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ARIELA PEREIRA
Copyright© 2022 Ariela Pereira
1º Edição
2022
ÍNDICE
SINOPSE:
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 3 1
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
EPÍLOGO
Página da autora na Amazon:
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SINOPSE:
Serenity
Acordei com um sobressalto e sentei-me na cama de
supetão. Meu coração estava disparado, por causa da adrenalina,
uma camada de suor gelado cobria a minha pele. De todos os
sonhos que já tive com Dylan, esse foi o mais real e apavorante.
Desta vez, ele quase conseguiu me acertar com um tiro do seu
revólver.
Foi um pesadelo tão concreto que precisei percorrer os meus
olhos ao redor para me certificar de que não estava mesmo mais em
Houston, e sim em meu quarto, na casa da minha mãe, na pequena
Trinidad, uma cidade perdida no interior do Texas.
O toque estridente do despertador causou-me outro susto,
fazendo meu coração voltar a se agitar. Puxei pela memória,
tentando lembrar-me por que o liguei para despertar tão cedo e logo
recordei-me de que tinha um encontro com Mia, uma velha amiga
da época do colégio. Na verdade, a palavra amiga era meio forte
para definir nossa relação.
Nunca fomos muito próximas. Primeiro, porque Mia era bem
mais velha e estávamos em turmas diferentes. Segundo, porque, na
adolescência, ela era a esquisitona da cidade, de quem todos
caçoavam e eu uma garota popular, que todo mundo amava. Mas o
importante agora era que ela tinha uma proposta de emprego para
me fazer, a qual eu não poderia recusar, já que estava na pior.
Levantei-me preguiçosamente, pendurei a toalha no ombro e
me dirigi para o banheiro, que ficava no corredor. Andava na ponta
dos pés, tentando passar despercebida ao meu padrasto George,
cuja voz eu podia ouvir partindo da cozinha, discutindo com a minha
mãe.
Depois da morte do meu pai, minha mãe colocou esse
imprestável dentro de casa, não porque o amasse, mas porque
precisava dele para sustentá-la, pois era alcoólatra e em cidade
pequena, onde todos sabiam da vida de todo mundo, ninguém daria
emprego a uma pessoa dependente de álcool.
George foi o motivo pelo qual saí de casa, quando tinha
apenas dezessete anos. O cara estava dando em cima de mim,
tentando me passar a mão e, quando contei para a minha mãe, fui
acusada de mentirosa e ainda saí de culpada da história. Minha
mãe sabia que eu estava falando a verdade, que aquele imbecil
realmente me assediava, mas ela não podia perdê-lo, já que não
tinha como se sustentar sozinha e eu não estava conseguindo
arranjar um emprego que pagasse o suficiente para manter nós
duas. Sem querer atrapalhar sua vida, juntei minhas coisas e fui
embora para Houston, onde vinha sobrevivendo há três anos, com
empregos de garçonete e dividindo um apartamento de dois
cômodos com uma colega.
Após o banho, vesti um sóbrio vestido azul-marinho, longo e
com a cintura marcada, prendi os cabelos longos e ruivos em um
coque impecável, peguei a bolsa que cabia apenas o celular e meus
documentos e deixei o quarto. Tentei sair da casa sem que minha
presença fosse notada, mas foi impossível, a porta dos fundos
ficava na cozinha, onde minha mãe e George estavam e, ao tentar
atravessar a sala, que era separada da cozinha por apenas um
balcão, logo ouvi a voz estrondosa do meu padrasto partindo de trás
de mim.
— Vai sair sem nem dar bom dia? Onde está a sua
educação? — vociferou ele, grosso como sempre.
Eu não entendia por que ele me odiava tanto, se quem
precisou sair da casa que meu pai construiu fui eu. Só podia ser dor
de cotovelo de homem rejeitado! E o pior era que ele nem fazia
questão de esconder sua hostilidade, por conta da qual eu mal
parava em casa. Passava a maior parte do tempo na casa de
amigos, ou vagando pelas ruas da pequena cidade à procura de
emprego, o que não era fácil. Eu já estava aqui há mais de quinze
dias e não encontrei nada. Minha última esperança era a proposta
que Mia disse ter para me fazer, quando me telefonara na noite
passada.
— Bom dia. Desculpem sair assim, mas tenho uma entrevista
de emprego e preciso estar lá bem cedo — falei, voltando rumo à
cozinha.
George estava sentado à cabeceira da mesa, diante de um
prato com panquecas e uma xícara de café, enquanto minha mãe se
encontrava acomodada na lateral, cabisbaixa, com uma caneca à
sua frente, a qual eu podia apostar que estava cheia de uísque.
Ao me ver aproximando, ela ergueu seu olhar muito
brevemente em minha direção, voltando a baixá-lo em seguida.
Sentia-se culpada por trocar a própria filha pelo vício no álcool, mas
não fazia nada para mudar isto.
— Espero que não seja um emprego atrás do balcão de
algum bar. Já basta o que estão falando de você por aí — continuou
ele.
— E o que estão falando de mim?
— Você sabe o que dizem sobre garotas que vão embora
sem nenhum centavo no bolso e depois de três anos voltam como
se estivessem fugindo de alguém.
— Na verdade, eu não sei o que dizem. Mas se você quiser
me explicar, fique à vontade.
— Já chega disso — interveio minha mãe, com sua voz
embolada pela embriaguez, dirigindo sua irritação a mim, como se
eu fosse a responsável pela discussão. — Vá logo para a sua
entrevista, antes que coloquem outra pessoa no lugar. Você sabe
como são as coisas por aqui.
Engoli em seco, reprimindo as lágrimas que ameaçaram
brotar dos meus olhos, por ela sequer me oferecer o café da manhã,
como faria qualquer outra mãe.
— Já estou indo. Com licença.
Deixei a casa e saí pelas ruas usando o único meio de
transporte do qual dispunha: minhas próprias pernas. Felizmente,
Trinidad era pequenina, de modo que se podia percorrê-la de ponta
a ponta em questão de poucas horas. O café onde Mia marcara
comigo ficava a duas quadras dali e logo o alcancei. Ao entrar, só
consegui reconhecê-la porque ela levantou-se da mesa onde se
encontrava sentada, aos fundos, e acenou para mim com uma mão.
— Nossa! Você está diferente — falei, aproximando-me dela.
E estava mesmo. No colégio ela era muito desengonçada,
masculinizada, com seu rosto cheio de acne, não sabia se vestir,
nem andar, ou falar como uma garota. Continuava se parecendo
com um homem, só que agora estava muito mais elegante, usando
um terninho cinza, que de longe se percebia o quanto era caro e
com a pele muito bem-cuidada, o rosto impecável emoldurado pelos
cabelos escuros, bem curtinhos.
— E você continua igual. Sente-se.
Acomodei-me na cadeira diante dela, meu estômago
roncando de fome com o cheiro que partia do bacon em seu prato,
sem que eu tivesse um centavo para comprar comida.
— O que tem feito da vida? — indaguei.
— Eu fui para a faculdade, me formei em Administração e
hoje trabalho em um dos maiores conglomerados de empresas de
construções do país. Moro em Nova Iorque, só estou aqui para
visitar minha mãe doente. E você, o que tem feito?
Nem tive coragem de descrever minha vida fracassada,
diante da narrativa dela. Naquele instante, cheguei à conclusão de
que popularidade no colégio não significava nada durante a vida
adulta.
— Não tenho feito nada de interessante.
— Fiquei sabendo que voltou recentemente de Houston e
está procurando emprego.
— É verdade.
— E o que te fez abandonar uma cidade cheia de
oportunidades para voltar para esse fim de mundo? Andou
aprontando por lá?
Subitamente, fiquei tensa, tomada pela sensação de que ela
sabia o que havia acontecido comigo em Houston. Agindo por
impulso, percorri os olhos ao redor, à procura de alguém que
pudesse estar aqui para me apanhar. Porém, graças aos céus, as
pessoas no café eram todas conhecidas, antigos moradores da
cidade. Não havia nada de anormal, nem alguém diferente entre
elas, uma constatação que me fez voltar a relaxar.
— Nada demais. As coisas só não estavam dando certo por
lá. E então, por que me chamou aqui?
Por um breve instante, vislumbrei a postura de mulher
poderosa e autoconfiante de Mia ruir, dando lugar à garota insegura
do passado. Só que logo ela se recompôs.
— Bem, eu já consegui quase tudo o que queria na vida. Já
me formei, sou secretária de um dos engenheiros mais brilhantes do
país, moro em um bom apartamento e agora sinto que chegou a
hora de me tornar mãe. Mas infelizmente não posso engravidar. O
Criador esqueceu de colocar meus ovários no lugar certo quando
estava me criando e é por isso que você está aqui. — Continuei
olhando para ela em silêncio, sem conseguir entender — Quero que
você alugue-me sua barriga para uma gravidez. Pretendo pagar
muito bem.
Minha primeira reação foi recusar. Onde já viu ficar grávida
sem ao menos ter tido uma vida sexual? Contudo, suas últimas
palavras se repetiram na minha cabeça e eu estava precisando
desesperadamente de dinheiro, não apenas para poder sair da casa
da minha mãe, mas para encontrar um lugar longe do Texas onde
me esconder.
— Paga exatamente quanto?
— Quinhentos mil dólares.
Quase tive um ataque cardíaco. Quem diabos pagaria meio
milhão de dólares para se tornar mãe?
— Eu topo — falei, pensando no quanto aquele dinheiro
resolveria a minha vida. — Onde fica o banco de esperma?
— Calma. Não é bem assim. — Ela ingeriu um gole do seu
café. — Não iremos a um banco de esperma. Você engravidará do
meu chefe. Quero que meu filho tenha o DNA dele.
Demorei um segundo para absorver o que ela dizia, tamanho
era o absurdo da coisa.
— Você tá me dizendo que quer que eu transe com o seu
chefe?
— Não fale como se isso fosse um bicho de sete cabeças.
Ele é lindo, educado e muito gentil. Além disso, a gravidez pode
acontecer logo na primeira vez. Basta regularmos seu ciclo.
— E por que o filho tem que ser desse cara? No banco de
esperma é muito mais fácil.
— Primeiro, porque não quero correr o risco do meu filho ter
uns quarenta irmãos, como aconteceu com as pacientes do Dr.
Donald Cline. Segundo, porque meu chefe é o homem mais
inteligente, brilhante, bonito e educado que eu conheço. Qualquer
mulher ia querer ter um filho dele.
Ela falava do seu chefe com o deslumbramento de uma
mulher apaixonada.
— Você está apaixonada por ele?
— Claro que não. Eu sou homossexual. Ainda não percebeu
isso?
— Eu desconfiei. Mas não tinha certeza.
— E então, temos um acordo?
Eram incontáveis as formas como esse plano tinha de dar
errado, contudo, eu só conseguia pensar em ter que transar com um
desconhecido, ainda mais por dinheiro, como uma prostituta. Apesar
de que era muito dinheiro.
— E como você vai saber que ele é fértil e que eu não sou
estéril? E se ele não me quiser? E se a namorada, ou esposa, dele
descobrir? E se...
— Ei, para com isso. É claro que vocês dois são férteis. E ele
não é casado e nem tem namorada. E é óbvio que ele vai te querer.
Você é linda. Sempre foi. Basta que eu te coloque para trabalhar na
empresa, como assistente dele. Você o seduzirá muito facilmente.
— E se depois que a criança nascer eu preferir ficar com a
pensão milionária dele, ao invés dos seus quinhentos mil? Você não
pensou nisso?
Mia sorriu com o canto da boca.
— Isso não tem a mínima possibilidade de acontecer.
Primeiro porque te conheço desde que éramos crianças e sei que
você seria incapaz de algo assim. Depois, porque meu chefe é
controlador o bastante para preferir ficar com a guarda da criança a
pagar para vê-la de vez em quando. Portanto, você sairia sem
nenhum centavo.
Ela levou uma garfada de bacon à boca e meu estômago
roncou de fome, minha boca encheu de água. Pensei seriamente
em recusar aquela loucura, mas se o fizesse, para onde eu iria?
Que outra chance eu teria de sair da casa da minha mãe e de
Trinidad antes de ser expulsa, ou talvez violentada? Eu não tinha
saída. Mia era minha melhor chance.
— Você escolheu ter um filho do seu chefe porque quer que
seu filho tenha o DNA dele, mas se esquece de que terá meu DNA
também. E olha só para mim, sou apenas uma fracassada.
Seus olhos escuros revelaram surpresa.
— Na verdade, eu sempre admirei o traquejo social que você
tem. Além disso, te acho uma pessoa muito serena, por ter
concordado em sair da casa que seu pai construiu, por causa de
dois bêbados. O mundo precisa de mais pessoas assim.
Não me surpreendia que ela soubesse tanto sobre a minha
vida, mesmo tendo ido embora de Trinidad muito antes de mim. Aqui
era assim, todo mundo sabia da vida de todo mundo.
— Você tem uma foto desse seu chefe aí?
— Claro.
Ela sacou um celular de última geração da bolsa de grife,
manuseou-o e exibiu-me a imagem na tela, com uma fotografia do
seu chefe. Era um homem mais velho, com quase quarenta anos,
embora demonstrasse ter a energia e o porte atlético de um jovem
jogador de futebol americano. Estava usando terno e gravata,
saindo de um carro, aparentemente sem perceber que era
fotografado. Não era nada feio, mas tinha a carranca de uma
pessoa insuportável.
— Ele não é feio. Mas será que vai querer alguma coisa
comigo?
— Não estamos falando de casamento aqui. Apenas de sexo
e os homens sempre querem sexo. Além disso, você é o tipo dele.
— As outras namoradas dele se parecem comigo?
Ela ficou pensativa.
— Para falar a verdade, ainda não o vi pessoalmente com
uma namorada.
— E se ele for gay?
Ela riu alto.
— Tenho certeza que não. Sou secretária dele, lembra? E
então, você quer um tempo para pensar? Só lembrando que voltarei
para Nova Iorque amanhã.
— E eu iria com você?
— Claro. Ficará um tempo no meu apartamento, até
arranjarmos um lugar pra você. Se quiser pensar, eu espero.
— Não preciso pensar. Eu aceito. Por onde começamos?
Ela sorriu, vitoriosa.
— Pelos exames médicos. Preciso saber se você é tão
saudável quanto parece.
CAPÍTULO 2
Um mês depois...
Serenity
— Tem certeza de que esse vestido não está muito apertado?
Estou parecendo uma stripper e não uma assistente executiva —
resmunguei, olhando para a roupa em meu corpo, no espelho à
minha frente.
Já fazia um mês que eu vim para Houston com Mia. Foi um
dos meses mais esquisitos da minha vida, durante o qual Mia me
fez assinar um contrato gigantesco, alugando minha barriga para
gerar seu filho, cujas cláusulas me proibiam até de olhar para o
rosto daquela criança, depois que ela nascesse, caso ela nascesse,
que dirá cogitar ficar com ela. Outra cláusula me proibia de contar
ao seu chefe sobre a gravidez. Nesse caso, além de ficar sem os
quinhentos mil, eu ainda teria que indenizá-la.
Além disso, fiz inúmeros exames médicos; aulas de etiqueta;
um cursinho básico de informática e compras, muitas compras. Tudo
para me infiltrar como assistente estagiária na empresa em que ela
trabalhava e conseguir atrair o interesse do Sr. Dempsey. Após
distinguirmos a data exata do meu ciclo e concluirmos que eu
entraria em período fértil dali a cinco dias, decidimos que esse seria
o momento certo de agirmos e hoje seria meu primeiro dia
trabalhando na empresa, de modo que eu estava uma pilha de
nervos, anotando mentalmente todas as formas como aquilo poderia
dar errado.
— O vestido está perfeito. Chique e sexy na medida certa.
Até porque o único objetivo da sua presença na Giant Power
Corporation será seduzir aquele homem. Nada mais e nada menos.
Eu não sabia o que uma mulher que só seduzia outras
mulheres entendia de homens, mas o vestido não estava bom. Era
bonito, de grife cara, mas estava tão colado, que por pouco não
evidenciava meu monte de Vênus e mal me permitia respirar. Era
feito de tecido grosso, com decote em meia-taça, alças finas, um
cinto que servia apenas para enfeitar a cintura. A saia se estendia
até os joelhos, sem abertura, apertada a ponto de quase me impedir
de caminhar.
— Está muito desconfortável e inapropriado.
— Um pouco de desconforto às vezes é necessário, os
homens adoram. Pode ter certeza de que o Sr. Dempsey não vai
conseguir desviar os olhos de você. Nem eu estou conseguindo e
olha que você não é o meu tipo.
— Espero que você esteja certa e esse sufoco todo valha a
pena.
— Vai valer. Além do mais, se nada der certo, pelo menos
teremos tentado.
Esse era o lema dela. Se tudo desse errado, eu receberia
apenas dez mil, pela tentativa. Embora eu preferisse receber os
quinhentos mil e lutaria por isto, com os dez mil já estaria no lucro,
pois o que mais importava nesse momento era a oportunidade de
ter um lugar para ficar, bem longe de Houston e de Trinidad.
Deixamos o edifício onde ficava o apartamento de Mia, em
Astoria, e partimos em seu carro rumo à Midtown. Apesar de ter
nascido no seio da família mais rica de Trinidad, Mia levava uma
vida relativamente modesta em Nova Iorque, talvez por fazer
questão de se sustentar com seu próprio salário de secretária, ao
invés de com o dinheiro dos pais. Morava em um apartamento de
classe média, com dois quartos, num dos quais eu estava
hospedada e dirigia um carro antigo, embora fosse um conversível.
Certamente os quinhentos mil que me pagaria para transar e
engravidar do seu chefe faziam parte de alguma herança que
recebera.
O edifício no qual entramos era um dos maiores e mais
luxuosos de Manhattan. Com toda a fachada em vidro escuro, tinha
uma discreta logo prateada ao lado da entrada.
Enquanto pegávamos um elevador e subíamos, eu mal
conseguia respirar, por causa do vestido apertado demais. Fomos
direto para o último andar, onde ficava o escritório do poderoso
CEO. Na antessala, havia uma recepção, com um balcão, atrás do
qual eu ficaria junto com Mia, auxiliando-a com o que ela
precisasse. Segundo ela, eu seria uma espécie de faz-tudo ali.
Atuaria desde atendendo o telefone, até servindo o café ao Sr.
Dempsey, pois assim teria mais oportunidades de ficar a sós com
ele.
Eu estava ansiosa para conhecê-lo, saber como ele era
pessoalmente e me certificar de que conseguiria fazer aquilo. Na
verdade, eu só precisava me certificar do quanto aquilo seria difícil,
afinal não tinha a opção de sair dali correndo, caso não fosse com a
cara do sujeito. Se o fizesse, com certeza viraria uma moradora de
rua.
Tanto a copa, quanto a máquina de xerox, ficavam cinco
andares abaixo, onde Mia me mandava ir a todo momento, pegar
café e tirar cópias de documentos. Era lá que eu estava quando o
futuro objeto do meu assédio chegou ao seu local de trabalho e
acabei não o vendo passar pela recepção. De acordo com Mia, eu
seria apresentada a ele, assim que ele tivesse um tempo livre para
nos receber em sua sala. Só que esse tempo nunca chegava. O dia
se arrastava com lentidão e o Sr. Dempsey nunca desocupava.
Estava sempre participando de alguma reunião, ou concentrado em
algo mais importante que conhecer a nova estagiária. Enquanto
isso, eu me deslocava entre décimo-quinto e o vigésimo andar, a
todo momento, os saltos das sandálias causando dores nas minhas
panturrilhas, o vestido a ponto de me sufocar.
Em uma das minhas jornadas até a máquina de xerox,
aproveitei um instante de distração de Mia e consegui dar uma
escapada. Ao invés de descer para a rua, subi para o terraço,
porque ficava mais perto. Foi maravilhoso ser recebida pelo ar puro
e pelo calor reconfortante do sol, depois de passar horas a fio no ar-
condicionado. Estávamos em pleno verão e o calor gostoso era
amenizado pelo vento brando que soprava. Uma delícia!
Fiquei surpresa ao perceber que o terraço era completamente
abandonado, sem nenhuma planta e nenhum lugar para se sentar.
Havia apenas alguns restos de materiais de construções largados
em um canto e uma pilha de caixotes em outro, como se o local
tivesse sido esquecido e nem mesmo o pessoal da limpeza pisasse
ali.
Sentindo-me à vontade, pela primeira vez desde que levantei
da cama pela manhã, me livrei das sandálias desconfortáveis, abri o
zíper na lateral do vestido e o tirei pelos pés, ficando apenas com a
calcinha e o sutiã e conseguindo respirar regularmente pela primeira
vez desde que o vesti.
Fechei os olhos e aspirei o ar quente, lenta e profundamente,
respirando fundo e ao mesmo tempo apreciando o calor do sol
banhando minha pele. Isso sim era vida e não ficar trancada
naquele prédio, respirando o ar filtrado pelos refrigeradores.
O extenso tapete formado pelos milhares de edifícios de
Manhattan, seguido pela vista distante da baía e da ponte do
Brooklyn, compunham a bela paisagem que se estendia diante de
mim, proporcionando-me uma vista impressionante. Se eu fosse o
Sr. Dempsey, já teria construído uma área recreativa ali, para
descanso dos funcionários no horário do almoço. Mas ele não
parecia muito preocupado com o bem-estar dos seus empregados.
Pelo que pude perceber, fazia com que todos passassem o dia
correndo e trabalhando como robôs.
A fim de apreciar a vista mais de perto, formei uma pilha de
caixotes diante da amurada de vidro transparente, mais alta que
meus um metro e sessenta e quando subi nela tive uma visão mais
clara da rua movimentada lá embaixo. Por um instante me perguntei
se as pessoas nos outros edifícios não podiam me enxergar.
Provavelmente sim e embora eu estivesse usando apenas minhas
roupas íntimas não me importei muito com isto, afinal não estava
muito diferente de como as pessoas se vestiam nas piscinas e
praias.
Fazia algum tempo que eu estava me refestelando com o
calor do sol, de pé sobre a pilha de caixotes, recostada à amurada
de blindex, observando a magnitude da paisagem à minha frente,
imaginando o quanto gostaria de conhecer tudo aquilo mais perto,
quando a voz estrondosa, ríspida e masculina partiu de trás de mim.
— Não faça isso! — gritou alguém, muito perto de mim.
Levei um susto tão grande — não apenas pela rispidez da
voz, mas por ter sido flagrada naquela situação —, que acabei
perdendo o equilíbrio e logo a pilha de caixotes estava
desmoronando debaixo dos meus pés, fazendo com que eu caísse
desastrosamente para trás, sem conseguir me segurar na amurada,
meus braços balançando em círculos, como se, inconscientemente,
eu tentasse voar. Até que percebi que não havia como evitar me
estabacar no chão, então apenas fechei os meus olhos e esperei
pelo baque da queda.
Mas minhas costas não se chocaram contra o chão como eu
esperava. Caí de forma desastrosa e desordenada em cima de
alguém, com quem saí rolando pelo chão até que paramos em uma
posição bastante constrangedora, comigo em cima dele, de frente,
nossos rostos muito próximos.
Eu ia abrir a boca para me desculpar com o homem que
havia me amparado, mas minha voz pareceu se perder em algum
ponto entre meu cérebro e minha boca, quando me deparei com o
par de olhos verdes perolados, estranhamente agressivos, presos a
um rosto perfeito, de pele morena, com o queixo másculo
emoldurado pela barba curta e escura.
— Você está bem? — indagou o homem, seu hálito morno,
com cheiro de menta, batendo em meu rosto, meus olhos sendo
atraídos pelo movimento do seu pomo-de-adão ao falar, abaixo do
qual estava o nó impecável da gravata escura fazendo contraste
com a camisa branca.
— Sim — sussurrei.
Já era para eu ter saído de cima dele, mas meus membros
não obedeciam mais às ordens da minha mente, como se eu
estivesse presa a alguma espécie de transe.
— Quem é você? — perguntou ele, também sem dar sinal de
nos levantar do chão.
— Serenity, a nova funcionária.
Percebi a mudança em sua fisionomia, passando de
relaxada, para completamente tensa, ao passo em que os músculos
do seu corpo se enrijeciam.
— Funcionária? — repetiu ele.
— Sim. Comecei hoje.
Como se de repente cinco orelhas de duendes tivessem
surgido na minha cabeça, tornando-me uma criatura abominável e
assustadora, ele segurou dos dois lados da minha cintura e me tirou
de cima dele, deixando-me no chão e levantando-se com rapidez.
Apressei-me em me colocar de pé também e apenas quando
o fiz olhei mais atentamente para o homem e logo o reconheci das
fotografias que Mia me mostrara. Era o Sr. Dempsey, em carne e
osso, o homem a quem eu deveria seduzir e não cair
desastrosamente sobre ele.
Lembrei-me de que estava seminua, pegando sol durante o
horário de trabalho e procurei um buraco onde me esconder e nunca
mais sair, mas não encontrei nenhum.
— Detestou tanto o primeiro dia de trabalho que resolveu
cometer suicídio pulando do terraço? — Apesar do teor das suas
palavras, seu tom de voz era ríspido e autoritário.
— Não... quer dizer... não senhor. Você é o Sr. Dempsey, não
é?
Sua fisionomia endureceu ainda mais, como se eu o tivesse
ofendido profundamente, enquanto eu só conseguia desejar que um
buraco se abrisse sob meus pés e me engolisse.
— O que diabos você está fazendo aqui?! — vociferou ele,
curto e grosso, seus olhos descendo pelo meu corpo seminu.
Droga! Mia ia me matar quando soubesse que eu estava
estragando tudo.
— Não é o que parece. Eu não estava matando hora de
trabalho. Quer dizer... na verdade estava, mas não de propósito. —
Eu não sabia o que dizer, tentava pensar em alguma mentira que
evitasse que ele me demitisse, mas nada vinha à minha cabeça,
então decidi apenas falar a verdade; — Me perdoe, senhor. É que
escolhi um vestido muito desconfortável para o meu primeiro dia de
trabalho, então vim até aqui respirar um pouco. Não foi a minha
intenção causar qualquer desconforto.
Ele observou-me durante um momento de silêncio, com
aquela expressão raivosa em seu olhar. Olhou para o vestido
pendurado na ponta do cabo de um rodo, depois novamente para o
meu rosto, como se estivesse apenas escolhendo as palavras
certas para me demitir.
— Que cargo você está ocupando aqui?
— Sou a nova estagiária. Amiga de Mia. Ela me apresentaria
ao senhor ainda hoje.
— Apenas porque é amiga da minha secretária e tenho muito
apreço por ela, não a demitirei. Mas espero que esse tipo de coisa
não se repita. Os funcionários são pagos para trabalhar e não
ficarem no terraço pegando sol. Para isso servem as férias e os
finais de semana. — Seu tom de voz era tão áspero e autoritário,
que desviei meu olhar para o chão.
Se de uma coisa eu tive certeza, nesse instante, foi de que
não seria fácil seduzir esse homem. Talvez até impossível. Ele
parecia um déspota, arrogante e insuportável. Além disso, mesmo
eu estando quase nua, não olhou com malícia para o meu corpo
nenhuma só vez, como qualquer outro homem faria. Ou não tinha
ido nem um pouco com a minha cara, ou minha presença no terraço
o deixara mesmo muito furioso.
— Obrigada por não me demitir. Dou minha palavra de que
não acontecerá de novo.
— Assim espero. Agora saia daqui. Preciso ficar sozinho.
Um milhão de indagações bombardearam minha mente,
sobre o que ele queria fazer sozinho em um terraço abandonado.
Mas isso não era da minha conta. Então apenas recolhi meu vestido
e as sandálias, pedi licença educadamente e saí do terraço. Parei
na escada para me vestir e calçar e voltei para a recepção como se
nada tivesse acontecido. Se Dempsey não contasse à Mia sobre o
incidente no terraço, eu que não contaria.
— Onde você estava esse tempo todo? — indagou Mia, tão
entretida com uma pilha de documentos à sua frente, que não
percebeu a direção da qual eu vinha.
— No banheiro. Acho que a pizza de ontem não me fez muito
bem.
— O Sr. Dempsey interfonou. Disse que vai dar alguns
telefonemas e depois posso levá-la para conhecê-lo.
Senti o sangue fugir da minha face.
— Que hora ele interfonou?
— Há cerca de meia hora. — Soltei o ar que prendia em
meus pulmões. Se ele interfonara antes de me flagrar no terraço,
talvez nem tudo estivesse perdido. — Esteja pronta. Abasteça uma
bandeja com café puro e alguns petiscos de camarão. Do jeito que
ele gosta. Isso vai causar uma boa impressão.
— Certo.
Ela não sabia, mas a impressão daquele homem sobre minha
pessoa já estava muito bem formada. Eu só esperava conseguir
desfazê-la e recomeçar do zero com ele.
Mais do que apressada, fui até a copa e preparei uma
bandeja do jeito como Mia me instruíra. Indo um pouco mais além, a
enfeitei com um girassol que encontrei por lá e acrescentei um bule
com leite, para o caso de ele querer variar.
Fiquei trêmula dos pés à cabeça, quando voltei ao último
andar e Mia me informou que havia chegado a hora de conhecer o
poderoso Sr. Dempsey. O que me restava agora era torcer para que
ele não mencionasse o acontecimento do terraço, ou sequer se
lembrasse dele.
Mia entrou na frente, enquanto eu a seguia, levando a
bandeja, a xícara tilintando no pires, por causa dos meus tremores
de nervosismo. A sala de Dempsey era a maior de todas no edifício.
Tinha paredes cor de gelo, desprovidas de qualquer obra de arte,
carpete cinza impecável, um jogo de estofados de couro ao centro,
algumas estantes em uma das paredes e a mesa retangular com
tampo de vidro ao fundo, atrás da qual Dempsey estava sentado,
com a paisagem de Nova Iorque evidente no vidro transparente da
parede às suas costas.
Assim que entrei no seu campo de visão, ele cravou aquele
olhar agressivo em meu rosto, passando-me a impressão de que me
escorraçaria dali a qualquer momento, o que me fez tremer com
ainda mais descontrole.
Por que Mia queria ter um filho com um homem tão sério e
intimidador? No banco de esperma devia haver o sêmen de alguém
mais simpático!
— Com licença, senhor. Essa é a estagiária de quem lhe
falei. Serenity Henderson. Serenity, esse é o Sr. Dempsey.
Antes de dar um passo à frente, estiquei meus lábios no
sorriso mais largo que consegui esboçar. Me esforcei para controlar
o nervosismo, mas foi em vão. Ao aproximar-me um pouco mais
daquele homem, o olhar dele desceu pelo meu corpo, examinando o
meu vestido colado demais e, pela cara de poucos amigos, o
reprovando. Foi então que os tremores em minhas pernas se
intensificaram e o pior aconteceu. Antes mesmo que eu tivesse
tempo de abrir a boca para dizer alguma coisa, os saltos das minhas
sandálias se enroscaram no carpete, minhas pernas se embolaram
uma na outra e desabei para a frente, caindo como um cacho de
bananas maduro, a bandeja indo junto comigo, se espatifando sobre
a mesa, o café e os petiscos voando para todos os lados, inclusive
sobre o Sr. Dempsey, que levantou-se com um sobressalto.
— Onde diabos você arranjou essa estagiária?! — gritou ele.
— Senhor, foi apenas um acidente — disse Mia, tentando me
ajudar a levantar, enquanto eu continuava debruçada sobre a mesa,
mortificada.
Naquele instante, consegui me ver claramente morando sob
um dos viadutos do Central Park, passando frio e fome, tendo que
me esconder dos outros moradores de rua e das pessoas que me
procuravam.
— Essa garota pode acabar matando alguém!
— Por favor, Serenity, levante-se daí — disse Mia e por fim
me levantei.
Quando consegui me recompor e olhar novamente no rosto
do Sr. Dempsey, cheguei a dar um passo para trás, assustada,
tamanha era a intensidade da raiva com que ele me fuzilava, como
se quisesse me incendiar viva.
— Está demitida! Pegue suas coisas e suma da minha frente!
A imagem de mim mesma, cozinhando em uma fogueira feita
na rua, morando embaixo do viaduto, se tornou ainda mais nítida na
minha cabeça.
Quando fui para Houston, depois da morte do meu pai, eu
tinha algum dinheiro guardado para me manter na cidade até
conseguir um emprego. Só que desta vez eu não tinha nada. Se
perdesse aquela oportunidade, me tornaria uma moradora de rua e
dificilmente conseguiria arranjar um emprego assim.
— Por favor, senhor, não faça isso. Foi só um descuido
infeliz. Prometo que não acontecerá de novo.
Ele deslocou seu olhar para a Mia.
— Tire logo ela daqui.
Agindo por impulso, ou por puro desespero, caí ajoelhada
diante dele, a mesa com tampo de vidro entre nós.
— Por favor, senhor, eu preciso desse emprego. Me dê uma
segunda chance e garanto que será diferente.
Nesse instante, a fisionomia dele mudou, expressando uma
gravidade, uma intensidade, que não consegui compreender. Não
sei se foi impressão minha, ou se sua mão estremeceu, ao me ver
ali ajoelhada, implorando. Minha única certeza era de que ele me
olhava de um jeito muito estranho e incompreensível.
— Apenas saia daqui. Agora mesmo! — vociferou, com seus
dentes trincados, virando-se em seguida para a direção da parede
de vidro, como se evitasse me observar.
Mia ajudou-me a ficar de pé e ambas deixamos a sala dele.
De volta à recepção, minha vontade foi de cair sentada na cadeira e
me derramar em lágrimas. Aquela era a melhor oportunidade que eu
já tive de mudar a minha vida, de uma vez por todas e eu havia
estragado tudo. Como pude ter sido tão descuidada?
— Desculpe ter estragado tudo — praticamente gemi as
palavras.
— Não vamos nos desesperar. Nem tudo está perdido.
— Claro que está. Ele me odeia.
— Odeia nada. Quando ele se acalmar, vou lá conversar com
ele. O Sr. Dempsey é explosivo, mas tem um coração muito bom.
Vai voltar atrás sobre a sua demissão.
— Pois a impressão que eu tive, foi de que nem mesmo tem
um coração.
— Você está enganada. Por trás daquela casca grossa,
existe um coração gentil e bondoso. Ele vai desistir de te mandar
embora. Confie em mim.
Felizmente ela não estava zangada comigo, o que me
alentava um pouco. Pelo menos não até que o Sr. Dempsey
contasse-lhe sobre o que houve no terraço. Depois disso, ela
mesma ia querer me demitir.
