divórcio no carro.
— Vou te dar mais uma chance para ser honesta, por que me beijou?
— Eu não consigo esconder nada de você?
— Você quer esconder?
— Prefiro dizer que estou me protegendo ao invés de dizer que estou
escondendo algo.
— Quando estiver pronta para conversar, estarei no mesmo lugar das
últimas semanas.
— Não temos o que conversar.
— Ok.
Uma enfermeira entrou no quarto e me fez algumas perguntas sobre
minhas dores e Maitê se manteve afastada. Eu teria que ficar duas semanas
em observação antes de voltar para o presídio. A enfermeira saiu e nos
deixou a sós novamente.
— Por que você nunca tentou conversar com a Cíntia sobre seus gostos
sexuais?
— Por que quer saber disso?
— Seja sincera comigo, você não é do tipo de mulher que se sujeita a
ter uma vida com restrições.
— Eu amei a Cíntia por muitos anos, tivemos uma relação conturbada
em alguns momentos, mas na maioria das vezes nos dávamos muito bem. O
sexo sempre foi bom com ela…
— Quando deixou de ser?
— Quando você foi presa.
— Se o sexo era bom, por que me procurava para fazermos cenas?
— Eu sempre tive medo de pedir para Cíntia se entregar às minhas
vontades. As poucas vezes que falei sobre BDSM, ela tinha reações negativas
ao assunto. Você era meu escape emocional. Muitas vezes eu fiz sexo com
ela pensando em nossas cenas.
— Você está confessando que o sexo com sua mulher era bom porque
você pensava em mim?
— Sim, mas só percebi isso com a sua prisão. Minha preocupação
contigo é crescente…
— Por que a Cíntia foi embora?
— Porque ela disse que eu amo você e não tenho coragem de admitir.
— E isso é verdade?
Ela não respondeu.
— Você me ama? — Eu insisti.
— Eu tenho um sentimento muito forte por você. — Ela sentou ao meu
lado — Mas não acredito que seja amor. Eu me sinto responsável por você
desde o dia que você apareceu no meu escritório, mas não é amor.
— Você é responsável pelo o que eu sou hoje. Sem você eu estaria
destruída. — Passei a mão em seu rosto.
— Não é amor, mas é algo muito intenso.
— Pode chamar de amor, eu deixo. — Puxei-a para um abraço.
Quando eu conheci Maitê eu não era nada além de uma garota com
fortes traumas emocionais. Eu estava destroçada quando cheguei até ela, eu
era um vaso de porcelana totalmente despedaçado e ela me restaurou parte
por parte. Maitê foi quem me ensinou sobre o Kintsukuroi, uma antiga
tradição chinesa de colar vasos quebrados com filetes de ouro, para dar nova
vitalidade à peça. Foi o que Maitê fez quando me divorciei de Katherine e
está fazendo agora novamente. Ela está se tornando mestra em me consertar.
Nosso abraço foi interrompido por um médico que veio me examinar
devido à volta do coma. Eu estava dolorida em cada pedaço do meu corpo e
minha raiva pela gangue de Célia só crescia. A medicação que me foi dada
começou a fazer efeito alguns minutos depois que o médico saiu e eu
adormeci com Maitê sentada ao meu lado segurando minha mão.
Enquanto adormecia, me lembrei de momentos com a Ágatha.
Ela entrou na minha sala e imediatamente minha atenção era dela.
Andou devagar até minha mesa e me sorriu.
— O que vai fazer hoje depois do seu treino de boxe?
— Não tenho nada planejado, mas estarei cansada e com vontade de
dormir. — disse na defensiva, pois vi que iria me pedir algo.
— Eu vou te fazer uma proposta, você me responde até o fim do dia. —
Olhei-a sem expressão, em geral, odiava suas propostas — Hoje tem a estreia
de um filme que quero assistir, a sessão é às dez no shopping perto da sua
casa. Dá tempo de você treinar, tomar banho, jantar comigo e me acompanhar
no cinema.
Olhei-a sem saber o que responder.
— Vou deixar você pensar. — Ela se afastou da minha mesa depois de
me deixar uma pasta.
— Jantar e cinema, apenas isso?
— Eu tinha pensado em mais coisas, mas não vou te pressionar. Seria
nosso primeiro encontro em um dia sem ser sexta-feira. Um encontro típico
de namoradas. Fique à vontade para negar, eu só não queria ir ao cinema
sozinha.
— Se eu não for vai convidar alguém para te acompanhar?
— Não. Não teria companhia melhor que a sua.
Ela me sorriu e saiu da sala.
Tínhamos acabado de nos reconciliar de uma briga, ela tinha saído
sorrateiramente da minha casa para ir se encontrar com suas amigas e eu não
gostei da atitude. Com isso ela estava mais esperta com seu comportamento e
não me confrontava diretamente com seus desejos. Ágatha havia aprendido a
me pedir ao invés de exigir e impor suas vontades. Se eu negasse ir ao
cinema seria a terceira vez que negava algo que ela estava pedindo sem ser
invasiva, tentando ao máximo não me deixar acuada. Voltei a trabalhar,
pensaria nisso mais tarde.
No meio da tarde daquele dia, combinei de adiantar meu treino com o
Bento, assim teria mais tempo livre para poder jantar com ela. Não comentei
nada com ela, queria saber como iria me cobrar uma resposta.
Eu estava terminando de ler um relatório, quando ela bateu e entrou em
seguida. Aproximou-se e eu continuei a ler. Ágatha sentou-se na cadeira e
ficou me olhando, esperando o fim da minha leitura. Ao finalizar, olhei-a.
— Pensou em minha proposta?
— Eu não garanto que não dormirei durante o filme.
— Você é a melhor companhia mesmo dormindo. — Sorriu.
Eu ri.
— Adiantei a hora do meu treino, vou acabar mais cedo, onde vamos
nos encontrar?
— Posso ver seu treino ao vivo?
— Hoje, não.
— Ok. Nos encontramos no shopping às oito?
— Ok.
Ela me olhou e claramente estava contrariada.
— Eu tenho certeza que se você assistir ao meu treino, vamos chegar
atrasadas no cinema.
Eu lhe sorri tentando mostrar que não deveria ficar daquela forma.
— Quando eu vou poder ter você por inteira? — seu olhar era intenso
— Sem me dizer não?
Meu coração acelerou com a pergunta, mas não respondi. Ela
confirmou que estaria me esperando na porta principal do shopping naquela
noite e saiu.
Naquela noite eu saí de casa um pouco mais cedo e fui andando até o
shopping tentando entender a minha necessidade de sempre ir contra as
propostas que ela me fazia. Eram apenas quatro quarteirões, uma caminhada
leve que me fez ver que eu ainda estava na defensiva com medo dela ir
embora, me usar e se cansar.
Parei no lugar que havíamos combinado e olhei a hora, faltavam dez
minutos, mas logo um carro parou e ela desceu. Estava linda de cabelos
soltos esvoaçantes, uma saia justa e uma blusa elegante. Aproximou-se e
depositou um beijo em meus lábios, envolvi sua cintura com um braço e
puxei-a para um abraço.
— Você está linda.
— Você também, minha menina. — Me beijou novamente.
Andamos pelo shopping de mãos dadas e conversando amenidades, ela
olhava atentamente as vitrines. Ela estava dizendo que havia comprado as
entradas para o cinema pela internet quando parou na frente de um manequim
que vestia um conjunto de saia e blusa que eram o estilo dela. E embaixo um
sapato que combinaria perfeitamente com ela. Ficou analisando as peças e
voltou a andar, mas eu puxei-a para perto de mim.
— Esse conjunto é a sua cara.
Ela me sorriu sem graça e apontou o preço das peças.
— Mas os valores não cabem no meu bolso.
— Você gostou dele?
— Sim.
Sorri e puxei-a para dentro da loja, ela ficou envergonhada e eu pedi as
roupas para a vendedora. Eu sabia os seus números. Ela me olhou séria.
— Você não precisa fazer isso.
— Eu quero fazer isso.
Foi até o provador e logo saiu para me mostrar.
— Você ficou lindo nele. — Eu lhe sorri e ela retribuiu o sorriso ainda
encabulada.
Enquanto ela se trocava eu escolhi dois conjuntos de lingerie e pedi
para a vendedora colocar junto com as peças que ela havia provado. Ela me
agradeceu com um selinho e um abraço. Lado a lado andamos até a praça de
alimentação e o barulho estava ensurdecedor. Escolhemos alguma coisa para
comer e eu sentei ao seu lado, segurei sua mão e beijei-a.
— Você não está bem hoje, não é?
— Eu ando brigando muito com a minha mãe, ultimamente.
— Quer me contar sobre as brigas?
— Não vou te chatear com isso.
— Sobre o que me perguntou hoje, quando serei sua sem dizer não. —
Ela me olhou intrigada — Eu não sei quando isso vai acontecer. Mas você já
tem de mim mais do que qualquer outra pessoa teve. De todas as dominatrix
que tentaram me domar fora de um quarto, você é a primeira que não está
sendo ignorada e rejeitada.
— Eu só queria poder controlar mais as coisas.
— Calma, Ágatha, um dia eu serei sua por inteira, não apresse as
coisas.
Ela me beijou suavemente e eu percebi o quanto eu já era dela sem ao
menos fazer ideia daquela entrega silenciosa.
Capítulo 28
Oito meses atrás
Fui acordada por uma voz suave me chamando “Ane”. Lembrei dela
me preparando um chá e me fazendo cafuné até eu dormir. Sentei na cama
atordoada e ela sentou ao meu lado.
— Eu te acordei, para checar se está tudo bem, já são quase onze horas.
— Ágatha… eu…
Ela me fez olhá-la.
— Eu sinto muito pelo que você presenciou.
— Não se desculpe por demonstrar seus medos. Eu tomei a liberdade
de mexer no seu celular e procurar o contato da sua antiga psicóloga.
— Obrigada, mas não precisa.
— Amanhã vou tentar um horário com ela.
— Eu vou ficar bem, não precisa se preocupar.
— Eu me preocupo, pois é a terceira crise de ansiedade que você tem
em pouco tempo. Eu me assustei com o que vi ontem e quero que você tenha
um suporte psicológico adequado para Katherine não te enlouquecer.
Olhei-a e não respondi, ela estava certa. Eu precisava tirar esse peso
das costas dela, não era justo nós duas sofrermos com a volta da minha ex.
Ela passava a mão em minha face e eu aproximei meu rosto para beijá-la.
— Se preferir podemos escolher outra psic…
Beijei-a novamente e não a deixei terminar de falar.
— Eu vou na terapia, você tem razão. Não posso deixar esse peso nas
suas costas.
— Quero você bem. Eu bloqueei o número que enviou a foto. Quer
outro número de celular? Posso providenciar segunda-feira.
— Não vai adiantar fugir novamente, ela vai me achar.
— Você tem alguma ideia do motivo dela estar atrás de você? Vocês se
separam já fazem anos.
— As coisas que ela faz não tem sentido, mas não é a primeira vez que
tenho que me esconder dela.
— Vamos esquecê-la para tentarmos passar um fim de semana
tranquilo?
Eu apenas sorri e concordei.
— O que vai fazer de almoço?
— Está mal acostumada, hein.
— A culpa é sua, você cozinha bem.
— O que quer comer? Não tem muita coisa na sua geladeira.
— Você é a chef, eu só degusto. — Eu ri.
— Vou precisar ir ao supermercado, ainda não fui porque não queria
que acordasse sozinha.
— Quer companhia?
— A sua? Quero sempre. — Ela me beijou os lábios e lembrei que ela
havia dito que me amava.
— Em relação ao que você disse ontem.
— Não se preocupe em responder.
— Adoro estar com você, é o que posso dizer.
Ela me sorriu e me deu um selinho.
Durante o tempo que ficamos no supermercado eu tive a estranha
sensação de estar sendo observada, mas fizemos a compra e logo estávamos
voltando para o meu apartamento. Enquanto ela cozinhava conversamos
sobre a saúde da mãe dela e algumas outras amenidades. Batata rostie
recheada com abobrinha e couve-flor gratinada com molho branco e queijo
foram as receitas que ela preparou para o almoço. Não pediu para me
alimentar e apesar de ter achado estranho, preferi assim.
Durante a tarde, ela sentou ao meu lado no tapete da sala para estudar e
eu fingia estar concentrada no desenvolvimento dos meus jogos, mas na
verdade eu observava cada pedaço do seu corpo. Cada respirada, cada
movimento para escrever anotações no caderno que estava na mesa.
Desliguei o computador e sentei mais perto dela, puxei-a para se aconchegar
em meu braço, beijei-lhe o rosto e ela continuou lendo encostada em mim.
Aqueles estudos de sábado à tarde estavam virando rotina e meu desejo por
ela só aumentava.
Durante a semana voltei a ter sessões de terapia com minha antiga
psicóloga, Sônia. Não posso dizer que foi agradável falar sobre Katherine,
meus medos e sobre Ágatha. De todos os assuntos, o mais difícil, sem sombra
de dúvidas, era entender a volta de Katherine. Eu não sei se ela continuou me
mandando mensagem, seu número permanecia bloqueado. Maitê estava
sempre me monitorando, perguntado como estava todo dia, sua preocupação
sempre me deixava mais calma, pois sabia que se precisasse estaria ali para
me ajudar. Nas duas primeiras semanas de sessão, Ágatha fez questão de
marcar três vezes semanais, pois estava preocupada com minha paranoia de
estar sendo vigiada em lugares públicos. Eu também achava paranoia, mas
era involuntário. Na terceira semana de terapia intensa, eu me sentia menos
ansiosa e marcamos de ter apenas duas sessões semanais.
No meio da terceira semana, eu estava em reunião com a diretoria,
nossos números estavam sendo elogiados pelo setor financeiro mundial, a
empresa estava, finalmente, saindo do buraco. Com essa evolução Samuel
começou novamente a me azucrinar para abrir capital para investimento
externo. Ele e Hélio estavam convictos de que era o momento certo. Eu ainda
tinha minhas dúvidas, porém fiz um plano de abertura de capital como
queriam. Ágatha não estava, havia saído para levar a mãe ao médico
novamente. Quando voltou a reunião havia acabado e estávamos no hall do
nono andar. Enquanto alguns executivos conversavam comigo, vi Samuel se
aproximar de Ágatha. Falaram algo rapidamente, mas vi que ele colocou a
mão em seu ombro, como se quisesse consolá-la. Afastaram-se quando viram
que eu estava olhando-os e eu fiquei intrigada com a cena.
Ágatha ainda frequentava minha casa apenas de sexta e finais de
semana. Sempre me ligava antes de dormir e muitas vezes assistia ao meu
treino de boxe da casa dela pela câmera de segurança. Eu evitava ficar
sempre na defensiva e manter o diálogo, mas naquele dia eu não queria isso.
Vê-la ao lado de Samuel foi um gatilho para me lembrar que nós duas não
éramos nada, além de colegas de trabalho que transavam aos finais de
semana.
Eu não atendi suas ligações antes de dormir e na manhã seguinte,
quando saí do elevador, fui fuzilada por olhos pretos cheios de
questionamentos. Ela me seguiu até a minha sala e trancou a porta.

— Por que não atendeu minha ligação ontem?


— Já estava dormindo. — Respondi sem olhá-la.

— Você não dorme antes da meia noite…


— Ontem eu dormi.
— Duvido. O que houve para você agir dessa maneira?

Eu apenas olhei-a.
— O que houve?
— Eu já disse que odeio sentir ciúme.

— Foi por que Samuel falou comigo?


— Sim. O que ele queria?
— Perguntou se eu estava bem, pois tinha ouvido falar que eu tinha ido
ao médico.

— Eu preciso parar de sentir ciúme de você. — Eu disse chateada.


— Você não precisa sentir ciúme, eu já disse que sou sua.
Ela me tomou os lábios com desejo.
— Eu não gosto deste urubu em cima de você.
— Você ciumenta também não me agrada.

— É involuntário.
Ela me fez olhá-la.
— Confie no que eu te digo, eu sou sua. — Me beijou suavemente.

Eu não disse nada e ela tão pouco. Saiu da sala e só voltei a vê-la
depois de um dia intenso e cheio de problemas a serem resolvidos. Como
quase toda sexta-feira ela saia do escritório para minha casa, naquele dia não
seria diferente. Entrou na sala e me olhou intensamente. Eu estava em pé,
atrás da minha mesa, segurando minha carteira e meu celular.
— Eu não vou para sua casa hoje.
Respirei fundo com a notícia, senti meu corpo todo estremecer de
nervosismo.

— Tem algum motivo para não querer ir até a minha casa hoje?
— Sim.
— Eu posso mudar sua opinião sobre essa decisão? — Perguntei tensa.

— Eu não quero ver você tendo crise de ciúme, isso não é bom nem
para mim, nem para você. — A voz dela estava embargada.
— Eu já disse que é involuntário.
— Sim! E eu já disse que você precisa confiar mais em mim. Eu estou
irritada com este assunto e não quero que esta noite se transforme em um ato
punitivo. Por que eu estou com vontade de te castigar para que você não volte
a ter uma crise de ciúme. — Seu olhar sincero me assustou. — Como eu faço
para você confiar em mim? — Ela estava com a voz ríspida, mas seus olhos
estavam marejados.

Eu me aproximei dela e puxei-a para um abraço. Ficamos naquele gesto


por um longo tempo.
— Obrigada por ser sincera comigo, sobre querer me punir. — Fiz ela
me olhar — Eu confio em você, não confio no Samuel.

— Repete uma frase para mim, olhando nos meus olhos e com muita
sinceridade: “Eu não preciso sentir ciúme, Ágatha é minha.”

Eu sorri, segurei sua mão e repeti olhando-a nos olhos. Repeti quatro
vezes e beijei-a. Ela me sorriu e nos abraçamos apertado. Naquela noite, não
fizemos cena, apenas nos amamos no sofá até o sono nos vencer.
Capítulo 29
Décima semana
Acordei com a voz suave de Ágatha em minha cabeça “Quero que seja
minha sub exclusiva.” Você sabe o que isso significa? Você já submeteu
todas as suas vontades na mão de alguém? Já entregou seus desejos para
alguém controlar e lhe dominar? É mais do que um jogo sexual é uma entrega
verdadeira e eu perdi a oportunidade de ter isso com Ágatha. Ela era minha e
eu era dela, mas não consumamos esse pacto, essa entrega, esse desejo. Ouvi
a voz de Maitê tentando me acordar e pela primeira vez, nestes últimos dois
meses e meio, eu sinto desejo por algo. Minha mente brincava comigo e ora
eu via Ágatha me comandando dentro das nossas cenas ora eu via Maitê.
Aqui nessa cama de hospital eu podia pensar nelas sem ser interrompida,
podia sentir meu corpo querendo me alucinar. Eu delirava com os remédios
para dor e o meu delírio tinha dois nomes, Ágatha e Maitê.
Enquanto eu estava delirando minha advogada permanecia comigo no
quarto o tempo todo, mas eu já não sabia se era imaginação ou verdade, pois
eu também via Ágatha. As duas me olhavam intensamente, meu corpo ardia
de febre, mas eu achava que era desejo.
Não poderei ser submissa de Ágatha, ela está morta, apesar de aparecer
nas minhas visões turvas. Não poderei ser submissa de ninguém. A atenção
que eu pouco recebia da equipe médica me dava a sensação de abandono.
Nos momentos em que eu acordava e não via Maitê no quarto a sensação de
solidão só aumentava. Eu escutei um dos médicos conversando com uma das
enfermeiras, “Ela está com um coágulo.”
Fui levada por um longo corredor onde eu tentava acordar, mas as luzes
do corredor me forçaram a fechar os olhos. Fui anestesiada e não me lembro
de mais nada.
Acordei não sei quanto tempo depois e o médico passou uma lanterna
nos meus olhos para poder me analisar. Maitê estava em pé ao lado da cama e
ele disse que eu estava bem e precisava descansar. Ágatha tinha ido embora,
apenas Maitê permanecia.
Eu segurei a mão de Maitê com força, precisava senti-la saber que não
estava mais delirando. Ela estava com uma expressão de preocupada e
sentou-se ao meu lado passando a mão em meu rosto.
— Você precisa parar de me assustar. — Ela me sussurrou e eu sorri.
Os dias depois da cirurgia foram mais estáveis e eu não estava mais
com alucinações. Passava boa parte do dia vendo Maitê trabalhando e agora
sabia distinguir realidade de ilusão. Eu não poderia iludi-la, fazê-la ficar no
hospital comigo e não saber se poderia retribuir o que ela sentia.
Quase no fim da primeira semana hospitalizada, Maitê sentou ao meu
lado e me fez olhá-la.
— Hoje vou conversar com a sua amiga Joana, consegui marcar uma
avaliação psicológica para ela.
— Não fale meu nome, por favor. Diga que você trabalha para o
governo estadual. Não quero ter mais motivos para ser perseguida.
— Pode ficar tranquila, ela não saberá de nada.
Ela se despediu beijando minha mão e saiu do quarto.
Eu me lembro até hoje, do dia que Maitê me acolheu em seu
apartamento. Quando a procurei para me defender de Katherine, fiquei três
dias em um hotel perto do escritório dela. Depois destes dias ela veio até
mim, meio apreensiva e perguntou se eu queria me mudar para o apartamento
dela. Achei uma proposta estranha, mas eu não tinha para onde ir. Fiquei
morando com ela por quase um ano, foi o tempo de eu conseguir um emprego
para poder me sustentar por conta própria.
Durante o ano que morei com Maitê, estudei para poder terminar minha
faculdade de contabilidade. O emprego que arranjei foi fruto das conexões
pessoais que ela tinha com alguns empresários que ela defendia. Sempre fui
grata por isso. Além de estudar, eu, aos poucos, fui contando tudo o que
Katherine tinha feito comigo. Minhas dores eram curadas com boas doses de
Martini e risadas no fim da tarde.
Aos poucos, Maitê foi me incentivando a conhecer o clube de BDSM
que ela frequenta. No começo, eu ia para agradá-la, mas aos poucos a
curiosidade de voltar a ter algumas experiências me tomaram o corpo e a
alma. Um dia antes de sairmos para o clube, segurei seu braço e me ajoelhei
diante dela.
— Quero fazer uma cena com você hoje no clube, me ajude a
transformar meus traumas em prazer novamente.
Ela me fez olhá-la e sorriu.
— Eu almejo esse dia desde o dia que te conheci.
— Perdoe ter demorado para pedir sua ajuda.
Ela me fez levantar.
— Que bom que pediu.
Ela selou nossos lábios e saímos do apartamento dela rumo ao clube.
Dentro do clube, ela me colocou uma coleira com a inicial dela e a
partir daquele dia ela me ensinou muitas coisas sobre o meu corpo. Tentei ser
dominante em uma cena, mas descobri que meu corpo prefere obedecer e não
mandar.
Nossas cenas começaram simples, sem amarras, sem shibari, sem
acessórios apenas um flogger, eu e ela num quarto privado. No primeiro
spank que recebi de Maitê, saí do clube atordoada por ter sentido prazer em
apanhar. Ela me sorriu e explicou o quanto essas sensações podem ser
normais se nos permitirmos vivê-las. A submissão que Maitê me ensinou foi
tão contrária a que eu aprendi com Katherine que no começo minha cabeça
dava nós de tão errado foi tudo o que vivi com ela.
A paciência de Maitê em me mostrar todos os tipos de chicote durou
semanas e ela sempre repetia: “Você precisa saber do que gosta e do que não
gosta.” Foram golpes com floggers, talas de equitação, rattans, palmatórias,
entre outros objetos para eu poder descobrir o que cada um me proporciona.
Hoje, graças a ela, hoje tenho minha lista de preferências.
Além do BDSM ela me ensinou a ser confiante e determinada. Maitê
contratou Sônia como minha psicóloga, mas eu aprendia muito mais com
Maitê do que com Sônia. Eu me espelhava e ainda me espelho nela para
moldar minha personalidade. Eu sei que posso confiar nela sem medo, é
como dizem por aí: “Eu ponho a mão no fogo por ela.”
Capítulo 30
Sete meses atrás
A frase “Eu não preciso sentir ciúme, Ágatha é minha.” me rondava a
mente toda vez que eu via Samuel perto de Ágatha e não estava sendo poucas
vezes na semana. Por um tempo ele tinha parado de conversar com ela, mas
atualmente parecia estar me desafiando, afinal há rumores de nosso
envolvimento pela empresa. Rumores criados pela cobra Elizabeth. Essa é
outra que ainda me tira do sério. Sônia está empenhada em me ajudar
novamente, visto que há muitos acontecimentos me deixando fora do eixo.
Minhas conversas com ela, muitas vezes, pareciam não fazer sentido
nenhum, mas analisando friamente o que foi dito na sessão, era perfeito para
os acontecimentos. Na hora parecia um emaranhado de ideias aleatórias, mas
depois fazia todo o sentido. Eu não gostava muito de sentar no divã, muitas
sessões fiquei em pé olhando o movimento da rua.
— Como está seu relacionamento com a Ágatha? — Sônia me
perguntou.
Eu estava perto da janela, olhei-a e segurei um sorriso antes de começar
a falar.
— Não temos um relacionamento.
— Vocês se veem toda sexta-feira e alguns finais de semana, dormem
juntas, fazem sexo… — Ela me olhou — Isso para mim, caracteriza um
relacionamento.
— Mas não é.
— Por que você não admite que é um relacionamento?
— Porque relacionamentos são complicados.
— Você tem medo de se comprometer?
— Eu só me ferro com comprometimentos. — Eu disse ríspida.
— Está se referindo à Katherine?
— Sim!
— Mas elas são diferentes, não são?
— Sim.
— Então…
— Eu não quero aceitar o que sinto por ela. — Eu disse nervosa.
— Por que está travando essa luta interna?
Eu me sentei no divã, mas não deitei.
— Eu me sinto apaixonada pela Ágatha, gosto de servi-la, do nosso
convívio…
— Mas?
— Eu não sei se gosto o suficiente para me entregar totalmente. Abrir a
porta da minha vida está sendo doloroso em alguns momentos. No começo do
nosso convívio foi difícil e ainda tem alguns momentos que são difíceis. Ela é
mais nova, ainda tem energia para sair, ter vários grupos de amigos e eu não
tenho essa característica social para acompanhá-la.
— Ela exige isso de você?
— Não! A única vez que tentamos, eu tive uma crise de ansiedade e
ciúme por causa de uma amiga dela.
— O que você sentiu naquele momento?
— Que eu iria perdê-la.
— Então você tem medo de perdê-la?
— Sim.
— Se você tem medo de perdê-la é porque gosta dela.
— Eu não disse que não gosto. Só não sei se devo me entregar
novamente, visto que a única vez que tentei ter um relacionamento mais
profundo com alguém sofri abusos psicológicos e físicos.
— Ela não é a Katherine.
— Não é, mas eu ainda sou a Anelise.
— Você também não é mais a mesma. — Ela me sorriu.
— Será, Sônia? Eu ainda me sinto uma adolescente insegura que quer
agradar a qualquer custo. — Olhei-a profundamente.
— Eu entendo que a linha que divide o BDSM de um relacionamento
abusivo pode ser tênue, mas você sabe diferenciar os dois, não sabe? Ágatha
já fez algo que você não consentiu?
— Não! Ela sempre explica o que vai fazer e me dá liberdade de não
concordar com as coisas que ela quer. Eu não tenho medo de um
relacionamento abusivo, tenho medo de me envolver e não ser correspondida.
— Ela não está correspondendo às suas expectativas?
— Está! Até demais, diria. Mas e se for apenas euforia? Se daqui um
mês ela falar que não quer mais nada e for embora? E se ela se cansar de mim
e me trocar por outra submissa?
— Isso é um risco de todos os relacionamentos, não é?
— É? Não sei, não gosto desse risco. Você entende que quero agradá-
la, mas morro de medo de me envolver demais? Por mim, ela passaria a
semana inteira em casa, viria morar comigo, mas eu não consigo deixar de ter
medo de tudo isso que estou sentindo.
— Você sabe que é isso que torna você humana, não sabe? Todo
mundo tem medo de relacionamentos, algumas pessoas simplesmente
ignoram isso e arriscam. Outras não.
— Eu ainda estou no time dos que não arriscam.
— Ágatha pode desistir de você se perceber que está dando mais do
que recebe.
O relógio marcou o fim da sessão e eu me levantei pensativa.
— Quer um conselho, fora das nossas sessões?
Olhei-a curiosa.
— Converse com a Ágatha e tente saber se o que você está oferecendo
está sendo o suficiente. Não se force a aceitar algo só por medo de perdê-la.
Agradeci o conselho e ela me acompanhou até a porta.
Naquela tarde, tive reunião com o setor financeiro todo e além de
exaustiva, foi contraditória em muitos momentos. Eu liderava uma equipe de
quatro homens que gostavam de me enfrentar por qualquer motivo e, muitas
vezes, Samuel dava abertura para esse tipo de comportamento. Ele era meu
chefe e isso significava muita coisa dentro de uma reunião como aquela.
Nossos confrontos voltaram a ser constantes e ele gostava de plateia. Tive
que respirar fundo para não pedir demissão, eu aguento qualquer tipo de
pressão, mas falta de respeito me irrita.
Depois da reunião, minha cabeça parecia que ia explodir, entrei na
minha sala e Ágatha me acompanhou. Ela falava sobre alguns documentos
que eu precisava assinar, explicava o que era cada um deles e eu não estava
escutando nada. Encostei na mesa de frente para ela, continuava a explicação.
Sutilmente fiz com que ela me olhasse e ela parou de falar me olhando
curiosa. Beijei-lhe os lábios suavemente e ela me olhou nervosa.
— A porta está aberta.
Eu olhei-a e passei a mão pelo seu rosto.
— Eu vi. Quer ir embora para minha casa comigo hoje?
— Hoje é quarta. — Olhou-me curiosa.
— Sim, eu sei. Você comentou que queria ver meu treino de boxe ao
vivo, ainda quer?
— Sim, quero. Aceito ir para sua casa. Vou aceitar antes que mude de
ideia. — Ágatha sorriu — A reunião foi péssima ou você não está bem por
outro motivo?
— A reunião foi péssima, como sempre.
— O que fez você me convidar para ir até sua casa, hoje?
— Não gostou?
— Ane, claro que gostei, só fiquei surpresa. — Ela me olhava
maliciosamente — Vou fazer nossa janta hoje?
— Não. — Eu sorri — Eu já engordei um quilo comendo sua comida
apenas de sexta. Hoje é apenas uma vitamina e uma salada pós treino.
— Eu sei fazer saladas e vitaminas também. — Ela riu.
— Está bem, pode fazer então. — Eu ri.
— O que eu fiz para ganhar tanto presente em um dia só?
— Se não quer…
Ela colocou o indicador em meus lábios e eu apenas sorri. Ágatha
estava sorrindo quando se afastou e fechou a porta com chave, voltou a se
aproximar devagar, quase parando. Eu a olhava intensamente, sabia que iria
me pedir algo. Foi até minha gaveta, pegou meu celular, minha carteira e o
saquinho preto com um plug de aço inox que ela mantinha ali para me
lembrar de minha submissão. Andou até a minha frente e me entregou o meu
celular.
— Avise o Bento que você não poderá ter aula com ele hoje.
Peguei o aparelho e ela segurou o saquinho preto na minha frente.
Avisei-o sobre o cancelamento e devolvi o celular.
— Você é minha até a hora que eu quiser?
— Sim, senhora. — Eu respondi imediatamente, mas eu estava nervosa
com aquela experiência.
— Ajoelhe-se e tire minha calcinha.
Obedeci e enfiei a mão por dentro da sua saia para alcançar sua
calcinha e abaixei-a. Ela foi até o banheiro e quando voltou, entreguei o
pedaço de pano a ela e Ágatha deu a volta na mesa para sentar-se na minha
cadeira. Meu olhar a perseguia. Sorriu ao sentar e mandou eu olhar por baixo
da mesa enquanto ela abriu as pernas.
— O que vê?
— Sua buceta.
— Gosta da visão que está tendo?
— Sim, senhora.
— Quer prová-la? Quer saber o quanto ela ficou feliz com seu convite?
— Sim, senhora.
Ela colocou o celular, a carteira e o saquinho preto sobre a mesa.
— Pede para mim, me diga o que você quer?
— Quero chupar sua buceta, posso?
— Aproxime-se por baixo da mesa.
Engatinhei até ela. Subiu a saia e sentou mais na beirada da cadeira se
expondo mais para mim. Eu não tinha como levantar a cabeça, a visão que eu
tinha era da sua buceta lisinha toda aberta. Mandou-me me aproximar mais
um pouco e colocar a língua para fora. Obedeci e ela puxou a cadeira para
perto da mesa até sua buceta encostar em minha língua. Instintivamente eu
lambi e ela afastou a cadeira, abaixou o tronco até me olhar nos olhos.
— Eu não me expressei bem. Abra a boca. — Obedeci — Coloque a
língua para fora. — Obedeci — Não se mexa. Respire. Não me lamba. Não
feche a boca. Não faça nada. Nada! Até eu mandar. Do contrário vou ter que
te castigar. Entendeu?
Afirmei com a cabeça sem fechar a boca.
Ela sentou na ponta da cadeira e puxou-a em minha direção. Minha
língua recebeu-a com dificuldades de ficar parada, era penoso ter uma buceta
encostada em sua língua e não poder lambê-la. Seu aroma me invadia as
narinas e minha buceta pulsava querendo atenção. Que tortura era aquela? Ela
se afastou um pouco e eu estava ofegante e, como uma viciada, querendo
mais. Aproximou-se novamente. Minha língua foi encaixada perfeitamente
em sua fenda. Eu estava sendo sufocada por uma buceta extremamente
apetitosa. Ela se afastou novamente e minha respiração estava
descompassada.
— Você precisa respirar. — Ela me olhou — Acalme-se. — Ela
aproximou o rosto do meu — Feche a boca, engula a saliva, respire. — Os
comandos dela eram como se eu não soubesse fazer aquilo sozinha —
Quando estiver pronta volte a sua posição. — Olhei-a e lembrei de respirar e
voltei a abrir a boca.
Ela me sorriu e voltou a sua posição. O sabor estava cada vez mais
intenso e marcante, sabia que estava agradando. Desta vez ela ficou mais
tempo, senti suas pulsações sexuais aumentando.
— Me chupa. — Ela ordenou e eu obedeci.
Sabe quando você derrete chocolate na boca só para prolongar o gosto
do doce? Era essa a sensação que eu estava tendo ao chupá-la depois de ser
privada de lambê-la. Eu estava com uma vontade enorme de me tocar e sabia
que se fizesse seria castigada. Ela afastou a cadeira me deixando órfã de sua
carne.
— Quer mais, minha putinha? — ela estava ofegante e seu sorriso era
visível.
— Sim, senhora.
— Venha até mim.
Engatinhei ofegante até encontrar sua buceta novamente. Não precisei
de muito esforço para sentir seu gozo em minha boca. Eu queria mais, queria
seu segundo gozo, mas ela afastou minha cabeça do meio de suas pernas.
— Eu sei que você quer mais, deixe eu te chupar mais. — Beijei a mão
que segurava meu rosto afastado de seu corpo.
— Mais tarde, minha esfomeada, mais tarde.
— Promete?
— Prometo. Sente-se sob suas pernas dobradas.
Naquele momento percebi o quão excitada eu estava. Ela se levantou,
abaixou a saia e foi até o banheiro. Demorou alguns minutos e quando voltou
eu estava na mesma posição. Aproximou-se, passou a mão em minha cabeça
e beijou-lhe o topo.
— Minha putinha obediente. Venha, vamos para sua casa.
— Posso lavar meu rosto? — perguntei me levantando.
— Quer tirar meu cheiro de você? — sorriu.
— Não, senhora, eu adoro seu cheiro, mas estamos no nosso ambiente
de trabalho.
Ela me sorriu e acatou meu pedido. Fui até o banheiro e lavei-me,
quando voltei ela estava sentada na minha cadeira novamente e me observava
com a perna direita cruzada sob a esquerda. Aproximei-me imaginando qual
seria o próximo passo antes de irmos para casa, mas ela não precisou dizer
uma palavra. O plug estava fora do saquinho preto ao lado de um sachê de
lubrificante. Abri o botão da minha calça.
— Se eu colocar o plug em você, terá que se controlar, você está
proibida de gozar até eu permitir.
— Entendido, senhora.
Abri o zíper, me aproximei da mesa, abaixei a calça e deitei o tronco no
móvel. Minha respiração estava levemente alterada pela excitação do ato.
Olhando para frente, alcancei minhas nádegas e separei-as.
— Você está muito bem treinada. — Beijou minha nádega.
— Obrigada, domme!
O gelado do lubrificante me fez engolir seco e tive que pensar em outra
coisa para não gozar com a penetração do plug. Com o objeto em mim,
Ágatha passou a mão em minha buceta me atiçando e arrancando um gemido
de excitação.
— Controle-se. Parece que alguém gostou de ser sufocada por uma
buceta.
Passou a mão em mim novamente e eu tentei não corresponder com
outro gemido, mas foi em vão. Mandou-me me recompor e saímos da sala
com ela andando na minha frente. Minhas mãos nos bolsos da calça me
acalmavam e mostravam ao mundo que eu estava tranquila, mas por dentro…
Por dentro eu tinha todas as emoções bagunçadas e aquele plug nunca me
ajudava a ficar tranquila.
No trajeto para casa, ela me contou sobre as novas idas da mãe ao
médico. O meu tesão deveria diminuir com a conversa e o trânsito, mas o
cheiro dela me invadia lembrando do seu gosto. No elevador do prédio do
meu apartamento, ela se posicionou atrás de mim e me abraçou, ela fazia isso
toda vez que vínhamos para minha casa. Era reconfortante sentir seu calor
depois de um dia cansativo. Entramos no apartamento e tiramos nossos
sapatos.
— Que horas vai começar seu treino?
— Quando a senhora quiser.
— Pode ser agora, então.
— A senhora permite que eu tire o plug?
— Vá para o quarto que eu mesma tiro.
— Obrigada.
Fui até o quarto de treino e após alguns minutos ela veio até mim para
me despir. Beijei-lhe a testa e vi um sorriso brotar em seu rosto. Ágatha era a
dominatrix mais fácil de agradar que já tive, mesmo entre as que tive dentro
de clubes. Ela era tranquila em tudo o que propunha e sentia em uma cena,
isso me deixava mais serena para agradá-la.
Sem a camisa ela desabotoou a minha calça e me olhou passando a mão
em meu rosto. O cheiro de sabonete era recente. Segurei seu indicador entre
meus dentes e ela me sorriu. Chupei-o enquanto encarava-a. Ela me sorriu.
— Putinha gulosa. Ainda não é hora. — Retirou o dedo da minha boca.
Eu apenas sorri e ela me virou de frente para a parede e abaixou minha
calça e minha calcinha. Tirou o plug devagar e eu respirei fundo para me
segurar. Levantou minha calcinha e me deu um tapa na bunda.
— Quero ver esses músculos suados.
Tirei a calça dos meus calcanhares e passei a bandagem nas mãos e
pulsos. Ela abriu a porta balcão e sentou-se em um pufe na pequena varanda
para me olhar. Comecei o treino como se ela não estivesse ali. Fiz
abdominais pendurada no saco de pancadas. Eu me agarrava pelas pernas e
descia o corpo de ponta cabeça para voltar a subir. Eram cem abdominais,
mas no meio deles vi que ela estava apenas de saia e sutiã. Olhei-a de ponta
cabeça e ela me sorriu levantando e tirando a saia. Ágatha estava
fotografando meu treino e no último abdominal, ela estava sentada no pufe
apenas de calcinha e sutiã. Tenho certeza que essa cena nunca mais vai sair
da minha cabeça. Desci do saco e comecei a socar e treinar esquivas,
precisava focar nos golpes. Faltavam quinze minutos para o fim e ela
começou a se masturbar, se exibir para mim, ainda vestia a calcinha e minha
concentração foi embora, eu só conseguia olhá-la.
— Não pare! Se parar vai me frustrar.
Voltei a bater no saco com mais vontade do que antes, estava me
exibindo para ela e ela para mim. Seus gemidos me convidavam a me juntar a
ela, mas eu não podia. Batia no saco para esquecer da minha excitação em vê-
la se masturbando, foram os cinco minutos mais intensos que tive batendo em
um saco de pancadas. Ouvi seu gozo e eu queria ter participado da festa. Eu
estava exausta e excitada, olhei-a se contorcendo de prazer e eu não podia
tocá-la. Ela me olhava e sorria. Levantou-se vindo em minha direção.
Encostou-me no saco, levantou meus braços e com o cadarço da luva me
amarrou no suporte. Eu ainda estava com a respiração alterada devido ao
treino. Meu corpo estava molhado de suor, ela me fez chupar seu dedo
novamente, seu gosto me excitou.
— Gosta de chupar uma buceta?
Concordei chupando ainda mais seu dedo. Ela se afastou e me
fotografou naquela posição. Tirou minha calcinha e tirou outra foto.
Desamarrou-me e me mandou deitar no chão com os braços esticados
para cima. Obedeci e ela amarrou uma luva na outra.
— O que fizemos no escritório foi um treino. — Ela tirou a própria
calcinha — Faça a mesma coisa e não me chupe enquanto eu não mandar. —
Abri a boca e coloquei a língua para fora e ela sentou na minha cara.
Eu via o rosto de satisfação dela e ela me olhava profundamente. Saiu
de cima de mim e eu respirei profundamente.
— Deixa eu te chupar, por favor.
Ela adorava me ver implorando por algo. Olhou-me e me deu um
sorriso de canto de boca voltando a se sentar.
— Chupa!
Eu me deliciei com sua buceta em minha cara. O gosto do gozo recente
me incentivou a querer arrancar mais êxtase de minha domme. Ágatha tinha
me viciado em seu gosto e sua carne saborosa. Seu néctar me lambuzou a
cara e seus espasmos corporais me avisaram que eu tinha feito tudo certo
mais uma vez. Ela saiu de cima do meu rosto, sentou no meu ventre e me
desamarrou tirando minhas luvas. Abaixou meus braços devagar e pousou-os
nas suas coxas.
— Tenho uma péssima notícia para você. — Olhou-me séria.
Olhei-a curiosa e aflita.
— Eu não vou mais me contentar em ver seu treino apenas pelas
câmeras de segurança. — Ela me beijou e eu ri.
— Não me assuste falando sério desse jeito.
Ela riu.
— Vai tomar um banho, você está fedida.
— Você também está.
Eu ri e ela me ajudou a levantar do chão, instintivamente puxei-a para
um beijo lascivo e cheio de tesão reprimido da minha parte. Recebi um tapa
na bunda em represália ao beijo, mas eu continuei e ela começou a rir me
batendo na bunda novamente. Apertei suas nádegas, puxando-a de encontro
ao meu corpo.
— Eu devia te castigar por me atacar dessa maneira. — Falou
sussurrando.
— Você é gostosa. — Eu sussurrei no seu ouvido.
— Vá tomar banho! — Seus olhos estavam brilhantes.
— Vem comigo?
— Abusada!
Eu me ajoelhei e segurei suas coxas, puxando-a para perto do meu
corpo.
— Deixa eu te dar banho. — Arranhei suas coxas na parte de trás e ela
se arrepiou — Por favor!
Seu ventre estava na altura no meu rosto, beijei-o e me lembrei de
quando eu o assinei.
— Hoje, não! Vamos tomar banho separadas. — Ela me fez olhá-la —
Após o banho, seque os cabelos e prenda-o com um rabo de cavalo alto.
Estarei na cozinha preparando sua salada e sua vitamina.
Ela beijou minha testa e saiu.
Tomei um banho caprichado e sequei os cabelos como me pediu.
Quando saí do banheiro, vi duas cintas de restrição para coxa acoplada com
uma algema para pulso junto com lubrificante, um plug anal e um bilhete.
“Use!” Ágatha aparentava estar empolgada por ter vindo em casa num dia
diferente. Coloquei o plug e minha excitação voltou a me atormentar. Passei a
cinta nas duas coxas e prendi os pulsos ao lado de cada perna. Procurei-a na
cozinha e ela estava cozinhando usando apenas uma blusa solta que cobria
metade de sua bunda e cabelos molhados. Havia uma almofada no meio da
cozinha, me aproximei e me ajoelhei, ela continuou a cozinhar. O plug
aumentava meu prazer em vê-la cozinhando para mim. Eu tinha a visão
perfeita dela dali. Depois de alguns minutos mexendo em uma panela se
aproximou de mim
— Temos que esperar alguns minutos antes de comer. — Ela me fez
olhá-la — Você quer brincar antes de jantar?
— Sim, senhora.
— Levante-se e vamos até o quarto.
Não foi uma tarefa fácil levantar sem me sentir excitada e levemente
desconfortável. Andar também não era muito gostoso, mas o plug me
massageando me fazia pensar nele e não na restrição dos braços. Andar atrás
dela sempre me dava uma visão deliciosa de seu corpo. Aquela blusa
cobrindo apenas metade de seu corpo me dava vontade de agarrá-la.
Entramos no quarto e ela me soltou apenas os pulsos.
— Nós vamos tentar uma coisa nova, nunca fiz com ninguém, então
não se preocupe se não der certo. Está bem?
— Sim, senhora.
Ágatha foi até o guarda-roupa e abriu-o pegando um rattan longo. Ela
se sentou encostada na parede e deu um tapinha no chão na sua frente, era seu
gesto para eu me aproximar e me ajoelhar. Obedeci.
— Enquanto você me chupa, eu te bato. Quanto mais rápido me fizer
gozar, menos você apanha.
— Sim, senhora.
— Deite-se de bruços e deixe os braços esticados na lateral do corpo.
Ela se ajoelhou e alcançou meus pulsos, prendendo-os novamente à
cinta que estava na minha coxa. Voltou a sentar e tirou a blusa. Ela ergueu
meu rosto e se posicionou embaixo dele. Eu estava de boca na sua buceta. Ela
me bateu com a vara e eu tive que tomar cuidado para não a morder. Foi
prazeroso, mas minha boca estava ocupada com outra coisa para poder
agradecer. Concentrei minhas energias nela, queria fazê-la gozar novamente.
Os golpes somatizados com a restrição das mãos e o plug me
desconcentraram da tarefa de chupá-la. A ardência e a frequência de golpes
me incentivaram a continuar, mas a posição era desconfortável. Minha
respiração era ofegante e eu tinha que me policiar para não pressionar demais
o rosto em sua carne. Amo satisfazê-la e sua buceta se mostrava receptiva a
todas as minhas investidas. Minha bunda se contraia a cada golpe e meu
prazer aumentava, queria poder me aliviar, já tinha sido estimulada e
acalmada várias vezes naquele dia. Eu sentia minha buceta latejar cada vez
que o rattan me acertava. Eu estava excitada demais e seu gozo me
presenteou marcando meu rosto com seu néctar. Ela levantou meu rosto e me
virou de barriga para cima. Puxou meu corpo ofegante para perto do seu e me
abraçou por trás beijando meu pescoço.
— Você é perfeita.
Eu estava sensível e excitada, ela apertou o bico dos meus seios me
fazendo contrair o corpo todo. Ágatha separou minhas pernas e um tapa ardeu
na minha buceta.
— Sua vez.
Outro tapa e eu retorci meu corpo em sua mão querendo fechar a perna,
tamanha era a minha excitação.
— Não feche a perna.
Ela bateu de novo e de novo e de novo... meu gozo veio forte e
incontrolável. Buscou minha boca com um beijo gostoso e me penetrou dois
dedos com força e ritmo intenso, meu corpo convulsionava em seus braços. O
beijo lascivo me arrancava um orgasmo múltiplo indescritível. Enquanto me
recuperava ela me fez olhá-la.
— Quem é minha putinha?
— Eu sou. — Eu respondi ofegante e derretida em seus braços.
Apertou-me mais contra seu corpo e levou os dedos melados até a boca
e chupou-os.
— Gosto de puta safada. — Me sussurrou.
Eu ri e ela me beijou o rosto.
— Qual a dificuldade dessa cena?
— Altíssima.
— Você se sentiu como?
— Na maior parte do tempo sem ar, mas excitada. E você? Foi como
esperava?
Ela me soltou e tirou o plug com cuidado.
— Excitada, foi melhor do que eu esperava. Você sempre me
surpreende, daqui a pouco vou ficar sem ideias.
— Duvido.
Ela riu e me beijou o rosto.
— Estou muito feliz pelo seu convite.
— Percebi sua empolgação. — Eu ri — Agradeça à Sônia.
— Sua psicóloga?
— Sim.
Eu me sentei de frente para ela.
— Eu estou dando o suficiente para você? Você está satisfeita com o
que temos?
— Eu gostaria de ter mais, porém eu estou respeitando o seu pedido
para irmos devagar. Eu sou muito intensa nos meus sentimentos, não tenho
medo de tê-los ou demonstrá-los. — Eu apenas olhei-a sem responder — E
você é o oposto.
Eu me afastei um pouco dela e me levantei. Ágatha se levantou e vestiu
a blusa que estava antes.
— Vamos comer.
Ela saiu do quarto e uma angústia me invadiu o peito por ter começado
aquele assunto e não ter tido coragem de continuá-lo. Eu respirei fundo antes
de dar o primeiro passo em direção da porta. Andei devagar, quase parando,
não devia ter feito aquela pergunta.
Quando entrei na cozinha, me sentia perdida e fiquei parada perto da
porta. Ela servia nosso jantar nos pratos e percebi sua inquietude.
— Sente-se.
Aproximei-me e sentei sem olhá-la. Colocou o prato na minha frente.
— Eu quero me entregar cada vez mais a você. O quão sério isso é para
você?
— Defina “isso”. — Me fez olhá-la.
— Nossa relação.
Ela me sorriu.
— Eu estou seguindo suas regras. É doloroso colocar cabresto nos
meus sentimentos, amar devagar não é meu estilo.
— Hoje de manhã tive uma conversa intensa com a Sônia sobre nós
duas. — Hesitei em continuar para não me arrepender.
Ela apenas me olhou curiosa.
— Eu não quero te perder, mas não posso dar mais do que estou dando.
Ágatha me virou de frente para ela.
— E eu estou aqui, não estou?
— Até quando estará?
— Sempre estarei. — Ela encostou sua testa na minha e me olhou
profundamente — Eu estou em você e você está em mim, eu sinto sua
entrega em cada cena, em cada gesto, em cada toque e em cada beijo. Eu
sinto sua evolução como submissa, minha menina. — Ela me beijou
suavemente — Eu sinto cada pedaço do seu corpo cedendo e eu não vou
parar até você me disser que é minha por inteiro. O que sinto por você não
tem volta, Anelise. — Minha boca buscou a sua, mas ela se afastou.
— Deixa eu te beijar, eu quero ser sua. — Meu corpo tremia exigindo
nosso beijo — Me beija, me ensina a ser sua. — Sua boca se apossou da
minha com desejo, puxou meu corpo para perto do seu e arranhou minhas
costas enquanto o beijo me transportava para o delírio.
— Ensinarei, minha menina, ensinarei. — Sussurrou entre um beijo e
outro.
Capítulo 31
Dias atuais - Décima primeira semana
Eu não sei dizer se eu estava mais entediada na cama de hospital ou na
cela da prisão. Ainda faltavam seis dias para eu voltar para a prisão. Maitê
estava comigo o tempo todo, minhas alucinações não voltaram mais, mas em
meus sonhos Ágatha aparecia toda noite para me visitar ou perturbar. Quando
vinha para me visitar, passávamos momento agradáveis, mas quando vinha
me atormentar, ela aparecia ensanguentada e minhas mãos atadas não podiam
salvá-la da morte. Ela agonizava na minha frente e eu apenas olhava.
Insisti para Maitê vender meu apartamento, afinal, poderia ficar alguns
dias em liberdade antes do julgamento. Contestou, pois sabia o quanto eu
gostava daquele apartamento, mas fez o que pedi. A liberdade era minha e
não dela.
Em uma tarde, enquanto ela trabalhava, eu lhe chamei para sentar
comigo na cama. Sentou-se e se aconchegou deitando ao meu lado e me
aninhando em seus braços.
— Sobre o que conversamos no dia que eu voltei do coma
— Não fale nada. Eu sei que você estava muito envolvida com essa
garota e não quero que você me fale coisas sem pensar.
— Eu serei eternamente grata por tudo o que você já fez e ainda faz por
mim, mas não quero te dar esperanças.
— Você nunca deu.
Eu me sentei e olhei-a.
— Você está frequentando o clube novamente?
— Sim.
— Tenho certeza que vai encontrar uma sub a sua altura lá.
— Não perfeita como você.
— Você pode moldar uma ao seu gosto e eu não sou perfeita.
— Por que estamos tendo essa conversa?
— Porquê eu quero sua felicidade.
— E eu quero a sua, bebê. Mesmo se não for comigo.
— Não fale assim… você sempre estará comigo.
— Sim, estarei. E enquanto você conversar com Ágatha em seus
sonhos, nunca terei chance de vencê-la.
— Eventualmente isso passará
— Até lá, eu não vou ficar sentada te esperando.
Eu ri alto e voltei a deitar em seus braços.
— Você será uma ótima domme e eu terei inveja da sua sub.
— Você é minha opção número um, sabe disso, não é?
— Como ser submissa de alguém se estarei presa pelos próximos vinte
anos?
— Eu não vou deixar isso acontecer.
— Estamos nessa investigação há meses e não saímos do lugar.
— Contratei um novo especialista em investigações e internet, quem
sabe conseguimos descobrir algo.
— Não me dê esperanças.
— Não estou dando, estou comentando um fato.
Ficamos em silêncio e após algum tempo ela voltou a trabalhar.
A minha esperança era poder ao menos achar um fio solto de tudo isso,
mas não estava sendo fácil.
Depois de dois dias do anúncio de venda do apartamento, Maitê
recebeu uma oferta pelo apartamento. Ela tinha pedido o dobro do que ele
valia e um louco estava querendo comprar nos termos dela. Eu conseguiria
pagar a fiança e ainda teria uma reserva para depois de cumprir uma pena que
eu não tenho culpa. Desconfiei do negócio, mas aconteceu de verdade e ela
passou dois dias longe de mim para poder encaixotar minhas coisas e levá-las
para o seu apartamento. Alguns móveis o novo proprietário pagou para ficar,
inclusive os dois móveis do quarto de BDSM. Tive a mesma sensação de
impotência de quando me separei e ela apareceu e me deu a notícia que meus
pertences estavam na sua casa.
O pedido de pagamento da minha fiança foi feito, mas demoraria para
ser respondido. Minha esperança de poder ver o mar pela última vez antes do
julgamento, estava oscilando muito e seria frustrante se não conseguisse.
Capítulo 32
Seis meses atrás
Naquela quarta-feira, Ágatha dormiu em casa, na minha cama depois
de usar o meu corpo como desejava. Eu gostei daquela sensação de servidão
e de envolvimento. Na quinta pela manhã, acordei antes dela e apesar de não
querer levantar, precisava. Meu corpo estava mole, querendo mais cinco
minutos de descanso. Levantei, vesti a calça social que eu usaria naquele dia
e fiz um café com ovos mexidos e levei para ela em uma bandeja. Deixei a
bandeja ao pé da cama e me sentei ao seu lado. Beijei sua cabeça e ela
acordou assustada.
— Bom dia! — sussurrei.
— Bom dia, minha menina. — Me deu um selinho e sentou-se.
Servi-lhe o café e ela sorriu com a atitude. Ela tomou o primeiro gole e
apenas me olhou sem reação.
— Precisamos melhorar seus dotes culinários.
— Sim. — Eu ri — Eu sempre erro a quantidade de pó do café.
Ela riu e me beijou o rosto.
— Mesmo assim você continua sendo perfeita. — Ela me sorriu —
Quero fazer um teste com você. — Olhei-a curiosa — Sábado começa o
campeonato de futevôlei que eu participo com as meninas que moram
comigo. Quero que você vá assistir. Poderá jogar também se quiser. Só que
você terá que confiar em mim, cem por cento do tempo.
— Quem é sua dupla? Elizabeth?
— Ano passado foi, mas esse ano só será se você se sentir confortável.
— Não me sentirei confortável. — Olhei-a — Lembre-se disso quando
estiver jogando ao lado dela. — Passei o indicador arrumando uma mecha de
seu cabelo atrás da orelha — Eu estarei lá, confiarei em ti, não me
decepcione.
— Não pretendo.
— Ontem depois que você dormiu, eu lavei sua blusa, deve estar seca,
vou passar enquanto você toma banho.
— Obrigada, minha menina.
Ainda era estranho ouvi-la me chamando de minha menina. Ágatha
comeu os ovos mexidos e disse que estavam bons, mas eu duvidei um pouco
pela cara que ela fez.
Chegamos na empresa no mesmo táxi e o olhar de curiosidade de
Elizabeth foi quem nos recepcionou na entrada do prédio. Sua insistência em
nos olhar me irritou e me fez lembrar do jogo que elas teriam no sábado.
Dentro do elevador, Ágatha me fez olhá-la.
— Por que ela te irrita tanto? Sinto até sua respiração ficar diferente
quando está perto dela.
Eu não respondi e tentei afastar meu rosto, mas ela não deixou.
— Anelise, eu fiz uma pergunta e eu mereço uma resposta, não
mereço?
— Desculpe, mas eu não sei te responder. Ela age como se você fosse
dela. Vocês já fizeram alguma cena ou tiveram relação sexual?
— Não!
— Ela sabe dos seus gostos dentro de quatro paredes?
— Sabe.
— Então ela sabe dos meus gostos também.
— Acaba ficando implícito, não é?
— Eu detesto essa garota.
Ela parou o elevador.
— Lembra do dia que eu quase te castiguei pelo ciúme que sentiu do
Samuel?
— Sim, senhora.
— Você ainda se lembra da frase, não lembra?
— “Eu não preciso sentir ciúme, Ágatha é minha.”
— Essa frase ainda é válida e eu sou sua.
Ela soltou meu rosto depois de beijar meus lábios suavemente, apertou
o botão para o elevador continuar. Quando saímos, ela me entregou apenas
meu celular e eu segui para minha sala sem questioná-la.
Tive um dia cheio de planilhas e números e só voltei a vê-la no fim da
tarde, pois almocei com alguns fornecedores de equipamentos eletrônicos.
Ela entrou na sala e se aproximou devagar, como gostava de fazer para
chamar minha atenção e ela conseguia toda vez.
— Meu celular parou de funcionar, você pode me ajudar com ele?
Ela estendeu o aparelho e eu segurei-o olhando-a. Verifiquei o aparelho
e ele dava sinais de instabilidade, eu poderia consertá-lo, mas seria apenas um
tempo extra de vida.
— Você tem backup das suas coisas? Vou precisar resetar as
configurações.
— Sim.
A tela inicial do celular era uma foto minha pendurada no saco de
pancadas fazendo abdominal. Mostrei o celular para ela.
— Minha foto na sua proteção de tela? Isso é muito adolescente. — Eu
brinquei e ela riu alto me fazendo sorrir.
— Eu não resisto a uma foto sua. Ele tem salvação?
— Não por muito tempo.
Ela me olhou chateada pela notícia. Eu resetei as configurações do
celular, mas ele continuava instável. Pelo que pude analisar, o aparelho já
tinha vários anos de uso e quando se tratava de dinheiro, eu sabia que Ágatha
não tinha como gastar. Consegui estabilizá-lo depois de muitas tentativas.
— Você aceita uma sugestão sobre seu aparelho?
— Você é a garota das tecnologias, o que me sugere?
— Ele está defasado e a tela dele está dando sinais de que vai queimar
em breve. Deixa-me te dar um novo, até hoje você ainda não usou o cartão
que te dei, há saldo o suficiente para você usar com um aparelho novo e parar
de se preocupar com isso.
— Eu não vou poder aceitar. Você tem gastado com os médicos da
minha mãe, não posso aceitar.
— Não seja teimosa. Ajudar sua mãe não está sendo nenhum sacrifício
para mim e um celular vai ser menos ainda. E o valor do aparelho sairá do
saldo do seu cartão, então você pode fingir que o dinheiro não é meu e gastar
como achar melhor.
— Está bem, só vou aceitar porque este aparelho está me dando mais
trabalho do que ajudando. Você pode me ajudar a escolher um modelo?
— Posso. Já tenho um em mente.
Abri o navegador no computador e mostrei o aparelho para ela.
— Muito caro, não quero um celular feito de ouro.
Eu ri e puxei-a para se sentar nas minhas pernas, mostrei mais alguns
modelos e enquanto ela navegava entre as abas abertas eu me aproveitava do
tempo que estávamos passando juntas. Pela manhã ela passou meu perfume e
o cheiro dele nela chegava a ser indecente de tão perfeito. Entre os modelos
que mostrei, ela ficou com um intermediário entre eles.
— Você acha que é uma boa escolha?
— Sim, você vai gostar do desempenho e da câmera dele.
— Vou confiar em você.
Eu ri e ela me beijou me agradecendo.
— Nesta loja, você pode retirar amanhã.
— Você vai comigo buscar?
— Sim. Você ainda não me devolveu minha carteira, isso é sinal do que
exatamente?
— De que você ainda é minha.
— Mais um teste?
— Sim.
— Ok. Antes de irmos para o meu apartamento você quer passar no
seu? Você vai precisar de roupas para vir trabalhar amanhã, não vai? Ou vai
vir com essa novamente? — eu ri.
— Vou ter que passar, vir com essa blusa de novo não vai dar. — Ela
riu.
Ela foi até sua mesa pegar o cartão que eu o havia dado para pagar o
celular. Voltou e sentou em minhas pernas novamente. Fez a compra e me
agradeceu com um beijo lascivo.
— Meu perfume em você, fica uma delícia.
Beijei-lhe o pescoço e ela atacou meus lábios sorrindo.
— Você é perfeita. — Ela me sussurrou me beijando o pescoço me
arrepiando.
Passamos no seu apartamento para pegarmos suas roupas. A casa
estava uma bagunça, mas seu quarto era um contraste com a sala de televisão.
A porta estava trancada e ela disse que era para manter Elizabeth longe de
suas coisas. Eu sentei na beirada da cama para esperá-la e ela aparentava estar
nervosa com a situação. Logo uma garota, que não devia passar dos vinte e
dois anos apareceu na porta e se assustou comigo. Ágatha nos apresentou,
Maria Augusta era o nome, mas pediu para chamá-la de Guta. Pediu uma saia
específica emprestada e se despediu, pois a roupa não estava lá. Ela voltou a
separar suas roupas, colocou tudo em uma mochila e disse que estava pronta.
Quando estávamos saindo, Elizabeth estava entrando e pela primeira vez não
senti nada. Nem raiva, nem ciúme. Passamos por ela sem falar nada e Ágatha
pediu um táxi para nós.
Chegamos no meu apartamento e minutos depois a campainha tocou,
era Bento. Ela me mandou atendê-lo e ir treinar, pois ela iria tomar banho.
Naquela noite, jantamos algo leve e dormimos tentando assistir a um filme.
Agradeci por ela ter acordado antes do que eu e ter preparado o café.
Encontrei-a na cozinha, servindo-me uma xícara de café.
— Caiu da cama com medo do meu café?
Ela riu e me deu um selinho de bom dia.
— Você está um pouco calada desde ontem. Está tudo bem? — Eu fiz
ela me olhar.
— Enxaqueca. — Seu semblante era de quem estava sofrendo.
— Por que não me disse nada?
— Porque geralmente passa quando durmo, mas acordou pior.
— Coma e tome alguma coisa para dor, ainda temos tempo, deite na
minha cama para descansar.
Enquanto ela comia, peguei dois tipos de remédio para dor de cabeça e
lhe entreguei. Tomou um deles e deitamos na cama depois de deixá-lo escuro
e numa temperatura agradável. Ela estava de costas para mim, enquanto ela
adormecia eu lhe fazia carinho nas costas. Nestes minutos de carinhos,
percebi o quanto a queria, o quanto precisava da sua presença, o quanto
queria protegê-la e servi-la.
Quando senti seu sono profundo, levantei, fechei a porta e avisei a
empresa sobre a nossa falta. Sentei no chão da sala para começar a trabalhar e
Maitê me ligou para saber como eu estava e contar que a experiência de
morar com Cíntia ainda estava um pouco desastrosa. Conversamos alguns
minutos e desliguei.
Ágatha acordou várias horas depois e apareceu na sala sonolenta e
perdida, sentou ao meu lado e eu aninhei-a em meus braços.
— Perdemos hora.
— Já avisei a empresa, você está melhor?
— Sim, obrigada por cuidar de mim.
— Sempre que precisar estarei aqui. — Beijei-lhe a testa.
Ficamos em silêncio por um tempo e ela adormeceu em meus braços,
sorri com a cena e continuei com minhas planilhas. Fiz algumas ligações e ela
permanecia ali, entre acordada e dormindo.
— Eu não consigo acordar. — Ela resmungou.
— Aproveite para dormir.
— Eu poderia me acostumar a dormir nos seus braços.
Eu ri e beijei-lhe a lateral da cabeça.
Perto do meio do dia eu fiz o pedido do nosso almoço e quando chegou
chamei-a para levantar. Ela levantou e parecia estar melhor. Atendi o
entregador e fomos até a cozinha, nos servi e ela me olhava intensamente.
Entreguei meu garfo a ela e seu sorriso genuíno me contagiou.
— Você está melhor? Menos sonolenta?
— Sim. O que falou para o departamento de recursos humanos?
— Que você iria faltar e não teria como levar atestado médico, mas que
não era para descontar do seu salário.
— É melhor eu voltar depois do almoço.
— Tem certeza?
— Sim.
— Já tinha me acostumado com você deitada nos meus braços.
Ela me beijou com desejo.
— Quando eu voltar você me põe em seus braços para fazer outra
coisa.
— Vejo que sarou mesmo. Você sempre tem enxaqueca?
— Quando estou nervosa.
— O que está te deixando nervosa?
— Esse tempo com você… não quero fazer besteiras.
Eu sorri pela sua sinceridade e almoçamos conversando amenidades.
Ela se vestiu e se despediu com um beijo devasso.
— Quando eu voltar espero te encontrar de banho tomado e bem
disposta. — Deixou o celular comigo, mas levou a carteira.
— Sim, senhora.
Ágatha saiu pela porta e eu me senti abandonada. Organizei as louças
que sujamos na máquina de lavar e voltei a trabalhar. Passei a tarde com os
pensamentos perambulando entre as planilhas e a vontade de tê-la em meus
braços novamente. Ela me ligou no meio da tarde para avisar que iria
demorar um pouco mais, pois iria buscar o celular novo.
Estipulei mais ou menos o tempo que ela demoraria para ir até o
shopping e fui tomar banho com uma folga de vinte minutos. Fiz uma trança
nos meus cabelos e esperei-a com um conjunto de lingerie branco e um
roupão de seda vermelho. Ela demorou bem mais do que meus cálculos,
mandei uma mensagem só para me certificar se estava tudo bem, mas ela não
me respondeu. A campainha tocou minutos depois e eu respirei aliviada.
Ágatha entrou e me olhou intensamente quando viu meus trajes.
Beijou-me e desculpou-se pelo atraso.
— O trânsito está infernal.
— Deu tudo certo?
— Sim. — Me beijou novamente — Você está sexy com essa lingerie.
Eu apenas sorri e eu puxei-a para um beijo lascivo.
— Quero assistir você tomando banho.
— Passou bem a tarde? — Segurou minha mão e começou a andar em
direção do banheiro.
— Sim. Apenas com saudade do seu corpo deitado em meus braços. —
Ela parou de andar e me olhou sorrindo.
— Eu ouvi bem? Saudade?
— Sim. — Puxei-a para um longo beijo.
Ergui seu corpo do chão e andei até o banheiro com nossas bocas
grudadas, ajoelhei-me e desabotoei sua calça. Eu olhei-a e vi que estava aérea
e aparentemente preocupada com algo que não envolvia nosso possível sexo
pós banho.
— Você não está preocupada apenas comigo e nosso tempo juntas.
Você quer me contar o que houve? — Levantei e ela me abraçou.
Senti seu corpo me apertar e seu choro foi inevitável.
— Os exames da minha mãe ficaram pronto, ela está com câncer no
cérebro.
Eu apenas abracei-a com mais força, não tinha o que falar.
Capítulo 33
Dias atuais - Décima segunda semana
A minha soltura foi negada e a minha prisão domiciliar até o
julgamento também. Eu teria que voltar para o presídio, enfrentar Célia e
mais um monte de outros problemas. Eram minhas últimas horas no hospital.
— Agora que você vai voltar, redobre sua atenção com essa louca.
— Você acha que adianta? Quando vejo, ela já me cercou e me atacou.
Ela tem costa quente lá dentro.
— Eu vou conversar com um dos guardas.
— Não faça isso, você pode abordar o guarda errado.
— Eu preciso fazer alguma coisa pela sua segurança.
— Reze, porque não dá para saber quem é pago pela Célia e quem não
é.
— Eu vou descobrir.
— Só não piore as coisas, por favor.
— Serei discreta. Saiu o resultado do teste da Joana e vou poder pedir a
transferência dela para uma instituição.
— Pelo menos uma notícia boa em tudo isso.
Maitê me abraçou com força e nos despedimos com um selinho.
Quando cheguei na minha cela, Joana me abraçou e me encheu de
perguntas.
— Eu estava no hospital, Célia e as amigas dela me deram uma surra.
Hortência ficou surpresa ao me ver e me abraçou espontaneamente.
— Achei que você tinha morrido, você saiu daqui numa ambulância e
estava desacordada.
— Quem me achou?
— Eu. —Rrespondeu Nádia entrando na cela.
— Eu não quero conversa com você. Eu pensei que pudesse confiar em
você.
— Do que está falando?
— Eu contei sobre meus gostos sexuais e você contou para a Célia.
Não fale comigo, ok?
— Ela me ameaçou, queria saber como chegar até você. — Ela se
aproximou.
— Nádia, me esquece. Finja que eu morri.
Eu me afastei e sentei no colchão. Joana me acompanhou e ela voltou a
me perguntar sobre o que havia acontecido.
— Eu fiquei uma semana e meia em coma e passei por uma cirurgia
para retirar um coágulo, mas agora estou bem.
— Uma mulher veio falar comigo nesses dias que você não estava. Ela
me pediu um teste com uma psicóloga e agora vou poder pedir uma
transferência para outro lugar melhor que aqui.
— Isso é ótimo. Quando for, vou sentir sua falta.
— Eu também, estou com medo.
— Não se preocupe, essa moça vai cuidar para tudo ficar bem.
Joana me abraçou e eu me levantei, pois Hortência me chamou para um
canto da cela.
— Você ajudou a Joana, não foi? — ela sussurrou.
— Não sei do que você está falando.
— Eu sei que foi você. É um belo gesto querer cuidar de alguém que
você não conhece direito.
Hortência me apertou o ombro e me sorriu. Eu não precisava admitir,
ela sabia e sabia que eu preferia o silêncio do que ter meu nome associado a
esse gesto.
No horário de banho daquele dia, uma guarda se aproximou de mim e
me entregou um bilhete: “Seja bem-vinda de volta!” Olhei em volta com o
coração disparado e a mulher se afastou de mim. Era um recado das capangas
de Célia, pois ela estava na solitária desde a minha ida para o hospital e
parece que essa era sua última semana de reclusão.
Dois dias depois da minha volta, um guarda veio até mim e ficou
parado ao meu lado.
— Não se preocupe, se precisar de ajuda com alguma coisa, estarei por
perto. — Olhei-o e ele se afastou.
Pelo menos Maitê tinha conseguido alguém para me ajudar caso Célia
voltasse a me atormentar. Não que aquele gesto tenha me dado tranquilidade.
No dia de sua visita, Maitê me trouxe chocolate.
— Os dois quilos que você engordou no hospital já estão sumindo.
Eu apenas sorri.
— Você está bem?
— Não. Corre a notícia de que Célia será solta amanhã e eu não tenho
onde me esconder.
— Por que ela iria querer bater em você de novo? Foram quase quatro
semanas na solitária.
— Mazinha, ela não tem o que perder, já te disse isso. Aqui dentro tudo
é diversão para ela e eu sou seu novo rato.
— Eu consegui achar um guarda para te ajudar.
— Ele já falou comigo, obrigada. Vamos ver se ele será eficiente
mesmo.
— Ele eu não sei, mas meu novo investigador, está no rastro dos dados
do roubo. Ele conseguiu filmagens do Hélio e do Samuel com o detetive do
seu caso, talvez podemos relacionar as provas contra você como forjadas. E
ele também está no rastro dos dados bancários do detetive, parece que
recebeu propina recentemente. Um valor exorbitante. E parece que temos
uma filmagem de Ágatha saindo do prédio dela na sexta-feira pela manhã, ela
entrou em um carro que ainda não identificamos.
— Finalmente uma informação boa?
— Sim! Vamos identificar as transações bancárias em breve e talvez a
filmagem.
— Espero que nos dê mais luz para este caso.
— Dará, bebê, dará.
— Mais alguma novidade boa?
— Cíntia voltou a me procurar.
— E isso é bom?
— Não. — Ela riu — Mas voltou a me procurar quando descobriu que
estou frequentando o clube de BDSM. Está toda curiosa para saber porque
voltei a frequentar lugares promíscuos como esse.
— Promíscuos porque ela não sabe o quanto a liberdade sexual pode
ser boa. Não vai cair na lábia dessa idiota, não é? Ela teve você por quase
cinco anos e não te deu valor.
— Ciúme?
— Claro! Sempre tive ciúme dela com você. Se você voltar com ela,
você vai apanhar de mim e não vai ser nada prazeroso.
Ela riu alto.
— Bebê, se acalme. Eu não vou voltar com ela, só se ela se rastejar e
beijar minhas botas. Eu não vou mais me anular por mulher nenhuma.
— Ai, que vontade de sentir o peso da sua mão na minha bunda, Maitê!
Eu ri e ela riu mais alto ainda.
— Posso pedir uma visita íntima para nós.
Eu ri e apertei-lhe a mão.
— Não brinca com uma coisa dessas, depois vão falar que temos
conflitos de interesse no tribunal.
Ela riu e me mordeu devagar o dorso da minha mão.
— Eu odeio ter esperanças…
— Melhor ir devagar com esse negócio de esperanças.
— Sim, senhora.
— Não me provoque, Anelise!
— Não estou, senhora.
— Ainda sonha com a Ágatha?
— Todo dia. — Eu disse chateada.
Ela me olhou e apenas acatou minha chateação.
Despedimo-nos com um abraço interrompido na metade e voltei para
minha cela. Dividi meu chocolate com Joana e Hortência. Nádia não falava
mais comigo e nem se aproximava, melhor assim, não preciso de mais uma
pessoa para me irritar.
Capítulo 34
Quatro meses atrás
Eu fiquei preocupada com o câncer da mãe da Ágatha, ainda não fomos
apresentadas e eu raramente lembro do nome dela, mas sinto-me responsável
por ela de alguma forma. Quando me contou sobre a descoberta me coloquei
no lugar dela e apesar de não ter um relacionamento com minha mãe entendi
o que ela estava passando.
No sábado, ela tinha aquele maldito jogo de futevôlei e eu queria
insistir para ela ficar em casa e eu cuidar dela. Mas achei sensato ela ir e se
divertir um pouco, esquecer da doença da mãe por algumas horas. Naquela
semana a mãe dela tinha ido visitar alguns, poucos, parentes que tinham em
uma cidadezinha do interior do Paraná e Ágatha não teve coragem de falar
das notícias por telefone.
Antes de sairmos para o jogo, cuidei dela, fiz café, carinho e uma
vitamina e ela respondia a tudo como se estivesse no automático. Ela vestiu
um short florido e uma regata com um top por baixo e eu vesti um micro
biquíni preto que deixava as marcas da quarta-feira à noite em evidência.
Ágatha estava sentada na minha cama me observando enquanto me vestia.
— Você não vai esconder estas marcas? — Ela me olhou séria.
— Você me marcou e não quer mostrar ao mundo que sou sua?
— Quero mostrar sim.
Eu me ajoelhei na sua frente.
— Lembra quando eu disse que gosto de exibicionismo e voyeurismo?
— Sim.
— Mostrar as marcas de um spank está na minha lista de exibições,
mas se você não quer que eu mostre, posso usar outro biquíni.
— Vou adorar ver sua bunda marcada sendo exibida na praia.
Ela me deu um selinho e finalmente parecia estar mais presente no
mundo do que antes. Vesti um short social curto e uma camisa alinhada.
Ágatha estava no comando de tudo, até mesmo do meu celular. No elevador,
encontramos vizinhos, mas nem por isso ela saiu de trás de mim ou largou
meu corpo do seu abraço habitual. O táxi já estava na porta do prédio quando
saímos.
Ágatha andou na frente até seus amigos e eu a segui de longe e com as
mãos no bolso. Elizabeth estava de costas para nós e Ágatha foi recepcionada
com abraços e beijos no rosto.
— Onde está a sugar mommy masoquista? — Ouvi Elizabeth
perguntando para Ágatha.
— Nunca mais se refira a Anelise desse jeito. — Ela respondeu brava.
Eu me aproximei delas devagar e Ágatha fez Elizabeth se virar e me
olhar.
— Peça desculpas a ela. — Ágatha apertou o braço da amiga.
— Qual é Ágatha, pare de ser chata, foi só uma brincadeira.
— Eu estou cheia das suas brincadeiras e suposições. Peça desculpas a
ela.
Elizabeth me olhou furiosa e me pediu desculpas. Afastou-se de nós e
eu agradeci Ágatha pelo gesto. O dia prometia ser quente. Tirei a blusa e
observei a amiga de Ágatha, Maria Augusta, me olhando. Ágatha se
aproximou de mim e abriu o botão do meu short enquanto me beijava, abriu o
zíper e deixou-o cair pelas minhas pernas. Ouvi uma expressão de espanto
vindo da amiga dela. Aproximou-se de nós ainda espantada.
— Ágatha, você bat…
— Calma, Guta!
Ela me olhou e eu sorri.
— É consensual, não se preocupe.
— Quando crescer quero ser igual você. — Guta riu.
Ágatha riu alto e eu acabei rindo também.
Eu fui até o mar me molhar e me refrescar. Fiquei por um bom tempo
sozinha envolta com meus pensamentos, vi que os jogos começaram e logo
seria a vez de Ágatha. Voltei e sentei em uma cadeira ao sol para me secar. O
primeiro set finalizou e Ágatha e Elizabeth mostraram o porquê eram
campeãs três vezes consecutivas. As duas pareciam ter nascido para o
futevôlei. Estava tão entretida com o jogo que não percebi que uma mulher
havia sentado ao meu lado.
— Anelise Arantes, você é uma garota difícil de ser encontrada.
A mulher segurou minha mão e o pânico tomou conta do meu corpo
instantaneamente.
— Não ouse gritar.
Sua voz me invadia trazendo à tona todos os abusos que eu já tinha
sofrido em sua mão. Meu corpo tremia e minha garganta estava fechada sem
sinal de vida para poder gritar.
— Você vai se levantar e me acompanhar quieta.
Meu corpo não era meu, meus dentes rangiam, sua mão me apertava
insistindo para que levantássemos. Eu não queria obedecê-la, me lembrei das
surras que levei quando neguei o que queria. Sua mão esmagava a minha sem
dó. Katherine me olhava com raiva e eu conhecia muito bem aquele olhar.
— Levante-se ou vamos ter que começar seu castigo aqui.
Olhei a quadra, Ágatha estava de costas, jogando, ninguém parecia se
importar. A bola foi jogada alta pela dupla adversária e passou por Ágatha
vindo em minha direção. Achei que tudo tinha sido minha imaginação, mas
não era. Minha respiração falha e lenta era resultado da sua proximidade. Vi
Ágatha correndo em nossa direção e levantando Katherine da cadeira com
força e braveza. Katherine é mais alta e mais forte do que Ágatha, mas era a
minha garota que dava socos e pontapés. Saí do meu transe e me levantei
indo em direção das duas. Segurei a mão de Katherine antes de atingir o rosto
de Ágatha com um soco e ela me olhou com raiva.
— Chega! — apertei-lhe o pulso e empurrei-a para longe.
— Você não tem o direito de aparecer aq… — Ágatha começou a falar.
— Cala a boca, pirralha! — Katherine tentou outro tapa no rosto de
Ágatha, mas eu segurei sua mão novamente.
— Você pertence a mim, Anelise!
— Não pertenço e nunca pertenci. — Eu disse brava apertando seu
pulso.
— Você e sua advogada me roubaram.
— Você quer dinheiro? É isso?
Eu fui até a bolsa de Ágatha e peguei meu celular.
— Quanto você quer para sumir da minha vida? Fale o valor que eu
transfiro agora.
— Essa não é a pergunta certa, honey.
Ela me segurou o queixo com a mão livre e aproximou nossos rostos.
— Você se lembra do nosso apelidinho, honey? Hein! Você contou
para sua nova dona como você gosta de ser chamada, hein?! Contou, vadia?
Seu olhar penetrante me dominava, seu toque em meu queixo, sua pele
na minha me deixava em estado de pânico e petrificada. Ágatha empurrou
Katherine para longe de mim e ela ria do esforço que a garota tinha que fazer
para empurrá-la. Eu não escutei o que Ágatha disse a ela, mas logo ela saiu
de perto de nós sumindo na multidão. Ágatha me fez olhá-la e eu abracei-a
ainda tremendo.
— Calma, minha menina, calma. — Ela acariciava minha cabeça e
sussurrava.
Depois de alguns minutos me acalmando perguntaram se ela voltaria
para o jogo e ela me olhou tentando entender minhas emoções.
— Não deixe essa louca estragar o campeonato. — Beijei-a, mas ela
não voltou para terminar o jogo.
— Vem sentar-se comigo.
Puxou-me até uma canga estendida no chão e sentou atrás de mim me
abraçando.
— Você quer ir embora?
— Não, já estou melhor.
— Tem certeza? Podemos ir sem problemas.
— Sim. Desculpe te envergonhar na frente dos seus amigos.
— Você não tem culpa da aparição dela.
— Mas ela veio atrás de mim.
— Eu não me senti envergonhada pela aparição dela e não foi sua
culpa.
Encostei meu corpo nela e fui recepcionada por um abraço e um beijo
no rosto.
— Você roubou dinheiro dela?
— Maitê fez ela me pagar uma indenização alta por danos morais,
físicos e psicológicos.
— Então foi justo e aposto que ainda foi pouco pelo que ela te causou.
O que fez com o dinheiro?
— Nada. Prometi a mim mesma que só mexeria no dinheiro quando eu
me sentisse cem por cento segura longe dela.
— Se ela tivesse dito um valor, você teria dado?
— Sim.
Guta se aproximou de nós com duas cervejas e não tivemos outros
incidentes durante o dia. Ela nos fez contar mais sobre a prática BDSM.
Após, uma explicação quase minuciosa sobre gostos e costumes do BDSM,
Guta foi jogar e Ágatha me envolveu em um beijo ardente e caloroso. Fiquei
excitada com o gesto e percebi que ela também, afinal estávamos juntas
desde quarta e não nos tocamos intimamente quinta e sexta.
No percurso para meu apartamento, ela me atiçava roçando os dedos na
minha buceta por cima do meu short. No elevador, ela se conteve, afinal
tínhamos companhia. Entramos no apartamento e nossas bocas se grudaram
imediatamente e o calor do corpo emanava sedução. Ela me encostou na
parede com gana e se apossou do meu corpo com desejo. Os beijos lascivos,
fortes e longos demonstravam anseio pelo encontro que chegava a ser
obsceno.
— Me bate. — Eu supliquei em seus lábios.
Ela me olhou sorrindo.
— Me bate. — Disse encarando-a.
Ela se afastou e sentou no sofá, bateu nas pernas e me mandou deitar
nelas sem roupa. Era a primeira vez que eu suplicava para alguém me bater,
tirei a roupa e me deitei. O primeiro tapa me arrancou um gemido de prazer e
satisfação por estar apanhando. Sua mão direita me acertava tapas seguidos e
eu apenas apreciava sua mão me batendo cada vez mais ritmada. Passou a
mão esquerda por baixo do meu corpo alcançando meu clítoris durinho e
cheio de tesão. Eu me esfreguei em sua mão procurando alívio e ela parou
com os tapas e afastou a mão de mim.
— Eu estou satisfazendo um desejo seu e é com rebeldia que você me
agradece? Eu mandei você se esfregar em mim? — Sua voz estava um misto
de excitação e braveza.
— Não, senhora, me desculpe.
— Vamos tentar mais uma vez. Comporte-se.
Sua mão me acertou a nádega com força e eu agradeci
espontaneamente. Apertou meu clítoris entre os dedos e continuou a me
bater, o baque da mão mexia minha buceta em seus dedos e a pressão no
clítoris aumentava. Eu apertei o estofado para me controlar e não me esfregar
em sua mão. A excitação era alucinante e os tapas eram o estímulo certo para
que eu gozasse em suas pernas. Ela esfregava meu clítoris e me batia
alternando as nádegas, meus gemidos a incentivavam a continuar. Meu êxtase
foi vertiginoso e meu corpo tremia de prazer. Ela trocou as mãos e agora me
batia com a esquerda e me penetrava com a mão direita. O segundo gozo foi
avassalador e eu amoleci em suas pernas. Ágatha alisava minhas nádegas
ardentes e passeava a outra mão pelas minhas pernas. Meu corpo respondia
aos toques com leves espasmos pós-gozo e eu vi que ela sorria enquanto me
alisava. Ela pediu para eu me ajoelhar na sua frente. Obedeci e ela me sorriu.
— Obrigada por me bater, domme.
— Você é perfeita!
— A senhora também é perfeita.
Ela me sorriu e me deu um selinho. Levantou-se.
— Vamos tomar banho, ainda tenho mais coisas para fazer com você
essa noite.
— Sim, senhora. — Eu me levantei.
A noite foi pequena para tanta imaginação.
No domingo, após o almoço, ela se despediu indo para a casa da mãe
dela. Iria finalmente contar tudo o que os médicos haviam descoberto, sugeri
de ir junto, mas ela achou melhor eu não ir. Afinal eu não conhecia a mãe
dela e poderia ser estranho ouvir sobre sua doença na minha presença. No fim
do dia, ela me ligou com a voz embargada e eu queria que estivesse comigo
em meus braços, tentei acalmá-la como pude e na segunda-feira logo cedo
puxei-a para minha sala e abracei-a por um longo tempo.
Tentamos quatro oncologistas diferentes naqueles meses, mas todos
tinham o mesmo diagnóstico, câncer no cérebro. Alguns davam dois meses
de vida, outros davam um ou dois anos. A luta para se manter firme diante da
mãe acabava com Ágatha, e era em meus ombros que ela desabava. Chorava
com medo de perder a mãe e eu, muitas vezes, apenas escutava seus
desabafos.
A empresa inteira ficou sabendo do câncer da mãe dela e não foram
poucas vezes que vi Samuel conversando com ela no saguão do nono andar.
Era uma cena quase que diária. Eu me incomodava, mas não tinha coragem
de confrontá-la naquele estado. Os primeiros meses da doença nos afastou
sexualmente, afinal, ela não tinha vontade de nada além de lutar pela mãe. Eu
neguei minhas vontades por ela, engoli meus desejos até onde pude, mas
Maitê estava tão carente quanto eu. Nós nos encontramos uma vez no meio
dessa tempestade toda e a cena foi intensa e extremamente prazerosa, mas
meu corpo sentiu sua falta.
— Você não perde o jeito mesmo não fazendo isso com frequência. —
Eu disse deitada em suas pernas — Mas não devíamos ter feito isso.
— Eu e a Cíntia estamos brigando cada vez mais, não sei se isso tem
solução.
— Mostra quem manda, Mazinha.
— Eu não posso fazer nada que ela não queira, bebê.
— Você ao menos falou com ela sobre tentarem?
— Não.
— Fale! Isso vai acabar te frustrando mais do que já está. Duvido que
ela te faz gozar como eu fiz hoje.
Ela não respondeu e eu lhe dei um selinho. Essa cena com Maitê me
proporcionou alívio sexual, mas não emocional. Eu precisava de Ágatha, das
mãos dela, da voz dura e sexy, ela sabia cuidar de mim melhor do que
qualquer outra pessoa. Maitê não me deixou marcas e acredito que Ágatha
não tenha percebido meu erro, afinal ela estava cada dia mais aérea com a
situação da mãe. Pode ter sido traição e provavelmente a esta altura do nosso
envolvimento, foi uma traição. Eu me arrependo de ter feito essa cena com
Maitê, mas não pretendo contar a Ágatha sobre isso.
Capítulo 35
Dias atuais - Décima terceira semana
Maitê tinha conseguido a transferência de Joana para uma instituição
psiquiátrica e quando foi se despedir de mim chorou porque queria que eu
fosse junto.
— Vou te visitar, assim que sair daqui, vou te visitar, está bem?
— Você jura?
— Sim!
— Quem vai cuidar de mim?
— Neste lugar você será bem tratada e se não for, pode me contar que
dou um jeito. Assim que chegar lá, me escreva contando como foi, o que
acha?
Passei a mão em seu rosto e ela me abraçou novamente. Foi uma
despedida boa, seria para o bem dela.
Na manhã seguinte, Maitê veio me visitar e estava com um sorriso no
rosto.
— Conheço esse sorriso, quem é a garota?
— São tantas, bebê.
Eu ri alto e ela também.
— Mas tem uma que está me agradando muito, se chama Carla.
— Já estou com ciúme.
— Ainda tem espaço para você.
Ela riu e eu fiquei feliz por ela estar voltando a ser a Maitê que eu
conheci quando me divorciei.
— Mas vamos falar de mais coisas boas. Conseguimos descobrir que o
dinheiro roubado foi transferido logo após a polícia levar você para
interrogatório. Então podemos alegar que você estava detida e que não pode
fazer o saque de dez milhões.
— Mas fizeram com a minha senha pessoal, não foi?
— Sim, mas Samuel é seu chefe e em teoria ele pode pedir sua senha
para o departamento de informática da empresa. E os registros de segurança
mostram Hélio entrando na sua sala e pegando seu notebook que está
desaparecido até hoje.
— Seria ótimo tirar essa acusação de cima de mim.
— Vamos tirar, bebê. Esse vídeo era tudo o que precisávamos para
trabalhar a teoria de que os dois sumiram após sua prisão porque roubaram o
dinheiro.
— E os dados bancários do detetive?
— Descobrimos a origem de várias transações, inclusive uma
diretamente da conta fantasma de Hélio. Nós os pegamos!
— Mas o detetive não vai admitir essas coisas.
— Estamos trabalhando nisso, bebê. Vamos entregar um dossiê das
transações para a polícia.
— Será que agora posso ter esperanças de pelo menos pegar menos
tempo nessa prisão?
— Você não vai ficar aqui, eu me recuso a perder essa.
— Mais alguma notícia boa?
— Por hora é isso.
— Conte-me sobre essa tal da Carla.
— Ane, ela é perfeita!
— Ei, você disse que eu era perfeita.
— Você também é, bebê. — Ela riu — Mas você é insubordinada fora
de uma cena. Muito insubordinada. — Ela riu de novo — Ela não, ela só fala
se eu der permissão ou se eu perguntar algo, até mesmo se for fora de uma
cena.
— Eu odiava isso em você, me fazer ficar quieta.
Ela riu alto.
— Como se alguém conseguisse fazer você ficar sem dar respostas.
— Ágatha conseguiu algumas vezes, mas eu odeio ser restringida de
falar.
— Por que você é insubordinada.
Eu ri alto e ela também.
— O que mais essa perfeição faz?
— Ela é compatível com todos os meus gostos. Todos sem exceção.
— Até mesmo o sufocamento?
— Sim. Ela adora quando eu seguro seu pescoço com força enquanto a
fodo.
— Quando vai ser a cerimônia de encoleiramento?
— Calma, ainda tenho que testá-la mais vezes.
— Você e seus testes. Tenho até arrepio de alguns deles. — Eu ri.
Ela riu e me apertou a mão. Nosso tempo estava chegando ao fim e nos
despedimos com um abraço rápido.
Desde quando Célia saiu da solitária, ela estava quieta e não tentou
nada contra minha integridade física, mas estou sempre de olho. O guarda
que Maitê pediu para me ajudar estava sempre por perto e isso me dava mais
segurança. Olhares ameaçadores eu sempre recebia, mas já estava
acostumada a isso.
Depois que voltei do hospital, sinto muita dor de cabeça no fim do dia.
Estava sentada no colchão encostada na parede quando Nádia entrou e se
sentou ao meu lado.
— Eu ouvi nos corredores que Célia está armando outro ataque contra
você. Eu não devia ter falado sobre seus gostos sexuais para ela, errei em
fazer isso, me desculpe. Tome cuidado, ela está com raiva por ter ficado na
solitária por tanto tempo.
— Obrigada pelo aviso.
Eu não a olhei.
— Meu julgamento é depois de amanhã e com certeza vou ser
condenada e passarei para a outra ala. Espero que dê tudo certo no seu
julgamento, se não der e precisar de ajuda do outro lado, me procure.
Ela me beijou o topo da cabeça e se levantou.
— Ei! — ela me olhou — Boa sorte, espero que não fique muito tempo
aqui.
— Isso é improvável. — Ela me sorriu e saiu aproveitando o pouco
tempo que ainda tínhamos para comer.
Eu estava com medo de ter esperanças com as novas descobertas,
odiaria permanecer aqui. Samuel e Hélio são dois filhos da puta e eu vou até
o fim para provar a culpa dos dois. Quero sair daqui logo, maldita palavra
que nos faz acreditar em possíveis milagres.
Capítulo 36
Dois meses antes do sumiço

