Você está na página 1de 296

Esse livro contém gatilhos.

Se você for sensível a


conteúdo de relacionamento abusivo, por favor, não
leia.
Para todas as minhas meninas do grupo do
WhatsApp. Eu amo vocês!
E para todos que tiveram paciência de esperar
esse livro sair. Vocês são guerreiros! Haha.
Uma mão se fechou em meu pau e o segurou com firmeza.
Eu me remexi na cama, franzindo os olhos fechados. Eu estava ereto. Então senti algo molhado
tocar minha cabeça e lábios macios se fecharem ao meu redor, sugando suavemente. Um som
selvagem escapou da minha garganta e eu abri os olhos para ver a bela mulher entre minhas pernas,
de quatro, se lambuzando em meu pau.
É um bom jeito de acordar. Quem não gostaria de acordar com uma modelo loira, com longos
cabelos dourados e olhos azuis encarando-o enquanto engole seu pau até a garganta?
Estendendo as mãos, recolho todo o seu cabelo e fecho meu punho, prendendo-o em um rabo de
cavalo para poder ver a curva de seu pescoço trabalhando.
Ela se arrasta para longe, só o suficiente para enrolar seus lábios em um sorriso malicioso.
— Você gosta disso?
Eu olho para ela com meus olhos semicerrados. Minha mandíbula tenciona quando prendo um
rosnado em minha garganta. Aperto mais meu punho em seu cabelo, segurando-me para não
empurrar sua cabeça de volta para meu pau.
— Gosto mais de quando você está com a boca ocupada. — Eu sei que fui rude, mas porra, eu
tenho uma ereção do caralho e sua mão apertando ao meu redor; eu não quero discutir sobre o que eu
gosto ou deixo de gostar. — Apenas faça, Margot!
Seus olhos azuis brilham com algo que eu reconheço bem como excitação e ela volta a me
engolir.
Por algum motivo, as mulheres com quem saio, se excitam com minha forma de tratá-las durante a
foda. Elas gostam que eu as controle, seja rude e mandão. Não entendo o motivo de uma mulher
querer isso, mas tudo bem, não me importo.
Margot fez o que ela faz de melhor: um boquete dos deuses. Porra, eu conheci e fodi mais
mulheres do que eu consiga contar, mas nenhuma delas fez ou faz o que essa mulher consegue fazer
com a língua.
Ela rola a língua ao redor da cabeça, lambe de um canto a outro, chupa, me leva até o calor de sua
garganta.
O homem que se casar com ela, definitivamente será um homem sortudo.
Quando sinto que vou explodir com toda sua exploração, puxo seu cabelo e a afasto. Ela me olha,
fazendo beicinho porque eu sei que ela ama engolir minha porra.
— Você quer isso, uh? — perguntei, minha voz rouca, numa mistura de sono e tesão.
Ela faz que sim com a cabeça, a boca entreaberta, sua expressão é pura safadeza. Uma boa
menina.
Um sorriso torcido desenrola em minha boca e eu deito relaxado, deixando-a terminar o trabalho.
E ela obedece de imediato. Lambendo, chupando, rolando, até que eu explodo em sua boca. Meu
corpo estremece violentamente, um gemido escapando da minha garganta. Então, após segundos,
meu corpo começa a relaxar. Margot me lambe até não sobrar mais nada, então se levanta, sentando-
se em suas panturrilhas, as mãos apoiadas em suas pernas torneadas. Ela me olha como se eu fosse o
Santo Graal. Os grandes cílios piscando para mim, esperando por mais, implorando para que eu a
possuísse.
Eu faria isso de bom grado, a colocando de quatro e me enterrando fundo em sua boceta quente,
no entanto, eu tinha que ir. Hoje eu tinha uma videoconferência com um sócio da Itália e odiava me
atrasar ou cancelar meus compromissos. Sento na cama e torço meu pescoço de um lado para o
outro.
— Tenho que ir agora.
— Ah, não... — o beicinho se intensificou.
Ignorando-a, joguei as pernas para fora da cama e levantei. Com o canto dos olhos, vejo Margot se
jogar de costas na cama, esticando seu corpo magro e nu para me seduzir. Poderia funcionar, se eu
não tivesse focado no meu trabalho agora.
Estendi a mão e peguei minha calça, em seguida minha camisa. Após estar vestido, peguei o meu
relógio em cima da mesinha de cabeceira e coloquei em volta do meu pulso.
— Você realmente precisa ir tão rápido?
Dei um meio sorriso de lado enquanto atacava o relógio, meus olhos focados nesse ponto do meu
pulso.
— Passei a noite inteira aqui e só dormimos poucos minutos. — eu disse calmamente. — Não é
tão rápido.
Ela bufa, virando o corpo, ficando de bruços e suspira.
— Vou ver você mais tarde?
— Talvez.
— Talvez não é um não.
— Também não é um sim.
E o beicinho estava lá de novo.
— Eu tenho mais de cinquenta hotéis pelo mundo para manter de pé, Margot. Você me conhece,
eu não gosto de deixar o trabalho de lado para me divertir.
— Nem de noite?
— Gosto de trabalhar de madrugada. — Não era uma mentira. A madrugada era minha hora
preferida porque o silêncio do mundo ao meu redor me permitia concentrar mais no meu trabalho e
nos meus pensamentos.
Recolho meu celular e carteira, vendo com o canto do olho que Margot simplesmente começou a
se tocar. Ela abriu as pernas longas e iniciou uma masturbação. Meu pau sacudiu dentro das calças,
mas eu engoli o desejo de voltar na cama e ensiná-la uma lição por me atiçar.
— Pedro... — ela gemeu o meu nome, seus olhos se fechando enquanto ela arqueia o corpo. Os
peitos grandes com os mamilos pontudos e prontos para serem levados à minha boca.
Eu amava sexo e amava a prática dele, principalmente com mulheres lindas como Margot, mas eu
desconfiava que ela era uma ninfomaníaca. Já estive com muitas mulheres na minha vida, mas
caramba, nenhuma delas têm esse apetite como ela.
Ela me olha sob seus longos cílios e quando torna a falar, sua voz é um gemido de lamento.
— Tem certeza que vai sair com um talvez?
Os meus olhos escavam cravados em seus dedos na sua boceta, todo o meu corpo queria voltar
para a cama de hotel; minha boca queria estar no lugar de seus dedos. Mas apenas balancei a cabeça e
a cocei.
— Tudo bem, nos vemos mais tarde, então. — eu disse. Antes de passar pela porta, parei e dei
uma última olhada em seu sorrisinho satisfeito. — Vou deixar Elizabeth saber que você descerá em
vinte minutos. — avisei.
Ela assentiu, animada.
— E que voltarei mais tarde.
— É — sorri. — Isso também.
•••

— As estádias têm caído um pouco por conta desse novo vírus que está assombrando, mas nada
que possa prejudicar o hotel. — Patrizio, o sócio que cuida dos 4 hotéis que possuo pela Itália, disse,
através da nossa videoconferência. — Apesar disso, estamos recebendo ligações de todo o mundo
para hospedagens em breve.
Anuí.
Isso é bom. Com esse vírus pegando todos de surpresa, meus negócios na Europa e Ásia deram
uma diminuída. Nada muito grande, mas, ainda assim, não era uma coisa que eu apreciasse.
Descanso as costas em minha poltrona e relaxo as pernas, meu braço apoiado no braço da cadeira
enquanto arrasto meu indicador pelo queixo.
— Deixe-me saber se você precisar de alguma coisa, Patrizio. — falei para ele.
Patrizio assentiu, os cabelos grisalhos brilhando na tela do meu computador.
— Deixarei. — garantiu, então hesitou e sua testa enrugada pela idade se franziu. — Na verdade,
há uma coisa que eu gostaria de pedir.
Remexo na poltrona, ajeitando minha postura enquanto aceno.
— Fale.
Patrizio também se ajeitou e limpou a garganta antes de começar a falar:
— Você sabe que tenho uma filha, certo?
Anuí. Eu sabia de sua filha, apesar de não a ter visto há anos. Ela costumava vir para os Estados
Unidos com ele quase sempre.
— Bem — ele continuou —, com toda essa confusão do vírus circulando e tudo o mais, eu estou
preocupado com Giulia por aqui. Quase todo o país está entrando em quarentena. Carlotta e eu
estamos aflitos e gostaríamos de saber se nossa filha pode ficar... hm... uns dias aí com você?
Pego de surpresa, encarei a tela do computador, boquiaberto, sem dizer uma palavra. Considerei o
pedido do melhor amigo do meu falecido pai. Ele quer que sua filha venha para cá, ficar comigo? Por
quê? Claro, eu sabia muito bem o motivo, porque ele acabou de me explicar e era totalmente
compreensível, mas, por que logo eu?
— Ela não iria preferir ir, sei lá, passar umas férias no Brasil? — disse a primeira coisa que veio à
minha cabeça, que poderia me livrar dessa.
Mas Patrizio sacudiu a cabeça, sua mandíbula se contraindo.
— De jeito nenhum! — Ele logo se calou e me deu um olhar de desculpas.
Eu não dei a mínima para seu surto. Tudo que eu pensava era que eu não tinha tempo para uma
garota de...
— Giulia tem apenas dezenove anos. — disse ele, lendo meus pensamentos.
Dezenove anos! Pelo amor de Deus, dezenove anos já é praticamente uma adulta, por que diabos
ela não pode ir passar as férias no Brasil ou em algum lugar que não tenha risco do novo vírus ou que
não seja minha casa?
— Ela já atingiu a maioridade.
— Com todo respeito, Pedro. — ele pediu, sua voz dura, mas na medida certa para não ultrapassar
o meu limite. — Minha família tem certas regras, que não são quebradas só porque minha filha tem
mais de dezoito anos. Não nos importamos com isso.
Sim, família tradicional e blá blá blá. Essas regras não servem quando é para a garota ficar
sozinha com um cara?
Eu queria perguntar, mas uma das coisas que meu pai ensinou foi que não podemos zombar das
tradições das pessoas.
Respirando fundo, eu imaginei meu pai me aconselhando a quebrar esse galho para seu melhor
amigo. Ele sempre fazia de tudo para vê-lo feliz e vice-versa. Mesmo odiando a ideia, cedi e suspirei.
— Tudo bem.
Patrizio sorrio largamente.
Eu cerrei os dentes. O que estou fazendo?
— Vou enviar meu avião para busca-la com uma equipe médica para se certificar de que está tudo
bem. — avisei. — Só me diga quando quer manda-la.
— O mais rápido possível.
Eu quase fiz uma careta. Nem tempo de me organizar, eu tenho.
Anuí com dureza e fechei o laptop, finalizando a videoconferência. Passei as mãos pelo rosto,
frustrado. Era para ser apenas uma reunião para ficar a par de tudo que estava acontecendo por lá, e
agora eu tinha a responsabilidade de uma garota de dezenove anos que vem de uma família
tradicional do caralho e, provavelmente, ainda é virgem. Era como cuidar de uma adolescente —
apesar de que eu nunca fiz isso.
Ótimo.
Era tudo o que eu precisava para agora.
Cruzo os braços sobre o peito e encaro meu pai.
— Por que eu tenho que ir?
Minha mãe, que está sentada ao meu lado, me olha feio, com desaprovação, mas eu ignoro. Estou
mais focada na minha conversa e nas respostas que eu quero receber.
É simplesmente ridículo o fato de que meu pai está me mandando para outro país, com uma
desculpa idiota de que precisa me proteger das coisas que estão acontecendo no país.
Meu pai não esbouça nenhuma reação quando ele me responde:
— Porque estamos em luta contra esse novo vírus. As pessoas estão falando em quarentena, o que
significa que é grave. Não quero você aqui, exposta a isso.
— Ok. — Dou de ombros. — E por que você e a mamãe também não vão comigo?
— Giulia, apenas obedeça a seu babbo. — mamãe repreende. — Ele quer seu bem.
Viro o rosto para ela.
— Mesmo? — o sarcasmo pinga na minha voz. — Ou é apenas uma forma de me manter longe do
Mattia?
A mandíbula do meu pai se contrai e seu olhar sobre mim poderia me assassinar, se isso fosse
possível. Mamãe, suspira exasperada com minha pergunta.
Cerrto, bingo!
Eu toquei em seus pontos. Meus pais decidiram que, mesmo eu tendo dezenove anos, não posso
simplesmente decidir com quem devo ou não me relacionar. Recentemente, conheci Mattia Bianchi,
o filho de um arquiteto renomado aqui na Itália. Nós nos conhecemos através de uma amiga, e eu
imediatamente me apaixonei.
Mattia é o tipo de cara que você olha e não tem mais como escapar. Alto, um corpo perfeito, olhos
que chamam atenção e uma forma de se mover que deixa você querendo entrar no primeiro quarto
que encontra com ele, só porque sabe que vai ser bom.
Ele, com certeza, sabe que causa isso nas garotas, e ele pediu meu telefone para que possamos
trocar mensagens todos os dias. Em uma das nossas saídas, meu pai acabou descobrindo e, desde
então, está no meu pé com tudo isso.
— Não tente anular minha preocupação, Giulia. — Papai ergue um dedo em riste, avisando. —
Por mais que eu não queira você com aquele... carogna, também me preocupo com minha única
filha.
— Então me mande para outro lugar! — digo, levantando-me porque eu não consigo me manter
sentada. Estou nervosa demais por pensar que não poderei mais ver o Mattia. — Ou... Sei lá, mande a
mamãe comigo, pelo menos! — Bato as mãos nas pernas. — Eu não quero ficar com alguém
desconhecido, em um lugar desconhecido.
— Pedro não é um desconhecido.
Eu solto uma risada incrédula.
— Para você, babbo, mas para mim, ele é muito estranho sim.
Meu pai acena com a mão, balançando a cabeça quando volta para sua pilha de papéis, que estão
espalhados sobre sua mesa.
— Eu não vou discuti com você, Giulia. — ele avisa, sem me olhar. — Você vai e ponto final. Não
quero mais ouvir suas birras.
Estreito o olhar e abro a boca para falar, mas então torno a fechar. Não vai adiantar discutir quando
ele já está decidido. Sempre foi assim. Eu olho para minha mãe, que agora está fingindo checar suas
unhas bem-feitas, só para não me enfrentar. Como de costume, ela está do lado dele.
Minha mãe prefere morrer do que ver nossa família fora das tradições ridículas.
Bem, se é assim que eles querem, assim será.
Com um suspiro alto, ergo os ombros e arqueio uma sobrancelha.
— Tudo bem, então. — Eu me rendo, levantando as mãos com as palmas para cima. — Eu vou
para Miami, como você quer.
Meu pai levanta o rosto e me olha com desconfiança.
Abro um sorriso triunfante.
— Mas, não pensem que eu vou deixar de falar com o Mattia.
A expressão severa dele voltou, assim como a da minha mãe.
— Ele é meu namorado e não vou deixa-lo só porque meus vocês estão me obrigando ir para outro
continente.
Eu giro em meus calcanhares e saio pela porta, fechando-a atrás de mim, daí empurro minhas
costas contra ela, fechando os olhos com força para impedir as lágrimas de caírem. Odeio essa vida,
odeio meus pais por me mandarem embora, esse hotel idiota e, mesmo não o conhecendo, eu odeio
esse tal de Pedro Rodrigues.
Que cara imbecil aceitaria tomar conta da filha de outra pessoa? Ele nem me conhece. Não sabe
as coisas que gosto ou deixo de gostar, ou se eu sou comportada...
Puxo o celular do bolso e mando uma mensagem para Mattia, informando-o o que estava
acontecendo, enquanto ando pelo corredor do escritório do meu pai, que fica por trás da recepção do
hotel. Quando chego no lobby, o devolvo para o bolso, acenando para Greta, uma das recepcionistas
ao passar para alcançar o elevador.
Desde que me entendo por gente, eu moro aqui, no hotel. Meu pai achou que seria mais
conveniente morar no lugar do trabalho, porque assim ele pouparia a dor de cabeça de chegar tarde
em casa. Nem preciso dizer que odeio esse raciocínio.
Eu gostaria de viver em uma casa, com quintal grande e uma piscina só para mim, para nadar a
hora e quando quisesse. Eu nunca fui uma adolescente com privacidade. Mesmo agora, com
dezenove anos e idade o suficiente para morar sozinha, não posso, porque a família Esposito é uma
das “famílias originais” de Venrona, o que significa que a tradição de que filha mulher só pode sair
de casa casada com alguém da mesma nacionalidade e com caráter aprovado, é levada muito a
sério.
Nem a porcaria de uma faculdade, eu posso fazer!
Enquanto eu passo meu cartão-chave no painel do elevador, sinto meu celular vibrar. Suspirando,
puxo novamente do bolso e vejo uma mensagem de Mattia. Automaticamente, um sorriso se arrasta
pelo meu rosto e meu peito se enche de esperança.
Mattia: Não se preocupe, cuore. Vamos dar um jeito nisso.

•••

O avião particular que foi me buscar à mando de Pedro Rodrigues pousou em Miami pouco mais
do meio-dia.
Eu estou com o estômago apertado de tanta fome, mas neguei todas as vezes que as aeromoças
americanas de pernas longas, quiseram me oferecer algo para comer. Eu estou com raiva dos meus
país por eles terem em enviado para cá e também por terem confiscado meu celular, para que eu não
entrasse em contato com Mattia.
Seguro firme na alça da minha mochila quando desço os degraus da escada. Rapidamente, sou
envolvida pelo sol de Miami. Minha pele pinica com os raios solares e eu me lembro de que preciso
de um protetor solar, mas, nesse momento, apenas fecho os olhos, parando no meio da escada, só
para apreciar. Nos últimos meses, eu sequer vi o sol lá em Verona. As chuvas são constantes, com
máxima de 4°. Eu odeio estar aqui, mas eu amo o sol. Com toda a chuva, eu nem posso nadar um
pouco porque as águas estão congeladas.
— Você consegue terminar de descer ou está tendo um ataque aí?
Abro os olhos, logo procurando quem falou comigo e encontro um cara, que deve ter mais ou
menos uns quatro anos a mais que eu. Olho-o com cuidado e em silêncio. Ele é o tal de Pedro
Rodrigues?
Eu nunca o vi pessoalmente, porque as reuniões com o meu pai eram particulares e ele nunca foi
até Verona; eles sempre se encontravam em Roma ou Milão. Tampouco me interessei em procurar
sobre ele na internet, mas já ouvi falar sobre o grande Bilionário, dono de uma das redes de hotéis
mais luxuosas do mundo. As pessoas (mulheres) dizem que ele é muito bonito. Moreno, alto, um
pecado para os olhos...
Inclino levemente a cabeça, meus olhos sobre a figura do homem que acabou de falar comigo.
Moreno, alto, um pecado...
É, ele é bem bonito mesmo. Mesmo sob a calça jeans e a camisa preta, que agarra bem seus braços
fortes, pode se ver que seu corpo é definido, mas magro, como um nadador. Seus cabelos pretos são
curtos embaixo, mas um pouco comprido em cima, deixando algumas mexas rebeldes caindo em seu
rosto. Ele tem um óculos escuro arrastado para o topo da cabeça e um sorriso de cafajeste repuxando
seus lábios.
— Então? — ele abre os braços, ainda sorrindo. — Vai descer e vir comigo ou vai continuar aí, me
comendo com os olhos?
Meu olhar se estreita e eu logo decido que não gosto dele. Arrogante demais para o meu gosto.
Desço os últimos degraus e ando até parar em sua frente.
Ele é alguns bons centímetros mais alto, então preciso inclinar meu queixo para olhar em seu
rosto. Continuo em silêncio.
— Você fala? — ele pergunta.
Pressiono meus lábios juntos. Eu nem tinha tido a ideia de me manter em silêncio até agora. É uma
boa ideia. Talvez assim, ele canse e me mande de volta.
Ele sorri mais.
— Ok, então, mudinha. — Ele acena com a cabeça para que eu o siga, e eu faço. Quando
chegamos diante de um carro esportivo de dois lugares, que parecia bem caro, ele vai direto para
porta do motorista.
Eu fico parada, minhas mãos apertando a alça da mochila, enquanto observo ele.
Ele não vai abrir a porta do carro para mim?
— Não vai entrar? — ele pergunta.
Eu apenas pisco.
Ele acena para o avião.
— Já pedi para entregarem suas malas lá, não se preocupe.
Continuo parada.
Ele fica alguns segundos me encarando, esperando-me responder alguma coisa ou me mover, mas
quando ver que eu não vou fazer nada disso, ele me choca ao simplesmente dar de ombros e entrar no
carro.
Meu queixo cai. Ele vai sem mim?
O idiota liga o carro.
É, ele vai sem mim.
Corro para porta do passageiro, abro e me sento, fechando a porta com toda raiva que eu consigo
reunir.
Ele é tão idiota assim mesmo? Que homem não abre a porta para uma dama?
Escuto ele rir baixinho e cerro as mãos em punhos.
— Cinto, por favor. — ele pede.
Sem olhar para cara dele, puxo o cinto e o coloco. Com minha visão periférica, vejo-o anuindo.
— Aliás — ele diz antes de dar partida. —, sou Rafael, irmão mais novo do Pedro.
Por algum motivo, o alívio se estendeu pelo meu corpo. Gostei de saber que o pequeno idiota não
era o homem com quem estava destinada a passar meus próximos dias ou acabaria matando-o. Mas
também estou com um pouco de medo e ansiedade. Se o irmão é assim, ele pode ser bem pior, certo?
Chegamos em um hotel idêntico ao que eu vivo na Itália e eu desci do carro, carregando minha
mochila junto.
Rafael saiu também, como se fosse uma celebridade sendo fotografada, e joga a chave para um
manobrista.
— Aqui, vamos. — Ele aponta para a entrada luxuosa do hotel, e eu vou bem atrás dele.
Na viagem até aqui, que durou pouco mais de vinte minutos, eu não disse uma palavra e ele
também não tentou mais puxar assunto. Me senti um pouco culpada por estar fazendo greve de fala,
mas bem, ninguém pensou em mim ou no que eu achava quando me mandaram para cá.
Rafael cumprimenta alguns funcionários no caminho. Não passa despercebido por mim a forma
como as mulheres derretem quando ele abre seu sorriso para elas.
Reviro os olhos internamente e admiro o quanto também é idêntico no interior ao que eu moro. Eu
não acredito, no entanto, que me sentirei em casa, estando tão longe das pessoas que eu gosto.
Como Mattia, por exemplo.
Obviamente, como um dos donos do lugar, Rafael passa direto para os elevadores, retira um
cartão-chave e passa no elevador privado. Dentro da caixa de aço, eu permaneço do lado oposto dele,
sem olhar e sem abrir minha boca, mas posso senti-lo me observar com curiosidade e, após alguns
segundos, o elevador se abre na suíte presidencial.
Como todo o resto, é igual ao hotel de Verona.
Segurando minha bolsa pela alça, sou a primeira a sair do elevador e caminho direto para o sofá de
couro branco, onde me sento, mantendo meus olhos em um ponto à minha frente.
— Você já deve conhecer tudo, certo? — Rafael pergunta, de pé, ao lado do sofá.
Ergo queixo para encara-lo.
Ele arqueia uma sobrancelha em questão, mas não recebe uma resposta de mim. Então, ele suspira
sem paciência.
Quase sorrio. Se o irmão dele também tem essa falta de paciência, não vou demorar muito aqui.
— Você mora em um hotel, pelo que sei, então conhece. — ele diz, cerrando os dentes. — Ok,
foda-se!
Meus olhos se arregalam com as palavras dele. Ninguém nunca me mandou... Deixo o queixo cair,
surpresa, as lágrimas começando a querer se acumular nos meus olhos, por isso, desvio o olhar dele
para que ele não veja.
Quem ele pensa que é?
— Eu apenas fiz o que meu irmão pediu: te trouxe para cá. — ele diz, indo em direção ao frigobar
adaptado. Ele abre e pega uma cerveja de lá. — Tem água e refrigerante aqui e pode pedir qualquer
merda que quiser comer, mas não vou ficar insistindo. Não sou babá de menina mimada. — dito isso,
ele abre sua cerveja com os dentes e vai para a varanda.
Daqui de dentro, posso vê-lo esticar a coluna antes de se sentar em uma espreguiçadeira. Idiota.
Leva um tempo até o momento que eu saio do choque e me levanto, levando minha bolsa junto
quando vou para o quarto. De repente, me sinto cansada. Meu corpo reclama em todos os lugares.
Não dormi em nenhum momento nas doze horas de voo até aqui. Olho para a cama gigante e minha
mente é atraída para lá. Abandono minha mochila no chão e me apoio na parede para poder empurrar
meu tênis para fora do meu pé. Sem me importar se Rafael está logo ali e que eu não o conheço o
suficiente para saber se ele vai ou não me fazer algum mal, eu subo engatinhando na cama e deito no
travesseiro.
Mais tarde, quando acordar, eu daria um jeito de ligar para Mattia e dizer onde estou.

•••

Um barulho soa longe e eu aperto meus olhos fechados. Tento adivinhar o que é, sem precisar
acordar de verdade.
Primeiro, lembro onde estou. Não estou em casa; estou na suíte de um cara desconhecido, que eu
nem sequer conheço ainda. Isso me faz abrir os olhos abruptamente. Está escuro em relação a como
estava quando deitei para descansar. Sinto minha cabeça doer, como se estivesse carregando uma
tonelada sobre ela.
Outro barulho — dessa vez, mais perto. Talvez porque agora estou acordada o suficiente para
ouvir as coisas com clareza. Algo cai com um baque suave na cama, ao meu lado e eu pulo sentada,
assustada. Engulo em seco, meu peito subindo e descendo com rapidez, minhas mãos apoiadas no
colchão, atrás do meu corpo, enquanto meu pescoço gira à procura de que é. Encontro uma blusa
branca social ao meu lado, daí finalmente ergo os olhos e encontro quem a colocou ali.
Um homem — que não é Rafael — está parado ao lado da cama, sem camisa e com o cinto aberto.
Meu coração acelera e um grito fica preso em minha garganta quando olho seu rosto e, mesmo na
pouca luz, consigo notar os traços parecidos com os de Rafael.
Será que ele é o Pedro Rodrigues?
Enquanto se livra do relógio, ele olha para mim.
— Não se preocupe, eu sou Pedro. — ele esclarece.
Eu assinto devagar, ainda um pouco assustada.
— Meu irmão disse que você não fala. — ele diz calmamente, enquanto coloca seu relógio, com
cuidado, sobre a mesinha de cabeceira. — Mas, falei com seu pai e ele me disse que você sabe falar
muito bem.
Ele está falando, mas não sou capaz de assimilar muito. Rafael era muito bonito, mas esse cara era
tudo o que ouvi as mulheres falarem. Os meus olhos estão focados no seu abdômen. Dio Santo, é
como estar olhando para uma escultura de um deus. Ao contrário do seu irmão mais novo, que tem
músculos magros como de um nadador, ele tem músculos bonitos e definidos. Quer dizer, tenho
certeza que Rafael também tem um abdômen lindo, mas, caramba, eu apenas queria me arrastar até a
beira da cama e arrastar meus dedos pelos gominhos perfeitos dele. Sua pele é bronzeada. Uma
tatuagem está bem acima do seu peito direito, outra escrita em seu braço esquerdo e algumas
espalhadas pelos seus dedos e dorso da mão, mas não consigo entender o que é nenhuma delas.
— Giulia?
Eu pisco meus olhos para longe do seu abdômen e sinto meu rosto queimar com o
constrangimento. Por que eu estava babando em seu corpo? Encaro os olhos escuros.
— Você vai falar comigo ou vai continuar muda?
Dio, ele é mesmo lindo de rosto.
Balanço a cabeça devagar.
— Isso é um não de não vou falar ou de não vou continuar muda?
Franzo o cenho.
Por que ele está sendo gentil comigo? Seu irmão perdeu logo a paciência e mandou eu me foder.
Umedeço meus lábios com a ponta da língua.
— Não de não vou continuar muda. — finalmente falo. Ficar calada, obviamente, não funcionou
com ele, então, terei que tentar outra estratégia.
Mas a questão é: qual?
Eu nunca falei com ele, é o nosso primeiro encontro e eu não tenho nem um celular para me
conectar com Mattia. Eu tenho que ser esperta e esperar, ir com calma. Nada vai dar certo se eu for
com muita sede ao pote.
Pedro anui com firmeza, vai até uma porta que leva à um closet e entra, pegando uma camisa preta
de lá. Levando-a para cima, ela puxa ela sobre sua cabeça e cobre seu abdômen tanquinho. Eu vejo
tudo do lugar onde estou, babando. De cabeça baixa, ele retira o cinto da calça e inclina só um pouco
para me olhar. Seus olhos se estreitam por uns segundos ao ver que está sendo observado, então ele
se move, sumindo de vista, até que reaparece vestindo uma calça moletom que recai bem em seus
quadris estreitos.
— Ótimo. — ele diz, me olhando. — Rafael contou que você não comeu nada, e Leisa também
disse que você se negou a comer no avião. Está com fome?
— Quem é Leisa? — pergunto. Jogando as pernas para fora da cama, eu me levanto, sentindo-me
um pouco envergonhada.
Isso é tão ridículo. Eu nunca senti vergonha de conversar com ninguém, nem com Mattia isso
aconteceu.
Talvez seja porque estou em território desconhecido, com um cara lindo e desconhecido. Não
existe maneiras rápidas de voltar para casa. Eu nem conheço a merda dessa cidade!
— Uma das aeromoças que veio com você. — Pedro respondeu, arrancando-me dos meus
devaneios.
Eu olho para ele.
— Hum.
— Então?
Sacudo a cabeça.
— O quê?
Sua sobrancelha se arqueia.
— Fome?
Levo um momento para responder. Não por não querer responder, mas porque tenho que pensar se
realmente estou com fome. Foram doze horas de voo até aqui e mais umas quatro horas de dono, ou
seja, dezesseis horas sem comer. Eu ainda estou com muita raiva, mas morrer de fome não vai mudar
a opinião do meu pai.
Anuí, começando a sentir meu estômago doendo.
— Estou morrendo.
Pedro caminha até o criado-mudo, do outro lado da cama, retira o telefone do gancho e aperta o
número um. Ele leva o telefone à orelha e rapidamente é atendido.
— Mande subir o jantar para meu quarto. — ele escuta por um instante. — Tudo que tiverem. —
em seguida, desliga e me encara. — Suas malas chegaram, se quiser tomar um banho por enquanto
que eles não sobem, fique à vontade. — Ele sinaliza para um canto do quarto, onde minhas malas
estavam reunidas e eu nem tinha notado. Sem falar mais comigo, Pedro pega sua camisa que está
sobre a cama e a dobra, sumindo com ela dentro do banheiro, por uns segundos.
Só quando o banheiro esvazia, eu vou e me tranco lá. Dormi tantas horas e ainda consigo sentir
meu corpo exausto. Pego meu reflexo no espelho sobre a pia e fico chocada com o que vejo. Há fios
de cabelo para todo lado, como um redemoinho sobre minha cabeça. Em meu rosto, há marcas do
travesseiro e as maçãs do meu rosto estão avermelhadas. Minha roupa está toda amassada e eu faço
uma careta para minha imagem horrível.
Eu sempre amei me cuidar e agora parecia que fui atropelada por um caminhão.
Com um suspiro, ergo as mãos e começo a juntar meus cabelos no topo da cabeça, enrolando-os
em um coque e prendendo com a liga que eu mantenho envolta do meu pulso. Feito isso, começo a
tirar minha roupa. Eu preciso de um longo banho relaxante para me ajudar a pensar no que vou fazer
para conseguir me comunicar com Mattia.
De sutiã e calcinha, dou a volta no enorme banheiro, que conheço bem por também ser igual ao da
suíte em que vivo em Verona. Encontro o armário com toalhas e roupões e puxo um roupão para me
cobrir. Esqueci de pegar as coisas que preciso na minha mala, portanto, precisarei voltar até o quarto
para pegar.
Giro a maçaneta com cuidado, então coloco a cabeça para fora, me certificando que Pedro
Rodrigues não está por perto. Quando noto sua ausência no meu campo de visão, vou na ponta dos
pés até minha mala de mão, que está sobre a mala grande. Volto correndo para o banheiro e tranco a
porta.
Eu não confio nesse homem e odeio muito meu pai por me colocar sob os cuidados dele.

