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INOCÊNCIA CORROMPIDA

ARIELA PEREIRA
Copyright© 2022 Ariela Pereira

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edição e obra são da autora. É proibida a cópia ou
distribuição total ou de partes desta obra sem o
consentimento da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido
na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.

1º Edição
2022
ÍNDICE
SINOPSE:
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 3 1
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
EPÍLOGO
Página da autora na Amazon:
Grupo no Facebook
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SINOPSE:

Serenity é uma garçonete que está em apuros após se


envolver com as pessoas erradas. Precisando urgentemente de
dinheiro e de um lugar para ficar, ela acaba aceitando a proposta de
uma amiga de infância, de alugar sua barriga para uma gravidez. No
entanto, não se trata de uma barriga de aluguel convencional. Sua
amiga quer que ela engravide de um homem específico: o poderoso
milionário Kael Dempsey. Um homem brilhante, charmoso e
enigmático.
Serenity acreditou que seria fácil seduzi-lo e levá-lo para a
cama, afinal nunca teve dificuldades em atrair os homens. Além
disso, assumindo o cargo de sua nova assistente, tudo se tornaria
ainda mais fácil. Porém, logo ela vai descobrir que, por trás da
fachada do poderoso e centrado homem de negócios, existe um ser
sombrio e obscuro, capaz de envolvê-la em um pecaminoso jogo de
luxúria e libertinagem, ao qual ela não sabe se será capaz de
resistir.
CAPÍTULO 1

Serenity
Acordei com um sobressalto e sentei-me na cama de
supetão. Meu coração estava disparado, por causa da adrenalina,
uma camada de suor gelado cobria a minha pele. De todos os
sonhos que já tive com Dylan, esse foi o mais real e apavorante.
Desta vez, ele quase conseguiu me acertar com um tiro do seu
revólver.
Foi um pesadelo tão concreto que precisei percorrer os meus
olhos ao redor para me certificar de que não estava mesmo mais em
Houston, e sim em meu quarto, na casa da minha mãe, na pequena
Trinidad, uma cidade perdida no interior do Texas.
O toque estridente do despertador causou-me outro susto,
fazendo meu coração voltar a se agitar. Puxei pela memória,
tentando lembrar-me por que o liguei para despertar tão cedo e logo
recordei-me de que tinha um encontro com Mia, uma velha amiga
da época do colégio. Na verdade, a palavra amiga era meio forte
para definir nossa relação.
Nunca fomos muito próximas. Primeiro, porque Mia era bem
mais velha e estávamos em turmas diferentes. Segundo, porque, na
adolescência, ela era a esquisitona da cidade, de quem todos
caçoavam e eu uma garota popular, que todo mundo amava. Mas o
importante agora era que ela tinha uma proposta de emprego para
me fazer, a qual eu não poderia recusar, já que estava na pior.
Levantei-me preguiçosamente, pendurei a toalha no ombro e
me dirigi para o banheiro, que ficava no corredor. Andava na ponta
dos pés, tentando passar despercebida ao meu padrasto George,
cuja voz eu podia ouvir partindo da cozinha, discutindo com a minha
mãe.
Depois da morte do meu pai, minha mãe colocou esse
imprestável dentro de casa, não porque o amasse, mas porque
precisava dele para sustentá-la, pois era alcoólatra e em cidade
pequena, onde todos sabiam da vida de todo mundo, ninguém daria
emprego a uma pessoa dependente de álcool.
George foi o motivo pelo qual saí de casa, quando tinha
apenas dezessete anos. O cara estava dando em cima de mim,
tentando me passar a mão e, quando contei para a minha mãe, fui
acusada de mentirosa e ainda saí de culpada da história. Minha
mãe sabia que eu estava falando a verdade, que aquele imbecil
realmente me assediava, mas ela não podia perdê-lo, já que não
tinha como se sustentar sozinha e eu não estava conseguindo
arranjar um emprego que pagasse o suficiente para manter nós
duas. Sem querer atrapalhar sua vida, juntei minhas coisas e fui
embora para Houston, onde vinha sobrevivendo há três anos, com
empregos de garçonete e dividindo um apartamento de dois
cômodos com uma colega.
Após o banho, vesti um sóbrio vestido azul-marinho, longo e
com a cintura marcada, prendi os cabelos longos e ruivos em um
coque impecável, peguei a bolsa que cabia apenas o celular e meus
documentos e deixei o quarto. Tentei sair da casa sem que minha
presença fosse notada, mas foi impossível, a porta dos fundos
ficava na cozinha, onde minha mãe e George estavam e, ao tentar
atravessar a sala, que era separada da cozinha por apenas um
balcão, logo ouvi a voz estrondosa do meu padrasto partindo de trás
de mim.
— Vai sair sem nem dar bom dia? Onde está a sua
educação? — vociferou ele, grosso como sempre.
Eu não entendia por que ele me odiava tanto, se quem
precisou sair da casa que meu pai construiu fui eu. Só podia ser dor
de cotovelo de homem rejeitado! E o pior era que ele nem fazia
questão de esconder sua hostilidade, por conta da qual eu mal
parava em casa. Passava a maior parte do tempo na casa de
amigos, ou vagando pelas ruas da pequena cidade à procura de
emprego, o que não era fácil. Eu já estava aqui há mais de quinze
dias e não encontrei nada. Minha última esperança era a proposta
que Mia disse ter para me fazer, quando me telefonara na noite
passada.
— Bom dia. Desculpem sair assim, mas tenho uma entrevista
de emprego e preciso estar lá bem cedo — falei, voltando rumo à
cozinha.
George estava sentado à cabeceira da mesa, diante de um
prato com panquecas e uma xícara de café, enquanto minha mãe se
encontrava acomodada na lateral, cabisbaixa, com uma caneca à
sua frente, a qual eu podia apostar que estava cheia de uísque.
Ao me ver aproximando, ela ergueu seu olhar muito
brevemente em minha direção, voltando a baixá-lo em seguida.
Sentia-se culpada por trocar a própria filha pelo vício no álcool, mas
não fazia nada para mudar isto.
— Espero que não seja um emprego atrás do balcão de
algum bar. Já basta o que estão falando de você por aí — continuou
ele.
— E o que estão falando de mim?
— Você sabe o que dizem sobre garotas que vão embora
sem nenhum centavo no bolso e depois de três anos voltam como
se estivessem fugindo de alguém.
— Na verdade, eu não sei o que dizem. Mas se você quiser
me explicar, fique à vontade.
— Já chega disso — interveio minha mãe, com sua voz
embolada pela embriaguez, dirigindo sua irritação a mim, como se
eu fosse a responsável pela discussão. — Vá logo para a sua
entrevista, antes que coloquem outra pessoa no lugar. Você sabe
como são as coisas por aqui.
Engoli em seco, reprimindo as lágrimas que ameaçaram
brotar dos meus olhos, por ela sequer me oferecer o café da manhã,
como faria qualquer outra mãe.
— Já estou indo. Com licença.
Deixei a casa e saí pelas ruas usando o único meio de
transporte do qual dispunha: minhas próprias pernas. Felizmente,
Trinidad era pequenina, de modo que se podia percorrê-la de ponta
a ponta em questão de poucas horas. O café onde Mia marcara
comigo ficava a duas quadras dali e logo o alcancei. Ao entrar, só
consegui reconhecê-la porque ela levantou-se da mesa onde se
encontrava sentada, aos fundos, e acenou para mim com uma mão.
— Nossa! Você está diferente — falei, aproximando-me dela.
E estava mesmo. No colégio ela era muito desengonçada,
masculinizada, com seu rosto cheio de acne, não sabia se vestir,
nem andar, ou falar como uma garota. Continuava se parecendo
com um homem, só que agora estava muito mais elegante, usando
um terninho cinza, que de longe se percebia o quanto era caro e
com a pele muito bem-cuidada, o rosto impecável emoldurado pelos
cabelos escuros, bem curtinhos.
— E você continua igual. Sente-se.
Acomodei-me na cadeira diante dela, meu estômago
roncando de fome com o cheiro que partia do bacon em seu prato,
sem que eu tivesse um centavo para comprar comida.
— O que tem feito da vida? — indaguei.
— Eu fui para a faculdade, me formei em Administração e
hoje trabalho em um dos maiores conglomerados de empresas de
construções do país. Moro em Nova Iorque, só estou aqui para
visitar minha mãe doente. E você, o que tem feito?
Nem tive coragem de descrever minha vida fracassada,
diante da narrativa dela. Naquele instante, cheguei à conclusão de
que popularidade no colégio não significava nada durante a vida
adulta.
— Não tenho feito nada de interessante.
— Fiquei sabendo que voltou recentemente de Houston e
está procurando emprego.
— É verdade.
— E o que te fez abandonar uma cidade cheia de
oportunidades para voltar para esse fim de mundo? Andou
aprontando por lá?
Subitamente, fiquei tensa, tomada pela sensação de que ela
sabia o que havia acontecido comigo em Houston. Agindo por
impulso, percorri os olhos ao redor, à procura de alguém que
pudesse estar aqui para me apanhar. Porém, graças aos céus, as
pessoas no café eram todas conhecidas, antigos moradores da
cidade. Não havia nada de anormal, nem alguém diferente entre
elas, uma constatação que me fez voltar a relaxar.
— Nada demais. As coisas só não estavam dando certo por
lá. E então, por que me chamou aqui?
Por um breve instante, vislumbrei a postura de mulher
poderosa e autoconfiante de Mia ruir, dando lugar à garota insegura
do passado. Só que logo ela se recompôs.
— Bem, eu já consegui quase tudo o que queria na vida. Já
me formei, sou secretária de um dos engenheiros mais brilhantes do
país, moro em um bom apartamento e agora sinto que chegou a
hora de me tornar mãe. Mas infelizmente não posso engravidar. O
Criador esqueceu de colocar meus ovários no lugar certo quando
estava me criando e é por isso que você está aqui. — Continuei
olhando para ela em silêncio, sem conseguir entender — Quero que
você alugue-me sua barriga para uma gravidez. Pretendo pagar
muito bem.
Minha primeira reação foi recusar. Onde já viu ficar grávida
sem ao menos ter tido uma vida sexual? Contudo, suas últimas
palavras se repetiram na minha cabeça e eu estava precisando
desesperadamente de dinheiro, não apenas para poder sair da casa
da minha mãe, mas para encontrar um lugar longe do Texas onde
me esconder.
— Paga exatamente quanto?
— Quinhentos mil dólares.
Quase tive um ataque cardíaco. Quem diabos pagaria meio
milhão de dólares para se tornar mãe?
— Eu topo — falei, pensando no quanto aquele dinheiro
resolveria a minha vida. — Onde fica o banco de esperma?
— Calma. Não é bem assim. — Ela ingeriu um gole do seu
café. — Não iremos a um banco de esperma. Você engravidará do
meu chefe. Quero que meu filho tenha o DNA dele.
Demorei um segundo para absorver o que ela dizia, tamanho
era o absurdo da coisa.
— Você tá me dizendo que quer que eu transe com o seu
chefe?
— Não fale como se isso fosse um bicho de sete cabeças.
Ele é lindo, educado e muito gentil. Além disso, a gravidez pode
acontecer logo na primeira vez. Basta regularmos seu ciclo.
— E por que o filho tem que ser desse cara? No banco de
esperma é muito mais fácil.
— Primeiro, porque não quero correr o risco do meu filho ter
uns quarenta irmãos, como aconteceu com as pacientes do Dr.
Donald Cline. Segundo, porque meu chefe é o homem mais
inteligente, brilhante, bonito e educado que eu conheço. Qualquer
mulher ia querer ter um filho dele.
Ela falava do seu chefe com o deslumbramento de uma
mulher apaixonada.
— Você está apaixonada por ele?
— Claro que não. Eu sou homossexual. Ainda não percebeu
isso?
— Eu desconfiei. Mas não tinha certeza.
— E então, temos um acordo?
Eram incontáveis as formas como esse plano tinha de dar
errado, contudo, eu só conseguia pensar em ter que transar com um
desconhecido, ainda mais por dinheiro, como uma prostituta. Apesar
de que era muito dinheiro.
— E como você vai saber que ele é fértil e que eu não sou
estéril? E se ele não me quiser? E se a namorada, ou esposa, dele
descobrir? E se...
— Ei, para com isso. É claro que vocês dois são férteis. E ele
não é casado e nem tem namorada. E é óbvio que ele vai te querer.
Você é linda. Sempre foi. Basta que eu te coloque para trabalhar na
empresa, como assistente dele. Você o seduzirá muito facilmente.
— E se depois que a criança nascer eu preferir ficar com a
pensão milionária dele, ao invés dos seus quinhentos mil? Você não
pensou nisso?
Mia sorriu com o canto da boca.
— Isso não tem a mínima possibilidade de acontecer.
Primeiro porque te conheço desde que éramos crianças e sei que
você seria incapaz de algo assim. Depois, porque meu chefe é
controlador o bastante para preferir ficar com a guarda da criança a
pagar para vê-la de vez em quando. Portanto, você sairia sem
nenhum centavo.
Ela levou uma garfada de bacon à boca e meu estômago
roncou de fome, minha boca encheu de água. Pensei seriamente
em recusar aquela loucura, mas se o fizesse, para onde eu iria?
Que outra chance eu teria de sair da casa da minha mãe e de
Trinidad antes de ser expulsa, ou talvez violentada? Eu não tinha
saída. Mia era minha melhor chance.
— Você escolheu ter um filho do seu chefe porque quer que
seu filho tenha o DNA dele, mas se esquece de que terá meu DNA
também. E olha só para mim, sou apenas uma fracassada.
Seus olhos escuros revelaram surpresa.
— Na verdade, eu sempre admirei o traquejo social que você
tem. Além disso, te acho uma pessoa muito serena, por ter
concordado em sair da casa que seu pai construiu, por causa de
dois bêbados. O mundo precisa de mais pessoas assim.
Não me surpreendia que ela soubesse tanto sobre a minha
vida, mesmo tendo ido embora de Trinidad muito antes de mim. Aqui
era assim, todo mundo sabia da vida de todo mundo.
— Você tem uma foto desse seu chefe aí?
— Claro.
Ela sacou um celular de última geração da bolsa de grife,
manuseou-o e exibiu-me a imagem na tela, com uma fotografia do
seu chefe. Era um homem mais velho, com quase quarenta anos,
embora demonstrasse ter a energia e o porte atlético de um jovem
jogador de futebol americano. Estava usando terno e gravata,
saindo de um carro, aparentemente sem perceber que era
fotografado. Não era nada feio, mas tinha a carranca de uma
pessoa insuportável.
— Ele não é feio. Mas será que vai querer alguma coisa
comigo?
— Não estamos falando de casamento aqui. Apenas de sexo
e os homens sempre querem sexo. Além disso, você é o tipo dele.
— As outras namoradas dele se parecem comigo?
Ela ficou pensativa.
— Para falar a verdade, ainda não o vi pessoalmente com
uma namorada.
— E se ele for gay?
Ela riu alto.
— Tenho certeza que não. Sou secretária dele, lembra? E
então, você quer um tempo para pensar? Só lembrando que voltarei
para Nova Iorque amanhã.
— E eu iria com você?
— Claro. Ficará um tempo no meu apartamento, até
arranjarmos um lugar pra você. Se quiser pensar, eu espero.
— Não preciso pensar. Eu aceito. Por onde começamos?
Ela sorriu, vitoriosa.
— Pelos exames médicos. Preciso saber se você é tão
saudável quanto parece.
CAPÍTULO 2

Um mês depois...

Serenity
— Tem certeza de que esse vestido não está muito apertado?
Estou parecendo uma stripper e não uma assistente executiva —
resmunguei, olhando para a roupa em meu corpo, no espelho à
minha frente.
Já fazia um mês que eu vim para Houston com Mia. Foi um
dos meses mais esquisitos da minha vida, durante o qual Mia me
fez assinar um contrato gigantesco, alugando minha barriga para
gerar seu filho, cujas cláusulas me proibiam até de olhar para o
rosto daquela criança, depois que ela nascesse, caso ela nascesse,
que dirá cogitar ficar com ela. Outra cláusula me proibia de contar
ao seu chefe sobre a gravidez. Nesse caso, além de ficar sem os
quinhentos mil, eu ainda teria que indenizá-la.
Além disso, fiz inúmeros exames médicos; aulas de etiqueta;
um cursinho básico de informática e compras, muitas compras. Tudo
para me infiltrar como assistente estagiária na empresa em que ela
trabalhava e conseguir atrair o interesse do Sr. Dempsey. Após
distinguirmos a data exata do meu ciclo e concluirmos que eu
entraria em período fértil dali a cinco dias, decidimos que esse seria
o momento certo de agirmos e hoje seria meu primeiro dia
trabalhando na empresa, de modo que eu estava uma pilha de
nervos, anotando mentalmente todas as formas como aquilo poderia
dar errado.
— O vestido está perfeito. Chique e sexy na medida certa.
Até porque o único objetivo da sua presença na Giant Power
Corporation será seduzir aquele homem. Nada mais e nada menos.
Eu não sabia o que uma mulher que só seduzia outras
mulheres entendia de homens, mas o vestido não estava bom. Era
bonito, de grife cara, mas estava tão colado, que por pouco não
evidenciava meu monte de Vênus e mal me permitia respirar. Era
feito de tecido grosso, com decote em meia-taça, alças finas, um
cinto que servia apenas para enfeitar a cintura. A saia se estendia
até os joelhos, sem abertura, apertada a ponto de quase me impedir
de caminhar.
— Está muito desconfortável e inapropriado.
— Um pouco de desconforto às vezes é necessário, os
homens adoram. Pode ter certeza de que o Sr. Dempsey não vai
conseguir desviar os olhos de você. Nem eu estou conseguindo e
olha que você não é o meu tipo.
— Espero que você esteja certa e esse sufoco todo valha a
pena.
— Vai valer. Além do mais, se nada der certo, pelo menos
teremos tentado.
Esse era o lema dela. Se tudo desse errado, eu receberia
apenas dez mil, pela tentativa. Embora eu preferisse receber os
quinhentos mil e lutaria por isto, com os dez mil já estaria no lucro,
pois o que mais importava nesse momento era a oportunidade de
ter um lugar para ficar, bem longe de Houston e de Trinidad.
Deixamos o edifício onde ficava o apartamento de Mia, em
Astoria, e partimos em seu carro rumo à Midtown. Apesar de ter
nascido no seio da família mais rica de Trinidad, Mia levava uma
vida relativamente modesta em Nova Iorque, talvez por fazer
questão de se sustentar com seu próprio salário de secretária, ao
invés de com o dinheiro dos pais. Morava em um apartamento de
classe média, com dois quartos, num dos quais eu estava
hospedada e dirigia um carro antigo, embora fosse um conversível.
Certamente os quinhentos mil que me pagaria para transar e
engravidar do seu chefe faziam parte de alguma herança que
recebera.
O edifício no qual entramos era um dos maiores e mais
luxuosos de Manhattan. Com toda a fachada em vidro escuro, tinha
uma discreta logo prateada ao lado da entrada.
Enquanto pegávamos um elevador e subíamos, eu mal
conseguia respirar, por causa do vestido apertado demais. Fomos
direto para o último andar, onde ficava o escritório do poderoso
CEO. Na antessala, havia uma recepção, com um balcão, atrás do
qual eu ficaria junto com Mia, auxiliando-a com o que ela
precisasse. Segundo ela, eu seria uma espécie de faz-tudo ali.
Atuaria desde atendendo o telefone, até servindo o café ao Sr.
Dempsey, pois assim teria mais oportunidades de ficar a sós com
ele.
Eu estava ansiosa para conhecê-lo, saber como ele era
pessoalmente e me certificar de que conseguiria fazer aquilo. Na
verdade, eu só precisava me certificar do quanto aquilo seria difícil,
afinal não tinha a opção de sair dali correndo, caso não fosse com a
cara do sujeito. Se o fizesse, com certeza viraria uma moradora de
rua.
Tanto a copa, quanto a máquina de xerox, ficavam cinco
andares abaixo, onde Mia me mandava ir a todo momento, pegar
café e tirar cópias de documentos. Era lá que eu estava quando o
futuro objeto do meu assédio chegou ao seu local de trabalho e
acabei não o vendo passar pela recepção. De acordo com Mia, eu
seria apresentada a ele, assim que ele tivesse um tempo livre para
nos receber em sua sala. Só que esse tempo nunca chegava. O dia
se arrastava com lentidão e o Sr. Dempsey nunca desocupava.
Estava sempre participando de alguma reunião, ou concentrado em
algo mais importante que conhecer a nova estagiária. Enquanto
isso, eu me deslocava entre décimo-quinto e o vigésimo andar, a
todo momento, os saltos das sandálias causando dores nas minhas
panturrilhas, o vestido a ponto de me sufocar.
Em uma das minhas jornadas até a máquina de xerox,
aproveitei um instante de distração de Mia e consegui dar uma
escapada. Ao invés de descer para a rua, subi para o terraço,
porque ficava mais perto. Foi maravilhoso ser recebida pelo ar puro
e pelo calor reconfortante do sol, depois de passar horas a fio no ar-
condicionado. Estávamos em pleno verão e o calor gostoso era
amenizado pelo vento brando que soprava. Uma delícia!
Fiquei surpresa ao perceber que o terraço era completamente
abandonado, sem nenhuma planta e nenhum lugar para se sentar.
Havia apenas alguns restos de materiais de construções largados
em um canto e uma pilha de caixotes em outro, como se o local
tivesse sido esquecido e nem mesmo o pessoal da limpeza pisasse
ali.
Sentindo-me à vontade, pela primeira vez desde que levantei
da cama pela manhã, me livrei das sandálias desconfortáveis, abri o
zíper na lateral do vestido e o tirei pelos pés, ficando apenas com a
calcinha e o sutiã e conseguindo respirar regularmente pela primeira
vez desde que o vesti.
Fechei os olhos e aspirei o ar quente, lenta e profundamente,
respirando fundo e ao mesmo tempo apreciando o calor do sol
banhando minha pele. Isso sim era vida e não ficar trancada
naquele prédio, respirando o ar filtrado pelos refrigeradores.
O extenso tapete formado pelos milhares de edifícios de
Manhattan, seguido pela vista distante da baía e da ponte do
Brooklyn, compunham a bela paisagem que se estendia diante de
mim, proporcionando-me uma vista impressionante. Se eu fosse o
Sr. Dempsey, já teria construído uma área recreativa ali, para
descanso dos funcionários no horário do almoço. Mas ele não
parecia muito preocupado com o bem-estar dos seus empregados.
Pelo que pude perceber, fazia com que todos passassem o dia
correndo e trabalhando como robôs.
A fim de apreciar a vista mais de perto, formei uma pilha de
caixotes diante da amurada de vidro transparente, mais alta que
meus um metro e sessenta e quando subi nela tive uma visão mais
clara da rua movimentada lá embaixo. Por um instante me perguntei
se as pessoas nos outros edifícios não podiam me enxergar.
Provavelmente sim e embora eu estivesse usando apenas minhas
roupas íntimas não me importei muito com isto, afinal não estava
muito diferente de como as pessoas se vestiam nas piscinas e
praias.
Fazia algum tempo que eu estava me refestelando com o
calor do sol, de pé sobre a pilha de caixotes, recostada à amurada
de blindex, observando a magnitude da paisagem à minha frente,
imaginando o quanto gostaria de conhecer tudo aquilo mais perto,
quando a voz estrondosa, ríspida e masculina partiu de trás de mim.
— Não faça isso! — gritou alguém, muito perto de mim.
Levei um susto tão grande — não apenas pela rispidez da
voz, mas por ter sido flagrada naquela situação —, que acabei
perdendo o equilíbrio e logo a pilha de caixotes estava
desmoronando debaixo dos meus pés, fazendo com que eu caísse
desastrosamente para trás, sem conseguir me segurar na amurada,
meus braços balançando em círculos, como se, inconscientemente,
eu tentasse voar. Até que percebi que não havia como evitar me
estabacar no chão, então apenas fechei os meus olhos e esperei
pelo baque da queda.
Mas minhas costas não se chocaram contra o chão como eu
esperava. Caí de forma desastrosa e desordenada em cima de
alguém, com quem saí rolando pelo chão até que paramos em uma
posição bastante constrangedora, comigo em cima dele, de frente,
nossos rostos muito próximos.
Eu ia abrir a boca para me desculpar com o homem que
havia me amparado, mas minha voz pareceu se perder em algum
ponto entre meu cérebro e minha boca, quando me deparei com o
par de olhos verdes perolados, estranhamente agressivos, presos a
um rosto perfeito, de pele morena, com o queixo másculo
emoldurado pela barba curta e escura.
— Você está bem? — indagou o homem, seu hálito morno,
com cheiro de menta, batendo em meu rosto, meus olhos sendo
atraídos pelo movimento do seu pomo-de-adão ao falar, abaixo do
qual estava o nó impecável da gravata escura fazendo contraste
com a camisa branca.
— Sim — sussurrei.
Já era para eu ter saído de cima dele, mas meus membros
não obedeciam mais às ordens da minha mente, como se eu
estivesse presa a alguma espécie de transe.
— Quem é você? — perguntou ele, também sem dar sinal de
nos levantar do chão.
— Serenity, a nova funcionária.
Percebi a mudança em sua fisionomia, passando de
relaxada, para completamente tensa, ao passo em que os músculos
do seu corpo se enrijeciam.
— Funcionária? — repetiu ele.
— Sim. Comecei hoje.
Como se de repente cinco orelhas de duendes tivessem
surgido na minha cabeça, tornando-me uma criatura abominável e
assustadora, ele segurou dos dois lados da minha cintura e me tirou
de cima dele, deixando-me no chão e levantando-se com rapidez.
Apressei-me em me colocar de pé também e apenas quando
o fiz olhei mais atentamente para o homem e logo o reconheci das
fotografias que Mia me mostrara. Era o Sr. Dempsey, em carne e
osso, o homem a quem eu deveria seduzir e não cair
desastrosamente sobre ele.
Lembrei-me de que estava seminua, pegando sol durante o
horário de trabalho e procurei um buraco onde me esconder e nunca
mais sair, mas não encontrei nenhum.
— Detestou tanto o primeiro dia de trabalho que resolveu
cometer suicídio pulando do terraço? — Apesar do teor das suas
palavras, seu tom de voz era ríspido e autoritário.
— Não... quer dizer... não senhor. Você é o Sr. Dempsey, não
é?
Sua fisionomia endureceu ainda mais, como se eu o tivesse
ofendido profundamente, enquanto eu só conseguia desejar que um
buraco se abrisse sob meus pés e me engolisse.
— O que diabos você está fazendo aqui?! — vociferou ele,
curto e grosso, seus olhos descendo pelo meu corpo seminu.
Droga! Mia ia me matar quando soubesse que eu estava
estragando tudo.
— Não é o que parece. Eu não estava matando hora de
trabalho. Quer dizer... na verdade estava, mas não de propósito. —
Eu não sabia o que dizer, tentava pensar em alguma mentira que
evitasse que ele me demitisse, mas nada vinha à minha cabeça,
então decidi apenas falar a verdade; — Me perdoe, senhor. É que
escolhi um vestido muito desconfortável para o meu primeiro dia de
trabalho, então vim até aqui respirar um pouco. Não foi a minha
intenção causar qualquer desconforto.
Ele observou-me durante um momento de silêncio, com
aquela expressão raivosa em seu olhar. Olhou para o vestido
pendurado na ponta do cabo de um rodo, depois novamente para o
meu rosto, como se estivesse apenas escolhendo as palavras
certas para me demitir.
— Que cargo você está ocupando aqui?
— Sou a nova estagiária. Amiga de Mia. Ela me apresentaria
ao senhor ainda hoje.
— Apenas porque é amiga da minha secretária e tenho muito
apreço por ela, não a demitirei. Mas espero que esse tipo de coisa
não se repita. Os funcionários são pagos para trabalhar e não
ficarem no terraço pegando sol. Para isso servem as férias e os
finais de semana. — Seu tom de voz era tão áspero e autoritário,
que desviei meu olhar para o chão.
Se de uma coisa eu tive certeza, nesse instante, foi de que
não seria fácil seduzir esse homem. Talvez até impossível. Ele
parecia um déspota, arrogante e insuportável. Além disso, mesmo
eu estando quase nua, não olhou com malícia para o meu corpo
nenhuma só vez, como qualquer outro homem faria. Ou não tinha
ido nem um pouco com a minha cara, ou minha presença no terraço
o deixara mesmo muito furioso.
— Obrigada por não me demitir. Dou minha palavra de que
não acontecerá de novo.
— Assim espero. Agora saia daqui. Preciso ficar sozinho.
Um milhão de indagações bombardearam minha mente,
sobre o que ele queria fazer sozinho em um terraço abandonado.
Mas isso não era da minha conta. Então apenas recolhi meu vestido
e as sandálias, pedi licença educadamente e saí do terraço. Parei
na escada para me vestir e calçar e voltei para a recepção como se
nada tivesse acontecido. Se Dempsey não contasse à Mia sobre o
incidente no terraço, eu que não contaria.
— Onde você estava esse tempo todo? — indagou Mia, tão
entretida com uma pilha de documentos à sua frente, que não
percebeu a direção da qual eu vinha.
— No banheiro. Acho que a pizza de ontem não me fez muito
bem.
— O Sr. Dempsey interfonou. Disse que vai dar alguns
telefonemas e depois posso levá-la para conhecê-lo.
Senti o sangue fugir da minha face.
— Que hora ele interfonou?
— Há cerca de meia hora. — Soltei o ar que prendia em
meus pulmões. Se ele interfonara antes de me flagrar no terraço,
talvez nem tudo estivesse perdido. — Esteja pronta. Abasteça uma
bandeja com café puro e alguns petiscos de camarão. Do jeito que
ele gosta. Isso vai causar uma boa impressão.
— Certo.
Ela não sabia, mas a impressão daquele homem sobre minha
pessoa já estava muito bem formada. Eu só esperava conseguir
desfazê-la e recomeçar do zero com ele.
Mais do que apressada, fui até a copa e preparei uma
bandeja do jeito como Mia me instruíra. Indo um pouco mais além, a
enfeitei com um girassol que encontrei por lá e acrescentei um bule
com leite, para o caso de ele querer variar.
Fiquei trêmula dos pés à cabeça, quando voltei ao último
andar e Mia me informou que havia chegado a hora de conhecer o
poderoso Sr. Dempsey. O que me restava agora era torcer para que
ele não mencionasse o acontecimento do terraço, ou sequer se
lembrasse dele.
Mia entrou na frente, enquanto eu a seguia, levando a
bandeja, a xícara tilintando no pires, por causa dos meus tremores
de nervosismo. A sala de Dempsey era a maior de todas no edifício.
Tinha paredes cor de gelo, desprovidas de qualquer obra de arte,
carpete cinza impecável, um jogo de estofados de couro ao centro,
algumas estantes em uma das paredes e a mesa retangular com
tampo de vidro ao fundo, atrás da qual Dempsey estava sentado,
com a paisagem de Nova Iorque evidente no vidro transparente da
parede às suas costas.
Assim que entrei no seu campo de visão, ele cravou aquele
olhar agressivo em meu rosto, passando-me a impressão de que me
escorraçaria dali a qualquer momento, o que me fez tremer com
ainda mais descontrole.
Por que Mia queria ter um filho com um homem tão sério e
intimidador? No banco de esperma devia haver o sêmen de alguém
mais simpático!
— Com licença, senhor. Essa é a estagiária de quem lhe
falei. Serenity Henderson. Serenity, esse é o Sr. Dempsey.
Antes de dar um passo à frente, estiquei meus lábios no
sorriso mais largo que consegui esboçar. Me esforcei para controlar
o nervosismo, mas foi em vão. Ao aproximar-me um pouco mais
daquele homem, o olhar dele desceu pelo meu corpo, examinando o
meu vestido colado demais e, pela cara de poucos amigos, o
reprovando. Foi então que os tremores em minhas pernas se
intensificaram e o pior aconteceu. Antes mesmo que eu tivesse
tempo de abrir a boca para dizer alguma coisa, os saltos das minhas
sandálias se enroscaram no carpete, minhas pernas se embolaram
uma na outra e desabei para a frente, caindo como um cacho de
bananas maduro, a bandeja indo junto comigo, se espatifando sobre
a mesa, o café e os petiscos voando para todos os lados, inclusive
sobre o Sr. Dempsey, que levantou-se com um sobressalto.
— Onde diabos você arranjou essa estagiária?! — gritou ele.
— Senhor, foi apenas um acidente — disse Mia, tentando me
ajudar a levantar, enquanto eu continuava debruçada sobre a mesa,
mortificada.
Naquele instante, consegui me ver claramente morando sob
um dos viadutos do Central Park, passando frio e fome, tendo que
me esconder dos outros moradores de rua e das pessoas que me
procuravam.
— Essa garota pode acabar matando alguém!
— Por favor, Serenity, levante-se daí — disse Mia e por fim
me levantei.
Quando consegui me recompor e olhar novamente no rosto
do Sr. Dempsey, cheguei a dar um passo para trás, assustada,
tamanha era a intensidade da raiva com que ele me fuzilava, como
se quisesse me incendiar viva.
— Está demitida! Pegue suas coisas e suma da minha frente!
A imagem de mim mesma, cozinhando em uma fogueira feita
na rua, morando embaixo do viaduto, se tornou ainda mais nítida na
minha cabeça.
Quando fui para Houston, depois da morte do meu pai, eu
tinha algum dinheiro guardado para me manter na cidade até
conseguir um emprego. Só que desta vez eu não tinha nada. Se
perdesse aquela oportunidade, me tornaria uma moradora de rua e
dificilmente conseguiria arranjar um emprego assim.
— Por favor, senhor, não faça isso. Foi só um descuido
infeliz. Prometo que não acontecerá de novo.
Ele deslocou seu olhar para a Mia.
— Tire logo ela daqui.
Agindo por impulso, ou por puro desespero, caí ajoelhada
diante dele, a mesa com tampo de vidro entre nós.
— Por favor, senhor, eu preciso desse emprego. Me dê uma
segunda chance e garanto que será diferente.
Nesse instante, a fisionomia dele mudou, expressando uma
gravidade, uma intensidade, que não consegui compreender. Não
sei se foi impressão minha, ou se sua mão estremeceu, ao me ver
ali ajoelhada, implorando. Minha única certeza era de que ele me
olhava de um jeito muito estranho e incompreensível.
— Apenas saia daqui. Agora mesmo! — vociferou, com seus
dentes trincados, virando-se em seguida para a direção da parede
de vidro, como se evitasse me observar.
Mia ajudou-me a ficar de pé e ambas deixamos a sala dele.
De volta à recepção, minha vontade foi de cair sentada na cadeira e
me derramar em lágrimas. Aquela era a melhor oportunidade que eu
já tive de mudar a minha vida, de uma vez por todas e eu havia
estragado tudo. Como pude ter sido tão descuidada?
— Desculpe ter estragado tudo — praticamente gemi as
palavras.
— Não vamos nos desesperar. Nem tudo está perdido.
— Claro que está. Ele me odeia.
— Odeia nada. Quando ele se acalmar, vou lá conversar com
ele. O Sr. Dempsey é explosivo, mas tem um coração muito bom.
Vai voltar atrás sobre a sua demissão.
— Pois a impressão que eu tive, foi de que nem mesmo tem
um coração.
— Você está enganada. Por trás daquela casca grossa,
existe um coração gentil e bondoso. Ele vai desistir de te mandar
embora. Confie em mim.
Felizmente ela não estava zangada comigo, o que me
alentava um pouco. Pelo menos não até que o Sr. Dempsey
contasse-lhe sobre o que houve no terraço. Depois disso, ela
mesma ia querer me demitir.
CAPÍTULO 3

Kael

Precisei abrir a janela e puxar o ar quente da tarde para os


meus pulmões, a fim de conseguir voltar a respirar regularmente.
Minha pulsação estava acelerada, o sangue correndo mais quente
nas veias. Já fazia quase um ano que eu não me sentia assim, que
não externava meu pior lado, não machucava nenhuma mulher, nem
participava de orgias. Não havia sido um ano fácil. Durante esse
tempo precisei fazer terapia, participar de grupos de apoio e me
controlar de uma forma que jamais imaginei ser capaz.
Tentei buscar prazer de formas menos nocivas, saindo para
jantar com mulheres interessantes e fazendo sexo com elas de
forma convencional, como a maioria fazia. Mas isso nunca me
satisfez. Então decidi renunciar aos prazeres da carne,
definitivamente.
Estava indo até bem ultimamente, quase conseguindo
esquecer o meu vício em sexo brutal, sujo e depravado, até que
aquela maluca caiu em cima de mim no terraço. Já fazia muito
tempo que eu não tinha contato com um corpo feminino e, ao sentir
as curvas daquela garota moldadas a mim, a reação do meu
organismo foi exacerbada, impactante. Eu estive prestes a arrancar
a calcinha e o sutiã do seu corpo e mostrar-lhe o quanto podia ser
bom, ou torturante, levar uns tapas na bunda enquanto era fodida
com força.
Como se não bastasse, logo depois do lamentável episódio,
ela estava ajoelhada à minha frente, chamando-me de senhor, como
uma boa Submissa faria, o que me desestabilizou ainda mais,
roubando minha serenidade, minha paz e o autocontrole que eu
havia conquistado a duras penas.
Tudo em que eu conseguia pensar agora era em ouvi-la me
chamando de senhor novamente, enquanto se encontrava amarrada
a um cavalo de pau, completamente nua, com sua pele rosada
marcada pelos açoites, os cabelos avermelhados caindo nas laterais
do seu rosto de boneca, enquanto seus amplos olhos azuis me
fitavam com súplica.
Senti vontade de esmurrar a mim mesmo, por ser doente a
ponto de ter tantos pensamentos pecaminosos com uma menina
que não tinha mais que vinte anos. Além da pouca idade, ela ainda
possuía toda aquela aura de inocência e fragilidade a envolvendo, o
que me deixou quase louco, pensando nas inúmeras formas que eu
tinha de machucá-la, de roubar aquela inocência, enquanto a fazia
minha.
Respirei fundo novamente, sentindo o ar quente penetrando
os meus pulmões, buscando o autocontrole que consegui manter
durante todos esses meses longe do mundinho sujo de libertinagem
e dor do qual fiz parte em um passado que gerou consequências
graves e irreversíveis. Eu não podia voltar para esse mundo. Não
depois do que aconteceu com Eleanor.
Exatos doze meses já haviam se passado desde a sua morte
e eu ainda pensava nela todos os dias. Sem jamais conseguir me
libertar da culpa que sobrecarregava meu coração.
Eleanor havia sido minha companheira de orgias durante sete
anos. Minha Submissa, aquela que entendia as minhas
necessidades sexuais e satisfazia todas elas, não importando quais
fossem. Fora a única mulher capaz de me completar sem deixar
lacunas, de me compreender e me satisfazer a ponto de me
acompanhar até uma casa de swing e trepar com meia dúzia de
homens ao mesmo tempo, na minha frente, se eu mandasse, sem
jamais reclamar. O que existia entre nós era intenso demais. Não o
tipo de amor que levava as pessoas a se prenderem umas às outras
e depois se traírem. Era um amor carnal, visceral e indecente.
Antes dela, houve muitas outras garotas na minha vida,
porque minha tara não tinha limites. Mas nenhuma fora como
Eleanor. Juntos, nós não tínhamos pudores e nem limites. Fazíamos
tudo o que nossos corpos exigiam para sentir prazer, sem nos
importarmos com regras e moralismos. Contudo, em certa ocasião,
fomos longe demais. Ou mais especificamente, eu fui longe demais.
A pendurei em barras de aço suspensas no teto e não me dei conta
de que a estava machucando além de seus limites, a ponto do seu
corpo frágil não suportar a dor e ela perder a consciência, sem
jamais falar a palavra de segurança, apenas para não me
desapontar.
Depois do ocorrido, decidi que estava na hora de pararmos e
nos afastamos. Só que ela estava ligada demais a mim e não soube
lidar com a distância. Após fazer algumas tentativas de
reaproximação e perceber que eu não voltaria atrás na minha
decisão, fez uma chamada de vídeo para o meu celular, durante a
qual cortou os próprios pulsos e acabou com a sua vida, sem que eu
pudesse fazer nada para impedi-la.
Apertei os olhos com força, tentando expulsar da minha
mente as imagens do seu corpo sem vida, boiando na água
vermelha de sangue de uma banheira, mas elas não saíam de lá.
Não havia nada que eu pudesse fazer por Eleanor, mas podia fazer
por outras mulheres, afastando-me definitivamente do meu vício
pelo sexo desenfreado e violento. Apenas assim, eu não
machucaria mais ninguém.
— Sr. Dempsey. Com licença. — A voz da minha secretária
partiu de trás de mim e me apressei em reprimir a agonia que me
assolava, antes de me virar de frente para ela.
— O que você quer? Por que não tem ninguém limpando
essa bagunça? — falei, observando o caos de leite, café e bolinhos
espalhados por todos os lados.
— A faxineira já está vindo. Logo tudo estará limpo. — Ela
hesitou, o que não era típico seu, pelo contrário, sempre se mostrou
uma mulher muito autoconfiante. — Eu gostaria de falar sobre
Serenity.
— O que tem essa maluca? Já está bem longe daqui?
— Senhor, por favor, dê outra chance a ela. Ela estava muito
nervosa, por ser seu primeiro dia de trabalho em uma grande
empresa. Por isso se descuidou. — Ela não fazia ideia de que a
maluca tinha abandonado o trabalho para ir pegar sol no terraço —
Ela perdeu o pai recentemente. Tem uma mãe que é alcoólatra e
levou um pervertido para morar dentro de casa, de modo que
Serenity teve que sair da própria casa e vive largada por aí. Eu sei
que ela errou feio, mas, por favor, dê outra chance a ela.
Eu nunca tinha visto minha secretária defender tão
apaixonadamente outro ser humano. Será que as duas eram
amantes? Que Mia era lésbica eu já sabia. Aliás, esse foi um dos
motivos pelos quais a contratei, já que assim manteria as minhas
mãos e meu pau bem longe dela.
Se havia algo que eu exigia de mim mesmo, era jamais me
envolver sexualmente com funcionárias, para que não conhecessem
o meu pior lado e saíssem fofocando sobre isso pelos corredores.
No entanto, esse não foi o único motivo pelo qual fiz de Mia minha
secretária. Ela era inteligente, sensata e muito competente.
Trabalhava comigo há quase cinco anos e jamais me dera motivos
para reclamações, o que tornava ainda mais difícil recusar seu
pedido de manter sua namorada maluca no cargo de estagiária.
— Essa sua namorada é um desastre ambulante!
Mia abriu a boca, parecendo perplexa.
— Ela não é minha namorada. É uma amiga de infância. Se
eu não a conhecesse bem, não estaria pedindo isso. A garota
realmente precisa de um trabalho e um lugar para ficar. No
momento, está no meu apartamento, porque não tem nenhum outro
lugar para ir. O padrasto não a aceita na casa que o próprio pai dela
construiu.
Minha mão chegou a estremecer quando imaginei o que eu
seria capaz de fazer se algum dia me encontrasse diante de um ser
desprezível como esse tal padrasto. Eu queria ajudar a garota, mas
como conseguiria controlar os meus instintos, se a visse desfilando
na minha frente todos os dias? Seria como regredir vários passos na
minha reabilitação. Por outro lado, a pobre garota não tinha culpa de
eu ser um doente.
— Se ela ficar aqui, não quero vê-la na minha frente
nenhuma só vez. Você consegue fazê-la entender isso?
Mia era sempre muito séria, mas nesse instante quase sorriu
de satisfação e soltei um suspiro de pura resignação.
— Claro, senhor. A manterei o mais distante possível da sua
sala.
— Sendo assim, ela pode ficar. Mas ao menor deslize será
mandada embora e sem volta desta vez.
— Claro. Muito obrigada. A faxineira já vem limpar isso.
Mia me deu aquela olhada demorada, quase de veneração,
da forma que sempre fazia, como se nutrisse uma admiração quase
anormal por mim. Agia assim porque não me conhecia nem um
pouco. Como todas as pessoas com quem eu convivia diariamente,
ela não fazia ideia do que eu era capaz de fazer com mulheres
bonitas e inocentes como sua querida amiga e tudo o que
enxergava em mim era a fachada de um homem de negócios sério e
compenetrado.
Passei todo o resto do dia pensando naquela garota, no
impacto que ela causou em mim. Como não existia terapia melhor
para esquecer um problema, mergulhei de cabeça no trabalho,
resolvendo pendências que estavam na fila de espera pela minha
atenção há semanas. Mesmo assim, no final do expediente, quase
tive uma recaída. Ainda cheguei a virar o carro na esquina que me
levaria ao clube Cobongo, onde homens e mulheres doentes como
eu, tinham toda a liberdade de externar os hábitos sujos que nos
tornava anormais. Contudo, felizmente, consegui me controlar e
acabei indo para a solidão e o silêncio do meu apartamento.
Nos dias que se seguiram, continuei concentrado no trabalho,
enquanto Mia cumpria a sua promessa de manter aquela garota fora
das minhas vistas. Nem mesmo quando eu passava pela recepção,
na chegada e na saída, a via atrás do balcão, onde era o seu lugar.
Minha secretária provavelmente arranjava uma maneira de sumir
com ela de lá, nos horários em que eu costumava sair e entrar.
Melhor assim. Pelo menos eu não precisaria carregar a culpa de
contribuir para que uma garota tão jovem se tornasse uma moradora
de rua.
Cerca de quinze dias após o ocorrido, entrei na sala de
reuniões para um importante encontro com fornecedores italianos,
os quais já se encontravam acomodados à mesa retangular, ao
centro do recinto, quando me deparei com Serenity, sentada a uma
pequena mesa destacada a um canto, onde Mia costumava ficar,
como se pretendesse assumir o seu lugar.
Irritado, e ao mesmo tempo abalado, acomodei-me em meu
lugar na cabeceira da mesa e a chamei com um gesto de mão. Ela
se aproximou parecendo uma gazelinha perdida na floresta, com
seus olhos fixos no chão, intimidada. Ao se colocar diante de mim,
quase perdi o fôlego, abalado com a capacidade que ela tinha de
parecer tão frágil, ameaçada e submissa.
Mas não era apenas isso que ela tinha que mexia comigo.
Era realmente linda, apesar de muito jovem. Dona de densos
cabelos avermelhados, que caíam desgovernados pelos seus
ombros, uma boca pequena, nariz arrebitado e imensos olhos de um
azul bem vivo. Estava usando um vestido de seda creme, tão
delicado quanto sua aparência, o tecido emoldurando cada curva do
seu corpo delicioso.
Pela forma como os italianos a olhavam, constatei que eu
não era o único ali a notar sua beleza.
— O que você está fazendo aqui?! Onde está Mia?! —
praticamente gritei, irritado pela forma como ela mexia comigo, me
fazendo pensar nas coisas mais sujas que podíamos fazer bem ali
em cima daquela mesa.
Serenity assustou-se com o tom ríspido da minha voz. Ainda
assim, permaneceu diante de mim, corajosamente, com seus olhos
fixos em seus pés.
— Mia teve uma intoxicação alimentar e precisou ir ao
médico. Ela me pediu que assumisse seu lugar na reunião.
Aquilo não era possível! Só podia ser brincadeira!
— E o que diabos uma garota que acabou de sair das fraldas
entende sobre o que fazemos aqui?!
Ela fitou-me diretamente nos olhos pela primeira vez,
parecendo ligeiramente obstinada. Minha vontade foi de fechar
minha mão no comprimento daqueles cabelos ruivos e fazer com
que se ajoelhasse aos meus pés, pedindo perdão por me encarar
tão desafiadoramente.
— Perdão, senhor. — Puta merda! — Não acabei de sair das
fraldas. Tenho vinte anos. Além disso, Mia me treinou durante todos
esses dias para esse trabalho. Pode ficar tranquilo que darei o
máximo de mim. Eu prometo.
— Isso aqui não é um boteco de esquina onde um simples
treinamento vai te fazer aprender o que fazer!
Ela baixou novamente o olhar para os seus pés,
desestabilizando-me ainda mais com tamanha capacidade de ser
pacífica e submissa, a ponto de me fazer querer expulsá-la daquela
sala, por ameaçar um autocontrole que demorei tanto tempo para
construir. No entanto, os outros participantes da reunião estavam
começando a reparar na nossa discussão e não quis dar um
vexame. Esperaria até que todos saíssem para mandar aquela
garota ficar bem longe de mim. A última coisa que eu precisava
agora, era ter uma recaída e voltar ao mundinho de libertinagem no
qual vivia antes.
— Ela me explicou exatamente o que fazer.
Suspirei, consternado.
— Está certo. Já que não tenho opção, vamos começar —
falei, mais baixo.
— Sim, senhor.
CAPÍTULO 4

Kael

Apesar da forma hostil como era tratada, Serenity quase


sorriu de satisfação, demonstrando que era uma Submissa nata, o
que me deixou ainda mais sequioso por ela.
Ela voltou ao seu lugar à mesa, sentando-se diante do
computador no qual redigiria a ata e iniciei a reunião dando as boas-
vindas aos europeus. Expus verbalmente os termos da nossa
negociação e foi apenas até aí que meu raciocínio lógico me
acompanhou. Logo eu estava olhando para a gazelinha sentada em
seu lugar, parecendo muito perdida e desconcertada, enquanto
cenas pornográficas se materializavam na minha cabeça.
Primeiro imaginei-me debruçando-a sobre aquela mesa,
subindo a saia curta do vestidinho, arrancando sua calcinha com
brusquidão e dando-lhe uns bons tapas na bunda, para depois
enfiar meu pau todo nela. Depois, visualizei-a sendo firmemente
segurada por todos aqueles homens, toda arreganhada para mim,
enquanto eu a fodia com força, fazendo com que gritasse de medo e
prazer. Lembrei-me da calcinha que ela usava no dia em que caiu
em cima de mim no terraço, era minúscula, apenas um triângulo
transparente na parte da frente e um fio enterrado em sua bunda
atrás. Será que usava uma dessas hoje também? Eu daria tudo
para descobrir.
Os meus pensamentos eram fervorosos, indecentes e
incontroláveis, causando-me uma ereção dolorosa e tirando toda a
minha atenção do que era falado na reunião, a tal ponto que em
certo momento um dos acionistas precisou chamar meu nome
várias vezes para conseguir atrair a minha atenção.
Isso era apenas o prelúdio da tragédia que aquela garota
podia causar em minha vida. Eu era um doente, um viciado, e ela
apareceu na minha frente como a droga mais tentadora à qual meu
organismo já reagiu.
Ao final das negociações, deixei a sala apressado, voltando
para o meu escritório. Minutos depois, lá estava Serenity à minha
frente, trazendo a ata assinada pelos outros executivos, para eu
aprovar.
— Com licença, senhor. Mia disse que o senhor precisa ler e
aprovar a ata, antes de ser inserida no sistema — disse ela.
Continuava cabisbaixa, como antes, com seu corpo delicado
ligeiramente trêmulo, como se tivesse medo de mim e eu nem podia
culpá-la, visto que a tratara muito mal na sala de reuniões. Lembrei-
me do que Mia dissera sobre ela não poder voltar para casa por
causa do padrasto abusivo, sobre viver largada por aí e de súbito
senti-me um ser desprezível, sem alma e sem coração.
A garota funcionava para mim como um veneno letal, mas
não era culpa sua que eu fosse um animal.
— Certo. Deixe aí em cima da mesa.
Ela largou a folha sobre o tampo da minha mesa, sem erguer
seu olhar até meu rosto.
— Precisa de mais alguma coisa?
— Preciso sim. Olhe para mim! — ordenei.
Ela fitou-me diretamente no rosto, com aqueles olhos azuis
de gazelinha assustada, deixando-me a ponto de perder o controle e
pular por sobre a mesa, para arrancar aquele vestidinho do seu
corpo e subjugá-la a todas as minhas vontades.
— Não leve para o lado pessoal, mas não quero vê-la na
minha frente de novo. Será que fui claro?
Seu lábio inferior estremeceu, como se ela estivesse prestes
a chorar e novamente me senti um crápula sem coração. Por outro
lado, eu estava fazendo-lhe um favor, salvando-a de mim mesmo.
— Sim, senhor.
— Ótimo. Agora pode ir.
Sem uma palavra, ela deu-me as costas e seguiu rumo à
porta, enquanto meus olhos se prendiam ao balanço da sua bunda
durinha e redonda dentro da seda suave do vestido.
Demorei um longo tempo para recuperar minha serenidade, o
porte submisso daquela menina, sua voz, seu jeito assustado de me
olhar, tudo parecia entranhado em mim, como uma droga, um vício
ameaçador.
Após cumprir vários compromissos estressantes, inclusive
me reunir com um importante cliente japonês na hora do almoço,
fiquei meio perdido em meu escritório, sem saber onde estava
minha maldita agenda e porque Mia ainda não a trouxera para que
eu me organizasse para os compromissos da tarde.
Automaticamente, apertei o botão do interfone da recepção.
— Onde está minha agenda! Será que vou ter que adivinhar
os horários dos compromissos da tarde?! — berrei.
Para meu desespero, a voz que partiu do outro lado da linha
não foi a de Mia, mas a de Serenity.
— Perdão, senhor. Mia ainda não voltou. Sua agenda está
comigo. Mas como o senhor disse que não queria me ver na sua
frente, fiquei sem jeito de levá-la.
Puta que pariu! Aquilo estava começando a parecer
brincadeira de criança, uma brincadeira que ameaçava afetar meu
trabalho. Eu era um homem adulto, com quarenta anos de idade e
não um animal irracional. Tinha que conseguir lidar com essa
situação, permanecer na mesma sala que aquela garota sem querer
atacá-la a cada dois segundos. Até porque eu não tinha outra
opção.
— Esqueça o que eu disse. Traga a maldita agenda! Rápido!
Segundos depois a porta se abriu e Serenity entrou,
tentadora como um oásis no deserto dentro daquele vestidinho que
parecia implorar para ser rasgado. Parecia naturalmente
desastrada, sem conseguir se equilibrar direito sobre as sandálias
altas demais, tropeçando no carpete e quase caindo pela terceira
vez diante de mim. Só que dessa vez conseguiu se recompor.
Quando ela se colocou à minha frente, com apenas a mesa
entre nós, toda a minha obstinação em conseguir manter o controle
perto dela caiu por terra. Logo eu estava tentando imaginar como
eram os bicos daqueles seios durinhos, que pareciam a ponto de
furar o tecido do vestido e meu sangue esquentou como fogo nas
veias, minha pulsação acelerou, a ereção se formou. Fechei os
olhos e respirei devagar, profundamente, repetindo mentalmente
que eu não era um animal, sem ter ideia se ela percebia o meu
descontrole.
Aparentemente não percebia nada, pois me olhava sem
demonstrar nenhum espanto, mas apenas a intimidação de sempre.
Talvez apenas não me compreendesse, afinal não existiam muitos
homens doentes como eu por aí.
— Quer que eu leia seus próximos compromissos, senhor?
— indagou ela, com sua voz calma e suave como a de uma cantora
lírica.
Reprimindo o oceano de luxúria que ameaçava me consumir,
abri os meus olhos e franzi o cenho, assumindo a expressão mais
fria que consegui encenar, pois era importante que ela não
percebesse o efeito exacerbado que causava sobre mim, ou logo
saberia que eu não passava de um psicopata.
— Claro. Pode começar.
— Daqui a vinte minutos, o senhor terá uma reunião com a
equipe de marketing para falar sobre a nova campanha de verão.
Em seguida, o helicóptero o levará até Toronto, onde o senhor se
encontrará com o chefe da equipe de construção da nova linha de
metrô. Ainda em Toronto, o senhor terá um jantar com o colunista
Robert Jones. Acho que é só isso.
Droga! Era para a Mia me acompanhar a todos esses
compromissos, mas eu não levaria aquela garota no lugar dela.
Nem morto!
— Quando Mia estará de volta? — indaguei.
— O caso dela é mais grave do que parecia. O médico deu-
lhe um atestado de quinze dias, para que possa se recuperar. Ela
enviará uma cópia para o senhor mais tarde.
Fiquei ali parado, sem poder acreditar que isso estava
realmente acontecendo, que eu teria que lidar com essa garota
durante quinze longos dias. Certamente seria o fim de todo o
progresso que fiz nos últimos meses para me afastar daquela rotina
de libertinagem, que custou a vida de Eleanor. A menos, claro, que
eu lutasse muito para não perder o autocontrole. Voltando a
conversar com o terapeuta e a me abrir com o pessoal do grupo de
apoio, talvez isso fosse possível. Até porque seria difícil conseguir
encontrar outra pessoa de confiança, a quem Mia havia treinado
pessoalmente, para exercer a função de secretária.
— Serenity, esse é o seu nome, certo?
— Sim, senhor.
— Infelizmente não tivemos um começo muito bom, aliás,
tivemos um péssimo começo, considerando que abandonar o
trabalho para ir pegar sol no horário do expediente é uma falha
muito grave. Não a demiti naquele dia, unicamente por consideração
à Mia. Mas, já que teremos que trabalhar juntos esses dias, gostaria
de propor que nos víssemos o menos possível. Tente me passar
minha agenda pelo interfone e outras informações por e-mail. Acho
que assim tudo dará certo.
Esperei que ela se mostrasse ofendida, que demonstrasse
alguma contrariedade ou rebeldia, mas a garota era feita de
submissão e passividade. Continuou lá parada durante um
momento, pensativa, silenciosa, até que, contrariando tudo o que eu
podia esperar, contornou a mesa, colocando-se na lateral, perto de
mim a ponto do cheiro gostoso do seu perfume adocicado me
alcançar e me deixar abalado. Com seu olhar fixo ao meu, segurou
minha mão e a repousou sobre um dos seus seios, dizendo: — Sei
que foi um péssimo começo e que o senhor tem todos os motivos
para me odiar. Mas será que não podemos dar um jeito de começar
isso de forma diferente?
Segurando o seio minúsculo, duro e delicado, na palma da
minha mão, praticamente saí de órbita, cada um dos meus sentidos
despertou para o mais incontrolável desejo, meu coração batia tão
freneticamente que eu podia ouvi-lo, enquanto o mar de luxúria me
submergia e devorava.
Me vi claramente jogando aquela menina sobre a mesa,
arrancando aquele vestidinho do seu corpo e fodendo-a com
loucura, enquanto dava-lhe uns bons tapas na bunda, para que
aprendesse a não provocar um homem dessa maneira. Será que ela
não percebia o tamanho da encrenca em que estava tentando se
meter? Como podia ser tão cega a ponto de não enxergar o mal que
eu podia fazer-lhe?
Eu podia sentir a veia latejando em minha têmpora, minha
pulsação se encontrava a ponto de explodir. Estava prestes a atacá-
la e fazê-la minha, de todas as formas, quando por fim meu lado
racional prevaleceu e não sei de onde tirei forças para me afastar,
levantando-me da cadeira com um pulo e me colocando perto da
parede de vidro, a uns dois metros de distância dela.
— Eu poderia te demitir agora mesmo, por isto! — esbravejei,
com os dentes trincados, reprimindo meus instintos e externando
uma frieza que não existia. — Como se atreve a me assediar?!
A garota cambaleou alguns passos para trás, piscando
repetidamente os olhos, completamente perplexa e desnorteada.
— M-me d-desculpe. E-eu não queria f-fazer isso.
Ao se recompor do susto, ela ergueu seu queixo e me
encarou com uma expressão diferente, como se, pela primeira vez,
percebesse que havia algo de muito errado comigo. Na certa estava
pensando que eu era gay, afinal era uma garota linda e sabia disso.
Um homem normal jamais a dispensaria.
Sem mais parecer tão submissa, ela cruzou os braços na
frente do peito, obstinada.
— Para falar a verdade, eu queria fazer isso sim. Foi o que
eu quis desde que caí em cima do senhor lá no terraço. A atração
foi imediata e costumo ir atrás do que quero. Considerando que
somos dois adultos, ambos solteiros, não vejo qual o problema.
Eu podia jogá-la sobre aquela mesa e dar-lhe uma boa surra
de cinto, para que entendesse exatamente qual o problema.
— O problema é que não me envolvo com funcionárias e
tampouco permito envolvimento entre vocês. Mia devia ter te
explicado isso. Aqui é local de trabalho e não um motel, portanto,
contenha-se e se concentre naquilo que é paga para fazer.
Eu não podia acreditar que estava dizendo todas essas
asneiras a uma garota tão tentadora. Se a tivesse conhecido há um
ano, a essa altura ela já estaria com todos os seus orifícios
doloridos do meu pau e sua pele marcada pelo chicote.
Ela continuou me encarando em silêncio, claramente
desconfiada, achando que eu era gay.
— Tudo bem. Me desculpe — disse, por fim. — Fui longe
demais. Isso não voltará a acontecer.
— Não a demitirei por consideração a Mia. Agora saia daqui
e não apareça tão cedo na minha frente!
— Sim, senhor. Com licença.
Dito isto, ela deu meia-volta e saiu da sala, batendo os saltos
das sandálias com força no piso.
Lentamente, soltei o ar que prendia em meus pulmões e
sentei-me na cadeira, sentindo minha pulsação desacelerar, o
coração voltar a bater normalmente. Demorei muito tempo para me
acalmar e mesmo quando o fiz eu ainda podia sentir aquela
inquietude dentro de mim, o formato do seio pequenino de Serenity
emoldurado na palma da minha mão, impedindo-me de alcançar
algum sossego.
O que eu precisava agora era de uma válvula de escape, de
um alívio, me livrar do tesão que essa garota me despertava, para
apenas assim conseguir trabalhar junto com ela durante esses dias
em que Mia estaria de atestado.
Com isto em mente, saquei o celular e busquei o número de
uma Submissa com quem Eleanor e eu costumávamos sair juntos.
Era uma mulher experiente, gostosa, não cobrava compromisso e
me ajudaria a superar o desejo que ardia em meu íntimo. No
entanto, depois de ficar com ela, eu não teria mais conserto.
Certamente voltaria para aquela vida de orgias e noitadas de sexo
selvagem e violento, da qual muito lutei para me livrar.
Eu não podia regredir tanto assim, precisava manter-me firme
na minha decisão de me abster desse mundinho tão nocivo. Não
podia permitir que Serenity tirasse isso de mim. Então, desisti de
ligar para a Submissa e procurei o número do meu psiquiatra. Talvez
uma conversa com ele, ou quem sabe alguma medicação, pudesse
me ajudar. Contudo, não liguei para ele de imediato e logo meu
polegar estava alternando entre os dois números, a indecisão sobre
para qual dos dois telefonar tomava conta de mim.
CAPÍTULO 5

Serenity
Acordei com o toque estridente do despertador, mas não me
levantei da cama de imediato, protelando a hora de sair. Me sentia
derrotada e desanimada, como em tantas outras ocasiões da minha
vida. Eu ainda não havia dito nada a Mia, mas o Sr. Dempsey me
odiava e nem fazia questão de esconder isso. Como diabos eu ia
seduzir e engravidar de um homem que sequer suportava olhar na
minha cara? A antipatia dele por mim fora imediata e não tinha
limites. Ele começara a me detestar no instante em que caí em cima
dele naquele terraço e isso jamais teria conserto, o que ficara bem
claro ontem, quando segurei sua mão e a coloquei sobre meu peito,
chegando a um ponto muito baixo da minha vida, que era me
oferecer escandalosamente a um homem e, o que era pior, ser
rejeitada por ele.
Será que o Sr. Dempsey era gay? Definitivamente não. Eu já
teria percebido. O problema dele era uma estranha aversão por
mim. Pior que isso, ele me odiava. A forma hostil como me tratava, o
jeito agressivo como me observara durante toda a reunião, deixara
isso mais do que claro.
Minha vontade era de desistir de tudo. Mas se desistisse, o
que ia fazer da minha vida, se não tinha nenhum lugar para ir? Nem
mesmo o salário desse novo trabalho eu tinha recebido ainda.
Estava sem um centavo no bolso. Se pulasse fora agora, não teria
outra saída, a não ser morar embaixo de um viaduto.
Atraída pelo cheiro de café, levantei-me, usei o banheiro e fui
direto para a cozinha. Fiquei surpresa ao encontrar Mia ao pé da
bancada, cozinhando, ou pelo menos tentando. A bagunça de ovos,
farinha de trigo e outros ingredientes espalhados por todos os lados,
me dizia que não sairia muita coisa dali.
— Bom dia — cumprimentei-a, desalentada.
— Bom dia.
Fui até a jarra e me servi de uma xícara de café puro e sem
açúcar, sentando-me diante de Mia, do outro lado da bancada.
— O que você está fazendo aí? — indaguei, tentando
esconder meu desânimo.
— Panquecas. Isso não é maravilhoso? — Ela parecia mais
animada do que eu já tinha visto na vida.
— O que é maravilhoso, as panquecas?
— Não. A oportunidade de cozinhar. Sempre quis usar essa
cozinha, mas nunca tive tempo. Agora eu tenho e graças a você.
— Cuidado pro poderoso chefão não aparecer aqui de
repente e descobrir que de doente você não tem nada.
Ela havia comprado um falso atestado médico, onde dizia
que estava com intoxicação alimentar, com o objetivo de que eu
ficasse no seu lugar na empresa e tivesse a oportunidade de dar em
cima do nosso chefe. Nem passava pela sua cabeça o quanto ele
me abominava.
— O Sr. Dempsey nunca vem aqui. — Sua fisionomia
assumiu um ar sonhador. — Não vejo a hora de ensinar minha filha
a cozinhar, de fazer coisas junto com ela. Prefiro que seja menina,
mas se vier menino também será muito amado.
Minha nossa! Como ela era otimista!
— Esses dias eu estava pesquisando na internet sobre um
banco de esperma e descobri que eles escolhiam professores
universitários superinteligentes para serem os doadores. Já
imaginou sua filha sendo um gênio?
— Não existe homem mais inteligente que o Sr. Dempsey.
Bebi um grande gole do meu café, buscando coragem para
falar: — Tem certeza de que não pode ser outra pessoa? Acho que
o Sr. Dempsey não vai muito com a minha cara. Vai ser difícil
conseguir alguma coisa com esse homem.
Ela examinou a receita das panquecas em um livro e jogou
alguns ovos no liquidificador, parecendo muito sem jeito para a
coisa.
— Tem que ser ele. Não existe isso de ir com a cara. Os
homens transam por instinto, nem olham direto para a cara da
mulher quando ela está a fim. Deixa ele de pau duro e o resto
acontecerá naturalmente.
Não tive coragem de contar a ela que coloquei a mão dele
sobre meu seio ontem e o pau dele nem deu sinal de vida.
— E como vou deixar ele de pau duro?
— Sei lá. Você é a heterossexual aqui. Deve ter experiência
com essas coisas. — Ela nem imaginava que minha experiência
com o sexo era exclusivamente teórica, isso porque eu vinha
pesquisando sobre o assunto ultimamente, em livros, revistas e até
filmes pornôs, havia aprendido muito, faltava a oportunidade de
colocar meus conhecimentos em prática. — Já sei. Vai trabalhar
sem calcinha e sutiã hoje e, quando estiver na sala dele, tira o
vestido. Eu duvido que ele consiga se segurar vendo você nuazinha
na frente dele.
— E se entrar alguém na sala?
— Ninguém entra naquela sala sem ser anunciado. Agora vá
se arrumar e depois venha comer as panquecas, ou vai acabar
chegando atrasada. Escolha um vestido bem sexy.
Tentando fazer com que pelo menos um terço do otimismo
dela me contagiasse, escolhi o vestido mais escandaloso do closet,
entre os tantos que compramos no dia em que fomos ao shopping,
logo após chegarmos em Nova Iorque. Era de costas nuas, com um
profundo decote, alças finas, colado na cintura e com uma saia curta
levemente esvoaçante. Com certeza, não era uma roupa adequada
para uma secretária executiva, mas meu objetivo na empresa não
era exatamente secretariar. Embora não fosse possível usar sutiã,
com uma roupa daquelas, não me abstive da calcinha, como Mia
sugerira, pois se ficasse nua, do nada, na frente do Sr. Dempsey,
com certeza ele me demitiria sem pensar duas vezes. Além do mais,
se não conseguisse despertar o interesse dele com aquele vestido,
era porque jamais despertaria.
Fiquei empolgada quando ela me deixou usar o seu carro
para ir ao trabalho. Era a primeira vez que eu dirigia pelas ruas de
Nova Iorque e, como o dia estava quente, acabei abrindo a capota
do conversível, permitindo que o vento esvoaçasse meus cabelos
soltos, enquanto eu era alvo de vários assovios e buzinadas
partidas dos demais motoristas, o que me deixou um pouco mais
esperançosa, afinal, se eles gostavam do que viam, o Sr. Dempsey
também haveria de gostar.
Eu já estava atrás do balcão da recepção, concentrada no
trabalho que Mia passara dias me ensinando, quando meu chefe
passou rumo ao seu escritório, de cara amarrada, sem ao menos
me cumprimentar, o que me deixou ainda mais desestimulada a
continuar com aquele fracassado plano de sedução.
Como ele dissera que eu deveria lembrá-lo dos seus
compromissos pelo interfone, foi o que fiz, narrando sua agenda da
manhã dali mesmo de onde estava. Em seguida, enviei vários
documentos importantes por e-mail, esperando ele próprio imprimir,
já que não queria a minha presença na sua sala.
Quinze minutos depois, sua voz autoritária e detestável
ressoou energicamente através do interfone: — Por que diabos
esses documentos não foram impressos?! Você acha que eu tenho
tempo pra isso?!
Que homem arrogante do cacete! Eu nunca ia compreender
por que Mia queria ter um filho de alguém assim, se existiam tantos
outros homens melhores por aí.
— Desculpe, senhor. Eu ia levá-los impressos, mas o senhor
me mandou manter distância, lembra?
Quase pude ouvi-lo soltando um suspiro de resignação do
outro lado da linha.
— Esqueça o que eu disse! Imprima a droga dos documentos
e traga para que eu assine! Agora!
Como eu já havia feito as impressões, prevendo que algo
assim aconteceria, apenas peguei a papelada e me dirigi rumo à
sala dele. Respirei fundo várias vezes antes de entrar, buscando
serenidade em meu interior para enfrentar aquela fera mais uma
vez.
Assim que atravessei a porta, seu olhar mortal recaiu sobre
mim com agressividade, o ódio incompreensível, presentes em sua
expressão, como se ele encarasse seu pior inimigo e não uma
simples secretária.
A intensidade da fúria em seus olhos era tamanha, que me
encolhi como sempre, baixando o olhar para o chão, sentindo-me
amedrontada e intimidada diante de tamanha hostilidade, uma
atitude que eu precisava mudar, ou jamais alcançaria meus
objetivos.
— Bom dia, senhor. Aqui estão os documentos.
Fiz questão de chegar bem perto da mesa e inclinar-me
sobre ela mais que o necessário, com o objetivo de exibir meus
seios cobertos apenas pela metade pelo decote fundo do vestido.
Ele deu uma boa olhada neles, até demorou um instante os
observando, porém, quando voltou a fitar-me no rosto, seus olhos
estavam faiscando de uma raiva que não fazia sentido para mim.
Eu queria acreditar que ele apenas tinha aversão a mulheres
oferecidas, mas era mais que isso. Esse homem me odiava.
— Precisa de mais alguma coisa? — indaguei, perante o seu
silêncio.
Ele desviou sua atenção de mim, como se não suportasse
mais nem me olhar e passou a examinar os documentos.
— O pessoal do marketing passou algum recado essa
manhã? — perguntou ele, com seus dentes cerrados, o semblante
endurecido.
— Não. Nenhum recado.
— Quero que ligue para o chefe de equipe e marque uma
reunião para o fim da tarde.
— Sim, senhor.
— Telefone para o chefe do RH e mande que analise a
documentação de uma nova equipe de operários das obras em
Seattle. Depois, ligue para o piloto do helicóptero e diga que venha
me apanhar na hora do almoço. Vamos ao Maine. Você não está
anotando isso?!
Droga! Eu estava tão concentrada em dar em cima daquele
homem, que acabei esquecendo a primeira coisa que Mia me
mandou jamais esquecer, que era estar sempre com o bloco de
anotações em mãos. Desconcertada, vi alguns lápis e folhas de
papel em branco sobre sua mesa.
— Posso usar isto? — pedi, apontando para os lápis.
Ele soltou um suspiro de consternação, mas assentiu com um
gesto de cabeça.
Novamente, inclinei-me sobre a mesa mais que o necessário
para pegar o lápis e o papel. Depois, fui ainda mais além, fingindo
deixar o lápis cair acidentalmente, para ter a chance de me inclinar e
pegá-lo do chão. Depois que o objeto rolou alguns centímetros
sobre o carpete, abaixei-me para apanhá-lo, não inclinando os
joelhos, como faria qualquer mulher usando um vestido daqueles,
mas dobrando bem as costas e empinando a bunda na direção do
meu chefe, certificando-me de que ele desse uma boa olhada nas
minhas nádegas munidas de um fio dental. Eu não ia ficar nua na
frente dele, como Mia sugerira, mas pretendia dar umas boas
provocadas.
Ao me virar novamente de frente para o Sr. Dempsey, sua
reação não foi exatamente a esperada. Ao invés de se mostrar
minimamente interessado, o homem estava possesso, com seu
olhar ainda mais agressivo, parecendo a ponto de me atacar e
arrancar minha cabeça de cima do meu pescoço.
O que havia de errado com esse sujeito? Qualquer homem
hetero, no lugar dele, teria adorado uma visão daquelas logo cedo
da manhã.
— Recapitulando — comecei, fingindo que ele não me olhava
como se quisesse me estrangular. — Ligar para o chefe do RH, para
a equipe de marketing e pro piloto do helicóptero. Deixei algo de
fora?
Ele observou-me durante um momento de silêncio, com
aquela expressão que assustaria até o Mike Tyson. Depois, falou
com seus dentes trincados: — Era só isso. Pode ir.
— Com licença.
Dei-lhe as costas e segui rumo à porta, sem deixar de rebolar
a bunda dentro da saia curta do vestido.
Voltei a ver o Sr. Dempsey apenas na hora do seu almoço,
quando ele deixou sua sala e passou por mim na recepção, como
sempre sem virar o pescoço para me olhar, ou cumprimentar. Todos
os assuntos que tínhamos a tratar um com o outro, tratávamos pelo
interfone, ou através de trocas de e-mail, o que dificultava cada vez
mais a minha quase impossível missão de engravidar daquele
homem. Contudo, no fim da tarde, ele não teve como escapar de
mim, já que haveria uma reunião com o pessoal do marketing e eu
precisaria participar dela para digitar a ata.
Tentando me mostrar uma funcionária exemplar e não
apenas uma predadora, fui até a copa e preparei um potinho com
petiscos para cada participante da reunião, deixando-os sobre a
mesa, diante da cadeira de cada um, junto com água mineral e
taças. No lugar onde sentaria o Sr. Dempsey, acrescentei um
pequeno bule com café puro, do jeito que ele gostava e xícara.
Em poucos minutos, a sala foi se enchendo, até que estava
abarrotada de gente. Pessoas de diferentes idades e estilos. Como
faziam parte do marketing, a maioria eram pessoas despojadas,
vestidas de forma displicente, diferentes dos executivos que
estavam sempre usando terno e gravata.
— Olá. Sou o Henry — disse o chefe da equipe, empurrando
a cadeira de rodinhas até o lado da mesa secundária atrás da qual
eu me encontrava sentada. Ele estendeu-me sua mão.
— Serenity — falei, apertando a mão dele.
— E a Mia, como está?
Henry tinha cerca de trinta anos e partes de várias tatuagens
escapavam do colarinho e da manga da sua camisa.
— A Mia? Mais ou menos. Ela vomitou muito hoje de manhã.
Está meio fraca por conta disso.
— Coitada. Ela deve ter comido algo muito estragado.
— Sim. Frutos do mar.
— E você?
— O que tem eu?
— É nova na cidade, não é?
— Sim. Estou morando aqui há pouco tempo.
— Tá a fim de sair pra conhecer a nossa cidade mais de
perto? Eu posso te mostrar os melhores lugares.
Caminhar pelas famosas ruas de Nova Iorque e pelo Central
Park era tudo o que queria fazer desde que chegara, mas ainda não
tivera a oportunidade. Talvez aquela fosse a minha chance, inclusive
de dar um tempo de todo esse estresse, que era correr atrás de um
homem que não me queria. Além disso, Henry não era nada
desinteressante, quem sabe eu pudesse adquirir um pouco de
experiência sexual com ele e aplicá-la no meu maior desafio, que
era levar o Sr. Dempsey para a cama.
— Pode ser. Anota aí seu número. Qualquer hora dessas eu
te ligo.
Fiquei constrangida ao entregar-lhe meu celular, um modelo
antigo e barato, que ficava ridículo perto dos aparelhos modernos
que todos eles tinham.
Henry ainda estava anotando o número dele no meu celular,
quando o Sr. Dempsey entrou na sala e todos se silenciaram ao
mesmo tempo, comportando-se como cordeirinhos assustados
diante do predador. Assim que avançou pelo recinto, seus olhos
verdes correram diretamente para mim, depois para Henry e
novamente para mim, então se encheram daquela fúria bestial que
eu já conhecia.
— Será que podemos começar, ou estou atrapalhando
alguma coisa mais importante que o trabalho? — disparou nosso
chefe, com a rispidez de sempre.
Henry devolveu-me meu celular tão apressado que, por
pouco, não o deixou cair no chão. Em seguida, voltou rapidamente
para o seu lugar à mesa, o que me fez lembrar do Sr. Dempsey
dizendo que não permitia envolvimentos entre os funcionários,
embora não fosse segredo para ninguém que alguns deles fossem
namorados e até se pegavam por aí pelas salas vazias.
— Tudo pronto para começarmos, senhor — disse Henry,
muito sério.
O Sr. Dempsey me deu mais uma olhada endiabrada e andou
até o seu lugar na cabeceira da mesa, acomodando-se. Apesar de
insuportável, ele conseguia ser tentadoramente lindo. Emanava uma
energia poderosa, de um ser soberano, com todas aquelas pessoas
o obedecendo e bajulando. E não era apenas isso. Ele era dono de
uma masculinidade bruta, viril, que me intimidava e me deixava
deslumbrada na mesma medida, a tal ponto que, quando dei por
mim, estava observando-o quase sem piscar, registrando cada um
dos seus minúsculos movimentos, percebendo o quanto ele parecia
charmoso fazendo coisas simples como abrir o seu notebook,
manusear o teclado, semicerrar os olhos ao se concentrar em
alguma leitura na tela.
Embora fosse endiabrado e perigoso, ele parecia tão sexy
sentado na cabeceira daquela mesa, com a paisagem de Nova
Iorque às suas costas e seus funcionários esperando pela sua
palavra, que de súbito me flagrei me perguntando como ele seria
por baixo de todas aquelas roupas e enrubesci com o pensamento.
CAPÍTULO 6

Serenity
Como se fosse atraído pelo meu rubor, os olhos raivosos do
Sr. Dempsey repousaram sobre mim, observando-me por um
instante, com o ódio de sempre, então se voltaram para os petiscos
sobre a mesa.
— Quem diabos colocou toda essa comida aqui? Achei que
fosse uma sala de reuniões, mas parece que virou um restaurante!
— vociferou e o rubor em meu rosto se intensificou quando todos na
sala olharam na minha direção ao mesmo tempo.
Puta merda!
— Perdão, senhor, eu só queria fazer algo diferente — falei,
já me levantando para recolher os potes. — Posso tirar tudo isso
daqui em um minuto.
— Eu te ajudo — disse Henry, levantando-se também e
começando a recolher a louça.
— Sentem-se os dois! — Dessa vez, o Sr. Dempsey gritou,
tão ferozmente que levei um susto e Henry voltou a se sentar rápido
como um raio. — Agora é tarde! Mas se vocês dois preferirem,
cancelo a reunião enquanto limpam a mesa. Quem precisa de
salário aqui, não é mesmo?
A sala inteira mergulhou em um silêncio tão profundo, que
praticamente deslizei atrás da minha mesa, evitando emitir qualquer
ruído e sentei-me, morta de vergonha por ele ter me tratado de
forma tão humilhante na frente daquelas pessoas.
— Se já podemos começar, vamos falar sobre o enredo da
última campanha publicitária que vocês fizeram. Que porcaria foi
aquela?! Se eu quisesse campanhas com teor clichê e repetitivo,
contrataria uma agência publicitária e não precisaria manter o
salário de você, que, aliás, não é nada baixo.
O Sr. Dempsey continuou vociferando com a sua equipe
enquanto eu precisava de muita concentração e esforço para
conseguir digitar tudo o que ele dizia, da forma como Mia me
orientara, quando teve a brilhante ideia de me deixar aqui sozinha à
mercê desse tirano.
Durante o decorrer da reunião, constatei que meu chefe não
era grosso apenas comigo, mas com todos os funcionários. Tratou
mal todos eles durante todo o encontro, deixando claro que era
realmente uma pessoa intragável, arrogante e autoritária, de modo
que, quanto mais eu o conhecia, menos entendia a obsessão de Mia
por ter um filho de alguém assim.
Ao final da reunião, me coloquei nos fundos da sala, para
desinstalar o retroprojetor, enquanto os funcionários iam saindo,
cada um levando seu pote com petiscos, a fim de me poupar do
trabalho de retirá-los sozinha. Nenhum deles havia tocado nas
guloseimas, provavelmente com receio de enfurecer ainda mais
aquela fera.
— Não liga pro que ele diz. Ele é assim com todo mundo —
sussurrou Henry, contornando a mesa sem necessidade,
aparentemente com o intuito de passar perto de mim.
— É verdade. Com o tempo você se acostuma — sussurrou
uma das funcionárias, antes de se retirar.
Outros deles acenaram para mim com gestos de cabeça,
oferecendo-me sorrisos amigáveis, provavelmente sentindo piedade
pela forma como fui tratada.
Depois que todos se foram, o Sr. Dempsey continuou sentado
na cabeceira da mesa, analisando alguns papéis. Como estávamos
sozinhos, achei que seria a ocasião certa para me atirar em cima
dele, talvez arrancar o vestido, como Mia sugerira. No entanto,
desisti, pois eu estava sem energia para esse tipo de coisa, depois
de todos os desaforos que ele me dissera. Talvez amanhã eu
acordasse com minhas energias renovadas e disposta a continuar
com aquele jogo de gato e rato, no qual eu era o gato e ele o rato.
No momento, minha vontade era de desistir de tudo.
— O senhor quer editar a ata antes de eu imprimir e levar
para todos assinarem? — indaguei, aproximando-me dele.
— Como Mia a orientou a fazer?
— A enviar por e-mail.
— Então envie.
— Sim, senhor. Com licença.
— Espere.
Ele se levantou e andou dois passos na minha direção,
parecendo muito ameaçador com aquele olhar agressivo e o corpo
grande dentro do terno caro. Devia ter um metro e noventa de altura
e possuía ombros largos como os de um atleta. Se decidisse me
agredir fisicamente, como seu olhar insinuava que faria, cada vez
que ele me observava, eu seria feita em picadinhos com muita
facilidade.
— Esqueci alguma coisa? — indaguei assustada.
— O que você estava conversando com o chefe do
marketing, por acaso estava dando mole para ele também?
Me senti ofendida com sua acusação. Ainda ergui o queixo,
determinada a mandá-lo ir para o inferno por ser tão arrogante, mas
me contive. Primeiro porque precisava muito daqueles quinhentos
mil. Depois porque ele era muito grande e forte e estávamos
sozinhos.
— Nós apenas conversamos.
— E o que ele fazia com o seu celular na mão?
— Ele me deu o número dele, para o caso de eu precisar de
alguém para me levar conhecer a cidade.
Sua fisionomia endureceu ainda mais.
— Como eu disse, não permito namoros entre funcionários!
— E como eu disse, nós apenas conversamos. Não é ele o
homem que quero.
Já que estávamos muito próximos, não custava nada eu fazer
algumas tentativas. Em algum momento, ele teria que ceder. Se não
acontecesse até eu receber meu primeiro salário, estava
determinada a pegar esse dinheiro e tentar recomeçar minha vida
de outra maneira. Mia teria que arranjar outra cobaia para
engravidar daquela fera. Uma garota de programa talvez resolvesse
o problema, com toda a experiência sexual que eu não tinha.
— E quem seria o homem que você quer?
Corajosamente, dei um passo à frente, ficando muito perto
dele. Ergui meu olhar e o fixei nas suas piscinas verdes ferozes.
— O senhor já sabe quem é.
Ele observou-me em silêncio durante um momento em que
meu coração se agitou no peito, em um misto de medo, expectativa
e algo mais que não compreendi.
— Você nunca desiste, não é?
— Não quando quero muito alguém.
Ele fez outro momento de silêncio, enquanto a agitação
crescia em meu íntimo. Até que deu um passo para trás.
— Lamento te desapontar, mas não vai acontecer. Como eu
disse, não me envolvo com funcionárias. Agora volte ao trabalho e
tente vestir algo mais adequado amanhã.
Dito isto, ele deu-me as costas e seguiu rumo à porta que
dava para a sua sala, pisando firme, com passos largos, como se eu
fosse portadora de uma doença altamente contagiosa da qual
precisava fugir.
Dei graças a Deus quando aquele dia terminou e pude voltar
para o apartamento de Mia. Não contei nada a ela sobre os
confrontos que vinham acontecendo entre mim e nosso chefe, pois
precisava que ela continuasse acreditando que eu conseguiria
seduzi-lo em algum momento, pelo menos até eu ter dinheiro para
pagar outro lugar para morar.