CAPÍTULO 3
Kael
Kael
Serenity
Acordei com o toque estridente do despertador, mas não me
levantei da cama de imediato, protelando a hora de sair. Me sentia
derrotada e desanimada, como em tantas outras ocasiões da minha
vida. Eu ainda não havia dito nada a Mia, mas o Sr. Dempsey me
odiava e nem fazia questão de esconder isso. Como diabos eu ia
seduzir e engravidar de um homem que sequer suportava olhar na
minha cara? A antipatia dele por mim fora imediata e não tinha
limites. Ele começara a me detestar no instante em que caí em cima
dele naquele terraço e isso jamais teria conserto, o que ficara bem
claro ontem, quando segurei sua mão e a coloquei sobre meu peito,
chegando a um ponto muito baixo da minha vida, que era me
oferecer escandalosamente a um homem e, o que era pior, ser
rejeitada por ele.
Será que o Sr. Dempsey era gay? Definitivamente não. Eu já
teria percebido. O problema dele era uma estranha aversão por
mim. Pior que isso, ele me odiava. A forma hostil como me tratava, o
jeito agressivo como me observara durante toda a reunião, deixara
isso mais do que claro.
Minha vontade era de desistir de tudo. Mas se desistisse, o
que ia fazer da minha vida, se não tinha nenhum lugar para ir? Nem
mesmo o salário desse novo trabalho eu tinha recebido ainda.
Estava sem um centavo no bolso. Se pulasse fora agora, não teria
outra saída, a não ser morar embaixo de um viaduto.
Atraída pelo cheiro de café, levantei-me, usei o banheiro e fui
direto para a cozinha. Fiquei surpresa ao encontrar Mia ao pé da
bancada, cozinhando, ou pelo menos tentando. A bagunça de ovos,
farinha de trigo e outros ingredientes espalhados por todos os lados,
me dizia que não sairia muita coisa dali.
— Bom dia — cumprimentei-a, desalentada.
— Bom dia.
Fui até a jarra e me servi de uma xícara de café puro e sem
açúcar, sentando-me diante de Mia, do outro lado da bancada.
— O que você está fazendo aí? — indaguei, tentando
esconder meu desânimo.
— Panquecas. Isso não é maravilhoso? — Ela parecia mais
animada do que eu já tinha visto na vida.
— O que é maravilhoso, as panquecas?
— Não. A oportunidade de cozinhar. Sempre quis usar essa
cozinha, mas nunca tive tempo. Agora eu tenho e graças a você.
— Cuidado pro poderoso chefão não aparecer aqui de
repente e descobrir que de doente você não tem nada.
Ela havia comprado um falso atestado médico, onde dizia
que estava com intoxicação alimentar, com o objetivo de que eu
ficasse no seu lugar na empresa e tivesse a oportunidade de dar em
cima do nosso chefe. Nem passava pela sua cabeça o quanto ele
me abominava.
— O Sr. Dempsey nunca vem aqui. — Sua fisionomia
assumiu um ar sonhador. — Não vejo a hora de ensinar minha filha
a cozinhar, de fazer coisas junto com ela. Prefiro que seja menina,
mas se vier menino também será muito amado.
Minha nossa! Como ela era otimista!
— Esses dias eu estava pesquisando na internet sobre um
banco de esperma e descobri que eles escolhiam professores
universitários superinteligentes para serem os doadores. Já
imaginou sua filha sendo um gênio?
— Não existe homem mais inteligente que o Sr. Dempsey.
Bebi um grande gole do meu café, buscando coragem para
falar: — Tem certeza de que não pode ser outra pessoa? Acho que
o Sr. Dempsey não vai muito com a minha cara. Vai ser difícil
conseguir alguma coisa com esse homem.
Ela examinou a receita das panquecas em um livro e jogou
alguns ovos no liquidificador, parecendo muito sem jeito para a
coisa.
— Tem que ser ele. Não existe isso de ir com a cara. Os
homens transam por instinto, nem olham direto para a cara da
mulher quando ela está a fim. Deixa ele de pau duro e o resto
acontecerá naturalmente.
Não tive coragem de contar a ela que coloquei a mão dele
sobre meu seio ontem e o pau dele nem deu sinal de vida.
— E como vou deixar ele de pau duro?
— Sei lá. Você é a heterossexual aqui. Deve ter experiência
com essas coisas. — Ela nem imaginava que minha experiência
com o sexo era exclusivamente teórica, isso porque eu vinha
pesquisando sobre o assunto ultimamente, em livros, revistas e até
filmes pornôs, havia aprendido muito, faltava a oportunidade de
colocar meus conhecimentos em prática. — Já sei. Vai trabalhar
sem calcinha e sutiã hoje e, quando estiver na sala dele, tira o
vestido. Eu duvido que ele consiga se segurar vendo você nuazinha
na frente dele.
— E se entrar alguém na sala?
— Ninguém entra naquela sala sem ser anunciado. Agora vá
se arrumar e depois venha comer as panquecas, ou vai acabar
chegando atrasada. Escolha um vestido bem sexy.
Tentando fazer com que pelo menos um terço do otimismo
dela me contagiasse, escolhi o vestido mais escandaloso do closet,
entre os tantos que compramos no dia em que fomos ao shopping,
logo após chegarmos em Nova Iorque. Era de costas nuas, com um
profundo decote, alças finas, colado na cintura e com uma saia curta
levemente esvoaçante. Com certeza, não era uma roupa adequada
para uma secretária executiva, mas meu objetivo na empresa não
era exatamente secretariar. Embora não fosse possível usar sutiã,
com uma roupa daquelas, não me abstive da calcinha, como Mia
sugerira, pois se ficasse nua, do nada, na frente do Sr. Dempsey,
com certeza ele me demitiria sem pensar duas vezes. Além do mais,
se não conseguisse despertar o interesse dele com aquele vestido,
era porque jamais despertaria.
Fiquei empolgada quando ela me deixou usar o seu carro
para ir ao trabalho. Era a primeira vez que eu dirigia pelas ruas de
Nova Iorque e, como o dia estava quente, acabei abrindo a capota
do conversível, permitindo que o vento esvoaçasse meus cabelos
soltos, enquanto eu era alvo de vários assovios e buzinadas
partidas dos demais motoristas, o que me deixou um pouco mais
esperançosa, afinal, se eles gostavam do que viam, o Sr. Dempsey
também haveria de gostar.
Eu já estava atrás do balcão da recepção, concentrada no
trabalho que Mia passara dias me ensinando, quando meu chefe
passou rumo ao seu escritório, de cara amarrada, sem ao menos
me cumprimentar, o que me deixou ainda mais desestimulada a
continuar com aquele fracassado plano de sedução.
Como ele dissera que eu deveria lembrá-lo dos seus
compromissos pelo interfone, foi o que fiz, narrando sua agenda da
manhã dali mesmo de onde estava. Em seguida, enviei vários
documentos importantes por e-mail, esperando ele próprio imprimir,
já que não queria a minha presença na sua sala.
Quinze minutos depois, sua voz autoritária e detestável
ressoou energicamente através do interfone: — Por que diabos
esses documentos não foram impressos?! Você acha que eu tenho
tempo pra isso?!
Que homem arrogante do cacete! Eu nunca ia compreender
por que Mia queria ter um filho de alguém assim, se existiam tantos
outros homens melhores por aí.
— Desculpe, senhor. Eu ia levá-los impressos, mas o senhor
me mandou manter distância, lembra?
Quase pude ouvi-lo soltando um suspiro de resignação do
outro lado da linha.
— Esqueça o que eu disse! Imprima a droga dos documentos
e traga para que eu assine! Agora!
Como eu já havia feito as impressões, prevendo que algo
assim aconteceria, apenas peguei a papelada e me dirigi rumo à
sala dele. Respirei fundo várias vezes antes de entrar, buscando
serenidade em meu interior para enfrentar aquela fera mais uma
vez.
Assim que atravessei a porta, seu olhar mortal recaiu sobre
mim com agressividade, o ódio incompreensível, presentes em sua
expressão, como se ele encarasse seu pior inimigo e não uma
simples secretária.
A intensidade da fúria em seus olhos era tamanha, que me
encolhi como sempre, baixando o olhar para o chão, sentindo-me
amedrontada e intimidada diante de tamanha hostilidade, uma
atitude que eu precisava mudar, ou jamais alcançaria meus
objetivos.
— Bom dia, senhor. Aqui estão os documentos.
Fiz questão de chegar bem perto da mesa e inclinar-me
sobre ela mais que o necessário, com o objetivo de exibir meus
seios cobertos apenas pela metade pelo decote fundo do vestido.
Ele deu uma boa olhada neles, até demorou um instante os
observando, porém, quando voltou a fitar-me no rosto, seus olhos
estavam faiscando de uma raiva que não fazia sentido para mim.
Eu queria acreditar que ele apenas tinha aversão a mulheres
oferecidas, mas era mais que isso. Esse homem me odiava.
— Precisa de mais alguma coisa? — indaguei, perante o seu
silêncio.
Ele desviou sua atenção de mim, como se não suportasse
mais nem me olhar e passou a examinar os documentos.
— O pessoal do marketing passou algum recado essa
manhã? — perguntou ele, com seus dentes cerrados, o semblante
endurecido.
— Não. Nenhum recado.
— Quero que ligue para o chefe de equipe e marque uma
reunião para o fim da tarde.
— Sim, senhor.
— Telefone para o chefe do RH e mande que analise a
documentação de uma nova equipe de operários das obras em
Seattle. Depois, ligue para o piloto do helicóptero e diga que venha
me apanhar na hora do almoço. Vamos ao Maine. Você não está
anotando isso?!
Droga! Eu estava tão concentrada em dar em cima daquele
homem, que acabei esquecendo a primeira coisa que Mia me
mandou jamais esquecer, que era estar sempre com o bloco de
anotações em mãos. Desconcertada, vi alguns lápis e folhas de
papel em branco sobre sua mesa.
— Posso usar isto? — pedi, apontando para os lápis.
Ele soltou um suspiro de consternação, mas assentiu com um
gesto de cabeça.
Novamente, inclinei-me sobre a mesa mais que o necessário
para pegar o lápis e o papel. Depois, fui ainda mais além, fingindo
deixar o lápis cair acidentalmente, para ter a chance de me inclinar e
pegá-lo do chão. Depois que o objeto rolou alguns centímetros
sobre o carpete, abaixei-me para apanhá-lo, não inclinando os
joelhos, como faria qualquer mulher usando um vestido daqueles,
mas dobrando bem as costas e empinando a bunda na direção do
meu chefe, certificando-me de que ele desse uma boa olhada nas
minhas nádegas munidas de um fio dental. Eu não ia ficar nua na
frente dele, como Mia sugerira, mas pretendia dar umas boas
provocadas.
Ao me virar novamente de frente para o Sr. Dempsey, sua
reação não foi exatamente a esperada. Ao invés de se mostrar
minimamente interessado, o homem estava possesso, com seu
olhar ainda mais agressivo, parecendo a ponto de me atacar e
arrancar minha cabeça de cima do meu pescoço.
O que havia de errado com esse sujeito? Qualquer homem
hetero, no lugar dele, teria adorado uma visão daquelas logo cedo
da manhã.
— Recapitulando — comecei, fingindo que ele não me olhava
como se quisesse me estrangular. — Ligar para o chefe do RH, para
a equipe de marketing e pro piloto do helicóptero. Deixei algo de
fora?
Ele observou-me durante um momento de silêncio, com
aquela expressão que assustaria até o Mike Tyson. Depois, falou
com seus dentes trincados: — Era só isso. Pode ir.
— Com licença.
Dei-lhe as costas e segui rumo à porta, sem deixar de rebolar
a bunda dentro da saia curta do vestido.
Voltei a ver o Sr. Dempsey apenas na hora do seu almoço,
quando ele deixou sua sala e passou por mim na recepção, como
sempre sem virar o pescoço para me olhar, ou cumprimentar. Todos
os assuntos que tínhamos a tratar um com o outro, tratávamos pelo
interfone, ou através de trocas de e-mail, o que dificultava cada vez
mais a minha quase impossível missão de engravidar daquele
homem. Contudo, no fim da tarde, ele não teve como escapar de
mim, já que haveria uma reunião com o pessoal do marketing e eu
precisaria participar dela para digitar a ata.
Tentando me mostrar uma funcionária exemplar e não
apenas uma predadora, fui até a copa e preparei um potinho com
petiscos para cada participante da reunião, deixando-os sobre a
mesa, diante da cadeira de cada um, junto com água mineral e
taças. No lugar onde sentaria o Sr. Dempsey, acrescentei um
pequeno bule com café puro, do jeito que ele gostava e xícara.
Em poucos minutos, a sala foi se enchendo, até que estava
abarrotada de gente. Pessoas de diferentes idades e estilos. Como
faziam parte do marketing, a maioria eram pessoas despojadas,
vestidas de forma displicente, diferentes dos executivos que
estavam sempre usando terno e gravata.
— Olá. Sou o Henry — disse o chefe da equipe, empurrando
a cadeira de rodinhas até o lado da mesa secundária atrás da qual
eu me encontrava sentada. Ele estendeu-me sua mão.
— Serenity — falei, apertando a mão dele.
— E a Mia, como está?
Henry tinha cerca de trinta anos e partes de várias tatuagens
escapavam do colarinho e da manga da sua camisa.
— A Mia? Mais ou menos. Ela vomitou muito hoje de manhã.
Está meio fraca por conta disso.
— Coitada. Ela deve ter comido algo muito estragado.
— Sim. Frutos do mar.
— E você?
— O que tem eu?
— É nova na cidade, não é?
— Sim. Estou morando aqui há pouco tempo.
— Tá a fim de sair pra conhecer a nossa cidade mais de
perto? Eu posso te mostrar os melhores lugares.
Caminhar pelas famosas ruas de Nova Iorque e pelo Central
Park era tudo o que queria fazer desde que chegara, mas ainda não
tivera a oportunidade. Talvez aquela fosse a minha chance, inclusive
de dar um tempo de todo esse estresse, que era correr atrás de um
homem que não me queria. Além disso, Henry não era nada
desinteressante, quem sabe eu pudesse adquirir um pouco de
experiência sexual com ele e aplicá-la no meu maior desafio, que
era levar o Sr. Dempsey para a cama.
— Pode ser. Anota aí seu número. Qualquer hora dessas eu
te ligo.
Fiquei constrangida ao entregar-lhe meu celular, um modelo
antigo e barato, que ficava ridículo perto dos aparelhos modernos
que todos eles tinham.
Henry ainda estava anotando o número dele no meu celular,
quando o Sr. Dempsey entrou na sala e todos se silenciaram ao
mesmo tempo, comportando-se como cordeirinhos assustados
diante do predador. Assim que avançou pelo recinto, seus olhos
verdes correram diretamente para mim, depois para Henry e
novamente para mim, então se encheram daquela fúria bestial que
eu já conhecia.
— Será que podemos começar, ou estou atrapalhando
alguma coisa mais importante que o trabalho? — disparou nosso
chefe, com a rispidez de sempre.
Henry devolveu-me meu celular tão apressado que, por
pouco, não o deixou cair no chão. Em seguida, voltou rapidamente
para o seu lugar à mesa, o que me fez lembrar do Sr. Dempsey
dizendo que não permitia envolvimentos entre os funcionários,
embora não fosse segredo para ninguém que alguns deles fossem
namorados e até se pegavam por aí pelas salas vazias.
— Tudo pronto para começarmos, senhor — disse Henry,
muito sério.
O Sr. Dempsey me deu mais uma olhada endiabrada e andou
até o seu lugar na cabeceira da mesa, acomodando-se. Apesar de
insuportável, ele conseguia ser tentadoramente lindo. Emanava uma
energia poderosa, de um ser soberano, com todas aquelas pessoas
o obedecendo e bajulando. E não era apenas isso. Ele era dono de
uma masculinidade bruta, viril, que me intimidava e me deixava
deslumbrada na mesma medida, a tal ponto que, quando dei por
mim, estava observando-o quase sem piscar, registrando cada um
dos seus minúsculos movimentos, percebendo o quanto ele parecia
charmoso fazendo coisas simples como abrir o seu notebook,
manusear o teclado, semicerrar os olhos ao se concentrar em
alguma leitura na tela.
Embora fosse endiabrado e perigoso, ele parecia tão sexy
sentado na cabeceira daquela mesa, com a paisagem de Nova
Iorque às suas costas e seus funcionários esperando pela sua
palavra, que de súbito me flagrei me perguntando como ele seria
por baixo de todas aquelas roupas e enrubesci com o pensamento.
CAPÍTULO 6
Serenity
Como se fosse atraído pelo meu rubor, os olhos raivosos do
Sr. Dempsey repousaram sobre mim, observando-me por um
instante, com o ódio de sempre, então se voltaram para os petiscos
sobre a mesa.
— Quem diabos colocou toda essa comida aqui? Achei que
fosse uma sala de reuniões, mas parece que virou um restaurante!
— vociferou e o rubor em meu rosto se intensificou quando todos na
sala olharam na minha direção ao mesmo tempo.
Puta merda!
— Perdão, senhor, eu só queria fazer algo diferente — falei,
já me levantando para recolher os potes. — Posso tirar tudo isso
daqui em um minuto.
— Eu te ajudo — disse Henry, levantando-se também e
começando a recolher a louça.
— Sentem-se os dois! — Dessa vez, o Sr. Dempsey gritou,
tão ferozmente que levei um susto e Henry voltou a se sentar rápido
como um raio. — Agora é tarde! Mas se vocês dois preferirem,
cancelo a reunião enquanto limpam a mesa. Quem precisa de
salário aqui, não é mesmo?
A sala inteira mergulhou em um silêncio tão profundo, que
praticamente deslizei atrás da minha mesa, evitando emitir qualquer
ruído e sentei-me, morta de vergonha por ele ter me tratado de
forma tão humilhante na frente daquelas pessoas.
— Se já podemos começar, vamos falar sobre o enredo da
última campanha publicitária que vocês fizeram. Que porcaria foi
aquela?! Se eu quisesse campanhas com teor clichê e repetitivo,
contrataria uma agência publicitária e não precisaria manter o
salário de você, que, aliás, não é nada baixo.
O Sr. Dempsey continuou vociferando com a sua equipe
enquanto eu precisava de muita concentração e esforço para
conseguir digitar tudo o que ele dizia, da forma como Mia me
orientara, quando teve a brilhante ideia de me deixar aqui sozinha à
mercê desse tirano.
Durante o decorrer da reunião, constatei que meu chefe não
era grosso apenas comigo, mas com todos os funcionários. Tratou
mal todos eles durante todo o encontro, deixando claro que era
realmente uma pessoa intragável, arrogante e autoritária, de modo
que, quanto mais eu o conhecia, menos entendia a obsessão de Mia
por ter um filho de alguém assim.
Ao final da reunião, me coloquei nos fundos da sala, para
desinstalar o retroprojetor, enquanto os funcionários iam saindo,
cada um levando seu pote com petiscos, a fim de me poupar do
trabalho de retirá-los sozinha. Nenhum deles havia tocado nas
guloseimas, provavelmente com receio de enfurecer ainda mais
aquela fera.
— Não liga pro que ele diz. Ele é assim com todo mundo —
sussurrou Henry, contornando a mesa sem necessidade,
aparentemente com o intuito de passar perto de mim.
— É verdade. Com o tempo você se acostuma — sussurrou
uma das funcionárias, antes de se retirar.
Outros deles acenaram para mim com gestos de cabeça,
oferecendo-me sorrisos amigáveis, provavelmente sentindo piedade
pela forma como fui tratada.
Depois que todos se foram, o Sr. Dempsey continuou sentado
na cabeceira da mesa, analisando alguns papéis. Como estávamos
sozinhos, achei que seria a ocasião certa para me atirar em cima
dele, talvez arrancar o vestido, como Mia sugerira. No entanto,
desisti, pois eu estava sem energia para esse tipo de coisa, depois
de todos os desaforos que ele me dissera. Talvez amanhã eu
acordasse com minhas energias renovadas e disposta a continuar
com aquele jogo de gato e rato, no qual eu era o gato e ele o rato.
No momento, minha vontade era de desistir de tudo.
— O senhor quer editar a ata antes de eu imprimir e levar
para todos assinarem? — indaguei, aproximando-me dele.
— Como Mia a orientou a fazer?
— A enviar por e-mail.
— Então envie.
— Sim, senhor. Com licença.
— Espere.
Ele se levantou e andou dois passos na minha direção,
parecendo muito ameaçador com aquele olhar agressivo e o corpo
grande dentro do terno caro. Devia ter um metro e noventa de altura
e possuía ombros largos como os de um atleta. Se decidisse me
agredir fisicamente, como seu olhar insinuava que faria, cada vez
que ele me observava, eu seria feita em picadinhos com muita
facilidade.
— Esqueci alguma coisa? — indaguei assustada.
— O que você estava conversando com o chefe do
marketing, por acaso estava dando mole para ele também?
Me senti ofendida com sua acusação. Ainda ergui o queixo,
determinada a mandá-lo ir para o inferno por ser tão arrogante, mas
me contive. Primeiro porque precisava muito daqueles quinhentos
mil. Depois porque ele era muito grande e forte e estávamos
sozinhos.
— Nós apenas conversamos.
— E o que ele fazia com o seu celular na mão?
— Ele me deu o número dele, para o caso de eu precisar de
alguém para me levar conhecer a cidade.
Sua fisionomia endureceu ainda mais.
— Como eu disse, não permito namoros entre funcionários!
— E como eu disse, nós apenas conversamos. Não é ele o
homem que quero.
Já que estávamos muito próximos, não custava nada eu fazer
algumas tentativas. Em algum momento, ele teria que ceder. Se não
acontecesse até eu receber meu primeiro salário, estava
determinada a pegar esse dinheiro e tentar recomeçar minha vida
de outra maneira. Mia teria que arranjar outra cobaia para
engravidar daquela fera. Uma garota de programa talvez resolvesse
o problema, com toda a experiência sexual que eu não tinha.
— E quem seria o homem que você quer?
Corajosamente, dei um passo à frente, ficando muito perto
dele. Ergui meu olhar e o fixei nas suas piscinas verdes ferozes.
— O senhor já sabe quem é.
Ele observou-me em silêncio durante um momento em que
meu coração se agitou no peito, em um misto de medo, expectativa
e algo mais que não compreendi.
— Você nunca desiste, não é?
— Não quando quero muito alguém.
Ele fez outro momento de silêncio, enquanto a agitação
crescia em meu íntimo. Até que deu um passo para trás.
— Lamento te desapontar, mas não vai acontecer. Como eu
disse, não me envolvo com funcionárias. Agora volte ao trabalho e
tente vestir algo mais adequado amanhã.
Dito isto, ele deu-me as costas e seguiu rumo à porta que
dava para a sua sala, pisando firme, com passos largos, como se eu
fosse portadora de uma doença altamente contagiosa da qual
precisava fugir.
Dei graças a Deus quando aquele dia terminou e pude voltar
para o apartamento de Mia. Não contei nada a ela sobre os
confrontos que vinham acontecendo entre mim e nosso chefe, pois
precisava que ela continuasse acreditando que eu conseguiria
seduzi-lo em algum momento, pelo menos até eu ter dinheiro para
pagar outro lugar para morar.
***
Serenity
Ao perceber de quem se tratava, meu primeiro impulso foi
sair correndo, tentar fugir, mas Dylan era mais rápido e muito mais
forte. Com facilidade, agarrou-me pelo meio com seus dois braços,
recostou-me a uma grossa pilastra, aprisionando-me com seu corpo
e cobrindo minha boca com uma mão, ao mesmo tempo em que nos
ocultava da direção do elevador, de onde poderia vir o meu socorro.
— Se tentar gritar ou fazer qualquer gracinha, acabo com a
sua vida aqui mesmo — ameaçou ele, com seus olhos escuros e
ferozes fixos em meu rosto.
O pavor que me estraçalhava por dentro era tão intenso que
comecei a me tremer inteira, meu sangue gelava nas veias, com a
perspectiva da morte muito próxima. Inevitavelmente, recordei-me
das últimas palavras que Trisha me dissera, contidas na última
mensagem que me enviara antes de bloquear o meu número,
alertando-me de que eu deveria fugir para o mais longe possível, ou
Dylan me mataria.
Afastando-se alguns centímetros de mim, ele fechou uma de
suas mãos em volta do meu pescoço, fazendo uma leve pressão,
enquanto enfiava a outra no bolso do seu casaco, de onde sacou
uma moderna pistola e apontou-a direto para a minha face, fazendo
com que o pavor se intensificasse em minhas entranhas.
— Se gritar, eu atiro.
Aterrorizada, permaneci em silêncio, com meus olhos fixos no
cano da arma, meu corpo todo trêmulo e gelado, o pânico me
percorrendo.
— Eu vim aqui pra te matar, vagabunda! Mas depois que
descobri que você trabalha em um lugar tão chique e cheio da grana
como esse, acho que você pode me ressarcir do prejuízo que me
deu naquela maldita noite. Nada mais justo, não acha?
— E-eu n-não t-tenho dinheiro. P-por f-favor, m-me deixe em
paz.
— Paz é a última coisa que você vai ter na vida, sua piranha.
Vou fazer com que se arrependa amargamente de ter levado a
polícia para a minha casa. Sabe a quantia que precisei pagar pra
não ser preso? Pois é, você não faz ideia. Mas agora quero esse
dinheiro de volta.
— M-me d-desculpe. E-eu não queria fazer aquilo.
— Queria sim. Mas te garanto que não fará de novo. Vou te
ensinar a respeitar um bandido, porra! Agora abre a boca! — ele
ordenou e eu obedeci.
Tão logo abri os meus lábios, Dylan introduziu o cano gelado
da arma entre eles e o pavor revolveu em minhas entranhas, de tal
maneira que quase desfaleci. Minhas pernas ameaçaram ceder,
meus tremores se intensificaram, minha mente entorpecida pelo
horror trabalhava depressa em busca de uma saída.
— Se quiser continuar vivendo, você terá que devolver o
dinheiro que gastei com a polícia naquela noite, que não foi pouco
— continuou ele. — Vai encontrar o cofre onde guardam o dinheiro
aqui e pegar toda a grana pra mim. Será que fui claro?
Aterrorizada, meneei a cabeça positivamente.
— E nem pense em fugir de mim. Tenho amigos na polícia e
até no FBI. Da mesma forma que te encontrei aqui, posso te
encontrar em qualquer lugar. — Novamente, fiz que sim com a
cabeça. — Você tem três dias pra encontrar o cofre. Se não o fizer,
a coisa vai ficar séria pro seu lado. E me agradeça por estar te
dando essa chance, porque outra pessoa já teria enfiado uma bala
na sua cabeça, como todo X9 merece. — Ele tirou o cano da arma
da minha boca. — Me diz se entendeu tudo o que eu te disse.
— Entendi. Mas não existe cofre com dinheiro aqui. O
dinheiro é todo guardado no banco.
Ele encostou o cano da arma na minha testa e estremeci
violentamente.
— Tá dizendo que não pretende me pagar o que deve, sua
vagabunda?!
— Tem um jeito. Estou numa jogada com uma amiga. Ela vai
me dar quatrocentos mil pra eu engravidar do Sr. Dempsey e dar o
filho a ela. Posso te dar esse dinheiro. Basta você esperar um
pouco.
Naquele instante, eu diria qualquer coisa para me manter
viva.
— Tá tentando me enrolar? Pensa que sou otário?
— Não é nada disso. Realmente ela vai me dar esse dinheiro.
Ele refletiu por um instante.
— Por que diabos alguém pagaria tão caro pra ter um filho?
— Ela o admira muito. Por favor, acredite em mim.
Ele fez outro momento de reflexão.
— Se você está transando com esse cara por dinheiro, vai
fazer isso por mim também. Depois que ficar grávida dele, claro.
Sempre te achei muito gostosinha, mas não sabia que era uma puta
que dá a boceta por grana. — Ele guardou a arma, mas continuou
com a mão em torno da minha garganta. — Vamos fazer assim,
primeiro você procura o cofre, se não encontrar falaremos sobre
esses quatrocentos mil. Não sou um cara que gosta muito de
esperar. Nos vemos daqui a alguns dias e lembre-se: se chamar a
polícia, eu te mato sem nem pestanejar. Fui claro? — Fiz que sim
com a cabeça. — Ótimo.
Dito isto, ele olhou para todos os lados, soltou meu pescoço e
se afastou, desaparecendo em meio à penumbra da garagem, da
mesma forma repentina que surgira.
Sozinha, desmoronei, minhas pernas me abandonaram de
vez, minhas costas deslizaram lentamente de encontro à coluna da
garagem, para baixo, até que eu estava sentada no chão, sem
forças para me levantar, uma torrente de lágrimas banhava meu
rosto com abundância.
Eu chorava pelo medo, pelo susto, mas também pela minha
infinita falta de sorte na vida, por me sentir sozinha a ponto de não
ter ninguém com quem contar nesse momento tão terrível. Ninguém
que se importasse comigo a ponto de me socorrer. Na verdade, a
única pessoa que já se importara comigo um dia fora meu pai, mas
ele não estava mais aqui.
Chorei desenfreadamente durante um longo tempo,
apavorada, sem saber o que fazer da minha vida. Ainda estava
sentada no chão da garagem, em prantos, com a cabeça enterrada
entre os joelhos, sentindo-me desolada e sozinha, quando uma mão
grande se fechou em volta do meu braço e dei um pulo, em pânico,
achando que Dylan tinha voltado. Mas não era ele. Era o Sr.
Dempsey.
— O que está acontecendo aqui? Você está machucada? —
indagou ele, parecendo preocupado.
Não usava o terno formal como todos os dias, mas uma
camisa de seda preta, com as mangas enroladas até os cotovelos e
a barra displicentemente jogada sobre o cós da calça jeans.
— Não. Eu estou bem — falei, permitindo que ele me
puxasse para cima e me colocasse de pé.
— Bem com certeza você não está. Foi um assalto?
Eu podia dizer que sim, apenas para não ter que falar a
verdade. Mas minha bolsa estava no chão, bem ao meu lado.
— Não. Não foi nada. É só que... — Não consegui continuar
falando, um soluço me silenciou.
Respirei fundo, passei o dorso das mãos sobre minha face,
tentando parar de chorar, mas as lágrimas teimavam em continuar
escorrendo.
— Pode me falar. Eu não vou te julgar. — A voz dele era
gentil como eu jamais havia ouvido.
Cogitei contar-lhe a verdade. Mas ia dizer o quê? Que
precisava ficar grávida dele, urgentemente, para ganhar quinhentos
mil e dar quatrocentos a um traficante, em troca da minha vida?
— Não foi nada. É sério. Agora tenho que ir.
Tão logo tentei me abaixar para pegar minha bolsa do chão,
minhas pernas falharam novamente e só não caí porque os braços
dele me ampararam, passando por baixo do meu corpo e erguendo-
me do chão.
— Eu te levo em casa. Você não está em condições de dirigir.
Não tive nem como recusar, pois realmente não teria forças
para dirigir pelas ruas agitadas de Nova Iorque naquele estado.
Então, apenas permiti que ele me carregasse pela garagem,
enquanto eu aninhava meu rosto de encontro ao seu peito largo e
me acalmava.
O Sr. Dempsey tinha um cheiro muito bom, uma mistura de
perfume caro com menta, que me inebriava e fascinava. Com minha
cabeça recostada ao seu peito e seus braços em torno de mim,
fechei os meus olhos e fui me acalmando cada vez mais, de modo
que o pranto foi cessando aos poucos. Aconchegada ao seu corpo
forte, me senti segura e protegida como em poucas ocasiões na
minha vida, como se nada de mal pudesse me atingir, inclusive
Dylan. Contudo, a realidade não era assim. Meu chefe também
representava uma ameaça para mim, embora meu coração sentisse
o contrário.
Ele acomodou-me ao banco do carona do seu luxuoso Volvo,
voltou para pegar minha bolsa e assumiu o volante, conduzindo-nos
para fora da garagem do edifício.
— Onde você mora? — indagou, sua voz grossa e calma
quebrando o silêncio no interior do veículo.
— No apartamento de Mia.
— E onde fica o apartamento dela?
Peguei o celular na bolsa, abri o percurso no Google Maps e
entreguei-lhe.
Os primeiros minutos do trajeto foram feitos em completo
silêncio, enquanto minha mente martelava as ameaças de Dylan, a
imagem da arma na minha boca, depois na minha cabeça,
recusando-se a me deixarem. Eu tinha quase certeza de que não
existia um cofre com dinheiro na companhia. E mesmo que
existisse, não teria coragem de roubar. A única saída que eu
enxergava para salvar a minha vida era mesmo engravidar do meu
chefe e pegar os quinhentos mil. Assim, pelo menos, eu ainda ficaria
com cem mil para recomeçar minha vida após o nascimento da
criança. Isso se Dylan realmente me deixasse viva após pegar esse
dinheiro.
— O que se passa nessa cabecinha pensativa? — A voz do
meu chefe irrompeu através do silêncio dentro do carro, servindo
como um bálsamo para o meu tormento.
— Tantas coisas.
— Quer me falar o que aconteceu?
— Não.
— Pode falar. Dou minha palavra que vou entender. — Ele
silenciou, como se esperasse pela minha confissão. Como eu não
disse nada, continuou: — Você tem um ex-namorado violento que te
persegue, é isso?
Por que ele pensaria isso de mim?
— É isso mesmo — disparei, por impulso, afinal precisava
dar-lhe uma explicação para o que estava acontecendo e a verdade
não era uma opção.
Percebi suas mãos apertando o volante com mais força.
— Ele te machucou?
— Não. Apenas ameaçou.
— Quer ir até a delegacia dar uma queixa?
— Não precisa. Ele ameaça, mas depois vai embora. Estou
bem agora.
— Você não está bem.
— Mas vou ficar. Obrigada.
Ele soltou um suspiro pesado, de pura resignação.
— Tudo bem se não quer denunciá-lo, é uma escolha que
apenas você pode fazer.
— É sim.
Pouco tempo depois estávamos estacionando diante do
edifício onde Mia morava. Antes que eu tivesse tempo de agradecer
pela carona e dizer adeus, o Sr. Dempsey saltou e contornou o carro
pela frente, para logo em seguida abrir a porta do carona para mim.
— Consegue andar?
— Acho que sim.
Sentindo-me muito mais calma, desci do carro e consegui
ficar de pé sem dificuldades.
— Obrigada por me trazer.
— Eu te acompanho até lá em cima.
— Não precisa.
— Precisa sim.
Sem esperar que eu continuasse protestando, ele trancou o
carro, repousou sua mão na base da minha coluna e me conduziu
para dentro do prédio, enquanto minha mente trabalhava depressa,
em busca de uma explicação para dar à Mia sobre toda aquela
situação, visto que ela não acreditaria nessa história de ex-
namorado e, se acreditasse, seria ainda pior.