•••

Uma coisa que me pegou desprevenida foi o fato de que Miami faz um calor dos infernos.
Claro, eu tinha ideia que era uma cidade de praias e tudo o mais, mas nunca que imaginaria ser tão
quente. Verona era um pouco mais frio, com isso, eu tinha roupas de frio. Nada na minha mala era
compatível com essa cidade e essa temperatura.
Sem saber o que fazer com minhas roupas e querendo gritar com o mundo, eu peguei um vestido
que minha mãe comprou, que era longo com alças quadradas, na cor amarela e pequenas florezinhas
marrons espalhadas por todo ele. Era a peça mais verão que eu tinha trazido.
Depois de vestida e perfumada, soltei meu cabelo, deixando-a cair em longos fios grossos em
minhas costas, e saí do quarto. Caminhei descalça pelo chão frio devido a temperatura da suíte, até
alcançar a varanda, onde encontrei os dois homens mais bonitos que já vi em toda minha vida.
Rafael, o mais novo, está de pé, com o quadril empurrado contra o parapeito e braços cruzados,
enquanto Pedro, o mais velho, está elegantemente sentado em uma das cadeiras ao redor da mesa. Ele
tinha o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo e um iPad na mão, tão concentrado em alguma coisa
nele, que nem levantou a cabeça quando cheguei. Pelo cabelo molhado e a roupa nova que usava —
uma camisa de mangas curtas preta e uma calça jeans branca —, ele havia tomado um banho
enquanto eu tomava o meu.
Ao mesmo tempo em que ele nem ligava para minha presença, seu irmão abriu um sorrisinho
safado para mim, um que dizia claramente que ele estava sendo debochado. Idiota.
Meu pai passou minha vida inteira tentando evitar que eu
Sentiram a ironia?
ficasse só perto dos homens e para evitar um, ele me manda para ficar sob
os cuidados de dois.
Enviando ao pequeno idiota uma expressão fechada, sentei-me na cadeira que estava livre. A mesa
diante de mim estava farta, com comidas de vários tipos. A vista era perfeita, direto para a praia, o
que facilitava o calor já que os ventos do entardecer conseguiam faze-lo desaparecer um pouco.
— Certo, vamos lá. — Comecei a falar, e isso arrancou um grunhido surpresa de Rafael.
— Ih, tinha razão, mano, ela fala. — ele comentou, escárnio jorrando de seu tom.
Cerrei as pálpebras para ele, no entanto, ele era cínico demais para se abalar. Balancei a cabeça,
vendo que não valia a pena. Meu alvo aqui era seu irmão, não ele. Voltei a olhar para o homem do
meu lado, que nem se moveu.
— Pedro, eu sei que meu pai deve ter mandado uma lista de regras para você sobre o que eu posso
ou não fazer, mas acontece que eu não sou uma criança, está bem? Tenho dezenove anos e com isso,
tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser.
Quando terminei de falar, fiquei encarando-o por uns 20 segundos até perceber que ele não estava
prestando atenção ou apenas não queria conversar. Isso me deixou incomodada. Apoiando as mãos
sobre a mesa, me inclinei um pouco e questionei:
— Você me ouviu?
Lentamente, como se não estivéssemos discutindo sobre minha vida aqui, ele ergueu a cabeça e
seus olhos escuros chegaram nos meus. Sua expressão era de uma surpresa genuína, como se não
esperasse pela minha pergunta.
— Desculpe, era para eu rebater seu aviso?
— Estou tentando conversar com você. Sei que não nos conhecemos, mas é educado responder
durante uma conversa.
— Ah, você aprendeu isso enquanto dormia agora? — E lá estava, o deboche do Rodrigues mais
novo.
Fechei os olhos ligeiramente, cerrando os dentes na tentativa de não cair na dele e tentar focar
apenas no seu irmão. Quando voltei a abrir os olhos, Pedro ainda me encarava com uma sobrancelha
erguida, esperando que eu falasse.
— Por favor — implorei, meu tom de voz falsamente calmo quando tudo que eu queria era gritar.
—, diga-me que entendeu o que eu disse.
— Sim. — Ele anuiu com firmeza. — Você fala inglês muito bem, Giulia.
Bufei.
— E qual seu ponto de vista no que eu falei? — Eu estava esperançosa, admito. Estar longe da
supervisão dos meus pais pela primeira vez, me deixava com um gostinho de liberdade que nunca
tive. Saber que eu posso respirar, sair e viver sem eles nos meus pés, ditando as regras idiotas e sem
noção da família, me deixava muito animada.
Com um movimento desleixado, Pedro acenou para a mesa.
— O meu ponto de vista é que você ainda não tocou na comida. — disse ele com uma elegância
invejável e uma paciência chata. — Coma!
Sacudi a cabeça, ficando irritada com toda essa serenidade que ele exala.
— Não estou com fome. E não estou falando disso, você sabe.
— Giulia, eu não vou contra o seu pai. — ele deixou claro. — Ele falou qual eram suas regras e eu
as seguirei, nada além disso. Você ficará aqui pelo tempo que precisar, mas não permitirei que me
faça bater de frente com um sócio meu. Agora coma porque ainda não comeu nada e havia dito que
estava com fome.
Dito isso, ele voltou para seu iPad, me ignorando completamente de novo. Eu senti meu sangue
ferver com o ódio que estava sentindo com toda a situação. Eu sabia que precisava resolver isso o
mais rápido possível para poder entrar em contato com Mattia, mas não fazia ideia de como fazer isso
ainda. Foi preciso levar tudo de mim para não acabar gritando quando perguntei:
— Posso ter pelo menos um celular ou um computador? Sei lá, acho justo já que vai me manter
presa aqui dentro!
— Vou providenciar. — ele diz, sem levantar a cabeça.
Suspiro, um pouco menos irritada. Pelo menos isso. Olhei para Rafael, que me encarava de olhos
apertados, como se estivesse lendo bem as engrenagens na minha cabeça.
— Coma, Giulia! — Sua voz rouca penetrou minha espinha em forma de arrepio.
Mas como a teimosia faz parte da minha vida, eu só me levantei e disse:
— Ho perso l’appetito. — E me retirei, voltando para o quarto.
Estava ansiosa para receber um celular para poder falar com meu namorado.
Muito ansiosa.
— Tem certeza que vai dar um celular pra ela? — Rafael questionou ao depositar a sacola de uma
loja de eletrônicos. Ele não confiava na garota, e eu não tirava sua razão.
Havia algo sobre essa menina que me deixou intrigado. Algo sobre sua relação com os pais, na
forma que ela age. Aparentemente é uma garota durona, que não gosta de abaixar a cabeça, no
entanto, Rafael me contou como ela ficou abalada quando ele xingou perto ou quando ele agiu como
ele mesmo, não ligando para nada, tampouco para a birra que ela estava fazendo.
Meu irmão mais novo, ao contrário de mim, não tem um pingo de paciência. Ele odeia qualquer
tipo de drama. É do tipo que explode e joga tudo para cima quando não aguenta mais. E só foi
preciso um tempinho com Giulia Russo para ele decidir que não é fã dela.
— Ela só tem dezenove anos. — disse, enquanto prendia meu Omega no pulso. — Garotas da
idade dela precisam de um.
— Acho que no caso dela está mais precisando de um livro. — ele zombou. — Sei lá, uma bíblia
seria o ideal.
Eu acabei sorrindo.
Mais uma coisa sobre meu irmão: ele é o típico palhaço da turma. Ele herdou o temperamento da
minha mãe e o humor do meu pai.
— Esqueça a garota e me diga se está tudo certo para você ir à Califórnia amanhã. — Eu mudei de
assunto, porque não ia discutir com ele sobre Giulia.
Com as mãos enfiadas nos bolsos, ele empurrou seu quadril contra a porta da varanda.
— Claro. Devo estar lá depois das nove da manhã, o que é tranquilo já que a reunião é às onze.
— Certo. — Eu pego a carteira, enfiando-a em meu bolso, bem no momento em que Giulia invade
o local.
Ela olha entre nós dois, a expressão fechada como sempre, tentando mostrar o quanto ela é uma
garota durona, quando já está claro que é só fingimento.
— Vai sair? — me perguntou.
— É. — Me movi, pegando a sacola que Rafael trouxe e a entreguei. — Aí está o que pediu.
Os olhos cor de mel de arregalaram quando recebeu o presente. Ela foi logo abrindo, deixando um
sorriso abrir pela primeira vez desde que chegou aqui.
— Nossa! — falou, surpresa. — Pensei que tinha se esquecido.
— Não costumo esquecer da minha palavra. — Enfiei meu próprio celular no bolso, vendo-a
maravilhada com o aparelho em mãos. — E já deixei seu pai sabendo que você está com um celular.
Ela bufou, revirando os olhos. Só quando meu irmão começou a ir em direção à porta, ela parou
para analisar o local, nós dois. Franziu o cenho para mim.
— Você vai demorar?
— Não sei. — respondi. — Mas você pode ficar à vontade. Deve saber como as coisas funcionam
no hotel, então, se quiser comer alguma coisa, basta pedir. Pode descer para piscina externa, caso se
sinta sufocada de ficar aqui dentro.
Ela prendeu o lábio inferior entre os lábios por um momento, ponderando.
— Posso sair?
Estreitei os olhos com o tom malicioso que ela usou para fazer a pergunta.
— Sabe que não.
Novamente, bufou.
— Eu não quero ficar aqui dentro o tempo todo! É chato pra caramba.
— Ordens do seu pai, Giulia.
— E daí? — ela ergueu as mãos, vindo mais para perto de mim. Seu nariz estava empinado, os
olhos segurando os meus. — Babbo está na Itália, não aqui. Me leve com você, seja lá para onde vai.
Prometo que vou fica quieta.
A risada incrédula do meu irmão fez ela enviar um olhar mortal para ele.
Giulia era uns vinte centímetros mais baixa que eu, fazendo com que eu precisasse olhar para
baixo para poder encara-la de volta. Ela me lembrava seu pai. O cabelo ondulado, com certeza, era de
sua mãe, mas todo o resto — olhos, nariz, cor de pele — era de Patrizio. Claro, era uma versão mais
bonita e obviamente feminina.
E ainda tem toda a marra que ela exala e faz questão de demonstrar. O melhor amigo do meu pai
me avisou sobre ela, do que ela era capaz de fazer para desestabilizar uma pessoa. Ela terá que
trabalhar em dobro para me enrolar.
No entanto, não acredito que há algum mal sobre leva-la comigo ao clube. Estaria com um olho
sobre ela o tempo todo.
— Tudo bem. — cedi, deixando-a chocada por um instante. Eu tive a impressão que ela esperava
que eu dissesse o contrário. — Vamos lá, então!
Mesmo um pouco hesitante, ela se dirigiu para o elevador. Estava vestida com uma calça jeans e
uma blusa de mangas curtas ensacada. Os cabelos estavam soltos e pesados em suas costas. Quando
chegou perto do meu irmão, torceu o nariz, e Rafael apenas ergueu uma sobrancelha debochada para
ela, então virou e apertou o botão do elevador.
Nós três descemos juntos. Eu me mantive ocupado, respondendo uns e-mails no meu celular.
Rafael girava a chave de sua Ducati Superleggera V4 enquanto olhava para os números do elevador.
E Giulia, como era seu normal, estava de braços cruzados e de cara fechada. Uma olhada rápida nela
e constatei um biquinho nos seus lábios cheios.
Ao sairmos do hotel, um dos manobristas me entregou a chave do meu carro. Agradeci e acenei
para meu irmão.
— Para onde você vai agora?
Ele deu de ombros de forma desleixada.
— Fiquei de encontrar uma pessoa antes de viajar. — respondeu, montando em sua moto. — Vejo
você outro dia, irmão.
— Me mantenha informado sobre a reunião. — pedi.
Ele me deu um sorrisinho e colocou o capacete. Depois de um aceno de despedida, acelerou,
sumindo do meu campo de vista em questão de segundos.
— Mio Dio! — Giulia exalou. — Ele gosta de adrenalina, não é?
Apertei o controle do carro e as portas se elevaram.
— Faz parte da personalidade dele. — Gesticulei para que ela entrasse no carro e dei a volta pela
frente, sentando no bando do motorista.
Giulia ficou de pé na calçada, as mãos na cintura e o queixo caído, olhando para mim como se não
acreditasse em alguma coisa.
— Não vai entrar? — perguntei.
— Ovviamente! — disse em italiano, soando muito cética. Entrou, sentando-se ao meu lado,
bufando, os braços cruzados com força.
Com um click, as portas se fecharam e eu dei partida. Eu poderia perguntar para ela o motivo de
estar assim, tão chateada, mas não faria. Me meter nos sentimentos de uma adolescente não era algo
que eu gostaria de fazer agora. Eu mal a conhecia!
Bem... paciência.
Se tem algo a incomodando, que arrume uma terapeuta ou simplesmente fale. Não vou perguntar.

Foi comprovado.
Esses homens não são nem um pouco cavalheiros.
A educação passou bem longe desses irmãos Rodrigues.
Qual a dificuldade que eles têm em abrir a porta para uma mulher?
Todas as vezes em que fugi para sair com Mattia, ele sempre abria a porta do carro, pegava na
minha mão e me ajudava a entrar. Até chegou a beijar meu dorso algumas vezes. Estava sempre
sorrindo, atencioso com meu bem-estar. Bellissimo amore mio!
No entanto, esse Pedro era o completo oposto. Ele pode até ser um homem lindo, o tipo que
qualquer mulher ficaria de joelhos com apenas uma palavra dele, mas tudo nele me irrita. A calma, o
jeito de falar, de olhar, a sua paciência... ela me deixa completamente estressada e impaciente.
Talvez porque eu sempre tive pessoas agitadas e ranzinzas ao meu redor e, por isso, a paciência que
esse homem exala é assustadora. Não fazia ideia, mas eu odiava e ponto final.
Como agora, que estamos dentro de seu carro esportivo, e ele está dirigindo calado. Tudo que se
ouve aqui dentro é a batida de uma música instrumental, que está me deixando agoniada. Minhas
pernas não param de se mexer, para cima para baixo, enquanto eu olho para fora da janela,
admirando a beleza dessa cidade tropical.
Na minha cabeça, estava bolando um plano de como ligar para Mattia sem que Pedro veja. Eu
precisava escutar sua voz, saber como ele estava. Estava ansiosa demais por isso, mas não fazia ideia
para onde estávamos indo.
— Para onde estamos indo? — me virei para perguntar e quase tive uma tontura. O homem era
bonito demais, devo confessar, e de óculos escuros ficava de tirar a estabilidade de qualquer pessoa.
— Para o The Caliste Club. — Sem tirar os olhos da estrada, me respondeu.
Já tinha ouvido falar sobre esse clube. Há um lá em Verona e as pessoas mais ricas da cidade
frequentam. Menos meu pai, que tinha aversão a certas coisas.
— O que vamos fazer lá?
— Vou encontrar uns amigos e nós vamos almoçar.
— Hum. Seus amigos frequentam esse clube?
Ele anuiu.
— A maioria, sim.
— O que tem de especial lá?
Pedro me olhou de soslaio, bem rapidamente para não perder o foco. Era óbvio que ele estava
estranhando a conversa, mas fazia parte do meu novo plano: conquistar a confiança dele. Se ele era
paciente demais para conseguir me aturar, eu precisaria dobra-lo de outro jeito.
— Muitas coisas. — ele disse, meneando a cabeça. — Restaurantes, academias, piscinas... É
apenas um lugar onde as pessoas vão para relaxar.
— Um relaxamento bem caro, não é?
Os cantos da boca dele se curvam para baixo ligeiramente.
— Não é um problema para mim, tampouco para as pessoas que frequentam lá.
Anuí, concordando. No mundo em que vivemos — principalmente que ele vive —, não
precisamos nos preocupar se uma coisa é “muito cara” porque nada é caro o suficiente. Não entendo
muito dessas coisas, meu pai tem muito dinheiro de verdade, e apenas cuida das sedes do hotel na
Itália, o que o torna dono de um total de 10% da rede, enquanto os Rodrigues têm a maior parte.
Portanto, se meu pai não tem com o que se preocupar, acredito que o dinheiro na conta bancária de
Pedro pode facilmente comprar a Coca-Cola e a Disney à vista e ainda receber troco.
— Meu pai gosta mais de frequentar clubes de golfe. — eu disse.
— O meu também preferia.
— Você não gosta de golfe?
Ele virou em uma rua, totalmente concentrado e tranquilo. Que ódio eu estava começando a sentir
pela beleza dele!
— Prefiro esportes mais pesados, agressivos.
— Deixe-me adivinhar — bati meu dedo indicador contra o queixo, fingindo pensar. — futebol
americano?
— É um deles. — ele concorda, balançando a cabeça para cima e para baixo. — Mas também
curto futebol normal, basquete, hóquei.
— Beisebol? — inquiri, irônica. Bufei, revirando os olhos. — Homens e seus gostos óbvios.
O comentário chamou sua atenção e ele virou me olhar quando estacionou.
— Você não pode falar sobre isso quando está claro que você é uma bailarina.
Ok. Isso me deixou surpresa. Remexendo-me no banco, fiquei de frente para ele, ignorando
totalmente a presença de um rapaz, um manobrista, muito bem vestido em um uniforme vinho, do
lado de fora, pronto para receber a chave do carro de Pedro.
— Como sabe disso?
Claro, tinha a opção de que meu pai poderia ter contado para ele, mas a forma confiante como ele
falou me deixou intrigada.
A mansidão de seus olhos negros quando encararam os meus, realmente me deixaram irada.
Respirei fundo para poder ouvir sua resposta:
— Sua postura quando anda ou senta. — Ele acenou entre meu corpo e o banco. — Todo gesto
que você faz, mesmo quando está querendo dar uma de durona, mostra a graciosidade de uma
bailarina. E você anda na ponta dos pés.
— Uh, nossa! — Impressionada, percebi que as palavras sumiram em algum momento na saída da
minha boca. Ninguém nunca tinha me dito isso. As pessoas só sabiam que eu fazia balé quando eu
contava. — Conhece alguma bailarina?
Ele meneou a cabeça, sem muita intenção de continuar a conversa.
— Algumas.
Nós saímos do carro e ele jogou a chave para o rapaz, então me guiou para dentro de uma mansão
de vidro.
O lugar era enorme e muito luxuoso. Logo no hall de entrada, tudo gritava uma explicação do
porquê era tão caro frequentar.
Pedro parou na recepção, e não foi difícil ver o brilho nos olhos das duas mulheres, uma loira e
outra morena, que estavam ali para recebe-lo.
— Essa é Giulia Russo. — ele me apresentou. — Ela vai entrar comigo hoje.
— Claro, senhor Rodrigues! — a loira concordou quase que no mesmo instante.
Eu tinha a impressão que ela precisava registrar meu nome ou algo do tipo, mas estava tão
hipnotizada pelo homem de 1,90 metros diante dela, que nem sequer moveu um músculo para fazer
isso.
Patético.
Retirando os óculos, Pedro o pendurou na gola de sua camisa quando estávamos entrando em uma
área coberta, muito parecida com aquelas praças de alimentações que há em shoppings.
Haviam muitas pessoas, para todo lado, conversando, sorrindo, exalando dinheiro. Uma olhada ao
redor me deixou de queixo caído. Como Pedro havia me dito, tinha restaurantes, academia, um
espaço de jardins... Mais adiante, eu podia ver quadras de tênis, piscinas e muito mais.
Segui o homem até a parte externa, onde entramos em uma espécie de cafeteria que ficava de
frente para a área de piscinas, bem ao lado de uma quadra de tênis. Nos aproximamos de uma mesa
onde dois homens estavam sentados, ambos elegantes e muito bonitos, por sinal. Eles se levantaram
assim que nos viram.
— Não acreditei quando Ryle me disse que você estava em Miami. — Pedro comentou, com um
largo sorriso, batendo sua mão na do outro homem grande, juntamente com batidinhas nas costas. O
típico cumprimento masculino.
— Londres não é tão bom quanto aqui, todo mundo sabe disso. — O homem também estava rindo.
Ele era branco, com corte de cabelo baixo dos lados e um pouco mais alto em cima. Assim como o
outro cara que Pedro estava cumprimentando agora, era muito lindo e com os braços cheios de
tatuagens.
Só quando os cumprimentos acabam que Pedro acena para mim:
— Essa é Giulia Russo, filha do Patrizio. — Então ele faz o mesmo comigo, acenando para cada
um dos homens quando os apresenta. Primeiro, apontou para o que estava em Londres: — Esse é
Titus Caliste e esse — apontou para o outro — Ryle Christ.
Cerrrrto! Ainda bem que meu pai tem muito dinheiro, porque juro que vou precisar de uma
plástica no queixo de tanto que ele cai com as coisas aqui.
— Ryle Christ como o dono da Fontaine? — Pisquei atordoada quando ele me ofereceu um sorriso
amarelo. É claro que era ele! Apesar do fato de que eu evito o máximo ver páginas e blogs de fofoca
e celebridades, eu já tinha visto uma foto dele com sua esposa antes. — Uau, grande! — Eu olhei
para Titus agora. — Seu nome está na entrada do clube. Coincidência?
Ele sorriu, balançando a cabeça numa negativa. Então estendeu a mão para apertar a minha.
— Na verdade, eu o coloquei lá. Achei que ficaria bonito.
— Você é o dono!?
Ele piscou.
— O próprio.
— Sorprendente!
E era muito surpreendente. Ele não deveria ter muito mais que trinta anos e já era dono de um
negócio como esse. Lá na Itália, as pessoas comentam sobre os preços e eu já ouvi dizer que para ser
sócio desse clube tem que pagar um total de 25 mil por mês, e esse é apenas o pacote mais simples.
Se você quer ter direito a todas as áreas do clube, é muito mais que o dobro. Mattia chegou a falar
comigo uma vez sobre isso, já que seu pai é um sócio.
E falando em Mattia, eu precisava ligar para ele, mas não podia fazer isso perto de Pedro. Quando
os três homens se sentaram em volta da mesa do Café, eu troquei meu peso de perna, tentando me
manter o mais neutra possível, para não me entregar.
— Tudo bem se eu der uma volta para conhecer o clube? — Olhei diretamente para Pedro ao
perguntar.
Como sempre, claramente desconfiado, ele fixou os olhos em mim, estudando meu rosto, minha
expressão e, por fim, ele anuiu devagar.
— Tudo bem.
Ofereci um sorriso doce para eles e, com um movimento de cabeça em despedida, disse:
— A presto.
O clube é gigante.
Andei bastante até chegar em um lugar mais “tranquilo” e que é o mais longe possível da área em
que Pedro estava com seus amigos.
Era uma outra área aberta, com piscinas e espreguiçadeiras. Ao contrário da outra, essa estava
quase vazia, com exceção de duas mulheres, que estavam tomando sol e conversando.
Sentei-me na espreguiçadeira mais afastada, para que eu pudesse ter um pouco de privacidade.
Então peguei meu celular novo, fechando os olhos com tranquilidade, recordando do número de
Mattia que eu havia decorado, porque sabia que não podia salvá-lo em lugar nenhum para o meu pai
não ver. Ao lembrar, digitei e levei o aparelho ao ouvido, meu coração acelerado em antecipação,
ciente que a voz que atenderia era do amor da minha vida.
— Ciao. — a voz suave e perfeita soou em meu ouvido, arrancando de mim um suspiro cheio de
lamento de saudade.
— Mattia, amore mio, sou eu, Giulia!
— Giulia? — Eu podia escutar o sorriso em sua voz. — Mia passione! Como é bom ouvir sua voz.
Estava morrendo de saudades de você, e muito preocupado. Você não me deu notícias como
combinamos.
— Desculpe. Eu estou com um sócio do meu pai, que faz tudo o que ele manda. Ele só me deu um
celular hoje, então não tinha como falar com você quando cheguei.
— Aonde você está, passione?
— Miami. — Eu fiz uma careta. — Acredita nisso? Aqui parece um inferno de tão quente!
— Não se preocupe, irei amanhã mesmo para Miami! — ele me garantiu, a voz cheia de carinho,
como sempre. — Só tente ficar calma e não foda com tudo, tutto bene? Seja legal com o sócio do teu
babbo e nós combinaremos direitinho para nos encontrar aí.
Eu me derreti inteira com um sorriso bobo, mas meus olhos estavam sempre na entrada da área,
para me certificar de que Pedro não iria chegar e me pegar no flagra.
— Você vem mesmo?
— Irei para onde você estiver, passione! Mas agora preciso desligar para resolver umas coisas
antes de ir. — ele diz. — Per favore, nunca se esqueça que eu ti amo tantissimo!
— Ti amo anch’io.
Ao desligar, meus ombros caíram por saber que estava tão longe dele. Tudo não podia ser mais
fácil? Meu pai não podia simplesmente me deixar ficar com Mattia, já que ele faz tanta questão que
eu me case com um italiano legítimo?
Eu sabia que era muito errado, mas odiava meu babbo por isso. Tudo que ele está fazendo só me
deixa infeliz cada vez mais. É por isso que eu não irei pensar duas vezes quando Mattia disser que
podemos fugir. Ele só tem que resolver algumas coisas com seu pai, por conta de dinheiro e tudo o
mais.
Agora muito feliz por ter, finalmente, falado com o meu amor, eu me permito abrir um sorriso
grande e aliviado. Faria qualquer coisa para ir vê-lo amanhã, quando ele chegasse em Miami. Quero
abraça-lo, beija-lo e, quem sabe, pela primeira vez, fazer amor com ele!
Sem conseguir para de sorrir, digitei uma mensagem de texto para ele:
Non vedo l'ora di vederti, amore.
(Mal posso esperar para te ver, amor.)

•••

De volta à área em que Pedro e seus amigos se encontram, notei agora uma mulher sentada com
eles. Era uma mulher linda, com longos cabelos dourados presos em um rabo de cavalo, vestida com
um conjuntinho de jogadora de tênis e óculos escuro de aros brancos puxados para o alto de sua
cabeça. Suas pernas longas e bonitas estavam cruzadas e uma mão com unhas muito bem-feitas
estava pousava no braço de Pedro enquanto ela ria de alguma coisa que estavam conversando.
Eu me aproximei, ficando bem no meio de suas cadeiras, com um sorriso forçado nos lábios.
Ignorei os dois e foquei em Titus:
— Seu clube é belíssimo! Da próxima vez que eu vier com Pedro, estarei com uma roupa de banho
apropriada para aproveitar todas essas piscinas.
— Fico feliz que tenha gostado. Espero que aproveite bastante. — o homem diz, em seu sotaque
britânico e educação elegante, muito parecida com a de Pedro, no entanto, ele exalava uma
personalidade forte, meio rebelde.
Seu outro amigo, o dono da marca de sandálias de luxo, Fontaine, apenas observava, sem dar
muita importância, com um jeito frio e marcante.
A mulher olhou para cima, seus olhos azuis me pegando, depois se voltou para meu “tutor”.
— Ela veio com você? — perguntou, soando curiosa. — Não me contou que tinha uma irmã além
do Rafa.
Ah, fala sério!
— Sou só eu e Rafael. — ele responde, a voz séria como sempre. — Essa é Giulia Russo, filha de
um sócio meu. Ela veio passar umas férias em Miami.
— Ah. — Finalmente, ela se levantou, só para comprovar minha observação de pernas longas,
ficando muito mais alta que eu, estendeu a mão com um sorriso simpático nos lábios rosados. — Oi,
querida. Sou Margot Montana, amiga do Pedro.
Ela parecia muito amável e seu sorriso e apresentação pareciam sinceros. Ainda chocada com sua
beleza impressionante, aceitei sua mão e tentei o meu máximo para sorrir de volta.
Bene. Eu era bonita e sabia disso. As pessoas costumavam me dizer isso o tempo todo, e, claro, eu
tinha espelhos em casa. Desde pequena, fazia parte da equipe de corrida da escola e sempre adorei
me exercitar. Era uma forma que eu havia encontrado para parar um pouco de pensar em como minha
vida era super controlada pelos meus pais e as regras das famílias tradicionais italianas. E, com isso,
meu corpo ficou muito chamativo. Eu tinha pernas grossas, bunda grande e bem redonda, cintura
fina, zero barriga e meus peitos eram medianos — nem tão grande, nem tão pequenos. Grazie Dio
nunca tive problemas com autoestima.
Pelo menos não até olhar para essa mulher!
Ela não tinha apenas pernas longas, ela parecia uma modelo tirada dos catálogos da Victória’s
Secret. Com exceção, claro, dos seus peitos enormes e bem redondinhos, que mal conseguiam se
esconder dentro da blusa branca. Não fazia ideia se eram naturais ou silicones, só sabia que qualquer
homem ficaria de joelhos por ela.
E eu não duvidava, pela forma que vi ela toca-lo, que Pedro já se aproveitou de tudo isso — ou
ainda aproveita. Olhando bem, os dois dão um belo casal, digno daqueles casais lindos de
Hollywood, que têm bebês lindos também.
Pela primeira vez na minha vida, me senti para baixo em relação a mim, a minha roupa. Sì,
precisava fazer compras com urgência!
Margot se sentou novamente e pediu para que eu me sentasse também. Ela foi legal comigo do
começo ao final, me entrosando na conversa, mas não me passou despercebido que ela fazia questão
de tocar Pedro sempre que podia, ou seja, o tempo todo.
Quando enfim ele decidiu que iriamos voltar para o hotel e se levantou para se despedir de seus
amigos, eu agradeci a todos pela boa recepção e me afastei, alegando dar espaço para que eles se
falassem, mas minha intenção era checar se havia alguma mensagem de Mattia.
E havia:
Presto saremo insieme, mia principessa.
(Estaremos juntos em breve, minha princesa)
Eu me desmanchei em um sorriso, a ansiedade tomando conta de mim, mas logo desfiz o sorriso
bobo quando notei Pedro de aproximando. Precisava tomar cuidado com esse homem, sabia disso.
Ele era observador demais, paciente demais. Pessoas assim são perigosas.

— Nos veremos hoje? — Margot pergunta em meu ouvido quando me inclino para abraça-la em
despedida.
Sorri, beijando seu rosto.
— Estarei esperando por você no nosso quarto do hotel mais tarde.
— Ok, baby. — Ela riu, prendendo o lábio inferior entre os dentes, daquele jeito safado que só ela
sabe fazer para me deixar sacudido e de pau duro.
Não se enganem. Eu podia ter outras mulheres e já fodi com muitas por aí, mas meu
relacionamento com Margot era uma coisa que se encaixava bem com meu estilo de vida.
Nenhum dos dois se iludia, nem esperava nada sério do outro. Temos relações sexuais com outras
pessoas, e até já chegamos a dividir em alguns ménages do caralho. Ela ama sexo mais do que tudo
em sua vida, e eu sigo seu pensamento em relação a isso e nós dois nos damos muito bem na cama...
ou fora dela, não importava. O sexo com Margot era sempre explosivo porque ela sabia como fazer e
o que fazer na hora certa. E, no final, cada um ia para seu lado e seguia a vida.
Após me despedir de todos, virei para sair e não perdi o momento em que Giulia estava rindo toda
boba para o celular. Franzi o cenho quando ela tornou a ficar séria novamente e enfiou o celular de
volta no bolso de trás de sua calça, tentando fingir que nada aconteceu.
Tenho certeza que qualquer outra pessoa cairia em seu pequeno teatro, mas, para seu azar, eu
tenho bom olho para as ações das pessoas ao meu redor. Eu posso não me pronunciar, nem me meter
na vida alheia, mas eu vejo muita coisa que muitas pessoas não conseguem ver.
— Vamos? — Eu perguntei, vendo-a enfiar uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— De volta ao hotel?
Anuí, pegando meu óculos-escuro da gola da minha camisa e devolvendo-o para meu rosto.
— Tenho umas coisas para resolver ainda hoje. — Isso foi tudo que eu disse, antes de sair andando
na frente dela.
Dentro do carro, ela cruzou os braços, virando o corpo para me encarar. Estava emburrada, como
já era corriqueiro. Questionou, quase irritada:
— Você tem algum problema em abrir a porta para uma mulher?
Acionei o botão que fechava as portas do carro e pressionei minha digital para ligar o motor.
— Coloque o sinto, por favor, Giulia.
— Não vai responder minha pergunta?
Suspirei, tombando a cabeça meio que de lado, olhando-a através das lentes dos meus óculos.
— Não tenho um problema com isso. — respondi sua pergunta. — Mas e você, tem algum
problema em entrar sozinha?
Ela me olha chocada, de queixo caído.
— Meu pai sempre abre a porta para minha mãe e segura em sua mão para que ela entre em
segurança, sabia? Por mais que eu o odeie agora, sei que ele é um cavalheiro.
— Bom para sua mãe. — Balancei a cabeça, meneando devagar. — Mas eu não sou seu pai e
tenho total consciência que você não é aleijada e não tem nenhuma outra dificuldade que te impeça
de fazer isso sozinha. Agora, podemos ir?
Tenho certeza que, se essa menina pudesse, ela teria me matado com a olhada que ela me deu
nesse instante. Estou morrendo de medo de beiço dela...
— Coloque o sinto, por favor.
Ela puxou o sinto com força, prendendo-o com tanto ódio, que eu juro que, se ela usasse mais um
pouco de sua raiva, quebrava tudo. Resmungou sobre eu ser um ogro e seu beicinho era capaz de
alcançar o vidro do carro.
Sem dar palco para ela, liguei o som e coloquei o carro em movimento, fazendo-a praticamente
voar sobre a pista de tão leve que o motor dele é. Eu sabia que Giulia me daria um pouco de trabalho,
e só estava no segundo dia dela aqui.
Eu precisava juntar toda paciência do mundo agora.

No dia seguinte, acordei mais leve, menos preocupada e assustada. Havia passado a noite sozinha,
já que Pedro disse que dormiria essa noite em outro quarto porque ele tinha trabalho a fazer, então
aproveitei e passei boa parte da noite com Mattia no telefone.
Já passava das nove da manhã, então, muito provavelmente ele já estava em um avião a caminho
da América.
Eu estava tão feliz e ansiosa, que não conseguia parar de sorrir. Olhando-me no espelho do
banheiro, constatei que precisava ficar bonita para quando o encontrar de novo e, para isso, eu
precisava de roupas, sapatos e um novo corte de cabelo. Depois de fazer minha higiene matinal e
trocar meu pijama por uma roupa decente, eu saí do quarto e me encontrei com Pedro, sentado na
cadeira da mesa da varanda, concentrado em seu iPad.
— Preciso fazer compras. — Eu fui logo dizendo, sentando-me para tomar meu café da manhã. —
As minhas roupas são bonitas, mas são muito italianas e nada a ver com Miami. E também preciso ir
à um salão para um corte de cabelo novo. Gosto dos cachos, mas me deixam com cara de menininha.
Pedro ergueu os olhos e analisou meu rosto, meus cabelos, e, enfim, encolheu os ombros antes de
voltar para o que estava fazendo:
— Se você diz.
— Sì. — Eu sirvo meu café em uma xícara sem açúcar e pego uma torrada. Observo o homem
diante de mim, tão sério e tranquilo, que me deixava querendo arrancar os cabelos de frustração.
Hoje ele estava vestido com uma calça jeans e camisa cinza de mangas curtas e, como ontem, ele não
tocou na comida. — Você não come nada? — perguntei.
— Já comi. — diz ele, sem olhar para mim.
Os cantos de minha boca se curvaram para baixo, em uma expressão impressionada.
— Sei que você não é meu pai e tudo o mais, mas nem para me esperar para tomar café da manhã?
Isso faz com que ele levante a cabeça de novo, seus olhos escuros encontrando os meus.
— Eu acordo todos os dias às 4:40 da manhã, faço exercícios, tomo um banho e me sento para
trabalhar. Às 7:00, eu tomo meu café da manhã enquanto leio um livro, e então volto para trabalhar
de novo. Agora já são quase dez da manhã e eu estou revisando alguns contratos. — ele fala tudo isso
com a maior serenidade do mundo. — Tenho hábitos, Giulia. Hábitos esses que não vou abandonar
porque você tem uma coisa estranha com atenção. Se quer tomar café da manhã acompanhada,
acorde cedo. Caso não queira acordar cedo, sempre pode descer e tomar café junto com os outros
hóspedes.
— Sei molto scortese! — resfoleguei, revirando os olhos para ele e me concentrando em meu café.
O idiota nem respondeu ao meu insulto, apenas abaixou a cabeça de volta para seu iPad.
Ridicolo!