***

No dia seguinte, vesti um vestido mais discreto para ir à


empresa, embora este ainda marcasse bastante as curvas do meu
corpo. Não que eu me orgulhasse delas, pelo contrário, nunca me
considerei uma garota bonita, mas apenas comum. Contudo,
precisava seguir as orientações de Mia, que estava convencida de
que um homem importante como o Sr. Dempsey se interessaria por
alguém insignificante como eu. Na certa, ele tinha uma linda modelo
da Victoria’s Secret como amante, passava suas noites com ela e
chegava a achar ridículo ter alguém tão sem-sal como eu dando em
cima dele no trabalho, um papel ao qual eu continuava me
sujeitando unicamente porque precisava demais daqueles
quinhentos mil.
Foi mais um dia de pura derrota com aquele homem.
Aproveitei todas as oportunidades que tive de me insinuar para ele e
nada aconteceu. Não obtive qualquer reação da sua parte, além da
indiferença e do desprezo de sempre. Ele continuava agindo como
se tivesse algo muito grave contra mim, uma atitude que eu não
conseguia entender. Não era apenas bronca por ter me flagrado
pegando no sol no terraço, ou por eu ter derramado café sobre ele.
Esse homem me odiava com uma intensidade absurda, sem que eu
soubesse o que tinha feito de mal a ele.
Minha vontade era de desistir, pois já havia ficado mais do
que claro que eu jamais conseguiria seduzi-lo, talvez por não ter
ideia de como fazer isso. As teorias sexuais que eu vinha estudando
na internet, não estavam servindo para nada. Eu precisaria de
experiências práticas para entender e conquistar um homem como
esse.
Apesar de tudo, ainda era cedo para ir embora. Eu precisava
esperar até receber meu primeiro salário e apenas então ter com o
que pagar o aluguel de outro lugar para ficar. Até lá, não custava
continuar tentando ganhar os quinhentos mil, afinal, não tinha mais
nada a perder, já que minha dignidade havia descido pelo ralo e o
meu amor-próprio fora junto com ele.
Uma semana se passou, durante a qual dei em cima do meu
chefe todos os dias, sem jamais obter resultados. Eu não podia nem
dizer que ele não me enxergava, porque enxergava até demais. De
vez em quando, durante as reuniões, eu o flagrava me encarando
fixamente, sempre com aquela carranca de quem queria arrancar a
minha cabeça fora do pescoço.
Certo dia, no final do expediente, após o encerramento de
uma reunião com um grupo de franceses, todos deixaram a sala,
menos eu e o Sr. Dempsey, que permanecia acomodado ao seu
lugar na cabeceira da mesa, lendo alguns documentos enquanto eu
fazia uma revisão na ata. Ao vê-lo se levantar, fiz o mesmo, com
alguns documentos em mãos, os quais pretendia entregá-lo. Como
sempre, coloquei-me a poucos centímetros de distância dele, numa
falha tentativa de despertar seu interesse sexual, fingindo que não
tremia por dentro, por estar sozinha com aquela fera na sala, na
mira daquele olhar intenso e raivoso demais.
— Aqui estão os relatórios para assinar — falei, estendendo-
lhe os papéis.
— Pode deixar sobre a minha mesa — disse, com a frieza de
sempre.
Considerando que eu não tinha mais nada a perder, decidi ir
um pouco mais além desta vez e fingi deixar os papéis caírem no
chão, espalhando-se por todos os lados, inclusive sobre o piso,
além de onde ele estava. Com isto, tive a oportunidade de me enfiar
no espaço entre ele e a mesa, fingindo ir atrás dos papéis, mas
aproveitando para colar meu corpo ao seu. Era o primeiro contato
físico que tínhamos, desde a tragédia no terraço e notei que aquilo
surtiu algum efeito quando ele ficou desestabilizado, me encarando
de um jeito diferente, com a fúria de sempre, só que misturada a
algo mais caliente.
O que aconteceu em seguida foi completamente animalesco
e inesperado. Com gestos agressivos, violentos e mais ágeis do que
era possível escapar, o Sr. Dempsey agarrou-me pelo meio com um
braço e ergueu-me do chão, sentando-me sobre a borda da mesa e
prendendo-me a ele com tamanha brutalidade que o som dos
nossos corpos se chocando um no outro ecoou pela sala grande e
vazia. Com a outra mão, ele segurou firme meu queixo.
— Você está brincando com fogo, menina! — vociferou, com
seus dentes trincados e seu hálito com cheiro de menta e café
batendo em meu rosto.
Meu coração estava acelerado de medo, enquanto eu me
perguntava quais as chances de ser ouvida caso gritasse bem alto
por socorro. Certamente, mesmo que me ouvissem, ninguém me
ajudaria, afinal todos me viam dando em cima daquele homem
diariamente. Iam dizer que pedi para ser atacada. A única saída era
tentar usar a situação a meu favor. Então, sem desviar meus olhos
dos dele, respirei fundo tentando me acalmar e me controlar.
— Eu não sou uma menina, sou uma mulher e você sabe
disso — falei.
Ele me apertou um pouco mais, tão forte que eu estava a
ponto de não conseguir respirar. Sem jamais se abster daquela
expressão agressiva, seu olhar passeou pelo meu rosto, indo até
minha boca, voltando para os meus olhos.
— Você não sabe do que sou capaz! Não devia brincar
comigo!
— Então me mostra do que o senhor é capaz. Eu adoraria
descobrir.
— Eu sou um animal. Não sou e nunca serei normal. Eu
machuco garotinhas indefesas como você.
Nossa! Aquilo era no mínimo esquisito. Ele estava me
dizendo que era um estuprador? Eu deveria ficar ainda mais
apavorada? Pelo visto, sua intenção era que eu ficasse.
— Machuca de que forma?
— Das formas mais terríveis que você possa imaginar. Não
queira descobrir. Isso pode te custar muito caro.
Ele apertou minha mandíbula com mais força e,
inacreditavelmente, aquilo me agradou. Ao invés de me apavorar,
sua atitude estava me deixando curiosa. Pior que isso. O aperto
mortal do seu braço forte em torno de mim, quase me partindo em
duas, ao invés de me assustar, estava me fazendo sentir segura,
como se nada de mal pudesse acontecer enquanto eu estivesse ali.
Um sentimento no mínimo insano.
— E se eu quiser descobrir?
Seus olhos revelaram sua surpresa.
— Não me obrigue a fazer isso com você.
Como se eu tivesse perdido completamente o juízo, abracei
seus quadris com minhas pernas, a única parte do meu corpo que
eu consegui mover. Foi então que pude sentir o volume da sua
ereção empurrando meu ventre e algo estranho aconteceu. De
repente, meu corpo ficou todo quente, uma energia puramente
carnal partia daquele homem, me contagiando, fazendo meu ventre
se contorcer, meus mamilos endurecerem. Eram sensações com as
quais eu não estava familiarizada.
— Eu quero que faça — falei, determinada.
— Você não sabe o que está dizendo. Eu vou te machucar.
— Então machuque. É isso o que quero.
— Porra...
Dito isto, ele inclinou o pescoço até que sua boca alcançasse
a minha. Segurou meu lábio inferior entre seus dentes e os chupou,
tão ferozmente que achei que poderia arrancá-lo. Depois, contornou
os meus lábios com a ponta da sua língua, para amenizar a dor que
causara, mas não me beijou. Em vez disso, soltou-me, da mesma
forma repentina e inesperada com que me agarrara.
— Pro seu bem, eu te peço que fique longe de mim. Não
quero te machucar.
— Mas...
Antes que eu tivesse tempo de concluir a frase, ele deu-me
as costas e marchou apressado rumo à porta, deixando a sala como
se um incêndio estivesse acontecendo dentro dela.
Continuei parada, sentada na beirada da mesa, durante um
bom tempo, paralisada, com minha mente fervilhando, tentando
entender o que acabara de acontecer. Do que diabos aquele homem
estava falando? Estupro não era, ou já teria feito isso comigo. Sexo
violento? Sadomasoquismo? Eu não fazia ideia, mas estava muito
curiosa.
Sem que os pensamentos me deixassem, recolhi os papéis
do chão e, quando fui deixá-los sobre sua mesa, o Sr. Dempsey não
estava mais em sua sala, sem que eu o visse durante todo o
restante do dia.
Passei a noite toda pensando não apenas nas estranhas
palavras do meu chefe, mas na forma violenta e agressiva como ele
me tocara e quase beijara, deixando claro o quanto podia ser
perigoso para uma garota como eu.
Desde a primeira vez em que o vi, percebi o ódio que ele
sentia por mim, porém agora eu sabia que não era apenas por mim,
mas por todas as mulheres. Como ele próprio dissera, gostava de
machucar, de ferir, certamente praticando aquelas loucuras que
envolviam chicotes e correntes, das quais algumas pessoas tanto
gostavam. Embora eu respeitasse o gosto de cada um, não era algo
com o que eu estivesse disposta a me envolver. Minha integridade
física não valia quinhentos mil, portanto Mia precisaria procurar
outra pessoa para gerar o seu filho, pois, assim que eu recebesse o
meu salário, pularia fora daquele barco furado e sumiria da vida
daquelas pessoas. Estava decidida.
Apesar de todo o pavor que as palavras do Sr. Dempsey me
causaram, não consegui parar de pensar em tudo o que senti
quando ele me tocou, na energia poderosa que me contagiou
quando seu braço forte me envolveu e seus lábios se apossaram
dos meus. Parecia loucura, mas no fundo eu queria sentir aquilo de
novo, queria senti-lo mais intimamente, talvez por curiosidade,
embora não fosse possível. Eu não podia me arriscar a ser
agredida, violentada, ou talvez até morta por causa de dinheiro.
Apesar de precisar muito, não valeria a pena tamanho risco.
No dia seguinte, fui para o trabalho no horário de sempre,
aliviada por não precisar mais passar pelo constrangimento de dar
em cima de um homem que não me queria, afinal Mia voltaria para a
empresa apenas dali a cinco dias, jamais desconfiaria que eu não
estava mais levando nosso plano adiante. E quando ela voltasse, eu
já teria recebido meu salário e fugiria para bem longe.
Fui invadida por uma miríade de sentimentos contraditórios
quando me deparei com um e-mail do Sr. Dempsey me mandando
cancelar todos os seus compromissos e avisando que não iria
trabalhar naquele dia, uma notícia com a qual eu não sabia se me
sentia aliviada, ou desapontada. Certamente eu estava ficando
louca, mas sentia falta dele durante o dia. Não era a mesma coisa
trabalhar ali sem o desafio que era estar com aquele homem em
alguns momentos do expediente.
Como eu estava sozinha no último andar, Henry aproveitou
para me fazer uma visita, convidando-me para jantar e conhecer a
cidade. Eu gostaria de ter aceitado, mas, como logo iria embora,
achei que não valeria a pena iniciar uma nova amizade só para
abandoná-la depois.
Com a ausência do Sr. Dempsey, o meu trabalho foi
redobrado e acabei saindo do escritório algumas horas mais tarde
que o habitual. Como praticamente todos os funcionários já haviam
ido embora, a garagem se encontrava mergulhada na penumbra,
assustadoramente vazia e silenciosa, parecendo muito maior e
sombria sem a presença das dezenas de carros.
Com um calafrio na espinha, marchei apressadamente até o
conversível de Mia, já enfiando a mão na bolsa para pegar a chave
e o tilintar dos saltos das minhas sandálias ecoavam sobre o
assoalho.
Eu estava a poucos metros de distância do veículo, quando
ouvi ruídos partindo de alguma direção e meu coração disparou de
medo. Olhei para todos os lados, à procura de alguém que pudesse
estar ali, mas não vi ninguém. Talvez eu apenas estivesse
impressionada com tudo o que o Sr. Dempsey me dissera no dia
anterior. Era só isso.
Respirei fundo e tentei andar normalmente rumo ao carro,
porém, quando dei por mim, estava correndo, meus instintos me
alertavam de um perigo que eu não compreendia. Faltava alguns
passos para que eu alcançasse a porta do conversível, quando ele
se materializou repentinamente à minha frente, como se surgisse do
nada, fazendo com que eu me chocasse contra o seu corpo grande
e forte.
CAPÍTULO 7

Serenity
Ao perceber de quem se tratava, meu primeiro impulso foi
sair correndo, tentar fugir, mas Dylan era mais rápido e muito mais
forte. Com facilidade, agarrou-me pelo meio com seus dois braços,
recostou-me a uma grossa pilastra, aprisionando-me com seu corpo
e cobrindo minha boca com uma mão, ao mesmo tempo em que nos
ocultava da direção do elevador, de onde poderia vir o meu socorro.
— Se tentar gritar ou fazer qualquer gracinha, acabo com a
sua vida aqui mesmo — ameaçou ele, com seus olhos escuros e
ferozes fixos em meu rosto.
O pavor que me estraçalhava por dentro era tão intenso que
comecei a me tremer inteira, meu sangue gelava nas veias, com a
perspectiva da morte muito próxima. Inevitavelmente, recordei-me
das últimas palavras que Trisha me dissera, contidas na última
mensagem que me enviara antes de bloquear o meu número,
alertando-me de que eu deveria fugir para o mais longe possível, ou
Dylan me mataria.
Afastando-se alguns centímetros de mim, ele fechou uma de
suas mãos em volta do meu pescoço, fazendo uma leve pressão,
enquanto enfiava a outra no bolso do seu casaco, de onde sacou
uma moderna pistola e apontou-a direto para a minha face, fazendo
com que o pavor se intensificasse em minhas entranhas.
— Se gritar, eu atiro.
Aterrorizada, permaneci em silêncio, com meus olhos fixos no
cano da arma, meu corpo todo trêmulo e gelado, o pânico me
percorrendo.
— Eu vim aqui pra te matar, vagabunda! Mas depois que
descobri que você trabalha em um lugar tão chique e cheio da grana
como esse, acho que você pode me ressarcir do prejuízo que me
deu naquela maldita noite. Nada mais justo, não acha?
— E-eu n-não t-tenho dinheiro. P-por f-favor, m-me deixe em
paz.
— Paz é a última coisa que você vai ter na vida, sua piranha.
Vou fazer com que se arrependa amargamente de ter levado a
polícia para a minha casa. Sabe a quantia que precisei pagar pra
não ser preso? Pois é, você não faz ideia. Mas agora quero esse
dinheiro de volta.
— M-me d-desculpe. E-eu não queria fazer aquilo.
— Queria sim. Mas te garanto que não fará de novo. Vou te
ensinar a respeitar um bandido, porra! Agora abre a boca! — ele
ordenou e eu obedeci.
Tão logo abri os meus lábios, Dylan introduziu o cano gelado
da arma entre eles e o pavor revolveu em minhas entranhas, de tal
maneira que quase desfaleci. Minhas pernas ameaçaram ceder,
meus tremores se intensificaram, minha mente entorpecida pelo
horror trabalhava depressa em busca de uma saída.
— Se quiser continuar vivendo, você terá que devolver o
dinheiro que gastei com a polícia naquela noite, que não foi pouco
— continuou ele. — Vai encontrar o cofre onde guardam o dinheiro
aqui e pegar toda a grana pra mim. Será que fui claro?
Aterrorizada, meneei a cabeça positivamente.
— E nem pense em fugir de mim. Tenho amigos na polícia e
até no FBI. Da mesma forma que te encontrei aqui, posso te
encontrar em qualquer lugar. — Novamente, fiz que sim com a
cabeça. — Você tem três dias pra encontrar o cofre. Se não o fizer,
a coisa vai ficar séria pro seu lado. E me agradeça por estar te
dando essa chance, porque outra pessoa já teria enfiado uma bala
na sua cabeça, como todo X9 merece. — Ele tirou o cano da arma
da minha boca. — Me diz se entendeu tudo o que eu te disse.
— Entendi. Mas não existe cofre com dinheiro aqui. O
dinheiro é todo guardado no banco.
Ele encostou o cano da arma na minha testa e estremeci
violentamente.
— Tá dizendo que não pretende me pagar o que deve, sua
vagabunda?!
— Tem um jeito. Estou numa jogada com uma amiga. Ela vai
me dar quatrocentos mil pra eu engravidar do Sr. Dempsey e dar o
filho a ela. Posso te dar esse dinheiro. Basta você esperar um
pouco.
Naquele instante, eu diria qualquer coisa para me manter
viva.
— Tá tentando me enrolar? Pensa que sou otário?
— Não é nada disso. Realmente ela vai me dar esse dinheiro.
Ele refletiu por um instante.
— Por que diabos alguém pagaria tão caro pra ter um filho?
— Ela o admira muito. Por favor, acredite em mim.
Ele fez outro momento de reflexão.
— Se você está transando com esse cara por dinheiro, vai
fazer isso por mim também. Depois que ficar grávida dele, claro.
Sempre te achei muito gostosinha, mas não sabia que era uma puta
que dá a boceta por grana. — Ele guardou a arma, mas continuou
com a mão em torno da minha garganta. — Vamos fazer assim,
primeiro você procura o cofre, se não encontrar falaremos sobre
esses quatrocentos mil. Não sou um cara que gosta muito de
esperar. Nos vemos daqui a alguns dias e lembre-se: se chamar a
polícia, eu te mato sem nem pestanejar. Fui claro? — Fiz que sim
com a cabeça. — Ótimo.
Dito isto, ele olhou para todos os lados, soltou meu pescoço e
se afastou, desaparecendo em meio à penumbra da garagem, da
mesma forma repentina que surgira.
Sozinha, desmoronei, minhas pernas me abandonaram de
vez, minhas costas deslizaram lentamente de encontro à coluna da
garagem, para baixo, até que eu estava sentada no chão, sem
forças para me levantar, uma torrente de lágrimas banhava meu
rosto com abundância.
Eu chorava pelo medo, pelo susto, mas também pela minha
infinita falta de sorte na vida, por me sentir sozinha a ponto de não
ter ninguém com quem contar nesse momento tão terrível. Ninguém
que se importasse comigo a ponto de me socorrer. Na verdade, a
única pessoa que já se importara comigo um dia fora meu pai, mas
ele não estava mais aqui.
Chorei desenfreadamente durante um longo tempo,
apavorada, sem saber o que fazer da minha vida. Ainda estava
sentada no chão da garagem, em prantos, com a cabeça enterrada
entre os joelhos, sentindo-me desolada e sozinha, quando uma mão
grande se fechou em volta do meu braço e dei um pulo, em pânico,
achando que Dylan tinha voltado. Mas não era ele. Era o Sr.
Dempsey.
— O que está acontecendo aqui? Você está machucada? —
indagou ele, parecendo preocupado.
Não usava o terno formal como todos os dias, mas uma
camisa de seda preta, com as mangas enroladas até os cotovelos e
a barra displicentemente jogada sobre o cós da calça jeans.
— Não. Eu estou bem — falei, permitindo que ele me
puxasse para cima e me colocasse de pé.
— Bem com certeza você não está. Foi um assalto?
Eu podia dizer que sim, apenas para não ter que falar a
verdade. Mas minha bolsa estava no chão, bem ao meu lado.
— Não. Não foi nada. É só que... — Não consegui continuar
falando, um soluço me silenciou.
Respirei fundo, passei o dorso das mãos sobre minha face,
tentando parar de chorar, mas as lágrimas teimavam em continuar
escorrendo.
— Pode me falar. Eu não vou te julgar. — A voz dele era
gentil como eu jamais havia ouvido.
Cogitei contar-lhe a verdade. Mas ia dizer o quê? Que
precisava ficar grávida dele, urgentemente, para ganhar quinhentos
mil e dar quatrocentos a um traficante, em troca da minha vida?
— Não foi nada. É sério. Agora tenho que ir.
Tão logo tentei me abaixar para pegar minha bolsa do chão,
minhas pernas falharam novamente e só não caí porque os braços
dele me ampararam, passando por baixo do meu corpo e erguendo-
me do chão.
— Eu te levo em casa. Você não está em condições de dirigir.
Não tive nem como recusar, pois realmente não teria forças
para dirigir pelas ruas agitadas de Nova Iorque naquele estado.
Então, apenas permiti que ele me carregasse pela garagem,
enquanto eu aninhava meu rosto de encontro ao seu peito largo e
me acalmava.
O Sr. Dempsey tinha um cheiro muito bom, uma mistura de
perfume caro com menta, que me inebriava e fascinava. Com minha
cabeça recostada ao seu peito e seus braços em torno de mim,
fechei os meus olhos e fui me acalmando cada vez mais, de modo
que o pranto foi cessando aos poucos. Aconchegada ao seu corpo
forte, me senti segura e protegida como em poucas ocasiões na
minha vida, como se nada de mal pudesse me atingir, inclusive
Dylan. Contudo, a realidade não era assim. Meu chefe também
representava uma ameaça para mim, embora meu coração sentisse
o contrário.
Ele acomodou-me ao banco do carona do seu luxuoso Volvo,
voltou para pegar minha bolsa e assumiu o volante, conduzindo-nos
para fora da garagem do edifício.
— Onde você mora? — indagou, sua voz grossa e calma
quebrando o silêncio no interior do veículo.
— No apartamento de Mia.
— E onde fica o apartamento dela?
Peguei o celular na bolsa, abri o percurso no Google Maps e
entreguei-lhe.
Os primeiros minutos do trajeto foram feitos em completo
silêncio, enquanto minha mente martelava as ameaças de Dylan, a
imagem da arma na minha boca, depois na minha cabeça,
recusando-se a me deixarem. Eu tinha quase certeza de que não
existia um cofre com dinheiro na companhia. E mesmo que
existisse, não teria coragem de roubar. A única saída que eu
enxergava para salvar a minha vida era mesmo engravidar do meu
chefe e pegar os quinhentos mil. Assim, pelo menos, eu ainda ficaria
com cem mil para recomeçar minha vida após o nascimento da
criança. Isso se Dylan realmente me deixasse viva após pegar esse
dinheiro.
— O que se passa nessa cabecinha pensativa? — A voz do
meu chefe irrompeu através do silêncio dentro do carro, servindo
como um bálsamo para o meu tormento.
— Tantas coisas.
— Quer me falar o que aconteceu?
— Não.
— Pode falar. Dou minha palavra que vou entender. — Ele
silenciou, como se esperasse pela minha confissão. Como eu não
disse nada, continuou: — Você tem um ex-namorado violento que te
persegue, é isso?
Por que ele pensaria isso de mim?
— É isso mesmo — disparei, por impulso, afinal precisava
dar-lhe uma explicação para o que estava acontecendo e a verdade
não era uma opção.
Percebi suas mãos apertando o volante com mais força.
— Ele te machucou?
— Não. Apenas ameaçou.
— Quer ir até a delegacia dar uma queixa?
— Não precisa. Ele ameaça, mas depois vai embora. Estou
bem agora.
— Você não está bem.
— Mas vou ficar. Obrigada.
Ele soltou um suspiro pesado, de pura resignação.
— Tudo bem se não quer denunciá-lo, é uma escolha que
apenas você pode fazer.
— É sim.
Pouco tempo depois estávamos estacionando diante do
edifício onde Mia morava. Antes que eu tivesse tempo de agradecer
pela carona e dizer adeus, o Sr. Dempsey saltou e contornou o carro
pela frente, para logo em seguida abrir a porta do carona para mim.
— Consegue andar?
— Acho que sim.
Sentindo-me muito mais calma, desci do carro e consegui
ficar de pé sem dificuldades.
— Obrigada por me trazer.
— Eu te acompanho até lá em cima.
— Não precisa.
— Precisa sim.
Sem esperar que eu continuasse protestando, ele trancou o
carro, repousou sua mão na base da minha coluna e me conduziu
para dentro do prédio, enquanto minha mente trabalhava depressa,
em busca de uma explicação para dar à Mia sobre toda aquela
situação, visto que ela não acreditaria nessa história de ex-
namorado e, se acreditasse, seria ainda pior.
— Por favor, não conte à Mia o que aconteceu — falei,
quando estávamos no elevador.
— E por que não?
— Porque se ela souber que tenho um ex-namorado
perseguidor, vai me expulsar daqui.
Aquilo não era de todo mentira. Se Mia soubesse que eu era
perseguida por um traficante que ameaçava me matar, me
expulsaria da sua casa e da sua vida sem pensar duas vezes. Nós
não éramos tão amigas assim, a ponto de ela querer me ajudar e as
pessoas sempre pensavam unicamente em si mesmas.
O Sr. Dempsey encarou-me desconfiado, mas por fim
assentiu com um gesto de cabeça.
Fiquei surpresa ao encontrarmos o apartamento escuro e
silencioso. Geralmente Mia não costumava sair à noite,
principalmente sem avisar. Era muito rigorosa com essa coisa de
horários.
— Acho que Mia não está em casa — falei.
— Ela não estava doente?
— Sim. Deve ter ido ao hospital. Vou perguntar.
Mais que depressa, saquei o celular e enviei-lhe uma
mensagem.

Serenity: O Sr. Dempsey está aqui. Cuidado para não


aparecer com cara de quem estava em um encontro.

Logo ela respondeu com uma dezena de emojis de carinhas


chocadas, em seguida escreveu outra mensagem:
Mia: Estou na casa de uma amiga. Diga a ele que estou no
hospital em observação. Mas que estou bem.

Transmiti o recado ao Sr. Dempsey, que não desconfiou de


nada.
— Mais uma vez, agradeço a ajuda. Não sei como teria
chegado em casa sem o senhor. Muito obrigada — falei, desolada
pela perspectiva de ficar sozinha, apavorada com a possibilidade de
Dylan voltar a aparecer e fazer o pior.
— Boa noite. Te vejo amanhã. — O Sr. Dempsey deu um
passo em direção à porta de saída, então se voltou novamente para
mim e observou-me em silêncio durante um longo momento. —
Você já jantou?
— Ainda não.
— Me mostre onde fica a cozinha. Vou preparar algo para
você comer.
Fitei-o perplexa.
— É sério?
— Claro. Está achando que não sei cozinhar?
Eu não duvidava nada de que ele soubesse fazer de tudo um
pouco. O motivo da minha perplexidade era ele se dispor a cozinhar
para mim, uma simples funcionária.
— Não, senhor. Desculpe. A cozinha fica por aqui.
Na cozinha, meu chefe fez com que eu me acomodasse
diante da bancada e se colocou do outro lado, vasculhando a
geladeira em busca de algo para preparar. Separou o frango
desfiado congelado, salada, molho e pão, mostrando-se
surpreendentemente habilidoso ao preparar alguns sanduíches.
— Achei que o senhor não iria à empresa hoje — comentei.
— E não ia. Tive uma viagem de última hora, achei que não
precisasse ir lá na volta. Mas passar um dia longe do trabalho é uma
realidade muito distante pra mim. Precisei ir buscar algo.
— Pois se eu tivesse todo o seu dinheiro, não trabalharia
nenhum só dia. Passaria meu tempo deitada em uma rede, em
alguma praia paradisíaca.
O Sr. Dempsey sorriu e me dei conta de que era a primeira
vez que fazia isso na minha frente.
— E quando o dinheiro acabasse, o que você faria?
— Sei lá. Trabalharia um tempo, até juntar um pouco mais e
voltaria para a praia. Não preciso de muito para viver.
— As coisas não são tão simples assim. Fazer dinheiro
requer cem por cento de dedicação.
— Não vejo qual o encanto de viver só pra isso.
— O encanto do poder. De saber que se pode fazer quase
tudo.
— Tudo menos viver de verdade.
— Não é bem assim.
Com os dois sanduíches prontos, ele os depositou sobre a
bancada, diante de mim, encheu dois copos com chá gelado e
acomodou-se do outro lado, à minha frente.
— Coma — ordenou e obedeci, dando uma grande mordida
no sanduíche, que estava uma delícia.
Ele se serviu do outro, comendo com gestos elegantes e
requintados. Observando-o tão perto, sentado na mesma cozinha
onde eu fazia as minhas refeições diárias, de súbito já não me senti
tão intimidada com sua presença, como de costume. Era como se
fosse uma pessoa qualquer ali diante de mim e não o déspota
autoritário e arrogante que me direcionava olhares fulminantes todos
os dias.
— Como você o conheceu? — indagou ele.
— Quem?
— O namorado perseguidor.
Quase tive um ataque de tosse, pois nunca fui muito boa em
inventar mentiras e agora precisaria improvisar.
— Em Houston. Quando trabalhava como garçonete em um
restaurante. Ele tinha negócios com o meu chefe.
— O que ele faz da vida?
Puta merda!
— É instrutor de hipismo. — Eu nem sabia de onde tinha
tirado aquilo, mas era ridículo.
— Por isso você se mudou para Nova Iorque? Para fugir
dele?
— Mais ou menos. Eu tinha voltado para a casa da minha
mãe no interior, onde encontrei Mia e ela me convidou para vir para
cá.
— Você tem sorte por tê-la como amiga.
— É verdade. Nos conhecemos desde crianças. Ela era a
garota rica e esquisita da cidade. Não costumava ter muitos amigos,
porque, naquela época, os homossexuais eram ainda mais
discriminados.
— E isso não impediu que ela se tornasse uma grande
mulher.
— Talvez a tenha incentivado a crescer.
Fiquei aliviada ao mudarmos o foco do assunto para Mia e
depois passarmos a falar sobre coisas irrelevantes do cotidiano.
Mesmo após encerrarmos a refeição, continuamos conversando
amenidades, coisas do dia a dia, até que o sono foi chegando e
soltei um longo bocejo.
— Já está na hora de você ir dormir — disse meu chefe,
levantando-se.
— Não sei se vou conseguir pregar o olho essa noite.
— Você acha que seu namorado pode vir aqui?
— Se ele me encontrou no trabalho, pode facilmente
descobrir onde moro.
A constatação me fez estremecer de pavor, pois era a mais
pura verdade. Se Dylan me encontrara na empresa, certamente já
tinha também o endereço de Mia e poderia aparecer aqui a qualquer
momento.
Minha nossa! Eu estava mesmo ferrada.
— Eu fico com você enquanto Mia não chega. Onde fica seu
quarto? — Encarei-o surpresa. — Não é o que você está pensando.
Só vou te fazer companhia.
— Eu nem cheguei a pensar em outra coisa. — E era
verdade. Se ele quisesse alguma coisa comigo, já teria feito há
muito tempo.
Agradecida por ele se dispor a ficar, nos encaminhei até o
quarto de hóspede, onde eu vinha dormindo desde que me mudei.
Era pequeno, porém aconchegante, com cama de casal, armário e
até um banheiro somente para mim. Chegando lá, escovei os
dentes e presenciei o Sr. Dempsey virando-se de costas enquanto
eu trocava as roupas do trabalho por uma camisola preta, curta e
sexy. Apaguei a luz, deixando apenas a do abajur acesa e deitei-me
de lado na cama, enquanto ele continuava de pé. Apesar da leve
penumbra no aposento, era possível notar que seus ombros
estavam enrijecidos de tensão.
— Pode se deitar. Prometo que não vou atacá-lo — falei,
gesticulando com a cabeça para o lado vazio da cama.
— Acho melhor você dormir.
— Não vou conseguir com o senhor aí de pé me olhando.
Ele hesitou, porém, por fim, aproximou-se da cama e deitou-
se, sem sequer tirar os sapatos. Estava claramente tenso e ficou na
mesma posição em que eu me encontrava, colocando seu rosto
rente ao meu, seus olhos se prendendo ao meu olhar.
Nossas faces estavam a poucos centímetros de distância e
apesar da pouca claridade, pude constatar mais uma vez o quanto
ele era lindo, com o rosto másculo, a barba escura começando a
despontar e os olhos verdes em contraste com a pele morena.
Qualquer mulher ficaria enfeitiçada com uma beleza como aquela,
pena que nem todas tinham a sorte de atrair o seu interesse. Eu era
uma dessas desafortunadas.
— A mulher que o tem é muito sortuda — deixei escapar.
— Nenhuma mulher me tem.
— Está me dizendo que não tem uma namorada, ou uma
amante?
— Por que isso te deixa tão surpresa?
— Porque o senhor parece ter a capacidade de possuir
qualquer mulher que desejar.
— Talvez eu não queira possuir nenhuma mulher.
Aquilo era no mínimo estranho. Que tipo de homem renegava
sexo? Mesmo sendo sexo violento, como ele disse que gostava,
existiam muitas mulheres que também apreciavam a prática.
— O que aconteceu que o fez ficar assim? — Minha pergunta
o surpreendeu, o que me fez acreditar que algo grave o fizera tomar
a decisão de ficar sozinho.
— É melhor você ir dormir. Está tarde. — Sua voz era um
sussurro, assim como a minha.
Parecia surreal que meu chefe estivesse realmente deitado
na minha cama, cochichando comigo em meio à penumbra do
quarto. Ali, ele já não parecia o mesmo homem que me fulminava
com ódio cada vez que me olhava no trabalho.
— Posso fazer só mais uma pergunta?
— Faça.
— Por que o senhor me odeia tanto?
— Eu não te odeio. De onde você tirou isso?
— Da forma como olha para mim durante as reuniões.
Seus olhos se fecharam por um breve instante e, quando se
abriram, estavam carregados de tormento. Suas sobrancelhas
arquearam, sua fisionomia assumiu uma agonia tão imensa que tive
vontade de acariciar o seu rosto e o consolar de algo que eu sequer
compreendia o que era.
— Não é você que eu odeio, mas o fato de não conseguir te
olhar sem sentir esse desejo absurdo de te machucar, enquanto
trepo com você. — Meu queixo caiu de pura incredulidade. Pela
forma como ele me tratava, nunca me passou pela cabeça que
pudesse realmente me desejar. — Nesse exato momento, não há
nada que eu queira mais do que te beijar e te tocar inteira, mas não
posso fazer isso, porque se eu começar jamais vou conseguir parar.
Suas palavras fizeram com que o sangue fluísse mais quente
em minhas veias, meu coração assumisse um ritmo mais agitado.
— E se eu quiser ser machucada?
Minha Nossa Senhora! Onde eu estava com a cabeça para
verbalizar um disparate daqueles? E o pior era que nem havia dito
aquilo pelos quinhentos mil. Eu olhava para aquele homem, ouvia
sua voz grossa, sentia o cheiro gostoso do seu perfume e era
inundada pela sensação de segurança que ele me transmitia. Eu
realmente queria que ele me tocasse e beijasse, queria mais do que
tudo, não importando que o preço fosse sua violência. Eu devia
estar ficando louca, isso sim.
— Não diga isso nem de brincadeira. Eu sou um animal
descontrolado e violento, um sádico. Se você tiver juízo, vai ficar o
mais longe possível de mim.
Um estremecimento me varreu, de medo pelo que ele podia
fazer comigo. No entanto, a curiosidade que surgiu em meu âmago,
foi maior que tudo.
— Como funciona essa coisa de sexo violento? O senhor é
um Dominante?
— Definitivamente, não é o melhor momento para falarmos
sobre sexo. Agora durma. Você precisa descansar.
A ordem veio autoritária e direta, de modo que não tive opção
a não ser fechar os meus olhos, quando, na verdade, tudo o que eu
queria era continuar acordada, ouvindo sua voz, sentindo seu
cheiro. Queria mais que tudo nessa vida, tocá-lo e ser tocada por
ele, sentir novamente o gosto daquela boca, em um beijo de
verdade dessa vez. Parecia loucura, mas eu queria estar nua nos
braços daquele homem, como jamais quis algo na vida e foi com
esse desejo queimando dentro de mim, que adormeci.
CAPÍTULO 8

Serenity

Acordei com o som do meu nome sendo chamado, repetidas


vezes. Abri os olhos e vi a claridade do dia penetrando o quarto
através da janela. Procurei pelo Sr. Dempsey ao meu lado, mas ele
não estava mais lá. Tudo o que restava era seu cheiro gostoso nos
lençóis e nos travesseiros, aos quais me agarrei impulsivamente,
tentando ter só mais um pouco dele perto de mim.
— Ei, preguiçosa, está na hora de levantar-se — disse Mia,
que se encontrava em pé ao lado da cama e acabara de me
acordar.
— O que houve? O prédio está pegando fogo? — Eu sabia
que ainda não era hora de me levantar, porque o despertador ainda
não havia tocado.
— Não é isso. Estou me corroendo de curiosidade. — Ela
sentou-se na beirada do colchão, encarando-me com ansiedade. —
O Sr. Dempsey acabou de passar por mim na cozinha! Me conta
como foi? Ele aceitou não usar camisinha, ou você usou a seringa?
Ela estava se referindo a uma seringa enorme que eu
carregava o tempo na bolsa, com o objetivo de inseminar a mim
mesma, com o esperma do nosso chefe, caso tivesse uma relação
sexual com ele, usando preservativo. Era uma ideia insana e imoral,
eu estava ciente disso, porém tinha gente que fazia coisa pior por
quinhentos mil.
— Ele dormiu aqui — falei, com um suspiro, feliz em saber
que ele passara a noite toda comigo.
— Como assim ele dormiu aqui? Vocês não estavam juntos?
— Sim e não. — Um ponto de interrogação surgiu no meio da
testa dela, e sentei-me recostada na cabeceira da cama, antes de
explicar: — Ele veio me deixar em casa. Depois comemos,
conversamos e dormimos juntos. Mas não aconteceu nada. Ainda.
Vi toda a sua animação se esvaindo lentamente da sua
fisionomia.
— Como duas pessoas dormem na mesma cama e não
fazem nada?
— O Sr. Dempsey não é como os outros homens. Ele é difícil.
Eu não podia nem contar a ela sobre a questão do sexo
violento, sem fazer com que ela desistisse da barriga de aluguel, por
receio de que o filho saísse igual ao pai.
— E ponha difícil nisso. Você já está dando em cima dele há
quase um mês e nada aconteceu. Já ficou pelada na frente dele,
como eu sugeri?
— Não. Mas vai dar tudo certo. Como você pode constatar,
estamos mais próximos. É questão de dias até eu ficar grávida.
Para falar a verdade, eu estava mais esperançosa após a
noite passada, depois de ver o cuidado dele comigo e de ouvi-lo
confessando o quanto me desejava. Acreditava que realmente tinha
chances de engravidar daquele homem, apesar do medo da sua
violência. Até porque, ir embora da cidade, após receber meu
pagamento, já não era uma opção. Se eu não desse o dinheiro que
Dylan exigira, ele me encontraria onde quer que eu fosse e acabaria
com a minha vida. Portanto, eu precisava voltar ao plano inicial,
ignorar o pavor do que meu chefe poderia fazer comigo, durante o
sexo e providenciar para que essa gravidez acontecesse o quanto
antes.
Felizmente Mia nem percebeu que eu voltara do trabalho sem
o seu carro no dia anterior, de modo que não precisei explicar nada
a ela e peguei um táxi para ir para a empresa naquela manhã.
O Sr. Dempsey chegou logo depois de mim. Como sempre,
passou direto pela recepção, carrancudo, com o semblante fechado,
sem sequer olhar em meu rosto ou dizer um bom-dia. Ainda assim,
fui até a copa e preparei uma bandeja com café puro, leite e
petiscos, do jeito que ele gostava. Depois, fui levar em sua sala,
caminhando com cuidado para não cair no chão novamente, como
aconteceu da última vez que tentei servi-lo de café.
Ao entrar em seu escritório, o encontrei sentado atrás da sua
mesa, falando com alguém ao telefone, vociferando palavras
autoritárias com algum pobre funcionário, como sempre fazia.
Apesar da aspereza em suas palavras, parecia uma miragem de tão
lindo, dentro de um terno grafite, feito sob medida, com a camisa
branca e a gravata mais escura por baixo. Diferente de ontem à
noite, tinha seus cabelos impecavelmente penteados.
Durante os minutos em que continuou ao telefone, ele agiu
como se nem estivesse me vendo à sua frente, enquanto eu
continuava plantada com a bandeja nas mãos, me sentindo meio
patética pela ansiedade em agradá-lo, enquanto ele me ignorava.
Até que, por fim, ele encerrou a ligação.
— Quem diabos pediu café?! — vociferou ele, tão
estrondosamente que levei um susto.
— M-me d-desculpe. E-eu pensei que...
Ele me interrompeu:
— Pensou que depois de ontem à noite, seríamos amigos.
Ou talvez amantes. — Seus olhos raivosos pareciam apreciar com
prazer a palidez tomando conta da minha face. — Acontece que
nada mudou! Ainda somos apenas chefe e funcionária. Continuo
exigindo que você se mantenha o mais longe possível de mim. Só
apareça na minha frente quando não for possível se ausentar. Será
que fui claro?
Suas palavras conseguiram me irritar. Minha vontade foi de
mandá-lo para o inferno e depois jogar a bandeja em cima dele de
novo, desta vez por puro merecimento. Ele não estava sendo
apenas escroto e arrogante, estava sendo um grande hipócrita e
mal-educado, por me tratar de tal forma, quando ambos sabíamos
que não era nem um pouco indiferente a mim. No entanto, eu não ia
me rebaixar ao nível dele, transformando aquilo em uma discussão.
Então, apenas respirei fundo e me forcei a manter a calma.
— Claro, senhor. Me desculpe pelo incômodo. Com licença.
Dito isto, dei-lhe as costas e voltei para a recepção, com
minhas mãos trêmulas de raiva. Após dispensar a bandeja de volta
na copa, decidi que nunca mais daria em cima daquele imbecil.
Preferia procurar pelo tal cofre e entregar o dinheiro dele a Dylan,
porque o Sr. Dempsey merecia ser roubado, como retaliação por
sua infinita arrogância.
Não era possível que não existisse um cofre secreto naquele
prédio, abarrotado de dinheiro vivo. Em todas as empresas tinha um
e eu encontraria o do Sr. Dempsey. Era melhor isso, do que me
permitir continuar sendo humilhada por ele, pois já estava farta
disso.
O expediente transcorreu como todos os dias. Enviei a
agenda do Sr. Dempsey por e-mail, assim como passei-lhe várias
informações pelo interfone. Quando precisei levar relatórios para ele
assinar, me mantive séria e centrada o tempo todo, falando apenas
o necessário.
Por volta do meio-dia, quando ele saiu para almoçar, decidi
que era a hora certa de agir e me dirigi até sua sala. Não foi tão
difícil quanto eu imaginava encontrar o tal cofre. Estava muito mal
escondido atrás de uma tevê de plasma que havia sobre uma
estante. No entanto, como eu já esperava, estava muito bem
trancado e era necessária uma senha de oito dígitos para abri-lo.
Droga! Que falta de sorte!
Acessei o site da empresa, à procura dos dados pessoais do
Sr. Dempsey e acabei encontrando sua data de nascimento, além
de outros números significativos para ele, como a data da fundação
da companhia da qual era dono. Fiz várias tentativas com diferentes
combinações desses números e não adiantou nada, não era
nenhum deles. Tentei números aleatórios, os números referentes às
letras com as quais se escrevia SEXO VIOLENTO, porque essas
palavras estavam gravadas na minha cabeça e nada. O cofre
simplesmente não abria. Apesar de parecer impossível, continuei
tentando, enquanto as horas se passavam, até que faltavam poucos
minutos para a hora em que o Sr. Dempsey costumava voltar do
almoço e deixei rapidamente sua sala.
Apenas depois que voltei à recepção e o nível de adrenalina
baixou em meu sangue, meu estômago roncou de fome, avisando-
me de que eu também precisava almoçar, mas agora era tarde, não
daria mais tempo de ir até a delicatéssen do outro lado da rua, onde
comia todos os dias. A solução seria filar alguns petiscos na copa e
foi o que fiz, descendo mais uma vez até o décimo-quinto andar.
Felizmente a copeira nunca deixava faltar algo pronto e
praticamente devorei os enroladinhos de camarão que estavam lá,
apressada, bebendo um grande copo de refrigerante para ajudar a
descer. Após a acelerada refeição, retoquei a maquiagem ali mesmo
e me dirigi de volta para o elevador de serviço. Apertei o botão e
nada do elevador chegar, provavelmente estava no térreo.
Apressada, corri para o elevador social, pois se ficasse ali
esperando, extrapolaria meu horário de almoço e daria motivos para
o déspota do meu chefe reclamar. Além disso, pegar o elevador
convencional, apenas uma vez, não ia fazer mal a ninguém, então
cliquei no botão daquele que estava mais perto e esperei.
Senti minha face empalidecer quando as portas se abriram e
ninguém menos que o Sr. Dempsey se encontrava dentro dele,
sozinho, parecendo extremamente entediado, recostado na parede
de aço espelhada, o que mudou tão logo ele colocou seus olhos
verdes sobre mim, seu semblante se transformou do tédio para o
ódio, como num passe de mágica.
Mas ele não odiava a mim. Lembrei-me de suas palavras. O
que ele odiava era o fato de querer me comer e me machucar, cada
vez que me observava, uma revelação que não fazia com que eu
me sentisse melhor diante daquela carranca agressiva e raivosa que
me era direcionada.
— Vai entrar ou não?! — indagou ele, rispidamente, enquanto
eu permanecia parada na porta, pensando seriamente em pegar
outro elevador, só para não ter que ficar tão perto daquele homem.
Além da sua hostilidade, eu ainda tinha que lidar com a
sensação de que ele podia enxergar através de mim e sabia que eu
havia tentado abrir o seu cofre. Mas isso era só impressão minha,
pois não havia como ele saber.
— Claro — falei, entrando no elevador, chegando à
conclusão de que seria infantilidade esperar por outro.
No espaço minúsculo e abafado, o cheiro do perfume dele
me alcançou e inebriou a tal ponto que todos os pelos do meu corpo
se arrepiaram. Nós estávamos a quase dois metros de distância um
do outro, e ainda assim eu podia sentir o calor que emanava dele,
me atraindo como um ímã, puxando-me em sua direção, deixando
todos os meus sentidos em alerta.
Não trocamos uma só palavra enquanto subíamos os
andares. Ao lhe lançar um breve olhar, percebi outra mudança em
sua fisionomia. Suas sobrancelhas estavam arqueadas, seu maxilar
enrijecido, seus olhos atormentados, exatamente como na noite
passada, quando ele me dissera o quanto me desejava. A sensação
que tive naquele instante foi de que ele travava uma batalha
silenciosa contra si mesmo e me perguntei se, de alguma forma,
minha proximidade não o estava prejudicando.
Tínhamos subido quatro andares, quando de repente o
elevador deu um forte solavanco e parou, entre um andar e outro; as
luzes piscaram algumas vezes, antes se apagarem por completo,
fazendo com que o pequeno espaço mergulhasse na mais negra
escuridão, tão apavorante que soltei um grito agudo e grudei minhas
costas na parede.
— Fica calma. Deve ter sido uma queda na energia. Daqui a
pouco ela volta — disse o Sr. Dempsey, com sua voz calma e gentil.
Mas suas palavras não foram suficientes para me acalmar.
Por mais que eu tentasse respirar fundo, em busca de serenidade, o
pânico insistia em tomar conta de mim, uma cascata de
possibilidades macabras se desencadeava em minha mente
aterrorizada.
— E se não voltar, o que faremos?
Mentalmente, visualizei o elevador despencando
desgovernado até o térreo, conosco ali dentro. Seria uma queda
fatal, que nos faria em picadinhos.
— Vai voltar. Já passei por isso várias vezes. É algo casual.
Não precisa ter medo. — Suas palavras conseguiram me acalmar
um pouco, afinal se ele passara por isso tantas vezes e ainda
estava vivo, talvez nós tivéssemos chances de escapar. — Vou ligar
pro pessoal da manutenção. Assim que eles souberem que estou
aqui, vão resolver isso ainda mais depressa.
Sem enxergar um palmo à frente do meu nariz, ouvi seus
movimentos quando ele enfiou a mão em algum bolso e pegou o
celular. A luz do aparelho nos proporcionou o mínimo de claridade, o
que me ajudou a relaxar um pouco.
— O que diabos está havendo aqui? A porra do elevador
parou de novo! — vociferou ele, tão tempestuosamente que a
escuridão dentro do elevador parado já não parecia a coisa mais
assombrosa ali.
O Sr. Dempsey se silenciou para ouvir a pessoa do outro lado
da linha, depois gritou com ela mais uma vez, intimando-a a
consertar o elevador o mais depressa possível, em troca de não ser
demitida. Então encerrou a ligação, mantendo a tela do celular
acesa para nos proteger da escuridão.
O momento que se seguiu foi de completo silêncio, a tensão
palpável no ar, o pânico me dilacerando. Elevadores não eram algo
com o que eu estivesse familiarizada o suficiente para me sentir à
vontade por completo dentro de um. Em Houston, todos os
restaurantes nos quais trabalhei, servindo mesas, ficavam no térreo
e o prédio onde eu morava estava sempre com o elevador
quebrado, de modo que eu precisava usar as escadas.
— Isso costuma acontecer sempre? — indaguei.
— Sim. Esse elevador tem problemas.
— E por que vocês não o isolam logo de uma vez?
— Porque problemas não foram feitos para serem ignorados
e sim resolvidos.
Nesse instante, o elevador deu outro forte solavanco,
sacudindo-se todo, como se ameaçasse despencar a qualquer
momento e o pânico tomou conta de mim, me fazendo gritar
histericamente. Minha respiração ameaçou falhar enquanto meu
coração sufocou no peito. Até que senti os braços fortes do meu
chefe sendo passados em volta da minha cintura, sua voz
ressoando muito perto de mim.
CAPÍTULO 9

Serenity
— Fica calma. Eu estou aqui. Nada de mal vai acontecer.
Confia em mim.
Ele me puxou para junto de si, deitando minha cabeça em
seu peito e me aninhando ao seu corpo forte, transmitindo-me uma
sensação de segurança tão reconfortante que fechei os meus olhos
e me aconcheguei ainda mais a ele, abraçando-o pelo meio,
apreciando o seu calor delicioso.
Embora eu mal o conhecesse, depositei toda a minha
confiança nele, naquele instante, na segurança do seu abraço, a tal
ponto que aos poucos fui me acalmando, minha respiração
regularizando, as batidas do meu coração voltando ao normal.
— Isso mesmo. Inspire o ar pelo nariz e expire pela boca.
Bem devagar.
Fiz como ele disse e logo a mais completa calmaria me
engolfou, proporcionando-me a sensação de que nada de ruim
podia me acontecer, de que eu estava no lugar mais seguro do
mundo. Mesmo após me acalmar, continuei abraçada a ele,
inebriada com o cheiro delicioso do seu perfume, presa ao calor
gostoso que partia do seu corpo e me envolvia a ponto de me
contagiar inteira, se alastrando pelo meu sangue, despertando-me
sensações que até então eu desconhecia.
De súbito, senti as batidas frenéticas do seu coração de
encontro à minha face. Ergui o rosto para fitá-lo e vi o tormento em
seus olhos parcialmente iluminados pela luz do celular. Ele evitava
me encarar, como se estivesse lutando internamente contra algo
que o afligia e desestabilizava. Certamente lutava contra o que
queria fazer comigo e, de repente, me flagrei desejando que ele
perdesse o controle, que me tocasse mais intimamente e me
beijasse até me fazer perder o fôlego. Não por causa do dinheiro,
mas porque eu queria sentir aquela boca na minha com uma
urgência absurda.
Seguindo a um impulso incontrolável, ergui as duas mãos e
toquei delicadamente seu rosto, experimentando a aspereza
pontuda da sua barba, fazendo o contorno perfeito da sua boca, do
nariz e dos olhos. As sensações libidinosas foram se intensificando
em meu íntimo à medida em que eu o acariciava. Até que, por fim,
ele fixou seus olhos nos meus, revelando o misto de tormento e
ardor na sua expressão.
— O que está fazendo? — indagou, com um sussurro quase
inaudível.
— Não tenho ideia.
Seguindo meus instintos mais primitivos, coloquei-me na
ponta dos pés e afundei meu rosto na curva do seu pescoço,
beijando e cheirando sua pele áspera, sentindo meu ventre se
contorcer, à medida em que eu fazia aquilo.
— Não podemos fazer isso — sussurrou meu chefe,
soltando-me e deixando seus braços caírem nas laterais do seu
corpo.
Ele estava todo retesado, mostrando-se mais tenso à medida
em que meus beijos se espalhavam sobre sua pele.
— Podemos sim. Nada nos impede.
— Você é só uma menina. Tem vinte anos. Eu tenho o dobro
da sua idade.
— Não sou uma menina e não ligo pra sua idade.
Indo ainda mais além, levantei-me um pouco mais e
abocanhei o seu queixo, mordendo-o e me refestelando com a
sensação deliciosa que aquilo me proporcionava. Eu jamais
imaginei que tocar um homem pudesse ser tão prazeroso. Não era
assim com os namorados da época do colégio.
Sem parar de mordiscar o seu queixo, apertei mais o meu
corpo no dele e foi então que o Sr. Dempsey perdeu o controle. Com
a fúria e a agilidade de um animal que abatia sua presa, ele voltou a
passar um braço em volta de mim e nos girou dentro do elevador,
firmando minhas costas contra uma parede e imprensando-me nela
com seu corpo maciço, enquanto segurava firme meu queixo com a
outra mão.
— O que você quer de mim?
— Quero você.
— Eu não quero te machucar. Não me obrigue a fazer isso.
— Eu não ligo.
E não ligava mesmo. Naquele instante eu não conseguia
pensar em mais nada a não ser naquela boca linda devorando a
minha. O resto, parecia já não importar. Assim, umedeci meus lábios
com a língua e foi então que ele me atacou. Com dedos de aço,
forçou meu maxilar até que minha boca se abrisse e cuspiu dentro
dela, antes de inclinar o pescoço e me beijar. Com a ferocidade de
um animal, segurou meu lábio inferior entre os dentes e o sugou
com força, até me fazer soltar um gemido de dor. Então, me beijou
de verdade, com menos brutalidade, pressionando seus lábios nos
meus, introduzindo sua língua ávida entre meus lábios e
esfregando-a na minha, exigindo que eu retribuísse e o fiz, movendo
minha língua na dele, o que provocou um verdadeiro incêndio pelo
meu corpo, meus mamilos enrijecendo, minha vagina latejando e
umedecendo a ponto de pingar, meu ventre se desdobrando.
Movida pela mais incontrolável luxúria, levei as mãos à barra
da sua camisa e tentei puxá-la para fora do cós da sua calça,
ansiosa por tocá-lo mais intimamente. No entanto, ele não me
permitiu continuar. Com uma mão brusca, segurou meus dois pulsos
ao mesmo tempo e os elevou acima da minha cabeça, esmagando-
os contra a parede de aço, causando uma leve dor.
Sem separar sua boca faminta da minha, ele afastou sua
outra mão do meu queixo e a desceu pelo meu corpo, explorando-o
por cima do vestido. Apertou um dos meus mamilos entre seus
dedos e o retorceu com tamanha força que soltei um gemido de dor
em sua boca, o que não foi suficiente para fazê-lo parar. Levou a
mão para o outro seio e repetiu a proeza, beliscando o mamilo com
força.
Apesar da dor, eu não queria que ele parasse. Pelo contrário,
cada minúscula parte de mim ardia por ele, suplicando pelo seu
toque. Minha vagina se contorcia, encharcada e minhas mãos
comichavam de tanta vontade de tocá-lo também, mas meus pulsos
continuavam presos contra a parede.
Sua mão bruta desceu pela minha silhueta, até se infiltrar sob
minha bunda e fazer pressão, forçando-me a erguer uma perna e a
pendurar em torno do seu quadril. A saia colada do vestido subiu
pelas minhas pernas e enroscou-se em meus quadris, deixando
minha calcinha exposta. Foi então que ele inclinou seus joelhos e
pressionou a ereção, dura e volumosa, diretamente sobre o fundo
da minha calcinha, apertando-a contra o meu sexo tão
deliciosamente, que soltei um gemido abafado em sua boca e
amoleci toda em seus braços, entregue, disposta a permitir que ele
fizesse qualquer coisa que quisesse comigo. Naquele instante, nada
mais importava a não ser tê-lo dentro de mim, meu corpo ardia
dolorosamente pelo dele.
Sem parar de me beijar, com a selvageria de um animal,
como jamais alguém havia me beijado antes, ele apertou minha
bunda com brutalidade, empurrando-me para ele, fazendo com que
minha boceta protegida pela calcinha pressionasse ainda mais forte
a ereção brutal, o que me deixou quase louca de tanto desejo, a
ponto de rebolar para me esfregar nele.
Depois o Sr. Dempsey deslizou sua mão por baixo da minha
coxa e, ao alcançar o fundo da minha calcinha, um dos seus dedos
a invadiu, passeando livremente sobre meu sexo melado, um
grunhido escapou da sua garganta e morreu na minha boca.
Ele afastou minha calcinha para um lado e tocou-me com
mais dois dedos, deslizando-os sobre a minha umidade. Quando
tentou me penetrar com um deles, fiquei tensa, toda retesada, o que
não foi suficiente para fazê-lo parar. Então, virei o rosto para um
lado, interrompendo o beijo.
— Pare — pedi, ofegante.
— Não! Você começou com isso! Agora é tarde pra me deter!
— ele praticamente rosnou as palavras, sua voz lembrava o
grunhido de um animal irracional.
Sem desviar seu olhar faminto do meu e sem soltar os meus
pulsos, ele fechou sua mão no fundo da minha calcinha delicada e a
puxou com brusquidão, rasgando-a e arrancando-a do meu corpo, o
que me deixou em pânico. Não era que eu não quisesse ir até o fim
com ele, eu queria, queria demais, e não apenas pela gravidez, mas
porque o desejava com todo o meu querer. O problema era que eu
nunca havia feito sexo e não queria que minha primeira vez fosse
em pé, dentro de um elevador, sem que ele soubesse que eu ainda
era virgem. Não esperava que ele fosse romântico quando
acontecesse algo entre nós, mas queria que, pelo menos, soubesse
que estaria me deflorando e naquele momento não sabia como
revelar-lhe essa verdade.
Com meus pulsos aprisionados pela sua mão e minhas
costas apoiadas na parede, o Sr. Dempsey espalmou sua outra mão
sobre meu sexo desnudo e lambuzado, fechou-a em torno dos meus
lábios vaginais e os esfregou um no outro, fazendo uma massagem
tão deliciosa no meu clitóris, que lancei a cabeça para trás e soltei
um gemido, enlouquecida de tesão, ciente de que nenhum de nós
pararia, minha virgindade seria perdida ali mesmo, como se
fôssemos dois animais. No entanto, antes que tivéssemos tempo de
continuar, a luz do elevador se acendeu e ele voltou a funcionar de
repente, subindo rapidamente. Como estávamos entre o penúltimo e
o último andar, tivemos apenas breves segundos para nos
recompormos, antes que as portas se abrissem diante de três
homens uniformizados, que aparentemente faziam a manutenção.
Embora tenham sido discretos, assim que pousaram seus
olhos sobre nós, eles perceberam o que estávamos fazendo, o que
não era por menos, afinal só tive tempo de abaixar a saia do
vestido, enquanto o Sr. Dempsey pegava os restos da minha
calcinha do chão e os enfiava no bolso da sua calça. Meus cabelos
deviam estar uma verdadeira arapuca e meu rosto provavelmente
muito vermelho pela excitação.
— Pra que diabos eu pago o salário de vocês, se tenho que
passar por uma situação como essa quase todos os dias? —
vociferou meu chefe e quase tive pena daqueles pobres
funcionários.
Cumprimentando-os sem olhar muito na direção deles, passei
direto e me coloquei no meu lugar, atrás do balcão da recepção,
enquanto o déspota continuava proferindo desaforos para a equipe
de manutenção, até que, por fim, os deixou e seguiu apressado
rumo à sua sala, passando por mim com sua carranca fechada.
Demorei longos minutos para me recuperar do acontecido.
Talvez se eu não estivesse sem a minha calcinha, não me lembraria
daquele homem a todo momento, do gosto da sua boca, da
aspereza da sua mão me acariciando, do som arrastado da sua voz
próximo ao meu ouvido e de tudo mais que experimentei nos braços
dele. A verdade era que ele parecia ter ficado gravado em mim, seu
cheiro ainda estava nas minhas roupas, o desejo de ser sua ainda
corria solto em meu sangue. Minha mente e minha alma estavam
tão preenchidas por ele, que eu mal conseguia ver o que estava
fazendo enquanto tentava trabalhar e agradeci aos céus por não ter
que estar com ele a todo momento, ou tudo seria ainda pior.
Cerca de duas horas após sairmos do elevador, a voz grossa
do meu chefe ressoou através do interfone, alta e ríspida como
sempre: — Venha até aqui. Preciso falar com você.
Processei suas palavras e fiquei completamente tensa. Será
que ele pretendia retomar de onde paramos? Será que me coagiria
a fazer sexo com ele, porque fui eu quem começou com aquilo? E
se ele me coagisse, eu estaria preparada para me entregar a um
homem pela primeira vez na vida? As indagações conflitavam-se em
minha mente, deixando-me meio atordoada. Se ele tentasse algo,
eu iria até o fim. Primeiro, porque queria. Segundo, porque estava
ali exatamente para fazer isto, portanto seria imbecilidade perder
essa oportunidade de ganhar os quinhentos mil.
Trêmula de nervosismo, ajeitei meus cabelos, retoquei
novamente a maquiagem, e me dirigi até sua sala, sentindo-me
desconfortável sem a calcinha por baixo da saia curta e colada do
vestido.
O Sr. Dempsey estava sentado atrás da sua mesa, com seu
semblante muito sério e carregado de tensão. Tinha seus cabelos
molhados, como se tivesse tomado um banho ou os umedecido.
Enquanto eu caminhava em sua direção, minhas pernas
bambas quase me fizeram tropeçar no carpete e cair de cara no
chão.
Ao me aproximar o suficiente para olhá-lo de perto, o desejo
voltou a incendiar minhas veias, fazendo meu coração bater em um
ritmo descompassado e tive certeza de que, se ele tentasse transar
comigo, bem ali em cima daquela mesa, eu me entregaria sem
reservas.
— Quero me desculpar pelo meu comportamento no elevador
— disse ele, com sua voz calma e gentil e me senti como se alguém
jogasse um balde de água gelado sobre mim.
— Não há pelo que se desculpar. Eu queria aquilo.
— Não! Você não queria! — dessa vez, ele esbravejou cada
palavra, com rispidez. — Você me mandou parar e eu não parei.
Percebi o tormento tomando conta da sua fisionomia. Suas
sobrancelhas arqueavam, seus olhos expressavam inquietação, da
forma como acontecia sempre que falávamos sobre sexo.
— Eu só estava nervosa por causa do elevador parado. Eu
quis e continuo querendo você.
Ele apertou seus olhos com força, depois voltou a me
encarar.
— Você não pode dizer essas coisas para mim. Já teve uma
pequena amostra de como eu sou, do quanto posso ser nocivo e te
machucar e isso não foi nem um terço do que sou capaz de fazer
com você. O que você precisa é se afastar de mim. Não sou uma
pessoa de confiança para uma garota como você.
— Uma garota como eu? Não sou nenhuma criança. Sou
adulta e sei o que quero.
— Se fosse adulta, já teria entendido o perigo que eu
represento. — Havia tamanha gravidade no tom de sua voz, que,
dessa vez, ele realmente conseguiu me deixar preocupada. —
Estou a ponto de te atacar agora mesmo, por você estar sem
calcinha por baixo desse vestidinho. E se eu atacar, acredite, nada
vai me fazer parar. Então, para a sua própria segurança, quero que
vá para casa. Tire o resto do dia de folga. Boa tarde.
— Mas...
— Não existe mas nessa história. Não vou conviver com a
culpa de ferir uma menina da sua idade. Isso já está decidido. Agora
vá. E vá direto pra casa. Nada de sair por aí sem calcinha.
Sem saber mais o que dizer, pedi licença e dei-lhe as costas,
deixando a sala, resignada, sentindo-me duplamente desapontada.
Primeiro, pela certeza de que nunca conseguiria receber os
quinhentos mil que Mia me oferecera pela gravidez e, com isto,
Dylan acabaria com a minha vida. E segundo, porque eu realmente
desejava me entregar ao meu chefe, o queria com todas as minhas
forças, a tal ponto que nem mesmo suas ameaças de violência
conseguiam amenizar esse desejo. Era a primeira vez, nos meus
vinte anos, que eu sentia algo assim por alguém e ele não me
queria, o que me fez constatar, mais uma vez, o quanto eu era uma
pessoa sem sorte na vida. Talvez eu devesse tentar jogar, pois
dizem que quem não tem sorte no amor tem no jogo, mas nem
mesmo dinheiro para começar isso eu tinha.
Em resumo, minha vida era um desastre.
CAPÍTULO 10

Serenity

Ao deixar o edifício, dirigindo o conversível de Mia, lembrei-


me do meu chefe me mandando ir direto para casa. Quem ele
pensava que era para querer mandar em mim fora do ambiente de
trabalho? Ali fora, eu não era sua funcionária, portanto não tinha
nenhuma obrigação de obedecê-lo.
O certo seria mesmo ir direto para casa, não apenas porque
eu não estava usando calcinha, mas principalmente porque Mia
saberia que eu saíra mais cedo e eu ainda não havia pensado em
uma mentira para contar-lhe. Não podia simplesmente dizer a ela
que nosso chefe me deu folga porque não suportava olhar para a
minha cara.
Além disso, eu precisava dar umas voltas para espairecer.
Andar pelo Central Park enquanto pensava sobre o que fazer da
minha vida. Apesar de ter perdido o controle, por um breve instante,
no elevador, o Sr. Dempsey parecia obstinado a me manter distante,
de modo que a gravidez não aconteceria e eu seria obrigada a abrir
aquele bendito cofre, para roubar o dinheiro que Dylan exigia.
Apenas assim me sentiria segura novamente. Isso se aquele
traficante maldito realmente me deixasse em paz, após receber
essa grana.
No Central Park, caminhei entre as árvores frondosas, sob as
quais casais e famílias se reuniam para aproveitar o calor do verão.
Tinha acabado de me sentar em um banco perto do lago, quando
meu celular tocou, uma ligação do meu chefe.
— Eu disse para você ir direto para casa! O que diabos está
fazendo, sem calcinha, no Central Park?
Processei suas palavras e fiquei atônita.
— Como o senhor sabe onde eu estou?
— Tenho milhares de pessoas trabalhando para mim e
manter a segurança dos meus funcionários é uma das funções
delas!
— O senhor mandou alguém me seguir? É isso mesmo? —
Eu estava chocada, custando a acreditar.
Olhei para os dois lados, à procura de alguém que pudesse
estar me observando. Mas eram muitas pessoas à minha volta. Não
havia como saber qual delas trabalhava para o Sr. Dempsey.
— É só para o caso do seu ex aparecer novamente. Agora vá
para casa, ou alguém a enfiará num carro e a levará à força!
Dito isto, ele encerrou a ligação e continuei lá parada,
chocada, sem poder acreditar no que acabara de ouvir. De súbito,
me senti pouco à vontade, invadida pela sensação de estar sendo
observada e vigiada, o que me pareceu mais incômodo do que na
teoria. Embora a intenção do meu chefe fosse nobre, ninguém tinha
o direito de manter uma pessoa sob vigília, principalmente sem
autorização. Quem ele pensava que era?
Pensei seriamente em ligar de volta para aquele déspota e
deixar claro que ele não podia fazer aquilo, tampouco tinha o direito
de me dar ordens fora do trabalho. Contudo, preferi evitar uma
discussão ainda maior, até porque ficar no Park não estava me
ajudando muito a pensar. Não fazia diferença estar ali, ou em casa.
Então, entrei no carro e voltei ao apartamento.
Como esperado, ao me ver chegar, Mia queria saber o motivo
de eu ter saído cedo, mas apenas desconversei e me isolei em meu
quarto. Tinha acabado de tomar um banho e trocar de roupa,
quando ela bateu à porta me chamando.
— O que foi, Mia? — indaguei, sem paciência.
Antes mesmo que eu abrisse a porta, ela foi entrando, como
costumava fazer. Trazia um grande pacote em suas mãos, enfeitado
com um laço cor de champanhe, com a logo da Vctoria’s Secret.
— Encomenda para você — disse, animada. Em seguida leu
um bilhete que trazia entre seus dedos: — “Para ressarci-la do
prejuízo que causei”. É o que está escrito aqui.
— Você leu um bilhete que estava endereçado para mim?
— Claro que li. É do Sr. Dempsey e fiquei curiosa. Qual foi o
prejuízo que ele te causou?
— Não faço ideia. O que tem aí dentro?
Ela virou o belo pacote sobre a cama e várias calcinhas
foram caindo sobre o colchão. Havia mais ou menos uma dúzia, de
várias cores e modelos, todas transparentes na parte da frente e
com um minúsculo fio atrás, tão indecentes quanto as que Mia me
fizera comprar no shopping quando começamos com aquele plano.
— Por que ele te mandaria calcinhas?
— Não sei. Talvez porque tenha rasgado a minha.
O queixo de Mia caiu quase até o umbigo, seus lábios se
dobraram em um grande sorriso.
— Ai, meu Deus! Ele rasgou sua calcinha? Então já
aconteceu? Você conseguiu se inseminar?
— Ainda não aconteceu. — Vi o sorriso dela se desfazendo.
— Nós só demos uns amassos no elevador quebrado, que voltou a
funcionar antes que tivéssemos tempo de ir até o fim.
— Malditos elevadores. — Ela deitou-se de costas na cama,
fitando o teto com um olhar sonhador. — Qual a sensação de ter
sua calcinha rasgada por um homem importante como o Sr.
Dempsey?
Espichei-me ao lado dela, apreciando o ar frio da central de
ar refrescando ainda mais minha pele recém-lavada.
— Não acho ele tão importante assim. Na verdade é um
homem bem estran... comum.
— Você não deve ter prestado atenção direito. É um homem
brilhante, gentil, inteligente e íntegro. O pai que toda mulher quer ter
para os seus filhos.
Fiquei imaginando como ela se sentiria quando descobrisse
que o sujeito era um sadomasoquista, quase um psicopata sexual.
Mas não seria eu a dizer isso a ela. Deixaria que descobrisse
sozinha, ou que nunca soubesse.
Mia e eu passamos as horas seguintes jogando conversa
fora. Conversando amenidades e falando sobre o encontro que ela
tivera com uma garota que conheceu no Tinder, na noite passada.
Com esses dias de falso atestado, finalmente ela tinha tempo de
paquerar e estava otimista com essa nova relação.
Já era tarde da noite quando jantamos macarrão instantâneo
e, por fim, me isolei em meu quarto. Sozinha, pude pensar mais
calmamente sobre o que faria da minha vida. Pensei tanto que
praticamente não dormi durante a noite, tentando encontrar uma
saída para os meus problemas e, quando um novo dia se iniciou, eu
tinha dois planos em mente. Um deles tinha que dar certo, para que
eu pudesse me livrar de uma vez das ameaças de Dylan e
recomeçar minha vida.
Cheguei ao trabalho no horário de sempre. Logo depois, meu
chefe passou por mim na recepção, indo rumo à sua sala, sem me
cumprimentar, ou ao menos me olhar, como costumava ser todos os
dias. Como havia se tornado rotina, passei-lhe sua agenda, enviei
alguns recados pelo interfone e esperei ansiosamente até que ele
estivesse o menos ocupado possível. Apenas então telefonei para a
dona da loja de flores, com quem havia conversado mais cedo.
Comprei alguns arranjos de lírios para os funcionários que faziam
aniversário naquele dia e pedi que ela mandasse o entregador
inventar que recebia pagamentos apenas em dinheiro vivo, para que
assim eu tivesse a oportunidade de ver o meu chefe abrindo o cofre
em seu escritório, para pegar esse dinheiro, e descobrisse a senha.
Não era o plano perfeito, mas foi tudo em que consegui pensar.
No horário combinado, o jovem entregador chegou, trazendo
as flores com as quais mais tarde eu presentearia os funcionários,
alguns dos quais sequer conhecia pessoalmente. Pedi que ele
esperasse na recepção e respirei fundo antes de entrar na toca da
fera, ou melhor dizendo, na sala do meu chefe.
Como de costume, o Sr. Dempsey estava sentado atrás da
sua mesa, examinando alguns documentos e não deu indícios de
notar a minha presença. Apesar de mostrar-se frio e distante, não
consegui deixar de reparar no quanto era lindo, com os cabelos
escuros faziam contraste com os olhos verde-claros; a pele morena;
a barba despontando sobre o queixo másculo e aquele aspecto de
poder e soberania que sempre emanava dele, principalmente
quando estava sentado ali, com a paisagem de Nova Iorque na
parede de vidro às suas costas.
— Com licença, senhor, pedi algumas flores para
homenagear os aniversariantes do dia, mas não pude pagar com o
cartão da empresa, porque o rapaz só recebe em dinheiro vivo.
Os breves segundos que se transcorreram até ele desviar
sua atenção dos papéis e olhar para mim, me pareceram
intermináveis, tamanha era a tensão que tomava conta das minhas
terminações nervosas. Havia uma chance muito grande de aquilo
dar errado.
— Quem deu permissão para comprar flores para os
funcionários? — indagou ele, ríspido como sempre.
— Foi uma atitude minha. Achei que o senhor iria gostar.
Ele observou-me pensativo durante um longo momento.
— Não. Você me conhece o suficiente para saber que eu não
aprovaria uma palhaçada dessas. Por que realmente fez isso?
Puta merda!
— Porque sou nova aqui e gostaria de fazer amizade com as
pessoas. Me desculpe por não ter pedido permissão.
— Se tomou a iniciativa de comprar, pague com seu dinheiro.
— Não tenho dinheiro. Ainda não recebi o pagamento
mensal.
Ele continuou me observando com desconfiança, e algo mais
que não consegui identificar. Até que, por fim, assentiu.
— Que merda! Não tenho tempo pra isso. Deve ter dinheiro
no cofre, é só digitar a senha.
Mal pude acreditar quando ele recitou rapidamente a
sequência de números aleatórios que abriam o cofre, dando-me
autorização para fazê-lo. Eu estava esperando que ele o abrisse e
me deixasse ver os números, mas isso era muito melhor.
Forçando-me a memorizar a sequência, fui até o cofre, sem
conseguir acreditar no quanto aquilo fora fácil. Contudo, ao abri-lo,
meu sorriso foi morrendo lentamente, à medida em que todas as
minhas esperanças e toda a minha animação esvaíam-se de mim. O
dinheiro que tinha ali dentro não passava de uns cem dólares,
picados em várias notas de cinco e de dez. Por que diabos alguém
precisava de um cofre para guardar uma quantia tão insignificante?
Além do dinheiro, havia também vários documentos e um
revólver novinho em folha, o que me causou um calafrio na espinha.
— Não sei se o que tem aí será suficiente. Se não for, alguém
precisará ir ao banco, pois não guardamos dinheiro vivo no edifício.
Suas palavras terminaram de enterrar meus últimos vestígios
de esperança de um dia me livrar de Dylan.
— O que tem aqui é suficiente. Obrigada.
Peguei o dinheiro, fechei o cofre e deixei a sala, sentindo-me
desolada, quase deprimida. Agora que o primeiro plano havia
fracassado, eu precisava partir para o plano B, que era dar um jeito
de seduzir aquele homem logo de uma vez por todas e apenas
assim salvar a minha vida. Mas como seduzir um homem que mal
conseguia olhar para mim? E, pior ainda, que ameaçava me
machucar? Não importava o que ele dizia, ou fazia. Aquele era meu
destino e eu precisava enfrentá-lo, até porque ser machucada pelas
mãos do Sr. Dempsey não me parecia nem metade aterrador do que
levar um tiro de Dylan.
Nervosa e receosa, esperei até o final de uma importante
reunião para colocar meu plano B em prática. Como sempre, após o
encerramento, todos os integrantes saíram da sala, de modo que
ficamos apenas eu e o Sr. Dempsey, ele sentado na cabeceira da
mesa, parecendo um rei, lendo a ata que eu acabara de enviar-lhe
por e-mail. Eu continuava sentada na minha mesa.
Respirei fundo várias vezes, tentando me acalmar, antes de
me levantar do meu lugar e me aproximar dele, com minhas pernas
trêmulas, as mãos suando frio.
— Com licença, senhor.
— O que você quer? — indagou, sem erguer seus olhos da
tela do computador.
— Quero agradecer o presente da Victoria’s Secret e
perguntar sua opinião sobre como as calcinhas ficaram em mim. —
Surpreso, ele ergueu seu rosto para fitar-me, com sua boca
ligeiramente aberta, no exato instante em que eu começava a abrir
os botões, que iam de cima até embaixo da parte da frente do
vestido que escolhi usar especialmente para este momento. —
Lembre-se de dar sua opinião sincera.
Seus olhos brilhantes acompanharam minuciosamente o
percurso dos meus dedos enquanto eu desabotoava o vestido até
abri-lo por completo, deslizando-o pelos meus ombros e fazendo
com que caísse aos meus pés, de modo que fiquei com apenas a
calcinha minúscula e transparente e o sutiã meia-taça da mesma
cor.
— Acha que combina com esse sutiã? — Aproximei-me mais
um passo dele, ficando a míseros centímetros de distância. Seus
olhos escurecidos devoravam cada detalhe do meu corpo seminu,
com luxúria. — E atrás, ficou bom? Acho que ficou meio pequeno.
Virei-me de costas para ele, empinando bem a bunda, quase
me sentando em seu colo. Quando me virei novamente, sua
fisionomia havia mudado, expressando uma ferocidade assustadora.
Seus olhos carregados de fúria lembravam os de um animal
selvagem e violento, o que me causou um calafrio na espinha e me
dei conta do tamanho da merda que havia feito.
Assustada, ainda tentei dar um passo atrás, mas ele foi mais
ágil e me agarrou pelo meio, deitando-me de costas sobre a mesa,
com brutalidade. Colocou-se de pé diante de mim e fechou uma de
suas mãos em torno da minha garganta, e com a outra aprisionou
meus pulsos de encontro ao meu abdômen.
— Eu já disse pra você parar de me provocar, menina! Será
que não entende que está brincando com fogo? — grunhiu ele, com
os dentes trincados, seus olhos raivosos presos aos meus,
parecendo ameaçadores como os de uma fera violenta.
Apesar do medo, não me deixei intimidar.
— Acontece que, talvez, eu esteja querendo me queimar
nesse fogo.
Indo mais longe do que um dia imaginei ser capaz, ondulei
meu corpo sobre a mesa, roçando levemente meus seios em seu
antebraço e minha pélvis nos dedos da mão que segurava meus
pulsos, quando pude ver a face de um homem atormentado
mesclando-se à fúria em sua expressão.
— Não é uma simples queimadura, menina. Eu sou pior que
um animal e posso te machucar gravemente. Você não sabe onde
está se metendo.
— Eu não ligo. Eu quero você e nada me fará desistir. Não
importa o que diga.
Ele fechou seus olhos e os apertou com força, respirando
pesado, como se lutasse por não perder o autocontrole. Quando
voltou a abri-los, fixou-os diretamente nos meus.
— Eu devia te dar uma surra de cinto agora mesmo, só pra
você ter uma amostra do quão doloroso esse jogo pode se tornar.
Mas não vou te machucar. Não importa o quanto tente fazer isso
com você mesma.
Dito isto, ele simplesmente me soltou e saiu da sala
apressado, sem ao menos levar seu computador, enquanto eu
continuava deitada sobre a mesa, desolada, deprimida, invadida
pela certeza de que, em breve, minha vida terminaria, através de um
tiro partido do revólver de um traficante, pois não havia mais nada
que eu pudesse fazer para conseguir o dinheiro que Dylan queria.
Não havia mais saída para mim. Chamar a polícia não era uma
opção, pois, assim como Dylan se livrara da prisão no Texas, se
livraria aqui também e estaria ainda mais furioso, a ponto de me dar
uma morte lenta e dolorosa. O que me restava agora, era entregar
minha vida nas mãos de Deus e esperar por um milagre, ou pelo
meu fim.
Não voltei a ver o Sr. Dempsey naquele dia. Quando voltei
para casa, mal consegui dormir à noite, apavorada, preocupada,
com o que estava prestes a acontecer.