— Por favor, não conte à Mia o que aconteceu — falei,
quando estávamos no elevador.
— E por que não?
— Porque se ela souber que tenho um ex-namorado
perseguidor, vai me expulsar daqui.
Aquilo não era de todo mentira. Se Mia soubesse que eu era
perseguida por um traficante que ameaçava me matar, me
expulsaria da sua casa e da sua vida sem pensar duas vezes. Nós
não éramos tão amigas assim, a ponto de ela querer me ajudar e as
pessoas sempre pensavam unicamente em si mesmas.
O Sr. Dempsey encarou-me desconfiado, mas por fim
assentiu com um gesto de cabeça.
Fiquei surpresa ao encontrarmos o apartamento escuro e
silencioso. Geralmente Mia não costumava sair à noite,
principalmente sem avisar. Era muito rigorosa com essa coisa de
horários.
— Acho que Mia não está em casa — falei.
— Ela não estava doente?
— Sim. Deve ter ido ao hospital. Vou perguntar.
Mais que depressa, saquei o celular e enviei-lhe uma
mensagem.
Serenity
Serenity
— Fica calma. Eu estou aqui. Nada de mal vai acontecer.
Confia em mim.
Ele me puxou para junto de si, deitando minha cabeça em
seu peito e me aninhando ao seu corpo forte, transmitindo-me uma
sensação de segurança tão reconfortante que fechei os meus olhos
e me aconcheguei ainda mais a ele, abraçando-o pelo meio,
apreciando o seu calor delicioso.
Embora eu mal o conhecesse, depositei toda a minha
confiança nele, naquele instante, na segurança do seu abraço, a tal
ponto que aos poucos fui me acalmando, minha respiração
regularizando, as batidas do meu coração voltando ao normal.
— Isso mesmo. Inspire o ar pelo nariz e expire pela boca.
Bem devagar.
Fiz como ele disse e logo a mais completa calmaria me
engolfou, proporcionando-me a sensação de que nada de ruim
podia me acontecer, de que eu estava no lugar mais seguro do
mundo. Mesmo após me acalmar, continuei abraçada a ele,
inebriada com o cheiro delicioso do seu perfume, presa ao calor
gostoso que partia do seu corpo e me envolvia a ponto de me
contagiar inteira, se alastrando pelo meu sangue, despertando-me
sensações que até então eu desconhecia.
De súbito, senti as batidas frenéticas do seu coração de
encontro à minha face. Ergui o rosto para fitá-lo e vi o tormento em
seus olhos parcialmente iluminados pela luz do celular. Ele evitava
me encarar, como se estivesse lutando internamente contra algo
que o afligia e desestabilizava. Certamente lutava contra o que
queria fazer comigo e, de repente, me flagrei desejando que ele
perdesse o controle, que me tocasse mais intimamente e me
beijasse até me fazer perder o fôlego. Não por causa do dinheiro,
mas porque eu queria sentir aquela boca na minha com uma
urgência absurda.
Seguindo a um impulso incontrolável, ergui as duas mãos e
toquei delicadamente seu rosto, experimentando a aspereza
pontuda da sua barba, fazendo o contorno perfeito da sua boca, do
nariz e dos olhos. As sensações libidinosas foram se intensificando
em meu íntimo à medida em que eu o acariciava. Até que, por fim,
ele fixou seus olhos nos meus, revelando o misto de tormento e
ardor na sua expressão.
— O que está fazendo? — indagou, com um sussurro quase
inaudível.
— Não tenho ideia.
Seguindo meus instintos mais primitivos, coloquei-me na
ponta dos pés e afundei meu rosto na curva do seu pescoço,
beijando e cheirando sua pele áspera, sentindo meu ventre se
contorcer, à medida em que eu fazia aquilo.
— Não podemos fazer isso — sussurrou meu chefe,
soltando-me e deixando seus braços caírem nas laterais do seu
corpo.
Ele estava todo retesado, mostrando-se mais tenso à medida
em que meus beijos se espalhavam sobre sua pele.
— Podemos sim. Nada nos impede.
— Você é só uma menina. Tem vinte anos. Eu tenho o dobro
da sua idade.
— Não sou uma menina e não ligo pra sua idade.
Indo ainda mais além, levantei-me um pouco mais e
abocanhei o seu queixo, mordendo-o e me refestelando com a
sensação deliciosa que aquilo me proporcionava. Eu jamais
imaginei que tocar um homem pudesse ser tão prazeroso. Não era
assim com os namorados da época do colégio.
Sem parar de mordiscar o seu queixo, apertei mais o meu
corpo no dele e foi então que o Sr. Dempsey perdeu o controle. Com
a fúria e a agilidade de um animal que abatia sua presa, ele voltou a
passar um braço em volta de mim e nos girou dentro do elevador,
firmando minhas costas contra uma parede e imprensando-me nela
com seu corpo maciço, enquanto segurava firme meu queixo com a
outra mão.
— O que você quer de mim?
— Quero você.
— Eu não quero te machucar. Não me obrigue a fazer isso.
— Eu não ligo.
E não ligava mesmo. Naquele instante eu não conseguia
pensar em mais nada a não ser naquela boca linda devorando a
minha. O resto, parecia já não importar. Assim, umedeci meus lábios
com a língua e foi então que ele me atacou. Com dedos de aço,
forçou meu maxilar até que minha boca se abrisse e cuspiu dentro
dela, antes de inclinar o pescoço e me beijar. Com a ferocidade de
um animal, segurou meu lábio inferior entre os dentes e o sugou
com força, até me fazer soltar um gemido de dor. Então, me beijou
de verdade, com menos brutalidade, pressionando seus lábios nos
meus, introduzindo sua língua ávida entre meus lábios e
esfregando-a na minha, exigindo que eu retribuísse e o fiz, movendo
minha língua na dele, o que provocou um verdadeiro incêndio pelo
meu corpo, meus mamilos enrijecendo, minha vagina latejando e
umedecendo a ponto de pingar, meu ventre se desdobrando.
Movida pela mais incontrolável luxúria, levei as mãos à barra
da sua camisa e tentei puxá-la para fora do cós da sua calça,
ansiosa por tocá-lo mais intimamente. No entanto, ele não me
permitiu continuar. Com uma mão brusca, segurou meus dois pulsos
ao mesmo tempo e os elevou acima da minha cabeça, esmagando-
os contra a parede de aço, causando uma leve dor.
Sem separar sua boca faminta da minha, ele afastou sua
outra mão do meu queixo e a desceu pelo meu corpo, explorando-o
por cima do vestido. Apertou um dos meus mamilos entre seus
dedos e o retorceu com tamanha força que soltei um gemido de dor
em sua boca, o que não foi suficiente para fazê-lo parar. Levou a
mão para o outro seio e repetiu a proeza, beliscando o mamilo com
força.
Apesar da dor, eu não queria que ele parasse. Pelo contrário,
cada minúscula parte de mim ardia por ele, suplicando pelo seu
toque. Minha vagina se contorcia, encharcada e minhas mãos
comichavam de tanta vontade de tocá-lo também, mas meus pulsos
continuavam presos contra a parede.
Sua mão bruta desceu pela minha silhueta, até se infiltrar sob
minha bunda e fazer pressão, forçando-me a erguer uma perna e a
pendurar em torno do seu quadril. A saia colada do vestido subiu
pelas minhas pernas e enroscou-se em meus quadris, deixando
minha calcinha exposta. Foi então que ele inclinou seus joelhos e
pressionou a ereção, dura e volumosa, diretamente sobre o fundo
da minha calcinha, apertando-a contra o meu sexo tão
deliciosamente, que soltei um gemido abafado em sua boca e
amoleci toda em seus braços, entregue, disposta a permitir que ele
fizesse qualquer coisa que quisesse comigo. Naquele instante, nada
mais importava a não ser tê-lo dentro de mim, meu corpo ardia
dolorosamente pelo dele.
Sem parar de me beijar, com a selvageria de um animal,
como jamais alguém havia me beijado antes, ele apertou minha
bunda com brutalidade, empurrando-me para ele, fazendo com que
minha boceta protegida pela calcinha pressionasse ainda mais forte
a ereção brutal, o que me deixou quase louca de tanto desejo, a
ponto de rebolar para me esfregar nele.
Depois o Sr. Dempsey deslizou sua mão por baixo da minha
coxa e, ao alcançar o fundo da minha calcinha, um dos seus dedos
a invadiu, passeando livremente sobre meu sexo melado, um
grunhido escapou da sua garganta e morreu na minha boca.
Ele afastou minha calcinha para um lado e tocou-me com
mais dois dedos, deslizando-os sobre a minha umidade. Quando
tentou me penetrar com um deles, fiquei tensa, toda retesada, o que
não foi suficiente para fazê-lo parar. Então, virei o rosto para um
lado, interrompendo o beijo.
— Pare — pedi, ofegante.
— Não! Você começou com isso! Agora é tarde pra me deter!
— ele praticamente rosnou as palavras, sua voz lembrava o
grunhido de um animal irracional.
Sem desviar seu olhar faminto do meu e sem soltar os meus
pulsos, ele fechou sua mão no fundo da minha calcinha delicada e a
puxou com brusquidão, rasgando-a e arrancando-a do meu corpo, o
que me deixou em pânico. Não era que eu não quisesse ir até o fim
com ele, eu queria, queria demais, e não apenas pela gravidez, mas
porque o desejava com todo o meu querer. O problema era que eu
nunca havia feito sexo e não queria que minha primeira vez fosse
em pé, dentro de um elevador, sem que ele soubesse que eu ainda
era virgem. Não esperava que ele fosse romântico quando
acontecesse algo entre nós, mas queria que, pelo menos, soubesse
que estaria me deflorando e naquele momento não sabia como
revelar-lhe essa verdade.
Com meus pulsos aprisionados pela sua mão e minhas
costas apoiadas na parede, o Sr. Dempsey espalmou sua outra mão
sobre meu sexo desnudo e lambuzado, fechou-a em torno dos meus
lábios vaginais e os esfregou um no outro, fazendo uma massagem
tão deliciosa no meu clitóris, que lancei a cabeça para trás e soltei
um gemido, enlouquecida de tesão, ciente de que nenhum de nós
pararia, minha virgindade seria perdida ali mesmo, como se
fôssemos dois animais. No entanto, antes que tivéssemos tempo de
continuar, a luz do elevador se acendeu e ele voltou a funcionar de
repente, subindo rapidamente. Como estávamos entre o penúltimo e
o último andar, tivemos apenas breves segundos para nos
recompormos, antes que as portas se abrissem diante de três
homens uniformizados, que aparentemente faziam a manutenção.
Embora tenham sido discretos, assim que pousaram seus
olhos sobre nós, eles perceberam o que estávamos fazendo, o que
não era por menos, afinal só tive tempo de abaixar a saia do
vestido, enquanto o Sr. Dempsey pegava os restos da minha
calcinha do chão e os enfiava no bolso da sua calça. Meus cabelos
deviam estar uma verdadeira arapuca e meu rosto provavelmente
muito vermelho pela excitação.
— Pra que diabos eu pago o salário de vocês, se tenho que
passar por uma situação como essa quase todos os dias? —
vociferou meu chefe e quase tive pena daqueles pobres
funcionários.
Cumprimentando-os sem olhar muito na direção deles, passei
direto e me coloquei no meu lugar, atrás do balcão da recepção,
enquanto o déspota continuava proferindo desaforos para a equipe
de manutenção, até que, por fim, os deixou e seguiu apressado
rumo à sua sala, passando por mim com sua carranca fechada.
Demorei longos minutos para me recuperar do acontecido.
Talvez se eu não estivesse sem a minha calcinha, não me lembraria
daquele homem a todo momento, do gosto da sua boca, da
aspereza da sua mão me acariciando, do som arrastado da sua voz
próximo ao meu ouvido e de tudo mais que experimentei nos braços
dele. A verdade era que ele parecia ter ficado gravado em mim, seu
cheiro ainda estava nas minhas roupas, o desejo de ser sua ainda
corria solto em meu sangue. Minha mente e minha alma estavam
tão preenchidas por ele, que eu mal conseguia ver o que estava
fazendo enquanto tentava trabalhar e agradeci aos céus por não ter
que estar com ele a todo momento, ou tudo seria ainda pior.
Cerca de duas horas após sairmos do elevador, a voz grossa
do meu chefe ressoou através do interfone, alta e ríspida como
sempre: — Venha até aqui. Preciso falar com você.
Processei suas palavras e fiquei completamente tensa. Será
que ele pretendia retomar de onde paramos? Será que me coagiria
a fazer sexo com ele, porque fui eu quem começou com aquilo? E
se ele me coagisse, eu estaria preparada para me entregar a um
homem pela primeira vez na vida? As indagações conflitavam-se em
minha mente, deixando-me meio atordoada. Se ele tentasse algo,
eu iria até o fim. Primeiro, porque queria. Segundo, porque estava
ali exatamente para fazer isto, portanto seria imbecilidade perder
essa oportunidade de ganhar os quinhentos mil.
Trêmula de nervosismo, ajeitei meus cabelos, retoquei
novamente a maquiagem, e me dirigi até sua sala, sentindo-me
desconfortável sem a calcinha por baixo da saia curta e colada do
vestido.
O Sr. Dempsey estava sentado atrás da sua mesa, com seu
semblante muito sério e carregado de tensão. Tinha seus cabelos
molhados, como se tivesse tomado um banho ou os umedecido.
Enquanto eu caminhava em sua direção, minhas pernas
bambas quase me fizeram tropeçar no carpete e cair de cara no
chão.
Ao me aproximar o suficiente para olhá-lo de perto, o desejo
voltou a incendiar minhas veias, fazendo meu coração bater em um
ritmo descompassado e tive certeza de que, se ele tentasse transar
comigo, bem ali em cima daquela mesa, eu me entregaria sem
reservas.
— Quero me desculpar pelo meu comportamento no elevador
— disse ele, com sua voz calma e gentil e me senti como se alguém
jogasse um balde de água gelado sobre mim.
— Não há pelo que se desculpar. Eu queria aquilo.
— Não! Você não queria! — dessa vez, ele esbravejou cada
palavra, com rispidez. — Você me mandou parar e eu não parei.
Percebi o tormento tomando conta da sua fisionomia. Suas
sobrancelhas arqueavam, seus olhos expressavam inquietação, da
forma como acontecia sempre que falávamos sobre sexo.
— Eu só estava nervosa por causa do elevador parado. Eu
quis e continuo querendo você.
Ele apertou seus olhos com força, depois voltou a me
encarar.
— Você não pode dizer essas coisas para mim. Já teve uma
pequena amostra de como eu sou, do quanto posso ser nocivo e te
machucar e isso não foi nem um terço do que sou capaz de fazer
com você. O que você precisa é se afastar de mim. Não sou uma
pessoa de confiança para uma garota como você.
— Uma garota como eu? Não sou nenhuma criança. Sou
adulta e sei o que quero.
— Se fosse adulta, já teria entendido o perigo que eu
represento. — Havia tamanha gravidade no tom de sua voz, que,
dessa vez, ele realmente conseguiu me deixar preocupada. —
Estou a ponto de te atacar agora mesmo, por você estar sem
calcinha por baixo desse vestidinho. E se eu atacar, acredite, nada
vai me fazer parar. Então, para a sua própria segurança, quero que
vá para casa. Tire o resto do dia de folga. Boa tarde.
— Mas...
— Não existe mas nessa história. Não vou conviver com a
culpa de ferir uma menina da sua idade. Isso já está decidido. Agora
vá. E vá direto pra casa. Nada de sair por aí sem calcinha.
Sem saber mais o que dizer, pedi licença e dei-lhe as costas,
deixando a sala, resignada, sentindo-me duplamente desapontada.
Primeiro, pela certeza de que nunca conseguiria receber os
quinhentos mil que Mia me oferecera pela gravidez e, com isto,
Dylan acabaria com a minha vida. E segundo, porque eu realmente
desejava me entregar ao meu chefe, o queria com todas as minhas
forças, a tal ponto que nem mesmo suas ameaças de violência
conseguiam amenizar esse desejo. Era a primeira vez, nos meus
vinte anos, que eu sentia algo assim por alguém e ele não me
queria, o que me fez constatar, mais uma vez, o quanto eu era uma
pessoa sem sorte na vida. Talvez eu devesse tentar jogar, pois
dizem que quem não tem sorte no amor tem no jogo, mas nem
mesmo dinheiro para começar isso eu tinha.
Em resumo, minha vida era um desastre.
CAPÍTULO 10
Serenity
***
Serenity
Faltava apenas um dia para a Mia voltar ao trabalho. Como
havia se tornado rotina, por volta do meio-dia deixei o escritório e fui
almoçar na delicatéssen que havia do outro lado da rua. Estava
sentada à última mesa, aos fundos do singelo estabelecimento,
dividindo minha atenção entre a leitura de um e-book de romance no
celular e um sanduíche de peru, quando meu pior pesadelo se
materializou bem diante dos meus olhos, com a entrada de Dylan na
lanchonete. Desta vez, ele estava acompanhado do irmão, a quem
eu tivera o desprazer de conhecer naquela maldita noite. Tão logo
pousaram seus olhos sobre mim, ambos vieram andando em minha
direção, enquanto eu gelava de medo, certa de que minha vida
acabaria naquele dia.
— Olá, princesa. Será que podemos nos sentar aqui? —
indagou Dylan.
Sem esperar que eu respondesse, ele acomodou-se na
cadeira do outro lado da mesa, diante de mim, enquanto Tom se
sentava ao seu lado.
— Então é você mesmo. Custei a acreditar quando Dylan
disse que tinha te encontrado — disse Tom. — E está mais linda do
que antes. Parece estar muito bem de vida agora.
— Como eu disse. Ela trabalha para um dos homens mais
ricos desse país e está até planejando ter um filho dele. — Foi Dylan
quem falou e percorri os olhos em volta, sondando se mais alguém
o tinha ouvido, já que alguns outros funcionários também estavam
ali.
— O que vocês querem? — indaguei, me esforçando para
reprimir o pavor que tomava conta do meu organismo.
— O que você acha? Quero o dinheiro que está me devendo,
gatinha.
— Eu consegui encontrar o cofre e abrir, mas não tem
dinheiro lá. Só documentos.
— Nesse caso, você vai nos ajudar a sequestrar esse
milionário. Como amante dele, vai ser fácil pra você atraí-lo para
uma armadilha.
— Não podemos fazer isso. A polícia jamais pararia de nos
procurar.
Dylan abriu parcialmente a aba do seu casaco, exibindo o
cabo do revólver que se encontrava preso ao cós da sua calça,
como uma forma de me ameaçar.
— Que se foda a polícia. Você tá me devendo e vai me ajudar
a arrancar uma grana desse cara, do contrário vou enfiar uma bala
na sua cabeça quando você menos esperar.
Lembrei-me da quantidade de armas e drogas que vi na casa
dele e tive certeza de que minha vida estava condenada. Nesse
instante, o desespero tomou conta de mim, a tal ponto que as
lágrimas começaram a escorrer desenfreadas dos meus olhos, sem
que eu conseguisse contê-las. Apavorada, eu lamentava
internamente pela minha infinita falta de sorte na vida.
Os dois irmãos sorriam das minhas lágrimas.
— Não comece a implorar pela vida, gatinha. Isso não seria
nada elegante. Além do mais, lágrimas nunca me comoveram.
— Ainda tem o dinheiro da barriga de aluguel. É um dinheiro
certo, sem riscos. Você só precisa esperar um pouco.
— É disso que eu não gosto, esperar. Sem mencionar que
você pode estar inventando essa história pra me enrolar. Vocês
mulheres são cheias de truques.
— Não é truque. Eu juro. Tenho até um contrato assinado.
Posso te mostrar.
Ambos se entreolharam em um gesto de cumplicidade.
— E cadê esse contrato?
— Me passa seu contato. Eu te envio por e-mail.
Ele recitou seu e-mail e anotei no meu celular. Quando lesse
o contrato, ele saberia que menti sobre o valor que me fora ofertado
pela gravidez, o que era quase irrelevante àquela altura, visto que
eu nunca engravidaria do meu chefe. Meu objetivo, naquele
momento, era apenas ganhar tempo, até encontrar uma saída.
— Vou dar uma olhada nesse contrato, mas se eu desconfiar
que você tá tentando me enrolar, a coisa vai ficar feia pro seu lado.
— Tem alguma coisa acontecendo aqui? — A voz partiu alta,
grossa e autoritária, bem do nosso lado e quase tive um infarto
quando virei o pescoço e me deparei com o Sr. Dempsey,
aproximando-se de onde estávamos.
Puta merda! Será que ele tinha ouvido algo sobre o contrato?
Como quase sempre, sua expressão estava carregada de
fúria, enquanto ele deslocava seu olhar entre mim e os dois homens
à minha frente.
— Nada que seja da sua conta — disparou Dylan.
— Tudo o que se refere aos meus funcionários, é da minha
conta!
— Funcionários, é? — Os dois traficantes caíram na
gargalhada e respirei aliviada quando o irmão mais velho se
levantou, incentivando o outro a fazer o mesmo. — Pode ficar a sós
com a sua “funcionária”. Meu assunto com ela já terminou. — Dylan
direcionou seu olhar para mim, completando: — Fico no aguardo do
seu contato, gatinha. Nos vemos em breve.
Com isto, os dois deram mais uma olhada ameaçadora para
o meu chefe e se dirigiram rumo à saída da delicatéssen, sem que
eu conseguisse parar de chorar, mesmo que me esforçasse muito.
O Sr. Dempsey sentou-se no lugar onde Dylan estava e
esfreguei o dorso da mão sobre minha face banhada de lágrimas,
tentando refrear o pranto, sem que este cessasse.
— É o seu ex-namorado abusador? — indagou ele, fitando-
me com ar de gravidade.
Como eu não podia falar a verdade sem ser demitida por me
envolver com traficantes e ainda dever dinheiro a eles, apenas fiz
que sim com a cabeça.
— E o outro cara?
— Irmão dele.
— O que exatamente ele quer com você?
O que os namorados perseguidores querem com suas ex?
— Eu não sei. Acho que só me amedrontar mesmo.
Ele ficou claramente desconfiado.
— Você está chorando porque ele quer te amedrontar?
— Mais ou menos.
— Você precisa me falar a verdade sobre esse cara, para que
eu possa te ajudar.
— Desculpe, mas não preciso da sua ajuda. Eu vou ficar
bem. Me dê o tempo que resta do meu almoço para que eu me
recomponha e estarei na recepção. Te dou minha palavra que
ninguém vai perceber que estive chorando.
Ele observou-me durante um longo momento de silêncio, com
uma expressão que não consegui decifrar.
Eu só queria que ele fosse embora dali, que me poupasse do
constrangimento de chorar na sua frente. Mas ele não ia.
— Tudo bem se não quer falar. Eu não concordo, acho que
deveria procurar a polícia, mas respeito sua decisão. E não precisa
voltar ao trabalho mais hoje. Venha. Eu te levo em casa.
— Obrigada, mas não precisa me levar. Vou ficar aqui mais
um pouco e depois irei sozinha.
— Não seja pirracenta. Você não está em condições de
dirigir. Eu te levo.
— Não posso chegar em casa nesse estado. Mia não sabe
sobre Dylan e duvido que vá me aceitar no apartamento dela se
souber.
Identifiquei uma certa piedade no jeito como ele me olhava.
— Meu apartamento fica aqui perto. Você pode ficar lá até se
acalmar.
— Não quero dar trabalho.
Seus olhos se estreitaram sobre os meus.
— Não abra a boca para dizer isso, pois tudo o que você tem
feito desde que nos conhecemos, é me dar trabalho.
Suas palavras quase me fizeram sorrir, mas me contive.
Deixamos a delicatéssen caminhando muito próximos.
Considerando que todos os presentes, entre funcionários e
frequentadores, viraram o pescoço para nos observar, presumi que
o Sr. Dempsey não costumava ir àquele lugar com frequência e me
perguntei se tinha ido somente por minha causa, porque alguém lhe
disse que eu estava chorando enquanto conversava com dois
desconhecidos. Era no mínimo estranho que um homem como ele,
que fazia questão de manter distância de mim, pagasse alguém
para me seguir.
— O senhor sabia que eu estava na delicatéssen, ou foi
coincidência ter me encontrado lá? — indaguei, quando estávamos
acomodados no banco de trás de uma luxuosa limusine, que nos
conduzia pelas ruas de Nova Iorque.
— Não foi coincidência. Meu segurança te viu chorando e me
avisou. Eu tinha quase certeza de que seu ex-namorado voltaria a
importuná-la, por isso mandei que alguém ficasse de olho em você.
— Como se o senhor se importasse.
Dei de ombros, desolada. Embora o pranto tivesse cessado,
eu continuava com aquele turbilhão indesejável de derrota, medo e
desesperança se revolvendo em minhas entranhas, me fazendo
sentir o último dos seres humanos, o tipo de pessoa dispensável e
esquecível, para quem nada dava certo na vida.
— Está enganada. Eu me importo com você. A maior prova
disto é que sua pele continua intacta, sem as marcas do meu
chicote.
Processei suas palavras e um estremecimento me varreu de
cima a baixo. Levando em conta suas palavras, não tive mais
dúvidas de que era um Dominante que gostava de maltratar e
causar dor às mulheres durante o sexo, exatamente como aqueles
que vi quando pesquisei sobre o assunto na internet. Pelas minhas
pesquisas, descobri também que isso podia ser prazeroso para
algumas mulheres. Por que ele achava que não poderia ser para
mim? Eu estava confusa.
Em poucos minutos, a limusine estacionou diante de um
luxuoso edifício nas proximidades do Central Park e entramos.
Como era de se esperar, o apartamento do Sr. Dempsey ficava na
cobertura. Era um lugar tão grande que todo o apartamento de Mia
caberia apenas na sala. Contudo, apesar do tamanho e do requinte
presente em cada detalhe da decoração, o lugar era meio sombrio,
com cortinas e móveis escuros, informal e arrumado demais, como
se não morasse ninguém ali.
— É um apartamento bem... peculiar — falei.
— É informal. Pode falar. Mas gosto assim.
— Apenas falta um toque feminino. Ou talvez dois.
Nesse momento, uma mulher com cerca de cinquenta anos,
usando um elegante uniforme de governanta, surgiu de uma porta,
dirigindo-nos um sorriso discreto.
— Olá. O senhor gostaria de alguma coisa? — indagou ela.
— Sim. Traga um chá de camomila bem forte.
— Mais alguma coisa?
Ele virou-se para mim.
— Quer alguma coisa, além do chá?
— Não. Obrigada.
— Só isso. Pode ir.
A mulher pediu licença e retirou-se da sala, sumindo na
mesma direção de onde viera.
— O chá vai te ajudar a se acalmar.
— Não precisava se incomodar.
— Precisava sim. Você gostaria de descansar um pouco?
— Sim. Seria bom.
— Venha por aqui.
Ele acenou para que eu o seguisse e, após passarmos por
uma segunda sala, fiquei surpresa ao atravessarmos as portas
duplas de uma bela suíte, com uma janela de vidro imensa, dando
vista para o Central Park. Como o resto da moradia, possuía móveis
e cortinas escuras e estava impecavelmente limpa e organizada,
como se ninguém dormisse ali.
— É aqui que o senhor dorme? — indaguei.
— Sim.
— Uau! Nem consigo acreditar que estou no quarto do
poderoso Kael Dempsey!
— Não pense que isso é um mérito, porque não é. Pode
deitar-se um pouco, se quiser.
Eu poderia aproveitar aquela oportunidade para tentar
seduzi-lo e finalmente conseguir o que queria dele. No entanto,
sentia-me angustiada demais para fazer qualquer coisa. Tudo o que
eu conseguia, naquele momento, era querer chorar até que toda a
tristeza se esvaísse de dentro de mim. Então, tirei os sapatos e
deitei-me na beirada da cama, em posição fetal. Meu coração se
afligiu ainda mais quando imaginei que o Sr. Dempsey sairia e me
deixaria sozinha num lugar desconhecido. Mas ele não saiu. Em vez
disso, deitou-se na outra extremidade do colchão, de lado, com seu
rosto rente ao meu, seus olhos me fitando fixamente.
Não entendi qual era a daquele homem. Ele se afastava
quando eu tentava seduzi-lo e se aproximava quando eu não fazia
nada para atraí-lo. Era mesmo muito estranho.
Permanecemos imóveis e em silêncio durante um longo
momento, apenas nos encarando. Apesar de o apartamento estar
localizado em meio à agitação de Manhattan, não ouvíamos
qualquer ruído da cidade lá embaixo, o silêncio e a calmaria na suíte
lembravam os de uma casa de campo tranquila e sossegada.
— Por que você parece tão triste? — indagou meu chefe,
com um sussurro quase inaudível.
— Não sei. Acho que pela minha falta de sorte na vida.
— Como assim, sua falta de sorte?
— Todo mundo tem um caminho na vida, uma carreira, um
relacionamento, estudos, uma família. Mas eu não tenho nada, nem
ninguém. Sempre me sinto como se estivesse perdida, jogada por
aí, sem rumo, sem objetivos, sem nada.
— Você é jovem demais para se sentir assim. Ainda tem
muito tempo para escolher seu caminho. Pode fazer o que quiser,
inclusive construir uma carreira e ter uma família.
Ele dizia isso porque não sabia que eu sequer havia
terminado o ensino médio, que dirá feito uma faculdade. Tampouco
tinha tempo de arranjar uma família, com um traficante louco
ameaçando acabar com a minha existência.
— Posso fazer uma pergunta? — indaguei.
— Não.
— Como funciona essa questão de sexo violento? — O
momento que se seguiu, foi de completo silêncio. — É só por
curiosidade. Acho que tenho o direito de saber por que sou tão
brutalmente rejeitada.
Ele suspirou pesadamente.
— São coisas com as quais você não gostaria de se meter.
Tem a ver com dominação, submissão, tortura, cordas, correntes e
outras coisas maléficas. — Sua voz, assim como a minha, era um
suave murmúrio.
— Eu pesquisei sobre o assunto na internet. Descobri que
muitas mulheres são Submissas natas e apreciam essa prática.
Acho que posso ser uma dessas mulheres.
Ele se moveu sobre a cama, parecendo subitamente
desconfortável.
— Você já se envolveu com esse tipo de prática?
— Não, mas gostaria.
— Infelizmente não posso te dar essa experiência, pois já
machuquei gravemente uma pessoa e não quero fazer isso de novo,
principalmente com você.
— O senhor não acha que a escolha deveria ser minha?
— Você não escolheria ter sua pele marcada, ou sua vida
tirada pelas mãos de um sádico. Já basta estar fugindo de um
namorado perseguidor.
Sua vida tirada?! Minha nossa! Será que ele havia matado
alguma mulher enquanto praticava BDSM com ela? Isso era mais
grave do que eu poderia ter presumido.
— Já tentou ter outro tipo de relacionamento?
— Não tenho prazer em qualquer outro tipo de
relacionamento.
— Já tentou?
— Já e não deu certo.
— Talvez não tenha sido com a pessoa certa.
— Você andou conversando com meu psiquiatra?
Arregalei os olhos, surpresa.
— O senhor tem um psiquiatra?
— Tenho. Ele acha que eu deveria convidá-la para jantar e
tentar um relacionamento “normal”.
Fiquei ainda mais surpresa.
— Vocês falam sobre mim?
— Na verdade, você tem sido o principal assunto dos nossos
encontros semanais.
Nesse momento, houve uma batida à porta e meu chefe
levantou-se para abrir. Era a governanta trazendo o chá de
camomila, cujo aroma tomou conta de todo o ambiente.
Sentei-me na cabeceira da cama, com as costas apoiadas no
espaldar e ele colocou a bandeja diante de mim.
— Beba. Vai te fazer bem — disse, entregando-me a xícara.
Havia também biscoitos de gengibre, mas optei por apenas
beber o chá, que, aliás, estava muito gostoso.
Como o Sr. Dempsey estava mais acessível, o que raramente
acontecia, decidi continuar com as perguntas: — O senhor tem um
quarto aqui com os equipamentos de BDSM?
— Não. Eu abandonei essa prática desde que machuquei
irreversivelmente essa pessoa.
— O senhor a matou?
— Sim. — Meus olhos se arregalaram, chocados. — Mas não
do jeito que você está pensando. Eu fiz com que ela perdesse os
sentidos de tanta dor, durante o sexo e, para que não acontecesse
de novo, eu a deixei. Então, ela cortou os próprios pulsos.
Havia um tormento doloroso na expressão do seu olhar e,
naquele instante, compreendi por que ele insistia em me manter tão
distante.
— O senhor não a matou. Foi ela.
— Ela estaria viva se não fosse pelas minhas taras. Não é só
BDSM, eu gosto de muitas coisas estranhas, como sexo em grupo e
ver vários homens comendo minha Submissa ao mesmo tempo.
Engoli em seco, atordoada.
— Mas se abandonou essas práticas, todos os seus
relacionamentos são normais agora?
— Eu não tenho nenhum relacionamento. Porque nada mais
me interessa.
Cada palavra que saía da boca dele me deixava mais atônita.
Como assim, ele não se relacionava intimamente com ninguém?
Isso era no mínimo esquisito. Se bem que eu nem podia julgá-lo,
pois passei a maior parte da minha vida sem ninguém, embora eu
não fosse tão interessante quanto ele, com toda aquela beleza e
todo aquele dinheiro.
Eu tinha mais um milhão de perguntas para fazer. No entanto,
nossa conversa foi interrompida pelo toque do seu celular. Após
atender e trocar algumas palavras com a pessoa do outro lado da
linha, o Sr. Dempsey anunciou o que já era esperado: — Preciso
voltar à empresa para a reunião com os árabes. Pode ficar aqui.
Durma um pouco. Descanse. Vou deixar meu motorista de
sobreaviso. Quando se sentir melhor, peça que ele a leve em casa.
— Sim, senhor. Obrigada.
Ele observou-me em silêncio durante um longo momento,
como se memorizasse os traços do meu rosto, então deu-me as
costas e se foi, sua ausência fez com que a suíte parecesse muito
maior e sombria.
CAPÍTULO 12
Serenity
Após beber todo o chá fiquei um pouco mais calma. Deitei-
me confortavelmente na cama imensa e tentei adormecer, mas foi
em vão. Apesar de me sentir segura ali, como se o Sr. Dempsey
estivesse presente e nada de mal pudesse me atingir, não consegui
pregar o olho, minha mente martelava suas palavras, relembrando
todas as revelações que ele fizera. Era impressionante que um
homem como ele, imponente, frio e sem coração, carregasse a
culpa pela morte de uma pessoa que se suicidou. Não era culpa
dele e o fato de sentir remorso, provava que não era tão monstruoso
quanto parecia, algo que Mia decerto enxergava e, provavelmente, a
motivara a escolher seu DNA para o filho que pretendia ter.
