Desejos
Lily Freitas
Série Construindo – Livro 1
Os direitos autorais dessa história pertencem à autora.
Esta é uma obra de ficção.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
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qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios sem autorização
prévia escrita da autora.
Criado no Brasil.
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Prólogo
Pedro Henrique
— Ju, espero que tenha conseguido alguma coisa. O velho Rômulo está
uma pilha de nervos com esse projeto — Imediatamente ao observar quem
está com minha irmã, eu paro sem saber como agir.
Eu jamais esperei entrar na sala da Juliana e dá de cara com uma
mulher tão, tão.... Como vou explicar? Ai, droga, mal vi a garota e já perdi as
palavras. Mas que merda é essa? Ela é linda e sexy, quente como um dia de
verão, mas eu já vi mulheres tão bonitas como ela.
Nossa como eu minto bem. Nunca em minha vida vi uma mulher tão
perfeita como essa. Esse olhar que ela está me lançado está me deixando a
igual um adolescente apaixonado e excitado, que não consegue se controlar
ao estar perto da namoradinha do colégio. Se ela não parar de me olhar com
essa cara de que sou seu prato principal do dia, juro que terei uma ereção
histórica bem na frente da minha explosiva irmã. Mas se a Ju perceber
alguma coisa, vai me matar em segundos, sem nem me dar oportunidade de
defesa. Tento me controlar e não movo nem um músculo, buscando o
equilíbrio necessário para tentar transparecer alguma indiferença por essa
mulher que me deixou sem chão.
— Juju, você anda jogando sujo, maninha. Não vai me apresentar sua
convidada?
Bingo! Isso ficou bem parecido como realmente sou. Um cara divertido
e descolado que não aguenta vê uma mulher gostosa. Juliana jamais vai
desconfiar que estou desesperado para pegar sua nova companheira de
trabalho pelos cabelos e trazer essa boca pecaminosa até a minha.
Mas é claro que minha amada irmãzinha percebeu meu olhar de "vou
te foder até a alma" e já me olha de cara feia. Acho que realmente nasci para
ser engenheiro civil, eu sou um péssimo ator. Quando tiro os olhos da
gatinha, Juliana está parecendo um tornado. Vem caminhando diretamente
na minha direção. Sem perder o passo, ela aponta o dedo acusadoramente na
minha cara antes de falar:
— Olha aqui, Pedro Henrique, acho melhor você deixar esse seu olhar
rasga calcinha do outro lado da rua. Ou melhor, do outro do mundo. Não
vou admitir segundas intenções com a Carol. Ela é a mais nova arquiteta da
empresa e merece tranquilidade para trabalhar. Estamos entendidos? —
Juliana termina seu discurso e, só nesse momento, para e respira. Eu, que
não sou bobo, levanto as mãos em sinal de rendição e me finjo de
desentendido.
— Nossa, Ju, assim você me ofende. Eu mal cheguei e já sai me
atacando. Me desculpa, só estava brincando. Do jeito que você acaba de falar
o que a moça vai pensar de mim? — Juliana dá de ombros e volta para o lado
da perdição que já descobri se chamar Carol.
— Vai pensar a realidade, Rico, que não deve dar mole para você em
hipótese nenhuma.
— Caramba, assim eu fico até parecendo um galinha — Digo, revelando
toda a minha indignação.
— Essa foi boa, você é o maior galinha do Rio de Janeiro. Não! Espera
um momento, estou errada — Minha irmã faz aquela cara de deboche que eu
tanto odeio e continua — Na verdade você, é o maior galinha do Brasil, não é
mesmo? — Ela exibe um sorriso amarelo e puxa a Carol pelo braço. Quando
chega perto de mim, para e me da um olhar de paralisar até alma. Porém, de
má vontade faz as apresentações — Carol esse é meu irmão do meio, Pedro
Henrique, ele é um dos engenheiros civis da empresa. Rico, essa é a Carolina
Camargo — Eu me sinto em júbilo por enfim colocar minhas mãos nessa
belezura, mesmo que seja de forma casta.
— Muito prazer, Carolina — Ela estende a mão e eu seguro firme. Sem
resistir, dou um suave beijo em seu rosto para logo em seguida me
arrepender. Todo o meu corpo se incendeia com esse simples toque. Nesse
momento, minha ficha cai, pois percebo que terei sérios problemas para
ficar longe dessa garota.
— Muito prazer, Pedro Henrique — Ela me diz com uma voz baixa e
cheia de tesão. Eu fico satisfeito por perceber que ela também não é imune a
mim. Nós dois iremos sofrer muito para mantemos nossas mãos longe um
do outro.
— Me chame apenas de Rico, querida. É o meu apelido de infância —
Eu emendo e dou um sorriso travesso, mesmo sabendo que posso despertar
a ira da minha irmã.
— Pedro Henrique... — Ouço o rosnado da Ju e reviro os olhos, cheio de
raiva desse protecionismo em relação à Carol. Mesmo assim, fico quieto e
dou um passo para o lado, fazendo um gesto cavalheiresco para que as belas
damas sigam na minha frente.
Juliana passa por mim pisando duro, seguida pela Carol. Ela anda bem
atrás da minha irmã. Não resisto e olho para sua bunda e..... Puta que pariu!
A desgraçada tem uma bunda incrível.
Fecho as mãos tentando evitar o instinto de dar um tapa naquele
traseiro perfeito. Essa mulher vai me causar um grave estado de bolas azuis
durante essa reunião. Eu estou perdido. Como vou manter o controle dentro
da mesma sala que ela e toda minha família? Eu não mereço esse castigo,
sou um bom rapaz.
Suspiro fundo e vou a passos lentos para a minha forca. Mas como sei
que vou sofrer, não me privo de continuar observando o balançar daqueles
quadris maravilhosos dentro de uma saia apertada e sexy, feita
especialmente para tirar o juízo dos homens.
Quando entramos na sala de reunião, minha mãe está sentada, imersa
em uma conversa animada com meu irmão, Alexandre, e o Severo, um dos
mais antigos arquitetos da GMA. Ela suspende os olhos e lança um sorriso
feliz para a nossa chegada. Juliana se inclina e diz algo para mamãe, que,
imediatamente, olha para mim, me advertindo silenciosamente, para que
me comporte com a Carol. Eu, da minha posição, olho feio para as duas e
sento no meu lugar habitual. Mamãe se levanta, cumprimenta a Carol e faz
as apresentações. Severo observa Carolina com um olhar de aprovação e, ao
mesmo tempo de desconfiança. Deve estar pensando que uma gostosa como
aquela não tem nenhum talento, a não ser para ficar em casa servindo de
gatinha do sexo para seu homem. Por mais que ele tente mudar, é um
conservador nato e muito fechado para entender que a mulher moderna,
além de linda e sexy, também, consegue ser talentosa e inteligente.
Já o dissimulado do meu irmão tá por dentro de tudo o que é moderno
e sorri pra Carol, já imaginando em que posição ele pode comê-la na sua
sala. Bastardo! Se eu vir um mínimo movimento dele em direção a minha
gatinha sexy, eu juro que corto as bolas desse moleque. Eu vi essa garota
primeiro. Portanto, é meu direito colocar as mãos nela. Isso, é claro, sem a
Ju saber, afinal, tenho a intenção de viver muitos anos e aproveitar a minha
vida.
— Carolina é um prazer conhecê-la. Espero que você se adapte rápido a
nossa empresa — Alexandre faz aquela cara de príncipe da Disney que eu
tanto odeio e a Carol se derrete. Boba!
— Muito obrigada, Alexandre, eu já estou me sentindo em casa. A
Juliana tem sido muito atenciosa comigo — Ela pisca várias vezes aqueles
cílios perfeitos e sorri polidamente para o meu irmão. Deus do céu... Essa
mulher vai me matar! A desgraçada tá jogando charme para o fedelho. Faço
uma rápida anotação mental para castigá-la assim que ela estiver na minha
cama.
— Agora só falta eu conhecer a já famosa Carolina — Meu pai, o todo
poderoso Rômulo Albuquerque, que até esse momento esteve no celular, se
aproxima e cumprimenta alegremente a nossa nova arquiteta.
Ela visivelmente fica constrangida mais. Mesmo assim, dá um olhar
tímido com um pequeno sorriso nos lábios. Senhor Rômulo olha bem nos
olhos dela, faz um pequeno gesto com a cabeça e me encara. Pronto!Estou
ferrado com ele também. Vai me passar um sermão sobre a Carol.
Como vou conseguir entrar embaixo da saia dela com a família toda
contra mim?
Tento deixar esse problema de lado e me concentro na reunião, que é
iniciada pela minha inestimável irmã.
Pelos próximos quarenta minutos, eu travo uma guerra de olhar com o
meu irmão e meu pai. Me remexo na cadeira à cada vez que a Carol
completa um raciocínio da minha irmã. Ela é bem precisa em suas
observações e tem um jeito de pensar muito parecido com o da Ju. Severo,
que estava na dúvida, já começa a olhar para ela com admiração, e minha
mãe não consegue esconder a felicidade por ter descoberto Carol.
Eu, por outro lado, estou irritado com tudo. Desde minha mãe, que
trouxe essa feiticeira para dentro da empresa, passando pelo meu pai, que
controla apenas com o olhar meu desejo e o do meu irmão por ela, chegando
até a Carol, por ser tão gostosa.
Mas que droga! Essa diaba não podia ao menos ter algum defeito?
Quando Juliana acaba de mostrar todas as ideias que teve para
apresentar ao grupo paulista eu estou mais cansado do que se tivesse
corrido a São Silvestre. Tudo o que quero é ir até minha sala e esquecer pelo
menos por um momento todo o tesão que essa bruxa me fez sentir.
— Bem... — Meu pai começa — Tenho certeza de que, com essas novas
propostas, os meninos da MOB ficarão satisfeitos — Seu sorriso é de puro
entusiasmo — Meninas, estou surpreso com vocês. Como em tão pouco
tempo conseguiram fazer tudo isso? — Meu velho não se cabe de tanta
felicidade por finalmente conseguir um projeto descente para apresentar aos
paulistas.
— Milagres acontecem, pai. E a Carol foi fundamental para fechar
alguns conceitos que eu estava tendo problemas para resolver – Minha irmã
fala com sinceridade.
— Que isso, Juliana, já estava tudo pronto. Eu só fiz assinar embaixo —
Ela sorri tão alegre e feliz, que sinto o meu dia se iluminar.
— Hum... Já estou percebendo que você é modesta — Minha irmã
brinca.
Estou fodido. As duas já estabeleceram uma amizade. Desde
adolescente, sou proibido de comer as amigas da minha irmã. Mas, dessa
vez, terá uma exceção. Não vou poder seguir essa regra. A Carol será minha
de qualquer maneira, e é só uma questão de tempo. Repito para mim
mesmo isso e me acalmo.
Pronto! Carolina é minha. Seja ela amiga da minha irmã ou
funcionária da empresa, é uma situação não negociável. Não abrirei mão
dela por nada. Mesmo que para isso, tenha que entrar numa guerra contra
todos. E eu espero que o meu amado irmãozinho mantenha suas mãos longe
da minha gatinha sexy. Ou ele terá sérios problemas comigo.
Capítulo 4
Carolina
Pedro Henrique
Carolina
Quando a Rufina disse que iríamos para um bar de uma amiga dela, eu
pensei que isso não ia acabar bem. Mas, graças a Deus, o lugar é o máximo,
muito aconchegante, com uma música maneira, bebida boa e comida
gostosa, sem contar que tem uma pista de dança pequena, mis que está
abarrotada de gente nesse momento. Eu confesso que estou decepcionada,
pensei que o Pedro Henrique estaria aqui, mas eu já estou na quarta cerveja
e nada dele aparecer. Não sei mais o que faço com as investidas do Xandy, e
já me perdi da Juliana, que se atracou literalmente, com um gostosão dos
olhos de chumbo, que segundo Alexandre, é seu eterno amor. Rufina tá num
papo animado com a dona do bar e seu namorado. Eles parecem que se
conhecem há muito tempo.
Olho as pessoas em volta, e é aí que eu o vejo chegar. Meu coração
dispara. Pedro certamente passou em casa, porque está com uma calça preta,
blusa cinza com as mangas enroladas, e o cabelo ainda molhado, indicando
que teve tempo para uma ducha. Do seu lado, está um típico menino do Rio,
alto, forte, bronzeado, com barba por fazer e a cara de comedor. Uma
menina passa por ele, e, sem pensar duas vezes, seu amigo lança um olhar
destruidor para a bunda dela chamando, a atenção do Pedro para também
olhar.
Pedro, por outro lado, não lhe dá atenção, pois está procurando pelo
bar até que seus olhos se encontram com os meus, e eu percebo que estou
totalmente perdida. Se esse homem chegar perto de mim, não tenho
vergonha em assumir que terei um orgasmo múltiplo só por sentir o seu
toque. Ele vai ser minha ruína. Todo o autocontrole que consegui reunir
durante anos se evapora em apenas olhar para ele. Sei que devo me manter
longe, mas a força que esse home exerce em mim deixa-me sem juízo.
Ele se aproxima e sorri pra mim. Meu coração acelera, não sei o que
fazer nem o que falar.
— Acho que isso aqui tá bem animado. Só não entendo porque você
está aqui sozinha? — O Pedro sorri, se aproxima e dá dois beijos no meu
rosto. Sinto minha calcinha se encharcar, e minha vontade é agarrar a sua
cabeça para poder me acabar naquela boca linda e hipnotizante.
— O pessoal tá dançando ou namorando, e eu estou esperando o Xandy
sair do banheiro. Ele disse que hoje vai ser minha companhia — Pedro dá
um sorriso amarelo e diz.
— Ele sonha demais desde criança... — Eu não entendo o seu
comentário e, quando vou perguntar o que ele quis dizer com aquilo, sou
interrompida pelo amigo gostoso dele.
— Oi! Já que ninguém aqui nos apresentou, eu mesmo faço isso. Sou o
Gustavo mais conhecido por Guto. E você quem é? — Percebo de cara que
ele é uma pessoa legal, seu sorriso deixa transparecer toda a sua alegria.
— Eu sou a Carolina, mais conhecida como Carol. Sou a nova arquiteta
da GMA — Digo, sorrindo para ele. O Guto me dá dois beijos no rosto e
depois um beijo suave na mão, e ainda segurando-a, diz com uma voz de
conquistador barato.
— Carol, você parece uma miragem, nunca vi uma mulher tão linda
quanto você. Acho que estou apaixonado – Ele coloca minha mão no seu
coração, e eu sinto como o seu tórax é firme e musculoso. Imediatamente,
sinto-me quente.
Ai meu Deus! O que deu em mim? Dei para ficar excitada agora com
qualquer homem?
Espera aí! Qualquer homem, não. Um homem extremamente gostoso,
porque esse Guto é de matar.
— Tira suas mãos dela, seu idiota! — Pedro puxa minha mão com força
e deixa o Guto de boca aberta – Vai atrás de alguma gatinha, Guto. A Carol
não precisa de nenhum babaca como você perto dela.
— Tu tá bem, Rico? Acho que você precisa de um médico.
— Larga de palhaçada e vai beber alguma coisa. Por que você não acha
o Xandy e vai dar uma paquerada com ele por aí? Tá cheio de mulher dando
mole, vai se divertir.
— E você, brother, vai ficar de bobeira?
— Não. Vou fazer companhia para Carol. Agora some daqui! — O Guto
olha para ele parecendo que está vendo um fantasma. Resmunga alguma
coisa, mas vai embora. E aí, eu e o Pedro estamos sozinhos. Eu sinto minhas
mãos suarem e não sei o que fazer pra resistir à atração que sinto por ele. Só
que o Pedro parece bem calmo. Pede uma bebida para o barman e olha para
mim. Está bem descontraído, parece se divertir com tudo.
A Rufina se materializa na nossa frente, sorrindo, já um pouco bêbada.
— E aí, fofinho! Você demorou. O que aconteceu?
— Eu estava esperando o Guto, ele já tá perdido por aí.
— Entendi... — Ela sorri, pede mais uma bebida e olha para nós dois
com cara de malícia. Eu sinto meu rosto corar e acho que a Rufina já sacou
que rola uma atração fatal entre nós dois – Rico, será que
você pode levar a Carol para casa? Eu acabei bebendo um pouco demais e
arrumei um esquema aí que mudou meus planos. Mas como prometi levá-la
para casa, não quero que ela vá de táxi sozinha.
— Não precisa, Rufina, eu sei me virar — Interrompo-a antes que ele
aceite realmente me levar embora.
— Pode deixar, Rufi, aproveita sua noite. Nem vou mais beber para
poder levar a Carol tranquilamente.
— É assim que se fala, Rico. Eu vou nessa, porque a noite é uma
criança — Ela acena pra mim e some na multidão. Um estranho silêncio se
instala entre nós, até que o Pedro fala.
— Eu adoro essa música, acho Calvin Harris top. Dança comigo? — Ele
estende a mão e me puxa, sem dá a oportunidade de negar alguma coisa.
Quando chegamos à pequenas pista de dança, a multidão acaba nos
imprensando, e eu vejo-me colada no Pedro. Meu corpo entra em
combustão. Não sei o que faço para manter a cabeça no lugar, esse homem é
extremamente perigoso.
Ele vira-me, se encaixa em minhas costas, coloca o rosto na curva do
meu pescoço e dá um beijo suave. Eu busco minha respiração, mas acho que
se ele me beijar novamente, vou sufocar e morrer aqui mesmo.
— Seu cheiro é tão bom — Ele agora beija meu ombro — Sua pele é
mais macia do que imaginei — Mais um beijo, só que agora na minha orelha.
Nesse momento eu já não raciocínio. E quando ele se cola a mim, sinto
sua impressionante ereção. Nossa, ele realmente não sofre de micropênis!
Graças a Deus! Ficamos dançando por um tempo nessa posição e quando ele
vira-me eu já dei por rendida. O que ele fizer comigo, eu vou aceitar. Só
preciso senti-lo me tocando.
— Carol, eu preciso te beijar — Ele faz uma espécie de comunicado,
mas eu vejo em seu olhar que, mesmo que eu negue, ele irá pegar o que
deseja de mim. E eu jamais ia negar alguma coisa pra ele. Não nesse
momento, não quando estou a ponto de ter um orgasmo aqui no meio dessa
pista.
Pedro aproxima bem devagar seu rosto do meu, olhando intensamente
para mim e, quando sinto seus lábios tocarem os meus, é como se eu tivesse
voltado à vida. Todos aqueles anos de sofrimento e culpa somem da minha
mente, e tudo o que penso é no sabor único do Pedro e na sua língua
experiente, que exige um beijo forte e profundo, que me abala até a alma.
Esse homem vai me destruir. E o pior é que eu não tenho vontade de fazer
nada para impedi-lo.
Ele se afasta de mim e puxa-me para fora da pista. Eu o acompanho em
silêncio até a saída. Seguimos para o carro e ele abre a porta, mas, antes que
eu possa entrar, me dá mais um beijo duro. Eu correspondo da melhor
maneira possível. Ele me solta e manda-me entrar no carro. Estou perdida e
obedeço sua ordem. Ele dá a volta, senta atrás do volante olha para mim
enquanto fala:
— Você vai para o meu apartamento sem hora para sair, está me
entendendo? — Eu apenas concordo com a cabeça. Ele fica satisfeito com a
minha reação, me dá mais um beijo — Perfeito! Melhor do que tudo o que
imaginei — Sem mais uma palavra, ele acelera o carro, e eu sinto que minha
vida nunca mais será a mesma depois dessa noite.
Capítulo 8
Pedro Henrique
Carolina
✻ ✻ ✻
Isso era loucura, mas como resistir quando você é acordada por um
homem delicioso trazendo um café da manhã muito mal feito para você?
Pedro podia ser muito bom de cama, mas, pelo aspecto da comida que
ele trouxe, era um péssimo cozinheiro. Eu não resisti e sorri ao olhar para o
ovo queimado que ele trazia, junto com torradas e biscoitos. O pobrezinho
ficou constrangido.
— Droga, Carol, eu fiz com carinho — Ele parecia muito magoado com
minha diversão.
— Desculpa, mas esse ovo tá com a cara péssima — Ele olha e faz uma
careta — Mas ele pode estar gostoso. Deixa eu experimentar... — Deus do
céu o ovo está sem sal — Pedro você não tem sal em casa?
—Sal? Tenho sim, por quê?
— Acho que você esqueceu de colocar... — Ele se levanta.
— Me dá isso aqui, vou jogar fora — Eu afasto sua mão.
— Calma, basta você buscar um pouco de sal, que vou colocar nele —
Ele olha para mim e sai do quarto batendo o pé igual criança. Depois volta
trazendo o saleiro. Eu coloco um pouco do sal e começo a comer. Está ruim,
mas não quero deixá-lo chateado ainda mais. Decido conversar um pouco e
matar minha curiosidade.
— Agora quero saber um pouco sobre essa história de você não trazer
mulheres para seu apartamento. Por que eu sou a privilegiada? — Olho
dentro dos seus olhos e percebo o pânico tomar conta dele. Nervosamente,
ele passa as mãos pelos cabelos e olha-me sem saber o que falar. Só que o
desgraçado é salvo pelo toque do seu celular. Vejo o alívio cobrir o seu rosto.
Ele pede desculpa se afasta, pega o telefone e sai do quarto.
Capítulo 9
Pedro Henrique
Carolina
Há muito tempo não sabia o que era essa cumplicidade que estou
vivendo com o Pedro. É tão bom se sentir à vontade com uma pessoa. Ele, às
vezes, me assusta um pouco com sua intensidade, mas ao mesmo tempo,
acho isso estimulante.
Eu não sou uma pessoa aberta ao amor. Jamais deixo alguém se
aproximar demais, e isso o que estou vivendo com o Pedro já passou de
todos os limites que estabeleci para mim. Mas ainda não tenho forças para
encerrar o que estamos vivendo, e sei que eu posso me dar ao luxo de
aproveitar um pouco mais o que ele está me oferecendo.
O Pedro não é um homem que você dica satisfeita na primeira noite.
Sei que preciso de mais tempo para aproveitar tudo o que ele pode oferecer.
Só não quero, em hipótese nenhuma, magoá-lo. E, infelizmente, isso é uma
coisa que faço sem muito esforço.
Coloco todos esses pensamentos de lado e concentro-me no prazer que
ele está me dando. Sou capaz de ficar viciada nesse homem. Tudo nele é tão
gostoso... Se dependesse de mim, esse dia nunca acabaria, e eu ficaria nessa
cama com ele para sempre. Deixaria todos os fantasmas do passado
esquecidos e viveria esse conto de fadas com esse príncipe bom de foda.
Pedro é um perito na cama. Sabe dar e sentir prazer como ninguém. Hoje em
dia, com os homens cada vez mais preocupados mais com eles mesmos do
que com as suas parceiras, é uma raridade ter um homem como ele na cama.
— Carol, você está comigo? — Sua pergunta tira-me dos meus
pensamentos conflitantes.
— Sim, querido, eu estou bem aqui — Suas mãos habilidosas viram-me,
e, com esse movimento ele sai de mim, fazendo com que eu sinta
imediatamente sua ausência.
Sou colocada de costas na cama, e essa posição deixa-me ver seus olhos
um pouco preocupados, mas ainda assim, cheios de luxúria. Ele me invade
novamente, e o prazer volta com tudo. Seus movimentos agora são lentos e
preguiçosos, sua boca me beija com carinho. Perco-me nesse mundo de
prazer, mas necessito de um pouco mais de força para conseguir gozar —
Pedro, mais rápido...
— Calma, princesa, eu sei o que estou fazendo. Não quero só seu corpo,
mas também sua alma aqui comigo, e sinto que essa sua cabecinha está a
quilômetros de distância daqui. Jamais irei permitir que você alcance o seu
prazer sem estar totalmente comigo — Sua declaração possessiva me deixa
excitada demais, e esqueço por completo todos os pensamentos tristes que
invadiram minha mente.
Ele abocanha um seio, e sua língua circula meu mamilo, fazendo-me
suspirar de prazer. Seus movimentos estão profundos, mas ainda lentos
demais para mim. Porém, tudo muda quando ele morde levemente um
mamilo e intensifica suas investidas sem sair demais de mim. Vou sentindo
outro orgasmo construindo-se lá no fundo, e tento com meus quadris
acelerar um pouco mais.
— Carol, eu quero te dar prazer de todas as formas, e isso inclui a
maneira suave e lenta como agora. Você precisa ter calma, mas, ao mesmo
tempo, saber que, da forma que for, o nosso momento sempre será intenso e
especial. Então relaxa e sinta o prazer chegar aos poucos. Temos todo o
tempo do mundo, querida — Suas palavras tiram o meu ar e, mesmo ele
dizendo para esperar o prazer chegar, com poucas estocas e eu não me
seguro e desabo em longo e desesperado orgasmo.
— Pedro ... — Seu nome sai dos meus lábios como se eu sentisse uma
dor muito profunda, mas a realidade é que todo o prazer que ele me
proporciona parece ser mais do que posso agüentar. Sinto-me exausta em
tentar me segurar para não entregar o meu corpo e minha alma a esse
homem. Não posso me deixar envolver. Nunca.
Seus movimentos duram mais um tempo até que ele também encontra
seu prazer. Ele esfrega o nariz no meu pescoço e me beija na boca por tanto
tempo que sinto o ar abandonar os meus pulmões. Depois, me olha por
alguns minutos sem nada dizer.
— Fique quietinha aqui. Eu vou ao banheiro e já volto. Não se mova,
Carol — Ele diz isso como se eu realmente pudesse me mover. Parece até
que o meu corpo perdeu todos os ossos.
Sinto-me totalmente sem movimentos, necessito urgentemente dormir
por 24 horas no mínimo. Esse homem acabou comigo e, pelo que estou
vendo, ele ainda está com muita disposição.
Ele volta, e aninho-me em seu peito. Não esboço nenhuma resistência.
Adoro senti-lo tão próximo de mim, e seu cheiro já se infiltrou em meu
cérebro. Mesmo ele estando a quilômetros, saberei que este cheiro é dele.
— Está cansada? — Sua pergunta é feita com um ligeiro sorriso na sua
voz. Sei que está debochando de mim, porque há pouco tempo atrás eu disse
que ele iria implorar que eu parasse te tentá-lo. Mas acho que o feitiço
virou-se contra mim, e agora sou eu que não aguento mais nada.
— Preciso dormir um pouco. Você acabou comigo — Faço um biquinho
de mágoa, mas, no fundo, estou plenamente satisfeita e feliz.
— Eu sei, querida. Vou deixá-la descasar enquanto termino algumas
coisas no meu escritório. Mas antes gostaria de saber o que você gostaria de
jantar — Eu não sei o que responder. Na verdade, pensei em ir para casa,
mas sei que se falar isso agora, será uma guerra. E estou tão feliz, que não
quero brigar com ele, então decido que ficarei. Não tenho nada em casa para
fazer mesmo.
— O que você pedir, para mim está bom. Até pizza eu topo. Mas,
parando para pensar, eu estou com muita fome agora. Será que você tem
alguma fruta na geladeira? Eu queria comer alguma coisa antes de tirar um
cochilo.
— Claro. Vou buscar alguma coisa para você comer e trazer um pouco
de água também — Ele sai da cama, gloriosamente nu, e admiro a visão do
seu belo traseiro.
Ele vai até o closed e volta vestido com uma bermuda curta de corrida.
Quando retorna ao quarto, traz consigo uma fatia de mamão junto com um
pequeno cacho de uva e um pouco de água.Sento-me na cama e como as
duas frutas. Eu realmente estava com fome. Também pudera, faz muito
tempo que não tenho tanto sexo em um período tão curto de tempo. A água
também é mais que bem-vinda.
Depois de me hidratar e alimentar, o sono me alcança rápido. Eu entro
embaixo dos lençóis e sinto a mão suave dele nos meus cabelos.
— Se você precisar de mim, eu estarei trabalhando no meu escritório.
Basta entrar que paro tudo por você. Esse fim de semana, você será minha
prioridade — Seus lábios roçam de leve meu rosto — Quando acordar, se
estiver disposta, podemos comer em algum lugar aqui perto. Acho que seria
bom para ambos esticar um pouco as pernas — Quase não ouço mais suas
palavras, pois já estou caindo em sono profundo.
" Eu não acredito quando meu irmão mostra pra mim a reportagem.
Isso não estar acontecendo comigo. Ele não pode ter me enganada assim!
Eu entreguei-me a ele sem reservas! Dei todo o meu amor para esse
maldito. Deus! Por que isso foi acontecer? Como pude ser tão idiota e nunca
perceber toda a sua falsidade?
Caio num choro desesperado enquanto sou embalada nos braços do
Lucas. Ao fundo, escuto o Ricardo dizendo que mais uma morte vai
aparecer nos jornais, pois assim que ele colocar as mãos nesse desgraçado,
ele também irá morrer. Eu me afasto do Lucas e peço para ele esquecer isso.
Só necessito que ele mantenha-o longe de mim. Não quero nunca mais
olhar em sua cara. Já basta eu ser responsável pela morte de alguém.
Mas meu irmão está cego pelo ódio e empurra todos os que estão
tentando lhe segurar. Nem papai consegue conter sua fúria Ele ignora
todos os meus pedidos e sai da casa dp nosso pai como um furacão, prestes
a destruir todos que passarem por sua frente. Grito em desespero. Não
quero que mais ninguém se machuque – Ricardo, por favor, volte agora! –
Ele finge não me ouvir e some na escuridão.
Sou despertada por um Pedro assustado, com olhos esbugalhados de
terror. Sinto-me automaticamente envergonhada por ele presenciar o meu
pesadelo. Faz tempo que não tenho um tão intenso. Acho que todas essas
emoções que vivi com o ele me fizeram voltar ao passado. Meu Deus! Como
vou conviver com meu passado, sentindo todos esses sentimentos que esse
homem desperta em mim? Tento diminuir seu terror com um fraco sorriso.
— Não foi nada, apenas um sonho ruim — O modo como ele estreita os
olhos deixa claro que não acreditou na minha desculpa.
— Não foi apenas um sonho ruim, gatinha — A suavidade em sua voz
faz com que lágrimas surjam em meus olhos — Eu ouvi seus gritos lá do
meu escritório, Carol. Pensei que alguém tivesse entrado aqui, mas quando
cheguei ao quarto, percebi que era um pesadelo — Ele acaricia o meu rosto e
sorri com uma ternura que me deixa ainda mais fragilizada — Não quero
saber o que foi, porque, nas poucas palavras que ouvi você murmurar, se
trata de algo de cunho íntimo. Quero apenas que saiba que, no momento em
que estiver disposta a conversar sobre o assunto, eu estarei aqui ouvindo
tudo. Sempre estarei com você. Tudo bem? — Eu não me seguro e procuro
seu colo, na tentativa de encontrar algum conforto. Ele é muito mais que
mereço, e não quero nunca magoar esse homem.
— Me abraça forte? — Peço, parecendo uma criança. Odeio ficar
vulnerável, mas tudo o que necessito é de carinho e conforto.
— Claro, meu bem. Tudo o que mais quero na vida é ficar assim com
você nos meus braços — Fecho os meus olhos, sentindo o calor que vem do
seu corpo. O seu cheiro me conforta, e sua respiração estável me faz relaxar.
Sem conseguir conter, lágrimas de angustia caem dos meus olhos. Com elas,
todas as dores do passado me envolvem com uma pressão gigantesca.
Será que ainda existirá uma chance, ainda que mínima, para eu
conseguir ser feliz?
Com os braços do Pedro me envolvendo firme, chego a acreditar que eu
posso superar tudo o que esmaga minha alma. Seria tão bom se eu pudesse
esquecer tudo e apenas viver o agora. Mas a culpa é minha companheira
constante. Afasto todos esses questionamentos da mente e me agarro nesse
homem.
— Obrigada por estar aqui — Falo baixo junto ao seu peito.
— Sempre estarei. Acredite em mim, Carol. Sempre estarei com você.
Capítulo 12
Pedro Henrique
✻ ✻ ✻
— Você se importa se formos um pouco longe daqui de casa? — Falo ao
sairmos do seu apartamento com uma bolsa cheia de coisas.
— Claro que não, a noite está linda — Seu sorriso é tão bonito e feliz,
que, se não tivesse presenciado o seu pesadelo, diria que tudo estava bem
em sua vida. Mas, infelizmente, não está. E o medo de que isso possa de
alguma forma atrapalhar o nosso futuro relacionamento me assusta como o
inferno.
— Legal! Vou levá-la no restaurante do Sinval, lá no Recreio. Ele é um
amigo de longa data. Você vai gostar.
— Desde que ele sirva boa comida, eu vou gostar mesmo — Ambos
rimos do seu apetite descontrolado, e engatamos uma conversa tranquila.
Carolina realmente sabe como disfarçar seus traumas. Em momento
nenhum fala sobre o sonho, nem parece estar abalada por ele. Continua ser
a garota doce e engraçada que chegou ao meu apartamento. Essa sua atitude
deveria me deixar tranquilo, mas causa o efeito contrário.
Percebo que essa dor ou esse trauma é antigo, e ela aprendeu a
conviver com ele. Mas não consigo pensar em um modo de descobrir do que
se trata. Tenho que traçar um plano eficaz onde possa descobrir esse
mistério.
Quando chegamos ao restaurante somos recebidos de cara pelo
simpático Tenório, um baixinho engraçado que trabalha com o Sinval desde
a inauguração do restaurante. Eu venho aqui há muito tempo e nunca vi o
Tenório triste, ele sempre exibe um sorriso sincero e conta às piadas mais
ridículas do mundo. Na maioria das vezes, eu não acho graça das suas
piadas, mas me empolgo vendo-o rir delas com tanta vontade que eu acabo
entrando no seu clima. Na realidade, ele é o grande motivo de sucesso desse
lugar.
— E ai, Tenório? Como vai? — Pergunto depois de abraçá-lo.
— Tudo na santa paz de Deus, Rico — Responde ao mesmo tempo em
que observa a Carol com olhos curiosos – E essa princesinha, quem é?
— Essa é a Carolina, minha namorada — O orgulho na minha voz me
surpreende.
— Hum... Muito prazer, Carolina. Fico feliz em finalmente conhecer
uma namorada desse rapaz – Seus olhos se voltam para mim com
divertimento — Pensei que ele jogasse no outro time — Ele finge um
sussurro tão alto, que poderia ser escutado dentro de um estádio de futebol
— Só aprece aqui com os amigos ou com a família. Você é a primeira menina
que ele traz — A Carol está de boca aberta — E que menina hein, Rico? Você
demorou mais escolheu bem.
— Cala a boca, Tenório, e arruma uma mesa legal. Estamos com fome
— Seu sorriso é contagiante.
— Claro, chefe. Seu pedido é uma ordem. Vamos lá — Seguimos o
Tenório para o segundo andar do restaurante, onde um pequeno palco indica
que hoje terá música ao vivo. Aqui sempre tocam bons músicos, e adoro
passar a noite com os meninos jogando conversa fiada e ouvindo música.
— Pronto! Podem ficar por aqui. Essa é a nossa mesa VIP para casais
apaixonados — Seu ar conspiratório faz Carolina sorrir com força.
— Então teremos desconto pela nossa paixão? — Tenório se
surpreende pela pergunta dela.
— Se dependesse só de você, daria até 50%, mas como quem vai pagar a
conta é ele, acho melhor manter o preço normal — O sorriso de provocação
do Tenório me deixa com vontade de chutar a bunda dele — Mas a sua
sobremesa é por conta da casa, princesa.
— Eu quero a maior então — Ela bate palmas como e fosse uma criança
prestes a receber um presente.
— Então se prepare! — O olhar que ele lança para mim é de total
aprovação. Acho que até o Tenório caiu de amores pela minha gatinha.
Carol se senta no canto, e eu ocupo o lugar ao seu lado. Não quero
correr o risco de algum ridículo pensar em paquerar minha namorada.
— Esse lugar é incrível. Nunca vim aqui, é tudo tão bonito — Ela fala
enquanto observa o ambiente — E essa vista para o mar? É o máximo.
Adorei — Sinto-me satisfeito com sua aprovação.
— Realmente, isso aqui é demais. Eu gosto de vim aqui, sempre que
posso.
— E pelo que entendi sempre vem com os amigos — Sua sobrancelha
erguida mostra que guardou bem as palavras do velho linguarudo, mas não
me importo em assumir que ela é especial. Talvez, se for sincero, ela
também possa confiar em mim.
— Verdade. Esse lugar é especial para mim. Só o divido com pessoas
igualmente especiais — Pronto! Joguei minha rede, agora vou esperar se ela
vai cair nela.
— Obrigada — Ela se aproxima e me beija. Seu agradecimento me pega
desprevenido, e acabo ficando sem resposta, mas sou salvo com a chegada
do Sinval.
— Rico, como é bom vê-lo por aqui, rapaz!
— E aí, Sinval? — Cumprimento-o com um abraço apertado. Sempre
que venho aqui me sinto em casa.
— Tenório me avisou que estava aqui ... acompanhado — Uma leve
acusação aparece na sua voz – Por que não me avisou que viria? Eu teria
arrumado as coisas para vocês — A atenção que ele sempre reserva quando
venho aqui me deixa lisonjeado. Sinval é um acara fora do comum e merece
o sucesso que tem com o seu restaurante.
— Não precisava, meu amigo, sei que aqui sempre tem um lugar pra
mim.
— Isso é verdade, menino — Seus olhos se concentram em Carol — E
você é a escolhida do rapaz aqui? — A apreciação em sua voz me deixa
orgulhoso — Muito prazer, eu sou o Sinval, ao seu dispor — Ele faz uma
reverência exagerada, para em seguida, segurar a mão da Carolina e beijar
levemente.
— O prazer é meu — Sinto certo constrangimento em sua voz.
— Você não poderia ter feito melhor escolha, rapaz. Ela é realmente
especial. O Sinval aqui nunca se engana — Agora o seu sorriso e saudosista
— Ela tem a mesma sinceridade nos olhos que minha amada Antônia. Tenha
zelo com a menina — Sinto a dor dele em sua voz. Desde que Antônia
morreu, o Sinval sofre pela ausência da mulher — Bem! Podem ficar à
vontade. O próprio Tenório será o responsável por vocês. Hoje, o casal terá o
melhor desse lugar.
— Obrigada — Ele se afasta, e sigo-o com os olhos. Mesmo depois de
três anos, a ausência de sua mulher é algo muito forte em sua vida.
— Ele sofre por ela, não é mesmo? — A pergunta simples da Carol
apenas tira um leve aceno de mim. Eu não gosto de falar da Antônia. Sua
morte foi trágica e rápida, depois de descobrir um câncer no estômago. Mas
não quero conversar sobre isso agora.
— E aí, você realmente gostou do lugar? — Tento mudar o foco do
nosso assunto.
— Sim, é perfeito, mas estou com fome. Cadê a comida? — Sorrimos do
seu comentário.
Nesse exato momento, o Tenório aparece com os cardápios e
escolhemos frutos do mar.
Carolina é uma figura e tem um apetite grande. Quando a comida
chega, não se faz de tímida e sai pegando um pouco de cada coisa. É bem
prazeroso vê-la comendo com gosto, a maioria das mulheres irão apenas
fingir que estão comendo. Mas a minha Carol realmente está se fartando
com a comida.
Na hora da sobremesa, ela cobra algo grande do pobre Tenório. Em
pouco tempo ele chega com um bolo de chocolate e sorvete por cima. A
Carol arregala os olhos, agradece e come o primeiro pedaço, fechando os
olhos com apreciação. É a coisa mais sexy que já vi no mundo. Sinto-me
enrijecer no mesmo momento com ela correndo a língua pelos seus lábios
volumosos.
— Quer um pouco? — Mesmo satisfeito, eu resolvo aceitar, e minha
gatinha não me decepciona. Ela coloca uma colherada generosa na boca,
saboreia e vem na minha direção. Seus lábios alcançam os meus e,
imediatamente sua língua invade a minha. É a sobremesa mais gostosa que
já comi na minha vida. Eu intensifico o beijo, pois preciso de um pouco mais
dela. Quando nos separamos, ambos sabemos que está na hora de ir embora.
Deixo que ela termine sua sobremesa, mas já estou fazendo planos
para o instante em que chegarmos em casa. Eu vou aproveitar esse fim de
semana como se fosse o último, e eu espero que ela tenha muito fôlego para
aguentar o que estou programando.
— Volte sempre, crianças, ficamos felizes em ter vocês aqui hoje à
noite — O Sinval e o Tenório abraçam carinhosamente a Carol. E sinto-me
feliz em saber que meus amigos aprovam minha namorada. Ela é realmente
especial.
— Voltaremos sim, Sinval. Só vou pedir um favor... — Ele me observa
com curiosidade.
— Claro, Rico, é só pedir.
— Não comente com ninguém que estivemos aqui. Queremos um
pouco de privacidade no início do nosso relacionamento. Você conhece bem
minha família — Percebo o entendimento em seus olhos.
— Mas é claro. Nós não vimos vocês por aqui. Não é mesmo, Tenório?
— Ele pergunta ao amigo, e ele concorda com o que o Sinval falou.
Trocamos um abraço apertado e seguimos para o carro. Eu gostei de
levar Carol lá, mas agora me recrimino por estar tão longe de casa.
— Obrigada — Seu singelo agradecimento tira-me dos meus
pensamentos.
— Pelo o quê?
— Você sabe. Por deixar as coisas entre nós — Eu entendo o que ela
falou. Não seria minha primeira escolha, mas sei que a situação dela não é
simples.
— Seu pedido sempre será uma ordem, Carol. Só não se esqueça de que
é minha namorada, não quero mais ninguém rondando você — Ela sorri e
empurra meu ombro. Adoro sua descontração. Ela é uma criança grande.
Isso me relembra o seu pesadelo, me fazendo odiar quem tirou um pouco
dessa sua inocência.
Começamos uma conversa sobre o condomínio que estamos
planejando. Carol conta algumas ideias que ela e Juliana tiveram para as
áreas de lazer, e eu me irrito com o tanto de curvas que me descreve dos
projetos. Arquitetos têm mania de imaginar o impossível, e nós, engenheiros
somos obrigados a tornar realidade suas fantasias.
Em determinado momento, ela fica quieta. Eu viro-me rapidamente
para observá-la, e noto que minha gatinha adormeceu. Instintivamente, me
preocupo que tenha outro pesadelo. Mesmo assim, não acordo e deixo que
descanse. A noite que tenho em mente será longa, e ela realmente precisa
estar descansada.
Quando chegamos ao meu prédio sou obrigado a acordá-la. Carol
reclama por ter deixado que ela adormecesse, e eu sorrio da sua birra,
deixando-a ainda mais irritada.
— Vamos tomar um banho — Falo assim que entramos no
apartamento.
— Não!Eu vou sozinha. Você me deixou dormir como uma velha depois
que se farta. Agora, também não deixarei que veja meu corpo nu e molhado
— Dizendo isso, ela larga sua bolsa na mesa ao lado da porta e caminha,
rebolando excessivamente para o quarto.
Observo seu andar provocador em silêncio e dou uma vantagem para
que ela ache que ganhou essa jogada.
É claro que não a deixarei tomar banho sozinha. Eu estarei lá, entre
suas pernas. Como minha Carol é bobinha...
Lentamente, esvazio meus bolsos e deixo tudo no aparador da mesa de
entrada ao lado da sua bolsa. Tranco a porta e caminho tranquilamente até o
quarto. Chegando lá, escuto o chuveiro sendo ligado. Já me sinto excitado
em antecipação para o que planejei acontecer está noite. Essa mulher
desperta o meu lado mais cafajeste possível.
Quando entro no banheiro, ela está alegremente cantando uma música
de Marisa Monte, e sua voz melodiosa me faz parar e escutar um pouco da
letra.
" .... e eu que pensava que não ia me apaixonar, nunca mais na vida.
Eu podia ficar feio, só, perdido. Mas com você eu fico muito mais bonito,
mais esperto. E podia estar tudo agora dando errado pra mim. Mas com
você dá certo. Por isso não vá embora. Por isso não me deixe nunca, nunca
mais ...."
Se ele soubesse que os meus planos é permanecer na sua vida por um
tempo indeterminado, não cantaria essa música. Começo a tirar a roupa bem
devagar. Quero dar tempo para que ela pense que estou esperando terminar
seu banho.
Quando tiro toda a roupa, abro o box e ela grita de susto. Entro sem
nenhuma cerimônia e tiro o sabonete das suas mãos. Carol a abre a boca,
mas, ao ver o meu sorriso perverso volta a fechá-la. Eu mando-a virar de
costas pra mim e começo a ensaboar o seu corpo.
Sua cabeça acaba descansando em meu ombro, e eu aproveito seu
relaxamento e beijo seu ombro. Sem pressa, sinto aqueles seios firmes e
deliciosos na minha mão. Vou aos poucos descendo até encontrar seu centro
íntimo. Ela geme baixinho ao sentir meus dedos circulando seu clitóris.
— Pedro não para– Sou obrigado a sorrir do seu apelo. Parar é a última
coisa que se passa na minha mente.
— Eu não vou parar até você pedir, meu bem — Seus olhos me
procuram com malícia
— E se eu não pedir?
— Morremos de tanto trepar! — Ela sorri com gosto, e acabo seguindo
seu exemplo.
— Uma ótima forma de morrer.
—A melhor possível — Respondo, enquanto viro-a. Eu me abaixo e
coloco suas pernas nos meus ombros, levantando-a de surpresa. Seu grito
me faz sorri — Agora segure-se, linda.Eu só tiro minha boca dessa boceta
gostosa quando você implorar — Sem deixá-la falar mais nada eu abocanho
com tudo sua fenda molhada e ouço seu resmungo.
— Porra, Pedro! – Eu sou foda.
Capítulo 13
Pedro Henrique
Acordo com o corpo dolorido e uma sede imensa. Tento colocar meus
pensamentos em ordem e compreender onde estou. Viro-me para o lado e
vejo uma sombra escura na cama. Como um raio, as aventuras da noite
passada invadem a minha mente com força. E que noite!Nem que um dia eu
queira, conseguirei esquecer tudo o que passei nessa noite.
Levanto da cama e imediatamente sinto músculos que nem sabia
existir no meu corpo doerem muito.
— É, Carol, você está fora de forma — Digo a mim mesma.
Na verdade, eu estou em forma, o que não estou é acostumada a ter o
tipo de sexo que o Pedro me oferece. Mas sendo mais realista ainda, eu
nunca tive esse tipo de sexo. Pensei que isso nem existisse, que era coisa de
livro, mas meus conceitos mudaram por completo.
Vou até a cozinha e abro a geladeira, pegando logo uma garrafa d’água.
Percebo que também tenho fome e preciso comer alguma coisa. A geladeira
do Pedro tem poucas opções, mas mesmo assim consigo encontrar alguma
comida. Depois de me hidratar e comer, eu me sinto bem melhor.
Vou caminhando tranquilamente até a sala e meus olhos seguem
instintivamente para a varanda. Meu rosto esquenta apenas com o
pensamento do que fizemos lá. Nunca em minha vida pensei sentir todas
essas emoções. Nem aquele maldito homem que julguei amar teve o poder
de despertar tamanhos sentimentos dentro de mim como o Pedro despertou.
Não sei o que vou fazer com ele quando tiver que partir. Como
conseguirei viver depois de tudo o que senti ao estar ao seu lado?
Coloco esses pensamentos de lado, pois ainda tenho tempo para
aproveitar o que só ele pode oferecer. E irei viver intensamente cada minuto
que puder com ele. Tenho certeza que esse será o melhor momento em
minha vida.
Quando chego ao quarto, ele está na mesma posição em que deixei.
Um dos braços cobre seus olhos, e o outro está sobre a barriga. Parece um
anjo em seu sono, mas sei que de anjo ele não tem nada. Olhando seu sono
pacífico, meu coração enche-se de uma emoção profunda, que chega a me
assustar.
Tudo em relação ao Pedro é forte e profundo demais. Sei que preciso o
quanto antes me afastar dele. Se eu quase quebrei quando abandonei aquela
criatura do passado, nem quero imaginar o que acontecerá comigo quando
chegar o momento de abandoná-lo.
Continuo observando seu sono e, mesmo dormindo, ele é a coisa mais
gostosa e sexy do mundo. Depois de tudo o que fizemos, eu ainda quero
muito mais dele. Meu Deus! Acho que virei uma ninfomaníaca.
— Vai ficar a noite toda me olhando ou vai voltar pra cama? — Levo um
susto gigantesco em descobrir que ele estava acordado. Nada em seu corpo
me deixou notar que estava fingindo dormir.
— Você estava acordado esse tempo todo? — Sinto-me irritada em ser
pega observando-o.
— Desde que você saiu, eu acordei. Preciso do seu calor para dormir —
Ele sorri e bate no lado vazio da cama — Vem dormir, querida. E, por favor,
tira essa cara de tesão do rosto. Eu estou acabado, preciso descansar.
— Eu não estou com cara de tesão — Tento ao máximo parecer
verdadeira, mas deito ao seu lado querendo muito mais do que dormir.
— Tudo bem. Eu vou acreditar que seu rosto vermelho é por causa da
longa caminhada que fez da cozinha até aqui – Sua voz zombeteira me irrita
profundamente — Agora se vire para podermos descansar um pouco — Ele
se aconchega nas minhas costas e coloca uma mão no meu seio.
Instintivamente, sinto-o se arrepiar — Pelo amor de Deus, mulher, você
nunca se satisfaz? — Minha irritação chega a níveis máximos.
— Cala a boca, Pedro! — Estou irritada com meu corpo traidor. Fecho
os olhos na tentativa de dormir, ouço o seu sorriso e depois seus lábios
roçam levemente minha nuca. Odeio admitir, mas realmente estou com
tesão. Aperto bem as pernas, tentando enviar ao meu corpo um sinal de que
ele tem que sossegar.
✻ ✻ ✻
Sou acordada com suaves beijos no rosto e, quando abro os olhos, me
surpreendo com uma bandeja linda e cheia de coisas deliciosas. Meu
estômago começa a roncar alto.
— Bom dia minha bonequinha — Ele fala sem saber que esse é meu
apelido desde que nasci.
— É assim que meus irmãos me chamam.
— Seus irmãos? — Pedro suspende uma sobrancelha — Quantos são?
— Três e todos são homens — Seus olhos se estreitam.
— Então terei problemas pela frente? — Sua pergunta me desconcerta e
mostra sua clara intenção em manter um relacionamento em longo prazo.
Se ele soubesse que já estou sofrendo por saber que terei que abandoná-lo,
não pensaria nisso.
— Possivelmente, um dia conhecerá todos eles — Tento indiretamente
demonstrar que essa possibilidade não se realizará.
— Entendi... — A mágoa em seus olhos deixa claro que ele
compreendeu o que falei, e eu me sinto péssima por saber que o magoei.
Tento mudar de assunto.
— Você fez tudo isso? — Sorrio ao olhar para a bandeja que está ao lado
da cama.
— Quem me dera... Sou péssimo na cozinha, e você já teve a infeliz
oportunidade de experimentar meus dotes culinários. Isso é obra da
Andreia, ela é perfeita na cozinha — Ao ouvir o nome de outra mulher e o
carinho em sua voz, sinto um ciúme não justificável.
— Posso saber quem é Andreia? — Me esforço para parecer normal,
mas ele nota a minha irritação e sorri.
— Ela é uma amiga de longa data — Pedro me responde enquanto
coloca a bandeja no meu colo — Ela tem uma delicatesse aqui perto.
— Amiga de longa data? — Pergunto, enquanto experimento um
brioche que realmente está divino.
— Uma amiga mesmo, pode ficar tranquila. A Andreia sempre foi
fissurada no Guto, nunca teve olhos para mais ninguém — Ele pega uma
torrada e passa geléia — Infelizmente, o Guto é péssimo com as mulheres e
quebrou o coração da pobrezinha.
— Só ele que é péssimo com as mulheres? — Deixo-o saber que ouvi
algumas histórias dele durante a semana.
— Eu sou realista com as minhas mulheres, nunca deixo transparecer
nada além do que realmente posso oferecer – Seus olhos revelam muito
mais do que suas palavras. Sei que ele está me dizendo que podemos ter
muito mais.
— O Guto não soube fazer isso? — Mudo a direção da conversa. Não
quero pensar no nosso futuro, ao menos por enquanto.
— Com ela, não. Ele apenas conseguiu magoá-la demais, mesmo não
tendo a intenção. A Andreia é uma mulher incrível e merece o melhor desse
mundo. Quando você conhecê-la, entenderá o que estou falando. Mas o
Guto, na tentativa de remediar a situação, acabou piorando tudo. No final,
foi uma confusão, e todos saíram machucados.
— Nossa, coitadinha... — Agora já me compadeço da pobrezinha. Eu sei
como dói demais um coração destruído pela pessoa que se ama.
— Pois é, Carol, mas isso são coisas da vida. Quem nunca teve um
coração destruído pelo amor?
— Você já teve? — Minha curiosidade é mais forte do que a prudência.
Essa pergunta pode me deixar em maus lençóis, mas mesmo assim decido
arriscar.
— Já... — Ele sorri com gosto e toma um gole de café — Eu tinha
dezesseis anos e, quando a menina que eu passei dois anos paquerando
finalmente me notou, ela apenas ficou comigo umas duas vezes antes de
decidir que eu era bonitinho, mas novinho demais para ela. Como eu sofri
por ser jovem, chorei como uma criança — Agora sua gargalhada é intensa —
A Juliana até hoje rir de mim. Como fui bobo... Depois disso, jamais dei a
oportunidade para outra pessoa me abandonar, mas também isso não me
deu o direito de magoar os sentimentos de ninguém. Sempre sou honesto
em avisar que um futuro amoroso não é uma opção.
— Você não tem relacionamentos?
— Nunca — Sua resposta curta me desestabiliza. Mas o que eu esperava
depois de indiretamente deixar claro que não teremos um relacionamento?
— Por isso mulheres não frequentam seu apartamento?
— Exato. Esse é meu mundo, não quero que seja invadido.
— E por que eu ainda estou aqui? — Não resisto em fazer essa
pergunta.
— Por que eu quero — Seus olhos estão frios, mas determinados — Se
você está esperando uma declaração de amor da minha parte vai se
decepcionar, Carolina. Eu já entendi que você vai me dispensar em breve,
não sou um idiota. Sei que alguma coisa aconteceu no seu passado, mas não
vou pressioná-la para que me conte agora. Tudo tem seu tempo. Mas isso
também não significa que desistirei de ter você — As costas das suas mãos
correm pelo meu rosto — Sou bom em persuadir as pessoas, e, de uma
maneira ou de outra, vou fazer você querer ficar comigo. Eu quero você não
só na minha cama, mas junto a mim em tudo, então serei paciente e estarei
sempre ao seu lado. Infelizmente, para você, isso será um tormento, porque
mesmo você me dispensando, não permitirei que ninguém se aproxime da
minha gatinha — Seu sorriso de lado me deixa enfeitiçada — Vou conquistar
seu coração, leve o tempo que for, e você vai querer com todas as suas forças
ficar comigo — Agora suas mãos seguram meu rosto com força — Isso é uma
promessa — Sem mais palavras, ele se levanta, e vai até o closet e volta
vestido com uma camisa branca.
— Pedro... — Tento reagir depois de ouvir suas palavras.
— Termine seu café, depois quero discutir com você o nosso dia. Acho
que seria bom sairmos para fazer alguma coisa. O dia está muito bonito para
ficarmos presos dentro de casa.
Ele se aproxima, segura minha nuca e trás meu rosto na sua direção.
Seus lábios encostam nos meus, e ele inicia um beijo profundo e duro.
Percebo que essa conversa mexeu com ele assim como fez comigo, mas não
quero ir adiante com esse assunto.
— Estarei te esperando na sala. Vou ler um pouco de jornal para saber
o que rola pelo mundo.
— Tudo bem — Ele assente levemente, e depois o observo desaparecer
pela porta.
O que eu vou fazer da minha vida com esse homem na minha cola? Sei
que tudo o que ele falou é verdade, e o pior é saber que ele não precisa se
esforçar para me conquistar. Eu estou de quatro por esse homem, desde o
momento em que me beijou naquele bar. E todos os esforços que fiz ao
longo dos anos para me manter longe do amor acabaram no instante em que
seus lábios capturaram os meus. Agora, só me resta saber se terei estrutura
emocional para entrar num relacionamento explosivo com o Pedro.
Que Deus me ajude!
Capítulo 15
Pedro Henrique
Quando saí daquele quarto, minha vontade era socar alguma coisa. A
raiva que fervilhava dentro de mim precisava ser extravasada, mas me
controlei. Minhas aulas de boxe eram apenas duas vezes na semana, e só na
terça que poderei fazer isso.
Sempre soube que a Carolina tinha algum problema amoroso, mas não
pensei que isso fosse realmente atrapalhar um futuro relacionamento entre
nós. Porém, depois das pistas que ela me deu, principalmente hoje, sei que
ela pretende me deixar o mais rápido possível.
Jamais permitirei uma coisa dessas, e fui obrigado a deixar claro isso
para ela. Mas preciso o quanto antes, descobrir o que aconteceu com ela. Só
assim poderei traçar uma estratégia eficiente para conquistá-la de vez.