A estabilidade do câncer da mãe de Ágatha fez seu desejo sexual voltar


com tudo e eu agradeci por não ter mais cedido às investidas de Maitê. Ela
me recompensou por cada minuto que fiquei sem ela. Estávamos largadas no
tatame depois da cena e dos gozos, eu estava deitada com minha cabeça em
seu ventre, ela me alisava os cabelos e eu não sentia que estava em meu
corpo, estava flutuando pela sala.
— Eu preciso te contar uma coisa.
— Diga. — Eu não me mexi, não queria perder seu cafuné.
— Hoje é meu aniversário.
Sentei rápido e olhei-a profundamente.
— Por que me contou isso só agora?
Ela me sorriu e eu passei a mão em seu rosto.
— Não sou aficionada por aniversários. — Ela deu de ombros.
Eu sentei em seu ventre e prendi seus braços acima da sua cabeça.
— Mas eu sou. — Beijei-a com desejo — Vamos sair para comemorar.
— Não quero, não trouxe roupa para sair.
— Eu tenho acesso ao seu celular, ao seu computador, à sua vida, acha
mesmo que eu não sabia que hoje era o seu aniversário? — Eu ri.
Ela sorriu e me puxou para um beijo ardente e me deu um tapa na coxa.
— Não pode me enganar desse jeito, passei o dia todo chateada.
— Você disse que não liga para aniversários… — Eu me levantei e
estiquei a mão para ajudá-la a se levantar.
— Não ligo para comemorações, mas gosto de ser cumprimentada. —
Segurou minha mão.
Levantei-a e abracei beijando seu pescoço.
— Eu amo o que estamos vivendo. Amo seu sorriso e nossa interação,
quero que tudo continue evoluindo com essa energia boa e de confiança.
Ela me abraçou e me beijou com desejo.
— Vem! — Puxei-a para fora do quarto — Vamos comemorar seu
aniversário!
— Já que insiste, vamos! — Ela riu.
Enquanto Ágatha tomava banho, deixei a roupa que eu havia comprado
para ela em cima da minha cama e me despi para entrar no chuveiro e lhe
fazer companhia. Agarrei-a por trás beijando seu pescoço e apertando-a
contra meu corpo. Virou-se de frente para mim, eu sorri e ensaboei a bucha
para começar a dar-lhe banho.
— Está tudo bem?
— Sim. Só estava pensando no quanto você mudou desde de quando
nos conhecemos.
— Para melhor?
— Sim. — Ela riu.
Terminei de lavá-la e contei sobre a roupa que a esperava, agradeceu e
saiu do box. Quando saí, ela já estava vestida e terminando de se maquiar.
— Onde vamos?
Apenas lhe sorri e não respondi. Olhei-me no espelho do quarto e vi
que minha bunda estava mais vermelha do que imaginei, ela apenas me sorriu
satisfeita com a obra de arte. Vesti-me e pedi para ela pegar minha carteira na
gaveta da mesa de cabeceira.
— Este presente é meu? — Ela perguntou ao abrir a gaveta.
— Sim!
Ela sentou na cama e pelo espelho vi sua expressão de felicidade e
curiosidade. Abriu e ficou olhando a caixa sem reação por alguns segundos.
Tirou o relógio da caixa e colocou-o. Olhou-o no pulso e se aproximou me
abraçando por trás.
— Não preciso perguntar como descobriu o modelo que eu queria,
preciso? — Ela me olhava através do espelho.
— Não! — Eu sorri.
Ágatha parecia estar emocionada com os meus gestos, mas não
comentei nada. Descemos até a garagem e eu lhe entreguei a chave do carro
recém comprado.
— Quer dirigir?
— Eu preciso fazer aniversário mais vezes ao ano. — Ela riu e pegou a
chave.
Ágatha guardou uma pequena bolsa no banco de trás e eu coloquei a
localização no GPS e ela me olhou curiosa.
— Conheço esse bar.
— Que bom, assim não precisamos dessa voz chata do GPS. —
Desliguei o aparelho e coloquei uma música.
— Você sabe meu bar favorito e a minha playlist favorita?
— Sim, desde quando nos conhecemos.
— Você sabe que eu estou em desvantagem com suas invasões
cibernéticas, não sabe?
— Sim. — Eu ri e ela me puxou para me dar um selinho.
Ela dirigiu cantarolando algumas das músicas e eu comecei a ficar
ansiosa com a reação que ela teria ao chegar no bar. Eu não sou muito boa em
demonstrar afeto, mas com Ágatha tudo não só parecia diferente, como tudo
era diferente. Estacionou e me olhou sorrindo. Andamos lado a lado até a
porta. Quando entramos e ela percebeu que todos os seus amigos estavam ali,
com uma faixa escrito: “Feliz Aniversário” rosa, bexigas e chapéus, ela
travou. Todos gritaram surpresa e algumas meninas correram para o seu
encontro. Ela não correspondia direito aos abraços. Depois que todos a
cumprimentaram, ela veio em minha direção e me abraçou forte e começou a
chorar. Também a abracei com força e esperei que se acalmasse.
— Você é perfeita. — Ela me sussurrou.
— Por que está chorando?
Ela não respondeu e me beijou com desejo. Ouvi alvoroço dos seus
amigos por causa do gesto.
— Porque estou feliz, nunca tive uma festa de aniversário surpresa.
— Eu faço qualquer coisa para ver teu sorriso.
Ela me olhou sorrindo e me beijou os lábios.
— Obrigada! Quem te ajudou a armar tudo isso?
— Elizabeth.
— Vocês estão amiguinhas é?
Eu ri e beijei-lhe a testa abraçando-a.
— Não, ainda não gosto dela, mas a Guta não sabia tanto sobre você
como Elizabeth sabe. Vai lá se divertir com seus amigos, vou ficar aqui no
bar te observando.
— Quero te apresentar a todos, posso?
— Pode, mas não me apresente como sua chefe.
— Peguete? Ficante? Namorada? Sub gostosa?
Eu ri da sua cara de curiosa.
— Sub gostosa iria causar muito alvoroço? — sussurrei em seu ouvido.
— Ia.
— Você quer alvoroço?
— Melhor não, minha mãe não ia entender nada.
Eu ri e beijei-lhe a boca.
— Deixa eu te apresentar como namorada?
— Pode ser, já que armei a surpresa toda, mereço uma posição melhor
do que ficante e peguete.
— Se eu pudesse eu te dava o mundo. — Ela me sussurrou.
— Cuidado que posso cobrar isso depois.
Ela riu alto, me beijou e puxou para perto dos amigos. Apresentou-me e
Elizabeth nos olhou espantada, pois sabia da minha posição na empresa. Eu
já conhecia alguns, mas a maioria eram rostos desconhecidos me olhando e,
talvez, julgando.
Voltei ao bar em tempo de ouvir a mãe da Ágatha conversando com
Elizabeth: “Ágatha tem mau gosto para escolher namoradas, veja só essa
talzinha que ela trouxe hoje. Se veste como homem.” Elizabeth não
respondeu nada e eu pedi uma cerveja. Ágatha veio sorrindo em minha
direção e se pendurou em meu pescoço me beijando.
— Eu não sei como falar isso, mas acho que sua mãe não foi com a
minha cara.
— Ela anda mal-humorada com tudo, relaxa. Você quer que eu te
apresente formalmente a ela?
Ágatha não me deixou responder e me puxou até a mãe dela.
— Mãe, essa é a Anelise.
Sentamos na mesa com ela e a mulher me olhava carrancuda.
— Ela que nos ajudou com os oncologistas.
— Ela é sua chefe, isso não é certo! — a mãe dela me encarou brava.
— Mãe! Aqui fora ela não é minha chefe. Você não entendeu o que eu
disse? Foi ela quem nos ajudou com a conta dos oncologistas. — Enfatizou a
palavra conta.
— O que quer que eu faça? Agradeça? Ache isso normal?
— A senhora não precisa agradecer, só peço que tente me conhecer
antes de me julgar pelas roupas que uso ou pelo cargo que tenho.
— Você não serve para minha filha.
Eu levantei da cadeira, não queria ser indelicada, peguei a garrafa de
cerveja e saí do bar. Fiquei parada perto da porta e logo senti Ágatha me
abraçar por trás.
— Não ligue para o que ela fala.
Ela colou mais o corpo em mim e eu bebi um gole de cerveja.
— Eu rezei tanto para que vocês se entendessem.
— Acho melhor mudar de santo. — Bebi mais um gole de cerveja.
— Você é perfeita. — Ela me virou de frente para ela — Você é minha
menina perfeita. Não ligue para a minha mãe, ela anda rabugenta demais por
causa da doença. Tudo é motivo para ela se zangar.
— Vai lá aproveitar a sua festa, vou para casa.
— A festa não será a mesma sem você.
— Eu vou para casa, não sou fã de festas.
Ouvimos uma algazarra e uma voz cantando samba.
— Por favor, você pagou pela festa e não vai ficar?
— Ágatha, eu fiz a festa para você e seus amigos.
— Você tem que ficar! É uma ordem!
— Não vou poder te obedecer. — Beijei-lhe os lábios e sai andando.
— Não! Você tem que ficar. — Ela me alcançou e segurou meu braço
— Ou eu vou embora com você.
— Você merece uma noite com seus amigos.
— Mas eu…
Beijei-a com desejo.
— Nossa comemoração será em particular. Aproveite a festa, o samba e
os seus amigos.
— Eu te apresentei como namorada e você vai me abandonar aqui
sozinha? Não é justo você ir embora. — Eu respirei fundo e olhei-a confusa
— Por favor! Eu espero que você fique até o final, ao meu lado e esqueça o
que minha mãe disse. E se ela falar alguma coisa que você não gostar, revide.
E lembre-se que para mim você é perfeita, mesmo se aos olhos dos outros
você seja imperfeita.
Eu sorri e ela me puxou para um abraço.
— Por favor, fique. — Sussurrou — Eu preciso de você ao meu lado.
— Me beijou suavemente.
Acatei seu pedido e entramos no bar novamente. Após algumas
músicas, ela estava no meio da pista de dança e eu em pé observando-a de
longe. Elizabeth se aproximou de mim.
— A festa ficou boa. — Eu disse.
— Sim. — Ela me devolveu o cartão de crédito que eu o havia dado
para cobrir os gastos da festa.
— O que você sente pela Ágatha?
— Você já amou alguém — Eu olhava Ágatha sambando com Guta
enquanto ela falava — a ponto de desejar a felicidade dela mesmo que seja
com outra pessoa?
— Sim. — Pensei em Maitê e sorri.
— Eu demorei para entender isso, mas eu desejo a felicidade da Ágatha
mesmo se for para ser contigo e não comigo.
— Obrigada. — Olhei-a e ela se afastou.
— Elizabeth, — Ela me olhou — não se preocupe que um dia esse
amor passará e você encontrará outra pessoa para amar.
Ela não respondeu e se afastou.
Ágatha estava me olhando de longe e eu lhe sorri fazendo sinal para ela
se aproximar de mim. Ela negou com a cabeça e continuou dançando, eu ri e
me aproximei puxando-a para perto de mim. Encaixei seu corpo no meu,
pousei minha mão em sua lombar e segurei-lhe a mão. Ela me sorriu e meu
pé direito deu o início à dança. Um passo para trás e nossos corpos entraram
em sincronia como se já tivessem feito aquela dança. Fiz um giro simples
com seu corpo e puxei-a para perto de mim de novo. A música acabou e ela
me beijou sem pudor e com desejo.
— Quem te ensinou a dançar?
— Katherine.
— Pelo menos ela fez algo de bom com você. — Me beijou sorrindo.
No fim da festa, eu estava levemente alcoolizada e ela veio até mim
depois de sair do banheiro e se pendurou em meu pescoço sorrindo.
— Vamos para casa, quero abusar de você.
No estacionamento, ela abriu a porta de trás do carro para mim.
— Tem um presentinho para você na bolsa. — Ela me olhou
maliciosamente e me entregou a bolsa.
Eu não tinha visto que ela tinha descido com a bolsa. Entrei no carro,
sentei no meio e esperei ela entrar. Abri a bolsa tirei um sachê de lubrificante
e uma corda com bolas tailandesas. Eu segurei o cordão pela argola de
segurança e mostrei para Ágatha.
— A senhora não acha que já usou demais o meu corpo hoje?
— Você está bêbada? — ela riu.
— Levemente alcoolizada.
Ela riu alto e me olhou.
— Quer descansar ou posso abusar mais um pouco de você?
— Abuse o quanto quiser.
— Temos mais ou menos — olhou o relógio novo — vinte minutos até
chegarmos na sua casa.
— Sim. O que deseja?
— Me dê a sua calcinha. Você está com sono? Se não estiver em
condições podemos fazer isso outro dia.
— Não. Estou bem, pode ficar tranquila. Você sabe que para eu te
entregar minha calcinha eu tenho que tirar toda a minha calça e os sapatos,
não sabe?
Ela riu e disse que sabia. Tirei os sapatos e coloquei no banco da frente,
tirei a calça e fiz o mesmo. Tirei a calcinha e entreguei na mão dela. Ágatha
pendurou a calcinha no retrovisor e me olhou sorrindo.
— Sente bem na beirada do banco e abra bem as pernas. Os bancos
serão uma forma de barreira para você não fechar as pernas. Suas mãos vão
ficar esticadas para trás segurando seu corpo para ele não se mover. Entregue
a mim as bolas e o sachê.
Obedeci a suas ordens, ficando na posição que queria e entreguei os
objetos a ela.
— São cinco esferas, vou colocar uma de cada vez, uma a cada quatro
minutos de trajeto. Não pode deixar que elas saiam de você. Se ela sair vou
acrescentar quatro minutos na nossa viagem. Entendeu?
— Sim, senhora.
Ela passou lubrificante na primeira bola e com delicadeza enfiou-a em
minha buceta, as contrações do meu corpo queriam expulsar o objeto. Com o
dedo ela enfiou mais fundo, até a segunda ficar perto da entrada. Ligou o
carro e saiu do estacionamento. Eu não queria respirar para não causar
espasmos em meu corpo. Ligou o ar-condicionado e o vento vinha direto para
o meio das minhas pernas.
— Respire normalmente, Ane.
Andou alguns quarteirões e paramos em um semáforo. Ela enfiou a
segunda bola e o uso do lubrificante era dispensável, eu estava extremamente
excitada. Andou mais um pouco e passou o dedo pelo meu clítoris para me
provocar mais. Andou mais e logo sua mão estava me causando mais um
espasmo corporal enfiando a terceira bola. Ela brincou com meu clítoris e
quase me fez expulsar uma das bolas, tamanha era minha excitação. Paramos
em outro semáforo e ela me bateu na parte interna da coxa. Mais uma bola foi
introduzida e o ar gelado me atingindo se misturava ao calor que emanava de
meu sexo excitado e me fazia ter a reação de querer fechar as pernas. Ágatha
estava se divertindo em me ver naquela situação. A última bola foi
introduzida quase na frente do prédio do meu apartamento. Esperou a
garagem abrir e quando estávamos entrando mandou eu fechar as pernas e me
vestir. Eu gemi de prazer ao fechar as pernas. Pedi pela minha calcinha.
— Menina safada não usa calcinha.
Vesti a calça com certa dificuldade e calcei os sapatos. Ela estacionou o
carro e mandou eu ficar sentada enquanto ela dava a volta para abrir a porta
de trás do passageiro para eu descer. Quando saí do carro, senti todas as bolas
se movimentarem dentro de mim. Andamos até o elevador e eu olhei-a com
vontade de pedir para ela me deixar gozar. Ágatha me sorriu e me abraçou até
o andar do meu apartamento. Eu tremia de prazer.
— Calma, minha menina, você está quase completando sua missão.
Sua voz sussurrada em meu ouvido me deu mais estímulos sexuais.
O elevador parou e entramos rapidamente no apartamento.
— Sente-se no sofá do mesmo jeito que sentou no carro, tire tudo.
Tirei a calça e os sapatos e obedeci. Sentei e senti as bolas querendo
escapar, fechei a perna instantaneamente.
— Abra as pernas, minha menina.
Ela se ajoelhou na minha frente e abriu minhas pernas. Amarrou os
cabelos e me olhou sorrindo.
— Encoste no sofá, relaxe e aproveite.
Ela se perdeu no meio das minhas pernas e me lambeu me arrancando
um palavrão. Sem parar de me chupar, ela tirou a própria calcinha e enfiou na
minha boca.
— Sem palavrões.
Ela falou me olhando do meio das minhas pernas, que visão sexy.
Voltou a me chupar e meu corpo queria expulsar as bolas e ela enfiava de
volta. Sua língua me castigava agilmente e eu tirei a calcinha da minha boca
precisava respirar. Ela tirou uma das bolas e isso avivou ainda mais meu
tesão. A língua trabalhava e eu gemia alto, incontrolavelmente. Ela tirou
todas as bolas de uma vez e eu gozei em sua boca. Meu corpo tinha longos
espasmos e ela continuava a me chupar, parte de mim queria parar, mas a
outra queria mais. Penetrou-me com dois dedos e me alcançou o seio direito,
beliscou-o e vi que buscou o próprio sexo e nós duas gozamos com ela me
fudendo gostoso. Nossas respirações estavam descompassadas e ela me
olhava ajoelhada na minha frente.
— Obrigada pelo meu aniversário.
Ela estava descabelada e extremamente sexy ajoelhada me agradecendo
pela festa. Eu sorri e tentei fechar minha perna, mas ela não deixou.
— Eu ainda não terminei de te agradecer adequadamente. — Ela me
sorriu e voltou para o meio das minhas pernas.
Eu não preciso dizer que fomos dormir exaustas e com o dia nascendo,
preciso?
Capítulo 37
Dias atuais - Décima quarta semana
Eu achei que chegaria ao julgamento sem me meter em encrenca, mas
Célia estava disposta a continuar a me perseguir.
O guarda que Maitê pagou me ajudou a fugir em várias situações,
principalmente quando fui encurralada no refeitório. Mas ele não estava lá
quando precisei de ajuda de verdade. Célia me levou para o depósito de
arquivos e as duas capangas estavam me segurando para não fugir.
— Célia, você ainda não desistiu de mim?
— Não. Eu não tenho nada melhor pra fazer.
— O que você quer?
Ela não me respondeu e me socou o rosto. Ela tinha um soco inglês na
mão e a dor foi insuportável. As duas capangas me seguraram com mais força
e ela me acertou mais duas vezes.
— Vou te perguntar pela última vez, quer ser minha vendedora?
— Nunca.
Ela riu e as duas mulheres me obrigaram a me ajoelhar. Um guarda
entrou no depósito e as duas mulheres me soltaram e Célia saiu do depósito.
O guarda estava cheio de segundas intenções. Eu aproveitei o deslize das
duas capangas, joguei uma caixa cheia de papéis em cima delas e fugi do
guarda saindo correndo do depósito. Consegui me livrar deles naquele dia,
mas minha condenação era inevitável e eu seria transferida para a ala delas.
Maitê ficou sabendo do ataque pelo guarda que ela pediu para me
ajudar. Quando consegui fugir do depósito foi ele quem me escondeu por
algumas horas para eu poder me recuperar do susto.
Meu rosto estava inchado e quando entrei na sala de visitas, Maitê me
abraçou.
— Você precisa me tirar daqui.
— Falta pouco, bebê.
— Eu vou acabar morrendo na mão dessa louca.
— Não vai. Eu mandei o guarda que te ajudou perguntar o que ela quer
para te deixar em paz.
— Você não consegue entender que sou um brinquedo para ela?
Mesmo se der o que ela quer, ela não vai parar. Entende?
— Vou fazê-la parar ou não me chamo Maitê.
— Pode começar a pesquisar um novo nome.
— Pare de me tratar desse jeito.
Eu me levantei.
— Cansei de suas promessas…
Afastei-me e pedi para voltar para a cela.
Sentei no colchão, encostada na parede e comecei a pensar em minha
mãe. Já falei dela, não falei? Desculpe se já falei… minha cabeça não anda
boa. As coisas se repetem em excesso aqui dentro, nunca se sabe que dia da
semana estamos. Se já completamos mais uma ou se ainda estamos na outra.
Minha mãe me teve com vinte anos, ela se apaixonou por um traficante
do Morro da Rocinha. Ela não sabia disso e quando descobriu, já era tarde,
estava grávida de dois meses. Isso eu sei porque meu tio João me contou,
minha mãe me abandonou com ele depois que completei três anos. Ele é
irmão do meu pai que foi preso depois de um tiroteio com a Polícia Militar
do Rio de Janeiro. Minha mãe voltou para me buscar quando eu estava com
quase oito anos, ela estava morando com outro traficante, Mário. Ele me
ensinou a gostar de lutas, me deu a primeira luva de boxe e me ensinou a
bater nos garotos do morro. Tratava a mim como se fosse filha dele, não sei
se por carência ou afeto, mas ele foi um ótimo pai. O meu tio sempre
manteve contato comigo e ele foi meu salvador quando Mário foi preso, pois
minha mãe sumiu e ele me levou de volta para a casa dele. Eu estava com
quase dezoito anos. João não era nenhum santo e também estava metido com
o tráfico. Numa batida, a polícia levou ele e todos os capangas dele para
serem executados e servir de exemplo para o restante dos traficantes.
Nesse dia, eu fugi e segui minha vida sozinha. Consegui alguns
trabalhos que mal me sustentavam e resisti à tentação de vender drogas.
Nunca mais vi minha mãe, nunca mais pensei nela, até hoje.
Sentada nessa cela, percebi que estar presa deve ser alguma maldição
de família, pois esse foi o destino dos parentes que conheci. Queria ter tido
uma família estruturada, amável, cheia de finais de anos com comida na
mesa, mas não tive. E talvez eu nunca tenha uma família. Eu me preocupei
tanto em não ser traficante, estudei, batalhei e tudo isso para que? Para ser
passada para trás por dois abutres filhos da puta. Idiota! Eu me sinto uma
idiota nessa situação.
Maitê voltou no dia seguinte e eu estava mais calma para falar.
— Mandaram um e-mail anônimo para o meu investigador mostrando
envolvimento do detetive com Samuel e descobrimos que o detetive também
recebeu propina do prefeito e está envolvido em um esquema de corrupção
policial.
— Sério? Vão retirar as acusações?
— Falta pouco, bebê, muito pouco.
— Mas pelo menos vou me livrar da acusação de assassinato e do
roubo?
— Sim. Estou tentando um acordo para o detetive denunciar o Hélio e
o Samuel e ganhar privilégios se falar sobre o esquema de corrupção que ele
faz parte. E a filmagem de Ágatha entrando em um carro na sexta-feira de
manhã foi verificada e o carro era de uma locadora de carros no nome da
esposa de Hélio, o automóvel foi alugado por Samuel.
— Filho da puta! Ele matou a Ágatha para me incriminar. Desculpe
pela reação de ontem, mas eu estou uma pilha de nervos aqui dentro.
— Não se desculpe, eu te entendo perfeitamente.
Conversamos mais algumas coisas e voltei para a cela. Sentei olhando
para o corredor e vi a imagem da minha mãe, nítida, como se fosse real. Ela
me sorriu e disse: “Anelise, faça algo de bom da sua vida, seja diferente de
mim. Não seja uma filha da puta." Ela havia me dito isso quando Mário foi
preso, uma noite antes dela sumir definitivamente da minha vida. Eu tentei
criar coragem para visitar João na cadeia. Ele foi o único que a Polícia não
matou, mas quando consegui dinheiro para comprar a passagem de ônibus,
soube que ele tinha sido esfaqueado até a morte. Só posso pensar que tudo o
que estou passando é uma prova de resistência e evolução pessoal, pois se
sair daqui, vou demorar para me sentir inteira novamente.
Capítulo 38
Quinze dias antes do sumiço
Após o escândalo que Katherine fez no dia do campeonato de futevôlei,
Maitê contactou-a e ameaçou reativar o processo de perseguição que
iniciamos depois de alguns meses do divórcio. Eu desisti do processo, pois
queria paz e Maitê guardou todas as provas para serem usadas caso ela
voltasse. Ela sumiu novamente e espero que dessa vez, seja para sempre.
Ágatha entrou em minha sala e eu não a olhei, estava entretida em um
monte de problemas. Parou perto da minha mesa e ficou quieta me olhando.
Eu estava extremamente irritada naquele dia e tinha pedido para ela não me
interromper, mas, às vezes, Ágatha não entende o quão chato e desafiador
meu trabalho pode ser.
— O que você quer?
— Te fazer um convite. — Olhei-a brava — Mas posso voltar depois,
com essa cara, é certeza você vai recusar.
Encarei-a e pedi que fosse breve, pois estava atrasada com meu
trabalho.
— Tenho um casamento para ir e quero que vá comigo.
— Isso é um convite ou uma ordem?
— Já disse, um convite.
— Para quando?
— Neste sábado.
— Hoje é quinta-feira, não acha que é um convite muito em cima da
hora?
— Eu sei. Venho relutando em lhe convidar há meses.
— E o que fez você mudar de ideia sobre me convidar?
— O fato de você ser uma ótima companhia.
— Fale a verdade, não é por isso.
— Eu não quero ir sozinha e você é uma ótima companhia. E além
disso que te apresentar a outros amigos.
— Eu não gosto de ser exibida como troféu.
— Não.... você entendeu errado.
— Ágatha, saia da minha sala, por favor. Não me interrompa mais o
resto do dia e eu almoçarei sozinha hoje, pode ir fofocar com suas amigas.
— Não, Anelise, deixa eu exp…
— Saia!
Desistiu de falar e saiu brava da sala.
No fim da tarde, saí da minha sala, minha mente estava inquieta, passei
por ela sem olhá-la. Entrei no elevador e apertei para a garagem. Meus
passos eram rápidos, como se fugisse de alguém, entrei no carro e fui para
casa. Quando Bento chegou para o treino de boxe, eu já estava cansada de
bater no saco de pancadas, mas treinei da mesma forma. Tomei um banho
gelado enquanto esperava minha janta. Atendi a porta de roupão e levei o
sanduíche para a cozinha, sentei na banqueta e meu celular começou a tocar.
Era uma chamada de vídeo de Ágatha, ignorei. Tentou novamente, ignorei.
Insistiu por mais quatro vezes e acabei atendendo. Encostei o celular em um
suporte para facas que ficava sob a ilha e continuei comendo.
— Desculpe por hoje. Eu sei que você tem um monte de coisa para
acertar na empresa e eu não devia ter te interrompido com coisas bestas. Mas
ter você ao meu lado nesse casamento é importante. — Ficou em silêncio
para tentar me fazer olhá-la, mas continuei comendo — É importante, pois
nunca quis apresentar uma sub aos meus amigos. Nunca gostei de uma sub
como gosto de você, ninguém nunca invadiu minha vida como você anda
invadindo.
Ela me olhava pedindo para que eu falasse alguma coisa, terminei de
mastigar o pedaço que estava em minha boca, coloquei o sanduíche no prato
e limpei a mão e a boca.
— Eu não gostei do jeito que me fez o convite. Eu tinha avisado que
teria um dia atribulado e precisaria de paz, você me interrompeu e fez com
que eu me sentisse pressionada.
— Eu sinto muito, eu não sou boa com convites importantes. Eu quero
sua companhia porque você está sendo importante para mim. Pensa com
carinho.
— Ok!
Eu estava pronta para desligar o vídeo.
— Ei, não é assim que uma boa garota responde. — Ela me sorriu e eu
retribui.
— Sim, senhora, pensarei no seu convite.
— Por favor, não vamos brigar por eu ter sido ruim com as palavras.
— Não, senhora.
— Adoro você obediente.
Eu apenas sorri e desejei boa noite desligando o vídeo. Ainda estava
brava, mas sem forças para brigar. Nos últimos dias eu estava tendo as piores
pressões que uma diretora financeira poderia passar. Terminei de comer e me
preparei para dormir. Deitei na cama, apenas de calcinha e conferi o horário
do despertador, cinco horas. E vi uma mensagem de Ágatha: “Eu sei que
ainda está brava, me desculpe, mas eu não sou mais a mesma sem você
comigo e nunca sei como demonstrar isso sem te deixar acuada.” Não
respondi.
Deitada olhando o teto tentei entender minha reação a tudo. Não era
apenas uma pequena discussão, eu estava me sentindo horrível e quando
entendi o porquê estava daquela forma, chorei sozinha.
Quando saí do elevador no dia seguinte, percebi seu olhar magoado e
apenas desejei bom dia. Não me seguiu e só apareceu na minha sala para me
entregar o almoço. Eu não queria ceder e ela parecia chateada com a situação,
e pela primeira vez, a vi sem reação perto de mim.
— Se não vamos mais falar sobre o ocorrido, prefiro não ir até a sua
casa hoje.
— Ok, como preferir. — disse sem olhá-la, anotando números em uma
planilha.
— Eu sei que está sendo pressionada pelo Samuel para resolver os
problemas da empresa, mas se puder gostaria de conversar com você.
Olhei o relógio na tela do notebook.
— No fim do expediente poderei te dar atenção. — Eu fui ríspida sem
querer.
Saiu da sala e eu voltei a mergulhar no meu mar de números.
Mergulhei tão fundo que não almocei. Consegui enviar as planilhas para o
conselho, seria a salvação da empresa se me escutassem, mas estava mais
para ser minha perseguição. Finalmente consegui olhar para o pacote do meu
almoço. Apertei o botão do telefone que ligava direto para o telefone de
Ágatha.
— Pode entrar quando puder.
Levantei da cadeira, lavei as mãos, peguei o pano de prato na gaveta e
arrumei-o na mesa de centro entre os sofás e as poltronas. Desabotoei a
manga da camisete e dobrei-a devagar até a altura do cotovelo, fiz o mesmo
com a outra. Sentei no tapete depois de tirar o sapato. Destampei a salada que
vinha em um pote e temperei-a, espetei um tomate cereja com um garfo e
coloquei-o na boca. Mastiguei devagar identificando o quanto meu corpo
estava precisando comer algo salgado. A semana tinha sido um inferno,
depois da abertura para investimentos externos as cobranças com as despesas
e rentabilidade empresarial haviam aumentado exponencialmente. Comi
outro tomate e meu estômago reclamou por eu ter demorado tanto para
comer. Terminei a salada com calma e quando estava na última garfada, a
porta se abriu. Ela entrou e buscou com os olhos minha presença pela sala e
quando me viu sentada no chão comendo tentou disfarçar um sorriso, mas foi
inevitável. Trancou a porta e aproximou-se.
— Isso são horas de almoçar? — Ficou parada de braços cruzados na
minha frente.
Apontei uma poltrona e ela se sentou. Encostei no sofá antes de olhá-la,
abri o recipiente onde estaria meu almoço e fiquei olhando-o por um tempo.
Tentando identificar o que era aquilo.
— Penne verde com creme de brie e cebolas caramelizadas. — Ela me
sussurrou.
Olhei-a e peguei o garfo na mão.
— Eu reagi mal ao seu pedido por causa da Katherine. — Remexi o
macarrão misturando tudo.
— Eu não sou a Katherine.
— Eu sei. — Coloquei uma garfada na boca — Eu sei.
— Isso deve estar gelado.
Dei de ombros e não respondi imediatamente. Ela se levantou e sentou-
se ao meu lado.
— Eu tive uma péssima semana, comer um macarrão gelado não é
nada.
Puxou-me para um abraço apertado e passou a mão pelas minhas
costas.
— Eu sei, eu vi. Demorei três meses para lhe fazer o convite e fiz em
uma hora inapropriada.
Olhei-a e ela me beijou suavemente.
— Não tenho boas experiências com eventos sociais. Só fiz a festa do
seu aniversário, pois achei que deveria passar um tempo com seus amigos. Eu
queria ter ido embora da festa, mas como era um evento planejado com
antecedência eu estava tranquila com tudo o que poderia acontecer. Seu
convite para esse casamento foi inesperado.
— Deixa eu mostrar que um evento social não é um bicho de sete
cabeças.
— Eu vou de calça social e …
— Você pode ir até pelada, desde que me acompanhe. — Me beijou
calorosamente — Você ir pelada causaria um rebuliço. — Me beijou —
Assim como você vem causando em minha vida desde quando apareceu por
aqui.
— Eu não quero causar rebuliços.
— O que meu pedido aflorou em você?
Eu olhei-a e respirei fundo, seria doloroso falar daquilo, mas era
necessário para fazê-la me entender.
— O seu pedido me fez recordar quando Katherine recebeu o convite
para o casamento de um cliente importante e disse que me levaria junto, mas
que era para eu obedecê-la. Essa festa foi algumas semanas antes dela
começar com comportamentos agressivos e abusivos. Enquanto nos
arrumávamos, eu percebi que ela estava nervosa. Tinha escolhido um vestido
curto para mim e um elegante para ela. Ela me olhou brava e disse que eu não
estava bonita o suficiente para a festa e me fez trocar de roupa. O outro
vestido, além de curto era decotado, eu me senti nua naquela roupa, mas usei
para agradá-la. — Enquanto contava remexia a comida na minha frente —
Durante a cerimônia de casamento, eu tentava esconder a polpa da minha
bunda, mas era impossível conseguir sem descer o vestido e deixá-lo mais
decotado. No salão de festas, Katherine me levou até o banheiro e me puxou
para uma das cabines, me fez apoiar as mãos na parede e me deu uma surra
com o sapato dela. Eu supliquei para ela parar, mas não parou. “Pare de
mexer nesse vestido.” Foi o que ela me disse antes de sair da cabine. —
Tentei não chorar — Katherine nunca tinha me batido daquela forma, fora de
casa e com uma conotação agressiva e nada sexual. Eu demorei para me
recuperar daquilo, pelo espelho, vi que as marcas não iam ser cobertas pelo
vestido. Saí do banheiro envergonhada e quando a encontrei na mesa, ela
conversava alegremente com o cliente e a esposa como se nada tivesse
acontecido. Ela me ignorou a noite toda e eu não sabia o que fazer para
agradá-la. Quando chegamos em casa, ela estava alterada pela bebida e
rasgou o vestido que eu estava usando. Mandou-me me ajoelhar no tapete da
sala e voltou com um cinto em mãos. Não sei quantas cintadas me deu, mas
eu não aguentava mais de dor, apenas chorava. Ela me mandou sair da casa e
ir até o jardim que tínhamos no quintal. “Vai dormir aí hoje.” Entrou e me
trancou para fora. Começou a chover e mesmo assim não me deixou entrar,
tive que dormir no quintal debaixo de uma forte chuva. Depois desse dia nada
mais a agradava.
Eu estava chorando e ela me abraçou esperando-me acalmar.
— Essa mulher é louca. — Beijou meu rosto e meus lábios — Eu
nunca vou fazer você passar por isso de novo. Você deveria confiar mais em
mim.
— Eu confio, mas ainda existem alguns gatilhos que me fazem voltar
ao passado e ignorar o que estou vivendo no presente.
Ela me abraçou e eu me aconcheguei em seus braços.
— Desculpe causar isso em você. — Ela me sussurrou.
— A culpa não é sua. Eu deveria me controlar melhor.
— Me promete uma coisa?
— Posso tentar. — Olhei-a.
— Nunca mais esconda seu estado emocional de mim, qualquer coisa
que ativar qualquer tipo de gatilho, me conte, por favor. Não esconda seu
estado emocional de mim.
— Prometo que tentarei avisar sobre qualquer mudança emocional.
— Não me veja como sua inimiga nessas horas.
— Não verei.
— Eu quero o seu melhor.
— Eu sei, mas essas lembranças são involuntárias.
— Apenas converse comigo ao invés de se esconder.
Concordei e olhei-a sorrindo. Beijou-me e pegou o recipiente com o
macarrão.
— Deixa eu te alimentar. — Pegou alguns penne com o garfo e me deu
na boca.
— Desculpe pela reação que tive, trabalhar aqui está sendo desgastante
demais. A única coisa boa daqui é você.
— Minha menina, você quem é a única coisa boa aqui.
Pousei minha mão em sua nuca e trouxe seu rosto para perto do meu,
beijei-a devagar enquanto passava a mão em sua nuca.
— Como será a festa?
Ela me sorriu.
— É uma festa simples
— Vai alguém da empresa?
— Não. Você conheceu os noivos no meu aniversário.
Ela me serviu mais uma garfada e terminou de me alimentar em
silêncio.
No dia da festa, eu passaria na casa dela para pegá-la. Ela tinha me
comprado uma camisa social marsala para acompanhar a cor do seu vestido.
Ela quem dirigiu até a festa e quando chegamos, andou de mão dada comigo
o tempo. Apresentou-me a alguns amigos que não foram no seu aniversário e
sentamos em uma mesa junto com as meninas que moravam com ela,
inclusive Elizabeth. A noite foi divertida, tranquila e não saímos da pista de
dança boa parte da festa.
Ela estava alterada por causa da bebida e me puxou para um canto
afastado.
— Preciso falar uma coisa para você. Algo que vem me perseguindo há
muito tempo, não se sinta acuada, por favor. E não estou falando isso porque
quero uma resposta.
— Fale logo. — Olhei-a nervosa.
— Eu te amo, Anelise. E não é de hoje que eu amo e desejo.
Escutei o começo de uma música que representava o que eu pensava
sobre o que eu estava sentindo naquele momento.
— Você me assustou com seu discurso pré declaração. — Eu lhe sorri.
Ela parecia frustrada com o que eu disse e eu levei-a de volta para a
pista de dança. Puxei-a para perto do meu corpo e a banda começou a tocar
“O que é o amor?” de Arlindo Cruz.
— Preste atenção nessa música.
Enquanto a música tocava, nós dançávamos coladinha e eu cantava
para ela.
“O que é o amor?
Se perguntar o que é o amor pra mim
Não sei responder
Não sei explicar
Mas sei que o amor nasceu dentro de mim
Me fez renascer, me fez despertar
Me disseram uma vez que o danado do amor pode ser fatal
Dor sem ter remédio pra curar
Me disseram também
Que o amor faz o bem
E que vence o mau
Até hoje ninguém conseguiu definir o que é o amor
Quando a gente ama, brilha mais que o sol
É muita luz, é emoção
O amor
Quando a gente ama, é o clarão do luar
Que vem abençoar
O nosso amor”
— Eu te amo, Ágatha. — Sussurrei em seu ouvido e ela me olhou com
lágrimas no rosto.
Beijou-me com desejo e fiz ela me olhar limpando seu rosto. Eu lhe
sorri e ela encostou a testa em mim.
— Só espero que esse amor não seja fatal. — Eu disse rindo.
Capítulo 39
Dias atuais - Décima sexta semana
No julgamento, eu estava ansiosa, Maitê estava parecendo lutador de
boxe quando é prensado nas cordas. Só apanhava. O advogado que estava me
atacando articulava muito bem as acusações.
Maitê esperou sua vez para falar com calma, eu chacoalhava a perna e
escondia meu rosto com a mão. Samuel estava sendo interrogado e eu queria
voar no seu pescoço. Maitê colocou a mão na minha perna.
— Calma, Anelise.
Quando o advogado parou, ela se levantou calmamente e mostrou todas
as provas e os registros bancários que envolviam Hélio e Samuel com o
detetive responsável por minha prisão.
Maitê continuou e finalizou o interrogatório deixando-o como um
possível novo suspeito. A vez de Hélio, foi a mesma coisa. Ela estava
tranquila com suas atitudes. Maitê mostrou o vídeo que Hélio entrou na
minha sala e sumiu com o meu computador. As outras provas mostravam os
horários que eles acessaram minha conta e como fizeram isso mesmo sem
saber minha senha. E ela colocou como prova minha estadia na delegacia no
mesmo horário que eles dois estavam transferindo o dinheiro para uma conta
fantasma que tinha meus dados, mas na verdade estava no nome de Hélio.
A confusão tomou conta do julgamento e o juiz quis um intervalo para
analisar melhor tudo o que foi exposto. Maitê me fez olhá-la e meu rosto
estava inchado pela recém briga com Célia.
A minha vontade de chorar estava no limite, minha garganta estava
fechada, como se alguém apertasse com força. A respiração era falha e Maitê
tentou me acalmar, mas a crise de ansiedade me tomava.
— Nós vamos te tirar dessa, mas você precisa respirar. Acalme-se por
favor.
Eu não respondi, apenas olhei-a. Ela me abraçou até eu me acalmar.
Lembrei de quando morei com ela, muitas vezes, ela teve que me ajudar a
sair de uma crise de ansiedade e ela sempre conseguia.
O juiz retornou depois de um intervalo de meia hora.
As novas provas fizeram as acusações do roubo serem retiradas. O
detetive que estava no caso de Ágatha foi interrogado pelos advogados e
Maitê levantou a questão de que ele estava sendo investigado por corrupção
dentro da polícia. As citações de termos legais e criminais foram levantadas
por Maitê, eu não entendi nada do que ela falou, mas o juiz entendeu e fez o
detetive responder tudo. O advogado de acusação tentou objeções contra os
argumentos de Maitê, mas o juiz negou qualquer interrupção. Maitê tinha
trazido o juiz para o nosso lado e eu conseguia respirar mais tranquilamente.
O estopim de todo o processo foi um vídeo mostrando como fui tratada nos
interrogatórios. O juiz anulou o processo todo e todas as acusações contra
mim foram retiradas e eu saí do julgamento livre.
Eu abracei Maitê com força e agradeci por tudo o que tinha feito.
Quando saímos do tribunal, haviam muitos repórteres na frente do
prédio, pediram uma declaração de Maitê e ela apenas respondeu: “Eu disse
que ela era inocente.” Entramos em seu carro e ela me olhou sorrindo.
— Você é uma mulher livre, o que deseja fazer?
A primeira coisa que eu quis fazer foi ver o mar. Maitê me levou para
Copacabana e eu corri para o mar e me joguei contra as ondas com roupa e
tudo. O sol quente do meio dia me fez lembrar o porquê meu amor pelo Rio
de Janeiro nunca foi superado, o calor carioca era diferente de qualquer outro
lugar.
Maitê estava sentada em uma barraca me esperando com uma água de
coco. Saí do mar e enquanto andava em sua direção, escutei uma algazarra
por perto. Pessoas gritando e correndo, não tive tempo de reagir ou fugir,
levei um tiro e cai na areia.
— Ane…
Escutei Maitê me chamando, mas eu não conseguia responder e não vi
ou escutei mais nada.
Ágatha
Capítulo 1
Eu já estava louca por Anelise e o seu jeito de me olhar durante as
reuniões era a chama que eu precisava para saber se podia avançar o sinal ou
não. Eu arriscaria meu emprego por um beijo dessa mulher. Provoquei tanto
que consegui o que queria, um beijo e ter certeza que sua irritação era porque
ela também queria me beijar. No fim de uma reunião, ela admitiu ter invadido
meu computador e visto os vídeos que eu gostava, seus olhos brilharam me
falando sobre isso. Com esse olhar e a confissão de ter visto os vídeos de
BDSM que eu gosto, descobri que ela gostava das mesmas coisas que eu, ou
seja, seríamos perfeitas na cama.
A primeira vez que entrei em sua casa, fiquei surpresa pela organização
de cada objeto, pelo ritual de tirar os sapatos na entrada e pela dureza que ela
tinha com as palavras. Minhas ordens e minhas vontades não eram nada para
ela. Tudo parecia ter que ser do jeito dela e tudo estava começando a ser do
jeito dela.
Eu sempre fui aficionada por ser observada enquanto tomo banho e ela
me observava com os olhos brilhando, não sei o que pensava, mas sempre me
olhava com devoção. A primeira vez que a fiz se ajoelhar diante do meu
corpo percebi o quanto eu estava disposta a mover o mundo para tê-la.
Pode parecer bobagem dizer que me apaixonei por ela no momento em
que busquei sua foto na internet para marcar a sua entrevista de emprego,
mas foi isso que aconteceu.
Nossa primeira cena juntas foi surpreendente e, para mim, foi
inesquecível. Até hoje está marcada em mim. Ela ajoelhada, amarrada,
indefesa. Eu pensei em uma cena de nível médio para testá-la e eu me
surpreendi com sua habilidade em aceitar um spank quase quieta. O aftercare
é um momento muito importante para mim, mesmo quando não tenho
intimidade com a submissa eu faço carinho e digo que a cena foi como eu
queria. Com Anelise eu não queria só fazer carinho, eu queria aninhá-la em
minha vida para sempre. Queria senti-la estremecer em meus braços,
gemendo de prazer e dor. Eu descobri, algumas cenas depois daquela, que ela
era a submissa que eu procurava e não encontrava. Ela era perfeita.
No dia seguinte dessa primeira cena, eu achei que tinha machucado seu
pulso ou piorado a dor que ela disse já sentir nele, meu coração queria saltar
pela boca quando vi a tala em sua mão. Seria um desastre começar nossa
relação com um erro desses, quando eu soube que ela estava apenas me
testando, eu respirei aliviada. Ela gostava de me ver aflita e posta em xeque.
Em uma de nossas discussões habituais no começo do nosso
envolvimento ela me disse uma frase que me marcou por dois motivos. Um
por ela ter dito o nome de Maitê com muita propriedade, como se ainda
tivessem uma ligação muito forte, o que descobri só depois ser verdade. E o
outro motivo é porque Anelise falou sobre precisar confiar em mim para
podermos ter algo. “Quando conheci, Maitê, eu era um bicho assustado e ela
me ensinou a confiar nela. Eu preciso aprender a confiar em você e vice-
versa.” E realmente confiança era a chave para tudo.
Quando descobri que ela havia gravado nossa primeira cena sem meu
consentimento, fiquei louca de raiva e tesão. Queria o vídeo de qualquer jeito,
mas nunca consegui tê-lo, nem mesmo depois quando já estávamos
envolvidas. Eu adorava o fato dela estar sempre entre a vontade de me aceitar
e a vontade de me mandar para longe.
O corpo de Anelise me seduzia logo quando saia do elevador pela
manhã, nunca tinha me sentido tão babaca perto de uma mulher quanto eu
ficava ao lado dela. Os olhos e a boca de Ane me diziam uma coisa e suas
palavras me diziam outra. Ainda bem que ouvi apenas os olhos e a boca. Ela
me confrontava e eu adorava aquele jeito áspero e, muitas vezes, agressivo de
me afastar. Isso só me fazia querê-la mais.
Existe outra frase de Anelise que me marcou muito: “Existem coisas na
vida que nós não pedimos ou exigimos, apenas conquistamos.” E ela era uma
mulher para ser conquistada. Demorei a entender seus sinais de desagrado
com as coisas que eu fazia, mas quando entendi que era mais fácil tê-la
pedindo do que mandando, as coisas ficaram muito mais dinâmicas e
empolgantes.
Anelise era excêntrica, fora do comum e muitas vezes chegava a ser
extravagante, ela é única. Minha menina excêntrica. Sim, sou mais nova, mas
muitas vezes a vi em situação de fragilidade e isso me fazia querer chamá-la
de menina. O apelido carinho demorou para surgir, mas te afirmo que eu
adoro chamá-la de “minha menina”.
O primeiro mês de Ane na empresa causou alguns rebuliços, ela era
firme com os diretores nas reuniões e eu me sentia cada vez mais aos seus
pés. As outras mulheres da empresa sempre comentavam o seu jeito elegante
e sensual de se vestir de calças e camisas sociais. Mas toda vez que eu a via,
imaginava-a em uma lingerie preta e roupão de seda vermelho.
Ela é uma mulher sensível, lia minhas expressões com muita facilidade
mesmo não tendo tanta intimidade. No começo, nossas pequenas discussões
sempre acabavam comigo lhe pedindo desculpas por algo, mas com o tempo
eu também aprendi a ler suas expressões e isso nos ajudou a fazê-la começar
a confiar em mim. Apenas começar, pois sei que nunca confiou cem por
cento.
“Sua carinha de felicidade, parece criança em parque de diversão.”
Foi uma frase que também ficou na minha cabeça, ela disse isso quando
entramos no seu quarto para fazermos nossa segunda cena e era como se ela
tivesse lido minha alma. Eu sempre sonhei em ter um quarto com acessórios
BDSM, sempre quis ter um lugar onde pudesse ter tudo o que gosto ao meu
alcance. Aquele quarto era um sonho e eu estava começando a desbravá-lo
como uma criança curiosa.
Eu amo quando estou montando uma submissa para fazer uma cena, o
ato de pensar no que farei e como quero amarrar o corpo dela me deixam
excitada. Explicar cada detalhe do que farei também me dá prazer. Nossa
segunda cena também exigiu bastante dela. Amarrada, algemada, palmadas e
nosso prazer só estava começando. Anelise me agradou tanto que não
precisei de nada além da cena para me sentir plenamente satisfeita. Ela,
involuntariamente, queria me agradar, me proporcionar prazer, mal sabe ela
que eu sou muito fácil de ser agradada.
Eu comecei no BDSM como switcher. Esse termo define quem gosta
dos dois lados do BDSM. Por exemplo amarrar e ser amarrada. Apanhar e
bater. Ser dominada ou dominante. Até eu entender o que realmente me
agradava, eu preferi me definir como switcher. Hoje, eu sou muito mais
dominante do que submissa, mas com Anelise eu tive que voltar a ser
switcher antes de ser dominatrix. Tive que jogar com a submissão já que
muita coisa teria que ser do jeito que ela queria. Quando meu lado dominante
falava alto fora do quarto eu causava distanciamento entre nós e eu não
queria isso.
Tínhamos combinado de sermos impessoais fora do quarto dela, mas
esse acordo não passou da primeira semana de gelo que dei nela. Eu queria
mais e ela demonstrava também querer mais, apesar de ela nunca admitir que
me queria.
Anelise é uma curva fora do rio, como dizem. Ela testou todos os meus
níveis de paciência e perseverança. Eu estava muito acostumada a ter o que
queria das mulheres que me serviam no clube de BDSM. Não precisava lutar
pela submissão delas, cada uma já tinha seu papel definido. Com Anelise,
não. Com ela eu tive que me segurar, tive que ser calma mesmo estando com
mil coisas na cabeça, querendo a sua submissão imediata.
Sempre fui uma dominatrix que gosta de prestar a atenção nas
necessidades das minhas submissas, eu sei que não tenho uma idade
avançada para ter tido muitas submissas, mas dentro do clube, você pode ter
várias mulheres diferentes, pois nem todas gostam de tudo o que eu gosto.
Mas Anelise apareceu na minha vida para me testar, era isso, era um
teste. Dentro do quarto ela se revelava a submissa mais disciplinada que já
tive, mas fora… Fora era arisca e escorregadia. Excêntrica! E esse teste foi o
mais difícil que já tive até hoje.
Capítulo 2
Eu sempre gostei de cozinhar, minha mãe me ensinou a fazer o meu
primeiro bolo aos cinco anos e essa paixão só aumenta. Quando meu pai
ainda era vivo, aos finais de semana, era eu quem cozinhava. Sempre fomos
apenas nós três. O restante da família morava longe e quando meu pai
morreu, nos mudamos para o interior do Paraná para ficar perto dos irmãos
da minha mãe. Eles ficaram muito tempo afastados e mesmo morando perto
ainda eram distantes.
No fim, restou apenas nós duas.
Além de fazer comida, eu adoro ver as pessoas comendo o que eu
cozinhei. E com isso acabei gostando de alimentar algumas meninas com
quem me relacionei antes de conhecer o BDSM a fundo. Para muitos, é um
hábito estranho, mas para mim é gratificante. Existe conotação sexual neste
ato? Nenhuma, eu apenas me sinto feliz em ver alguém comer,
principalmente se eu puder alimentá-la.
Nós sempre fomos melhores amigas, uma relação nada convencional
para mães e filhas. Eu contava tudo a ela, até mesmo meus desejos por ser
dominatrix. Ela não se aprofundava nesse assunto, mas me respeitava quando
contava algo.
Quando contei sobre meu envolvimento com Anelise, ela ficou sem
falar comigo por três dias, mas não adiantou muito. Continuei saindo com
Ane. Minha mãe é mimada, gosta tudo do jeito dela e eu não poderia ser
diferente.
No começo de tudo, o contraste do meu salário com o de Anelise me
irritava muito, eu queria mimá-la, mas não tinha como. Com o tempo entendi
que eu não precisava de dinheiro para fazê-la me olhar, eu precisava entendê-
la. E, às vezes, ela era uma bomba relógio, prestes a explodir.
A primeira vez que Anelise disse que estaria confiando em mim, ela
deixou seu celular e sua carteira em minhas mãos. Para mim, foi o maior
gesto de sua tentativa de confiar em mim. Foi um gesto de submissão mesmo
que ela não estivesse sendo submissa em seus atos posteriores. Entregar estes
dois objetos virou um símbolo para nós duas e isso foi muito mais
significativo do que qualquer coleira que eu colocasse nela.
Katherine foi nossa primeira pedra no sapato e confesso que eu sinto
arrepios toda vez que ouço seu nome ser dito por Anelise. Analisando os
fatos, hoje, é muito mais fácil entender tudo. Eu tentava me manter calma
com os relatos que Ane fazia do seu passado, mas quando você está vivendo
com as cicatrizes de uma pessoa, é difícil ter sangue frio. Ver Anelise
fragilizada com a possível volta de Katherine foi horrível, eu não sabia como
reagir. Quando penso na ex de Ane a frase: “Katherine disse que eu parei de
dar prazer a ela, por isso ela tinha que ser cada vez mais intensa.” surge na
minha cabeça de imediato. O tom que ela usou para falar essa frase doeu e
ainda dói em mim. Ela estava mais do que chateada, estava com a voz
embargada de medo, angústia e raiva por ter tentado agradar uma pessoa que
só a via como objeto. Muitos amigos que praticam o BDSM me falam que eu
sou muito branda com as minhas submissas e por isso que nunca tive uma
exclusiva. Eu vejo o BDSM como entrega não só sexual, mas espiritual a
outra pessoa, uma dominatrix tem que saber cuidar do físico e da mente da
sub. De nada adianta ter alguém te servindo de qualquer jeito. Eu presto
atenção em todos os detalhes da minha sub, não apenas dentro de uma cena,
mas fora também. E Anelise era uma pessoa transparente em demonstrar o
que agradava e o que não agradava.
A outra pedra no sapato foi Elizabeth. Eu a conheci logo que me mudei
para o Rio de Janeiro, em uma roda de samba. Quase um ano depois eu
estava morando no apartamento que ela dividia com outras meninas.
Algumas pessoas me alertaram sobre o que ela sentia por mim, mas eu nunca
alimentei nada entre nós, se ela achou que alimentei foi imaginação. O que
mais me fez ficar chateada com as atitudes dela, foi o fato dela não entender o
que eu sinto pela Anelise. Ela ignorou todas as nossas conversas e continuou
achando que era um romancezinho à toa. Eu tive que ignorá-la e humilhá-la
mais de uma vez para ela entender que eu não estava brincando sobre estar
apaixonada. Dentro do apartamento, tive que trancar meu quarto para que ela
não entrasse mais. O dia que participamos do campeonato de futevôlei e ela
chamou Anelise de suggar mommy masoquista, foi o fim para mim. O fim da
nossa amizade e o fim do sentimento de gratidão que eu tinha por ela ter me
ajudado quando me mudei para uma cidade desconhecida. Depois desse dia,
ela tentou pedir desculpas e se declarou para mim. Disse que eu era o amor
da vida dela e foi assim que uma amizade que tinha tudo para ser produtiva
morreu. Elizabeth chegou a se ajoelhar perante mim e me oferecer seu corpo,
oferecer sua submissão, mas eu não podia aceitar. Eu não queria aceitar nada
dela.
Elizabeth me beijou à força três vezes desde quando eu comecei a sair
com Anelise e nas duas primeiras vezes ela recebeu um tapa na cara. Na
terceira vez, eu a joguei contra o sofá, virei-a de bruços e acertei sua coxa
com diversas chineladas. Eu estava com raiva e não devia ter feito isso, mas
fiz. Anelise nunca ficou sabendo dos beijos, do jeito que ela demonstrava
odiar Elizabeth, seria capaz dela espancar a garota. A partir desse dia, eu
passava mais tempo na casa da minha mãe do que no apartamento que eu
pagava para morar.
Capítulo 3
Para mim, é inédito o que sinto por Anelise. Primeira vez que me sinto
atrelada a uma alma e não apenas a uma pessoa. É um sentimento muito mais
forte do que apenas gostar da pessoa. Existiram momentos que eu quis
desistir dela, do seu jeito, muitas vezes, rude de falar comigo, mas eu não
conseguia. Eu sabia que no fundo, era apenas um modo de defesa e eu
precisava passar essa barreira para tê-la sem medo. Alguns podem definir
isso como obsessão, mas não é. Juro que não é. Está mais para vício do que
obsessão.
Além da nossa primeira cena, teve uma outra que ainda permanece em
mim. Dessa eu tenho uma foto que toda vez que olho, eu me pergunto o
porquê ela brigava tanto contra a sua submissão.
Naquela noite, ela estava ajoelhada no meio do quarto, nua me
esperando. Seu olhar era calmo e me perseguia por onde eu andava. Prestava
atenção em tudo. Eu a vendei e amordacei com uma gag ball. Ainda
ajoelhada, algemei suas mãos para trás. Sua respiração calma me mostrava o
quanto ela estava confiando em mim. Ela havia confessado que tinha aversão
em não olhar o que estava sendo feito com ela em uma cena, então eu
precisava prestar muita atenção nela. Eu pedi uma chance para ela confiar em
mim e ela confiou se entregando à minha voz. Eu contava tudo o que estava
pretendendo fazer e só seguia com o seu consentimento. Afastei suas pernas e
passei a mão em sua bunda fazendo seu corpo se contrair. Ajoelhei atrás dela
e beijei seu pescoço e disse que ela estava indo muito bem. A mão dela tocou
meu ventre e eu aproveitei a proximidade de nossos corpos e lhe disse o
quanto ela me agradava e o quanto ela me deixava feliz. Sua respiração se
alterou um pouco e ela apertou meu ventre. Perguntei se ela estava bem e
afirmou com a cabeça. Eu beijei todo o seu corpo, dizendo o quanto aquela
entrega estava sendo importante para ela confiar em mim.
— Eu vou tirar sua mordaça, mas não quero que fale nada. Hoje você
só fala se eu deixar ou te perguntar algo. Entendeu? — tirei a bola de sua
boca e deixei pendurada em seu pescoço.
— Sim, senhora.
— Eu tenho três objetos comigo. Palmatória, paddle de bambu e uma
chibata. Eu vou usar os três. Cada um tem um número, palmatória será o
número um, paddle será o dois e a chibata o três.
Eu me ajoelhei na sua frente e beijei-a com desejo.
— Vamos ver se você entendeu. Número um?
— Palmatória
— Dois?
— Paddle.
— Três?
— Chibata.
— Muito bem. Você terá que adivinhar com qual deles estou te
batendo, entendeu? Se acertar na primeira batida, te baterei cinco vezes e se
você errar baterei sete e você tentará novamente.
— Sim, senhora. E se você continuar com o mesmo?
— Sempre trocarei quando você acertar e der cinco golpes. Alguma
ressalva?
— Não, senhora.
Levantei e comecei com a chibata.
— Três.
Seu corpo recebeu os cinco golpes com arrepios, minha intenção era
apenas atiçá-la para golpes mais fortes no final. Troquei o objeto e bati com a
palmatória.
— Dois.
Ela errou e na sétima vez ela disse que era o número um. Eu adoro
forçar a sub a pensar durante um spank, é um jeito dela não distrair a mente e
fazê-la se acostumar com os golpes e esperá-los com desejo. Dei cinco golpes
e voltei para a chibata, ela acertou e foram cinco golpes. Troquei pelo paddle
e ela acertou. Fiz esse jogo psicológico trocando de objeto mais cinco vezes,
seu corpo me dava sinal de cansaço, mas me surpreendi nos últimos golpes,
ela gozou em silêncio. Seu corpo tremia pelo prazer e ela sentou-se sobre as
pernas e abaixou a cabeça. Tirei as algemas, mas suas mãos permaneceram
para trás.
— Desculpe, senhora, eu não devia ter gozado.
— Foi libertador?
— Sim, senhora.
Toquei-lhe as mãos e seu corpo se assustou, passei as mãos para frente
do corpo e puxei-a para aninhá-la em meus braços. Beijei-lhe o rosto e ela
permanecia vendada. Eu abracei-a e lhe fiz cafuné até seu corpo se acalmar.
Seu silêncio era demonstração de que estava atenta em tudo o que eu fosse
falar.
— Não se desculpe por gozar. Eu permito que você goze sempre que
quiser. Quando você não puder gozar, vou avisá-la com antecedência,
entendeu?
— Sim, senhora.
— Você vai me fuder em agradecimento pelo gozo, mas não pode tirar
a venda, ainda não terminei seu treinamento com ela. Vou vestir uma cinta
peniana em você. Entendeu?
— Sim, senhora.
— Eu vou me deitar na sua frente, use suas mãos e sua boca para
conhecer meu corpo. Eu estarei quieta, quero que você ouça meu corpo, tateei
as emoções que ele vai sentir com seus estímulos. Você tem que percorrer
por lugares que você goste, pelo menos três lugares diferentes e me dizer o
porquê gosta daquela região.
Tirei-a de meus braços, levantei, peguei a cinta, vesti nela e me deitei.
Suas mãos trêmulas encontraram minhas pernas. Sua boca encontrou minha
coxa direita e a cada centímetro que me explorava ganhava confiança nos
gestos. Sua língua quente queria me arrancar gemidos, mas me segurei. Ela
mordeu levemente meu ventre.
— Gosto do seu ventre porque tenho onde morder. — Me mordeu de
novo e meu corpo reagiu se entregando.
Lambeu meus peitos e subiu até meu pescoço. Penetrou-me e eu
segurei um gemido.
— Gosto do seu pescoço porque quando falo sussurrando perto dele,
seu corpo se arrepia. — Foi exatamente isso que aconteceu, eu me arrepiei
toda — Gosto da sua boca. — Ela me beijou com desejo enquanto me
penetrava mais forte e eu gemi em sua boca — porque ela me faz ter
sensações contraditórias. — Seu beijo se acentuou e suas estocadas também.
Eu pedi por mais e ela me atendeu. Tirei sua venda e pedi que me
olhasse nos olhos.
— Veja o que você causa em mim. — Eu estava enlouquecida de tesão
e gozei encarando-a.
Eu lhe sorri e ela me beijou com volúpia. Abracei-a com força.
— Você é perfeita.
Anelise estava suada e deitou-se ao meu lado e puxei-a para deitar em
meus braços.
Ela permanecia em silêncio e passeava a mão pelo meu peito.
— Tire a cinta e a mordaça do pescoço. Vá ao seu banheiro buscar a
pomada que te dei para eu cuidar da sua bunda.
Ela não contestou e se levantou. Quando voltou pedi que se deitasse de
bruços nas minhas pernas. Obedeceu-me.
— Está dolorida? — passei a pomada e ela contraiu as nádegas.
— Não, senhora.
— Não minta para mim, nunca minta sobre seu estado físico e
psicológico.
— Desculpe, senhora. Estou um pouco dolorida.
Ficamos naquela posição alguns segundos até a pomada secar. A visão
dela deitada em minhas pernas era sexy e sua bunda estava da cor que eu
gosto, vermelha.
— Já disse que você é perfeita?
— Sim, senhora.
Eu ri e passei a mão em suas costas massageando-a.
— Você está se sentindo bem? Pode se ajoelhar para me responder.
Ela saiu das minhas pernas.
— Sim, senhora.
— Como foi ficar vendada?
— No começo, aterrorizante, mas sua voz me acalmava. Fiquei com
medo de não agradar.
— Você sempre me agrada. Toda vez que você aceitar um desafio,
você estará me agradando. A responsabilidade das cenas darem certo é
minha. Entendeu?
— Sim, senhora.
— Sabe por que eu sempre digo que você é perfeita?
— Não, senhora.
— Porque eu sei que tudo o que estamos vivendo mexe com você. E
mesmo assim você está tentando me servir sem medo.
— Eu quero agradá-la, senhora.
— Está cansada?
— Não, senhora.
— Quero que se vista, vamos jantar fora.
Ela se levantou e seguiu para o quarto, em silêncio como eu tinha
mandado. Eu peguei minha roupa na sala e fui até o banheiro me vestir.
Quando voltei ela estava em pé perto da porta de saída, elegante e com as
mãos no bolso.
— Você está linda!
— A senhora também. — Sussurrou.
— Você está bem para sairmos?
— Sim, senhora.
— O que te disse sobre mentir?
— Não estou mentindo.
— E esse semblante de preocupada? O que está te incomodando?
Ela me olhou e eu não soube ler suas expressões.
— Nada, senhora. Faremos o que a senhora desejar.
— Não saber aonde vamos está te deixando preocupada?
— Sim, senhora, mas confio em você. Não precisa me dizer nada.
Passei a mão em seu rosto, beijei-lhe os lábios e segurei sua mão para
sairmos. Enquanto descíamos pelo elevador chamei um táxi.
No caminho, ela acariciava a palma da minha mão sem perceber o que
estava fazendo. Parecia um gesto automático. Na porta do restaurante, avisei
sobre a reserva e o Maitre nos guiou até um quarto privativo. Estávamos em
um restaurante japonês, as mesas eram baixas e devíamos sentar no chão.
Sentamos lado a lado. Ela me olhou fixamente e eu lhe sorri passando a mão
em seu rosto.
— Sabe por que privei você de falar espontaneamente?
— Não, senhora.
— Para você aprender a ouvir antes de questionar o que vou fazer. Para
você apurar seus ouvidos e escutar meu corpo mesmo sem vê-lo. Agora você
está liberada para falar espontaneamente.
— Obrigada, senhora.
— Quem te ensinou a usar a cinta peniana com tanta naturalidade?
— Samantha. — Passou a mão em meu rosto — Obrigada pela cena
com a venda, foi bom poder confiar em você.
Passei a mão em seu rosto e beijei-a, queria falar sobre meus
sentimentos, mas não queria assustá-la. Guardei para mim, precisava me
policiar para não a deixar acuada. Entre risadas e conversas amenas,
passamos uma noite agradável. Aproveitei para beijá-la o quanto queria, ela
já estava mais solta em seus atos. Estávamos com alguns meses de
envolvimento, mas a briga entre se entregar e se manter neutra ainda era
evidente. Eu queria que essa luta morresse e ela se entregasse, mas o tempo
se encarregará disso. Já tivemos uma evolução, esperaria que continuasse a
evoluir.
Capítulo 4
Eu sempre me achei uma mulher determinada. Batalhei por todos os
meus interesses com convicção e com as mulheres que eu queria não era
diferente. Os homens? Mais fáceis ainda. Quando decidi me mudar para a
cidade do Rio de Janeiro, passei um ano e meio economizando muito para
poder mudar com segurança. Com isso, parei de sair aos finais de semana e
me privei de muitas outras coisas. Dediquei meu tempo para trabalhar e
estudar para passar no vestibular, não consegui passar de primeira e tive que
estudar mais e esperar outra prova.
Assim que desci do ônibus na rodoviária do Rio de Janeiro, com uma
mala de mão e muita esperança no peito, peguei um transporte público até a
Praia de Copacabana. Era o primeiro lugar que eu queria conhecer, demorei,
mas consegui chegar. Quando molhei os pés no mar e olhei aquela paisagem,
Fernanda Abreu surgir em minha mente cantando “Rio 40 graus” eu sabia
que tinha feito a escolha certa. A energia da “Cidade Maravilha” me
contagiou ali mesmo e mais tarde descobri o que a música queria dizer com
“Purgatório da beleza e do caos”.
Eu caí de amores por duas coisas no Rio, o samba e o futevôlei.
Futevôlei virou a minha paixão em pouco tempo de prática. Os quarenta
graus me assustaram no início, mas aprendi a amar o jeito praieiro de andar
de biquíni e quase sem roupa dos cariocas. Quem não amaria? Pessoas lindas,
de corpo e alma.
Já disse que conheci Elizabeth na roda de samba, não é? Foi um
esbarrão à toa que no fim da noite virou um bate-papo animado com mais
algumas pessoas que também viraram meus amigos e parceiros de samba.
Elizabeth foi quem me ajudou com o emprego de secretária executiva na
Corporate & T.I. e posso afirmar que se não fosse por esse emprego eu nunca
teria encontrado a mulher da minha vida.
Com o tempo, acabei deixando os estudos de lado para aproveitar a
noite carioca. Eu alternava minhas rodas de samba com idas ao clube BDSM.
Os únicos estudos que nunca parei foi para aperfeiçoar minha vontade de ser
dominatrix. Não dá para chegar querendo fazer um spank erótico sem saber
como fazer isso com segurança. Tudo tem que ser seguro, consensual e são.
Tudo, absolutamente tudo tem que ser seguro. A safeword não existe para ser
engraçada e muito menos ignorada. Eu demorei muito para entender o porquê
uma dominatrix é responsável por tudo dentro de uma cena. A submissa se
entrega a você, confia em você e isso não pode ser quebrado. Pôr a
responsabilidade de possíveis erros em uma submissa é um fardo muito
grande. Ela já está indo contra muitos dilemas internos para te servir e o erro
nunca pode ser dela.
A primeira vez que uma submissa usou a safeword dela comigo eu
entrei em pânico. Fiquei apavorada a ponto de quase chorar junto com ela.
Quando vi que eu tinha acertado sua lombar com força excessiva eu não
consegui voltar para o clube por várias semanas. Fiquei remoendo o ocorrido
e só me perdoei quando uma dominatrix experiente me fez ver que o meu
erro foi bom para que eu entendesse que uma submissa é uma pessoa e tem
limites. Ela me ensinou a “ler” uma submissa. Prestar a atenção nas reações,
dar tempo dela se acostumar a tudo o que quero fazer. Com a prática descobri
que quanto mais eu prestava atenção na submissa que estava me servindo,
mais eu ficava excitada com a cena. A cada ida ao clube de BDSM eu tentava
aprender algo novo.
O corpo de Anelise é perfeito para muitas das minhas cenas preferidas.
E conquistá-la foi mais do que um jogo de sedução, foi um teste de
determinação. Já disse que sinto Anelise como um teste na minha vida e é um
teste de determinação para eu ver o quanto eu estava disposta a demorar para
tê-la por completo.
Voltei a estudar depois que conheci Anelise, ela me fez ver que eu
precisava de um futuro melhor para poder ampará-la e realizar meu desejo de
ter uma vida com um patamar econômico melhor. Eu nunca menti falando
que não gosto de dinheiro, eu gosto, quem não gosta? O cartão de crédito que
ela me deu, na hora foi humilhante, porém necessário. Eu o usei
pouquíssimas vezes e em casos emergenciais com minha mãe e quando Ane
me convenceu a comprar um celular novo. O saldo daquele cartão me
incentivou ainda mais a estudar. Eu queria aquele montante de dinheiro à
minha disposição, mas queria que fossem fruto do meu suor.
Depois dos meus desentendimentos com Elizabeth e meu envolvimento
com Anelise cada semana mais forte, abandonei as rodas de samba. Sentia
falta da música, da energia e do calor humano, mas Anelise me supria essa
falta com todos os sentimentos bons que ela me causava.
Lembro de eu estar em sua casa, sentada no sofá esperando-a tomar um
banho, tínhamos feito uma cena longa e difícil e ela tinha adormecido em
meus braços. Levei-a para a cama e deixei o curso natural das coisas
acontecerem, muitas vezes ela dormia apenas quinze minutos, mas já esperei
por ela cerca de duas horas. Naquele dia esperei uns quarenta minutos e
escutei o chuveiro sendo ligado. Ela veio até mim vestindo um roupão de
seda preto e eu estava apenas de lingerie verde. Eu lhe sorri e pedi que tirasse
o roupão, tirou e Ane estava nua. Seu corpo ainda estava marcado pelo uso
das cordas e suas nádegas tinham riscos pelo uso do chicote de rattan. Pedi
que deitasse de bruços em sua cama e me esperasse. Ela me obedeceu e
quando entrei no quarto e a vi deitada, nua, meu coração disparou. Sentei ao
seu lado e cuidei do seu corpo passando um hidratante nas costas e uma
pomada nas nádegas. Cada músculo que eu apertava, cada pedaço de pele que
eu percorria, eu entendia o meu desejo por ela. “Eu quero te entender por
inteira, saber tudo sobre você, todos os traumas…” Eu sussurrava e
contornava a tatuagem de lobo selvagem em suas costas. Passando a mão
pelo desenho percebi que a tinta escondia cicatrizes e pequenos cortes. Ane
virou o rosto para me olhar e levantou um pouco o corpo apoiando-se sobre
os braços dobrados. “Você tem certeza do que está me pedindo? Não são
traumas leves e bobos.” Ela me disse com a voz rouca e baixa. Eu deitei de
lado olhando-a e beijei-a suavemente. “Não tenha medo de conversar sobre
eles comigo, eu preciso saber deles para poder te ajudar.”
Foi nessa noite que ela se abriu comigo honestamente, contou vários
abusos que sofreu nas mãos de Katherine e a minha admiração por Anelise
cresceu mais do que já vinha crescendo. Ela me confessou que a tatuagem
esconde marcas que Katherine deixou em suas costas, passei a mão nas
cicatrizes e senti seu corpo petrificar ao meu toque. Fiquei com medo de sua
reação, mas continuei a tocá-la levemente. Eu estava deitada ao seu lado e
seus olhos estavam fechados e sua expressão era de quem relembrava
momentos ruins. Beijei seu ombro e continuei com os toques nas cicatrizes.
“Eu amo você.” Sussurrei e beijei seu ombro novamente. Os olhos
permaneciam fechado e seu corpo enrijecido. Meus dedos percorriam suas
cicatrizes e minha boca traçava um caminho de beijos até sua lombar,
substituí os dedos pelos lábios e seu corpo se arrepiou. Minha mão direita
percorria sua coxa e a esquerda buscou a sua mão e entrelaçou os dedos. Ela
começou a chorar e eu virei-a de lado e abracei-a por trás com força. “Tuas
cicatrizes agora também são minhas e eu te admiro cada vez mais, cada dia
mais. Eu te amo e comigo você pode ser o que quiser.” Beijei seu rosto e ela
beijou o dorso da minha mão.
Capítulo 5
Eu estava aqui tentando escolher qual o melhor momento que tive com
Anelise, mas é tão difícil falar dela sem me empolgar. Foram tantos
momentos bons, alguns conflitos, mas foram muitos momentos bons, sem
dúvidas. Não quero enumerar nossos momentos íntimos como bons, pois
estes eram perfeitos, uma conexão muito forte nos envolvia.
Quando eu descobri o câncer da minha mãe, ela foi o meu porto seguro,
pois na frente da minha mãe eu queria ser forte e não chorar. Mas quando
Ane me abraçava e me apertava contra o corpo dela, eu desabava. Esse foi
meu melhor momento com ela. O cuidado que ela tinha comigo era enorme e
a preocupação com a saúde da minha mãe também foi excepcional. Ela fez
pesquisas sobre os tratamentos viáveis, buscou informação fora do Brasil e
me amparou financeira e emocionalmente durante todo o processo inicial do
tratamento dela. Minha mãe se recusou a conhecer Anelise, principalmente
quando soube que era ela quem estava me ajudando a pagar os médicos e os
medicamentos. Eu e minha mãe tivemos uma briga feia depois da festa de
aniversário que Anelise preparou para mim. Era uma segunda-feira de noite e
estávamos no sofá sentadas depois o jantar. Ela estava vendo as fotos da festa
e parou em uma que eu estava com Ane, ela me devolveu o celular.
— Você está ludibriada por essa mulher. Primeiro, paga minhas
consultas, depois uma festa de aniversário surpresa.
— Meu Deus! Por que você não pode ficar feliz por mim? Feliz por tê-
la em minha vida? Por quê? Por que fazer desfeita com tudo o que vem dela?
— Você está se aproveitando do dinheiro dela e fingindo amá-la, mas
você ama o dinheiro dela.
— Eu amo a Anelise e estou aceitando a ajuda dela para o seu
tratamento, aceitando dinheiro por você.
— Então me deixa morrer! — ela levantou do sofá — Prefiro morrer do
que aceitar a ajuda de uma desconhecida que se veste com roupas masculinas.
— Sua hostilidade é um ato vexatório, mãe! Você só está viva porque
ela insistiu para investigarmos suas dores de cabeça e problemas motores. Os
médicos mesmo disseram que sua estabilidade é devido à rápida descoberta
do câncer. Você não quis nem tentar conhecê-la.
— Ágatha, eu não tenho mais o que falar sobre essa mulher-homem,
passar bem.
Ela foi para o quarto dela e bateu a porta.
Nessa época, minha mãe estava irreconhecível, os médicos me
alertaram sobre as mudanças de humor e confusões mentais que poderiam
acontecer mesmo com o câncer estável. Segundo os médicos, a drástica
mudança de humor era passageira, seriam poucos meses assim, ou poderia ser
apenas semanas ou dias, ou apenas uma noite. Tudo era tão incerto. Naquele
dia eu chorei abraçada a um travesseiro desejando que tudo passasse logo.
Todos os médicos foram categóricos em me dizer que havia uma pequena
chance de salvação, mas minha mãe morreu no dia em que o câncer se
manifestou. Duvido que ela teria esse comportamento se estivesse com a
saúde perfeita. Ela era espirituosa, gostava de conversar e fazer amizades,
mas depois do diagnóstico ela ficou amarga e irreconhecível. Se meu pai
estivesse vivo, diria que ela está precisando tomar um banho de mar para tirar
o mau olhado e renovar as energias, mas ele não está mais conosco e isso me
fazia falta. Muita falta. Eu até tentei levá-la para a praia, mas ela não queria
sair de dentro de casa. Nunca fui religiosa, mas sempre acreditei em Deus e
naquela noite eu rezei pela saúde dela. Aproveitei e pedi pela minha também,
estava sendo doloroso vê-la desse jeito. Eu recebi uma mensagem de Ane,
antes de adormecer: “Você está quietinha hoje. Está tudo bem?” Eu sorri
com a mensagem, geralmente eu a encho de mensagens a noite, mas naquele
dia, eu não mandei nada. Depois das coisas que minha mãe falou fiquei
chateada e sem vontade de conversar. “Precisando de um abraço e você?”
Ela me enviou o vídeo de um gatinho abraçando o dono e eu ri, mas voltei a
chorar. Ao invés de responder, Ane fez uma chamada de vídeo e eu não me
importei de atender com o rosto inchado e os olhos vermelhos, ela já tinha me
visto chorar tantas vezes que não me importava mais.
— Quer conversar? — ela me perguntou preocupada.
Eu apenas balancei a cabeça em negativa. Deitei a cabeça de lado no
travesseiro e fiquei segurando o celular para olhá-la. Permanecemos em
silêncio por um tempo, ela parecia estar fazendo outra coisa além de
conversar comigo.
— Daqui quinze minutos a sua campainha vai tocar, vai ser um
entregador com um presente para você.
— Como assim? — Eu sorri.
— Espere e verá. — Ela riu.
— Eu briguei com minha mãe, na verdade, ela brigou comigo… já não
sei mais.
— Então acho que acertei no que te mandei.
— Não vai me dizer?
— Perderia a graça. — Ela me sorriu.
Ela virou um pouco a câmera para o lado, acho que foi se arrumar na
cama e vi uma mancha arroxeada no seu maxilar.
— Bento acertou seu rosto novamente?
— Sim. — Ela riu.
— Vocês dois ainda vão se machucar nessas aulas.
Ela riu e me contou como tinha sido o soco.
— A culpa é sua. — Ela me disse rindo.
— Minha? Eu nem estava vendo para você se distrair. — Eu ri.
Ela riu.
— Você não precisa estar aqui para me distrair.
— Não sei não, estou achando que você está dizendo isso só para jogar
a culpa em mim.
Ela riu e balançou a cabeça.
— Quem dera fosse mentira. Você está em meus pensamentos o dia
todo.
— E você está nos meus, minha menina.
Eu nunca tinha reparado, mas o brilho nos olhos dela mudaram quando
disse “minha menina”. Talvez fosse apenas o vídeo. A campainha tocou após
mais alguns minutos de conversa. Fui atender e receber o entregador. Deixei
o celular na cama com o vídeo ligado. Recebi o pequeno pacote, cheirava
bem, aroma adocicado. Voltei para o quarto e apoiei o celular em uma
almofada para ela poder me ver abrindo o presente. Era uma generosa fatia de
bolo de prestígio e um garfo plástico. O bolo era do restaurante que nós duas
frequentávamos quando almoçávamos juntas. Eu adorava aquele bolo e
sempre pedia de sobremesa.
— Obrigada, minha menina. — Lhe sorri e ela retribuiu.
Não era apenas o vídeo, o brilho dos seus olhos era diferente quando
lhe chamava dessa forma. Ou eu realmente estava imaginando coisas?
— Como sabia que eu estava precisando de um pedaço de bolo?
— Na verdade, não sabia, mas quando disse que precisava de um
abraço, achei que um pedaço de bolo poderia ajudar.
— Eu preferia ter os dois.
— Infelizmente ainda não posso enviar abraço por delivery. — Ela riu.
Eu dividi a fatia ao meio e comi um pedaço me sentindo melhor.
Conversamos mais um pouco e nos despedimos. A outra metade levei até o
quarto da minha mãe, bati na porta e entrei. Ela estava assistindo televisão.
Sentei na cama e ofereci o bolo.
— Aceita uma oferta de paz?
— Prestígio?
— Sim.
Ela pegou o prato, mas não falou mais nada. Eu sentei ao seu lado
encostando na cabeceira e quando terminou de comer puxei-a para aninhá-la
em meus braços. Terminamos de assistir à novela e vi que ela havia
adormecido. Acariciei sua cabeça e beijei-a desejando que ela voltasse a ser a
mesma de antigamente, mesmo sabendo que nunca mais seria.
Na manhã seguinte, a diretoria tinha uma reunião para às nove horas, o
saguão do nono andar estava lotado de executivos. Anelise era a única mulher
entre tantos homens, seu apelido nos bastidores era “iceberg”, pois sua forma
de falar nas reuniões não demonstravam seus verdadeiros sentimentos. Mal
sabiam que ela estava mais para “vulcão em erupção” do que “iceberg”. O
elevador se abriu e ela entrou com toda sua elegância e seriedade e eu lhe
sorri. Retribuiu o sorriso vindo em minha direção. Ane hesitou, mas deu a
volta em minha mesa e eu levantei da minha cadeira perdida com esse gesto,
ela nunca tinha feito isso. Puxou-me para um abraço apertado. Sim, um
abraço na frente de toda a diretoria da empresa. Eu me senti flutuando quando
o calor do seu corpo me envolveu e minha cabeça repousou no seu ombro. O
burburinho do saguão cessou e vi que todos estavam nos olhando. Ela afagou
minha cabeça e começou a me soltar, olhei-a profundamente, beijou minha
testa e se afastou de mim indo para a sala de reuniões como se nada tivesse
acontecido. Os executivos lhe seguiram e meu coração estava disparado com
o gesto. Um pedaço de bolo de prestígio é bom, mas um abraço dela vale por
uma confeitaria inteira. Aquela reunião era apenas com a diretoria e eu passei
a manhã sentindo-a envolvendo meu corpo.
Quando saiu da reunião, Hélio entrou em sua sala junto com ela e só
saiu quase uma hora depois. Entrei na sala e tranquei a porta. Ela estava
sentada em sua cadeira e me olhou sorrindo. Aproximei-me e ela levantou.
Eu queria ver se minha teoria sobre o brilho em seu olhar era apenas reflexo
da câmera ou se o brilho era verdadeiro.
— Obrigada pelo abraço, minha menina. — Fiz ela me olhar e não era
teoria era verdade, ela tinha um jeito diferente no olhar quando a chamava
dessa maneira.
Beijei-a com desejo e ela retribuiu com volúpia. Eu passei suas pernas
pela minha cintura e fiz com que se sentasse na mesa, nosso beijo se tornou
lascivo e excitante. Abri os primeiros botões da sua camisa e como não houve
protesto continuei. Anelise estava diferente, seu corpo estava relaxado,
arriscaria dizer que estava entregue a tudo o que eu fazia. Sua respiração
alterada demonstrava ansiedade. A abertura do seu sutiã era frontal, abri e
apertei os dois seios ao mesmo tempo. Seu corpo estremeceu e quando
apertei os bicos entre os dedos ela gemeu baixinho.