Por outro lado, essa história de dividir sua parceira com
outros homens e fazer sexo grupal, era ainda mais doentio que a
coisa do BDSM. Para falar a verdade, eu nem conseguia julgar o
que era pior entre essas práticas. Se bem que, se eu conseguisse
seduzi-lo e levá-lo para a cama, talvez tivesse a sorte de engravidar
antes que ele me viesse com essa história de sexo grupal. Contudo,
a parte mais difícil nisso tudo era seduzi-lo. Quanto mais eu tentava
me aproximar dele, mais ele se afastava. Qualquer pessoa no meu
lugar já teria desistido.
Passei as horas seguintes pensando sobre tudo isso. Pensei
em contar-lhe a verdade sobre Dylan e pedir-lhe o dinheiro para dar
ao traficante, mas ninguém daria uma quantia tão alta a uma quase
completa desconhecida, principalmente após essa desconhecida ter
mentido sobre o namorado perseguidor. Seria perda de tempo tentar
e só serviria para afastá-lo ainda mais.
Antes do Sr. Dempsey me encontrar na delicatéssen, eu
havia realmente desistido da barriga de aluguel. No entanto, o
destino parecia estar me dando uma última chance, colocando-me
no quarto daquele homem, revelando-me seus segredos. Seria
tolice não fazer uma última tentativa, até porque eu não tinha mais
nada a perder. Nem minha vida pertencia mais a mim.
Então, decidida, pesquisei um pouco mais sobre as práticas
BDSM na internet e entrei em um site que vendia apetrechos para
essas práticas, a pronta entrega. Com o cartão de crédito que Mia
me dera, para alguma eventual emergência, comprei uma roupa
típica de Submissa, mordaça, coleira, cordas, algemas e um chicote.
Pedi que entregassem o mais depressa possível no apartamento do
meu chefe, e fui atendida. Logo a encomenda chegou e me despi
para colocar a lingerie que se resumia a uma cinta-liga de couro
preta, calcinha minúscula da mesma cor, meia-calça, sutiã
transparente meia-taça, que se ligava à cinta por meio de várias
tiras de couro pretas enroladas em meu torso.
Coloquei também uma coleira que se ligava por duas
correntes a braçadeiras de couro que prendi aos meus pulsos.
Prendi os cabelos em uma trança única, passei um batom vermelho
escuro, espalhei cordas e algemas sobre a cama e estava pronta.
Trêmula de nervosismo, eu não sabia em qual posição ficar.
Não sabia se esperava o alvo do meu assédio sobre a cama, ou no
chão. Pelas minhas pesquisas, os Dominantes gostavam de
encontrar sua Submissa ajoelhada no chão, mas eu não ficaria
desse jeito agora, pois não sabia que horas o Sr. Dempsey voltaria e
não queria me cansar. Para falar a verdade, eu nem sabia se ele
voltaria para casa naquela noite. Mas esperaria. Estava obstinada.
Deitada na cama, me concentrei na continuação da leitura de
um e-book no aplicativo do celular, enquanto as horas se passavam
rapidamente.
Eram quase dez horas de noite, quando, por fim, a maçaneta
da porta se moveu e só tive tempo de jogar o celular para um lado,
antes de me levantar e me ajoelhar sobre o colchão, sentando-me
sobre minhas panturrilhas e pousando minhas mãos sobre os
joelhos, com as palmas viradas para cima, como vi na internet. Ergui
o olhar apenas para vê-lo entrar na suíte, lindo, imperioso, usando
seu terno escuro feito sob medida, com a valise de couro na mão.
Em seguida, abaixei meu olhar e esperei.
O momento que se seguiu foi do mais completo silêncio,
enquanto meu chefe permanecia em pé perto da porta, imóvel como
uma estátua, observando-me com olhos atentos, com tamanha
intensidade que eu podia sentir o peso do seu olhar. Era quase uma
tortura não saber o que se passava pela sua cabeça naquele
momento.
— O que pensa que está fazendo? — indagou ele, com um
rosnado.
— Quero ser sua Submissa. Faça comigo o que quiser.
Outro momento de silêncio se passou. Até que ele largou sua
valise no chão e avançou rapidamente para cima de mim. Com a
brutalidade de sempre, deitou-me na cama e montou-me,
encaixando um joelho de cada lado dos meus quadris. Segurou
meus pulsos acima da minha cabeça e fechou a outra mão em torno
do meu maxilar, imobilizando-me e me aprisionando.
— Eu tentei te proteger de mim, mas você não me ouviu.
Agora é tarde. Não vou mais me controlar.
— Não se controle. Me faça sua.
— Por quê?
— Porque meu corpo suplica pelo seu. Eu quero você.
— Você me quer? Pois vai realizar o seu desejo, só que do
meu jeito. Vou fazer de você minha putinha particular, pra me servir
onde, como e quando eu quiser. Vou te comer de formas que você
nunca imaginou e te machucar forte, como ninguém nunca
machucou.
Um estremecimento me varreu, mas ele ignorou. Forçou sua
mão em torno da minha mandíbula até que minha boca se abrisse e
então cuspiu dentro dela, para, em seguida, inclinar o pescoço e me
beijar de um jeito selvagem e violento. Sua língua me explorava,
seus lábios me devoravam com avidez.
Soltou o meu queixo e desceu sua mão pelo meu colo.
Segurou o sutiã minúsculo e o puxou com brutalidade, rasgando-o
ao meio e desnudando meus seios. Apertou-os forte, um de cada
vez, depois beliscou os mamilos com brusquidão, como se quisesse
arrancá-los, causando uma dor que não foi suficiente para amainar
o turbilhão de medo e desejo que me invadia. Meu coração batia
descompassado, por causa da adrenalina, ao mesmo tempo em que
meu ventre se contorcia.
Sem se deitar por completo sobre mim, o Sr. Dempsey
apoiava o peso do seu corpo na mesma mão que aprisionava meus
pulsos, enquanto continuava descendo sua mão livre pela minha
pele. Com brusquidão, arrancou minha calcinha e espalmou a mão
sobre meu sexo, dando vários tapas estalados sobre ele. Os golpes
que atingiam meu clitóris deixaram-me toda acesa, com minha
vagina latejando e molhando. Contudo, quando seus dedos
afundaram entre meus lábios vaginais, fechei as pernas por impulso
e fiquei tensa, temendo uma penetração descuidada e dolorosa.
— Espere — pedi, ofegante, sentindo-me muito frágil e
pequena sob sua força bruta.
— Nem se atreva a me pedir para parar. Você teve todas as
chances de escapar de mim, mas não fez. Agora é tarde para você.
Interrompendo o beijo, ele ergueu seu corpo com agilidade,
fitando meu rosto com olhos brilhantes de uma agressividade
luxuriosa e ao mesmo tempo assustadora. Com mãos bruscas,
forçou-me a abrir as pernas até o limite e pegou uma das cordas
que eu deixara sobre a cama.
— Vou te ensinar a nunca mais tentar fechar as pernas para
mim — rosnou.
Previ o que ele faria e, de súbito, entrei em pânico. Por mais
que meu corpo realmente suplicasse pelo dele, por mais que eu
quisesse aquilo, precisava que ele soubesse que seria a minha
primeira vez com um homem, mesmo que isso acarretasse o risco
de afastá-lo.
— É a minha primeira vez — confessei rápido, antes que me
arrependesse.
— Você já disse isso. Não espere que eu seja piedoso
porque nunca foi amarrada e surrada antes.
Ele aproximou a corda do meu joelho e o pânico cresceu.
— Não é isso. Eu nunca estive com um homem na cama.
Ainda sou virgem.
O Sr. Dempsey paralisou, seu queixo caiu e sua expressão
revelou seu choque. Ficou petrificado por um instante e então
afastou-se com a rapidez de quem se afastava do bote de uma
cobra venenosa. Sentou-se na beirada do colchão, de costas para
mim e afundou seu rosto entre as mãos, esfregando-o.
— Vá embora daqui. Não me obrigue a fazer isso com você.
— Havia tormento no tom de sua voz.
Corajosa, levantei-me e me coloquei à sua frente, usando
apenas a cinta e a meia, sem a calcinha e o sutiã.
— Eu quero que faça. Quero que seja o primeiro homem da
minha vida.
Como ele não disse nada, nem mesmo ergueu o rosto para
me fitar, aproximei-me e segurei dos dois lados da sua face, fazendo
com que a erguesse. Seu olhar mirou meu sexo desnudo e meus
seios antes de se fixar em meu rosto.
— Me faça sua, Kael — sussurrei, chamando-o pelo primeiro
nome pela primeira vez, o som pareceu doce na minha boca.
Achei que ele me jogaria sobre a cama e terminaria logo com
aquela agonia que não era apenas minha. Contudo, em vez disso,
ele ficou de pé e afastou-se rápido como um raio.
— Se você é virgem, quem é o sujeito que anda te
perseguindo? — indagou, fitando-me de longe.
Droga! O que eu ia dizer agora?
— M-meu ex-namorado. Nós só não fomos até o fim.
Meu chefe eliminou a distância que nos separava e olhou
dentro dos meus olhos.
— Não se atreva a mentir para mim! Quem é ele? — Sua voz
soou tão abrupta que levei um susto.
— Alguém que está me perseguindo.
— Por quê?
— Porque terminei nossa relação.
Seus olhos se estreitaram sobre os meus. Ele sabia que eu
estava mentindo, mas não podia fazer nada a respeito. Não tinha
como provar que Dylan não fora meu namorado, tampouco podia
me expulsar da sua vida, porque havia perdido o autocontrole e não
seria mais capaz de recuperá-lo. Pelo menos era o que eu
esperava.
Sem uma palavra, o Sr. Dempsey entrou no closet e voltou
trazendo um sobretudo cinza, com o qual cobriu o meu corpo.
Segurou-me pelo braço e mal me deu tempo de calçar as sandálias
e pegar minha bolsa antes de sair me puxando para fora da suíte.
— Onde estamos indo? — indaguei, enquanto era arrastada
para a porta de saída.
— Para o inferno. Se você quer mesmo entrar nessa furada,
precisa saber como isso funciona. Então terá sua última chance de
fugir.
Na garagem, entramos em um luxuoso Volvo e saímos pelas
ruas agitadas de Manhattan, sem dizermos uma só palavra ao longo
de um percurso que durou cerca de meia hora. Em Chelsea,
adentramos a garagem de um edifício elegante e luxuoso.
— Que lugar é esse? — indaguei, receosa.
— Um clube de putaria e outras coisas. Lembre-se de que
você não pode contar pra ninguém o que vai ver aqui.
Suas palavras me deixaram ainda mais alarmada, mas ao
mesmo tempo curiosa.
Na recepção, fomos recebidos por um homem horrível, muito
alto e parrudo, usando nada mais que uma cueca de couro preta e
uma máscara no rosto, deixando à mostra o corpo branco e peludo
demais. Após cumprimentar o meu chefe, como se o conhecesse há
muito tempo, ele nos entregou duas máscaras, uma feminina, preta
e delicada, que escondia apenas a área dos meus olhos; e outra
masculina, rústica, que cobria o rosto do Sr. Dempsey do nariz para
cima.
Atravessamos o longo hall de entrada e ainda no primeiro
piso adentramos um ambiente que, à primeira vista, lembrava uma
danceteria muito sofisticada, com luzes coloridas pulando para
todos os lados, um bar grande, todo espelhado, a um canto,
pessoas acomodadas em mesas com assentos de couro, outras
dançando ao som da música agitada, que tocava em volume
confortável. Mas não era apenas uma danceteria. Todos ali dentro
usavam pouquíssima roupa e estavam mascarados. Assim que
avançamos pelo local, um homem passou por nós, puxando pela
coleira uma mulher que andava de quatro no chão, como se fosse
um cachorro. Mais adiante, um grupo de mulheres bebiam reunidas
em torno de uma mesa, conversando tranquilamente, o que seria
normal, se um cara não estivesse sob a mesa, também usando uma
coleira, com seu rosto enfiado entre as pernas de uma delas.
Nos aproximávamos dos elevadores, quando fomos
abordados por uma mulher, que cumprimentou o meu chefe com
muita intimidade, abraçando-o e beijando sua face. Era
deslumbrante, alta, com cerca de trinta e poucos anos, tinha cabelos
escuros, a pele clara e olhos azuis. Usava um espartilho preto, que
ressaltava as curvas perfeitas do seu corpo esguio. Era a única ali
dentro que não usava máscara.
— Nem encontro palavras que possam descrever a felicidade
que sinto em vê-lo por aqui depois de tanto tempo — disse ela.
— Infelizmente não posso dizer o mesmo. Por mim, eu
estaria bem longe desse inferno — disse meu chefe, seco e ríspido.
As palavras dele fizeram com que o sorriso dela fosse
morrendo lentamente, ao passo em que seu olhar se deslocava para
mim, como se me relacionasse às palavras dele.
— E esta coisa linda? É sua nova Submissa?
— É uma amiga. Trouxe para conhecer o lugar. Serenity, esta
é Elza, a gerente do Cobongo. Elza, essa é Serenity.
— É um prazer conhecê-la — disse Elza. — Sinta-se à
vontade em nosso cantinho. Se quiser ter uma experiência com uma
mulher mais velha, é só me chamar que te darei a melhor que você
terá na vida.
Minha nossa! Como ela era direta!
— É um prazer te conhecer. E... hum... obrigada.
Ela voltou sua atenção para o Sr. Dempsey.
— Trouxe a chave do seu apartamento? Se precisar, temos
uma reserva.
— Não precisa. A chave está comigo. Com licença.
Dito isto, ele saiu me puxando clube adentro, até entrarmos
em um elevador.
— O senhor tem um apartamento aqui?
— Sim. Muitas pessoas têm. É uma forma de não levarmos
para casa o que fazemos aqui. Eu ia me desfazer dele, mas acabei
protelando até cair no esquecimento.
— Ainda bem que não se desfez.
Ele me olhou com uma carranca, como se eu o tivesse
ofendido profundamente.
Antes que eu tivesse tempo de entender a razão daquele
olhar fulminante, a porta do elevador se abriu e saímos, dando em
um verdadeiro labirinto de corredores semiescuros e sombrios, ao
longo dos quais se estendiam diversas cabines, algumas delas com
janela de vidro transparente, por onde se podia olhar quem estava lá
dentro. Tinham também furos nas partes mais baixas, nos quais
alguns pervertidos enfiavam seus pênis, ou apenas a mão.
Paramos em frente a uma dessas cabines e fiquei impactada
ao ver o que acontecia lá dentro. Dois homens fortes, nus e
mascarados, transavam com uma mulher pequena e franzina, que
se encontrava espremida entre eles, com seu pescoço enfiado no
quadro de uma grade de ferro e seus pulsos amarrados na mesma
grade. Suas panturrilhas estavam amarradas às suas coxas, de
modo que ela estava muito arreganhada, enquanto um dos homens
a comia pela frente e o outro por trás. Seus olhos estavam
vendados e seu rosto próximo aos furos na parede da cabine, onde
os pervertidos do lado de fora enfiavam o pênis para que ela
chupasse, alternando entre todos, sem ao menos ver de quem se
tratava.
— Espero que esteja apreciando o espetáculo. Em breve
poderá ser você no lugar dela — disse o Sr. Dempsey.
— Coitada dessa mulher.
Ele sorriu com escárnio.
— Ela não estaria aí, se não quisesse. É tudo consensual.
Venha. Tem mais.
Ele me puxou pela mão e paramos diante de outra cabine,
onde uma mulher vestida de mulher-gato, mas com suas partes
íntimas à mostra, usava um pênis falso para sodomizar um homem
que se encontrava pendurado no teto por correntes. Mais adiante,
em outra cabine, dois casais se pegavam; em outra, havia cerca de
quinze pessoas se chupando sobre um gigantesco sofá felpudo;
mais adiante nos deparamos com um quarto imenso, com todas as
paredes em vidro, onde mais pessoas trepavam adoidadas.
As cenas mais comuns eram de mulheres sendo
machucadas e torturadas por vários homens ao mesmo tempo, o
que tornava o lugar semelhante a um circo de horrores.
Após a bizarra excursão, o Sr. Dempsey me conduziu de
volta até o elevador, diante do qual paramos de frente um para o
outro.
— Agora você já sabe o que acontece aqui. — O tormento
que eu já conhecia, estava claro na sua fisionomia. — Eu queria
muito ser capaz de me refrear e tirar você daqui, mas agora é tarde,
não posso mais parar. No entanto, vou te dar essa última chance de
ir embora por conta própria.
— Não quero ir embora.
— Se você entrar nesse elevador comigo, se tornará minha
propriedade e apenas minha. Vou te transformar na minha putinha,
para me servir da forma que eu quiser, onde e quando eu quiser. Eu
não tenho sentimentos, nunca vou te amar, nunca vou te dar mais
do que isso, nem um relacionamento e muito menos uma família.
Você não passará de um objeto para mim, será punida sempre que
merecer e será fodida da forma como eu decidir.
Ele parecia determinado a me afastar, porém eu estava
obstinada a ficar. Não apenas pelos quinhentos mil que salvaria a
minha vida, mas porque eu o queria e porque, no fundo, alimentava
uma pequena chama de esperança de que as coisas não fossem
tão terríveis quanto ele colocava. Provavelmente eu havia
enlouquecido.
— Eu quero ficar. Quero ser sua. Mas tenho uma condição.
— Pode falar.
— Quando eu falar que acabou, estará definitivamente
terminado.
Ele nem vacilou.
— Parece justo. Mais alguma colocação?
— Não.
— Ótimo.
CAPÍTULO 13
Serenity
Dito isto, ele apertou o botão do elevador e entramos. O ruído
das portas se fechando me pareceram o anúncio da sentença do
que se tornaria a minha vida daquele momento em diante. Embora
eu estivesse certa sobre o que queria, comecei a tremer dos pés à
cabeça, nervosa, temerosa com tudo o que vi acontecendo
naquelas cabines.
— Não uso as cabines porque acho anti-higiênico — disse
ele, como se fosse capaz de ler meus pensamentos. — Tudo o que
acontecerá entre nós, será no meu apartamento, onde poderemos
receber visitas eventualmente. Tudo tem que ser consensual. Se eu
atingir algum limite seu, ou se a machucar mais do que você possa
suportar, avise-me sem hesitar. E o mais importante: você não
poderá falar sobre isso com ninguém, muito menos com os
funcionários da empresa. Alguma pergunta?
Suas palavras soavam com a frieza de um empregador
explicando o trabalho a um novo funcionário. Aliás, todo aquele
processo era muito frio e impessoal, como se de fato tratássemos
de um negócio. E imaginar que passei toda a minha vida esperando
para ter minha primeira vez com meu príncipe encantado, o homem
que se casaria comigo, me levaria para morar em uma casa com
cerca branca e me daria um punhado de filhos.
— Você não tem nada para perguntar? — insistiu o Sr.
Dempsey, diante do meu silêncio.
— Nós teremos algum tipo de relação fora daqui? Tipo
sairmos pra jantar de vez em quando?
— Não. Fora daqui seremos apenas chefe e funcionária.
Nada além disso. — Ele foi claro e direto. — Não me relaciono de
outra forma com as minhas Submissas, não as levo em meu
apartamento, não durmo com elas. Você jamais poderá me chamar
pelo meu primeiro nome, em circunstância alguma. Mas terá a
opção de sair do seu emprego e ficar em casa. Eu a sustentarei e
darei tudo de que precisar, inclusive um lugar só seu para morar.
A proposta era tentadora, mas Mia desconfiaria de que havia
algo de muito errado com esse homem, se ele passasse a me
sustentar, assim do nada e provavelmente desistiria da barriga de
aluguel. Ela que continuasse acreditando que ele era normal.
— Eu prefiro continuar trabalhando. Se for possível.
— Claro. Embora eu preferisse do meu jeito, essa é uma
decisão sua. Apenas não se esqueça de agir como se não
passássemos de chefe e funcionária.
Como se fosse possível agir de outra forma.
— Sim, senhor.
Como era de se esperar o apartamento dele ficava na
cobertura. Tão logo as portas do elevador se abriram, saímos
diretamente no hall do imenso imóvel. A princípio parecia apenas
uma moradia comum, tão luxuosa quanto o lugar em que ele vivia,
só que menos impessoal. Na sala, os móveis eram em tom pastel,
combinando com as cortinas; havia um grande jarro com flores a um
canto e do outro lado um bar em madeira e vidro tomava quase toda
uma parede.
— Quer beber alguma coisa? — perguntou ele.
— Não. Obrigada.
O Sr. Dempsey foi até o bar e se serviu de uma grande dose
de uísque com gelo. Em seguida, voltou a segurar minha mão e me
puxou pelo apartamento. Ao atravessarmos a sala, fomos de
encontro a imensas portas duplas de madeira envernizadas e
entramos. Era o lugar onde ele realizava suas práticas sexuais. Se
parecia com uma academia de ginástica, amplo e repleto de
aparelhos bizarros, cuja utilidade dava medo só de imaginar. Havia
correntes penduradas no teto, cadeiras de tortura, mesas em
formato de cavalos, uma jaula pendurada no teto com cerca de um
metro de altura, uma cruz enorme em formato de X na parede,
estantes repletas de apetrechos sexuais, inclusive pênis falsos. No
centro do cômodo, estava uma cama redonda, com correntes
presas aos quatro cantos e um espelho no teto, diante dela, uma
poltrona acolchoada.
— Você terá uma chave deste lugar e virá me esperar aqui
sempre que eu mandar. Evitarei que estejamos aqui à noite, mas,
caso aconteça, quero que passe direto pelo salão do clube, sem
paradas. Você vai fazer sexo com outras pessoas enquanto for
minha Submissa, mas nunca sem a minha presença e sem a minha
permissão.
— Sim, senhor.
O Sr. Dempsey tirou seu terno e a gravata, puxou a barra da
camisa de dentro da calça e abriu os primeiros botões, revelando o
início de uma rala camada de pelos escuros sobre seu peito. Em
seguida, sentou-se na poltrona acolchoada.
— Tire todas as roupas, deixe apenas as sandálias e ajoelhe-
se aqui.
Obedeci, despindo-me do sobretudo, da cinta-liga e da meia.
Usando apenas as sandálias de saltos altos e finos, ajoelhei-me ao
lado dos seus pés, quando então ele passou a acariciar meus
cabelos, na parte de cima da minha cabeça, enquanto segurava seu
uísque com a outra mão, dando grandes goles de vez em quando.
— Você é uma boa menina, por isso não vou machucá-la
mais do que você possa suportar. Além disso, vou protegê-la de
qualquer pessoa que tentar te fazer mal, inclusive do tal namorado
que não te comeu. Também te darei tudo de que precisar, e até do
que não precisar. É só me dizer o que quer.
— Não quero nada, senhor. Apenas ser sua.
Ele deu outro grande gole no seu uísque, enquanto
desmanchava a trança dos meus cabelos.
— Em todo caso, me avise se sentir vontade de ir às
compras, ou de se mudar da casa da sua amiga, ou de conhecer
algum lugar do mundo e eu providenciarei.
— Sim, senhor.
— Não gosto de coisas artificiais como perfumes íntimos e
outros artifícios de sex shoppings, gosto do seu cheiro natural de
fêmea e quero encontrá-la sempre nua, quando eu chegar aqui.
— Claro.
— Enquanto for minha Submissa, você deverá me obedecer
cegamente. Se tem uma coisa que não tolero é a desobediência.
— Sim, senhor.
— O que faremos aqui, não será apenas para o meu prazer,
mas também para o seu. Você tem alguma pergunta?
— O senhor diz, enquanto eu for sua Submissa. Por quanto
tempo faremos isso?
— Por quanto tempo eu quiser. Quando eu decidir que
acabou, estará finalizado e não terá mais volta.
Eu só esperava ficar grávida antes que ele me demitisse
desse novo emprego. Era o que parecia, que eu estava sendo
contratada para um novo emprego, com direito a proteção, compras,
moradia e viagens.
— Sim, senhor — concordei mais uma vez.
— Agora sente-se na cama.
Obediente, sentei-me aos pés da cama, de frente para ele.
Seus olhos brilhantes de luxúria varriam minha completa nudez.
— Abra bem as pernas. — Obedeci, abrindo minhas pernas
até o limite, seus olhos sequiosos fixaram-se em meu sexo. —
Toque-se. Masturbe-se para mim.
Fiz o que ele disse, umedecendo dois dedos e infiltrando-os
entre meus lábios vaginais, massageando meu clitóris em círculos,
como costumava fazer quando tinha dezessete anos e ficava
sozinha em meu quarto, após dar uns pegas no carinha com quem
namorava, uma prática que ficou esquecida à medida em que eu era
obrigada a amadurecer e me tornar adulta.
Se alguém me dissesse que um dia eu faria isso diante do
olhar de um homem, eu jamais acreditaria. O fato era que eu mal
me reconhecia. Ao invés de ficar constrangida, gostava da forma
esfomeada como o Sr. Dempsey me observava enquanto eu fazia
aquilo e, quanto mais ele olhava, mais eu queria fazer.
— Você é uma delícia, menina — sussurrou ele, ofegante. —
É assim que sempre deve agir, com obediência e sem tentar
esconder seu corpo do seu dono.
Ele se levantou e parei de mover minha mão.
— Não pare. Continue se masturbando para mim. Mas não
goze.
Recomecei os movimentos circulares sobre meu ponto
sensível, enquanto o observava se despindo. Sem desviar seus
olhos de mim, ele tirou sua camisa e depois a calça, ficando apenas
com a cueca. Era lindo demais. Com seus ombros largos, o peito
musculoso e peludo, os bíceps pronunciados, a barriga lisinha, com
seu abdômen no formato de um V e as coxas grossas e peludas.
Por alguma razão desconhecida, imaginei aquela coxa esmagando
minha boceta e minha vagina piscou.
Sem uma palavra, o Sr. Dempsey aproximou-se de mim,
inclinou-se e segurou na parte de trás dos meus cabelos, puxando-
os e fazendo com que eu erguesse o rosto. Segurou meu maxilar
com a outra mão, imobilizando-me e apossou-se da minha boca
com uma violência absurda, sugando meus lábios com força, um de
cada vez, para depois infiltrar sua língua no espaço entre eles,
entrelaçando-a com a minha, tomando-me para si, como se eu
realmente lhe pertencesse.
Sem soltar-me, foi descendo aquela boca faminta pelo meu
corpo, dando-me mordidas bruscas, deixando as marcas dos seus
dentes sobre minha pele. Até que se agachou à minha frente e
enfiou sua face entre minhas coxas. Soltei um gemido alto quando a
língua, áspera, quente e úmida, passou diretamente sobre meu
clitóris, uma, duas, três vezes, a princípio devagar, para logo dançar
freneticamente sobre ele, com movimentos rápidos e circulares.
Ensandecida de tesão, inclinei meu corpo para trás e
espalmei minhas mãos sobre o colchão, gemendo alto, lançando a
cabeça para trás e me acabando com aquela boca deliciosa me
devorando, minha pele em chamas, meus mamilos sensíveis
endurecendo, suplicando pelo toque de suas mãos.
Eu estava prestes a explodir em um orgasmo, quando o Sr.
Dempsey parou. Foi até uma gaveta e voltou trazendo uma tira de
couro larga, que ligava quatro algemas com fecho em velcro umas
às outras. Ao ver o objeto em suas mãos, senti um calafrio
percorrendo a minha espinha.
— Achou que eu seria delicado na sua primeira vez? — disse
ele, de um jeito ligeiramente perverso. — Você entrou nessa furada
sabendo como seria. Agora aguente as consequências.
Tremi de medo quando ele veio até mim com o bizarro objeto
nas mãos. Fez com que eu me deitasse de costas e o usou para
prender meus pulsos aos meus tornozelos, de modo que fiquei com
meus joelhos dobrados para cima, toda arreganhada e imobilizada.
O jeito esfomeado como ele me observava, como se estivesse
faminto e eu fosse o último alimento da face da Terra, intensificou a
minha excitação, a tal ponto que todos os meus temores foram
desaparecendo.
— Você não imagina o quanto está linda nessa posição,
putinha — grunhiu, de um jeito animalesco. Voltou a inclinar-se
sobre mim e deu uma lambida que foi do meu ânus até meu clitóris.
— Não consigo parar de chupar essa bocetinha virgem. Você tem
gosto de perdição.
Minha vagina melava e se contorcia, pulsando avidamente.
Eu queria que ele continuasse me chupando até que eu gozasse,
mas já tinha entendido que nada ali seria como eu queria e sim do
jeito dele.
— Ah, senhor... por favor... — gemi, ansiosa por uma
libertação.
— As coisas não serão assim tão fáceis para você. — Ele foi
até uma estante e voltou trazendo uma palmatória de couro flexível,
com cabo de madeira, o que me fez estremecer. — Você me trouxe
de volta pra esse mundinho sujo e precisa ser punida por isto.
Subindo de joelhos na cama, ele açoitou levemente um dos
meus mamilos com a palmatória. A primeira sensação foi de um
leve ardor, o qual se espalhou por todo o meu corpo, enviando
violentas correntes de excitação que se concentraram na altura do
meu ventre, fazendo-o se contorcer. Açoitou meu outro seio,
intensificando as sensações que me arrebatavam e continuou me
batendo, alternando entre um seio e outro, depois na barriga, na
pélvis e por fim sobre minha boceta aberta, açoitando-a
repetidamente, com golpes suaves, que acertavam diretamente meu
clitóris e intensificavam minha excitação, me arrastando para uma
espécie de loucura que me fazia querer implorar para que ele me
fizesse sua logo de uma vez.
Minha pele ardia, os lugares que recebiam os golpes da
palmatória latejavam, quando por fim ele parou. Foi até outra
gaveta, onde pegou alguns preservativos e se colocou de pé diante
da cama, tirando sua cueca e permitindo-me finalmente ver seu
membro. Era grosso e longo, com várias veias protuberantes, a
glande rosada e grande. Um líquido transparente escorria da
abertura na ponta.
Eu olhava hipnotizada para aquela parte do seu corpo.
— É a primeira vez que você vê um desses de perto? —
indagou meu chefe, enquanto desenrolava o preservativo sobre sua
imensa virilidade.
— Não. Uma vez entrei no vestiário masculino por engano.
No colégio.
O Sr. Dempsey sorriu e, sem mais palavras, subiu na cama,
engatinhando para cima de mim. Com suas mãos apoiadas no
colchão, colocou-se todo sobre mim, parecendo muito grande e forte
naquela posição. Segurou seu pênis pelo meio e esfregou a glande
entre meus lábios vaginais, lambuzando-se na minha umidade,
provocando-me violentas correntes de excitação, que me faziam
gemer sem querer.
— Caralho... como você está molhadinha e preparada...
como conseguiu guardar esse tesão todo até os vinte anos?
— Eu... nunca conheci ninguém assim.
— Assim como?
— Que me fizesse querer ir até o fim.
— E foi se meter logo numa roubada dessas.
Dito isto, ele encaixou a glande enorme bem na minha
entrada e empurrou-a para dentro de mim, penetrando-me com um
golpe ágil e violento, que me arrancou um grito agudo, de dor e
susto. Com seu pênis todo enterrado de mim, ele parou de se
mover, com seus olhos fixos nos meus.
— Me avise quando parar de arder.
— Sim.
Aos poucos o ardor foi amainando, até se transformar em um
impaciente latejar. Mas não falei nada, temendo pelo próximo golpe.
— Já chega de esperar. Vou me mover de novo — disse ele e
assenti.
Ele puxou seus quadris e os arremeteu contra mim
novamente, sem que dessa vez eu sentisse qualquer dor. Fechou os
seus olhos e soltou um gemido abafado, antes de repetir o
movimento, saindo e entrando bruscamente do meu canal, para
então dar início a uma sequência de golpes firmes e agressivos.
Sua rigidez bruta deslizou na minha carne molhada, atacando minha
sensibilidade como se a intenção fosse me partir em duas.
A sensação de tê-lo dentro de mim era inigualável. A lascívia
me dominava de tal maneira que perdi a consciência de tudo mais, a
não ser do seu corpo forte sobre o meu, me cobrindo e dominando,
e do seu membro me penetrando, causando uma pressão absurda e
deliciosa nas paredes do meu canal, a ponto de me fazer gemer
descontrolada.
Meu corpo todo suplicava pelo dele. Eu queria poder me
mover, acompanhar o ritmo dos seus quadris, esfregar meus
mamilos nos pelos do seu peito, queria percorrer a ponta dos meus
dedos nos contornos daqueles músculos perfeitos e enterrar minhas
unhas na sua pele, mas estava cativa, amarrada, à mercê do que
ele quisesse fazer comigo e ele fazia o que queria.
Não demorou muito, meu corpo todo enrijeceu, ansiando por
uma libertação, quando então o Sr. Dempsey desacelerou os
movimentos de vai e vem, sorrindo perverso, como se me torturasse
deliberadamente.
— Ahhh... por favor... — gemi, ensandecida.
— Por favor o quê?
— Eu... quero... — Não consegui completar a frase.
Não eram apenas os orgasmos, eu queria poder abraçá-lo,
sentir a quentura da sua pele na minha, morder seu queixo forte e
experimentar o gosto da sua boca me devorando.
— Diz que quer gozar no meu pau.
— Eu quero gozar no seu pau... ahhh...
— Fala que é minha putinha, só minha, pra eu fazer o que
quiser e que vai dar essa bocetinha apertada pra mim todos os dias,
pra eu comer como desejar.
CAPÍTULO 14
Serenity
Ele acelerou os movimentos dos seus quadris, fodendo-me
com mais rapidez, e quase fui ao delírio.
— Sim, Senhor... ahhh... eu sou sua putinha... toda sua... me
coma como quiser... todos os dias... ahhh...
Sem desviar seu olhar do meu rosto, ele me deu outro sorriso
perverso e ergueu seu corpo. Segurou meus tornozelos algemados
e os suspendeu no ar, deixando-me ainda mais arreganhada. Então,
acelerou novamente os movimentos dos seus quadris, entrando
fundo, apertado e agressivo, batendo violentamente sua pélvis
contra minha vulva, até que explodi, gozando alucinadamente, com
meu corpo entregue a um descontrole enlouquecedor, que me fazia
gritar e chamar o seu nome, enquanto seus olhos hipnóticos me
observavam.
Ele deu mais três estocadas bruscas e fundas e gozou, sem
emitir qualquer som, seus olhos se fecharam e sua fisionomia se
contraiu em uma magnífica expressão de prazer.