Sem ter para onde ir, sou forçado a pedir ajuda mais uma vez a minha
amiga intrometida. Ela vai saber se infiltrar como ninguém na vida da Carol
e descobrir tudo o que preciso para manter minha gatinha junto de mim.
Pego o telefone e disco seu número. Ele toca até cair na caixa postal. Essa
maluca ainda está dormindo. Por isso tento novamente. Depois de quatro
tentativas ela atende.
— Estou pretérita com sua insistência, seu abusado! O que você quer
essa hora da madrugada? — Rufina é chata em qualquer momento do dia,
mas preciso dos seus serviços de intrometida.
— São nove horas da manhã, e você tem que me ajudar em um lance aí
— Ouço seus suspiros.
— Queridinho, não vou fazer serviços obscuros para o senhor. Pode me
esquecer.
— Rufina, eu não posso perder a Carol.
— Mas quem te viu e quem te vê... Esqueceu como se prende uma
mulher, Rico?
— Olha aqui, sua ... — Ela me interrompe.
— Meu Deus! — Seu drama sempre me irrita — Será que você ficou
broxa? Isso é terrível, amigo, mas tudo tem jeito nessa vida. Eu vou te
apresentar ao Isaías, ele vende uns comprimidos azuis do Paraguai. É tiro e
queda! O Chico da contabilidade toma e me disse que funciona muito bem.
Vou pedir a ele que encomende umas duas caixas. Eu acho que vai dar ao
menos para disfarçar sua ausência de potência para a Carolina.
— Rufina, você tomou seu remédio de doida hoje? — Ela nunca perde a
oportunidade de tirar onda comigo. É assim desde que somos crianças.
— Me respeite seu ousado, não sou eu que estou dobrando o Cabo da
Boa Esperança.
— O quê? Eu não sou impotente sua linguaruda! — Sua gargalhada
quase me faz desistir da ajuda.
— Fala logo o que você quer, porque tenho coisas importantíssimas
para fazer.
— Eu não sei por qual razão te peço ajuda, mas vamos lá... Rufi, a Carol
tem algum problema de amor que aconteceu no seu passado. Eu preciso que
você descubra o que foi que aconteceu — Seu silêncio me diz que ela está
pensando em como me cobrar esse favor.
— Isso vai gerar um ônus. Você sabe, né? — Bingo!
— Claro que sei, e estou disposto a pagar o que for preciso por essa
informação.
— Criatura, você falando assim, fico até emocionada, chego a pensar
em fazer o serviço de graça. Mas vontade é uma coisa que dá e passa, e a
minha já passou. Por isso, estou pensando em férias no Havaí. Adoro
homens latinos. Acho que eu passaria um bom tempo com algum havaiano
saradão.
— Rufina... — Tento intimidá-la sem resultado.
— Ou posso ir para a Itália. Adoro pizza e aqueles macarrões chiques.
Além do mais, italianos também são considerados povos latinos, então me
darei bem com os italianos. Fechado, meu amigo broxa, eu farei o serviço
amanhã mesmo.
— Um dia eu coloco a minha vontade de te matar em andamento.
— Pois prepare-se, fofinho, para me matar sete vezes. Eu sou uma gata
e tenho sete vidas — Ela ri da própria piada e depois me pergunta séria —
Você tá amarrado nela mesmo?
— Muito.
— Caramba, Rico. Que merda! — Seu silêncio me deixa preocupado.
Rufina sempre sabe o que falar.
— Rufi, não posso perdê-la. Não sei como aconteceu, mas, no momento
em que olhei aquela maldita mulher, soube que estaria em apuros.
— Tudo bem, eu darei um jeito de descobrir tudo, mas quero que me
prometa uma coisa.
— É só pedir.
— Não magoe Carolina. Ela é uma menina legal, bem diferente daquele
entojo da Paola.
— Dou minha palavra de honra.
— Legal. Agora, queridinho, me diga uma coisa?
— O que?
— Vai querer que eu encomende a mercadoria para seu problema de
impotência ou não?
— Rufina! — Ela sorri e desliga na minha cara. Essa descompensada
não vai ter jeito nunca. Mas nesse momento, preciso de toda essa cara de
pau dela para descobrir a melhor maneira de entrar no coração da Carol. Não
me interessa o que aconteceu no seu passado, eu preciso fazer com que ela
esqueça de tudo e decida ficar comigo.
Pego meu jornal e começo a folhear as páginas sem interesse nas
informações. Terei que ter paciência para esperar a Rufina fazer seu
trabalho, e, no momento, o que me resta é tentar conquistar a Carol da
melhor maneira possível. Perco-me em pensamentos até que escuto a sua
voz macia.
— Alô Pedro? Planeta Terra chamando! — Seu divertimento com
minha distração me faz sorrir.
— Já aterrissei, pode se acalmar — A Carol sorri e se joga no meu colo.
Seus braços circulam meu pescoço, e ela me beija com paixão.
— Você tava tão gostoso com aquela cara de reflexivo — Fecho os olhos
ao ouvir seu comentário.
— Pare de falar essas coisas assim, você vai me fazer desistir do nosso
passeio.
— E quem quer sair para passear aqui? — Ela esfrega o nariz no meu
pescoço, e meu corpo se acende completamente.
— Nós não podemos ficar em casa trepando como coelhos.
— E por que não? — Ela está tentando fazer nossa relação ficar apenas
no lado físico, mas não irei entrar no seu jogo.
— Porque eu quero aproveitar o domingo de uma maneira diferente. O
sol está brilhando lá fora, e o dia lindo demais para ficarmos dentro de casa.
Não se preocupe, que, quando chegarmos eu irei compensar todo esse
tempo que estivemos na rua. Você ficará sem forças depois que eu terminar
meu serviço — Seu rosto se incendeia e me sinto incrível.
— Eu não quero sair — Ela me diz enquanto se esfrega no meu colo.
Meu corpo reage e, mesmo sem querer, lembro da Rufina e sua insinuação
da minha falta de potência. Se ela soubesse o que eu e a Carolina já fizemos
juntos, não me ofereceria remédios.
— Se você for uma boa menina, eu posso arrumar algum lugar discreto
na rua para apimentar o nosso passeio.
— Pedro! — Sua voz sai quebrada por causa a excitação.
— Não, Carol, agora me diga se tem algum lugar que queira ir — Sem
me responder, ela levanta-se e senta no outro sofá com os braços cruzados
como se fosse uma criança. É a coisa mais linda que eu já vi.
— Por mim, tanto faz. Eu não quero ir mesmo — Ela dá de ombros e
começa a bater um dos pés no chão com evidente irritação.
Não vou fazer seu gosto. Ela precisa saber que, quando eu quero uma
coisa, não desisto, e agora eu quero sair. Preciso sair do contanto puramente
físico.
— Podemos caminhar no Aterro ou andar nos pedalinhos aqui da
Lagoa, faz tanto tempo que não ando neles — A Carol faz pouco caso da
minha programação.
— Para de bobeira, querida, vamos descobrir uma coisa bacana para
fazermos — Seu telefone toca e ela corre para atendê-lo.
— Glei, você chegou? — O sorriso de felicidade dela me deixa curioso
em saber quem está do outro lado da linha.
Ela inicia um papo animado e, eu fico quieto, observando o belo sorriso
que ela tem. Essa mulher consegue ser bonita até falando ao telefone.
— Amiga, esse seu curso demorou muito. Eu estou cheia de saudades
— A amiga dela fala alguma coisa, e Carol olha para mim — Na verdade eu
tenho algumas coisas para fazer agora pela manhã, mas ... — Faço sinal para
ela não marcar nada — Eu ... bem, eu estarei um pouco ocupada hoje, mas
amanhã, quando eu chegar da empresa, podemos jantar no meu
apartamento. Posso pedir ao Lucas para preparar alguma coisa especial para
você.
Ao ouvir o nome de outro homem, meu radar vai à loucura. Quem é
esse Lucas? E por que ele prepararia o jantar? Isso não está correndo bem,
preciso descobrir qual o relacionamento dela com esse cara, não permitirei
que ela se envolva com mais ninguém além de mim.
— Tudo bem então. Podemos chamar a Sula também para uma rodada
de tarô. O que você acha? — Ela ouve um pouco a amiga antes de voltar a
falar — Então combinado. Fala com ela depois, e amanhã eu te ligo na hora
do almoço. Não se esqueça de escolher o que você vai querer comer, ou
então eu vou pedi o que eu quiser para o Lucas. Beijos, amiga, tchau.
Ela desliga o telefone eu observo o seu rosto feliz. Por dentro estou me
roendo de raiva desse Lucas.
— Esse Lucas cozinha tão bem assim? — Não me importo que ela
perceba que estou incomodado.
— Muito. Tudo o que ele faz é perfeito — O sorriso de satisfação dela
me leva à loucura.
— Posso saber quem é o Lucas? — A Carol cai numa estrondosa
gargalhada. Depois de muito rir, ela seca as lágrimas e responde.
— Lucas é meu irmão mais velho. Ele é chef de cozinha e, junto com o
seu namorado, abriu um restaurante de sucesso. Você até já foi lá — Eu me
envergonho um pouco pela minha atitude, mas não podia adivinhar que o
cara era irmão dela.
— Seu irmão por acaso é o Lucas Camargo?
— Ele mesmo.
— Meu Deus, Carol! Esse mundo é pequeno mesmo. Minha mãe e a Ju
adoram a comida do restaurante dele.
— Lucas, sempre gostou de cozinhar. Sempre soubemos que
encontraria sucesso na culinária.
— Põe sucesso nisso. Realmente, ele é muito bom no que faz.
Na verdade, o restaurante do irmão dela é um dos mais famosos da
cidade, e várias celebridades costumam frequentar o local. Sempre que tem
ocasiões festivas na minha família, todos escolhem o restaurante do Lucas
para comemorar.
— O Diego também é excelente. Eles juntos merecem todo o sucesso
do mundo — Ela fala com orgulho.
— Isso é verdade — Eu noto que não sei quase nada da sua família e,
depois dessa notícia, estou muito interessado em descobrir sobre toda
família dela — Me conte sobre sua família, eu não sei nada deles.
— Então vamos lá — Ela coloca os pés sobre a mesa de centro e começa
a falar — Somos quatro irmãos: Lucas, o chef famoso e o mais velho de nós,
está com 35 anos; Ricardo, o policial federal que está para fazer 33 anos,
Carol, a arquiteta incrível que já está com 27 anos — Ela faz um sinal para si
mesma e sorri — Por último, temos o Matheus, o administrador talentoso
que tem 24 aninhos e é a alegria da família — O amor que com que ela fala
do irmão mais novo é bonito de se ver — E o meu pai é Evandro Camargo,
cirurgião plástico das celebridades infelizes com seus corpo. E, por último,
temos a minha mãe, que é a divina Virgínia, ex-modelo que só sem importa
com ela mesma — O rancor na sua voz deixa óbvio que existe uma mágoa
entre ela e a mãe.
— Minha mãe vai pirar quando descobrir que Evandro Camargo é seu
pai — Não acredito que essa menina simples e sapeca seja filha de um dos
maiores cirurgiões plásticos do Brasil.
— Por quê?
— E você ainda pergunta? — Vejo a sua testa enrugar, tentando
entender o que eu acabei de falar — Ela estará trabalhando com a filha de
um cirurgião plástico. No mínimo, vai querer que você consiga um desconto
em alguma consulta. Minha mãe é extremamente vaidosa.
— Sua mãe é linda, não vai precisar dos serviços do papai.
— Coloque isso na cabeça dela — Eu ergo a minha sobrancelha e espero
ela tentar argumentar o contrário.
— Realmente, nós mulheres, nunca estamos satisfeitas. Meu pai fez
uma fortuna considerável com a nossa eterna insatisfação feminina — Ela
acaba concordando com o meu raciocínio.
— Posso imaginar. Mas algumas coisas me chamaram a atenção na sua
família — A Carol me olha com curiosidade.
— O quê?
Eu me ajeito no sofá e começo a formular as perguntas que começaram
a pipocar na minha cabeça. Quero saber sobre esses irmãos e me preparar
para o que terei que enfrentar no futuro.
— Primeiro... — Ergo um dedo para dá ênfase ao que vou falar —
Nenhum dos seus irmãos seguiram a profissão bem sucedida do seu pai.
Segundo, você tem um irmão policial federal, e isso é algo interessante. Por
último, você tem uma mãe egocentrista e distante. De fato, sua família é
bem peculiar — Sua cabeça balança concordando com o que falo.
— Muito bem, vamos por partes – Ela encosta a cabeça no sofá e
suspira — Meu pai até hoje não superou o fato de nenhum dos filhos
seguirem seus passos. E eu realmente sinto muito por isso, ele merecia
deixar seu legado para algum dos filhos. Mas desde pequenos, todos nós
sempre gostávamos de coisas diferentes. – Seu olhar se perde em
lembranças e ela se cala.
— Conte-me um pouco sobre esse tempo — Incentivo-a a compartilhar
suas lembranças. Isso criará um elo de proximidade entre nós.
— Lucas sempre teve pavor de sangue, então meu pai percebeu que ele
não seria seu sucessor. Mas sempre teve talento em deixar as comidas
gostosas, até o miojo dele era diferente — Ela sorri e seus olhos ficam
distantes como se estivessem em outro lugar — Já o Ricardo era excelente
em ler as pessoas e descobrir se estavam mentindo ou sendo sinceras. Sem
contar a sua memória incrível. Qualquer número que você falasse pra ele
seria gravado em segundos, então ele também ficou fora da sucessão. Já eu
adorava desenhar e redecorar a casa. Vivia com um bloquinho na mão,
fazendo novos desenhos. O Matheus era o cara que conseguia juntar
dinheiro e fazer multiplicá-lo milagrosamente, ninguém conseguia gerenciar
as finanças como ele, sempre foi organizado em tudo. Então meu pai, desde
cedo, percebeu que seus filhos não tinham qualquer pré-disposição a serem
médicos.
Eu fico calado, tentando entender como deve ser interessante viver
numa família tão diversificada como a dela. Na minha família, todos nós
possuímos a predisposição para a área da construção. Meu pai é engenheiro
civil, assim como eu e o meu irmão, e minha mãe e irmã são arquitetas.
Todos nós vivemos no mesmo mundo e somos felizes nessa profissão.
— Mas todos eram talentosos desde pequenos, pelo que percebi —
Digo, ao notar o orgulho em sua voz.
— De certa forma, sim, mas infelizmente nossos talentos não foram
direcionados para a Medicina, e isso magoou meu pai durante um tempo.
— E agora ele superou?
— Sim. Ele viu todos os filhos sendo felizes nas suas profissões, e, por
amor incondicional a todos nós, aceitou nossas escolhas.
— Ele parece ser um homem incrível.
— Meu pai é o melhor! — Sua voz é amorosa, e eu sinto uma imensa
vontade de conhecer o seu pai.
— O que devo saber da sua mãe? — Automaticamente, a Carol se
enrijece quando pergunto sobre a mãe.
— Virgínia sempre gostou mais de si própria do que dos filhos — Ela
dobra as pernas e molha os lábios — Não sei porque ela pensou que poderia
viver em família. Talvez tenha sido os encantos de ser a esposa de um
cirurgião. Ela adora o status até hoje, e se gaba em ser a ex-mulher e mãe
dos filhos do papai, mas não teve piedade quando nos abandou ainda
pequenos.
— Lamento isso, Carol — Nem conheço essa mulher e já sinto um
desprezo imenso por ela.
— Lucas e Ricardo já eram adolescentes quando ela partiu, mas eu e o
Matheus ainda éramos pequenos. Eu sofri muito ao ver meu pai destruído
com sua partida. Acho que isso foi o que mais doeu, vê-lo tão infeliz. Por
mais que tenha tentado, sei que até hoje ele ainda ama minha mãe.
— Isso é sério? — Pergunto sem acreditar que esse pobre homem ainda
possa guardar algum sentimento por essa mulher.
— Infelizmente é. Ele nega, mas todos percebemos como ele olha pra
ela quando estão juntos.
— Inacreditável, Carol. O amor é estranho mesmo.
— Mas ela na está nem aí, troca de namorado a cada hora. Mesmo com
o tempo, ela ainda é uma mulher muito atraente e sabe como usar a beleza
ao seu favor.
— O que ela faz para viver?
— Tem uma loja bem sucedida que vende roupas de grifes famosas. E
também presta serviços de personal stylist para as emergentes cariocas.
Minha mãe é como o Matheus, sabe ganhar e multiplicar dinheiro. Hoje, ela
está numa situação confortável.
— E o Ricardo?
— Ele é a nossa preocupação — Sua testa enruga em um sinal claro de
desagrado — Eu sempre o imagino em problemas. Por mais que ele não
enfrente o crime como os policiais militares, tenho medo de algum
criminoso do colarinho branco tentar matá-lo. Essas pessoas poderosas e
influentes que ele investiga podem ser perigosas.
— Você está certa, pessoas influentes podem chegar há extremos com
facilidade — Lembro-me do pai do Guto e sei que pessoas inescrupulosas
podem ser cruéis e fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos.
— Esse é meu pânico, mas o Ricardo gosta do que faz. Eu tenho que me
acostumar com a sua vida.
— Sua família é do barulho — Sento-me do seu lado e puxo-a para
meus braços — A minha fica no chinelo perto da sua. Sem contar que todos
nós somos previsíveis ou somos engenheiros ou arquitetos. – Ela sorri pra
mim.
— Minha família é mais interessante.
— Muito mais, e tenho que agradecer ao seu pai, por ter no meio do
caminho errado a fórmula e feito uma menininha tão lindinha quanto você
– Beijo a ponta do seu nariz arrebitado.
— Esse erro me custa caro até hoje. Sou superprotegida, e isso me
deixa muito chateada.
— Seus irmãos têm bons motivos para isso, Carol — Se estivesse no
lugar deles, teria a mesma atitude. N o posso negar que já assustei muito
namorado da Juliana. Ela, às vezes, é meio tonta e se envolve com uns
babacas.
— Eles me sufocam — Ela faz um biquinho lindo e eu não resisto e dou
um selinho na sua boca.
— Nem tanto, querida. Se isso fosse verdade, você não estaria aqui —
Recebo um soco no peito e um sorriso divertido. Eu gostei desse nosso papo,
de certa forma nos aproximou e me deu uma noção como são eles.
— Vamos ou não sair? — Ela me pergunta com cara de esperança de
não sair.
— Mais é claro. Já pensou no que podemos fazer?
— Já que você insiste tanto, podemos ir ver uma exposição no CCBB do
Bracher, parece ser bem interessante — Reviro os olhos pelo seu interesse.
Arquitetos têm sempre um infinito gosto por formas.
— Tudo bem.Vamos expiar essa parada. Está pronta ou vai colocar
alguma outra roupa?
— Eu quero colocar uma outra roupa
rapidinho.
— Eu também vou colocar uma calça para não ficar muito inferior a
você — Levanto-me e estendo a mão para ela — Coloque uma calça, o dia
está muito bonito e um passeio de moto será bem-vindo.
— Você tem uma moto? — Seus olhos estão tão arregalados, que chego
a temer que saiam de órbita.
— Tenho uma senhora moto, e você irá conhecer em breve — Quero
mostrar para ela minha princesa de duas rodas. Eu adoro andar de moto, e
sempre que posso pego a estrada com a minha belezura.
— Vou me arrumar em segundos então — Vejo-a correr pelo corredor
como uma criança ansiosa pelo seu brinquedo.
A Carol me surpreende com a velocidade em que se arruma, e eu me
sinto uma mulherzinha por não conseguir escolher uma calça em menos
tempo que ela. Fico irritado quando ela me apressa. Jamais passei por uma
situação assim. Ela, de fato, é uma mulher impar, e prova isso em cada
detalhe.
Quando chegamos ao estacionamento, eu mostro a minha princesinha
a Carol, e sua reação me emociona. Ela circula a moto e passa a mão em seu
banco como se não acreditasse no que seus olhos vissem.
— Eu nunca andei numa Harley. Ela é incrível — Meu peito estufa de
tanto orgulho.
— Pois hoje você irá sentir o poder dessa menina — Entrego um
capacete pra ela e monto na moto – Sente-se e segure em mim com força.
Quando sinto suas coxas fecharem nos meus quadris e seus braços
rodearem minha cintura, eu penso que não seria tão mal perdemos o dia no
meu apartamento trepando como coelhos. Mas desisto da ideia em seguida,
pois eu preciso de tempo extra com ela para mostrar que posso ser mais do
que uma transa casual.
— Segure-se, gatinha, que vamos cair na pista agora — Sem esperar sua
resposta, acelero na direção da rua.
Quando chegamos à exposição, a Carol se perde no meio dela e
comenta sobre tudo o que vê, além de observar todos os detalhes. Nem
parece que estava a pouco tempo relutante em sair de casa. Eu, por outro
lado, estou em um tédio profundo, doido para chegar em casa e fodê-la até
perder as forças.
Tento ser atencioso e fingir que estou empolgado com tudo que ela me
mostra, mas na verdade, tenho fome não só de comida, mas também dela.
Quero ir embora o quanto antes, mas não posso dizer isso à Carol.
— Quero comer — Ela fala, e sinto uma alegria indescritível — Se você
não se importar, quero ir embora. Estou cansada — Agradeço a Deus por ela
não querer mais ficar aqui.
— Vamos, também estou com fome.
— Ótimo. Podemos ir em um restaurante aqui na Glória. É pequeno,
mas tem uma comida deliciosa – Ela fala e eu fico curioso para conhecer o
lugar.
— Sério?
— O Lucas me levou um dia lá, e eu adorei.
— Vamos conferir então — Pego sua mão e saímos do CCBB. Pegamos
a Harley e seguimos para a Glória.
A Carol vai me mostrando o caminho, até que paramos na frente de um
pequeno restaurante localizado em um casarão antigo. Tudo dentro do local
é de bom gosto e refinado. Nunca tinha vindo nesse lugar, mas gosto assim
que entro no local.
Somos muito bem atendidos e a comida de fato é deliciosa. A Carol
está falante e descontraída, e, em pouco tempo, me contou diversas histórias
sobre sua família. Ouço cada detalhe com atenção, pois quero ao máximo
me aproximar dela. Ainda não sei como irei mostrá-la que pretendo manter
um relacionamento em longo prazo, mas momentos como esse são
fundamental para criarmos intimidade.
Quando acabamos, Carol diz que está cansada, e decidimos ir para casa.
Não ofereço resistência ao seu pedido e tento ir o mais rápido que posso.
Tudo o que quero é beijá-la e sentir o seu corpo quente e nu sob o meu. Já
faz muito tempo em que estive dentro dela, e, por isso estou desesperado
por essa mulher.
Ao chegarmos ao meu apartamento, a Carol vai direto para o banheiro,
mas eu sou interrompido pelo insistente barulho do telefone. E, mesmo sem
vontade, decido atender, porque vejo que é Juliana.
— E aí, irmãzinha, o que você manda?
— Nada, Rico, só estava com saudades de você. Como você está? — O
carinho que ela sempre tem por mim é incrível.
— Estou bem, Ju, apenas aproveitando meu fim de semana — Esse
excesso de zelo da minha família às vezes irrita.
— Isso deu para perceber, porque o senhor sumiu — A Ju sorri.
— Eu tô descansando, na verdade. Essa semana foi agitada demais –
Eu minto para ela e me sinto mal com isso.
— É verdade, Rico. Se eu não tivesse a Carol, eu nem sei como teria
encontrado um rumo certo para o projeto dos condomínios.
— O que você achou dela?
— Talentosa e comprometida. Nossa mãe acertou em cheio quando
resolveu chamá-la para trabalhar na empresa. Agora terei mais tempo para
viver — Tenho que concordar com a Ju sobre a parte dela trabalhar demais.
Como nossa empresa tem arquitetos mais velhos, alguns novos
conceitos artísticos são negligenciados por eles, e apenas a Juliana, com sua
mente brilhante, pode colocá-los em prática. Mas com a chegada da Carol
isso aliviará o fardo da minha irmã.
— Isso significa que verei a senhorita menos na empresa?
— Significa que poderei ter papos tranquilos com meu irmão durante o
fim de semana, e também terei mais sextas-feiras disponíveis, como essa
última para me divertir.
— Então... Sua sexta foi proveitosa?
— De alguma forma, sim. E a sua?
— Faço das suas palavras as minhas — Ambos sorrimos da nossa piada
íntima, e Juliana se despede de mim.
Sigo para o quarto e encontro a Carol na cama, embaixo dos lençóis,
viajando pelos canais da televisão que ela recentemente descobriu existir no
meu quarto.
— Achou alguma coisa interessante?
— Em tantos canais, não achei nada, apenas “Os Vingadores”. Mais tá
bom, nada melhor do que ver o Thor – Ela sorri e aumenta o volume — Eu
adoro todos esses heróis.
— Gosto da Viúva Negra — Ela quis me provocar com aquele monte de
músculos ridículo, mas eu não vou ficar atrás e vou esfregar na cara dela a
gostosa da Scarlett.
— Ela não é uma heroína como o Capitão e o Thor, mas como você é
hetero, faz sentido gostar dela — Paro e observo sua falta de ciúme. Eu aqui
me rasgando por ela gostar do sem graça do Thor. e ela nem aí pela viúva.
Não falo nada e vou tomar um banho. Quando retorno ao quarto, paro
imediatamente com a visão na minha frente: A Carol está deitada com uma
micro calcinha de laçinho e um sutiã tomara que caia. Perco meu rumo e
apenas observo aquela visão perfeita.
— E aí, gostoso, está muito cansado ou pode me dar um tempo da sua
atenção? — Ela morde seus lábios volumosos, e eu sinto uma parte especial
minha se enrijecer.
— Carol, eu posso te dar um pouco mais que minha atenção – Eu
respondo já doido para colocar as mãos nela.
— Então essa calcinha de lacinho não foi uma perda de tempo? — Ela
corre a mão pela lateral do corpo, e eu me desespero com a sua exibição.
— Claro que não. Ela é linda, mas saíra do meu caminho agora — Me
ajoelho na cama e puxo suas pernas. Ela grita, em surpresa, mas não oferece
resistência.
Vou beijando sua perna até chegar a sua virilha. Depois, parto para a
outra perna e espalho beijos lentos até chegar ao seu abdômen. A Carol
geme com cada beijo suave que espalho em seu corpo. Lentamente, eu
desfaço os lacinhos da sua calcinha e, quando eles se abrem, tiro de uma vez
a calcinha dela.
— Isso é a visão do paraíso — Antes que ela responda, passo
vagarosamente minha língua por toda a extensão da sua entrada, e o gemido
que ela emite me incentiva a ir adiante. Seguro seu clitóris com os lábios e
sugo com força sentindo suas mãos segurarem meus cabelos.
— Pedro, faça o que quiser, mas só vou gozar com você dentro de mim
— Caralho! Essa mulher sabe como me matar.
— Relaxa, Carol, e deixe que eu aproveite o momento. Depois que eu
saborear você toda, irei foder essa boceta gostosa até o amanhecer —
Começo a chupá-la com força, duvidando seriamente se ela conseguirá
resistir até eu invadi-la. Mas também sei que não irei segurar-me por muito
tempo. Então decido dedicar um tempo só pra ela, para depois me fartar com
esse corpo quente.
Capítulo 16
Carolina
Pedro Henrique
Sei que não deveria ter dito isso, mas que se dane. É o que estou
sentindo nesse momento, e não vou ficar controlando cada palavra que sai
da minha boca com medo dela fugir. Somos adultos e temos que superar
medos e traumas. A vida é um jogo, perdemos e ganhamos há todo
momento, e ela precisa entender que agora é a nossa chance de ser feliz.
Procuro em seus olhos algum sinal de medo ou pânico, mas encontro
apenas dúvida. Ela está me olhando séria, e sei que na sua cabeça se passam
muitos questionamentos. Não me importo que eles surjam, porém, não
admitirei que ela fuja sem uma conversa honesta.
— Não quero te assustar, Carol, mas eu realmente acredito que
encontrei algo muito raro em você — O silêncio que precede a minha
declaração esmaga as minhas esperanças de que ela tenha alguma intenção
em manter uma relação comigo.
— Nós estamos juntos há dois dias.
— Eu sei — Ela tem razão, e um cansaço profundo cai sobre mim.
Estou me sentindo perdido com tudo isso. Não posso estar tão apegado a
uma pessoa em tão pouco tempo. Mas quando olho essa mulher, é como se
tudo estivesse no lugar, não consigo explicar como tudo parece fazer sentido
— Você tem razão, estou me comportando como uma criança. Aceite minhas
desculpas — Seu indicador corre suavemente pelos meus lábios, e sinto
tanto medo dela me abandonar, que não me atrevo a esboçar nenhuma
reação.
— Eu não me apaixono, Pedro. Há muito tempo, eu prometi a mim
mesma que jamais deixaria alguém entrar no meu coração novamente.
— Por quê? — Sua confissão me surpreende.
— Não falo sobre o assunto com ninguém, mas eu fui machucada e não
quero sentir isso novamente.
— Eu posso te fazer feliz — Tudo o que mais quero agora é que
Carolina acredite que estou sendo verdadeiro.
— E você pensa que eu não sei? Desde que entrei pela aquela porta do
seu apartamento, eu tenho sido tido mais momentos felizes do que consigo
me lembrar — Seu corpo se aconchega ao meu, e esse gesto me proporciona
um pouco de calma — A felicidade nunca dura na minha vida. Isso vai acabar
quando você perceber que não sou mais uma novidade. Pode acreditar em
mim, isso vai acontecer. Por isso, vamos apenas ser felizes o tempo que
durar, sem ressentimentos no final.
— E se eu não enjoar de você, o que acontece? — Minha fúria é tanta
quero gritar com ela. Quem a Carolina pensa que é para dizer o que eu
sinto?
— Você é um homem bonito, atraente, bem sucedido, pertence a uma
família de prestígio e bom de cama. Vai querer que acredite que cairá de
amores por mim? — Seu sorriso de desânimo me tira do sério — Eu não
nasci ontem, Pedro, sei como as coisas funcionam. Homens como você até
acreditam que possam sentir amor eterno, mas uma hora isso acaba e vocês
levam as mulheres à ruína. Não quero juntar mais uma vez os pedaços do
meu coração. Vamos viver isso e deixar as coisas acontecerem. Sem pressão.
Se hoje eu encontrasse o desgraçado que fez isso com a Carol, teria que
contratar os serviços do melhor advogado criminalista desse país, porque
certamente eu mataria o infeliz. Não consigo nem imaginar o que ela pode
ter passado para sentir tanto desprezo pelo o amor, mas nunca fugi de um
desafio e não será agora que isso vai acontecer. Essa garota linda e terna que
está nos meus braços é diferente de tudo o que já vi e provei na vida, e não
deixarei ela me escapar sem uma boa briga. Vou jogar com as suas regras.
Mas, sem que ela saiba, estarei jogando sujo e com todas as armas possíveis
para mostrar que a nossa história pode e terá um final diferente. Terá o meu
final.
— Combinado, Carol. Já lhe disse algumas vezes que a sua palavra é o
ponto final, mas tenho duas exigências a fazer – Sinto-a hesitar, mas não
vou ceder.
— Quais são suas exigências?
— Primeiro seremos exclusivos. Isso é inegociável. Eu nunca saio com
mais de uma mulher quando me comprometo com ela — Algo passa muito
rápido pelos seus olhos, mas não consigo entender o que é — Segundo:
assim que você se sentir confortável, quero que todos saibam que estamos
nos conhecendo melhor. Não me sinto bem escondendo você da minha
família. Não somos adolescentes ou amantes que precisam se esconder do
mundo — Sou pego de surpresa quando ela senta no meu colo e pega meu
rosto em suas pequenas mãos.
— Preciso de você agora, mas eu quero que seja suave e lento — Seus
lábios avançam nos meus com paixão.
Fico perdido com sua reação, pois não sei o que eu falei para provocar
toda essa emoção. Mas não vou reclamar, muito menos perguntar o que está
acontecendo. Essa, talvez, seja a oportunidade que eu tenha para mostrá-la
que eu quero muito mais do que um sexo alucinante.
Seguro sua bunda e trago-a o mais próximo de mim que consigo. Sua
boca está descontrolada, buscando cada vez mais um beijo quente. Inclino a
sua cabeça para o lado com uma das mãos e suavizo o beijo. Ela me pediu
suave e lento, e será isso que terá.
Inverto nossas posições e coloco-a deitada na cama, quero sentir o seu
corpo sob o meu. Começo beijando seu queijo descendo pelo pescoço. Suas
mãos correm pelas minhas contas e minha pele se arrepia. Volto a dar
atenção aos seus seios, porque sei que ela gosta quando eu coloco-os na
minha boca. Olho para seus olhos, e o desespero que encontro neles me
preocupa. O que será que está passando nessa cabeça maluca?
Volto a me concentrar em seu seus seios, e os gemidos que ela emite
me matam de tesão. Não acredito que em algum momento essa mulher
cogite abandonar tudo o que sentimos. Nossa ligação é forte demais para ser
negligenciada. O que temos juntos é único, e só um idiota poderia negar esse
fato.
Penso em conferir se ela está pronta. Mas pelo seu estado de excitação,
sei que não será necessário. Estico a mão, tentando não abandonar o seu
corpo. Quando encontro o preservativo, rasgo-o com os dentes e tento
colocá-lo em tempo recorde. Com os joelhos, afasto suas pernas e me
posiciono para entrar nela. Carol está tão ansiosa para sentir-me dentro
dela, que me encontra no meio do caminho. Quando entro lentamente, suas
pernas envolvem minha cintura, e acredito, nesse instante, ter encontrado o
paraíso no seu corpo. Ela puxa minha cabeça para me beijar e espreme seus
quadris com força junto aos meus. Depois de beijá-la, eu afasto a minha
boca e faço suaves movimentos com os quadris sem deixar se observar seu
belo rosto.
— Você pediu suave e lento, mas está se remexendo como louca
embaixo de mim. Vá com calma, gatinha, eu quero cumprir suas ordens.
Mas com você me beijando desse jeito e se requebrando toda, fica difícil.
— Desculpa, mas por mais que eu tente, não consigo ter o bastante de
você — Sei que o que ela quis dizer, mas faço um charme e me finjo de
chateado, na tentativa de aliviar um pouco a sua ansiedade.
— Obrigada pela sua educação em dizer o quanto estou devendo em
tamanho — Olho para baixo, indicando que ela me deixou constrangido.
Uma de suas mãos empurram o meu peito e seu sorriso invade o quarto.
— Eu não estava falando do tamanho do seu membro, seu palhaço, me
referia a sua pessoa, você como um todo. Nunca me sinto satisfeita com
você — Essas últimas palavras são ditas baixas, mas para ela do que para
mim.
— Sei do que está falando — Abaixo a cabeça e volto a beijá-la, só que
dessa vez muito devagar. Tento manter um ritmo lento, porém profundo,
indo até o limite possível.
Durante um bom tempo, permaneço nessa batida. Até que o suor cobre
nossos corpos e eu já não confio mais em mim para controlar meu orgasmo.
Carol agarra minha bunda com força, tentando fundir-se ao meu corpo. Sei
que ela também está no limite e decido acelerar um pouco as coisas. Coloco
uma mão entre nós e encontro seu botão inchado implorando por um
simples toque. Quando meu dedo faz um suave movimento, ela não se
segura e grita meu nome, como se estivesse sentindo dor. Sua voz quebrada
e o seu orgasmo intenso era tudo o que estava esperando para me liberar.
Acelero os movimentos, segurando com força seus quadris e, em poucos
segundos, estou perdendo-me em mais um orgasmo inesquecível. Quando
as últimas sensações do êxtase deixam o meu corpo, encontro os olhos da
minha gatinha e vejo que ela está mexida com tudo o que acabou de
acontecer.
— Vamos continuar vivendo isso sem questionamentos e cobranças.
Apenas aproveitando o que podemos oferecer. Tudo bem para você? – Eu
pergunto para ela e espero que ela concorde comigo.
— Tudo — A resposta é simples e é tudo o que eu preciso nesse
momento.
— Ótimo. Agora vamos tomar um banho e descansar de verdade —
Seguro sua mão e a ajudo levantar da cama.
Seguimos em silêncio até o banheiro e tomamos um banho rápido,
sem segundas intenções. O dia nem acabou e eu já me sinto cansado. Não
pelas nossas transas, mas por ter essa luta emocional entre nós. Nunca
passei por isso com uma mulher. E confesso que se a Carol não tivesse me
deixado de quatro, estaria agora pensando na forma mais educada de
mandá-la embora.
✻ ✻ ✻
Acordo sozinho e entro em pânico. Pulo da cama sem vestir nada e saio
voando do quarto, procurando pela Carolina. Olho pela sala e vou até a
cozinha, mas não encontro nada.
O desespero entra em mim. Ela foi embora. Sabia que não deveria ter
pressionado tanto, mas meu egoísmo foi tanto. que não medi as
consequências.
— Droga, Carol! — Falo, enquanto soco com força a porta da sala. Ouço
um barulho vindo da varanda e viro-me. Sorrindo baixo está minha gatinha
com uma caneca na mão.
Ela está uma verdadeira visão do paraíso. Veste apenas uma bermuda
curta e camiseta apertada. Seus cabelos estão presos em um coque frouxo,
os pés estão descalços. Meu coração bate ainda mais forte por saber que ela
não fugiu.
— Por que você está tão nervoso?
— Você quase me matou do coração, Carol! — Ela ergue a sobrancelha
em claro descontentamento por eu ter ignorado sua pergunta — Eu ... bem...
– Agora estou constrangido por ser pego fazendo uma cena infantil — Pensei
que você tinha ido embora sem se despedir.
— Isso não é motivo para você quase quebrar a mão — Ela me
recrimina e eu me encolho internamente.
— Eu sei que não. Acho que foi ... Sei lá. Agora vai querer que eu
explique tudo nos mínimos detalhes? — Estou de mau humor e não irei
negar isso.
— Foi mal. Não precisa se explicar, não quero invadir seu espaço.
Apenas vim fazer um café, mas ia mesmo te chamar — A Carol passa por
mim e segue para a cozinha.
— Ia me chamar para quê?
—Você pode colocar um short? — Eu tinha esquecido completamente
que estava nu, mas isso não importa agora. Quero saber por que ela ia me
acordar.
— Posso sim, mas primeiro quero saber o motivo que iria me acordar
— Noto sua impaciência com minha teimosia.
— Já está tarde e eu tenho que ir embora, amanhã acordo cedo para
trabalhar.
— Não! – Falo esse único monossílabo, na esperança dela ter essa
discussão como encerrada.
— Eu vou. Não posso ficar aqui o tempo, todo tenho coisas para fazer —
Já percebi como ela é teimosa. Começo a tentar formar na minha mente
várias desculpas para não ir embora.
— Faça amanhã — Seguro suas mãos e puxo-a para os meus braços —
Vamos terminar nosso fim de semana juntos. Amanhã, eu te levo um pouco
mais cedo e você pode se arrumar sem problemas.
— Pedro, não é assim que funciona.
— Eu sei. Faz isso por mim só dessa vez? — Seus olhos me encaram em
dúvida. Ela reflete por um tempo interminável.
— Não. Eu vou para casa.
— Carol... — Ela me silencia com um dedo nos lábios.
— Essa batalha está perdida, querido. Não mudarei de ideia. Você já
teve a sua vitória quando me fez aceitar viver sem compromisso essa nossa
relação explosiva. Agora, aceite a minha vontade.
A certeza nos seus olhos me diz que não é sábio insistir. Vou dar
espaço suficiente para deixá-la pensar que irei recuar cada vez. Ela irá
aprender que meu poder de persuasão não tem limites.
— Ok. Vou colocar uma roupa e levá-la para casa — Viro-me e sigo até a
porta, mas paro antes de ultrapassá-la — Coloque algo também, essa sua
roupa está faltando pano – A Carol abre os lábios para falar alguma coisa,
mas interrompo — Essa também é uma batalha perdida, querida.
Sem deixar que responda, sigo para o meu quarto. Essa será uma noite
longa e solitária, mas reverterei esse quadro o quanto antes. A Carol nem
imagina que em pouco tempo, estará implorando para passar muitas noites
do meu lado. Essa sua atitude evasiva só consolida minha determinação em
conquistá-la rápido, e tudo o que quero, eu consigo. E nunca quis tanto uma
coisa quanto quero essa mulher.
Capítulo 17
Carolina
✻ ✻ ✻
Três dias depois
Pedro Henrique
Hoje, eu estou irritado ao extremo. Já faz três longos dias que não
coloco minhas mãos na Carol e, consequentemente, minhas noites foram
em claro. Como consegui, em tão pouco tempo, me acostumar a dormir com
uma pessoa? Não sentir seu calor na cama tem sido um terror.
Como se isso não fosse o bastante, ela passou dois dias trabalhando
como louca com minha querida irmã workaholic. Não consegui nem mesmo
olhar para ela aqui na empresa. Fora daqui, ela teve compromisso todas as
noites. E nenhum deles me incluiu.
Eu cheguei ao fundo do poço com essa maldita mulher. Sou deixado de
lado sem nenhum remorso. E o pior é sofrer por cada segundo que passo
sem ela.
Não consigo me concentrar no trabalho e estou com um humor dos
diabos. Até meu pai está sem saber o que fazer comigo. E tudo isso por causa
de uma única mulher.
Maldita!
O telefone da minha sala toca e não sinto nenhuma vontade de
atender. Não me interessa se tenho problemas para resolver. Quero ficar
isolado de tudo e todos. Já me basta ter que almoçar com o Guto hoje.
Esse convite dele repentino certamente tem a ver com minha mãe. Ela
está muito preocupada com meu comportamento e, certamente, pediu para
Guto descobrir qual o meu problema. Só a maluca da Rufina sabe a verdade,
e ela, como uma fiel amiga, não fala nada, mais debocha de mim em cada
oportunidade. O que me desespera é não poder falar nada. Dependo dessa
desequilibrada para descobrir o que aconteceu no passado da minha gatinha.
Ouço um barulho na recepção e a voz alta da minha secretária. Quando
me inclino para levantar, a porta do meu escritório é escancarada por uma
Paola furiosa, seguida pela pobre Aline com cara de desespero.
— Quero falar com você agora! Pode pedir para a sua pitbull sair do
meu pé? — Faço um gesto com a mão, dispensando a Aline, e observo os
olhos da Paola soltarem faíscas. Era só o que me falta ter que enfrentar a
perseguição desenfreada dessa mulher.
— Sente-se — Ela permanece no mesmo lugar.
— Por que você está me evitando? – Reviro os olhos. Queria entender o
que se passa na cabeça dessa figura. Nem lembrava que ela existia.
Consequentemente, como posso estar evitando-a?
— Você está me vendo fugir? — Abro os braços em sinal de
tranquilidade.
— Estou há três dias tentando falar com você, e só ouço desculpas
dessa sua secretária ridícula. Quando ligo, você não atende. As mensagens,
nem se dá ao trabalho de responder. Se isso não é evitar, você poderia me
dizer o que é? — Esfrego as mãos no rosto, tentado evitar atirá-la pela janela.
Preciso encontrar controle.
— O que você quer, Paola?
— Falar com você. É pedir demais?
— Qual o assunto?
— Nós — Uma única palavra, mas que não faz nenhum sentido, ao
menos para mim. Desde quando existe um “nós” entre eu e a Paola?
— Sobre nós? — Eu sou exibo um sorriso irônico quando faço essa
pergunta.
— Isso — Ela se anima e senta na cadeira de frente para minha mesa.
— Me esclareça esse "nós". Estou curioso para saber em que momento
isso aconteceu — Quero atirá-la fora da minha sala, mas quero ouvir
primeiro o que essa louca quer falar.
— Como assim em que momento? Estivemos juntos semana passada a
noite toda, Rico. Ou você já esqueceu?
— Tenho boa memória, querida — Sorrio amarelo, tentando enviar a
ela uma mensagem de "caia fora e encerre o assunto". Mas como já tinha
imaginado, ela não percebe minha intenção.
— Então como me pergunta se existe um "nós"?
Ela faz cara de pobre coitada. Eu quero sumir antes de ter que vê-la
fazendo uma cena no meu escritório.
— Paola, pelo amor de Deus, vai trabalhar, ou melhor, vai almoçar com
uma das suas amigas. Daqui a pouco, o Guto chega pra me buscar, e eu
tenho que sair correndo. Não tenho tempo para escutar seus devaneios.
— Meus o quê? — Ela se levanta e coloca as mãos na cintura.
— Você me ouviu — Minha paciência zerou, e eu não quero mais ela na
minha frente.
— Estou cansada dessas suas atitudes, Rico. O que você pensa que eu
sou? — Não respondo sua pergunta, porque não quero ofendê-la e hoje não
está sendo um bom dia e não pretendo piorá-lo insultando-a — Você me usa
quando tem vontade e depois me ignora. Eu não aguento mais isso. Se você
não percebeu, eu tenho um coração.
— Isso é óbvio. Se você não tivesse, não estaria me irritando aqui —
Vou usar do deboche para tentar terminar a conversa.
— Droga, Rico! Por que você está me tratando assim? Depois da nossa
última noite, eu pensei que tudo ia voltar ao normal na nossa vida. Você
estava diferente. Mais intenso. Completamente oposto do que eu estava
acostumada — Se ela soubesse que, em cada minuto que a fodia, pensava
unicamente na minha gatinha, não estaria falando esse absurdo.
— Eu não entendo onde você está querendo chegar com essa conversa,
Paola. Sempre fomos bons amigos de foda. O que mudou agora? — Já sem
paciência, vou terminar essa conversa mesmo que eu tenha que feri-la.
— Você mudou. Pensei que estava querendo dizer que poderíamos
voltar a ficar juntos. Nós formamos um casal perfeito, Rico, e nem você pode
negar isso — Agora ela está com uma voz melosa e eu acho isso irritante.
— Somos perfeitos na cama. Isso é um fato. Você é única no sexo e
sabe como agradar um homem. Jamais me decepcionou. Mas nada além de
sexo vai acontecer entre nós. Não adianta insistir, Paola.
— Você não sente falta do nosso namoro? — Ela está com lágrimas nos
olhos, e eu odeio mulher chorando. Nunca sei o que falar, nem como me
comportar.
— Que namoro? Nunca fomos namorados! — Eu sei que deveria ser
mais educado, mas ela me tirou todo o juízo com essa conversa sem
sentindo.
— Claro que éramos. Ficamos juntos por um bom tempo.
— Não, querida. Você me apresentava aos outros como o seu
namorado. Eu apenas não discordava, porque estava tendo um bom tempo
ao seu lado. Mas isso não queria dizer que eu me considerava o seu
namorado. Essa relação só existiu na sua cabeça — Sei que, de fato nós,
tivemos um namoro, mas nunca falamos disso abertamente. Então eu não
preciso assumir que estava ciente de ter um relacionamento além da cama.
— Como você pode falar assim do nosso amor?
— Por favor, Paola, para de drama. De que amor você tá falando? —
Olho nos seus olhos e tenho vontade de correr. Ela vai chorar — Vai
almoçar. Chama a Fabiana. Ela é engraça e sensata, talvez coloque um pouco
de juízo na sua cabeça.
— Você sempre esteve me usando não, é mesmo? — Ela me pergunta
com uma voz ferida.
— Não. Eu não uso as pessoas. Você sempre soube que eu tinha várias
mulheres na minha vida. Cada uma no seu tempo, mas nunca em um
relacionamento sério. Não vou negar que você me prendeu por um bom
tempo com todos os seus encantos sexuais, só que nunca foi nada além de
sexo. Jamais te prometi nada além de orgasmos incríveis. E até onde
lembro, você aproveitou cada um deles.
— Você é canalha desgraçado! – O ódio em seus olhos me
desestabiliza.
— Eu não posso te oferecer nada, Paola. Nunca iludi você. Por que você
está me cobrando isso agora?
— Eu te amo. Sempre te amei — Fecho os olhos sem acreditar nas
palavras que ela falou. De onde essa maluca tirou tudo isso?
— Eu não sei o que te dizer — Tento pensar em alguma maneira de me
livrar dela, mas nada surge na minha mente.
— Não diga nada. Apenas me dê uma chance de mostrar que posso te
fazer feliz — Quando ela termina de falar isso, minha mente busca
imediatamente o rosto da Carol. Percebo que felicidade, para mim, só existe
se for com ela. Isso me faz ter um pouco de paciência com a Paola. Sei
exatamente o que ela está sentindo, e isso é doloroso demais.
Para tudo!
Se eu sei o que ela está sentindo isso significa que ... Não, não, não. Eu
não posso estar apaixonado pela Carol, isso não acontece em poucos dias,
você precisa de tempo. Não é? Ou não? Agora eu tô perdido.
— Eu não posso, Paola, me perdoe — Minhas palavras são sinceras,
pois, assim como ela, eu também tenho um coração desesperado e
esperando ser correspondido.
— Você não tem coração. Nunca teve — A ausência de emoção da sua
voz me paralisa — Eu ainda verei você sofrer por amor. Mas antes disso,
você vai me pagar por todo esse desprezo — A Paola se vira e caminha até a
porta — Assim como você, eu sempre cumpro as minhas promessas, Rico –
Ela sai batendo a porta.
— Porra! O que eu vou fazer agora? — Não tenho tempo para pensar
em nada, porque meu celular toca e vejo que é o Guto — Fala, brother.
— Eu já estou chegando. Desce aí, porque tô cheio de fome e não vou
perder tempo subindo.
— Tá bom. Vou te esperar no estacionamento.
Sigo até a porta, relembrando as últimas palavras da Paola. Minha mãe
sempre falou que uma mulher ferida é perigosa, e agora estou temeroso pelo
que ela pode fazer. Mas eu não podia mentir e fingir que gosto dela. Sou
uma pessoa honesta e não minto. Ainda mais agora, com a minha Carol na
parada. Eu não tenho olhos para mais ninguém além dela. Minha vida
passou a girar totalmente ao redor da minha gatinha.
Pego o elevador e penso no nosso fim de semana. Apesar dela fazer
birra e ir embora no domingo à noite, todo o resto foi perfeito. Senti-me no
paraíso em todo esse tempo.
Quando chego ao saguão vejo Juliana, Rufina e Carol conversando com
minha mãe. Meu coração dispara sem controle. Ela está mais linda do que
nunca e sorrindo de alguma coisa que Juliana fala. Vou me aproximando
devagar para, enfim, poder ficar um pouco perto dela.
— Meninas! Como estão? — Elas se surpreendem com minha presença.
Chego perto da minha mãe e beijo seu rosto com carinho. Repito o gesto
com Ju e paro olhando para Rufina.
— Rufina, como vai? — Ela me observa com aqueles olhos de águia.
— Não vai me beijar por quê? — Ela me provoca e eu entro no clima.
— Não quero me contagiar com sua loucura —Passo por ela e chego até
Carol, beijando seu rosto e sentindo seu cheiro inconfundível de rosas
frescas — Carol, como vai?
— Muito bem, obrigada — A Carolina evita meus olhos, e sua voz é
apenas um sussurro.
— Filho, quer almoçar conosco? Nós estamos indo ao Saul, sei que
você adora a comida do restaurante dele. A Rufina que deu a ideia.
— É mesmo? – Levanto a sobrancelha para minha amiga impertinente
— Eu vou almoçar com o Guto, infelizmente não poderei acompanhá-las.
— Que pena, Rico. Você iria animar meu almoço — A Rufina fala
sorrindo — Com essas duas aqui, não terei como fazer piadas. Elas são tão
previsíveis... — Seu comentário me faz perceber que a Carol não estará nesse
almoço.
— A Carol não irá com vocês?
— Não, Rico. Ela tem um almoço com uma amiga — Juliana me conta.
— Sei... — Será que é uma amiga mesmo? Já estou me sentindo irritado
com isso.
— Então vamos, meu povo, porque a Rufi aqui tá com fome —
Seguimos todos para a saída.
Quando chegamos ao estacionamento, vejo o carro do Guto entrando e
seguindo devagar na nossa direção. Mas, como em uma cena televisão, uma
bela garota de cabelos ruivos aparece na frente do carro do meu amigo,
acenando toda sorridente na nossa direção. Ouço os freios sendo acionados
e um barulho forte acontecer.
Todos começam a gritar. A Carol é a primeira a seguir na direção do
carro, seguida por Juliana e Rufina. Eu e minha mãe ficamos parados no
mesmo lugar, atônicos com a cena que se desenrola na nossa frente. Tento
sair da letargia e corro até as meninas.
— Não mexam nela, vou ligar para o socorro — Eu falo quando chego
até elas, e vejo o Guto sair do carro, desesperado.
— Eu não tive culpa. Ela apareceu do nada. Só tive tempo de frear —
Todas essas palavras saem atropeladas da sua boca em meio ao desespero.
— Calma, Guto, todos nós vimos que foi um acidente — Juliana tenta
tranquilizá-lo em meio à histeria.
— Glei, amiga! Fala comigo! — Ouço a voz desesperada da Carol.
— Temos uma equipe de primeiros socorros aqui na empresa, eles já
estão a caminho — Digo. enquanto me abaixo ao lado da minha garota —
Calma, Carol, ela vai ficar bem. Deixe que ela respire.
— Ela não abe os olhos — Seus olhos, em pânico, agora buscam os
meus.
— Apenas está desmaiada. Vai ficar tudo bem, foi uma batida leve. O
Guto estava muito devagar.
— Carol, eu não tive culpa! Ela apareceu rápido demais, e quando eu vi,
tinha acontecido. Aí, meu Deus! Eu posso ter matado uma pessoa — Ele se
abaixa e olha para a menina, observando seu rosto. A amiga da Carol abre os
olhos e meu amigo paralisa — Senhor, você é linda!
Eles se olham por um tempo, e vejo como o Guto fica fascinado pela
menina.
— Deixe de ser tarado! — A Rufina empurra-o indignada — Você quase
mata a menina e agora quer falar que ela é linda? Toma vergonha nessa cara
lavada seu ousado...
— Eu não matei ninguém — O Guto fala em desespero. Ao fundo, ouço
a barulho da ambulância da empresa chegando.
— Pronto, o socorro chegou — Seguro os ombros da Carol e trago-a
para junto de mim. Finalmente tenho-a nos meus braços, mesmo esse não
sendo o melhor momento.
Todos os procedimentos são executados para poder imobilizar a amiga
da Carol, e ela é removida para um hospital próximo. Eu e Carol seguimos
no carro do Guto, enquanto minha mãe e Rufina seguem no carro da
Juliana.
Chegando ao hospital, tenho que controlar o nervosismo da Carol e os
insultos da Rufina em relação ao Guto.
— Já chega, Rufina, foi um acidente. Poderia ter acontecido com
qualquer um de nós — Falo sem paciência
— Até pode ser. Mas se ele usasse óculos, talvez tivesse evitado. Como
pode uma pessoa não enxergar uma menina com os cabelos vermelhos
como fogo? — Sua impertinência me revolta — Essa garota parece um sinal
de trânsito piscando em vermelho sem parar. E esse cego não viu — A
Rufina acusa descaradamente o pobre coitado, terminado de acabar com a
raça dele.
— Eu não vi, já falei. Ela foi rápida. Tudo foi rápido.
— Rufina, pode parar. O Guto jamais iria machucar alguém
intencionalmente. A amiga da Carol se distraiu olhando na nossa direção e
não viu o carro dele. Acidentes acontecem, mas nada de mal acontecerá com
a menina, porque ele estava muito devagar — Quando Juliana acaba de falar,
o médico aparece e vem conversar conosco.
— Vocês estão com a senhorita Gleicielle Pinheiro?
— Sim. Eu sou sua melhor amiga. Como ela está? — A Carol se apressa
em falar e caminha na direção do médico.
— Muito bem. A paciente teve apenas alguns arranhões nos braços e,
como ela bateu a cabeça, deve ficar em observação pelas próximas vinte e
quatro horas. Alguém terá que ficar com ela nesse período, porque ela não
poderá ficar sozinha. O raio-x não mostrou nada. Daqui a pouco, ela terá
permissão para sair.
— Graças a Deus, não foi nada grave — A Carol segura a minha mão e
sorri com alívio. Eu estreito-a nos braços, me sentindo vivo depois de três
longos dias de separação forçada.
— Eu falei que tudo ia dar certo — Antes que eu cometesse a besteira
de beijá-la, ouço a Rufina soltar um pigarro, e entendo que perdi o controle
da situação.
— Bem, gente, agora podemos relaxar — A Rufina interrompe meu
rompante de loucura e muda o rumo do assunto – O barbeiro do Guto não
provocou maiores estragos, então todos vocês podemos voltar ao trabalho.
Ficarei com a Carol de companhia e levarei as duas para casa — A Rufina
fala como se mandasse em alguma coisa.
— Posso ver a Glei? — A Carol pergunta ansiosa para o médico.
— Pode. Me acompanhe, que mostrarei o quarto que ela está e em
seguida providenciarei a liberação da paciente. Com licença — O médico se
retira, seguido por Carolina, e é aí que a confusão começa.
— Eu atropelei, então é minha obrigação levar a menina para casa — O
Guto fala, não deixando margem a discussão.
— Claro que não. Quase causou um homicídio e ainda não está
satisfeito com o resultado? — A Rufina acusa, sem dó do Guto.