Após terminar, fui escovar os dentes enquanto ele encerrava seja lá o que estava fazendo. Quando
voltei, dei uma pausa nos passos ao ouvi-lo no telefone com alguém:
— Ela quer ir comprar roupas novas e cortar o cabelo. — ele, claramente, fala sobre mim. Sua voz
soa cansada, mas nem um pouco raivosa. O homem tem uma paciência de dar inveja a qualquer
pessoa! — É, Rafael, me arrependo de ter te mandado para LA agora!
Com cuidado, espiei no canto da parede que dividia o quarto do resto da suíte e o vi passando a
mão livre pelo cabelo, exasperado, de frente para a vista.
— Tudo bem, vou leva-la. — ele coça a mandíbula, rendido. — Depois me mande o relatório de
como foi a reunião... Tchau. — Desliga e enfia o celular no bolso, então eu saio do meu esconderijo e
abro um sorriso de falsa doçura para ele.
Obviamente, ele estava odiando essa história de ter que ir às compras comigo, mas ia de todo jeito
porque ele não queria uma discussão com meu pai, por ter me deixado sair sozinha.
Enquanto estou sentada no banco do passageiro de seu carro — um novo e mais espaçoso que o
outro —, eu começo a criar formas que usarei para me encontrar com Mattia. Não seria fácil com o
Pedro sendo tão... centrado e observador, mas eu daria um jeito.
Ou não me chamaria Giulia Russo.
Uma coisa de bom eu podia dizer sobre essa cidade: as lojas de roupas
são muito mais legais que as da Itália.
Claro, são culturas diferentes, o que, consequentemente fazem estilos
diferentes, mas eu estava tão apaixonada pela variação de roupas, sapatos e
acessórios que estava pensando seriamente em mudar meu próprio estilo,
mesmo depois que voltar para Itália.
Ou talvez Mattia decida que devemos ir para outro lugar...
Eu estava tão empolgada, que a vendedora da loja em que estávamos
estava muito animada. E eu não poderia dizer isso de Pedro, que estava
sentado em uma poltrona especial para clientes, de cara fechada,
transparecendo o tédio que havia tomado conta dele, enquanto bebia um
copo de água que lhe ofereceram. De primeira, ofereceram café, porém,
segundo ele e sua mania de hábitos e regras, ele não toma café preto depois
do horário de café da manhã. É uma forma saudável de fazer seu corpo
funcionar sem a dependência da cafeína.
Dio mio, ele era tão certinho!...
Eu entrei no provador pela décima vez, com uma roupa diferente pra
experimentar. Era um short cintura alta de alfaiataria branco e um top
cropped rosinha, que ficou uma graça no meu corpo. Sorri para mim mesma
no espelho, satisfeita com o que estava vendo.
As roupas que eu estava acostumada a vestir na Itália era algo mais
chique, elegante, comportado. Meu pai teria um ataque do coração se me
visse vestindo algo assim. No entanto, a cidade de Miami exigia algo mais
verão, com menos tecido e mais sofisticação, eu acho. Pelo menos é o que o
calor e as lojas me dizem.
Decidida, optei por ficar com essa roupa no corpo e saí do provador,
dando de cara com a vendedora sorridente.
— Vou levar tudo! — anunciei, tão animada quando ela acaba de ficar.
Com essas peças de roupas que levaria, ela receberia uma ótima comissão,
já que a loja é extremamente calma.
— Que ótimo! — Ela recolheu todas as roupas, dobrando-as em seu
antebraço. — Essa roupa ficou perfeita em você! — elogiou. — Quer ver
mais algumas coisas? Talvez uns vestidos?
— Não, grazie. — Sacudi a cabeça em negativa. — Não estou
precisando agora.
— Certo. Vou embalar tudo para você, então.
Quando ela saiu, apressada para fazer tudo, eu me voltei para Pedro, que
checava seu telefone. Ao seu lado, outra vendedora só faltava babar em
cima dele e eu não a julgava; ele parecia um peccato de homem. Estava
vestindo algo mais casual, como uma camisa cinza de mangas curtas e gola
V e uma calça jeans folgada. Os óculos escuro ray-ban estavam presos na
gola da camisa e seus cabelos estavam bagunçados porque ele passou o
tempo inteiro passando as mãos nele.
— O que achou? — Como eu gostava de testar sua paciência irritante,
me aproximei, abrindo os braços para sinalizar minha roupa.
Ele tinha seus olhos nos meus e, com toda tranquilidade do mundo,
começou a desce-los. Havia algo lá como o que eu nunca tinha visto antes
nos olhos de um homem, e logo me arrependi de ter provocado. Quando ele
alcançou o cropped, meu peito subiu e desceu com força e pesado. Seu
olhar estava queimando minha pele. Ele continuou descendo, bem devagar,
até que chegou em minhas pernas nuas.
Era a sensação que eu estava agora: como se estivesse despida, sem nada.
E fervendo.
Eu já tinha dado uns amasso com Mattia antes, mas nem ele conseguiu
me deixar do jeito que estou agora: nervosa, tremendo, com vontade de
tomar um banho em uma banheira cheia de gelo.
— Está bonita, Giulia. — Ele falou, com um meneio calmo de cabeça.
Engolindo em seco com muita dificuldade, anuí em forma de
agradecimento, porque estava sem palavras e me afastei quando a mulher
do caixa da loja chegou perto dele com uma maquineta para o pagamento.
O que foi aquilo?
Aproveitei que ele estava distraído, peguei o celular para checar as
mensagens de Mattia. Ainda nada. Ele ainda não deve ter chegado no país.
Eu estava com tanta saudade e tão confusa com tudo que estava
acontecendo na minha vida nesses últimos meses, que meu estômago dá um
nó sempre que paro para pensar.
Enviei uma mensagem antes de voltar para perto de Pedro, pedindo para
que ele me avisasse assim que chegasse e que eu o amava. Depois guardei o
telefone no bolso do meu short novo e voltei para minhas compras.
Após entrar em mais duas lojas de roupas e fazer o amigo do meu pai
carregar todas as sacolas, avistei uma loja da Victoria’s Secret e tenho
certeza que meus olhos brilharam.
— Ah, eu amo as lingeries da VS! — Sorri, puxando-o pelo braço em
direção à loja. — Você sabe, até uma dama adora vestir lingeries lindas e
sexys.
Ele alçou uma sobrancelha.
— Você é uma dama?
Eu fiz uma carranca para ele. Così ridicolo...
— Sou sim. — Ergui o queixo, empinando o nariz. — Você descorda?
Sem me responder logo, Pedro encontrou um sofá na loja e se jogou nele,
deixando todas as sacolas no chão, ao seu lado. Ele colocou seu tornozelo
direito sobre o joelho esquerdo e me olhou de baixo, como na outra loja:
com uma intensidade tenebrosa.
— Eu tenho minhas dúvidas, mas, se você diz, então está bem.
De queixo caído, me segurei para não começar ali uma discussão sobre o
que eu era ou deixava de ser.
— Você sabia que é um ogro, não é?
A forma como ele me olhou, deixou claro que, apesar de toda a paciência
que exercia, ele era, de fato, irmão de Rafael.
— Pois é. Meu apelido na escola era Sherek.
Eu não queria bufar, nem sair batendo pé, então apenas balancei a cabeça
e segui uma vendedora para escolher minhas novas lingeries que ele
pagaria. Logo após escolher várias peças da nova coleção da marca, eu
estava pronta para ir. Nós passamos em umas duas lojas de sapatos e, com
ajuda das vendedoras, escolhi alguns sapatos que combinavam com minhas
roupas novas e com o clima da cidade. Eu sabia que era o efeito Pedro
Rodrigues, mas fiquei surpresa como as mulheres das lojas me receberam
tão bem e foram tão solicitas e legais.
— Agora estou com fome. — Falei para meu querido acompanhante da
cara séria.
— Tem alguma preferência?
— Estou com saudade de uma boa massa.
Ele anuiu.
— Conheço um bom restaurante aqui perto. Só preciso colocar tudo isso
no carro. — ele levantou as sacolas de suas mãos, numa demonstração.
Eu quase deixei meu sorriso aparecer quando vi sua careta por ter que
carregar tantas sacolas. Chegava a ser irônico a cena.
Um dos homens mais lindos e poderosos do mundo, com uma fortuna
que era incapaz de ser contada, estava no meio de uma rua, em pleno
horário de almoço, carregando mais de uma dúzia de sacolas para uma
mulher desconhecida.
Ele andou até seu Range Rover preto-fosco e apertou o botão para abrir
as portas. Jogou tudo no banco de trás, como se estivesse se livrando de
algo ruim, em seguida, moveu os braços, flexionando os ombros com a
boca e o nariz torcido.
Eu não podia ver seus olhos por causa dos óculos, mas sabia que ele não
estava feliz. Porém, o pouco que conhecia de Pedro Rodrigues, deixava
claro que ele não era um homem que deixava transparecer seus sentimentos.
Fechando a porta do carro com uma batida, ele bloqueou as portas e
acenou para o outro lado da rua.
— Vamos lá.
— Não vamos de carro? — questionei.
Ele sacudiu a cabeça.
— É bem perto, não precisa.
Encarei as sandálias de salto que havia escolhido e senti que foi uma
escolha bem errada, mas não disse nada, apenas o segui. Nós caminhamos
dois quarteirões inteiros para poder chegar em um restaurante italiano.
Sorri, animada porque iria comer um prato típico do meu país.
Ao sentarmos em uma mesa no centro do restaurante, sem delongas, pedi
uma lasagna. Pedro concordou e o garçom se foi com um sorriso esticado
nos lábios para fazer nosso pedido.
Sentada bem na frente dele, eu cruzei meus dedos uns nos outros e o
encarei, as sobrancelhas juntas, em uma expressão curiosa. Tomando
coragem, perguntei:
— Por que você é tão paciente assim?
— Aquele que tiver paciência terá o que deseja. — disse ele. —
Benjamin Franklin quem disse. — Ele encolheu os ombros e seus olhos
seguraram os meus, daquele mesmo jeito da loja, causando-me um arrepio
indesejado. — Eu gosto de conseguir o que eu desejo.
Sim. Eu estava entendendo um pouco o motivo das mulheres serem tão
iludidas por ele. Basta um olhar...
Limpei a garganta e aprumei meus ombros, lutando, dando tudo de mim
para não mostrar o quanto ele me afeta. Ele nem deveria me afetar assim!
— E quanto ao seu irmão? Ele não é nada paciente.
Pedro meneou a cabeça, com um leve sorrisinho de lado.
— Rafael tem o mesmo temperamento difícil da minha mãe, mas apesar
de ser muito impaciente, ele é uma ótima pessoa. Você acostuma com o
tempo.
— Se com temperamento difícil você quis dizer idiota e grosseiro, eu
posso garantir que não me acostumo com essas coisas.
— Um idiota e grosseiro muito inteligente. — defendeu o irmão e bebeu
um pouco da água que foi servida antes da comida enquanto me olhava com
aquela tranquilidade invejável.
Meu celular começou a tocar no bolso e eu o tirei de lá, muito rápido,
sem conseguir disfarçar que estava ansiosa por aquilo. As minhas
bochechas foram tingidas de rosa e eu dei um sorriso amarelo para ele:
— Eu estava esperando notícias de uma amiga da Itália. — Inventei uma
desculpa. — Deve ser ela. Se você me dá licença...
— Tudo bem. — Ele anuiu, mas seus olhos estavam cerrados,
observando, desconfiando. Não era apenas seu irmão que era inteligente.
Eu me levantei e, seguindo as orientações, corri para o banheiro feminino
e atendi o celular rapidamente, antes que ele parece de tocar.
— Mattia.
— Amore mio! — a linda voz de Mattia soou do outro lado, fazendo-me
derreter por inteira e lembrando-me que tudo que senti pelo olhar de Pedro
não posava de algo momentâneo, que só ele podia me causar essas coisas;
só ele era capaz de me deixar sem fôlego. — Acabei de pousar em Miami.
Diga-me onde você está ficando.
— No The Palace Miami.
Houve silêncio no outro lado da linha por alguns segundos. Eu já ia
chama-lo, quando sua vez chegou ao meu ouvido de novo.
— Para não chamar muita atenção, eu vou me hospedar no Plazza
Miami, que fica mais próximo, tutto bene?
— Sì. — Eu me encostei na pia quando uma mulher entrou e foi para
uma das cabines.
— Perfetto, mia vita.
— Por favor, não demore. — Implorei, sussurrando para que a mulher
não escutasse. — Não aguento mais ter que ficar com esse homem! Parece
que ainda estou na Itália e que só mudou o cão de guarda. Sem contar que
ele é muito calado, mas quando abre a boca para falar, é rude comigo!
— Não quero que fique preocupada, Giulia. Nos veremos muito em
breve, prometo. Fique calma e não faça nada que o deixe desconfiado de
você.
— É o que estou tentando fazer! Hoje mesmo passamos o dia fazendo
compras de roupas e sapatos novos. Você vai ver, meu amor, são lindas!
— Tenho certeza que sim. E seu cabelo, passione?
Franzi o cenho.
— O que tem meu cabelo?
— Nada, é perfetto como tudo em você! Mas, lembra quando
conversamos sobre você mudar um pouco?
Eu me virei para me olhar no espelho e foquei nos meus cachos longos e
naturais. Anuí, mesmo que ele não pudesse ver.
— Sì. Lembro que me disse que um corte bonito me deixaria mais
mulher, mais... sensual.
— Isso, mia vita! Por que não experimenta, hã? Eu amaria vê-la com
um novo corte de cabelo, sexy.
— Tutto bene, amore mio. — Concordei, tocando os cachos que estava
sobre meu ombro. Eu amava meu cabelo da forma que ele era, e nunca me
importei se ele me fazia parecer menos mulher, mas se era algo que deixaria
Mattia feliz, eu faria.
Depois que desligou com uma promessa de me ver muito em breve, eu
voltei para a mesa, onde encontrei Pedro ainda com aquela cara,
observando-me. Forcei um sorriso em meus lábios, completamente
decidida:
— Você conhece um pouco salão de beleza?
Pedro alçou uma sobrancelha como se dissesse “Eu tenho cara de quem
conhece salões de beleza?”
— Preciso de um novo corte de cabelo. — Expliquei para ele. — País
novo, roupas novas, cabelo novo!
Eu olhei para seus cabelos longos e ondulados. Eles batiam facilmente
em sua bunda. Sabia que era normal as mulheres daqui terem cortes da
moda, principalmente por conta do calor que torna ruim ter cabelos tão
grandes, mas ela não era daqui; ficaria só por um tempo. Dava para ver que
ela não queria mesmo fazer isso, mas eu não sabia o motivo de estar falando
que quer.
Talvez o brilho hesitante em seus olhos que estou vendo seja apenas por
uma insegurança. Pode ser que ela nunca o cortou antes e está com medo do
que está por vir.
— Vai me levar à um salão ou não? — perguntou, sem paciência.
Apoiei o queixo em meus punhos fechados e balancei a cabeça
negativamente.
— Não. Como falei antes, não sou um cara que conhece esse tipo de
coisa, mas conheço alguém que pode ajudar.
— Está falando da loira do clube, não é? Margot alguma coisa?
— Ela mesma.
Ela se encosta na cadeira, seus olhos apertando levemente sobre mim.
— Vocês fazem amor, não fazem? — Ela joga, sem nenhum aviso
prévio. Algumas pessoas, sentadas ao nosso redor, olha em sua direção, o
que a deixa corada.
Eu não me importo com esse tipo de conversa, apesar de ter consciência
de que minha vida sexual não interessa a ninguém. No entanto, um sorriso
arrasta meus lábios por conta das palavras que ela usou. Quando respondo,
meu tom de voz é baixo, para que nenhum intrometido escute:
— Nós transamos, não fazemos amor.
Suas bochechas, já coradas, se tornam ainda mais avermelhadas.
— Não é a mesma coisa?
— De jeito nenhum. — Sacudo a cabeça.
— Por quê?
Ela é virgem.
— Nunca leu aquele livro famoso Cinquenta Tons de Cinza?
— Não.
— E o filme?
Ela torceu o nariz, exasperada.
— No, per Dio! Meus pais me matariam se me pegasse assistindo algo
assim.
Sorri de lado, observando o constrangimento tingindo todo seu rosto
bonito.
— Se não viu, por que ficou tão constrangida?
— Porque tenho amigas que já leram esse livro ou assistiram o filme.
Elas me falaram algumas coisas... vergognosa. — Ela fez uma careta
engraçada, mas logo empinou o nariz de novo. — Talvez eu leia qualquer
dia, mas o assunto não era esse. Tem certeza que a Margot não vai ter
nenhum tipo de ciúmes?
Anuí.
— Temos um lance legal e sem compromissos. Acima de qualquer coisa,
ela é minha amiga há anos. Eu vou mandar uma mensagem para ver quando
pode estar disponível para ir com você ao salão. — Já vou logo pegando o
celular do bolso e envio a mensagem.
— Vocês formam um casal bonito. — ela diz enquanto guardo o celular.
— Por que não casa com ela?
— Porque não é algo que nenhum dos dois quer.
Confusa, ela enruga a testa e inclina levemente a cabeça.
— Você é um homem muito bonito e é um bom partido. Por que ela não
iria querer se casar com você?
Dessa vez, minha risada foi mais alta.
Já ouvi falar sobre as tradições da família dela. Mulheres são criadas para
se resguardarem para o casamento, como naqueles filmes de máfias
italianas ou tempos muito antigo. Esse foi um dos motivos que me deixaram
diligente com essa decisão de Patrizio, de mandar sua única filha para um
lugar longe e desconhecido, onde ela ficaria com um total estranho.
— Primeiro — comecei a falar com cuidado e calmo, para que ela
entenda direito. —, Margot não se casaria com um homem só porque ele é
um bom partido. Acredite em mim, a família dela tem muito dinheiro.
Segundo, já falei que não queremos isso. Gostamos da forma que estamos.
— Certo. — Ela disse, mesmo demonstrando que não tinha nada certo.
— Eu não entendo essas coisas que você fala. Sério, eu sou apaixonada por
um homem muito bom. Sonho todos os dias em poder me casar com ele,
viver juntos e ter filhos. Não entendo como alguém tem liberdade para estar
com quem quer, mas não fica.
— Bem-vindo ao mundo real, Giulia. Nem todo mundo sonha com o
casamento perfeito com pétalas de rosas e vestidos brancos.
O garçom chegou com o nosso pedido: lasanha italiana. O cheiro era
magnífico, fez até meu estômago se contorcer, dando sinal de vida e
mostrando que eu estava com fome. A lasanha com um aspecto bom, mas,
mesmo sem prova-la, tinha certeza que não chegava aos pés da lasanha que
minha tia costumava fazer quando eu era mais novo, lá no Brasil. Sem
dúvidas, a melhor lasanha do mundo.
Giulia lambeu os lábios e pressionou as mãos em seu estômago. Devia
estar se lembrando também da sua comida típica também.
— Querem beber alguma coisa? — o garçom perguntou, educadamente.
— Vocês têm Cabernet Sauvignon? — Giulia perguntou, parecendo
saber bem do assunto, como uma boa italiana. O garçom assentiu com a
cabeça, e ela sorriu largamente. — Então vou querer, per favore!
— E o senhor? — Ele se virou para mim.
Balancei a cabeça.
— Só água para mim, por favor.
Quando ele saiu, ela me deu um olhar questionador.
— O que foi? Suas regras não te deixam beber durante o dia?
— Não quando estou dirigindo.
— Ah. — Ela se serviu com um pedaço de lasanha e quando pegou um
pouco para colocar na boca, gemeu, se desfazendo com o sabor. — Dio,
como é bom!
Foi estranho a forma como aquilo chamou minha atenção para seu rosto
— os olhos fechados, o semblante de prazer puro. Eu me senti como um
fodido porque foi meio que impossível não imaginar que aquela seria
exatamente a mesma expressão que ela faria durante um sexo lento e
quente. Ou enquanto recebe um oral de qualidade... Deu até água na boca, e
eu agradeci quando o garçom chegou com minha água e o seu vinho. Nem
esperei ele me servir; eu mesmo peguei a garrafinha, torci a tampa e a levei
à boca.
Quantos anos eu tinha? Quinze?
Tentando focar na comida e nos meus 30 anos, eu me alimento em
silêncio.

•••

Quando voltamos ao hotel, fomos direto para o quarto. Giulia foi para
seu quarto, tomar um banho, e eu fiquei na sala, esperando por Margot.
Eu estava respondendo uns e-mails importantes quando o elevador
apitou, anunciando a chegada. Margot saiu de lá, vestida da forma elegante
de sempre, com seu salto enorme e o típico sorriso safado que sempre
carregava nos lábios. Logo atrás dela, um homem com uma roupa cheia de
purpurina e uns óculos com aros de tigre, caminhava e puxava uma mala de
rodinhas.
Fechei o notebook e me levantei para cumprimenta-los. Beijei o rosto da
mulher primeiro, e ela devolveu,
— Fiquei surpresa com sua mensagem. — disse ela, arqueando as
sobrancelhas bem feitas.
— Pois é. Giulia agora inventou que quer cortar o cabelo.
Ela tocou meu braço, sorrindo como se eu fosse um sem noção.
— Ela é uma mulher, querido, e nós gostamos de mudar de vez em
quando.
— É, eu sei. — Cocei a nuca, realmente me sentindo estranho. — Não
sei se é coisa da minha cabeça, mas não acho que é uma coisa que ela
realmente quer, entende?
Franzindo o cenho, ela pergunta:
— Como assim? Acha que ela está fazendo contra a vontade?
Encolhi os ombros.
— Não faço ideia porque não a conheço. Talvez você possa falar com
ela, já que você é mulher e entende mais dessas coisas, vai saber se tem
algo de errado.
— Tudo bem. — Ela assentiu, ficando preocupada, sua mão fazendo
movimentos para cima e para baixo em meu braço.
Somos interrompidos quando Giulia entra na sala, vestida com um dos
vestidos de verão que comprou hoje. Seus cabelos estão soltos e jogados
para cima dos ombros e está descalça. Ela olha entre Margot e eu, pausa um
pouco na mão em meu braço, mas acaba sorrindo com uma simpatia que
não é algo comum dela.
— Olá, querida. — Margot cumprimenta, sorrindo de volta para ela. —
Pedro me disse que quer mudar o visual, então eu trouxe meu cabelereiro,
que é o único que pode encostar nos meus cabelos. Esse é o Gigi.
O homem se apressa para dar dois beijinhos em Giulia e fica hipnotizado
com suas mechas castanhas.
— Estou passada com esse cabelo! — Ele diz, puxando os cachos entre
os dedos, radiante. — Podemos fazer tantas coisas magnificas com ele,
deixa-lo ainda melhor!
— Eu gostaria de algo que me deixasse com mais cara de mulher, sabe?
— Claro, claro. Tenho muitas ideias e vou te mostrar todas elas! — Gigi
bateu palminhas. — Aonde vamos ficar?
Giulia ri e aponta para seu quarto.
— Pode ser no meu banheiro? É bem grande e espaçoso.
— Vamos lá! — Animado, ele pegou sua mala de rodinhas e saiu a
arrastando com Giulia do seu lado, enquanto tagarelava sobre os possíveis
cortes.
Quando sumiram de vista, Margot se virou totalmente para mim,
segurando meu rosto entre as mãos.
— Não se preocupe, Pedro. Vou ficar lá e tentar descobrir se o motivo é
o errado. — me garante.
— Tudo bem. — Enfio as mãos nos bolsos. — Preciso ir resolver umas
coisas do hotel e tenho uma reunião com o pessoal da França.
— Nos veremos mais tarde? — Procura saber, e eu sei que essa pergunta
significa sexo.
Sorri para ela.
— Com certeza.
Satisfeita, ela aperta a ponta do meu nariz e sai andando em direção ao
quarto de Giulia, toda elegante.

— Gosta desse? — Gigi me pergunta, mostrando a 4º foto de um corte


diferente.
Torci o nariz.
— Muito curto.
— Ok, ok. — Ele volta a folhear a revista, bem animado para mexer em
meu cabelo.
Através do espelho, eu vejo Margot sentada na borda da banheira, de
pernas cruzadas, enquanto nos observa, com um sorrisinho divertido nos
lábios.
— Se quer um corte que te deixe com mais cara de mulher, não precisa
ser nada muito radical. Gigi, que tal um básico, como o meu? — Seus
cabelos louros estavam presos em um rabo-de-cavalo fino, bem no alto de
sua cabeça, por isso ficava impossível de ver o corte. Percebendo que eu
estava curiosa, ela sorriu pelo espelho e explicou: — É um corte básico,
mas que realça meu rosto e não deixa de ser sofisticado e sexy ao mesmo
tempo. Seus cabelos já são lindos, mas tenho certeza que ficarão perfeitos.
— Margot tem razão. — Gigi falou após dar uma nova analisada em
meus cabelos. — Será um corte que deixará ele mais ou menos no meio de
suas costas, o que é bom, já que não quer ele muito curto. Tudo bem?
Puxei a respiração lentamente, tomando coragem para fazer isso. Em
minha cabeça, eu conseguia ver Mattia sorrindo e aprovando, então, acabei
fazendo que sim com a cabeça.
— Claro. Dai.
Gigi bateu palminhas, super animado para começar, mas percebi que
Margot ainda me olhava com o cenho franzido, como se tivesse querendo
saber alguma coisa. E ela logo deixou claro que minha intuição era a certa.
— Querida, pode me dizer o por que resolveu mudar o visual? — Apesar
de sua tentativa de esconder, ficou clara sua preocupação.
Eu sabia que ninguém entenderia isso e, se eu falasse o verdadeiro
motivo, todos diriam para não fazer. Mas, eles não conheciam Mattia, não
sabiam nossa história, não sabiam o quanto nos amamos. E eu faria tudo por
ele.
— Passei dezenove anos com a aparência que meu babbo queria que eu
ficasse. — Dei de ombros, forçando um sorriso. — Só quero mudar,
aproveitar que estou longe das regras ditadas por ele.
— Tem certeza? — inqueriu, sem acreditar em uma palavra minha.
Anuí com toda firmeza que eu tinha dentro de mim. Não me importava
se ela ou ninguém acreditasse, mas eu não falaria que não.
— Claro.

•••

Quase duas horas depois — já que cortamos e escovamos para dar mais
qualidade ao corte, finalmente eu podia me olhar no espelho e... Dio mio!
Mesmo sendo algo tão básico, como eles falaram, era como se eu tivesse
encarando outra pessoa naquele espelho. Ali, me encarando de volta, havia
uma mulher, não uma menina que viveu a vida inteira sob regras e tradições
ridículas. Eu estava com tanto receio de cortar, de mudar, mas agora
conseguia ver que Mattia estava certo, que isso me deixava mais bonita,
mais sensual.
— Uau! — Margot se levantou, chegando bem perto de mim, com um
sorriso cheio de admiração. — Você ficou mais linda do que já era!
— Obrigada. — Sorri com timidez.
Ela era uma mulher incrivelmente linda e tê-la me elogiando assim me
deixava envergonhada.
— Está muito linda mesmo. — Gigi concorda, emocionado com seu
trabalho, as mãos juntas debaixo do queixo. — Você só precisa ter alguns
cuidados. Se quiser ele mais liso, assim como está, basta escova-lo, mas
nunca esqueça do protetor térmico para não acabar afetando os fios, ok?
— Ok. — Anuí. — Obrigada, Gigi.
— Ah, que isso! — Ele faz um movimento de desdém com as mãos. —
Eu que agradeço por ter colocado minhas mãos em uma maravilha dessa!
Qualquer coisa que precisar, grite por mim! — Ele me dá um cartão com
seu número de telefone. — Ficarei muito feliz em correr para ajuda-la.
Eu sorri, agradecendo de novo, e ele foi arrumar suas coisas na mala.
Margot guardar seu celular e me encara.
— Vou precisar ir agora, querida, mas o que Gigi falou também serve
para mim, certo? Pedro tem meu número, então, não hesite em me ligar se
quiser fazer compras, comer ou apenas conversar. — Ela toca meu rosto e
faz um carinho. — É sério, qualquer coisa. Sou uma boa ouvinte.
— Tudo bem, eu ligo sim. — Garanti com um frio na barriga por tê-la
tão preocupada com essa coisa de conversar.
Só quando eles foram embora, eu peguei meu celular para ver se tinha
alguma mensagem de Mattia. Um sorriso feliz e automático se abriu em
meus lábios quando vi o nome dele.

Mattia: Já estou hospedado no hotel. E muito ansioso para ver você,


passione.

Muito ansiosa, abri a câmera e tirei uma foto para que ele veja o novo
corte. Enviei, e ele respondeu rapidamente.

Mattia: Bellissima! Acho que estou ainda mais apaixonado agora!


Giulia: Jura que gostou mesmo? Estou me sentindo uma nova pessoa.

Mattia: Eu amei, amore mio. Não se preocupe, você é a mulher mais


bella do mundo para mim.

Sorri, lendo. Cruzei as pernas quando sob mim quando sentei na cama.

Giulia: Quando vamos nos ver? Estou com saudades.

Mattia: Fique atenta ao seu celular. Vou mandar mensagens falando


sobre isso.

Mais tarde, quando Pedro voltou, eu saí do quarto para encontra-lo na


sala. Ele parecia cansado e ainda estava com a mesma roupa de manhã.
Quando me notou, ele paralisou e piscou rapidamente.
— Nossa! — Exclamou, surpreso. — Você está diferente...
— Gostou? — perguntei, mexendo no cabelo.
— Ficou bonito.
— Obrigada. — Fiz uma reverência com a cabeça, satisfeita.
Ele me observou por alguns segundos.
— Mas, e você? — questionou. — O que achou?
Por que parece que está todo mundo preocupado comigo, de repente?
Eu me sentei no sofá branco, fingindo não notar sua apreensão porque
era muito estranho.
— Eu amei. — respondi, olhando o feed do meu Instagram.
Depois de me analisar por um tempo, ele se rendeu com um suspiro e
voltou a se mover.
— Vou tomar um banho, mas não vou dormir aqui hoje.
Isso tirou minha atenção do celular e me fez levantar a cabeça para
encara-lo.
— Por que?
— Tenho umas coisas para resolver.
Prendo o lábio inferior entre os dentes.
— Com a Margot? — pergunto.
Ele me olha de soslaio.
— Entendo que conversamos sobre isso mais cedo, mas eu não vou ficar
falando com você sobre minha vida intima.
Encolho os ombros.
— Não quero saber, de todo jeito.
— Que bom, então. — diz, já indo para o seu quarto, que agora é o outro
menor da suíte, já que me apossei do maior. Vinte minutos depois, ele surge
novamente com uma calça jeans e camisa preta, que abraça muito bem seus
braços fortes. O cheiro de sua loção de barbear juntamente com seu
perfume toma conta do ar, e é estranho saber o quanto eu gosto do seu
cheiro. Ele enfia o celular e a carteira no bolso, em seguida, pega o relógio
sobre uma mesinha de canto e o coloca no pulso. — Pode pedir qualquer
coisa para o jantar. Tem um menu ali, é só ligar. Ou, se preferir, também
tem uma lista de restaurantes na área, caso não queira comer nada do
restaurante do hotel.
Com os braços apoiados no encosto do sofá, e apoiei meu queixo neles
enquanto o assistia colocar o relógio e o observava direito. O homem era
lindo demais, um verdadeiro peccato, como tinha ouvido as mulheres
falarem lá na Itália.
— No. Acho que quero descer e comer algo lá embaixo, no restaurante
mesmo. — falei. — É muito solitário comer aqui sozinha.
Por um segundo, ele pareceu se sentir culpado.
— Sinto muito. — disse. — Prometo jantar com você amanhã.
— Va tutto bene. — declarei. — Diga a Margot que mandei um beijo.
Seu olhar agora beirou o bravo, mas eu não me importei nenhum pouco e
dei um sorriso debochado de volta. Estava mais concentrada na mensagem
que receberia de Mattia essa noite. Não podia mais esperar para vê-lo.
Ele apertou o botão do elevador e as portas se abriram. Antes de entrar,
avisou:
— Qualquer coisa, estou na suíte 57. — e se foi.
Depois de tomar um banho quente de banheira, eu me envolvo em um
grande roupão preto, que deve ter sido feito para os 1.90 metros de Pedro.
Ando descalça até a cama e pego meu celular que está lá sobre o colchão,
checo as mensagens e nada.
Mattia ainda não havia mandado nenhuma mensagem.
Eu murchei um pouco. Estava morrendo de saudades dele e não via a
hora de poder abraça-lo de novo.
Por que ele estava demorando tanto?
Isso era tortura demais.
Bloqueando o celular, o jogo de volta para cama e sigo para o closet do
quarto. Eu jantaria no restaurante do hotel e precisava estar apresentável
para todas as pessoas lá, já que todas elas, sem dúvidas, devem ter muito
dinheiro. Afinal de contas, elas estão hospedadas aqui, certo?
Pensando nisso, escolho um short jeans branco de cintura alta, uma blusa
marrom de alcinhas e um cardigã aberto da mesma cor. Já vestida, eu aplico
um rímel, um pouco de blush e um batom nude bem clarinho. Não tinha o
costume de usar muita maquiagem, tampouco saberia usar, por isso sempre
opto por essas três coisinhas que nunca erram. Passei perfume nos lugares
estratégicos — pulsos, atrás das orelhas e colo —, e para finalizar, calcei
uma sandália de salto Fontaine, que eu também comprei hoje mais cedo.
Soltando o cabeço, me admirei novamente de frente ao espelho. O corte
realmente me valorizou, combinou muito com o formato do meu rosto e eu
pareço ter, pelo menos, uns 4 anos a mais. Eu gosto disso.
Enquanto estou dentro do elevador, descendo para o andar do
restaurante, envio uma mensagem para Mattia, pergunta se tudo está bem.
Quando percebo que não receberei uma resposta logo, guardo o celular no
bolso do short e suspiro, tendo de abrir um sorriso gentil para um casal de
velhinhos que entram no elevador quando as portas se abrem no 5º andar.
A espera estava me matando.
No restaurante, pedi salada de camarão para o meu jantar solitário. Esse
momento era o único que me fazia sentir saudades de casa, uma vez que em
todas as refeições a estávamos todos juntos. Mesmo eu mal conversando
com meus pais, sentia falta da companhia deles. Quando terminei, estava
me sentindo estranha.
Não queria voltar para a suíte e ficar lá só, então, com o celular em mãos,
fui para uma parte que eu amava ficar lá em Verona.
A área da piscina, assim como todo o resto do hotel, era idêntica ao que
eu vive minha vida toda. Grande, com três piscinas enormes com
espreguiçadeiras ao redor. A única diferença era que essa área tinha a vista
perfeita da praia de Miami.
Haviam poucos hospedes andando por ali, então me deitei em uma das
espreguiçadeiras e encarei o céu estrelado. Na minha cabeça, um filme da
minha vida começou passar.
Eu vivi dezenove anos dentro de um hotel, sob regras rígidas de como se
comportar, como se vestir, com quem andar, esperar o “grande dia chegar”
... Mas agora eu estava aqui, em outro continente, sob a supervisão de um
completo desconhecido, prestes a ficar junto do meu amor. Do único
homem que festejará o Grande Dia comigo.
Eu não me importava se meu pai não iria gostar ou se minha mãe não
quisesse mais olhar no meu rosto. Era a minha felicidade que estava em
jogo e eu farei tudo por ela.
Por mim.
Por Mattia.
Eu havia acabado de fechar os olhos quando meu celular tocou. Eu pulei
sentada, o coração a mil, imaginando que poderia ser ele, mas desanimei em
um nível muito gigante quando vi que o código da ligação era da Itália.
Atendi e levei à orelha, mas não falei nada, esperei a pessoa se apresentar
primeiro, mesmo já sabendo de quem se tratava:
— Giulia, mia figlia, é você? — A voz da minha mãe, nem um pouco
doce apesar da frase, soou, e automaticamente minha carranca se formou.
— Mamma. — Foi tudo que respondi, minha voz fria.
— Como você está, miele?
Apertei os olhos para a água da piscina.
— Como conseguiu meu número novo? — questionei.
— O Pedro o passou para seu babbo, claro. Existe um problema?
— Tirando o que vocês me enviaram para um país desconhecido para
viver com um desconhecido? Não, não existe problema nenhum, mamma.
— debochei.
— Já dissemos, ragazza! Não podia ficar aqui, ainda não conseguiram
controlar essa nova doença...
— Ah, mamma! — a interrompi. — Então por que não vieram junto
comigo? Sabe que não engulo essa desculpa de me mandar para longe por
conta disso. Não faz sentido algum.
— Não acredita que temos preocupações com seu bem-estar, Giulia?
Somos seus pais!
— Meu bem-estar, mamma? Jura? — perguntei, incrédula. — Estou
convivendo com um desconhecido! Um strano, maleducato! Isso não é se
preocupar com meu bem-estar; é me jogar para um homem que poderia ser
muito bem um serial-killer, portanto, não venha com mais essa, mamma.
Não quando nós duas sabemos que babbo me mandou para longe para que
eu não pudesse ver o Mattia. Quer saber? Addio, mamma! Vou descansar
um pouco agora. — Desliguei antes de ouvi-la dizer mais uma desculpa
absurda.
Não deu nem tempo bloquear a tela de novo quando uma mensagem
chegou. Dessa vez, me derreti em um sorriso bobo quando vi que era
Mattia.