— Minha menina safada. — Sussurrei e ela me sorriu.
O telefone nos interrompeu e ela atendeu ainda desnuda na parte de
cima. Abotoou o sutiã enquanto ouvia alguém falar do outro lado. Começou a
abotoar a camisa e desligou depois de concordar com algo. Ela terminou de
se arrumar e me olhou chateada.
— Não aguento mais esses malas.
— Hoje, às oito, estarei chegando na sua casa.
— Sim, senhora.
Ela me sorriu e saiu da sala. Não houve contestação, discussão sobre
não ser nosso dia de encontro e um sorriso safado. Alguma coisa estava
diferente nela. Depois daquele abraço, Anelise se abriu para nosso
envolvimento e dificilmente recusava algo que eu queria ou propunha. Todos
os meus sentimentos conflituosos terminaram e só conseguia amá-la cada dia
mais.
Capítulo 6
Meu relacionamento com o Samuel foi baseado, muitas vezes, no status
social e no dinheiro dele. Se eu gostei de verdade dele? Não, mas quando
minha mãe ficou doente ele se reaproximou de mim. Um dos motivos do
nosso término foi a falta de vontade dele de praticar e aprender sobre BDSM.
O outro foi porque ele tentou me forçar a fazer sexo com ele e isso eu não
admito.
Anelise odiava ver ele por perto e eu, muitas vezes, me incomodava
também. Quando todo mundo na empresa ficou sabendo da doença da minha
mãe, ele foi o primeiro a me demonstrar apoio. Eu devia tê-lo afastado, mas
ele também teve um pai com câncer e acabávamos conversando sobre as
dificuldades do tratamento. Além de falar sobre nossos pais, ele sempre
tentava me chama para sair, eu desconversava e fingia não entender as suas
indiretas. Eu afirmei que estava com Anelise para ver se ele parava com as
insinuações, mas não parou.
Numa quinta-feira, eu tinha acabado de entrar em casa desolada, pois
Anelise recusou meu pedido para ela ser minha submissa exclusiva.
Estávamos indo tão bem, mas como sempre eu a deixei acuada. Meu celular
começou a tocar e achei que poderia ser ela, mas era Samuel.
— Tenho uma ótima notícia. Encontrei um tratamento para sua mãe.
Marquei uma consulta com o oncologista, ele é americano e estará aqui no
Brasil apenas amanhã. Vou passar na sua casa às oito para irmos juntos. Você
vai adorar ele.
— Por que está fazendo isso?
— Eu quero te ajudar. Eu sei pelo o que você está passando.
— Eu não posso aceitar.
— Ágatha, sua mãe está morrendo a cada dia, pare de ser teimosa.
— Mas...
— Amanhã cedo passo na sua casa, pegamos sua mãe e vamos ao
médico.
Liguei para minha mãe, mas ela não estava em um bom momento,
estava confusa e quando desligamos eu tentei falar com Ane, mas ela me
ignorou.
Às oito da manhã, a campainha tocou e eu desci para irmos à consulta.
Entrei no carro e Samuel estava no banco de trás do carro, achei estranho,
havia um motorista na frente.
— Está de motorista? Que coisa de playboy. — Eu o provoquei.
Ele deu uma risada alta e me abraçou. Eu tentei falar com Ane, mas ele
tirou o celular da minha mão. E sem que eu pudesse reagir ele me colocou
um pano na boca e eu desmaiei.
Acordei deitada no chão, amarrada e amordaçada em um galpão escuro,
coisa boa não poderia ser. Ouvi alguém se aproximando e me jogando uma
luz de lanterna na cara. A pessoa se abaixou e tirou o pano da minha boca.
— É um desperdício ter que matar uma moça tão bonita.
— Você não precisa me matar. — Eu precisava pensar rápido.
— Preciso sim. Vou receber muito bem por isso.
— Você pode ganhar muito mais me deixando viva.
— Como assim? Samuel vai me pagar bem para te matar.
— Eu… eu… podemos negociar minha vida?
Precisava pensar muito rápido, por que Samuel queria me matar?
— Você tem quanto para me pagar? Podemos fingir sua morte se o
valor me interessar.
— Eu não tenho o dinheiro agora, mas se fingirmos minha morte tenho
um seguro de vida e posso te pagar bem.
— Interessante…
— Talvez demore um pouco para ser liberado e eu vou precisar de
documentos novos.
De onde eu estava tirando tudo aquilo? Não sei. Acho que assisti muito
filme de suspense policial.
— E talvez um corpo… — eu completei.
— O corpo é fácil. De quanto dinheiro estamos falando?
— Duzentos mil reais.
Meu pai tinha feito um seguro de vida para mim e outro para minha
mãe antes de morrer. Eu só queria sair com vida daquela situação.
— Não é muito.
— Por favor… O que você tem a perder?
— Realmente não tenho muito o que perder.
— Podemos enganar o Samuel e você ficar com o pagamento dos dois.
O meu e o dele.
— Você não vai me denunciar?
— Se eu te denunciar vão descobrir que estou dando um golpe no meu
seguro de vida. Isso prejudicaria a saúde da minha mãe. E eu iria para a
cadeia.
Ele se levantou e sumiu por alguns minutos. A luz do galpão se
acendeu e ele voltou para perto de mim. Sentou na minha frente.
— Se vamos fazer isso vamos fazer direitinho.
— O que está pensando?
— Vamos ter que deixar tudo com o menor erro possível. Samuel tem
que acreditar que você morreu. A seguradora também. Se fizer isso não
poderá mais ver sua mãe, namorado, amiga, tia, nada…
— Se eu morrer também não.
— Morta você não terá tentações.
— Mas estarei morta…
— Para seus amigos e parentes, estará morta de qualquer jeito.
— Prefiro não morrer. Vai aceitar o que eu ofereci?
— Sim.
— Como vai fazer com o corpo?
— Vou ter que arranjar um corpo feminino parecido com você, pelo
menos em altura. Vamos raspar seu cabelo todo e tirar o cabelo e os dentes
do cadáver. Vou queimar o corpo e uma parte do cabelo, deixarei uns fios
intactos para a polícia concluir que o cadáver é você.
— Vamos colocar minha roupa no cadáver?
— Isso pode ajudar também. Seus documentos, vou ter que deixar junto
ao corpo. Carteira também. Celular, também… aliás, tudo.
— Você pode sacar dinheiro para mim? Não vou poder usar cartão de
crédito depois disso.
Ele me olhou desconfiado.
— Faz sentido.
— E você sabe fazer identidade falsa?
— Não, mas isso é fácil de resolver.
Ele me olhou pensativo, me fez sentar.
— Você não vai aguentar ficar viva e sozinha… você disse que sua
mãe está doente…
— Eu vou conseguir. Por que está preocupado? Você vai sumir depois
que receber a grana.
— Vou, mas você é muito bonitinha pra ir pra cadeia. — Ele riu.
— Deve ser melhor do que morrer.
— Acredite em mim… Quando estiver presa, vai desejar ter morrido…
— Chega de papo… vai conseguir o nosso corpo?
— Você tem uma foto sua? Daquelas pequenas para documentos?
— Tenho uma na minha carteira.
Ele se levantou, mexeu na minha bolsa e saiu do galpão. Voltou com
um pano semelhante ao que Samuel tinha em mãos no carro.
— Apenas precaução. — Ele colocou o lenço na minha boca e eu
desmaiei de novo.
Não sei quanto tempo depois, acordei com ele me chamando. Ao lado
dele tinha uma mala e um galão com gasolina.
— Seu nome agora é April. — Ele me mostrou uma carteira de
motorista.
— Nome esquisito, podia ter deixado eu decidir isso… E você já
conseguiu uma identidade?
— Isso eu consegui em menos de duas horas. — Ele riu — Demorei
para achar um corpo.
— Você tem certeza que isso vai dar certo?
— Se não der, vou estar muuuuito longe daqui para saber.
— Quanto vai receber para me matar?
— Um milhão de reais. Samuel deve gostar de você para pagar tudo
isso. Até brigou com o sócio dele para me dar esse valor.
— Sócio?
— Érico…. — Ele estava pensativo — Não… Célio… também não…
era um oriental de óculos.
— Hélio!?
— Isso! Carinha mala. Temos muito o que fazer.
Ele me desamarrou.
— Se tentar fugir, vou te matar de verdade. Estamos entendidos?
— Sim.
Eu só conseguia pensar em uma coisa, na verdade, em uma pessoa,
Anelise. Como eu iria conseguir ficar longe dela?
— Ei, por que eu tenho que morrer?
— Ixe, moça… — ele olhou o documento na mão dele — April, não
faço ideia. Eu não costumo perguntar os motivos da pessoa que me contrata.
— Ele vai incriminar alguém?
Ele me deu uma máquina de cortar o cabelo.
— Raspe tudo desde a raiz, deixe fios grandes.
Por que Samuel me mataria? Pense Ágatha… pense. Eu liguei a
máquina e fiquei olhando-a.
— Vamos, April! Não tenho o dia todo.
— Por que Samuel me quer morta?
— Garota, eu vou perder a paciência! — ele gritou.
Comecei a raspar o cabelo, ele tinha duas armas, uma na cintura do
lado esquerdo e outra nas costas, ambas pareciam estar carregadas. Eu não
sabia se minha angústia em cortar o cabelo era pelo fato de estar sendo
ameaçada de morte ou pelo fato de não saber o motivo de Samuel me querer
morta. Ele parecia amável nos últimos dias. De onde ele tirou um milhão de
reais para me matar? E por que Hélio sabia da minha morte?
— Vai garota.
— Onde está o corpo?
— No meu carro.
— Vai queimá-lo onde?
— Em um matagal longe daqui, perto da cidade.
— Onde estamos? — eu me assustei com o fato de não estarmos na
cidade.
— Na zona rural. Pare de me fazer perguntas.
Eu fiquei quieta, não precisava desse bruto gritando comigo o tempo
todo. Terminei de raspar o cabelo. Meus braços tremiam de desespero e
medo. O olhar dele era penetrante e vira e mexe ele colocava a mão no cabo
do revólver. Entreguei o maço de cabelo a ele. Ele fez um sinal para eu tirar a
roupa. Tirei a blusa e a calça e envergonhada entreguei a ele.
— Calcinha e sutiã também.
— Mas...
— Vai logo, garota.
Tirei as duas peças e entreguei a ele. Tentei tapar meu corpo como
podia.
— Nessa mala tem roupas limpas.
Ele abriu a mala e vi roupas masculinas.
— Alguma coisa deve servir. — Ele riu — Eu tinha essa cueca com a
etiqueta, odiei a cor. — ele me mostrou a peça — Deve dar certo em você,
mas o chinelo vai ficar grande.
Eu aceitaria usar qualquer tipo de roupa para ele parar de me olhar
como se eu fosse uma picanha recém saída da churrasqueira. Vesti a cueca,
ficou folgada. Vesti a camiseta do time do Flamengo, ficou larga. Vesti o
short de elástico e ficou grande. Eu parecia, sei lá, um… não sei o que eu
estava parecendo… só sei que a vontade de chorar me tomou e eu não sabia
mais como sair daquele enrosco sem morrer.
— Eu vou te dar uma carona até a estrada. Tem dinheiro na bolsa
também. Vou acrescentar esse valor na sua dívida. — Ele me entregou a
mala.
Eu apenas olhei-o e abri a mala, contei superficialmente, deveria ter uns
quatro mil reais em notas de cem.
— Você é oficialmente uma foragida.
— Esse dinheiro é falso?
— Algumas notas sim, outras não.
— Como vou saber?
Ele me deu de ombros e me apontou a arma, me mandou ir para o carro
que estava do lado de fora do galpão. Pegou minha bolsa e minhas roupas. Eu
sentei no banco do passageiro. Ele abriu o porta-malas e demorou mais de
quinze minutos para fechar e entrar no carro. Abriu o porta-luvas e tirou um
celular velho de dentro e um relógio e me entregou.
— Esse celular é só para nossa comunicação, se ligar pra sua mãe, pro
namorado, pras amigas, qualquer outra pessoa, nosso plano já era. Tenho
dois amigos de olho em você, então, não tente me passar para trás.
— Eu só preciso falar com minha mãe uma última vez. Para falar do
seguro.
— Faça isso pessoalmente, ainda hoje. A polícia vai achar seu cadáver
amanhã ou domingo, no mais tardar, segunda.
— E o relógio?
— Ele tem um dispositivo de localização. Para você não tentar dar o
golpe em mim.
— Eu sou uma mulher de palavra.
— Vamos ver até quando.
Ligou o carro. Eu não fazia ideia de onde estávamos.
— Você tem certeza que não sabe o porquê ele quer que eu morra?
— Sim, tenho certeza. — Disse bravo.
Andamos por mais de meia hora. O meu reflexo no espelho era
horrendo. A maquiagem toda derretida e borrada. O pior de tudo era a cabeça
raspada. Ele parou no acostamento.
— Você desce aqui. Sempre passa ônibus por aqui.
Ele esticou a mão no banco de trás e alcançou um boné. Colocou em
minha cabeça e abriu a porta.
— Você tem dois meses para esse seguro sair. Se não, eu mato sua mãe
e você. Foi bom fazer negócios com você, April.
Eu saí do carro atordoada com o que eu havia acabado de fazer. O
chinelo que eu tinha para usar era, no mínimo, quatro número a mais do que o
meu. Olhei para o lado e vi uma placa escrito: “Rio de Janeiro 45 km”. Pelo
menos descobri para que lado tinha que continuar andando. Se eu levasse em
consideração o tempo que eu percorro para andar um quilômetro, poderia
saber quanto tempo demoraria para chegar até a cidade. Olhei para o celular e
ele não serviria para nada além de ligações. Talvez eu conseguisse fazer um
quilômetro em quinze minutos, mas com aquele chinelo, poderia demorar
muito mais do que isso. Eu estava viva, mas a sensação real era de que eu
estava começando a morrer.
Capítulo 7
Depois que fui deixada no meio do nada, cheguei ao Rio de Janeiro
com uma carona que consegui. Foi um senhor, que aparenta ter uns setenta
anos para mais, quem me ajudou. Na verdade, eu o ajudei primeiro. O pneu
do carro tinha furado e acabei oferecendo ajuda para trocar, ele estava com
um braço quebrado e não conseguia soltar a roda. Em troca, ele me deixou
perto do bairro da casa da minha mãe.
Quando entrei no apartamento, ela levou um susto com minha
aparência, ainda bem que ela estava lúcida. Abracei-a com muita força e fiz
ela se sentar no sofá.
— Eu não sei nem como começar a te contar o que aconteceu…
— Por que está vestida como um moleque? Cadê seu cabelo?
Olhei-a e respirei fundo, ainda não era hora de pirar e cair em um choro
desregrado.
— Me escute e me obedeça. Pegue suas roupas e vá para a casa do seu
irmão. A polícia vai achar meu corpo nas próximas horas ou dias, mas eu não
estarei morta.
— Ágatha, pare com essa brincadeira idiota.
— Você tem que me escutar. — Fiz ela me olhar — Quando a polícia
te procurar você vai fingir que o cadáver que acharam é meu. Você vai pedir
o dinheiro do meu seguro de vida e…
— Você vai dar um golpe na seguradora?
— Sim, mas estou fazendo isso porque fui ameaçada de morte de
verdade.
Ela não estava mais me olhando, eu tinha perdido sua atenção.
— Mãe! Você precisa me escutar e seguir tudo o que eu disse.
Levantei e peguei o telefone. Ela me olhava incrédula com minhas
atitudes. Disquei para a casa do meu tio e passei para ela. Falou rapidamente
e desligou.
— Você não é mais minha filha.
— Como quiser. Você vai receber o dinheiro do seguro e continuar o
tratamento contra o câncer, é o que importa.
— Esse câncer é sua culpa e se você for presa, não vou te visitar.
— Pode ser minha culpa, mas você vai para a casa do tio. Você não
está em condições de morar sozinha.
— Vai a merda, Ágatha, eu sei muito bem viver sozinha. E você vai
viver onde?
— Eu vou ter que sumir por um bom tempo.
Ela começou a chorar e eu abracei-a com todas as minhas forças.
— Eu te amo. — Eu sussurrei.
— Eu também. Você é muito corajosa em tentar burlar o sistema da
seguradora.
— Você tem que ser convincente com a minha morte. Eu vou ter que
dar metade da quantia da seguradora para nós duas não morrermos, mas a
outra metade você vai usar para se tratar.
— Serei convincente. Fique com o dinheiro, eu vou morrer de qualquer
jeito.
Ficamos nos olhando por um tempo e procurei pelo horário do próximo
ônibus para a cidade do meu tio, seria na manhã seguinte. Eu fui tomar um
banho, talvez o último ali naquele apartamento. Passei boa parte da noite em
claro deitada ao lado da minha mãe. Pela manhã, organizei algumas roupas
em uma mochila, comida e água. Eu não conseguia me olhar no espelho por
estar fazendo aquilo. E por estar careca também.
Deixei minha mãe na rodoviária, fomos de ônibus para não chamar a
atenção, mas chamamos mesmo assim. Tive que esconder minha falta de
cabelo com o boné que o “cara” havia me dado. Eu estava me sentindo
imunda e parecia que todos sabiam da merda que eu estava fazendo.
Após um longo abraço e declarações de que voltaríamos a nos ver, ela
subiu no veículo e eu saí da rodoviária correndo antes que ela me visse
chorando. Antes de sair eu tinha pesquisado alguns lugares para poder ficar e
pensar no que faria da minha vida.
Encontrei um hotel caindo aos pedaços, mas era o que meu dinheiro
podia pagar. Eu tinha um fim de semana todo para pensar em como me safar
de tudo isso sem prejudicar ninguém. Na recepção, tinha um jornal e eu fui
ler os classificados para ver se encontrava alguma vaga de emprego.
Precisaria me manter de alguma forma e teria que ser um emprego informal
sem muitas exigências de documentação. Ajudante de quiosque, foi a
primeira coisa que li. Vi o endereço, Mirante do Leblon. Era longe dali, mas
teria que arriscar.
Liguei para o local e a vaga ainda estava aberta, era para trabalhar aos
finais de semana. O dono do lugar aceitou me entrevistar naquela tarde e eu
não sabia se me vestia como Ágatha ou se criava um novo estilo para April.
Olhando-me no espelho, não tinha vontade de fazer nada, mas eu precisava
sobreviver até o plano dar certo.
Consegui criar um visual que acabou ficando um misto estranho de
Ágatha com um toque masculino. Comprei uma lente de contato colorida e
um óculos com lentes sem grau para disfarçar meu rosto. Eu estava me
odiando, mas consegui a vaga do emprego por já ter trabalhado no restaurante
da minha mãe. Eu iria auxiliar na cozinha e servir mesas, pelo menos a vista
do local compensaria todo o trabalho. Infelizmente, ver o sol carioca
rebatendo no mar azul do Leblon me fez lembrar de Anelise e meu coração
ficou apertado em pensar que não poderia vê-la até acabar com aquela
situação horrorosa que eu havia criado.
O lugar onde eu estava hospedada era barulhento, a cama tinha um
colchão velho que fedia cigarro e o banheiro não tinha água quente, muito
menos pressão na água. Foi o único momento que fiquei feliz por não ter
cabelo. Quando deitei na cama percebi o quanto eu precisava chorar. Nessa
hora me dei conta do que realmente tinha acontecido, meu mundo
desmoronou de um dia para o outro e eu não podia ter ninguém ao meu lado
para me ajudar, muito menos o amor da minha vida.
Capítulo 8
O dono do quiosque em que eu ia trabalhar acabou me contratando para
a semana toda, o Rio estava agitado com turistas gringos por todo o lado. E
foi trabalhando, me fingindo de April, que descobri da minha própria morte.
Mas o pior não foi ver que eu estava morta e que fui encontrada com sete
tiros na cara, sem dentes, unhas e queimada, foi saber da prisão de Anelise.
Samuel acusou minha menina por roubo e assassinato.
Eu não podia acreditar que ela estava presa, ela nunca roubaria dez
milhões de reais, ela é esperta demais para isso. Se tivesse feito, com certeza
teria saído impune. Isso estava com cheiro de golpe. Samuel quis me matar
para incriminar Anelise pelo roubo dos dez milhões ou por saber do nosso
caso? Ou os dois? Não fazia sentido ele querer me matar, ele estava sendo
gentil e amável nos últimos meses.
Por que incriminar Ane da minha morte, para quê? Eu tive vontade de
ligar para ela, para a advogada dela, eu precisava fazer algo. Mas fazer o quê?
Se eu aparecesse viva, minha mãe não receberia o dinheiro da seguradora, o
assassino de aluguel me mataria por não o pagar ou mataria minha mãe e
Samuel ia saber que eu estava viva e talvez tentasse me matar de verdade.
Ódio! Eu só conseguia me odiar por estar nessa enrascada e ainda por cima
ter levado Ane junto.
O tempo trabalhando nesse quiosque não passa…
Minha enxaqueca estava atacadíssima, mas eu não podia me dar ao
luxo de não trabalhar usaria o dinheiro que o “cara” me deu para
emergências. Não tinha mais Anelise para cuidar de mim. Eu precisava
manter a linha, não podia chorar, tinha que servir os alemães todos que
estavam ali na minha frente. Minha cabeça não ficava ali, voava para longe,
ia para o passado, onde eu e Ane éramos apenas um casal com gostos sexuais
diferentes.
Toda noite, antes de dormir eu rezava, por Anelise, por mim e pela
minha mãe, exatamente nesta ordem. Eu precisava sumir do Rio de Janeiro,
tudo me fazia lembrar Anelise. Tudo, principalmente quando alguém me
pedia para fazer batata frita porque não comia carne. Precisava me esconder,
meu rosto estava em todos os noticiários.
Minha mãe fez um funeral para o corpo que foi encontrado, fiquei
sabendo porque o fundador da empresa onde trabalhávamos deu uma
entrevista falando o quanto estava chocado com a minha morte e o roubo dos
dez milhões. Ele disse: “A diretoria toda está abalada, Anelise não era uma
mulher com temperamento fácil, mas nunca imaginamos que poderia fazer
uma atrocidade dessas.”
“Não! Minha Ane não fez nada. Eu estou viva!”, meu cérebro queria
gritar no meio de todo mundo, queria sair correndo para a delegacia e contar
toda a verdade, mas eu não podia. Eu precisava ajudar nas investigações de
alguma forma.
Na espelunca onde eu estava morando, tinha um computador, com
internet ruim e lenta, mas ia ter que servir para alguma coisa. Arrisquei entrar
no meu e-mail corporativo, ainda existia. Tentei o de Ane e estava inativo,
mas eu conseguia entrar, nada de anormal nas mensagens. Ela não tinha feito
isso. Tentei o e-mail do Samuel, ele tinha me dado a senha quando
namoramos. Entrou e foi ali que comecei a ver as coisas com mais clareza,
uma longa lista de contatos que não faziam parte da empresa e dos
fornecedores. Não vi mensagens comprometedoras, mas eu ia encontrar algo.
Algum furo deveria ter.
Em uma noite, depois de um longo dia servindo camarão frito, entrei na
internet e tentei a mesma senha corporativa para entrar no e-mail pessoal de
Samuel, mas não consegui. Eu não iria desistir, mas precisava fazer minha
mãe entrar com o pedido da seguradora. Duvido muito que ela tenha feito.
Rezei para Anelise estar em boas mãos com Maitê e me mudei para a
cidade onde minha mãe estava morando. Eu não aguentaria ficar no Rio
sabendo dessa injustiça. A cidade que minha mãe estava é pequena e tive que
me disfarçar melhor, afinal, algum parente poderia me ver na rua. Comprei
outras lentes de contato e troquei a armação dos óculos sem grau. O cabelo
começava a crescer e isso me animou um pouco, comecei a usar lenços
coloridos até ele crescer mais. As roupas eram largas, sem muita elegância.
Geralmente calça jeans, tênis e camisetas. Não podia chamar muito a atenção.
Ao contrário da Ágatha, April não gostava de se arrumar e sua autoestima
estava péssima.
Tinha que pensar como entrar em contato com a minha mãe sem
levantar suspeitas. Arrisquei o telefone, fiz uma ligação de um telefone
público e foi meu tio quem atendeu. Fingi ser uma atendente da seguradora e
ele passou o telefone a ela.
— A senhora precisa fazer o pedido para podermos dar andamento à
liberação do seu dinheiro.
Ela não reconheceu minha voz e ouvi-la ao telefone sem poder abraçá-
la me despedaçou.
— Eu não entendo nada dessas coisas.
— A senhora prefere que eu faça?
— Meu irmão vai cuidar disso, obrigada.
Ela desligou o telefone. Desconfiei de que meu tio iria acabar dando o
golpe na minha mãe. Eu precisava descobrir mais coisas sobre ele, mas
como?
Na cidadezinha, me instalei em um hotel, que não era muito diferente
do que eu estava no Rio, mas o acesso à internet era melhor. Para conseguir
pagar meus dias ali, consegui um emprego no próprio hotel, como auxiliar de
cozinha.
Passei uma semana investigando os e-mails da minha mãe e minhas
desconfianças talvez fossem irreais. O pedido para a seguradora foi feito,
acompanhei as trocas de e-mail e a seguradora fez minha mãe assinar
inúmeros documentos. Em um dos e-mails, as documentações da minha
morte estavam anexadas e meu estômago ficou revirado ao ler todos os
detalhes da prisão de Anelise. Eu sentei na beirada da cama e me senti a pior
pessoa do mundo em deixá-la passar por isso.
O celular que o “cara” havia me dado estava sempre carregado e eu o
levava para todos os lugares. Naquele dia, ele tocou.
— Descobri porque Samuel quis te matar. O Hélio me contou que ele
tinha ciúmes da mulher que está presa e um detetive particular descobriu que
vocês estavam se pegando.
— Isso tudo é apenas vingança, então?
— Moça, um homem ser trocado por uma mulher, fere o orgulho,
sabia? E ele aproveitou o roubo para incriminar sua namorada por duas
coisas.
— Eu já não estava mais com o Samuel. — Minha voz saiu abafada e
chorosa.
— Já tem o meu dinheiro?
— O pedido já foi feito. É provável que saia em poucos dias.
— Volto a te ligar.
Desligou e eu deitei na cama. Liguei a televisão e ouvi: “Anelise
Arantes, diretora financeira da multinacional Corporate & T.I. está sendo
acusada de matar sua secretária Ágatha Ribeiro e roubar dez milhões da
empresa. A advogada, Maitê François, que é especialista em casos criminais
e defesa dos direitos femininos, afirma que sua cliente está sendo acusada
injustamente.” Eu me sentei para olhar a televisão e me assustei com a beleza
de Maitê. Fiquei impressionada com sua fala firme e de defensora fiel.
“Anelise não fez nada e vou provar isso.” A reportagem se encerrou e eu fui
até a sala onde ficavam os computadores que podiam ser usados pelos
hóspedes. Procurei mais informação sobre Maitê e descobri o telefone do seu
escritório, anotei para usá-lo se descobrisse algo. Com tudo o que estava
acontecendo descobri que sou uma péssima detetive e que Anelise faz mais
falta do que eu imaginava.
Em uma das sextas que fui à casa de Anelise, eu apertei para chamar o
elevador e quando parou no térreo, entrei ansiosa pelo nosso encontro. Estava
sem ideia do que fazer com aquele corpo gostoso, cheio de curvas e
músculos. Raramente eu me sentia daquela maneira. Entrei no seu
apartamento e logo ela saiu do quarto vestindo um roupão de seda branco.
Anelise se aproximou e percebi que não estava bem. Coloquei a mão em seu
rosto e ela aparentava estar com febre. Ainda estávamos nos conhecendo e eu
tomava cuidado com o que falava ou insinuava.
— Você está quente. Você tem um termômetro?
— Já medi, mas a febre não está muito alta.
— Quer que eu vá embora?
Ela me olhou e eu não entendi suas expressões.
— Não. Fica. — Ela encostou a testa na minha.
— Posso cuidar de você?
Ela sussurrou um sim baixinho e naquela noite eu cuidei da sua saúde e
dormimos abraçadas em sua cama. Nunca tinha cuidado de ninguém na vida,
mas fingi ser uma exímia enfermeira.
Eu me odeio por não poder tê-la. Deitada na cama me recordava de
momentos ao seu lado e lembrei de um domingo à tarde, estávamos na Praia
de Copacabana. Ela estava deitada de bruços em uma canga, tomava sol para
se secar de um recém mergulho. Sentei ao seu lado em uma canga e fiquei
deitada de lado observando-a. Passei a ponta do dedo em seu ombro e ela me
olhou sorrindo. Percorri seu corpo com o olhar e ela ainda me sorria.
— Ane, é melhor você passar filtro solar de novo.
Ela me passou o produto insinuando que era para eu passá-lo em suas
costas, eu a olhei sorrindo.
— Eu sou a mulher mais sortuda dessa praia.
Ela riu e seu sorriso está gravado em mim, para todo lugar que eu olho,
vejo ela sorrindo. Não quero acreditar em tudo isso, preciso da minha menina
de volta.
Capítulo 9
Estava completando um mês da minha morte e pelos e-mails da minha
mãe descobri que a seguradora andou investigando minha morte no Rio de
Janeiro e como o detetive que cuidou do caso respondeu todas as perguntas
necessárias, o dinheiro seria depositado em breve na conta da minha mãe.
Quando bolei todo esse plano, eu não pensei que sumir com metade do
dinheiro levantaria suspeitas. Meu pensamento inicial era de me esconder
com minha mãe, mas ela precisava estar disponível para a polícia e para a
seguradora. Precisava falar com ela novamente, usei o telefone para fingir ser
da seguradora.
— Senhora Ribeiro, nossa empresa precisa conversar com a senhora
por alguns minutos.
— Certo.
— A senhora sabe que receberá o dinheiro da seguradora na conta da
senhora, não sabe?
— Sim.
Ela demonstrava apreensão em sua voz.
— Eu só queria confirmar o valor que a senhora irá receber.
— Sua voz não é estranha, eu te conheço? — eu respirei fundo para não
falar a verdade — Ágatha? — ela sussurrou.
— Isso, senhora, o dinheiro é pela….
— Eu sei que é você...
— Você não pode dizer nada a ninguém, você não pode dizer o valor
que irá receber. Se alguém desconfiar que vou usar uma parte…
— Não vão saber. Você está bem?
— Sim. Você está sozinha? Está bem? Estão te tratando bem?
— Sim, estou bem. Seu tio saiu, ele me trata bem, mas quando sair o
dinheiro eu vou para uma casa de repouso. Não é justo ele ter que cuidar de
mim.
— A casa de repouso sabe da sua doença? Tem médico para auxiliar?
— Sabe. Tem sim. Estou com saudade, vou poder te ver algum dia?
— Sim. Vamos nos ver em breve, também estou com saudade. Voltarei
a ligar.
— OK, se cuida.
— Você também.
Eu morei longe da minha mãe por meses, mas esse tempo longe dela
estava sendo o mais penoso. Tinha que ir trabalhar, mas Anelise me rondava,
eu imaginava ela presa e meu estômago revirava. Comer não era mais um ato
prazeroso para mim e estar na cozinha de um restaurante estava me enojando.
Eu precisava procurar outro emprego e descobrir como Samuel estava
incriminando Ane.
Tentei discar para o único número que tinha registrado no aparelho
celular, precisava falar com o capanga de Samuel.
— Já tem meu dinheiro? — perguntou bravo.
— Não! Mas já está saindo a documentação.
— Então não me ligue.
— Não desliga, calma!
— O que você quer? Não podemos ficar de conversinha besta.
— Eu preciso denunciar o Samuel sem comprometer nosso plano.
— Princesa, entenda uma coisa, se eu me fuder, você se fode junto. Se
alguém chegar até mim por causa do Samuel, você vai ser descoberta.
— Mas deve ter alguma forma de eu denunciar ele sem te ferrar.
— Tente descobrir algo sobre o detetive que incriminou sua namorada.
— Como Samuel te pagou?
— Em dinheiro.
— Como? Era muita grana.
— Não sei, princesa. Só me ligue se for para me dar notícias do meu
dinheiro, estou de olho em você.
— Qual seu nome?
Ele deu uma risada alta e desligou.
Vesti meu uniforme e fui para a cozinha, me colocaram para cortar
cebola e pensando em tudo o que vinha acontecendo eu comecei a chorar.
Olhando para a faca cortar as fatias do legume eu desejei voltar há um mês
atrás e ter Anelise em meus braços novamente. Seus beijos, sua teimosia, sua
voz, seus medos, seus gemidos, queria tudo de volta. Minha vista embaçada
pelo choro e pelos gases liberados pela cebola fizeram com que eu me
cortasse e chorasse mais. Enfiei a mão debaixo da água corrente e meu choro
continuava. O responsável pela cozinha se aproximou, fechou a torneira e
enfaixou minha mão com um pano. Ele me fez sentar em um banco, afastada
de todos. Meu choro era incessante. Eu tirei os óculos que eu usava como
disfarce e coloquei-o no balcão ao lado do banco.
Ele segurou minha mão, depois de buscar um kit primeiros socorros,
tirou o pano e eu vi que o corte não era tão fundo quanto eu imaginei. Ele fez
um curativo e me fez olhá-lo.
— Eu não sei qual sua história, garota, mas esse choro não é resultado
de meia dúzia de cebola e um corte mal feito. Tire o dia de folga antes que
você destrua minha cozinha.
Eu respirei fundo, sequei as lágrimas que ainda insistiam em cair,
peguei os óculos e agradeci a compreensão. Saí dali o mais rápido possível,
eu não conversava com ninguém que trabalhava comigo, apenas o necessário.
O responsável pela cozinha, era o filho mais novo do dono do hotel, tinha
certeza que seria demitida depois desse acontecimento vergonhoso, até
preferia ser mandada embora, mas isso não aconteceu.
Entrei no quarto e sentei na cama, estava ofegante. Peguei o travesseiro
e coloquei no rosto, eu precisava gritar. O primeiro grito foi longo e me senti
um pouco aliviada. Com o segundo me senti melhor, mas foi no terceiro grito
que meu corpo se demonstrou menos pressionado e cansado com todos os
tapas que eu vinha recebendo da vida.
Peguei uma mochila, saí do quarto e fui até um supermercado perto
dali. Precisava de álcool, me embebedar e chorar muito, porque só de pensar
em tudo, meu corpo doía. Peguei um saco de salgadinho e uma garrafa de
dois litros de refrigerante de limão. Na sessão de bebidas alcóolicas me
lembrei de Ane e seu drink favorito, Martini. Eu não sabia beber aquilo e
peguei uma vodka barata. A moça do caixa me olhava como se me conhece
de algum lugar. Paguei com uma nota de cem reais e quando me deu o troco,
me olhou de novo.
— Tem algum lugar legal para beber nessa cidade?
— Apenas o antigo kartódromo, mas não tem nada de especial lá.
Dei de ombros e coloquei a compra na mochila.
— Melhor voltar para meu quarto.
— Eu te conheço de algum lugar?
— Não conhece, nunca estive aqui.
Peguei a bolsa e saí dali antes que ela me reconhecesse de algum
noticiário ou se lembrasse quem era minha mãe. Passei na farmácia e comprei
remédio para dor de cabeça, o qual eu andava consumindo muito
ultimamente e remédio para o estômago, com certeza a bebida me deixaria de
ressaca.
Entrei no hotel e meu chefe estava na recepção.
— A mão melhorou?
Apenas afirmei com a cabeça e segui para o corredor dos quartos, mas
voltei até ele.
— Você não tem um notebook para me emprestar ou vender? Ou sabe
onde posso comprar um usado por um preço bem em conta?
Ele me olhou e falou que já voltava.
— Tenho esse, ele está bem surrado, mas entra na internet e tem os
programas básicos para edição de texto.
— Acho que serve. Obrigada. Devolvo amanhã.
— Não precisa, fique até conseguir um melhor. — Ele me sorriu e eu
me afastei antes que ele descobrisse a bebida na minha mochila.
Entrei no quarto, liguei o ventilador, o notebook não era só velho e
usado, a bateria estava ruim e só funcionava com a fonte conectada na
tomada e o teclado tinha várias teclas apagadas, mas por hora, serviria para o
que eu queria. Sentei no chão e coloquei o notebook na cama, demorou mais
de dez minutos para ligar, mas ligou. Abri o pacote de salgadinho de nacho
sabor cheddar e lembrei instantaneamente da primeira vez que Anelise me
viu comendo um pacote desses salgadinhos como almoço.
“Ela se aproximou da minha mesa, parou na minha frente e eu olhei-a
intensamente.
— Se almoçar isso sempre, vai acabar tendo gastrite antes dos trinta
anos.
Nós ainda não tínhamos feito a nossa primeira cena juntas, eu apenas
havia roubado um beijo dela e ela não queria aceitar meus convites para
sair.
— Eu já tenho gastrite. — Eu respondi brava.
— Um ótimo motivo para não comer essa porcaria.
— Você é uma chefe diferente das outras que tive, ainda vou descobrir
seus segredos.
Ela riu balançando a cabeça em negativa.
— Não subestime minha força de vontade.
Ela me olhou e sorriu.
— Se aceitasse sair comigo, veria que não sou tão inocente e boba
como você imagina.
Eu lhe sorri maliciosamente. Anelise se aproximou mais da mesa e
aproximou seu rosto do meu ouvido.
— Eu não me envolvo com empregadas.
— Vamos ver até quando vai sustentar isso. — Eu beijei seu pescoço e
vi seus pelo ouriçados.
Ela se afastou e entrou em sua sala.”
Abri a garrafa de vodka e o refrigerante, me levantei para pegar um
copo plástico que ficava em cima do frigobar. Enchi metade com o
refrigerante e a outra com vodka e voltei a sentar. Eu não fazia isso desde a
minha adolescência, me embebedar sozinha. Sempre que meus pais viajavam
eu comprava essas três coisas e me enfiava no meu quarto. Ouvia uma
playlist de Rock, via vídeos pornôs e me masturbava. Naquele dia, queria
apenas esquecer do mundo.
Tomei o primeiro gole e entrei no navegador para procurar notícias
sobre o caso da minha morte. A internet inteira já estava acusando minha
menina de ter cometido o assassinato. Entrei nas redes sociais e vi muitas
mensagens enviadas diretamente para mim. Conhecidos querendo saber se a
notícia da minha morte era verdadeira. Haviam notificações de muitas
publicações com meu nome marcado. Elizabeth tinha postado uma foto dela
beijando meu rosto. Estávamos felizes em uma roda de samba. Tinha um
texto enorme falando sobre nossa amizade e como ela nunca me esqueceria.
Escolhi uma lista de música para acompanhar minha depressão e Adele me
fez companhia até o fim do primeiro copo.
Em uma publicação, vi que Elizabeth havia compartilhado uma notícia
sobre a prisão de Ane. "Essa louca nunca me enganou." Era a legenda dela.
“Louca é você!” Quase gritei. No perfil de Guta, vi uma foto nossa, na praia,
bebendo cerveja e aproveitando o sol carioca. Como sinto falta do sol e da
Guta.
O segundo copo foi bebido como se fosse água e eu comi um
salgadinho fazendo meu estômago resmungar. Precisava sair das redes
sociais, mas não conseguia, queria vasculhar a vida de todos. Procurei o perfil
de Maitê. Não encontrei. Mania dessas mulheres de não ter perfil nas redes
sociais.
O terceiro copo tinha mais vodka do que refrigerante e eu já estava
irritada com a Adele querendo me fazer cortar os pulsos. Coloquei uma lista
de samba e entrei no site do banco que Samuel tinha conta. Seria impossível
entrar, sem ele ser notificado. Acessei meu e-mail corporativo e busquei pela
conta dele. Digitei os números e tentei pensar antes de escrever a senha.
Lembrei que ele havia me passado a senha uma vez, queria que eu fizesse
uma transação para ele, pois estava sem acesso à internet.
Pensa, Ágatha, pensa. Ele tinha me ligado para passar a senha e eu
lembrava nitidamente do dia e da voz dele ao telefone. Fechei os olhos e
consegui lembrar de todos os números, menos o último, esse eu teria que
contar com a sorte.
Sorte no jogo, azar no amor? Era isso que o acesso à conta estava
querendo me dizer? Não importa, estava dentro. Tirei fotos da tela e salvei.
Os dígitos da conta, eram exorbitantes. Minha vontade de roubá-lo era
gigantesca, mas não o fiz.
Puxei o extrato do último ano e vi várias transações. Em sua maioria, os
gastos eram com supermercado, baladas, restaurantes caros, sites de
acompanhantes de luxo, carros e roupas. Mas nos últimos meses, um nome
estranho apareceu na conta. Tirei print das informações, não podia demorar
muito. Guardei as imagens de todas as transações com o nome de Patrick
Ros. Eram milhares de reais a cada transferência. Saí do banco sem mexer em
nada. Eu ainda não estava acreditando no que havia feito. Salvei todas as
informações em uma conta de dados e pesquisei o nome do Patrick.
Encontrei o perfil pessoal e várias reportagens policiais com o nome
dele como responsável por prender os bandidos. Dentre uma delas a
manchete era: "Ato cruel contra secretária expõe roubo de dez milhões de
reais."
"Não!" Eu falei alto. Ele era envolvido no esquema do Samuel. Eu
precisava de mais provas. Inferno! Precisava ver se Samuel havia pago algo
para Hélio. A bebida começou a fazer efeito e eu estava ficando bêbada muito
rápido. Eu tinha vontade de gritar. Mordi o travesseiro para não berrar. Olhei
para o computador e vasculhei todas as imagens que eu tinha, abri uma por
uma e chequei todas as empresas que apareciam na lista de transferência.
Todas pareciam reais, apenas o nome de uma empresa que eu não
encontrei, pelo nome parecia ser uma concessionária de carros. Porém ela não
existia na internet e os dados jurídicos dela estavam no nome de uma mulher.
Vasculhei pelo nome e não encontrei nada.
Guardei todas as pesquisas que fiz em um arquivo no e-mail que eu
havia criado para April. Comi um nacho e meu estômago reclamou
novamente. "Anelise acostumou muito mal você." Eu sussurrei olhando meu
ventre.
Com esse gesto, me lembrei do dia que Ane assinou meu ventre e eu
prometi que nada de ruim iria acontecer a ela. Eu não cumpri minha
promessa. Eu mesma estava causando todo esse mau. Bebi um gole de vodka
na garrafa e o líquido desceu rasgando minha garganta.
Ódio, sentia apenas isso. Entrei no meu e-mail e acessei o arquivo de
fotos. Minha menina estava ali, fotos e mais fotos de Anelise. Eram muitas
fotos que ela nem sabia que eu tinha. Dela dormindo ou concentrada no
computador, eram fofas. Comecei a ver as fotos dela como submissa em
nossas cenas. Minha buceta reagiu imediatamente às fotos. Parei em uma,
que é minha favorita e bebi mais um gole da vodka. Anelise me causava
arrepios excitantes mesmo nos piores momentos.
Coloquei o computador no meio da cama e sentei no colchão. Encostei
na cabeceira e fiquei olhando aquela mulher perfeita na foto. Comecei a
pensar em nosso tempo juntas.
“Estava sentada em minha cadeira, olhando o computador, entediada
com as coisas que tinha para fazer. Era quase meio dia de uma terça-feira,
ainda faltava muito tempo até eu ter Anelise novamente. Mandei uma foto
para ela, era uma foto que havia achado na internet, uma mulher estava com
o tronco deitado sob uma mesa e a outra lhe batia com uma régua na bunda.
Nosso envolvimento estava muito bom, ela ia na psicóloga toda semana e o
medo de se entregar e as crises de ansiedade por causa de Katherine não
estavam mais fazendo parte da nossa rotina. Mandei a foto, mas não sabia se
ela iria me responder, geralmente ela não respondia rápido, principalmente
se fosse durante o expediente. E quando eu a provocava por mensagem, ela
demorava mais ainda. Continuei vendo fotos obscenas em meu celular e o
almoço dela chegou depois de quarenta minutos do envio da foto. Fui levar
seu almoço e tranquei a porta depois que entrei. Ela estava em uma ligação e
me olhava enquanto eu me aproximava, seu celular estava ao lado telefone,
onde sempre ficava. Fiquei decepcionada quando percebi que ela não tinha
visto a mensagem. Naquele dia em específico, minha libido estava alta e meu
tesão incontrolável.
Desligou o telefone, se levantou e foi lavar as mãos, fui até o banheiro
e abracei-a por trás estendendo minha mão para ela lavá-la. Lavou-a e
enxugou. Ainda parada atrás dela, nós olhamos pelo espelho. Virou-se de
frente para mim e eu beijei-a suavemente. Nossas bocas se encontraram
devagar e logo estavam se beijando com urgência. O telefone tocando nos
afastou e ela foi atender.
Eu sentei no chão, onde geralmente almoçávamos e fiquei olhando-a
ao telefone. Pegou o celular e vi um sorrisinho surgir em sua boca.
— O que isso significa? — ela me perguntou desligando o telefone e
me mostrando o celular com a foto.
— Que eu estava entediada.
— Quando fica entediada, você vê fotos pornográficas?
— Às vezes. — Eu ri.
Ela colocou o celular de volta na mesa e me olhou pensativa. Abriu
uma gaveta e tirou um objeto que não consegui ver o que era. Olhou para
mim e fez um gesto para eu me aproximar dela. Enquanto eu andava em sua
direção, ela abria sua calça e eu lhe sorria.
— Você é perfeita! — me apossei de seus lábios e sua calça caiu até
seus tornozelos.
Deitei seu tronco na mesa e peguei a régua. Acertei sua bunda e seu
corpo reagiu querendo fugir. Eu sorri e continuei a acertar suas nádegas,
alternadamente. Ela abafava os gemidos no braço e eu lhe bati dez vezes e
abaixei sua calcinha. Excitada, molhada e sensível. Sua respiração
denunciava que estava gostando, penetrei-a com dois dedos e enquanto lhe
invadia e saia, batia com a régua. Eu estava excitada, sentia minha buceta
pulsando. Parei com as reguadas e Ane resmungou algo que não entendi,
voltei a bater e lhe penetrei com vigor e seu gozo foi impressionante. Sentia
meus dedos serem esmagados em sua buceta e ela apertava a borda da mesa
e escondia a boca para não gemer alto. Eu continuei em busca de um
segundo gozo, mas seu corpo não iria me dar o que queria. Parei e ela
continuou deitada na mesa. Levantei-a devagar e a virei de frente para mim.
Seu corpo ainda tinha leves espasmos e lhe beijei suavemente
— Minha excitação está incontrolável hoje. — Eu lhe sussurrei.
Ela encostou sua testa na minha.
— Eu preciso trabalhar… — ela disse baixinho.
— Eu sei. — Sussurrei.
— Você acaba com a minha paz. — Ela me beijou suavemente.
— Você acaba com a minha também, estamos quites. — Eu sorri —
Vou para sua casa hoje, cuidar do seu corpo, das nossas necessidades… —
eu lhe beijei vorazmente — Não me negue nada e será muito bem
recompensada. — Minha mão apertou sua buceta sensível e ela gemeu
baixinho.
— Não negarei, senhora.
Desferi um tapa no meio de suas pernas e seu corpo tremeu de
excitação.
— Boa menina, vamos almoçar.
Abaixei para alcançar sua calcinha e sua calça, vesti-a e lhe beijei os
lábios. Ela me fez olhá-la e me beijou com ganância, correspondi, mas logo
me afastei. Ela me olhou sedenta de desejo e eu me afastei dela.
— Hoje à noite cuidaremos das nossas necessidades, agora eu disse
que vamos almoçar.
Ela me sorriu e eu retribui o sorriso puxando-a para perto da mesa
onde comeríamos.”
Eu a tinha e perdi por querer satisfazer uma vontade minha. Perdi
quando pedi para ser minha submissa na hora errada. Perdi porquê um
mimadinho não sabe quando uma mulher não está mais afim dele. Preciso me
acostumar a perder, afinal April veio para causar desgraças e sofrimentos
irreparáveis.
Capítulo 10
Finalmente o dinheiro foi liberado. Como eu ainda tinha acesso ao
banco da minha mãe, vi o montante na tela. Agora precisava pensar como
passar o dinheiro para o “cara” sem levantar suspeitas contra minha mãe.
Liguei para ele.
— Seu tempo está acabando.
— Consegui a liberação, como vou te pagar?
— Dinheiro vivo.
— Eu não vou conseguir sacar essa quantia no caixa eletrônico.
— Sua mãe vai ter que sacar com o gerente.
— Não vou envolvê-la nisso. Deixa-me fazer transferência para sua
conta.
— O banco não vai aceitar sem autorização da sua mãe. Princesa, você
tem poucos dias para resolver isso.
Ele desligou.
Depois que minha mãe me reconheceu ao telefone, ficou difícil não
ligar para ela com mais frequência. Criamos um código, ela dava um toque
no celular que eu usava para manter contato com o “cara” e eu retornava
pelo telefone do hotel. Sempre que meu tio saia ela ligava. Ela continua tendo
altos e baixos com a doença, seus momentos de lucidez parecem mais raros
ou tenho essa sensação, pois a vejo pouco. Tive sorte dela me ligar
justamente quando estava precisando falar com ela.
— Estou em apuros. O seguro saiu, mas o “cara” quer o pagamento
em dinheiro vivo e não transferência.
— Faz uma documentação falsa, dando liberdade para você sacar em
meu nome.
— Eu não sei fazer isso.
— Você não deveria usar sua inteligência apenas para o sexo.
— Nossa! Quem ouve pensa que sou uma pervertida.
— Vai, pesquisa na internet que você acha.
— Preciso de sua assinatura no cartório.
— Eu tenho uma ficha com minhas assinaturas no cartório da cidade.
Preciso desligar ele voltou mais cedo.
Minha mãe desligou e eu fiquei atordoada com o fato de ter que burlar
mais uma lei para conseguir o dinheiro. Ela estava certa, como sempre.
Eu tinha deixado uma foto de Anelise na tela do notebook que meu
chefe havia me emprestado por tempo indeterminado. Era uma foto dela
lutando contra o saco de pancadas. Eu daria tudo por uma noite com ela.
Uma, apenas uma.
O dinheiro que o “cara” havia me dado, ainda estava na mesma
mochila que ele havia me entregado no dia da minha suposta morte. Comecei
a pesquisar como fazer um documento de procuração, encontrei alguns
modelos e comecei a redigir um com os meus novos dados e os da minha
mãe. Teria que ter registro em cartório, eu sabia burlar a assinatura da minha
mãe, só restava saber se o cartório iria aceitar. Isso eu descobriria no dia
seguinte.
Tive que imprimir o documento em uma papelaria perto do hotel, a
atendente ficou me olhando com curiosidade, assim como a do mercado.
Acho que estou chamando muito a atenção com esse lenço na cabeça. Devem
achar que estou careca por estar doente ou me reconheceram dos jornais.
Qualquer opção era péssima.
Passei no quarto deixar o documento, precisava ir trabalhar. Descobri
que o notebook funcionava melhor se não fosse desligado, então a foto de
fundo de tela virou um porta-retrato de Anelise, me lembrando todo dia da
merda que eu estava fazendo.
Minha atenção no trabalho estava cada dia pior, eu mergulhava em
algum lugar do passado e só voltava quando era chamada pela terceira ou
quarta vez. Meu chefe percebeu minha distração e me chamou a atenção, eu
pedi desculpas, mas dali meia hora estava fazendo a mesma coisa. Apesar de
todo mundo me chamar de April, até eu perceber que o assunto é comigo, eu
demoro. Claro que o fato de eu estar me culpando por tudo agrava esses
devaneios.
— April! April! — olhei meu chefe — Garota, eu não vou mais chamar
sua atenção.
— Desculpa, Júnior, eu não estou bem.
— Isso eu percebi. Eu não posso te acobertar sempre, meu pai já está
me perguntando sobre suas atitudes.
— Eu sinto muito sobre isso. Eu vou procurar outro lugar para morar e
trabalhar, não estou sendo produtiva aqui.
— Posso ajudar você com alguma coisa?
— Não. Infelizmente, ninguém pode.
Eu tirei o avental e saí da cozinha. Fui até o quarto e assinei o
documento. No caminho para o cartório, me senti estranha em não estar
preocupada de usar documentos falsos. Era minha consciência pedindo para
tudo aquilo dar merda e eu poder ajudar Anelise de alguma forma.
Peguei uma senha para ser atendida no cartório e quando me chamaram
a realidade de estar burlando mais uma lei, me pegou, quase saí correndo,
mas eu precisava salvar minha pele e a da minha mãe.
Mesmo com a minha confiança abalada e me sentindo fora do meu
mundo, eu consegui sair do cartório com o documento legalizado e minha
assinatura reconhecida. Joguei charme para o atendente o tempo todo, assim
ele prestava mais atenção nas minhas cantadas do que no trabalho que
precisava desenvolver.
Com os documentos assinados, fui até o banco. O gerente estava
desconfiado e queria ligar para minha mãe para confirmar os fatos. O valor
que eu queria era alto, a desconfiança era mais do que apenas formalidades.
Eu estava me sentindo abençoada pela estabilidade mental que minha mãe
estava nos últimos dias. Acho que ela sabia que eu precisaria de ajuda para
passar por este momento instável de nossas vidas.
O gerente me olhou, ainda desconfiado. Eu dei um sorriso malicioso e
ele me correspondeu. Homens são facilmente manipuláveis com um
sorrisinho insinuante. Ele não tinha aliança de casado, então investi mais.
Sentei mais na beirada da cadeira e olhei-o profundamente.
— Você acha que vai demorar para liberar? É que estou precisando
pagar os hospitais e o médicos, minha tia está muito doente. — Fiz uma
expressão de choro e fingi estar procurando um lenço na bolsa.
— Eu… eu vou ver o que posso fazer.
Segurei sua mão com a minha e agradeci a ele pela sua compreensão.
Acariciei sua mão antes de soltá-la e senti sua respiração pesada perto de
mim, consegui o que queria, sua atenção emocional. Continuei com meu
teatro até ele dizer que podia voltar para pegar o dinheiro no dia seguinte.
Segurei sua mão novamente e lhe sorri agradecendo.
— A saúde da minha tia agradece sua agilidade. Você é muito
prestativo.
Ele me sorriu envergonhado e eu apertei sua mão dizendo um até
amanhã com a voz rouca e cheia de segundas intenções.
No quarto do hotel, eu tinha outra garrafa de vodka e mais refrigerante
no frigobar. Abri a garrafa e tomei um gole no gargalo, tomei outro e fechei a
garrafa. Liguei para o “cara”, precisava pagá-lo.
— Tem meu dinheiro?
— Sim. Vai liberar amanhã. Como vamos fazer isso?
— Eu estou em Curitiba, vai ser fácil nos encontrarmos. Você consegue
estar aqui em dois dias?
— Sim!
— Me avise a hora que vai chegar na cidade.
— Vamos nos encontrar onde?
— Na rodoviária mesmo. Leve o dinheiro na mochila, para ser fácil de
carregar.
— Ok!
Ele desligou. Eu separei o dinheiro falso que ele havia me dado, ainda
tinha dois mil e quinhentos reais. O saque no dia seguinte seria de duzentos e
cinquenta mil reais, o valor total do seguro era de quatrocentos mil reais.
Tinha que sair daquele hotel. Não queria mais voltar ali depois do saque.
Fui até a recepção e encontrei Júnior atendendo um casal que estava
fazendo checkout. Esperei ele ficar livre e me aproximei.
— Eu vou sair do hotel depois de amanhã, desculpe não ter sido
eficiente na cozinha. Vou ficar devendo algo para vocês? — eu estava
próxima do balcão e apoiei a mão na beirada.
— April, você não precisa sair fugida daqui desse jeito. Como posso te
ajudar?
— Obrigada por tudo, mas já disse, ninguém pode me ajudar.
Ele colocou a mão sobre a minha e a primeira reação que tive foi de me
afastar e me sentir enjoada pelo seu toque não consentido.
— Deve ter alguma coisa que eu posso fazer por você. — Ele segurou
minha mão antes de eu me afastar definitivamente.
— Não tem. — falei brava puxando a minha mão — Quanto devo a
vocês?
— Você pode não dever nada ou dever oito hospedagens no hotel.
— Prefiro pagar pelas hospedagens, mesmo não sendo justo.
— Você é quem sabe. Além das hospedagens tem também a taxa de
limpeza dos dias que ficou aqui e o valor pelo uso do notebook.
— Eu acordei com seu pai que tudo seria pago com meu trabalho na
cozinha. E o notebook foi você mesmo quem disse para usar até quando fosse
necessário.
— Você não estava trabalhando direito. E mudei de ideia sobre o
notebook.
— Eu não tenho forças para discutir com você. Passar bem.
Fui para o quarto e fui recepcionada pela foto de Anelise no fundo de
tela do notebook. Tranquei a porta e me joguei na cama. Queria sumir da
Terra. Eu tinha poucas opções para me sentir melhor, me embebedar, comer
algo não saudável, chorar ou me conformar. Deitei na cama com o notebook
e abri as imagens que eu tinha de Anelise em nossas cenas. Imediatamente
me lembrei do seu cheiro, da sua voz e do seu corpo submisso aos meus
desejos. Levantei para pegar a garrafa de vodka e o refrigerante. A garrafa
estava na metade, completei com a vodka e deitei na cama olhando as fotos
da minha menina. Tomei um longo gole e bateram na porta do quarto. Andei
até a porta e perguntei quem era. Júnior disse que precisava falar comigo.
Respondi que não ia abrir e escutei a chave sendo girada na maçaneta.
— O que está fazendo? — Perguntei segurando a porta.
— Precisamos conversar. — Ele empurrou a porta com força.
— Não e se você entrar eu vou gritar.
Ele empurrou de novo e entrou. Trancou a porta atrás dele e me apertou
o braço. Chutei sua perna e ele riu. Júnior olhou pelo quarto e viu o notebook
no meio da cama com a foto de Ane algemada e ajoelhada.
— É disso que você gosta? Apanhar? Ser amarrada?
Eu gritei por socorro e ele me deu um tapa no rosto. Tirou o cinto e eu
me afastei dele.
— O que você quer? — Perguntei brava.
— Você. — Se aproximou.
— Eu não quero você.
— Isso não importa. — Ele me agarrou novamente.
— Você é babaca como todo machista que acha que pode ter quem
quer a qualquer custo.
Ele apertou meu braço e eu me arrependi de não ter aceitado aprender a
lutar boxe com Ane, chutei sua canela e ele me apertou mais.
— Júnior, por que está fazendo isso?
— Seria mais fácil se você colaborasse.
— Cara, você não quer transar comigo.
— Quero!
— Eu tenho AIDS!
Ele soltou meu braço e se afastou assustado. Saiu do quarto e eu
respirei aliviada novamente. Odiei ter que mentir, mas minha vida é mais
importante do que mais uma mentira para a lista de April. Desejei que ele
acreditasse e não voltasse. Tranquei a porta e empurrei uma cômoda até
bloquear a passagem de quem tentasse entrar, já que ele tinha a chave do meu
quarto. Tomei um gole do refrigerante quente com vodka e sentei na cama,
queria chorar, mas não tinha mais força para isso. Tomei mais um gole da
mistura e outro e outro e outro… até acabar com tudo. Deitei na cama e olhei
o notebook com a foto de Ane. Passei a mão na tela e fiquei esperando o
efeito da bebida tomar meu corpo. Eu tinha salvado alguns áudios que ela
tinha me mandado, procurei-os nos meus arquivos dentro do e-mail e
coloquei para ouvi-los. Sua voz rouca me trouxe inúmeras lembranças boas e
eu me permiti lembrar de todos elas sem frustração ou medo. Eu precisava de
uma injeção de ânimo para continuar com aquela loucura e sua voz me
permitiu relembrar de tudo sem me odiar pelo presente. Eu vivo me
lembrando de pequenas interações entre nós, coisas que no dia-a-dia podiam
passar despercebidos, mas agora que estou solitária elas voltavam para me
manter aquecida.
“Eu entrei em sua sala com algumas pastas em mãos e a vi em pé perto
da janela, de costas para a porta e com as mãos no bolso. Observei seu
corpo ereto, cabelos amarrados, camisete impecável, calça social justa e
marcando sua bunda arredondada. Como eu gostava daquela bunda. Deixei
as pastas na mesa e ela continuava olhando para fora da sala, me ignorava.
Naquela semana tínhamos discutido por eu ter saído da sua casa para ir
para o samba com Elizabeth. Eu me sentia culpada pelo nosso
distanciamento. Aproximei-me devagar e ela continuava parada. Fiquei a
milímetros de distância, seu perfume me invadiu e eu queria tocá-la, pedir
desculpas e beijá-la. Sua respiração estava descompassada e era um claro
sinal de que ela estava aprovando aquela aproximação. Encostei meu corpo
em suas costas e ela respirou fundo. Sussurrei em seu ouvido que sentia a
sua falta e beijei sua nuca arrepiando-a. Seu corpo dava sinais de que me
queria e eu sorri com aquela resposta corporal, só precisava alcançar sua
mente. “Eu sinto falta de te dar prazer, de cuidar do seu corpo.” Eu lhe
beijei a nuca novamente e passei a mão em sua bunda. Vi que estava com os
olhos fechados e o rosto demonstrava uma leve excitação. Pousei minha mão
em sua bunda: “Seu corpo não sente minha falta?” Anelise não me
responderia que sim e eu arrisquei um leve tapa em sua bunda, seu corpo
estremeceu. Ela continuava parada com os olhos fechados. “Deixa-me
cuidar das suas necessidades.” Arrisquei outro tapa e ouvi um gemido baixo,
quase inaudível. Beijei sua nuca e sua orelha. Anelise soltou outro gemidinho
baixo e eu sorri me afastando. Todas as ações e reações que tivemos naquele
breve momento, me mostraram que eu exercia alguma dominância sobre seu
corpo.”
Na manhã seguinte, arrumei minhas coisas na mochila que era do
"cara" e levei outra vazia. No banco, o gerente foi solidário e ágil. Pediu o
número do meu celular e eu passei, apenas para não ficar um ar de
desconfiança entre nós.
Dali fui direto para Curitiba e no meio do caminho liguei para o "cara"
avisando das mudanças de planos, ele não gostou muito, mas acatou.
Em uma das paradas do ônibus, troquei minhas coisas de bolsa e
arrumei o dinheiro dele na mochila. Quando cheguei na rodoviária, ele estava
me esperando, ao descer do ônibus, ele me abraçou.
— Fez boa viagem? Quer ajuda com algo?
Não respondi e entreguei a mochila a ele. Entreguei também seu boné,
ele me olhou e sorriu.
— Você não parece nada bem.
Fomos andando, nos afastando da multidão que descia dos ônibus.
— Não estou bem. Preciso ajudar Anelise de alguma forma.
Ele tirou um papel do bolso e me entregou.
— O que é isso?
— A senha de acesso de um e-mail que eu usei para conversar com
Samuel e Hélio. Apaguei todos os dados que poderiam ligar a mim, use as
informações de alguma forma.
— Por que está me ajudando?
— Eu vou sumir do Brasil, tenho novas identidades e provavelmente
não serei pego. Você era uma vítima, ainda é. Não merece o que está
acontecendo. Tente salvar sua namorada e seja feliz.
— Ela nunca vai me perdoar.
— Isso já é outro assunto e só ela poderá te dizer se perdoa ou não.
Ele colocou o boné na minha cabeça e me sorriu.
— Se livre do celular que usamos e do chip também.
Afastou-se e eu nunca mais o vi.
Saí da rodoviária depois de olhar o nome de alguns hotéis em uma lista
telefônica antiga. Peguei um táxi até o lugar mais próximo e decidi que
ficaria alguns dias na cidade de Curitiba.
Estava cada dia mais difícil de suportar todas essas mentiras, mas eu
precisava aceitar as consequências dos meus atos.
Capítulo 11
O hotel em que eu estava dormindo era usado por prostitutas e os
gemidos e gritaria durante a noite eram incessantes. Eu estava perdida,
dormindo mal, com insônia e se dormia tinha pesadelos com Anelise
morrendo. Não estava trabalhando e havia consumido mais álcool nos
últimos dias do que na vida toda.
Resolvi mandar as informações que eu sabia para o e-mail do
investigador da Maitê. Criei um e-mail com um nome fictício e mandei todas
as imagens das transações entre Samuel e Patrick. Mandei também a
possibilidade de a concessionária de carros ser uma empresa fantasma e o
acesso ao e-mail que o “cara” havia me dado. Rezei para nunca descobrirem
quem eu sou.
Meu tio havia transferido os cuidados da minha mãe para um asilo da
cidade. Dessa maneira ficou mais fácil conseguir contactá-la, por isso
conversávamos quase que diariamente.
— Tem uma vaga de assistente de enfermagem aberta no asilo. — Ela
me disse um dia — Você podia tentar… ficaríamos perto.
— Eu não entendo nada de enfermagem.
— Você deveria tentar.
— Está bem, vou tentar.
Minha mãe indicou meu nome para entrar em uma vaga de ajudante de
enfermagem no asilo. Por ser uma cidade pequena, existiam poucas pessoas
qualificadas e dispostas a aceitar a vaga. O salário era baixo, mas poderia
ficar perto dela. Peguei um ônibus e fui fazer a entrevista e fiquei em um
outro hotel, não queria rever Júnior e sua família. Ter que voltar para aquela
cidadezinha, me deixou frustrada e a vontade de beber voltou a me sondar.
O telefonema sobre o emprego me deixou um pouco animada, mas eu
não queria estar ali, só estava fazendo isso para estar junto com minha mãe.
Aceitaram minha inexperiência e queriam um teste de três meses para ver
minha adaptação aos afazeres.
Quando contei à minha mãe sobre o emprego ela me agradeceu muito
por ter aceitado fazer isso, pois estava se sentindo sozinha ultimamente.
Conversei muito com ela e expliquei mais de mil vezes que ela deveria me
chamar de April e nunca de Ágatha.
— Eu sou uma velha doente e minha senilidade permite que eu erre, às
vezes.
— Não brinque com isso, se alguém desconfiar de tudo o que fiz até
hoje, iremos presa. Você terá que fingir que não me conhece.
— Não vou errar, prometo, April. No começo vai ser difícil fingir que
não te conheço, mas vou me esforçar.
Eu começaria a trabalhar no dia seguinte, deixei minhas coisas
arrumadas e disquei o número do celular de Anelise, tinha esperanças de
poder falar com ela, de que atenderia. Queria ouvir ao menos a mensagem
quando caia na caixa postal, mas não havia sinal, estava desligado. A saudade
era esmagadora.
“Era um sábado, ela havia acordado primeiro, encontrei-a deitada de
bruços no sofá lendo. Ane vestia uma micro camisola vermelha que mal
cobria sua bunda e uma calcinha fio dental combinando com o modelito. Eu
me aproximei do sofá e enquanto andava ao seu lado arranhava sua
panturrilha e parte de trás da coxa. Ela me olhou sorridente e fechou o livro,
não era um romance, era um livro de linguagem de programação para jogos.
Ajoelhei-me ao seu lado e minha mão não parava de percorrer seu corpo.
“Acordei com vontade de te encher de beijo” Eu sussurrei. Comecei a beijar
seu ombro e ela me sorriu. Subi um pouco sua camisola, queria ver sua
bunda. “Sua bunda é sexy demais.” Beijei sua nádega direita e Ane contraiu-
a. “Vou fazer nosso café-da-manhã e depois quero comer seu cuzinho, bem
devagar.” Eu sussurrei em seu ouvido e ela me sorriu me puxando para um
beijo lascivo me deitando sob seu corpo.”
Sonhar com Ane era a pior parte das minhas noites solitárias.
Na manhã seguinte, fiz o checkout do hotel, eu teria um quarto no asilo,
pois meu horário de trabalho seria noturno. Sonhar com momentos que passei
com Anelise me deixavam saudosista. Cheguei pontualmente na recepção do
meu novo ambiente de trabalho e esperei alguns minutos para ser recebida
pela diretora do local. Era apenas eu e minha mala com poucas roupas e
muitas notas de cem reais. Precisava criar uma conta em um banco, mas eu
tinha medo dos documentos serem rejeitados e me descobrirem.
A diretora me chamou e logo estávamos fazendo uma ronda no asilo
para conhecer todos os idosos. Quando vi minha mãe de longe, meu coração
acelerou tanto que eu não conseguia me mexer, queria correr para seus
braços.
— Você está bem?
Assenti com a cabeça e continuamos a andar. Com todos os idosos que
fui apresentada eu tentava ser simpática e tranquila. Na vez de ela apresentar
minha mãe, eu estendi a mão em direção a ela e segurando-a firme me olhou
sorrindo.
— Você me lembra a minha filha. — Ela disse sorrindo.
— Esta é a April, será nossa ajudante no período da noite.
— Bem-vinda, April. — Minha mãe me disse.
Continuamos a andar e a diretora me levou até o refeitório.
— Essa senhora perdeu a filha recentemente, foi assassinada
brutalmente no Rio de Janeiro. Você deve ter acompanhado o caso pela
televisão. Foi a chefe da filha que matou ela.
— Fiquei sabendo.
Tentei cortar a conversa ali, mas ela continuou a falar o quanto o
assassinato tinha sido fora do comum e que a diretora financeira da empresa
também tinha roubado milhões. Seus relatos começaram a me dar náuseas.
— Por favor, não gosto desse tipo de assunto. Podemos prosseguir com
a ronda?
Ela me olhou espantada, mas acatou meu pedido. No fim de tudo, me
levou até o alojamento dos enfermeiros.
— Quer um conselho? Não se apegue demais a estes velhos, eles,
geralmente, ficam pouco tempo conosco. — Sua voz de desprezo me deu
vontade de sufocá-la.
Minha primeira noite no asilo e eu iria auxiliar Natasha uma enfermeira
com quarenta e poucos anos com cara de poucos amigos, mas dedicada e
super atenciosa com os idosos do lugar. Ela me contou a ficha e a lista de
remédios de cada um deles. Apesar de eu demorar um pouco para assimilar
algumas coisas, ela foi paciente em repetir o que eu não entendia. Eu ainda
não estava recuperada cem por cento dos traumas que viver April estava me
causando, mas ouvir suas instruções estava me animando em aprender aquele
ofício direito.
Natasha era recém divorciada e suas histórias me faziam passar as
noites acordadas sem problemas nenhum. Ela roubava gelatina para
comermos após a primeira ronda. Sentávamos no refeitório e ela me contava
sobre os idosos que já cuidou.
— Você não fala muito sobre você. — Ela disse uma noite raspando o
fim do pote de gelatina.
— Não tenho muito o que falar. — Eu disse chateada.
— Por que usa o lenço na cabeça?
— Eu estou esperando o cabelo crescer, raspei ele e está horrível.
— Deixa eu ver.
Neguei, mas ela insistiu tanto que eu ri e tirei a lenço. Tinha crescido
alguns centímetros, mas ainda estava terrível. Eu estava parecendo um Pica-
Pau.
— Ainda está muito curto. Por que raspou tudo?
— Porque eu achei que ia ficar bom.
Ela riu e falou que logo cresceria para eu me preocupar menos com o
que iriam pensar sobre meu cabelo e me cuidar espiritualmente melhor.
— Você acredita em Deus? — ela me olhou curiosa.
— Às vezes, sim. Muitas vezes, não.
— Toda terça-feira tem uma palestra espírita na capela, acho que
deveria aparecer um dia para ouvi-la.
Concordei que iria, mas não tinha certeza sobre aquilo.
Minha rotina dentro do asilo me dava segurança, não precisava sair dali
para quase nada e quando estava de folga, podia ler em paz no quarto. Eu
sempre escapava para ir até o quarto da minha mãe, passávamos horas
conversando. Ela estava em uma fase boa e eu comecei a frequentar as
palestras espíritas na capela.
Monitorava todas as notícias sobre Anelise através do notebook velho
que eu carregava comigo. O caso foi sumindo da mídia e dando lugar a outras
notícias sensacionalistas. Às idas à capela me ajudavam a me sentir menos
culpada por estar naquela situação, afinal, são consequências dos meus atos.
Foi um mês com uma fase tranquila da minha mãe até ela começar a
definhar novamente. Suas dores de cabeça cada vez mais agudas me
assustavam. Sua sanidade mental foi levada embora e em poucos dias, ela
não sabia mais distinguir o passado do presente.
Sua mobilidade também ficou reduzida e por conta disso, ela ficava
muito tempo deitada na cama. Raras vezes ela sabia quem eu era e isso me
machucava. Foram quinze dias assim, até ela ter uma nova melhora. Os
médicos tinham me avisado que os espaços entre sanidade e demência iriam
ser cada vez mais curtos, mas eu não quis acreditar.
Eu não podia demonstrar muito afeto à apenas uma pessoa ali dentro,
mas eu não conseguia mais esconder meu envolvimento afetivo com minha
mãe. Natasha me convenceu a mudar a escala para trabalhar de dia, pois os
episódios de loucura da minha mãe eram piores à noite. Mesmo assim, eu
ainda fugia do meu quarto para passar a noite com ela. Em uma noite,
Natasha me encontrou deitada junto com minha mãe e me tirou à força do
quarto.
Meu choro era desregrado e quando entramos em meu quarto, Natasha
me questionava sem parar sobre meu comportamento.
— Eu vou ter que te denunciar à diretoria, seu comportamento não é
aceitável, April.
— Ela… ela… é minha mãe.
— O que?
Eu sentei na cama e escondi meu rosto com as mãos. Respirei fundo e
olhei-a.
— Ela me lembra minha mãe, foi isso que quis dizer.
Natasha sentou ao meu lado.
— Eu só quero ampará-la antes do seu fim. — Eu voltei a chorar — Ela
está sozinha, não recebe visitas...
— Você não precisa fazer isso.
— Preciso sim, por favor, não conte isso a ninguém. Ela não precisa
passar por esse momento sozinha.
Ela me abraçou até eu me acalmar.
— Não vou contar, mas você precisa tomar cuidado com esse
envolvimento. Não é saudável se envolver com os pacientes dessa forma.
Deitei na cama e Natasha saiu do quarto depois de me beijar a testa.
Voltou ao quarto alguns minutos depois com uma xícara de chá de camomila
para mim e uma para ela e algumas bolachas salgadas.
— Você me lembra minha irmã mais nova. Ela foi apegada à minha
mãe até o fim de sua vida, mesmo com minha mãe morta em seus braços ela
não queria largá-la.
— Morreu de câncer também?
— Não. Meu padrasto atirou nela porque ela disse que ia embora da
casa dele.
Eu não soube o que dizer e apenas segurei sua mão, ela apertou a minha
e tomamos o chá em silêncio.
Depois desse episódio, Natasha me ajudava a passar a noite com minha
mãe sem me questionar. Eu sempre quis ser parecida com minha mãe,
fisicamente, mas sempre fui a cópia do meu pai. Neste momento, isso nos
ajudou a disfarçar o parentesco, mas eu ainda desejava ser igual a ela. Em
muitas coisas eu era, mas queria ser mais.
Em uma das minhas folgas fui até o banco para sacar o resto do
dinheiro da seguradora. Tinha certeza que se não fizesse isso, perderia o
acesso ao dinheiro assim que ela morresse. Eu precisava urgentemente de
uma conta no banco. Era o mesmo gerente da última vez que saquei o
dinheiro para pagar o “cara”. Arrisquei mostrar meus documentos e pedir
para ele abrir uma conta em meu nome. Ele fez sem me fazer muitas
perguntas e com o acesso via internet, consegui transferir todo o dinheiro
para minha conta.
Em um raro momento de lucidez, minha mãe me olhou deitada ao seu
lado e me sorriu.
— Filha, eu estou morrendo, saque o dinheiro da minha conta antes que
seja tarde. Volte para o Rio e seja feliz com a sua chefe.
— Já transferi o dinheiro para minha conta. Anelise nunca vai me
aceitar de volta. — Passei a mão em seu rosto.
— Se ela realmente te ama, vai sim.
— Ela foi presa porque acham que eu morri.
— Mudar o passado é complicado, mas ela vai te aceitar de volta.
— Você é muito otimista para quem não gostava da Ane.
— Preciso ser, você não pode ficar sozinha nesse mundo.
— Eu vou ficar sozinha, mãe.
— Eu sempre vou estar com você. — Ela me puxou para um abraço —
Eu te amo, Ágatha.
— E eu te amo mais. — Beijei sua testa — Mãe, mande um abraço meu
para o papai quando o encontrar.
— Aquele vigarista, foi embora antes do que eu, tínhamos combinado
de irmos juntos.
— E eu ficaria sozinha abandonada?
Ela riu e me beijou a testa.
— Quando combinamos isso, você ainda não existia.
Eu ri e abracei-a.
Minha mãe não morreu naquela noite, mas foi nossa última noite
juntas. Seu falecimento aconteceu durante sua sesta. Ela foi encontrada morta
por Natasha no fim da tarde em seu quarto.
Eu estava sentada no refeitório, tomando uma xícara de café, quando
Natasha sentou ao meu lado.
— Eu sinto muito.
— Eu sabia que isso ia acontecer.
— Mas nunca estamos preparadas para a morte.
— Isso é verdade.
Ela me abraçou e eu senti ao mesmo tempo alívio e dor pela morte da
única pessoa que me restou na vida.
Capítulo 12
A pior parte da morte da minha mãe, foi não poder velá-la como queria.
Não pude me aproximar para me despedir, não pude nem entrar no velório
com medo que alguém me reconhecesse. Haviam muitos familiares e tenho
certeza que meu tio iria me reconhecer. Acompanhei tudo de longe e no
enterro, tive que ficar afastada, escondida atrás de uma árvore.
Saí do cemitério depois de todos, deixei uma rosa no caixão dela e
voltei para o asilo. Eu não sabia o que fazer da vida. Queria voltar correndo
atrás de Anelise, mas eu não conseguia me mover para sair de dentro do
quarto.
Pelas notícias, vi que Anelise tinha sido solta e que as acusações contra
ela tinham se voltado contra Samuel e Hélio. Respirei aliviada quando li esta
matéria na internet. Eu tinha cuidado da minha mãe como deveria, dei aos
seus últimos meses de vida o máximo de conforto que pude. Agora chegou a
hora de me preocupar comigo mesma.
Deixei um recado para Natasha, um envelope com dinheiro e pedi
minha demissão, voltei para o Rio de Janeiro. Eu precisava ter notícias de
Anelise, falar com ela, mas não fazia ideia de como achá-la. A única coisa
que eu sabia era o endereço do escritório da melhor amiga dela, Maitê.
Passei uma semana tomando coragem para encontrá-la e enquanto isso
procurei empregos para conseguir sobreviver na minha “Cidade Maravilha”.
Fui a inúmeras entrevistas e por fim, consegui uma vaga como auxiliar de
cozinha. Meu cabelo havia crescido mais e eu o pintei de loiro e abandonei o
lenço e fiz um corte repicado e deixei chanel.
Eu sonhei repetidas vezes com Anelise e quando isso acontecia, eu
acordava angustiada.
O sonho era sempre o mesmo, o que eu sonhava tinha acontecido
depois da primeira fase do câncer da minha mãe. Um pouco antes do meu
aniversário e da festa surpresa. Eu estava no elevador do prédio de Ane,
subindo e me sentindo afastada dela por conta da doença e dos tratamentos
que minha mãe vinha tendo. Era uma terça-feira e eu tinha pedido abrigo em
sua casa, pois não queria ficar com minha mãe e muito menos voltar ao
apartamento que eu dividia com Elizabeth. Entrei, tirei os sapatos ao lado da
porta e ouvi ela e Bento no quarto de treino dela. Parei na porta e encostei no
batente observando-os. Estavam concentrados, Ane usava um short folgado,
com elástico largo e uma regata preta com um top por baixo. Ambos estavam
molhados de suor e após uns vinte minutos a aula acabou. Ela me olhou
parada na porta e me sorriu. O sonho sempre acabava aí, nesse sorriso.
Mas no dia em que isso aconteceu, Bento se despediu, ela tirou as luvas
e a bandagem, se aproximou devagar. Passou seu dedo em meu rosto
afastando uma mecha do meu cabelo. Beijou minha testa. “Vou cuidar de
você hoje. Vamos tomar um banho, jantar e eu lhe farei uma massagem
relaxante.” Naquela época, eu estava com um diagnóstico leve de estresse e
Ane fazia de tudo para eu me sentir tranquila. Tomamos o banho proposto e
ela me lavou sem me fazer perguntas, Ane sempre me deixava à vontade para
falar somente o que eu estava afim, ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu
acabaria falando sobre meus sentimentos. Ela colocou uma toalha nas minhas
costas quando terminou e eu fiquei parada olhando-a tomar banho. Tirei a
toalha e voltei para o chuveiro com ela. Ficamos abraçadas por um longo
tempo e quando me afastei ela me fez olhá-la e beijou meus lábios
suavemente. Sorri com o gesto e esperei ela terminar de se lavar.
Jantamos algo que ela havia pedido e de sobremesa ela tinha comprado
meu bolo favorito. Eu comi o bolo e ela me levou até seu quarto, me pediu
para deitar nua na cama, apagou as luzes acendendo um abajur bem suave e
colocou uma música baixinha. Deitei de barriga para cima e ela sentou nas
minhas coxas e começou a massagear minhas mãos, pulso, antebraço, braço,
ombro, fez o mesmo do outro lado. Pescoço, colo e ombro novamente. Por
onde suas mãos passavam minhas tensões, meus medos e ansiedades eram
dissolvidos. Sentou ao meu lado e massageou minhas coxas, joelhos, canelas
e pés. Dedicou um tempo aos pés e eu me derreti com o toque dos seus
dedos.
Quando virei de bruços, Ane voltou a sentar nas minhas coxas e eu
descobri em meu corpo uma zona erógena nunca explorada, as costas.
Primeiro ela coçou minhas costas, arranhou delicadamente minha pele me
causando arrepios e um frisson relaxante. Seus dedos começaram a me
apertar levemente, o polegar deslizava da lombar até o pescoço com a pressão
correta para me atiçar e relaxar os músculos. No começo achei que ela não
sabia o que estava causando em mim, mas ao longo dos movimentos e das
sensações, descobri que ela sabia muito bem o que estava fazendo e causando
em meu corpo. Suas mãos me deixaram excitada, querendo ser tocada,
beijada e acariciada. “Posso fazer mais alguma coisa pela senhora?” Ela me
sussurrou e eu virei meu corpo para olhá-la. Seu sorriso safado sabia o que
meu corpo queria e nós nos entregamos a beijos carinhosos e delicados. Eu
estava sem apetite sexual já faziam algumas semanas, mas o seu cuidado e
carinho durante todo o tempo ruim que passei com minha mãe me fizeram
entender que além de sexo, um relacionamento precisa ter cumplicidade e
dedicação. Compreensão e paciência. Naquela noite, nossos corpos se
reconectaram com calma e delicadeza. Ane me amou sem pressa, sem receios
e com fascínio. Sua satisfação em explorar meu corpo era nítida e seu olhar
de deleite era natural. Meu gozo foi libertador e depois de semanas sem me
dedicar a mim, a ela e a nós eu chorei em seus braços. Um choro de medo e
pavor, não pela morte de minha mãe, isso eu já sabia que era inevitável.
Medo e pavor em pensar que ela poderia ter ido embora, ela me fez olhá-la e
disse: “Ágatha, eu estou feliz em ter você em minha vida.” Eu sorri com a
frase e olhei-a profundamente. “Você é a melhor coisa que poderia ter me
acontecido.” Ela completou sua fala com esta frase e eu me segurei para não
chorar de novo.
Lembrar dos momentos de carinho dela comigo era penoso, porém
inevitável. E depois que voltei a morar no Rio estas lembranças voltaram com
tudo. Precisava revê-la ao menos uma vez, tentar me explicar e tentar
reconquistá-la.
Marquei um horário para encontrar Maitê, como se fosse um caso de
divórcio. Quando cheguei lá, eu tremia e não conseguia pensar no que falar
para ela e como me apresentar. A secretária me chamou para entrar na sala
dela e a primeira coisa que vi, foi um porta-retrato dela com Anelise.
Apresentei-me como April e ela pediu para eu me sentar. Meu olhar era
fixo no porta-retrato das duas. Ane estava sorrindo, aquele sorriso que eu
tanto amava, me arrepiei lembrando das nossas cenas e Maitê seguiu meu