— Eu não causei homicídio nenhum. A garota está bem. Agora o
mínimo que posso fazer é levá-la para casa.
— Jamais permitirei isso — Rufina o encara, e vejo os dois se
digladiarem apenas com o olhar.
— Chega! — Minha mãe se intromete na situação — Vamos esperar a
Carol voltar e ver o que ela acha. O Guto tem o direito de levar a menina
para casa. É uma forma elegante e correta de se redimir, mesmo ele não
sendo totalmente culpado. Então pare com essa confusão, Rufina.
— Só farei isso em consideração a você, Sara — Mesmo errada, ela não
perde a pose. Rufina é única mesmo.
Todos nós sentamos e aguardamos a volta da minha gatinha. Eu senti
tanta saudade dela. Não aguento passar mais nenhuma noite longe dessa
mulher. Terei que arrumar uma forma de levá-la para minha cama hoje.
Perco-me em pensamentos, até que vejo a Carol entrar na sala de espera,
sorrindo.
— Ela está ótima. Realmente, foi só um susto.
— Então não serei indiciado por tentativa de homicídio? — O Guto
pergunta com alívio na voz.
— Claro que não, Guto, deixa de ser exagerado!
— Você não sabe como me sinto aliviado — Ele se joga na cadeira
sorrindo.
— Posso imaginar. A Glei quer ver você. Segue até o fim do corredor e
vire à esquerda. É o quarto de número 4.
— Ela quer me ver? — Meu amigo parece assustado mais também
ansioso.
— Quer sim. Vai lá — A Carol pisca um olho pra ele e, mesmo sabendo
que não existe nada mais nesse gesto, sinto ciúme.
— Bem, se ela realmente quer me ver, eu vou —Seu sorriso demonstra
uma alegria excessiva, que levanta muitas suspeitas em mim. Esse
desgraçado está de olho na pobre garota — Eu levarei vocês para casa, Carol.
Faço questão.
— Tudo bem, sem problemas — Ela sorri para ele e parece bem mais
calma.
— Carol, amiga, você não pode permitir essa loucura — A Rufina
protesta.
— Rufina, do jeito que a Glei está empolgada com o Guto, se ela souber
que eu o impedi de levá-la para casa, perderei sua amizade para sempre.
— Não acredito que ela está interessada nesse barbeiro. Sua amiga é
maluca — Rufina nunca cansa de ser do contra. Ela é irritante ao extremo.
— Só um pouco — A Carol pisca para ela. Rufina bufa se fingindo de
irritada, mas segura um sorriso nos lábios.
— Bem, como tudo está resolvido, vamos voltar ao trabalho — Juliana
segura a Rufina pelo braço e sai arrastando-a na direção da saída.
— Se precisar de alguma coisa, é só avisar, querida — Minha mãe beija
Carolina delicadamente — Tire o resto do dia de folga e cuide de sua amiga.
— Obrigada, Sara.
— Vamos Rico? — Mamãe me chama. Tento inventar uma desculpa
rápida para ficar mais um pouco com minha gatinha.
— Já vou mãe, primeiro vou certificar que tudo está bem. Então volto
para a empresa.
— Está certo — Ela sabe que eu sempre sou solícito e não discute
comigo.
Observo minha mãe se afastar e, quando ela some de vist,a viro-me
para Carol e não me seguro. Preciso beijá-la agora ou então terei um ataque
cardíaco. Ela percebe minha intenção e tentar me parar, mas sou mais forte
e envolvo-a em um abraço firme, buscando sua boca com urgência. Quando
nossos lábios se encontram, caímos em um beijo explosivo e intenso. Não
há palavras que descrevam o quanto senti falta dessa mulher. Não posso
mais passar um dia sem ela. Estou viciado no seu gosto e no seu corpo.
— Carol, não fique longe de mim tanto tempo assim — Vou espalhando
beijos em seu pescoço e retorno para seus lábios, inclinando sua cabeça para
ter melhor acesso a sua boca.
— Pedro, para! O Guto pode voltar! — Suas mãos me empurram e,
mesmo resistente, sei que ela tem razão e me afasto.
— Eu não aguento mais ficar sem você. Hoje à noite, você irá para o
meu apartamento.
— Não posso. Tenho que ficar com a Glei, o médico disse que ela não
pode ficar sozinha.
— Carol! Não vou aguentar mais uma noite sem você! — Sei que ela
está certa e não pode abandonar a amiga, mas eu tenho uma necessidade
estrema de tê-la junto de mim.
— Amanhã eu juro que fico com você, mas hoje realmente não dá —
Fecho os olhos, tentando ganhar controle. Eu sei que ela precisa ajudar a
amiga, mas eu também preciso dela.
— Ok. Amanhã, depois do expediente, você vai direto para minha casa.
— Eu vou — Um barulho nos chama a atenção e quando viramos, o
Guto e a amiga da Carol estão se aproximando devagar e conversando
animadamente.
— E aí, amiga, como você está? — Ela fica vermelha e sorri.
— Eu estou bem. O Guto vai dar uma carona para mim — Seu sorriso é
radiante. Meu amigo canalha lançou sua rede para a pobre menina.
Se ela soubesse a metade da vida de promiscuidade do Guto, não
estaria tão feliz assim. O Guto é o cara mais vagabundo que conheço na vida,
e uma menina como ela nunca conseguirá domá-lo.
— Eu sei — A Carol sorri para amiga e segura a sua mão — Vou com
vocês, porque o médico disse que não poderá ficar sozinha.
— Ele me falou. Vamos embora então. Eu estou cansada.
— Vamos — A Carol vira-se e me olha — Glei, esse é o Pedro, ele é o
irmão da Juliana, nós trabalhamos juntos na mesma empresa.
— Muito prazer, Pedro. Que pena nos conhecermos em um momento
tão impróprio — Ela parece ser uma menina muito doce, e eu espero que o
Guto se mantenha longe dela. Essa garota não foi feita para viver na
devassidão da vida do meu amigo.
— Sem problemas. Espero que esteja bem — Eu aperto a mão dela e
lanço o meu melhor sorriso.
— Eu estou — Ela olha para Guto e sorri. Esse desgraçado atropelou a
coitada e consegui ganhar a menina.
Todos nós seguimos para a saída, e meu coração já se desespera em
saber que não verei minha menina hoje. Esses dias longe dela estão sendo
terríveis. Ter que esperar até amanhã já está me matando.
— Eu posso visitá-la mais tarde, Glei? — Pergunto, na esperança de
poder ficar um tempo com a Carol.
— É claro. Seria um prazer.
— Eu também irei com o Rico — O Guto logo se oferece, e eu já vejo
problemas futuros.
— Então passaremos mais tarde no seu apartamento para saber como
está. Você estará lá também, não é, Carol? — Eu pergunto para não correr o
risco de chegar lá e não encontrar a minha garota.
— Estarei sim — Seu constrangimento com minha pergunta é bem
evidente.
— Nos vemos mais tarde então, Carol. Eu te ligo depois para que você
me passe o endereço — Ela balança levemente a cabeça concordando comigo
— Vá devagar com as meninas, Gustavo.
— Pode deixar, Rico. Já basta o que eu aprontei hoje — Ele ri, sem
graça, e passa a mão pelo cabelo.
— A culpa foi minha. Eu que atravessei sem olhar — O tímido olhar
que a Glei lança ao meu amigo me diz que ela não se arrepende em ter sido
tão distraída.
— Então a culpa foi nossa, linda — A voz melosa do Guto me arranca
um sorriso sincero. Acho que essa garota causará sérios problemas para meu
amigo.
— Até mais tarde, meninas — Aceno e faço sinal para um táxi que
passa. Mesmo não podendo ficar sozinho hoje com minha Carol, sinto certa
satisfação em saber que verei minha gatinha mais tarde. Mas amanhã não
abro mão de tê-la na minha cama, junto de mim. Isso será ponto de honra.
Na realidade, passarei o fim de semana com ela. Posso ter passado um
início de semana infernal, mas, no fim, dela terei o que tanto desejo.
Capítulo 18
Carolina
Não sei o que faço para controlar a ansiedade da Glei. Ela já foi à janela
umas mil vezes e me perguntou a hora outras mil. Nunca em minha vida vi
alguém querendo tão ansiosamente rever a pessoa que a atropelou.
Tenho que rir da minha amiga. Dessa vez, ela superou até a loucura da
Sula, e olha que ultrapassá-la é uma coisa quase impossível.
— Calma, mulher, daqui a pouco eles estarão aí.
— Mas está demorando demais. Ele não disse que já estava no
caminho?
— Disse, mas devem ter pegado algum engarrafamento – Ela se joga no
sofá e faz cara de dor.
— Ai!
— Cuidado, Glei, assim você vai piorar sua situação — Sento ao seu
lado, preocupada. Ela se vira para mim e pergunta.
— Você acha que o Guto tem namorada?
— Sinceramente, eu acho que ele deve ter umas vinte — Sorrio da
minha piada, mas Glei fecha a cara.
— Bonito do jeito que ele é, realmente não deve estar sozinho.
— Amiga, estamos no Rio de Janeiro. Um gato como aquele só estará
sozinho se quiser.
— Droga! Eu sempre chego atrasada — Tenho que rir do seu drama.
— Mas namoros acabam, e aí é sua vez de chegar chegando.
— Você vai ter que me manter informada.
— Eu? Por quê?
— Você tá com o raciocínio lento, hein, Carol — Olho para Glei,
tentando entender o que ela quer – O amigo dele é seu chefe, e vocês
convivem todos os dias. Não vai ser difícil você pescar com ele informações
sobre seu melhor amigo.
— Eu não vou ficar perguntando ao Pedro sobre ninguém — Se ela
soubesse da minha relação explosiva com ele, não pediria esse absurdo. Se
eu ficar perguntando para ele sobre o Guto, certamente vai surtar. Isso tá
fora de cogitação.
— E por que não? — Tento achar algo rápido para falar, mas sou salva
pelo interfone. Eles devem ter chegado. Levanto e vou atender, seguida por
uma Glei saltitante. Nem parece que essa criatura foi atropelada hoje.
— Oi, Milton.
— Boa noite, dona Carol. Tem dois rapazes aqui querendo permissão
para subir. Eles disseram que a senhorita estava esperando.
— Estou sim, Milton. São o Pedro e o Guto, pode deixar eles subirem.
Obrigada!
— Tudo bem.
Coloco o interfone e quando viro, a Glei já saiu em disparada para o
banheiro. Eu vou atrás dela e vejo-a arrumando o cabelo pela milésima vez e
conferindo a maquiagem.
— Eu estou bem, Carol?
— Tá linda como sempre.
— Eu não quero estar com cara de doente quando ele chegar. O que ele
vai pensar de mim?
— Talvez ele pense que é o responsável pela sua enfermidade? Afinal,
foi ele que te atropelou — Ergo uma das sobrancelhas e olho bem para o seu
rosto.
— Nossa, quanto ressentimento, Carol... Foi um acidente — Sorrio e
balanço a cabeça. Só a Glei mesmo para falar uma coisa dessas.
Quando saímos do banheiro, a campainha toca, e a Glei corre para o
sofá fingindo não estar bem. De acordo com ela, se o Guto perceber que ela
não está tão bem, ele irá voltar mais vezes. Abro a porta e meu coração
dispara. O Pedro está parado com uma mão apoiada ao lado da porta. Seus
olhos prendem os meus no momento em que nos olhamos. Ele está todo de
preto, e essa visão dark deixa todo o meu corpo formigado. Tudo o que eu
queria agora era puxá-lo para mim e beijar aquela boca perfeita.
— Olá!
— Boa noite, Carol — Sua voz é baixa e provoca arrepios em minha
pele. Essa noite vai ser longa, e não sei o que vou fazer para conseguir me
manter longe dele.
— Oi, Carol. Como a Glei está? — Só agora percebo a presença do Guto.
Ele carrega duas caixas de pizzas nas mãos e sorri para mim como um bobo.
— Ela está bem, Guto. Entre e confira você mesmo — Abro espaço para
eles passarem. O Guto é o primeiro a entrar e segue direto para a sala. Já o
Pedro entra bem devagar e fecha a porta. Seus olhos correm pelo meu corpo
devagar, e sinto-me queimar com seu olhar. Seus olhos voltam lentamente
para os meus, e uma ruga aparece em sua testa.
— Você não acha que esse short está pequeno demais para ser usado
com outro homem na área? — Não acredito que acabo de ouvir isso.
— Eu acho o meu short super normal. Não vejo problema nenhum.
— Pois eu vejo todos, Carol. Vá colocar alguma coisa apresentável. O
Guto pode até estar interessado na sua amiga, mas ela não chega aos seus
pés, e não quero me indispor com ele por sua causa. — O quê? Ele dá sorte
que não posso dizer tudo o que está preso na minha garganta agora.
— É com esse short que ficarei até eu ir dormi e ficar só com minha
pequena calcinha — Falo isso na intenção de provocá-lo e, pelo escurecer de
seus olhos, eu consegui alcançar meu objetivo — Até lá, se contente em me
ver com ele. Não mudarei nada e também não se preocupe com seu amigo.
Pelo papo que ele já está tento com a Glei, eu estou fora da parada.
— Carol.... — Não deixo que termine e sigo para a sala. Pedro
acompanha-me de perto, e o calor do seu corpo me deixa quente. Quero esse
homem agora, e saber que não poderei fazer o que está na minha mente
deixa-me louca.
Quando chego à sala, o Guto e a Glei estão sentados lado a lado
conversando animadamente. Sorrio em ver a felicidade da minha amiga.
Mas ao mesmo tempo, me preocupo. O Guto não é um cara que se apega.
Ele é um típico garoto carioca que tem muitas meninas a sua disposição,
mas que não para com nenhuma delas. Já minha amiga é uma romântica e
sonhadora. Se ela se envolver demais com ele, certamente saíra machucada,
e isso é algo que eu não quero que aconteça.
— Carol, eu trouxe pizza pra gente comer. Como não sabia o gosto de
vocês, eu misturei um pouco de cada sabor. Espero que vocês gostem — O
Guto está rindo de orelha a orelha, como diria meu pai. Mesmo sabendo que
esse interesse dele pode não acabar bem, eu tenho que sorrir.
— Legal. Vou levar pra cozinha. Daqui a pouco podemos comer —
Carrego as caixas e deixo em cima da mesa. Quando volto, o Pedro está
sentado com os braços abertos em uma poltrona ao lado do sofá. Eu
agradeço mentalmente por ele não ter sentado no sofá pequeno. Ficar junto
dele sem poder tocá-lo seria um inferno.
— Você realmente está se sentindo bem, Glei? Se não estiver pode
falar. Amanhã o Guto pode te levar em um médico que é amigo nosso para
você poder fazer algum exame. Basta você falar. Já que ele te atropelou, é o
responsável por tudo o que acontecer com você — O Pedro está tão sério e
sexy falando com minha amiga, que minha vontade é agarrá-lo pelos cabelos
e beijá-lo até perder as forças.
— Eu estou bem, obrigada. Só sinto um pouco de dor pelo corpo, mas
isso é normal.
— Mas se você sentir alguma coisa diferente, basta me ligar, que eu
venho lhe buscar e te levo ao médico — Glei se derrete com as palavras do
Guto e sorri sem parar.
Eu e Pedro trocamos olhares divertidos e rimos da cara dela. A Glei fica
vermelha e isso aumenta ainda mais nossa risada.
Engatamos uma conversa descontraída, e percebo que o Guto é um
cara muito legal. Ele é divertido e arranca gargalhadas de todos nós. Cada
palavra que ele fala deixa minha amiga cada vez mais encantada, e não posso
tirar a razão dela.
Depois de um tempo, pergunto se eles querem comer. Todos
respondem que sim, e vou para a cozinha preparar a mesa. Quando estou
separando os pratos, sinto alguém chegar. Viro-me e o Pedro já está
chegando junto de mim. Tento em vão afastá-lo, mas sua boca grudada
rapidamente na minha. Sei que tenho que impedi-lo, mas a necessidade de
sentir esse homem é maior que a prudência. Então deixo sua língua invadir
minha boca e me perco no seu sabor. Como senti falta de tê-lo assim,
pertinho de mim. Eu não aguento mais ficar um dia longe dele. Necessito
senti-lo dentro de mim.
— Pedro, para! — Empurro seu peito, tentando afastá-lo — Alguém
pode entrar.
— Que se dane se alguém entrar! — Seus olhos estão turvos e cheios de
paixão — Quem está me escondendo é você. Por mim, todo o mundo ficaria
sabendo que você é minha — Meu coração afunda com essa sua
demonstração de posse. Ele está levando isso a sério, e não posso oferecer
muito. Sei que tenho que convencê-lo a não me querer, mas não tenho
forças para isso. Preciso dele e não sei o que fazer para controlar esse
sentimento.
— Não estou te escondendo, só não quero... — Ele impede minhas
palavras com um beijo firme.
— Você está. Mas isso não vai durar muito tempo, gatinha. Você é
minha, e eu sou seu. Acostume-se com isso. Acho que você não sabe, mas
esse é o nosso destino. Eu, na sua vida, e você, na minha. Nada do que
aconteceu no seu passado vai poder impedir isso, Carol. Acredite em mim v
Ele sorri e pega os pratos que estão sobre a pia.
Quando ele sai da cozinha, não consigo mexer um único músculo do
meu corpo. Esse homem vai acabar com minha vida e não sei o que vou
fazer. Preciso tomar uma atitude rápida.
Sigo com os copos e coloco na mesa. Pedro está espalhando os pratos
enquanto implica com o Guto. Eles têm uma parceria tão bacana, que de
cara você percebe que a amizade deles é antiga e sincera. Os dois juntos
devem ter pegado a metade das mulheres dessa cidade. Cada um tem uma
beleza diferente, mas ambos são de tirar o fôlego. Pedro é mais sério e
formal, já Guto é um menino levado e engraçado. Sempre está sorrindo e
falando alguma coisa engraçada.
— Vamos comer, crianças? — Chamo os dois pombinhos.
— Não precisa chamar duas vezes, Carol. Eu estou cheio de fome — Ele
sorri e ajuda a Glei a se levantar. O rosto dela pega fogo com o contato e,
percebendo o quanto ela está constrangida, mas ao mesmo tempo gostando,
o Guto coloca sua mão em seu braço e chega mais perto dela. Esse clima de
romance entre eles me deixa um pouco invejosa. Queria estar assim com o
Pedro, mas não é uma boa ideia. Se eu ceder agora, ele irá achar que
poderemos ter mais, e isso só complicará as coisas.
— Vocês querem beber o que? Temos vinho e suco.
— Eu quero o vinho, Carol — O Guto prontamente fala.
— Vou ficar com o suco, já que estou dirigindo — O Pedro diz,
enquanto senta.
— Tudo bem, vou pegar as bebidas.
Volto para a mesa e todos estão conversando. Sirvo todo mundo e
sento ao lado do Pedro. Só em sentir essa proximidade, tenho vontade de
arrancar as roupas de tanto calor. Esse homem é um tesão ambulante e está
acabando comigo. O Pedro começa a partir a pizza e muito educadamente
me serve. Eu olho para o meu prato e não sinto fome. Por mais que pareça
apetitosa, minha fome é de outra coisa, e só o Pedro pode matá-la.
— Está sem fome, querida? — Pergunta baixo, e o sorriso de lado que
ele exibe diz que sabe exatamente no que estou pensando.
— Na verdade, estou faminta — Enquanto falo, escorrego
discretamente minha mão por baixo da mesa e aperto seu pau com força.
Sinto-o endurecer instantaneamente na minha mão. Ele ofega e pega os
talheres, tentando transparecer tranquilidade. Aliso lentamente sua ereção
para depois também começar a comer.
Guto e Glei estão empolgados e que sequer reparam na nossa
brincadeira atrevida. Pedro parte a pizza com mais força que o necessário e
coloca na boca, mastiga com raiva e se virá para mim com olhos hostis.
— Coma, Carol, está uma delícia — Só então o Guto repara na nossa
conversa e sorri para mim.
— Está sem fome, Carol? — Inocentemente, ele me pergunta. A Glei
começa a sorrir e responde por mim.
— Carol sem fome? Isso é novidade. Ela come tudo o encontra pela
frente. Deve estar esperando vocês comerem para ver o que sobra.
Todos riem e perco ainda mais o apetite, mas mesmo assim, forço-me a
começar a comer. Até chegar amanhã, para que eu enfim possa matar minha
real fome, será uma eternidade. Tenho que controlar meu desejo.
Quando todos acabamos, eu começo a recolher os pratos com a ajuda
dos meninos. Em pouco tempo, a mesa está limpa, e Pedro se oferece para
lavar os pratos.
— Claro que não — Falo, tentando encerrar a discussão.
— Vou lavar, sim. Não estamos aqui para dar trabalho.
— Não é trabalho lavar essa pouca louça.
— Então venha me ajudar — Ele se aproxima e enrola as pontas do
meu rabo de cavalo em seus dedos — Você está linda com esse cabelo de
menina, parece tão inocente. Me faz pensar em tantas coisas que poderia
fazer com você...
— Pode parar — Ele sorrir e segura minha mão, me levando para a
cozinha.
— Vamos dar privacidade aos enamorados. Eles precisam de um tempo
para darem uns amassos. Enquanto isso, arrumamos tudo e, no fim, eu
deixo você me dar “uns pegas” também — Ele sorri, e eu jogo um pano de
prato na sua cara. Esse desgraçado é o convencido mais gostoso que
conheço.
Trabalhamos em um clima calmo e descontraído. Pedro rir da situação
em que nossos amigos se conheceram e comenta que o Guto ficou muito
interessado na Glei. Eu, por minha vez, confesso à ele o meu medo desse
envolvimento dos dois.
— Pode deixar, falarei com ele sobre sua amiga. Se perceber que algo
pode dar errado, eu afasto o Guto dela. Não se preocupe.
— Tudo bem. Só não quero que ela sofre sem necessidade. A Glei se
apega muito fácil, é uma romântica de nascença.
— Bem diferente da amiga — Ele fala enquanto puxa meu corpo de
encontro ao seu.
— Pedro, não vamos...
— Deixa quieto, gatinha. Essa sua resistência só me estimula — Seu
nariz passa por toda a extensão do meu pescoço – Agora eu quero beijá-la e
te dar um orgasmo de bônus. Só para você ficar ansiosa pela nossa noite de
amanhã.
— Não, eles podem entrar a qualquer momento! — Ele rir, enquanto
beija minha garganta.
— Pode acreditar em mim que o Guto não vai entrar aqui. Ele está é
dando graças a Deus por nós dois estarmos aqui — Sou suspensa sobre a pia
e forçada a abrir as pernas. Pedro se encaixa nela e esfrega sua
impressionante ereção em mim.
— Nós não podemos — Minha voz é baixa e sem nenhuma convicção.
— Podemos tudo, querida — Suas mãos desfazem o laço do meu short.
Tento afastá-lo, mas, quando seus dedos encontram minha entrada, eu
perco todo o juízo. Gemo em sua boca quando ele contorna o meu clitóris —
Faça silêncio. Aqui você não pode fazer sua sinfonia do prazer.
— Eu não faço sinfonia nenhuma.
— Faz, sim meu bem. Essa semana fui advertido pelo síndico pelos
barulhos que fizemos no meu apartamento durante o fim de semana — Ele
olha pra mim e sorri com deboche.
— Não acredito nisso — Na verdade, sei que passamos dos limites em
alguns momentos, mas será que foi a ponto de incomodar os vizinhos?
— Tudo bem, se não acredita, eu não me importo, mas aqui você tem
que fazer silêncio — Ele pressiona mais forte e minha vontade é gritar com
toda força — Seja uma boa menina, Carol — Sua boca cai sobre a minha e
começa a me devorar. Tento de todas as formas me manter silenciosa, mas a
fricção do seu dedo em meu ponto de prazer torna essa ação quase
impossível. Até esse momento, eu não tinha percebido o quanto eu
precisava de um orgasmo. Mas com ele agora aqui perto de mim, eu
descobrir que espero por isso ansiosamente.
Pedro percebe meu desespero e prolonga o momento. Remexo em suas
mãos, tentando encontrar o ângulo perfeito, mas ele dificulta quando me
pressiona em seu corpo. Eu estou a ponto de afastá-lo com a frustração que
estou sentido, mas ele me solta e coloca uma mão embaixo da minha blusa e
segura o meu seio. Esse contato é tudo o preciso, e volto a esfregar em suas
mãos. Sinto meu orgasmo se aproximando e seguro-me para não gritar. Isso
seria uma vergonha para mim, o Guto e a Glei ouvirem o que está
acontecendo nessa cozinha.
— Goze pra mim, Carol — Suas palavras servem como ordem para meu
corpo, e não seguro quanto sinto meu prazer chegar. Sua boca intensifica o
beijo e, mesmo tentando segurar, solto um gemido longo e satisfeito de
prazer — Você gozando é a coisa mais linda do mundo
— Você ainda vai me matar — Ele sorri e beija suavemente meus
lábios.
— Pode apostar que ainda teremos muitos anos de vida pela frente para
fazermos mais disso.
— Eu não apostaria nisso.
— Pois eu aposto todas as minhas fichas — Ele me desce da pia e ajeita
meu short — Vamos separar aqueles dois, porque amanhã todos temos que
trabalhar e já está tarde.
— Vamos então — O Pedro segura meu braço antes que eu consiga
passar por ele.
— Amanhã, você vai ficar comigo. Portanto, separe roupa para
trabalhar na sexta e passar o fim de semana. Não abrirei mão de ficar com
você.
— Tá bom, eu vou levar no meu carro.
— Não. Amanhã depois do expediente eu buscarei você em casa.
— Mas como eu vou ir trabalhar na sexta sem carro?
— Eu te deixo em um ponto de táxi próximo da empresa. Quando
sairmos à tarde, eu te dou uma carona.
— Mas as pessoas podem ver — Ele fecha os olhos em claro sinal de
irritação com meu último comentário.
— Sempre dou carona aos meus amigos, então isso não será novidade
para ninguém.
— Mas...
— Sem argumentos, Carol. Agora vá ao banheiro ajeitar esse cabelo,
sem querer eu baguncei tudo.
— Ai, meu Deus! — O Pedro sorri e beija levemente meus lábios.
— E também deixei seu rosto vermelho e com a boca inchada. Tenho
que lembrar de me barbear para não machucar você. Desculpa, gatinha.
Deixo que ele siga na direção da sala e corro ao banheiro. Quando olho-
me no espelho, percebo que estou terrível. Ainda bem que ele teve o bom
senso de avisar o meu deplorável estado. Se aqueles dois vissem como meu
rosto está, certamente saberiam o que fizemos na cozinha.
Tento da melhor maneira ajeitar meu visual. Quando estou saindo do
banheiro, ouço a Glei me chamando.
— Carol, os meninos estão indo — Corro até a sala.
— Eu levo vocês até a porta — Sigo na frente deles e abro a porta. O
Guto se aproxima e beija meu rosto, sorrindo.
— Se ela precisar de qualquer coisa, ligue-me a hora que for, Carol. Eu
deixei meu telefone anotado na agenda dela. Seria bom se você pudesse
adicioná-lo na sua também. A Glei pode ficar constrangida de me chamar.
Mas você não pense duas vezes, pode chamar quando for preciso.
— Ela pode ligar para mim, Guto. Dependendo do que for, eu te chamo
— O Pedro está mal humorado com a sugestão do amigo.
— Calma, amigo, eu não vou roubar sua garota — Ao ouvir o Guto falar
que sou a garota do Pedro, sinto-me sem chão. Como ele sabe? Será que esse
desgraçado contou nosso segredo?
— Não sou a garota de ninguém, Guto. Se o Pedro falou alguma coisa, é
tudo invenção dele — Droga! Sei que ele ficará irritado comigo, mas não
quero que ninguém saiba do nosso envolvimento. O Guto sorri para mim.
— Ninguém precisa falar nada, Carol. Só o jeito com que vocês se
devoram ao se olharem já diz tudo. Eu não nasci ontem, e, infelizmente,
vocês são péssimos atores. Mas espero que você dome meu grande amigo
aqui. Acho que chegou o momento dele se estabilizar. Um homem tem que
sossegar em determinado estágio da vida – O Guto suspira e sorri – Nós
dois precisamos desacelerar. E por falar em sossegar, a Glei tem namorado?
— Surpreendo-me com a mudança de assunto.
— Não, ela terminou um namoro a pouco tempo. Isso significa que está
em um período difícil, o que me leva a te pedir um favor.
— Pode pedir.
— Se você quer só brincar com ela, desista. A minha amiga é uma
pessoa sensível e não merece sofrer desnecessariamente – Ele balança a
cabeça concordando comigo.
— Eu não faria isso, pode acreditar em mim — Aceno de volta,
acreditando em sua palavra.
— Vamos embora, Guto — O Pedro empurra-o para fora. Sei que está
chateado comigo, e sinto-me mal em deixá-lo ir embora sem pedir desculpa.
— Pedro, eu preciso .... — Ele ergue a mão silenciando-me.
— Não venha querer ter pena dos meus sentimentos agora, querida.
Você soube como ninguém arrasar com ele há poucos instantes. Não preciso
da sua piedade – Com essas palavras duras, vejo-o sair pelo corredor até o
elevador, que está sendo seguro por um Guto constrangido. As lágrimas
começam a se formar em meus olhos e, mentalmente chuto a minha bunda
por ter sido tão estúpida. Acho que a Sula tinha razão quando disse que não
deveria deixar a sombra do meu passado com o Fábio roubar minha
felicidade.
— Carol... — As palavras da minha amiga morrem quando me viro e ela
vê minhas lágrimas — O que aconteceu? Por que você está chorando?
— Eu estou apaixonada pelo Pedro, amiga. O que eu vou fazer?
— Meu Deus, Carol. Então é ele? Por isso, todos aqueles olhares
apaixonados que ele lançava em sua direção?
— Ele estava olhando apaixonado?
— Claro. Só um cego não notaria, mas pensei que não fosse nada além
de atração — Ela segura minha mão e segue até o sofá. – E o que você
aprontou para estar chorando assim?
— Como você sabe que aprontei? Poderia ser o Pedro.
— Somos amigas desde pequenas, sei que foi você. E não me diga que
não quer falar, você não vai escapar de uma boa conversa — Seco as lágrimas
que teimam em cair e começo a falar. Depois de que termino, minha amiga
fica olhando para mim por um longo tempo.
— Eu errei, sei disso, mas estou com medo.
— Não tenha — Ela se aproxima e segura minhas mãos — Dê uma
chance a sua felicidade. Você não fez nada de errado, muito menos apertou
aquele gatilho. Nessa história toda, é mais uma vítima daquele cretino. Na
verdade, você precisa crescer. Pare de querer ser a pobre coitada, Carol, vá
viver! Não podemos mudar o passado, mas podemos tentar ter um futuro
melhor. O Pedro pode dar isso a você. Está escrito nos olhos dele o quanto
gosta de você. Pense nisso! — A Glei se levanta, beija meu rosto e segue para
o próprio quarto.
Ela tem razão, não posso mais viver assim. Se o Pedro me abandonar,
não sei o que será de mim. Estou perdidamente apaixonada por ele, e, só em
ver a dor que causei nele, meu coração está sangrando por dentro.
Amanhã terei uma conversa com o ele e darei uma chance ao nosso
relacionamento, isso se ele ainda quiser ter um comigo. Pego meu telefone e
digito uma mensagem curta de desculpas.
Sigo para o quarto e espero a sua resposta. Mas as horas se passam e
não recebo nada. Que Deus me ajude amanhã. Espero que ainda haja
esperança em um futuro juntos. Mesmo sabendo que não mereço, quero
tentar ser feliz com esse homem desesperadamente. Amanhã,será um novo
dia e novo recomeço para ambos.
Capítulo 19
Carolina
Pedro Henrique
✻ ✻ ✻
Quando estou chegando a casa, avisto minha gatinha deitada na rede,
balançando-se como uma criança e falando ao celular. Ela sorri de alguma
coisa enquanto enrola as pontas do cabelo em um dedo. A visão dela assim,
tão à vontade, me deixa com o coração flutuando. Estaciono o carro, e ela
imediatamente senta na rede e sorri para mim. Sem conseguir me segurar,
devolvo o sorriso como um tolo apaixonado. Pego todos os itens que
comprei na cidade e subo os poucos degraus até a varanda. A Carol está se
balançado, e vejo que veste um pequeno biquíni e uma regata apertada.
— Tudo bem, Lucas, eu vou chegar ao Rio a tempo, não precisa se
preocupar. Já falei com o Pedro e ele vai me levar na hora certa. Fica
tranquilo — Ela ouve mais alguma coisa e rir baixinho — Eu vou falar, nos
vemos no domingo — Seu irmão continua falando até se despedir — Eu
também te amo. Tchau — Ela desliga enquanto encara minha bolsa — O que
você trouxe de bom? Eu estou cheia de fome, sou capaz de comer um
elefante.
— Então acho que comprei pouca coisa. Pensei que comida para um
batalhão seria suficiente.
— Não é, mas vai dá para o gasto — A Carol levanta e investiga minhas
bolsas — Parece que tá bom isso aqui — Seus olhos estão claros e tranquilos.
Ela ergue-se e beija meus lábios. Esse simples toque acende um desejo
intenso em mim. Nem parece que, há pouco tempo, estive dentro dela. Acho
que estou viciado no seu corpo e no seu sabor — Você tá muito gostoso para
ficar andando assim sozinho. Da próxima vez, quero ser acordada para te
acompanhar.
— Não precisa se preocupar. Só tenho olhos para você, princesa.
— Sei, vou acreditar. Agora me dê essas bolsas, porque quero comer —
Tenho que rir do seu apetite voraz. Ela come tudo isso, porque sabe que
gastará na hora que quiser todas as calorias comigo. Na verdade, eu não me
importo em ser o seu personal trainer sexual. Terei um imenso prazer em
treiná-la na modalidade sexo selvagem. Esse será meu trabalho preferido.
— Estava falando com seu irmão? — Coloco as bolsas na mesa da
cozinha.
— Sim. Ele está com medo que eu não chegue a tempo, mas garanti
que você será pontual — A Carol começa a tirar tudo da bolsa – Fiz café
enquanto estava fora.
— Que mulher prendada! — Implico um pouco com minha gatinha.
— Sou irmã de um chef, tenho que saber fazer alguma coisa na
cozinha. Meu café é ótimo! Senta aí, vou servir nós dois. Você já buscou o
nosso alimento, então farei o resto.
— Eu posso me acostumar facilmente com isso — Recosto-me na
cadeira e observo-a se movimentar pela cozinha. Quando ela termina de
colocar tudo sobre a mesa, começamos a comer em um silêncio cômodo, até
a Carol começar a balbuciar algumas palavras.
— Rico, eu já te falei que conversei como Lucas sobre nós dois, né? —
Olho para ela e concordo com cabeça — Então... Bem... — Essa sua indecisão
em escolher as palavras me deixa nervoso — Eu não falei com o resto da
minha família, e eles podem ser um pouco.... Como vou dizer?
— Grosseiros ou desconfiados? — Tento, de alguma forma, ajudá-la há
se expressar.
— Protecionistas. Talvez seja a melhor palavra.
— E posso saber por quê? — Seu rosto fica vermelho e rapidamente
seus olhos param de encarar os meus.
— Não quero falar sobre isso — Sei que deveria deixar isso de lado, mas
não consigo o controle necessário. Acabo por pressioná-la.
— Em algum momento, terá que falar. Não se pode construir um
relacionamento baseado em segredos — Ela larga o pão que estava comendo,
em claro sinal de nervosismo.
— Você está pensando nessa nossa relação em longo prazo, não é?
— E você não? — Devolvo a pergunta.
— Já não sei de nada — Sua voz é cansada e sua expressão é de tristeza
— Quero muito que dê certo, mas tudo na minha vida não acontece. É assim
desde criança. E agora tenho o emprego dos sonhos e um homem incrível.
Alguma coisa vai dar errado, e é disso que tenho medo, Rico. Não sei se vou
conseguir superar mais uma desventura do destino se você for embora.
— Ei! Que isso, gatinha? Não fale assim — Rodeio a mesa, levantando-
a da cadeira para sentá-la em meu colo — Eu não vou a lugar nenhum, nem
que você queira. Vai dar tudo certo. Tem uma hora na nossa vida que as
coisas começam a acontecer.
— Queria acreditar nisso — Seus olhos marejados deixam meu coração
em pedaços. O que será que aconteceu com essa mulher para ter tanto medo
assim da felicidade?
— Acredite, Carol. É uma promessa — Encosto sua cabeça em meu
ombro e inalo seu cheiro de rosas. Nada nesse mundo fará com que eu
abandone essa mulher. Se ela soubesse como já é importante na minha vida,
não falaria essas coisas — Carol?
— Oi.
— Não vou ligar se sua família quiser, de repente, me colocar para
correr. Eu vou ficar com você como se fosse uma sarna — Seu corpo treme e
sei que ela está segurando o sorriso, mas Carol não é feliz em sua tentativa e
cai em uma gargalhada profunda. Tento ser indiferente mais acabo rindo
junto. Quando ela se acalma, olha para mim e beija minha boca, ainda
sorrindo.
— Eu não quero uma sarna, pode parar. Prefiro que você dê uma de
machão e reivindique minha posse para os homens da minha família. Acho
isso tão quente — Agora seus olhos estão turvos, e sei que seus
pensamentos estão em outra direção.
— Pode parar, mulher. Vá se arrumar, iremos andar de jet ski daqui
apouco. Quero curtir esse dia maravilhoso.
— Você sabe que pode apenas me curtir? Estou aqui à disposição —
Seus dentes mordem levemente minha orelha, e esse gesto tem reflexo
diretamente na parte mais ao sul do meu corpo.
— Eu irei curti-la na praia, pode acreditar. Agora, vamos pegar um
pouco de sol. Quero que você relaxe e aproveite o dia, afinal, não fui eu que
reclamei na noite passada de exaustão — Ela levanta tão rápido que quase
derruba a minha cadeira.
— Sabia que você não deixaria essa minha fraqueza passar
despercebida. Mas me aguarde, Senhor Pedro Henrique de Albuquerque, eu
irei ter minha revanche — A Carol vira-se e segue para nosso quarto. Ela
nervosa é tão gostosa... Quase me esqueço do nosso passeio e fico em casa
para fodê-la até cansar, mas quero aproveitar o nosso fim de semana de
outras formas. E isso inclui um bom passeio pela praia.
Depois de muita discussão por causa do tamanho do seu short, sou
obrigado a acatar o seu argumento de que estamos na praia, e, em algum
momento ela irá ficar de biquíni. Mas o short é tão pornográfico, que
acredito sinceramente que o biquíni chame menos atenção que ele.
Andamos de jet ski durante a maior parte da manhã, e só paramos
quando Carol reclama de cansaço e fome. Saímos da praia e seguimos para
um restaurante que conheço. Ele é bem simples, mas com uma comida
gostosa e saborosa.
— Se arrependimento matasse, eu estaria morto — Falo isso pela
centésima vez ao ver o olhar de outros homens na direção da minha
namorada. A Carol apenas ri e caminha tranquilamente até a mesa vazia do
restaurante que iremos almoçar.
— Você deveria se sentir lisonjeado por ter uma namorada tão
desejada.
— A senhorita está adorando toda essa atenção, não é mesmo? — Ela
dá de ombros e abre o cardápio. Faço o mesmo até ouvir a melodiosa voz da
Alessandra chamando meu nome.
Alê continua linda e com aquela alegria contagiante. Adoro vir nesse
lugar só para poder conversar e olhar essa menina. Poucas pessoas
transmitem tanta felicidade e amor como a Alê.
— O que você anda fazendo para ter sumido por tanto tempo?
— Algumas coisas — Levanto e estreito ela em um abraço caloroso —
Estava com saudades.
— Eu também — Seus lábios beijam meu rosto com carinho. Sei que
Alessandra nutriu, durante muito tempo, um amor platônico por mim, mas
já superamos isso e hoje somos bons amigos.
— Quero te apresentar uma pessoa muito importante — Seguro sua
mão e viro-me para Carol. O que vejo em seu rosto tira toda a minha
intenção.
Ela está com o cenho franzido e sua boca forma uma linha fina e dura.
Minha gatinha está com ciúmes, e não sei se acho o máximo ou fico
temoroso. Mulher enciumada pode ser bem perigosa. E se tratando de Carol,
não sei o que esperar.
— Carolina, essa é a Alessandra, uma amiga de longa data — Sua voz é
apenas um murmúrio quando diz “muito prazer”. Fico em uma saia justa
com essa sua frieza, e a coitadinha da Alessandra também percebe o clima
tenso.
— Bem ... o que vocês irão pedir? — Ela está incomodada com a
animosidade da Carol e querendo nos deixar sozinho o mais rápido possível.
— Você já escolheu, Carol?
— Por mim, tanto faz. Estou sem fome — Como uma criança mimada,
ela nos ignora e começa a mexer no celular. Minha vontade é de passar um
sermão, tipo os que a minha mãe costuma fazer. Mas seguro a onda e faço o
pedido.
— Pode nos trazer uma moqueca com pirão, arroz e salada, Alê?
— Claro, Rico. Trarei em um minuto.
— Eu não gosto muito de peixe cozido — A Carolina fala, sem tirar os
olhos do celular. Suspiro com impaciência e refaço o pedido.
— Traga-nos então um peixe frito, arroz e salada.
— Ok! Já volto — Alessandra se afasta e tento controlar minha raiva. A
pobrezinha não fez nada para ganhar um gelo desses. Acho que teremos
nossa primeira briga.
— Carol? — Eu a chamo, mas ela não me olha
— Quê? — Esse seu resmungo tira toda minha paciência.
— Estou falando com você, olhe para mim — Sua cabeça levante e
observo seus olhos vazios de sentimentos.
— Melhor? — Porra, ela quer me provocar e está conseguindo.
— Qual o problema?
— Comigo, nenhum — Sem cerimônia, volta a olhar seu celular.
Minha vontade é pegar essa droga e jogar longe. Mas se fizer isso,
estarei provocando uma briga grande, e não quero estragar nosso fim de
semana.
— Vou ao banheiro e já volto — Ela continua ignorando-me e fico ainda
mais puto com sua atitude. Quando estou retornando, a Alessandra me
chame em um canto.
— Rico, vou pedir ao Moisés, para atender vocês. Acho que a sua
namorada não gostou de mim.
— Que isso, Alessandra, a Carol nem conheceu você direito. Pode nos
servir sem problemas.
— Acredite em mim quando digo que ela não foi com a minha cara,
Rico. Mas eu não posso tirar a razão dela. Se estivesse no seu lugar, também
estaria protegendo o que é meu.
— Não há motivos para a Carol ter ciúmes, Alessandra — Quando vejo
o olhar ferido da minha amiga, arrependo-me imediatamente das minhas
palavras. Mesmo sendo amigos e tendo resolvido essa paixão sem cabimento
dela por mim, não é legal dizer na sua cara que ela não me interessa como
mulher. Foi deselegante da minha parte. Me sinto mal pelo meu
comportamento — Eu não quis dizer isso. Desculpa. É que... — Alessandra
interrompe meu discurso com um sorriso triste.
— Você quis dizer isso, sim. Sei disso e já não me importo mais, apenas
não quero atrapalhar sua vida. Se você está com essa menina, significa que
ela representa muito para você — Rapidamente, ela me abraça e beija de
novo meu rosto — Foi bom revê-lo. Boa sorte com sua garota — Sem mais
palavras, a Alessandra vira-se vai atender outra mesa. Quando olho para
minha mesa encontro Carol está me observando atentamente, com uma
expressão indecifrável no rosto.
Caminho até nossa mesa, tentado encontrar alguma forma de aliviar o
clima. Mas sou recebido com tanta frieza, que quase não conheço a mulher a
minha frente.
— Olha, Pedro.. — Sua voz é polida e quase mecânica — Se for demorar
muito, eu preferia que fosse embrulhado para viagem. Estou cansada.
— Já está saindo e vamos comer aqui — Falo firme, não deixando
espaço para discussão. Acho que está na hora de mostrar um pouco de
limites para a Carol. A vida não gira em torno das suas vontades, ela precisa
aprender a ganhar e perder. Faz parte do jogo. Agora, infelizmente, irá
perder para mim.
O Moisés se aproxima com nosso pedido e começa a servir a mesa.
Depois que ele sai, começamos a comer em um silêncio constrangedor.
Tento entender o que aconteceu com ela, porque em nenhum momento a
Alessandra teve uma atitude desrespeitosa a Carol. Muito pelo contrário, foi
super educada. Ao contrário da Carol, que, desde o início, foi extremamente
fria. Nunca tinha visto esse seu lado ciumento, e confesso que não estou
gostando muito disso, mesmo que de alguma forma, sinta-me um pouco
lisonjeado com toda a situação.
Ela acaba de comer antes de mim e pede licença para ir ao banheiro.
Seu prato foi apenas revirado. Sei que, se ela estivesse tranquila, teria
comido tudo o que estava na mesa. Quero ver até onde essa situação irá
continuar. Não vou tentar amansá-la, afinal, eu não fiz nada demais. A Carol
terá que ajeitar a própria situação que criou.
Quando ela retorna, peço a conta e saímos do restaurante em silêncio.
No meio do caminho, pergunto se ela que ir a algum lugar, mas recebo
apenas um “não” como resposta. Então seguimos para casa sem trocar
nenhuma palavra. Essa situação está tirando meu juízo, mas também não
vou ceder. A Carol terá que pedir desculpas para mim, e não irei aceitar as
suas vontade e birras.
Assim que chegamos em casa, ela sai rápido do carro e sobe os degraus
da varanda correndo. Espero alguns segundo e também saio do carro. Essa
situação está saindo do controle e já não aguento mais.
Entro na casa, decidido a ter uma conversa séria com ela. Mas quando
a procuro, percebo que já está no banheiro. Bato na porta e não tenho
resposta.
— Carol, abre a porta — Peço com impaciência.
— Eu vou tomar um banho agora.
— Então me deixe entrar e tomamos juntos — Não deveria pedir isso,
mas não consigo ter sossego sabendo que não estamos bem.
— Não, quero tomar banho sozinha — Fecho os olhos e decido não
insistir. Quem sabe depois desse banho ela descubra o quanto está sendo
infantil? Sigo para cozinha e abro uma cerveja.
Depois de alguns minutos, minha paciência acaba e volto à porta do
banheiro. Ao me aproximar, escuto sua voz baixa:
— Eu sei, mas não estou conseguindo o controle necessário. Eu não
sentia isso desde o tempo do Fábio. Estou assustada — Paro com a mão na
porta, como se isso me ajudasse de alguma forma a ouvir melhor — Tá!
Entendo tudo isso, mas não dá. Quando a vi com as mãos nele e aquele
olhar de paixão antiga, tive vontade de cortar a garganta daquela vaca. Foi
mais forte do que todas as crises que tive com o Fábio. Depois de todo esse
tempo, pensei que tinha ganhado controle no meu ciúme, mas aí vem o
Pedro e acaba com a minha vida. Tudo o que conquistei até agora está
escorrendo pelas minhas mãos, Simone. O que eu posso fazer? — Pela sua
fala, percebo que está chorando e minha vontade e abraçá-la e confortá-la.
O que será que se passou com ela no passado que ainda interfere em
seu presente?
— Eu vou essa semana no seu consultório, mas agora preciso saber
como vou sair dessa situação. Estou morta de vergonha da minha atitude. O
que ele vai pensar de mim? — Nada, criança, eu não vou pensar nada. Só
quero te fazer perceber que comigo estará sempre segura, nenhuma mulher
nesse mundo é mais importante que você. Resolvo interromper sua ligação,
já está na hora dessa bobeira acabar.
— Carol, você já terminou? — Ela fica por alguns segundos em silêncio
até me responder.
— Eu já vou sair.
— Se você não terminou o banho, deixe-me entrar. Juro que me
comporto — Talvez se eu fingir não está chateado, ela possa ceder e deixar
que eu entre.
— Estou saindo, calma — Droga. Essa mulher é dura na queda. Volto
para a cozinha e termino minha cerveja.
Depois de alguns minutos, ela sai e apenas grita, sinalizando que o
banheiro está vazio. Espero alguns minutos e também tomo um banho.
Quando saio do banheiro, estou decidido a esquecer tudo o que aconteceu e
facilitar a vida dela.
Se ela está assim tão confusa por causa do passado, não será
inteligente da minha parte deixá-la ainda mais constrangida. Vou até o
quarto e vejo que ela está deitada de lado, com as pernas levemente
flexionadas e as mãos unidas embaixo do rosto. É uma visão tão inocente,
que meu peito aperta em saber que algum otário machucou minha gatinha.
Nós estamos pagando por uma ou várias atitudes insensatas de um merda
que eu nem sei quem é. Não posso seguir sem saber quem realmente é esse
homem que machucou a Carol. Espero que, nessa festa, alguns dos irmãos
dela possa me falar alguma coisa que ajude na nossa relação.
— Carol? — Chamo seu nome suavemente, fingido não saber que ela
está acordada. Ela não responde e deito-me ao seu lado. Colo meu corpo ao
seu e abraço sua cintura, tentado moldá-la a mim. Seu suspiro calmo indica
que ela está aliviada, e isso me estimula ainda mais a seguir em frente.
Coloco um das minhas mãos em seus seios e beijo seus cabelos. Seu corpo
relaxa sutilmente em meus braços e sei que tudo ficará bem entre nós.
Não quero saber por hora o que levou minha garota a ficar tão arredia e
enciumada. Esse é um assunto para se tratar durante a semana. Agora
preciso ganhar sua confiança e amor. Se eu vê nos seus olhos que sou seu
porto seguro serei o homem mais feliz do mundo.
— Rico... – Sua voz suave e vulnerável quebra meu coração — Eu ...
— Vamos dormir um pouco, o dia foi cansativo. Depois podemos
conversar, ou não, você é quem sabe. Só deixe que eu abrace a minha bela
mulher enquanto tiro um cochilo. Tudo bem?
— Tudo bem. Também estou cansada — Caímos em um sono merecido
e reconfortante. Às vezes, as palavras não são necessárias. O toque muitas
vezes pode falar muito mais que palavras.
✻ ✻ ✻
Quando acordo, o dia está escurecendo. Dormi mais do pensei. Mas
depois da nossa noite exaustiva e do dia conturbado, acho que merecíamos
um pouco de descanso. A Carol está deitada, quase que na mesma posição
que dormimos. Sua respiração é suave e quase que imperceptível. Aproximo
meu nariz do seu cabelo e inspiro seu perfume embriagador. Ela está serena,
mas muito apetitosa. Mesmo sabendo que está passando por um momento
delicado, não posso segurar o meu desejo. Talvez demonstrando o quando a
quero, ela possa entender que não precisa temer nada, nem ninguém.
Corro minhas mãos pelo seu corpo e esfrego minha ereção na sua
bunda. Ela veste apenas uma calcinha tipo short. Delicadamente, tiro-a do
caminho. Ouço um suave resmungo e percebo que seu sono está muito leve.
Tiro minha cueca e encaixo-me entre suas pernas. A umidade que encontro
entre elas deixa-me perceber o quanto ela deseja meu corpo, mesmo
dormindo. Suavemente, começo penetrá-la, até que ouço um gemido forte e
sei que ela já acordou.
Automaticamente, coloco minha mão embaixo de sua blusa e círculo
com o dedo o bico do seu seio. Ela empurra sua bunda para trás, e isso
aprofunda a minha penetração.
— Rico... — Meu nome dito com sua voz excitada faz com que eu cresça
ainda mais e aumente um pouco os meus movimentos. Sigo em um ritmo
confortável, até que necessito demais.
Saio dela e viro-a na cama. Ficamos um de frente e volto a penetrá-la.
As suas pernas envolvem minha cintura, deixando o nosso encaixe ainda
mais perfeito. Procuro sua boca e inicio um beijo longo e quente. Preciso
mostrar que eu necessito dela como o ar que respiro. Ela tem que entender
que nada nem ninguém pode nos separar, somos um conjunto perfeito e
inseparável. E necessito que ela acredite nisso.
— Eu quero você só para mim, não esqueça que você é só minha e eu
sou seu. Está me ouvindo? — Falo essas palavras bem baixo rente ao seu
ouvido.
— Sim — Ela deixa um rastro de beijos enquanto fala essa simples
palavra. Procuro seus olhos na tentativa de que ela perceba a sinceridade do
que digo.
— Você é minha e de mais ninguém. E eu cuido do que é meu — Seus
olhos ficam marejados e meu coração aperta.
— Você é só meu também, não quero ninguém com as mãos em você —
A insegurança em sua voz quebra meu coração.
— Sempre serei seu, Carol. Para sempre — As minhas palavras acabam
assumindo um compromisso que eu estava negando desde o momento em
que a levei para a minha casa.
Quando coloquei meus olhos nela, soube que algo havia se
transformado em mim, mas não imaginei que sentiria por ela tantos
sentimentos como os que estão passando agora no meu peito. Não tem
como negar que ela entrou no meu coração sem pedir licença. Não vivo sem
ela. Eu amo essa mulher.
Quando termino de pronunciar essas palavras, um peso gigantesco sai
dos ombros. É como se eu estivesse saindo de uma prisão. Eu amo a Carol
com todas as minhas forças, e não me interessa quais sejam os seus
problemas. Eu irei lutar para que ela possa superar cada um deles.
— Rico, preciso que você vá mais rápido.
— Não. Hoje será suave e lento do jeito que eu quiser. Apenas
aproveite o passeio boneca. Vou te dar um orgasmo inesquecível — Começo
a investir nela com estocas profundas, mas lentas. Carol reclama do meu
compasso, mas eu não altero meu ritmo.
Depois de alguns minutos, eu começo a acelerar e busco sua boca,
iniciando um beijo quente. Permaneço entrando fundo e rápido, e sinto a
respiração dela acelerar. Sei que minha gatinha está chegando perto do
orgasmo. Por isso, decido interromper rapidamente a penetração e começo a
lamber sua umidade, excitando-a ainda mais.
Ela começa a falar palavras desconexas. Sei que em poucos minutos
encontrará sua liberação. Interrompo a minha degustação e volta a
preenchê-la. Dessa vez, sou mais firme nas investidas e acelero o ritmo.
Com poucas estocas a Carol chega ao orgasmo, gritando meu nome. E
mesmo tentando manter-me frio, não resisto ao ouvir sua voz me chamando
na hora do prazer. Então decido liberar meu próprio orgasmo e me junto a
ela, chamando seu nome.
— Só existe você, Carol, minha vida se resume a você — Não sei se
essas palavras saem da minha boca ou apenas penso nelas. Mas quando a
Carol agarra minha cabeça e começa a me beijar como louca, tenho certeza
que falei essas palavras em alto e bom som. Mas não me importo em ter
aberto o meu coração. Isso é o que realmente sinto, e minha gatinha precisa
saber que o que rola entre a gente é muito mais que sexo. Isso é paixão, é
companheirismo, amizade e principalmente, é amor. Eu amo essa bela
mulher e tenho que convencê-la a entender que ela não só me ama, mas que
também precisa estar comigo para sempre.
— Você foi incrível — Ela fala sem tirar os olhos dos meus.
— Isso foi só o começo, eu tenho muito mais especialmente para você.
Pode esperar — Seu sorriso maroto indica que aquela Carol irritada e
ciumenta se foi, agora tenho de volta minha gatinha sexy e bem humorada.
E pretendo preservar esse seu estado de espírito por muito tempo.
— Eu quero mais, Rico.
— Carol! — Falo, tentado adverti-la do perigo, mas de nada adianta. Ela
já sentou no meu colo enquanto começa a me beijar freneticamente.
E o que posso fazer? Claro que nada. Apenas aproveitarei esse belo
momento e farei suas vontades.
Capítulo 21
Carolina
Pedro Henrique
— Quero saber o que meu irmão falou com você — Pela centésima vez
,ela fala isso.
— Chega, Carol! Eu já disse que ele queria apenas me conhecer melhor,
nada demais. Seu irmão é um cara muito simpático, não vou ficar repetindo
a mesma história.
— Eu não acredito em você, conheço muito bem meus irmãos e sei do
que são capazes.
— Então você sabe como o Lucas é um cara equilibrado e educado —
Rapidamente olho seu rosto emburrado.
— Eu sei disso — Seu suspiro cansado indica que, por hora, esse
assunto foi encerrado — Quero ir para minha casa — Estava bom demais pra
ser verdade. Agora terei que enfrentar sua birra para dormir ao lado dela.
— Nós vamos para o meu apartamento — Minha voz é firme na
tentativa de encerrar o assunto.
— Não vou, não! Quero minha casa agora! — Puta que pariu, essa
mulher sabe ser um pé no saco quando quer.
— Você ao menos pode me dá um motivo convincente? — Agora quero
vê-la sair dessa.
— Não quero acordar cedo amanhã e estou fora de casa desde quinta.
Quero dormir na casa, e não se fala mais nisso! – Ela não vai mudar de
ideia, e tenho que pensar rápido, porque não vou dormir sem ela hoje. Já
tive noites de merda demais na semana passada.
— Tudo bem, vamos para a sua casa — Já que ela quer tanto dormir em
casa, eu também vou.
— Como assim vamos? Não entendi isso.