Mattia: Tem como sair do prédio um pouco?

Olhei ao redor, me certificando de que Pedro não estava por perto antes
de responder muito empolgada:

Giulia: Com toda certeza.

Mattia: Vou te esperar na frente do prédio ao lado, passione.


Giulia: Estou indo!

Eu pulei em pé e não conseguia conter a felicidade e ansiedade que


estava passando pelo meu corpo como eletricidade enquanto caminhava
para a entrada do hotel. Estava olhando para todos os lados, para não correr
o risco de Pedro aparecer do nada, mesmo que meu lado imaginário tinha
quase certeza que nesse momento ele estava “transando” com Margot, já
que eles não fazem amor.
Quando empurrei a porta de vidro e saí, o vento forte e gelado da praia
bateu de contra ao meu rosto. Um sorriso cheio de anseio se espalhou em
meus lábios quando desci as escadas da frente do prédio e caminhei para
direita, onde ficava o hotel em que Mattia estava hospedado.
Logo quando o avistei, tudo dentro de mim se rendeu e meus passos
aceleraram. Ele estava lindo, como sempre, vestido com um jeans escuro e
camisa de botões preta. Os cabelos caíam em seus olhos incrivelmente
azuis, e seu sorriso iluminava toda a minha vida.
Eu sei, tãaao clichê!, mas era como eu me sentia quando estava perto
dele.
Ele se desencostou da parede e abriu os braços para me receber. Me
joguei, logo agarrando seu pescoço, e ele me abraçou forte de volta, me
tirando do chão.
— Amore mio! — Choraminguei, beijando seu pescoço, rosto, tudo.
Estava tão feliz, que me tremia por completo.
— Mia vita! — ele riu com meu ataque de beijos e segurou meu rosto
com as duas mãos. — Deixe-me vê-la, per favore! — Seus olhos
maravilhosos analisaram todo meu rosto e quando chegaram aos cabelos,
sorriu, admirado. — Você cortou, como pedi.
— Claro que sì. — Tudo dentro de mim brindava por saber que ele
gostou. — Tudo por você, amore mio.
Ele deu uma olhada por sobre meu ombro, então pegou em minha mão e
me guiou para dentro do seu hotel. Agradeci mentalmente, sabendo que a
qualquer momento Pedro poderia aparecer por ali. Ou até mesmo Rafael.
Nós entramos e fomos direto para o elevador. Eu só sabia sorrir e estava
radiante por ele estar sorrindo para mim também. Ele não soltou minha mão
todo o caminho até o andar de sua suíte. Assim que entramos na
privacidade do seu quarto, ele segurou meu rosto com suas mãos
novamente e sua boca veio pegar a minha, e eu suspirei, totalmente
entregue a ele.
Como sempre, Mattia me beijou delicadamente, com calma, cheio de
carinho. Eu segurei em sua camisa, retribuindo o beijo, deixando saber que
estava morrendo de saudades.
— Bella mia, não sabe como eu senti sua falta! — Ele respirou em minha
boca, e eu sorri, hipnotizada pelos seus lindos olhos azuis.
— Eu também. Não conseguia ver a hora de estar com você novamente.
— Você está tão linda, Giulia! — Ele me olhava com amor em seus
olhos. — Eu amei seu novo corte! Agora — Seu cenho se franziu e arrastou
o polegar pelo meu lábio inferior levemente. —, você sabe que não precisa
usar essas maquiagens, certo?
Engoli em seco, minhas sobrancelhas franzindo e eu dei um passo para
trás, para olhar seu rosto.
— Você não gosta?
— Eu prefiro você sem nada, de cara limpa. É bellíssima sem essas
coisas.
— Ah..., e por que nunca falou comigo sobre isso antes?
Seu sorriso se torna mais doce, os olhos brilhando com timidez. Ele
encolhe os ombros e coça a cabeça.
— Mi dispiace, piccola. — suspira. — É que eu vi que você sempre
usava e me sento mal em pedir isso para você. Não se preocupe com isso,
não precisa parar de usar. É bobagem minha...
— Não, não, passione. — É a minha vez de segurar em seu rosto para
que ele me encarasse. — Eu nem gosto tanto de usar mesmo.
— Tem certeza? — Ele envolve seus braços ao redor de minha cintura,
abaixando a cabeça para beijar meu pescoço, cheio de carinho. — Não
quero que você se sinta mal por uma coisa minha.
Sorrio, toda derretida.
— Tenho certeza. A partir de amanhã, não uso mais. — garanto. — Se
você me acha bonita nem maquiagem, é o que importa.
Ele beija minha boca rapidamente.
— Bellíssima!

•••

No dia seguinte, eu acordo às 06:30 da manhã para poder me arrumar e,


finalmente, tomar café acompanhada. Meu humor estava ótimo, aliás.
Eu e Mattia ficamos um tempo juntinhos, antes de ele me lembrar que eu
precisava voltar para o hotel, para que ninguém sinta a minha falta. Quando
já estava deitada para dormir, nós trocamos mensagens porque ele estava
em uma reunião com o seu pai e não podia fazer chamada de vídeo.
Depois de fazer minha higiene matinal, eu troco minha camisola de seda
por um vestido soltinho e curto. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo
no alto da cabeça e não me preocupei em buscar algo para calçar. Eu amava
ficar descalça.
Chequei meu celular, que estava sobre a mesinha de cabeceira, mas não
havia nenhuma mensagem de Mattia, então enviei para ele um bom dia,
devolvi o celular para o lugar em que estava e saí do quarto.
Eram 07:00 horas em ponto, e Pedro já estava sentado na mesa da
varanda para o café da manhã, como ele havia dito antes. Ao contrário dos
outros dias, ele hoje usava uma camisa social branca, que tinha as mangas
dobradas em seus cotovelos e calça e sapatos pretos. O cabelo ainda estava
molhado do bando, mas comportado. Quando me viu, estava bebericando
sua xícara de café, então a apoiou na mesa com cuidado, lambendo os
lábios.
— Bom dia. — disse ele, com um movimento de cabeça. — Acordou
cedo.
Sorri de forma educada quando me sentei na cadeira de sempre, de frente
para ele.
— Não gosto de fazer as refeições sozinha. Se para ter companhia, é
preciso acordar cedo, então eu acordarei cedo. — informei, já preparando
meu café preto. — E bom dia, Pedro. Dormiu bem?
Ele engasgou numa tentativa de beber mais de sua caneca. Sua cabeça
serpenteou para mim, a sobrancelha erguida, confuso.
— Sim..., obrigado por perguntar. — Ele estava muito curioso agora. —
Você dormiu?
— Como a própria bela adormecida! — Suspirei com um sorriso muito
largo.
— Está ciente que o caso da Aurora foi uma maldição, certo?
Revirei os olhos.
— Claro que sim. Foi só uma forma de falar.
Ele sacudiu a cabeça, sem intenção alguma de conversar e pegou um
aparelho preto que estava ao seu lado na mesa. Era um daqueles aparelhos,
parecido com um tablet, usados exclusivamente para leitura, Kindle.
Eu nunca quis comprar um, já que preferia livros em formato físico.
Nunca tive muita paciência para ler online.
— O que você está lendo? — perguntei, tentando puxar assunto.
Ele estava sentado como sempre — tornozelo esquerdo sobre o joelho
direito —, bem largado na cadeira, e levanta o olhar para responder:
— Einstein.
— Que legal. É bom?
Eu precisei morder o interior das minhas bochechas, porque queria rir da
sua expressão perdida.
— É.
— Fala sobre o que? — Mordi uma torrada, olhando bem no rosto dele,
esperando uma resposta.
— Fala como a imaginação científica de Einstein surgiu de sua
personalidade rebelde. Você sequer gosta de Einstein? — questiona,
inclinando a cabeça levemente para o lado.
Dou de ombros.
— Admiro, mas não sou fã a ponto de querer saber essas coisas.
— E está pergunta por qual motivo?
Novamente, dou de ombros.
— Curiosidade. Você não gosta de conversar enquanto está tomando
café?
— Eu gosto de ler meu livro enquanto faço isso.
Uh.
Ofereci a ele um sorriso forçado e cheio de deboche, em seguida, dei
outra mordida na minha torrada. Eu acabei de perceber que gostava de
tentar tirar ele do sério, mesmo que ele seja tão irritantemente calmo. Já
estava prestes a abrir a boca para perguntar sobre Margot quando o elevador
apitou, avisando que alguém havia chegado.
Com uma cara de sono e os cabelos bem rebeldes, Rafael apareceu,
vestido todo de preto. Ele se sentou na cadeira ao lado do irmão e foi logo
pegando café.
— Bom dia para você também. — Cumprimentei, com uma falsa doçura.
— E aí, mudinha. — falou, sem nem olhar para mim. Ele sequer falou
com o irmão, que por sua vez não se importou, tão entretido no livro.
— Eu não sou mudinha. E é mal educado da sua parte não cumprimentar
as pessoas quando chega no lugar.
Ele parou um pão de queijo a meio caminho de sua boca e olhou nos
meus olhos com tédio.
— Pedro está lendo, e eu sei como essa hora é sagrada para ele. E no seu
caso, só estou devolvendo a forma como me tratou quando te peguei no
aeroporto.
Chacoalhei a cabeça, exasperada.
— Quantos anos você tem? Dez?
Ele revirou os olhos como resposta enquanto mastigava.
— Dez, com certeza. — Eu disse.

Já pronto com o terno, Pedro dispensou a gravata do seu look, o que o


tornou, surpreendentemente, muito mais atraente.
Eu sempre estive perto de homens elegantes, mas eles sempre tinham
uma gravata pendurada no pescoço. Mas não esse homem. Em vez de
gravata, ele tinha uma fina corrente de prata, que chamava atenção para seu
pescoço bronzeado, assim como — pasmem — uma pequena argolinha na
orelha esquerda, da mesma forma que seu irmão.
Não sei como me sinto sabendo que isso é uma coisa muito atraente para
mim. Talvez porque era difícil ver os homens de onde moro usando esse
tipo de coisa. Já tinha ouvido falar que os brasileiros gostam disso e que por
isso, eles podiam facilmente serem considerados os homens mais quentes
do mundo. As pessoas — mulheres — costumam exagerar, claro, mas
olhando esses dois homens na minha frente, enquanto estou sentava no sofá
observando-os de pé, poderia facilmente concordar com elas.
Mattia é um homem lindo demais. Seus cabelos e olhos azuis fazem uma
diferença gigante, e eu o amo muito. No entanto, se o colocasse no meio
desses dois, tinha certeza que 90% das mulheres nem o notariam.
Claro, eu faço parte dos outros 10%, mas é muito difícil conviver
debaixo do mesmo teto que esses caras e não prestar atenção neles.
Principalmente Pedro Rodrigues.
Muito difícil.
Quando as portas do elevador se fecharam, levando Pedro, eu me
surpreendi por notar que o cheiro dele ficou no local.
O homem cheira muito bem.
Sentada no sofá, com as pernas dobradas sob meu corpo, observei Rafael
sentar na outra extremidade com seu celular em mãos. Alcei a sobrancelha:
— Vai ficar aqui? — questionei.
— Vou. — Ele respondeu, a voz seca, enquanto seus polegares digitando
rapidamente em seu celular.
Apertei meus olhos nele, estudando seu perfil com cuidado e em silêncio.
Por algum motivo, não nos demos muito bem. Quer dizer, eu sei que a
forma como eu cheguei, sem responde-lo e completamente com raiva,
ajudou bastante nisso, mas ainda assim, eu estava chateada. Tinha acabado
de ser enviada para um país estranho porque meus pais não me aceitam com
o homem que quero.
Mas, não o culpo. Eu também ficaria com raiva da pessoa, se ela tivesse
sido tão mal educada comigo, também.
Com um suspiro e sabendo que Mattia talvez não me mande mensagens
hoje pela manhã, uma ideia surgiu na minha cabeça. Desde a conversa com
Pedro sobre o livro de romance adulto, eu havia ficado com isso na cabeça.
Então, arrumando a postura, eu abri um sorriso:
— Podemos ir ao shopping?
O olhar que Rafael me deu quando levantou a cabeça foi, de longe, o
mais exasperado que vi alguém fazer.
— Para quê?
— O que se faz em um shopping?
— Literalmente, um bocado de coisas, Giulia.
— Giusto. — Meneei a cabeça, me aproximando dele. — Eu quero ir à
uma livraria. — Confessei. — E, depois podemos fazer alguma coisa, o que
acha? Sei lá, ver um filme e depois almoçar.
Uma coisa que percebi nesses irmãos é que ambos são muito
desconfiados com absolutamente tudo. A forma como Rafael estreitou os
olhos para mim, quase me fez revirar os meus, no entanto, eu ainda não
sabia andar sozinha pela cidade e precisava dele para ir comigo.
— Per favore, Rafael! — Juntei as mãos como se estivesse rezando e fiz
beicinho. — Prometo que serei uma dama com você!
— Sabe que não sou o Pedro, certo?
— Sì...?
— E tenho zero de paciência.
Bufei.
— Percebi.
Ele ergueu um dedo em riste.
— Eu vou dizer sim, mas só porque meu irmão pediu para ficar de olho
em você. E tem uma condição.
Eu ignorei o desconforto familiar com o “ficar de olho em você” e anuí,
incentivando-o a continuar:
— Qual?
— Não vamos, em hipótese alguma, entrar nas lojas de roupas,
entendeu?
Revirei os olhos de novo.
— Só quero uma livraria, Rafael.
Ele resmungou, tombando a cabeça no encosto do sofá, xingando
baixinho.
— Tudo bem. Vai lá trocar de roupa e vamos ao shopping!

Depois de vestir uma roupa mais apresentável — calça jeans cintura alta
com um body azul com decote quadrado e sandálias de salto alto —, peguei
meus óculos de estilo olho de gato, com os aros também azuis, meu celular
e saí.
Rafael ainda estava sentado no sofá, mas se levantou quando me viu
chegar. Ele andou sem olhar para trás e apertou o botão do elevador, que
logo se abriu. Dentro do elevador enquanto eu checava meu cabelo no
espelho, escutei quando seu celular apitou com uma mensagem. Observei-o
quando checou e sua expressão ficou dura, chateada. Ele xingou um
palavrão baixinho e devolveu o celular para o bolso frontal de sua calça.
Eu me virei, cruzando os braços e empurrando minhas costas contra o
espelho atrás de mim. Inclinei um pouco a cabeça, sem tirar meus olhos do
perfil dele.
Problemas? Quis saber, meu tom cínico, porque da mesma forma
que era bom tentar tirar Pedro do sério, também era bom conseguir fazer
seu irmão perder a paciência.
Ele olhou para mim, então seus olhos foram para trás, para a parte
transparente do elevador, que dava para ver tudo lá fora. Estávamos muito
alto ainda, e eu vi em seu olhar a malícia de que, se pudesse, ele quebraria o
vidro e me jogava dali.
Precisei morder o interior da minha bochecha para não rir e coloquei dois
dedos sobre meus lábios.
Ah, calmati! falei quando consegui controlar a crise de riso que
queria sair. Só estou preocupada. Você não parece bem.
Não é nada. Respondeu, emburrado.
Não parece nada.
Sua mandíbula contraiu.
Mas é exatamente isso: nada.
Ergui minhas mãos em rendição.
Va bene, va bene. Anuí, novamente precisando prender o riso.
Va tutto bene. Acredito em você, ragazzo.

Quando saímos do hotel, Rafael começou a andar em direção à uma


moto enorme. Era linda, mas parecia muito um transformer. Ela era preta e
vermelha e chamava a atenção das pessoas que passavam por perto. Deve
ter sido absolutamente muito cara, mas esse não era o problema aqui.
Eu apontei para a coisa quando ele me estendeu um capacete.
De jeito nenhum eu vou subir nisso!
Por quê? perguntou, impaciente.
Cruzei os braços.
Isso aí é uma máquina de matar, Rafael! exclamei. Você tem
quantos anos? Vinte e seis? Vinte e cinco?..., eu não sei, mas eu tenho só
dezenove e não estou querendo morrer agora, não.
Aparentemente aborrecido, ele passou a mão livre nos cabelos,
bagunçando-os ainda mais.
É vinte e sete, e você não vai morrer! Ele empurrou o capacete
para mim de novo. Coloca logo isso e vamos embora, por favor.
Comecei a bater o pé, meus braços ainda cruzados.
Não vou e ponto final.
Ele levanta os braços, indignado.
Por que você simplesmente não para de ser chata e sobe na porra da
moto?
Aperto meus olhos nele.
Per Dio, você não pode parar de falar coisas feias? perguntei, e
ergui o queixo, apontando para sua moto. E eu não subir nessa... cosa
maledetta! Você não tem um carro?
Tenho, mas ele não está aqui e Pedro levou o dele. responde, seus
dentes cerrados, já muito zangado. Seu rosto estava ficando vermelho de
raiva.
Bene. Não me importo.
Gesticulei em direção ao hotel quando sugeri:
E o outro carro? Já andamos em dois carros diferentes desde cheguei
aqui. Você não pode pedir para buscarem?
Ele fechou os olhos por um instante, respirando fundo, como se buscasse
paz em algum lugar no fundo da sua alma. Quando os abriu e me olhou,
pude ver o cinismo estampado no seu rosto.
Você tem a chave?
Ãhn..., não? me remexi, sem graça. Mas você é o irmão dele,
Rafael! E também é dono disso aqui, certo? Por que não manda buscarem o
carro?
Porque não é a porra do meu carro! Não sei como são as coisas com a
sua família, mas na minha, não pegamos o que não é nosso sem permissão.
E, só para deixar claro, antes de você dar a ideia de ligar para o Pedro. Um
ele ergue um dedo. , ele já deve estar na reunião e vai te matar se você
interromper. E dois, todos os carros do meu irmão tem um sistema de
digital. Não importa se eu tenho o caralho da chave. O carro não vai andar
nem 1km se não tiver a digital do dono. Você entendeu agora?
Eu me sentia como um metrô tivesse passado por cima de mim com toda
essa informação de uma só vez e rápido demais. Encolhendo os ombros,
totalmente sem graça agora, eu anuí, meio hesitante.
Va bene.
Ele suspirou, satisfeito e voltou a levantar o capacete para mim.
Pode colocar isso agora?
No. Abri um sorriso atrevido, fazendo-o ficar ainda mais
exasperado, e desbloqueei meu celular. Vamos de Uber, então.
Pelo amor do nosso Senhor Jesus, Giulia! Eu não vou de Uber.
Ah, então você vai nessa máquina da morte, e eu vou de Uber.
Meu sorriso se alargou quando meu app encontrou um motorista. Nos
encontramos lá, cuore. Levanto a mão e aperto sua bochecha.
O carro chegou e encostou. Eu sorri para o homem emburrado ao meu
lado e acenei um tchau para ele.
Mas de jeito nenhum! Ele segura meu pulso quando eu ameaço
andar. Se eu não vou, significa que você não vai. E eu não vou ficar
discutindo com uma garota de dezenove anos! Não vamos de Uber e ponto
final, Giulia!

•••

Chegamos! O motorista do Uber, Carlos, sorriu para nós do


retrovisor quando estacionou.
Rafael olha para mim, e eu apenas alargo meu sorriso, então ele sacode a
cabeça muito chateado, pega a carteira e paga a corrida.
Sem esperar que ele abra para mim já me rendi a isso , eu mesma
abro a porta e saio do carro. Ele vem para o meu lado, e com a cara fechada,
ele arranca seus óculos escuros que está na gola de sua camisa e o coloca,
escondendo seus olhos, enquanto andamos para dentro do shopping.
Como era costume, as mulheres que passam por nós, se derretem. O
homem chama tanto atenção quanto seu irmão. Mas ele está muito
aborrecido para dar atenção a qualquer uma delas.
Para onde vamos agora? pergunta, sem paciência.
Encontrar uma livraria. respondi, sem me importar com seu mal
humor. Ele precisa de muito mais do que uma cara fechada e um tom de voz
duro para me fazer teme-lo.
Quando ele e o irmão vai perceber que tirar eles do sério é minha mais
nova diversão?

Na livraria, eu não perco muito tempo. Chamo a atenção de uma


vendedora e pergunto sobre a sessão de romances adultos.
A vergonha me bateu tão forte, que eu senti minhas bochechas arderem,
mas não voltei atrás. Eu estava curiosa sobre esse livro e eu iria lê-lo antes
de assistir o filme.
A ragazza simpática nos leva direto para a sessão desejada. Seu sorriso é
grande e muito bonito, mas é meio que óbvio que ela não está sorrindo para
mim. Está até nervosa, suas mãos tremem enquanto ela acena os livros que
eu pedi.
Eu olho para trás, para onde os olhos verdes da mulher estão sempre
indo, e vejo Rafael alguns passos atrás. Ele tem os óculos empurrados sobre
sua cabeça agora e está concentrado em alguma coisa que está vendo em
seu celular, as sobrancelhas franzidas e a mandíbula contraída.
Deixando minha curiosidade para depois, eu volto para resolver meu
problema. Encontro o livro 50 Tons de Cinza e dou para a mulher, que se
chama Gia, para que ela possa levar ao caixa.
Rafael. eu chamo sua atenção. Vou pagar o livro, tutto bene?
Ele anuiu.
Vou esperar lá fora. ele diz e se vira, mas logo para e se volta para
mim, o cenho franzido. Como você vai pagar?
Tenho um cartão internacional. respondo. Meu babbo tirou meu
celular, mas não tirou meu cartão.
Tá ok.
Eu fui até o caixa e paguei o livro. A vendedora perguntou se eu não
queria levar os outros da trilogia, mas eu neguei. Iria ler o primeiro e, se
gostasse, compraria os outros. Agradeci e saí, encontrando Rafael em uma
discussão no telefone.
Ele estava de costas, então não me viu e continuou a falar:
Sasha, você escutou alguma coisa do que eu falei?... Não, porra! Eu
estou com você há três meses e em nenhum momento eu quis ficar com
outra mulher! Ele abriu o braço livre, exasperado demais.
Seja quem for essa Sasha, ela consegue tirar ele do sério mais do que eu.
Eu gosto dela!
Está brincando comigo, certo? Eu faço tudo do jeito que você quer,
caralho!... Não, não, não. Eu estou muito puto agora por você fazer isso por
mensagem. Ele grunhiu com alguma coisa que ela falou do outro lado.
Quer saber? Foda-se! E desligou. Se virou abruptamente e deu de
cara comigo, então sua fisionomia que já estava irritada, se fechou ainda
mais.
Eu, por outro lado, sorri mostrando a ele meus dentes.
Vamos assistir um filme?

•••

Ele não discutiu, apenas ficou em silêncio durante todo o filme. Quando
terminou, fomos para um restaurante dentro do shopping mesmo. Todo o
tempo, seu telefone não parava de tocar, nem de chegar mensagens.
Sentados em uma mesa do lado de fora do restaurante, esperando nosso
almoço chegar, eu encarei seu celular sobre a mesa.
Sua namorada?
Não mais. Ele olhou para o outro lado.
Por que não?
Ele me olhou com exaustão.
Porque não, Giulia.
“Porque não” não é resposta Fiz aspas com os dedos.
Ele cruzou os braços sobre a mesa e me deu um sorriso debochado.
Porque não é da sua conta, serve?
Revirei os olhos.
Você é irritante assim mesmo ou aprendeu na faculdade?
Dessa vez, ele solta uma risada.
A hipocrisia é uma filha da puta mesmo, não é?
Seu celular volta a apitar com mensagens, e eu sou mais rápida que ele,
pegando o aparelho em cima da mesa.
Mas que merda! Ele tenta me alcançar, mas eu me estico para trás,
vendo a tela piscar com as mensagens de Sasha chegando. São várias, uma
atrás da outra, e ela não parece nada legal.
Responde, Rafael!
Você não pode desligar na minha cara!
Com quem você pensa que está falando!????
Idiota, filho da mãe!

Eu concordo com a última, claro.


O celular começa a tocar e eu ergo uma sobrancelha divertida para ele ao
ver o número e a foto de Sasha. Ela é uma mulher muito bonita, longos
cabelos vermelhos e sardinhas pelo nariz.
Me devolve a porra do celular, Giulia!
É bom saber que ele é educado o suficiente para não se levantar e vir
pegar o celular, fazendo uma cena no meio de tantas pessoas.
Sorriso como uma dama cheia de malícia, eu deslizo meu dedo na tela do
celular e o levo para a orelha.
A voz fina explode assim que atendo:
Rafael, você sabe quem eu sou, não é? Vou acabar com você, seu filho
da puta! Ninguém desliga na cara de Sasha Wesley, meu amor. Ninguém!
Ah, olá, Sasha Wesley! eu digo, interrompendo-a.
A mulher se cala do outro lado com um som de exclamação. Só depois
de alguns segundos, ela volta a falar, e é claro o seu tom confuso de voz:
Quem está falando? questiona, e soa como uma ordem que precisa
ser acatada.
Você está falando com Giulia Russo. Sorri para Rafael, que
obviamente queria me matar. Muito prazer, tesoro.
É italiana? Juro que imaginei a careta que ela deve estar fazendo
agora.
Sì, bella.
Cadê Rafael?
Ah, o Rafael está ocupado agora...
Ele não pode estar ocupado quando se trata de mim, queridinha!
Pode dizer para ele que sou eu quem está ligando e preciso falar com ele?
Tutto bene. Só um minuto. Afastei o celular na orelha e peguei o
copo de água para beber um pouco.
O que você está fazendo? Rafael sussurra para mim, muito
irritado.
Sorri, acenando para ele, pedindo calma, e voltei para o telefone.
Então, tesoro, me fale uma cosa, hã? Você está gritando algo sobre
desligar na sua cara?
Escutei ela grunhir de raiva do outro lado.
O idiota do Rafael desligou na minha cara. Sou Sasha Wesley e
ninguém desliga na minha...
Desliguei, com um largo sorriso satisfeito e coloquei o celular de volta
na mesa.
O que foi isso? Ele me perguntou, apontando para o celular, bem
no momento em que o garçom trouxe nosso prato.
Ela está muito brava com você. debochei e, pela primeira vez
desde que cheguei, vi ele sorrir de verdade para mim.
— Ficou perfeito. — elogiei o projeto que estava na diante de mim. Foi
impossível não abrir um sorriso para o que eu estava olhando. Como
sempre, os Lazzari arrasando em seus projetos.
— Que bom que gostou. — Pérola Lazzari, a arquiteta, sorriu, fazendo
seu rosto bonito se iluminar ainda mais. — French Rivera é um lugar
belíssimo! Confesso que nunca tinha ido lá, mas agora preciso voltar
sempre. Estou muito feliz em poder trabalhar em um hotel seu lá.
Sorri para ela, anuindo.
— French Rivera é o lugar favorito da minha mãe. — falo para ela. —
Ela sempre ia com meu pai e continua indo até hoje em suas férias. Então,
resolvi construir um hotel lá, para que ela tenha mais um lugar para
recordar dele.
Seus olhos brilharam com emoção e ela tocou o peito com uma mão.
— É muito lindo da sua parte fazer isso. Meus pais vão sempre para
Marseille e amam!
— Também é muito bonito. — digo, lembrando da única vez em que
estive lá à trabalho.
— Os dois lugares parecem ótimos para ir com uma pessoa especial. —
Nico Lazzari falou. Ele um dos melhores engenheiros civis que conheço,
assim como seu tio, Giovanni Lazzari e seu avô Hetor Lazzari, que
trabalhou muito com meu pai no começo de tudo.
— Verdade. — Pérola abriu um sorriso que entregava com claridade que
seus pensamentos agora estavam em seu marido, o jogador de futebol
americano Kent McGregor.
Na minha cabeça, imagens de Giulia começaram a passar.
Ela e sua língua solta, perguntando sobre Margot.
Ela andando até a mesa para tomar café comigo.
Ela trocando insultos com meu irmão.
Ela andando pelas lojas de roupas, seguidas pelas vendedoras.
Franzi o cenho, estranhando o motivo de estar pensando nela. Eu não
costumava ter ninguém na minha cabeça quando estava trabalhando;
tampouco quando não estava. Sempre fui centrado demais nas coisas em
que queria conquistar, e isso nunca se tratou de mulher nenhuma. Essa parte
sempre foi muito fácil e rápido.
Levantei a mão e passei em minha nuca para tentar me livrar da tensão
que havia se instalado ali.
— Bom — comecei a falar, já me levantando e atacando o botão do meu
terno. —, agora preciso ir. Tenho um voo de volta para Miami ainda hoje.
— sorri, estendendo a mão para Nico apertar. Batemos um nas costas do
outro, no típico abraço masculino. Em seguida, beijei o rosto de Pérola, que
devolveu.
— Nos agradecemos por você nos escolher de novo. — ela disse. — E
sinto muito por não podermos ir até você, querido.
Balancei a cabeça, descartando isso.
— Eu que agradeço por estarem comigo novamente. Posso dormir
sossegado, sabendo que meu hotel está nas mãos de vocês. — Pisquei,
sorrindo, e ela sorriu largamente. — E eu entendo, não se preocupe. Espero
que sua filha fique boa logo.
— Muito obrigada. Deixe-me leva-lo até o elevador. — Ela levantou a
mão, acenando para que eu passasse em sua frente.
Acenei em despedida para Nico e saí, com ela bem atrás de mim.
Enquanto esperávamos o elevador, ela falou:
— Ah, Kent mandou um abraço. Ele quer saber quando vocês vão se
encontrar para bater um papo e tomar aquele uísque escocês.
Sorri, colocando as mãos nos bolsos.
— Peça que me ligue para marcarmos isso o mais rápido possível. Quem
sabe não façamos em comemoração no final a próxima liga?
— Direi a ele, com certeza.
O elevador chegou, abrindo as portas de aço, e depois de mais uma
despedida, entrei e acenei para ela antes das portas se fecharem de novo.
•••

Após uma hora e cinquenta minutos de voo, pousamos em Miami. Já se


passava das dezessete horas. Assim que entrei no carro, peguei o celular.
Havia algumas mensagens, mas abri primeiro a do meu irmão.
Era uma mensagem simples, mas fez coisas ruins dentro de mim.
Rafael: Nunca mais eu saio para um shopping com essa garota!!!
E uma foto dela logo em seguida.
Ela estava de pé, olhando muito atentamente para uma lingerie, dentro de
uma loja de roupas. Vestia calça e um body azul. Ela tinha uma única sacola
pendurada em seu braço, enquanto meu irmão levantou a sua mão para que
todas as outras sacolas aparecessem na foto.
Eu sorri, sabendo exatamente como ele deve ter odiado isso. Mas meus
olhos se voltaram para a mulher. Completamente relaxado no banco de trás
do meu Rolls-Royce Cullinan, usei os polegares para dar zoom na foto.
Uma má ideia, já que isso fez com que minha respiração se perdesse em
algum lugar em seu caminho para fora.
A lingerie que ela estava olhando era vermelha e de renda, e tinha a porra
de uma cinta-liga — eu tinha um fetiche nesse tipo de lingeries. De repente,
a imagem de Giulia usando-a se formou na minha cabeça. Desliguei o
celular e joguei do outro lado do banco, sacudindo a cabeça ao mesmo
tempo que desatava uns botões da minha camisa.
— Joel, para o Caliste Club, por favor. — pedi ao meu motorista, que
anuiu para mim pelo retrovisor e seguiu como lhe foi pedido.

No clube, fui direto para a academia, cumprimentando alguns conhecidos


no caminho. Lá havia uma sala com armários de todo mundo que frequenta
a academia. Eu coloquei a combinação do meu e peguei uma roupa de
treino que eu deixava reservado ali, para o caso de dar vontade de usar.
Todas as manhãs, eu usava a academia do hotel e depois corria pela
praia. Ou usava minha academia particular quando estava na minha casa.
Mas agora, era quase noite e eu precisava liberar a tensão que, de repente,
envolveu meu corpo.
Já com a roupa adequada, eu subi na esteira e comecei a correr com meus
airpods nas orelhas. Animals de Maroon 5 explode em meus ouvidos da
forma que é: sexy, intensa, a batida envolvente.

Baby, I’m preying on you tonight


(Baby, serei seu predador essa noite)
Hunt you down, eat you alive
(Te caçarei, te comerei viva)
Just like animals, animals, like animals-mals
(Como animais, animais, como animais-mais)
Maybe you think that you can hide
(Talvez você pense que pode se esconder)
I can smell your scent from miles
(Mas eu consigo sentir seu cheiro de longe)
Just like animals, animals, like animals-mals
(Como animais, animais, como animais-mais)
Baby, I'm
(Baby, eu sou)

So what you trying to do to me?