Quando os espasmos do seu pau cessaram, meu chefe
deitou-se sobre mim, apoiando o peso do seu corpo nos cotovelos e
se apossou da minha boca com a sua, em um beijo profundo e
demorado, não tão agressivo quanto antes. Ao interromper o beijo,
segurou minha cabeça dos dois lados, acariciando meus cabelos,
mantendo seu rosto muito próximo ao meu.
— Não consigo sair de dentro de você — sussurrou,
ofegante, animalesco.
— Então não saia.
Ele recomeçou a mover seus quadris, lentamente, entrando e
saindo de mim naquele ritmo lânguido e gostoso, deixando-me toda
acesa novamente.
— Onde você estava durante toda a minha vida, menina?
— Te esperando.
Ele voltou a me beijar, profundamente, fazendo sua língua
dançar contra a minha. Então, deixou os meus lábios e foi descendo
sua boca faminta pelo meu corpo trêmulo, mordendo, beijando,
chupando minha pele, como se tivesse necessidade de mim.
De súbito, retirou-se do meu interior e desceu da cama,
colocando-se de pé e dando-me uma visão clara do seu corpo
grande e delicioso, todo atlético, sem nenhuma grama de gordura
ou flacidez, o pênis ereto com a camisinha cheia pendurada na
ponta. Foi até seu uísque e ingeriu um grande gole, sem desviar
aquele olhar brilhante, carregado de luxúria de mim.
— Chega a ser quase delirante ver você aí toda amarrada e
fodida, com essa bocetinha inchada, suja de sangue e de gozo, mas
ainda pedindo para ser comida — disse.
Ao voltar para a cama, ele trouxe o copo com o uísque nas
mãos. Inclinou-se sobre mim e despejou uma porção do líquido
gelado e ardente sobre meus lábios, depois no pescoço e continuou
descendo, banhando minha pele com a bebida, derramando-a sobre
meus seios, barriga e ventre. Quando derramou uma pequena
porção entre minhas pernas, me encolhi como pude, soltando um
gemido devido ao ardor que o álcool causava sobre meu sexo
sensível, o que fez com que o Sr. Dempsey me desse um de seus
sorrisos perversos, deixando claro o quanto minha dor o agradava.
— Como eu te disse, você se meteu na maior furada da sua
vida. Felizmente nem tudo são espinhos.
Abandonando o copo de lado, ele voltou a se colocar sobre
mim, apoiando-se sobre as palmas das mãos e os joelhos, seu
corpo maciço parecendo muito grande e intimidante sobre o meu.
Inclinou o pescoço e beijou-me com violência, chupando forte meus
lábios, limpando-os do uísque e saqueando minha boca com sua
língua exigente. Em seguida, foi deslizando seus lábios sobre a
trilha de uísque que construíra sobre a minha pele, lambendo e
chupando cada parte de mim em que derramara a bebida. Quando
alcançou o centro entre minhas pernas, me chupou de um jeito mais
agressivo, mordendo e sugando violentamente meus grandes
lábios, lambendo o sangue e os outros líquidos da minha entrada,
penetrando minha vagina com sua língua, tão deliciosamente que
eu gemia e me contorcia sobre a cama, enlouquecida, ansiosa por
tê-lo novamente dentro de mim.
— Ahhh... delícia... — gemi, delirante.
— O que foi, putinha, quer engolir meu pau com essa
bocetinha de novo?
— Ahhh... sim... me come... por favor... eu quero tanto você...
Ele fechou seus lábios em torno do meu clitóris e fez uma
sucção suave, tão deliciosa, que gritei de puro prazer, quase me
derramando em gozo. Porém, antes que atingisse o clímax, ele me
abandonou, afastando-se e levantando-se.
Dando-me uma visão magnífica daquele corpo gostoso, sob a
claridade do quarto, tirou o preservativo usado, jogando-o no chão,
retirou outro da embalagem e se cobriu.
— Nesse caso, vou dar o que você quer — disse, com tom de
ameaça.
Quando ele voltou a subir na cama, suas mãos bruscas
viraram-me de bruços, em um gesto ágil e inesperado, de modo que
fiquei com o rosto apoiado de lado no colchão e precisei dobrar os
joelhos para a frente, para que alcançassem o limite das tiras de
couro que ligavam meus pulsos aos meus tornozelos. A posição era
desconfortável, mas a expectativa do que ele faria em seguida
suplantava esse desconforto.
Da mesma forma repentina como me virara, o Sr. Dempsey
segurou dos dois lados dos meus quadris e me penetrou, por trás,
brutalmente, seu pau enorme afundou todo na carne molhada da
minha vagina, alcançando-me tão fundo que pude senti-lo
empurrando algum ponto sensível dentro de mim, causando certo
desconforto. Contudo, quando tentei escapar do seu ataque, ele não
permitiu, suas mãos de aço seguraram-me firme no lugar.
— Não tente fugir de mim, sua putinha. Você é minha agora e
posso te foder do jeito que eu quiser, inclusive assim. — Ele deu um
tapa estalado na minha bunda. — E posso fazer isto também, sem
que você tenha o direito de reclamar.
Bateu do outro lado e puxou seus quadris, investindo contra
mim novamente, seu pau alcançou-me muito fundo. Parou com ele
todo enterrado em mim e girou os quadris, pressionando ainda mais
forte aquele ponto sensível.
Instintivamente, abaixei mais os ombros e empinei a bunda,
recebendo-o com mais conforto, quando então ele acelerou os
movimentos dos seus quadris. Seus golpes tornaram-se mais
brutais, frenéticos e deliciosos, sua pélvis chocou-se violentamente
contra a minha bunda, o som das batidas se misturava ao dos meus
gemidos altos e descontrolados.
Sem jamais parar de me foder naquele ritmo alucinante, ele
deu outro tapa estalado na minha bunda e depois bateu do outro
lado, esfregando minha pele ardida com a palma da sua mão, só
para bater novamente. Sua selvageria incontida tornou tudo ainda
mais intenso, delirante, enlouquecedor.
Quando dei por mim, as lágrimas estavam fluindo dos meus
olhos, sem motivo e sem controle, enquanto eu gemia e gritava,
proferindo palavras desconexas, como súplicas incompressíveis. Os
músculos do meu corpo enrijeceram, anunciando a explosão. Então,
por pura perversidade, o Sr. Dempsey desacelerou os movimentos,
passando a me penetrar num ritmo muito lento, com a intenção de
me torturar.
— Ah! Por favor! Por favor! — gritei, descontrolada.
Ele se inclinou e passou as duas mãos sobre meus mamilos
intumescidos, em um gesto muito suave, intensificando as labaredas
de tesão que me incendiavam.
— Por favor, o quê?
— Me deixe gozar no seu pau! Ah! Eu quero... ah...
Com isto, ele voltou a me penetrar com aquela brutalidade
deliciosa, enlouquecedora, até que o orgasmo veio, me estilhaçando
em mil pedaços, me fazendo gritar e chorar, com seu pau todo
enfiado em mim, as paredes da minha vagina soltavam espasmos
em torno de toda aquela rigidez.
Eu estava toda mole quando ele deu mais algumas
estocadas profundas e parou, gozando dentro de mim, seus
espasmos deram-me uma última migalha do prazer avassalador.
Ambos desabamos ao mesmo tempo sobre a cama, eu de
lado, toda encolhida por causa das amarras, ele de barriga para
cima, todo espalhado. O momento que seguiu foi de silêncio e
quietude, apenas havia o som da nossa respiração audível no
aposento.
— Você foi feita para o sexo, menina — sussurrou ele,
virando-se para mim, fitando-me com seus olhos verdes mais
brilhantes que o habitual.
— Não sou uma menina.
— Sim, você é. A minha menina.
Como se só então se desse conta de que eu ainda estava
amarrada, ele apressou-se em me soltar, libertando-me das
algemas de couro e me permitindo me espalhar mais
confortavelmente sobre o colchão.
Para minha surpresa, ele massageou meus pulsos e
tornozelos, beijando-os suavemente, para tentar amenizar a dor que
causara.
— Está muito machucada? — indagou, quase como se
sentisse culpa.
— Não. A dor não foi nada, perto de tudo mais que senti.
Hipnotizada com sua beleza máscula, infiltrei meus dedos
entre seus cabelos curtos e os acariciei, descendo para seu rosto,
tocando-o como gostaria de ter feito desde que chegamos. Ao
mesmo tempo, eu deslizava meu corpo lentamente sobre o colchão,
aproximando minha pele nua da dele, necessitando de um contato
mais direto e íntimo, como uma sedenta necessitando de água no
deserto.
— Só senti falta disso — sussurrei.
Ele fechou os olhos e respirou pesadamente, seu maxilar
cerrou quando voltou a abri-los.
Sem conseguir me conter, continuei me aproximando
devagarinho, até que meu corpo estava de encontro ao dele, nossa
pele suada se colando, o bico dos meus seios roçando nos pêlos
ásperos do seu peito.
Minha nossa! Como aquilo era bom. Só não era melhor do
que a forma bruta como ele me tomara.
Indo ainda mais além, pendurei uma perna sobre seu quadril
e esfreguei minha boceta no seu pau semiereto, ao mesmo tempo
em que beijava suavemente sua face, sua boca, seu pescoço, me
refestelando com sua solidez máscula, me inebriando com o cheiro
delicioso que partia de si. Até que ele se afastou de súbito,
levantando-se de cama.
— Esse tipo de proximidade não é algo que eu aprecie —
falou, com a naturalidade de quem descrevia a funcionalidade de
um imóvel a um possível comprador. — Vou até a sala pegar uma
bebida e pedir algo para comermos. Gostaria de algo especial?
Tentando esconder meu desapontamento, espalhei-me
confortavelmente sobre os lençóis macios, apreciando a forma
sequiosa como seus olhos varriam cada detalhe da minha completa
nudez.
— Um sanduíche e suco de laranja está bom, senhor. —
Coloquei um certo sarcasmo na palavra “senhor” e ele fez uma
careta.
— Cuidado com o que diz, menina. Isso pode te custar umas
chicotadas. — Seu tom era de ameaça.
— Claro, senhor — falei, sobressaltada.
Ele tirou o preservativo usado, jogando-o num canto do
quarto, pegou sua calça do chão e vestiu sem a cueca.
— Não demoro. Tente descansar um pouco.
— Claro.
Ele deixou o quarto e um minuto depois estava de volta,
trazendo minha bolsa em uma mão.
— Seu celular está vibrando incessantemente. Deve ser Mia,
ou o perseguidor.
Tensa, sentei-me apressada na cama, encolhendo as pernas
na frente do corpo.
— Deve ser ela. Obrigada.
Ele depositou a bolsa sobre a cama e deu uma boa olhada na
minha boceta, antes de deixar novamente o aposento. Meus olhos
também miraram sua bunda dentro da calça, enquanto ele se
afastava e no exato instante em que sumiu pela porta, lembrei-me
da seringa na minha bolsa e do que eu deveria fazer com ela.
Droga! Eu não podia acreditar que quase deixei isso cair no
esquecimento!
Ainda mais tensa, saquei o celular da bolsa, que já havia
parado de tocar e vi as trocentas ligações perdidas de Mia e de um
número desconhecido. Abri a caixa de mensagens e descobri que o
número desconhecido era de Dylan, que enviara vários recados
exigindo que eu lhe mandasse o contrato da barriga de aluguel,
como havia prometido.
Merda! Será que eu não podia ter um minuto de paz?
Mais que depressa, abri o drive e enviei-lhe uma cópia em
PDF do documento. Agora ele saberia que a verdadeira quantia
tratada com Mia era quinhentos mil e ficaria ainda mais furioso. Por
outro lado, teria certeza de que esse dinheiro realmente existiria e,
com isto, talvez me deixasse em paz por um tempo.
Em seguida, me apressei em digitar uma mensagem para
Mia, que me ligava preocupada por eu não avisar onde estava até
àquela hora.
Serenity
Serenity
— Serenity! Serenity! Serenity!
Acordei com a voz me chamando, a princípio ao longe, para
logo ouvi-la cada vez mais perto. Abri os meus olhos e vi Mia parada
ao lado da cama, usando as roupas com as quais costumava ir
trabalhar. Tentei ignorá-la e voltar a dormir, mas a voz dela alcançou
meus ouvidos novamente.
— Você está passando bem? Quer que chame um médico?
Por que eu não estaria passando bem?
Diante da sua insistência, desisti de continuar dormindo e abri
os meus olhos. Estava meio atordoada, sem saber ao certo que
horas eram, ou como viera parar em meu quarto.
— O que você quer? — indaguei, preguiçosamente.
— O que você acha? Quero saber tudo o que aconteceu
ontem. Passei o dia me roendo de curiosidade.
— Não era para você estar no trabalho?
— E estou. É hora do almoço. Vim aqui pra você me contar
rapidinho.
Hora do almoço? Se eu tivesse dormido por apenas algumas
horas, teria o direito de dormir um pouco mais.
— Me deixa dormir. Tô cansada — falei, voltando a fechar os
meus olhos.
Mas a palavra desistir não fazia parte do vocabulário de Mia e
logo a voz dela irrompeu pelo quarto novamente.
— Eu tenho uma hora, ou mais especificamente quarenta
minutos. Você me conta tudo, eu volto pro trabalho e você volta a
dormir. — Como se não bastasse, ela sentou-se sobre a cama,
obstinada. — Como foram as coisas ontem? Pra onde ele te levou?
Você conseguiu fazer a inseminação?
Desistindo de voltar a dormir, de uma vez por todas, mudei de
posição sobre a cama, virando-me de barriga para cima e abrindo
bem os meus olhos. O que eu ia dizer à Mia? Que o futuro pai do
filho perfeito dela havia me levado a um clube de putaria, me
amarrado de diferentes formas, me trancado numa jaula e feito com
que uma loira chupasse a minha boceta? Ela desistiria na hora
daquela barriga de aluguel, se soubesse sobre as bizarrices do
nosso chefe, portanto, eu precisava mentir, mas sem ir longe demais
e correr o risco de me contradizer.
— Ele tem um apartamento onde leva as mulheres com quem
transa. Fomos para lá. Fica em Chelsea.
— Você conseguiu se inseminar?
— Sim. Ele usou preservativos e precisei fazer uso da
seringa. Mas deu tudo certo. Peguei o esperma ainda fresco.
— Vocês vão se ver de novo?
— Acho que sim.
— Precisamos colocar mais seringas na sua bolsa. Você terá
que continuar fazendo essas inseminações até engravidar, ou até
ele desistir dos preservativos.
— Tudo bem. Não foi tão difícil.
— Ai, minha nossa! Que emoção! Você conseguiu mesmo
levar aquele homem para a cama! Ele é bom de cama?
Olhei-a consternada, com a indiscrição da pergunta e ao
mesmo tempo desconfiada de tamanha curiosidade.
— Tem certeza de que você não é uma hétero incubada e
está a fim desse cara?
— Claro que não. Que ideia! É que o admiro demais e
sempre quero saber tudo sobre ele.
— Bem... ele é bom de cama.
— Foi o que imaginei quando vi você dormindo tanto. Deve
ter sido uma noite longa.
— Sim. fizemos sexo a noite toda. Por isso ele disse pra eu
ficar em casa hoje.
— Enquanto isso, ele está lá trabalhando, como se também
não tivesse passado a noite em claro. Que homem maravilhoso! —
Ela me observou com um pouco mais de atenção. — Que desânimo
todo é esse? Nem parece que passou a noite transando com um
Adônis.
— Eu só estou cansada.
— Nesse caso, vou voltar ao trabalho e te deixar dormir um
pouco mais. Se sentir fome, tem frango congelado e pão na
geladeira.
Animada, ela levantou-se e ia seguindo rumo à porta, quando
me lembrei do que o Sr. Dempsey dissera sobre ninguém poder
saber sobre nós dois.
— Espere — falei e Mia se voltou para mim. — Você não
pode falar sobre isso com ninguém do trabalho. O Sr. Dempsey não
quer que ninguém saiba que estamos... transando.
Vi o sorriso dela ir morrendo lentamente dos seus lábios.
— Por que ele ia esconder isso? Você é uma garota linda.
Qualquer homem se orgulharia de ter você.
Com meu peito pesado, desviei meu olhar para os meus pés.
— Não sei. Acho que ele tem um problema com a minha
idade.
Mia observou-me em silêncio por um instante, então voltou a
sentar-se na cama.
— Acho que agora entendo por que você parece tão triste
depois de passar a noite com um homem daqueles. — Hesitante,
ela repousou sua mão sobre a minha, como se tentasse me
reconfortar. — Não precisa ficar assim. O problema não é com você,
é com ele. Homens importantes precisam ser discretos com suas
relações pessoais. Para você ter uma ideia, nunca vi ele com uma
namorada e olha que o acompanho a vários lugares, inclusive
eventos. Veja pelo lado positivo: pelo menos assim você corre
menos risco de se apaixonar por ele.
Eu acreditava que ela nunca o vira com uma namorada.
— Não se preocupe com isso. Eu estou bem.
— Certo. Eu queria ficar mais aqui conversando, mas preciso
voltar. Nos vemos à noite.
Dito isto, ela levantou-se apressada e se foi.
Tentei voltar a dormir, mas minha bexiga estava cheia e
precisei ir ao banheiro, o que despertou o meu sono de vez. De
volta à cama, peguei meu celular e me deparei com várias
chamadas perdidas de Dylan, além de uma longa mensagem sua.
Serenity
A sala de reuniões já estava lotada, com os participantes
acomodados em torno da grande mesa ao centro. Eu me
encontrava sentada atrás da mesa secundária, diante do notebook,
quando o Sr. Dempsey entrou, lindo, alto, parecendo o rei do mundo
dentro do seu terno impecável, com seus cabelos lambuzados de
gel muito bem penteados. Sem cumprimentar ninguém, sentou-se
em seu lugar na cabeceira da mesa e após examinar alguns papéis,
ergueu seu olhar e o fixou diretamente em mim.
De súbito, a sala pareceu ficar menor, mais quente e
abafada. Lembrei-me da forma bruta como ele me tocava, como me
tomava e praticamente parei de respirar. Com meu corpo todo
quente, a excitação acendeu em mim, de tal maneira que senti
minha pele ardendo, meu rosto ficando vermelho, enquanto ele me
encarava impassível, desprovido de qualquer emoção.
Nos fitamos em silêncio durante um longo momento, até que
um dos senadores atraiu a atenção do Sr. Dempsey, falando algo
sobre o assunto a ser tratado no encontro.
Durante todo o decorrer da reunião estive ciente da presença
daquele homem sentado na cabeceira da mesa, da energia
poderosa que emanava dele, me abalando e desestabilizando, a tal
ponto que deixei de registrar vários momentos importantes dos
acordos que eram selados. E, embora na maior parte do tempo ele
se mostrasse indiferente a mim, de vez em quando eu o flagrava me
observando fixamente.
A reunião havia sido encerrada. Mia e eu estávamos atrás do
balcão da recepção, quando a voz do nosso chefe soou através do
interfone, firme e autoritária como sempre: — Srta. Henderson, traga
os relatórios, por favor.
Mia logo me deu aquele olhar matador.
— Hummm... parece que vamos ter pegação no escritório
hoje — disse ela, zombeteira.
— Até parece que ele vai quebrar a norma que ele mesmo
criou.
— Aposto que vai. Não se esqueça de pegar o preservativo,
caso algo aconteça.
— Mia!
— O que foi? Temos que ser práticas.
Desamarrotando o vestido de linho colado que usava, como
se estivesse cheio de rugas, respirei fundo, ajeitei meus cabelos e
entrei na sala dele. Bastou que meus olhos repousarem sobre sua
imagem, sentado atrás da sua mesa, imponente e majestoso, com a
paisagem de Manhattan às suas costas, para que tudo dentro de
mim se transformasse em uma agitação incontrolável e inquietante.
Eu queria realmente não sentir nada por esse homem, mas a
verdade era que ele tinha o poder de suscitar em mim um desejo
feroz e incontrolável, que me deixava sem chão.
— Tranque a porta — disse ele, sério e inabalável.
Tranquei a porta e voltei a caminhar em sua direção. Estava
no centro da sala, quando ele voltou a falar, com sua voz autoritária
e incontestável: — Pare aí mesmo. — Obediente, parei — Suba a
saia do vestido e tire a calcinha.
Sem ao menos cogitar desobedecer, ergui a saia do vestido
colado até a cintura, deixando-a enroscada na cintura e tirei a
calcinha minúscula, jogando-a sobre o sofá.
— Agora abra as pernas.
Obedeci, afastando bem as pernas uma da outra. Quando os
olhos dele fixaram-se em meu sexo, sua expressão tornou-se árdua
e intensa demais, fazendo o calor da lascívia se espalhar depressa
pelo meu sangue.
— Você tem ideia de quanto prejuízo eu levei na negociação
de hoje, por não conseguir parar de olhar para você e pensar nessa
bocetinha ruiva por baixo do seu vestido?
— Lamento pelo seu prejuízo, senhor — entrei no jogo dele,
simplesmente porque isso me excitava demais.
— Suas lamentações não são suficientes. — Ele levantou-se
e caminhou até mim. — Você precisa de um castigo. Precisa levar
uns tapas.
Meu chefe rodeou-me, observando atentamente meu corpo
nu da cintura para baixo, então parou à minha frente e fechou sua
mão no comprimento dos meus cabelos, atrás da cabeça, puxando-
os e me fazendo erguer o rosto. Segurou meu maxilar com a outra
mão, forçando-me a abrir a boca e cuspiu dentro dela, tomando
meus lábios em seguida, num beijo selvagem e violento, com sua
língua me explorando gostoso, empurrando minha cabeça com a
mão e intensificando a pressão dos seus lábios nos meus.
Sua mão livre desceu pelo meu corpo, beliscou meus
mamilos e deu início a uma sequência de tapinhas sobre minha
boceta, os golpes atingiram meu clitóris exposto, me fazendo querer
correr dali e ao mesmo tempo gemer, mas sem que eu pudesse
fazer nem uma coisa nem outra, com sua mão me segurando e sua
boca devorando a minha.
Ele afastou-se alguns centímetros e, sem desviar seu olhar
do meu, tirou sua gravata. Sem delicadeza alguma, me fez virar de
costas, amarrou meus pulsos e me conduziu até o sofá de três
lugares, deitando-me de bruços sobre o braço do móvel, de maneira
que fiquei com os ombros apoiados no assento e a bunda suspensa
sobre o braço estofado.
Com mãos brutas, meu chefe abriu minhas pernas até o
limite e deu um tapa estalado na minha bunda.
— Está vendo a situação na qual você se colocou? — rosnou
ele. — Há dois dias você estava bem e agora está de bunda pra
cima, seminua, levando tapas de um pervertido que quer te comer
de todas as formas possíveis.
— Me coma como quiser. Sou sua para fazer qualquer coisa
comigo.
Eu queria muito que aquelas palavras fossem da boca para
fora, mas não eram. Cada minúscula partícula do meu ser ardia por
aquele homem. Eu me sentia como se realmente pertencesse a ele
e gostava do que ele fazia comigo, inclusive da sua brutalidade.
— Eu farei. Mesmo que você quisesse escapar, agora seria
tarde.
Ele abaixou-se atrás de mim e afundou seu rosto entre
minhas nádegas, lambendo meu sexo por trás, movendo sua língua
sobre meu ânus, depois sobre meu clitóris e, por fim, infiltrando-a na
minha vagina, numa penetração rasa e macia que me fazia me
contorcer e gemer de tanta vontade de senti-lo duro e grande ali
dentro.
Meu chefe comeu minha boceta com sua língua, enquanto
dava tapas na minha bunda, até que minha pele estivesse ardendo
e eu estivesse a ponto de gozar. Então, levantou-se, abriu o zíper da
sua calça e colocou o preservativo. Segurou firme meus quadris e
me penetrou, entrando duro e fundo, arrancando-me um grito de
puro prazer. Passou a mover-se em um vai e vem dentro da minha
vagina, deslizando gostoso nas paredes lambuzadas do meu canal,
ao mesmo tempo em que fodia meu ânus com um dedo, depois
outro, até que estava com três dedos ali atrás, fazendo uma pressão
tão deliciosa e delirante no meu corpo imobilizado pela gravata, que
eu gritava e choramingava, pronunciando seu nome, pedindo
desesperadamente por mais e ele me deu, movendo-se cada vez
mais freneticamente, em ambas as penetrações, até que explodi,
gozando e chorando, mergulhando em um êxtase delirante e
inesquecível.
Tão logo meu corpo começou a relaxar, ele acelerou ainda
mais as estocadas e parou com seu pau todo dentro de mim,
gozando em silêncio, seus espasmos fizeram minha vagina se
contrair e relaxar em torno do seu membro.
Ao retirar-se do meu interior, o Sr. Dempsey ajudou-me a ficar
de pé e libertou meus pulsos da gravata.
— Vista-se! — ordenou, seco e duro.
Não parecia o mesmo homem de minutos atrás. Agora seu
semblante estava contraído, sério, seu olhar frio como gelo. Voltara
a ser apenas o meu chefe arrogante e autoritário.
Enquanto eu vestia minha calcinha, ajeitava a saia do vestido
de volta no lugar e tentava colocar ordem nos meus cabelos
bagunçados, o Sr. Dempsey foi até uma gaveta e voltou trazendo
dois molhos de chaves e uma caixinha preta. Entregou-me primeiro
as chaves, dizendo: — Essas são as chaves do seu novo
apartamento. Fica em Chelsea, perto do Cobongo, mas em um
edifício residencial. Esse é seu carro, para que você não precise
pegar táxi quando for me encontrar. E esse é um celular menos pré-
histórico que o seu, para que não perca as minhas mensagens
quando eu mandá-la vir me encontrar. Tire o resto da tarde de folga,
para fazer sua mudança. É só isso — ele falava com a
impessoalidade de um chefe que se dirigia à sua funcionária, como
se não tivesse acabado de me comer sobre o sofá da sua sala.
— Eu não preciso de nada disso. Estou feliz no apartamento
da Mia, não preciso de um carro e meu celular funciona muito bem.
— Não seja orgulhosa. Você precisa de tudo isso. E seu
celular é uma porcaria.
Eu realmente não queria aceitar nada daquilo, pois tinha a
horrível sensação de que ele estava me pagando por sexo. No
entanto, era perda de tempo discutir com aquele homem, visto que
as coisas tinham que ser sempre do seu jeito.
— Sim, senhor — falei, recebendo os presentes.
Continuei parada, observando-o, sem conseguir me mover,
como se uma espécie de feitiço me prendesse àquele homem, me
impedindo de me afastar, enquanto ele me encarava de volta,
ambos mergulhados no mais absoluto silêncio, até que ele falou: —
Eu já ia me esquecendo. — Ele enfiou a mão no bolso do seu
paletó, de onde sacou um pequeno envelope. — Aqui está o
endereço de um ginecologista com quem marquei uma consulta
para você. Ele te receitará um anticoncepcional, para que possamos
nos livrar dessa merda de camisinha.
Fiquei subitamente tensa, ciente de que minhas próximas
palavras seriam cruciais para o sucesso do plano de Mia.
— Eu já estou tomando anticoncepcional, comecei ontem.
Fiquei espantada com a minha capacidade de conseguir
mentir assim tão descaradamente.
— Ótimo! Por que não me avisou?
— Achei que não seria relevante.
Ele aproximou-se um passo de mim, colocando-se tão perto
que o cheiro do seu perfume me deixou inebriada.
— Entenda uma coisa, criança, tudo o que diz respeito a você
é relevante para mim, pois agora você me pertence, portanto,
preciso ser informado sobre cada um dos seus passos e até sobre
seus pensamentos. Se você quiser ir a um restaurante com amigas,
ou até mesmo tiver um ataque de tosse, eu preciso saber.
Enquanto ele falava, eu percorria meus olhos pelo seu rosto,
enfeitiçada com sua beleza máscula, com o contraste do verde dos
seus olhos com o tom moreno da sua pele. Fixei meu olhar na sua
boca linda e instintivamente umedeci meus lábios, dominada por
uma vontade quase insana de beijá-lo, de sentir novamente o gosto
daquela boca deliciosa, de morder seu queixo forte, abraçá-lo e
acariciá-lo inteiro. Eu estava carente de carinho e afeto, como
sempre me sentia depois que fazíamos sexo. Ainda assim, me
contive e não me movi, ciente de que ele não me daria o que eu
precisava.
— Será que fui bem claro? — enfatizou ele.
O que ele tinha dito mesmo?
— Sim, senhor — falei.
Nos encaramos em silêncio durante um longo momento, com
a energia sexual crepitando no ar enquanto todas as minhas células
relutavam em afastar-se dele.
— Pode ir — finalizou ele e dei-lhe as costas, deixando a
sala.
Atravessei a recepção e me coloquei em meu lugar atrás do
balcão, tão inebriada por aquele homem que mal enxerguei Mia à
minha frente, até que ela falou: — Nossa! A coisa estava boa lá
dentro. Até ouvi um grito.
— Impressão sua — falei, despertando do transe.
— E o que é isso? Ganhou algum presente?
— Um celular, um carro e um apartamento.
A expressão dela passou de irreverente para chocada como
num passe de mágica, seu queixo caiu até o chão.
— Tá falando sério?
— Sim. Ele quer que eu more sozinha, pra poder ir me
encontrar a hora que der vontade. O telefone é para que eu não
perca as suas mensagens e o carro é para quando formos sair
juntos.
Evitei mencionar o Cobongo e todas as maluquices que
nosso chefe fazia lá.
— Essa coisa entre vocês está evoluindo rápido.
— Ele é um homem prático. E tem mais. Eu disse a ele que
estou tomando anticoncepcional e ele acreditou.
Esperei que ela desse um pulo de alegria, mas Mia não se
moveu.
— Assim tão fácil? Que coisa estranha.
— O futuro pai do seu filho é um homem estranho.
Ela estendeu o dedo indicador diante dos seus lábios,
pedindo silêncio.
— Não fale sobre isso aqui, assim tão alto. Alguém pode
ouvir — repreendeu-me ela. — Agora vamos voltar ao trabalho. Tem
muita coisa pra digitar aqui.
— Ele me mandou tirar o resto do dia de folga, pra me mudar.
Isso é um problema pra você?
— Você morar em outro lugar enquanto produz o meu filho?
Claro que não. Mas no instante em que engravidar, você termina
com ele e volta pro meu apartamento, certo? Quero acompanhar
essa gravidez de perto.
— Certo.
Pendurei minha bolsa no ombro e segui rumo à porta,
enquanto ela me observava.
— Às vezes, eu queria ter nascido hétero só pra ter todas
essas regalias. As mulheres nunca são tão generosas assim.
— Vai ver você ainda não conheceu a mulher certa.
— É, vai ver você tem razão.
Quase tive um ataque cardíaco quando adentrei a garagem,
apertei o alarme na chave do carro que o Sr. Dempsey havia me
dado, descobrindo que se tratava de nada menos que um Jaguar
conversível, cinza metálico, lindo de viver. Aquele carro devia custar
uns duzentos mil. Quem, na face da Terra, daria um carro nesse
valor de presente a alguém?
Pensei seriamente em voltar ao escritório dele e devolver a
chave, mas ele não aceitaria. Então, apenas relaxei e entrei naquela
maravilha, dirigindo-o para fora da garagem do edifício.
Assim que avancei pelas agitadas ruas de Manhattan, fui
invadida pela estranha sensação de que estava sendo observada e
um calafrio desceu pela minha espinha. Olhei para todos os lados,
checando se Dylan não estaria por perto, me espreitando, ou se
porventura algum dos seguranças do Sr. Dempsey não continuava
me seguindo, mas não identifiquei ninguém estranho, ou familiar.
Devia ser apenas impressão minha.
Digitei o endereço do apartamento novo no GPS e fui direto
para lá. Ficava em um luxuoso edifício residencial em Chelsea, a
duas quadras do clube de putarias onde meu chefe me levara.
Como esperado, era enorme, com duas salas, de ambientes
distintos, dois quartos, cozinha e até uma biblioteca. Achei estranho
não encontrar nenhum equipamento voltado para o BDSM ali, visto
que minha existência na vida daquele homem parecia se resumir a
sexo.
Após vistoriar o apartamento, voltei ao de Mia e peguei
apenas uma bolsa grande com roupas, já que em breve, tão logo
engravidasse, estaria de volta à casa dela.
Ao contrário do que esperei, não foi confortável dormir
sozinha no apartamento grande demais para uma pessoa. Senti
falta de companhia, de saber que tinha alguém por perto, afinal era
a primeira vez que eu morava só. Por um instante achei que o Sr.
Dempsey apareceria, nem que fosse para dar uma foda, como
sempre, mas ele não deu sinal de vida. Sequer enviou uma
mensagem e passei praticamente a noite toda em claro, desejando
estar com ele, ter o calor dos seus braços em volta de mim. Mas
isso era querer o impossível. Aquele homem jamais seria meu de
verdade, eu jamais teria o seu carinho. Ele já havia deixado mais do
que claro que só me queria para sexo e nada além disso.
***
***
Serenity
Serenity
Serenity
Em questão de minutos, meu chefe e eu estávamos
trafegando pelas ruas de Manhattan, as quais se encontravam
menos movimentadas àquela hora da madrugada. Ao som de um
ritmo lento do Coldplay, que tocava em volume baixo dentro do
veículo, fechei meus olhos e cochilei, tamanho era o meu cansaço.
Quando voltei a abri-los, ainda era noite e ainda estávamos
no carro, só que fora da cidade.
— Onde estamos indo? — indaguei, sonolenta.
— A Hudson.
— E o que vamos fazer lá de tão importante que não pode
esperar o dia amanhecer?
— Nada de tão importante. Só meus pais carentes de
atenção e fazendo chantagem emocional para me atrair, de novo.
Tensa, ajeitei-me sobre o assento.
— O senhor tem pais?!
Ele sorriu, achando graça.
— Claro. Não nasci de uma incubadora.
Subitamente, tomei consciência do minúsculo comprimento
do vestido que estava usando.
— Eu não posso aparecer na frente dos seus pais vestida
assim.
Seus olhos lindos examinaram-me dos pés à cabeça.
— Não está tão ruim.
— Aconteceu alguma coisa com eles?
— Não. Como eu disse, é só chantagem emocional.
Em pouco tempo estávamos adentrando os portões da
imensa propriedade, a qual se tratava de uma imponente mansão
em estilo colonial, situada no pico de uma colina, cercada pelo verde
exuberante por todos os lados e com uma vista longínqua do rio
Hudson. O lugar impressionava facilmente pela beleza e pelo
sossego.
— É lindo aqui — comentei, impressionada. — É o lugar onde
o senhor cresceu?
— Sim. Nasci e cresci aqui. Já tentei levar meus pais embora,
instalá-los em um apartamento mais perto da civilização, mas eles
insistem em ficar nesse fim de mundo.
