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Alice Reis
Este livro é uma ficção, qualquer semelhança com
a realidade é mera coincidência.
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Índice
Avisos Importantes
Anelise
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Ágatha
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Anelise
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Ágatha
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Anelise
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Ágatha
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Anelise
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Posfácio por Ágatha
Você é perfeita!
Capítulos extras
Bom dia, minha menina!
Cinema
Domme
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Avisos Importantes
Este livro é destinado a maiores de 18 anos
· Contém cenas de sexo explícito;
· Contém cenas de violência;
· Faz referências a abusos psicológicos e físicos;
· Gatilho para ansiedade, depressão e relacionamento
abusivo;
· Traz referências claras ao mundo BDSM onde as
siglas se traduzem em Bondage, Dominação, Sadismo,
Submissão e Masoquismo.
Anelise
Capítulo 1
Dias Atuais
Eu estava na porta do quarto olhando seu corpo nu largado na cama.
Aquela manhã chuvosa me convidava a permanecer na cama. Ainda era cedo,
cinco e meia, chequei meus e-mails, ainda observando seu sono. Nada de
extraordinário para ser feito naquele dia que se iniciava preguiçoso. Eu vestia
apenas uma calça social cinza bem alinhada, ainda estava sem sutiã. Guardei
o celular no bolso e ela se esparramou mais na cama. Tínhamos recebido
alguns amigos na noite passada e após algumas taças de vinho e uma transa
dormimos agarradas e nuas. Toda manhã o dilema poderia ser sempre o
mesmo, largá-la sozinha e ir trabalhar ou não.
Mas isso tudo é ilusão da minha cabeça, raramente eu acordo e me
deparo com essa cena, apesar de sempre desejá-la.
Se pudesse, hoje eu me atrasaria por ela, chegaria com os cabelos
úmidos para a reunião das dez, tomaríamos café na cama e, depois, ela me
olharia sorrindo enquanto o diretor faria sua explanação sobre as metas do
trimestre. Mas isso não vai acontecer, nunca aconteceu e eu me pergunto de
onde surgiu tanta saudade.
Ela é minha secretária e a empresa toda desconfia ou sabe do nosso
envolvimento. Não escondemos mais, no começo fazíamos de tudo para
esconder, hoje deixamos que cada um tire sua própria conclusão. Tentamos
não chegar juntas no trabalho, mas isso, muitas vezes, é inevitável. Já faz
quase um ano que somos assim. Outras pessoas? Eu não tenho e ela diz que
também não tem. Seria melhor que não tivesse, uma pessoa a menos nesse
redemoinho de emoções. Fui na sua casa apenas uma vez. Ela diz que divide
o apartamento com mais três pessoas, minha casa é confortável e me sinto
acuada em ambientes que não conheço. Por isso nosso refúgio é aqui.
Olhei o celular novamente. Cinco e quarenta da manhã. Fui até a
cozinha. Coloquei água no reservatório da cafeteira, pó no coador e liguei.
Observei a água se tornar o líquido preto que iria me acordar, pois esquentar
seria difícil. Voltei ao quarto para vestir um sutiã e uma camisa social. A
cama estava vazia. A visão dela dormindo voltou à minha cabeça, mas era
tudo ilusão. Ela não estava ali naquela manhã e o que eu olhava era uma
cama vazia e perfeitamente arrumada. Nem um fio de lençol fora do lugar,
como se eu tivesse passado ferro na cama toda, perfeitamente alinhada. Vesti
um sutiã e escolhi a camisete que ela havia me dado para acompanhá-la em
um casamento. Marsala, sua cor favorita.
Voltei para a xícara de café que me esperava fumegante, tomei dois
goles e cuspi na pia a tentativa de tomar o terceiro. Eu não sabia fazer café
quando pensava nela. Os amigos da noite passada? Existiram. A transa?
Também! Mas o dormir agarradas e nuas, não. A sala era nosso lugar favorito
para o sexo e minha cama era sempre a última opção. Chamei um táxi para
ela ir embora, deveria ter pedido para ficar, mas não pedi. Eu quase nunca
peço para ela ficar e sempre me arrependo disso.
No trajeto para a empresa ouvia sua risada ao pé do meu ouvido. Eu
sorria lembrando de sua mão me explorando, minha mente gosta de me fazer
sofrer. Estacionei o carro na vaga para a diretoria, tinha meu nome na placa,
mas do que aquilo adiantava? Eu queria o nome dela em mim, ela em mim.
Dominadora, eu? Não! Submissa. Sentada eu não sentia tanto, mas andando,
minhas nádegas ardiam dos tapas da noite anterior. O pano roçava no
vermelho da minha bunda e me fazia lembrar dela. Entrei no elevador e
apertei o nono andar.
Um… dois… três… quatro… parou, entrou duas moças. Cinco…
seis… sete… as duas moças saíram. Oito… meu coração disparou. Nove. A
porta se abriu, andei com as mãos no bolso, como sempre faço, ela não estava
em sua mesa. As mãos no bolso é meu refúgio, uma forma de não mostrar ao
mundo tudo o que acontecia em minha mente, era a única forma que eu sabia
para não demonstrar minha ansiedade. Respirei fundo. Entrei em minha sala e
ela entrou junto. Apareceu não sei de onde. Nossos olhares se cruzaram e eu
contive o sorriso bobo que queria se formar em meu rosto. Ela segurava uma
xícara de café e uma cartela de remédio. Entregou-me a xícara e eu a encarei,
me mostrou o remédio e perguntou se eu estava sentindo alguma dor. Não
respondi e me aproximei tirando uma mecha do seu cabelo de seu rosto.
Encostei meus lábios no dela e me afastei falando que estava perfeitamente
bem. Aceitei o café e ela saiu da sala. Bebi um gole do líquido preto olhando
pela janela, adorava o movimento dos carros e dos pedestres.
Olhei o celular enquanto tomava mais um gole de café. “Essa cor lhe
cai muito bem.” Era uma mensagem simples, mas que dizia que eu tinha
agradado com a escolha da roupa. Sentei em minha cadeira para, enfim,
começar meu dia tedioso.
Quando relógio marcou, nove e cinquenta, ouvi duas batidas na porta e
a maçaneta girou. Entrou, eu encostei na cadeira para observá-la, fechou a
porta e andou devagar até mim. Colocou uma pasta sobre a minha mesa e
olhou minha caneca ainda com café, parecia intocada. Encarou-me como
quem não tinha gostado da desfeita e eu apenas retribui o olhar. Não
tínhamos uma relação normal, longe disso, muito longe. Éramos entregues a
algumas práticas de submissão e dominação. Mas ela é livre, eu sou livre,
ninguém quer prender ninguém e muito menos admitir que nos completamos
muito bem.
— Eu mesma fiz o café, não gostou? — não estava brava, mas parecia
chateada com o café ainda na xícara.
— Eu tomei antes de sair de casa.
— Aquilo que você faz não pode ser chamado de café. — Ela me
sorriu.
Eu apenas balancei a cabeça e lhe sorri de canto de boca. Levantei da
cadeira e me aproximei dela.
— Obrigada pelo café.
— Achei que não ia ser uma boa menina.
Ela me sorriu e eu lhe beijei a face. Olhou o relógio que eu o havia
dado no último aniversário e disse que precisávamos ir para a reunião.
Andamos pelos corredores frios como se fôssemos duas desconhecidas.
Eu com as mãos no bolso e ela segurando as pastas. Eu diminui um pouco o
passo só para vê-la andar rebolando na minha frente. Minha mente fervia
pensando na noite passada. Tapas e beijos, gozos e gemidos, o pano da calça
tocando suas marcas em mim me faziam querer beijá-la ali no corredor.
A reunião foi cansativa, três horas para concluirmos que a empresa
estava falindo novamente, coisa que eu já tinha previsto. Ninguém me escuta
nessas reuniões, mas a bomba sempre cai no meu colo. Impressionante como
esses homens não sabem nada do que estão fazendo. A única coisa boa
durante a reunião, foram os pés dela passeando pelos meus. Hábito antigo,
sempre gostei de participar das reuniões sem sapatos.
Após esta infernal reunião, voltei para minha sala sem sua companhia.
Era uma da tarde e eu estava faminta e pelo jeito que ela entrou pela porta,
ela também estava. Olhava-me profundamente, fechou a porta atrás de si e se
aproximou rápido. Levantei da cadeira e ela me enlaçou o pescoço me
puxando para um beijo sedutor e apaixonado. Minha mão se apossou de sua
cintura nos aproximando mais. O beijo tornou-se intenso e sua mão já me
apertava a bunda. Gemi em sua boca e ela apertou novamente. Gemi e ela me
olhou sorrindo.
— Vai ficar até tarde hoje?
— Infelizmente… esses imbecis não sabem fazer nada sozinhos.
— Quer jantar comigo?
— Só se for aqui.
Beijou-me novamente e com desejo me empurrou até a viga que separa
as duas janelas de vidro que cercam minha sala. Nosso beijo ardente e
urgente tornou-se exagerado, turbulento. Sua mão me explorava por cima do
tecido alinhado, um apertão nos seios me fez gemer novamente. Sua cintura
pressionou meu corpo contra a parede prensando minha bunda, suspirei
profundamente evitando demonstrar minha excitação. Enlaçou seu corpo com
minhas pernas e ergueu minhas mãos segurando-as firme.
— Gostei do presente que me mandou ontem. — Sorriu
maliciosamente.
Atacou minha boca sem me deixar responder, arranhou minha bunda
por cima da calça e meu corpo se contorceu querendo ao mesmo tempo fugir
e se entregar a ela. Apertou meu seio direito e me soltou se afastando sem
olhar para trás. Minha respiração ofegante denunciava o quanto ela mexia
comigo. Ela saiu me deixando em chamas e poucos minutos depois a porta se
abriu novamente e ela trouxe meu almoço. Deixou sob a mesa e saiu, naquele
dia ela não almoçaria comigo.
Enquanto comia revia inúmeras planilhas e a tarde passou mais rápido
do que normalmente passa. Eu precisava apresentar um plano de salvação na
segunda-feira e o tempo estava contra mim, assim como sempre parecia estar.
Recebi uma mensagem às seis da tarde: “Nosso jantar chega às 19h.”
Eu não respondi, continuei mergulhada nos números. Pontualmente, ela abriu
a porta. Ignorei sua presença por alguns minutos. Na minha sala, eu tenho
uma mesa de centro, um tapete felpudo, duas poltronas e um sofá de dois
lugares. Antigamente a mesa era de vidro, hoje é de madeira maciça, ela
mesma tomou a iniciativa de mudar o móvel. Não me opus, já usamos para
algumas brincadeiras. Parou ao meu lado.
— Vou ter que ficar brava contigo?
Eu ri e terminei de anotar algumas coisas em uma planilha que estava
impressa na minha mesa. Levantei e lhe beijei a testa. Segurou minha mão e
me puxou até os móveis. A bandeja com os sushis estava no sofá. Abriu a
bolsa e tirou a caixa que eu havia enviado para sua casa. Uma caixa pequena,
retangular, preta e a letra inicial do nome dela gravado em dourado.
— Vamos nos divertir antes de eu te alimentar?
Eu apenas sorri concordando e vendo seu sorriso malicioso recair em
cima do meu corpo. Abriu a caixa e sentou-se no tapete encostando no sofá.
Enquanto ela desenrolava as fitas de seda eu abria os botões da minha
camisete. Tirei-a de dentro da calça e comecei debaixo para cima, devagar,
olhando-a mexendo com as fitas. Ela fica linda concentrada, pensando o que
fazer com meu corpo. Eram cinco tiras de seda, duas pequenas, duas de três
metros e uma de dois metros. Ela esticou as fitas menores na mesa e as
maiores deixou-as enroladas, também em cima da mesa. Observou eu
terminar os últimos botões e me livrar da peça. Seu sorriso safado era
provocante. Tirei o sapato encarando-a e abri o botão da minha calça. Virei-
me de costas e desci a calça empinando a bunda para ela.
— Essa cor combina com você.
Ela se referia ao vermelhidão de minhas nádegas. Eu sorri sem que me
visse e com um elástico prendi meus longos cabelos em um rabo de cavalo
alto. Deixando minhas costas livre para ela. Virei-me de frente e tirei meu
sutiã com ela me encarando. Colocou duas almofadas perto das pernas da
mesa e me mandou ajoelhar, sua voz aveludada de excitação me preencheram
com uma sensação de desejo. Levantou-se e livrou-se do sapato, pegou uma
das fitas menores e ajoelhou-se atrás de mim beijando meu ombro. Puxou
meu braço e beijou meu pescoço, puxou o outro e enquanto amarrava meus
pulsos um no outro, beijava minha nuca. Quando terminou perguntou se eu
estava confortável.
— Sim, senhora.
Beijou meu ombro, nuca e desceu beijando até a lombar. Beijou minha
nádega direita e meu corpo reagiu querendo fugir, mas a mesa me deteve.
— Calma, não vou fazer nada com essa bundinha linda, só beijar.
Mordeu devagar minha lateral e eu me segurei para não fugir de sua
boca. Beijou minha nádega esquerda e mordeu a lateral novamente. Beijou
minhas costas da lombar até a nuca me arrepiando. Levantou-se e ficou do
outro lado da mesa e me sorriu tirando a blusa. Abaixou o zíper lateral da saia
e desceu devagar me provocando. Ajoelhou e pegou a fita maior e me sorriu
pedindo para que eu deitasse. A madeira em contato com meu corpo me
excitou sabendo o que viria pela frente. Ela se levantou, arrumou meu cabelo,
deixando-o de lado. Sentou em minhas costas com as pernas me apertando a
lateral do corpo, me arranhou levemente o corpo e eu me retorci arrepiada.
Passou a fita por baixo da mesa e senti ela passando a da esquerda para a
direita e vice-versa. Fazia como se estivesse passando um cadarço no tênis.
Repetiu os gestos até o fim da fita e amarrou as pontas na minha lombar.
Senti a fita cruzada pelas costas, ela adorava desenhar as amarras pelo meu
corpo. Beijou minha nuca e distribuiu beijos pelos ombros. Sentou-se no
tapete novamente. Pegou uma bandeja de sushi e colocou alguns nas minhas
costas.
— Não vale derrubar nosso jantar.
Ela falou levantando. Não conseguia ver o que ela estava fazendo. Senti
algo de metal passar por baixo do pano da minha calcinha, cortou o tecido,
repetiu do outro lado. Retirou o pano vendo o quanto eu já estava molhada.
Minha cabeça estava relaxada na mesa, eu estava confortável e minha mente
estava concentrada em seus passos. Ouvia sua respiração e sentia a minha
aflorar. Senti que começou a amarrar minha coxa ao pé da mesa, afastando
ainda mais minhas pernas. Passava a fita e o toque suave da seda me
arrepiava. Repetiu o mesmo com a outra coxa. Beijou minha nádega e
lambeu-a devagar. Soltei um gemido pelo toque inesperado. Alisou minhas
coxas e apertou levemente minhas nádegas. Sua boca me beijou suavemente
e senti ela passando um lenço umedecido por toda a extensão do meu sexo.
Passou mais uma vez, suavemente me provocando. Sua mão percorreu o
mesmo caminho do lenço e senti um leve tapa na buceta. Mais um tapa leve.
Outro. Senti seu corpo encostando no meu e ela comeu um sushi que estava
nas minhas costas. Lambeu o local e enfiou uma calcinha em minha boca,
não sabia se era a minha ou a dela, mas mesmo assim o gesto me excitou.
Beijou minha nádega novamente e o gemido foi abafado pelo tecido. Lambeu
meu sexo e foi quando me dei conta do quão presa à mesa eu estava. Lambeu
novamente e meu corpo reagiu com excitação. Ela iniciou um beijo grego
adorável e meu corpo queria mais estímulos. Suas mãos passeavam pelas
minhas coxas, subiam até a bunda e percorriam as costas. Sua língua me
castigava lentamente. Senti que passou gel lubrificante em meu ânus e
lambeu minha buceta, eu só tinha reações mentais as corporais estavam muito
bem presas. Meu corpo pedia por mais e recebi um tapinha me ardendo a
buceta, sua língua me acalmou da ardência e seu dedo invadiu meu ânus, eu
queria gritar, mas não dava. Enfiou outro dedo e me chupou. Seus dedos
entravam e saiam devagarinho e sua língua me lambia em câmera lenta. Seus
dedos foram substituídos por um plug anal. Penetrou rápido e me deu outro
tapa na buceta. Sua língua me castigou mais um pouco. Sentou-se ao meu
lado no tapete, eu estava ofegante e vidrada por mais, olhava-a e ela me
sorria. Ela tinha minha atenção e meu corpo exigia suas mãos, mas ela não
me tocaria mais. Seu olhar era penetrante, sedutor, sexy e provocativo. Olhou
o relógio, tirou o pano da minha boca e ajeitou o hashi na mão. Comeu outro
sushi e minha respiração estava alterada e o objeto enfiado em mim começou
a vibrar devagar. Ela comeu outro sushi e a velocidade da vibração
aumentou. Estava explodindo de vontade de gozar, mas não queria que fosse
tão rápido. Ela me sorriu e com a voz rouca de tesão me mandou gozar. Meu
corpo sempre a respeitava, senti as contrações musculares do gozo me tomar
o corpo e ela me sorria sabendo que eu estava obedecendo-a. Uma corrente
elétrica me percorreu o corpo anunciando que eu ia ter outro orgasmo, as fitas
me segurando contra a mesa me fascinavam tanto quanto a vibração. Ela me
olhava sorrindo e eu era puxada pelo mar negro dos seus olhos. Explodi em
um gozo maravilhoso e ela comeu o último sushi que estava em minhas
costas me olhando. Voltou o pano na minha boca e desligou o vibrador, eu
estava mole, meu corpo estremecia de êxtase e ela me penetrou com sua
cinta. Ainda bem que eu estava sem poder falar, pois pensei em alguns
palavrões para lhe dizer. Por alguns segundos ela ficou parada esperando meu
corpo se acalmar da invasão e do êxtase. Quando percebi, meu corpo já
clamava por ela novamente e sabendo disso, suas estocadas eram fortes,
enérgicas de encontro à minha bunda sensível me arrancavam gritos de
prazer, abafados pelo pano. Enfiadas precisas e fundas, fizeram com que
gozássemos juntas e ela tirou a calcinha de minha boca, eu estava ofegante e
ela também. Ela beijava minhas costas e aos poucos senti as fitas serem soltas
e meu corpo sendo libertado. Mesmo solta, permaneci deitada, sem forças
para levantar. Ela me ajudou a sentar no tapete, me aninhou em seus braços
até eu me acalmar. Pegou o celular e me mostrou a foto que tinha tirado de
mim amarrada, sorri e beijei-a. Permaneci acolhida em seus braços enquanto
me servia o jantar na boca. Entre um sushi e outro nos beijamos e trocamos
carícias.
— Amanhã vou dormir na sua casa. — Beijou meu rosto.
Encarei-a sorrindo, passei a mão em seu rosto e beijei-a delicadamente.
— Fica o fim de semana todo. — Minha voz quase não saiu.
— Vai aguentar tudo o que tenho para lhe proporcionar?
Eu ri e beijei-a com desejo.
— Você sabe cuidar de mim muito bem. — Sussurrei em seu ouvido e
ela sorriu.
Deitei-a no tapete e chupei sua buceta devagar, apreciando os gemidos
e a respiração cortada. Naquele momento eu não sabia, mas seria nossa
última noite juntas. Ela não apareceu para trabalhar no dia seguinte, não
apareceu na minha casa e não passou o final de semana comigo. Seu gozo
escandaloso ficou marcado em mim e na segunda-feira pela manhã ficamos
sabendo oficialmente do seu sumiço, ninguém tinha visto ela após o
expediente. Eu fui a última que, em teoria, tinha visto-a com vida.
Quando a porta do elevador se abriu naquela segunda-feira ensolarada,
haviam policiais em minha sala, perambulando pelo andar todo. Respirei
aliviada por saber que ela não passou o fim de semana comigo por ter
sumido, mas meu desespero veio logo em seguida. Como uma pessoa podia
sumir daquele jeito. Um detetive se aproximou de mim fazendo perguntas e
eu não escutava o que ele perguntava. Apenas me lembrava do seu gosto, do
seu cheiro e do seu sorriso. Lembrava de seu último gozo e sua última frase:
“Sua língua é muito boa no que faz.”
— Anelise Arantes, a senhorita precisa nos acompanhar.
— Para onde? — foi o que consegui responder.
— Delegacia.
Ele pegou meu braço e me puxou em direção do elevador e ver a porta
da minha sala aberta, era como se minha vida fosse escancarada a todos e isso
não podia acontecer.
Capítulo 2
Um ano atrás
Lembro até hoje do celular tocando e eu saindo correndo ansiosa para
atender. Coisa rara de acontecer. Era uma resposta da entrevista de emprego
que eu havia participado. Tinha sido selecionada dentre quase quinze CFOs
(Chief Financial Officer, ou seja, Diretor Financeiro) com currículos
melhores do que o meu. Estava oficialmente empregada em uma das
empresas de tecnologia mais conceituadas da América do Sul, Corporate &
T.I.
No primeiro dia de trabalho, acordei cedo e procurei em meu guarda-
roupa algo para vestir. Tenho camisetas sociais femininas de todas as cores e
modelos, as calças variam na tonalidade de cinza e preto com bolsos. Nada
me deixa mais desconfortável do que não ter onde colocar as mãos. Preciso
de bolsos para mostrar ao mundo minha calma externa evitando demonstrar a
agitação interna.
Fui de táxi até a empresa, estava sem carro momentaneamente. Tive
uma reunião de apresentação e uma pessoa me chamou a atenção naquela
sala. Uma. Apenas uma. Ágatha. Esse era o nome da mulher que ia virar o
meu mundo de ponta cabeça.
Ela vestia uma blusa branca, uma saia cintura alta e salto alto. Nossos
olhares se cruzaram intensamente. Meu coração reagiu a ela como se nunca
tivesse visto uma mulher sexy. Seu olhar percorreu meu corpo sem pudor.
Ajeitou-se na cadeira e de leve pousou a caneta nos lábios. Um par de olhos
pretos e arredondados, perseguidores e brilhantes não me largavam.
No fim da reunião, vi Samuel, o CEO (Chief Executive Officer, ou seja,
Diretor Executivo) da empresa, conversando com ela e sua insistência em
tocar a moça me irritou. Ela se afastou dele, deixando-o nervoso. Odiava
diretoria de empresa multinacional, sempre tinha um homem que se achava
no direito de assediar as mulheres. Ela foi designada a apresentar minha sala
e seria minha secretária. Segui-a por um longo corredor do nono andar. Ela
andava na frente e eu atrás. Minhas mãos no bolso e a tentativa de parar de
olhar suas ancas me incendiavam. Isso não poderia estar acontecendo de
novo, minha cabeça até se emaranhava quando me lembro do meu último
relacionamento.
— Um desafio enorme assumir a diretoria financeira de uma empresa
como essa. — Ágatha disse abrindo a porta e me olhou sorrindo.
A sala era enorme, além da minha mesa eu teria sofás, estantes e um
banheiro privativo.
— Com certeza. — Encarei-a.
— Quer algo? Café, água…
— Estou bem, obrigada.
Entrei na sala e ela fechou a porta.
Estava nervosa. Muito nervosa, mas eu tenho certeza que ninguém
notou, eu mesma não notaria se não soubesse a verdadeira ansiedade que este
trabalho já estava me trazendo. Sentei na cadeira de couro e tudo era novo.
No meio da manhã, Ágatha entrou na sala depois de bater.
— Quer algo para o almoço?
Olhei-a curiosa. Deixou uma pasta sob a minha mesa.
— Você não tinha secretária no seu antigo emprego?
— Tinha, mas ela não cuidava da minha alimentação. — Meu tom de
voz saiu como se eu estivesse brava, mas estava apenas curiosa.
— Eu já peço o almoço de quase toda a diretoria, incluir o seu não vai
me tomar tempo algum.
— Ok. Sou vegetariana, qual sua sugestão?
Ela me olhou levantando uma sobrancelha.
— Você não tem cara de que é vegetariana.
— Existe padrão estético para ser vegetariana?
— Desculpe, não quis ofender, só achei que estava me testando.
— Vegetariana desde os vinte anos.
Encarou-me.
— Mandarei as opções no seu e-mail.
— Ok!
Eu abri a pasta que ela tinha me levado e senti seu olhar em cima de
mim. Olhei-a e ela me encarou.
— Posso te ajudar em alguma coisa?
Ela me sorriu de canto de boca e não respondeu de imediato, me
encarou alguns segundos.
— Você é muito jovem para ser diretora de finanças de uma
multinacional.
— E você é muito abusada para uma secretária executiva.
Ela riu e eu me encantei com seu sorriso. Eu precisava fazer muitas
coisas antes do almoço e aquela garota estava me distraindo. Apontei a porta
apenas com um dedo, discretamente, e disse que ela podia sair. Ela apenas
me sorriu e saiu andando devagar, para chamar minha atenção a ela. E
conseguiu.
Meia hora depois, vejo uma notificação em meu e-mail. Algumas
opções de prato e o nome dos restaurantes que servem comida vegetariana.
Embaixo de tudo, havia um comentário dela: “Infelizmente as opções são
poucas aqui perto da empresa, mas posso ampliar o raio e ver em outros
bairros.” Eu não queria ser rude, mas respondi: “Por isso que eu mesma
cuido da minha alimentação.” Não obtive resposta e eu mesma providenciei
meu almoço.
No fim daquele dia cansativo e cheio de novidades, precisava me
distrair, mandei mensagem para Maitê, mas não obtive uma resposta
imediata. Arrisquei um aplicativo de paquera que tinha instalado
recentemente por recomendação de tentar me abrir mais para novas
oportunidades de relacionamento. Li o perfil de algumas garotas, mandei
algumas mensagens, mas não me empolguei com nenhuma delas. Saí do
aplicativo e ouvi batidas na porta. Ágatha entrou e se aproximou séria.
— Estou de saída, precisa de algo?
Apenas olhei-a e ela me encarou. Seus olhos me consumiam e eu não
conseguia desgrudar deles.
— Não quis ser rude com a resposta do e-mail. — Tentei entender suas
emoções.
— Estou acostumada a coisa pior. Amanhã pedirei seu almoço e você
não se decepcionará.
— Ágatha, fique tranquila, não precisa disso.
— Você tem gostos peculiares, por ser vegetariana, mas isso não me
assusta. Vou conseguir achar um restaurante interessante para você.
— Obrigada. — Em um gesto automático sorri para ela.
Ela me sorriu curiosa. Saiu da sala e logo em seguida eu também saí.
Que reação foi essa perto de uma desconhecida? Eu me perguntei sem
entender o porquê eu havia acabado de sorrir a ela.
Naquela noite, saí para me divertir e encontrar uma das garotas do
aplicativo, mas foi mais um encontro furado. Conversas sem fundamento e a
garota era sem graça. Quando percebi, estava pensando em Ágatha e seu jeito
estranho de querer pedir meu almoço. Senti um olhar em minha direção,
quando finalmente vi de onde vinha, meu coração disparou, era ela.
Caminhou em minha direção, eu estava encostada no balcão do bar, tomando
água com gás, mas eu saí andando como se não tivesse visto sua chegada. Eu
não deveria me envolver e sabia que acabaria acontecendo, me conheço
muito bem.
Saí da boate e instintivamente caminhei com as mãos nos bolsos. Ouvi
alguém falar meu nome e tocar meu ombro.
— Já vai? — Ágatha me sorriu.
— Sim!
— Quer tomar um drink? Sei que é nova na cidade, não deve conhecer
muita gente.
— Anda me investigando?
— Tem medo de eu descobrir algo que não deveria?
Dei de ombros e um sorriso.
— Não me importo.
— Deve se importar sim. Não tem redes sociais, não tem namorados ou
namoradas e todas as pesquisas relacionadas ao seu nome, são entrevistas
sobre finanças falando do quão inteligente você é.
— Posso considerar isso uma perseguição?
Ela me sorriu e eu pedi um táxi pelo celular.
— Eu…
— Você?
— Só estou tentando te entender, você é uma das minhas chefes agora.
— Você me conheceu hoje, não precisa me entender. — Olhei-a brava
— Você só precisa fazer seu trabalho direito. Atender ligações, anotar recado,
entregar documentos… me entender é a última coisa que você vai querer ou
precisar. Se com os outros diretores, você tem outras funções, eu não me
importo e não as quero.
— Você é excêntrica.
Minhas mãos estavam novamente no meu bolso. Eu não respondi e
ignorei o fato dela estar atormentando minha imaginação. A todo momento
eu a via nua. Seu olhar era fixo em meu corpo. Alguns minutos em silêncio e
o carro parou no meio fio para que eu entrasse.
— Não precisa fugir de mim.
— Até amanhã, Ágatha.
Entrei no carro e no percurso para casa me arrependi de a ter deixado
para trás. Desci do carro e caminhei devagar até o elevador. Eu ainda estava
impactada com o comportamento invasivo de Ágatha. Enquanto o elevador
subia, chequei minhas mensagens e não havia nada de novo. Entrei no
apartamento, tirei o sapato ao lado da porta e fui até um dos quartos extra da
casa. Havia instalado um saco de pancadas, precisava descarregar minhas
emoções nele. Desabotoei a calça e tirei a camisete de dentro. Enquanto abria
os botões pensei nos olhos pretos que me encaravam de forma diferente e
nada discretos. Pendurei a camisa em um mancebo e em seguida fiz o mesmo
com a calça. Amarrei o cabelo em um alto rabo de cavalo, desenrolei uma
bandagem e comecei a passá-la no pulso e na mão. Repeti o gesto na outra
mão, vesti a luva e treinei por cerca de uma hora.
Estar suada e cansada, após um treino de boxe, geralmente, era um
início para que minha mente se acalmasse e se preparasse para uma tranquila
noite de sono. Naquele dia, isso não foi suficiente. Tomei um banho gelado,
fiz uma vitamina e sentei no sofá com o notebook nas pernas. Digitei o nome
da garota no buscador e o resultado foi inúmeros perfis de diversas redes
sociais. Analisei as fotos, uma variedade imensa de amigos, festas e selfies.
Eu queria hackear o computador dela, então mandei um link falso no
seu e-mail, fingindo ser de um restaurante vegetariano que eu queria que ela
pedisse meu almoço no dia seguinte. Mandei no e-mail empresarial com
cópia para o particular, torcendo para ela abrir pelo computador dela ou pelo
celular.
Algumas horas depois, vi que ela havia aberto o link, como minhas
habilidades em hackear eram mais amplas do que a maioria das pessoas tem,
invadi seu computador e descobri a senha do seu e-mail. Se ela queria
perseguição era o que teria. Além do e-mail, descobri a senha das suas redes
sociais, deixei anotado, caso precisasse algum dia.
Na caixa de e-mail, não havia nada comprometedor, apenas algumas
propagandas e conversas com a mãe. Eu odiava me sentir ameaçada, então fiz
com que cópias dos seus e-mails fossem enviados para o meu. Tudo o que ela
receber, eu saberei. Fiquei curiosa com a pasta de imagens do computador,
mas não me atrevi a entrar, deixaria para outro dia. Ágatha me intriga e isso
não é nada bom.
Capítulo 3
Dias atuais – Interrogatório
Eu estava em uma sala de interrogatório há mais de duas horas,
ninguém me falava nada. Estava sozinha e sem celular. Já tinha tentado sair,
mas a porta estava trancada. Quando finalmente alguém abriu a porta, dois
policiais entraram na sala. Uma mulher e o mesmo detetive que me puxou
para fora do andar quando cheguei na empresa naquela manhã.
— Qual sua relação com a senhorita Ágatha Ribeiro?
— Ela é minha secretária.
A policial abriu uma pasta e me mostrou algumas fotos. Em todas eu
estava amarrada, algemada ou em alguma posição de submissão. Eu sempre
aparecia de costas, mas minha tatuagem me dedurava. Foi estranho rever
aquelas fotos dentro de uma delegacia.
— Reconhece estas fotos?
— Sim. — Olhei-o curiosa.
— Qual sua relação com a senhorita Ágatha Ribeiro?
— Ela é minha secretária, não temos uma relação. — disse nervosa.
— Como ela tirou estas fotos? Ela estava chantageando a senhorita?
— Estas fotos foram tiradas com minha autorização, mas isso não
muda minha relação com ela.
A policial estava nervosa e pegou uma foto na mão. Era a primeira foto
que Ágatha tinha pedido para tirar.
— Esta data é de um ano atrás.
— Sim. Data da mesma época que eu entrei para trabalhar na empresa.
Eu não tenho vergonha de gostar de ser submissa, se é isso que estão
insinuando.
— Por que Ágatha tem estas fotos no celular e no computador dela?
— Porque ela gosta de ser domme. Ela gosta de fotografar as nossas
cenas. O que as fotos têm a ver com o sumiço dela?
— Você é a principal suspeita. O que aconteceu entre vocês na quinta-
feira?
— Nós jantamos na empresa e levei ela para a casa dela.
— Esta foto, — me mostrou uma em que eu estava amarrada na mesa
da minha sala — diz que vocês fizeram mais coisas além de um jantar.
— Sim, fizemos uma cena. Quer que eu a descreva?
— Uma cena?
— Sim. Quando interpretamos papéis de submissão e dominação
envolvendo ou não sexo. Eu não sumi com a Ágatha. Deixei-a na casa dela,
as câmeras de segurança do saguão do prédio irão comprovar isso. Posso ir
embora agora?
— As câmeras de segurança deram defeito naquela noite e não filmou
nada.
— Muito conveniente isso. Eu quero minha advogada. Sem
comentários daqui para frente. — falei brava encarando-a.
— Ágatha estava te chantageando com as fotos?
— Não. Eu quero minha advogada.
— Qual relação você tinha com Katherine Suarez? — a policial estava
brava.
— Sem comentários.
— Por que ela tem uma ordem de restrição contra você?
— Vocês estão violando os meus direitos.
— Ela era sua domme?
— É muito mais complicado do que isso.
— Por que a ordem de restrição? O que você fez contra ela?
— Sem comentários.
— Tivemos relatos de gritos vindo da sua sala naquela quinta-feira.
Eu peguei a foto que a policial tinha me mostrado e apontei minha
boca.
— Olhe bem para essa foto! — falei brava mostrando a foto à mulher
— Você já tentou gritar com uma calcinha na boca? — olhei-a nervosa — Eu
quero minha advogada e meu celular.
— Responda, qual sua relação com a Ágatha Ribeiro? O que você fez
contra Katherine Suarez?
— Sem comentários, quero minha advogada.
— O que aconteceu naquela noite?
— Sem comentários, quero minha advogada.
A policial me olhou brava, fechou a pasta das fotos e saiu acompanhada
pelo detetive. Como alguém poderia achar que eu queria o mal da Ágatha? A
mesma policial voltou sozinha.
— É a sua última chance de falar a verdade.
— Eu não sei o que aconteceu com a Ágatha.
Ela me encarou e eu franzi a testa, nossos olhares ficaram inquisitivos
até ela parar de me olhar e sair da sala. Meia hora depois voltaram com o meu
celular e ficaram me observando ligar para minha advogada.
— Maitê? Preciso da sua ajuda, estou na delegacia.
— Não fale nada sem a minha presença. — disse nervosa.
Desliguei e devolvi o celular à policial. O detetive me olhava sisudo e
eu encarei-o até deixá-lo sem graça. Minha salvadora entrou na sala em
menos de vinte minutos após a ligação. Ela parou ao meu lado com sua cara
de má e expulsou os dois policiais da sala. Eu me levantei e abracei-a com
força e ela retribuiu.
— O que você aprontou? — me fez olhá-la.
— Nada. Dessa vez eu não fiz nada.
— Qual a acusação?
— Minha secretária sumiu e alegam que eu fui a última pessoa a vê-la.
— E foi? — me fez olhá-la.
— Como vou saber? Deixei-a na casa dela e fui para a minha.
— Ela é sua nova domme? — perguntou ciumenta.
— Podemos dizer que sim. — Respondi sem jeito.
— Saudade das nossas cenas. — Ela se sentou me olhando saudosista.
— Eu também tenho, me tira dessa confusão e você poderá me castigar
por fazer você perder seu tempo. — Passei a mão em seu rosto — Eles têm
fotos minhas tiradas por ela. — Também sentei — E sabem que tenho acesso
ao computador dela.
— Você e sua mania de voyeurismo.
— Dessa vez a mania era dela também.
— Vocês eram exclusivas uma da outra?
— Não oficialmente.
— Ela tinha outras submissas?
— Não sei. Nunca ousei perguntar.
— O que aconteceu na última vez que se viram?
— Ela me amarrou em uma mesa que tenho na minha sala, fizemos
uma cena e jantamos sushi.
— Preciso conhecer essa sala. — Ela me sorriu.
— Eu a levei para casa e fui para a minha. Eu tenho câmeras no hall de
entrada do meu apartamento e tenho na sala também, isso me ajudaria?
— Sim, mas você foi direto para casa, sem paradas?
Olhei-a e respirei fundo.
— Não.
— Então não vai ajudar.
— Mas vai mostrar que eu não saí de dentro do apartamento até na
manhã seguinte e depois vai mostrar eu voltando da empresa. Eu não saí de
dentro do apartamento até na segunda-feira. — Eu disse brava e nervosa.
— Não sei se ajudaria, posso colocar como prova e álibi, mas essas
coisas não costumam ajudar em nada.
Eu olhei-a sem saber o que fazer. Os policiais voltaram.
— Minha cliente já pode ir embora?
— Não. Ainda temos perguntas não respondidas. — Disse o detetive —
Por que a senhorita tinha acesso ao computador da sua secretária?
— Eu… ela… ela gostava de se exibir para mim quando estava em
casa.
— Então vocês tinham uma relação?
— Depende do que o senhor chama de relação. Eu era submissa da
Ágatha, mas apenas isso. Sem envolvimento emocional.
Ele abriu a pasta de fotos novamente e vi Maitê se controlar para não as
pegar e ver de perto.
— Estas fotos são antigas, de um ano atrás, correto? — ele disse.
— Sim e o senhor já me perguntou isso. — disse brava.
— Do que estão acusando minha cliente? De ser submissa? Vocês não
têm nada contra ela.
— Ágatha está desaparecida e…
— Está, mas nada leva até a minha cliente, suas especulações sobre a
relação das duas é infundada. — Maitê estava muito brava.
— Sua cliente foi a última pessoa que viu a desaparecida.
— Vocês não têm provas disso.
— Temos um vídeo da garagem do prédio da empresa.
— Qual o horário do desaparecimento? — Maitê encarou o detetive.
— Ainda não temos certeza. As colegas de quarto disseram que ela não
voltou para casa na noite de quinta-feira. Elas deram queixa no sábado à
tarde.
— Eu a deixei na porta do prédio dela. — Eu disse brava — O que ela
fez depois disso não é minha responsabilidade.
— O que você fez depois de deixá-la em casa?
— Fui a um bar chamado Lado B.
— Tem como comprovar?
— Paguei em dinheiro, mas conheço a dona do bar, conversei com ela
naquela noite.
— Podem liberar minha cliente?
— Manteremos contato.
Os dois saíram da sala.
— Por que mentiu? — ela sussurrou.
— Eu não menti.
— Você detesta a Samantha, por que foi lá?
— Detesto, mas ela ainda é minha sócia. O bar é perto da casa da
Ágatha e eu queria beber algo. Ela veio falar comigo, tentou me instigar a
passar a noite com ela, mas eu fui embora quando terminei minha cerveja.
— Você tem certeza que a Samantha vai confirmar que conversou
contigo?
— A essa altura não sei de mais nada. Eles me perguntaram sobre a
Katherine.
— Eles não têm como relacionar uma coisa com a outra.
— Tem certeza?
— Ainda não, mas terei em breve.
Saímos da sala e a policial me olhou de longe e eu me apressei para
acompanhar Maitê. Andamos até o estacionamento da delegacia.
— O que faremos?
Ela me olhou brava.
— Você tem certeza que é inocente?
— Por que eu mentiria para você?
— Voltamos a conversar mais tarde.
Ela se afastou de mim e me olhou antes de entrar no carro.
Voltei ao escritório e não tinha mais policiais no andar, a mesa de
Ágatha estava bagunçada e a minha sala um rebuliço. Entrei, fechei a porta e
encostei nela sem saber como reagir a tudo. Seu sumiço me revirou o
estômago. Sentei no chão olhando os papéis jogados pela sala, a mesa sem
computador e olhando para o celular rezei para que tudo fosse apenas um
sonho.
Bateram na porta e eu me levantei respirando fundo. Era Samuel,
entrou sem pedir. Nossa relação nunca foi boa e com o sumiço de Ágatha só
tendia a piorar. Encarou-me bravo.
— O que você fez com a Ágatha?
— Nada.
Coloquei as mãos no bolso.
— A polícia disse que você é a principal suspeita.
— Eu fui a última pessoa a vê-la, mas isso não quer dizer nada.
— Quer sim.
Ele se aproximou de mim, eu dei um passo para trás e mantive as mãos
no bolso e a postura.
— Se for para me atacar, por favor, saia da minha sala.
— Essa investigação não será arquivada tão cedo e sua máscara de boa
moça cairá.
— Eu nunca fui uma boa moça. — Encarei-o e apontei a porta — Mas
não mato, sequestro ou sumo com pessoas.
— Você está afastada do seu cargo até o final das investigações. Sem
cargo e sem salário, até provar sua inocência.
Ele me fuzilou com o olhar e saiu. Eu não tinha mais motivos para estar
naquela sala. Olhei o celular em busca de notícias e de Maitê, mas ele estava
sem nenhuma notificação. Peguei minha carteira na gaveta e fui para casa. O
que mais podia fazer, além de esperar?
No caminho para meu apartamento comecei a ter a horrível sensação de
que eu perderia Ágatha para sempre. Estacionei o carro na garagem, desci,
coloquei a fina carteira no bolso traseiro e o celular no da frente. Tranquei o
carro enquanto andava em direção do elevador, meus pensamentos agitados
não me ajudavam a raciocinar. Queria lembrar se ela tinha me dito algo ou o
nome de alguém que pudesse ser suspeito. Nossas conversas eram sempre tão
pontuais que eu não conhecia ninguém da vida dela, além de seu passado
com Samuel algumas preocupações com sua mãe, carreira e vida financeira.
Com esse sumiço repentino percebi que sabia muito pouco sobre sua vida. No
elevador, apertei para subir e contei até cem mentalmente, precisava me
acalmar.
Entrei em casa, tirei o sapato ao lado da porta e busquei meu notebook
no quarto. Sentei na sala e tentei acessar o computador de Ágatha, mas estava
bloqueado. Tentei algumas artimanhas, mas nada adiantou. Deixei o
notebook no sofá e fui fazer meu treino de boxe. No quarto, tirei minha
camisete de dentro da calça, abri os botões pensando em tudo o que eu já
tinha vivido com ela e pendurei-a no mancebo. Seu desaparecimento na sexta
foi anormal, mas eu raramente me intrometo na vida dos meus subordinados,
principalmente se eu estou tendo um envolvimento de submissão.
Na quarta-feira, ela disse que precisava levar a mãe no médico, então
não me preocupei tanto quando não apareceu na sexta.
Comecei a passar a bandagem pelo pulso.
Na quinta, na hora que nos despedimos, ela me beijou calorosamente e
me sorriu, como sempre fazia quando queria me pedir algo.
Passei a bandagem na outra mão.
“Quero que você seja minha sub exclusiva.” Foi o pedido que ela me
fez, no momento que me pediu para ser dela, sentimentos ruins afloraram em
mim e eu não respondi.
Tirei a calça e me aproximei do saco de pancadas, não iria usar luva.
Fiz uma sequência de seis socos e parei olhando o saco se movimentado bem
lentamente. Fiz mais uma sequência e apoiei a cabeça no saco quase
abraçando-o. Tentei deter as lágrimas, mas foi inevitável. Enquanto chorava
eu voltei a golpear. Nada fazia sentido. Dez, quinze, vinte minutos de socos e
meu corpo não se acalmava. Eu me ajoelhei e ainda ofegante senti as
lágrimas voltarem. Eu poderia ter sido dela e agora a perdi para sempre. Meu
celular me salvou daquele devaneio. Atendi e ninguém me respondeu.
Tomei um banho e voltei para a sala, abri o notebook e não consegui
rastrear nenhuma compra nos cartões de crédito no nome da Ágatha. Se ela
tivesse sumido por vontade própria ou tivesse sido assaltada, os cartões
teriam sido usados, pelo menos é o que eu penso. Tentei acesso ao seu
computador novamente e usando de outro truque tecnológico consegui.
Entrei em uma pasta de imagens com o título de “Sub” e cliquei na pasta
com meu nome. Ela tinha registrado todas as nossas cenas, com exceção das
primeiras. Verifiquei o histórico de navegação e não encontrei nada que
pudesse simbolizar planos para uma viagem. Desloguei do computador dela e
pelo meu celular entrei em um aplicativo que me mostrava a localização do
seu celular. O aparelho mostrava que o dela estava desligado desde de sexta-
feira de manhã. Deitei no sofá e coloquei o notebook no chão. A sensação de
impotência estava mais do que aflorada. Liguei para Maitê.
— Você descobriu algo?
— Que eles vão alegar suas invasões no computador e os aplicativos no
celular como perseguição e as fotos como chantagem dela para conseguir
algo de você.
— Mas ela consentiu tudo e eu também.
— Você tem por escrito?
— Não.
— Então eles vão usar isso contra você.
— Tenho uma conversa via aplicativo, isso conta?
— Depende do juiz. Manda para mim, verei o que posso fazer.
— Você está bem?
— Não!
— Você gosta dela?
— Pergunta difícil, Mazinha.
— Eu sei bebê, eu sei.
— Ela pediu para que eu fosse exclusiva dela, na quinta quando a
deixei em casa.
— Você aceitou?
— Não respondi e mandei ela descer do carro, como se ela tivesse me
pedido um absurdo.
— E é um absurdo?
— Não.
— Então você gosta dela.
— Acho que para você posso admitir que ela me faz bem. Ou fazia, já
não sei mais qual tempo verbal usar.
— Acalme-se. Quer passar a noite aqui em casa?
— Não! Sua mulher me mataria.
— Ela não está.
— Eu não estou no clima, quando tudo isso terminar, deixarei você se
aproveitar do meu corpinho mais uma vez.
Ela riu alto, adorava a gargalhada dela e eu sorri.
— Pode me ligar a qualquer hora, tente dormir.
— Samuel me proibiu de voltar para a empresa, estou suspensa e sem
salário até tudo se resolver.
— Vou cuidar de você, bebê, como sempre cuidei.
— Obrigada.
Desligamos e comi alguma coisa. Liguei a televisão e procurei um
filme para me distrair. Desliguei-o na metade e fui para a cama, não
conseguia me concentrar. Deitei apenas de calcinha e fiquei olhando o teto
até o sono me invadir.
Pela manhã, a campainha de casa tocou, vesti um roupão que sempre
deixo no mancebo do quarto e fui em direção da porta. Como era a
campainha do hall e não do prédio, achei estranho, mas podia ser algum
vizinho ou Maitê, o porteiro a conhecia.
— Polícia! Abra a porta! — ouvi murros na porta e voltei para o quarto
pegar meu celular e avisar Maitê — Polícia! Abra a porta ou vamos invadir!
Ela atendeu sonolenta.
— Maitê eles vão me prender de novo. Eles estão na porta de casa.
— Vá com eles, não demonstre resistência, te encontro na delegacia.
Alcancei a porta e abri. O detetive entrou acompanhado da mesma
policial do interrogatório. Eu não pude ter reação, ela me agarrou os braços e
me algemou. Eu ainda estava de roupão e ele se abriu, mostrando meu corpo
ao delegado.
— Posso ao menos por uma roupa? — perguntei tentando me soltar da
policial.
Não me responderam, a policial fechou meu roupão e foi me puxando
para fora do apartamento.
— Qual a acusação dessa vez? — gritei com o detetive.
— A possível morte da senhorita Ágatha Ribeiro.
Eu parei de me debater e fui arrastada até o elevador.
Capítulo 4
Um ano atrás
Ágatha sempre estava impecável com uma saia e uma blusa semi
decotada. Eu prestava atenção em seus movimentos quando entrava na minha
sala, parecia que ela ensaiava cada um deles antes de ir falar comigo. Depois
do encontro no bar ela insistia em saímos para tomar um drink depois do
trabalho, mas eu resistia firmemente. Mesmo sonhando com o beijo dela, eu
resistia e fingia que não tinha interesse nenhum nela.
Ela me venceu na briga sobre pedir meu almoço e passei o endereço do
restaurante que eu gostava para facilitar. Eu tinha esquecido do alerta que eu
tinha colocado no e-mail dela, depois do encontro no bar, vi que ela tinha se
cadastrado em um site de filmes eróticos. Ela entrava na sala apenas depois
de bater na porta e o seu andar até a minha mesa, era lento, como se quisesse
fazer eu parar de olhar o computador para olhá-la e isso funcionava toda vez.
Nas reuniões que tive durante a semana com a diretoria, ela estava
presente na maioria delas, pois os diretores exigiam uma pauta de tudo o que
foi falado. Em vários momentos eu percebi ela me “comendo com os olhos”.
Não gosto muito dessa expressão, mas era o que ela fazia, às vezes, eu me
sentia nua perante seu olhar preto e intenso.
Quando tinha que me trazer algum documento para assinar, ela fazia a
volta na minha mesa e ficava parada ao meu lado para mostrar onde eu
precisava assinar. Eu estava me sentindo assediada com a forma que ela
invadia meu espaço e essas atitudes dela estavam me deixando acuada.
Ágatha deve ter percebido os sinais do meu corpo ao lado dela, afinal mesmo
sem falar nada, minha respiração era outra quando ela estava próxima.
Em um fim de tarde, entrou e se aproximou da mesa.
— Você…
Encarei-a brava.
— Você não vai mesmo aceitar o drink que propus?
— Garota qual aposta que você fez com suas colegas de trabalho? —
ela me olhou brava — Diga que você conseguiu o que apostaram que eu
confirmo, mas pare com isso. Não te conheço e não te dei liberdade para
querer sair comigo.
— Ok! Você me venceu! Era uma aposta, posso falar que consegui o
que queriam?
— Pode! — voltei a olhar os papéis sob a minha mesa.
— Mas você não sabe o que é.
— Não quero saber, desde que me deixe em paz.
Ela se aproximou de mim e ficou parada do meu lado. Aproximou seu
rosto do meu.
— Excêntrica. — Ela me sussurrou e colocou uma pasta na minha
frente.
— Por que está tendo esse comportamento comigo?
Nossos rostos ficaram próximos.
— Porque você me chamou a atenção desde o primeiro minuto que
entrou na empresa, no dia da sua entrevista para a vaga de emprego e não
apenas hoje.
Eu estava tentando me controlar com ela tão perto do meu rosto. Minha
atenção era dela, desde o primeiro minuto dentro da empresa. Ela era um ímã
para meus olhos e pelo jeito eu estava sendo para ela também e isso me
deixou excitada.
— Cuidado com o que deseja, Ágatha.
— Eu não tenho medo do perigo.
— Por favor, saia da minha sala.
— Vou sair, mas você me deve um drink.
— Isso é assédio!
— E você gosta. — Ela falou tão perto do meu ouvido que precisei
respirar fundo para não a beijar.
Ela saiu da sala e meu corpo reagia a ela de forma estranha e totalmente
nova para mim.
Na sexta-feira de manhã, vi Samuel perto da mesa de Ágatha, ela
parecia estar acuada e para salvá-la parei ao lado do diretor executivo e lhe
estendi a mão.
— Perdido no nono andar, Samuel?
Ele me olhou meio constrangido e apertou minha mão.
— Vim deixar essa pasta. — Ele colocou a pasta na mesa de Ágatha.
— Não precisava se incomodar, sua secretária pode me trazer da
próxima vez.
— Aproveitei para esticar as pernas.
Ele sorriu e se despediu.
Eu abri a pasta quando ele se afastou e não tinha nada nela. Encarei
Ágatha e voltei a fechar a pasta.
— Ele sempre faz isso?
Ela ficou sem graça e pela primeira vez naqueles dias, a vi
envergonhada por alguma coisa.
— Sim. Era um código para que eu fosse até a sala de reuniões com ele.
— Vocês estão junto?
— Não.
— Não aceite intimidação da parte dele.
Ela me sorriu e eu entrei em minha sala, tentei focar no que eu
precisava fazer. No fim do dia, depois de uma semana cheia adaptações, meu
treino de boxe não ia ser o suficiente para me acalmar e fazer meu corpo
descansar. Entrei no aplicativo de paquera em busca de algo diferente, mas já
estava preparada para a decepção. Decepção confirmada e ouvi uma batida na
porta. Ágatha entrou para me entregar um documento. Olhei-a e ela retribuiu.
Ela era uma garota linda e provocante.
— Quantos anos você tem?
— Eu não posso saber nada sobre você, mas você quer saber de mim?
— me sorriu e cruzou os braços.
— Não gosto de repetir perguntas.
— E eu não gosto de respondê-las.
— Mas gosta de fazê-las?
Ela me sorriu de canto de boca.
— Não vamos a lugar nenhum desse jeito. — Ela disse brava.
— A pergunta é simples.
— Eu só respondo se me pagar um drink.
— Você é soltinha assim com todo mundo?
— Só com quem me fascina. — Sorriu maliciosamente.
— Eu te fascino?
— Você é excêntrica.
— É a terceira vez que a senhorita usa essa palavra para me descrever.
— Não existe definição melhor. Um drink, hoje, às sete?
Eu olhei para o celular e voltei a olhá-la.
— Eu não saio com colegas de trabalho.
Eu vi que ficou enfurecida com minha resposta, saiu da sala e bateu a
porta.
Fui para casa e após meu treino de boxe abri o notebook para espioná-
la, não achava certo, mas ela me causava estranhas sensações, ora boas, ora
não exploradas por mim. Ela estava em um site chamado “Spank Me” com
vídeos eróticos de BDSM (sigla de bondage, disciplina, dominação,
submissão, sadismo e masoquismo). Naquele momento entendi o porquê de
suas tentativas de sair comigo, eu era parecida com a garota do vídeo que ela
estava assistindo e pelo seu histórico de navegação, aquele filme era seu
favorito.
Invadi sua webcam e pela sua expressão, deveria estar se masturbando
enquanto via a garota do vídeo amarrada sendo chicoteada. Eu gostava da
prática de BDSM e ver sua cara de excitação me deixou mais atordoada do
que antes. Se ela já me deixava seduzida, agora seria impossível evitar seu
olhar. Só não sabia se ela estava excitada por se imaginar batendo em alguém
ou por pensar em estar amarrada. Naquela noite, procurei um clube de
práticas BDSM, pois aquele vídeo me deixou excitada e nenhuma garota
comum iria dar conta do meu tesão acumulado.
Passei o fim de semana me recuperando da sessão de sexta e na
segunda-feira quando a vi, a primeira lembrança que me veio à cabeça foi seu
rosto de excitação vendo o filme. Ela entrou em minha sala e meu sexo
correspondeu à sua elegância em andar e se vestir.
— Hoje você não precisa providenciar meu almoço.
— Achei que já tínhamos passado dessa fase. — disse brava.
— Eu cuido de mim mesma, obrigada.
— Por que mudou de ideia?
— Você faz pergunta demais. — Eu disse brava e encarei-a.
— Parece que uma semana entre estes diretores sem educação já
mudaram seu comportamento. — Ela se aproximou de mim.
— Sim. Falta de educação contagia. Eu não gosto de provocações em
falso. Não gosto que invadam minha vida e tentem ultrapassar a linha entre
chefe e subordinado.
Ela me olhou assustada e eu me levantei me aproximando dela.
— Você está assim porque te chamei para tomar um drink? —
perguntou brava.
— Por que insiste em me agradar? É alguma aposta com suas colegas?
— Eu não sou mulher de fazer apostas. Quando eu quero alguém eu
consigo.
— Qual seu envolvimento com o Samuel? Vejo que ele sempre está de
olho em você nas reuniões. E o fato dele vir aqui entregar uma pasta vazia,
quer dizer que ele ainda quer algo.
— Nós já namoramos.
— Mais um motivo para você se afastar de mim.
Ela se aproximou de mim e saber que ela gostava das mesmas práticas
sexuais que eu, lhe dava um charme à mais do que o seu natural. Sua mão
tomou posse da minha nuca e me puxou para um beijo sedutor e arrebatador.
Entreguei-me por alguns instantes e o beijo me envolvia enquanto as cenas
do vídeo repassavam em minha cabeça me excitando. Seu corpo me
dominava perfeitamente. Sua mão me puxava contra o seu corpo, uma mão
na lombar me impedindo de me afastar e a outra apertando minha bunda.
Seu beijo intenso e ludibriante me arrancaram um gemido abafado. O
celular vibrando em meu bolso me trouxe de volta a realidade. Afastei-me e
atendi a chamada. Nossos olhares não se desgrudavam enquanto eu falava ao
telefone.
— Saia da minha sala. — Foi o que disse ao desligar o telefone.
Mesmo eu pedindo para que não providenciasse meu almoço ela
continuou a fazer isso. Naquela semana tivemos uma reunião por dia, todas
de pelo menos uma hora e meia. Eu sempre odiei usar sapatos, sejam sociais,
de salto ou sapatilhas. Nestas reuniões eu ficava descalça e ela fazia questão
de sentar ao meu lado. Eu não dava liberdades para ela, mas meu olhar me
denunciava, meu corpo e minha respiração me acusavam. Entre uma
explicação e outra minha atenção se voltava até ela, como ímã. No fim de
uma das reuniões, eu estava pondo meu sapato e ela sentada ao meu lado. Ela
me fez olhá-la e me beijou suavemente e eu correspondi.
— O que você quer comigo, garota? — Tentei me fazer de brava, mas
não consegui.
— Eu descobri algumas coisas sobre você essa semana.
— O que? — Encarei-a.
— Descobri que o link daquele restaurante que você me mandou dava
acesso ao número do meu IP e por isso você invadiu meu computador e
recebe cópias dos meus e-mails.
— Isso só pressupõe que você deveria usar um antivírus melhor.
Ela emaranhou a mão em meus cabelos e puxou-os levemente para trás.
— Eu deveria te punir por isso. — Ela disse rouca e me encarando.
Eu retribui o olhar e sorri de canto de boca.
— Eu sei do que você gosta. — Beijei-a com desejo e lhe apertei a
perna — Mas não vamos brincar com fogo aqui dentro. — Beijei-a
novamente e subi um pouco da sua saia.
— Como sabe?
— Eu invadi seu computador, esqueceu? Não entrei apenas no seu e-
mail, vi seu histórico de navegação também. Vi os vídeos que você assistiu
recentemente.
— Isso é invasão de privacidade!
Subi sua saia e invadi sua calcinha. Percorri seu sexo com o dedo e seu
corpo estremeceu.
— Quer me punir? — beijei sua orelha.
Segurei seu clítoris entre meus dedos e apertei-o massageando, ela se
retorceu na cadeira gemendo.
— Quer? Responde, garota!
— Qu… ero. — Ela sussurrou me encarando.
— Vamos ver do que sua mente é capaz. Hoje você vai embora comigo
para a minha casa. Sem desculpas, sem medo. Apenas sexo.
Tirei minha mão do meio das suas pernas e levantei.
Capítulo 5
Dias atuais - Segundo interrogatório
Durante o percurso até a delegacia tentei me acalmar, mas eles estavam
querendo me humilhar para poder contribuir, só poderia ser essa a estratégia.
Duvido que levem suspeitos para a delegacia vestidos apenas de roupão e
calcinha. Eu permaneci quieta, me desceram do camburão e a policial entrou
na delegacia me empurrando. Todos os olhares estavam voltados para mim,
meu roupão insistia em abrir e vi alguns policiais rindo da cena.
Levaram-me até uma sala, não era a mesma da outra vez, se era, eu não
estava prestando atenção. Minha mente começou a ficar inquieta.
Empurraram-me para dentro da sala e me apontaram uma cadeira. Os dois me
olhavam como se eu fosse uma criminosa muito perigosa.
— Podem soltar as algemas? — Perguntei cansada da situação.
— Qual sua safeword? — O detetive me perguntou.
Eu ri e olhei-o.
— Alguém andou fazendo pesquisas, gostou do que descobriu?
Ele se aproximou de mim e eu dei um passo para trás.
— Onde está o corpo da senhorita Ágatha Ribeiro?
— Não sei.
— A senhorita sabe, só não quer nos contar.
Ele se aproximou e eu dei outro passo para trás e encostei na parede.
— Vocês estão abusando da autoridade de vocês, me soltem. — Eu
encarei-o.
— Diga…
— Não direi nada sem a presença da minha advogada.
— Temos um mandado para vasculhar seu apartamento e seu carro.
— Podem olhar, não vão encontrar nada. — O detetive se afastou
observando meu corpo.
Aquilo não podia ser um procedimento padrão, não era possível que
tratavam a todos daquela maneira.
— Na verdade, você vai encontrar um quarto cheio de objetos que irão
despertar ainda mais sua curiosidade sobre mim. — Eu ri e me aproximei
dele — Vai deixar o senhor excitado. — Encarei-o.
Ele ficou bravo e apertou meu braço, me puxando para perto da
cadeira. Eu ri e ele me empurrou para sentar. Olhei a policial e deixei o
roupão abrir de tudo, eu estava ofegante e percebi seu olhar em meu ventre.
— E a senhorita? Não vai falar nada hoje? — Encarei a policial — Está
excitada comigo seminua e algemada?
— Onde você enterrou o corpo da senhorita Ágatha? — O detetive me
fez olhá-lo apertando o meu rosto.
— Não direi nada sem a presença da minha advogada.
Ele apertou mais meu rosto.
— Você terá que fazer mais do que me algemar e apertar meu rosto
para saber minha safeword.
— Onde você enterrou o corpo da senhorita Ágatha? Como a matou?
— Se você não tem corpo, como quer me acusar?
— Não piore sua situação, senhorita Anelise. — Ele apertou meu rosto
novamente.
— Eu não matei ninguém. Até ontem eu era acusada de um sumiço,
agora sou acusada de morte. Decidam-se.
As algemas começaram a me pressionar o pulso e minha mão ficar
dormente. Eu sentia dor, mas não a dor que eu estava acostumava a gostar de
sentir. Ficar sentada naquela cadeira fria e desconfortável me fez pensar que
Ágatha estava em perigo e eu estava sendo acusada de algo que não fiz. Ou
ela podia mesmo estar morta. Minha mente brincava comigo, me fazendo
lembrar de sua risada, de seu beijo, do toque macio em minha pele. Eu não
podia admitir que a amava, não podia, mas precisava, precisava mostrar que
não era fria. Meu braço direito estava dormente, o pulso esquerdo latejava e
minha vista estava embaralhada.
— Eu amo a Ágatha, nunca faria mal a ela. — falei tentando achar uma
posição melhor para ficar sentada.
A porta foi aberta abruptamente e vi uma Maitê enfurecida entrando e
jogando a bolsa na mesa.
— Eu vou processar vocês!
Ela se aproximou de mim.
— Anelise?
— Me tira daqui.
Ela avançou para cima do detetive.
— As chaves? Cadê as chaves?
Eu não sentia os dois braços e minha visão estava cada vez mais
embaçada. Eu iria desmaiar a qualquer momento. Ouvia berros e o perfume
de Maitê invadiu minhas narinas, eu não conseguia mais me manter na
cadeira. Senti a pressão das algemas afrouxar em meus pulsos e Maitê me
envolver em um abraço.
— Ei, olha para mim. — Segurou meu rosto.
Encostei na cadeira e ela se levantou, a policial não estava mais na sala.
— Vocês não têm nada contra minha cliente. Ela está colaborando com
tudo, por que este tratamento brutal?
— Porque ele gosta de mostrar quem está no comando. — Eu sussurrei.
— Estamos com mandados de apreensão para o carro e para analisar o
apartamento.
A policial entrou de volta e me ofereceu água. Meus braços estavam
voltando ao normal e minha vista menos embaralhada.
— Eu não tenho nada a esconder. Se tivessem me tratado decentemente
não precisariam de mandados. — Eu bebi a água e amarrei meu roupão.
— Se não tem nada contra minha cliente, por que a trouxeram para cá?
— Maitê olhou-os.
Alguém bateu na porta e um terceiro policial entregou uma pasta ao
detetive. Ele abriu-a, o policial saiu, o detetive sentou-se e mandou Maitê se
sentar. Abriu a pasta e nos mostrou as fotos de um cadáver queimado.