(Então o que está tentando fazer comigo?)
It's like we can't stop, we're enemies
(Não conseguimos parar, somos inimigos)
But we get along when I'm inside you
(Mas nos damos bem quando estou dentro de você)
You're like a drug that's killing me
(Você é como uma droga que está me matando)
I cut you out entirely
(Eu te elimino totalmente)
But I get so high when I'm inside you
(Mas eu fico nas alturas quando estou dentro de você)

Yeah, you can start over


(Sim, você pode recomeçar)
You can run free
(Pode correr livremente)
You can find another fish in the sea
(Pode encontrar outro peixe no mar)
You can pretend it’s meant to be
(Pode fingir que era pra acontecer)
But you can’t stay away from me
(Mas não consegue ficar longe de mim)
I can still hear you making that sound
(Ainda ouço você fazendo aquele som)
Taking me down, rolling on the ground
(Acabando comigo, rolando no chão)
You can pretend that it was me, but no, oh
(Pode fingir que era eu, mas não, oh)

Eu estava concentrado na corrida, tentando anular os pensamentos


quando vi a figura esbelta e sorridente de Margot. Ela se apoitei na frente da
esteira, a cabeça levemente inclinada, olhando-me sem entender nada.
— Cansou da academia do hotel? — perguntou.
Eu apertei no monitor da esteira para que ela começasse a parar, dei
pausa na música com um toque no airpod e neguei com a cabeça.
— Acabei de chegar de LA, mas não queria voltar logo para o hotel.
Decidi correr um pouco, aliviar o corpo um pouco. Como soube que eu
estava aqui? — Questionei, dando uma olhada lenta pelo seu corpo, coberto
apenas com sua mini roupa de tênis. Era disso que eu precisava para parar
de pensar no que não devia.
— Lupita disse que viu você vindo para cá. Achei estranho e vim ver
com meus próprios olhos. — disse ela, olhando-me sob os cílios grandes,
provavelmente pensando o mesmo que eu. Ela sorriu. — Cadê Giulia?
Enxuguei minha nuca com uma toalha de rosto e tomei um gole grande
de água, levando um tempo para responder sua pergunta.
— Acredito que no hotel.
— Ela não ficou mais linda ainda com o novo corte de cabelo?
Alcei uma sobrancelha. Eu não queria pensar no cabelo, nem em nada
que envolvesse Giulia agora. Então respondi com um encolher de ombros:
— Sim, claro.
Margot franziu o cenho, as mãos fincadas nas cinturas finas.
— Você está bem, Pedro?
Anuí.
— Estou.
Ela se aproxima, seus olhos fazendo um caminho demorado pelo meu
corpo suado. Sorri porque sabia onde isso ia dar. Ela tocou meu peito e
perguntou baixinho:
— Podemos ir para outro lugar? Estou sentindo você tão tenso...
Acenei para trás de mim com o polegar.
— Só preciso de um banho e podemos ir.
•••

Nós fomos para a suíte de costume no meu hotel. Depois de uma boa
sessão de muito sexo sujo, eu estava pronto para voltar para minha suíte.
Margot precisava ir logo também, porque teria um almoço com sua irmã,
Madison e seus pais. Nos despedimos e eu subi para suíte em que eu ficava,
e quando entrei dei de cara com Giulia, esparramada no sofá, de bruços, as
pernas para o ar, enquanto lia um livro com muito gosto.
Ela vestia um short jeans e uma blusa folgada, e eu fui capaz de notar sua
bunda empinada.
Maravilha!
— Boa noite. — Chamei sua atenção, quando dobrei o paletó em meu
antebraço.
Com um sobressalto, ela se sentou, os olhos cor-de-mel arregalados,
completamente assustados. Sua mão foi para o peito quando ela tentou se
controlar e fechou os olhos ligeiramente.
— Buona Notte, Pedro. — ela cumprimentou com um menear de cabeça,
engolindo em seco logo em seguida. — Você me assustou.
— Sinto muito. — falei, com sinceridade. — Você estava tão entretida
no seu livro, que nem escutou o apito do elevador.
Ela puxou o livro, marcando-o com um marca-página e fechou.
Cinquenta Tons de Cinza.
Eu vi a capa e levantei uma sobrancelha questionadora para ela, que
ficou com as bochechas coradas e se mexeu envergonhada.
— Fiquei curiosa depois que você falou. — Justificou.
— Tudo bem. — Eu anuí devagar e tentei mudar de assunto para que ela
não fique mais constrangida do que aparenta estar: — Você já jantou?
Ela negou com um gesto de cabeça.
— Ainda não. Me esqueci completamente enquanto lia.
— Então, por que não vai se arrumar? Vamos jantar fora.
Ela me olha, surpresa.
— Vai jantar comigo hoje?
Desatei o primeiro botei da minha camisa, piscando um olho para ela.
— Prometi ontem e vou cumprir, ragazza. — Imitei seu sotaque,
arrancando um sorrisinho dela antes que caminhasse para seu quarto com o
livro nas mãos e na ponta dos pés descalços.
O vestido vermelho estava estendido sobre a cama, no lugar onde eu havia
deixado, quando saí do banheiro com o corpo envolvido em um roupão
macio. Eu o comprei hoje mais cedo, quando fui ao shopping com Rafael.
Ele simplesmente chamou minha atenção quando passava na frente da loja.
Tive uma pequena discussão com meu acompanhante até que ele cedesse e
me deixasse entrar lá. Saí da loja com meia dúzia de sacolas.
Deixando o roupão de lado, vesti uma lingerie nova também. Essa eu
havia comprado no dia em que fui com Pedro. Era preta, de renda, o sutiã
era meia taça e a calcinha fio-dental. Ficava linda no corpo. Sorri para
minha imagem no espelho enquanto arrumava a calcinha no meu quadril.
Depois disso hidratei o meu corpo inteiro antes de finalmente colocar o
vestido.
Ele tinha as mangas caídas nos ombros, no estilo ombro-a-ombro e seu
comprimento estava um pouco acima nas minhas pernas. Satisfeita com o
resultado, coloquei um colar das minhas joias e um par de brincos de
pérolas pequenas.
Na hora da maquiagem, hesitei quando peguei um batom.

“Você sabe que não precisa usar essas maquiagens, certo?


— Você não gosta?
— Eu prefiro você sem nada, de cara limpa. É bellíssima sem essas
coisas.”

Lembrar da carinha de sem graça que Mattia fez quando me pediu isso,
me faz pensar no quanto foi difícil para ele fazer e o quão importante isso é
para ele. Abandono o batom com uma dor no coração e pego o rímel para
dar um jeito nos meus cílios e aplico um pouquinho de blush, o suficiente
para que eu sinta que estou com alguma coisa.
Quando termino, calço uma sandália de salto preta com uma tirinha
envolvendo meus tornozelos e solto meus cabelos do coque que estava.
Coloco um pouco de perfume e encerro. Antes de sair do quarto, pego o
celular, tiro uma foto de corpo todo e enviou para Mattia, perguntando o
que ele achou.
Ele não havia me respondido o dia inteiro, mas entendo que ele é um
homem ocupado, então apenas deixo para quando ele puder falar comigo.
Encontro Pedro na sala um minuto depois, falando ao telefone com sua
típica cara séria. Ele está lindo — como sempre —, com uma camisa branca
com seus primeiros botões abertos, facilitando a visão de seu peito
musculoso para qualquer pessoa que quiser olhar, e um terno preto por
cima.
Ao se virar, seus olhos se chocaram com os meus e estreitaram quando
desceram pelo meu corpo, analisando minha roupa. Algo gelado rodopiou
dentro de mim, como um calafrio.
Eu tinha apenas o celular na mão, então o segurei com as duas mãos e o
apertei, para tentar me livrar dessa sensação estranha. Respiro fundo
quando ele desliga o telefone e abro os braços, sorrindo.
— O que você acha? — pergunto, um pouco nervosa pelo que ele possa
dizer.
Com as mãos na cintura e a expressão séria, ele assentiu positivamente
com a cabeça, parecendo mesmo impressionado.
— Você gosta? — Ele devolveu a pergunta.
Surpresa, eu dou uma olhada no espelho da sala e meu sorriso aumenta
com o que vejo.
— Sì. Eu amei esse vestido desde que coloquei meus olhos nele mais
cedo. Acho que caiu bem no meu corpo.
Pedro meneou a cabeça, finalmente abrindo um sorriso quando disse:
— Então eu gostei também. Você está linda. — Ele aperta para chamar o
elevador e me olha: — Vamos lá?

•••

O restaurante que Pedro escolheu fica no topo de um prédio moderno na


Lincoln Road e tem uma vista do mar de tirar o fôlego. Logo na entrada, há
um amplo lounge, com um jardim vertical, o teto é retrátil, deixando as
mesas ao ar livre.
Nos sentamos em um canto, ótimo para apreciar melhor a vista. O vento
batia em meu rosto, gelado, gostoso. Eu sorri, retirando o cabelo que ele
jogou para frente dos meus olhos.
— È bellissimo. — elogiei. — Você frequenta muito aqui?
— Não muito. — ele responde. — Eu só costumo ir à restaurantes
quando é para negócios ou quando é algo de família. Fora isso, prefiro fazer
minhas refeições em particular.
Isso despertou minha curiosidade. Apoiei meu cotovelo na mesa e meu
queixo na mão.
— Nem com uma mulher? Sei lá... a Margot, já que vocês são tão
próximos.
— Não. — Ele balançou a cabeça negativamente. — Nem com uma
mulher.
— Então eu sou sua primeira?
Ele alçou uma sobrancelha quando tirou os olhos do cardápio para me
olhar.
— Isso, Giulia. — disse, limpando a garganta em seguida. — Você é a
primeira mulher que levo para jantar. — Franziu o cenho, encabulado com
o que acabou de dizer, o que me fez sorrir.
Com um sorrisinho discreto, voltei minha atenção para o cardápio.

Quando nossa comida chegou, fiquei com água na boca. Optamos por
frutos do mar. Havia lagostas, ostras, peixe fresco e alguns molhos par
acompanhar. Pedro também pediu um vinho maravilhoso. Na hora de servir,
ele colocou um pouco na minha taça, mas seu olhar era de aviso quando eu
tomei um pequeno gole.
— Eu sei que você costuma beber vinho. — ele começa a dizer enquanto
serve sua própria taça, a voz baixa, rouca e serena. — Ficou claro no nosso
último almoço, mas pegue leve. Aqui nos Estados Unidos há restrições
sobre pessoas com menos de 21 ingerir bebidas alcoólicas.
— Na Itália não tem isso. Aos dezesseis, você já está liberado para
comprar bebidas.
— É, mas são culturas diferentes.
Anuí, concordando.
— Va bene. Vou ter cuidado.
Eu como um pedaço da lagosta depois de afogar em um molho delicioso,
e fica impossível não gemer ao provar. Eu já tinha comido muitas lagostas,
mas nenhuma supera essa. A carne era tão branquinha e derretia na boca,
fazendo-me derreter junto.
Enquanto mastigo, dou uma olhada na vista. Era perfeita. O barulho
calmante do mar, as luzes da cidade, o vento gostoso.
— Ali é o bairro South Beach Art Deco District. — Pedro explica,
apontando para as luzes.
Meu queixo caiu.
— Gianni Versace morava ali, sabia?
Ele me olhou como se eu estivesse falando uma língua diferente.
— Quem é Gianni Versace?
Levei uma mão ao peito, fingindo indignação com sua pergunta.
— Ele é um estilista italiano. — respondi para ele, explicando. — Fui
para alguns desfiles dele com minha mãe. As roupas são perfetta.
— Sinto muito, eu não sei muito dessas coisas. — Ele me pareceu
realmente sincero, não havia deboche em sua voz.
Eu entendia ele não saber disso. Provavelmente, ele não segue essa coisa
toda de moda, além do seu amigo Ryle Fontaine, claro. Essa é o tipo de
coisa que Mattia saberia, não Pedro Rodrigues.
— Foi o que imaginei. — Eu sorri para ele. — Non preoccuparti, sei que
você é muito ocupado. — Encolho os ombros. — Tiro pelo babbo, que não
para em momento algum. Está sempre para lá e para cá e nunca foca em
nada além do trabalho, trabalho e mais trabalho... Eu entendo! Se para ele é
difícil que só cuida de um hotel, para você deve ser mil vezes mais difícil,
já que cuida de todos os outros.
Ele anuiu.
— É verdade.
Comi outro pedaço de lagosta e sorvi um pouco de vinho da minha taça
para ajudar a engolir.
— Para onde você foi hoje? — perguntei. Não era apenas curiosidade, eu
só queria puxar conversa. Sempre achei interessando duas pessoas
conversando sobre o dia delas e tudo o mais.
— Tive uma reunião em Los Angeles. — respondeu ele, após engolir
uma ostra e lambeu os lábios.
Como algo hipnotizante, meus olhos focaram em sua boca e foi esquisito
a forma que aquilo foi sexy. O homem chamava atenção mesmo quando ele
não estava fazendo nada de mais.
Limpei a garganta, aprumando meus ombros para tentar disfarçar a
minha inquietação no momento.
— Ãhn..., mas o Rafael não foi para lá ontem?
Ele fez que sim com a cabeça, depositando sua taça de volta em seu lugar
na mesa.
—Rafael é responsável por toda parte financeira do negócio, enquanto eu
tenho a administração e toda a parte mais pesada. — ele esclarece. —
Estamos com um projeto de um hotel em French Rivera e a Lazzari
Engenharia & Arquitetura vai ficar responsável pela construção, como
sempre. Rafael foi ontem cuidar dos acertos de custos com Enzo Lazzari, e
minha reunião hoje foi com a arquiteta e o engenheiro responsável, mas,
infelizmente, eles não puderam vir, por conta de um imprevisto familiar,
então eu fui até lá.
— Ah. — Eu estava realmente pasma por ele ter me explicado tudo isso.
— Grazie por ter me falado tudo isso, Pedro. Babbo nunca fala sobre
trabalho quando está perto de nós, mulheres.
Ele mexe a cabeça, o cenho levemente franzido.
— Eu não vejo problema nenhum em falar sobre isso perto de mulheres.
— disse. Ele acenou para mim, de repente, mudando de assunto: — Vi que
estava lendo o livro que falei.
Ma che bellezza!
Meu rosto começou a queimar, mas eu não abaixei a cabeça. Ele não era
meu pai para me repreender, certo?
— Sì. — Suspirei um sorriso. — Já estou quase no final. Passei o resto
do dia lendo e posso dizer que é uma leitura... — Eu tentei encontrar uma
palavra que se encaixasse, mas Pedro foi mais rápido:
— Quente?
Levantei os olhos para os seus, me arrependendo logo em seguida com a
intensidade que irradiada das suas íris escuras. Todo meu corpo se arrepiou
e eu me encolhi.
— Está com frio? — perguntou, preocupado, já se apressando para tirar o
terno. Ele se levantou, deu a volta na mesa e cobriu meus ombros, em
seguida, voltou para seu lugar.
— Grazie. — disse com sinceridade.
— Não por isso. — Ele olhou para meu rosto e, por um segundo, eu
percebi que sua fisionomia estava relaxada e não dura, séria.
Limpei a garganta novamente, tomando mais um pouco do meu vinho
para esquentar por dentro.
— O que eu iria dizer era diferente, não quente, apesar de que, realmente,
é muito quente. Você já leu?
Ele negou.
— Não gosto de ler livros assim.
Revirei os olhos de brincadeira.
— Ah, esqueci que você lê Einsten. — Zoei. — Além disso, o que você
gosta de ler?
— Eu gosto muito de livros que ajudam você a aprender novas coisas
sobre o mundo e sobre você mesmo, porém — Ele meneou a cabeça
devagar, ponderando um pouco. — Também gosto dos livros de Oscar
Wilde, George Orwell, Stieg Larsson, Machado de Assis...
Franzi o cenho.
— Nunca ouvi falar de Machado de Assis.
— É um grande autor brasileiro. Você iria gostar de ler um livro dele.
— Então, quero ler um dia. — Afirmei, sorrindo. — Mas, nunca leu
livros assim, de romance?
— William Shakespeare, serve?
Bati a palma da mão contra a testa.
— Per favore, não me diga que seu livro favorito é Hamlet!
Ele sorri sem mostrar os dentes e se encosta na cadeira de forma
relaxada.
— Apesar de ser um livro muito bom, meu favorito é A Tempestade.
Mais uma vez, apoiei o cotovelo na mesa e o queixo na mão, olhando-o
com interesse.
— Por quê?
— Porque se trata de perdão e arrependimento. O perdão é um valor
cristão que Shakespeare também elogia em sua vida, e eu também.
Alcei uma sobrancelha.
— Você é cristão?
Ele assente, engolindo mais uma ostra.
— Claro.
— Isso é interessante. — falei, os cantos da minha boca se curvando para
baixo.
Ele pisca um olho para mim, um sorrisinho ladino.
— Eu sou um homem interessante, Giulia.
Sorri.
— Giusto, giusto!
— E o que você achou do livro? — ele questionou.
Bebi mais um pouco de vinho.
— Humm..., como falei, é um pouco diferente de tudo que já li. Sempre
gostei de livros cheio de romances, mas esse livro foi mais intenso, sabe?
— Meu rosto queimou ainda mais. — A história é intrigante.
O sorrisinho que ele me deu foi como se dissesse “Intrigante? Sei.” de
forma maliciosa.
Nós conversamos sobre várias outras coisas durante o jantar e na volta
para casa também. Quando entramos na suíte do hotel, meu corpo parecia
que tinha carregado uma tonelada de pedras. Fui logo me livrando das
sandálias enquanto ele desfazia os botões de seus pulsos. Retirei seu terno e
o devolvi.
— Grazie por isso. Foi muita gentileza sua.
— Não me agradeça por isso. — ele descartou com um gesto de cabeça.
— É o mínimo que eu poderia fazer.
Franzo as sobrancelhas.
— Mínimo?
Ele sacode a cabeça.
— Deixa pra lá.
Torci o nariz, mas anuí. Ele parecia cansado, principalmente porque já
viajou hoje, então não iria tomar mais do seu tempo.
— Va bene. Você não vai encontrar com a Margot hoje?
— Não. — Ele respondeu simplesmente, como se estivesse conversando
sobre algo muito simples. — Nós não nos vemos todos os dias, Giulia.
— Ah. — Comecei a caminhar até o meu quarto e antes de entrar, eu me
virei e falei: — Buona Notte, Pedro. Grazie pelo jantar.
Ele assentiu, com um sorrisinho.
— Boa noite.

No momento em que larguei minhas sandálias em um canto, meu celular


apitou com uma mensagem. Ao ver o nome de Mattia, automaticamente um
sorriso se abriu em meu rosto e as borboletas se agitaram dentro de mim.
Eu me esparramei na cama e deslizei a tela do celular para abrir em sua
mensagem.

Mattia: È bellissima, amore mio. Mas, não acha que está muito curto?
Não gosto da ideia de outros caras olhando para suas pernas.
A mensagem foi como um banho de água gelada, desfazendo meu sorriso
e murchando as borboletas. Sentei-me na cama, sentindo-me envergonhada
de repente.

Giulia: Ninguém ficou olhando para minhas pernas, amore mio. Giuro
di no.

Mattia: Mas é muito curto, eu não gosto. Eu ficarei mais tranquilo se


você não usar roupas assim, passione. Isso me preocupa muito.

Giulia: Tutto bene, caro mio. Não quero que se preocupe.

Mattia: Sabe que ti amo, não é?

Giulia: Eu também ti amo.

Mattia: Nos vemos amanhã, passione. Buona Notte.

Abandonei o telefone ao meu lado no colchão e me levantei para me


olhar no espelho do quarto. Eu sempre tinha usado vestidos, saias e shorts
desse tamanho e nunca tinha sido um problema. Pensar que está fazendo
mal para Mattia, me deixa desconfortável, mas é preocupação e eu entendo.
Muito envergonhada, eu deslizo o zíper do vestido, abrindo-o e o retiro
do meu corpo, depois vou para um banho me sentindo muito constrangida,
com um nó no interior da minha garganta.

No dia seguinte, tudo melhorou quando recebi uma mensagem dele,


convidando-me para seu hotel. Foi a melhor escolha da minha vida. Eu
era completamente dele agora. Mas a parte mais difícil foi encarar Pedro
nos olhos. Eu me senti errada, apesar de ter seguido meus sentimentos.
Ao levantar na manhã seguinte, fiz minha higiene matinal e vesti uma calça
jeans simples e uma blusa de mangas comportadas. Como sempre, não
calcei sapatos, já que iria ficar no hotel. Deixei meus cabelos soltos e fui
encontrar Pedro no terraço para o café da manhã.
Sentei-me de frente a ele, que já estava entretido em sua leitura, mas
levantou os olhos para me olhar.
— Bom dia. — Cumprimentou.
— Buongiorno, Pedro.
Sereno, observou-me.
— Dormiu bem?
— Não muito. — respondi enquanto enxia minha xícara de café. —
Grazie por perguntar.
A minha resposta fez com que ele arrumasse seu tornozelo sobre a outra
perna e aprumar o corpo, em estado de alerta.
— Aconteceu alguma coisa?
Sacudi a cabeça, sentindo-me envergonhada por tudo.
Por ontem.
Pela minha roupa curta.
Por ter deixado Mattia chateado.
— Apenas tive um pesadelo. Passei a maior parte da noite acordada, pois
não consegui voltar a dormir rápido. — menti, incapaz de falar para ele o
que realmente aconteceu.
— Por que não me chamou?
Olhei nos seus olhos e vi a sinceridade neles. Inclinei levemente minha
cabeça.
— Não queria te causar problemas durante a madrugada. — eu disse. —
Você acorda muito cedo e é ocupado durante todo o dia. Não seria giusto
que eu te privasse do descanso.
— Estamos vivendo juntos por enquanto, Giulia. Se você está sentindo
alguma coisa, tem todo o direito de me avisar quando quiser. Não importa a
hora, não importa o lugar que eu esteja. Só me ligue, grite por mim. Estou
aqui para ajudar você no que for.
Suas palavras encheram meu peito de carinho, conforto e espanto.
Ninguém nunca me falou essas coisas. Nem mesmo meus pais.
Com a xícara em mãos, a parei no meio do caminho para minha boca e
abri um sorriso tímido para ele.
— Grazie. — Falei, mesmo sabendo que a vergonha não me deixaria
falar. — De verdade.
Ele fez um gesto com a cabeça, que me mostrava que estava tudo bem.
Bebeu um gole de seu café antes de falar novamente:
— Estou indo ao clube agora de manhã. Se quiser ir comigo...
— Eu vou. — Eu me apressei a responder. Não queria ficar dentro dessa
suíte, me sentindo mal pelos erros que cometi.
— Certo. — Ele sorriu e voltou para sua leitura.

•••

Eu troquei apenas minha blusa por uma de alça fina e quadrada, coloquei
uma sandália de salto não muito alto e peguei um óculos estilo olho de gato
com aros vermelhos. Encontrei com Pedro já perto do elevador.

O carro de hoje é um Lamborghini Veneno todo preto, completamente a


cara de Pedro. Ele piscou um olho para mim antes de se inclinar e entrar no
carro do lado do motorista. Depois que me acomodei ao seu lado, ele
apertou algum botão e as portas desceram, se fechando com um click quase
surdo. Colocou os óculos escuro e deu partida.
Quando chegamos no Clube, fomos direto para a mesma área da outra
vez e um homem alto e muito bonito se levantou para cumprimenta-lo.
Nesse lugar só tem homem bonito ou é impressão minha?
O cara era muito lindo de verdade, do mesmo tamanho que Pedro, o
cabelo era de um loiro queimado e os olhos de uma cor de mel, mais claros
que os meus, quase chegando em um tom verde. Sorriu, estendendo a mão
para que Pedro pudesse apertar, e eu vi as covinhas em suas bochechas.
— Quanto tempo, César. — disse meu acompanhante, depois que eles
fizeram aquela coisa que os homens fazem de abraçar dando tapinhas nas
costas. Apontou para mim: — Essa é Giulia Russo.
Ele se voltou para mim, apertando minha mão com gentileza e educação.
— Muito prazer, Giulia. Sou César Bartoli, um amigo antigo de Pedro.
Acenei com a cabeça, devolvendo o gesto educado.
— O prazer é todo meu. — disse, sentindo o olhar de Pedro queimando
meu perfil.
Nos sentamos: eu com as mãos sobre as pernas e ombros esticados,
Pedro com seu tornozelo jogado sobre o outro joelho e César bem relaxado
na cadeira.
— Pois é, cara. — ele começou, sorrindo para Pedro. — Os últimos
meses está uma correria enorme lá em Chicago, por isso demorei tanto para
voltar à Miami.
— Eu imagino. — Pedro assentiu. — Kaan não veio?
— Precisou ir à Turquia, resolver um problema de família.
Uma garçonete se aproximou e serviu copos de água para nós três. Com
uma expressão profissional, perguntou:
— Querem beber outra coisa, senhores?
— Um café, por favor. — César pediu.
— Ficarei com a água, obrigado. — Pedro disse.
— Chá. — falei. — Qualquer chá que acalme, per favore.
O homem ao meu lado me olhou com preocupação.
— Você está nervosa? Tem algum problema?
— No, Pedro. — Sacudi a cabeça, tentando dar um sorrisinho confiante.
— Estou bem, apenas quero tomar um chá. Não se preocupe.
— Tem certeza?
— Sì. — Anuí com firmeza. — Vou dar uma volta. Com licença. — Eu
fui logo me levantando e saí andando pelo clube, dando a eles espaço para
conversar sobre o que quer que seja que precisavam.
Fui para mesma área de piscina de antes, só que agora muitas pessoas
estavam ao redor e dentro da piscina também. Sentei-me em uma das mesas
com guarda-sol e fiquei observando essas tantas pessoas diferentes.
Elas eram, obviamente, muito ricas. Elas sorriam, conversavam, exibiam
seus corpos com roupas de banho — biquínis pequenos e shorts curtos.
Vivam sua vida e não estavam preocupadas com nada.
Já estava hipnotizada pelas pessoas sendo felizes sob o sol quente
quando meu celular começou a tocar. Meu corpo encolheu ao ver o nome de
Mattia na tela. Engoli em seco e atendi:
— Ciao.
— Ciao, amore mio. Aonde você está?
— No Caliste Club. Você?
— O que você está fazendo aí? — Sua voz se tornou grave, desconfiada.
Meu coração acelerou de uma forma estranha.
— O Pedro me convidou, e eu não queria ficar sozinha no hotel.
— Eu falei para você que nos veríamos hoje! — Ele lembrou de forma
rude.
Franzi o cenho, perdida, sem entender o motivo de ele estar tão bravo
comigo.
— Scusi, eu não... — Meu peito começou a doer de novo. — Eu não
sabia a hora. Esses dias você só falou comigo de noite, então eu não sabia
que nos veríamos cedo hoje. Se soubesse, teria ficado.
Escutei sua respiração e seu suspiro. Após um momento em silêncio, ele
voltou a falar, mas sua voz já estava mais doce, suave, como sempre:
— Scusi, passione! — lamentou. — Não tem problemas. Vou remarcar a
reunião que eu tinha para mais tarde e nós poderemos nos ver.
— Tem certeza? Entenderei se não puder ver você hoje.
— Sì, sì. Não se preocupe com isso. Nos veremos mais tarde, amore mio.
Ti amo, mia principessa. Estou ansioso para ficar sozinho com você outra
vez.
— Ti amo. Eu também estou ansiosa com isso. — Desliguei o celular e
respirei com mais facilidade.
Tudo ia melhorar. Sabia disso.

•••

Quando a noite caiu, Pedro precisou ir à um jantar de negócios junto com


Rafael e seu amigo, César. Ele perguntou se eu queria ir, mas neguei,
alegando não gostar de conversas de negócios.
Não era uma mentira completa. Eu nunca ficava no meio dessas
conversas porque meu pai não permitia, mas eu também não estava afim de
escutar eles falando sobre construções de hotéis, números e empresas.
E tinha Mattia. Ele remarcou uma reunião só para me ver hoje. Depois de
colocar um vestido comportado, que eu costumava usar em Verona para
jantar, arrumei meus cabelos e calcei uma sandália Fontaine. Eu me
perfumei e me certifiquei que estava impecável antes de sair com meu
celular.
Em Verona, eu costumava sair escondido, quando todos estavam
dormindo e era uma aventura perigosa que eu gostava de viver. Mas hoje,
tudo estava diferente. Um calafrio estava percorrendo minha espinha, para
cima e para baixo, assim como em meu estômago quando atravessei o lobby
luxuoso do hotel. Eu me sentia errada, culpada, mas não podia parar.
Saí do hotel e entrei no do lado, encontrando Mattia perto do elevador.
Ele estava checando seu relógio de pulso e parecia tão lindo quanto da
última vez. Sua expressão suavizou quando me aproximei e seus braços me
envolveram em um abraço aconchegante antes de seus lábios beijarem os
meus, fazendo-me esquecer de toda a tensão que estava sentindo desde
ontem.
— Você está bellíssima, principessa.
— Grazie, amore mio.
Ele pegou minha mão com carinho e apertou o botão para chamar o
elevador.
— Vamos para minha suíte. Pedi para servirem o jantar lá em cima, só
para nós dois.
Sorri, anuindo, a ansiedade tomando conta do meu corpo.
Na suíte, o cheiro de comida italiana era forte. Fiquei animada e agradeci
quando ele puxou a cadeira para que eu sentasse, em seguida, se sentou na
minha frente.
— Sei que risotto é sua comida favorita, então, mandei que fizessem um
especial para você. — disse ele, pegando uma garrafa de vinho para nos
servir.
Seu sorriso era encantador, seu rosto era perfeito como de um príncipe. E
ele foi um durante todo o jantar, falando comigo, conversando sobre nossa
tão sonhada viagem para San Blás, no Panamá.
Na verdade, minha viagem dos sonhos, que ele prometeu me levar um
dia, quando ninguém pudesse nos separar.
Ao término do jantar, nos levantamos. Uma música doce soava nos altos
falantes do quarto, tornando o clima mais calmo, leve. Mattia me pegou
pela mão de novo e me levou pela suíte até a cama, onde nos sentou na
beira dela.
A suíte de Mattia era elegante, mas não chegava aos pés da suíte do hotel
de Pedro, que parecia mais um apartamento do que um quarto de hotel. Mas
era aconchegante e aparentemente, quase tão cara quanto.
Com nossas mãos entrelaçadas, meu namorado tocou meu rosto com a
mão livre, cheio de carinho. Ele olhou meu rosto com uma ternura que me
fez derreter.
— Sabe que ti amo de verdade, não é, mia vita? — perguntou, e eu
assenti, hipnotizada pelos seus incríveis olhos azuis. Então ele sorriu,
satisfeito com minha resposta muda, e me beijou.
Como todas as outras vezes, seu beijo me causou coisas estranhas. Ele
era tão gentil, que me fazia acreditar que podia facilmente estar nas nuvens,
flutuando. Seu toque em meu rosto era terno, seus lábios macios contra os
meus. Eu o beijei de volta, mostrando para ele que o amava tanto quanto me
amava, que acreditava nele.
Com um movimento tranquilo, ele me deitou na cama e passou a perna
por mim, pairando sobre mim, tomando cuidado para não ficar pesado. Seus
olhos encontraram os meus enquanto seu dedo polegar fazia carinho em
meu rosto e meus cabelos.
— Eu sou louco por você, Giulia. — confessou. — Desde a primeira vez
que vi você, sabe disso.
Tentei me concentrar em minha respiração, mas estava difícil. Eu só
queria que ele me beijasse mais.
— Eu também ti amo tantissimo.
— Então seja minha. — Ele pediu, cheio de brandura. — Seja minha
para sempre, mia bella principessa.
Agora, meu coração queria sair pela boca de tão rápido que batia. Eu
fantasiei esse momento desde que o conheci. Sabia que ele seria um
cavalheiro, mas não imaginava que fosse mexer com meu corpo dessa
maneira tão delicada, suave e, ao mesmo tempo tão acentuada.
Completamente entregue, eu anuí para ele, dando permissão.
— Eu quero ser sua para sempre, mio príncipe.
E tudo aconteceu como uma avalanche de emoções e sentimentos.
Dor.
Costume.
Prazer.
Mattia me guiou bem, parou quando pedi e me beijou durante todo o
processo. Ele foi gentil e amoroso.
Quando terminamos, ele se levantou para ir ao banheiro descartar a
camisinha e eu fiquei deitada, olhando para o teto. Eu não conseguia
explicar o que estava sentindo naquele momento. Era uma mistura de
sentimentos conflitantes. Mas sabia que estava tudo bem. Era tudo que eu
queria desde o começo: ser dele. Mostrar para o meu pai que ele não tinha
como evitar mais isso.
Que eu estava livre.
A cama afundou do meu lado e Mattia me puxou para seus braços,
beijando minha boca com ternura.
— Você é muito linda, passione.
Sorri, afastando meus pensamentos ruins.
— Você é ainda mais, amore mio.
— Eu gosto do seu corpo. É lindo, incrível. — disse ele em italiano,
passando a mão em minha curva nua. — Mas acho que você deveria
emagrecer mais o pouco. Não se ofenda, minha linda, eu amo você, mas
acredito que está relaxando um pouco com os cuidados com seu corpo.
Eu me encolhi um pouco, de repente querendo me cobrir com urgência.
Procurei o lençol da cama e o puxei, não deixando nada amostra.
— Prometo que voltarei a me cuidar, amor. — Devolvi, ainda em
italiano.
— Tudo bem, querida. Obrigado.
“A paciência é uma virtude”
Essa frase é uma das muitas que meu irmão costuma me falar quando eu
saio do sério. É bonita, inteligente e segui-la, com certeza, me faria uma
pessoa melhor.
Mas o grande problema da questão é: se alguém me olha de lado, já
tenho vontade de mandar pegar os olhos e socar no cu.
“Foda-se a porra do mundo inteiro.”
Essa é a minha frase favorita.
Eu sou do tipo de pessoa que não tem paciência para absolutamente
nada, mas também não sou difícil de lidar. Gosto de ser amigo, de sair, de
ter pessoas ao meu redor. Mas há uma coisa que me deixa muito além de
puto:
Cu doce.
Quer ficar comigo? Beleza, a gente fica.
Quer namorar? Estamos aqui para isso.
Quer só transar e seguir em frente no dia seguinte? Eu topo, sem
problemas.
Porém, em nome de tudo que é mais sagrado nesse mundo, não pense
que vai conseguir alguma coisa de mim fazendo a porra do cu doce.
A minha falta de paciência vai fazer com que qualquer sentimento que eu
tenha morra na mesma hora.
Eu gosto de coisas diretas. Sem arrodeio, sem complicações. Sou chato
demais para correr atrás de pessoas que se fazem de difícil.
E foi exatamente isso que aconteceu entre Sasha e eu.
Ela é linda pra caralho, muito gostosa e sabe agradar no sexo, mas seu
problema é que parece que carrega 50 kilos de açúcar no cu.
Cruzei os braços, observando-a se mover de um lado para o outro,
batendo na bolinha de tênis de forma suave. Os longos cabelos vermelhos
estavam presos no topo de sua cabeça, em um rabo de cavalo bem apertado,
como sempre. Mesmo de longe, consigo admirar suas pernas bonitas, graças
a saia curva de seu uniforme.
Quando o jogo encerrou, ela sorriu para sua adversária, cumprimento-a e
veio em minha direção. Seus olhos azuis me analisavam com cuidado, do
jeito sórdido que ela costuma olhar para as pessoas, como se fossem menos
que ela.
— Já te disse o quanto você fica maravilhoso de óculos escuros e essa
cara séria? — questionou, deixando sua raquete sobre a mesa ao lado. Ela
abre um sorriso bonito, como se nada tivesse acontecido.
— O que você queria, que era tão importante me ver pessoalmente? — A
pouca paciência que me restava hoje estava por um fio mais fino que os das
linhas de costuras.
Ela faz um beicinho. Se era para fazer efeito em mim, nesse momento só
serviu para me deixar mais estressado.
— Desde ontem não falou mais comigo. Não me mandou mensagem, ou
ligou. — Ela se aproxima, passando as mãos nos meus braços, que
continuavam cruzados. — Soube que ontem você foi na Red’s...
Soltei uma risada incrédula.
— Está de brincadeira com minha cara, certo? — perguntei, dobrando
um pouco os joelhos para encarar seus olhos. — Você me manda a porra de
uma mensagem, dizendo que não quer mais ficar comigo, e agora vem
lamentar que eu não falei mais com você? Eu tenho cara de palhaço ou algo
do tipo?
Seu nariz se empina e os olhos estreitam para mim.
— Quem é aquela tal de Giulia que falou comigo ontem pelo seu celular,
Rafael?
— O que caralho te interessa isso?
— Se você estava comigo, então por que saiu com outra mulher? — Ela
cruza os braços, batendo o pé com a birra.
Levanto as mãos, exasperado, e as deixo cair contra minhas pernas em
um baque pesado.
— Bem, você falou uma coisa certa: eu estava com você, não estou mais,
o que significa que não tenho que te dar satisfação da minha vida mais.
Você entende isso ou quer que eu desenhe?
— Você sabe que não terminei com você de verdade. Eu estava com
raiva porque vieram me dizer que você saiu com Nico Lazzari quando foi
para LA! — Ela estava ficando vermelha e seu pé não parava de bater. —
Dois homens galinhas saindo juntos não presta! Mas pensei que você me
procuraria para acertarmos as coisas, não que você fosse superar assim, tão
rápido.
Sorri, sem saber que estava mesmo escutando isso. Eu nunca ouvi tanto
absurdo junto, falado por uma só pessoa.
— Eu estava namorando uma criança mimada? — questionei. — Eu fui
almoçar com um amigo, Sasha, coisa que você saberia se tivesse me
perguntado. Achar que terminar comigo por mensagem me faria correr atrás
de você, foi a pior ideia que você já teve. É sinal que não me conhece.
— Mas... — Ela foi interrompida por uma voz feminina familiar para
mim.
— Rafa?
Nós dois olhando na direção da voz.
Sasha fechou a cara, olhando a mulher na sua frente da cabeça aos pés
com desgosto.
Eu fiquei boquiaberto, sem acreditar no que estava vendo.
Sorrindo, Athena abriu os braços enquanto caminhava até mim e me
envolveu em um abraço apertado. Abracei de volta, ainda muito surpreso.
Fazia um tempão que não a via, já que ela tinha se mudado para Paris há
cinco anos. E, caralho, o tempo foi muito generoso para ela. Claro, já era
linda antes, mas seu corpo estava mais volumoso, atraente. Seu sorriso me
encantou totalmente. Eu não estava diante da Athena adolescente, que
revirava os olhos e fazia careta para tudo o que o irmão dizia; eu estava
diante de uma mulher adulta, com um corpo magnifico e mudada.
Os cabelos loiros queimados estavam soltos e molhados, assim como
todo o resto dela. Seu biquíni preto era minúsculo, o que só realçava suas
curvas latinas. Meus olhos caíram para seus peitos, que chamavam a
atenção de qualquer ser humano no planeta terra, desceram pela barriga
chapada, e pararam na pequena coruja que ela tinha tatuada em seu quadril
direito.
— Athena!? — Eu exclamei, realmente chocado. — Eu não sabia que
estava no país!
— Pois é. — Ela sorriu. — Cheguei de surpresa e já peguei o César a
caminho do aeroporto, então resolvi voar com ele para cá. — Sem nenhuma
vergonha, ela me olhou todo, prendendo o canto do lábio inferior entre os
dentes. — Uau. — assobiou, sacudindo a cabeça. — Você está ainda mais
gato, Rafael Rodrigues!
Eu ri, retirando meus óculos, ignorando completamente a cara feia de
Sasha.
— Olha quem fala. — Apontei para seu corpo. — Você está bem
crescida, Athena Bartoli. A França fez bem para você.
— Com licença? — Sasha estalou os dedos, chamando nossa atenção. —
Eu estou aqui, Rafael, e estava falando com você! — Ela olhou de soslaio
para Athena. — Minha querida, que tal voltar para onde você estava?
Athena franziu as sobrancelhas, fingindo ponderar. Se ela ainda tinha a
mesma personalidade de antes, não faria o que Sasha pediu; muito pelo
contrário.
— Ãhn..., não, obrigada.
A ruiva ficou vermelha de raiva.
— Você sabe com quem está falando? Sou Sasha Wesley...
E lá vamos nós de novo!
Revirei os olhos, bufando, minhas mãos indo para dentro dos meus
bolsos. Eu poderia me meter e pedir para ela parar com o show porque,
apesar do seu nome, ela não era filha de Xuxa, mas se a personalidade de
Athena ainda era a mesma de antes, ela saberia se defender sozinha.
Minha velha conhecida deu uma boa olhada na ruiva, que era uns dez
centímetros mais baixa que ela e abriu um sorriso fingido.
— Se dizer seu nome foi uma tentativa de me deixar amedrontada, não
deu certo. — ela disse, com uma paciência que eu sabia que não existia. —
Não faço ideia de quem você é, mas prazer, meu anjo, sou Athena Bartoli.
Sasha torceu o nariz e deu um passo para trás. É obvio que ela sabia o
que aquele nome significava. Os Wesley’s são muito ricos e poderosos no
mundo da moda, mas ela sabia que precisava de muito mais para chegar
perto de César Bartoli. Pegando suas coisas sobre a mesa, ela fez uma
careta para Athena e me olhou com cara feia ao avisar:
— Nos falamos depois, Rafael. Agora preciso tomar um banho e
encontrar meu pai. — E saiu, pisando duro, com muita raiva.
— Acho que sobrenome do meu irmão ainda causa temor por aqui... —
Athena comentou, enquanto assistia a mulher indo embora. Ela tinha um
sorrisinho no canto da boca.
Eu sorri junto.
— Ninguém é doido de bater de frente com seu irmão.
— Ah, qual é. — Ela bateu em meu ombro de brincadeira. — Você e o
Pedro, por exemplo.
Dei de ombros, fingindo modéstia.
— Talvez nós.
— Titus, Ryle, Madison...
— É, tem eles também.
— Os gostosos dos Lazzari...
Soltei uma risada.
— Tudo bem, já entendi. Conseguimos encostar no seu irmão. Mas os
Wesley’s nem tanto.
Ela bufou.
— Eles procuraram César para conseguir um investimento há alguns
meses, mas nem meu irmão, nem o Kaan concordou. Dizem as más línguas
que os negócios deles não são tão legais quanto as pessoas pensam. A B&B
não quis se envolver. Eles estão desesperados por investimentos para não
perder as coisas. Aparentemente, gastam mais do que têm. Como pagar 25
mil dólares todos os meses para a princesinha jogar tênis no Clube, por
exemplo.
— Você entende que está falando sobre gastos desnecessário com o
Clube, mas estava tomando banho de piscina nele pelo mesmo valor, certo?
— Na verdade — ela riu, com um jeito malicioso. — Quem está pagando
é meu irmão e para ele são 50 mil dólares porque somos dois. — Ela piscou
um olho para mim, dando de ombros. — A diferença é que César pode, eles
não.
Sorri.
— Então, significa que você conhece a Sasha.
A forma que ela sorriu para mim foi de uma pessoa que foi pega no
flagra.
— Conheço, mas nunca que iria entregar isso de bandeja para aquele
cabelo de fogo. — Nós rimos juntos, em seguida, ela bateu de novo no meu
ombro, chamando minha atenção. — Está ocupado essa tarde?
— Não. Por quê?
— César tem compromisso agora e de noite terá um jantar de negócios...
— Eu sei, estarei lá.
— Então — ela anuiu. —, estou doida para visitar um museu chamado
The Bass. Você pode vir comigo?
Analisei seu rosto redondo, os lábios cheios curvados em um sorriso, os
olhos esverdeados. Eu conhecia muitas mulheres lindas e já estive com
várias delas, mas, de alguma forma, Athena chamou minha atenção para
ela. Era estranho, já que a conheci ainda adolescente, mas era uma das
coisas que não tem como evitar. Eu nunca negaria um passeio com ela, nem
que isso significasse ir na porra de um museu de artes.
— Tudo bem, vamos lá.
Ela sorriu radiante.
— Deixa só eu trocar de roupa, então.