— E quem cuida deles, os seus irmãos?
— Sou filho único. Os empregados cuidam de tudo por aqui.
Por isso queria levá-los para Nova Iorque, onde poderia dar-lhes
atenção sem precisar dirigir duzentos quilômetros no meio da
madrugada.
Não era difícil imaginar o Sr. Dempsey crescendo naquele
lugar, brincando em meio a todo aquele verde, provavelmente aos
cuidados de babás, tendo tudo o que uma criança sonhava em ter,
sem que nada lhe faltasse. A imponência da luxuosa propriedade
combinava com ele.
Fiquei nervosa quando saltamos do carro e entramos na
casa, os saltos das minhas sandálias fizeram eco no piso de
mármore do imenso hall, onde fomos recebidos por uma mulher de
meia-idade, usando um uniforme de governanta.
— Graças a Deus, o senhor veio! — disse ela, aflita — Eles
estão impossíveis. Cismaram que a cozinheira estava colocando
medicamento para dormir na comida e acabaram demitindo a
coitada. Pouco depois de ir embora, ela voltou com o filho, exigindo
um pedido de desculpas e uma indenização pela falsa acusação.
O Sr. Dempsey parou diante da mulher e a encarou com
aquela expressão assustadora, como se tivesse a intenção de atear
fogo nela a qualquer instante.
— Você deixou que um desconhecido qualquer entrasse
aqui?! — vociferou, abruptamente.
— Eu não pude fazer nada. A mulher usou a chave que tinha
levado sem autorização.
— Foi descuido seu deixar ela levar essa chave!
— Verdade, senhor, admito meu erro. Mas agora está tudo
resolvido. O segurança os levou embora daqui. Nada de mal
aconteceu.
— Nada de mal, a não ser que o dia já está quase
amanhecendo e meus pais ainda não foram dormir! É esse tipo de
cuidado que você tem com eles?
— Mas, senhor...
Sem esperar que a mulher continuasse falando, ele voltou a
caminhar casa adentro, enquanto nós duas o seguíamos. Ao
avançarmos por uma sala com lareira e várias estantes com livros,
encontramos a mulher sentada em uma poltrona, levantando-se
agitada ao pousar seus olhos sobre o Sr. Dempsey. Devia ter uns
setenta anos, apesar de aparentar menos, devido à pele muito bem
cuidada. Era alta e morena, muito parecida com ele.
— Finalmente você apareceu. Achei que não atenderia o
telefone — disse ela, indo ao encontro do filho.
Fiquei pasma quando ele lhe pediu a bênção, como os
católicos costumavam fazer e ainda mais perplexa quando a
estreitou com ternura em seus braços, mantendo-a junto a si
durante um longo momento. Era estranho ver um homem frio como
ele dando e recebendo carinho. Por uma breve fração de segundo,
desejei estar no lugar daquela mulher.
— Que loucura é essa de a cozinheira estar colocando
medicação na comida? — indagou ele, ao desvencilharem-se do
abraço.
— Não é loucura. Seu pai e eu mal terminávamos o jantar e
estávamos sonolentos. Isso era coisa dela. O fazia para roubar
quando estive... — ela interrompeu, pousando seu olhar sobre mim,
como se só então notasse a minha presença na sala. — É uma
garota? — indagou, com a mesma perplexidade de quem
perguntava se um disco voador acabara de pousar na Terra.
— Ah, sim. Essa é Serenity, uma amiga. Serenity, essa é
minha mãe Elizabeth.
— É um grande prazer conhecer a senhora — falei,
oferecendo-lhe um sorriso.
A mulher me avaliou dos pés à cabeça, me impulsionando a
me encolher um pouco, inibida com o comprimento do meu vestido.
Contudo, relaxei quando ela abriu um largo sorriso.
— O prazer é todo meu. Seja mais que bem-vinda à nossa
casa. — Ela veio até mim e me surpreendeu ao beijar minhas
bochechas. — Você é realmente uma graça. — Sem desfazer o
sorriso dos seus lábios, virou o rosto na direção de uma porta, que
dava para outro cômodo. — Querido! Ele trouxe uma garota! —
disse aquilo como se anunciasse uma grande notícia.
No instante seguinte, o homem apareceu daquela porta.
Parecia mais velho que ela. Devia ter uns setenta e cinco anos. Era
alto, esguio e tinha os olhos da mesma cor dos do seu filho.
— É mesmo uma garota?! — O homem olhou para mim
espremendo seus olhos por trás das grossas lentes dos seus
óculos, como se custasse a acreditar na minha presença ali.
Assim como fez com a mãe, Dempsey pediu sua bênção,
depois o abraçou com ternura e por fim nos apresentou, antes de
voltar a expressar seu temperamento emburrado habitual.
— Que história é essa de sedativo na comida, pai? Vocês
têm alguma prova?
— Isso é coisa da cabeça da sua mãe. Eu falei pra ela que
não podíamos acusar a cozinheira sem termos nenhuma prova.
— Não é coisa da minha cabeça. Eu guardei o último prato
que ela preparou e vou enviar para análise em um laboratório. Mas
vamos esquecer essa história. Já está tudo resolvido. — Elizabeth
voltou a sorrir, ao olhar para mim. — E então, de onde vocês se
conhecem?
Antes que eu tivesse tempo de responder, meu chefe
interveio, nervoso: — Como assim está tudo resolvido? Se ela for
inocente, o filho pode cismar de voltar aqui para criar confusão.
— Se ele voltar, a gente dá a indenização que eles querem.
Essa gente só pensa em dinheiro. Podemos afastá-los com uma
pequena quantia.
— E se eles não se afastarem? É melhor vocês se mudarem
para Nova Iorque. Até porque, se essa mulher foi capaz de sedá-los,
pode fazer coisa bem pior.
— Ah, querido. Não seja exagerado. Foi só uma bobagem.
Vamos esquecer essa história toda. Por que não nos sentamos na
varanda e tomamos um bom café da manhã? O dia está quase
amanhecendo e você e sua amiga devem estar com fome. Venham.
Vamos comer e esquecer o resto.
Mesmo sem conhecer a Sra. Dempsey, naquele instante
compreendi que ela inventara toda aquela história de sedativo na
comida com o objetivo de atrair o filho até ali. Eu podia estar errada,
mas era o que parecia, devido à sua pressa em fugir de um assunto
que seria muitíssimo grave se fosse verdade. E, pelo que pude
perceber, meu chefe chegou à mesma conclusão, pois seguiu os
pais até os fundos da casa, sem tocar mais no assunto.
Todos nós nos acomodamos a uma mesa grande,
confeccionada com palha africana, que ficava em uma ampla
varanda nos fundos da mansão, onde havia uma gigantesca piscina
e de onde se podia avistar o sol nascendo por trás das águas
calmas do rio Hudson, em uma esplendorosa paisagem, que
emanava calma e tranquilidade. Eu entendia por que os dois idosos
não queriam ir embora dali. O lugar era simplesmente encantador.
Como a cozinheira não se encontrava mais na casa, a Sra.
Dempsey ordenou que a governanta se encarregasse de preparar o
café.
— Você se lembra de quando tomávamos o café aqui todos
os dias, antes de você ir para a escola e seu pai para o trabalho? —
indagou a Sra. Dempsey, observando o horizonte ao longe, com
uma expressão saudosa.
— Claro que eu me lembro, mãe. Passei praticamente minha
vida toda aqui. Só fui embora quando entrei na faculdade. Como eu
poderia não lembrar?
— Você vem tão pouco aqui que, às vezes, acho que se
esqueceu de nós.
— Eu jamais me esqueceria de vocês. Acontece que trabalho
muito e quase não tenho tempo para nada.
— A vida não é só trabalho. — Dessa vez foi o pai quem
falou. — De que adianta acumular tanto dinheiro, se não vive a vida
direito? E o que é pior, se não tem nenhum filho para quem deixar
tanta riqueza?
Os dois idosos olharam para mim ao mesmo tempo e fiquei
subitamente tensa.
— Não trabalho só pelo dinheiro, mas porque gosto. Nada me
faz mais feliz do que vencer no mundo dos negócios. Sobre ter
filhos, não vamos tocar nesse assunto de novo. Vocês sabem que
isso nunca vai acontecer. O mundo já tem gente demais e milhões
dessas pessoas vão fazer bom proveito do meu dinheiro, quando eu
não estiver mais aqui para usufruir dele.
Quanto mais ele falava, mais tensa eu ficava. Seu discurso
não deixava claro se ele jamais teria filhos porque não podia, ou
porque não queria. Provavelmente não queria, ou não teria me
mandado tomar anticoncepcionais. Eu nem quis imaginar o que
aconteceria se ele soubesse que poderia se tornar pai a qualquer
momento.
Caso essa gravidez realmente acontecesse, o que era
bastante provável, ele não poderia nem desconfiar que essa criança
existia, do contrário seria capaz de destruir tanto a mim quanto a
Mia, por ter sido imperdoavelmente enganado e manipulado.
— Não vamos falar sobre assuntos tão pesados na frente da
moça, ou iremos assustá-la — disse Elizabeth, dando-me um
simpático sorriso. — Me diga, querida, como conheceu nosso filho?
— No trabalho. — Foi tudo o que saiu da minha boca.
Felizmente, o Sr. Dempsey interveio: — Ela é minha
secretária. Ou melhor dizendo, uma nova estagiária. Quando vocês
ligaram nós estávamos em um... jantar de negócios. Por isso viemos
juntos.
Foi a primeira vez que o vi desconcertado e só consegui
sorrir, encantada, achando-o ainda mais charmoso.
— Foi assim que eu e o pai dele nos conhecemos também,
no trabalho — continuou Elizabeth, dirigindo-se a mim, com
simpatia.
— É verdade. No nosso caso, ela era a filha do chefe e eu o
advogado da empresa. Quando a conheci, jurei a mim mesmo que
me tornaria mais poderoso que o pai dela e logo era dono do maior
escritório de advocacia de Nova Iorque.
— Então vocês também não trabalham no ramo das
construções?
— Fiz isso a maior parte da minha vida, depois que vendi o
escritório de advocacia e fiz o melhor investimento da minha vida.
— É um verdadeiro exemplo de que o amor ajuda as pessoas
a crescerem.
— Exatamente.
— E você, Serenity, pretende ter filhos um dia? — disparou a
Sra. Dempsey e subitamente tive uma pequena crise de tosse.
— Bem, eu... ainda não sei. Provavelmente sim.
— Vamos parar de fazer perguntas indiscretas à menina! Não
estão vendo como ela ficou desconcertada? — falou meu mal-
humorado chefe-Dominante.
Pouco tempo depois, a governanta apareceu trazendo o café,
um verdadeiro banquete, com frutas, panquecas, bacon, café, leite e
cereais. Fizemos a refeição envolvidos por uma conversa leve e
descontraída, durante a qual apenas o Sr. Dempsey se mantinha o
tempo todo sério e emburrado, enquanto o resto de nós sorria e se
divertia com o que era falado e falamos sobre vários assuntos,
inclusive sobre a infância dele naquele lugar, no quanto sempre foi
mais sério e maduro que os outros garotos da sua idade e no
quanto se interessou cedo pelos negócios.
Ao fim da refeição, o Sr. Dempsey finalmente conseguiu
convencer os pais a irem para a cama, descansar e me conduziu
até um quarto de hóspedes, decorado com requinte, mas sem faltar
aquele aspecto aconchegante.
— Quero que descanse um pouco, você está precisando.
Quando estiver pronta, o motorista do meu pai a levará de volta até
Nova Iorque. Até mais tarde.
Ele fez menção de deixar o quarto e me apressei em falar: —
Espere. O senhor também passou a noite em claro. Não vai
descansar?
— Não posso. Tenho uma reunião daqui a pouco.
— Mas hoje é sábado. Estamos de folga.
— Vocês estão de folga. Eu não.
Novamente, ele se virou na direção da porta e imaginei o que
poderia acontecer se ele saísse por aí dirigindo sem ter dormido
nem um minuto durante a noite. Apertei os olhos, aflita com as
imagens que se passaram pela minha cabeça e me apressei em
tomar-lhe o caminho.
—Por favor, não vá.
— Por que não?
— Porque estou pedindo. E porque é perigoso dirigir por aí
sem dormir, eu não conseguiria descansar sabendo que está
correndo riscos.
Ele pendeu sua cabeça para o lado, reflexivo.
— Você andou falando com a minha mãe?
— Não. Apenas me preocupo com o senhor. Por favor, fique.
— Estou acostumado a dirigir com sono. Não precisa se
preocupar. Nada de mal vai acontecer.
— Então fique por mim. Não me deixe aqui sozinha. Por
favor.
Por fim, ele suspirou pesadamente, anunciando sua derrota.
— Tá. Já que você insiste tanto, vou cancelar minha reunião.
Estou mesmo muito cansado.
Agindo por impulso, pulei no pescoço dele, me colocando na
ponta dos pés para abraçá-lo. Afundei meu rosto na curva do seu
pescoço e espalhei uma trilha de beijos dali até seu queixo,
mordendo-o com prazer.
— É melhor você parar com isso, ou terá que lidar com as
consequências e você precisa descansar. Além disso, não quero
uma garota sem conseguir se sentar, andando pela casa dos meus
pais. O que eles iam pensar de mim?
Só consegui sorrir da sua fala, feliz porque ele não pegaria a
estrada naquele estado.
Após usar o banheiro rapidamente, tirei o vestido apertado e
deitei-me usando apenas a camisa dele e a cueca por baixo. Logo
depois de dar um telefonema, cancelando sua reunião, o Sr.
Dempsey deitou-se do outro lado da cama, o mais longe possível de
mim, apagou a luz do abajur, disse boa noite e ficou em silêncio.
Sem conseguir resistir, fui deslizando sobre o colchão até
perto dele e me aconcheguei ao seu corpo, jogando uma perna e
um braço sobre ele, enquanto seus músculos enrijeciam de tensão.
Apesar da noite em claro e do sexo fora dos padrões, ele tinha um
cheiro delicioso, uma mistura de perfume, com uísque e suor.
— Serenity, o que está fazendo? Sabe que não vou conseguir
me controlar se ficar assim tão perto e ambos precisamos de
descanso.
— Não consigo ficar longe. É como se o senhor tivesse um
ímã que me puxasse.
— Não deixe que esse tipo de sentimento se fortaleça. Você
é uma garota que precisa de amor e de carinho e não posso te dar
nada disso. Tudo o que tenho a te oferecer é a barbárie que fizemos
ontem. Nada além. E sinto que você precisa de mais.
— Nesse momento, tudo o que preciso é ficar assim com
você. O resto não importa.
Ele suspirou e senti seu corpo relaxar um pouco.
— Durma, criança. Daqui a pouco precisaremos voltar a Nova
Iorque.
— Não sou criança.
— É quase uma, por isso jamais me perdoarei pelo que estou
fazendo com você.
— Não está fazendo nada que eu não queira.
— Você não tem idade para entender o que quer.
— Engano seu. Sou adulta.
— Mas não conhece a vida, como eu. Eu não devia ter te
arrastado para esse mundinho sujo em que estamos.
— Eu quis ser arrastada pra esse mundo.
— Não, Serenity, você sequer o conhecia. Agora durma. Boa
noite.
— Boa noite.
Fechei os olhos e permaneci o mais imóvel possível,
apreciando o cheirinho gostoso dele, me refestelando no calor do
seu corpo. Meu coração agitado recusava-se a se acalmar e me
deixar dormir.
Lembrei-me da conversa com os pais dele e não me contive.
— É verdade que o senhor nunca pretende ter filhos?
Ele demorou a responder. Achei que seria ríspido e me
mandaria calar a boca, mas sua voz veio calma e gentil: — É.
— Por quê?
— Pelo mesmo motivo que você não pode se ligar a mim. O
que eu teria a oferecer a uma criança? Eu não sei amar, sou a porra
de um animal que gosta de machucar as pessoas. Uma criança não
sobreviveria sob o mesmo teto que eu.
Senti uma leve pontada de angústia no tom de sua voz e,
impulsivamente, acariciei sua face e seus cabelos com a ponta dos
dedos.
— Você não é assim. Apenas não encontrou a pessoa certa
para amar. E não há condenação em machucar alguém durante o
sexo, se é consensual.
— Como não encontrei a pessoa certa, se já se passaram
mais mulheres pela minha vida do que você possa contar e
nenhuma delas saiu disso feliz? As que não morreram, como
Eleanor, foram embora magoadas, porque esperavam pelo meu
amor e não tiveram nada além de sexo e surras. Não se torne uma
dessas mulheres. Saia da minha vida enquanto ainda não está tão
afetada.
— Eu já estou afetada. — Estremeci ao ouvir minhas próprias
palavras e constatar o quanto eram verdadeiras. Eu estava afetada
por aquele homem muito mais do que as loucas circunstâncias que
me levaram a ele podiam permitir. — E não sairei da sua vida, a
menos que me mande embora.
Lamentei ao perceber que essa parte era uma inverdade. Eu
sumiria da vida dele tão logo ficasse grávida e nunca mais o veria.
Jamais, em minha existência, quis algo com tanta intensidade, como
nesse instante desejei que essa gravidez jamais acontecesse, pois
assim eu teria mais tempo com ele, pelo menos até estar afetada o
suficiente para que ele me expulsasse, como expulsara todas as
outras, porque era isso que ele fazia.
— Boa noite, Sr. Dempsey — sussurrei, sentindo-me
desolada.
— Boa noite, Serenity.
Agarrada a ele, fechei os meus olhos, afastando todos os
pensamentos e mergulhei em um sono profundo e tranquilo.
CAPÍTULO 21
Serenity
Acordei ouvindo o canto dos pássaros partindo de muito
perto, como não ouvia desde que era criança e ia acampar. Os sons
criavam uma atmosfera gostosa de paz e sossego, que me fazia
querer continuar na cama. Contudo, já era dia e não era muito cedo,
o sol se infiltrava no quarto através das frestas na cortina da janela.
Fiquei surpresa ao perceber que o Sr. Dempsey ainda se
encontrava ao meu lado, com seu corpo colado ao meu, nossas
pernas entrelaçadas. Estava profundamente adormecido, seu rosto
lindo relaxado, exalando serenidade e tranquilidade, como em
raríssimas ocasiões. Os olhos fechados revelavam cílios escuros, a
boca perfeitamente desenhada, quase sorrindo.
Apoiei a cabeça sobre o cotovelo e fiquei imóvel,
praticamente sem piscar, observando-o, maravilhada com sua
beleza máscula, com o quanto parecia tranquilo e em paz. Eu
entendia por que sua antiga amante cometera suicídio após o fim da
relação, não era fácil para uma mulher se distanciar de alguém
como ele, assim como não seria para mim, quando chegasse a hora
de partir.
Se pelo menos toda essa história de gravidez de aluguel não
existisse, se não houvesse a certeza de que ele me odiaria caso
descobrisse a verdade, eu tentaria ficar mais tempo ao seu lado, ou
para o resto da vida, mas isso seria impossível. Se eu quebrasse o
acordo que fizera com Mia, de entregar-lhe a criança, ela contaria
tudo a ele, e então ele me odiaria imperdoavelmente, por tê-lo
manipulado e enganado. Tomaria a criança de mim e eu sairia
dessa história sem nada, nem ele, nem o dinheiro e ainda com
Dylan no meu encalço.
O pensamento provocou um estremecimento em meu corpo e
tratei de afastá-lo. Impulsivamente, percorri a ponta do meu dedo
indicador da sua testa até seu queixo, quando então ele moveu-se
brevemente, ainda dormindo, o suave resvalar da sua coxa
musculosa no vão entre minhas pernas causou uma corrente de
tesão que me varreu de cima a baixo, fazendo meu ventre se
contorcer e minha vagina palpitar.
Em busca de mais um pouco daquele contato, movi meus
quadris levemente, esfregando-me na sua coxa, quando pude
constatar o quanto meu corpo estava dolorido da noite passada. No
entanto, a excitação era maior que qualquer coisa e apertei mais
meu sexo na sua perna, fervendo de tanto tesão, um gemido suave
saltou dos meus lábios, acordando-o.
— Bom dia, dorminhoco — falei, tão logo seus olhos lindos se
abriram, o verde das suas íris pareciam ainda mais claros sob a
claridade do sol que entrava pela janela.
— Que horas são? — indagou ele, calmo, relaxado.
— Não sei. Umas dez horas. Acabei de acordar também.
— Não acredito que dormi tanto assim.
— O senhor precisava descansar.
— Acho meio redundante você continuar me chamando de
senhor, dada as circunstâncias.
—Posso chamá-lo pelo primeiro nome?
— Sim. Exceto no trabalho. Não quero as pessoas fofocando.
Sorri, emocionada, pois sempre quis tratá-lo sem tanta
formalidade.
— Kael. Você tem um lindo nome.
Agindo por instinto, levei a mão aos seus cabelos, a fim de
acariciá-los, mas, antes que pudesse tocá-los, sua mão forte e
fechou em torno do meu pulso e a pousou sobre seu membro ereto,
que formava um imenso volume sob o lençol.
— Eu já te avisei que ficar se esfregando em mim desse jeito
pode ter consequências — rosnou.
Em resposta, apertei o pau dele por sobre os tecidos e
esfreguei mais uma vez meu sexo na sua perna, fechando os olhos
enquanto um gemido abafado fugia da minha garganta.
Ele fitou-me surpreso.
— Já está com fogo nessa xoxota de novo, menina?
— É o efeito que você causa em mim. — Foi maravilhoso
chamá-lo de você, ao invés de senhor.
Ele virou-se de lado, segurou meus cabelos com uma mão e
deslizou a outra pela minha silhueta, infiltrando-a sob o tecido da
camisa e invadindo a cueca que eu usava. Seus dedos se moveram
entre meus grandes lábios, primeiro sobre meus clitóris e depois
penetrando docemente minha vagina encharcada, movendo-se
dentro dela em um lento e enlouquecedor vai e vem, que me fez
gemer alto em um misto de dor e prazer.
— Que delícia, mesmo dolorida de tanto levar pica, está toda
molhadinha, com vontade de foder.
— Sim... tenho fome de você... quero seu pau dentro de
mim... ahhh...
Com mãos brutas, ele me puxou para cima do seu corpo,
fazendo-me montá-lo. Apressado, desceu sua calça até o meio das
coxas, afastou a minha cueca para um lado e me penetrou, indo
fundo. Movia-se mais devagar que todas as outras vezes em que
transamos, mas ainda assim era delicioso e se tornou ainda melhor
quando ele sentou-se, nivelando seu rosto com o meu, sem jamais
deixar de me penetrar. Minha lubrificação lambuzou nós dois, o
tesão descontrolado me fez rebolar os quadris sobre ele enquanto
seu pau girava gostoso dentro da minha vagina.
— O que você está fazendo comigo, menina? — rosnou ele,
com seu rosto a centímetros de distância do meu.
— Como assim?
— Eu nunca tinha dormido na mesma cama com uma mulher
e com você isso está virando rotina. Como se não bastasse, estou
praticamente fazendo amor com você agora.
— Não quero que mude por minha causa, mas estou
adorando fazer amor com você... assim como adoro quando você
me pega brutalmente e me faz gozar no pau e na boca de outra
pessoa. Eu adoro tudo em você... ahhh...
— Sua putinha safada.
Dito isto, ele agarrou-me pelos cabelos e jogou-me de costas
na cama, arrancando bruscamente a cueca que eu usava e suas
próprias roupas. Então, montou sobre mim, pendurando minhas
pernas em seus ombros e voltando a me penetrar, com força desta
vez, estocando brutalmente na minha vagina, até que juntos
alcançamos o clímax, selvagens e descontrolados como dois
animais.
Após o sexo, tomamos banho juntos e descemos até o
primeiro andar. Na sala de estar imensa, a Sra. Dempsey se
encontrava sentada em um dos sofás, lendo algo em um tablet, o
qual abandonou tão longo nos ouviu aproximando, levantando-se
para vir nos receber a meio caminho, com um largo sorriso.
— Que felicidade você ter passado a noite aqui. Já fazia tanto
tempo que não dormia em casa — disse ela, animada.
— E a senhora, o que faz de pé a essa hora? Não dormiu
quase nada.
— Gente velha não dorme muito.
Fiquei encantada quando ele a abraçou e beijou com ternura,
deixando claro que não era o animal incapaz de amar, como dizia
ser. Esse homem tinha muito amor em seu coração, apenas não
havia se apaixonado ainda e algum dia alguma sortuda se tornaria
dona desse amor.
— Onde está o papai pra eu me despedir?
— Está fazendo caminhada, mas já volta. Nem pense em se
despedir agora. Mandei a cozinheira preparar seu prato preferido.
Vocês almoçam conosco.
— Qual cozinheira? A senhora não tinha demitido ela?
— Aquilo foi bobagem. Mandei examinar a comida, mais
cedo, e não tinha nada. Então a contratei novamente. É uma ótima
cozinheira.
— Mãe! A senhora pelo menos pediu desculpas à mulher e
ao filho dela?
— Claro que pedi. Sou uma mulher civilizada. — Claramente
a fim de fugir do assunto, ela se virou para mim. — E você, minha
querida, conseguiu dormir bem?
— Maravilhosamente. Fico grata pela hospitalidade.
— Não há o que agradecer. Amiga do nosso menino é parte
da família. Fique à vontade para vir aqui quando quiser. Gosta de
pescar?
— Adoro. Só não tenho muitas oportunidades de fazer isso.
— Pois agora tem. Quando estiver de folga, venha pescar e
aproveitar o ar fresco do campo. Faz bem se desligar um pouco da
agitação de Nova Iorque de vez em quando.
— É verdade.
O telefone de Kael tocou e ele afastou-se para atender,
deixando-me a sós com Elizabeth, que se mostrava muito calorosa
e simpática. Achei que toda essa receptividade se devia ao fato de
que meu chefe não trazia muitas mulheres à casa dela, mas a
situação era ainda pior. Pelo que ela disse, ele jamais trouxera uma
mulher para apresentar-lhes, eu estava sendo a primeira, o que
reacendia a chama de esperança que ela tinha de vê-lo feliz um dia
e de dar-lhe alguns netos.
Como toda mãe apaixonada, mostrou-me várias fotografias
de quando ele era bebê, o que me deixou encantada. Revelou-me
que ele sempre teve um temperamento difícil, que brigava muito
quando criança, mas tinha um grande coração. Por fim, enquanto
ainda estávamos sozinhas, confessou que combinara toda aquela
história de sedativo na comida com a cozinheira, com o objetivo de
atrair Kael até lá, visto que ele não os visitava com muita frequência
e, por fim, pediu-me que contasse tudo a ele depois que fôssemos
embora.
Não demorou muito e o pai de Kael estava de volta da sua
caminhada e todos nós nos reunimos na grande mesa na sala de
jantar, onde almoçamos carne de cordeiro ao molho madeira,
envolvidos por conversas leves e descontraídas. Para a tristeza dos
dois idosos, logo após a refeição, Kael decidiu que estava na hora
de irmos embora e partimos de volta para Nova Iorque.
***
***
Serenity
— Boa noite — falei, ao chegar perto.
Eu nem sabia como agir. Minha vontade era de puxar as duas
mulheres pelos cabelos e tirá-las dali.
— Sente-se — disse meu chefe.
Ele segurou-me pela mão e me puxou de supetão, fazendo
com que eu caísse sentada em seu colo. Olhei dentro dos seus
olhos, a poucos centímetros de distância, senti seu calor gostoso
me alcançando através das roupas, me inebriei com seu cheiro
delicioso e fui invadida por um turbilhão de emoções que fazia meu
coração bater tão depressa, que parecia prestes a saltar de dentro
do peito. Seguindo a um impulso incontrolável, abracei-o pelo
pescoço, apertando-o forte, tentando suprir essa estranha
necessidade que meu corpo tinha do dele.
Aparentemente sem opção, ele abraçou-me pela cintura e
permanecemos imóveis, agarrados, durante um longo momento.
—Você está bem? — indagou ele, afastando-me do abraço e
fitando meu rosto com escrutínio.
— Sim. Só estava com saudade de você.
Em reação às minhas palavras, sua fisionomia endureceu,
seus olhos assumiram aquela frieza desoladora que eu já conhecia
bem.
— Lembra-se de Elza, a gerente do clube?
Virei-me para a mulher, desgostosa com a capacidade que
ele tinha de soterrar qualquer lampejo de emoção que pudesse
surgir entre nós.
— Claro. Como vai, Elza?
— Ótima. E feliz em rever você.
A descarada esticou a mão e acariciou minha coxa, puxando-
a de volta ao perceber que a carícia não era bem-vinda.
— E de Melissa, você se lembra?
E como eu poderia esquecer de uma mulher que me fez
gozar duas vezes?
— Sim. Como vai, Melissa?
— Melhor agora que você está aqui — disse ela, sorrindo
angelicalmente.
Quem não conhecia seus gostos sexuais, juraria que ela era
uma dessas garotas românticas e certinhas, que estava guardando
a sua virtude para o príncipe encantado. Como sempre, estava
linda, usando um espartilho lilás, com sandálias da mesma cor e os
cabelos loiros, escovados em fio reto, caindo-lhe pelos ombros.
— O que você quer beber? — indagou meu chefe, olhando
para mim.
— Vodca com gelo.
— Pode deixar que mando o garçom vir até aqui. Com
licença — disse Elza e, com isto, retirou-se da mesa.
O Sr. Dempsey me observou durante um momento, com suas
sobrancelhas franzidas. Como em um sonho, ergueu sua mão e
acariciou meus cabelos, colocando uma mecha para trás da orelha.
— Tem certeza de que você está bem? Porque não parece.
— Estou sim. Como eu disse, senti falta de você.
— Vamos evitar nutrir esse tipo de sentimento.
— Por quê?
— Porque assim será mais fácil para nós dois quando
terminar.
— Não precisa terminar.
E não precisava mesmo. Se eu realmente engravidasse,
poderia sair da cidade até a criança nascer e depois de entregá-la à
Mia, voltaria correndo para os braços dele. Ele nunca saberia de
nada.
— Tudo o que começa tem fim. Mas podemos aproveitar
enquanto podemos.
Ele ainda carregava o trauma pela morte da sua amante.
Pensei em falar a respeito, dizer-lhe que tragédias aconteciam, mas
nem tudo precisava acabar em uma. Contudo, não quis tocar em um
assunto tão pesado. Deixaria para outra hora.
— É, podemos. — Foi tudo o que saiu da minha boca.
— Então vamos aproveitar.
Dito isto, ele segurou firme em minha nuca, conduziu minha
boca até a sua e mordeu meu lábio inferior, sugando-o com força
antes de me beijar com aquela selvageria gostosa, que me
alucinava e me deixava sem chão. Ao mesmo tempo, infiltrou sua
mão sob a saia do vestido e soltou um grunhido na minha boca ao
tocar minha boceta, passando seus dedos na fenda entre os
grandes lábios, massageando meu clitóris e por fim penetrando
minha vagina com dois deles, o que me fez abrir mais as pernas,
para que ele me alcançasse mais fundo.
— Que delícia, essa bocetinha quente e peluda... fico feliz
que tenha se lembrado de vir sem calcinha.
— Sou capaz de qualquer coisa por você, até sair pelas ruas
da cidade sem calcinha.
Ele apertou minha nuca e beijou-me mais ferozmente,
explorando minha boca com sua língua. Desceu seus lábios pelo
meu pescoço e lambeu a parte dos meus seios que se revelava no
decote do vestido, para em seguida fechar os dentes sobre um dos
mamilos e fazer pressão. O misto de dor e tesão varreu todo o meu
corpo e se instalou entre minhas pernas.
— Você está tão cheirosinha... — sussurrou ele, com seus
lábios de encontro à minha pele.
— É para que você saiba o quanto senti sua falta.
— Para de repetir isso, se não daqui a pouco vou te comer
em cima da mesa do escritório, durante o trabalho e isso
atrapalharia os negócios.
— A vida não é só negócios. Assim como não é só sexo.
— Sexo é tudo o que tenho a te oferecer, o que faz de você a
minha putinha.
— Prefiro ser a sua puta, do que a esposa de qualquer outro
homem.
Ele voltou a me beijar, ainda mais intensamente. E
continuamos assim, nos beijando, acariciando e jogando conversa
fora, sem que eu visse o tempo passar, ou tivesse consciência de
qualquer coisa que acontecia à minha volta. Cada minúscula
partícula do meu ser ligada àquele homem, além de sua
proximidade, tomava conta de tudo, como se meu mundo se
resumisse a nós dois e àquele momento, o qual parecia mais íntimo
do que quando estávamos fazendo sexo de fato. Naquele instante,
nenhum problema existia, minha solidão fora exterminada, assim
como Dylan apagado da minha lembrança.
— Serenity, vamos dançar? Eu amo essa música — disse
Melissa e só então me dei conta de que ela ainda estava sentada à
mesa.
Percebi também que a música romântica cessara, dando
lugar a um ritmo mais agitado. Já fazia tanto tempo que eu não
dançava e me divertia, que nem sabia se ainda lembrava os passos.
Olhei para o meu chefe e ele assentiu, dando-me permissão
de ir com ela.
— Podem ir. Eu não danço. Fico aqui observando.
Nós duas nos colocamos no início da pista de dança, de onde
Kael poderia nos enxergar, de frente uma para a outra. Melissa
parecia uma criança animada ao começar a se balançar
freneticamente, no mesmo ritmo agitado da música. Como se a
empolgação dela me contagiasse, a imitei dançando no mesmo
ritmo, entregando-me à batida frenética. O efeito da vodca me
deixou mais leve e solta, de modo que logo eu estava envolvida
enquanto todos os problemas e dores desapareciam.
Não demorou muito, um sujeito horrível, usando uma cueca
de couro, máscara preta e segurando um chicote, com os pelos
grisalhos do seu peito à mostra, se aproximou e tentou se enfiar
entre nós duas, o que foi suficiente para que Melissa revelasse um
lado seu que ninguém imaginaria que existia. Com um empurrão
bem forte, ela colocou o cara para correr.
— Cai fora daqui, seu feioso! Essa é uma dança de garotas!
— falou e caí na gargalhada.
Ela riu junto comigo e então silenciou, observando-me
demoradamente.
— O Sr. Dempsey gosta de você.
— Por que você acha isso?
— Pela forma como ele te trata, como te toca e te beija. Ele
deixa você chamá-lo pelo primeiro nome! — anunciou aquilo como
se fosse algo chocante.
— Não acho que ele goste de verdade. Como ele mesmo diz,
é apenas sexo.
— Tenho certeza de que ele sente alguma coisa. Ele foi
amante de Eleanor durante vários anos e nunca ficou assim tão
íntimo dela, como fica com você. E nunca deixou ela chamá-lo de
você. Era sempre senhor.