— Entendeu, sim. Se você vai dormir lá, eu também vou — Seus olhos
me fuzilam. Porém, não cedo nem um milímetro.
— E se eu não deixar? — Adoro ver quando fica toda nervosinha.
— Levo você à força para a minha casa — Sorrio ao ver os olhos dela se
arregalarem com o meu desafio.
— Você não seria capaz.
— Quer apostar? — Pergunto tranquilamente sem alterar a voz.
— Odeio você — A Carol vira o rosto e se concentra nas paisagens que
passam pela janela.
Evito rir do seu comportamento infantil e sigo na direção do seu
apartamento. Já que agora somos um casal assumidamente público, acho
justo poder dormir em sua casa. Se ela pode violar o meu santuário tantas
vezes, também posso fazer o mesmo na casa dela.
Entramos no prédio, e ela me encara ainda chateada. Tento fazer
minha melhor cara de carente, mas infelizmente não funciona. Quando ela
abre a porta do apartamento, seguro seu braço e trago-a junto do meu corpo.
— Vai ficar sem falar comigo até quando? — Beijo abaixo da sua orelha
e sinto seu corpo amolecer.
— Não estou sem falar com você – Suas pequenas mãos empurram
meu peito — Apenas indignada pela sua audácia em ameaçar me levar à
força para sua casa.
— A culpa é sua. Você acionou o meu modo “ homem das cavernas” —
Deixo um rastro de beijos pelo seu maxilar, enquanto ela sorri e tenta
afastar meu corpo.
— Para, seu bobo! Só de castigo, eu vou te deixar sem sexo essa noite.
Vai dormir na minha cama só como amigo.
— Vai sonhando, Carol — Agarro sua cabeça e beijo sua boca, imitando
os movimentos que irei fazer com ela assim que deitarmos.
✻ ✻ ✻
Acordo e vejo minha gatinha enroscada em mim. É uma visão perfeita,
e tudo o que queria agora era poder ficar aqui com ela sem hora de sair da
cama. Mas tenho que ir até em casa trocar de roupa e seguir direto para a
empresa. Hoje tenho uma reunião cedo com meu pai e mais tarde tanto eu
quanto Carolina precisamos apresentar o restante do projeto dos
condomínios aos empresários paulistas.
Tento desvencilhar-me de seu abraço mais quando começo a me
afastar ela resmunga e gruda ainda mais em mim. Porra, assim fica difícil ter
forças de largar essa mulher na cama. Faço uma nova tentativa e dessa vez
ela acorda.
— Aonde você vai? — Meu Deus! Ela tá linda com essa voz de sono e os
cabelos revoltos. A noite de ontem volta a minha mente e a vontade de fazer
tudo novamente é tentador.
— Tenho que ir me arrumar, querida. Preciso chegar cedo ao trabalho.
— Fica só mais um pouquinho! — Como se fosse possível, ela gruda
ainda mais seu corpo ao meu.
— Não posso, Carol. Tenho que ir mesmo, porque se eu chegar
atrasado, meu pai me mata, e mais tarde nós dois teremos que encontrar os
paulistas. Nosso dia vai ser corrido — Beijo suavemente seus lábios e a
abraço forte — Tudo que eu mais queria era ficar aqui com você, mas o dever
me chama.
— Tudo bem. Eu também vou levantar.
— Fique mais um pouco, você ainda tem tempo — Beijo sua testa e saio
da cama antes que eu me esqueça das minhas responsabilidades e passe o
dia todo nesse apartamento.
Termino de me arrumar e despeço-me da Carol. Ela continua deitada e
mais apetitosa do que nunca. Meu coração quebra em mil pedaços em deixá-
la sozinha sem atenção. Depois de conhecer sua família, acho que essa
reunião com meu pai terá um tópico extra. Não posso e não quero esconder
a Carol de ninguém. Mesmo que o velho Rômulo entre em parafusos, terá
que aceitar que estamos juntos e dar a sua benção sem restrição. Isso vai ser
complicado, mas nada nessa vida é fácil. E se fosse não teria graça.
✻ ✻ ✻
— Acho que estamos prontos, filho. Dessa vez não tem como eles
reclamarem. O projeto das meninas ficou simplesmente perfeito. A sua mãe
acertou em cheio ao contratar a Carolina, ela é um tesouro — É agora ou
nunca. Preciso enfrentar a fera logo antes que alguém chegue.
— Pai preciso falar com você sobre um assunto importante — Ele para
de mexer em seus papéis e olha pra mim.
— Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade, sim — Procuro as palavras certas para amenizar sua
fúria — Eu estou namorando uma menina muito especial — Meu pai sorri
alegremente.
— Filho, que boa notícia, eu estou muito feliz por você. Quem é a
felizarda? Posso saber? — É agora que ele vai acabar com minha raça, mas
não posso fugir. Vou contar de uma vez só e acabar com meu martírio.
— É a Carolina, pai — Seu semblante congela, e nenhuma palavra sai
da sua boca. Minha mãe resolve entrar na sala nesse instante e piorar ainda
mais a minha situação. Sinto-me como um animal acuado.
— Bom dia, meus amores — No mesmo momento em que ela fala isso,
a vejo parar e olhar a cara de espanto do meu pai — O que está acontecendo
aqui? Por que você está vermelho, amor? — Puta merda, agora eu serei
trucidado pelos dois — Alguém pode me contar o que se passa nessa sala?
Estou ficando nervosa.
— Mãe... — Sou interrompido quando meu pai se levanta, rodeia a
mesa, para na minha frente e segura meus ombros.
— Diga que é uma brincadeira, Pedro Henrique! — Percebo que ele está
mais chateado do que imaginei, e não quero pensar no que acontecerá
quando a mamãe também descobrir o motivo da sua ira.
— Pai, eu gosto dela como nunca gostei de ninguém. Por favor, acalma-
se.
— Calma? — Ele grita e olha minha mãe — Seu filho está fodendo com
a nossa melhor arquiteta e ainda me pede calma, Sara. O que fizemos de
errado com esse garoto? — Vejo o rosto atônico e perdido da minha mãe
ficar lívido — Não vou aceitar isso, rapaz, pode esquecer essa menina. Se for
preciso, eu irei transferi-la para São Paulo ou qualquer outro lugar, mas não
quero você com suas mãos nela.
— Eu não vou largar minha namorada! — Grito com ele, perdendo toda
a paciência.
— Namorada? — Seu sorriso de deboche mexe comigo — Agora o
senhor é um homem sério que namora? Essa foi a melhor piada do ano,
Pedro Henrique, eu estou morrendo de rir.
— Não vá por aí, papai. Há poucos segundos, o senhor estava feliz por
saber que eu estava namorando, e agora está desdenhando da minha
situação só por não aprova a minha namorada. Eu sei o que quero da minha
vida, e nesse momento, quero a Carolina nela sem prazo de saída. Se o
senhor quiser aceitar, ficarei feliz, mas se quiser negar nossa relação, não
vou poder fazer nada. Só não abandonarei minha mulher por sua causa —
Minhas palavras o deixam surpreendido, e finalmente minha mãe sai do
silêncio.
— Todos se acalmem — A serenidade na voz dela nos deixa mais
calmos — Vamos conversar como uma família sensata. Todos sentados em
seus lugares, por favor — Ela se aproxima elegantemente e senta-se na
cadeira ao meu lado — O que está acontecendo de fato entre vocês dois, meu
filho?
— Estamos apaixonados, mãe, e não irei ficar longe dela. Nem precisa
pedir isso, porque não irei obedecer.
— Eu não pedi nada ainda, querido. Não se precipite — Muito
carinhosamente, ela segura minha mão e leva aos seus lábios, beijando
suavemente como se eu ainda fosse uma criança — Você acha mesmo que
isso vai terminar bem? Sua fama com as mulheres não é das melhores, meu
filho, e a Carol é uma menina tão doce e tranquila. Não acho justo que você
machuque o coração dela e cause problemas dentro da empresa.
— Mãe, o que temos é sério, nunca senti por nenhuma mulher o que
sinto por ela — Exponho meus sentimentos na tentativa de ganhar a
confiança dos dois, mas recebo um sorriso debochado da parte do meu pai.
— Nossa, quanto sentimentalismo barato... Me diga uma coisa, Pedro
Henrique?
— O que, pai?
— Você já dormiu com essa menina? — Escuto o som de desaprovação
da minha mãe.
— O que é isso Rômulo? Isso não é pergunta que se faça? — Ignoro a
indignação da minha mãe e respondo sem tirar os olhos dele.
— Já sim pai. Por quê?
— Então não é apenas um discurso para conquistar a mocinha e levá-la
para a cama? — Não estou entendendo aonde ele quer chegar, mas tento ser
o mais honesto possível.
— Não faria isso com minha Carol! — Sua cabeça balança com a minha
afirmativa.
— Sua Carol? — Estou perdendo a paciência e não sei se conseguirei
controlar minha irritação com sua atitude debochada — Que lindo! Meu
filho destruir de corações agora tem alguém para chamar de seu. Estou
tocado com o seu sentimentalismo, filho, não pensei viver tempo suficiente
para presenciar essa cena — Respiro fundo e preparo minha resposta, mas
minha mãe me interrompe.
— Já chega, Rômulo! Você está desrespeitado nosso filho e duvidando
de sua palavra. Até parece que não o conhece desde criança.
— Por isso mesmo, Sara, eu o conheço muito bem e sei que isso vai
acabar mal. Semana passada, a Paola estava chorando por ter sido
humilhada por ele. Você tinha que ver como a pobrezinha estava. Eu fiquei
sem palavras, tentando pedir desculpas pela forma indelicada que o seu filho
dispensou a moça. Se não fosse o Alexandre me ajudar, ainda estava lá
tentando resolver a situação.
— Meu Deus! — Ela olha para mim sem acreditar no que ouviu. Vou
matar essa desgraçada da Paola por expor nossa intimidade com os outros.
— Agora você entende porque estou desesperado com essa bomba? Ele
vai fazer a mesma coisa com essa menina, e ela certamente vai querer ir
embora. Seu filho, quando acaba de usar suas mulheres, não tem nenhuma
sutiliza na hora de cair fora.
— Você não tem o direito de falar assim de mim! — Levanto e encaro
seus olhos furiosos. Se não fosse meu pai, já tinha resolvido as coisas do
meu jeito.
— E eu tenho que falar como rapaz? — Ele também levanta.
— Rômulo! — O tom de advertência da minha mãe controla sua raiva
momentaneamente — Não fale assim, ele é seu filho, e nós demos uma boa
educação a ele desde pequeno. O Pedro Henrique não fará nada que
machuque a Carolina.
— Mas machucou a Paola, e ela não merecia isso. Ela sempre foi
apaixonada por ele, e, se esse cabeça de vento não fosse tão galinha, já teria
se casado com ela. Não posso permitir que ele saia comendo
indiscriminadamente cada mulher dessa empresa, Sara.
— Se você falar mais alguma coisa deselegante, nós teremos problemas
sérios, Rômulo. Não fale nunca mais assim de qualquer filho meu. Só eu sei
o que passei para ter todos criados, lindos e saudáveis. Não permitirei que
você ou outra pessoa faça desfeitas das minhas crias. Eles são partes minha,
e exijo respeito — Fecho os olhos e respiro fundo, tentando ganhar controle
e não decepcionar minha mãe.
— Você não deveria incentivar os devaneios do seu querido filho, Sara.
Ele vai destruir essa menina e a perderemos — Papai senta na sua cadeira e
me olha friamente — Não aprovarei esse seu namoro, se é isso que você
estava pesando quando veio me contar sobre essa loucura. Não digo isso
pela Carolina, porque ela certamente é a nora que qualquer pai pediu a
Deus, mas falo isso por você. Não quero no final dessa história saber que
compactuei com toda essa insensatez — Eu pensei que essa conversa seria
difícil, mas nunca imaginei que ele teria uma reação tão extrema assim.
— Não fale isso. Eles merecem nosso apoio, Rômulo.
— Deixa, mamãe, eu sou um homem crescido e não preciso da
aprovação de ninguém para ser feliz — Vejo lágrimas escorrerem do seu
rosto, e isso machuca meu coração. Ela é sempre tão forte, e agora está frágil
com toda essa situação — Pode esperar, senhor Rômulo, que em breve farei
questão de enviar o convite do meu casamento para você, ainda que não
queira comparecer. Eu amo a Carol e nada vai nos separar. Seremos felizes
com ou sem a sua aprovação — Dou-lhe as costas e caminho para a porta.
— Não dê as costas para mim garoto! — Seu grito furioso não é capaz
de me parar, e saio da sala sem saber bem o que fazer.
Quando estou chegando perto do meu escritório, escuto a Juliana me
chamando e penso em seguir em frente e não falar com ela, mas acho que
será bom conversar com alguém nesse momento. Já que todos estão
sabendo do meu namoro, acho justo contar logo à Ju a minha situação e
escutar seu sermão de uma vez por todas.
— Rico, o que estava acontecendo na sala do papai? Daqui dava para
ouvir a discussão.
— Vamos até sua sala que conto logo tudo — Caminhamos em silêncio
até chegarmos nela.
— Desembucha e fala logo o que tá rolando — A Juliana sempre foi
prática em tudo na sua vida. A única coisa que ela não consegue desenrolar é
seu relacionamento complicado com o André.
— Estou namorando sério e nosso pai não gostou de saber quem é
minha namorada — A Ju senta no sofá de canto da sua sala, e cruza suas
pernas elegantemente.
— E por que será que ele não aprovou essa namorada? — Sua
sobrancelha erguida indica curiosidade. Bagunço meus cabelos e esfrego o
rosto em desespero. Essa manhã não está sendo como imaginei.
— Ju.... Não sei como eu conto isso sem que você me mate — Ela sorri
e ergue a mão pedindo que pare de falar.
— Que tal se eu falar por você? — Pisco os olhos sem entender o que
quer dizer. Será que aquele linguarudo do meu irmão contou alguma coisa?
E por que ela parece tão serena? Não é possível que ela esteja tão calma
sabendo que estou namorando a Carol — Não me olhe assim, Rico. Sou uma
mulher observadora, e isso faz muita diferença na hora do meu trabalho,
você certamente sabe disso — Balanço a cabeça sem conseguir falar nada —
Estou percebendo uma clara mudança na Carolina desde a sexta-feira que
comemoramos sua contratação na empresa. A Carol fica muito agitada e
constrangida quando falamos de você. Não foi difícil unir os pontos e
adivinhar que está rolando alguma coisa entre vocês. Só não esperava que
fosse tão sério.
— E você não quer me matar? — O que será que mordeu minha
explosiva irmã?
— Quem sou eu para entrar no caminho do amor? — Juliana suspira e
olha para um canto da sala, caindo em pensamentos. Depois de um longo
silêncio, volta a me encarar — Espero que realmente seja algo sério. Não
quero ver a Carol sair machucada, porque você conheceu outro rabo de saia
e decidiu correr atrás.
— Eu amo essa mulher, Ju. Sei que estamos juntos há muito pouco
tempo, mas foi amor a primeira vista. Ela ganhou o meu coração e a quero
ao meu lado.
— Não diga isso a ela se não for extremamente verdadeiro, meu irmão.
Ouvir palavras tão profundas e importantes sem serem verdadeiras machuca
mais do que à hora da partida — Tem alguma coisa no ar, e eu não estou
sabendo o que é. Será que tem alguma coisa acontecendo com o coração da
minha doce irmã?
— Direi essas palavras na hora certa, Ju. A Carol tem alguns problemas
sentimentais do seu passado que interferem na nossa vida. Tenho que ter
muito tato com ela. Caso contrário, posso afastá-la definitivamente da
minha vida, e isso é algo inadmissível.
— Já percebi isso nas nossas conversas, ela é muito reservada e
amargurada. Algo grave aconteceu e você terá que ter paciência.
— Sei disso e estou trabalhando em ganhar sua confiança — A Juliana
balança a cabeça concordando comigo e sorri.
— É bom ver você tão maduro e feliz. Acho que ela irá ti fará bem, Rico
— Ju se aproxima e me envolve com os braços. Ficamos abraçados em
silêncio até que ouvimos a risada do meu irmão.
— Posso saber o que aconteceu pra ter tanto sentimentalismo nessa
sala? — Ele está com as mãos no bolso e se divertindo com nosso momento
de carinho. Essa peste gosta de implicar com os outros.
— Nosso irmão detonador está apaixonado. Você acredita? — Sorrio ao
ver a maneira tranquila que minha irmã recebeu essa notícia. Não espera
essa reação dela. Na verdade, pensei que teria sérios problemas com ela e
não com meu pai.
— Acredito, sim, eu já to por dentro da parada.
— Como assim? Você soube antes de mim? — Ela olha
acusadoramente na minha direção. Acho que agora estou em maus lençóis
— Por que ele soube antes, Pedro Henrique?
— Você tá fodido, irmão. Essa explicação, eu quero ouvir de camarote.
— Calma, Ju, eu posso explicar! — Ela cruza os braços, e o Xandy
começa a gargalhar s em parar.
✻ ✻ ✻
Estamos há uma hora nessa maldita reunião, e meus nervos estão em
frangalhos. Meu pai sequer olhou pra mim, e esse filho da puta do Murilo
não parou de paquerar minha mulher. Se esse contrato não fosse tão
importante para a empresa, já teria partido a cara dele em mil pedaços.
A Carolina está visivelmente incomodada com as investidas dele, e a
Juliana tenta contornar a situação com medo do que eu posso fazer. O papai
também percebeu que a minha namorada está incomodada, e já
interrompeu os ataques grosseiros desse cara muitas vezes. Ao menos ele
não está do lado desse mané.
— Muito bem, se vocês aprovaram as propostas das minhas meninas,
já podemos ir. Todos temos um dia cheio hoje — Meu pai levanta-se e
estende a mão para o Robson,o sócio majoritário do grupo paulistano.
— Vocês estão de parabéns, Rômulo, resolveram todos os problemas
em tempo recorde. Cuide bem das suas arquitetas, porque elas valem ouro.
— Sei perfeitamente disso. Por isso, ambas são tratadas como rainhas
na nossa empresa — A satisfação com que ele fala das duas me enche de
orgulho, realmente elas são demais!
— Você não poderia ter arrumado arquitetas melhores do que essas. As
meninas são extremamente talentosas — Murilo fala e não tira os olhos da
minha garota. Conto até cem mil para não quebrar seu nariz.
— Obrigado, Murilo. Agora temos que ir — Meu pai faz sinal para os
papéis na mesa — Meninas, juntem suas coisas que iremos almoçar — Antes
que elas comecem a juntar os papéis, o Murilo segura o braço da Carol.
— Você aceita almoçar comigo, Carolina? — Perdendo o controle
completamente, e faço um gesto de rodear a mesa, mas sou segurado pelo
meu pai.
— Ela irá almoçar comigo, senhor, Murilo, até porque nenhuma
funcionária minha almoça com clientes sem que seja extremamente
fundamental para o andamento de algum projeto. No nosso caso, tudo já foi
resolvido nessa reunião — Tenho que parabenizar meu pai pelas suas
palavras. Ele poupou esse idiota de ser massacrado por mim hoje.
— Então a convido para um jantar — Esse babaca quer morrer só pode
ser. Rosno como um cachorro pronto para dar o bote.
— Se o seu convite se estender ao seu namorado, talvez a senhorita
Carolina aceite — Vejo os lábios da Carol se separarem em surpresa — Até
onde o conheço, ele não acharia interessante saber que sua bela namorada
está sendo convidada a ir jantar com outro homem — O semblante do
bastardo se contrai com as palavras do meu incrível pai.
— Ele está certo, também não fiaria feliz em saber que minha
namorada está jantando por aí com outro homem — O desgraçado tem a
audácia de pegar a mão da minha namorada e encostar seus lábios podres
nela. Não me controlo nessa hora e contorno a mesa, pegando todos os
papéis dela da mesa.
— Vamos embora, Carolina, Juliana, vamos embora também — Seguro
seu braço com uma mão, e com a outra, carrego todos os seus papéis.
Começo a caminhar apressadamente até o elevador.
— Calma, Rico — A Juliana fala ofegante correndo atrás de nós.
— Calma é o caralho! – Agora perdi toda a compostura e grito a pleno
pulmões pelo corredor — Esse filho da puta colocou suas mãos imundas na
minha mulher, e você quer que esteja calmo, Juliana?
— As pessoas estão olhando – A Juliana sorrir acena, tentando
disfarçar minha atitude de fúria. Quando paramos em frente ao elevador,
estou descontrolado e com vontade de socar algo. Como não posso fazer isso
com aquele babaca, soco repetidamente o botão do elevador até ouvir a voz
suave da Carolina.
— O que você está fazendo? Para com isso agora! — Sua voz baixa me
tira do meu desespero, e olho em seus olhos irritados.
— Estou apenas extravasando a minha raiva. Infelizmente, não posso
fazer isso com aquele ridículo! — A repreensão em seus olhos confunde
minha cabeça — Por que está me olhando assim? — Ela molha os lábios e
olha para minha irmã.
— Pedro, isso não é apropriado, o que a Juliana ou seu pai irão pensar
com essa sua atitude? — Ai, porra! Ela quer manter as aparências nessa
hora? Suspiro fundo e, quando vou responder ,sou interrompido por um
Rômulo ainda mais irritado do que eu.
— Eu não pensarei nada, Carolina, muito menos a Juliana. Apenas
tenho que parabenizar meu filho por ter tido sangue frio esse tempo todo,
mantendo as mãos longe do rosto daquele desclassificado. Se ele tivesse
falado a metade das cantadas que disse a você para minha Sara, eu teria
perdido todo o nosso projeto em questão de segundos — O elevador chega e
todos nós entramos — Seu namorado foi um homem muito controlado, e
assumo que, se ele tivesse perdido o rumo, eu não iria impedi-lo. Muito
obrigado por não deixar tudo ir por água abaixo, filho — Não acredito que
depois de toda a briga que tivemos hoje de manhã, ele esteja dizendo isso
para mim.
— Não agradeça a mim, pai, mas a Carol. Se eu fizesse uma cena
naquela sala, ela ia me deixar sem dó nem piedade – Ele sorri com diversão,
e vejo as bochechas da Carol ficarem vermelhas.
— Agora você entende porque me tornei uma vaquinha de presépio da
sua mãe? — Nós dois rimos da sua piada.
— Homens... — Juliana fala irritada e dá as costas para nós dois.
— Ai, que vergonha! — Carol fala baixinho e coloca as mãos no rosto.
— Relaxa, querida! — Beijo seus cabelos e estreito ela em meus braços
–—Todo mundo já sabe sobre nós, então não se sinta envergonhada — Ela
olha incrédula para mim e esconde o rosto no meu peito, arrancando um
sorriso de todos. Quando chegamos ao térreo, saímos do elevador, e meu pai
surpreende mais uma vez.
— Depois de todo esse estresse, merecemos um descaso. Se vocês
aceitarem, vamos almoçar e tirar o resto do dia de folga. Amanhã, irei ter
uma conversa séria com o Robson, e reportarei a ele toda a minha
insatisfação com o inconveniente comportamento do Murilo. Se você não se
sentir mais confortável com presença dele, Carolina, está dispensada das
próximas reuniões. Não o quero arrastando as asinhas para você.
— Senhor Rômulo, não sei nem o que falar depois de tudo isso — Meu
pai sorri e a passa o braço por seus ombros.
— Não diga nada então. Apenas me prometa uma coisa.
— O quê?
— Se esse rapaz aqui... — Ele sinaliza na minha direção — Magoar você
de alguma forma, pode chutar sua bunda sem dó nem piedade, que não terá
problema nenhum. Só não deixe nossa empresa em hipótese nenhuma – A
Carol sorri abertamente com a sua sugestão — O Reinaldo, pai da Rufina,
está precisando de auxílio na nossa filial do Ceará, e acho que ficaria muito
satisfeito em receber esse menino por lá caso ele apronte. Não pensarei duas
vezes em escolher você do que ele – Ele beija seus cabelos calorosamente —
Até porque prefiro belas mulheres a minha volta, do que machos alfa
ciumentos — As duas riem com vontade, enquanto eu bufo de tanta raiva.
Pego a Carol pelo braço e a trago para o meu lado.
— Já chega de tanto homens correndo atrás da minha namorada.
Vamos almoçar sozinhos. Até mais! — Puxo-a pelo braço e vou embora cheio
se raiva. Essa maldita irá me pagar hoje por toda a raiva que passei. Se ela
não fosse tão linda, eu não teria tanto problema — Prepare-se que essa sua
bunda redonda vai ficar vermelha quando eu colocá-la nos meus joelhos,
dona Carolina — Ameaço em voz baixa.
— Você não se atreveria — Ela me desafia, sabendo muito bem que isso
irá me estimular como nunca.
— Tenho a tarde toda para te mostrar o quanto me atrevo — Coloco-a
dentro no carro, sentindo a minha ereção pressionar a calça. Essa tarde será
totalmente na cama e do jeito que eu quiser, quantas vezes ela aguentar.
Capítulo 23
Carolina
✻ ✻ ✻
Depois de um tempo que não sei precisar, sou acordada e levada até o
banheiro por um Pedro debochado e divertido.
— Lembre-me de pegar leve com você da próxima vez. Pensei que tinha
partido para outro planeta, você não acordava de jeito nenhum — Sua
gargalhada enche o boxe, e fico irritada por vê-lo tão disposto depois de todo
o sexo que tivemos. Resolvo me vingar de uma maneira que dará prazer não
só a ele, mas a mim também.
Pego o sabão, faço espuma e começo a lavar o seu corpo. Ele está tão
distraído, comentando minha fraqueza, que nem percebe a minha intenção
de reduzi-lo a pó. Lavo seu peito e seus braços, concordando e sorrindo das
suas palavras sem sentido, e sigo rumo ao sul. É lá que irei deixá-lo de
pernas bambas.
Rico continua se vangloriando e dizendo que não continuou porque
teve pena do meu estado. Ele sabe ser um convencido, desgraçado e
irritante. Quando chego a seu adormecido, mas ainda assim glorioso pau,
passo a mão lentamente e começo ensaboá-lo com movimentos suaves e
calmos.
O banheiro, de repente, fica em silêncio, e todas as suas brincadeiras
acabam. Olho em seus olhos, e ele está observando com atenção os
movimentos da minha mão.
— Será que você já está preparado para mais uma festinha? — Ele
suspira e abre a boca em busca de ar, quando aumento sutilmente meus
movimentos.
— Adoro festa a hora que for. E você será que vai aguentar participar de
uma Rave comigo? — O desgraçado não se intimida com nada, mas deixa
comigo.
— Depende da batida dessa Rave. Se for frenética como eu gosto, não
paro jamais — Empurro seu corpo na parede do banheiro e enxáguo sua
ereção até tirar toda a espuma. Me abaixo, e a visão dele, já enrijecendo por
causa do contato das minhas mãos, deixa meu corpo em alerta. Passo o
polegar pela cabeça molhada da sua rigidez e olho para cima — Vamos
começar com o meu ritmo, gostoso? — Quando ele abre a boca na tentativa
de responder, fecho minha boca na sua extensão, levando-o o mais fundo
possível, e qualquer palavra que seria dita se perde quando ele inclina a
cabeça para trás e geme alto.
Faço a minha parte bem feita e, em poucos minutos, Rico está sem
controle, falando palavras sujas e elogiando minha boca. Adoro ouvi-lo
dizendo coisas sem sentido e perdido como criança. O poder que sinto vendo
seu desespero é tão prazeroso, que não consigo colocar em palavras. Adoro
provocá-lo e mostrar que, nessa nossa relação, nenhum dos dois tem o
poder total. Em cada momento, qualquer um de nós pode estar dando as
cartas. E, agora, quem está na frente do jogo sou eu. Interrompo meu
serviço de primeira e espero seus olhos abrirem para provocá-lo ainda mais.
— Sei que fui comportada na sala e não desobedeci as suas ordens, mas
finja que gritei como louca — Ele arqueja e compreende onde quero chegar.
— Você é uma vadia, sabia? — Seu sorriso escancarado indica que está
aprovando minha ideia.
— Uma vadia, não... — Um biquinho forma-se nos meus lábios — Sou a
sua vadia, e quero que você goze na minha boca agora — Suas mãos seguram
com tanta força meus cabelos me fazendo gemer. Ele suspende meu corpo e
beija minha boca com intensidade.
— Ainda bem que você sabe que é a minha vadia. Agora fique de
joelhos novamente e termine seu serviço, querida — Adoro essa nossa
brincadeira suja e faço exatamente como ele pediu. Volto aos meus joelhos e
começo a chupá-lo como se minha vida dependesse do que ele daqui a
instantes vai me dar.
Pouco tempo depois, ele estremece e começa a gozar com força na
minha boca. Confesso que esse nunca foi um momento que apreciei na hora
do sexo. Na verdade, só deixei o infeliz do Fábio gozar na minha boca, e não
senti prazer nenhum nisso, mas agora vendo o Rico sem controle nenhum
do seu corpo, liberando todo o seu prazer nos meus lábios, estou sentindo
um tesão louco, doida para repetir isso quantas vezes for preciso. Esse
homem é viciante, e estou completamente ferrada.
— Meu Deus, isso é loucura — Ele encosta a cabeça na parede e passa
as mãos no rosto — Essa boca é mágica, Carol — A satisfação invade meu
ego, ele se perdeu apenas com um boquete bem feito, não é tão superior
como gosta de falar. Eu também tenho meus talentos e usarei sempre que
for preciso — Venha aqui que vou retribuir — Afasto suas mãos e saio rápido
do boxe.
— Estou com sede e vou beber água — Pego uma toalha e começo a me
secar — E, além do mais, hoje não vou facilitar sua vida. Nada de boca.
Quero você, literalmente, dando duro — Saio do banheiro, deixando um
Pedro boquiaberto e finalmente sem nenhuma piadinha da minha fraqueza
pós-sexo.
✻ ✻ ✻
Vou até a cozinha e decido fazer uma janta leve para nós dois. Sei que
não sou fera no fogão como meu irmão, mas também não faço vergonha. O
Rico decide dar um pulo até o seu apartamento para buscar algumas roupas,
tanto para ficar mais à vontade aqui em casa, como também para trabalhar
amanhã. Sei que deveria ter impedido quando ele falou que iria trazer
roupas e dormir aqui. Isso significa outro patamar na nossa relação, mas
não tive forças para acabar com todo seu entusiasmo.
Hoje, ele se comportou tão bem durante a reunião, mesmo quando
aquele asqueroso do Murilo insistia em colocar suas patas sujas sobre mim,
e falar palavras desagradáveis. O Rico se comportou incrivelmente bem e
salvou todo o nosso projeto, então meu menino merece um crédito, e não
tirarei sua alegria.
Depois que ele voltar, terei uma conversa séria sobre como sua família
reagiu ao descobrir nosso namoro. Pelo cara que ele fez no carro, algum
problema aconteceu, e acredito ser com sua mãe, já que a Juliana e o seu pai
pareceram estar bem à vontade com nossa história.
Ouço um barulho na porta e vejo a Sula entrar sorrindo, acompanhada
de um Rico também sorridente. Sem que eu consiga controlar, o ciúme
invade meu corpo com uma força surpreendente. Sei que tenho o Pedro nas
mãos, mas ver minha bela amiga dividindo alguma piada com meu homem
me causa um incômodo incontrolável.
— Carol, eu encontrei esse rapaz perdido na sua porta — Ela está
descontraída como sempre — Então resolvi acolhê-lo.
— Na verdade, eu não estava tão perdido assim, apenas não sabia qual
era a chave da porta — Ele balança meu chaveiro nas mãos — Acho que a
Carol carrega todas as chaves da cidade.
— Isso é o bônus de possuir três irmãos e pais separados. Tenho que
ter acesso à vida de todos eles.
— Você bem que podia fazer uma cópia da chave do Ricardo. Adoraria
fazer uma visitinha surpresa para ele — Sula sorri e se joga no sofá — Aquele
homem é meu sonho de consumo.
— Ele e o time do Fluminense inteiro, né, Sula?
— Inteiro, não. Só alguns, mas dispenso todos se seu irmão se oferecer
para me revistar.
— Se vocês ainda não perceberam, eu estou aqui — Olhamos para ele e
nos deparamos com um Rico irritado.
— Foi mal, delícia — Odeio essa falta de pudor da minha amiga — Você
é bem gostoso, mas não supera o irmão dessa menina aqui. Aquele homem
tira meu sono — Jogo o pano de prato em seu rosto, e ela agarra, sorrindo.
— Acho que não preciso apresentar os dois.
— Não. Seu boy magia já fez o serviço lá fora. Na verdade, só estou aqui
para atrapalhar o casal e filar o jantar. Tá cheirando muito bem, lá do
corredor dá para sentir.
— Essa sua cara de pau é incrível.
— Obrigada — Sula levanta-se, olha as mãos ocupadas do Rico e
comenta — Você deve ser muito bom, amigo. Já está de mudança. Por acaso
não tem um irmão ou primo para me apresentar? Porque sei que não posso
contar com algum amigo seu, a Glei já tomou à dianteira. Ela só tem a
carinha de boba, mas é ligeira como ninguém — O Rico sorri do seu
comentário.
— Tenho irmão e outros amigos, se isso te interessa.
— Pode apostar que me interessa, sim — Ela vira-se e olha na direção
da cozinha — O que você aprontou nessa cozinha, Carol? Estou cheia de
fome.
— Não vou te convidar para jantar — Era só o que me faltava aguentá-
la fazendo inúmeras perguntas na hora da refeição.
— Não precisa, seu namorado já me convidou — Ela passa por mim e
caminha até a cozinha, deixando-me sem ação.
Olho para o Rico, e ele dá de ombros e segue para o meu quarto,
carregando suas roupas. Mas que droga! Eu queria interrogá-lo sobre como
sua família reagiu à notícia do nosso relacionamento, mas não vai poder ser
agora.
— Você é uma intrometida, sabia? — Vejo Sula abrindo as panelas e
cheirando tudo.
— Carol, você conseguiu aprender alguma coisa com seu irmão. Isso
aqui tá bom demais.
— Feche isso antes que esfrie, Sula.
— Calma, já fechei — Ela se vira e encosta o quadril na pia — Esse seu
namorado é uma coisa louca, hein! Por isso a senhora está toda abalada?
— Quem está abalada aqui? — Antes que eu possa responder, o Rico já
está na porta da cozinha, sorrindo feliz e querendo saber do nosso assunto.
— Eu... — O sorriso falso da minha amiga é apenas detectado por mim.
Eu já vi a Sula enganar milhões de pessoas rindo assim — Estou arrasada em
saber que você esteve solto pelo Rio de Janeiro e eu não tive a oportunidade
de te achar — Sua cabeça balança em sinal de desagrado — Sempre chego no
fim. Mas sem problemas, deixemos a conversa de lado e vamos comer —
Rico sorri com gosto e pisca um olho para mim.
— Acho que ela e a Rufina se dariam bem — Tenho que sorrir da ideia
das duas malucas juntas. Ninguém aguentaria.
— Acho que a Sula está mais para ser amiga da Jussara, as duas se
adoram — Ao ouvir o nome da minha adorada madrasta, a Sula se manifesta.
— Aí você pegou pesado, amiga! Jussara é fura-olho, quer tomar meu
posto de namorada do Rick. Só o seu pai não enxerga como essa doida e
fissurada no seu irmão — Isso que ela falou é a mais pura verdade. Quando
olho o Rico, ele está com cara amarrada.
— Ei! O que aconteceu? — Aproximo-me dele e abraço sua cintura.
— Nada — Ele beija meus cabelos carinhosamente.
— Dá para os dois pararem com essa melação? Tem uma mulher
solteira e carente aqui — Rimos da sua cara de desgosto. Ela já está com o
prato na mão, esperando sua parte do jantar — Vamos comer logo, assim eu
saio desse apartamento e vocês colocam fogo em tudo.
— Na verdade, já fizemos isso hoje à tarde. Mas, se meu querido
namorado aguentar, acho que podemos fazer uma certa fumaça hoje à noite,
amiga — Antes que o Rico esboce qualquer resposta, a Sula o interrompe,
levantando a mão.
— Não responda agora. Vamos começar essa discussão do século
quando começarmos a jantar. Aí você pode expor toda sua capacidade e tê-la
como sobremesa, assim que eu sair.
— Excelente ponto de vista — Rico concorda com ela, sorrindo — Acho
que nós nos daremos bem, Sula.
— Isso depende — Claro que ela não dá ponto sem nó.
— Do quê?
— Quero amigos ou seu irmão, Rico. Você precisa encontrar alguém
interessante para mim. Estou à deriva nesse mar da solidão — Ambos
caímos na gargalhada, e Sula acaba por nos seguir.
Apesar das loucuras dela, temos um jantar tranquilo e alegre, como se
fosse nossa rotina esse tipo de encontro. Definitivamente, esse homem se
encaixa em cada cantinho da minha vida.
Capítulo 24
Carolina
Apesar do nosso jantar ter sido muito tranquilo, eu estou uma pilha de
nervos. Preciso saber o que aconteceu quando a família dele descobriu sobre
nós, mas não quero tocar no assunto e acabar com o bom humor do Rico.
Ele está tão sorridente depois de ouvir as palhaçadas da minha amiga, que
me sinto mal em perturbar o seu humor.
— Vamos lá, Carol, o que você quer perguntar? — Eu levo um susto
quando ele aparece do nada na beirada da cama.
— E quem disse que quero perguntar alguma coisa? — Será que dei
tanta pinta assim?
— Você está me olhando aonde quer que eu vá com essa cara de
assustada, esperando o melhor momento para perguntar. Pois o momento
chegou. Pergunte — Odeio receber ordens. Mas vindas dele, até que não é
uma coisa ruim.
— Quero que você conte tudo o que aconteceu quando a sua família
ficou sabendo sobre o nosso namoro — Pelo seu olhar de desânimo, as
coisas não foram muito bem.
— O meu irmão já sabia, desde o nosso fim de semana na praia, mas o
resto ficou sabendo hoje.
— E então? Quero saber tudo.
— Bem... A Juliana me surpreendeu. Aceitou tudo numa boa. Só me
pediu para não magoar você. Minha mãe também não foi contra, mas isso já
era de se esperar. Dona Sara sempre acredita no amor. Porém, o meu pai não
aceitou bem — Ele bagunça os cabelos em frustração e caminha até a janela
do quarto.
— Seu pai não aceitou bem? — Fico confusa agora. Como ele pode não
ter aceitado bem se defendeu tão tranquilamente a nossa relação, não só na
reunião, quando falou sobre o meu namorado para o asqueroso do Murilo,
mas também quando estávamos sozinhos? E ele brincou sobre o
comportamento do filho. Acho que perdi alguma coisa — Isso não faz
sentido, Rico. Não depois da atitude dele depois da reunião.
— E eu não sei disso? — Rico vira-se e caminha até a cama, senta ao
meu lado e recosta-se nos travesseiros, puxando meu corpo junto ao seu.
Adoro sentir seu calor e o cheiro que já associei ao meu homem — Acho que
isso foi obra da dona Sara, ou ele percebeu que você tem as rédeas curtas
sobre mim, e isso é uma novidade que pode ter surpreendido meu velho —
Rédeas sobre ele? Gostei dessa parte. Resolvo provocá-lo um pouco.
— Eu tenho as rédeas sobre você? — O Rico fica calado por um tempo
antes de responder.
— Esqueça essa parte, Carol, eu estava pensando alto — Sorrio ao
perceber o desconforto dele depois da sua confissão.
— Tenho as rédeas sobre você, Pedro Henrique — Saio do seu abraço e
sento no seu colo — Você ficará sob as minhas rédeas agorinha mesmo —
Remexo sensualmente sobre o seu colo — Meu garanhão vai fazer tudo o
que sua dona quiser — Mordo seu lábio inferior, e ele olha em meus olhos.
— Não brinque com fogo, menina — Seu tom rouco de aviso molha
imediatamente minha calcinha.
— Fique quieto, o controle aqui é só meu. Apenas faça seu serviço bem
feito — Começo a rebolar mais forte em seu colo e beijo sua boca
longamente. Quando sinto que já está pronto e do jeito que tanto gosto, eu
interrompo o beijo, abaixo levemente seu short e seguro sua gloriosa ereção.
Adoro vê-lo sem reação, só esperando minha iniciativa. Centralizo-o na
minha entrada e vou deslizando devagar, sem tirar os olhos dele. A
expressão de luxúria que ele exibe é uma visão memorável e excitante. Ver
nos seus olhos o quanto sou desejada é uma sensação inexplicável.
Quando começo a subir e descer, ele põe as mãos na minha cintura e
ajuda-me a manter o movimento. Seus lábios começam a beijar meu
pescoço, e jogo a cabeça para trás, dando-lhe total acesso. Ficamos por um
longo tempo nesse movimento, até meu corpo necessitar de uma pressão
maior. Sem que eu precise falar nada, Rico suspende-me de seu colo e tira a
minha camisola. Depois, ele se livra do short e me deita de costas na cama.
— Agora deixe que eu termine o serviço, gatinha — Ele segura meu
quadril e o suspende levemente, enquanto me penetra com força.
Emito um gemido de aprovação e seguro com força sua bunda gostosa.
O Rico sabe como gosto e começa a entrar em mim com força, sem dó.
Seguro seus cabelos e trago-o até minha boca, beijando-o com fúria. Nossas
línguas travam uma batalha sem sentido, até que sinto o orgasmo se
apoderando do meu corpo e afasto minha boca para gritar o quanto ele é
gostoso.
— Ai, porra... Você é um filho da puta gostoso — Digo, enquanto desabo
na cama em um orgasmo poderoso. Ele sorri e morde meu queixo.
— Obrigada, linda, pelas suas palavras doces — Meus quadris são
comprimidos com força sobre o colchão, e ele também chega ao orgasmo.
Quando nossos corpos se acalmam, ele levanta-se devagar e olha-me nos
olhos, sorrindo — Você também não é de se jogar fora — Desgraçado!
Empurro seu peito, e ambos começamos a rir felizes da vida no nosso
mundo particular.
✻ ✻ ✻
Um mês depois...
✻ ✻ ✻
Ricardo Camargo
Ódio talvez seja uma palavra bem suave para descrever o que sinto
agora. Quando a bela Rufina disse o que aconteceu com minha irmã, minha
vontade era colocar as mãos no pescoço daquele filho da puta e quebrar sem
dó nem piedade. Eu tenho certeza de que esse telefonema foi feito pelo
maldito Fábio. Esse infeliz já causou estrago demais na vida da minha
bonequinha e ainda quer mais?
Não! Nunca irei permitir que volte para a vida dela! Da primeira vez,
ele teve sorte, porque eu estava fora do país fazendo uma especialização e
não pude investigar o desgraçado a fundo, como fiz com esse mauricinho
que ela está namorando atualmente. Esse otário pelo menos é solteiro, de
boa família e não vai ser louco de aprontar com minha maninha. Se ele
aprontar, vai se ver comigo, e não tem família rica que vá se colocar no meu
caminho. Vou pegá-lo e reduzi-lo a pó de tal forma, que não será capaz de
enganar outra garota. Agora, esse Fábio terá um tratamento especial quando
eu encontrá-lo.
Ainda não acredito que ele teve a audácia de procurar minha irmã. Eu
preciso descobrir como ele conseguiu o telefone dela. Durante todo esse
tempo, sempre tive o cuidado de cobrir os rastros da Carol e ficar de olho no
desgraçado. Mas, desde que ele saiu do país, depois do término das
investigações, eu relaxei e acreditei que esse desgraçado estivesse fora das
nossas vidas. Porém, tudo indica que ele não tem medo da morte e resolveu
voltar com tudo.
— Filho da puta do caralho! — Quando eu o pegar, vou sumir com ele, e
ninguém nesse mundo vai encontrá-lo. Dessa vez, eu não vou ouvir apelos
de ninguém. Irei fazer tudo do meu jeito, como deveria ter feito quatro anos
atrás.
Quando chego à empresa, entro como um louco. Enquanto não olhar
para a minha irmã e ver que realmente ela está bem, não terei sossego.
— Por favor, querida, preciso falar com Carolina Camargo. Qual o
número da sala dela? — Antes que a recepcionista possa me responder, a
Paola aparece ao meu lado com seu sorriso sexy nos lábios.
— Que surpresa vê-lo aqui, Ricardo. Veio me buscar para o almoço? —
Ela está deslumbrante como sempre, e, mesmo ansioso por ver minha
maninha, lembro-me da última noite em que estivemos juntos. Essa mulher
é um demônio na cama e sabe agradar um homem como ninguém. Sempre
que ela quiser, eu estarei a sua disposição, mas hoje não posso perder tempo
com ela.
— Infelizmente, não, Paola, eu tenho assuntos urgentes para resolver
por aqui.
— Senhor Ricardo? — Um homem forte de meia idade aparece no
saguão, e imediatamente percebo que deve ser o chefe da segurança — Eu
sou o Samuel, mas pode me chamar de Sam — Ele estende a mão e aperta a
minha com força, e, nesse pequeno gesto, sei que posso confiar nesse
homem — Estava esperando pelo senhor. Eu fiz tudo o que a senhorita
Rufina pediu. Agora vamos subir. Por aqui — Samuel indica o caminho do
elevador, e o sigo sem me preocupar em me despedir da Paola.
— Ricardo, o que está acontecendo? — As palavras dela se perdem
enquanto acompanho o Samuel para o elevador.
— Alguém estranho entrou aqui hoje, Sam? Ou por acaso receberam
uma pessoa pedindo informações da minha irmã?
— Não, senhor. Mesmo assim, meu pessoal está olhando as fitas de
segurança de hoje. E, se for preciso, olhamos as fitas da semana toda. Não se
preocupe, todos aqui são bem treinados e, se o caso for grave, podemos pedir
as fitas de segurança de todos os edifícios da rua para saber se alguém esteve
rondando a área. Pelo que entendi, estamos protegendo a senhorita Carolina
de uma pessoa em especial. Confere meu raciocínio? — Samuel olha para
mim, e aceno a cabeça, confirmando sua teoria.
O elevador chega, e as portas são abertas para revelar a nova família da
minha irmã. A belíssima Juliana está mais gostosa do que nunca, em um
vestido vermelho apertado, que é capaz de enlouquecer até um homem
preocupado com sua única irmã. Seu pai fala no celular com toda a elegância
que só os homens ricos têm, e meu cunhado me olha com surpresa. Isso vai
dar merda, e, no meu estado de estresse, não terei paciência com esse
mauricinho.
— Ricardo, o que você está fazendo aqui? — Ele percebe o Samuel ao
meu lado e estreita os olhos. Parece que esse otário não é tão burro assim —
O que o Sam está fazendo com você? Alguma coisa aconteceu com minha
namorada? — Agora, ele já está nervoso e chamou a atenção de todos.
— Olá, Pedro Henrique. Senhorita... — Aceno para a Juliana — Senhor...
— Faço o mesmo gesto para o Rômulo Albuquerque. Todos respondem com
educação, mas o meu cunhado continua nervoso.
— Você ainda não me respondeu, Ricardo. Aconteceu alguma coisa com
a minha Carol? — Esse filho da puta está ganhando muitos pontos comigo.
Sua preocupação com a minha irmã é realmente genuína, e acho isso bacana
da parte dele.
— Tudo sobre controle, Pedro Henrique. Pode ir para o seu trabalho,
que eu estou com tudo em ordem. Apenas preciso colher algumas
informações com a irmã, mas nada para você se preocupar.
— Colher o quê? — Agora ele não chama apenas a atenção dos seus
familiares, como também de todas as pessoas que estão no térreo — Sam,
diga o que está acontecendo aqui — Sua atitude autoritária é tão
convincente, que, se eu não fosse quem eu sou, até sentiria medo dele. Mas,
pelo que estou percebendo, o Sam também é um cara firme e não se abala
com as ameaças do filho do chefe.
— Senhor, eu não posso fornecer essa informação, pois a minha
instrução é apenas comentar com o senhor Ricardo ou com o senhor
Rômulo. Lamento muito, mas não posso falar nada — A fúria nos olhos do
Pedro é algo engraçado de se ver. Mesmo sem querer, sorrio de leve. Esse
cara é dos meus, e ganhou créditos ilimitados comigo.
— Sam... — Antes que o Pedro fale, seu pai interrompe.
— Calma, filho — Suas mãos seguram seu braço — A Carolina está
bem, Sam?
— Sim, senhor. Ela está com a senhorita Rufina.
— Então ela não está bem — O Pedro entra no elevador que acabou de
chegar novamente e aperta o botão — Ninguém fica bem ao lado daquela
maluca. Entre logo, Ricardo, porque quero ver com os meus próprios olhos
como minha namorada está — Droga! Esse cara vai atrapalhar meu trabalho,
e a Carol vai cortar meu pescoço quando o vir chegando e se metendo no seu
assunto particular. Mas não posso fazer nada. Entro no elevador, seguido
por Samuel, Juliana e Rômulo.
— Você não vai realmente contar o que se passa com a Carolina? — O
Pedro pergunta mais uma vez.
— Estou aqui porque recebi um chamado da minha irmã. Se ela quiser
depois comentar o motivo que me trouxe até aqui, não verei problema
algum, mas não falarei nada para você sem a devida autorização da Carolina
— Sei que estou agindo mal, já que o rapaz realmente está preocupado com
ela, mas também não posso abrir os problemas da minha irmã sem que ela
tenha dado permissão.
Seguimos em um tenso silêncio até o andar dela, e, quando o elevador
chega, o Pedro é o primeiro a sair dele.
— Espere — Seguro seu braço, tentando pará-lo — Deixe que eu fale
com ela primeiro. Se ela quiser conversar com você, depois eu chamo.
— O quê? Se ela quiser falar comigo depois? — Porra! Esse cara é
nervosinho demais para ser um filhinho de papai — Ela vai falar comigo
agora. Eu sou o seu namorado e sou eu que tenho que zelar por ela —
Suspiro com impaciência. Já perdi muito tempo com essa conversa mole.
Tenho que colocar todo o meu lado intimidador em ação.
— Você ficará aqui, rapaz, e eu entrarei lá sozinho — Ele tenta falar,
mas o interrompo com as mãos — Estou aqui a serviço, e, se você continuar
nervozinho, esqueço que é meu cunhado e dou voz de prisão por desacato à
autoridade — Isso não é verdade, porque não estou a serviço, mas ele não
precisa saber. Pergunto ao Sam qual é a sala da Carol, e ele indica uma
próxima de onde estamos.
Sigo a passos largos para o local, seguido por um Pedro insistente e
nervoso.
— Pode dar voz de prisão, porque vou falar com ela agora. E não quero
saber se você é policial ou o guarda real da rainha da Inglaterra. Se o assunto
é a minha Carol, eu estou me lixando para o resto — Esse cara é bom, e não
o impeço de me seguir, mas também não permito que entre antes de mim.
Quando abro a porta, meu coração para por alguns segundos. Minha
irmã está com olhos assustados e lágrimas molham seu rosto. A raiva invade
o meu corpo, e preciso de toda força do mundo para não sair como um louco
e buscar, nem que seja no inferno, esse infeliz que deixou o medo
estampado no rosto da minha boneca.
✻ ✻ ✻
— Bem... Acho que consegui resumir minha história com ele, Rufina.
Agora entende porque quero total distância desse homem? — Ela está me
olhando de boca aberta e não fala nenhuma palavra. Depois de muito tempo,
ela se levanta, dá muitas voltas pela sala, e, só depois de pensar muito, olha
para mim.
— Carol, eu jamais imaginei que você tivesse passado por uma situação
tão triste. Esse infeliz merece ser arrastado pelo asfalto quente. Como ele
pôde ter enganado você por tanto tempo? — Suas palavras me fazem pensar
mais uma vez em como fui idiota em deixá-lo me enrolar. Os sinais hoje
estão claros, mas na época a minha paixão deixou cada um deles escondido.
— Eu deveria ter sido mais racional, Rufina. Mas fiquei tão caída por
ele, que não enxerguei um palmo além do meu nariz.
— Amiga, você é a vítima nessa história. Esse idiota deveria sangrar até
morrer — Quando ela fala em morrer, fecho os olhos, e toda a angústia de
quatro anos atrás retorna — Desculpa pelas minhas palavras sem noção,
Carol — Ela rodeia a mesa e segura a minha mão — Você não teve culpa,
cada um escolhe o rumo da sua vida, e essa moça escolheu o dela. Não se
responsabilize por ela ter sido fraca. Você também sofreu mais ainda, e está
aqui descobrindo que pode ser feliz. Ela poderia ter dado uma chance ao
destino — Olho em seus olhos e vejo toda a sinceridade de suas palavras. A
Rufina realmente acredita no que acabou de falar e na minha inocência, mas
não consigo aceitar que minhas mãos estejam limpas. De certa forma, elas
também contêm um pouco de sangue daquela pobre menina.
— Não consigo acreditar que sou inocente, Rufi. Sei que tenho culpa e
assumo isso — Antes que ela possa me responder, escutamos um barulho no
corredor, e minha porta é aberta por um Ricardo explosivo. Quando seus
olhos encontram os meus, a fúria que se instala nele assusta cada nervo do
meu corpo. Talvez não tenha sido uma boa ideia ligar para ele, mas não
pensei nisso na hora do desespero.
— Você está bem? — A voz grossa dele invade minha sala, no mesmo
momento em que o Pedro, Juliana, Rômulo e Sam entram. Fico sem saber o
que responder quando vejo toda aquela comitiva atrás do meu irmão. Eu
pedi que o chamassem, e não toda a família Albuquerque.
— Eu... — Antes que eu consiga responder, o Pedro passa por todos e
chega até a minha cadeira, tirando a Rufina do seu caminho sem nenhuma
delicadeza. Suas mãos seguram meus braços, enquanto me suspende da
cadeira. Ele se afasta, olhando por todo o meu corpo, parando seu olhar
avaliador apenas quando chega ao meu rosto.
— Tudo está no lugar — O alívio na sua voz causa ainda mais lágrimas
nos meus olhos, e começo a chorar quando ele me estreita nos seus braços
— Calma, meu amor, eu estou aqui. Não interessa o que aconteceu com
você, agora estou aqui e não vou sair do seu lado — Sempre soube que esse
homem era perfeito demais, mas agora ele extrapolou todas as minhas
expectativas, e estou morrendo de ódio dele. Primeiro, por toda sua
perfeição, e segundo, por não ter me encontrado antes desse maldito Fábio.
— Já chega dessa cena patética de romance de banca, Pedro. Agora que
já você viu que a minha irmã está bem, pode nos dar licença, pois eu preciso
conversar com ela em particular.
— De jeito nenhum. Não vou sair daqui.
— Filho... — O Rômulo caminha na nossa direção com o olhar
preocupado, e só agora percebo que eles estão aqui, e não na reunião com os
paulistas — Vamos deixar o irmão da Carolina conversar com ela em paz.
Agora que você já viu que sua namorada está bem, não há motivos para
desespero. Deixe o rapaz resolver qualquer que seja o problema. Se ela o
chamou até aqui, significa que ele está apto a resolver — As palavras sábias
do meu sogro surtem efeito, e o Rico se afasta relutantemente de mim.
Mesmo sabendo que preciso falar com calma com o Rick, sinto falta do seu
calor.
— Eu estarei bem ali no corredor — Seus lábios beijam carinhosamente
minha testa — Tudo bem? — Apenas assinto com a cabeça, pois as palavras
somem da minha língua — Depois, quero sabe r de tudo, Carolina, e, dessa
vez, não irei admitir mais segredos.
Essas suas palavras finais me assustam muito, mas sei que preciso
contar o que tanto aflige a minha alma. Acho que chegou o momento de
mostrar os mais profundos segredos da minha vida. Esse homem merece
todo o meu respeito e, ao contrário do Fábio, ele realmente quer me fazer
feliz.
Capítulo 25
Carolina
✻ ✻ ✻
— Carol, acorde! — Ouço uma voz suave, mas distante, e não sinto
vontade de acordar — Querida, já é tarde e você tem visita — Essa última
parte desperta minha curiosidade, e abro lentamente os olhos.
— Quem está aqui? — Pergunto ainda sonolenta.
— O Lucas — Esse simples nome me tira qualquer resquício de sono.
— Ele está aqui? — O sorriso satisfeito do Rico indica que algo mais
está rolando.
— Não só está aqui, como trouxe o jantar — Ele fecha os olhos e lambe
os lábios — Está cheirando tão bem que não consigo pensar em mais nada a
não ser comer aquela comida. Levante-se logo para que possamos comer —
Mesmo sendo um sentimento ridículo, fico com ciúmes da comida, porque
ele parece está interessado demais nela.
— Já estou indo — Falo mal-humorada.
— Não demore — Ele beija minha testa e sai do quarto.
Sei muito bem porque meu irmão mais velho está aqui, e não sinto
vontade nenhuma de conversar com ele. Essa superproteção deles sempre
me irrita, e hoje não é um bom dia para ouvir o quanto ele está preocupado
comigo. Ainda estou sensibilizada com a ligação do Fábio, e ouvir qualquer
tipo de sermão do Lucas não irá fazer com que eu melhore.
Chego à sala e ouço uma conversa animada, e a risada dos dois enche o
ambiente. Sou obrigada a sorrir também por perceber que meus irmãos
aceitaram o Rico de braços abertos, e que, ao contrário do que aconteceu
com o Fábio, que ganhou a antipatia deles de imediato, eles gostaram de
verdade dele.