— Este corpo foi encontrado durante a noite no meio de um canavial e
acabamos de confirmar a identidade, Ágatha Ribeiro. — Eu peguei a foto na
mão e o detetive se aproximou de mim.
— Eu não fiz isso. — Eu me levantei e me afastei dele.
— Senhorita Anelise… — Ele tentou segurar meu braço.
— Eu não fiz isso! — Olhei minha advogada — Maitê!
— Vocês terem achado o corpo não diz que minha cliente cometeu o
crime. — Ela disse brava.
Ele segurou meu braço.
— Ela terá que ficar detida até cumprirmos os mandados de busca e
apreensão.
— Vocês já abusaram demais da minha paciência hoje. — Eu disse.
— Nós encontramos fios de cabelo na cena do crime... — A policial
começou a falar.
— Por que eu mataria Ágatha? — Me soltei da mão do detetive.
— Ela estava te chantageando com fotos e vídeos comprometedores.
— Não! Eu estou pouco me importando com os vídeos e as fotos, se ela
quisesse me chantagear teria que achar alguma coisa bem pior do que fotos
da minha submissão a ela. Eu gostava de ser submissa dela, ela estava
autorizada a tirar estas fotos.
Foram horas de discussão sobre meu envolvimento com Ágatha.
Bateram na porta novamente e o mesmo policial entregou outra pasta, percebi
que o copo que eu havia tomado água tinha sumido. O detetive leu o
conteúdo interno da pasta, mostrou para a policial e me olhou. Aproximou-se
de mim e me virou contra a parede.
— Anelise Arantes, a senhorita está presa pelo assassinato de Ágatha
Ribeiro. — As algemas se fecharam em meu pulso novamente.
Maitê se aproximou tentando impedi-lo, mas não conseguiu. Ela
roubou a pasta da mão da policial e me olhou. O detetive começou a me
empurrar para fora da sala.
— Maitê!
Ela apenas me olhava.
— Maitê, eu não fiz isso!
Ele abriu a porta e eu saí empurrada gritando pelo nome da minha
suposta advogada, pois naquele momento me senti abandonada. Seu olhar me
culpava, julgava e condenava, assim como todos os outros. Ela nunca foi de
me condenar, sempre me ouviu e agora, parece ter perdido essa habilidade.
Fui jogada em uma cela dentro da própria delegacia. Minha condenação
estava feita? Era assim? Fácil de acusar uma pessoa por algo que não fez?
Na cela que fui enfiada, tinham mais duas mulheres. Uma aparentava
ser prostituta e a outra estava drogada e alucinada vendo coisas que só ela
podia ver e falando asneiras que ninguém conseguia entender. O cheiro de
fezes era forte, o vaso sanitário que havia ali estava entupido e cheio de água
suja até a boca. Era difícil respirar pelo nariz sem sentir ânsia. Permaneci em
pé perto da grade, encostada na parede, o mais longe possível do vaso.
Relembrei do nosso último jantar, eu e Ágatha saímos do prédio juntas.
No trajeto da minha sala até o meu carro, fomos uma ao lado da outra, sem
falar muita coisa. Abri a porta para ela entrar e depois de me dar um beijo
na bochecha sentou no banco do passageiro. Já tínhamos intimidade o
suficiente para que eu lhe tocasse o seu corpo sem receios. Minha mão
direita pousava em sua coxa e massageava sua pele enquanto minha mente
prestava atenção no trânsito quase morto até a sua casa. Sua mão levou a
minha até a sua boca e senti uma leve mordida no dorso da mão. Pequenos
gestos que mostravam que sua admiração por mim era crescente.
O barulho de porta se abrindo me chamou de volta para a realidade.
Procurei de onde vinha o barulho e vi Maitê se aproximando com um policial
atrás dela. Ela parou na minha frente e eu encarei-a brava. Queria poder
abraçá-la, mesmo se ela me achasse culpada, eu precisava do seu abraço. Ela
esticou a mão em minha direção e eu segurei-a me aproximando mais da
grade.
— Eu não fiz isso. — Sussurrei.
Ela apertou minha mão e me fez olhá-la.
— Sabe quem poderia querer matá-la?
— Eu achei que ela era uma garota de fazer amigos e não inimigos…
devia ter apresentado ela a você antes disso acontecer.
— Alguém está querendo te incriminar com essa morte. Encontraram
fios de cabelo na cena do crime que batem com o seu DNA.
— Eu não fiz isso. — Sussurrei — Você acredita em mim?
— Eu já vi você batendo na Katherine, já vi você perdendo a paciência
com a Samantha, mas não acredito que você tenha matado a Ágatha.
— Vai me defender?
— Até o fim, bebê. Até o fim!
Ela me fez olhá-la e sorriu. O policial disse que o tempo tinha acabado.
— Eu volto para te tirar daqui.
Enquanto observava ela se afastar da cela, minha mente voltou naquela
noite. Ágatha estava diferente, mais carinhosa, me mordia o dorso da mão
levemente e me beijava logo em seguida. Ela brincava com meus dedos e era
como se estivesse apenas ela e minha mão ali no carro. Eu sorri da cena e ela
me olhou também sorrindo. O trajeto não era longo, estávamos quase
chegando quando ela entrelaçou nossos dedos e me olhou travessa. “Quero te
pedir uma coisa.” Parei o carro e olhei-a curiosa. “Quero que você seja
minha sub exclusiva.” Meu sorriso se desfez e ela me olhou preocupada.
Voltei à realidade com uma das detentas vomitando perto do vaso
sanitário. Eu não estava muito longe de também vomitar, mas pensar em
outras coisas me ajudavam a esquecer o fedor da cela. Frases com sua voz
aveludada ficavam se repetindo em minha mente. “Quero que você seja
minha sub exclusiva.” “Quero você.” “Seja minha.” “Sub exclusiva.”
“Exclusiva.” “Exclusiva.” “Você, minha.” Eu não acreditava que nunca
mais iria vê-la, senti-la ou beijá-la. Era um fim trágico. Era um fim,
literalmente, matador. Eu sentei no chão, encolhida como uma criança
abandonada. Eu precisava descobrir quem queria me incriminar. Tinha como
obrigação vingar a morte dela. Uma morte que me deixaria marcada pelo
resto de minha vida.
Capítulo 6
Um ano atrás
Depois daquela reunião e do ultimato que dei em Ágatha, eu precisava
me preparar para ver quem estava brincando com fogo, eu ou ela. Voltei para
minha sala e tentei me concentrar no que precisava, mas minha mente não
deixava. Já imaginava ela me dominando de inúmeras maneiras. Espero não
estar errada quanto a isso. No fim do expediente, saí da minha sala e olhei-a
profundamente esperando alguma desculpa qualquer, mas ela me seguiu em
silêncio. No elevador, minhas mãos se escondiam nos bolsos da calça social
preta.
— Não vejo a hora de marcar esta pele com minha cor favorita. — Ela
me sussurrou e eu apenas sorri sem olhá-la apertando o botão para a garagem.
Pedi um táxi e sentamos no banco traseiro. O trajeto foi silencioso e
quando descemos do carro, ela me olhou extasiada com a entrada do prédio.
Era um dos prédios mais cobiçados da cidade para se morar. Eu não me dava
muitos luxos, mas morar em um lugar bonito e tranquilo era essencial.
No elevador tivemos companhia, mas isso não impediu sua mão de
passar pela minha cintura pousar em minha bunda. Ao entrar no apartamento,
eu tirei meu sapato deixando ao lado da porta, ela seguiu meu gesto e eu
apenas sorri com isso. Ela era agitada em seus gestos e movimentos.
— Você já fez isso?
— Entrar em um apartamento tão organizado como esse? Não! — ela
tentou amenizar o clima.
— Você sabe que isso é um assunto sério e que não é uma
brincadeirinha à toa? Um videozinho pornô qualquer...
— Eu não brinco com BDSM, se é isso que você quer saber. Eu levo a
prática muito a sério.
Encarei e ela me correspondeu, me aproximei e passei o dedo indicador
pelo seu rosto.
— Você tem uma mente inquieta demais.
Passou a mão em minha nuca e me puxou para um beijo ardente e de
tirar o fôlego.
— Culpa sua e seu jeito …
— Excêntrico?
Ela sorriu e me beijou novamente.
Mostrei para ela onde poderia tomar banho.
— Não vai me acompanhar?
— Não. Você precisa acalmar sua mente.
— Eu quero que você me observe tomar banho, ajoelhada aqui no
tapete. — Me beijou.
Encarei-a e sorri. Ajoelhei-me ao seu lado e ela foi até a sala buscar
uma almofada. Colocou-a embaixo dos meus joelhos e me deu um selinho.
Um gesto simples, mas que demonstrava preocupação com o meu possível
desconforto.
Ela tirou a blusa e colocou no chão na minha frente, abriu o zíper da
saia e me encarou.
— Alguma restrição durante a cena?
— Estou me recuperando de uma torção no pulso esquerdo e não
suporto sufocamento ou ser deixada amarrada sozinha.
— Trauma?
— Sim. Uma domme me deixou amarrada sem supervisão e eu
desmaiei.
— Qual sua safeword? — tirou a saia.
— Lucro.
— Já conheci várias safeword, mas essa é a mais original. — Ela me
sorriu e tirou o sutiã.
Olhei-a sem pudor, morena, seios médios e algumas dobrinhas no lugar
certo. Aproximou-se de mim e mordi seu ventre.
— Prefiro não receber tapas no rosto. — Olhei-a.
— Gosto de bundas vermelhas, seu rosto é muito bonito para ser
marcado. — Passou a mão em meu rosto colocando meu cabelo para trás.
— Não gosto de praticar com pessoas que consumiram álcool antes da
sessão.
— Não bebo antes ou durante uma sessão, às vezes, depois. Depende
da companhia. Eu tenho uma cena perfeita para fazermos. Isso fará com que
eu te conheça e você saberá entender melhor minhas exigências.
Abaixou a calcinha, me olhou, tirou-a, pendurou-a no meu bolso e
entrou no box para ligar o chuveiro. Enquanto a observava se molhar, estava
com as mãos para trás e perseguindo seus movimentos cuidadosamente. Não
sei dizer se ela estava tentando me seduzir durante o banho ou apenas
aproveitando a ducha. Ensaboava-se devagar e lavou os cabelos com calma.
Olhando-a tentei deixar minhas preocupações de lado e aproveitar o
momento de voyeurismo. Inúmeras perguntas sobre ela e Samuel começaram
a surgir, mas eu precisava me manter calma. Ela saiu do box enquanto as
perguntas me rondavam. Parou na minha frente e me fez olhá-la.
— Levante-se e me enxugue.
Obedeci e peguei a toalha. Delicadamente apalpei seu corpo enquanto
passava a toalha pela sua lateral. Juntei meu corpo ao dela e beijei-lhe o
pescoço enquanto enxugava os ombros.
— Não pedi para me beijar.
— Não resisto a um pescoço desnudo. — Beijei-a novamente e virei-a
de frente para mim.
— Onde vamos fazer a cena, em seu quarto?
Apenas balancei a cabeça negando e passando a toalha por seus seios.
Ela pegou a toalha da minha mão e me fez olhá-la, beijou-me com delicadeza
e me mandou tomar banho depois de dar um leve tapa na minha bunda.
— O quarto é o último do corredor, tem lingeries novas no armário, se
quiser vestir alguma coisa.
Saí do banheiro e fui para meu quarto. Tranquei a porta e tirei a roupa
me dirigindo ao meu banheiro. Tomei uma ducha rápida, porém caprichada e
ao sair amarrei o cabelo em um alto rabo de cavalo. Protegi meu pulso com
uma munhequeira e vesti um conjunto de lingerie preto e um roupão de seda,
também preto. Destranquei a porta do quarto e vi que ela estava parada no
corredor, olhando o quarto onde treino boxe. Ela estava com um conjunto de
lingerie vermelho, sexy. Olhando suas redes sociais, descobri que ela tinha
vinte e oito anos, isso faria dela, cinco anos mais nova do que eu. Olhá-la de
longe, somente de lingerie, me proporcionou tesão e essa cena nunca mais
sairia da minha cabeça. Ela no meio do corredor, de micro calcinha, sutiã
meia taça e um sorriso no rosto.
— Não foi nesse quarto que eu disse para você entrar.
Ela me sorriu e se aproximou.
— Mais um motivo para eu te achar uma mulher excêntrica, quem tem
um quarto para treinar boxe? — ela disse animada.
Eu apenas ri e lhe conduzi ao quarto certo.
— Achou tudo o que queria? — perguntei ao entrarmos no quarto.
— Você tem um belo arsenal de apetrechos sexuais.
— Eu tinha muitos outros, porém mantive só o que realmente gosto.
O quarto não tinha muitos móveis, apenas um cavalete acolchoado,
uma cadeira e uma caixa de madeira retangular com altura de uns sessenta
centímetros com argolas na lateral. Poderia ser usada para imobilização,
castigo ou spanking erótico. Um espelho gigante e o chão era protegido com
tatame. No guarda-roupa embutido, eu tinha algumas fantasias e diversos
tipos de chicotes, cintas penianas, cordas, algemas, mordaças, entre outras
coisas. Em cima do retângulo de madeira, ela tinha separado uma coleira
postural, um flogger com muitas tiras de couro, um gancho anal com três
bolinhas na ponta, lubrificante, uma fita de seda e uma corda longa que ela já
havia amarrado em um dos ganchos que havia no teto. Ganchos estavam
espalhados no teto e nas paredes. Tirei o roupão perto do mancebo enquanto
olhava os objetos que ela havia separado. Ela me encarava enquanto eu
tirava-o, sua maneira de me olhar me aquecia.
— Tira tudo, não vamos precisar de roupas. — Eu tirei a calcinha e o
sutiã e me aproximei — Ajoelhe-se na caixa de madeira.
Havia um espaço deixado estrategicamente para caber minhas pernas
dobradas entre os objetos. Senti ela se aproximar, passou a mão pela minha
tatuagem, um lobo selvagem uivando para a lua.
— Linda tatuagem.
Desfez meu rabo de cavalo. Alisou meus cabelos e separou-o em três
partes, começou a fazer uma trança.
— Está de acordo com os objetos selecionados?
— Sim, senhora.
Ela beijou meu pescoço. Ela tinha atitudes de domme muito diferente
de outras.
— Quantas domme você já teve? — pelo espelho vi que terminou a
trança
— Duradoura? Três. Quantas sub você teve?
— Muitas e não tive nada duradouro com nenhuma delas.
Eu ia perguntar sobre Samuel, mas não era a hora certa. Pegou a fita de
seda, amarrou no começo da trança e passou-a por dentro, deixando um longo
pedaço sobrando. Pegou a coleira e ficou de frente para mim, com ela eu
ficaria com o pescoço perfeitamente esticado, colocou-a em mim e me beijou
o rosto. Fez com que eu a olhasse, passou a mão em meu rosto afastando
alguns fios de cabelos que teimavam em cair.
— Levante-se! — pegou o gancho e o lubrificante — Afaste-se da
caixa e coloque as mãos no meio dela e abra bem as pernas empurrando o
corpo para trás.
Ela deu a volta em meu corpo e me deu um tapa inesperado na minha
bunda. Passou o gel no meu ânus e me penetrou o gancho de uma vez, me
mantive quieta, mas gemi de dor. Elevou meu tronco e me mandou voltar à
caixa. O restante da fita de seda que estava preso à trança ela amarrou na
ponta do gancho imobilizando ainda mais meus movimentos com a cabeça,
pois se fosse para frente sentia o objeto se mexer em mim. Ela puxou a corda
e elevou meus braços envolvendo-os rapidamente com ela. Amarrou-me e
beijou meu rosto. Estava com os movimentos controlados, restritos e
extremamente excitada. Ela me sorriu e me beijou a boca calorosamente.
Pegou o flogger e me beijou novamente. Andou até ficar atrás de mim.
— Eu vou bater na sua nádega direita e quero que conte mentalmente.
Quando eu parar, vou começar com a esquerda e você vai falar para eu parar
quando der a mesma quantidade de açoites da direita, entendeu?
— Sim, senhora.
Ela me beijou a orelha fazendo eu me contorcer toda, senti o gancho se
encaixar ainda mais em meu corpo. Afastou-se de mim e senti o primeiro
golpe. Tentei me manter imóvel. No segundo golpe, minha cabeça fez o
objeto se mover em mim e eu gemi alto. No terceiro, dei um gritinho de dor.
Ela desferiu três golpes seguidos e parou. Eu estava ofegante e excitada
acima do normal. Minha nádega esquerda foi golpeada sem aviso prévio e
meu corpo se contorceu. Acertou três seguidos e eu gemi baixinho ofegante.
O penúltimo golpe foi forte e meu corpo arqueou para frente movimentando
o gancho em mim. No último, gritei que era o sexto e senti seu corpo colar no
meu. Minha bunda ardia colada ao seu corpo quente, sua mão buscou meu
sexo e enquanto me masturbava me beijava o pescoço e a nuca.
— Goza para mim!
Sua massagem me fez estremecer o corpo todo. As contrações
corporais me lembravam da minha submissão e do gancho. Esperou meu
corpo se acalmar beijando meu pescoço e ombro. Afastou-se de mim devagar
e me golpeou a bunda novamente.
— Não precisa contar, apenas aproveite.
Os golpes foram certeiros, uma sequência de mais seis de cada lado. Eu
sentia uma batida e meu corpo se retorcia de prazer. Senti seu corpo colar no
meu novamente. Eu estava ofegante. Sua boca beijava meu pescoço e minha
orelha. Sua mão massageava minha buceta novamente.
— Goza para mim.
Seu dedo focou em meu clitóris e meu corpo explodiu em um êxtase
profundo e arrebatador. Segurando-me com força, ela soltou meus braços, eu
ainda tremia pelo recém gozo e desfez o laço que tinha feito para atrelar o
gancho à trança. Deitou-me no chão, eu estava ofegante e meu corpo tremia.
Devagar ela tirou o gancho de mim e deitou-se atrás do meu corpo me
puxando para perto dela. Aninhou-me em seus braços, beijava meu pescoço
enquanto eu tentava voltar à minha respiração normal. Tirou a coleira. Fez
cafuné em meus cabelos e soltou a trança aos poucos. Afastei-me dela e deitei
no chão de barriga para cima e olhei-a. Ela me sorria com um ar travesso.
Virei-a contra o tatame, sentei sob seu ventre e beijei-a demoradamente.
Colocou as mãos em minha bunda e eu meu corpo reagiu gemendo em sua
boca.
— Escolhe uma cinta e me fode de quatro.
Ela sussurrou e me beijou com volúpia. Levantei e abri o guarda-roupa,
ela ficou de quatro empinando a bunda no meio do tatame. Vesti uma cinta
com um pênis grosso e longo, coloquei uma camisinha e me posicionei de
joelhos atrás dela. Afastei sua calcinha e penetrei-a. Ela gemeu gostoso e não
precisei de muitas estocadas para ouvir seu primeiro êxtase. Não deixei ela se
acalmar e continuei com os movimentos, seu segundo gozo foi ouvido depois
de várias estocadas. Ofegante ela deitou de bruços no chão, eu me levantei e
guardei a cinta. Vesti meu roupão e saí do quarto.
Alguns minutos depois ela apareceu na cozinha com a mesma roupa
que estava durante o dia. Eu estava faminta e cansada.
— Vou lhe pedir um táxi.
— Como hackeou meu computador?
— Foi fácil. — Olhei-a.
— Como sabe fazer isso?
Eu pedi o táxi.
— Seu táxi chega em cinco minutos, melhor descer.
— Anelise…
Andei até a porta e abri devagar.
— Você já fez perguntas demais hoje.
Ela se aproximou de mim e meu coração disparou, preferiria que ela
fosse embora sem me beijar ou me tocar novamente, mas ela envolveu minha
nuca e me puxou para um beijo ardente e caloroso. Saiu sem me olhar e eu
fechei a porta querendo que ela ficasse.
Pedi algo para jantar e fui tomar banho. A água gelada em contato com
meu corpo ainda quente me fez pensar nela instantaneamente. Após o banho,
verifiquei se o táxi tinha deixado ela em sua casa, aparentemente estava tudo
certo e minha comida chegaria em dez minutos. Olhei minha bunda no
espelho, quase não tinha marcas, estava apenas mais rosada do que o normal.
Duvidei da capacidade dela de manusear um flogger com tiras de couro, mas
fui surpreendida positivamente. Vesti um roupão e na cozinha me preparei
um Martini com uma azeitona. Recepcionei a minha janta e voltei para a
cozinha. Sentei na banqueta ao lado da ilha central e me dei conta que a dor
em minhas nádegas eram suaves, mas me fariam lembrar dela cada vez que
eu sentasse. Comi pensando no trabalho que essa garota ia me dar.
Na manhã seguinte, saí do elevador e fui bombardeada por um olhar
escuro e curioso. Andei e parei ao lado da sua mesa.
— Bom dia. Preciso que encontre um professor de boxe, para dar aula
no meu apartamento, quatro vezes na semana. Segunda à quinta, das sete às
oito e meia da noite.
Ela me olhou curiosa, minhas mãos estavam no bolso escondendo a
munhequeira que eu usava.
— Bom dia. Providenciarei. Isso chegou para você. — Entregou-me
uma caixa.
— Não estou esperando nenhuma encomenda.
— Mas está com seu nome.
Estiquei a mão esquerda para pegar e ela me olhou assustada.
— Eu machuquei você?
Ela fez menção de colocar a mão em meu pulso, mas eu me afastei.
Quis deixá-la preocupada e me retirei como se estivesse magoada. Entrei na
minha sala e ela me seguiu. Coloquei a caixa na minha mesa e fiquei de
costas para a porta. Escutei-a trancando a porta e se aproximando rápido.
— Eu não tive a intenção de te machucar.
Eu sorri com sua preocupação sem que ela me visse, peguei um estilete
para abrir as fitas da caixa. Ela me fez olhá-la.
— Olha para mim. — Ela segurou meu pulso — Quer que eu marque
um médico?
Passei meu dedo indicador para afastar uma mecha de cabelo de seu
rosto e lhe sorri.
— Sua cara de preocupada é fofa, mas desnecessária.
— Tem certeza?
— Absoluta.
Voltei a abrir a caixa, era uma nova luva de boxe, tinha esquecido da
compra.
— Você me deixou preocupada de propósito?
Apenas encarei-a.
— Não faça isso. Odiaria saber que te machuquei de alguma forma. Eu
prezo por todas as boas condutas dentro do BDSM e não me perdoaria se algo
desse errado.
Eu lhe sorri.
— Eu já estava machucada antes de você aparecer, não se culpe. Estou
usando a munhequeira apenas como proteção. Você foi muito bem ontem.
— Por que confiou em mim? Eu poderia ter te machucado ou invés de
lhe proporcionar prazer.
— Eu não confiei em você, eu estava te desafiando, queria saber até
onde a sua curiosidade iria nos levar.
— Eu não sou de rejeitar desafios.
— Bom saber, agora pode sair da minha sala.
Ela se aproximou de mim e me pressionou contra a mesa. Afastou meu
cabelo, separou minhas pernas e beijou minha nuca.
— Eu não paro de pensar naquele quarto e em você nua. — Sua mão
apertou minha cintura.
Não admitiria que também pensava nela naquele quarto.
— Quando vou poder voltar lá? — ela apertou minha bunda e meu
corpo respondeu tentando fugir de sua mão.
— Precisa fazer por merecer, não é tão fácil voltar lá pela segunda vez.
Ela beijou minha orelha me arrepiando.
— Ágatha, não vai ser me assediando que conseguirá o que quer. —
Minha voz saiu áspera e ela se afastou de mim.
— Excêntrica!
Ela andou em direção da porta e eu me virei para observá-la se afastar.
— Como sabia que eu não iria querer te dominar?
Ela parou e virou-se para me olhar.
— Eu arrisquei.
— Por quê?
— Porque por você eu até aceitaria ser submissa.
— Você não me conhece...
— Mas você me fascina.
— Pela minha excentricidade?
Ela sorriu.
— O que vai querer para o almoço?
— Surpreenda-me.
Continuou andando e saiu da sala.
Eu sentei em minha cadeira e me lembrei o porquê estava evitando esse
momento, uma dorzinha bem leve tomou meu corpo e me arrepiou me
lembrando de todas as chicotadas da noite passada.
A manhã atribulada e cheia de problemas financeiros para ajustar
passou rápido. Naquele dia não teríamos reunião e eu agradeci por isso. Não
queria ver Samuel ou os outros velhos da diretoria, eles me olhavam como se
eu fosse uma ave de rapina. Não entendia o porquê eu tinha sido escolhida
para aquela vaga se eles me achavam tão fora do padrão da empresa. Acredito
que tenha sido pela inteligência, preferia me apoiar nisso.
Ágatha bateu na porta e entrou na sala com meu almoço. O pacote
parecia ser de um restaurante diferente. Sou vegetariana, mas confesso que
não levo isso à risca. Se tem opção de comida vegetariana eu prefiro, se não
têm, escolho algo bem próximo do que seria apropriado. Alguns conhecidos
falam que sou uma vegetariana fajuta, mas o que posso fazer, não gosto de
limites e restrições. Sou vegetariana por não gostar de carne, apenas isso.
Encostei em minha cadeira para observar sua aproximação. Quando ela
percebeu que minha atenção era dela, andou mais devagar.
— Onde você costuma almoçar?
— Na cozinha com as outras secretárias.
Ela colocou o pacote sob a minha mesa. Eu me levantei e fui até o
banheiro lavar as mãos e pelo espelho percebi seu olhar me perseguindo. Seu
rosto parecia ter saído da adolescência recentemente e, para mim, isso a
tornava mais fascinante. Uma mente dominadora em uma moça tão jovem.
Enxuguei minhas mãos, parada na porta, observando-a.
— O que geralmente come?
— Curiosa pela minha dieta? — guardei a toalha e saí do banheiro
acompanhada pelo seu olhar apreciador. — Não quer saber o que eu pedi
para o seu almoço?
Parei na sua frente e coloquei as mãos no bolso.
— Você sabe da minha, por que não poderia saber da sua?
— Eu não tenho gostos exóticos, sou uma mulher normal.
— Eu não sou normal por ser vegetariana? — me aproximei mais de
seu corpo e ela respirou fundo.
— Você gosta — ela disse com a voz entrecortada quando me
aproximei mais — de distorcer o que eu falo.
— Eu intimido você? — perguntei perto do seu ouvido.
— Às vezes. — respondeu baixo.
— Precisamos mudar essa visão que você tem de mim. — Eu sussurrei
em seu ouvido.
— Você está me assediando.
— Não. — falei mais perto de seu ouvido — Eu não lhe toquei, apenas
estou próxima.
Ela me encarou e seus braços envolveram minha nuca e a boca se
apossou da minha. Um beijo arrebatador e cheio de posse. Minhas mãos
permaneceram no bolso. Sua boca gananciosa me envolvia em mais um beijo
e eu me aproveitava para mostrar que eu tinha mais domínio sobre ela do que
vice-versa. Ela me olhou ofegante.
— Isso sim foi assédio. — Olhei-a profundamente.
Eu me afastei de seu corpo mesmo querendo tocá-la por inteiro e sentei
na minha cadeira. Peguei o pacote com meu almoço e percebi que ela estava
encostada em minha mesa se recuperando do beijo. Afastei as planilhas e as
pastas de documentos da mesa e peguei um pano de prato na gaveta, eu
usava-o para não sujar a mesa.
— Vai ficar parada aí? — ela não respondeu e se aproximou de mim,
percebi que estava brava — A partir de segunda-feira, — eu abri um dos
recipientes plásticos e peguei um garfo que ela havia me trazido — você irá
almoçar comigo.
— Eu não vou fazer isso.
— Toda sexta-feira, irá tocar a campainha do meu apartamento… —
experimentei o risoto de cogumelos ao vinho branco.
— Você não man…
— Eu não estou mandando. Estou avisando que estes são os meus
termos para que você conquiste um lugar no meu quarto. — Comi mais um
pouco — Não seja uma garota teimosa.
— Você está me testando?
— Você me mostrou que sabe o que está fazendo quando tem um
chicote na mão. — Olhei-a e limpei a boca com um guardanapo — Eu gosto
de ter algumas regras, — me levantei e encarei-a — pois eu preciso confiar
em você. — Passei o meu dedo afastando uma mecha de cabelo do seu rosto
— Eu já sofri por irresponsabilidades dentro de uma cena e fora dela.
Katherine não entendia o que era liberdade e a Samantha não praticava
BDSM de forma segura e eu só descobri isso tarde demais.
— E — ela repetiu o gesto de afastar uma mecha do meu rosto — a
terceira?
— Quando conheci Maitê, eu era um bicho assustado e ela me ensinou
a confiar nela. Eu preciso aprender a confiar em você e vice-versa.
— Concordo com o fato de que temos que ter confiança uma na outra.
Quanto tempo faz que está sem domme?
— Muito tempo.
Ela depositou um selinho em meus lábios, pegou meu pulso esquerdo,
tirou a munhequeira e beijou-o.
— Comigo você não precisará de proteções. Coma, vai esfriar. — Me
sorriu e andou em direção à porta.
Voltei a me sentar e almocei tranquila.
No meio da tarde, Samuel entrou em minha sala e vi que Ágatha entrou
apressada atrás dele.
— Tentei fazer ele esperar. — Ela me disse sem graça.
— Não preciso ser anunciado para entrar em uma sala. — Ele disse
ríspido.
— É apenas uma questão de educação, Samuel. Pode deixar, Ágatha,
obrigada.
Ele olhou-a saindo da sala. Um olhar de posse e excitação.
— Preciso de uma análise sobre as ações da empresa, quero convencer
o conselho a abrir as portas da empresa para novos investidores
— A empresa não tem perfil para aguentar esse tipo de manobra
financeira.
— Eu não perguntei se tem perfil, mandei você convencer o conselho.
Preciso disso para ontem.
Ele saiu da minha sala sem me dar chance para responder, deixou a
porta aberta e se aproximou da mesa de Ágatha, vi ela balançando a cabeça
de forma negativa e quando ele se afastou ela me olhou. A porta permaneceu
aberta e voltei a me sentar, da minha mesa tinha a visão perfeita dela e voltei
às minhas atividades e entre uma responsabilidade e outra olhava-a pela
porta. Ela estava sempre pronta para retribuir.
Aquele ato de voyeurismo me deixou excitada e recebi uma mensagem
no celular: “Voltei de viagem, está tranquila para um jantar hoje?” Era
Maitê. Respondi que sim e ela me passou a localização. Continuei tentando
encaixar as peças do pedido de Samuel em minha cabeça, não era viável abrir
a venda de ações, não naquele momento.
No caminho para o jantar, me arrependi de ter aceitado. A noiva de
Maitê gostava de me testar e se ela estivesse junto teria que aguentar suas
piadinhas sobre o meu passado com sua noiva. Eu gosto muito de Maitê, ela
apareceu em minha vida em um dos momentos mais perturbadores que tive.
Katherine sempre foi abusiva em suas atitudes, ela passava do bom senso da
relação de uma domme e uma sub. Quando saí da casa dela, ela não aceitou o
fato de me perder e começou a me perseguir. Aparecia no meu trabalho sem
avisar, contava mentiras sobre mim para meus colegas de trabalho e eu tentei
ao máximo apaziguar a situação dizendo que ela não mandava mais em mim.
Só piorei o cenário. Um dia perdi a paciência e lhe dei um tapa no meio de
um restaurante movimentado. Ela usou este ato isolado contra mim por vários
meses, dizendo que ia me denunciar. Eu não tinha o temperamento que tenho
hoje, era muito mais explosiva e com isso ataquei-a com socos e tapas na
frente da minha casa. Ela entrou com um processo de agressão contra mim e
Maitê me ajudou a fazer com que ela não pudesse mais chegar perto de mim.
A ordem de restrição está em meu nome, mas foi a forma que Maitê viu de
tirar as acusações dela contra mim e fazer com que o assunto fosse encerrado.
Entrei no restaurante e avistei-as de longe, seria uma longa noite. Maitê
me recepcionou em um abraço caloroso e um beijo longo na bochecha.
— Como está meu bebê?
Ela riu e Cíntia também me abraçou. Eu ainda não entendia o porquê
ela gostava de me atacar, afinal Maitê me largou para ficar com ela. Sempre
que eu vejo Maitê tenho boas recordações em mente. Ela foi minha amiga por
muito tempo, sua presença sempre me deixa mais tranquila.
— Estou bem e vocês? — me sentei e elas também.
— Temos novidades. — disse Cintia — Marcamos a data do
casamento.
— Até que enfim, estão noiva há quase três anos. — Eu disse rindo.
Maitê pediu uma taça de Martini para mim e eu sorri com o gesto.
— Queremos que seja uma das madrinhas. — disse Cíntia.
— Está me zoando?
— Nunca! — disse Cíntia — Você é importante para Maitê e vice-
versa. Tenho minhas implicâncias, mas não deixaria você de fora.
— Na verdade, você quer esfregar na minha cara que levou a Mazinha
de mim. — Segurei a mão de Cíntia.
Maitê riu alto e Cíntia me olhou como quem olha para uma criança que
fez arte.
— Você não presta. — Maitê comentou.
— O que vão querer de presente?
— Sua felicidade. — Maitê me sorriu.
— Calma, não é fácil se reconstruir emocionalmente depois de dois
péssimos relacionamentos.
Ela estendeu a mão na mesa e eu segurei-a.
— Eu sei, bebê.
O garçom trouxe minha bebida.
— E o emprego novo? — perguntou Cíntia.
Contei como estava sendo a difícil adaptação, mas omiti as investidas
de Ágatha. Passamos a noite falando de como seria o casamento. Jantamos e
eu recebi uma mensagem: “Desculpe a invasão de privacidade, mas você
comentou sobre toda sexta-feira eu ir ao seu apartamento. Hoje é sexta-feira,
mas não sei qual o horário que devo aparecer.” Eu sorri com a mensagem,
estava na minha quarta taça de Martini e Maitê quis saber o que eu havia
recebido, Cíntia estava no banheiro.
— Minha secretária é um pouco invasiva demais.
— Cuidado, não quero ter que te salvar dela também.
— Vire sua boca para lá.
Procurei em meu celular a gravação do dia que ela havia ido em casa,
gosto de deixar a câmera de vigilância ligada mesmo quando levo alguém
para o meu quarto de brincadeiras. A minha casa tem vigilância vinte e quatro
horas, apenas nos banheiros que não. Sinto-me mais segura dessa forma.
Quando o vídeo começou, eu já estava nua e ajoelhada na caixa de madeira.
A fisionomia de Maitê mudava de preocupação para excitação. Quando
terminou, me devolveu o celular.
— Já chegou arrasando corações. — Maitê me piscou.
Eu apenas sorri. Cíntia voltou e sentou-se. Aproveitei para responder
Ágatha. “Essa semana você chegou tarde.” Obtive uma resposta imediata.
“Esse convite só vale de sexta-feira?” Não respondi e Maitê roubou meu
celular.
— Nada de celular na mesa. — Ela disse brava.
Eu ri e Cíntia me olhou sorrindo.
— Tem alguém para entrar na igreja com você ou podemos escolher
seu par?
— Desde que eu use terno, vocês podem escolher. — Eu sorri.
Conversamos mais algumas coisas sobre a data, que seria dali alguns
meses. E nos despedimos. Fui para casa de táxi e já estava começando a
pensar em comprar um carro novo.
Entrei no apartamento e liguei a televisão sentando no sofá.
Respondi a ela: “Apenas sexta.”
Conectei o celular com a televisão.
Ela respondeu: “Você é má!”
Sorri com a resposta.
Mandei um link para ela: “Entre nesse link e verá o que é maldade.”
O link abriria a câmera de segurança da minha sala. Levantei e na
televisão coloquei o vídeo da nossa cena.
“Não acredito que nos filmou sem meu consentimento.” Vi sua
mensagem aparecer na televisão. Ela teria uma visão estratégica da televisão
e metade do sofá. Eu estava de costas para a câmera. Tirei meu sapato e
desabotoei minha calça, abaixei-a e vi outra mensagem no aparelho: “O que
você está aprontando?”
Desabotoei a camisete e tirei-a, colocando no sofá. Tirei a calcinha e o
sutiã. Sentei no sofá e apertei play. O acesso ao link duraria menos do que o
vídeo todo e minha exibição era apenas encenação. Pelo menos era o que eu
tinha planejado. O meu toque no meu corpo me excitou mais do que o normal
e assistir nosso encontro sabendo que ela estava me vendo, foi prazeroso. Eu
me masturbei, mesmo sabendo que meu prazer não iria ser perfeito. Quando
o acesso de Ágatha acabou, vi uma mensagem na tela: “Não acredito!” Eu
sorri e terminei de ver o vídeo com calma.
Tomei um banho e deitei na minha cama pensando em tudo o que vinha
acontecendo nas últimas semanas. Eu precisava ir com calma, não só em
relação à Ágatha, mas a tudo. Verifiquei meu celular e tinha novas
notificações dela. “Você não devia ter cortado o meu acesso. Manda o vídeo
para mim! Quero vê-lo com calma.”
Não respondi e deitei na cama.
O celular vibrou mais uma vez. “Se você não entendeu, isso foi uma
ordem!”
Eu gravei um áudio: “Eu não recebo ordens, boa noite!”
Desliguei o celular e fechei os olhos com a imagem de seu rosto
gravado em mim.
No sábado pela manhã, acordei e ainda sonolenta liguei o celular.
Inúmeras mensagens dela apareceram.
“Que voz sexy, mas eu mando sim.”
Depois que percebeu meu silêncio me enviou “Anelise me manda o
vídeo!” várias vezes.
Sentei na cama e digitei: “Existem coisas na vida que nós não pedimos
ou exigimos, apenas conquistamos.”
Ela me respondeu instantaneamente: “Como conquistar você e sua
excentricidade?”
Eu olhei a tela do celular por um tempo e respondi: “Uma das
definições do verbo conquistar é: alcançar algo por esforço ou
merecimento.”
Levantei e sua resposta demorou um pouco mais do que o normal, mas
veio: “No sentido figurado, conquistar é: suscitar, provocar, granjear para
si.”
Eu ri e respondi: “Porém também pode ser: atrair a consideração, a
empatia ou o amor de alguém; cativar.”
E ela respondeu: “Ser bem-sucedido numa proposta amorosa também é
uma das explicações do verbo conquistar.”
Eu sorri e respondi: “Use a melhor aplicação com sabedoria.”
Ela respondeu: “Essa discussão só fez com que minha vontade em te
ter ajoelhada me observando tomar banho aumentasse.”
Eu parei de responder e fui até a cozinha, me servi de leite e
achocolatado em uma tigela.
“Já perdi sua atenção?”
No armário, peguei um recipiente onde eu guardava granola.
“O que preciso fazer para ter sua atenção?”
Comi a granola com leite e não respondi mais. Bloqueei seu número,
vesti um biquíni e fui até a piscina do prédio tomar sol. Passei o final de
semana com o número dela bloqueado e apesar da curiosidade e da vontade
de falar com ela não me atrevi a desbloquear. Eu precisava controlar minha
vontade de me entregar.
Capítulo 7
Um ano atrás
Na segunda-feira pela manhã, após ter deixado seu número de celular
bloqueado durante o fim de semana, fui recebida com um olhar curioso e
bravo. Olhei-a e me segurei para não sorrir da cena. Passei pela sua mesa e
desejei bom dia, ela não me respondeu, entrei na sala e logo escutei a porta se
abrir novamente. Virei-me e ela estava parada com meio corpo para dentro e
meio para fora.
— Eu queria me…
Encostei na minha mesa e peguei meu celular no bolso.
— Entre! — olhei-a — Sente-se! — apontei a cadeira na minha frente.
Entrou e fechou a porta trancando-a. Aproximou-se e ficou parada na
minha frente, olhando meu celular. Entrei na lista de números de celulares
bloqueados e tirei o dela.
— Você tem uma lista imensa de números bloqueados.
Coloquei o celular na mesa e olhei-a.
— E você está com sorte de sair dela.
— O que eu fiz de errado para perder sua atenção durante nossa
conversa na sexta-feira?
— Nada!
Ela me fez olhá-la.
— Por que me bloqueou? — ela me encarou.
— Porque eu precisava pensar e você é invasiva demais.
— Desculpe, eu achei que você estava gostando da conversa.
— Eu não devia ter me exibido para você na sexta.
— Eu gostei. — Ela me sorriu — Curto exibições.
Eu olhei o relógio do celular.
— Essa semana vamos almoçar juntas, se quiser pedir seu almoço na
minha conta, fique à vontade.
Eu fiz menção de me afastar da mesa para sair de perto dela, mas
segurou meu rosto e colou no dela, sussurrando em meu ouvido.
— Não tenha medo de mim. Não sei dos seus traumas, mas quero curá-
los.
Beijou meu pescoço e fez com que a olhasse. Sua boca se apossou da
minha, um beijo calmo e suave se revelou mais excitante do que um
arrebatador e intenso. Nossos lábios se tocavam delicadamente, as línguas
bailavam e se enlaçavam com facilidade. Puxou meu corpo com posse para
perto do seu. Sua mão passeava pela minha nuca e seu beijo me deixava
tonta. Fez com que eu a olhasse.
— Você — voltou a me beijar — tem uma boca — me deu um selinho
— deliciosa. Viciante! — me deu outro selinho — Volto para o almoço e
quero que me envie o nosso vídeo.
— Conquiste-o! — encarei-a.
Ela apenas me encarou e saiu da sala.
Sentei na minha cadeira e abri meu e-mail para começar meu dia.
Contradições financeiras começaram a me atormentar, planilhas de viagens
que não condiziam com os recibos de gastos. Eu gerenciava, além das
finanças da empresa, os gastos dos diretores e pelo jeito ia ter que ficar atenta
com eles. Gastavam muito mais do que o teto permitido pela empresa.
Eu já tinha esquecido que havia pedido por um professor particular de
boxe, Ágatha me mandou um e-mail com vários nomes e preços, deixei para
ver com calma depois do expediente.
Quando eu percebi, já estava na hora do almoço. Ágatha bateu na porta
e entrou com o meu almoço e com o dela. Devagar fui até o banheiro lavar as
mãos e quando voltei ela já estava organizando tudo na mesa de centro perto
dos sofás.
— Venha, vou te alimentar.
Ela se aproximou e me puxou para sentarmos no chão, acompanhei-a.
Sentamos e eu me encostei no sofá respirando fundo, estava com a cabeça
doendo.
— Você está com um semblante péssimo. — Ela abriu um dos
recipientes e mexeu com o garfo.
Eu não respondi e ela me serviu uma garfada na boca.
— Não precisa me servir na boca. — A frase saiu ríspida, ela me olhou
brava e entregou o recipiente para mim.
Afastou-se de mim e abriu sua marmita.
— Você pode me fazer cinco perguntas por almoço. As perguntas não
são acumulativas para o dia seguinte e muito menos para horários durante o
expediente. E eu responderei se achar que devo.
Ela não falou nada e comeu uma garfada do arroz e feijão que ela tinha
levado. Após algumas garfadas, ela me olhou séria.
— Por que é vegetariana?
— Não gosto de carne.
— Mas você comeu carne até os vinte anos de idade mesmo não
gostando?
— Eu sempre evitava comer pratos com carne por não gostar. Comia
peixe de vez em quando, mas parei totalmente quando completei os vinte
anos.
— Como e por que invadiu meu computador?
Comi um pouco e olhei-a depois de mastigar.
— Eu estudei linguagens de programação por hobby e acabei
aprendendo muita coisa errada com esses estudos. Invadi porque eu queria
descobrir algumas coisas sobre você, você me deixou acuada com suas
investidas para sairmos.
— Eu não tinha essa intenção, mas, como já disse, você me fascina.
— Por quê?
— Você é linda e seu jeito de se vestir e agir me deixam com a
imaginação a mil.
— Nós começamos errado, não devia ter te levado para minha casa sem
confiar em você. Eu não costumo fazer isso, mas confesso que sua coação me
deixou curiosa.
Ela me sorriu e continuou a comer.
— Você quem fez sua comida?
— Sim! Quer experimentar?
Ela me ofereceu uma garfada de arroz, feijão e brócolis refogado, abri a
boca e ela me serviu. Mastiguei olhando-a.
— Muito bom. — Sorri-lhe.
— Posso fazer para você também, se quiser.
— Um passo de cada vez, não me deixe mais acuada do que já estou,
você vai sair perdendo com isso.
— Ok!
— E não me olhe contrariada.
Ela me olhou levantando uma sobrancelha.
— Você já sabe ler minhas expressões?
— Pelo jeito sim. Você ainda tem duas perguntas. — Olhei o relógio do
celular — Mas seu tempo acabou.
— Você ainda não terminou de comer.
— Não quero mais.
Ela me olhou brava, pegou o recipiente e me ofereceu uma garfada.
— Você não comeu nem metade do que eu pedi.
— Seu tempo acabou.
Eu me levantei do chão e senti sua mão acertar em cheio minha nádega
direita. Ela se levantou ao meu lado e se aproximou do meu corpo.
— Isso é para você deixar de ser uma menina malcriada e almoçar
direito. — Ela sorriu.
Olhei-a de relance e me contive para não sorrir. Ela me abraçou por trás
e desabotoou minha calça, segurei sua mão e me virei de frente segurando-lhe
o pulso.
— O que pensa que está fazendo?
— Eu vou tirar sua calça.
Soltei-a.
— Você não tem o meu consentimento para isso.
Ela me deu outro tapa, olhei-a e senti outro tapa arder minha nádega.
— Eu disse que você tinha direito a perguntas e não tapas. — Segurei
seu pulso.
— Você me irrita…
— Se for para me espancar, que seja por prazer e não raiva. Raiva e
BDSM não combinam.
— Você não me obedece…
— Não espere isso de mim aqui dentro.
— O que eu devo esperar de você?
— Eu aprendi a ser submissa sem perder minha personalidade.
— Excêntrica! — me encarou brava.
— Nunca mais encoste a mão em mim por estar irritada comigo.
Precisamos criar um laço de confiança e não medo. — Fiz com que me
olhasse — Medo não dá prazer. — disse brava.
Ela segurou meu rosto entre as mãos e me deu um selinho.
— Desculpe, você tem razão, foi uma brincadeira infantil e
desnecessária.
— Termine de comer e depois saia da sala. — Me afastei e sentei na
minha cadeira.
— É assim que eu perco sua atenção? Falando ou fazendo besteira?
— Sim. — Olhei-a.
— Sábado eu perdi sua atenção quando disse que te queria ajoelhada
me vendo tomar banho?
— Sim.
— Mas era o que eu queria naquele momento.
Não respondi e ela voltou a se sentar no tapete e não falou mais nada,
enquanto fingia anotar algumas coisas na agenda, observei-a comendo
pensativa. Após alguns minutos ela recolheu todas as coisas de cima da mesa
e saiu da sala. Encostei na cadeira e me perguntei o porquê estava brincando
com fogo se sabia que no fim sempre acabava me queimando.
Samuel me ligou dizendo que estava indo até a minha sala e quando
chegou ficou horas me azucrinando sobre a abertura de capital da empresa.
Quando digo horas, não é apenas expressão. Foi a tarde toda tentando pôr na
cabeça daquele sem noção que a empresa estava fraca para fazer o que ele
queria. Respirei aliviada quando ele saiu da sala, às sete da noite. Saí logo em
seguida e Ágatha ainda estava sentada em sua mesa.
— O que ainda faz aqui? — olhei o relógio do celular.
— Não sabia se iria precisar de mim para alguma coisa.
— Não precisa estender seu horário por minha causa, quando precisar
que fique avisarei.
— Ok!
Ela pegou sua bolsa e eu andei até a porta do elevador e apertei o botão
para chamá-lo. Parou ao meu lado.
— Podemos mudar nossos encontros para jantares, fora da empresa?
— Não.
O elevador parou e as portas se abriram. Entramos juntas.
— Por que tudo tem que ser do seu jeito?
Eu entrei, apertei o botão do térreo e ficamos uma ao lado da outra.
Coloquei as mãos no bolso e percebi que ela estava irritada com meu
silêncio, permaneci sem falar. Olhei meu celular e pedi um táxi para o
endereço dela, sabia que ela usava transporte público. E outro para mim.
— Seu táxi tem a placa ZRE-9901 e é um Vectra Branco.
O elevador parou no térreo, saí e ela me seguiu. Vi alguns olhares em
nossa direção, não sabia se era para mim, para ela ou para ambas. Seguranças
e recepcionistas atentos aos nossos passos.
— Você poderia ao menos responder quando te faço perguntas. — Ela
andava ao meu lado.
Quando saímos do prédio, o táxi dela estava encostando na sarjeta, abri
a porta e antes de entrar ela me olhou perdida.
— Convença-me a fazer as coisas do seu jeito. — Olhei-a e vi que meu
táxi parou logo atrás.
Afastei-me sem deixar tempo para ela me responder.
Ágatha tinha o poder de me deixar inquieta e excitada ao mesmo
tempo. Seu temperamento de garota mimada que quer mandar em tudo me
deixava, muitas vezes, confusa. Minha excentricidade, como ela mesma gosta
de falar, deve deixá-la intimidada e curiosa. Quando conheci Katherine, eu
tinha apenas dezenove anos e não sabia muita coisa sobre sexo, orgasmo e
nunca tinha ouvido falar de BDSM. Ela tinha vinte e nove anos, quando
começamos a nos relacionar. Aprendi muita coisa com ela e conheço meus
limites, pois Katherine me desafiava a sempre aguentar mais. Seu
temperamento abusivo e suas humilhações começaram depois de dois anos de
relacionamento. Pelo aplicativo, vi que o motorista tinha deixado ela em sua
casa. O meu trajeto ainda demoraria um pouco. “É fácil te convencer de
algo?” Eu sorri com a mensagem, mas não respondi.
Entrei no apartamento, tirei o sapato ao lado da porta, fui até a cozinha
e separei uma banana e alguns morangos para bater com leite de soja. Lavei
os morangos e recebi uma foto com a legenda: “Reconhece?” Ágatha vestia
o conjunto de lingerie que usou no dia em que esteve no meu quarto. Procurei
pelo nosso vídeo em meu celular e dei play. Em uma cena que ela aparecia de
forma evidente, pausei e tirei um print da tela. Enviei a foto sem falar nada.
“Eu quero esse vídeo, o que preciso fazer para tê-lo?”
Não respondi, peguei o liquidificador e coloquei o leite e as frutas nele,
liguei-o e recebi outra foto. Ela estava apenas de calcinha e cobrindo os seios
com o braço. Despejei o líquido no copo e mandei o print de outro pedaço do
vídeo.
“Eu mandei fotos e você me respondeu com fotos, se eu mandar vídeo,
você me responde com vídeo?”
Bebi a vitamina e fiquei olhando a foto que enviou, estava linda.
Recebi um arquivo pesado e quando baixou, vi que era um vídeo dela com o
conjunto de lingerie na frente do espelho. Ela olhava o espelho diretamente
para a câmera enquanto tirava o sutiã. Fez menção de tirar a calcinha, mas
cortou a gravação. Fui até o quarto de treino e mandei um link de acesso para
a câmera de segurança. Desabotoei a camisa social, pendurei no mancebo e
repeti o gesto com a calça. Fiquei de frente para a câmera enquanto passava a
bandagem nos pulsos e entre os dedos. Fiz meu treino, normalmente como se
não estivesse sendo assistida e ela teria acesso ao vídeo todo, se quisesse. Eu
estava de calcinha e top, treino assim quando estou sozinha, me sinto mais
leve e livre para os movimentos.
Após uma hora e quinze minutos de treino, peguei meu celular e vi que
ela ainda estava on-line no link e tinha uma mensagem: “Você é linda
demais!” Recebi um vídeo dela, quase uma hora de duração. Apertei o play e
ela havia gravado um vídeo dela se masturbando enquanto assistia ao meu
treino de boxe. Como o celular estava na sua mão imaginei que tinha gravado
pelo computador. Eu sorri e cortei seu acesso à câmera.
Tomei um banho e jantei. Deitei na cama e abri o vídeo que ela tinha
me mandado. Não assisti inteiro, mas foi o suficiente para dormir excitada e
desejando seu corpo.
Pela manhã, tentei acertar a quantidade de café, mas eu era horrível
para fazer isso. Segui para a empresa sem conseguir tomá-lo. Dentro do
elevador, olhei a passagem de números no visor até o nono andar. As portas
se abriram e ela estava sentada conversando com a secretária de Samuel. As
duas pararam de falar assim que me viram. Desejei bom dia e passei por elas
em direção à sala. Como ela não me seguiu, voltei até sua mesa e ao sair da
minha sala ouvi a outra secretária dizer: “ela é diferente demais.” Como ela
não tinha me visto parei atrás dela.
— Está perdida no nono andar?
A garota levou um susto e saiu andando em direção do elevador sem
me responder. Ágatha se segurou para não rir alto, mas se soltou quando o
elevador se fechou. Sua risada era graciosa. Eu apenas sorri com a cena e lhe
pedi uma xícara de café. Ela me sorriu e disse que já levava.
Quando entrou, eu estava em pé perto da janela olhando o movimento.
Observei sua aproximação e antes de me dar a xícara, depositou um beijo nos
meus lábios. Sorriu e me entregou a xícara.
— Eu mesma quem fiz.
Tomei um gole e era infinitamente melhor do que o meu.
— Obrigada! — beijei-lhe a testa — Você é sempre acanhada para
gemer? — sussurrei em seu ouvido.
Ela me beijou a bochecha.
— Eu divido o apartamento com mais três pessoas, não podia gemer
mais alto. — Ela me beijou a orelha me arrepiando — Mas no seu quarto
posso gemer o quão alto você quiser.
Aproveitei a proximidade de nossos rostos e lhe beijei a orelha.
— Ouse não gemer. — Sussurrei.
Passou a mão pelo meio das minhas pernas e apertou minha buceta.
— Não me provoque. — Beijou-me a boca com delicadeza e eu lhe
sorri.
— Não provocarei.
Seus lábios buscaram os meus e nos beijamos com calma, sua mão me
envolvia a cintura enquanto a outra estava em minha nuca. Meu cérebro
mandava eu me afastar e minha libido mandava eu me entregar. Minhas mãos
queriam avançar em seu corpo, mas me contive. Findou o beijo me sugando o
lábio inferior e um selinho demorado. Ela saiu da sala e eu terminei o líquido
enquanto ainda estava quente. A cena dela se masturbando assistindo meu
treino de boxe voltou à minha cabeça e eu sorri lembrando de seus gemidos
acanhados.
Minha manhã foi tranquila perto do que estava sendo nos últimos dias.
A hora do almoço demorou mais para chegar por conta disso. Como
tranquilidade não condiz com esse trabalho, Samuel e o presidente da
empresa entraram na minha sala faltando poucos minutos para meu horário
de almoço.
— Eu estava de saída, precisamos conversar agora?
— Sim. — respondeu o presidente.
A conversa foi produtiva, pois era para tentar amenizar a vontade de
Samuel de abrir a empresa para capital estrangeiro.
Duas horas depois, quando saíram, Ágatha entrou com meu almoço.
— Depois da bronca de ontem, eu já almocei.
— Fez bem.
— Posso te acompanhar se quiser.
Levantei e fui até o banheiro lavar as mãos e voltei observando sua
arrumação na mesa de centro. Aproximou-se de mim e me deu um selinho.
Puxou-me para me sentar no tapete. Deixei-me ser conduzida, queria ver até
onde ela iria. Sentamos e ela me serviu a primeira garfada. Encarei-a
aceitando a comida. Algo estava diferente naquela comida, mais saborosa,
menos oleosa.
— Como machucou o pulso?
Ofereceu-me outra garfada e eu aceitei. Seus olhos pretos me
interrogavam, estavam inquietos esperando minhas respostas e sua boca
estava pronta para outra pergunta.
— Em uma luta. Você trocou de restaurante?
— Sim! Você luta de verdade? — ela me ofereceu outra garfada.
— Por que trocou de restaurante? — segurei a mão que estava o garfo e
afastei o rosto dela.
— Não estou tentando te envenenar. — disse brava.
— Ágatha, me responde!
— Como identificou que troquei de restaurante?
— Ágatha, me responde!
— Apenas as almôndegas de soja são do restaurante. — Eu me levantei
do chão.
— Saia da minha sala.
— Anelise, pare de ser radical. — ela também se levantou — Eu não
fiz nada com carne, eu só…
— Você me desobedeceu, eu disse que iria me deixar acuada com essa
atitude e você fez do mesmo jeito. Teimosa!
Ela não respondeu e eu saí da sala. Desci correndo pelas escadas até o
sétimo andar e fiquei parada no meio do caminho. Odiava me sentir
controlada fora de uma cena. Demorei anos para estabelecer o equilíbrio que
tenho hoje e não posso permitir que uma garota invada minha vida querendo
me controlar dessa maneira. Katherine, no fim do nosso relacionamento,
controla tudo, inclusive o que eu comia. Terminei de descer as escadas e fui
para casa, não tinha mais cabeça para trabalhar do escritório. Não queria
voltar a vê-la. No caminho para casa bloqueei seu número, pois sabia que me
procuraria. Eu precisava respirar.
Passei a tarde sentada no tapete da sala de meu apartamento, tranquila,
sem interrupções. Entre um cálculo e outro, uma planilha e outra tentei não
pensar em Ágatha. Consegui abstraí-la, mas no dia seguinte ela estaria lá, no
mesmo lugar.
Após meu treino e um banho, adormeci no sofá tentando ver um filme.
Acordei no meio da noite assustada, levantei sonolenta e fui para o quarto.
Meu celular estava cheio de mensagens de um número diferente, não li, voltei
a dormir.
Pela manhã, acordei cansada e irritada, respirei fundo e me vesti. No
caminho, não consegui pensar em nada além da minha irritabilidade. Quanto
mais tentava me acalmar pior eu ficava. Passei por sua mesa e não disse nada.
Entrei na sala e tentei relaxar e me concentrar, mas Samuel me ligou e ainda
insistia no mesmo assunto.
— Samuel, vamos combinar uma coisa? — disse ríspida — Vamos
organizar a casa e daqui dois meses voltamos a falar sobre abertura de capital.
Eu não vou aceitar sua pressão, não vou ser irresponsável com o resto da
empresa porque você está agindo como um homem mimado.
— Anelise você tem…
— Não tenho, Samuel. Você sabe dos riscos e eu só vou aceitar falar
sobre isso daqui dois meses.
Desliguei o telefone. Abri meu e-mail e pelos assuntos, teria um dia
com enormes problemas para resolver.
Na hora que Ágatha trouxe meu almoço, ignorei-a e continuei anotando
números em uma folha perto do computador. Ela se sentou na cadeira em
frente à minha mesa e abriu sua marmita, como se eu não estivesse ali. Peguei
meu garfo e o pacote do restaurante. Abri e me servi de uma garfada. Comida
ruim em comparação a do dia anterior. Continuei a fazer cálculos e anotar
informações nas folhas.
— Você não devia trabalhar enquanto come.
— Você não devia tentar mandar em mim.
— Grosseria veio de complemento hoje?
— Ágatha…
— Você é sempre dominadora dessa forma com suas domme?
Não respondi e continuei comendo.
— Eu só estava tentando te trazer uma comida mais saudável,
restaurantes geralmente abusam de sódio, conservantes e gordura para
preparar as refeições.
Novamente permaneci em silêncio.
— Não era uma questão de controle, eu só queria agradar.
— Quando eu disser: “Não faça tal coisa.” Você não faz! É simples,
não tente bater de frente comigo. — Minha voz saiu forte e ríspida — É
invasivo — tentei amenizar a dureza da minha voz — quando eu digo que
não quero que você faça minha comida e você faz e ainda tenta me enganar.
— Se eu tivesse te avisado que eu tinha feito sua comida, você teria
uma reação diferente?
— Não sei. — Respondi sem graça.
— Por que você tem que dominar tudo? Deixa-me te agradar.
— Você me agrada me obedecendo.
— Nós não vamos dar certo assim. — ela disse se levantando e saindo
da sala.
Coloquei o garfo na mesa e encostei na cadeira respirando aliviada por
estar sozinha. Aproveitei o tempo livre e marquei com um professor de boxe
para experimentar sua aula particular. No fim daquele dia, saí da sala olhando
o celular e lendo as mensagens que Ágatha tinha me mandado no dia anterior
de um novo número. Nada de interessante, um monte de tentativas de me
pedir desculpas pelo que fez. Andei até o elevador e apertei o botão para
chamá-lo. Ela parou ao meu lado.
— Quais são as regras do seu jogo?
Eu segurei um sorriso de canto de boca e olhei-a profundamente. As
portas do elevador se abriram e eu entrei.
— Estou falando sério, quais são as suas regras? — ela ficou parada no
meio do caminho para as portas não se fecharem — Eu preciso saber quais
são para não as burlar.
Ela entrou no elevador, as portas se fecharam e me puxou para um
beijo lascivo e decisivo. Não resisti e nosso envolvimento foi intenso.
— Não me atacar como se estivesse no cio é uma delas. — Eu disse
tentando parar de beijá-la, mas eu queria aquele contato.
— Isso é impossível. — Me beijava com mais desejo e envolveu seu
corpo com as minhas pernas — Deixa eu ir para sua casa. — Apertou minha
bunda e me beijou com mais calma — Deixa eu te chamar de minha. —
Voltou a me beijar lascivamente.
Sua boca era insanamente gostosa, carnuda, suas mãos se apossaram de
mim com dominância e senti um tapa na bunda me fazendo puxar seu corpo
para perto do meu.
— Você precisa deixar eu dominar seu corpo. — Ela me bateu de novo
e eu gemi em resposta ao ato — Pare de fugir do óbvio. — Ela me beijou
novamente.
Soltou-me e se afastou a tempo de o elevador parar e logo abrir a porta.
Saí atrás dela e ainda ofegante e excitada andei rápido até a calçada. Afastei-
me alguns metros sentindo seu beijo se apoderando de minha mente, olhei em
volta e respirei fundo. Ainda era quarta-feira e me arrependi de tê-la
convidado para almoçar comigo a semana toda.
Durante o trajeto para o meu apartamento, percebi que se eu me
entregasse à Ágatha, iria ter um tsunami em minha vida e eu não estava
pronta para isso. Os dois números de celulares que ela usou para se
comunicar comigo estavam bloqueados. O professor foi pontual e nosso
treino proveitoso, não quis arriscar testar outro e contratei-o.
Deitada na cama após um banho, relembrei de nosso beijo no elevador,
meu corpo reagiu arrepiado e excitado. Não vou negar que nosso
envolvimento está sendo rápido e não faço ideia do porquê ela insistir tanto
em mim. Por mais que ela já tenha me dito que eu a fascino, ainda acho que
tudo está sendo rápido demais. Estou sem tempo de pensar direito, pois ela
invadiu minha mente como um vírus perigoso invade um computador. Meu
disco rígido está sendo corrompido por um vírus chamado Ágatha.
Ao chegar na empresa no dia seguinte ela não estava em sua mesa.
Entrei na minha sala e quando abri meu e-mail vi um com seu nome de
remetente. Abri e li: “Acho que aqui ainda não estou bloqueada, já que meus
dois números de celulares estão. Tentei te ligar inúmeras vezes, mas não
consegui respostas. Minha mãe acordou passando mal e estou no hospital
com ela, mas assim que sair daqui vou direto para o escritório.”
Desbloqueei seus números e mandei uma mensagem: “Tire o dia de
folga e cuide direito de sua mãe.”
Ela me respondeu de imediato: “Seu almoço já está confirmado e
Soraia vai me substituir até eu chegar.”
Respondi: “Avise que ela vai te substituir até o fim do dia, não ouse
aparecer aqui. Cuide direito de sua mãe.”
Ela respondeu: “Não quero perder nosso almoço, precisamos
conversar.”
Respondi: “Não seja teimosa, me obedeça.”
Ela respondeu: “Serei recompensada por te obedecer?”
Eu sorri com a pergunta e respondi: “Talvez!”
Sua resposta foi: “Isso já é melhor do que um não.”
Meu dia foi tedioso sem sua presença fiquei me segurando para não
mandar mensagem. Mas ela quebrou o silêncio no fim do dia. “Obrigada
pela folga, estava precisando dar atenção para minha mãe. Soraia foi uma
boa substituta?”
Não respondi imediatamente, não ia dar chance ao azar e demonstrar
minha ansiedade. Respondi só quando já estava deitada na cama, depois de
treinar, comer e tomar banho.
“Não posso reclamar da garota, mas não é a mesma coisa.”
Em resposta imediata: “Então você confessa que fiz falta?”
Eu ri alto da mensagem e não respondi. Ela é um vírus altamente
perigoso e meu disco rígido está totalmente destruído, não há mais arquivo
sem estar infectado.