***

No dia seguinte, no trabalho, meu chefe passou pela


recepção como sempre sem me cumprimentar, como se eu sequer
estivesse ali atrás do balcão. Naquele dia, ele se mostrou ainda
mais distante e indiferente a mim, como se tivesse erguido uma
grossa barreira transparente entre nós, deixando claro que jamais
mudaria de ideia em relação a mim, o que me deixou ainda mais
desolada e sem esperanças.
Três dias se passaram e nada mudou. Meu chefe continuava
agindo como se eu não existisse, Mia continuava acreditando que
eu engravidaria a qualquer momento, Dylan continuava planejando
acabar com a minha raça, enquanto eu continuava esperando para
ser morta a qualquer momento.
CAPÍTULO 11

Serenity
Faltava apenas um dia para a Mia voltar ao trabalho. Como
havia se tornado rotina, por volta do meio-dia deixei o escritório e fui
almoçar na delicatéssen que havia do outro lado da rua. Estava
sentada à última mesa, aos fundos do singelo estabelecimento,
dividindo minha atenção entre a leitura de um e-book de romance no
celular e um sanduíche de peru, quando meu pior pesadelo se
materializou bem diante dos meus olhos, com a entrada de Dylan na
lanchonete. Desta vez, ele estava acompanhado do irmão, a quem
eu tivera o desprazer de conhecer naquela maldita noite. Tão logo
pousaram seus olhos sobre mim, ambos vieram andando em minha
direção, enquanto eu gelava de medo, certa de que minha vida
acabaria naquele dia.
— Olá, princesa. Será que podemos nos sentar aqui? —
indagou Dylan.
Sem esperar que eu respondesse, ele acomodou-se na
cadeira do outro lado da mesa, diante de mim, enquanto Tom se
sentava ao seu lado.
— Então é você mesmo. Custei a acreditar quando Dylan
disse que tinha te encontrado — disse Tom. — E está mais linda do
que antes. Parece estar muito bem de vida agora.
— Como eu disse. Ela trabalha para um dos homens mais
ricos desse país e está até planejando ter um filho dele. — Foi Dylan
quem falou e percorri os olhos em volta, sondando se mais alguém
o tinha ouvido, já que alguns outros funcionários também estavam
ali.
— O que vocês querem? — indaguei, me esforçando para
reprimir o pavor que tomava conta do meu organismo.
— O que você acha? Quero o dinheiro que está me devendo,
gatinha.
— Eu consegui encontrar o cofre e abrir, mas não tem
dinheiro lá. Só documentos.
— Nesse caso, você vai nos ajudar a sequestrar esse
milionário. Como amante dele, vai ser fácil pra você atraí-lo para
uma armadilha.
— Não podemos fazer isso. A polícia jamais pararia de nos
procurar.
Dylan abriu parcialmente a aba do seu casaco, exibindo o
cabo do revólver que se encontrava preso ao cós da sua calça,
como uma forma de me ameaçar.
— Que se foda a polícia. Você tá me devendo e vai me ajudar
a arrancar uma grana desse cara, do contrário vou enfiar uma bala
na sua cabeça quando você menos esperar.
Lembrei-me da quantidade de armas e drogas que vi na casa
dele e tive certeza de que minha vida estava condenada. Nesse
instante, o desespero tomou conta de mim, a tal ponto que as
lágrimas começaram a escorrer desenfreadas dos meus olhos, sem
que eu conseguisse contê-las. Apavorada, eu lamentava
internamente pela minha infinita falta de sorte na vida.
Os dois irmãos sorriam das minhas lágrimas.
— Não comece a implorar pela vida, gatinha. Isso não seria
nada elegante. Além do mais, lágrimas nunca me comoveram.
— Ainda tem o dinheiro da barriga de aluguel. É um dinheiro
certo, sem riscos. Você só precisa esperar um pouco.
— É disso que eu não gosto, esperar. Sem mencionar que
você pode estar inventando essa história pra me enrolar. Vocês
mulheres são cheias de truques.
— Não é truque. Eu juro. Tenho até um contrato assinado.
Posso te mostrar.
Ambos se entreolharam em um gesto de cumplicidade.
— E cadê esse contrato?
— Me passa seu contato. Eu te envio por e-mail.
Ele recitou seu e-mail e anotei no meu celular. Quando lesse
o contrato, ele saberia que menti sobre o valor que me fora ofertado
pela gravidez, o que era quase irrelevante àquela altura, visto que
eu nunca engravidaria do meu chefe. Meu objetivo, naquele
momento, era apenas ganhar tempo, até encontrar uma saída.
— Vou dar uma olhada nesse contrato, mas se eu desconfiar
que você tá tentando me enrolar, a coisa vai ficar feia pro seu lado.
— Tem alguma coisa acontecendo aqui? — A voz partiu alta,
grossa e autoritária, bem do nosso lado e quase tive um infarto
quando virei o pescoço e me deparei com o Sr. Dempsey,
aproximando-se de onde estávamos.
Puta merda! Será que ele tinha ouvido algo sobre o contrato?
Como quase sempre, sua expressão estava carregada de
fúria, enquanto ele deslocava seu olhar entre mim e os dois homens
à minha frente.
— Nada que seja da sua conta — disparou Dylan.
— Tudo o que se refere aos meus funcionários, é da minha
conta!
— Funcionários, é? — Os dois traficantes caíram na
gargalhada e respirei aliviada quando o irmão mais velho se
levantou, incentivando o outro a fazer o mesmo. — Pode ficar a sós
com a sua “funcionária”. Meu assunto com ela já terminou. — Dylan
direcionou seu olhar para mim, completando: — Fico no aguardo do
seu contato, gatinha. Nos vemos em breve.
Com isto, os dois deram mais uma olhada ameaçadora para
o meu chefe e se dirigiram rumo à saída da delicatéssen, sem que
eu conseguisse parar de chorar, mesmo que me esforçasse muito.
O Sr. Dempsey sentou-se no lugar onde Dylan estava e
esfreguei o dorso da mão sobre minha face banhada de lágrimas,
tentando refrear o pranto, sem que este cessasse.
— É o seu ex-namorado abusador? — indagou ele, fitando-
me com ar de gravidade.
Como eu não podia falar a verdade sem ser demitida por me
envolver com traficantes e ainda dever dinheiro a eles, apenas fiz
que sim com a cabeça.
— E o outro cara?
— Irmão dele.
— O que exatamente ele quer com você?
O que os namorados perseguidores querem com suas ex?
— Eu não sei. Acho que só me amedrontar mesmo.
Ele ficou claramente desconfiado.
— Você está chorando porque ele quer te amedrontar?
— Mais ou menos.
— Você precisa me falar a verdade sobre esse cara, para que
eu possa te ajudar.
— Desculpe, mas não preciso da sua ajuda. Eu vou ficar
bem. Me dê o tempo que resta do meu almoço para que eu me
recomponha e estarei na recepção. Te dou minha palavra que
ninguém vai perceber que estive chorando.
Ele observou-me durante um longo momento de silêncio, com
uma expressão que não consegui decifrar.
Eu só queria que ele fosse embora dali, que me poupasse do
constrangimento de chorar na sua frente. Mas ele não ia.
— Tudo bem se não quer falar. Eu não concordo, acho que
deveria procurar a polícia, mas respeito sua decisão. E não precisa
voltar ao trabalho mais hoje. Venha. Eu te levo em casa.
— Obrigada, mas não precisa me levar. Vou ficar aqui mais
um pouco e depois irei sozinha.
— Não seja pirracenta. Você não está em condições de
dirigir. Eu te levo.
— Não posso chegar em casa nesse estado. Mia não sabe
sobre Dylan e duvido que vá me aceitar no apartamento dela se
souber.
Identifiquei uma certa piedade no jeito como ele me olhava.
— Meu apartamento fica aqui perto. Você pode ficar lá até se
acalmar.
— Não quero dar trabalho.
Seus olhos se estreitaram sobre os meus.
— Não abra a boca para dizer isso, pois tudo o que você tem
feito desde que nos conhecemos, é me dar trabalho.
Suas palavras quase me fizeram sorrir, mas me contive.
Deixamos a delicatéssen caminhando muito próximos.
Considerando que todos os presentes, entre funcionários e
frequentadores, viraram o pescoço para nos observar, presumi que
o Sr. Dempsey não costumava ir àquele lugar com frequência e me
perguntei se tinha ido somente por minha causa, porque alguém lhe
disse que eu estava chorando enquanto conversava com dois
desconhecidos. Era no mínimo estranho que um homem como ele,
que fazia questão de manter distância de mim, pagasse alguém
para me seguir.
— O senhor sabia que eu estava na delicatéssen, ou foi
coincidência ter me encontrado lá? — indaguei, quando estávamos
acomodados no banco de trás de uma luxuosa limusine, que nos
conduzia pelas ruas de Nova Iorque.
— Não foi coincidência. Meu segurança te viu chorando e me
avisou. Eu tinha quase certeza de que seu ex-namorado voltaria a
importuná-la, por isso mandei que alguém ficasse de olho em você.
— Como se o senhor se importasse.
Dei de ombros, desolada. Embora o pranto tivesse cessado,
eu continuava com aquele turbilhão indesejável de derrota, medo e
desesperança se revolvendo em minhas entranhas, me fazendo
sentir o último dos seres humanos, o tipo de pessoa dispensável e
esquecível, para quem nada dava certo na vida.
— Está enganada. Eu me importo com você. A maior prova
disto é que sua pele continua intacta, sem as marcas do meu
chicote.
Processei suas palavras e um estremecimento me varreu de
cima a baixo. Levando em conta suas palavras, não tive mais
dúvidas de que era um Dominante que gostava de maltratar e
causar dor às mulheres durante o sexo, exatamente como aqueles
que vi quando pesquisei sobre o assunto na internet. Pelas minhas
pesquisas, descobri também que isso podia ser prazeroso para
algumas mulheres. Por que ele achava que não poderia ser para
mim? Eu estava confusa.
Em poucos minutos, a limusine estacionou diante de um
luxuoso edifício nas proximidades do Central Park e entramos.
Como era de se esperar, o apartamento do Sr. Dempsey ficava na
cobertura. Era um lugar tão grande que todo o apartamento de Mia
caberia apenas na sala. Contudo, apesar do tamanho e do requinte
presente em cada detalhe da decoração, o lugar era meio sombrio,
com cortinas e móveis escuros, informal e arrumado demais, como
se não morasse ninguém ali.
— É um apartamento bem... peculiar — falei.
— É informal. Pode falar. Mas gosto assim.
— Apenas falta um toque feminino. Ou talvez dois.
Nesse momento, uma mulher com cerca de cinquenta anos,
usando um elegante uniforme de governanta, surgiu de uma porta,
dirigindo-nos um sorriso discreto.
— Olá. O senhor gostaria de alguma coisa? — indagou ela.
— Sim. Traga um chá de camomila bem forte.
— Mais alguma coisa?
Ele virou-se para mim.
— Quer alguma coisa, além do chá?
— Não. Obrigada.
— Só isso. Pode ir.
A mulher pediu licença e retirou-se da sala, sumindo na
mesma direção de onde viera.
— O chá vai te ajudar a se acalmar.
— Não precisava se incomodar.
— Precisava sim. Você gostaria de descansar um pouco?
— Sim. Seria bom.
— Venha por aqui.
Ele acenou para que eu o seguisse e, após passarmos por
uma segunda sala, fiquei surpresa ao atravessarmos as portas
duplas de uma bela suíte, com uma janela de vidro imensa, dando
vista para o Central Park. Como o resto da moradia, possuía móveis
e cortinas escuras e estava impecavelmente limpa e organizada,
como se ninguém dormisse ali.
— É aqui que o senhor dorme? — indaguei.
— Sim.
— Uau! Nem consigo acreditar que estou no quarto do
poderoso Kael Dempsey!
— Não pense que isso é um mérito, porque não é. Pode
deitar-se um pouco, se quiser.
Eu poderia aproveitar aquela oportunidade para tentar
seduzi-lo e finalmente conseguir o que queria dele. No entanto,
sentia-me angustiada demais para fazer qualquer coisa. Tudo o que
eu conseguia, naquele momento, era querer chorar até que toda a
tristeza se esvaísse de dentro de mim. Então, tirei os sapatos e
deitei-me na beirada da cama, em posição fetal. Meu coração se
afligiu ainda mais quando imaginei que o Sr. Dempsey sairia e me
deixaria sozinha num lugar desconhecido. Mas ele não saiu. Em vez
disso, deitou-se na outra extremidade do colchão, de lado, com seu
rosto rente ao meu, seus olhos me fitando fixamente.
Não entendi qual era a daquele homem. Ele se afastava
quando eu tentava seduzi-lo e se aproximava quando eu não fazia
nada para atraí-lo. Era mesmo muito estranho.
Permanecemos imóveis e em silêncio durante um longo
momento, apenas nos encarando. Apesar de o apartamento estar
localizado em meio à agitação de Manhattan, não ouvíamos
qualquer ruído da cidade lá embaixo, o silêncio e a calmaria na suíte
lembravam os de uma casa de campo tranquila e sossegada.
— Por que você parece tão triste? — indagou meu chefe,
com um sussurro quase inaudível.
— Não sei. Acho que pela minha falta de sorte na vida.
— Como assim, sua falta de sorte?
— Todo mundo tem um caminho na vida, uma carreira, um
relacionamento, estudos, uma família. Mas eu não tenho nada, nem
ninguém. Sempre me sinto como se estivesse perdida, jogada por
aí, sem rumo, sem objetivos, sem nada.
— Você é jovem demais para se sentir assim. Ainda tem
muito tempo para escolher seu caminho. Pode fazer o que quiser,
inclusive construir uma carreira e ter uma família.
Ele dizia isso porque não sabia que eu sequer havia
terminado o ensino médio, que dirá feito uma faculdade. Tampouco
tinha tempo de arranjar uma família, com um traficante louco
ameaçando acabar com a minha existência.
— Posso fazer uma pergunta? — indaguei.
— Não.
— Como funciona essa questão de sexo violento? — O
momento que se seguiu, foi de completo silêncio. — É só por
curiosidade. Acho que tenho o direito de saber por que sou tão
brutalmente rejeitada.
Ele suspirou pesadamente.
— São coisas com as quais você não gostaria de se meter.
Tem a ver com dominação, submissão, tortura, cordas, correntes e
outras coisas maléficas. — Sua voz, assim como a minha, era um
suave murmúrio.
— Eu pesquisei sobre o assunto na internet. Descobri que
muitas mulheres são Submissas natas e apreciam essa prática.
Acho que posso ser uma dessas mulheres.
Ele se moveu sobre a cama, parecendo subitamente
desconfortável.
— Você já se envolveu com esse tipo de prática?
— Não, mas gostaria.
— Infelizmente não posso te dar essa experiência, pois já
machuquei gravemente uma pessoa e não quero fazer isso de novo,
principalmente com você.
— O senhor não acha que a escolha deveria ser minha?
— Você não escolheria ter sua pele marcada, ou sua vida
tirada pelas mãos de um sádico. Já basta estar fugindo de um
namorado perseguidor.
Sua vida tirada?! Minha nossa! Será que ele havia matado
alguma mulher enquanto praticava BDSM com ela? Isso era mais
grave do que eu poderia ter presumido.
— Já tentou ter outro tipo de relacionamento?
— Não tenho prazer em qualquer outro tipo de
relacionamento.
— Já tentou?
— Já e não deu certo.
— Talvez não tenha sido com a pessoa certa.
— Você andou conversando com meu psiquiatra?
Arregalei os olhos, surpresa.
— O senhor tem um psiquiatra?
— Tenho. Ele acha que eu deveria convidá-la para jantar e
tentar um relacionamento “normal”.
Fiquei ainda mais surpresa.
— Vocês falam sobre mim?
— Na verdade, você tem sido o principal assunto dos nossos
encontros semanais.
Nesse momento, houve uma batida à porta e meu chefe
levantou-se para abrir. Era a governanta trazendo o chá de
camomila, cujo aroma tomou conta de todo o ambiente.
Sentei-me na cabeceira da cama, com as costas apoiadas no
espaldar e ele colocou a bandeja diante de mim.
— Beba. Vai te fazer bem — disse, entregando-me a xícara.
Havia também biscoitos de gengibre, mas optei por apenas
beber o chá, que, aliás, estava muito gostoso.
Como o Sr. Dempsey estava mais acessível, o que raramente
acontecia, decidi continuar com as perguntas: — O senhor tem um
quarto aqui com os equipamentos de BDSM?
— Não. Eu abandonei essa prática desde que machuquei
irreversivelmente essa pessoa.
— O senhor a matou?
— Sim. — Meus olhos se arregalaram, chocados. — Mas não
do jeito que você está pensando. Eu fiz com que ela perdesse os
sentidos de tanta dor, durante o sexo e, para que não acontecesse
de novo, eu a deixei. Então, ela cortou os próprios pulsos.
Havia um tormento doloroso na expressão do seu olhar e,
naquele instante, compreendi por que ele insistia em me manter tão
distante.
— O senhor não a matou. Foi ela.
— Ela estaria viva se não fosse pelas minhas taras. Não é só
BDSM, eu gosto de muitas coisas estranhas, como sexo em grupo e
ver vários homens comendo minha Submissa ao mesmo tempo.
Engoli em seco, atordoada.
— Mas se abandonou essas práticas, todos os seus
relacionamentos são normais agora?
— Eu não tenho nenhum relacionamento. Porque nada mais
me interessa.
Cada palavra que saía da boca dele me deixava mais atônita.
Como assim, ele não se relacionava intimamente com ninguém?
Isso era no mínimo esquisito. Se bem que eu nem podia julgá-lo,
pois passei a maior parte da minha vida sem ninguém, embora eu
não fosse tão interessante quanto ele, com toda aquela beleza e
todo aquele dinheiro.
Eu tinha mais um milhão de perguntas para fazer. No entanto,
nossa conversa foi interrompida pelo toque do seu celular. Após
atender e trocar algumas palavras com a pessoa do outro lado da
linha, o Sr. Dempsey anunciou o que já era esperado: — Preciso
voltar à empresa para a reunião com os árabes. Pode ficar aqui.
Durma um pouco. Descanse. Vou deixar meu motorista de
sobreaviso. Quando se sentir melhor, peça que ele a leve em casa.
— Sim, senhor. Obrigada.
Ele observou-me em silêncio durante um longo momento,
como se memorizasse os traços do meu rosto, então deu-me as
costas e se foi, sua ausência fez com que a suíte parecesse muito
maior e sombria.
CAPÍTULO 12

Serenity
Após beber todo o chá fiquei um pouco mais calma. Deitei-
me confortavelmente na cama imensa e tentei adormecer, mas foi
em vão. Apesar de me sentir segura ali, como se o Sr. Dempsey
estivesse presente e nada de mal pudesse me atingir, não consegui
pregar o olho, minha mente martelava suas palavras, relembrando
todas as revelações que ele fizera. Era impressionante que um
homem como ele, imponente, frio e sem coração, carregasse a
culpa pela morte de uma pessoa que se suicidou. Não era culpa
dele e o fato de sentir remorso, provava que não era tão monstruoso
quanto parecia, algo que Mia decerto enxergava e, provavelmente, a
motivara a escolher seu DNA para o filho que pretendia ter.
Por outro lado, essa história de dividir sua parceira com
outros homens e fazer sexo grupal, era ainda mais doentio que a
coisa do BDSM. Para falar a verdade, eu nem conseguia julgar o
que era pior entre essas práticas. Se bem que, se eu conseguisse
seduzi-lo e levá-lo para a cama, talvez tivesse a sorte de engravidar
antes que ele me viesse com essa história de sexo grupal. Contudo,
a parte mais difícil nisso tudo era seduzi-lo. Quanto mais eu tentava
me aproximar dele, mais ele se afastava. Qualquer pessoa no meu
lugar já teria desistido.
Passei as horas seguintes pensando sobre tudo isso. Pensei
em contar-lhe a verdade sobre Dylan e pedir-lhe o dinheiro para dar
ao traficante, mas ninguém daria uma quantia tão alta a uma quase
completa desconhecida, principalmente após essa desconhecida ter
mentido sobre o namorado perseguidor. Seria perda de tempo tentar
e só serviria para afastá-lo ainda mais.
Antes do Sr. Dempsey me encontrar na delicatéssen, eu
havia realmente desistido da barriga de aluguel. No entanto, o
destino parecia estar me dando uma última chance, colocando-me
no quarto daquele homem, revelando-me seus segredos. Seria
tolice não fazer uma última tentativa, até porque eu não tinha mais
nada a perder. Nem minha vida pertencia mais a mim.
Então, decidida, pesquisei um pouco mais sobre as práticas
BDSM na internet e entrei em um site que vendia apetrechos para
essas práticas, a pronta entrega. Com o cartão de crédito que Mia
me dera, para alguma eventual emergência, comprei uma roupa
típica de Submissa, mordaça, coleira, cordas, algemas e um chicote.
Pedi que entregassem o mais depressa possível no apartamento do
meu chefe, e fui atendida. Logo a encomenda chegou e me despi
para colocar a lingerie que se resumia a uma cinta-liga de couro
preta, calcinha minúscula da mesma cor, meia-calça, sutiã
transparente meia-taça, que se ligava à cinta por meio de várias
tiras de couro pretas enroladas em meu torso.
Coloquei também uma coleira que se ligava por duas
correntes a braçadeiras de couro que prendi aos meus pulsos.
Prendi os cabelos em uma trança única, passei um batom vermelho
escuro, espalhei cordas e algemas sobre a cama e estava pronta.
Trêmula de nervosismo, eu não sabia em qual posição ficar.
Não sabia se esperava o alvo do meu assédio sobre a cama, ou no
chão. Pelas minhas pesquisas, os Dominantes gostavam de
encontrar sua Submissa ajoelhada no chão, mas eu não ficaria
desse jeito agora, pois não sabia que horas o Sr. Dempsey voltaria e
não queria me cansar. Para falar a verdade, eu nem sabia se ele
voltaria para casa naquela noite. Mas esperaria. Estava obstinada.
Deitada na cama, me concentrei na continuação da leitura de
um e-book no aplicativo do celular, enquanto as horas se passavam
rapidamente.
Eram quase dez horas de noite, quando, por fim, a maçaneta
da porta se moveu e só tive tempo de jogar o celular para um lado,
antes de me levantar e me ajoelhar sobre o colchão, sentando-me
sobre minhas panturrilhas e pousando minhas mãos sobre os
joelhos, com as palmas viradas para cima, como vi na internet. Ergui
o olhar apenas para vê-lo entrar na suíte, lindo, imperioso, usando
seu terno escuro feito sob medida, com a valise de couro na mão.
Em seguida, abaixei meu olhar e esperei.
O momento que se seguiu foi do mais completo silêncio,
enquanto meu chefe permanecia em pé perto da porta, imóvel como
uma estátua, observando-me com olhos atentos, com tamanha
intensidade que eu podia sentir o peso do seu olhar. Era quase uma
tortura não saber o que se passava pela sua cabeça naquele
momento.
— O que pensa que está fazendo? — indagou ele, com um
rosnado.
— Quero ser sua Submissa. Faça comigo o que quiser.
Outro momento de silêncio se passou. Até que ele largou sua
valise no chão e avançou rapidamente para cima de mim. Com a
brutalidade de sempre, deitou-me na cama e montou-me,
encaixando um joelho de cada lado dos meus quadris. Segurou
meus pulsos acima da minha cabeça e fechou a outra mão em torno
do meu maxilar, imobilizando-me e me aprisionando.
— Eu tentei te proteger de mim, mas você não me ouviu.
Agora é tarde. Não vou mais me controlar.
— Não se controle. Me faça sua.
— Por quê?
— Porque meu corpo suplica pelo seu. Eu quero você.
— Você me quer? Pois vai realizar o seu desejo, só que do
meu jeito. Vou fazer de você minha putinha particular, pra me servir
onde, como e quando eu quiser. Vou te comer de formas que você
nunca imaginou e te machucar forte, como ninguém nunca
machucou.
Um estremecimento me varreu, mas ele ignorou. Forçou sua
mão em torno da minha mandíbula até que minha boca se abrisse e
então cuspiu dentro dela, para, em seguida, inclinar o pescoço e me
beijar de um jeito selvagem e violento. Sua língua me explorava,
seus lábios me devoravam com avidez.
Soltou o meu queixo e desceu sua mão pelo meu colo.
Segurou o sutiã minúsculo e o puxou com brutalidade, rasgando-o
ao meio e desnudando meus seios. Apertou-os forte, um de cada
vez, depois beliscou os mamilos com brusquidão, como se quisesse
arrancá-los, causando uma dor que não foi suficiente para amainar
o turbilhão de medo e desejo que me invadia. Meu coração batia
descompassado, por causa da adrenalina, ao mesmo tempo em que
meu ventre se contorcia.
Sem se deitar por completo sobre mim, o Sr. Dempsey
apoiava o peso do seu corpo na mesma mão que aprisionava meus
pulsos, enquanto continuava descendo sua mão livre pela minha
pele. Com brusquidão, arrancou minha calcinha e espalmou a mão
sobre meu sexo, dando vários tapas estalados sobre ele. Os golpes
que atingiam meu clitóris deixaram-me toda acesa, com minha
vagina latejando e molhando. Contudo, quando seus dedos
afundaram entre meus lábios vaginais, fechei as pernas por impulso
e fiquei tensa, temendo uma penetração descuidada e dolorosa.
— Espere — pedi, ofegante, sentindo-me muito frágil e
pequena sob sua força bruta.
— Nem se atreva a me pedir para parar. Você teve todas as
chances de escapar de mim, mas não fez. Agora é tarde para você.
Interrompendo o beijo, ele ergueu seu corpo com agilidade,
fitando meu rosto com olhos brilhantes de uma agressividade
luxuriosa e ao mesmo tempo assustadora. Com mãos bruscas,
forçou-me a abrir as pernas até o limite e pegou uma das cordas
que eu deixara sobre a cama.
— Vou te ensinar a nunca mais tentar fechar as pernas para
mim — rosnou.
Previ o que ele faria e, de súbito, entrei em pânico. Por mais
que meu corpo realmente suplicasse pelo dele, por mais que eu
quisesse aquilo, precisava que ele soubesse que seria a minha
primeira vez com um homem, mesmo que isso acarretasse o risco
de afastá-lo.
— É a minha primeira vez — confessei rápido, antes que me
arrependesse.
— Você já disse isso. Não espere que eu seja piedoso
porque nunca foi amarrada e surrada antes.
Ele aproximou a corda do meu joelho e o pânico cresceu.
— Não é isso. Eu nunca estive com um homem na cama.
Ainda sou virgem.
O Sr. Dempsey paralisou, seu queixo caiu e sua expressão
revelou seu choque. Ficou petrificado por um instante e então
afastou-se com a rapidez de quem se afastava do bote de uma
cobra venenosa. Sentou-se na beirada do colchão, de costas para
mim e afundou seu rosto entre as mãos, esfregando-o.
— Vá embora daqui. Não me obrigue a fazer isso com você.
— Havia tormento no tom de sua voz.
Corajosa, levantei-me e me coloquei à sua frente, usando
apenas a cinta e a meia, sem a calcinha e o sutiã.
— Eu quero que faça. Quero que seja o primeiro homem da
minha vida.
Como ele não disse nada, nem mesmo ergueu o rosto para
me fitar, aproximei-me e segurei dos dois lados da sua face, fazendo
com que a erguesse. Seu olhar mirou meu sexo desnudo e meus
seios antes de se fixar em meu rosto.
— Me faça sua, Kael — sussurrei, chamando-o pelo primeiro
nome pela primeira vez, o som pareceu doce na minha boca.
Achei que ele me jogaria sobre a cama e terminaria logo com
aquela agonia que não era apenas minha. Contudo, em vez disso,
ele ficou de pé e afastou-se rápido como um raio.
— Se você é virgem, quem é o sujeito que anda te
perseguindo? — indagou, fitando-me de longe.
Droga! O que eu ia dizer agora?
— M-meu ex-namorado. Nós só não fomos até o fim.
Meu chefe eliminou a distância que nos separava e olhou
dentro dos meus olhos.
— Não se atreva a mentir para mim! Quem é ele? — Sua voz
soou tão abrupta que levei um susto.
— Alguém que está me perseguindo.
— Por quê?
— Porque terminei nossa relação.
Seus olhos se estreitaram sobre os meus. Ele sabia que eu
estava mentindo, mas não podia fazer nada a respeito. Não tinha
como provar que Dylan não fora meu namorado, tampouco podia
me expulsar da sua vida, porque havia perdido o autocontrole e não
seria mais capaz de recuperá-lo. Pelo menos era o que eu
esperava.
Sem uma palavra, o Sr. Dempsey entrou no closet e voltou
trazendo um sobretudo cinza, com o qual cobriu o meu corpo.
Segurou-me pelo braço e mal me deu tempo de calçar as sandálias
e pegar minha bolsa antes de sair me puxando para fora da suíte.
— Onde estamos indo? — indaguei, enquanto era arrastada
para a porta de saída.
— Para o inferno. Se você quer mesmo entrar nessa furada,
precisa saber como isso funciona. Então terá sua última chance de
fugir.
Na garagem, entramos em um luxuoso Volvo e saímos pelas
ruas agitadas de Manhattan, sem dizermos uma só palavra ao longo
de um percurso que durou cerca de meia hora. Em Chelsea,
adentramos a garagem de um edifício elegante e luxuoso.
— Que lugar é esse? — indaguei, receosa.
— Um clube de putaria e outras coisas. Lembre-se de que
você não pode contar pra ninguém o que vai ver aqui.
Suas palavras me deixaram ainda mais alarmada, mas ao
mesmo tempo curiosa.
Na recepção, fomos recebidos por um homem horrível, muito
alto e parrudo, usando nada mais que uma cueca de couro preta e
uma máscara no rosto, deixando à mostra o corpo branco e peludo
demais. Após cumprimentar o meu chefe, como se o conhecesse há
muito tempo, ele nos entregou duas máscaras, uma feminina, preta
e delicada, que escondia apenas a área dos meus olhos; e outra
masculina, rústica, que cobria o rosto do Sr. Dempsey do nariz para
cima.
Atravessamos o longo hall de entrada e ainda no primeiro
piso adentramos um ambiente que, à primeira vista, lembrava uma
danceteria muito sofisticada, com luzes coloridas pulando para
todos os lados, um bar grande, todo espelhado, a um canto,
pessoas acomodadas em mesas com assentos de couro, outras
dançando ao som da música agitada, que tocava em volume
confortável. Mas não era apenas uma danceteria. Todos ali dentro
usavam pouquíssima roupa e estavam mascarados. Assim que
avançamos pelo local, um homem passou por nós, puxando pela
coleira uma mulher que andava de quatro no chão, como se fosse
um cachorro. Mais adiante, um grupo de mulheres bebiam reunidas
em torno de uma mesa, conversando tranquilamente, o que seria
normal, se um cara não estivesse sob a mesa, também usando uma
coleira, com seu rosto enfiado entre as pernas de uma delas.
Nos aproximávamos dos elevadores, quando fomos
abordados por uma mulher, que cumprimentou o meu chefe com
muita intimidade, abraçando-o e beijando sua face. Era
deslumbrante, alta, com cerca de trinta e poucos anos, tinha cabelos
escuros, a pele clara e olhos azuis. Usava um espartilho preto, que
ressaltava as curvas perfeitas do seu corpo esguio. Era a única ali
dentro que não usava máscara.
— Nem encontro palavras que possam descrever a felicidade
que sinto em vê-lo por aqui depois de tanto tempo — disse ela.
— Infelizmente não posso dizer o mesmo. Por mim, eu
estaria bem longe desse inferno — disse meu chefe, seco e ríspido.
As palavras dele fizeram com que o sorriso dela fosse
morrendo lentamente, ao passo em que seu olhar se deslocava para
mim, como se me relacionasse às palavras dele.
— E esta coisa linda? É sua nova Submissa?
— É uma amiga. Trouxe para conhecer o lugar. Serenity, esta
é Elza, a gerente do Cobongo. Elza, essa é Serenity.
— É um prazer conhecê-la — disse Elza. — Sinta-se à
vontade em nosso cantinho. Se quiser ter uma experiência com uma
mulher mais velha, é só me chamar que te darei a melhor que você
terá na vida.
Minha nossa! Como ela era direta!
— É um prazer te conhecer. E... hum... obrigada.
Ela voltou sua atenção para o Sr. Dempsey.
— Trouxe a chave do seu apartamento? Se precisar, temos
uma reserva.
— Não precisa. A chave está comigo. Com licença.
Dito isto, ele saiu me puxando clube adentro, até entrarmos
em um elevador.
— O senhor tem um apartamento aqui?
— Sim. Muitas pessoas têm. É uma forma de não levarmos
para casa o que fazemos aqui. Eu ia me desfazer dele, mas acabei
protelando até cair no esquecimento.
— Ainda bem que não se desfez.
Ele me olhou com uma carranca, como se eu o tivesse
ofendido profundamente.
Antes que eu tivesse tempo de entender a razão daquele
olhar fulminante, a porta do elevador se abriu e saímos, dando em
um verdadeiro labirinto de corredores semiescuros e sombrios, ao
longo dos quais se estendiam diversas cabines, algumas delas com
janela de vidro transparente, por onde se podia olhar quem estava lá
dentro. Tinham também furos nas partes mais baixas, nos quais
alguns pervertidos enfiavam seus pênis, ou apenas a mão.
Paramos em frente a uma dessas cabines e fiquei impactada
ao ver o que acontecia lá dentro. Dois homens fortes, nus e
mascarados, transavam com uma mulher pequena e franzina, que
se encontrava espremida entre eles, com seu pescoço enfiado no
quadro de uma grade de ferro e seus pulsos amarrados na mesma
grade. Suas panturrilhas estavam amarradas às suas coxas, de
modo que ela estava muito arreganhada, enquanto um dos homens
a comia pela frente e o outro por trás. Seus olhos estavam
vendados e seu rosto próximo aos furos na parede da cabine, onde
os pervertidos do lado de fora enfiavam o pênis para que ela
chupasse, alternando entre todos, sem ao menos ver de quem se
tratava.
— Espero que esteja apreciando o espetáculo. Em breve
poderá ser você no lugar dela — disse o Sr. Dempsey.
— Coitada dessa mulher.
Ele sorriu com escárnio.
— Ela não estaria aí, se não quisesse. É tudo consensual.
Venha. Tem mais.
Ele me puxou pela mão e paramos diante de outra cabine,
onde uma mulher vestida de mulher-gato, mas com suas partes
íntimas à mostra, usava um pênis falso para sodomizar um homem
que se encontrava pendurado no teto por correntes. Mais adiante,
em outra cabine, dois casais se pegavam; em outra, havia cerca de
quinze pessoas se chupando sobre um gigantesco sofá felpudo;
mais adiante nos deparamos com um quarto imenso, com todas as
paredes em vidro, onde mais pessoas trepavam adoidadas.
As cenas mais comuns eram de mulheres sendo
machucadas e torturadas por vários homens ao mesmo tempo, o
que tornava o lugar semelhante a um circo de horrores.
Após a bizarra excursão, o Sr. Dempsey me conduziu de
volta até o elevador, diante do qual paramos de frente um para o
outro.
— Agora você já sabe o que acontece aqui. — O tormento
que eu já conhecia, estava claro na sua fisionomia. — Eu queria
muito ser capaz de me refrear e tirar você daqui, mas agora é tarde,
não posso mais parar. No entanto, vou te dar essa última chance de
ir embora por conta própria.
— Não quero ir embora.
— Se você entrar nesse elevador comigo, se tornará minha
propriedade e apenas minha. Vou te transformar na minha putinha,
para me servir da forma que eu quiser, onde e quando eu quiser. Eu
não tenho sentimentos, nunca vou te amar, nunca vou te dar mais
do que isso, nem um relacionamento e muito menos uma família.
Você não passará de um objeto para mim, será punida sempre que
merecer e será fodida da forma como eu decidir.
Ele parecia determinado a me afastar, porém eu estava
obstinada a ficar. Não apenas pelos quinhentos mil que salvaria a
minha vida, mas porque eu o queria e porque, no fundo, alimentava
uma pequena chama de esperança de que as coisas não fossem
tão terríveis quanto ele colocava. Provavelmente eu havia
enlouquecido.
— Eu quero ficar. Quero ser sua. Mas tenho uma condição.
— Pode falar.
— Quando eu falar que acabou, estará definitivamente
terminado.
Ele nem vacilou.
— Parece justo. Mais alguma colocação?
— Não.
— Ótimo.
CAPÍTULO 13

Serenity
Dito isto, ele apertou o botão do elevador e entramos. O ruído
das portas se fechando me pareceram o anúncio da sentença do
que se tornaria a minha vida daquele momento em diante. Embora
eu estivesse certa sobre o que queria, comecei a tremer dos pés à
cabeça, nervosa, temerosa com tudo o que vi acontecendo
naquelas cabines.
— Não uso as cabines porque acho anti-higiênico — disse
ele, como se fosse capaz de ler meus pensamentos. — Tudo o que
acontecerá entre nós, será no meu apartamento, onde poderemos
receber visitas eventualmente. Tudo tem que ser consensual. Se eu
atingir algum limite seu, ou se a machucar mais do que você possa
suportar, avise-me sem hesitar. E o mais importante: você não
poderá falar sobre isso com ninguém, muito menos com os
funcionários da empresa. Alguma pergunta?
Suas palavras soavam com a frieza de um empregador
explicando o trabalho a um novo funcionário. Aliás, todo aquele
processo era muito frio e impessoal, como se de fato tratássemos
de um negócio. E imaginar que passei toda a minha vida esperando
para ter minha primeira vez com meu príncipe encantado, o homem
que se casaria comigo, me levaria para morar em uma casa com
cerca branca e me daria um punhado de filhos.
— Você não tem nada para perguntar? — insistiu o Sr.
Dempsey, diante do meu silêncio.
— Nós teremos algum tipo de relação fora daqui? Tipo
sairmos pra jantar de vez em quando?
— Não. Fora daqui seremos apenas chefe e funcionária.
Nada além disso. — Ele foi claro e direto. — Não me relaciono de
outra forma com as minhas Submissas, não as levo em meu
apartamento, não durmo com elas. Você jamais poderá me chamar
pelo meu primeiro nome, em circunstância alguma. Mas terá a
opção de sair do seu emprego e ficar em casa. Eu a sustentarei e
darei tudo de que precisar, inclusive um lugar só seu para morar.
A proposta era tentadora, mas Mia desconfiaria de que havia
algo de muito errado com esse homem, se ele passasse a me
sustentar, assim do nada e provavelmente desistiria da barriga de
aluguel. Ela que continuasse acreditando que ele era normal.
— Eu prefiro continuar trabalhando. Se for possível.
— Claro. Embora eu preferisse do meu jeito, essa é uma
decisão sua. Apenas não se esqueça de agir como se não
passássemos de chefe e funcionária.
Como se fosse possível agir de outra forma.
— Sim, senhor.
Como era de se esperar o apartamento dele ficava na
cobertura. Tão logo as portas do elevador se abriram, saímos
diretamente no hall do imenso imóvel. A princípio parecia apenas
uma moradia comum, tão luxuosa quanto o lugar em que ele vivia,
só que menos impessoal. Na sala, os móveis eram em tom pastel,
combinando com as cortinas; havia um grande jarro com flores a um
canto e do outro lado um bar em madeira e vidro tomava quase toda
uma parede.
— Quer beber alguma coisa? — perguntou ele.
— Não. Obrigada.
O Sr. Dempsey foi até o bar e se serviu de uma grande dose
de uísque com gelo. Em seguida, voltou a segurar minha mão e me
puxou pelo apartamento. Ao atravessarmos a sala, fomos de
encontro a imensas portas duplas de madeira envernizadas e
entramos. Era o lugar onde ele realizava suas práticas sexuais. Se
parecia com uma academia de ginástica, amplo e repleto de
aparelhos bizarros, cuja utilidade dava medo só de imaginar. Havia
correntes penduradas no teto, cadeiras de tortura, mesas em
formato de cavalos, uma jaula pendurada no teto com cerca de um
metro de altura, uma cruz enorme em formato de X na parede,
estantes repletas de apetrechos sexuais, inclusive pênis falsos. No
centro do cômodo, estava uma cama redonda, com correntes
presas aos quatro cantos e um espelho no teto, diante dela, uma
poltrona acolchoada.
— Você terá uma chave deste lugar e virá me esperar aqui
sempre que eu mandar. Evitarei que estejamos aqui à noite, mas,
caso aconteça, quero que passe direto pelo salão do clube, sem
paradas. Você vai fazer sexo com outras pessoas enquanto for
minha Submissa, mas nunca sem a minha presença e sem a minha
permissão.
— Sim, senhor.
O Sr. Dempsey tirou seu terno e a gravata, puxou a barra da
camisa de dentro da calça e abriu os primeiros botões, revelando o
início de uma rala camada de pelos escuros sobre seu peito. Em
seguida, sentou-se na poltrona acolchoada.
— Tire todas as roupas, deixe apenas as sandálias e ajoelhe-
se aqui.
Obedeci, despindo-me do sobretudo, da cinta-liga e da meia.
Usando apenas as sandálias de saltos altos e finos, ajoelhei-me ao
lado dos seus pés, quando então ele passou a acariciar meus
cabelos, na parte de cima da minha cabeça, enquanto segurava seu
uísque com a outra mão, dando grandes goles de vez em quando.
— Você é uma boa menina, por isso não vou machucá-la
mais do que você possa suportar. Além disso, vou protegê-la de
qualquer pessoa que tentar te fazer mal, inclusive do tal namorado
que não te comeu. Também te darei tudo de que precisar, e até do
que não precisar. É só me dizer o que quer.
— Não quero nada, senhor. Apenas ser sua.
Ele deu outro grande gole no seu uísque, enquanto
desmanchava a trança dos meus cabelos.
— Em todo caso, me avise se sentir vontade de ir às
compras, ou de se mudar da casa da sua amiga, ou de conhecer
algum lugar do mundo e eu providenciarei.
— Sim, senhor.
— Não gosto de coisas artificiais como perfumes íntimos e
outros artifícios de sex shoppings, gosto do seu cheiro natural de
fêmea e quero encontrá-la sempre nua, quando eu chegar aqui.
— Claro.
— Enquanto for minha Submissa, você deverá me obedecer
cegamente. Se tem uma coisa que não tolero é a desobediência.
— Sim, senhor.
— O que faremos aqui, não será apenas para o meu prazer,
mas também para o seu. Você tem alguma pergunta?
— O senhor diz, enquanto eu for sua Submissa. Por quanto
tempo faremos isso?
— Por quanto tempo eu quiser. Quando eu decidir que
acabou, estará finalizado e não terá mais volta.
Eu só esperava ficar grávida antes que ele me demitisse
desse novo emprego. Era o que parecia, que eu estava sendo
contratada para um novo emprego, com direito a proteção, compras,
moradia e viagens.
— Sim, senhor — concordei mais uma vez.
— Agora sente-se na cama.
Obediente, sentei-me aos pés da cama, de frente para ele.
Seus olhos brilhantes de luxúria varriam minha completa nudez.
— Abra bem as pernas. — Obedeci, abrindo minhas pernas
até o limite, seus olhos sequiosos fixaram-se em meu sexo. —
Toque-se. Masturbe-se para mim.
Fiz o que ele disse, umedecendo dois dedos e infiltrando-os
entre meus lábios vaginais, massageando meu clitóris em círculos,
como costumava fazer quando tinha dezessete anos e ficava
sozinha em meu quarto, após dar uns pegas no carinha com quem
namorava, uma prática que ficou esquecida à medida em que eu era
obrigada a amadurecer e me tornar adulta.
Se alguém me dissesse que um dia eu faria isso diante do
olhar de um homem, eu jamais acreditaria. O fato era que eu mal
me reconhecia. Ao invés de ficar constrangida, gostava da forma
esfomeada como o Sr. Dempsey me observava enquanto eu fazia
aquilo e, quanto mais ele olhava, mais eu queria fazer.
— Você é uma delícia, menina — sussurrou ele, ofegante. —
É assim que sempre deve agir, com obediência e sem tentar
esconder seu corpo do seu dono.
Ele se levantou e parei de mover minha mão.
— Não pare. Continue se masturbando para mim. Mas não
goze.
Recomecei os movimentos circulares sobre meu ponto
sensível, enquanto o observava se despindo. Sem desviar seus
olhos de mim, ele tirou sua camisa e depois a calça, ficando apenas
com a cueca. Era lindo demais. Com seus ombros largos, o peito
musculoso e peludo, os bíceps pronunciados, a barriga lisinha, com
seu abdômen no formato de um V e as coxas grossas e peludas.
Por alguma razão desconhecida, imaginei aquela coxa esmagando
minha boceta e minha vagina piscou.
Sem uma palavra, o Sr. Dempsey aproximou-se de mim,
inclinou-se e segurou na parte de trás dos meus cabelos, puxando-
os e fazendo com que eu erguesse o rosto. Segurou meu maxilar
com a outra mão, imobilizando-me e apossou-se da minha boca
com uma violência absurda, sugando meus lábios com força, um de
cada vez, para depois infiltrar sua língua no espaço entre eles,
entrelaçando-a com a minha, tomando-me para si, como se eu
realmente lhe pertencesse.
Sem soltar-me, foi descendo aquela boca faminta pelo meu
corpo, dando-me mordidas bruscas, deixando as marcas dos seus
dentes sobre minha pele. Até que se agachou à minha frente e
enfiou sua face entre minhas coxas. Soltei um gemido alto quando a
língua, áspera, quente e úmida, passou diretamente sobre meu
clitóris, uma, duas, três vezes, a princípio devagar, para logo dançar
freneticamente sobre ele, com movimentos rápidos e circulares.
Ensandecida de tesão, inclinei meu corpo para trás e
espalmei minhas mãos sobre o colchão, gemendo alto, lançando a
cabeça para trás e me acabando com aquela boca deliciosa me
devorando, minha pele em chamas, meus mamilos sensíveis
endurecendo, suplicando pelo toque de suas mãos.
Eu estava prestes a explodir em um orgasmo, quando o Sr.
Dempsey parou. Foi até uma gaveta e voltou trazendo uma tira de
couro larga, que ligava quatro algemas com fecho em velcro umas
às outras. Ao ver o objeto em suas mãos, senti um calafrio
percorrendo a minha espinha.
— Achou que eu seria delicado na sua primeira vez? — disse
ele, de um jeito ligeiramente perverso. — Você entrou nessa furada
sabendo como seria. Agora aguente as consequências.
Tremi de medo quando ele veio até mim com o bizarro objeto
nas mãos. Fez com que eu me deitasse de costas e o usou para
prender meus pulsos aos meus tornozelos, de modo que fiquei com
meus joelhos dobrados para cima, toda arreganhada e imobilizada.
O jeito esfomeado como ele me observava, como se estivesse
faminto e eu fosse o último alimento da face da Terra, intensificou a
minha excitação, a tal ponto que todos os meus temores foram
desaparecendo.
— Você não imagina o quanto está linda nessa posição,
putinha — grunhiu, de um jeito animalesco. Voltou a inclinar-se
sobre mim e deu uma lambida que foi do meu ânus até meu clitóris.
— Não consigo parar de chupar essa bocetinha virgem. Você tem
gosto de perdição.
Minha vagina melava e se contorcia, pulsando avidamente.
Eu queria que ele continuasse me chupando até que eu gozasse,
mas já tinha entendido que nada ali seria como eu queria e sim do
jeito dele.
— Ah, senhor... por favor... — gemi, ansiosa por uma
libertação.
— As coisas não serão assim tão fáceis para você. — Ele foi
até uma estante e voltou trazendo uma palmatória de couro flexível,
com cabo de madeira, o que me fez estremecer. — Você me trouxe
de volta pra esse mundinho sujo e precisa ser punida por isto.
Subindo de joelhos na cama, ele açoitou levemente um dos
meus mamilos com a palmatória. A primeira sensação foi de um
leve ardor, o qual se espalhou por todo o meu corpo, enviando
violentas correntes de excitação que se concentraram na altura do
meu ventre, fazendo-o se contorcer. Açoitou meu outro seio,
intensificando as sensações que me arrebatavam e continuou me
batendo, alternando entre um seio e outro, depois na barriga, na
pélvis e por fim sobre minha boceta aberta, açoitando-a
repetidamente, com golpes suaves, que acertavam diretamente meu
clitóris e intensificavam minha excitação, me arrastando para uma
espécie de loucura que me fazia querer implorar para que ele me
fizesse sua logo de uma vez.
Minha pele ardia, os lugares que recebiam os golpes da
palmatória latejavam, quando por fim ele parou. Foi até outra
gaveta, onde pegou alguns preservativos e se colocou de pé diante
da cama, tirando sua cueca e permitindo-me finalmente ver seu
membro. Era grosso e longo, com várias veias protuberantes, a
glande rosada e grande. Um líquido transparente escorria da
abertura na ponta.
Eu olhava hipnotizada para aquela parte do seu corpo.
— É a primeira vez que você vê um desses de perto? —
indagou meu chefe, enquanto desenrolava o preservativo sobre sua
imensa virilidade.
— Não. Uma vez entrei no vestiário masculino por engano.
No colégio.
O Sr. Dempsey sorriu e, sem mais palavras, subiu na cama,
engatinhando para cima de mim. Com suas mãos apoiadas no
colchão, colocou-se todo sobre mim, parecendo muito grande e forte
naquela posição. Segurou seu pênis pelo meio e esfregou a glande
entre meus lábios vaginais, lambuzando-se na minha umidade,
provocando-me violentas correntes de excitação, que me faziam
gemer sem querer.
— Caralho... como você está molhadinha e preparada...
como conseguiu guardar esse tesão todo até os vinte anos?
— Eu... nunca conheci ninguém assim.
— Assim como?
— Que me fizesse querer ir até o fim.
— E foi se meter logo numa roubada dessas.
Dito isto, ele encaixou a glande enorme bem na minha
entrada e empurrou-a para dentro de mim, penetrando-me com um
golpe ágil e violento, que me arrancou um grito agudo, de dor e
susto. Com seu pênis todo enterrado de mim, ele parou de se
mover, com seus olhos fixos nos meus.
— Me avise quando parar de arder.
— Sim.
Aos poucos o ardor foi amainando, até se transformar em um
impaciente latejar. Mas não falei nada, temendo pelo próximo golpe.
— Já chega de esperar. Vou me mover de novo — disse ele e
assenti.
Ele puxou seus quadris e os arremeteu contra mim
novamente, sem que dessa vez eu sentisse qualquer dor. Fechou os
seus olhos e soltou um gemido abafado, antes de repetir o
movimento, saindo e entrando bruscamente do meu canal, para
então dar início a uma sequência de golpes firmes e agressivos.
Sua rigidez bruta deslizou na minha carne molhada, atacando minha
sensibilidade como se a intenção fosse me partir em duas.
A sensação de tê-lo dentro de mim era inigualável. A lascívia
me dominava de tal maneira que perdi a consciência de tudo mais, a
não ser do seu corpo forte sobre o meu, me cobrindo e dominando,
e do seu membro me penetrando, causando uma pressão absurda e
deliciosa nas paredes do meu canal, a ponto de me fazer gemer
descontrolada.
Meu corpo todo suplicava pelo dele. Eu queria poder me
mover, acompanhar o ritmo dos seus quadris, esfregar meus
mamilos nos pelos do seu peito, queria percorrer a ponta dos meus
dedos nos contornos daqueles músculos perfeitos e enterrar minhas
unhas na sua pele, mas estava cativa, amarrada, à mercê do que
ele quisesse fazer comigo e ele fazia o que queria.
Não demorou muito, meu corpo todo enrijeceu, ansiando por
uma libertação, quando então o Sr. Dempsey desacelerou os
movimentos de vai e vem, sorrindo perverso, como se me torturasse
deliberadamente.
— Ahhh... por favor... — gemi, ensandecida.
— Por favor o quê?
— Eu... quero... — Não consegui completar a frase.
Não eram apenas os orgasmos, eu queria poder abraçá-lo,
sentir a quentura da sua pele na minha, morder seu queixo forte e
experimentar o gosto da sua boca me devorando.
— Diz que quer gozar no meu pau.
— Eu quero gozar no seu pau... ahhh...
— Fala que é minha putinha, só minha, pra eu fazer o que
quiser e que vai dar essa bocetinha apertada pra mim todos os dias,
pra eu comer como desejar.
CAPÍTULO 14

Serenity
Ele acelerou os movimentos dos seus quadris, fodendo-me
com mais rapidez, e quase fui ao delírio.
— Sim, Senhor... ahhh... eu sou sua putinha... toda sua... me
coma como quiser... todos os dias... ahhh...
Sem desviar seu olhar do meu rosto, ele me deu outro sorriso
perverso e ergueu seu corpo. Segurou meus tornozelos algemados
e os suspendeu no ar, deixando-me ainda mais arreganhada. Então,
acelerou novamente os movimentos dos seus quadris, entrando
fundo, apertado e agressivo, batendo violentamente sua pélvis
contra minha vulva, até que explodi, gozando alucinadamente, com
meu corpo entregue a um descontrole enlouquecedor, que me fazia
gritar e chamar o seu nome, enquanto seus olhos hipnóticos me
observavam.
Ele deu mais três estocadas bruscas e fundas e gozou, sem
emitir qualquer som, seus olhos se fecharam e sua fisionomia se
contraiu em uma magnífica expressão de prazer.
Quando os espasmos do seu pau cessaram, meu chefe
deitou-se sobre mim, apoiando o peso do seu corpo nos cotovelos e
se apossou da minha boca com a sua, em um beijo profundo e
demorado, não tão agressivo quanto antes. Ao interromper o beijo,
segurou minha cabeça dos dois lados, acariciando meus cabelos,
mantendo seu rosto muito próximo ao meu.
— Não consigo sair de dentro de você — sussurrou,
ofegante, animalesco.
— Então não saia.
Ele recomeçou a mover seus quadris, lentamente, entrando e
saindo de mim naquele ritmo lânguido e gostoso, deixando-me toda
acesa novamente.
— Onde você estava durante toda a minha vida, menina?
— Te esperando.
Ele voltou a me beijar, profundamente, fazendo sua língua
dançar contra a minha. Então, deixou os meus lábios e foi descendo
sua boca faminta pelo meu corpo trêmulo, mordendo, beijando,
chupando minha pele, como se tivesse necessidade de mim.
De súbito, retirou-se do meu interior e desceu da cama,
colocando-se de pé e dando-me uma visão clara do seu corpo
grande e delicioso, todo atlético, sem nenhuma grama de gordura
ou flacidez, o pênis ereto com a camisinha cheia pendurada na
ponta. Foi até seu uísque e ingeriu um grande gole, sem desviar
aquele olhar brilhante, carregado de luxúria de mim.
— Chega a ser quase delirante ver você aí toda amarrada e
fodida, com essa bocetinha inchada, suja de sangue e de gozo, mas
ainda pedindo para ser comida — disse.
Ao voltar para a cama, ele trouxe o copo com o uísque nas
mãos. Inclinou-se sobre mim e despejou uma porção do líquido
gelado e ardente sobre meus lábios, depois no pescoço e continuou
descendo, banhando minha pele com a bebida, derramando-a sobre
meus seios, barriga e ventre. Quando derramou uma pequena
porção entre minhas pernas, me encolhi como pude, soltando um
gemido devido ao ardor que o álcool causava sobre meu sexo
sensível, o que fez com que o Sr. Dempsey me desse um de seus
sorrisos perversos, deixando claro o quanto minha dor o agradava.
— Como eu te disse, você se meteu na maior furada da sua
vida. Felizmente nem tudo são espinhos.
Abandonando o copo de lado, ele voltou a se colocar sobre
mim, apoiando-se sobre as palmas das mãos e os joelhos, seu
corpo maciço parecendo muito grande e intimidante sobre o meu.
Inclinou o pescoço e beijou-me com violência, chupando forte meus
lábios, limpando-os do uísque e saqueando minha boca com sua
língua exigente. Em seguida, foi deslizando seus lábios sobre a
trilha de uísque que construíra sobre a minha pele, lambendo e
chupando cada parte de mim em que derramara a bebida. Quando
alcançou o centro entre minhas pernas, me chupou de um jeito mais
agressivo, mordendo e sugando violentamente meus grandes
lábios, lambendo o sangue e os outros líquidos da minha entrada,
penetrando minha vagina com sua língua, tão deliciosamente que
eu gemia e me contorcia sobre a cama, enlouquecida, ansiosa por
tê-lo novamente dentro de mim.
— Ahhh... delícia... — gemi, delirante.
— O que foi, putinha, quer engolir meu pau com essa
bocetinha de novo?
— Ahhh... sim... me come... por favor... eu quero tanto você...
Ele fechou seus lábios em torno do meu clitóris e fez uma
sucção suave, tão deliciosa, que gritei de puro prazer, quase me
derramando em gozo. Porém, antes que atingisse o clímax, ele me
abandonou, afastando-se e levantando-se.
Dando-me uma visão magnífica daquele corpo gostoso, sob a
claridade do quarto, tirou o preservativo usado, jogando-o no chão,
retirou outro da embalagem e se cobriu.
— Nesse caso, vou dar o que você quer — disse, com tom de
ameaça.
Quando ele voltou a subir na cama, suas mãos bruscas
viraram-me de bruços, em um gesto ágil e inesperado, de modo que
fiquei com o rosto apoiado de lado no colchão e precisei dobrar os
joelhos para a frente, para que alcançassem o limite das tiras de
couro que ligavam meus pulsos aos meus tornozelos. A posição era
desconfortável, mas a expectativa do que ele faria em seguida
suplantava esse desconforto.
Da mesma forma repentina como me virara, o Sr. Dempsey
segurou dos dois lados dos meus quadris e me penetrou, por trás,
brutalmente, seu pau enorme afundou todo na carne molhada da
minha vagina, alcançando-me tão fundo que pude senti-lo
empurrando algum ponto sensível dentro de mim, causando certo
desconforto. Contudo, quando tentei escapar do seu ataque, ele não
permitiu, suas mãos de aço seguraram-me firme no lugar.
— Não tente fugir de mim, sua putinha. Você é minha agora e
posso te foder do jeito que eu quiser, inclusive assim. — Ele deu um
tapa estalado na minha bunda. — E posso fazer isto também, sem
que você tenha o direito de reclamar.
Bateu do outro lado e puxou seus quadris, investindo contra
mim novamente, seu pau alcançou-me muito fundo. Parou com ele
todo enterrado em mim e girou os quadris, pressionando ainda mais
forte aquele ponto sensível.
Instintivamente, abaixei mais os ombros e empinei a bunda,
recebendo-o com mais conforto, quando então ele acelerou os
movimentos dos seus quadris. Seus golpes tornaram-se mais
brutais, frenéticos e deliciosos, sua pélvis chocou-se violentamente
contra a minha bunda, o som das batidas se misturava ao dos meus
gemidos altos e descontrolados.
Sem jamais parar de me foder naquele ritmo alucinante, ele
deu outro tapa estalado na minha bunda e depois bateu do outro
lado, esfregando minha pele ardida com a palma da sua mão, só
para bater novamente. Sua selvageria incontida tornou tudo ainda
mais intenso, delirante, enlouquecedor.
Quando dei por mim, as lágrimas estavam fluindo dos meus
olhos, sem motivo e sem controle, enquanto eu gemia e gritava,
proferindo palavras desconexas, como súplicas incompressíveis. Os
músculos do meu corpo enrijeceram, anunciando a explosão. Então,
por pura perversidade, o Sr. Dempsey desacelerou os movimentos,
passando a me penetrar num ritmo muito lento, com a intenção de
me torturar.
— Ah! Por favor! Por favor! — gritei, descontrolada.
Ele se inclinou e passou as duas mãos sobre meus mamilos
intumescidos, em um gesto muito suave, intensificando as labaredas
de tesão que me incendiavam.
— Por favor, o quê?
— Me deixe gozar no seu pau! Ah! Eu quero... ah...
Com isto, ele voltou a me penetrar com aquela brutalidade
deliciosa, enlouquecedora, até que o orgasmo veio, me estilhaçando
em mil pedaços, me fazendo gritar e chorar, com seu pau todo
enfiado em mim, as paredes da minha vagina soltavam espasmos
em torno de toda aquela rigidez.
Eu estava toda mole quando ele deu mais algumas
estocadas profundas e parou, gozando dentro de mim, seus
espasmos deram-me uma última migalha do prazer avassalador.
Ambos desabamos ao mesmo tempo sobre a cama, eu de
lado, toda encolhida por causa das amarras, ele de barriga para
cima, todo espalhado. O momento que seguiu foi de silêncio e
quietude, apenas havia o som da nossa respiração audível no
aposento.
— Você foi feita para o sexo, menina — sussurrou ele,
virando-se para mim, fitando-me com seus olhos verdes mais
brilhantes que o habitual.
— Não sou uma menina.
— Sim, você é. A minha menina.
Como se só então se desse conta de que eu ainda estava
amarrada, ele apressou-se em me soltar, libertando-me das
algemas de couro e me permitindo me espalhar mais
confortavelmente sobre o colchão.
Para minha surpresa, ele massageou meus pulsos e
tornozelos, beijando-os suavemente, para tentar amenizar a dor que
causara.
— Está muito machucada? — indagou, quase como se
sentisse culpa.
— Não. A dor não foi nada, perto de tudo mais que senti.
Hipnotizada com sua beleza máscula, infiltrei meus dedos
entre seus cabelos curtos e os acariciei, descendo para seu rosto,
tocando-o como gostaria de ter feito desde que chegamos. Ao
mesmo tempo, eu deslizava meu corpo lentamente sobre o colchão,
aproximando minha pele nua da dele, necessitando de um contato
mais direto e íntimo, como uma sedenta necessitando de água no
deserto.
— Só senti falta disso — sussurrei.
Ele fechou os olhos e respirou pesadamente, seu maxilar
cerrou quando voltou a abri-los.
Sem conseguir me conter, continuei me aproximando
devagarinho, até que meu corpo estava de encontro ao dele, nossa
pele suada se colando, o bico dos meus seios roçando nos pêlos
ásperos do seu peito.
Minha nossa! Como aquilo era bom. Só não era melhor do
que a forma bruta como ele me tomara.
Indo ainda mais além, pendurei uma perna sobre seu quadril
e esfreguei minha boceta no seu pau semiereto, ao mesmo tempo
em que beijava suavemente sua face, sua boca, seu pescoço, me
refestelando com sua solidez máscula, me inebriando com o cheiro
delicioso que partia de si. Até que ele se afastou de súbito,
levantando-se de cama.
— Esse tipo de proximidade não é algo que eu aprecie —
falou, com a naturalidade de quem descrevia a funcionalidade de
um imóvel a um possível comprador. — Vou até a sala pegar uma
bebida e pedir algo para comermos. Gostaria de algo especial?
Tentando esconder meu desapontamento, espalhei-me
confortavelmente sobre os lençóis macios, apreciando a forma
sequiosa como seus olhos varriam cada detalhe da minha completa
nudez.
— Um sanduíche e suco de laranja está bom, senhor. —
Coloquei um certo sarcasmo na palavra “senhor” e ele fez uma
careta.
— Cuidado com o que diz, menina. Isso pode te custar umas
chicotadas. — Seu tom era de ameaça.
— Claro, senhor — falei, sobressaltada.
Ele tirou o preservativo usado, jogando-o num canto do
quarto, pegou sua calça do chão e vestiu sem a cueca.
— Não demoro. Tente descansar um pouco.
— Claro.
Ele deixou o quarto e um minuto depois estava de volta,
trazendo minha bolsa em uma mão.
— Seu celular está vibrando incessantemente. Deve ser Mia,
ou o perseguidor.
Tensa, sentei-me apressada na cama, encolhendo as pernas
na frente do corpo.
— Deve ser ela. Obrigada.
Ele depositou a bolsa sobre a cama e deu uma boa olhada na
minha boceta, antes de deixar novamente o aposento. Meus olhos
também miraram sua bunda dentro da calça, enquanto ele se
afastava e no exato instante em que sumiu pela porta, lembrei-me
da seringa na minha bolsa e do que eu deveria fazer com ela.
Droga! Eu não podia acreditar que quase deixei isso cair no
esquecimento!
Ainda mais tensa, saquei o celular da bolsa, que já havia
parado de tocar e vi as trocentas ligações perdidas de Mia e de um
número desconhecido. Abri a caixa de mensagens e descobri que o
número desconhecido era de Dylan, que enviara vários recados
exigindo que eu lhe mandasse o contrato da barriga de aluguel,
como havia prometido.
Merda! Será que eu não podia ter um minuto de paz?
Mais que depressa, abri o drive e enviei-lhe uma cópia em
PDF do documento. Agora ele saberia que a verdadeira quantia
tratada com Mia era quinhentos mil e ficaria ainda mais furioso. Por
outro lado, teria certeza de que esse dinheiro realmente existiria e,
com isto, talvez me deixasse em paz por um tempo.
Em seguida, me apressei em digitar uma mensagem para
Mia, que me ligava preocupada por eu não avisar onde estava até
àquela hora.

Serenity: Estou com o Sr. Dempsey. Está tudo bem. Tudo


correndo como planejado. Te vejo depois. Beijinho.

Guardei rapidamente o celular e me apressei em pegar a


seringa, antes que os espermatozoides morressem naquele chão.
Seria a atitude mais baixa e indigna que eu tomaria na minha vida,
mas eram as opções que o destino me oferecia. Além do mais, eu
não tinha tempo para me sentir mal. Precisava me apressar e me
inseminar antes que meu chefe voltasse da sala, o que poderia
acontecer a qualquer minuto.
Sobressaltada, saquei a seringa da bolsa, saí da cama e
peguei o último preservativo usado que ele jogara no chão. Em
seguida, entrei no banheiro, respirando aliviada ao constatar que a
porta trancava pelo lado de dentro. Nervosa, sentei-me no vaso com
os objetos da minha hediondez em mãos e iniciei o procedimento
que Mia me explicara umas trocentas vezes. Cuidadosamente,
inseri a ponta da seringa na parte aberta do preservativo e fui
puxando o líquido viscoso devagar, até que não restasse nenhuma
gota lá dentro e a seringa estivesse acima da metade. Em seguida,
agachei-me no chão, abrindo bem as pernas e inseri o objeto na
minha vagina, sem entender por que um cano tão fino doía tanto ao
entrar num buraco que acabara de receber algo bem mais grosso,
sem dor alguma.
Introduzi a seringa até o final e apertei o êmbolo devagar,
sentindo o líquido ainda quente ser derramado dentro de mim. Puxei
a seringa vazia, descartei-a no vaso e dei a descarga, me
certificando de que havia realmente descido. Em seguida, sentei-me
sobre a tampa fechada do vaso, sentindo-me infinitamente
desonesta, suja e culpada, com um turbilhão de pensamentos
invadindo a minha mente, impedindo-me de me tranquilizar.
E se o Sr. Dempsey fosse portador de alguma doença
sexualmente transmissível? E se ele tivesse HIV? Frequentando
aquele lugar há tanto tempo, isso não seria impossível. E se ele
percebesse que havia me inseminado? E se desse falta do
preservativo no chão? Na certa, pensaria que eu estava tentando
aplicar-lhe o golpe da barriga, o que não era de todo mentira.
Sacudi a cabeça, afastando todos os pensamentos. Eu não
podia me apavorar. Precisava considerar aquela situação como uma
profissão de risco, como a dos bombeiros, dos policiais, das garotas
de programa...
— Serenity, você está aí dentro? — A voz do Sr. Dempsey
partiu do outro lado da porta, tão ríspida e alta que levei um susto
grande a ponto de precisar tapar minha boca com a mão para não
soltar um grito.
— S-sim. J-já vou sair. Só um minuto.
Será que as Submissas não tinham o direito nem de
satisfazer suas necessidades biológicas sem a presença do
Dominante? Era só o que me faltava!
Levantando-me do vaso, respirei fundo várias vezes,
tentando me acalmar. Na pia diante de um grande espelho, lavei o
rosto e observei a minha imagem, à procura de algo que pudesse
me denunciar. Mas era óbvio que não havia nada.
Subitamente tímida, peguei um roupão que estava dobrado
em um armário e o vesti. Segurei o preservativo usado na palma da
minha mão fechada e saí do banheiro. Precisava largar o
preservativo exatamente onde ele estava antes, sem que meu chefe
percebesse.
O Sr. Dempsey estava sentado na poltrona perto da cama e
tão logo entrei no seu campo de visão, fixou seu olhar em mim, por
sobre a borda do copo de uísque, enquanto sorvia a bebida.
— Algum problema? — indagou ele, parecendo desconfiado.
— Não. Eu achei que minha menstruação tinha descido, mas
foi só impressão minha.
Sua fisionomia mudou subitamente, um tormento que não
entendi atravessou a expressão do seu olhar.
— Aquele sangue no lençol da cama é da sua virtude —
disse ele, parecendo tão culpado que tive vontade de afagá-lo e
garantir-lhe que estava tudo bem.
— É. Eu percebi.
Seus olhos me examinaram com escrutínio durante um
momento de silêncio, muito provavelmente porque eu continuava
encolhida perto da porta do banheiro, parecendo uma garota tímida
e não a mulher que há pouco implorava para gozar no pau dele.
— Trouxe água para você.
Dito isto, ele finalmente levantou-se, desviando sua atenção
de mim por um momento e aproveitei para jogar o preservativo no
chão, no mesmo canto onde estava antes, embora tivesse dúvidas
de que ele perceberia, se eu não o devolvesse. Certamente havia
uma pessoa que fazia a limpeza daquele lugar.
CAPÍTULO 15

Serenity

O Sr. Dempsey aproximou-se de mim com uma garrafinha de


água mineral na mão. Estava mais gostoso do que nunca, sem
camisa, com o cós da calça aberto, revelando o início da camada de
pelos escuros que cobria sua pélvis. Tinha seus cabelos
bagunçados e o rosto ligeiramente vermelho.
— Beba. Você precisa se hidratar — disse ele, com um tom
de voz autoritário, entregando-me a água e automaticamente
obedeci, ingerindo grandes goles do líquido gelado. — Agora tire o
roupão e entre na jaula. — Um estremecimento me varreu. — Não
precisa ficar com medo. Isso não vai te machucar.
Ele foi até a jaula de ferro pendurada no teto, a cerca de um
metro de altura do chão e abriu a porta. Obediente, tirei o roupão,
ficando completamente nua e aproximei-me da entrada do bizarro
equipamento, dando-lhe a minha mão para que me ajudasse a
entrar. Como a jaula tinha pouco menos de um metro de altura,
precisei ficar de cócoras sobre os saltos altos das sandálias, para
caber lá dentro.
Após fechar a porta, trancando-a e guardando a chave no
bolso da sua calça, o Sr. Dempsey puxou a poltrona para a frente da
jaula, a pouco mais de um metro de distância e sentou-se,
bebericando calmamente seu uísque, enquanto me observava
quase sem piscar, com seus olhos verdes reluzentes de luxúria.
— Você não tem ideia do quanto me agrada vê-la aí dentro,
tão frágil e tão minha. Eu poderia deixá-la aí por vários dias, se
quisesse.
Outro estremecimento atravessou o meu corpo. Era uma
mistura de medo e fascínio por aquele mundo bizarro que me era
apresentado. Por alguma razão desconhecida, eu estava gostando
daquele jogo. Gostava da forma sequiosa como ele me olhava,
como se eu fosse a oitava maravilha do mundo; apreciava ter
alguém para me dizer o que fazer, quando eu não sabia e amava a
forma como ele me tocava e tomava, apesar de sentir falta do seu
carinho.
— Já deixou alguém trancada aqui por vários dias, senhor?
— Sim. Uma Submissa que ousou me desobedecer. Mas eu
voltava para alimentá-la e fodê-la.
— Jamais vou desobedecê-lo. Me diga o que fazer para
agradá-lo e eu farei. Farei qualquer coisa que mandar. Me
entregarei das formas como o senhor desejar.
À medida que as palavras saíam da minha boca, a excitação
ia me percorrendo, fazendo meus mamilos enrijecerem, sem que eu
compreendesse tais reações do meu organismo. De fato, eu queria
ser subjugada por aquele homem, queria que ele fizesse de tudo
comigo, não importando o que fosse. A única coisa que eu não
suportaria, era que ele se distanciasse.
— Você é uma Submissa nata. A perdição de um homem que
lutou valentemente para se livrar do vício em sexo.
— Lamento tê-lo arrastado de volta para este mundo.
— Não lamente. Estou mais feliz agora do que durante esses
longos meses de solidão.
Espontaneamente, meus lábios se dobraram em um sorriso,
sem que ele deixasse de me observar nem por um segundo, sério,
sisudo.
— Muitas Submissas já vieram aqui?
— Mais do que você possa contar. Eu não costumava ficar
muito tempo com a mesma pessoa, até conhecer Eleanor, com
quem fiquei vários anos.
— O senhor a amava?
Ele sorriu, achando graça.
— Não da forma como as pessoas normais amam, mas do
meu jeito.
— Ou seja: apenas na hora do sexo.
— Sim. Apenas nessas horas. Não deixa de ser uma forma
de amor.
— Alguma Submissa já quis mais que apenas sexo?
— É o que todas querem. Mas não tenho nada além de sexo
para oferecer. Espero que você já tenha entendido isso.
De súbito, meu coração se inundou de um sentimento de
tristeza incompreensível, que tratei de reprimir. Embora fosse o que
toda mulher desejava, eu não tinha o direito de esperar que ele me
amasse, até porque não estava ali por sentimentos. Tão logo ficasse
grávida, nossa história terminaria, portanto, o fato de não haver
sentimentos envolvidos era algo positivo.
Pouco tempo depois, a campainha da porta tocou e o Sr.
Dempsey deixou o quarto para ir receber a comida. Soltou-me da
jaula, colocou uma coleira de couro em volta do meu pescoço e me
fez acompanhá-lo até a sala de jantar, onde fiz a refeição
completamente nua, apenas com as sandálias. O sanduíche que eu
queria não tinha vindo, certamente porque ele não pedira e o que
comemos ali foi um verdadeiro banquete.
Após a refeição, voltamos para o aposento e reiniciamos
nossa jornada de sexo, dor e prazer.
Por volta das três da madrugada, eu havia acabado de ser
libertada de um cavalo de pau e estava deitada na cama, ao lado do
Sr. Dempsey, ambos nus, suados, exaustos. Eu não me lembrava
de já ter me sentido tão cansada e esgotada ao longo da minha
vida, como naquele momento. Minhas carnes tremiam, meus
músculos estavam fracos devido ao excesso de orgasmos, meus
olhos ameaçavam se fechar a qualquer momento.
Tudo o que eu queria naquele instante era ser abraçada pelo
homem deitado ao meu lado, me aninhar de encontro ao seu corpo
e adormecer na segurança dos seus braços. No entanto, ele não
fazia qualquer menção de voltar a me tocar, antes que estivéssemos
prontos para uma nova sessão de selvageria. Carente do seu
carinho, fui me aproximando dele devagar e, quando tentei
aconchegar-me ao seu corpo, ele levantou-se num rompante, como
se de súbito a cama estivesse infestada de insetos nojentos.
— Levante-se e se vista. Não podemos dormir aqui — disse
ele, seco e ríspido, pegando suas roupas do chão.
Sem conseguir conter a sensação de abandono que me
assolou nesse momento, senti meu lábio inferior tremer e as
lágrimas ameaçando aflorar dos meus olhos. Era como se ele fosse
meu, mas ao mesmo tempo eu estivesse sozinha, o que me
machucava de uma forma que eu não conseguia evitar.
— Sim, Senhor — murmurei.
Levantei-me e me vesti do que restava das minhas roupas
íntimas, que eram apenas a cinta-liga, as tiras de couro e a meia e
joguei o sobretudo por cima, mal conseguindo manter meus olhos
abertos, tamanha era a minha exaustão. Enquanto deixávamos o
apartamento e descíamos, o Sr. Dempsey mantinha-se o tempo
todo sério, carrancudo e calado. Saímos do elevador no térreo, onde
ficava a área social do clube. Diferente de quando chegamos, o
lugar estava praticamente vazio, com apenas alguns poucos grupos
de pessoas se esfregando pelos cantos, enquanto a música
animada continuava tocando.
Estávamos atravessando o salão, quando uma mulher loira,
usando uma máscara e um espartilho preto, que se encontrava
recostada a uma pilastra, praticamente pulou na frente do Sr.
Dempsey, tentando agarrá-lo, ao mesmo tempo em que ele se
esquivava. Aparentemente, ela estava bêbada.
— Por favor me deixe chupar o seu pau, Mestre — disse ela
e compreendi que já o conhecia.
Certamente era alguém com quem ele já fizera seus jogos de
BDSM.
Sem uma palavra, o Sr. Dempsey fechou sua mão no
comprimento dos cabelos dela, segurando firme, ao mesmo tempo
em que, com a outra mão, me fazia recostar na pilastra onde ela
estivera e abria rapidamente os botões do meu sobretudo,
deixando-me paralisada, sem reação.
— Abra as pernas! — ordenou, autoritário e automaticamente
obedeci.
Ele abriu todos os botões do sobretudo, deixando minha
nudez exposta na frente de todas aquelas pessoas, que
aparentemente nem reparavam. Fazendo uso da sua força bruta,
puxou os cabelos da loira para baixo, até que ela estivesse
ajoelhada à minha frente, com seu rosto rente ao meu sexo.
— Chupe! — ordenou, curto e grosso e ela obedeceu,
enfiando seu rosto entre as minhas pernas abertas.
Ao sentir o calor da sua boca sobre a minha boceta, meu
primeiro impulso foi fechar as pernas e o fiz, porém, logo a voz veio
ríspida e autoritária, parecendo o rosnado de um animal a quem não
se podia confrontar.
— Nem pense em fechar suas pernas, putinha! — vociferou o
Sr. Dempsey e voltei a abri-las.
No instante seguinte senti a carícia macia e molhada da
língua daquela mulher sobre meu clitóris, passando repetida e
languidamente sobre ele, o que a princípio me pareceu
extremamente nojento. No entanto, logo a boca do Sr. Dempsey
estava devorando a minha, num beijo violento e selvagem, enquanto
seus dedos esfregavam meus mamilos com força, fazendo com que
as sensações fossem aflorando aos poucos em meu íntimo.
Com a maestria de quem sabia exatamente o que estava
fazendo, ele beijou-me até que eu estivesse sem fôlego, então
desceu sua boca deliciosa pela minha pele, mordendo-me forte,
deixando as marcas dos seus dentes por onde passava. Prendeu
um dos meus mamilos entre seus dentes e fez pressão, antes de
sugá-lo com uma gula absurda, quase o arrancando, enquanto a
loira continuava lambendo a minha boceta com maciez, até que aos
poucos fui me perdendo na lascívia que me dominava, entregando-
me às sensações avassaladoras e inevitáveis que me invadiam.
Com a pressão violenta da boca daquele homem alternando
entre meus seios e a língua daquela mulher dançando sobre meus
clitóris, lancei a cabeça para trás e soltei um gemido alto, perdida,
submersa no mar de luxúria do qual nunca mais queria sair.
Quando dei por mim, estava rebolando na boca da loira,
esfregando minha boceta na língua dela, ensandecida. A sucção em
meus seios tornou tudo ainda mais alucinante.
— Goza na boca dela! — ordenou o meu chefe, rouco,
selvagem.
Não precisei de muito, apenas abri um pouco mais as pernas,
permitindo que ela me lambesse mais fundo e explodi, gozando
como uma alucinada, sem que jamais a boca dele deixasse de
sugar meus mamilos sensíveis.
À medida em que meu organismo ia se aquietando, a
exaustão me assolou de tal maneira que minhas pernas fraquejaram
e só não desabei no chão porque os braços do Sr. Dempsey me
seguraram e me ergueram no ar, carregando-me pelo salão do
clube, em direção à saída. Antes de atravessarmos a porta, abri os
olhos e vi a loira parada no mesmo lugar, nos observando com a
expressão de um cachorrinho que era abandonado pela família.
Olhei em volta, tentando checar se alguém tinha reparado no que
acabáramos de fazer, mas as pessoas estavam ocupadas demais
com suas próprias putarias para repararem em alguma coisa.
Cochilando nos braços do meu chefe, mal vi o percurso até o
carro e depois até o apartamento. Ao estacionarmos em frente ao
prédio de Mia, ele insistiu em continuar me carregando e me levou
até lá em cima. Pegou a chave na minha bolsa, abriu a porta e me
carregou até meu quarto, deitando-me cuidadosamente na minha
cama.
— Não precisa ir trabalhar hoje. Descanse. Você está
precisando — disse ele, com sua voz suave e gentil, como não era
de costume.
Inclinando-se, ele plantou um beijo casto e demorado na
minha testa, o primeiro gesto de carinho verdadeiro desde que nos
tocamos pela primeira vez. Tentei agradecer por ter me trazido, mas
estava cansada demais, então apenas voltei a fechar os meus
olhos. Antes de adormecer, me perguntei quem o ajudaria com sua
agenda e as reuniões no trabalho, então lembrei-me de que hoje
Mia retornaria do seu falso atestado e com isto, mergulhei em um
sono tranquilo e profundo.
CAPÍTULO 16

Serenity
— Serenity! Serenity! Serenity!
Acordei com a voz me chamando, a princípio ao longe, para
logo ouvi-la cada vez mais perto. Abri os meus olhos e vi Mia parada
ao lado da cama, usando as roupas com as quais costumava ir
trabalhar. Tentei ignorá-la e voltar a dormir, mas a voz dela alcançou
meus ouvidos novamente.
— Você está passando bem? Quer que chame um médico?
Por que eu não estaria passando bem?
Diante da sua insistência, desisti de continuar dormindo e abri
os meus olhos. Estava meio atordoada, sem saber ao certo que
horas eram, ou como viera parar em meu quarto.
— O que você quer? — indaguei, preguiçosamente.
— O que você acha? Quero saber tudo o que aconteceu
ontem. Passei o dia me roendo de curiosidade.
— Não era para você estar no trabalho?
— E estou. É hora do almoço. Vim aqui pra você me contar
rapidinho.
Hora do almoço? Se eu tivesse dormido por apenas algumas
horas, teria o direito de dormir um pouco mais.
— Me deixa dormir. Tô cansada — falei, voltando a fechar os
meus olhos.
Mas a palavra desistir não fazia parte do vocabulário de Mia e
logo a voz dela irrompeu pelo quarto novamente.
— Eu tenho uma hora, ou mais especificamente quarenta
minutos. Você me conta tudo, eu volto pro trabalho e você volta a
dormir. — Como se não bastasse, ela sentou-se sobre a cama,
obstinada. — Como foram as coisas ontem? Pra onde ele te levou?
Você conseguiu fazer a inseminação?
Desistindo de voltar a dormir, de uma vez por todas, mudei de
posição sobre a cama, virando-me de barriga para cima e abrindo
bem os meus olhos. O que eu ia dizer à Mia? Que o futuro pai do
filho perfeito dela havia me levado a um clube de putaria, me
amarrado de diferentes formas, me trancado numa jaula e feito com
que uma loira chupasse a minha boceta? Ela desistiria na hora
daquela barriga de aluguel, se soubesse sobre as bizarrices do
nosso chefe, portanto, eu precisava mentir, mas sem ir longe demais
e correr o risco de me contradizer.
— Ele tem um apartamento onde leva as mulheres com quem
transa. Fomos para lá. Fica em Chelsea.
— Você conseguiu se inseminar?
— Sim. Ele usou preservativos e precisei fazer uso da
seringa. Mas deu tudo certo. Peguei o esperma ainda fresco.
— Vocês vão se ver de novo?
— Acho que sim.
— Precisamos colocar mais seringas na sua bolsa. Você terá
que continuar fazendo essas inseminações até engravidar, ou até
ele desistir dos preservativos.
— Tudo bem. Não foi tão difícil.
— Ai, minha nossa! Que emoção! Você conseguiu mesmo
levar aquele homem para a cama! Ele é bom de cama?
Olhei-a consternada, com a indiscrição da pergunta e ao
mesmo tempo desconfiada de tamanha curiosidade.
— Tem certeza de que você não é uma hétero incubada e
está a fim desse cara?
— Claro que não. Que ideia! É que o admiro demais e
sempre quero saber tudo sobre ele.
— Bem... ele é bom de cama.
— Foi o que imaginei quando vi você dormindo tanto. Deve
ter sido uma noite longa.
— Sim. fizemos sexo a noite toda. Por isso ele disse pra eu
ficar em casa hoje.
— Enquanto isso, ele está lá trabalhando, como se também
não tivesse passado a noite em claro. Que homem maravilhoso! —
Ela me observou com um pouco mais de atenção. — Que desânimo
todo é esse? Nem parece que passou a noite transando com um
Adônis.
— Eu só estou cansada.
— Nesse caso, vou voltar ao trabalho e te deixar dormir um
pouco mais. Se sentir fome, tem frango congelado e pão na
geladeira.
Animada, ela levantou-se e ia seguindo rumo à porta, quando
me lembrei do que o Sr. Dempsey dissera sobre ninguém poder
saber sobre nós dois.
— Espere — falei e Mia se voltou para mim. — Você não
pode falar sobre isso com ninguém do trabalho. O Sr. Dempsey não
quer que ninguém saiba que estamos... transando.
Vi o sorriso dela ir morrendo lentamente dos seus lábios.
— Por que ele ia esconder isso? Você é uma garota linda.
Qualquer homem se orgulharia de ter você.
Com meu peito pesado, desviei meu olhar para os meus pés.
— Não sei. Acho que ele tem um problema com a minha
idade.
Mia observou-me em silêncio por um instante, então voltou a
sentar-se na cama.
— Acho que agora entendo por que você parece tão triste
depois de passar a noite com um homem daqueles. — Hesitante,
ela repousou sua mão sobre a minha, como se tentasse me
reconfortar. — Não precisa ficar assim. O problema não é com você,
é com ele. Homens importantes precisam ser discretos com suas
relações pessoais. Para você ter uma ideia, nunca vi ele com uma
namorada e olha que o acompanho a vários lugares, inclusive
eventos. Veja pelo lado positivo: pelo menos assim você corre
menos risco de se apaixonar por ele.
Eu acreditava que ela nunca o vira com uma namorada.
— Não se preocupe com isso. Eu estou bem.
— Certo. Eu queria ficar mais aqui conversando, mas preciso
voltar. Nos vemos à noite.
Dito isto, ela levantou-se apressada e se foi.
Tentei voltar a dormir, mas minha bexiga estava cheia e
precisei ir ao banheiro, o que despertou o meu sono de vez. De
volta à cama, peguei meu celular e me deparei com várias
chamadas perdidas de Dylan, além de uma longa mensagem sua.