olhar. Estranhou ao constatar que eu estava olhando sem piscar para a foto
dela com Anelise.
— A senhorita está bem?
Meu olhar encontrou-a lentamente e eu não sabia como responder.
— Fisicamente sim, emocionalmente não.
Ela sorriu desentendida com minha resposta.
— Como posso te ajudar?
— Você é mais bonita pessoalmente do que na televisão.
Encarei-a e ela me encarou confusa. Eu voltei a olhar a foto.
— Sua esposa? — Eu arrisquei.
— Quem dera. — Ela riu.
— Formariam um belo ca…
Fui interrompida pelo telefone dela. Ainda bem. Onde eu estava com a
cabeça? Anelise não podia estar com outra. Na verdade, podia. Acho que até
seria o correto. Afinal eu estou morta. Ágatha está morta.
— Moça, tem alguma coisa que posso fazer por você? — Maitê
interrompeu meu devaneio.
— Eu fui dada como morta. Uma pessoa inocente foi presa, mas ela já
está solta. Minha mãe morreu e o apartamento está como herança para mim,
mas eu não posso mais usar meu nome verdadeiro porque eu burlei a
seguradora. Existe alguma chance de eu conseguir esse apartamento?
— Seu horário não era para falar sobre divórcio? — Olhou a agenda em
cima da mesa.
— Achei mais fácil falar que era divórcio do que explicar tudo isso por
telefone.
— Qual seu nome? — Perguntou brava.
— April.
— Não! Seu nome verdadeiro.
— Á… — Eu engoli seco com a cara de desconfiada que ela estava
fazendo — Ágatha.
— O que? Você é a Ágatha da Anelise?
Eu apenas concordei balançando a cabeça. Ela me olhava sem uma
expressão definida.
— Ela está bem? — Eu olhei para o porta-retrato.
Maitê estava muda.
— Samuel me dopou e pagou um assassino de aluguel para me matar,
mas eu fiz um…
— Calada!
Sua voz estava firme, ela se levantou da cadeira, andou até a porta e
abriu-a enquanto me encarava.
— Saia daqui.
— Eu preciso saber se ela…
— Você não precisa saber de nada. Saia do meu escritório.
Eu me levantei devagar e andei até ela. Fiquei de frente para ela e tentei
passar a mão em seu rosto, afastou-se com o cenho franzido.
— Cuide bem dela.
— É o que venho fazendo há anos. — Disse brava.
— Eu sei. Obrigada por isso.
Eu saí, não poderia continuar com aquilo, teria que seguir minha vida
sem Anelise, sem saber se ela me perdoaria. Quando estava saindo do prédio,
escuto alguém me chamando. Olhei para trás e Maitê vinha apressada em
minha direção.
— Eu vou me odiar por fazer isso. — Ela me olhou brava — Mas
Anelise precisa saber que você está viva.
— Eu não quero atrapalhar nada que vocês estejam vivendo, só quero
me desculpar, contar a ela o que houve e seguir minha vida.
— Você a ama?
— Sim, mas ela nunca vai me perdoar pelo o que houve.
Ela riu nervosa.
— Isso só ela pode responder.
— Por que resolveu me ajudar a encontrá-la?
Ela riu de novo e olhou o chão respirando fundo.
— Ela não te esqueceu, só posso dizer isso.
Instintivamente eu abracei-a e eu a senti se segurando para não desabar
na minha frente. Afastou-se de mim e pediu para eu voltar no dia seguinte
para me encontrar com Anelise. Naquela noite eu não dormi direito pensando
em tudo o que eu precisava falar para a minha menina.
Anelise
Capítulo 1
A segunda coisa que eu fiz ao sair da cadeia?
Acordei em um hospital, baleada. O tiro foi acidental e de raspão, eu
estava saindo do mar e uma confusão entre várias pessoas acabou
ocasionando o disparo. Eu apenas estava no lugar errado e na hora errada.
Quando acordei, Maitê estava ao meu lado, dormindo em uma poltrona
minúscula. Observando-a me lembrei de quando tive minha primeira crise de
ansiedade e pânico em sua casa.
“Eu estava na casa dela faziam duas semanas e meu humor mudava
muito, meus pensamentos eram oscilantes e ora estava mega feliz, ora estava
muito mal. Naquele dia em específico, acordei bem, tranquila e com vontade
de viver.
Queria agradar e agradecer pela ajuda que estava recebendo. Porém
eu só sabia fazer isso da forma como Katherine tinha me ensinado. Cuidando
da casa. Maitê nunca se mostrou ser igual a Katherine, mas eu estava com a
psique muito bagunçada para ver que eu não precisava mais fazer as coisas
que eu tinha sido treinada a fazer. Digo treinada porque se eu não fizesse
certo, eu apanhava.
Tudo com Katherine era agressivo, humilhante e ofensivo. Todo
trabalho doméstico que eu tinha que fazer, tinha que estar apenas de lingerie
e com um plug anal. Se fosse diferente disso eu apanhava. E com o tempo,
mesmo ela não estando em casa, eu acabava fazendo a organização da casa
dessa forma. No começo era prazeroso fazer essas atividades, mas com o
tempo, o acessório deixou de me dar prazer e passou a ser um objeto de
tortura.
Quando Maitê entrou no apartamento, eu estava ajoelhada no chão, no
meio da sala, imóvel. Tudo o que tinha acontecido no meu casamento
desatou a ser repassado na minha mente. Todas as coisas ruins. Minha
garganta estava fechada, parecia que alguém tapava minha respiração de
tão sôfrega que ela estava. Eu estava presa no passado, eu não conseguia me
mexer. Nem um dedo, nem o olhar, nada saia daquele transe. Meu corpo
estava enrijecido, dolorido e eu não sei por quanto tempo fiquei naquela
prisão.
Maitê tentou me chamar, se ajoelhou na minha frente, mas eu não saía
de onde estava, na casa de Katherine algemada e apanhando por não ter
lavado o chão direito.
Aos poucos, ela fez com que eu conseguisse mover os olhos em sua
direção. A sensação de sufocamento foi passando e ela me levou até seu
quarto. Deitou-me na cama dela e esperou meu corpo reagir a tudo o que eu
estava pensando.
— Tira isso de mim.
Maitê me olhou assustada e quis saber o que eu queria que ela tirasse.
Eu apenas olhava-a e chorava.
— Me mostra o que você quer que eu tire de você. — Ela insistiu —
Quer que eu tire a lingerie?
Eu não sabia como falar a verdade para ela. Em um ato de desespero,
Maitê tirou meu sutiã e abaixou minha calcinha. Quando percebeu o que eu
estava usando, ela me olhou compreensiva e começou a tirar o objeto de
mim. Ao sentir seu toque meu corpo travou.
— Ane… relaxa, não quero te machucar.
Maitê me olhava confiante e passou a mão em meu rosto. Esperou meu
corpo se acalmar e aceitar seu toque. Retirou o objeto devagar e me
abraçou.
— Nunca mais faça isso.
Esperou meu choro cessar.
— Por que fez isso? — Me perguntou sussurrando ainda me segurando
em um abraço.
— Eu… eu… queria agradar.
Maitê me fez olhá-la. Vestiu minha calcinha novamente.
— Você não precisa fazer isso para me agradar. Não precisa se
preocupar em arrumar a casa, usar lingerie e muito menos usar um
acessório que te trás sensações tão ruins. Promete que não vai mais se
maltratar desse jeito.
— Eu…
— Você não é minha submissa. E mesmo se fosse eu não te trataria
assim. Você não precisa ser submissa de ninguém dessa forma.
— Katherine me ensinou…
— Ela te ensinou tudo errado. Você é livre para ter escolhas. Nunca
mais use um objeto para se torturar dessa forma. Você consegue me
entender?
Eu apenas balancei a cabeça afirmando.
— Bebê, você só precisa usar objetos que te deem prazer.
— Eu sentia prazer em usá-lo de vez em quando. Katherine o
transformou em objeto de tortura.
— Por que colocou ele hoje?
— Foi uma reação espontânea, eu pensei em te agradar e uma coisa se
conectou a outra.
— Você me agrada quando sorri, quando eu chego em casa e vejo que
você teve um bom dia. Você sabe que não é minha submissa, não sabe? Você
sabe que não me deve nada?
— Por que está me ajudando?
— Eu estou te ajudando porquê você precisa de ajuda. Você sabe que
eu sou apenas uma amiga e você não precisa me agradar em nada?
Afirmei com a cabeça.
— Repete uma frase para mim: "Eu não preciso me torturar."
Olhei-a e repeti a frase. Ela fez eu repetir mais duas vezes.
— Você tem submissa?
— Nenhuma exclusiva.
— Você já torturou alguma delas?
— Tortura erótica é muito diferente de maus tratos e violência
doméstica. A tortura tem que ser, de certa forma, prazerosa para os dois
lados. Existem limites que precisam ser respeitados.
— Eu quero voltar a gostar das coisas que eu gostava antes.
— Você vai voltar, mas não tenha pressa. Eu encontrei uma psicóloga
para te ajudar. Vai ser bom para você se reencontrar. Falar sobre coisas que
você não quer falar comigo ou outra amiga.
— Eu não tenho amigas, somente você.
— Vamos dar uma volta? Comer porcarias no shopping, fazer umas
compras…
— Eu não quero sair. Não quero usar minhas roupas, não quero que as
pessoas me vejam.
— Quais roupas quer usar? Posso te emprestar. Tenho vários estilos.
Hoje faz quase uma semana que você não sai daqui de dentro.
— Eu não sei mais qual o tipo de roupa que eu gostaria de usar.
Ela se levantou e me puxou pela mão, fomos até seu guarda roupa e eu
fiquei olhando aquele monte de roupa e não sabia o que fazer. Olhei as
calças e vi uma social preta. Peguei na mão e ela me incentivou a vestir.
Ficou folgada, mas Maitê foi até o escritório da casa e pegou clipes de papel
para diminuir a cintura. Na época eu estava esquelética. Pegou um cinto e eu
olhei-a assustada. Ela se aproximou e eu me afastei.
— Calma, eu só vou colocar na sua calça.
Parei de me afastar e ela se ajoelhou na minha frente. Meu corpo
tremia diante dela. Primeiro, ela arrumou a barra da calça e depois
começou a passar o cinto no passador. Levantou e foi até a parte onde
guardava os sapatos, me deu um par para calçar. Combinava perfeitamente
com a calça.
— Qual cor você gosta?
— Branco.
— Branco não é cor. — Ela riu.
— O branco é a junção de todas as cores do espectro de cores.
Ela riu e foi até o armário e pegou uma camisete azul petróleo e me
estendeu. Vesti e ela me ajudou a fechar os botões. Levou-me até o espelho e
ficou atrás de mim.
— Como se sente?
— Estranhamente bem.
Ela riu e me abraçou por trás.
— Você pode ser o que você quiser. Vestir o que você quiser e gostar
do que quiser na cama e na vida. Nada e nem ninguém pode tirar isso de
você. Você vai voltar a ser forte e eu vou estar ao seu lado para te amparar
quando não puder ser.
Nossos olhares se encontraram através do espelho. E eu lhe beijei o
rosto em forma de agradecimento e me virei de frente para ela puxando-a
para um abraço.
— O convite para sair ainda está de pé? — Eu sussurrei.
Ela riu alto e me apertou contra seu corpo.
— Sim. Você está linda nessa roupa. O que achou?
— Estou começando a me sentir eu mesma de novo.
— Vou te contar um segredo, sempre que eu me sinto ameaçada ou
com medo de alguma coisa, eu fecho a mão com força. Isso me dá energia
para continuar sem perder o foco. Tente achar algo que faça isso por você.
Instintivamente levei minhas mãos aos bolsos e esse se tornou meu
gesto de defesa e proteção.
Olhei-a deitada na poltrona e lhe sorri quando acordou. Levantou
sorrindo e veio em minha direção.
— Não me assuste desse jeito. — Sentou ao meu lado.
Segurei seu rosto e fiz com que me olhasse.
— Obrigada por tudo.
— Acho bom me agradecer mesmo, ultimamente você estava sendo
muito egoísta.
— Desculpe.
Abracei-a.
— Eu não precisava levar esse tiro justo agora, né? Vou demorar
semanas para me recuperar disso.
Ela riu e concordou comigo.
— Mas você está viva, isso é o que importa.
— Passei quatro meses desejando morrer.
— Já disse que não é para desejar a morte perto de mim...
— E se não fosse por você e por sua amizade eu teria me entregado.
— Vamos mudar de assunto? Odeio ver a palavra morte na sua boca.
— Sim, senhora.
Ela me olhou brava e eu ri.
— Eu tive muito trabalho para te consertar e você morrer jovem.
— Isso é verdade. — Passei a mão em seu rosto — Você é a mulher
mais foda que eu conheço. Você é a minha Mulher Maravilha, minha
heroína.
— Chega de rasgação de seda. O que vai me pedir?
Eu ri alto.
— Não posso te elogiar? — Olhei-a.
— Você não faz elogios à toa.
Eu ri de novo e a cicatriz do tiro me lembrou do porquê de estar em um
hospital.
— Você me conhece muito bem. Eu preciso de um macarrão a
carbonara.
— Com bacon?
— Sim! Muito bacon.
— É uma vegetariana fajuta mesmo.
— Só hoje.
— Você só come esse macarrão quando precisa de algo muito bom no
seu dia.
— Isso é verdade também. Eu estou feliz por estar viva, por ter saído
da prisão, mas quando eu penso na Ágatha toda essa alegria é em vão. Ela
não está aqui. Eu não vou vê-la e muito menos tê-la de novo. Eu não acho
justo ficar triste depois de tudo o que passei, mas eu queria que ela estivesse
aqui.
— Eu vou buscar seu macarrão. — Ela me beijou o rosto — Mas antes
você vai repetir comigo: “Eu não preciso me torturar.”
Eu lhe sorri e repeti a frase.
— Você é a minha Mulher Maravilha. — Eu sussurrei olhando-a
profundamente.
— Não deixe o mundo descobrir que eu saí da Ilha Themyscira e virei
uma advogada carioca. Minhas fãs vão odiar saber disso.
Eu ri e lhe beijei o rosto.
— Acho que elas vão é gostar. — Eu ri — Você consegue me fazer rir
em qualquer momento. Obrigada.
Ela beijou meu rosto.
— Você vai cuidar de mim até eu sarar desse tiro?
— Sempre!
Eu senti uma vontade incontrolável de beijá-la, mas ela se afastou antes
que eu tomasse qualquer atitude idiota. Não seria justo ficar com ela
querendo a Ágatha.
Capítulo 2
Algumas semanas depois
Após uma caminhada leve na praia, ainda estava me recuperando do
tiro. Eu voltei para o apartamento, entrei e escutei o chuveiro ligado. Fui até o
banheiro e fiquei na porta, parada observando o corpo sexy de Maitê molhado
e ensaboado. Estávamos tendo ótimos dias juntas. Conversávamos
animadamente sobre muitas coisas, inclusive sobre o novo rumo que sua
carreira estava seguindo. Não tivemos nenhum envolvimento sexual, acho
que ela sabia que eu ainda estava de luto por tudo o que havia acontecido.
— Ei, bebê, já voltou? — Ela me sorriu.
Eu tirei minha blusa e meu short e entrei no box junto com ela.
— Achei que não ia entrar.
Ela me deu um beijo no rosto e eu puxei-a para um beijo lascivo e
caloroso. Maitê se afastou confusa.
— O que foi isso?
Não respondi e passei a mão em seu rosto, puxando-a para outro beijo.
Correspondeu com leveza e eu encostei-a na parede aprofundando nosso
beijo, ela me fez olhá-la.
— Você está fedida e…
Beijei-a novamente e ela riu me afastando para baixo do chuveiro.
— Eu não gosto quando você me ataca assim. Eu não funciono desse
jeito.
Deixei a água cair em meu rosto molhando meu cabelo. Tirei meu sutiã
e minha calcinha, ela me olhava intrigada, sabia que tinha algo errado
comigo, mas não perguntou. Pegou a bucha e o sabonete, começou a me
ensaboar. Eu sentia meu corpo fervilhar com a presença dela, a delicadeza em
me lavar me excitava. Os pelos estavam eriçados pelo contato, fechei os
olhos para guardar aquele momento na memória. Suas mãos deslizavam pela
minha pele e sua nudez me provocava. Fiz com que me olhasse e ela
continuou o banho, a imagem de Ágatha me ensaboando veio à minha mente,
seu sorriso safado se misturava à imagem de Maitê. Nossas bocas se
aproximaram devagar, sua mão encontrou minha buceta e eu gemi em seus
lábios. Ela me abraçou e envolveu seu corpo com minhas pernas, me
encostando na parede. O beijo agressivo e cheio de tesão provocou arrepios
pelo meu corpo. Nós duas raramente tivemos momentos explosivos como
esse, nossos encontros eram sempre planejados. Sua buceta encostou na
minha e eu respirei fundo com o contato, estava mais excitada do que
imaginei. Nossas bocas não se desgrudavam e ela deslizava sua carne na
minha, apertou minha bunda e roçou nossos corpos com mais intensidade.
Abracei-a com força e empurrei minha pelve para ter mais contato com sua
buceta. Arranhei suas costas e meu corpo dava sinais de que queria gozar.
Puxei-a para mais perto do meu corpo e escondi meu rosto em seu pescoço,
arranhando-a. A intensidade aumentava proporcionalmente à minha vontade
de gozar. Sua mão segurou meu pescoço e nos olhamos profundamente. Eu
tive um pré-gozo e ela continuou a roçar sua buceta em mim. Vi sua cara de
excitação e seu sorriso malicioso surgir. O ritmo era intenso e eu tive um
êxtase confuso, por estar nos braços de Maitê vendo o rosto de Ágatha.
Estávamos ofegantes e ela me olhou.
— Eu não sou a Ágatha.
— Eu não estou procurando-a em você. — Eu disse ofegante.
— Infelizmente está.
Ela desceu minhas pernas trêmulas do seu corpo e se afastou.
— Maitê…
— Ane…
Abracei-a por trás e apertei-a contra meu corpo.
— Desculpe.
— Eu não posso mais ser sua válvula de escape.
Ela saiu do box, me deixando sozinha. Terminei de tomar banho e saí
enrolada na toalha. Encontrei-a na cozinha tomando um copo de suco de
laranja.
— Você ainda está brava comigo?
— Eu não estou brava porque a questão não é essa.
— Qual é então?
— Eu não posso ser usada desse jeito, Ane. Você está em luto pela
Ágatha, fazer sexo comigo não vai aliviar sua dor. Fazer sexo comigo, não
vai fazer você me amar.
— Por que fez sexo comigo, então?
Ela riu.
— Essa conversa não vai nos levar a lugar algum.
— Por quê?
— Eu te amo, Anelise.
— Eu também te amo, Maitê.
— Meu amor por você é carnal, físico, sexual, intenso… não é apenas
uma amizade com benefícios. Eu desejo você, seu corpo… Eu sinto seu
cheiro em lugares que você nunca esteve comigo. Meus pensamentos mais
insanos são com você. Por isso que eu fiz sexo com você, porque eu te amo,
te desejo. — Ela falava alto — E eu me odeio por te amar desse jeito. — Ela
jogou o copo de suco contra a parede me assustando — Eu odeio te amar,
Anelise. Eu não suporto mais esse amor.
Eu estava pasma com toda aquela revelação, ela me olhou com raiva e
saiu da cozinha. Escutei a porta da frente batendo e o baque foi como um
soco no estômago. Eu nunca percebi esse amor? Ou eu sabia e me aproveitei
dele das formas mais erradas?
Naquela noite, Maitê entrou no apartamento e eu fui ao seu encontro.
Ela estava visivelmente abatida, abracei-a forte e ela acatou meu gesto.
— Desculpe… eu… eu… sinto muito por não corresponder seus
sentimentos.
Ela beijou meu rosto e se afastou, sentou no sofá e me olhou chateada.
Bateu no estofado para eu me sentar ao lado dela.
— O que faria se visse a Ágatha na sua frente?
— Não sei. Qual o motivo dessa pergunta?
— Você voltaria com ela?
— Depende do que ela me contar. Por que está perguntando isso?
Ela respirou fundo e me olhou confusa.
— Hoje, uma moça chamada April, apareceu no meu escritório com
uma história muito estranha. Eu não quero te dar esperanças sobre esse
assunto, mas ela me disse que o nome verdadeiro dela é Ágatha.
— A minha Ágatha?
— É o que ela me disse.
— Mas… como?
— Não sei, bebê. Não sei. Ela tentou começar a me explicar, mas eu
fiquei nervosa e mandei ela embora.
Eu olhei-a confusa.
— Depois me arrependi e fui atrás dela. Amanhã ela vai voltar ao meu
escritório, eu disse que você estaria lá. Mas se não quiser, eu desmarco.
— Por que está fazendo isso?
— Ela iria te procurar de qualquer jeito e você não me perdoaria se
descobrisse que sabia que ela está viva.
— Eu entenderia o motivo de querer escondê-la de mim, mas ficaria
chateada.
— Eu nunca menti para você e não começaria a fazer isso agora.
— Sobre o que você me disse hoje cedo.
— Eu não devia ter dito aquilo, não com a raiva que eu disse.
— Antes de saber da possibilidade de Ágatha estar viva, eu queria nos
dar uma chance…
— Bebê, não se justifique, eu não estou cobrando nada. Eu nunca
esperei receber o mesmo amor que eu tenho por você. Eu não tenho raiva de
você. Você nunca me deu esperanças de nada.
— Eu me sinto mal por saber que você odeia me amar.
— Ane, você nunca me deu esperanças de termos um relacionamento.
Eu criei todas essas expectativas sozinhas, você não tem culpa.
— Mas eu alimentei suas expectativas.
— Não, bebê! Não alimentou, toda vez que nós nos envolvemos eu
sabia que você me via como uma válvula de escape.
— Não se diminua a isso, você é a pessoa mais importante na minha
vida.
— Mas não sou a pessoa que domina seu coração, nunca fui e,
provavelmente, nunca serei.
— Eu...
Maitê se levantou do sofá, beijou o topo da minha cabeça e apertou
meu ombro.
— Esse assunto se encerra aqui. Não quero mais voltar a falar sobre
isso.
Saiu da sala me deixando sozinha com meus pensamentos. Deitei no
sofá e olhei o teto tentando imaginar o quanto ela deve sofrer com minha
presença em sua casa. Pensar em Ágatha viva me trazia à tona tudo o que vivi
na cadeia. Socos, tapas, banhos gelados e noites dormindo no chão imundo e
frio. Eu não conseguia saber se ver Ágatha seria bom. O meu sentimento por
ela, até ontem, ainda era o mesmo, mas ela pode ter me usado para conseguir
alguma coisa, me enganado. Eu precisava dar espaço para Maitê, mas eu não
queria ficar sozinha naquele momento. Ela era tudo o que eu tinha e sentia
que estava começando a perdê-la.
Antes de dormir, passei em seu quarto. Ela estava lendo, sentada e
encostada na cabeceira da cama. Olhou-me por cima dos óculos de leitura e
eu cocei a nuca sem saber o que falar. Cruzei o braço envergonhada e olhei-a.
Quando eu morei com ela, depois do meu divórcio com a Katherine, sempre
que eu me sentia assustada ou acuada com alguma coisa eu dormia na cama
dela. Maitê me acolhia em seus braços e eu dormia tranquila recebendo um
cafuné suave. “Eu vou te proteger de qualquer coisa que te dê medo.” era o
que ela dizia antes de eu dormir sossegada. Eu estava envergonhada de pedir
qualquer coisa a ela.
— Só vim desejar boa noite. — Eu disse dando um passo para trás.
Ela levantou o lençol ao seu lado e me fez um sinal para ir até a cama.
— Não é justo eu dormir aqui depois do que conversamos.
— Existem injustiças piores no mundo, bebê. — Ela voltou a ler o
livro.
Eu me aproximei devagar e deitei na cama, Maitê me puxou para seus
braços e beijou minha testa.
— Eu vou te proteger de qualquer coisa que te dê medo.
O cafuné ainda era suave e relaxante, dormi em poucos minutos de
carinho.
Capítulo 3
No dia seguinte, acordei sozinha na cama e no apartamento. Eu não
sabia que horas Ágatha iria aparecer no escritório de Maitê, mandei uma
mensagem perguntando e fui tomar um banho rápido. Quando saí a sua
resposta continha apenas o horário, sem nada carinhoso, como ela costumava
ser. Eu não posso perder minha melhor amiga, mas a distância começou a
existir.
No horário combinado, entrei no escritório dela depois de bater na
porta. Sem me olhar me pediu para me sentar, mas fiquei em pé perto da
janela. Minhas mãos estavam no bolso e eu observava o reflexo de Maitê no
vidro. Compenetrada e com óculos de leitura. Ela era sexy de qualquer jeito.
Assustei com batidas na porta e Maitê pediu para entrar, era a secretária
dela avisando da chegada de Ágatha. Minha respiração estava totalmente
descompassada, como se eu tivesse corrido quilômetros para chegar até ali.
Ainda estava de costas e quando me virei ela estava entrando na sala.
Colocou a bolsa na cadeira, mas não se aproximou apenas me olhou
profundamente.
Eu dei um passo em sua direção e parei. Semanas de prisão começaram
a passar em minha mente. Cansaço, medo, loucura, dor… tudo me rondava e
eu estava paralisada olhando-a. Ela estava mais baixa do que eu me lembrava,
talvez por estar usando um sapatênis e não um salto alto. Seu cabelo estava
curto, bagunçado e loiro, quase branco. Roupas que não combinavam com a
Ágatha que eu conhecia. Mas o olhar preto provocativo e invasivo, era o
mesmo. O calor em meu corpo era o mesmo.
Sua aproximação era comedida e lenta. Seu indicador afastou uma
mecha do meu cabelo atrás da orelha e eu passei o meu dedo trêmulo em
alguns fios pequenos de seu novo corte.
— Esse corte ficou bom. — Eu sussurrei e passei o dedo em outra
mecha de cabelo.
Sua mão quente tocou meu rosto.
— Minha menina.
Eu encostei minha testa na dela, emotiva e tentando não chorar.
— O que houve com você? — eu sussurrei tocando-lhe o rosto.
Ela roçou o nariz no meu, me provocando para um beijo, eu queria
ceder, mas me controlei.
— Eu… er… eu… temos muito o que conversar. — Ela sussurrou —
Soube que levou um tiro, você está bem? — Sua mão me aquecia.
— Sim, foi de raspão, apenas alguns pontos. — Eu sussurrei tentando
não me demonstrar extasiada com seu toque.
Nós nos olhamos por longos segundos.
— Se o Samuel não te matou quem é a garota que está enterrada no seu
túmulo?
— Não sei.
— Como está viva? — Me afastei dela.
— Samuel contratou um assassino de aluguel, mas antes dele me matar
eu fiz uma proposta para ele. Se não me matasse eu pagaria duzentos mil
reais para ele, mas para isso minha morte precisava se passar por verdadeira.
— Você sabia que eles iriam roubar a empresa?
— Não! Como saberia disso? Eu não sabia nem que iriam me matar até
o capanga dele me dizer.
— Você podia ter me tirado da cadeia se tivesse aparecido mais cedo.
— Como iria fazer isso e receber o dinheiro do seguro? Eu precisava do
dinheiro para pagar o cara.
— Eu teria dado esse dinheiro, pedido empréstimo, sei lá.
— Ane...
— Por que você não falou comigo antes de fazer toda essa merda?
— Eu não podia te avisar, eu estava sendo vigiada. O cara só me
deixou conversar com minha mãe antes da polícia descobrir tudo. Ele me deu
uma identidade falsa e colocou uma outra mulher no meu lugar. Na hora que
eu estava aceitando tudo isso, eu não sabia que você levaria a culpa pela
minha morte, só sabia que Samuel queria me matar. Eu estava tentando não
morrer.
Eu me afastei mais.
— Por que resolveu aparecer meses depois da sua morte?
— Eu não consigo mais viver com essa mentira. Precisava te
reencontrar e contar a verdade.
— Eu passei meses presa pensando na sua morte. Eu fui espancada,
quase morri e quase fui estuprada duas vezes. Você tem noção do quão
doloroso é pensar na morte de alguém?
— Sim. Minha mãe morreu mesmo eu tendo me fingido de morta para
pagar o tratamento dela.
— Eu estava pagando o tratamento dela, se tivesse contado a verdade
antes…
— Ela teria sido assassinada sem a chance de lutar por mais alguns
meses de vida.
— Eu teria dado o dinheiro! — falei alto.
Olhei-a e meu coração disparou por vê-la frágil e chateada.
— O que você está sentindo? — ela me olhou.
— Raiva. Angústia. Medo.
— Eu entendo seus sentimentos e não posso pedir que sinta outra coisa.
No seu lugar eu sentiria o mesmo. Eu voltei a morar no Rio recentemente,
estou trabalhando de auxiliar de cozinha em um restaurante na Lapa, espero
que algum dia você consiga entender minhas atitudes.
— Você ainda sente o mesmo por mim?
— Minha menina, eu amo e desejo você todos os dias. Ficar longe de
você está sendo a pior consequência desse plano todo.
— Não me chame assim.
— Ane…
— Você não tem o direito de voltar assim para minha vida, como se
tudo tivesse sido apenas um sonho ruim, um pesadelo medonho.
— Quando eu fugi da minha morte pensando em dar um golpe na
seguradora, eu estava disposta a aceitar todas as consequências do plano, só
não imaginei que ficar longe de você seria mais doloroso do que perder
minha mãe. Eu não quero mais ficar sem você. Eu quero você de volta na
minha vida.
Ela abriu a bolsa, pegou um cartão e me entregou.
— Estou trabalhando nesse lugar, meu celular está anotado atrás.
Ágatha olhou o relógio, era o mesmo que eu havia dado no dia do seu
aniversário. Olhou-me e fez menção de se aproximar, mas não o fez.
— Eu não sei quando ou se vou poder te dar uma resposta
— Não tenho pressa e vou entender se não conseguir me perdoar.
Olhei Maitê que ainda lia os papéis na sua frente como se não
estivéssemos ali.
— Posso te abraçar? — Ela me olhou.
Ágatha se aproximou de mim e eu acatei sua aproximação. O abraço foi
lento e cheio de significados. Sentir o calor do seu corpo perto do meu foi um
alívio para todas as confusões mentais em que eu estava entrando. A sensação
de abraçá-la ainda era a mesma, um refúgio do mundo e das aflições. Seus
lábios depositaram um beijo em meu pescoço me arrepiando por inteira. Ela
me sorriu com seu sorriso mais safado e se afastou. Ela ainda causava as
mesmas sensações quando se aproximava e ela sabia o que me causava. Saiu
do escritório e eu sentei na cadeira em frente à mesa de Maitê.
— Você deveria perdoá-la. — Disse sem me olhar.
— Por quê?
— Porque você a ama e pelo jeito ela também foi enganada.
— Não! Por que você é perfeita desse jeito? Me empurrando para os
braços dela.
Ela me olhou tirando os óculos.
— Eu não tinha chance com você quando ela aparecia em seus sonhos,
imagina agora que ela voltou dos mortos e disse que te ama.
— Eu…
— Bebê, não se preocupe comigo. Eu vou voltar a entrar em contato
com a Carla, ela me fazia bem e gostava das mesmas coisas que eu. Você
deveria perdoar a Ágatha, ou melhor, April e voltar a viver.
— Você quer que eu saia da sua casa?
— Não precisa sair de casa. Eu já me conformei que você não me ama
há muito tempo e eu já disse que não era para voltarmos a esse assunto, não
disse?
— Disse.
— Não se preocupe comigo.
Olhei-a e ela me sorriu. Despedi-me dela e fui andar pela Praia do
Botafogo, que era perto do escritório dela.
Depois de um tempo de caminhada sentei na areia observando o mar e
me dei conta que precisava me reencontrar. Atualmente não sei mais do que
gosto. Estava em busca de um novo emprego, mas meus conflitos internos
me deixavam sem vontade de investir em minha carreira.
Quando Maitê chegou em casa, no fim da tarde, eu estava com uma
mala pronta e com passagens aéreas compradas.
— Eu vou viajar por um tempo.
— Ótimo, bebê. Vai ser bom para repensar na sua vida. Para onde vai?
— Primeiro Chile, depois não sei. Vou sumir por um tempo, ficar sem
contato com ninguém.
— Mas me mande notícias de vez em quando. Um "Oi, estou viva,
beijos."
Eu ri e abracei-a.
— Vou manter você informada.
— O que falo para a April?
— Não sei. — Dei de ombros como se não me importasse.
— Vou falar apenas que você precisa de um tempo para refletir.
— Isso. Você vai se encontrar com a Carla?
— Sim. Por quê?
— Eu não tenho o direito de sentir ciúme de você, mas sinto.
Ela riu e me abraçou.
— Quando voltar, conhecerá a Carla.
— Se cuida.
— Você também.
Tive vontade de beijá-la, mas não fiz. Peguei minha mala e parti para
uma viagem sem destino e sem companhia.
Ágatha
Capítulo 1
Ela sumiu, trocou o número do celular, cancelou o e-mail que eu
conhecia e nunca mais recebi um recado seu. Insisti para Maitê me contar
onde ela estava escondida, mas era impossível fazer ela falar. Insisti inúmeras
vezes e ela só me repetia que não sabia onde Anelise estava. Cansei de
procurá-la, não havia como achá-la.
Maitê me ajudou a reaver o apartamento da minha mãe, mesmo
sabendo que poderia se comprometer com o ato. Fizemos um testamento em
que Ágatha deixava o apartamento para April e com isso pude me mudar para
o apartamento. Eu estava dividindo meu tempo entre trabalhar e estudar. Não
pensava em mais nada além disso. Eu revia fotos minha com Anelise antes de
dormir e rezava para que ela estivesse bem. A saudade se dividia entre minha
mãe e Ane, meu coração não sabia me dizer de quem a falta era maior, mas
meu corpo sabia, minha mente sabia e era Anelise que os dois chamavam.
Foram mais dois meses sem Anelise, o meu pior castigo foi a sua
ausência, seu silêncio e seu sumiço. Eu faria qualquer coisa para tê-la de
volta. Maitê virou uma grande amiga nos últimos meses, eu contava a ela
como estava me sentindo na esperança de que ela contasse a Ane sobre o meu
sofrimento.
Meus estudos estavam cada dia mais rigorosos e o trabalho no
restaurante era pesado, mas isso me ajudava a dormir à noite. Chegava tão
cansada que tinha dia que não trocava nem de roupa. Maitê sempre aparecia
no restaurante em que estou trabalhando, não por mim, pois meu chefe virou
cliente dela. Sempre que ia ao recinto fazia questão de ser atendida por mim,
apesar de eu não ser garçonete, ela sempre tinha um pedido especial para me
fazer. Naquele dia, ela estava acompanhada pela mesma garota das últimas
vezes. Aproximei-me da mesa, a garota tinha a idade de Ane, talvez um
pouco menos. Ela usava um colar dourado com a letra “M”, eu não sabia seu
nome, mas tinha certeza que o “M” representa Maitê. Olhei-a e ela me
apresentou-a como Carla. Fez o pedido e me entregou um envelope, meu
coração quis sair pela boca quando reconheci a letra que escrevia meu nome.
— Não faça merda dessa vez. — Maitê me olhou brava.
Eu passei o pedido delas para a cozinha e corri para o fundo do
restaurante, em uma área isolada para poder ver o que o envelope trazia.
Abri-o com as mãos trêmulas e havia um cartão de crédito com o meu nome e
um bilhete: “Use com sabedoria.” Eu voltei para a mesa e Maitê estava
falando com Carla alegremente, não queria interromper, sabia que ficaria
brava comigo, mas não tinha como deixar passar. Aproximei-me com o
cartão em mãos.
— Isso não é justo, me diga onde ela está. — Eu disse manhosa e quase
chorando.
— Eu não faço as regras.
O celular dela começou a tocar e vi o nome de Anelise no visor.
— Atenda! — Maitê disse brava.
Atendi nervosa e saí de dentro do restaurante.
— Por que está fazendo isso comigo?
— Quieta, antes que eu desista de tudo o que estou fazendo. Quero que
me encontre no endereço que está escrito dentro do envelope. — Desligou.
Sua voz estava ríspida, quase agressiva. Entrei no restaurante e devolvi
o celular à Maitê que segurava a mão de Carla sobre a mesa. Voltei ao fundo
do restaurante e rasguei o envelope para ler o endereço e o horário que ela
queria me encontrar. Apesar de estar confusa, estava extremamente confiante
sobre a nossa conversa.
Uma hora antes do horário marcado saí do restaurante quase correndo
para não me atrasar. O local não era perto e quando cheguei fiquei mais
confusa ainda, estava fechado com uma placa para ser alugado ou comprado.
Olhei pelo vidro e ela estava em pé lá dentro, no meio do salão com as mãos
dentro do bolso de uma calça social impecável. Abri a porta e me aproximei
devagar, não sabia qual reação ter. Estava elegante e seus olhos me
perseguiam, assim como faziam quando nos conhecemos e eu entrava na sala
dela sem ser chamada. Parei na sua frente e ameacei começar a falar, mas ela
me olhava tão profundamente que perdi as palavras no ar.
— Nestas últimas semanas eu pensei muito em muita coisa. — Ela
disse sem desviar o olhar do meu — Naquela pasta, — Apontou o balcão ao
nosso lado — tem um plano de negócios para você abrir seu próprio
restaurante. Se seguir à risca, terá o dinheiro do investimento para me pagar
daqui três ou quatro anos. Mas eu dou dez anos para você me pagar de volta.
Eu ia interrompê-la, mas ela colocou o dedo indicador nos meus lábios.
Seu olhar não me largava e eu queria beijá-la, suprir a falta que ela me fez.
Seu indicador afastou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, seus gestos
pareciam premeditados.
— Eu tive muito tempo para esquecê-la, mas nada e nem ninguém
conseguiu chegar perto disso. — Ela disse e eu queria chorar — Eu não voltei
por você e não voltei para você. Se você não tivesse se fingido de morta e eu
não tivesse sido presa, eu teria aceitado ser sua submissa exclusiva. — Eu
estava chorando — Teria respondido seu pedido com um sim, teria aceitado
uma coleira, teria aceitado me entregar a você mais do que eu já estava
entregue. Hoje eu não posso e não quero fazer isso. No cartão que te dei, tem
o valor de investimento para o seu restaurante, é um presente pelo tempo que
passamos juntas. Maitê vai te procurar para assinar os papéis do empréstimo.
Ela enxugou uma lágrima do meu rosto e se afastou enquanto eu
chorava vendo-a se afastar.
— Eu terei dez anos para te reconquistar?
— Entenda como quiser, Ágatha.
— Converse comigo direito, Anelise! — Eu gritei.
Ela saiu pela porta, entrou em um carro e eu não a vi mais. Peguei a
pasta em cima do balcão e comecei a ler, o plano era audacioso e o valor que
ela havia me dado era muito alto. A insegurança de fazer tudo errado
começou me sondar.
Capítulo 2
Alguns dias depois de seu sumiço. Maitê me procurou para acertar os
termos do contrato.
— Por que ela está fazendo isso?
— Este dinheiro é o valor que Katherine pagou a ela quando eu fiz o
processo de divórcio delas.
— Isso é uma indenização pela nossa separação?
— Eu não sei te responder, as intenções não são minhas e Anelise não
me contou o porquê de ela querer te dar esse dinheiro.
Maitê me mostrou o contrato e além das exigências normais, havia uma
cláusula que me proibia de ter contato com Ane.
— Eu não posso ter nenhum contato com ela?
— Qualquer coisa que precisar, peça a mim e eu serei a ponte entre
vocês.
— Maitê seja sincera comigo, qual é a pegadinha desse plano?
— Se eu soubesse, falaria, mas não sei o que tudo isso quer dizer, sou
apenas a advogada dela.
— Você é mais do que uma simples advogada.
— Posso ser, mas ela não me contou nada sobre isso. Eu sei o mesmo
que você.
— Eu ainda me pergunto como ela ainda pode ser tão presente na
minha mente se estamos afastadas a tanto tempo.
— O efeito Anelise é permanente, basta saber abafá-lo.
— Eu a quero.
— Siga seu instinto, você a conhece, sabe como pode ser arisca. Você
já a conquistou uma vez, não foi?
— As circunstâncias eram outras. Você acha que isso tudo é um teste?
Se eu aceitar os termos dela terei ela de volta?
— Como foi da primeira vez? Adiantou forçar a barra e querer que ela
fizesse as coisas do seu jeito?
— Não.
— Então você já tem a resposta.
Eu assinei o contrato e rezei para que meu instinto estivesse certo.
Larguei o emprego em que estava, afinal, meu tempo era escasso. Eu
tinha um mês e meio para conseguir inaugurar o restaurante antes do começo
do verão e pegar a alta temporada de turistas. A região que Anelise escolheu
era frequentada pela alta classe carioca e tudo deveria estar perfeito.
Maitê me ajudou com algumas questões legais e alvarás necessários
para o funcionamento, mas o restante, eu fiz sozinha. Guta ainda estava na
Europa e eu não queria reativar uma amizade tóxica como a de Elizabeth,
mesmo porque, para elas, eu ainda estava morta. Eu estou sozinha e não
tenho nem mesmo minha mãe para me dar conselhos sobre o que fazer.
Em um fim de tarde, no meio de todo o processo de inauguração, eu
sentei atrás do balcão e desabei em lágrimas. Estava exausta, meu corpo doía,
meus pés estavam inchados e meus braços pesados. Eu não tinha mais força
para me levantar dali. Olhei para o teto do restaurante e vi como havia ficado
depois da reforma e os lustres novos, estavam lindos, mas eu estava
despedaçada. Estava há vinte dias da inauguração e eu não tinha definido o
nome do restaurante. Anelise tinha deixado duas opções, mas eu estava
tendendo a usar: “Cidade Maravilha” para homenagear o dia que cheguei ao
Rio e caí de amores por ele.
Meu celular começou a tocar, era Maitê. Eu não conseguia falar e ela
me perguntou se queria companhia, aceitei e em vinte minutos ela apareceu
no restaurante e sentou ao meu lado. Enquanto contei como estava me
sentindo, ela tirou os sapatos e me abraçou. Pegou o celular e vasculhou uma
pasta e me entregou o aparelho para eu ver um vídeo. O começo era a
filmagem de uma praia, ondas, paisagem, mar, céu azul e logo uma voz
começou a falar. O meu coração disparou, era Anelise. Ela virou a câmera
para se filmar, estava linda com um biquíni lilás e um largo sorriso no rosto.
“Estou fazendo esse vídeo para te provar que estou viva e bem. Estou no
México, aproveitando o sol e a tequila.” Ela voltou a filmar as pessoas na
praia. “Aproveitando algumas mexicanas também.” Voltou a se filmar e riu.
“Até ganhei alguns quilinhos.” Ela filmou seu corpo bronzeado e malhado e
voltou a câmera para o rosto. “Não se preocupe tanto, Maitê. Beijos!” O
vídeo acabou.
— Se ela descobrir que mostrei esse vídeo para você, ela não vai me
perdoar.
Eu não respondi e comecei a ver o vídeo novamente.
— Manda esse vídeo para mim, por favor! — Eu sussurrei tentando não
chorar.
Ela pegou o celular e o encaminhou para mim. Eu deitei minha cabeça
em sua perna e paralisei o vídeo onde ela sorria para a câmera e fiquei
olhando, me martirizando por não a ter mais. Maitê me fez carinho na cabeça
e permanecemos em silêncio. Tenho a impressão de ter ficado olhando a tela
por horas, mas deve ter sido apenas minutos. Sentei e olhei para Maitê.
— Ela vai voltar?
— Não sei.
— Eu preciso vê-la, tocá-la, sentir o cheiro do seu perfume, ela está me
torturando fazendo isso.
— Eu juro que ela apenas me manda notícias esporadicamente e não
comenta nada sobre voltar.
— Pede para ela vir na inauguração, por favor.
— Já pedi.
— Obrigada.
— A reforma acabou?
— Sim. Estou esperando os móveis, acredito que chegam amanhã no
fim da tarde. Seu apoio está sendo importante para mim, eu estou acabada
com tudo o que vem acontecendo.
Ela apenas me sorriu e seu celular começou a tocar, ela se levantou
para atender e se afastou, era Carla.
Terminou a ligação e me entregou seu celular aberto em uma conversa
com Anelise.
— Vou fingir que não estou vendo você ler esta conversa.
Comecei a ler e vi que as mensagens começaram depois do vídeo. A
maioria delas era sobre como estava o tempo, a viagem e o que andava
fazendo. Até que vi uma mensagem de alguns minutos atrás que me chamou
a atenção: “Me bateu uma angústia agora, está tudo bem por aí?” Maitê
respondeu com uma foto minha deitada em suas pernas vendo o vídeo de
Anelise na praia com a legenda: “Tem mais alguém angustiada…” Ane
perguntou: “O que houve? Ela está bem?” Maitê ainda não tinha respondido
e fiquei tentada em responder que eu não estava bem, mas eu me lembrei que
não podia ter contato com ela. Devolvi o celular e olhei-a.
— Pegue este celular antes que eu faça a besteira de ligar para ela.
Maitê me sorriu e segurou o aparelho. Ela fez uma ligação para Anelise
e deixou no viva-voz.
— Ei, bebê! Tudo bem?
— Oi. Está sozinha? — Parecia desconfiada.
— Sim. — Ela me olhou e eu estava quase sem respirar por ouvir a voz
de Anelise.
— Não minta para mim.
— Não est...
— Você estava com a Ágatha deitada em suas pernas a poucos minutos
atrás. Ela está ouvindo essa conversa?
— As suas regras não se aplicam a mim, se aplicam?
— Não.
— Eu não estou sozinha, mas quem fez o contato com você fui eu,
então Ágatha não está infringindo nenhuma regra sua em ouvir essa conversa.
Ela ficou quieta.
— O restaurante está ficando bonito. — Maitê tentou quebrar o
silêncio.
A chamada ficou muda, sem respostas por um longo tempo.
— Você está bem, Ágatha? — Sua voz estava estranha.
— Extremamente cansada e você? Se divertindo muito com as
mexicanas?
— Não tanto quanto gostaria. — Ela fez uma pausa longa e ouvi sua
respiração descompassada — Preciso desligar. — Sua voz estava embargada
— Cuide-se.
— Eu te amo.
Maitê me sorriu e percebemos que ela estava chorando.
— Ane?
Desligou o telefone.
— Por que ligou para ela comigo aqui?
— Porque ela está te torturando e eu não concordo com isso.
— Eu mereço o desprezo dela. — Eu disse chateada.
Ela sorriu e passou a mão em meu rosto, tocando levemente a ponta do
meu nariz.
— Não se menospreze dessa forma, bebê. Ninguém merece ser
desprezada. Anelise está acuada novamente e isso só ela pode mudar. Se
cuida, bebezinho! — ela deu um beijo demorado em minha bochecha.
— Você chama todo mundo de bebê? — Eu olhei-a e nossos rostos
estavam perto.
— Não. — Ela passou a mão em meu rosto — Só chamo assim — Sua
voz ficou rouca e sexy — quem eu sei que precisa dos meus cuidados
especiais.
Eu sorri e encostei minha testa na dela.
— Numa cena nós brigaríamos pela dominância… — Eu sussurrei.
— Duvido muito disso, bebê. — Ela me sorriu.
— Se fosse em outro momento da minha vida, eu aceitaria o desafio,
mas eu não posso.
Ela beijou minha bochecha novamente, eu abracei-a e agradeci pela
ligação. Maitê se despediu de mim e eu fiquei mais um pouco ali. Saber que
Ane ainda se preocupa comigo foi um combustível para eu me recuperar e
respirar fundo para enfrentar o que ainda faltava para a inauguração.
Capítulo 3
Depois de todos os tempos apertados, finalmente chegou o dia da pré-
estreia do restaurante. Eu havia feito um convite especial para vários políticos
e artistas do Rio de Janeiro, seria uma inauguração apenas para convidados e
no dia seguinte seria a inauguração oficial. A cozinha estava treinada para
servir um menu com entradas, saladas, pratos principais e sobremesas que
estariam no cardápio posteriormente. Durante o ano que me envolvi com
Anelise, aprimorei muitos pratos típicos cariocas e brasileiros para colocá-los
no cardápio. Além, de pratos internacionais. Conforme os convidados se
apossavam de suas mesas, o jantar era servido no ritual que eu havia
programado, minha ansiedade estava elevada e o consumo de bebidas pelos
clientes era incentivado com uma Bossa Nova alternada com Samba e MPB.
Maitê trouxe muitos clientes para o jantar inicial e ela apareceu no meio da
noite acompanhada por Carla. Eu mesma fui atendê-las.
— Isso está lindo, bebê! — Maitê me sorriu — Nós estamos orgulhosas
de você.
— Obrigada, Maitê. Você sabe se Ane virá?
— Ela não me disse nada.
Mostrei o cardápio a elas e me afastei, por que ainda insistia em
descobrir coisas sobre Anelise se a resposta era sempre a mesma, me
perguntei. A música “O que é o amor?” de Arlindo Cruz começou a tocar e
eu imediatamente a escutei cantando em meu ouvido, abraçando minha
cintura me puxando para dançar. Mas era minha imaginação lembrando do
casamento que tínhamos ido juntas. Olhei por todo o restaurante e vi o quão
cheio estava e sorri, pelo menos havia cumprido o cronograma à risca. Prestei
atenção na música enquanto olhava novamente todas as mesas cheias.
“Me disseram uma vez que o danado do amor pode ser fatal
Dor sem ter remédio pra curar
Me disseram também
Que o amor faz o bem
E que vence o mau”
Pedi para uma das garçonetes servir uísque para Maitê e Carla e quando
olhei para a mesa novamente Anelise estava em pé abraçando Maitê com
força. Pedi para acrescentar uma taça de Martini ao pedido da mesa. Claro
que ela não faria uma entrada simples, ela precisava mexer comigo, reativar
sensações boas para depois me abandonar. Ela olhou direto para mim quando
foi servida pela garçonete, fria, sem reação, como um “iceberg”. Prometi a
mim mesma que não me humilharia, não me aproximaria, fingiria que não a
conhecia. Mantive minha promessa me distraindo para a noite ser perfeita
para todos e quando vi, apenas Maitê e Carla estavam na mesa.
Um desespero incontrolável tomou conta de mim, fui até o meu
escritório, precisava respirar, sentar e, talvez, chorar. Por que fazer isso
comigo? Nenhuma palavra dirigida e o único olhar foi perverso, sem
sentimento, quase como se fossemos desconhecidas. A essa altura da noite,
meus pés doíam, minha cabeça fervia e eu queria um banho quente e minha
cama.
Abri a porta do escritório e me deparei com ela em pé ao lado da minha
mesa.
— Anelise!?
Dois copos de champanhe pousavam sob a mesa e suas mãos estavam
dentro dos bolsos da calça. Fechei a porta e meu corpo queria se aproximar.
"Cobre!" "Fale!" "Pergunte, insista, faça ela te ouvir!" Era o que meu corpo
me dizia. "Domine essa mulher!" Ele insistia. Eu fiquei parada olhando-a sem
reação. Minha mente me disse apenas uma coisa: "Desista, é o mais sensato!"
Ficamos em silêncio por um longo tempo e ela me estendeu o copo com a
champanhe. Segurei-o e percebi o quanto minha mão estava trêmula.
— Parabéns, a noite foi um sucesso.
Eu não respondi, apenas olhei-a. Ane bebeu um gole de champanhe e
me olhou. Instintivamente me aproximei dela e pedi um abraço. "Humilhante,
Ágatha!" Pensei imediatamente. Quando me envolveu com seus braços, eu
me esqueci de tudo. Todo o cansaço passou e seus lábios beijando o topo da
minha cabeça foi um sinal de que estava tudo bem, mas que o caminho não
estava completo. Pousei a cabeça em seu ombro e instintivamente puxei seu
corpo para mais perto, mas quando percebi que ela não retribuiu o aperto, me
afastei.
Tudo estava quebrado dentro de mim. Não ousei olhá-la, minhas
lágrimas davam sinal de vida e eu sentei em uma cadeira, arrasada. A noite
poderia ter sido um sucesso, mas eu me sentia vazia. Seu olhar me julgava,
tirei os sapatos e encostei na cadeira e tapei meu rosto com minhas mãos. Ela
tinha me visto chorar tantas vezes, mas dessa vez era diferente. Eu não queria
que ela visse, eu chorava de cansaço e medo de perdê-la definitivamente.
Ela segurou meu braço e me levantou puxando-me para outro abraço.
Meu choro foi desregrado e dolorido. Eu faria tudo para tê-la em minha vida
novamente, mas eu não conseguia falar. Não conseguia pedir sua volta.
— Você está indo bem. — Ela me sussurrou baixinho.
Em meio ao choro, eu ri e voltei a me afogar em lágrimas, ri porque ela
estava me torturando e era exatamente isso que ela queria.
Ane me fez olhá-la e beijou minha bochecha e eu resisti em atacá-la.
"Isso é um teste, só pode ser! Se eu não posso contactá-la, o que ela está
fazendo aqui? Por que essa encenação toda?”
Meu corpo não queria obedecer, mas minha mente mandou eu me
ajoelhar perante minha menina. Deslizei de seus braços e me ajoelhei, eu não
sabia o que dizer e sem olhá-la falei minhas palavras mais sinceras.
— Perdoe meus erros, me perdoe por tudo o que fiz você passar.
Ela me fez olhá-la e sentou na cadeira na minha frente. Passou a mão
em meu rosto e segurou-o com as duas mãos. Seu olhar me desconcertou,
passou o dedo pelo rosto para secar minhas lágrimas. Nossa proximidade me
causava arrepios, encostei minha testa na dela e rocei a ponta do meu nariz no
dela.
— Eu sinto sua falta. — Eu sussurrei.
Pousei minha mão direita em sua nuca e acariciei-a. Tentei beijá-la,
mas ela se afastou.
— Eu não estou pronta.
Ela beijou minha testa e se levantou saindo do escritório, me deixando
sozinha com minhas incertezas e medos. Precisava me reconectar com a
cidade, com meus sonhos e comigo mesma. E eu tinha certeza que me
reencontrar no paraíso carioca não seria fácil, mas eu não deixaria de tentar.
Anelise
Capítulo 1
Acordei de ressaca, fazia muito tempo que não tinha uma dessas.
Parece que bebi toda a tequila do México. Que dor de cabeça horrível.
Levantei da cama e me dei conta da minha nudez. Precisava de um banho e
quando entrei no banheiro me olhei no grande espelho que tinha atrás da
porta. Eu estava vermelha do sol, pelo menos a marquinha do biquíni iria
ficar bonita. Tentei me concentrar em entender o que eu havia feito na noite
anterior.
Inúmeras doses de tequila apareciam no extrato do cartão de crédito.
Nunca mais quero essa bebida. Quem me deixou bêbada? Não faço ideia. Se
ver a pessoa na rua com certeza não vou reconhecer.
Há três dias atrás, eu havia chegado a Cancún na Cidade do México.
Vim do Chile e estava aproveitando tudo o que podia das praias e das garotas.
Ontem eu fui a um clube de BDSM. Precisava tirar Ágatha da cabeça.
Aqui tudo me lembra ela. Camarão, praia, sol, biquíni... Tudo, inclusive o
quarto onde estou.
A gerente do clube me apresentou três dominatrix e eu escolhi uma das
garotas. Dizia ter experiência, anos de dominante. Estávamos começando a
cena e já me arrependi amargamente de ter começado. Eu quis reproduzir
uma das primeiras cenas que fiz com Ágatha, mas a garota era frouxa e me
deixava impaciente. Na primeira chicotada, senti que meu corpo gritava por
Ágatha. Na segunda, gritou com mais força e na terceira, eu gritei e mandei a
suposta dominatrix parar.
Saí da masmorra, paguei o lugar e entrei no primeiro bar que vi.
Turistas, casais apaixonados e mais turistas. Bebi duas doses de tequilas e saí
do bar. O clima romântico estava acabando comigo.
Pesquisei por um lugar que não fosse romântico ou que fosse um
público predominantemente feminino. Encontrei um bar lésbico. Quando
entrei pedi tequilas e logo chamei a atenção de uma mexicana. Ela se
ofereceu pra beber comigo, aceitei. E entre uma dose e outra acabei contando
tudo o que aconteceu entre mim e Ágatha.
— Você está em Cancún, um lugar lindo, maravilhoso. Em um bar
comigo pensando nela, você gosta de sofrer?
A garota quando disse "comigo" ela fez questão de mostrar seu corpo
com um gesto com as mãos. Ela era bonita e eu daria uma chance a ela, se
não fosse por todos os meus sentimentos conflitantes.
— Eu sou masoquista. Ela é sádica. Eu poderia ter trazido ela comigo,
mas eu não saberia se ela faz falta na minha vida de verdade. Ela fez falta
quando eu estava presa e achando que ela havia morrido. Eu preciso
descobrir se ela ainda faz falta, agora que sei que ela está viva.
— Proponho que você vá até a minha casa. Tenho tequila, uma cama e
posso te bater. Se pedir com jeitinho.
— Eu acabei de fugir de um bar BDSM porquê a garota não estava me
dando prazer. Como pretende me dar prazer?
— Não prometo nada. Vamos, se eu não servir, pelo menos podemos
falar mais sobre a sua Ágatha.
— Não dá, meu corpo a quer.
— Me dá uma chance. — Ela sorriu e bebeu mais uma dose de tequila.
— Você bebeu, não faço…
Ela me beijou e sua mão me puxou para perto de seu corpo, meu corpo
reagiu à sua aproximação inesperada. Ela apertou minha coxa com força e
seu beijo possessivo me alienou da realidade.
— Vamos! — Ela me sussurrou e meu corpo se arrepiou.
Aceitei mesmo duvidando do prazer que ela me daria. Tomamos uma
última dose de tequila e fomos para seu apartamento, que era a duas quadras
dali.
Ao entrar, ela me mandou tirar a roupa, sua voz e sua postura mudaram
imediatamente. Seguiu para o quarto, enquanto eu me despia e logo voltou
com uma coleira e se aproximou.
— Você me enganou, sabe muito bem o que está fazendo.
Eu ri e ela me sorriu colocando a coleira. Puxou-me para perto do sofá
e me mandou ajoelhar no estofado. Ela foi até um móvel com gavetas e
voltou com uma palmatória na mão. Ela puxou a guia da coleira e deu duas
voltas em uma argola no encosto do estofado. Não poderia fugir ou levantar
muito a cabeça.
O primeiro golpe veio sem aviso e eu me retorci pela dor. Os seguintes
não me causaram nada, nem dor, nem prazer, nem vontade de continuar. Ela
trocou de objeto. Sem reação nenhuma a golpes de chicote ou palmadas, ela
parou e me soltou. Meu corpo parecia fechado para qualquer ato prazeroso.
— Só posso te desejar boa sorte. Seu corpo não vai reagir a outra
dominatrix tão cedo. Vocês tinham uma relação de dominação e submissão
fora das cenas?
Eu ri de nervoso e ela me serviu uma dose de tequila. Tirei a coleira e
constatei que estava nua no meio da sala de uma mexicana que eu nunca
tinha visto na vida e provavelmente nunca mais veria.
— No começo não, mas depois de alguns meses começamos a nos
entender melhor e com isso ela aprendeu a me ler e saber como me fazer
obedecê-la sem que eu realmente estivesse consciente dos meus atos.
— Então você está mesmo ferrada.
— Eu não tenho sorte com o amor.
Vesti minha calcinha e minha calça e sentei em uma poltrona.
— Ninguém tem. Mas você não disse que era amor, disse que era uma
relação BDSM.
— Um impede o outro?
— Não, mas tenho submissas que são apenas submissas, sem
envolvimento amoroso.
— Nós somos uma mistura dos dois mundos.
— Então você está mais ferrada ainda.
Levantei, tomei a dose e me despedi com um selinho agradecendo pela
tentativa.
— Ainda podemos trepar.
— Eu não consigo trepar por trepar.
— Brasileiras…
— Qual nosso problema?
— Muito emotivas, apaixonadas…
Eu ri e peguei minha camisete.
— Onde posso lutar boxe?
— Vá se divertir, você parece ser uma mulher muito tensa.
Duas mulheres apareceram na sala vindas do corredor dos quartos,
usavam coleiras iguais a que ela colocou em mim, se sentaram ao lado da
mexicana e ela recepcionou-as com os braços abertos.
— Tem certeza que não quer ficar?
— Absoluta.
Saí do apartamento e desci as escadas. Eu estava me sentindo bêbada,
mas não ao ponto de me sentir pronta para ir para o quarto. Peguei um táxi e
fui até a praia em frente ao hotel em que me hospedei. Entrei no mar até
sentir as ondas molhando minha canela. Fiquei parada um bom tempo. Eu
não entendia a reação do meu corpo, da minha mente. A dominância de
Ágatha sobre mim era completa. Eu não conseguia me libertar do que ela fez
com meu corpo.
Não pretendia voltar para o Brasil, mas não queria tomar uma decisão
bêbada. Fui para o quarto tomei um banho e vi que era quase seis da manhã,
dormi nua jogada na cama.
Ao acordar constatei que corri perigo indo até a casa da mexicana, mas
eu não liguei muito para isso. Fazia tempo que eu não me sentia ajustada ao
mundo e talvez demorasse a me ajustar.
Desci para o restaurante. O garçom me sorriu mostrando onde poderia
me sentar. Mandei mensagem para Maitê, angustiada pensando em como
Ágatha estava.
Respondeu com uma foto da minha garota deitada em suas pernas. Eu
me segurei para não chorar, não sair correndo atrás do primeiro voo para o
Brasil. Olhando aquela foto decidi que voltaria para a inauguração do
restaurante e seria meu último contato com Ágatha. Maitê me ligou e a voz
de Ágatha me trouxe inúmeras recordações boas, mas não podia continuar
com meu corpo dominado daquele jeito. Ela disse “Eu te amo” e eu quase
respondi espontaneamente que também a amava. Aquela ligação não devia
ter acontecido, mas aconteceu e eu fiquei com a voz dela na minha cabeça,
martelando um “Eu te amo” enquanto me recordava do seu sorriso safado
após uma cena.
Capítulo 2
Na véspera da pré inauguração do restaurante eu estava em Madrid.
Precisaria pegar o voo até o Rio de Janeiro naquela noite para conseguir
chegar a tempo. Antes de sair do hotel, vi que eu ainda teria seis horas até o
horário do voo. Passei em um clube de BDSM, precisava tirá-la de mim antes
de sair da Espanha. Porém foi mais um teste frustrado, meu corpo se recusou
a sentir prazer. A dominatrix era paciente, me amarrou como eu pedi, fez
tudo certo, mas quando me bateu, meu corpo me sussurrou “Essa não é a
Ágatha, você não me engana.” Ela me bateu mais duas vezes e eu tentei me
concentrar no presente, mas o terceiro e o quarto golpe foram quase que
imperceptíveis. Pedi para bater mais forte e os próximos golpes também não
me excitaram. Eu gritei de raiva e pedi para ela me soltar. Soltou-me e
enquanto estava me vestindo a mulher, que deveria ter a idade de Maitê, se
aproximou.
— Fiz algo errado? — Ela me fez olhá-la.
— Não, eu estou errada, estou quebrada. Desculpe fazer você passar
por isso. — Eu estava tentando não chorar na frente de uma estranha.
— Você ainda ama sua domme?
Eu respirei fundo e apenas concordei com a cabeça. Ela me puxou para
um abraço e eu deitei a cabeça em seu ombro.
— Buscar prazer com os pensamentos em uma pessoa determinada não
vai te levar a lugar nenhum.
Eu me afastei, agradeci pela tentativa e saí do clube mais arrasada que
quando cheguei. Dez horas sentada em um voo comercial me fariam pensar
na vida e no porquê essa necessidade de querer me afastar de Ágatha sendo
que meu corpo a queria. Sinto-me uma idiota com esse dilema em curso.
Passei o voo olhando para uma televisão que passava algum filme que eu não
faço a menor ideia do que era.
Ao receber os primeiros raios de sol carioca, me senti em casa
novamente. Eu tinha deixado Maitê cuidando de Ágatha. Eu só disse para
isso acontecer, pois foi ela quem me deu a ideia de monitorar os passos de
Ágatha de perto. Eu nunca iria sugerir isso, mas foi bom saber o que ela
andava fazendo.
O dia estava começando preguiçoso, assim como todo dia carioca. Saí
do aeroporto e fui para a Praia de Ipanema, talvez ainda visse Ágatha por lá.
Quando cheguei o treino ainda estava acontecendo, observei-a jogando
futevôlei de uma distância segura para ela não me ver. Meu corpo já estava
diferente mesmo não estando perto dela, apenas olhando-a.
Depois que a vi entrando no carro e indo embora, fui até a praia e
passei a manhã por lá. Estava apenas com uma mochila e dali fui para a casa
de Maitê. Fui recepcionada com um forte abraço. Maitê estava radiante,
sorridente, nunca tinha visto ela dessa forma. Logo atrás dela vi Carla saindo
do quarto amarrando o roupão de seda preto.
— O motivo do seu sorriso é linda. — Sussurrei.
Ela gargalhou e chamou Carla para se aproximar e nos apresentou. Eu
não resisti e puxei-a para um abraço.
— Obrigada!
— Por? — Ela me olhou desconfiada.
— Por colocar um sorriso no rosto da minha amiga.
Ela me sorriu e olhou envergonhada para Maitê que também lhe sorriu.
Coloquei minha mão no rosto de Carla e no de Maitê.
— Vocês são lindas.
— Você está diferente!
— Só estou feliz por estar de volta ao Rio de Janeiro.
Ela me olhou como quem sabia a mentira que eu estava contando.
— Preciso de um banho.
— Ane!
— Eu — Olhei-a — não quero falar sobre isso.
— Ok! A Carla arrumou o banheiro de visitas, deixou uma roupa
separada e tem toalhas limpas também.
— Obrigada!
Fui em direção do banheiro e quando olhei para trás as duas estavam se
beijando, sorri e fui tirar a areia do corpo. Quando voltei, elas estavam
sentadas no sofá e Carla estava acolhida nos braços de Maitê, quase
adormecida. Suas pernas sob a da minha amiga e um semblante de paz
reinava nas duas. Sentei afastada delas e olhei-as sorrindo.
— Obrigada pela recepção. — Eu disse baixo.
Maitê me sorriu enquanto fazia cafuné na cabeça de Carla. Ficamos
alguns minutos em silêncio e o celular de Maitê tocou nos assustando. Carla
resmungou alguma coisa que fez Maitê rir e se levantou indo para o quarto.
Alguns minutos depois, ela apareceu com um terninho feminino elegante,
salto alto e toda perfumada. Despediu-se da minha amiga com um longo beijo
e me olhou, eu levantei e nos despedimos com um abraço. Voltou-se para
Maitê e segurou-lhe o rosto.
— Não vai aprontar sem mim por perto. — Beijou minha amiga
suavemente.
— Não prometo nada. — Riu — Que horas você volta?
— Não prometo nada.
O olhar de Maitê perseguiu-a até a porta e quando saiu me olhou
curiosa.
— E agora quer conversar?
— Tentei fazer uma sessão com três dominatrix diferentes e meu corpo
não responde com prazer a nada. — Me sentei novamente.
— Três?
— Duas mexicanas e uma espanhola.
— Por que fez isso?
— Eu quero tirar a dominância da Ágatha sobre meu corpo.
— Não vai conseguir, você tem que deixar de amá-la…
— Ma…
— Deixa de ser besta, Ane. Essa mulher está de quatro por você desde
sempre. Você sabe o que ela faz quando me vê? — eu neguei com a cabeça
— Ela me olha e pergunta: “Oi, Anelise está bem?”
— Hoje, quando cheguei fui até Ipanema, onde você disse que ela
treina futevôlei e meu corpo teve mais reações do que apanhando dessas
estrangeiras.
— Você tem que parar de ser burra, bebê.
— Uau, quanta delicadeza!
— Anelise Arantes, você está fugindo da Ágatha. Viajando para fugir
do que você sente, mas os seus sentimentos vão junto, não tem como deixar
de sentir as coisas de uma hora para outra.
— Podemos fazer uma cena juntas?
— Não, bebê! Não vou estragar o que tenho com a Carla por um
capricho seu.
Eu me levantei brava e fui até a janela da sala e observei a rua. O
cansaço das viagens e da solidão me tomou o corpo e o choro foi inevitável.
Encostei a testa no vidro e depois de um tempo me acalmando e olhando a
rua senti Maitê me abraçando por trás. Beijou meu pescoço e senti o abraço
ficar mais forte.
— Uma cena comigo não mudará nada, seu corpo não é meu e muito
menos sua mente.
Ela me deu um tapa inesperado na bunda.
— No passado, um tapa desse teria feito você ao menos me olhar
maliciosamente. — Ela me bateu novamente — Teria tirado um sorriso
safado de você. — Outro tapa — Hoje? Ele não fez nada, até sua respiração
está inalterada.
— Você tem razão, desculpe, não devia ter proposto isso.
— Eu confesso que, no começo, eu fiquei procurando defeitos na
Ágatha, mas ela demonstra gostar muito de você. Por que ela voltaria,
literalmente, dos mortos, para te procurar?
— Eu preferia que ela estivesse morta, assim poderia esquecê-la.
— Aproveita que ela está viva e não se esqueça dela. Por que essa
resistência toda?
— Porque foi assim que me perdi com a Kath…
— Não fale o nome dessa mulher na minha casa. — Ela me virou de
frente para ela — Por que está falando em se perder? As duas não são iguais.
— Eu sei que não são e não é justo compará-las. Minha devoção à K…,
mulher que não posso dizer o nome. Minha devoção passou dos limites
quando eu não via mais as coisas com clareza. Achava que tudo que ela fazia
estava certo. Eu me anulei por ela.
— Você se sente anulada quando está com a Ágatha?
— Não.
— Você acha que tudo o que ela faz é certo?
— Não
— Você não vê as coisas com clareza quando está com ela?
— Pelo contrário, vejo.
— Você a ama?
— Sim.
— Então…
— Não é tão simples assim.
Ela apenas me olhou.
— Quando eu penso nas coisas ruins que eu vivi na cadeia, eu quero
culpá-la. Quando eu a vejo, tudo some.
— Você tem que culpar o Samuel e o Hélio.
— Ela podia ter tentado entrar em contato de alguma forma, mostrar
que estava viva, que a culpa era realmente do Samuel.
— Ela fez isso. Quando você sumiu, ela me mostrou que havia criado
um e-mail com um nome falso e encaminhado informações ao meu
investigador. Eram fotos das transações bancárias do Samuel no último ano,
foi assim que desvendamos muitas conexões, inclusive a dele com o detetive
que te incriminou.
— Por que não falou nada?
— Se tivesse falado você teria mudado seu jeito de fazer as coisas?
Fiquei em silêncio e ela me abraçou. Depois de um tempo em silêncio,
ela foi trabalhar e eu aproveitei para ir visitar alguns lugares dos quais eu
gostava.
Na hora que começou o jantar, eu ainda estava sentada em um banco no
Pão-de-Açúcar, terminando de contemplar o pôr-do-sol. Quando estava na
frente do restaurante, perguntei se Maitê poderia pedir uma música para a
banda, ela mandou o pedido e logo ouvi as primeiras notas musicais. Entrei e
logo nossos olhares se cruzaram, ela estava linda e eu prendi a respiração,
para tentar me acalmar e não sair correndo atrás dela.
Tivemos um jantar agradável e meu olhar a perseguia por onde andava,
mas eu estava sendo ignorada. Eu tinha certeza que ela iria se aproximar,
tentar conversar, ou ao menos, me cumprimentar de longe, mas não fez nada
disso. Eu fingi que fui ao banheiro e procurei por seu escritório, roubei duas
taças de champanhe de um garçom e me escondi esperando sua chegada. Ela
demorou mais do que imaginei, mas esperei mesmo assim.
Ao entrar, reconheci seu semblante de cansaço e enxaqueca. O abraço
que trocamos foi caloroso e beijar o topo da sua cabeça foi para evitar que eu
me entregasse e lhe beijasse. Vê-la chorar me deixou arrasada, eu já tinha
visto ela chorar, mas não daquela forma, com aquela dor. Seu abraço me
tirava do medo e do cansaço que eu estava sentindo. Seu abraço me acolhia.
Quando ela se ajoelhou pedindo perdão, eu desabei, queria levantá-la
dali, beijá-la, mas não fiz. Sentei na cadeira de frente para ela e permiti que
me tocasse o rosto. Quase me entreguei a um beijo, mas fugi e me arrependo
de ter feito isso. Seu perfume ficou em mim e o toque da sua pele me marcou
novamente.
Eu não poderia dormir no apartamento da Maitê, não no estado de raiva
que eu estava. Aluguei um quarto em um hotel e quando entrei a angústia me
consumia. Eu apertava meu celular com força, queria transferir meu
nervosismo para algo. O choro era inevitável. Sentei na cama e comecei a
socar as almofadas. Meu choro era incontrolável. Meu corpo pedia,
implorava para eu voltar ao restaurante. Sentia-me louca com aquela atitude,
eu gritei e meu choro se acalmou aos poucos.
O vírus Ágatha estava mais do que instalado em meu disco rígido,
havia criado raízes feito árvore centenária e eu não vou conseguir arrancá-la
de mim.
Capítulo 3
Depois de vê-la e ter um pequeno surto de ansiedade, iria pegar um
avião para Veneza e sumir novamente. Maitê me mandou uma mensagem na
manhã seguinte: "Eu não sei onde você passou a noite, mas vai vir tomar
café da manhã conosco. Carla preparou um monte de coisas para você. Não
vai fazer desfeita com ela. E, sim, isso é uma ordem!" Respondi: “Sim,
senhora!”
Saí do hotel e fui para a casa da minha Mulher Maravilha. Fui recebida
com dois abraços e uma mesa cheia de comida gostosa.
— Você fez tudo isso? — perguntei impressionada.
— Algumas coisas.
— Obrigada. Você não precisava ter se preocupado.
— Desde quando não come uma boa refeição? — Maitê me olhou.
— Desde aquele macarrão a carbonara que você me levou no hospital.
— Bebê, você não deveria fazer isso.
— Eu estou arrasada, Mazinha. — Eu mordi um biscoito.
Maitê me olhou e depois olhou Carla.
— Anelise, eu não te conheço bem. Só sei sobre você através do que a
Maitê me contou. — Ela me olhou séria — Eu compreendo sua dor por ter
tido um relacionamento abusivo, eu também tive um e saí dele tão arrasada
quanto você. Mas eu aprendi uma coisa. Tentar se fechar, do jeito que você
está fazendo, é se privar de ser feliz de novo. Se você estivesse bem sozinha,
nunca te daria esse conselho, mas você não está bem. É óbvio que vocês duas
se amam e deixar de viver essa relação por fantasmas do passado é se privar
de ter uma pessoa que te ama ao seu lado. Ame enquanto há tempo, enquanto
pode. Aproveite essa segunda chance de amá-la.
— Eu não estou pronta para perdoá-la pelo sumiço.
— Espero que não seja tarde quando estiver. — Maitê me olhou — O
que sentiu quando a viu ontem?
— Que eu estou mais apaixonada do que eu imaginava. Que eu a quero.
Que o abraço dela me tira qualquer dor e medo. Que eu não quero ficar longe
de novo. Ontem quando cheguei no hotel tive uma crise de fúria e ansiedade,
porque meu corpo exigia que eu voltasse até o restaurante, mas minha mente
não obedecia a esse pedido.
— Por que está se maltratando desse jeito? Ela está ali, pronta para ser
sua. — Carla me olhou.
— Apesar de tudo o que sinto por ela, eu não estou pronta para ser dela.
Servi-me de café e comemos em silêncio. Levantei depois de comer,
agradeci e dei um beijo no rosto de cada uma.
— Me mantenha atualizada. — Maitê me disse quando abri a porta.
Saí sem responder, mas voltei para dentro do apartamento.
— Estou indo para Veneza, aviso quando chegar lá.
— Bebê… — Maitê veio até mim e me puxou para um abraço —
Odeio te ver desse jeito. — Me sussurrou.
— Eu estou fazendo tempestade em copo d'água? — olhei-a buscando
sinceridade.
— Talvez, mas não sou eu quem devo dizer com quem você deve ficar.
— Nunca me senti com tantas emoções conflitantes.
— Você precisa se acalmar antes de decidir algo. Nós estamos aqui
para o que você precisar.
— Obrigada! — abracei-a e vi Carla nos observando de longe.
Eu fui até perto da mesa e Carla me olhou curiosa.
— Como voltou a se relacionar sem medo?
— Eu ainda tenho medo, mas eu não os deixo tomarem as rédeas da
minha vida. Ágatha sabe sobre o seu passado? O que você passou?
— Sim, sabe.
— Então ela vai saber te dar espaço quando precisar, vai saber entender
seus traumas. — Ela olhou para Maitê — Se ela teve a oportunidade de sumir
da sua vida e voltou, é porque o sentimento por você é grande. Ela te faz
bem?
— Sim.
— Então você já tem sua resposta.
Eu me despedi delas novamente e fui para o aeroporto pensativa. O voo
até Veneza foi tranquilo e eu consegui descansar um pouco. Assim que
coloquei os pés em terras estrangeiras, me senti sozinha novamente. Passei
uma semana ali, vagando entre uma atração turística e outra, cidade linda e
meu coração vazio.
Em uma cafeteria, li sobre um retiro espiritual na Índia. Sem contatos,
sem conversas e sem tecnologias. Um mês comigo mesma. Coloquei o
folheto na mochila, viajei para a Itália antes de ir para o retiro na Índia. Se ali
eu não conseguisse me reencontrar, não saberia mais o que fazer para
conseguir essa façanha.
Ágatha
Capítulo 1
Quase um ano depois da soltura de Anelise, o restaurante estava no seu
terceiro mês. E eu não via Anelise desde a pré inauguração, eu tentava não
perguntar dela para Maitê, estava tentando me afastar dos pensamentos que
eu tinha sobre ela. Tinha perdido todas as esperanças sobre nosso
envolvimento.
Havia comprado um carro usado para poder me ajudar com minhas
atividades. Ainda praticava futevôlei com uma turma que madrugava para
jogar. Cinco horas da manhã. As partidas matinais eram antes do começo do
meu expediente e voltar a ter essa rotina me trouxe novas energias para
aguentar o trabalho dentro da cozinha e do restaurante. Além do futevôlei
comecei a treinar Muay thai. Eu pensei inúmeras vezes em me mudar, mas
naquele apartamento, eu me sentia segura, como se minha mãe estivesse
olhando por mim, como se ela me guiasse durante minhas decisões.
Uma das garotas que praticava futevôlei comigo tentou me chamar para
sair, mas eu estava fechada. Não sentia desejo por nada. Minha vida era
trabalhar e nada mais. Toda sexta-feira, eu trazia um grupo de samba para
animar as noites no restaurante e isso também me fez bem. O apartamento
tinha dois quartos e em um deles comecei a montar meu próprio quarto de
BDSM na esperança de um dia ter Anelise de volta. Desde a inauguração eu
voltei a me vestir como Ágatha e matei April do meu guarda-roupa. Eu não
me apresentava como April, o nome me dava arrepios.
Em uma sexta-feira, Maitê me convidou para ir a um clube de BDSM
com ela, aceitei depois de muita insistência, mas fui apenas para acompanhá-
la já que Carla estava viajando a negócios. Ela passou em casa para irmos
juntas.
— E o restaurante?
— Está indo bem, seguindo todos os planos de Anelise.
— Você parece cansada.
— Estou exausta, na verdade, em crise de estresse pela quantidade de
horas que estou trabalhando.
Quando entramos no clube, sentamos em uma mesa e logo uma das
atendentes se aproximou de nós.
— Está sumida, Ágatha! — a garçonete me piscou e eu apenas lhe
sorri.
— Desde quando não entra em um clube?
— Para ser sincera, desde o dia que conheci Anelise.
— Nem quando você sumiu ou depois que ela sumiu, depois do
contrato do restaurante, nada?
— Não. Eu não consigo pensar em fazer uma cena com outra mulher.
O tempo que passamos juntas foi tão intenso que não sei se encontrarei isso
em outra submissa.
Maitê apenas me sorriu, mexeu no celular e voltou a me olhar.
— Eu tenho a estranha sensação de que fui marcada a ferro e essa
marca nunca vai desaparecer. Eu não consigo tirá-la da minha cabeça.
Ela riu alto e me olhou ainda rindo.
— Você ainda a quer de volta?
— Sim, com mais desejo do que antes.
A atendente se aproximou de novo e entregou um envelope a Maitê,
colocou-o sobre a mesa e vi meu nome nele. A letra era de Ane e meu
coração disparou.
— Não precisa mais esperar.
Peguei-o e era a chave de um dos quartos exclusivos do clube. Levantei
e andei até o corredor que levava aos quartos. Número quatro. Entrei, minha
respiração estava descompassada. Havia uma mulher ajoelhada no meio do
quarto, de longe e no quarto a meia luz, me lembrou Anelise. A semelhança
era perturbadora, andei até a mulher, havia uma tatuagem que não
identifiquei por causa da meia luz e o longo cabelo, precisava me certificar se
era ela. Pelo perfume no ambiente já sabia que era mais uma forma de me
testar, era o cheiro dela, mas aquela mulher não me enganava. Toquei-lhe o
ombro, mesmo sabendo que não era ela. A mulher me olhou e eu me afastei
frustrada, ela se levantou e me entregou um bilhete com o número de um
celular. Liguei para o número e sua voz me invadiu como uma facada.
— Como você está?
— Péssima. — Respondi com sinceridade — E você?
— Gostou do presente que te mandei?
Eu olhei a mulher que estava novamente ajoelhada e de costas para
mim.
— Eu não posso aceitar.
— Faça com ela o que gostaria de fazer comigo.
— Ela é parecida com você, mas não é você. Não seria a mesma coisa.
Por que está fazendo isso comigo? Quando vai parar de me torturar para
conversarmos como adultas?
A garota se levantou e saiu do quarto.
— Não vamos começar a falar sobre isso. Saia do quarto e entre
novamente.
— Para que isso, Anelise?
A ligação caiu e eu saí do quarto. Fechei a porta. Respirei fundo,
esperei alguns segundos e entrei de novo. Fui surpreendida pelo quarto
apagado e uma pequena fresta de luz que vinha do banheiro iluminava o seu
corpo no meio do quarto. Era ela, as curvas, o cabelo, o jeito sexy de sentar
ajoelhada no chão, a tatuagem e o cheiro do perfume. Estava nua e de um
lado havia uma corda, um cinto e um flogger e do outro sua carteira e seu
celular. Seus cabelos estavam presos do jeito que eu gostava. Tirei meus
sapatos e me aproximei dela. Segurei seu rabo de cavalo com firmeza e fiz
ela me olhar, seu olhar invadiu minha alma com delicadeza.
— Você tem sido uma menina má fugindo de mim.
— Desculpe, senhora.
Eu tinha um milhão de perguntas, mas eu sabia que se fizesse seria o
fim da sua entrega. Fiquei parada na sua frente, queria beijá-la, abraçá-la e
fazer amor e não uma cena. Eu era dominante, podia exigir o que quisesse…
não… não podia… não dela. Eu sou uma dominadora totalmente dominada.
— Tire a minha calça.
Desabotoou-a, desceu o zíper e abaixou minha calça devagar. Mandei-a
me entregar a corda e esticar os braços. Amarrei suas mãos e tirei minha
blusa, ela olhava fixamente para meu ventre. Fiz com que me olhasse.
— Deite o tronco de barriga para baixo na cama, estique os braços
acima da cabeça e deixe as pernas dobradas para fora.
Quando estava na posição, abriu as pernas espontaneamente. Amarrei o
restante da corda na cabeceira da cama, bem rente sem deixá-la escapar do
colchão. O flogger e o cinto eram um teste, tinha certeza disso, ela odiava
cintos. Se eu escolhesse o cinto era porque minha raiva era maior do que as
vontades dela, se eu escolhesse o flogger, seu acessório favorito, estaria
atestando que estava brava, mas não ao ponto de não querer agradá-la.
Mandei afastar mais as pernas e passei a mão em sua buceta. Já dava claros
sinais de estar excitada. Desferi um tapa e ouvi um gemido de susto e seu
corpo tremeu pelo impacto. Peguei os dois objetos. Segurei o cinto com a
mão esquerda e o flogger com a direita. Passei o cinto em sua nádega, sem
bater, apenas para ela sentir a textura. Com o flogger chicoteei a sua banda
direita e seu corpo tentou fugir. Esperei ela se acalmar e bati de novo. Passei
o cinto pelas suas costas e bati com o flogger. Esperei seu corpo se acalmar e
bati de novo. Coloquei o cinto ao lado do seu corpo, onde ela podia vê-lo.
Desferi quatro golpes seguidos a esperei respirar e comecei uma sequência
com dez chicotadas. Seu corpo recebia as chicotadas com tesão. Meu corpo
estava quente de excitação. Eu me ajoelhei atrás dela e beijei suas nádegas,
ainda não estavam da cor que eu gosto, mas pelo toque percebi que a região
estava extremamente sensível. Beijei sua nádega direita e passei a mão em
sua buceta, encharcada, como eu gosto. Levantei e desamarrei a corda da
cabeceira, levantei seu tronco devagar e ajoelhou-se sentando sob as pernas.
Fiz com que me olhasse e me sentei na cama na sua frente.