— A que devo a honra da visita? — Brinco com ele, enquanto recebo
um abraço apertado.
— O Rick disse o que aconteceu hoje, e o seu namorado me convidou
para o jantar aqui com vocês, então eu não podia deixar de comparecer —
Surpreendo-me ao saber que o Rico o convidou para jantar.
— Fico feliz por ter vindo — É sempre bom ter o Lucas por perto.
— Feliz estou eu em poder comer aquela comida que está na cozinha —
Tenho que sorrir da alegria do meu namorado. Parece até que ele nunca
comeu uma comida diferente — Podemos conversar enquanto jantamos? Eu
estou morrendo de fome!
— Acho que você encontrou o namorado perfeito, boneca. Ele tem o
apetite quase igual ao seu — Ele finge cochichar, mas fala alto para Rico
escutar — Vamos ver se você aprova a minha comida, cunhado.
— Só pelo cheiro, já está mais que aprovada, Lucas — Seguimos para a
cozinha, e meu irmão, como sempre, resolve servir o jantar. Ele adora
elogios e gosta mais ainda de servir as pessoas. Quando o Rico prova a
primeira garfada, fecha os olhos e geme de prazer — Cara, isso aqui tá mais
que bom, é até difícil dar uma nota.
— Pare de bobeira, que você certamente já comeu comida melhor.
— Realmente, já comi ótimas comidas, mas isso aqui tá demais. Você
bem que podia fazer umas visitas constantes aqui em casa — Meu irmão ri
do elogio escancarado do Rico e olha para mim com aprovação. Acho que
meu namorado conquistou definitivamente outro membro da minha
família.
Começamos a comer silenciosamente, e tenho que concordar que o
Lucas se superou dessa vez. A comida está perfeita e agradeço por ele ter
trazido uma quantidade generosa, porque, do jeito que o Rico está comendo,
não irá sobrar nada.
— Você conseguiu descansar, Carol? — A pergunta do meu irmão
contém outras implícitas, e resolvo ir direto ao ponto.
— Dormi, sim. E, antes que me pergunte, eu estou bem. Na verdade,
não esperava receber aquele telefonema. Eu acabei me desesperando mais
do que devia e causei uma confusão sem necessidade.
— Não diga bobagens, Carol, o Ricardo estava preocupado com você.
— Sei muito bem do que estou falando, Lucas. Eu deveria ter
controlado a situação, mas acabei deixando aquele homem me atingir de
uma maneira profunda.
— Você não esperava que ele fosse tão cara de pau — Reflito sobre sua
afirmativa, e tenho que concordar que não esperava receber qualquer notícia
do Fábio, muito menos um telefonema do próprio.
— Você tem razão — Comemos em silêncio por um tempo, até meu
irmão voltar a se pronunciar.
— Já contou ao Pedro tudo o que aconteceu?
— Ainda vamos conversar, Lucas — O Rico responde antes de mim —
Eu achei melhor dar espaço para a Carol colocar a cabeça no lugar. Quando
ela estiver mais calma, ficarei satisfeito em ouvir toda a história.
— Muito bem! — A satisfação do meu irmão com as palavras de Rico é
evidente — Eu espero que você não omita nenhum detalhe ao seu
namorado, Carolina. Ele merece saber cada detalhe do que aconteceu —
Suspiro e volto a comer com calma. Vou contar cada detalhe do meu
passado, e nada melhor do que ter o meu mais controlado irmão perto de
mim para me ajudar a enfrentar os momentos mais difíceis da história.
— Você está de parabéns, Lucas, está mais que perfeita a sua comida —
O Rico fala, enquanto se recosta na cadeira e exibe uma cara satisfeita e
feliz.
— Obrigado pelo elogio, cunhado. Vindo de você, sei que é a mais pura
verdade — Todos nós acabamos de comer, e resolvo que esse é o melhor
momento para conversarmos.
— Já que terminamos, podemos conversar? — Ambos olham para mim
com surpresa.
— Eu vou tirar a mesa e irei embora — Lucas fala, já pegando os pratos,
como de costume.
— Na verdade, quero que você fique — Ele se surpreende com o meu
pedido e me olha, curioso.
— Carol, eu acho que esse é um momento íntimo, não vejo necessidade
de ficar.
— Por mim, não tem problema, Lucas. Se sua irmã sente-se melhor
com você aqui, eu concordo — Meu irmão volta para a sua cadeira e me
observa quieto.
— Bem... — Limpo minha garganta, tentando ganhar tempo para
colocar as ideias no lugar — Há alguns anos, eu conheci um cara muito
bonito e simpático, que rapidamente ganhou minha atenção e também meu
coração — Observo que os olhos do Rico ganham um tom escuro quando
ouve minhas palavras, mas ele fica quieto — Eu acabei me envolvendo com
ele tão profundamente, que me esqueci de ser racional. Apenas acreditei no
que ele dizia e no que eu acreditava, eu não aceitava em momento nenhum a
opinião dos outros.
— Você o amou sinceramente, querida. E o amor, na maioria das vezes,
torna as pessoas um pouco cegas — Lucas sempre tenta amenizar a culpa
das pessoas, e sei que ele está fazendo isso comigo agora.
— Eu poderia ter sido mais vigilante, Lucas. Não tente minimizar
minha culpa.
— Não estou fazendo isso, Carol. Apenas estou mostrando a realidade.
— Seja como for, eu tive minha parcela de culpa — Suspiro e volto a
falar — Enquanto eu dava o meu melhor na relação, o Fábio apenas mentia e
enganava não só a mim, como também outra mulher. E infelizmente essa
história teve um final trágico.
— Como assim um fim trágico? O que você quer dizer com isso? — O
Rico agora está com os olhos arregalados.
— Na verdade, ele era casado — Lembrar dessa história leva a minha
memória para um passado doloroso.
— E você não desconfiou disso? — A pergunta direta do Rico causa um
constrangimento imenso em mim. Por muito tempo, me fiz essa mesma
pergunta, e toda vez que me lembro das desculpas absurdas que ele dava
para ir até São Paulo, eu percebo que todos os sinais estavam lá. Só me
bastava enxergar.
— Acho que eu não queria enxergar.
— Tudo bem, continue — Ele me incentiva a terminar de falar.
— O Fábio sempre foi bom para mim, mas nunca pôde estar totalmente
presente na minha vida.
— O que ele fazia para viver? — A cara amarrada do Rico me causa uma
enorme aflição.
— Era advogado, e, por isso, eu nunca desconfiei totalmente das
constantes viagens que ele fazia para São Paulo.
— O Fábio sempre falou que representava umas empresas paulistas, e
isso, de certa forma, era verdade — Lucas me ajuda a acelerar a história.
— Então ele sempre viajava toda semana, e eu achava tudo normal.
Isso durou um ano e meio, mas um dia ele sumiu e começou a dar muitas
desculpas para não aparecer no Rio. Eu achava que ele estava com
problemas no trabalho, e aceitei todas as desculpas. Essa situação durou por
um bom tempo, mas eu me negava a enxergar que tinha alguma coisa
errada. Depois de um período, tudo voltou ao normal, e ele passou a ter a
mesma rotina de antes. Só que durou pouco tempo, e ele sumiu novamente
— Paro, tentando controlar meus nervos. A pior parte ainda não foi dita, e
tenho que ter forças para relembrar tudo isso — Foi nesse sumiço que tudo
aconteceu — A última palavra é dita trêmula, e eu começo a chorar.
— Calma, Carol — O Lucas rodeia a mesa e me abraça — Já passou,
querida. Não fique assim.
— Ok. Eu estou calma — Puxo uma respiração profunda e continuo —
Até que um dia, meu irmão Ricardo chegou com uma reportagem. Uma
jovem havia se suicidado ao descobrir a traição do marido. Ela fazia parte da
alta sociedade paulistana, e sua morte foi muito noticiada nos jornais.
— Seu sonho... — Rico parece estar em outro mundo — No seu sonho,
você falou sobre traição e morte. Era sobre isso que estava sonhando?
— Era, sim. Eu ainda tenho pesadelos com esse dia. Foi o pior
momento da minha vida, saber que fui cúmplice de um assassinato.
— Como é? Cúmplice de quê? — O Rico está com as mãos espalmadas
na mesa e uma cara feroz — Você não tem culpa de nada, Carol. Até onde eu
entendi, você é tão vítima nessa história quanto essa pobre garota.
— Não sou! — Grito essas palavras e empurro meu irmão com força,
saindo dos seus braços.
Estou agitada e com raiva de sempre ouvir as pessoas dizendo que sou
inocente! Eu sei da minha culpa, pois sempre me neguei a enxergar o
quanto o Fábio era mentiroso. As pistas estavam claras, eu apenas me
neguei a vê-las, e minha negação causou uma morte.
— Se eu tivesse cobrado mais respostas dele e sido mais enérgica, ela
ainda estaria viva. Mas eu fui egoísta e não quis perceber o quão canalha ele
era.
— Ela também poderia ter resolvido isso, Carol. Afinal, uma esposa
tem direitos que podem ser cobrados. Essa menina foi fraca e tomou uma
atitude estúpida. Nem mesmo esse Fábio é inteiramente responsável pela
sua morte. Essa decisão foi unicamente feita por ela.
Não acredito no que acabei de ouvir. Essas palavras não podem ter
vindo do homem que ganhou meu coração. Ele não pode acreditar que essa
pobre garota foi culpada pela própria morte, é inaceitável esse pensamento.
— Você realmente pensa isso?
— Penso — Sua resposta curta quebra meu coração. Mesmo tentando
segurar, um soluço alto sai dos meus lábios. Preciso sair desse lugar agora,
não posso mais ficar no mesmo ambiente que ele sem destruir
completamente nossa relação.
— Carol, escute o que seu namorado está falando. Ele tem razão —
Uma nuvem de ódio invade meu peito, e saio da cozinha descontrolada.
— Carol, volte aqui! — Finjo não ouvir a voz do Rico nas minhas costas
e vou até o quarto pegar minha bolsa. Preciso de ar e espaço, não quero falar
com ninguém — Onde você pensa que vai?
— Embora daqui! — Ele fica parado na porta, impedindo minha saída.
— Você não vai sair desse apartamento.
— Sai da minha frente, agora! — Falo com voz firme e olhando em seus
olhos.
— Não! — A segurança dele tira todo o meu controle, e empurro seu
peito com força.
— Saia agora! — Grito e continuo empurrando sem resultado — Eu
quero ir embora daqui. Quero você longe de mim.
— Pare com isso, Carolina! — Suas mãos seguram meus braços, mas
dou um passo para trás, quebrando o contato.
— Não toque em mim! — No mesmo momento em que falo essas
palavras, eu me arrependo, pois a mágoa que aparece em seus olhos me
deixa desconcertada. Ele se afasta da porta e deixa o caminho livre, mas não
consigo sair do lugar. Eu não queria feri-lo, apenas preciso de espaço.
— Rico... — Ele não permite que eu fale.
— Vá com seu irmão, Carolina. Se eu não posso te tocar, que é o que
mais gosto de fazer na vida, não há razão para você ficar. Pode ir embora —
Começo a chorar como criança e me arrependo do que falei.
— Boneca... — A voz suave do Lucas chega até mim — Vamos hoje para
a minha casa. Você se acalma, e amanhã vocês dois podem conversar com
tranquilidade.
— Rico, desculpa, eu não quis... — Antes de terminar, vejo-o dando as
costas para mim e seguindo até a sala. Vou atrás dele na tentativa de
conseguir seu perdão — Olhe para mim.
— Vá, Carolina. Eu levo todos os seus projetos amanhã e deixo na sua
sala. Acho que você precisa colocar sua cabeça confusa em ordem e, pelo que
entendi você dizendo, isso não será possível aqui ao meu lado — Seu olhar
está tão frio que ele parece ser outra pessoa — Cuide bem dela, Lucas, e não
a deixe sozinha nem por um minuto. Se precisar de alguma coisa, me ligue a
hora que for. Amanhã, um segurança estará no seu apartamento para levar a
Carol até o trabalho. Apenas preciso que envie seu endereço mais tarde.
— Tudo bem, eu farei isso. Vamos embora, boneca — Meu irmão
segura minha bolsa e me abraça.
— Não vou sair antes de conversar com o Rico.
— Não se dê ao trabalho de ficar aqui, Carolina. Eu estou cansado e não
quero conversar com você. Podemos fazer isso em outro momento.
— Eu quero falar com você agora. Não sairei daqui sabendo que está
magoado comigo.
— A vida não é do jeito que você quer, gatinha, todos nós temos direito
a escolha. Agora vá! — Ele abre a porta e faz sinal para que eu saia.
As lágrimas caem como descontroladamente do meu rosto, mas
entendo perfeitamente o que ele está querendo dizer. Ele está fazendo uma
escolha, assim como aquela menina fez anos atrás.
Sem querer piorar a situação, eu decido sair com meu irmão. E
seguimos em silêncio até o elevador. Escuto a porta bater nas minhas costas.
Um frio intenso invade meu corpo e eu começo a tremer.
— Calma, querida, vai ficar tudo bem! — Agradeço a Deus por meu
irmão estar aqui comigo. Sem ele, não sei o que faria — Seu namorado é um
cara incrível. Acho que ele conseguirá colocar um pouco de bom senso na
sua cabeça dura.
— Ele me mandou embora, Lucas.
— Não, senhora, você começou tudo isso. Ele apenas foi sensato em
deixar a poeira se assentar. O Pedro é um homem inteligente e está
apaixonado por você. Tudo vai acabar bem. Confie no seu velho irmão,
querida.
O elevador chega e entramos. Tento acreditar nas palavras do Lucas,
mas tenho medo de que, mais uma vez, o Fábio tenha acabado com a minha
vida. Posso ter suportado tudo o que já se passou comigo, mas não irei
aguentar se o Rico decidir sair da minha vida. Preciso desse homem, e estou
mais que arrependida por mais uma atitude estúpida que tive hoje. Vou
esperar até amanhã, e a primeira coisa que farei será colocar as coisas no
lugar com meu namorado, e voltar para nosso mundinho particular.
Capítulo 26
Pedro
Estou com minha cabeça a mil por hora. Tudo que preciso agora é de
uma boa distração. Se eu não conseguir me acalmar, tenho certeza que irei
sair correndo atrás da minha Carol e trazê-la nem que seja a força aqui para
o meu lado. Deixá-la partir foi a atitude mais certa no momento, porém a
mais difícil que tomei. Espero que ela perceba que todos nós somos
unicamente responsáveis pelas nossas vontades. Mesmo que outra pessoa
queira provar o contrário, somos nós que batemos o martelo por último.
Decido ligar para a única pessoa capaz de tirar qualquer coisa da minha
cabeça. O Guto deve estar na balada, mas não se negará a conversar com seu
amigo infeliz. O telefone toca e, quando penso que ele não irá atender, ouço
sua voz brincalhona:
— Nossa, que honra receber uma ligação sua.
— Nos falamos quase todos os dias, Gustavo.
— Não é isso que diz o meu histórico de chamadas, amigo — Ele tem
razão. Ando negligenciando nossa amizade. Mas com essa história de Guto
rondando a amiga da Carol, eu estou muito chateado com ele. Por isso,
decidi dar um gelo nos nossos encontros, com a intenção de ele perceber a
bobagem que está fazendo.
— Esquece isso, Guto, você tá parecendo uma namorada ciumenta.
— Cala a boca, porra — Sorrio dele e percebo que estou com saudades
da sua palhaçada. Mesmo sendo um canalha, não posso ficar longe dele.
— O que você está fazendo?
— Fodendo! — Ai, droga, será que é a Glei?
— Guto, quem é a vítima?
— Bruninha! — Ele sorri, feliz, e eu faço o mesmo. Graças a Deus, não
é a amiga da Carol! Se esse filho da puta comer aquela garota, eu o mato. A
Bruna é uma foda constante dele e gosta das mesmas excentricidades do
Guto, então não tenho com o que me preocupar.
— Esse lance de vocês tá sério! — Decido provocá-lo e, de certa
maneira, incentivá-lo a ficar com ela.
— Ela sabe o que faz, e eu gosto do nosso lance sem compromisso. Mas
esquece a minha vida sexual e diga o que você quer.
— Nada demais. Eu queria tomar uma bebida, mas deixa para outro
dia.
— Que nada, Rico, vamos fazer isso agora.
— Mas e a Bruna?
— Ela tá satisfeita, fica tranquilo — Ouço-o gritando e dizendo à Bruna
que tem que sair — No mesmo lugar de sempre?
— Pode ser.
— Então já é, irmão, tô metendo o pé para lá.
— Até mais! — Desligo e vou colocar uma roupa.
Conversar com o Guto irá me fazer bem, ele é a pessoa mais próxima
de mim no momento. Nós dois temos a terceira parte da nossa amizade
morando longe. O Vitor é outro amigo nosso que está morando nos Estados
Unidos. Ele é um repórter investigativo de sucesso que nos abandonou para
seguir sua carreira. Sinto falta dele e das suas armações, mas graças a Deus
o Guto continua aqui no Brasil, e assim posso me apoiar nele nos momentos
difíceis.
✻ ✻ ✻
Quando chego ao nosso barzinho de costume, o Guto ainda não
chegou. Sento ao bar e peço ao Augusto, o barman da casa, que prepare uma
dose de Scott duplo. Sei que beber não é a solução, mas vai servir. Quando
estou pedindo a segunda dose, o Guto chega.
— Calma aí, cara, assim você vai errar até o caminho de casa.
— Não estou a fim de ir para lá mesmo — O Guto me olha desconfiado
e pede a mesma bebida.
— O que a Carol aprontou? — Esse é o Guto que conheço. Sem meias
palavras, direto ao ponto.
— E quem disse que foi ela? — Tento disfarçar.
— Corta essa, Rico, não somos crianças. Você me procurando a uma
hora dessas? É bem óbvio que a sua namorada meteu o pé na sua bunda.
— Ela não meteu o pé na minha bunda, seu babaca. Nós apenas
tivemos um contratempo — Ele ergue uma sobrancelha e sorri.
— Quer falar sobre esse contratempo? — Odeio seu cinismo, mas
decido contar tudo o que aconteceu hoje no meu apartamento. Quando
termino de falar, Guto fica em silêncio, refletindo por um bom tempo —
Essa história toda é muito fodida, cara.
— E eu não sei? — Termino minha segunda dose e peço outra.
— Vai com calma, Rico. Encher a cara não vai dar em nada.
— Não estou enchendo a cara. Apenas relaxando.
— Tudo bem — Ele bebe seu uísque com calma — Eu ouvi falar desse
caso na época e tenho certeza que alguém disse que conhecia esse homem,
mas agora não lembro quem foi.
— Como assim alguém conhecia? — Agora estou curioso.
— Não consigo recordar quem foi, mas me lembro de alguém dizendo
que conhecia esse cara. Isso tem tempo, então é difícil lembrar.
— Mas essa merda ainda atrapalha a vida da Carol — Estou frustrado
com toda essa situação.
— Rico, a Carol tá querendo arrumar problema onde não existe. Se essa
mulher resolveu acabar com a própria vida por causa de um otário, ninguém
tem culpa. Até porque, a sua namorada nem sabia que ela existia — Ele faz
uma pausa longa e me olha nos olhos — Ou sabia e, por isso, se sente
culpada?
— Que porra de pergunta é essa? — Será que ele está realmente
duvidando da minha garota?
— Ela pode muito bem estar se fazendo de vítima, Rico. E se ela sabia
da existência da esposa e estava tentando separar os dois?
Fecho os olhos, tentando encontrar controle para não socar a cara dele
nesse exato momento.
— Não repita isso nunca mais, Gustavo.
— Você a conhece há pouco tempo, brother. Como pode confiar tanto
nela assim? Isso pode muito bem ter acontecido. Por isso, ela sente-se tão
culpada.
— A Carol não mentiria para mim.
— Como você sabe? — Não tenho respostas para a sua pergunta, e
agora estou realmente na dúvida.
— Não sei, Guto, apenas acredito nela, não tem como eu te explicar. É
uma coisa que não necessita de palavras. Você não entende, o que nós temos
é algo fora do comum.
— Não faço questão de entender. Mas tome cuidado, não deixe essa
paixão maluca tirar o seu juízo. A Carol é uma menina bonita e bacana, mas
não a conhecemos direito. Toda essa culpa pode indicar que ela, de alguma
forma, esteja relacionada diretamente com essa tragédia, mais do que
revelou até agora.
— Pare de falar assim dela, ela é a minha namorada e quero que você a
respeite.
— Não estou desrespeitando ninguém. Apenas quero que você tenha os
olhos abertos com ela. Essa menina caiu de paraquedas na sua vida, e você
se amarrou nela como nunca fez com outra mulher. Isso pode ser perigoso.
— Guto, você esteve na casa do pai dela, conheceu sua família, esteve
com sua melhor amiga... E ainda duvida dela?
— Será que a família dela e a sua melhor amiga sabem quem realmente
é a Carolina? — Não acredito que o meu melhor amigo esteja falando isso —
Eles também podem não saber que ela esconde os verdadeiros fatos dessa
história.
— Guto, você tá vendo muito filme de conspiração, só pode ser isso.
— Presta atenção... — Ele é interrompido com a chegada da Paola.
— Olá, meninos! — Ela sorri sedutoramente e se aproxima de mim —
Que coincidência encontrar vocês por aqui — Tudo o que eu queria era tê-la
longe daqui, mas não posso ser grosseiro.
— Como vai, Paola? — Cumprimento, mantendo a minha educação.
— E aí, Paola? O que você tá fazendo por aqui? — O Guto faz essa
pergunta, e ela sorri da minha cara de desagrado.
— Estou relaxando com a Fabi — Ela sinaliza para uma mesa ao lado, e,
quando olhamos, observamos a Fabiana sentada falando ao celular —
Querem se sentar com a gente? — A Paola pergunta enquanto passa as mãos
pelos meus ombros e beija meu rosto. Olho na direção do Guto, implorando
com o olhar para não aceitar o convite.
— Obrigada pelo convite, mas estou conversando um assunto
importante com o Rico — Graças a Deus, ele entendeu meus apelos
silenciosos.
— Que pena! — Ela sorri e concentra toda sua atenção em mim — E a
sua namoradinha, Rico? Está mais calma depois do telefonema? — Sua
pergunta tão inesperada me surpreende.
— Por que a curiosidade, Paola? — Tento não ser grosseiro, mas depois
de ouvir tanta asneira do Guto, estou irritado.
— Calma, Rico, apenas fiz uma pergunta — Ela passa a mão no meu
braço.
— Guarde suas perguntas para você — Esqueço minha educação e
descarrego todo o meu mau humor nela — E como você ficou sabendo desse
telefonema? Ninguém estava autorizado a falar sobre isso — Minha
pergunta a pega de surpresa. Percebo que ela está sem saber o que falar.
— Foi o Ricardo que contou — Ela está mentindo, eu sei.
— Ele pediu que não comentássemos com ninguém. Por que falaria
justamente com você?
— Somos amigos — Essa não me convenceu. Mas quando penso em
pressioná-la, ouço a gargalhada do Guto e o observo, sem entender nada.
— Porra, Paola, você não perde tempo!
— Eu? — Ela faz cara de confusa, e eu espero até onde isso vai chegar
— O que eu fiz?
— Fala sério. Você já tá trepando com o irmão da Carol? Não perdoa
ninguém... Vai ser vagabunda assim na casa do caralho!
— Não admito que você fale assim comigo. Até parece que você é um
cara certinho... — Sua indignação chega a ser convincente, mas o Guto tem
razão. A Paola não perde tempo em pular de cama.
— Não sou santo, nem quero ser. Mas você bate o recorde, querida, não
perde tempo nunca, tá sempre esquentando um colchão novo.
— Nunca esquentei o seu — Essa provocação não vai acabar bem. Mas
não vou separar esses dois, hoje não tenho ânimo para isso.
— Porque eu não quis, você sempre esteve atrás de mim.
— Mentira!
— Tenho provas, querida. E não tente se fazer de boa garota na frente
do Rico, porque ele já ouviu vários dos seus telefonemas para mim — O
rosto dela fica contraído de raiva.
Confesso que tenho que controlar o sorriso. Vê-la se perdendo nas
mentiras que conta é uma cena bem agradável, e nada melhor do que o meu
amigo para acabar com a banca dela. Quando o Gustavo quer, tem a boca tão
quente quanto a da Rufina.
— Você é nojento, Gustavo!
— Bobagem. Eu sou é seletivo. Diferente do meu amigo aqui e do
irmão da Carol, que não sabem ter critério com as mulheres que fodem —
Agora ele perdeu a linha e, de certa forma, ofendeu a minha Carol. Por isso,
tenho que parar essa briga, porque não vou permitir que a Paola seja
humilhada por ele.
— Já chega, Guto, você já disse o suficiente — Ele tenta falar mais
alguma coisa, porém o silencio com o olhar — Vá para sua mesa e divirta-se
com a Fabiana. Chega de problemas por hoje, Paola.
— Mas, Rico... — Seguro seu braço e aproximo meu rosto do dela.
— Chega, Paola! Eu não estou em um bom dia. E, por favor, nada de
ficar espalhando essa história do telefonema. A Carol já teve problemas
demais por um dia. Não quero saber sobre o seu relacionamento com o
irmão dela, mas acredito que ele não ficaria feliz em saber que você anda
falando com outras pessoas sobre a intimidade da sua vida ou da sua irmã.
— Só falei com você, não sou uma fofoqueira.
— Ótimo. Não teremos problemas. Vá para sua mesa.
— Você não quer beber com a gente? — Essa insistência é irritante,
mas tento ser simpático.
— Não. Estou terminando um assunto aqui e já estou indo embora.
Ainda tenho trabalho em casa me esperando.
— Tudo bem. Mas se você quiser, está convidado a sentar-se conosco.
— Ok — Ela olha de lado para Guto e sai rebolando aquela bunda
perfeita que eu já conheci bem. Mesmo sendo maluco pela minha gatinha,
não resisto e admiro a visão. A Paola pode ser inconveniente, mas é gostosa
demais.
— Ao menos nem tudo está perdido — O Guto sussurra e sorri.
— O que foi?
— Você ainda olha o rabo das mulheres. Isso indica que o meu bom e
velho amigo detonador mora dentro desse corpo.
— Vá se foder, Guto, eu não estava olhando o rabo de ninguém — Esse
filho da puta não perde nenhum detalhe.
— A Paola pode ser uma vadia cara de pau, mas ela é gostosa pra
caralho.
— O que aconteceu para você estar tão possesso com ela? — O uísque
que está em seu copo some como mágica.
— Você acredita que ela jogou conversa fora com a Bruna?
— E por que ela faria isso?
— Porque eu me recusei a comê-la, é claro, e você sabe que a Paola não
lida bem com a rejeição — Isso, eu sei, e também sei que a Paola gosta de ter
todos os homens aos seus pés. É uma obsessão que ela não consegue
controlar.
— Você a conhece há anos. Não deveria relevar essas palhaçadas?
— Ela pode falar e aprontar o que quiser, só não quero que atrapalhe a
minha vida com a Bruna — Será que meu amigo está gostando de verdade
dessa menina? Eu até que gostaria que isso acontecesse. Ele esqueceria a
Glei, e eu teria menos problemas na minha vida.
— Você tá gostando de verdade dela? — O olhar horrorizado que ele faz
desmonta todas as minhas esperanças.
— Claro que não. Você tá maluco?
— E qual o problema de estar amarrado nela?
— Todos, Rico. Eu gosto do nosso lance do jeito que está. Nada além
disso.
— Mas vocês ficam bem juntos — O Guto recosta-se no balcão e abre
um sorriso estranho.
— Você tá parecendo uma mulherzinha tentando formar um casal. Que
decadência, Pedro Henrique! — Ele balança a cabeça em desagrado e pede
que o garçom sirva mais uma dose — Essa menina acabou com meu amigo.
— Larga de ser otário, Guto! Eu só fiz um comentário que já deveria ter
feito antes. Vocês vivem o tempo todo juntos.
— Você sabe por que sempre saímos, Rico? A Bruna é uma menina
descomplicada e com os mesmos gostos que os meus. Minha vida é mais
tranquila sem a pressão de um relacionamento.
— E você acha que ela irá se contentar com isso por quanto tempo? —
Tenho que sorrir com a cara de surpresa dele quando falo a realidade.
— Não é porque você tá de quatro que todos precisam passar por esse
vexame. A Bruna é sensata e não joga nesse teu time bobo.
— Você é um merda, Gustavo! E quando estiver de quatro por uma
menina, eu vou me acabar de rir de você — Agora é ele que ri
descontroladamente.
— Você realmente virou uma mulher, Rico! Só fala coisa maluca! —
Seu copo é esvaziado mais uma vez — Agora pague essa conta, porque foi
você me convidou. Estou cansado dessa tua conversa de corno, vou embora.
— Quem é corno aqui? — Será que ele está insinuando que minha
namorada tem outro?
— Se você não sabe, conversa de corno é uma conversa sem noção e
deprimente, e é o que você tá fazendo agora. Não estou dizendo que a Carol
tá metendo chifre em você. Não tenho nem motivo para falar isso — Relaxo
e peço a conta.
— Vamos jogar futebol esse fim de semana?
— Eu sempre estou lá, foi você quem sumiu — Já percebi que o meu
amigo está me cutucando sempre que pode. E como a me arrepender de tê-
lo convidado.
— Vai começar?
— Deixa quieto, irmão, essa história da Carol acabou embolando minha
cabeça. Não entendi muito bem toda essa culpa dela. Tá tudo muito
estranho.
— Eu também não, e não sei o que faço para convencê-la de que não
tem culpa — Caminhamos para a saída. Faço um gesto de despedida para as
meninas, e o Guto apenas acena a cabeça de leve na direção da Fabiana.
Quando chegamos à porta, o Guto para e fica pensativo:
— E se você arrumasse um terapeuta?
— Como assim?
— Sei lá, Rico, você podia achar um psicólogo ou um analista, eu não
sei como se chama direito. Um profissional habilitado talvez pudesse ajudá-
la a entender que não tem responsabilidade nesse suicídio. Isso pode ajudar.
A não ser que ela seja culpada, aí já vai ser outra história.
Desconsidero seu comentário absurdo e me concentro na parte da
terapia. Essa ideia tem lógica, e pretendo conversar amanhã mesmo com o
Lucas sobre isso.
— Você até que não é um idiota por completo — Sorrimos como nos
velhos tempos, mas somos interrompidos pelo toque do meu celular. Olho
quem está ligando e vejo que é Lucas. Fico nervoso e atendo rapidamente —
Fala, Lucas, aconteceu alguma coisa?
— Na verdade, eu queria que você ligasse para a Carol. Ela não parou
de chorar desde que chegou aqui. Estou com medo de ela se desidratar ou
evaporar de tanto chorar. Não sei mais o que fazer, Pedro — Fecho os olhos,
tentando controlar minha vontade de ir lá buscá-la. Mas ela precisa de uma
lição, e tenho que ser forte agora.
— Passe o telefone para ela, vou falar rapidamente com a sua irmã.
— Certo — A linha fica em silêncio, até que a voz chorosa da minha
gatinha enche a linha.
— Rico... — Meu peito se comprime só em ouvir sua voz rouca de tanto
chorar.
— Carolina, o que está acontecendo? — Mantenho a voz sem
demonstrar o quanto estou abalado.
— Se eu não souber que você me perdoa, não conseguirei dormir. Não
falei aquilo por querer, apenas estava nervosa com toda a nossa conversa —
Sei que, em parte, isso é verdade. Mas, no fundo, ela apenas expressou o que
realmente sentia.
— Ambos sabemos que você falou o que estava sentindo na hora,
Carolina. Agora não adianta lamentar — Seu soluço esmaga ainda mais meu
coração.
— Você vai me deixar, não é? — Droga, essa não é a hora de ter uma
conversa desse tipo. Olho para o Guto ao meu lado, e ele finge estar imerso
nas mensagens do seu celular. Mas sei que está ouvindo cada palavra que
falo.
— Pare com isso, por favor — Suspiro e tento amenizar a situação — Se
você quiser, eu te busco amanhã e podemos ir juntos ao trabalho. Que tal?
— Você ainda me quer? — Porra, se ela soubesse como minha noite
será em claro por causa dela, não faria essa pergunta.
— Essa pergunta nem merece resposta. Amanhã, passo aí, e, antes de
irmos para a empresa, tomamos nosso café na delicatesse da Andreia. Tudo
bem?
— Se você prometer que irá me ouvir e não me abandonar, está tudo
bem.
— Prometo — Ouço-a soltando a respiração com força.
— Então eu te espero amanhã.
— Ótimo, agora durma e não dê mais trabalho ao seu irmão, ele parece
esgotado.
— E está mesmo, tadinho. Eu vou desligar e conversar com ele.
— Faça isso. Até amanhã, Carol — Desligo antes de ela responder.
Tento manter o resto de dignidade na frente do meu amigo, mas, pela sua
cara, eu fui mal sucedido.
— Tu tá f-o-d-i-d-o! — Ele soletra as letras bem devagar e começa a rir
— Quem diria que você fosse virar um marica, Rico? Essa mulher te colocou
para correr e você ainda fica todo meloso com ela. Você virou um otário,
brother...
— Para de falar merda, Guto.
— Você tá na merda e não se tocou — Ele me olha, irritado, e desce os
degraus do bar apressadamente — Vai devagar para casa, Rico, e tenta
dormir sem a tua mulher. Eu já cansei de ver você com essa cara de cachorro
perdido. Até a próxima! — Ele sai com as mãos no bolso e rapidamente some
na escuridão. Sigo seu exemplo e vou caminhando vagarosamente rumo ao
meu apartamento.
Ele está totalmente certo, mas não quero saber o quanto estou ferrado.
Eu gosto da Carol e não tenho vergonha de assumir isso ao mundo. Essa
mulher virou minha vida ao avesso, mas não mudaria absolutamente nada.
Desde que ela chegou, eu sinto que tudo está no lugar.
Meus pensamentos são interrompidos quando um homem esbarra
fortemente em mim.
— Cuidado por onde anda, irmão! — O indivíduo fala em tom de
ameaça, sem parar de andar.
— Se liga, cara, você é quem me atropelou — Falo para suas costas, mas
ele não responde, nem olha para trás — Que cara estranho! — Vejo-o se
afastando, atravessando a rua com pressa. Decido esquecer esse maluco e
seguir meu rumo, mesmo sabendo que minha noite será longa.
✻ ✻ ✻
O dia está nublado, assim como o meu humor. Passar a noite sem a
Carol foi uma droga, e já estou sentindo os efeitos dessa noite mal dormida.
Parece que ela também não teve uma boa noite, porque já estou a esperando
há mais de dez minutos e nada de ela aparecer. Disse que já estava
descendo. Até agora, nada. Ligo o rádio bem baixo e confiro meus e-mails,
até que ouço uma batida no vidro. Vejo que minha gatinha está do lado de
fora. Destranco a porta, e ela entra com a cara abatida. Mesmo sabendo que
foi ela quem causou toda essa confusão, tenho vontade de colocá-la no meu
colo e dizer que tudo está bem. Mas isso seria uma mentira, e somos
grandes o suficiente para encararmos nossos problemas.
— Bom dia! — Cumprimento, enquanto beijo levemente seus lábios.
— Bom dia! — Sua voz é um sussurro e, olhando seu rosto de perto,
percebo que sua maquiagem não conseguiu encobrir totalmente suas
olheiras. Sei que preciso ser enérgico com ela, mas, só em ver o seu
semblante tão abatido, meu coração amolece.
Não, Pedro! Nada de moleza. Você precisa tomar a dianteira dessa
situação e mostrar que não vai deixá-la fazer o que quiser e como quiser. Se
até hoje ninguém conseguiu tirar essas ideias malucas da cabeça dela, você
terá que assumir esse desafio.
— Vamos tomar nosso café? — Pergunto, indiferente, enquanto saio
com o carro.
— Rico, nós temos que conversar, eu não consegui... — Interrompo seu
discurso para evitar que ela ganhe muito espaço.
— Calma, Carol, nós iremos tomar nosso café e conversaremos um
pouco. Mas você sabe que não resolveremos nada hoje. Precisaremos
conversar muitas vezes para que possamos nos acertar.
— Eu sei.
— Então fique tranquila, porque nosso dia está apenas começando.
— Mas eu não quero que você fique com raiva de mim. Sei que errei
feio com você ontem — Sua voz transparece sinceridade e arrependimento.
Isso, de certa forma, me deixa satisfeito. Ao menos, ela percebeu que sua
atitude foi extremamente infantil e desnecessária.
— Isso é verdade, mas iremos resolver isso.
— Quero resolver agora. Não gosto de ver você tão distante — Olho de
relance na sua direção e sorrio. Estou gostando de vê-la tão desconfortável.
— Não sei onde você está vendo distância aqui, eu estou ao seu lado.
— Você sabe muito bem do que estou falando — Agora está irritada.
Surpreendentemente, estou achando graça da situação.
— Sei, sim, mas não estou com vontade de conversar agora.
— Então por que veio me buscar?
— Porque iremos tomar café e lá começaremos a acertar nossos
ponteiros. Agora, fique quietinha até chegarmos lá.
Sua cara de raiva me arranca um sorriso divertido. Ela não esperava
essa minha atitude, mas terá que se acostumar, porque essa será a forma
com que eu irei mostrar que as pessoas têm suas próprias reações e
vontades, e ninguém pode mudar isso. Hoje, nosso relacionamento tomará
um novo rumo.
Ao chegarmos à Andreia, ela sai do carro rápido e começa a caminhar
para a entrada. Eu, ao contrário, saio devagar e caminho a passos lentos,
como se tivesse todo o tempo do mundo. Entramos e escolhemos uma mesa
ao fundo. Antes que eu possa falar alguma coisa, a Andreia aparece toda
feliz:
— Rico, como é bom tê-lo aqui tão cedo!
— E você não dorme nunca — Sempre que venho aqui, minha amiga
está trabalhando.
— Durmo o suficiente — A Andreia sorri e vira-se para a Carolina — E
você deve ser a Carolina, acertei?
— Como você sabe? — A Carol parece surpresa.
— Bem... — Ela faz um suspense para responder em seguida —
Digamos que um passarinho tenha contado que nosso amigo aqui virou um
homem comprometido — O sorriso da minha gatinha agora é grande, e ela
parece satisfeita com a revelação da Andreia.
— Suas fontes estão rápidas.
— Isso é verdade, Rico, minhas fontes são de primeira. Agora, vou
deixar vocês em paz. Foi um prazer conhecê-la, Carolina! O meu amigo fez
uma excelente escolha.
— Obrigada, o prazer foi meu.
Andreia se afasta e vai cumprimentar dois novos clientes que
chegaram. Olhamos o cardápio, até que uma de suas garçonetes aparece.
Fazemos o pedido. A Carol está desconfiada e deslocada. Espero a menina se
afastar para, enfim, iniciar nossa conversa.
— Agora que estamos em um lugar tranquilo, vamos conversar,
Carolina — Ela se contrai com o tom da minha voz, mas não cedo espaço
para meu coração mole. Preciso encontrar o controle da situação.
— Desculpa — Essa simples palavra quebra toda a minha banca e,
mesmo não querendo, seguro sua mão sobre a mesa — Eu nunca deveria ter
falado aquilo. Os melhores momentos da minha vida foram quando você
esteve com suas mãos em mim. Só falei aquelas palavras porque estava com
raiva. Lembrar-me do passado tira todo meu juízo. Por favor, me perdoe.
— Você não pode ferir as pessoas só porque o passado te incomoda,
Carol. Não é justo com as pessoas que te amam.
— Sei disso, mas não consigo controlar. Quando vejo, já perdi a razão e
fiz besteira.
— Você já pensou em procurar ajuda de um terapeuta? Talvez se você
conversar com um profissional especializado pode tentar controlar e
entender essa situação.
— Eu faço tratamento com a Simone desde que aconteceu essa
tragédia, mas nunca consegui deixar de sentir culpa — Uma única lágrima
cai de seus olhos, e aperto ainda mais a sua mão — Juro que já tentei, mas
não consigo. Esse fantasma persegue-me aonde quer que eu vá.
— Meu Deus, Carol, você não pode viver assim... Essa culpa vai te
matar aos poucos.
— Eu estava morta até você aparecer, Rico — Agora seus olhos estão
inteiramente focados nos meus, e um desespero palpável está estampado
neles — Por isso, não posso te perder. Preciso que perdoe toda a burrada que
fiz ontem. Juro que voltarei a fazer terapia e tentarei controlar minha culpa,
mas não me abandone.
— Não estou indo a lugar nenhum. Mas precisamos acertar algumas
coisas.
— O que você quiser — Ela parece desesperada. Mesmo sabendo que
deveria estar satisfeito com isso, apenas sinto pena da sua situação.
— Primeiro, você terá que prometer que se esforçará para superar essa
culpa — Ela tenta interromper meu raciocínio, mas faço um sinal para que
fique quieta — Ninguém controla a vida e as atitudes dos outros.
Infelizmente, essa é a realidade, e, mesmo que você teime em não aceitar
essa verdade, não pode mudar isso. Segundo, quero que volte com tudo para
a terapia, de preferência ainda essa semana. E por último, e, na minha
opinião, a parte mais importante, quero que, independentemente do
problema pelo qual esteja passando, você converse comigo como uma
adulta. Não admitirei crises histéricas e descontroladas como as de ontem à
noite — Talvez eu a esteja pressionando demais, mas preciso fazê-la
entender que certas coisas da vida não podem ser controladas.
— Tudo bem, você tem razão. Vou fazer tudo isso, só não me deixe.
— É assim que se fala, querida. Vamos superar tudo isso juntos. E
abandoná-la não é uma opção — Seu sorriso ilumina não só sua face, mas
também seus olhos, e isso é suficiente para me fazer feliz também — Agora,
vamos comer, porque nosso café da manhã está chegando.
✻ ✻ ✻
Depois da nossa conversa sincera, a Carol deu uma leve relaxada e, de
certa forma, estou otimista com o nosso futuro. Ela é uma mulher
inteligente e, com um pouco de ajuda e incentivo, irá entender que jamais
teve culpa nessa tragédia. Pode ser absurdo para alguém que esteja de fora
imaginar que ela acredite ter culpa nisso tudo, mas, quando tentamos olhar
pelo seu lado da história, é compreensível acreditar que, mesmo
indiretamente, teve uma culpa. Afinal, cada pessoa pinta o quadro da vida de
acordo com os próprios olhos.
Mas, agora, nada importa, pois eu estou ao seu lado e irei ajudá-la no
que for necessário. Iremos superar isso juntos. E mais rápido do que ela
imagina, estará livre de toda essa culpa.
Depois que chegamos à empresa, ela foi direto para sua sala, e eu pedi
ao Sam que ficasse de olho nos seus movimentos e que ligasse diretamente
para mim caso algo fora do comum acontecesse. Meu celular toca e me tira
dos meus pensamentos. Quando olho o nome no visor, sinto o coração
acelerar:
— Alô, Ricardo, aconteceu alguma coisa?
— De certa forma, sim — A frustração na sua voz me preocupa.
— Diga logo o que foi.
— O Fábio está no Rio — Puta que pariu!
— A Carol corre perigo?
— Eu acredito que não, mas ele certamente tentará entrar em contato
com ela. Sempre foi fissurado na Carol. Esse foi um dos motivos que
levaram ao suicídio da sua mulher. Ele pediu o divórcio para ela. Mas não
conte isso para minha irmã.
— Tudo bem, eu não quero que ela relembre essa história. Ontem,
tivemos uma noite difícil.
— Já estou sabendo de algumas coisas. O Lucas falou que ela teve mais
uma das suas crises de teimosia.
— Foi meio complicado, mas resolvemos momentaneamente essa
situação.
— Isso é bom, você parece ter certo controle sobre ela. Use isso ao seu
favor e tente fazê-la entender que não teve culpa alguma nessa merda toda.
— Estou me esforçando. Agora, diga o que tenho que fazer.
— No momento, nada, mas fique ligado se perceber algum carro
estranho ou alguém seguindo vocês dois. Eu estou tentando entender o que
esse cara quer depois de todo esse tempo.
— Você realmente acha que ele pode entrar em contato comigo?
— Se ele perceber que ela está firme com você, pode. Mas fica
tranquilo, já tenho pessoas controlando a situação. Em pouco tempo,
descobrirei seu paradeiro e terei uma conversa especial com esse cara.
— Porra, Ricardo, essa situação está se complicando...
— Calma, Pedro, eu estou resolvendo isso. Mas até eu acertar tudo,
fique na cola dela, não a deixe sozinha nem por um segundo. Se você não
puder ficar com ela, avise ao Lucas, que ele dará um jeito.
— Não se preocupe, eu ficarei de olho. Mas me mantenha informado
sobre tudo.
— Sem problemas. Eu estarei hoje à tarde no Rio para agilizar essa
situação.
— Nos falamos mais tarde.
— Ligue-me se precisar.
— Ok — Desligo e tento colocar os pensamentos em ordem. O que será
que esse cara quer com minha garota? Se ele pensa que conseguirá de
alguma forma colocar suas mãos nela novamente, está redondamente
enganado. Dessa vez, ele terá que passar por mim. E esse infeliz terá uma
péssima surpresa quando me encontrar.
Capítulo 27
Carolina
Dez dias depois
✻ ✻ ✻
Um dia ainda vou entender como o Rico consegue me dominar tão
profundamente. Nunca alguém teve meu corpo tão entregue quanto ele.
— Rico... — Minha voz chorosa arranca um sorriso malvado dele.
Mesmo assim, ele não interrompe o que está fazendo.
Uma das suas mãos sai do meu seio para segurar com força meus
cabelos, e inclinar minha cabeça para trás, dando ainda mais acesso para sua
boca sugar um dos meus seios. Ele está me levando à loucura com essa boca,
mas preciso da minha liberação.
Tento sair do seu controle, mas ele morde meu seio, fazendo com que
eu solte um grito de surpresa. Suas mãos agora apertam minha bunda, me
ajudando a intensificar meus movimentos.
— Você anda apressada demais, Carolina — Ele fala no mesmo instante
em que me penetra profundamente — Assim não dá, querida.
— Você é que anda lento — Provoco, mas ele não se abala.
— Sei o que faço, gatinha, e agora quero que essa bunda rebole gostoso
no meu pau. Ver você me cavalgando assim é uma visão indescritível.
Adoro sua boca suja e faço exatamente o que ele me pede. Rebolo
lentamente, arrancando um gemido profundo que parece sair do fundo do
seu peito:
— Mulher, você é gostosa demais, mas acabou a brincadeira — Sua
boca cobre a minha, enquanto suas mãos seguram meus quadris, me
ajudando a acelerar meus movimentos. Ele reclina-se nos travesseiros e
começa a se mexer comigo. Meu corpo esquenta de uma tal maneira, que
perco toda a noção do que está a minha volta. Só tenho em mente o orgasmo
que está sendo construído dentro de mim, e quando ele chega é como se eu
estivesse sendo quebrada em mil pedaços.
— Rico... — Falo, ofegante.
— Não pare — Ele ainda não conseguiu seu orgasmo e está me olhando
como se quisesse me matar. Entendo seu desespero e continuo com um
ritmo frenético, aumentando ainda mais o meu momento — Porra, Carol! —
Sorrio ao vê-lo se perder e beijo sua boca, engolindo todos os seus protestos.
Quando nossos corpos se acalmam, caio em seu peito e sou envolvida
por braços fortes e reconfortantes. Estar com ele é o melhor presente que
Deus me deu. Não quero perdê-lo jamais.
— Você é o melhor.
— Sei disso, querida. Toda vez que você goza fala essas palavras, já
estou acostumado — Tenho vontade de socar seu peito, mas estou sem
forças. Tudo que preciso agora é ter esse corpo quente dele junto de mim.
— Sua pretensão está passando dos limites.
— Sou realista, princesa. Eu sou o melhor, e você é indescritível. Nós
dois incendiamos essa cidade, ninguém nos segura — Sorrio da sua
modéstia.
— Você me segura — Provoco-o.
— Isso é verdade — Suas mãos começam a correr pelas minhas costas
tão sensualmente, que meu corpo ganha vida novamente. Mas, quando acho
que estamos partindo para um segundo round, ele me puxa de seu colo e
levanta da cama.
— Eu estou com sede. Vou beber um pouco d’água, você quer também?
— Olho para ele sem entender nada. Como assim ele vai me deixar aqui e
beber água?
— Você vai sair assim?
— Assim como? — Seu rosto parece realmente confuso com o meu
comentário.
— Pensei que teríamos um extra — Agora a compreensão das minhas
palavras chega até ele.
— Carol, eu sou humano sabia? Também fico cansado.
— Mas tão cansado a ponto de dispensar sua namorada?
— Querida... — Ele senta-se na cama e puxa meu corpo junto ao seu —
Eu passei o dia na rua fiscalizando obras, e o tempo aqui do Rio não ajudou
muito. Esse calor tá matando qualquer um, e seu namorado aqui está no
limite. Dê-me um desconto, só dessa vez — O beijo carinhoso que ele dá na
ponta do meu nariz amolece meu coração.
— Vou perdoar dessa vez, mas não se acostume com isso — Seus braços
me apertam com força, e ele sorri.
— É por isso que eu te amo, sabia? — Quando essas palavras saem da
sua boca, um silêncio profundo instala-se no quarto, e eu fico sem saber o
que falar. Não sei se foi uma simples forma de expressão ou se ele
realmente quis dizer que me ama, mas estou desesperada que essas palavras
signifiquem a segunda opção — Eu te amo, Carol.
Pronto, ele falou agora com todas as letras. Sinto meu coração disparar.
Mesmo tentando segurar, lágrimas invadem meus olhos, e abraço seu
pescoço com força e percebo que sou a pessoa mais feliz do mundo.
— Eu também te amo, Rico, amo muito! — Minhas palavras soam
sufocadas no seu pescoço.
— Carol... — Ele segura um dos meus braços e tenta puxá-lo do seu
pescoço — Você está me sufocando — Rapidamente, largo seu pescoço e olho
para o seu rosto vermelho — Caramba, mulher, de onde você tirou essa força
toda? Quase me matou!
— Desculpa Rico, mas é que eu fiquei emocionada.
— Lembre-me de, futuramente, ficar bem longe de você quando se
emocionar. Não quero morrer sufocado — Saio de perto dele, indignada.
— Eu odeio você, sabia? — A gargalhada que ele dá me deixa ainda com
mais raiva, minha vontade é de chutar a bunda dele do meu quarto.
— Você é a coisa mais engraçada que conheço.
— Pare de rir de mim, Pedro Henrique! — Obviamente, ele não me
ouve e levanta-se ainda sorrindo.
— Carol, só rindo mesmo de você. Nunca conheci nenhuma mulher
que escuta um “eu te amo” do namorado e tenta sufocá-lo, para depois dizer
que odeia o coitado. Só você mesmo para fazer uma coisa dessas.
— Não tentei sufocá-lo coisa nenhuma, apenas fiquei emotiva por
escutar suas palavras.
— Tudo bem — Ele dá dois passos para trás — Eu te amo! — Mais dois
passos — Te amo muito! — Mais dois passos — Te amo quase tanto como a
minha vida! — Agora, ele está correndo para a porta — Quase, mas não chega
a tanto — O Rico está tirando onda com a minha cara, e agora eu estou
extremamente irritada.
— Por que está correndo?
— Quero me manter respirando enquanto declaro todo meu amor
incondicional a você — O desgraçado está se divertindo as minhas custas.
— Pois eu não amo você. Na verdade, vou mandá-lo dormir na sala.
— Você tá de TPM? — Agora foi demais e jogo um travesseiro na sua
direção, mas ele é mais rápido e fecha a porta, sorrindo. Eu sigo seu exemplo
e também sorrio como boba. Mesmo com todos os problemas, a vida não
poderia estar melhor. Eu estou cada dia mais disposta a superar o passado,
tenho o emprego que sempre desejei e o homem dos sonhos. O que eu posso
querer mais da vida?
✻ ✻ ✻
— Carol, pelo amor de Deus, vamos embora. Eu tenho compromissos
cedo, não posso chegar atrasado.
— Já estou indo — Grito do banheiro.
— Você disse isso há dez minutos — Odeio quando ele fica
apressadinho.
— A culpa foi sua — Falo enquanto coloco meus brincos — Se não
tivesse me feito perder tempo hoje de manhã, eu não estaria atrasada.
— Eu te fiz perder tempo?
— Claro que fez.
— Mas a senhora não me impediu em nenhum momento — Ele está
tentando me provocar.
— Você foi convincente — O pior é que foi mesmo. Na verdade, hoje
pela manhã ele estava bem mais disposto do que ontem à noite.
— Eu sei — Paro na sua frente, e ele inclina-se para beijar meu pescoço
— Podemos ir agora?
— Vamos.
Saímos do apartamento e seguimos para o elevador. O telefone do Rico
toca, ele atende e começa a trabalhar, distribuindo ordens e reclamando dos
prazos. Normalmente, as pessoas pensam que os donos das empresas ficam
atrás da mesa, apenas dirigindo as coisas sem colocar as mãos na massa. Na
realidade, é tudo ao contrário, e são eles os que mais se envolvem nos
projetos.
Quando chegamos à garagem, ele entra no carro e troca algumas
mensagens. Não preciso perguntar para saber que está perguntando ao
segurança se o caminho está livre. O Rico sempre tenta disfarçar sua
preocupação, mas eu percebo cada movimento que faz tentando manter a
minha segurança.
Seguimos para a empresa em uma conversa tranquila e íntima que só
um casal apaixonado pode ter. Depois de ontem à noite, a nossa intimidade
mudou por completo, e eu me sinto muita mais segura e confiante ao seu
lado. Só saber que o que temos é real já me deixa extremamente feliz. Com o
Rico, não preciso ter medo de nada, pois sei que ele está comigo porque me
ama e não existe nenhuma mentira envolvida na nossa vida.
— Vou deixá-la na empresa, mas não vou entrar com você. Tenho que
ir até a Barra resolver um problema.
— É na obra do condomínio?
— É. O Xandy falou que aconteceram alguns problemas na entrega do
material, e eu quero olhar pessoalmente o foi entregue errado.
— Você vai demorar?
— Lá, acredito que não, mas ainda tenho que passar no Centro.
— Tudo bem. Você vai voltar para casa comigo hoje?
— Pretendo. Mas se eu não puder, peço para o meu irmão levá-la até o
meu apartamento.
— Você não prefere ir lá para casa?
— Nós combinamos de ficar em dias intercalados nas nossas casas. Não
vá querer quebrar nosso acordo — Às vezes, o Rico é extremamente
intransigente, e isso me irrita até a alma.
— Eu sei, só estava perguntando, não precisa ficar nervosinho.
— Não estou nervosinho, só quero manter de pé o nosso compromisso.
— Tá bom! Hoje é na sua casa — Ele sorri satisfeito enquanto se
aproxima da entrada da empresa.
— Se eu tiver um tempo livre para o almoço, eu te aviso.
— Ok — Beijo-o rapidamente e saio do carro. O Rico buzina e segue em
frente. Começo a andar para a entrada, mas uma sensação estranha invade
meu peito, como se alguém estivesse me vigiando. Olho para trás, mas não
vejo nada, a não ser alguns carros que passam pela rua. Acho que devo estar
neurótica com toda essa história.
✻ ✻ ✻
Na hora do almoço, resolvo aceitar o convite das meninas, e todas
juntas saímos para comer em um restaurante bem próximo da empresa. É
claro que um dos seguranças do Sam nos vigia de longe com toda a descrição
possível, mas eu, ainda assim, me sinto incomodada. Essa vigilância parece
não incomodar em nada a Rufina, porque ela não para de falar um minuto
sequer:
— Gente, essa festa vai bombar. Eu estou louca para chegar semana
que vem — A Rufina bate as mãos, enquanto fala da festa em comemoração
à inauguração de uma importante obra que a construtora realizou.
— Realmente essa será uma grande festa — A Juliana também está
empolgada — Você já comprou sua roupa, Rufi?
— Ainda não. Na verdade, estou tentando fazer uma dieta
revolucionária e ver se eu entro em alguns dos vestidos novos que estão
perdidos no meu armário — A Ju sorri da desgraça alheia sem
constrangimento.
— Eu já conheço essa novela, Rufina. É melhor você tentar encontrar
uma roupa nova, porque você não vai fazer dieta nenhuma.
— Pode continuar sambando na minha cara mesmo, sua desnutrida.
Não é porque a senhora morre de fome que todas as pessoas têm que fazer
isso. Eu sei como apreciar os sabores da vida.
— Eu não sou desnutrida — Ela protesta, parecendo estar ofendida.
— Pois de onde eu venho, essa magreza excessiva chama-se
desnutrição — Agora a Juliana está com cara de raiva, e eu resolvo amenizar
a situação.
— A Juliana está ótima, Rufina, pare de provocá-la. E você também
está super bem, não se preocupe.
— Sei que está colocando panos quentes, Carol, mas não quero me
aborrecer por hoje. Por isso, vou mudar de assunto.
— Acho melhor mesmo, Rufina — Juliana fala chateada.
— E você, Carol, já pensou no que vai vestir?