Dylan: Precisei procurar um especialista para me certificar de


que esse contrato é válido, pois é muito surreal uma pessoa pagar
quinhentos mil pra ter um filho de um homem específico. Mas agora
que sei que é verdade, está tudo certo. Vou esperar até você ter a
criança, só que vou querer os quinhentos mil e não os quatrocentos
que você inventou que receberia. Tente engravidar o mais rápido
possível e reduzir essa espera. E lembre-se de nunca mais mentir
para mim, porque isso pode custar seu pescoço.

Terminei de ler aquilo com um calafrio atravessando minha


espinha. Apesar do medo, pelo menos agora eu tinha ganhado
algum tempo até saber o que fazer para me livrar desse maldito
traficante. Considerando a minha sorte, provavelmente eu teria que
dar todo o dinheiro da barriga de aluguel a ele e continuar sem
nada. Mas pelo menos estaria livre e isso era tudo o que importava.
Lembrei-me do Sr. Dempsey dizendo que, sendo sua
Submissa, eu poderia ter tudo o que precisasse. Se eu lhe contasse
a verdade sobre Dylan e pedisse-lhe esse dinheiro, certamente ele
me daria. No entanto, ia querer confrontá-lo e com isto Dylan lhe
contaria que eu estava tentando engravidar dele por dinheiro, o que
colocaria tudo a perder. A única saída seria mesmo ficar grávida,
esperar até essa criança nascer e dar o dinheiro àquele maldito.
Depois disso, tentaria reconstruir minha vida em outro lugar, longe
de toda essa história.
Fiquei surpresa ao ver que havia uma mensagem do Sr.
Dempsey no celular.

Kael: Me avise assim que você acordar.

Em resposta, digitei uma mensagem:


Serenity: Acabei de acordar.
Achei que ele não responderia de imediato, devido aos
compromissos do trabalho, mas logo veio outra mensagem:
Kael: Já almoçou?

Serenity: Ainda esperando coragem para preparar o almoço.

Kael: Não precisa preparar nada. Enviarei algo para você


almoçar. Coma e continue descansando.

Mesmo via mensagem era possível captar o tom autoritário


em suas palavras.

Serenity: Sim, Senhor.

Finalizada a conversa, joguei o celular de lado e me ajeitei


confortável sob os lençóis, fechando os olhos, tentando pensar em
quantas doenças venéreas eu podia ter contraído apenas naquela
noite. No entanto, não foi para essa direção que meus pensamentos
me levaram e sim para a forma selvagem, agressiva e violenta como
aquele homem me fizera sua. Lembrei-me das suas mãos ferozes
me amarrando e me tocando; da sua boca devorando a minha,
marcando minha pele, fazendo carícias em meu sexo; da força bruta
com que ele me penetrou e quando dei por mim estava apertando
minhas pernas uma na outra, tentando saciar o fogo latejante que se
fazia entre minhas coxas.
Será que era normal ter gostado tanto das bizarrices que
fizemos e ter cada centímetro do meu ser implorando para fazermos
de novo? Parecia loucura querer tanto assim um homem que sequer
me tratava com carinho e se fosse loucura, eu estava precisando
urgentemente de um psiquiatra.
Pouco tempo depois, a campainha da porta tocou e levantei-
me para receber a comida. Meu chefe havia enviado um verdadeiro
banquete, com comidas típicas de restaurantes chiques. Comi até
me fartar e voltei para a cama, mas não consegui mais dormir, então
decidi aproveitar o tempo livre para fazer uma faxina no
apartamento, que estava precisando. Depois que Mia decidira se
aventurar no mundo da culinária, nem a faxineira, que vinha uma
vez na semana, estava dando conta de manter tudo aquilo limpo.
Tomei um banho frio para despertar, vesti um short jeans
curtinho desfiado nas pernas e uma blusinha de malha curta, prendi
os cabelos em um rabo de cavalo, coloquei meus fones de ouvido e
iniciei a jornada de trabalho, o que não me ajudou a parar de pensar
no meu chefe. Ele continuava lá, incrustado em mim.
Eu estava na lavanderia, jogando alguns lençóis na máquina
de lavar, quando ouvi passos atrás de mim e me virei assustada.
Por uma fração de segundo, consegui visualizar mentalmente Dylan
entrando no apartamento com uma arma e acabando com a minha
vida. Mas não era ele e sim o Sr. Dempsey.
— Como entrou aqui? — indaguei, com meu coração
disparado.
— Eu levei a sua chave ontem.
Sem dar mais explicações, ou mesmo alegar que levara a
chave por engano, ele continuou lá parado, me observando em
silêncio, varrendo meu corpo com seus olhos sequiosos, me
fazendo ter consciência da simplicidade do top e do shortinho que
eu vestia. Como quase sempre, ele usava seu terno elegante, com o
nó da gravata frouxo e tinha sua fisionomia muito cansada,
evidenciando que realmente não dormira nada na noite passada.
— O que o traz aqui? — perguntei, enfeitiçada, sem
conseguir desviar meus olhos dele.
— A vontade de te dar uma surra. — Ele deu um passo na
minha direção. — Por passar o dia inteiro na minha cabeça,
impedindo-me de me concentrar no trabalho. Por me fazer passar o
dia todo pensando em sexo, imaginando as coisas que quero fazer
com você.
— Então faça o que quiser. Sou completamente sua. — As
palavras foram saindo da minha boca, sem controle algum.
Com mais alguns passos, ele me alcançou, segurou os meus
pulsos e me empurrou até uma parede, recostando-me nela,
elevando meus punhos até acima da minha cabeça e os
aprisionando com brutalidade. Mantendo seu corpo longe do meu e
sem deixar de me fitar diretamente nos olhos, levou uma mão até
um dos meus seios e beliscou o mamilo por cima do tecido da blusa,
massageando-o com força, provocando ondas de excitação que se
alastravam pelo meu sangue, me fazendo sibilar.
— Você gosta disso, não é, putinha? Adora ser fodida pelo
seu macho.
— Sim... adoro...
Sem libertar os meus pulsos, ele abriu o zíper do meu short e
infiltrou sua mão na minha calcinha, fechando seus olhos e soltando
um gemido abafado ao tocar minha boceta, massageando meu
clitóris em círculos, tão deliciosamente que abri mais as pernas e
projetei meus quadris para a frente, esfregando-me em seus dedos,
gemendo e arfando de tanto desejo.
— Passei o dia todo querendo vir aqui, tocar essa carne
macia e molhada que você tem.
— Pode vir sempre que quiser.
— Não posso. O apartamento não é seu. Por isso
providenciarei um lugar só pra você, pra quando me der vontade de
te foder no meio do dia.
— Verdade, Mia pode aparecer a qualquer momento.
— Hoje ela não aparecerá tão cedo, deixei-a bastante
ocupada no trabalho. Agora vem aqui.
Com suas mãos brutas, ele debruçou-me sobre a máquina de
secar, deixando-me numa posição bastante indecente, com o dorso
estendido sobre o eletrodoméstico e a bunda empinada. Arrancou
meu short pelos pés, junto com a calcinha, e me fez abrir bem as
pernas. Em seguida, abaixou-se atrás de mim, deu um tapa
estalado na minha nádega e usou as duas mãos para afastá-las,
infiltrando seu rosto entre elas, dando uma lambida que foi do meu
clitóris até meu ânus, onde concentrou os movimentos da sua
língua, lambuzando-o, tentando infiltrar-se naquele orifício menor.
— Que delícia de cuzinho. Não vejo a hora de enfiar meu pau
todo nele. Pena que você ainda precisa de treinamento antes de
aguentar minha vara aqui.
Ele continuou me lambendo por trás, ora movendo sua língua
sobre meu clitóris, ora tentando infiltrá-la em meu ânus, ao mesmo
tempo em que batia repetidamente na minha bunda, alternando os
tapas estalados entre as duas nádegas. Quando ficou de pé, tentei
me virar para ele, mas a ordem veio ríspida e direta, me
paralisando.
— Não se mova!
Sem conseguir vê-lo, ouvi quando abriu o zíper da sua calça,
desceu-a e colocou o preservativo, para no momento seguinte voltar
para mim. Segurou seu pau pelo meio e esfregou a glande em toda
a extensão do meu sexo, provocando correntes de excitação que se
espalhavam pelo meu organismo e faziam minha vagina piscar. Por
fim, segurou dos dois lados dos meus quadris e me penetrou
bruscamente, com um golpe duro e firme, que me arrancou um grito
e me forçou a me ajeitar para receber todo aquele tamanho dentro
de mim.
— Que delícia... como você é apertadinha... — rosnou ele,
dando um tapa na minha bunda e iniciando uma violenta sequência
de movimentos vai e vem, entrando e saindo de mim, penetrando-
me forte, fundo e delicioso, a ponto de me enlouquecer de tanto
prazer.
Eu queria muito não apreciar toda aquela brutalidade, mas
quando dei por mim estava me derramando em gozo, gemendo e
chamando o nome dele, meu corpo convulsionou sobre a máquina,
até que me acalmei e então foi sua vez de gozar, silenciosamente.
— Pode se levantar agora — disse o Sr. Dempsey, tão logo
saiu de mim.
Obediente, levantei-me e me virei para ele. Com exceção do
seu rosto levemente vermelho, ele não parecia ter acabado de dar
uma foda. Sua expressão era fria e dura, como quase sempre. Ele
não demonstrava emoção alguma, o que me fez abraçar a mim
mesma, invadida pela sensação de que algo se quebrava dentro de
mim.
— Amanhã providenciarei um lugar para você morar, assim
como suprirei todas as suas outras necessidades — disse ele, frio e
seco, enquanto fechava o zíper da sua calça. — Você não precisará
mais trabalhar. Arranje outra forma de gastar o seu tempo.
— Mas o senhor disse que eu podia continuar trabalhando,
se quisesse.
Ele suspirou, consternado.
— Só estou dizendo que você não precisa. Não deixarei que
te falte nada.
— Mas eu quero continuar trabalhando. Não tire isso de mim.
Eu não conseguiria viver isolada em um apartamento chique,
esperando pelas migalhas da atenção que ele me dava. Continuar
na empresa, me garantiria estar conectada com o resto do mundo,
até que tudo isso acabasse e eu pudesse construir minha nova vida.
— Tudo bem, se é o que você quer, não posso fazer nada a
não ser continuar tentando te convencer. — Silenciou-se,
observando atentamente meu rosto. — Nos vemos amanhã no
trabalho.
Dito isto, ele simplesmente me deu as costas e se foi,
deixando-me desolada, invadida pela sensação de que não
significava nada para ele, como de fato eram as coisas. Deprimida,
vesti meu short e sentei-me num canto da lavanderia, encolhendo-
me toda, lutando contra as lágrimas. Embora eu tenha gostado do
que fizemos, embora adorasse a forma como ele me tocava e
tomava, era impossível não me sentir usada, pois era isso que
estava acontecendo. Naquele instante, eu me sentia o depósito de
esperma do Sr. Dempsey, em quem ele descarregava o seu tesão
quando tinha vontade. Nada além disso.
Não que eu esperasse que ele se apaixonasse por mim e me
pedisse em namoro, mas eu precisava de carinho e ele não me
dava. Me tratava como se eu fosse um objeto e não um ser humano.
A situação era tão absurda que dessa vez ele sequer me beijara na
boca, simplesmente me comeu e foi embora, como se eu não fosse
nada, além de um pedaço de carne, uma putinha, como ele me
chamava.
Arrasada, apoiei a cabeça sobre os joelhos e deixei que as
lágrimas escorressem pelo meu rosto, quando então me ocorreu
que, naquele jogo bizarro, eu não era a única a ser usada. O Sr.
Dempsey também estava sendo usado por mim, para que eu desse
um filho a Mia e com isto ganhasse quinhentos mil. A diferença era
que ele não sabia de nada, portanto, não tinha como se sentir
magoado.
Imaginei o que ele faria se algum dia descobrisse a verdade e
um estremecimento varreu o meu corpo. Com certeza ele não
reagiria pacificamente e com toda razão. Contudo, não tinha como
ele saber. A não ser que essa criança nascesse com a cara dele e
Mia permitisse que ele o visse. Aí sim, ambas estaríamos muito
ferradas. Contudo, as chances de algo assim acontecer eram
minúsculas, eu não precisava me preocupar.
Afastando os pensamentos, levantei-me e peguei o
preservativo usado que meu chefe descartara no chão da
lavanderia. Fui até o banheiro onde Mia guardava um estoque de
seringas e fiz a inseminação, da forma como ela me orientara,
injetando o esperma ainda fresco no fundo da minha vagina. Se o
Sr. Dempsey estava me usando, isso era uma estrada de mão
dupla, pois eu o usava também, embora tal constatação não me
fizesse sentir nem um pouco melhor, pelo contrário, eu estava
péssima.
Como Mia já havia retornado do seu falso atestado, fomos
juntas para o trabalho no dia seguinte. Fiquei feliz em ter sua
companhia novamente, não apenas por não precisar comer suas
panquecas horríveis naquela manhã, mas porque teria com quem
dividir o trabalho de secretária, depois de um mês fazendo tudo
sozinha.
Estávamos atrás da recepção, quando o Sr. Dempsey passou
rumo à sua sala, como sempre de cara amarrada, sem sequer virar
o pescoço para nos dar bom dia. Tentei evitar que sua atitude me
afetasse, mas a sensação de que eu não representava nada para
ele, além de uma transa sem importância, acabou me atingindo com
a força de um furacão.
— Não precisa fazer essa cara. Esse homem não assumiria
um namoro com uma funcionária nem que você fosse a Beyoncé —
disse Mia, observando-me.
— A sensação que tenho é de que ele só está me usando pro
sexo.
Mia sorriu.
— E daí? Você está usando-o para coisa pior.
— Se o seu filho nascer com a cara dele, como você vai fazer
pra esconder que ele é o pai?
— Não tem por que ele ver o meu filho. Além disso, você
acha mesmo que um homem que não olha pra cara nem da mulher
com quem ele transa, vai olhar pra cara do filho de uma secretária?
— E se os funcionários virem a semelhança e começarem a
comentar?
— Ai, para de colocar caraminholas na minha cabeça. Não
tenho por que trazer meu filho aqui. Se algum dia, por algum motivo
qualquer, o virem e acharem parecido, digo que é coincidência.
Ninguém terá como provar o oposto. Não podem nem me acusar de
ter trepado com o chefe, pois conhecem minhas preferências
sexuais.
— Tem razão. Acho que estou meio pessimista esses dias.
— Está mesmo. Nunca vi uma mulher ficar tão deprimida
enquanto está tendo um caso com um homem tão magnífico.
— Acho que você não entenderia.
— Você está enganada. Eu entendo. Como todo ser humano,
você quer ser amada. Mas esse homem jamais te amaria. Por outro
lado, você ainda é jovem. Quando tudo isso terminar, terá tempo de
sobra pra encontrar o amor da sua vida.
— Por que você acha que ele jamais me amaria?
Ela me fitou com pesar.
— Porque um homem no nível social dele, não se envolveria
seriamente com alguém do nosso nível. E nem é só por isso. Se ele
sentisse alguma coisa, não te trataria com tanta indiferença.
Desculpe se estou sendo dura, só acho que você merece ouvir a
verdade.
— Tudo bem. Não precisa se desculpar. Você está certa.
Todos os dias ele deixa claro que não sou nada para ele, além de
uma foda.
Mas não estava tudo bem. Por dentro eu queria chorar, pela
certeza de que nunca teria nada daquele homem, além de sexo e
coisas materiais.
O dia transcorreu normalmente. Todas as vezes que o Sr.
Dempsey precisava de alguma coisa, exigia que fosse Mia a entrar
na sua sala. Pelo visto, continuava sem querer me ver na sua frente,
só que agora isso não me magoava tanto, porque eu conhecia os
seus motivos. Esse homem podia nunca me amar, mas me desejava
pra caralho, a ponto de ter quebrado sua abstinência em sexo por
minha causa. Uma culpa que eu carregaria pelo resto da vida.
No meio da tarde, aconteceria uma importante reunião com
senadores, e outras autoridades da cidade, da qual eu não podia
deixar de participar. Desta vez, não haveria como o Sr. Dempsey me
evitar.
CAPÍTULO 17

Serenity
A sala de reuniões já estava lotada, com os participantes
acomodados em torno da grande mesa ao centro. Eu me
encontrava sentada atrás da mesa secundária, diante do notebook,
quando o Sr. Dempsey entrou, lindo, alto, parecendo o rei do mundo
dentro do seu terno impecável, com seus cabelos lambuzados de
gel muito bem penteados. Sem cumprimentar ninguém, sentou-se
em seu lugar na cabeceira da mesa e após examinar alguns papéis,
ergueu seu olhar e o fixou diretamente em mim.
De súbito, a sala pareceu ficar menor, mais quente e
abafada. Lembrei-me da forma bruta como ele me tocava, como me
tomava e praticamente parei de respirar. Com meu corpo todo
quente, a excitação acendeu em mim, de tal maneira que senti
minha pele ardendo, meu rosto ficando vermelho, enquanto ele me
encarava impassível, desprovido de qualquer emoção.
Nos fitamos em silêncio durante um longo momento, até que
um dos senadores atraiu a atenção do Sr. Dempsey, falando algo
sobre o assunto a ser tratado no encontro.
Durante todo o decorrer da reunião estive ciente da presença
daquele homem sentado na cabeceira da mesa, da energia
poderosa que emanava dele, me abalando e desestabilizando, a tal
ponto que deixei de registrar vários momentos importantes dos
acordos que eram selados. E, embora na maior parte do tempo ele
se mostrasse indiferente a mim, de vez em quando eu o flagrava me
observando fixamente.
A reunião havia sido encerrada. Mia e eu estávamos atrás do
balcão da recepção, quando a voz do nosso chefe soou através do
interfone, firme e autoritária como sempre: — Srta. Henderson, traga
os relatórios, por favor.
Mia logo me deu aquele olhar matador.
— Hummm... parece que vamos ter pegação no escritório
hoje — disse ela, zombeteira.
— Até parece que ele vai quebrar a norma que ele mesmo
criou.
— Aposto que vai. Não se esqueça de pegar o preservativo,
caso algo aconteça.
— Mia!
— O que foi? Temos que ser práticas.
Desamarrotando o vestido de linho colado que usava, como
se estivesse cheio de rugas, respirei fundo, ajeitei meus cabelos e
entrei na sala dele. Bastou que meus olhos repousarem sobre sua
imagem, sentado atrás da sua mesa, imponente e majestoso, com a
paisagem de Manhattan às suas costas, para que tudo dentro de
mim se transformasse em uma agitação incontrolável e inquietante.
Eu queria realmente não sentir nada por esse homem, mas a
verdade era que ele tinha o poder de suscitar em mim um desejo
feroz e incontrolável, que me deixava sem chão.
— Tranque a porta — disse ele, sério e inabalável.
Tranquei a porta e voltei a caminhar em sua direção. Estava
no centro da sala, quando ele voltou a falar, com sua voz autoritária
e incontestável: — Pare aí mesmo. — Obediente, parei — Suba a
saia do vestido e tire a calcinha.
Sem ao menos cogitar desobedecer, ergui a saia do vestido
colado até a cintura, deixando-a enroscada na cintura e tirei a
calcinha minúscula, jogando-a sobre o sofá.
— Agora abra as pernas.
Obedeci, afastando bem as pernas uma da outra. Quando os
olhos dele fixaram-se em meu sexo, sua expressão tornou-se árdua
e intensa demais, fazendo o calor da lascívia se espalhar depressa
pelo meu sangue.
— Você tem ideia de quanto prejuízo eu levei na negociação
de hoje, por não conseguir parar de olhar para você e pensar nessa
bocetinha ruiva por baixo do seu vestido?
— Lamento pelo seu prejuízo, senhor — entrei no jogo dele,
simplesmente porque isso me excitava demais.
— Suas lamentações não são suficientes. — Ele levantou-se
e caminhou até mim. — Você precisa de um castigo. Precisa levar
uns tapas.
Meu chefe rodeou-me, observando atentamente meu corpo
nu da cintura para baixo, então parou à minha frente e fechou sua
mão no comprimento dos meus cabelos, atrás da cabeça, puxando-
os e me fazendo erguer o rosto. Segurou meu maxilar com a outra
mão, forçando-me a abrir a boca e cuspiu dentro dela, tomando
meus lábios em seguida, num beijo selvagem e violento, com sua
língua me explorando gostoso, empurrando minha cabeça com a
mão e intensificando a pressão dos seus lábios nos meus.
Sua mão livre desceu pelo meu corpo, beliscou meus
mamilos e deu início a uma sequência de tapinhas sobre minha
boceta, os golpes atingiram meu clitóris exposto, me fazendo querer
correr dali e ao mesmo tempo gemer, mas sem que eu pudesse
fazer nem uma coisa nem outra, com sua mão me segurando e sua
boca devorando a minha.
Ele afastou-se alguns centímetros e, sem desviar seu olhar
do meu, tirou sua gravata. Sem delicadeza alguma, me fez virar de
costas, amarrou meus pulsos e me conduziu até o sofá de três
lugares, deitando-me de bruços sobre o braço do móvel, de maneira
que fiquei com os ombros apoiados no assento e a bunda suspensa
sobre o braço estofado.
Com mãos brutas, meu chefe abriu minhas pernas até o
limite e deu um tapa estalado na minha bunda.
— Está vendo a situação na qual você se colocou? — rosnou
ele. — Há dois dias você estava bem e agora está de bunda pra
cima, seminua, levando tapas de um pervertido que quer te comer
de todas as formas possíveis.
— Me coma como quiser. Sou sua para fazer qualquer coisa
comigo.
Eu queria muito que aquelas palavras fossem da boca para
fora, mas não eram. Cada minúscula partícula do meu ser ardia por
aquele homem. Eu me sentia como se realmente pertencesse a ele
e gostava do que ele fazia comigo, inclusive da sua brutalidade.
— Eu farei. Mesmo que você quisesse escapar, agora seria
tarde.
Ele abaixou-se atrás de mim e afundou seu rosto entre
minhas nádegas, lambendo meu sexo por trás, movendo sua língua
sobre meu ânus, depois sobre meu clitóris e, por fim, infiltrando-a na
minha vagina, numa penetração rasa e macia que me fazia me
contorcer e gemer de tanta vontade de senti-lo duro e grande ali
dentro.
Meu chefe comeu minha boceta com sua língua, enquanto
dava tapas na minha bunda, até que minha pele estivesse ardendo
e eu estivesse a ponto de gozar. Então, levantou-se, abriu o zíper da
sua calça e colocou o preservativo. Segurou firme meus quadris e
me penetrou, entrando duro e fundo, arrancando-me um grito de
puro prazer. Passou a mover-se em um vai e vem dentro da minha
vagina, deslizando gostoso nas paredes lambuzadas do meu canal,
ao mesmo tempo em que fodia meu ânus com um dedo, depois
outro, até que estava com três dedos ali atrás, fazendo uma pressão
tão deliciosa e delirante no meu corpo imobilizado pela gravata, que
eu gritava e choramingava, pronunciando seu nome, pedindo
desesperadamente por mais e ele me deu, movendo-se cada vez
mais freneticamente, em ambas as penetrações, até que explodi,
gozando e chorando, mergulhando em um êxtase delirante e
inesquecível.
Tão logo meu corpo começou a relaxar, ele acelerou ainda
mais as estocadas e parou com seu pau todo dentro de mim,
gozando em silêncio, seus espasmos fizeram minha vagina se
contrair e relaxar em torno do seu membro.
Ao retirar-se do meu interior, o Sr. Dempsey ajudou-me a ficar
de pé e libertou meus pulsos da gravata.
— Vista-se! — ordenou, seco e duro.
Não parecia o mesmo homem de minutos atrás. Agora seu
semblante estava contraído, sério, seu olhar frio como gelo. Voltara
a ser apenas o meu chefe arrogante e autoritário.
Enquanto eu vestia minha calcinha, ajeitava a saia do vestido
de volta no lugar e tentava colocar ordem nos meus cabelos
bagunçados, o Sr. Dempsey foi até uma gaveta e voltou trazendo
dois molhos de chaves e uma caixinha preta. Entregou-me primeiro
as chaves, dizendo: — Essas são as chaves do seu novo
apartamento. Fica em Chelsea, perto do Cobongo, mas em um
edifício residencial. Esse é seu carro, para que você não precise
pegar táxi quando for me encontrar. E esse é um celular menos pré-
histórico que o seu, para que não perca as minhas mensagens
quando eu mandá-la vir me encontrar. Tire o resto da tarde de folga,
para fazer sua mudança. É só isso — ele falava com a
impessoalidade de um chefe que se dirigia à sua funcionária, como
se não tivesse acabado de me comer sobre o sofá da sua sala.
— Eu não preciso de nada disso. Estou feliz no apartamento
da Mia, não preciso de um carro e meu celular funciona muito bem.
— Não seja orgulhosa. Você precisa de tudo isso. E seu
celular é uma porcaria.
Eu realmente não queria aceitar nada daquilo, pois tinha a
horrível sensação de que ele estava me pagando por sexo. No
entanto, era perda de tempo discutir com aquele homem, visto que
as coisas tinham que ser sempre do seu jeito.
— Sim, senhor — falei, recebendo os presentes.
Continuei parada, observando-o, sem conseguir me mover,
como se uma espécie de feitiço me prendesse àquele homem, me
impedindo de me afastar, enquanto ele me encarava de volta,
ambos mergulhados no mais absoluto silêncio, até que ele falou: —
Eu já ia me esquecendo. — Ele enfiou a mão no bolso do seu
paletó, de onde sacou um pequeno envelope. — Aqui está o
endereço de um ginecologista com quem marquei uma consulta
para você. Ele te receitará um anticoncepcional, para que possamos
nos livrar dessa merda de camisinha.
Fiquei subitamente tensa, ciente de que minhas próximas
palavras seriam cruciais para o sucesso do plano de Mia.
— Eu já estou tomando anticoncepcional, comecei ontem.
Fiquei espantada com a minha capacidade de conseguir
mentir assim tão descaradamente.
— Ótimo! Por que não me avisou?
— Achei que não seria relevante.
Ele aproximou-se um passo de mim, colocando-se tão perto
que o cheiro do seu perfume me deixou inebriada.
— Entenda uma coisa, criança, tudo o que diz respeito a você
é relevante para mim, pois agora você me pertence, portanto,
preciso ser informado sobre cada um dos seus passos e até sobre
seus pensamentos. Se você quiser ir a um restaurante com amigas,
ou até mesmo tiver um ataque de tosse, eu preciso saber.
Enquanto ele falava, eu percorria meus olhos pelo seu rosto,
enfeitiçada com sua beleza máscula, com o contraste do verde dos
seus olhos com o tom moreno da sua pele. Fixei meu olhar na sua
boca linda e instintivamente umedeci meus lábios, dominada por
uma vontade quase insana de beijá-lo, de sentir novamente o gosto
daquela boca deliciosa, de morder seu queixo forte, abraçá-lo e
acariciá-lo inteiro. Eu estava carente de carinho e afeto, como
sempre me sentia depois que fazíamos sexo. Ainda assim, me
contive e não me movi, ciente de que ele não me daria o que eu
precisava.
— Será que fui bem claro? — enfatizou ele.
O que ele tinha dito mesmo?
— Sim, senhor — falei.
Nos encaramos em silêncio durante um longo momento, com
a energia sexual crepitando no ar enquanto todas as minhas células
relutavam em afastar-se dele.
— Pode ir — finalizou ele e dei-lhe as costas, deixando a
sala.
Atravessei a recepção e me coloquei em meu lugar atrás do
balcão, tão inebriada por aquele homem que mal enxerguei Mia à
minha frente, até que ela falou: — Nossa! A coisa estava boa lá
dentro. Até ouvi um grito.
— Impressão sua — falei, despertando do transe.
— E o que é isso? Ganhou algum presente?
— Um celular, um carro e um apartamento.
A expressão dela passou de irreverente para chocada como
num passe de mágica, seu queixo caiu até o chão.
— Tá falando sério?
— Sim. Ele quer que eu more sozinha, pra poder ir me
encontrar a hora que der vontade. O telefone é para que eu não
perca as suas mensagens e o carro é para quando formos sair
juntos.
Evitei mencionar o Cobongo e todas as maluquices que
nosso chefe fazia lá.
— Essa coisa entre vocês está evoluindo rápido.
— Ele é um homem prático. E tem mais. Eu disse a ele que
estou tomando anticoncepcional e ele acreditou.
Esperei que ela desse um pulo de alegria, mas Mia não se
moveu.
— Assim tão fácil? Que coisa estranha.
— O futuro pai do seu filho é um homem estranho.
Ela estendeu o dedo indicador diante dos seus lábios,
pedindo silêncio.
— Não fale sobre isso aqui, assim tão alto. Alguém pode
ouvir — repreendeu-me ela. — Agora vamos voltar ao trabalho. Tem
muita coisa pra digitar aqui.
— Ele me mandou tirar o resto do dia de folga, pra me mudar.
Isso é um problema pra você?
— Você morar em outro lugar enquanto produz o meu filho?
Claro que não. Mas no instante em que engravidar, você termina
com ele e volta pro meu apartamento, certo? Quero acompanhar
essa gravidez de perto.
— Certo.
Pendurei minha bolsa no ombro e segui rumo à porta,
enquanto ela me observava.
— Às vezes, eu queria ter nascido hétero só pra ter todas
essas regalias. As mulheres nunca são tão generosas assim.
— Vai ver você ainda não conheceu a mulher certa.
— É, vai ver você tem razão.
Quase tive um ataque cardíaco quando adentrei a garagem,
apertei o alarme na chave do carro que o Sr. Dempsey havia me
dado, descobrindo que se tratava de nada menos que um Jaguar
conversível, cinza metálico, lindo de viver. Aquele carro devia custar
uns duzentos mil. Quem, na face da Terra, daria um carro nesse
valor de presente a alguém?
Pensei seriamente em voltar ao escritório dele e devolver a
chave, mas ele não aceitaria. Então, apenas relaxei e entrei naquela
maravilha, dirigindo-o para fora da garagem do edifício.
Assim que avancei pelas agitadas ruas de Manhattan, fui
invadida pela estranha sensação de que estava sendo observada e
um calafrio desceu pela minha espinha. Olhei para todos os lados,
checando se Dylan não estaria por perto, me espreitando, ou se
porventura algum dos seguranças do Sr. Dempsey não continuava
me seguindo, mas não identifiquei ninguém estranho, ou familiar.
Devia ser apenas impressão minha.
Digitei o endereço do apartamento novo no GPS e fui direto
para lá. Ficava em um luxuoso edifício residencial em Chelsea, a
duas quadras do clube de putarias onde meu chefe me levara.
Como esperado, era enorme, com duas salas, de ambientes
distintos, dois quartos, cozinha e até uma biblioteca. Achei estranho
não encontrar nenhum equipamento voltado para o BDSM ali, visto
que minha existência na vida daquele homem parecia se resumir a
sexo.
Após vistoriar o apartamento, voltei ao de Mia e peguei
apenas uma bolsa grande com roupas, já que em breve, tão logo
engravidasse, estaria de volta à casa dela.
Ao contrário do que esperei, não foi confortável dormir
sozinha no apartamento grande demais para uma pessoa. Senti
falta de companhia, de saber que tinha alguém por perto, afinal era
a primeira vez que eu morava só. Por um instante achei que o Sr.
Dempsey apareceria, nem que fosse para dar uma foda, como
sempre, mas ele não deu sinal de vida. Sequer enviou uma
mensagem e passei praticamente a noite toda em claro, desejando
estar com ele, ter o calor dos seus braços em volta de mim. Mas
isso era querer o impossível. Aquele homem jamais seria meu de
verdade, eu jamais teria o seu carinho. Ele já havia deixado mais do
que claro que só me queria para sexo e nada além disso.

***

O dia seguinte amanheceu com sol e calor. Me senti uma


verdadeira magnata indo para o trabalho no meu Jaguar
conversível. Naquele dia, não vi o Sr. Dempsey nenhuma vez, nem
mesmo quando ele chegou, visto que tinha ido até a copa tomar um
café quando ele passou pela recepção. Como resultado, passei o
dia inteiro ansiosa, tomada pela expectativa de revê-lo, de estar com
ele, o que não aconteceu. Não houve nenhuma reunião que
requeresse a minha presença e todas as vezes em que sua voz
soava através do interfone, era para solicitar alguma coisa
especificamente a Mia. Ainda cogitei enviar-lhe uma mensagem,
mas eu não tinha permissão para fazer isto.

***

Era noite de sexta-feira, eu tinha acabado de jantar um


macarrão instantâneo, estava no apartamento novo, estendida no
imenso sofá da sala, lendo um romance no celular, quando chegou
uma mensagem dele:
Kael: Estou no Cobongo. Venha encontrar-me agora mesmo
e não use calcinha.

Aquilo não era um convite, tampouco um pedido. Era uma


ordem, clara e direta, o que deveria ter me deixado ofendida, ou
magoada, mas, ao invés disso, me deixou nas nuvens, ansiosa por
estar com ele.

Serenity: Sim, Senhor.

Exultante com a perspectiva de reencontrá-lo, pulei


apressada do sofá e corri para o closet, que parecia ridiculamente
vazio com as poucas roupas e calçados que eu trouxera. Como era
um clube de putarias, escolhi o vestido mais escandaloso que eu
tinha, o mesmo que usara certa vez para flertar com meu chefe no
escritório. Era curto, justo, muito decotado e ficava super
desconfortável sem a calcinha. Escovei bem os cabelos, fiz uma
maquiagem rápida, passei perfume e fiz o percurso de duas quadras
no meu carrão novo, até o Cobongo.
Senti-me nervosa ao avançar pela recepção e me aproximar
do sujeito que ficava na porta entregando as máscaras. Ele não era
apenas horrível, era assustador, com aquele corpo enorme, peludo
demais, sempre à mostra. Escolhi uma máscara de oncinha,
delicada e feminina, coloquei-a no rosto e entrei.
O lugar não estava tão cheio quanto da primeira vez em que
estive ali, mas ainda assim tinha muita gente. Homens e mulheres
mascarados, usando poucas roupas, que pareciam estar naquele
lugar apenas para paquerar, beber alguma coisa e conversar. À
primeira vista, ninguém imaginaria o que eles faziam nos andares de
cima.
Após alguns minutos procurando e sendo alvo de vários
olhares maliciosos, tanto de homens, como de mulheres, finalmente
enxerguei meu chefe acomodado a uma mesa, com seu braço
suspenso, para que eu o notasse. Havia uma loira seminua sentada
no colo dele e, por mais que eu tenha tentado ignorar esse fato,
meu sangue ferveu de raiva nas veias.
— Saia do lugar dela — disse meu chefe, tão logo me
aproximei.
Claramente contrariada, a loira saiu do colo dele e sentou-se
ao seu lado, no sofá redondo que circundava a mesa, quando então
ele segurou-me pela mão e me puxou de safanão, fazendo com que
eu caísse sentada em seu colo.
— Você está muito linda e cheirosa — disse ele.
Não me senti à vontade sentada ali, sabendo que ele estava
se esfregando com aquela mulher segundos antes. Minha vontade
foi de me levantar e ir embora. No entanto, quando ele firmou sua
mão na minha nuca e me puxou para si, tomando minha boca em
um beijo selvagem, que me deixou completamente sem fôlego,
esqueci todos os outros pensamentos e me concentrei apenas em
nós dois, no gosto delicioso da sua boca, na forma lasciva como ele
esfregava sua língua na minha e pressionava minha nuca para
apertar mais meus lábios nos seus, no sabor de menta misturada
com uísque que ele tinha.
Naquela noite, ele não vestia o terno formal de sempre. Além
da máscara negra e rústica, que ocultava metade do seu rosto,
usava calça jeans e uma camisa de seda com mangas curtas e os
primeiros botões abertos. Eu nunca o tinha visto tão displicente e à
vontade.
Parecia que eu estava sonhando quando infiltrei minha mão
no decote da sua camisa e acariciei os pelos ásperos do seu peito
musculoso, para em seguida infiltrar meus dedos nos seus cabelos
curtos e acariciá-los. Era a primeira vez que eu o tocava livremente
e tudo se tornava melhor com sua boca devorando a minha.
Logo seus dedos foram se infiltrando sob a saia colada do
meu vestido, até que ele tocou minha boceta, percorrendo o
indicador por sobre meus lábios vaginais, ao mesmo tempo em que
soltava um gemido abafado na minha boca.
— Que delícia... sem calcinha... como eu ordenei... —
sussurrou ele, interrompendo o beijo e levando sua boca deliciosa
para a minha orelha, acariciando seu lóbulo com a língua.
— O senhor manda e eu obedeço.
Ele sibilou.
— Gostosa.
Enquanto ele acariciava meu sexo, por baixo da saia do
vestido, deixando-me louca de tanto tesão, aproveitei para desfrutar
da sua proximidade, mordendo seu queixo másculo, como quis fazer
desde a primeira vez em que o vi, afundando meu rosto na curva do
seu pescoço, beijando e lambendo sua pele, fazendo carícias na
sua orelha e por onde mais minhas mãos e minha boca o
alcançavam, como se fôssemos simplesmente dois namorados se
pegando numa balada.
Até que o tesão se tornou intenso demais, e comecei a
rebolar no seu colo, esfregando meu sexo na sua mão, ansiosa por
uma libertação, a qual ele me negou, parando de me tocar entre as
pernas. Encarou-me por um instante, com uma expressão diferente,
que não consegui decifrar, então voltou a me beijar, selvagemente,
quase me devorando.
O pigarrear de alguém muito próximo nos fez parar. Era a
maldita loira que esteve no colo dele. Ao contrário do que eu
esperava, ela ainda estava ali. Fazendo o que mesmo?
— Onde está a minha educação. Me deixe te apresentar.
Essa é Melissa. Lembra dela?
Olhei a loira mais atentamente e, por trás da bela máscara
adornada com diamantes, reconheci seus olhos azuis bem claros e
sua boca pintada de vermelho. Era a mesma mulher que fizera sexo
oral comigo na outra noite em que estive no clube. Puta merda!
— Tudo bem, Melissa? Eu sou a Serenity — falei, tentando
ser educada.
— É um prazer te conhecer. — Ela sorriu e inclinou-se até
mim.
Ia dando um beijo na minha boca, mas virei o rosto bem a
tempo de impedir.
— Como está a sua noite? — o Sr. Dempsey indagou.
Ele queria saber sobre minha noite? Que evolução!
— Melhor agora que estou aqui.
— Quer beber alguma coisa?
— Não. Eu estou bem.
— Gostou do apartamento? Conseguiu ter uma boa noite de
sono?
— É lindo. Maravilhoso. Mas não consegui dormir muito bem,
devido a estar sozinha. Eu sempre morei com alguém.
— Se eu soubesse que estava se sentindo solitária, teria ido
te fazer companhia.
— Teria mesmo?
— Claro. Você podia ter me ligado.
O que aquele estranho havia feito com meu chefe arrogante e
autoritário?
— Da próxima vez, eu ligarei.
— Não hesite em fazer isso sempre que precisar de alguma
coisa.
CAPÍTULO 18

Serenity

— Eu não preciso de muita coisa. Carinho e companhia são


as minhas prioridades.
— A maioria das mulheres têm prioridades mais materiais.
— Não sou como a maioria.
— Isso eu já percebi. É uma menina pura, que gosta de
piroca e despreza a riqueza. Não existem muitas de você por aí.
Fiquei surpresa que ele pensasse isso de mim e imaginei
como se sentiria se algum dia descobrisse que eu o estava
seduzindo por dinheiro. No mínimo arrancaria a minha cabeça fora
do pescoço.
— Não sou tão angelical quanto o senhor imagina.
Ele passou os braços em volta da minha cintura, de um jeito
possessivo e aproveitei o momento de intimidade para passar os
meus em torno do pescoço dele, aconchegando-me mais ao seu
corpo, me refestelando com seu cheiro delicioso.
— Me conte os seus segredos, o que não é angelical em
você?
— Foi apenas maneira de falar. Ninguém é completamente
santo ou bruxo.
Ele ingeriu um grande gole do seu uísque e continuamos
jogando conversa fora, falando amenidades, expondo reflexões
bobas sobre assuntos irrelevantes. Era a primeira vez que eu o via
tão solto e extrovertido. Parecia até uma pessoa normal. Não
entendi o motivo de tamanha mudança. Talvez já tivesse bebido
muito uísque, ou talvez esse comportamento se devesse ao fato de
que estávamos longe do ambiente de trabalho e amanhã seria
sábado, quando estaríamos de folga.
Enquanto interagíamos de um jeito mais íntimo, a loira
continuava lá sentada, tentando se inserir na conversa, sem se
incomodar com o fato de estar sobrando.
Entre um gole e outro do seu uísque, meu chefe parava a
conversa para me beijar e tocar. Estava devorando minha boca com
a sua, ao mesmo tempo em que me masturbava por baixo da saia,
deixando-me a ponto de explodir em gozo, quando subitamente
parou e ordenou: — Quero que se ajoelhe no chão e chupe meu
pau.
Fitei-o aturdida.
— Aqui?!
— E agora.
Olhei em volta e constatei que o clube estava mais cheio,
mas eu duvidava que alguém reparasse se eu caísse de joelhos e
pagasse um boquete nele agora, afinal era o que todos faziam
naquele lugar. Eu não sabia nem porque estava surpresa com
aquela ordem.
Obedientemente, saí do seu colo e me ajoelhei no chão,
entre suas pernas. Ansiosa, ajudei-o a abrir o zíper da sua calça e
logo seu pau estava saltando de dentro da cueca. Era realmente
lindo, enorme, grosso e estava duro como uma pedra. Segurei-o
entre meus dedos e o masturbei, usando o líquido que escorria da
abertura na ponta para lubrificá-lo, exatamente como tinha visto nos
filmes que assisti. Hesitante, levei minha boca até a glande rosada e
passei a língua em torno dela. Hummm... que delícia! Ele tinha
gosto de perdição, de luxúria, a tal ponto que minha vagina se
contorceu com apenas aquele pequeno gesto e abri um pouco as
pernas, ardendo de vontade de ser tocada.
Empolgada, encaixei a robustez da glande entre meus lábios
e desci a cabeça, engolindo-o até onde consegui alcançar, o que
não foi muita coisa. Puxei a cabeça e desci novamente, levando-o
um pouco mais fundo, repeti o movimento e desta vez o senti na
minha garganta.
— Ahhh... delícia... você foi mesmo feita para o sexo, menina.
Meu chefe fechou sua mão na parte de trás dos meus
cabelos e forçou minha cabeça mais para baixo, levando seu pau
ainda mais fundo, acelerando meus movimentos, fazendo com que
eu o chupasse mais freneticamente.
Quando dei por mim, Melissa estava inclinada ao meu lado,
lambendo as bolas dele e fiz menção de parar.
— Não pare! — A ordem dele veio firme e direta.
Como se meu corpo fosse manipulado pela voz daquele
homem, continuei chupando-o enquanto a loira colocava seu saco
inteiro na boca e sugava. Ele segurava nos meus cabelos e nos
dela, na parte de trás da nossa cabeça e, como se manipulasse dois
fantoches, nos fez trocar de lugar, levando minha boca até suas
bolas e fazendo com que ela engolisse seu pau.
A loira o mamou com experiência e avidez, enfiando-o todo
na boca, em seguida, passou a língua da raiz até a glande e
instintivamente a imitei, passando minha língua do outro lado,
nossas línguas quase se tocando. Foi então que o Sr. Dempsey
puxou nossa cabeça para cima e uniu nossas bocas, fazendo com
que nos beijássemos.
Tentei sentir repulsa, afinal era uma mulher, mas eu estava
excitada demais para sentir qualquer coisa além do tesão
descontrolado que me acometia e enlouquecia, orquestrando todas
as minhas ações. Então, apenas fechei os olhos e parei de pensar,
entregando-me por completo, apreciando o beijo doce e macio
demais, reverenciando o sabor de uísque na boca dela, o mesmo
uísque que ele bebia.
Nos beijamos demoradamente e voltamos a chupá-lo,
alternando entre seu pau e suas bolas, passando a boca uma de
cada lado e nos beijando novamente. Em meio à toda aquela
loucura, senti os dedos delicados se infiltrando sob a saia do meu
vestido e mergulhando entre meus lábios vaginais, movendo-se em
círculos sobre meu clitóris inchado. Não eram os dedos do meu
chefe, eram os da loira, que começaram a me masturbar num ritmo
frenético e delicioso, o que me fez abrir mais as pernas e me
entregar mais, gemendo no pau dele, chupando-o com mais afinco.
Eu estava com o pau do Sr. Dempsey todo enterrado na
minha garganta, quando o orgasmo veio, me rasgando de dentro
para fora, me estilhaçando, me induzindo a esfregar minha boceta
mais fortemente na mão daquela mulher. Ao mesmo tempo, o pênis
dele ficou mais duro e suas mãos seguraram firme minha cabeça,
enquanto ele esporrava na minha garganta, sem me dar alternativa
que não engolir até a última gota.
Quando seus espasmos cessaram, o Sr. Dempsey me puxou
para cima e se apossou da minha boca, beijando-me com loucura,
deixando-me tão perdida de tesão que subi no colo dele e o montei,
uma perna de cada lado, sem me preocupar se alguém estava
olhando.
Minha vagina estava encharcada a ponto de pingar, meus
mamilos ardiam. Ergui a saia colada, ficando nua da cintura para
baixo e esfreguei minha boceta no seu pau ainda duro, suplicando
por ele e ele me atendeu, segurando-o e esfregando a glande
melada na minha abertura antes de me penetrar, com aquela
brutalidade gostosa, indo fundo no meu canal. Era a primeira vez
que me penetrava sem a barreira do preservativo e a sensação era
enlouquecedora. Nada se comparava a sentir diretamente sua carne
dura e latejante.
Eu queria gozar e me acabar no pau dele, no entanto, o Sr.
Dempsey deu apenas algumas estocadas e me tirou do seu colo,
sentando-me ao lado e fechando o zíper da sua calça.
— Não seja gananciosa — rosnou ele, seco e firme.
Sentada entre ele e a loira, eu queria me abanar, tomar um
banho frio, para amainar o fogo que ardia em meu íntimo.
— Ele não fode sem os brinquedinhos que gosta — disse a
loira e me irritei.
Pelas suas palavras ficou claro que ambos já foram amantes
e não era porque eu tinha gozado duas vezes com ela, que
podíamos ser amigas.
— Vocês dois já foram amantes? — indaguei.
Ela sorriu, como se achasse graça.
— Não. De vez em quando, Eleanor e eu a levávamos para
foder, no apartamento — ele respondeu.
— Com menos frequência do que eu gostaria — rebateu ela.
Subitamente senti pena daquela mulher, ao mesmo tempo
em que me identificava com ela. Sendo usada por um déspota
terrivelmente gostoso e irresistível, para o sexo e nada mais, como
se fôssemos objetos sem importância. Observei-a mais
atentamente. Estava sentada ao meu lado, com as pernas cruzadas.
Usava um espartilho preto e sandálias de salto alto. Era realmente
linda, com a pele aveludada, o corpo cheio de curvas perfeitas,
olhos azuis bem claros e a cabeleira loira, ondulada, caindo-lhe
pelos ombros. Por que uma mulher tão perfeita, que poderia ter
qualquer homem, se permitia ser usada daquela forma? Por mais
que eu também gostasse do que fazíamos ali, eu tinha um motivo
para ter entrado nessa situação e não tinha certeza se
permaneceria nela sem esse motivo.
— Você pode ir conosco sempre que quiser. — As palavras
escaparam da minha boca, impulsivamente.
— Vou querer ir sempre. Você é gostosa demais.
— Que bom ver que vocês duas estão se dando bem. —
Havia bom humor no tom de sua voz.
— Obrigada, senhor — disse Melissa, mostrando que não
passava de outra pobre Submissa bem treinada.
O Sr. Dempsey chamou o garçom, que, segundos depois,
estava parado diante de nós.
— O que vocês vão beber? — indagou meu chefe.
— O mesmo uísque — disse Melissa, referindo-se ao uísque
que ambos bebiam.
— E você?
Eu precisava de alguma coisa forte para atravessar aquela
noite.
— Vodca com suco de frutas, por favor.
O Sr. Dempsey também pediu uísque e o garçom se afastou.
— O que está achando do Cobongo? — Melissa puxou
assunto.
— Como é tudo muito novo para mim, ainda estou um pouco
assustada. Você vem aqui sempre?
— Praticamente todos os dias, há uns cinco anos. Meu
namorado me trouxe pela primeira vez e fiquei tão viciada que,
quando ele quis parar de vir, terminamos o namoro.
— Isso aqui é mesmo um vício, você quer parar, mas nem
todos conseguem — disse o Sr. Dempsey.
— É viciante, mas é só um estilo de vida. Não vejo por que
parar — rebateu Melissa.
— Você só vai perceber o quanto está na merda, quando
tentar sair disso tudo e não conseguir — continuou ele.
Será que eu conseguiria parar quando chegasse a hora?
Com certeza. Eu nem gostava tanto de todas essas putarias. Só
estava ali porque queria demais o Sr. Dempsey e, com isto, já não
era mais dona das minhas vontades.
— Nunca vou querer sair. Eu amo isso aqui — falou Melissa.
— Vai parar de amar tão logo uma merda acontecer com
você. E sempre acontece. — Ele se silenciou, como se cedesse a
vez para ela falar, mas ela não disse nada. — Eu consegui ficar
limpo desse vício por um ano, até essa feiticeira entrar na minha
vida.
— Lamento tê-lo arrastado pra esse mundo novamente —
falei, com sinceridade.
— Não se desculpe. A fraqueza está em mim. Além disso,
estou mais feliz agora.
— O senhor já tentou ter outro tipo de relacionamento com as
mulheres? Tipo sair pra jantar, levar flores, transar sem correntes —
indaguei.
— Já. Foi como tentar fumar maconha depois de
experimentar a heroína. Nem um pouco satisfatório.
— Foi exatamente como me senti depois que meu namorado
determinou que não voltaríamos mais aqui.
— E como é sua vida fora daqui? — perguntei.
— Normal, se é o que quer saber. Sou proprietária de uma
floricultura, moro sozinha, tenho amigos que nem imaginam o que
apronto à noite.
As revelações eram surpreendentes. Me fizeram pensar no
quanto todas aquelas pessoas eram escravas dos próprios
prazeres. Será que todos ali dentro eram assim? Provavelmente
sim. Ninguém se sujeitaria a tantas loucuras se tivesse vontade
própria.
Logo o garçom se aproximou com as bebidas. Ao pegar o
seu copo, meu chefe segurou meu maxilar com a outra mão,
forçando-me a abrir a boca e derramou uma porção do uísque
dentro dela, para em seguida inclinar-se e me beijar com uma
selvageria deliciosa, chupando minha língua com força. Pegou-me
pelo meio e me fez sentar novamente em seu colo, sem parar de me
beijar, deixando-me quase sem fôlego, enquanto eu esfregava
minha bunda na ereção que se firmava sob mim.
Logo sua mão estava se infiltrando sob a saia do meu vestido
novamente, acariciando minha boceta melada, penetrando minha
vagina com dois dedos e massageando meu clitóris com um
terceiro, até que eu estivesse quase gozando e então parava, como
se me torturasse deliberadamente.
Apesar da tortura, era magnífico estar assim com ele,
beijando-o, me refestelando com seu gosto e com seu calor, tendo
liberdade de acariciá-lo como e onde queria, sem regras e sem
jogos, em um momento de maior intimidade que quando estávamos
transando.
Continuamos assim durante horas, deixando Melissa tão
excluída que ela acabou saindo da mesa. Achei que minha noite
estava completa, que havia alcançado o ápice do meu erotismo,
pagando aquele boquete nele, quando ele parou de me beijar e
anunciou: — Quero te comer junto com outro homem hoje.
Minha primeira reação foi o choque. Eu seria capaz de ir
assim tão longe por aquele homem?
— E nem adianta fazer essa cara. Você sabia o tipo de
roubada na qual estava se metendo quando entrou nessa —
completou ele.
— Claro.
— O segredo é relaxar e aproveitar. Além disso, se você não
estiver gostando, podemos parar a qualquer momento. É só me
avisar.
— Sim, Senhor.
— Eu não curto ser tocado por outro homem, mas gosto de
foder em dupla, de ver minha putinha totalmente saciada.
Nervosa, bebi um grande gole da minha vodca.
— O senhor me deixa totalmente saciada.
— Você diz isso porque ainda não experimentou dois paus
dentro de você ao mesmo tempo. Mas vai experimentar hoje. Olhe
em volta. Tem algum homem aqui que te agrade? Uma garota como
você pode escolher quem quiser. Qualquer homem nesse clube vai
querer te comer. Mas tem que ser alguém escolhido por você.
Alguém que te atraia.
Peguei novamente o copo com a vodca e, dessa vez, o
esvaziei com um só gole. Percorri meu olhar pelas pessoas
espalhadas no salão do clube, algumas dançando, outras sentadas
às mesas, algumas no bar e outras poucas em pé. Todos estavam
usando máscaras e muito pouca roupa. Alguns se vestiam como
Dominantes, outros como Submissos.
A princípio ninguém me atraiu, até porque era difícil se sentir
atraída por alguém cujo rosto não se via. Então olhei novamente e
me detive em um cara que já mantinha seu olhar fixo em mim. Era
alto e moreno. Usava apenas uma calça jeans com as pernas
rasgadas, sem camisa, exibindo o corpo sarado e musculoso.
Segurava um copo com sua bebida e estava de pé, recostado ao
balcão do bar, entre duas mulheres seminuas, que pareciam
disputar a atenção dele. Definitivamente, era o homem mais
atraente ali, depois do Sr. Dempsey, claro.
— Aquele — falei.
— Ótimo. Vá até lá e esfregue sua bunda no pau dele.
Fiquei pasma com a naturalidade que ele disse aquilo, como
se tudo realmente não passasse de um jogo. Mas o que eu estava
esperando? Um romance?
— Só tenho uma condição — impus.
— Qual?
— Não quero outro pau me penetrando sem preservativo
além do seu. — Ele fitou-me com desconfiança. — Não sei quem
são essas pessoas. Não quero pegar uma doença venérea —
completei.
Por um breve instante, aquele tormento que eu já conhecia
atravessou a expressão do seu olhar.
— Claro. Você está certa. Agora vá lá e seduza aquele cara.
Saí do colo dele e respirei fundo, a fim de conter o
nervosismo. Determinada, marchei em direção ao homem no bar,
que já foi se virando de frente para mim, como se soubesse que eu
iria ao seu encontro. Ao aproximar-me dele, faltou coragem e acabei
passando direto, mas ele veio atrás de mim. Segurou-me pelo pulso
e me fez virar de frente para si.
— Eu tenho o que você procura — disse ele, com a voz
grossa.
Nossa, como era presunçoso!
Pelo pouco que consegui ver através da máscara, constatei
que era muito bonito, com olhos escuros, a barba bem curta, o
maxilar forte.
— E como você pode saber o que eu procuro? — perguntei,
cruzando os braços.
— Estou te observando desde que você entrou. Sei o que
você e seu namorado querem. É o mesmo que eu quero.
Subitamente fiquei tímida. Era muito estranho falar sobre
sexo com um completo desconhecido.
— Bem, é que na verdade...
— Não precisamos de todo esse rodeio aqui — ele me
interrompeu. Todos sabemos o que queremos. Eu quero trepar a
três e vocês também. Preferem cabine, ou apartamento? Tenho um
apartamento aqui.
— Meu namorado também tem.
— Ótimo. Podemos ir então?
Todo mundo ali era tão direto assim?
Olhei na direção do meu chefe e percebi que seus olhos
estavam fixos em mim, o que me despertou uma súbita necessidade
de agradá-lo e ao mesmo tempo de me exibir para ele.
— Só mais uma coisinha.
Dito isto, me virei de costas para o sujeito, recostei-me nele e
comecei a rebolar, esfregando minha bunda na parte da frente do
seu jeans, onde logo a ereção se formou, dura e firme. Sem desviar
os olhos do meu chefe, continuei me esfregando naquele estranho,
imaginando que ele e o homem que me observava de longe eram a
mesma pessoa e fiquei espantada com o quanto aquilo me deixou
excitada, não porque havia um cara qualquer pressionando o pau na
minha bunda, mas porque o Sr. Dempsey estava nos olhando com
um prazer indisfarçável e o fato de agradá-lo era o que despertava o
meu tesão.
— Porra... você é uma delícia — sussurrou o estranho, no
meu ouvido, pressionando mais o pau na minha bunda e passando
as mãos sobre meus seios, com muito mais delicadeza que o
homem que eu realmente queria. — Pra falar a verdade, eu preferia
ficar sozinho com você. O que acha de deixar aquele cara aqui e
subir comigo?
— Sem ele, nada feito.
— Certo. Você é quem manda.
Como ele estava errado! Eu já não mandava mais nem nas
minhas próprias vontades.
Sem jamais desviar seus olhos de mim, o Sr. Dempsey
levantou-se e veio andando entre as pessoas em nossa direção. Ao
chegar perto, deu uma encarada demorada no sujeito que me
agarrava por trás, como se aquilo fosse uma saudação silenciosa,
ou um tipo de cumprimento e, sem uma palavra, segurou minha
mão, puxando-me pelo clube, conduzindo-me rumo aos elevadores,
enquanto o outro homem nos seguia.
Ao passo em que atravessávamos o imenso salão abarrotado
de gente, percorri meus olhos aos arredores, à procura de Melissa,
para que ela viesse conosco e me ajudasse com aqueles dois, caso
eu não desse conta, mas não a vi em parte alguma e logo nós três
entramos no elevador.
Tão logo as portas se fecharam, o Sr. Dempsey recostou-se
em uma parede e me puxou para si, segurando minha nuca e
beijando-me com ferocidade, o que foi suficiente para que as
chamas do desejo me consumissem por inteiro, fazendo minha
vagina melar e me impedindo de assimilar qualquer pensamento
racional.
Estávamos grudados, quando o desconhecido se aproximou
por trás de mim, afundando seu rosto na curva do meu pescoço, ao
mesmo tempo em que me segurava pela cintura e esfregava sua
ereção na minha bunda.
A princípio fiquei tensa, desconcertada, sem saber o que
fazer, ou como agir, entre os dois homens, porém logo o tesão se
sobressaiu a tudo mais e simplesmente parei de pensar,
entregando-me aos meus instintos mais primitivos, transformando-
me em um ser de sensações e sentidos, desprovido de qualquer
racionalidade.
O sujeito atrás de mim levantou a saia curta do meu vestido e
alisou minha boceta encharcada. Um gemido abafado escapou da
sua boca, seu toque me pareceu tão agradável e erótico que abri
mais as pernas, permitindo que ele enfiasse um dedo na minha
vagina, movendo-o em um vai e vem. Então, foi a minha vez de
gemer, perdidamente excitada, cega para tudo mais que não a
lascívia que dilacerava minha carne.
Quando dei por mim, estava abandonando a boca do Sr.
Dempsey e virando o pescoço para trás, permitindo que o outro
homem me beijasse. Foi um beijo puramente erótico, mais delicado
que o do meu chefe, porém tão luxurioso quanto.
Com mãos brutas, o Sr. Dempsey segurou na parte de trás
dos meus cabelos e me fez recostar na parede entre ambos. Usou
um dos pés para me fazer abrir as pernas e infiltrou dois dedos na
minha vagina, brutalmente, tão delicioso, que soltei um gemido alto.
— Como está molhadinha. Parece até que foi feita para ser
comida por dois homens. É isto que você quer? — rosnou ele,
fodendo-me com os seus dedos.
— Sim, Senhor.
— Dá uma olhada no pau dele. Veja se você gosta.
Obediente, ajudei o outro homem a abrir o zíper da sua calça
e seu pau saltou de dentro da cueca. Não era tão grande quanto o
do Sr. Dempsey, mas ainda era grosso a ponto de eu não conseguir
fechar minha mão por completo em torno dele.
— Masturbe-o — ele ordenou e obedeci, masturbando o
desconhecido enquanto os dedos do meu chefe entravam e saíam
do meu canal. — Vai dar conta de foder com nós dois a noite toda?
— Até quando o senhor me mandar parar.
— Gostou do pau dele?
— Sim, Senhor.
— Então me agradeça por te deixar foder com ele também.
Ele retirou seus dedos do meu canal e começou a dar
tapinhas na minha vulva, atingindo diretamente meu clitóris inchado.
— Ahhh... obrigada, Senhor.
CAPÍTULO 19