— Eu escolhi o flogger, mas isso não quer dizer que eu não esteja brava
contigo, entendeu?
— Sim, senhora.
Peguei o cinto e coloquei-o sob a minha perna.

— Eu deveria te dar algumas cintadas…


— Não...
— Levante-se. Vire de costas e dê um passo para frente. — Obedeceu
às minhas ordens.

Eu olhei seu corpo nu e percebi o quanto estava trêmula de excitação,


ela sempre ficava assim quando não sabia ao certo o que eu faria. Coloquei
minha mão no meio das suas costas e senti seu corpo querendo fugir.
— Mas não vou usar um objeto que não te dá prazer.
Joguei o cinto no chão na sua frente e ela virou-se de frente para mim.

— Obrigada, domme.
Soltei suas mãos enquanto nos encaramos.
— Apesar de querer te castigar pelo seu sumiço.

— Desculpe a demora para voltar.


Sentou-se em minhas pernas de frente para mim e abracei-a com força.

— Eu senti sua falta. — Minha voz estava embargada.

Ela me fez olhá-la e me beijou com desejo reprimido e tesão


acumulado.
— Também senti a sua. — Me beijou vorazmente.
Deitei-a no colchão e amei-a com a delicadeza e a sensibilidade que
ela, que nós, precisávamos naquele momento. Nossos olhares eram sinceros e
nossos sorrisos demonstravam que toda a espera valeu a pena. Os beijos eram
doces e lascivos, as mãos percorriam o corpo com saudade e ganância. A
mistura de sentimentos bons era um combustível para tudo aflorar entre nós.
Minha boca não queria largá-la com medo que fosse embora, nossos corpos
queriam se fundir em um só e após um gozo devastador, aninhei-a em meus
braços. Eu precisava do seu cheiro perto de mim. Ela acariciava meu peito e
eu acariciava sua cabeça. Palavras só iriam estragar o momento. Ela ameaçou
levantar e eu abracei-a com força, não queria deixá-la se afastar.
— Não vá.

— Não vou. — Ela me sorriu.