— Na verdade, não, até tinha me esquecido dessa festa. Mas isso pode
ser resolvido com facilidade.
— Como assim, Carol? — A minha cunhada pergunta, curiosa.
— Minha mãe tem uma loja de grife aqui perto. Se vocês quiserem,
podemos olhar algumas roupas por lá — Elas olham para mim com surpresa
e sorriem.
— E nessa loja vende GG? — Rufina pergunta esperançosa.
— Eu não sei. Mas se você quiser passar por lá, podemos conferir.
— Ai, amiga, essa loja só deve ter roupa para pessoas sofridas como a
Juliana. Vou tentar outros meios para conseguir meu modelito.
— Quem é sofrida aqui, Rufina? — Pronto, agora a coisa vai feder, e eu
não sei o que fazer.
— É você mesmo, criatura. Olha a sua cara de tristeza, não deve comer
um bom bife há anos. Tenho tanto dó de você.
Juliana parece ofendida, e as duas iniciam uma discussão, que é um
misto de comédia e de ofensas que só amigas verdadeiras podem fazer.
Observo tudo quieta e sorrio delas e das insinuações da Rufina. Ela sempre é
uma boa companhia e arranca gargalhadas de todos. Acho que sair com
essas duas para procurar uma roupa será um desafio engraçado, e minha
mãe vai se divertir com toda a confusão das duas.
✻ ✻ ✻
Nesse mesmo momento em um lugar próximo...
— Você está maluco? Não pode simplesmente ligar na hora do meu
expediente e exigir que eu te encontre.
— Que se dane. Eu estou esperando encontrar a Carol e até agora nada.
Até onde eu me lembro, quando você entrou em contato comigo, disse que
ela sentia minha falta, mas só a vejo andando com aquele cara para todos os
lados.
— Já te expliquei o motivo e não vou ficar repetindo. Seja paciente, que
estou arrumando um encontro entre vocês.
— Apenas promessas. Estou cansado de tudo isso. Quero o que é meu
de volta. Se você não resolver isso rápido, eu irei fazer uma loucura.
— Sei que não fará, porque você irá enfrentar a fúria do irmão dela.
— Não tenho medo daquele policial de merda. Se ele fosse bom
mesmo, já teria descoberto onde estou.
— Talvez ele não esteja dando muito crédito a você, mas não podemos
abusar da sorte.
— Na verdade, ele é um otário. Estou bem debaixo dos seus olhos e ele
não percebe.
— Cuidado, Fábio, você está afoito demais...
— Passei muito tempo fora do país e longe da minha Carol. Não quero
ser nenhum exemplo de paciência.
— Eu sei, mas já falei que no fim da semana que vem haverá uma festa
em comemoração a uma grande obra que foi entregue pela construtora na
qual ela trabalha. Essa será a melhor oportunidade para você falar com a
Carol. Basta ter um pouco de paciência.
— Espero que você saiba o que está falando, porque até agora não vi
cumprir nenhuma das suas promessas.
— Tudo ao seu tempo. Já estamos perto do fim, pode acreditar em
mim.
— Essa será sua última oportunidade. Se falhar com a sua promessa,
eu farei tudo ao meu jeito.
— Você será um homem morto se pisar em falso. Não só irá ter que
enfrentar seu irmão, como todo o império dos Albuquerque. A sua querida
amada sabe como enrolar as pessoas.
— Olhe aqui! Nunca mais fale assim da minha garota.
— Já chega! Essa conversa foi longe demais e preciso voltar ao
trabalho. Até o momento, eu sou uma pessoa acima de qualquer suspeita, e
não quero colocar tudo a perder agora, só porque alguma pessoa tenha nos
visto juntos. O Rico e o irmão dela estão mantendo vigilância vinte quatro
horas por dia em cima da Carolina. Nada garante que também possa ter
colocado vigilância nas pessoas mais próximas.
— Está com medo que o mauricinho descubra a sua traição?
— Só descobrirá se você contar. Ele confia plenamente em mim. Com
toda a história que nós dois temos juntos, eu jamais levantarei suspeitas.
Capítulo 28
Ricardo Camargo
✻ ✻ ✻
Enquanto dirijo para a loja, penso nas últimas informações que
descobri. Acho que, bem mais cedo do que espero, terei muitas respostas
para as minhas questões. E quando colocar minhas mãos naquele canalha,
eu acabarei com ele em segundos.
Na entrada da loja, observo pessoas olhando as roupas na vitrine, e
outras caminham com tranquilidade. Nada de anormal parece acontecer.
Olho tudo em volta, mas não encontro aparentemente nada de estranho,
nem mesmo o bar próximo à loja parece ter algo fora do normal. O
segurança, que está vigiando as meninas, aparece e informa que elas estão lá
dentro junto com o Alexandre Albuquerque. Agradeço seus serviços e
dispenso o rapaz.
Entro na loja e sou recebido pela sempre espalhafatosa Cecília:
— Ricardo, que prazer ter você aqui — Exibo o meu melhor sorriso sexy
para ela e seguro a sua mão para beijá-la elegantemente.
— Como vai, Cecília? — Suas bochechas coram, e ela sorri sem graça
com o meu galanteio.
— Muito bem, Rick, você andou sumido — É tão bonitinho vê-la
envergonhada.
— Digamos que ultimamente não ando precisando de vestidos — Ela
sorri com meu comentário.
— Até parece que você joga no outro time.
— Na verdade, eu quis dizer que não ando precisando presentear
ninguém com os belos vestidos da Virgínia.
— Ah! Agora entendi — Ela sorri sem graça e indica o local em que as
meninas estão — Você pode ir lá nos fundos, elas estão há um bom tempo
por lá, e há um homem lindo esperando por elas — Agora seu rosto está
completamente vermelho ao mencionar o irmão do Pedro.
— Eu sei que o Alexandre está aqui.
— Às vezes, eu esqueço que você sabe tudo.
— Quase tudo — Aperto seu queixo suavemente e sigo para os fundos.
Quando vou me aproximando, escuto vozes empolgadas e sorrisos
felizes. Mulheres e compras causam sempre esse tipo de euforia.
— Esse ficou incrível! — A voz da minha irmã soa com admiração —
Acho que esse é o seu vestido, Ju — Fecho os olhos, tentando ganhar
controle e não imaginá-la sem o vestido.
Para mim, o mais importante é sempre o que está por baixo da roupa.
Toda essa preocupação que as mulheres têm com a moda é apenas na
intenção de competirem umas com as outras, porque nós homens não
estamos nem aí se as cores combinam ou se a roupa é de grife. O
fundamental é que a roupa seja fácil de sair.
— Bom saber que você está sobrevivendo a esse martírio, Alexandre —
Os olhos atentos dele saem da tela do celular, e ele sorri do meu comentário.
— Se ao menos uma delas não fosse da família, eu estaria mais feliz.
— Nada é perfeito, camarada — Aperto sua mão e sinto
instantaneamente uma empatia por ele. Parece ser um rapaz muito
tranquilo e confiável, apesar de ser um pouco jovenzinho.
— Fato! — Ele responde minha provocação com alegria — É um prazer
finalmente te conhecer, Ricardo.
— Ouviu muito sobre mim?
— Digamos que as meninas falaram um pouco sobre você. Mas não
conte isso nem sobre tortura, porque se a Rufina souber que te contei que
ela acha você melhor que chocolate, vai me matar — Fico curioso com o seu
comentário.
— Ela não experimentou para saber se realmente sou melhor.
— Nem queira que ela experimente. Rufina é chave de cadeia — Depois
que ele fala isso, nós começamos a gargalhar, mas minha mente já forma
diversas imagens da Rufina me experimentando — Acho que você não se
importará com isso. De cadeia, você entende.
— Digamos que eu posso contornar essa situação.
Gostei dele. Acho que minha irmã fez uma boa escolha ao se envolver
com o Pedro. A família dele é incrível, e sei que ela estará sempre segura ao
lado deles.
— Será que posso dar um alô para elas?
— Pode, eu vou aproveitar e entrar com você para me despedir —
Seguimos até a sala onde as meninas estão.
O burburinho das vozes animadas delas enche o ambiente. Quando
paro na porta, meu queixo cai ao ver a Juliana com um vestido vermelho
que cobre seu belo corpo esguio. Puta que pariu! Ela tá gostosa demais, e
tento de todas as maneiras disfarçar o meu interesse.
— Leva esse, Ju, e vamos acabar com isso. Eu estou cansada de ver
vestidos — A Rufina parece sem paciência e contrariada.
— Você ainda não escolheu o seu, querida — Minha mãe fala, enquanto
caminha até uma arara de roupas.
— Não escolhi, nem vou escolher. Preciso de um vestido GG, e essa loja
certamente não é para pessoas como eu, queridinha.
— E quem disse que eu não tenho GG? — Minha mãe pergunta,
sorrindo.
— Tem?
— Tenho esse vestido lindo, que servirá como uma luva em você. Mas
se não gostar, temos outras opções. Eu jamais deixo minhas clientes sem
um belo vestido, não interessa sua numeração — Minha mãe é uma pessoa
insensível com seus filhos. Mas se for para elevar a autoestima de suas
clientes, ela é perfeita.
— Agora estamos falando a mesma língua — A Rufina se levanta e
segue para o provador.
— Com licença, meninas — Entro definitivamente na sala e, mesmo
sem querer, admiro por inteiro o corpo da Juliana. Seus olhos encontram os
meus, e seu rosto esquenta, ganhando uma tonalidade rosada que é uma
visão excitante.
— Rick, você chegou! — Minha pequena irmã abre os braços e me
envolve em um abraço apertado.
— Fiquei sabendo que seu pobre cunhado estava nesse serviço difícil e
resolvi salvar o rapaz.
— Para de ser bobo. O Xandy não é chato como você! — As mãos
pequenas da minha irmã empurram o meu peito.
— Na verdade, ele é apenas mais educado do que eu, irmãzinha, porque
lá fora o seu discurso não era de aprovação.
— Cara, eu não quero morrer por isso. Deixe essas meninas curtirem
suas roupas — O Alexandre sorri, enquanto entra na sala e estende as mãos
para a irmã. Ele a gira e admira a escolha do vestido — Eu gosto desse, Ju.
Você conseguiu ficar ainda mais linda dentro dele.
— Gosta mesmo? — Ela pergunta, insegura.
— Muito. Você concorda comigo, Ricardo? — Respiro fundo, tentando
manter a voz estável, sem demonstrar o quanto queria tirar aquela roupa
agora.
— Acho que ele foi feito para você — O sorriso que nasce no seu rosto
indica que minha opinião pesou mais do que a do irmão. E quando eu penso
em complementar o elogio, a Rufina surge na sala, tirando toda a minha
atenção.
— Virgínia, você é incrível! Olha como esse vestido ficou lindo! — Ela
caminha sorrindo, até que se dá conta da minha presença e para, assustada.
Eu esqueço completamente da Juliana. Olho seu corpo voluptuoso e
sinto o sangue ferver pelas minhas veias. Essa mulher é realmente uma
chave de cadeia, mas eu não estou nem aí se ela quiser me manter preso.
Desde que seja na sua cama...
— Minha querida, ficou fantástico esse vestido. Nem precisa
experimentar outro, esse certamente será seu.
— Nossa, Rufina, você tá demais! — A Carol se aproxima e abraça a
amiga — Eu não falei que minha mãe tem sempre uma solução.
— Realmente, eu estou impressionada, Carolina. A sua mãe é de outro
mundo — Sua felicidade é tão palpável, que tenho que sorrir também.
— Rufi, você tá tão gostosa que, se não fôssemos como irmãos, eu iria
convidá-la para jantar e te daria uns pegas de deixar você de pernas bambas.
— E receberia um “não” como resposta, pois não admito ousadia de
criança. Vê se volta para o jardim de infância, seu folgado! Desde quando
você deixa alguém de pernas bambas? Essa é novidade! — Ela ri das suas
próprias palavras e vejo o Alexandre fazer cara de desgosto.
— Você é uma linguaruda ingrata, não vou mais te defender quando o
Rico implicar com você — Ele responde, rindo, e beija seu rosto.
— Parem com isso agora! — A Juliana sorri da implicância dos dois —
Rufina, você realmente está linda demais, fará muito sucesso na festa.
— Obrigada, amiga, eu estou encantada com o vestido — Ela olha na
minha direção e tento desesperadamente encontrar minha voz.
— Você está linda! — Essas são as únicas palavras decentes que consigo
falar. E, pelo olhar da minha irmã, ela percebeu que eu queria falar mais do
que isso.
— Obrigada — Meu Deus! Ela está tímida e sem saber o que falar.
Tenho que sair daqui antes que faça uma loucura com essa mulher. Faz
muito tempo que eu não me sinto tão atraído por alguém como estou me
sentindo por ela.
— Vou esperar vocês aqui fora. Com licença.
Saio, tentando respirar normalmente. Eu preciso ficar longe não só da
Rufina, como também da Juliana. As duas fazem parte da nova família da
Carol, e eu não quero causar nenhum problema para minha irmã. Sei que o
que quero é apenas um bom sexo com as duas, mas essas meninas merecem
um cara decente, e eu certamente não estou à altura do cargo. Sou apenas
um homem de uma noite de sexo puro e intenso.
O Alexandre sai da sala e se despede de mim, indo embora
rapidamente. Vou até a recepção e converso amenidades com a Cecília, até
que elas surgem, trazendo consigo seus respectivos vestidos. Todas parecem
felizes e estão tremendamente animadas.
— Já podemos ir, Rick — A Carol se aproxima, toda feliz.
— Ótimo — Vou até minha mãe e beijo seu rosto — Foi bom revê-la,
Virgínia.
— Eu estou feliz em ter você aqui, filho — Suspendo ambas as
sobrancelhas com surpresa pela sua declaração sincera. Realmente, ela
parece estar feliz em me ver. E ainda me chamou de filho, isso é algo que
não esperei presenciar um dia. Normalmente ela é sempre impessoal.
— Podemos ir, meninas?
— Claro que sim, Ricardo, eu ainda tenho algumas coisas para resolver
hoje — A Juliana fala enquanto se despede da Cecília e da minha mãe.
— Precisam de carona? — Pergunto educadamente, mas estou torcendo
que elas tenham sua própria condução.
— Não, Ricardo. Eu e a Rufina estamos juntas. Obrigada pela ajuda,
Carol, sua mãe foi atenciosa demais conosco.
— Não agradeça, Ju, eu fiquei muito feliz em poder ajudar.
— Então nos vemos amanhã — Ela se despede da Carol e acena com a
cabeça na minha direção. A Rufina faz a mesma coisa e sai correndo atrás da
Juliana, como se ficar na minha presença fosse um incômodo. Talvez ela
seja uma mulher prudente. Percebeu que estar perto de mim representa um
grande perigo.
Balanço minha cabeça, tentando tirar da minha mente a imagem dela
naquele vestido. Como eu queria tirá-lo e passear por todo aquele corpo
macio e sensual.
— Pare de pensar essas coisas, Ricardo, eu não quero você jogando
charme para as minhas amigas — Minha irmã sempre foi observadora e
conhece meu ponto fraco.
— Eu sei disso, Carol, mas você não pode impedir que eu sonhe um
pouco. Isso não mata.
— Você é um galinha! Cara de pau! — Entramos no carro e saímos para
o trânsito caótico do Rio de Janeiro.
— Não sou galinha, gosto do que é bom. E nada melhor do que a
companhia de belas mulheres.
— Não minhas amigas.
— Não essas amigas. Sei que elas fazem parte da sua nova família e vou
respeitar isso, mas não deixe a Rufina no mesmo ambiente que eu. Sou um
homem com sangue nas veias e que não resiste a uma boa refeição — Paro o
carro no sinal e instantaneamente recebo um soco forte no braço.
— Presta atenção como fala, seu grosso! A Rufina não é um prato de
comida — Sorrio da sua indignação.
— Ela não pareceu se importar quando olhei com clara intenção de
comê-la ali mesmo naquela sala — Antes que a Carol acerte outro soco, eu
seguro suas mãos — Estava brincando, maninha, calma.
— Odeio essa forma machista com que você fala das mulheres.
— Corta essa, Carol, as mulheres gostam de palavras sujas — Coloco o
carro em movimento — Negue que você não gosta quando ouve um homem
dizendo que vai comer você todinha.
— Ai, meu Deus! — Ela coloca as mãos no peito, se fingindo de chocada
— Se nosso pai descobrir que você fala essas coisas para mim, vai te matar.
— Ele não saberá, basta você ficar de boca fechada.
— Se você continuar, eu vou falar, sim, e ainda vou dizer que você é um
tarado.
— Lamento te informar, mas ele já falou coisas assim ao longo da vida,
afinal, como você acha que ele conquistou a mamãe e a Jussara?
Certamente, não foi dizendo apenas palavras de um lorde. Os tipos de
mulheres de que nosso pai gosta não são atraídas por palavras doces. Sua
madrasta, então, é uma cretina sem-vergonha.
— Para, Rick, eu não tenho interesse em saber da vida sexual do papai.
— Tudo bem, vamos mudar de assunto — Ao falar isso, percebo uma
moto seguindo bem devagar um pouco atrás. Há dois carros atrás do meu,
porém o motoqueiro não faz nenhum movimento para ultrapassá-los. Acho
estranho e acelero levemente. A moto segue minha velocidade e ultrapassa
um dos carros.
— Você notou que a mamãe tá diferente?
— Um pouco — Minha resposta é curta, mas tento disfarçar a tensão e
completo — Você a fez ganhar dinheiro — Como minha irmã não é boba, ela
se vira e observa a moto.
— Foi uma moto desse mesmo modelo e cor que estava atrás do carro
do Davi.
— Senta direito, Carol, eu estou de olho nela, mas deve ser apenas
coincidência.
— Não é, Rick. É ele, sei disso. Ele apenas está mais magro, mas eu sei
que é ele. Como ele me achou?
— Eu faço essa pergunta todos os dias. Sempre mantive tudo
relacionado a você no escuro, mas esse cara conseguiu chegar mais longe do
que imaginei. Alguém da nossa convivência o está ajudando.
— Mas quem pode ser?
— Eu vou descobrir. Não se preocupe com a moto, porque eu cuidarei
dele.
— Eu sei que vai, mas não quero falar com ele.
— Não vai. Essa situação já ultrapassou todos os limites, e não vou
admitir que ele persiga você assim.
— Rick, eu tenho medo de ele fazer alguma coisa com o Rico.
— Se tivesse que fazer, já teria feito, Carol. Esse cara tá por dentro de
muita coisa relacionada a sua vida. O que ele quer é se aproximar e tentar te
conquistar.
— Talvez se eu conversar pessoalmente com ele, possa deixar claro que
não existe mais nenhuma possibilidade para nós dois.
— Você tá maluca? De onde você tirou essa ideia?
— A nossa mãe sugeriu essa possibilidade, e eu acho que ela tem razão.
— E desde quando ela se preocupa com a sua vida?
— Ela ligou essa semana e conversou comigo como uma mãe de
verdade.
— Carol, como ela soube do Fábio? — Agora estou alerta, porque
poucas pessoas sabem da volta dele.
— Papai contou.
— Você confirmou essa informação com ele?
— Espera aí. Você está desconfiando da nossa mãe? — A cara de horror
dela quase faz com que eu desista da ideia. Mas também não posso descartar
nenhuma possibilidade, ainda que ela inclua a nossa mãe.
— Eu não sei, mas alguém bem próximo de você contou alguma coisa.
O seu telefone não pode ser rastreado, ele só poderia descobrir o número
com alguém conhecido.
— Rick, ela não fez isso — A Carol fala com muita certeza, mas
mantenho esse assunto em mente. Hoje mesmo, vou investigar dona
Virgínia. Ela nunca teve um comportamento exemplar e, mesmo
acreditando que não colocaria a filha em perigo, decido tirar a situação a
limpo.
Sigo para o apartamento do Pedro, mas sempre acompanhando o
movimento da moto. Quando chegamos ao prédio, estaciono um pouco à
frente e espero a moto passar. Ela passa devagar e olho a placa. É a mesma
numeração que o Davi passou. Ligo imediatamente para o Afrânio e
comunico a sua localização. Levo a Carol até a entrada do prédio. Peço que
entre e não receba ninguém.
Essa noite, eu começarei uma nova fase da minha investigação e
descobrirei quem está ajudando esse cara, porque sei que ele não está
fazendo isso sozinho.
✻ ✻ ✻
Volto ao carro e espero o Pedro chegar, não vou arriscar deixá-la
sozinha. Envio uma mensagem para o seu celular, pedindo que me encontre
antes de subir.
— Ricardo... — Escuto a voz do meu cunhado, chamando da entrada do
prédio — O que aconteceu? — Ele estende a mão e me olha, preocupado.
— Ele está seguindo a Carol de moto. Mas não se preocupe, porque
tenho a polícia na cola dele. O que preciso agora é de uma informação sua.
— Pode perguntar.
— Quem próximo de você pode querer te prejudicar, ou prejudicar a
Carol? — Minha pergunta o pega de surpresa, e ele pensa um pouco.
— Ninguém que eu me lembre. Não tenho inimigos.
— Alguém está o ajudando. Esse cara está sempre à frente de mim.
Sem ajuda, ele não conseguiria isso. O Fábio não é tão esperto assim.
— A única pessoa com quem eu tive um problema foi com um
empresário paulista, que teve a péssima ideia de paquerar sua irmã na
minha frente durante uma reunião. Meu pai chamou a atenção dele na
mesma hora, e, da última vez que nos vimos, eu deixei bem claro que não
admitiria ouvir perguntas dele sobre a Carol. Essa foi a única situação
estranha que posso lembrar.
— Ele é de São Paulo?
— Sim.
— Você pode enviar os dados dele para mim?
— Assim que eu subir, te envio sem problemas. Você acha que ele tem
alguma ligação com esse cara?
— Vou descobrir e te aviso. Envie para mim, que vou resolver algumas
coisas agora.
— Tudo bem. Obrigado por tudo.
— Não agradeça, porque estou fazendo meu dever. Até logo.
Vou investigar a Virgínia e esse paulista. Vamos ver o que consigo
encontrar. Se eu tiver um pouco de sorte, a polícia pode achar esse
desgraçado ainda hoje, e eu saberei da sua própria boca quem é seu
cúmplice.
✻ ✻ ✻
Carolina
Ouço o Rico me chamar pela centésima vez, mas não consigo fazer
meu corpo mexer. Estou exausta da noite passada e preciso dormir. Se
possível, pela eternidade.
— Pelo amor de Deus, Carol! Levanta, já estamos atrasados, e você
nem tomou o seu banho — Viro-me e enterro meu rosto no travesseiro.
— Só mais cinco minutos — Peço com desespero.
— Nem meio minuto. Levante! — Ele puxa o edredom e joga para o
lado — Dez minutos, ou então vou embora e proíbo sua entrada na empresa
hoje.
— Você não seria capaz disso — Minha voz sai cansada e sem nenhuma
confiança.
— Não só faço, como também desconto o seu dia. Você não está doente
para ficar fazendo hora na cama — Ele fala, sorrindo, e sei que está me
provocando, tentando causar alguma reação.
— A culpa é sua. Se você não tivesse me mantido acordada a noite toda,
eu estaria inteira agora.
— Querida, quem começou foi você. Só tentei mostrar que gostoso e
delicioso aqui sou eu. A propósito, não ouvi você reclamar ontem à noite.
— Você sabe que eu só reagi ao seu comentário. E você foi bem
persuasivo, ao ponto de as palavras escaparem de mim. Não tive como
protestar.
— Sei... Dez minutos, ou fica sem trabalho hoje e com um dia a menos
de salário no fim do mês.
— Você é um mercenário e explorador de funcionárias — Um tapa forte
alcança a minha bunda e grito em surpresa.
— Posso provar o contrário, mas acho que você não aguenta mais nada
— Ele sorri e senta-se na cama.
— Sai de perto de mim, já estou indo para o banho — Ergo o corpo
rapidamente, porque realmente não aguento mais nada. Estou um lixo.
— Ótimo, eu vou dar uns telefonemas e adiantar meu dia — Seus lábios
roçam os meus e ele se levanta — Dez minutos, ou te deixo trancada nessa
casa o dia todo.
✻ ✻ ✻
Estou um caco hoje, e o dia parece não passar. Nunca mais deixo o
Rico me manter acordada a noite toda, acho que não tenho mais pique para
tanto sexo. Na verdade, eu nunca tive um sexo tão incrível quanto o que
tenho com ele. Por isso, eu estou assim, parecendo ter sido atropelada por
uma carreta.
— Você está ouvindo o que estou falando, Carol?
— Eu? — Sinto meu rosto esquentar quando vejo os olhos inquisidores
do Xandy sobre mim — Claro que sim — Tento disfarçar, mas não lembro
nada do que ele falou.
— Carol, se você não está bem, pode falar e ir para casa. Seu trabalho
está adiantado, e um pouco de descanso pode ser bom nesse momento — A
voz serena da Sara enche a sala. Ela sempre é atenciosa, e sinto uma
tremenda inveja por eles terem uma mãe tão incrível quanto ela.
— Eu estou bem, Sara, apenas não tive uma boa noite de sono.
— O Rico comentou sobre a moto, Carolina — Meu sogro levanta-se e
caminha até a imensa janela da sua sala — Eu estou extremamente irritado
com essa situação. Acho um absurdo esse homem estar perseguindo você
assim.
— Desculpa, senhor, eu jamais quis causar todo esse transtorno, nem
sei o que... — Sou interrompida pelo olhar glacial que ele dirige a mim.
— Nunca mais repita isso, menina. Você é a vítima, não tem que pedir
desculpas.
Agora o Rômulo está irritado e caminha pela sala como um animal
selvagem pronto para atacar. Essa atitude lembra meu irmão, e percebo o
porquê de ele se dar tão bem com os homens da família Albuquerque.
— Calma, querido. Em breve, tudo estará resolvido — A Sara tenta
acalmar o marido.
— Esse é o problema, meu amor, está demorando muito. Não sou
paciente, e também não gosto de pensar que tem algum lunático solto
querendo prejudicar a Carolina.
— Carol, eu posso te perguntar uma coisa? — O Xandy estende a mão e
segura a minha com carinho.
— Claro, é só perguntar.
— Você acha que esse cara pode ser perigoso? — Pondero sobre sua
pergunta e respondo com sinceridade.
— Não acredito que ele possa fazer alguma coisa que fira minha
integridade física — Ele assente e olha para o pai.
— Não seria melhor você encontrar com ele e descobrir o que de fato
esse cara quer?
— Alexandre, você está maluco? — A Sara fala, sobressaltada.
— Mãe, ela precisa acabar com essa situação. Claro que alguém estaria
de olho no encontro, mas é preciso esclarecer isso. Já virou novela toda essa
situação, a Carol não pode virar refém dessa história.
— Ele tem razão, Sara, precisamos resolver esse impasse.
Lembro-me imediatamente da curta mensagem que troquei com ele.
Mais rápido do que eles imaginam, eu acabarei com tudo isso, apesar de
sentir desespero só em saber que terei de olhar seu rosto novamente. Depois
de tudo o que aconteceu, eu desenvolvi um nojo intenso por esse homem. E
se dependesse de mim, nem habitaríamos o mesmo planeta.
— Não acho que a Carolina deva entrar em contato com ele. Nunca se
sabe o que se passa na cabeça de uma pessoa desse tipo — Sara ainda não
aceita essa ideia.
— Eu também acho que devo encontrá-lo, Sara — Finalmente entro na
discussão — Comentei com meu irmão ontem, mas ele não aceitou bem essa
ideia.
— Você falou com o Pedro Henrique? — Meu sogro pergunta, olhando
sério para mim.
— Não acho que seja uma boa ideia falar isso com ele. O Rico é
excessivamente protecionista.
— Ele cuida do que é dele, e não tiro a razão do meu filho, Carolina. Se
isso acontecesse com a minha Sara, também estaria circulando a minha
mulher com todo cuidado — Ele troca um olhar muito amoroso com a
mulher.
— Carol... — A Sara levanta-se e chega perto de mim — Vamos esperar e
ver o que seu irmão encontra. Se isso não se resolver rápido, podemos nos
reunir e tentar convencer não só o seu irmão, mas também o meu filho
sobre esse encontro.
— Obrigada pelo apoio, Sara.
— Não agradeça, querida. Você também é da família, e aqui o problema
de um é problema de todos.
— Exatamente, filha, eu jamais deixarei que esse patife machuque
você. Se quiser encontrá-lo, terá todo o meu apoio e a segurança necessária
para isso — A voz baixa e carinhosa do Rômulo me emociona.
Antes que eu consiga responder, a porta da sala do meu sogro é aberta
com violência. O Rico entra desesperado. Ele olha todos para depois fixar
seus olhos em mim. Um alívio invade sua face, e ele solta a respiração.
— Meu Deus! Pensei que tivesse acontecido alguma coisa. A Aline
falou que a Carol foi chamada às pressas para a sala da presidência.
— Está tudo tranquilo, filho, eu apenas precisava discutir uns assuntos
com seu irmão e a sua namorada.
— Que bom pai! — O Rico entra na sala, sorrindo, aliviado, e beija sua
mãe carinhosamente. Ele se abaixa e beija meus cabelos, para depois falar
com o pai e com o irmão — Mesmo estando na empresa, eu fico preocupado
com ela.
— Eu entendo filho. E isso tem que acabar — A forma decisiva com que
Rômulo fala essa frase gela meu coração.
— Está mais perto do que nunca, pai — Não esperava essa resposta
vinda dele. Olho desconfiada para o meu namorado. O que será que ele quis
dizer com isso?
— Muito bom — O Rômulo parece compreender suas palavras e troca
um olhar conspiratório com o Rico — Agora vamos conversar sobre alguns
assuntos da nossa festa de comemoração. Temos alguns detalhes para
acertar e, já que estamos quase todos nós juntos, esse é um bom momento
para acertarmos esses últimos detalhes.
— Nem fale dessa festa, eu preciso de uma roupa urgente — Meu sogro
bufa com o comentário da mulher e senta-se na sua cadeira, imponente.
— Sara, seu closet está lotado de vestidos. Deve ter algum que seja
adequado para a situação.
— Todos velhos, meu amor. Preciso de um novo.
— Mais uma cliente para a sua mãe, Carol — O Xandy sorri e pisca para
mim.
— Vamos conversar, Sara — Ela fica animada e escutamos os
resmungos dos meninos.
— Acertem os detalhes, garotos, que eu e a Carol vamos conversar
sobre moda. Depois, façam um resumo do que vocês falaram — Saímos da
sala, sorridentes, e deixamos os três belos rapazes reclamando das
mulheres.
✻ ✻ ✻
Três dias depois...
— Eu estou muito preocupado com você, filha — Papai me olha com
seus olhos atentos e cheios de amor.
— Não fique. Graças a Deus, tudo está tranquilo. Acho que ele
finalmente percebeu que não era uma boa ideia toda essa perseguição.
— Não confie muito nisso, Carol, esse Fábio sempre foi sonso — A
Jussara entra no assunto, e sou obrigada a dar razão a ela. Desde o dia em
que ela olhou para o Fábio pela primeira vez, teve antipatia por ele. Eu achei
que ela estava interessada por ele e ignorei todas as suas opiniões. Hoje, me
arrependo amargamente.
— Pode ser, Jussara. Mas com o cerco que o Rick fez, acho que ele
percebeu que estava em apuros.
— Esse silêncio pode preceder a tempestade, querida — Um arrepio
percorre minha coluna — Fique ligada, eu conheço esse tipo de gente. Meu
pai sempre foi um canalha de mão cheia, como esse homem.
— Não assuste minha boneca, querida. Ela já tem problemas demais.
— Amor, eu estou tentando ajudar. Mesmo que ela ache que não me
importo, tudo o que quero é o seu bem — Pronto, agora minha madrasta vai
querer dar uma de boazinha, aproveitando-se da minha situação.
— Obrigada, Jussara, eu realmente aprecio sua preocupação.
— Carol, seu namorado está roubando.
Matheus grita da sala, e ouço o sorriso dos meninos. Eles estão
jogando videogame desde que chegamos, e parece que o Rico está dando um
banho no meu irmão mais novo.
— Avise ao seu namorado que, se ele não deixar o Matheus ganhar, nós
não vamos jantar hoje — Meu pai está se divertindo com a situação.
— Vou fazer isso agora — Deixo meu pai e minha nada adorada
madrasta juntos, e sigo até a sala.
Quando entro, vejo toda a irritação do meu irmão, enquanto Diego e
Lucas riem da situação. Rick está em um canto, teclando freneticamente em
seu celular, com um sorriso nos lábios. Ele obviamente está conversando
com uma de suas paqueras, enquanto fica alheio ao caos que acontece na
sala.
— O Rico está te dando uma coça, irmãozinho? — A carinha que ele faz
para mim é a coisa mais linda do mundo. Mesmo não querendo, tenho que
sorrir.
— Ele está roubando, Carol. Todo mundo já percebeu, mas ninguém
quer se indispor com o seu namorado — Os meninos riem da cara dele.
— Cunhadinho, acho que você encontrou alguém a sua altura. Eu estou
livre de apanhar de você agora, mas não vou perder a chance de assistir o
Rico te detonar — O Diego está empolgado com a cena e não para de rir.
— Dessa vez, eu ganho — Matheus fala com determinação.
— Venha beber com seu irmão, boneca, deixe esses caras sozinhos — O
Rick levanta-se e pega um copo para mim.
— Eu também quero, Rick — Lucas também se aproxima e passa o
braço nos meus ombros — Eu estou me divertindo tanto com o Rico
acabando com o nosso irmão... Acho esses jogos eletrônicos tão
complicados.
— Você sempre foi péssimo em qualquer tipo de jogo, Lucas. Na
verdade, você é uma vergonha — Rick não perdoa e detona com o Lucas.
— Tenho que ser ruim em alguma coisa, Rick, esse meu excesso de
perfeição pode ser prejudicial — A gargalhada que o Rick dá chama atenção
de todos, mas não intima meu irmão mais velho.
— Larga de ser convencido. Você cozinha um pouco além de macarrão
instantâneo e tá achando que é o cara? — Começaram as velhas provocações
deles, esses dois adoram trocar gentilezas. Sento para me divertir com as
implicâncias dos dois.
— Você está proibido de jantar hoje, Ricardo. Pode pedir um cachorro
quente lá da esquina, porque o meu pato assado você não vai comer.
— Alguém falou em pato? Eu estou com fome — O meu namorado se
intromete na nossa conversa, e essa é a oportunidade de que o Matheus
precisava para virar o jogo.
— Ganhei! Ganhei! Eu sou o melhor — Ele joga o controle para o alto e
começa a correr pela sala de braços abertos, sorrindo à toa.
— Ganhou a última partida. Isso não conta, eu ganhei as outras três —
Acho linda a indignação do meu namorado e sorrio da sua cara irritada.
— Não importa, Rico, o que vale mesmo é a última partida. Fala para
ele, Diego — Matheus tenta ganhar apoio de qualquer jeito.
— Eu estou fora dessa, cunhado. Mas acho que se olharmos pela
matemática, o Rico tá ganhando.
— Tá nada. Lucas, pode ajudar aqui? — Como se voltasse a ser criança,
o Matheus tenta apoio do Lucas.
— Não! — Meu irmão ainda está irritado com o comentário do Rick e
ignora a briga que acontece atrás de si.
— Ninguém te apoia, Matheus, eu sou o verdadeiro ganhador — O Rico
fala, enquanto larga o controle e segue em nossa direção.
— Todo mundo tá tentando te agradar. Eu ganhei a partida que valia, e
não se fala mais nisso.
— Já chega! Venham beber um vinho e esperar o pato especial do
nosso chefe. Chega dessa brincadeira de criança — Rick, como sempre, perde
a paciência com o Matheus e tenta colocar alguma ordem na situação.
— Vou fazer um ovo cozido para você, Ricardo.
— Eu como o ovo e o pato, Lucas, estou com muito apetite hoje.
— É impressão minha ou a noite promete, cunhadinho? — Diego
provoca o Rick e recebe um sorriso conspiratório do meu irmão.
— A noite será longa.
— Eu não sou obrigada a ouvir suas aventuras sexuais, Rick, pode parar
agora — Resmungo, mal-humorada.
— Carol, adoro esse seu ciúme — Ele faz um biquinho exagerado e
solta um beijo para mim.
— Não estou com ciúmes — Falo com raiva, mas, no fundo, estou cheia
de ciúmes mesmo. Odeio saber que essas piriguetes cercam o meu irmão.
— Gente, vocês são tão repetitivos, nunca param essa briga... Vou
colocar a mesa — O Lucas fala, irritado — Vamos ajeitar tudo, querido,
porque a briga desses dois irá demorar — Meu irmão segura a mão do Diego
e começa a arrastá-lo para a saída.
— Vamos fazer ovo mesmo para o Rick? — Diego pergunta, divertido —
Poderíamos fritar e deixar sem sal. Isso seria um bom castigo, amor.
— Pode ser uma ideia, vamos para a cozinha — Eles saem conspirando,
e tenho que admitir que minha família é realmente maluca.
— Até parece que vou comer ovo sem sal, o Lucas é tão ridículo... —
Rick termina seu copo de vinho e o coloca na mesa com força extra.
— Esse pato vai ser acompanhado com o quê? Estou com tanta fome —
Meu amor pergunta e coloca a mão no estômago, enquanto lambe os lábios.
Eu acompanho o movimento da sua língua e lembro que, há pouco tempo,
eu a senti na minha intimidade.
— Seja o que for, é algo gostoso, Pedro. Vamos espionar a comida. Se
você elogiar direitinho o Lucas, ele te dá uma prova adiantada do jantar.
Basta paparicá-lo, mas faça tudo o que eu falar. Venha! — Matheus e Rico
saem da sala empolgados em filar uma prova extra do jantar. Acho que
passei para o meu namorado todo meu apetite. Ou talvez seja a comida do
Lucas que desperte tanto interesse, acho que a última opção seja a mais
aceitável.
— Carol... — A voz baixa do meu irmão tira-me dos meus pensamentos
— Como você realmente está?
— Quer que eu seja sincera? — Pergunto, olhando fundo em seus olhos
verdes.
— Sempre.
— Eu não tenho mais problemas se tiver que encontrar com o Fábio.
Estou cansada de toda essa situação e não acho justo envolver não só o Rico,
como toda a família dele nessa confusão.
— Não o quero perto de você.
— Às vezes, precisamos fazer coisas que não gostamos, Rick — Ele
enche seu copo e bebe um gole de vinho.
— Você está certa, mas vamos evitar isso por enquanto.
— Tudo bem.
— Agora quero saber dessa festa — Seus olhos atentos concentram-se
em mim.
O Rick é um cara durão demais e, às vezes, esquece que tem que
relaxar. Ele sempre quer carregar o mundo nas costas e acaba não vivendo
de verdade. Isso me preocupa profundamente. E saber que, nesse momento,
sua vida está totalmente ocupada com os meus problemas, não ajuda muito
minha consciência.
— Eu não sei muita coisa. Apenas que será a comemoração da entrega
de um grande projeto. O Rico saberá te informar melhor.
— Você sabe que, ao comparecer a essa festa, terá grandes riscos? —
Mesmo tentando evitar, meu coração dispara. Lembro-me da mensagem eu
que recebi dias atrás, em que o Fábio falava que nós encontraríamos em
breve.
— Não tenho medo. E acho que ele não se arriscaria tanto.
— Se arriscaria, sim — A certeza com que fala me deixa apreensiva —
Só peço que não saia dessa festa sozinha em hipótese nenhuma. Eu terei
pessoas por perto.
— Rick... — A Jussara aparece na porta com sua voz melosa,
interrompendo nossa conversa — O jantar está na mesa — Ela olha corada
para o Ricardo e depois sorri — O Lucas fez coisas deliciosas, inclusive um
ovo especial. Acho que é para o Ricardo — Tento evitar, mas sorrio da cara
de revolta do meu irmão.
— Ele tá querendo briga, e acabou de achar.
O Rick levanta e caminha imponente até a porta. Jussara fica estática,
apenas olhando-o se aproximar. Acho que, por mais que ela tente, jamais vai
conseguir esconder o fascínio que meu irmão causa nela.
— Tá com algum problema, Jussara? Por que você tá me olhando
assim? — Ela fica de boca aberta, sem conseguir falar nada. Adoro quando
ele intimida minha madrasta, mesmo sabendo que, na verdade, ela está
babando por ele.
— Não é nada, Rick.
— Então saia da minha frente, porque preciso comer um pato. Se você
quiser, pode ficar com os ovos — O Ricardo passa de leve o dedo indicador
ao logo do nariz recém-reformado dela e sai sorrindo. Eu fico observando o
seu olhar seguir as costas dele, enquanto ela coloca as mãos no coração,
esquecendo completamente da minha presença.
— Essa sua paixão incubada pelo Rick ainda vai te colocar em encrenca,
Jussara. Escuta o que eu estou dizendo...
— Não tem paixão nenhuma aqui, Carol — Ela ainda tem a audácia de
tentar negar.
— Não sou cega, querida — Passo por ela e sigo até a sala de jantar,
onde uma discussão gigantesca está acontecendo. Às vezes, é chato ter tanta
testosterona no mesmo local.
— Vá à merda, Lucas, eu não vou comer esse ovo — Rick está gritando
com o Lucas, e parece perto de perder o controle.
— O meu pato é que você não vai experimentar — Papai revira os olhos
e senta-se, irritado.
— Sentem-se todos — Ele fala, exercendo toda sua autoridade — Eu
vou comer o ovo e o pato.
— Não fiz para o senhor, pai. O Rick é quem vai comer, ele desdenhou
da minha comida.
— Lucas... — O Rick não termina a provocação, porque meu pai se
irrita.
— Vamos comer, meninos, eu estou com fome e não tenho mais
paciência para as brigas de vocês. Vamos nos servir agora.
— Graças a Deus! — O Rico fala, enquanto pega seu prato e segue
direto em direção ao pato.
— As coxas são minhas — Matheus grita e ergue-se do seu lugar com o
prato na mão.
— Não, senhor, uma é minha — Meu namorado fala, enquanto
empurra meu irmão com o ombro.
A confusão está armada. Todos começam a falar ao mesmo tempo,
querendo ser ouvidos. Eu e a Jussara trocamos um sorriso confidencial por
mais uma briga da família Camargo, e começamos a nos servir, enquanto os
meninos travam uma luta inútil. Se ficarmos esperando que eles se
acalmem, não iremos comer nunca.
Quando o jantar termina, tudo está tão calmo, que, se alguém chegasse
agora, não acreditaria que todos esses homens estavam travando uma
batalha por conta de um jantar, em especial por causa das coxas de um pato.
No final, quem comeu foi o Matheus, porque não admitiria perder mais uma
vez para o Rico. Ricardo deixou todos se servirem e, quando percebeu que se
não pegasse sua parte ficaria sem nada, cortou toda a parte das costas do
pato e falou, olhando diretamente para a Jussara, que adora comer a parte
de trás. Ela engasgou e papai teve que ajudá-la a não morrer sem ar.
Diego adorou a piada e comentou que essa seria a primeira comida da
noite, e a conversa se direcionou para a vida sexual do meu irmão, o que me
irritou muito e fez com que a minha madrasta deixasse a mesa sem pedir
licença. Mas agora tudo acabou. Finalmente, posso ir embora e esquecer
toda a loucura desses meninos desequilibrados.
— Foi um prazer receber você aqui, Pedro — Meu pai dá tapinhas nas
costas do Rico enquanto se despede de nós — E desculpe-me pela falta de
educação dos meus filhos. Eles, às vezes, são incontroláveis.
— Eu adoro todos. Lá em casa, as coisas não são tão diferentes assim.
Pergunte para a sua filha.
— É verdade — Digo, relembrando o primeiro almoço que tive com a
família dele.
— Que bom — Papai beija meu rosto e estreita-me nos braços — Cuide
da minha boneca e ligue se precisarem de alguma coisa.
— Com prazer, não se preocupe — Saímos e encontramos o Ricardo já
nos esperando em seu carro.
— Vou acompanhar vocês até em casa.
— Tudo bem, Ricardo, você é quem sabe — A confiança que eles
criaram entre si é genuína, e isso me deixa feliz.
— Seus irmãos são incríveis, Carol, eu adoro cada um deles — O Rico
fala, enquanto abre a porta do carro para mim.
— Eles são insuportáveis — Eu o espero entrar também.
— Eu gosto dessa alegria deles.
— Você é maluco.
— E por que acha que gosto tanto deles? — O divertimento na sua voz
indica que realmente está feliz por ter encontrado uma família
destrambelhada como a minha.
— Só você mesmo, Rico.
Capítulo 31
Carolina
Confiro novamente meu penteado e meu vestido. Acho que tudo está
no lugar, assim como a minha maquiagem. Se eu demorar mais um minuto,
é bem capaz de Rico arrombar essa porta. Ele já me chamou tantas vezes,
que parei de responder.
— Carol, saia daí agora! — Sua voz irritada tira meu bom humor. Ele
sabe ser chato.
— Estou indo, Rico. Pare de me apressar.
— Você está o dia todo aí. Isso não é normal.
Abro a porta. Seus olhos correm por todo meu corpo com lentidão,
esquadrinhando cada parte da minha roupa. Quando ele chega ao meu rosto,
percebo que seus olhos estão escuros. Não está satisfeito com o que vê.
— O que foi? — Pergunto, um pouco insegura.
— Você prometeu que seu vestido seria discreto.
— Ele é — Não entendo sua pergunta.
— Porra, Carol! — Suas mãos me puxam. Ele me roda para observar
todos os ângulos da minha roupa — Isso não deixa nada para a imaginação.
— Pode parar, Rico. Meu vestido é até simples demais.
— Essa fenda é simples, Carolina? — Sua cara amarrada indica que está
insatisfeito, mas não posso fazer nada.
Escolhi um vestido longo bem claro, quase branco, com as costas nuas
e uma fenda na parte de trás. Ele tem uma leve abertura na cintura e é bem
moldado ao corpo. Mas nada extremamente sensual, como o da Juliana. Não
entendo porque ele está tão irritado.
— Rico, não posso ir vestida como uma freira — Ele ergue uma
sobrancelha.
— E por que não? — Finjo não ouvir seu desaforo e saio do banheiro.
— Nem vou respondê-lo.
— Arrume outra coisa para vestir. Não vou sair com você com esse
vestido chamativo.
Viro-me em sua direção, indignada com a sua afronta:
— Então não vá, eu peço para o Davi me levar — Acho que mexi com a
fera e me arrependo imediatamente.
— Não me provoque.
— Então pare de ser infantil. É só um vestido.
— Que vai me deixar louco a noite toda, além de que, certamente,
causará muita confusão.
— Você, às vezes, é tão idiota quanto os meus irmãos — Antes que ele
responda, seu celular toca. Aproveito para sair do quarto. Quando ele chega
à sala, está ainda mais irritado, mas para de reclamar do meu vestido.
— Vamos embora, porque todos já estão lá na festa. Meu pai está
nervoso com o nosso atraso.
— Não estamos atrasados.
— Claro que estamos — Ele abre a porta e faz sinal para eu passar.
Quando eu passo por ele, sua mão segura minha nuca com força, e seus
lábios encostam no meu ouvido — Você sabe que toda essa sua
desobediência terá consequências mais tarde. Não é mesmo, querida? —
Molho os lábios e olho em seus olhos, cheia de desejo.
— Rico, eu não fiz nada — O sorriso que ele dá é uma coisa
cinematográfica. Minha calcinha se encharca imediatamente.
— Você sabe que escolheu esse vestido para me provocar. Eu apenas
irei pagar na mesma moeda, querida. A única diferença é que você fará com
que eu perca o juízo durante a festa. E eu, consequentemente, farei com que
você perca na minha cama, comigo dentro de você — Seguro a respiração
com as suas palavras — Vamos embora, porque, se tudo der certo, eu irei
aproveitar essa fenda e comer o seu rabo nessa festa.
Não tenho nenhuma resposta no momento, porque estou tentando
controlar o tremor de excitação que está percorrendo o meu corpo. Ele é um
cretino filho da puta e está arruinando toda a minha sanidade. Como irei
ficar nessa festa, sabendo que a qualquer momento ele pode me foder como
um louco?
✻ ✻ ✻
— É tanto homem bonito por metro quadrado que eu nem sei por onde
começar — Rufina está elétrica desde que chegou a festa.
— Então olhe tudo, amiga. Eu não posso nem me mover, porque o Rico
resolveu pegar no meu pé.
— Ai, Carol, eu nem posso brigar com ele. Você viu a cara do Xandy e
do Guto quando viram você? Foi engraçado demais — Ela começa a rir, mas
para quando um garçom muito bonito se aproxima e nos oferece bebidas.
— Por que o Guto foi convidado? — Pergunto, pois até agora não
entendi a sua presença.
— A agência dele é responsável pelas propagandas dos lançamentos da
empresa. Por isso, ele sempre está nas festas.
— Eu não sabia que ele era o idealizador das propagandas.
— O Guto, além de lindo e gostoso, é um excelente publicitário. Ele já
ganhou até prêmio. Tenho que admitir que é um profissional de primeira,
Carol.
— Deve ser mesmo, para ganhar a confiança do poderoso chefão.
— O Rômulo o tem como um filho. O Guto sempre foi amigo do Rico e
passou a frequentar a casa dos Albuquerque desde que era pequeno. Aos
dezesseis ou dezessete anos, não me lembro com exatidão, ele foi morar
com eles. A família do Guto é super problemática.
— Não diga? — O Rico não tinha me contado isso — Você o conhece há
muito tempo, Rufi?
— Conheço. O Guto é um cara legal, eu gosto muito dele, somos
amigos desde a infância. Ele é o tarado mais lindo que eu conheço, mas não
conte isso a ninguém — Só a Rufina mesmo para fazer esse pedido.
— Gosta como? — Sorrio, tentando provocá-la, só para irritá-la um
pouco.
— Apenas gosto, Carol. O Guto é um cara meio excêntrico, e eu não
aprecio muito as coisas que ele curte. Sou uma mulher pura e não estou
aqui para participar das perversões daquele tarado — Agora fiquei mais que
curiosa e quero saber do que ela está falando.
— Seja mais explícita, Rufina. Como assim perversões?
— O Guto gosta de um sexo diferente, sabe, ele é um cara meio que
dominador e exibicionista. Mas não fale para o Rico que eu te contei isso,
senão ele vai me matar. Eu fiquei sabendo disso, porque uma amiga minha
já saiu há muito tempo com um amigo dele, que tem os mesmos gostos
sexuais que o Guto. Eles até frequentam o mesmo clube juntos. Depois de
descobrir isso, eu ameacei o Guto, e ele acabou contanto as suas taradices —
Ela faz uma careta e continua a falar — O que aquele desgraçado tem de
bonito, tem de sem-vergonha. Mesmo que ele não fosse um dos meus
melhores amigos, eu não sairia com ele. Não quero ninguém me vendo
transar por aí.
Agora estou totalmente passada e não sei o que falar. O que será que
ela quis dizer com dominador e exibicionista? Será que minha amiga corre
perigo com esse cara?
— Nossa, Carol, se eu soubesse que isso ia ativar seu estado de
fotossíntese, nem tinha falado que o Guto é tarado — Rufina ri da própria
piada, mas para quando percebe que ainda estou reflexiva.
— Rufi, será que tenho que avisar a Glei sobre isso?
— Claro que não, o Guto só se envolve com meninas que gostam das
mesmas coisas que ele. Nesse ponto, ele é um cara muito honesto. Se sua
amiga não gosta de um bom swing ele não vai investir nela.
— Eu espero, Rufi, porque a Glei é uma menina muito sensível e
romântica. Ela não iria saber o que fazer com um cara pervertido que gosta
de swing— Acho que as minhas palavras não soaram verdadeiras, porque a
Rufina sorri com desdém.
— Não aposte muito nela, queridinha. Essas quietinhas são as piores.
Penso um pouco no que ela falou e, quando vou responder, meu
telefone vibra. Pego-o dentro da minha bolsa para olhar quem é. Quando
vejo uma mensagem, clico nela. Imediatamente, meu corpo se arrepia. É o
Fábio!
“Você está linda. Adoro essa cor em você, e gosto ainda mais de ver
seus cabelos presos”.
Tento disfarçar meu nervosismo e respondo sua mensagem:
“Você está aqui?”
Sorrio para Rufina, mas ela está distraída, olhando para um bonito
rapaz logo à frente.
“Estou olhando para você, meu amor. Já iremos nos reencontrar. Eu
te amo”.
Sinto vontade de vomitar. Tenho que pedir licença para a Rufina e
tentar pegar um pouco de ar. Onde será que esse louco está? Como ele
conseguiu entrar nessa festa?
Saio da sala e vou até a varanda em busca de ar. A festa está sendo
realizada em uma casa muito bonita, com um jardim exuberante. Tudo é
elegante e de muito bom gosto. Quando chego ao canto da imensa varanda,
uma mão firme segura o meu braço. Instintivamente, puxo-o com força,
preparando-me para o ataque.
— Ei, calma, sou eu — Ouço a voz baixa do Rico, e meu corpo todo
relaxa.
— Você quer me matar? — Meu coração está tão acelerado, que parece
que vai explodir.
— Claro que não — Ele sorri e puxa meu corpo junto ao seu — Eu
queria apenas beijá-la um pouco — Seus lábios roçam os meus e esqueço
minha angústia, deixando-o me levar para um mundo só de prazer. Sua boca
começa a beijar suavemente a minha, mas aos poucos o beijo fica exigente e
o desejo passa a nos dominar — Vamos sair daqui.
Abro a boca para fazer um protesto, mas decido não lutar contra a
determinação que ele está apresentando. Sigo seus passos apressados até
chegarmos a um canto do jardim, longe de todo o burburinho da festa.
— Eu preciso tê-la agora — Suas mãos começam a subir o meu vestido.
Acabo me desesperando.
— Rico, não podemos.
— Claro que podemos — Ele sorri e coloca as mãos na minha bunda —
Você é minha, e eu posso fodê-la onde eu quiser — A naturalidade com que
ele fala é tanta, que fico sem saber o que falar — Começaremos aqui e agora
nossa noite, querida. Quando chegarmos em casa, teremos muito mais.
Ele vira-me e encosta meu corpo em um muro sem nenhuma
iluminação. Suas mãos abrem a fenda do meu vestido, e sinto uma delas
passarem lentamente pela minha umidade.
— Você está molhadinha só para mim — Ele esfrega a sua rigidez na
minha bunda, e eu gemo — Eu também estou pronto para você — Mordo os
lábios para não gritar com todo o tesão que estou sentindo — Diga que me
quer agora — Não penso duas vezes e faço o que me pede.
— Eu quero você agora, Rico.
— Você é minha — Ele separa-se de mim e ouço-o abrindo as calças.
Quando retorna para meu corpo, suas mãos entram na fenda do meu vestido
e afastam minha calcinha para o lado — Fique quietinha, porque não
podemos ser ouvidos. Será rápido e duro, porque não temos tempo. Está
entendido?
— Sim — Essa é a única palavra que consigo falar com clareza.
— Ótimo. Se você não me acompanhar, terá que esperar até chegarmos
em casa, porque eu não irei esperá-la e nem serei delicado — Se ele soubesse
que já estou a ponto de gozar, não falaria essas coisas.
— Cale a boca e foda-me agora! — O Rico ruge baixo no meu ouvido e
coloca um braço na minha cintura, enquanto que, com a outra mão, ele
afasta minha calcinha e tenta me penetrar. Eu seguro a base do seu eixo
rígido e centralizo na minha entrada, tentando apressar as coisas.
Quando sinto os primeiros centímetros dele entrando em mim, abafo
um gemido profundo e apenas empino minha bunda para ele conseguir ter
melhor acesso. Estou tremendamente encharcada e necessito de uma
penetração maior.
— Carol, você é uma puta do caralho! — Não respondo sua provocação
e o deixo começar a se movimentar — Só me pare se eu te machucar —
Escuto muito longe o seu pedido, porque estou perdida, sentindo-o todo
dentro de mim.
O Rico me come com tanta força e intensidade, que minha vontade é
gritar para todo mundo ouvir que ele é meu, e que sou apenas eu que
desperto todos esses desejos ensandecidos nele. Mas sigo suas instruções e
fico quieta, apenas sentindo o prazer crescer no meu corpo. Saber que
alguém pode aparecer e pegar nós dois nesse momento proibido faz o meu
corpo entrar em um estado de excitação que chega a doer.
As mãos dele apertam minha cintura com força, e suas estocadas são
tão rápidas, que acabo sentindo medo de alguém mais atento ouvir o que
estamos fazendo. Tento encontrar forças para protestar, mas o único som
que sai da minha boca é um gemido baixo, indicando todo o meu desejo.
— Não me deixe sozinho, querida, goze comigo — Sorrio ao ouvir suas
palavras. O Rico é o cara mais mentiroso que conheço quando se fala em
sexo. Todas as vezes que ele afirma que não vai me esperar para gozar, está
mentindo. Sempre pergunta se estou perto e nunca alcança o prazer antes de
mim. Esse homem é incrível.
— Estou sempre com você — Seus lábios beijam minha nuca com tanta
sensualidade, que esse gesto é suficiente para eu poder libertar todo o tesão
que está dentro de mim. Ele percebe meu momento e também relaxa,
gozando com intensidade, enquanto fala palavras sujas no meu ouvido.