Capítulo 8
Um ano atrás
Na sexta-feira, quando a porta do elevador se abriu ela me olhou e
sorriu. Eu fiz um esforço para não retribuir, ela estava linda. Tocou o telefone
enquanto passei por sua mesa e ela não me seguiu. Só fui vê-la na hora do
almoço, entrou colocou nossas comidas sob a mesa de centro e eu só observei
fingindo estar fazendo contas em uma calculadora. Ela se aproximou da mesa
e apoiando um braço na mesa aproximou seu rosto do meu ouvido beijando-
o. Ela tirou a caneta da minha mão.
— Você não vai precisar disso.
— Já chegou me assediando? — Perguntei brava.
— Confessa que você gosta.
— Já disse mais de uma vez que não gosto. — Fiz com que ela se
afastasse.
Levantei abruptamente da cadeira.
— Você gosta de me ver irritada?
— Você é linda de qualquer jeito. Irritada, mal-humorada, — Ela se
aproximou de mim — séria, concentrada, cansada… — Me deu um selinho
— Por que não gosta que eu te assedie?
— Já tive problemas em outro emprego por causa de assédio.
— Vou tentar me controlar perto de você, mas não prometo nada.
Ela me sorriu e foi até a mesa de centro e sentou-se no tapete.
Aproximei-me depois de lavar as mãos e também me sentei.
— Você tem família?
— Sim. — Me servi antes que ela começasse com a mania de querer
me alimentar.
— Pai, mãe, irmãos, avós?
— Filha única, pais problemáticos, sem avós. Não falo com minha mãe
há anos e não sei que fim levou meu pai. Sua mãe está bem?
— Sim. Você sempre participa de campeonatos de boxe?
— Depois da minha torção no pulso, pretendo dar um tempo em
campeonatos, só vou treinar.
— Quando vou poder ver um treino ao vivo?
Eu apenas ri e não respondi.
— Você deveria sorrir mais vezes. — Ela me encarou — E isso é um
pedido e não uma ordem.
— Qual sentimento que eu faço aflorar em você?
— Alguns bem confusos, na maioria das vezes. Seu corpo me diz uma
coisa e sua mente me fala outra.
Ela passou a mão em meu rosto.
— Eu sou confusa para você? — Perguntei me servindo.
— Na maioria das vezes. Eu quero você e parece que você também me
quer, afinal, não acredito que você goste de almoçar com qualquer pessoa.
Diga suas regras, pare de ter medo de mim.
— Eu tenho meus traumas e ter outra dominatrix na minha vida não
estava ou está em meus planos.
— Vamos apenas nos curtir, sem denominações. Eu sinto um tesão
enorme por você desde o primeiro dia que vi sua foto na internet, quando
Samuel me pediu para marcar uma entrevista contigo.
— Eu não sou de curtições.
— Eu não ganho uma com você?
— Você precisa ganhar?
— É difícil conversar quando um dos lados não é maleável a propostas.
— Qual tua proposta, garota?
— Quando me chama de garota, você me brocha.
— Ok! Qual tua proposta, Ágatha? Melhor assim?
— Sim. Meu nome na sua boca me deixa excitada. — Ela me sorriu e
eu acabei retribuindo — Antes de fazer minha proposta, me fale, qual seu
trauma com sua ex dominatrix?
— Katherine foi abusiva no final da nossa relação, não aceitava mais o
fato de eu ter um emprego, ter amigos, era ciumenta demais e me controlava
de todas as formas possíveis. Eu não gosto que dominem minha vida. Quando
terminei nossa relação ela surtou e me perseguiu por meses. Samantha não
era abusiva, tínhamos uma boa relação, mas praticava o BDSM sem seguir
regras básicas de segurança.
Ela me fez olhá-la.
— Eu sei que não nos conhecemos e eu estou sendo invasiva, na
maioria das vezes. Infelizmente é o meu jeitinho. — Ela riu — Deixa eu
entrar na sua vida pela porta da frente ou melhor pelo quarto dos fundos. —
Ela se sentou mais perto de mim — Você não precisa me contar nada da sua
vida, e se quiser se envolver com outras pessoas, não vou querer saber. Se
quiser fingir que eu não existo durante a semana e me encontrar apenas em
dias e horários determinados, não me importa. Eu só quero ter o prazer de te
ter naquele quarto, o que você fará fora dele é assunto seu. — Ela me beijou
delicadamente — Deixa eu te bater, — Beijou meu pescoço — algemar, —
Beijou minha boca — amarrar… — Apossou-se dos meus lábios vorazmente.
Entreguei-me ao beijo e me senti preenchida por uma sensação boa e
tranquila, mas me afastei quando percebi que meu corpo estava se entregando
demais.
— Você sempre se afasta na melhor parte. — Ela me olhou confusa.
Não respondi e apenas encarei-a.
Terminamos o almoço em silêncio, preferi assim, pelo menos não
precisaria responder sua proposta. Ao terminar me levantei e fiquei olhando o
movimento da rua pela janela do escritório com as mãos no bolso. Ela se
aproximou, se posicionou atrás de mim, encostou seu corpo em mim e
colocou as mãos dentro dos meus bolsos junto com as minhas.
— Eu vou te assediar. Eu vou te atacar como se estivesse no cio. Eu
vou te enfrentar, principalmente quando eu não souber como agir. Mas
nunca, nunca vou ter posse sobre você. Você é livre. Você pode deixar eu
cuidar de você sem se sentir dominada fora do quarto. Eu gosto de cuidar,
alimentar e mimar minhas subs de vez em quando. Você tem duas opções,
também aceitar minhas vontades ou não teremos mais nada.
Eu apertei-lhe a mão delicadamente e encostei minha cabeça na dela.
Ela beijou meu pescoço.
— Confia em mim, deixa eu mostrar que não sou um monstro
possessivo. Sou só uma garota que está fascinada por você e não sabe como
agradar.
— Vai me usar até achar algo mais fascinante?
— Você me irrita com essa mania de distorcer o que eu falo.
— Você é invasiva.
— Pare de lutar contra o desejo do seu corpo. — Ela me lambeu a
orelha me arrepiando — Vou aparecer na sua casa, hoje às oito e não tente
fugir de mim. Quero que me receba vestindo uma lingerie preta e um rabo de
cavalo bem alto para destacar seu rosto.
Ficamos naquela posição por um tempo, o calor do seu corpo junto ao
meu me acalmava, apesar da minha mente estar a mil com sua proposta.
Virei-me de frente para ela. Com o indicador tirei uma mecha de cabelo de
seu rosto e encarei-a ainda indecisa sobre como responder.
— Eu aceito sua proposta com algumas condições.
— Quais?
— Nossa relação é apenas dentro do quarto, aqui fora, eu mando, eu
sou sua chefe e não quero me sentir acuada de nenhuma forma.
— Quando você me disser para não fazer algo, eu vou cumprir,
prometo.
— Suas colegas não podem nem sonhar com o que acontece conosco.
— Eu não tenho esse intuito.
— Você disse sério sobre não querer saber da minha vida?
— Disse. Aqui fora não seremos nada, vou tentar ser menos invasiva,
não garanto eficácia nisso, pois sou curiosa, mas vou tentar.
— Não tenho lingerie preta limpa. — Eu disse sorrindo — Vai ter que
ser outra cor.
— Já vai me desobedecer antes mesmo de eu chegar na sua casa? —
Ela me encarou e eu dei de ombros fazendo-a sorrir — Eu tenho um pedido
para lhe fazer.
— Diga.
— Eu gostaria de te alimentar na boca quando almoçarmos ou
jantarmos apenas nós duas.
— Por quê?
— Porque eu sinto que estou te protegendo e cuidando de você.
— Ok, Ágatha! Desde que isso seja apenas entre nós e nunca em
lugares públicos.
— E você pode recusar quando quiser, é um pedido e não uma ordem.
Eu olhei a hora no celular e lhe encarei.
— Eu sei, meu tempo acabou. — Ela riu.
Beijou-me delicadamente e saiu da sala depois de limpar a sujeira que
fizemos. Sentei em minha cadeira e me entreguei ao trabalho, bom, pelo
menos era o que queria ter feito. Ágatha ficou em minha mente a tarde toda e
minha libido já estava querendo saber o que ela iria aprontar comigo.
Capítulo 9
Dias atuais
Maitê conseguiu me enviar roupas, afinal ainda estava apenas de
roupão e calcinha. Isso aconteceu às cinco horas da tarde. Duvido que ela
tenha me levado roupas apenas àquela hora. Aquele detetive filho da puta
estava de sacanagem com a minha cara. Tenho certeza que ele me deixou
com aquelas roupas para me humilhar, pois de tempos em tempos passava um
policial pela cela para me ver, estava me sentindo um macaco de zoológico.
Depois que me vesti não me senti melhor do que antes, passei a tarde toda
tentando não sentar e não encostar em nada, mas o cansaço estava começando
a aparecer. Além do vaso sanitário entupido e cheio de fezes e papel
higiênico molhado, haviam dois bancos, um bem ao lado do vaso e outro
perto de onde eu estava. No banco mais longe, a garota que estava drogada
estava sentada na ponta longe do vaso, pois o restante estava vomitado, por
ela mesma. A que aparentava ser prostituta, estava deitada tomando todo o
outro banco. Eu queria ir embora, quem não iria querer um banho quente e
uma cama fofa? Não seria pedir demais, já que eu não faço ideia do que
aconteceu com Ágatha.
Por falta de opção, eu tive que sentar no chão, abracei minhas pernas e
deitei minha cabeça em meus joelhos. Nunca mais eu veria Ágatha e minha
esperança de sair desta armadilha estava cada segundo mais fraca, não estou
convencida de que Maitê está do meu lado. Fechei os olhos por um instante e
me lembrei de quando fui à praia com Ágatha, deixei a cena dela de biquíni
me acalmar. Adormeci por poucos minutos, acredito eu, pois logo me
assustei com a cela sendo aberta.
— Sua advogada está aqui, levante-se! — Disse o policial.
Levantei e ele me virou contra a grade de forma agressiva. Puxou meu
braço direito para trás para me algemar.
— Isso é necessário?
— Ouvi dizer que você adora. — Ele me pressionou contra as grades
algemando o braço esquerdo também.
Não respondi e ele me puxou para sairmos da cela. Andamos por um
enorme corredor até a sala onde Maitê me esperava. Quando entrei ela me
olhou e percebi que meu mundo iria desabar mais um pouco.
— Esqueci a chave lá na minha sala. — O policial disse sarcástico.
Ele saiu da sala e me aproximei da mesa onde ela estava sentada me
encarando.
— Esses policiais estão de sacanagem comigo. Por que está com essa
cara?
— Sente-se.
— Como se fosse fácil fazer alguma coisa com estas algemas.
— Você sabe fazer muita coisa algemada. — Ela disse sarcástica e eu
me sentei — Seu chefe está te denunciando por roubo.
— O quê? Como assim?
— Samuel denunciou uma transferência de dez milhões para uma conta
na Suíça e a conta tem seu nome e foi feita com sua senha e através do seu
computador.
— Filho da puta! — eu gritei — Filho da puta! — eu levantei e
comecei a andar feito barata tonta.
— Todos os seus bens estão bloqueados. Todos!
— Maitê, você precisa me tirar dessa. Samuel está aprontando comigo,
não é possível. Eu não roubei nada. — Eu estava agitada e as algemas
apertadas.
— Ele tem muitas provas contra você. A polícia relacionou as fotos que
Ágatha tinha de você como chantagem. Estão acusando você de assassinato,
pois alegam que Ágatha sabia do seu plano de roubar a empresa.
— Não! Eles estão loucos! — Eu estava agitada e as algemas
começaram a cortar meu pulso, pois eu estava tentando me soltar.
O detetive entrou na sala e eu avancei para cima dele.
— Me solta! Eu não fiz nada! — Eu sentia o ferro cortar minha pele a
cada tentativa de me soltar.
O policial que tinha me deixado algemada voltou e vendo o estado do
meu pulso ficou paralisado.
— Me solta! — Eu gritei.
Ele me soltou e eu empurrei-o contra a parede. Meus pulsos estavam
cortados e vermelhos.
— Olha o que você fez imbecil! — Mostrei o machucado para o
policial — É assim que te ensinam a tratar as pessoas?
O detetive me puxou para longe do policial e Maitê veio em minha
direção, me puxando para o outro lado da sala.
— Anelise, essa atitude não vai te ajudar em nada. — Maitê me
sussurrou.
— Porra, Maitê! Você também está achando que eu fiz tudo isso? —
Encarei-a.
Ela não me respondeu.
— Você é uma idiota se estiver acreditando nisso tudo. — Eu falei
brava.
Eu olhei o detetive e ele me encarava como se eu fosse uma selvagem,
naquele momento, talvez eu estivesse mesmo agindo como uma. Mas como
eu deveria estar agindo perante essas acusações insensatas?
— Anelise, a senhorita está sendo acusada de assassinato e roubo, mas
posso acrescentar agressão contra policial também, se preferir.
— Eu não roubei ou matei. E eu ameacei um policial, não agredi. O
senhor faz muitas acusações em falso.
— Até o seu julgamento, ficará presa. O juiz decretou uma fiança de
meio milhão de reais para poder responder em liberdade.
— Como se dinheiro nascesse em árvore. — Eu disse brava analisando
o estrago em meu pulso.
— O sargento Garcia acompanhará sua prisão.
O policial se aproximou de mim e eu estiquei os braços e olhei Maitê.
— Você ainda é minha advogada?
— Sim. — Ela respondeu brava — Por que não seria?
— Não tenho dinheiro, o pouco que tinha está bloqueado. — Olhei o
policial e ele me algemou sem apertar até o fim.
— Não se preocupe.
— Eu já estou preocupada, Maitê. — Eu me aproximei dela — Você
tem noção do que essas mulheres vão fazer comigo quando descobrirem que
gosto de apanhar? — Sussurrei — Eu vejo que você não acredita em mim. Eu
preciso que você acredite em mim.
— As provas são…
— Como você quer ser minha advogada sem acreditar em mim? Provas
são forjadas a todo momento.
— Seu tempo acabou, garota. Vamos dar sequência à sua prisão. — O
detetive disse com um meio sorriso no rosto.
— Você ainda não venceu. — Eu disse brava.
Ele apenas riu e mandou Garcia me levar para fazer a minha ficha.
Seguimos por um corretor frio e mal iluminado. Entramos em outra
sala e fui fotografada para ser fichada. A mesma policial que acompanhou os
interrogatórios me entregou um kit com camiseta, calça e roupas íntimas para
vestir. Garcia ainda estava na sala, estiquei meus braços para ele me soltar
das algemas.
— Pode me soltar ou pretende que eu faça mágica e me troque
algemada?
Ele me olhou bravo e abriu as algemas, meus pulsos tinham marcas de
sangue seco e estavam arroxeados. A policial segurou minha mão quando viu
os machucados e me olhou com compaixão. Ela foi a primeira a fazer isso
desde de que entrei neste inferno.
— O que houve?
— Pergunte ao seu amigo Garcia. Posso lavá-los antes de me trocar?
Ela apontou um banheiro e olhou brava para o colega. Coloquei as
roupas sob a mesa ao lado do banheiro e entrei. Deixei a água correr sobre os
cortes, ardiam como se eu tivesse me machucado com folha sulfite. Passei
sabonete e soltei um palavrão por estar extremamente sensível, percebi que
Garcia estava olhando toda a cena e a outra policial também. Encostei a
cabeça na parede sentindo a água gelada nos pulsos. Até aquele momento
meu esforço em parecer forte era quase que natural, mas saber das acusações
de roubo me desmoronaram, derrubaram as últimas esperanças de sair dali.
Eu comecei a chorar, fechei a torneira e sentei no chão desesperada. A
policial se aproximou.
— Não temos tempo para isso. Vista-se, precisamos te transferir para a
penitenciária. Sugiro que use o banheiro, este é o último banheiro limpo que
verá por um bom tempo.
Respirei fundo tentando me acalmar. Levantei e fiz o sugerido. Ela me
passou o uniforme de presidiária e eu me vesti sem relutar. Afinal, não tinha
muitas opções. Garcia tinha saído e quando terminei ele entrou na sala
novamente e se aproximou.
— Eu sinto muito pelos machucados. — Ele me mostrou dois pedaços
de gaze — Vou pôr nos seus pulsos para protegê-la e não se ferir mais.
Eu não sei o porquê os dois estavam sendo bonzinhos comigo, eu
apenas acatei. Ele fez o curativo, me algemou e me acompanhou até o lado de
fora delegacia. Entrei em uma van junto com outras detentas e ele sentou-se
no banco da frente. Por sorte sentei ao lado da janela e durante todo o trajeto
consegui olhar a paisagem, era uma estrada com serras e eu não fazia ideia
para onde estavam me levando. Imaginei mil coisas que poderiam ter se
passado com Ágatha antes dela morrer e me culpei por não a ter protegido
melhor.
O trajeto foi curto e logo estávamos descendo em um pátio com
vigilantes armados, cercas altas e arames farpados por todos os lados. Em fila
única fomos levadas para uma sala, retiraram as algemas e nos enfileiraram
lado a lado. Uma agente penitenciária parou na minha frente.
— O que fez nos pulsos? — perguntou brava — Tentou se suicidar?
— Não, senhora! Machuquei com as algemas.
— Você deve ser a garota que gosta de ser amarrada, gosta de
apanhar… — Ela riu e me virou de costas para ela — Tire a roupa. Mãos na
parede e pés atrás da linha amarela.
Meus gostos fariam com que minha estadia ali dentro fosse uma eterna
perseguição. Obedeci a suas ordens e senti seus dedos me invadirem para
uma revista íntima. Enfiou três dedos de uma vez e eu segurei um palavrão.
Encostei minha boca em meu braço para não gritar, pois ela abriu os três
dedos forçando o meu canal vaginal. Retirou-os de dentro de mim e enfiou
dois dedos no ânus. Resisti em xingá-la e logo ela me deixou em paz. Duvido
que fez o mesmo com as outras.
Depois de revistada, me vesti e seguimos por um outro corredor até as
primeiras grades. Meu coração estava apertado e acelerado. Eu não sabia o
que esperar de um lugar como aquele. Nunca tinha entrado em uma prisão.
Entregaram-me uma sacola com papel higiênico, pasta, sabonete e escova de
dente e uma troca de roupa. Uma mulher nos acompanhou até outra ala e de
lá, outra foi quem nos guiou. O lugar era mal iluminado, as celas tinham no
mínimo dez mulheres amontoadas e o teto tinha infiltração do andar de cima.
Descobri que existiam duas alas, uma para quem ainda não estava
condenada e outra para quem já estava condenada. Uma pior do que a outra.
Tive sorte de não ficar em uma cela superlotada. Entrei e escutei a grade
sendo fechada atrás de mim. Olhei as quatro mulheres que estavam na cela,
havia apenas dois colchões e um vaso sanitário sujo. Uma das detentas se
aproximou de mim e eu segurei a sacola com mais força, pela situação do
lugar, era melhor cuidar do pouco que tinha. Encaramo-nos por instantes e
ela se afastou. Eu me agarrei àquela sacola e sentei em um canto afastada de
todas, tinha certeza que como novata minha vida não ia ser fácil.
Dormir? Impossível. Eram vozes e barulhos externos atormentando o
tempo todo. A posição também não ajudava, dormir sentada não é
confortável. Pensar em Ágatha não é confortável. Pensar que alguém está rico
e tomando champanhe em alguma ilha paradisíaca não é confortável. Nada
aqui dentro é confortável.
Uma das presas sentou ao meu lado.
— O que fez nos pulsos? — perguntou curiosa.
— Os guardas me machucaram.
— Eu não gosto daqui.
A garota tinha um comportamento infantil e alienado. Talvez sofresse
de algum problema mental ou apenas consequências deste lugar.
— Eu também não.
— Eu me chamo Joana.
— Anelise.
Ela continuou ao meu lado. As outras três me olhavam desconfiadas.
Eu encolhi as pernas e deitei a cabeça no joelho tentando me acalmar. Pelo
cansaço adormeci um pouco, mas logo abriram a cela dizendo que era hora
do banho.
Eu segui o fluxo e tentei não chamar a atenção, mas infelizmente isso
era impossível. O banheiro era uma fileira enorme de chuveiros, sem
privacidade ou individualidade. Haviam cabines para uso do vaso sanitário,
aproveitei para usar, pois na cela talvez não conseguisse. O estado de limpeza
não era muito diferente do que o vaso das celas, mas me arrisquei. Levei a
sacola comigo, não poderia perdê-la.
Para tomar o banho, percebi que não havia toalha disponível para todas
e a maioria das presas se vestiam molhada ou ficavam em pé no banheiro
para se secar um pouco. Não era possível isso, não existia um pingo de
humanidade com as presas?
Tirei minha roupa, guardei dentro da sacola e peguei o sabonete que
haviam me dado. Amarrei-a e pendurei no registro, abri a torneira e um jato
de água gelada caiu sobre o meu corpo. Rezei para que fosse apenas os
primeiros segundos de água gelada, mas infelizmente a temperatura só
despencou. Não ousei olhar para os lados. Lavei-me rapidamente, pois a água
gelada doía no corpo. Desliguei o chuveiro e fiquei parada tentando me
decidir se me vestia molhada ou se esperava, mas meu corpo tremia de frio.
Sequei algumas partes do corpo com a camiseta e me vesti.
Depois do banho, veio o jantar, se é que se pode chamar aquilo de
jantar. A fila única era obrigatória e o uso da bandeja de plástico também. A
mulher que entregava a bandeja já com um purê não identificável estava na
mesma cela que eu, descobri que seu nome era Hortência. A pilha de bandeja
ficava do seu lado esquerdo e a comida à sua frente. Ela me olhou e vi que as
bandejas não eram um exemplo de louça limpa. Encarou-me e olhou a pilha
de bandeja. Eu não disse nada, mas ela procurou uma que aparentava estar
mais limpa e colocou uma colherada da comida. A mulher ao lado dela,
colocou uma colherada de algo verde e também não identificável. A última,
entregou um pão estranho e com aspecto de ser de dois dias atrás. O refeitório
estava lotado e Joana me acenou de longe me chamando para sentar com ela.
No caminho até a mesa fui interceptada por uma mulher afrodescendente e
gorda. Tentei desviar, mas ela me seguiu.
— Posso passar?
— Não!
— Eu não quero encrenca.
Ela riu alto e colocou a bandeja dela sob a mesa ao nosso lado. Tentou
pegar minha sacola e eu não deixei. Também coloquei a bandeja sob a mesa.
Ela tentou me dar um tapa na cara, mas eu me esquivei fazendo-a errar. Eu
não queria revidar, mas ela tentou novamente e eu empurrei-a. Ela me acertou
um soco e eu lhe devolvi dois. Um guarda se aproximou berrando e nos
separando.
— Solitária para as duas! — Ele falou bravo.
— Eu não fiz nada. — Eu disse.
— Claro que fez, me impediu de passar e ainda me bateu. — A mulher
disse com cara de choro.
O guarda me puxou para longe dela e me levou até um corredor.
— É melhor você ficar na solitária. Não tente revidar as ameaças aqui
dentro. — Ele me disse calmo — Vai ser pior para você.
Andamos por um corredor também mal iluminado e com infiltrações.
— Como se consegue uma toalha por aqui?
— Aqui é tudo na base da troca. Se quiser, posso arranjar uma para
você. — Ele abriu a porta — Como você é novata só vai custar um boquete.
Ele me empurrou para dentro da cela e fechou a porta. Pelo menos eu
ainda tinha minha sacola e iria ter um colchão para dormir. Ele abriu uma
portinha e me olhou.
— Me avise sobre a toalha.
— O que mais você consegue pelo mesmo preço? — Olhei-o.
— Drogas?
— Não! Um canivete.
— O preço é mais alto para um canivete do que uma toalha.
— Qual é o seu preço?
— Aceito dinheiro ou sexo, quinhentos reais ou uma foda completa.
— O que é uma foda completa para você?
— Boquete, buceta e cu.
— Eu quero um canivete novo, nada de me dar lâminas enferrujadas. E
não esquece a camisinha.
— Prepare a buceta e o cu.
Eu apenas ri e ele fechou a portinha. A sacola estava segura, mas minha
dignidade, não. Sentei no canto da cama e a indignação de estar em um lugar
como aquele só aumentava.
Capítulo 10
Um ano atrás
Eram sete e cinquenta e nove da noite quando a campainha tocou. Eu
estava com uma lingerie azul marinho e um rabo de cavalo alto como ela
tinha pedido. Deixei a porta aberta após a campainha tocar. Esperei-a parada
dentro do apartamento, saiu do elevador e me sorriu. Ela vestia um sobretudo
preto e uma bolsa a tiracolo. Eu estava descalça e ela com um salto alto que a
deixava elegante. Entrou e tirou o sapato ao lado do meu. Fechou a porta e
deixou a bolsa no aparador perto da entrada. Olhou-me e abriu o sobretudo.
Vestia apenas um conjunto de lingerie roxo, sutiã meia taça rendado com
fecho na frente e uma calcinha fio-dental rendada.
— Azul marinho ficou bom em você. — Ela sorriu e se aproximou
parando em minha frente.
— Você está linda de roxo. — Lhe sorri.
— Finalmente recebi um elogio seu.
Aproximei meu rosto do dela e ela me roubou um selinho.
— Eu nos filmei sem seu consentimento na outra cena, mas hoje só vou
gravar se você deixar.
— Vai ser egoísta novamente e ficar com o vídeo somente para você?
— Não.
— Então pode filmar.
— Quer ir ao quarto escolher o que vai usar?
Ela não me respondeu de imediato me olhou pensativa.
— Eu já sei o que quero fazer com você. — Ela sorriu.
Passou a mão pela minha nuca e me beijou calorosamente. Recebi seus
lábios com desejo e lhe segurei a nuca para beijá-la lascivamente. Ela sugou
meu lábio inferior e me puxou em direção ao quarto. Eu ri da expressão de
feliz que ela fez quando entramos no cômodo.
— O que é engraçado?
— Sua carinha de felicidade, parece criança em parque de diversão. —
Eu ri e ela deu de ombros.
— Seu quarto é um paraíso para mim. — Me deu um selinho — Tire a
calcinha e o sutiã.
Enquanto tirei as peças vi que ela abriu o guarda-roupa onde ficavam
minhas cordas.
— Quer que eu passe as cordas nos ganchos?
— Sim.
Ela me entregou a corda e enquanto eu arrumava-as ela escolheu uma
palmatória redonda de couro. Separou também um plug anal, lubrificante e
uma mordaça que era acoplada em uma algema de couro. Aproximou-se de
mim e me pediu para ajoelhar na sua frente e estender a mão. Colocou sob a
palma da minha esquerda o plug e o lubrificante e na direita à palmatória. Ela
me fez morder a mordaça que era um rolo maciço de silicone. Seu olhar não
desgrudava do meu e minha excitação era crescente. Amarrou a mordaça e a
tira de couro com as algemas ficou pendurada em minhas costas.
— Eu vou te algemar e te amarrar presa ao teto, mas antes vou afastar
suas pernas e amarrá-las nos ganchos das paredes laterais. Eu não quero que
seu corpo fuja das palmadas, então, controle-o. — Ela me beijou mesmo eu
estando amordaçada.
Ela afastou minhas pernas e amarrou-as primeiro. Passou uma corda na
coxa esquerda e amarrou-a no gancho da parede. Fez o mesmo com a direita.
Passou mais uma corda perto do joelho e repetiu as amarras. Não tinha mais
como fechar as pernas. Pediu para que eu lhe desse o plug e o lubrificante e
ficasse de quatro. Senti sua língua me dando um beijo grego de tirar o fôlego,
meu gemido abafado me deixava mais excitada ainda. Sua língua me castigou
a ponto de eu chegar perto de um pré-gozo. Senti falta de sua língua e ela
sabia disso. Deu dois tapas em minha buceta, suspirei alto pelo susto e pelo
prazer. Passou o gel em meu ânus e levantou-se. Minha excitação estava a
mil, pelo que percebi ela adorava fazer todos os passos devagar, isso me
excitava e me acalmava. Pegou a palmatória e posicionou-se com meu corpo
embaixo dela, entre suas pernas. Ela puxou meu braço direito para trás e
algemou-o. Puxou o esquerdo e também o algemou. As algemas eram de
couro e macias ao toque na pele. Eu estava bem exposta a ela e agora presa,
sem forças para levantar meu tronco, mesmo porque ela estava me prendendo
naquela posição. Senti o toque da ponta do plug em meu ânus. Eu queria
demonstrar meu prazer, mas a mordaça não deixava. Era uma das sensações
mais conflitantes e deliciosas que eu já havia passado. A penetração anal com
a imobilização me alucinou. O plug ainda não tinha entrado por inteiro, ela
demorou para me penetrar por completo. Os músculos do meu ânus se
adequaram ao objeto e meu prazer aumentava, minha buceta clamava por
atenção e eu recebi o primeiro golpe com a palmatória nela, ardeu e me
excitou, tentei não fugir com o corpo achando que receberia outra. Ágatha
sabia o momento certo para fazer as coisas, esperou meu corpo se acalmar e
me acertou de novo. Eu estava ofegante e ela saiu de perto de mim e me
ajudou a levantar o tronco, nessa hora percebi o quanto eu estava babada e
excitada. O plug se adentrou ainda mais em mim. Ela tirou a mordaça e me
beijou o rosto pedindo para eu me acalmar e retomar a respiração. Ela me deu
um selinho, passou a corda por baixo dos meus seios, deu a volta nas costas e
passou pela frente novamente por cima dos seios. Ela amarrou nas costas e
esticou a corda até meu tronco ficar bem ereto. Beijou-me novamente.
— Você está indo bem. —Me sussurrou, voltou a mordaça na minha
boca e me sorriu.
Pegou a palmatória e ficou em pé atrás de mim, fez com que eu
segurasse o lubrificante.
— Como não pode falar, se quiser parar deixe o lubrificante cair no
chão. —Beijou meu pescoço — Você contará mentalmente, quero saber se
está prestando atenção no que faço com seu corpo.
Meu corpo já esperava por uma palmada após sua fala, mas ela não fez
nada. Por longos segundos fiquei esperando que fizesse algo, minha
respiração me denunciava, eu queria que me batesse logo. Se estivesse sem
mordaça teria pedido para que não demorasse. Senti a primeira palmada forte
e meu corpo estremeceu. A contração dos músculos para tentar não o mover
me lembraram do plug. O segundo golpe veio em seguida, o terceiro e o
quarto também. Sua mão era pesada e minha excitação gritante. Minha buceta
latejava, minha respiração era falha. Ela foi até o guarda-roupa e pegou
grampos para os mamilos, mas não os colocou em mim de imediato. Ela me
deu seis palmadas seguidas e meu corpo se contraiu inteiro. Ela ficou de
frente para mim e quando colocou os grampos percebi o quanto estava com
os bicos dos seios sensíveis. Fez com que eu a olhasse e perguntou se tudo
bem, concordei com a cabeça e me beijou a testa. Voltou a ficar atrás de mim
e me bateu mais quatro vezes. Minha buceta estava explodindo com tantas
sensações ao mesmo tempo e meus seios me fascinavam. Ela completou vinte
palmadas e me lambeu as nádegas me enlouquecendo com sua língua quente
afagando a dor. Senti mais dez palmadas e minha respiração estava ofegante
e se conseguisse estaria suplicando por um gozo. Ágatha deitou na minha
frente e colocou a cabeça entre minhas pernas. Senti a ponta da sua língua me
tocar e meu corpo queria sentar no seu rosto e rebolar para gozar, mas era
impossível. Suas mãos apertaram minhas nádegas e meu corpo vibrou de
prazer. Ela me lambeu uma vez e me deu um tapa na bunda, ela me lambeu e
me bateu. Lambeu e bateu. Foram dez lambidas e dez tapas. Eu estaria
gritando de prazer se pudesse.
Ela se ajoelhou na minha frente e me fez olhá-la. Ela tirou a mordaça
toda babada e me sorriu.
— Pede para mim o que você quer.
— Eu quero gozar.
Ela me sorriu e me beijou aproximando nossos corpos espremendo
meus seios contra os dela. Eu respirei fundo para não a morder, pois estava
sensível com os grampos. Ela me beijou mais uma vez e me bateu na bunda.
Gritei em sua boca e ela continuou a me beijar. A mistura do beijo e da
sensibilidade nos seios me excitavam cada vez mais, como se fosse possível.
Enquanto me beijava foram mais dez tapas. Soltou os grampos e chupou os
seios devagar aliviando a pressão e aumentando a minha excitação. Voltou a
me amordaçar e deitou entre minhas pernas novamente, mas desta vez sua
língua me presenteou com lambidas longas e gostosas. Eu estava a ponto de
explodir em sua boca, faltavam poucos estímulos quando ela parou
novamente. Eu gritei de decepção. Ela se levantou, pegou a caixa de madeira,
desamarrou meu tronco e deitou-me nela. Vestiu uma cinta peniana e me
penetrou fundo, gostoso. Estocadas fortes e seu corpo de encontro à minha
bunda dolorida me fizeram gozar sem demora. Foi um gozo explosivo e
arrebatador. Soltei a bisnaga que eu estava segurando.
Senti que ela me soltou os braços e em seguida as pernas, mas eu não
queria sair daquela posição, eu estava exausta. Ágatha me envolveu o corpo,
me tirou de cima da caixa e me sentou em suas pernas, me aninhando.
Acariciava meus cabelos e me apertava contra seu corpo.
— Você foi muito bem! — Ela me sussurrou.
— Cinquenta palmadas na bunda e duas na buceta. — Eu sussurrei.
— Eu já fiz essa cena com outras submissas e elas desistiram na
vigésima palmada. — Ela me beijou a testa.
Ficamos em silêncio e meu corpo relaxava em seus braços.
— O que eu devo fazer para recompensar o prazer que me
proporcionou? — Eu sussurrei entre a vontade de descansar e a vontade de
começar tudo de novo.
— Você já me recompensou, relaxa, deixe seu corpo receber meus
carinhos. Por que aqui dentro você é tão obediente e uma submissa exemplar
e lá fora você quer me afastar?
— Eu não confio nas pessoas.
Afagava meus cabelos com delicadeza e me entreguei ao cansaço.
Acordei deitada em minha cama. Levantei rápido, vesti um roupão e saí
do quarto apressada e não a encontrei no outro quarto, banheiro ou sala, senti
um vazio tomar conta de mim. Fui até a cozinha e em cima da ilha central vi
uma bisnaga e um bilhete: “Use isto na sua bunda. No micro-ondas tem um
prato de comida para você repor as energias.” Ela tinha ido embora. Ágatha
estava cumprindo o que prometeu, o que eu queria? Eu pedi por isso. Tem
horas que eu me odeio por ser tão idiota.
Tomei um banho e passei o creme que ela me recomendou, diante do
espelho vi o estrago que ela tinha feito, ainda bem que era sexta e ficaria em
casa o fim de semana, usar roupa com essa bunda vermelha ia ser terrível.
Tirei uma foto e lembrei dela falando que as outras submissas tinham
desistido da cena na metade, me senti orgulhosa e enciumada. Não podia
sentir ciúme, não era justo, mas meu corpo reagiu a essa lembrança com a
sensação de já pertencer a Ágatha de alguma forma.
Na manhã de sábado eu jurava que teria mensagens de Ágatha em meu
celular, mas não tinha. Passei o dia pensando nela enquanto fazia meu hobby
favorito, criar jogos para celular. No fim do dia, salvei o vídeo da nossa cena
e enviei para ela: “Como prometido, não guardarei apenas para mim.” Ela
não me respondeu de imediato e acessei suas redes sociais. Descobri que ela
estava em uma festa desde a hora do almoço e nas últimas fotos apareceu
abraçada à uma garota com a legenda: “Eternamente juntas”. Desliguei o
computador e fui treinar, precisava relaxar e tirá-la da minha cabeça. Treinei,
não relaxei e não tirei ela da minha cabeça. Parabéns, Anelise, você está mais
envolvida do que pensava.
Domingo amanheceu sem nenhuma notícia de Ágatha e eu não estava
entendendo nada da sua reação. Entre seriados e filmes gastei meu dia com
inutilidades e besteiróis. Antes de dormir fiquei olhando o celular, ansiosa
por alguma resposta, mas a mensagem tinha sido lida, mas não respondida.
Eu iria agir da mesma forma que ela estava agindo, afinal foi o nosso
combinado. Passei por sua mesa e agimos como se fossemos duas estranhas,
naquele momento preferia que isso fosse verdade e tudo o que aconteceu
entre nós tivesse sido um mero sonho.
A diretoria teve a brilhante ideia de fazer reuniões semanais às dez da
manhã, toda segunda e quinta, para mim, seria perda de tempo, afinal nada é
resolvido nestas conversas. A minha secretária, a de Samuel e a do presidente
geralmente participavam de todas as reuniões para anotarem decisões
tomadas e nestas não seria diferente.
Eu entrei na sala de reuniões e lá estava ela, olhou-me curiosa e tentei
ignorar sua presença, mas era impossível não a olhar. Percebi que Samuel
também a olhava com cobiça e eu queria voar em seu pescoço. Eu sentei ao
seu lado e ela fingiu que eu não existia. No fim da reunião, vi que ela deu
atenção para Samuel, sai de lá emputecida com a cena, mas eu não podia
querer que fosse diferente daquilo, ou podia?
Achei que ela ao menos almoçaria comigo ou pediria por isso, mas ela
estava jogando duro e apenas deixou o meu almoço na minha e virou-se para
sair.
— Ágatha! — ela parou no meio do caminho e voltou até perto da
mesa.
Encarei-a e não falei nada, olhou-me e se afastou novamente. Parou
perto da porta e me olhou.
— Recebi o vídeo, estou aguardando o outro.
— Aquele você tem que conquistá-lo, já disse isso.
Ela me sorriu e saiu da sala.
Eu almocei e essa foi a única interação que tivemos naquele dia.
Na terça-feira, quando cheguei para trabalhar, Samuel estava perto de
sua mesa e isso me deixou irritada. Aproximei-me, mas ele não me viu, pois
estava de costas, deixou uma pasta sob a mesa dela e foi em direção à sala de
reuniões. Ela me olhou e se levantou indo atrás dele. Abri a pasta e vi que
estava vazia. Fui para minha sala e fiquei imaginando o que os dois estariam
fazendo na sala de reuniões. Passei a manhã com a imagem dos dois se
beijando e não consegui trabalhar. Ela trouxe meu almoço.
— Qual sua relação com o Samuel?
— Se eu não sei da sua vida, você não sabe da minha.
— Como vou confiar em você?
— Você pediu por isso e agora não quer? Estou agindo como
combinamos. Aqui fora você manda, eu obedeço.
Eu a encarei, ela tinha razão, mas eu não queria mais aquele trato.
Admitir que eu estava errada? Também não! Ela saiu da sala e a partir
daquele momento, nossa relação estava seguindo um caminho que eu não
estava gostando. Não nos falamos mais pelo resto do dia e eu precisava rever
o que queria daquele envolvimento.
Durante a quarta-feira ela não me dirigiu a palavra, no fim do dia, pedi
que fosse até a minha sala. Esperei-a encostada em minha mesa, quando
entrou andou até mim e ficou parada na minha frente.
— Por que foi embora da minha casa sem se despedir?
— Por que isso te importa?
— Eu fiz uma pergunta primeiro.
— Porque achei que fosse assim que você iria preferir, já que na outra
noite você me expulsou da sua casa após nossa cena.
— Eu pedi para você não me deixar acuada e sua atitude está me
deixando acuada.
— Tudo te deixa acuada, Anelise.
— Eu estava me acostumando com o seu jeitinho invasivo… — eu
disse encarando-a.
— O que eu tenho que fazer para te agradar e não te deixar acuada?
— Seja você mesma, esse banho de água fria que você está me dando
não está me fazendo bem.
Ela segurou meu rosto entre as mãos e me beijou, puxei-a para perto de
mim e beijei-a com desejo.
— Eu não sei o que preciso fazer para te agradar e não te deixar
acuada, mas eu vou descobrir o que é. — me beijou novamente.
— Você ainda tem alguma coisa com o Samuel?
— Não!
— Por que foi com ele até a sala de reuniões?
— Para pôr um ponto final na nossa relação e falar para ele, pela
enésima vez, que não temos mais nada.
— Ele era teu submisso?
— Não. Ele não gostava das práticas de BDSM.
— Tome cuidado com ele.
Ela não respondeu e me beijou.
— Você não sabe como foi difícil não te agarrar segunda-feira, como
foi difícil não te mandar mensagens no fim de semana. Eu vi nosso vídeo
umas quatro vezes domingo. Você é uma sub perfeita. — Ela me beijou com
desejo — Com segurança e consentimento, quero testar todos os seus limites.
— Você estava em uma festa sábado.
— Alguém andou me espionando. — Ela riu.
Eu ri e beijei-a.
— Estava e tive que deixar meu celular com uma amiga e fazer ela me
proibir de te mandar mensagem. — Ela sorriu.
— O que você vai fazer este fim de semana?
— Preciso ver minha agenda. — Ela me olhou séria.
Eu olhei-a curiosa pela resposta e ela começou a rir.
— Não vamos ter nosso encontro na sexta?
— Essa semana será no sábado, mas será apenas um passeio sem sexo.
— Eu consigo te convencer do contrário?
— Terá o sábado todo para isso.
— Já é melhor do que um não.
Ela saiu da sala e eu não sei se respirei aliviada por ter conversado
francamente com ela ou se respirei aliviada por ela ter saído da sala. Sabe o
tal do vírus Ágatha? Então, está se transformando em epidemia dentro de
mim.
Capítulo 11
Dias atuais
Maitê conseguiu vir me visitar logo no dia seguinte. Dormir na solitária
foi tão impossível quanto fora dela. Ouvi choros e gritos a noite toda. Entre
apagadas e acordadas passei a noite mal, com dores de estômago e cabeça. A
visita foi cedo e quando a vi, foi um alívio para meus olhos. Não podíamos
nos abraçar.
— Como está?
— Fazendo inimigas e dormindo na solitária. Eu preciso de dinheiro
para agora, ou não vou sobreviver neste lugar. Não tenho direito nem a toalha
e colchão. Isso é desumano.
— Calma!
— Calma é o escambau, queria ver você aqui dentro.
— Consegui adiantar seu julgamento, mas não tenho boas notícias. Não
tenho como comprovar que você é inocente. A polícia me passou o relatório
dos mandados no seu carro e na sua casa. Encontraram sangue no banco do
passageiro e no porta-malas, além de cabelos e unhas que condizem com o
DNA da Ágatha.
— E você me pede calma?
— Sim! Até o dia do julgamento vou ter como provar sua inocência.
— Como se você acreditasse em mim.
— Eu acredito, bebê.
— Você não tem o direito de me chamar de bebê sem resolver minha
situação.
— Não fala assim, estou tentando, mas quem arquitetou isso, fez muito
bem. Se não acharmos um motivo para outra pessoa ter matado a Ágatha, a
coisa vai ser feia no tribunal.
— Existe a chance de ela estar viva e ter participado disso tudo?
— Eu teria que ter acesso ao corpo que encontraram.
— E não tem?
— Não.
— Então, com estas provas ridículas e falsas, vou ser julgada por um
homicídio doloso direto?
— Sim! Além do roubo de dez milhões.
Olhei-a sem esperanças de sair dali tão cedo.
— Eu preciso de dinheiro até lá, ou vou ter que comprar uma toalha
através de um boquete.
— Eu trouxe algumas coisas para você, vão te entregar depois.
Ela segurou minha mão e senti um rolo de notas nela, peguei-as e
escondi no elástico da calcinha.
— Como sabia que eu ia pedir dinheiro?
— Eu trabalho como advogada há vinte anos, sei como as mulheres são
tratadas nas prisões do Brasil. Não faça inimigas dentro da sua cela. Eu
trouxe um item que raramente se acha dentro das prisões, absorvente íntimo.
Negocie a paz com ele, você vai precisar. Quantas presas estão na sua cela?
— Cinco.
— Está com sorte.
— Sim. Você pretende me tirar daqui como? Por que não pagou minha
fiança?
— Vou te responder com suas palavras: Acha que dinheiro dá em
árvore?
— Você é uma vaca quando quer ser.
— Mesmo se eu vendesse meu carro e meu apartamento, eu não teria
meio milhão de reais para te tirar daqui.
Eu me levantei e voltei para dentro do corredor que levava até as celas.
O mesmo guarda que me levou para a solitária me entregou as coisas que
Maitê me trouxe.
— Acho que a encomenda que fiz vai ter que ser cancelada.
Ele me olhou sarcástico.
— Ainda me deve quinhentos reais, pois consegui o canivete.
— Está com você agora? Só pago quando receber o produto.
— Não. Você é muito espertinha para uma novata.
Eu apenas ri.
Mal sabia ele que eu já havia trabalhado com um traficante aos treze
anos. Aprendi altas negociações com ele, tive sorte, pois quando a polícia
invadiu a casa dele eu não estava. Sorte eu nunca tive, mas naquele dia posso
dizer que usei toda a sorte da minha vida ali. E hoje, estando neste buraco,
reforço a teoria de ter usado toda a minha sorte não estando no lugar errado e
na hora errada.
Quando entrei na cela, Joana veio me perguntando um monte de coisas.
Fiz com que ela me olhasse.
— Calma, não precisa perguntar tudo de uma vez.
Hortência me olhou com curiosidade.
— Eu não quero dormir com inimigas, ok? — Estendi para ela quatro
absorventes.
As outras ficaram em pé ao meu lado, como se eu fosse papai Noel.
— Por que está fazendo isso? — Hortência me olhou desconfiada.
— Porque eu não quero ser inimiga de ninguém aqui nesta cela.
— Até mês que vem você está a salvo, branquela. — Nádia me disse
pegando os absorventes que lhe entreguei.
Eu sentei em um canto e Joana sentou ao meu lado.
— Não dá muita trela para a Joana, ela não vai mais largar do seu pé.
— Disse Hortência.
Eu apenas sorri e Joana começou o interrogatório novamente.
— Joana, você tem que deixar eu responder. Uma pergunta de cada
vez.
— Ok. O que você fez para estar aqui?
— Se eu disser que não fiz nada, você acredita em mim? — Ouvi
Hortência rindo.
— Acredito! — Ela parecia ter a idade de uma criança de dez anos.
— Então, eu não fiz nada.
Hortência e as outras duas riram alto.
— Você é engraçada branquela. Fala a verdade, o que fez?
— Estou sendo acusada de assassinato e roubo, mas eu não fiz isso.
— Matou o amante e roubou ele?
— Já disse que não matei. A acusação é contra a morte da minha
secretária.
— Vocês eram amantes? — Perguntou Nádia.
Olhei-a e apenas concordei com a cabeça.
— Não devia ser das boas, já que você a matou. — Disse Hortência.
Eu não respondi e fui sugada para o passado, quando estávamos nos
conhecendo e ela me provocava durante o expediente. Depois me relembrei
de como éramos boas juntas na cama, ela me dominando e testando todos os
meus limites e gostos. Sua falta já era imensa e saber que nunca mais iria
abraçá-la, beijá-la ou receber um tapa seu me dava vontade de chorar e ficava
angustiada em pensar sobre meu futuro.
— Você gostava dela? — Perguntou Joana.
— No começo, ela me deixava acuada com o jeito invasivo ela, depois
descobri que era esse jeitinho dela que havia me conquistado. — Olhei-a.
— Eu tive um namorado e também matei ele, porque ele tinha outra
namorada. — Joana disse olhando para frente — Foi por isso que matou sua
namorada?
— Eu não a matei. — Eu sussurrei.
Eu encostei a cabeça na parede e parei de conversar. Ninguém
acreditava na minha inocência e eu não conseguia parar de pensar no sorriso
travesso de Ágatha. “Quero que você seja minha sub exclusiva.” Eu devia ter
respondido: “Eu já sou sua exclusiva.”
Quando voltei dos meus pensamentos eu estava sozinha na cela,
aproveitei para contar quanto de dinheiro Maitê tinha me dado, mil reais em
notas de cem. Talvez fosse hora do café-da-manhã, mas eu não me mexi. Eu
não tinha inimigos declarados e não fazia ideia e como tudo isso tinha se
voltado contra mim.
Eu estava alienada de que horas eram, as outras voltaram depois de um
tempo, que não sei mais determinar se foi longo ou curto. A ociosidade fazia
o tempo parar. Não podíamos sair das celas sem ser em horários
determinados. Maitê me tirou todas as esperanças contando sobre o sangue
encontrado no carro.
Eu passei a manhã olhando o corredor, o guarda ia e voltava pelo longo
corredor mal iluminado e sujo. Contei que ele fez o trajeto doze vezes. Ouvia
vozes nas celas, ouvia vozes na minha cabeça: “Samuel quis te ferrar, mas
por que matar a Ágatha? Você precisa descobrir o motivo da morte dela.” A
cela se abriu e o almoço foi anunciado. Joana me chamou para ir com ela,
levantei e fomos. A fila única já estava formada, quando chegou minha vez,
Hortência me deu uma bandeja e me avisou para não arranjar briga. Sentei
com Joana e Nádia e me forcei a comer, pois sabia que sem comer seria pior.
Dizer que aquilo era nutritivo, era mentira, mas pelo menos estava menos
empapado do que a janta. Saudade de quando Ágatha brigava comigo para
poder fazer minha comida.
Capítulo 12
Um ano atrás
Tínhamos marcado de sair às sete e meia da manhã e eu já estava
esperando-a no carro, em frente ao seu prédio. Iriamos fazer a primeira
parada em uma cafeteria no Forte de Copacabana. Ela entrou no carro com
um short jeans curto, uma regata aparecendo as alças do biquíni e uma
pequena mochila. Estava linda.
— Vim com o modelito errado? — Me perguntou rindo — Ou entrei no
carro errado? —beijou meu rosto.
Eu ri e neguei com a cabeça. Eu vestia minha calça social e uma
camisete de manga curta. O motorista seguiu na direção que estava
programada e ela me olhou curiosa.
— Você vai passar calor com essa roupa.
Eu ri da sua tentativa de cuidar de mim e ela me olhou brava.
Descemos perto da entrada do Forte e entramos na fila para comprar os
ingressos do museu.
— Posso te pedir uma coisa?
Olhei-a e concordei.
— Tente não ficar na defensiva hoje.
— Ok, Ágatha! Vou tentar.
Ela me sorriu satisfeita.
— Podemos terminar o dia vendo o pôr-do-sol no Arpoador? — ela me
sorriu.
— Sim.
— Vamos almoçar na praia? Qual seu itinerário? — estava agitada.
— Só faço questão de ir no Pão de Açúcar.
— Posso fazer uma sugestão?
— Sim.
— As coisas aqui no Forte costumam demorar…
— Eu reservei uma mesa, então não teremos que esperar muito.
Ela me olhou e não prosseguiu com seu pensamento.
A fila andou rápido e comprei nossas entradas. Ela parecia contrariada
de estar ali. Conversei na recepção e logo nos encaminharam até uma mesa
com vista da Praia de Copacabana. Ela olhou o cardápio assustada e eu tirei-
o de suas mãos.
— Eu vou escolher para você, afinal você faz isso a semana toda para
mim.
Ela me sorriu ainda contrariada. Chamei o garçom e fiz o pedido.
— Por que a cara de contrariada?
— Nada.
— Depois sou eu quem fico na defensiva.
Ela apenas me olhou e eu fiquei em silêncio admirando a vista. Tirei
algumas fotos da paisagem e logo fomos servidas. Tomei um gole do café
enquanto olhava-a fazer o mesmo. Segurei-lhe a mão quando soltamos a
xícara.
— Eu não sei o que fez seu sorriso sumir, posso ajudar em algo?
— Eu não ganho para frequentar lugares como esse.
— Você precisa pedir um aumento para sua chefe. — Ela me olhou e
riu.
— Minha chefe é uma carrasca. — Me olhou zombeteira.
— Ágatha, não se preocupe com o dia de hoje, eu convidei, o dia é por
minha conta, pode comer e fazer o que quiser.
— Cuidado com isso. — Ela riu — Por baixo dessa roupa elegante e
sexy, você tem um biquíni?
— Sim.
— Menos mal.
Ela riu e tomamos nosso café-da-manhã em silêncio trocando olhares e
sorrisos bobos.
— Qual era sua sugestão?
— Subirmos no Pão de Açúcar para passar o resto da manhã lá. Voltar
para Copacabana para passar a tarde e terminar o dia no Arpoador.
— Me parece um bom plano.
— Sério? Vai acatar sem relutar?
— Preciso aprender a confiar em você.
— Hoje está sendo um teste?
— Sim. — Eu peguei minha carteira no bolso e entreguei a ela —
Estou à sua mercê.
— Tem certeza? Não vai se sentir acuada ou algo semelhante a isso?
— Não tenho certeza, mas preciso confiar mais em você fora de uma
cena.
— Como você consegue confiar em mim dentro do quarto e fora não?
— Não sei, talvez seja porque dentro do quarto você se transforme em
outra pessoa e aqui fora você parece uma criança deslumbrada no parque de
diversões.
Ela riu e se levantou para conhecermos o Forte. Após um passeio
agradável, fomos para o Bondinho do Pão de Açúcar.
— Comprei os ingressos pela internet. — Entreguei-lhe o celular.
Ela me sorriu e entramos. Ágatha fazia questão de me dar a mão e vê-la
sorrir era gratificante. Subimos no primeiro bonde e ainda não tinha muito
movimento, me posicionei atrás dela e encostei meu corpo no dela, puxou
meus braços para envolvê-la melhor.
No primeiro andar passeamos pelo espaço e eu tirei fotos da paisagem.
— Fica aí. — Pegou meu celular — Vou tirar uma foto sua.
Eu não queria, mas concordei. Ela pediu para uma pessoa tirar uma foto
nossa e me deu um selinho em agradecimento. Estava sendo agradável tê-la
ao meu lado.
— Você se mudou para cá faz quanto tempo?
— Uns quatro meses.
— Você já conhecia o Rio de Janeiro?
— Eu sempre morei aqui, mas me mudei por causa da Katherine, morei
quase quatro anos em São Paulo com ela. Fugi dela voltando para cá e me
mudei para Curitiba por causa de emprego, voltei para cá por causa de outro
emprego. Tive um relacionamento rápido com a Samantha e pedi
transferência para uma filial da empresa onde eu estava e morei em Portugal
até pedir demissão e voltar.
— Por que pediu demissão?
— Porque eu não gostava do que eu fazia lá.
Caminhamos observando a vista da Ponte Rio-Niterói, Aeroporto
Santos Dummont e a orla carioca.
— Por que fez questão de vir aqui?
— Porque eu me sinto tranquila aqui.
Subimos no segundo bonde e ela me abraçou por trás. Andamos até um
espaço aberto e eu me apoiei na grade observando as ondas e o sol batendo na
água. Percebi que ela tirou uma foto minha com o celular dela, eu ia falar
alguma coisa, mas deixei quieto. Ela parecia feliz com a conquista.
— Você quer água? — ela abriu a mochila e me ofereceu uma garrafa
térmica — Você deve estar derretendo nessa roupa.
Eu sorri, aceitei a garrafa e ela me roubou um selinho. A água ainda
estava gelada e meu corpo agradeceu pelo cuidado. Ela me olhava
intensamente e eu retribui.
— Queria poder ler seus pensamentos. — Ela me disse séria.
— Nesse momento? Estou querendo uma água de coco e um banho de
mar.
Ela me sorriu.
— Então vamos descer, conheço um quiosque ótimo para ficarmos.
Caminhamos mais um pouco e logo descemos. Ela pediu um táxi pelo
meu celular. Quando o carro chegou, ela abriu a porta para mim e deu a volta
para entrar pelo outro lado. Pelo trajeto, ela me olhava curiosa.
— Às vezes, me sinto um extraterrestre com você me olhando assim.
— Desculpe, mas não consigo evitar de te olhar.
Eu olhei pela janela e não respondi.
Chegamos no destino em silêncio e descemos do carro longe uma da
outra. Ela se aproximou e me fez olhá-la.
— Você não tem noção da sua beleza, né?
Não respondi.
— Quando eu estou olhando para você, tenha certeza que é admiração e
não julgamento.
— Ok! — tentei responder com suavidade, mas não consegui.
Ela me olhou séria.
— Não quero ficar na praia com você desse jeito.
— Daqui a pouco passa, vamos.
Ela me deu um selinho.
Andamos pelo calçadão e logo ela me puxou para a areia em direção à
um quiosque perto da água. Pediu duas cadeiras e um guarda-sol. Eu estava
em pé e ela de frente para mim.
— Quero tirar sua roupa, posso?
Concordei e ela começou tirando a camisete de dentro da calça.
Desabotoou de cima para baixo e eu lhe beijei a testa. Ela me sorriu e tirou a
minha blusa, dobrou-a com cuidado e a colocou na bolsa. As pessoas em
volta de nós estavam prestando atenção em nossos movimentos. Ela abriu o
zíper e o botão da minha calça e eu tirei o sapato. Ela pediu minha água de
coco para um dos atendentes e deixou minha calça cair pelo meu corpo. Tirei-
a de meus tornozelos e lhe entreguei a calça. Sorriu, dobrou-a
cuidadosamente e guardou na mochila. Em um momento impensado, puxei-a
para um beijo caloroso. Ela retribuiu se apossando da minha cintura e me
apertando contra seu corpo.
— Senhorita, sua água. — O atendente interrompeu um novo beijo.
Ela tomou um gole e me entregou o coco. Sentamos nas cadeiras.
— Você mora com sua mãe?
— Não! Ela se mudou para cá recentemente, eu moro com três amigas.
— Ela está bem?
— Estamos tentando descobrir o que aconteceu, depender do sistema
de saúde do governo nem sempre é fácil.
Eu lhe ofereci mais água e ela me fez careta.
— Não gosto.
— Mas você acabou de tomar. — Eu ri.
— Era só teatro. — Ela riu — Você também não come camarão?
— Não.
— Mas estamos na praia.
— Pede para você, eu como outra coisa.
— Mas estamos na praia.
Eu ri.
— Não entendo quem não gosta de carne.
Eu ri de novo.
— O que você vai almoçar, aqui não tem muita opção.
— Ágatha, — Fiz ela me olhar — pede o camarão, eu como um e pede
batata frita para mim. Você não precisa se preocupar tanto assim.
— Está bem.
Eu me levantei e disse que entraria no mar. Afastei-me e adentrei
devagar para me acostumar com a temperatura da água. Precisava me acalmar
já que eu estava tendo novas sensações ao lado dela. Quando eu digo que
Katherine era possessiva em seu comportamento é porque ela não gostava de
sair de casa sem mostrar que eu tinha “dona”. Mostrar que ela mandava em
mim, chegava a, muitas vezes, me humilhar e hoje não senti nada disso. Mas
é cedo para qualquer afirmação. De longe vi que ela estava conversando com
o atendente do quiosque, gesticulava e falava e gesticulava e falava, parecia
nervosa. Aproveitei o mar por mais alguns instantes e vi que ela comprou
algo de um ambulante. Quando voltei para perto dela, ela me mostrou um
short rosa florido.
— Comprei para você.
Olhei-a e respirei fundo. Eu não queria ser grossa, estava tentando levar
o dia da forma mais agradável e leve possível, mas eu não gostei do que ela
fez e fiquei analisando uma forma de dizer sem magoá-la. Puxei a cadeira e
sentei no sol um pouco longe dela. O sol estava extremamente forte e meu
corpo secou em poucos minutos de exposição.
— Se for ficar no sol, melhor passar filtro solar. — Ela me estendeu o
produto.
Ela colocou a cadeira ao meu lado. Pegou algo na mochila e me
mostrou um short masculino de tactel preto.
— Você achou mesmo que eu ia te comprar um short rosa florido? —
Ela riu, guardou o short e sentou ao meu lado.
— Katherine — Olhei-a chateada — comprava minhas roupas e muitas
vezes tive que usar roupas que eu não gostava para agradá-la.
— Eu — ela me fez olhá-la — não tive essa intenção. Só queria te
deixar confortável para andarmos até o Arpoador, porque colocar uma calça
social cheia de areia, não deve ser nada confortável.
Eu ri e fiquei com vontade de beijá-la, mas não me mexi, apenas
admirei sua beleza. Ela pegou o filtro solar da minha mão para passar nas
minhas costas. Sua mão quente percorrendo minha pele me deixou excitada.
Deixei que passasse na parte da frente também e percebi alguns rapazes nos
olhando. Olhei-a e ela estava compenetrada passando filtro solar em minha
barriga, braços e por fim no colo e pescoço. Ela me olhou intensamente,
como se pedisse permissão para passar o filtro perto dos seios. Olhei
discretamente para os rapazes e olhei-a sorrindo. O meu biquíni era frente
única amarrado no pescoço, ela passou o filtro solar em volta dele e entrou
com as pontas dos dedos por baixo do pano. O meu seio recebeu seus dedos
com excitação e eu respirei fundo pelo contato. Ela segurou o bico do meu
seio entre o dedo médio e o indicador e apertou-o me fazendo respirar fundo
novamente. Nossos olhares não se desgrudavam e eu sorri com o apertão para
evitar gemer. Apertou novamente e mordi os lábios tentando me conter.
Passou a mão pelo meu colo e entrou por baixo do outro pedaço de pano, ela
me sorriu e apertou meu bico do mesmo jeito que fez com o outro e eu me
contive para não falar um palavrão. Ela me sorriu e fomos interrompidas por
um ambulante tentando vender chapéus. Eu comecei a rir e ela também.
Peguei o chapéu da mão do moço e coloquei na cabeça dela.
— Ficou bom em você.
Alcancei a mochila dela e peguei minha carteira, acertei com o
ambulante e ela ficou me olhando com um sorriso bobo.
— Obrigada.
Passei a mão em seu rosto e sorri. Voltamos a sentar embaixo do
guarda-sol e o atendente nos serviu o que ela tinha pedido.
— Consegui fazer com que ele tirasse a carne do bolinho de aipim, pedi
também palmito, bolinha de queijo e a batata frita.
— E seu camarão?
Ela me olhou envergonhada.
— Tem bastante comida aqui, dá para nós duas.
— Você não vai sair dessa praia sem comer camarão.
— Quero comer o que você come.
— Você não precisa fazer isso.
— Ok, mais tarde eu peço.
Comemos em silêncio e o celular dela começou a tocar, vi o nome
Elizabeth no visor e me senti estranha. Estava falando sobre festa, sair, balada
e eu comia enquanto tentava não prestar a atenção em nada. Ela desligou e
continuamos comendo em silêncio.
— Você bebe cerveja, caipirinha, algo alcóolico?
— Martini.
— Não vai ser fácil achar isso aqui. — Ela riu.
— O que você bebe?
— Cerveja...caipirinha… cuba libre.
— O que quer beber? Acompanho você.
— Cerveja?
Concordei e ela ficou me olhando comer.
— Sua fascinação por me olhar comer é estranha.
— Também tenho outros gostos diferenciados.
— Quais?
Ela aproximou seu rosto do meu.
— Buceta com cobertura de brigadeiro. — Ela sussurrou.
— Com ou sem granulado? — Encarei-a séria e passei o indicador em
seu rosto.
— Você também gosta? — Ela me olhou fascinada.
— Não. Prefiro seios com chantilly.
— Com cerejas?
Ela me beijou lascivamente, ainda bem que estávamos em um lugar
público, suas provocações estavam aumentando minha vontade de atacá-la.
— Sabe do que eu gostei na nossa segunda cena? — ela me sussurrou e
beijou minha orelha — Do seu cuzinho receptivo, adorei dar um beijo grego
nele.
— Ele adorou sua língua. — Eu sussurrei mordendo o lóbulo da sua
orelha.
— Vamos pular o pôr-do-sol e ir para sua casa? — Me beijou.
— Você ainda não me convenceu a fazer mudanças no plano do nosso
sábado sem sexo.
— Você pode escolher a cena de hoje. — Ela beijou meu pescoço —
Pode escolher como vai ser amarrada. Como vou te bater. Como…
Coloquei o dedo em seus lábios em sinal para ficar em silêncio.
— Não, essa função é sua.
Eu me levantei da cadeira para não a beijar e fui em direção do mar.
Precisava me acalmar, essa garota me tira do sério e eu estava aprendendo a
gostar disso. Fiquei no mar por um longo tempo e quando saí ela estava no
celular, parei bem na sua frente e ela desligou-o.
— A regra de não fazer sexo hoje é irreversível? — Ela mordeu
levemente meu ventre.
— Já disse que precisa me convencer.
— Como que eu te convenço de alguma coisa? Ainda não aprendi isso
e estou louca de tesão vendo você de biquíni.