•••

— Meu Deus, sua moto é muito irada! — Ela elogiou, energizada,


quando saiu de cima da minha Ducati Desmosedici, depois que estacionei.
Retirou o capacete, balançando seus cabelos para arruma-los. Seu sorriso
animado era gigante.
Desmontei, puxando meu capacete para fora da minha cabeça, e passei as
mãos pelos meus próprios cabelos.
— Você gosta de motos?
— Eu amo motos, amo adrenalina! — ela confessou. — Não posso ver
uma adrenalina, que já quero correr risco de vida.
Eu sorri, dando a volta na moto e entregando a chave e os capacetes para
um rapaz manobrista que se aproximou de nós, para poder entrar com ela
no Museu.
— E tem uma?
Bufou, revirando os olhos enquanto levava uma mecha de seu cabelo
para trás da orelha.
— Se César descobre que estou pilotando uma moto por aí, nem que seja
na menor velocidade possível, ele tem um infarto. De uma forma bem
literal.
— Mas, se você pilotar com cuidado, não tem problemas.
Ela me olha e sorri quando pisamos dentro do Museu.
— Apesar de amar tirar meu irmão do sério, não quero mexer com o
coração dele agora. O coitado já tem que aguentar a Blake como noiva, que
sozinha já tira toda a sanidade que ele tenta acumular.
Eu ri.
— Ah, mas a Blake é muito gente boa.
— Ela é, e eu a amo demais, porém, meu irmão tem um ataque a cada
segundo quando está perto dela. Se não é de ciúmes, é de raiva. — Ela coça
o queixo, sorrindo, enquanto algo parece passar na cabeça dela. — Nem
gosto de falar, porque já vem na minha cabeça como eles devem ser
furiosos na cama.
Torci o nariz.
— É bom não falar mesmo. — brinquei, e nós dois sorrimos. Eu dei uma
olhada ao redor. Era um lugar enorme e muito bonito. — Eu nunca tinha
vindo aqui.
— Eu estava ansiosa para visitar. — ela diz com exaltação na voz. —
Sabia que John Bass era judeu imigrante de Viena, Áustria?
Eu virei a cabeça para olha-la e a vi tão focada e impressionada com o
lugar, que me encantou.
— Não fazia ideia disso.
— Pois é. — ela assentiu. — O Sr. Bass colecionou belas artes e
artefatos culturais, incluindo uma coleção considerável de manuscritos que
agora vive nos Arquivos do Carnegie Hall. Ele e sua mulher, Johanna
Redlich, legou uma coleção de mais de 500 obras, incluindo pinturas,
tecidos e esculturas de Old Master para a cidade de Miami Beach, com o
acordo de que um Bass Museum of Art permaneceria aberto ao público para
sempre.
— Uau. — assobiei, impressionado. — Como sabe disso tudo?
Ela sorriu e seu sorriso era tão lindo, que iluminava todo o seu rosto.
Prendeu as mãos, uma na outra, em suas costas, e encolheu levemente os
olhos.
— Além de ser muito curiosa, posso dizer que sou amante de artes. Amo
as histórias magnificas que estão por trás de cada uma delas.
— Isso é bom. — falo, mesmo não entendendo nada de artes e museus,
tampouco suas histórias. — Ser curiosa nem sempre é uma coisa ruim.
Athena anuiu, um sorrisinho tímido repuxando seus lábios. Ela parou no
meio do salão em que estávamos, e eu parei junto. Então ela se virou,
ficando de frente para mim, o cenho franzido como se estivesse pensando
em alguma coisa que a incomodava.
— Sabe uma coisa que eu tenho muita curiosidade?
Sacudi a cabeça em negativa.
— Não. O que é?
Com um sorriso — agora muito malicioso —, ela vem mais para perto,
segura meu rosto entre as mãos, se impulsiona na ponta dos pés e encosta
sua boca na minha.
Apesar de ser pego de surpresa, eu reajo rápido, segurando sua cintura
fina com uma mão e sua nuca com a outra.
Ela puxa meu lábio inferior com os dentes, de um jeito tão sensual, que
envia um sinal lá para baixo, bem no meu pau. Como estávamos em um
local público, eu procuro me controlar e encontro o caminho para dentro de
sua boca com a minha língua, beijando-a de verdade.
Athena geme contra meus lábios. Os seus são macios e ela sabe beijar
muito bem. Ela me deixa guia-la em alguns momentos, mas logo se
recupera e toma o controle do beijo. Forte, doce e quente.
Eu daria a porra da minha conta bancária para estar dentro de um quarto
com essa mulher.
Não importa se a vi adolescente.
Não importa se conheço o irmão dela.
Seu beijo despertou meu lado animal, que idolatra sexo e a deseja como
se ela fosse a porra do Santo Graau nesse momento.
Quando termina, me dá um selinho e dá um passo para trás, sorrindo de
uma forma predatória.
— Tudo que eu imaginei. — Disse.
Alcei a sobrancelha, muito surpreso.
— Você imaginou?
— Você não faz ideia, bebê. — piscou um olho e saiu na frente para
olhar o resto do museu.

•••

Depois de uma tarde inteira com Athena no museu, marcamos de nos


encontrar mais tarde em uma boate noturna, então eu fui para casa, tomei
um banho e fui direto para o jantar e negócios com meu irmão e o irmão
dela. Quando o jantar se encerrou, Pedro ficou de ir tomar uma bebida com
César e me pediu para checar a principessa no hotel.
Como eu não estava nem um pouco estressado, depois do beijo de hoje,
eu fui sem reclamar. Nem mesmo Giulia conseguiria me tirar do sério. Nem
mesmo se ela viesse com aquele deboche típico dela.
Estacionei meu carro na frente do hotel e saí, dispensando o manobrista,
já que eu não iria demorar. Eu estava prestes a subir a escada quando algo
chamou minha atenção.
Saindo do hotel vizinho, estava Giulia de mãos dadas com Mattia Bianchi.
Sacudi a cabeça, tentando entender o que meus olhos estavam vendo de
verdade.
Sim, era o caralho do Mattia Fodido Bianchi.
Ele soltou sua mão e segurou seu rosto, beijando-a na boca.
Meu queixo caiu, mas eu apenas voltei alguns passos, empurrei minha
bunda contra a porta do meu carro e cruzei os braços, esperando-a me notar.
Pedro já tinha me dito que uma vez ela citou que tinha um namorado,
mas tenho certeza que ela não falou quem era, porque meu irmão conhece o
filho da puta tanto quanto eu conheço. Ele não ficaria tão calmo.
Observei enquanto eles se despediam e, não sabia se era impressão
minha ou era apenas porque conhecia bem o porrinha e sabia como ele
tratava as mulheres, mas notei como Giulia estava murcha em suas mãos,
como se quisesse chorar a qualquer momento.
Mattia voltou para o hotel, sem me notar ali, no meio de tantas pessoas
caminhando para todos os lados. Giulia se virou para voltar para nosso
hotel, cabisbaixa. Ela aperta as mãos no pequeno aparelho celular, dando
passos lentos. Já estava quase chegando nas escadas quando seus olhos me
pegaram ali. Surpresa, ela arregalou os olhos, ciente de que eu a tinha visto
com ele.
Bom. Muito bom.
Eu terminei minha bebida com um único gole após ler a mensagem que
Rafael me enviou, pedindo para que eu fosse ao hotel, imediatamente. O
líquido quente queimou seu caminho pela minha garganta, mas não me
importei. Não era um costume meu beber. Eu fazia sempre na companhia de
um amigo, de forma bem casual.
Colocando o copo de lado, levantei-me para me despedir do meu velho
amigo, César. Ele era uns dois centímetros mais alto que eu, o que o
obrigou a se inclinar um pouco para um abraço com direito a tapinhas nas
costas.
Sabendo que o problema seria algo relacionado a minha hóspede, eu pedi
Joel dirigir o mais rápido possível. Quando cheguei na suíte, Giulia estava
sentada no sofá, com os braços cruzados, um bico formado nos lábios e com
os olhos vermelhos de choro. Arrastei meus olhos para meu irmão, que
estava perto da porta do terraço, com as mãos enfiadas nos bolsos e uma
cara séria — na verdade, uma expressão furiosa.
— O que aconteceu? — questionei, meus olhos entre as duas pessoas
presentes na sala.
— Nada. — Giulia respondeu, sua voz chateada. — Só o teu fratello que,
aparentemente, é um fofoqueiro!
Eu olhei para Rafael. Conhecia meu irmão há 27 anos e sabia que sua
paciência era algo que só existia em algumas ocasiões especiais. Ele estava
com os olhos estreitos sobre a garota, com uma expressão que deixava claro
sua vontade imensa de esgana-la. Procurando no fundo da sua alma por
calma, ele se voltou para mim.
— Você sabia que o namorado da bambina é o Mattia Bianchi? — Foi
notável a ironia no seu tom de voz.
— Você está brincando comigo? — Questionei, retirando meu terno. Ele
me respondeu com uma sobrancelha erguida, e eu olhei para Giulia, que
jogou as mãos pra cima e se levantou, irritada:
— Tem um problema com Mattia também?
Joguei meu terno dobrado sobre a poltrona que estava ao meu lado.
Calmamente, desatei o botão de um pulso meu e enquanto dobrava a manga
da minha camisa, eu olhei nos olhos cor-de-mel:
— Eu não tenho nenhum problema com o Mattia. — menti.
— Fantastico! — Ela solta. — E por que toda essa tensão sobre ele? Por
que Rafael está com raiva disso?
Ignorando suas perguntas, direcionei-me ao meu irmão:
— Como você soube?
— Quando cheguei ela estava saindo do hotel vizinho com ele.
Peguei ela novamente com os olhos, já dobrando a manga do outro
braço:
— Ele está no hotel ao lado?
— O que é que tem de tão ruim nisso? — Ela perguntou, exasperada,
olhando entre nós dois.
Meu irmão inclinou a cabeça para trás e riu descrente.
— O que tem de ruim nisso? — Ele quase cuspiu as palavras. — Eu vou
te dizer o que tem de ruim nisso, princesinha. — Agora ele estava falando
como se ela fosse uma criança de cinco anos. — O seu namorado é um
tremendo filho da puta! Você entende isso? Um farabutto!
Giulia sacudiu a cabeça quase que imediatamente.
— Não. No, no, no! Você não pode dizer isso, porque você não o
conhece!
Eu descansei as mãos em minha cintura, olhando para seu corpo trêmulo.
Aquela cena, infelizmente, era muito familiar para Rafael e para mim
também. Negação, descrença... Nós já vimos isso alguns anos atrás.
A vítima era diferente, mas o agressor não.
Eu tinha noção do quanto era difícil para ela aceitar, e tinha certeza que
ela não aceitaria. Não sem provas. A forma como ela falou do seu
namorado no restaurante deixou claro que é muito apaixonada por ele.
Por algum motivo, eu senti medo do que pode ter acontecido no outro
hotel entre eles. Conhecendo Mattia Bianchi como conheço, o fodido sabe
manipular uma mulher com muita facilidade.
— Não conheço? — Meu irmão explodiu. — Infelizmente, Giulia, é com
muito desprezo que eu posso te dizer que conheço o filho da puta muito
bem!
— Não o chame assim! — ela gritou de volta. — Ele é um cara muito
bom, romântico... Ele pode ter os defeitos dele, mas todo mundo erra! É
normal, somos humanos!
Rafael riu, dessa vez mais sórdido.
— O quê, princesinha? Ele disse que te amava?... Hã?
Ela engoliu em seco, mas ele não parou.
— Ele te beijou como se fosse o último beijo da sua vida?
Ele deu um passo em sua direção, ela deu um para trás.
— Ele te falou que você era o amor da vida dele? Passione, certo?
Os olhos dela se encheram de lágrimas, seu corpo encolheu, e isso me
deixou protetor.
Avancei entre eles, pedindo com um olhar para meu irmão se calar. Ele
rosnou um palavrão e se afastou, indo para o terraço. Sabia como ele estava
se sentindo agora. Foi preciso muita gente para segura-lo e acalma-lo para
que ele não matasse Mattia da última vez que ele esteve aqui. Mas
amedrontar Giulia não era uma opção boa.
Ela era a vítima aqui. E por mais que ele falasse e despejasse tudo que
sabíamos agora, ela não iria acreditar.
Quando me virei para ela, uma lágrima escorria pelo seu rosto. Meu peito
apertou com a tristeza em seu semblante.
— Como você está se sentindo, Giulia?
— Eu e Mattia estamos juntos há um bom tempo. — Ela disse para mim,
enxugando o rosto com o dorso da mão. Seu nariz se empinou e sua falsa
arrogância voltou. — Se meu pai pediu para vocês fazerem esse joguinho
horrível comigo, e vocês aceitaram, isso só mostra o quão sem coração
vocês são, assim como ele.
Enfiei as mãos nos bolsos e olhei para ela com serenidade.
— Seu pai nunca me falou nada em relação ao seu envolvimento com
Mattia ou com nenhum outro. Se você está com ele há um bom tempo,
então deve conhece-lo bem.
— Giusto! — Ela anui com firmeza. — O conheço muito bem e por isso
sei que tudo isso que Rafael falou está errado. Não faço ideia do motivo que
ele teve para falar essas coisas, mas são apenas acusações feias e falsas! Ele
sabe que pode ser preso por difamação, certo?
Eu quis sorrir com essa sua pergunta, mas me mantive neutro.
— Então uma boa quantidade de pessoas iria para a prisão, Giulia. É
dessa forma que muitas pessoas aqui em Miami conhecem Mattia Bianchi.
Seus olhos se arregalaram em espanto com minhas palavras. Mais uma
vez, ela sacudiu a cabeça, mas agora foi lentamente, como se ainda tivesse
processando.
— Non è giusto! — ela choramingou, se afastando de mim, as mãos se
levantando para fechar suas orelhas enquanto ela falava em italiano: — Isso
é coisa do meu pai. Ele não estava feliz por eu escolher um cara que não
fosse da sua roda de amigos cheios de tradições, então ele me mandou para
cá e agora está tentando fazer as pessoas ficarem contra Mattia. Que lindo,
papai! Muito maduro para um homem tão velho!
Percebendo seu nervosismo, eu permaneci de pé, no meu lugar, mas
quando falei, usei sua língua:
— Como falei antes: seu pai não me falou nada sobre seus
relacionamentos. Não é da minha conta. Mas, sim, infelizmente, eu conheço
Mattia há um longo tempo.
Ela parou de se movimentar e me olhou com surpresa brilhando em seus
olhos.
— Você fala italiano?
— Eu falo muitas línguas, mas esse não é o caso aqui, Giulia.
Ela inclinou a cabeça, os olhos lacrimosos. Se aproximou de mim,
segurou em minha camisa e esticou a cabeça para trás, para conseguir olhar
nos meus olhos:
— Eu juro para você que Mattia não é uma pessoa ruim, Pedro. Eu não
sei porque vocês não gostam dele. Realmente não sei. Ele pode ter errado
de alguma maneira, mas é humano, ele tem o direito...
— Beleza, vamos lá então! — Rafael voltou para sala com o celular nas
mãos. Ele não parecia mais calmo que antes; muito pelo contrário, eu diria
que ele jogaria um daquele terraço para baixo. — Você quer provas,
princesa? Eu posso te dar uma, mas você vai precisar vir comigo.
Serpenteei minha cabeça em sua direção quando Giulia se encolheu com
seu tom de voz ácido.
— Do que você está falando?
Meu irmão me deu um olhar irônico.
— O príncipe está no Nikki Beach Club.
— Não. — Giulia moveu a cabeça em negação. — Ele me falou que ia
dormir porque amanhã acorda cedo para uma reunião.
Rafael fingiu espanto.
— Uau. O seu príncipe perfeito mentiu para você. — Sarcasmo escorreu
em seu tom, então ele acenou com o celular para mim. — Earl acabou de
me ligar para dizer que ele está lá, Pedro. Depois de tudo, o filho da puta
ainda teve coragem de pisar lá.
— Quem é esse Earl? — Giulia questionou, desconfiada. Ela ainda
segurava minha camisa, como se a qualquer momento fosse cair, se
soltasse.
Abaixei a cabeça para olhar para seu rosto.
— Alguém que eu confio mais que o Mattia. — respondi.
Apesar de não gostar desse jogo, eu optei por joga-lo. Sabendo que ela
nunca acreditaria se não visse com seus próprios olhos, achei que seria
melhor. Mas a deixei escolher o que queria.
Quando ela anuiu, concordando, mas muito abalada, eu liguei para Joel e
nós saímos. No caminho para o Nikki Beach Club, mandei mensagem para
Margot, pedindo para ela ir direto para lá, se estivesse livre.
Existem poucas coisas que me tiram do sério.
Ficar cara a cara com a porra de um abusador, era uma delas. E a única
pessoa, além da minha mãe, que foi capaz de me acalmar até hoje, foi
Margot.
A Nikki Beach Club estava lotada. A música alta bombeava tão forte, que
doía meus ouvidos.
Eu já estive em baladas na Itália — escondido dos meus pais, claro —,
mas nenhuma delas chegava aos pés do luxo dessa aqui. Obviamente, eu e
minhas amigas escolhíamos as boates mais simples, uma vez que não
haviam paparazzi’s a espreita, em busca de uma foto perfeita.
Meu coração bateu desesperado quando o motorista estacionou e, como o
único cavalheiro nesse país, correu ao redor do carro e abriu a porta para me
ajudar a sair. Pedro saiu no mesmo momento que eu, batendo a porta atrás
dele. Rafael, que veio na frente, ao lado do motorista, já estava esperando
na calçada. Eu nem olhei em sua direção, pois estava chateada com o que
ele estava tentando fazer.
Olhando ao redor, corei envergonhada, lembrando que nem havia trocado
de roupa. Continuava com meu vestido comportado, cabelos arrumados e
minha sandália de salto alto, enquanto as outras mulheres ao redor estavam
vestindo um look mais noite, curtos e elegantes. Tudo piorou quando um
Bentley branco estacionou e o motorista abriu a porta traseira, ajudando
uma Margot muito impressionante a sair de lá.
A mulher parecia uma modelo da Victoria’s Secret. Seu cabelo loiro
estava naquele típico rabo de cavalo elegante, bem preso no topo de sua
cabeça. A sua maquiagem estava impecável. Ela vestia um macacão
prateado, curto e de mangas compridas e um salto que qualquer um que
conhecesse a marca, o reconheceria como sendo um Fontaine.
Ela sorriu de forma educada, agradecendo ao seu motorista e quando nos
viu, sua expressão era um misto de animação, curiosidade e preocupação —
essa última parte direcionada a mim, claro.
Com certeza, Pedro já falou alguma coisa.
Cruzei os braços, esperando que eles me dissessem para onde ir. Eu sabia
que Mattia estava no hotel, dormindo, e me sentia mal por estar aqui, depois
da noite que tivemos. Ainda sentia o ponto entre minhas pernas dolorido e
meus olhos, novamente, encheram d’água.
Depois de cumprimentar os irmãos Rodrigues, Margot me deu um abraço
carinhoso, que eu fui incapaz de devolver da mesma forma, com todos esses
sentimentos chatos que estava sentindo.
— Vamos! — Rafael falou, acenando com a cabeça.
Nós três caminhamos atrás dele. Pedro ficou bem atrás de mim e eu
agradeci, porque sentia que todos no lugar estavam me olhando e notando o
quanto eu não estava bonita e elegante para o lugar. Uma mão de Margot
permaneceu em minha coluna.
O lugar era muito bonito, uma balada a céu aberto. Havia pessoas para
todos os lados, dançando e conversando. Mas não paramos até chegarmos
em uma parte com piscinas e cabanas, nas quais continham camas, onde as
pessoas estavam deitadas entre amigos, curtindo a festa e ao mesmo tempo
relaxando.
Nós paramos em uma cabana, onde eles cumprimentaram algumas
pessoas que estavam ali. Uma mulher loira, de olhos esverdeados, sorriu e
foi logo se jogando em cima de Rafael, que beijou sua bochecha e, por um
segundo, notei sua expressão dura relaxar. Ela também deu um abraço em
Pedro e Margot depois. Eu fiquei um pouco atrás, sem vontade nenhuma de
ser apresentada a essas pessoas lindas e bem-vestidas.
Um dos homens presentes se aproximou e acenou em direção a última
cabana. Ele deveria ser o tal do Earl, já que os meninos assentiram e nós
fomos para o lugar onde ele indicou. A loira bonita foi conosco, assim
como Earl. No caminho, muitos pararam o que estavam fazendo para dar
uma atenção especial, cheia de sorrisos para os “irmãos poderosos de
Miami”. Eles devem frequentar bastante esse lugar.
A minha cabeça estava começando a doer, eu só queria estar no hotel
para poder dormir e descansar, no entanto, eu queria uma chance de passar
na cara de Rafael que ele estava errado, então apenas os segui, de braços
cruzados.
Mas todo o meu sangue se foi quando chegamos na última cabana e
meus olhos pegaram a cena mais dolorosa que meus olhos viram em
dezenove anos.
Mattia não estava no hotel, dormindo, como ele me disse que seria.
Ele estava aqui, em uma boate noturna, em cima da cama, com uma
mulher montada nele, beijando-o, enquanto a outra — só de biquíni —,
lambia sua orelha.
Resfoleguei, dando um passo para trás. Meu peito afundou tanto, que a
dor foi horrenda, quase insuportável. As lagrimas embaçaram meus olhos.
Quando senti a borda da piscina com o salto, a mão grande de Pedro me
segurou.
— Natasha, você pode nos dar um minuto, por favor? — O homem, Earl,
pediu, e a mulher que tinha sua língua dentro da boca do meu namorado se
levantou.
Eu nem foquei na sua expressão, porque meus olhos estavam sobre o
homem que eu me entreguei completamente. Perplexa, assisti quando seus
olhos me pegaram e sua cabeça tombou para trás, como se ele estivesse
respirando fundo.
Sem nenhum remorso, ele se levantou, e alguns caras que estavam por
perto se aproximara, encarando Rafael, Earl e Pedro com caras feias. Eram
amigos deles, com certeza.
— Deixe-me ver se entendi direito — Rafael começou, sua voz ainda
mais debochada que o normal —, depois de toda merda que fez, você
simplesmente volta, com a porra de uma cara de pau, como se nada tivesse
acontecido?
— Scusi, não sei do que você está falando. — a voz de Mattia era cínica,
da mesma forma que o sorrisinho que ele abriu. — Até onde eu sei, vocês
conseguiram fazer com que Caliste me impedisse de entrar no clube dele,
mas não nesse aqui. Tenho tanto direito quanto vocês, afinal, tenho dinheiro
o suficiente para estar aqui.
— Me dê um minuto e eu lhe mostro quais são seus direitos. — Foi uma
ameaça, mas meu “namorado” apenas sorriu e abriu os braços.
— Qual é, Rodrigues! Por que você sempre apela para violência?
— Não está claro? — Dessa vez foi Margot que se meteu, sua voz dura.
— Quando se trata de um lixo como você, nem um monge permanece
paciente!
Ele a olhou de cima a baixo, os olhos famintos de uma forma que eu
nunca vi. Eu nunca tinha o visto dessa forma!
— Se quiser, faço você mudar de ideia sobre mim na mesma hora,
passione...
Pedro apertou minha cintura quando eu estremeci.
— Mas é um filho da puta mesmo... — escutei Rafael xingar, e com meu
olhar periférico, vi quando a loira segurou seu braço, impedindo-o de
avançar.
Meu foco era ele. Sua expressão, que sempre foi tão educada, gentil,
doce, agora era distorcida, sórdida, maliciosa. Cínica.
— Claro, querido. Mas só se for para arrancar seu pau com os dentes! —
Margot devolveu, revoltada.
Ele jogou a cabeça para trás e riu.
Inclinei a minha, olhando-o com medo, confusa:
— Mattia — chamei, minha voz por um fio. —, você me disse que iria
dormir, para descansar. O que está fazendo aqui? Você usou algum tipo de
droga?
Eu pude ouvir a risada sarcástica de Rafael antes de ele se afastar, com a
loira ainda segurando seu braço. Acredito que essa era uma tentativa para se
acalmar e não avançar para cima.
Mas o uso de drogas eram a única explicação para que eu pudesse
entender o porque ele estava tão diferente do Mattia que eu conhecia.
Finalmente, seus olhos vieram para mim, seu sorriso malicioso ainda
estava lá, repuxando seus lábios avermelhados.
— Ah, querida — falou em italiano comigo. —, eu não uso drogas.
Nunca usei e não faço questão disso. E, sinto informar, mas não acredito
que seja da sua conta o que estou fazendo aqui.
Eu me encolhi.
— Por que está agindo dessa maneira comigo!? Tivemos uma noite
maravilhosa e...
— Você já deu uma olhada ao redor, minha paixão? — debochou,
abrindo os braços, indicando ao redor, onde muitas pessoas estavam paradas
e de olho em nós agora. — Já deu uma boa olhada naquela morena que
estava comigo?
Engoli em seco, me obrigando a olhar na direção da mulher — Natasha
—, que estava agora bebendo um drink e prestando atenção no que estava
acontecendo.
— Ela é gostosa pra caralho! — Ele continuou. — Tudo de bom,
querida. É, nossa noite foi legal, mas não maravilhosa. Uma noite com ela
sim seria maravilhosa.
Eu solucei, as lágrimas escorrendo por todo meu rosto. Eu estava
destroçada, acabada. Queria correr dali, me esconder, e nunca mais aparecer
para o mundo.
— Eu juro que pensei que seria maravilhoso, afinal, você era virgem e,
confesso que eu tinha um fetiche nisso, mas — ele fez uma careta, que
terminou de acabar comigo. —, confesso que não foi essas coisas toda que
os caras falam. Você é gorda e-
Ele parou de falar porque um punho cortou o ar e pousou bem na sua
boca. Exclamações romperam o “silêncio” naquele momento, e um deles
foi o meu. Mattia cambaleou para trás e quando conseguiu se recompor,
sangue escorria pelos cantos de sua boca. Ele olhou para Pedro indignado,
com raiva.
— Mas o que-
Outro soco e ele caiu estirado na cama. Seus amigos deram um passo a
frente para ajudar, mas foram impedidos por outros que estavam ali.
Seguranças enormes se aproximaram, no intuito de separar a briga, mas
com um sinal de Rafael e Earl, eles recuaram.
Pedro não parou. Se apoiou na cama com o joelho e começou a fundar
socos em seu rosto.
Eu só sabia chorar. De vergonhosa. De dor. De desespero.
O que eu iria fazer da minha vida agora?
Mattia tentava revidar, mas Pedro estava fora de si, com uma força
surreal. Ele agarrou Mattia pela gola da camisa e seu rosto pairou sobre o
dele com uma expressão ameaçadora, que eu nunca imaginei que fosse vê-
lo fazer:
— Olha para ela, seu desgraçado! — Ele ordenou, puxando os cabelos
enrolados de Mattia, a ponto de ser dolorido.
Mattia olhou, todo ensanguentado.
Meu corpo estava trêmulo e eu achei que iria cair com o horror que
estava sentindo no momento, mas, para minha surpresa, Rafael chegou ao
meu lado e abraçou minha cintura.
Pedro falou em alto e bom tom, para que todos pudessem escutar, com
um tom que até me vez temer:
— Mais nunca, sob hipótese alguma, você vai olhar para ela novamente.
Você não vai nem pensar nessa mulher, você me entendeu?
Mesmo todo arrebentado, Mattia zombou:
— Ou o quê?
Com uma risada baixa e sombria, Pedro apertou mais seus cabelos,
fazendo-o gemer:
— Não brinque comigo, Mattia. Eu posso até ser paciente, mas, você não
vai me querer ver fora de controle. Eu acabo com você de uma forma, que
sua décima geração ainda sentirá o impacto. — Ele soltou o homem com
força na cama e bateu as mãos como se estivesse espantando a poeira delas.
— Está avisado. E espero que pegue o próximo voo de volta para Itália.
Quando ele voltou sua atenção séria para mim, eu só queria chorar de tão
assustada e humilhada como estava me sentindo. Com delicadeza, ele me
tirou dos braços do seu irmão.
— Vamos. — disse, tocando minhas costas.
— Isso não vai ficar assim, Rodrigues! — Mattia gritou, cuspindo
sangue. — Vou processar vocês!
Como um furacão, a loira foi lá e com um punho fechado, ela bateu com
toda força em sua virilha, o que o fez gemer com a dor e se contorcer
deitado.
— Me processa também, bebê. Athena Bartoli é o meu nome, caso seus
advogados perguntem, seu filho da puta!
— Eu nunca vi você tão fora do sério.
Ergui a cabeça para olhar Margot, que estava com um copo de uísque na
mão, vindo em minha direção. Ela me entregou e eu agradeci, enquanto
uma enfermeira que meu irmão chamou cuidava dos machucados nos nós
dos meus dedos.
— Não tinha como ficar calmo com as palavras nojentas que aquele filho
do capeta falou para a menina! — Athena, que até então estava sentada, se
levantou, indignada. — Eu nem o conhecia, mas tive um ódio do caralho!
— Foi um ótimo soco. — Meu irmão a elogiou, o que a fez erguer o
queixo, orgulhosa de si mesma.
— Faço boxe há anos, mas esmagar aquelas bolas asquerosas me deu
uma satisfação imensa.
Eu olhei entre eles dois enquanto sorvia um pouco da minha bebida e
minha sobrancelha se arqueou automaticamente.
Enquanto falava com ela, Rafael deixou um pouco da sua fúria de lado e
parecia estar babando. Athena, por outro lado, ficou com as bochechas
coradas por conta do elogio.
Nós a conhecíamos e o irmão há anos. Ela ainda era adolescente quando
veio à Miami na primeira vez com César. Eu não fazia ideia do que estava
acontecendo ali e não era da minha conta, mas era bem estranho.
Principalmente porque pensei que ele estava com a Wesley.
— Acha que ela já saiu do banho? — Margot perguntou.
A preocupação voltou com tudo para meu corpo e minha cabeça
serpenteou em direção a porta da suíte de Giulia.
Todo o caminho de volta para o hotel, ela chorou baixinho, os braços
abraçando seu corpo. Quando chegamos, ela foi para o elevador com uma
pressa tão grande, que subiu sozinha, e ao chegar no quarto, percebi que ela
já estava dentro do seu banheiro.
Eu estava ciente de que ela precisava de um tempo, então voltei para sala
e deixei que a enfermeira cuidasse da minha mão. Mas agora, depois de
quase uma hora, minha preocupação havia se elevado para um nível muito
superior.
A enfermeira terminou o trabalho, enfaixando minha mão, e eu agradeci,
já me levantando da poltrona.
—Vou lá. — Eu disse, mas assim que as palavras saíram da minha boca,
o elevador apitou, informando a chegada de alguém.
— É Eva. — Meu irmão informou. — Ela me avisou que estava vindo.
Eva Perez é a responsável pela nossa relações públicas. Ela é do tipo de
pessoa que prefere trabalhar em seu apartamento luxuoso no centro de
Miami, principalmente em uma sexta-feira a noite. Ela ter o trabalho de vir
até nós, significa coisas muito ruins.
As portas do elevador se abriram, revelando uma mulher muito bonita e
com um olhar que atrairia qualquer um. Rafael cruzou os braços, sabendo
que viria bomba, e eu suspirei, sabendo que precisarei deixar para checar
Giulia depois.
— Não se preocupe, eu vou. — Margot se ofereceu, tocando meu braço
com carinho. — Acho que será até melhor, por eu ser mulher.
Anuí, dando a permissão e ela foi para a suíte, fechando a porta de correr
logo depois que entrou. Eu me voltei para Eva, que já estava perto, e beijei
seu rosto em cumprimento.
— Como podem imaginar, estou aqui porque os repórteres não param de
ligar. — Ela sorriu, dando um beijo em Rafael; não passou despercebido
por mim a cara feia que Athena fez. — Eles estão loucos, como urubus
sobrevoando a carniça, para saberem de mais detalhes.
— Já? — Athena questionou, o nariz torcido.
— Não é surpresa alguma. — Eu disse. — Tem vídeo na internet?
Eva me lança um olhar divertido quando pega seu iPad da bolsa e passa
para mim. Na tela, um vídeo está pausado. Eu dou play e ele começa a rolar
comigo já em cima do merda, socando sua cara inúmeras vezes.
Eu flexionei meus dedos enquanto assistia ao meu descontrole e
lembrada da sede de sangue que estava naquele momento. Eu querida
quebrar cada parte daquele rosto de playboyzinho, para que, toda vez que
ele se olhasse no espelho, soubesse que aquilo foi por ele ser uma porra de
uma escória no mundo. Para que ele soubesse que, independente da mulher,
homem algum tem o direito de trata-la como ele fez com Giulia.
E ainda mais em público!
Eu estava cego e queria mata-lo. Saber que ela estava me assistindo, me
paralisou. Eu não a queria com medo de mim, também.
— O que você quer fazer? — Eva me perguntou.
Devolvi seu iPad.
— Não vou falar com ninguém. — declarei. — Cheguei onde estou sem
dar satisfações da minha vida pessoal. Não será agora que vou começar a
fazer isso.
De fato, era uma das minhas regras pessoais: não responder questões
sobre minha vida pessoal. As perguntas sobre minha vida profissional, eu
fazia declarações enormes e até passava horas conversando sobre. O que
acontecia fora do trabalho, não era da conta de ninguém.
— Eu imaginei, mas não custava nada tentar. — Eva me deu um sorriso
amigável, devolvendo o iPad para sua bolsa. — Espero que saiba que
Mattia vai dar uma declaração sobre isso e irá processa-lo.
— Não tenho medo de processos. — Eu não menti. Eu nunca tive esse
medo. — Meu advogado não está presente, mas eu não preciso dele para
saber que não dará em nada. O filho da puta mereceu cada soco.
Eva deu um sorrisinho quando seus olhos caíram em minha mão
enfaixada.
— Acredito em você. — disse ela. — Eu vi o vídeo completo, afinal. —
Ela arrumou a bolsa no ombro e respirou fundo. — Homens como Mattia
me faz ter ainda mais nojo da sua raça, mas são homens como vocês dois —
Ela aponta entre nós dois. —, que me fazem ter esperança no mundo,
mesmo com toda merda. Boa noite.
— Boa noite. — Dissemos em uníssono e ela se foi.
Enfiei as mãos nos bolsos e suspirei, sabendo que assim que o dia
amanhecesse, uma legião de repórteres estaria na porta do hotel, esperando
por mim. Eu odiava isso. Era por esse tipo de coisa que as coisas da minha
vida pessoal sempre ficaram em sigilo. Era por isso que eu seguia regras e
sempre optava pela paciência, pois ela me ajudou em momentos em que
quis perder o controle e colocar tudo a perder.
Mas eu não me arrependia do motivo de ter perdido a cabeça.
— Acho que você precisará chamar o esquadrão. — Rafael lembrou,
chateado. — Todos nós vamos.
Eu simplesmente não sabia explicar a dor que estava sentindo.
Só sabia que era como se uma tonelada de tijolos havia sido despejados
bem ali, em cima do meu peito. Doía, queimava e eu não conseguia parar as
lágrimas, que desciam como cascatas pelo meu rosto.
Eu estava diante do espelho, nua, e apesar dos olhos embaçados, eu
tentava encontrar o ponto que Mattia não gostou.
Meu corpo não era magro como de uma modelo, apesar de que o padrão
de beleza do meu país seja seios fartos e pouca bunda. Eu tinha seios
médios, pernas torneadas e uma bunda “generosa”, como minha mãe
costumava dizer quando eu era mais nova. Quando adolescente, na escola
eu fazia natação e corrida, e balé desde criança, então essas três coisas
colaboraram para ter o corpo que eu tinha agora. Mas eu nunca me senti tão
inferior como estou me sentindo no momento.
Enquanto tocava minha barriga, ainda diante do espelho, notei que não
existia um ponto errado.
Estava tudo errado.
Eu não tinha as pernas longas e seios gigantes que Natasha — a mulher
que estava sobre Mattia — tinha. Ela era uma réplica das modelos de
passarelas.
Meu corpo era gordo, como ele havia dito.
Eu me encolhi, chorando, meu peito gritava de dor ao perceber que eu
não era a mulher ideal e nunca seria. Eu só queria me esconder debaixo do
edredom e nunca mais sair de lá.
E foi exatamente o que eu tentei fazer.
Após um banho gelado e de cabeça, me vesti com uma camisola longa de
seda preta e deslizei para cama, bem no momento em que Margot entrou no
quarto. Seus olhos azuis me pegaram, cheios de carinho e receio, e eu
desabei ainda mais, me escondendo debaixo do edredom.
Alguns segundos depois, senti o colchão afundar do meu lado. Margot
me achou e enrolou seus braços em minha volta, puxando-me para seu
abraço.
— Oh, meu bebê, você está de cabelo molhado. Assim ficará doente...
Chorei com mais força, me espremendo em seu peito, tampando meu
rosto com as duas mãos, morrendo de vergonha depois do que ela
presenciou lá na boate.
— Pode chorar, não tem problemas. — disse ela, alisando meus cabelos
molhados. — Coloque tudo para fora.
— Por que dói tanto? — Solucei, meu peito rasgando por dentro.
Ela beijou o topo da minha cabeça.
— Porque para você era verdadeiro. — respondeu. — Era grande e
bonito. E saber que o sentimento não era recíproco, é como receber uma
facada no coração.
— E-ele não gosta de mim! Meu corpo... Ele... — Chorei baixinho,
sentindo-me sufocada. — E-eu até iria fazer exercícios para ficar melhor
pra ele, Margot! Eu ju-juro que i-ia!
— Não! Olha, de jeito nenhum! — Ela se afasta o suficiente para ficar
cara a cara comigo. Segurando meus pulsos, ela afasta as minhas mãos do
meu rosto e olha bem nos meus olhos, os seus com uma ira brilhante. —
Nunca faça algo que não quer só porque um homem lhe pediu. Está me
ouvindo? Você é linda! Seu corpo é perfeito, menina. Não se coloque para
baixo e, o mais importante, não se culpe! Mattia fez o que fez não foi
porque achou isso e aquilo; ele fez porque é mau caráter, porque é um filho
da puta, que se acha o dono do mundo e acredita que pode sair fazendo
mulheres de brinquedos. Acredite em mim, você não foi a primeira que
passou por isso, mas seja forte. Continue sendo você e, se tiver que agradar
a alguém, agrade a si mesma. Ninguém além de você merece um fio de
esforço seu.
Anuí, mas não foi o bastante para que a dor passasse. Eu continuei
chorando e ela voltou a me abraçar, e ficou assim até que tudo ficou preto e
o choro era apenas um choro distante.