Olhei na direção dele e vi que nos observava fixamente,
enquanto degustava seu uísque devagar. Eu queria acreditar no que
Melissa dizia, mas seria o mesmo que enganar a mim mesma. Kael
tinha muito amor no seu coração, mas esse amor nunca seria meu.
Comigo, ele queria apenas transar e deixava isso claro a cada
oportunidade que surgia.
— Quem dera fosse verdade. Ele é um homem incrível.
— Eu entendo por que ele está enfeitiçado. Você é uma
mulher linda e gostosa demais.
Sem que eu esperasse, ela espalmou sua mão na lateral do
meu rosto e foi aproximando sua face da minha, bem devagar,
dando-me a chance de fugir, mas não o fiz. Era para eu ter saído
correndo dali, onde já se viu deixar outra mulher me beijar?
Entretanto, simplesmente não me movi a não ser para fechar os
meus olhos quando sua boca macia encontrou a minha, em um
beijo delicado e macio demais.
Não era a mesma coisa sem o Sr. Dempsey. Quando ela me
beijou, enquanto chupávamos o pau dele, foi muito gostoso, lascivo,
mas desta vez era o mesmo que estar beijando uma porta. Não
senti nada, embora também não fosse desagradável.
Ao apartar sua boca da minha, Melissa me deu um sorriso
largo, com seus olhos azuis brilhando de luxúria.
— Você nunca ficou com uma mulher, não é? — disse ela.
— Não. Só das vezes em que estive com o Sr. Dempsey e
você.
— Você é uma Submissa nata, que sente tesão em fazer
qualquer coisa para agradá-lo.
— É, acho que sou.
— E também é hétero, para a minha infelicidade.
Sorri involuntariamente para ela.
— Sou sim, mas gostei do que fizemos quando estávamos
com ele.
— Bem, se você sente tesão agradando seu homem, sei uma
forma de deixá-lo louquinho.
— Qual?
— Eu te mostro.
Ela me deu um sorriso e começou a dançar de uma forma
muito sensual, quase indecente, esfregando-se em mim, passando
suas mãos pelo meu corpo e encenando cenas de sexo oral em
várias posições diferentes, enquanto eu entrava no jogo e a imitava,
permitindo que nossos corpos se entrelaçassem e se esfregassem
com movimentos para lá de luxuriosos.
Ao olhar na direção de Kael e perceber que ele nos
observava quase sem piscar, fiquei absurdamente excitada, o que
me incentivou a continuar com aquela loucura e passei a apreciar
mais o contato com o corpo delicado de Melissa.
— Vocês estão deixando todos os homens do clube de pau
duro — disse a voz grossa ao nosso lado.
Antes mesmo de olhar para ele, soube que era o estranho
com quem meu chefe e eu transamos na outra noite. Como da outra
vez, ele usava apenas uma calça jeans com rasgos nas pernas,
máscara e tênis, exibindo o corpo atlético, mais esguio que o do Sr.
Dempsey, mas ainda assim muito sexy. Em uma das mãos,
segurava um copo pelo meio de uísque.
— Eles que se masturbem, nós estamos dançando para um
homem apenas — disparou Melissa, rindo alto.
—Você não imagina a minha felicidade em vê-la por aqui
novamente — disse ele, dirigindo-se a mim.
— Vocês já se conhecem? — Melissa quis saber.
— Sim. Quer dizer, mais ou menos — respondi.
— Tive a honra de estar com ela e seu Dominante há dois
dias. Confesso que foi uma das melhores noites da minha vida. —
Ele me fitava intensamente enquanto falava.
— Ah, como eu gostaria de ter estado lá também — disse
Melissa.
— E vocês dois já... se conhecem? — perguntei.
— Só de vista.
Fiquei surpresa quando o sujeito passou o braço em volta da
minha cintura e me puxou para junto do seu corpo, chocando-me
bruscamente contra seus músculos e aprisionando-me a ele.
— Estive aqui todas essas noites tentando vê-la novamente.
Espero que possamos repetir o que fizemos naquele apartamento.
— Eu também gostaria.
— Mesmo?
— Sim, mas não depende de mim e sim do meu chefe.
Ele fitou-me surpreso.
— Aquele cara é seu chefe?
— O que tem de mais nisso?
— Nada. Só acho meio ofensivo no sentido de ele exercer
certo poder sobre você.
— Ele exerce todos os poderes sobre mim.
— Nesse caso, que tal sair um pouco dessa rotina e ficar com
um homem que a trate como igual? Eu também tenho um
apartamento nesse prédio. Deixa seu chefe aqui e sobe comigo. Te
prometo que não vai se arrepender.
Antes que eu tivesse tempo de responder, ele segurou-me
pela nuca e trouxe sua boca até a minha, beijando-me com
suavidade, resvalando sua língua na minha, tão gostosamente que
não consegui fazê-lo parar, apreciando o seu gosto e as sensações
libidinosas que varriam meu corpo, fazendo meu ventre se
contorcer, o que se tornou ainda mais intenso quando ele apertou
forte minha bunda, empurrando meu ventre de encontro a sua firme
ereção.
Obviamente eu não iria para o apartamento dele, mas
adoraria repetir o que fizemos na outra noite, junto com o Sr.
Dempsey.
Ele ainda estava me beijando, quando a mão forte se fechou
em torno do meu braço e me puxou de supetão, afastando-nos.
— Com licença! — vociferou o Sr. Dempsey, antes de sair me
puxando pelo salão, abrindo caminho em meio às pessoas.
Conduziu-me até uma mesa a um canto reservado e em
torno dela puxou uma cortina preta, cuja existência eu desconhecia,
tirando-nos do campo de visão de todos os presentes.
— Qual parte você não entendeu sobre jamais ficar com
outro homem sem a minha presença?! — vociferou ele, fuzilando-
me com sua fisionomia contraída de fúria, parecendo mais
assustador e ameaçador do que eu já tinha visto antes e só então
me dei conta da gravidade da situação.
— M-me d-desculpe... é q-que...
Antes que eu tivesse tempo de completar minha fala, ele
fechou sua mão em torno da minha garganta e recostou-me em uma
parede, fitando-me de perto, com seus olhos faiscando de raiva.
— Quer dar a boceta pra nós dois ao mesmo tempo de novo?
— Assustada, não consegui responder. — Responda, Serenity!
Você quer ser comida por dois paus ao mesmo tempo de novo?!
— S-sim, S-senhor.
— Com isto eu até concordo, porque gosto de ver você
gemendo enquanto dois paus a penetram. Mas antes de mais nada,
você e aquele sujeito precisam entender que você pertence a mim e
somente a mim, portanto não aceito que fiquem se esfregando sem
a minha permissão, entendeu, porra?!
—E-entendi. E-eu s-sinto mui...
Ele me interrompeu mais uma vez: — Vou te dar uma lição,
para que você nunca se esqueça de que é minha e me deve
obediência.
Com mãos bruscas, ele conduziu-me até o sofá redondo
estofado atrás da mesa, sentou-se e me puxou para si, fazendo com
que eu caísse deitada sobre suas pernas, de bruços. Enrolou a saia
do meu vestido até a altura da minha cintura, desnudando meu
traseiro e deu uma palmada na minha nádega, forte a ponto de me
fazer gemer de dor.
— Ai!
— Isso é para que você nunca mais chegue perto de outro
homem sem o meu consentimento! — Ele bateu de novo, do outro
lado, tão forte quanto. — E isto, para que nunca se esqueça de
quem é o seu dono! — Bateu novamente e continuou batendo,
alternado entre as duas polpas da minha bunda, até que minha pele
estava ardendo a ponto de latejar.
Então, ele me tirou das suas pernas. Com gestos bruscos,
deitou-me de bruços sobre o sofá e se colocou atrás de mim.
Desceu sua calça até os joelhos e, feroz como um animal selvagem,
puxou minha bunda para cima, se inclinando sobre o meu corpo,
apoiando seu peso nas palmas das suas mãos e penetrando minha
vagina, brutalmente, chocando sua pélvis contra a minha bunda,
com violência.
Senti sua carne dura e macia invadindo meu canal pouco
lubrificado e soltei um grito de dor. A sensação que eu tinha era de
que minha pele seria dilacerada e rasgada. Tentei escapar, mas ele
me segurou firme no lugar, fechando seus joelhos dos dois lados
dos meus quadris.
— Aguenta, putinha! Foi você mesma quem provocou isso!
Agora é tarde para fugir!
Sem saída, apoiei as mãos no braço do sofá, empinei mais a
bunda e abri um pouco as pernas, recebendo-o com menos
desconforto enquanto ele continuava estocando bruto e furioso
dentro de mim, alcançando-me bem fundo, o roçar dos seus pelos
púbicos na minha bunda despertou aos poucos o tesão em minhas
entranhas, até que eu estava gemendo e me acabando de prazer
naquele pau tão duro e gostoso, que me invadia sem permissão.
— Você gosta disso, sua meretriz! Aposto que ia gostar de ter
um pau nessa boceta durante as vinte e quatro horas do dia. Por
isso sentiu tanto a minha falta.
—Ah, sim... eu gosto... me come bem forte... ah... — gemi e
ele estocou ainda mais brutalmente.
— Você pode gostar o quanto quiser, mas nunca do pau de
outro homem, a menos que eu tenha ordenado, fui claro?
— Ah... sim... só o seu, meu Senhor... nunca o de outro...
ahhh...
Ele segurou na parte de trás dos meus cabelos e puxou,
forçando-me a erguer a cabeça.
— Agora goza pra mim, sua putinha, se acaba no pau do seu
macho.
Ele não precisou mandar duas vezes, alucinada de prazer,
logo os músculos do meu corpo se contraíram e explodi em êxtase,
gozando e gemendo com o pau dele todo dentro de mim. Quando
minha tempestade passou, ele parou todo lá dentro e esporrou
grosso no fundo do meu canal.
Ao retirar-se do meu corpo, o Sr. Dempsey sentou-se no sofá
e me puxou para si, sentando-me em seu colo e me beijando com
uma ternura que nunca havia demonstrado antes. Era como se
tentasse se redimir pela brutalidade com que acabara de me tratar,
como se estivesse arrependido ou se desculpasse. Parecia não ter
ideia do quanto eu gostava da sua brutalidade animalesca.
Ainda assim, beijá-lo e receber seu carinho era maravilhoso,
então aproveitei o raro momento e deslizei minha boca através da
pele do seu pescoço, beijando, lambendo e cheirando sua pele
gostosa, mordi seu queixo e espalhei beijos por todo o seu rosto, me
refestelando com seu gosto e a aspereza da sua barba, antes de
nos beijarmos na boca novamente.
— Isso foi muito gostoso — falei e senti seus músculos
relaxando sob mim.
— Me desculpe por ter pegado tão pesado.
— Não tem problema. Eu gosto. — E era verdade.
Acariciei seu rosto lindo e o segurei entre minhas mãos,
beijando-o com suavidade, sentindo as correntes de excitação
varrerem meu corpo, fazendo minha vagina palpitar e melar ainda
mais. Ele tinha razão quando disse que eu seria capaz de passar as
vinte e quatro horas do dia fazendo aquilo.
Depois de um longo momento nos acariciando e beijando, na
discrição da cortina, por fim nos levantamos e vestimos, saindo para
o salão. De onde estávamos, enxerguei Melissa e o sujeito que me
beijara dançando muito indecentemente na pista de dança.
— Vá até lá e convide os dois para subirem conosco — disse
meu chefe e fiquei surpresa.
— Tem certeza?
— É óbvio que tenho. É esse tipo de bizarrice que me dá
prazer. Você precisa entender que se envolveu com um doente.
— Não fale assim. Você não é doente, apenas tem gostos
diferentes.
— E como se não bastasse, ainda te arrastei pra toda essa
sujeirada.
Ele parecia deprimido e me compadeci. Apesar de estranho,
aquilo tudo era muito divertido.
— Você não me arrastou. Eu vim por vontade própria e estou
gostando. Não acho que seja uma doença.
Ele fitou-me fixamente durante um longo momento, sem que
eu conseguisse decifrar a expressão em seus olhos.
— Certo. Agora vá lá e os convide. Esperarei no elevador.
— E se eles não quiserem ir conosco?
Ele sorriu sem vontade.
— Acredite, eles vão querer.
Dito isto, ele afastou-se, indo rumo aos elevadores.
CAPÍTULO 23
Serenity
Fui até a pista de dança, abrindo caminho entre as pessoas
e, ao me aproximar de onde Melissa e o mascarado dançavam
agarrados, ambos se afastaram um do outro, interrompendo a
sensual performance.
— Você está bem? — indagou o sujeito, encarando-me com
seus olhos escuros preocupados, por trás da máscara cinza.
— Claro. Estou ótima. — Fiquei subitamente tímida, pois era
muito estranho fazer aquela proposta assim tão diretamente. — O
Sr. Dempsey e eu estamos subindo para o apartamento. Vocês
gostariam de vir conosco?
— Com certeza. — Se adiantou Melissa, sorridente.
— Foi ele quem te mandou vir aqui nos chamar? Pergunto
porque, pelo que percebi, tudo tem que ser com a autorização dele.
— O mascarado não parecia muito satisfeito.
— Foi ele sim. Mas é só um convite. Você tem todo direito de
recusar.
Ele encarou-me em silêncio por um instante.
— Eu jamais recusaria.
— Então vamos.
Segui rumo ao elevador, onde Kael nos esperava, com
ambos me seguindo. Entramos e meu chefe apertou o botão da
cobertura. Durante a subida, um silêncio carregado de tensão
instalou-se dentro do pequeno ambiente. Ninguém disse nada, nem
fez nada, até que as portas se abriram e saímos direto no elegante
apartamento.
— Alguém quer beber alguma coisa? — indagou o Sr.
Dempsey, avançando pela sala enorme e luxuosa, em direção ao
bar de madeira e vidro, que ficava a um canto.
— Eu quero uísque — disse Melissa, a mais animada do
grupo.
— Eu quero vodca — falei.
— Eu também vou de vodca — disse o outro homem.
— Melissa, sirva-se e sirva também os outros.
Dito isto, o Sr. Dempsey terminou de se servir de uma dose
de uísque e avançou em direção ao quarto de jogos, enquanto
Melissa se apressava em servir a bebida de todo mundo.
Com nossos copos em mãos, seguimos ao cômodo seguinte,
onde uma música suave tocava em volume baixo, sem que eu
soubesse de onde partia. O Sr. Dempsey estava sentado na
poltrona de couro, ingerindo calmamente sua bebida.
— Todos dispam-se. Deixem apenas as máscaras e as
garotas não tirem as sandálias — ordenou ele, autoritário.
Melissa e eu obedecemos sem hesitar, tirando nossas roupas
sem pressa, enquanto o outro homem parecia decidir se o fazia ou
não. Até que por fim optou por participar do jogo e tirou sua calça
jeans e o tênis, ficando totalmente nu, exibindo o pau
completamente ereto. Tinha o corpo todo perfeito, com a tatuagem
de uma âncora na pélvis, que eu não tinha notado antes. Melissa
também tinha o corpo lindo, com curvas bem-feitas e os seios
grandes e firmes.
— Vocês duas, ajoelhem-se aqui.
Obedientes, Melissa e eu nos ajoelhamos aos pés dele, uma
de cada lado, com nossa cabeça baixa, as mãos pousadas sobre as
coxas, como duas boas Submissas, enquanto o outro homem
sentava-se aos pés da cama, observando atentamente a cena.
O Sr. Dempsey acariciou meus cabelos, na parte de cima da
minha cabeça, durante um longo momento, no qual o silêncio era
quebrado apenas pela música suave que tocava ao fundo, sua
demora em agir me encheu de expectativa sobre o que faria. Era
como se ele elaborasse os passos seguintes na sua cabeça.
Sem uma palavra, ele levantou-se, abandonou seu copo
sobre uma mesa, segurou-me pelo braço e me levou até a cama,
fazendo com que o outro cara saísse do caminho.
— Deite-se — ordenou e obedeci.
Todo vestido, Kael subiu na cama e prendeu meus pulsos
com braçadeiras de couro que se ligavam com cordas ao espaldar,
deixando-me com os braços abertos, esticados para cima. Foi até
uma estante e voltou trazendo uma corda larga, toda trabalhada.
Fez com que eu flexionasse meus joelhos e os aprisionou,
passando a corda em volta também da minha cintura. Em seguida,
circundou meus tornozelos com tornozeleiras de couro que se
prendiam às laterais da cama, de modo que fiquei presa sobre o
colchão com as pernas muito abertas e os joelhos flexionados, com
o meu sexo exposto a todos os olhares.
Feito isto, ele voltou a se sentar na sua poltrona, observando-
me com seus olhos brilhantes de luxúria.
— Não tem visão mais linda nesse mundo — sussurrou ele,
pegando seu copo e dando um grande gole no seu uísque, antes de
voltar seu olhar para o outro homem. — Percebi que você tem um
certo desejo pelo que é meu.
— Na verdade, tenho mesmo — confessou o mascarado.
— Eu não me importo em dividi-la, desde que todos tenham
em mente que ela é minha.
— Ela não é um objeto para pertencer a alguém.
— É na hora do sexo e, acredite, ela gosta disso. Agora vá
até lá e chupe a boceta dela, bem gostoso. Engula toda a minha
porra que está na vagina dela.
Achei que o cara desistiria e iria embora, como parecia ser o
objetivo do Sr. Dempsey. No entanto, ele veio em minha direção
sem hesitar, subindo na cama e cobrindo meu corpo com o seu,
sem se deitar sobre mim.
— É isso que você quer? — sussurrou, fitando-me com seu
rosto próximo ao meu.
— É sim — respondi.
— Era o que eu precisava saber.
Inclinando a cabeça, ele deu um beijo suave em meus lábios
e foi descendo a boca pelo meu corpo. Beijou meu pescoço, chupou
meus seios, lambeu minha barriga e por fim posicionou seu rosto
entre minhas pernas abertas, dando uma lambida lenta na minha
boceta, antes de concentrar os movimentos da sua língua
diretamente sobre meu clitóris, em um ritmo frenético que me fazia
gemer e me contorcer sobre a cama, a ponto de ir à loucura.
— Ahhh... delícia... — murmurei, ensandecida e isso pareceu
incentivá-lo.
Abandonando meu feixe de nervos, sua língua gostosa
passeou por todo o meu sexo, lambendo delicadamente meu ânus,
infiltrando-se na minha vagina e me fodendo raso, macio e delicioso,
para em seguida voltar a golpear meu clitóris, naquele ritmo
acelerado, enlouquecedor, me fazendo gemer mais alto,
arrancando-me o juízo.
Com o canto do olho, vi o movimento do Sr. Dempsey e virei
o rosto para observá-lo, bem no instante em que ele abria a zíper da
sua calça e puxava Melissa para cima, pelos cabelos, fazendo com
que ela engolisse seu pau enorme, muito maior que o do nosso
parceiro de foda.
Enquanto Melissa o chupava, ele tirou o sapato e introduziu
os dedos do seu pé na boceta dela, fodendo-a desta forma, sem
jamais desviar seus olhos raivosos e luxuriosos de mim.
Eu estava prestes a gozar, quando meu chefe deixou o seu
lugar e veio se aproximando da cama, ao mesmo tempo em que se
despia das suas roupas.
— Não goza, putinha! — Sua voz soou alta, fria e autoritária e
automaticamente mordi meu lábio, obrigando-me a me controlar e
conter o êxtase que ameaçava me arrebatar a qualquer momento.
Completamente nu, o Sr. Dempsey subiu na cama, fechou os
dedos sobre meus mamilos e fez pressão, causando em mim um
misto de dor e prazer, que se espalhava pelo meu organismo,
deixando-me em combustão, a ponto de enlouquecer. Continuou
fazendo aquilo, enquanto observava meu rosto com fascínio, como
se venerasse minha tortura.
— Sente no rosto dela — ordenou, frio e curto.
Obedecendo, Melissa também subiu na cama. Fiquei
chocada quando ela montou sobre meu rosto, com um joelho de
cada lado, suas mãos apoiadas na parede, sua boceta se abrindo
diante do meu olhar. Diferente da minha, a dela era completamente
depilada, com delicados lábios rosados, já totalmente babados e um
clitóris minúsculo.
— Chupe — ordenou o Sr. Dempsey, com seu jeito frio e
autoritário.
A princípio fiquei travada, sem ter certeza se conseguiria
fazer aquilo. Contudo, meu chefe apertou meus mamilos ainda mais
forte, beliscando-os, intensificando o tesão que me arrebatava a tal
ponto que perdi de vez a cabeça e, quando me dei conta, estava
lambendo a boceta de Melissa, com os mesmos movimentos que o
mascarado lambia a minha, imitando-o, enquanto ela gemia com
doçura.
Fazer aquilo não era tão terrível quanto imaginei a princípio.
O gosto e o cheiro eram bastante peculiares, porém os gemidos
dela, unidos à excitação exacerbada que tomava conta do meu
organismo, faziam com que tudo se tornasse erótico e lascivo.
— Assim, minha putinha safada, enfia a língua dentro da
vagina dela — grunhiu o Sr. Dempsey, antes de se inclinar e fechar
os dentes sobre um dos meus mamilos, fazendo pressão,
intensificando as violentas ondas de prazer que varriam meu corpo,
sem que eu pudesse me entregar à libertação da qual cada
minúscula parte de mim necessitava naquele instante.
Ele continuou mamando meus seios, deliciosamente,
enquanto o outro homem chupava gostoso minha boceta e eu
lambia a de Melissa, até que o mascarado fechou os lábios sobre
meu feixe de nervos e não consegui mais me segurar, meu corpo
inteiro vibrou com o deleite do orgasmo que espalhou pelo meu
organismo, me incendiando, me fazendo gritar e me sacudir toda.
Mal comecei a me acalmar e o tapa veio estalado, na minha
bunda.
— Você não tinha permissão para gozar agora! — grunhiu o
Sr. Dempsey. — O que faço com você?
Sob as ordens dele, tanto Melissa quanto o outro homem se
afastaram. Então, meu chefe voltou a subir na cama. Com suas
mãos bruscas, libertou meus pulsos e tornozelos e virou-me de
bruços sobre o colchão, ainda com meus joelhos flexionados,
presos com cordas que circundavam também a minha cintura, de
modo que fiquei com o traseiro empinado e os ombros abaixados.
Naquela posição, ele voltou a me aprisionar com as braçadeiras e
as tornozeleiras. Em seguida, deu outro tapa estalado na minha
bunda.
— Eu devia te dar uma surra de chicote, pra nunca mais me
desobedecer, mas esse cuzinho tá muito convidativo nessa posição.
Suas palavras me fizeram estremecer, com a expectativa do
que aconteceria em seguida.
— Você, continue lambendo o clitóris dela e você, chupe o
pau dele — ordenou.
Cientes de que seriam descartados, caso não obedecessem
as suas ordens, tanto o mascarado quanto Melissa fizeram o que
ele mandava, ele deitando-se de frente sobre a cama e enfiando seu
rosto entre minhas pernas, voltando lamber meu clitóris,
deliciosamente. Ela, engatinhando sobre ele e enfiando seu pau na
boca, chupando-o com experiência.
O Sr. Dempsey afastou-se e logo voltou, trazendo um frasco
branco, cujo conteúdo derramou sobre meu traseiro. Tratava-se de
um óleo perfumado, o qual espalhou sobre minha pele e usou para
lubrificar o meu ânus, enfiando um dedo de cada vez, até estar com
três dedos dentro dele, movendo-os em um perturbador vai e vem.
Sem uma palavra, ele ficou de pé sobre a cama, colocando-
se atrás de mim, uma perna de cada lado, enquanto o outro
continuava passando sua língua úmida sobre meu ponto mais
sensível. Flexionou os joelhos, segurou-me pela cintura e introduziu
seu pênis no meu ânus, com um movimento brusco dos seus
quadris, alcançando-me fundo, me esticando toda.
Desta vez eu estava tão preparada, e perdidamente excitada,
que não senti dor alguma, mas apenas o prazer enlouquecedor que
me varreu inteira, me fazendo gemer alto e empinei um pouco mais
a bunda, dando-me mais ele, permitindo que estocasse forte em
meu orifício, movendo-se em um viciante vai e vem, enquanto a
língua do outro homem se movia sobre meu clitóris, deixando-me
completamente perdida.
— Que cuzinho gostoso, apertado — grunhiu o Sr. Dempsey,
parecendo um animal. — Quer sentir dois paus dentro de você,
putinha?
— Ahhh... sim...
— Então pede.
— Por favor... quero dois paus dentro de mim... ahhh...
— Coloque um preservativo e foda a boceta dela — ordenou.
Sem hesitar, o outro mascarado foi até a gaveta onde ficavam
os preservativos e se cobriu. Ao voltar para a cama, praticamente
precisou fazer malabarismo para se enfiar debaixo de mim,
nivelando nossos rostos e nossos sexos ao mesmo tempo. Ele
olhou dentro dos meus olhos, profundamente, enquanto encaixava a
cabeça do seu pau na minha entrada lambuzada e me penetrava,
devagar, sem a mesma selvageria do homem que me comia por
trás.
Não existia nada que se comparasse a ter um pau na minha
boceta e outro no meu ânus, a sensação era alucinante,
enlouquecedora. Ao mesmo tempo em que meu corpo parecia
prestes a se partir, com a pressão forte demais, o prazer me
percorria ferozmente, tirando-me qualquer vestígio de sanidade e
civilidade. Ali entre os dois homens, com ambos me comendo
gostoso, eu me sentia como se fosse nada mais que um animal
irracional, desprovido de qualquer pensamento, munida de apenas
sensações e sentidos, que me faziam gemer e gritar
descontroladamente, pedindo mais, suplicando que eles não
parassem.
— Você gosta disso, não é? — grunhiu o homem sob mim,
com seu rosto muito próximo ao meu, seus olhos reluziam um misto
de luxúria e fascínio que me excitava ainda mais.
Ele movia seus quadris em um ritmo lento, entrando e saindo
devagar da minha vagina, enquanto meu chefe fodia a minha bunda
sem dó nem piedade, estocando brutalmente, ao passo em que eu
mal conseguia me mover para acompanhar os movimentos deles.
— É... eu gosto... me fode gostoso... mais forte...
— Não quero te machucar.
— Não machuca... eu gosto... por favor... mais rápido...
— Ei! Nada de conversa! — rosnou Kael. — Melissa, coloca
sua boceta na boca desse cara!
Melissa obedeceu, quando então precisei erguer a cabeça
para que ela enfiasse sua bunda entre mim e o homem, de quatro,
de frente para ele, encaixando seu sexo na boca dele, o que tornou
tudo mais desconfortável. Contudo, logo o mascarado passou a se
mover mais depressa dentro da minha vagina, no mesmo ritmo
animalesco que Kael, e quando dei por mim estava prestes a
explodir novamente, com o êxtase ameaçando me estilhaçar.
Continuamos com aquela brincadeira noite adentro, fazendo
poucas pausas para nos hidratar e experimentando o melhor prazer
que já tive na vida, um prazer tão viciante que chegava a ser
espantoso. Já era madrugada quando Kael mandou que Melissa e o
mascarado fossem embora e eles sumiram pelo elevador.
Eu estava tão exausta que seria capaz de dormir ali mesmo,
mas meu chefe fazia questão de que eu fosse para casa, talvez por
receio de que o mascarado pudesse voltar. Apesar de apreciar o
sexo grupal, ele não conseguia esconder o sentimento de posse que
tinha em relação a mim, quando o outro homem estava conosco. Eu
queria acreditar que era ciúme, mas não era tão iludida assim.
Quando terminei de me vestir, eu estava quase dormindo,
meus olhos se recusando a se manterem abertos, de modo que o
Sr. Dempsey praticamente precisou me carregar, apoiando-me em
seu corpo, quando entramos no elevador. Ao sairmos, no salão do
clube, eu estava tão sonolenta, que ele precisou me pegar no colo e
me carregar em direção à saída. Apenas ao adentrarmos a
garagem, me dei conta do meu imperdoável descuido.
— Onde está o seu carro? — indagou ele e a tensão tomou
conta de mim, deixando-me totalmente acordada.
— Vim de táxi — murmurei, torcendo intimamente para que
ele não pedisse detalhes.
Mas ele pediu.
— Por que veio de táxi? E o seu carro?
— Eu sabia que estaria exausta para voltar dirigindo, como
de fato estou.
— Eu jamais te deixaria dirigir assim. Ia te levar no seu carro.
Antes mesmo de finalizar sua fala, ele sacou seu celular e
ligou para o seu motorista, ordenando que viesse nos buscar na
garagem, sendo que minutos depois a limusine luxuosa adentrou o
amplo espaço, já quase vazio devido ao horário e entramos na parte
de trás.
Achei que estaria tudo resolvido, que meu chefe esqueceria a
história do carro, mas ele era desconfiado e perspicaz, sabia que
tinha algo errado. Então, ao sermos deixados diante do prédio onde
eu estava morando, ele fez questão de passar pela garagem para
se certificar de que o carro que havia me dado de presente estava
lá.
Puta merda!
— E então. Onde está o Jaguar? — indagou, sem mais
dúvidas de que eu estava escondendo a verdade. — E nem se
atreva a mentir pra mim. Você não tem ideia do quanto eu odeio
mentiras!
O tom de sua voz era tão ríspido que fiquei paralisada, com
minha mente entorpecida incapaz de inventar uma mentira. Não
havia nada que eu pudesse fazer, a não ser falar a verdade.
— Foi levado — murmurei, visualizando mentalmente o
momento em que ele iria tomar satisfações com Dylan e este lhe
falaria sobre a barriga de aluguel e meu contrato com Mia.
Puta que pariu!
— Levado por quem.
— Dylan.
Ele suspirou pesadamente.
— Quando?
— Esta tarde.
— Por que você não me disse nada?
— Porque tive medo da sua reação.
Ele encarou-me surpreso.
— Você tem medo de mim?!
— Tenho.
Sem dizer mais nada, o Sr. Dempsey segurou-me pela mão e
me conduziu até o elevador. Não dissemos uma só palavra
enquanto subíamos. Um incômodo clima de tensão foi tomando
conta do pequeno espaço, pairando entre nós dois.
Ao entrarmos no apartamento, ele agiu como se já
conhecesse o lugar, parecendo bastante à vontade, o que me fez
desconfiar de que alguma amante sua já havia morado ali. Após
fazer com que eu me sentasse em um dos sofás, ele puxou uma
poltrona, como se esta pesasse apenas algumas gramas, a colocou
diante de mim e sentou-se.
— Já chega de mentiras. Você vai me dizer agora mesmo
quem é esse Dylan e o que ele quer de você.
Nervosa, comecei a mover meus dedos das mãos,
entrelaçando-os uns nos outros, com dificuldade de encarar o
homem à minha frente. O risco de ele descobrir sobre o contrato da
barriga de aluguel não era meu único temor. Eu tinha medo de que
Dylan o matasse, caso fosse confrontado.
— Fala, Serenity! — ordenou ele e não tive mais saída, a não
ser falar.
— Eu o conheci quando morava em Houston. Ele namorava a
garota com quem eu dividia o aluguel de um apartamento. Nós duas
trabalhávamos como garçonetes em um restaurante não muito
chique. Quando Dylan passou a frequentá-lo, aparentemente para
fazer negócios com o proprietário, Trisha se interessou por ele e os
dois acabaram saindo juntos. Alguns meses depois que eles
começaram a sair, me convidaram para a festa de aniversário dele,
que aconteceria em sua casa. Eu não queria ir, pois nunca gostei
muito de festas, mas ela era minha amiga e a ocasião era especial
para ela. — Parei de falar ao me recordar dos acontecimentos
daquela noite terrível.
— E o que aconteceu depois?
— Quando chegamos na festa fiquei apavorada. Havia
homens armados para todos os lados, vigiando os muros, muita
gente usando drogas na frente uns dos outros, como se aquilo fosse
normal. Tentei ir embora, mas Trisha me explicou que ele me veria
como uma delatora se eu fosse. Depois disse que ele era traficante
de drogas, mas era gente boa, não fazia mal a ninguém, as armas
eram apenas para defendê-los de outros traficantes. Eu fiquei com
medo de ir embora tão rápido e ele desconfiar de mim, então decidi
ficar pelo menos um pouco.
— Tomou a decisão certa. O que houve depois?
— Trisha sumiu de repente. Quando fui procurá-la para avisar
que já estava indo para casa, me disseram que ela tinha subido
para o segundo andar com Dylan e fui até lá. — Um estremecimento
me varreu e fechei os olhos, relembrando os acontecimentos
daquela maldita noite. — Ainda no corredor ouvi um grito e barulho
de coisas caindo. Corri para a porta de onde partia o barulho, a abri
e entrei. Trisha estava nua, com seu rosto todo ensanguentado e
vários hematomas pelo corpo. Dylan estava batendo nela,
violentamente.
Sem que eu percebesse, as lágrimas brotaram dos meus
olhos e desceram desenfreadas pelo meu rosto. Então, Kael sentou-
se ao meu lado e me puxou para junto de si, abraçando meus
ombros e aninhando meu rosto de encontro ao seu peito largo.
— Não fica assim. Esse safado nunca mais vai chegar perto
de você. Você estará segura de hoje em diante — sussurrou ele e,
ao perceber que eu fiquei mais calma, voltou a indagar: — O que
você fez quando os viu?
— Disse que chamaria a polícia e foi então que ele veio pra
cima de mim, me ameaçando. Teria me agredido também, mas
Trisha entrou na frente dele. Ela implorou que eu não ligasse para a
polícia, me fez prometer que não faria isso e foi com essa condição
que ele me deixou ir. Ambos estavam muito loucos de drogas e
bebidas, o que não justifica a atitude dele.
— Não mesmo — disse Kael. — E você chamou a polícia,
não foi?
— Eu sei que foi burrice da minha parte, mas tive medo de
que ele a matasse. Não consegui ficar parada depois do que tinha
presenciado.
— Você agiu certo. Talvez ele a teria matado.
— Foi o que pensei. Então, assim que saí do quarto onde
eles estavam, me tranquei em um banheiro e liguei para a polícia.
Falei sobre as armas e as drogas e dei o endereço. Em poucos
minutos, a polícia invadiu a casa com um grande arsenal, tinha até
helicóptero sobrevoando a moradia. Achei que Dylan e toda a sua
quadrilha seriam presos, mas fui ingênua. Dois dias depois, Trisha
me enviou uma mensagem dizendo que ele tinha acabado de sair
da prisão e estava determinado a me assassinar. Na mesma hora
juntei minhas coisas e fugi para a casa da minha mãe, no interior,
onde acabei me encontrando com Mia.