Estiquei a mão para ela e a levantei da cadeira. Pedi para o atendente
olhar nossas coisas e puxei-a em direção do mar. Entramos até a água ficar na
altura de nossos seios. O mar estava calmo comparado a hora que chegamos,
mas ainda haviam pessoas perto de nós.
— Quero que você entenda uma coisa sobre mim. — Sussurrei em seu
ouvido — Eu sou maleável, mas só vou ceder se eu tiver uma boa
recompensa.
— O que seria uma boa recompensa para você? — Ela me olhou
curiosa.
— Não posso entregar o jogo assim, né?
— Precisava me trazer até aqui para dizer isso?
— Não queria que alguém escutasse. Eu curto voyeurismo, essa é a
única dica que vou te dar.
Ela me olhou por alguns instantes.
— Não me ajudou muito. — Me olhou pensativa.
— Eu gostei do vídeo que você me mandou enquanto se masturbava na
sua cama vendo meu treino de boxe.
— Você quer que eu me masturbe aqui?
— Ia ser interessante ver essa cena, mas temos mais pessoas por perto.
Eu invadi seu computador por dois motivos, o primeiro já te falei, porque
você estava me deixando acuada e sendo invasiva. O segundo é porque quero
permissão para poder acessar sua webcam e ver você sem você saber.
— Não acha um pouco tarde para me pedir permissão?
— Eu vou tirar o meu acesso ao seu computador se disser que não quer.
— Pode acessar, desde que você seja minha hoje.
— Amanhã. Hoje vamos estar cansadas do dia e uma cena exige muito
de mim.
— Amanhã que horas?
— Você é muito ansiosa.
— Culpa sua. — Ela riu.
— A hora que você quiser.
— O dia todo?
— Sim.
— Quantas vezes eu quiser?
— Sim.
— Isso quer dizer que vou dormir na sua casa?
— Se quiser.
— Na sua cama?
— No sofá.
Olhou-me decepcionada.
— Um passo de cada vez. — Eu pedi.
— Melhor do que nada.
— Você parece frustrada.
— Um pouco.
— Não sou tão interessante quanto você imaginava?
— Não é isso.
Fiz com que ela me olhasse.
— O que é então?
— Eu não gosto de ser contrariada.
— Isso eu já percebi.
Ela ainda estava decepcionada.
— Estou tentando ser agradável e leve, pelo jeito não estou agradando.
— Está agradando sim...
— Mas?
— Você quer controlar tudo.
— Está desse jeito por eu não querer fazer uma cena contigo hoje?
— Também.
— Ágatha, seja mais específica. — Eu disse brava.
— Você não pode só aceitar o que eu peço?
— Eu aceitei, só mudei alguns termos.
— Ok! Não vou discutir contigo.
Afastou-se voltando para a praia. Mergulhei e demorei para sair da
água. Não estava entendendo onde eu tinha errado para deixá-la daquele jeito.
Andando em direção ao nosso guarda-sol, vejo que ela está
acompanhada pelo rapaz que estava nos observando mais cedo. Sentei na
minha cadeira e ele me olhou com desejo. Ignorei os dois. Ela estava
tomando uma cerveja e logo eu a escutei dizer: “Eu preciso cuidar da minha
namorada, se puder me dar licença.” Ele me olhou e levantou bravo.
Afastou-se e ela aproximou sua cadeira da minha. O atendente trouxe uma
dose de Martini e ela me sorriu. Entregou-me o copo e levantou sua lata para
brindarmos. Aceitei o gesto.
— Namorada?
— Ele estava me enchendo o saco, tive que reforçar que estávamos
juntas.
Tomei um gole de Martini e olhei-a.
— Você quer fazer uma cena hoje só para afirmar seu controle sobre
mim?
Ela não me respondeu.
— Eu fiz tudo o que você propôs. Eu prefiro ficar na Praia de
Ipanema, mas estamos aqui, em Copacabana por sugestão sua. Eu não pedi
nada além de batatas fritas e comi o que você pediu. Eu não reagi de forma
negativa com o short rosa florido, até usaria ele se fosse verdade. Eu disse
que comeria camarão contigo e você fica contrariada por eu querer entregar
meu corpo para você amanhã e não hoje? Isso para mim já é ação de garota
mimada e não de uma dominatrix.
— Eu não sou mimada.
— Ágatha, quando eu vou fazer uma cena, eu gosto de me preparar
fisicamente e mentalmente. Se eu não estiver com os dois em sintonia, não
consigo me entregar. E com isso vou deixar você insatisfeita. Nós estamos
tendo um dia cheio de contrariedades para mim e uma cena hoje, me deixaria
incomodada.
— Desculpe…
— Você prefere uma cena mal feita ou uma que te deixe orgulhosa?
— Orgulhosa, claro!
— Respeita meu tempo, por favor!
— Desculpe. — Ela me puxou para um abraço — Eu vou respeitar,
você é sempre tão cheia de si que esqueço que tem um passado ruim. —
Beijou minha bochecha — Seu sofá é macio pelo menos?
Eu ri e ela me beijou carinhosamente.
Ficamos mais um pouco na praia e ela sugeriu de irmos andando até a
Pedra do Arpoador. Aceitei e ela foi fechar nossa conta. Andamos de mãos
dadas, ela fazia questão de mostrar que estava comigo.
Em cima da pedra ela estendeu uma canga e sentamos para apreciar a
vista. Eu sentei primeiro e ela sentou atrás de mim, me abraçando e puxando
meu corpo para perto do seu. Ficamos em silêncio e ela beijava meu pescoço,
fazia carinho em minhas mãos e eu relaxava com o calor do seu corpo me
envolvendo.
— Eu quero que você saiba que eu tive um dia maravilhoso ao seu
lado. — Ela me sussurrou e eu beijei-lhe o dorso da mão.
Virei meu corpo de frente para ela e busquei sua boca com desejo.
Minha mão tocava seu rosto delicadamente e nossas bocas estavam se
conhecendo devagar. Aquele beijo, dentre vários que já tínhamos trocado, foi
o mais tranquilo e sem saber ele se tornou um dos nossos melhores beijos.
Meu corpo fervia ao seu lado e meus lábios tomavam os dela com
tranquilidade, como se fôssemos nos completar. Meio que sem fôlego fiz com
que me olhasse e ela sorriu me fazendo vê-la como uma mulher madura e não
a garota que me deixava acuada. Beijei-a novamente e ela sorriu beijando-me
com desejo. Aquele momento raro de carinho me deixou perdida e quis
aproveitá-lo da melhor forma, beijando-a. Os beijos calmos foram findados
com um abraço apertado e eu não queria mais soltá-la. Após alguns minutos
abraçadas, eu me soltei aos poucos e Ágatha segurou meu rosto entre suas
mãos.
— Você é perfeita em todas as suas imperfeições. — Me sorriu e eu
não entendi sua frase, mas não ousei questioná-la.
O pôr-do-sol foi espetacular e ela tirou uma foto nossa e da paisagem.
Dali seguimos para o meu apartamento, no trajeto ela deitou a cabeça
em meu ombro e eu segurei-lhe a mão. Ao entrar no apartamento, tiramos os
sapatos ao lado da porta e ela me sugeriu que tomássemos banho para
jantarmos. Eu acatei e ela me beijou com desejo, minha boca sentiu saudade
quando se afastou.
Um banho calmo e tranquilo seria o suficiente para me acalmar das
sensações do dia. Controlar meus impulsos, muitas vezes agressivos e
incompreendidos, era doloroso. Após anos estando apenas na defensiva, o dia
de hoje me mostrou que a insistência de Ágatha em me querer está me
trazendo à tona emoções conflitantes. Saí do banheiro e me vesti com uma
camisola de seda preta, deixei meu cabelo solto e encontrei-a na sala sentada
no sofá. Sentei na sua frente e ela me olhou sorrindo.
— Você fica linda de cabelos molhados e soltos. — Eu lhe sorri —
Nosso jantar chega em quarenta minutos.
Ágatha se aproximou e me beijou suavemente. Passei a mão pela sua
nuca e beijei-a com desejo. O encaixe de nossas bocas era perfeito e natural.
O mundo ao meu redor parava quando ela me tocava e quando beijava era
como se fosse explodir meu corpo de sensações boas. Sugou meu lábio
inferior e findou o beijo com um selinho demorado.
— Posso pedir algumas coisas para você?
Olhei-a curiosa.
— Quero te alimentar e isso, hoje, é uma ordem. Quero que você veja
como um gesto de agradecimento pelo dia que passamos juntas.
— Tudo bem.
— Quero saber mais sobre sua relação com Katherine, assim vou poder
entender você melhor. Fale o que se sentir confortável.
— Ok, acho justo você saber mais sobre essa relação.
Ela me sorriu.
— E quero saber mais sobre seus gostos no BDSM.
— Ok. Eu conheci Katherine com dezenove anos e nunca tinha ouvido
falar de BDSM. Ela me apresentou o bondage, em primeiro lugar. Fiquei
gamada na sensação de privação de movimento e ela me amarrou de diversas
formas diferentes. Depois de um ano, mais ou menos, ela me apresentou o
spank erótico. A partir daí, o lado sádico dela começou a evoluir muito
rápido e sair de dentro de casa para humilhações em público. Além disso, ela
me estabeleceu regras de comportamento e vestimenta e eu não concordava
com nada daquilo. Só que quando eu não concordava com algo ela me
castigava. — Eu parei de falar e olhei-a.
— Como?
— Das formas mais bizarras. O último castigo que eu sofri foi terrível e
vexatório. — Olhei-a — Era um feriado prolongado e por três dias ela me fez
usar um cinto de castidade com um pênis de borracha enfiado em mim. Ela
deu uma festa e eu tive que servir a todos usando apenas o cinto.
Ela me puxou para um abraço e aceitei tentando tirar a lembrança de
Katherine rindo de mim durante a festa da cabeça.
— Ela te privou de banho e banheiro? — ela me olhou ainda
inconformada.
— Eu tinha que me humilhar pedindo para ela deixar eu usar o
banheiro e o banho era de mangueira frio no quintal.
— O que você fez para isso acontecer?
— Me recusei a usar um vestido.
— Ela certamente tem distúrbios sérios.
— Depois desse episódio eu fugi de casa. Ela controlava tudo, dinheiro,
salário, documento, cartões, comida… Eu fugi com três notas de cinquenta
reais que achei na carteira dela e peguei o primeiro ônibus para o Rio de
Janeiro.
— Sinto muito por essa experiência. — Ela me abraçou.
— Eu não fico acuada à toa. — Eu disse ainda em seus braços.
— Se algum dia eu passar dos limites com você me avise. — Ela me
fez olhá-la.
— Com Katherine não adiantou avisar.
— Eu não sou a Katherine. Lembre-se disso. Eu sou a Ágatha e não
quero fazer nada de errado com você.
Ela me aninhou em seus braços e eu aceitei o carinho, ficamos em
silêncio até a campainha tocar. Eu ia me levantar, mas ela não deixou.
Atendeu a campainha, pagou o entregador e levou a pizza para a cozinha.
Voltou com dois pratos e as fatias de pizza cortadas em pedaços pequenos.
Sentou-se na minha frente, espetou um pedaço, assoprou e me ofereceu com
o garfo. Aceitei e ela me sorriu. Aquele tipo de cuidado era estranho, mas ela
demonstrava estar feliz com o gesto. Passei a mão em seu rosto e lhe sorri,
vê-la feliz me deixava como uma tonta apaixonada.
— Ser amarrada é a prática que eu mais gosto. — disse depois de
mastigar e ela me sorriu.
— E o spank erótico?
— Eu gosto, mas sem conotação de castigo ou represália. — Ela me
serviu outro pedaço — Se for uma encenação de castigo, tudo bem, mas o
lance de ser castigada por não estar agradando, não me dá nenhuma sensação
boa. Prefiro uma conversa franca sobre meus comportamentos do que um
castigo de verdade. É uma questão meio delicada, tem dominatrix que gosta
de castigar suas submissas... — Ágatha colocou o indicador em meus lábios.
— Eu gosto de meninas comportadas, mas um castigo é o último
recurso que uso para disciplinar alguém. — Me beijou — Gostou do peso da
minha mão?
Eu sorri e encarei-a.
— Sim!
Ela me encarava sorrindo e terminamos nosso jantar apenas nos
olhando intensamente. Ofereceu-me mais e não aceitei, segurei seu rosto e
beijei sua boca com delicadeza agradecendo-a pelo jantar. Com o
agradecimento seu olhar tornou-se brilhante e vivo e seu sorriso encantador,
só por este gesto eu aceitei mais meia fatia. Levantou empolgada e foi buscar
mais. Serviu-me com felicidade nos olhos e eu não deixei de agradecer pelo
cuidado.
Sugeri de assistir um filme, ela aceitou e deixei que escolhesse. Abri os
assentos do sofá e nos deitamos, ela atrás de mim, envolvendo meu corpo
junto ao seu. Escolheu uma comédia romântica e o cansaço do dia começou a
aparecer. Eu não sei ela, mas eu dormi antes da metade do filme com a
melhor sensação me envolvendo, paz.
Capítulo 13
Dias atuais - Primeira semana
Hoje completa uma semana que estou presa e digo que não estão sendo
dias fáceis. Maitê conseguiu me mandar um colchão e me mandou outros
produtos de higiene pessoal, com os quais fiz minhas negociações dentro da
minha cela. Se fosse para morrer, não seria naquela cela. Joana está sempre
por perto e, às vezes, ela fala sozinha. Eu já não ligo mais para suas
conversas consigo mesma. Hortência e Nádia são desconfiadas e gostam de
me ver irritada. Tem uma das presas que não fala com ninguém, não sei seu
nome, muitas vezes parece ser invisível na cela.
Estou comendo o mínimo necessário, Hortência, às vezes, rouba pão da
cozinha para nós, um pão menos velho do que é o servido no jantar ou café-
da-manhã. A ociosidade está me matando. Podemos tomar banho de sol
apenas duas vezes na semana e nessa hora todas as presas ficam juntas,
condenadas ou não. O guarda conseguiu o canivete que eu queria, quando
veio me cobrar e lhe paguei em dinheiro ele não me pareceu muito contente.
A mesma mulher que me fez ir para a solitária quando cheguei, passou a
semana toda tentando fazer com que eu perdesse a paciência para me levar
para a solitária, mas me contive. Ali era regra principal conseguir sobreviver,
pois viver não era o que eu estava fazendo.
Maitê voltou a me visitar hoje e meu poço foi cavado mais um pouco.
— Além dos fios de cabelos, encontraram pedaços de unha cravados na
pele do corpo. Unhas suas.
— Ah, não! Aí você já está de sacanagem comigo. Como assim?
— Não sei, estão com muitas provas contra você e não sei de onde isso
está aparecendo.
— Maitê, puta merda! Isso só pode ser uma armação muito boa. Como
iam conseguir minhas unhas? Esse laboratório está sendo comprado.
— Eu não consigo provar nada disso, se for armação, o esquema está
muito bem planejado.
— Se for? É lógico que é armação!
— Eu sei que é, mas ainda não consigo provar nada. Não existem
conexões ou erros visíveis.
— Você não pode pedir uma análise em um laboratório da sua
confiança?
— O resultado seria descartado, vão alegar que nós corrompemos o
resultado ao seu favor.
— E eles podem corromper o resultado?
— Não vai adiantar você ficar brava, temos que pensar.
— Samuel é a resposta para tudo. Tenho certeza que ele está armando
tudo para me incriminar.
— Qual o motivo?
— Dinheiro. Ele vive de status, você precisa encontrar um elo entre o
roubo e ele.
— E a morte da Ágatha? Por que ele mataria Ágatha?
— Isso é o que não faz sentido, mas eles podem ter feito isso em
parceria, afinal eu estava gamada nela. Ela entrava na minha sala a toda hora,
pode ter ajudado ele de alguma forma.
— Mas você tem certeza que ela iria te trair desse jeito?
— Eu não tenho muita sorte em escolher meus relacionamentos, você
bem sabe. Posso ter julgado ela errado. Você conseguiu falar com a
Samantha?
— Ela provaria que você esteve lá por meia hora e o resto do tempo?
— Eu estava em casa, minhas câmeras de segurança podem provar.
— Você tentou contato com a Ágatha depois que deixou ela em sua
casa?
— Não! Eu a mandei descer do carro de forma ríspida e brava, ela não
gosta muito desse meu comportamento. E como ela tinha me dito que a mãe
estava doente. Imaginei que seu silêncio fosse por causa das duas coisas. Ela
tinha pedido uma folga na sexta-feira para acompanhar a mãe ao médico. A
mãe dela não sabe de nada?
— Não, a mãe acha que ela está morta, assim como todo mundo. Teve
até um funeral. Você foi apresentada à mãe da Ágatha?
— Sim. Na festa de aniversário dela. A mulher não foi muito com a
minha cara.
— Por que foi até o bar da Samantha?
— Porque era o que estava no meu caminho.
— O que conversaram?
— Está me perguntando como advogada ou amiga?
— Amiga.
— Eu fiquei perdida com o pedido de Ágatha. Ia fazer quase um ano
que estávamos envolvidas, mas ela não deixou parecer que me queria
exclusivamente. Sempre me dava liberdade, fazia as coisas como eu pedia e
raramente intervia em minha vida. Talvez até tenha deixado passar uma coisa
ou outra coisa, me dando indiretas, mas sempre levei na brincadeira. Eu fui lá
com as piores intenções, mas tomei uma cerveja e acabei percebendo o
quanto eu queria ser exclusiva da Ágatha.
— Piores intenções?
— Eu ia pedir por uma sessão para eu ter certeza que não queria a
Ágatha, mas enquanto tomei a cerveja me dei conta que eu não precisava de
outra pessoa além da Ágatha.
— Você não costuma beber cerveja.
— Ágatha bebe cerveja e eu acabei me acostumando a beber para
acompanhá-la.
— Essa garota mudou muita coisa em você.
— Infelizmente sim. E não poderei mais usufruir de sua companhia.
Maitê segurou minha mão.
— Eu sinto muito pela sua perda.
— Eu também.
— Vou investigar o Samuel, ver se eu acho alguma brecha nisso tudo.
— Obrigada.
Eu me levantei chateada e ela se aproveitou de um momento de
desatenção da guarda e me abraçou me dando um selinho rápido.
— Se cuida.
— Me tira daqui.
— Vou tirar!
Eu voltei para a cela e Joana estava tendo um ataque de fúria com
Nádia. O guarda que me acompanhou não fez nada para separá-las e eu
abracei Joana por trás puxando-a para longe de Nádia.
— O que está acontecendo? — Olhei Nádia.
— Ela me roubou, pegou meu shampoo.
— Nádia, já disse que não precisamos brigar.
— Você é uma branquela privilegiada e vem falar sobre necessidades?
Joana ainda estava nervosa e agitada em meus braços.
— Ei, calma, está tudo bem, calma.
Abracei-a por mais um tempo e ela se acalmou. Fiz com que se
sentasse em meu colchão.
— Deita no colchão para dormir um pouco, vou conversar com a Nádia
enquanto você descansa.
Ela me olhou chateada e deitou.
— Foi ela quem começou. — Joana sussurrou.
— Eu sei. — Passei a mão em seu rosto.
Eu me levantei e me aproximei de Nádia.
— Eu não sou uma branquela privilegiada, lutei muito para ter o que
tenho. Você não vai mais chegar perto dela, ok?
Ela não respondeu e riu.
— Eu estou falando sério, Nádia, a garota tem idade mental de uma
criança, pare de agir como imbecil.
— Por que está defendendo uma assassina?
— Ela não devia estar presa aqui, ela deveria estar em uma instituição
psiquiátrica.
— Você chega aqui querendo mandar em tudo.
— Eu só quero paz na nossa cela, é pedir muito?
Ela ficou quieta e foi se sentar no colchão que dividia com Hortência.
Eu sentei no colchão com Joana e encostei na parede. A risada de Ágatha
invadiu minha mente sem sobreaviso e eu me segurei para não chorar. Não
quero acreditar na sua morte, mas infelizmente é o que tenho para agora.
Na hora do banho, eu estava andando pelo corredor quando fui
interceptada por quatro mulheres, uma delas sendo a mesma da outra noite,
descobri que se chama Célia. Eu estava com uma mão no bolso pronta para
pegar o canivete quando uma delas me segurou pelo pulso me empurrando
contra a parede. Derrubei minha toalha e o sabonete que eu estava segurando
com a outra mão. Minha roupa estava escondida por dentro da calça, presas
entre o elástico e a cintura. Os machucados que as algemas me causaram no
dia que fui presa ainda doíam e eu tentei me soltar, mas o corpo da mulher
me pressionava contra a parede. Ela era mais alta e mais forte do que eu.
— Você anda sendo o alvo de muitas fofocas. — Célia me sussurrou.
A mulher que estava me segurando apertou ainda mais meu pulso me
fazendo soltar um palavrão. Puxou-me para um canto afastado do corredor,
Célia abriu uma porta e nós três entramos enquanto as outras vigiavam. Era
um depósito de produto de limpeza.
— Descobrimos alguns detalhes sobre você que são bem interessantes.
— O que? — Perguntei brava.
— Que você tem uma grã-fina que manda coisas de higiene pessoal
para você. Nós queremos entrar nessa fila de presentes.
— Tudo bem, tenho algumas coisas guardadas na minha cela. Não
precisavam dessa agressividade toda, podiam ter pedido.
Ela riu e a outra apertou ainda mais meu pulso.
— Ainda não acabamos nossa conversa.
— O que mais vocês querem?
— Descobrimos que você gosta de apanhar e que tem muita gente
querendo te bater. Então é melhor você se comportar.
— BDSM não é só questão de gostar de apanhar.
Ela me deu um tapa na cara.
— Eu mandei você se comportar.
A mulher que segurava meu pulso me apertou com mais força e chutou
a parte de trás dos meus joelhos me fazendo cair ajoelhada na frente de Célia.
— Quero meus presentes ainda hoje.
— Vou te entregar.
— Boa garota.
A mulher me soltou e as duas saíram do depósito. Quando saí vi que
minha toalha e meu sabonete não estavam mais no corredor, meu pulso
latejava de dor. Nádia se aproximou de mim.
— O que elas queriam com você?
— Encrenca.
Joana se aproximou de nós.
— Salvei isso para você. — Entregou minha toalha e meu sabonete.
Passei a mão em seu rosto e agradeci. Entrei no banheiro e fui até uma
das cabines, meu pulso estava vermelho e extremamente sensível. Eu estava
com raiva, muita raiva. Usei o banheiro e fui tomar banho. Joana estava ali
fora e disse que olharia minhas roupas e minha toalha. Deixei minhas coisas
com ela e liguei o chuveiro. A água gelada caiu sob meu pulso aliviando um
pouco a dor. Mesmo depois de uma semana tomando banho gelado meu
corpo ainda não estava acostumado à temperatura da água. Quando desliguei
o chuveiro, Joana me estendeu a toalha e ficou olhando meu corpo.
— Você é bonita.
— Você também é. — Eu lhe sorri.
Vesti-me e fomos jantar. Eu vi Célia e suas capangas de longe, ela me
fez um gesto de que estava de olho em mim. Sentei junto com Nádia e Joana,
mas comi apenas duas colheradas de uma pasta marrom e com gosto bem
duvidoso. Enquanto eu voltava para minha cela, a mesma mulher que torceu
meu pulso me seguiu. Entreguei a ela tudo o que eu tinha e deitei no colchão
olhando o teto. Como eu tinha entrado nessa fria? Ficava me perguntando
onde eu fui enganada e não conseguia entender como tinham usado meu
nome para roubar dez milhões.
Capítulo 14
Um ano atrás
Eu fui acordada com beijos espalhados pelo rosto, ombro e pescoço.
— Eu não queria te acordar, mas não aguento mais ficar só olhando
você dormir sem te tocar.
Eu ri da frase, apesar de ainda estar sonolenta. Virei de frente para ela e
me aninhou em um abraço.
— Ainda estou com sono. — Resmunguei.
— Eu fiz waffles, vitamina de banana e maçã e café.
— Você está quase me convencendo a levantar. — Eu sussurrei.
— O que será que faria você levantar? — Ela riu — Saber que eu já
pensei em duas cenas para hoje ajuda?
— Ajuda sim. — Eu ri afundando minha cabeça em seu pescoço.
Ela levantou do sofá e me puxou para levantar também. A ilha central
na cozinha estava até bonita de se ver, raramente eu comia pela manhã.
Sentei na banqueta e vi que já eram quase dez horas. Ágatha me serviu
waffles com cream cheese e queijo branco e uma xícara de café. Eu fiquei
olhando-a.
— Não vai comer? — Me sorriu.
Tomei um gole de café.
— Você sabe que você se alimenta mal, né?
Eu levantei uma sobrancelha e encarei-a.
— E não se alimenta?
Eu ri e puxei-a para perto de mim.
— Então me alimente.
Ela sorriu com o pedido e pegou o prato com o waffle sem dar tempo de
eu mudar de ideia. Cada pedaço que eu comia, ela parecia extasiada com o
ato. Tomei o café alternando com as garfadas que ela me dava.
— Eu gosto de tirar foto das minhas cenas, você se importa?
— Não, desde que você me passe elas.
— Vamos ver se você vai merecê-las.
Eu ri e ela terminou de me servir.
Após o café-da-manhã, sentamos no sofá e eu mostrei para ela como
ela fazia para remover o meu acesso ao computador dela, caso ela quisesse.
— Me ensina a invadir computadores? — Ela riu.
— Não é tão fácil assim.
Ela me beijou o rosto. Apresentei a ela o novo jogo que eu estava
desenvolvendo e ela se divertiu por quase duas horas. Era o jogo da velha
repaginado, poderia ser jogado contra o computador ou um convidado. Ela
jogou contra o computador e ganhou poucas vezes.
— É muito difícil, Ane.
— Existem duzentos e cinquenta e cinco mil cento e sessenta e oito
possibilidades de vencer neste jogo.
— Você fez o computador muito inteligente, tem que fazê-lo perder, às
vezes. — Ela riu.
— Esse é o nível difícil, não é para amadores.
Ela riu e me beijou, me levantei e deixei ela jogando mais algumas
partidas. Tomei um banho rápido e vesti apenas um roupão de seda e uma
munhequeira para proteger meu pulso. Voltei para a sala e quando ela me viu
largou o computador na mesa de centro e se levantou.
— Vem, vamos jogar outra coisa. — Eu disse.
Sorriu maliciosamente e eu lhe segurei a mão para irmos em direção do
quarto. Ela não conseguiu esconder a felicidade em estar naquele quarto
novamente. Abriu o guarda-roupa e ficou pensativa, enquanto eu tirava o
roupão.
Ela escolheu duas cordas longas. Tirou a roupa me olhando. Pediu que
eu deitasse no chão e amarrou a corda na minha coxa direita, passou pela
panturrilha deixando-a junto da coxa me impossibilitando de esticar as
pernas. Fez o mesmo com a outra perna. Eu observava sua paciência em me
montar para a cena que ela havia pensado. Puxou a perna esquerda
levantando-a para perto do meu tronco, me expondo um pouco, amarrou em
um dos ganchos da parede, puxou a direita, me expondo totalmente e
amarrou-a em outro gancho longe do primeiro. Eu não conseguia abaixar as
pernas e minha buceta estava totalmente à sua mercê. Ela ficou em pé na
minha frente e sorriu. Pegou uma terceira corda e esticou meus braços acima
da minha cabeça. Abriu minhas mãos e juntou-as, fez nós de shibari
começando pelo antebraço até finalizar nas mãos, amarrou a corda em um
gancho e voltou a ficar em pé de frente para mim. Sorriu e se ajoelhou
aproximando seu corpo do meu, mas sem se deitar em cima de mim.
— Eu tenho algumas coisas para te falar antes de começarmos. — Ela
me olhava intensamente — Você fica linda amarrada. Eu adorei passar o dia
de ontem contigo. — Passou a mão em minha buceta — Cada segundo ao seu
lado foi valioso para mim. — Passou a mão novamente e eu respirei fundo —
Agora que está amarrada, posso dizer meu verdadeiro gosto diferenciado,
pois você não vai poder fugir. — Ela me sorriu e passou a mão em minha
buceta — Meu primeiro gosto, é pelo sexo anal, o segundo por tapas na
buceta, o terceiro por sub amordaçada e amarrada, o quarto penetração com
cintas penianas na sub e em mim. — Ela me olhava sem trégua e seu rosto
estava muito perto do meu.
— Somente quatro? — eu sorri.
— Esses padrões vão se repetir nas cenas...
— Como você mesma disse, não tenho como fugir de você. — Eu sorri
maliciosamente e lambi sua boca — Eu gosto de falar palavrão, ser amarrada,
tapas, lambidas, anal e penetração. Exatamente nesta ordem.
Ela me sorriu e me beijou lascivamente. Levantou-se e pegou um
strapless, lubrificante e um plug anal. Ajoelhou-se de frente para minha
buceta e me sorriu.
— Vamos fazer uma brincadeira diferente. Vou te dar um tapa e você
vai me responder com um palavrão. Não podem ser repetidos. A cada cinco
tapas, eu vou lamber sua buceta.
— E se eu falar repetido?
— Você perde as lambidas e a contagem começa do zero novamente.
— Palavrões aleatórios?
— Sim!
— Ok.
Passou o lubrificante em meu ânus e me penetrou devagar, milímetro
por milímetro. Eu me segurei para não falar o primeiro palavrão ali mesmo.
Quando o plug entrou por inteiro ela deu o primeiro tapa.
— Piranha!
Segundo tapa.
— Biscate.
Terceiro tapa.
— Caralho.
Quarto tapa.
— Buceta.
Quinto tapa.
— Vaca.
Ela me sorriu e me lambeu. Sua língua explorou minha buceta e minha
virilha querendo tirar de mim um orgasmo antes da hora. Ela parou e me
bateu.
— Cadela.
Sétimo tapa.
— Filha da puta.
Oitavo tapa.
— Safada.
Nono tapa.
— Porra.
Décimo tapa.
— Puta que pariu.
Eu estava ofegante e dolorida, mas extremamente excitada.
— Vejo que você realmente gosta de palavrão. — Ela introduziu um
dedo em minha buceta e eu respirei fundo.
Ela chupou o dedo que estava melado e caiu de boca em minha buceta.
Precisei pensar em coisas aleatórias para não gozar. Ágatha parou quando
percebeu minha excitação muito alterada e passou a mão em minha buceta
me olhando.
— Acalme-se, ainda não é hora.
Eu respirei fundo e ela me sorriu.
— Boa garota. Seu repertório tem mais cinco xingamento?
— Sim.
Minha buceta estava latejando e o plug em meu ânus me lembrava da
minha submissão. Senti um tapa no interior da coxa e não disse nada. Ela
apenas me sorriu. O segundo tapa foi em cheio na buceta.
— Merda.
Décimo segundo tapa.
— Cacete.
Décimo terceiro tapa.
— Puta merda!
Décimo quarto tapa.
— Cu.
Décimo quinto tapa.
— Louca.
— Muito bem. Vou aceitar louca como palavrão, mas não é. — ela
pressionou minha buceta com a palma da mão para aliviar a dor — Ainda não
é hora de gozar, mas eu vou te lamber, contenha-se.
Sua língua me percorreu com desejo e ganância, meu corpo dizia que
era impossível não gozar, minha mente lutava contra o gozo pensando em
outras coisas e minha respiração me denunciava. Ela diminuiu o ritmo das
lambidas, beijou meu ventre e se apossou da minha boca encostando sua
buceta na minha. O beijo era intenso, lascivo e o contato de nossos sexos me
arrancava gemidos em sua boca.
Ela se afastou de mim, pegou o strapless, penetrou-se e tirou meu plug
devagar, passou mais lubrificante em mim e me penetrou me encarando.
Ágatha não estava com pressa de me fazer gozar, ficou parada sem se mover
para eu me acostumar com a invasão. Ela começou um vai e vem devagar,
passou o dedo pelo meu clítoris e meu corpo estremeceu. As cordas me
imobilizando e sua penetração estavam me enlouquecendo.
— Mete mais.
— Não!
— Por favor!
Ela diminuiu ainda mais o ritmo até parar e deu um tapa na minha
buceta.
— Me fode!
Ela se posicionou melhor e iniciou as movimentações novamente.
Forte, gostoso, me arrancando gemidos altos e alucinantes.
— Goza para mim, putinha.
Ela não precisou pedir duas vezes. Meu clímax foi vigoroso e mesmo
com meu corpo relaxado ela exigia mais. Suas estocadas não pararam e o
segundo gozo foi febril, meu corpo queria se contorcer, fugir, mas era
impossível. Ágatha diminuiu o ritmo e eu respirava descontrolada. Senti que
saiu de dentro de mim e colocou a mão em meu peito, me pedindo calma.
Olhei-a e seu olhar tranquilo me acalmou. Soltou minhas pernas, virou meu
tronco de lado, para não sair da posição de uma vez, soltou meus braços e
deitou atrás de mim me envolvendo em um abraço. Comecei a respirar mais
tranquila e ela esticou minhas pernas devagar.
— Você está bem? — ela me fez um carinho na cabeça.
Concordei balançando a cabeça. Ela me fez cafuné enquanto meu corpo
se recuperava. Depois de alguns minutos recebendo carinho, me virei para
ela.
— Você sente prazer com o que especificamente?
— Não se preocupe.
— Eu me preocupo.
— Eu sinto prazer durante a cena toda, mas meu êxtase maior é
penetrar você para te fazer gozar gostoso e deixar seu corpo mole.
— E quando isso não te satisfazer?
— Você será avisada.
Eu me virei de costas novamente.
— Katherine disse que eu parei de dar prazer a ela, por isso ela tinha
que ser cada vez mais intensa.
— Ei, olha para mim. — Me virou de frente para ela — Isso foi apenas
desculpa para um comportamento doentio. Se eu não me sentir satisfeita com
a cena, você será avisada. Você está indo muito bem. — Ela me beijou com
delicadeza — Não se cobre tanto.
Ficamos deitadas no tatame por um longo tempo, apenas nos olhando.
Nunca tive momentos como esse com uma domme. Quando vou a clubes de
BDSM, não gosto muito dos pós cena, pois não gosto de romantizar com
quem eu não conheço. Com Ágatha é diferente. Ela quer esse momento, ela
exige corporalmente por isso.
— Você tem esses momentos com todas suas subs?
— Não! Eu tenho muitos cuidados com quem é minha sub, mas não
como faço contigo.
Olhei-a desconfiada e ela me beijou suavemente.
— Eu preciso confessar uma coisa, tive apenas uma submissa fora dos
clubes de BDSM que eu frequento.
— Seu comportamento de garota mimada está explicado.
— Eu não sou mimada.
— É sim. — Eu ri.
— Um pouco, talvez. Tentei ter outra exclusiva, mas a garota falou que
eu sou boazinha demais nas cenas, que preferia uma domme mais hard.
— Você não é boazinha, mas presta a atenção em todos os detalhes
corporais da sub, isso é importante. — Sorri-lhe — Seu relacionamento com
o Samuel era baunilha?
— Sim, por quê?
— Por que aceitou isso?
— Porque eu estava deslumbrada com o mundo dele, mas nos
relacionamos apenas por quatro meses. Achei que podia fazer ele mudar de
ideia sobre o BDSM, mas não consegui.
— Ele tem cara de quem trepa com meias.
Ela riu alto e me beijou.
— Posso considerar isso uma cena de ciúme?
— Não, eu apenas não gosto dele. — sentei e me levantei.
Coloquei o roupão.
— Disse algo errado?
— Não, apenas preciso ir ao banheiro. — Tentei passar naturalidade,
mas não consegui.
Fui até o meu banheiro e me olhei no espelho acima da pia,
“deslumbrada com o mundo dele”. Seria pelo dinheiro dele?
Voltei para o outro quarto e ela estava enrolando a corda.
— Você está bem?
— Sim.
— O lance do ciúme era brincadeira.
— Eu sei, Ágatha.
— Você prefere que eu vá embora?
— É o que você quer?
— Claramente você está irritada.
— Eu não vou negar que estou irritada, mas se quiser ficar, fique.
— Você quer um tempo sozinha?
— Vamos assistir um filme.
— Se preferir ficar sozinha, vou entender, está comigo há mais de 24
horas e...
— O que você quis dizer com “deslumbrada com o mundo dele”?
— Ele frequenta festas de alto padrão, coisa que eu nunca tinha ido na
vida. Balada com entrada custando duzentos, trezentos reais. Ele me dava
roupas caríssimas e me levava a restaurantes da alta classe carioca.
— Então você estava deslumbrada com o dinheiro dele?
— Como não estaria? Ele gastava na balada o que eu ganhava no mês.
Mas ele era um péssimo namorado.
— Por quê?
— Tenho certeza que ele saía comigo e outras mulheres também. E ele
é o típico cara que não sabe ouvir não.
— Ele te machucou?
— Uma vez ele tentou me forçar a fazer sexo e foi quando terminei
com ele.
— Ele anda te perseguindo?
— Antes de você começar a trabalhar lá ele não me olhava na cara, mas
ele deve ter percebido nossos olhares dentro das reuniões e voltou a me
assediar.
— Fique longe dele.
— Ficarei. — Ela se aproximou e me beijou com desejo — Quando
quiser me perguntar algo, não hesite, pergunte, vou responder com
sinceridade. Não fique remoendo as coisas na sua cabeça sem saber da
verdade.
Eu juntei seu corpo no meu e nosso beijo foi voluptuoso e intenso.
Enquanto nos beijávamos ela me empurrou até a parede e envolveu seu corpo
com minhas pernas. Gemi pelo encontro brusco de nossas bucetas.
— Está dolorida?
— Apenas sensível.
Minha boca buscou a sua em um ato de desejo e excitação, ela encostou
mais seu corpo no meu e eu gemi em sua boca. Meu corpo ardia de desejo
por ela. O beijo era indecente e sensual, o baile das línguas demonstrava todo
o nosso desejo interno. Eu apertava mais seu corpo contra o meu e suas mãos
me arranhavam a lateral do corpo sem pudor. Ela remexia a cintura me
causando frisson com o contato de nossas bucetas. Ela segurou meus braços
acima da minha cabeça e seu olhar sensual me fez sorrir, dentro daquele
quarto ela se transformava em uma mulher feroz e deliciosa. Minha boca
buscou a sua e ela me negou o beijo virando o rosto. Sua cintura me castigava
com o encontro carnal que acontecia.
— Eu quero te amarrar e comer sua bucetinha bem gostoso.
— Faça o que quiser!
Ela me beijou com desejo e soltou meus braços e se soltou das minhas
pernas. Tirei meu roupão e ela pegou quatro cordas. Mandou-me ficar de
quatro no meio do tatame e separou minhas pernas. Passou a primeira corda
pelo meu ventre e depois de dar um nó na altura da lombar amarrou-a no
gancho do teto, me suspendendo levemente. Passou uma corda na coxa
direita e amarrou na parede, fez o mesmo do outro lado. Não poderia fechá-
las. Passou meus braços por baixo do meu corpo e amarrou meus pulsos
puxando a corda para ser amarrada na outra parede.
— Rattan de duas varas ou o cinto de couro, qual você prefere?
— Rattan.
Enfiou uma calcinha em minha boca e o primeiro golpe acertou as duas
nádegas de uma vez. Meu corpo estremeceu. O rattan tem duas finas varas
semelhantes ao bambu e a sensação é de estar recebendo dois golpes ao
mesmo tempo. O segundo e o terceiro golpe foram seguidos em lugares
diferentes, um na coxa perto do joelho e outro no meio da coxa. Ela bateu
mais duas vezes nas nádegas e meu corpo recebeu os golpes com excitação.
Eu estava ofegante, a posição não era a mais confortável de todas, mas as
lambidas que ela começou a dar nas marcas do rattan me fizeram esquecer
tudo. Sua língua percorria tudo com maestria e passeou por minha buceta me
enlouquecendo.
Ela me bateu mais uma vez e eu gritei, mas fui abafada pelo pano.
Outro golpe e sua língua voltaram a me lamber. Apertou meu clitóris entre os
dedos e sua língua me penetrou causando espasmos corporais. Entrava e saía
com a língua aumentando minha excitação. Eu tentava mais contato, mas era
impossível. Meu gozo estava próximo e ela parou. Eu gemi de insatisfação.
Ela tirou a calcinha da minha boca.
— A putinha quer gozar? — ela me deu um tapa na bunda — Quer?
— Quero!
Ela me deu outro tapa na bunda e com o strapless encostou a ponta em
minha buceta, sem penetrar muito.
— Pede pra mim o que você quer? — ela me deu outro tapa.
— Quero que você me foda.
Penetrou até o fim e me bateu na bunda.
— Vou te comer, mas você tem que contar os tapas direitinho. — Tirou
o pênis até a metade.
Bateu e me penetrou.
— Um.
Ela fazia os gestos devagar. Repetiu e me bateu.
— Dois.
Bateu e me penetrou.
— Três.
O ritmo das batidas e estocadas foram aumentando e minha excitação
também.
— Quatro. Cinco.
Meu corpo queria fugir daquela posição. Ela me bateu seguidas vezes e
eu perdi a conta. Meu gozo veio para ser arrebatador e suas estocadas
aumentavam junto com os tapas. Gozamos juntas e eu me senti completa ao
ouvir seus gemidos de satisfação. Ela me soltou e deitou-se atrás de mim me
abraçando e beijando meu ombro e pescoço.
— Gozei junto com você, minha menina gostosa.
Seus carinhos me relaxavam e eu dormi com aquela frase repetindo em
minha cabeça.
Acordei na minha cama, sem nada e levantei correndo com medo que
ela tivesse ido embora. Procurei-a na sala, mas não estava. Escutei barulho na
cozinha e sorri indo em direção do som. Parei na porta, mas minha vontade
era de sair correndo e abraçá-la com força e lhe beijar a boca. Não fiz, apenas
olhei-a de longe e me contive em sorrir com a cena dela cozinhando de
calcinha e sutiã. Como ela não tinha me visto, voltei para o quarto e vesti
uma calcinha e um roupão de seda.
Voltei para a cozinha e a vontade de agarrá-la voltou, mas eu não podia
demonstrar afeto. Não neste momento. Tenho que ir com calma. Ela abriu um
largo sorriso quando me viu entrando na cozinha e eu retribui.
— Fiz algo para o nosso almoço.
Eu sentei na banqueta, não contive uma careta de dor e ela me serviu
um prato de macarronada alho e óleo com brócolis e palmito.
— Parece bom. — Enrolei o macarrão no garfo e comi.
Ela ficou me olhando na expectativa da minha aprovação.
— Gostei. — Sorri-lhe e ela me olhou intensamente — Quer me
alimentar?
— Quero.
Entreguei-lhe o garfo e ela se aproximou ficando ao meu lado.
— Está dolorida? — Serviu uma garfada.
— Um pouco sensível.
— Por que preferiu o rattan?
— Porque eu prefiro ser amarrada com o cinto do que receber cintadas.
Odeio cintadas.
— Bom saber disso. — Ela me sorriu — Eu não sei se você está
gostando do que eu ando propondo, saiba que você pode me… — coloquei o
dedo em sua boca para que não falasse mais.
— As cenas são sua responsabilidade, eu apenas obedeço.
— Mesmo sendo minha responsabilidade, não quero que você faça o
que não se sente bem.
— Já que quer saber. A posição que fizemos por último é bastante
incômoda.
— Eu sei, por isso não estendi muito. — Passou a mão em meu rosto
— Você é perfeita. — Ela me beijou suavemente — Se está na cidade há
apenas poucos meses, por que construiu o quarto? Você me disse que não
tinha intenção de ter uma dominatrix tão cedo.
— Eu estava negociando com uma domme de ter sessões particulares
em casa. Os objetos eu já tinha, quando me mudei de país, deixei na casa da
Maitê e quando voltei precisei de um lugar para guardar tudo.
— Ainda pretende negociar com essa domme?
— Ciúme?
Ela riu e me fez olhá-la.
— Sim. Não quero ninguém pondo a mão em você.
Eu lhe sorri e neguei com a cabeça.
Ela terminou de me alimentar e disse que precisava ir embora. Eu
queria que ficasse, mas não insisti e concordei com sua ida. Despediu-se com
um beijo tranquilo e me passou um endereço diferente quando fui pedir seu
táxi. Não questionei, mas fiquei me perguntando onde ela iria àquela hora.
Assim que saiu pela porta senti sua falta.
Capítulo 15
Dias atuais - Segunda semana
Maitê tentou fazer minha mudança para uma cela especial, pois tenho
diploma em contabilidade e finanças, mas foi negado. Alegaram que não há
celas especiais para as prisões femininas, se é verdade não sei, mas seria bom
sair daqui.
Célia está sempre me cercando tentando me tirar do sério, estou
tentando me segurar, mas ela quer ver o circo pegar fogo. A ociosidade aqui
dentro deixa qualquer uma louca e com ideias erradas na cabeça. Não que
elas já não tenham essas ideias, mas não fazer nada o dia inteiro propicia a
criação de atitudes erradas. Eu até tentei treinar boxe socando o colchão em
pé na parede, mas os guardas me ameaçaram, dizendo que se continuasse me
mandariam para a solitária por uma semana.
Os banhos gelados ainda eram gelados e eu não consigo me acostumar
com isso. No alto verão carioca tomar banho gelado é a melhor coisa que um
cidadão pode querer, mas aqui não tenho como sentir o calor gostoso da
cidade que tanto amo. Até parece que estou em uma realidade paralela onde o
prédio em que vivo é úmido, gelado e sujo. Baratas são nossas companheiras,
se bobear tomam seu colchão e fazem dele a casa delas. Aqui não tem vez,
bobeou, perdeu.
E por falar em bobear, Joana sempre me seguia até o banheiro na hora
de tomarmos banho. Ela segurava minha roupa enquanto eu tomava banho e
eu segurava a dela. Mas um dia, Célia resolveu ameaçá-la enquanto segurava
minha roupa. A garota ficou assustada e cedeu à ameaça deixando minha
roupa com Célia. Quando me virei e vi que era Célia quem segurava minhas
roupas não sabia qual reação ter. Raiva foi o que senti, mas eu precisava
pensar. Sai debaixo do chuveiro, desliguei-o e me aproximei dela.
— O que você quer?
Ela fez um sinal para uma das capangas dela e a mulher estendeu um
sabonete para mim. O banheiro estava lotado.
— Se você quer que eu guarde seu segredo, me dê banho.
Imediatamente me lembrei de Ágatha, seu corpo e nossos banhos
juntas. Ela me deu um tapa na cara por eu não ter pego o sabonete.
— Prefiro ficar pelada.
Afastei-me delas e fui cercada por mais duas mulheres. Eu estava em
desvantagem, mas não queria me entregar. Uma delas me deu uma chave de
braço me virando de frente para Célia.
— Você é teimosa, não é garota?
Senti outro tapa arder no meu rosto. Ela andou até embaixo do chuveiro
e ligou-o. A outra mulher me entregou o sabonete e torceu meu braço. Eu me
livrei dela chutando sua canela, peguei o sabonete e joguei em direção à
Célia, ela desviou e num descuido das suas capangas roubei minhas roupas e
sai correndo. Naquele dia pensei que era bom quando as coisas aconteciam
no banheiro, pois os guardas nunca ficavam sabendo dos ocorridos.
Eu corri muito e me escondi na mesma sala que Célia tinha entrado
comigo outro dia. Vesti-me e esperei o toque de recolher para sair dali. Eu
mal respirava, sentei encostada na porta tentando entender a merda que eu
tinha acabado de fazer. Quando cheguei na cela, meu colchão estava todo
rasgado e o interior dele esfarelado por todo o corredor. Voltei a dormir no
chão. Ódio e raiva, eram dois sentimentos que tomavam conta de mim estes
dias.
Joana me pediu inúmeras desculpas por ter fugido, eu aceitei, mas a
cena de Célia pelada querendo que eu a tocasse me deixava com a estranha
sensação de náusea. Não por ela, mas pela ansiedade que seu nome causava
em mim.
Esse episódio por enquanto está sendo ignorado por Célia e sua gangue,
mas eu duvido que não haverá mais represália por elas. Vivem me olhando e
rindo da minha cara.
Recebi uma visita de Maitê hoje, ela estava em lua-de-mel e não veio
me visitar desde nossa última conversa.
— Como foi a lua-de-mel sabor baunilha? — eu ri sentando em sua
frente.
— Você não presta, Anelise. — Ela riu.
— Preciso rir de alguém já que minha vida está cada dia pior.
— E esse rosto avermelhado?
— Descobriram que eu gosto de apanhar e estou passando dias super
divertidos aqui. — falei brava.
— Eu imagino que esteja sendo um inferno.
— Maitê, você precisa descobrir a verdade sobre Samuel. Essa semana
eu estive pensando que sozinho ele não deve ter feito uma armação tão boa
quanto essa parece ser. Ele é diretor executivo, mas a inteligência não é sua
maior virtude. Você tentou investigar o Hélio? Diretor de tecnologia da
empresa, esse sim é inteligente. E se a Ágatha ainda está viva por aí?
— Você anda pensando mais claramente sobre tudo ou está tentando
incriminar essas pessoas?
— Eu estou com bastante tempo ocioso e não consigo parar de pensar
em tudo.
— Eu não parei de fazer investigações mesmo na lua-de-mel, mas não
tem brecha. Só se esse Hélio tiver algo que faça conexões.
— A Cintia deve estar me odiando por ter feito você trabalhar na lua-
de-mel de vocês.
— Como se ela não tivesse trabalhado. — Ela riu.
— Menos mal.
— Ela está me ajudando com seu processo, aliás, minha equipe toda
está.
— Eu vou te recompensar por isso, ainda não sei como, já que agora a
senhora é uma mulher casada, meus métodos de pagamento podem não ser
aceitos. — Eu ri.
— A palavra senhora soa tão bem na sua boca. — Ela riu — E quem
disse que não é aceito?
— E a Cintia?
— Participa junto.
Eu ri alto.
— Afinal ela te acha linda.
Eu ri alto.
— Pelo menos vou ter no que pensar enquanto aguardo o julgamento.
— Eu ri.
Ela segurou minha mão e beijou-a.
— Meu bebê, estamos tentando de tudo para te tirar daqui.
— Eu sei, Mazinha, eu sei. — Apertei-lhe a mão — Mas como diz a
música de Gilberto Gil, “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”.
— Tente não arrumar muita encrenca aí dentro.
— Eu juro que estou me comportando, mas essas mulheres são loucas.
— Olhei-a — E por falar em louca. Você pode ajudar uma presa?
— Não começa a prometer coisas para essas mulheres.
— Juro que não prometi nada, ela nem sabe que estou falando com
você sobre ela. Eu tenho certeza que ela tem problemas mentais, eu queria
que você tentasse uma transferência para uma instituição psiquiátrica, aqui
não é lugar para ela.
— Vou analisar o caso dela.
— Joana Barros, condenada por matar o namorado.
— Vou ver se tem alguma coisa que possa ser feito.
— Obrigada.
— Eu sei que a comida daqui não deve ser das melhores, mas você
precisa se cuidar, está cada vez mais magra.
— Se eu comer mais, eu preciso ir ao banheiro mais vezes e ir ao
banheiro aqui não é uma tarefa muito fácil.
Ela apenas me olhou sem ter o que responder.
Maitê se despediu e eu voltei para a cela.
Sentei ao lado de Joana no que havia sobrado do meu colchão e ela me
sorriu como se soubesse que eu estava tentando defendê-la daquela sina que
nós duas estávamos vivendo.
Capítulo 16
Um ano atrás
Eu levantei atrasada, meu celular, aparentemente, não despertou. Se
tocou não escutei. Cheguei na empresa faltando poucos minutos para a
reunião das dez. Ainda bem que na sexta eu tinha deixado tudo pronto.
Ágatha não estava em sua mesa.
Durante a reunião, que eu estava conduzindo, ela não tirou os olhos do
meu corpo. Era um olhar fixo e penetrante, parecia que queria ler minha
alma. Eu queria que todos desaparecessem para poder tê-la só para mim. A
minha explanação foi de vinte minutos, os diretores ficaram loucos com a
meta de redução de gastos da própria diretoria e começaram a discutir comigo
o fato de eu querer tirar os privilégios que eles tinham com algumas despesas
sendo pagas pela empresa.
— Vocês me contrataram para organizar as finanças da empresa, é isso
que estou fazendo. Vocês gostando ou não, essa é a meta do trimestre e não
vou alterá-la para massagear o ego de diretor mimado. Se vocês acham
mesmo que estou sendo louca com este plano, me mandem embora.
Ninguém respondeu.
A reunião foi encerrada e Ágatha me acompanhou pelo corredor e
quando chegamos em sua mesa ela me olhou sorrindo.
— Podemos almoçar juntas? — Ela me perguntou.
— Sim.
— Aqui mesmo?
— Não. Vamos em algum lugar tranquilo e que seja aqui perto.
— Vou pesquisar algum lugar.
Afastei-me dela e percebi seu olhar em mim. Virei meu rosto e ela me
sorriu maliciosamente, eu apenas ri e fui para minha sala.
Perto da hora do almoço, ela me mandou uma mensagem “Achei um
restaurante a duas quadras daqui, inaugurou semana passada. Vegetariano e
vegano.” Respondi: “Perfeito! Encontro você lá daqui dez minutos.”
Eu estava de saída da minha sala quando Samuel entrou junto com o
diretor de tecnologia e informação. Avisei que tinha que sair, mas me
ignoraram, disseram que seria dez minutos. A conversa se estendeu por quase
uma hora. Minha ansiedade estava elevada e minhas respostas não eram as
mais educadas, precisei me controlar quando Hélio pediu dinheiro para novos
investimentos em tecnologia. Eu só conseguia pensar em Ágatha sozinha no
restaurante. Só se deram satisfeitos quando disse que acharia uma forma de
fazer os novos investimentos. Acompanhei-os até a porta e Ágatha já estava
de volta na sua mesa. Quando se afastaram, eu olhei-a intensamente e
chamei-a para entrar em minha sala. Ela me olhou, mas não se moveu.
— Seu almoço. — Ela apontou uma sacola sob a mesa dela.
— Por favor, entre na sala comigo.
Ela respirou fundo e levantou brava. Pegou a sacola e entrou na sala.
Entrei e tranquei a porta. Ágatha estava em pé perto da minha mesa, me
aproximei e abracei-a por trás.
— Não era isso que tinha planejado para nosso almoço. — Eu virei-a
de frente para mim — Desculpe.
— Você podia ter mandado uma mensagem.
— Desculpe, eu não consegui.
Fiz com que me olhasse, seus olhos estavam avermelhados e lhe beijei
suavemente.
— Sinto muito por isso.
— Você me assustou com esse sumiço, achei que tinha feito de
propósito para me deixar constrangida.
— Por que eu faria isso? Que péssima visão você tem de mim. — Fiz
com que me olhasse e lhe beijei os lábios — Você me desculpa? Não quero
começar a semana brigada com você.
— Desculpo, mas eu estava empolgada com nosso almoço.
Beijei-a com desejo.
— Como posso te recompensar pelo desencontro de hoje? — beijei-a
novamente.
Ela passou os braços pelo meu pescoço e eu lhe puxei para mais perto
de meu corpo.
— Me beija mais. — Sorriu-me.
Minha boca encontrou a sua e nosso beijo foi tão delicioso que eu não
quis parar de beijá-la. Sentei-a na minha mesa e nossas boca continuavam
grudadas, nossos corpos juntos querendo se fundir. Subi sua saia, o beijo se
intensificava e eu queria me desculpar apropriadamente. O meu desejo por
seu corpo aumentava a cada encontro de nossas línguas. Abracei-a e levantei-
a da mesa andando em direção do sofá. O beijo continuava se intensificando,
sentei com ela em minhas pernas e afastei sua calcinha percebendo o quanto
ela estava molhada.
— Eu quero… — tentei falar entre um beijo e outro
— Não peça, faça! — disse ofegante.
Deitei-a no sofá e lhe tirei a calcinha. Sorri ao vê-la exposta para mim.
Minha língua explorou seu sexo com devoção e seu corpo já se retorcia de
prazer. Eu penetrei-a e seu gemido de êxtase foi gostoso de ouvir. Chupei-a
com intensidade e suas mãos seguraram minha cabeça emaranhando os dedos
em meus cabelos. Um gemido abafado foi o anúncio de um pré-gozo e
aumentei o ritmo. Vi que ela tapou a boca para não gemer ou gritar. Suguei
seu clítoris e penetrei-a com vigor. Seu corpo estremeceu em meus dedos e
eu sorri com a sua respiração ofegante. Coloquei suas pernas no sofá e sentei
no chão ao seu lado. Passei a mão em seu rosto e beijei seu braço.
— Você pode perder mais vezes a hora do almoço se essa for à sua
maneira de se desculpar. — Me puxou para um beijo nos lábios.
Eu ri e me levantei indo buscar minha comida, estava faminta. Quando
voltei, ela já estava sentada no chão me esperando. Sentei ao seu lado e ela
me sorriu como se quisesse me pedir algo.
— Posso te alimentar?
Entreguei-lhe o garfo.
— Você almoçou?
— Sim e paguei com o seu cartão. Ele ficou na minha bolsa.
— Foi justo. — Lhe sorri.
Ofereceu-me uma garfada e me olhou sorrindo.
— Este ato realmente te deixa feliz, não é?
— Sim.
— Você fazia isso com a sua outra sub?
— Às vezes, ela não curtia muito. — Ofereceu outra garfada — Você
gostou?
— Ainda é estranho, mas você fica com uma carinha tão feliz que não
consigo negar. Ninguém nunca me alimentou na boca, então é uma sensação
bem diferente.
— Nem sua mãe?
— Minha mãe? — eu ri — Não vamos falar daquela vadia.
— Outro dia conversamos sobre ela, pelo jeito é um assunto delicado.
— Muito delicado.
Ela me ofereceu outra garfada.
— Posso fazer uma pergunta sobre a Katherine? — olhei-a desconfiada
— Só responda se quiser.
— Ok.
— Você disse que ela se tornou intensa, o que isso quer dizer?
— Ela parou de respeitar meus limites. Ela sempre achava que eu podia
aguentar mais do que eu já estava aguentando.
— Ela ignorava sua safeword?
— Sim. Se eu falasse a safeword durante um spanking, ela continuava a
bater. Ela não me batia para sentirmos prazer, como você, a Samantha e a
Maitê fazem. Ela queria me machucar, batia com muita força e em lugares
inapropriados. Eu tinha que implorar para ela parar. — Olhei-a chateada.
— Como superou isso? Você ainda gosta de apanhar apesar disso tudo?
— Maitê me ajudou muito quando eu a conheci. Ela me ensinou a
descobrir do que eu realmente gosto. A Katherine me ensinou coisas que ela
gostava e com a Maitê eu descobri que eu não gostava de tudo o que a
Katherine tinha me ensinado. Tive a ajuda de uma psicóloga também, mas
Maitê foi quem melhorou vários traumas meus.
Ela me abraçou e beijou meu rosto.
— Ela te ajudou sendo sua domme?
— Não. Ela me ajudou como amiga, me levou em clubes de BDSM e
me ensinou a ver que Katherine era uma pessoa descontrolada e abusiva.
Fizemos cenas juntas, mas apenas para eu poder diferenciar o que eu gostava
do que não gostava. Ela é uma pessoa muito importante na minha vida, se
não fosse por ela, talvez, tivesse morrido nas mãos da Katherine.
— Você é uma garota de sorte por tê-la em sua vida.
— Sim. Mais alguma dúvida sobre Katherine?
— Sim, mas vamos devagar com estes relatos. Não quero aflorar
sentimentos ruins em você.
— Obrigada pela compreensão.
Ela voltou a me alimentar e ficamos nos olhando entre uma garfada e
outra.
— Qual seu maior sonho? — eu perguntei na última garfada.
— Tenho vários.
— Qual deles faria você largar tudo sem medo de se arriscar?
— Ter meu próprio restaurante.
Eu limpei a boca com o guardanapo e olhei-a.
— Algum motivo especial?
— Minha mãe tinha um restaurante no interior do Paraná, ajudei muito
ela.
— O que te trouxe ao Rio de Janeiro?
— Calor, praia e a tentativa de fazer uma faculdade.
— Desistiu da faculdade?
— Ainda não, mas estudar para o vestibular e trabalhar está sendo
difícil.
— Precisa de ajuda em algo?
— Anatomia.
Eu olhei-a séria pela brincadeira e ela me sorriu zombeteira.
— Nessa matéria você passa de olho fechado.
— Você está leve hoje, tranquila...
— Passei um final de semana agradável com uma garota maluquinha,
mas divertida.
— Nossa, ganhei meu dia com esse…hum... posso chamar isso de
elogio? — ela me beijou os lábios.
Eu ri concordando e ela se apossou da minha boca com desejo. Um
beijo lascivo e cheio de tesão nos envolveu. Puxei-a para sentar-se sob
minhas pernas de frente para mim. O beijo continuou me envolvendo, meu
corpo queria o seu calor e as suas mãos puxavam minha nuca para aumentar
o contato de nossas bocas. Subi sua saia e arranhei suas coxas, gemeu em
meus lábios e eu puxei-a para mais perto de mim. Nosso envolvimento era
intenso, o beijo gostoso, extasiante e eu queria vê-la nua e ter sua pele na
minha. O telefone da minha sala tocou nos assustando.
— Merda! Telefone maldito! — ela murmurou saindo de cima da
minha perna.
Respirei fundo, pois a interrupção me deixou atordoada. Levantei e
andei rápido para atender. Falei por alguns minutos de costas para onde
estávamos sentadas e quando desliguei, ela não estava mais lá. Senti sua falta
imediatamente, mas voltei a trabalhar.
No fim da tarde, chequei meu e-mail pessoal e vi que tinha mais e-
mails duplicados de Ágatha em minha caixa de entrada do que meu. Dei uma
bisbilhotada em suas redes sociais e vi que a mesma menina que estava na
festa com ela no outro fim de semana, tinha marcado ela em algumas fotos de
uma festa durante o fim de semana que passou comigo dizendo que ela fazia
falta. “Depois me diz que não tem tempo de estudar.” Pensei comigo.
Quando saí da minha sala, ela não estava em sua mesa e pela hora, ela
já devia ter ido embora. Saí do elevador e escutei uma risada conhecida. Era
Ágatha conversando com a recepcionista do prédio, olhei-as sério e vi que era
a mesma garota das fotos. Fiquei incomodada, não era ciúme, era incômodo
pela forma que a recepcionista me olhou. Parecia que ela sabia o que
tínhamos feito. Chamei o táxi pelo celular e esperei alguns minutos até que
chegasse. Entrei no carro e Ágatha entrou do outro lado.
— O que está fazendo?
— Indo para sua casa com você.
Pedi para o motorista esperar.
— Está maluca? Nós não combinamos nada para hoje. Pare de ser in…
— Invasiva?
— É! Você gosta de me ver irritada?
— Motorista, pode ir, no caminho convenço ela a deixar eu entrar no
apartamento dela.
Ele acatou a ordem dela.
— Quero continuar o que começamos na hora do almoço. Tivemos
momentos agradáveis hoje, por que não podemos continuar?
— Ágatha, nosso combinado é de sexta-feira e não segunda ou a
semana toda.
— Eu quero você a semana toda, estou viciada em você.
Vi que o motorista estava nos olhando.
— Se você quer isso, precisa conquistar isso. Não adianta invadir meu
táxi e dar um barraco e se fazer de louca.
— Como eu consigo as coisas com você?
— Eu já disse que sou maleável.
Ela me beijou e eu cedi. Afastei-me e editei a rota do trajeto e avisei o
motorista.
— Você não é.
— Me escuta. — Segurei seu rosto e fiz com que me olhasse — Essa
atitude de garota mimada que quer tudo na hora que quer, não vai me
amolecer. Isso vai me afastar e se eu me afastar, você perde muito mais do
que uma noite. Você me perde por inteira, é isso que quer?
— Não.
— Vou te deixar na sua casa e você vai se acalmar. — Encostei minha
testa na dela — Tenha paciência, é só o que te peço.
Ela me beijou a boca delicadamente.
— Você me enlouquece. — Ela me sussurrou — Desculpe, eu perco a
cabeça perto de você.
— Não pode deixar isso acontecer.
Abracei-a. Permanecemos naquele abraço até o táxi parar na frente da
casa dela.
— Quero assistir você tomando banho depois do meu treino de boxe.
— Eu sussurrei beijando-lhe o rosto.
Ela me deu um beijo gostoso de despedida.
— Quero assistir seu treino. — Ela me sorriu e deu um selinho.
Eu sorri concordando e ela saiu do carro. O taxista não perdeu um lance
entre nós. Esperei ela entrar no prédio e seguimos para meu apartamento.
— O relacionamento de vocês é intenso, né? — ele me perguntou
quando paramos em um semáforo.