Serenity

Nesse instante, as portas do elevador se abriram e saímos


direto no apartamento, os dois homens me deram passagem,
enquanto eu ajeitava a saia do vestido de volta no lugar. Eu não
sabia se era impressão minha, ou se o Sr. Dempsey parecia mais
agitado que o habitual quando adentramos a imensa sala mobiliada
com requinte.
— Vocês querem beber alguma coisa? — indagou ele,
falando mais depressa que o de costume, com a rispidez de
sempre.
— Não, obrigada! — eu e o homem dissemos ao mesmo
tempo, em uníssono, o que nos fez nos encarar e sorrir, sem que
meu chefe acompanhasse o gesto.
Emburrado como sempre, ele foi até o bar e serviu-se de uma
grande dose de uísque com gelo, seguindo em direção ao quarto de
jogos, sem precisar dizer nada para que soubéssemos que
deveríamos segui-lo e o fizemos.
— Uau! Isso é impressionante. Acho que não falta nada aqui
— disse o sujeito, ao entrarmos no aposento enorme, varrendo-o
com seus olhos atônitos.
Eu sabia exatamente como ele se sentia. O lugar era
abarrotado de equipamentos utilizados para o BDSM e se parecia
com uma academia de ginástica, só voltada para o sexo. Era
realmente algo que não se via por aí todos os dias.
Percebi que estava tudo muito limpo e organizado, como se
alguém tivesse feito uma faxina desde a última vez em que
estivéramos ali.
— Vamos dispensar as palavras. Não precisamos conversar,
nem nos apresentarmos para fazermos isto — retrucou meu chefe,
rispidamente.
Senti que, em qualquer outra situação, aquele sujeito teria ido
embora, devido à sua grosseria. Mas os homens nunca
dispensavam sexo assim tão facilmente.
Com sua postura imponente e cada minúsculo movimento
seu gritando o quanto ele era poderoso, lindo e charmoso, meu
chefe sentou-se na poltrona de couro próxima aos pés da cama,
enquanto bebia seu uísque devagar.
— Tirem as roupas. Você, deixe apenas as sandálias e a
máscara e você só a máscara — ordenou ele, autoritário e
incontestável.
O sujeito sorriu, achando graça e pensei que dessa vez iria
embora. Porém, ao me ver tirando as roupas, imitou-me, despindo-
se da calça e dos sapatos, exibindo o corpo esbelto, alto e mais
esguio que o Sr. Dempsey.
— Você é realmente linda — disse o homem examinando a
minha completa nudez com seus olhos reluzentes de luxúria.
— Como eu disse, nada de conversas — retrucou meu chefe.
— Você, sente-se na cama e você ajoelhe-se aqui.
Ciente de que, se o desobedecesse, teria que ir embora, o
homem sentou-se aos pés da cama, apoiando suas mãos para trás,
exibindo o pau completamente duro, enquanto eu me ajoelhava ao
lado dos pés do Sr. Dempsey, de cabeça baixa, como uma boa
Submissa.
Enquanto ingeria lentos goles da sua bebida, meu chefe
acariciava meus cabelos no alto da minha cabeça. Um longo
momento de silêncio se seguiu, a expectativa cresceu dentro de
mim, até que ele ordenou: — Vá engatinhando até lá e chupe o pau
dele.
Nem ao menos hesitei. Obediente, coloquei-me de quatro no
chão, aproximei-me do homem e me ajoelhei entre suas pernas.
Segurei seu pau pelo meio e aproximei meu nariz. Tinha cheiro de
sabonete, então, sem pensar em mais nada, a não ser na luxúria
que envolvia toda aquela loucura, coloquei-o na boca, apreciando a
maciez de deslizar pela minha língua e afundar na minha garganta.
— Ah... delícia... — gemeu o homem, lançando a cabeça
para trás.
Ter conhecimento de que o Sr. Dempsey estava logo atrás de
mim, observando-me chupar o pau de outro sujeito, era o que me
deixava perdidamente excitada. Então, abri bem as pernas e
empinei mais a bunda, exibindo-me para ele, permitindo que ele
enxergasse o brilho da minha vagina lambuzada, como se o
convidasse a se juntar a nós, porque eu queria, mais que tudo, tê-lo
dentro de mim.
Naquele instante eu já não era mais eu, mas apenas um ser
irracional, guiada unicamente por instintos, como os animais quando
estavam no cio.
Pouco tempo depois, o Sr. Dempsey levantou-se e se despiu
de todas as suas roupas, ficando apenas com a máscara. Com o
canto do olho, vi quando ele foi até uma das estantes e voltou
trazendo um chicote com cabo de madeira e várias tiras de couro.
Aproximou-se da cama e deslizou as tiras macias sobre minhas
costas.
— Está vendo como eu tenho razão quando eu digo que você
é uma putinha? Está chupando o pau de outro homem, bem na
frente do seu macho. Me diz se você não merece umas boas
chicotadas.
— Sim, Senhor.
— Não pare por minha causa. Continue chupando.
Voltei e encher minha boca com o pênis daquele estranho,
enquanto meu chefe nos observava de perto, passando as tiras do
chicote sobre minhas costas. Até que voltou a ordenar: — Subam na
cama. Os dois. E nem pensem em parar.
O sujeito foi deslizando de costas para cima do colchão, até
estar todo esparramado sobre ele, de modo que precisei subir na
cama de quatro para continuar chupando.
Logo o colchão afundou novamente, dessa vez com o peso
do Sr. Dempsey, que subiu atrás de mim. Segurou meus quadris,
puxando-os para cima e abriu minhas pernas, deixando-me muito
arreganhada naquela posição, com a bunda para cima e os ombros
abaixados. No instante seguinte senti o golpe do uísque gelado
banhando meu sexo, causando tamanho ardor que me fez tremer.
Uma dor balsamada pelo encontro da sua boca ávida com minha
carne trêmula e molhada, sua língua deliciosa afundando entre
meus lábios vaginais, lambendo freneticamente meu clitóris,
invadindo a entrada da minha vagina em uma penetração rasa e
gostosa, passeando livremente sobre meu ânus e voltando para o
meu ponto mais sensível, movendo-se freneticamente sobre ele, a
ponto de me fazer gemer enlouquecida, com o pau daquele homem
na minha boca.
Junto com as lambidas, vieram os tapas na bunda, alternado
entre as duas nádegas. Então o Sr. Dempsey prendeu meu clitóris
entre seus lábios e deu início a uma sucção deliciosa e
enlouquecedora, que me levou muito perto da perdição. Mas antes
que eu gozasse, ela parou. Posicionou-se atrás de mim, esfregou a
cabeça do seu pau na minha entrada encharcada e me penetrou,
firme, forte, duro e delicioso, seu tamanho se acomodando
perfeitamente entre as paredes lambuzada do meu canal, o contato
me pareceu ainda mais enlouquecedor sem a barreira do
preservativo.
Ah! Que delícia!
Meu chefe fechou suas mãos dos dois lados dos meus
quadris e deu início àquela sequência deliciosa de golpes violentos
do seu corpo contra o meu, entrando e saindo de mim com
estocadas brutas, alcançando-me fundo, me fazendo gemer e
chupar aquele pau com ainda mais vontade, como um animal
irracional.
Abri ainda mais as pernas e empinei mais a bunda, dando-me
mais para o meu homem, me acabando de tanto prazer naquele pau
grande e gostoso demais, até que o senti mais duro e o gozo
novamente ameaçou me estilhaçar, quando então ele parou,
encerrando a penetração, deixando-me quase em agonia, ansiando
pela libertação.
— Esfrega a boceta na cara dele. — A ordem veio firme e
direta.
Antes que eu tivesse tempo de entender o que deveria fazer,
as mãos do desconhecido se fecharam em volta da minha cintura e
ele me puxou para cima, sentando-me sobre seu rosto, com uma
perna de cada lado e afundou sua língua na minha boceta sensível,
lambendo, chupando, mordendo, enquanto eu apoiava as mãos na
parede e lançava a cabeça para trás, gemendo ensandecida.
—Porra... que delícia...
E era mesmo, sentir a maciez daquela língua após os golpes
violentos do pau enorme e duro.
— Se gozar agora, vai levar umas chicotadas — vociferou o
Sr. Dempsey, de pé ao lado da cama, passando lentamente o
chicote sobre minhas costas.
Caralho! Eu estava prestes a gozar, então elevei brevemente
os quadris, impedindo os golpes da língua no meu sexo e foi aí que
a chicotada veio, rápida e certeira, nas minhas costas, causando um
leve ardor.
— Não é pra parar! Esfregue a boceta na boca dele! Se parar
ou gozar, vai apanhar mais forte.
Caramba! Em qual furada eu fui me meter? De todas as
torturas que eu esperava passar nesse louco jogo, essa era a
última.
Sem opção, voltei a mover os quadris, esfregando minha
boceta na boca daquele homem, meu clitóris atritando com sua
língua, repetidas vezes, enquanto eu me contraía inteira e mordia o
lábio lutando contra o orgasmo que ameaçava me arrebatar. As
lágrimas começavam a escorrer dos meus olhos, tamanha era a
minha aflição, quando senti o contato frio da coleira de couro sendo
passada em torno do meu pescoço. Era larga, com detalhes em
metal. Segurando na guia que se ligava à coleira, o Sr. Dempsey me
puxou, fazendo-me sair da cama e segui-lo pelo quarto.
— Aposto que você pensou que isso seria mais fácil, não é?
— disse ele, ríspido, perverso.
— Sim, Senhor — falei trêmula, excitada.
Ele me fez deitar-me de costas sobre uma plataforma
quadrada estofada, com cerca de meio metro de altura, repleta de
amarras e em questão de segundos meus cotovelos estavam
amarrados por cordas aos meus joelhos, deixando-me muito
exposta, enquanto a guia da coleira era presa a uma estrutura
gradeada acima da minha cabeça.
— Pelo menos, você nunca poderá dizer que não foi avisada.
O outro homem se aproximou e parou para nos observar de
perto, enquanto o Sr. Dempsey estendia seu corpo sobre o meu,
esfregando a glande do seu pau na minha entrada e me penetrando,
forte, bruto, delicioso, a pressão da sua rigidez contra as minhas
paredes molhadas a ponto de me levar à loucura.
— Agora pode gozar, putinha, enquanto encho essa
bocetinha de minha porra.
Ele fechou seus olhos e soltou um grunhido animalesco,
enquanto me fodia cada vez mais brutalmente, forte, apressado. O
choque da sua pélvis contra a minha provocava barulhos que
ecoavam pelo aposento. Passou sua língua no contorno dos meus
lábios, afundou seu rosto na curva do meu pescoço e mordeu, para
depois fechar seus dentes sobre um dos meus mamilos e fazer
pressão, o que foi a minha perdição. Logo, mergulhei em um gozo
longo e profundo, tão intenso que as lágrimas fugiram
descontroladas dos meus olhos, ao mesmo tempo em que eu
gritava e soluçava, chamando o nome dele e me balançando toda.
Quase ao mesmo tempo, ele parou com o pau todo dentro de
mim e esporrou quente, jorrando grosso na minha vagina. Mesmo
depois que a turbulência passou, ele continuou se movendo em meu
interior, preguiçosamente dessa vez, seu pau ainda duro deslizando
devagar no meu gozo e no seu.
— Gozar nessa bocetinha sem camisinha foi a melhor coisa
que me aconteceu em muito tempo — disse ele.
— Foi maravilhoso para mim também. — E era verdade.
Eu realmente não queria gostar de toda aquela pornografia,
mas estava amando cada segundo. Começava a compreender por
que esse tipo de prática se tornava um vício para muitas pessoas.
Era libertador, passava a sensação de que podíamos fazer qualquer
coisa.
— Gostaria de descansar um pouco? — indagou ele, com
aquele olhar perverso.
— Se o Senhor desejar.
— Infelizmente não vai ser possível. A noite está apenas
começando.
Soltando-me das amarras, o Sr. Dempsey me ajudou a ficar
de pé e me puxou para si, beijando-me com selvageria, enquanto o
outro homem vinha por trás de mim, esfregando seu pau duro na
minha bunda, beijando minha pele na altura dos ombros. Virei a
cabeça e beijei sua boca, sentindo-me invadida por uma sensação
de liberdade inigualável, ali espremida entre os dois, com o peitoral
forte do Sr. Dempsey pressionando meus seios e o outro corpo
masculino empurrando minhas costas.
Eu queria muito dar para eles dois ao mesmo tempo, queria
tanto que chegava a ser quase doentio, sem que eu soubesse de
onde havia saído tanto desejo.
Me virei de frente para o outro homem e gemi alto quando ele
abocanhou um dos meus seios, chupando gostoso, me fazendo
lançar a cabeça para trás, enquanto meu chefe esfregava o pau na
minha bunda e mordia minhas costas com força, a dor provocava
um contraste delicioso com as carícias mais delicadas.
Continuamos com aquela brincadeira por um tempo, até que
eu estava totalmente em chamas novamente, com minha vagina
pingando e se contorcendo de tanta vontade. Então, meu chefe me
conduziu de volta para a plataforma estofada e me fez subir nela,
desta vez de quatro, para logo em seguida prender meus tornozelos
com amarras de couro, deixando minhas pernas muito afastadas
uma da outra. Me fez enfiar a cabeça em um dos buracos da grade
de aço que havia na extremidade superior e algemou meus pulsos
nas laterais, de modo que fiquei totalmente cativa, usando apenas a
máscara e as sandálias, toda aberta, para que eles me fodessem
como bem quisessem.
Era para eu ter ficado assustada com aquela situação, mas a
verdade era que estava excitada ao extremo, ansiando pelo que
aconteceria em seguida.
Sem pressa alguma, e sem jamais desviar seus olhos de
mim, o Sr. Dempsey abasteceu seu copo com uísque e sentou-se
na sua poltrona, ingerindo um gole bem devagar.
— É realmente uma bela visão — disse, observando-me.
— Acho que podíamos fazer isso sem todas essas amarras.
Isso pode machucá-la — disse nosso parceiro de foda.
— Ela não será machucada mais do que possa suportar.
Agora coloque um preservativo e foda a boceta dela por trás.
Eu não podia vê-los completamente, estavam na minha
lateral e com meu pescoço preso à grande, eu não podia virar a
cabeça. Com o canto do olho, enxerguei quando o homem foi até
uma gaveta, cobriu seu pau com um preservativo e aproximou-se
por trás de mim. Subiu na plataforma e inclinou-se, espalhando
beijos molhados sobre minha bunda e infiltrando sua língua entre
meus lábios vaginais.
Empinei mais minha bunda e soltei um gemido enquanto ele
lambia toda a extensão do meu sexo lambuzado de gozo, indo do
ânus até o clitóris, penetrando rasamente meu canal e concentrando
os movimentos sobre meu feixe de nervos. Era muito mais delicado
que o Sr. Dempsey, mas ainda assim me deixava louca de tanto
tesão, com suas carícias suaves.
Por fim, ele ergueu seu corpo, segurou-me pelos quadris e
me penetrou, com a mesma lentidão com que me chupara. Seu pau
entrou e saiu devagar da minha vagina empapada, proporcionando-
me um misto de excitação e a sensação de que faltava algo. Esse
algo era o homem sentado na poltrona nos observando.
Eu gemia doce, com o pau daquele homem me fodendo por
trás, enquanto meus olhos buscavam meu chefe, sentado em sua
poltrona, degustando vagarosamente o seu uísque. Embora
estivesse gostando do que aquele estranho fazia, eu queria que ele
se juntasse a nós, queria sentir a força e a brutalidade com que me
tocava e me penetrava. Era quase uma necessidade do meu corpo.
Por fim ele se levantou e se aproximou de mim pela frente,
completamente nu, com o pau enorme esticado para cima. Segurou-
me pelos cabelos e me fez erguer o rosto.
— Abra a boca e coloque a língua para fora — ordenou
autoritário e obedeci.
Ele derramou todo o uísque que restava em seu copo na
minha língua e boca, banhando meus lábios e parte do meu rosto.
Então, inclinou-se e me beijou com aquela agressividade deliciosa,
chupando forte meus lábios e saqueando minha boca com sua
língua, até que eu estivesse perdida, dominada pela lascívia
incontrolável que se espalhava pelo meu organismo, tomando conta
de tudo em mim, impedindo-me até de pensar.
Ao encerrar o beijo, ele ergueu-se e afundou seu pau na
minha boca, levando-o até a garganta e movendo-o dentro de mim,
abafando meus gemidos descontrolados.
— Você é uma putinha safada, pra gemer assim com dois
paus te comendo ao mesmo tempo.
Ele puxou seu pau e aproximou suas bolas da minha boca,
fazendo com que eu as mamasse e o fiz, colocando ambas na boca
e chupando, como vi Melissa fazendo.
— Caralho! Você aprende rápido. Que delícia...
Afastando-se, ele foi até uma gaveta e voltou com um objeto
nas mãos.
— Enquanto não arranjamos um terceiro pau para você, isso
vai manter essa boquinha ocupada.
Era uma mordaça de couro com uma bola de madeira no
meio, a qual ele encaixou na minha boca, fechando as tiras na
minha nuca. Em seguida, foi para trás de mim.
— Deite-se debaixo dela e continue fodendo — ordenou, com
autoridade.
Sem dizer nada, o outro homem encerrou a penetração e
veio pela minha lateral, praticamente precisando fazer
contorcionismo para conseguir enfiar-se sob mim. Colou seu corpo
ao meu enquanto seu olhar encontrava o meu. Impossibilitado de
me beijar, devido às grades separando nossos rostos, ele encaixou
seus quadris entre minhas pernas e voltou a me penetrar, pela
frente desta vez, naquele mesmo ritmo lento, que ficou ainda mais
gostoso com o roçar dos meus mamilos nos músculos do seu peito.
No momento seguinte, o Sr. Dempsey aproximou-se por trás
de mim e subiu na plataforma, de joelhos, derramando um óleo
perfumado sobre minha bunda, o qual escorreu por entre minhas
nádegas e invadiu o meu sexo, tornando a penetração ainda mais
melada. Abandonou o recipiente de lado e espalhou o óleo sobre
minha pele, massageando gostoso com sua mão, lubrificando meu
ânus e infiltrando um dedo dentro dele, movendo-o devagar, depois
mais rápido. Então, infiltrou mais dois dedos e passou a me penetrar
ali atrás cada vez mais apertado, proporcionando-me a sensação de
que eu seria partida em duas a qualquer momento.
— Já chega. Esse cuzinho está mais do que pronto para
engolir minha vara.
Dito isto, ele encaixou seu pênis enorme entre minhas
nádegas e penetrou o meu ânus com um golpe ágil e violento,
entrando todo de uma vez, esticando e dilacerando minha carne, a
mordaça de madeira sufocou meu grito de dor.
Me debati e tentei escapar, mas suas mãos fortes, unidas às
amarras, me seguraram firmemente no lugar.
— Quanto mais você lutar contra isto, mais será difícil.
Relaxe.
Sem voltar a se mover dentro de mim, ele pegou o recipiente
com o óleo e o derramou sobre minhas costas, espalhando-o com
as mãos e massageando meus músculos, gostosamente,
inclinando-se para massagear meus seios, enquanto o pau do outro
homem continuava entrando e saindo devagar do meu canal. Assim,
fui relaxando aos poucos, até que a pressão em meu corpo se
tornou suportável.
— Vou me mover de novo, putinha. Esteja pronta.
Com isto, ele puxou seu membro e voltou a arremeter seus
quadris contra meu corpo, saindo e entrando duro e bruto, chocando
brutalmente sua pélvis contra a minha bunda. Voltou a puxar o pau e
entrou novamente, até não parar mais. Seus movimentos de entra e
sai se tornaram cada vez mais acelerados e incessantes.
A pressão dos dois paus me penetrando era absurda. A
princípio pensei que seria rasgada ao meio, porém à medida em que
eu relaxava e perdia o medo, o prazer ia se espalhando pelo meu
organismo, me arrastando para aquele revolto mar de luxúria que
tirava meu juízo e minha sanidade, transformando-me em um ser de
irracionalidade e sentidos, desprovido de qualquer sensatez.
Logo eu estava empinando mais a bunda, dando-me mais
para ele. O orgasmo ameaçava me estilhaçar, a pressão
exacerbada impedia que eu alcançasse a minha libertação.
— Fode mais depressa, essa putinha quer gozar — rosnou
meu chefe e o outro homem acelerou seus movimentos, fodendo
minha boceta mais freneticamente, da forma que meu chefe fazia e
da forma como eu queria.
Até que o orgasmo veio, forte, violento, me partindo em mil
pedaços, estimulando o homem debaixo de mim a gozar também,
com um único gemido rouco. Então, ele ficou imóvel, sua mão
carinhosa alisou meu rosto e meus cabelos, seus olhos escuros
fitaram os meus quase com piedade, enquanto meu chefe
continuava estocando brutalmente na minha bunda, até que seu
pênis ficou mais duro e ele o puxou, masturbando-se e gozando
sobre minhas nádegas, com seu esperma morno e viscoso
banhando minha pele.
Nós três permanecemos imóveis, na mesma posição, durante
um longo momento de silêncio. Eu estava quase desfalecida, de
tanta exaustão, quando ambos se retiraram. Ao passo em que o
outro homem se afastava, o Sr. Dempsey me libertava das amarras.
Eu estava toda mole, com meu corpo trêmulo pelo cansaço, quando
meu chefe me ergueu em seus braços e deitou-me cuidadosamente
na cama, cobrindo minha nudez com um lençol.
— Descanse um pouco. Você está precisando. — Ele foi até
sua calça jogada no chão, enfiou a mão no bolso e sacou o celular
que vibrava já fazia algum tempo. Sua fisionomia enrijeceu quando
ele checou o número na tela. — Preciso atender. Já volto.
Sem qualquer gesto de carinho, ele distanciou-se, indo rumo
à porta de saída. Ao mesmo tempo em que eu observava sua bunda
firme e redonda se afastando, me perguntei de onde um homem de
quarenta anos tirava tanta energia para o sexo. Enquanto eu estava
acabada, como se um caminhão tivesse me atropelado, ele parecia
inabalável e revigorado. Tinha mesmo uma saúde invejável.
Assim que ele saiu pela porta, nosso parceiro de foda deitou-
se ao meu lado na cama, de lado, seus olhos fitaram os meus por
trás da máscara escura. Afastou uma mecha de cabelo que caía
sobre a minha testa e falou: — Por que uma garota tão linda se
deixa ser maltratada desse jeito?
Eu mal conseguia manter meus olhos abertos, tamanha era a
minha exaustão.
— Não me sinto maltratada. Esse é o jeito que ele gosta de
foder.
— E é o jeito que você gosta também?
— Claro. Do contrário, eu nem estaria aqui.
Ele voltou a acariciar o meu rosto com a ponta dos seus
dedos, seu toque me pareceu surpreendentemente agradável.
— Se você fosse minha, eu jamais a trataria assim, jamais
colocaria uma mordaça na sua boca, ou a amarraria como um
animal, tampouco a dividiria com outro homem. Uma mulher como
você merece ser colocada em um pedestal.
Sorri para ele, achando graça do meu próprio pensamento.
— Eu sei que pode parecer loucura, mas eu gosto do que ele
faz comigo. Talvez eu seja uma Submissa nata.
Dizer aquilo em voz alta foi assustador, me fez enxergar a
mim mesma, no futuro, mergulhada e viciada naquele mundo de
devassidão, fazendo terapia para tentar sair dele, como o Sr.
Dempsey fazia.
O homem mordeu seu lábio, me fazendo notar o quanto sua
boca era bonita e bem desenhada.
— Nesse caso, eu me tornaria um dominante por você.
— Acho que um Dominante já nasce com esse dom.
— Onde posso te encontrar fora daqui?
— Não pode. Eu pertenço ao Sr. Dempsey e não tenho
permissão para ver outro homem sem a presença dele.
— Você nem o chama pelo primeiro nome! — Ele parecia
chocado.
— Se você critica tanto a forma como as pessoas agem
nesse clube, o que está fazendo aqui?
— Não sei. Acho que ando meio perdido ultimamente.
Antes que ele tivesse tempo de continuar falando, meu chefe
entrou pela porta, andando apressado, parecendo aflito.
— Preciso ir. Você fica aqui — disse ele, sobressaltado,
catando suas roupas do chão.
— Aconteceu alguma coisa? — indaguei, preocupada.
— Nada que eu não possa resolver. Durma aqui e vá para
casa ao amanhecer.
— Eu fico com ela — declarou nosso parceiro.
— Fora de questão. Você se manda!
Sentei-me na cama assustada, pensando nas dezenas de
tarados que poderiam subir ali, se soubessem que eu estava
sozinha.
— Não quero ficar aqui sozinha. Tenho medo.
— Não tenho tempo de te levar em casa e é perigoso para
uma garota sair por aí sozinha a essa hora.
— Eu posso levá-la — insistiu o outro mascarado.
Meu chefe o fuzilou com aquela expressão assustadora que
eu já conhecia bem, como se quisesse arrancar a cabeça dele fora
do pescoço.
— Como eu já disse! Você se manda! Nem sei o que ainda
está fazendo aqui. — O sujeito por fim saiu da cama, indo em
direção às suas roupas, enquanto meu chefe se virava para mim. —
Você, vem comigo. Vá até o closet e encontre algo decente para
vestir. Depressa!
Comecei a me arrepender por ter me negado a ficar sozinha,
quando tive que sair da cama, exausta, com minhas pernas moles
de tanto sexo.
Seguindo as suas instruções, deixei o quarto de jogos e saí
pelo apartamento à procura do closet, quando descobri que havia
um segundo quarto no imóvel, mobiliado com naturalidade, sem
nenhum equipamento bizarro. O closet ficava lá. Estava abarrotado
de roupas masculinas e femininas, mas não tive coragem de vestir
nenhuma peça feminina, pois presumia que podiam ser da
namorada morta dele.
Então, peguei uma camisa de mangas compridas e joguei por
cima dos ombros, escondendo parcialmente a vulgaridade do meu
vestido. Para não ter que sair por aí sem calcinha, vesti uma de
suas cuecas boxer, a qual serviu perfeitamente. Como não tinha
ideia de onde íamos, escovei bem os cabelos e retoquei a
maquiagem.
CAPÍTULO 20

Serenity
Em questão de minutos, meu chefe e eu estávamos
trafegando pelas ruas de Manhattan, as quais se encontravam
menos movimentadas àquela hora da madrugada. Ao som de um
ritmo lento do Coldplay, que tocava em volume baixo dentro do
veículo, fechei meus olhos e cochilei, tamanho era o meu cansaço.
Quando voltei a abri-los, ainda era noite e ainda estávamos
no carro, só que fora da cidade.
— Onde estamos indo? — indaguei, sonolenta.
— A Hudson.
— E o que vamos fazer lá de tão importante que não pode
esperar o dia amanhecer?
— Nada de tão importante. Só meus pais carentes de
atenção e fazendo chantagem emocional para me atrair, de novo.
Tensa, ajeitei-me sobre o assento.
— O senhor tem pais?!
Ele sorriu, achando graça.
— Claro. Não nasci de uma incubadora.
Subitamente, tomei consciência do minúsculo comprimento
do vestido que estava usando.
— Eu não posso aparecer na frente dos seus pais vestida
assim.
Seus olhos lindos examinaram-me dos pés à cabeça.
— Não está tão ruim.
— Aconteceu alguma coisa com eles?
— Não. Como eu disse, é só chantagem emocional.
Em pouco tempo estávamos adentrando os portões da
imensa propriedade, a qual se tratava de uma imponente mansão
em estilo colonial, situada no pico de uma colina, cercada pelo verde
exuberante por todos os lados e com uma vista longínqua do rio
Hudson. O lugar impressionava facilmente pela beleza e pelo
sossego.
— É lindo aqui — comentei, impressionada. — É o lugar onde
o senhor cresceu?
— Sim. Nasci e cresci aqui. Já tentei levar meus pais embora,
instalá-los em um apartamento mais perto da civilização, mas eles
insistem em ficar nesse fim de mundo.
— E quem cuida deles, os seus irmãos?
— Sou filho único. Os empregados cuidam de tudo por aqui.
Por isso queria levá-los para Nova Iorque, onde poderia dar-lhes
atenção sem precisar dirigir duzentos quilômetros no meio da
madrugada.
Não era difícil imaginar o Sr. Dempsey crescendo naquele
lugar, brincando em meio a todo aquele verde, provavelmente aos
cuidados de babás, tendo tudo o que uma criança sonhava em ter,
sem que nada lhe faltasse. A imponência da luxuosa propriedade
combinava com ele.
Fiquei nervosa quando saltamos do carro e entramos na
casa, os saltos das minhas sandálias fizeram eco no piso de
mármore do imenso hall, onde fomos recebidos por uma mulher de
meia-idade, usando um uniforme de governanta.
— Graças a Deus, o senhor veio! — disse ela, aflita — Eles
estão impossíveis. Cismaram que a cozinheira estava colocando
medicamento para dormir na comida e acabaram demitindo a
coitada. Pouco depois de ir embora, ela voltou com o filho, exigindo
um pedido de desculpas e uma indenização pela falsa acusação.
O Sr. Dempsey parou diante da mulher e a encarou com
aquela expressão assustadora, como se tivesse a intenção de atear
fogo nela a qualquer instante.
— Você deixou que um desconhecido qualquer entrasse
aqui?! — vociferou, abruptamente.
— Eu não pude fazer nada. A mulher usou a chave que tinha
levado sem autorização.
— Foi descuido seu deixar ela levar essa chave!
— Verdade, senhor, admito meu erro. Mas agora está tudo
resolvido. O segurança os levou embora daqui. Nada de mal
aconteceu.
— Nada de mal, a não ser que o dia já está quase
amanhecendo e meus pais ainda não foram dormir! É esse tipo de
cuidado que você tem com eles?
— Mas, senhor...
Sem esperar que a mulher continuasse falando, ele voltou a
caminhar casa adentro, enquanto nós duas o seguíamos. Ao
avançarmos por uma sala com lareira e várias estantes com livros,
encontramos a mulher sentada em uma poltrona, levantando-se
agitada ao pousar seus olhos sobre o Sr. Dempsey. Devia ter uns
setenta anos, apesar de aparentar menos, devido à pele muito bem
cuidada. Era alta e morena, muito parecida com ele.
— Finalmente você apareceu. Achei que não atenderia o
telefone — disse ela, indo ao encontro do filho.
Fiquei pasma quando ele lhe pediu a bênção, como os
católicos costumavam fazer e ainda mais perplexa quando a
estreitou com ternura em seus braços, mantendo-a junto a si
durante um longo momento. Era estranho ver um homem frio como
ele dando e recebendo carinho. Por uma breve fração de segundo,
desejei estar no lugar daquela mulher.
— Que loucura é essa de a cozinheira estar colocando
medicação na comida? — indagou ele, ao desvencilharem-se do
abraço.
— Não é loucura. Seu pai e eu mal terminávamos o jantar e
estávamos sonolentos. Isso era coisa dela. O fazia para roubar
quando estive... — ela interrompeu, pousando seu olhar sobre mim,
como se só então notasse a minha presença na sala. — É uma
garota? — indagou, com a mesma perplexidade de quem
perguntava se um disco voador acabara de pousar na Terra.
— Ah, sim. Essa é Serenity, uma amiga. Serenity, essa é
minha mãe Elizabeth.
— É um grande prazer conhecer a senhora — falei,
oferecendo-lhe um sorriso.
A mulher me avaliou dos pés à cabeça, me impulsionando a
me encolher um pouco, inibida com o comprimento do meu vestido.
Contudo, relaxei quando ela abriu um largo sorriso.
— O prazer é todo meu. Seja mais que bem-vinda à nossa
casa. — Ela veio até mim e me surpreendeu ao beijar minhas
bochechas. — Você é realmente uma graça. — Sem desfazer o
sorriso dos seus lábios, virou o rosto na direção de uma porta, que
dava para outro cômodo. — Querido! Ele trouxe uma garota! —
disse aquilo como se anunciasse uma grande notícia.
No instante seguinte, o homem apareceu daquela porta.
Parecia mais velho que ela. Devia ter uns setenta e cinco anos. Era
alto, esguio e tinha os olhos da mesma cor dos do seu filho.
— É mesmo uma garota?! — O homem olhou para mim
espremendo seus olhos por trás das grossas lentes dos seus
óculos, como se custasse a acreditar na minha presença ali.
Assim como fez com a mãe, Dempsey pediu sua bênção,
depois o abraçou com ternura e por fim nos apresentou, antes de
voltar a expressar seu temperamento emburrado habitual.
— Que história é essa de sedativo na comida, pai? Vocês
têm alguma prova?
— Isso é coisa da cabeça da sua mãe. Eu falei pra ela que
não podíamos acusar a cozinheira sem termos nenhuma prova.
— Não é coisa da minha cabeça. Eu guardei o último prato
que ela preparou e vou enviar para análise em um laboratório. Mas
vamos esquecer essa história. Já está tudo resolvido. — Elizabeth
voltou a sorrir, ao olhar para mim. — E então, de onde vocês se
conhecem?
Antes que eu tivesse tempo de responder, meu chefe
interveio, nervoso: — Como assim está tudo resolvido? Se ela for
inocente, o filho pode cismar de voltar aqui para criar confusão.
— Se ele voltar, a gente dá a indenização que eles querem.
Essa gente só pensa em dinheiro. Podemos afastá-los com uma
pequena quantia.
— E se eles não se afastarem? É melhor vocês se mudarem
para Nova Iorque. Até porque, se essa mulher foi capaz de sedá-los,
pode fazer coisa bem pior.
— Ah, querido. Não seja exagerado. Foi só uma bobagem.
Vamos esquecer essa história toda. Por que não nos sentamos na
varanda e tomamos um bom café da manhã? O dia está quase
amanhecendo e você e sua amiga devem estar com fome. Venham.
Vamos comer e esquecer o resto.
Mesmo sem conhecer a Sra. Dempsey, naquele instante
compreendi que ela inventara toda aquela história de sedativo na
comida com o objetivo de atrair o filho até ali. Eu podia estar errada,
mas era o que parecia, devido à sua pressa em fugir de um assunto
que seria muitíssimo grave se fosse verdade. E, pelo que pude
perceber, meu chefe chegou à mesma conclusão, pois seguiu os
pais até os fundos da casa, sem tocar mais no assunto.
Todos nós nos acomodamos a uma mesa grande,
confeccionada com palha africana, que ficava em uma ampla
varanda nos fundos da mansão, onde havia uma gigantesca piscina
e de onde se podia avistar o sol nascendo por trás das águas
calmas do rio Hudson, em uma esplendorosa paisagem, que
emanava calma e tranquilidade. Eu entendia por que os dois idosos
não queriam ir embora dali. O lugar era simplesmente encantador.
Como a cozinheira não se encontrava mais na casa, a Sra.
Dempsey ordenou que a governanta se encarregasse de preparar o
café.
— Você se lembra de quando tomávamos o café aqui todos
os dias, antes de você ir para a escola e seu pai para o trabalho? —
indagou a Sra. Dempsey, observando o horizonte ao longe, com
uma expressão saudosa.
— Claro que eu me lembro, mãe. Passei praticamente minha
vida toda aqui. Só fui embora quando entrei na faculdade. Como eu
poderia não lembrar?
— Você vem tão pouco aqui que, às vezes, acho que se
esqueceu de nós.
— Eu jamais me esqueceria de vocês. Acontece que trabalho
muito e quase não tenho tempo para nada.
— A vida não é só trabalho. — Dessa vez foi o pai quem
falou. — De que adianta acumular tanto dinheiro, se não vive a vida
direito? E o que é pior, se não tem nenhum filho para quem deixar
tanta riqueza?
Os dois idosos olharam para mim ao mesmo tempo e fiquei
subitamente tensa.
— Não trabalho só pelo dinheiro, mas porque gosto. Nada me
faz mais feliz do que vencer no mundo dos negócios. Sobre ter
filhos, não vamos tocar nesse assunto de novo. Vocês sabem que
isso nunca vai acontecer. O mundo já tem gente demais e milhões
dessas pessoas vão fazer bom proveito do meu dinheiro, quando eu
não estiver mais aqui para usufruir dele.
Quanto mais ele falava, mais tensa eu ficava. Seu discurso
não deixava claro se ele jamais teria filhos porque não podia, ou
porque não queria. Provavelmente não queria, ou não teria me
mandado tomar anticoncepcionais. Eu nem quis imaginar o que
aconteceria se ele soubesse que poderia se tornar pai a qualquer
momento.
Caso essa gravidez realmente acontecesse, o que era
bastante provável, ele não poderia nem desconfiar que essa criança
existia, do contrário seria capaz de destruir tanto a mim quanto a
Mia, por ter sido imperdoavelmente enganado e manipulado.
— Não vamos falar sobre assuntos tão pesados na frente da
moça, ou iremos assustá-la — disse Elizabeth, dando-me um
simpático sorriso. — Me diga, querida, como conheceu nosso filho?
— No trabalho. — Foi tudo o que saiu da minha boca.
Felizmente, o Sr. Dempsey interveio: — Ela é minha
secretária. Ou melhor dizendo, uma nova estagiária. Quando vocês
ligaram nós estávamos em um... jantar de negócios. Por isso viemos
juntos.
Foi a primeira vez que o vi desconcertado e só consegui
sorrir, encantada, achando-o ainda mais charmoso.
— Foi assim que eu e o pai dele nos conhecemos também,
no trabalho — continuou Elizabeth, dirigindo-se a mim, com
simpatia.
— É verdade. No nosso caso, ela era a filha do chefe e eu o
advogado da empresa. Quando a conheci, jurei a mim mesmo que
me tornaria mais poderoso que o pai dela e logo era dono do maior
escritório de advocacia de Nova Iorque.
— Então vocês também não trabalham no ramo das
construções?
— Fiz isso a maior parte da minha vida, depois que vendi o
escritório de advocacia e fiz o melhor investimento da minha vida.
— É um verdadeiro exemplo de que o amor ajuda as pessoas
a crescerem.
— Exatamente.
— E você, Serenity, pretende ter filhos um dia? — disparou a
Sra. Dempsey e subitamente tive uma pequena crise de tosse.
— Bem, eu... ainda não sei. Provavelmente sim.
— Vamos parar de fazer perguntas indiscretas à menina! Não
estão vendo como ela ficou desconcertada? — falou meu mal-
humorado chefe-Dominante.
Pouco tempo depois, a governanta apareceu trazendo o café,
um verdadeiro banquete, com frutas, panquecas, bacon, café, leite e
cereais. Fizemos a refeição envolvidos por uma conversa leve e
descontraída, durante a qual apenas o Sr. Dempsey se mantinha o
tempo todo sério e emburrado, enquanto o resto de nós sorria e se
divertia com o que era falado e falamos sobre vários assuntos,
inclusive sobre a infância dele naquele lugar, no quanto sempre foi
mais sério e maduro que os outros garotos da sua idade e no
quanto se interessou cedo pelos negócios.
Ao fim da refeição, o Sr. Dempsey finalmente conseguiu
convencer os pais a irem para a cama, descansar e me conduziu
até um quarto de hóspedes, decorado com requinte, mas sem faltar
aquele aspecto aconchegante.
— Quero que descanse um pouco, você está precisando.
Quando estiver pronta, o motorista do meu pai a levará de volta até
Nova Iorque. Até mais tarde.
Ele fez menção de deixar o quarto e me apressei em falar: —
Espere. O senhor também passou a noite em claro. Não vai
descansar?
— Não posso. Tenho uma reunião daqui a pouco.
— Mas hoje é sábado. Estamos de folga.
— Vocês estão de folga. Eu não.
Novamente, ele se virou na direção da porta e imaginei o que
poderia acontecer se ele saísse por aí dirigindo sem ter dormido
nem um minuto durante a noite. Apertei os olhos, aflita com as
imagens que se passaram pela minha cabeça e me apressei em
tomar-lhe o caminho.
—Por favor, não vá.
— Por que não?
— Porque estou pedindo. E porque é perigoso dirigir por aí
sem dormir, eu não conseguiria descansar sabendo que está
correndo riscos.
Ele pendeu sua cabeça para o lado, reflexivo.
— Você andou falando com a minha mãe?
— Não. Apenas me preocupo com o senhor. Por favor, fique.
— Estou acostumado a dirigir com sono. Não precisa se
preocupar. Nada de mal vai acontecer.
— Então fique por mim. Não me deixe aqui sozinha. Por
favor.
Por fim, ele suspirou pesadamente, anunciando sua derrota.
— Tá. Já que você insiste tanto, vou cancelar minha reunião.
Estou mesmo muito cansado.
Agindo por impulso, pulei no pescoço dele, me colocando na
ponta dos pés para abraçá-lo. Afundei meu rosto na curva do seu
pescoço e espalhei uma trilha de beijos dali até seu queixo,
mordendo-o com prazer.
— É melhor você parar com isso, ou terá que lidar com as
consequências e você precisa descansar. Além disso, não quero
uma garota sem conseguir se sentar, andando pela casa dos meus
pais. O que eles iam pensar de mim?
Só consegui sorrir da sua fala, feliz porque ele não pegaria a
estrada naquele estado.
Após usar o banheiro rapidamente, tirei o vestido apertado e
deitei-me usando apenas a camisa dele e a cueca por baixo. Logo
depois de dar um telefonema, cancelando sua reunião, o Sr.
Dempsey deitou-se do outro lado da cama, o mais longe possível de
mim, apagou a luz do abajur, disse boa noite e ficou em silêncio.
Sem conseguir resistir, fui deslizando sobre o colchão até
perto dele e me aconcheguei ao seu corpo, jogando uma perna e
um braço sobre ele, enquanto seus músculos enrijeciam de tensão.
Apesar da noite em claro e do sexo fora dos padrões, ele tinha um
cheiro delicioso, uma mistura de perfume, com uísque e suor.
— Serenity, o que está fazendo? Sabe que não vou conseguir
me controlar se ficar assim tão perto e ambos precisamos de
descanso.
— Não consigo ficar longe. É como se o senhor tivesse um
ímã que me puxasse.
— Não deixe que esse tipo de sentimento se fortaleça. Você
é uma garota que precisa de amor e de carinho e não posso te dar
nada disso. Tudo o que tenho a te oferecer é a barbárie que fizemos
ontem. Nada além. E sinto que você precisa de mais.
— Nesse momento, tudo o que preciso é ficar assim com
você. O resto não importa.
Ele suspirou e senti seu corpo relaxar um pouco.
— Durma, criança. Daqui a pouco precisaremos voltar a Nova
Iorque.
— Não sou criança.
— É quase uma, por isso jamais me perdoarei pelo que estou
fazendo com você.
— Não está fazendo nada que eu não queira.
— Você não tem idade para entender o que quer.
— Engano seu. Sou adulta.
— Mas não conhece a vida, como eu. Eu não devia ter te
arrastado para esse mundinho sujo em que estamos.
— Eu quis ser arrastada pra esse mundo.
— Não, Serenity, você sequer o conhecia. Agora durma. Boa
noite.
— Boa noite.
Fechei os olhos e permaneci o mais imóvel possível,
apreciando o cheirinho gostoso dele, me refestelando no calor do
seu corpo. Meu coração agitado recusava-se a se acalmar e me
deixar dormir.
Lembrei-me da conversa com os pais dele e não me contive.
— É verdade que o senhor nunca pretende ter filhos?
Ele demorou a responder. Achei que seria ríspido e me
mandaria calar a boca, mas sua voz veio calma e gentil: — É.
— Por quê?
— Pelo mesmo motivo que você não pode se ligar a mim. O
que eu teria a oferecer a uma criança? Eu não sei amar, sou a porra
de um animal que gosta de machucar as pessoas. Uma criança não
sobreviveria sob o mesmo teto que eu.
Senti uma leve pontada de angústia no tom de sua voz e,
impulsivamente, acariciei sua face e seus cabelos com a ponta dos
dedos.
— Você não é assim. Apenas não encontrou a pessoa certa
para amar. E não há condenação em machucar alguém durante o
sexo, se é consensual.
— Como não encontrei a pessoa certa, se já se passaram
mais mulheres pela minha vida do que você possa contar e
nenhuma delas saiu disso feliz? As que não morreram, como
Eleanor, foram embora magoadas, porque esperavam pelo meu
amor e não tiveram nada além de sexo e surras. Não se torne uma
dessas mulheres. Saia da minha vida enquanto ainda não está tão
afetada.
— Eu já estou afetada. — Estremeci ao ouvir minhas próprias
palavras e constatar o quanto eram verdadeiras. Eu estava afetada
por aquele homem muito mais do que as loucas circunstâncias que
me levaram a ele podiam permitir. — E não sairei da sua vida, a
menos que me mande embora.
Lamentei ao perceber que essa parte era uma inverdade. Eu
sumiria da vida dele tão logo ficasse grávida e nunca mais o veria.
Jamais, em minha existência, quis algo com tanta intensidade, como
nesse instante desejei que essa gravidez jamais acontecesse, pois
assim eu teria mais tempo com ele, pelo menos até estar afetada o
suficiente para que ele me expulsasse, como expulsara todas as
outras, porque era isso que ele fazia.
— Boa noite, Sr. Dempsey — sussurrei, sentindo-me
desolada.
— Boa noite, Serenity.
Agarrada a ele, fechei os meus olhos, afastando todos os
pensamentos e mergulhei em um sono profundo e tranquilo.
CAPÍTULO 21

Serenity
Acordei ouvindo o canto dos pássaros partindo de muito
perto, como não ouvia desde que era criança e ia acampar. Os sons
criavam uma atmosfera gostosa de paz e sossego, que me fazia
querer continuar na cama. Contudo, já era dia e não era muito cedo,
o sol se infiltrava no quarto através das frestas na cortina da janela.
Fiquei surpresa ao perceber que o Sr. Dempsey ainda se
encontrava ao meu lado, com seu corpo colado ao meu, nossas
pernas entrelaçadas. Estava profundamente adormecido, seu rosto
lindo relaxado, exalando serenidade e tranquilidade, como em
raríssimas ocasiões. Os olhos fechados revelavam cílios escuros, a
boca perfeitamente desenhada, quase sorrindo.
Apoiei a cabeça sobre o cotovelo e fiquei imóvel,
praticamente sem piscar, observando-o, maravilhada com sua
beleza máscula, com o quanto parecia tranquilo e em paz. Eu
entendia por que sua antiga amante cometera suicídio após o fim da
relação, não era fácil para uma mulher se distanciar de alguém
como ele, assim como não seria para mim, quando chegasse a hora
de partir.
Se pelo menos toda essa história de gravidez de aluguel não
existisse, se não houvesse a certeza de que ele me odiaria caso
descobrisse a verdade, eu tentaria ficar mais tempo ao seu lado, ou
para o resto da vida, mas isso seria impossível. Se eu quebrasse o
acordo que fizera com Mia, de entregar-lhe a criança, ela contaria
tudo a ele, e então ele me odiaria imperdoavelmente, por tê-lo
manipulado e enganado. Tomaria a criança de mim e eu sairia
dessa história sem nada, nem ele, nem o dinheiro e ainda com
Dylan no meu encalço.
O pensamento provocou um estremecimento em meu corpo e
tratei de afastá-lo. Impulsivamente, percorri a ponta do meu dedo
indicador da sua testa até seu queixo, quando então ele moveu-se
brevemente, ainda dormindo, o suave resvalar da sua coxa
musculosa no vão entre minhas pernas causou uma corrente de
tesão que me varreu de cima a baixo, fazendo meu ventre se
contorcer e minha vagina palpitar.
Em busca de mais um pouco daquele contato, movi meus
quadris levemente, esfregando-me na sua coxa, quando pude
constatar o quanto meu corpo estava dolorido da noite passada. No
entanto, a excitação era maior que qualquer coisa e apertei mais
meu sexo na sua perna, fervendo de tanto tesão, um gemido suave
saltou dos meus lábios, acordando-o.
— Bom dia, dorminhoco — falei, tão logo seus olhos lindos se
abriram, o verde das suas íris pareciam ainda mais claros sob a
claridade do sol que entrava pela janela.
— Que horas são? — indagou ele, calmo, relaxado.
— Não sei. Umas dez horas. Acabei de acordar também.
— Não acredito que dormi tanto assim.
— O senhor precisava descansar.
— Acho meio redundante você continuar me chamando de
senhor, dada as circunstâncias.
—Posso chamá-lo pelo primeiro nome?
— Sim. Exceto no trabalho. Não quero as pessoas fofocando.
Sorri, emocionada, pois sempre quis tratá-lo sem tanta
formalidade.
— Kael. Você tem um lindo nome.
Agindo por instinto, levei a mão aos seus cabelos, a fim de
acariciá-los, mas, antes que pudesse tocá-los, sua mão forte e
fechou em torno do meu pulso e a pousou sobre seu membro ereto,
que formava um imenso volume sob o lençol.
— Eu já te avisei que ficar se esfregando em mim desse jeito
pode ter consequências — rosnou.
Em resposta, apertei o pau dele por sobre os tecidos e
esfreguei mais uma vez meu sexo na sua perna, fechando os olhos
enquanto um gemido abafado fugia da minha garganta.
Ele fitou-me surpreso.
— Já está com fogo nessa xoxota de novo, menina?
— É o efeito que você causa em mim. — Foi maravilhoso
chamá-lo de você, ao invés de senhor.
Ele virou-se de lado, segurou meus cabelos com uma mão e
deslizou a outra pela minha silhueta, infiltrando-a sob o tecido da
camisa e invadindo a cueca que eu usava. Seus dedos se moveram
entre meus grandes lábios, primeiro sobre meus clitóris e depois
penetrando docemente minha vagina encharcada, movendo-se
dentro dela em um lento e enlouquecedor vai e vem, que me fez
gemer alto em um misto de dor e prazer.
— Que delícia, mesmo dolorida de tanto levar pica, está toda
molhadinha, com vontade de foder.
— Sim... tenho fome de você... quero seu pau dentro de
mim... ahhh...
Com mãos brutas, ele me puxou para cima do seu corpo,
fazendo-me montá-lo. Apressado, desceu sua calça até o meio das
coxas, afastou a minha cueca para um lado e me penetrou, indo
fundo. Movia-se mais devagar que todas as outras vezes em que
transamos, mas ainda assim era delicioso e se tornou ainda melhor
quando ele sentou-se, nivelando seu rosto com o meu, sem jamais
deixar de me penetrar. Minha lubrificação lambuzou nós dois, o
tesão descontrolado me fez rebolar os quadris sobre ele enquanto
seu pau girava gostoso dentro da minha vagina.
— O que você está fazendo comigo, menina? — rosnou ele,
com seu rosto a centímetros de distância do meu.
— Como assim?
— Eu nunca tinha dormido na mesma cama com uma mulher
e com você isso está virando rotina. Como se não bastasse, estou
praticamente fazendo amor com você agora.
— Não quero que mude por minha causa, mas estou
adorando fazer amor com você... assim como adoro quando você
me pega brutalmente e me faz gozar no pau e na boca de outra
pessoa. Eu adoro tudo em você... ahhh...
— Sua putinha safada.
Dito isto, ele agarrou-me pelos cabelos e jogou-me de costas
na cama, arrancando bruscamente a cueca que eu usava e suas
próprias roupas. Então, montou sobre mim, pendurando minhas
pernas em seus ombros e voltando a me penetrar, com força desta
vez, estocando brutalmente na minha vagina, até que juntos
alcançamos o clímax, selvagens e descontrolados como dois
animais.
Após o sexo, tomamos banho juntos e descemos até o
primeiro andar. Na sala de estar imensa, a Sra. Dempsey se
encontrava sentada em um dos sofás, lendo algo em um tablet, o
qual abandonou tão longo nos ouviu aproximando, levantando-se
para vir nos receber a meio caminho, com um largo sorriso.
— Que felicidade você ter passado a noite aqui. Já fazia tanto
tempo que não dormia em casa — disse ela, animada.
— E a senhora, o que faz de pé a essa hora? Não dormiu
quase nada.
— Gente velha não dorme muito.
Fiquei encantada quando ele a abraçou e beijou com ternura,
deixando claro que não era o animal incapaz de amar, como dizia
ser. Esse homem tinha muito amor em seu coração, apenas não
havia se apaixonado ainda e algum dia alguma sortuda se tornaria
dona desse amor.
— Onde está o papai pra eu me despedir?
— Está fazendo caminhada, mas já volta. Nem pense em se
despedir agora. Mandei a cozinheira preparar seu prato preferido.
Vocês almoçam conosco.
— Qual cozinheira? A senhora não tinha demitido ela?
— Aquilo foi bobagem. Mandei examinar a comida, mais
cedo, e não tinha nada. Então a contratei novamente. É uma ótima
cozinheira.
— Mãe! A senhora pelo menos pediu desculpas à mulher e
ao filho dela?
— Claro que pedi. Sou uma mulher civilizada. — Claramente
a fim de fugir do assunto, ela se virou para mim. — E você, minha
querida, conseguiu dormir bem?
— Maravilhosamente. Fico grata pela hospitalidade.
— Não há o que agradecer. Amiga do nosso menino é parte
da família. Fique à vontade para vir aqui quando quiser. Gosta de
pescar?
— Adoro. Só não tenho muitas oportunidades de fazer isso.
— Pois agora tem. Quando estiver de folga, venha pescar e
aproveitar o ar fresco do campo. Faz bem se desligar um pouco da
agitação de Nova Iorque de vez em quando.
— É verdade.
O telefone de Kael tocou e ele afastou-se para atender,
deixando-me a sós com Elizabeth, que se mostrava muito calorosa
e simpática. Achei que toda essa receptividade se devia ao fato de
que meu chefe não trazia muitas mulheres à casa dela, mas a
situação era ainda pior. Pelo que ela disse, ele jamais trouxera uma
mulher para apresentar-lhes, eu estava sendo a primeira, o que
reacendia a chama de esperança que ela tinha de vê-lo feliz um dia
e de dar-lhe alguns netos.
Como toda mãe apaixonada, mostrou-me várias fotografias
de quando ele era bebê, o que me deixou encantada. Revelou-me
que ele sempre teve um temperamento difícil, que brigava muito
quando criança, mas tinha um grande coração. Por fim, enquanto
ainda estávamos sozinhas, confessou que combinara toda aquela
história de sedativo na comida com a cozinheira, com o objetivo de
atrair Kael até lá, visto que ele não os visitava com muita frequência
e, por fim, pediu-me que contasse tudo a ele depois que fôssemos
embora.
Não demorou muito e o pai de Kael estava de volta da sua
caminhada e todos nós nos reunimos na grande mesa na sala de
jantar, onde almoçamos carne de cordeiro ao molho madeira,
envolvidos por conversas leves e descontraídas. Para a tristeza dos
dois idosos, logo após a refeição, Kael decidiu que estava na hora
de irmos embora e partimos de volta para Nova Iorque.

***

— Mandarei o motorista trazer seu carro do Cobongo. Não


precisa se preocupar com nada. Aproveite o final de semana para
descansar — disse ele, tão logo estacionou o carro em frente ao
prédio onde eu morava.
Naquele instante compreendi um pouco como Elizabeth se
sentia. Não era fácil sair de perto daquele homem. Eu queria que o
tempo parasse, para que não precisássemos nos afastar. Quis
pedir-lhe que passasse o resto do sábado e o domingo comigo, já
que não estávamos trabalhando, mas me ocorreu que eu não tinha
toda essa liberdade em sua vida. Eu não era nada para ele, além de
uma transa.
Com meu coração pesado, levei a mão à sua nuca e a
acariciei, protelando o momento de dizer adeus. Esperei que ele
esboçasse alguma reação, que ao menos me beijasse antes do
adeus, mas ele sequer se moveu, mantendo-se frio e distante.
— Gostei muito de conhecer seus pais — comentei.
— Não espere vê-los de novo. Isso foi uma eventualidade —
disse seco e frio. — Não fale sobre o que fizemos para ninguém no
trabalho e não precisa me procurar. Pode deixar que eu procuro
você.
“Quando estiver com vontade de transar”, completei sua fala,
mentalmente.
Suas palavras me fizeram sentir tão sem importância, que
puxei minha mão da sua nuca com pressa.
— Tudo bem. Até depois.
Dito isto, desci do carro, sem conseguir voltar a encará-lo.
Enquanto entrava no prédio, tentei não chorar, pois sempre soube
que as coisas seriam assim entre nós, sempre soube que ambos
usaríamos um ao outro para conseguirmos o que queríamos.
Todavia, quando me dei conta, as lágrimas estavam escorrendo dos
meus olhos. Uma carência afetiva infinita tomava conta do meu
peito, fazendo-me sentir mais solitária do que já estive em qualquer
outra situação na minha vida.
No fim da tarde, Mia me telefonou convidando para passar o
domingo com ela, porém, com a esperança de que Kael me
procurasse no dia seguinte, acabei inventando que tinha umas
coisas para arrumar no apartamento e recusei. Passei o domingo
todo sozinha, lendo e assistindo séries da tevê, esperando que ele
enviasse uma mensagem, ou que aparecesse, mas nem uma coisa
nem outra aconteceu. Meu chefe não deu sinal de vida e não me
senti encorajada a ligar para ele nem enviar mensagem, visto que
ele já havia deixado mais do que claro qual era o meu lugar na sua
vida.

***

Na segunda-feira, fui para o trabalho animada, ciente de que


o veria, falaria com ele e talvez até fôssemos além disso. No
entanto, mais uma vez, minha decepção foi colossal. Ver até que o
vi, quando ele passou direto pela recepção, em direção ao seu
escritório, ao chegar pela manhã, como sempre sem cumprimentar
nem a mim nem a Mia, ou mesmo virar o pescoço para nos olhar. E
da mesma forma transcorreu o resto do dia. Todas as vezes que ele
precisava de algo, se dirigia diretamente a Mia, através do interfone
e não aconteceu nenhuma reunião na qual ele estivesse presente,
para que eu pudesse pelo menos olhá-lo, de modo que, no fim da
tarde, quando o expediente foi encerrado, eu estava arrasada, me
sentindo o último ser humano da face da Terra, carente do afeto e
esperando pelas migalhas de atenção de um homem para quem eu
nada representava.
Na terça-feira, nada mudou. Meu chefe não falou comigo ao
chegar no escritório, nem durante todo o dia. Não aconteceu
nenhuma situação na qual precisássemos estar na mesma sala e,
no fim do expediente, eu estava ainda mais devastada, me sentindo
excluída da sua vida, solitária e carente. Mas o que eu esperava?
Quando entrei nessa história, já sabia que as coisas seriam assim.
Como Mia dizia — nos momentos em que me flagrava quase
chorando —, desta forma era bem melhor, pois me livrava do risco
de me apaixonar por um homem que jamais me levaria a sério. Era
isto que eu precisava colocar na minha cabeça e parar de sofrer por
quem não me queria.
Como todos os dias, deixei o edifício no fim da tarde,
dirigindo meu Jaguar conversível pelas movimentadas ruas de
Manhattan. Estava parada em um semáforo, quando, de repente, a
porta do carona se abriu e Dylan acomodou-se no assento daquele
lado, como se tivesse surgido do nada. Meu primeiro impulso foi
abrir a porta do outro lado e sair correndo, porém, antes que tivesse
tempo de me mover, ele afastou brevemente uma das laterais da
sua jaqueta e exibiu a arma presa ao cós da sua calça.
— Continue dirigindo, sem fazer alarde — disse.
O medo que tomou conta de mim foi tão aterrador que me
paralisou. De súbito, eu já não conseguia mais pensar ou agir, tudo
em mim estava dominado pelo horror incontrolável que me fazia
tremer e suar frio enquanto meu coração ameaçava parar de bater.
— O que você quer? — perguntei, aterrorizada, ciente de que
ele poderia enfiar uma bala na minha cabeça a qualquer momento,
sem se importar com as testemunhas que havia em volta, já que
tinha a polícia na palma da sua mão.
— Como assim, o que eu quero? Você tem uma dívida
enorme comigo. Devia era estar me agradecendo por ainda não ter
dado um tiro na sua cabeça.
— Eu já disse que vou te pagar. Você só precisa esperar.
— Acontece que isso tá demorando demais. Já ficou grávida,
pelo menos?
O sinal abriu e segui em frente, virando a esquina na direção
oposta ao meu apartamento, temendo que ele pudesse tentar entrar
lá e fazer algo terrível comigo.
— Ainda não, mas isso é questão de tempo.
— Tempo demais. Você acha justo que eu tenha que esperar
tudo isso pra receber uma grana que você me fez gastar, enquanto
você anda por aí dirigindo um carrão caro desse? — Seu tom de voz
estava carregado de ameaça e engoli em seco, prevendo o que ele
faria. — Não há justiça nisso, portanto, o carro fica comigo, como
parte do pagamento da sua dívida.
— Mas eu já vou te dar os quinhentos mil.
— Foda-se. Depois que você me der a grana, talvez eu te
devolva o veículo, mas por enquanto ele é meu, encoste ali e desça
agora mesmo!
Dominada pelo medo, minha mente começou a trabalhar
depressa, tentando pensar no que diria a Kael se Dylan levasse o
carro.
— O que vou dizer ao Sr. Dempsey?
— Sei lá. Se vira. Só não vai na polícia, pois isso seria o seu
fim. Agora encosta e não me faça mandar de novo!
Sem saber o que fazer, parei o carro no acostamento e desci,
aflita, aterrorizada, observando Dylan tomando o volante.
— Isso não é um adeus. Se apresse em arrecadar meus
quinhentos mil. Assim que o fizer, te devolverei o carro. Até depois.
Dito isto, ele ligou o motor e saiu em disparada pelas ruas
movimentadas, desaparecendo em meio ao tráfego, enquanto eu
permanecia parada à calçada, em estado de choque.
Olhei para todos os lados, tentando decifrar se o segurança
do Sr. Dempsey continuava me seguindo, como há alguns dias, mas
não vi ninguém suspeito, tampouco algum carro correu atrás de
Dylan. Provavelmente meu chefe havia desistido de me vigiar, já
que o traficante não aparecia há semanas. Assim era melhor, pois
eu não teria que explicar por que deixei que meu carro fosse levado,
sem ao menos acionar a polícia.
Naquele instante, me senti sozinha e perdida como nunca na
minha vida, sem ninguém para me amparar, ou ao menos ouvir o
que estava acontecendo. Se procurasse a polícia, com certeza
aquele demente me mataria. Aparentemente, ele não pretendia mais
voltar para o Texas e estando por perto, eu jamais estaria segura.
Tudo o que eu queria naquele momento, era que meu pai
estivesse vivo, pois ele fora a única pessoa nesse mundo que já se
importara comigo de verdade. Todos os outros queriam algo de mim
e não ligavam a mínima para o que se passava na minha vida.
Desconsolada, voltei para o apartamento de táxi e chorei
durante várias horas, com a solidão e o medo consumindo-me até a
alma, a saudade do meu pai se tornando quase insuportável. Ainda
pensei em ligar para a minha mãe, mas de uma coisa eu tinha
certeza: ela me julgaria e daria razão a Dylan, usando essa história
como mais um pretexto para me afastar. A verdade era que eu
estava completamente só e isso doía no fundo da minha alma.
Já era noite, cerca de oito horas, eu estava deitada no sofá
da sala, tentando me concentrar na leitura de um livro e esquecer
minha realidade, quando recebi uma mensagem do meu chefe:
Kael: Encontre-me no Cobongo. Estou te esperando no
salão.

Apesar das circunstâncias, meu coração deu uma guinada no


peito, com a simples perspectiva de revê-lo. Ainda assim, meu
primeiro impulso foi responder dizendo que não poderia ir, pois
estava com outra pessoa. Era isso que ele merecia ouvir, depois de
me ignorar durante dois dias. Entretanto, eu ainda precisava dele, já
que ainda não sabia se estava grávida. Precisava levar aquela farsa
até ter certeza de que um filho seu estaria em meu ventre, então
tudo terminaria.
E esse não era o único motivo pelo qual eu iria encontrá-lo.
No fundo, eu precisava vê-lo, precisava estar com ele, sentir o seu
calor, ouvir a sua voz, beijar a sua boca gostosa e pelo menos fingir
que acreditava que ele era meu. Apenas a sua proximidade seria
capaz de aquecer meu coração e me trazer a paz da qual eu
precisava. Então, respondi sua mensagem:
Serenity: Daqui a pouco chego aí.

Tomei um banho rápido, espalhei creme hidratante


perfumado pelo corpo, vesti um vestido de seda curto, colado e
nada recatado, sem calcinha por baixo, escovei bem os cabelos, fiz
uma maquiagem bonita e saí para a rua. Como Kael não tinha visto
o carro da outra vez em que fui encontrá-lo no clube, tive quase
certeza de que não desconfiaria de nada caso eu fosse de táxi,
afinal eu o encontrara apenas na parte de dentro do
estabelecimento, nada de encontros na garagem. Então, peguei um
táxi e fui ao seu encontro.
Como das outras vezes em que estive no Cobongo, precisei
pegar uma máscara com o troglodita horroroso que ficava na
recepção, coloquei-a no rosto e entrei. O lugar tinha cheiro de
álcool, incenso e cigarros, a música que tocava em volume
confortável era calma e melancólica. Como ainda era cedo da noite,
não estava tão lotado, havia apenas algumas pessoas no bar, outras
às mesas e algumas poucas na pista de dança. Avançando pelo
amplo salão, logo avistei o meu chefe, sentado na mesma mesa que
da última vez em que estivemos aqui, desta vez entre duas garotas,
uma delas Melissa, a outra uma morena deslumbrante, que logo
reconheci como a gerente do lugar. Estava mais lindo que nunca,
com seus cabelos negros desalinhados, usando uma máscara preta
que cobria metade do seu rosto, uma camisa branca de mangas
compridas, com os primeiros botões abertos, revelando o início da
camada de pelos escuros que havia em seu peito.
Ao avistá-los, fui invadida por um turbilhão de sentimentos
contraditórios. Ao mesmo tempo em que a raiva me espezinhava,
por ver aquelas duas mulheres rondando o homem que eu queria,
meu coração se enchia de emoção por vê-lo de perto depois de dois
dias. Era uma emoção tão avassaladora, que minhas pernas ficaram
trêmulas e meu coração disparou como um louco no peito, enquanto
eu me aproximava de onde estavam.
CAPÍTULO 22

Serenity
— Boa noite — falei, ao chegar perto.
Eu nem sabia como agir. Minha vontade era de puxar as duas
mulheres pelos cabelos e tirá-las dali.
— Sente-se — disse meu chefe.
Ele segurou-me pela mão e me puxou de supetão, fazendo
com que eu caísse sentada em seu colo. Olhei dentro dos seus
olhos, a poucos centímetros de distância, senti seu calor gostoso
me alcançando através das roupas, me inebriei com seu cheiro
delicioso e fui invadida por um turbilhão de emoções que fazia meu
coração bater tão depressa, que parecia prestes a saltar de dentro
do peito. Seguindo a um impulso incontrolável, abracei-o pelo
pescoço, apertando-o forte, tentando suprir essa estranha
necessidade que meu corpo tinha do dele.
Aparentemente sem opção, ele abraçou-me pela cintura e
permanecemos imóveis, agarrados, durante um longo momento.
—Você está bem? — indagou ele, afastando-me do abraço e
fitando meu rosto com escrutínio.
— Sim. Só estava com saudade de você.
Em reação às minhas palavras, sua fisionomia endureceu,
seus olhos assumiram aquela frieza desoladora que eu já conhecia
bem.
— Lembra-se de Elza, a gerente do clube?
Virei-me para a mulher, desgostosa com a capacidade que
ele tinha de soterrar qualquer lampejo de emoção que pudesse
surgir entre nós.
— Claro. Como vai, Elza?
— Ótima. E feliz em rever você.
A descarada esticou a mão e acariciou minha coxa, puxando-
a de volta ao perceber que a carícia não era bem-vinda.
— E de Melissa, você se lembra?
E como eu poderia esquecer de uma mulher que me fez
gozar duas vezes?
— Sim. Como vai, Melissa?
— Melhor agora que você está aqui — disse ela, sorrindo
angelicalmente.
Quem não conhecia seus gostos sexuais, juraria que ela era
uma dessas garotas românticas e certinhas, que estava guardando
a sua virtude para o príncipe encantado. Como sempre, estava
linda, usando um espartilho lilás, com sandálias da mesma cor e os
cabelos loiros, escovados em fio reto, caindo-lhe pelos ombros.
— O que você quer beber? — indagou meu chefe, olhando
para mim.
— Vodca com gelo.
— Pode deixar que mando o garçom vir até aqui. Com
licença — disse Elza e, com isto, retirou-se da mesa.
O Sr. Dempsey me observou durante um momento, com suas
sobrancelhas franzidas. Como em um sonho, ergueu sua mão e
acariciou meus cabelos, colocando uma mecha para trás da orelha.
— Tem certeza de que você está bem? Porque não parece.
— Estou sim. Como eu disse, senti falta de você.
— Vamos evitar nutrir esse tipo de sentimento.
— Por quê?
— Porque assim será mais fácil para nós dois quando
terminar.
— Não precisa terminar.
E não precisava mesmo. Se eu realmente engravidasse,
poderia sair da cidade até a criança nascer e depois de entregá-la à
Mia, voltaria correndo para os braços dele. Ele nunca saberia de
nada.
— Tudo o que começa tem fim. Mas podemos aproveitar
enquanto podemos.
Ele ainda carregava o trauma pela morte da sua amante.
Pensei em falar a respeito, dizer-lhe que tragédias aconteciam, mas
nem tudo precisava acabar em uma. Contudo, não quis tocar em um
assunto tão pesado. Deixaria para outra hora.
— É, podemos. — Foi tudo o que saiu da minha boca.
— Então vamos aproveitar.
Dito isto, ele segurou firme em minha nuca, conduziu minha
boca até a sua e mordeu meu lábio inferior, sugando-o com força
antes de me beijar com aquela selvageria gostosa, que me
alucinava e me deixava sem chão. Ao mesmo tempo, infiltrou sua
mão sob a saia do vestido e soltou um grunhido na minha boca ao
tocar minha boceta, passando seus dedos na fenda entre os
grandes lábios, massageando meu clitóris e por fim penetrando
minha vagina com dois deles, o que me fez abrir mais as pernas,
para que ele me alcançasse mais fundo.
— Que delícia, essa bocetinha quente e peluda... fico feliz
que tenha se lembrado de vir sem calcinha.
— Sou capaz de qualquer coisa por você, até sair pelas ruas
da cidade sem calcinha.
Ele apertou minha nuca e beijou-me mais ferozmente,
explorando minha boca com sua língua. Desceu seus lábios pelo
meu pescoço e lambeu a parte dos meus seios que se revelava no
decote do vestido, para em seguida fechar os dentes sobre um dos
mamilos e fazer pressão. O misto de dor e tesão varreu todo o meu
corpo e se instalou entre minhas pernas.
— Você está tão cheirosinha... — sussurrou ele, com seus
lábios de encontro à minha pele.
— É para que você saiba o quanto senti sua falta.
— Para de repetir isso, se não daqui a pouco vou te comer
em cima da mesa do escritório, durante o trabalho e isso
atrapalharia os negócios.
— A vida não é só negócios. Assim como não é só sexo.
— Sexo é tudo o que tenho a te oferecer, o que faz de você a
minha putinha.
— Prefiro ser a sua puta, do que a esposa de qualquer outro
homem.
Ele voltou a me beijar, ainda mais intensamente. E
continuamos assim, nos beijando, acariciando e jogando conversa
fora, sem que eu visse o tempo passar, ou tivesse consciência de
qualquer coisa que acontecia à minha volta. Cada minúscula
partícula do meu ser ligada àquele homem, além de sua
proximidade, tomava conta de tudo, como se meu mundo se
resumisse a nós dois e àquele momento, o qual parecia mais íntimo
do que quando estávamos fazendo sexo de fato. Naquele instante,
nenhum problema existia, minha solidão fora exterminada, assim
como Dylan apagado da minha lembrança.
— Serenity, vamos dançar? Eu amo essa música — disse
Melissa e só então me dei conta de que ela ainda estava sentada à
mesa.
Percebi também que a música romântica cessara, dando
lugar a um ritmo mais agitado. Já fazia tanto tempo que eu não
dançava e me divertia, que nem sabia se ainda lembrava os passos.
Olhei para o meu chefe e ele assentiu, dando-me permissão
de ir com ela.
— Podem ir. Eu não danço. Fico aqui observando.
Nós duas nos colocamos no início da pista de dança, de onde
Kael poderia nos enxergar, de frente uma para a outra. Melissa
parecia uma criança animada ao começar a se balançar
freneticamente, no mesmo ritmo agitado da música. Como se a
empolgação dela me contagiasse, a imitei dançando no mesmo
ritmo, entregando-me à batida frenética. O efeito da vodca me
deixou mais leve e solta, de modo que logo eu estava envolvida
enquanto todos os problemas e dores desapareciam.
Não demorou muito, um sujeito horrível, usando uma cueca
de couro, máscara preta e segurando um chicote, com os pelos
grisalhos do seu peito à mostra, se aproximou e tentou se enfiar
entre nós duas, o que foi suficiente para que Melissa revelasse um
lado seu que ninguém imaginaria que existia. Com um empurrão
bem forte, ela colocou o cara para correr.
— Cai fora daqui, seu feioso! Essa é uma dança de garotas!
— falou e caí na gargalhada.
Ela riu junto comigo e então silenciou, observando-me
demoradamente.
— O Sr. Dempsey gosta de você.
— Por que você acha isso?
— Pela forma como ele te trata, como te toca e te beija. Ele
deixa você chamá-lo pelo primeiro nome! — anunciou aquilo como
se fosse algo chocante.
— Não acho que ele goste de verdade. Como ele mesmo diz,
é apenas sexo.
— Tenho certeza de que ele sente alguma coisa. Ele foi
amante de Eleanor durante vários anos e nunca ficou assim tão
íntimo dela, como fica com você. E nunca deixou ela chamá-lo de
você. Era sempre senhor.
Olhei na direção dele e vi que nos observava fixamente,
enquanto degustava seu uísque devagar. Eu queria acreditar no que
Melissa dizia, mas seria o mesmo que enganar a mim mesma. Kael
tinha muito amor no seu coração, mas esse amor nunca seria meu.
Comigo, ele queria apenas transar e deixava isso claro a cada
oportunidade que surgia.
— Quem dera fosse verdade. Ele é um homem incrível.
— Eu entendo por que ele está enfeitiçado. Você é uma
mulher linda e gostosa demais.
Sem que eu esperasse, ela espalmou sua mão na lateral do
meu rosto e foi aproximando sua face da minha, bem devagar,
dando-me a chance de fugir, mas não o fiz. Era para eu ter saído
correndo dali, onde já se viu deixar outra mulher me beijar?
Entretanto, simplesmente não me movi a não ser para fechar os
meus olhos quando sua boca macia encontrou a minha, em um
beijo delicado e macio demais.
Não era a mesma coisa sem o Sr. Dempsey. Quando ela me
beijou, enquanto chupávamos o pau dele, foi muito gostoso, lascivo,
mas desta vez era o mesmo que estar beijando uma porta. Não
senti nada, embora também não fosse desagradável.
Ao apartar sua boca da minha, Melissa me deu um sorriso
largo, com seus olhos azuis brilhando de luxúria.
— Você nunca ficou com uma mulher, não é? — disse ela.
— Não. Só das vezes em que estive com o Sr. Dempsey e
você.
— Você é uma Submissa nata, que sente tesão em fazer
qualquer coisa para agradá-lo.
— É, acho que sou.
— E também é hétero, para a minha infelicidade.
Sorri involuntariamente para ela.
— Sou sim, mas gostei do que fizemos quando estávamos
com ele.
— Bem, se você sente tesão agradando seu homem, sei uma
forma de deixá-lo louquinho.
— Qual?
— Eu te mostro.
Ela me deu um sorriso e começou a dançar de uma forma
muito sensual, quase indecente, esfregando-se em mim, passando
suas mãos pelo meu corpo e encenando cenas de sexo oral em
várias posições diferentes, enquanto eu entrava no jogo e a imitava,
permitindo que nossos corpos se entrelaçassem e se esfregassem
com movimentos para lá de luxuriosos.
Ao olhar na direção de Kael e perceber que ele nos
observava quase sem piscar, fiquei absurdamente excitada, o que
me incentivou a continuar com aquela loucura e passei a apreciar
mais o contato com o corpo delicado de Melissa.
— Vocês estão deixando todos os homens do clube de pau
duro — disse a voz grossa ao nosso lado.
Antes mesmo de olhar para ele, soube que era o estranho
com quem meu chefe e eu transamos na outra noite. Como da outra
vez, ele usava apenas uma calça jeans com rasgos nas pernas,
máscara e tênis, exibindo o corpo atlético, mais esguio que o do Sr.
Dempsey, mas ainda assim muito sexy. Em uma das mãos,
segurava um copo pelo meio de uísque.
— Eles que se masturbem, nós estamos dançando para um
homem apenas — disparou Melissa, rindo alto.
—Você não imagina a minha felicidade em vê-la por aqui
novamente — disse ele, dirigindo-se a mim.
— Vocês já se conhecem? — Melissa quis saber.
— Sim. Quer dizer, mais ou menos — respondi.
— Tive a honra de estar com ela e seu Dominante há dois
dias. Confesso que foi uma das melhores noites da minha vida. —
Ele me fitava intensamente enquanto falava.
— Ah, como eu gostaria de ter estado lá também — disse
Melissa.
— E vocês dois já... se conhecem? — perguntei.
— Só de vista.
Fiquei surpresa quando o sujeito passou o braço em volta da
minha cintura e me puxou para junto do seu corpo, chocando-me
bruscamente contra seus músculos e aprisionando-me a ele.
— Estive aqui todas essas noites tentando vê-la novamente.
Espero que possamos repetir o que fizemos naquele apartamento.
— Eu também gostaria.
— Mesmo?
— Sim, mas não depende de mim e sim do meu chefe.
Ele fitou-me surpreso.
— Aquele cara é seu chefe?
— O que tem de mais nisso?
— Nada. Só acho meio ofensivo no sentido de ele exercer
certo poder sobre você.
— Ele exerce todos os poderes sobre mim.
— Nesse caso, que tal sair um pouco dessa rotina e ficar com
um homem que a trate como igual? Eu também tenho um
apartamento nesse prédio. Deixa seu chefe aqui e sobe comigo. Te
prometo que não vai se arrepender.
Antes que eu tivesse tempo de responder, ele segurou-me
pela nuca e trouxe sua boca até a minha, beijando-me com
suavidade, resvalando sua língua na minha, tão gostosamente que
não consegui fazê-lo parar, apreciando o seu gosto e as sensações
libidinosas que varriam meu corpo, fazendo meu ventre se
contorcer, o que se tornou ainda mais intenso quando ele apertou
forte minha bunda, empurrando meu ventre de encontro a sua firme
ereção.
Obviamente eu não iria para o apartamento dele, mas
adoraria repetir o que fizemos na outra noite, junto com o Sr.
Dempsey.
Ele ainda estava me beijando, quando a mão forte se fechou
em torno do meu braço e me puxou de supetão, afastando-nos.
— Com licença! — vociferou o Sr. Dempsey, antes de sair me
puxando pelo salão, abrindo caminho em meio às pessoas.
Conduziu-me até uma mesa a um canto reservado e em
torno dela puxou uma cortina preta, cuja existência eu desconhecia,
tirando-nos do campo de visão de todos os presentes.
— Qual parte você não entendeu sobre jamais ficar com
outro homem sem a minha presença?! — vociferou ele, fuzilando-
me com sua fisionomia contraída de fúria, parecendo mais
assustador e ameaçador do que eu já tinha visto antes e só então
me dei conta da gravidade da situação.
— M-me d-desculpe... é q-que...
Antes que eu tivesse tempo de completar minha fala, ele
fechou sua mão em torno da minha garganta e recostou-me em uma
parede, fitando-me de perto, com seus olhos faiscando de raiva.
— Quer dar a boceta pra nós dois ao mesmo tempo de novo?
— Assustada, não consegui responder. — Responda, Serenity!
Você quer ser comida por dois paus ao mesmo tempo de novo?!
— S-sim, S-senhor.
— Com isto eu até concordo, porque gosto de ver você
gemendo enquanto dois paus a penetram. Mas antes de mais nada,
você e aquele sujeito precisam entender que você pertence a mim e
somente a mim, portanto não aceito que fiquem se esfregando sem
a minha permissão, entendeu, porra?!
—E-entendi. E-eu s-sinto mui...
Ele me interrompeu mais uma vez: — Vou te dar uma lição,
para que você nunca se esqueça de que é minha e me deve
obediência.
Com mãos bruscas, ele conduziu-me até o sofá redondo
estofado atrás da mesa, sentou-se e me puxou para si, fazendo com
que eu caísse deitada sobre suas pernas, de bruços. Enrolou a saia
do meu vestido até a altura da minha cintura, desnudando meu
traseiro e deu uma palmada na minha nádega, forte a ponto de me
fazer gemer de dor.
— Ai!
— Isso é para que você nunca mais chegue perto de outro
homem sem o meu consentimento! — Ele bateu de novo, do outro
lado, tão forte quanto. — E isto, para que nunca se esqueça de
quem é o seu dono! — Bateu novamente e continuou batendo,
alternado entre as duas polpas da minha bunda, até que minha pele
estava ardendo a ponto de latejar.
Então, ele me tirou das suas pernas. Com gestos bruscos,
deitou-me de bruços sobre o sofá e se colocou atrás de mim.
Desceu sua calça até os joelhos e, feroz como um animal selvagem,
puxou minha bunda para cima, se inclinando sobre o meu corpo,
apoiando seu peso nas palmas das suas mãos e penetrando minha
vagina, brutalmente, chocando sua pélvis contra a minha bunda,
com violência.
Senti sua carne dura e macia invadindo meu canal pouco
lubrificado e soltei um grito de dor. A sensação que eu tinha era de
que minha pele seria dilacerada e rasgada. Tentei escapar, mas ele
me segurou firme no lugar, fechando seus joelhos dos dois lados
dos meus quadris.
— Aguenta, putinha! Foi você mesma quem provocou isso!
Agora é tarde para fugir!
Sem saída, apoiei as mãos no braço do sofá, empinei mais a
bunda e abri um pouco as pernas, recebendo-o com menos
desconforto enquanto ele continuava estocando bruto e furioso
dentro de mim, alcançando-me bem fundo, o roçar dos seus pelos
púbicos na minha bunda despertou aos poucos o tesão em minhas
entranhas, até que eu estava gemendo e me acabando de prazer
naquele pau tão duro e gostoso, que me invadia sem permissão.
— Você gosta disso, sua meretriz! Aposto que ia gostar de ter
um pau nessa boceta durante as vinte e quatro horas do dia. Por
isso sentiu tanto a minha falta.
—Ah, sim... eu gosto... me come bem forte... ah... — gemi e
ele estocou ainda mais brutalmente.
— Você pode gostar o quanto quiser, mas nunca do pau de
outro homem, a menos que eu tenha ordenado, fui claro?
— Ah... sim... só o seu, meu Senhor... nunca o de outro...
ahhh...
Ele segurou na parte de trás dos meus cabelos e puxou,
forçando-me a erguer a cabeça.
— Agora goza pra mim, sua putinha, se acaba no pau do seu
macho.
Ele não precisou mandar duas vezes, alucinada de prazer,
logo os músculos do meu corpo se contraíram e explodi em êxtase,
gozando e gemendo com o pau dele todo dentro de mim. Quando
minha tempestade passou, ele parou todo lá dentro e esporrou
grosso no fundo do meu canal.
Ao retirar-se do meu corpo, o Sr. Dempsey sentou-se no sofá
e me puxou para si, sentando-me em seu colo e me beijando com
uma ternura que nunca havia demonstrado antes. Era como se
tentasse se redimir pela brutalidade com que acabara de me tratar,
como se estivesse arrependido ou se desculpasse. Parecia não ter
ideia do quanto eu gostava da sua brutalidade animalesca.
Ainda assim, beijá-lo e receber seu carinho era maravilhoso,
então aproveitei o raro momento e deslizei minha boca através da
pele do seu pescoço, beijando, lambendo e cheirando sua pele
gostosa, mordi seu queixo e espalhei beijos por todo o seu rosto, me
refestelando com seu gosto e a aspereza da sua barba, antes de
nos beijarmos na boca novamente.
— Isso foi muito gostoso — falei e senti seus músculos
relaxando sob mim.
— Me desculpe por ter pegado tão pesado.
— Não tem problema. Eu gosto. — E era verdade.
Acariciei seu rosto lindo e o segurei entre minhas mãos,
beijando-o com suavidade, sentindo as correntes de excitação
varrerem meu corpo, fazendo minha vagina palpitar e melar ainda
mais. Ele tinha razão quando disse que eu seria capaz de passar as
vinte e quatro horas do dia fazendo aquilo.
Depois de um longo momento nos acariciando e beijando, na
discrição da cortina, por fim nos levantamos e vestimos, saindo para
o salão. De onde estávamos, enxerguei Melissa e o sujeito que me
beijara dançando muito indecentemente na pista de dança.
— Vá até lá e convide os dois para subirem conosco — disse
meu chefe e fiquei surpresa.
— Tem certeza?
— É óbvio que tenho. É esse tipo de bizarrice que me dá
prazer. Você precisa entender que se envolveu com um doente.
— Não fale assim. Você não é doente, apenas tem gostos
diferentes.
— E como se não bastasse, ainda te arrastei pra toda essa
sujeirada.
Ele parecia deprimido e me compadeci. Apesar de estranho,
aquilo tudo era muito divertido.
— Você não me arrastou. Eu vim por vontade própria e estou
gostando. Não acho que seja uma doença.
Ele fitou-me fixamente durante um longo momento, sem que
eu conseguisse decifrar a expressão em seus olhos.
— Certo. Agora vá lá e os convide. Esperarei no elevador.
— E se eles não quiserem ir conosco?
Ele sorriu sem vontade.
— Acredite, eles vão querer.
Dito isto, ele afastou-se, indo rumo aos elevadores.
CAPÍTULO 23