Olhei o teto pedindo para aquilo não ser mais um teste, tentando
esconder minhas emoções dela, tentando não chorar, mas ela percebeu. Fez
com que eu a olhasse e vi que ela também estava emocionada. Encostei
minha testa na dela.
— Não fuja mais de mim desse jeito. — Sussurrei chorando.
— Eu não vou fugir, domme.
— Eu tenho um monte de perguntas para te fazer. — Sussurrei beijando
sua testa.
— Eu imaginei que teria. Responderei todas.
— Com o tempo?
— Não. Pode começar se quiser. Ou durante um almoço, o que acha?
Beijou-me com desejo e me olhou sorrindo.
— Você é perfeita! — Passei a mão em seu rosto.
— Você também, domme.
Segurei seu rosto com as duas mãos e beijei-a suavemente.
— Eu te amo, Ágatha.
Era a primeira vez que ela se declarava espontaneamente para mim.
Sem ser em resposta ao que eu tinha dito. Beijei-a e puxei-a para cima do
meu corpo. Ela se sentou na cama me pedindo para também sentar.
— Você se lembra disso? — ela me mostrou uma caneta hidrográfica
preta que pegou sob a mesa de apoio ao lado da cama.
— Sim.
— Ainda quer assinar minha nádega direita?
— Depende, você confia em mim cem por cento?
— Sim. Todos esses meses me mostraram que você nunca mentiu para
mim, que saberá respeitar meus limites e saberá me dar espaço quando eu
precisar.
— Ane, eu sempre vou querer a sua melhor versão.
Ela me sorriu e entregou a caneta. Deitou-se de bruços e vi que uma das
chicotadas ficou bem avermelhada. Escrevi meu nome na sua nádega.
— Você está dolorida?
— Sim, mas não se preocupe logo passa.
— Você trouxe alguma pomada para eu poder passar em você? Não
gosto de saber que está sentindo dor após uma cena.
— Está no banheiro.
Eu fiz ela me olhar e beijei-a. Levantei e fui buscar a pomada, sentei ao
seu lado e passei o gel em suas nádegas contraídas pelo arrepio do gelado.
— Está morando onde? Vai voltar definitivamente para o Rio? — beijei
suas costas.
— Por enquanto estou em um hotel, pois ainda não me decidi se ficarei.
— Vai me abandonar de novo?
Ela ficou de lado na cama e me sorriu.
— Calma! Eu ainda preciso voltar à Bahia terminar um negócio antes
de poder me estabelecer aqui. Quero fazer as coisas com calma.
— Você esteve na Bahia esse tempo todo?
— Não! As perguntas vão ficar para depois de amanhã, pois eu ainda
estou com saudade do seu corpo. — Me puxou para beijá-la e me deitou na
cama.
Ela se perdeu no meio das minhas pernas e eu estava mais apaixonada
do que antes. Com raiva? Não! Eu sabia esperar, ela era a melhor
recompensa. A espera foi um processo doloroso, mas tê-la entregue desta
maneira é a melhor forma de desfrutá-la.
Capítulo 2
Acordar com ela em meus braços era o meu desejo desde a minha
morte simulada. Estávamos no hotel em que ela estava hospedada, na noite
passada não deixei ela ir embora e acabamos no quarto dela.
— Bom dia, minha menina.
Apertei-a contra meu corpo e ela apenas resmungou.
— Senti saudade de acordar com você em meus braços. — Beijei seu
rosto.
— Senti saudade de acordar nos seus braços, sempre tenho um dia
melhor quando isso acontece.
— Se tivéssemos tempo encheria você de carinho, mas eu tenho um
restaurante para tocar e você um voo para pegar.
Ela resmungou e deitou em cima de mim.
— Não, ainda temos tempo.
— Minha menina dorminhoca, não temos. Levante, vou deixar você no
aeroporto e vou para o restaurante. Quando você volta?
— Em dois dias ou menos.
— Temos muito o que conversar. Será uma volta definitiva?
Ela se ajoelhou no meio da cama e me olhou sonolenta.
— Sim, temos. Se tudo der certo será definitivo.
— Vou te fazer uma proposta, mas não precisa me responder agora.
Pode pensar e me responder quando quiser.
— Eu estou com sono para pensar. — Ela riu.
— Vem morar comigo quando voltar da Bahia. Pelo menos até você se
organizar e ter um apartamento para morar.
— Tenho uma contra proposta.
Olhei-a curiosa.
— Vamos conversar quando eu voltar, temos muito o que acertar antes
de eu aceitar uma proposta desse nível. Se nossa conversa for produtiva e
render bons resultados, me mudo para sua casa.
— Combinado.
Ela me puxou para um abraço e se levantou me puxando junto com ela.
Tomamos um banho rápido, mas cheio de beijos e carinho. Comemos algo no
restaurante do hotel e levei-a para o aeroporto. Despedimo-nos com um beijo
no saguão e ela segurou meu rosto entre as mãos.
— Quero ser sua submissa exclusiva.
Ela beijou meus lábios e se afastou sem me deixar responder. Só me
toquei que eu não tinha como contactá-la depois que ela entrou no corredor
de embarque. Teria que esperar seu contato, estava a mercê das suas vontades
novamente. Até tentei o número que eu havia ligado na noite passada, mas
não estava mais ativo.
No fim do dia, recebi uma mensagem: “Cheguei bem na Bahia e
minhas reuniões foram produtivas. Pode me mandar mensagens por aqui se
precisar me dizer algo.”
Se precisar? Pensei comigo, lógico que preciso, fiquei o dia todo
remoendo o que ela disse. Gravei um áudio: “Fico feliz em saber que chegou
bem e teve um bom dia. Você não devia ter dito que quer ser minha submissa
dois segundos antes de entrar naquele avião. Devia ter me dado tempo para
responder, você é uma menina má quando faz isso.”
Ela me respondeu imediatamente: “Eu disse mensagem e não áudio.”
O que ela estava querendo com aquela resposta? Mostrar que ela ainda
estava no comando? Eu deixei o celular de lado por um tempo, fui terminar
de organizar o turno de garçons da noite. Se ela queria jogar, iríamos jogar.
Só respondi a ela perto da meia noite. “Boa noite, Anelise. Você não está
mais em posição de me pedir algo.”
Ela respondeu: “Quando eu disse mensagem é porque eu não podia
ouvir áudio.”
Eu gravei outro áudio, e estava com a voz rude e brava. “Seja mais
específica da próxima vez. Se você quer mesmo ser minha submissa, você
precisa mudar o jeito de me tratar. Eu vou estar no comando e você apenas
obedecerá. Se não for assim, não precisamos nem conversar amanhã.”
Eu vi que ela começou a digitar e parou. Deixei o celular de lado, ainda
tinha mais um monte de coisa para organizar antes de fechar o
estabelecimento e não estava no clima para insubordinações.
“Desculpe não ter sido clara, da próxima vez pensarei melhor antes de
falar.” foi a mensagem que ela me mandou.
Eu respondi: “Você tem muito o que aprender.”
Ela me respondeu imediatamente: “Espero que a senhora tenha
paciência em me ensinar. Você me perdoa pelo erro de hoje?”
Gravei um áudio para ela entender a entonação mais branda de minha
voz: “Terei paciência, minha menina. Eu perdoo você pelo seu erro, não o
repita.”
Ela me respondeu: “Obrigada, senhora. Não repetirei.”
Eu respondi por mensagem: “Dorme bem.”
“Dorme bem, domme. Já estou com saudade.”
“Também estou com saudade, minha menina. Você me fez muita falta
nos últimos meses.”
“Desculpe, senhora, isso não vai se repetir.”
Mandei um emoticon de coração e ela me respondeu com outro.
Terminei os afazeres do dia e fui para casa.
Tive um sono agitado pelos últimos acontecimentos e acordei cedo e
com enxaqueca. Tomei um remédio e voltei para a cama. Apaguei por horas e
acordei apenas as onze, ainda sonolenta levantei e mandei uma mensagem
para minha subchefe de cozinha avisando sobre meu atraso, ela precisaria dar
conta do almoço sozinha.
Havia uma mensagem de Anelise: “Bom dia, minha senhora, espero
que tenha dormido bem. Adiantei meu voo para a hora do almoço, chegarei
no Rio às três da tarde.”
“Bom dia, minha menina! Que bom que vai chegar mais cedo, o
restaurante estará praticamente vazio nesse horário, espero você lá.”
Minha cabeça ainda estava pesada, comi alguma coisa e voltei para a
cama. Coloquei o celular para despertar, estaria intragável para uma conversa
do nível que teríamos, mas não podia desmarcar.
Acordei às duas, tomei um banho e fui até o restaurante, estava tudo na
mais perfeita ordem, percebi que tenho uma equipe muito eficiente. Ela
chegou depois das três e meia e me abraçou desculpando-se pelo atraso, me
fez olhá-la e percebeu minha dor. Tinha tomado outro comprimido, mas a dor
persistia.
— Enxaqueca?
— Sim!
— Vamos para sua casa, você não está em condições de ficar aqui.
Eu concordei e avisei a equipe sobre a minha falta naquela noite. Ao
entrarmos no apartamento, ela me levou até a minha cama, deixou o quarto
na penumbra após me despir. Buscou uma garrafa d'água e me serviu, me fez
tomar quase tudo e deitou-se atrás de mim para me fazer dormir. O escuro, os
carinhos e o calor do seu corpo me relaxaram e eu adormeci novamente.
Ultimamente eu estava trabalhando mais de dezesseis horas seguidas, sete
dias na semana. O barulho constante do restaurante me deixava
extremamente cansada durante o dia. Anelise me acordou para jantar e tomar
banho, ela tinha preparado uma canja de galinha e me serviu na cama depois
que eu tomei banho. Eu elogiei a sopa mesmo estando sem sal.
— Como se sente?
— Melhor.
— Maitê me contou o quanto você anda trabalhando, precisamos rever
isso, você não pode se matar desse jeito.
Apenas olhei-a.
— Não me olhe contrariada, não é saudável fazer o que está fazendo.
— Eu trabalho para não pensar em você, para não sentir sua falta.
Ela me olhou chateada.
— Eu estou aqui, não precisará mais se preocupar.
Terminei de comer a sopa e ela levou o prato para a cozinha. Voltou e
sentou-se ao meu lado, aproximou-se do meu rosto e me beijou com desejo.
— Marquei um neurologista para você, precisamos ver essas dores.
Não quero nenhum susto com sua saúde. Levando seu histórico familiar em
conta, precisamos estar atentas.
— Obrigada, minha menina. — Passei a mão em seu rosto.
— Posso fazer mais alguma coisa por você? — Me sorriu.
— Você já me ajudou bastante hoje, obrigada.
— Descanse, quero que esteja bem para conversarmos. — Beijou meus
lábios suavemente.
— Descansarei, quer assistir um filme comigo?
— Sim, senhora.
— Vai passar a noite aqui?
— Sim, senhora, não vou te deixar sozinha.
Eu sorri e deitamos para escolher algum filme. Ela adormeceu rápido e
eu assisti ao filme até o fim. Uma sensação de bem-estar e paz envolvia meu
corpo junto ao dela.
Capítulo 3
Pela manhã, acordei antes que ela, estava dormindo virada para o outro
lado da cama. Sorri ao vê-la ao meu lado, beijei-lhe as costas e levantei para
um banho. Ainda bem que tudo era real. Quando saí o quarto estava vazio e
ouvi barulho vindo da cozinha. Anelise estava preparando o café-da-manhã e
me recepcionou com um sorriso.
— Espero que goste de omelete. Está melhor?
— Sim, revigorada com seus cuidados. — Puxei-a para um longo beijo
e um abraço — O que tem planejado para hoje?
— Estou à sua disposição, senhora. — Ela me beijou a testa e me
serviu café.
— Podemos conversar antes de eu ir para o restaurante?
— Sim, senhora.
Eu me sentei na cadeira e logo ela se sentou de frente para mim. Preferi
comer antes de começar a falar e ela me seguiu nos gestos. Foi ela quem
começou a falar quando terminamos.
— Por onde quer começar?
— Onde esteve depois que saiu da cadeia?
— Passei um tempo me recuperando do tiro na casada Maitê e depois
da nossa primeira conversa, fui viajar, conhecer alguns países. O dinheiro que
Maitê conseguiu ao vender meu apartamento estava investido em algumas
ações e resolvi que precisava de um tempo sozinha. Um tempo para digerir
todos os maus momentos que passei naquele inferno de prisão. Precisava
tentar reaver a vontade de viver. Por último fiquei em um retiro espiritual na
Índia, antes de voltar e isso me fez ver que eu não queria mais viajar e
desfrutar do mundo sozinha. Queria fazer isso com você, mas eu precisava ter
a confiança em ti restaurada.
— Por isso voltou? O restaurante é um teste desde o começo?
— Sim. Eu passei meses chorando pela sua morte, imaginando como
seria minha vida sem você. Precisava saber se conseguiria viver sem você.
— Se tivesse conseguido não teria voltado?
— Não.
— Mas passou cinco meses longe…
— Foram quatro meses estranhos, eu me policiava para não te procurar,
perguntava sobre você para Maitê quase todos os dias. Ela me mostrava as
conversas que tinham, mas eu queria ter certeza absoluta sobre o que eu
estava sentindo, então me isolei na Índia. Um mês sem celular, internet e
contato com Maitê me fez perceber que eu só suportei quatro meses longe de
você porque eu sabia que você estava viva e buscando realizar seu sonho de
ter uma carreira que te realizasse.
— Foi doloroso.
— Pensar em sua morte também foi.
— Desculpe por tudo, eu fui uma idiota em planejar minha morte sem
te pedir ajuda.
— Vamos deixar isso no passado, não quero mais ouvir falar sobre
isso. Para mim, esse assunto está morto.
— Para mim, também. Vamos falar de nós. Por que quer aceitar ser
minha submissa exclusiva?
— Eu te amo, Ágatha e nada apagou o que sinto por você. A distância,
as sequelas da prisão, nada me fez esquecê-la.
— Tentou ter outra dominatrix?
— Tentei fazer uma cena com outras domme.
— E como foi?
— Desastroso. Vergonhoso, na verdade — Ela riu envergonhada —
Não foi a mesma intensidade que é com você. — Me olhou — Eu não
conseguia passar das primeiras chicotadas, palmadas, seja lá o que for, meu
corpo pedia por você. — Eu lhe sorri satisfeita com a revelação — Você
causou em mim uma dominância silenciosa.
— Não gosta?
— Foi difícil admitir que meu corpo só quer você.
— E sua mente?
Ela me olhou intensamente.
— Essa eu já sabia que queria só você desde antes da sua festa de
aniversário surpresa.
— Então, por que negou ser minha submissa quando eu pedi?
— Eu fiquei assustada com seu pedido, mas depois de muito analisar,
eu ia aceitar. Mas você “morreu”. Já olhou o seu celular hoje?
— Não.
Ela se levantou foi até o quarto e me trouxe o aparelho. Tinha uma
notificação, Anelise tinha me mandado um vídeo, entrei para ver e era o
vídeo da nossa primeira cena juntas.
— Você conquistou esse vídeo quando soube ler e entender os testes
que eu fiz com você nos últimos meses.
— Por que me mandou uma submissa semelhante a você? Era um teste
também?
— Era. — Me olhou com intensidade.
— Eu deveria negá-la ou ficar com ela?
— Negá-la. — Ane me sorriu.
— Você achou que eu não reconheceria seus traços de longe? Os testes
acabaram?
— Achei que fosse se aproximar e ao menos chamar pelo meu nome.
Os testes acabaram e eu quero ser sua.
— Percebi que não era você assim que entrei no quarto.
Ela me sorriu.
— Se não está trabalhando, o que foi fazer na Bahia? Vai me ajudar
com o restaurante? Vai trabalhar em alguma empresa?
— Você se lembra daqueles jogos que eu desenvolvia como hobby?
— Sim.
— O jogo da velha foi comprado por uma empresa, pois estava fazendo
sucesso pela dificuldade que ele impunha aos jogadores. O outro, que são
simulações de cenas de BDSM, acabou de ser comprado também, pela mesma
empresa. O dinheiro que eu recebi já está sendo investido em ações e outras
coisas, em teoria eu não precisaria trabalhar, mas eu não conseguiria fazer
isso. Já tenho ideias de outros jogos para desenvolver, mas posso ajudar com
o que precisar no restaurante. A empresa é sua, serei apenas mais uma
empregada.
— Você é minha sócia no restaurante. — Olhei-a confusa.
— Não, Ágatha. Se quiser minha ajuda será como empregada, você é a
dona, eu apenas te emprestei o dinheiro para você começar a realizar seu
sonho. Eu ainda vou cobrar esse valor e os lucros e prejuízos são seus, eu não
quero dividi-los com você, mas ficarei muito feliz em ajudar no que precisar.
Precisamos rever sua escala de trabalho, não pode continuar nesse desgaste.
— Ela me olhava com intensidade.
— Iremos rever. Quero que me ajude com a contabilidade do
restaurante, mas não precisa trabalhar lá, pode fazer isso de onde quiser. Isso
é o que mais me toma tempo.
— Perfeito, ajudarei.
— Qual seu preço para me ajudar?
— Seu descanso, não quero receber dinheiro para fazer a contabilidade.
Quero você descansada para cuidar das nossas necessidades emocionais e
sexuais. Sua mente cansada e estressada não nos trará benefícios.
— Concordo com você, ultimamente só tenho trabalhado e isso não
está me trazendo benefícios.
— O presidente da Corporate & T.I. soube que voltei ao Brasil e quer
conversar comigo, disse que quer me oferece a vaga que era do Samuel e se
desculpar por tudo o que aconteceu.
— E você vai voltar a trabalhar lá depois de tudo o que aconteceu?
— Eu vou ouvir a proposta dele. O que você pensa sobre isso?
— Você não gostava de trabalhar lá, gostava?
— Na maioria dos dias, sim. Samuel e Hélio eram o meu maior
problema lá dentro, o senhor Walter sempre me tratou bem e nós tínhamos
uma linha de pensamento semelhante para a empresa.
— Se você acha que vai ser bom para você, não vou te impedir de
trabalhar lá. Aliás, não tenho direito nenhum de fazer isso. E também não
quero te proibir de nada, mas você quer uma relação de submissão vinte e
quatro horas por dia e sete dias na semana?
— Sim.
— Tem certeza disso?
— Sim.
— Eu não quero controlar sua vida, não quero te tirar a liberdade de ir e
vir, de fazer o que você gosta, mas também não quero insubordinação. Eu sou
muito flexível dentro de uma cena, pois quero que as duas desfrutem do
prazer daquele momento, mas fora de cena eu pretendo ter um pulso mais
firme, gosto de ser bem atendida. Você foi um desafio para mim. Um desafio
imenso, pois eu tive que voltar ao meu lugar de switcher. Tive que ter jogo de
cintura para te conquistar, para fazer você me enxergar diferente, o tempo
todo o seu ego desafiava o meu a ser comedido, flexível e brando. Muitas
vezes eu tive que morder a língua e me segurar para não mandar você
embora, pois você estava sendo dominadora. Não tenho do que reclamar da
nossa interação dentro do seu quarto de BDSM, ali, você era a submissa mais
perfeita que eu já tive. Mas fora…
— Eu sinto muito por ter feito você passar por estes conflitos.
— Mas eu aprendi muito com isso. Aprendi a ter o que eu queria de
você sem ter que ser dominadora. Aprendi a amar todos os seus defeitos, a
ver a perfeição nas suas imperfeições. Eu te amo, Anelise e nossa relação já
passou de submissa e dominatrix já faz tempo.
— Eu vou me entregar de corpo, alma, celular e carteira para você.
Prometo que serei uma submissa perfeita fora do quarto também.
Eu me levantei da cadeira e sentei em suas pernas de frente para ela e
segurei seu rosto para beijá-la com desejo.
— Você já é perfeita.
— Quero lhe pedir um favor. A Maitê conseguiu a liberdade de uma
mulher que dividiu a cela comigo enquanto eu fiquei presa. Ela se chama
Hortência, ela foi acusada de tráfico de drogas, mas vai pagar com serviços
comunitários, pois é seu primeiro delito. Ela trabalhava na cozinha da prisão,
existe a possibilidade de você conversar com ela? Ver se ela se encaixa em
alguma função no restaurante? — me olhou apreensiva.
— Você está atrasada com esse pedido. Maitê me apresentou ela
semana passada e já está como auxiliar de cozinha.
Ela me sorriu e me beijou segurando meu rosto.
— Obrigada.
— Vai vir morar comigo?
— Sim. Eu vi que o apartamento tem dois quartos e que a porta do
outro está trancada, o que tem lá?
— O meu quarto de BDSM.
— Quero conhecer. — Me sorriu — Você usou com alguém?
— Irá conhecer, tenha calma, minha menina assanhada. Não usei,
estava esperando sua volta.
— Como sabia que eu iria voltar?
— Não sabia. — Lhe beijei os lábios — Mas esperei ansiosa para que
meu sonho se realizasse.
Ane me sorriu e me beijou suavemente.
— Sempre que eu chegar em casa, quero ver sua carteira no aparador
perto da porta e se não estiver usando, o celular também. Isso será um código
entre nós duas. Quando estes objetos não estiverem lá, vou saber que você
não está bem com alguma coisa. Teremos muitas arestas para aparar, então
vamos fazer tudo com calma e segurança, está bem?
— Sim, senhora. Como saberei quando você não estiver bem com algo?
— Não se preocupe, isso é minha responsabilidade. Você será avisada
caso não esteja agindo como quero.
— Não vou me preocupar, mas não hesite em conversar comigo, caso
eu esteja lhe desagradando. — Beijou meu pescoço — Ou sobre qualquer
outra coisa.
— Não sou de hesitar em minhas vontades. Eu vou organizar minha
vida no restaurante para poder chegar em casa até às nove da noite. Quando
eu chegar vou querer te encontrar de banho tomado, cabelos secos e
amarrados, vestindo uma lingerie e um roupão de seda.
— Farei todas as suas vontades, senhora. — Me beijou — Cuidarei
muito bem do apartamento. Posso providenciar o café-da-manhã? Prometo
melhorar meu cardápio e minhas habilidades.
— Seria ótimo comer antes de sair de casa. Vou te ensinar algumas
coisas para fazer no nosso café-da-manhã. Eu já estava me esquecendo desta
parte, eu acordo às quatro da manhã de segunda, quarta e sexta e de terça,
quinta e sábado, às seis. Quero você comigo no café-da-manhã todo dia. Mas
você não precisa cuidar do apartamento, você sabe disso, não é?
— Eu quero te servir, Ágatha. Eu sinto prazer nisso.
— Você tem certeza do que está me propondo?
— Sim. Não se preocupe. — Me beijou sorrindo.
— Mas não deixe de fazer suas coisas, não quero que nada atrapalhe
sua vida profissional.
— Eu vou cuidar de tudo, não se preocupe. — Me beijou sorrindo —
Por que horários distintos? E aquele saco de pancadas ali no canto da sala,
posso usar? — me perguntou com brilho nos olhos.
— Sim. O Bento está me ensinando Muay thai de terça, quinta e
sábado, se quiser podemos marcar um horário para ele voltar a ser seu
instrutor. Segunda, quarta e sexta eu jogo futevôlei em Ipanema.
A sala do apartamento da minha mãe é a parte mais espaçosa da casa,
então dividi ela em duas partes. Uma parte com um grande sofá e uma
televisão e a outra com um saco de pancadas, protetores e aparadores para
treino e parte do chão coberto com tatame.
— Quero sim. Podemos treinar juntas nos dias que você já tem horário
com ele?
— Precisamos ver com o Bento, ver se ele consegue fazer dois treinos
diferentes no mesmo horário.
— Ligarei para ele. Onde posso colocar uma mesa e uma cadeira para
eu desenvolver meus jogos?
— Tem espaço no meu quarto se tirarmos a poltrona que está lá e no
meu escritório do restaurante tem espaço para mais uma mesa, se quiser.
Organize-se na casa como achar mais prático para você. Não quero atrapalhar
sua criatividade. Eu fico o dia todo fora, então aqui, no apartamento, você
teria sossego, no restaurante não sei se vai se adaptar ao barulho de panelas e
gente falando. Mas e o trabalho na Corporate?
— Se eu aceitar, vou querer continuar com os jogos como sempre fiz.
Ela me sorriu e me agradeceu pelas opções. Olhei o relógio e beijei-a
com desejo.
— Falando em trabalhar, eu preciso ir.
Ela me beijou com desejo e me olhou com intensidade, beijei-a e me
levantei de suas pernas.
— Ágatha. — Ela se ajoelhou na minha frente — Quero que continue
a me ensinar como ser totalmente do seu agrado. Discipline-me a ser
conforme o seu querer. Guie-me para sua total satisfação e vontade. Faça-me
sua, minha senhora.
Eu fiz com que ela me olhasse e lhe sorri.
— Guiarei e ensinarei você a ser minha, do meu total agrado e vontade.
— Ainda em pé, beijei-a com volúpia.
— Que horas a senhora volta?
— Espero você para almoçar comigo no restaurante, ao meio dia em
ponto. Até lá tentarei organizar o restaurante para que eu não precise ficar até
tarde. Quero que passe a tarde comigo, para você se familiarizar com a
contabilidade.
— Estarei lá, senhora.
Fui até o quarto me trocar e ela começou a arrumar as louças do café da
manhã. Vesti-me e voltei à cozinha, beijei-a pra me despedir.
— Qual sua cor favorita de lingerie?
— Preta, roxa, azul marinho e vermelha.
— Antes de almoçar com você, vou fazer umas compras de roupa,
estou com poucas. Devido às viagens mantive somente o necessário.
— Capriche nas escolhas. — Eu lhe sorri — Tem espaço sobrando no
armário do closet, pode arrumar suas coisas lá.
Ela me sorriu e me beijou mais uma vez.
— Vou conhecer o outro quarto quando?
— Não seja apressada. — Eu ri — Hoje à noite vou te apresentar ele.
Ela me sorriu e concordou.
A manhã passou turbulenta com alguns assuntos administrativos e eu já
estava preocupada se conseguiria dar atenção a esse relacionamento como ele
deveria. Uma mente cansada não é produtiva, mas quando a vi entrando no
restaurante, essas preocupações sumiram e minha imaginação começou a se
mostrar bem alerta. Hortência foi ao encontro de Anelise e se abraçaram
longamente. Vi que Hortência estava chorando e minha menina sorria
passando a mão em seu rosto. A bondade de Anelise só me faz ficar mais
apaixonada por ela. Eu estava atrás do balcão, ela veio sorridente em minha
direção e me abraçou beijando meu pescoço. Eu tinha deixado uma mesa
reservada para nós, mas o restaurante estava lotado e eu tive que desfazer a
reserva.
— Vamos ter que almoçar no escritório.
Ela concordou e me entregou seu celular e sua carteira. Fiz o nosso
pedido e quando ficou pronto uma das garçonetes me avisou que iria servir.
Agradeci pela agilidade e fui até o escritório. Quando entrei a temperatura
estava agradável, havia uma música suave cobrindo os barulhos externos e
Anelise me mostrou uma cadeira para mim sentar. Sentei, pois estava em pé
desde cedo. Ela se ajoelhou na minha frente e tirou meus sapatos. Sentou-se
na cadeira da minha frente e colocou meus pés sob suas pernas.
— Vou te massagear enquanto você come, deve estar cansada de ficar
em pé e deve estar com fome, já que comeu pouco de manhã.
Eu concordei e peguei meu prato. Sua mão pressionava meu pé direito
e eu relaxava o corpo e a mente.
— Comprou as lingeries e as roupas?
— Sim. Qual cor prefere para hoje?
— Me surpreenda.
Ela me sorriu e continuou a massagem. Quando eu terminei de comer,
ela me entregou seu garfo e eu a alimentei. Até aquele momento eu não sabia,
mas o ato de alimentá-la me fez muita falta. Elogiou a comida e me sorriu.
Após o almoço, mostrei a parte de contabilidade no meu computador para ela
e voltei para a parte da frente do restaurante, ainda estava lotado e eu
precisava administrar a cozinha e as mesas.
No fim da tarde, consegui voltar para meu escritório e ela estava tão
concentrada que não me viu entrando. Aproximei-me e ela me olhou sorrindo
quando lhe toquei o ombro. Ela gesticulou para que eu sentasse nas suas
pernas e me mostrou com entusiasmo, algumas ideias que ela teve para
manter um sistema financeiro atualizado.
— Esse sistema que pesquisei, vai economizar tempo de preparo das
comidas, gerenciar pedidos e vai fazer uma gestão financeira diária. Você
terá que fazer um investimento em celulares para os garçons, mas nada que
afete o giro orçamentário do restaurante.
— Confio em você, pode comprar o celular que achar mais apropriado.
Ela entrou no sistema e me mostrou tudo o que ele poderia fazer, estava
aliviada com aquilo tudo. Beijei-a em agradecimento ao que tinha feito e ela
olhou para o relógio.
— Preciso ir, tenho um monte coisa para fazer em casa antes de você
chegar.
— Não se pressione tanto, estamos apenas começando. — Beijei-a e saí
de cima de suas pernas — Quando eu estiver saindo daqui, avisarei. Quero
que me espere ajoelhada no banheiro com a banheira cheia em uma
temperatura agradável. Hoje, você vai tomar banho comigo.
— Sim, senhora.
Despedimo-nos com um beijo caloroso.
Capítulo 4
Minha mente estava agitada, imaginando-a em minha casa, se
preparando para ser minha novamente. Sem medos e sem remorsos. Consegui
sair às oito, avisei ela e quando cheguei em casa, senti-a cheirosa e mais
organizada do que o normal. Guardei nosso jantar no micro-ondas. Fui até o
meu banheiro e ela estava como pedi. Tirei minha roupa e acariciei sua
cabeça em sinal de aprovação pelo que vi. Entrei na banheira e me sentei,
comecei a me lavar e ela me olhava compenetrada.
— Enquanto eu me lavo, você vai sentar na beirada da banheira e se
masturbar, mas não quero que goze. Hoje você só pode gozar quando eu
permitir.
— Sim, senhora.
Ela se levantou e tirou o roupão.
— Fique com a lingerie, está bonita com ela. Gostei do azul marinho e
das rendas.
— Obrigada, senhora.
Sentou-se com as pernas abertas e me olhou sorrindo. Eu me ensaboava
observando sua masturbação e ela me encarava com tesão.
— Tire a calcinha.
Ela se levantou e tirou-a. Voltou a sentar e se tocar. A sua excitação era
crescente.
— Enfie dois dedos em sua buceta. — Ela obedeceu — Tire-os por
inteiro e volte a se penetrar. — Ela gemeu baixinho quando se penetrou
novamente — De novo. Faça isso até eu terminar de me ensaboar.
Sua respiração era falha e me olhava intensamente. Quando terminei
chamei-a para entrar na água comigo e sentar-se no meio das minhas pernas.
Tirei-lhe o sutiã e ensaboei-a. Sua respiração se acalmou devagar e eu beijei-
lhe o ombro. Ensaboei a mão e lavei sua buceta enquanto sussurrava em seu
ouvido.
— Você foi uma boa menina hoje?
— Sim, senhora.
— Tem certeza? — beijei-lhe o pescoço.
— Sim, senhora. — Ela me respondeu ofegante, pois estava apertando
seu clítoris.
— Que bom! Então hoje eu não vou precisar te castigar?
— Não, senhora. A não ser que a senhora queira. — Seu corpo se
retorcia em meus dedos.
— Eu deveria querer? — sussurrei em seu ouvido.
— A senhora gosta de bater, se quiser me bater, receberei seus golpes
com prazer.
— Você é muito gostosa e perfeita. — Beijei-lhe a nuca.
— Obrigada, senhora.
Tirei a mão do meio de suas pernas e lavei-a com calma entre beijos e
sussurros em seu ouvido.
— Saia e enxugue-se. No meu quarto, na primeira gaveta tem um velho
conhecido seu e a chave do quarto. Coloque o plug e me espere ajoelhada na
porta do outro quarto, não precisa se vestir.
Ela saiu da água, enxugou-se e eu relaxei mais alguns minutos. Saí
quando ouvi a casa em silêncio, me enxuguei e ela estava como mandei.
Aproximei-me, apenas com o roupão aberto e ela não me olhava.
— Gosto quando seu olhar me persegue, menina.
Ela me olhou e sorriu, entregou-me a chave e eu abri a porta. Eu entrei
primeiro e ela esperou meu comando, deixei o quarto a meia luz e liguei o ar-
condicionado. Chamei-a e Anelise parou na porta quando viu que eu havia
pendurado vários quadros com fotos dela em uma das paredes.
— Gostou das fotos?
— São… são… lindas. E se eu nunca voltasse? Você iria ter as fotos
mesmo assim?
— Sim, para me lembrar da melhor sub que já tive.
Ela me sorriu um pouco envergonhada e me beijou com desejo. Ane
estava em várias posições diferentes em cenas que fizemos quando
estávamos juntas. Ela me agradeceu por ter sido escolhida como decoração
do quarto. Ali, eu tinha uma cadeira erótica, um caixote de madeira, um
cavalete almofadado, ganchos nas paredes e no teto e uma Cruz de Santo
André.
— Eu quero usar a cruz com você.
— Sim, senhora.
Ela andou até a cruz e ficou de frente para mim, mandei se virar e beijei
suas costas.
— Como eu disse, você não pode gozar.
Prendi o braço direito na algema que havia na ponta da cruz, beijei suas
costas e prendi o outro. O plug que ela estava usando tinha um vibrador
interno. Liguei-o e me afastei dela e fui até o meu armário de chicotes.
— Mas talvez seja impossível você não gozar com esse vibrador no seu
cu.
Ela gemia e se contorcia tentando sair da posição em que estava
algemada. Eu me aproximei dela e desliguei o vibrador. Ela era sensível à
vibradores, gozaria fácil se me descuidasse. Beijei-lhe as costas e mandei ela
se acalmar, voltei até o armário.
— Eu quero te bater, mas não é nenhum tipo de punição. — Peguei um
chicote longo, todo trançado e pequenas tiras na ponta e me aproximei dela
— Entendeu?
— Sim, senhora.
— Você gosta quando eu te bato?
— Sim, senhora.
Separei as pernas dela e algemei-as nas outras extremidades da cruz,
deixando-a em um “X” humano.
— Eu gosto de te bater, formamos uma boa dupla, não é?
— Sim, senhora.
Eu liguei o vibrador de novo e me afastei dela. Sem aviso prévio dei
uma chicotada em sua bunda, e ela se contorceu toda, me aproximei do seu
corpo e desliguei o vibrador. Beijei suas costas e esperei ela se acalmar.
— Se gozar, vai dormir sozinha na sala, é isso que você quer para nossa
primeira noite juntas?
— Não, senhora.
— Eu vou te torturar um pouquinho hoje, mas você vai aguentar o meu
comando para poder gozar, não vai?
— Sim, senhora.
Eu sabia que estaria exigindo bastante dela, com aquela cena, mas eu
precisava daquela pequena tortura. Eu precisava sentir que ela era minha
novamente, de corpo e alma. Fui até a outra porta do guarda-roupa e peguei
uma cinta peniana dupla e vesti, eu estava extremamente excitada. Voltei
para perto dela e enchi suas costas com beijos e lambidas. Sua respiração
estava extremamente tranquila.
— Para ajudar você a esquecer do vibrador, conte em voz alta as
chicotadas que darei na sua bunda.
— Sim, senhora.
Eu liguei o vibrador na velocidade mais lenta e me afastei dela. Seu
corpo recebeu a primeira chicotada tentando fugir.
— Um.
O segundo, percebi que ela queria se manter imóvel para me agradar,
mas esse chicote era dolorido e ela se mexeu contraindo o corpo.
— Dois.
Ela contou sem errar até dez e eu me aproximei dela beijando seu
corpo. Ane estava no seu limite, soltei seus pés e levantei-a do chão
penetrando fundo em sua buceta.
— Goza, minha menina safada. Goza comigo.
Segurando sua cintura com força e seu corpo suspenso a minha mercê,
meti forte, rápido e não precisei de muito, estávamos no nosso limite e
gozamos juntas. Desliguei o plug e voltei seus pés para o chão, seu corpo
ainda tremia, tirei o pênis e o plug dela. Tirei a cinta. Beijei suas costas
descendo até as nádegas com riscos vermelhos. Soltei suas mãos e a envolvi
em meus braços, ainda trêmula me beijou o rosto. Coloquei-a no chão e
sentei ao seu lado puxando-a para meus braços. Ela olhou o chicote no chão e
pegou-o na mão.
— Você me bateu com isso?
— Sim. Já tinha usado esse?
— Não, domme.
— É dolorido?
— Demais. Por favor, não o use de novo. — Ela escondeu o rosto em
meu pescoço.
— Usarei apenas para punições severas, quando você for uma menina
muito desobediente.
— Obrigada, domme, serei boazinha.
Beijei-a com desejo e me levantei, puxando-a para se deitar na cadeira
erótica.
— Escolha uma posição na cadeira, vou agradecer você por ter sido
obediente em tudo o que lhe pedi hoje.
— A senhora pode me chupar? Gosto da sua boca em mim.
Eu lhe sorri e ela se deitou abrindo as pernas para mim. Eu peguei a
cinta peniana e voltei a vesti-la. Aproximei-me e mordi sua perna, ela me
sorriu e enquanto mordiscava seu corpo meu dedão brincava com seu clítoris.
Não demorou para eu arrancar o primeiro gemido dela. Dei-lhe dois tapas na
buceta e ela se retorceu na cadeira. Chupei-a lentamente e o recém gozo me
lambuzava o rosto. Seu gosto era suave e viciante. Percorri toda a extensão
do seu sexo e quando senti sua excitação alta e incontrolável penetrei-a e
puxei seu rosto para um beijo cheio de tesão. Minha excitação aumentou com
ela gemendo em meu ouvido, bati na sua coxa várias vezes e seus gritinhos
de prazer incentivaram o nosso êxtase. Ela me olhou sorrindo e me beijou
voluptuosamente. Puxei-a para um abraço.
— Você é perfeita, minha menina.
— Você também, domme.
Fiz com que ela me olhasse.
— Eu te amo, Ane. Obrigada por confiar em mim novamente.
— Eu te amo, Ágatha. Obrigada por me aceitar de volta.
— Eu ainda estou com saudade do seu corpo.
— Use-o, ele é seu.
Eu sorri com a frase e recomeçamos a nos entregar uma para a outra.
Capítulo 5
Depois da sua volta, Ane insistiu para eu verificar minhas enxaquecas,
eu fui ao médico, mas não encontramos nada com o que se preocupar. As
dores não eram recorrentes e as causas, em sua maioria, estavam relacionados
ao fato de eu ter trabalhado muito ou estar nervosa com alguma coisa.
A entrevista em nossa antiga empresa não foi como ela esperava.
Walter ofereceu o cargo de Samuel a ela, mas não o mesmo salário. Ela
voltou irritada da entrevista, era um fim de tarde e eu já estava em casa, ouvi
ela entrando em casa e encontrei-a sentada no sofá chorando.
— Não sabia que você já estava em casa. — Ela enxugou as lágrimas e
se levantou chateada.
— Como foi a entrevista?
Ela voltou a sentar. Aproximei-me do sofá, me sentei e fiz ela me olhar.
— Péssima. Foi horrível voltar lá, relembrar das acusações, do tempo
que passei na prisão, eu não iria conseguir trabalhar lá mesmo se Walter
tivesse sido justo com sua oferta de salário.
Beijei-a delicadamente.
— Você não precisa trabalhar para ninguém. Se dedique aos seus jogos,
eu vejo que eles te fazem muito mais feliz do que trabalhar com o setor
financeiro.
— Talvez você tenha razão. — Ela me sorriu.
— Vou fazer uma sugestão. — Ane me olhou curiosa — Foque sua
dedicação à criação de jogos por alguns meses, se afaste de grandes
corporações. Respire um pouco de liberdade e se você sentir falta do setor
financeiro, você volta a buscar emprego.
Ela me sorriu e concordou com minha sugestão.
— Por mim, você não voltaria a ter um emprego que irá te sugar a alma
e te valorizar pouco. Você poderia abrir uma empresa sua, investir em algo
para você, assim como fez com o restaurante para mim.
— Minha vida profissional está uma bagunça. — Ela me olhou
chateada.
— O restaurante está indo bem, não se preocupe com emprego ou
dinheiro.
— Você está feliz com o restaurante?
— Sim. Você proporcionou que eu realizasse meu sonho, às vezes, a
rotina é estressante, mas eu estou feliz com o que estou construindo. Qual o
seu sonho? Você ajudou a realizar o meu, deixa eu te ajudar a realizar o seu.
Ela encostou no sofá pensativa e demorou um pouco para responder.
— Minha vida toda eu sempre batalhei tanto para viver o presente que
eu nunca me permiti pensar no futuro.
— Então pense com calma, você pode ter tudo o que quiser,
inteligência é o que não te falta.
Ela me sorriu e passou a mão em meu rosto.
— Obrigada.
Recostei em seus braços e ela me envolveu em um abraço.
— Você deveria pensar em ser consultora de investimentos. Maitê me
disse que você organizou a vida financeira dela e ensinou ela a investir
melhor o dinheiro dela. — Passei minhas pernas por cima da dela.
— É um negócio muito arriscado. Nem sempre as pessoas entendem os
riscos que estão correndo.
— Eu ainda tenho uma parte do dinheiro do meu seguro de vida no
banco, você podia ver de fazer algo melhor com ele.
Ela respirou fundo e demorou para me responder.
— Verei, domme.
— Gosto quando me chama assim. — sentei e olhei-a sorrindo.
— Gosto de te chamar assim. — ela me beijou suavemente os lábios.
— Desculpe falar sobre o dinheiro do seguro, mas tenho certeza que
você saberá lidar melhor com ele do que eu.
— Eu vou pesquisar algumas coisas. — Ela me sorriu — Agora que
você é April e não pode ter contato com seus antigos amigos, você está bem?
Nunca conversamos sobre essa consequência em sua vida.
— Só uma consequência desse plano infeliz me deixou sem chão.
— Qual?
— Ficar sem você. Eu cheguei à conclusão que nunca tive amigos,
eram apenas companheiros de balada.
— E a Elizabeth e a Guta?
— Maitê as substitui muito bem. Diria até que ela é melhor do que as
duas juntas.
— Maitê é uma mulher fora do comum.
— Sim! Cada dia que passei longe de você, ela foi meu porto seguro.
Se não fosse o apoio dela, não sei se teria aguentado.
— Fico feliz em saber que vocês se deram bem.
Passamos o resto da tarde conversando sobre carreira e futuro. Entre
beijos, carícias, me vi totalmente envolvida por uma mulher diferente de
quando a conheci. Uma Anelise calma e totalmente aberta a um
relacionamento duradouro.
Capítulo 6
Algumas semanas depois, Maitê iria dar uma festa na sua casa de praia
em Saquarema, convidou-nos para passar o fim de semana. Aceitamos e uma
hora antes de sairmos de viagem, voltei do restaurante e encontrei Anelise
fechando a mala que ela tinha feito para mim.
— Eu acho que peguei tudo. — Ela me beijou os lábios quando entrei
no quarto — Quer conferir?
— Confio em você. — Ela sorriu e levou a mala até a sala.
Voltou com um suco de laranja com morango.
— Beba, veja se gosta da mistura.
Eu bebi, estava gelado e adoçado na medida certa.
— Definitivamente você faz sucos maravilhosos.
— Ainda bem que em alguma coisa eu acerto. — Ela riu — Posso te
perguntar uma coisa?
— Claro!
— Você tem ciúme da Maitê?
Eu tomei mais um pouco do suco e sentei na beirada da cama, coloquei
o copo no chão, chamando-a para se sentar em minhas pernas.
— Hoje, sabendo tudo o que vocês passaram juntas, o quanto ela te
ajudou e o quanto ela é especial para você, não sinto. — Olhei-a.
— Ela é muito especial, eu faço tudo por ela e por você. Confesso que
eu já confundi o que sinto por ela com amor e ela também já fez essa
confusão, mas é a amizade mais pura que eu já vivi.
— Eu entendo vocês e acho a amizade de vocês complexamente linda.
Vou confessar que, às vezes, tenho medo dela roubar você de mim.
— Não precisa ter esse medo. — Ela passou os braços pelo meu
pescoço e me beijou — Ela está muito bem com a Carla, nunca a vi tão feliz
como agora. E eu estou mais do que completa contigo.
— Completa e não feliz?
— Felicidade é um estado de espírito, não se pode ser feliz o tempo
todo. Eu ainda tenho meus altos e baixos, às vezes, dá vontade de ir embora.
Às vezes, me pergunto o que estou fazendo da minha vida, se estou feliz com
o que estamos vivendo. É doloroso todo esse processo de me entregar
totalmente a você, estar à sua disposição o tempo todo. — Ela me olhou e
afastou uma mecha do meu cabelo e me beijou a ponta do meu nariz — Mas
quando você entra pela porta e me sorri, pergunta como foi meu dia e me
beija dizendo que estou sendo perfeita em tudo o que faço. Até mesmo
quando esqueço de pôr sal na comida. As inseguranças desaparecem, porque
eu percebo que você me completa com o que me falta. Você me dá o amor
que eu sempre procurei e nunca encontrei. — Ela fez uma pausa e me olhou
— Você me completa porque tem dia que você entra por aquela porta e
mesmo sem eu falar uma palavra você já sabe como estou me sentindo.
Depois de um dia exaustivo, você ainda tem a sensibilidade de ler minha
alma e saber do que eu preciso. Se preciso de carinho ou se estou disposta a
te servir sem questionamentos. Eu nunca tive que negar algo para você,
porque você sabe muito bem do que estou precisando. Você me completa,
porque tem dia que mesmo eu não sabendo o que eu quero, você me dá a
resposta de forma simples e objetiva. — Ela me beijou com delicadeza.
— Minha linda, — beijei-a sorrindo e me segurando para não chorar —
minha menina linda. —Beijei-a — Obrigada por sempre optar por ficar. —
Fiz com que me olhasse — O meu dia pode ter sido, exaustivo, cansativo,
infernal, mas saber que terei você em casa quando chegar é a solução de
qualquer dor, qualquer raiva e qualquer problema. Obrigada por deixar eu te
completar, por ter deixado eu entrar na sua alma para poder lê-la sem medo.
Você é perfeita com todas as suas imperfeições e eu amo cada defeito seu,
sem eles eu nunca teria aprendido a te entender. — Beijei-a com desejo e ela
retribuiu na mesma intensidade — Eu estava esperando o momento certo para
te dar um presente e parece ser esse. O pacote está na última gaveta no meu
guarda-roupa, bem no fundo atrás de tudo.
Ela me beijou e se levantou, foi até o closet, demorou alguns minutos e
voltou.
— Você escondeu muito bem, ficou com medo de eu achar? — ela riu.
— Sim.
Sentou-se na cama de frente para mim. Era uma caixa de madeira
retangular comprida e fechada apenas com um laço de fita de seda preta
envolvendo-a. Ela me olhou curiosa e desfez o laço. Abriu, observou por
alguns segundos e me olhou fechando a caixa.
— Eu não posso aceitar.
— Ane, o presente está dado, use quando achar que está pronta para
usá-la.
Ela voltou a abrir a caixa. Eram dois presentes em um. Havia comprado
uma gargantilha choker de prata, ela ficaria rente ao seu pescoço e da
gargantilha saia um colar em prata com um pingente com a letra “A”. Era
delicado, fino e quase imperceptível, a gargantilha no pescoço não passava de
alguns milímetros.
— É muito lindo, Ágatha, mas...
— Ei, olha para mim. — Segurei seu queixo — Não vou te forçar a
nada. Você tem liberdade para usar quando quiser e se quiser.
O outro presente era uma coleira de aço grossa com uma argola e uma
corrente.
— A coleira você quer que eu use em casa?
— Sim, mas apenas quando formos fazer uma cena. É mais um
símbolo do que uma obrigação. Você concorda?
— Sim, domme.
— A gargantilha é apenas para uso social, mas, como disse, só quando
você estiver pronta para usar.
— Quando comprou?
— Depois daquele campeonato de futevôlei que a Katherine apareceu
na praia.
— E por que não me deu antes?
— Você não estava pronta, estava?
— Não, senhora. — Ela me olhou séria — Desculpe a pergunta, mas
com que dinheiro comprou?
— Se não me engano paguei em várias parcelas.
— Como sabia que um dia eu iria estar pronta para receber esse
presente?
Ela estava vidrada nos dois tipos de colar.
— Como você mesmo disse, eu sei ler sua alma.
Ela fechou a caixa e me olhou séria.
— Por que comprou coleiras tão distintas uma da outra?
Beijei sua bochecha e lhe sussurrei em seu ouvido: “Porque eu quero
uma puta na cama e uma mocinha comportada na rua.” Ela riu alto e me
beijou com desejo.
— Serei, domme, serei o que quiser.
Ela se levantou com a coleira na mão e foi até o espelho grande que
tínhamos no closet. De onde eu estava conseguia vê-la vestindo a coleira e se
observando no espelho. Ane, tirou a camisa social que estava vestindo e
voltou a se olhar.
— Minha menina, venha até aqui, deixa eu ver como ficou.
Ane vestia uma calça social, um sutiã meia taça roxo e estava descalça.
Encostou no batente da porta com as mãos no bolso e me olhou sorrindo
timidamente. A corrente descia pelo pescoço e terminava no começo da sua
calça enfeitando seu colo e seu ventre. Andou lentamente até mim, ajoelhou-
se na minha frente e me entregou a corrente.
— Obrigada pelo presente, vou usá-la com prazer.
Olhei o relógio que ela havia me dado no meu último aniversário e
sorri.
— Ainda temos tempo.
Puxei-a pela corrente, me beijou sedenta, me deitando na cama.
— Você ficou linda! — fiz ela me olhar.
— Como essa coleira pode tomar tão bem a forma do meu pescoço
sendo que ela parece ser rude e desconfortável?
— Aos olhos dos não praticantes, o BDSM é rude, desconfortável e,
muitas vezes, cruel. Somente os praticantes sabem que não é isso. É a mesma
coisa com a coleira, quem usa, precisa se sentir confortável com ela, não
importando o que ela demonstre para os demais.
— Eu estou confortável com ela. — Beijou meu pescoço — Até parece
que estou sem nada. E eu quero agradecer a senhora pelo presente. — Ela
desabotoou minha calça e tirou-a rapidamente.
— Minha menina, não temos tanto tempo assim.
Ela apenas me sorriu e se perdeu no meio das minhas pernas. Vê-la
encoleirada, me chupando era a visão mais sexy do mundo e o meu gozo veio
rápido, Anelise sabia muito bem o que fazer no meio das minhas pernas.
Beijou meu corpo até encontrar minha boca ofegante pelo recém gozo.
— Eu coloquei alguns acessórios na sua mala, espero que goste das
escolhas. — Ela me sorriu e deitou ao meu lado.
Olhei-a e me virei de frente para ela, passei a mão em seu rosto e
beijei-a com delicadeza.
— Eu te amo, minha menina. — Beijei-a — Não sei se eu falo isso com
a frequência que deveria…
Ela me interrompeu com o indicador pousando em meus lábios.
— Você não precisa falar, eu sei.
Beijei-a e disse que tínhamos que ir. Ela tirou a coleira, guardou na
caixa de presente e colocou-a na mala. Raramente Anelise questionava
minhas atitudes e ordens, naquele momento não foi diferente. Ela tinha
acabado de me chupar, deveria estar sensível ou excitada, mas não me
enfrentou e não me pediu para que eu retribuísse o prazer.
Entramos no carro, eu iria dirigir e ela se responsabilizou por ler o GPS
e cuidar da música. Anelise demonstrava estar tranquila e serena.
Conversamos boa parte da viagem sobre os jogos que ela estava
desenvolvendo. Sua energia em me explicar como os jogos iriam funcionar
era vigorosa. Eu entendia pouquíssimas coisas, mas fingia muito bem e me
candidatei a jogar para testá-los. Quando chegamos na casa de praia de Maitê,
fomos recepcionadas por ela. Abraçou minha menina com força e Ane lhe
sussurrou algo fazendo-a rir. Carla saiu da casa em um vestido floral e
abraçou Ane com entusiasmo. As duas haviam se tornado confidentes e logo
sentaram em um banco no jardim que era de frente para o mar. Maitê me
abraçou e eu lhe desejei felicidades. Nós duas também estávamos próximas e
confidentes.
— O que houve com Anelise? O que fez com ela?
Olhei-a curiosa e apreensiva.
— Que eu tenha percebido ela está bem, ela disse algo?
— Exato, ela está bem. Uma mudança drástica para os últimos meses.
— Não me assuste com esse tipo de pergunta. Estamos nos dando
muito bem, apenas isso.
— Ela está serena e tranquila.
— Hoje, antes de sairmos de casa, ela disse estar completa comigo.
— Ela gosta de usar esse termo para dizer que está feliz. Você é uma
revolução na vida de Anelise, obrigada por fazer tão bem a ela.
— Posso dizer que ela também é uma revolução na minha vida. Hoje
ela disse que eu sei ler a alma dela.
— Então, eu posso parar de me preocupar com vocês? — ela riu.
— Não sabia que você se preocupava com nossa relação.
— Eu sei o quanto Anelise pode ser medrosa com as relações dela. Ela
tende a afastar as pessoas por receios.
— Nosso começo foi um pouco complicado, mas eu não conseguia me
afastar. Quanto mais ela me empurrava para fora da vida dela mais eu queria
ficar.
— Obrigada por ficar.
— Eu estou presa a ela, Anelise é meu destino e minha sina. Eu quero
tudo com ela, desde o baunilha até o lado mais intenso do BDSM.
— Como ela está fora das cenas? Insubordinada?
— Ela é perfeita.
Maitê me sorriu.
— Como você e a Carla estão?
— Muito bem. Ela é…
— Perfeita? — Eu ri.
— Sim. Não tem palavra melhor. — Ela riu também.
— Só espero estar sendo perfeita para ela também.
— Se ela ainda está com você, é porquê ela está se sentindo bem com
tudo.
— O meu maior medo, é ela não me contar que não está bem e
simplesmente ir embora.
— Se você sabe mesmo ler a alma dela, não se preocupe, saberá ver a
verdade.
— Espero saber mesmo.
Ficamos em silêncio e nos aproximamos das duas. Eu sentei nas pernas
de Ane, lhe beijei a boca e cocei sua nuca encostando nossas testas.
Maitê puxou Carla para um longo abraço e vi que cochichou algo no
ouvido dela, pois a garota riu e beijou-a. Ane me convidou para entrar no mar
e passamos a tarde na água entre beijos e abraços.
A casa era um sobrado e os quartos ficavam no andar de cima, eu fiquei
pronta para a festa antes de Anelise e desci para a sala para dar liberdade dela
se arrumar à vontade. Gosto que ela me surpreenda nas escolhas de suas
roupas.
Eu me servi de uma taça de champanhe e quando tomei o primeiro gole
vi ela descendo pela escada. Estava elegante com um rabo de cavalo alto,
camisa e calça social com cores combinando perfeitamente. Quando vi que
estava usando a gargantilha que havia lhe dado, eu abri um largo sorriso.
Maitê estava por perto e vi que ela também observava minha menina
descendo a escadaria. Ane aproximou-se de mim e eu beijei seus lábios
suavemente.
— Você está com a gargantilha!
— Estamos em um evento social, não estamos?
— Sim, estamos. — Eu lhe sorri e ela retribuiu passando a mão meu
rosto — Por que mudou de ideia e resolveu usar?
— Eu só fiquei surpresa e achei melhor pensar melhor antes de usar. E
como você me deixou livre para decidir, achei que seria injusto eu não querer
te agradar.
Eu sorri e lhe beijei os lábios suavemente. Vi que Maitê sorriu com a
nossa interação e foi atrás de Carla. A festa estava animada e o jardim era
uma extensão perfeita da festa com pessoas dançando e se divertindo ao som
de MPB e Samba. Eu e Ane, sentamos em um dos sofás espalhados pelo
jardim, estávamos tomando champanhe e observando os casais dançando.
Maitê nos confidenciou que apenas dois casais não eram praticantes de
BDSM, mas estavam curiosos para aprender sobre as práticas. Estávamos em
um ambiente totalmente livre e de mente aberta.
— Qual sua opinião sobre ser compartilhada com outros casais ou
dominadoras?
Ela me olhou sem uma expressão definida, mas retraiu o corpo para
responder, como se estivesse com medo da minha pergunta.
— Eu não gosto desse tipo de prática. Prefiro não ser compartilhada
com ninguém.
— Já teve experiências desse tipo?
— Sim. Samantha me obrigou a participar de uma cena com um
dominador e ele não me respeitou. Eu sou sua, mas prefiro não ser
compartilhada. Você gosta de compartilhar suas submissas?
— Eu não sei como me sentiria compartilhando você com alguém,
talvez sentisse tesão, mas posso sentir ciúme também.
— Quando Samantha me disse que queria me compartilhar eu me senti
incomodada e humilhada. Ela disse que queria compartilhar minha
submissão, pois eu estava sendo muito boa com ela. Mas não é a mesma
coisa, eu sabia o que esperar dela, conhecia seus gestos e suas vontades. Ela
conhecia os meus limites e o que podia fazer comigo. — Ela me olhou —
Não foi uma experiência agradável.
— Não faremos isso.
Ela me agradeceu beijando minha mão e encostando em meu corpo.
— Você me fez essa pergunta, pois já tinha alguém com quem queria
me compartilhar?
Eu hesitei um pouco para responder.
— Foi apenas curiosidade.
— Você não está sendo honesta comigo. — Ela me olhou.
— Eu pensei na Maitê.
Ela se afastou do meu corpo e me olhou brava.
— Se me oferecesse a ela, estaria colocando-a em uma situação
delicada com a Carla. Tenho certeza que Carla aceitaria que eu fizesse uma
cena com Maitê, mas ela faria isso apenas para não perder a Maitê, duvido
que seria uma situação confortável para ela.
— Desculpe, eu não pensei nas consequências quando pensei em fazer
minha oferta.
— Se Maitê estivesse sem submissa exclusiva, tenho certeza que a
experiência seria muito interesse para nós três, mas não podemos fazer essa
proposta para ela sem afetar a Carla. Eu odiaria ver você com outra submissa.
— Você tem razão, minha menina. Desculpe pensar nisso. Foi um
pensamento infeliz.
— Em partes, foi mesmo. Quando eu estava na cadeia, algumas presas
me levaram até um depósito e me amarraram em uma cadeira, me deram uma
surra e me deixaram lá sozinha o dia todo. Eu oscilei entre realidade e
alucinação o tempo todo, minha mente me trouxe você e logo depois Maitê.
Na minha mente, vocês duas trabalhavam juntas para me ajudar a sair dali,
mas eu não sei como me sentiria com vocês duas me compartilhando de
verdade.
— Eu também não sei como eu me sentiria. Entre todas as ideias que já
tive até hoje, acho que essa foi a mais estúpida.
Ela riu.
— Vamos dançar e esquecer que eu te perguntei sobre
compartilhamento?
— Acho que é melhor esquecermos mesmo. — Ela riu.
Eu me levantei e puxei-a para a pista de dança.
No fim da festa, eu estava sentada no sofá observando Maitê
conversando com Anelise e Carla, as três estavam descontraídas, mas alguma
pergunta ou comentário fez Anelise mudar de expressão rapidamente. Ela
encarou Maitê e depois olhou para mim. Aproximou-se de mim e se ajoelhou
na minha frente.
— Maitê nos convidou para conhecer a masmorra dela. — Ela disse
sem cerimônia e sem me olhar — Quer fazer uma cena conosco, mas sem
trocas de submissas.
Segurei seu queixo com delicadeza e fiz com que me olhasse.
— Quantas vezes tenho que falar para olhar para mim quando for falar
comigo.
— Desculpe, senhora.
— Você quer participar dessa cena? Você parece contrariada com algo.
— Eu não quero fazer. Estou cansada da viagem e de ficar no mar a
tarde toda. — Ela me encarava enquanto falava.
— É só isso que está te incomodando?
Passei a mão em seu rosto e escondi um fio de cabelo atrás da sua
orelha. Ela estava me escondendo algo.
— Eu não quero que vejam nós duas fazendo uma cena, eu me sentiria
exposta demais.
— Você tem vergonha de ser minha submissa? Tem vergonha do que
fazemos?
— Não, senhora. — Ela me olhou chateada.
Eu lhe beijei a testa. Ela estava demonstrando-se insegura com nossa
conversa. Confesso que fiquei interessada em ver Maitê em ação com Carla,
mas também me senti exposta e insegura. Olhei para Maitê e ela esperava um
sinal nosso para saber se iríamos ou não participar.
— Você confia em mim?
— Sim, domme.
— Você sente que está sendo desafiada ou convidada para uma
experiência diferente e está com medo de não ser uma boa submissa?
— As duas coisas, senhora.
— Você acha que Maitê faria você se sentir humilhada?
— Não, senhora.
— Você acha que ela está querendo comparar o seu desempenho com o
de Carla?
— Sim.
— Você acha que ela faria isso? Compararia as duas?
Ela me olhava confusa com tantas perguntas.
— Você confia na Maitê?
— Sim, senhora.
— Você aceita apenas ver a cena das duas? Só iremos fazer algo se
você me der consentimento. Se não der, vamos ver a interação das duas e
apenas isso. Peça para Maitê vir até aqui, por favor.
— Sim, senhora. — Ela se levantou, mas senti que ela ainda estava
contrariada.
Maitê se aproximou e sentou ao meu lado.
— Você quer comparar as duas? Por isso fez esse convite?
— Não! De onde tirou isso? — Perguntou brava.
— Anelise me disse que está com essa sensação.
Ela se levantou e eu fui atrás dela. Abraçou Ane com força e fez com
que ela a olhasse.
— Desculpa, bebê, eu nunca quis fazer você se sentir comparada com
alguém. O intuito é apenas nos divertir juntas. Você com sua domme e eu
com minha sub. Eu nunca vou comparar duas submissas. Nunca! Entendeu?
— Sim, senhora, desculpe.
— Desculpe pelo convite…
— Eu entendi tudo errado. Desculpe. Eu nunca fiz uma cena dupla, não
sei se vou me sentir confortável com isso. — Ane respondeu.
Maitê segurou-lhe o rosto e sorriu.
— Você não precisa fazer nada que não queira.
— Eu estou cansada hoje, eu sinto muito… eu… eu queria agradar,
mas não estou preparada para isso.
— Outro dia conversamos sobre isso novamente, claramente esse
assunto te deixou abalada. — Maitê beijou-lhe o rosto e abraçou-a com força
— Eu já te ensinei que você pode falar “não” sem se preocupar, não ensinei?
— Fez Ane olhá-la — Desculpe tocar em um assunto sem te preparar direito
para recebê-lo. — Beijou-lhe a bochecha e Ane lhe agradeceu a
compreensão.
Saiu de perto de nós acompanhada por Carla. Puxei Ane para um
abraço.
— Calma, minha menina. — Passei a mão em sua cabeça.
— Posso me recolher? Estou com dor de cabeça.
— Posso lhe fazer companhia ou quer ficar sozinha?
— Pode vir.
No quarto, ela tirou a roupa, a gargantilha e deitou apenas de calcinha,
sentei ao seu lado e puxei-a para deitar-se em meus braços. Beijei-lhe a testa.
— Quer tomar algum remédio?
— Não.
Ela sussurrou e eu lhe fiz cafuné. Ficamos em silêncio até ela
adormecer em meus braços. Eu não entendi a reação dela com tudo o que
aconteceu. Toda noite ela adormece em meus braços e depois de um tempo
ela se vira para o outro lado e continua dormindo profundamente. Nesta noite
não foi diferente. Quando se virou, eu me levantei e voltei para a festa,
precisava de mais álcool. Na cozinha, peguei uma garrafa de champanhe
recém aberta e fui até a praia, andei até a subida da maré e tirei o sapato para
sentir a água molhar meus pés. Algo estava errado, Ane veio no caminho para
Saquarema tão bem e tranquila e depois mudou de atitude quando eu
perguntei sobre ser compartilhada. Eu devo ter mexido com algum
sentimento ruim que ela não quis me contar. Tomei um longo gole da bebida
adocicada e gaseificada da garrafa. Caminhei pela areia, pensativa e irritada
por ter tocado em um assunto delicado.
Terminei com a bebida e voltei para a casa. A festa ainda acontecia e eu
voltei para o quarto, tirei minha roupa e deitei abraçando-a por trás.
Capítulo 7
Acordei assustada, estávamos na mesma posição que adormeci, passei a
noite toda abraçando-a e isso raramente acontecia. Percebi que ela estava
acordando e apertei-a contra meu corpo.
— Bom dia! — ela beijou minha mão e virou-se de frente para mim.
— Está melhor?
— Sim. — Ela me sorriu e me beijou suavemente.
— Quer me contar alguma coisa sobre ontem? Estou preocupada com
você.
Ela me olhou e ficou quieta alguns segundos.
— Quando Samantha me compartilhou com o dominador amigo dela,
ele me estuprou depois da cena. Eu disse que não queria e ele se aproveitou
da minha fraqueza e da dor e não me respeitou. Samantha deixou e eu
descobri, meses depois, que ela tinha me vendido para ele por uma noite. Ele
pagou para poder fazer o que quisesse, mas eu não fui avisada sobre isso e
Samantha não me perguntou se eu queria aceitar isso. Então, minha reação de
ontem foi baseada nessa experiência. Eu confio em você e na Maitê, sei que
vocês não fariam nada disso, mas foi impossível não perder o controle das
minhas emoções. Eu devia ter conversado melhor com vocês, mas não
consegui. Desculpe.
— Samantha e Katherine são duas maçãs podres no mundo do BDSM.
Obrigada por me contar isso. — Dei-lhe um selinho.
— Eu nunca contei isso para ninguém, nem a Maitê sabe.
— Desculpe aflorar sentimentos ruins em você.
— Não tinha como você saber que isso aconteceu, eu devia ter contado
ontem.
Passei a mão em seu rosto.
— Não pense mais nessas duas loucas. Esqueça as duas.
Beijou-me e sorriu, abracei-a.
— Estou esquecendo. Aos poucos.
— Vamos aproveitar o dia e o mar?
Ela riu e concordou.
— Coloca o seu biquíni roxo, adoro ele. — Lhe beijei e me levantei.
Ela concordou e foi até a sua mala para pegá-lo. Anelise foi até a minha
mala e me trouxe um biquíni preto.
— Eu trouxe esse e outros dois modelos.
— Você gosta desse?
Coloquei ele na frente do meu corpo.
— Sim.
Passamos a manhã na praia e Maitê e Carla se juntaram a nós perto da
hora do almoço. Maitê me serviu uma cerveja e Carla tirou o vestido indo até
o mar com Anelise. Sua bunda estava marcada com riscos avermelhados,
uma cena sexy a vendo se afastar de nós.
— Usou o rattan ontem?
— Sim, de três varas.
— Ficou bonito
Maitê riu alto, mas logo me olhou séria. Estávamos sentadas em
cadeiras de praia e enquanto eu olhava Anelise no mar, Maitê me olhava
séria.
— Não se preocupe. — Olhei-a — Ela conversou comigo hoje de
manhã, ela teve sentimentos ruins aflorados com o pedido, mas já está
melhor.
— Katherine consegue fuder a mente de Ane sem mesmo aparecer por
perto.
— Dessa vez, a culpa é da Samantha.
— Quando Anelise apareceu na minha vida, eu só pensava em
vingança. Queria matar Katherine a cada confissão que ela fazia. Cada
lágrima que ela derrubava era como uma facada no meu peito. Eu e Sônia,
tivemos um árduo trabalho para fazê-la se sentir bem novamente. Sentir-se
confiante, forte e capaz de viver sem dor. Foi uma difícil jornada para ela
voltar a gostar das coisas que gostava antes de Katherine acabar com o
psicológico dela. Quando ela me disse que tinha conhecido Samantha, fiquei
feliz, mas logo descobri que ela também não saberia cuidar de Anelise e se
mostrou tão louca quanto a outra.
Ela me olhou e ficou em silêncio.
— Eu tive o desprazer de conhecer Katherine e tive a mesma vontade
que você. E o nome de Samantha não está fora da minha lista negra.
— Anelise nunca me falou muito de você. Conheci mais sobre o
envolvimento de vocês durante o processo de prisão e defesa dela. Ela me
mostrou a primeira cena que vocês fizeram juntas alguns dias depois de
terem feito. Eu não consigo entender como vocês se envolveram tão rápido.
A cena foi como se vocês se conhecessem há anos e não apenas há dias.
Aquela cena não foi o resultado de um encontro casual de duas pessoas que
se conheceram em um escritório, esse encontro está sendo planejado pelo
universo há muito tempo.
Eu sorri com o que ela disse, eu precisava daquela benção, mesmo não
sabendo que estava procurando por ela.
— Eu não tenho resposta para sua dúvida, mas afirmo categoricamente
que amo Anelise desde o primeiro dia que a vi, mesmo isso sendo brega e
coisa de romance bobo.
— Tenho certeza que de bobo o romance de vocês não tem nada.
Eu ri e ela olhou para o mar, as duas estavam voltando. Carla ficou em
pé ao lado de Maitê para se enxugar e Ane estendeu uma toalha e sentou-se
aos meus pés.
— Vocês estão malhadas, o que andam praticando? — Carla
perguntou.
— Boxe. — Ane respondeu.
— Muay thai e futevôlei. — Eu respondi.
— E sexo também. — Completou Anelise nos fazendo rir.
— Muita vitamina C? — Maitê perguntou fazendo Ane rir alto e eu
olhei para Carla sem entender a piada — Vocês vão ficar até amanhã, né?
— Sim. — Eu respondi — O que é vitamina C? — Olhei-as e elas
riram novamente.
— Samantha se referia ao sexo anal como vitamina C e para o beijo
grego ela falava vitamina BG. — Ane me olhou e eu lhe sorri.
— Nomenclaturas estranhas para coisas que já tem nomes. — Eu ri.
— Ela não gostava da palavra anal e achava o nome do beijo grego sem
graça.
— É porque usar vitamina C e vitamina BG é muito engraçado. —
Maitê riu.
— Samantha tinha umas ideias bem sem noção.
Nós quatro acabamos rindo da nomenclatura escolhida pela garota.
Fizemos algumas piadas sobre o assunto e Ane me olhou feliz por estarmos
entre amigas.
Carla pousou a mão no ombro de Maitê fazendo-a olhá-la sorrindo.
— Carlinha, vá ver como está o andamento do almoço. — Beijou a
mão da garota.
Afastou-se em silêncio e Ane me olhou profundamente e depois olhou
Maitê.
— Ontem, eu reagi mal ao seu pedido.
— Bebê, não se preocupe com isso. Você está melhor? Quer conversar
sobre algo?
— Estou bem, mas não quero fazer uma cena dupla com você e com a
Carla.
— Não tem problema, Ane. Carla, estaria cansada para outra cena, nós
ficamos na masmorra até tarde ontem. Vou deixar a chave com vocês,
aproveitem a estadia. — Ela nos sorriu.
— Obrigada.
Almoçamos juntas e eu confesso que estava ansiosa e nervosa com a
confissão que minha menina tinha feito. Anelise tomou um longo banho
sozinha e deitou na cama para ler. Minha impaciência foi notada por ela, pois
estava ao seu lado na cama vasculhando o celular em busca de algo para me
distrair. Ela tirou o celular da minha mão.
— Se não acalmar sua mente, vou desistir da cena.
Olhei-a e me perguntei como ela podia me entender tão bem.
— O que te preocupa? — ela estava calma.
— Muita coisa.
— Posso te ajudar em algo?
— Eu não quero falhar com você hoje.
— Você não vai falhar. Tome um banho, relaxe os músculos e a mente,
vou pegar a chave com Maitê. Descemos com calma para você se familiarizar
com tudo. Vai se sentir melhor se fizermos isso?
— Sim. Obrigada, minha menina. — Eu sorri e ela me beijou a boca
levantando-se para ir buscar a chave.
Também tomei um longo banho e quando saí do banheiro ela estava
com a coleira que eu havia comprado, um roupão de seda vermelho sentada
na beirada da cama. Ela havia separado minha lingerie preferida e um roupão
de seda preto. Vesti-me e saímos do quarto.
A masmorra era no subsolo da casa, Maitê levou ao pé da letra o termo
masmorra. Uma longa escada mal iluminada nos levava até um quarto onde
três paredes eram de pedras maciças e a quarta parede era repleta de chicotes
pendurados lado a lado. A cama era alta e de madeira, na parte de baixo era
toda fechada como se fosse uma jaula, havia até um fino colchão imitando
uma caminha de cachorro. Acoplada na cama haviam duas madeiras com três
furos. O furo do meio usava-se para prender a cabeça e nos dois laterais as
mãos, o corpo ficaria em pé todo exposto a quem quisesse usá-lo.
Embaixo da coleção de chicotes havia um armário de madeira com
portas de vidro, onde se via uma coleção de mordaças, próteses penianas,
plugs e ganchos anais, cordas e algemas. Do teto descia um balanço sexual.
Na direção oposta da cama havia uma cruz de Santo André e ao lado dois
tipos de cadeiras para restrição e torturas. Um móvel de madeira semelhante a
um cavalete também fazia parte da mobília. Neste móvel a pessoa poderia ser
amarrada para ficar ajoelhada, com o corpo deitado no tronco central com as
nádegas exposta. Mais afastado tinha uma mesa de sinuca, nas laterais
haviam ganchos para amarrar a pessoa sob a mesa. E por fim, vi uma mesa,
onde a submissa pode ser amarrada em cima ou com o tronco apoiado na
tábua. Aquilo era um sonho para qualquer praticante de BDSM.
Havia também uma porta com um banheiro que não deixava de fugir da
decoração do lugar. Olhei Anelise e sorri, ela tirou o roupão e me entregou a
corrente que era presa à sua coleira.
— Gostou? Está mais calma? — ela estava tranquila.
Eu apenas sorri concordando. Ane ajoelhou-se na minha frente e pela
primeira vez, eu não sabia o que fazer com ela. Eu evitei olhá-la, eu precisava
pensar por onde começar. Andei até o interruptor de luz e diminui a claridade
do quarto, isso me acalmou mais um pouco, voltei para perto dela. Eu olhei
Ane e ela continuava quieta, ajoelhada e olhando para o meu ventre. Fiz ela
me olhar e levantar-se. Fomos até o cavalete. Mandei tirar a lingerie e subir
no móvel sentando-se com as pernas abertas. O apoio das pernas podia ser
retirado para deixá-la suspensa apenas com o cavalete entre as pernas.
Retirei-os enquanto fui buscar um flogger e uma palmatória. Demorei mais
do que deveria apenas para ver a cena dela sentada no cavalete. Voltei e
coloquei os apoios de volta. Amarrei os tornozelos, bem rente aos apoios e
mandei-a deitar o corpo. Amarrei as mãos e restringi a movimentação da
cabeça amarrando a corrente em uma argola presa na madeira.
— Eu vou esquentar sua bunda com o flogger e depois vou te bater
com a palmatória.
— Sim, domme.
— Eu não quero que contraia as nádegas, quero-as relaxadas.
— Sim, senhora.
— Se contrair, não vou deixá-la gozar a semana toda.
— Não faça isso, por favor.
— Então não se contraia.
— Não vou, domme.
Eu me afastei dela e fiquei fora de seu campo de visão. Acertei a
primeira chicotada e ela gemeu de dor. Tirei minha calcinha e enfiei em sua
boca pedindo silêncio. Voltei a posição que eu estava e lhe bati três vezes
seguida e esperei a respiração dela se acalmar. Bati três na outra nádega e
esperei ela se tranquilizar. Repeti as três batidas e o intervalo até ela demorar
para se acalmar, isso era sinal que estava excitada. Coloquei a mão nas costas
de Ane e perguntei se estava tudo bem, ela acenou que sim com a cabeça e
lhe bati com a palmatória, sua bunda se contraiu com o susto e eu sorri. Tinha
conseguido o que queria, lhe bati mais três vezes. Esperei alguns segundos e
lhe bati mais duas vezes e ela contraiu a bunda novamente na última batida.
Passei a mão em sua buceta e ouvi seu gemido mesmo por cima da calcinha.
Se eu continuasse poderia fazê-la gozar e torturá-la com mais desejo durante
a semana. A essa altura ela estava frustrada e estaria querendo fazer qualquer
coisa para me agradar e se desculpar. Desamarrei-a e mandei-a sentar-se no
cavalete. Ela estava sensível e excitada e fez uma careta quando sua buceta
tocou o couro que revestia a madeira.
— Eu estou decepcionada e você sabe disso. Vou tirar a calcinha da sua
boca, mas não quero uma palavra sua sem minha ordem.
Ela não ousou me olhar, eu tirei os apoios das pernas e a calcinha e me
afastei. Peguei um par de algemas e uma corda. Com a ajuda de uma cadeira,
passei a corda no gancho que havia no teto e algemei-a. Amarrei a corrente
das algemas na corda bem firme e reto. Posição extremamente
desconfortável, mas ela estava linda. Aproximei-me e dei um tapa em cada
seio e ela me olhou com um misto de prazer e dor. Bati novamente e ela
segurou um gemido. Separei seus grandes lábios, deixando o clítoris inchado
e excitado em contato com o couro. Bati nos seios novamente. Apertei o bico
do seio direito e puxei-o de leve e ela fechou os olhos respirando fundo. Eu
me afastei e lhe acertei o seio esquerdo com o flogger. Ela se retorceu toda e
gemeu baixinho, acertei o direito e novamente se retorceu, O seu rosto
denunciava que ela estava cada vez mais excitada e eu sorri, aproximei-me e
chupei o seio com força e mordi-o de leve. Anelise se retorceu nas algemas e
seu corpo denunciou que estava sendo difícil segurar o gozo.
— Se gozar, vou acrescentar uma semana no seu castigo.
Bati em seu seio novamente e ela sussurrou um “Não!” quase
inaudível. Eu estava excitada vendo-a naquela posição, beijei suas costas,
queria instigá-la até o último segundo. Sua respiração era instável e enquanto
espalhava beijos pelas costas, apertei o bico dos seios e parei com tudo
quando senti seu corpo querendo se entregar a um gozo. Voltei os apoios das
pernas para aliviar a pressão que seu corpo exercia sob sua buceta. Ela estava
ofegante.
— Está se sentindo frustrada?
— Sim, senhora.
— Quer gozar?
— Sim, domme.
Soltei seus braços e ajudei-a a descer do cavalete. Pela corrente da
coleira, puxei-a até o banheiro e liguei o chuveiro gelado. Deixei a água
correr pela mangueira e mandei ela se abrir para eu lavar sua buceta. Ela
recebeu a água no corpo com desgosto. Desliguei o chuveiro e estendi uma
toalha. Anelise se enxugou e demonstrava-se desapontada.
Levei-a até a cruz de Santo André e algemei-a de costas para mim. Ela
estava cansada, eu percebi isso assim que terminei de amarrá-la fazendo um
“X” com seu corpo. Ela encostou a testa na madeira que havia na sua frente.
Desamarrei-a e fiz ela virar de frente para mim, abracei-a com força e passei
suas pernas pelo meu corpo. Andei com ela grudada em mim até a cama e
sentei encostando na cabeceira.
— Está cansada minha menina?
— Sim, mas não quero parar. Continue.
Tirei sua coleira e ela me beijou com desejo. Seu olhar queria fugir do
meu, mas não a deixei abaixar a cabeça. Beijei-a com desejo e aconcheguei-a
em meus braços.
— Deita um pouco aqui comigo. Você está indo bem. Quero prender
você de quatro com a cabeça e as mãos restritas na madeira, o que acha?
— Excitante, senhora.
Fiz carinho em suas costas. Ane fez carinho em meu antebraço
enquanto passeava meus dedos pelas suas costas. Eu ainda estava excitada e
percebi que meus arranhões e carinhos estavam estimulando-a novamente.
Beijei-a com desejo e passei as mãos em suas coxas. Apertei levemente seus
seios e sua respiração funda e descompassada me mostraram que ela estava
dolorida e excitada. Ficamos trocando carinhos deliciosos até eu sentir seu
corpo arrepiado e pronto novamente.
— Quero fazer você gozar, vá buscar uma cinta peniana para eu te
fuder.
Ela me olhou sorrindo e se levantou apressada. Sua bunda vermelha
estava do jeito que eu gosto. Voltou com a cinta, camisinha e lubrificante. Eu
me levantei e fui até as duas madeiras que ficavam ao pé da cama e abri-as.
Eu não precisei dizer nada, apenas apontei o lugar para ela colocar a cabeça e
as mãos. Obedeceu e eu tranquei as duas madeiras para ela não fugir. Estava
de quatro na cama e eu queria que ela implorasse pelo gozo, adorava quando
fazia isso. Vesti a cinta peniana e coloquei a camisinha. Passei a mão em sua
buceta e ainda não estava do jeito que eu gostava.
— Vamos aquecer sua bucetinha, ela ainda está fria. Abra as pernas.
Ela me obedeceu e eu lhe acertei um tapa arrancando-lhe um gemido de
susto. Bati três vezes e esfreguei o clítoris devagar. Bati novamente e me
posicionei na cama atrás dela, pronta para penetrá-la. Esfreguei a prótese em
seu clítoris e seu corpo reagiu estremecendo.
— Você quer que eu te foda?
— Sim, domme, por favor!
Passei um pouco de lubrificante e enfiei somente a ponta.
— Não quero ouvir um gemido seu. Silêncio é a única coisa que quero
de você.
Afastei mais suas pernas e penetrei-a até o fim, bati em sua bunda e
tirei tudo de dentro dela. Repeti e dei dois tapas em sua bunda. Penetrei-a e
tirei tudo repetindo as palmadas, bati três vezes. Ela aguentou a repetição até
eu enfiar e bater dez vezes.
— Por favor, eu imploro por um gozo, não aguento mais. Você está me
torturando.
Eu sorri e penetrei-a com força. Bombeei devagar, apertando-lhe as
nádegas e a tentativa de não gemer era apenas uma forma de fazê-la prestar
atenção em tudo o que acontecia. Aumentei o ritmo e minha excitação estava
no nível que eu gosto, faltava pouco para as duas, mas eu parei.
— Por favor, Ágatha!
Passei lubrificante em seu ânus e enfiei dois dedos.
— Vou meter no seu cuzinho e quero que me agradeça por deixar você
gozar.
Ela não contestou e eu substituí os dedos pelo pênis, entrei devagar,
não queria machucá-la, estava ofegante.
— Obrigada, domme! — ela estava se acostumando ao tamanho
enquanto eu entrava devagar — Obrigada por deixar eu gozar.
Aumentei o ritmo das estocadas e ela gemeu gostoso, não conseguia
mais se controlar e eu também não queria mais o silêncio.
— Geme para mim, minha menina safada, geme.
Suavemente apertei-lhe os bicos dos seios e ela gemeu empinando mais
a bunda. Bombeei mais forte e ela gozou, continuei com as investidas,
alcancei seu clítoris e por dentro da cinta alcancei o meu, seus gemidos se
misturaram ao meu, ela gritava de prazer e acelerei o ritmo de tudo e
gozamos juntas. Saí de dentro dela devagar e tirei a cinta para soltá-la da
madeira. Deitou-se na cama, exausta e ofegante, deitei atrás dela.
— Você é perfeita. — Sussurrei beijando sua nuca.
Sua respiração demorou para se normalizar.
— Está dolorida? Machuquei você?
— Não. — Ela sussurrou — Você é perfeita, mesmo quando me
tortura.
— Admite que gosta de ser torturada por mim.
Ela riu e me puxou para abraçá-la com mais força.
— Não posso admitir isso… se admitir você vai pegar mais gosto ainda
por me torturar. — Ela riu.
— Eu quero um quarto igual esse para te torturar muito.
Ela riu e virou-se de frente para mim.
— Podemos construir uma masmorra melhor do que essa. O que acha?
— Perfeito. — Eu ri — Torturar você está sendo excitante demais, mas
eu insisto para você me policiar nas cenas. Não quero passar dos nossos
limites. Eu percebi que estava cansada, você devia ter me falado para parar.
— Você percebeu, parou e me deixou respirar antes de continuar. Você
sabe parar no momento certo. Eu não pretendo usar minha safeword com
você, mas não vou deixar de usar se achar necessário.
Ela me beijou com volúpia e eu tive vontade de pedi-la em casamento,
mas achei melhor não estragar o momento com convenções sociais.
Capítulo 8
Desde o dia em que voltou, Anelise estava sendo perfeita com tudo o
que eu queria, mas hoje ela me deixou preocupada. Ela tinha decidido aceitar
minha sugestão de ter um tempo para respirar e pensar sobre sua vida
profissional, por isso tínhamos uma rotina juntas. Logo pela manhã não fez o
café-da-manhã no horário certo e eu me atrasei para sair de casa. Achei
estranho, mas não quis repreendê-la, afinal foi a primeira vez que ela errou.
Porém o erro maior foi na hora do almoço, eu tinha pedido para ela sempre
me avisar quando iria ou não almoçar comigo, ela era livre para decidir, mas
queria que me avisasse. Aquele dia ela não avisou nada e quando a questionei
ela simplesmente me ignorou por horas. Só me ligou quase no fim da tarde.
Eu atendi o telefone brava e não deixei ela se explicar e esse foi o meu
primeiro erro.
— Anelise, hoje você me desobedeceu e me deixou irritada. Duas
coisas que eu odeio. — Eu falava firme ao telefone — Você se lembra do
chicote trançado com tiras na ponta que pediu para eu não usar mais?
— Sim, senhora. — Sua voz estava embargada.
— Você vai até o quarto pegar esse chicote e deixá-lo do seu lado
enquanto trabalha, toda vez que olhá-lo vai se lembrar do que fez hoje e a
noite vou usá-lo em você, quantas vezes eu achar necessário.
— Sim, senhora. Mas eu posso explicar meu sumiço.
— Tire uma foto dele sob a sua mesa e me mande. Poderá se explicar
depois de ser disciplinada.
Desliguei e pouco tempo depois ela me enviou a foto. E essa reação foi
meu segundo erro.
Quando eu cheguei em casa ela estava no meio do quarto de
brincadeiras ajoelhada com o chicote ao seu lado. Eu já não estava mais
brava, só queria entender seu ato de rebeldia. Fui ao banheiro, tomei um
banho e vesti um baby-doll preto e fui esquentar nosso jantar. Jantei antes
dela e fui até o quarto.
— Seu jantar está servido. Vá comer e leve o chicote junto. Quando
terminar estarei na sala.
Enquanto ela jantava eu liguei a televisão, mas não prestava a atenção
em nada. Ouvi ela arrumando a louça suja e logo estava na sala com o chicote
em mãos. Desliguei a televisão e mandei se ajoelhar e me entregar o chicote.
— Esse foi seu primeiro ato de rebeldia em meses. Por isso serei
boazinha e deixarei você se explicar antes de apanhar.
— Desculpe, senhora. Não foi rebeldia, eu juro. Eu fui fazer compras e
a bateria do meu celular acabou, tive que voltar de ônibus, por que não tinha
como chamar um táxi. Eu sinto muito, tentei avisar, mas eu não lembrava o
número do seu celular de cabeça e não fazia ideia do número do restaurante.
O ônibus demorou mais do que eu imaginei e quando cheguei em casa não
tinha energia elétrica para carregar o celular.
— Você me deixou extremamente preocupada.
— Me desculpe, eu não fiz por mal. — Ela estava extremamente
chateada com aquela conversa e eu também.
Bati com a mão no estofado e ela se sentou ao meu lado. Aninhei-a em
meus braços e beijei-lhe a face.
— Não me assuste mais desse jeito. Achei que tinha acontecido algo
com você ou que eu estivesse fazendo algo errado em nosso envolvimento.
— Você tem sido perfeita, foi um erro que não acontecerá mais. — Ela
me olhou profundamente — Ainda vai me bater?
— Não, minha menina, acho que tudo não passou de um mal entendido,
não é?
— Não vai mais acontecer isso.
Beijei-a com delicadeza.
— Você comeu direito?
Ela negou com a cabeça e eu abracei-a.
— Eu vou buscar algo para te alimentar.
— Estou com o estômago embrulhado, não quero comer.
Ela se deitou em minha coxa e pediu para assistirmos algum filme. Fiz
cafuné em sua cabeça enquanto o filme rolava. Seu corpo jogado no sofá me
deixava excitada e no fim do filme ela me olhou e eu beijei-a com desejo.
— Você me assustou com o lance do chicote. Você nunca foi de querer
me castigar, o que houve contigo hoje?
— Desculpe por isso, eu estava chateada com o que aconteceu. Eu não
devia ter te ameaçado. Medo não é saudável. Eu vou me controlar melhor,
minha atitude não foi bem pensada. Eu não quero te perder. — Olhei-a
chateada — Eu achei que você tinha me abandonado. Eu não sei o porque
senti essa necessidade de te tratar dessa maneira. Passei o dia todo
amargurada e lembrando de quando você não estava comigo. Peço perdão
pela reação exagerada que tive.
— Não vai me perder, mas hoje você quase passou do meu limite, se
tivesse me batido como punição, eu não sei se ficaria.
— Eu sinto muito não ter controlado minhas emoções como deveria.
— Eu perdoo seu erro se você prometer que não irá mais me ameaçar
dessa forma.
— Não irei, minha menina, vou deixar você se explicar antes de
qualquer coisa. Prometo.
— Você está sendo uma boa domme, não quero perder o que temos.
Ela me sorriu e se levantou me puxando junto.
— Vem, vamos fazer as pazes na cama.
Eu sorri e beijei-a com paixão e tesão até cairmos na cama.
Na manhã seguinte, eu acordei-a com beijos pelas costas e ela
resmungou.
— Bom dia, dorminhoca.
Ela apenas riu.
— Vou tomar banho, dispenso você de fazer o café-da-manhã hoje.
— Não pode. — Ela virou-se e se aninhou em meus braços — Eu fiz
bolo de fubá para te servir com um café fresco.
Eu ri e lhe beijei a testa.
— Então vem tomar banho comigo, depois você me serve esse bolo.
Ela se ajoelhou no meio da cama e me olhou sorrindo.
— Se eu tomar banho com você, irá se atrasar.
Eu peguei o meu celular, liguei para o restaurante e deixe avisado que
só chegaria para o almoço. Ela me olhou travessa e sorriu. Puxei-a para um
beijo e ficamos na cama namorando até a fome falar mais alto. Tomamos um
banho regado a beijos e carícias. Ela saiu antes, eu me vesti, peguei o chicote
com o qual eu havia ameaçado lhe bater e encontrei-a na cozinha. Coloquei o
chicote sob a mesa e ela me olhou assustada.
— Achei que estávamos bem em relação a usar isso.
— Estamos.
Peguei uma tesoura na gaveta e com certa dificuldade cortei o chicote
ao meio. Ela se aproximou e me abraçou me agradecendo pelo gesto. Beijou-
me com desejo e puxou uma cadeira para eu me sentar. Serviu-me café e
tapioca e depois um pedaço de bolo de fubá.
O chicote ficou ali em cima da mesa me lembrando do erro que eu
tinha cometido com ela, prometi a mim que não faria isso novamente. Olhei-a