Eu não respondi e fiquei olhando os prédios durante o trajeto.
Desci em frente ao meu prédio e vi a nítida diferença entre os dois
bairros. Senti-me estranha por não ter deixado ela vir comigo para casa, mas
eu precisava parar de perder a noção do tempo e do medo ao lado dela.
Quando Bento chegou em casa, mandei o link para ela ver o treino pela
câmera de segurança. No meio do treino, eu comecei a imaginar ela se
masturbando como fez da outra vez e acabei levando um cruzado de direita
no rosto. Bento ficou totalmente sem ação quando viu que me acertou, o
exercício era para eu me esquivar de seus golpes, mas minha cabeça não
estava ali, estava em Ágatha. Continuamos com o exercício, mas eu sentia
meu rosto arder. O soco não foi leve e no fim do treino, vi que o olho estava
roxo. Bento se desculpou mais uma vez e eu apenas ri.
— Eu já recebi socos piores, fique tranquilo.
Ele se despediu e meu celular começou a tocar e vi que era Ágatha,
atendi no viva-voz enquanto pegava gelo no freezer, coloquei-o em um saco
plástico.
— Você está bem?
— Foi só um soco.
— Ele é maior e mais forte do que você.
— Fique tranquila, essas coisas acontecem nos treinos. — Eu ri —
Treinamos para isso.
— Ficou roxo?
— Vai ficar!
Coloquei o gelo no rosto.
— Podemos fazer uma chamada por vídeo?
Desliguei e chamei-a pelo vídeo. Mostrei o machucado quando
atendeu.
— A empresa inteira vai comentar. — Ela riu — Vai ficar horrível.
— Se toda vez que eu levar um soco você ficar assim, você vai viver
preocupada.
— Se eu estivesse aí ia te encher de beijo para sarar logo.
Eu apenas sorri e houve um pequeno silêncio.
— Desculpe pelo lance do táxi. Eu fui impulsiva e não devia ter feito o
que fiz. Acho que você tem razão quando diz que sou invasiva e mimada.
— Vamos esquecer isso. Eu quero me abrir mais com você, ter mais
confiança, mas não posso e não quero me sentir acuada. Quando você faz
essas coisas, infelizmente, a imagem da Katherine vem à minha cabeça.
— Não quero que você me associe a ela.
— Peça quando quiser algo, não tente impor suas vontades. Se você
tivesse pedido para vir até a minha casa hoje, talvez eu tivesse reagido
diferente do que reagi dentro do táxi e aceitado sua visita.
— Eu vou me lembrar disso amanhã. — Ela sorriu.
— Lembre-se que você está causando sentimentos controversos em
mim e não queremos explosões desnecessárias.
— Ok, vou tentar melhorar minha impulsividade.
— Obrigada.
Eu tirei o saco de gelo do rosto.
— Quando disse que iria me assistir tomar banho como imaginou?
— Pensei que poderia ser pela webcam do notebook, mas se preferir,
pode ser pelo celular.
— Por que quer me ver tomar banho?
— Preciso de um motivo? — franzi a testa.
— Não, mas estou curiosa com seu pedido.
— Você gosta que assistam você tomando banho?
— Sim.
— Então, sempre que eu puder vou assistir para te deixar feliz. Eu
gosto de saber que estou agradando.
— Está, apesar de você ter me negado hoje.
— Já conversamos sobre isso… só me dê tempo.
— Darei.
Ela andou com o celular até o banheiro e eu fui até a sala e sentei no
sofá. Ela apoiou o celular em alguma coisa na pia, me dando ampla visão do
banheiro. Ágatha tirou a roupa devagar enquanto encarava a câmera. Seu
olhar preto e penetrante me provocava. Se eu queria estar com ela? Sim.
Fiquei sem reação quando a vi nua novamente. Deveria falar algo, mas sua
beleza me calou. Observá-la se exibindo para mim era hipnotizante. O vírus
Ágatha estava mais espalhado do que eu imaginava. Em breve, todos os
cantos do meu cérebro estarão gritando por ela. Eu estava vidrada em seu
banho, a água caindo pelo corpo e o cabelo sendo lavado com delicadeza. Era
uma visão bonita e cativante, o som da água me trazia paz. O vídeo foi
abruptamente interrompido e eu fiquei esperando o celular tocar novamente.
Como isso não aconteceu, tentei ligar, mas estava ocupado. Levantei e fui
tomar meu banho e jantar. Quando sentei para comer ela me ligou.
— Desculpe, uma ligação desligou nosso vídeo.
— Uma pena ter sido interrompido dessa maneira.
— Só liguei para me desculpar pela interrupção, era minha mãe.
Quando ela começa a falar não para mais.
— Não precisa se desculpar por tudo.
— Perto de você eu sinto que só faço besteira.
— Não pense assim. Foi bom ter ligado, amanhã e quarta tenho
reuniões na hora do almoço e não vamos poder almoçar juntas.
— Eu vi na sua agenda. Samuel e Hélio gostam de fazer reuniões na
hora do almoço.
— Eu detesto.
— Quinta e sexta almoçaremos juntas?
— Sim, espero que nada nos atrapalhe.
— Se for para você me chupar como pedido de desculpas até quero que
algo nos atrapalhe.
— Eu vou me arrepender do que vou dizer, mas não precisa esperar
imprevistos para que eu te chupe, basta pedir.
— Cuidado com as palavras, Ane.
Eu ri.
— Eu disse que me arrependeria.
Ela riu alto, sua risada sempre me fazia bem.
— Dorme bem, Ane!
— Você também, Ágatha.
Desliguei. Jantei calmamente e antes de dormir recebi uma mensagem:
“Amei te beijar durante o almoço de hoje, adorei ver seu treino e ser
observada durante o banho.”
Impulsivamente respondi, “Você é linda!”
Ela me respondeu apenas com um emoticon com uma carinha
envergonhada. Como não sabia o que responder, mandei um emoticon
piscando. Deitei na cama me sentindo leve e tranquila. O vírus Ágatha pode
estar se alastrando, mas não estou sentindo corrosões em meu disco rígido.
Capítulo 17
Dias atuais - Terceira semana
O começo da minha terceira semana, foi definido por um encontro nos
corredores da prisão. Era hora do almoço e Célia ficou atrás de mim na fila.
— Você acha que pode negar o que te peço e sair impune?
Eu não respondi. Ela me deu um beliscão no braço.
— Estou falando com você.
Tentei sair de perto dela, mas ela segurou minha camiseta. Senti uma
ponta fina apertando minha costela esquerda. Então foi ela quem pegou meu
canivete, tinha desconfiado de Nádia erroneamente. Eu me afastei dela, mas
ela voltou a colocar a ponta do canivete em minha costela.
— O que você quer? — eu perguntei sussurrando.
— A gata resolveu falar? Quero mais produto de higiene.
— Não tenho mais.
Ela me furou com a ponta do objeto e sujou minha camiseta com um
pouco de sangue. Dei um passo à frente, mas ela me seguiu.
— Não minta.
— Eu não tenho.
Célia me furou mais fundo e em uma reação explosiva empurrei-a para
longe, fazendo-a cair no chão. O refeitório todo parou para nos olhar e os
guardas já começaram a se aproximar. Ela levantou e veio em minha direção
apontando a lâmina, eu desviei de seu corpo, mas a lâmina cortou meu braço.
Um dos guardas segurou-a e desarmou-a. O corte não tinha sido profundo,
mas meu braço estava todo ensanguentado. Hortência e Nádia me puxaram
para a cozinha e enfiaram meu braço debaixo da pia para lavá-lo. Vi que
Célia estava conversando com o guarda que a segurou e colocou uma nota de
cem reais no bolso dele. Provavelmente era para ela não ser denunciada nem
ser levada para a solitária.
— Você é idiota de revidar essa mulher? — disse Nádia.
— Eu não tive escolha. — Eu levantei a blusa para ver o furo que ela
havia me feito.
— Ela quer ver você perder a paciência. — disse Hortência.
— E ela está conseguindo, cada dia mais.
Eu desliguei a torneira e peguei um guardanapo de papel para secar
meu braço. Voltei para a cela sem almoçar e Joana já estava ali, sentada em
nosso pano, porque não poderíamos chamar aquilo de colchão.
— O que houve com seu braço? — ela segurou meu braço depois que
sentei ao seu lado.
— Célia me cortou.
— Eu não gosto dessa mulher. — Ela deitou a cabeça em meu ombro.
— Ninguém gosta.
Na manhã seguinte, Maitê veio me ver.
— O que aconteceu bebê? — ela segurou meu braço.
— O de sempre, represália. — sentei na cadeira — Nunca te perguntei
isso, mas por que você me chama de bebê?
Ela se sentou na outra cadeira.
— O dia que você chegou no meu escritório pedindo ajuda para se
afastar e se separar de Katherine, você chorava tanto que eu não consegui
pensar em te chamar de outro jeito.
— Se você tivesse se negado a me ajudar, eu não sei o que seria da
minha vida.
Ela apenas segurou minha mão e ficamos quietas por alguns instantes.
— Você não gosta do apelido?
— Gosto, mas não sabia o porquê dele.
— Você ama a Ágatha?
— Se eu disser que sim, isso me ajuda em alguma coisa?
— Eu quero a verdade.
— Eu amo a Ágatha e faria qualquer coisa para vê-la feliz.
— Fico feliz que tenha tentado se abrir para o amor novamente.
— Eu só me ferro fazendo isso.
— Ainda estamos atrás do Hélio e do Samuel, mas não tenho nenhuma
novidade.
Ficamos nos olhando por um tempo.
— E a Cíntia? Como vocês estão?
— Bem.
Eu ri.
— Não me convenceu.
— Estamos tendo dias tumultuados.
— Sente falta de ser domme?
— Você me entende tão bem, bebê. — Ela disse chateada.
— Eu disse que esse negócio de ser baunilha não estava no seu sangue.
— Eu disse brava.
— Eu amo a Cíntia.
— E ela? Ama você ou ama seu dinheiro?
— Ela tem muito mais dinheiro do que eu.
— Hoje, sim, há quatro anos atrás, não.
— Não faça insinuações.
— Infelizmente é o que vejo quando olho para vocês.
Ela me olhou chateada.
Os guardas anunciaram o fim da visita.
— Preciso voltar à minha cela, super confortável e cheirosa.
Ela me olhou enquanto era algemada e me mandou um beijo de longe.
Quase três dias depois da visita, os guardas me entregaram o que Maitê
havia me mandado. Eu e Joana escondemos atrás do vaso sanitário e havia
um envelope junto com as coisas. Abri e vi uma barra de chocolate. Sentei
junto com Joana, Nádia e Hortência em um canto da cela e dei um pedaço de
chocolate cada. Guardei o resto. Nunca imaginei que o gosto do chocolate
seria tão apreciado por mim. Não mordi, esperei ele derreter em minha boca e
as três fizeram o mesmo, agora era somente nós quatro a outra mulher havia
sido julgada e condenada.
Aquele pedaço de chocolate me lembrou imediatamente de Ágatha,
quase tudo me fazia pensar nela, mas o chocolate me fez mais. Nós duas
estávamos almoçando em meu apartamento, era um sábado. Ela tinha
cozinhado e eu tinha preparado brigadeiro. No meio da tarde, ela havia
lambuzado meu ventre com o doce, ela lambia o brigadeiro e me beijava com
gosto de chocolate na boca. Depois desse dia eu nunca mais consegui comer
chocolate sem pensar nela.
Capítulo 18
Um ano atrás
Na terça e na quarta daquela semana, não nos falamos muito na
empresa, não tive tempo para lhe dar atenção, mas a noite me ligou e
conversamos amenidades tirando todo o peso do meu dia com risadas e
piadinhas bobas.
Quinta-feira teríamos um almoço juntas e eu estava com dor de cabeça,
mas não queria cancelar o encontro. Nos encontramos no restaurante e ela me
olhou curiosa quando sentei ao seu lado.
— Está tudo bem?
— Minha cabeça está me matando hoje.
Ela tirou uma cartela de remédio da bolsa e me estendeu uma drágea,
pediu um copo de suco de laranja e me segurou a mão.
— Você não se alimenta direito pela manhã, não é?
— Não tenho fome pela manhã.
— Mas precisa comer. — Eu sorri pela preocupação.
O garçom serviu o suco e eu tomei o remédio. Dei uma olhada no
cardápio e escolhi um prato, ela fez o mesmo e fez nosso pedido ao garçom.
Estávamos em uma mesa reservada, bem escondida no fim do restaurante.
Ágatha me fez olhá-la e aproximou seu rosto do meu, encostei minha testa na
dela e nossas bocas se tocaram devagar. Um beijo calmo e saudosista nos fez
esquecer que estávamos em público.
— Estava com saudade da sua boca. — Ela me sussurrou.
Eu sorri e beijei-lhe o rosto.
Nosso almoço não demorou para ser servido e eu percebi que ela ficou
incomodada de uma hora para outra. Olhei pelo ambiente e vi a mesma garota
das fotos entrando no restaurante. As duas se olharam e fingiram não se
conhecer.
— Algum problema? — Segurei-lhe a mão por baixo da mesa.
— Nenhum. — Ela respondeu ríspida.
Eu continuei comendo e ela olhava para a garota com raiva.
— Comer com raiva dá indigestão.
Ela me olhou e continuou comendo. Ágatha só se acalmou quando a
garota saiu do restaurante. Eu queria muito saber qual a relação das duas, mas
tínhamos combinado de não falar de nossas vidas além do necessário. Eu pedi
um pedaço de bolo de chocolate e ela um pedaço de bolo de prestígio. Ela
pediu a conta e quando o garçom trouxe, ela me olhou meio perdida.
— Você ainda está com o meu cartão, não está?
— Sim. Queria poder pagar com o meu dinheiro. — Ela olhava o valor
da conta — Mas não posso.
Eu segurei sua mão e fiz com que me olhasse.
— Eu vou pedir um cartão adicional para você…
— O que? Não! Eu não vou aceitar isso.
— Você ainda não ouviu os termos para poder usar o cartão.
— Você e seus termos... — Ela riu — mas não posso aceitar.
— Eu vou pedir mesmo assim.
— Ok! Não vou discutir. Quais são seus termos?
— Sua lista de frequência no cursinho.
— Estou estudando por conta, não faço cursinho.
— Então vai escolher um para te ajudar a passar no vestibular.
— Ane, eu não tenho muito tempo livre para frequentar aulas,
geralmente eu estudo de madrugada.
— Então, eu vou aplicar provas de vestibulares antigos para ver se você
está estudando direito.
— A gente vai brincar de professora e aluna, é? Gostei disso.
Eu ri da insinuação dela.
— Garota, você só pensa em sexo?
— Quando eu estou com você? Sim!
— E quando não está?
— Também! Fico imaginando nós duas naquele quarto…
Eu ri.
— Eu estou falando sério sobre o cartão e o vestibular. Quero ver você
realizando seu sonho.
— Por que quer me dar um cartão de crédito?
— Eu sei o quanto você ganha e tenho certeza que não é o suficiente
para pagar tudo o que você gostaria de ter. É apenas um presente, use se
quiser.
— Você pode estar dando asas a uma mulher sem controle e que vai
torrar seu dinheiro.
— Eu estou te dando um voto de confiança com este cartão.
— Então é um teste?
— É um presente que tem que ser usado com sabedoria. Se você souber
usar vai poder usar sempre.
— Vou ter um limite para usar? Vou poder usar com qualquer coisa?
— Eu vou te dar um limite e você pode gastar com qualquer coisa, só
não se esqueça que a fatura vai vir para mim, então vou saber com o que
gastou.
— Justo.
— Você está se sentindo preparada para o vestibular?
— Para esse ano? Não. — Me olhou chateada.
— Em quinze dias quero que você faça uma prova para podermos ver
onde precisamos melhorar seus estudos.
— Por que esse interesse em minha educação?
— Porque você é inteligente e tem capacidade de estudar e trabalhar
com o que realmente te motiva.
— Você gosta do seu trabalho?
— Sim.
— Por que não fez nada com os estudos de linguagem de programação?
— Eu faço jogos de computador e celular como hobby, mas trabalhar
com tecnologia e informática nunca foi minha intenção.
— Você quer ser minha cobaia quando eu estiver inventando os pratos
para meu restaurante?
— Claro! Se não tiver um cardápio vegetariano e vegano não vou
deixar você abrir o restaurante.
— Você já está pensando muito lá na frente.
— Um cardápio perfeito não é elaborado de um dia para o outro.
Ela me sorriu e concordou me beijando suavemente.
— Precisamos ir.
Ela me beijou novamente.
— O tempo passa muito rápido ao seu lado. — Ela me sussurrou —
Posso ir para sua casa hoje?
— Amanhã teremos mais tempo, hoje tenho treino e a senhorita vai
começar a estudar para o teste que iremos fazer daqui quinze dias.
— Você é má. — Ela me sorriu.
— Amanhã, você vai para minha casa direto da empresa, comigo, no
mesmo táxi e vai poder fazer o que quiser com meu corpo. — Beijei-a
delicadamente.
— Nunca desejei tanto uma sexta-feira à noite. — Ela me beijou com
desejo.
— Você vai preparar nossa janta, nada de pedir em restaurantes. Já
pensa no que precisará para fazer a receita e me avise.
— Essa noite está cada vez melhor.
Eu sorri e me levantei. Beijei-lhe a testa, ela segurou minha mão me
puxando de volta.
— Não é assim que uma boa menina se despede. — Ela me sorriu e eu
lhe depositei um longo selinho nos lábios e saí do restaurante em direção à
empresa.
No fim da tarde, ela entrou em minha sala para deixar uma pasta com
documentos do departamento de compras e me fez olhá-la, pois eu estava
concentrada em vários cálculos.
— Mandei a lista do que precisarei no seu e-mail. Não vai embora
tarde, te ligo antes de dormir. — Me deu um selinho e saiu da sala.
Eu quase não percebi o furacão Ágatha passando e voltei aos meus
cálculos.
No elevador, verifiquei o e-mail que ela havia mandado. Talvez faltasse
apenas um ingrediente, mas eu precisava verificar em casa. Quando saí do
elevador, a mesma mulher das fotos e do restaurante me encarou, como se eu
estivesse fazendo algo muito errado e ela repudiasse o que tinha visto no
restaurante. Alguma coisa aconteceu entre Ágatha e essa garota, não fazia
sentido as publicações e o jeito que me encarava.
Em casa, treinei com Bento por uma hora e meia e quando ele saiu,
verifiquei os ingredientes que faltavam. Creme de leite e leite de vaca.
Mandei uma mensagem para Ágatha: “Sua receita vai leite de vaca e creme
de leite, duas coisas que eu não consumo normalmente. Pode ser leite de soja
e creme de leite vegano?”
Ela respondeu: “Não sei, nunca fiz com esse tipo de produto, mas
vamos testar, se não der certo a gente pede uma pizza.” Mandou emoticons
rindo. Eu respondi com emoticons rindo também, afinal, seria apenas um
teste. Fui ao mercado perto de casa e comprei os dois ingredientes, leite
condensado de soja e mais algumas coisas que estavam faltando em casa.
Voltei e mandei uma foto do leite condensado ao lado do chocolate em pó,
mas não visualizou.
Quando estava deitada, quase dormindo ela me ligou.
— Essa foto é uma sugestão de sobremesa? — ela riu.
— Sim.
Ela riu.
— Liguei só para desejar boa noite, preciso voltar a estudar, se não, não
ganho limites no cartão de crédito.
— Você não deveria fazer isso pensando apenas no limite do cartão. —
Eu falei sonolenta.
— Foi só uma piadinha para te irritar. É bom saber que vou ter alguém
para me ajudar a estudar.
— Ainda bem que estou com muito sono para ficar irritada...
Ela riu alto.
— Boa noite, Ane!
— Boa noite, Ágatha!
Na sexta-feira, antes de sair fiz o brigadeiro para a sobremesa da noite e
tive que desmarcar nosso almoço, Hélio quis uma reunião com um novo
fornecedor de peças de informática e tive que aceitar o almoço com eles. No
fim da tarde, eu estava em pé pegando minha carteira e meu celular na gaveta
para, enfim, ir para casa. Ágatha bateu na porta e entrou depois de trancá-la.
Ela se aproximou devagar e com o olhar que eu já reconhecia de longe, iria
me pedir alguma coisa. Ela segurava sua bolsa e eu olhei-a curiosa.
— Eu posso te pedir uma coisa?
— Se eu puder dizer não.
— Eu gostaria que dissesse sim, pensei nisso o dia todo e não almoçar
com você me deixou com pensamentos criativos.
Apenas olhei-a. Ela abriu a bolsa, pegou um saquinho preto e tirou um
plug anal metálico de dentro.
— É novo, nunca foi usado. E está esterilizado. Quero que você use até
chegarmos no seu apartamento.
— E depois que chegarmos lá?
— Vou te dar banho depois de você me assistir tomar banho.
Eu abri o botão da minha calça e ela me olhou surpresa. Aproximei-me
dela e fiquei de costas, desci minha calça até o joelho, olhei-a de lado e
estendi meu corpo até a mesa empinando minha bunda para trás. Ela
ajoelhou-se atrás de mim e afastou minha calcinha mordendo minha nádega
direita. Vi ela remexendo na bolsa e pegando um sachê de lubrificante.
Lambuzou meu ânus e o plug, antes de enfiá-lo, apertou minha bunda e
afastou minhas nádegas. Senti a ponta forçando minha entrada. Seus gestos
eram lentos e meticulosos. Eu empurrei meu corpo para trás, mas ela não
deixou o plug ser penetrado.
— Não faça isso. — Ela me deu um tapa na bunda.
Voltou a introduzi-lo devagar e eu abafei minha boca com meu ombro,
pois eu iria soltar um gemido a qualquer momento. A parte mais grossa do
plug estava passando pela minha entrada quando ela parou e meu corpo
correspondeu com excitação. Enfiou-o e eu respirei fundo para não falar um
palavrão. Eu continuei na mesma posição, voltou minha calcinha no lugar,
porém deixou o elástico sob o clítoris e o pano me excitou mais ainda. Ela
subiu minha calça e fez com que eu ficasse ereta e olhando-a de frente.
Minha respiração estava lenta e ela me olhou preocupada. Fechou o zíper e o
botão da calça.
— Quer tirar? Está tudo bem?
— Estou bem, apenas extremamente excitada. Posso ficar com sua
calcinha no bolso?
Ela me sorriu, tirou a calcinha, colocou em meu bolso e depositou um
beijo em meus lábios. Estendeu a mão e me pediu meu celular e minha
carteira. Dei a volta na mesa sentindo o plug se acomodar em meu corpo,
peguei os objetos e entreguei a ela.
— Você é oficialmente minha até a hora que eu quiser?
— Sim, senhora.
Ela me beijou com desejo e saímos da sala. Eu achei que me adaptaria
fácil ao plug em meu corpo, mas ele insistia em me lembrar que estava ali.
No elevador, ela me olhou tentando entender minhas sensações. Do elevador
até o táxi que ela tinha pedido, eu quase tive um orgasmo. Sentei no banco do
passageiro, atrás do motorista e ela sentou ao meu lado, no meio, segurando
minha mão. A cada balançar do carro eu precisava me segurar. Ágatha pediu
para o motorista ligar o rádio. Quando faltavam apenas alguns minutos para
chegar em casa, ela abriu o zíper da minha calça e roçou o dedo em meu
clítoris. Apertei seu pulso para que parasse com o gesto, ela apenas sorriu e
tirou a mão de dentro da minha calça. Descemos e no elevador ela apertou
para parar em um andar antes do meu.
Saiu do elevador e me puxou junto, até a porta das escadarias.
Entramos e ela me puxou para um beijo urgente e delicioso. Sua mão invadiu
minha calcinha e constatou o quanto eu estava excitada, ela me beijava
lascivamente e sua mão me provocava. Meu corpo queria seu contato, mas
quando percebeu meu êxtase ela se afastou e subiu as escadas correndo.
Ignorei as sensações do plug se movimentando conforme eu corria escada
acima e alcancei-a agarrando-a por trás.
— Você é má.
Ela me sorriu e entramos no apartamento. Tiramos os sapatos.
— Tire a roupa, aqui no começo da casa, não precisará delas.
Obedeci e me despi devagar, enquanto ela também ficava nua.
Pegou uma almofada e puxou-me para o banheiro, ligou o chuveiro me
mandando ajoelhar no tapete. Ágatha estava tão excitada quanto eu e tentava
não transparecer. Ela se molhou e lavou suas partes íntimas enquanto eu a
olhava querendo tocá-la. Em um momento de distração, levantei e entrei no
box agarrando-a por trás. Minha mão se apossou de sua buceta e ela abriu as
pernas para me recepcionar.
— Goza para mim, eu sei que você quer. — Eu sussurrei em seu
ouvido e seu corpo se contorceu com o toque em seu clítoris.
Agarrei-a com força e masturbei-a com vigor. Senti sua mão em minha
buceta. E nosso êxtase não demorou a acontecer. Deixamos a água escorrer
pelos nossos corpos, eu ainda estava agarrada a ela. Não era a melhor
posição, mas tirei o plug do meu ânus, não queria soltá-la. Coloquei o objeto
na saboneteira e beijei o seu pescoço. Era uma sensação maravilhosa estar
grudada a ela. Comecei a ensaboá-la devagar e ela se virou de frente
buscando minha boca em um beijo lascivo e cheio de significados. Entre
beijos e passadas de mão tomamos nosso primeiro banho juntas.
— Você é perfeita, obrigada por aceitar usar o plug. — Ela me beijou
desligando o chuveiro.
— Eu quem agradeço as novas sensações proporcionadas. — Lhe sorri
e saímos do box. Enxuguei-a e depois me enxuguei.
— Tenho mais coisas para essa noite.
— Imaginei que isso seria só o começo. — Lhe sorri.
Ela me puxou até a sala e sentou no sofá, pedindo para eu ficar em pé.
— Vou explicar o que vou fazer contigo e você escolherá entre
algumas opções que vou te dar.
— Sim, senhora.
— Você vai sentar de costas para mim e descer o tronco até o chão
deixando seu cu e sua buceta bem expostos para mim. Já fez isso?
— Não, senhora.
— É uma posição desconfortável, então não vou te amarrar. O peso do
seu corpo estará em seus braços, igual quando você faz prancha na academia.
Gostaria muito que você ficasse amordaçada, mas como é uma posição que
exige força e respiração, não vou te forçar a nada.
— Posso soltar a mordaça no meio da cena se eu precisar, já que estarei
com os braços livres?
— Sim, pode.
— Então eu aceito a mordaça. Você vai me bater?
— Sim, palmadas com a mão. Vá até o seu quarto, escolha a mordaça,
um vibrador e uma cinta peniana e prenda o cabelo em um coque.
Eu me afastei dela e fui até o quarto, abri o guarda-roupa e peguei uma
mordaça roliça e os outros objetos junto com um lubrificante e camisinhas.
Fui até o banheiro que tomamos banho e amarrei o cabelo em um coque.
Olhei o plug na saboneteira, peguei-o, lavei e voltei para a sala com tudo.
Ajoelhei-me e coloquei os brinquedos ao seu lado em cima do sofá. Ela me
sorriu e se levantou para vestir a cinta. Ela era linda com a cinta. Voltou a
sentar e bateu em suas pernas. O que eu tinha que fazer era sentar de costas
para ela e dobrar os joelhos ao lado das pernas dela.
— Conforme você vai descer o tronco para frente, você vai vir para trás
e vai encaixando as pernas ao lado do meu corpo. — Eu estava um pouco
ofegante de excitação — Não fique ansiosa. — Passou a mão pelas minhas
costas para me acalmar — Quanto mais calma estiver, menos desconforto
sentirá. Qualquer desconforto é só levantar o tronco que eu te ajudo a sair da
posição.
Ela massageou minhas costas por longos minutos até eu me acalmar.
Avisou que colocaria a mordaça e esperou mais alguns minutos para me fazer
descer o tronco até o chão. Ágatha massageava minhas pernas que estavam
dobradas ao lado do seu corpo e passava a mão pelas minhas costas. Passou
lubrificante em meu ânus e me penetrou o plug rapidamente, me dando um
tapa em seguida. Meu corpo se retorceu, mas o peso nas mãos me fez voltar à
posição inicial. Exposta e tendo que me segurar para não cair de suas pernas
senti outro tapa. Senti mais dois tapas. E minha buceta estava encharcada pela
posição e pela ardência nas nádegas. Mais dois tapas e ela ligou o vibrador e
eu queria falar um monte de palavrão, mas não podia. Aproximou o vibrador
do meu clítoris, ele mal tocava meu corpo, mas eu sentia uma excitação
enorme me preencher. Encostou o vibrador e me bateu. Minha buceta pedia
por atenção, mas ela tirou o vibrador e me bateu. Encostou o vibrador
novamente e meu corpo tentou fugir do seu, senti suas pernas travarem meu
corpo e o vibrador aumentar a rotação. Os tapas, o plug, a vibração e os meus
braços começando a ficar cansados me deram um gozo anormal e
estremecido. Eu tremia por inteira. Ela tirou o plug, desligou o vibrador e
esperou minha respiração se acalmar.
— Eu vou subir seu corpo e enquanto faço isso, vou penetrar sua
bucetinha bem devagar. Relaxa o corpo e confia em mim.
Eu tirei a mordaça, não confiei que ela não iria me machucar ou me
derrubar. Mas seus braços me puxavam devagar e eu sentia o pênis deslizar
para dentro do meu corpo sem dor, só prazer. Meus braços estavam
amolecidos e tremiam pelo esforço. Ela me abraçou por trás beijando minhas
costas, deixando meu corpo se acostumar com tudo. Abraçada a mim sentia
que ela me subia e descia no pênis de borracha, devagar, quase que parando,
meu corpo se aninhava nela e pedia por mais. Minha excitação aumentou
quando alcançou meu clítoris com o vibrador. Meu corpo tremia buscando
mais prazer e eu gozei em seus braços gemendo de prazer e alucinação. Ela
me deitou no sofá, tirou a mordaça que estava no pescoço e logo me abraçou
por trás. Eu estava ofegante e meus braços ainda tremiam. Sentia beijos pelo
ombro e pelas costas, meu corpo estava exausto. Sua mão massageava meus
braços e meu cérebro parecia estar desligado. Virei-me de frente para ela e
puxei-a para um beijo. Deitei-a no sofá e beijei seu colo, chupei seus seios e
desci beijando e mordendo sua carne até encontrar sua buceta sedenta por
minha língua. Chupei-a arrancando-lhe gemidos altos e seu gozo foi
escandaloso, delicioso de escutar. Olhou-me e me chamou para deitar com
ela, me entreguei ao seu cafuné e ao cansaço.
Acordei assustada, horas depois. Ela não estava mais deitada comigo e
lembrei que havia sonhado que ela tinha caído em um precipício. Levantei
correndo e fui até a cozinha, lá estava ela, cozinhando de lingerie.
Aproximei-me devagar e quando me viu me sorriu.
— Está com fome?
— Sim.
— Vá colocar um roupão.
Eu me aproximei dela e puxei-a para um beijo delicado. Sorriu-me e fui
buscar um roupão.
Quando voltei, sentei na banqueta observando-a.
— Vi que fez brigadeiro. — Ela me olhou maliciosamente.
Eu apenas sorri e continuei observando-a.
— Você sempre apaga depois de uma cena?
— Estou destreinada e ficando velha.
Ela me serviu um copo de suco e me olhou sorrindo enquanto se
aproximava de mim.
— Você não está velha e não me parece destreinada. — Beijou meu
rosto — É fofo ver você pegando no sono depois de uma cena.
— Como eu te disse, quando faço uma cena, gosto de me entregar de
corpo e alma, deve ser por isso que me sinto cansada quando acaba.
— Você é perfeita! — me beijou.
— Se repetir isso toda vez, vou acabar acreditando. — Beijei-a com
desejo.
— É para acreditar.
Tomei o suco e ela me beijou o rosto.
— Você sempre tem momentos de carinhos com suas submissas?
— As que tinha no clube não.
— Qual clube você frequentava?
— Eu frequentava o Lado B, mas não volto mais lá. A dona do lugar é
uma louca e o sócio um desregrado.
Eu engoli em seco e ela me olhou desconfiada.
— Você conhece a Samantha? — ela perguntou — Ela é a tal da
Samantha que te deixou desmaiar?
— Sim! Eu sou sócia deles no clube.
— Você frequenta lá?
— Não! Eles estão me devendo uma nota e o lugar vai de mal a pior.
Sou investidora anônima e acho que não vou ver o retorno desse investimento
tão cedo.
— Dupla dinâmica que você teve como dominatrix, hein?
— Não posso dizer que sou uma garota de sorte. Minha vida toda foi
um desastre, até conhecer Maitê.
— Preciso conhecer essa tal de Maitê. — disse indo até o fogão para
mexer a panela.
Eu não a respondi e a observei terminando nosso jantar. Ela despejou o
que estava na panela em refratário e colocou no forno. Sentou-se na banqueta
ao meu lado e acertou o celular para tocar dali vinte minutos. Nas
notificações vi que haviam mensagens da tal Elizabeth, mas não disse nada.
— Você e Katherine se conheceram como?
— Em uma balada, eu estava trabalhando de garçonete e ela tinha ido
com algumas amigas. Katherine é uma mulher afrodescendente lindíssima e
quando ela começou a me cantar e me chamar para sair, acabei aceitando.
Achei que não ia dar em nada, mas continuamos a sair e acabamos
namorando e casando.
— Casaram no papel? Cartório e assinatura?
— Sim.
Eu peguei o celular dela sob a mesa e entrei numa das redes sociais e
busquei o nome de Katherine, abri o perfil e mostrei uma foto para ela.
— Linda mesmo. Por que você não tem redes sociais?
— Porque ela me perseguiu em todas.
— Isso é paranoico demais.
— Você não viu nada. Eu não podia postar nada que ela comentava que
estava com saudade e que eu devia voltar para ela. Eu a bloqueei em todas as
redes sociais, ela começou a usar o perfil da irmã dela. Foi bloqueado
também. Ela começou a usar de algumas amigas dela que eu tinha
adicionado. Até que chegou um momento que era mais fácil eu não ter mais
redes sociais.
Ela apenas me puxou para um abraço e me beijou. Ágatha rodou o feed
de Katherine e parou em uma publicação de poucos meses atrás e me
mostrou. Era a foto de Katherine na Escadaria Selarón com uma outra
mulher e a legenda: “O Rio continua lindo!” E alguns dias antes dessa foto,
ela tinha marcado que havia se mudado para o Rio de Janeiro. Um arrepio
estranho tomou conta do meu corpo e minha respiração demonstrou toda
minha ansiedade em saber que ela estava por perto. Ágatha me fez olhá-la e
eu tentei disfarçar que estava tensa e com vontade de chorar. Ela ficou em pé
na minha frente e me abraçou com força.
— Eu vou te proteger. — Me fez olhá-la — Qualquer tentativa de
contato dela com você, quero que me avise.
Eu não respondi e deitei minha cabeça em seu ombro, ela me envolveu
em um abraço forte e reconfortante até o celular avisar que nosso jantar
estava pronto. Ela me beijou a testa e se afastou, eu queria continuar nos seus
braços.
— Deixa eu te alimentar e depois vamos assistir um filme para
esquecermos essa louca.
— O que você cozinhou? O cheiro está bom. — Eu disse olhando-a.
Ela desligou o forno e me sorriu.
— Lasanha quatro queijos.
Ela serviu dois pratos e voltou a se sentar do meu lado. Cortou o
pedaço em vários pedaços menores e assoprou a primeira garfada. Eu peguei
o garfo da mão dela, colocando-o de volta no prato.
— Não quero que se preocupe com a Katherine.
— Já estou preocupada, eu não quero nem imaginar essa mulher perto
de você. Ane, por favor, não deixe de me avisar se ela voltar a te atormentar.
Olhei-a e ela passou a mão em meu rosto. Eu peguei o garfo e me servi
do primeiro pedaço. Com esse gesto, deixei claro que eu não queria ser
alimentada por ela, me beijou a face respeitando meu pedido silencioso.
Jantamos em silêncio e agradeci o jantar depois do segundo pedaço.
— Qual nota você dá para esse prato?
— Eu sou aficionada por queijo gorgonzola e acho que faltou colocar
um pouco mais para ele se sobressair perante os outros queijos. Mas como
isso é um gosto totalmente pessoal, dou nota sete e meio.
— Você não tem jeito de que dá uma nota dez para qualquer coisa.
— Não mesmo. — Eu ri.
— Além do gorgonzola, preciso aprimorar mais alguma coisa?
— Regular um pouco o sal, como são queijos fortes, achei que ficou
um pouco salgado.
Ela pegou o celular e anotou alguma coisa nele, olhei-a curiosa.
— Anotando os comentários da mesa julgadora. — Ela riu.
Ela pegou o brigadeiro e fomos para a sala, colocou o prato com o doce
em cima da mesa de centro e nos aconchegamos no sofá, ela deitada atrás de
mim e eu na frente. Não lembro o que ela escolheu, mas acordei sozinha na
sala e na mesa de centro vi meu celular, minha carteira e o meu cartão de
crédito ao lado. Uma sensação horrível de abandono me tomou o corpo.
Mandei uma mensagem para Maitê: “Katherine está morando no RJ.” Ela
me ligou imediatamente. Eram cinco e meia da manhã.
— Como soube disso?
— Redes sociais. — Enviei a foto dela na escadaria para Maitê.
— Ela tentou contato?
— Não. E acho que nem vai, está de mulher nova.
— Como está se sentindo?
— Com medo.
— Qualquer tentativa dela de te contactar, me avise.
— Eu não gosto da sensação ruim que essa notícia me causa.
— Calma, bebê. Ela não pode fazer nada contra você e se fizer, vai se
ver comigo.
— Eu me sinto impotente com ela por perto.
— Eu sei, mas não fique. Acalme-se!
— Vou tentar, boa noite.
— Boa noite.
Desliguei e vi que não havia nenhuma mensagem de Ágatha. Fiquei
tentada em mandar uma, mas não mandei. Levantei tomei água e acabei
voltando para o sofá, vi que ela tinha guardado o brigadeiro. Voltei para a
cozinha e com uma colher me servi do doce. Enquanto comia, andei pela casa
nervosa com o fato de não saber exatamente como agir quando Ágatha fosse
embora no meio da noite.
Capítulo 19
Dias atuais - Quarta semana
Célia me infernizou tanto durante a minha quarta semana na cadeia que
ela conseguiu fazer eu perder a paciência, soquei-a no pátio onde tomávamos
banho de sol. Ela já estava deitada no chão e eu ainda estava socando sua
cara, ninguém tentou ajudá-la. Foram inúmeros socos, só parei quando um
dos guardas viu que ela não estava mais reagindo. Resultado disso? Uma
semana na solitária. E, apesar de ser assustador, pude me exercitar sem
ninguém me interromper ou dizer que não podia fazer aquilo.
A semana que fiquei ali, naquele lugar quase inóspito, a imagem de
Katherine vinha diariamente à minha cabeça, na verdade eu pensava nela o
tempo todo. Por quê? Não sei. Eram lembranças dela me batendo e eu
implorando para que parasse alternando conosco duas rindo e aproveitando a
vida em algum lugar chique de São Paulo.
Eu tive momentos bons com Katherine, não posso negar isso. Foram
dois anos ótimos, antes dela começar a me tratar como objeto e não pessoa.
Viajamos muito juntas. Tentávamos sempre aproveitar os finais de semana
para ir até alguma praia perto da capital para eu poder matar a saudade do Rio
de Janeiro. Claro que não era a mesma beleza, mas banho de mar é bom em
qualquer lugar. Quando me mudei para São Paulo com ela, consegui uma
vaga no departamento financeiro da empresa que ela iria trabalhar e por isso
nossa convivência era próxima o dia todo. O assédio dela comigo também.
Eu não gostava que ela me atacasse no trabalho, principalmente pelo
cargo que ela exercia, era chefe do departamento de vendas e eu uma mera
analista de finanças. Suas investidas no assédio resultaram na minha
demissão. Eu assumi a culpa e disse que a perseguia pelos corredores para
que ela não se prejudicasse.
Depois dessa demissão, eu consegui outro emprego, que não me pagava
tão bem, mas pelo menos não tinha ela por perto para me assediar. No dia que
fui promovida, ela também foi e passou a ganhar o quádruplo do que eu
ganhava.
Sua insistência em fazer eu desistir do emprego era diária, dizia que eu
não precisava trabalhar, que minha função era ficar em casa e cuidar de tudo.
Eu sempre odiei trabalhos domésticos, mas sempre trabalhei fora e cuidei da
casa com dedicação, porém isso começou a não bastar.
Eu sempre fui uma garota de poucos amigos e nossa mudança para São
Paulo me afastou das poucas pessoas que eu conhecia no Rio. O primeiro
espancamento que ela me deu, foi brutal. Estávamos fazendo uma cena, como
sempre fazíamos. Eu estava amarrada de bruços na cama, amordaçada com
uma mordaça que é uma argola, fazendo minha boca ficar aberta o tempo
todo. Meu corpo era um X na cama e minha bunda já estava marcada do dia
anterior. Sempre que eu era amordaçada ela me dava um brinquedo que tem
um apito para que eu sinalizasse que queria parar, naquele dia ela não me deu
nada. Ela me bateu com um cinto de couro dobrado ao meio. Eram cintadas
com força, para doer, machucar e não tinha nenhuma conotação sexual
naquilo. Era violência e não tesão. Eu desmaiei depois de inúmeras cintadas.
Quando acordei, o céu da minha boca estava todo machucado por causa da
mordaça e minhas costas e coxa marcadas e ensanguentadas. No lençol perto
da minha boca, havia uma enorme mancha de sangue e meus lábios estavam
cortados. A dor no corpo era tanta que eu não conseguia me mexer.
Depois dessa surra, ela me fez abandonar o emprego. Eu cedi. E a sua
piora foi exponencial. Minha recuperação demorou quase quinze dias, mas
ela não me deixou recuperar por completo e já me deu outra surra. Eu pedia,
implorava para que ela pegasse leve, mas ela ria. As marcas já não davam
mais para serem escondidas e eu já não queria mais sair de casa.
Fugi quando ela me obrigou a usar um cinto de castidade por três dias e
servir seus amigos completamente nua. Peguei o primeiro ônibus para o Rio
de Janeiro e na rodoviária, pedi a lista telefônica de um bar emprestada e
procurei o nome de uma advogada. Liguei para quatro nomes, mas apenas
Maitê podia me atender no mesmo dia. Olhei o quanto tinha me sobrado de
dinheiro, meu estômago estava roncando de fome, mas o endereço que eu
tinha que ir era longe. Optei pela passagem de ônibus.
Cheguei no escritório dela, era um prédio bonito cheio de segurança e
porteiro, quase não consegui entrar devido ao meu estado. Calça velha,
camiseta amassada e suja e um tênis rasgado. Quando Maitê me viu na
recepção do seu escritório, ela ficou sem reação e me mandou entrar na sala
com cara de quem não estava entendendo a minha situação.
— Eu preciso da sua ajuda. — Eu disse manso e sentando na cadeira na
sua frente.
— Em que posso ajudar?
Eu comecei a chorar e não conseguia parar. Por minutos ela ficou
parada, sentada em sua cadeira, me vendo chorar. Eu soluçava e tentava me
acalmar, mas quanto mais eu tentava parar, mais eu chorava. Ela se
aproximou e me levantou me abraçando com força, eu gemi de dor com o
aperto e ela levantou minha camiseta. Minha costela estava roxa e minhas
costas com vergões.
— Eu vou chamar a polícia.
— Não. — Eu sussurrei — Ela está com tudo o que é meu. Todas as
roupas, todos os documentos e todo o dinheiro.
— Por isso mesmo, isso é um caso de polícia.
— Por favor, ela vai me matar se eu falar com a polícia.
Ela me fez sentar.
— Você tem para onde ir?
Eu neguei com a cabeça. Maitê me olhou e me sorriu.
— Nós vamos resolver isso tudo, bebê. Fique calma.
— Eu não tenho dinheiro para te pagar.
— Eu não quero dinheiro, quero sua segurança. Tem um hotel aqui do
lado, vou hospedar você lá e te comprar roupa e comida.
— Eu quero me separar dela e quero minhas coisas de volta.
— Faremos tudo isso, confie em mim, está bem?
— Ok.
No quarto do hotel, ela me pediu para tomar banho e quando saí ela
tinha uma roupa confortável para eu vestir. Vesti a roupa e ela me pediu para
deitar na cama e relaxar.
— O que quer comer? Pode me pedir qualquer coisa.
Ela sentou do meu lado e eu olhei-a receosa.
— Macarrão à carbonara.
Maitê me sorriu e me deu a chave do quarto. Disse que precisava
resolver mais algumas coisas no escritório e que voltaria com o macarrão em
breve. Com a adrenalina abaixando e o cansaço da fuga, eu adormeci e
acordei algumas horas depois com batidas na porta. Abri e ali estava meu
anjo com um prato de comida quente e um sorriso no rosto. Entrou, colocou a
comida em cima da mesinha e me entregou um pote de pomada.
— Passe nos seus hematomas.
Eu peguei o pote e fui até o banheiro, ergui a blusa que eu estava
usando e me olhei no espelho, eu não reconhecia meu corpo, eu não me
reconhecia naquele espelho. Vi que Maitê me olhava enquanto estava com a
blusa levantada e seu olhar de compaixão e empatia me fizeram respirar
aliviada por ter encontrado uma pessoa que poderia me ajudar. Passei a
pomada e voltei para o quarto. Maitê tinha arrumado o prato para eu comer,
me sentei na cadeira e comecei a comer.
— Quantos anos você tem?
— Hoje é meu aniversário de vinte e quatro.
— Hoje?
Apenas concordei com a cabeça e continuei a comer, eu não via um
prato de comida decente há dias.
— Quer me contar o que sua esposa fez com você?
Eu neguei com a cabeça. Ela tentou segurar meu braço e eu me afastei
instintivamente. Voltei a comer. Maitê colocou sob a mesa, um celular, um
cartão de crédito e notas de cem reais.
— Você vai ter que aprender a confiar em mim. O celular é para você
conversar comigo, não ligue para sua esposa, não diga onde está. O dinheiro
e o cartão são para você comer e se vestir até eu reaver todas as suas coisas.
— Obrigada. — Eu olhei-a e ela me sorriu.
— Nós vamos vencer sua esposa e você vai voltar a ser feliz, é uma
promessa de aniversário.
Ela estendeu a mão e mesmo receosa eu segurei-a. Eu tive que confiar
nela e ela me saiu melhor do que qualquer outro advogado caro e cheio de
pompa. Desde este dia, Maitê cuida de mim e eu cuido dela.
Sigo na solitária até segunda ordem, minha cabeça está alienada com o
passado, principalmente com o passado recente que tive com Ágatha. Eu
queria que ela estivesse viva. Mas infelizmente acordar e ver que ainda estou
neste pesadelo me lembra que ela morreu e eu não pude me despedir ou
protegê-la.
Capítulo 20
Nove meses atrás
Eu não deveria exigir nada de Ágatha, o trato era esse, certo? E ela não
exigiria de mim. Porém temos um impasse em todo esse envolvimento de um
mês. No dia em que descobrimos que Katherine está morando no Rio de
Janeiro de novo, ela foi embora sem se despedir. Quando acordei fiquei meio
sem saber o que fazer. Pensei: “Mandar mensagem ou não mandar?” Antes
de mandar, verifique suas redes sociais. E descobri que ela não tinha ido para
casa. Ágatha tinha ido para o samba com a garota que trabalha na recepção
do prédio da empresa. Descobri que a moça se chama Elizabeth, a mesma das
mensagens. Aquela história me remoeu o fim de semana todo, mas deixei
quieto. Ela me mandou mensagem no sábado à tarde, como se fosse normal a
atitude dela ter saído da minha casa e ido para o samba.
Naquela semana não conseguimos almoçar juntas e eu, apesar de sentir
sua falta, me senti um pouco aliviada por poder almoçar sozinha com meus
pensamentos. Além disso, todo dia quando saía para ir embora, via Elizabeth
em seu posto e minhocas começavam a procriar em minha cabeça. Durante a
semana toda tratei-a com um pouco de grosseria, típico de quando estou
acuada e sem confiança na pessoa que está comigo. Eu percebi que ela estava
tentando entender meu comportamento, conversando coisas aleatórias, se
convidando para ir para minha casa e me ligando antes de dormir. Mas nada
disso amenizou o fato dela ter saído do calor do meu corpo e se jogado em
uma roda de samba. Nada.
Sexta-feira ela foi em casa, mas deveria ter cancelado aquele encontro,
eu não estava a fim de sexo, de cena, de nada. Ela chegou com algumas
sacolas, me depositou um beijo e foi direto para a cozinha guardar o que
havia comprado. Eu fiquei parada no meio da sala e ela voltou ficando parada
na minha frente.
— Eu vi que você teve uma péssima semana na empresa, relevei suas
respostas secas e atravessadas, mas não é só o trabalho que está te
atormentando é?
Olhei-a e não respondi. Puxou-me para sentarmos no sofá.
— Você falou tanto em confiança e agora está se fechando novamente.
O que eu fiz de errado essa semana? O que fez você se afastar?
— Ágatha, é melhor nos afastarmos de vez.
— Ao menos me fala o que fiz de errado.
— Eu não estou pronta para ter um relacionamento com outra pessoa.
— Nós passamos a semana passada como se fôssemos namoradas há
meses e agora você vem com essa de que não está preparada?
— Eu não estou pronta para outro relacionamento tumultuado.
— Tumultuado? — Ela perguntou brava.
— Sim. — Eu me levantei.
— Defina relacionamento tumultuado.
— Do jeito que fala parece que não se lembra mais do que fez sexta-
feira.
— O que eu fiz? Eu te machuquei? — Se aproximou de mim.
Eu comecei a rir pela encenação que ela estava fazendo.
— Você saiu da minha casa com cheiro de buceta na cara, foi para o
samba e vem ser dissimulada comigo? — Fui até a porta e abri — Sai da
minha casa.
— Elizabeth é minha melhor amiga, você não tem a sua?
— Eu não te abandono no meio da madrugada para ir pro samba se
esfregar com ela. Eu não posto inúmeras foto ao lado dela e deixo ela por
como legenda: “Eternamente juntas!”
— Você está entendendo tudo errado.
— Estou? Então explica! — Fechei a porta.
— Ela está passando por uma fase difícil, só estou tentando ajudar.
— Fase difícil e vai para o samba todo fim de semana? Quando eu
passei por um momento ruim na minha vida, eu não tinha forças para sair da
cama. — Olhei-a chateada — Ágatha, melhor parar tudo por aqui. Você já
sabe o caminho da rua, passar bem.
Eu fui para o meu quarto e me tranquei lá até ter certeza que ela tinha
ido embora. Pela câmera de segurança eu vi que ela voltou a sentar no sofá.
Esperou por um tempo, mas como não saí do quarto ela foi embora. Os
sentimentos que eu tinha ao ver o nome Elizabeth eram ruins e eu não queria
passar por uma mulher ciumenta, apesar de estar sendo.
Eu deitei na cama e fiquei olhando o teto, remoendo o fato dela ter
saído do calor do meu corpo para o meio de uma roda de samba.
Durante o fim de semana, concentrei minhas energias nos jogos que
estava desenvolvendo e não vi o fim de semana passar. Eu bloqueei seus
números e no fim do domingo descobri que ela estava na companhia de
Elizabeth o tempo todo. Se eu era apenas diversão, o parque estava fechado.
Ser fria e não demonstrar o que estou sentindo ou pensando é uma das
minhas especialidades. Até o meio da semana nossa relação foi silenciosa,
cheia de olhares rancorosos e esbarradas nos corredores. No fim daquela
quarta, ela entrou na minha sala e trancou a porta.
— Nós podemos conversar? — Ela ainda estava longe da mesa.
— É algo relacionado a trabalho?
— Não.
— Então pode ir embora que seu expediente já acabou.
— Ane, por favor. Eu não tenho nada com Elizabeth e não quero ter.
Eu errei em sair da sua casa e ir encontrá-la, mas ela disse que estava tendo
uma crise de ansiedade, eu só fui ajudá-la.
Eu não respondi e voltei a fazer o que estava fazendo. Ela se
aproximou.
— Me desculpa, eu devia ter avisado, ou melhor, não devia ter ido.
— Se ela estava com crise de ansiedade, por quê nestas fotos ela parece
não ter problema nenhum? — Abri as fotos que Elizabeth tinha postado junto
com Ágatha e sozinha.
— Quando eu cheguei no bar ela já estava melhor, uma outra amiga
havia ajudado ela.
Eu desliguei meu computador, peguei minha carteira e meu celular e
fui em direção da porta.
— Anelise!
Ela correu e ficou entre mim e a porta.
— Não quero usar da força bruta para te tirar do meu caminho.
— Perdoe meu equívoco, não farei mais isso.
— Sabe quem fazia isso? Fazia merda e depois se desculpava?
Pelo olhar chateado que me deu não precisei responder que suas
atitudes me lembravam Katherine e ela saiu da minha frente.
Naquele mesmo dia, após o treino de boxe deitei no tatame e fiquei
olhando o teto, imaginando o que ela estaria fazendo. Eu estava reagindo mal
a tudo isso ou realmente deveria reagir dessa forma? Não queria me entregar
de primeira, de uma vez, mas o que realmente me impedia de tê-la, mesmo
ela tendo outras? Posse? Nunca fui uma pessoa possessiva ou fui e nunca
havia me deparado com uma situação que me expusesse dessa forma?
Ciúme? Antes eu tinha medo dela querer tomar conta da minha vida e agora
quero que ela tome conta de mim. Como Ágatha conseguiu, em tão pouco
tempo, me deixar tão confusa?
Levantei do tatame e indo em direção à cozinha mandei uma mensagem
para Maitê: “Preciso de colo.” Demorou alguns minutos para responder.
“Estou em Niterói, o que houve?” Olhei para o aparelho desapontada.
“Esqueci que de quarta você dorme na casa da Cintia. Não é nada grave,
dorme bem.” Ela me ligou.
— Diga! O que houve?
— Nada, não, Mazinha, vá cuidar da sua mulher. Foi uma carência
momentânea.
— Você não costuma ser carente.
— Vai dormir aí?
— Na verdade, estou parada no trânsito da ponte, voltando para o Rio.
Nós brigamos, estou voltando para casa.
— Brigaram, por quê?
— Muitas coisas, bebê, muitas coisas.
— Quer um drink?
— Pelo andar da carruagem, vou demorar muito para passar a ponte.
— Estarei aqui, se mudar de ideia.
— Se eu for, nós vamos acabar fazendo besteira, não vamos?
— Sim, vamos!
— Aviso quando sair da ponte.
— Estarei esperando.
Desligamos e ela me avisou que tinha saído da ponte quase uma hora e
meia depois. A campainha tocou depois de vinte minutos. Ela entrou e eu a
recepcionei com um copo de whisky. Tomou um gole e me puxou para perto
de seu corpo me beijando devagar com sentimento de culpa pelo ato. Beijei-a
com desejo e Maitê me ergueu do chão passando minhas pernas por seu
corpo. Nossas bocas não se desgrudaram até o quarto onde eu guardava meu
arsenal do sexo. Fizemos a cena como ela quis, mas eu não senti nem metade
do desejo que eu sinto quando estou com Ágatha. O toque de Maitê em meu
corpo é mais rude e bruto. Os tapas não tinham a sutileza de Ágatha e as
chicotadas que me deu, apenas me fizeram desejar ainda mais as mãos de
Ágatha.
Acordei na minha cama com Maitê deitada atrás de mim me abraçando.
Beijei sua mão e sentei para me levantar. Peguei o celular que estava no
criado mudo para ver a hora e ainda sonolenta vi uma mensagem: “Volta!
Sinto sua falta.” Meu coração disparou quando li, fiquei sem ar e levantei da
cama sem saber o que responder. Estava prestes a responder quando percebi
que estava com o celular de Maitê em mãos e o sentimento de euforia passou
a ser de arrependimento. Era quase uma da manhã, procurei meu celular e
encontrei-o na sala. Voltei para o quarto e Maitê estava sentada encostada na
cabeceira da cama respondendo a mensagem de Cíntia, fiquei com inveja dela
ter recebido aquela mensagem. Sentei ao seu lado e meu celular não tinha
nenhuma mensagem.
— Onde sua cabeça estava hoje?
— Longe.
— Não devíamos ter feito isso.
— Não. — Encostei minha cabeça em seu ombro.
— Pelo menos passou a carência?
— Não. Só piorou.
Ela beijou minha testa deitou-se e eu me aninhei em seus braços.
— Por que relacionamentos tendem a ser complicados? — eu sussurrei.
— Acho que, na maioria das vezes, somos nós quem complicamos
tudo. O amor é simples, ou você gosta ou não gosta, mas nós, seres humanos,
tendemos a querer entender o amor. O amor não é para ser entendido, apenas
sentido.
Ela me apertou contra seu corpo e voltamos a dormir.
Pela manhã, ela preparou um café e se despediu com um abraço
apertado.
— Desculpe pela noite de ontem. — Eu disse.
— Para mim, você foi perfeita. — Me deu um selinho se despedindo
novamente.
Aquela frase me fez lembrar de Ágatha imediatamente e quando fiquei
sozinha, verifiquei suas redes sociais e não vi nenhuma atualização. Eu tinha
instalado um programa no computador dela para rodar a webcam sempre que
ela ligasse o notebook. Além de ligar a webcam, ele também gravava os
vídeos em um gerenciador de arquivos on-line. Acessei os vídeos da semana
e em todos ela aparecia estudando. No vídeo de ontem à noite, Elizabeth
apareceu em seu quarto convidando-a para sair, mas ela recusou. “Obrigada,
mas vou estudar mais um pouco e dormir cedo. Aproveitem!”
Vi seu histórico de navegação na internet e ela só tinha acessado o e-
mail pessoal e um site de estudos para vestibular. Eu deixei o vídeo rodar em
velocidade normal, os outros eu havia acelerado. Ela estava com o cabelo em
um coque sendo segurado por um lápis e uma regata preta. Parecia estar
estudando matemática, pois estava com um caderno ao lado do livro, escrevia
e apagava a todo momento. Sua concentração se dispersou após meia hora.
Pegou o celular e vi que digitou algo e colocou o celular sob a mesa. “Você
não vai fazer isso, Ágatha.” Ela disse sussurrando e se levantou sumindo da
frente da câmera, quando voltou a aparecer, estava com outra roupa. Abaixou
a tampa do notebook e o vídeo foi interrompido.
Na manhã seguinte, a hora que o elevador se abriu, vi Samuel perto de
sua mesa, os dois riam de algum comentário e eu me aproximei e desejei bom
dia aos dois indo para minha sala. Foi o primeiro bom dia que dei a ela
durante a semana. Samuel entrou me acompanhando, conversamos
rapidamente e quando saiu, fechou a porta de forma errada e ela se abriu
novamente. Ágatha me olhou de sua mesa com intensidade e eu retribui o
olhar. Sentei e deixei a porta aberta e ela não se manifestou em fechar. Passei
a manhã tentando disfarçar minha fascinação por ela, mas naquele momento,
naquela tentativa de tirar o olhar dela, percebi o quanto a queria.
Almocei em um restaurante qualquer, perto da empresa e quando
voltei, ela estava na recepção do prédio conversando com Elizabeth. Quando
me viu parou de falar e acompanhou meus passos com o olhar até o elevador.
No fim da tarde, eu estava pronta para ir embora quando ela entrou para
deixar documentos sob a minha mesa. Ela se aproximou devagar e nos
encaramos por segundos demorados.
— Quando vamos conversar decentemente?
— Eu não tenho o que conversar com você.
— Me dá uma chance para mostrar que eu não tenho nada com a
Elizabeth.
— Eu aprendi da pior forma que dar chances nunca é bom e nunca é o
suficiente.
— Eu não sou a Katherine!
— E eu não sou idiota, essa garota gosta de você e finge que vocês são
um casal e só você não vê.
— Ela é apenas uma amiga.
— Ágatha, vou pedir sua transferência de setor na segunda-feira, eu
não quero mais te ver.
— Não faça isso, por favor.
Ela pegou o celular e me mostrou a foto de tela do celular dela, era uma
foto nossa no Pão de Açúcar.
— Isso não prova nada, você pode ter posto antes de entrar na sala.
— Eu estou apaixonada por você! Seus olhos, sua boca e seu corpo me
dizem uma coisa e você me diz outra. Eu fiz merda de sair do seu sofá e ir de
encontro com a Elizabeth? Fiz! Confesso que saí do seu sofá quase chorando
por escutar o chamado dela. Eu queria ter acordado ao seu lado, feito seu
café, mas eu nunca sei como reagir…
— Não jogue a culpa em mim. Sexta-feira eu disse que seria
oficialmente sua até a hora que você quisesse, não disse?
— Sim!
— Então! Por que sair de mansinho e se enfiar num samba com a sua
melhor amiga se eu estava ali sendo sua, como você pediu, como você quis,
por quê, Ágatha? Eu fiz tudo o que me pediu, garota.
Ela ficou quieta.
— O gato comeu sua língua?
— Eu já me expliquei.
— Achei sua explicação fraca e totalmente infantil. Eu sei o que é ter
crises de ansiedade e a Elizabeth não estaria sorridente e feliz depois de uma
crise no meio de uma multidão.
Ela me deu o celular para eu ler a conversa das duas. E realmente
Elizabeth disse sobre a crise de ansiedade, mas eu devolvi o celular e saí da
sala sem falar nada. Ela me seguiu e entrou no elevador comigo.
— Quer que eu apague as fotos?
— Apagar fotos não apagará seu erro.
— Você é uma mulher muito difícil de lidar.
Eu apertei o botão para o elevador parar.
— Eu confiei em você. Eu me abri pra você. Contei coisas dolorosas
para receber isso como respostas? Você não passa de uma garota mimada e
inconsequente.
— O que eu preciso fazer para mudar essa visão que você tem de mim?
Apertei o botão para o elevador continuar.
— Se afaste de mim, Ágatha. Será melhor para nós duas.
O elevador parou e quando abriu, quem eu vejo parada na porta do
prédio? Elizabeth! Ela veio toda contente para conversar com Ágatha e eu
aproveitei o momento e saí do prédio quase que correndo, andei rápido por
várias quadras e quando me senti longe o suficiente pedi um táxi. Eu não sei
o que faria para remover o vírus Ágatha do meu disco rígido, mas eu
precisava começar a reagir a essa invasão.
Capítulo 21
Dias atuais - Quinta semana
Consegui sobreviver à solitária, só não sabia se conseguiria sobreviver
aqui fora. Depois de tudo o que Maitê fez por mim para me afastar de
Katherine, ela me ensinou a me safar de amarras simples que muitas vezes
são usadas no BDSM. Maitê insistia nesse treino, pois acreditava que me
daria segurança para voltar a praticar o bondage, uma técnica que me dava
prazer antes de Katherine se tornar abusiva.
Durante os primeiros dias fora da solitária, eu me lembrei de todas as
vezes que Maitê me ajudou a superar um trauma. Estar amarrada durante uma
cena nos deixa à mercê da pessoa dominante e isso pode ou não ser
prazeroso. Ela era cuidadosa em todas as propostas que me fazia. Mas antes
desse trabalho com meus traumas começarem ela conversou muito comigo,
me disse que o leque dentro do BDSM é imenso e eu não precisava gostar de
tudo, mas precisava saber do que eu gostava.
Com paciência, cuidado e carinho ela me mostrava que o que Katherine
fez comigo não era aceito dentro do BDSM e me ensinou a repensar em todos
os traumas que eu tinha. Ela me treinar para eu me safar das amarras e
algemas em caso de emergência ou abuso foi primordial para eu voltar a me
sentir excitada quando me amarrassem em uma cena.
Após uma semana na solitária, sua cabeça fica um pouco contaminada
com a vontade de se isolar e não falar com o mundo. Joana me fazia
perguntas constantemente e eu não respondia. Queria ficar quieta pensando
no meu passado, assim não precisaria pensar no presente. Maitê soube que eu
estava na solitária e que meu colchão tinha sido destruído e me mandou um
novo. As presas me viam como privilegiada e elas não estavam erradas em
pensar aquilo. Era um privilégio ter amigas fiéis, mesmo sabendo que Maitê
duvida da minha inocência, ela está tentando. Eu ficava deitada no colchão o
dia todo e quando Joana me fazia perguntas eu a puxava para se deitar
comigo. A minha mente já não queria diferenciar a verdade da realidade que
eu criei na minha cabeça. Joana, nestes momentos, era Ágatha e eu me
agarrava a ela como se fosse verdade, eu queria que fosse verdade. Eu queria
sua presença.