Serenity
Fui até a pista de dança, abrindo caminho entre as pessoas
e, ao me aproximar de onde Melissa e o mascarado dançavam
agarrados, ambos se afastaram um do outro, interrompendo a
sensual performance.
— Você está bem? — indagou o sujeito, encarando-me com
seus olhos escuros preocupados, por trás da máscara cinza.
— Claro. Estou ótima. — Fiquei subitamente tímida, pois era
muito estranho fazer aquela proposta assim tão diretamente. — O
Sr. Dempsey e eu estamos subindo para o apartamento. Vocês
gostariam de vir conosco?
— Com certeza. — Se adiantou Melissa, sorridente.
— Foi ele quem te mandou vir aqui nos chamar? Pergunto
porque, pelo que percebi, tudo tem que ser com a autorização dele.
— O mascarado não parecia muito satisfeito.
— Foi ele sim. Mas é só um convite. Você tem todo direito de
recusar.
Ele encarou-me em silêncio por um instante.
— Eu jamais recusaria.
— Então vamos.
Segui rumo ao elevador, onde Kael nos esperava, com
ambos me seguindo. Entramos e meu chefe apertou o botão da
cobertura. Durante a subida, um silêncio carregado de tensão
instalou-se dentro do pequeno ambiente. Ninguém disse nada, nem
fez nada, até que as portas se abriram e saímos direto no elegante
apartamento.
— Alguém quer beber alguma coisa? — indagou o Sr.
Dempsey, avançando pela sala enorme e luxuosa, em direção ao
bar de madeira e vidro, que ficava a um canto.
— Eu quero uísque — disse Melissa, a mais animada do
grupo.
— Eu quero vodca — falei.
— Eu também vou de vodca — disse o outro homem.
— Melissa, sirva-se e sirva também os outros.
Dito isto, o Sr. Dempsey terminou de se servir de uma dose
de uísque e avançou em direção ao quarto de jogos, enquanto
Melissa se apressava em servir a bebida de todo mundo.
Com nossos copos em mãos, seguimos ao cômodo seguinte,
onde uma música suave tocava em volume baixo, sem que eu
soubesse de onde partia. O Sr. Dempsey estava sentado na
poltrona de couro, ingerindo calmamente sua bebida.
— Todos dispam-se. Deixem apenas as máscaras e as
garotas não tirem as sandálias — ordenou ele, autoritário.
Melissa e eu obedecemos sem hesitar, tirando nossas roupas
sem pressa, enquanto o outro homem parecia decidir se o fazia ou
não. Até que por fim optou por participar do jogo e tirou sua calça
jeans e o tênis, ficando totalmente nu, exibindo o pau
completamente ereto. Tinha o corpo todo perfeito, com a tatuagem
de uma âncora na pélvis, que eu não tinha notado antes. Melissa
também tinha o corpo lindo, com curvas bem-feitas e os seios
grandes e firmes.
— Vocês duas, ajoelhem-se aqui.
Obedientes, Melissa e eu nos ajoelhamos aos pés dele, uma
de cada lado, com nossa cabeça baixa, as mãos pousadas sobre as
coxas, como duas boas Submissas, enquanto o outro homem
sentava-se aos pés da cama, observando atentamente a cena.
O Sr. Dempsey acariciou meus cabelos, na parte de cima da
minha cabeça, durante um longo momento, no qual o silêncio era
quebrado apenas pela música suave que tocava ao fundo, sua
demora em agir me encheu de expectativa sobre o que faria. Era
como se ele elaborasse os passos seguintes na sua cabeça.
Sem uma palavra, ele levantou-se, abandonou seu copo
sobre uma mesa, segurou-me pelo braço e me levou até a cama,
fazendo com que o outro cara saísse do caminho.
— Deite-se — ordenou e obedeci.
Todo vestido, Kael subiu na cama e prendeu meus pulsos
com braçadeiras de couro que se ligavam com cordas ao espaldar,
deixando-me com os braços abertos, esticados para cima. Foi até
uma estante e voltou trazendo uma corda larga, toda trabalhada.
Fez com que eu flexionasse meus joelhos e os aprisionou,
passando a corda em volta também da minha cintura. Em seguida,
circundou meus tornozelos com tornozeleiras de couro que se
prendiam às laterais da cama, de modo que fiquei presa sobre o
colchão com as pernas muito abertas e os joelhos flexionados, com
o meu sexo exposto a todos os olhares.
Feito isto, ele voltou a se sentar na sua poltrona, observando-
me com seus olhos brilhantes de luxúria.
— Não tem visão mais linda nesse mundo — sussurrou ele,
pegando seu copo e dando um grande gole no seu uísque, antes de
voltar seu olhar para o outro homem. — Percebi que você tem um
certo desejo pelo que é meu.
— Na verdade, tenho mesmo — confessou o mascarado.
— Eu não me importo em dividi-la, desde que todos tenham
em mente que ela é minha.
— Ela não é um objeto para pertencer a alguém.
— É na hora do sexo e, acredite, ela gosta disso. Agora vá
até lá e chupe a boceta dela, bem gostoso. Engula toda a minha
porra que está na vagina dela.
Achei que o cara desistiria e iria embora, como parecia ser o
objetivo do Sr. Dempsey. No entanto, ele veio em minha direção
sem hesitar, subindo na cama e cobrindo meu corpo com o seu,
sem se deitar sobre mim.
— É isso que você quer? — sussurrou, fitando-me com seu
rosto próximo ao meu.
— É sim — respondi.
— Era o que eu precisava saber.
Inclinando a cabeça, ele deu um beijo suave em meus lábios
e foi descendo a boca pelo meu corpo. Beijou meu pescoço, chupou
meus seios, lambeu minha barriga e por fim posicionou seu rosto
entre minhas pernas abertas, dando uma lambida lenta na minha
boceta, antes de concentrar os movimentos da sua língua
diretamente sobre meu clitóris, em um ritmo frenético que me fazia
gemer e me contorcer sobre a cama, a ponto de ir à loucura.
— Ahhh... delícia... — murmurei, ensandecida e isso pareceu
incentivá-lo.
Abandonando meu feixe de nervos, sua língua gostosa
passeou por todo o meu sexo, lambendo delicadamente meu ânus,
infiltrando-se na minha vagina e me fodendo raso, macio e delicioso,
para em seguida voltar a golpear meu clitóris, naquele ritmo
acelerado, enlouquecedor, me fazendo gemer mais alto,
arrancando-me o juízo.
Com o canto do olho, vi o movimento do Sr. Dempsey e virei
o rosto para observá-lo, bem no instante em que ele abria a zíper da
sua calça e puxava Melissa para cima, pelos cabelos, fazendo com
que ela engolisse seu pau enorme, muito maior que o do nosso
parceiro de foda.
Enquanto Melissa o chupava, ele tirou o sapato e introduziu
os dedos do seu pé na boceta dela, fodendo-a desta forma, sem
jamais desviar seus olhos raivosos e luxuriosos de mim.
Eu estava prestes a gozar, quando meu chefe deixou o seu
lugar e veio se aproximando da cama, ao mesmo tempo em que se
despia das suas roupas.
— Não goza, putinha! — Sua voz soou alta, fria e autoritária e
automaticamente mordi meu lábio, obrigando-me a me controlar e
conter o êxtase que ameaçava me arrebatar a qualquer momento.
Completamente nu, o Sr. Dempsey subiu na cama, fechou os
dedos sobre meus mamilos e fez pressão, causando em mim um
misto de dor e prazer, que se espalhava pelo meu organismo,
deixando-me em combustão, a ponto de enlouquecer. Continuou
fazendo aquilo, enquanto observava meu rosto com fascínio, como
se venerasse minha tortura.
— Sente no rosto dela — ordenou, frio e curto.
Obedecendo, Melissa também subiu na cama. Fiquei
chocada quando ela montou sobre meu rosto, com um joelho de
cada lado, suas mãos apoiadas na parede, sua boceta se abrindo
diante do meu olhar. Diferente da minha, a dela era completamente
depilada, com delicados lábios rosados, já totalmente babados e um
clitóris minúsculo.
— Chupe — ordenou o Sr. Dempsey, com seu jeito frio e
autoritário.
A princípio fiquei travada, sem ter certeza se conseguiria
fazer aquilo. Contudo, meu chefe apertou meus mamilos ainda mais
forte, beliscando-os, intensificando o tesão que me arrebatava a tal
ponto que perdi de vez a cabeça e, quando me dei conta, estava
lambendo a boceta de Melissa, com os mesmos movimentos que o
mascarado lambia a minha, imitando-o, enquanto ela gemia com
doçura.
Fazer aquilo não era tão terrível quanto imaginei a princípio.
O gosto e o cheiro eram bastante peculiares, porém os gemidos
dela, unidos à excitação exacerbada que tomava conta do meu
organismo, faziam com que tudo se tornasse erótico e lascivo.
— Assim, minha putinha safada, enfia a língua dentro da
vagina dela — grunhiu o Sr. Dempsey, antes de se inclinar e fechar
os dentes sobre um dos meus mamilos, fazendo pressão,
intensificando as violentas ondas de prazer que varriam meu corpo,
sem que eu pudesse me entregar à libertação da qual cada
minúscula parte de mim necessitava naquele instante.
Ele continuou mamando meus seios, deliciosamente,
enquanto o outro homem chupava gostoso minha boceta e eu
lambia a de Melissa, até que o mascarado fechou os lábios sobre
meu feixe de nervos e não consegui mais me segurar, meu corpo
inteiro vibrou com o deleite do orgasmo que espalhou pelo meu
organismo, me incendiando, me fazendo gritar e me sacudir toda.
Mal comecei a me acalmar e o tapa veio estalado, na minha
bunda.
— Você não tinha permissão para gozar agora! — grunhiu o
Sr. Dempsey. — O que faço com você?
Sob as ordens dele, tanto Melissa quanto o outro homem se
afastaram. Então, meu chefe voltou a subir na cama. Com suas
mãos bruscas, libertou meus pulsos e tornozelos e virou-me de
bruços sobre o colchão, ainda com meus joelhos flexionados,
presos com cordas que circundavam também a minha cintura, de
modo que fiquei com o traseiro empinado e os ombros abaixados.
Naquela posição, ele voltou a me aprisionar com as braçadeiras e
as tornozeleiras. Em seguida, deu outro tapa estalado na minha
bunda.
— Eu devia te dar uma surra de chicote, pra nunca mais me
desobedecer, mas esse cuzinho tá muito convidativo nessa posição.
Suas palavras me fizeram estremecer, com a expectativa do
que aconteceria em seguida.
— Você, continue lambendo o clitóris dela e você, chupe o
pau dele — ordenou.
Cientes de que seriam descartados, caso não obedecessem
as suas ordens, tanto o mascarado quanto Melissa fizeram o que
ele mandava, ele deitando-se de frente sobre a cama e enfiando seu
rosto entre minhas pernas, voltando lamber meu clitóris,
deliciosamente. Ela, engatinhando sobre ele e enfiando seu pau na
boca, chupando-o com experiência.
O Sr. Dempsey afastou-se e logo voltou, trazendo um frasco
branco, cujo conteúdo derramou sobre meu traseiro. Tratava-se de
um óleo perfumado, o qual espalhou sobre minha pele e usou para
lubrificar o meu ânus, enfiando um dedo de cada vez, até estar com
três dedos dentro dele, movendo-os em um perturbador vai e vem.
Sem uma palavra, ele ficou de pé sobre a cama, colocando-
se atrás de mim, uma perna de cada lado, enquanto o outro
continuava passando sua língua úmida sobre meu ponto mais
sensível. Flexionou os joelhos, segurou-me pela cintura e introduziu
seu pênis no meu ânus, com um movimento brusco dos seus
quadris, alcançando-me fundo, me esticando toda.
Desta vez eu estava tão preparada, e perdidamente excitada,
que não senti dor alguma, mas apenas o prazer enlouquecedor que
me varreu inteira, me fazendo gemer alto e empinei um pouco mais
a bunda, dando-me mais ele, permitindo que estocasse forte em
meu orifício, movendo-se em um viciante vai e vem, enquanto a
língua do outro homem se movia sobre meu clitóris, deixando-me
completamente perdida.
— Que cuzinho gostoso, apertado — grunhiu o Sr. Dempsey,
parecendo um animal. — Quer sentir dois paus dentro de você,
putinha?
— Ahhh... sim...
— Então pede.
— Por favor... quero dois paus dentro de mim... ahhh...
— Coloque um preservativo e foda a boceta dela — ordenou.
Sem hesitar, o outro mascarado foi até a gaveta onde ficavam
os preservativos e se cobriu. Ao voltar para a cama, praticamente
precisou fazer malabarismo para se enfiar debaixo de mim,
nivelando nossos rostos e nossos sexos ao mesmo tempo. Ele
olhou dentro dos meus olhos, profundamente, enquanto encaixava a
cabeça do seu pau na minha entrada lambuzada e me penetrava,
devagar, sem a mesma selvageria do homem que me comia por
trás.
Não existia nada que se comparasse a ter um pau na minha
boceta e outro no meu ânus, a sensação era alucinante,
enlouquecedora. Ao mesmo tempo em que meu corpo parecia
prestes a se partir, com a pressão forte demais, o prazer me
percorria ferozmente, tirando-me qualquer vestígio de sanidade e
civilidade. Ali entre os dois homens, com ambos me comendo
gostoso, eu me sentia como se fosse nada mais que um animal
irracional, desprovido de qualquer pensamento, munida de apenas
sensações e sentidos, que me faziam gemer e gritar
descontroladamente, pedindo mais, suplicando que eles não
parassem.
— Você gosta disso, não é? — grunhiu o homem sob mim,
com seu rosto muito próximo ao meu, seus olhos reluziam um misto
de luxúria e fascínio que me excitava ainda mais.
Ele movia seus quadris em um ritmo lento, entrando e saindo
devagar da minha vagina, enquanto meu chefe fodia a minha bunda
sem dó nem piedade, estocando brutalmente, ao passo em que eu
mal conseguia me mover para acompanhar os movimentos deles.
— É... eu gosto... me fode gostoso... mais forte...
— Não quero te machucar.
— Não machuca... eu gosto... por favor... mais rápido...
— Ei! Nada de conversa! — rosnou Kael. — Melissa, coloca
sua boceta na boca desse cara!
Melissa obedeceu, quando então precisei erguer a cabeça
para que ela enfiasse sua bunda entre mim e o homem, de quatro,
de frente para ele, encaixando seu sexo na boca dele, o que tornou
tudo mais desconfortável. Contudo, logo o mascarado passou a se
mover mais depressa dentro da minha vagina, no mesmo ritmo
animalesco que Kael, e quando dei por mim estava prestes a
explodir novamente, com o êxtase ameaçando me estilhaçar.
Continuamos com aquela brincadeira noite adentro, fazendo
poucas pausas para nos hidratar e experimentando o melhor prazer
que já tive na vida, um prazer tão viciante que chegava a ser
espantoso. Já era madrugada quando Kael mandou que Melissa e o
mascarado fossem embora e eles sumiram pelo elevador.
Eu estava tão exausta que seria capaz de dormir ali mesmo,
mas meu chefe fazia questão de que eu fosse para casa, talvez por
receio de que o mascarado pudesse voltar. Apesar de apreciar o
sexo grupal, ele não conseguia esconder o sentimento de posse que
tinha em relação a mim, quando o outro homem estava conosco. Eu
queria acreditar que era ciúme, mas não era tão iludida assim.
Quando terminei de me vestir, eu estava quase dormindo,
meus olhos se recusando a se manterem abertos, de modo que o
Sr. Dempsey praticamente precisou me carregar, apoiando-me em
seu corpo, quando entramos no elevador. Ao sairmos, no salão do
clube, eu estava tão sonolenta, que ele precisou me pegar no colo e
me carregar em direção à saída. Apenas ao adentrarmos a
garagem, me dei conta do meu imperdoável descuido.
— Onde está o seu carro? — indagou ele e a tensão tomou
conta de mim, deixando-me totalmente acordada.
— Vim de táxi — murmurei, torcendo intimamente para que
ele não pedisse detalhes.
Mas ele pediu.
— Por que veio de táxi? E o seu carro?
— Eu sabia que estaria exausta para voltar dirigindo, como
de fato estou.
— Eu jamais te deixaria dirigir assim. Ia te levar no seu carro.
Antes mesmo de finalizar sua fala, ele sacou seu celular e
ligou para o seu motorista, ordenando que viesse nos buscar na
garagem, sendo que minutos depois a limusine luxuosa adentrou o
amplo espaço, já quase vazio devido ao horário e entramos na parte
de trás.
Achei que estaria tudo resolvido, que meu chefe esqueceria a
história do carro, mas ele era desconfiado e perspicaz, sabia que
tinha algo errado. Então, ao sermos deixados diante do prédio onde
eu estava morando, ele fez questão de passar pela garagem para
se certificar de que o carro que havia me dado de presente estava
lá.
Puta merda!
— E então. Onde está o Jaguar? — indagou, sem mais
dúvidas de que eu estava escondendo a verdade. — E nem se
atreva a mentir pra mim. Você não tem ideia do quanto eu odeio
mentiras!
O tom de sua voz era tão ríspido que fiquei paralisada, com
minha mente entorpecida incapaz de inventar uma mentira. Não
havia nada que eu pudesse fazer, a não ser falar a verdade.
— Foi levado — murmurei, visualizando mentalmente o
momento em que ele iria tomar satisfações com Dylan e este lhe
falaria sobre a barriga de aluguel e meu contrato com Mia.
Puta que pariu!
— Levado por quem.
— Dylan.
Ele suspirou pesadamente.
— Quando?
— Esta tarde.
— Por que você não me disse nada?
— Porque tive medo da sua reação.
Ele encarou-me surpreso.
— Você tem medo de mim?!
— Tenho.
Sem dizer mais nada, o Sr. Dempsey segurou-me pela mão e
me conduziu até o elevador. Não dissemos uma só palavra
enquanto subíamos. Um incômodo clima de tensão foi tomando
conta do pequeno espaço, pairando entre nós dois.
Ao entrarmos no apartamento, ele agiu como se já
conhecesse o lugar, parecendo bastante à vontade, o que me fez
desconfiar de que alguma amante sua já havia morado ali. Após
fazer com que eu me sentasse em um dos sofás, ele puxou uma
poltrona, como se esta pesasse apenas algumas gramas, a colocou
diante de mim e sentou-se.
— Já chega de mentiras. Você vai me dizer agora mesmo
quem é esse Dylan e o que ele quer de você.
Nervosa, comecei a mover meus dedos das mãos,
entrelaçando-os uns nos outros, com dificuldade de encarar o
homem à minha frente. O risco de ele descobrir sobre o contrato da
barriga de aluguel não era meu único temor. Eu tinha medo de que
Dylan o matasse, caso fosse confrontado.
— Fala, Serenity! — ordenou ele e não tive mais saída, a não
ser falar.
— Eu o conheci quando morava em Houston. Ele namorava a
garota com quem eu dividia o aluguel de um apartamento. Nós duas
trabalhávamos como garçonetes em um restaurante não muito
chique. Quando Dylan passou a frequentá-lo, aparentemente para
fazer negócios com o proprietário, Trisha se interessou por ele e os
dois acabaram saindo juntos. Alguns meses depois que eles
começaram a sair, me convidaram para a festa de aniversário dele,
que aconteceria em sua casa. Eu não queria ir, pois nunca gostei
muito de festas, mas ela era minha amiga e a ocasião era especial
para ela. — Parei de falar ao me recordar dos acontecimentos
daquela noite terrível.
— E o que aconteceu depois?
— Quando chegamos na festa fiquei apavorada. Havia
homens armados para todos os lados, vigiando os muros, muita
gente usando drogas na frente uns dos outros, como se aquilo fosse
normal. Tentei ir embora, mas Trisha me explicou que ele me veria
como uma delatora se eu fosse. Depois disse que ele era traficante
de drogas, mas era gente boa, não fazia mal a ninguém, as armas
eram apenas para defendê-los de outros traficantes. Eu fiquei com
medo de ir embora tão rápido e ele desconfiar de mim, então decidi
ficar pelo menos um pouco.
— Tomou a decisão certa. O que houve depois?
— Trisha sumiu de repente. Quando fui procurá-la para avisar
que já estava indo para casa, me disseram que ela tinha subido
para o segundo andar com Dylan e fui até lá. — Um estremecimento
me varreu e fechei os olhos, relembrando os acontecimentos
daquela maldita noite. — Ainda no corredor ouvi um grito e barulho
de coisas caindo. Corri para a porta de onde partia o barulho, a abri
e entrei. Trisha estava nua, com seu rosto todo ensanguentado e
vários hematomas pelo corpo. Dylan estava batendo nela,
violentamente.
Sem que eu percebesse, as lágrimas brotaram dos meus
olhos e desceram desenfreadas pelo meu rosto. Então, Kael sentou-
se ao meu lado e me puxou para junto de si, abraçando meus
ombros e aninhando meu rosto de encontro ao seu peito largo.
— Não fica assim. Esse safado nunca mais vai chegar perto
de você. Você estará segura de hoje em diante — sussurrou ele e,
ao perceber que eu fiquei mais calma, voltou a indagar: — O que
você fez quando os viu?
— Disse que chamaria a polícia e foi então que ele veio pra
cima de mim, me ameaçando. Teria me agredido também, mas
Trisha entrou na frente dele. Ela implorou que eu não ligasse para a
polícia, me fez prometer que não faria isso e foi com essa condição
que ele me deixou ir. Ambos estavam muito loucos de drogas e
bebidas, o que não justifica a atitude dele.
— Não mesmo — disse Kael. — E você chamou a polícia,
não foi?
— Eu sei que foi burrice da minha parte, mas tive medo de
que ele a matasse. Não consegui ficar parada depois do que tinha
presenciado.
— Você agiu certo. Talvez ele a teria matado.
— Foi o que pensei. Então, assim que saí do quarto onde
eles estavam, me tranquei em um banheiro e liguei para a polícia.
Falei sobre as armas e as drogas e dei o endereço. Em poucos
minutos, a polícia invadiu a casa com um grande arsenal, tinha até
helicóptero sobrevoando a moradia. Achei que Dylan e toda a sua
quadrilha seriam presos, mas fui ingênua. Dois dias depois, Trisha
me enviou uma mensagem dizendo que ele tinha acabado de sair
da prisão e estava determinado a me assassinar. Na mesma hora
juntei minhas coisas e fugi para a casa da minha mãe, no interior,
onde acabei me encontrando com Mia.
— O que aconteceu com sua amiga Trisha?
— Ela sumiu na manhã seguinte à festa. Deve ter fugido
também. Depois de me enviar essa última mensagem, o número
dela parou de receber ligações. Deve ter destruído o chip.
— E agora aquele mané está te perseguindo. O que
exatamente ele quer de você?
— Dinheiro. Disse que me deixará viva se eu der quinhentos
mil a ele, que foi a quantia que gastou para subornar a polícia e se
livrar da prisão.
— De onde ele acha que você vai tirar quinhentos mil?
Subitamente, senti todo o meu sangue ser drenado da minha
face.
— Ele acha que ganho muito dinheiro trabalhando na sua
empresa. Levou o carro como parte do pagamento e está
esperando-me juntar ao resto. Eu prometi a ele que arranjaria essa
grana, nem que fosse com um agiota. — As mentiras iam saindo da
minha boca, enquanto uma camada de suor frio cobria minha pele.
Kael me apertou mais forte contra seu peito,
acolhedoramente e minha consciência pesou horrores por mentir
tanto para ele.
— Você devia ter me falado a verdade antes.
— Tive medo de você me demitir. Quem ia querer uma
funcionária que é perseguida por um traficante perigoso? Nem Mia
sabe sobre essa história.
— Eu jamais a demitiria por isso, mas vai ficar tudo bem
agora. Vou dar um jeito nesse cara. Ele nunca mais vai voltar a te
importunar.
— Não faça nada. Ele é perigoso.
— Perigoso eu também sou, quando precisa e nesse caso é
mais do que necessário.
— O que você pretende fazer?
— Ainda estou decidindo se mando matá-lo, ou se dou esse
dinheiro a ele.
— Não quero que você se prejudique por minha causa.
— Não vou me prejudicar. Por quinhentos mil um assassino
de aluguel varre a existência dele na face da Terra.
— É melhor dar o dinheiro a ele do que se tornar um
assassino.
Onde eu estava com a cabeça para dizer aquilo? Se Dylan
fosse morto, o Sr. Dempsey jamais saberia sobre a barriga de
aluguel. Por outro lado, eu não suportaria a ideia de ele carregar a
responsabilidade de um assassinato por minha causa.
— Mas se ele receber essa grana, é certeza que te deixa em
paz?
— Acho que sim. Quinhentos mil é muito dinheiro.
— Nesse caso, vou conversar pessoalmente com ele. Dou a
grana, em troca da garantia de que ele nunca mais vai te procurar.
Se voltar a te incomodar, acabo com a raça dele.
Mentalmente, pude ver Dylan contando a ele que eu o estava
manipulando e usando para ficar grávida e ganhar quinhentos mil.
Senti um tremor atravessando meu corpo ao presumir o quanto Kael
me odiaria após descobrir essa verdade. Sequer daria esse dinheiro
ao traficante, certamente me abandonaria à minha própria sorte e eu
seria morta logo em seguida. Eu precisava falar com Dylan antes
que os dois se encontrassem.
— Mais alguma coisa que você está me escondendo? —
disse ele, como se fosse capaz de ler minha mente.
—Não. Era só isso — menti.
Ele virou-me de frente para si, encarando-me com seus olhos
duros e inquiridores.
— Eu não suporto mentiras! — esbravejou. — Se tem algo
mais sobre você que eu ainda não saiba, essa é a sua chance de
falar.
Encarei-o de volta e senti que meu coração descia até o meu
estômago.
— Não tem mais nada. Era só isso — falei, com a culpa me
espezinhando.
— Ótimo. Agora vamos dormir. Você mal consegue manter
seus olhos abertos. Quer comer alguma coisa antes de ir para a
cama?
— Não. Quero apenas que você fique comigo. Por favor —
supliquei.
— Eu não te deixaria sozinha sabendo que tem um louco por
aí querendo sua linda cabecinha.
Dito isto, ele levantou-se do sofá comigo no colo e carregou-
me até o quarto. Minha exaustão era tanta que sequer fui ao
banheiro. Tão logo ele acomodou-me na cama, me ajeitei sob os
lençóis e esperei pelo calor do seu corpo. Quando ele se deitou ao
meu lado, usando apenas a calça, sem a camisa, aninhei-me de
encontro ao seu peito e adormeci rapidamente, sentindo-me segura
e em paz, como há dias não me sentia.
CAPÍTULO 24

Serenity

O sol banhava o quarto através das frestas na cortina da


janela, quando despertei. Ao me espreguiçar sobre a cama,
algumas partes do meu corpo latejaram de dor, mas isso já não era
uma novidade. Era o que acontecia depois de uma noite no
Cobongo.
Ao abrir os meus olhos, descobri que Kael não se encontrava
mais na cama e fiquei desapontada. O que restava dele era apenas
o cheiro gostoso do seu perfume nos lençóis e nos travesseiros e
me agarrei a eles, inebriada, fechando novamente os olhos, mas
não consegui voltar a dormir. Ao abri-los novamente, enxerguei o
pequeno bilhete escrito à mão sobre a mesa de cabeceira e me
apressei em lê-lo.

“Precisei sair cedo para uma reunião importante. Não precisa


ir trabalhar hoje, descanse e fique tranquila. Deixei um dos meus
seguranças na entrada do seu prédio, aquele safado não vai entrar
aí para te fazer mal.
Assim que ler esse bilhete, envie-me o contato dele, para que
eu possa falar-lhe de homem para homem.
Beijos. Tenha um bom dia.”
Apesar das palavras fofas, meu corpo e minha mente ficaram
em completo alerta, a tensão tomou conta de mim. Se Kael falasse
com Dylan, certamente ficaria sabendo sobre meu contrato com Mia
e eu estaria ferrada de tantas formas que nem conseguia enumerar.
Mais do que apressada, peguei o celular e liguei para Dylan, que
atendeu no terceiro toque, sua voz rouca revelava que acordara há
pouco tempo.
— O que você quer? Vai me dizer que arranjou o meu
dinheiro? — disse ele.
— Sim. Quer dizer, mais ou menos.
— Não tenta me enrolar, gatinha. Não sou o idiota do seu
chefe, que fica cego por causa de uma boceta.
— Não precisa usar palavras vulgares. O que tenho a dizer é
bom para você.
— Então diga.
— O Sr. Dempsey percebeu a ausência do carro e precisei
falar como conheci você. — Me silenciei, esperando que ele
dissesse algo, mas ele não disse nada. — Ele vai te dar os
quinhentos mil, está esperando eu passar seu contato, para marcar
um encontro.
— Nossa! Você deve ter uma boceta mesmo muito gostosa
pra esse cara pagar toda essa grana por você.
— Ele é uma pessoa boa, generosa. Apenas isso.
— Eu sei o que tá motivando essa generosidade toda.
Precisei respirar fundo, para conseguir continuar ignorando
suas grosserias.
— Preciso que você não diga nada sobre a barriga de aluguel
e toda essa história com Mia, ou ele ficará tão furioso que não dará
dinheiro algum e tenho certeza de que você prefere receber
quinhentos mil agora, a ter que esperar por uma gravidez que pode
nem acontecer.
— E o que eu ganho a mais se ficar de bico fechado?
Tive vontade de mandá-lo ir se foder. Que sujeito insuportável
do caralho!
— Ganha os quinhentos mil, certamente em dinheiro vivo,
livre de impostos e confusões. É um ótimo negócio pra você. Mas se
falar, todos nós sairemos perdendo.
— Não sei se vale a pena pegar essa grana e me abster do
prazer de quebrar esse seu pescocinho lindo.
Engoli em seco, com vontade de chorar e gritar de tanto ódio.
Maldita hora que decidi ir àquela festa na casa dele. Maldita hora
em que conheci Trisha.
— Por favor, é de meio milhão de dólares que estamos
falando. Isso é muito dinheiro.
— Hum, tudo bem. Pode dar meu contato a ele. Vou pegar
essa grana.
Suspirei de alívio.
— Obrigada.
— Depois você arranja um jeito mais íntimo de me agradecer.
Estou louco de vontade de experimentar o que fez esse idiota
perder a cabeça a ponto de abrir mão de quinhentos mil assim tão
facilmente.
— Ele vai entrar em contato. Adeus.
Dito isto, encerrei a ligação, com meu corpo trêmulo de um
misto de medo, ódio e revolta. Era um destino muito cruel atravessar
o caminho de um ser tão desprezível quanto Dylan, algo que eu não
desejava para ninguém.
Se tudo desse certo, se meu chefe realmente lhe desse esse
dinheiro, tão logo Mia me pagasse, eu repassaria os quinhentos mil
para ele, nem que fosse de forma anônima e desapareceria de sua
vida de uma vez por todas. Usaria o salário que estava juntando
para recomeçar minha trajetória em algum lugar distante. A parte
difícil seria me afastar daquele homem, mas isso eu superaria com o
tempo.
Após encerrar a ligação, enviei uma mensagem para meu
chefe com o número de Dylan e ele respondeu agradecendo.
Como já passava das dez horas da manhã, decidi não ir
mesmo trabalhar, mas, ao invés de descansar, passei o dia inteiro
aflita, sobressaltada, imaginando como seria o encontro entre Dylan
e meu chefe. Por mais que Kael tivesse a intenção de dar o dinheiro
ao traficante, meu coração estava aflito, temendo que Dylan lhe
fizesse algum mal. Várias vezes, ao longo do dia, pensei em ligar
para ele e perguntar como estavam as coisas, mas eu não tinha
liberdade suficiente em sua vida para fazer isto. Então, apenas
esperei.
Por volta das sete da noite, meu chefe enviou uma
mensagem.

Kael: Passarei aí para te pegar em dez minutos. Vamos falar


com Dylan juntos. Esteja pronta.
Meu sangue gelou nas veias, um tremor me percorreu.
Apesar do medo do que pudesse ser dito durante esse encontro, eu
preferia mesmo estar lá, para evitar que algo de mau acontecesse a
Kael, como se tivesse essa capacidade.
Cerca de dez minutos depois, avancei pela calçada diante do
edifício e a limusine do Sr. Dempsey já estava lá, parada do
acostamento, a porta de trás se abriu para que eu entrasse e o fiz.
Assim que coloquei meus olhos sobre meu chefe, todos os temores
em meu coração se multiplicaram. Eu não podia nem imaginar o que
Dylan poderia fazer com ele, quando fosse confrontado.
Após ordenar ao motorista que seguisse em frente, ele virou-
se para mim.
— Como foi o seu dia? — indagou, com uma calma
impressionante, como se não estivéssemos indo ao encontro de um
traficante altamente perigoso.
— Foi inquietante. Passei o dia todo preocupada. Dylan é um
sujeito muito perigoso.
Ele pousou sua mão sobre a minha, o calor da sua pele
causou um verdadeiro rebuliço em meu peito, meu coração se
agitou, meu ventre se contorceu. Ele estava especialmente lindo
naquela noite, usando o terno escuro sem a gravata, com a camisa
clara por baixo. Seus cabelos estavam desalinhados e seu rosto
carregava as marcas do cansaço.
— Não precisa se preocupar com nada. Está tudo sob
controle.
— Você conseguiu falar com ele?
— Sim. Vamos nos encontrar em um armazém abandonado
no Bronx. Esses traficantes e suas taras por lugares abandonados.
Eu estava atônita com a calma em suas palavras. Talvez
ainda não tivesse entendido com quem estava lidando.
— E se for uma emboscada? Certa vez Dylan sugeriu que eu
o ajudasse a sequestrá-lo, para que recebesse um resgate
milionário. E se for essa a intenção dele?
Kael suspirou, fitando-me com olhos enigmáticos. Depois,
gesticulou para o vidro de trás do veículo, onde se refletia o brilho
do farol de outro carro que vinha logo atrás de nós.
— Está vendo aquele carro? Está cheio de homens armados
que trabalham para mim. E eles não são os únicos. Uma equipe de
seguranças bem treinados já foi enviada para o local onde nos
encontraremos e cercaram o lugar. Se Dylan tentar algo contra mim,
vai levar um tiro na cabeça tão depressa que nunca saberá de onde
o disparo partiu.
— Mas ele também tem homens armados. Todos bandidos
perigosos.
— É impressionante como você me subestima.
— Só estou preocupada.
— Pois não fique. Aquele safado vai aceitar o dinheiro e te
deixar em paz, ou farei questão de varrer a existência dele da face
da Terra.
Um estremecimento me percorreu e abracei o meu próprio
corpo.
— Espero que isso dê certo.
— Vai dar. Te trouxe junto para ter certeza de que estarei
falando com ele, e não um de seus comparsas.
— Obrigada por me trazer.
Algum tempo depois, o carro parou em frente ao armazém
abandonado, que ficava numa rua escura e praticamente deserta,
com apenas alguns moradores de rua circulando ao longe. Os
homens no carro atrás de nós foram os primeiros a descerem. Com
armas em punho, averiguaram os arredores e apenas então se
aproximaram da porta da limusine, acenando para que Kael a
abrisse e ele o fez.
— Está tudo limpo. Ele não trouxe atiradores, além dos três
que estão com ele lá dentro. Podemos entrar em segurança — disse
um dos homens e, com isto, saltamos do veículo.
Enquanto caminhávamos rumo à entrada do imóvel
abandonado, com os homens armados nos rodeando, meu medo
era tanto que minha barriga doía e minhas entranhas se revolviam.
Eu não temia somente pela minha vida e de Kael, mas por Dylan
abrir a boca sobre a barriga de aluguel, depois de pegar o dinheiro
que um dos seguranças carregava em uma sacola grande. Se ele
desse com a língua nos dentes, Kael me odiaria e eu não sabia se
seria capaz de suportar esse ódio.
Com os seguranças nos cercando, adentramos o lugar e
fiquei surpresa com o quanto estava claro do lado de dentro. Ainda
no primeiro piso, em um amplo salão com algumas máquinas
abandonadas, estava Dylan, junto com mais três homens, um deles
o seu irmão.
— Se eu soubesse que viria tanta gente, teria trazido bebidas
e comidas para darmos uma festa — disse Dylan, com um risinho
de sarcasmo, tão logo nos aproximamos, parando a uns dois metros
de distância de onde ele estava.
Os seguranças do Sr. Dempsey colocaram-se entre nós e os
traficantes, mas meu chefe não era um covarde e ultrapassou a
barreira humana, aproximando-se de Dylan e o encarando de perto,
fazendo o traficante parecer muito pequeno, magro e desnutrido
diante da sua força e da sua aparência estonteante.
— Se fôssemos dar uma festa, você viraria o churrasco. Seria
bem fácil enfiar os temperos na sua carne toda furada de balas. — A
voz de Kael soou alta e grossa pelo galpão, fazendo eco, parecendo
tão intimidante e ameaçador que o risinho de Dylan desapareceu.
— Achei que tínhamos vindo aqui tratar de negócios e não
trocarmos ameaças.
Os olhos de Dylan correram até a bolsa com o dinheiro e
voltaram para o rosto de Kael.
— Esse negócio é nos meus termos. Eu faço a grande
gentileza de poupar a sua vida, coisa que nem era assim tanto da
minha vontade, te dou quinhentos mil e, como agradecimento, você
deixa a Serenity em paz. E quando eu falo deixar em paz, é para
que ela nunca mais ouça falar de você, mesmo quando voltar ao
Texas. Além disso, o carro dela será devolvido e caso você cometa
a estupidez de descumprir qualquer um desses termos, caso seja
burro a ponto de chegar perto dela de novo, pagarei o melhor
matador da cidade para te dar uma morte bem lenta e dolorosa.
Ficou alguma dúvida?
As palavras de Kael eram duras e firmes e um calafrio
desceu pela minha espinha quando reparei no jeito como Dylan
olhava para ele, com um ódio mortal, como se não estivesse nem
um pouco disposto a deixar que as coisas terminassem assim.
Nesse instante, comecei a rezar.
— Que seja como Vossa Alteza ordenar — disse Dylan,
depois de um momento de silêncio, o risinho de deboche que voltou
a se formar em seus lábios contradizia com a fúria em sua
expressão.
— Fico feliz que você tenha entendido.
O Sr. Dempsey olhou na direção do homem que segurava a
sacola e acenou com a cabeça, para que em resposta o sujeito se
aproximasse de Dylan e largasse a sacola aos seus pés, afastando-
se.
— Pode contar. Está tudo aí. Quinhentos mil dólares — disse
meu chefe.
Dylan pegou a sacola, abriu o zíper, fuçou as cédulas com
uma mão e soltou um assovio de perplexidade.
— É. Parece que está tudo aqui. — Ele enfiou a mão no
bolso da sua calça, fazendo com que os seguranças apontassem as
armas direto para a sua cabeça, mas o que ele tirou de lá foram as
chaves do meu carro, as quais jogou para o Sr. Dempsey. — Aí
estão as chaves. O carro dela está estacionado a uma quadra
daqui. Acho que isso prova que sou um homem de palavra.
Quanto mais aquilo se estendia, mais o clima de tensão se
intensificava no ambiente. A sensação que eu tinha era de que a
qualquer momento armas seriam disparadas e corpos cairiam
ensanguentados no chão, inclusive o de Kael.
—Espero que seja, para o seu próprio bem.
Dylan tentou aproximar-se de mim, mas os seguranças
fizeram uma barreira humana alguns metros à minha frente,
detendo-o.
— Já vi que não vou conseguir me despedir direito — falou
ele, sempre com aquele tom irônico que me levava a acreditar que
estava tramando algo. — Só queria dizer que foi muito bom passar
esse tempo com você e que é uma pena termos que dizer adeus.
Vou sentir sua falta.
— Vai pro inferno, babaca! — Foi a minha resposta.
— Agora já chega! Suma da minha frente antes que eu mude
de ideia sobre poupar sua infeliz vida! — vociferou Kael.
Dylan não disse mais nada. Encarou Kael em silêncio durante
um momento, ao longo do qual todos os pelos do meu corpo se
arrepiaram, pela certeza de que ele não deixaria essa história ficar
assim, de que aprontaria algo pelas nossas costas. No mínimo
esperaria que estivéssemos longe para fazer contato com o Sr.
Dempsey e falar sobre meu contrato com Mia.
Ele pegou a bolsa com o dinheiro, acenou para seus
comparsas e desapareceu rumo aos fundos do galpão.
Não falei nada enquanto seguia o Sr. Dempsey para fora do
imóvel, trêmula dos pés à cabeça, com os seguranças nos
acompanhando. Tão logo entramos na limusine e o motorista a
colocou em movimento, soltei o ar que vinha prendendo em meus
pulmões.
— A gente devia sair da cidade. Dylan não vai deixar essa
história assim — falei, com meus olhos arregalados de pavor.
— Acalme-se. Ele não vai fazer nada. E mesmo se tentar
alguma coisa, não terá a menor chance contra um monte de
seguranças armados e bem treinados. Alguns desses caras são ex-
policiais, outros ainda atuam na polícia. Sabem atirar como
ninguém.
— Acontece que Dylan tem a polícia na mão. Pode aprontar
algo pelas nossas costas.
Kael saiu do seu assento no outro lado do amplo veículo e
sentou-se ao meu lado. Segurou-me pelos ombros, me fazendo
sentir a firmeza das suas mãos e olhou dentro dos meus olhos, suas
piscinas verdes expressando calma e segurança.
— Serenity, você está muito nervosa. Dylan não é o primeiro
bandido com quem lido. Sei como a cabeça dessa gente funciona.
Ele sabe que se tentar algo contra você, ou contra mim, será morto
de imediato, por isso ele vai sossegar. Ainda assim, por precaução,
deixarei um homem na frente do seu prédio durante as vinte e
quatro horas do dia. Relaxe, vai ficar tudo bem.
Absorvi suas palavras e meus nervos foram se acalmando
aos poucos, meus músculos relaxando gostosamente, a ponto de
me fazer perceber o quanto eu estava sendo exagerada. O Sr.
Dempsey estava certo, Dylan não era louco para tentar algo contra
um homem tão importante como ele e alguém a quem ele protegia.
Nós estávamos completamente seguros, só faltava meu coração se
convencer disso.
— Você tem razão. Eu preciso me acalmar. Sei que estou
segura agora.
— É assim que se fala. — Ele me apertou forte contra seu
peito e beijou o alto da minha cabeça.
Inebriada com seu cheiro delicioso, fechei os olhos e me
aconcheguei mais ao seu calor, a corrente de desejo se espalhando
pelo meu sangue, meu coração assumindo um ritmo acelerado no
peito. O que eu sentia por aquele homem ia muito além de tesão,
era uma paixão visceral, incontrolável, que me fazia querer estar
com ele durante as vinte e quatro horas do dia. Uma paixão que
dilaceraria meu peito quando chegasse a hora de dizer adeus. E
essa hora chegaria. Se pelo menos existisse uma forma de desistir
do meu acordo com Mia, eu tentaria ficar com ele. Mas essa forma
não existia, pois Mia lhe contaria a verdade no momento em que eu
desistisse de tudo e então ele me odiaria, por tê-lo usado e
manipulado. Em síntese, não existia um futuro para nós dois.
Permanecemos abraçados, durante todo o percurso de volta.
Quando a limusine estacionou diante do meu prédio, sua voz soou
fria e áspera, atingindo-me com a força de um caminhão me
atropelando.
— Suba e descanse. O segurança estará o tempo todo aqui
fora. Não precisa ter medo. Nos vemos amanhã no trabalho.
Seu tom de voz era tão firme que não deixava espaço para
contestações, mas eu queria tanto passar a noite em seus braços,
que decidi arriscar: — Por que não sobe e passa a noite comigo?
— Eu já disse que você está completamente segura.
— Não é pela minha segurança. Eu quero estar com você,
dormir e acordar em seus braços, sentindo seu cheiro e o seu calor.
Percebi a tensão tomando conta dos seus músculos, como se
eu tivesse lhe feito uma ameaça de morte e não o convidado para
uma noite de amor.
— Não vai ser possível. Estou cansado e preciso estar de pé
amanhã cedo.
— Não precisamos fazer nada. Você pode dormir aqui. Só
dormir mesmo.
— Você sabe que é impossível para mim estar ao seu lado e
apenas dormir. E eu preciso descansar. Nos vemos no trabalho, boa
noite.
Dito isto, ele saiu do carro e abriu a porta para mim,
mantendo a carranca fechada, o olhar inexpressivo, como se eu
fosse uma completa desconhecida e não a garota com quem fodeu
pra caralho na noite passada. Ciente de que seria perda de tempo
tentar ultrapassar a barreira transparente que ele erguia entre nós,
saí do carro e dei-lhe um beijo rápido no rosto, antes de dar-lhe as
costas e entrar no prédio.
Afastando todos os pensamentos da minha cabeça, consegui
ter uma noite de sono tranquila e revigorante, embora bastante
solitária.

***

Minha maior felicidade ao acordar na manhã seguinte, foi a


certeza de que veria o Sr. Dempsey no trabalho. Com isto em
mente, coloquei um vestido sexy, colado e decotado, fiz uma bela
maquiagem e deixei o apartamento.
Como meu Jaguar já estava de volta na garagem, fui
dirigindo-o até a companhia, conseguindo identificar o carro com os
dois seguranças que iam o tempo todo atrás de mim, como se eu
fosse alguma estrela de Hollywood que precisasse de guarda-
costas.
No trabalho, o dia não poderia ter sido pior. Não consegui ver
meu chefe nenhuma só vez, já que estava na copa quando ele
passou pela recepção na chegada e não aconteceu nenhuma
reunião que requeresse a minha presença e a dele ao mesmo
tempo. Além disso, todas as vezes em que ele precisava que algo
fosse levado à sua sala, falava diretamente com Mia, através do
interfone e era bem específico ao deixar claro que era ela quem
deveria entrar lá, o que me desestimulava completamente a fazer-
lhe uma visitinha surpresa e conseguir ficar um pouco a sós com
ele. Deste modo, voltei para casa no fim da tarde desconsolada, me
sentindo solitária e excluída da sua vida, como de fato era.
Por volta das oito da noite, eu havia terminado de jantar e
estava no celular, navegando pelas redes sociais, quando ele me
enviou uma mensagem dizendo que estava me esperando no
Cobongo. Praticamente pulei do sofá, eufórica, exultante pela
perspectiva de estar mais uma vez nos braços daquele homem,
vivendo as aventuras sexuais que ele me propusesse, pois estava
aprendendo a amar cada uma delas, a tal ponto que, quando
estávamos juntos, eu me esquecia por completo dos motivos pelos
quais entrei na sua vida.
CAPÍTULO 25

Kael

Dois meses depois...

— Consciência pesada. Foi isso que me trouxe aqui —


respondi, depois de meia hora protelando.
Eu me encontrava deitado no divã do meu psiquiatra e ele
queria saber por que eu estava voltando à terapia meses após
interromper o tratamento.
— Você poderia ser mais específico? — disse o homem com
cerca de sessenta e poucos anos, sentado em uma poltrona
próxima, observando-me com seus olhos inteligentes.
— Eu estou me relacionando com uma menina que tem
metade da minha idade e vivia largada por aí, sem família, sem
casa, sem trabalho. Ao invés de tentar ajudá-la, como uma pessoa
de bem faria, eu estou fodendo com ela e nem é de um jeito
convencional. Eu a amarro com cordas e correntes, surro-a com
chicotes, a amordaço e faço com que ela foda com várias pessoas
ao mesmo tempo.
— Mas ela concorda com esse tipo de prática?
— Claro. É tudo consensual.
— Nesse caso, não se trata de um relacionamento abusivo,
como você está tentando se convencer. É apenas fetiche de um
casal que gosta das mesmas coisas. Não há nada de anormal nisso.
— Como assim, não há nada de anormal? A menina era
virgem quando eu a conheci. Eu roubei a inocência dela, a arrastei
pra esse mundinho sujo e vil de libertinagem. Eu a forcei a se tornar
alguém tão doente quanto eu.
E era verdade. Todas as vezes que eu parava para pensar no
que estava fazendo com Serenity, a culpa me espezinhava, tirando-
me o sossego, roubando a minha paz. Eu era um ser humano
doente e a estava transformando em alguém tão irracional quanto
eu. Por várias vezes, durante esses meses em que estávamos nos
relacionando, pensei em me afastar dela, deixá-la encontrar alguém
melhor do que eu, alguém que a merecesse de verdade, que lhe
desse uma família e filhos, como ela merecia e eu jamais daria. Mas
como eu poderia me afastar, se estava completamente viciado nela?
Como eu poderia deixá-la, se acordava e ia dormir todos os dias
pensando no seu cheiro, na sua voz, no seu jeito de trepar?
— Se ela faz isso por vontade própria, não há nada forçado
nisso aí — continuou o médico.
— Você não está entendendo. Ela é jovem e ingênua. Quis
ter uma relação comigo e, ao invés de fodê-la em um motel, ou na
minha casa, como as pessoas normais fazem, eu a levo para um
clube de putaria.
— Sr. Dempsey, já faz muito tempo que nos conhecemos e
durante todos esses anos o senhor sempre apreciou esse tipo de
práticas sexuais. Já se sentiu culpado em relação a outra de suas
parceiras?
Refleti por um momento, tentando me recordar. Foram muitas
mulheres a passarem pela minha vida, não tinha como eu me
lembrar de como as coisas eram com todas elas. Eu começara a
praticar o BDSM quanto tinha uns dezoito anos. No entanto, se eu
tivesse corrompido a inocência de outra mulher, além de Serenity,
certamente me lembraria.
— Definitivamente não. Serenity é a única que está roubando
a minha paz, com a culpa que pesa sobre meus ombros.
Ele fez uma anotação na sua caderneta e fiquei curioso para
saber do que se tratava.
— Já que se sente tão culpado pelo que está fazendo com
ela, por que não tenta um relacionamento convencional, como
convidá-la para jantar, levar flores e fazer amor apenas vocês dois,
sem as cordas e os chicotes?
— Eu já tentei esse tipo de relação com outras mulheres e
não tive prazer algum. Não é algo que me satisfaça. Eu preciso das
sujeiras que pratico naquele clube.
— Aí é que está o ponto chave. O senhor tentou ter uma
relação mais branda com outras mulheres, mas não tentou com
Serenity. Esse tipo de relação pode ser uma forma de você se
redimir com ela pelo que está fazendo, ou seja, você dá o que
acredita que ela quer, que é um romance, e concilia esse romance
com suas idas ao clube. Assim ambos terão o que querem um do
outro.
Parei para pensar sobre aquilo e cheguei à conclusão de que
ele podia estar certo. O que toda mulher queria era um romance, um
conto de fadas e Serenity não era diferente. Eu detestava essa
coisa de flores, chocolates e dormir abraçados, mas poderia fazer
isso por ela, com o objetivo de me redimir, pelo menos um pouco, da
minha culpa em arrastá-la para o mundinho sujo do qual gostava.
— Acho que isso pode dar certo. O problema é que não sei
nem por onde começar. Já faz muito tempo que não convido uma
mulher para sair.
— Tenho certeza de que o senhor descobrirá como fazer,
pois é um homem inteligente e vivido.
Depois de mais meia hora de conversa, deixei o consultório
com a sensação de que os honorários daquele médico eram o
dinheiro mais jogado fora da minha vida, pois a ideia que ele me
deu, eu poderia ter tido sozinho. Só me faltou tempo para pensar.
Ele estava certo. Se existia uma forma de eu me redimir com
Serenity, essa forma seria dando um conto de fadas a ela, como
toda menina queria, por mais que isso pudesse ser desagradável
para mim, como foi quando tentei fazer o mesmo com outras
mulheres.
Com o início do outono, o dia estava nublado, com um vento
levemente frio soprando constantemente. Ainda era cedo, quando
deixei o consultório do Dr. Devon. Antes de ir para a empresa,
passei em uma floricultura e comprei um belo buquê de rosas
vermelhas. Pelo que li em alguns livros, eram o tipo de flores que as
mulheres apreciavam.
Tão logo entrei no edifício que sediava minha companhia,
percebi que os funcionários que circulavam pelo hall viravam o
pescoço para me observar, abismados e chocados, obviamente por
causa do buquê em minha mão. Qual o problema deles? Nunca
tinham visto um CEO com um buquê de rosas? Eram tão covardes
que bastou que eu lhes desse algumas encaradas, para que
voltassem a cuidar de suas vidas.
No elevador, a novela se repetiu, com homens e mulheres,
executivos e chefes de setores, olhando-me com perplexidade,
como se não acreditassem no que estavam vendo. Que gente sem-
noção!
Ao deixar o elevador e avançar pela recepção que antecedia
meu escritório, Mia e Serenity já se encontravam atrás do balcão de
concreto e vidro, como todos os dias. Imitando os demais
funcionários, ambas ficaram paralisadas, fitando as flores em
minhas mãos e ainda mais impactadas, quando me aproximei e
parei diante de Serenity. Ela estava especialmente linda naquela
manhã, usando um vestido de gola alta cor de pele, com rendas
descendo pelo torso e se estendendo até a saia rodada. Seus
cabelos ruivos estavam soltos, como quase sempre; as ondas
volumosas cascateavam sobre seus ombros, formando um
irresistível conjunto com o azul do seu olhar.
Eu não me orgulhava do que fazia com ela praticamente
todas as noites, mas era só no que conseguia pensar em fazer,
quando ela me olhava com aquele fogo todo na sua expressão,
como se fosse uma viciada na libertinagem, como eu.
Apenas uma coisa me incomodava nas nossas idas ao clube,
a recusa que ela tinha em aceitar qualquer outro homem a fodendo
junto comigo, que não aquele imbecil de pau fino, que conhecemos
assim que passamos a ir juntos ao Cobongo. Eu detestava aquele
sujeito, com todas as minhas forças, pelo simples fato de que ele a
queria para si, cobiçando o que era meu. No entanto, eu não podia
obrigá-la a aceitar outro homem. Tudo tinha que ser consensual.
Tampouco podia abrir mão do sexo em grupo, visto que era uma
necessidade que eu tinha.
— Bom dia, garotas — falei e o queixo de ambas caiu quase
até o estômago, seus olhos se arregalando de perplexidade, o que
me fez perceber que era a primeira vez que as cumprimentava ao
chegar.
— Bom dia, Sr. Dempsey! — disseram elas, em uníssono.
Precisei respirar fundo para conseguir fazer aquilo, me
sentindo verdadeiramente patético. Por que as mulheres tinham que
ser tão complicadas?
— Serenity, isto é para você. — Entreguei-lhe as flores e ela
as recebeu como se não acreditasse que fossem reais. — Gostaria
de saber se você quer jantar comigo esta noite. Hã, hum.. em um
restaurante.
Seus olhos lindos como um sonho se arregalaram ainda
mais.
— É sério?!
— Claro. Por que não seria?
— Bem... é claro que eu aceito. Eu adoraria.
— Ótimo. Te pego na sua casa às sete. Pode sair mais cedo
e usar o cartão da empresa para comprar um vestido novo, se
quiser. Com licença.
Dito isto, segui rumo à minha sala, ciente de que as duas me
observavam pelas costas, ainda incrédulas. Eu tinha certeza de que
passariam o dia inteiro fofocando sobre o assunto. Apesar de
Serenity ter me assegurado de que não falaria para ninguém sobre
nossa relação, como exigi, eu tinha certeza de que Mia sabia sobre
nós dois, talvez não soubesse dos detalhes, mas sabia de alguma
coisa, afinal as duas viviam cochichando pelos cantos e estavam
sempre trocando olhares de cumplicidade. Aliás, olhares até
demais, como se me escondessem algo. Mas o que poderiam estar
me escondendo? Eu não acreditava que Serenity ainda se atreveria
a mentir para mim, depois do episódio com o maldito traficante.
Essa desconfiança descabida era coisa da minha cabeça.
O dia transcorreu como todos os outros, repleto de trabalho,
papéis para assinar, negócios para fechar, gente chata para
conversar. Mas essa era a parte fácil do meu cotidiano. A parte
difícil era a batalha que eu vinha travando contra mim mesmo nas
últimas semanas, uma luta árdua e incessante por reprimir os meus
instintos mais primitivos e evitar comer aquela menina em cima da
minha mesa. Era só nisso que eu conseguia pensar cada vez que
ela cruzava o meu caminho, na empresa, em jogá-la sobre os
móveis, arrancar suas roupas e trepar com ela o dia todo. Se não
tivesse trabalhado muito o meu autocontrole no último ano, talvez
não conseguisse me segurar e então a minha vida profissional
estaria arruinada. O ideal seria que ela ficasse em casa, mas a
garota fazia questão de trabalhar, talvez para se manter ocupada,
pois como era minha submissa, eu não deixava que nada lhe
faltasse.
Por volta das sete da noite, eu estava parado em frente ao
edifício onde Serenity morava, em Chelsea, do lado de fora da
limusine, esperando-a. Aquele tipo de programa não era algo com o
que eu estivesse habituado, o que explicava o fato de me sentir
estranhamente nervoso, como um adolescente que ia ao seu
primeiro encontro.
Pouco tempo depois da minha chegada, as portas duplas do
prédio se abriram e Serenity surgiu lá de dentro, linda como uma
miragem, usando um vestido preto, com bojo meia-taça e um tecido
transparente com brilho por cima, que ia até a cintura, de onde
partia a saia longa, esvoaçante, com duas fendas que subiam até o
ápice das suas coxas, exibindo as pernas firmes e longas. Bastou-
me olhar para ela para que eu quisesse esquecer o jantar e
simplesmente jogá-la sobre o capô do carro, para fodê-la ali mesmo,
na frente de todo mundo. No entanto, esta noite eu jurara a mim
mesmo que agiria como um cavalheiro e era o que faria. Além do
mais, havia tido muito trabalho para conseguir uma mesa no
Carbone, um dos melhores restaurantes da cidade, sem fazer
reserva.
— Boa noite — disse ela, com sua voz doce e suave de
menina, um sorriso tímido brincando em seus lábios.
— Você está verdadeiramente linda — comentei e seu sorriso
se alargou.
— Obrigada.
Abri a porta para ela e nos sentamos em bancos separados
na parte de trás do veículo. Enquanto o motorista nos conduzia pela
cidade, tentei me concentrar em qualquer coisa que não fosse suas
lindas pernas e logo havíamos estabelecido um diálogo agradável,
sobre amenidades do dia a dia, o que me deixou
surpreendentemente relaxado, como se eu não estivesse a caminho
de um restaurante conhecido pelo seu romantismo.
O ambiente do Carbone era bastante admirável, com sua luz
confortável, os imensos lustres pendurados no teto e as paredes e
cortinas em tons pastéis, assim como as toalhas das mesas. Ao nos
acomodarmos à mesa para a qual a recepcionista nos encaminhou,
percebi que Serenity não parecia muito à vontade.
— Está tudo bem com você? — indaguei.
Ela me deu um sorriso meio forçado.
— Está sim. Esse lugar é maravilhoso.
Suas palavras não me convenceram. Havia alguma coisa
errada que ela não queria me falar.
— É um dos melhores restaurantes da cidade. A comida é
incrível.
— Aposto que sim.
O garçom se aproximou e Serenity teve dificuldade com o
cardápio em italiano, ao tentar fazer o seu pedido, o que exigiu que
eu a ajudasse e ambos pedimos o Carpaccio Piamontese para
começar, além do melhor vinho da casa.
— Por que isso agora? — indagou ela.
— Isso o quê? — me fiz de desentendido.
— O jantar, as flores, esse romantismo todo. Isso não faz o
seu estilo.
— Ué, as pessoas podem mudar.
— Não tão depressa. Me fala o que está acontecendo.
Suspirei, consternado.
— Acho que te tratar melhor é uma forma de me redimir pelo
que tenho feito de mal a você.
Ela fitou-me perplexa.
— Você nunca me fez nenhum mal.
— Eu te faço mal quando te levo ao clube e te apresento à
libertinagem.
— Embora eu esteja amando sair com você para jantar e
tenha adorado as flores, também gosto quando vamos ao Cobongo.
Para mim, o que importa é estar com você.
— Eu sei disso, mas não impede que eu me sinta culpado por
ter corrompido a sua inocência. E essa é uma forma de você ter
mais de mim, mais do que qualquer outra mulher já teve.
Ela sorriu e pude ver a emoção na expressão do seu olhar.
Aquilo realmente estava funcionando.
— Obrigada. Saiba que está me fazendo muito feliz.
— Todas as vezes que saímos juntos, fazemos as coisas que
eu quero, porque comigo tudo tem que ser assim, do meu jeito. Mas
hoje a noite é toda sua. Escolha o que quiser fazer e satisfarei todos
os seus desejos.
O sorriso dela se ampliou, um brilho malicioso se refletiu em
seus olhos lindos.
— Todos mesmo?
— Qualquer coisa.
— Quero fazer amor com você. Beijar sua boca com calma e
depois dormir em seus braços, para te amar mais uma vez ao
amanhecer, antes de tomarmos o café da manhã juntos.
Pensei no quanto aquilo seria enjoativo se fosse com outra
mulher, mas com ela parecia mais do que perfeito.
— Não gosta do jeito selvagem que eu te beijo, bebê? —
provoquei.
Ela mordeu seu lábio inferior, ao mesmo tempo em que
desviava seu olhar para as suas mãos e o rubor tomava conta da
sua face. Ela adorava trepar comigo, do meu jeito sujo e pervertido,
isso estava mais do claro desde o início.
— Eu gosto até mais do que deveria. Mas quero ter você por
inteiro, de um jeito mais íntimo e pessoal. Sempre me sinto sozinha
depois que você me deixa em casa após irmos ao Cobongo.
Aquilo foi um soco no meu estômago. Eu não tinha ideia do
quanto ela se sentia sozinha.
— Estou disposto a mudar isso entre nós. Não quero que se
sinta só.
Pouco depois o garçom retornou com a comida. Ao servir a
mesa, notei que Serenity voltava a ficar tensa, parecendo nem um
pouco à vontade e passei a observá-la com bastante atenção,
quando pude perceber que o motivo do seu mal-estar era a sua total
falta de conhecimento com a etiqueta do restaurante, um lugar muito
mais sofisticado do que certamente eram os ambientes que ela
estava acostumada a frequentar. Eu devia ter presumido que ela
não se sentiria bem em um restaurante como esse. Fora uma
grande falta de consideração da minha parte trazê-la.
Apesar de pouco à vontade e sem saber qual garfo usar
primeiro, Serenity foi em frente, dando uma pequena garfada no
Carpaccio, sem conseguir esconder a careta de quem tinha odiado
o sabor.
— Podemos ir a outro lugar, se você quiser — falei.
— Não precisa. Aqui está ótimo.
A resposta foi a que eu esperava ouvir dela, pois era uma
submissa nata, como constatei tão logo a conheci e, como tal, seria
capaz de qualquer coisa para me agradar, inclusive engolir uma
comida que odiara e permanecer em um lugar onde não se sentia à
vontade, sem jamais reclamar. Era uma atitude que eu apreciava,
contudo essa noite ela não era minha submissa apenas.
— Hoje a noite é toda sua. Já vi que não gostou daqui,
portanto quero que escolha outro lugar para irmos. Um lugar que
você goste realmente.
Seus olhos se estreitaram.
— Sério?
— Sério.
— Tá bom, mas depois não reclama que não gostou.
— Não vou.
Pedi a conta e deixamos o restaurante. Seguindo as
instruções de Serenity, o motorista nos levou para o centro da
cidade e, quando dei por mim, eu estava comendo cachorro-quente
em uma barraca em pleno Central Park, sem ao menos ter um lugar
para sentar.
— Então essa é a sua ideia de diversão? — indaguei, atônito
com o quanto as pessoas pareciam à vontade comendo enquanto
caminhavam pelo parque, assim como nós fazíamos.
— Mais ou menos. Não é tão divertido, mas esse hot dog é
uma delícia. Muito melhor do que aquela meleca do restaurante —
disse Serenity, seu sorriso de animação fez com que valesse a pena
comer aquela porcaria e ainda ter que caminhar ao mesmo tempo.
— Você está gostando?
— Claro. É uma delícia.
Ela soltou uma gargalhada, ciente de que eu estava
mentindo.
Mesmo após terminarmos de comer, continuamos andando
sem rumo pelas ruas que se abriam em meio às árvores
gigantescas, jogando conversa fora e apreciando a tranquilidade do
lugar, que estava mais quieto do que eu me lembrava, talvez devido
ao horário. Já fazia muito tempo que eu não ia ao Central Park, de
modo que havia me esquecido do quanto era silencioso e agradável
caminhar por ali, com o som da natureza nos agraciando e aquela
atmosfera de quietude nos envolvendo e contagiando. Até que não
era tão ruim assim conversar sobre bobagens do dia a dia. Para
falar a verdade, era bastante relaxante e até divertido.
— Se a noite é minha e posso escolher qualquer lugar para ir,
tem um que quero conhecer desde que cheguei à Nova Iorque, mas
ainda não tive oportunidade — disse Serenity, animada, exalando
uma felicidade genuína.
— E que lugar seria esse? — perguntei, com medo da
resposta.
— O teatro Gershwin.
— Aquele da Times Square?
— Sim. Está tendo uma apresentação com Daniel Radcliffe.
Eu queria muito ver.
— O garoto que fez Harry Potter?
— Sim. Sou muito fã dele e dos filmes.
Cacete! Eu estava saindo com uma garota que gostava do
Harry Potter! Agora sim, eu estava me sentindo um verdadeiro
pedófilo!
— Claro, se é o que você quer.
Exultante, Serenity pulou no meu pescoço, colando suas
curvas deliciosas ao meu corpo, seu calor de fêmea me fez
esquecer por completo da sua idade.
— Você é maravilhoso — sussurrou ela, com seu rosto lindo
a poucos centímetros de distância do meu.
Quando ela umedeceu os seus lábios, de um jeito
deliberadamente provocador, enfeitiçando-me, mandei o meu
autocontrole ir para o inferno e inclinei o pescoço, beijando-a com
paixão. Comecei movendo meus lábios com a impetuosidade que
eu gostava, tirando tudo dela, porém ao me recordar das suas
palavras, dizendo que queria ser beijada devagar, desacelerei o
ritmo, amenizando a força do contato dos meus lábios com os seus
e os movimentando com o máximo de suavidade possível, o que
não era ruim, embora também não fosse satisfatório.
— Só para você saber, não vai ser todos os dias que eu te
beijarei assim — sussurrei, ao interromper o beijo.
Serenity sorriu amplamente.
— Quero que me beije do jeito que me ensinou a gostar. De
outra forma, não seria você e é você que eu quero, do jeito que você
é, com todos os seus vícios e fetiches, que agora são os meus
também.
Ela não precisou dizer mais nada. Inclinando novamente o
pescoço, tomei seus lábios com violência, praticamente os
devorando, invadindo sua boca deliciosa com a minha língua,
duelando com a sua, até que eu estava ofegante, com o desejo
feroz percorrendo em minhas veias como fogo sobre a gasolina.
Minha vontade era de levá-la para o lugar fechado mais próximo e
fodê-la até ouvi-la gritar de dor e prazer, mas eu tinha prometido
levá-la para ver o Harry Potter. Então, me forçando a recuperar o
autocontrole, a soltei.
CAPÍTULO 26

Kael

Felizmente era meio da semana e o motorista não teve


dificuldades em estacionar no Gershwin. Em poucos minutos
estávamos no interior do imenso teatro, com várias cadeiras vazias,
sendo que a maioria eram ocupadas por jovens com mais ou menos
a idade de Serenity, o que não me incomodou, como eu imaginei
que aconteceria. A verdade era que a ver tão feliz, assistindo ao
espetáculo, servia para suplantar todo o resto, inclusive a minha
diferença de idade em relação ao restante da plateia. Além disso, a
apresentação nem era tão enfadonha quanto eu esperava. Nada
infantil, contava com bons efeitos especiais e uma excelente
performance dos atores.
Serenity estava radiante quando deixamos o teatro, por volta
das onze horas da noite, não falava em outra coisa a não ser nas
diferenças entre o protagonista no cinema e na vida real,
demonstrando o quanto aquele espetáculo fora importante para ela
e o simples fato de vê-la tão feliz, contribuía para que eu estivesse
tendo uma das noites mais interessantes e divertidas da minha vida,
depois de muito tempo.
— Para onde agora, princesa? — indaguei, enquanto
caminhávamos em direção ao estacionamento.
— Você vai achar estranho.
— Por quê? É alguma casa mal-assombrada?
Ela gargalhou e algo dentro de mim se aqueceu com o som
daquele riso.
— Não. Mas é o Inwood Hill Park.
Ela tinha razão quando disse que eu acharia estranho. Eu
esperava que ela fosse querer finalizar a nossa noite em alguma
danceteria barulhenta, com música eletrônica de tremer o chão,
dessas que os jovens gostam, mas em vez disso ela queria ir ao
parque mais isolado da cidade.
— Por que esse parque? Ele parece uma mini Floresta
Amazônica, sem paisagismo, nem movimentação de pessoas.
— Exatamente por isso. Lá é o lugar mais sossegado de
Nova Iorque, onde costumo ir quando preciso pensar, geralmente
quando me sinto sozinha e quero me isolar. Gostaria muito de ir lá
com você, mas se você não quiser, eu vou entender.
Querer ir lá, eu não queria, o lugar era sinistro, deserto e
sombrio, porém aquela noite era sua e ela tinha o direito de fazer as
suas escolhas.
— Se você quiser mesmo ir lá, eu a acompanho. Sem
problemas.
— Obrigada.
Entramos na limusine e pouco tempo depois esta estacionou
diante da entrada do Inwood Hill Park. Como o veículo não podia
passar dali, Serenity e eu saltamos e iniciamos o restante do
percurso a pé. O lugar era ainda mais sinistro do que eu me
lembrava, com trilhas estreitas e mal-acabadas serpenteando entre
árvores centenárias e fantasmagóricas. Como era previsto, não
havia ninguém por ali, a não ser um guarda solitário fazendo a
segurança, em meio à iluminação precária. Parecia o cenário de um
filme de terror, onde certamente vários assassinatos já tinham sido
cometidos.
Lembrei-me de Serenity dizendo que costumava ir ali sozinha
e minhas entranhas estremeceram.
— Quero que me prometa uma coisa — falei, seco e firme.
—O quê?
— Que nunca mais vai voltar a esse lugar sozinha. Isso aqui
é muito perigoso.
— Não tem perigo nenhum. Eu venho sempre aqui e nada de
ruim aconteceu.
— Mesmo assim. Não quero que venha e isso é uma ordem!
— Sim, senhor.
Subimos e descemos montes, passamos sobre pedras no
meio do caminho, atravessamos espessas moitas de arbustos que
se estendiam pelo chão, até que, após a longa caminhada, Serenity
decidiu que era hora de parar, até porque não havia mais para onde
seguir, estávamos em uma parte elevada do parque, cercados de
arbustos e das folhas secas que forravam o chão, com as margens
do rio Hudson mais adiante. Eu não podia negar que a vista dali era
de tirar o fôlego. De onde estávamos, podíamos enxergar o pico dos
edifícios de Manhattan e a ponte Henry Hudson, todos iluminados.
— Não é lindo aqui? — perguntou Serenity, quase
sussurrando.
— Sim. Lindo e sossegado.
E era verdade. De onde estávamos, não ouvíamos qualquer
som, que não o da natureza. Nada de barulhos de buzinas e
sirenes. Nem parecia que estávamos nos Estados Unidos.
— O lugar perfeito para pensar e encontrar a paz interior.
— E no que tanto você pensa quando está aqui?
— Várias coisas. Principalmente no quanto sou sozinha. É
como me sinto desde que meu pai morreu.
Quase pude sentir sua dor e alguma coisa apertou dentro do
meu peito. Virando-me de frente para ela, segurei sua cintura com
uma mão e acariciei seu rosto lindo com a outra.
— Não pense isso. Você não está sozinha. Eu estou bem
aqui. Você tem a mim.
Seus olhos se ergueram para fitar o meu rosto, quando pude
ver a tristeza profunda que eles expressavam.
— Você não está comigo. A não ser quando vamos ao
Cobongo. Isso não é estar de verdade com uma pessoa.
As mulheres eram mesmo muito complexas. Eu precisava
pensar um pouco para conseguir interpretar o que ela estava
dizendo. Como assim, eu não estava com ela de verdade, se
estávamos juntos praticamente todas as noites?
— Eu estou com você mais do que já estive com qualquer
outra pessoa. Acredite em mim. O problema é que sou um ser
humano diferente e esse é o meu jeito de estar com você e ser seu.
Esse é mais um motivo pelo qual estamos aqui hoje. Estou tentando
ser melhor para você, te dar o meu melhor.
Ela sorriu com o canto da boca, embora seus olhos
continuassem melancólicos.
— E está achando essa noite um saco?
— Claro que não. Está sendo muito divertido. A parte do
cachorro-quente foi a melhor.
Por fim, seus lábios se dobraram num sorriso largo, o qual foi
acompanhado pela expressão do seu olhar.
— Você mente muito mal, Kael Dempsey.
Seguindo a um impulso, segurei sua mão delicada e a pousei
na lateral do meu rosto.
— A verdade é que, não importa onde estejamos, ou o que
estejamos fazendo, com você tudo fica bom.
— Também acho.
Dito isto, ela veio para mim, pendurando-se no meu pescoço
e se colocando na ponta dos pés para alcançar minha boca com a
sua, quando então a beijei com paixão, pressionando forte meus
lábios nos seus, apertando seu corpo frágil contra o meu, o desejo
incendiando minhas veias, fazendo meu pau inchar dentro da calça.
Quando iniciei aquela noite, eu pretendia terminá-la levando
Serenity para o meu apartamento e fazendo amor com ela, suave e
com carinho, como ela descrevera. Contudo, naquele instante, foi
impossível me controlar. Eu a queria demais, queria tanto que o
desejo chegava a arder em minhas entranhas. Então, fiz o que
ansiei desde que a vi com aquele vestidinho no início da noite,
levando minha mão a um dos seios e o apertando por cima do único
pedaço de tecido que não era transparente na parte de cima, para
em seguida deslizar a mão pela sua silhueta bem desenhada e
infiltrá-la em uma das fendas da saia longa, tocando o fundo da sua
calcinha.
Soltei um grunhido de puro tesão quando introduzi o dedo na
calcinha delicada e o deslizei sobre seus lábios vaginais. Ela já
estava toda meladinha, doidinha para ser penetrada. Que delícia!
— Vou te comer bem aqui nesse chão — sussurrei,
segurando na parte detrás dos seus cabelos e os puxando, enfiando
o rosto na curva do seu pescoço e beijando sua pele macia, ao
mesmo tempo em que continuava acariciando seu sexo com os
dedos.
Minha vontade era de amarrá-la e subjugá-la, mostrar a ela
quem estava no controle.
— Faça o que quiser comigo, meu Senhor. Sou toda sua, não
apenas hoje, mas por quanto tempo me quiser.
Ela deslizou sua mão frágil para baixo e segurou meu pau por
cima da calça, apertando-o, ao mesmo tempo em que movia
brevemente seus quadris, esfregando a bocetinha na minha mão, o
que foi a minha perdição.
Desprovido de qualquer autocontrole, abri o zíper na parte de
trás do vestido e fiz com que a peça delicada caísse aos seus pés.
Como estava sem sutiã, seus mamilos rosados ficaram duros por
causa do frio gélido do outono e caí de boca em um deles,
mamando forte enquanto acariciava o outro com os dedos, seus
gemidos suaves ressoando pela selva, seus dedos finos se
enterrando em meus cabelos e os acariciando.
Não era porque estávamos em um parque sombrio que eu
não podia fazer amor com ela, do jeito que ela queria, sem pressa e
com suavidade. Com isto em mente, abaixei-me à sua frente, afastei
a calcinha para um lado e abri seus lábios peludos com os dedos,
passando minha língua entre eles, me refestelando com a forma
como ela gemia e puxava meus cabelos. Lambi repetidas vezes a
fenda lambuzada, salgada e deliciosa. Passei a língua em um vai e
vem, concentrando os movimentos sobre o grelinho minúsculo,
enquanto Serenity gemia cada vez mais alto, descontrolada, abrindo
suas pernas e projetando seus quadris para a frente, a fim de se dar
mais para mim. Mesmo sem as amarras, ela era uma delícia,
quente, macia e molhada.
Prendi seu clitóris entre meus lábios e chupei bem macio,
ciente de que isso a levaria ao clímax e logo ela estava gozando na
minha boca, puxando meus cabelos com ainda mais força e
lançando sua cabeça para trás, enquanto clamava pelo meu nome.
Assim que seus gemidos cessaram, fiquei de pé e a beijei
com sofreguidão, esfregando minha língua na sua e dando tapinhas
leves sobre o seu sexo muito melado.
— Você tem gosto de luxúria, menina — sussurrei, ofegante,
excitado ao extremo. — Eu poderia passar a noite toda chupando
essa bocetinha e jamais me fartaria.
— Sim... faça o que quiser... ela é toda sua.
Voltei a beijá-la na boca, enquanto suas mãos impacientes
abriam o zíper da minha calça e seguravam meu pau, masturbando-
o, usando os fluidos que fugiam da ponta para o lubrificar, levando-
me ao ápice da minha excitação. Então, afastei-me alguns
centímetros, apenas o suficiente para tirar o paletó e o forrei no
chão, sobre as folhas secas. Tirei também a calça e formei uma
cama improvisada um pouco maior. Completamente nu, peguei
Serenity nos braços e a deitei sobre as roupas forradas no chão,
cuidadosamente. Eu não sabia como fazer amor com uma mulher,
mas estava disposto a aprender, por ela, porque a queria de todas
as formas. Então, deitei-me sobre ela e voltei a beijá-la com paixão,
enquanto ela abria suas pernas e me permitia acomodar meus
quadris entre elas.
Sem separar minha boca da sua, eu a penetrei, suas paredes
quentes e molhadas me acomodaram, apertando meu pau tão
deliciosamente, que soltei um grunhido animalesco. Tentei ir
devagar, mas foi impossível, meus instintos eram animalescos e
logo eu a estava fodendo forte e implacavelmente, batendo minha
pélvis contra a sua, o som dos choques se misturavam aos dos seus
gemidos.
— Lamento não conseguir fazer amor com você mais
devagar. Esse é o meu limite de delicadeza.
— É assim que eu gosto... me come gostoso... ahhh...
Continuei me movimentando dentro dela, forte, fundo e
gostoso, me acabando de tanto prazer. A certa altura, nos virei
sobre o chão amaciado pelas folhas, colocando Serenity por cima
de mim, quando pude ter uma bela visão do seu corpo lindo, os
seus seios pequenos balançando, enquanto ela rebolava no meu
pau, girando os quadris, movendo-os para cima e para baixo, com
suas mãos apoiadas em meu peito. Então, sentei-me com ela
montada sobre mim, observando seu rosto lindo, avermelhado pelo
prazer, a centímetros de distância do meu.
— Isso é fazer amor? — indaguei, com minha voz
sussurrada.
Ela sorriu, fechou seus olhos e acariciou meus cabelos na
altura da minha nuca.
— Eu não sei. Você é o primeiro homem da minha vida.
Estremeci com o jeito como ela falou, como se fossem existir
outros homens na sua vida depois de mim. A intensidade dos meus
sentimentos me espantou e, nesse instante, me dei conta de que a
minha ligação com essa garota era muito maior do que eu poderia
supor.
— Não quero ser o primeiro, quero ser o último — falei.
Então, segurei-a pela nuca e novamente a deitei sobre as
roupas, voltando a me colocar por cima dela, fodendo-a com força e
ferocidade.

***

Permanecemos no parque até a madrugada, quando por fim


o frio nos expulsou, nos obrigando a voltar para a limusine. Fomos
direto para o meu apartamento, onde fizemos amor até quase o dia
amanhecer e, por fim, dormimos abraçados, completamente nus,
grudados um ao outro, como se fôssemos uma só criatura.
Quando acordei na minha seguinte, Serenity ainda dormia,
calma, tranquila e serena como um anjo. Com seus olhos fechados
e sua face completamente relaxada, ela parecia ainda mais frágil e
graciosa, linda de um modo que passei um longo momento
observando-a, hipnotizado, enfeitiçado, sem que ela despertasse,
devido à grande exaustão que lhe causei durante a noite.
Era plena quinta-feira e eu tinha inúmeros compromissos de
trabalho. Ainda assim, apenas enviei uma mensagem para Mia,
avisando que cancelasse todos os compromissos daquela manhã.
Iria para a empresa apenas na parte da tarde, não devido ao
cansaço. Diferente de Serenity, eu me recuperava depressa. Mas
porque eu queria ficar um pouco mais com ela, tomar o café da
manhã na sua companhia, ou quem sabe também almoçar.
O Dr. Devon estava certo quando sugeriu que, com Serenity,
as coisas poderiam ser diferentes. De todas as ocasiões em que eu
havia tentado agir como um ser humano normal, levando as
mulheres para jantar, fazendo sexo com elas sem o uso de cordas e
correntes, nenhuma foi satisfatória como estava sendo naquele
momento. Pela primeira vez na vida, eu me sentia feliz em me
relacionar com alguém do sexo feminino, sem precisar fazer uso da
agressividade que era inerente a mim nesses momentos.
Serenity era mesmo diferente de todas as outras mulheres.
Com ela tudo era melhor, especial, eu queria estar com ela o tempo
todo, não importando em que circunstâncias, queria levá-la para
jantar mais vezes e fazer amor com ela novamente, embora não
tivesse a intenção de abrir mãos dos prazeres perversos que
encontrava ao provocar-lhe a dor e a submissão. Como o psiquiatra
dissera, nós poderíamos conciliar as duas coisas.
Sem conseguir parar de observá-la, tive vontade de beijar
seu corpo todo e depois enfiar minha cabeça entre suas pernas e
chupá-la até que ela acordasse em meio ao êxtase, mas isso seria
covardia, a menina precisava descansar, depois de tudo o que
fizemos durante a noite. Então, levantei-me com cuidado para não
despertá-la, vesti uma calça de moletom folgada, sem a cueca por
baixo e deixei a suíte.
Na cozinha, minha governanta levou um susto ao me ver. Ela
trabalhava para mim há anos e nunca tinha me visto em casa depois
das nove da manhã.
— Bom dia — falei, sentando-me do lado contrário da
bancada, enquanto ela preparava algo no fogão.
Ela me encarou com seus olhos incrédulos e me dei conta de
que era a primeira vez que lhe dava um bom-dia.
— Bom dia. O senhor quer tomar café agora?
— Prepare uma bandeja para dois, bem caprichada. Vou
fazer a refeição no quarto.
Novamente ela pareceu incrédula, afinal era a primeira que
me via levando o café na cama para uma mulher, ou até mesmo
dormindo ao lado de uma. E com Serenity já era a segunda vez, um
verdadeiro recorde.
Continuei sentado na bancada, enquanto ela preparava a
bandeja. Em alguns minutos de conversa, a conheci mais do que
durante todos os anos em que ela trabalhava para mim. Com a
bandeja abarrotada de comida em mãos, voltei ao quarto e
encontrei Serenity ainda adormecida.
Indeciso sobre acordá-la, ou deixá-la dormir um pouco mais,
depositei a bandeja sobre uma mesinha e sentei-me, observando a
garota praticamente sem piscar os meus olhos, encantado com sua
beleza.
Quando aquele feitiço que ela exercia sobre mim se tornou
irresistível demais, subi na cama e coloquei-me sobre ela, sem me
deitar, apoiando o peso do meu corpo nas mãos e nos joelhos.
Beijei-a repetidamente no rosto e na boca, até que ela despertou.
Parecendo muito frágil e feminina, espreguiçou-se
languidamente, esticando os braços para cima, enquanto abria seus
olhos devagar. Ao focar o meu rosto, dobrou seus lábios em um
sorriso largo e espontâneo.
— Então não foi um sonho? — sussurrou.
— Não. Nós comemos mesmo cachorro-quente no Central
Park.
Ela sorriu mais amplamente, trazendo suas mãos para o meu
rosto, acariciando-o, deslocando-as para a minha nuca e me
puxando para um beijo, como se tivesse fome de mim, assim como
eu tinha dela.
Quando meus lábios encontraram os seus, cada minúscula
partícula do meu ser ordenou que eu me deitasse sobre ela e a
fizesse minha, mas precisávamos nos alimentar, então deixei a
cama depressa, antes que não fosse mais capaz de me controlar.
— Trouxe o seu café. Você deve estar faminta.
— E estou. Só preciso ir no banheiro rapidinho.
Ao sair da cama, ela tentou esconder sua nudez com um
lençol, mas não permiti, puxei o lençol e a deixei completamente
nua no meio do quarto.
— Não precisa se esconder de mim. Lembre-se de que você
me pertence. Nada de roupas neste quarto.
— Sim, Senhor.
Ela foi até o banheiro e voltou minutos depois, linda como
uma miragem, completamente nua, com os seios pequenos e a
boceta peluda à mostra, seus densos cabelos ruivos caindo em
ondas desgovernadas pelos seus ombros. Imaginei-a amarrada em
uma das cadeiras da suíte, do jeito que estava, e todo o sangue do
meu corpo foi drenado para o meu pau.
— Sente-se. Vamos comer — ordenei, gesticulando com a
mão para uma das cadeiras à mesa e me sentei do outro lado.
Trocamos olhares fervorosos enquanto comíamos, a energia
sexual crepitava no ar, ambos cientes do desejo que despertávamos
um no outro, seu rosto vermelho denunciava sua excitação, o
volume na minha calça denunciava a minha. Ainda assim,
conseguimos estabelecer um diálogo minimamente normal
enquanto comíamos e, no instante em que Serenity demonstrou
estar satisfeita, mandei meu autocontrole para as cucuias e levantei-
me.
— Não se mova. Fique exatamente onde está — ordenei e
seu olhar assumiu um brilho luxurioso extremamente excitante.
Eu não guardava nenhum apetrecho de jogos sexuais no
meu apartamento, mas tinha gravatas. Muitas delas. Então, fui até o
closet e voltei trazendo algumas, satisfeito ao encontrar Serenity na
mesma posição sobre a cadeira.
— Você está muito linda sentada aí, minha putinha. Com
essa bocetinha ruiva me provocando. Vou dar a ela o que merece.
Ela observou as gravatas em minhas mãos e sua respiração
assumiu um ritmo mais acelerado.
— Tudo o que quiser, Senhor.
Improvisando uma sessão de dominação, puxei a cadeira de
perto da mesa, colocando-a no centro da suíte, com Serenity ainda
sentada. Fiz com que ela pendurasse suas pernas sobre os braços
estofados do móvel e amarrei seus tornozelos aos pés da frente,
deixando-a muito aberta, seus lábios vaginais estavam tão
afastados que seu grelinho saltava para fora, parecendo me
convidar. Em seguida, amarrei seus pulsos na parte de trás do
espaldar da cadeira, tornando-a cativa, frágil, subjugada, do jeito
que me deixava louco. Para finalizar, usei a última gravata para
amordaçá-la, impedindo-a de falar.
— Você não tem ideia do quanto está linda e tentadora —
falei, observando-a sem conseguir desviar o olhar.
Ela estava verdadeiramente enlouquecedora naquela
posição, toda presa e aberta para que eu fizesse o que bem
quisesse.
— Acho que não fiquei satisfeito com o café da manhã.
Preciso comer um pouco mais.
Peguei o pote de geleia da mesa e derramei sobre ela,
espalhando a consistência viscosa sobre sua pele, do pescoço até o
meio das suas pernas, lambuzando-a onde pude alcançar. Em
seguida, inclinei-me sobre ela e lambi o doce com prazer,
devorando-a e provando-a, chupando forte seus seios e enfiando o
rosto entre suas coxas, para me refestelar com o sabor do doce
misturado ao gosto salgado do seu sexo. Lambi toda a geleia da sua
boceta e continuei lambendo, brincando com seu clitóris gostoso,
fodendo-a com a minha língua, até que ela estava se acabando em
gozo enquanto a mordaça abafava seus gritos de prazer.
CAPÍTULO 27

Serenity

Passei toda a manhã no apartamento do Sr. Dempsey,


transando, comendo e conversando. Na verdade, mais transando do
que comendo e conversando.
Após o almoço, ele foi me levar em casa e mais uma vez me
dispensou do trabalho naquela tarde, o que já estava se tornando
um hábito. Só que desta vez nem reclamei, pois estava realmente
cansada, sem ânimo para nada a não ser dormir. Além disso, há uns
três ou quatro dias meu estômago reclamava, enjoado e irritado,
como se eu tivesse comido algo que me fizera mal. Mais um motivo
para não reclamar por ficar em casa.
Sozinha no apartamento onde morava, agarrei uma almofada
e deixei-me cair sobre o sofá da sala, fechando os meus olhos e
relembrando cada momento nos braços daquele homem, desejando
que ele ainda estivesse comigo.
Estar com ele, em qualquer lugar que fosse, era sempre
inesquecível e maravilhoso. No entanto, na noite passada foi ainda
melhor. Em poucas horas ao lado dele, eu o conheci mais do que
durante meses de convivência. Havia enxergado um lado seu,
quase irreverente, que não tinha visto antes. Nos tornamos mais
íntimos do que quando fazíamos sexo no Cobongo e, a melhor
parte, foi dormir abraçada com ele, tomar café em sua companhia
pela manhã, como se fôssemos realmente namorados e não apenas
duas pessoas que faziam sexo casual e fora dos padrões.
Eu ainda estava deitada no sofá, pensando na noite passada,
quando meu estômago embrulhou violentamente e só tive tempo de
correr até o banheiro, antes de colocar todo o almoço para fora.
Definitivamente, esses enjoos estavam piorando. Eu precisava
procurar um médico, pois podia ser o início de uma úlcera.
Em busca de algum medicamento que amenizasse a
situação, abri o armário que havia atrás do espelho do banheiro e,
quando me deparei com um pacote de absorventes, foi como se um
estalo ocorresse dentro de mim. De súbito minha mente clareou.
Minha menstruação estava muito atrasada. Aliás, eu nem me
lembrava de quando ficara menstruada pela última vez. Juntando
essa informação aos enjoos e à sonolência que eu vinha sentindo
ultimamente, era possível presumir que eu estava grávida. Claro! Só
podia ser isso! Finalmente havia acontecido, Mia se tornaria mãe e
toda essa história terminaria. Mas antes, eu precisava ter certeza.
Com isto em mente, fui até uma gaveta onde havia vários
testes de gravidez dos quais Mia me munira e peguei logo três para
ter certeza. Li as instruções, urinei em cada um deles e esperei. O
tempo parecia se arrastar enquanto eu esperava os minutos
necessários para saber o resultado e, quando estes se passaram,
tive medo de olhar. Esperei um pouco mais e, por fim, abandonei
minha covardia, verificando os testes. Os três haviam dado positivo.
Era oficial. Eu estava grávida. Restava saber de quanto tempo.
A primeira coisa que veio à minha cabeça, foi o quanto Mia
ficaria feliz ao saber da novidade e corri para o telefone a fim de
contar para ela. No entanto, ao começar a procurar pelo seu número
entre os contatos do celular, lembrei-me de que esta revelação
colocaria um ponto final na minha história com Kael e uma tristeza
angustiante tomou conta do meu peito, ameaçando levar lágrimas
aos meus olhos.
Parei de procurar o número e continuei com o celular na mão,
a amargura me corroeu até os ossos. Assim que contasse a ela
sobre a gravidez, eu teria que deixar Kael e pedir as contas na
empresa, de modo que nunca mais voltaria a vê-lo. Definitivamente,
eu não estava preparada para afastar-me dele assim de repente, eu
precisava de mais um tempo e o pior era que esse tempo tornaria as
coisas ainda mais difíceis quando chegasse a hora de dizer adeus.
Ai, meu Deus! O que eu faria?
Não podia esconder essa gravidez de Mia. Primeiro, porque
logo a minha barriga apareceria. Segundo, porque eu havia dado a
minha palavra a ela de que cumpriria o nosso acordo e foi
justamente o fato de eu ser uma pessoa de palavra que a levou a
me contratar para toda essa loucura. Eu precisava contar a ela.
Novamente, voltei a mexer na tela do celular e encontrei seu
número, porém, antes de clicar, minha mão paralisou novamente.
Eu não podia fazer isso. Não podia sair assim de repente da vida de
Kael. Eu precisava de mais um tempo com ele, nem que fossem
algumas semanas, talvez um mês. Até lá eu estaria preparada para
dizer adeus e o faria, não me importava o quanto isso me custasse.
Se Mia esperara até agora para se tornar mãe, esperaria mais um
pouco, bastava eu dizer a ela que tinha acabado de descobrir a
gravidez, ela não desconfiaria de nada.
Decidida, guardei o telefone.