— Isso foi demais — Ele diz, enquanto interrompe suas investidas
dentro de mim — Como pode cada vez ficar melhor?
— Eu não sei. A culpa é sua — O sorriso dele junto ao meu pescoço
causa uma alegria tão grande dentro de mim, que tudo o que queria agora
era fugir de todos os problemas e viver em um mundo onde só existisse o
nosso amor.
— Eu sou o melhor mesmo. Tenho que admitir.
— Cala a boca, Pedro Henrique — Tento afastar-me dele, sorrindo do
seu convencimento. Ele não esboça nenhuma reação e sai de dentro de mim
tranquilamente, tentando ajeitar meu vestido da melhor forma possível.
— Acho que eu desmontei sua aparência, querida. Desculpa — Tento
esticar meu vestido e percebo que, se ele está tão amarrotado assim, nem
quero saber da minha aparência.
— Vou até o banheiro dos fundos tentar ajeitar todo esse caos — Eu
espero ter conseguido manter a minha maquiagem intacta.
— Vou levá-la até lá e depois sigo para a festa sozinho, assim ninguém
percebe a nossa travessura.
— Acho que você ultrapassou todos os limites hoje, Rico.
— Se você não fosse tão gostosa, eu não estaria tão desesperado assim
— Ele me beija com força, e tudo o que eu queria era estar em casa a sós
com ele.
— Agora a culpa é minha? — Às vezes, me irrito com as idiotices que
ele fala.
— Claro que é. Você viu como o Xandy e o Guto olharam para você
quando chegou? Até meu pai ficou sem palavras. Nem vou comentar todas
as coisas que ouvi dos outros homens.
— Você não existe! — Empurro seu peito e sigo para os fundos da casa,
tentando encontrar um banheiro mais discreto. O Rico me alcança, passa o
braço na minha cintura e beija meu cabelo.
— Eu te amo! — A voz dele é baixa quando fala isso.
Olho para seu perfil tão bonito e agradeço a Deus por ter colocado na
minha vida uma pessoa tão especial quanto ele. Nunca imaginei viver uma
felicidade tão profunda quanto a que vivo com o Rico. Ele é um presente
mais que especial.
— Eu também te amo! — Chegamos ao banheiro, e paro na porta para
me despedir dele — Vou me ajeitar aqui e, assim que eu terminar, te
encontro.
— Tudo bem. Vou te esperar lá no salão — Seus lábios roçam os meus,
e ele sai olhando para os lados com uma cara de que absolutamente nada de
anormal aconteceu.
Entro e fecho a porta sorrindo com a lembrança do nosso momento.
Preciso me limpar e ajeitar a maquiagem. Quando olho no espelho, percebo
que ao menos meu penteado ficou a salvo do ataque do meu namorado, e só
precisarei mesmo consertar a maquiagem e dar uma esticada no vestido.
Quando estou bem perto de terminar minha maquiagem, eu escuto um
som vindo do meu celular e, mesmo tensa, decido ver o que é. Desbloqueio a
tela e vejo que tenho duas novas mensagens. É claro que o número é
desconhecido. Um vídeo acompanha a mensagem com algumas poucas
palavras. Coloco-o para baixar e leio as mensagens:
“Seu namorado não é quem você pensa. Olha o que ele faz enquanto
está longe de você”.
Meu coração dispara e minhas mãos começam a tremer. O vídeo
carrega e fico olhando a imagem do Rico com um copo de uísque nos lábios.
Pondero se devo abrir e ver do que se trata, ou se ignoro e esqueço a
mensagem. Minha curiosidade ganha. Clico no vídeo, e o que vejo tira todo o
meu ar.
O Rico está em algum bar bebendo uísque, no momento em que Paola
chega e coloca os braços em seus ombros, beijando seu rosto com
intimidade e carinho. Ele observa seu rosto e fala alguma coisa, enquanto o
Guto sorri feliz. Ela inicia uma conversa alegre com Guto, e os dois parecem
se divertir. O Rico toma a sua bebida pacientemente e parece estar tranquilo
com aquele encontro. Mais algumas palavras são trocadas até que o vídeo é
interrompido. Outra mensagem aparece, e vejo que a pessoa está online:
“Enquanto você estava sofrendo nos braços do seu irmão, ele se
divertia com a amante e o amigo pervertido. Eles formam um trio bem
inusitado”.
Fecho os olhos e tento controlar o meu desespero. Meu namorado não
pode estar envolvido com a Paola, muito menos formando um trio com ela e
o Guto. Resolvo responder:
“Quem é você. O que quer de mim?”
Espero a resposta e relembro das palavras da Rufina, quando disse que
o Guto gosta de um sexo excêntrico. Será que ele e o Rico gostam de dividir
as mesmas mulheres? O pânico domina minha mente, e sinto meu peito se
comprimir. Olho para o celular e outra mensagem chega:
“Só quero você, porque você é minha”.
Antes que eu possa pensar em uma resposta, a porta é aberta, e um
magro e alto Fábio aparece na minha frente, mostrando toda a imponência
de sempre. Ele está abatido, mas ainda é um homem extremamente
atraente. Seu cabelo está mais longo e uma barba cobre seu rosto másculo.
Fábio ainda é sensual, apesar de despertar pavor em mim.
— Como conseguiu entrar aqui? — Minha voz é trêmula e fraca.
— O banheiro está interditado.
— O quê? — Pergunto, indignada — Claro que não está, eu não vi
nenhum aviso — Ele sorri e dá um passo na minha direção.
— Eu interditei assim que você entrou — Sua tranquilidade me causa
revolta.
— Saia daqui e me deixe em paz, Fábio. Você sabe que, se eu demorar,
alguém vai me procurar.
— Se está falando daquele seu namorado ridículo, tenho que te avisar
que ele está bem distraído. Não vai notar sua ausência.
Lembro-me da imagem do vídeo e imagino se ele, Paola e o Guto estão
marcando algum encontro nojento juntos.
— Saia daqui! — Falo novamente, só que com mais convicção.
— Por que está tão agressiva, Carol? Pensei que estaria mais calma
depois de ser fodida como uma puta pelo seu namorado playboy.
Olho em seus olhos raivosos e fico sem saber o que responder. Esse
desgraçado esteve observando tudo o que eu Rico fizemos, sinto ódio por
saber que ele esteve como um voyeur na nossa intimidade.
— Você não tem o direito de me seguir, Fábio.
— Tenho. Você é minha, Carol. Não vou permitir que esse cara coloque
a mão no que é meu.
— Não sou sua. Você mentiu para mim em toda nossa relação! Sua
mulher se matou quando descobriu minha existência.
— Ela era uma mulher deprimida e fraca. Não posso ser culpado por ter
me apaixonado por uma mulher de verdade como você. Se ela quis se matar,
foi por não saber viver uma vida independente. Eu e você não somos
culpados por ela ser tão idiota.
— Você é um monstro! — Digo, revoltada por sua falta de compaixão.
— Já chega! — Ele se aproxima e pega meu braço, apertando com força
— Vamos dar uma volta.
— Não vou sair com você.
— Cale a boca ou terá consequências. Será que você suportará outra
morte na sua consciência?
Não respondo sua insinuação, porque realmente não sei o que farei se
mais alguém morrer por minha causa.
— Você sabe que, se o Rick colocar as mãos em você, será um homem
morto? — Ele sorri com gosto, enquanto abre uma porta na lateral da casa.
— Seu irmão é um otário, Carol. Ele está convivendo com o inimigo o
tempo todo e não se deu conta. Mas não quero saber dele. Nesse momento,
só nós dois é o que realmente importa.
— Onde você pensa que vai me levar?
— Vamos recuperar o tempo perdido, querida, temos muita coisa para
colocar em dia.
— Se você parar com tudo isso, eu juro que não conto a ninguém que
nos encontramos, Fábio — Tento convencê-lo a parar com essa loucura.
— Carol, coloque na sua cabeça que você sempre será minha. Ninguém
irá nos separar — Ele fala, parecendo não ouvir o que eu estou falando.
— Eu te odeio — Não me controlo e exponho o meu ódio por ele.
— Não. Você me ama, e eu sei perfeitamente disso. Agora fique quieta,
se não quiser que o seu namorado ou alguma de suas amigas sofram por
causa da sua desobediência.
Sou jogada dentro de um carro elegante, e, mesmo querendo fugir dali,
fico pensando se ele realmente pode fazer alguma coisa contra alguém que
eu amo.
Penso em todos os riscos que ele deve ter passado para chegar aqui e
decido ficar quieta e ver até onde pode chegar. Mais cedo do que o Fábio
possa imaginar, meu irmão irá me encontrar e acabar com todo esse
pesadelo. E quando eu me livrar dele, vou ter uma conversa franca com o
Rico e descobrir se realmente ele me ama.
Capítulo 32
Pedro Henrique
Tenho que buscar todo o meu autocontrole para não expulsar a Paola
de perto de mim. Ela não para de falar e tenta transparecer uma intimidade
que já não existe entre nós. Se a Carol a vir aqui, terei sérios problemas.
Olho a minha volta e vejo o Guto distraído, conversando com o meu irmão.
Ele parece escutar meu chamado telepático, pois olha na minha direção e
percebe meu incômodo.
Eu e o Guto sempre tivemos essa espécie de transmissão de
pensamentos. Quando éramos crianças, achávamos que isso era um
superpoder. Mesmo depois que crescemos, mantivemos essa ligação
estranha.
Ele deixa meu irmão e caminha em nossa direção calmamente. No
caminho, para e pega uma bebida e, quando está chegando perto, sorri da
minha cara. Paola não para de falar, e apenas aceno a cabeça, concordando
com as bobagens que ela diz. Espero que a presença do meu amigo seja mais
que suficiente para ela me deixar em paz.
— E aí, Rico, tudo em cima? — Ele pergunta, olhando diretamente para
Paola.
— Tudo certo, Guto — Respondo, ansioso para vê-lo expulsá-la daqui.
— E você, Paola, como está? — O Guto pergunta, sorrindo e se
divertindo com a cara de desagrado dela.
— Estava muito bem antes de você aparecer, Gustavo.
— Nossa! Quanto rancor, princesa! O que aconteceu? Você não
conseguiu fisgar nenhum otário hoje? — Agora ela vai embora, porque não
suportará o sarcasmo dele.
— Não preciso fisgar ninguém, querido, porque já sei o que quero.
— Jura? Quem é o infeliz? — O deboche dele é tão engraçado, que,
mesmo não querendo, sou obrigado a sorrir.
— Com certeza, não é você. Eu prefiro homens de verdade — Guto
gargalha alto, chamando a atenção de algumas pessoas.
— Essa foi boa, Paola, você é engraçada! Mas acho que está na hora de
dar uma volta, porque se a Carol pegar você aqui, terá sérios problemas —
Ele agora tenta afastá-la daqui antes que as coisas esquentem de verdade.
— Se ela estivesse tão preocupada com o namorado, estaria aqui
tomando conta do seu território.
— Paola, para de falar bobagens... A minha namorada não precisa ficar
me fiscalizando, ela sabe muito bem que eu não tenho interesse em outra
mulher além dela — Falo isso, já de saco cheio da sua conversa chata.
— Ai! Essa doeu até em mim. Se eu fosse você, metia esse rabinho
entre as pernas e saía agora — O divertimento do meu amigo deixa a Paola
extremamente contrariada.
— Talvez o interesse seja só seu, Rico, porque ela nem na festa está. De
repente, ela encontrou alguma coisa interessante por aí — Sem deixar que
eu responda, a Paola dá as costas e sai de perto, indo em direção à varanda.
— Meu amigo, como diz a Rufina, o recalque chegou ali e não quer sair.
Essa mulher não te esquece mesmo. O que você fez com ela? Conta aqui
para o seu brother...
— Vai à merda, Guto! Eu nem lembro mais do tempo que passei com
ela. Se eu pudesse voltar atrás, eu não teria me envolvido com a Paola. Ela
não sabe ficar no seu lugar.
— Rico, eu a acho muito venenosa. Paola não é o tipo de mulher que
engole desaforo. Acho que essa fissura que tem por você ainda causará
muitos problemas.
— O que você quer dizer com isso? — Pergunto, tentando entender
aonde ele quer chegar.
— Ela não engoliu essa sua paixão pela Carol. Pode anotar que ainda
vai infernizar a vida de vocês — Ele tem razão e, nesse momento, não quero
pensar nisso. Mais adiante, eu terei que sentar com ela e colocar tudo em
pratos limpos.
— Vou resolver isso depois.
— É melhor mesmo, ela tá precisando de um freio.
— Rico... — Ouço Rufina me chamando e gemo internamente, ela
certamente vai querer atentar o meu juízo. Hoje não é a minha noite.
— O que foi, Rufina? — Falo, já impaciente.
— Nossa, que horror! Nem falei nada e você já está com quatro pedras
na mão — Arrependo-me imediatamente da minha impaciência, ela
realmente não fez nada.
— Desculpa, Rufi — A minha amiga é chata, mas não quer atrapalhar a
minha vida.
— Rufina, ele ainda está sob o efeito da Paola. Dê um desconto ao
nosso amigo — O Guto intervém em meu favor.
— Então está perdoado. Aquela víbora deixa qualquer um azedo.
— Também acho, Rufina, a Paola sabe ser desagradável — Guto
concorda e passa o braço nos ombros dela — Você também é desagradável.
Mas, como é mais gostosa que ela, eu prefiro você.
— Larga de ser folgado, Gustavo. Você não faz meu tipo! Pode parar de
jogar seu charme para mim.
— Por que não sou seu tipo? — Ele pergunta, indignado — Eu sou o
tipo de todas as mulheres, Rufina.
— Só se for o tipo de todas as mulheres sem juízo e com gosto
duvidoso, Guto, porque para mim essa sua boca de botox é deprimente. Sou
uma mulher seletiva, querido, não perco meu tempo com certos tipos — Se
você quiser acabar com alguém com extremo humor, chame minha amiga,
pois ela faz isso com os pés nas costas.
— Olha aqui, Rufina, o dia em que eu te pegar de jeito, vou fazer você
engolir toda essa sua insolência — Ela sorri e beija a bochecha dele.
— Vai sonhando, querido. Infelizmente, você vai ter que viver sem
experimentar meu corpo — Ninguém consegue descontrair um ambiente
como essa maluca. Ela é irritante na maioria das vezes, mas consegue
arrancar um sorriso sincero com seu bom humor.
— Já terminaram a paquera? — Pergunto, colocando mais lenha na
fogueira.
— Eu ainda não — Meu amigo prontamente responde, parecendo
realmente ofendido com o chega para lá que levou da Rufina.
— Eu terminei, Rico. Não quero mais sambar na cara do Guto, porque,
se ele tiver problemas futuros com autoestima, não quero ser
responsabilizada.
— Essa é boa — Ele bufa, e sorrio da cara dele.
— O que você queria falar comigo, Rufi? — É melhor conversar com ela
rápido e colocá-la para correr antes que apronte alguma confusão.
— Estou procurando a Carol. Eu preciso falar com ela.
— Ela foi ao banheiro, já deve estar voltando — Agora que ela
perguntou, percebo que já faz um tempo que a deixei por lá. Será que
estraguei seu visual mais do que pensei?
— Eu já liguei três vezes para o celular dela, e ela não atende — Antes
que eu possa responder, a Juliana se aproxima, sorrindo.
— Gente, essa festa está incrível!
— Está mesmo, Ju, esse lugar que vocês escolheram é muito lindo.
Nunca tinha vindo aqui — O Guto responde ao comentário da minha irmã.
— O dono dessa casa é um amigo meu. Ele fez uma reforma e
transformou a casa em um espaço para eventos. Acho que ficou muito
interessante. Dá uma sensação de que estamos na nossa casa.
— Isso é verdade, Ju — Ele concorda. Mas eu não estou interessado na
conversa deles, porque estou preocupado com minha garota.
— Ju, você viu a Carol por aí? — A Rufina pergunta, ansiosa.
— Faz tempo que não esbarro com ela, Rufi.
— Ela está no banheiro dos fundos, Rufina. Se você quiser, pode ir até
lá — Digo tranquilamente, mas, por dentro, estou com certo desconforto.
— Como assim no banheiro dos fundos? Ele está interditado — A
Juliana fala, distraidamente.
— Não está, Ju, eu mesmo a deixei lá há pouco tempo — Minha irmã
certamente está enganada.
— Rico, acabei de vir de lá. Há uma placa dizendo que está interditado
— Os cabelos da minha nuca se arrepiam e uma sensação de desconforto
instala-se no meu peito.
— Impossível. Eu mesmo a deixei nesse banheiro — Falo, enquanto
sigo para o tal banheiro. Ouço a Juliana me chamando, mas não respondo.
Preciso encontrar a minha garota. Quando estou chegando ao banheiro,
sinto meu braço sendo puxado com força. Quando olho para trás, vejo que é
o Guto quem puxa — Solte-me agora — Falo, irritado, sem entender o
porquê da sua intromissão.
— Calma, Rico, eu sei o que você está pensando. Vamos ter calma agora
— Ele fala isso com tanta tranquilidade, que meu temperamento explode.
— Calma?! — Pergunto para ele, indignado — Eu deixei a Carol aqui e
não tinha placa nenhuma de interdição. Quero saber que porra está
acontecendo!
— Vamos abrir essa porta, mas com cuidado, Rico — Ele coloca o
ouvido nela e fica quieto por um tempo, depois a destranca e abre toda. Eu
observo o interior vazio do banheiro e entro devagar.
Nada está fora do lugar, e não parece que esse banheiro precise de
algum reparo. Quando nós dois estamos dentro dele, ouço o barulho de um
celular e vejo um aparelho na bancada da pia. Eu me aproximo e observo a
imagem da Carol e Rufina juntas, sorrindo. Imediatamente, sinto meu
coração parar de bater. Esse telefone é da minha Carol, e ela não está aqui.
— Onde minha mulher está, Guto? — Pergunto, já em desespero.
— Porra, Rico, eu não sei. Mas tenha calma — O Guto arranca o
telefone das minhas mãos e atende o celular — Rufina, a Carol não está
aqui, tente achá-la na festa agora mesmo. Eu e o Rico iremos procurá-la no
jardim. Avise ao Xandy e ao Rômulo, mas tente ser discreta. Não chame a
atenção dos outros convidados.
— Guto... — Tento concluir algum raciocínio, mas não consigo, meu
cérebro parece ter derretido.
— Vamos procurá-la no jardim primeiro. Se não encontrarmos nada lá,
ligamos para o irmão dela. Vem comigo — Ele puxa meu braço e sigo-o sem
conseguir falar absolutamente nada. Estou tão desesperado, que não consigo
pensar em nada lógico.
Começamos a procurar no jardim, mas tudo parece tranquilo. Apenas
algumas pessoas passeiam por ali tranquilamente. O Guto chama um
segurança e conversa com ele. O homem imediatamente fala algumas
palavras em um rádio e sai em direção ao portão.
— Eu comuniquei ao segurança que estamos procurando a Carol. Ele
irá fechar todas as saídas da casa.
— E se já for tarde demais? — Pergunto em desespero.
— Não será, Rico. Vamos continuar procurando — Sigo o Guto.
Descemos pelos jardins, chamando o nome da minha menina.
Depois de andar por todo o jardim, percebemos que não a
encontraremos por ali. A cara que o Guto faz quando atende uma ligação do
seu telefone indica que o pior realmente aconteceu.
— Ela não está na casa. Ligue para o Ricardo.
— Meu Deus! — A realidade me atinge tão forte, que não consigo fazer
nada além de começar a chorar como uma criança. Onde será que a minha
Carol está? Será que esse louco a está maltratando? Será que ela vai voltar?
— Caralho, Rico, me dá a porra desse telefone aqui! — O Guto coloca a
mão no bolso da minha calça e pega meu telefone. Ele procura o número do
Ricardo até achar.
— Alô? — Ele fala e olha para mim com raiva — Não é o Rico que está
falando, aqui é o Gustavo. Nós temos um problema. Você precisa vir para cá
agora. A Carol sumiu — O Guto ouve alguma coisa e faz uma careta com o
que Ricardo fala — Não sei, cara, nós percebemos que ela sumiu e, quando
chegamos ao banheiro em que ela estava, encontramos apenas o lugar vazio.
O Rico está em choque aqui. Comuniquei a segurança do local, mas não sei
o que fazer. Ela não está mais na festa, alguém sumiu com ela — Ele ouve
um pouco mais, e eu tento conter todas as piores imagens que estão
passando na minha mente. Começo a andar em círculos, tentando encontrar
algum controle — Tudo bem, eu vou proibir a saída de qualquer pessoa.
O Guto desliga o telefone e olha para mim, desanimado:
— Acho que o seu cunhado vai arrancar a sua pele. Ele tá fora de si.
— Guto, se acontecer alguma coisa com ela, eu não sei o que será de
mim. Isso tudo é culpa minha. Não poderia ter deixado a Carol sozinha
naquele lugar — O semblante do meu amigo endurece, e percebo que o Guto
frio e calculista entrou em ação. Isso me assusta um pouco.
— Vamos tomar as providências necessárias para encontrar a Carol.
Não adianta você se culpar ou ficar pensando no que poderá acontecer.
Agora não é o momento. O Ricardo pediu para fecharmos a casa e não deixar
ninguém sair. Venha comigo.
Sigo atrás dele, e uma nova determinação instala-se no meu peito.
Quando eu colocar as mãos nesse desgraçado, ele irá se arrepender de um
dia ter nascido. Pego meu celular e ligo para o Luiz, amigo do Ricardo, que é
o responsável pela nossa segurança hoje à noite.
— Luiz, a Carol sumiu.
— Eu já estou aqui na casa, o Rick já me avisou.
— Tudo bem, eu já estou chegando.
O Guto entra na minha frente, e eu agradeço a Deus por tê-lo nesse
momento perto de mim. Meu amigo, em momentos difíceis, sabe ter o
sangue frio necessário para manter a situação sob controle. Quando
chegamos ao centro da festa, meu pai aproxima-se com o semblante
fechado:
— Como isso aconteceu, Pedro Henrique? — Ele está mais que irritado,
e sinto-me um merda por não conseguir manter minha namorada em
segurança.
— Eu não sei, pai.
— Não sabe? — Ele fala entre dentes enquanto aproxima o rosto do
meu com raiva — Como você deixa sua namorada sozinha no banheiro mais
longe da casa e não espera por ela? Me diz onde você estava com a cabeça,
garoto?
— Pai... — Tento argumentar, mas ele tem razão. Eu fui extremante
displicente com a segurança dela, e isso pode terminar muito mal.
— O que falaremos para a família dela? Como irei dizer ao pai dessa
menina que meu filho é tão estúpido ao ponto de deixar a filha dele sozinha
enquanto curte a festa tranquilamente? Meu Deus, Pedro Henrique, você
não pode ser tão burro assim...
— Pare agora, Rômulo, você não está vendo como ele está abalado? —
Minha mãe me abraça, e encosto minha cabeça em seu ombro,
envergonhado da minha idiotice.
— Abalada está essa menina nas mãos de um lunático... Ele é um
homem e tem que ser cobrado de acordo com suas ações.
— Vamos sair daqui. Esse showzinho de vocês está chamando muita
atenção — Minha irmã fala enquanto caminha ao lado de Xandy e da Rufina
para um local reservado. Todos seguimos seus passos e entramos em uma
espécie de escritório.
— Você já avisou ao Ricardo? — A Juliana pergunta assim que
entramos.
— Eu liguei, Ju. O Rico estava muito nervoso — O Guto responde. Meu
pai ri da resposta.
— Quer dizer que o meu filho não é capaz de ligar para o próprio
cunhado e comunicar o desaparecimento da namorada? Que orgulho você
acaba de me dar, garoto...
— Pai, pare com isso. O senhor não percebe que o Rico está nervoso?
Ele jamais esperava que esse maluco pudesse entrar nessa festa — O Xandy
tenta intervir ao meu favor.
— Ele não tem o direito de estar nervoso. Essa menina era unicamente
responsabilidade dele — Meu pai grita, saindo totalmente do sério.
— Chega! — Minha mãe também grita e olha diretamente para meu pai
— Se você não for capaz de ajudar o seu filho, Rômulo, saia agora. Não vou
admitir você agredir o meu filho verbalmente em um momento tão difícil.
— Mamãe tem razão, pai. Com tantos seguranças nesse lugar, ele não
poderia imaginar que esse cara estivesse aqui — Meu pai me olha, irritado
para a Juliana, e caminha para um canto afastado da sala.
— O que faremos agora? — Ele pergunta para a Juliana.
— Teremos que esperar o Ricardo chegar — Ela fala, parecendo tão
perdida quanto eu.
— Alguém ajudou esse cara — O Guto diz enquanto encara meus olhos
— E lamento informar, mas foi alguém bem próximo de nós — Enquanto diz
isso, ele olha por toda a sala.
Um silêncio gigantesco invade o local, e todos nós nos olhamos
desconfiados. Mesmo sabendo que todas as pessoas que estão aqui seriam
incapazes de fazerem alguma coisa desse tipo, eu fico desconfortável pelo
raciocínio óbvio do Guto. Realmente, alguma pessoa que nos conhece
facilitou a entrada dele nesse lugar. Mas me recuso a acreditar que tenha
sido qualquer um de nós.
— Ninguém aqui seria capaz disso, Guto — A Rufina fala, indignada
com a desconfiança dele.
— Então quem foi? — Antes que ela possa responder, a porta é aberta
com violência, e o Ricardo entra acompanhado por mais outros três caras. A
expressão dele é dura e sem nenhuma emoção, e isso me deixa ainda mais
desesperado.
Ele corre os olhos por todos nós com frieza palpável e, por fim,
concentra sua atenção em mim.
— Quem viu minha irmã pela última vez? — A voz dele é fria, e a
firmeza com que fala cada palavra revela que ele é um homem
extremamente centrado.
— Fui eu — Falo, enquanto dou um passo à frente e encaro seus olhos.
— Então me conte tudo com os mínimos detalhes que conseguir
lembrar.
Fecho os olhos e tento relembrar tudo o que aconteceu. Começo
falando do nosso encontro na varanda e como ela pareceu assustada com a
minha chegada inesperada. Digo que conversamos um pouco na varanda e
caminhamos pelo jardim tranquilamente. Nada de anormal aconteceu nesse
momento e, como estávamos perto dos fundos, a Carol resolveu ir até o
banheiro que fica localizado naquela parte da casa. Omito, é claro, a parte
em que transamos, porque sei que isso não irá acrescentar em nada nesse
momento. Quando termino de falar, o Ricardo balança a cabeça:
— Você a deixou na porta do banheiro e não esperou por ela... Por quê?
— Não sei. Ela disse que iria rápido ao banheiro e depois me
encontraria na festa. Eu simplesmente segui para o salão. Foi uma ação feita
sem pensar. Desculpa, Ricardo — Naquele momento, eu não pensei que
alguma coisa perigosa pudesse acontecer, e também não queria despertar
nenhuma suspeita do que tínhamos feito.
— Suas desculpas não trarão a Carol de volta, Pedro Henrique — Se ele
tivesse dado um murro na minha cara, não teria doído tanto quanto ser
humilhado assim na frente de toda a minha família — Agora, preciso saber
por quanto tempo ela ficou desaparecida até darem falta dela.
— Acho que uns dez minutos — Eu respondo com a ajuda do resto de
dignidade que me resta.
— E como percebeu que ela sumiu?
— Foi por causa da Rufina — Os olhos dele se voltam para ela.
— Explique melhor isso, Rufina — A dureza da sua voz faz com que ela
perca um pouco o compasso.
— Eu queria falar com ela. Mas todas as vezes que liguei, o telefone
caiu na caixa postal. Então resolvi procurar o Rico e ver se ela estava com ele
— Todas essas palavras saem corridas, e ela praticamente não respira ao
falar — Mas quando eu perguntei, ele disse que a Carol estava no banheiro
dos fundos. Foi aí que a Juliana chegou e disse que o banheiro estava
interditado.
— Como você soube que o banheiro estava interditado? — Ricardo
agora dirige sua atenção para a minha irmã.
— Eu fui até lá, porque o banheiro da frente estava cheio. Quando
cheguei ao local, havia uma placa indicando que o banheiro estava
interditado para manutenção — O Ricardo pensa um pouco em tudo o que
ouviu.
— Entregue o telefone dela, Rico — O Guto diz, interrompendo o
silêncio da sala — Ela deixou o telefone no banheiro, Ricardo. Talvez tenha
sido proposital, pode ser que haja alguma pista nele. Alguém conhecido
ajudou esse cara, e esse telefone pode ter alguma coisa que ajude a descobrir
quem é essa pessoa — Os olhos do Ricardo se abrem com a informação do
Guto, e ele estende a mão para mim.
— Cadê o aparelho? — Eu o tiro do bolso e entrego em suas mãos.
Ricardo começa a verificar o telefone e, em segundos, sua expressão se
contrai. Ele tecla mais um pouco, até que fica concentrado, olhando alguma
coisa. Minha curiosidade está a mil, e penso seriamente em perguntar o que
ele está olhando. Mas, quando resolvo falar, ele olha para mim com raiva.
— Você olhou esse telefone?
— Não. Quando achei, coloquei no bolso — Me lembro da ligação da
Rufina — Eu ia me esquecendo. O Guto atendeu uma ligação da Rufina nele.
Depois disso, eu guardei.
— Ela trocou mensagens com ele. Não só hoje, como há alguns dias.
— O quê? — Eu pergunto, sem acreditar que ela possa ter feito uma
coisa dessas.
— Pelo que está escrito aqui, ela estava tentando resolver o problema
sozinha — O Ricardo esboça um leve sorriso — É típico da minha irmã fazer
uma coisa dessas — Ele para de falar e me encara — Vocês dois... — Ele faz
sinal para mim e Guto — Olhem esse vídeo.
Nós nos aproximamos, e ele mostra um vídeo no qual eu e o Guto
aparecemos em um bar, bebendo tranquilamente. No vídeo, estamos
conversando, quando, de repente, a Paola se aproxima e beija o meu rosto.
Imediatamente, lembro-me do dia em que saí com o meu amigo para
espairecer depois da briga que tive com a Carol.
— Por que você acha que alguém está ajudando-o, Gustavo? — Ricardo
guarda o celular e cruza os braços, esperando a resposta do meu amigo.
— Isso é bem óbvio... — O Guto coloca as mãos no bolso e fica um
pouco pensativo — Esse cara está sempre por perto e conseguiu chegar até a
Carolina, passando tranquilamente por todas as suas precauções. Ele entrou
aqui sem que nenhum dos seus homens percebesse e, ainda por cima, tirou
a Carol da festa bem debaixo dos nossos olhos. Alguém com total acesso ao
nosso círculo está dando informações para ele. Só nos resta descobrir quem
é esse informante traidor.
Ricardo parece considerar as palavras do Guto e abaixa a cabeça,
ficando quieto por um longo tempo. Todos na sala ficam em silêncio,
esperando por alguma reação dele. De repente, ele suspira fundo e sai da
sala como um raio.
— Esse cara é louco? — O Xandy pergunta, sem entender nada.
— Acho que ele descobriu o comparsa do desgraçado — Meu pai fala,
enquanto caminha até o Guto — O que ele pediu para vocês olharem no
celular?
— Era um vídeo meu e do Rico.
— E o que tinha nesse vídeo? — Minha mãe pergunta, apreensiva.
— Nada demais. Apenas eu e o Guto bebendo em um bar, mãe — Falo,
tentando encerrar o interrogatório.
— E por que ele pareceu tão nervoso depois que viu o vídeo? — A
Juliana pergunta, curiosa.
— O traidor estava no vídeo — O Guto responde a minha irmã com
segurança. Eu observo meu amigo e não entendo suas palavras. Ele me olha
nos olhos e sorri de uma maneira estranha — Ele esteve embaixo dos seus
olhos o tempo todo, Rico. Você é que foi cego em não percebê-lo a sua volta
— Procuro encontrar alguma resposta. Mas, no momento, estou perdido
demais tentando entender o significado das suas palavras.
Capítulo 33
Pedro Henrique
Pedro Henrique
Ricardo
Se esse filho da puta acha que irá tratar a minha irmã como merda,
está muito enganado. Eu percebi seu distanciamento assim que entramos
nessa casa, e a Carol também notou. Eu dei tempo para ele se recuperar,
mas o que tudo indica é que ele permanecerá se comportando como um
otário. Já relevei quando ele colocou a minha irmã em perigo, mas não vou
permitir que ele seja frio com ela nesse momento.
Assim que ele coloca os pés na varanda, seguro seu pescoço com força
e o encosto na parede mais próxima:
— Olha aqui, seu merda! — Digo entre dentes — Você não tem o direito
de tratar a minha irmã desse jeito depois do que ela passou nessa noite — Os
olhos dele estão arregalados em surpresa pela minha atitude.
— Solte-me agora, Ricardo — Eu pressiono ainda mais o meu aperto.
— Você já fez merda na hora de protegê-la. Agora, o mínimo que pode
fazer é dar o apoio que ela espera de você.
— Você não acha que eu sei que sou um idiota completo? — A fúria em
seus olhos me faz relaxar o aperto em sua garganta — Se alguma coisa
tivesse acontecido com ela, eu não conseguiria mais viver. A Carol é meu
presente e meu futuro. Ela é minha vida. Eu a amo. Ela é mais importante
que o ar que eu respiro, e não quero sequer imaginar perdê-la. Mas depois
de toda a trapalhada que fiz hoje, não posso mais ficar com ela. Não sou
capaz de protegê-la como você. Não sou um homem à altura dela.
Tento compreender o que esse idiota está falando, mas não consigo
chegar a nenhuma conclusão. Eu sei que eu peguei pesado com ele em
muitos momentos, mas agora tudo passou. Minha irmã saiu dessa confusão
sem nenhum arranhão.
— Esquece o que aconteceu hoje. Eu também errei, mas, no final, tudo
acabou bem — Isso é verdade. Se eu tivesse sido mais prudente, nada disso
teria acontecido — Ela precisa de você, e você irá dar todo o apoio de que a
minha irmã precisa. Não tome nenhuma atitude imbecil. Amanhã cedo,
estarei aqui e poderemos conversar — Antes de ele me responder, o Gustavo
aparece na porta, preocupado.
— Desculpa interromper a discussão de vocês, mas a Carol tá tendo
uma crise lá dentro porque vocês estão aqui fora.
— Só estou aqui porque o seu amigo é um estúpido. Se ele tivesse se
comportado como um namorado comum, não teria que passar por um
sermão desses.
— Ele ainda tem um pouco de inteligência perdida dentro dele.
Acredite em mim — O Guto aperta o ombro do Pedro e olha em seus olhos.
— Faça o seu amigo tomar a atitude certa, Gustavo — Não espero
resposta e vou embora, acreditando que esse otário será inteligente o
suficiente para não magoar a minha irmã mais do que já fez hoje à noite.
Capítulo 37
Pedro Henrique
✻ ✻ ✻
— Rico... — As mãos dela entram embaixo da minha blusa e correm por
toda a minha barriga, fazendo minha pele se arrepiar com o contato da sua
mão gelada em minha pele quente. Os lábios dela estão no meu pescoço e,
mesmo que eu quisesse, não conseguiria escapar desse seu ataque certeiro.
— Será que conseguimos chegar ao quarto? — Minhas palavras
chamam a atenção dela. Só assim ela para o que está fazendo e me olha,
sorrindo.
— E quem se importa com o quarto? — Essa filha da mãe quer me
matar mesmo.
— Eu me importo, porque agora você merece ser amada com tudo o
que tem direito, e não fodida encostada na porta.
— Eu quero ser fodida — Quando ela acaba de falar essas palavras,
morde os lábios, tentando me descontrolar.
— Não! — É a única palavra que sai da minha boca antes de jogá-la no
meu ombro e carregá-la para o quarto como um homem das cavernas. Essa
mulher me enlouquece, e preciso estar dentro dela o mais rápido possível.
Jogo-a na cama e um grito surpreso sai da sua boca. Sei que ela quer
ser fodida como louca, mas o que tenho em mente agora é reverenciar o seu
corpo e o seu espírito. Eu quase perdi essa mulher por duas vezes ontem. A
primeira, quando aquele desgraçado sequestrou minha garota. A segunda,
quando eu quase a abandonei porque estava me comportando como um
perfeito idiota. Mas, graças a Deus, tudo está resolvido, e agora posso
aproveitar cada pedaço desse corpo, que, em breve, será para sempre meu,
até que a morte nos separe. Sorrio com esse pensamento, e ela arregala os
olhos para mim.
— Por que você está rindo para mim assim? Sua cara está muito
estranha...
— Logo saberá por onde andam meus pensamentos. Por enquanto, me
deixe satisfazer a minha mulher.
Ajoelho-me na cama e me inclino sobre ela, até pegar a borda da sua
pequena bermuda e puxar com calcinha e tudo. Ela apenas me ajuda,
levantando os quadris, e solta uma risada de satisfação. Seguro seu pé e
começo a distribuir beijos suaves ao longo da sua perna. Ela se mexe e geme
quando minha boca alcança o interior da sua coxa. Continuo beijando e dou
leves mordidas na sua pele macia. Quando chego próximo a sua virilha, ela
se remexe. Coloco uma das mãos na sua barriga e lambo vagarosamente a
curva da sua virilha.
— Rico... — Sua voz é um misto de impaciência e prazer, e sei que tudo
o que ela precisa agora é ter seu corpo saciado. Mas tenho algumas coisas
para fazer, e ela terá que ter paciência.
Volto a fazer o mesmo com sua outra perna sem ter nenhuma pressa.
Carol me xinga diversas vezes, mas finjo não ouvir nenhum dos seus
insultos desesperados. Quando finalmente chego a sua umidade, eu me
satisfaço só em saber que toda sua excitação é por minha causa. O corpo
dela está todo desperto, esperando apenas por mim, e isso instiga todos os
instintos primitivos que existem dentro do meu ser.
Sem deixar que ela fale nada, minha boca fecha na sua fenda. Sugo
com força, sentindo seu sabor inigualável nos meus lábios. O gemido
enlouquecido dela preenche o quarto, o que me faz sorrir, satisfeito. Nem
comecei, e ela já tá desesperada. Passo a ponta da língua no seu clitóris
inchado, enquanto coloco dois dedos dentro dela. As mãos dela puxam meu
cabelo com força, causando dor. Como punição, mordo de leve o seu clitóris.
Carol grita e resmunga, mas não tiro a minha boca da sua fenda
molhada. Quero que ela goze na minha boca antes de entrar nela. Continuo
minha exploração e a saboreio por completo. Sentir o gosto dela é um prazer
que não consigo descrever. Só sei que quero sentir isso até o fim da minha
vida. Sei que ela está perto de gozar. Por isso, facilito sua vida. Coloco outro
dedo e aumento a pressão da minha língua. Ela não se segura e começa a
gozar, gritando meu nome. Isso é música para os meus ouvidos. Continuo a
lambê-la, até que o seu corpo se acalma e ela suspira satisfeita.
Levanto da cama e tiro minha roupa em tempo recorde. Os olhos dela
mostram um brilho feliz, e seus lábios carnudos sorriem quando olham
minha ereção.
— Agora vamos começar nossa brincadeira... — Avanço para a cama e
arranco sua blusa. Seus seios saltam, e minha boca imediatamente encontra
um mamilo duro e excitado. Sugo com força e mordo. Carol reclama, puxa
meus cabelos e me olha séria.
— Nunca mais pense em me deixar, Rico.
— Pode apostar que esse será um pensamento distante da minha
mente.
Afasto suas pernas e entro nela devagar, olhando em seus olhos. Esse
momento, mesmo que ela não saiba, é extremamente importante para mim.
Agora sei mais do que nunca que ela será minha oficialmente. Ninguém
mais terá acesso a esse corpo perfeito, eu serei o único a experimentar o que
ela pode oferecer e o único a lhe dar prazer.
Sorrio por saber disso e começo a me movimentar com estocadas
longas e profundas. As pernas dela envolvem a minha cintura e me puxam
com força para uma penetração ainda mais profunda. Mantenho esse ritmo,
tentando deixar o corpo dela se recuperar do orgasmo que lhe dei há pouco.
Mas meu corpo não consegue aceitar o que minha a mente fala, e percebo
que não irei aguentar por muito tempo.
— Carol, desculpa, mas eu não aguento mais.
— Também não — Ela morde meu lábio inferior com força para, em
seguida, lambê-lo — Vamos acelerar isso — A Carol eleva os quadris e invade
minha boca com sua língua, iniciando um beijo quente e molhado. Sei que
ela precisa de uma penetração mais intensa para chegar ao orgasmo.
Começo a me mover do jeito que ela gosta. Em poucos minutos, o som que
se espalha no quarto é o grito de prazer dela, e meu gemido profundo por
sentir o melhor orgasmo de todos os tempos. Se eu achava que nada poderia
melhorar, me enganei totalmente. Essa foi a melhor foda que já tivemos.
Beijo sua boca sem pressa e sinto uma emoção diferente invadir o meu
peito. As mãos dela correm pelas minhas costas suadas em um movimento
lento e carinhoso. Ficamos nos beijando por um tempo, até que interrompo
e saio dela devagar. Caio para o lado da cama e olho para o teto do quarto
dela, pensando em como será nossa vida juntos. Tê-la todos os dias ao meu
lado será o maior presente que Deus poderia me dar.
— Isso foi diferente — Olho para o lado. Ela está com uma mão
apoiando sua cabeça, enquanto olha para mim.
— Como assim diferente? — Pergunto enquanto coloco seu cabelo
molhado de suor atrás da orelha.
— Não sei explicar, mas é como se algo muito grande tivesse
acontecido.
— Talvez seja porque agora sabemos que nosso amor é maior do que
tudo — Ela me olha por um tempo, até deitar na cama e ficar, assim como
eu, olhando para o teto.
— Você pode estar certo. Mas sinto algo muito intenso dentro de mim
agora. É estranho — A Carol fica tão séria perdida em pensamentos, que
resolvo descontrair o momento. Porque depois do que vivemos aqui hoje,
não acho que preocupações sejam bem-vindas.
— Pode ser fome. Com toda a confusão hoje de manhã, você não
comeu — Ela vira-se para mim e empurra meu ombro com força.
— Eu estou aqui tentando decifrar um sentimento intenso que está
correndo dentro de mim, e você vem me dizer que isso é fome? — Carol
levanta-se e procura seu chinelo pelo quarto.
— Mas pode ser mesmo — Falo, sorrindo, enquanto a observo colocar
os chinelos e ir até banheiro requebrando aquela bunda nua e gostosa na
minha frente. Quando retorna, está com um robe curto — Onde você vai?
— Comer — O sorriso que ela dá indica que, de certa forma, eu tinha
razão — Você me fez lembrar que comi apenas uma maçã hoje. Mas antes
que diga que tem razão, já vou respondendo que está errado — Ela vira-se e
me deixa no quarto, sorrindo feliz da minha futura esposa rabugenta.
Sou ou não sou um homem de sorte?
Capítulo 39
Pedro Henrique
— Lucas, sou eu Pedro Henrique — Falo baixo para que a Carol não
ouça.
— Isso foi o que mostrou meu identificador de chamadas, cunhado —
Pela sua voz, ele está sorrindo do meu mico.
— Dá para parar de ser idiota como o Ricardo?
— Impossível ser como ele, isso é um privilégio do meu irmão.
— Então me ouça, pois preciso da sua ajuda.
— Pode falar.
— Vou pedir a Carol em casamento no churrasco desse sábado.
— O quê? — O grito que ele dá me obriga a afastar o telefone do
ouvido, acho que não ficou contente — Como assim pedir em casamento?
Você não pode fazer isso do nada.
— Claro que posso — Não estou entendendo a indignação dele.
— Como vou preparar uma festa de noivado em menos de dois dias?
Isso é impossível. Teremos que arrumar outra data.
— Será sábado e você não fará festa nenhuma. Quero que seja
surpresa.
— Mesmo assim. Você é mais louco do que eu pensava — Ele soa quase
histérico.
— Chega, Lucas! — Agora perdi toda a paciência com o drama dele — Se
você precisar de alguma ajuda, basta me avisar, e eu colocarei o que você
precisar a sua disposição, mas o pedido será feito nesse sábado. Não posso
mais esperar para fazer a Carol somente minha oficialmente.
— Vou ter que sair do trabalho agora e começar a tomar as
providências. Você tem a lista de convidados? Preciso do número de pessoas
para saber a quantidade de comida e o tamanho do bolo — Ele agora está
meio ofegante como se estivesse andando sem parar — E também preciso de
bebidas e garçons. Você vai me matar!
— Lucas, escuta o que vou te falar — Fecho os olhos e passo a mão no
cabelo, tentando encontrar a melhor forma de explicar o que quero — O
churrasco será só para a nossa família. Não terá ninguém de fora, com
exceção das amigas da Carol e o Guto. Depois podemos marcar uma
comemoração para chamar outras pessoas, mas no momento seremos
apenas nós.
— Isso é uma boa notícia. Com nossas famílias, eu consigo me ajeitar,
mas mesmo assim precisamos de um bolo. Todo noivado decente precisa de
um bom bolo.
— Isso eu posso arrumar. Tenho uma amiga que trabalha com isso, e
ela pode preparar o bolo que você quiser para sábado.
— Isso será bom, mas quero escolher o modelo — Não pensei que essa
conversa seria tão difícil, e o pior é que ainda nem cheguei ao real motivo do
telefonema.
— Faça o que quiser, Lucas, eu vou te passar o telefone da Andreia e
você pode conversar com ela.
— Tudo bem — Ele parece mais calmo agora.
— Agora preciso falar algo muito mais importante que isso.
— Não consigo imaginar nada tão importante quanto o bolo e os
preparativos da festa, mas pode dizer o que quer.
— Lucas, eu preciso de um anel de noivado e não tenho a mínima ideia
do modelo que devo comprar.
— Meu Deus! Eu tinha esquecido completamente disso. E agora?
Como conseguiremos uma aliança em tão pouco tempo? — Já consigo
visualizá-lo de boca aberta e com uma das mãos no peito. Lucas é dramático
demais. Na verdade, toda a família da Carol é assim, acho que devem ter
ascendência italiana.
— Acho que podemos encontrar uma aliança em alguma joalheria. O
que você me diz? — Sorrio por estar zoando com a cara dele.
— Agora me diga quem está sendo o Ricardo nessa conversa? — Ele
ficou chateado e quer pegar pesado comigo me comparando com aquele
brutamonte do irmão dele.
— Tudo bem, foi mal, não resisti. Quero que você me ajude a escolher a
aliança hoje à tarde.
— Assim você me sobrecarrega, Pedro Henrique. Já estou com dor de
cabeça, é muita coisa só para mim.
— Para de bobeira, Lucas — Perdi a paciência de vez — Vai me ajudar
ou não?
— Claro que eu vou. Afinal, sou o irmão mais velho e não posso fugir
da minha obrigação.
— Ok. Eu estou pensando em chamar uma das amigas da Carol para
dar uma opinião feminina. O que você acha?
— Acho que você acaba de me ofender — Franzo a testa, tentando
entender o que ele quis falar com isso.
— Te ofendi? Como assim? — Como alguém pode ser tão louco assim?
Definitivamente, a família da minha futura esposa não é normal.
— Eu também tenho opinião feminina, Pedro Henrique — Sorrio
depois de entender o que ele quer dizer.
— Desculpa, cunhado, mas digamos que preciso de duas opiniões
femininas, não quero correr o risco de você ficar indeciso. Acho que seria
bom ter uma opinião extra.
— Você tem razão. Quem está pensando em chamar?
— Não sei. Quem você acha que consegue guardar segredo até sábado?
— A Glei, sem dúvida. A Sula iria dar com a língua nos dentes antes de
sairmos da joalheria.
— Então vou ligar e pedir que nos encontre no final da tarde. Tudo bem
para você?
— Perfeito. Depois passe uma mensagem dizendo o local e o horário,
que encontro vocês lá.
— Ótimo. Até mais tarde — Desligo e vou até a cozinha.
O cheiro está delicioso, e vou tentar descobrir o que minha garota está
fazendo para o almoço. Entro na cozinha e ela está se movendo de um lado
para o outro, enquanto canta baixinho uma música que toca no rádio.
Quando ela me avista, sorri, e meu coração, se é que é possível, enche-se
ainda mais de amor por ela.
— Onde você estava?
— Na sua varanda, admirando a paisagem.
— Sei... — Ela começa a mexer em uma das panelas e um cheiro
incrível sai de lá — Você estava falando com alguém. Posso saber quem era?
— Minha mãe queria saber se você estava bem — Não é mentira,
porque ela realmente ligou perguntando sobre a Carol.
— Por que não me chamou para falar com ela?
— Não queria arriscar nosso almoço. Isso está cheirando tão bem que
prefiro ter você concentrada aqui.
— Bobo! — Me aproximo dela e coloco os meus braços na sua cintura.
— O que você está fazendo que cheira tão bem?
— Você saberá logo, agora vá colocar a mesa, porque eu já estou
terminando aqui — Jogo seus cabelos para o lado e beijo a sua nuca. A pele
dela se arrepia, e aproveito para esfregar meu nariz por todo o lado exposto
do seu pescoço.
— Sim, senhora — Dou um tapa na sua bunda, e ela grita, sorrindo —
Vou deixar você dar ordens agora, mais tarde vamos ver quem manda aqui —
Ela apenas me olha de lado e continua mexendo a comida. Adoro pensar que
isso será uma rotina na nossa vida. Estaremos muito em breve dividindo
nossas vidas e fazendo de momentos simples como esse uma demonstração
de amor eterno.
✻ ✻ ✻
Estou a ponto de explodir de tanta raiva. Faz mais de uma hora que
estamos nessa maldita joalheria, e o Lucas e a Glei não conseguem se
decidir por um único modelo de aliança.
Primeiro, eles brigaram ao decidir se escolheriam um anel de noivado
ou uma aliança tradicional para a Carol. A Glei venceu, dizendo que a amiga
não abriria mão de uma aliança clássica que demonstrasse a todos que está
comprometida. Agora, eles não conseguem se decidir se a aliança deve ser
lisa ou com desenhos.
— Acho que a aliança do noivado poderia ter alguns brilhantes, aí
quando escolhermos a aliança do casamento podemos optar por um modelo
liso e tradicional — A Glei palpita, enquanto pega uma aliança cravejada com
alguns diamantes — Uma aliança como essa pode ser usada posteriormente
pelo casal como um anel comum — A Glei ergue o anel e mostra para o
Lucas.
— Isso deve custar uma fortuna, Glei — O Lucas pega a aliança e olha
todos os lados.
— Podemos parcelar sem problemas — A vendedora parece cansada de
tanto que tirou e guardou anéis para mostrar a esses dois malucos.
— Nada de parcelas — Entro no meio da discussão — E que história é
essa de aliança de casamento? Essa não serve para as duas ocasiões? — Não
sabia até agora que teria que comprar duas alianças diferentes.
— Claro que terá que comprar outra aliança. Se você comprasse um
anel de noivado, não teria que comprar a aliança para o casamento? — Ela
diz como se isso fosse uma coisa óbvia — Então você tem que ter uma
aliança especial para o grande dia — O raciocínio dela tem certa lógica.
— Na verdade, a Glei está inventando, Pedro, mas acho bacana você ter
uma aliança especial de casamento — O Lucas coloca a aliança na caixinha.
— Tudo bem. Vamos levar essa mesma, já não aguento mais toda essa
confusão.
— Calma, eu estava pensando naquela aliança que olhamos assim que
chegamos — O Lucas fala, parecendo indeciso.
— Não! Eu sou o noivo e escolho essa aliança. Pode embrulhar, moça
— A vendedora parece aliviada com a minha decisão — Tome o meu cartão.
— Se não era para ouvir nossa opinião, por que fez tanta questão que
viéssemos? — Pronto! Agora o meu cunhado está ofendido. Não foi uma boa
ideia chamar esses dois aqui, talvez teria sido melhor chamar a minha irmã
para me ajudar.
— Lucas, não posso demorar mais, daqui a pouco a Carol vai colocar o
seu irmão atrás de mim. Ela já ligou umas quinze vezes, não tenho todo o
tempo do mundo — Meu argumento parece convencê-lo.
— Dessa vez, vou deixar passar.
— Você terá a última opinião sobre o bolo — Lembro-o desse detalhe,
que, de acordo com ele, é extremamente importante.
— Isso é verdade — Agora ele parece feliz — Já falei com a sua amiga
hoje. Amanhã cedinho, estarei na loja dela escolhendo o modelo.
— Também quero ir — A Glei entra na conversa.
— Nem pensar, Glei, você é muito indecisa — Agora tenho que rir dele.
— Não tem problema, eu escolho o vestido da noiva, sempre tive bom
gosto para roupas, ao contrário de você.
— O quê? Você está me chamando de mal vestido? — Saio de perto dos
dois e vou até o caixa. Não tenho paciência para a briga deles. Pago o anel e
pego o pacote.
Esse é o primeiro passo para oficializar a nossa relação foi dado, agora
é só fazer o pedido.
— Quem irá ficar com as alianças até sábado? — Pergunto, pois não sou
nem louco de escolher um deles.
— Deixe com a Glei, porque eu estarei como um louco nesse sábado.
Posso esquecer isso — Graças a Deus, isso não se tornou mais uma disputa.
— Então a responsabilidade é totalmente sua, dona Gleicielle — Seguro
a pequena bolsa na frente dela.
— Ai, gente, nunca fui responsável por um anel de noivado — Ela pega
a bolsa e abraça contra o peito, sorrindo. Vendo seu rosto perfeito e corado,
percebo o motivo de o meu amigo estar tão encantado por ela. A Glei é uma
menina especial e de uma delicadeza rara. Ela é o tipo de pessoa que você
confia e gosta de primeira.
— Vamos embora antes que esse futuro noivo seja morto — Eu estou
temeroso pelo que me espera em casa.
— Diga que o pneu furou — Meu cunhado fala, sorrindo — Quando eu
apronto, é essa desculpa que acalma os nervos do Diego — Olho para ele e
tento entender o que ele quis dizer com aprontar, mas decido não perguntar.
Cada um com os seus problemas.
✻ ✻ ✻
— Por onde você andou? — Nem coloquei o pé em casa e ela já está me
enchendo de perguntas.
— Fui até o meu apartamento — Jogo as chaves do carro na mesa
lateral junto com a minha carteira — Eu te falei que iria até lá.
— E o que você fez para demorar tanto tempo por lá? — Ela está com as
mãos na cintura, e vê-la toda nervosinha é uma coisa linda.
— Demorei quase uma hora no trânsito, e tive que enviar alguns
documentos que estavam no meu computador e terminar algumas coisas
que deixei no meu escritório. Não estava preparado para ter esse dia de
folga. O trabalho não espera, querida — Vou até ela e seguro a sua cabeça
com firmeza, trazendo seus lábios até os meus — Você sabe que, quando eu
trabalho, acabo esquecendo o tempo.
— Eu sei, também fiz alguma coisa por aqui. Amanhã, eu quero ir
trabalhar normalmente — Ela passa os braços pela minha cintura e olha
para cima diretamente nos meus olhos — Eu já disse que te amo hoje? — O
sorriso apaixonado que ela está dando me deixa ainda mais louco por ela.
— Na verdade, você já disse, mas eu não me importo em ouvir
novamente.
— Eu te amo — Ela fica na ponta dos pés e me beija de leve.
— Eu te amo muito mais — Vou empurrando-a devagar até encostar as
costas dela contra a parede.
Eu colo o meu corpo nela e coloco as mãos da minha gatinha no meu
pescoço. Ela balança a cabeça, não concordando com as minhas palavras.
— É claro que eu te amo mais — Ela quer entrar em uma guerra de “eu
te amo”.
— Sei que eu te amo mais, porém vou deixá-la ganhar essa guerra.
— Sábia decisão — Agora ela está tão convencida, que lembro que
nunca é bom deixá-la ganhar uma discussão.
— Eu acho que você pode me mostrar o quanto me ama antes de irmos
jantar. O que você acha? — Ergo uma das sobrancelhas, enquanto ela morde
os lábios e sorri.
— Posso fazer isso com prazer — Ela se impulsiona, segurando no meu
pescoço para envolver as pernas nos meus quadris, e eu a ajudo, segurando a
sua bunda com ambas as mãos.
— Vamos ver se seu amor é tudo isso mesmo — Ela morde minha
orelha, e eu prometo vingança. Adoro vê-la feliz e entregue a mim.
Capítulo 40
Carol
✻ ✻ ✻
— Alô? — O telefone da minha sala toca e tira a minha concentração.
— Sou eu, boneca — A voz profunda do Rick enche o fone — Preciso te
falar uma coisa desagradável — Ele é sempre direto nas palavras. Muitas
vezes, isso me deixa apreensiva.
— Então fale logo.
— Você vai precisar prestar depoimento hoje na delegacia.
— O quê? — Eu estava pensando que isso já tinha acabado — Sou
obrigada a isso mesmo?
— Infelizmente, sim, Carol. Mas não se preocupe, porque eu estarei
com você. É apenas uma consequência normal do processo. O delegado fará
algumas perguntas, e você as responde com sinceridade. Vai ser rápido,
querida, eu prometo.