Os ensinamentos que Maitê me deu sobre fuga de cordas e algemas foi
mais útil em uma cadeia do que em uma cena de BDSM. No fim da quinta
semana, eu estava saindo da cela para ir até o refeitório, eram seis da manhã e
uma das capangas de Célia me sequestrou. Ela me puxou até um porão onde
tinham vários arquivos jogados e prateleiras cheias de caixa. Deveria ser
algum depósito de arquivo esquecido pelo mundo, mas como ela podia entrar
ali? Não sei.
A capanga dela me sentou em uma cadeira, meu corpo não queria lutar,
naquele momento eu desejava me encontrar com Ágatha. Fui amarrada com
os braços para trás e minhas pernas nos pés da cadeira.
— Fiquei sabendo que ganhou outro colchão. Quem te protege tanto?
Eu fiquei quieta, seu rosto ainda estava marcado por causa dos meus
socos. Célia rasgou minha camiseta com um canivete, fez um corte bem no
meio e expôs meu corpo para ela.
— Eu também quero um colchão novo.
A capanga rasgou um pedaço da camiseta e me fez abrir a boca, como
não abri, me deu um tapa forte na cara. Tentou enfiar o pano novamente, mas
não deixei. Ela chutou minha canela, mas resisti. Outro tapa na cara. Eu não
ia desistir, mas ela apertou o bico do meu seio com força e só parou quando
eu abri a boca para ela colocar o pano. Amordaçou-me com um outro pedaço
de camiseta e Célia fez um corte no meu abdômen. Eu me debati na cadeira,
mas recebi um tapa na cara como resposta. Ela fez outro corte.
— Tenho um serviço para você.
Olhei-a desconfiada.
— Você será minha vendedora aqui dentro. Eu trago a droga e você
vende.
Ela me cortou mais duas vezes e eu estava com a respiração ofegante.
— Se estiver tudo bem para você, acene que sim com a cabeça.
Não me movi e ela me cortou mais uma vez. O alarme para voltarmos
para a cela foi acionado, as duas se afastaram rindo e me deixaram amarrada
e sangrando. Os guardas não fazem a contagem das presas corretamente,
apenas passam o olho pela cela e se tiver faltando alguém, eles não notam
com facilidade. É um aglomerado imenso de mulheres para ser contado.
Os cortes ardiam e os nós que me amarravam eram fortes. Meus pulsos
estavam mais ferrados do que antes, principalmente o esquerdo. As tentativas
de me soltar me faziam grunhir de dor, mas eu não desisti. Maitê sempre me
dizia que era preciso ter concentração para encontrar um ponto fácil de puxar
um dos braços. Mas concentração sentada naquela cadeira era a última coisa
que eu tinha. Senti um perfume conhecido no ar, era minha mente me
pregando uma peça, eu sabia que era. Ela estava ali na minha frente, apenas
de calcinha e sutiã, pretos e rendados. Seu beijo era doce. Sua mão me
acariciava o rosto. Queria sair dali o pano secava minha boca e minha mente
me trazia o fantasma de Ágatha para me hipnotizar. Ela dançava para mim e
eu comecei a me deixar levar pela imaginação. Dançava e eu até ouvia uma
música ritmada dando mais veracidade à cena. Ela me provocou fingindo que
ia tirar o sutiã e me sorria com aquele sorriso safado que só ela tinha. Um
sorriso que eu tinha tão marcado na memória que parecia real.
Olhei em volta e ela sumiu. Só havia um porão sujo e cheio de pó a
minha volta.
Meus braços doíam, mas a tentativa de me soltar continuava. Agora
quem apareceu ao meu lado não era Ágatha, era Maitê. “Concentra, Ane!”
Ela me sussurrava. “Você consegue.” Ela estava apenas de lingerie azul
marinho, seu corpo trabalhado pelo crossfit estava mais musculoso. Ágatha
apareceu ao lado dela. As duas sentaram nas minhas pernas, uma na direita
outra na esquerda. Eu respirei fundo e olhei para o teto.
Precisava sair dali, voltei a olhar os arquivos e as prateleiras, minha
mão estava cansada de tentar me desamarrar, mas em um puxão rápido
consegui livrar a mão direita. “Muito bem, Ane!” ouvi a voz de Maitê ao meu
lado. Arranquei a mordaça e tirei o pano da boca, respirando descompassada.
“Você foi perfeita!” era a voz de Ágatha.
Desamarrei minhas pernas e escutei barulho, pela risada, era Célia.
Quanto tempo fiquei ali? Fingi que ainda estava amarrada e amordaçada e
quando ela se aproximou, esperei alguma reação dela antes de me mexer.
— Agora que pensou na vida, vai fazer minhas vendas?
Eu não respondi e ela abriu o canivete para me fazer outro corte, mas
antes ela me deu outro tapa na cara. Eu me soltei e lhe dei um chute no
estômago empurrando-a para trás.
— Na cara, não, cacete!
A capanga dela veio para cima de mim, mas eu lhe dei um soco e com a
distração saí correndo dali. O porão era um acesso ao lado da cozinha e
quando saí, Hortência me viu e levou um susto com meu estado. Puxou-me
para dentro da cozinha.
— Se algum guarda te ver fora da cela, você está ferrada. O que a Célia
fez?
— Aquela mulher é louca, por mais que eu tente manter distância ela
vem me azucrinar. Ela quer que eu venda drogas para ela.
— Você não aceitou, não é?
Disse que não e mostrei minha barriga. Hortência me deu um papel
com álcool para limpar os machucados e me escondeu na cozinha até ser
seguro eu poder voltar para a cela. Quando consegui voltar, Joana me
recepcionou com um abraço.
— Eu achei que você tinha morrido.
— Deveria ter morrido, mas estou viva. — disse brava.
Eu ainda vestia a camiseta rasgada já que não tinha outra. Deitei no
colchão e Joana deitou comigo depois de passar a mão pelos cortes.
— Está doendo?
— Um pouco.
Ela sentou, beijou os machucados e voltou a se deitar comigo.
— Já já sara.
— Obrigada.
Abracei-a contra meu corpo e vi Nádia sorrindo para nós. Desejei que
Ágatha ou Maitê estivessem ali, ou ambas. Precisava das duas, mas não tinha
nenhuma. Olhei Nádia e ela me olhava de forma diferente dos outros dias.
— Quer deitar aqui também? — Perguntei brincando.
— Sai fora, branquelinha.
Eu ri e meu abdômen reclamou de dor.
— Deixa de ser durona. — Joana se virou de frente para ela rindo.
Ela riu, permaneceu sentada, mas seu olhar era intenso para meu corpo
seminu. Eu e Joana tínhamos criado um esconderijo para os chocolates que
Maitê conseguia nos mandar, não era muito, mas era nossa distração em
momentos ruins. O lugar para guardá-los era uma pedra solta embaixo do
nosso colchão. Eu peguei um pedaço cada uma e logo Hortência se juntou a
nós. Pelo jeito eu fiquei amarrada naquela cadeira o dia todo, pensando em
Ágatha e Maitê, duas mulheres que me arrepiam de formas totalmente
diferentes. Enquanto o chocolate derretia em minha boca, fiquei olhando o
teto sujo e cheio de infiltração. Minha mente começou a me fazer joguinhos
novamente e o rosto de Ágatha estava perto do meu, sorrindo pronto para me
beijar. Adormeci com aquela cena, com aquela vontade de beijá-la que não
passa nunca. Fui acordada por uma boca macia me beijando, era minha mente
de novo, me enlouquecendo? Não! Era Nádia. Correspondi ao beijo, já que eu
não tinha nada a perder. Puxei-a para se deitar sobre o meu corpo e ela se
afastou me olhando séria. Segurei seu rosto e beijei-a novamente. Ela se
afastou rapidamente e Hortência entrou na cela logo depois.
— Trouxe pão para você, já que não sai de dentro dessa cela. — Ela me
esticou um pão murcho, eu aceitei e agradeci.
Ofereci metade para Nádia e ela aceitou.
— Você precisa se alimentar se quiser sobreviver a isso. — Hortência
me disse brava sentando ao lado de Nádia.
— Não quero sobreviver.
— Vira essa boca para lá, branquela. — disse Nádia.
Eu apenas dei de ombros e deitei pensando em todas as merdas que
estavam acontecendo comigo.
Capítulo 22
Nove meses atrás
Eu queria transferir Ágatha de setor, mas só de imaginar meu dia sem
ela por perto, me senti perdida. Pedi para ela se afastar de mim, mas eu não
queria isso de verdade, porém ainda estava magoada com a atitude dela ter
ido ao samba.
No sábado pela manhã, Maitê me ligou.
— Preciso de um favor seu. — Ela disse constrangida.
— Pode pedir.
— Eu preciso vender meu carro.
— Por quê? O que houve?
— Eu preciso de dinheiro rápido.
— Posso te emprestar sem você precisar vender o carro.
— Legalmente preciso te vender o carro.
— Eu não estou te entendendo, em que merda você se meteu?
— Eu estou devendo dinheiro para um agiota.
— Eu já disse para você organizar sua vida financeira direito e parar
com esses empréstimos idiotas.
— Sim, falou.
— Traga os documentos da venda do carro que eu assino a compra.
Mas nós duas vamos sentar e organizar suas finanças e isso vai ser hoje. Você
não precisa de empréstimos para viver. Sua renda é boa para ter que fazer
isso.
— Ok, bebê, faremos isso. Quer almoçar comigo?
— E a Cíntia?
— Estou dando um gelo nela.
— O que ela fez?
— No almoço conversamos.
Concordei e me despedi.
No restaurante, quando cheguei ela já estava sentada com um copo de
whisky e um de Martini sob a mesa. Ela me recebeu com um abraço e um
selinho.
— O que a Cíntia fez?
— Ela surtou com alguns detalhes do casamento e eu fiquei brava
porque ela já excedeu nosso orçamento em mais de dez mil reais.
— Cíntia tem gostos caros, você a tirou da asa dos pais bilionários,
queria o que?
— Os pais dela não estão ajudando e o que ela ganha não cobre quase
nada dos gastos que ela quer ter. Eu vou ficar louca com essa mulher.
— Eu te disse que ela era muita areia para seu caminhão. Vocês deviam
fazer um teste antes de assinarem papéis e darem festa. Você não nasceu para
um relacionamento baunilha. Quantas vezes nós já traímos a Cíntia? Quantas
vezes você já foi a clubes para satisfazer suas vontades de dominatrix?
— Não fala assim, Anelise. Eu gosto da Cíntia. Nós já a traímos
inúmeras vezes, mas isso não quer dizer que não posso viver em um
relacionamento baunilha.
— Maitê, pelo amor de Deus, pare de se enganar. Vocês estão juntas há
quase cinco anos e nós duas sabemos quantas vezes você teve que buscar
satisfação fora do relacionamento de vocês. Nós sabemos quantas vezes você
me procurou para se satisfazer sexualmente.
Ela encostou na cadeira tomando um longo gole de whisky.
— Eu não quero te ver infeliz pelo resto da vida. — Eu disse bebendo
um gole do meu Martini. — Você é a pessoa mais importante da minha vida,
aliás, a única. Não posso te ver presa desse jeito sem falar nada.
Maitê pegou uma pasta em sua bolsa e me fez ler o contrato de venda
do carro. Assinei e fiz a transferência do dinheiro para sua conta. Peguei seu
celular e entrei em sua conta bancária para ver suas finanças. Encontrei uma
bagunça enorme. Contas pessoais misturadas com as da empresa.
— A partir de hoje, sou sua contadora pessoal e não vou deixar Cíntia
exceder nos gastos do casamento. — No aplicativo do banco cancelei todos
os cartões que Cíntia tinha — Ela vai chorar, mas você não vai ceder, pois se
ceder, o caos estará enorme antes mesmo de vocês se casarem. Se ela quiser
aumentar os gastos, vai ter que aumentar a renda dela. Estamos entendidas?
Se você me pedir dinheiro para pagar agiota novamente, vou ter que negar o
pedido.
Além de cancelar os cartões, separei as duas contas.
— Ok, bebê. Faça como achar melhor.
O celular dela começou a tocar e era Cíntia.
— Seja firme, sabe a dominatrix que você colocou no armário? Faça
ela sair e pôr ordem na casa, porque a Cíntia vai te esfolar se continuar sendo
frouxa desse jeito.
— Chata!
Ela pegou o telefone e atendeu. Enquanto falou com Cíntia, me olhou
brava e eu apenas ri da cena delas duas brigando. Quando terminou desligou
o celular e riu.
— Gostou da sensação de mandar na Cíntia, não é?
— Você é uma garota muito esperta. — Ela aproximou o rosto do meu
e eu beijei-a suavemente — Vamos levar o almoço para a minha casa? Quero
usar seu corpinho e agradecer pelo que fez hoje.
Eu ri e aceitei o convite. Nós duas sempre tivemos uma ligação muito
boa, dentro e fora de um quarto, mas nunca consegui vê-la além de uma
amizade forte e positiva. Acredito que ela também me veja assim, afinal
nunca me falou nada sobre termos um relacionamento diferente da amizade.
No fim, não fomos para a casa dela, fomos para a minha, ela queria fazer
coisas que na casa dela não dariam certo. Eu sinto que o relacionamento dela
com a Cíntia a deixa mais nervosa do que feliz, mas não adianta nada eu falar
com ela.
Cíntia é filha única de bilionários cariocas e os pais não aprovam muito
o relacionamento dela com Maitê. A garota sempre teve tudo o que quis e
trabalhar não é seu forte, atualmente ela é diretora de marketing na empresa
dos pais, mas já mudou de emprego infinitas vezes. Eu não gosto das duas
juntas, mas eu vou apoiar Maitê sempre que precisar.
Após a cena, eu estava dolorida, meu pulso anda reclamando
novamente e Maitê me olhou preocupada. Comentei sobre a lesão e a dor que
estava sentindo e ela foi imediatamente buscar gelo para colocar na região
dolorida.
— Você não anda se cuidando, não é? Essa lesão já está crônica.
Eu apenas olhei-a enquanto cuidava do meu pulso.
— Preciso de um conselho.
— Se for amoroso, sou a pessoa errada. — Ela riu segurando o gelo no
meu pulso.
— Lembra do vídeo que te mostrei?
— No dia que jantamos com a Cíntia?
— Sim. A garota veio em casa, fizemos outras cenas interessantes, ela
fez o jantar e apagamos no sofá vendo um filme. No outro dia, acordei
sozinha e descobri que ela tinha ido para o samba.
— Abandonou você para ir sambar? — me olhou pasma.
— Sim.
— Quem em sã consciência abandonaria uma mulher como você para ir
sambar?
Eu ri e não respondi.
— Bebê, o que você sente por ela?
— Eu não sei.
— Então precisa descobrir.
— Eu só penso nela e ter feito estas duas cenas com você só me deixou
com mais vontade de revê-la.
— Então coloque as cartas na mesa, diga como se sentiu e...
— Eu tenho medo de me envolver novamente.
— Tente e se precisar estarei aqui.
Eu me sentei e abracei-a agradecendo.
O telefone dela começou a tocar na sala, correu para atender, demorou
alguns minutos e voltou até o quarto. Parou na porta.
— Cíntia me pediu desculpas e quer passar o resto do fim de semana
comigo para conversarmos melhor.
— Vai lá, Mazinha. Espero que vocês se acertem.
Ela veio até mim e se ajoelhou para me beijar os lábios.
— Obrigada por tudo e cuide desse pulso. — Ela beijou minha mão e
saiu do quarto.
Deitei no tatame e senti remorso por ter feito uma cena com Maitê
novamente. Meu corpo pedia por outra pessoa. Levantei do chão e fui tomar
um banho. Antes de sentar na cama para ler, vi que minhas nádegas estavam
avermelhadas pelo uso do rattan de três varas, passei uma pomada e coloquei
uma munhequeira com tala para imobilizar meu pulso. Vesti uma camisola
preta e fui até a cozinha comer alguma coisa e no meu celular havia uma
mensagem de um número desconhecido. “Você é uma garota difícil de ser
encontrada. K.” Fiquei paralisada olhando o aparelho. Era Katherine. Minha
respiração estava alterada e eu me sentia engasgada com alguma coisa.
Minhas mãos tremiam e o ar faltava constantemente. Respirei fundo tentando
reaver o ar, mas o sufocamento só aumentava. A agitação que eu sentia
demorou longos minutos para passar. Não queria ligar para Maitê, mas tive
que ligar. O medo estava tomando conta da minha mente.
— Já está com saudade?
— Katherine. — Eu falei tremendo
— O que tem ela? Ela está aí?
— Me mandou mensagem.
— Mude agora de número, está me entendendo?
— Eu… eu... não consigo me mover.
— Eu estou indo para aí.
Ela desligou o telefone e eu literalmente me sentia presa naquela
banqueta, minha mente gosta de me enganar quando estou nervosa. Minhas
pernas pareciam amarradas à cadeira. Eu me sentia cada vez mais engasgada,
precisava sair dali, mas não conseguia. Era uma prisão imaginária, uma
tortura invisível. Meus músculos faciais estavam enrijecidos, o maxilar
travado e eu tremia com o coração acelerado. Por quanto tempo fiquei assim?
Não sei, só saí de todo esse transe quando Maitê me abraçou e me fez olhá-la.
Cíntia estava ao seu lado.
— Trouxemos um chip novo para seu celular. — disse Cíntia com
expressão de preocupada.
Maitê me abraçou novamente.
— Eu não quero viver esse pesadelo de novo. — Sussurrei.
— Não vamos deixar. — disse Maitê me abraçando forte e beijando
meu rosto.
— Quer passar o fim de semana conosco? — perguntou Cíntia me
abraçando também.
— Não quero atrapalhar, prefiro ficar em casa.
— Você não deveria ficar sozinha. — disse Cíntia.
— Aqui é seguro. — Eu disse.
Meu celular começou a tocar assustando-nos, era Ágatha. Meu coração
saltou de ansiedade e medo para felicidade de um segundo para outro.
— Atenda. — Maitê disse enfática.
Obedeci e as duas saíram da cozinha.
— Oi. — Minha voz estava rouca.
Demorou alguns segundos para responder.
— Oi.
— Oi. — Ainda estava rouca.
— Não esperava que atendesse. Tudo bem?
— Não.
— O que houve?
— K… Ka… the…
— O que ela fez? Onde você está? Eu estou indo para sua casa.
— Descobriu o número do meu celular.
— Você está na sua casa? Posso ir até aí? Não quero te deixar sozinha.
— Pode.
Desligamos e fui até a sala, as duas estavam abraçadas no sofá. Deitei
na perna de Cíntia e ela subiu minha camisola vendo minha bunda marcada
pelas chicoteadas de Maitê.
— O que você fez nessa bundinha linda? — ela me fez olhá-la.
— Uma sessão de spank. — sentei no sofá olhando-as.
— Como gosta do seu corpo marcado desse jeito?
— As marcas são consequências do prazer que eu sinto durante a cena.
— Me afastei delas.
Ela olhou Maitê.
— Você devia tentar qualquer dia desses. — Eu disse séria.
— Está louca?
Maitê me olhou como quem está condenada a uma prisão e eu olhei
Cíntia com firmeza.
— Não deveria falar em loucuras sem experimentar.
Não queria causar mais discórdia, então parei de falar.
— Não precisam se preocupar comigo, vou receber uma visita.
Maitê me sorriu e as duas se despediram.
— Troque o número do celular e me avise se ela aparecer. — Maitê
disse antes de sair.
— Ok. — Abracei-a e ela beijou meu rosto demoradamente.
Deitei no sofá e me acalmei ouvindo uma música instrumental.
Mais de meia hora depois a campainha tocou. Atendi e deixei a porta
aberta, logo ela entrou fechando-a atrás de si. Ela tirou os sapatos ao lado da
porta e depositou a bolsa no aparador.
— Você está bem? Ela tentou mais algum contato? Vim o mais rápido
possível.
Aproximou-se de mim e eu não deixei que falasse ou fizesse algo,
beijei-a e puxei seu corpo para mim. O gosto recente de menta tornou o beijo
lascivo e intenso. Eu queria seu corpo e precisava esquecer de Katherine.
Passei suas pernas pelo meu corpo e andei com ela colada em mim até o meu
quarto principal, deitei-a na cama e ela me olhava intensamente. Tirei a
camisola ficando apenas de calcinha. Voltei a beijá-la, enquanto tirava sua
saia e sua blusa. Nossas bocas se beijavam mais, meu corpo acendia como
uma brasa encoberta e as mãos dela me percorriam com desejo. Tirei seu
sutiã e chupei seus seios com vigor. Algo naquele corpo me hipnotizava e
seduzia. Puxei sua calcinha e lambi seu ventre enquanto abria sua perna.
Passei a mão por sua buceta para senti-la molhada. Passei a ponta da língua
em seu clítoris, bem devagar e seu corpo reagiu com tesão àquele ato. Repeti
e seu ventre demonstrava sua respiração falha. Intensifiquei o contato e
aumentei as lambidas, ouvir seu gemido novamente foi delicioso e um
incentivo para chupá-la mais. Minha boca estava com saudade daquele corpo,
minhas mãos arranhavam suas coxas e seu gozo queria afastar seu corpo de
mim, não deixei. Lambidas certeiras arrancaram mais um espasmo corporal e
enquanto ela se recuperava eu beijava sua coxa, seu ventre, suas costelas.
Beijei-a com desejo e ela me correspondeu. Virou-me de encontro ao
colchão, arrancou minha calcinha com agressividade e abriu minhas pernas.
Eu imaginei que ela iria me bater, mas ela ficou me olhando, percorria com
olhos cada detalhe do meu corpo. Beijou a parte interna da minha coxa, meu
ventre e me mordeu levemente a lateral do corpo. Caiu de boca na minha
buceta. Sua língua me percorria e eu percebi o quanto o meu corpo estava
com saudade dos toques dela, como um computador que não sabe mais
sobreviver sem o vírus que invadiu seu disco rígido. Minha respiração
alterada e meus gemidos denunciavam um gozo e ela parou de me chupar.
Ela me beijou lascivamente e nossas bucetas se encontraram sedentas por um
toque mais carnal. Beijou-me mais e seu corpo dominou o meu em
movimentos rápidos e prazerosos, meu gozo foi escandaloso e meu corpo
vibrou por inteiro. Ela deitou ao lado do meu corpo apoiando-se no braço
direito. Eu estava deitada de barriga para cima com minha mão esquerda sob
meu ventre.
— Essa semana eu vou marcar um ortopedista para esse pulso. — Ela
pousou a mão sobre a minha e eu apenas olhei-a — Você estava certa sobre
Elizabeth. Ela não teve nenhuma crise de ansiedade, descobri isso hoje pela
manhã.
— Eu só quero ser avisada se você estiver com outra pessoa. A
Elizabeth me causou estranhas sensações quando vi as fotos dela ao seu lado
e quando vi o seu comportamento no restaurante quando ela chegou.
Ela me fez carinho no rosto.
— Eu fiz com que Elizabeth ocultasse todas as fotos que ela tem
comigo nas redes sociais. E eu fiz o mesmo com as que tenho nas minhas
redes sociais.
— Não precisava fazer isso, mas obrigada por fazer.
— Esses dias sem você só me fizeram ver o quanto eu fui idiota em ter
saído da sua casa de madrugada sem falar nada.
— Eu quis me afastar, mas eu não consigo te tirar da minha cabeça. —
Passei a mão em seu rosto.
Ela me beijou com delicadeza e eu me virei de frente para ela, seu olhar
percorreu meu corpo percebendo que haviam marcas por ele.
— Você — ela me olhou chateada — fez uma cena com alguém?
— Sim.
Ela se sentou na cama e fez com que eu deitasse de bruços na cama. Ela
estava nitidamente chateada com o que via. Fiz com que ela me olhasse.
— Eu não acredito que deixou outra pessoa bater em você... tocar você
dessa forma... — passou a mão de leve sobre a marca em minha nádega me
fazendo contraí-la.
Ela estava chorando, me sentei e abracei-a.
— Não fique assim, passei a cena todo pensando em você.
Ela me olhou e se levantou da cama.
— Vai embora? — Perguntei chateada — Nós acabamos de nos
acertar…
— Você não devia ter feito isso.
Ela me olhou chateada e saiu do quarto. Fui atrás dela e abracei-a.
— Ágatha! — Eu a virei para mim.
— Você deixou outra pessoa bater em você e nós ficamos separadas
por apenas duas semanas.
Eu olhei-a brava.
— E você levantou da minha cama e foi para o samba com uma garota
que é apaixonada por você. E nós não tínhamos brigado e não estávamos
separadas. Naquela noite eu me entreguei a você, disse que seria sua até
quando quisesse e você fez o que com isso? Jogou fora, como se não se
importasse.
— Eu já me desculpei por isso, disse que errei, assumo que fui uma
idiota em fazer isso.
— Eu tenho ciúme de você com ela, ok?
— Você podia ter beijado e ter feito sexo com outra pessoa, mas você
deixou alguém invadir meu espaço com você, marcou você como se você
fosse dela.
— Eu disse que seria sua por quanto tempo quisesse e você foi embora,
sem ao menos se despedir. Por quê? Você me provocou a semana toda e
quando me teve à sua disposição mostrou que se cansa facilmente de mim. —
Fiz ela me olhar — Eu teria passado o fim de semana todo com você e se
quisesse podia ter pedido para ficar na segunda, na terça…
— Eu errei em ter saído da sua casa naquela noite, me desculpe.
— E eu não devia ter feito uma cena com outra pessoa.
— Por que fez isso?
— Eu precisava tirar a dominância que você tem em meu corpo.
— Tirou?
— Isso só fez com que meu corpo pedisse por você.
Ela me beijou fazendo eu olhá-la.
— Se você soubesse o que causa em mim, não seria tão insegura. —
Passou a mão em meu rosto.
— O que eu causo em você?
— Você já se sentiu excitada por ver alguém sair do elevador?
— Não. — Eu ri.
— Meu dia já começa assim. Você saindo toda elegante de dentro do
elevador, com as mãos no bolso, serena e tranquila, me fazendo pensar mil
coisas erradas.
Eu ri.
— Eu não quero mais ver seu corpo marcado por ter feito cena com
outra pessoa.
— Eu não quero mais você perto da Elizabeth.
Ela me beijou
— Eu prometo que vou me afastar dela. Eu quero te entender, quero
fazer as coisas do seu jeito, quero você e mais ninguém. Quero que confie em
mim cegamente. — Ela me beijou com desejo — Agora vamos fazer algumas
coisas erradas, pois já fiquei muito tempo longe de você. — Me beijou rindo.
Acordei às quatro da manhã agarrada ao corpo dela, dormíamos de
conchinha, eu atrás abraçando-a com medo que fugisse novamente. Beijei-lhe
o ombro e levantei devagar, não queria acordá-la. Usei o banheiro e fui até a
sala procurar pelo meu celular. Sentei no sofá para trocar o número do celular
e vi mais uma mensagem do mesmo número. “Você não precisava ter saído
da minha vida do jeito que saiu. Precisamos conversar. K.” Havia também
uma foto com a legenda: “Para você lembrar o quanto éramos felizes.”
Ríamos na foto, era de uma viagem que tínhamos feito para o litoral norte
paulista, não recordo o nome da praia, mas foi uma das nossas primeiras
viagens depois da mudança para São Paulo. A mesma sensação de engasgo
começou a tomar conta de mim. Mandei um print da conversa para Maitê e
desliguei o celular. Troquei o chip com as mãos tremendo, liguei o aparelho e
cadastrei as informações necessárias para a mudança de número sem avisar
todos os contatos. Mandei mensagem para Maitê: “Novo número e minha
tranquilidade já era.” Coloquei o celular na mesa de centro e o de Ágatha
recebeu uma mensagem: “Larga ela e vem pro samba com a gente.” O
remetente não preciso dizer que era Elizabeth. A sensação de sufocamento
voltou e levantei indo para o quarto onde treino boxe, abri a janela balcão que
dava para uma mini varanda e tirei a proteção que estava usando no pulso e
passei a bandagem. Soquei o saco de pancadas como se estivesse vendo o
rosto de Katherine na minha frente, ela não podia voltar para a minha vida
daquele jeito.
Capítulo 23
Dias atuais - Sexta semana
Eu perdi as esperanças. Tudo o que Maitê vem investigando não está
nos levando a lugar nenhum, apenas a ver que o sumiço de Ágatha está
diretamente ligado a mim. E perder as esperanças é a única coisa que faz
sentido em tudo o que estou vivendo atualmente.
Eu contei que Joana sempre está comigo na cela, pois eu estava
negando os sinais de Nádia. Não queria falar sobre isso, não me sinto pronta
para deixar o luto por Ágatha, mas a solidão nestas seis semanas é dominante.
Por mais que tente me concentrar em achar algum motivo para eu ser a
culpada de coisas que não fiz, eu não vejo mais brechas. Se achasse um
motivo, talvez encontraria uma falha nesse plano.
Você já tentou ficar seis semanas sem fazer nada? Sem ler, sem ouvir
música, sem ver televisão, sem poder andar mais do que dois metros durante
o dia todo? Sua cabeça definha, seu cérebro fica lento, a reação à vida fica
pausada. É como se o mundo vivesse e você não, você apenas está ali, mas já
não sabe mais o que fazer para não enlouquecer.
Quando penso que posso ficar aqui por dez, vinte ou trinta anos é
perturbador. Não é à toa que as mulheres daqui gostam de arrumar encrenca,
vide Célia que está aqui há seis anos. Ela se acha a rainha da prisão, mas na
verdade acho que ela é a única que ainda não entregou os pontos. Que
procura algo para fazer, mesmo que esse algo seja infernizar as outras presas.
Nádia está esperando o julgamento do seu caso há quase um ano. Eu
não quero esperar tudo isso para ser julgada, não é justo.
Eu percebi o primeiro olhar diferente de Nádia para mim quando
estávamos na hora do banho e ela estava no chuveiro ao meu lado. Seu olhar
era invasivo. No banho eu sempre tentava não olhar para os lados, pois
quando eu olhava dava a estranha sensação de estar invadindo a privacidade
da pessoa. Isso é outro artigo de luxo aqui dentro, privacidade. Depois deste
dia, sempre que conseguia ela usava o chuveiro ao meu lado.
Um dia estávamos sentadas na cela, logo nos primeiros dias que eu
estava aqui, ela ao meu lado e Joana distraída com suas conversas consigo
mesma.
— A garota que você matou era sua namorada?
— Não exatamente.
— Como assim?
— Tínhamos um lance diferente do namoro.
— Amizade colorida?
— Não. Ela era minha dominatrix.
— O que é isso?
— Nós duas gostamos de algumas coisas na cama que envolvem
bondage, disciplina, dominação, submissão, sadomasoquismo… Nossa
relação era mais sexual do que outra coisa.
— Mas você gostava dela?
— Sim. Eu não admitia isso, mas gostava.
— O que uma dominatrix faz?
— A dominatrix é uma mulher que assume o papel de dominadora em
uma relação BDSM.
— E você?
— Eu era submissa.
— Ela batia e você apanhava? — ela riu
— Assim você está simplificando muito todo o significado do BDSM,
mas para ficar fácil de entender, era isso. Ela me dominava e eu aceitava suas
vontades.
— Você tem mais postura de quem domina do que quem é dominada.
Eu ri do comentário.
— Eu já tentei ser dominatrix, mas não gostei tanto quanto ser sub.
Ela me olhou maliciosamente.
— Gostei dessa ideia de ser dominadora de alguém.
Eu ri alto e ela também.
Depois dessa conversa, ela sempre me perguntava sobre BDSM com
curiosidade e interesse. Eu estava disciplinando uma dominadora sem ter essa
intenção? Talvez.
Depois da semana que passei na solitária, percebi que Nádia estava
querendo se aproximar mais. Conversava bastante comigo e muitas vezes me
sorria sem motivos aparentes. Eu não deixei de corresponder, afinal, como
disse, estou sem esperanças de sair daqui. O beijo foi gostoso, mas eu estava
pensando em Ágatha. Seis semanas sem ideia do que vai acontecer com meu
futuro, seis semanas sem contato físico com ninguém. O beijo foi bom, mas
eu realmente queria que fosse o beijo de Ágatha e não estava nem perto de
ser parecido com o dela.
Célia continuava tentando me cercar, como ela era da ala das
condenadas, nos víamos pouco. Eu invejava a insistência dela. Em um dos
jantares, ela se aproximou e Nádia se colocou entre nós.
— Arranjou guarda-costas? — ela perguntou empurrando Nádia — Ou
essa é quem chupa sua buceta antes de dormir? — ela riu alto.
Eu larguei a bandeja que estava em minha mão e empurrei Célia com
todas as minhas forças. Ela deu alguns passos para trás e quando voltou para
perto de mim, a recebi com um cruzado de direita acertando seu nariz. Meu
alimento preferido dentro daquele lugar era a raiva, nestas últimas semanas
me alimentei apenas disso e Célia foi quem recebeu a descarga de energia
que meu corpo precisava. Foram vários socos seguidos, antes dela conseguir
se esquivar e me revidar. Eu ri do soco que levei e a capanga dela me segurou
os braços, fazendo uma chave de braço para me imobilizar. Célia se
aproximou para me bater novamente e Nádia a empurrou para longe. Com
uma cotovelada no estômago me livrei da capanga dela, puxei Nádia para
fora do refeitório e de longe vimos as duas serem contidas pelos guardas.
— Ei, vocês duas, voltem aqui. — O guarda gritou.
Segurei na mão de Nádia e saímos correndo em direção do banheiro.
Não fomos seguidas e ela me puxou para um beijo ofegante e cheio de
adrenalina. Ela me encostou na parede e me beijou de novo. Eu fiz ela me
olhar.
— Não posso fazer isso.
— Ela está morta, Anelise. Morta! Você a matou.
— Eu não matei ninguém.
Saí de perto dela e voltei para a cela. Deitei no colchão tentando não
chorar, fechei os olhos revivendo nossos últimos momentos juntas “Quero
que você seja minha sub exclusiva.” Senti que alguém pisou no colchão e
abri os olhos assustada, era Célia.
— Acabou a brincadeira, garota.
Atrás dela, Nádia estava sendo ameaçada com um canivete apontado
para o seu pescoço. Célia se ajoelhou ao meu lado.
— Não ouse gritar.
Ela amarrou meus pulsos e me virou de bruços, ela abaixou minha
calça e minha calcinha.
— Para com isso, Célia!
Nádia tentou intervir, mas eu senti a primeira chinelada acertar minha
bunda. Meu corpo tentou fugir, mas Célia colocou o joelho sobre as minhas
costas e me pressionou contra o colchão. Acertou outra chinelada, com mais
força que a primeira.
— Célia! Para! — Nádia estava tentando se soltar da mulher que a
segurava.
Consegui soltar meus pulsos, mas o peso em cima de mim aumentou.
— Onde pensa que vai? — ela acertou minha coxa.
— O que você quer? — ela me acertou de novo.
Eu me debatia tentando tirar ela de cima de mim. Senti alguém segurar
meus tornozelos com força.
— Trouxe um amigo para brincar conosco.
Eu não conseguia ver quem era, mas imaginei ser o guarda que me
vendeu o canivete. Eu não vi como, mas Nádia roubou o canivete da capanga
de Célia e conseguiu afugentar os três para fora da cela. Levantei do colchão
com raiva, vesti minha calcinha e a calça e corri atrás deles. Célia estava
contando vantagem quando os alcancei por trás e pulei nas costas dela. Passei
meu braço em seu pescoço enforcando-a. Ela me bateu contra a parede duas
vezes e eu só a soltei quando o guarda me apontou uma arma.
— Chega dessa baboseira. Você vai para a solitária.
— Filho da puta! Bandido! Você quem devia estar preso.
Ele engatilhou a arma e me mandou ajoelhar.
— Atira! — coloquei a testa na ponta do revólver — Covarde! Atira!
— eu gritava para quem quisesse escutar.
Nádia me puxou para longe dele.
— Se essa vagabunda se aproximar de mim novamente, eu juro que
atiro. — O guarda disse para Nádia.
— Para com o show, Anelise! — ela me puxou até a cela.
Não tinha nada no estômago, mas estava com ânsia. Eu gritava e Nádia
tentava me abraçar. Ela me abraçou com força até os gritos e a raiva virarem
um choro ininterrupto e dolorido. Nádia me segurou nos braços e me fez
sentar no colchão, agarrei-me em seu pescoço e não a deixei sair de perto de
mim. Ela sentou encostada na parede e me puxou para perto de seu corpo,
meu choro continuava.
— Eu não mereço estar aqui, eu não fiz nada. — Eu disse soluçando e
me afastando dela.
Nádia me puxou para perto de seu corpo novamente.
— Ninguém merece, mesmo quem fez alguma coisa.
Ficamos alguns minutos em silêncio. Devagar eu me acalmei e
continuei em seus braços.
— O que fez para estar aqui?
— Matei minha mãe.
— Ela mereceu?
— Ela me prostituía para poder se drogar.
— Então mereceu. — Eu olhei-a.
— Foi um momento de raiva, ela não merecia ter morrido.
Encostei em seu corpo novamente e ela me beijou a testa. Seus dedos
acariciavam levemente meus cabelos e percorriam minhas costas me fazendo
carinhos aleatórios. Minha mão esquerda acariciava seu pescoço.
— Não coloque mais a sua cabeça na frente do cano de um revólver,
isso não vai resolver sua raiva e sua angústia.
— Por que me salvou? — perguntei sussurrando — Podia ter deixado
ele me levar para a solitária ou me matar.
— Eu não podia arriscar, ninguém merece morrer antes de um
julgamento.
Ficamos em silêncio mais uma vez.
— Por que me beijou?
— Para você tudo precisa ter motivo?
Eu ri e o silêncio voltou por mais um tempo.
— Eu me senti excitada vendo você recebendo chineladas. — Ela me
sussurrou no ouvido me arrepiando.
— O que Célia fez foi agressão. — Olhei-a brava.
— Eu sei, mas minha imaginação ficou bem fértil depois disso.
Eu ri e voltei a encostar nela.
— Esse lugar não me deixa excitada com nada. — disse chateada — Só
penso em como acabar com esse pesadelo. Eu preferia morrer do que estar
aqui.
Hortência entrou na cela preocupada.
— Fiquei sabendo o que houve, você está bem? — ela se ajoelhou ao
meu lado.
— Sim.
Ela olhou para Nádia e eu não soube descrever sua expressão.
— Vocês estão se pegando?
— Ela quase foi estuprada queria que eu a largasse chorando sozinha?
— Você não presta, Nádia.
Hortência se levantou e saiu da cela, pois precisava terminar seu
trabalho na cozinha. Eu me afastei dela.
— Vocês tiveram alguma coisa?
— Hortência tentou...
— Quando isso aconteceu?
— É lance antigo, antes de você chegar. Nós transamos algumas vezes,
mas eu não queria me envolver com ela.
— Ótimo! Mais uma para me odiar.
— Ela não te odeia.
Nádia me puxou para perto do seu corpo novamente e tentou me beijar,
mas me afastei.
— Eu não posso ter nada com você. Não seria justo, eu ainda penso
muito na Ágatha.
— Eu sei, você resmunga o nome dela durante a noite.
Ela me beijou a testa e eu fiquei assustada com aquela revelação.
Voltou a fazer carinho no meu cabelo e eu me perdi em meus pensamentos
aleatórios sobre Ágatha.
Capítulo 24
Oito meses atrás
Ágatha me encontrou sentada no quarto onde eu estava treinando boxe
para tentar me livrar da raiva que eu sentia por Katherine voltar a me
atormentar. Meu braço esquerdo tremia e o pulso latejava. Ela sentou ao meu
lado, eu estava ofegante e suada. Meus dedos estavam vermelhos, pois não
tinha usado a luva para me proteger. Segurou minha mão e desenrolou a
bandagem devagar, ela sentia meus músculos estremecendo, minha mão
tremia, mas minha raiva ainda permanecia em mim. Tirou a bandagem da
outra mão. Ela sentou no meio das minhas pernas de frente para mim e me
puxou para um abraço, eu estava sem reação, apenas deitei minha cabeça em
seu ombro.
— Não fique assim, não vou deixar nada acontecer com você.
Trocar o número do meu celular foi uma decisão sensata, afinal não
recebi mais mensagem de Katherine. Foi um alívio, mas sempre que eu saio
em algum lugar aqui no Rio, me sinto perseguida. Sensação ruim de estar
sendo vigiada, claro que deve ser tudo paranoia da minha cabeça, mas
quando se tem uma pessoa abusiva querendo reatar contato o delírio parece
ser real.
Meu convívio com Ágatha está mais tranquilo. Ela agendou um
ortopedista para ver meu pulso, pois se dependesse de mim, eu deixaria
quieto. Era uma entorse leve e que precisaria de repouso por uma semana e
Ágatha me fez cumprir o repouso à risca. Eu passei a ignorar o fato de
Elizabeth querer atrapalhar nossos encontros, pois Ágatha passou a deixar o
número dela bloqueado durante o tempo que ficava comigo em casa ou em
algum lugar que íamos.
Nossos almoços aconteciam com dias predeterminados, mas não era
sempre que eu conseguia fugir de Samuel e Hélio. A empresa estava
começando a reagir com os planos de contenção de gastos que fiz, era o
segundo mês de um plano de quatro meses. E quando eu não conseguia fugir,
ela se fazia de emburrada só para eu me sentir mal e lhe recompensar
sexualmente.
— Você faz isso de propósito, não é? — eu perguntei rindo depois que
ela gozou em meus dedos.
— Você ainda tem dúvidas? — ela me beijou com desejo.
Estávamos na sala de reunião, ela sentada na mesa, agarrada à minha
cintura e meus dedos penetrando-a.
— Posso passar o fim de semana com você?
— Não pode.
— Deixa eu cuidar de você. Semana passada não fizemos nada por
conta do seu pulso e segunda é feriado. Você sabe que cuidarei de você, não
sabe?
Ela me beijou com desejo e apertou minha bunda com força. Eu tirei a
mão de sua calcinha e lhe sorri.
— Sei. — Chupei o meu dedo com seu gosto — Vou pensar na sua
proposta. — Lhe beijei suavemente e saí da sala.
No fim da tarde daquele dia, ela entrou na minha sala, estava
preocupada.
— Eu vou precisar levar minha mão ao médico, ela me ligou falando
que não está bem.
Dei a volta na mesa e peguei minha carteira, entreguei-lhe um cartão de
crédito com o nome dela.
— Eu ia entregar hoje à noite, mas leve e use para o que precisar.
Cadastre-o no aplicativo de táxi. Você quer que eu vá com você?
— Não precisa se preocupar, deve ser a pressão novamente ou as
náuseas que, às vezes, ela tem.
— Me mande notícias.
— Obrigada pelo cartão. — Ela me beijou a boca suavemente.
— Não hesite em usar.
— Você é perfeita! — ela me abraçou rapidamente e saiu correndo da
sala.
Em menos de dois meses, era a terceira vez que a mãe dela ia ao
hospital e isso estava começando a me preocupar. Pesquisei alguns convênios
médicos, mas como não sabia a idade exata dela, fiquei sem saber quanto
seria por mês.
Maitê me ligou naquela noite, eu tinha organizado as finanças dela de
tal forma que ela não estava mais preocupada com os gastos mensais.
— Cíntia fez as pazes com os pais e conseguiu uma promoção na
empresa, agora ela faz parte da diretoria da empresa. Ganha mais do que eu.
— Ela riu.
— Viu só como uma briga faz a pessoa pensar mais claramente sobre
as coisas.
Ela riu alto.
— Obrigada por arrumar minhas finanças, se não fosse você eu ainda
estaria achando que não tinha dinheiro para viver.
— Você sempre foi desorganizada.
— Sim, sempre, em tudo. — Ela riu — Liguei para avisar que fiz uma
transferência para você. Eu vendi o carro. Agora foi uma venda de verdade,
consegui mais do que previ e te devolvi a quantidade que me emprestou mês
passado.
— Que bom!
— Os pais da Cíntia vão bancar todos os luxos da filha no casamento,
então estou tranquila novamente.
— Isso não faz seu casamento com ela ser o ideal, mas quem sou eu
para falar alguma coisa, não é?
— Não começa, bebê. Eu sugeri dela vir morar comigo.
— Espero que o teste drive seja positivo. — Eu ri.
— Eu também. Como que a Katherine te convenceu a conhecer o
BDSM?
— Saudade de bater em uma bunda? — eu ri alto.
— Anelise, você é uma peste quando quer.
— Ela apenas me disse: “vou te algemar na cama!” E eu gostei.
Simples assim.
— Fala sério, Anelise!
— A Cíntia sabe que você curte BDSM, vai ser mais fácil conversar
com ela sobre isso. Seja honesta, é a única forma dela tentar. Eu não sabia
desse gosto que a Katherine tinha por BDSM, descobri só depois de casada.
Nós duas namoramos quatro meses e não quatro anos, vocês têm um elo de
confiança muito maior do que eu tinha com a Katherine. Você é uma ótima
professora, se a Cíntia abrir a mente para aprender, vocês serão um casal mais
feliz.
— É sempre bom falar com você, bebê. No mundo da Cíntia, às vezes,
me sinto um ser de outro planeta.
— Você tem medo de ser a verdadeira Maitê ao lado dela, isso vai te
anular cada dia mais.
— Você é muito sincera…
— Se fosse para concordar com você, tenho certeza que você teria
ligado para outra amiga e não para mim. — Eu ri.
Ela concordou e também riu. Conversamos mais um pouco e
desligamos.
Mandei uma mensagem para Ágatha: “Como está sua mãe?”
Respondeu imediatamente: “Não sei, os médicos querem deixá-la em
observação até amanhã.” Liguei para ela.
— Quer que eu vá até aí ficar com você?
— Não precisa, mesmo porque não tem onde você ficar aqui.
— Você quer que eu peça transferência para outro hospital ou um
quarto particular?
— Ane, não se preocupe. Ela deve ter comido algo que fez mal, apenas
isso.
— Ok. Qualquer coisa me liga.
Ela concordou e nos despedimos.
Tive uma noite de sono agitada pensando nas duas no hospital. Pela
manhã, me vesti e peguei um táxi até o hospital. Antes de entrar na recepção,
procurei uma padaria para lhe levar algo para comer. Comprei pão-de-queijo
e café e liguei para ela avisando que estava ali fora, pois não era hora de
visitas e não poderia entrar. Ela saiu do corredor com os olhos vermelhos e
me abraçou. Beijei-lhe o topo da cabeça e abracei-a com força.
— Trouxe café e pão-de-queijo.
Ela não respondeu e continuou abraçada a mim. Ficamos assim por
longos minutos. Senti a aproximação de alguém e quando olho para o lado
vejo Elizabeth. Ágatha não se soltou dos meus braços, mas a amiga se
aproximou e beijou-lhe o rosto demoradamente.
— Trouxe chocolate quente para você. — Elizabeth fez carinho em seu
rosto — O que os médicos disseram sobre a sua mãe?
Ela continuou quieta e eu queria tirá-la dali, lhe dar carinho e fazê-la
sorrir. Uma enfermeira chamou-a de volta ao quarto, pois o médico queria
conversar com ela. Afastou-se de mim e seguiu a enfermeira. Eu segui as
duas, mas a enfermeira não me deixou entrar no corredor. Andei para fora do
hospital e Elizabeth acabou me seguindo.
— Você é a tal da Anelise?
— E você a tal da Elizabeth?
— Ágatha fala de mim para você?
— Só os podres.
Ela me olhou brava. Ficar ao lado daquela garota estava me dando
vontade de ir embora, mas eu não ia sair dali sem saber o que estava
acontecendo. Após, quase, vinte minutos, Ágatha saiu de dentro do hospital,
Elizabeth se colocou no caminho dela para recepcioná-la, mas ela veio em
minha direção e me abraçou. Beijei-lhe a cabeça e puxei-a para sentar em um
banco. Elizabeth sentou ao nosso lado e fiz com que Ágatha tomasse o café e
comesse pelo menos um pão-de-queijo.
— Ela está com problemas sensoriais, formigamentos e redução na
sensação de tato. Ainda precisam fazer alguns testes para saber o que é.
— Você vai deixar eu transferir sua mãe de hospital ou vai teimar
comigo?
— Eu não posso deixar você fazer isso. — Ela me olhou chateada.
— Ela vai receber um diagnóstico aqui e nós vamos marcar um médico
para ver o que ele pensa sobre tudo isso.
— Não vou teimar sobre isso. Precisaremos de uma segunda opinião.
Eu lhe entreguei outro pão-de-queijo e ela comeu encostada em meu
ombro.
— Seu chocolate vai esfriar. — Elizabeth lhe entregou o copo e ela
aceitou.
— Obrigada por terem vindo.
Recebemos o diagnóstico da mãe dela, no fim da manhã. Neuropatia
periférica. Ágatha me puxou para longe de Elizabeth.
— Eu vou para a casa da minha mãe, vou passar o fim de semana com
ela.
— Qualquer coisa — fiz com que me olhasse — que precisar me ligue.
Ela vai com você? — me referi a Elizabeth com certo rancor.
— Não, minha mãe precisa descansar e eu vou aproveitar para estudar.
Ágatha me deu um selinho e foi até Elizabeth, vi que a garota ficou
brava com o que ouviu e saiu andando com raiva. Ela me acenou de longe e
eu não queria me afastar, mas chamei um táxi para ir embora.
Passei a tarde tentando programar o jogo que eu estava desenvolvendo,
mas estava difícil me concentrar. A imagem de Elizabeth beijando o rosto da
minha garota ficava se repetindo na minha cabeça. Deitei no sofá e liguei
para ela.
— Oi. — Eu disse meio sem graça.
— Oi. — Ouvi um barulho de campainha do outro lado da linha.
— E sua mãe?
— Tomou os remédios, está se sentindo melhor. Não tenho uma notícia
muito boa. — Ouvi risadas ao fundo — Minha mãe convidou Elizabeth para
vir visitá-la.
Escutei alguém chamando-a e ela falando que estava ocupada. A voz se
aproximou do telefone e tive certeza do meu ódio por Elizabeth quando disse:
“Vem eu trouxe bolo de prestígio, seu favorito.”
Ágatha respondeu: “Eu estou ocupada, depois pego um pedaço.”
A garota respondeu: “Depois que você conheceu aquela mulher, você
está cada dia mais chata!”
“Sai daqui, Elizabeth, não era para você estar aqui. Eu disse que não
era para você vir”
“Sua mãe quem me convidou!” Ouvi uma porta batendo.
Ágatha tinha parado de sair com os amigos dela todos os finais de
semana, saía de vez em quando, mas foi sua opção fazer isso. Eu disse que
não me importava desde que soubesse onde estava e que não me largasse no
meio da madrugada.
— Ane! Ainda está aí?
— Sim.
— Desculpe, eu disse para minha mãe não a chamar.
— Eu só acho as atitudes dessa sua amiga muito abusivas. Você sabe
que relacionamentos abusivos não acontecem somente entre casais, não sabe?
Amigos, familiares, também podem se tornar abusivos.
— Eu sei, Ane! Estou tentando me afastar, mas ela é insistente. Não
brigue comigo por causa dela.
— Não estou brigando, só tentando entender as atitudes da sua amiga.
— Você só precisa entender uma coisa.
— O que?
— Que eu estou com saudade de você.
Eu fiquei muda, sem saber o que responder e o silêncio permaneceu na
linha por um tempo.
— Eu preciso desligar e ver se minha mãe tomou o remédio. Ela passou
algumas horas do dia confusa, deve ser algo que deram no hospital. — Ela
disse nervosa — Ligo mais tarde para desejar boa noite.
— Está bem, comporte-se.
Por que eu não tinha respondido que também sentia sua falta? Não sei.
Gostaria de ser mais solta para falar sobre o que sinto. Um dia quem sabe…
Naquele sábado, eu jantei e dormi cedo, estava cansada pela noite mal
dormida. Não escutei sua ligação e tão pouco a ligação de um número
desconhecido que apareceu na lista de chamadas perdidas me deixando
cismada. Como tinha acordado cedo esperei para retornar à ligação de
Ágatha, apenas deixei uma mensagem antes de começar a mergulhar nos
jogos que eu estava desenvolvendo. “Bom dia! Ontem dormi e não escutei
sua ligação.” Por curiosidade, entrei em suas redes sociais e vi que Elizabeth
tinha postado uma foto com a mãe de Ágatha e ela. “Melhores companhias
para um sábado à tarde.” era a legenda que acompanhava a foto das três.
Antes de começar a codificar o jogo, criei um perfil na rede social que as
duas mais usavam, mas parei no meio do processo me lembrando da
perseguição de Katherine. Deletei tudo o que tinha feito e deixei o celular de
lado. Não podia dar alguma brecha sobre meu sumiço virtual, ter um perfil
social era dar aberturas para Katherine me achar. Olhei a foto novamente e
percebi o quanto aquela garota conseguia me irritar sem precisar abrir a boca.
Eram quase onze da manhã quando o meu celular me assustou. Era o
mesmo número da noite passada, não atendi e a pessoa foi insistente. Anotei
o número e mandei para Maitê. Alguns minutos depois ela me mandou uma
mensagem dizendo que o número era de algum telemarketing de operadora
de celular. Respirei aliviada ao saber disso, cheguei a achar que era Katherine
novamente. Ágatha me ligou logo depois desse acontecimento.
— Sua mãe está bem?
— Sim. Acordou melhor. Você tem algum plano para hoje?
— Sim. Por quê?
— Ia me convidar para ir até a sua casa.
— Pode vir, mas não estarei aqui.
— Não teria sentido ir até aí sem poder te ver. Não sei se você já viu,
mas Elizabeth postou uma foto comigo e com minha mãe, ontem.
— Vi. Você não é parecida com sua mãe.
— Eu sou irmã gêmea do meu pai. Eu tentei impedir, mas minha mãe
ficou feliz com a visita e com a foto, acabei não confrontando Elizabeth na
frente dela. Desc…
— Você não precisa se desculpar por isso.
— Eu queria muito te ver.
— Nosso dia de se encontrar passou.
— Eu sei. — Ela estava com a voz estranha.
— O que houve?
— Eu…
— Ágatha?
— Você está distante desde ontem quando chegou no hospital e eu
estou preocupada com isso.
— Não fique.
— Por que eu tenho a estranha sensação de que você está mentindo
para mim?
— Por que eu mentiria para você? Eu já fui bem clara sobre os meus
pensamentos em relação ao comportamento da sua amiga. Ela me preocupa
porque eu vejo que você está sendo manipulada por ela. Eu entendo que
vocês são melhores amigas desde quando se mudaram para o Rio, mas
amigas sabem dos limites. Eu juro que não estou brava com você. Estou
incomodada com o fato dela estar te cercando como se você fosse algo dela.
Ela ficou em silêncio.
— O meu compromisso é até às três da tarde, quer me encontrar para
tomar um café?
— Sim.
— E repito, eu não estou brava com você, entendeu?
— Sim, Ane, me sinto menos estúpida sabendo disso.
— Você não é estúpida.
Desligamos depois de nos despedir. Eu não tinha compromisso
nenhum, apenas queria ficar sozinha em casa, mas não queria deixá-la
preocupada. Enviei o endereço de onde nos encontraríamos, uma cafeteria na
Lagoa Rodrigo de Freitas.
O dia estava quente, beirando os quarenta graus carioca que adora nos
deixar derretendo. Vesti uma roupa leve e saí de casa após pedir um táxi.
Cheguei ao local alguns minutos antes do combinado, ela já estava ali,
sentada com um vestido floral curto. As mesas eram na calçada protegidas
por ombrelones. Olhei-a de longe e sorri com a cena dela tomando um suco
enquanto mexia no celular, todas as minhas angústias sumiam quando eu
olhava para ela. Liguei para seu número.
— Vamos ter que remarcar, não vou poder te encontrar.
— Mas eu já estou aqui, podia ter avisado antes.
Andei até a mesa que ela estava.
— Desculpe, mas meu compromisso não acabou.
Ela estava de costas para mim e não me via andando até ela.
— É muita sacanagem desmarcar em cima da hora desse jeito. E que
compromisso é esse que você não pode deixar de lado? Hoje é domingo,
podíamos nos divertir juntas. Onde você está? Que horas vai terminar o que
está fazendo?
— Sinto muito, mas não vai rolar.
— Anelise! Você aparecer aqui é uma ordem!
Eu já estava atrás dela, desliguei o celular e peguei minha carteira no
bolso. Aproximei meu rosto do seu ouvido.
— Sim, senhora! — beijei seu ouvido assustando-a.
Coloquei minha carteira e o celular na mesa e ela levantou para me
xingar pelo susto que eu havia dado nela. Eu estava sorrindo pela sua reação
e ela apenas ficou parada me olhando numa mistura de braveza e alívio.
— Você está linda! — puxei-a para um abraço.
— Você me assustou de verdade. — Ela falou baixo e me olhou
sorrindo — Você acabou de me elogiar gratuitamente?
Busquei sua boca para um beijo saudosista, passou os braços pelo meu
pescoço e me beijou com desejo.
— Não me assuste mais desse jeito.
Eu apenas ri. Quando sentamos, ela viu a minha carteira e o meu
celular na sua frente e me olhou sorrindo.
— Uma prova de que não estou brava contigo.
— Eu vou dormir na sua casa.
— Como quiser.
Ela franziu a testa, pois eu não havia respondido como ela gostava e eu
apenas lhe sorri. Aproximei meu rosto do seu.
— Sim, senhora.
— Estas duas palavras são lindas na sua boca. — Ela me deu um
selinho — Já quero ir para sua casa.
— Apressadinha. — Beijei-lhe o rosto.
— Coma alguma coisa antes de irmos, você está com cara de quem não
anda se alimentando direito.
Ela olhou o cardápio e fez o pedido ao garçom. Eu estiquei minha mão
para ela segurá-la. Segurou-a e me olhou sorrindo.
— Quero que você saiba que eu sei que a Elizabeth está agindo por
conta própria e você está cortando-a como pode. Eu quase fiz um perfil social
para comentar na foto que ela publicou ontem.
— Jura? O que ia comentar.
— Que você é mi…
Fui interrompida pela chegada do garçom. Ela se levantou e sentou de
lado nas minhas pernas me beijando com desejo.
— Eu sou sua, Ane! Desde o primeiro dia que você entrou naquela
empresa. — Ela me deu um selinho e eu apertei sua coxa lhe arrepiando o
corpo.
— Essa garota desperta o pior em mim. — Arranhei-lhe a coxa.
— Lembre-se, você me deixa molhada só de sair do elevador pela
manhã. — Ela me sussurrou e eu lhe beijei com desejo.
Ágatha me sorriu e se levantou. Sentou na outra cadeira e me olhou
sorrindo. Ela tinha pedido um kibe de abóbora com recheio de provolone e
um kibe de carne com recheio de requeijão para ela. Eu olhei o prato com o
kibe e olhei-a cortando o dela. O garçom me trouxe um suco de laranja e ela
me olhou confusa por eu estar parada olhando-a. Peguei o garfo e entreguei a
ela.
— Estamos em público. — Ela disse surpresa.
— Eu sei. Você quer me alimentar?
— Sempre quero.
Cortou um pedaço do kibe e me ofereceu. Entre uma garfada e outra
percebi sorrisos discretos em seu rosto, tentava disfarçar a felicidade de estar
me alimentando. Passei a mão em sua face e ela me olhou feliz me
oferecendo o último pedaço.
— Obrigada.
Sempre que eu agradecia a ela após ser alimentada, seu sorriso sincero
era a recompensa por eu aceitar o ato. Vê-la feliz me deixava tranquila e
realizada, sabia que aquela sensação era perigosa, foi assim que me perdi com
Katherine. Coloquei-a em um pedestal e ignorei minhas próprias vontades.
— Ane? Está tudo bem?
Olhei-a dizendo que sim.
— Tem certeza? Você está preocupada com algo?
— Tenho certeza, está tudo bem. Vamos embora?
Ela segurou minha mão com delicadeza.
— Você mudou de humor e semblante repentinamente...
— Eu só tive um dejavu.
— Posso ajudar em algo?
— Não se preocupe, já passou. — Tentei beijá-la, mas afastou o rosto.
— Você precisa confiar em mim.
Eu respirei fundo e lhe encarei.
— Foi um pensamento ruim sobre meu casamento com a Katherine.
Ela tomou conta demais da minha vida.
— Eu não quero isso. Eu sou adepta ao diálogo, conte-me qualquer
coisa que esteja lhe preocupando. Quero você dedicada de corpo e alma hoje
e sempre.
— Katherine sempre ignorou minhas vontades.
— Peça o que quiser, eu também quero te entregar a melhor
experiência possível. Eu também quero me entregar de corpo e alma durante
nossas cenas e nosso convívio.
Ela me beijou com delicadeza.
— Não quero pedir nada específico, foi apenas um pensamento ruim.
— Olhei-a.
— Eu sou diferente da Katherine, não me compare a ela. Por favor,
tente me ver sem pensar no que você passou com ela.
— É difícil.
— Eu sei. Gostaria muito de apagar seu passado para vivermos em paz.
— Um passo de cada vez e aos poucos apagaremos o passado.
— Não hesite em me contar seus pensamentos ruins.
Olhei-a e beijei-lhe a face.
— Obrigada.
Ela pagou a conta e chamou um táxi. No caminho, ela sentou ao meu
lado, entrelaçou nossos dedos e deitou a cabeça em meu ombro.
Permanecemos em nossos pensamentos individuais durante o trajeto todo.
Descemos de mãos dadas e andamos devagar até o elevador. Esperamos a
chegada após acioná-lo pelo botão. Entramos e me abraçou por trás beijando
minha nuca. Apertou um botão três andares antes do meu.
— Me espere nua, ajoelhada e algemada com as mãos para frente no
meio do quarto.
O elevador parou e ela saiu depois de apertar o número do andar do
meu apartamento. Obedeci às suas ordens e após alguns minutos ouvi a porta
da sala sendo aberta e fechada logo em seguida. Ela entrou no quarto descalça
e se aproximou parando na minha frente. Ajoelhou-se e vi que segurava uma
caneta hidrográfica preta na mão direita, colocou-a ao lado da chave das
algemas.
— Eu — ela pegou a chave — quero libertar você. — Ela abriu uma
das algemas — Quero libertar você do passado ruim que teve. — Ela me fez
olhá-la — Libertar você dos seus pensamentos ruins. — Abriu a outra algema
— Estou aqui por você e para você, em todos os momentos, não apenas nos
sexuais. Sejam eles bons ou ruins, estarei aqui.
Fez com que eu a olhasse e começou a tirar o vestido.
— Estou me despindo diante de você, prometendo ser transparente em
todos os meus atos e nunca ultrapassar seus limites, suas dores e seus medos.
Ágatha me entregou seu vestido e seu sutiã.
— Escolha uma parte do meu corpo.
Olhei-a perdida com as palavras que ela havia me dito. Olhei seu corpo
com desejo e curiosidade.
— Uma parte que você goste de beijar, morder, acariciar…
— Ventre.
Entregou-me a caneta depois de destapá-la.
— Com esta caneta, você vai assinar meu ventre. Esta assinatura é para
eu saber que você entendeu tudo o que eu disse, para saber que você
concorda com o que lhe disse.
Eu estava ansiosa com todas aquelas palavras, segurei a caneta e olhei-
a emocionada.
— Só assine se for seu desejo. Isso não é um discurso sem fundamento
e muito menos para você ser minha submissa exclusiva. Estou sendo sincera
em todas as palavras que lhe disse, quero o seu bem. Essa oratória toda é
minha promessa para cuidar de você enquanto você deixar. A sua assinatura
será o aval para eu conquistar sua confiança por inteiro.
Eu hesitei por um momento e com a mão trêmula assinei seu ventre, a
assinatura ficou enorme pegando toda a extensão da pele e eu devolvi a
caneta para ela.
— Essa caneta será o símbolo dessa promessa. Quando você confiar em
mim, cento por cento, sem nenhuma dúvida, quero assinar sua nádega direita.
— Eu…
— Pode demorar o tempo que for, mas tem que ser cem por cento, sem
dúvidas e sem medos. Eu sei que não vai ser hoje, nem amanhã, nem na
semana que vem.
Puxei-a para perto de mim e beijei-a com desejo. Deitei-a no chão e me
deitei sobre o seu corpo. Naquele momento eu consegui me sentir uma
mulher sortuda e nossos beijos quentes e lascivos nos levaram a esquecer o
mundo. Aquela tarde e aquelas palavras, me convenceram a me entregar a
ela, mesmo que devagar. Eu me entregaria por inteira como me entreguei em
nosso sexo no meio do tatame. Sua gana por meu corpo não cessava, sua
boca me arrancava gemidos. Minhas mãos tateavam seu corpo desvendando
cada centímetro e o nosso êxtase foi quase uníssono. Nossos envolvimentos
sexuais fora das cenas de BDSM, estavam cada vez mais recorrentes e isso
fazia eu me apaixonar cada dia mais por ela.