e me senti completa por tê-la e entendi o que ela tinha me dito no dia que
fomos para Saquarema.
— Eu acho que deveríamos nos casar. — Eu disse comendo um pedaço
de bolo.
— Eu não acho. — Ela mordeu um pedaço de bolo — Tenho certeza
que temos que nos casar. — Me sorriu e eu olhei-a assustada.
Ela riu da cara que eu fiz, afinal, não esperava aquela resposta dela nem
em meus sonhos mais malucos. Eu esperava uma recusa, uma Anelise acuada
e cheia de receios.
— E não pense que eu vou aceitar esse café da manhã como um pedido
apropriado de casamento. — Ela disse me olhando sorrindo — Quero o
pacote completo. Pedido romântico, festa de noivado, festa de casamento, lua
de mel e… — ela me olhou e ficou séria — filhos.
Eu fiquei muda com tudo o que ela falou, Anelise se levantou e sentou
nas minhas pernas de frente para mim e me beijou voluptuosamente.
— Quero tudo com você. Desde o relacionamento mais baunilha até o
BDSM mais hard.
— Isso é alguma pegadinha? Eu disse essa mesma frase para a Maitê
naquele fim de semana que passamos em Saquarema.
— Eu nunca falei tão sério em minha vida. Quero casar com você, ter
ou adotar filhos, gritar teu nome em uma masmorra e envelhecer ao seu lado.
Beijei-a com desejo.
— Você é perfeita. — Nós duas dissemos ao mesmo tempo.
— Cozinha para mim essa noite? Estou com saudades do tempo que
você cozinhava depois das nossas cenas.
— Sim, minha menina. O que quer que eu faça?
— Antepasto de aspargo com shitake e gorgonzola. O prato principal
pode ser berinjelas recheadas com tomate picado, shimeji e alho frito cobertas
com muçarela.
— Você providencia os ingredientes?
— Sim!
— Eu andei pesquisando e encontrei quatro casas que poderiam ser
muito bem adaptadas aos nossos gostos. Vou enviar no seu e-mail, quero que
analise os preços e as condições de venda.
— Sim, senhora.
Beijou-me com desejo e me olhou sorrindo. Eu ainda estava espantada
com tudo o que tínhamos acabado de conversar.
— Eu não tenho certeza se quero ter um filho. — Eu disse chateada.
— Eu também não, mas eu já sonhei várias vezes com você grávida.
Vamos conversar isso com calma, primeiro a senhora tem que me pedir em
casamento apropriadamente. — Ela sorriu.
— Pedirei, minha menina.
Ela me beijou e eu me segurei para não me apossar de seu corpo, queria
guardar energias para a noite.
— Aproveite o dia, descanse, essa noite eu quero você na sua melhor
forma. — Eu lhe sussurrei.
— Estarei, senhora.
Ela foi comigo para o restaurante, pois precisava checar como estava a
parte financeira e depois de almoçarmos ela se despediu com um beijo
caloroso. Verifiquei como estava o andamento do dia e adiantei tudo o que
podia para sair mais cedo. Passei em uma joalheria, e comprei uma aliança de
noivado. A ideia era tão antiquada que ri de tudo o que queríamos. Eu nunca
tive sonhos de me vestir de branco e me casar como segue a tradição, mas
com Anelise eu queria isso. Se para a sociedade o uso de alianças mostrava o
quanto estávamos comprometidas uma com a outra, então seria esse símbolo
que usaríamos todo dia.
Capítulo 9
Naquela noite cheguei e ela estava tomando banho, escondi a aliança
no quarto onde fazíamos nossas cenas e me juntei a ela.
— Estou atrasada? — Ela me recebeu com um selinho.
— Não. Eu estou adiantada, estava ansiosa para voltar para você. —
Beijei-a com desejo.
Ela se ajoelhou e começou a me ensaboar. Eu não sei se ela tinha
consciência de seus gestos, mas todas as vezes que ela tem atos submissos
espontaneamente, como esse, eu me sinto preenchida por uma onda de
excitação tremenda. Ane terminou de me lavar e saiu antes de mim. Vesti
apenas uma calcinha e um sutiã e fui até a cozinha, ela havia separado todos
os ingredientes e picado quase tudo. Ela estava ajoelhada perto da pia e uma
nova onda de excitação me tomou. Peguei o tomate na mão e fiz ela me olhar.
— Alguma explicação para não ter cortado esse ingrediente?
— Sim, senhora.
— Qual?
— Eu não sabia se a senhora ia usá-lo em pedaços ou rodelas.
Eu lhe sorri e pedi para que se sentasse em uma cadeira, pois iria picar
o tomate e adiantar mais algumas coisas para podermos ir até o quarto. Vesti
um avental e ela se sentou. Eu estava concentrada no tomate e no processo
que eu iria fazer para cozinhar que não percebi ela saindo da cozinha. Quando
voltou me abraçou por trás beijando meu pescoço.
— A senhora é extremamente sexy quando cozinha apenas de calcinha
e sutiã.
Ela enfiou a mão na minha calcinha e massageou meu clítoris, sabia
onde ela queria chegar com aquela provocação.
— Eu estou com uma faca na mão. — Eu sussurrei excitada.
— Uma visão sexy.
Ela tirou minha calcinha. Voltou a me abraçar e senti uma prótese
peniana roçando minha bunda. Eu sorri com sua ousadia.
— Quero fuder a senhora, enquanto corta esses tomates.
— Menina safada e apressada.
— Estou excitada vendo a senhora apenas de lingerie.
Ela levantou minha perna esquerda e segurou-a rente a pia. Penetrou-
me devagar me arrancando um gemido extasiado.
— Você sabe que será punida por essa ousadia, não sabe? — olhei-a.
— Sei sim, senhora. — Ela me beijou a boca com desejo.
— Abusada!
Sua pelve movimentava-se lentamente, me arrepiando o corpo todo.
Sua boca beijava meu pescoço e minha nuca. Todos os seus gestos estavam
lentos querendo prolongar aquele momento ao máximo. Voltei a cortar o
tomate e vez ou outra ela penetrava mais forte e fundo.
— Você não vai gozar, tenho muita coisa para fazer contigo hoje. —
Eu disse quando terminei de cortar o tomate.
— Não vou, senhora. A senhora quer gozar agora?
— Não!
Comecei a cortar o segundo e último tomate. Ela continuou no mesmo
ritmo, sua respiração estava mais agitada e diminuiu as estocadas.
— No mesmo ritmo, — acertei um tapa em sua perna — Anelise, você
não queria me fuder?
— Sim, senhora.
— Faça por merecer esse pedido.
Ela voltou a me penetrar mais forte e eu sorri. Se continuássemos por
muito tempo eu não iria conseguir evitar de ter um êxtase. Voltei a cortar o
tomate e senti ela agitada novamente.
— Vá para o quarto, deixe o ar condicionado o mais gelado possível,
separe o paddle de madeira, o chicote com tiras de couro, cordas longas,
separadores de pés, gancho anal, lubrificante e grampos para mamilos.
— Sim, senhora. — Ela saiu de dentro de mim e soltou minha perna.
— Ane! — eu me virei para olhá-la — Prepare-se, vamos ver se você é
digna de ser minha esposa.
Ela me sorriu e me beijou longamente.
— Serei, senhora.
Antes de ir para o quarto, eu preparei o antepasto, queria me acalmar e
me certificar que ela também estaria mais calma. Nós já tínhamos feito sexo
dessa forma antes, eu cortando legumes e ela me fudendo devagar. Quando
me pediu isso pela primeira vez, eu neguei, mas a ideia ficou se repetindo na
minha cabeça e em outro momento acabei deixando ela fazer o que queria.
Tivemos um ótimo momento juntas e hoje também teríamos, mas não queria
gozar tão rápido.
Fui até o quarto, encontrei-a apenas de lingerie e a temperatura estava
extremamente baixa, ela estava ajoelhada no meio do quarto com todos os
objetos que pedi na sua frente e as mãos para trás. Ajustei a temperatura para
ficar mais agradável, me aproximei dela e beijei-lhe o topo da cabeça.
— Boa menina. Está mais calma?
— Sim, senhora.
Tirei-lhe o sutiã e o bico dos seus seios estavam salientes pelo frio,
sorri ao vê-los daquela maneira. Pedi para se levantar e abaixar a calcinha até
o joelho. Obedeceu. Peguei o gancho anal e o lubrificante.
— Coloque as mãos no joelho.
O gancho tinha três pequenas esferas na ponta, uma pequena, uma
média e uma grande. Lubrifiquei bem seu ânus e o gancho. Comecei a
penetrá-la devagar e quando passou a última bola, mandei ela ficar ereta
novamente.
— Eu vou passar as cordas no teto. Uma delas vai conectar a trança no
seu cabelo com a ponta do gancho. A outra corda vai amarrar seus braços
para trás e esticá-lo também prendendo ao teto. Para te dar um pouco de
sustentação vou passar uma corda por baixo dos seus braços e também
amarrá-la ao teto. Vou separar suas pernas, mas se achar que não consegue,
as deixarei livre. Tudo bem?
— Sim, senhora.
Primeiro coloquei os separadores de pés, depois inclinei um pouco seu
corpo para frente e amarrei as mãos com a corda. Estiquei-a e amarrei ao teto.
Arrumei sua trança e amarrei seus cabelos com a corda, passei no teto e
amarrei na ponta do gancho. Por último passei a corda por baixo dos braços e
amarrei ao teto. Ela estava sexy naquela posição, principalmente com a
calcinha abaixada até os joelhos. Aproximei e perguntei se tudo bem, ela
disse que sim. Peguei a câmera fotográfica que eu guardava no armário e tire
fotos dela, mas senti que estava faltando alguma coisa. Vendei-a.
— Não vou te amordaçar, mas quero silêncio, só fale se for
estritamente necessário.
— Sim, senhora.
Percorri minha mão pelas suas costas e beijei a lateral do seu corpo.
Costela, nádegas, coxa, panturrilha e fiz o mesmo do outro lado. Ela tentava
não se retorcer ao meu toque, mas não conseguia. Ajoelhei perto do seu seio
e chupei-os com dedicação, alternei entre os dois e eu ouvia sua tentativa de
não gemer. Tirei minha calcinha e enfiei em sua boca.
— Isso vai te ajudar.
Voltei a chupar seus seios e lhe dei um tapa na buceta fazendo seu
corpo retorcer todo. Bati novamente sem deixar de chupá-la. Seios deliciosos,
macios, firmes.
— Quero lembrá-la que está proibida de gozar. — Eu sussurrei perto do
seu rosto.
Beijei todo seu corpo novamente.
— Vamos dificultar um pouco… — Peguei os grampos de mamilos e
coloquei-os nela.
Seu corpo queria fugir de mim, ela estava ofegante e eu tirei a calcinha
de sua boca.
— Por favor, tire-os.
— Ficaram bonitos em você.
— Por favor, Ágatha!
Eu tirei-os, não era sempre, mas, às vezes, ela tinha seios bem
sensíveis.
— Precisamos treinar mais seus mamilos.
— Obrigada, senhora. Hoje eles estão mais sensíveis do que o normal.
Passei a mão neles e ela respirou fundo.
— Não vou fazer nada com eles hoje. — Beijei-os — Acalme-se. —
Coloquei a mão em seu peito para esperá-la ficar tranquila.
— Obrigada, senhora.
— Vou te bater com o chicote e só vou parar quando der cinquenta,
porém eu não vou contar. Você vai. E no final vai me responder se ainda quer
se casar comigo.
Levantei e peguei o chicote. Acertei o primeiro e ela começou a contar.
Fiz pequenos intervalos de dez em dez. E quando terminei o quinquagésimo
golpe, seu corpo parecia estar extasiado.
— Eu quero me casar com você.
— Tem certeza?
— Sim, senhora.
Eu me ajoelhei atrás dela e lambi sua buceta, estremecendo todo seu
corpo.
— Temos um último desafio. Quero usar o paddle.
— Pode usar senhora.
— Mas eu vou penetrar um vibrador na sua buceta e você só poderá
gozar depois de trinta batidas e eu vou continuar a bater até você gozar.
— Tudo bem, senhora, não vou decepcionar.
— Tem certeza?
— Sim, senhora.
— Conte novamente.
— Sim, domme.
Peguei um vibrador de tamanho médio no guarda-roupa e lhe penetrei
devagar, arrancando-lhe gemidos gostosos. Subi sua calcinha para impedir
que o vibrador saísse e peguei o paddle. Bati e ela começou a contar. Liguei o
vibrador apenas quando já tinha batido seis vezes. Alternei a velocidade dos
golpes, mas nos últimos cincos demorei mais entre eles e ela choramingou
me pedindo para não a torturar. Ela gozou na quadragésima batida. Soltei
seus pés, suas mãos e o gancho que se ligava à sua trança. Desliguei o
vibrador. Encostei seu corpo no meu e cortei a última corda liberando seu
corpo para se apoiar no meu. Ane estava sem reação e eu deitei-a devagar no
chão, tirei sua calcinha, o vibrador e o gancho. Envolvi-a em meus braços,
seus olhos permaneciam vendados e senti sua mão buscando minha buceta.
— Não se apresse, menina, temos a noite toda para você me agradecer.
Beijei seu rosto, tirei sua mão do meio das minhas pernas e tirei sua
venda. Ela se aninhou em meus braços e eu a envolvi mais. Sua respiração se
acalmava, seus olhos estavam fechados e eu ainda mais apaixonada. Ane
adormeceu em meus braços e eu não tive coragem de me mexer dali.
Quando percebi que ela estava dormindo profundamente, levei-a para o
nosso quarto. Fui para a cozinha depois de verificar e cuidar de suas nádegas,
estavam levemente avermelhadas. Faziam duas semanas que não nos
dedicávamos a uma cena, apenas nos amávamos na cama antes de dormir.
Terminei nosso jantar e abri um vinho. Servi minha taça e esperei-a
acordar naturalmente, sabia que seu descanso seria essencial para sua
recuperação física e mental. Fui até sala e sentei no sofá degustando o vinho
branco seco recém aberto enquanto revia algumas fotos dela como submissa
no meu celular. Eu tinha muitas outras no computador e na máquina
fotográfica que eu mantinha apenas para isso, porém as que estavam no
celular eram as minhas favoritas. Selecionadas a dedo para me fazerem
companhia no dia-a-dia. Ela ainda demorou uns quinze minutos para acordar
e eu esperei-a pacientemente, não iria apressar a sua natureza.
Eu estava na metade do segundo copo quando Anelise entrou na sala,
revigorada e com os cabelos alinhados novamente. Ajoelhou-se na minha
frente e eu lhe sorri. Mostrei meu celular a ela e pedi que dentre três fotos
escolhesse uma para eu fazer um novo quadro para colocar em nosso quarto
de brincadeiras. Escolheu uma em que ela estava ajoelhada e vendada com as
mãos erguidas e amarradas ao teto.
— Descansou? — passei a mão em seu rosto.
— Sim, senhora.
— Como estão suas nádegas? — beijei-a delicadamente.
— Sensíveis, mas não doloridas.
— Você tem certeza sobre se casar comigo?
— Sim, senhora. E você, tem?
— Certeza absoluta. O que faremos sobre o assunto filhos?
— Temos que resolver isso hoje?
— Não, mas não quero me comprometer e daqui dois ou três anos a
gente se separar ou brigar por esse assunto.
— Você quer ter um filho comigo?
— É muita responsabilidade ter uma criança. O que falaríamos se ele
ou ela entrasse no nosso quarto e visse as coisas que gostamos?
— Seu medo é falar sobre BDSM e sexo com a criança?
— Não é só isso. Eu não me sinto confortável perto de uma criança. Eu
nunca me imaginei como mãe. Você já se imaginou como mãe?
— Não. Eu só falei sobre filhos, pois sonhei com você grávida. — Ela
se levantou e sentou ao meu lado — Ter você é mais importante do que ter
um filho.
— E se você se arrepender de não ter um filho?
— Não tenho como evitar esse arrependimento, mas existe a
possibilidade de eu me arrepender mesmo tendo a criança. Nossas escolhas
geram consequências e temos que arcar com elas. Eu realmente não sou
vidrada no pensamento de ter um filho, se decidirmos ter, vou me entregar e
me dedicar. Se decidirmos não ter, não teremos e não me arrependerei. E se
me arrepender, não culparei ninguém. Você estando comigo, eu aceito
qualquer opção.
— Você tem certeza disso?
— Sim.
Beijei-lhe a testa.
— Você está satisfeita com a cena de hoje? — Ela me perguntou.
— Sim, por quê?
— Eu dormi antes de te satisfazer.
— Minha menina, eu já disse que não preciso gozar para me sentir
satisfeita com uma cena, não disse?
— Sim, senhora.
— Eu estava esperando você acordar para continuarmos com a noite.
— Eu não queria ter dormido...
— Não se culpe, minha menina, não se maltrate assim. Eu não me
importo que você durma depois de uma cena, é importante descansar.
— Eu sou quase seis anos mais velha do que você, sabe o que isso
significa, não sabe?
— Que ficará cada dia mais linda? — Passei a mão em seu rosto —
Cinco ou seis anos não fazem diferença, não fez quando me apaixonei por
você e nunca fará. Vá até o quarto e me espere ajoelhada perto da caixa de
madeira.
— Sim, senhora.
Ela me deu um rápido selinho e saiu da sala. Demorei um pouco e logo
fui para o quarto.
— Tire a calcinha e o sutiã e deite na caixa de barriga para cima.
Fez o que pedi e eu amarrei suas pernas de forma que ficassem
dobradas. Puxei seus braços nas laterais do corpo e amarrei os pulsos juntos à
perna. Subi em uma cadeira e pendurei um fio de barbante que chegava até
perto do seu corpo, mantendo uma distância de uns trinta centímetros do seu
ventre. Fui até o guarda-roupa, peguei um strap-on sem cinta e o anel de
noivado que eu havia comprado.
— Feche os olhos.
Ela me obedeceu e eu amarrei o anel de noivado no barbante numa
altura que ela visse durante a cena. Eu já estava excitada com o que queria
fazer e colocar o strap-on foi fácil. Lubrifiquei-o e soltei sua mão esquerda.
— Masturbe-se, mas não abra os olhos.
Enquanto sua mão percorria sua buceta eu lhe arranhava a perna.
— Você tem sido uma submissa muito obediente, estou muito contente
com sua conduta.
— Obrigada, senhora.
Sua face me demonstrava o começo de sua excitação.
— Eu tenho sido uma boa domme?
— Sim, senhora, não tenho do que reclamar.
— Abra os olhos.
Ela viu o anel pendurado e sorriu. Ane me olhou profundamente e
respirou fundo. Segurei sua mão e voltei a amarrá-la junto com a perna.
Apoiei meu corpo sob meus braços esticados ao lado do seu corpo e encarei-
a.
— Essa é sua última chance de me negar. — Eu lhe sorri e encostei a
ponta da prótese em sua entrada.
— Nunca vou te negar.
Aproximei minha boca da sua, ela quis me beijar, mas me afastei e
penetrei-a arrancando-lhe um gemido.
— Anelise quer se casar comigo?
— Sim, domme.
Saí de dentro dela e penetrei-a novamente. Ane tentou me beijar
novamente, mas eu afastei o rosto dificultando o contato e sorri. Sua língua
lambeu meus lábios e ela sorriu.
— Me fode, Ágatha! — seus olhos brilhavam intensamente.
— Minha menina safada.
— Sou sua, senhora, nem a morte vai nos separar.
Eu sorri com sua fala e sua excitação.
— Você vai ficar olhando o anel enquanto te fodo bem gostoso.
Bombeei forte e parei. Aumentei o ritmo e parei, sua respiração estava
denunciando o nível de sua excitação e eu ainda não estava pronta, queria
gozar com ela. Beijei-a com volúpia e lhe bati na coxa, gemeu na minha
boca. Bati de novo e gemeu novamente. Continuei com os tapas e o beijo
enquanto a penetrava. Meu corpo estremeceu e logo senti Anelise vibrando
junto comigo. Olhei-a com desejo e ela estava ofegante e descabelada.
— Linda! Você é linda. — Eu disse.
Ela sorriu e eu passei a mão em seu rosto.
— Eu te amo, Ágatha.
Beijei-a e olhei-a profundamente.
— Eu te amo, minha menina.
Soltei-a e desamarrei o anel do barbante. Tirei o strap-on, pedi que ela
ficasse em pé e me ajoelhei na sua frente. Segurei sua mão esquerda.
— Anelise, quer se casar comigo?
— Sim.
Coloquei o anel em seu anelar. Levantei e beijei-a com desejo. Ela me
abraçou com força e permanecemos assim por longos segundos.
— Obrigada por tudo.
Beijou-me voluptuosamente.
— Você causou um rebuliço em minha vida, menina.
— Quero causar muito mais. — Ela me sussurrou rindo — Foi um
pedido de casamento apropriado esse.
— Agora é sua vez.
— Minha? Como assim?
— Eu pedi você em casamento, agora você me pedirá em casamento.
— Quando alguém pede outra pessoa em casamento, automaticamente
ela já aceitou se casar. — Ela riu.
— Nós não somos convencionais em nada, correto?
— É! Não somos. — Ela riu — Pedirei a senhora em casamento, em
breve. Primeiro preciso comer.
Fomos até a cozinha e eu alimentei-a enquanto conversávamos sobre o
nosso dia e a nossa festa de noivado. Para mim, estava sendo tudo novo e
interessante. Poder oficializar o que tenho com Anelise me fez pensar que ela
realmente estava tranquila em ter um novo casamento. Nossa relação
melhorava a cada dia e eu não tinha mais sentimentos conflituosos ao seu
lado.
Anelise
Capítulo 1
Estávamos sentadas tomando café-da-manhã quando segurei sua mão e
Ágatha me olhou sorrindo.
— Lembra que eu te disse que sou investidora da Samantha no clube de
BDSM dela?
— Sim. — Ela me olhou curiosa.
— Ela não vai conseguir me pagar o empréstimo e decretou falência.
Ela continuou com um ar de curiosidade.
— Maitê me propôs sociedade para administrarmos o clube, o que
acha? A estrutura física está pronta, só teríamos que mudar algumas coisas e
o nome, talvez.
— Proposta curiosa essa. Eu posso ajudar de alguma forma?
— Você pode cuidar do cardápio do clube, o resto, seria por minha
conta e Maitê.
— Teremos tempo de nos curtir e dedicarmos ao nosso
relacionamento? Já que o clube vai funcionar a noite e o restaurante ocupa
meu tempo durante o dia. Você já tem um plano de negócios para o clube?
— Não tenho, ela me contou sobre essa ideia recentemente. Não sei se
vai atrapalhar nosso relacionamento.
— Eu acho a ideia ótima, mas não quero que isso estrague nossos
horários. E acho melhor ver a viabilidade do negócio antes de qualquer coisa.
— Ágatha me olhou ainda curiosa com a conversa.
— Eu verei.
— Vai ser interessante ter um clube de BDSM. — Ela sorriu.
Eu também sorri.
— Você já pensou em se mudar desse apartamento? — Ágatha me
perguntou.
— Não. Por que está me perguntando isso?
— Porquê o apartamento é pequeno e modesto. O bairro não é tão bom
quanto o seu antigo. — Ela me olhou intensamente — Você olhou as casas
que te mandei por e-mail?
— Somos só nós duas, não precisamos de mais espaço do que isso,
precisamos?
— Acho que não…
— Eu olhei as casas que me mandou no e-mail. São lindas, mas são
gigantes para apenas duas pessoas. Você quer se mudar? — Eu fiz ela me
olhar.
— Não sei, eu gosto daqui, mas sinto que poderíamos ter mais espaço.
— O que você vê no seu futuro?
— Vejo você. — Ela me olhou.
— Somente isso? — Passei a mão em seu rosto.
— Você é o mais importante nele.
Eu lhe beijei o rosto.
— Vou mudar a pergunta, o que você imaginava que teria em sua casa
quando era adolescente? — Olhei-a curiosa.
— Uma piscina, um grande quarto de casal com banheiro, uma cozinha
espaçosa, uma sala de jantar, dois quartos de visitas, uma biblioteca e uma
sala com um jogo de sofá confortável para ver televisão com a minha esposa
ou marido. E você? Qual era a sua casa dos sonhos? — Ágatha me encarou.
— Eu tive várias etapas na minha vida, pobre, pobreza extrema, classe
média, classe média alta e, hoje, uma situação financeira mais confortável,
mas nunca desejei ter uma mansão. Desde pequena, eu sempre sonhei com
uma casa onde eu seria feliz e a quantidade de cômodos era indiferente.
— Eu gosto daqui, me sinto próxima da minha mãe, mas sinto que
estamos vivendo apertadas. Sem espaço.
— As casas que me mandou, a compra de qualquer uma delas, vai nos
deixar com pouco dinheiro por um longo período.
— Eu imaginei que não teríamos condições de comprá-las, mas não
custa sonhar, né?
Eu me levantei e abracei-a, ela retribuiu o abraço. Não decidimos nada
naquele momento e eu fiquei com a sensação de impotência tomando conta
de mim. Eu queria dar o mundo a ela, mas não conseguia nem bancar uma
casa maior.
Ágatha tinha me pedido em casamento da forma mais inusitada que
alguém poderia pensar e eu achei tudo muito romântico, apesar de ser um
romantismo bem diferente do convencional. Eu estava travada com a ideia de
como pedi-la em casamento, demorei dias para ter uma ideia e quando tive
achei brega. Como ela mesma disse não éramos convencionais, um ato muito
romântico poderia não ser o adequado.
Quando decidi o que faria, acordei cedo em um domingo, único dia que
Ágatha dormia até mais tarde. Deixei um bilhete no móvel ao lado da cama e
saí. “Me encontre em um lugar onde me sinto tranquila e que faz parte da
nossa história. Não esqueça de usar biquíni para nosso almoço.” Eu
acreditei que ela não acertaria o lugar tão facilmente e que me pediria dicas.
No primeiro andar do Pão de Açúcar, eu sentei em um banco e fiquei
distraída com a vista. Havia levado um livro para ler e me distraí por horas
até minha visão ser tapada por duas mãos. Eu ri e tirando as mãos de meu
rosto, percebi que aquelas não eram as mãos de Ágatha. Levantei assustada
quando vi Katherine.
— Anelise Arantes perdida no Pão de Açúcar? Onde está a baixinha
que você ousa chamar de domme? Andei espionando vocês. Uma relação
interessante para uma mulher que me acusou de ser abusiva.
— O que você quer? Ágatha não é abusiva.
Eu sentia o ar sumindo dos meus pulmões.
— Quero te apresentar, Ana Elisa, minha submissa em treinamento.
Eu só percebi que havia alguém ao seu lado quando ela me apontou a
mulher. Estava em um micro vestido, sua calcinha não tapava tudo o que
devia e os peitos estavam em um enorme decote. Eu me lembrei de quando
ela fazia eu me vestir daquele jeito. A mulher não parecia estar muito
relaxada com aquela situação, todos que passavam a olhavam. Não tinha
percebido, mas eu estava ofegante e respirando descompassado.
— Você é uma hipócrita, Anelise. Me processou por abuso, mas está
em outro relacionamento abusivo.
— Isso não é verdade!
A voz de Ágatha se sobressaiu à multidão e eu consegui respirar
novamente.
— Anelise é livre para fazer e falar o que quiser e eu nunca a
humilharia e espancaria como você fez.
Ela segurou minha mão e chamou um dos seguranças do local. A garota
ao lado de Katherine me olhou amedrontada e eu num ato impulsivo puxei-a
para perto de mim. Ela tinha o mesmo olhar que eu tinha quando saia de casa
acompanhando Katherine. Gestos e gritaria fizeram com que Katherine fosse
afastada de nós. Eu segurei o pulso de Ana.
— Você não precisa voltar com ela, eu posso te ajudar.
Katherine se aproximou e puxou a garota pelo pulso. As duas se
afastaram e o olhar de perdida de Ana permaneceu em mim.
Ágatha me abraçou.
— Demorei muito?
— Sim.
Abracei-a com força.
— Nós precisamos ajudar aquela garota.
— Não podemos fazer nada, se ela não quiser.
Ágatha me fez olhá-la.
— Maitê saberá resolver isso melhor do que eu, ok? Vamos conversar
com ela, fique calma.
Eu sentei no mesmo banco que estava antes e tentei me acalmar.
Ágatha sentou ao meu lado e me confortou em seus braços. Após vários
minutos em silêncio, ela sussurrou que me amava.
— Aqui ainda é o lugar que te deixa tranquila? — sussurrou.
— Sim. Você consegue me deixar tranquila em qualquer situação.
Como se lembrou que era aqui? — Olhei-a, ela me sorriu e vi que estava
carregando uma mochila.
— Aquele dia que viemos aqui foi especial para mim, e acredito que foi
para você também. Eu guardei que você se sentia tranquila aqui, porque foi
exatamente o que senti estando com você aqui.
Abraçou-me. Fiz com que ela me olhasse, aquela revelação era o que
faltava para que eu me sentisse mais confiante no meu pedido de casamento,
mas não estava em condições de fazer naquele momento.
Abracei-a forte e ficamos naquele abraço um longo tempo.
— Katherine acabou com os meus planos.
— Esqueça ela. Continue com seus planos.
— Vamos curtir a praia em Copacabana e ver o pôr-do-sol no
Arpoador. — Ela me beijou sorrindo — E hoje você comerá camarão.
— Você é quem manda hoje. — Ela me piscou e riu.
— Vamos até o segundo andar?
— Sim.
Ela pegou o celular enquanto subíamos e ligou para Maitê. Explicou o
ocorrido rapidamente e logo desligou.
— Obrigada por fazer isso.
— Tenho certeza que você não passaria o dia em paz se não
tentássemos fazer algo pela garota.
— Eu me vi nela, Ágatha. Ela não está feliz, vi todo o seu sofrimento
em estar aqui naquelas vestimentas...
Saímos do bondinho e ela me puxou para um canto mais tranquilo.
— Vamos tentar ajudá-la, prometo que só vamos parar se ela realmente
quiser ficar com Katherine. Mas deixe isso nas mãos da Maitê. Não quero ver
você tendo crises de ansiedade por causa dela.
— Você me salvou hoje, você sempre me salva. — Eu lhe sorri.
— Foi sorte eu ter chegado a tempo. Você estava prestes a ter…
Eu beijei-a com desejo e ela me abraçou.
— Eu odeio essa mulher com todas as minhas forças, se ela voltar a te
fazer mal, eu não me responsabilizo pelas minhas ações.
— Calma. — Fiz com que ela me olhasse — Eu estou bem. Prometo
que isso não vai me afetar. Vamos continuar nosso passeio.
— Não minta para mim sobre seu estado emocional.
— Foi um susto, um encontro lamentável, mas estou bem. Sabendo que
vamos tentar ajudar a garota, estou bem.
Abracei-a. Segurei-lhe a mão e fomos dar uma volta pelo espaço.
Aquela vista sempre me deixava feliz. Estávamos paradas, apoiadas na grade
de proteção olhando a orla carioca e eu me senti completa e tranquila tendo-a
ao meu lado.
— Sempre que venho ao Pão de Açúcar, me lembro da primeira vez
que visitei aqui com meu tio. — Ela me olhou — Ele comprou as entradas,
que eram mais baratas do que é hoje em dia, e me vestiu com a minha melhor
roupa. Um vestido amarelo desbotado que ele tinha comprado em um brechó.
Ele não queria que me olhassem como se eu fosse do morro, favelada, pobre.
Essas foram as palavras dele, mas, naquela época, eu não sabia o que aquelas
palavras significavam. Ele me fez um sermão enorme antes de entrarmos, eu
lembro que ele se abaixou na minha altura e colocou a mão no meu ombro e
pediu que eu me comportasse como uma dama. Eu sei que olhei para ele e
sussurrei: “O que é uma dama, tio?” Ele riu alto e me abraçou. “Apenas se
comporte, ok?” Eu concordei com ele e entramos.
— Quantos anos você tinha? — Ágatha me sorriu.
— Acho que quase seis.
— Você nunca me falou sobre sua família.
— É um tanto quanto complicado falar deles. — Olhei-a — Passei mais
tempo da minha vida sozinha do que com eles, então prefiro não falar do
passado.
— Ok, minha menina, falaremos só quando você quiser.
Eu lhe sorri e lhe beijei os lábios delicadamente.
— Não consigo imaginar você usando vestidos.
— Você quer me ver de vestido?
— Não! Está louca? — Ela me beijou rindo — Amo você de calça
social e camisete, não trocaria esse seu estilo por nenhum outro.
Abracei-a sorrindo.
Como todo centro turístico carioca no verão, a multidão de turistas
estava começando a tomar conta do local, decidi que era hora de descermos,
antes de sermos arrastadas por estrangeiros de todas as nacionalidades.
Ágatha passou a mão pela minha cintura e eu lhe beijei o rosto. Saímos
do Pão de Açúcar direto para Copacabana. Sentamos em uma barraca
aleatória e a praia estava lotada. Pedi uma água de coco gelada e uma porção
de camarão, pois todos os acontecimentos nos atrasaram e já era mais tarde
do que eu previa. Sentamos para esperar o pedido e como ela era prevenida
tinha levado na mochila um short mais confortável do que a roupa que eu
estava.
Passamos um dia agradável entre conversas amenas e beijos calorosos.
No fim do dia, eu sugeri de irmos até a Pedra do Arpoador, me sentei no
meio de suas pernas, assim como nós fizemos a primeira vez que fomos lá.
Minhas mãos pousavam em suas pernas e ela me beijava a nuca e o pescoço.
Vi a minha aliança e vi seu dedo vazio, me virei de frente para ela, peguei a
aliança no bolso da minha calça dentro da mochila e segurei sua mão.
— Quer se casar comigo?
— Quero! — Ela me sorriu — É lógico que quero, minha menina. Por
que demorou tanto para pedir? — Ela riu.
— Depois de tudo o que aconteceu hoje, pensei em deixar para outro
dia, mas vendo o meu dedo com aliança e o seu sem, achei que não dava mais
para esperar.
— Hoje foi um dia com muitas provocações, não é?
— Sim, mas nada me fez te querer menos. Você está sendo perfeita
todo dia.
— Você também, minha menina. — Ela me beijou — O que acha de
marcarmos o casamento para daqui seis meses?
— Perfeito! — eu ri e beijei-a.
Ela me beijou e naquela noite nos amamos sem limites.
Capítulo 2
Depois de ver Katherine, comecei a ter inúmeros pesadelos horríveis.
Em todos eles eu estava em um hospital e Maitê insistia em dizer que eu
estava vivendo uma ilusão com Ágatha. Que o que eu estava vivendo era
invenção da minha cabeça. As reações e sensações em cada pesadelo eram
tão reais que eu passei a ter certa dificuldade em acordar sem me sentir em
uma realidade paralela, eu acordava perdida e assustada. Todos os
sentimentos ruins de quando estava presa começaram a aflorar novamente e
eu me afastei de Ágatha exponencialmente. Ela sugeriu que eu procurasse
minha antiga psicóloga, mas eu não dei ouvidos a ela, ignorei seu conselho.
Cada vez que eu olhava para ela eu me questionava sobre a veracidade de
nosso relacionamento. Eu não acredito que os sonhos eram reais, mas eu me
questionava se nossa felicidade era real, se estávamos mesmo sendo felizes
daquela maneira. Liguei para Maitê, precisava conversar com alguém, esses
sentimentos estavam me deixando perplexa e me afastando cada vez mais de
Ágatha.
— Bebê! Quanto tempo! — ela riu.
— Me ajuda?
— Sempre! Estou na rua, quer que eu passe aí?
— Sim.
Desligamos e depois de alguns minutos a campainha tocou. Ela entrou
e eu fiz um café para conversarmos na cozinha.
— Eu consegui descobrir várias coisas sobre o relacionamento da
Katherine com a tal Ana Elisa.
— O que descobriu?
— Que Ana morava no Morro do Vidigal e tem uma filha.
— A menina mora junto com elas? — perguntei assustada.
— Não! A filha está morando com a mãe da Ana no Vidigal. Eu
consegui contato com a mãe dela, mas ela não disse nada que nos ajudasse a
entender a situação. Aconselho você a se afastar dessa confusão.
— Eu não posso abandonar aquela mulher nas mãos da Katherine.
— E eu não posso me envolver mais do que já me envolvi.
— Tente ao menos descobrir onde Katherine está morando.
— Isso eu sei, mas nunca vou te contar. Você faria uma besteira se
soubesse.
— Como não vai me contar? Eu preciso…
— Você precisa ter juízo bebê. Pare de tentar ser a boa samaritana.
— Essa garota está sofrendo.
— E você não deveria querer confrontar a Katherine. Por favor, bebê!
Pensa direito nisso. Você confrontá-la é exatamente o que ela quer. Katherine
quer um motivo para te assediar, te perseguir, te azucrinar e pirar sua cabeça
de novo.
— Então você vai tentar contactar a garota, se ela afirmar que está bem,
eu paro de me preocupar.
— Anelise, você perdeu o juízo?
— Katherine vai acabar com a vida dessa garota, assim como acabou
com a minha.
— Essa garota nunca vai admitir que está sofrendo. Você demorou para
admitir isso. Katherine deve estar prometendo proteção para a mãe e para a
filha.
— Tente, por favor. Você não pode ignorar o que Katherine é capaz de
fazer, por favor.
— Você é muito cabeça-dura mesmo. Vou tentar, mas vai ser apenas
uma vez.
— Obrigada! E por falar em cabeça-dura…
Contei a ela sobre os pesadelos e como eu estava me sentindo
atualmente em relação ao meu envolvimento com Ágatha. Ela começou a rir
e não conseguia parar. Quando se acalmou da crise de risada, me olhou séria.
— Você está com medo de ser feliz, bebê, apenas isso.
— Minha felicidade é real mesmo?
— Pare de bobeira. Pare de procurar problemas onde não existe. Eu não
vou deixar um pesadelo fazer você ter medo de viver.
— Você acha que é só medo?
— Ane, se eu não te conhecesse, diria que era melhor você procurar a
Sônia para fazer algumas sessões no consultório de psicologia dela, mas eu te
conheço. E sei do medo que você tem de ser feliz. Sei o quanto você se nega
a ser feliz com medo do futuro e presa no passado. Ágatha é sensível,
carinhosa, amorosa e totalmente apaixonada por você. Pare de ter medo.
— Eu já me entreguei a ela.
— Então entregue-se ao seu futuro com ela, pois é isso que você está
querendo sabotar. Vocês estão noivas, vão ser o casal baunilha mais BDSM
que conheço.
— Eu…
— Você tem que acreditar em mim, pare de querer se sabotar.
Eu sorri.
— Não sei como você chegou a cogitar a possibilidade de estar vivendo
uma ilusão.
— Meus dias estão sendo perfeitos ao lado da Ágatha. Eu não estou
acostumada a dias perfeitos. Menos ainda a relacionamentos perfeitos.
— Acostume-se. — Ela riu, olhou as horas e se levantou — Eu preciso
ir.
— E você e a Carla?
— Em breve você receberá o convite da cerimônia de encoleiramento.
— E pensar que você já teve uma cerimônia de casamento… — eu ri.
— Você me salvou de um casamento falido com a Cíntia.
— Eu? — Eu ri — Se eu não tivesse sido presa, você ainda estaria com
ela e nós duas ainda estaríamos fazendo cenas para sabotar nossos
relacionamentos.
— Eu sinto falta das nossas cenas. — Ela se aproximou de mim.
— Não fale isso, Mazinha.
Ela me puxou para um abraço.
— É a pura verdade.
Deitei minha cabeça em seu ombro.
— Você tem a Carla…
— Sim.
— Você também precisa parar de achar maneiras de se sabotar. —
Olhei-a.
— Sim. — Ela riu — Cíntia me ligou, soube da Carla através de um
amigo em comum e me disse coisas absurdas. — Disse chateada.
— Absurdo foi ela deixar você escapar com medo de se entregar a
novos prazeres. — Passei a mão em seu rosto.
— Ela disse que sou doente mental por gostar…
Coloquei o dedo em sua boca para silenciá-la.
— Você me ensinou que não há nada de errado em ouvir as
necessidades de prazer do nosso corpo. Não dê ouvidos a ela. — Abracei-a
— Não dê ouvidos a ela.
— Obrigada, bebê!
— Você está realmente feliz com a Carla, né? Você não está usando a
submissão dela para preencher problemas não resolvidos entre você e a Cíntia
ou entre mim e você, está?
— Eu estou feliz com a Carla, eu nunca iria propor uma cerimônia de
encoleiramento sem estar cem por cento certa sobre o que sinto. Cíntia é
passado e meu relacionamento com ela foi um tremendo engano da minha
parte.
— E eu?
— Você sempre vai ser meu bebê. E eu já disse que sempre terei
espaço para você. E eu contei tudo sobre nós para a Carla, estou entrando
nesse relacionamento sem amarras com o passado.
Eu sorri e abracei-a.
— Ainda quero abrir o clube de BDSM, se você não for minha sócia,
vou abrir sozinha.
— Eu estou montando o plano de negócios, me dê mais uma semana.
— Ok, bebê.
Ela se despediu com um selinho em meus lábios, segurei seu braço e
puxei-a para um abraço.
— Eu estou muito feliz por você e pela Carla. — Eu a abracei apertado
e ela retribuiu — Sobre aquele assunto que não devíamos conversar…
Ela se afastou.
— Ainda é um assunto proibido. Carla está me fazendo bem, é o que
importa. Eu realmente estou feliz e ela está fazendo com que eu me apaixone
por ela cada dia mais.
Eu sorri e ela se afastou me desejando um bom dia.
Se eu quisesse chegar na hora certa para almoçar com Ágatha precisava
sair naquele instante de casa. Chamei um táxi e desci para esperá-lo, meu
celular começou a tocar, era Bento.
— Vai ter um campeonato de boxe de areia amador no mês que vem,
posso te inscrever?
— Mas eu não estou preparada para uma luta.
— Está sim. E vamos treinar para você ficar melhor ainda.
Ele me explicou mais sobre o campeonato e o treino que ele queria me
passar, acabei aceitando competir. Entrei no táxi e parei em uma floricultura
antes de ir para o restaurante. Comprei um buquê de tulipas e rosas brancas.
Da porta do restaurante, a vi conversando com duas funcionárias, sorri
ao vê-la gesticulando e, possivelmente, dando ordem às duas. Desde o
primeiro pesadelo, estávamos afastadas e eu não podia deixar que isso
continuasse. As duas funcionárias saíram de perto dela e quando Ágatha me
olhou enquanto me aproximava com o buquê em mãos ela ficou estática.
Depois do nosso reconciliamento, percebi que essa reação dela condizia ao
fato de eu estar surpreendendo-a positivamente. Com essa mesma reação
percebi o quanto ela fica excitada quando me comporto de forma submissa
perto dela e isso eu usava muito bem ao meu favor.
Fiz um gesto apontando seu escritório e ela falou que já estaria indo.
Passei pela cozinha para pegar uma jarra com água e entrei em seu escritório,
como sempre, estava em perfeito estado de organização. Às vezes, me
perguntava se ela sempre foi organizada ou se aprendeu comigo. Liguei o ar-
condicionado em uma temperatura agradável. Esperei-a por alguns minutos e
logo ela entrou e trancou a porta.
— Comprei flores para me desculpar pelo modo que venho me
comportando.
Ela olhou o buquê e me sorriu.
— Não precisava se preocupar. São lindas. — Ela me beijou a boca
suavemente.
Segurei seu rosto entre as minhas mãos e beijei-a com desejo.
— Desculpe-me pelas últimas semanas, não quis te deixar preocupada.
— Está tudo bem, Ane. Que bom que está melhor. — Ela me deu um
selinho e eu me ajoelhei na sua frente.
— Como posso me redimir por estas últimas semanas?
Ela me fez olhá-la e sorriu.
— Minha menina, estou sem tempo para fazer o que quero. Levante-se.
Obedeci e ela me puxou para um abraço apertado. Eu aceitei o abraço
beijando-lhe o pescoço.
— Você esteve com Maitê?
— Sim, como sabe? — Olhei-a.
— O perfume dela é inconfundível.
Ela me sorriu e eu percebi que Ágatha estava lutando contra a
enxaqueca novamente.
— Como está a organização do noivado da filha do prefeito?
— Em andamento. — Ela sentou na cadeira.
— Você está com enxaqueca? — Ajoelhei na sua frente.
— Sim.
— Eu posso ajudar em alguma coisa? Não seria melhor você ir para
casa?
Ela encostou a testa na minha e permaneceu assim por um tempo.
— Fica comigo aqui, ainda tenho muito o que fazer antes de ir embora.
— Ela disse sussurrando.
— Fico, me diga como posso te ajudar.
— Vamos almoçar, talvez seja apenas fome.
Eu fui até a cozinha e pedi para Hortência preparar algo leve e
substancioso e avisei que Ágatha estava com enxaqueca. Voltei para a sala e
quando entrei, Ágatha estava ao telefone brigando com algum fornecedor.
Desligou o telefone e me olhou cansada. Apaguei a luz, sentei na sua cadeira
e puxei-a para se sentar comigo, aconcheguei-a em meus braços e liguei uma
música suave. Acariciei seus cabelos e seu corpo relaxou em meus braços.
Após vinte minutos, Hortência bateu na porta e entrou. Colocou a bandeja
com dois pratos na mesa e vi que havia feito um chá e tinha uma toalha
molhada e uma garrafa térmica.
— Fiz um chá de camomila com laranja, pode ajudar um pouco. E
trouxe uma compressa de alfazema. Na garrafa tem mais mistura quente para
quando a toalha esfriar.
Eu lhe sorri e Ágatha agradeceu-a. Hortência saiu da sala e eu peguei a
toalha para colocar na sua testa.
— Quantos comprimidos você já tomou hoje?
— Quatro.
Servi-lhe o chá e ela comeu um pouco, tomou outro gole de chá.
— Isso é por causa do evento?
— Provavelmente.
— Você precisa controlar sua ansiedade.
— Hoje o dia nasceu para tudo dar errado.
Ela começou a me contar todos os problemas que precisou enfrentar
desde a hora que chegou no restaurante e eu me senti um pouco culpada por
ela estar naquele estado. Terminou de almoçar ainda relatando problemas
com o evento. Nas últimas semanas, ela tinha voltado a trabalhar mais horas
do que antes no restaurante e eu negligenciei essas alterações em seus
horários. Eu comia enquanto ouvia suas queixas. Voltei a aconchegá-la em
meus braços e coloquei a compressa em sua testa.
— Eu vou começar a te ajudar mais no restaurante.
— Mas e seus jogos? Não quero que o restaurante se torne um fardo na
sua vida.
— O restaurante é um fardo para você?
— Não! Eu só estou sobrecarregada com este noivado e com os
orçamentos para os outros eventos.
— Vamos encontrar uma gerente para o restaurante. Enquanto isso,
deixa que eu lido com os fornecedores.
Ela me olhou e me beijou com desejo, apertei seu corpo contra o meu.
— Saudade de você me torturando. — Beijei-a com desejo.
— Desculpe negligenciar nosso relacionamento desse jeito.
— Eu também tive culpa pelo nosso afastamento.
Virei-a de frente para mim, apertei suas coxas puxando seu corpo para
mais perto do meu. Nossas bocas se encontravam lascivamente e ela arrancou
o meu primeiro gemido apertando meus seios. Eu sorri e ela abriu o primeiro
botão da minha blusa. Apertei sua bunda e ela me sorriu.
— Você é o melhor remédio para minha enxaqueca. — Beijou-me com
desejo.
Eu sorri e fiz ela me olhar.
— Eu não quero esperar seis meses para oficializar nosso casamento,
mesmo porque seria uma festa pequena e poucos convidados. Não temos
tantos amigos assim. — ela riu e me beijou.
— Você já planejou nossa lua-de-mel? — Ágatha me perguntou.
— Não tudo, mas já sei para onde quero te levar.
— Vamos marcar o casamento civil no cartório, um dia antes da nossa
viagem. Podemos servir um jantar aqui no restaurante e fazer uma lua-de-mel
adequada.
— Acho melhor assim, para que esperar se já estamos morando juntas.
Tenho outro assunto importante além do casamento para conversarmos.
— Diga.
— Bento me convidou para lutar em um campeonato amador.
— Eu sei. Fui eu quem incentivei ele a te chamar.
— Mas você mesma disse que não queria me ver lutando e ficando com
hematomas no rosto.
— Você gosta de lutar, não gosta?
— Sim, gosto. Sinto falta da adrenalina dos campeonatos.
— Eu ouvi o anúncio do campeonato no rádio e busquei informações a
respeito e mandei para o Bento. Quando conversei com ele, eu já tinha até
feito sua ficha de inscrição.
— Mas por que fez isso?
— Ane, eu vejo sua dedicação nos treinos. Eu vejo que você não está
apenas buscando uma atividade física no boxe, você está buscando
resultados. O Bento sofre na sua mão, você exige dele treinos melhores e
mais intensos a cada semana. Muito diferente do que eu estou fazendo nos
meus treinos de Muay thai. É injusto você não lutar porque eu não quero ver
seu rostinho lindo cheio de hematomas.
Eu ri da sua convicção e puxei-a para um beijo.
— Obrigada! Nunca imaginei uma atitude dessas vindo de você.
— Eu quero sua felicidade e quero te apoiar em tudo o que você quiser
fazer. Eu recebo tanto apoio da sua parte que eu não sei se estou te dando
esse apoio de volta.
— Está se saindo bem. — Eu ri.
— É sério, Ane. Eu quero te apoiar em tudo.
— Até no clube de BDSM?
— Sim. Maitê me ligou ontem, conversamos sobre a vontade que ela
tem de reabrir o clube. Acho justo você ser sócia dela e eu ajudar a estruturar
a cozinha.
— E seu medo de que o clube possa atrapalhar nosso relacionamento?
— Eu ainda tenho esse medo, mas eu acredito que vamos lutar sempre
para que tudo dê certo, não vamos?
— Sim, eu não quero te perder. Essas semanas que ficamos afastadas
me deixaram perdida, não quero mais isso.
— Não teremos. Eu vou me policiar mais também, esse evento me fez
voltar a trabalhar como louca.
— Você e Maitê estão muito íntimas. — Eu ri.
— Ela me ligou para reservar uma mesa e um assunto levou ao outro.
— Ela se aconchegou em meus braços — Você quer abrir o clube por você
ou pela amizade que tem com a Maitê?
— Quando eu estava com Samantha, ajudei ela com algumas coisas no
clube, mas depois nos separamos e eu não dei mais palpites no
estabelecimento. Acho que estou fazendo por mim e pela amizade com
Maitê, ela me ajudou muito e eu gostaria de ver mais pessoas com a vida
sexual bem resolvida.
— Então vamos fazer esse clube dar certo. — Ela riu e eu lhe beijei a
testa.
— Obrigada!
Ficamos em silêncio por alguns minutos.
— Eu quero morar no seu abraço.
Ela me olhou sonolenta e eu ri lhe beijando a boca.
— Isso é fácil.
Ela deitou a cabeça em meu ombro e eu fiz cafuné até perceber que o
sono tinha invadido seu corpo. Ágatha adormeceu por quinze minutos e
acordou mais disposta, enquanto dormia lhe fiz mais compressa de alfazema.
Beijou meu pescoço e se levantou das minhas pernas me puxando para
levantar também.
— Temos muito o que fazer.
Ela abriu uma gaveta, pegou várias páginas com listas diversas e me
entregou.
— Estes são meus fornecedores, e estes — Abriu uma tela no
computador — são os orçamentos que preciso fazer.
— E o noivado? Como posso ajudar?
— Não se preocupe, se fizer estes orçamentos, já vai me aliviar muito.
Concordei com o que me pediu e ela me beijou com desejo. Saiu da
sala levando a bandeja com os pratos e xícaras para a cozinha. Imediatamente
comecei a fazer as ligações e preencher os requisitos dos orçamentos. Eram
duas festas de noivado e um aniversário de cinquenta anos, os três eventos
eram para atrizes famosas. Senti orgulho do trabalho que Ágatha vinha
desenvolvendo. Tentei obter dos fornecedores listas de preços de todos os
itens que eles trabalhavam e organizei uma planilha com as informações em
um único lugar. Depois de passar a tarde toda entre telefonemas e planilhas,
saí do escritório com tudo orçado. Ágatha estava no balcão, anotando alguma
coisa em um papel quando a surpreendi com um abraço por trás. Beijei-lhe o
pescoço e abracei-a com força.
— É tão bom quando você está por perto. — Ela se virou de frente para
mim.
— Estarei por perto mais vezes. — Beijei-lhe suavemente.
Enquanto lhe explicava sobre os orçamentos, Maitê entrou no
restaurante me chamando a atenção para ela.
— Meu casal favorito! — ela disse se aproximando e eu acabei rindo
dela.
Ela parou na frente do balcão e nós aproximamos nossos rostos do dela.
Beijamos suas bochechas ao mesmo tempo.
— Preciso de um favor dos meus bebês.
Ágatha apenas lhe sorriu, talvez prevendo o que viria pela frente.
— Estou prestes a fechar um contrato importante, uma empresa dirigida
pelo governo federal. Porém nosso contrato é secreto e o diretor da empresa é
descendente de italianos. O jantar para assinar os contratos será no meu
escritório, mas eu não confio em nenhum chef de cozinha para estar presente
servindo a equipe.
— Quando é o jantar? — eu perguntei.
Ela olhou o relógio.
— Daqui três horas.
— Maitê… — Ágatha olhou-a brava.
— Eles me confirmaram a reunião agora de pouco.
— Eu…
— Ágatha, por favor. São apenas seis pessoas. Quem for servir vai ter
que assinar um termo de confidencialidade. O caso que vou representar é
muito sério, pode ser crucial para minha carreira. — Maitê estava com
expressão de desespero.
— Eu cuido do restaurante, você e a Hortência vão até o escritório da
Maitê para servir o jantar.
— Não! Se descobrirem que coloquei uma ex-detenta na reunião, estou
ferrada. — Maitê disse aflita.
— Eu também não poderia estar lá, então — eu disse.
— Você foi absolvida, bebê.
— Calma! — disse Ágatha depois de pensar — Hortência me ajuda a
preparar tudo aqui, levamos tudo pronto, apenas para aquecer. E levo a Paula
para me ajudar e você cuida das coisas aqui.
— Vocês duas são perfeitas! Sabia que podia contar com vocês.
— Se vai me substituir, preciso te mostrar algumas coisas. — Ela me
sussurrou.
Maitê nos sorriu e se despediu.
Andamos lado a lado até a cozinha e depois de me mostrar alguns
problemas que podiam acontecer, fui para seu escritório e ela ficou na
cozinha.
Após duas horas, Hortência e Ágatha estavam com tudo pronto e
estavam carregando o carro para ela e Paula irem até o escritório de Maitê.
Ela veio até mim e eu puxei-a para um abraço.
— Boa sorte no jantar.
— Qualquer coisa me liga.
Ela me deu um selinho e saiu do restaurante. Percebi que ela estava
novamente lutando contra a enxaqueca.
Passei o resto da noite agoniada e só me acalmei quando Ágatha me
mandou uma mensagem dizendo que tudo havia corrido bem. Estava próximo
da hora de fechar e as mesas começaram a se esvaziar. Iriamos nos encontrar
no escritório de Maitê para comemorar a assinatura do contrato. Quando
entrei, Ágatha e Maitê estavam sentadas no sofá da recepção, tomando uma
dose de uísque.
— Bebê, sua mulher é uma santa! Vocês salvaram minha pele. —
Maitê me serviu uma dose de uísque.
Sentei entre as duas.
— Como está sua cabeça? — passei a mão no rosto de Ágatha.
— Péssima.
— Achei que Carla estaria conosco. — Olhei Maitê.
— Ela está arredia esses dias.
— Hoje cedo você disse que estavam bem.
— Estamos bem, mas ela tem alguns momentos dominadores e isso me
irrita profundamente.
Puxei Ágatha para se aconchegar em meus braços, sua dor era evidente.
— Vocês precisam ver essas enxaquecas, isso não parece ser normal.
— Nós já fomos a um médico. — Ágatha disse baixo e com os olhos
fechados.
— Precisam ir em outros.
— Iremos. — Eu disse.
— E nosso clube?
Percebi Ágatha sorrindo com a pergunta.
— Já tenho mil ideias. — Ágatha tentou abrir os olhos, mas voltou a
fechá-los.
— Nós vamos nos casar no civil em algumas semanas e vamos viajar
alguns dias. O que acha de reabri-lo após nossa volta? — eu disse.
— Ótimo. — Maitê sorriu — No fim de semana conversamos melhor?
Espero vocês em Saquarema.
Conversamos mais alguns minutos e nos despedimos, Ágatha
adormeceu no caminho para casa e eu voltei a me preocupar com suas dores
de cabeça. Não eram constantes, mas estavam cada vez mais forte.
Capítulo 3
Eu nunca senti prazer em ser submissa da Katherine, minha submissão
foi totalmente imposta e eu me sentia humilhada em todas as vezes que eu
precisava ser submissa. Maitê mudou essa visão em mim. Ela me ensinou que
ser submissa é ter o poder sobre a relação, se não têm, é porque você não está
tendo uma boa dominadora. Com Maitê eu aprendi que falar “Não” é
permitido e com Ágatha descobri que um “Não” tem muito mais poder do
que uma safeword no meio de uma cena. Falar um “Não” a uma dominadora
é mostrar que algo está errado, que ela pode estar passando dos seus limites
de obediência ou forçando você a agir contra sua natureza e seus princípios.
Hoje, para mim, qualquer ato submisso que eu tenho é prazeroso e
voluntário. Aprendi muitas coisas que Ágatha gosta e me beneficio com isso.
A felicidade dela é importante para mim e sei que a minha também é
importante para ela. Muitas cenas que Ágatha imagina para nós é pensando
no prazer de ambas e, muitas vezes, ela pensa muito mais no meu prazer do
que no dela.
Eu passei a me dedicar ao restaurante junto com ela e isso me fez ficar
mais fascinada pelo jeito que ela estava conduzindo os negócios. Depois que
organizei as finanças, ela não bagunçou mais nada, alimentava o programa
com todas as informações necessárias e não hesitava em dar ordens às
funcionárias. O jantar de noivado da filha do prefeito foi um sucesso e ela
relatou que a minha ajuda estava sendo crucial para ela não surtar e não ter
outra crise de enxaqueca.
No sábado pela manhã, deixei Ágatha dormindo e separei nossas
roupas sem fazer barulho, tínhamos ido dormir quase cinco da manhã por
conta da festa. Maitê tinha nos convidado para ir passar o fim de semana em
Saquarema. Levei as roupas e as malas para a sala, preparei um suco e
panquecas para quando ela acordasse. Estou virando especialista em cafés da
manhã. Ágatha ainda demorou para acordar e eu esperei-a tentando
programar meus jogos.
Estava absorta com o que estava desenvolvendo que assustei quando
fui abraçada por trás e beijada no pescoço. Ágatha riu do meu susto e sentou
nas minhas pernas de frente para mim. Beijou-me com volúpia e me fez olhá-
la.
— Preparei panquecas e as malas estão prontas.
— Você se alimentou direito?
— Sim.
Ela levantou e me puxou até a cozinha, servi as panquecas e o café e
em menos de quarenta minutos estávamos na estrada. Conversamos sobre a
festa da noite anterior e sobre minha falta de criatividade para um novo jogo.
Quando chegamos, fomos recepcionadas por Maitê apenas de biquíni,
estava linda.
— Quero chegar na sua idade enxuta assim. — comentou Ágatha.
Ela riu alto e nos cumprimentou com um beijo no rosto.
— Cadê a Carla? — eu perguntei empolgada.
— Vai chegar só no fim do dia.
— Que pena.
— Vem direto de Miami, espero que o voo não atrase novamente.
Aproveitamos o calor e trocamos de roupa ficando apenas de biquíni
também. Enquanto eu entrei no mar, vi Ágatha e Maitê conversando
animadamente. Fico grata quando vejo as duas se dando bem. Sempre que eu
me encontro com Carla, tenho conversas extremamente agradáveis com ela,
muitas vezes não conversamos entre um encontro e outro devido à vida
corrida que ela leva. Carla também é advogada e tem quatro escritórios com
seu sobrenome. Herança dos pais. Um em São Paulo, um no Rio de Janeiro,
um em Miami e outro em Salvador e ela se divide entre as quatro cidades
com escalas de voos bem apertadas. A última vez que a vi, foi no aniversário
de Maitê e recentemente ela havia me mandado uma mensagem perguntando
algumas coisas sobre invasão de computadores.
No fim da tarde, eu estava sentada em uma canga, Ágatha e Maitê
sentadas em cadeiras de praia e eu vi Carla se aproximando de nós. Ela fez
sinal para eu ficar quieta e se aproximou de Maitê tapando-lhe os olhos. Eu
sorri com a cena, pois vi um sorriso genuíno no rosto da minha melhor
amiga, um sorriso que eu não via há muito tempo. Carla se aconchegou nas
pernas de Maitê.
— Como foi a viagem, cookie?
— Péssima, estou podre, queen.
Eu ri do apelido que haviam se dado. Carla apenas me olhou sem força
para brigar e Maitê me olhou revirando os olhos.
— O que? Não posso rir de vocês? São apelidos engraçados.
As duas riram comigo e vi que Ágatha estava com pensamentos
distantes. As duas cochicharam alguma coisa e logo saíram correndo para o
mar, Carla entrou na água com roupa e tudo.
— Ágatha, você está bem?
— Sim.
— Tem certeza?
Ela se sentou na canga junto comigo e encostou seu corpo em mim,
abracei-a e ela começou a chorar. Ficamos um pouco em silêncio e ela me
olhou.
— Quando viemos para cá, no aniversário da Maitê, antes de sairmos
de casa você disse: “Você me completa, porque tem dia que mesmo eu não
sabendo o que eu quero, você me dá a resposta de forma simples e objetiva.”
Naquele dia eu fiquei confusa com essa afirmação. Mas depois que você
começou a trabalhar mais tempo no restaurante comigo, eu entendi
perfeitamente esta frase.
— E por que está triste?
— Não é tristeza é medo.
— Medo?
— Sim. De você constatar que não quer ficar. Que não está sendo bom
ficar. Naquele dia você também disse: “Você me completa com o que me
falta.”
— Depois de tudo o que passamos você ainda acha que você não me
completa? De onde veio toda essa insegurança?
— Eu… eu não sei. Você é meu primeiro relacionamento sério, eu
nunca senti por alguém o que sinto por você… Eu não sei se estou fazendo as
coisas da forma correta.
Eu ri e beijei seu rosto.
— Eu não sei o que faz você pensar que existem formas certa de fazer
as coisas.
— Eu não quero te perder.
— Você não vai. Eu estou muito apaixonada para te largar. Eu estou
feliz e completa com você. Nunca aceitaria me casar se não estivesse
comprometida por completa. Você é a única pessoa no mundo que me
transmite paz apenas com um olhar.
Ela me abraçou.
Ficamos sentadas abraçadas por um longo tempo e naquele fim de tarde
percebi o quanto eu estava feliz.
— Maitê nos ofereceu a masmorra novamente.
Ela me sorriu.
Maitê e Carla se aproximaram e sentaram-se em uma toalha na nossa
frente. Conversamos mais detalhes sobre algumas pendências no plano de
negócios do clube, Carla estava encostada no corpo de Maitê e Ágatha no
meu. Sorri ao pensar nelas como minha nova família.
Capítulo 4
Depois de decidir que iria participar do campeonato de boxe de areia,
eu e Bento começamos a treinar mais intensamente e Ágatha mandou ampliar
o tatame que tínhamos no apartamento, ficamos quase sem espaço para o sofá
e a televisão. Meus gostos estavam começando a tomar conta do apartamento.
O treino dela era de apenas uma hora, o meu, estava beirando três horas. No
meio de um dos treinos, Bento estava na cozinha bebendo água e eu estava
deitada no tatame, exausta olhando o teto, quando escutei Ágatha saindo do
quarto. Olhei em direção ao barulho e vi suas pernas se aproximando. Parou
ao meu lado e eu olhei-a de baixo para cima, estava de saia e vi sua calcinha
roxa. Ela me olhou e eu apenas sorri. Eu ainda estava vestindo as luvas e
estava com a camisa toda suada. Bento se aproximou de nós e me olhou
rindo.
— Não vai matá-la antes da luta. — Ágatha olhou Bento.
— Morri, mas passo bem! — Eu disse rindo.
— Acho que ela sobreviverá. — Ele riu.
— E esse olho roxo?
Eu apenas ri da cara feia que ela fez. Ela se ajoelhou do meu lado e
esticou os braços me deixando no meio do seu corpo. Eu ainda estava deitada
e ela me sussurrou: “Se o Bento não estivesse aqui, você estaria perdida nas
minhas mãos.” Ela me beijou com desejo e me olhou com intensidade.
“Gostei da calcinha roxa.” Eu sussurrei e ela me sorriu apertando minha
cintura. Levantou-se e despediu-se de nós. Percebi que o olhar de Bento a
perseguiu até a porta. Levantei do chão e ele me olhou meio confuso.
— Que cara é essa, Bento?
— Eu não sei o porquê ela não investe mais nos treinos dela, tinha tudo
para ser uma boa lutadora.
— O lance dela é o futevôlei, estou surpresa que ela ainda esteja
fazendo as aulas. — Eu disse arrumando o velcro da luva.
— Ela tem um chute forte e certeiro…
— Vamos parar de falar e treinar?
Ele riu alto.
— Calma, Ane, prefiro mil vezes a minha mulher, fique tranquila.
Eu tive que rir do que ele disse.
— Você precisa ficar tranquila mesmo, com o tanto de foto sua que
Ágatha tem pela casa, você não deveria ter ciúme.
Eu olhei a parede onde haviam dois quadros e concordei com ele. Em
um quadro, eu estou de ponta cabeça agarrada pelas pernas no saco de
pancadas, fazendo abdominal e no outro estou com um top e um calção
socando o saco. Ambas as fotos foram reveladas em preto e branco.
Retomamos o treino e quando terminamos, eu estava com os braços
tremendo. Ele se despediu e eu tirei a blusa que estava extremamente
molhada. Fui direto para o banho. O dia estava extremamente quente, mas o
jato de água gelada me fez lembrar dos banhos na prisão e eu me arrepiei
inteira quando me lembrei que já vivi dias pensando que Ágatha estava
morta. Respirei aliviada sabendo que ela estava bem.
Após o banho, vesti um conjunto de lingerie que Ágatha gostava e
mandei uma foto para ela. “Melhor assim? Sem suor e cheirosa?” Ela me
respondeu com um emoticon de coração e logo em seguida uma mensagem:
“Linda de qualquer jeito.” Mandei um emoticon piscando.
Precisava passar no cartório e resolver a data do casamento para
finalizar o planejamento da nossa lua-de-mel.
Marquei a data e fui almoçar com Ágatha. Ao adentrar no restaurante
escutei um alvoroço na cozinha, andei apressada até o local e quando entrei vi
Ágatha rodeada por várias pessoas e nesse momento constatei que a equipe
do restaurante era cem por cento feminina. Ela estava encostada na pia
tomando uma xícara de chá, talvez, não sei ao certo. O burburinho cessou e
ela me olhou de forma travessa e com um sorriso no rosto. Hortênsia também
me olhou, e eu era o assunto, pois Paula também me olhou.
— Os três eventos que você fez orçamento fechou conosco. Teremos
atrizes e atores famosos circulando pelo restaurante. — Ela se aproximou e
me deu um selinho.
— O mérito é todo seu. — Sorri passando a mão em seu rosto.
Ela sorriu e me beijou novamente. Com o convívio quase diário no
restaurante, via como Ágatha tratava todas as funcionárias da mesma forma e
isso também me ajudou a vê-la como uma líder nata. A repercussão do
noivado da filha do prefeito, estava nos trazendo bons frutos, além destas
festas com contrato praticamente pronto, tínhamos mais quatro orçamentos
para fazer e uma gerente estava se tornando algo muito crucial para Ágatha
não se sobrecarregar.
Ainda estávamos na cozinha quando meu celular tocou, era um número
desconhecido e eu não atendi. Em seguida recebi uma mensagem: “Você
quer guerra, Anelise?” Mostrei meu celular a ela e fomos para o nosso
escritório.
— Por que ela te mandaria essa mensagem?
— Eu pedi para Maitê investigar mais sobre a relação da Katherine
com a Ana. Ela deve ter descoberto.
— Mas o que Maitê descobriu?
— Algumas coisas básicas, de onde a garota é, que tem uma filha e
uma mãe que moram na favela… Eu também pedi para Maitê entrar em
contato com a Ana, tentar tirar ela das mãos da Katherine.
— Você sabia que estava mexendo com uma onça, aguente as
consequências.
— Eu sabia, mas não podia ficar quieta.
Meu celular começou a tocar, era Maitê.
— Ane, eu consegui contato com a Ana Elisa. A mãe dela e a filha
estão escondidas em um hotel perto do meu escritório.
— E ela?
— Está no hospital.
— Katherine me mandou uma mensagem, perguntou se eu quero
guerra.
— Não responda. Eu vou até o hospital tentar ver a garota.
— O que houve?
— Eu ainda não sei, ligo assim que descobrir.
Desligou e eu olhei agoniada para Ágatha.
— Ela mandou a garota para o hospital.
Eu estava angustiada com aquela notícia e Ágatha parecia estar tão
chocada quanto eu.
— Vamos esperar as notícias, não podemos ficar assim sem saber o que
houve. Temos que nos manter calmas. — Ágatha disse.
Eu concordei e conversamos sobre os novos orçamentos e a contratação
de uma gerente, mas mesmo assim minha mente ficava focada no fato de Ana
Elisa estar no hospital. O dia passou lentamente até termos uma notícia de
Maitê, o que aconteceu somente no fim da tarde. Maitê veio pessoalmente
conversar conosco. Estávamos no escritório quando Carla ligou para ela,
como era especialista em casos de direitos humanos e internacionais, Maitê
pediu sua ajuda. Atendeu no viva-voz.
— Queen, você descobriu o que houve com a Caroline?
— Quem é Caroline? — eu me assustei.
— Katherine mudou o nome da Caroline para Ana Elisa, não
oficialmente, mas o nome verdadeiro dela é Caroline. — Carla respondeu —
A garota mudou o nome em todas as redes sociais e estava com um processo
aberto para mudar na certidão de nascimento.
— Ela está em coma induzido e a polícia está atrás da Katherine. —
disse Maitê.
— Vocês três precisam tomar cuidado. — disse Carla — Preciso entrar
em uma reunião, falo com você mais tarde, Queen.
— Boa reunião, Cookie.
Desligou o celular e eu ri dos apelidos, Maitê me olhou revirando os
olhos por eu sempre achar engraçado os apelidos que ela dava às pessoas.
— Bebê, o caso é mais sério do que imaginamos. A mãe da Caroline
nos disse que não vê a filha desde o dia que Katherine a tirou de casa, ou seja,
mais de seis meses. Já podemos alegar cárcere privado, pois a mãe tentou de
todas as formas visitar a filha e Katherine proibiu dizendo que ela ainda
estava aprendendo a ser uma boa submissa. A privação de ver a filha e a mãe,
com certeza era alguma punição para Katherine moldar Caroline ao seu
gosto.
— Nada satisfaz aquela mulher. — Eu disse brava.
— Os médicos disseram que ela foi empurrada de uma escada para
fingir que caiu, mas ela já estava machucada quando isso aconteceu. Ela está
com uma costela fraturada e uma torção no pulso direito. Felizmente o coma
induzido é apenas para estabilizar o corpo, amanhã ela estará acordada.
— Você acha que eu deveria vê-la?
— Ainda não é hora. Uma ordem de restrição já foi emitida contra
Katherine. Quanto menos você se envolver melhor.
— Me mantenha atualizada sobre o caso.
— Manterei.
Conversamos mais alguns detalhes e ela se despediu. Ágatha me
abraçou e permanecemos assim por um longo tempo e eu não conseguia
evitar de me ver no lugar da Caroline.
— Poderia ter sido comigo…
Ágatha me fez olhá-la.
— Mas não foi e eu nunca vou deixar algo acontecer com você.
Beijou meus lábios e me abraçou novamente. A sensação de proteção
foi imediata e novamente vi o quanto nós duas fomos feitas uma para a outra.
Ainda tínhamos muito trabalho antes de ir embora e ela se despediu indo para
a frente do restaurante para ver como seria a noite. O relógio não colaborava,
parecia estar parado e eu só queria que o dia terminasse logo.
Estávamos com apenas duas mesas ocupadas no restaurante, eu estava
em pé ao lado da caixa registradora e logo as duas mesas pediram a conta.
Quando saíram, Ágatha estava voltando da cozinha, Katherine entrou no
restaurante fechando a porta de entrada. Aproximou-se andando devagar e
quando eu disse para ela se afastar, tirou uma arma da cintura e apontou para
mim. Paula estava paralisada e Ágatha tentou se aproximar.
— Não chegue perto dela. — Katherine apontou a arma para Ágatha —
Seu problema é comigo e não com ela. — Chamei a atenção dela de volta
para mim.
— Você é um problema mesmo, devia ter te eliminado quando pude.
— Ela se aproximava — Quando queremos algo bem feito, devemos fazer
nós mesmas.
— Do que está falando?
— O tiro que você recebeu quando saiu da cadeia, não foi acidental, era
para ter sido fatal.
Ela ria e apontava a arma para mim. Levantei as mãos para cima e
coloquei-as atrás da cabeça e comecei a sair de trás do balcão.
— Vamos resolver nossos problemas longe daqui. — Ela parou de
andar.
Eu lutava para me manter calma, precisava tirá-la dali, desarmá-la e
chamar a polícia. Enquanto eu andava em direção da porta, eu não deixava de
olhá-la, andava de costas para a porta de saída. Vi que Ágatha estava se
aproveitando da distração de Katherine em me olhar e começou a se
aproximar por trás dela. Minha respiração ofegante denunciava meu medo.
Ágatha se aproximava devagar e a porta de saída estava cada vez mais perto.
Katherine parou de andar e viu Ágatha se aproximando, apontou a arma
para ela.
— Eu estou vendo o que você está fazendo.
Ágatha parou e também levantou as mãos e eu paralisei com a cena,
não conseguia pensar e Katherine se aproximava da minha garota.
— Lady!
Eu me ajoelhei, essa era a forma que ela gostava que eu a chamasse,
falar aquela palavra me causou náusea. Sua atenção voltou-se totalmente para
mim. Ela sorria com a cena. Paula conseguiu ir até a cozinha sem ser notada,
se arrastou pelos cantos, estava rezando para que ela ligasse para a polícia.
— Honey, sabia que você voltaria a me chamar assim. — ela sorria
satisfeita.
Sua aproximação acelerava meu coração, minhas mãos tremiam e eu
fechei os olhos, respirei fundo. Sua mão tocou meu rosto e eu petrifiquei. Eu
não queria olhá-la, mas ela apertava minha mandíbula me mandando abrir os
olhos. A força aumentava e minha respiração diminuía. Abri os olhos e a
pressão se aliviou.
— Boa garota. Obedeça e ficará tudo bem.
Ela disse exatamente as mesmas palavras de quando eu me negava a
fazer algo que ela pedia. Seu olhar penetrante me prendia a ela. Minha mente
gritava, xingava, queria fugir, mas eu não conseguia me mover. Katherine
segurou a gola da minha camisete e me mandou levantar, eu não obedeci.
Minhas pernas não respondiam.
— Honey, você não vai querer ser punida aqui, vai? — seu olhar me
cortava em mil pedaços — Posso tirar o cinto, agora mesmo.
— Não, Lady! — eu sussurrei.
Comecei a me levantar e Ágatha atacou-a por trás. Quando entendi o
que estava acontecendo, Katherine estava no chão imobilizada por Ágatha e
eu ouvi um disparo. A sirene da polícia se aproximava e logo o recinto estava
tomado por policiais. Meu estômago revirava, minha visão escurecia e
embaçava. Uma mistura de sentimentos me tomava. Voltei no tempo e estava
novamente na cama de Katherine, amarrada, nua, com frio e machucada.
Horas de surra voltaram a invadir minha mente.
— Ane!
Fui fisgada pelo passado, agora eu estava no jardim, deitada no chão,
após uma das minhas tentativas de fugir. Katherine tinha me batido e me
jogado no meio do pequeno gramado que ela mantinha no apartamento térreo
em que moramos. Chovia muito, meu corpo quente pelas cintadas recebia as
gotas de água como se fossem facadas.
— Ane!
Era uma voz baixa me chamando de volta ao presente.
— Por favor, Ane, fale alguma coisa.
Fechei os olhos e respirei fundo. Eu queria gritar. O tiro ecoava em
minha cabeça. Abri os olhos e ela estava ali, pronta para me curar mais uma
vez. O olhar preto me encarava em busca de respostas, olhei ao redor,
Katherine estava algemada, as luzes vermelhas e azuis refletiam no ambiente.
— O que você está sentindo? — ela sussurrou.
— Medo, angústia e raiva, muita raiva.
“Honey! Pare de fazer drama quer dormir no quintal novamente?” Era
a voz zangada de Katherine me dilacerando. Eu olhei para Katherine.
— Sai da minha cabeçaaa… — eu gritei para ela e todos me olharam.
— Honey, eu nunca vou sair da sua cabeça. — Ela sorriu
sarcasticamente.
Os policiais a levaram para a viatura e Ágatha me abraçou.
— Calma, Ane!
Eu tremia nos braços dela.
— Ela invadiu…
— Não… não invadiu nada, olhe para mim. — Ela segurava meu rosto
entre as mãos — Eu te amo. Não acredite nela, você é mais forte do que isso.
— Ela me beijou — Minha menina, eu t... Você está ferida...
Vi um policial se aproximando de nós. O tiro tinha me acertado e a
adrenalina era tanta que eu não sentia dor. Apenas raiva. A poça de sangue se
formava ao meu lado. O policial cobriu o lugar da ferida para estancar o
sangue e Ágatha estava apavorada.
Desmaiei em seus braços.
Capítulo 5
Tentei abrir os olhos rápido para me sentar na cama, mas eu não
consegui me mover. Maitê estava em pé ao meu lado, sentou-se ao meu lado
e me beijou a face. Carla estava em pé atrás dela no telefone. Maitê apontou o
dedo para um lado do quarto e eu virei meu rosto para ver o que ela queria
me mostrar. Era Ágatha encolhida em um sofá, dormindo profundamente.
— Eu não sei o que faria se você tivesse morrido. — Maitê sussurrou
segurando minha mão.
Olhei-a rapidamente e voltei a observar Ágatha.
— Ela não saiu do seu lado desde a hora que te trouxeram. —
Sussurrou.
— Que bom que acordou! — Carla sussurrou beijando meu rosto.
Olhei para as duas.
— O que houve? — minha voz quase não saiu.
— Você está voltando de uma cirurgia e anestesia geral, tente
descansar. Você ficará bem. — Carla me disse tão baixo quanto minha voz.
— Por que estamos sussurrando? — Eu perguntei.
— Não sei. — Maitê riu e olhou o relógio — Volte a dormir. — Ela
beijou minha mão.
Eu estava lutando contra o sono e acatei sua sugestão.
Voltei a acordar, horas depois e não havia ninguém ao meu lado. Tentei
sentar e meu corpo reclamou de dor. Coloquei a mão em meu ventre e senti o
curativo, devia ter uns quinze centímetros. Olhei a porta aberta e Ágatha
estava conversando com uma mulher no corredor. Ela viu que eu estava
acordada e veio em minha direção. Sentou ao meu lado e me beijou com
desejo. A mulher entrou no quarto e Ágatha me apresentou a ela. Patrícia
seria a detetive que iria cuidar do caso e me fez algumas perguntas. Katherine
estava presa e responderia por homicídio doloso além das acusações que
Maitê e Carla estavam fazendo em nome de Caroline. Após mais algumas
perguntas, a detetive deixou o quarto e Ágatha me beijou novamente. Eu
havia sido baleada entre o fígado e o baço e por milímetros o meu pulmão
não havia sido perfurado, Ágatha me contava da sua agonia em me ver
baleada e desmaiada em seus braços e eu me sentia a mulher mais sortuda do
mundo.
Eu tive que ficar no hospital por nove dias e as três revezavam para
ficar comigo. Ágatha foi relutante em sair do meu lado, mas Carla
convenceu-a de que era preciso descansar e não se afastar do restaurante por
muito tempo.
Por estar ferida não poderia participar do campeonato de boxe de areia.
Bento ficou chateado com o ocorrido e até mesmo Ágatha demonstrou-se
chateada por eu não poder participar. Os médicos determinaram que eu só
poderia voltar a treinar depois de quatro meses e eu já estava sofrendo por
antecipação, não queria ficar todo esse tempo parada. E ainda teria que voltar
sem pegar pesado.
A minha recuperação foi supervisionada por Maitê e Ágatha, as duas
não me deixaram sozinha no primeiro mês de recuperação, queriam que eu
estivesse em forma para o casamento, que seria em breve.
Enquanto eu me recuperava, a prisão de Katherine foi oficialmente
decretada e não poderia responder por seus crimes em liberdade. Foi um
alívio para todas. Caroline estava levando o processo contra ela à risca,
seguia todas as instruções de Maitê e Carla sem questionar. Eu preferi não a
conhecer, mas Ágatha me disse que era importante conhecê-la. Assim
conseguiria dimensionar o tamanho do bem que eu havia feito a ela e à sua
família.
Para uma recuperação total, voltei a frequentar o consultório de Sônia,
eu achei desnecessário, mas Maitê insistiu para que eu fosse pelo menos para
expor o que eu estava sentindo. Na primeira sessão, fiquei quase quinze
minutos parada sem falar nada com a cena de Katherine apertando meu rosto
repetindo na cabeça e vi que eu não estava tão bem quanto imaginei estar. As
conversas me ajudaram a refletir da necessidade que eu sentia em ajudar
Caroline e por mais estranho que pareça, eu estava tentando salvar a mim
mesma.
As visitas de Maitê e Carla em nosso apartamento aconteciam
raramente, mas depois do tiro, as duas se aproximaram mais de nós e eu
sentia que estava realmente tendo a família que eu sempre quis ter.
Estávamos comendo alguns aperitivos, cada uma com sua bebida favorita.
Carla com vinho, Maitê com uísque, eu com Martini e Ágatha com cerveja.
Quando Maitê propôs um brinde.
— Marcamos a data da cerimônia de encoleiramento. — disse Maitê.
— Quando? Onde? — me empolguei.
— Na reabertura do clube. — disse Maitê.
— Eu tive várias ideias para fazermos a divulgação do clube e uma
cerimônia de encoleiramento é perfeito para nos ajudar a trazer um público
sério e comprometido. — disse Ágatha — Nós quatro deveríamos fazer redes
sociais com um nome fantasia de dominadoras e submissas para divulgar
fotos sensuais, regras e comportamentos do BDSM. Conheço um fotógrafo
ótimo para nos acompanhar e fazer ensaios bem sexy.
Minha garota é a mais nova das quatro, mas, às vezes, acho que é a
mais empolgada com o assunto BDSM. Carla também expôs algumas ideias e
ficamos o resto da noite fazendo planos para o clube. Entre risadas, pratos
sofisticados e bebidas, definimos muitos detalhes que ainda estavam faltando
para a reabertura. Dividimos tarefas para cada uma, assim a reinauguração
não seria um fardo para apenas uma pessoa.
Quando, enfim, ficamos sozinhas, eu estava um pouco alterada e
Ágatha me puxou até o banheiro e me despiu para me dar um banho.
Enquanto a água enchia a banheira, meu corpo era beijado e acariciado por
uma Ágatha dedicada e cheia de tesão. Ela entrou na banheira e mandou eu
me sentar entre suas pernas, os beijos continuaram, suas mãos passeavam
pelo meu corpo e eu apenas me derretia. Arranhava minhas coxas, beijava a
nuca. Apertava os seios e sussurrava obscenidades na minha orelha. O
cuidado que ela tinha em percorrer cada pedaço do meu corpo me fascinava.
Suas mãos me acariciavam sem medo de me apertar e arranhar. Os gemidos
eram leves, calmos e eu tive um pequeno espasmo corporal sem que ela
precisasse tocar em minha buceta.
— Essa cicatriz vai precisar de uma plástica. — Ela disse enquanto
suas mãos ainda passeavam pelo meu corpo — Estava com saudade de ver
você feliz e sorridente, hoje você pode me pedir qualquer coisa.
Eu sorri e levei sua mão até o meio das minhas pernas. Ágatha me
acariciou devagar, me provocando, roçando apenas a ponta dos dedos por
toda a extensão da minha buceta. Ela ensaboou uma bucha e começou a me
lavar. Por onde passava me arranhava delicadamente. Eu me virei de frente
para ela e beijei-a com desejo.
— Ainda não me disse o que quer. — Ela sorriu.
Voltei a deitar em seu corpo e colocar sua mão no meio das minhas
pernas
— Vamos apenas ficar aqui, quero ficar deitada em você, enquanto
suas mãos exploram meu corpo.
A lentidão de seus movimentos era o contrário de tudo o que vivíamos
em uma cena, a delicadeza do toque, a sutileza dos beijos, mas as reações
provocadas em meu corpo eram as mesmas. Tesão, estremecimentos,
espasmos corporais, excitação e desejo. O roçar dos dedos em minha buceta
me arrancavam gemidos e sorrisos bobos. Era uma tortura não pedir por
mais, pedir para acelerar as coisas, gozar logo, mas meu corpo estava
relaxado, pronto para estender aquele momento por mais tempo. Uma mão
passeava pela buceta, clítoris e grandes lábios, a outra apertava o seio e
segurava o bico entre os dedos, alucinando minha libido. Meu tesão
aumentava e eu estava começando a ficar fora de mim, querendo aumentar
todos aqueles movimentos.
— Eu posso te explorar a noite toda assim, provocando e parando. —
Suas mãos se afastaram de mim.
Minha respiração estava descompassada e suas mãos voltaram a
explorar meu corpo devagar longe das zonas erógenas. Virei meu rosto para
beijá-la e coloquei sua mão de volta na minha buceta.
— Quero gozar nos seus dedos. — Eu sussurrei para ela — Como uma
putinha bem safada, me faz gozar, domme.
Ela sorriu.
— Achei que o gato que tinha comido sua língua. — Ela sussurrou e
massageou meu clítoris com mais vigor.
A sua mão voltou aos meus seios e a outra me massageava com
dedicação. Meu gozo estava próximo, busquei por sua buceta e o seu tremor
corporal demonstrou seu estado de excitação. Gozamos juntas e eu me virei
para beijá-la. A cada vez que fazíamos sexo sem envolver brinquedos, cordas
e algemas eu sentia que nossa conexão era intensa e que passar o resto da
minha vida ao lado dela seria extremamente prazeroso.
Capítulo 6
A data do meu casamento com Ágatha estava se aproximando, faltava
apenas uma semana. E aos poucos eu estava voltando a treinar boxe, foram
quatro meses para me recuperar física e mentalmente. Eu estava sentada no
sofá, com o notebook nas pernas, terminando de comprar nossas passagens
aéreas e reservando os hotéis que ficaríamos. O tiro tinha atrasado nossos
planos e também a abertura do clube. Ela entrou em casa e se juntou a mim,
era mais cedo do que o normal. Assustei com sua presença e ela me olhou
curiosa, eu vestia uma cueca samba canção vermelha e um top.
— Chegou cedo. — Eu olhei-a envergonhada pela roupa que eu estava.
Ela se aproximou, deixei o notebook de lado e sua aparência de cansada
era evidente. Deitou sua cabeça em minhas pernas sem comentar minha
roupa.
— Quer que eu prepare um banho? — acariciei sua cabeça.
— Daqui a pouco.
Tínhamos contratado uma gerente para o restaurante, mas Ágatha
estava tendo que ensinar muita coisa para a garota. E além disso, tinha que
organizar o cardápio do clube para a reabertura. Seu esgotamento era
compreensível.
Com ela deitada em minhas pernas fiz cafuné em sua cabeça,
repensando em tudo o que vivemos para estar ali. Passava a mão em seus fios
de cabelo e acariciava sua testa. Eu não queria relembrar dos momentos ruins,
apenas da parte boa.
Verifiquei meu perfil nas redes sociais, havia feito um apenas para fins
de divulgação do clube e usado as fotos que a própria Ágatha havia tirado. O
número de seguidores crescia a cada dia e o de Ágatha mais ainda. Eu já
estava me acostumando com as mensagens que ela recebia. O perfil de Maitê
era o que mais tinha resultados, muitos seguidores querendo-a como
dominadora. As fotos que Carla tirava de Maitê eram sedutoras e
provocativas. Aquilo estava sendo novo para mim, nunca tinha tido vontade
de ter um perfil social e muitas vezes eu não entendia como aquele aplicativo
hipnotizava tanto as pessoas.
Foram quase quinze minutos olhando-a relaxar em minhas pernas.
Ágatha acordou e ainda sonolenta me olhou sorrindo.
— Agora aceito o banho.
Eu lhe sorri e beijei seus lábios com delicadeza.
— O que acha de contratar um grupo de samba para o nosso
casamento?
Ela me sorriu e concordou com a ideia. O casamento seria no fim da
tarde e uma roda de samba seria ideal para nossa comemoração. Levantei e
puxei-a para o banheiro, enquanto a água enchia a banheira eu a despia.
Ajoelhada tirando sua calça ela me fez olhá-la.
— Eu quero pedir uma coisa a você.
Olhei-a curiosa.
— Se algum dia, a vontade de ter um filho se tornar intensa, por favor,
me conte.
— Não se preocupe, eu nunca vou esconder meus desejos ou vontades
de você.
Ela me beijou e me olhou intensamente.
— Não sabia que curtia usar roupas íntimas masculinas.
— Não era para você me vê usando isso. — Eu disse envergonhada.
— Por quê? — Ela me fez olhá-la.
— Não me sinto à vontade de usá-las perto de você…
— Você pode usar o que quiser, desde que tire quando eu mandar. —
Ela me sorriu maliciosamente.
— É só pedir que eu faço. — Eu ri.
— Quando te conheci achei que você usava cueca por baixo da calça
social.
— Só uso samba canção e só quando estou sozinha.
— Não tenha vergonha de mim.
— Não é uma visão sexy.
— Você é sexy de qualquer jeito. Ver você de lingerie rendada e
sensual é um colírio para os meus olhos, mas isso não quer dizer que você
não fique sexy com samba canção.
Ágatha me puxou para um beijo caloroso e eu retribui puxando-a para
perto de mim.
— Você está linda, mas agora, tire. Quero abusar do seu corpo nessa
banheira.
Eu tirei a samba canção e o top, entramos na banheira. Sentei atrás dela
e ela se aconchegou em meu corpo.
— Você ainda sente que este apartamento está pequeno para nós duas?
— Às vezes.
— Estão vendendo o apartamento ao lado deste, o que acha de comprá-
lo e ampliá-lo? Podemos reformar e deixar com a nossa cara, fazer uma
masmorra maior, comprar mais móveis de BDSM.
— Podemos olhá-lo e ver as condições em que ele está.
Beijei seu rosto e ela me olhou sorrindo maliciosamente.
— Pare de me enrolar e me beije.
Eu ri e me entreguei aos seus cuidados.
No dia do nosso casamento eu estava nervosa. Maitê já me ligou várias
vezes e faltavam apenas poucos minutos para ela passar aqui e me pegar.
Ágatha passou o dia no apartamento de Carla, as duas iriam se arrumar juntas