***
Era manhã de sexta-feira e todos os funcionários da empresa
estavam muito animados com a grande festa que aconteceria à
noite, no salão de festas que havia no terceiro andar. Não se falava
em outra coisa entre as paredes da companhia. Estávamos todos
comemorando a expansão dos negócios para os países mais ricos
da Ásia, uma grande e recente conquista do Sr. Dempsey, mas
também de todos nós. Seria uma grande celebração, que contaria
com a presença de algumas lideranças desses países, outros
grandes empresários do ramo das construções e muitos jornalistas.
Enquanto todos os demais funcionários se preocupavam com
a roupa que usariam, eu só conseguia me perguntar se seria a
acompanhante do Sr. Dempsey durante o evento, afinal estávamos
mais íntimos do que nunca, éramos quase namorados, embora não
tivéssemos assumido nossa relação perante as pessoas.
Já haviam se passado duas semanas desde que ele me
convidara para jantar fora e, desde então, saímos juntos, de forma
romântica, mais duas vezes, além das nossas idas frequentes ao
Cobongo, claro. Como ele não tinha outra pessoa — pelo menos
não que eu soubesse —, presumi que eu seria o seu par e estava
super nervosa, pois haveria muita gente importante presente na
ocasião. Além disso, eu não conhecia as regras de etiquetas de um
jantar chique, como o que seria servido à noite. Até tinha pedido
algumas dicas à Mia, mas não era suficiente.
No início da tarde, todos os funcionários seriam liberados do
trabalho para se prepararem para o evento. Como chegava minha
hora de ir para casa e o Sr. Dempsey ainda não falara nada, decidi ir
falar com ele pessoalmente, pois talvez eu não precisasse de um
convite, bastava encontrá-lo na festa, visto que era a única mulher
com quem ele estava saindo.
Entrar no escritório daquele homem sem ser chamada, era
sempre uma grande aventura, por isso raramente eu me arriscava a
fazê-lo. Por mais que estivéssemos mais íntimos do que nunca, ele
continuava tendo um temperamento terrível. Ainda assim decidi
arriscar e dei duas batidinhas à porta, antes de abri-la e entrar. O
encontrei sentado atrás da sua mesa, lindo como uma miragem,
usando seu terno sob medida, com seus cabelos curtos bem
penteados, a barba bem aparada. Mantinha sua atenção totalmente
concentrada na tela do seu computador e sua carranca fechada,
como quase sempre, de modo que sequer ergueu seu olhar em
minha direção quando me aproximei.
— Com licença, senhor — falei, timidamente.
Por fim, ele pareceu se dar conta da minha presença e olhou
para mim, seus olhos frios como gelo desceram pelo meu corpo,
antes de me encararem.
— Ao que devo a honra de tamanha interrupção? — disparou
ele, com irritação e quase dei meia-volta e fui embora.
Contudo, já que tinha ido até ali, iria até o fim.
— É sobre a festa desta noite. Gostaria de saber se serei sua
acompanhante.
— Ah, é isso? Não será uma festa para nos divertirmos, mas
apenas mais um encontro fatigante de trabalho. Várias pessoas de
outros países estarão presentes, por isso preciso da companhia de
alguém que fale outros idiomas e entenda muito bem sobre o
trabalho que realizamos aqui. Uma engenheira da Califórnia irá
comigo. Vá com Mia. Vocês são boas amigas.
Tentei evitar o sentimento de inferioridade, mas este me
atingiu como se eu estivesse sendo atropelada por um caminhão. A
tristeza inundou minha alma, quando constatei que eu não era nada
para aquele homem, além de um objeto, uma joana-ninguém com
quem ele transava e não era digna de estar ao seu lado em um
evento. Eu não conseguia entender por que tais constatações me
feriam tão dolorosamente se, no fundo, eu já sabia que as coisas
eram assim.
— Claro. Tudo bem. Irei com Mia — falei, reprimindo minhas
emoções.
Tentei dar meia-volta e ir embora dali, mas simplesmente não
consegui me mover, como se minhas pernas estivessem
congeladas.
— Não tenho nada com essa mulher, se é o que está te
incomodando — continuou ele. — Não misturo negócios com prazer.
Ava é apenas uma amiga.
— Tudo bem. Não precisa me dar explicações. Eu só queria
saber se precisaria estar preparada.
— Agora já sabe que não precisa se preocupar com nada.
Apenas relaxe e curta o que vocês chamam de festa. Se era só isso,
pode ir. Tenho algo importante para fazer aqui.
Sem dizer mais nada, ele voltou o seu olhar para a tela do
computador, ignorando por completo a minha presença, enquanto
eu continuava plantada em frente à sua mesa, mendigando pela sua
atenção, parecendo uma coitada. Até que, por fim, minhas pernas
resolveram voltar a me obedecer e dei meia-volta, deixando a sala.
Cheguei à recepção me sentindo completamente deprimida.
Minha vontade foi de contar logo à Mia sobre a gravidez e acabar de
uma vez com essa história, me afastar daquele homem e me livrar
desse turbilhão incessante de sentimentos que ele me despertava.
Porém, mais uma vez, me faltou forças para promover o nosso
adeus.
— Você tá legal? — indagou Mia, observando-me.
— Sim. Quer dizer, mais ou menos. Eu achei que seria a
acompanhante de Kael na festa de hoje.
Ele observou-me em silêncio por mais um tempo. Então,
deixou de lado a pilha de papéis que analisava e voltou-se para
mim, virando a cadeira giratória em minha direção.
— Não precisa ficar triste por causa disso. O fato de ele não
ficar com você em público, não indica que ele não goste de você. É
que os homens são assim mesmo.
— Ele disse que vai levar outra pessoa, uma mulher mais
instruída, como se eu fosse inferior a ele, como se não servisse para
mais nada, a não ser transar.
A expressão de piedade que surgiu na expressão dela, só
serviu para confirmar o quanto eu estava certa. Kael só me queria
mesmo para o sexo. Mas o que eu esperava?
— Ele disse quem é essa mulher?
— Uma tal de Ava, engenheira da Califórnia.
— Sei quem é. Não precisa ter ciúmes dela. Essa mulher dá
em cima do Sr. Dempsey há muito tempo e ele nunca quis nada
com ela. Nem sexo.
Senti uma pontada no peito. Se essa mulher dava em cima
dele, havia uma grande possibilidade de já ter ido ao Cobongo na
sua companhia, algo que Mia não tinha como saber.
— Acho que não vou a essa festa. Não quero vê-lo desfilando
na minha frente com outra mulher.
— Nada disso. Aí é que você tem que ir mesmo. — Ela
projetou seu corpo para a frente, segurando-me pelos ombros e
fitando-me de perto. — Coloque o vestido mais sexy e chique que
encontrar no seu closet, arrume esse cabelão lindo, coloca um
batom vermelho e desfila na frente dele. Eu duvido que ele ficará
indiferente. Será capaz até de deixar a mocreia sozinha e ir ficar
com você.
— Você acha?
— Talvez não. Mas com certeza ele vai ficar mexido. Esse
cara é vidrado em você. Agora vamos pra casa cuidar da nossa
produção de hoje à noite. Não sei você, mas ainda preciso passar
no shopping para comprar uma roupa.
— Eu também.
— Ótimo. Vamos juntas.
Mia e eu encerramos as últimas pendências do trabalho e
deixamos o edifício cada uma em seu carro, indo direto para o
shopping. Ultimamente, ela estava mais radiante, devido a ter
engatado em um namoro para lá de explosivo com a mulher que
conhecera no Tinder. Andava tão entretida com esse romance, que
há tempos não perguntava mais pela gravidez, como costumava
fazer antes, de forma quase obsessiva, o que era bom para mim,
pois assim eu não precisava mentir.
No shopping, comprei o vestido mais sensual e sofisticado
que encontrei. Era todo coberto por lantejoulas brilhantes, cor de
pele, com um ombro só, decote em meia-taça e saia longa com a
fenda até acima da coxa. Ficava tão colado em meu corpo que
acentuava cada uma das minhas curvas, marcando bem minha
cintura e deixando meus quadris ainda mais redondos. Era
realmente lindo e ficava perfeito em mim. Aproveitei para dar um
banho de brilho nos cabelos, deixando as ondas avermelhadas bem
soltas e exuberantes. Arrumei as unhas e fiz uma depilação
completa.
À noite, estava me sentindo linda e radiante. Como havia
combinado de me encontrar com Mia no local da festa, fui direto
para lá. O lugar estava simplesmente incrível, com enfeites no teto,
várias mesas forradas com toalhas brancas, adornadas com flores e
velas e garçons circulando por toda parte com champanhe e
petiscos à vontade para os convidados. Um solo de piano era
tocado ao fundo, muito suavemente.
Como os funcionários podiam trazer um acompanhante, Mia
veio com sua namorada, quando finalmente tive o prazer de
conhecê-la. Era morena, de origem latina, com longos cabelos
negros e um rosto com traços marcantes. Tinha mais ou menos a
idade de Mia e era muito bonita e simpática.
Como as mesas estavam divididas para serem ocupadas por
seis pessoas cada uma, sendo que os nomes dos funcionários se
encontravam nelas, acabei ficando sozinha entre Mia e sua
namorada e Joseph — um dos executivos — e sua esposa,
parecendo uma vela entre os dois casais, o que me deixou bastante
deslocada e pouco à vontade, passando a impressão de que eu não
tinha ninguém para trazer ao evento, como de fato não tinha.
Felizmente as pessoas perto de mim eram solidárias e não me
deixavam fora das conversas.
Já fazia mais de meia hora que estávamos lá, batendo papo,
eles bebericando o champanhe, quando finalmente o Sr. Dempsey
chegou, lindo, alto, imponente, parecendo um príncipe nórdico,
usando um terno preto impecável, com gravata borboleta da mesma
cor e camisa branca por baixo. Embora todos os homens
estivessem vestidos com o mesmo traje, nenhum ficava tão lindo e
elegante quanto ele.
Estava sozinho. Sem olhar para os lados e nem
cumprimentar ninguém, aproximou-se da mesa mais próxima ao
palco, onde estavam o vice-presidente da companhia e outras
pessoas que eu não conhecia. Entre elas uma loira deslumbrante,
com a pele bronzeada, que se levantou do seu lugar para recebê-lo
com um abraço íntimo até demais.
— Aquela é Ava, a engenheira — falei, quase para mim
mesma.
— Ela mesmo — disse Mia. — É uma mulher muito
obstinada. Desde que trabalho para o Sr. Dempsey, vejo-a se
insinuando para ele e até agora não conseguiu nada.
— Você não sabe se não conseguiu. Talvez estejam saindo
às escondidas. Não vê a minha situação?
Joseph e sua esposa olharam para mim ao mesmo tempo,
presumindo que eu transava com o meu chefe e não fiz questão de
tentar esconder.
— Uma mulher como essa jamais aceitaria sair às
escondidas — disse Mia.
“Mas como eu, sim”, completei mentalmente, com amargura e
minha autoestima descendo até abaixo dos meus pés.
Assumindo o papel de condutor do evento, o vice-presidente
da Giant Power Corporation subiu ao palco e o som do piano se
silenciou, enquanto ele fazia um discurso bastante previsível,
tentando parecer irreverente ao parabenizar o Sr. Dempsey pelas
grandes e recentes conquistas, atribuindo seu sucesso também à
competência da sua equipe. Falou durante alguns minutos e, então,
anunciou o discurso do poderoso presidente, nosso chefe, e todos
fizeram silêncio quando Kael se levantou e subiu no pequeno palco,
exalando força, poder, elegância e soberania em cada minúsculo
movimento que fazia.
— É uma honra estar aqui esta noite comemorando estas
grandes conquistas, que são resultado de muito trabalho, não
apenas meu, mas de todos os envolvidos. Quero agradecer a
presença das autoridades políticas, da imprensa e de todos.
As pessoas mal respiravam enquanto Kael discursava, com
seu rosto sério e compenetrado. Todos observavam-no com
atenção, capturados pelo seu carisma, deslumbrados pelo seu
magnetismo, principalmente as mulheres. Era um homem invejado
pelo público masculino e cobiçado pelo feminino. Todos o queriam
tê-lo, ou queriam ser como ele, algo que eu compreendia
perfeitamente, afinal era mais uma deslumbrada em meio à
silenciosa plateia.
Ao encerrar sua fala, Kael deixou o palco e voltou para o seu
lugar à mesa, ao lado da loira, sem lançar sequer um olhar na
direção da mesa onde eu me encontrava, nos fundos do amplo
salão, como se eu fosse só mais uma funcionária insignificante, a
quem ele mal conhecia.
Outras pessoas discursaram, enquanto os convidados mais
conversavam do que prestavam atenção, todos comendo os
petiscos e bebendo muito champanhe, com exceção de mim, que
ingeria apenas suco de laranja. Não ingerir bebidas alcoólicas fora
uma das exigências que o médico que consultei, para falar sobre os
enjoos, fizera.
Mia estava errada quando dissera que um vestido bonito
seria suficiente para atrair a atenção do Sr. Dempsey. Em nenhum
momento ele olhou para mim, ou agiu como se me conhecesse. Se
mantinha indiferente o tempo todo, conversando animadamente com
a loira, sorrindo para ela, de vez em quando, como não fazia com
mais ninguém. Com ela parecia ser diferente. Era possível notar a
energia que existia entre ambos, vibrando no ar, enquanto eu os
observava de longe, sentindo-me excluída de sua vida, mais do que
em qualquer outra ocasião.
No meio da festa, todos estavam muito animados por causa
do efeito da bebida, falando mais alto, sorrindo mais, alguns
arriscando os passos de dança na pequena pista improvisada perto
do bar, quando me levantei para ir ao banheiro. Estava a poucos
metros de distância da porta, quando a voz grossa e familiar soou
atrás de mim.
— Finalmente você saiu de perto dos seus amigos. Achei que
não conseguiria falar com você a sós.
Antes mesmo de me virar para o olhar, eu já sabia quem era.
Ainda assim, me virei de frente para ele, me deparando com os
olhos escuros do homem cujo corpo eu conhecia cada detalhe, mas
de quem não sabia nem o nome. Era o mascarado com quem eu
transava junto com Kael no Cobongo, só que ali ele estava sem a
máscara, revelando seu rosto por inteiro, um rosto ainda mais bonito
do que se podia imaginar quando visto pela metade.
— O que você faz aqui? — indaguei, perplexa, com meu
queixo caído.
Seria uma grande coincidência, ou ele nos encontrara
deliberadamente? O que pretendia com isto?
— Sou jornalista — disse ele, com seu sorriso largo
diminuindo à medida em que ele examinava a expressão do meu
rosto. — Quer dizer, na verdade, sou dono do jornal e, quando vi
que o evento seria na corporação de Kael Dempsey, tomei o lugar
do meu jornalista, porque fiquei curioso. Não por causa daquele
cara, ele que se foda. Eu queria ver você fora daquele ambiente,
sem a máscara e confesso que você é ainda mais linda do que eu
imaginava.
Fiquei sem jeito ao ouvi-lo mencionar a máscara e o
Cobongo. Automaticamente, olhei em volta, me certificando de que
ninguém mais nos ouvia.
CAPÍTULO 28

Serenity

— Obrigada. Mas acho que ser linda não significa muita


coisa. Pelo menos não é suficiente pra ter o direito de estar ao lado
de um homem como ele, em um evento público — falei, observando
com tristeza o Sr. Dempsey conversando com a engenheira,
sorrindo animadamente com ela.
O homem diante de mim lançou um olhar naquela direção,
voltando a me encarar.
— Esse sujeito não te merece. Percebi isso no dia em que os
conheci. Ele não te trata como um homem deve tratar uma mulher.
Achei que era só no Cobongo que isso acontecia, mas pelo visto é
em todo lugar. Você não deveria estar com ele.
— Você tem toda razão.
— Ele é um completo imbecil. Se você fosse minha, estaria
ao meu lado em qualquer lugar que eu fosse. Eu te trataria como
uma rainha e te exibiria por aí. — Um sorriso tímido fez com que
meus lábios se dobrassem e o homem reagiu sorrindo amplamente,
com seus olhos escuros brilhando. — Aliás, sou Jacob Clark.
Ele estendeu-me sua mão, em saudação e achei meio
redundante nos apresentarmos depois de tudo o que fizéramos
naquele apartamento no Cobongo. Ainda assim, apertei a mão dele.
— Prazer. Sou Serenity Henderson.
— É um lindo nome, para uma linda garota.
Senti minha face corando, como se ele fosse alguém que eu
acabara de conhecer e não o mesmo homem com quem fodi pra
caralho há cerca de dois dias.
— Obrigada. Você também é muito bonito.
E era verdade. Seu rosto era perfeito, com traços másculos, a
boca ampla, o nariz afilado, o queixo forte. Diferente dos demais
convidados, que usavam a formal gravata-borboleta, ele usava
apenas o terno por cima da camisa branca e tinha um crachá com o
nome do seu jornal pendurado na altura do peito. Era alto esguio,
fazendo o estilo despojado e cheio de charme.
— Me dá a honra de dançar com a garota mais linda da
festa?
Ainda abri a boca para recusar, já que o Sr. Dempsey não
aceitava que eu interagisse com outros homens, sem a sua
presença. Porém, mudei de ideia. O Sr. Dempsey sequer se
lembrava da minha existência, portanto não tinha o direito de opinar
sobre a minha vida.
— Quer saber? Seria ótimo dançar um pouco. Me dá só um
minuto para ir ao banheiro.
— Claro.
Fui até o banheiro e esvaziei minha bexiga, que ultimamente
só vivia cheia. De volta ao salão, dei a mão a Jacob e fomos juntos
para a pista de dança, unindo-nos e nos movimentando ao som do
toque de piano, que agora era acompanhado pela voz melodiosa de
uma cantora que entoava músicas suaves e românticas.
— Você não é de Nova Iorque, é? — indagou Jacob, falando
muito perto do meu ouvido.
— Sou tão transparente assim?
— O seu sotaque me é familiar, mas não lembro ao certo de
onde.
— Texas. Nasci e cresci lá.
— E o que a trouxe à nossa movimentada cidade?
— As circunstâncias da vida. E você, é daqui mesmo?
— Totalmente nova-iorquino.
Demos uma rodopiada no salão e pude ver de relance o olhar
do meu chefe fixo em nós dois, com aquela fúria desmedida, que eu
já conhecia, presente em sua expressão. Ele que espumasse de
ódio! Como Jacob dissera, eu merecia alguém que me tratasse
melhor.
— Como você conheceu o Cobongo? — indaguei.
— Eu costumava ir lá com minha esposa. — Notei o pesar no
tom de sua voz.
— Sério? E isso dava certo?
— Sim. Servia para esquentar a relação. Ela era bissexual e
eu amava vê-la fodendo com outra mulher.
— Era?
— Sim. Ela faleceu há dois anos, em um acidente de carro.
Na noite em que nos conhecemos, era a primeira vez que eu estava
voltando ao clube depois do acidente.
Lembrei-me de que ele dissera que estava meio perdido, na
noite em que nos encontramos pela primeira vez. Só que nem me
passou pela cabeça que fosse por algo tão grave.
— Eu sinto muito.
— Tudo bem. Estou melhor agora.
Continuamos conversando e dançando, de modo que eu
estava me divertindo pela primeira vez desde que chegara à festa.
Embora eu mal conhecesse Jacob, ele me fazia sentir importante,
de uma forma como o Sr. Dempsey jamais faria. No entanto, era
difícil convencer meu coração dessa triste realidade, de modo que a
todo momento meus olhos buscavam o meu chefe e eu podia
enxergar a fúria que o acometia, enquanto nos observava. Ele não
estava mais tão animado ao conversar com a loira e isso me
deixava bastante satisfeita, mas ao mesmo tempo com a sensação
de que eu estava usando Jacob.
Após dançarmos umas três músicas seguidas, o jornalista me
convidou para irmos até o bar, onde havia menos aglomeração de
pessoas e, embora eu não estivesse bebendo, o acompanhei até lá.
Nos sentamos em banquetas, lado a lado. Ele pediu uísque e pedi
água, antes de continuarmos a conversa descontraída, ao passo em
que eu me esquecia do mundo à minha volta e realmente me
concentrava no homem à minha frente, admirando sua inteligência,
seu charme e a forma gentil como ele me tratava.
Ele estava me falando sobre uma reportagem que fez, no
início da sua carreira, de uma mulher que não queria sair de uma
casa em chamas, por não encontrar o seu gato, me fazendo rir
muito, quando a mão de aço repousou sobre meu ombro, fazendo
pressão.
— Venha comigo. Preciso falar com você — disse o Sr.
Dempsey, rispidamente.
Ao fitá-lo de perto, cheguei a estremecer com a frieza
presente em seu olhar, o qual ele deslocava entre mim e Jacob.
Automaticamente, como se meu inconsciente estivesse programado
para obedecê-lo, fiz menção de levantar-me da cadeira, mas a
imagem dele conversando com aquela loira, fingindo que eu não
existia, voltou à minha mente e, pela primeira vez na vida, o
confrontei.
— Agora não. Estou ocupada. Se era só isso, pode ir — falei,
o mais firme que consegui.
A pressão da sua mão sobre meu ombro aumentou, com
seus olhos verdes brilhando de fúria.
— O que pensa que está fazendo? — vociferou.
— Curtindo a festa. Assim como você.
— Venha comigo! Quero falar a sós com você, agora mesmo!
— Pode falar aqui. Jacob e nós já somos íntimos. Aliás,
lembra-se dele?
Kael lançou um olhar fulminante na direção do outro homem,
antes de voltar a me fuzilar com seus olhos gélidos.
— Quantas vezes vou ter que te dizer que não quero você
perto desse cara, ou de outro homem, sem a minha permissão?
— Acontece que você não é dono dela, pra dizer com quem
ela deve conversar! — interveio Jacob e um frio atravessou meu
estômago, pelo temor de que os dois se agredissem.
— Não se mete, porra! Esse assunto é entre mim e ela! Vê se
fica na sua!
— Ela não quer falar com você. Nesse caso, vou interferir
sim!
— Já chega! — intervi, antes que os dois saíssem na
porrada. — Vamos. Eu falo com você. Isso se seu ego suportar a
vergonha de todos verem você conversando com alguém como eu,
que não fala várias línguas e nem entende nada do que vocês
fazem aqui.
Saí andando em meio aos convidados, afastando-me do bar,
enquanto Kael me seguia.
— Do que diabos você está falando? De onde você tirou que
tenho vergonha de você?
Estávamos próximos às mesas, quando me virei para fitá-lo.
— Você não quis vir acompanhado comigo a essa festa,
porque sou uma ignorante. Tudo bem. Se eu fosse uma famosa
mulher de negócios também não ia querer sair por aí ao lado de
alguém como eu. Com certeza ia preferir um engenheiro que fala
várias línguas e ainda tem a pele bronzeada.
— Então é por isso que você está chateada? Por que vim ao
evento com outra pessoa?
— Eu não estou chateada.
— Claro que está. Mas isso é bobagem. Isso aqui é só uma
reunião boba. Não significa nada.
— Não significa nada e mesmo assim você preferiu vir com
outra mulher.
Não consegui esconder a mágoa que enchia meu coração,
seus olhos lindos examinavam a expressão em meu rosto.
— E por isso você foi dançar com aquele imbecil? Pra se
vingar?
— Claro que não. Como você é egocêntrico! Fui dançar com
ele, porque ele não tem vergonha de mim. Pelo contrário, se
mostrou bastante orgulhoso ao ficar comigo na frente de toda essa
gente rica e importante. Ele prefere falar comigo, do que com todos
esses empresários cheios da grana e é por isso que vou voltar para
onde estava. Com licença!
Tentei dar meia-volta, ele segurou-me pelo braço, impedindo-
me de me afastar.
— Espere um pouco. Você acha mesmo que tenho vergonha
de você?
— Você tem. Preferiu vir com aquela loira bronzeada!
— Que bobagem. Como eu já disse, é só um evento idiota.
— Não é idiota. É onde todos os olhares estão voltados para
você. Por isso você não podia ser visto na companhia de uma
garota que não é ninguém.
— Você não é ninguém.
— Sou pra você. Agora me solte.
Puxei meu braço e saí andando rumo ao bar. Não tinha dado
nem dois passos, quando sua mão se fechou em volta do meu
pulso, me fazendo parar.
— Não quero você perto daquele cara.
— Eu também não queria você perto daquela loira. Mas nem
sempre temos o que queremos. Agora me solta.
Como previsto, ele não obedeceu e continuou me segurando
pelo pulso.
— Se você acha que tenho vergonha de você, então veja
isto.
Antes mesmo de encerrar suas palavras, ele começou a me
puxar por entre as mesas, atraindo a atenção de alguns convidados,
que viravam o pescoço para nos observar.
— O que pensa que está fazendo?
— Você já vai ver.
Sem que eu conseguisse soltar meu pulso de sua mão, ele
saiu me puxando rumo ao palco, até que subimos nele. Todos os
músculos do meu corpo tensionaram de vergonha, quando os
convidados fixaram sua atenção em nós dois e, como se isso já não
fosse o bastante, Kael ainda pegou o microfone e começou a falar:
— Com licença, peço a atenção de todos — disse ele, fazendo com
que a música cessasse e um silêncio sepulcral recaísse sobre o
ambiente, as pessoas mal respiravam enquanto nos observavam.
Tentei puxar meu pulso da mão dele e sair correndo dali, mas
foi um esforço em vão.
— Quero apresentar a todos vocês uma pessoa muito
especial para mim — continuou ele, ao microfone, enquanto eu
procurava um buraco onde me enterrar viva. — Essa é Serenity
Henderson, a garota com quem estou saindo atualmente, aquela
que não sai da minha cabeça em nenhum momento, mesmo quando
estou trabalhando. — Houve uma enxurrada de murmúrios
abismados por parte da plateia, que aparentemente estava achando
aquilo muito fofo, enquanto eu só queria que o chão se abrisse sob
os meus pés e me engolisse. — Não vou dizer que estou
apaixonado, já que não conheço esse tipo de sentimento, mas
posso afirmar que essa mulher ainda estará na minha vida por muito
tempo. — Quando ele disse isso, meu coração apertou dentro do
peito.
Sem mais palavras, meu chefe guardou o microfone de volta
em seu lugar e me puxou para si, passando um braço em volta da
minha cintura e beijando-me apaixonadamente, fazendo meu
coração pular como um louco no peito. A paixão visceral me
consumia a ponto de me fazer ignorar os aplausos que partiam dos
convidados.
— Ainda acha que tenho vergonha de você? — disse Kael,
ofegante, ao encerrar o beijo.
— Com certeza não — falei, me sentindo emocionada e ao
mesmo tempo culpada, pela certeza de que em breve eu sumiria da
sua vida sem deixar rastros.
Cacete! Eu não devia tê-lo pressionado a fazer aquilo.
Embora não tenha pressionado de propósito, ele agiu assim por
minha causa. Para falar a verdade, nunca me passara pela cabeça
que esse homem seria capaz de tamanho disparate.
— Ótimo. Agora dance essa música comigo. Se é que eu
ainda me lembro de como se dança.
— Você é bom em tudo o que faz. Deve ser nisso também.
Ao descermos do palco, eu já não enxergava as pessoas à
nossa volta. Conseguia ver apenas aquele homem, meus olhos
enfeitiçados pelo seu semblante, pela forma árdua e intensa como
ele me fitava, pelo seu jeito altivo e imperioso de ser. Eu amava tudo
nele, era fascinada por cada detalhe em si e por cada minúsculo
gesto seu. Eu o amava. Amava demais. Essa era a verdade. Uma
verdade que me destroçaria quando eu tivesse que sair da sua vida.
Nos colocamos no centro da pista de dança, onde não havia
mais ninguém desde que a música cessara e em questão de
segundos o toque do piano encheu novamente o ambiente,
acompanhado da voz melodiosa da cantora, em uma versão mais
lenta de Yellow, do Coldplay.
— Já faz muito tempo que eu não danço — disse ele. —
Qualquer pressão que sentir, será meu pé sobre o seu. — Uma
risada me escapou. — Está achando graça?
— Sinto que não vai acontecer.
Ele passou um braço em volta da minha cintura e deitei
minha cabeça em seu peito, inebriada com seu cheiro delicioso,
impactada pelo seu calor masculino que me alcançava através das
roupas, enquanto ele nos guiava lentamente pela pista, sem que eu
conseguisse enxergar mais nada à minha volta. Sua presença
tomava conta de todos os meus sentidos, me completando de uma
forma que eu jamais imaginei ser possível.
Dançamos apenas duas músicas e logo alguém o tirou de
mim. Um grupo de chineses e seu intérprete o requisitaram,
absorvendo toda a sua atenção, enquanto outras pessoas já se
aglomeravam à sua volta, esperando para falar com ele. O Sr.
Dempsey tentou me manter perto de si, mas novamente precisei ir
ao banheiro e me afastei. Estava a meio caminho, quando Mia
apareceu à minha frente.
— Você ficou maluca? Por que fez o S. Dempsey acreditar
que você estará na vida dele por muito tempo, se em breve vai
sumir? Não se faz isso com um ser humano! — sussurrou ela, para
que apenas eu ouvisse.
As palavras dela intensificaram a culpa que eu carregava no
peito.
— Eu não fiz nada. Ele chegou a essa conclusão sozinho.
— Você fez com que ele se apaixonasse para depois deixá-
lo. Coitado do homem!
— Ele não está apaixonado por mim. Só quer me comer por
mais um tempo.
— Minha filha, depois do vexame que ele deu, te levando lá
em cima, está na cara, ele está muito apaixonado por você.
— Impressão sua. Ele não ama ninguém.
E era verdade. Como o próprio Kael dissera, não sabia o que
era o amor.
— Você está completamente errada, mas falamos sobre isso
depois. Vou dançar com minha namorada.
Dito isto, ela afastou-se e entrei no banheiro. Após esvaziar
minha bexiga, pelo que me parecia a milionésima vez naquela noite,
retoquei a maquiagem e deixei o banheiro. Assim que avancei pelo
salão Jacob surgiu à minha frente, com uma taça de champanhe na
mão.
— É, acho que essa batalha eu perdi feio — disse ele.
— Eu nem sabia que você estava numa batalha — respondi,
com um sorriso.
— Eu estava lutando por você, ruivinha, mas agora vejo que
nunca tive a menor chance. Pelo contrário, providenciei para que o
amor dele se revelasse. Eu sou mesmo uma anta.
— Não fala assim. Você é um cara incrível. Mas está errado,
o que se revelou ali não foi amor. Kael não ama ninguém, ele
apenas me deseja.
— Acho que nenhum de vocês enxergou a verdade ainda.
Mas uma coisa me consola.
— E o que é?
— Não posso ter você por completo, mas posso ter no
Cobongo.
— É verdade. Logo estaremos lá todos juntos novamente.
Pensei na possibilidade e uma corrente de calor lascivo me
percorreu. Eu realmente gostava de trepar com dois homens ao
mesmo tempo. Na verdade, com eles dois especificamente.
— O Cobongo foi mesmo o melhor lugar que já inventaram,
pois assim pude conhecer você.
— Realmente é um ótimo clube.
Ambos gargalhamos em uníssono.
— Está marcando encontro com ele no Cobongo?! —
vociferou o Sr. Dempsey, aproximando-se de nós, como se surgisse
do nada. Falou tão alterado que atraiu a atenção de algumas
pessoas que estavam em volta, embora não parecesse reparar
nesse deslize.
— Nós estávamos apenas conversando e o assunto do clube
surgiu.
— Não quero você conversando com esse sujeito! — Ele
fuzilou Jacob com os olhos. — E quanto a você, fique bem longe
dela!
Sem esperar que Jacob respondesse, deu-lhe as costas,
puxando-me para longe, conduzindo-me em meio aos convidados,
sem fazer questão de esconder a raiva que o acometia.
— Por que isso, se somos todos íntimos? — indaguei.
Eu não conseguia entender por que ele tinha ciúmes de um
homem com quem me via foder quase todas as noites. Não
compreendia porque achava tão natural me ver trepando com ele,
mas fazia todo aquele barraco por causa de uma conversa. Isso não
fazia o menor sentido para mim.
— É diferente de quando estamos na cama. Na hora do sexo
é tudo carnal, instintivo. Fora da cama ele quer você para ele, quer
tomar o que pertence a mim e isso eu não admito. Você foi avisada
sobre isso antes de começarmos a nos relacionar.
Era impressionante como ele fazia questão de separar os
momentos sexuais da vida real. Eu não conseguia.
— Ele só quer ser nosso amigo.
— Não. Ele quer você. Veio aqui esta noite por sua causa e é
por isso que não nos relacionaremos mais com ele, no Cobongo, ou
em qualquer outro lugar. Nunca mais.
— Nesse caso, pode esquecer o sexo grupal. Pois se não for
com ele, não será com mais ninguém.
Kael nos fez parar em meio ao aglomerado de mesas e virou-
se para me fitar. O ódio em seu semblante era tanto, que pude ver
uma veia latejando em sua têmpora enquanto seus olhos gélidos me
fitavam.
— É o que vamos ver — sussurrou, com seus dentes
trincados e um tom de ameaça que me causou um tremor no corpo.
Ele nos inseriu em meio aos executivos que disputavam
acirradamente a sua atenção, sem soltar minha mão, ou mais me
permitir sair do seu lado, quando pude constatar que não era tão
divertido assim ser a sua acompanhante, pois aquela gente não
falava em outra coisa a não ser negócios e dinheiro. Realmente não
estavam ali para curtir a festa e sim para trabalhar. Deviam ter
realizado uma reunião, ao invés de um evento com música e
champanhe.
Durante todo o restante da festa, Kael se mostrou irritado,
com sua carranca fechada e uma agitação incomum. Por volta das
duas da madrugada, ele se despediu de alguns poucos convidados,
inclusive da loira bronzeada, e deixamos o local, indo direto para a
sua limusine, que já nos aguardava na garagem.
— Pra onde estamos indo? — indaguei, tão logo entramos no
luxuoso veículo.
— Pro Cobongo — respondeu ele, de um jeito sombrio, me
encarando com uma carranca fechada. — Animada para se divertir?
— Claro. Estou sempre animada pra ir ao clube.
E era verdade. O Sr. Dempsey havia me transformado em
uma viciada em sexo pervertido. Eu amava ser amarrada,
subjugada e transar com mais uma pessoa ao mesmo tempo. Só a
expectativa de estar nessa situação, já era suficiente para me deixar
excitada, o que me fez pular para o colo dele no assento, algo que
não costumava fazer, visto que sempre esperava que ele tomasse a
iniciativa.
CAPÍTULO 29

Serenity

Sentada de lado sobre seu colo, rebolei os quadris,


esfregando-me nele, passei os braços em volta do seu pescoço e
lambi o lóbulo da sua orelha.
— Eu quero tanto você — sussurrei.
— Você é mesmo uma putinha, sempre doida por sexo.
Ele fechou seus dentes na parte de um dos meus seios que
escapava do vestido, mordendo e chupando, certamente deixando
uma marca na minha pele, ao mesmo tempo em que enfiava uma
mão na fenda do meu vestido, invadindo minha calcinha e
beliscando meus lábios vaginais depilados.
— Que delícia, toda lisinha — grunhiu.
Ele segurou dos dois lados dos meus lábios vaginais e os
esfregou um no outro, provocando uma violenta corrente de
excitação que varreu todo o meu corpo, me fazendo abrir as pernas
com dificuldade dentro da saia colada, para que ele me invadisse
com seus dedos, penetrando deliciosamente minha vagina, ao
mesmo tempo em que tomava minha boca com a sua, com avidez e
aquela agressividade que me enlouquecia.
Continuamos trocando carícias até chegarmos ao Cobongo.
Como sempre, colocamos as máscaras na recepção e entramos,
acomodando-nos a uma das mesas. Como era final de semana, o
lugar estava lotado, com todo tipo de pervertidos. Fiquei surpresa ao
ver Jacob ao pé do balcão do bar, como quase sempre sozinho.
Procurei por Melissa, mas não a vi em parte alguma.
— Quero te foder junto com mais dois homens hoje — disse
o Sr. Dempsey, puxando-me para o seu colo, falando ao meu
ouvido.
— Só se um desses homens for Jacob.
Pude sentir o corpo dele estremecendo sob o meu e apenas
então me dei conta de que o episódio na festa fora mais grave do
que eu havia suposto. Meu chefe nunca mais aceitaria Jacob
conosco na cama.
— Não. Com ele nunca mais. Escolha quaisquer outros. Tem
muita gente aqui.
Olhei em volta, averiguando as pessoas no salão. Havia
homens e mulheres de todo tipo, mas ninguém que me atraísse, ou
chamasse a minha atenção. Eu não ia foder com um qualquer, por
quem não me sentisse minimamente atraída, por causa dos ciúmes
descabidos de Kael. Ele que superasse isso.
— Não quero outro. Se não for Jacob, não será ninguém.
Seus olhos verdes faiscaram de ódio. Seu maxilar cerrado
me levou a compreender que eu estava brincando com fogo. Sem
uma palavra, Kael nos levantou do assento, segurou-me pela mão e
saiu me puxando rumo aos elevadores. Não me tocou durante toda
a subida até seu apartamento, onde se serviu da sua habitual dose
de uísque com gelo, antes de adentrarmos o quarto de jogos.
— Tire toda a sua roupa — ordenou ele, agitado, sem se
sentar em sua poltrona como de costume.
Obediente, tirei o vestido e a calcinha, ficando apenas com as
sandálias de salto, como ele gostava.
— Venha até aqui — ordenou e me aproximei. Ele espalmou
sua mão sobre a minha boceta, massageando-a, me fazendo abrir
as pernas para sentir a fricção sobre meu clitóris, a excitação se
espalhou pelo meu sangue. — Essa xoxotinha depilada está
merecendo uma surra.
—Sim, Senhor. Ahhh...
Sem mais palavras, ele abandonou seu copo de lado,
segurou minha mão e me puxou até um canto do amplo aposento.
Apertou um botão na parede e várias cordas de fibra caíram do teto,
o que me fez estremecer de medo, afinal nunca tínhamos usado as
cordas de suspensão e elas me assustavam.
— Com medo? — indagou ele, de um jeito sombrio.
— Sim.
— Você foi alertada, mais de uma vez, sobre como esse jogo
poderia ser aterrador, mas, mesmo assim, quis ir em frente. Talvez,
quando terminarmos com isto, você se arrependa até do dia em que
nasceu.
— Temos mesmo que fazer isso?
— Temos. Eu mando e você obedece, lembra?
— Sim, Senhor.
— Agora seja uma boa menina e relaxe enquanto faço o que
tem que ser feito.
— Claro, Senhor.
Naquela brincadeira, até o medo era excitante. Apesar dele,
me flagrei ansiosa pelo que aconteceria e não protestei quando o Sr.
Dempsey fez uso de muita habilidade com as cordas para me
amarrar inteira, de modo que minutos depois eu estava pendurada,
a cerca de um metro de altura do chão, de bruços, com meus
tornozelos amarrados aos meus braços, meus pulsos presos para
trás, meu torso e meus quadris rodeados pelas cordas que me
mantinham suspensa no ar, com meus seios espremidos pelas
fibras e minhas pernas muito abertas.
Achei que ele me tocaria e foderia, mas em vez disso ele
seguiu rumo à porta de saída.
— Já volto. Não saia daí — disse, com aquele tom sinistro e
o medo de intensificou dentro de mim, fazendo meu sangue gelar.
Sozinha, sem a intervenção da sua inebriante presença
comprometendo meu raciocínio, consegui ter a sensatez de
perceber o tamanho daquela loucura, o quanto tudo aquilo poderia
me machucar e machucar o bebê que crescia em meu ventre. Com
tais pensamentos, tentei me soltar, mas as cordas estavam
apertadas e bem amarradas, de modo que sequer se moveram com
as minhas investidas.
Droga! Dessa vez, eu tinha me metido em uma grande
furada!
Minutos depois, o Sr. Dempsey estava de volta e não estava
sozinho. Dois homens o acompanhavam, ambos mascarados,
usando apenas uma cueca de couro, exibindo os corpos sarados.
Um deles era loiro, o outro negro. Ambos eram lindos como modelos
das redes sociais. Assim que previ o que aconteceria, um misto de
pânico e excitação tomou conta de mim.
— Esses são Sam e Noah, ambos funcionários do Cobongo.
São homens bem treinados para o sexo, que vão te dar muito prazer
— disse Kael, com aquele tom de voz sombrio.
— Eu não concordei com isto — avisei.
— Você não tem que concordar, ou discordar. Você é minha
Submissa, lembra? Posso fazer tudo o que quiser e, no momento,
quero te ver fodendo com aqueles dois caras.
Kael colocou-se à minha frente, segurou-me pelos cabelos,
me fazendo erguer a cabeça, segurando-me pelo queixo e me
beijando com aquela fúria que me deixava entorpecida de paixão,
me fazendo esquecer de tudo mais. Sem separar sua boca da
minha, ele levou suas mãos até meus seios e os beliscou,
esfregando os mamilos entre seus dedos, ao mesmo tempo em que
sua língua se movimentava dentro da minha boca, de um jeito
lascivo, quente e delicioso, me levando a uma loucura gostosa,
despertando-me esse desejo cego de o satisfazer, não importando o
que ele quisesse de mim.
Eu nem sabia se isso era saudável, contudo, não estava mais
dotada da minha capacidade de pensar. Eu apenas sentia e cada
minúscula partícula do meu ser era formada por tesão e loucura.
— Vai dar a boceta pra esses dois caras, putinha? — indagou
ele, fuzilando-me com seu olhar e estimulando meus mamilos com
as mãos, enviando correntes de excitação que me percorriam por
inteiro e se instalavam entre minhas pernas.
— Sim, Senhor. Tudo o que quiser.
— Boa menina. Desde o início, eu soube que você era tão
pervertida quanto eu.
Ele afastou-se, foi até uma gaveta e voltou trazendo uma
venda negra de seda, com a qual tapou os meus olhos. Sem a
minha visão, meus sentidos ficaram ainda mais aguçados e me
arrepiei inteira quando sua voz grossa e autoritária ressoou pelo
aposento: — Você, chupe a boceta dela; e você, coloque os
mamilos dela na boca.
Eu não podia ver, mas quase podia sentir os dois homens se
aproximando de mim, depois me tocando.
— Você quer isto? — indagou um deles.
— Sim... por favor...
No instante seguinte senti a língua úmida e quente invadindo
o espaço entre meus lábios vaginais, lambendo deliciosamente
meus clitóris, enquanto a outra boca se apossava de um dos meus
mamilos, numa sucção lenta e deliciosa.
A sensação das duas bocas me devorando era única e
arrebatadora, algo diferente de tudo que Kael já tinha me feito
experimentar, o que se tornou ainda mais enlouquecedor quando os
lábios dele se apossaram dos meus, beijando-me com ferocidade,
me fazendo gemer e me contorcer do mais profundo prazer.
— Está gostando, putinha? De todas essas bocas te
comendo?
— Ahhh... sim... que delícia...
— Quer que te fodam mais profundamente?
— Sim, Senhor...
— Então peça.
— Por favor... me fodam mais forte...
Mas os homens não fizeram nada, até que a voz de Kael
ressoasse pelo quarto.
— Fode a boceta dela com os dedos, mas não pare de
lamber o clitóris. E você, não se atreva a gozar agora.
Ai, minha nossa! De todas as ordens que ele dava nesses
momentos, essa era a mais difícil de obedecer.
Obediente, o homem introduziu dois dedos na minha vagina,
enquanto acelerava os movimentos da sua língua sobre meu feixe
de nervos, me fazendo gemer enlouquecida. O orgasmo ameaçava
me estilhaçar, o que se tornava ainda mais incontrolável com o outro
homem sugando meus seios, alternando entre um e outro.
Sem enxergar nada, ouvi quando Kael se movimentou pelo
aposento e logo senti suas mãos fortes acariciando minha bunda. O
óleo perfumado foi derramado sobre minha pele e ele me
massageou, espalhando o lubrificante sobre minhas nádegas e meu
ânus, introduzindo seus dedos lambuzados dentro dele, movendo-
os em um vai e vem. Parou por um segundo e, no momento
seguinte, senti a pressão da cabeça do seu pau tentando invadir
meu orifício menor. Embora houvesse três homens no quarto, eu
sabia que era o pau dele ali atrás, ameaçando me invadir, pois seu
toque era inconfundível.
Sem que os outros dois homens parassem de me chupar e
lamber, o pau de Kael entrou em mim, brusco e rápido, penetrando-
me até o fundo, causando uma pressão absurda em meu corpo, a
língua dançando sobre meu clitóris e os dedos entrando e saindo da
minha vagina, tornando tudo ainda mais intenso, a ponto de me
levar à loucura.
Fechando suas mãos grandes dos dois lados dos meus
quadris, Kael passou a mover-se em um vai e vem. Seu pau duro e
enorme entrava e saía do meu ânus, me esticando, me partindo em
duas, até que tudo se tornou intenso demais e explodi, gozando e
gritando, me acabando de tanto prazer.
— Eu disse que não era pra gozar agora. — Sua voz grossa
ressoou pelo aposento, ao passo em que ele me dava uma palmada
estalada na bunda.
— Perdão, Senhor.
— Nós vamos te foder a noite toda e você vai ter que
aguentar!
Dito isto, ele retirou-se de mim e logo senti que eu estava me
movendo, as cordas se alongando e me aproximando do chão, a tal
ponto que pude sentir o frio do assoalho alcançando minha pele
desnuda.
O Sr. Dempsey deu as ordens e, no momento seguinte, senti
um dos homens enfiando-se debaixo de mim, seu peito musculoso
resvalando em meus seios, seus quadris se encaixando entre
minhas pernas abertas, para que logo em seguida ele me
penetrasse. Seu pau protegido pelo preservativo invadiu minha
vagina lambuzada, deslizando com facilidade entre as paredes
escorregadias do meu canal. Depois o Sr. Dempsey veio por trás e
voltou a penetrar o meu ânus, com selvageria. Os dois paus me
alcançaram fundo, provocando uma pressão absurda e deliciosa
nos meus dois orifícios, me esticando e me dando um prazer
animalesco, que me fazia gemer e gritar. Então, o terceiro pau foi
introduzido em mim, na minha boca, me silenciando e me fazendo
chupar com a ganância de um animal desprovido de qualquer
racionalidade.
A sensação de ter três paus dentro de mim era delirante,
arrebatadora, de uma forma que enfrentei a pressão das cordas que
me amarravam e me abri ainda mais, permitindo que os três
homens me fodessem mais fundo e forte, entregando-me por inteiro,
enlouquecida com tamanho prazer.
Continuamos com aquela loucura durante várias horas. Após
ser solta das cordas, fui aprisionada a uma espécie de cavalo de
pau com plataforma de madeira e uma grade dentro da qual minha
cabeça foi aprisionada e mais uma vez fui fodida pelos três homens.
Quando, por fim, a exaustão me dominou completamente,
deixando-me quase adormecida, o Sr. Dempsey me soltou e
carregou-me até a cama, deitando-me com cuidado e me cobrindo
com um lençol. Quando ele deixou o quarto, indo acompanhar os
dois homens até a porta, a realidade do que tinha acabado de
acontecer recaiu sobre meus ombros como se eu fosse esmagada
por um container que pesava toneladas. Apesar de eu ter gostado
de tudo o que fizéramos, Kael não respeitara a minha decisão
quando eu disse que não concordava com aquilo. A verdade era
que eu não queria ter transado com aqueles dois desconhecidos e
agora estava me sentindo suja, maculada, por ter permitido que
Kael me convencesse a fazê-lo, me ludibriando com seu charme,
fazendo uso do imenso poder de persuasão que exercia sobre mim.
Um poder construído pelo fascínio e pela paixão que eu sentia por
ele, mas também pelo seu dom natural de dominar e seduzir uma
mulher, a ponto de convencê-la de que as vontades dele eram
também as dela. Até onde iríamos com isto? O que ele me
convenceria a fazer depois? Se ele me mandasse trepar com dez
desconhecidos, eu concordaria? Provavelmente sim e isso me
apavorava.
Naquela noite ele havia se mostrado mais violento e
agressivo do que nunca, principalmente no momento em que
mandou os dois homens me segurarem e me comeu com
brutalidade, enquanto eu me encontrava indefesa, com dois
estranhos segurando-me pelos braços e pernas. E se toda essa
violência machucasse o bebê que crescia em meu ventre?
Instintivamente, espalmei a mão sobre minha barriga,
invadida por uma necessidade urgente, quase inconsciente, de
proteger essa criança. Não era meu filho, e sim de Mia, mas estava
sendo gerado em meu ventre e meus sentidos ordenavam-me a
lutar com afinco pelo seu bem-estar.
Sem que eu pudesse me conter, as lágrimas afloraram em
meus olhos. Eu não poderia continuar saindo com o Sr. Dempsey.
Estava na hora de dizer adeus e de contar à Mia sobre a gravidez.
Até porque essa hora chegaria mais cedo ou mais tarde. Eu só não
imaginava que doeria tanto assim. Uma angústia dolorosa me
invadiu, fazendo meu peito apertar e o ar ameaçar me faltar.
Com a decisão tomada e meu coração dilacerado, respirei
fundo, reprimindo o mar de lágrimas que ameaçava desabar dos
meus olhos, levantei-me da cama e me vesti. Estava terminando de
fechar o zíper do vestido, quando Kael entrou no quarto. Usava um
roupão atoalhado por sobre sua nudez e tinha um copo de uísque
pela metade na mão.
— O que está fazendo de pé? Achei que quisesse dormir um
pouco antes de ir para casa — disse ele.
Mudei o peso do meu corpo de um pé para o outro, buscando
coragem para dizer as palavras mais difíceis da minha vida.
— Acabou — murmurei, com a dor lancinante se
intensificando em minhas entranhas.
— O quê? Claro. Nossa noite já acabou. Pode descansar
agora.
— Não estou falando disso. É sobre nós dois. Acabou.
Sua cabeça pendeu para um lado, como se ele não
entendesse, ou não quisesse acreditar. Então, ele andou alguns
passos na minha direção, colocando-se muito perto, com seus olhos
claros fuzilando os meus.
— Do que você está falando? Não estou entendendo.
— Estou dizendo que está tudo terminado entre nós. Não
vamos mais sair juntos. — Dizer aquilo em voz alta fez com que a
dor se revolvesse em minhas entranhas, consumindo-me, minando
minhas forças.
Kael fez um instante de silêncio, como se buscasse
mentalmente respostas.
— Por que isso agora?
— Porque você não respeitou a minha vontade. Eu disse que
não queria trepar com dois desconhecidos, e você não respeitou
isso.
Ele demonstrou surpresa.
— Eu achei que você estivesse gostando.
— E estava, porque tudo o que envolve você me dá prazer.
Mas é um prazer doentio e não quero isso pra mim.
Percebi que toquei em alguma ferida sua, quando ele recuou
um passo. Seu semblante assumiu aquela expressão de tormento
que ele sempre demonstrava assim que nos conhecemos, o
tormento de acreditar que era um doente e estava me arrastando
para esse mundinho que alimentava a sua loucura. Em parte, isso
era verdade, porém não era o real motivo de eu precisar me
distanciar. Se existisse a mínima possibilidade de haver um futuro
para nós dois, eu lutaria por ele, por conquistar o seu respeito pelas
minhas vontades. Mas essa possibilidade era nula.
— Eu entendo — disse ele, com tamanha amargura que tive
vontade de voltar atrás na minha decisão e correr para os seus
braços. Mas eu precisava ser forte. — Me desculpe. Eu sei que fui
longe demais, mas eu sou assim, nunca vou mudar. Você está certa
em me deixar.
Dei um passo em sua direção, encarando-o de perto.
— Não estou te deixando pelo que você é. Eu gosto desse
seu lado. Estou indo embora porque você passou por cima de uma
decisão minha. Você não me respeitou. Fez o que quis, como se eu
não tivesse vontade própria.
— Fazer o que eu quero, sem respeitar as pessoas, faz parte
desse lado meu.
Eu queria dizer que ele podia mudar, pois acreditava nisso.
No entanto, eu precisava sair da sua vida. Não podíamos mais
continuar com aquilo.
— Eu sei. E é por isso que preciso ir embora. Adeus.
— Adeus.
Dito isto, ele sentou-se na cama e inclinou-se para a frente,
afundando seu rosto entre as mãos, como se uma tortura
insuportável o afligisse e cada minúscula partícula do meu ser
ordenou-me que eu ficasse, que acariciasse seus cabelos curtos e
lhe dissesse o quanto o amava. No entanto, era necessário dizer
adeus.
Então, dei o primeiro passo rumo à porta e depois o segundo,
meus pés pareciam pesar toneladas, demonstrando dificuldade de
me levarem para a frente, porque no fundo eu queria ficar.
—Espere — disse Kael, quando eu já estava quase
alcançando a porta e me virei em sua direção com meu coração
agitado. — Meu motorista vai te levar em casa. Você passou a noite
acordada. Não está em condições de dirigir.
Um desapontamento inesperado tomou conta de mim,
porque, no fundo, eu esperava que ele fosse me pedir para ficar.
Mas ele não pediu.
— Claro. Encontro com ele na garagem. Ainda hoje desocupo
seu apartamento.
— Não precisa. Pode ficar com ele.
— Eu não quero. Mas obrigada. Por favor, avise ao motorista
que estou descendo.
Antes que me tornasse incapaz de fazer aquilo, dei-lhe as
costas e saí do apartamento. Tão logo alcancei o corredor, não
consegui mais conter o mar de lágrimas que ameaçava brotar dos
meus olhos e elas escorreram desenfreadas pelo meu rosto, a dor
me consumia até a alma. O rosto atormentado de Kael, se
considerando uma aberração da natureza, materializou-se em
minha mente, torturando-me a ponto de me fazer querer voltar
correndo para os braços dele e dizer-lhe que ele não era nada
daquilo, que era o homem mais maravilhoso que já conheci e que o
amava desesperadamente. Contudo, eu precisava ir embora, pois
ele jamais me aceitaria se soubesse o que fiz pelas suas costas.
O dia já havia amanhecido e o motorista de Kael já me
esperava na garagem. Ele me levou até o apartamento, onde fui
direto para a cama e caí de bruços sobre o colchão, chorando e
soluçando, invadida pela dor torturante que parecia me dilacerar.
O que era viver sob a total submissão daquele homem, perto
de uma dor como essa? Não era nada!
Eu seria capaz de concordar com qualquer loucura que ele
me propusesse, para não ter que sentir a dor e existir em um mundo
em que ele não era meu. Mas que chances eu tinha de tê-lo,
quando ele descobrisse que eu o usara para engravidar e com isto
ganhar quinhentos mil? Ele jamais me perdoaria. Eu não tinha
chance nenhuma.
CAPÍTULO 30

Serenity

Chorei durante praticamente todo o dia. No meio da tarde, a


lembrança de que uma vida crescia dentro de mim e precisava ser
alimentada, me fez levantar da cama e preparar algo para comer.
Embora não tivesse vontade de comer nada, forcei o macarrão com
queijo a descer pela minha garganta, assim como me forcei a dormir
quando a noite chegou.
Acordei bem cedo na manhã seguinte. Como já havia
arrumado as malas, com os poucos pertences que tinha trazido
quando me mudei — já sabendo que em breve chegaria a hora de
partir —, deixei as chaves do carro que Kael me dera de presente
sobre a bancada da cozinha e liguei para um táxi. Enquanto
esperava, agi automaticamente, pegando o telefone e verificando se
havia alguma chamada, ou mensagem dele, mas não tinha chegado
nada, da mesma forma como não havia nas trocentas vezes em que
procurei no dia anterior. Mas o que eu esperava? Que Kael viesse
correndo atrás de mim? Como ele próprio dissera, era incapaz de
amar alguém. A essa altura, só ainda se lembrava da minha
existência porque fiz com que se sentisse um doente porque o
arrastei de volta para o mundinho de libertinagem do qual ele tanto
lutara para escapar, uma culpa que eu carregaria para sempre.
Cheguei ao apartamento de Mia no horário em que sabia que
ela estaria acordada e saindo para o trabalho. Usei minha chave
para entrar e a encontrei sentada em um dos sofás da sala, sozinha,
pronta para ir à empresa, tomando café puro e fumegante.
— O que faz aqui a essa hora? Não devia estar indo
trabalhar? — indagou ela. Em seguida, seus olhos desceram para a
mala de rodinhas que eu arrastava e sua boca se abriu, assim como
seus olhos se arregalaram. — Ah, minha nossa! Finalmente
aconteceu! Você está grávida!
— Sim. Eu estou.
Ela abandonou a xícara com o café sobre a mesinha e veio
correndo ao meu encontro, com os braços abertos, gritando como
uma maluca. Abraçou-me e começou a dar pulinhos, como se
estivesse surtando.
— Ai, eu não acredito que me tornarei mãe em breve e do
filho do homem mais brilhante, lindo e inteligente que já conheci!
Isso é maravilhoso! Nem consigo acreditar!
Sem ânimo para a sua exultação, fiz com que ela me soltasse
e sentei-me no sofá, sentindo-me fisicamente cansada e
mentalmente esgotada.
Mia sentou-se ao meu lado.
— Você tem certeza? Fez quantos testes?
— Sim. Fiz três e fui ao médico pegar remédios para enjoos.
Ele confirmou com uma ultrassonografia.
— Espere. Como assim você foi ao médico? Desde quando
sabe que está grávida?
Cacete! Que mancada eu tinha dado! Já que não tinha mais
como mentir, decidi falar logo a verdade: — Já faz quase um mês
que fiz o teste.
Ela ficou subitamente séria.
— E por que não falou logo?
— Porque eu queria passar mais um tempo com o Sr.
Dempsey.
Bastou que eu pronunciasse o nome dele, para os meus
olhos marejarem, meu coração descendo para o estômago.
— Ah, minha nossa! — Mia me encarava com uma expressão
de pura piedade. — Você se apaixonou por ele. Pobre criança. Deve
estar sofrendo horrores. Eu sinto muito.
— Está tudo bem. Desde o início, eu sabia que isso podia
acontecer.
— Mas ele sente o mesmo? Pela cena que ele fez na festa,
acho que sim.
— Não. Aquilo foi só pra continuar me comendo por mais um
tempo. — Lembrei-me dos acontecimentos da noite passada e as
lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, sem que eu tivesse
controle algum. — Quando eu disse que ia embora, ele nem tentou
me convencer a ficar, como se não fizesse a mínima diferença para
ele.
Um soluço me escapou e Mia estreitou-me em um abraço
afetuoso.
—Não fique assim. Você ainda é jovem, é linda e inteligente.
Logo conhecerá alguém que a ame e a mereça de verdade. Sua
vida está só começando.
— A impressão que eu tenho, é de que nunca terei uma vida.
Eu não me encaixo em lugar nenhum.
— Não diga tolices. Você se encaixará onde for seu destino.
— Ela me soltou e fitou-me com um sorriso terno. — Sei de uma
coisa que pode te animar agora.
— E o que seria?
— Vamos ao shopping comprar roupas de bebê. Isso
animaria qualquer pessoa.
Quando decidi aceitar a proposta dela de alugar minha
barriga, eu jurara a mim mesma, que não me envolveria com nada
relacionado a essa criança, para que não corresse o risco de me
apegar a ela. No entanto, ir ao shopping e ocupar minha mente
atormentada com compras, parecia uma ideia convidativa demais
para ser rejeitada.
— E você não vai trabalhar?
— Telefonarei avisando que estou doente. Ele pode
sobreviver um dia sem mim.
— Preciso que você entregue a ele minha carta de demissão.
Ela me encarou com ainda mais piedade e voltou a me
abraçar com ternura.
No shopping, as coisas não foram tão animadas quanto eu
esperava. Além de fazermos compras para o bebê, adquirindo
peças lindas, como roupas, chupetas, brinquedos e mamadeiras,
compramos roupas e acessórios para nós mesmas e até passamos
em um salão de cabeleireira, para dar um up no visual. Contudo, a
nostalgia estava incrustada em mim, de modo que nada me
alegrava.
Eu não conseguia pensar em mais nada a não ser na
expressão de tormento de Kael quando eu lhe disse que ele tinha
ido longe demais, fazendo com que se sentisse o doente que
sempre se considerara. Pensava também no quanto foi fácil para ele
me permitir ir embora, sem me pedir desculpas, ou me pedir para
ficar, deixando claro que realmente não sentia nada por mim, além
de vontade de me comer. Mas, como Mia vivia repetindo, o tempo
curava tudo e um dia me curaria dessa ferida insuportável que
latejava em meu peito, pela distância daquele homem na minha
vida.
Após o shopping, fomos a um ginecologista e ele confirmou,
com outro exame de ultrassom, que eu estava grávida de doze
semanas, embora ainda fosse cedo para sabermos o sexo da
criança. Como se ela própria estivesse grávida, Mia o bombardeou
com perguntas sobre os cuidados durante a gravidez e anotou tudo
em uma caderneta.
Nas semanas que se seguiram, ela passou a me tratar como
se eu fosse uma criança, cuidando da minha alimentação, me
mandando ir dormir cedo e até tentando me alegrar com piadas e
massagem em meus pés. Quem não estava gostando nada daquilo
era sua namorada Consuelo, que também morava no apartamento.
Através de trocas de olhares e pequenas atitudes, percebi que ela
sentia ciúmes de Mia comigo e não se mostrava muito animada com
a chegada dessa criança, de modo que a impressão que eu tinha,
era de que, em algum momento, Mia precisaria escolher entre ela e
o bebê.
Durante aqueles dias, eu não fazia nada, a não ser existir.
Passava o dia todo vendo séries na televisão, comendo e lendo.
Estava começando a ganhar peso e tinha certeza de que, em pouco
tempo, me transformaria em uma baleia.
Em um domingo cinzento, como sempre, acordei mais tarde
que as outras duas moradoras e, como todos os dias, encontrei meu
café da manhã lindamente organizado sobre a mesa da cozinha,
com frutas, leite, panquecas, ovos e café. Não fazia ideia se Mia e
Consuelo haviam saído, ou se estavam em casa, quando abasteci
um prato com a comida e sentei-me no sofá da sala, em frente à
televisão ligada, o que já era um hábito.
Estava terminando de devorar as deliciosas panquecas,
quando o som estridente da campainha da porta ressoou pelo
apartamento. Como eu estava mais próxima à porta, levantei-me e
fui atender, ainda com o prato na mão. Quase tive um ataque
cardíaco ao me deparar com Kael, bem ali à minha frente, lindo
como uma miragem, com seus cabelos ainda molhados e bem
penteados, a barba bem aparada, usando uma camisa polo verde,
da cor dos seus olhos e calça jeans. Um cheirinho delicioso de
perfume caro partia dele, inebriando-me e me deixando zonza.
À medida em que meu coração dava saltos no peito,
ameaçando sair pela minha boca a qualquer momento, eu ia me
dando conta de que usava um conjunto de moletom folgado, cinza,
desbotado e horrível; um coque horroroso no alto da minha cabeça
e nenhuma maquiagem no rosto. Juntando tudo isso ao ganho de
peso, presumi que eu devia estar parecendo uma assombração.
— Bom dia. Posso entrar? — disse ele, sua voz grossa
despertou-me do transe.
— C-claro. Fique à vontade.
Abri a porta por inteiro, dando-lhe passagem, e apenas
quando ele avançou pela sala, percebi que tinha um pequeno buquê
de flores na mão.
— São pra você — disse, estendendo-me o buquê.
Eram lírios, minhas flores preferidas. Levei-as ao nariz e
aspirei o cheiro gostoso.
— Obrigada. São verdadeiramente lindas.
Ele examinou-me dos pés à cabeça e senti minha face
corando de vergonha.
— Você está diferente — disse.
— Eu estou gorda e horrível. Pode falar.
— Não. Você continua linda. Apenas diferente.
— E você está exatamente igual.
E era verdade. Já fazia três semanas que não nos víamos,
mas parecia que foi ontem, isso porque eu não parava de pensar
nele em nenhum minuto dos meus dias e tinha cada traço do seu
rosto gravado em minha mente.
— O que o traz aqui? — indaguei, com um misto de frio e
calor passeando pelo meu estômago.
— Preciso falar com você. Sente-se. — Eu era a anfitriã, mas
ele que me mandava sentar.
Tensa, descartei o prato sobre a mesinha de centro, junto
com o buquê e sentei-me na ponta oposta do sofá à que ele se
acomodara.
— Sobre aquela noite, eu queria te pedir desculpas.
— Tudo bem. Não precisa se desculpar.
— Preciso sim. — Ele aproximou-se alguns centímetros. —
Eu fui longe demais. Por ciúmes daquele imbecil, perdi a cabeça e
agi pior que um animal. Me perdoe.
— Está perdoado. Pode continuar sua vida, com sua
consciência tranquila.
Ele observou-me em silêncio durante um longo momento.
Então, levantou-se e sentou-se ainda mais perto de mim, fitando-me
com seus olhos hipnóticos.
— Não quero continuar minha vida sem você. — Processei
suas palavras e meu coração deu um salto no peito. — Não vim
aqui apenas pelo seu perdão, eu a quero de volta na minha vida,
para jantarmos fora como um casal, fazermos amor num parque
abandonado, ou irmos ao clube quando der vontade.
De súbito, eu estava encontrando dificuldade para respirar, o
ar se recusava a invadir a agitação que acontecia em meu íntimo.
Não havia nada nessa vida que eu pudesse querer mais do que
estar com Kael. Nem o que aconteceu naquela noite era suficiente
para arrefecer esse querer. No entanto, se eu voltasse para os seus
braços, logo ele descobriria sobre a gravidez e meu plano com Mia,
o que o levaria a odiar nós duas. Me desprezaria de uma forma que
eu não seria capaz de suportar.
Pensando nisso levantei-me depressa do sofá, impondo certa
distância entre nós.
— Não posso voltar pra você — falei, sem conseguir olhar
diretamente em seus olhos.
Ele levantou-se também e se colocou diante de mim, a
míseros centímetros de distância.
— Eu entendo que fui longe demais naquela noite, agindo
como um doente, mas estou disposto a tentar mudar, por você. —
Ele silenciou, esperando que eu dissesse algo, mas eu não sabia
mais o que falar, se tudo dentro de mim ordenava que eu me
atirasse em seus braços e esquecesse todo o resto. — Eu não sei o
que é esse sentimento, sei apenas que não consigo para de pensar
você um só minuto e isso nunca aconteceu antes. Eu nunca
consegui sentir nada por nenhuma mulher, até você aparecer e virar
a minha vida de cabeça para baixo. Eu nunca gostei de fazer amor,
mas com você eu adoro. Nunca dormi com ninguém, mas minha
cama parece vazia quando você não está nela. Por tudo isso, eu me
comprometerei a mudar, a me tornar um homem melhor, para ter
você de volta na minha vida.
As emoções que me invadiam ameaçavam me sufocar, meus
olhos ardiam com o anúncio das lágrimas.
— Você não precisa mudar. Eu te amo do jeito que você é. E
sempre vou amar.
— Ama mesmo?
— Claro que amo. Eu sou louca por você.
— Então volte para o seu apartamento, vamos recomeçar de
onde paramos. Não suporto passar mais nem um dia sem você.
— Não posso voltar. Nós não podemos ficar juntos.
Ele se aproximou ainda mais de mim, quase tocando seu
corpo no meu, seus olhos verdes me fuzilando com inquirição.
— Me dá só um motivo para que não possamos ficar juntos.
— Nós pertencemos a mundos muito diferentes. Isso nunca
daria certo.
— O quê?! Mas que bobagem é essa?! Isso não é motivo.
Essa coisa de mundos diferentes não existe. — Ele silenciou por um
momento, seu olhar assumiu uma expressão de pura desconfiança.
— Não é só isso. Há outro motivo. Me diga qual é!
Seu olhar desceu pelo meu corpo e gelei dos pés à cabeça,
temendo que ele percebesse que eu estava grávida, pois minha
barriga começava a ganhar volume. Seguindo a um impulso, afastei-
me e dei-lhe as costas. Ele veio atrás de mim.
— Você tem outra pessoa? É isso? Voltou a se encontrar com
aquele imbecil? — dessa vez ele gritou.
— Claro que não. Eu não tenho ninguém.
Ele segurou-me pelo braço e me fez virar para encará-lo.
— Está se encontrando com aquele idiota?
— Eu já disse que não!
— Então o que é? O que diabos você está me escondendo?
Novamente, seus olhos desceram pelo meu corpo e tive
quase certeza de que ele sabia sobre a gravidez, o que me fez
tremer por dentro.
— Não estou escondendo nada.
— Por que pediu as contas do trabalho? Você não precisava
ter feito isso.
— Como se você se importasse! — acabei falando mais alto
do que pretendia.
— Claro que eu me importo! Do contrário, sequer estaria
aqui.
— Já faz mais de duas semanas que pedi as contas e não
recebi nenhuma mensagem sua. E na noite em que fui embora,
você não disse nada. Nem me pediu para ficar.
— Está me culpando por ter demorado a aparecer? — Sem
esperar resposta, ele continuou falando: — Como você bem sabe,
não tenho o hábito de lidar com sentimentos, principalmente
sentimentos desconhecidos como esse que tenho por você. Então,
me desculpe se demorei a perceber o quanto você é importante
para mim!
Nesse instante, para o meu mais profundo alívio, Mia
adentrou a sala, vindo do corredor, junto com Consuelo. Na certa, as
duas ouviram os nossos gritos.
— Com licença. Bom dia, Sr. Dempsey — disse ela, polida
como sempre se portava na presença do seu chefe. — Serenity não
está muito bem de saúde e acho que toda essa discussão pode
piorar as coisas.
Ele olhou-me depressa.
— Não está bem de saúde?! O que você tem?!
— Não é nada grave — comecei, mas não soube como
continuar.
— É só uma virose — Mia interveio. — O médico disse que
ela precisa de repouso absoluto até se recuperar.
— Por que não me disse nada? Qual médico a consultou?
Conheço um médico muito bem renomado, que cuida da minha
família há anos. Ele pode dar uma olhada em você.
— Não precisa. Não é nada grave — falei.
— Ela só precisa de descanso nesse momento — disse Mia.
— Então, com todo respeito, eu gostaria de pedir que o senhor
deixasse essa conversa para outro dia.
O Sr. Dempsey pendurou as mãos em seus quadris e soltou
um profundo suspiro, de pura consternação.
— Você doente e eu aqui piorando as coisas — disse ele e a
culpa pesou em meu coração.
— Está tudo bem. Eu vou ficar bem.
Os olhos dele se deslocaram entre as três mulheres paradas
à sua frente, como se ele nos sondasse e tentasse descobrir o que
realmente estava acontecendo. Era um homem muito inteligente,
estava desconfiado, sabia que estávamos escondendo algo, apenas
ainda não tinha percebido a verdade, só que isso era questão de
tempo.
— Eu vou embora. Mas essa conversa ainda não acabou.
Nos veremos de novo. Em breve.
Deu mais uma olhada em nós três e por fim seguiu rumo à
porta, deixando o apartamento.
No instante em que a porta bateu atrás dele, desmoronei,
minhas pernas falharam, de modo que Mia precisou me segurar e
me ajudar a sentar no sofá, à medida em que as lágrimas banhavam
meu rosto com abundância. Em meu íntimo, eu lamentava pela
minha infinita falta de sorte na vida. Por finalmente encontrar um
amor de verdade e não poder viver esse amor.
— Fica calma. Toda essa agitação pode afetar o bebê —
disse Mia, abraçando-me, tentando me consolar — Consuelo, por
favor, faça um chá de camomila pra ela.
— Claro. Já volto — concordou Consuelo, indo para a
cozinha.
— Eu não sabia que as coisas entre vocês tinham chegado a
esse ponto.
— Eu me apaixonei por ele. Não pude evitar.
— E quem poderia? Ele é um homem incrível. E ama você de
verdade.
— Ele nunca disse que me ama.
— Ele não precisa falar. Isso está claro em cada atitude dele.
Quando você vir um homem como o Sr. Dempsey subir num palco e
beijar uma garota na frente de tantos empresários e jornalistas, é
porque ele está muito apaixonado. E agora, depois de vê-lo aqui te
pedindo pra voltar, estou ainda mais certa disso.
— De que adianta tanto amor, se nós nunca vamos poder
ficar juntos? — soltei um soluço alto e ela me apertou mais forte.
— Não diga isso. Pra tudo na vida tem um jeito.
Mas para a minha vida não tinha. Depois que a criança que
eu esperava nascesse e eu a entregasse a Mia, precisaria ir embora
da cidade e nunca mais voltaria a vê-lo. Portanto, não existia a
mínima possibilidade da nossa história dar certo um dia. Para falar a
verdade, eu continuava perdida como sempre, sem saber que rumo
dar ao meu destino. Considerando que entregaria os quinhentos mil
que receberia pela barriga de aluguel ao Sr. Dempsey, como
pagamento pelo dinheiro que ele dera a Dylan, o que me restava era
pegar os poucos dólares que conseguira juntar do meu salário na
companhia, alugar um apartamento em algum lugar bem longe de
Nova Iorque e tentar arranjar outro emprego, certamente de
garçonete.
Após tomar o chá preparado por Consuelo me senti um
pouco melhor, embora meu coração continuasse pesado, uma
tristeza dolorosa tomava conta de mim o tempo todo, sem que eu
pudesse fazer nada para mudar isto. Tanto Mia quanto sua
namorada passaram o domingo comigo, tentando me alegrar, ou ao
menos consolar, mas isso era impossível. Minha única vontade era
de ficar sozinha, encolhida em um canto, sem ouvir a voz de
ninguém. Um desejo que consegui realizar apenas quando me isolei
em meu quarto, pouco antes da noite cair.
Se a gravidez tinha uma vantagem, era a de me fazer dormir
muito e, com isto, tive uma noite de sono tranquila e revigorante.
Já passava das oito horas quando acordei na manhã
seguinte e não me preocupei nem em pentear os cabelos antes de
deixar o aposento, que dirá trocar a camisola de algodão folgada e
horrorosa por outra roupa. Ao avançar pelo apartamento, fiquei
surpresa ao encontrar Mia ainda em casa, junto com Consuelo, visto
que passava da hora das duas terem saído para trabalhar. Estavam
na cozinha, acomodadas diante da bancada, onde meu café da
manhã já estava servido, como todos os dias.
— O que houve com vocês? Decidiram tirar férias
antecipadas para uma lua de mel? — perguntei, acomodando-me à
bancada e começando a me servir das torradas recém-preparadas.
— Não. Estávamos esperando você acordar — respondeu
Mia.
Ao captar a seriedade no tom de sua voz, parei de passar
geleia na torrada e a encarei preocupada.
— Aconteceu alguma coisa?
As duas se viraram de frente para mim e minha preocupação
aumentou.
— Nós conversamos muito esta noite — disse Mia.
— E?
— Estávamos falando sobre você, o bebê e o Sr. Dempsey —
completou Consuelo, sem que eu entendesse onde queriam chegar.
— Sabe, eu sempre quis me tornar mãe. Quando descobri
que não poderia gerar meu próprio filho, fiquei triste, mas superei,
porque sempre se pode alugar uma barriga. Mas a ideia de procurar
um banco de esperma me desanimou, porque eu não queria ser
mãe do filho de um desconhecido qualquer. Eu queria o melhor —
Mia falava, como se eu já não soubesse de tudo aquilo. — Então,
quando eu estava no Texas e fiquei sabendo que você estava na
pior, tive essa brilhante ideia. Não foi apenas pela criança que te fiz
essa proposta, eu queria te ajudar, afastar você daquele imbecil do
seu padrasto. Alguma coisa me dizia que ele ia acabar te fazendo
um grande mal.
— Fico grata por me salvar.
— Mas eu não esperava que as coisas ficassem assim. Eu
não imaginava que um amor tão imenso nasceria entre você e o
melhor homem que já existiu. — Ela hesitou por um instante, e voltei
minha atenção para a minha torrada, afinal eu estava comendo por
duas pessoas agora. — Então, em nome desse amor, Consuelo e
eu decidimos que você pode ficar com o bebê e, portanto, com o pai
dele.
Parei com a torrada no ar, a meio caminho da minha boca,
enquanto tentava descobrir se tinha ouvido errado, ou se ela
realmente disse aquilo.
— Como assim? — indaguei.
— Ela está dizendo que, embora queira muito ser mãe, vai
adiar esse sonho para que você não precise deixar o Sr. Dempsey
— explicou Consuelo e meu coração deu um salto no peito,
tamanho foi o turbilhão de emoções que me invadiu.
Na mesma hora me imaginei correndo para os braços dele,
sem que nada mais existisse entre nós para nos separar. Porém,
logo voltei à realidade, ao recordar-me claramente da ocasião em
que ele dissera que nunca se tornaria pai. Kael não ia querer esse
filho.
— Ele não quer ser pai. Me disse isso uma vez. Além do
mais, tem toda essa história do contrato. Quando ele souber que foi
manipulado, vai me odiar com todas as forças.
— Ele não precisa saber sobre o contrato. Apenas nós três
sabemos e nenhuma de nós vai contar a ele. Ou você contou a mais
alguém?
Lembrei-me de Dylan, o único que sabia além de nós. Mas eu
duvidava que ele ainda aparecesse na minha vida, depois de ganhar
quinhentos mil sem fazer nenhum esforço.
—Não — menti.
— Nesse caso, basta você dizer ao Sr. Dempsey que ficou
grávida e por isso terminou tudo, porque ele não queria um filho.
Pílulas anticoncepcionais falham o tempo todo.
— E se ele não me quiser por causa do filho? E se achar que
estou sendo interesseira? Que engravidei de propósito pra me
tornar mãe de um herdeiro seu?
— Deixa de ser pessimista, garota — dessa vez, foi Consuelo
quem falou. — Esse cara é louco por você e vai amar essa criança
com a mesma intensidade. Os homens são durões apenas por fora.
Intimamente são uns manteigas derretidos.
Elas podiam estar certas, ele realmente podia me amar e
amar essa criança. No entanto, minha sorte na vida era tão pouca
que eu temia nutrir esperanças, por medo do que pudesse
acontecer depois, pois, quando se tratava de mim, as chances de
tudo dar errado eram muito mais reais do que alguma coisa dar
certo.
— Será que isso daria certo? — indaguei, quase para mim
mesma, sentindo um medo aterrador de acreditar no melhor, só para
depois quebrar a cara mais uma vez.
— É claro que daria. E vai dar. Aquele homem é louco por
você e qualquer mulher na face da Terra te invejaria por isto. — Eu
me admirava que Mia ainda acreditasse que Kael era o melhor
homem do planeta, depois de ouvir tudo o que contei a ela sobre o
Cobongo, isso depois de ela ter ouvido toda a nossa conversa e
exigido saber do que se tratava o clube ao qual ele se referira. —
Agora termine o seu café, depois vá até seu quarto, dê um jeito
nessa cara, ponha uma roupa bem bonita e vá falar com ele.
Então, o que eu mais temia aconteceu, me permiti ter
esperanças de que tudo daria certo, de que eu ficaria com aquele
homem e o nosso filho, de que ele amaria a nós dois e juntos
formaríamos uma família feliz. As emoções que me bombardearam
nesse instante eram tão intensas que as lágrimas marejaram meus
olhos, meus lábios se esticaram em um sorriso de pura satisfação, o
que fez com que Mia me abraçasse, igualmente emocionada.
Após o café, fiz o que ela disse. Em meu quarto, tomei um
demorado banho quente, lavando bem os cabelos, que não viam
xampu há dias; sequei-os, deixando as ondas soltas, como eu
gostava; coloquei um vestido não muito colado, mas ainda assim
bastante sexy, fiz uma bela maquiagem e deixei o apartamento,
sentindo-me ao mesmo tempo exultante e muito nervosa, me
perguntando se eu não deveria ligar antes, avisando que estava
indo. Mas, segundo Mia, aparecer de surpresa deixaria as coisas
ainda mais emocionantes.
Na garagem, peguei meu Jaguar, que Kael fizera questão de
mandar alguém vir deixar e não tive como me livrar dele depois
disso. Desde que eu o deixara, não tinha mais dirigido, na única vez
em que saí para ir ao ginecologista, Mia havia me lavado em seu
carro.
Como estava levemente frio, suspendi a capota e saí pelas
ruas movimentadas de Nova Iorque, dirigindo em baixa velocidade,
já que não me sentia totalmente racional, devido à profusão de
emoções que tomava conta de mim.
Tentava ensaiar uma fala, para dizer ao Sr. Dempsey que
esperava um filho seu, mas não conseguia organizar as palavras na
minha cabeça, simplesmente porque a situação era surreal demais.
De todos os sonhos que sonhei para a minha vida, aquele era o que
considerei mais impossível e agora estava prestes a se realizar. Me
custava a acreditar.
Contudo, a felicidade não estava reservada para mim. Tive
essa prova quando cheguei ao primeiro semáforo. Eu havia
acabado de parar, quando as portas do carona e a porta de trás do
meu carro se abriram repentinamente, para que Dylan sentasse-se
ao meu lado e outro homem no banco de trás.
Meu primeiro impulso foi o de abrir a porta do meu lado e
pular, porém logo sua voz ressoou ameaçadora no interior do
veículo: — Não faça nenhuma besteira. Ou meto uma bala na sua
cabeça aqui mesmo — disse ele, enfiando a mão no bolso da sua
jaqueta e sacando uma moderna pistola cromada, apontando-a para
mim, sem erguê-la até a altura do para-brisas.
O pavor que correu pelas minhas veias me fez gelar dos pés
à cabeça e me dei conta do quanto fui estúpida ao acreditar que,
dessa vez, as coisas dariam certo para mim.
— O que você quer de mim? — indaguei, tentando controlar
o horror que me acometia.
— Quero os milhões que você está carregando no ventre. Ou
acha mesmo que eu te deixaria usufruir dessa fortuna sozinha?
— Mas o Sr. Dempsey já te deu quinhentos mil. Eu não te
devo mais nada.
— Isso quem decide sou eu e decidi que quinhentos mil é
pouco pelo que você me fez passar. — Nesse instante, o sinal abriu
e pensei novamente em pular, contudo, a certeza de que ele me
daria um tiro, caso eu fizesse isso, me fez permanecer no lugar. —
Agora dirija e nem pense em fazer alguma gracinha.
Apavorada, dei partida e segui pela rua, virando na esquina
seguinte, da forma como ele mandou.
— Pra onde estamos indo?
— Você já vai saber.
— O que você pretende com isso? Tudo o que eu tenho é a
gravidez de um homem que não quer ter filhos. Isso não significa
nada.
— Ah, significa muito. Gente rica não pode saber que seu
sangue será derramado, que fica louca. Quando eu disser a esse
cara que vou matar o filho dele, mesmo antes de nascer, ele vai
encher os meus bolsos e, dessa vez, vou querer milhões, pois grana
ele tem de sobra.
— Ele não sabe que estou grávida e nem vai acreditar se
você contar, porque ele acha que tomo anticoncepcionais.
Dylan riu de um jeito sombrio e, ao mesmo tempo,
debochado: — Como você é lenta, hein, garota! Me admiro que
tenha conseguido manipular um homem tão rico e poderoso. Deve
ter mesmo uma bocetinha muito gostosa. — Ele me mandou pegar
a ponte do Brooklyn, em seguida, continuou falando. — Vou mandar
uma cópia daquele contrato de barriga de aluguel pra ele, assim
como uma cópia da sua ultrassonografia.
Tentar imaginar como ele havia conseguido ter acesso à
minha ultrassonografia, se tornou muito irrelevante diante da
possibilidade de ele enviar o contrato ao Sr. Dempsey, permitindo
que ele soubesse de todo o plano, o que faria com que ele me
odiasse irremediavelmente por tê-lo manipulado.
— Não faça isso. Ele vai me odiar e não te dará um centavo
pra salvar a mim e a essa criança.
— Dará sim. O sangue sempre fala mais alto nessas horas.
Ele se acha importante demais pra permitir que um filho seu seja
morto. E sabe o que é mais interessante nisso? Fazer com que ele
engula toda a prepotência com que falou comigo naquela noite. Vou
fazer com que ele pague por cada palavra! — Dylan falava com
ódio, como sempre.
— Por favor, não faça isso comigo e com meu filho. Eu já te
pedi perdão pelo meu erro do passado.
Ele soltou uma gargalhada.
— Agora está chamando-o de filho, mas pretendia entregá-lo
a outra mulher para criar. Vocês mulheres são mesmo muito falsas!
— Eu não te devo mais nada.
— E é por isso que, depois de arrancar o filho daquele cara
da sua barriga e mandar o corpo pra ele em uma caixa de papelão,
caso ele não me pague, vou deixar você viver. Vou fazer de você
minha putinha. Tô louco pra descobrir o que aquele ricaço viu em
você.
O terror que me dominava alcançou níveis tão alarmantes em
meu organismo que comecei a tremer descontroladamente, com
minha mente entorpecida de medo incapaz de trabalhar em busca
de uma possível saída.
Em uma rua escura e deserta do Brooklyn, Dylan me fez
parar e abandonamos meu carro no acostamento, nos mudando
para um Mercedes escuro que vinha nos seguindo desde que ele
me abordara no semáforo, o qual era conduzido por um homem
parrudo e mal-encarado. Espremida entre Dylan e um de seus
cúmplices no banco de trás, tive minha cabeça coberta por um saco
preto e não vi mais nada do trajeto por onde continuamos seguindo.
CAPÍTULO 3 1