•••
Eu conseguia ouvir o celular tocando, mas estava tão longe. Todo o meu
corpo doía, como se eu tivesse corrido uma maratona, então eu gemi,
mexendo-me sobre a cama, pedindo aos céus para que fizessem esse toque
irritante parar.
E ele parou.
Juntando minhas mãos, as enfiei sob meu rosto para tentar voltar a
dormir. Mas então as imagens começaram a aparecer na minha memória,
trazendo tudo à tona.
O sexo.
A balada.
Mattia.
Natasha.
As palavras.
A briga.
Veio tudo como uma avalanche de lembranças ruins e explodiram na
minha cabeça. Abri os olhos, sentindo uma lágrima escorrer. Tudo o que eu
queria era dormir por uma semana — só assim, talvez, quando eu
acordasse, tudo já estaria bem. Ou, pelo menos, melhor.
O toque do celular começou novamente, me assustando dessa vez, e eu
fiquei surpresa por encontra-lo na mesinha de cabeceira, ao lado da cama.
Eu sabia que não tinha deixado ali. Muito provavelmente, deixei no bolso
da calça que usei ontem, mas Margot deve ter pegado para mim.
Margot.
Eu lembro de ter chorado no colo dela como uma criança assustada. Era
exatamente como eu estava me sentindo — como estou me sentindo.
Minhas bochechas queimaram com vergonha e eu fechei os olhos,
desejando desaparecer.
Esticado a mão, alcancei meu telefone. O nome da minha mamma
piscava na tela. Per Dio, era tudo que eu não precisava agora. Sem coragem
de falar com ela ou com o babbo, desliguei o celular e o joguei na gaveta da
mesinha de cabeceira, voltando a cobrir até minha cabeça com o lençol.
Era dessa forma que eu queria ficar por uma semana, porém, como se
fosse um martírio completo, o despertador começou a soar, me lembrando
que faltava apenas meia hora para o café da manhã.
Eu não queria ir. Não hoje. Eu só queria me cobrir e chorar porque meu
coração estava doendo. No entanto, não era justo. Pedro entrou em uma
briga por mim, apesar de mal ter conseguido ver, já que meus olhos estavam
nublados com lágrimas depois de tudo que aconteceu. Ele merecia, pelo
menos, minha companhia no café da manhã.
Deixando de lado todo orgulho e vergonha, joguei o edredom de lado e
estiquei minhas pernas para fora. Eu estava quebrada, tanto física, quanto
emocionalmente, então meu corpo parecia pesar ainda mais hoje. Eu me
arrastei para dentro do banheiro, evitando o espelho quando comecei minha
higiene matinal.
Eu não queria me olhar e ver o quanto estou parecendo um lixo humano.
Isso só pioraria tudo.
Depois de me higienizar, enxugando as lágrimas com o dorso da mão, fui
ao closet e escolhi roupa mais decente que eu consegui achar: uma calça
capri jeans, na cor branca, e uma camisa preta, que era a mais larga que eu
tinha. Havia um símbolo pequeno da marca em seu peito e ela alcançava
logo abaixo do meu bumbum. Perfetto.
Sem me olhar no espelho, puxei meus cabelos para o alto da cabeça em
um rabo de cavalo frouxo. Descalça, andei para sala. Engoli em seco
quando avistei Pedro e Rafael no terraço, já sentados na mesa para o café da
manhã. Minhas mãos suaram e algo em meu estômago se apertou.
Eles tentaram me avisar e eu não acreditei. Precisei de provas físicas. A
vergonha e a culpa me corroeram por dentro, mas eu não voltaria agora.
Mesmo trêmula, andei até lá e ainda peguei um pedaço da conversa antes
que eles me notassem:
— Há uns cinquenta repórteres lá fora e tem mais chegando. — Rafael
rosnou. — Eles deveriam estar atrás do filho da puta!
Pedro foi o primeiro a me notar quando cheguei no limiar da porta de
vidro. Ele não estava com seu kindle como era de costume e sua roupa não
era de trabalho. Ele estava com uma camisa azul-marinho de mangas curtas
e uma calça preta. Seus olhos negros encontraram os meus, intensos e
preocupados, e muito surpresos por me ver ali. Depois do que aconteceu,
acredito que eles pensavam que eu não iria querer sair do quarto tão cedo.
Bene, eles acertaram.
Arrastei o olhar do seu rosto bonito e sério para sua mão enfaixada. Ele
havia se machucado quando distribuiu socos na cara de Mattia. Eu me
encolhi.
Logo, Rafael percebeu para onde ele estava olhando e virou para me ver
também. No lugar da ironia e impaciência de sempre, estava a preocupação
também.
Mais uma vez, eu estava me sentindo como uma criança assustada.
— Buongiorno — cumprimentei baixinho, quase inaudível, quando
deslizei sentada em uma cadeira, meu rosto corando com a atenção deles.
— Giulia — A forma aveludada como meu nome escorregou para fora
da boca de Pedro fez meus olhos lacrimejarem e eu os fechei numa tentativa
de evitar que as lágrimas caíssem, meu coração pulando com força total em
minha caixa torácica. Eu sabia que a coisa que viria a seguir ia me fazer
desabar de novo. —, me diga como você está, por favor.
E eu desabei, mais uma vez.
As lágrimas caíram, mas eu as segurei com o dorso da mão. Eu não levantei
da cama para chorar no café da manhã, na frente de Pedro e Rafael, mas
como eu conseguiria impedir a dor?
Ao contrário dos livros, em que a personagem consegue prender o choro,
a minha garganta queimou com as lágrimas, meu peito doeu com a
compressão, com o buraco que estava lá. Não tinha como eu controlar.
— Seria a coisa certa e elegante dizer que estou bem — Funguei, meus
dedos apalpando minhas bochechas. —, mas acontece que não estou nada
bem. Grazie por me perguntar, de todo modo. — Eu olhei nos seus olhos
escuros de Pedro, a mágoa e a vergonha se espalhando pelo meu corpo
todo. — E grazie por... pelo o que você fez por mim ontem. Sinto muito por
ter trazido problemas para você.
Na hora em que cheguei, ouvi Rafael falar sobre alguns repórteres que
estavam na frente do hotel. Pelo seu tom de voz, notei que não era coisa
boa.
Eu estremeci.
Era óbvio que a confusão já devia estar circulando pelo mundo.
— Não foi você quem me trouxe problemas, Giulia. — Ele assegurou
com gentileza. — Tudo que eu fiz ontem, eu faria novamente.
Engoli em seco, anuindo e virei a cabeça para Rafael, que pela primeira
vez, estava calado, sem sua impaciência típica. Meu rosto corou e meu
corpo se encolheu, ciente do que eu estava prestes a fazer. Eu sempre tive o
orgulho como um dos meus defeitos. Confessar que eu estava errada para
alguém com quem bati de frente era um desafio terrível, porém, esse
alguém me ajudou bastante, e eu lhe devia um pedido de desculpas.
— Rafael — uma lágrima escapou pelo canto do meu olho e o interior da
minha garganta queimou. —, scusi por ter duvidado de você. Eu... — eu
mal estava conseguindo falar. Toda as lembranças voltavam com violência,
me fazendo querer chorar com mais força. — Eu fui tão... stupida! Deveria
ter visto o que estava acontecendo, certo? Ninguém pode ser tão perfeito,
ninguém...
— Você foi uma vítima. — Pedro me interrompeu. Ele se inclinou sobre
a mesa e sua mão alcançou a minha. Quando seus dedos quentes tocaram os
meus, algo me forçou a encarar seus olhos. Era reconfortante, gentil,
diferente. — Não foi burra e não tinha como ver. Você não fez nada de
errado, apenas acreditou no que sentia.
Eu estava me sentindo a pessoa mais sentimental do mundo, porque era
só um olhar para o homem na minha frente, que eu queria desmoronar outra
vez. Novamente, enxuguei meu rosto com o dorso, muito embaraçada por
estar chorando diante de dois homens lindos, que tinham seus olhares
apreensivos sobre mim.
— Eu sinto muito por parecer uma poça de água. — Eu falei em
italiano, porque no momento não estava conseguindo pensar nas palavras
em inglês e sabia que eles me entenderiam.
— Não se desculpe. Chore tudo que tiver que chorar, Giulia. Estamos
aqui por você. — Pedro apertou levemente minha mão, com carinho e
firmeza, fazendo com que meus olhos encontrassem os deles de novo: —
Eu estou aqui por você.
Anuí em agradecimento, incapaz de falar qualquer coisa por conta da dor
no meu peito e garganta.
— Eu vou matar o filho da puta por isso! — Rafael se exaltou,
empurrando sua cadeira para trás, fazendo-a gritar contra o chão.
— Rafael. — Pedro chamou seu nome com a paciência de sempre, mas
eu podia ver nos seus olhos aquele mesmo brilho perigoso de ontem,
quando ele estava socando o rosto de Mattia.
— Não! — Seu irmão apontou, furioso. — Não venha com sua calma
agora, Pedro! Olhe para ela! — Ele me indicou. — Está acontecendo tudo
de novo, você sabe disso.
Pedro concordou.
— Eu sei, mas matar ele só vai te levar para cadeia.
— Não é o meu lugar; é o dele! Por tudo o que ele fez!
— Não será assim que a justiça verá.
— Foda-se a justiça! Aonde eles estavam quando... — Pela primeira vez,
eu vi Rafael vacilar com sua impaciência. Seus olhos chegaram em mim,
arregalados, sem fôlego, completamente revoltado, e aliviaram um pouco
com um suspiro. —, quando tudo aconteceu?
— Ele não vai voltar. — Pedro garantiu, se levantando e colocando uma
mão sobre o ombro do irmão, levando toda sua atenção para ele. — Ele já
deve ter pousado na Itália e nunca mais vai voltar.
— Quem garante? — As palavras saíram cheias de nojo e incrédulas. —
Ele é idiota, debochado. Gosta de confrontar...
E foi como se uma máscara tivesse descido pelo rosto de Pedro,
transformando sua expressão calma em algo sinistro, ameaçador.
— Aí, eu mostrarei a ele que não me conhece de verdade.
Ele assentiu, e eu percebi o quanto eles confiam um no outro. Apesar de
todo temperamento ruim de Rafael, Pedro é capaz de acalmá-lo ou pelo
menos amenizar o clima. É uma relação bonita entre irmãos que eu nunca
vou saber como é.
Funguei, lembrando como sempre estive sozinha. Mal via minhas
amigas, porque meus pais proibiam de tê-las. Não tenho irmãos. Minhas
primas são sempre muito ocupadas em busca de ensinamentos para serem
umas perfeitas donas de casa. Babbo tem uma pedra no lugar do coração, e
mamma está sempre atrás dele, para todos os lados, fazendo seu papel de
esposa magnifica para agrada-lo em tudo.
Por um longo tempo, eu só tinha uma esperança, que era o Mattia. Ele
me prometeu tudo que eu sonhava: viver longe daquele lugar, fazer parte de
uma família melhor, viajar para conhecer lugares bonitos e ser, finalmente,
feliz.
Mas era tudo um sonho e eu acordei dentro de um pesadelo.
O meu choro trouxe a atenção dos irmãos, e Rafael cerrou a mandíbula,
desviando da mão de Pedro.
— Não consigo ver isso de novo. — ele disse em tom de desculpas para
mim. — De jeito nenhum eu consigo. — Então ele deu as costas e foi para
elevador, parecendo atordoado.
Pedro suspirou, enfiando as mãos nos bolsos frontais de sua calça jeans e
se virou para mim.
— Eu sinto muito. — murmurei para ele, que balançou a cabeça em
negação.
— Não é culpa sua, Giulia. — garantiu, voltando a se sentar. — Nada
disso é, portanto, não se preocupe com isso, por favor.
Enxuguei o rosto, respirando fundo e me inclinando para frente, para me
servir com uma xícara de café. Olhei entre todas as opções de comidas ali e
um nó apertou meu estômago ao lembrar das palavras de Mattia.

“Já deu uma boa olhada naquela morena que estava comigo? Ela é
gostosa pra caralho!”
“Você é gorda!”

Sacudi um pouco a cabeça e bebi meu café, descartando qualquer


comida. Eu precisava emagrecer. Provavelmente, teria que entrar em uma
academia, correr, fazer qualquer coisa que me ajude. O que eu não poderia,
era continuar assim.
— Não vai comer? — Pedro questionou, observando-me como se
soubesse exatamente o que está se passando na minha cabeça.
Fiz que não enquanto bebia meu café.
— Estou sem fome.
— Não faça isso. — Ele tinha uma expressão neutra, mas sua voz me
implorava.
— O que estou fazendo?
Ele apontou.
— Não fique sem comer por conta do que o desgraçado falou ontem.
Você é linda, não precisa disso.
Novamente, meus olhos nublaram e arderam. Eu odiava como ele podia
me conhecer tão bem, em tão pouco tempo.
— Só estou mesmo sem fome. — menti, sabendo que ele não poderia me
forçar a nada. Eu só não queria comer agora. Eu me sentia enjoada,
chateada, triste. Só queria voltar para o quarto e rastejar de volta à cama.
Ele ficou lá, examinando-me com cautela por alguns segundos, em
seguida, terminou seu café da manhã e fez menção de levantar.
— Hoje preciso resolver algumas coisas com meus advogados...
— Por conta do que aconteceu ontem, não é? — Interrompo, a culpa
pesando sobre meus ombros, e ele me olha com as sobrancelhas franzidas.
Anui devagar.
— Isso mesmo. — Confessa. — Ainda não chegou nenhum processo,
mas eu preciso me preparar para isso. Então, irei para essa reunião, mas
voltarei logo.
— Você não vai trabalhar?
Ele negou.
— Eu não preciso. — Ele segurou meus olhos, me transmitindo um
cuidado que eu nunca senti. — Não hoje. Estarei de volta o mais rápido
possível, tudo bem?
Mesmo com o interior da garganta ardendo, engoli em seco e assenti para
ele. Não queria que ele perdesse um dia de trabalho por minha causa,
principalmente porque agora ele corre o risco de ser processado por minha
culpa também. Eu estava envergonhada e com vontade de chorar, porém,
uma parte de mim não queria passar o dia sozinha, então eu apenas
concordei com isso.
Pedro se levantou e sua forma grande e alta fez sombra em mim.
— Falei com seu pai mais cedo. Ele estava querendo falar com você.
Balançando a cabeça em negativa, apoiei minha xícara na mesa.
— Não quero falar com meus pais agora.
— Tudo bem. — concordou. — Você não precisa fazer isso. Eu os
garanti que estava protegida. Tenho certeza que viram o maldito vídeo e
serviu como uma prova de que eu falo bem sério. Fique à vontade e, por
favor, não se culpe, Giulia.
Assenti novamente, minhas mãos unidas sobre minhas pernas.
— Va bene.
Ele acenou e se virou para ir ao elevador, mas parou no meio do caminho
e se voltou para me olhar bem nos olhos, a sua expressão era pura gentileza
— ao contrário da maior parte do tempo em que está sério, fechado.
— E não se esqueça que você é linda, ok? Não deixe que as palavras de
alguém que não te fez bem entre em sua cabeça e modifique seus
pensamentos sobre si mesma. Ninguém pode ter esse poder sobre você.
Uma lágrima teimosa escorreu no canto do meu olho esquerdo.
— Grazie. Grazie mille, davvero.
— Eu estava começando a pensar que você tinha me esquecido.
Eu estava na sala de reuniões do hotel, a que eu uso com frequência para
reuniões importantes quando eu não estou afim de sair de para outros
lugares. É uma sala grande, com paredes de vidros escuros, uma grande
mesa preta de mogno, com uma vista perfeita para a praia de Miami Beach.
A reunião com meus advogados tinha chegado ao fim há uns dez
minutos, mas eu nem me levantei ainda. Era quase a hora do almoço e
minha cabeça estava dando voltas e mais voltas por tudo que estava
acontecendo.
Quando meus advogados saíram, eu fiquei sentado, encarando minha
mão enfaixada, tentando colocar meus pensamentos em ordem e poder
planejar o que eu faria a seguir. Eu tinha 30 anos, eu já deveria saber lidar
com certas situações, mas essa situação em particular era algo bem novo
para mim. Mas eu prometi mais cedo que iria cuidar melhor da filha do
melhor amigo do meu pai, e eu pretendia cumprir essa promessa. Eu só não
sabia como, uma vez que a garota mexia comigo de um jeito que eu nem
saberia explicar, se me perguntassem.
Por isso, fiz a única coisa que talvez me ajudasse: eu liguei para minha
psicóloga favorita. A pessoa que sempre me ajudou em tudo e que me
ensinou a maior parte do que eu sei hoje.
A minha mãe, que a mulher mais linda e elegante que eu já conheci, me
deu aquele seu sorriso conhecedor que só ela sabe quando estudou minha
expressão. Ela é uma analista incrível e sempre soube quando eu e Rafael
estávamos com problemas.
— Querido, me conte o que está acontecendo. — Ela falou em
português. Não foi uma pergunta ou um pedido.
Alcei uma sobrancelha.
— O quê? Não olhou a internet hoje?
Ela meneou a cabeça.
— Estive ocupada, cuidando da minha vida, querido. Você sabe que eu
procuro evitar bastante essa coisa de internet. Quase 99% dos meus
pacientes precisam de mim por conta desse troço.
— Eu entendo o motivo disso. — disse com amargura. Suspirei,
relaxando na cadeira. — Não quero te preocupar, então vou falar apenas o
que liguei para falar. — disse, fazendo-a estreitar os olhos para mim, da
mesma forma que Rafael costuma fazer, mas ignorei e continuei. — Lembra
do Patrizio Russo, não é?
— Sim, o melhor amigo do seu pai.
— Pois é. — Eu coloquei o telefone encostado em uma caneca que
haviam trazido para mim. — Ele me ligou há um tempo e me pediu para
mandar sua filha para cá, para ficar comigo.
— Por que ele faria isso? — Ela franziu o cenho.
Encolhi os ombros.
— Falou que foi por conta daquele vírus que estava circulando na Itália,
não sei. O que acontece é que eu aceitei, por conta da história dele com o
pai e tudo o mais. O que eu não sabia era que a menina tinha envolvimento
com um velho conhecido nosso, e isso não foi nada bom.
— Por que não?
— Porque estou falando do Mattia Bianchi, mãe.
Os olhos castanhos dela se arregalaram com horror ao mencionar esse
nome. Eles lacrimejaram e ela arfou.
— Querido, ele fez... de novo, não é? — Ela quis saber, a voz
estrangulada. — É por isso que você está com essa cara. O desgraçado fez
de novo...
— Infelizmente, sim, mãe. — Respirei pesadamente. — Bom, ele
conseguiu fazer a cabeça dela, eles até... — Eu parei de falar porque não
conseguiria colocar isso para fora. Sabia que não tinha o direito de estar
com raiva por essa parte, afinal das contas, Giulia tinha 19 anos e poderia
ter relações com quem ela escolhesse. Juro que quando ouvi Mattia
passando isso na cara dela, na frente de todos, eu tentei focar na parte em
que ele a usou, a manipulou para conseguir isso, mas não foi por isso que
meu sangue ferveu. Passei a mão boa pelo rosto, sacudindo a cabeça. —
Bom, Rafael descobriu antes que algo muito pior acontecesse e
conseguimos abrir os olhos dela, mas, ela não está nada bem, mãe. E eu
nem sei o que fazer.
— Oh, puta merda, hein? — Ela torceu o nariz enquanto andava pela
casa. Dava para ver quando ela parou diante de uma geladeira e pegou algo
lá dentro. Ela parou e eu escutei o som de uma latinha se abrindo e fiz uma
careta. — Não venha com essa cara, querido.
— Está na hora do almoço. — Lembrei-a.
— E daí? — Ela inclinou a cabeça e bebeu um pouco de sua cerveja.
A minha mãe sempre odiou vinho ou qualquer bebida quente. Ela sempre
deixou claro que uma cerveja gelada era o ideal. Agora, imaginem essa
mulher em um evento ou jantar elegante. Suas caras e bocas para cada
garçom que passam com bandejas repletas de coquetéis ou champanhes são
sempre hilárias. Ela não costuma beber sempre, mas não dispensa uma boa
cerveja aos domingos ou quando está preocupada com alguma coisa.
— Bem, vamos ao que interessa, certo? — Ela se sentou em uma
banqueta em sua cozinha. — Como a menina está? Eu lembro dela de
quando eu e seu pai visitamos Patrizio em Verona. Ela era só uma criança,
mas me encantei com a beleza suave que ela tinha.
Minhas mandíbulas apertaram. Eu não precisava ser lembrança de sua
doce beleza agora.
— Ela está exatamente como você deve imaginar. Muito mal. Tem
alguma ideia de como posso lidar com isso?
— Sendo paciente. — disse ela, mas logo sorriu, reconhecendo seu erro.
— Quero dizer, ainda mais paciente do que você já é, meu amor. Ela com
certeza deve entrar em um estágio de negação e culpa. Vai ter pensamentos
ruins sobre como pôde deixar acontecer isso, o por quê tudo desmoronou.
E, se ela estava apaixonada por aquele... — Ela cerrou os dentes, tentando
manter a calma que ela não tinha, assim como meu irmão. Sacudiu a
cabeça. — Enfim, ela ainda vai sofrer um bocado, querido. Tudo que você
pode fazer é estar por perto, apoiar, estender a mão quando precisar. — A
minha mãe abriu um sorriso carinhoso para mim. — Mas, como sua mãe
que te conhece mais que todos nesse mundo, tenho certeza que você já está
fazendo isso, certo?
Encolhi os ombros.
— Só estou tentando ajudar. Não quero que aconteça o mesmo que
aconteceu com a Ana. — Falar isso doeu no fundo do meu peito, e também
fez minha mãe suspirar tristemente.
— Eu acredito nisso, meu amor. E ela não terá o mesmo destino que a
Ana. Não com você por perto. — Ela enxugou uma lágrima que caiu. —
Agora, conte-me como seu irmão está com tudo isso.