para ir até o cartório.
A campainha do apartamento tocou e desci para não nos atrasarmos. Eu
estava com um elegante terno feminino, cabelos alinhados, camisete e a
gargantilha que Ágatha havia me dado no mesmo dia em que me deu uma
coleira. Sempre que eu usava aquela joia eu sentia que Ágatha ficava
extremamente emocionada e feliz. Era uma representação do nosso
envolvimento e do nosso amor, muito mais do que as alianças que usávamos.
Quando entrei o carro, Maitê me sorriu, ela estava sexy em um vestido
curto vermelho. Pelo caminho, observei a cidade pela janela do carro e
repensei em todos os dias que passei ao lado de Ágatha, desde o primeiro dia
até aquele momento.
— Você está bem, bebê?
— Sim.
— Está pensando no que?
— No quanto Ágatha me faz feliz.
Ela colocou a mão em minha perna.
— Eu estou feliz por vocês.
— Você — segurei sua mão — é a única família que eu tenho e eu
agradeço muito por você existir.
Ela estacionou o carro em frente ao cartório e se virou de frente para
mim.
— Eu te amo, bebê.
Puxei-a para um abraço.
— Eu — fiz ela me olhar — te amo e vou ser sempre seu bebê.
Um abraço apertado me fez conter as lágrimas de felicidade. Saímos do
carro e entramos no cartório. Ágatha ainda não estava lá, chegou alguns
minutos depois que nós. Estava linda em um vestido branco com rendas, seu
cabelo trançado em um coque com fios soltos na lateral do rosto. Um leve
toque de bagunçado dava o charme ideal ao penteado. Quando se aproximou
de mim, percebi que seus olhos estavam na gargantilha choker que eu estava
usando. Sua respiração demonstrava uma mistura de emoções diante de mim.
— Você está linda! — Eu sussurrei e ela me sorriu com os olhos
marejados — Vai borrar a maquiagem, se chorar. — Lhe sorri e sequei o
início de uma lágrima.
A cerimônia foi simples e Maitê fez um pequeno discurso sobre o amor
e a nossa amizade, não recordo de todas as palavras, mas um trecho sempre
me vem à cabeça: “Anelise gosta de dizer que eu a consertei quando nos
conhecemos, mas a verdade é que ela me deu um novo propósito de vida. Ela
fez eu ver minha vida com outros olhos e perceber o quanto eu tinha sorte em
nunca passar pelo que ela passou. Quando ela me contou que estava
apaixonada pela Ágatha, eu me senti traída. Mas quando eu conheci a
Ágatha, descobri que meu ciúme era infundado. Ágatha chegou em nossas
vidas para acrescentar mais amor à nossa amizade. Eu tive medo de perder
meu bebê, mas a verdade é que eu ganhei mais um bebê para alegrar minha
vida.”
Nós trocamos as alianças e ela me deu um selinho demorado. Tínhamos
poucos convidados e o jantar no restaurante foi regado a samba e champanhe.
Carla e Maitê estavam lindas juntas, dançando e aproveitando a festa. Ágatha
não me deixou sair do seu lado em nenhum momento e a toda oportunidade
que tinha me beijava e me puxava para dançar. Eu estava extremamente feliz
por casar com ela.
A festa varou a noite e fomos dormir já era quase seis da manhã, nosso
voo seria naquela tarde. Quando chegamos em casa, carreguei-a até o quarto
e coloquei-a na cama e me sorriu maliciosamente.
— Quarto errado.
Eu ri e me ajoelhei na sua frente. Ela aproximou seu rosto de mim,
segurou minha nuca e me beijou com desejo.
— Amo quando você se ajoelha na minha frente, espontaneamente.
Sua boca buscava a minha com voracidade.
— Posso sugerir uma cena?
— Você pode tudo, Ane! — ela me sorriu — O que deseja que eu faça
com você?
Levantei e fui buscar meu celular. Mostrei uma imagem para ela e me
sorriu.
— Leve uma corda, uma fita de seda e uma palmatória até a cozinha. E
se quiser pode levar mais algum outro objeto que ache interessante.
Fui até o outro quarto pegar os objetos e quando a encontrei na cozinha,
ela estava apenas de calcinha e sutiã segurando um cabo de vassoura.
Coloquei tudo sob a mesa e ela me mandou tirar a roupa. Despi-me devagar e
Ágatha observava a cena com prazer. Quando a última peça caiu no chão ela
deu um tapinha no centro da mesa me mandando deitar o tronco na madeira.
Obedeci e ela se aproximou. Colocou o cabo de vassoura sob as minhas
costas, passou meus braços por ele e amarrou minhas mãos com a fita de
seda. Nesta posição, eu já estava semi imobilizada, mas ela começou a passar
as cordas pelo meu corpo me prendendo à mesa. Minha imobilização era total
e meu corpo estava à sua mercê. Delicadamente ela puxou meus cabelos, me
fazendo olhar diretamente para ela.
— O que você quer?
— Me bate, minha senhora! Por favor!
Ela deu a volta na mesa e a palmatória acertou minha bunda sem dar
tempo de me preparar para o contato. Meu corpo queria fugir, mas era
impossível. Acertou o segundo e em seguida o terceiro. Ela me acertou duas
vezes a buceta e parou.
— Você está linda nessa posição.
— Obrigada, domme.
Ela me bateu sem aviso prévio e eu soltei um gritinho de susto e prazer.
— Agora que fizemos um aquecimento, vamos ao que interessa.
Além da corda e da palmatória eu havia pego um grampo para clítoris e
o strapless duplo que ela tanto gostava. Ela se ajoelhou atrás de mim, abriu
meus grandes lábios e eu me dei conta do quão excitada eu estava. Seu toque
era suave e seu dedo brincou com meu clítoris antes de pôr o grampo. O
apertão suave me arrancou um gemido excitante e eu mordi meu lábio para
não a xingar. Introduzimos os grampos às nossas cenas recentemente e eu me
sentia cada vez mais apta a usá-los com prazer. Senti sua mão puxando meus
cabelos novamente, minha respiração começava a ficar descompassada.
— Conte!
Bateu em minha nádega.
— Um!
Bateu novamente
— Dois!
Eu me concentrei na contagem.
— Três!
E ela continuava em um ritmo lento para me castigar.
— Quatro!
E eu adorava aquele jogo.
— Cinco!
Eu estava ofegante e ela aumentou a pressão do grampo em meu
clítoris.
— Seis!
Minha respiração descompassada.
— Sete!
A buceta latejando.
— Oito!
Querendo um alívio, um gozo.
— Esqueci de avisar, mas você só vai gozar quando eu deixar.
— Nove!
Sua voz firme e autoritária me fizeram repensar na minha excitação.
Precisava me controlar.
— Dez!
Ágatha aliviou a pressão no meu clítoris, como se soubesse que eu não
iria mais suportar sem gozar.
— Onze!
Parou de me bater e beijou minhas costas. Ágatha sabia que me privar
de gozar era uma tortura para mim. Percorria meu corpo com os lábios
enquanto tirava o grampo de mim. Minha respiração voltou ao normal e suas
mãos me acariciavam suavemente.
— É uma delícia torturar você. — Ela sussurrou em meu ouvido —
Como quer gozar? Apanhando ou sendo penetrada?
— Pode ser uma mistura dos dois?
Ela sorriu e concordou com meu pedido.
— Continue contando. — Acertou minha bunda com a palmatória.
— Doze!
Senti sua mão se enroscando em meu cabelo novamente e mais um
golpe.
—Treze!
Ela acertou minha buceta.
— Quatorze!
Puxou mais minha cabeça para trás.
— Quinze!
Penetrou-me devagar e substituiu a palmatória pela mão.
— Dezesseis!
— Apenas aproveite.
Suas estocadas eram intercaladas com palmadas certeiras e prazerosas.
Metia fundo com força e tesão. Nosso gozo foi arrebatador e uníssono. Ela
soltou as cordas e acariciava meu corpo enquanto eu me recuperava de tudo.
Devagar ela me levantou da mesa e me abraçou.
— Você é perfeita!
Eu não respondi, apenas abracei-a com força.
— Vem, vamos tomar um banho e descansar.
Ela passou minhas pernas pelo seu corpo e nos levou até o banheiro.
Ainda agarrada em seu corpo senti a água morna cair sobre mim. Ela
acariciava minhas costas e beijava meu pescoço.
— Você está bem?
— Você está sendo cada vez mais habilidosa nas torturas. — Eu
sussurrei.
— E isso te agrada?
— Sim, domme. — Soltei minhas pernas de seu corpo — Muito.
Beijei-a com desejo e ela me ensaboou com delicadeza. Meu corpo era
cada dia mais dela, Ágatha conseguiu me mostrar o quanto uma submissão
pode ser prazerosa. Ela fazia coisas com o meu corpo que eu nunca imaginei
sentir. Ela é perfeita, dentro e fora de um quarto.
É impossível não comparar o que eu sinto com Ágatha ao que eu sentia
com Katherine, duas mulheres diferentes, duas sensações opostas. Com
Katherine eu sentia que nunca faria o suficiente para agradá-la. Ágatha
demonstra que tudo o que eu faço agrada e deixa ela cada dia mais envolvida.
Nossas malas estavam todas prontas e dormir ao lado de Ágatha
sabendo que tínhamos nos comprometido para ficarmos juntas até o fim, me
deu uma nova emoção.
Capítulo 7
Acordar com ela me beijando o corpo, me chamando de “minha
menina” era delicioso. Eu não queria sair de seus braços. Por mim
continuaríamos ali, jogadas, entregues à preguiça matinal após uma noite de
sexo bem feita. Espreguicei-me e meu corpo reclamou de ter que levantar. Eu
me sentia diferente. Leve e pela primeira vez, em muitos anos, tranquila e
calma.
Olhei-a e Ágatha me sorriu. Passou a mão em meu rosto como se lesse
minha vontade de ficar na cama. Beijou meus lábios suavemente e olhou meu
corpo com cobiça. Passei a mão em seu rosto e ela buscou a palma da minha
mão e beijou-a cerrando os olhos com um sorriso bobo nos lábios.
— Eu ainda não acredito que posso te chamar de minha esposa. — Ela
me sorriu beijando minha mão novamente — Eu não acredito que estamos
casadas.
— Acredite. — Eu ri da sua feição de boba apaixonada — Agora, o que
é seu é meu e o que é meu é meu.
Ela franziu a testa e me encarou.
— Essa não é a frase correta para se dizer numa manhã pós noite de
núpcias. — Ela mordeu minha mão — Mas a única coisa que importa é saber
que você é minha, não quero seus bens materiais, apenas seu corpo.
— Meu corpo é seu há muito tempo. — Eu sorri.
— Que bom saber disso, porque eu ainda tenho muuuita coisa para
fazer com ele. Mas precisamos levantar, ou vamos perder nossos voos.
O voo saiu no horário programado, nossa primeira parada seria a Suíça.
O itinerário todo ainda era segredo e Ágatha estava ansiosa para o que
faríamos. Apesar de termos dormido pouco, estávamos dispostas. Como o
voo seria de quase treze horas, ainda teríamos um tempo para descansar.
Quando estávamos fazendo o pouso no aeroporto ela me olhou curiosa.
— Agora você pode me dizer onde estamos indo?
— Sim. Estamos pousando na Suíça. Vamos fazer uma viagem de trem
panorâmico no Glacier Express.
— Parece chique. — Ela riu — Por que está me levando para fazer esse
passeio?
— Porque eu passei as sete horas e quarenta e cinco minutos de viagem
imaginando você ao meu lado. Foi o passeio mais doloroso que eu fiz em
toda a Suíça.
— E quer repeti-lo? — Ela me sorriu.
— É um passeio lindo, mas quando se está sozinha as montanhas
parecem mais geladas do que realmente são.
Ela apenas me sorriu como se não entendesse o que eu queria dizer.
A bordo do trem, ela parecia uma criança olhando todos os alpes suíços
à nossa volta e foi neste momento que entendi o porquê eu me senti tão
sozinha naquela viagem. O meu corpo tem uma temperatura diferente quando
está ao lado dela. Ela me aquece com um olhar e um sorriso. Sentamos em
nossos lugares e quando o trem começou a andar ela recostou seu corpo em
mim e eu abracei-a. No meio do trajeto, eu lhe beijei o rosto e sussurrei:
— Talvez você nunca entenda a solidão que eu senti nessa viagem…
— Eu nunca conseguiria fazer uma viagem dessas sem você ao meu
lado. — Ela me sussurrou — A grandeza dessas montanhas cobertas por gelo
me assusta. — Apertei-a contra meu corpo e beijei-lhe o rosto.
Na hora que nosso almoço foi servido, olhei-a e ofereci meu garfo a
ela. Queria que ela me alimenta-se ali, no trem em que eu mais me senti
sozinha durante minha busca pela paz. Ela sorriu com o gesto e acatou meu
pedido.
Depois da viagem de trem, passamos a noite em um hotel no meio dos
vales com alpes suíços à nossa volta. Foram dois dias esquiando e passeando
pela região antes de mudarmos de país. Os passeios eram regados a risadas e
diversão, Ágatha não queria parar de esquiar e se eu me distraísse por um
segundo ela me acertava com uma bola de neve. Da neve e das montanhas
seguimos para a Budapeste na Hungria.
Nossa primeira parada foi no New York Cafe, que fica dentro do
Boscolo Hotel onde íamos nos hospedar. O lugar é considerado o café mais
bonito do mundo, quando fui sozinha, tinha acabado de fazer a viagem pelo
Glacier Express e meu espírito de solidão me fez ver o lugar como uma fuga
da realidade. Mas com ela ao meu lado, aquele realmente era o café mais
bonito do mundo.
Aproveitamos Budapeste com os pubs espetaculares e cervejas
deliciosas. Ágatha estava impressionada com tudo e queria levar as cervejas
dos pubs para vender em nosso restaurante. Minha garota se empolgou com a
terma noturna que visitamos. Tivemos a sorte de estarmos a sós e ela
aproveitou para explorar meu corpo enquanto apreciamos uma linda vista da
cidade. Nossas carícias e beijos eram aquecidos pela cerveja e pelo desejo
intenso.
Quando voltamos para o hotel, arrumamos as malas para partir na
manhã seguinte. Ela estava fechando a última mala e me olhou travessa.
— Para onde vamos agora? Gostei daqui, não podemos ficar aqui? A
cerveja aqui é boa demais.
Ágatha estava levemente alcoolizada e me deitou na cama.
— Vamos para Viena.
— O que vamos fazer na Áustria?
— Tem muita coisa bonita para ver em Viena, mas primeiro vou te
levar no Prater.
— O parque de diversões mais antigo do mundo? Sério? — ela sentou
sobre meu ventre.
— Sim! Ele está funcionando desde 1766.
— Eu não vou a um parque de diversões desde os meus vinte anos. —
Ela tirou a blusa e me beijou — Você é melhor mulher do mundo.
Eu lhe sorri e passei a mão em seu rosto. Ela me despiu e deitou em
cima do meu corpo após se despir, nossas noites enlaçadas e cheias de gozo
nos conectavam cada vez mais.
Repassar por todos os lugares turísticos estava me dando uma nova
experiência de cada lugar, de cada espaço, de cada momento. Ela transformou
minha vida e agora estava me fazendo ver o mundo de outra forma. Estava
me fazendo rir nos lugares onde chorei sozinha e escondida do mundo. Ela
sempre conseguia tirar o melhor de mim.
Minha ida a Prater foi a mais dolorosa de todas as atrações a céu aberto
que fui sozinha, famílias se divertindo, casais apaixonados, adolescentes em
grupo, risadas e gritaria dos brinquedos me fizeram chorar no meio da
multidão. O aperto no peito que eu senti naquele dia me fez ver que eu não
podia mais fugir do amor que eu sinto por Ágatha. Estávamos no meio do
parque, quase no mesmo lugar que eu chorei sozinha, de mãos dadas e
olhando a roda gigante. Fiz com que ela me olhasse. Eu estava chorando
novamente, mas era de felicidade.
— Aqui, neste parque, quase que neste local, foi o pior momento de
toda a viagem que fiz sozinha. A solidão que senti no Glacier não pode ser
comparada à que senti aqui.
Ela me beijou com desejo e eu abracei-a.
— Obrigada por estar mudando os significados destes lugares.
Ágatha me sorriu e me beijou novamente.
— Eu te amo, minha menina. Vamos aproveitar esse parque e nos
divertir. — Ela me puxou em direção à montanha-russa.
Depois de irmos em todos os brinquedos e eu me sentir enjoada em boa
parte deles, voltamos para o hotel exaustas. Após um banho relaxante nos
entregamos a uma noite de sono revigorante. Pela manhã fui acordada com
beijos pelo corpo.
— Essa lua-de-mel está faltando apenas uma coisa. — Ela me
sussurrou amarrando meus pulsos para trás — Sexo selvagem. — Ela bateu
em minha bunda.
— Meu corpo é seu, senhora.
— Amo quando você fala isso!
Era nosso segundo dia em Viena e Ágatha não me deixou sair da cama.
Foi um dia cheio de momentos prazerosos e mesmo sem muitos acessórios
sexuais, ela explorou muito bem todos os nossos pontos de prazer.
Nossa lua-de-mel terminou em Amsterdã, na Holanda. Esse destino foi
escolhido por Ágatha, pois queria conhecer a Casa da Anne Frank, o
Vondelpark, Museu Van Gogh e o Heineken Experience. Fizemos também
um cruzeiro pelos canais da cidade e quando voltamos para casa ela fez um
álbum com todas as nossas fotos. Além do álbum fez mais quadros com fotos
para espalhar pela casa.
Capítulo 8
Quando voltamos a trabalhar, Paula pediu para conversar conosco em
particular.
— Eu não quero parecer intrometida ou algo assim, mas eu tenho
certeza que a nova gerente está roubando vocês.
— Como têm tanta certeza?
— Eu a vi mudando os dados no sistema financeiro. Nós tivemos um
jantar de última hora enquanto vocês viajavam. Eu vi o anfitrião pagando o
valor de sete mil reais pelo evento, mas no sistema está marcado apenas mil
reais. Eu a confrontei e hoje ela ligou falando que está doente.
Ficamos sem saber o que responder a ela.
— É bom vocês checarem com o cliente sobre o pagamento.
Eu entrei no sistema financeiro da empresa e verifiquei a entrada no dia
que Paula disse. Houve a entrada de mil reais. Analisei os e-mails trocados
com o cliente e vi o valor de sete mil reais como orçamento. Liguei para a
nossa gerente e o telefone estava desligado. Procurei por outras entradas de
dinheiro e não havia nenhuma entrada nos últimos dias.
— Como foi o movimento da última semana?
— Ótimo. A casa estava lotada toda noite.
Mostrei para Ágatha os registros e puxei os vídeos da câmera de
segurança. O restaurante estava lotado todos os dias e quando o cliente
pagava em dinheiro, a gerente colocava as notas no bolso da calça sem dar
entrada no sistema. Ela só anotou as entradas em cartão.
— Você devia ter me ligado. — disse Ágatha.
— Não queria atrapalhar a lua-de-mel de vocês. Eu achei que ela só
tinha roubado naquela noite.
Continuei analisando os dados que tínhamos no sistema de pedidos do
restaurante e cheguei ao valor de doze mil reais de roubo.
— Paula, você é a nova gerente do restaurante. — Eu disse.
— Não! Não posso aceitar. Eu não sei nada sobre gerência.
— Ane tem razão. Você é funcionária mais antiga daqui eu devia ter
dado essa promoção a você antes.
— Eu não quero. É muita responsabilidade e eu tenho um filho
pequeno para cuidar, não posso ficar até tarde.
— Seu salário será melhor e eu vou te ensinar o que for necessário para
o cargo. Pense melhor antes de dizer não. — Ágatha disse séria.
Paula disse que pensaria e saiu do escritório. Eu liguei para Maitê para
ver o que podíamos fazer em relação ao roubo.
Nós duas tínhamos um monte de pequenas coisas para organizar e uma
ajuda seria muito bem vinda, afinal a inauguração do clube seria dali uma
semana. No fim do dia, Paula voltou a conversar conosco e aceitou o cargo
de gerente.
— O que fez você mudar de ideia? — eu perguntei.
— Eu vejo a dedicação de vocês duas com o restaurante e com a equipe
toda, achei que eu seria egoísta demais em não aceitar a proposta. Espero
corresponder adequadamente às necessidades do cargo.
Nós duas agradecemos a ela por ter aceitado o cargo e meu celular
começou a tocar. Era Maitê.
— Péssimas notícias, bebê. Essa mulher que trabalhou como gerente
para vocês era uma golpista. Já é a terceira identidade que ela usa para
trabalhar e roubar estabelecimentos comerciais. Todos os documentos que
apresentou a vocês eram falsos e o endereço de moradia é um terreno baldio.
— Era tudo o que eu precisava para hoje, a polícia não pode fazer
nada? — falei brava.
— Não.
Eu agradeci e desliguei o telefone. Meu nervosismo era aparente e
Ágatha se levantou ficando de frente para mim.
— Ane, não fique assim. — ela me fez olhá-la.
Eu não conseguia encará-la.
— Você não tem culpa do que aconteceu.
— Fui eu quem decidi por ela… você não queria contratá-la, queria
outra candidata.
— Não tinha como você adivinhar que ela era uma golpista.
— Que inferno! Eu odeio ser enganada desse jeito.
— Eu também, mas não vamos nos abalar com isso. Acabamos de
voltar de uma viagem maravilhosa e temos que pensar na inauguração do
clube.
— Foram doze mil reais, Ágatha!
— Se acalme, minha menina, se acalme. — Ela me abraçou e eu
retribui o gesto apertando-a contra mim — Dinheiro a gente corre atrás, o
importante é que ela não feriu ninguém.
Depois do susto do roubo, ficamos mais atenta às coisas do restaurante.
Fizemos algumas reuniões com Maitê e Carla para poder tomar as decisões
finais sobre nossa inauguração. Os quatro perfis que fizemos para divulgar o
clube, estavam fazendo sucesso e a confirmação para a noite de inauguração
já tinha lista de espera. Corria tudo como o planejado.
Em uma noite, eu estava no caixa do restaurante enquanto Ágatha
estava no comando da cozinha junto com Hortência quando Paula se
aproximou de mim e mostrou o seu celular.
— É você?
A foto era em preto e branco, tirada de cima para baixo, como se a
pessoa que tirou a foto me olhasse e eu estivesse ajoelhada. Minhas mãos
estavam algemadas para frente e em meu pescoço uma coleira com uma guia.
Meu olhar era profundo, penetrante em quem via a foto pela primeira vez.
Olhei Paula profundamente e senti Ágatha me envolvendo em um abraço por
trás de mim.
— Qual a fofoca? — Ela perguntou sorrindo.
Paula mostrou a foto para ela.
— Amo essa foto. — Ágatha lhe piscou.
A garota nos olhou inquieta. Ágatha pegou o celular da mão dela e
abriu o seu perfil e devolveu o aparelho a ela. A cada foto que ela via sua
reação era mais intensa. Eu mostrei o perfil do clube para ela, nele haviam
fotos de outros dominantes e submissas e ela nos olhou ainda mais inquieta.
— O que quer saber? — eu perguntei meio irritada com suas reações.
— Nada. — Ela fez menção de se afastar, mas me olhou novamente —
Na verdade, tudo.
— Sexta é a inauguração do clube, vou por seu nome na lista. — disse
Ágatha.
— Não!
Ágatha apenas sorriu.
— A resposta correta é: “Sim, senhora!”. — Ágatha sussurrou.
Paula me olhava intensamente.
— Você estará sobre nossa proteção, nada será feito sem o seu
consentimento. Vou apresentar você a um dominante amigo meu, ele saberá
te tratar muito bem. — disse Ágatha.
— Não! Eu não quero isso.
— Quer um submisso?
— Não… eu não quero nada…
Eu segurei o braço de Paula e ela se assustou.
— Não tenha medo dos seus desejos sexuais. — Eu sussurrei.
— Vocês estão me assustando.
— Seu nome estará na lista de convidados, caso mude de ideia. —
Ágatha disse séria.
Paula se afastou de nós e eu me segurei para não rir.
— Hoje você não escapa de um spanking. — Ágatha sussurrou em meu
ouvido.
— Meu — Virei de frente para ela — corpo é — Envolvi seu pescoço
com meus braços — todo seu, minha senhora. — Beijei-a delicadamente.
— Você é perfeita! — Ela me sussurrou sorrindo.
Na noite da inauguração, Maitê estava nervosa esperando notícias de
Carla. A cerimônia de encoleiramento seria a atração principal da noite.
Ágatha estava nos últimos detalhes da cozinha e logo se juntaria a nós. Para
aquela noite, nós duas havíamos escolhido uma coleira nova para mim, de
ouro negro com o nome dela cravejado e um cadeado que só ela poderia tirar.
Submissão total a ela.
Carla estava linda em um vestidinho preto e curto. Maitê ao vê-la ficou
sem reação. Carla sorriu de longe e vi uma Maitê apaixonada pela mulher que
lhe acenava. Os convidados estavam tomando conta do espaço, teríamos uma
cena de spank erótico antes da cerimônia. O dominante que faria a cena não
tinha uma submissa e Ágatha foi quem armou o encontro dele com uma
antiga submissa dela do outro clube que frequentava.
Na hora programada para a cena acontecer, Ágatha se juntou a mim na
recepção. Pelo telão podíamos ver tudo o que acontecia na masmorra. A
atenção de todos era na tela. A submissa estava amarrada em uma Cruz de
Santo André e o dominante usava um chicote longo. No meio da cena, avistei
Paula entrando no bar. Chamei a atenção de Ágatha e ela me sorriu. A garota
ficou parada sem saber se entrava ou se saia correndo. Ficou vidrada com a
interação na tela.
Ágatha foi até ela e levou-a até uma mesa. Além de nós quatro,
existiam mais dois casais para instruir os novatos no clube e no BDSM.
Ágatha apresentou-a a um dos casais e pediu que ela usasse uma coleira de
proteção. Paula ficou meio sem graça com o que Ágatha lhe disse, mas
acatou o uso da coleira. Minha domme voltou ao meu lado e me beijou com
volúpia. Abracei-a e beijei seus lábios com delicadeza.
A noite seguia tranquila e a cerimônia seria na masmorra também.
Maitê ficou ao centro e Carla foi ao seu encontro segurando uma almofada
com uma coleira de ouro branco em cima. O nome de Maitê estava gravado
em dourado. Carla se ajoelhou perante sua nova domme e lhe entregou a
coleira. “Faça de mim sua submissa e eu farei de tudo para servi-la e
agradá-la.” Maitê colocou a coleira em sua submissa e trancou-a com uma
pequena chave. Carla beijou os seus pés. Maitê adorava quando suas
submissas beijavam seus pés. Eu mesma fiz isso várias vezes. Pela guia,
Maitê fez Carla se levantar. Beijaram-se voluptuosamente e foram
ovacionadas pelos presentes.
No fim da noite, Paula estava conversando com um rapaz que foi
apresentado a ela, ele era switcher e talvez fosse a melhor maneira dela
começar a entender o universo do BDSM. Estávamos em uma área do clube
onde haviam vários móveis para as práticas de bondage e outras técnicas. Eu
estava sentada nas pernas de Ágatha, de frente para ela, satisfeita com a noite.
Carla e Maitê estavam em um dos quartos exclusivos e iriam passar a noite
por lá. Nossas bocas não desgrudavam, um beijo intenso e lascivo nos
dominava. Suas mãos percorriam minhas costas com gana, apertava meu
corpo com desejo. Outros casais estavam no recinto, também se beijando,
outros praticando spank ou bondage. Eu estava excitada com o sucesso da
inauguração, com as mãos dela me apertando, os beijos lascivos, o som de
gemidos no ambiente. Tomei seus lábios com desejo e ela me apertou a coxa
com força, me puxando para mais perto de seu corpo. Minha buceta latejava e
minha respiração denunciava minha excitação com tudo.
— Me bate. — Eu sussurrei ofegante no ouvido de Ágatha.
Ela me sorriu e eu tremia em suas pernas.
— Por favor, domme, me bate. — Eu emaranhei seus cabelos em meus
dedos, meu corpo fervia de excitação.
Ela emaranhou uma mão em meus cabelos e puxou minha cabeça para
trás me fazendo olhá-la. O primeiro tapa acertou minha coxa esquerda e meu
corpo tremeu de prazer. Olhei-a profundamente e o segundo tapa aconteceu
me tirando o fôlego. Encostei minha testa na dela, queria beijá-la, mas ela
afastou nossos rostos e me olhou com intensidade.
— Olhe para mim. — O terceiro tapa me tirou um leve sorriso.
O quarto tapa fez minha buceta latejar de prazer e eu fechei os olhos
gemendo. O quinto tapa me fez olhá-la com devoção e um sorriso safado.
— Você gosta disso, né, safada?
O sexto tapa veio com força e eu gemi, puxando-a para um beijo. Ela
apertou minha bunda e me afastou de sua boca, me fazendo olhá-la. Eu não
tinha mais controle sobre meu corpo, tremia de excitação e ela me mandou
olhá-la. Seus olhos pretos brilhavam, ela também tremia, sua mão me acertou
e eu estava alucinada.
— Me bate! — minha voz saiu entrecortada e rouca.
Sua mão me acertou seguidas vezes e meu corpo foi puxado para junto
do dela, meu gozo me fez estremecer em seus braços. Minha cabeça estava
encostada em seu ombro e eu apertava sua cintura com força e ofegante. Ela
me bateu e meu gozo continuava a me abalar. Ágatha gemeu baixinho e seu
corpo estremeceu junto ao meu, sua mão apertava minha coxa. Ela soltou
meus cabelos e me apertou contra seu corpo trêmulo.
— Você é perfeita! — Ela me sussurrou ofegante.
Deitei minha cabeça em seu ombro e não consegui me recordar de
outro orgasmo intenso como aquele. Olhei em volta e vi várias pessoas nos
olhando, escondi meu rosto em seu pescoço.
— Está com vergonha? — Ágatha me apertou contra seu corpo,
passando a mão em minha cabeça.
Eu afirmei balançando a cabeça e ela me beijou o rosto.
— Você não precisa ficar com vergonha.
— Foi um orgasmo muito intenso.
— Eu — Ela me fez olhá-la — também tive um orgasmo intenso. Você
é perfeita.
Beijei-a e voltei a me aconchegar em seus braços.
— Você é perfeita. — Eu sussurrei passando a mão em seu rosto.
Capítulo 9
Um ano depois
Estávamos casadas há mais de um ano e faltava uma semana para uma
de minhas lutas amadoras. Desde quando decidi voltar a lutar, Ágatha mudou
totalmente minha alimentação, acrescentando comidas mais saudáveis e que
sustentassem minha rotina de treino. Ela passou semanas estudando dietas
balanceadas e nutritivas. Com isso ela acrescentou um novo cardápio no
restaurante, chamou-o de “Box Fitness” (caixa fitness) em minha
homenagem. Eram pratos especiais para atletas servidos em pratos quadrados
ou enviados em caixas, caso fosse delivery. O sucesso foi imediato e a adesão
das academias da região para divulgar o restaurante foi primordial para trazer
novos estilos de consumidores ao dia-a-dia do nosso restaurante.
Bento estava convicto de que eu iria ganhar a minha luta e eu estava me
esforçando para isso. Ele tinha largado o emprego em duas academias para
poder me treinar e eu me sentia um pouco culpada por isso. Treinávamos até
a nossa total exaustão e Ágatha mantinha em nossa cozinha comida para mim
e para ele. Com o contato mais frequente, descobri que ele tinha três filhos e
sua esposa estava desempregada e precisando de uma cirurgia para retirar o
apêndice. Um dia, após o treino, estávamos na cozinha comendo e ele
recebeu uma ligação, que parecia ser de cobrança.
— Eu quero te pagar pelas horas extras que estamos treinando. — Eu
disse quando terminou de falar ao telefone.
— Não! Eu estou fazendo isso porque acredito no seu talento.
— Para de ser orgulhoso, Bento! Não é justo você largar o seu outro
emprego e eu não cobrir seu déficit orçamentário.
— Eu não vou aceitar.
— Orgulhoso!
Ele riu e deu de ombros.
Naquela noite, após fazer uma cena com Ágatha conversei com ela
sobre a situação do Bento.
— No dia que for pagá-lo, faz uma transferência com o valor maior.
— Ele pode se sentir humilhado.
— Ele não vai ser bobo de devolver a diferença.
— Pode ser, acho que é o único jeito dele aceitar o dinheiro. Eu queria
ver outra coisa com você.
— Pode falar. — Passou a mão em meu rosto.
— Eu quero investir em um novo empreendimento.
— Qual? — Ela me sorriu.
— Em um centro de treinamento para lutadores de boxe e lutas
marciais diversas.
— Onde?
— Ainda não pesquisei um lugar para isso, tive esse pensamento essa
semana.
— Você sabe que tem meu apoio para tudo, não sabe?
Eu sorri e puxei-a para um beijo.
— Ao invés de você pagar pelas horas do Bento, propõe a ele uma
parceria no centro de treinamento. Uma sociedade, talvez. Ele entra com a
parte difícil, que é contratar professor, supervisionar aulas e nós entramos
com investimentos monetários.
— Por isso que sempre gosto de conversar com você sobre minhas
ideias, você sempre capta o espírito da coisa. — Eu ri beijando-a.
— Agora chega de falar de dinheiro na nossa cama, ainda quero fazer
muita coisa com você essa noite.
— Meu corpo é seu, domme.
Ela riu e me deitou na cama me beijando.
Na manhã seguinte, ela saiu cedo para seu treino de futevôlei e eu
estava terminando de arrumar a cozinha, quando Maitê me ligou.
— Bebê, o que você vai querer de aniversário?
— Nada, Mazinha. Só quero que vocês apareçam na luta para torcer
por mim.
— Isso já está mais do que certo. Carla mudou toda a escala de trabalho
da semana para poder chegar na hora da luta.
Enquanto conversávamos sobre coisas administrativas do clube, ela me
fez uma ligação de vídeo para me mostrar uma planilha no computador.
Coloquei o celular sob a cômoda enquanto tirava a blusa para poder me
trocar, Bento chegaria em poucos minutos. Ela não tinha percebido que eu
estava apenas de sutiã vendo a tela e quando percebeu soltou um palavrão.
— Que foi? — perguntei tentando entender a tabela.
— Você está gostosa demais, bebê.
Eu ri alto.
— Ágatha mudou minha alimentação e estou treinando quase cinco
horas por dia, algum resultado era para ter, não é?
— Cinco horas? Que horror! Quero essa alimentação também.
Eu ri alto de novo.
— Ágatha pode te passar. Não sei o porquê do espanto, você fica no
crossfit mais de duas horas. E Carla? Sarou da torção? A gente já pode fazer
uma cena dupla de novo?
— Safada! Podemos ir para Saquarema, o que acha?
A campainha tocou.
— Preciso ir, depois te falo sobre Saquarema. A tabela está errada na
linha quinze, você alimentou ela com algum dado errado.
Ela riu e se despediu.
Abri o portão para Bento e treinamos exaustivamente por quatro horas
e meia. Não comentei nada sobre o empreendimento, queria ter todo o plano
de negócios em mão antes de lhe propor algo.
— Você está meio distraído hoje, o que houve?
— Minha esposa está no hospital com um dos meus meninos.
— Bento, deixa eu te ajudar. Qual hospital ele está? Deixa-me pagar os
cuidados médico dele, em um hospital onde você não precise esperar para ser
atendido.
— Eu não posso aceitar.
— Eu vou transferir uma quantia na sua conta e você vai usar para
cuidar do seu filho. Você devia ter me dito isso antes. Teria cancelado o
treino.
— Ane…
— Pare de ser orgulho, Bento! — Eu disse brava.
Peguei meu celular que estava no chão ao lado do tatame e transferi a
ele uma quantia que eu achava razoável para a situação. Ele me agradeceu
com um abraço e saiu de casa com um semblante menos pesado e eu fui
tomar banho. Logo Ágatha chegaria para almoçarmos. Ela veio almoçar em
casa, pois eu estava exausta e ela teria uma reunião para fechar um evento
perto do nosso bairro. Durante o almoço com Ágatha comentei sobre o filho
de Bento e também sobre irmos para Saquarema.
— Carla já está melhor?
— Sim!
— Podemos ir, acho que Paula e Hortência dão conta de um evento
sozinha.
Eu sorri e comentamos mais algumas coisas importantes sobre o
restaurante e ela segurou minha mão.
— Eu comprei um presente de aniversário para você.
Olhei-a curiosa.
— Está no tatame.
Eu sorri e fui ver o que era. Peguei a caixa no meio do tatame e
coloquei em cima da mesa. Abri e vi um par de luvas de couro legítimo e
com cadarço no lugar do velcro, além de um short de competição com meu
nome bordado nele.
— Eu não sei se na competição você vai poder usar sua própria luva…
Eu silenciei-a com um beijo.
— Você é perfeita. Obrigada.
A luta seria sábado de manhã, no mesmo dia do meu aniversário.
Ágatha acordou animada e preparou um café-da-manhã reforçado para mim,
no dia-a-dia era minha função prepará-lo, mas ela disse que era para eu me
preocupar apenas com a luta naquele dia. Eu estava tranquila e serena, iria
dar o meu melhor no ringue e aceitaria uma derrota, se fosse necessário.
— Fiz um café-da-manhã digno de aniversariante e atleta. — Ela me
sorriu depois de me dar um beijo de bom dia.
— Obrigada, domme.
Na academia em que iríamos fazer a luta, Maitê e Carla vieram me
desejar boa sorte e felicidades, elas sentaram na primeira fileira de várias filas
para me assistirem. Fiz um aquecimento junto com Bento e quase na hora
marcada, o juiz sinalizou que iríamos começar em cinco minutos. Ágatha me
ajudou a colocar as luvas, enquanto ela amarrou o cadarço eu olhei Maitê, ela
conversava animadamente com Carla e eu sorri com a interação das duas,
terminou de amarrar e me fez olhá-la.
— Boa sorte. — Ela me beijou suavemente e eu lhe sorri.
No centro do ringue fomos apresentadas à plateia. A minha adversária
era a favorita, a casa era dela, era atleta da academia que organizou o evento.
O pequeno ginásio estava lotado. Bento ficou nas cordas e Ágatha ao seu
lado. A luta começou e a garota era mais ágil do que eu e, no começo, fiquei
na defensiva. Ela atacava e eu esquivava e me defendia. A potência dos socos
não era baixa, ela me acertou duas vezes e senti a força do seu cruzado de
direita e do jabe. Eu precisava tomar cuidado para não perder pontos. “Ataca
ela, Anelise. Você treinou para isso, caralho.” Era voz de Bento atrás das
cordas. Estávamos no meio do primeiro round e eu percebi que a garota
sempre usava a mesma sequência de golpes para começar a me atacar. Jabe,
direto, cruzado, cruzado. Esquivei do segundo golpe e desferi um cruzado de
direita que a acertou desprevenida, aproveitei e desferi três jabe sequenciais e
ela deu alguns passos para trás se desequilibrando, mas não caiu. Voltou na
posição de combate e tentou me atacar, saí pela sua lateral acertando sua
costela. Eu tinha pouco tempo e acertei-a com quatro cruzados alternados.
Ela caiu no chão sentada, mas logo se levantou. O round acabou e eu fui até
as cordas.
— Ane, você precisa atacar mais. — Bento disse bravo — Ela está
ficando cansada mais rápido do que você.
Ágatha me ofereceu água e me fez olhá-la.
—Toda vez que ela te ataca com jabe a guarda dela fica baixa,
aproveite para atacar. — Ela me sorriu.
Ágatha limpou meu rosto com uma toalha e o próximo round iria
começar.
A garota veio com tudo para cima de mim, esquivei das tentativas de
golpe e ataquei com uma sequência de jabe-direto. Ela me bloqueou e me
acertou com um jabe. Recebeu um cruzado de direita e um uppercut de
esquerda, ficou desprotegida e com um cruzado forte e certeiro ela caiu no
chão. Não foi nocaute, mas ela só levantou quando a contagem atingiu sete.
A luta recomeçou e eu não precisei de muito para derrubá-la novamente.
Nocaute.
Eu havia pesquisado um pouco sobre a vida da minha oponente e
descobri que ela morava na Rocinha e trabalhava de empregada doméstica
em um bairro nobre. Quem ganhasse a luta, levaria um prêmio de três mil
reais, o que não era meu objetivo. Ágatha me beijou e tirou minha luva, tirei
o mordedor e Bento me abraçou feliz. Olhei minha adversária, estava
recebendo uma bronca do treinador e estava com cara de chateada. Maitê
veio até mim sorrindo e Carla estava ao telefone logo atrás dela.
— Eu não vou te abraçar, suada desse jeito. — Maitê disse.
Eu ri alto e logo Carla veio até nós e disse a mesma coisa.
Na hora da premiação, o dono da academia me perguntou qual nome
ele deveria colocar no cheque e eu disse o nome da minha adversária, ela
estava ao meu lado e me olhou desconfiada. Ele escreveu o nome dela e me
deu o cheque.
— Faça bom proveito. — Eu lhe sorri e estiquei o cheque.
— Por que está fazendo isso?
— Aceite.
Ágatha se aproximou de nós e passou o braço pela minha cintura. Ela
colocou a mão no ombro da garota.
— Você lutou bem e merece esse dinheiro mais do que nós.
A garota pegou o dinheiro e agradeceu sorrindo.
Bento se aproximou de nós.
— Bonito gesto. — Ele disse.
— Tenho uma proposta de sociedade para você. — Puxei Ágatha para
mais perto de mim — Quero montar um centro de treinamento para boxe e
outras artes marciais. E você vai me ajudar a estruturar um projeto para quem
mora na favela para oferecer um futuro melhor a quem quiser participar.
— Eu não tenho dinheiro para isso.
— Eu quero teu conhecimento em luta, não dinheiro. Vou mandar o
plano de negócios para você ler.
— Eu aceito. — Ele me sorriu.
— Eu sabia que podia contar com você.
Maitê e Carla se aproximaram e Bento se despediu de nós.
— Vamos comer? — Perguntou Carla — Ver você lutar me deu uma
fome.
Nós quatro rimos e fomos passar o resto do dia na praia. Antes de
sairmos, tomei um banho e troquei de roupa. A garota ainda estava no
vestiário quando terminei.
— Moça, obrigada mais uma vez, esse dinheiro vai salvar o mês lá em
casa.
Na mochila que eu estava segurando, eu tinha mais dinheiro, mas
passei o número do restaurante.
— Eu cresci na favela, no meio do tráfico de drogas e das batidas da
milícia. Me liga talvez possa te ajudar a arrumar um emprego melhor.
Ela me sorriu e disse que ligaria.
Fomos para a Praia de Copacabana e passamos uma tarde fofocando e
rindo. Ágatha e Carla beberam cerveja a tarde toda e comeram camarão,
enquanto eu e Maitê tomamos caipirinha e comemos várias coisas diferentes.
Quando voltamos para casa, Ágatha tomou um banho e deitou na cama.
Eu vestia apenas um short social cinza bem alinhado, estava sem sutiã.
Guardei o celular no bolso e ela se esparramou mais na cama. Ela foi minha
secretária antes de ser qualquer outra coisa e hoje sei o quanto ela é minha e
eu sou dela, não tenho mais dúvidas do nosso relacionamento. Não tenho
mais medo das nossas vidas atreladas e cheia de emoções. Hoje ela mora
comigo e em mim. O vírus Ágatha completou sua missão, me invadiu por
inteira, tomou seu lugar e não me deixa mais viver sem ela. Sentou-se na
cama e me olhou maliciosa.
— Minha menina, vem aqui. — Bateu na cama — Deixa eu cuidar
desse corpo campeão.
Eu sorri e me aproximei da cama desabotoando o short.
Posfácio por Ágatha
Você é perfeita!
Eu estava deitada na cama com minha menina em meus braços,
tínhamos acabado de fazer uma cena e estávamos comemorando nosso quinto
aniversário de casamento. Ela adormecia vagarosamente e eu lhe fazia
cafuné. Estávamos em um hotel em Londres, na Inglaterra.
O restaurante era um sucesso nacional e o clube ia de vento em popa,
ambos haviam cativado o coração dos cariocas. O centro de treinamento não
ficava atrás no quesito sucesso, vários atletas estavam surgindo dali. Além
destes três investimentos, Anelise criou uma ONG para ajudar mulheres que
sofrem ou sofreram com relacionamentos abusivos.
Minha identidade verdadeira nunca foi revelada, ninguém mais
lembrava do caso em que a chefe tinha matado a secretária. Samuel e Hélio
seguem presos, e o “cara” que foi contratado para me matar, me visitou uma
vez.
— Você está linda! — ele me disse me abraçando como se fôssemos
amigos.
— E você está gordo! — ele riu alto.
Ele me contou que estava morando nos Estados Unidos e que tinha
mudado de vida, agora gerenciava uma rede de fast-food. Ane ficou muito
brava quando soube quem era ele, mas consegui acalmá-la e fazer ela
entender que, apesar de tudo, ele tinha me salvado.
Seria nosso último dia de folga, depois voltaríamos à nossa rotina
desregrada e louca por conta dos três empreendimentos e da ONG. Beijei sua
testa e ela me olhou sorrindo.
— Achei que já tinha dormido.
Ela se sentou me olhando profundamente. Anelise estava linda com a
iluminação do fim de tarde entrando pela janela. Passei a mão em seu rosto e
lhe beijei a boca suavemente. Seu celular começou a tocar, vi que era o
número de Maitê e como de costume atendemos no viva-voz.
— Oi, bebês! — disse eufórica.
— O que houve? — Eu perguntei.
— Eu vou ter um bebê de verdade e não sei como lidar com isso!
Ane me sorriu.
— A inseminação deu certo, então? — eu perguntei.
— Sim! Estamos oficialmente grávidas. Quando voltam? Precisamos
comemorar.
— Amanhã cedo é nosso voo. — disse Ane com a voz rouca.
— Vou esperá-las para o jantar, então.
Concordamos e desligamos.
— Nunca mais falamos sobre ter filhos, você não pensou mais nisso?
— passei a mão no rosto de Ane.
— Estou bem em relação a esse assunto. As crianças do projeto de
boxe, já são o suficiente para mim e você?
— Minha opinião sobre ter filhos ainda é a mesma, não ter. Você tem
certeza que está bem com isso?
Ela voltou a deitar a cabeça em mim.
— Você é tudo o que eu preciso e quero.
Beijei o topo de sua cabeça e apertei-a contra meu corpo. Voltei a fazer
cafuné em sua cabeça e senti seu corpo amolecer pelo carinho recebido.
Anelise não dormiu como de costume e após vinte minutos de silêncio ela se
levantou para ir tomar banho. A cena que fizemos foi intensa e eu exigi
bastante dela. Compramos vários brinquedos novos durante nossa estadia
inglesa e eu quis usá-los antes de acabar nossa lua-de-mel. Seu corpo estava
levemente marcado pelas cordas e chibatas que usei, em silêncio, deixei ela
decidir se queria minha companhia ou não. Entrou no banheiro e logo escutei
o chuveiro sendo ligado. Apareceu na porta e me olhou sorrindo. Aproximou-
se da cama e me estendeu a mão.
— Vem cuidar de mim. — Disse manhosa.
Eu sorri e me levantei segurando a sua mão.
Enquanto eu ensaboava seu corpo retomei nossos últimos anos juntas.
Repensei nos sete anos juntas e sorri. Além do clube, da ONG, do centro de
treinamento e do restaurante, Ane ainda tinha energia para treinar boxe e lutar
em campeonatos amadores. Eu assistia as lutas com o coração na mão, mas
ela ganhava a maioria das vezes e eu cuidava dos machucados apoiando
todos os seus passos.
Eu, além do restaurante e do clube, continuava com os treinos de Muay
thai e futevôlei. Bento tentou me fazer lutar contra outras alunas dele, mas eu
não aceitei. Casada com Anelise descobri o que era amizade de verdade, pois
Maitê e Carla se tornaram minhas confidentes. As duas eram importantes
para mim, mas era Maitê que me dava um suporte emocional muito forte
quando eu precisava.
A reforma que fizemos no apartamento após comprar o imóvel vizinho,
nos deu uma sala de treino enorme, além de um quarto cheio de apetrechos
sexuais.
Terminei de ensaboá-la e ela se virou de frente e me sorriu.
— O que está pensando? — ela me fez olhá-la.
— No quanto sou feliz contigo. — Passei a mão em seu rosto.
— Eu também sou feliz contigo. — Me beijou.
— Adorei nosso spanking de hoje, minha menina. — Beijei-a — Você
é perfeita.
Ane me sorriu e terminamos o banho com beijos e carícias.
Nosso voo de volta ao Brasil foi tranquilo, deixamos as malas em nosso
apartamento para nos encontrar com Maitê e Carla. Fomos recepcionadas por
beijos e abraços e um jantar delicioso.
— Você quem fez o jantar? — Ane perguntou para Carla.
— Você não reconhece o tempero do seu próprio restaurante? — Carla
sorriu.
— Tem algo diferente… — Ela me olhou.
— Eu retirei todos os produtos químicos dos pratos, agora só usamos
temperos e conservantes naturais para preparar o cardápio.
Ela me olhou surpresa.
— E não me falou nada? — Ela riu.
— Você pode dar palpite em tudo o que quiser dentro do restaurante,
mas não chegue perto da minha cozinha. — Eu ri e ela me beijou.
— Você se superou novamente, Ágatha. — disse Maitê propondo um
brinde.
Brindamos e Ane me sorriu.
— Vocês já têm uma lista de nomes? — Ane perguntou para Carla.
— Marjorie ou Noah.
— Vocês vão ter um menino. — Eu sorri para Carla.
— Eu também tenho esse pressentimento. — Disse Maitê — Vocês
aceitam ser madrinhas dele?
— Só faltava vocês escolherem outro casal para isso. — Ane disse
brava — Seremos as melhores madrinhas.
— Não duvidamos disso. — Disse Carla.
Algumas semanas depois daquele jantar, descobrimos que Carla estava
grávida de gêmeos, um menino e uma menina. Então Noah e Marjorie foram
os nomes escolhidos.
Minhas enxaquecas melhoraram ao longo dos anos, acredito que uma
das principais causas das minhas dores estava relacionadas ao meu medo de
fazer algo errado e Anelise ir embora definitivamente. Mas ela demonstrava
estar cada dia mais feliz comigo e dividir o peso das responsabilidades do
restaurante com Ane me ajudaram a entender que eu não precisava ter medo
de perdê-la. Que ela estaria ali por mim e eu estaria ali por ela.
Em uma noite comum, cheguei em casa e não encontrei Ane no quarto,
na sala ou na cozinha, apenas um bilhete: “Tome um banho e coloque a
roupa que está em cima da cama.” Obedeci ao seu pedido e quando saí do
banheiro, na cama havia um espartilho de couro, cintas ligas e calcinha fio
dental, vesti e fui procurá-la pela casa.
Encontrei-a na sala de estar com um short social, salto alto, camisa,
terno, gravata e um chapéu. Imediatamente ela me lembrou Demi Moore no
filme Striptease os cabelos soltos e duas taças de champanhe na mão. Ao
fundo ouvia-se um samba rolando em seu celular, me aproximei devagar e
ela estendeu a taça para mim. Era uma sexta-feira chuvosa e eu aceitei a taça
confusa com tudo o que estava acontecendo. Ane beijou meus lábios com
delicadeza e me olhou tomando um gole de champanhe. Nossos olhares não
se desviavam e eu tomei um gole da bebida. Sua testa encostou na minha e
sua mão pousou em minha cintura me puxando para perto do seu corpo.
Beijou meu pescoço e eu tomei mais um gole de champanhe. Conduziu meu
corpo pelo estilo musical que eu mais gosto e após duas músicas, o ritmo das
músicas mudaram e passou a tocar uma batida mais eletrônica, me puxou
para sentar no sofá. Eu sorri quando entendi o que ela estava começando a
fazer, um strip-tease. Colocou o copo vazio em cima da mesa de canto ao
lado do sofá e ficou de costas para mim no meio do tapete. Reconheci a
música, “Money can’t buy it” que toca no filme Striptease, na minha cena
preferida. Eu já havia pedido para ela dançar essa música para mim e ela
recusou envergonhada dizendo que odiava dançar. Eu acatei sua negação e
nunca mais toquei no assunto. Pelo jeito ela tinha mudado de ideia.
Conforme a música tocava, ela dançava andando devagar em minha
direção. Parou no meio da sala e abriu o terno me olhando maliciosamente. A
voz de Annie Lennox invadiu a sala e ela desabotoou o short. Rebolou
sorrindo e abaixou-o até os calcanhares, subiu o corpo arranhando as pernas
levemente. Deu um passo para o lado e levantou a perna me jogando o short.
Sua micro calcinha a deixava mais sexy. Ela agachou, me sorriu e abriu e
fechou a perna, me dando ampla visão da sua buceta coberta com um fino
pedaço de calcinha. Aproximou-se de mim, sentou em minhas pernas, apoiou
as mãos nos meus joelhos e roçou sua buceta na minha. Passei a mão pelo seu
ventre e ela afastou-a fazendo um gesto que eu não podia tocá-la. Levantou-
se e ficou de costas novamente. Tirou o chapéu jogando-o longe, deixando
seus cabelos soltos e esvoaçantes. Ainda de costas, tirou o terno, rebolou e
rodopiou o terno acima da cabeça. Também o jogou longe. Virou-se de frente
para mim e afrouxou a gravata, me sorriu e afrouxou mais um pouco,
aproximou-se e desfez o nó, subiu no sofá e rebolou na minha cara. Passou a
gravata pelo meu pescoço e me puxou com o pano para o meio de suas
pernas, aproveitei a proximidade e mordi sua buceta. Desceu do sofá. Ergueu
os cabelos dançando de costas, rebolando, meu coração palpitava rápido com
sua beleza. Em um leve rodopio ficou de frente. Encarou-me e rasgou a
camisete me mostrando seu corpo bronzeado. Ela deu a volta no sofá e beijou
meu pescoço enquanto sua mão passeava por meu colo, senti seu corpo
deslizando por cima de mim, apoiou-se na beirada do sofá e passou sua perna
pela minha cabeça, eu estava com a cara no meio das suas pernas novamente.
Apoiou a mão no chão e deixou seu corpo escorrer pelo meu. Sentou-se com
uma perna dobrada e a outra esticada e me provocou passando a mão em sua
buceta enquanto rebolava o corpo. Subiu a mão percorrendo todo o corpo,
engatinhou em minha direção e abriu minhas pernas. Prendi a respiração com
sua aproximação, ela estava com o olhar penetrante, forte e buscava os meus
olhos. Encaramo-nos e senti meu corpo arrepiar com um beijo no pescoço.
Ficou em pé na minha frente e a música estava acabando. Apoiou uma
perna no sofá e insinuou-se para mim de forma sexy e lenta. Minha mão
percorreu sua perna, da canela até as coxas, eu estava ludibriada com sua
beleza. Ela sentou em minhas pernas de costas para mim. Suas pernas
estavam dobradas ao lado do meu corpo, arranhei sua coxa e abracei-a
apertando seus seios, beijando suas costas. Apoiada em meus joelhos ela
roçou a bunda em meu ventre e desceu pela buceta. Minha mão esquerda
percorria seu ventre, sua coxa e a direita apertava seu seio por baixo do sutiã.
Beijava suas costas e ela rebolava. Levantou me deixando sedenta por seu
corpo. Eu me levantei, a música acabou e puxei-a para um beijo lascivo e
cheio de desejo. Ela me fez olhá-la e me sorriu beijando-me com tesão.
Passei suas pernas pela minha cintura e enquanto nos beijávamos andei
até o nosso quarto e deitei-a na nossa cama. Explorei seu corpo com minha
boca, ela me virou de encontro ao colchão e me fez olhá-la.
— Hoje faz sete anos que te vi pela primeira vez. — Me disse com a
voz rouca de tesão — E, às vezes, eu me lembro do quanto eu fui implicante
com você no começo do nosso relacionamento. — Eu sorri — Mesmo
pressentindo que nossos destinos estavam traçados, eu queria afastá-la de
mim. Na época, eu não me sentia digna de ser amada. A sua perseverança em
me conquistar me mostrou que eu merecia ser feliz ao lado de alguém que
saberia me amar de verdade. Você sempre soube me amar, amou em todos os
momentos, bons e ruins, e todo dia prova que ainda ama e vai continuar
amando.
— Eu te amo, minha menina. — Beijei com volúpia e virei-a contra o
colchão.
— Eu te amo, domme. — Ela me encarou sorrindo.
Nossos beijos ardentes, mãos exploradoras e gemidos nos assanhou
para uma noite regada a sexo e declarações de amor.
Capítulos extras
Bom dia, minha menina!
"Aguente mais um pouco, minha menina" foi o que ela me sussurrou
com sua voz rouca cheia de tesão. Meu corpo não aguentava mais, eu não
sabia há quanto tempo estávamos ali, estava sendo estimulada e privada do
prazer repetidas vezes. Perco a noção do tempo ao lado dela. Eu sentia meu
corpo clamar por um êxtase, mas eu estava quase desistindo de tudo. Ela me
olhou intensamente e sorriu, eu faria tudo por ela. Suas torturas eróticas eram
cada vez mais gostosas, meu corpo adorava tudo o que ela fazia. Tirou a gag
ball de minha boca, olhei-a sôfrega e seus lábios me apossaram com um beijo
avassalador. "Goza para mim, minha menina." Seu sussurro transformou meu
corpo em vulcão nas suas mãos. O beijo lascivo provocou uma explosão em
mim. Sem fôlego fugi de seu beijo, eu queria gritar de prazer. As cordas
seguravam meu corpo ereto e amarrado ao teto. Meu corpo convulsionava
aos toques dela. Foi o êxtase mais intenso que ela poderia me dar. O tremor
do meu corpo era apreciado por ela, seu sorriso de desejo e satisfação era
perfeito. Trêmula fui abraçada e solta. Seus braços fortes me seguraram de
cair no chão. Ela me levou até a cama e me deitou no centro. Abriu minhas
pernas, eu não tinha mais reação a nada, olhei-a sumir no meio de minhas
pernas. Eu gritei quando me tocou, um grito de puro prazer e desordem
corporal ela me olhou sorrindo e me lambeu de novo. Estava prestes a dizer
minha safeword, não aguentava mais ser estimulada. Mas desta vez ela
continuou com as lambidas e chupadas arrancando de mim mais tremores e
convulsões. Minha respiração era descompassada e minha voz não saía. Ela
deitou ao meu lado sorrindo e me beijou, me virou de lado e me abraçou
forte. O calor do seu corpo me acalmava e senti ela tremendo, seus braços me
envolviam e tremiam. Ela gozou abraçada a mim e eu sorri. Descobri que ela
também tinha se privado do gozo até aquele momento. "Você é perfeita." Ela
sussurrou ainda tremendo.
O aftercare daquele dia foi importante, meu corpo foi voltando ao
normal aos poucos, seus beijos percorriam minha pele para me acalmar e
agradecer. Ela sabia que eu precisava respirar e deixar o mundo do prazer aos
poucos. Eu estava imóvel, mas a respiração demonstrava minha
sensibilidade. Minha bunda estava marcada pela palmatória. O creme que ela
passou aliviou a ardência, mas ainda estava sensível. Seus beijos me
trouxeram de volta à Terra e eu me virei para ela. Aconchegou-me em seus
braços e eu me senti completa por tê-la. "Obrigada, domme!" Ela beijou
minha testa e nós dormimos abraçadas.
Acordei sozinha na cama e vi que dormi por mais de doze horas
seguidas. Ao lado, no travesseiro, havia uma rosa e um bilhete. Sorri com o
gesto.
"Bom dia, minha menina!
Como sempre, você foi perfeita.
Não quis te acordar, você merece descansar o máximo que puder. Tive
que sair para ir cumprir meu papel de filha.
Deixei café-da-manhã pronto, mas tem almoço também. Não sabia
qual iria ser mais propício, optei pelos dois.
Assim que acordar me liga, preciso saber se está bem.
Eu te amo."
Espreguicei-me na cama e senti todos os meus músculos reclamando
por estarem sendo estimulados novamente.
Levantei e fui tomar um banho. No box havia outro bilhete. "Se você
ainda não me ligou, não ouse entrar para tomar banho." Eu ri do bilhete e
fui procurar meu celular. Antes de sair do quarto, olhei meu corpo no espelho
e minha bunda ainda estava marcada. Sorri e busquei o aparelho na sala. A
casa estava arrumada, não parecia que tínhamos feito a bagunça que fizemos.
Liguei para seu número.
— Bom dia, minha menina dorminhoca. Ou melhor boa tarde.
Eu ri.
— Boa tarde, domme.
— Como está?
— Bem e você?
— Tem certeza que está bem?
— Confusa com o que a senhora fez com o meu corpo ontem, mas
extremamente bem.
Ela riu alto.
— Acostume-se a isso e tudo será prazeroso, garanto. Já comeu? Você
precisa se alimentar bem.
— Vou tomar banho e almoçar.
Houve um breve silêncio.
— A senhora volta para cá hoje?
— Você quer que eu volte?
Eu não respondi de imediato. Meu corpo clamava por ela, mas minha
mente me pedia para eu me afastar.
— Sim, quero.
— Voltarei, minha menina. Descanse e se alimente bem.
— Sim, senhora.
— Já sabe como me esperar, não é?
— Sim, domme.
Cinema
Ela entrou na minha sala e imediatamente minha atenção era dela.
Andou devagar até minha mesa e me sorriu.
— O que vai fazer hoje depois do seu treino de boxe?
— Não tenho nada planejado, mas estarei cansada e com vontade de
dormir. — Disse na defensiva, pois vi que iria me pedir algo.
— Eu vou te fazer uma proposta, você me responde até o fim do dia. —
Olhei-a sem expressão, em geral, odiava suas propostas — Hoje tem a estreia
de um filme que quero assistir, a sessão é às dez no shopping perto da sua
casa. Dá tempo de você treinar, tomar banho, jantar comigo e me acompanhar
no cinema.
Olhei-a sem saber o que responder.
— Vou deixar você pensar. — Ela se afastou da minha mesa depois de
me deixar uma pasta.
— Jantar e cinema, apenas isso?
— Eu tinha pensado em mais coisas, mas não vou te pressionar. Seria
nosso primeiro encontro em um dia sem ser sexta-feira. Um encontro típico
de namoradas. Fique à vontade para negar, eu só não quero ir ao cinema
sozinha.
— Se eu não for vai convidar alguém para te acompanhar?
— Não. Não teria companhia melhor que a sua.
Ela me sorriu e saiu da sala.
Tínhamos acabado de nos reconciliar de uma briga, ela tinha saído
sorrateiramente da minha casa para ir se encontrar com suas amigas e eu não
gostei do seu comportamento. Com isso ela estava mais esperta com suas
atitudes e não me confrontava diretamente com seus desejos. Ágatha havia
aprendido a me pedir ao invés de exigir e impor suas vontades. Se eu negasse
ir ao cinema seria a terceira vez que negava algo que ela estava pedindo sem
ser invasiva, tentando ao máximo não me deixar acuada. Voltei a trabalhar,
pensaria nisso mais tarde.
No meio da tarde daquele dia, combinei de adiantar meu treino com o
Bento, assim teria mais tempo livre para poder jantar com ela. Não comentei
nada, queria saber como iria me cobrar uma resposta.
Eu estava terminando de ler um relatório, quando ela bateu e entrou em
seguida. Aproximou-se e eu continuei a ler. Ágatha sentou-se na cadeira e
ficou me olhando, esperando o fim da minha leitura. Ao finalizar, olhei-a.
— Pensou em minha proposta?
— Eu não garanto que não dormirei durante o filme.
— Você é a melhor companhia mesmo dormindo. — Sorriu.
Eu ri.
— Adiantei a hora do meu treino, vou acabar mais cedo, onde vamos
nos encontrar?
— Posso ver seu treino ao vivo?
— Hoje, não.
— Ok. Nos encontramos no shopping às oito?
— Ok.
Ela me olhou e claramente estava contrariada.
— Eu tenho certeza que se você assistir ao meu treino, vamos chegar
atrasadas no cinema.
Eu lhe sorri tentando mostrar que não deveria ficar daquela forma.
— Quando eu vou poder ter você por inteira? — Seu olhar era intenso
— Sem me dizer não?
Meu coração acelerou com a pergunta, mas não respondi. Ela
confirmou que estaria me esperando na porta principal do shopping e saiu.
Naquela noite, eu saí de casa um pouco mais cedo e fui andando até o
shopping tentando entender a minha necessidade de sempre ir contra as
propostas que ela me fazia. Eram apenas quatro quarteirões, uma caminhada
leve que me fez ver que eu ainda estava na defensiva com medo dela ir
embora, me usar e se cansar.
Parei no lugar que havíamos combinado e olhei a hora, faltavam dez
minutos, mas logo um carro parou e ela desceu. Estava linda de cabelos
soltos esvoaçantes, uma saia justa e uma blusa elegante. Aproximou-se e
depositou um beijo em meus lábios, envolvi sua cintura com um braço e
puxei-a para um abraço.
— Você está linda.
— Você também, minha menina. — Me beijou novamente.
Andamos pelo shopping de mãos dadas e conversando amenidades, ela
olhava atentamente as vitrines. Estava dizendo que havia comprado as
entradas para o cinema pela internet quando parou na frente de um manequim
que vestia um conjunto de saia e blusa que eram o estilo dela. E embaixo um
sapato que combinaria perfeitamente com tudo. Ficou analisando as peças e
voltou a andar, mas eu puxei-a para perto de mim.
— Esse conjunto é a sua cara.
Ela me sorriu sem graça e apontou o preço das peças.
— Mas os valores não cabem no meu bolso.
— Você gostou dele?
— Sim.
Sorri e puxei-a para dentro da loja, ela ficou envergonhada e eu pedi as
roupas para a vendedora. Eu sabia os seus números. Ela me olhou séria.
— Você não precisa fazer isso.
— Eu quero fazer isso.
Foi até o provador e logo saiu para me mostrar.
— Você ficou linda nele. — Eu lhe sorri e ela retribuiu o sorriso ainda
encabulada.
Enquanto ela se trocava eu escolhi dois conjuntos de lingerie e pedi
para a vendedora colocar junto com as peças que ela havia provado. Ela me
agradeceu com um selinho e um abraço. Lado a lado andamos até a praça de
alimentação e o barulho estava ensurdecedor. Escolhemos alguma coisa para
comer e eu sentei ao seu lado, segurei sua mão e beijei-a.
— Você não está bem hoje, não é?
— Eu ando brigando muito com a minha mãe, ultimamente.
— Quer me contar sobre as brigas?
— Não vou te chatear com isso.
— Sobre o que me perguntou hoje, quando serei sua sem dizer não. —
Ela me olhou intrigada — Eu não sei quando isso vai acontecer. Mas você já
tem de mim mais do que qualquer outra pessoa teve. De todas as dominatrix
que tentaram me domar fora de um quarto, você é a primeira que não está
sendo ignorada e rejeitada.
— Eu só queria poder controlar mais as coisas.
— Calma, Ágatha, um dia eu serei sua por inteira, não apresse as
coisas.
Ela me beijou suavemente e eu percebi o quanto eu já era dela sem ao
menos fazer ideia daquela entrega silenciosa.
Jantamos e assistimos ao filme. Durante toda a sessão ela acariciou
minha mão e deitou sua cabeça em meu ombro. Eu não dormi e apreciei cada
momento ao lado dela. Saímos da sala e andamos lado a lado até a frente do
shopping.
— Obrigada pela noite. — Ela me sorriu.
— Obrigada pelo convite. — Eu sorri.
Ela pegou o celular para chamar um táxi para si.
— Está tarde para ir embora sozinha.
— Isso é um convite para eu ficar na sua casa ou apenas uma
preocupação pelo horário?
Eu ri e puxei-a para perto de mim.
— Quer dormir na minha casa? — Sussurrei e ela concordou.
Andamos de mãos dadas comentando sobre o filme.
Entrando no apartamento ela me perguntou se podíamos dormir na
minha cama, eu fiz ela me olhar e arrumei uma mecha do seu cabelo.
— Ágatha…
— Tudo bem, Ane, posso ficar no sofá mesmo.
— Você não deixou nem eu falar. — Sorri.
— Sempre que você começa uma frase com meu nome, é porque vai
me…
Beijei-a com volúpia e ela me olhou sorrindo.
— Aqui dentro você pode pedir o que quiser.
— Cuidado com o que você fala, Anelise.
— Hoje, eu estou ao seu dispor.
Entreguei meu celular e minha carteira a ela, me olhou sorrindo e
mandou eu tirar minha camisa.
— Não está cansada do treino?
— Não se preocupe, se eu achar que não aguento, avisarei.
Ela me sorriu e mandou eu ia para o quarto. Obedeci e esperei-a por um
tempo que não soube determinar. Ela entrou pela porta e estava vestindo a
roupa que eu havia dado. Eu sorri.
— Você está linda.
Ela me sorriu.
— Você tem fetiches além do BDSM?
— Eu curto voyeurismo, mas a pessoa não precisa necessariamente
estar sem roupa ou fazendo sexo para que eu me sinta excitada. Só de eu
saber que a pessoa não está sabendo que eu estou vendo, já me sinto um
pouco excitada.
— Anda me observando?
— Sim, algumas vezes na semana.
Ela riu.
— Pena que eu não sei os horários que você entra na webcam.
Eu me aproximei lentamente e beijei-a.
— Não teria graça se você soubesse.
— Eu me exibiria melhor se soubesse.
— Eu gravo tudo o que sua câmera filma, ou seja, se você quiser me
surpreender com algum filme, basta fazer com a câmera ligada.
Ela me sorriu.
— Farei bom proveito dessa informação.
— E você? Tem algum fetiche?
— Eu não sabia, mas pensar em me exibir para você me deixou com
tesão.
Eu beijei sua boca e puxei-a para perto de mim.
— Parece que formamos uma boa dupla de fetichista.
Afastou-se de mim e começou a desabotoar a blusa. Eu sorri enquanto
ela se desnudava. Tirou a blusa e jogou em minha direção. Pendurei no
cabideiro e ela abriu o guarda-roupas na parte das cordas. Pediu que eu
colocasse nos ganchos centrais do teto. Passei-as pelo gancho e ela pegou
uma palmatória de madeira.
— Eu vou te amarrar pelas pernas hoje.
Olhei-a curiosa. Ela tirou a saia e mandou eu tirar a calça. Pendurou as
peças e me mandou deitar perto das cordas. Obedeci. Ela pediu que eu
erguesse as duas pernas formando um ângulo de noventa graus em relação ao
meu corpo. Passou a corda pelos tornozelos e puxou meu corpo até suspendê-
lo um pouco do chão.
— Eu vou te bater com a palmatória e você vai contar mentalmente.
— Sim, senhora.
Ela me bateu a primeira vez sem me avisar e me olhou sorrindo. Bateu
a segunda e eu quis fugir da terceira.
— A cada vez que fugir de mim, vou te castigar com um tapa na sola
do pé.
Bateu a terceira e me olhou. Eu relaxei, senti a quarta e meu corpo
estava começando a ficar extasiado com as palmadas. Quinta e sexta foram
seguidas e eu gemi de prazer. Eu relaxei mais e meu corpo correspondeu a
tudo com um desejo forte de ser fodida daquele jeito, vulnerável. Cada batida
acendia uma gama de desejos em mim. Eu escondi meu rosto com as mãos.
— Não se esconda, quero ver sua cara de excitação.
Olhei-a e ela me sorriu. As palmadas continuaram e minhas nádegas
começaram a esquentar. Com as mãos esticadas ao lado do corpo eu tentava
não o mover, mas começou a ser impossível e senti um tapa de advertência
no pé. Ela parou e puxou mais as cordas, deixando minha bunda mais
exposta. Minha posição lembrava a postura de vela do yoga. Bateu mais
algumas vezes e eu tive um leve espasmo corporal. Ela sorriu e começou a
me soltar. Devagar foi voltando meu corpo ao chão.
— O que você acabou de fazer com meu corpo foi insano.
Ela deitou ao meu lado rindo.
— Se me deixasse fazer tudo o que quero, você não se arrependeria.
Eu estava ofegante com a minha bunda em contato com o tatame.
— Eu sei que você ainda não gozou, foi só um pequeno espasmo
corporal. Quero continuar a te bater nesta mesma posição. O que acha?
— Minha bunda está quente, senhora.
— É uma pena…
Ela me olhou decepcionada.
— Quero suspender você totalmente, deixar você de ponta cabeça presa
pelos pés.
— Vai me bater?
— Vou usar a mão e não acertarei onde já está marcado.
Pensei um pouco e aceitei.
Lentamente ela começou a puxar as cordas e elevar minha perna. Meu
corpo foi descolando do chão e quando vi, estava totalmente de ponta cabeça.
Sua mão passeou pelo meu corpo e logo me acertou um tapa leve que me
atiçou novamente. Arranhou a minha coxa e beijou minhas nádegas. Eu
estava excitada, seus toques me incendiavam. Os tapas eram leves e ritmados,
fazendo minha buceta latejar. Talvez eu não precisasse de muito incentivo
para gozar, mas ela parou. Deixou a minha respiração se tranquilizar e voltou
a me bater. Perguntou se eu estava bem, disse que sim e ela voltou a me
bater. A suavidade se misturava com a ardência em minhas nádegas e eu
delirei com o seu toque em minha buceta. Enquanto me batia me massageava,
meu corpo correspondia com um prazer nunca sentido antes e eu gozei em
suas mãos. Tremores corporais tomavam conta de mim e a sensação era
inexplicável. Ela começou a descer meu corpo no chão e minha respiração
ainda era descompassada. Deitou ao meu lado e me aninhou em seus braços,
fez cafuné e eu adormeci tranquilamente.
Em poucos minutos acordei assustada, tentei sentar, mas ela me
segurou em seus braços.
— Calma, Ane.
Beijei seu pescoço e busquei sua boca. Um beijo calmo e cheio de
significados. Eu a amava, meu corpo era dela e, a cada cena que fazíamos,
isso era mais irreversível do que antes.
Domme
Meu aniversário estava próximo, o centro de treinamentos de artes
marciais estava prestes a ser inaugurado e sua agenda estava mais complicada
do que a minha. Sentia sua falta ao meu lado no restaurante, mas eu não
podia exigir nada dela. O clube também estava tomando o tempo dela, porém
Ane fazia questão de ainda almoçar comigo todo dia.
Ela entrou no restaurante e me beijou antes de seguir para o escritório.
Olhei-a se afastando pelo corredor e sumindo porta a dentro. A garçonete que
estava parada perto de mim me olhou esperando minhas ordens. Fiz sinal que
podia servir nosso almoço e eu fui até o escritório pensativa.
O ambiente estava com uma música suave, temperatura agradável e ela
estava encostada na mesa falando ao telefone. Parecia tensa. Fomos servidas
e eu tranquei a porta. Desligou o telefone e me olhou sorrindo. Sentou-se em
uma cadeira e eu na outra. Ela pegou seu prato e eu olhei-a profundamente.
— Hoje não temos tempo para você me alimentar, preciso comer
rápido. — Falou colocando a primeira garfada na boca.
Olhei-a brava e apenas estiquei a mão pedindo o prato. Ela não
entregou.
— Você não vai comer rápido. Toda vez que você está nesse estado de
euforia e tensão a comida não lhe cai bem. Dê o prato para mim.
— Ok! Vou comer devagar. — Encostou na cadeira.
Continuei com a mão esticada, olhando-a profundamente. Ela colocou
mais uma garfada de comida na boca e me encarava.
— Não vou repetir.
— Não me trate como criança.
— Não seja uma.
Ela terminou de mastigar e mesmo brava me entregou o prato. Na
minha mesa, eu vi um rolo de fita adesiva, segurei sua mão e peguei-o.
Quando percebeu o que ia fazer puxou sua mão.
— Isso é desnecessário.
Apontei para o braço da cadeira e esperei ela parar de relutar com
minhas ordens. Esticou os braços contrariada. Passei a fita e apontei o outro
braço, passei e olhei-a sorrindo.
— Melhor assim. O jogo de hoje é, você só come se responder minhas
perguntas com sinceridade. Por que está com pressa?
— Porque eu tenho uma reunião às três da tarde com um possível
patrocinador de equipamento para o centro de treinamento.
Servi-lhe e esperei ela comer. Olhei o relógio.
— Você tem duas horas e meia até a reunião. — Cruzei a perna e olhei-
a — E você demora apenas dez minutos para chegar até o centro. Correto?
— Sim.
— Então, acalme-se. Você está tensa desde segunda-feira. Por quê?
— A inauguração está próxima e tem mais um monte de coisa para
fazer.
— Já cogitou — servi-a — pedir ajuda?
Ela me olhou sem graça e terminou de mastigar. Demorou para
responder.
— Não quero te assoberbar com minhas coisas.
Servi-a.
— Eu sou sua mulher, sua sócia, sua esposa, sua amante, sua
dominatrix, sua melhor amiga e eu nunca negaria um pedido de ajuda mesmo
se tivesse com um milhão de coisas para fazer. Eu já disse que eu estou aqui
para você, assim como sei que você está para mim. Correto?
— Sim, senhora, desculpe. Eu sempre acho que vou atrapalhar.
Eu cortei as fitas de seus pulsos e puxei-a para um beijo.
— Você não atrapalha. Coma devagar, se não vou retirar o prato
novamente.
Ela me sorriu.
— Você odeia me ver tensa e nervosa por conta do trabalho, digo que
também não gosto de te ver assim. Como posso ajudar?
Ela me contou das coisas que estavam dando errado e no fim do almoço
ela parecia mais tranquila.
— Obrigada, você sempre sabe como cuidar de mim. — Ela me beijou
com desejo.
Ela se ajoelhou na minha frente.
— Como posso me desculpar adequadamente com a senhora?
Eu lhe sorri.
— A inauguração é sábado agora, correto? — passei a mão em seu
rosto.
— Sim, senhora. — Me sorriu.
— Espero encontrar no seu escritório uma régua.
— Vou providenciar.
— De madeira.
Ela me sorriu e eu beijei-a delicadamente.
— Agora vá, antes que eu não consiga esperar até sábado para fazer
isso.
Beijou-me com desejo e se levantou saindo do meu escritório.
Faltavam dois dias para a inauguração e eu a queria instigada ao
máximo para sábado. Naquela noite, quando cheguei em casa, ela estava com
um lindo conjunto de lingerie à minha espera. Ela conseguia me excitar sem
ao menos falar alguma coisa. Eu tomei um banho enquanto ela me observava
ajoelhada do lado de fora do box. Mandei que me esperasse nua na sala
ajoelhada com as mãos para trás perto do sofá. Busquei um par de algemas
em nosso quarto de brincadeiras e me juntei a ela na sala, eu estava nua.
Algemei-a. Peguei um livro que eu estava lendo e queria terminar, sentei na
sua frente com as pernas abertas.
Ela não disse nada, apenas me olhava. Ajeitei-me no sofá para começar
a ler e deixei as pernas semi abertas. Li um capítulo e abri um pouco mais as
pernas. Ela sabia que estava sendo castigada e permaneceu quieta me
observando. Li mais dois capítulos, abri as pernas e olhei-a. Seus olhos
brilhantes me diziam muita coisa, principalmente que estava gostando do que
estava acontecendo. Aproximei meu rosto encarando-a e passei a mão em sua
buceta, fazendo-a respirar fundo.
— Não está gostando do que está vendo?
— Estou, senhora.
— Não é o que me pareceu.
Voltei a ler e após alguns capítulos, repeti o gesto e ela estava muito
mais sensível e molhada.
— Melhorando, mas ainda não está como quero.
Eu lhe sorri. Olhei a quantidade de páginas que faltavam.
— São vinte páginas para o final do livro. Você tem duas opções: ficar
mais excitada ou eu vou te dar vinte tapas na bunda. — Ela me sorriu —
Porém, se você ficar mais excitada eu não deixo você gozar por hoje.
— E se eu não ficar mais excitada?
— Vinte tapas na bunda.
— Mas permitirá que eu goze?
— Você está merecendo que eu faça você gozar?
Ela me olhou decepcionada e negou com a cabeça.
— Responda!
— Não, senhora.
— Abra a boca e coloque a língua para fora. — Ela obedeceu — Nós já
treinamos bastante isso, não me decepcione. Não afaste o rosto e não me
lamba.
Eu encostei no sofá novamente e abri bem minhas pernas. Seu rosto se
aproximou devagar e o toque da sua língua em meu sexo me arrepiou toda.
Concentrei-me nas últimas páginas, mas o contato de sua boca imóvel em
minha buceta era afrodisíaco. Seu hálito me aquecendo, sua respiração
controlada e sua submissão me deixaram loucas. Eu fingi que entendi o que
estava lendo, mas não estava prestando a atenção em mais nada. Tê-la em
minha buceta daquela maneira era tão insano que eu movi o quadril para
sentir sua língua percorrer todo o meu sexo. Ela se mantinha imóvel apesar
da respiração alterada. Fechei o livro e mandei ela se afastar. Olhou-me
excitada e passei a mão em sua buceta. Gemeu em meu ouvido e ela estava
muito mais excitada do que em qualquer outra situação.
— Muito bem! — Passei a mão em sua buceta novamente — Está
molhadinha, do jeito que eu gosto. — Passei a mão novamente.
— Por favor, deixa eu gozar. — Sua voz rouca de tesão queria me
seduzir.
— Menina safada. — Dei um tapa em sua buceta e seu corpo
estremeceu — Eu já disse que não.
— Por favor, domme.
Eu encostei no sofá e abri as pernas.
— Você sabe o que fazer com isso.
Ela me sorriu e suas lambidas vigorosas e intensas me fizeram gemer
de prazer. Chupou com vigor e empenho, meu gozo foi gostoso e me deixou
extasiada pela mulher que estava ajoelhada aos meus pés. Beijei-a com desejo
e me levantei. Soltei as suas algemas e mandei ela se lavar para jantarmos.
Sem contestações se levantou e foi em direção ao banheiro.
Jantamos conversando sobre a inauguração e senti que ela estava
frustrada. Meu objetivo estava sendo alcançado, mesmo eu sabendo que ela
me detestava quando eu fazia isso.
Na noite do outro dia, fizemos a mesma coisa e ela, ao fim do meu
gozo, me olhou chateada. Aquele olhar era sua forma de me chantagear, obter
o que quer, mas eu me mantive firme e ainda fiz ela me masturbar antes de
dormir.
No sábado, eu preparei o café-da-manhã, era ela quem fazia, mas eu
queria começar o dia agradando-a. Ela me agradeceu por deixá-la dormir um
pouco mais e por fazer o café.
— Você providenciou o que pedi?
— Sim, senhora.
Ela me sorriu e eu puxei-a para um beijo.
A inauguração seria às três da tarde, mas estávamos no centro de
treinamento desde as oito da manhã. Era, mais ou menos, onze meia quando
tudo estava encaminhado, sem pendências ou imprevistos. Estávamos
terminando de organizar o tatame para a apresentação de alguns alunos de
Karatê e Boxe, sua luta favorita. Chamei-a para irmos ao escritório. Tranquei
a porta e beijei-lhe suavemente os lábios.
— Nosso almoço chega daqui uma hora, tire a calça.
Olhou-me e tirou os sapatos, as meias e abaixou a calça sem desviar o
olhar do meu. Em minha bolsa, peguei sua coleira de sessão e pedi para se
ajoelhar. Obedeceu e eu coloquei a coleira e fechei o cadeado deixando a
chave em cima da mesa.
— Você se comportou muito bem ontem, vou lhe recompensar por isso.
— Obrigada, senhora.
Pedi que me entregasse a régua e deitasse o tronco na mesa.
— Eu não trouxe nenhuma mordaça, você vai se comportar?
— Sim, senhora.
Eu duvidei daquilo e sorri. Ela deitou o corpo na mesa e eu me
aproximei.
— E se não se comportar?
— Poderá me punir.
Eu sorri com a resposta e lhe bati com a régua na sua bunda. Seu corpo
estremeceu e eu bati de novo. Bati pela terceira vez e ela gemeu alto. Na
quarta houve um gemido abafado e na quinta vez outro alto. Tirei minha
calcinha e peguei uma fita adesiva grossa. Cortei um pedaço.
— Você está fazendo muito barulho.
Ela apenas me olhou chateada por me desapontar e eu enfiei a calcinha
em sua boca e passei a fita. Acertei sua coxa com a régua e seu corpo quis
fugir.
— Não me faça amarrá-la, pare de se mexer.
Bati novamente e ela tentou ficar imóvel. Bati novamente. Abri suas
pernas e acertei sua buceta duas vezes seguidas e seu corpo queria fugir, mas
demonstrou-se arrepiado com o ato. Acertei mais algumas vezes e parei, ela
iria gozar se continuasse. Fui até minha bolsa, deixei seu corpo respirar um
pouco e peguei o strapless e um sachê de lubrificante que eu tinha levado
especialmente para este momento. Voltei a bater nela e seu corpo
correspondia excitado, ela escondia o rosto entre as mãos e sua respiração
estava elevada. Inseri o strapless em mim e esperei seu corpo se acalmar.
Bati e ouvi seu gemido abafado. Bati e seu corpo estremeceu. Bati e ela teve
um pré-gozo. Minha intenção não era aquela, mas sorri com seu corpo
trêmulo e continuei a bater. Sua respiração estava descontrolada e o corpo
reagindo com muito prazer a tudo. Acertei sua buceta e sua explosão foi
deliciosa de ser assistida. Seu corpo pedia por mais e penetrei-a devagar, ela
segurou a borda da mesa e seu corpo se jogava contra mim. Seu desespero
sexual era lindo, sedutor e eu lhe dei o que queria, um segundo gozo forte e
obsceno. Seu corpo estava mole, mas não deixava de reagir aos meus
estímulos, abri o sachê e lubrifiquei seu ânus, ela alcançou suas nádegas e se
abriu para mim. Adorava seus atos submissos. Penetrei-a devagar e seu corpo
queria fugir de mim. Emaranhei seus cabelos em meus dedos e fiz ela me
olhar. Eu sorri e lhe tirei a fita e a calcinha da boca.
— Me fode bem gostoso, domme.
Ela me sorriu maliciosamente e iniciei um movimento lento de
penetração enquanto ela me olhava. Eu saboreava suas expressões de prazer e
ela puxou minha outra mão para chupar meus dedos. Eu gemi baixinho com o
ato e aumentei o ritmo em sua bunda. Soltei seus cabelos e bati em sua
nádega. Gememos juntas, bati de novo e a intensidade dos nossos gemidos e
excitação aumentavam. Ela soltou meus dedos e eu lhe bati, gozamos juntas e
gemendo alto. Jogou seu corpo na mesa e eu sorri com o estado em que ela se
encontrava. Fui ao banheiro, deixei o brinquedo na pia e voltei até ela.
Levantei-a devagar e sentei na cadeira colocando-a em minhas pernas. Ela se
aconchegou em meus braços e depois de poucos minutos em silêncio, ela me
olhou sorrindo.
— Você me faz odiá-la e amá-la ao mesmo tempo.
Ela sussurrou.
— Amor ou ódio vencem essa guerra?
— Neste momento? Amor. Cinco minutos atrás? Ontem e anteontem?
Ódio.
Eu ri alto.
— Você sabe que eu amo te privar do gozo e te torturar. — Beijei-a.
— Dessa vez nenhuma súplica fez você ceder. Nada fez você me dar
um alívio momentâneo.
— Você não gostou?
Ela me olhou profundamente.
— Eu sabia que a recompensa seria gratificante e que você não me
decepcionaria.
— Eu te decepcionei?
— Não! Pelo contrário. Você conseguiu se superar.
— Então por que estamos tendo essa conversa? — Eu ri.
Ela respirou fundo.
— Diga, minha menina, o que te incomoda quando faço isso?
— Nada, deixa quieto, eu não estou sabendo me expressar. — Ane se
levantou.
— Você já repetiu — Segurei sua mão — a seguinte frase inúmeras
vezes: “Meu corpo é seu, faça o que quiser.” Você quer retirar essa frase? Se
sim, eu paro de usá-lo como eu acho apropriado.
— Não é isso. — Ela sentou na mesa e me olhou chateada.
Eu me levantei e fiquei de frente para ela, entre suas pernas. Fiz ela me
olhar.
— Eu já disse que nossa relação passou de dominatrix e submissa há
muito tempo, diga o que te aflige, por favor.
— Tudo o que você faz me surpreende positivamente. Quando disse
para eu comprar uma régua de madeira, eu pensei que seria tranquilo. Fui até
a papelaria e pedi pela régua, paguei e saí. No caminho de volta, comecei a
imaginar como você iria usá-la em mim. Eu raramente tenho vontade de me
masturbar sem a sua presença. Nunca senti essa necessidade, mas naquele dia
a tarde, imaginando você me punindo com a régua eu fiquei sem reação.
Desanuviei meus pensamentos e fui atrás das coisas da inauguração.
Enquanto eu tomava banho para te esperar, os pensamentos voltaram, mas eu
ignorei-os. Você me torturou e me privou do gozo e eu dormi subindo pelas
paredes com seu corpo colado ao meu. No dia seguinte eu escondi a régua de
mim mesma. E a noite você repetiu a tortura. Eu te xinguei muito
internamente. De madrugada eu acordei e fui para a sala. Não conseguia
dormir e repeti inúmeras vezes para mim: “Calma que a recompensa vai ser
boa! Tem que ser!” Respirei fundo e voltei para a cama. Hoje de manhã, eu
acordo e você está lindamente fazendo nosso café-da-manhã, coisa que você
não fazia há meses. Fez waffles, me alimentou e eu fiquei feliz por ter você
ao meu lado aqui no centro de treinamentos logo cedo. O que você fez com o
meu corpo e com a minha mente nestes dois dias, ninguém nunca fez.
— O que eu fiz?
Ela riu.
— Outras dominatrix já me privaram de gozar, por dias, mas eu burlava
essa privação quando estava sozinha, sem que a pessoa soubesse.
— E por que você não fez o mesmo desta vez? Por que não se
masturbou e se aliviou?
— Porque meu corpo implorava para que eu não fizesse nada e
esperasse por você. Porque eu sabia que com você seria melhor.
Beijei-a com desejo e puxei-a para perto de mim. Aquela revelação era
muito forte, apertei-a contra meu corpo e lhe beijei o pescoço. Ela tinha
acabado de revelar que seu corpo realmente pertencia a mim e eu nunca tinha
conseguido isso de outra submissa.
— Obrigada por confiar em mim. — Fiz ela me olhar — Quero que
você tenha uma safeword específica para quando eu estiver te torturando ou
te privando do gozo em excesso. Não posso passar dos seus limites.
Ela me sorriu.
— Obrigada por me entender.
— Você é perfeita.
Ela segurou meu rosto e sorriu.
— Você é oficialmente minha dona, eu nunca pensei que diria isso a
alguém, mas você é minha dona. Dona dos meus pensamentos, das minhas
fantasias, dos meus desejos… dona da minha alma.
Sorri e beijei-a puxando-a para perto de mim.
— Você também é minha dona. Meus pensamentos, atos, falas, desejos
e atitudes são exclusivamente pensando em você. Eu sempre quero o seu
melhor. — Beijei-a — E o meu melhor é você. Você ainda é a mulher que me
excita quando sai do elevador, quando entra por uma porta, quando dorme ao
meu lado e quando se entrega sabendo que vou fazer de tudo para te
proporcionar o melhor. — Beijei-a com mais intensidade — Saiba que privar
seu gozo é uma tortura para mim. Eu gosto de você gemendo, chamando pelo
meu nome...
Ela me puxou para um beijo intenso e arranhou minhas costas. Tirou
minha blusa e nos entregamos a mais uma rodada de orgasmos e êxtases.
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