— E quando será isso?
— Hoje à tarde. Já falei com o Rômulo, e ele autorizou a sua liberação.
Passarei aí para te buscar — Agora o meu irmão tem acesso direto aos
membros da família do meu namorado. Isso não é nada bom...
— Nossa! Você já tá íntimo de todo mundo da família.
— Nem todo mundo, Carol. Mas isso pode ser corrigido com alguns
drinks e um bom jantar — Às vezes, a minha única vontade é socar a cara do
meu irmão. Eu estou aqui chateada, e ele pensando em levar a Juliana para
cama...
— Rick, mantenha-se distante da Juliana — Tento fazer uma voz
ameaçadora.
— Pode parar por aí, Carol. Você me fez ficar longe das suas amigas
gostosas, para depois elas caírem nas mãos de um pervertido sexual e um
mauricinho adolescente. Agora, eu vou chegar com tudo em cima da sua
cunhada, e posso te prometer que ela não irá se arrepender de passear no
meu playground.
— Ricardo Camargo, presta atenção em como o senhor fala comigo. E
que história é essa de pervertido sexual? De quem você está falando? E
como você sabe disso? — Ele tem a péssima mania de jogar um monte de
informação e não explicar como ficou sabendo delas.
— Sei sobre tudo, querida, e não vou falar nada agora. Mas estou de
olho na situação da sua amiga angelical. Porém, tenho que te avisar que eu
não vou abrir mão de experimentar a gostosa da Juliana. Não é porque você
me acha um canalha que vou ficar evitando-a. É a Juliana que tem que
decidir isso, não você.
— E a Rufina? Até onde sei, você estava interessado nela.
— A semana tem sete dias, irmãzinha, consigo dar conta delas em dois
dias. E ainda me sobram outros cinco para dividir com outras sortudas.
— Você é nojento, sabia? — Ele sorri com deboche.
— Na verdade, essa não é a opinião da maioria das mulheres, mas
ninguém pode me chamar de mentiroso. Eu sou bem claro com os meus
objetivos quando levo uma mulher para a minha cama.
— Já parou? — Odeio o machismo dele. Por causa disso, já ficamos até
sem nos falar muitas vezes.
— Tudo bem, não falo mais nada. Desde que você não se intrometa na
minha paquera com a sua cunhada.
— Me ligue antes de chegar aqui, seu ridículo. Tchau! — Desligo o
telefone antes que eu me aborreça de verdade com ele. O Rick sempre foi
um mulherengo, mas, nos últimos tempos, ele tem extrapolado demais. Tem
horas que a minha vontade é de nunca mais olhar na cara dele.
✻ ✻ ✻
Na hora do almoço, sou convidada pela Sara a ir até um restaurante
próximo com toda a sua família. Não preciso nem falar que foi uma
confusão total. Xandy e Rico trocaram insultos verbais, como de costume,
um pegando no pé do outro. E quando as coisas esquentaram de verdade, o
Rômulo interveio e chamou ambos de crianças mimadas. Eles se fizeram de
ofendidos, mas acabaram por se comportar. Mas o almoço virou outra
confusão quando a Juliana tocou no nome do Ricardo. Aí o Xandy começou
a chamá-lo de arrogante, e Rico lembrou que o meu irmão debochou da
paquera dele com a Sula.
Desse ponto em diante, tudo saiu dos trilhos, e os três irmãos
começaram a falar ao mesmo tempo, me lembrando muito das brigas épicas
que acontecem lá em casa. As coisas só esfriaram quando o garçom chegou
com a conta e levantamos para sair.
No meio da tarde, o Rick veio me buscar para que eu fosse prestar
depoimento na delegacia. Foi um momento tenso e enervante. Tive que
responder diversas perguntas, e muitas delas mais de uma vez. Relembrar
tudo o que passei foi difícil e doloroso, mas fiz o que meu irmão pediu e
respondi de forma calma, clara e objetiva.
Fui liberada pelo delegado e, como já era tarde e não tinha como voltar
para o trabalho, o Rick me levou direto para casa.
Como sou uma irmã grata, ofereci a ele um jantar especial. E como o
meu irmão não recusa comida, aceitou de primeira e foi logo se instalando
preguiçosamente no meu sofá.
A Sula me ligou um tempo depois, perguntando onde eu estava.
Quando falei que estava em casa fazendo um jantar para o Rick, ela não
perdeu sequer um segundo e entrou como um raio pela porta, trocando de
imediato insultos bem humorados com ele.
Eu perdi o controle de tudo, porque, quando caí na real, a minha casa
já estava cheia. Matheus, Glei e meu primo recém-chegado à cidade, Juan,
estavam espalhados pela minha sala, rindo como crianças. O pobre do meu
Rico chegou em casa e não entendeu nada do que estava acontecendo.
Mesmo assim, entrou no clima da festa improvisada e acabou se divertindo
com essa reunião de malucos.
— Então você é o Juan? — O Rico se aproxima do meu primo e o
observa curioso, analisando as infinitas tatuagens dele — O primo que
sempre está viajando pelo mundo?
— Exatamente — Juan sorri de um jeito que só ele faz — Mas o Rio
sempre me chama — Ele diz isso enquanto olha para a Glei — Por mais que
eu não queira, tenho que voltar. Quando temos algo especial nos esperando,
não tem como fugir.
— Juan, você deveria se estabilizar de vez. Acho que já passou o tempo
dessas suas aventuras malucas — Nunca concordei com essas viagens
estranhas que ele faz.
— Sempre é tempo de aventuras, prima. Basta você ter uma ideia em
mente e espírito livre. Isso é o bastante.
— Pois qualquer dia desses, meu amigo, o seu grande motivo de
retorno pode não estar mais te esperando — Se eu fosse a Glei, já tinha dado
um pé na bunda dele há muito tempo.
— A vida é um risco. Mas, dessa vez, eu estou disposto a fazer tudo
diferente.
— Como assim? — Pergunto, confusa — Não entendi o que você quis
falar.
— Vou me estabilizar na cidade, Carol. Já até arrumei emprego.
— Jura? — Estou tão feliz em tê-lo finalmente por perto. Sempre fomos
muito próximos, mas o Juan, assim como a minha tia, era uma pessoa que
não conseguia ficar parada em um lugar por muito tempo — Espero que
você não saia de perto de mim.
— Acho que, dessa vez, eu fico. Eu quero tentar fazer dar certo — Sei
que ele está falando do seu relacionamento conturbado com a Glei. Ele
sempre foi apaixonado por ela, mas o medo de se entregar a um
relacionamento e ter que ficar preso em um único lugar fez com que ele
sumisse sempre que ela o pressionava. Agora, ele parece estar disposto a
assumir os riscos de uma relação estável. Só espero que não seja tarde
demais, porque, desde que conheceu o Guto, minha amiga anda diferente —
Torço para que tudo dê certo, Juan.
— Obrigado, prima, eu também torço para vocês dois — Ele dá um tapa
nas costas do Rico e aperta o ombro dele enquanto fala — Seu namorado é
um cara legal e combina com você.
— Na verdade, sou apenas um cara de sorte — O Rico me aperta em
seus braços e beija meu rosto — Sua prima foi um presente que nunca
pensei ganhar.
— Uau, que declaração! Assim vocês irão fazer esse cara durão chorar
— Nós começamos a rir da cara de choro que ele faz.
— Cadê o jantar? — O Rick levanta-se do sofá — Prometeram um jantar
especial, estou esperando.
— Vamos para a mesa então — Eu digo e meu irmão sorri.
— Agora sim! — Ele puxa a Glei pela mão — Hoje você será minha
companheira. Venha, querida — O Rick está provocando o Juan. Pela cara do
meu primo, conseguiu seu objetivo.
— A Glei vai sentar comigo, Rick — Juan tenta protestar com o meu
irmão.
— Fica na sua, turista, quem manda na situação aqui sou eu. Até
porque eu é que fico por perto o tempo todo, tomando conta das meninas.
Quando você crescer, eu escuto sua opinião — Às vezes, o Rick racha a
minha cara com a sua arrogância.
— O que você falou? — O Rick e Juan sempre tiveram divergências por
causa do estilo de vida do meu primo. Enquanto o Juan é um sonhador
aventureiro, meu irmão é pé no chão e protetor.
— Podem parar, meninos, não quero confusão aqui — Eles se
entreolham, mas não falam mais nada. A Sula tenta aliviar a situação com
humor.
— Então eu fui trocada pela Glei? — Ela coloca as mãos na cintura,
fingindo-se de ofendida.
— Claro que não, querida, você tem um lugar ao meu lado. Pode vir,
que o Rick tá aqui para agradar — Como ele gosta de ser o centro das
atenções femininas... Ridículo.
— Porra! Tô até com vontade de vomitar ao ver tanta idiotice — O Rico
resmunga e anda na frente sem esperar pelos outros.
— Acho que você aborreceu o nosso cunhado, Rick. Isso não foi legal,
cara — Matheus balança a cabeça e segue o Rico.
— A inveja é foda, meninas — Ele abraça as duas e caminha feliz até a
mesa. Esse é o meu irmão, não se importa com a opinião dos outros nunca.
Ele só ouve o que interessa, e nada além da sua opinião interessa.
Apesar do desconforto entre o Juan e o Rick, que trocaram farpas
constantes entre si, o jantar foi animado e acabamos nos divertindo muito.
Eu não poderia estar mais feliz, por ver as pessoas que mais amo no mundo
ao meu lado depois de tudo o que passei. E amanhã ainda terá mais
comemoração e, certamente, muito mais confusão, porque juntar a família
do Rico e a minha é confusão certa.
— Agora que estamos satisfeitos, vamos arrumar as coisas e cair fora.
Amanhã tem mais festa — O Rick se levanta da mesa e começa a pegar os
pratos.
— E desde quando o senhor sabe lavar louça? — A Sula pergunta,
provocando-o.
— Desde que eu fui para o exército, princesa.
— Então arrume a minha parte, gatinho — Ela tá cutucando e vai se dar
mal.
— Arrumo, sim, meu bem, mas isso vai gerar uma taxa. Tá disposta a
pagar? — Como ele é canalha...
— Você só fala isso porque sabe que o Rico tá aqui e vai me dedurar
para o Xandy, seu desgraçado — Ela dá um soco no braço dele — Agora não
tenho mais interesse em você. Estou bem servida.
— Aquele seu peguete ainda deve gozar nas calças, Sula. Ele não é
homem para você.
— Ele é meu irmão, pegue leve nos seus comentários — Rico adverte,
parecendo chateado.
— Diga que estou errado? — Meu irmão pressiona o Rico.
— Ele pode ter que aprender alguns truques novos, mas já passou da
fase de gozar nas calças, Ricardo. Não exagere — Sula sorri dos dois.
— Tem certeza de que vocês estão falando do mesmo Xandy que eu
conheço? Porque se for, acho que os dois estão extremamente enganados —
Ela se aproxima de mim, me abraça e faz o mesmo com o Juan — Não some
de novo, seu nojento.
— Pode deixar, Sula — Juan beija o rosto dela com carinho.
— Matheus, foi bom te ver. Glei, amanhã passe aqui para me pegar. O
Rick vai ficar responsável pela minha parte na arrumação. Cunhadinho, até
amanhã — Ela acena para o Rico e sai se requebrando, sem deixar meu
irmão responder nada.
— Adoro a Sula, ela é incrível! — Juan aproveita para pisar no Rick. Ele
o olha com raiva, mas não comenta nada. Todos começam a ajudar e, em
pouco tempo, tenho tudo limpo e organizado dentro do meu armário.
— Eu vou nessa, pessoal. Amanhã teremos mais festa — Matheus se
despede de todos e vai embora.
— Quer uma carona, Juan? — Rick oferece a contragosto.
— Obrigado, mas eu tô com minha a moto aí fora.
— Então estarei amanhã no almoço.
— Vou te esperar, Rick — Abraço-o e beijo o seu rosto. Apesar de ele ser
uma mala sem alça, eu amo demais esse chato.
— Até amanhã, maninha — Ele se despede dos outros e vai embora. A
Glei e o Juan também se despendem e vão embora juntos. Finalmente estou
sozinha com o meu Rico.
— Caramba, que confusão foi essa? — Ele me pergunta, sorrindo.
— Nem eu sei. Quando dei por mim, todo mundo estava nessa sala —
Abraço sua cintura. Ele imediatamente prende minha cabeça para me beijar
como se sua vida dependesse disso. Estar nos seus braços depois de um dia
tão difícil é a melhor recompensa que eu poderia ter. Apenas o cheiro dele já
é o suficiente para acalmar os meus nervos.
— Vamos tomar um banho. Depois, eu quero saber tudo o que
aconteceu no seu depoimento.
— Nem me lembre disso — Ele sorri maliciosamente e aperta minha
bunda com as duas mãos.
— Eu faço você esquecer assim que me contar tudo, querida — Os
lábios dele agora estão espalhando beijos suaves no meu pescoço — Vamos
tomar um banho rápido, e eu faço você esquecer tudo — Sou suspensa no
seu colo e carregada com pressa até o banheiro.
✻ ✻ ✻
No meio do meu sonho, uma mão quente segura o meu ventre e um
calor agradável se espalha por todo o meu corpo. Quero parar por onde estou
andando e me entregar à sensação maravilhosa que essas mãos estão me
dando, mas lembro que não posso parar, porque preciso encontrar o Rico.
Tento me livrar dessas mãos. Abro a boca para falar, mas é como se minha
voz tivesse sumido. Sinto as mãos indo mais abaixo e tocando em um lugar
secreto, que deixa meu corpo aceso e querendo mais.
— Carol... — Uma voz distante me chama, mas eu não quero olhar
quem é, preciso sentir um pouco mais essas mãos — Querida, está na hora
de acordar... — Um beijo suave é dado na minha nuca.
— Agora não... — Tento voltar para o meu sonho.
— Você está tão molhada, querida. Estava sonhando comigo? — A voz
do Rico me traz à realidade. Percebo que, na verdade, as mãos quentes que
me tocam são as dele, e uma delas está exatamente entre as minhas pernas.
— Sonhava com mãos, não com você — Ele sorri com a boca encostada
nos meus cabelos.
— Se só as minhas mãos já deixaram você assim, imagina quando outra
parte minha entrar em cena? — Sinto-o se esfregando na minha bunda, e a
excitação toma conta de mim — Acho que ainda dá tempo para a gente
brincar antes de sairmos.
— Tem que dar, Rico. Agora eu não saio daqui sem ter o que preciso.
— E do que você precisa? Diga para mim — Agora ele coloca dois dedos
dentro de mim, me deixando ainda mais excitada.
— Só de você, Rico — Ele resmunga com apreciação à minha resposta e
flexiona uma das minhas pernas, entrando em mim finalmente. Eu deveria
me sentir satisfeita depois da noite alucinante que tivemos ontem, mas
nunca é assim com ele. Sempre preciso de mais e nunca me sinto saciada.
Os dentes dele arranham o meu ombro. A minha vontade é de virar, enfiar
as mãos em seu cabelo e beijá-lo infinitamente.
— Eu te amo, e você é só minha — Às vezes, não entendo essa
necessidade que ele tem de afirmar o tempo todo que sou dele. Acho que
cada célula do meu corpo já diz isso, não há necessidade de ficar falando
essas palavras a cada segundo. Mas sei que ele gosta quando concordo com a
sua afirmativa.
— Sempre serei, Rico — A forma como as mãos dele me apertam
indicam que gostou das minhas palavras.
Ele puxa o meu corpo e ergue minhas pernas, ganhando assim uma
penetração maior. Jogo minha cabeça para trás e suspiro aliviada em senti-
lo tão completo dentro de mim. O Rico parece inspirado essa manhã, porque
suas investidas não perdem o ritmo em nenhum momento. Ele não alivia
sua pegada e, antes que eu consiga organizar meus pensamentos, meu corpo
está pegando fogo, próximo de entrar em ebulição.
Ele vira-me na cama e passa a mão nas minhas costas em um gesto
lento e sexy. Seus lábios beijam a base da minha coluna, e ele segura ambos
os lados da minha bunda com força. Com o joelho, afasta minha perna e
começa a entrar em mim lentamente, até que está todo dentro.
— Sabe o que eu mais gosto em tudo isso? — Seus lábios dizem essas
palavras bem perto do meu ouvido.
— O que? — Minha voz sai abafada, porque estou perdida sentindo-o
tão fundo.
— Ainda tenho tantas formas para comer você... Só de pensar nisso,
sinto vontade de nunca mais sair desse quarto. Essa posição, por exemplo,
ainda não tinha sido usada por nós — Ele termina de falar isso e comprime
minha bunda com seus quadris — O pior é saber que, mesmo eu querendo
muito foder essa tua bunda, eu não vou ter tempo. Mas, hoje à noite, a
primeira coisa que vou fazer é me enterrar até as bolas nesse seu rabo
gostoso, Carolina — As palavras dele me deixam louca, e eu seguro o seu
braço que está ao lado da minha cabeça.
— Me fode com força, Rico. Preciso gozar! — Não preciso pedir mais.
Ele imprime um ritmo tão frenético, que meu corpo todo se quebra em um
orgasmo poderoso. Ele aperta minha bunda com força e continua
arremetendo em mim até que o ouço rosnar e, por fim, cair nas minhas
costas, esgotado depois de gozar.
— Não é justo. Cada vez é melhor — A voz dele é de sorriso, e sei que
está feliz.
— Você certamente deixou seus dedos marcados na minha bunda — O
corpo dele abandona o meu, e sua mão acaricia um lado do meu traseiro.
— Desculpa, querida, acho que você não poderá tomar banho de piscina
hoje. Não tive a intenção — Viro-me e olho seu corpo glorioso nu.
— Só desculpo porque você me deu um orgasmo alucinante pela
manhã, mas tem um porém nessa história... — Ele ergue uma sobrancelha e
sorri.
— Qual? — Ergo-me e abraço seu corpo.
— Quando voltarmos para casa, você vai ter que me chupar até eu
gozar como louca — O olhar pervertido dele me diz que está considerando
fazer isso antes mesmo de sairmos.
— Peça alguma coisa mais difícil, meu amor, isso eu faço todos os dias
com prazer — Ele me beija devagar enquanto acaricia o meu seio — Agora,
vamos tomar banho, porque se ficarmos mais um segundo nessa cama, eu
vou fodê-la sem parar até alguém aparecer aqui e nos resgatar — Ele sai da
cama e me puxa para o banheiro.
✻ ✻ ✻
Assim que entramos na casa do papai, ouço uma discussão entre Diego
e Matheus. Eles estão brigando sobre qual o estilo de música que deve tocar
em um churrasco. Essa briga é velha e sempre acaba mal, porque ou meu pai
entra no meio e coloca só MPB, ou Ricardo deixa os dois para trás e escolhe
rock clássico. Como o churrasco é meu, resolvo entrar logo na briga:
— Bom dia, meninos! — Eles olham surpresos com minha chegada —
Antes que isso se prolongue, já vou avisando que quero um pouco de cada
música. Quem manda aqui hoje sou eu.
— Nossa! Que revolta é essa, cunhada? — Diego abre os braços e me
abraça — Cadê aquele seu namorado gostoso? — Mesmo depois de tanto
tempo, o Diego ainda arrasta uma asa para o Rico.
— Tá pegando as bebidas no carro.
— Vamos colocar o que você quiser, maninha — Matheus me beija,
feliz — Desde que não tenhamos que ouvir direto essa música eletrônica que
o Diego gosta, eu já estou feliz com qualquer outro estilo musical.
— Você é insuportável, Matheus — Diego responde, magoado.
— E você, repetitivo, Diego.
— Gente, nem são onze da manhã e vocês já estão brigando? Relaxa...
— Não sei como eles conseguem se insultar a cada instante.
— Você é quem manda, Carol — Matheus se afasta e vai para os fundos
da casa.
— Alguém pode me ajudar aqui? — Ouço a voz do Rico, e eu e Diego
nos viramos na sua direção. Ele carrega uma caixa embaixo de um braço, e
na outra mão, várias sacolas.
— Você trouxe bebida para um batalhão de gente — Diego sorri e corre
para ajudá-lo.
— Melhor sobrar do que faltar — O Rico entrega algumas sacolas para
o Diego.
— Cadê o resto do pessoal? — Pergunto, pois parece que ninguém
chegou.
— Estão nos fundos, e o Lucas está na cozinha, é claro — Diego pisca
para mim — Eu fugi e o deixei lá.
— Que maldade com o meu irmão... — Reclamo da falta de
companheirismo do meu cunhado.
— Ele gosta de ser o responsável por tudo, e eu hoje quero aproveitar.
— É isso aí, Diego. Agora vamos guardar isso — O Rico vai para a
cozinha e eu vou procurar o meu pai.
Quando abro a porta que dá para o quintal dos fundos, ouço a
gargalhada da Sula, e meu pai parece estar feliz em ver a reação dela a
alguma piada sem noção que ele provavelmente contou. A única pessoa que
de fato acha graça nas piadas dele é a maluca da Sula.
— Depois você tem que contar isso para todo mundo, essa foi ótima —
Ela seca as lágrimas que estão tentando escapar dos seus olhos.
— Não o incentive, amiga — Meu pai se vira ao ouvir a minha voz.
— Até que enfim a senhora chegou, já estava preocupado — Ele me
abraça e faz um carinho suave no meu rosto. Se ele soubesse os motivos que
me fizeram perder a hora, não perguntaria nada.
— Acordamos tarde, papai, eu ainda estou um pouco cansada.
— Posso imaginar, querida — Os lábios dele roçam minha têmpora em
um gesto que lembra a minha infância — Venha experimentar um drink
maravilhoso que o Matheus preparou.
Nós nos aproximamos da mesa de bebida, e a Glei está ao lado dela,
linda como sempre, parecendo uma modelo de capa de revista. Mesmo que
tente ficar simples, ela consegue ser incrível com muito pouco.
— O que tem nesse drink? — Eu abraço a minha amiga e pego um copo
que o Matheus oferece.
— Eu não sei, amiga, mas tá bom demais.
— Pode beber sem problemas, porque não é alcoólico.
— Matheus, você sempre se supera — Quando o líquido colorido toca
minha língua, um sabor surpreendente me assalta — Nossa, que coisa
gostosa! Isso é o quê, Matheus?
— Segredo! — Ele também começa a beber.
— Onde está o Rico? — A Glei pergunta antes de voltar a tomar um
gole da sua bebida.
— Guardando as bebidas — Ela faz uma cara engraçada que não
consigo decifrar direito — Algum problema? — Minha pergunta a pega de
surpresa.
— Problema? Hã! Claro que não — A Glei está mentindo, e eu sei disso
porque seu pescoço ganha um tom levemente avermelhado. Conheço esses
sinais desde que éramos pequenas.
— Fala logo, Glei. O que tá rolando?
— Olha o Juan chegando — Ela aponta para o meu primo, que está
falando com a Sula — Vamos falar com ele — A sem-vergonha sai e me deixa
para trás, curiosa.
Assim que terminamos de falar com Juan, o Rico aparece com uma
cerveja na mão. Ele está animado, mas percebo uma troca de olhar suspeita
entre ele e a Glei. Mesmo sabendo que ela é minha amiga de verdade, eu
sinto ciúme por essa troca de palavras que eles estão tendo sem que eu saiba
o que realmente é.
Não demora muito e toda a família do Rico chega e transforma o
quintal em uma grande confusão. Eles são barulhentos e engraçados e,
juntando com o pessoal aqui de casa, vira uma loucura só. Até a Jussara, que
às vezes fica meio antissocial, acaba interagindo com eles sem problemas.
Ver nossas famílias se dando tão bem é uma alegria imensa. Acho que
juntar todos eles de vez em quando, para fazer uma bagunça, vai ser algo
bem fácil, porque meu pai e o Rômulo se dão tão bem que até parecem
amigos de infância.
O Lucas finalmente aparece junto com um dos garçons do seu
restaurante e começa a acender a churrasqueira. Como meu pai é enjoado
com horários das refeições, os churrascos aqui em casa sempre começam
um pouco mais cedo, para que esteja pronto antes de ele começar a
reclamar.
— Cheguei! — Viro-me e vejo a Rufina entrando e sorrindo com um
embrulho nas mãos — Cadê a Carol?
— Aqui — Levanto a mão e vou até ela — É para mim? — Ela confirma
e estende o embrulho. Abro a caixa e vejo um porta-retrato lindo com uma
foto minha, dela e da Juliana que tiramos em uma tarde na empresa —
Nossa, Rufi, que coisa linda! Obrigada! — Abraço-a em agradecimento.
Realmente, eu gostei do presente, não só porque eu amo fotos, mas por ter o
rostinho delas junto de mim em um momento de extrema felicidade.
— É para você lembrar sempre da gente, Carol — A Rufina hoje tá
muito diferente e parece ainda mais jovem. No escritório, ela está sempre
tão maquiada e com roupas impecáveis, que vê-la apenas com jeans e
camiseta é algo surpreendente.
— Eu não ganho presente? — O Rico aparece ao lado dela e passa o
braço sobre seus ombros.
— Você já ganhou a Carol. Quer mais o quê? — Ele pondera a sua
resposta e sorri.
— Verdade, Rufi, dessa vez eu vou ter que concordar com você.
— Sempre tenho razão, queridinho.
— Isso é questionável — Agora eles irão entrar em uma briga demorada
para mostrar quem tem razão.
— Enquanto vocês brigam um pouco, eu vou falar com as meninas
rapidinho — Elas estão conversando animadamente, e sinto falta das vezes
em que saímos sozinhas aprontando por essa cidade — O que tanto vocês
duas fofocam?
— Sula tá contando as proezas do seu cunhado.
— Na verdade, apenas algumas, porque ainda não tivemos
oportunidade de realizar todas as fantasias que tenho em mente.
— Sula, vai com calma com o Xandy. Ele está acostumado com
meninas mais tranquilas, você pode assustar o coitado.
— Ele é irmão do Rico — Ela não precisa falar mais nada, porque se ele
for cinquenta por cento do Rico, ela vai ser uma mulher eternamente feliz.
— Pois então aproveite, amiga, eu espero que vocês dois se ajeitem,
não é mesmo, Glei? — Ela não responde, pois está vidrada olhando para a
porta que dá acesso ao quintal. Sigo o seu olhar e vejo o Guto parado,
parecendo um artista de cinema. Ele veste um jeans desbotado e uma
camiseta que se molda ao seu corpo forte e magro. Ele é lindo e, se eu não
tivesse o Rico, ficaria bem tentada a descobrir o que se esconde por trás
daquela fachada linda e fria.
O Guto suspende os óculos escuros e corre os olhos por todo o espaço,
e, quando avista a Glei, fica parado como uma estátua, observando-a. O
rosto da minha amiga fica tão vermelho, que penso que ela vai explodir a
qualquer momento. Mas ela não para de olhá-lo.
— Esse churrasco promete — A Sula circula a Glei enquanto fala —
Guto e Juan, no mesmo espaço, disputando a princesinha da Glei. Vai ser
uma cena para se guardar na memória.
— Deixa de ser implicante, Sula — Falo e percebo que o Guto já está
caminhando na nossa direção. Abro um sorriso feliz, tentando aliviar o clima
— Que bom que você veio, Guto — Ele dá um meio sorriso e segura a minha
cintura enquanto beija meu rosto.
— Não poderia perder o dia de hoje — Ele pisca como se estivesse
dividindo um segredo comigo, mas eu não entendo nada — Sula, como vai?
— A sem-vergonha, mesmo estando com o namorado a poucos metros,
finge-se de acanhada e responde um “tudo bem” com voz melosa — Glei... —
As mãos dele prendem a base da nuca dela enquanto puxa o seu rosto para
um beijo casto na bochecha, mas que é quente como o inferno.
— Oi! — Essa é a única palavra que ela consegue falar.
— E aí está o Gustavo! — O Rico diz, ao se aproximar de nós —
Demorou muito, meu brother, pensei que não viesse mais.
— Você sabe que eu jamais deixaria de aparecer hoje.
— Sei que não — Eles trocam um abraço masculino cheio de tapas —
Venha pegar uma bebida.
— Só me deixe falar um minuto com a Glei — O Guto volta a olhá-la
com intensidade.
— Guto, acho melhor irmos beber alguma coisa agora — A voz do Rico
engrossa um pouco e ele franze a testa.
— Já disse que vou — O olhar impaciente que ele mostra ao Rico indica
que nem com toda a insistência do mundo ele vai deixar de falar com a Glei.
— Vou falar com o Xandy, gente — A Sula é a primeira a deixar o
caminho livre.
— Vamos trocar essa música, Rico. Já cansei de ouvir hip hop — Puxo
seu braço, tentando tirar a atenção dele sobre o Guto.
— Nossa, eu também, querida, o Matheus exagera demais nessas
músicas — Agarro sua mão e o tiro de perto deles — Carol, você sabe que não
é boa ideia deixar esses dois juntos.
— Na verdade, eu ainda não sei, mas se você me falar o motivo de uma
forma bem clara, eu posso ter uma opinião mais precisa.
— É complicado — Sei que eles têm uma espécie de código de silêncio,
mas agora estamos falando da minha melhor amiga, e quero saber todos os
riscos que ela pode enfrentar.
— Descomplique, Rico — Ele olha para mim e suspira.
— Tudo bem. Vou te contar apenas alguns detalhes.
✻ ✻ ✻
Assim que a primeira leva do churrasco sai, todos nós somos
convidados para almoçar. A comida, como sempre, está divina, e o Lucas ri
como um bobo quando uma enxurrada de elogios pipocam sobre a perfeição
da sua comida.
É nesse momento de gulodices que o Ricardo e minha mãe resolvem
aparecer.
— Caramba, vocês nem me esperaram — Ele reclama antes de
cumprimentar alguém — Já estão detonando tudo. Tá vendo, Virgínia? A
culpa é toda sua.
— Minha? — As mãos da minha mãe pressionam o peito — Eu não fiz
nada, filho, acabei de chegar assim como você.
— Chegamos atrasados porque você não sabia o que vestir — Ele acusa
rapidamente.
— Eu estava só indecisa, Ricardo — Ele bufa e sai andando na direção
da churrasqueira.
— Como vai, Virgínia? — Meu pai vai até ela e o beija seu rosto. Por
mais que tente disfarçar, é notório para todos como ele ainda ama a minha
mãe.
— Melhor agora — O quê? Será que eu perdi alguma coisa? Por que
minha mãe tá com aquela cara para o meu pai?
— Pegue um prato e sente-se para almoçar, Virgínia — A Jussara, que
não é boba, percebeu a manobra sedutora da minha mãe.
— Não estou com muita fome, querida, e além do mais, estou de dieta.
— Na sua idade, o melhor é não pular as refeições, meu bem. Tem uma
salada de palmitos ali na mesa que é ótima para os ossos. Tenho certeza que,
depois de tantos anos, eles merecem uma grande atenção — Minha mãe a
fuzila com os olhos e, antes que a responda, eu me levanto e acabo com as
trocas de gentileza.
— Venha sentar-se comigo, mamãe — Ela me olha e sorri — Tem umas
coisas deliciosas que Lucas fez.
— Tudo que ele faz é perfeito, minha filha.
— Isso é verdade — Seguro o seu braço e a trago para a mesa. Todos a
cumprimentam, e voltamos a comer em um clima harmonioso e tranquilo.
É incrível observar como esse monte de gente diferente no final está se
dando bem. Meu irmão Matheus, ao que tudo indica, desenvolveu uma
amizade com o Xandy, e a minha mãe está interagindo com a Sara tão
naturalmente que até parece que se conhecem há anos.
Nem preciso dizer que meu pai e o do Rico tornaram-se íntimos. Eles
não pararam de conversar desde que se encontram hoje e já estão
planejando um projeto para a clínica estética que meu pai pretende
construir.
A única que destoa é Jussara, que só falta consumir a Juliana e a
Rufina, que não param de olhar o meu irmão Rick. Por mais que ela sorria e
finja-se de educada, eu percebo o olhar mortífero que lança para as duas.
O Rick, por sua vez, está indiferente a todas elas e experimenta um
prato atrás do outro. Só para quando observa os olhares entre o Guto e a
Glei, aí ele chama a atenção do Guto e faz sinal para que venha falar com
ele. Os dois desaparecem dentro da casa, e o meu primo aproveita e gruda na
minha amiga. A Sula e Diego estão sentados em um canto assistindo algum
vídeo que provavelmente não é permitido para menores, porque meu
cunhado faz tantas caras e bocas que deve ser algo que interessa aos dois
sem-vergonhas.
Procuro pelo Rico, mas ele saiu do meu lado sem que eu percebesse, e
o Lucas também não está aqui. Estranho esse fato, mas resolvo conversar
com Rufina e Juliana.
— Acho que a minha madrasta vai matar vocês duas.
— Por quê? — Juliana pergunta.
— Ela tá morrendo de raiva dos olhares apaixonados que vocês estão
lançando para o meu irmão Ricardo.
— Não estou olhando para ninguém, Carol — A Rufina logo tenta se
safar da minha acusação.
— Muito menos eu — Juliana também fala em seguida. Tenho que rir
da cara de pau das duas. Só elas não enxergaram como estão babando por
ele.
— Tudo bem, é tudo minha imaginação.
— Claro que é, Carol — Rufina concorda. Observo a Glei receber uma
mensagem. Ela levanta-se e entra na casa. Será que aconteceu alguma entre
o meu irmão e o Guto? Antes que eu possa procurar uma resposta, o Rick e
o Guto saem da casa com cara de poucos amigos. Vou até o Guto para saber
se o Rick aprontou alguma coisa.
— Guto... — Ele para e me olha irritado.
— Oi, Carol! — Seu olhar é de raiva, mas a voz dele é suave.
— O Rick aprontou alguma coisa? — O Guto abaixa um pouco a cabeça
e dá um sorriso cansado.
— Seu irmão é um prepotente que acredita ser o dono do mundo. Ele
sempre apronta, Carol, mas eu não me intimido por idiotas como ele.
Principalmente quando tenho algo importante em jogo.
— Ele estava falando da Glei?
— Estava se metendo na minha vida com ela.
— Vocês estão juntos? — Como ela não quer falar nem comigo nem
com a Sula sobre ele, eu estou por fora de tudo.
— Não estamos, mas é complicado, Carol — Ele passa uma mão no
rosto e suspira — Eu gosto da sua amiga, mas acho que, no fundo, seu irmão
e o Rico têm razão. Preciso me afastar dela.
— Você não acha que é somente ela que tem que decidir isso? — O
Guto pensa no que falo.
— Talvez ela escolha errado e isso pode custar o meu pescoço — Ele faz
um gesto de cabeça na direção do meu irmão — Palavras do super Ricardo.
— Não deixe o Rick intimidar você. Faça como o Rico e o enfrente, só
não magoe a Glei.
— Vou me manter longe dela. Acho que isso é o melhor para todos.
— Então se prepare para abrir caminho para o Juan.
— O quê? — Pela sua reação, ele parece não ter percebido o clima entre
os dois.
— Acorda, Guto... — Nossa conversa é interrompida quando o Rico
aparece com o Lucas e a Glei pedindo atenção de todos. Eu me viro e, pelo
sorriso que todos eles estão dando, vejo que alguma coisa está acontecendo.
— Eu queria pedir a atenção de vocês, porque preciso fazer uma coisa
muito importante — O Rico se aproxima de mim e me pega pela mão. Ele a
beija com carinho e pede que meu pai se aproxime. Não entendo o que está
acontecendo e, por isso, fico ansiosa para descobrir o que está se passando —
Todos vocês que estão aqui hoje sabem de todas as dificuldades que eu e a
Carol passamos juntos — Ele para e olha-me como se todo o amor que sente
por mim pudesse materializar-se naquele momento — Alguns de vocês
sabem que, desde que eu conheci essa mulher, eu fiz de tudo para ficar com
ela, apesar de ela, em alguns momentos, tentar me afastar com atitudes um
tanto como desestimulantes — Ele olha para o Guto e a Rufina — Mas eu
sou um homem que nunca desisto do que quero, e eu quis a Carol desde que
a olhei pela primeira vez na sala da minha irmã.
— É isso aí, Rico — O Xandy fala, abraçado a Sula.
— Continuando... — Ele sorri para o irmão — Essa mulher linda
ganhou o meu coração e a minha vida assim que olhou para mim — Meu
coração dispara com suas palavras — E daquele dia em diante, eu prometi
que ganharia seu amor — O Rico coloca uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha — Eu te amo, Carol, desde o dia em que te vi, e a cada dia que
eu olho para você, esse amor aumenta ainda mais. Não imagino minha vida
sem ter você, eu preciso desesperadamente tê-la ao meu lado — As lágrimas
já não se contêm nos meus olhos e caem pelo meu rosto com força — Por
isso, eu estou aqui para pedir ao meu querido sogro, Evandro Camargo, que
me conceda a mão da sua única filha em casamento — O tempo parece parar
agora que ouvi tudo o que ele falou — Evandro, você concede a mão da sua
filha em casamento?
— Sem sombras de dúvidas! — Meu pai puxa o Rico para um abraço —
Sei que a minha boneca estará em boas mãos, e o amor de vocês merece um
final feliz.
— Obrigado! — O Rico vira-se para mim — Carol, você aceita ser a
minha noiva? — Tudo o que eu queria era congelar esse momento. Queria
congelar o sorriso que ele dá. Queria congelar o olhar de amor nos seus
olhos azuis como o mar. Queria congelar as batidas descompassadas do meu
coração.
— Aceito! — Minha resposta é dada com um fio de voz, e eu agarro o
seu pescoço como se esse gesto fosse a única forma de salvar a minha vida.
Os braços do Rico envolvem a minha cintura, e ele me aperta junto a si — Eu
te amo — Falo no pé do seu ouvido. Ele me afasta, coloca a mão no bolso da
calça e tira uma caixinha pequena. Quando ele abre, vejo uma aliança linda,
cheia de brilhantes. O Rico pega a minha mão e coloca a aliança no meu
dedo. Ergo a mão para o alto e observo como ficou perfeita, mas me lembro
de uma coisa muito importante — Cadê a sua aliança?
— Não falei que ela ia querer uma igualzinha para você? — A Glei se
aproxima e coloca uma aliança idêntica a minha, mas de tamanho maior na
minha mão — Aqui está a aliança do Rico — Ele estende a mão grande, e eu
a coloco feliz da vida no seu dedo.
— Agora você não foge mais de mim, Carol — Ele me beija como se não
houvesse amanhã, e aplausos intensos explodem a nossa volta. Sinto o amor
correr pelo meu corpo e agradeço a Deus por me dar a sorte de ter um
homem como ele na minha vida depois de tudo o que passei.
— Já acabou o teatro? — O Rick interrompe a nossa festa — Quero
saber quem teve a infeliz ideia de me deixar de fora desse assunto? Isso não
vai acabar bem — Ele cruza os braços e parece bem irritado. Como se todos
tivessem ensaiado, um único protesto é falado por todos no quintal.
— Cala a boca, Rick!
Ele se assusta e, pela primeira vez na vida, fica constrangido, mas como
não perde a linha, resmunga e sai batendo o pé até a mesa de sobremesa.
Acho que mesmo a contragosto, ele teve que assumir que foi passado para
trás.
— E vamos brindar ao casal apaixonado — Meu pai fala e um garçom
aparece com uma bandeja de champanhe.
— O bolo! — O Lucas fala, nervoso — Tragam o bolo.
— Temos um bolo? — Pergunto, curiosa.
— Um bolo, não, querida. Temos “o” bolo! — Meu irmão me diz,
satisfeito. Como mágica, um bolo lindo e todo branco aparece em uma mesa
decorada — Esse é o seu bolo de noivado.
— Morri... — Todos riem, e eu percebo que minha vida não poderia ser
mais feliz.
Epílogo
Rico
Nunca pensei que pedir a mão de uma mulher em casamento fosse tão
difícil. Na verdade, nunca pensei que um dia eu faria isso, e, agora que o
momento está chegando, eu estou desesperado de medo. Esses dois últimos
dias foram um verdadeiro inferno.
Ao mesmo tempo em que eu queria que chegasse o sábado, eu tinha
medo desse dia. Principalmente de não conseguir fazer as coisas darem
certo. Já pensou se ela disser “não”?
Isso é uma probabilidade grande. Até porque nosso relacionamento é
muito recente, e ela pode ainda ter dúvidas sobre nosso futuro. Se ela falar
“não” na frente de todo mundo, eu acho que nunca mais conseguirei olhar
na cara de todos. Droga! Por que eu não fiz esse pedido em um jantar
romântico, no qual só nós dois seríamos as testemunhas da minha provável
vergonha?
— Se você continuar soltando fumaça assim, vai acionar os sprinklers
da casa — O Lucas se aproxima, sorrindo — O que está acontecendo?
— Se ela não aceitar? — Eu estou sendo ridículo, mas acho que o amor
faz isso com as pessoas.
— Ela vai aceitar — A certeza na voz dele deveria me acalmar, mas isso
não acontece.
— Como você tem tanta certeza? — Se algum amigo meu visse essa
cena, iria pensar que fui abduzido por algum marciano. O Pedro Henrique
que todos conhecem jamais teria dúvidas quando o assunto é garotas. Só
que a garota em questão é a mulher da minha vida e a futura senhora
Carolina Camargo Mendonça e Albuquerque, e isso por si só já me deixa em
pânico — Ela pode não querer passar o resto da vida comigo.
— Ela te ama, querido — O Lucas tem um olhar meio que hipnótico e,
quando olhamos nos seus olhos é como se estivéssemos embarcando em
outra dimensão. Talvez se eu tivesse esse dom, não estaria com tanto medo
assim — Coloque tudo o que você tem dentro do seu coração para fora, e ela
terá ainda mais certeza que você é o homem certo. Ninguém resiste ao amor
verdadeiro — Ele coloca uma mão no meu coração — Deixe todo o amor que
está aqui dentro correr nas suas palavras, você não precisa de mais nada.
— Obrigada, Lucas, você é um cara incrível — Nos abraçamos, e só em
ter tido essa conversa com ele já me sinto mais confiante.
— Não esqueça que, se ela surtar, eu e a Glei estaremos por perto e
vamos colocar essa aliança de qualquer jeito no dedo dela.
— Isso pode ser uma boa solução — Sorrimos, e já estou mais
descontraído depois disso.
— Vou enviar um SMS para a Glei vir até aqui e trazer as alianças. Já
está na hora de acabar com essa angústia — Quero dizer que ele está certo,
mas não consigo — Pare de pensar, Pedro, você não vai conseguir nada
ficando agitado desse jeito.
— Não dá — Abro meus braços, tento gritar alguma coisa, mas nada sai
— O Ricardo sabe do pedido?
— Não falei nada, porque ele, ao menos uma vez na vida, tem que ser
pego de surpresa.
— Isso não vai acabar bem — Já sinto as mãos do Ricardo no meu
pescoço — Ele vai me matar, Lucas.
— Claro que não. Ele vai apenas esbravejar e se comportar como uma
criança, mas, no final, vai ficar quieto, porque não vai querer deixar a
Carolina aborrecida.
— Eu tô ferrado.
— Quem tá ferrado aqui? — A Glei entra sorrindo e com uma bolsa nas
mãos — Aqui estão as coadjuvantes da festa — Ela está tão radiante e
confiante, que me sinto envergonhado por estar aqui cheio de medo.
— O Pedro tá com medo da Carol falar “não” — Lucas dispara minha
fraqueza.
— Como assim? — Ela me olha, espantada — Que mulher iria dizer
“não” a um pedido de casamento? Principalmente vindo do homem da sua
vida e com uma aliança de brilhantes de bônus? — Ela fala isso como se
fosse bem óbvia a resposta que a Carol dará. Mas eu ainda tenho milhões de
dúvidas.
— Glei, e se ela... — Antes que eu termine, ela já pegou meu braço e me
arrastou para a porta.
— Cala a boca, Rico. Vá até lá e diga que ama minha amiga e que vai
passar o resto da sua vida ao lado dela. Isso é o que qualquer mulher quer
ouvir.
— Mas...
— Que espécie de homem é você? Não acredita em si mesmo? — Essa
mulher não é tão boba quanto todo mundo pensa e agora já não estou tão
convicto que o Guto irá passá-la para trás. Talvez a Glei dê uma rasteira
improvável nele.
Quando chegamos à porta dos fundos, ela empurra minhas costas, e eu
vejo a Carol no meio do quintal conversando com o Guto. Chegou a hora e
não tem como fugir. Limpo a garganta e peço a atenção de todos. Quando
vejo que tenho atenção completa, vou até minha Carol e pego sua mão. Ela
olha-me surpresa e assustada. Peço para o Evandro se aproximar e começo a
fazer o que Lucas falou: abro meu coração sem reservas.
Falo do momento em que olhei para ela pela primeira vez, e só em
lembrar daquele dia, um sorriso saudoso invade meus lábios. Eu sabia que
minha vida nunca mais seria a mesma desde aquele momento, e cada vez
que nos encontramos essa certeza se solidificava dentro de mim. A Carol
entrou na minha vida para mudar tudo e ficar para sempre. Vou falando das
dificuldades que enfrentei em conquistá-la e que minha perseverança foi
fundamental para chegar até aqui. Ouço ao fundo meu irmão me
incentivando, mas continuo falando que, mesmo com as adversidades, ela
ganhou meu coração, e eu fui atrás do que tanto queria.
Os olhos dela estão cheios de lágrimas, mas sei que é de felicidade. Na
verdade, os meus também estão um pouco úmidos, porque esse é
certamente um dos momentos mais felizes da minha vida. Só perde para o
momento em que ela chegou sã e salva em casa depois do sequestro.
Quando digo que a amo incondicionalmente, as lágrimas começam a
cair dos seus olhos descontroladamente, e eu preciso de toda a força do
mundo para não agarrá-la e chorar junto com ela. Viro-me para o Evandro e
peço a mão da sua filha em casamento. Ele olha-me divertido e feliz e
abraça-me apertado, concedendo sem reservas o futuro e a felicidade da sua
filha.
Agora é a parte mais difícil, mas já cheguei até aqui e não tem volta.
Olho em seus olhos molhados e faço a pergunta que tanto me atormentou
nesses últimos dias.
— Carol, você aceita ser minha noiva? — Ela observa-me por alguns
segundos, e minhas mãos começam a tremer. Se ela não aceitar, eu não sei o
que vou fazer.
— Aceito — A voz dela sai tão baixa, que acho que ouvi apenas o que eu
minha mente queria ouvir. Mas quando ela se joga em mim e abraça meu
pescoço quase me matando sufocado, eu percebo que foi um “sim”
verdadeiro e que ela agora é realmente minha. Afasto-a um pouco e pego a
aliança que está no meu bolso. Os olhos dela se arregalam, e suspendo sua
mão para colocar a aliança nela. A Carol sorri e ergue a mão para avaliar a
aliança, mas seu cenho franze e ela pergunta sem demora.
— Cadê a sua aliança? — A Glei sorri ao meu lado e mostra a aliança
para ela. Eu estendo a mão e a Carol coloca, feliz, a aliança no meu dedo.
— Agora você não foge mais de mim — Beijo-a como se o mundo não
existisse e ouço o aplauso da nossa família, até que somos interrompidos
por um Ricardo chateado, que reclama do fato de ter ficado de fora da
existência do noivado. Como já tinha previsto, ele não ficou contente em não
saber que iria pedir a irmã em casamento. Felizmente, todos mandam que
ele cale a boca e, pela primeira vez, eu vejo o Ricardo ficar sem graça. É uma
visão que eu queria imortalizar para sempre.
— E vamos brindar ao casal apaixonado — Todos vibram com as
palavras do Evandro, e o champanhe aparece como mágica. Lucas manda
trazer o bolo de que ele tanto falou nesses últimos dias, e Carol pira quando
vê o belo bolo que Andreia fez.
— E tudo acabou bem... — O Lucas passa o braço nos meus ombros —
Mais calmo agora?
— “Realizado” é a palavra que me define.
— Não disse que tudo acabaria bem? Olha a felicidade dela com tudo
isso — Olho a Carol rodeada pelas meninas, sorrindo feliz. Até minha mãe
está no meio, querendo ver o anel dela.
— Acho que tudo acabou melhor do que pensei.
— Parabéns, meu filho — Meu pai aparece ao meu lado e me abraça —
Isso foi uma surpresa e tanto — Ele parece um pouco chateado, mas eu
queria fazer surpresa.
— Desculpa, pai, eu não falei porque queria surpreender todos vocês.
— Tudo bem, filho. O importante é que vocês estão felizes.
— E aí, mano! Que surpresa, hein? — Xandy me cumprimenta,
sorrindo — Agora meu irmão é um homem sério.
— E eu perdi meu amigo de noitadas. Lamentável — O Guto me abraça,
sorrindo — Parabéns, brother, vocês merecem toda felicidade desse mundo.
— Valeu, Guto! Eu não estarei mais nas suas festas, mas ainda sou seu
amigo — Ele meneia a cabeça e abre espaço para o Matheus me parabenizar.
Minha vida realmente irá mudar daqui para frente, e eu não poderia estar
mais feliz.
— Posso falar com o ilustre noivo? — O Ricardo interrompe meus
pensamentos e olha-me com raiva.
— Vou falar com a Carol, porque não quero ouvir mais asneiras desse
babaca — O Guto diz sem se preocupar com a presença dos irmãos e do pai
do Ricardo. Acho que meu cunhado simpático aprontou das suas com ele
hoje. Todos saem de perto, e sobramos apenas eu e o Ricardo — Antes de
felicitá-lo, vou te dar um único aviso — Ele estreita os olhos em ameaça.
— Pois então fale... — Meu amado cunhado não me intimida, e agora
terá que ter respeito por mim, porque estarei permanentemente na família.
— Se você, em qualquer época da sua vida, resolver magoar minha
irmã, será um homem morto. Tá entendido o que eu estou falando, ou quer
que eu desenhe? — Ele ergue uma sobrancelha, e percebo que essa guerra
nunca terá fim. Com o tempo, será ainda pior.
— Você realmente acha que eu vou magoar a Carol?
— Acho — A resposta dele é curta e grossa.
— Vá se foder, Ricardo! — Minha resposta o pega de surpresa, mas,
mesmo assim, ele reage e pega-me pela camisa.
— Olha como você fala comigo, seu mauricinho de merda! — Afasto
suas mãos com força.
— Olha você! — Agora perdi minha paciência e chamei a atenção de
todos. A Carol já está vindo na nossa direção, e eu não vou estragar o dia
dela por causa dele. Mas antes tenho que colocá-lo no seu devido lugar — Eu
já vi você trocando olhares com minha irmã, e vou logo te falando para tirar
suas mãos podres dela. E também tô de olho em você com minha amiga
Rufina. Se você aprontar alguma coisa com qualquer uma das duas, também
terá que se retratar a mim. Você não está acima de tudo, amigo — A Carol
agora já está ao nosso lado.
— O que está acontecendo aqui? — Ela está preocupada e olha para nós
dois, nervosa.
— Nada, meu amor. Seu irmão apenas estava certificando-se que eu
tratarei você como uma rainha pela vida toda — Puxo-a para meus braços e
beijo seus cabelos.
— Vocês estavam brigando — Ela nos acusa.
— Não estávamos — Ricardo sorri amarelo — Eu estava tendo apenas
uma conversa acalorada com seu noivo, mas já estamos entendidos — Ele
toca suavemente o rosto da irmã e seus olhos ganham uma ternura que não
sabia que existia nele — Espero que vocês sejam sempre felizes — A Carol
sorri e abraça o irmão.
— Obrigada, Rick.
— Nada, querida, eu só quero ver você feliz — Ele abre um sorriso
sincero — Mesmo que seja com um mauricinho otário.
— Rick... — Ela reclama e eu reviro os olhos. Acho que ele nunca sai do
seu estado de ridículo.
— Tá bom, eu não resisti. Agora vamos cortar esse bolo, porque ele
parece gostoso. Lucas, corte esse bolo agora porque eu tenho fome — Ele
grita e sai de perto de nós, indo na direção da mesa do bolo como se nada
tivesse acabado de acontecer.
— Seu irmão é maluco — Digo, tentando entender meu cunhado.
— Esqueça meu irmão — A Carol vira-se para mim e sorri com malícia
— Quando conseguiremos fugir dessa festa? Eu preciso fazer uma
comemoração particular com você — Ela me abraça e morde minha orelha —
Quero que você faça algumas das posições que disse que ainda não fizemos.
Já estou excitada, Rico.
— Porra, Carol, assim você vai me matar! — Ela beija rapidamente
meus lábios.
— Nem pense em morrer, Pedro Henrique, você me prometeu um oral
épico hoje. E ainda temos muitos anos pela frente. Portanto, nada de
morrer, querido.
— Até que a morte nos separe — Digo, estreitando-a nos meus braços.
— Até que a morte nos separe — Sorrimos e nos beijamos como
adolescentes, até ouvirmos uma gritaria generalizada. Acho que causamos
certa inveja nos outros, mas não estamos nem aí. Esse é o nosso momento.
E não poderíamos estar mais felizes.
Agradecimentos
Primeiramente, agradeço a Deus, por me capacitar e me inspirar nos
momentos em que eu acreditava não ser capaz de continuar com a história.
Nos momentos difíceis, eu sempre encontrava refúgio na fé inabalável que
tenho Nele.
Quero agradecer também a minha querida amiga, Virgínia Junqueira,
que batizou o livro. Graças a ela, nasceu o nome da Série Construindo. Foi a
Vih que criou a primeira capa do meu livro e me ajudou a entrar nesse novo
mundo. Quero agradecer também às meninas do meu grupo do Whatsapp,
em especial Jussara Santos, Rufina Freire, Gleicielle Souza, Paola
Nascimento e Sulamita Gomes, que me apoiaram desde o primeiro capítulo.
Sem a ajuda dessas meninas incríveis, eu não teria chegado a lugar nenhum,
elas foram à inspiração e o motivo dessa história existir. Incentivaram nos
momentos em que eu ficava desanimada. Elas são as melhores leitoras do
mundo, e eu nunca me cansarei de agradecê-las. Também preciso agradecer
as minhas queridas amigas e autoras, Denilia Carneiro, Keilinha Alvarenga e
Tatiane Dias que sempre tem palavras de incentivo para me presentear
quando o desânimo me alcança. Sem o incentivo delas, eu não teria lutado
tanto para realizar o meu sonho.
Não posso esquecer da minha amiga, beta e revisora especial Fernanda
Sousa. Ela sempre está do meu lado e me ajudando com opiniões sinceras
que me auxiliam a conduzir a história. Preciso deixar o meu mais profundo
agradecimento as minhas betas Daniele Orneles, Larissa Roberta, Lueiry
Gattes, Micaela Simas, Neia Brazão e Viviane Maia. Essas meninas valem
ouro e me ajudam de puro coração. Peço todos os dias a Deus que dê em
dobro para elas todo o carinho que me dão. E também deixo um
agradecimento especial a Thais Oliveira, uma amiga querida que conheci há
anos atrás em um grupo sobre uma série que assistíamos, e que reapareceu
na minha vida tempos depois e descobrimos que tínhamos uma paixão
especial pelos livros. Desde esse momento a Thais virou uma parceira
incrível e fez a primeira resenha desse livro.
Quero a agradecer a minha mãe (chamada carinhosamente de Nenete),
que todos os dias me perguntava como estava o andamento do livro e nunca
deixou de acreditar que um dia eu conseguiria publicá-lo. Ela foi a minha
maior incentivadora e sempre acreditou na minha capacidade.
Por último deixo um agradecimento mais que especial para as minhas
amadas leitoras, que foram apelidadas com muito carinho por mim como
“Máfia da Lily”. Essas meninas é o motor da minha carreira como escritora e
é graças a elas que eu enfrento os desafios desse mundo literário e não paro
de escrever. Minhas meninas é o meu grande tesouro e sem elas eu jamais
chegaria a lugar nenhum. Amo cada uma de vocês e não vou citar nomes,
porque certamente esqueceria de alguma e isso não seria justo.
Obrigada de coração a todos que me ajudaram a chegar aqui, pois foi
com o apoio de vocês que consegui conquistar o meu sonho.
Um beijo grande no coração de todos.
Lily Freitas
Sobre a autora
Lily Freitas tem 36 anos, é professora de história, botafoguense doente,
nascida e criada no Rio de Janeiro e apaixonada por livros. É calada,
observadora, atenciosa e fiel. Não é uma pessoa de muitos amigos, mas
devota uma fidelidade extrema aos poucos que tem.
Lê desde o início da adolescência. Foi nessa época que começou a
escrever pequenos poemas, ainda na escola. Seu primeiro contato com os
livros foi através de Pedro Bandeira. Desde então, virou uma traça de todos
os tipos de livros. Ama romance de qualquer estilo, mas também gosta de
uma boa fantasia e livros de suspenses no estilo de Agatha Christie.
Os livros são seus melhores amigos e o seu mais prazeroso
passatempo. A melhor maneira de manter uma amizade duradoura com
Lilian é nunca pedir os seus bebês emprestados. Ela diz que mata e morre
pelos seus livros. Escrever é uma terapia e a maneira mais eficaz de
expressar os seus sentimentos. Quando está escrevendo, esquece de tudo e
embarca no mundo imaginário dos seus personagens. Ama a liberdade que a
escrita lhe proporciona e não se imagina mais sem escrever.