Capítulo 25
Dias atuais - Sétima semana
Depois que Nádia me salvou da tentativa de estupro, evitava sair da
cela sozinha. Eu estava comendo cada vez menos por dia, só tomava o café
da manhã que era um pouco mais completo do que as outras refeições.
Hortência sempre me trazia um pão pós almoço e se sobrasse me trazia uma
gelatina. Durante a noite eu tinha pesadelos recorrentes com Katherine
matando Ágatha ou Elizabeth beijando-a enquanto minhas mãos sempre
estavam ensanguentadas e em alguns dias algemadas. Maitê não vinha me ver
já faziam quase quinze dias e eu achei que ela tinha desistido de mim. Não
deve ser fácil ser advogada, ter que defender mesmo duvidando da inocência
do cliente.
Eu recebi um aviso sobre sua visita, seria no dia seguinte. Ela não me
visitava, mas me mandava chocolate. Na noite anterior, eu precisei ir tomar
banho sozinha, não tinha ninguém na cela. Eu já estava descartando a
possibilidade de fazer isso sozinha, mas eu precisava de um banho, seria o
terceiro dia sem, se eu não fosse. Respirei fundo e tomei coragem de sair da
cela. No corredor até o banheiro, fui interceptada por Célia.
— Você acha que eu esqueci do que aconteceu no nosso último
encontro?
— Por favor, me deixa em paz. O que eu te fiz para me perseguir desse
jeito?
— Eu não preciso de motivos para nada.
— O que você quer para me deixar e paz?
— Não é assim que eu trabalho. — Ela segurou meu braço.
— Como é então?
— Garota, você é atrevida demais sabia? — Apertou meu braço com
força.
— Me solta!
— Ou o que?
Eu fiz com que me soltasse o braço e me afastei dando-lhe as costas.
Ela segurou meus cabelos e me puxou para perto de seu corpo.
— Aquelas chineladas que te dei, não é nem o começo do que quero
fazer com você. — Puxou meu cabelo com mais força — Você gosta de
apanhar e eu gosto de bater. — Beijou minha orelha.
Eu lhe dei uma cotovelada, outra e outra, até me soltar. Virei-me de
frente para ela e empurrei-a contra a parede.
— Essa brincadeira de gato e rato já deu o que tinha que dar. — Dei um
cruzado de direita em seu rosto — Se encostar a mão em mim de novo, você
não vai levantar do chão com vida. — Dei-lhe uma sequência de cruzados e
ela tentou se proteger e eu me afastei dela — Você não é nada sem sua
capanga? Sem seus guardas? — ela baixou a guarda e eu dei uma sequência
de jabe e direto e me afastei.
Ela me olhava com raiva e partiu para cima de mim, esquivei e lhe
soquei a lateral do corpo. Ela veio para cima de mim novamente e entrei com
uma sequência de cruzados que fez Célia se afastar. Aproximei-me e não dei
tempo para ela pensar, jabe, direto e cruzado, e vi ela caindo no chão.
Olhava-me com raiva, me aproximei dela.
— Eu também gosto de bater. Quer mais? Você não é valente? Levanta
desse chão e vem me bater.
Algumas presas passaram por nós e viram o rosto de Célia sangrando.
Ela não se manifestou mais e eu fui tomar meu banho. A água naquele dia
não parecia tão gelada, ou era o calor do meu corpo que estava a ponto de
ferver. Naquela noite não tive pesadelos.
Na visita de Maitê, no dia seguinte, ela me abraçou mesmo não
podendo.
— Você está bem?
— Perguntando por educação, não é? — me sentei na cadeira.
— Não faça malcriação comigo. — Ela também se sentou.
— Estou péssima e você?
— Também! Cintia foi embora definitivamente.
— Como assim? Você não dá notícias por quase quinze dias e me solta
uma bomba dessas sem ao menos me preparar?
— Ela disse que estou envolvida demais com seu caso e não admite que
eu acredite em sua inocência.
— Mas eu sou inocente!
— Eu sei, bebê! Eu sei.
— Mas não tem como provar, tem?
— Não. Ainda não.
— Quando é meu julgamento?
— Hoje sou apenas portadora de notícias ruins, daqui dois meses.
— Eu vou ficar aqui mais nove semanas? Na verdade, a chance de eu
sair daqui é mínima, não é?
— Por enquanto sim.
— Desculpe acabar com seu casamento.
— Você sempre esteve certa sobre esse relacionamento, não dava para
querer que funcionasse sem eu ser eu mesma.
— Por um lado é bom, pelo menos você volta a ser só minha. — Eu ri.
Ela segurou minhas mãos e viu os machucados por ter batido em Célia.
— Nunca deixei de ser sua.
Eu ri alto e apertei suas mãos.
— Eu vou ficar louca aqui dentro sabendo que você está solteira. Não
tem nenhuma novidade sobre o Hélio?
— Infelizmente não.
— Eu sonho com a Ágatha sendo assassinada todo dia, no meu sonho
quem mata ela é a Katherine.
— Existe alguma chance de isso ser real?
— Mas por que ela faria isso?
— Ela é louca!
— Depois de tudo o que aconteceu, duvido que ela teria voltado.
— Nós achamos que ela nunca voltaria depois do divórcio e ela voltou.
Eu fiquei pensativa.
— Você — ela segurou minha mão de novo — precisa parar de
emagrecer. Estou ficando seriamente preocupada com essa sua aparência.
Você precisa comer direito.
Apertei sua mão e lhe beijei o dorso.
— Queria poder comer direito, mas aqui dentro não dá. Não tenho
vontade de nada. Só consigo sentir raiva.
— Não deixe ela te consumir.
— Eu… eu quase fui estuprada.
— O que? Como? Quem?
Contei para ela o que havia acontecido e vi sua raiva se aflorar. Eu não
havia mostrado os cortes que Célia havia feito no dia que me amarraram na
cadeira e quando mostrei só faltou ela sair correndo para bater em alguém.
— Tenta me isolar, pede para me colocar na solitária, sei lá… preciso
ficar longe dela. Vou acabar machucando-a de verdade e isso vai piorar meu
julgamento.
— Agressões não seriam bem vistas pelo júri, mesmo sendo em uma
presa condenada.
— Ontem à noite eu perdi a paciência e bati nela. Bati muito e ela vai
me dar o troco, mais cedo ou mais tarde. Você vai acabar tendo que vir
buscar apenas meu corpo.
— Vira essa boca para lá, bebê. Não brinque com uma coisa dessas.
— Ela não tem nada a perder, me matar não vai mudar nada na vida
dela.
Ela me olhou chateada.
— Eu já tentei te isolar por causa da faculdade, mas não existe ala
diferenciada para isso.
— A fiança ainda pode ser paga?
— Sim. Mas é um valor alto.
— Você pode vender meu apartamento?
— Seus bens estão congelados.
— O apartamento está no seu nome, esqueceu? Fizemos isso para eu
me esconder da Katherine.
— Você tem certeza disso? Você escolheu aquele apartamento com
tanto carinho.
— Do que vai me adiantar tê-lo e não poder usufruir… se eu for
condenada vou ficar uns trinta anos aqui.
— Não vai adiantar vender, você vai usufruir pouco da sua liberdade
antes do julgamento.
— Eu pagaria muito mais do que estão pedindo para poder sair daqui
por apenas um dia.
— Não vou desistir de você, nunca, entendeu?
— Mas você acredita que eu não matei a Ágatha?
— Sim! Pare de achar que eu não acredito em você. Eu não estaria aqui
se não acreditasse.
— A essa altura do campeonato, até eu estou duvidando de mim.
— Não faça isso.
Nosso tempo estava acabando.
— Eu não quero perder minha sanidade aqui dentro, mas eu vejo a
Ágatha viva pelos corredores, eu sinto o cheiro dela em mim, às vezes, eu
sinto até o seu cheiro em mim. Eu oscilo entre querer brigar para viver e
querer desistir e morrer.
— Escolha viver, por favor.
— Estou tentando, juro que estou.
Ela segurou minha mão novamente e puxou sua cadeira para perto da
minha. Encostei minha testa na dela.
— Eu te amo, bebê, não desiste. Se for preciso, eu invadirei essa prisão
para te libertar.
Eu ri e fiz com que ela me olhasse.
— Eu também te amo. Estarei esperando para ser resgatada.
Um dos guardas nos chamou a atenção pela aproximação.
— Você conseguiu ver o processo da Joana?
— Estou redigindo uma apelação para uma avaliação psicológica.
— Obrigada. Agora sem a Cíntia na sua vida, posso te pagar sem
remorso.
Ela me olhou brava.
— Como se você sentisse remorso das outras vezes.
— Nas últimas vezes eu senti sim.
— Foi pela Ágatha e não pela Cíntia.
— Você tem razão, eu gostava de saber que você ainda era minha,
mesmo tendo um compromisso com a Cíntia. — Eu sorri maliciosamente.
Ela riu e ficamos um minuto em silêncio.
— Você acha que a Ágatha pode estar viva? — Eu perguntei olhando-
a.
— Todos os documentos dela foram encontrados perto do local onde o
corpo foi encontrado, inclusive passaporte. Se ela está viva, está com outra
identidade e bem longe do Rio de Janeiro.
Encostei na cadeira e olhei-a desanimada.
O nosso tempo havia chegado ao fim e eu me levantei para voltar para
minha cela. Ela me beijou o rosto e eu me afastei chateada.
Voltei para minha cela e Nádia estava sozinha, era hora do almoço.
— Vi sua advogada de longe, ela é bonitona.
— Sim, mas é casada.
Sentei ao lado dela.
— Se é bonita é para ser elogiada.
Joana logo se juntou a nós e passamos a tarde tentando explicar para ela
qual era a diferença entre pato e ganso. Vou ficar muito feliz se conseguir
tirá-la daqui, pelo menos uma pessoa não seria injustiçada.
Na manhã seguinte, após o café-da-manhã, estava saindo do banheiro
quando fui atacada por trás, seguraram meus braços e cobriram minha cabeça
com um saco de juta, daqueles usados para transportar batata. Tentei me
defender, mas a pessoa fechou o saco rente ao meu pescoço me dando um
puxão para trás e eu perdi o ar.
— Quieta!
Fui puxada com brutalidade até o mesmo depósito de caixas da outra
vez, só descobri isso depois de muito tempo com o saco na cabeça. Minhas
mãos foram amarradas para trás, lutar era em vão, haviam três pessoas
diferentes me segurando. Usaram uma braçadeira de nylon para evitar minha
fuga. Os socos na costela e no abdômen foram sequenciais. O saco rente ao
meu pescoço me sufocava e os socos na cara eram desferidos alternados com
os do estômago. Com o pé tentei medir a distância em que a pessoa estava de
mim e onde estava a outra. Acertei o chute na perna de uma e a outra se
afastou e eu errei. Tentei de novo, mas segurou minha perna enquanto a outra
me batia. Eu perdi o equilíbrio por estar com uma perna só e me deixaram
cair no chão. Caí em cima do ombro direito e me encolhi esperando o pior.
Recebi um chute nas costas e me viraram de barriga para cima. Sentaram em
meu ventre e tiraram o saco da minha cabeça. O peso de Célia em cima de
mim apertava meus braços contra o chão.
— Covarde! — Cuspi em seu rosto.
— Você é bem resistente para uma branca franzina.
— Eu não tenho medo de você. Me solta, vamos lutar de igual para
igual.
— Não, eu perderia. — Ela riu.
— Eu não entendo sua fixação em me perseguir.
— É divertido! Você poderia parar de resistir, vender minhas drogas e
seríamos boas amigas.
— Nunca!
— Pensa bem, você ganharia uma grana aqui dentro.
— Não vou fazer isso.
— Pela sua ficha, vou ter muitos anos para te convencer sobre isso.
Ela me deu um tapa na cara, meus braços estavam dormentes com o seu
peso.
— Você deveria rever seu padrão de amizade aqui dentro.
— Do que está falando?
— Nádia, foi ela quem me contou seu segredinho, eu poderia ter
espalhado, mas não, guardei só para mim. Eu sou mais sua amiga do que ela.
Eu olhei-a sem acreditar no que me falava e ela se levantou.
— Mas chega de conversa.
Ela se aproximou, ajoelhou-se e tirou meu chinelo, enquanto a outra me
abaixava as calças e a terceira pisava em meu peito para não me deixar
levantar. Relutei, mas recebi um chute na costela direita. Levantaram-me do
chão e Célia retalhou minha blusa com o canivete. Aproximou-se e me
apontou a garganta com o canivete e me mandou abrir a boca, não abri e ela
me furou de leve com a ponta da lâmina. Insistiu e afundou mais a faca. Senti
um fio de sangue escorrendo pelo pescoço e ela me ameaçou de novo. Abri a
boca e ela me enfiou vários pedaços de pano na minha boca. Uma delas
voltou o saco na minha cabeça e os socos recomeçaram. Senti minhas pernas
serem amarradas também. O saco me sufocava, os pedaços de pano na boca
secavam minha saliva. Uma das três me imobilizou ainda mais passando os
braços pelos meus. O próximo golpe não foi um soco, foi uma paulada no
estômago. Perdi o ar com a força. Outra paulada… outra… outra… eu já
estava prestes a desmaiar quando soltaram meu corpo e eu caí no chão
batendo com o rosto. Os chutes foram incontáveis, soltaram meus braços e eu
não conseguia me mover. Senti caixas serem jogadas em cima de mim,
desmaiei depois disso.
Capítulo 26
Nove meses atrás
Depois de todas as palavras, promessas e alguns gozos ela se levantou e
me olhou sorrindo.
— Vamos nos divertir?
Eu concordei vendo a satisfação em seu rosto e meu nome assinado em
seu ventre.
— Você quer escolher com o que vou te bater?
— Tem certeza? Não vou estragar a cena?
— Se precisar, eu adapto a cena, quer escolher?
— Sim, senhora.
Abri o armário onde eu tinha os chicotes e palmatórias e sem pensar
peguei o flogger com tiras de couro. Quando viu o que eu havia escolhido,
pediu para que eu deitasse de bruços no meio do quarto, esticou minhas mãos
no chão acima da cabeça e amarrou-as deixando um longo pedaço de corda
sobrando. Levantou-se e afastou minhas pernas. Passou lubrificante em meu
ânus e penetrou a ponta de um gancho anal, devagar, me arrancando gemidos.
Eu queria levantar meu quadril para ficar mais fácil a entrada, mas senti um
tapa na bunda.
— Não mandei empinar a bunda, não se mexa.
Enfiou e puxou-o para cima para entrar tudo o que podia. Ela dobrou
meus braços para cima em um ângulo de noventa graus, formando um “L” e
puxou a corda amarrando-a ao gancho bem rente. Qualquer movimento dos
meus braços para frente, eu estaria mexendo com o gancho também. Eu
estava ofegante me acostumando a todas as sensações que a posição me dava.
— Eu vou te bater com o flogger que você escolheu. Não vou te
amordaçar, conte mentalmente. Suas pernas estão soltas e eu não quero vê-las
se movendo. Caso elas se movam, vamos ter que começar do zero. Se você
ouvir: “Vamos repetir!” É porque você se mexeu, entendeu?
— Sim, senhora.
— Você prefere que eu amarre suas pernas?
— Eu vou me comportar
—Tem certeza?
— Sim, senhora.
— Se você não se comportar posso te castigar?
— Sim, senhora.
Eu estava excitada e nervosa pelas ordens que ela estava me dando.
Ágatha parou em pé ao meu lado na mira da minha visão, vi seus pés e logo
sua calcinha caiu entre nós. Ela me fez segurar um tubo de lubrificante e
enfiou a calcinha em minha boca.
— Mudei de ideia, não quero deixar sua boca livre.
Senti as tiras de couro percorrendo minhas costas.
— Se quiser parar, solte o lubrificante.
O primeiro golpe fez meu corpo todo estremecer e se mexer, eu não
esperava pela chicotada.
— Vou ignorar esse primeiro movimento do seu corpo, quero você
quieta.
Novamente senti o couro deslizando pelas costas e a surpresa do golpe
me fez contrair as nádegas, mexer as pernas e me lembrar do gancho.
— Vou ignorar este movimento também, mas é a última vez que
permito seu corpo se mover.
O golpe aconteceu e involuntariamente meus braços quiseram fugir
movimentando o gancho em mim. Ela não disse nada, ajoelhou ao meu lado e
tirou a calcinha da minha boca.
— Eu estou sendo dura demais com você?
— Não, senhora.
— É pedir muito para ficar quieta?
— Não, senhora, me desculpe. É involuntário. Sinto muito.
— Eu estou decepcionada com você. Vou te desamarrar.
— Não, faça isso. Vou melhorar prometo.
— Você só tem mais uma chance.
— Não vou te decepcionar.
Ela voltou a calcinha em minha boca e eu estava agitada e nervosa com
a situação, precisava me acalmar. Senti que ela colocou os pés embaixo das
minhas coxas e me deu um golpe na nádega direita. Eu sei que me mexi, pois
senti o corpo todo se retrair, mas ela não me corrigiu. Ela sabia que eu mesma
estava decepcionada com meu comportamento. Para o segundo golpe eu
contraí o corpo e me mexi menos, mas ainda não era o ideal.
— Concentre-se, Ane.
O terceiro golpe aconteceu e eu consegui imobilidade, mas estava com
as nádegas contraídas.
— Relaxe o corpo.
Eu obedeci e tentei relaxar e me concentrar. As tiras de couro
passeavam pelas minhas costas. O quarto golpe aconteceu e fiquei mais
estática do que as outras vezes. O quinto e o sexto golpes foram seguidos.
— Comece a contar.
Foram cinco golpes seguidos e meu corpo se comportou
adequadamente. Minha respiração estava descompassada. As tiras percorriam
minhas costas e deslizavam até a panturrilha. Mais cinco golpes seguidos. Eu
estava excitada com tudo o que a cena estava me proporcionando. Sensações
controvérsias, mas excitantes. Ela acertou um golpe inesperado em minha
coxa e meu corpo reagiu querendo fugir.
— Vamos repetir.
Fiquei chateada pela falha e senti as tiras percorrerem meu corpo. O
primeiro golpe demorou para acontecer e eu me mexi novamente.
— Vamos repetir.
O golpe foi logo no fim da frase, me assustando e me fazendo me
contrair toda. Ela não disse nada e continuou a me chicotear e eu tentei me
controlar, mas eu gozei assim que ela me deu o décimo golpe daquela
tentativa.
— Eu não permiti que você gozasse. Vamos repetir.
As contrações que os golpes implicavam em meu corpo me excitavam e
meu gozo continuou acontecendo. Nunca tinha sentido tal sensação,
orgasmos múltiplos, seguidos, minha respiração estava descontrolada. Meu
corpo se aquietou do êxtase e os golpes também cessaram, como se ela
soubesse tudo o que estava acontecendo comigo. Estava com os olhos
fechados e senti um beijo em cada nádega. Ela puxou meu braço
delicadamente para trás para afrouxar a corda e retirou o gancho com
cuidado. Desceu meus braços devagar, pois fiquei bastante tempo na mesma
posição, tirou a calcinha da minha boca. Desamarrou a corda e mandou eu
ficar deitada naquela posição até eu me acalmar. Beijou minhas costas,
percorreu ela toda e beijou minhas nádegas novamente. Meu corpo reagia ao
toque de seus lábios contraindo-se de arrepio. Meus olhos permaneciam
fechados, seus carinhos continuaram até a panturrilha e voltaram pelo mesmo
caminho.
— Precisamos treinar mais sua imobilidade. — Ela me sussurrou.
— Desculpe não ter agradado.
— Você me agradou sim.
Ela me virou de lado para olhá-la.
— Mas você não está satisfeita com a cena, está?
Ela me sorriu e me beijou.
— Precisamos melhorar sua imobilidade, mas hoje você foi muito bem,
melhor do que outras subs.
Olhei-a chateada.
— Não gostou da cena?
— Não gosto de ser comparada às outras subs que teve.
— Desculpe a comparação. — Me sorriu passando a mão em meu rosto
— Você não deveria ser comparada a ninguém, você é melhor do que todas
elas juntas.
— Não exagere. — Olhei-a — Tem mais alguma coisa que eu posso
fazer hoje para lhe agradar?
— Vá tomar um banho que vou preparar nossa janta.
— Apenas isso?
— Você me serviu muito bem hoje. Obrigada pela sua submissão.
Eu olhei-a profundamente e ela me sorriu.
— Quer me pedir algo?
— Posso te chupar em forma de agradecimento pela cena de hoje?
— Você não precisa fazer isso.
— Eu ainda não sei como te agradar...
Ela colocou o dedo em meus lábios e me beijou delicadamente.
— Você está sendo perfeita, antes, durante e depois da cena. Tome seu
banho, vou fazer nossa janta.
— Antes de ir, deixe eu te chupar. Agradecer por hoje.
Ela me beijou e se deitou abrindo as pernas para que eu lhe chupasse.
Eu sempre gostei deste ato pós-cena. Saber que minha dominatrix estava
satisfeita com minha submissão era prazeroso, mas fazê-la gozar em minha
boca era afirmação de que eu estava agradando. Ágatha estava saborosa,
extremamente sensível e era perceptivo que havia gozado recentemente. Isso
me deixou mais convencida de que estava fazendo tudo corretamente. Seu
êxtase aconteceu rapidamente e ela me puxou para deitar ao seu lado.
— Você é perfeita.
Foi o que ouvi depois de um cafuné na cabeça.
Acordei no meu quarto, levantei e andei nua até a sala. Encontrei-a
sentada no sofá. Aproximei-me devagar e ela mandou eu me ajoelhar na sua
frente.
— Descansou?
— Sim, senhora!
— Você se lembra que disse que eu poderia te castigar?
— Sim, senhora.
— O que eu pedi para você fazer?
— Ficar quieta.
— E você me obedeceu?
— Não, senhora.
— Você merece um castigo por não ter me obedecido?
— Sim, senhora.
— Deite-se nas minhas pernas.
Levantei e obedeci. Ela passou a mão delicadamente sob minhas
nádegas avermelhadas.
— Serão dez tapas de castigo. Me diga o porquê está sendo castigada.
— Porque eu não me comportei durante a cena.
— Nós vamos treinar mais vezes sua imobilidade e espero não ter que
castigá-la novamente.
— Não precisará, senhora.
— Não quero ouvir gemidos ou murmurinhos durante o castigo. Não
quero que contraia a bunda, se contrair começaremos do zero. Seu treino de
imobilidade começa agora. Não se mexa!
Ela me deu dois tapas na nádega direita e dois na esquerda. Eu estava
imóvel e recebi os outros seis tapas com a mesma imobilidade dos primeiros.
— Ajoelhe-se.
Levantei de suas pernas e me ajoelhei na sua frente.
— Espero que sua obediência continue sendo aprimorada.
— Obrigada por estar sendo paciente comigo.
— Faremos em breve essa cena novamente.
— Sim, senhora! Posso fazer uma pergunta?
— Sim.
— Por que me castigou agora e não depois da cena?
— Porque você me agradou durante a cena. Não queria que você
relacionasse o castigo como se tivesse me desagradado.
— Mas se você está me castigando é por que não agradei.
— Não. — Ela me fez olhá-la — Eu estou te castigando porque você se
mexeu, mas a cena foi extremamente excitante. Você foi muito bem. — Ela
me beijou os lábios — Mas aposto que na próxima vez será ainda melhor.
— Sim, senhora. Não irei me mexer.
Ela me beijou com desejo. Pediu para eu me sentar nas suas pernas de
frente para ela e voltou a me beijar. Seu dedão posicionou-se em cima do
meu clítoris e ela me olhou sorrindo. Continuamos a nos beijar e seu dedão
me massageava com vigor. Minha bunda roçando em sua coxa me lembrava
dos tapas, das chicotadas e minha excitação aumentava. Deu um tapa em
minha coxa esquerda e aumentou o ritmo da fricção em meu sexo.
— Goza para mim, putinha.
Eu sorri pelo palavrão e lhe obedeci. Meu corpo amoleceu em seus
braços e ela me abraçou beijando meu pescoço.
— Sua submissão me surpreende positivamente a cada cena.
Olhei-a sorrindo e beijei-a com desejo. Encostei minha testa na dela e
lhe dei um selinho.
— Obrigada, domme.
Beijamo-nos novamente e suas mãos se apoderaram de mim com
ganância. Deitou-me no sofá e nos amamos com desejo e entrega.
O cheiro do jantar já estava invadindo a casa quando terminamos de
nos consumir no sofá. Eu estava deitada em seus braços, recebendo cafuné e
beijinhos pelo rosto. A frase “eu te amo” estava implícita em todos os nossos
gestos, mas nenhuma das duas ousou se entregar ao significado destas
palavras.
— Eu estou com fome e curiosa para saber o que você fez para o jantar.
— Olhei-a sorrindo.
Ela riu e me beijou.
— Tente adivinhar.
— O que eu ganho se aceitar?
— O que quiser.
Eu sorri.
— Pensando nos ingredientes que eu tinha na geladeira, você deve ter
usado berinjela, shimeji, gorgonzola e tomate. Lasanha de berinjela com
gorgonzola e shimeji?
— Errou. — Ela riu — De entrada tem antepasto de aspargo com
shitake e gorgonzola. O prato principal fiz berinjelas recheadas com tomate
picado, shimeji e alho frito cobertas com muçarela.
— Pratos exóticos, gostei da criatividade. Comprei sua cerveja favorita.
— Eu vi, obrigada.
Ela sorriu e eu lhe beijei o ventre onde ainda tinha meu nome assinado
nele. Nós levantamos do sofá e ela me puxou nua até a cozinha. Sentei na
banqueta e ela pegou dois pratos para nos servir. Serviu a cerveja em um
copo e eu roubei um gole do copo dela enquanto me servia Martini. O
antepasto foi servido em torradas e logo depois o prato principal. As torradas
eu comi observando-a comer as dela. Na hora de comer as berinjelas
recheadas, entreguei meu garfo a ela e o sorriso foi imediato. Eu estava
começando a me acostumar com aquele gesto, era íntimo, exclusivo e, muitas
vezes, sexy.
— Trinta e seis. — Olhei-a aceitando a última garfada.
Olhou-me curiosa tomando um gole de cerveja.
— Chicotadas. — Olhei-a intensamente — Você pediu para eu contar,
foram trinta e seis.
Ela me beijou com desejo e me fez olhá-la.
— Você só me surpreende. — Me beijou novamente — Se você tivesse
acertado o jantar, iria me pedir o que?
— Para se masturbar em um local público.
— Posso realizar seu desejo, qualquer dia desses. — Ela me piscou.
Eu lhe sorri e me servi de mais uma torrada com antepasto.
— Qual nota para os pratos de hoje?
— Berinjelas recheadas, oito e meio. Antepasto, nove e meio.
Ela me sorriu e me beijou.
Antes de deitarmos na sala para assistir algum filme, Ágatha ligou para
a mãe e passou um creme cicatrizante com vitaminas em minha bunda.
Escolhemos um filme de suspense e antes de começar perguntei sobre sua
mãe.
— Parecia bem. Eu esqueci de bloquear o número da Elizabeth e tinha
um monte de mensagem dela no meu celular.
Eu respirei fundo.
— Você sente falta de sair com seus amigos?
— Não.
— Tem certeza?
— Não vou mentir dizendo que não sinto falta de uma roda de samba,
mas estar com você é mais importante e mais prazeroso.
— Você deveria sair com seus amigos, eu já disse que não vou ficar
chateada.
— Se eu sair com meus amigos, Elizabeth estará junto e não quero ela
perto de mim fora do nosso convívio em casa. Ela está cada vez mais chata
comigo.
— Quer que eu te leve para o samba?
— Você gosta de samba?
— Já frequentei muitas rodas de samba, mas faz anos que não vou em
uma.
— Você aceitaria ir comigo?
— Sim.
Ela me beijou sorrindo.
— Somente nós duas.
— Melhor ainda.
Beijou-me e deitamos para ver o filme. Abraçou-me por trás e
sussurrou que eu sou perfeita.
O tempo junto com Ágatha voava e quando estávamos quase
completando três meses ela me contou que a mãe dela tinha piorado. Eu
havia sugerido um médico para avaliarmos o primeiro diagnóstico, mas ela
negou a ajuda. No mesmo dia que soube que ela havia piorado marquei uma
consulta com um especialista para reavaliar as condições da mãe dela. Ágatha
ficou brava, mas acatou levar a mãe ao médico. O diagnóstico foi semelhante
ao outro, mas o médico disse que era preciso ficar de olho nas dores de
cabeça que ela vinha apresentando, pois poderiam vir associadas a confusões
mentais severas.
Samuel e Hélio estavam com planos megalomaníacos para o setor de
vendas da empresa e isso me assustava mais do que a vontade de Ágatha
querer me levar para uma roda de samba. No dia que aceitei acompanhá-la, a
noite estava quente e convidativa para uma saída. Infelizmente quando
chegamos ao lugar que ela escolheu, nos deparamos com os amigos dela. Eu
me policiei para não estragar a noite, mas eu não queria nem ter entrado no
recinto quando soube que eles também estavam lá. Ágatha jura que não sabia
que eles estariam ali, eu preciso acreditar nela, mas a coincidência era
duvidosa.
Fiquei aliviada quando ela me contou que eram dois amigos de um
antigo emprego e que eles não conheciam Elizabeth ou a turma que ela saia
com mais frequência. Mas meu alívio acabou quando Elizabeth chegou ao
local. Quando a avistei, ela estava indo para perto de Ágatha que estava
dançando sozinha enquanto eu pegava uma cerveja para nós. Eu vi aquela
garota cheia de dedos abraçando Ágatha. Falando, sorrindo, colocando a mão
na cintura da minha garota. Eu me aproximei rápido e com raiva. Parei ao
lado das duas e Elizabeth fingiu que eu não estava ali e continuou falando
com Ágatha que tentava se safar da mão dela. Deixei a cerveja com Ágatha e
segurei o pulso de Elizabeth. Segurei seu braço com força e puxei-a para
perto de mim, passei seu braço dobrado para trás e seu corpo se aproximou
ainda mais do meu.
— Saia de perto da Ágatha.
— Ou o que?
— Não me provoque, Elizabeth.
Apertei seu pulso e torci mais seu braço.
— Ágatha está comigo, você querendo ou não, gostando ou não. Esse
vai ser o único aviso que vou lhe dar. Afaste-se dela ou vamos ter uma
conversinha onde seu rosto vai ficar desfigurado.
— Eu não tenho medo de você.
— Deveria ter.
Senti o toque de Ágatha em meu ombro.
— Ane, não vale a pena perder a paciência com ela.
Soltei-a e Ágatha me puxou para longe dela. Eu estava à flor da pele e
ela me puxou para um beijo no meio da roda, apertei-a contra meu corpo e
beijei-a com desejo. Eu estava com um sentimento horrível dentro de mim.
Ódio e ciúme, muito ciúme. Nunca tinha sentido isso antes, não nessa
intensidade, não com esse medo e esse aperto no peito. Minha garganta
estava travada, ouvia zumbidos no lugar da música, o coração acelerado,
querendo sair pela boca. Precisava de ar. Eu respirava e não sentia o ar entrar
no meu corpo. Fui puxada para fora do prédio e finalmente consegui respirar.
Foi como se eu tivesse ficado debaixo d'água por muito tempo.
— Ane! Ane!
Busquei seus olhos em meio a minha imensidão de sentimentos. Ela
segurava meu rosto, eu segurei seus pulsos com delicadeza.
— Nunca mais me faça sentir ciúme desse jeito.
Minha respiração ainda estava ofegante.
— Eu sou apaixonada por você! Ninguém tem chance comigo.
Ninguém!
Eu encostei minha testa na dela e ela me abraçou.
— Não quero sentir ciúme de você, não quero ser possessiva… — eu
sussurrei.
— Eu sou sua, nunca se esqueça disso.
— Desculpe ameaçar sua amiga.
— Ela não é minha amiga agindo deste jeito e ela estava merecendo um
susto. — Me beijou — Desculpe trazer você aqui. Posso te levar para casa?
— Por favor!
O caminho foi silencioso e quando entrei em casa, ela devolveu meu
celular, pois havia recebido uma mensagem. Eu fui até o meu quarto, queria
trocar de roupa e ela foi até a cozinha. Quando abri a mensagem, era uma
foto minha e da Ágatha na frente do bar em que estávamos a pouquíssimos
minutos atrás. “Problemas no paraíso? K.” Eu gritei ao ler a mensagem e
ainda estava gritando quando Ágatha entrou no quarto. Ela entrou a tempo de
me ver jogar o celular contra o espelho. Eu estava chorando, me ajoelhei no
chão e gritei de novo. Eu só queria gritar e chorar. Ágatha me abraçou por
trás e eu tentei fugir dela. Eu ainda gritava e ela nos deitou no chão e
imobilizou meus braços com os seus e passou as pernas pelas minhas para
também me imobilizar.
— Eu só vou te soltar quando parar.
Eu me debatia e chorava. Minha crise de choro durou tempo suficiente
para eu assustar Ágatha.
— Eu não quero essa mulher na minha vida. — Eu sussurrei ainda
chorando.
— Ane! Você é uma mulher forte, a Katherine não tem como te atingir.
— Ela me deitou no chão soltando meu corpo devagar e me fez olhá-la — Eu
vou te proteger.
— Ela vai acabar conosco. Ela vai me destruir de novo.
— Eu não vou deixar. — Ágatha me sentou e me abraçou.
— Ela não tem limites.
— Eu vou te proteger.
Eu fiz com que ela me olhasse.
— Ela não tem limites.
— Eu te amo, Anelise. Nada vai te machucar, nada e nem ninguém. Eu
vou te proteger.
Eu voltei a olhá-la e abracei-a.
Capítulo 27
Oitava e nona semana
Acordei com Maitê ao meu lado, a visão embaçada e a dor no ombro
direito me fizeram voltar a fechar os olhos. Senti que estava com um braço
algemado na lateral da cama.
— Bebê! — ela me beijou a face.
— O que houve? — resmunguei.
— Pergunto o mesmo. Você foi encontrada desacordada no meio de um
monte de caixa e estantes em um depósito velho do presídio. Como foi parar
lá?
— Onde estou?
— Em um hospital. Você se lembra de alguma coisa?
— Célia me arrastou para o depósito, me deu uma surra e eu desmaiei.
— Foi uma bela surra… você estava em coma há uma semana e meia.
— Foram três contra mim e eu estava amarrada, mas não justifica eu ter
ficado em coma.
— Quem te deu uma paulada na cabeça?
— Eu não lembro de paulada na cabeça.
— Os médicos disseram que foi uma pancada com algo duro e
provavelmente com muita força.
— Se me bateram na cabeça, foi depois de eu ter desmaiado.
— Covardes!
Eu não respondi, ainda estava aérea.
— Agora você vai conseguir proteção para mim lá dentro?
— Estou tentando.
Ela segurou meu rosto entre suas mãos e eu encarei-a.
— Eu não me perdoaria se acontecesse algo com você.
— Eu queria ter morrido.
— Não deseje a morte perto de mim, por favor.
— Eu não quero viver e ter que voltar para aquele lugar.
Maitê me olhou com lágrimas nos olhos.
— Você não pode desistir. Isso é uma ordem! — seu olhar era intenso.
— Eu não tenho pelo que lutar.
— Você tem a mim.
Seu rosto estava perto de mim, sua respiração era descompassada e
lágrimas rolavam. Passei a mão em seu rosto e ela me beijou devagar. Puxei
seu pescoço para mais perto de mim e nossas bocas ficaram grudadas com o
gosto salgado das lágrimas. O selinho me alertou do quão dolorido meu rosto
estava, mas eu não me importei, o contato com sua boca era o mais
importante. Sua mão arranhou minhas costas e eu gemi de dor em seus lábios.
Ela me olhou e sorriu.
— Desculpe, não devia ter te beijado. — Maitê afastou o rosto —
Mantenha-se viva para podermos te tirar dessa situação.
Ela beijou minha testa e se levantou da cama.
— Por que me beijou?
— Emoção em ver você viva. — Maitê me olhou intensamente.
— E as coisas com a Cíntia?
— Estou com os papéis do divórcio no carro.
— Vou te dar mais uma chance para ser honesta, por que me beijou?
— Eu não consigo esconder nada de você?
— Você quer esconder?
— Prefiro dizer que estou me protegendo ao invés de dizer que estou
escondendo algo.
— Quando estiver pronta para conversar, estarei no mesmo lugar das
últimas semanas.
— Não temos o que conversar.
— Ok.
Uma enfermeira entrou no quarto e me fez algumas perguntas sobre
minhas dores e Maitê se manteve afastada. Eu teria que ficar duas semanas
em observação antes de voltar para o presídio. A enfermeira saiu e nos
deixou a sós novamente.
— Por que você nunca tentou conversar com a Cíntia sobre seus gostos
sexuais?
— Por que quer saber disso?
— Seja sincera comigo, você não é do tipo de mulher que se sujeita a
ter uma vida com restrições.
— Eu amei a Cíntia por muitos anos, tivemos uma relação conturbada
em alguns momentos, mas na maioria das vezes nos dávamos muito bem. O
sexo sempre foi bom com ela…
— Quando deixou de ser?
— Quando você foi presa.
— Se o sexo era bom, por que me procurava para fazermos cenas?
— Eu sempre tive medo de pedir para Cíntia se entregar às minhas
vontades. As poucas vezes que falei sobre BDSM, ela tinha reações negativas
ao assunto. Você era meu escape emocional. Muitas vezes eu fiz sexo com
ela pensando em nossas cenas.
— Você está confessando que o sexo com sua mulher era bom porque
você pensava em mim?
— Sim, mas só percebi isso com a sua prisão. Minha preocupação
contigo é crescente…
— Por que a Cíntia foi embora?
— Porque ela disse que eu amo você e não tenho coragem de admitir.
— E isso é verdade?
Ela não respondeu.
— Você me ama? — Eu insisti.
— Eu tenho um sentimento muito forte por você. — Ela sentou ao meu
lado — Mas não acredito que seja amor. Eu me sinto responsável por você
desde o dia que você apareceu no meu escritório, mas não é amor.
— Você é responsável pelo o que eu sou hoje. Sem você eu estaria
destruída. — Passei a mão em seu rosto.
— Não é amor, mas é algo muito intenso.
— Pode chamar de amor, eu deixo. — Puxei-a para um abraço.
Quando eu conheci Maitê eu não era nada além de uma garota com
fortes traumas emocionais. Eu estava destroçada quando cheguei até ela, eu
era um vaso de porcelana totalmente despedaçado e ela me restaurou parte
por parte. Maitê foi quem me ensinou sobre o Kintsukuroi, uma antiga
tradição chinesa de colar vasos quebrados com filetes de ouro, para dar nova
vitalidade à peça. Foi o que Maitê fez quando me divorciei de Katherine e
está fazendo agora novamente. Ela está se tornando mestra em me consertar.
Nosso abraço foi interrompido por um médico que veio me examinar
devido à volta do coma. Eu estava dolorida em cada pedaço do meu corpo e
minha raiva pela gangue de Célia só crescia. A medicação que me foi dada
começou a fazer efeito alguns minutos depois que o médico saiu e eu
adormeci com Maitê sentada ao meu lado segurando minha mão.
Enquanto adormecia, me lembrei de momentos com a Ágatha.
Ela entrou na minha sala e imediatamente minha atenção era dela.
Andou devagar até minha mesa e me sorriu.
— O que vai fazer hoje depois do seu treino de boxe?
— Não tenho nada planejado, mas estarei cansada e com vontade de
dormir. — disse na defensiva, pois vi que iria me pedir algo.
— Eu vou te fazer uma proposta, você me responde até o fim do dia. —
Olhei-a sem expressão, em geral, odiava suas propostas — Hoje tem a estreia
de um filme que quero assistir, a sessão é às dez no shopping perto da sua
casa. Dá tempo de você treinar, tomar banho, jantar comigo e me acompanhar
no cinema.
Olhei-a sem saber o que responder.
— Vou deixar você pensar. — Ela se afastou da minha mesa depois de
me deixar uma pasta.
— Jantar e cinema, apenas isso?
— Eu tinha pensado em mais coisas, mas não vou te pressionar. Seria
nosso primeiro encontro em um dia sem ser sexta-feira. Um encontro típico
de namoradas. Fique à vontade para negar, eu só não queria ir ao cinema
sozinha.
— Se eu não for vai convidar alguém para te acompanhar?
— Não. Não teria companhia melhor que a sua.
Ela me sorriu e saiu da sala.
Tínhamos acabado de nos reconciliar de uma briga, ela tinha saído
sorrateiramente da minha casa para ir se encontrar com suas amigas e eu não
gostei da atitude. Com isso ela estava mais esperta com seu comportamento e
não me confrontava diretamente com seus desejos. Ágatha havia aprendido a
me pedir ao invés de exigir e impor suas vontades. Se eu negasse ir ao
cinema seria a terceira vez que negava algo que ela estava pedindo sem ser
invasiva, tentando ao máximo não me deixar acuada. Voltei a trabalhar,
pensaria nisso mais tarde.
No meio da tarde daquele dia, combinei de adiantar meu treino com o
Bento, assim teria mais tempo livre para poder jantar com ela. Não comentei
nada com ela, queria saber como iria me cobrar uma resposta.
Eu estava terminando de ler um relatório, quando ela bateu e entrou em
seguida. Aproximou-se e eu continuei a ler. Ágatha sentou-se na cadeira e
ficou me olhando, esperando o fim da minha leitura. Ao finalizar, olhei-a.
— Pensou em minha proposta?
— Eu não garanto que não dormirei durante o filme.
— Você é a melhor companhia mesmo dormindo. — Sorriu.
Eu ri.
— Adiantei a hora do meu treino, vou acabar mais cedo, onde vamos
nos encontrar?
— Posso ver seu treino ao vivo?
— Hoje, não.
— Ok. Nos encontramos no shopping às oito?
— Ok.
Ela me olhou e claramente estava contrariada.
— Eu tenho certeza que se você assistir ao meu treino, vamos chegar
atrasadas no cinema.
Eu lhe sorri tentando mostrar que não deveria ficar daquela forma.
— Quando eu vou poder ter você por inteira? — seu olhar era intenso
— Sem me dizer não?
Meu coração acelerou com a pergunta, mas não respondi. Ela
confirmou que estaria me esperando na porta principal do shopping naquela
noite e saiu.
Naquela noite eu saí de casa um pouco mais cedo e fui andando até o
shopping tentando entender a minha necessidade de sempre ir contra as
propostas que ela me fazia. Eram apenas quatro quarteirões, uma caminhada
leve que me fez ver que eu ainda estava na defensiva com medo dela ir
embora, me usar e se cansar.
Parei no lugar que havíamos combinado e olhei a hora, faltavam dez
minutos, mas logo um carro parou e ela desceu. Estava linda de cabelos
soltos esvoaçantes, uma saia justa e uma blusa elegante. Aproximou-se e
depositou um beijo em meus lábios, envolvi sua cintura com um braço e
puxei-a para um abraço.
— Você está linda.
— Você também, minha menina. — Me beijou novamente.
Andamos pelo shopping de mãos dadas e conversando amenidades, ela
olhava atentamente as vitrines. Ela estava dizendo que havia comprado as
entradas para o cinema pela internet quando parou na frente de um manequim
que vestia um conjunto de saia e blusa que eram o estilo dela. E embaixo um
sapato que combinaria perfeitamente com ela. Ficou analisando as peças e
voltou a andar, mas eu puxei-a para perto de mim.
— Esse conjunto é a sua cara.
Ela me sorriu sem graça e apontou o preço das peças.
— Mas os valores não cabem no meu bolso.
— Você gostou dele?
— Sim.
Sorri e puxei-a para dentro da loja, ela ficou envergonhada e eu pedi as
roupas para a vendedora. Eu sabia os seus números. Ela me olhou séria.
— Você não precisa fazer isso.
— Eu quero fazer isso.
Foi até o provador e logo saiu para me mostrar.
— Você ficou lindo nele. — Eu lhe sorri e ela retribuiu o sorriso ainda
encabulada.
Enquanto ela se trocava eu escolhi dois conjuntos de lingerie e pedi
para a vendedora colocar junto com as peças que ela havia provado. Ela me
agradeceu com um selinho e um abraço. Lado a lado andamos até a praça de
alimentação e o barulho estava ensurdecedor. Escolhemos alguma coisa para
comer e eu sentei ao seu lado, segurei sua mão e beijei-a.
— Você não está bem hoje, não é?
— Eu ando brigando muito com a minha mãe, ultimamente.
— Quer me contar sobre as brigas?
— Não vou te chatear com isso.
— Sobre o que me perguntou hoje, quando serei sua sem dizer não. —
Ela me olhou intrigada — Eu não sei quando isso vai acontecer. Mas você já
tem de mim mais do que qualquer outra pessoa teve. De todas as dominatrix
que tentaram me domar fora de um quarto, você é a primeira que não está
sendo ignorada e rejeitada.
— Eu só queria poder controlar mais as coisas.
— Calma, Ágatha, um dia eu serei sua por inteira, não apresse as
coisas.
Ela me beijou suavemente e eu percebi o quanto eu já era dela sem ao
menos fazer ideia daquela entrega silenciosa.
Capítulo 28
Oito meses atrás
Fui acordada por uma voz suave me chamando “Ane”. Lembrei dela
me preparando um chá e me fazendo cafuné até eu dormir. Sentei na cama
atordoada e ela sentou ao meu lado.
— Eu te acordei, para checar se está tudo bem, já são quase onze horas.
— Ágatha… eu…
Ela me fez olhá-la.
— Eu sinto muito pelo que você presenciou.
— Não se desculpe por demonstrar seus medos. Eu tomei a liberdade
de mexer no seu celular e procurar o contato da sua antiga psicóloga.
— Obrigada, mas não precisa.
— Amanhã vou tentar um horário com ela.
— Eu vou ficar bem, não precisa se preocupar.
— Eu me preocupo, pois é a terceira crise de ansiedade que você tem
em pouco tempo. Eu me assustei com o que vi ontem e quero que você tenha
um suporte psicológico adequado para Katherine não te enlouquecer.
Olhei-a e não respondi, ela estava certa. Eu precisava tirar esse peso
das costas dela, não era justo nós duas sofrermos com a volta da minha ex.
Ela passava a mão em minha face e eu aproximei meu rosto para beijá-la.
— Se preferir podemos escolher outra psic…
Beijei-a novamente e não a deixei terminar de falar.
— Eu vou na terapia, você tem razão. Não posso deixar esse peso nas
suas costas.
— Quero você bem. Eu bloqueei o número que enviou a foto. Quer
outro número de celular? Posso providenciar segunda-feira.
— Não vai adiantar fugir novamente, ela vai me achar.
— Você tem alguma ideia do motivo dela estar atrás de você? Vocês se
separam já fazem anos.
— As coisas que ela faz não tem sentido, mas não é a primeira vez que
tenho que me esconder dela.
— Vamos esquecê-la para tentarmos passar um fim de semana
tranquilo?
Eu apenas sorri e concordei.
— O que vai fazer de almoço?
— Está mal acostumada, hein.
— A culpa é sua, você cozinha bem.
— O que quer comer? Não tem muita coisa na sua geladeira.
— Você é a chef, eu só degusto. — Eu ri.
— Vou precisar ir ao supermercado, ainda não fui porque não queria
que acordasse sozinha.
— Quer companhia?
— A sua? Quero sempre. — Ela me beijou os lábios e lembrei que ela
havia dito que me amava.
— Em relação ao que você disse ontem.
— Não se preocupe em responder.
— Adoro estar com você, é o que posso dizer.
Ela me sorriu e me deu um selinho.
Durante o tempo que ficamos no supermercado eu tive a estranha
sensação de estar sendo observada, mas fizemos a compra e logo estávamos
voltando para o meu apartamento. Enquanto ela cozinhava conversamos
sobre a saúde da mãe dela e algumas outras amenidades. Batata rostie
recheada com abobrinha e couve-flor gratinada com molho branco e queijo
foram as receitas que ela preparou para o almoço. Não pediu para me
alimentar e apesar de ter achado estranho, preferi assim.
Durante a tarde, ela sentou ao meu lado no tapete da sala para estudar e
eu fingia estar concentrada no desenvolvimento dos meus jogos, mas na
verdade eu observava cada pedaço do seu corpo. Cada respirada, cada
movimento para escrever anotações no caderno que estava na mesa.
Desliguei o computador e sentei mais perto dela, puxei-a para se aconchegar
em meu braço, beijei-lhe o rosto e ela continuou lendo encostada em mim.
Aqueles estudos de sábado à tarde estavam virando rotina e meu desejo por
ela só aumentava.
Durante a semana voltei a ter sessões de terapia com minha antiga
psicóloga, Sônia. Não posso dizer que foi agradável falar sobre Katherine,
meus medos e sobre Ágatha. De todos os assuntos, o mais difícil, sem sombra
de dúvidas, era entender a volta de Katherine. Eu não sei se ela continuou me
mandando mensagem, seu número permanecia bloqueado. Maitê estava
sempre me monitorando, perguntado como estava todo dia, sua preocupação
sempre me deixava mais calma, pois sabia que se precisasse estaria ali para
me ajudar. Nas duas primeiras semanas de sessão, Ágatha fez questão de
marcar três vezes semanais, pois estava preocupada com minha paranoia de
estar sendo vigiada em lugares públicos. Eu também achava paranoia, mas
era involuntário. Na terceira semana de terapia intensa, eu me sentia menos
ansiosa e marcamos de ter apenas duas sessões semanais.
No meio da terceira semana, eu estava em reunião com a diretoria,
nossos números estavam sendo elogiados pelo setor financeiro mundial, a
empresa estava, finalmente, saindo do buraco. Com essa evolução Samuel
começou novamente a me azucrinar para abrir capital para investimento
externo. Ele e Hélio estavam convictos de que era o momento certo. Eu ainda
tinha minhas dúvidas, porém fiz um plano de abertura de capital como
queriam. Ágatha não estava, havia saído para levar a mãe ao médico
novamente. Quando voltou a reunião havia acabado e estávamos no hall do
nono andar. Enquanto alguns executivos conversavam comigo, vi Samuel se
aproximar de Ágatha. Falaram algo rapidamente, mas vi que ele colocou a
mão em seu ombro, como se quisesse consolá-la. Afastaram-se quando viram
que eu estava olhando-os e eu fiquei intrigada com a cena.
Ágatha ainda frequentava minha casa apenas de sexta e finais de
semana. Sempre me ligava antes de dormir e muitas vezes assistia ao meu
treino de boxe da casa dela pela câmera de segurança. Eu evitava ficar
sempre na defensiva e manter o diálogo, mas naquele dia eu não queria isso.
Vê-la ao lado de Samuel foi um gatilho para me lembrar que nós duas não
éramos nada, além de colegas de trabalho que transavam aos finais de
semana.
Eu não atendi suas ligações antes de dormir e na manhã seguinte,
quando saí do elevador, fui fuzilada por olhos pretos cheios de
questionamentos. Ela me seguiu até a minha sala e trancou a porta.
Eu apenas olhei-a.
— O que houve?
— Eu já disse que odeio sentir ciúme.
— É involuntário.
Ela me fez olhá-la.
— Confie no que eu te digo, eu sou sua. — Me beijou suavemente.
Eu não disse nada e ela tão pouco. Saiu da sala e só voltei a vê-la
depois de um dia intenso e cheio de problemas a serem resolvidos. Como
quase toda sexta-feira ela saia do escritório para minha casa, naquele dia não
seria diferente. Entrou na sala e me olhou intensamente. Eu estava em pé,
atrás da minha mesa, segurando minha carteira e meu celular.
— Eu não vou para sua casa hoje.
Respirei fundo com a notícia, senti meu corpo todo estremecer de
nervosismo.
— Tem algum motivo para não querer ir até a minha casa hoje?
— Sim.
— Eu posso mudar sua opinião sobre essa decisão? — Perguntei tensa.
— Eu não quero ver você tendo crise de ciúme, isso não é bom nem
para mim, nem para você. — A voz dela estava embargada.
— Eu já disse que é involuntário.
— Sim! E eu já disse que você precisa confiar mais em mim. Eu estou
irritada com este assunto e não quero que esta noite se transforme em um ato
punitivo. Por que eu estou com vontade de te castigar para que você não volte
a ter uma crise de ciúme. — Seu olhar sincero me assustou. — Como eu faço
para você confiar em mim? — Ela estava com a voz ríspida, mas seus olhos
estavam marejados.
— Repete uma frase para mim, olhando nos meus olhos e com muita
sinceridade: “Eu não preciso sentir ciúme, Ágatha é minha.”
Eu sorri, segurei sua mão e repeti olhando-a nos olhos. Repeti quatro
vezes e beijei-a. Ela me sorriu e nos abraçamos apertado. Naquela noite, não
fizemos cena, apenas nos amamos no sofá até o sono nos vencer.
Capítulo 29
Décima semana
Acordei com a voz suave de Ágatha em minha cabeça “Quero que seja
minha sub exclusiva.” Você sabe o que isso significa? Você já submeteu
todas as suas vontades na mão de alguém? Já entregou seus desejos para
alguém controlar e lhe dominar? É mais do que um jogo sexual é uma entrega
verdadeira e eu perdi a oportunidade de ter isso com Ágatha. Ela era minha e
eu era dela, mas não consumamos esse pacto, essa entrega, esse desejo. Ouvi
a voz de Maitê tentando me acordar e pela primeira vez, nestes últimos dois
meses e meio, eu sinto desejo por algo. Minha mente brincava comigo e ora
eu via Ágatha me comandando dentro das nossas cenas ora eu via Maitê.
Aqui nessa cama de hospital eu podia pensar nelas sem ser interrompida,
podia sentir meu corpo querendo me alucinar. Eu delirava com os remédios
para dor e o meu delírio tinha dois nomes, Ágatha e Maitê.
Enquanto eu estava delirando minha advogada permanecia comigo no
quarto o tempo todo, mas eu já não sabia se era imaginação ou verdade, pois
eu também via Ágatha. As duas me olhavam intensamente, meu corpo ardia
de febre, mas eu achava que era desejo.
Não poderei ser submissa de Ágatha, ela está morta, apesar de aparecer
nas minhas visões turvas. Não poderei ser submissa de ninguém. A atenção
que eu pouco recebia da equipe médica me dava a sensação de abandono.
Nos momentos em que eu acordava e não via Maitê no quarto a sensação de
solidão só aumentava. Eu escutei um dos médicos conversando com uma das
enfermeiras, “Ela está com um coágulo.”
Fui levada por um longo corredor onde eu tentava acordar, mas as luzes
do corredor me forçaram a fechar os olhos. Fui anestesiada e não me lembro
de mais nada.
Acordei não sei quanto tempo depois e o médico passou uma lanterna
nos meus olhos para poder me analisar. Maitê estava em pé ao lado da cama e
ele disse que eu estava bem e precisava descansar. Ágatha tinha ido embora,
apenas Maitê permanecia.
Eu segurei a mão de Maitê com força, precisava senti-la saber que não
estava mais delirando. Ela estava com uma expressão de preocupada e
sentou-se ao meu lado passando a mão em meu rosto.
— Você precisa parar de me assustar. — Ela me sussurrou e eu sorri.
Os dias depois da cirurgia foram mais estáveis e eu não estava mais
com alucinações. Passava boa parte do dia vendo Maitê trabalhando e agora
sabia distinguir realidade de ilusão. Eu não poderia iludi-la, fazê-la ficar no
hospital comigo e não saber se poderia retribuir o que ela sentia.
Quase no fim da primeira semana hospitalizada, Maitê sentou ao meu
lado e me fez olhá-la.
— Hoje vou conversar com a sua amiga Joana, consegui marcar uma
avaliação psicológica para ela.
— Não fale meu nome, por favor. Diga que você trabalha para o
governo estadual. Não quero ter mais motivos para ser perseguida.
— Pode ficar tranquila, ela não saberá de nada.
Ela se despediu beijando minha mão e saiu do quarto.
Eu me lembro até hoje, do dia que Maitê me acolheu em seu
apartamento. Quando a procurei para me defender de Katherine, fiquei três
dias em um hotel perto do escritório dela. Depois destes dias ela veio até
mim, meio apreensiva e perguntou se eu queria me mudar para o apartamento
dela. Achei uma proposta estranha, mas eu não tinha para onde ir. Fiquei
morando com ela por quase um ano, foi o tempo de eu conseguir um emprego
para poder me sustentar por conta própria.
Durante o ano que morei com Maitê, estudei para poder terminar minha
faculdade de contabilidade. O emprego que arranjei foi fruto das conexões
pessoais que ela tinha com alguns empresários que ela defendia. Sempre fui
grata por isso. Além de estudar, eu, aos poucos, fui contando tudo o que
Katherine tinha feito comigo. Minhas dores eram curadas com boas doses de
Martini e risadas no fim da tarde.
Aos poucos, Maitê foi me incentivando a conhecer o clube de BDSM
que ela frequenta. No começo, eu ia para agradá-la, mas aos poucos a
curiosidade de voltar a ter algumas experiências me tomaram o corpo e a
alma. Um dia antes de sairmos para o clube, segurei seu braço e me ajoelhei
diante dela.
— Quero fazer uma cena com você hoje no clube, me ajude a
transformar meus traumas em prazer novamente.
Ela me fez olhá-la e sorriu.
— Eu almejo esse dia desde o dia que te conheci.
— Perdoe ter demorado para pedir sua ajuda.
Ela me fez levantar.
— Que bom que pediu.
Ela selou nossos lábios e saímos do apartamento dela rumo ao clube.
Dentro do clube, ela me colocou uma coleira com a inicial dela e a
partir daquele dia ela me ensinou muitas coisas sobre o meu corpo. Tentei ser
dominante em uma cena, mas descobri que meu corpo prefere obedecer e não
mandar.
Nossas cenas começaram simples, sem amarras, sem shibari, sem
acessórios apenas um flogger, eu e ela num quarto privado. No primeiro
spank que recebi de Maitê, saí do clube atordoada por ter sentido prazer em
apanhar. Ela me sorriu e explicou o quanto essas sensações podem ser
normais se nos permitirmos vivê-las. A submissão que Maitê me ensinou foi
tão contrária a que eu aprendi com Katherine que no começo minha cabeça
dava nós de tão errado foi tudo o que vivi com ela.
A paciência de Maitê em me mostrar todos os tipos de chicote durou
semanas e ela sempre repetia: “Você precisa saber do que gosta e do que não
gosta.” Foram golpes com floggers, talas de equitação, rattans, palmatórias,
entre outros objetos para eu poder descobrir o que cada um me proporciona.
Hoje, graças a ela, hoje tenho minha lista de preferências.
Além do BDSM ela me ensinou a ser confiante e determinada. Maitê
contratou Sônia como minha psicóloga, mas eu aprendia muito mais com
Maitê do que com Sônia. Eu me espelhava e ainda me espelho nela para
moldar minha personalidade. Eu sei que posso confiar nela sem medo, é
como dizem por aí: “Eu ponho a mão no fogo por ela.”
Capítulo 30
Sete meses atrás
A frase “Eu não preciso sentir ciúme, Ágatha é minha.” me rondava a
mente toda vez que eu via Samuel perto de Ágatha e não estava sendo poucas
vezes na semana. Por um tempo ele tinha parado de conversar com ela, mas
atualmente parecia estar me desafiando, afinal há rumores de nosso
envolvimento pela empresa. Rumores criados pela cobra Elizabeth. Essa é
outra que ainda me tira do sério. Sônia está empenhada em me ajudar
novamente, visto que há muitos acontecimentos me deixando fora do eixo.
Minhas conversas com ela, muitas vezes, pareciam não fazer sentido
nenhum, mas analisando friamente o que foi dito na sessão, era perfeito para
os acontecimentos. Na hora parecia um emaranhado de ideias aleatórias, mas
depois fazia todo o sentido. Eu não gostava muito de sentar no divã, muitas
sessões fiquei em pé olhando o movimento da rua.
— Como está seu relacionamento com a Ágatha? — Sônia me
perguntou.
Eu estava perto da janela, olhei-a e segurei um sorriso antes de começar
a falar.
— Não temos um relacionamento.
— Vocês se veem toda sexta-feira e alguns finais de semana, dormem
juntas, fazem sexo… — Ela me olhou — Isso para mim, caracteriza um
relacionamento.
— Mas não é.
— Por que você não admite que é um relacionamento?
— Porque relacionamentos são complicados.
— Você tem medo de se comprometer?
— Eu só me ferro com comprometimentos. — Eu disse ríspida.
— Está se referindo à Katherine?
— Sim!
— Mas elas são diferentes, não são?
— Sim.
— Então…
— Eu não quero aceitar o que sinto por ela. — Eu disse nervosa.
— Por que está travando essa luta interna?
Eu me sentei no divã, mas não deitei.
— Eu me sinto apaixonada pela Ágatha, gosto de servi-la, do nosso
convívio…
— Mas?
— Eu não sei se gosto o suficiente para me entregar totalmente. Abrir a
porta da minha vida está sendo doloroso em alguns momentos. No começo do
nosso convívio foi difícil e ainda tem alguns momentos que são difíceis. Ela é
mais nova, ainda tem energia para sair, ter vários grupos de amigos e eu não
tenho essa característica social para acompanhá-la.
— Ela exige isso de você?
— Não! A única vez que tentamos, eu tive uma crise de ansiedade e
ciúme por causa de uma amiga dela.
— O que você sentiu naquele momento?
— Que eu iria perdê-la.
— Então você tem medo de perdê-la?
— Sim.
— Se você tem medo de perdê-la é porque gosta dela.
— Eu não disse que não gosto. Só não sei se devo me entregar
novamente, visto que a única vez que tentei ter um relacionamento mais
profundo com alguém sofri abusos psicológicos e físicos.
— Ela não é a Katherine.
— Não é, mas eu ainda sou a Anelise.
— Você também não é mais a mesma. — Ela me sorriu.
— Será, Sônia? Eu ainda me sinto uma adolescente insegura que quer
agradar a qualquer custo. — Olhei-a profundamente.
— Eu entendo que a linha que divide o BDSM de um relacionamento
abusivo pode ser tênue, mas você sabe diferenciar os dois, não sabe? Ágatha
já fez algo que você não consentiu?
— Não! Ela sempre explica o que vai fazer e me dá liberdade de não
concordar com as coisas que ela quer. Eu não tenho medo de um
relacionamento abusivo, tenho medo de me envolver e não ser correspondida.
— Ela não está correspondendo às suas expectativas?
— Está! Até demais, diria. Mas e se for apenas euforia? Se daqui um
mês ela falar que não quer mais nada e for embora? E se ela se cansar de mim
e me trocar por outra submissa?
— Isso é um risco de todos os relacionamentos, não é?
— É? Não sei, não gosto desse risco. Você entende que quero agradá-
la, mas morro de medo de me envolver demais? Por mim, ela passaria a
semana inteira em casa, viria morar comigo, mas eu não consigo deixar de ter
medo de tudo isso que estou sentindo.
— Você sabe que é isso que torna você humana, não sabe? Todo
mundo tem medo de relacionamentos, algumas pessoas simplesmente
ignoram isso e arriscam. Outras não.
— Eu ainda estou no time dos que não arriscam.
— Ágatha pode desistir de você se perceber que está dando mais do
que recebe.
O relógio marcou o fim da sessão e eu me levantei pensativa.
— Quer um conselho, fora das nossas sessões?
Olhei-a curiosa.
— Converse com a Ágatha e tente saber se o que você está oferecendo
está sendo o suficiente. Não se force a aceitar algo só por medo de perdê-la.
Agradeci o conselho e ela me acompanhou até a porta.
Naquela tarde, tive reunião com o setor financeiro todo e além de
exaustiva, foi contraditória em muitos momentos. Eu liderava uma equipe de
quatro homens que gostavam de me enfrentar por qualquer motivo e, muitas
vezes, Samuel dava abertura para esse tipo de comportamento. Ele era meu
chefe e isso significava muita coisa dentro de uma reunião como aquela.
Nossos confrontos voltaram a ser constantes e ele gostava de plateia. Tive
que respirar fundo para não pedir demissão, eu aguento qualquer tipo de
pressão, mas falta de respeito me irrita.
Depois da reunião, minha cabeça parecia que ia explodir, entrei na
minha sala e Ágatha me acompanhou. Ela falava sobre alguns documentos
que eu precisava assinar, explicava o que era cada um deles e eu não estava
escutando nada. Encostei na mesa de frente para ela, continuava a explicação.