Kael

— Mas que merda! Eu não mandei uma equipe desse


tamanho para Washington para ter que ficar cobrando resultados a
cada dois dias! Eu espero que a porra do trabalho seja feito o mais
depressa possível! — berrei ao telefone, falando com o engenheiro
de uma nova linha de metrô que estava sendo construída na capital
do país.
Já fazia semanas que eles estavam naquela empreitada e o
trabalho não rendia. Cada vez que eu telefonava, nenhum avanço
havia sido feito. Minha vontade era de demitir todos eles, mas não
podia tomar uma decisão tão importante estando de cabeça quente
e, ultimamente, a minha cabeça estava sempre quente por causa
daquela menina, que vinha roubando a minha paz.
Desde que Serenity decidira sair da minha vida, sem mais
nem menos, eu já não era o mesmo homem. Pensava nela o tempo
todo, mal conseguia me concentrar no trabalho e não tinha
paciência para nada. Nunca, nos meus quarenta anos de vida, eu
havia me sentido assim por causa de uma mulher, o que fazia de
mim um degenerado que perdia a cabeça por causa de uma garota
de vinte anos. Porém, Serenity não era apenas uma garota, da
forma como eu vinha tentando me convencer, ela era uma mulher e
uma mulher incrível, a quem eu pretendia trazer de volta para mim,
não importando o quanto custasse e mesmo sabendo que ela
estava me escondendo alguma coisa muito importante. Algo
relacionado ao seu estado de saúde, talvez.
Imaginar que ela estava doente e não me dissera nada, me
fazia sentir o último dos seres humanos. Um anormal capaz de levá-
la a me repudiar, o que era totalmente deprimente.
Sem paciência, desliguei o telefone na cara daquele imbecil e
voltei minha atenção para o computador à minha frente, examinando
as planilhas que ele enviara, mas sem conseguir me concentrar
nelas. Serenity invadia cada canto da minha mente, tomando conta
dos meus pensamentos. Eu não conseguia esquecer o quanto ela
estava diferente quando a vi no dia anterior, como se tivessem se
passado meses desde a última vez em que nos encontramos, e não
apenas semanas.
Eu amaldiçoava a nossa última noite no Cobongo, por tê-la
magoado a ponto de fazê-la partir. Quando a reconquistasse, eu
teria que pegar mais leve com ela e estava disposto a fazer isto, se
fosse o preço a pagar para tê-la de volta. Até porque não era nada
desagradável levá-la para jantar de vez em quando e depois fazer
amor com ela, pelo contrário, tudo com ela era bom e prazeroso.
— Com licença, senhor. Posso entrar? — disse Mia, abrindo
a porta do meu escritório.
Ela não costumava vir até a minha sala sem ser requisitada.
Se estava ali, era porque algo grave tinha acontecido e na mesma
hora meu coração falhou uma batida, meus pensamentos me
levaram até Serenity, ao seu estado de saúde.
— Aconteceu alguma coisa com Serenity? — indaguei,
automaticamente.
— É mesmo sobre ela que quero falar. — Quase parei de
respirar, enquanto minha secretária atravessava a sala,
aproximando-se de mim, me parecendo irritantemente lenta, com os
saltos das suas sandálias tilintando no assoalho — Ela fez contato
com o senhor hoje?
— Não. Por que ela faria?
Uma ruga se formou entre as sobrancelhas dela.
— Porque ela saiu de casa esta manhã para vir falar com o
senhor, mas não apareceu aqui. Já tentei o celular dela e não está
chamando.
Levantei-me da cadeira de supetão.
— Mas que merda! Por que só agora está me falando isso?!
— Não sei. Achei que ela tivesse parado em algum lugar,
mas já faz muitas horas.
— Quantas horas exatamente?
— Umas seis horas. Estou começando a ficar preocupada.
— Está começando? Já era pra você ter chamado a polícia!
Serenity é só uma criança que veio do interior. Não tem qualquer
experiência com os perigos existentes em uma cidade como Nova
Iorque.
— Na verdade, a polícia não fará nada com tão pouco tempo
de sumiço. Isso se ela estiver realmente sumida.
— Acontece que tenho amigos na polícia. Você deveria ter
me avisado antes.
— Eu sei. Desculpe.
— Me diga como ela está vestida e em que carro saiu. Vou
mandar que olhem cada câmera de trânsito da cidade, até ela
aparecer.
Saquei meu celular, com o objetivo de procurar o número de
um amigo que trabalhava no FBI e poderia resolver isso para mim
bem rápido, quando uma mensagem atraiu a minha atenção. Era de
Dylan, o maldito traficante. Por alguma razão, eu tinha deixado o
número dele salvo.
A mensagem começava com um comentário de muito mau
gosto.

Dylan: E aí, meu chapa? Quem diria que nos falaríamos


novamente! O destino é mesmo surpreendente! Mas aqui estamos
nós de novo, prestes a fazermos negócios. Sabe, pela arrogância
com que você me tratou naquela noite, achei que era um homem
realmente poderoso e perigoso, mas foi feito de trouxa por duas
mulheres, suas próprias funcionárias, o que prova que você não
passa de um grande pateta, que fica cego por causa de uma boceta
novinha. Leia o documento a seguir, ele é muito esclarecedor.

A cada palavra daquele miserável, o ódio crescia em meu


âmago, tomando conta de tudo em mim, ao mesmo tempo em que o
medo de ele ter feito algo com Serenity me deixava paralisado.
— O senhor está bem? — indagou Mia, sem que eu nem me
lembrasse mais de sua presença na sala. — Está pálido.
— Não é nada.
— Preciso voltar à recepção. Se o senho...
— Pode ficar parada aí mesmo. — Os olhos dela se
ampliaram de horror, ao mesmo tempo em que ela se empertigava.
A mensagem seguinte, era um documento em PDF, o qual
baixei e comecei a ler. Tratava-se de um contrato muito bem claro e
detalhado, entre Serenity e Mia, sobre uma barriga de aluguel, mas
não uma dessas que se vai em um banco de espermas. De acordo
com os termos, Serenity precisaria me seduzir e engravidar de mim,
em troca de receber quinhentos mil dólares, a mesma quantia que
ela me convenceu a pagar ao traficante que a perseguia.
No contrato, havia várias cláusulas, a maioria das quais
consistia basicamente no impedimento de ela se apegar a essa
criança, ou cogitar ficar com ela. Outra cláusula dizia que eu nunca
poderia saber de nada disso, nem mesmo depois que a criança
fosse entregue à Mia.
Era um contrato tão absurdo que precisei ler e reler várias
vezes, sem conseguir acreditar que era verdade, embora pudesse
identificar claramente a assinatura da minha secretária, que eu
conhecia muito bem. Então, lembrei-me da ocasião em que conheci
Serenity, do quanto ela se esforçava para transar comigo. Mesmo
quando eu a tratava mal, mesmo quando a ameaçava e desprezava,
ela continuava dando em cima de mim e agora eu sabia que era
tudo por dinheiro. Ela nunca se interessou por mim realmente. Vinha
fingindo esse tempo todo, em troca de sua ganância.
— O que significa isso? — perguntei, virando a tela do celular
na direção de Mia, com o documento aberto, ainda sem conseguir
acreditar que era real.
Ela deu uma olhada de relance no PDF e vi sua expressão
passar de receosa para aterrorizada, até seu rosto empalidecer.
— Não faço ideia — mentiu.
Com dois passos, eliminei a distância que nos separava e
segurei no colarinho do seu terninho, encarando-a de muito perto, o
terror em sua expressão se intensificou.
— Não se atreva a mentir para mim! A porra da sua
assinatura está aqui!
— Eu não sei...
— Continue mentindo e te mato agora mesmo!
Por fim, ela desistiu de continuar com a farsa.
— É só um contrato de barriga de aluguel. Eu ofereci
quinhentos mil para Serenity engravidar do senhor, porque o admiro
como homem de negócios e achei que seria o pai perfeito para o
meu filho. Ela estava na pior, precisando de dinheiro e sair da casa
da mãe. Achei que seria também uma forma de ajudá-la. Só isso.
— Só isso?! — Nesse instante, precisei fazer uso de todo o
meu autocontrole para não a estrangular, porque minha vontade era
essa. — Vocês duas me enganaram! Aquela vagabunda me usou e
me manipulou! Que espécie de seres humanos são vocês?!
— Ela manipulou no início, mas acabou se apaixonando de
verdade pelo senhor.
Absorvi suas palavras e precisei me afastar dela, antes que
acabasse a matando ou lhe dando uma grande surra. Como ela se
atrevia a tentar continuar me enganando, depois de tudo?
— Ela está grávida?
— Está. Ela vinha dar-lhe a notícia essa manhã quando
desapareceu.
“E Dylan a sequestrou pelo caminho, a fim de me
chantagear”, pensei com um baque tão grande por dentro que
minhas pernas falharam, me forçando a sentar-me no sofá. Eu não
sabia o que era pior: a possibilidade de me tornar pai, ou perceber
que essa criança seria assassinada mesmo antes de nascer.
— Senhor, o senhor sabe onde Serenity está? — A voz de
Mia penetrou minha mente atormentada e, mais uma vez, precisei
me segurar para não a matar ali mesmo.
— Suma da minha frente agora mesmo! Você está demitida!
Sua boca se entreabriu, como se ela não esperasse por isto.
— Mas senhor. Eu...
— Nem mais uma palavra, porra! — Dessa vez eu gritei: —
Junte suas coisas e saia da minha empresa AGORA!
Atordoada e sem dizer mais uma palavra, ela deu-me as
costas e seguiu rumo à porta de saída, com passos cambaleantes.
Inclinei meu corpo para a frente e afundei minha cabeça entre
as mãos. O turbilhão de emoções que me invadia era tão intenso
que eu mal conseguia raciocinar, ódio, humilhação, vergonha de
mim mesmo, tudo se misturava em meu íntimo se intensificando ao
passo em que eu me lembrava de cada momento com aquela
vagabunda, do quanto ela se esforçou para me levar para a cama,
do quanto fingiu bem que estava gostando do que fazíamos, quando
na verdade não sentia nada e tudo isso por dinheiro. Uma coisa eu
não podia negar, ela era uma excelente atriz, merecedora de um
Oscar.
Eu ainda estava naquela posição, com o ódio queimando
como lava em minhas veias, quando meu celular vibrou com a
chegada de outra mensagem de Dylan:
Dylan: Agora que você teve tempo de ler e absorver tudo,
vamos aos negócios. A garota está grávida. Está vendo como ela é
mais esperta que você? Para que ela continue grávida, você vai me
trazer cinco milhões de dólares, em um local a ser informado, dentro
de vinte e quatro horas, ou eu matarei o seu pequeno herdeiro e
farei da garota a minha putinha particular. Confesso que estou louco
pra descobrir o que ela tem de tão extraordinário que te deixou tão
cego.

Seguida à mensagem, chegaram duas fotografias: uma de


uma ultrassonografia com um pequeno feto; outra de Serenity,
amarrada a uma cadeira de madeira rústica, com sua boca
amordaçada e seus olhos carregados do mais intenso horror. Ao
olhar para ela, o ódio me fez estremecer. Como ela se atrevera a me
manipular e usar?
Mais uma mensagem chegou:

Dylan: Você tem duas horas para pensar. Aguardo sua


resposta.

Em resposta, enviei-lhe uma mensagem:


Kael: Eu não preciso pensar. Pode matar o bebê e fazer o
que quiser com essa vagabunda. Eu não ligo.

Após enviar as palavras, bloqueei o número dele e levantei-


me do sofá, sentindo-me agitado, mais furioso do que já estive um
dia na vida. Fui até o frigobar e enchi um copo com uísque puro,
bebendo goles generosos até esvaziá-lo. Enchi novamente e voltei
para o sofá, impaciente, perturbado, angustiado.
Quanto mais eu pensava em Serenity e em toda essa
armação dela contra mim, mais o ódio crescia em meu íntimo,
tornando-me cego para tudo mais.
Sem forças para me manter sentado, deitei-me com a cabeça
apoiada no braço do móvel, tentando afastar os pensamentos
perturbadores, esquecer o maldito assunto, mas sem conseguir
apagar tudo aquilo da minha memória, as imagens do ultrassom e
de Serenity amarrada e amordaçada, correndo risco de ser morta ou
estuprada, insistiam em repassarem-se na minha mente, como
flashes de um filme de terror que eu havia assistido.
Por fim, após muito pensar, cheguei à conclusão de que
jamais teria paz se deixasse as coisas ficarem assim. Eu precisava
dar àquele traficante o que ele merecia e com certeza não seria
cinco milhões. Além do mais, a criança que aquela vadia carregava
no ventre era sangue do meu sangue, eu não podia permitir que
fosse morta.
Eu nunca quis me tornar pai e continuava não querendo, mas
meus pais iriam gostar de saber que, por fim, nossa fortuna teria um
herdeiro. Portanto, eu esperaria essa criança nascer, a entregaria
para que eles a criassem e abandonaria Serenity à sua própria
sorte. Ela não sentiria mesmo falta do filho, já que pretendia dá-lo à
Mia.
Com a decisão tomada, desbloqueei o número do maldito
traficante e enviei-lhe uma nova mensagem:
Kael: A criança ainda está viva?
Sua resposta veio segundos depois:
Dylan: Sim. Sou um homem de negócios e alguma coisa me
dizia que você mudaria de ideia.

Kael: Você está certo. Eu mudei. Me diga o horário e o local


para que eu leve o dinheiro.

A mensagem seguinte veio depois de quase uma hora, com


instruções sobre hora e local para a entrega do dinheiro, as quais
pareciam ter saído de uma série barata. Aquele cara era um
verdadeiro imbecil e acabara de encontrar o seu fim.
Ao encerrar minha conversa com o traficantezinho de merda,
telefonei para Bart, um amigo que trabalhava no FBI. Na verdade, a
palavra amigo era muito forte para definir a nossa relação. Ele
prestava serviços para mim quando eu precisava e recebia grandes
quantias para isto. Enviei-lhe o número do celular de Dylan e pouco
tempo depois ele encontrou a localização do aparelho. Não estava
no mesmo local onde o traficante marcara para receber os cinco
milhões, mas estava próximo, em um armazém abandonado. Era
mesmo um imbecil, por não ter se afastado mais.
Meu amigo e eu chegamos a um acordo e transferi metade
da quantia combinada, para que ele acabasse com a raça de Dylan
e seus comparsas e me trouxesse Serenity a salvo, uma missão que
ele considerou bastante simples.
Enviei outra mensagem para Dylan, inventando que
precisaria de um dia para arrecadar a quantia que ele exigia e o
babaca acreditou, de modo que Bart e eu tivemos tempo de
organizar tudo que precisávamos para realizar nosso ataque e os
acontecimentos que o sucederiam. Era noite quando Bart e sua
equipe invadiram o armazém onde o imbecil se encontrava. Fiz
questão de estar presente durante toda a operação, do lado de fora,
na segurança da minha limusine, observando os atiradores se
posicionarem sobre os telhados e outros adentrarem o imóvel.
Tudo aconteceu muito rápido. Houve uma intensa e
barulhenta troca de tiros do lado de dentro do velho armazém e logo
Bart saiu lá de dentro trazendo Serenity, que ainda tinha suas mãos
amarradas para trás e estava amordaçada. Ele a enfiou dentro do
carro, ao meu lado, mas não consegui olhar para ela, temendo
matá-la ali mesmo, então saí do veículo, com o pretexto de checar
se Dylan estava realmente morto.
Na companhia do meu amigo, entrei no galpão. Se havia algo
que eu jamais esperei fazer na vida foi caminhar em meio a vários
corpos ensanguentados, espalhados pelo chão, entre eles o de
Dylan e sentir satisfação com isto. Como não pude demorar muito,
já que a polícia apareceria a qualquer momento, logo me retirei e
voltei para a limusine, acomodando-me em meu lugar, o mais longe
possível daquela vagabunda, sem jamais conseguir encará-la.
Mesmo após dar as ordens ao motorista, para que nos tirasse dali,
eu não conseguia olhar para ela, o ódio mortal me consumia,
trazendo-me o risco de tirar a vida dela a qualquer momento.
Nós tínhamos percorrido alguns quarteirões, quando Serenity
começou a balbuciar palavras incompreensíveis por trás da
mordaça, tentando se comunicar comigo. Tentei continuar
ignorando-a, mas cheguei a um ponto em que não consegui mais
me manter indiferente e olhei diretamente para ela. A fúria que me
invadiu nesse instante foi tão implacável que num momento eu
estava sentado no meu lugar e no minuto seguinte estava em cima
dela, deitando-a sobre o assento estofado, com uma de minhas
mãos em volta da sua garganta, a outra erguida no ar, com o punho
cerrado, pronto para socar o seu rosto. Mas não foi o rosto dela que
acertei ao desferir aquele soco, e sim o acolchoado do assento ao
lado da sua face.
— Não tente falar comigo, sua vagabunda, ou mato você aqui
mesmo! Nem por um instante pense que você ainda está viva por
outra razão que não esse feto que carrega em seu ventre. É ele que
te mantém viva, mas não brinque com sua sorte, porque minha
paciência é curta e pode acabar a qualquer momento. — Puxei
minha mão e dei outro soco no estofado, ao lado do seu rosto,
quando pude ver as lágrimas fugindo dos seus olhos aterrorizados,
sem que isso me comovesse nem um pouco. — Basta eu apertar
um pouco mais sua garganta e você deixará de existir. Tenho
certeza de que ninguém na face da Terra sentirá sua falta.
Eu nunca pensei que fosse capaz de sentir tanto ódio de uma
mulher que estivesse amarrada e amordaçada, mas naquele
instante tudo o que eu queria era apertar a garganta de Serenity, até
que ela parasse de respirar. No entanto, me apeguei ao meu
autocontrole e consegui soltá-la, voltando para o meu lugar no
assento do outro lado, sem mais olhar para ela.
Com tudo planejado com antecedência, a limusine nos levou
direto para o heliponto da Giant Power Corporation, onde um
helicóptero já nos aguardava, pronto para levantar voo. Como eu
exigia que todos os meus funcionários agissem com o máximo de
discrição possível, nenhum deles, inclusive o piloto, fez qualquer
comentário, ou lançou algum olhar julgador sobre Serenity ao vê-la
com os pulsos amarrados para trás e amordaçada.
Já era madrugada quando levantamos voo e cerca de seis
horas depois estávamos aterrissando no deserto de Mojave, na
Califórnia, onde ficava a Black Desert House, uma casa projetada
pelo escritório de arquitetura Oller & Pejic. Era uma casa
extravagante e isolada, cercada pelo deserto e longe de qualquer
vestígio de civilização, a qual eu havia adquirido há alguns anos e
alugava por temporadas, para aventureiros que queriam passar
alguns dias no isolamento do deserto.
A propriedade tinha vidros espelhados que refletiam a
paisagem vizinha e tornavam as paredes semelhantes a obras de
arte. Portas e janelas extensas integravam o dentro e o fora da
casa, ao mesmo tempo em que as cores escuras criavam um
contraste da parede com o claro do deserto. Era realmente uma
bela propriedade, com vários metros quadrados de extensão e
completa, com quartos, piscina e até academia.
Seria a moradia de Serenity enquanto ela carregasse meu
herdeiro em seu ventre, onde ela estaria fortemente vigiada e de
onde não poderia fugir.
A parte difícil havia sido encontrar empregadas e seguranças
de confiança que cuidassem da casa, cozinhassem e ficassem de
olho nela, assim em cima da hora, mas com muito dinheiro, tudo era
possível e estava tudo arranjado. Três mulheres seriam suas
empregadas durante os meses restantes da gravidez e dois homens
ficariam do lado de fora, garantindo que ela não fosse a parte
alguma.
Ao avançarmos pela primeira sala da propriedade,
encontramos todos os cinco funcionários de prontidão, devidamente
uniformizados, nos aguardando. Após cumprimentá-los, precisei
liberar Serenity das amarras e da mordaça, para que ela dissesse o
que queria comer, afinal já era quase meio-dia e o bebê que ela
carregava precisava ser alimentado, para que nascesse saudável.
— Que lugar é esse? — indagou Serenity, enquanto
esfregava seus pulsos arroxeados pelas amarras.
— É a sua moradia, até meu herdeiro nascer. E esses são
seus empregados e seguranças. Lisa ficará responsável pela
comida e Beth e Sue pela limpeza. Os rapazes cuidarão de vigiar os
arredores e garantir que você não vá a parte alguma.
— Você não pode me manter presa aqui!
— Claro que eu posso. Além do mais, ficar numa mansão
linda como essa, com três empregadas a servindo durante as vinte
e quatro horas do dia, não é exatamente uma prisão.
— Se não tenho o direito de ir e vir, é uma prisão sim.
— Pois que seja. Aliás, a prisão é pouco perto do que você
merece.
Ela aproximou-se um passo de mim, detendo-se ao perceber
a fúria na minha fisionomia.
— Dylan te mostrou o contrato, não foi? — Como eu não
disse nada, ela continuou falando: — Eu sinto muito por tudo isto.
Nunca quis enganar você. Por favor, me perdoe.
Ao perceberem que a conversa era íntima e constrangedora,
os funcionários se retiraram da sala.
— Não quis, mas mesmo assim enganou e com maestria.
Parabéns. Você é mesmo uma grande atriz.
— Nem tudo foi mentira. No começo pode ter sido uma farsa,
mas eu me apaixonei por você de verdade. Eu te amo. Sou louca
por você.
— Não precisa mais continuar com a atuação. Acabou! Você
sairá dessa merda toda da forma como entrou, sem nenhum
centavo no bolso. Quanto à criança, será levada para os meus pais
criarem e se você tentar lutar contra isto na justiça, sairá perdendo
mais do que o filho. Acredito que ele não te fará falta, já que
pretendia entregá-lo à Mia.
— Mia havia desistido de se tornar mãe dessa criança
quando percebeu que estávamos apaixonados...
Suas tentativas de continuar me ludibriando e manipulando,
conseguiram intensificar a fúria que queimava em minhas
entranhas, quase me levando ao completo descontrole.
—Já chega! — gritei, minha voz ecoou entre as paredes de
vidro da sala. — Pare com todas essas merdas de mentiras, você
não vai conseguir nada com isto a não ser me irritar ainda mais.
Agora vá até a cozinha dizer à cozinheira o que quer comer.
Fiz menção de seguir rumo à porta, ela tomou-me o caminho.
— Não é mentira. Eu te amo de verdade e estou muito
arrependida por ter te enganado. Me perdoe.
Sem conseguir mais controlar os meus impulsos, fechei a
mão em torno da garganta dela.
— Eu mandei calar a boca, vagabunda! Não me dirija mais a
palavra e saia da minha frente antes que eu perca a cabeça e acabe
com a sua raça.
Dito isto, soltei-a e voltei ao caminho rumo à porta, até que
sua voz atrás de mim me fez parar novamente: — Se insistir em me
deixar presa aqui, vou chamar a polícia.
Um riso amargo se manifestou no canto da minha boca,
enquanto eu me virava para encará-la, com o ódio me consumindo
de forma devastadora. Ao colocar-me diante dela, percebi o quanto
estava abatida, com olheiras profundas, algumas manchas escuras
de sujeira na face e com seus lábios muito ressecados. Certamente
fora apanhada pelo traficante enquanto se encontrava a caminho da
empresa, indo falar comigo, com o objetivo de tentar me convencer
de que estava apaixonada por mim e assim tentar ganhar mais do
que quinhentos mil por essa gravidez. Era mesmo uma vagabunda
manipuladora do caralho!
— Acontece que você não tem como chamar a polícia, ou se
comunicar com qualquer outra pessoa que não seja os empregados.
Aqui não tem internet e nem telefone, ou computador. Não tem
carro, além do que pertence aos seguranças, e nenhum outro meio
de transporte. Além disso, a casa está localizada no meio do
deserto, de modo que você morreria de inanição e desidratação,
caso tentasse fugir a pé. E, para finalizar, os seguranças estão aqui
para impedir que você cometa uma loucura como essa. Agora seja
uma boa menina e diga às empregadas o que gostaria de comer.
Temos que alimentar essa vida que você carrega.
Eu pretendia ficar na casa aquela noite, dando algumas
instruções aos empregados. No entanto, percebi que não
conseguiria permanecer sob o mesmo teto que Serenity, pois não
suportava olhar para ela. Daria as últimas orientações a eles por
telefone. Então, novamente, me virei para a porta de saída e, mais
uma vez, Serenity pulou na minha frente.
— Por favor, não me deixe aqui. Eu sei que você me odeia, e
com toda razão. Mas peço que me perdoe. Eu não fiz por mal.
Estava precisando do dinheiro e Mia de um filho. Além disso, o que
aconteceu entre nós não foi mentira.
— Quanto mais você fala, mais tenho vontade de apertar sua
garganta e assistir a vida se esvaindo do seu corpo. — Ela engoliu
em seco. — Quando você vai parar com todas essas mentiras?
— Não é mentira. Eu me apaixonei por você de verdade. Eu
te amo. Quando Dylan me pegou, eu estava indo até seu escritório
falar sobre e gravidez.
— Nessa parte eu acredito. Achou que seria mais lucrativo
receber minha fortuna do que o dinheiro que Mia te daria.
— Não! Eu ia dizer que te amo e queria ter esse filho com
você.
— Já chega de tanta falsidade! — gritei, furioso. — Você me
fez de tolo no início, mas isso acabou. Seus planos deram errado!
Conforme-se! Assim que meu filho nascer você voltará para a rua da
amargura, onde é o seu lugar.
Passando direto por ela, alcancei a porta e deixei a casa,
indo direto para o helicóptero, que levantou voo tão logo entrei e dei
as ordens ao piloto.
CAPÍTULO 32

Kael

De volta a Nova Iorque, não consegui ir direto para o


trabalho, como deveria. Tudo o que eu queria era ficar sozinho, sem
ver nem falar com ninguém. Então fui direto para o meu
apartamento. Contudo, a solidão não estava melhorando as coisas,
pelo contrário. Os acontecimentos, as mentiras, toda aquela
sujeirada, insistiam em repassarem na minha mente, sem que eu
conseguisse afastá-las.
A todo momento eu relembrava as palavras daquele maldito
contrato, a forma como Serenity se empenhou em me seduzir
quando nos conhecemos, fingindo interesse por mim, quando na
verdade seu único interesse era o dinheiro.
Eu jamais imaginei que ser manipulado e enganado de tal
maneira pudesse causar uma dor tão profunda. Então, decidi buscar
alívio para esse tormento no álcool, acreditando que este
anestesiaria minha dor e, com isto, acabei ficando bêbado durante
três dias seguidos, praticamente sem ver o mundo à minha volta.
Durante esses dias, cogitei várias vezes ir até o Cobongo em
busca de algum prazer que me distraísse, ou apenas ligar para que
alguma submissa viesse me ver no meu apartamento, mas a
verdade era que eu não tinha ânimo para nada disso. Tudo o que eu
conseguia fazer era pensar e sentir, isso quando a embriaguez não
me roubava a consciência, o que acontecia na maior parte do
tempo.
Quando por fim percebi que essa prática não me levaria a
nada, a não ser à ruína, decidi parar de beber e me reerguer e com
a sobriedade veio a amargura que pesava em meu coração.
Ao voltar a me comunicar com o mundo, entrei em contato
com os funcionários da Black Desert House, a fim de saber como
estava o comportamento da maldita manipuladora, se havia tentado
fugir e descobri que não fizera nenhuma tentativa do tipo,
certamente por compreender que não tinha nenhuma chance de
escapar, caso tentasse, afinal de burra ela não tinha nada, pelo
contrário. Descobri também que ela estava precisando de remédios
para enjoos, sem que os funcionários soubessem se deviam lhe dar.
Eu poderia simplesmente ter mandado que eles comprassem
o maldito medicamente e dessem a ela, já que os seguranças
tinham um carro com o qual iam de vez em quando até a cidade
mais próxima. No entanto, um anseio perverso por vê-la chorando
pelos cantos da casa, sentindo-se prisioneira e implorando-me por
clemência, me fez ir até lá pessoalmente levar a medicação.
Era de manhã quando levantei voo de helicóptero, deixando
um dia cinzento em Nova Iorque e encontrando um dia ensolarado,
como quase sempre eram os dias na Califórnia. Ao aterrissarmos no
heliponto da casa no deserto, ainda do lado de fora conversei com
os seguranças, que me garantiram estar tudo bem e correndo como
planejado e, em seguida, entrei. Ainda na sala, fui recebido por uma
das empregadas, que repetiu o mesmo discurso que o segurança.
— Onde ela está? — indaguei, sentindo uma agitação
estranha por dentro.
— Na área da piscina.
— Tem certeza?
— Sim, senhor. Quer que eu o acompanhe até lá?
— Não precisa. Conheço bem o caminho.
Atravessei a moderna moradia com paredes em vidro e
estaquei na porta que dava para a área da piscina. Serenity estava
espichada sobre uma das espreguiçadeiras, usando um biquíni
minúsculo, cuja parte de cima escondia pouco mais que os bicos
dos seus seios, ligeiramente maiores, e a de baixo marcava
perfeitamente os traços do seu sexo, deixando pouco espaço para a
imaginação.
Ao contrário do que eu esperava, ela não estava chorando
pelos cantos. Na verdade, parecia muito bem, com sua pele mais
bronzeada, o rosto saudável e a pequena mão na sua barriga,
abaixo do seu umbigo. O sol da manhã banhava sua pele dourada,
enquanto ela lia tranquilamente um livro.
Quase dei um soco em mim mesmo quando percorri meu
olhar pelas curvas do seu corpo e meu pau começou a inchar dentro
da calça. Maldição!
— Vejo que já se recuperou do abalo em ficar no que chamou
de uma prisão — falei, aproximando-me.
Ela tirou os óculos escuros e olhou diretamente para mim,
sem demonstrar qualquer surpresa ao me ver, na certa por ter
ouvido o barulho das hélices do helicóptero aterrissando e já saber
que eu estava a caminho.
— Como diz o ditado, se a curra não tem saída relaxe e goze.
Não estou gozando, mas posso pelo menos relaxar. Será que dá pra
você sair da frente do meu sol?
Não me movi do lugar, de modo que minha sombra continuou
cobrindo-a.
— Não era exatamente como eu esperava encontrar uma
mãe que está prestes a entregar um filho que nunca mais voltará a
ver.
Demonstrando irritação, ela se levantou, esticou a mão até
um drink colorido com guarda-chuva, que se encontrava sobre a
mesinha e deu um grande gole, fitando-me em seguida.
— Abrir mão de um filho é pouco, comparado ao que pode
acontecer na vida de uma pessoa tão sem sorte como eu.
— Nós fazemos nossa própria sorte.
— Você se surpreenderia com a história de vida de quem não
nasceu em uma família rica e bem estruturada.
— Se está tentando me comover, não está funcionando.
— Não estou tentando nada. Com licença.
Sem mais nem menos, ela saiu andando rumo ao interior da
casa e, como se uma força sobrenatural me puxasse em sua
direção, comecei a segui-la. Ao observar sua bunda durinha
balançando em torno do minúsculo fio enfiado entre suas nádegas,
meu pau voltou a endurecer e amaldiçoei mentalmente a mim
mesmo, à minha total ausência de autocontrole.
— Aliás, o que o traz aqui? — indagou ela, subindo as
escadas que acessavam o segundo piso, onde ficavam os
aposentos.
— Vim trazer o seu remédio de enjoo.
— Você poderia ter mandado um empregado fazer isso.
— Poderia, mas não quis.
— Veio pessoalmente porque queria ter o prazer de me ver
arrasada, por estar aprisionada e sozinha. Aposto que está muito
desapontado.
— Você não está sozinha. Tem três empregadas e dois
seguranças cuidando de você.
— Não estou me referindo a isso e sim à companhia de
pessoas que me queiram bem. Mas devo confessar que todos eles
são muito legais e fazem de tudo para me agradar.
Ela abriu a porta da suíte que ocupava e entrou. Quando dei
por mim, estava atravessando a porta para o lado de dentro
também.
— O que pensa que está fazendo? — indagou Serenity, com
uma ruga entre suas sobrancelhas.
— Entrando no seu quarto.
— Você não tem esse direito!
— Na verdade, eu tenho sim. — Fui para cima dela, enquanto
ela recuava, até que suas costas encontraram a parede e eu a
encurralei. — Não é justo que você esteja aqui curtindo um sol e
lendo tranquilamente um livro, como se estivesse de férias,
enquanto meu mundo parece estar desmoronando. Nem vontade de
trepar eu sinto mais, e tudo por sua causa. Portanto, acho justo que
você me dê um pouco de prazer, para compensar tudo o que me
tirou.
Desprovido de qualquer autocontrole, aprisionei seu corpo
frágil com o meu, contra o concreto da parede e fiquei ainda mais
louco quando senti suas curvas deliciosas se moldando a mim.
Agindo como o animal irracional que sempre fui, segurei-a
firmemente pela nuca e ignorei suas palavras quando ela me disse
para parar, apossando-me de sua boca, tentando beijá-la, mas sem
que ela abrisse os lábios. Até que suas mãos frágeis se espalmaram
sobre meu peito, empurrando-me. Embora ela não tivesse forças
suficientes para me afastar, sentime na obrigação de parar, afinal
nunca foi meu estilo pegar uma mulher sem o consentimento dela, o
que era uma pena, pois meu pau latejava dentro da calça, de tanta
vontade de fodê-la.
— Para com isso! Não quero que volte a me tocar!
Suas palavras me feriram muito mais do que eu imaginava
ser possível, o que fez com que a fúria aflorasse em minhas
entranhas. Era ela quem devia estar implorando pela minha atenção
e não o contrário. A vítima na porra dessa história toda era eu, não
ela.
— Agora que não tem mais nenhum dinheiro em jogo, aquele
desejo todo que você dizia sentir por mim esfriou, não foi, sua vadia
interesseira?!
Sem que nada tivesse me preparado para isto, Serenity
ergueu sua mão no ar e desferiu uma bofetada estalada em meu
rosto. Não doeu, pelo menos não como ela queria, mas serviu para
atiçar ainda mais a ira que me acometia.
— Vai pro inferno, babaca! Você não pode mais dizer o que
quiser pra mim! Eu já falei que no início me aproximei de você pelo
dinheiro, mas nunca fingi quando estávamos juntos. O problema não
é meu se você não acredita.
Suas mentiras deslavadas foram o estopim para que eu
perdesse o autocontrole de vez. Cego de ódio, avancei para cima
dela, agarrei-a pelo meio e a joguei sobre a cama, montando-a,
aprisionando seu corpo frágil entre meus joelhos e seus pulsos com
minhas mãos. Minha vontade era de silenciá-la com a minha boca,
de mordê-la inteira, torturá-la e açoitá-la com o meu cinto, até que
ela admitisse cada uma de suas mentiras. Apenas um vago vestígio
de sensatez me impedia de ir em frente, mas estava prestes a
perdê-lo e que Deus me perdoasse pelo que aconteceria naquele
quarto, caso essa sensatez se dissipasse.
— Chega de mentiras! Estou farto de ouvi-las. Você poderia
pelo menos admitir que é uma dissimulada, falsa e mentirosa, já que
não tem mais nada a perder.
Uma lágrima solitária escorreu pelo canto do seu olho.
— Não posso dizer uma inverdade só porque é isso que você
quer ouvir. Eu realmente te a...
— Já chega! — interrompi-a, com um grito. — Eu queria ser
um maldito estuprador, pra te pegar à força agora mesmo e te foder
até você admitir que é uma cobra traiçoeira.
— Sei que você é incapaz disso.
— Está confiante demais. Tenho certeza de que, durante
esse tempo em que estava representando para mim, fingindo um
orgasmo atrás do outro, percebeu que de normal eu não tenho
nada.
— Você é normal. Não há nada de errado com você.
Aquela sua insistência em continuar mentindo, fingindo que
me compreendia e sentia algo por mim, me causou repulsa e pulei
da cama, respirando fundo, tentando me acalmar.
— Acho melhor eu não voltar aqui até essa criança nascer.
Serenity sentou-se aos pés da cama, parecendo tão frágil e
delicada, que tornava quase impossível minha tarefa de odiá-la e
continuar atacando-a. Se ela não tivesse acabado de me rejeitar,
por qual razão eu nem imaginava, já que não passava de uma
interesseira, eu juraria que estava tentando me seduzir ao deixar
aflorar esse seu ar angelical e submisso.
— Vou precisar continuar fazendo o pré-natal. Isso garantirá
que o bebê nasça saudável.
Percorri os dedos entre meus cabelos, confuso, sem saber o
que pensar e, ao mesmo tempo, tentando farejar as intenções dela
por trás de tal apelo, o que era uma grande loucura, já que o pré-
natal era realmente necessário. Por causa dela, eu estava sendo
irracional, mais uma vez.
— Claro. Vou providenciar para que um médico venha vê-la.
— Não sei se será possível transportar um equipamento de
ultrassonografia de helicóptero e preciso fazer esse exame
regularmente.
— Está tentando me persuadir a te levar até a cidade, para
poder pedir socorro e fugir?
Ela me deu um sorriso triste.
— Você não precisa se preocupar com isso. Não vou tentar
fugir. Vou entregar o seu filho, como você quer e depois cuidar da
minha vida.
Por que diabos ela parecia tão triste ao dizer aquilo, se
pretendia entregar a criança à Mia, de qualquer forma?
— Você nunca quis essa criança e nunca vai querer, não é?
— Eu não tenho o direito de querer algo tão maravilhoso
quanto essa criança. As coisas boas da vida não estão reservadas
para mim — ela falava com tamanha melancolia que, quem não a
conhecesse, acreditaria que estava sendo verdadeira. — Mas
carrego esperanças de algum dia encontrar um homem que me
queira de verdade e terei meus próprios filhos com ele.
Aquilo me silenciou, tirando-me a voz, arrancando-me o
sossego. Imaginei-a casada com um homem qualquer, cuidando dos
filhos que não eram meus e uma sensação desconhecida me
invadiu, estraçalhando-me por dentro, impiedosamente.
— Você já contou para os seus pais que eles serão avós?
— Isso não é da sua conta. — Não economizei na rispidez.
— Aliás, aqui está o remédio para enjoos que você pediu. — Enfiei a
mão no bolso da calça e entreguei-lhe a pequena cartela de
comprimidos. — Tem certeza de que é esse mesmo?
— Sim. Foi o que o médico me receitou.
— Você precisa de mais alguma coisa... para a criança?
— Não. Era só isso. Obrigada.
Aquela era minha deixa para ir embora, contudo, uma força
desconhecida parecia me segurar no lugar, meus pés se recusavam
a se moverem a me levarem para fora do quarto. Até que me dei
conta do quanto estava sendo fraco, ao querer ficar perto de uma
mulher que me usara e me manipulara e que, certamente, faria de
novo, se eu lhe desse a chance.
— Se surgir outra necessidade, peça que a empregada me
avise. E em breve providenciarei o pré-natal. Adeus.
Não esperei que ela respondesse. Dito isto, dei meia-volta e
saí do quarto.
Após me reunir com a equipe de empregados e me inteirar de
todos os acontecimentos, que não eram muitos, entrei no
helicóptero e parti, jurando a mim mesmo que não voltaria àquela
casa até o dia do nascimento do meu herdeiro.
CAPÍTULO 33

Serenity

Era mais um dia de calor no deserto da Califórnia. Deitada no


sofá da sala da casa de vidro, sob a proteção do ar-condicionado,
eu tentava me concentrar na leitura de um romance, mas não
conseguia parar de pensar em Kael, na forma como ele olhava para
mim desde que soube de toda a verdade sobre a barriga de aluguel,
com tamanho ódio e desprezo que chegava a doer na minha alma.
Mesmo quando tentou me agarrar, quando esteve aqui, há
uns vinte dias, ele continuava me olhando como se eu fosse a mais
desprezível das criaturas, como se me abominasse, o que me
impediu de ir em frente com ele, embora estivesse arrependida, pois
teria sido uma forma de tê-lo mais perto, de matar essa saudade
louca que insistia em permanecer no meu peito o tempo todo,
tirando a minha paz.
Como eu sentia falta dele! Dos nossos momentos juntos, das
loucuras que fazíamos. Se não fosse pela proximidade dos
funcionários que trabalhavam na casa e se mostravam muito amigos
e solidários com a minha situação, eu já teria me afundado em um
abismo de depressão.
Kael me odiava tanto, que sequer apareceu para me levar ao
médico para fazer o pré-natal, apenas enviou um helicóptero e deu
ordens aos seguranças para que me acompanhassem até a cidade.
Pela forma como eles ficavam de olho em mim, enquanto
estávamos no consultório, eu podia apostar que tinham recebido
ordens também de me impedirem de tentar fugir, caso eu tentasse.
Mas uma fuga não fazia parte dos meus planos. Eu já havia me
conformado em entregar essa criança a Kael, assim como
entregaria à Mia, por isso fazia de tudo para não me apegar a essa
vida que crescia dentro de mim. Após o parto, o que me restaria
seria juntar os caquinhos e recomeçar minha vida em algum lugar,
só que agora com mais segurança, já que felizmente Dylan estava
morto.
Precisei voltar ao início da página do livro, já que havia
perdido a concentração e não fazia ideia do que tinha lido, quando
senti um tremor na minha barriga. A princípio achei que fosse
impressão minha, mas então o movimento se repetiu e a
compreensão de que o bebê estava se mexendo me bombardeou
de emoções tão intensas que as lágrimas brotaram dos meus olhos,
meu coração transbordou do afeto mais genuíno que já
experimentei, mas que precisava ser evitado a todo custo, pois a
última coisa que eu podia fazer era me apegar a essa criança.
Abandonei o livro de lado, pousei as duas mãos sobre a
barriga e esperei. Pouco depois senti um empurrão ainda mais forte,
como se o bebê estivesse me chutando e a emoção se intensificou
em meu interior, me fazendo rir e chorar ao mesmo tempo, igual a
uma idiota.
Continuei lá deitada, sentindo os movimentos esporádicos do
pequenino, emocionada, genuinamente triste e feliz ao mesmo
tempo, até que adormeci.

***
Despertei sentindo o peso de um olhar me fuzilando. Ao abrir
os meus olhos fiquei surpresa ao ver Kael sentado em uma poltrona
próxima a mim, observando-me fixamente. Por uma breve fração de
segundos pude ver a paixão, a ternura, queimando na expressão do
seu olhar, mas elas se dissiparam tão logo seus olhos encontraram
os meus, dando lugar à frieza e ao desprezo de antes.
— Você realmente parece estar tirando férias — disse ele,
sem disfarçar a irritação.
— Eu gosto daqui. É tranquilo, sossegado, silencioso. Além
disso, dormir muito é algo que acontece quando se está grávida.
Ouvi dizer que faz com que o bebê cresça.
— Ouviu de quem?
— De Liza, a cozinheira.
— E o médico, disse o quê?
— Tudo o que o segurança já te contou. Que o bebê está
bem, ainda não foi possível saber o sexo e que está tudo certinho.
Kael percorreu seu olhar pelo meu corpo, fazendo-me
lembrar de que eu usava apenas um short de malha curtinho e um
top cavado.
— Você não devia se vestir assim com os seguranças
zanzando por aí.
— Assim como?
— Com tão pouca roupa.
— Eles quase nem entram aqui. Além disso, é como as
garotas se vestem na Califórnia. Devem estar acostumados e nem
reparam mais. — Nesse instante, o bebê se mexeu na minha
barriga e sentei-me animada. — Tem uma novidade. Venha.
Coloque sua mão aqui.
— O quê? — Kael parecia confuso e, ao mesmo tempo,
surpreso.
— Me dê aqui sua mão.
Hesitante, ele aproximou-se de mim e me permitiu espalmar
sua mão sobre o ponto da minha barriga onde o bebê chutava. No
momento seguinte, o pequenino fez outro forte movimento.
— O que é isso? — indagou Kael.
— É o bebê se mexendo.
Como se soubesse que a mão do seu pai estava ali, o neném
fez outro forte movimento e, nesse instante, todo o rosto de Kael se
iluminou com um sorriso que lembrava o nascer do sol em um dia
cinzento, a frieza em seu olhar deu lugar a uma ternura genuína,
apaixonante.
— Ele é forte!
— Acho que vai ser um menino.
— Por que acha isso?
— Pela força. Ele se mexeu pela primeira vez hoje e já está
chutando. Só pode ser menino.
— Algumas meninas são bem fortes também.
Ele continuou com a mão sobre a minha barriga, mas o
pequenino pareceu ter se cansado de se exibir e ficou quietinho. Os
segundos se passaram, a mão de Kael continuou espalmada sobre
minha pele, seu calor foi me contagiando aos poucos, despertando
o desejo visceral dentro em minhas veias, o que fez com que o ritmo
da minha respiração acelerasse, algo que ele percebeu.
Então, seu olhar se prendeu ao meu, ao passo em que sua
mão passava a se mover sobre meu corpo, escorregando devagar,
massageando meu abdômen, depois meu tórax, até por fim parar
sobre um dos meus seios, o que foi suficiente para me fazer perder
a cabeça de vez e segurei dos dois lados do seu rosto, puxando-o
para mim, fazendo com que nossas bocas se encontrassem em um
beijo selvagem e faminto, carregado da mais intensa saudade.
Sem separar sua boca da minha, Kael subiu no sofá,
colocando-se por cima de mim, apalpando meu corpo todo, puxando
meu short para baixo, até arrancá-lo, junto com a calcinha, as
carícias da sua mão estenderam-se até minha boceta, deixando-me
muito melada e quente.
Ele ergueu o seu corpo para tirar suas próprias roupas,
quando pude fitá-lo novamente nos olhos e percebi que sua
expressão havia mudado. A paixão, a ternura, tinham voltado a dar
lugar à frieza e ao desprezo de antes.
Ele me olhava como se não me suportasse, como se eu
fosse o último ser humano diante do qual gostaria de estar e, nesse
instante, quis empurrá-lo de cima de mim, fazer com que parasse de
me tocar, mas a saudade era maior que tudo mais e fui incapaz de
detê-lo quando ele pendurou minhas pernas sobre seus ombros e
me penetrou, fodendo-me com loucura, mas também com certa
frieza, como se existisse uma barreira transparente entre nós, como
se eu fosse uma estranha cujo corpo ele usava para descarregar
suas frustrações, o que me fez lamentar por se incapaz de pará-lo.
Aquilo foi muito rápido. Como conhecia bem o meu corpo, em
questão de minutos Kael me fez gozar, para em seguida alcançar
sua própria libertação e sair apressado de cima de mim, vestindo-se
com rapidez.
— Isso foi loucura. Os empregados podiam ter visto — disse
ele, seco, sem me encarar.
— São todos adultos. Não veriam nada que não estejam
acostumados a fazer também.
— E como você pode saber que todos eles têm vida sexual
ativa?
— Nós conversamos. Sou amiga deles.
Terminei de vestir a calcinha e o short e sentei-me à vontade
sobre o estofado.
— Fez amizade com os empregados?
— É o que acontece quando não se tem mais ninguém para
conversar. Além disso, eles são muito bons para mim.
— Eles têm que ser. Estão sendo muito bem pagos.
— Nem tudo nessa vida se resume a dinheiro.
O olhar que ele me lançou foi gélido como o Polo Norte.
— Nem pra todo mundo as coisas funcionam assim. —
Compreendi que, indiretamente, ele estava me acusando mais uma
vez de interesseira, mas desta vez não falei nada, pois estava
cansada de tentar me defender e lhe explicar que tudo o que
aconteceu entre nós foi verdadeiro, ele que continuasse pensando o
que quisesse. — Sobre o que aconteceu aqui — continuou ele —
não muda nada. Eu ainda vou levar meu herdeiro para os meus pais
quando ele nascer e você não terá nenhum direito sobre essa
criança.
— Eu sei. Você não precisa ficar repetindo isso — falei, com
amargura. — O que o trouxe aqui hoje?
— Fiquei curioso sobre o desenvolvimento do bebê e decidi
acompanhar de perto. Passarei a vir aqui com mais frequência.
— Seria legal se você fosse à consulta e conversasse com o
médico.
— Farei isso. Tem mais alguma coisa sobre a gravidez, além
do fato de ele ter começado a se mexer?
— Não. Está tudo caminhando como deveria. Em breve, seu
príncipe herdeiro estará lindo e perfeito em seus braços.
Ele fitou-me em silêncio durante um momento, sem que eu
conseguisse decifrar a expressão em seu olhar. Conversamos um
pouco mais sobre a gravidez, com aquela distância absurda e
invisível entre nós e então ele se foi deixando um grande vazio em
meu coração, como se meu mundo se resumisse a amá-lo e sentir
sua falta.

***

Nas semanas que se seguiram, Kael continuou voltando,


sempre com conversas evasivas, se comportando como se não
suportasse olhar para mim, mas ainda assim me levando para a
cama e fazendo sexo comigo, de um jeito diferente, superficial, frio,
rápido e sem carinho. Eu queria ter forças para me negar a ele, mas
não tinha, porque o amava com toda a minha alma e qualquer
migalha de atenção que ele me dava era válida.
Durante o pouco tempo que passávamos juntos, não
falávamos muito sobre o bebê. Não escolhemos nomes, nem
compramos roupinhas, ou brinquedos. Não mencionávamos seu
futuro. Todo assunto relacionado a ele era voltado para a sua saúde
e seu bom desenvolvimento. Apenas isso.
Eu já estava no oitavo mês da gravidez, minha barriga estava
enorme e pesada, quando acordei no meio da noite com o som
estrondoso de uma trovoada, que me assustou. Estava chovendo
forte lá fora, o clarão dos relâmpagos se tornava visível através das
paredes de vidro, mesmo colocadas no modo opaco, o que tornava
tudo ainda mais assustador. Eu precisava levantar-me para ir ao
banheiro, mas, ao apertar o interruptor do abajur, descobri que havia
faltado luz, a escuridão tomava conta de tudo, sem que eu tivesse
um bendito celular para iluminar o caminho. Droga!
Tentei segurar a bexiga e permanecer na cama, mas isso era
impossível naquela altura da gravidez, então levantei-me assim
mesmo, tateando as paredes à procura da porta. Para minha falta
de sorte, os relâmpagos pareciam ter cessado, de modo que
nenhuma luz era lançada no quarto e a escuridão não me permitia
ver um palmo à frente do meu nariz, um alto preço a se pagar por se
morar no interior, longe qualquer vestígio de civilização e, portanto,
de iluminação externa.
Tateando a parede, por fim encontrei a maçaneta da porta e a
abri. Continuei tateando, à procura do vaso ou da pia, que não eram
fáceis de encontrar devido a ser um banheiro enorme, do tamanho
de todo o meu quarto no apartamento de Mia. Segui em frente,
enfrentando a escuridão, ignorando o medo, sem encontrar nada
além da parede de concreto e vidro sob o toque da minha mão.
Estranhei a demora em encontrar a pia, o mesmo boxe, afinal o
banheiro era grande, mas não infinito. Ainda assim, prossegui, com
minha bexiga apertada, a ponto de estourar. Quando por fim me dei
conta de que eu havia aberto a porta errada, a do corredor, ao invés
da do banheiro, já era tarde, eu já tinha dado um passo na direção
da escada, sem perceber que ela estava lá, o que fez com que a
gravidade puxasse meu pé para baixo, desavisadamente e perdi por
completo o equilíbrio. Ainda tentei me segurar no corrimão, mas
minhas mãos não o encontraram e acabei despencando lá de cima,
rolando desastrosamente escada abaixo, meu corpo se chocou de
forma violenta contra o concreto, até que o assoalho da sala me
amparou, minha cabeça bateu bruscamente contra ele, fazendo com
que minha mente girasse.
Meu primeiro impulso foi cobrir minha barriga com as mãos,
como se assim eu pudesse proteger o bebê. Contudo, não fui capaz
de protegê-lo por muito tempo, pois logo meus sentidos foram me
abandonando, até que perdi a consciência de vez.
CAPÍTULO 34

Kael

Eu não tinha noção de que horas eram, mas não era dia
ainda, tampouco cedo da noite, quando fui despertado pelo toque
insistente do meu celular. Quem diabos teria a ousadia de me
incomodar a uma hora daquelas?
A contragosto, levantei-me e chequei o número na tela. Ao
ver que número era do segurança da Black Desert House, senti um
aperto insuportável no peito.
— O que aconteceu? — perguntei, ao atender, esbaforido.
— Houve um acidente. A Srta. Henderson caiu da escada.
Não conseguimos com que uma ambulância viesse buscá-la, devido
ao mau tempo, então estamos levando-a de carro para um hospital
na cidade.
Digeri suas palavras e, de súbito, minhas pernas falharam, de
modo que precisei sentar-me na beirada da cama; o aperto em meu
peito se intensificou, quase me sufocando.
— Como ela está? — indaguei, tentando manter a calma.
— Desacordada.
— E o bebê?
— Nós não sabemos.
— Certo. Leve-a para o hospital mais próximo e, em seguida,
me envie a localização. Estou a caminho.
Encerramos a ligação e durante o minuto que se seguiu fui
esmagado pela mais dolorosa culpa, que minou completamente
minhas forças, por ter deixado Serenity naquele lugar, longe de
tudo, enquanto estava grávida. Eu jamais me perdoaria se algo
acontecesse com ela, ou com o bebê. Pior que isso, eu não
sobreviveria se o pior acontecesse a eles.
Me forçando a reprimir a aflição que tomava conta de cada
minúscula parte de mim, me coloquei em uma espécie de modo
automático e voltei a sacar o telefone, ligando para o piloto do
helicóptero e ignorando seus avisos sobre a impossibilidade de voar
na Califórnia naquele momento, devido ao temporal que caía. Nós
iríamos de qualquer maneira, ele que se virasse para que
chegássemos lá em segurança.
Quando ele aterrissou no heliponto do meu edifício, eu já o
aguardava e levantamos voo. As seis horas que se seguiram foram
as mais longas da minha vida. Como a tempestade já havia
cessado, conseguimos aterrissar sem problemas em São Francisco,
direto no heliponto do hospital, onde encontrei duas empregadas e
um segurança da Black Desert House na recepção. O fato de as
duas mulheres ainda usarem pijamas por baixo dos seus casacos,
indicava a pressa com que trouxeram Serenity.
—Onde ela está? — indaguei, aflito, falando com o
segurança, enquanto as duas funcionárias me olhavam com
acusação, sem que eu pudesse tirar-lhes a razão.
— Está internada desde que chegamos. O médico ainda não
disse nada.
— O que aconteceu? Como ela caiu?
—A casa ficou sem energia elétrica e ela saiu do quarto no
meio da escuridão.
Sem um celular para iluminar o caminho, porque não permiti
que ela ficasse com o seu. As palavras ecoaram em minha mente, à
medida que a culpa me espezinhava impiedosamente.
— Preciso falar com o médico.
— Só se ele falar com o senhor. Eu já tentei e ninguém veio
falar comigo.
Praticamente precisei fazer um escândalo dentro do hospital,
ameaçando entrar em contato com os acionistas, para que
finalmente o médico viesse conversar comigo, em uma grande sala
de espera, para onde fomos direcionados.
— Me diga como ela está! — exigi, aflito, angustiado.
— Estamos preparando-a para uma cesariana, por isso não
vim antes.
— Mas ela ainda está de trinta e duas semanas.
— Temos que tirar o bebê, antes que o estado dela piore.
Senti como se uma faca fosse cravada em meu peito e
retorcida dentro dele.
— Como assim? Qual o estado dela?
— Ela bateu a cabeça durante a queda e teve uma
concussão. Já fizemos uma tomografia e uma ressonância, mas os
exames não mostraram nada mais grave. Por outro lado, o fato de
ela ainda estar inconsciente é preocupante.
— E por que ela não acorda?
— Não sabemos.
— Como não sabem? Que espécie de médicos são vocês?
— Pode ser qualquer motivo, ou uma junção de fatores. O
cérebro é uma parte complexa do corpo. O importante agora é tirar
o bebê, pois ela está com hemorragia também.
— Ela corre risco de vida?
— Como eu disse, o cérebro é um órgão complexo. Um
edema pode surgir e isso seria fatal.
Uma espécie de choque atravessou o meu corpo,
provocando um redemoinho em meu estômago, enquanto meu peito
ardia de dor.
— Preciso vê-la.
— Não será possível. Temos que tirar o bebê o quanto antes.
Com licença.
Ele fez menção de sair, mas fui atrás.
— Eu tenho que vê-la, porra! É do meu filho e da minha
mulher que estamos falando!
Resignado, ele se deteve.
— Certo, mas só por alguns minutos. Venha comigo.
Ele me conduziu até o andar superior, onde ficava o centro
cirúrgico, para onde Serenity ainda não havia sido levada. Ela
estava em uma espécie de sala pré-cirúrgica, deitada em uma cama
hospitalar, com vários aparelhos ligados ao seu corpo e alguns
enfermeiros a preparando.
Assim que meus olhos a encontraram e focaram seu rosto
adormecido, lindo, tranquilo e sereno, como se ela apenas
dormisse, as lágrimas desabaram abundantes pelo meu rosto, em
um pranto de dor e aflição. A culpa me estraçalhava, um medo
aterrador de perdê-la e de perder o bebê tomava conta de tudo em
mim, arrastando-me para um estado de perfeita agonia.
Eu não me lembrava de algum dia já ter chorado na minha
vida. Acho que não o fazia desde que era um recém-nascido.
Contudo, naquele instante, era tudo o que eu conseguia fazer.
Aproximando-me do seu leito, segurei sua mão entre as
minhas e comecei a falar, mesmo ciente de que ela não podia me
ouvir.
— Me perdoe, meu amor, por ter te deixado naquele fim de
mundo, eu sou mesmo um animal, que nunca mereceu e nunca será
merecedor do seu amor e mesmo assim você disse que me amava.
— Um soluço me escapou, sem que eu pudesse controlar. — Por
favor, não me deixe. Viva por mim e pelo nosso filho. Vamos criá-lo
juntos, como uma família de verdade. É tudo o que quero nessa
vida.
— Senhor, precisamos levá-la — interrompeu-me o médico.
— Só mais um minuto — protestei e continuei falando: — Eu
te amo, Serenity. Não percebi isso antes, porque estava cego de
ódio. Mas agora isso está claro para mim como a luz do dia. Você e
essa criança são a minha vida, então viva para que possamos levar
esse amor adiante.
Nesse momento, presenciei um milagre, ao ver os olhos de
Serenity se abrindo, com muita dificuldade, para que logo ela
focasse meu rosto e um sorriso muito sutil se formasse no canto da
sua boca.
— Você está mesmo aqui — sussurrou ela, com sua voz
fraca.
— Sim, meu amor. Estou sim.
Ela tentou se mover, mas fez uma careta, como se alguma
dor a impedisse.
— O que houve?
— Você caiu da escada, mas está tudo bem. O médico vai
fazer uma cesariana, para tirar o bebê e vocês vão ficar bem?
— Uma cesariana? Mas eu ainda estou de oito meses ainda.
—Isso não será um problema — interveio o médico. —
Provavelmente o bebê precisará ficar alguns dias na incubadora,
mas é só isso. Vocês dois vão ficar bem. — Ele se virou para mim.
— Quanto ao senhor, poderá acompanhar a cirurgia, já que
conseguiu acordá-la. Tente mantê-la assim.
— Claro.
— Alguém prepare ele.
Poucos minutos depois, estávamos adentrando o centro
cirúrgico, Serenity sendo levada na maca com rodinhas, eu
segurando a mão dela o tempo todo, falando com ela, mantendo-a
acordada e calma.
Com uma anestesia local, o médico e sua equipe fizeram a
operação e logo o choro do bebê se fez audível no quarto. Era um
menino, como o ultrassom havia mostrado há alguns meses. Um
menino minúsculo, branco como a neve recém-caída, com alguns
poucos fios de cabelos ruivos na cabeça. Após mostrá-lo a mim e à
Serenity, que ficou claramente emocionada, com lágrimas nos olhos,
o pediatra, que acompanhava o processo, o levou para a
incubadora.
Serenity voltou a dormir apenas várias horas após a
cesariana, quando o médico garantiu que se tratava de um sono
normal, trazido pelo cansaço da cirurgia e que ficaria tudo bem com
ela.
Aproveitei enquanto ela estava adormecida para ir ver o
bebê. Não pude tocá-lo, nem segurá-lo, mas passei um bom tempo
o olhando. Era muito lindo, apaixonante, embora ainda fosse cedo
para saber com quem se parecia. Como era prematuro, ele
precisaria ficar na incubadora até ganhar mais peso.

***

No dia seguinte, tanto o bebê quanto Serenity haviam


apresentado grande melhora, de modo que trouxeram o pequenino
para que ela o amamentasse, sempre na presença de uma
enfermeira. Serenity estava linda, meio deitada, meio sentada, no
leito da enfermaria, com seus cabelos vermelhos espalhados por
todos os lados, o rosto angelical desprovido de maquiagem. A
emoção surgiu em sua fisionomia, quando ela segurou nosso filho
no colo pela primeira vez, as lágrimas marejaram seus olhos.
Beijou-o e aspirou seu cheiro diversas vezes, antes que a
enfermeira a ajudasse a colocá-lo no peito. Demonstrando muita
força para a sua condição, o pequenino agarrou o peito e mamou
com muita vontade, deixando claro que era mesmo meu filho e que
ficaria tudo bem com a sua saúde.
— Você já sabe que nome vai dar a ele? — indagou Serenity,
acariciando a cabeça do pequenino, enquanto ele continuava
mamando.
— Vamos escolher juntos.
— Tem certeza de que quer que eu participe dessa escolha?
Talvez seus pais queiram escolher.
Apenas então me dei conta de que ela não ouvira uma só
palavra do que eu lhe dissera na sala de pré-operatório. Mas o que
eu esperava? Ela estava desacordada!
— Você não ouviu nada do que eu disse antes, não é?
— Não. Qual parte?
— Quando você estava desacordada.
— Acho que isso explica porque eu não ouvi.
— Eu disse que te amo, que sou louco por você e me sinto
um imbecil por não ter percebido isso antes. Assim como me sinto
um imbecil por ter de deixado naquela casa. Será que você me
perdoará um dia? — Sem esperar que ela respondesse, continuei
falando: — Espero que perdoe, pois gostaria muito de criar esse
filho com você, se você quiser, claro, e ter pelo menos mais uns
cinco desses.
A emoção tomou conta da fisionomia dela, fazendo com que
ela sorrisse e chorasse ao mesmo tempo.
— É claro que eu quero. Não existe nada que eu possa
querer mais nessa vida do que ter vocês dois. Eu te amo tanto.
— Nesse caso, precisamos nos casar. O que acha de se
tornar minha esposa?
— Tá falando sério?
— Estou, embora compreenda a sua incredulidade, eu
deveria ter comprado um anel e feito isso de um jeito mais
romântico. Mas o romantismo nunca fez parte de mim. E então,
você aceita ser minha esposa?
— Aceito.
Quando ela disse isso, meu coração transbordou de emoção
e inclinei-me sobre ela, beijando-a na boca e depois beijando a
cabecinha quase completamente careca do nosso filho.
EPÍLOGO

Três anos depois...

Serenity

Kael e eu nos casamos seis meses após o nascimento do


nosso filho, em uma singela cerimônia na propriedade dos pais dele,
em Hudson, às margens do rio. Não convidamos muita gente,
apenas os amigos mais próximos dele, Melissa e Jacob, que agora
estavam juntos, embora continuassem frequentando o Cobongo,
assim como nós. Minha mãe também estava presente, aliás, era a
primeira vez que eu a via depois de sair da sua casa. As madrinhas
eram Mia e Consuelo.
Após o casamento, viajamos em lua de mel para as Maldivas,
embora não tenha sido a mais romântica das viagens, já que
tivemos que levar o pequeno Joshua conosco, assim como sua
babá.
Depois de muita luta e insistência, finalmente consegui
internar minha mãe em uma renomada clínica de recuperação para
alcoólicos e depois de vários meses de terapia ela finalmente
começava a se livrar do seu vício.
Depois que me casei com o homem da minha vida, eu tinha a
sensação de que havia nascido de novo. Primeiro, porque estava
mais feliz do que já tinha sido um dia. Segundo, porque agora a vida
era como um grande presente de Deus, no qual tudo dava certo
para mim, ao contrário de como era antes.
Esta semana Kael e eu estávamos passando férias em Paris.
Ou mais especificamente, Kael estava de férias, já que eu não
trabalhava em outra coisa que não cuidar do nosso menino, que
completara três anos há alguns dias. Nós sempre o levávamos em
nossas viagens, simplesmente porque eu não conseguia ficar longe
dele. Só que dessa vez decidimos deixá-los com os avós paternos,
que o amavam e mimavam até demais, afinal ele já era um
rapazinho e nós dois precisávamos de alguns momentos a sós.
Estávamos hospedados no tradicional Hotel Four Seasons
George V e após um dia exaustivo, visitando os belos pontos
turísticos da cidade do amor, voltamos para a nossa suíte, onde nos
entregamos um ao outro, parecendo dois animais, como sempre
éramos, quando estávamos a sós, ou quando fazíamos sexo com
outras pessoas, geralmente com Melissa e Jacob, nossos parceiros
constantes de transas.
Após o sexo, Kael pegou no sono e não consegui dormir.
Então decidi ir dar um mergulho na bela piscina do hotel, afinal o dia
continuava quente, mesmo sendo fim de tarde. Deixei um recado
para ele, avisando onde estaria, coloquei um biquini, joguei uma
saída de praia por cima e deixei a suíte.
Quem vinha a Paris, muito dificilmente ficaria confinado em
um hotel, mesmo em um luxuoso como aquele. Por isso a área da
piscina estava praticamente deserta, com apenas alguns poucos
hóspedes ocupando uma das mesas. Sem dar muita importância a
eles, tirei a saída de praia e mergulhei, dando largas braçadas na
água morna, deliciosa, indo de um lado para o outro da piscina, até
me cansar, quando então saí e me acomodei em uma das
espreguiçadeiras acolchoadas, esperando que os raios fracos do sol
daquele fim de tarde secassem naturalmente minha pele.
Estava com meus olhos fechados, pensando na decoração
da nova casa que estávamos comprando nos arredores de Nova
Iorque, para onde nos mudaríamos em breve, a fim de fugirmos da
agitação da grande cidade, quando pude sentir o peso de um olhar
sobre mim.
Ao abrir os olhos constatei que não tinha ninguém por perto,
então estendi meu olhar até a mesa onde se encontrava o grupo de
hóspedes. Era um grupo de pessoas com mais ou menos a minha
idade, todos com cara de riquinhos, entre eles um carinha loiro que
não parava de me secar. Tão logo percebeu que eu o notara, ele
balançou seu drink, em um cumprimento que respondi com um
sorriso e um aceno de cabeça, mas só porque o cara era lindo,
parecia um modelo de capa de revista.
Imaginei como Kael reagiria se me flagrasse interagindo com
outro homem sem a presença dele e voltei a fechar os meus olhos,
recostando a cabeça na espreguiçadeira. Mas meu sossego durou
pouco, logo a garçonete do hotel apareceu trazendo um desses
drinks coloridos, a mando do loiro gostoso. Até pensei em recusar,
mas estava com sede e a bebida parecia deliciosa, então aceitei e
sacudi o copo na direção dele novamente, desta vez em
agradecimento.
A partir daí a paquera não parou mais, com intensas trocas
de olhares e até uma tentativa dele de se aproximar de mim, quando
o alertei, com um gesto de cabeça, de que não deveria fazer isso e
ele voltou.
— O que houve, está querendo dar a boceta para ele? — A
voz grossa de Kael alcançou-me, partindo de muito perto e só então
percebi que ele se aproximava, vindo de trás de mim.
— Talvez.
— Sra. Dempsey, o que eu faço com você?
— Me divide com aquele cara.
Meu marido puxou uma espreguiçadeira para o meu lado e
deitou-se. Puxou-me para cima dele e me deu um beijo demorado,
selvagem e apaixonado, que foi suficiente para fazer minha vagina
encharcar.
Ao encerrar o beijo, ele lançou um olhar na direção do loiro,
que continuava nos observando, afastou parcialmente a parte de
cima do meu biquíni, mostrando meu seio a ele, sem que ninguém
mais percebesse e dando-lhe a entender do que nós dois
gostávamos.
— Agora mergulhe na piscina e o chame até você — ordenou
meu marido e me arrepiei, excitada com aquele jogo.
— Tem certeza?
— Claro. Não é todo dia que você tem vontade de dar pra
alguém que não seja o Jacob.
Apesar de sairmos sempre juntos, ele ainda guardava certa
bronca do nosso parceiro de foda. Só o aceitava porque ele estava
noivo de Melissa.
Excitada e ansiosa, dei outro beijo demorado nele e
mergulhei na piscina. Após dar algumas braçadas, lancei um olhar
para o loiro, que continuava me secando e bastou chamá-lo com um
gesto de mão, para que ele se livrasse da sua camiseta e caísse na
água. Tinha um belo físico atlético, com músculos bem trabalhados
e alguns pelos no abdômen.
Tão logo ele se aproximou de mim e começou a falar, percebi
que não era muito inteligente, mas não se podia ter tudo.
— Qual é a sua com aquele cara? Com qual de nós dois você
vai querer ficar esta noite?
Sorri do seu comentário.
— Ele é meu marido.
— E ele não se importa da gente estar aqui conversando
assim tão de perto?
— Não. Ele gosta de me dividir com outros homens. E isso
responde a sua pergunta. Eu quero ficar com os dois. Topa?
O queixo dele caiu por um instante, seus olhos se
arregalaram de perplexidade, mas ele logo se recompôs.
— Claro que eu topo. Nunca fiz algo assim, mas sei que vai
ser legal. Só não trepo com homem.
— Ele também não trepa, mas gosta de dar ordens. Isso
seria um problema para você?
— Acho que não. Desde que você esteja envolvida, aceito
tudo.
— Ótimo. Nossa suíte é a duzentos e três. Nos encontre lá
daqui a meia hora.
— Estarei lá.
Com isto, deixei a piscina e fui ao encontro do homem que eu
amava com todo o meu coração. Enquanto me aproximava dele, me
sentia tomada por tamanha expectativa e excitação, pelo que
faríamos, que me perguntei se eu já tinha nascido uma pervertida,
ou fora Kael que me tornara assim.

FIM

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