— O que aconteceu com sua amiga Trisha?
— Ela sumiu na manhã seguinte à festa. Deve ter fugido
também. Depois de me enviar essa última mensagem, o número
dela parou de receber ligações. Deve ter destruído o chip.
— E agora aquele mané está te perseguindo. O que
exatamente ele quer de você?
— Dinheiro. Disse que me deixará viva se eu der quinhentos
mil a ele, que foi a quantia que gastou para subornar a polícia e se
livrar da prisão.
— De onde ele acha que você vai tirar quinhentos mil?
Subitamente, senti todo o meu sangue ser drenado da minha
face.
— Ele acha que ganho muito dinheiro trabalhando na sua
empresa. Levou o carro como parte do pagamento e está
esperando-me juntar ao resto. Eu prometi a ele que arranjaria essa
grana, nem que fosse com um agiota. — As mentiras iam saindo da
minha boca, enquanto uma camada de suor frio cobria minha pele.
Kael me apertou mais forte contra seu peito,
acolhedoramente e minha consciência pesou horrores por mentir
tanto para ele.
— Você devia ter me falado a verdade antes.
— Tive medo de você me demitir. Quem ia querer uma
funcionária que é perseguida por um traficante perigoso? Nem Mia
sabe sobre essa história.
— Eu jamais a demitiria por isso, mas vai ficar tudo bem
agora. Vou dar um jeito nesse cara. Ele nunca mais vai voltar a te
importunar.
— Não faça nada. Ele é perigoso.
— Perigoso eu também sou, quando precisa e nesse caso é
mais do que necessário.
— O que você pretende fazer?
— Ainda estou decidindo se mando matá-lo, ou se dou esse
dinheiro a ele.
— Não quero que você se prejudique por minha causa.
— Não vou me prejudicar. Por quinhentos mil um assassino
de aluguel varre a existência dele na face da Terra.
— É melhor dar o dinheiro a ele do que se tornar um
assassino.
Onde eu estava com a cabeça para dizer aquilo? Se Dylan
fosse morto, o Sr. Dempsey jamais saberia sobre a barriga de
aluguel. Por outro lado, eu não suportaria a ideia de ele carregar a
responsabilidade de um assassinato por minha causa.
— Mas se ele receber essa grana, é certeza que te deixa em
paz?
— Acho que sim. Quinhentos mil é muito dinheiro.
— Nesse caso, vou conversar pessoalmente com ele. Dou a
grana, em troca da garantia de que ele nunca mais vai te procurar.
Se voltar a te incomodar, acabo com a raça dele.
Mentalmente, pude ver Dylan contando a ele que eu o estava
manipulando e usando para ficar grávida e ganhar quinhentos mil.
Senti um tremor atravessando meu corpo ao presumir o quanto Kael
me odiaria após descobrir essa verdade. Sequer daria esse dinheiro
ao traficante, certamente me abandonaria à minha própria sorte e eu
seria morta logo em seguida. Eu precisava falar com Dylan antes
que os dois se encontrassem.
— Mais alguma coisa que você está me escondendo? —
disse ele, como se fosse capaz de ler minha mente.
—Não. Era só isso — menti.
Ele virou-me de frente para si, encarando-me com seus olhos
duros e inquiridores.
— Eu não suporto mentiras! — esbravejou. — Se tem algo
mais sobre você que eu ainda não saiba, essa é a sua chance de
falar.
Encarei-o de volta e senti que meu coração descia até o meu
estômago.
— Não tem mais nada. Era só isso — falei, com a culpa me
espezinhando.
— Ótimo. Agora vamos dormir. Você mal consegue manter
seus olhos abertos. Quer comer alguma coisa antes de ir para a
cama?
— Não. Quero apenas que você fique comigo. Por favor —
supliquei.
— Eu não te deixaria sozinha sabendo que tem um louco por
aí querendo sua linda cabecinha.
Dito isto, ele levantou-se do sofá comigo no colo e carregou-
me até o quarto. Minha exaustão era tanta que sequer fui ao
banheiro. Tão logo ele acomodou-me na cama, me ajeitei sob os
lençóis e esperei pelo calor do seu corpo. Quando ele se deitou ao
meu lado, usando apenas a calça, sem a camisa, aninhei-me de
encontro ao seu peito e adormeci rapidamente, sentindo-me segura
e em paz, como há dias não me sentia.
CAPÍTULO 24
Serenity
***
Kael
Kael
***
Serenity
***
Era manhã de sexta-feira e todos os funcionários da empresa
estavam muito animados com a grande festa que aconteceria à
noite, no salão de festas que havia no terceiro andar. Não se falava
em outra coisa entre as paredes da companhia. Estávamos todos
comemorando a expansão dos negócios para os países mais ricos
da Ásia, uma grande e recente conquista do Sr. Dempsey, mas
também de todos nós. Seria uma grande celebração, que contaria
com a presença de algumas lideranças desses países, outros
grandes empresários do ramo das construções e muitos jornalistas.
Enquanto todos os demais funcionários se preocupavam com
a roupa que usariam, eu só conseguia me perguntar se seria a
acompanhante do Sr. Dempsey durante o evento, afinal estávamos
mais íntimos do que nunca, éramos quase namorados, embora não
tivéssemos assumido nossa relação perante as pessoas.
Já haviam se passado duas semanas desde que ele me
convidara para jantar fora e, desde então, saímos juntos, de forma
romântica, mais duas vezes, além das nossas idas frequentes ao
Cobongo, claro. Como ele não tinha outra pessoa — pelo menos
não que eu soubesse —, presumi que eu seria o seu par e estava
super nervosa, pois haveria muita gente importante presente na
ocasião. Além disso, eu não conhecia as regras de etiquetas de um
jantar chique, como o que seria servido à noite. Até tinha pedido
algumas dicas à Mia, mas não era suficiente.
No início da tarde, todos os funcionários seriam liberados do
trabalho para se prepararem para o evento. Como chegava minha
hora de ir para casa e o Sr. Dempsey ainda não falara nada, decidi ir
falar com ele pessoalmente, pois talvez eu não precisasse de um
convite, bastava encontrá-lo na festa, visto que era a única mulher
com quem ele estava saindo.
Entrar no escritório daquele homem sem ser chamada, era
sempre uma grande aventura, por isso raramente eu me arriscava a
fazê-lo. Por mais que estivéssemos mais íntimos do que nunca, ele
continuava tendo um temperamento terrível. Ainda assim decidi
arriscar e dei duas batidinhas à porta, antes de abri-la e entrar. O
encontrei sentado atrás da sua mesa, lindo como uma miragem,
usando seu terno sob medida, com seus cabelos curtos bem
penteados, a barba bem aparada. Mantinha sua atenção totalmente
concentrada na tela do seu computador e sua carranca fechada,
como quase sempre, de modo que sequer ergueu seu olhar em
minha direção quando me aproximei.
— Com licença, senhor — falei, timidamente.
Por fim, ele pareceu se dar conta da minha presença e olhou
para mim, seus olhos frios como gelo desceram pelo meu corpo,
antes de me encararem.
— Ao que devo a honra de tamanha interrupção? — disparou
ele, com irritação e quase dei meia-volta e fui embora.
Contudo, já que tinha ido até ali, iria até o fim.
— É sobre a festa desta noite. Gostaria de saber se serei sua
acompanhante.
— Ah, é isso? Não será uma festa para nos divertirmos, mas
apenas mais um encontro fatigante de trabalho. Várias pessoas de
outros países estarão presentes, por isso preciso da companhia de
alguém que fale outros idiomas e entenda muito bem sobre o
trabalho que realizamos aqui. Uma engenheira da Califórnia irá
comigo. Vá com Mia. Vocês são boas amigas.
Tentei evitar o sentimento de inferioridade, mas este me
atingiu como se eu estivesse sendo atropelada por um caminhão. A
tristeza inundou minha alma, quando constatei que eu não era nada
para aquele homem, além de um objeto, uma joana-ninguém com
quem ele transava e não era digna de estar ao seu lado em um
evento. Eu não conseguia entender por que tais constatações me
feriam tão dolorosamente se, no fundo, eu já sabia que as coisas
eram assim.
— Claro. Tudo bem. Irei com Mia — falei, reprimindo minhas
emoções.
Tentei dar meia-volta e ir embora dali, mas simplesmente não
consegui me mover, como se minhas pernas estivessem
congeladas.
— Não tenho nada com essa mulher, se é o que está te
incomodando — continuou ele. — Não misturo negócios com prazer.
Ava é apenas uma amiga.
— Tudo bem. Não precisa me dar explicações. Eu só queria
saber se precisaria estar preparada.
— Agora já sabe que não precisa se preocupar com nada.
Apenas relaxe e curta o que vocês chamam de festa. Se era só isso,
pode ir. Tenho algo importante para fazer aqui.
Sem dizer mais nada, ele voltou o seu olhar para a tela do
computador, ignorando por completo a minha presença, enquanto
eu continuava plantada em frente à sua mesa, mendigando pela sua
atenção, parecendo uma coitada. Até que, por fim, minhas pernas
resolveram voltar a me obedecer e dei meia-volta, deixando a sala.
Cheguei à recepção me sentindo completamente deprimida.
Minha vontade foi de contar logo à Mia sobre a gravidez e acabar de
uma vez com essa história, me afastar daquele homem e me livrar
desse turbilhão incessante de sentimentos que ele me despertava.
Porém, mais uma vez, me faltou forças para promover o nosso
adeus.
— Você tá legal? — indagou Mia, observando-me.
— Sim. Quer dizer, mais ou menos. Eu achei que seria a
acompanhante de Kael na festa de hoje.
Ele observou-me em silêncio por mais um tempo. Então,
deixou de lado a pilha de papéis que analisava e voltou-se para
mim, virando a cadeira giratória em minha direção.
— Não precisa ficar triste por causa disso. O fato de ele não
ficar com você em público, não indica que ele não goste de você. É
que os homens são assim mesmo.
— Ele disse que vai levar outra pessoa, uma mulher mais
instruída, como se eu fosse inferior a ele, como se não servisse para
mais nada, a não ser transar.
A expressão de piedade que surgiu na expressão dela, só
serviu para confirmar o quanto eu estava certa. Kael só me queria
mesmo para o sexo. Mas o que eu esperava?
— Ele disse quem é essa mulher?
— Uma tal de Ava, engenheira da Califórnia.
— Sei quem é. Não precisa ter ciúmes dela. Essa mulher dá
em cima do Sr. Dempsey há muito tempo e ele nunca quis nada
com ela. Nem sexo.
Senti uma pontada no peito. Se essa mulher dava em cima
dele, havia uma grande possibilidade de já ter ido ao Cobongo na
sua companhia, algo que Mia não tinha como saber.
— Acho que não vou a essa festa. Não quero vê-lo desfilando
na minha frente com outra mulher.
— Nada disso. Aí é que você tem que ir mesmo. — Ela
projetou seu corpo para a frente, segurando-me pelos ombros e
fitando-me de perto. — Coloque o vestido mais sexy e chique que
encontrar no seu closet, arrume esse cabelão lindo, coloca um
batom vermelho e desfila na frente dele. Eu duvido que ele ficará
indiferente. Será capaz até de deixar a mocreia sozinha e ir ficar
com você.
— Você acha?
— Talvez não. Mas com certeza ele vai ficar mexido. Esse
cara é vidrado em você. Agora vamos pra casa cuidar da nossa
produção de hoje à noite. Não sei você, mas ainda preciso passar
no shopping para comprar uma roupa.
— Eu também.
— Ótimo. Vamos juntas.
Mia e eu encerramos as últimas pendências do trabalho e
deixamos o edifício cada uma em seu carro, indo direto para o
shopping. Ultimamente, ela estava mais radiante, devido a ter
engatado em um namoro para lá de explosivo com a mulher que
conhecera no Tinder. Andava tão entretida com esse romance, que
há tempos não perguntava mais pela gravidez, como costumava
fazer antes, de forma quase obsessiva, o que era bom para mim,
pois assim eu não precisava mentir.
No shopping, comprei o vestido mais sensual e sofisticado
que encontrei. Era todo coberto por lantejoulas brilhantes, cor de
pele, com um ombro só, decote em meia-taça e saia longa com a
fenda até acima da coxa. Ficava tão colado em meu corpo que
acentuava cada uma das minhas curvas, marcando bem minha
cintura e deixando meus quadris ainda mais redondos. Era
realmente lindo e ficava perfeito em mim. Aproveitei para dar um
banho de brilho nos cabelos, deixando as ondas avermelhadas bem
soltas e exuberantes. Arrumei as unhas e fiz uma depilação
completa.
À noite, estava me sentindo linda e radiante. Como havia
combinado de me encontrar com Mia no local da festa, fui direto
para lá. O lugar estava simplesmente incrível, com enfeites no teto,
várias mesas forradas com toalhas brancas, adornadas com flores e
velas e garçons circulando por toda parte com champanhe e
petiscos à vontade para os convidados. Um solo de piano era
tocado ao fundo, muito suavemente.
Como os funcionários podiam trazer um acompanhante, Mia
veio com sua namorada, quando finalmente tive o prazer de
conhecê-la. Era morena, de origem latina, com longos cabelos
negros e um rosto com traços marcantes. Tinha mais ou menos a
idade de Mia e era muito bonita e simpática.
Como as mesas estavam divididas para serem ocupadas por
seis pessoas cada uma, sendo que os nomes dos funcionários se
encontravam nelas, acabei ficando sozinha entre Mia e sua
namorada e Joseph — um dos executivos — e sua esposa,
parecendo uma vela entre os dois casais, o que me deixou bastante
deslocada e pouco à vontade, passando a impressão de que eu não
tinha ninguém para trazer ao evento, como de fato não tinha.
Felizmente as pessoas perto de mim eram solidárias e não me
deixavam fora das conversas.
Já fazia mais de meia hora que estávamos lá, batendo papo,
eles bebericando o champanhe, quando finalmente o Sr. Dempsey
chegou, lindo, alto, imponente, parecendo um príncipe nórdico,
usando um terno preto impecável, com gravata borboleta da mesma
cor e camisa branca por baixo. Embora todos os homens
estivessem vestidos com o mesmo traje, nenhum ficava tão lindo e
elegante quanto ele.
Estava sozinho. Sem olhar para os lados e nem
cumprimentar ninguém, aproximou-se da mesa mais próxima ao
palco, onde estavam o vice-presidente da companhia e outras
pessoas que eu não conhecia. Entre elas uma loira deslumbrante,
com a pele bronzeada, que se levantou do seu lugar para recebê-lo
com um abraço íntimo até demais.
— Aquela é Ava, a engenheira — falei, quase para mim
mesma.
— Ela mesmo — disse Mia. — É uma mulher muito
obstinada. Desde que trabalho para o Sr. Dempsey, vejo-a se
insinuando para ele e até agora não conseguiu nada.
— Você não sabe se não conseguiu. Talvez estejam saindo
às escondidas. Não vê a minha situação?
Joseph e sua esposa olharam para mim ao mesmo tempo,
presumindo que eu transava com o meu chefe e não fiz questão de
tentar esconder.
— Uma mulher como essa jamais aceitaria sair às
escondidas — disse Mia.
“Mas como eu, sim”, completei mentalmente, com amargura e
minha autoestima descendo até abaixo dos meus pés.
Assumindo o papel de condutor do evento, o vice-presidente
da Giant Power Corporation subiu ao palco e o som do piano se
silenciou, enquanto ele fazia um discurso bastante previsível,
tentando parecer irreverente ao parabenizar o Sr. Dempsey pelas
grandes e recentes conquistas, atribuindo seu sucesso também à
competência da sua equipe. Falou durante alguns minutos e, então,
anunciou o discurso do poderoso presidente, nosso chefe, e todos
fizeram silêncio quando Kael se levantou e subiu no pequeno palco,
exalando força, poder, elegância e soberania em cada minúsculo
movimento que fazia.
— É uma honra estar aqui esta noite comemorando estas
grandes conquistas, que são resultado de muito trabalho, não
apenas meu, mas de todos os envolvidos. Quero agradecer a
presença das autoridades políticas, da imprensa e de todos.
As pessoas mal respiravam enquanto Kael discursava, com
seu rosto sério e compenetrado. Todos observavam-no com
atenção, capturados pelo seu carisma, deslumbrados pelo seu
magnetismo, principalmente as mulheres. Era um homem invejado
pelo público masculino e cobiçado pelo feminino. Todos o queriam
tê-lo, ou queriam ser como ele, algo que eu compreendia
perfeitamente, afinal era mais uma deslumbrada em meio à
silenciosa plateia.
Ao encerrar sua fala, Kael deixou o palco e voltou para o seu
lugar à mesa, ao lado da loira, sem lançar sequer um olhar na
direção da mesa onde eu me encontrava, nos fundos do amplo
salão, como se eu fosse só mais uma funcionária insignificante, a
quem ele mal conhecia.
Outras pessoas discursaram, enquanto os convidados mais
conversavam do que prestavam atenção, todos comendo os
petiscos e bebendo muito champanhe, com exceção de mim, que
ingeria apenas suco de laranja. Não ingerir bebidas alcoólicas fora
uma das exigências que o médico que consultei, para falar sobre os
enjoos, fizera.
Mia estava errada quando dissera que um vestido bonito
seria suficiente para atrair a atenção do Sr. Dempsey. Em nenhum
momento ele olhou para mim, ou agiu como se me conhecesse. Se
mantinha indiferente o tempo todo, conversando animadamente com
a loira, sorrindo para ela, de vez em quando, como não fazia com
mais ninguém. Com ela parecia ser diferente. Era possível notar a
energia que existia entre ambos, vibrando no ar, enquanto eu os
observava de longe, sentindo-me excluída de sua vida, mais do que
em qualquer outra ocasião.
No meio da festa, todos estavam muito animados por causa
do efeito da bebida, falando mais alto, sorrindo mais, alguns
arriscando os passos de dança na pequena pista improvisada perto
do bar, quando me levantei para ir ao banheiro. Estava a poucos
metros de distância da porta, quando a voz grossa e familiar soou
atrás de mim.
— Finalmente você saiu de perto dos seus amigos. Achei que
não conseguiria falar com você a sós.
Antes mesmo de me virar para o olhar, eu já sabia quem era.
Ainda assim, me virei de frente para ele, me deparando com os
olhos escuros do homem cujo corpo eu conhecia cada detalhe, mas
de quem não sabia nem o nome. Era o mascarado com quem eu
transava junto com Kael no Cobongo, só que ali ele estava sem a
máscara, revelando seu rosto por inteiro, um rosto ainda mais bonito
do que se podia imaginar quando visto pela metade.
— O que você faz aqui? — indaguei, perplexa, com meu
queixo caído.
Seria uma grande coincidência, ou ele nos encontrara
deliberadamente? O que pretendia com isto?
— Sou jornalista — disse ele, com seu sorriso largo
diminuindo à medida em que ele examinava a expressão do meu
rosto. — Quer dizer, na verdade, sou dono do jornal e, quando vi
que o evento seria na corporação de Kael Dempsey, tomei o lugar
do meu jornalista, porque fiquei curioso. Não por causa daquele
cara, ele que se foda. Eu queria ver você fora daquele ambiente,
sem a máscara e confesso que você é ainda mais linda do que eu
imaginava.
Fiquei sem jeito ao ouvi-lo mencionar a máscara e o
Cobongo. Automaticamente, olhei em volta, me certificando de que
ninguém mais nos ouvia.
CAPÍTULO 28
Serenity
Serenity
Serenity
Kael
Kael
Serenity
***
Despertei sentindo o peso de um olhar me fuzilando. Ao abrir
os meus olhos fiquei surpresa ao ver Kael sentado em uma poltrona
próxima a mim, observando-me fixamente. Por uma breve fração de
segundos pude ver a paixão, a ternura, queimando na expressão do
seu olhar, mas elas se dissiparam tão logo seus olhos encontraram
os meus, dando lugar à frieza e ao desprezo de antes.
— Você realmente parece estar tirando férias — disse ele,
sem disfarçar a irritação.
— Eu gosto daqui. É tranquilo, sossegado, silencioso. Além
disso, dormir muito é algo que acontece quando se está grávida.
Ouvi dizer que faz com que o bebê cresça.
— Ouviu de quem?
— De Liza, a cozinheira.
— E o médico, disse o quê?
— Tudo o que o segurança já te contou. Que o bebê está
bem, ainda não foi possível saber o sexo e que está tudo certinho.
Kael percorreu seu olhar pelo meu corpo, fazendo-me
lembrar de que eu usava apenas um short de malha curtinho e um
top cavado.
— Você não devia se vestir assim com os seguranças
zanzando por aí.
— Assim como?
— Com tão pouca roupa.
— Eles quase nem entram aqui. Além disso, é como as
garotas se vestem na Califórnia. Devem estar acostumados e nem
reparam mais. — Nesse instante, o bebê se mexeu na minha
barriga e sentei-me animada. — Tem uma novidade. Venha.
Coloque sua mão aqui.
— O quê? — Kael parecia confuso e, ao mesmo tempo,
surpreso.
— Me dê aqui sua mão.
Hesitante, ele aproximou-se de mim e me permitiu espalmar
sua mão sobre o ponto da minha barriga onde o bebê chutava. No
momento seguinte, o pequenino fez outro forte movimento.
— O que é isso? — indagou Kael.
— É o bebê se mexendo.
Como se soubesse que a mão do seu pai estava ali, o neném
fez outro forte movimento e, nesse instante, todo o rosto de Kael se
iluminou com um sorriso que lembrava o nascer do sol em um dia
cinzento, a frieza em seu olhar deu lugar a uma ternura genuína,
apaixonante.
— Ele é forte!
— Acho que vai ser um menino.
— Por que acha isso?
— Pela força. Ele se mexeu pela primeira vez hoje e já está
chutando. Só pode ser menino.
— Algumas meninas são bem fortes também.
Ele continuou com a mão sobre a minha barriga, mas o
pequenino pareceu ter se cansado de se exibir e ficou quietinho. Os
segundos se passaram, a mão de Kael continuou espalmada sobre
minha pele, seu calor foi me contagiando aos poucos, despertando
o desejo visceral dentro em minhas veias, o que fez com que o ritmo
da minha respiração acelerasse, algo que ele percebeu.
Então, seu olhar se prendeu ao meu, ao passo em que sua
mão passava a se mover sobre meu corpo, escorregando devagar,
massageando meu abdômen, depois meu tórax, até por fim parar
sobre um dos meus seios, o que foi suficiente para me fazer perder
a cabeça de vez e segurei dos dois lados do seu rosto, puxando-o
para mim, fazendo com que nossas bocas se encontrassem em um
beijo selvagem e faminto, carregado da mais intensa saudade.
Sem separar sua boca da minha, Kael subiu no sofá,
colocando-se por cima de mim, apalpando meu corpo todo, puxando
meu short para baixo, até arrancá-lo, junto com a calcinha, as
carícias da sua mão estenderam-se até minha boceta, deixando-me
muito melada e quente.
Ele ergueu o seu corpo para tirar suas próprias roupas,
quando pude fitá-lo novamente nos olhos e percebi que sua
expressão havia mudado. A paixão, a ternura, tinham voltado a dar
lugar à frieza e ao desprezo de antes.
Ele me olhava como se não me suportasse, como se eu
fosse o último ser humano diante do qual gostaria de estar e, nesse
instante, quis empurrá-lo de cima de mim, fazer com que parasse de
me tocar, mas a saudade era maior que tudo mais e fui incapaz de
detê-lo quando ele pendurou minhas pernas sobre seus ombros e
me penetrou, fodendo-me com loucura, mas também com certa
frieza, como se existisse uma barreira transparente entre nós, como
se eu fosse uma estranha cujo corpo ele usava para descarregar
suas frustrações, o que me fez lamentar por se incapaz de pará-lo.
Aquilo foi muito rápido. Como conhecia bem o meu corpo, em
questão de minutos Kael me fez gozar, para em seguida alcançar
sua própria libertação e sair apressado de cima de mim, vestindo-se
com rapidez.
— Isso foi loucura. Os empregados podiam ter visto — disse
ele, seco, sem me encarar.
— São todos adultos. Não veriam nada que não estejam
acostumados a fazer também.
— E como você pode saber que todos eles têm vida sexual
ativa?
— Nós conversamos. Sou amiga deles.
Terminei de vestir a calcinha e o short e sentei-me à vontade
sobre o estofado.
— Fez amizade com os empregados?
— É o que acontece quando não se tem mais ninguém para
conversar. Além disso, eles são muito bons para mim.
— Eles têm que ser. Estão sendo muito bem pagos.
— Nem tudo nessa vida se resume a dinheiro.
O olhar que ele me lançou foi gélido como o Polo Norte.
— Nem pra todo mundo as coisas funcionam assim. —
Compreendi que, indiretamente, ele estava me acusando mais uma
vez de interesseira, mas desta vez não falei nada, pois estava
cansada de tentar me defender e lhe explicar que tudo o que
aconteceu entre nós foi verdadeiro, ele que continuasse pensando o
que quisesse. — Sobre o que aconteceu aqui — continuou ele —
não muda nada. Eu ainda vou levar meu herdeiro para os meus pais
quando ele nascer e você não terá nenhum direito sobre essa
criança.
— Eu sei. Você não precisa ficar repetindo isso — falei, com
amargura. — O que o trouxe aqui hoje?
— Fiquei curioso sobre o desenvolvimento do bebê e decidi
acompanhar de perto. Passarei a vir aqui com mais frequência.
— Seria legal se você fosse à consulta e conversasse com o
médico.
— Farei isso. Tem mais alguma coisa sobre a gravidez, além
do fato de ele ter começado a se mexer?
— Não. Está tudo caminhando como deveria. Em breve, seu
príncipe herdeiro estará lindo e perfeito em seus braços.
Ele fitou-me em silêncio durante um momento, sem que eu
conseguisse decifrar a expressão em seu olhar. Conversamos um
pouco mais sobre a gravidez, com aquela distância absurda e
invisível entre nós e então ele se foi deixando um grande vazio em
meu coração, como se meu mundo se resumisse a amá-lo e sentir
sua falta.
***
Kael
Eu não tinha noção de que horas eram, mas não era dia
ainda, tampouco cedo da noite, quando fui despertado pelo toque
insistente do meu celular. Quem diabos teria a ousadia de me
incomodar a uma hora daquelas?
A contragosto, levantei-me e chequei o número na tela. Ao
ver que número era do segurança da Black Desert House, senti um
aperto insuportável no peito.
— O que aconteceu? — perguntei, ao atender, esbaforido.
— Houve um acidente. A Srta. Henderson caiu da escada.
Não conseguimos com que uma ambulância viesse buscá-la, devido
ao mau tempo, então estamos levando-a de carro para um hospital
na cidade.
Digeri suas palavras e, de súbito, minhas pernas falharam, de
modo que precisei sentar-me na beirada da cama; o aperto em meu
peito se intensificou, quase me sufocando.
— Como ela está? — indaguei, tentando manter a calma.
— Desacordada.
— E o bebê?
— Nós não sabemos.
— Certo. Leve-a para o hospital mais próximo e, em seguida,
me envie a localização. Estou a caminho.
Encerramos a ligação e durante o minuto que se seguiu fui
esmagado pela mais dolorosa culpa, que minou completamente
minhas forças, por ter deixado Serenity naquele lugar, longe de
tudo, enquanto estava grávida. Eu jamais me perdoaria se algo
acontecesse com ela, ou com o bebê. Pior que isso, eu não
sobreviveria se o pior acontecesse a eles.
Me forçando a reprimir a aflição que tomava conta de cada
minúscula parte de mim, me coloquei em uma espécie de modo
automático e voltei a sacar o telefone, ligando para o piloto do
helicóptero e ignorando seus avisos sobre a impossibilidade de voar
na Califórnia naquele momento, devido ao temporal que caía. Nós
iríamos de qualquer maneira, ele que se virasse para que
chegássemos lá em segurança.
Quando ele aterrissou no heliponto do meu edifício, eu já o
aguardava e levantamos voo. As seis horas que se seguiram foram
as mais longas da minha vida. Como a tempestade já havia
cessado, conseguimos aterrissar sem problemas em São Francisco,
direto no heliponto do hospital, onde encontrei duas empregadas e
um segurança da Black Desert House na recepção. O fato de as
duas mulheres ainda usarem pijamas por baixo dos seus casacos,
indicava a pressa com que trouxeram Serenity.
—Onde ela está? — indaguei, aflito, falando com o
segurança, enquanto as duas funcionárias me olhavam com
acusação, sem que eu pudesse tirar-lhes a razão.
— Está internada desde que chegamos. O médico ainda não
disse nada.
— O que aconteceu? Como ela caiu?
—A casa ficou sem energia elétrica e ela saiu do quarto no
meio da escuridão.
Sem um celular para iluminar o caminho, porque não permiti
que ela ficasse com o seu. As palavras ecoaram em minha mente, à
medida que a culpa me espezinhava impiedosamente.
— Preciso falar com o médico.
— Só se ele falar com o senhor. Eu já tentei e ninguém veio
falar comigo.
Praticamente precisei fazer um escândalo dentro do hospital,
ameaçando entrar em contato com os acionistas, para que
finalmente o médico viesse conversar comigo, em uma grande sala
de espera, para onde fomos direcionados.
— Me diga como ela está! — exigi, aflito, angustiado.
— Estamos preparando-a para uma cesariana, por isso não
vim antes.
— Mas ela ainda está de trinta e duas semanas.
— Temos que tirar o bebê, antes que o estado dela piore.
Senti como se uma faca fosse cravada em meu peito e
retorcida dentro dele.
— Como assim? Qual o estado dela?
— Ela bateu a cabeça durante a queda e teve uma
concussão. Já fizemos uma tomografia e uma ressonância, mas os
exames não mostraram nada mais grave. Por outro lado, o fato de
ela ainda estar inconsciente é preocupante.
— E por que ela não acorda?
— Não sabemos.
— Como não sabem? Que espécie de médicos são vocês?
— Pode ser qualquer motivo, ou uma junção de fatores. O
cérebro é uma parte complexa do corpo. O importante agora é tirar
o bebê, pois ela está com hemorragia também.
— Ela corre risco de vida?
— Como eu disse, o cérebro é um órgão complexo. Um
edema pode surgir e isso seria fatal.
Uma espécie de choque atravessou o meu corpo,
provocando um redemoinho em meu estômago, enquanto meu peito
ardia de dor.
— Preciso vê-la.
— Não será possível. Temos que tirar o bebê o quanto antes.
Com licença.
Ele fez menção de sair, mas fui atrás.
— Eu tenho que vê-la, porra! É do meu filho e da minha
mulher que estamos falando!
Resignado, ele se deteve.
— Certo, mas só por alguns minutos. Venha comigo.
Ele me conduziu até o andar superior, onde ficava o centro
cirúrgico, para onde Serenity ainda não havia sido levada. Ela
estava em uma espécie de sala pré-cirúrgica, deitada em uma cama
hospitalar, com vários aparelhos ligados ao seu corpo e alguns
enfermeiros a preparando.
Assim que meus olhos a encontraram e focaram seu rosto
adormecido, lindo, tranquilo e sereno, como se ela apenas
dormisse, as lágrimas desabaram abundantes pelo meu rosto, em
um pranto de dor e aflição. A culpa me estraçalhava, um medo
aterrador de perdê-la e de perder o bebê tomava conta de tudo em
mim, arrastando-me para um estado de perfeita agonia.
Eu não me lembrava de algum dia já ter chorado na minha
vida. Acho que não o fazia desde que era um recém-nascido.
Contudo, naquele instante, era tudo o que eu conseguia fazer.
Aproximando-me do seu leito, segurei sua mão entre as
minhas e comecei a falar, mesmo ciente de que ela não podia me
ouvir.
— Me perdoe, meu amor, por ter te deixado naquele fim de
mundo, eu sou mesmo um animal, que nunca mereceu e nunca será
merecedor do seu amor e mesmo assim você disse que me amava.
— Um soluço me escapou, sem que eu pudesse controlar. — Por
favor, não me deixe. Viva por mim e pelo nosso filho. Vamos criá-lo
juntos, como uma família de verdade. É tudo o que quero nessa
vida.
— Senhor, precisamos levá-la — interrompeu-me o médico.
— Só mais um minuto — protestei e continuei falando: — Eu
te amo, Serenity. Não percebi isso antes, porque estava cego de
ódio. Mas agora isso está claro para mim como a luz do dia. Você e
essa criança são a minha vida, então viva para que possamos levar
esse amor adiante.
Nesse momento, presenciei um milagre, ao ver os olhos de
Serenity se abrindo, com muita dificuldade, para que logo ela
focasse meu rosto e um sorriso muito sutil se formasse no canto da
sua boca.
— Você está mesmo aqui — sussurrou ela, com sua voz
fraca.
— Sim, meu amor. Estou sim.
Ela tentou se mover, mas fez uma careta, como se alguma
dor a impedisse.
— O que houve?
— Você caiu da escada, mas está tudo bem. O médico vai
fazer uma cesariana, para tirar o bebê e vocês vão ficar bem?
— Uma cesariana? Mas eu ainda estou de oito meses ainda.
—Isso não será um problema — interveio o médico. —
Provavelmente o bebê precisará ficar alguns dias na incubadora,
mas é só isso. Vocês dois vão ficar bem. — Ele se virou para mim.
— Quanto ao senhor, poderá acompanhar a cirurgia, já que
conseguiu acordá-la. Tente mantê-la assim.
— Claro.
— Alguém prepare ele.
Poucos minutos depois, estávamos adentrando o centro
cirúrgico, Serenity sendo levada na maca com rodinhas, eu
segurando a mão dela o tempo todo, falando com ela, mantendo-a
acordada e calma.
Com uma anestesia local, o médico e sua equipe fizeram a
operação e logo o choro do bebê se fez audível no quarto. Era um
menino, como o ultrassom havia mostrado há alguns meses. Um
menino minúsculo, branco como a neve recém-caída, com alguns
poucos fios de cabelos ruivos na cabeça. Após mostrá-lo a mim e à
Serenity, que ficou claramente emocionada, com lágrimas nos olhos,
o pediatra, que acompanhava o processo, o levou para a
incubadora.
Serenity voltou a dormir apenas várias horas após a
cesariana, quando o médico garantiu que se tratava de um sono
normal, trazido pelo cansaço da cirurgia e que ficaria tudo bem com
ela.
Aproveitei enquanto ela estava adormecida para ir ver o
bebê. Não pude tocá-lo, nem segurá-lo, mas passei um bom tempo
o olhando. Era muito lindo, apaixonante, embora ainda fosse cedo
para saber com quem se parecia. Como era prematuro, ele
precisaria ficar na incubadora até ganhar mais peso.
***
Serenity
FIM