Sutilmente fiz com que ela me olhasse e ela parou de falar me olhando
curiosa. Beijei-lhe os lábios suavemente e ela me olhou nervosa.
— A porta está aberta.
Eu olhei-a e passei a mão pelo seu rosto.
— Eu vi. Quer ir embora para minha casa comigo hoje?
— Hoje é quarta. — Olhou-me curiosa.
— Sim, eu sei. Você comentou que queria ver meu treino de boxe ao
vivo, ainda quer?
— Sim, quero. Aceito ir para sua casa. Vou aceitar antes que mude de
ideia. — Ágatha sorriu — A reunião foi péssima ou você não está bem por
outro motivo?
— A reunião foi péssima, como sempre.
— O que fez você me convidar para ir até sua casa, hoje?
— Não gostou?
— Ane, claro que gostei, só fiquei surpresa. — Ela me olhava
maliciosamente — Vou fazer nossa janta hoje?
— Não. — Eu sorri — Eu já engordei um quilo comendo sua comida
apenas de sexta. Hoje é apenas uma vitamina e uma salada pós treino.
— Eu sei fazer saladas e vitaminas também. — Ela riu.
— Está bem, pode fazer então. — Eu ri.
— O que eu fiz para ganhar tanto presente em um dia só?
— Se não quer…
Ela colocou o indicador em meus lábios e eu apenas sorri. Ágatha
estava sorrindo quando se afastou e fechou a porta com chave, voltou a se
aproximar devagar, quase parando. Eu a olhava intensamente, sabia que iria
me pedir algo. Foi até minha gaveta, pegou meu celular, minha carteira e o
saquinho preto com um plug de aço inox que ela mantinha ali para me
lembrar de minha submissão. Andou até a minha frente e me entregou o meu
celular.
— Avise o Bento que você não poderá ter aula com ele hoje.
Peguei o aparelho e ela segurou o saquinho preto na minha frente.
Avisei-o sobre o cancelamento e devolvi o celular.
— Você é minha até a hora que eu quiser?
— Sim, senhora. — Eu respondi imediatamente, mas eu estava nervosa
com aquela experiência.
— Ajoelhe-se e tire minha calcinha.
Obedeci e enfiei a mão por dentro da sua saia para alcançar sua
calcinha e abaixei-a. Ela foi até o banheiro e quando voltou, entreguei o
pedaço de pano a ela e Ágatha deu a volta na mesa para sentar-se na minha
cadeira. Meu olhar a perseguia. Sorriu ao sentar e mandou eu olhar por baixo
da mesa enquanto ela abriu as pernas.
— O que vê?
— Sua buceta.
— Gosta da visão que está tendo?
— Sim, senhora.
— Quer prová-la? Quer saber o quanto ela ficou feliz com seu convite?
— Sim, senhora.
Ela colocou o celular, a carteira e o saquinho preto sobre a mesa.
— Pede para mim, me diga o que você quer?
— Quero chupar sua buceta, posso?
— Aproxime-se por baixo da mesa.
Engatinhei até ela. Subiu a saia e sentou mais na beirada da cadeira se
expondo mais para mim. Eu não tinha como levantar a cabeça, a visão que eu
tinha era da sua buceta lisinha toda aberta. Mandou-me me aproximar mais
um pouco e colocar a língua para fora. Obedeci e ela puxou a cadeira para
perto da mesa até sua buceta encostar em minha língua. Instintivamente eu
lambi e ela afastou a cadeira, abaixou o tronco até me olhar nos olhos.
— Eu não me expressei bem. Abra a boca. — Obedeci — Coloque a
língua para fora. — Obedeci — Não se mexa. Respire. Não me lamba. Não
feche a boca. Não faça nada. Nada! Até eu mandar. Do contrário vou ter que
te castigar. Entendeu?
Afirmei com a cabeça sem fechar a boca.
Ela sentou na ponta da cadeira e puxou-a em minha direção. Minha
língua recebeu-a com dificuldades de ficar parada, era penoso ter uma buceta
encostada em sua língua e não poder lambê-la. Seu aroma me invadia as
narinas e minha buceta pulsava querendo atenção. Que tortura era aquela? Ela
se afastou um pouco e eu estava ofegante e, como uma viciada, querendo
mais. Aproximou-se novamente. Minha língua foi encaixada perfeitamente
em sua fenda. Eu estava sendo sufocada por uma buceta extremamente
apetitosa. Ela se afastou novamente e minha respiração estava
descompassada.
— Você precisa respirar. — Ela me olhou — Acalme-se. — Ela
aproximou o rosto do meu — Feche a boca, engula a saliva, respire. — Os
comandos dela eram como se eu não soubesse fazer aquilo sozinha —
Quando estiver pronta volte a sua posição. — Olhei-a e lembrei de respirar e
voltei a abrir a boca.
Ela me sorriu e voltou a sua posição. O sabor estava cada vez mais
intenso e marcante, sabia que estava agradando. Desta vez ela ficou mais
tempo, senti suas pulsações sexuais aumentando.
— Me chupa. — Ela ordenou e eu obedeci.
Sabe quando você derrete chocolate na boca só para prolongar o gosto
do doce? Era essa a sensação que eu estava tendo ao chupá-la depois de ser
privada de lambê-la. Eu estava com uma vontade enorme de me tocar e sabia
que se fizesse seria castigada. Ela afastou a cadeira me deixando órfã de sua
carne.
— Quer mais, minha putinha? — ela estava ofegante e seu sorriso era
visível.
— Sim, senhora.
— Venha até mim.
Engatinhei ofegante até encontrar sua buceta novamente. Não precisei
de muito esforço para sentir seu gozo em minha boca. Eu queria mais, queria
seu segundo gozo, mas ela afastou minha cabeça do meio de suas pernas.
— Eu sei que você quer mais, deixe eu te chupar mais. — Beijei a mão
que segurava meu rosto afastado de seu corpo.
— Mais tarde, minha esfomeada, mais tarde.
— Promete?
— Prometo. Sente-se sob suas pernas dobradas.
Naquele momento percebi o quão excitada eu estava. Ela se levantou,
abaixou a saia e foi até o banheiro. Demorou alguns minutos e quando voltou
eu estava na mesma posição. Aproximou-se, passou a mão em minha cabeça
e beijou-lhe o topo.
— Minha putinha obediente. Venha, vamos para sua casa.
— Posso lavar meu rosto? — perguntei me levantando.
— Quer tirar meu cheiro de você? — sorriu.
— Não, senhora, eu adoro seu cheiro, mas estamos no nosso ambiente
de trabalho.
Ela me sorriu e acatou meu pedido. Fui até o banheiro e lavei-me,
quando voltei ela estava sentada na minha cadeira novamente e me observava
com a perna direita cruzada sob a esquerda. Aproximei-me imaginando qual
seria o próximo passo antes de irmos para casa, mas ela não precisou dizer
uma palavra. O plug estava fora do saquinho preto ao lado de um sachê de
lubrificante. Abri o botão da minha calça.
— Se eu colocar o plug em você, terá que se controlar, você está
proibida de gozar até eu permitir.
— Entendido, senhora.
Abri o zíper, me aproximei da mesa, abaixei a calça e deitei o tronco no
móvel. Minha respiração estava levemente alterada pela excitação do ato.
Olhando para frente, alcancei minhas nádegas e separei-as.
— Você está muito bem treinada. — Beijou minha nádega.
— Obrigada, domme!
O gelado do lubrificante me fez engolir seco e tive que pensar em outra
coisa para não gozar com a penetração do plug. Com o objeto em mim,
Ágatha passou a mão em minha buceta me atiçando e arrancando um gemido
de excitação.
— Controle-se. Parece que alguém gostou de ser sufocada por uma
buceta.
Passou a mão em mim novamente e eu tentei não corresponder com
outro gemido, mas foi em vão. Mandou-me me recompor e saímos da sala
com ela andando na minha frente. Minhas mãos nos bolsos da calça me
acalmavam e mostravam ao mundo que eu estava tranquila, mas por dentro…
Por dentro eu tinha todas as emoções bagunçadas e aquele plug nunca me
ajudava a ficar tranquila.
No trajeto para casa, ela me contou sobre as novas idas da mãe ao
médico. O meu tesão deveria diminuir com a conversa e o trânsito, mas o
cheiro dela me invadia lembrando do seu gosto. No elevador do prédio do
meu apartamento, ela se posicionou atrás de mim e me abraçou, ela fazia isso
toda vez que vínhamos para minha casa. Era reconfortante sentir seu calor
depois de um dia cansativo. Entramos no apartamento e tiramos nossos
sapatos.
— Que horas vai começar seu treino?
— Quando a senhora quiser.
— Pode ser agora, então.
— A senhora permite que eu tire o plug?
— Vá para o quarto que eu mesma tiro.
— Obrigada.
Fui até o quarto de treino e após alguns minutos ela veio até mim para
me despir. Beijei-lhe a testa e vi um sorriso brotar em seu rosto. Ágatha era a
dominatrix mais fácil de agradar que já tive, mesmo entre as que tive dentro
de clubes. Ela era tranquila em tudo o que propunha e sentia em uma cena,
isso me deixava mais serena para agradá-la.
Sem a camisa ela desabotoou a minha calça e me olhou passando a mão
em meu rosto. O cheiro de sabonete era recente. Segurei seu indicador entre
meus dentes e ela me sorriu. Chupei-o enquanto encarava-a. Ela me sorriu.
— Putinha gulosa. Ainda não é hora. — Retirou o dedo da minha boca.
Eu apenas sorri e ela me virou de frente para a parede e abaixou minha
calça e minha calcinha. Tirou o plug devagar e eu respirei fundo para me
segurar. Levantou minha calcinha e me deu um tapa na bunda.
— Quero ver esses músculos suados.
Tirei a calça dos meus calcanhares e passei a bandagem nas mãos e
pulsos. Ela abriu a porta balcão e sentou-se em um pufe na pequena varanda
para me olhar. Comecei o treino como se ela não estivesse ali. Fiz
abdominais pendurada no saco de pancadas. Eu me agarrava pelas pernas e
descia o corpo de ponta cabeça para voltar a subir. Eram cem abdominais,
mas no meio deles vi que ela estava apenas de saia e sutiã. Olhei-a de ponta
cabeça e ela me sorriu levantando e tirando a saia. Ágatha estava
fotografando meu treino e no último abdominal, ela estava sentada no pufe
apenas de calcinha e sutiã. Tenho certeza que essa cena nunca mais vai sair
da minha cabeça. Desci do saco e comecei a socar e treinar esquivas,
precisava focar nos golpes. Faltavam quinze minutos para o fim e ela
começou a se masturbar, se exibir para mim, ainda vestia a calcinha e minha
concentração foi embora, eu só conseguia olhá-la.
— Não pare! Se parar vai me frustrar.
Voltei a bater no saco com mais vontade do que antes, estava me
exibindo para ela e ela para mim. Seus gemidos me convidavam a me juntar a
ela, mas eu não podia. Batia no saco para esquecer da minha excitação em vê-
la se masturbando, foram os cinco minutos mais intensos que tive batendo em
um saco de pancadas. Ouvi seu gozo e eu queria ter participado da festa. Eu
estava exausta e excitada, olhei-a se contorcendo de prazer e eu não podia
tocá-la. Ela me olhava e sorria. Levantou-se vindo em minha direção.
Encostou-me no saco, levantou meus braços e com o cadarço da luva me
amarrou no suporte. Eu ainda estava com a respiração alterada devido ao
treino. Meu corpo estava molhado de suor, ela me fez chupar seu dedo
novamente, seu gosto me excitou.
— Gosta de chupar uma buceta?
Concordei chupando ainda mais seu dedo. Ela se afastou e me
fotografou naquela posição. Tirou minha calcinha e tirou outra foto.
Desamarrou-me e me mandou deitar no chão com os braços esticados
para cima. Obedeci e ela amarrou uma luva na outra.
— O que fizemos no escritório foi um treino. — Ela tirou a própria
calcinha — Faça a mesma coisa e não me chupe enquanto eu não mandar. —
Abri a boca e coloquei a língua para fora e ela sentou na minha cara.
Eu via o rosto de satisfação dela e ela me olhava profundamente. Saiu
de cima de mim e eu respirei profundamente.
— Deixa eu te chupar, por favor.
Ela adorava me ver implorando por algo. Olhou-me e me deu um
sorriso de canto de boca voltando a se sentar.
— Chupa!
Eu me deliciei com sua buceta em minha cara. O gosto do gozo recente
me incentivou a querer arrancar mais êxtase de minha domme. Ágatha tinha
me viciado em seu gosto e sua carne saborosa. Seu néctar me lambuzou a
cara e seus espasmos corporais me avisaram que eu tinha feito tudo certo
mais uma vez. Ela saiu de cima do meu rosto, sentou no meu ventre e me
desamarrou tirando minhas luvas. Abaixou meus braços devagar e pousou-os
nas suas coxas.
— Tenho uma péssima notícia para você. — Olhou-me séria.
Olhei-a curiosa e aflita.
— Eu não vou mais me contentar em ver seu treino apenas pelas
câmeras de segurança. — Ela me beijou e eu ri.
— Não me assuste falando sério desse jeito.
Ela riu.
— Vai tomar um banho, você está fedida.
— Você também está.
Eu ri e ela me ajudou a levantar do chão, instintivamente puxei-a para
um beijo lascivo e cheio de tesão reprimido da minha parte. Recebi um tapa
na bunda em represália ao beijo, mas eu continuei e ela começou a rir me
batendo na bunda novamente. Apertei suas nádegas, puxando-a de encontro
ao meu corpo.
— Eu devia te castigar por me atacar dessa maneira. — Falou
sussurrando.
— Você é gostosa. — Eu sussurrei no seu ouvido.
— Vá tomar banho! — Seus olhos estavam brilhantes.
— Vem comigo?
— Abusada!
Eu me ajoelhei e segurei suas coxas, puxando-a para perto do meu
corpo.
— Deixa eu te dar banho. — Arranhei suas coxas na parte de trás e ela
se arrepiou — Por favor!
Seu ventre estava na altura no meu rosto, beijei-o e me lembrei de
quando eu o assinei.
— Hoje, não! Vamos tomar banho separadas. — Ela me fez olhá-la —
Após o banho, seque os cabelos e prenda-o com um rabo de cavalo alto.
Estarei na cozinha preparando sua salada e sua vitamina.
Ela beijou minha testa e saiu.
Tomei um banho caprichado e sequei os cabelos como me pediu.
Quando saí do banheiro, vi duas cintas de restrição para coxa acoplada com
uma algema para pulso junto com lubrificante, um plug anal e um bilhete.
“Use!” Ágatha aparentava estar empolgada por ter vindo em casa num dia
diferente. Coloquei o plug e minha excitação voltou a me atormentar. Passei a
cinta nas duas coxas e prendi os pulsos ao lado de cada perna. Procurei-a na
cozinha e ela estava cozinhando usando apenas uma blusa solta que cobria
metade de sua bunda e cabelos molhados. Havia uma almofada no meio da
cozinha, me aproximei e me ajoelhei, ela continuou a cozinhar. O plug
aumentava meu prazer em vê-la cozinhando para mim. Eu tinha a visão
perfeita dela dali. Depois de alguns minutos mexendo em uma panela se
aproximou de mim
— Temos que esperar alguns minutos antes de comer. — Ela me fez
olhá-la — Você quer brincar antes de jantar?
— Sim, senhora.
— Levante-se e vamos até o quarto.
Não foi uma tarefa fácil levantar sem me sentir excitada e levemente
desconfortável. Andar também não era muito gostoso, mas o plug me
massageando me fazia pensar nele e não na restrição dos braços. Andar atrás
dela sempre me dava uma visão deliciosa de seu corpo. Aquela blusa
cobrindo apenas metade de seu corpo me dava vontade de agarrá-la.
Entramos no quarto e ela me soltou apenas os pulsos.
— Nós vamos tentar uma coisa nova, nunca fiz com ninguém, então
não se preocupe se não der certo. Está bem?
— Sim, senhora.
Ágatha foi até o guarda-roupa e abriu-o pegando um rattan longo. Ela
se sentou encostada na parede e deu um tapinha no chão na sua frente, era seu
gesto para eu me aproximar e me ajoelhar. Obedeci.
— Enquanto você me chupa, eu te bato. Quanto mais rápido me fizer
gozar, menos você apanha.
— Sim, senhora.
— Deite-se de bruços e deixe os braços esticados na lateral do corpo.
Ela se ajoelhou e alcançou meus pulsos, prendendo-os novamente à
cinta que estava na minha coxa. Voltou a sentar e tirou a blusa. Ela ergueu
meu rosto e se posicionou embaixo dele. Eu estava de boca na sua buceta. Ela
me bateu com a vara e eu tive que tomar cuidado para não a morder. Foi
prazeroso, mas minha boca estava ocupada com outra coisa para poder
agradecer. Concentrei minhas energias nela, queria fazê-la gozar novamente.
Os golpes somatizados com a restrição das mãos e o plug me
desconcentraram da tarefa de chupá-la. A ardência e a frequência de golpes
me incentivaram a continuar, mas a posição era desconfortável. Minha
respiração era ofegante e eu tinha que me policiar para não pressionar demais
o rosto em sua carne. Amo satisfazê-la e sua buceta se mostrava receptiva a
todas as minhas investidas. Minha bunda se contraia a cada golpe e meu
prazer aumentava, queria poder me aliviar, já tinha sido estimulada e
acalmada várias vezes naquele dia. Eu sentia minha buceta latejar cada vez
que o rattan me acertava. Eu estava excitada demais e seu gozo me
presenteou marcando meu rosto com seu néctar. Ela levantou meu rosto e me
virou de barriga para cima. Puxou meu corpo ofegante para perto do seu e me
abraçou por trás beijando meu pescoço.
— Você é perfeita.
Eu estava sensível e excitada, ela apertou o bico dos meus seios me
fazendo contrair o corpo todo. Ágatha separou minhas pernas e um tapa ardeu
na minha buceta.
— Sua vez.
Outro tapa e eu retorci meu corpo em sua mão querendo fechar a perna,
tamanha era a minha excitação.
— Não feche a perna.
Ela bateu de novo e de novo e de novo... meu gozo veio forte e
incontrolável. Buscou minha boca com um beijo gostoso e me penetrou dois
dedos com força e ritmo intenso, meu corpo convulsionava em seus braços. O
beijo lascivo me arrancava um orgasmo múltiplo indescritível. Enquanto me
recuperava ela me fez olhá-la.
— Quem é minha putinha?
— Eu sou. — Eu respondi ofegante e derretida em seus braços.
Apertou-me mais contra seu corpo e levou os dedos melados até a boca
e chupou-os.
— Gosto de puta safada. — Me sussurrou.
Eu ri e ela me beijou o rosto.
— Qual a dificuldade dessa cena?
— Altíssima.
— Você se sentiu como?
— Na maior parte do tempo sem ar, mas excitada. E você? Foi como
esperava?
Ela me soltou e tirou o plug com cuidado.
— Excitada, foi melhor do que eu esperava. Você sempre me
surpreende, daqui a pouco vou ficar sem ideias.
— Duvido.
Ela riu e me beijou o rosto.
— Estou muito feliz pelo seu convite.
— Percebi sua empolgação. — Eu ri — Agradeça à Sônia.
— Sua psicóloga?
— Sim.
Eu me sentei de frente para ela.
— Eu estou dando o suficiente para você? Você está satisfeita com o
que temos?
— Eu gostaria de ter mais, porém eu estou respeitando o seu pedido
para irmos devagar. Eu sou muito intensa nos meus sentimentos, não tenho
medo de tê-los ou demonstrá-los. — Eu apenas olhei-a sem responder — E
você é o oposto.
Eu me afastei um pouco dela e me levantei. Ágatha se levantou e vestiu
a blusa que estava antes.
— Vamos comer.
Ela saiu do quarto e uma angústia me invadiu o peito por ter começado
aquele assunto e não ter tido coragem de continuá-lo. Eu respirei fundo antes
de dar o primeiro passo em direção da porta. Andei devagar, quase parando,
não devia ter feito aquela pergunta.
Quando entrei na cozinha, me sentia perdida e fiquei parada perto da
porta. Ela servia nosso jantar nos pratos e percebi sua inquietude.
— Sente-se.
Aproximei-me e sentei sem olhá-la. Colocou o prato na minha frente.
— Eu quero me entregar cada vez mais a você. O quão sério isso é para
você?
— Defina “isso”. — Me fez olhá-la.
— Nossa relação.
Ela me sorriu.
— Eu estou seguindo suas regras. É doloroso colocar cabresto nos
meus sentimentos, amar devagar não é meu estilo.
— Hoje de manhã tive uma conversa intensa com a Sônia sobre nós
duas. — Hesitei em continuar para não me arrepender.
Ela apenas me olhou curiosa.
— Eu não quero te perder, mas não posso dar mais do que estou dando.
Ágatha me virou de frente para ela.
— E eu estou aqui, não estou?
— Até quando estará?
— Sempre estarei. — Ela encostou sua testa na minha e me olhou
profundamente — Eu estou em você e você está em mim, eu sinto sua
entrega em cada cena, em cada gesto, em cada toque e em cada beijo. Eu
sinto sua evolução como submissa, minha menina. — Ela me beijou
suavemente — Eu sinto cada pedaço do seu corpo cedendo e eu não vou
parar até você me disser que é minha por inteiro. O que sinto por você não
tem volta, Anelise. — Minha boca buscou a sua, mas ela se afastou.
— Deixa eu te beijar, eu quero ser sua. — Meu corpo tremia exigindo
nosso beijo — Me beija, me ensina a ser sua. — Sua boca se apossou da
minha com desejo, puxou meu corpo para perto do seu e arranhou minhas
costas enquanto o beijo me transportava para o delírio.
— Ensinarei, minha menina, ensinarei. — Sussurrou entre um beijo e
outro.
Capítulo 31
Dias atuais - Décima primeira semana
Eu não sei dizer se eu estava mais entediada na cama de hospital ou na
cela da prisão. Ainda faltavam seis dias para eu voltar para a prisão. Maitê
estava comigo o tempo todo, minhas alucinações não voltaram mais, mas em
meus sonhos Ágatha aparecia toda noite para me visitar ou perturbar. Quando
vinha para me visitar, passávamos momento agradáveis, mas quando vinha
me atormentar, ela aparecia ensanguentada e minhas mãos atadas não podiam
salvá-la da morte. Ela agonizava na minha frente e eu apenas olhava.
Insisti para Maitê vender meu apartamento, afinal, poderia ficar alguns
dias em liberdade antes do julgamento. Contestou, pois sabia o quanto eu
gostava daquele apartamento, mas fez o que pedi. A liberdade era minha e
não dela.
Em uma tarde, enquanto ela trabalhava, eu lhe chamei para sentar
comigo na cama. Sentou-se e se aconchegou deitando ao meu lado e me
aninhando em seus braços.
— Sobre o que conversamos no dia que eu voltei do coma
— Não fale nada. Eu sei que você estava muito envolvida com essa
garota e não quero que você me fale coisas sem pensar.
— Eu serei eternamente grata por tudo o que você já fez e ainda faz por
mim, mas não quero te dar esperanças.
— Você nunca deu.
Eu me sentei e olhei-a.
— Você está frequentando o clube novamente?
— Sim.
— Tenho certeza que vai encontrar uma sub a sua altura lá.
— Não perfeita como você.
— Você pode moldar uma ao seu gosto e eu não sou perfeita.
— Por que estamos tendo essa conversa?
— Porquê eu quero sua felicidade.
— E eu quero a sua, bebê. Mesmo se não for comigo.
— Não fale assim… você sempre estará comigo.
— Sim, estarei. E enquanto você conversar com Ágatha em seus
sonhos, nunca terei chance de vencê-la.
— Eventualmente isso passará
— Até lá, eu não vou ficar sentada te esperando.
Eu ri alto e voltei a deitar em seus braços.
— Você será uma ótima domme e eu terei inveja da sua sub.
— Você é minha opção número um, sabe disso, não é?
— Como ser submissa de alguém se estarei presa pelos próximos vinte
anos?
— Eu não vou deixar isso acontecer.
— Estamos nessa investigação há meses e não saímos do lugar.
— Contratei um novo especialista em investigações e internet, quem
sabe conseguimos descobrir algo.
— Não me dê esperanças.
— Não estou dando, estou comentando um fato.
Ficamos em silêncio e após algum tempo ela voltou a trabalhar.
A minha esperança era poder ao menos achar um fio solto de tudo isso,
mas não estava sendo fácil.
Depois de dois dias do anúncio de venda do apartamento, Maitê
recebeu uma oferta pelo apartamento. Ela tinha pedido o dobro do que ele
valia e um louco estava querendo comprar nos termos dela. Eu conseguiria
pagar a fiança e ainda teria uma reserva para depois de cumprir uma pena que
eu não tenho culpa. Desconfiei do negócio, mas aconteceu de verdade e ela
passou dois dias longe de mim para poder encaixotar minhas coisas e levá-las
para o seu apartamento. Alguns móveis o novo proprietário pagou para ficar,
inclusive os dois móveis do quarto de BDSM. Tive a mesma sensação de
impotência de quando me separei e ela apareceu e me deu a notícia que meus
pertences estavam na sua casa.
O pedido de pagamento da minha fiança foi feito, mas demoraria para
ser respondido. Minha esperança de poder ver o mar pela última vez antes do
julgamento, estava oscilando muito e seria frustrante se não conseguisse.
Capítulo 32
Seis meses atrás
Naquela quarta-feira, Ágatha dormiu em casa, na minha cama depois
de usar o meu corpo como desejava. Eu gostei daquela sensação de servidão
e de envolvimento. Na quinta pela manhã, acordei antes dela e apesar de não
querer levantar, precisava. Meu corpo estava mole, querendo mais cinco
minutos de descanso. Levantei, vesti a calça social que eu usaria naquele dia
e fiz um café com ovos mexidos e levei para ela em uma bandeja. Deixei a
bandeja ao pé da cama e me sentei ao seu lado. Beijei sua cabeça e ela
acordou assustada.
— Bom dia! — sussurrei.
— Bom dia, minha menina. — Me deu um selinho e sentou-se.
Servi-lhe o café e ela sorriu com a atitude. Ela tomou o primeiro gole e
apenas me olhou sem reação.
— Precisamos melhorar seus dotes culinários.
— Sim. — Eu ri — Eu sempre erro a quantidade de pó do café.
Ela riu e me beijou o rosto.
— Mesmo assim você continua sendo perfeita. — Ela me sorriu —
Quero fazer um teste com você. — Olhei-a curiosa — Sábado começa o
campeonato de futevôlei que eu participo com as meninas que moram
comigo. Quero que você vá assistir. Poderá jogar também se quiser. Só que
você terá que confiar em mim, cem por cento do tempo.
— Quem é sua dupla? Elizabeth?
— Ano passado foi, mas esse ano só será se você se sentir confortável.
— Não me sentirei confortável. — Olhei-a — Lembre-se disso quando
estiver jogando ao lado dela. — Passei o indicador arrumando uma mecha de
seu cabelo atrás da orelha — Eu estarei lá, confiarei em ti, não me
decepcione.
— Não pretendo.
— Ontem depois que você dormiu, eu lavei sua blusa, deve estar seca,
vou passar enquanto você toma banho.
— Obrigada, minha menina.
Ainda era estranho ouvi-la me chamando de minha menina. Ágatha
comeu os ovos mexidos e disse que estavam bons, mas eu duvidei um pouco
pela cara que ela fez.
Chegamos na empresa no mesmo táxi e o olhar de curiosidade de
Elizabeth foi quem nos recepcionou na entrada do prédio. Sua insistência em
nos olhar me irritou e me fez lembrar do jogo que elas teriam no sábado.
Dentro do elevador, Ágatha me fez olhá-la.
— Por que ela te irrita tanto? Sinto até sua respiração ficar diferente
quando está perto dela.
Eu não respondi e tentei afastar meu rosto, mas ela não deixou.
— Anelise, eu fiz uma pergunta e eu mereço uma resposta, não
mereço?
— Desculpe, mas eu não sei te responder. Ela age como se você fosse
dela. Vocês já fizeram alguma cena ou tiveram relação sexual?
— Não!
— Ela sabe dos seus gostos dentro de quatro paredes?
— Sabe.
— Então ela sabe dos meus gostos também.
— Acaba ficando implícito, não é?
— Eu detesto essa garota.
Ela parou o elevador.
— Lembra do dia que eu quase te castiguei pelo ciúme que sentiu do
Samuel?
— Sim, senhora.
— Você ainda se lembra da frase, não lembra?
— “Eu não preciso sentir ciúme, Ágatha é minha.”
— Essa frase ainda é válida e eu sou sua.
Ela soltou meu rosto depois de beijar meus lábios suavemente, apertou
o botão para o elevador continuar. Quando saímos, ela me entregou apenas
meu celular e eu segui para minha sala sem questioná-la.
Tive um dia cheio de planilhas e números e só voltei a vê-la no fim da
tarde, pois almocei com alguns fornecedores de equipamentos eletrônicos.
Ela entrou na sala e se aproximou devagar, como gostava de fazer para
chamar minha atenção e ela conseguia toda vez.
— Meu celular parou de funcionar, você pode me ajudar com ele?
Ela estendeu o aparelho e eu segurei-o olhando-a. Verifiquei o aparelho
e ele dava sinais de instabilidade, eu poderia consertá-lo, mas seria apenas um
tempo extra de vida.
— Você tem backup das suas coisas? Vou precisar resetar as
configurações.
— Sim.
A tela inicial do celular era uma foto minha pendurada no saco de
pancadas fazendo abdominal. Mostrei o celular para ela.
— Minha foto na sua proteção de tela? Isso é muito adolescente. — Eu
brinquei e ela riu alto me fazendo sorrir.
— Eu não resisto a uma foto sua. Ele tem salvação?
— Não por muito tempo.
Ela me olhou chateada pela notícia. Eu resetei as configurações do
celular, mas ele continuava instável. Pelo que pude analisar, o aparelho já
tinha vários anos de uso e quando se tratava de dinheiro, eu sabia que Ágatha
não tinha como gastar. Consegui estabilizá-lo depois de muitas tentativas.
— Você aceita uma sugestão sobre seu aparelho?
— Você é a garota das tecnologias, o que me sugere?
— Ele está defasado e a tela dele está dando sinais de que vai queimar
em breve. Deixa-me te dar um novo, até hoje você ainda não usou o cartão
que te dei, há saldo o suficiente para você usar com um aparelho novo e parar
de se preocupar com isso.
— Eu não vou poder aceitar. Você tem gastado com os médicos da
minha mãe, não posso aceitar.
— Não seja teimosa. Ajudar sua mãe não está sendo nenhum sacrifício
para mim e um celular vai ser menos ainda. E o valor do aparelho sairá do
saldo do seu cartão, então você pode fingir que o dinheiro não é meu e gastar
como achar melhor.
— Está bem, só vou aceitar porque este aparelho está me dando mais
trabalho do que ajudando. Você pode me ajudar a escolher um modelo?
— Posso. Já tenho um em mente.
Abri o navegador no computador e mostrei o aparelho para ela.
— Muito caro, não quero um celular feito de ouro.
Eu ri e puxei-a para se sentar nas minhas pernas, mostrei mais alguns
modelos e enquanto ela navegava entre as abas abertas eu me aproveitava do
tempo que estávamos passando juntas. Pela manhã ela passou meu perfume e
o cheiro dele nela chegava a ser indecente de tão perfeito. Entre os modelos
que mostrei, ela ficou com um intermediário entre eles.
— Você acha que é uma boa escolha?
— Sim, você vai gostar do desempenho e da câmera dele.
— Vou confiar em você.
Eu ri e ela me beijou me agradecendo.
— Nesta loja, você pode retirar amanhã.
— Você vai comigo buscar?
— Sim. Você ainda não me devolveu minha carteira, isso é sinal do que
exatamente?
— De que você ainda é minha.
— Mais um teste?
— Sim.
— Ok. Antes de irmos para o meu apartamento você quer passar no
seu? Você vai precisar de roupas para vir trabalhar amanhã, não vai? Ou vai
vir com essa novamente? — eu ri.
— Vou ter que passar, vir com essa blusa de novo não vai dar. — Ela
riu.
Ela foi até sua mesa pegar o cartão que eu o havia dado para pagar o
celular. Voltou e sentou em minhas pernas novamente. Fez a compra e me
agradeceu com um beijo lascivo.
— Meu perfume em você, fica uma delícia.
Beijei-lhe o pescoço e ela atacou meus lábios sorrindo.
— Você é perfeita. — Ela me sussurrou me beijando o pescoço me
arrepiando.
Passamos no seu apartamento para pegarmos suas roupas. A casa
estava uma bagunça, mas seu quarto era um contraste com a sala de televisão.
A porta estava trancada e ela disse que era para manter Elizabeth longe de
suas coisas. Eu sentei na beirada da cama para esperá-la e ela aparentava estar
nervosa com a situação. Logo uma garota, que não devia passar dos vinte e
dois anos apareceu na porta e se assustou comigo. Ágatha nos apresentou,
Maria Augusta era o nome, mas pediu para chamá-la de Guta. Pediu uma saia
específica emprestada e se despediu, pois a roupa não estava lá. Ela voltou a
separar suas roupas, colocou tudo em uma mochila e disse que estava pronta.
Quando estávamos saindo, Elizabeth estava entrando e pela primeira vez não
senti nada. Nem raiva, nem ciúme. Passamos por ela sem falar nada e Ágatha
pediu um táxi para nós.
Chegamos no meu apartamento e minutos depois a campainha tocou,
era Bento. Ela me mandou atendê-lo e ir treinar, pois ela iria tomar banho.
Naquela noite, jantamos algo leve e dormimos tentando assistir a um filme.
Agradeci por ela ter acordado antes do que eu e ter preparado o café.
Encontrei-a na cozinha, servindo-me uma xícara de café.
— Caiu da cama com medo do meu café?
Ela riu e me deu um selinho de bom dia.
— Você está um pouco calada desde ontem. Está tudo bem? — Eu fiz
ela me olhar.
— Enxaqueca. — Seu semblante era de quem estava sofrendo.
— Por que não me disse nada?
— Porque geralmente passa quando durmo, mas acordou pior.
— Coma e tome alguma coisa para dor, ainda temos tempo, deite na
minha cama para descansar.
Enquanto ela comia, peguei dois tipos de remédio para dor de cabeça e
lhe entreguei. Tomou um deles e deitamos na cama depois de deixá-lo escuro
e numa temperatura agradável. Ela estava de costas para mim, enquanto ela
adormecia eu lhe fazia carinho nas costas. Nestes minutos de carinhos,
percebi o quanto a queria, o quanto precisava da sua presença, o quanto
queria protegê-la e servi-la.
Quando senti seu sono profundo, levantei, fechei a porta e avisei a
empresa sobre a nossa falta. Sentei no chão da sala para começar a trabalhar e
Maitê me ligou para saber como eu estava e contar que a experiência de
morar com Cíntia ainda estava um pouco desastrosa. Conversamos alguns
minutos e desliguei.
Ágatha acordou várias horas depois e apareceu na sala sonolenta e
perdida, sentou ao meu lado e eu aninhei-a em meus braços.
— Perdemos hora.
— Já avisei a empresa, você está melhor?
— Sim, obrigada por cuidar de mim.
— Sempre que precisar estarei aqui. — Beijei-lhe a testa.
Ficamos em silêncio por um tempo e ela adormeceu em meus braços,
sorri com a cena e continuei com minhas planilhas. Fiz algumas ligações e ela
permanecia ali, entre acordada e dormindo.
— Eu não consigo acordar. — Ela resmungou.
— Aproveite para dormir.
— Eu poderia me acostumar a dormir nos seus braços.
Eu ri e beijei-lhe a lateral da cabeça.
Perto do meio do dia eu fiz o pedido do nosso almoço e quando chegou
chamei-a para levantar. Ela levantou e parecia estar melhor. Atendi o
entregador e fomos até a cozinha, nos servi e ela me olhava intensamente.
Entreguei meu garfo a ela e seu sorriso genuíno me contagiou.
— Você está melhor? Menos sonolenta?
— Sim. O que falou para o departamento de recursos humanos?
— Que você iria faltar e não teria como levar atestado médico, mas que
não era para descontar do seu salário.
— É melhor eu voltar depois do almoço.
— Tem certeza?
— Sim.
— Já tinha me acostumado com você deitada nos meus braços.
Ela me beijou com desejo.
— Quando eu voltar você me põe em seus braços para fazer outra
coisa.
— Vejo que sarou mesmo. Você sempre tem enxaqueca?
— Quando estou nervosa.
— O que está te deixando nervosa?
— Esse tempo com você… não quero fazer besteiras.
Eu sorri pela sua sinceridade e almoçamos conversando amenidades.
Ela se vestiu e se despediu com um beijo devasso.
— Quando eu voltar espero te encontrar de banho tomado e bem
disposta. — Deixou o celular comigo, mas levou a carteira.
— Sim, senhora.
Ágatha saiu pela porta e eu me senti abandonada. Organizei as louças
que sujamos na máquina de lavar e voltei a trabalhar. Passei a tarde com os
pensamentos perambulando entre as planilhas e a vontade de tê-la em meus
braços novamente. Ela me ligou no meio da tarde para avisar que iria
demorar um pouco mais, pois iria buscar o celular novo.
Estipulei mais ou menos o tempo que ela demoraria para ir até o
shopping e fui tomar banho com uma folga de vinte minutos. Fiz uma trança
nos meus cabelos e esperei-a com um conjunto de lingerie branco e um
roupão de seda vermelho. Ela demorou bem mais do que meus cálculos,
mandei uma mensagem só para me certificar se estava tudo bem, mas ela não
me respondeu. A campainha tocou minutos depois e eu respirei aliviada.
Ágatha entrou e me olhou intensamente quando viu meus trajes.
Beijou-me e desculpou-se pelo atraso.
— O trânsito está infernal.
— Deu tudo certo?
— Sim. — Me beijou novamente — Você está sexy com essa lingerie.
Eu apenas sorri e eu puxei-a para um beijo lascivo.
— Quero assistir você tomando banho.
— Passou bem a tarde? — Segurou minha mão e começou a andar em
direção do banheiro.
— Sim. Apenas com saudade do seu corpo deitado em meus braços. —
Ela parou de andar e me olhou sorrindo.
— Eu ouvi bem? Saudade?
— Sim. — Puxei-a para um longo beijo.
Ergui seu corpo do chão e andei até o banheiro com nossas bocas
grudadas, ajoelhei-me e desabotoei sua calça. Eu olhei-a e vi que estava aérea
e aparentemente preocupada com algo que não envolvia nosso possível sexo
pós banho.
— Você não está preocupada apenas comigo e nosso tempo juntas.
Você quer me contar o que houve? — Levantei e ela me abraçou.
Senti seu corpo me apertar e seu choro foi inevitável.
— Os exames da minha mãe ficaram pronto, ela está com câncer no
cérebro.
Eu apenas abracei-a com mais força, não tinha o que falar.
Capítulo 33
Dias atuais - Décima segunda semana
A minha soltura foi negada e a minha prisão domiciliar até o
julgamento também. Eu teria que voltar para o presídio, enfrentar Célia e
mais um monte de outros problemas. Eram minhas últimas horas no hospital.
— Agora que você vai voltar, redobre sua atenção com essa louca.
— Você acha que adianta? Quando vejo, ela já me cercou e me atacou.
Ela tem costa quente lá dentro.
— Eu vou conversar com um dos guardas.
— Não faça isso, você pode abordar o guarda errado.
— Eu preciso fazer alguma coisa pela sua segurança.
— Reze, porque não dá para saber quem é pago pela Célia e quem não
é.
— Eu vou descobrir.
— Só não piore as coisas, por favor.
— Serei discreta. Saiu o resultado do teste da Joana e vou poder pedir a
transferência dela para uma instituição.
— Pelo menos uma notícia boa em tudo isso.
Maitê me abraçou com força e nos despedimos com um selinho.
Quando cheguei na minha cela, Joana me abraçou e me encheu de
perguntas.
— Eu estava no hospital, Célia e as amigas dela me deram uma surra.
Hortência ficou surpresa ao me ver e me abraçou espontaneamente.
— Achei que você tinha morrido, você saiu daqui numa ambulância e
estava desacordada.
— Quem me achou?
— Eu. —Rrespondeu Nádia entrando na cela.
— Eu não quero conversa com você. Eu pensei que pudesse confiar em
você.
— Do que está falando?
— Eu contei sobre meus gostos sexuais e você contou para a Célia.
Não fale comigo, ok?
— Ela me ameaçou, queria saber como chegar até você. — Ela se
aproximou.
— Nádia, me esquece. Finja que eu morri.
Eu me afastei e sentei no colchão. Joana me acompanhou e ela voltou a
me perguntar sobre o que havia acontecido.
— Eu fiquei uma semana e meia em coma e passei por uma cirurgia
para retirar um coágulo, mas agora estou bem.
— Uma mulher veio falar comigo nesses dias que você não estava. Ela
me pediu um teste com uma psicóloga e agora vou poder pedir uma
transferência para outro lugar melhor que aqui.
— Isso é ótimo. Quando for, vou sentir sua falta.
— Eu também, estou com medo.
— Não se preocupe, essa moça vai cuidar para tudo ficar bem.
Joana me abraçou e eu me levantei, pois Hortência me chamou para um
canto da cela.
— Você ajudou a Joana, não foi? — ela sussurrou.
— Não sei do que você está falando.
— Eu sei que foi você. É um belo gesto querer cuidar de alguém que
você não conhece direito.
Hortência me apertou o ombro e me sorriu. Eu não precisava admitir,
ela sabia e sabia que eu preferia o silêncio do que ter meu nome associado a
esse gesto.
No horário de banho daquele dia, uma guarda se aproximou de mim e
me entregou um bilhete: “Seja bem-vinda de volta!” Olhei em volta com o
coração disparado e a mulher se afastou de mim. Era um recado das capangas
de Célia, pois ela estava na solitária desde a minha ida para o hospital e
parece que essa era sua última semana de reclusão.
Dois dias depois da minha volta, um guarda veio até mim e ficou
parado ao meu lado.
— Não se preocupe, se precisar de ajuda com alguma coisa, estarei por
perto. — Olhei-o e ele se afastou.
Pelo menos Maitê tinha conseguido alguém para me ajudar caso Célia
voltasse a me atormentar. Não que aquele gesto tenha me dado tranquilidade.
No dia de sua visita, Maitê me trouxe chocolate.
— Os dois quilos que você engordou no hospital já estão sumindo.
Eu apenas sorri.
— Você está bem?
— Não. Corre a notícia de que Célia será solta amanhã e eu não tenho
onde me esconder.
— Por que ela iria querer bater em você de novo? Foram quase quatro
semanas na solitária.
— Mazinha, ela não tem o que perder, já te disse isso. Aqui dentro tudo
é diversão para ela e eu sou seu novo rato.
— Eu consegui achar um guarda para te ajudar.
— Ele já falou comigo, obrigada. Vamos ver se ele será eficiente
mesmo.
— Ele eu não sei, mas meu novo investigador, está no rastro dos dados
do roubo. Ele conseguiu filmagens do Hélio e do Samuel com o detetive do
seu caso, talvez podemos relacionar as provas contra você como forjadas. E
ele também está no rastro dos dados bancários do detetive, parece que
recebeu propina recentemente. Um valor exorbitante. E parece que temos
uma filmagem de Ágatha saindo do prédio dela na sexta-feira pela manhã, ela
entrou em um carro que ainda não identificamos.
— Finalmente uma informação boa?
— Sim! Vamos identificar as transações bancárias em breve e talvez a
filmagem.
— Espero que nos dê mais luz para este caso.
— Dará, bebê, dará.
— Mais alguma novidade boa?
— Cíntia voltou a me procurar.
— E isso é bom?
— Não. — Ela riu — Mas voltou a me procurar quando descobriu que
estou frequentando o clube de BDSM. Está toda curiosa para saber porque
voltei a frequentar lugares promíscuos como esse.
— Promíscuos porque ela não sabe o quanto a liberdade sexual pode
ser boa. Não vai cair na lábia dessa idiota, não é? Ela teve você por quase
cinco anos e não te deu valor.
— Ciúme?
— Claro! Sempre tive ciúme dela com você. Se você voltar com ela,
você vai apanhar de mim e não vai ser nada prazeroso.
Ela riu alto.
— Bebê, se acalme. Eu não vou voltar com ela, só se ela se rastejar e
beijar minhas botas. Eu não vou mais me anular por mulher nenhuma.
— Ai, que vontade de sentir o peso da sua mão na minha bunda, Maitê!
Eu ri e ela riu mais alto ainda.
— Posso pedir uma visita íntima para nós.
Eu ri e apertei-lhe a mão.
— Não brinca com uma coisa dessas, depois vão falar que temos
conflitos de interesse no tribunal.
Ela riu e me mordeu devagar o dorso da minha mão.
— Eu odeio ter esperanças…
— Melhor ir devagar com esse negócio de esperanças.
— Sim, senhora.
— Não me provoque, Anelise!
— Não estou, senhora.
— Ainda sonha com a Ágatha?
— Todo dia. — Eu disse chateada.
Ela me olhou e apenas acatou minha chateação.
Despedimo-nos com um abraço interrompido na metade e voltei para
minha cela. Dividi meu chocolate com Joana e Hortência. Nádia não falava
mais comigo e nem se aproximava, melhor assim, não preciso de mais uma
pessoa para me irritar.
Capítulo 34
Quatro meses atrás
Eu fiquei preocupada com o câncer da mãe da Ágatha, ainda não fomos
apresentadas e eu raramente lembro do nome dela, mas sinto-me responsável
por ela de alguma forma. Quando me contou sobre a descoberta me coloquei
no lugar dela e apesar de não ter um relacionamento com minha mãe entendi
o que ela estava passando.
No sábado, ela tinha aquele maldito jogo de futevôlei e eu queria
insistir para ela ficar em casa e eu cuidar dela. Mas achei sensato ela ir e se
divertir um pouco, esquecer da doença da mãe por algumas horas. Naquela
semana a mãe dela tinha ido visitar alguns, poucos, parentes que tinham em
uma cidadezinha do interior do Paraná e Ágatha não teve coragem de falar
das notícias por telefone.
Antes de sairmos para o jogo, cuidei dela, fiz café, carinho e uma
vitamina e ela respondia a tudo como se estivesse no automático. Ela vestiu
um short florido e uma regata com um top por baixo e eu vesti um micro
biquíni preto que deixava as marcas da quarta-feira à noite em evidência.
Ágatha estava sentada na minha cama me observando enquanto me vestia.
— Você não vai esconder estas marcas? — Ela me olhou séria.
— Você me marcou e não quer mostrar ao mundo que sou sua?
— Quero mostrar sim.
Eu me ajoelhei na sua frente.
— Lembra quando eu disse que gosto de exibicionismo e voyeurismo?
— Sim.
— Mostrar as marcas de um spank está na minha lista de exibições,
mas se você não quer que eu mostre, posso usar outro biquíni.
— Vou adorar ver sua bunda marcada sendo exibida na praia.
Ela me deu um selinho e finalmente parecia estar mais presente no
mundo do que antes. Vesti um short social curto e uma camisa alinhada.
Ágatha estava no comando de tudo, até mesmo do meu celular. No elevador,
encontramos vizinhos, mas nem por isso ela saiu de trás de mim ou largou
meu corpo do seu abraço habitual. O táxi já estava na porta do prédio quando
saímos.
Ágatha andou na frente até seus amigos e eu a segui de longe e com as
mãos no bolso. Elizabeth estava de costas para nós e Ágatha foi recepcionada
com abraços e beijos no rosto.
— Onde está a sugar mommy masoquista? — Ouvi Elizabeth
perguntando para Ágatha.
— Nunca mais se refira a Anelise desse jeito. — Ela respondeu brava.
Eu me aproximei delas devagar e Ágatha fez Elizabeth se virar e me
olhar.
— Peça desculpas a ela. — Ágatha apertou o braço da amiga.
— Qual é Ágatha, pare de ser chata, foi só uma brincadeira.
— Eu estou cheia das suas brincadeiras e suposições. Peça desculpas a
ela.
Elizabeth me olhou furiosa e me pediu desculpas. Afastou-se de nós e
eu agradeci Ágatha pelo gesto. O dia prometia ser quente. Tirei a blusa e
observei a amiga de Ágatha, Maria Augusta, me olhando. Ágatha se
aproximou de mim e abriu o botão do meu short enquanto me beijava, abriu o
zíper e deixou-o cair pelas minhas pernas. Ouvi uma expressão de espanto
vindo da amiga dela. Aproximou-se de nós ainda espantada.
— Ágatha, você bat…
— Calma, Guta!
Ela me olhou e eu sorri.
— É consensual, não se preocupe.
— Quando crescer quero ser igual você. — Guta riu.
Ágatha riu alto e eu acabei rindo também.
Eu fui até o mar me molhar e me refrescar. Fiquei por um bom tempo
sozinha envolta com meus pensamentos, vi que os jogos começaram e logo
seria a vez de Ágatha. Voltei e sentei em uma cadeira ao sol para me secar. O
primeiro set finalizou e Ágatha e Elizabeth mostraram o porquê eram
campeãs três vezes consecutivas. As duas pareciam ter nascido para o
futevôlei. Estava tão entretida com o jogo que não percebi que uma mulher
havia sentado ao meu lado.
— Anelise Arantes, você é uma garota difícil de ser encontrada.
A mulher segurou minha mão e o pânico tomou conta do meu corpo
instantaneamente.
— Não ouse gritar.
Sua voz me invadia trazendo à tona todos os abusos que eu já tinha
sofrido em sua mão. Meu corpo tremia e minha garganta estava fechada sem
sinal de vida para poder gritar.
— Você vai se levantar e me acompanhar quieta.
Meu corpo não era meu, meus dentes rangiam, sua mão me apertava
insistindo para que levantássemos. Eu não queria obedecê-la, me lembrei das
surras que levei quando neguei o que queria. Sua mão esmagava a minha sem
dó. Katherine me olhava com raiva e eu conhecia muito bem aquele olhar.
— Levante-se ou vamos ter que começar seu castigo aqui.
Olhei a quadra, Ágatha estava de costas, jogando, ninguém parecia se
importar. A bola foi jogada alta pela dupla adversária e passou por Ágatha
vindo em minha direção. Achei que tudo tinha sido minha imaginação, mas
não era. Minha respiração falha e lenta era resultado da sua proximidade. Vi
Ágatha correndo em nossa direção e levantando Katherine da cadeira com
força e braveza. Katherine é mais alta e mais forte do que Ágatha, mas era a
minha garota que dava socos e pontapés. Saí do meu transe e me levantei
indo em direção das duas. Segurei a mão de Katherine antes de atingir o rosto
de Ágatha com um soco e ela me olhou com raiva.
— Chega! — apertei-lhe o pulso e empurrei-a para longe.
— Você não tem o direito de aparecer aq… — Ágatha começou a falar.
— Cala a boca, pirralha! — Katherine tentou outro tapa no rosto de
Ágatha, mas eu segurei sua mão novamente.
— Você pertence a mim, Anelise!
— Não pertenço e nunca pertenci. — Eu disse brava apertando seu
pulso.
— Você e sua advogada me roubaram.
— Você quer dinheiro? É isso?
Eu fui até a bolsa de Ágatha e peguei meu celular.
— Quanto você quer para sumir da minha vida? Fale o valor que eu
transfiro agora.
— Essa não é a pergunta certa, honey.
Ela me segurou o queixo com a mão livre e aproximou nossos rostos.
— Você se lembra do nosso apelidinho, honey? Hein! Você contou
para sua nova dona como você gosta de ser chamada, hein?! Contou, vadia?
Seu olhar penetrante me dominava, seu toque em meu queixo, sua pele
na minha me deixava em estado de pânico e petrificada. Ágatha empurrou
Katherine para longe de mim e ela ria do esforço que a garota tinha que fazer
para empurrá-la. Eu não escutei o que Ágatha disse a ela, mas logo ela saiu
de perto de nós sumindo na multidão. Ágatha me fez olhá-la e eu abracei-a
ainda tremendo.
— Calma, minha menina, calma. — Ela acariciava minha cabeça e
sussurrava.
Depois de alguns minutos me acalmando perguntaram se ela voltaria
para o jogo e ela me olhou tentando entender minhas emoções.
— Não deixe essa louca estragar o campeonato. — Beijei-a, mas ela
não voltou para terminar o jogo.
— Vem sentar-se comigo.
Puxou-me até uma canga estendida no chão e sentou atrás de mim me
abraçando.
— Você quer ir embora?
— Não, já estou melhor.
— Tem certeza? Podemos ir sem problemas.
— Sim. Desculpe te envergonhar na frente dos seus amigos.
— Você não tem culpa da aparição dela.
— Mas ela veio atrás de mim.
— Eu não me senti envergonhada pela aparição dela e não foi sua
culpa.
Encostei meu corpo nela e fui recepcionada por um abraço e um beijo
no rosto.
— Você roubou dinheiro dela?
— Maitê fez ela me pagar uma indenização alta por danos morais,
físicos e psicológicos.
— Então foi justo e aposto que ainda foi pouco pelo que ela te causou.
O que fez com o dinheiro?
— Nada. Prometi a mim mesma que só mexeria no dinheiro quando eu
me sentisse cem por cento segura longe dela.
— Se ela tivesse dito um valor, você teria dado?
— Sim.
Guta se aproximou de nós com duas cervejas e não tivemos outros
incidentes durante o dia. Ela nos fez contar mais sobre a prática BDSM.
Após, uma explicação quase minuciosa sobre gostos e costumes do BDSM,
Guta foi jogar e Ágatha me envolveu em um beijo ardente e caloroso. Fiquei
excitada com o gesto e percebi que ela também, afinal estávamos juntas
desde quarta e não nos tocamos intimamente quinta e sexta.
No percurso para meu apartamento, ela me atiçava roçando os dedos na
minha buceta por cima do meu short. No elevador, ela se conteve, afinal
tínhamos companhia. Entramos no apartamento e nossas bocas se grudaram
imediatamente e o calor do corpo emanava sedução. Ela me encostou na
parede com gana e se apossou do meu corpo com desejo. Os beijos lascivos,
fortes e longos demonstravam anseio pelo encontro que chegava a ser
obsceno.
— Me bate. — Eu supliquei em seus lábios.
Ela me olhou sorrindo.
— Me bate. — Disse encarando-a.
Ela se afastou e sentou no sofá, bateu nas pernas e me mandou deitar
nelas sem roupa. Era a primeira vez que eu suplicava para alguém me bater,
tirei a roupa e me deitei. O primeiro tapa me arrancou um gemido de prazer e
satisfação por estar apanhando. Sua mão direita me acertava tapas seguidos e
eu apenas apreciava sua mão me batendo cada vez mais ritmada. Passou a
mão esquerda por baixo do meu corpo alcançando meu clítoris durinho e
cheio de tesão. Eu me esfreguei em sua mão procurando alívio e ela parou
com os tapas e afastou a mão de mim.
— Eu estou satisfazendo um desejo seu e é com rebeldia que você me
agradece? Eu mandei você se esfregar em mim? — Sua voz estava um misto
de excitação e braveza.
— Não, senhora, me desculpe.
— Vamos tentar mais uma vez. Comporte-se.
Sua mão me acertou a nádega com força e eu agradeci
espontaneamente. Apertou meu clítoris entre os dedos e continuou a me
bater, o baque da mão mexia minha buceta em seus dedos e a pressão no
clítoris aumentava. Eu apertei o estofado para me controlar e não me esfregar
em sua mão. A excitação era alucinante e os tapas eram o estímulo certo para
que eu gozasse em suas pernas. Ela esfregava meu clítoris e me batia
alternando as nádegas, meus gemidos a incentivavam a continuar. Meu êxtase
foi vertiginoso e meu corpo tremia de prazer. Ela trocou as mãos e agora me
batia com a esquerda e me penetrava com a mão direita. O segundo gozo foi
avassalador e eu amoleci em suas pernas. Ágatha alisava minhas nádegas
ardentes e passeava a outra mão pelas minhas pernas. Meu corpo respondia
aos toques com leves espasmos pós-gozo e eu vi que ela sorria enquanto me
alisava. Ela pediu para eu me ajoelhar na sua frente. Obedeci e ela me sorriu.
— Obrigada por me bater, domme.
— Você é perfeita!
— A senhora também é perfeita.
Ela me sorriu e me deu um selinho. Levantou-se.
— Vamos tomar banho, ainda tenho mais coisas para fazer com você
essa noite.
— Sim, senhora. — Eu me levantei.
A noite foi pequena para tanta imaginação.
No domingo, após o almoço, ela se despediu indo para a casa da mãe
dela. Iria finalmente contar tudo o que os médicos haviam descoberto, sugeri
de ir junto, mas ela achou melhor eu não ir. Afinal eu não conhecia a mãe
dela e poderia ser estranho ouvir sobre sua doença na minha presença. No fim
do dia, ela me ligou com a voz embargada e eu queria que estivesse comigo
em meus braços, tentei acalmá-la como pude e na segunda-feira logo cedo
puxei-a para minha sala e abracei-a por um longo tempo.
Tentamos quatro oncologistas diferentes naqueles meses, mas todos
tinham o mesmo diagnóstico, câncer no cérebro. Alguns davam dois meses
de vida, outros davam um ou dois anos. A luta para se manter firme diante da
mãe acabava com Ágatha, e era em meus ombros que ela desabava. Chorava
com medo de perder a mãe e eu, muitas vezes, apenas escutava seus
desabafos.
A empresa inteira ficou sabendo do câncer da mãe dela e não foram
poucas vezes que vi Samuel conversando com ela no saguão do nono andar.
Era uma cena quase que diária. Eu me incomodava, mas não tinha coragem
de confrontá-la naquele estado. Os primeiros meses da doença nos afastou
sexualmente, afinal, ela não tinha vontade de nada além de lutar pela mãe. Eu
neguei minhas vontades por ela, engoli meus desejos até onde pude, mas
Maitê estava tão carente quanto eu. Nós nos encontramos uma vez no meio
dessa tempestade toda e a cena foi intensa e extremamente prazerosa, mas
meu corpo sentiu sua falta.
— Você não perde o jeito mesmo não fazendo isso com frequência. —
Eu disse deitada em suas pernas — Mas não devíamos ter feito isso.
— Eu e a Cíntia estamos brigando cada vez mais, não sei se isso tem
solução.
— Mostra quem manda, Mazinha.
— Eu não posso fazer nada que ela não queira, bebê.
— Você ao menos falou com ela sobre tentarem?
— Não.
— Fale! Isso vai acabar te frustrando mais do que já está. Duvido que
ela te faz gozar como eu fiz hoje.
Ela não respondeu e eu lhe dei um selinho. Essa cena com Maitê me
proporcionou alívio sexual, mas não emocional. Eu precisava de Ágatha, das
mãos dela, da voz dura e sexy, ela sabia cuidar de mim melhor do que
qualquer outra pessoa. Maitê não me deixou marcas e acredito que Ágatha
não tenha percebido meu erro, afinal ela estava cada dia mais aérea com a
situação da mãe. Pode ter sido traição e provavelmente a esta altura do nosso
envolvimento, foi uma traição. Eu me arrependo de ter feito essa cena com
Maitê, mas não pretendo contar a Ágatha sobre isso.
Capítulo 35
Dias atuais - Décima terceira semana
Maitê tinha conseguido a transferência de Joana para uma instituição
psiquiátrica e quando foi se despedir de mim chorou porque queria que eu
fosse junto.
— Vou te visitar, assim que sair daqui, vou te visitar, está bem?
— Você jura?
— Sim!
— Quem vai cuidar de mim?
— Neste lugar você será bem tratada e se não for, pode me contar que
dou um jeito. Assim que chegar lá, me escreva contando como foi, o que
acha?
Passei a mão em seu rosto e ela me abraçou novamente. Foi uma
despedida boa, seria para o bem dela.
Na manhã seguinte, Maitê veio me visitar e estava com um sorriso no
rosto.
— Conheço esse sorriso, quem é a garota?
— São tantas, bebê.
Eu ri alto e ela também.
— Mas tem uma que está me agradando muito, se chama Carla.
— Já estou com ciúme.
— Ainda tem espaço para você.
Ela riu e eu fiquei feliz por ela estar voltando a ser a Maitê que eu
conheci quando me divorciei.
— Mas vamos falar de mais coisas boas. Conseguimos descobrir que o
dinheiro roubado foi transferido logo após a polícia levar você para
interrogatório. Então podemos alegar que você estava detida e que não pode
fazer o saque de dez milhões.
— Mas fizeram com a minha senha pessoal, não foi?
— Sim, mas Samuel é seu chefe e em teoria ele pode pedir sua senha
para o departamento de informática da empresa. E os registros de segurança
mostram Hélio entrando na sua sala e pegando seu notebook que está
desaparecido até hoje.
— Seria ótimo tirar essa acusação de cima de mim.
— Vamos tirar, bebê. Esse vídeo era tudo o que precisávamos para
trabalhar a teoria de que os dois sumiram após sua prisão porque roubaram o
dinheiro.
— E os dados bancários do detetive?
— Descobrimos a origem de várias transações, inclusive uma
diretamente da conta fantasma de Hélio. Nós os pegamos!
— Mas o detetive não vai admitir essas coisas.
— Estamos trabalhando nisso, bebê. Vamos entregar um dossiê das
transações para a polícia.
— Será que agora posso ter esperanças de pelo menos pegar menos
tempo nessa prisão?
— Você não vai ficar aqui, eu me recuso a perder essa.
— Mais alguma notícia boa?
— Por hora é isso.
— Conte-me sobre essa tal da Carla.
— Ane, ela é perfeita!
— Ei, você disse que eu era perfeita.
— Você também é, bebê. — Ela riu — Mas você é insubordinada fora
de uma cena. Muito insubordinada. — Ela riu de novo — Ela não, ela só fala
se eu der permissão ou se eu perguntar algo, até mesmo se for fora de uma
cena.
— Eu odiava isso em você, me fazer ficar quieta.
Ela riu alto.
— Como se alguém conseguisse fazer você ficar sem dar respostas.
— Ágatha conseguiu algumas vezes, mas eu odeio ser restringida de
falar.
— Por que você é insubordinada.
Eu ri alto e ela também.
— O que mais essa perfeição faz?
— Ela é compatível com todos os meus gostos. Todos sem exceção.
— Até mesmo o sufocamento?
— Sim. Ela adora quando eu seguro seu pescoço com força enquanto a
fodo.
— Quando vai ser a cerimônia de encoleiramento?
— Calma, ainda tenho que testá-la mais vezes.
— Você e seus testes. Tenho até arrepio de alguns deles. — Eu ri.
Ela riu e me apertou a mão. Nosso tempo estava chegando ao fim e nos
despedimos com um abraço rápido.
Desde quando Célia saiu da solitária, ela estava quieta e não tentou
nada contra minha integridade física, mas estou sempre de olho. O guarda
que Maitê pediu para me ajudar estava sempre por perto e isso me dava mais
segurança. Olhares ameaçadores eu sempre recebia, mas já estava
acostumada a isso.
Depois que voltei do hospital, sinto muita dor de cabeça no fim do dia.
Estava sentada no colchão encostada na parede quando Nádia entrou e se
sentou ao meu lado.
— Eu ouvi nos corredores que Célia está armando outro ataque contra
você. Eu não devia ter falado sobre seus gostos sexuais para ela, errei em
fazer isso, me desculpe. Tome cuidado, ela está com raiva por ter ficado na
solitária por tanto tempo.
— Obrigada pelo aviso.
Eu não a olhei.
— Meu julgamento é depois de amanhã e com certeza vou ser
condenada e passarei para a outra ala. Espero que dê tudo certo no seu
julgamento, se não der e precisar de ajuda do outro lado, me procure.
Ela me beijou o topo da cabeça e se levantou.
— Ei! — ela me olhou — Boa sorte, espero que não fique muito tempo
aqui.
— Isso é improvável. — Ela me sorriu e saiu aproveitando o pouco
tempo que ainda tínhamos para comer.
Eu estava com medo de ter esperanças com as novas descobertas,
odiaria permanecer aqui. Samuel e Hélio são dois filhos da puta e eu vou até
o fim para provar a culpa dos dois. Quero sair daqui logo, maldita palavra
que nos faz acreditar em possíveis milagres.
Capítulo 36
Dois meses antes do sumiço
— Eu escolhi o flogger, mas isso não quer dizer que eu não esteja brava
contigo, entendeu?
— Sim, senhora.
Peguei o cinto e coloquei-o sob a minha perna.
— Obrigada, domme.
Soltei suas mãos enquanto nos encaramos.
— Apesar de querer te castigar pelo seu sumiço.
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