•••

Depois de encerrar a ligação, eu saí da sala de reuniões com a pretensão


de ir para a suíte, checar como Giulia estava. Não queria deixa-la sozinha
com os pensamentos que sabia que estava passando em sua cabeça.
Mas, quando estava passando pelo lobby, algo me fez olhar para a área
da piscina, e eu a vi sentada em uma das cadeiras afastadas, debaixo de um
guarda-sol. Me surpreendi, porque não imaginava que ela fosse sair do
quarto tão cedo. Enfiando o celular no bolso, caminhei até ela e me sentei
em uma cadeira ao seu lado.
Ela sorriu de boca fechada para mim, um sorriso triste e morgado.
— Oi. — disse baixinho.
— Fico feliz em vê-la por aqui. — Estreitei os olhos para olhar todos os
hóspedes que estavam ao redor e dentro da piscina.
— Minha cabeça estava cheia de pensamentos muito ruins e achei que
tentar uma coisa seria legal. Por isso, coloquei um biquíni e desci, pronta
para provar a todos e a mim mesma que eu não preciso ficar de mal do meu
corpo por conta do... — Ela parou de falar e engoliu em seco com bastante
dificuldade. Eu não podia ver seus olhos por conta dos óculos escuros que
os cobriam, mas sabia que eles poderiam estar lacrimosos. — Beh, non ha
funzionato.
— Giulia-
— Eu sei, va bene? — me cortou e começou a gesticular enquanto
falava: — Eu nunca tive problemas com meu corpo. Mesmo não fazendo
absolutamente nenhum esforço consciente, eu sempre me achei bonita.
Talvez tenha sido a genética da minha mãe, misturada com todas as
corridas, natações e o balé. Só que agora, eu não consigo nem tirar minha
roupa e entrar na piscina. Não com todo mundo perto, me olhando, me
julgando.
— Ninguém vai julgar você. — Eu afirmei, meu peito doendo por ela. —
Eles vão te admirar.
Ela balançou a cabeça, de um lado para o outro, infeliz e falou em
italiano, sua voz embargada:
— Eu não consigo. Eu nunca vou conseguir fazer isso de novo, perto de
tanta gente. Eu fico apavorada só de pensar nessa possibilidade. — Ela se
abraçou, se encolhendo na cadeira.
Olhei em volta, respirando fundo para não trazer à tona minha vontade
de encontrar Mattia e mata-lo. Gostaria de estar com meus óculos escuros
também, pois odiava sair no sol sem eles, mas não tinha tempo para isso; eu
precisava fazer alguma coisa para fazê-la se sentir bem, nem que seja por
alguns minutos. Eu me levantei, decidido, e estendi minha mão para ela.
— Vamos lá.
Giulia empurrou seus óculos para cima em sua cabeça e, como eu previ,
seus olhos escavam vermelhos e confusos.
— Para onde?
— Você vai ver. Confia em mim, tá bom?
Ela encarou minha mão por alguns segundos. Era óbvio que ela
começaria a pensar umas dez vezes antes de confiar em algum cara de
novo, mas acabou puxando uma respiração profunda e segurou a minha
mão.
A mão de Pedro engoliu a minha quando eu a aceitei. Segurando firme, ele
me guiou pelo lobby do seu hotel, em direção à saída, enquanto fazia uma
ligação rápida.
Quando saímos pelas portas de vidro, uma multidão de pessoas com
câmeras e microfones nas mãos surgiram, gritando pelo nome dele,
questionando o acontecido. Rapidamente, uma dúzia de seguranças se
aproximaram, o que me fez entender com quem Pedro falava ao telefone.
Eles nos guiaram em um corredor formado por seus corpos grandes e
treinados enquanto flashes pipocavam em nossas caras.
Apavorada, apertei minha mão na de Pedro. Eu nunca tinha passado por
isso, mas suponho que ele já, uma vez que sua calma de sempre estava
presente e ele estava sempre olhando para frente.
Seu Rolls-Royce Cullinan estava estacionado logo a frente, e Joel abriu a
porta para que entrássemos rapidamente. Pedro foi para o lado, para que eu
entrasse primeiro e entrou logo em seguida. Dentro da proteção do carro, eu
procurei respirar devagar, acalmar o nervosismo que se instalou no meu
estômago. Joel colocou o carro em movimento e com uma olhada para trás,
notei outro SUV todo preto nos seguindo.
— Não se preocupe, é o esquadrão.
— Esquadrão? — Alcei uma sobrancelha curiosa.
— Seguranças. — Ele explicou. — Temos uma equipe particular de
seguranças e Rafael colocou o nome de Esquadrão. — deu de ombros, rindo
um pouco. — Acredito que é uma coisa de infância, nunca saberia explicar.
— Va bene. — Anuí, levantando uma mão para passar na minha nuca. —
Para onde estamos indo? — Repeti a pergunta que fiz há alguns minutos,
mas, novamente, ele me olhou com o ar misterioso, então me recostei no
banco do carro e tentei não surtar.
O percurso só demorou uns quinze minutos. Nós entramos em uma área
privada, ainda perto da praia, onde só tinha casas enormes com arquiteturas
modernas e luxuosas. Meu queixo caiu quando percebi para onde estávamos
indo.
— Você tem uma casa aqui?
— Tenho. — ele respondeu, e Joel entrou na última casa e estacionou.
Pedro abriu a porta e saiu.
Seu motorista educado deu a volta no carro, abriu a porta e me ajudou a
sair. Eu olhei em volta, encantada com o lugar. O barulho das ondas enchia
meus ouvidos e eu sorri, pela primeira vez hoje.
O hotel também é de frente para o mar, mas o barulho de conversas
conseguia bloquear o som das águas. Mas não aqui. Esse lugar é tranquilo e
silencioso, deixando que a natureza fale mais alto.
— Vamos entrar? — Pedro chamou minha atenção, e eu assenti e o
segui.
Ele me levou por uma escada de pedra escura, assim como toda a
estrutura da casa era feita, sua mão aquecendo a parte baixa das minhas
costas. Antes mesmo de chegarmos na porta gigante da entrada da casa, ela
se abriu e um homem de meia idade apareceu com um sorriso educado e
profissional.
— Bom dia, senhor. Sejam bem-vindos. — ele cumprimentou quando
Pedro nos colocou dentro da casa.
Mais uma vez, meu queixo caiu. A casa, assim como sua porta, era
gigante. Obviamente, era a casa de um homem com mais de cem bilhões de
dólares em sua conta — sim, bastava pesquisar o nome Pedro Rodrigues no
Google para ver quanto ele tinha. Claro, desde que atualizou sua página, ele
deve ter ganhado muito mais. Uma estadia em seus hotéis valia uma fortuna
e todos eles vivem lotados.
A decoração era perfeita, com cores escuras e neutras, bem a cara dele.
Transmitia calma e bem-estar. As paredes que levavam à área de lazer e à
praia eram todas de vidro, trazendo um ar bem casa de praia mesmo.
— Obrigado, Warren. — Pedro agradeceu ao homem, que aparentemente
era seu mordomo.
Warren acenou com a cabeça.
— Debra está pronta para preparar um almoço delicioso para vocês,
senhor...
— Não precisa. — Pedro bateu em seu ombro, amigavelmente. — Diga
para ela tirar a tarde de folga. Eu mesmo farei alguma coisa para comermos.
— Sim, senhor.
— E você, também, Warren, tire o resto do dia de folga.
O homem mais velho anuiu, pediu licença e saiu.
Pedro se virou para mim, alto e muito bonito, sua camisa escura
combinando com toda a decoração.
— Quer ver a casa?
Sorri, me animando.
— Ovviamente!
Ele me guiou primeiro pelas escadas que levavam para a parte de cima
da casa. Assim que chegamos no topo, avistei uma área onde havia um
conjunto de sofás, como a sala de baixo, uma televisão grande na parede e
uma mesa de sinuca, uma de futebol de mesa e outra de totó. Não conheço
outros brasileiros, mas pelo que já ouvi falar sobre, isso é a cara deles.
— Aqui em cima é a parte do descanso. — Ele abriu uma porta que
estava mais próxima e disse: — Essa é a sala do cinema.
Eu fiquei encantada com o ambiente. Haviam sofás que iam de uma
parede à outra, e poltronas confortáveis diante de uma tela de cinema. Era
perfeito.
— Eu não frequento muito, mas quando Lucca e Pérola Lazzari
projetaram essa casa, eles acharam que seria uma boa coloca-la aqui.
— Eles parecem ser bons no que fazem. — falei. — Babbo falou alguma
coisa sobre os Lazzari serem responsáveis pela arquitetura do hotel.
Ele anuiu, suas mãos sendo enfiadas nos bolsos.
— Quando meu pai começou com o negócio, ele veio para os Estados
Unidos em busca de pessoas para ajuda-lo. Ele conheceu Hetor Lazzari em
um dos eventos que foi e se tornaram amigos. Hetor acabou pegando o
projeto na amizade, sem cobrar nada. Foi tudo por conta da LEA e ele
nunca cobrou um centavo ao meu pai por isso. Por conta disso, depois que
assumi os negócios, permaneci com os Lazzari e hoje os tenho como
grandes amigos.
— Hetor foi muito doce. — disse, olhando novamente ao redor.
Pedro riu baixinho.
— Ele é um homem muito bom. Meu maior exemplo é o meu pai, claro,
mas o Hetor é meu segundo maior exemplo de vida.
Saímos no quarto de cinema e fomos para outra porta. Pedro abriu e me
deixou entrar primeiro. Era um quarto de hóspedes, acreditei, por ter a
decoração simples e sem um toque pessoal. Era enorme, com carpete
branco em todo chão. A casa era uma king, com os lençóis também da cor
branca, assim como a pequena prateleira na parede da frente. Uma televisão
estava lá, pendurada e duas poltronas ao lado. A vista era perfeita através
das paredes de vidro. Também haviam duas portas, que presumi ser um
banheiro e um closet.
— Isso é perfeito! — elogiei, indo para perto das paredes, admirar a
vista.
— Se gostou, pode ficar com ele.
Eu me virei para ver Pedro ainda no limiar porta, as mãos em seus bolsos
e me olhando com cuidado.
— Vamos ficar aqui?
Ele fez que sim com a cabeça.
— Eu gosto de ficar no hotel porque é prático quando se trata de
trabalho, mas você precisa de sossego por um tempo, e haverá muitos
repórteres inconvenientes por uns dias por lá. Ninguém além do Rafael e da
minha mãe sabem dessa casa, então, você vai ficar mais tranquila aqui.
Tudo bem para você?
Eu sorri, balançando a cabeça para cima e para baixo.
— Grazie.
— Não por isso. — Foi sua resposta. — O resto das portas são mais
quartos e banheiro. O andar de cima é todo meu, é onde fica meu quarto. —
Ele explicou enquanto saíamos do meu novo quarto. — Agora, me deixe te
mostrar a parte de fora.
Nós descemos pelas escadas e ele abriu as portas de vidro, deslizando-as
cada uma para um lado, e a brisa da praia soprou com força, fazendo meus
cabelos bagunçarem.
A área de fora era muito grande também. A parte coberta tinha uma
cozinha americana improvisada, com direito até a ilha e banquinhos
chiques. A parte aberta era extensa, com uma mesa de jantar com oito
cadeiras. Em cima da mesa, haviam quatro velas automáticas bonitas, dando
o ar mais elegante no lugar. Mais afastado, no lugar de espreguiçadeiras
diante da piscina, haviam três sofás-camas, cada uma com duas almofadas.
Ao lado, uma cesta com cobertores dobrados dentro. E, claro, uma piscina
grande de borda infinita.
Era uma casa perfeita, dos sonhos, que foi projetada por pessoas que
sabiam bem o que estavam fazendo e fazem muito bem-feito.
Um pouco depois da piscina, uma escada de pedra levava direto para
uma pequena área com uma ladeira automática arrodeada de sofás com
almofadas, aparentemente confortáveis. Descendo mais um pouco,
poderíamos pisar na areia da praia. Meus pés até formigaram para isso.
— Estou apaixonada por sua casa, Pedro. É linda!
Ele sorriu ladino.
— Um dia, vou te deixar diante dos responsáveis e você poderá dizer
isso para eles.
— Eu adoraria. — Eu puxei uma mecha de cabelo que o vento soprou
para frente dos meus olhos e a coloquei atrás da orelha quando sorri de
volta para ele.
Depois de uns segundos encarando-me, ele acenou e nós voltamos para
dentro.
— Você deve estar com fome. Vou preparar algo.
— Sabe cozinhar?
Ele encolheu os ombros.
— Isso quem vai me dizer é você, depois que experimentar.
— Giusto!
Nós fomos para sua incrível cozinha, e eu me sentei em uma banqueta da
ilha de mármore escuro, enquanto ele deu a volta, ligou a torneira e lavou a
mão boa. A outra ainda estava enfaixada por conta de seus dedos.
— Tem certeza que fará isso com sua mão enfaixada.
— Não se preocupe, eu me viro.
E ele fez isso, com tranquilidade, como se fosse um verdadeiro Chef. Ele
andou de um lado para o outro, picando verduras de forma profissional,
checando as panelas no fogão, temperando a carne.
Eu apenas fiquei sentada, observando e conversando sobre coisas
aleatórias. Em algum momento, ele me serviu uma taça de vinho para
“enrolar meu estômago”, já que era bem depois do meio-dia. Enquanto
estávamos ali, eu esqueci de tudo que aconteceu na minha vida; esqueci que
tinha me entregado para um homem que não me amava, que mentiu e me
enganou. Tudo que eu pensava era na comida de Pedro que cheirava muito
bem.
Já passava das catorze horas quando ele terminou. Eu pedi para
comermos do lado de fora, e ele concordou, então eu o ajudei a colocar as
comidas lá. Nos sentamos, e ele me ensinou como se serve.
— Existe uma discussão muito séria no Brasil, em que há opiniões sobre
a forma que se serve esse prato. Uma parte prefere o feijão por baixo do
arroz, a outra parte prefere o feijão por cima. Eu sou da parte que gosta de
servir lado a lado.
Eu fiz do mesmo jeito que ele, um ao lado do outro, assim como a carne
e a salada. Coloquei o mínimo possível para não ficar um prato cheio e eu
acabar comendo demais. Peguei um pouco de feijão e arroz no garfo e o
levei para boca. Gemi ao mastigar. O sabor era simplesmente divino.
— Hum. — Levei a mão à boca, esperando saborear e engolir para voltar
a falar: — È davvero buono! Você está de parabéns, Pedro!
Ele pareceu satisfeito.
— Que bom que gostou. Buon appetito, então.
Sorri com seu sotaque.
— Buon apetito.
Nós comemos com uma conversa leve sobre comidas do Brasil que eu
preciso provar. Pedro prometeu que faria algumas dessas receitas para que
eu experimente. A lasanha brasileira está entre elas. E eu fiquei muito
ansiosa por isso. Quando terminamos, eu o ajudei a recolher as coisas, já
que ele dispensou todo mundo que trabalha para ele.
Ao deixar as coisas que carreguei dentro da pia enquanto Pedro guardava
o que sobrou na geladeira, eu questionei:
— Quer que eu lave?
Não era algo que eu fazia em Verona. Mesmo no hotel, babbo era rígido
com essas coisas. As mulheres da família não podiam nem lavar um único
prato, sempre tinha que ter pessoas para fazer essas coisas, para que nossas
unhas estivessem sempre impecáveis. A imagem é a maior arma da mulher,
ele diz.
Mas Pedro sacudiu a cabeça.
— Não precisa, você é minha hospede, então apenas se sente aí e termine
seu vinho enquanto eu faço isso. —Ele abriu um sorriso bonito quando
ficou ao meu lado, de frente para pia.
— Sua mão está enfaixada. — Lembrei, acenando para ela.
Ele anuiu.
— Eu não vou precisar usa-la. Tudo que preciso fazer é colocar os pratos
no lava-louças.
— Ah. — Sorri envergonhada, porque obviamente eu não fazia ideia de
como isso funcionava, e me sentei em uma banqueta novamente. Segurei a
taça com o vinho e beberiquei um pouco, observando-o fazer esse trabalho.
O homem era tão alto, que seus ombros largos precisavam se inclinar
para frente, para que ele possa alcançar as coisas na pia com mais
facilidade. Mesmo com uma mão só, ele fazia tudo com precisão e
perfeição. Depois de colocar tudo no lava-louças, ele acenou para que eu
seguisse e nós fomos para os sofás-camas que ficavam diante da piscina.
Já se passava das quinze horas, então o sol havia dado uma amenizada,
mas ainda assim, eu precisei colocar meus óculos para proteger meus olhos.
O vento e a brisa do mar davam uma aliviada no calor. Em algum momento,
Pedro também pegou um óculos para ele.
Por uns minutos, ficamos em silêncio, apenas admirando mar, a
paisagem, até que algo se passou na minha cabeça, novamente despertando
minha curiosidade, e eu não pude deixar de perguntar:
— Quem é a pessoa que vocês conhecem que passou pela mesma coisa
que eu com o... — suspirei, meu peito voltando a doer com as lembranças.
— Você sabe quem.
Pedro se remexeu em seu lugar, cruzando os braços sobre o peito
musculoso e sacudiu a cabeça de leve. Eu cheguei a pensar que ele
simplesmente não me responderia, mas após um instante ponderando, ele
finalmente começou a me contar:
— Ela se chamava Ana e era afilhada dos meus pais. Se tornou a melhor
amiga do Rafael quando ele ainda tinha dez anos e nunca soltaram as mãos
desde então. Quando meu pai faleceu e eu precisei vir para os Estados
Unidos para começar a tomar conta dos negócios, Rafael veio junto e Ana
logo em seguida. Nós sempre frequentamos boates e eventos do mesmo
ciclo social que Mattia, então foi em um desses que eles se conheceram. —
Ele fez uma pausa e suas mandíbulas se apertaram. — O cara era um
homem normal, aparentemente. Tinha toda uma delicadeza com ela... Um
charme italiano, como ela gostava de dizer.
Meu pulso acelerou e eu estremeci quando percebi o que ele estava
falando.
— Por que está se referindo a ela como passado?
Sua cabeça virou para mim e, por mais que eu não consiga ver seus
olhos, eu sabia que estavam com raiva, selvagens.
— Porque quando tudo começou, eu e Rafael ficamos de mãos atadas.
Tentamos fazer o que fizemos com vocês: mostrar a ela a verdade, mas,
como a maioria das vítimas de abuso psicológico, ela sempre o perdoava e
inventava desculpas para justificar o que ele estava fazendo. — Ele dobrou
os joelhos apoiando os braços nele, sua expressão estava fechada e era
óbvio que estava sendo difícil para ele falar isso. — Assim como você, ele
foi o primeiro homem dela. Rafael ficou revoltado, mas aí ela se afastou
dele porque Mattia disse que meu irmão estava tentando fazer sua cabeça
contra ele. Então veio um bocado de coisas. Matérias nas revistas e blogs
locais sobre Mattia saindo de boates e hotéis com várias mulheres
diferentes. Ana surtou. Ela começou a se sentir inferior a todas as outras
mulheres que via. A compulsão alimentar veio com toda força. Minha mãe
é psicóloga e tentou ajudar, mas não conseguiu também.
Meus olhos nublaram com as lágrimas por que sabia a sensação agora de
me sentir inferior as outras mulheres.
A Natasha.
— Rafael tentou muitas vezes, eu tentei, Margot também, mas nada dava
certo. Ela estava cega por conta de todo abuso. Até que ele conseguiu
afasta-la tanto de nós, que ela nem saia mais do seu apartamento, com medo
de nos encontrar na calçada ou sei lá o quê. — Ele sacudiu a cabeça com
força, como se isso fosse espantar as lembranças ruins; Eu já estava
transbordando pelos olhos. — Então um dia só recebemos a notícia de que
ela havia se jogado da varanda do seu apartamento, no décimo primeiro
andar, e deixou uma carta pedindo perdão a todos nós. — Sua voz falhou
um pouco nessa última parte, e meu coração terminou de se partir ao meio,
tamanha a dor que estava sentindo.
Mio Dio! Mattia é um monstro!
— E o que vocês fizeram?
Pedro balançou a cabeça em negativa.
— Não havia nada que poderíamos fazer além de sentir a perda. Foi
suicídio, então, não tinha como o filho da puta ser preso. Ele saiu dessa vivo
e tranquilo, mas nós tomamos a providência de impedi-lo de entrar nos
lugares que frequentávamos.
— Por isso ele não entra no Caliste Club?
Ele anuiu.
— Titus conhecia Ana, também, e sempre foi um amigo próximo para
mim. Ele não suporta Mattia tanto quanto qualquer pessoa que já teve o
desprazer de conhece-lo.
Engoli em seco, recordando que se não fosse por Pedro e Rafael,
provavelmente eu teria o mesmo final que Ana. Estremeci, as lágrimas
caindo em cascatas dos meus olhos.
Pedro continuou:
— Quando Rafael falou que seu namorado era o Mattia, eu meio que
entrei em pânico, apesar de não gostar de demonstrar. Eu não poderia deixar
que acontecesse de novo. — Ele rosnou. — Juro por Deus que se você visse
o que ele fazia e mesmo assim continuasse insistindo, eu levaria você para
uma ilha deserta com uma dúzia de psicólogos e psiquiatras, para que eles
tirassem isso da sua cabeça!
Mesmo chorando, eu deixei uma risada nervosa escapar. Pressionei uma
mão na boca e outra na minha barriga. Eu posso não ter chegado tão longe,
mas o pouco que passei já me afeta bastante. Sabia que precisaria ser forte
para enfrentar os temores que estão na minha cabeça agora, eu só não
imaginava como nesse momento.
— Eu fico feliz por ter você e o Rafael comigo agora. — disse para ele
em italiano, minha voz embargada. Estendi a mão e agarrei a sua por trás,
acariciando seu dorso com meu polegar. — Grazie por salvar minha vida.
Uma semana depois ainda estávamos na casa de Pedro. Em todos esses
dias, ele foi um cavalheiro, sempre perguntando como eu estava e
trabalhando em casa. Só saiu umas duas vezes para reuniões que exigiam
sua presença. Também fomos jantar e almoçar fora, frequentamos o Clube e
ele me apresentou a várias pessoas importantes.
Estava sempre me mostrando as coisas na cidade e fazia questão de estar
perto e conversar comigo sobre coisas tão aleatória, que ninguém nunca
imaginaria que um homem tão importante fosse gostar de conversar.
Naquele mesmo dia em que chegamos, Joel trouxe minhas coisas, roupas
e tudo, assim não precisei voltar para o hotel. Graças a Deus, Pedro tinha
razão e os repórteres nunca chegaram por aqui. Acredito que o fato da ficar
em um lugar privado e muito luxuoso, ajudou nisso. Tem certeza que
nenhum morador daqui quer ficar sob os flashes de câmeras indesejáveis.
Eu também comecei a correr com Pedro, pela beira da praia particular.
Dessa forma, eu me sentia bem melhor, já que Pedro estava sempre de olho
no que eu estava comendo e se eu estava comendo. Sei jeito mandão e
protetor chegava a ser engraçado e emocionante para mim, já que ninguém
nunca ficou tão atento a mim como ele está.
Assim como seu irmão, que aparece aqui quase todos os dias —
principalmente nos dias que Pedro precisou sair para as reuniões —, e
também está sempre perguntando como eu estou e até se preciso de alguma
coisa. Ele ainda continua o cara sem paciência, que basta um olhar diferente
para que ele surte, mas está se mostrando um homem muito gentil e amigo
também.
Talvez — só talvez —, ele esteja ganhando um lugar especial no meu
coração.
— Mio Dio! Mio cuore! — Eu resfoleguei quando eu e Pedro paramos
bem em frente a sua casa depois de uma corrida de meia hora. Eu me
curvei, apoiando uma mão em meu joelho e outra contra o meu peito
esquerdo, puxando o ar com força para tentar respirar com mais facilidade.
Pedro riu, colocando as mãos na cintura enquanto me olhava.
— Você precisa respirar com calma enquanto está correndo. — disse ele,
sua voz tranquila, como se não tivesse acabado uma corrida longa. Ele só
estava um pouco ofegante. — Faz uma semana que eu tento te dizer isso, e
você ainda está muito agitada.
Ainda curvada, eu arrisquei uma espiada no homem na minha frente.
Seus 1.90 de altura impedia que o sol chegasse até mim. Ele estava sem
camisa e coberto de suor, seu peito musculoso subia e descia com um
pouquinho de nada de dificuldade enquanto ele me olhava. Ele era,
definitivamente, um pecado em forma de humano.
Deus tenha piedade de mim!, pensei em italiano.
— Quanto tempo faz que você faz isso? Anos? — questionei, voltando a
posição ereta, mas apoiando as mãos na cintura para respirar. — Porque
você já é acostumado, e eu comecei faz uma semana. Vamos com calma
porque eu sou só um ser humano com 50kg e pouca experiência.
Rindo, ele balançou a cabeça e acenou para que fossemos para a casa. O
maldito ainda subiu as escadas de pedras correndo enquanto eu me
arrastava, quase desistindo, como todos os dias.
— Amostrado. — resmunguei na minha língua nativa.
Dentro de casa, sorri quando encontrei Warren na sala, de pé de forma
profissional, como esses mordomos de filmes. Ele me lembrava muito o
Anders de Dynasty, fisicamente e emocionalmente, apesar de que Pedro não
tratava nenhum dos seus empregados como empregados. Estava sempre
sorrindo e conversando com eles, como se fossem amigos de longa data.
— Buongiorno, Warren. — Cantarolei.
Ele acenou com a cabeça.
— Buongiorno, srta. Russo.
Sorri e passei por ele, indo direto para as escadas, mas sua voz me parou:
— Posso pedir para a Debra preparar seu brioche e cappuccino para o
café da manhã?
— Ãhn, não, obrigada, eu não estou com fome.
— Ela está, sim. — Pedro me contradisse, já na parte de cima da cama,
prestes a subir para seu quarto.
Olhei para cima com meus olhos estreitos sobre ele, que apenas piscou
aquele bendito olho para mim, com um sorriso de lado antes de correr
escada acima e desaparecer em seu quarto. Com um suspiro, virei-me para
Warren e disse:
— Que tal apenas algumas frutas e iogurte?
— E o cappuccino? — a sobrancelha grisalha dele se ergueu. Acho que
Pedro deixou todo o seu pessoal responsável pela minha refeição,
principalmente Warren que fez uma pesquisa sobre cafés da manhã italianos
e tem me feito muitos brioches e cappuccinos.
Sabendo que eu teria que comer de todo jeito, assenti contra minha
vontade e fui para meu quarto.
Após um banho relaxante, eu coloquei um vestido maxi de alças fininhas
e prendi o cabelo no alto da minha cabeça em um rabo-de-cavalo. Por mais
que Pedro e Rafael estejam fazendo de tudo para que eu não me sinta ruim
com tudo que aconteceu com Mattia, eu ainda não consigo usar uma roupa
mais curta. Na última semana, eu tenho feito o possível para esconder boa
parte do meu corpo, e super agradeço por ter trazido meus vestidos da Itália.
Eu encontro Pedro já sentado na mesa perto da piscina, com seu Kindle.
A mesa está repleta de frutas, torradas, ovos mexidos, café e iogurte.
— Só pedi frutas e iogurte. — falei ao me sentar.
Ele ergueu os olhos de sua leitura para me encarar.
— Não vai morrer se comer uma torrada com ovos.
— Eu posso comer apenas os ovos. — Dei o contragolpe, devolvendo
sua piscada.
Ele suspirou, estreitou os olhos, mas não discutiu.
Bene.
Bebi um pouco do meu cappuccino delicioso e comecei a colocar um
pouco de ovos mexidos em meu prato. Enquanto fazia isso, observei que ele
estava vestido com roupas de trabalho.
— Vai sair hoje? — perguntei.
— Tenho que ir à LA com Rafael para ver algumas coisas do novo hotel
na LEA.
Meus olhos se arregalaram com empolgação.
— Eu posso ir com vocês?
Com o cenho franzido, enquanto bebe um pouco do seu café, ele faz que
sim com a cabeça.
— Claro. — Deu uma olhada no relógio em seu pulso. — Vamos sair em
vinte minutos, então, se for precisar trocar de roupa, faça logo.
Animada, eu já comecei a me levantar, mas ele assobiou, fazendo-me
parar e apontou para a comida.
— Só depois que terminar seu café da manhã, bambina.
Apertei os olhos.
— Mas você falou que sairemos em vinte minutos, assim não vai dar
tempo!
— Apesar de odiar perder a hora das coisas, tenho certeza que não vou
morrer se me atrasar dessa vez. Sente-me e coma, por favor. O avião não
vai à lugar nenhum sem mim.
Eu revirei os olhos, bufei, mas fiz o que ele me pediu.

•••

Eu não fazia ideia de como me vestir para encontrar os famosos Lazzari,


mas eu convivo agora com um homem multibilionário e seus amigos
igualmente poderosos. Não deve haver nenhuma coisa diferente, certo?
Giusto.
Por isso, optei por uma calça jeans capri e uma blusa estilo bata soltinha,
já que em LA também é quente. Calcei uma sandália de salto e soltei meus
cabelos. Por uns minutos, encarei minhas maquiagens, tentando lutar contra
meus próprios pensamentos ruins. Eu não queria deixar Mattia vencer, mas
eu apenas não me sentia mais segura como antes. Ele quebrou algo dentro
de mim, que não vai ser consertado tão facilmente.
Sacudi a cabeça, peguei meu celular e fui encontrar Pedro, enfiando na
minha cabeça que o dia seria incrível e nada mudaria isso.
•••

Los Angeles é uma cidade linda.


A sensação que eu tinha enquanto estávamos a caminho do prédio da
LEA, dentro de um carro incrível que nos pegou no aeroporto, era que eu
estava participando da série de tv Lúcifer. Era igualzinha aos filmes.
— Eu estou me arrependendo de não ter ido na frente. — Rafael
resmungou, como sempre, sem paciência.
Eu abri um sorriso largo para ele. No aeroporto, tivemos uma pequena
discussão sobre quem ia na janela. Eu venci, óbvio, porque usei a desculpa
de ver mais da cidade que eu nunca visitei. Como ele não ia discutir com
Pedro sobre a outra janela, teve que ir no meio e não estava gostando disso.
Quando chegamos no prédio enorme, lindo e moderno da LEA, um outro
batalhão de repórteres já estava nos esperando. O Esquadrão nos
acompanhou para dentro e, mais uma vez, Pedro estava segurando minha
mão na frente, enquanto Rafael tinha uma mão nas minhas costas.
Fomos levados por uma mulher ruiva e gentil para o escritório onde
aconteceria a tal reunião e lá fomos recebidos por cinco pessoas muito
bonitas. Eles primeiro cumprimentaram os irmãos Rodrigues e só depois
foram apresentados a mim.
— Meu Deus, como você é linda! — A mulher mais nova, Pérola, me
deu um abraço caloroso e beijou meu rosto, com um enorme sorriso.
— Grazie. Você que é, mio Dio! Perfetta.
— Fui eu quem fiz. — Sua mãe, Aurora, me recebeu da mesma forma
amorosa.
— É tão linda quanto. — Elogiei e não menti. Elas eram lindas demais.
— Eu sempre disse que ela parecia com o tio, claro. — Esse era Lucca e
ele falou comigo em italiano, o que rapidamente fez com que eu me sentisse
em cama. Ele me abraçou, seu sorriso era incrível. — É um prazer te
conhecer, Giulia.
— O prazer é todo meu, senhor Lazzari. —Fiz um aceno com um
sorriso, continuando a conversa em italiano.
— Oh, não. Chame-me de Lucca.
Fiz que sim com a cabeça, concordando com ele.
O outro, Enzo, apenas apertou minha mão, mas abriu um sorriso bonito
para mim. Notei que ele é mais reservado e tão lindo quanto os outros
presentes.
— É muito bom conhecer uma italiana que não seja da família. — Nico,
filho do Enzo e engenheiro da empresa, segurou minha mão e beijou meu
dorso. Ele piscou para mim um olho, como Pedro costuma fazer e me deu
um sorriso gracioso, porém, não surtiu o mesmo efeito em meu estômago
como ultimamente está acontecendo quando Pedro faz. Mesmo que o
homem seja um pecado para os olhos femininos.
Corei e dei uma rápida olhada para o Rodrigues mais velho. Ele tinha as
mãos enfiadas nos bolsos da calça, os olhos estreitos e atentos aos nossos
movimentos. Eu não poderia dizer bem, mas essas apresentações estavam
derretendo um pouco de sua paciência.
A reunião não demorou muito. Como Pedro falou, eles só iam resolver
algumas coisas sobre um novo hotel em French Rivera. Eu passei o tempo
admirando enquanto Pedro falava as coisas de forma profissional e os
outros escutavam. E depois, Rafael e Enzo deram um show quando
entraram com o assunto do financeiro.
Assistir tantas pessoas inteligentes e poderosas na mesma sala, me fez
parar e pensar sobre fazer uma faculdade. Eu nunca tinha falado isso em
casa, porque estava meio que óbvio que meu pai não iria permitir e eu
nunca tinha realmente desejado isso. Eu sempre sonhei em fugir da minha
vida na Itália, mas era para viver um amor com Mattia e procurar a
felicidade; não entrar em uma faculdade.
Mas agora eu me imagino sendo assim um dia, tão boa em uma coisa que
faça com que pessoas importantes como Pedro e Rafael venha em busca de
mim para o trabalho. Ser tão boa, que quando falassem meu nome pelos
lugares, as pessoas possam me associar com meu trabalho.
É impossível você escutar o nome Lazzari e não associar eles com
arquiteturas, engenharias, designs, entre várias outras coisas.
É impossível escutar o nome Fontaine e não associar com as sandálias
mais lindas e chiques do mundo.
É impossível escutar o nome Rodrigues e não associar com os hotéis
maravilhosos.
Era estranho, mas, de repente, eu queria isso para mim. Queria que as
pessoas ouvissem meu nome e dissessem “Ah, mas essa não é aquela que
faz aquilo?”. Olhando para essas pessoas agora, soube que a liberdade que
tanto procuro pode estar nisso. Eu não dependeria mais do meu pai, poderia
viver a minha vida da forma como achasse melhor. Eu só precisava saber o
que eu queria fazer.

•••

Na segunda seguinte, Pedro saiu logo depois do café da manhã. Eu não


sabia bem o que fazer, então peguei seu computador, que ele havia me dado
a senha e fui para o quarto do cinema. Eu me esparramei nos grandes sofás
confortáveis e comecei uma nova busca sobre qual faculdade fazer. Já fazia
uma semana que eu estava fazendo isso.
Depois de quase meia hora de busca, desisti. Isso não estava
funcionando. Só havia um bocado de opções que eu não sabia nem para
onde ia. Fechei o computador e o joguei de lado, bem no momento em que
meu celular começou a tocar.
O nome Mamma apareceu na tela e eu fiz uma careta, mas atendi, já que
fazia dias desde que tudo aconteceu e eu tenho evitado suas ligações. Estava
na hora de enfrentar meus erros.
— Oi, mamma. — Atendi em italiano.
— Graças a Deus, Giulia! Por que me evitou tanto? Faz dias que quero
falar com você! — Sua voz estava mais preocupada do que brava, isso me
relaxou um pouco.
— Você sabe o que aconteceu, tenho certeza que Pedro tem deixado
vocês por dentro de tudo. Eu só... Mamma, eu só não queria falar sobre o
que aconteceu. Sei que estava errada sobre Mattia e sei que deve um
pedido de desculpas para você e para o babbo, mas eu ainda estou
chateada por terem me mandado para longe.
— Ah, menina... Fico feliz e aliviada por você reconhecer seu erro. Seu
babbo está furioso com você, mas eu só quero saber como você está.
Apenas isso.
Eu olhei para a tela de cinema apagada e as lágrimas encheram meus
olhos. Todos esses últimos dias tinham sido difíceis. Por mais que Pedro,
Margot e Rafael estivessem sempre tentando me fazer sentir melhor, minha
cabeça estava sempre voltando para as lembranças de dor. Eu odiava isso.
Ainda doía.
— Eu bem, mamma. Não se preocupe.
— Certeza?
— Sim.
— Não posso ficar falando por muito tempo, pois seu pai me aguarda
para ir à um evento importante. Mas, por Deus, Giulia, pare com toda essa
birra de não atender quando ligarmos! Seu pai ainda quer falar com você,
ele não está nada bem com tudo isso e com o vídeo que está circulando na
internet! O que as pessoas estão falando sobre o nosso nome não é algo
que seja bom para os negócios. Isso, sem contar que todos os pretendentes
que seu pai estava de olho para você, agora não são mais uma opção.
Claro que eles viram o vídeo. E, claro que eles estavam preocupados com
os negócios e essa maldita ideia de casamento arranjado. Bufei, enxugando
as lágrimas com meus dedos, com raiva de ter pensado, por um segundo,
que ela estava apenas preocupada comigo.
— Se ele quer falar comigo sobre isso, mamma, então ele que venha
pessoalmente e fale!
— Giulia!
— Ao contrário do que vocês pensam, não sou uma boneca, que vocês
podem controlar. Sou sua filha! E eu estou prestes a completar a completar
20 anos, então, que bom que os pretendentes chatos e, provavelmente, tão
machistas quanto meu pai, não são mais uma opção! — Desliguei, sem
avisar, a raiva corria pelas minhas veias, como se fossem adrenalina pura.
As lágrimas caíam novamente em cascastas, só que dessa vez, não era
tristeza por Mattia ou minha desilusão amorosa; era sobre meus pais.
Sobre como eles serem me trataram como objetos. Entendo que estavam
certos em não me quererem com Mattia, mas isso não significa que estão
certos em tudo. Eu sou um ser humano. Eu vou errar muitas vezes mais,
mas, se tem uma coisa que eu aprendi nesse pouco tempo sofrido, é que é
dessa forma que aprendemos.

•••

Eu acabei pegando no sono na sala de cinema e quando acordei estava


atordoada, confusa e com uma dor de cabeça irritante. Saí de lá, descalça e
me assustei ao dar de cara com Pedro, subindo as escadas.
Seus olhos escuros me analisaram com cuidado.
— Você está bem?
Anuí, com um sorriso sonolento.
— Peguei no sono e dormi o dia todo. — Levantei a mão e pressionei
minha palma na testa. — E agora estou morrendo de dor de cabeça. Que
horas são?
Ele checou seu relógio de pulso.
— São quatro e quinze da tarde. Peça um analgésico para Warren.
— Sì, farei isso. Grazie.
Ele anuiu, ainda me olhando daquela forma estranha, que é uma mistura
de curiosidade e intensidade.
— Haverá um evento hoje em prool de uma fundação para animais
selvagens aposentados. — disse ele. — Se você estiver melhor da dor e
quiser ir comigo-
— Eu vou. — falei rapidamente. Eu estava gostando de passar um tempo
com Pedro e, apesar de não saber nada sobre essa fundação, parece ser algo
adorável. Sempre tive curiosidade sobre os animais selvagens que se
aposentam dos zoológicos.
Seus lábios se contraíram em um sorriso e ele assentiu.
— Que bom. — Ele sorriu. — Nosso voo vai sair às sete, então-
— Voo? — questionei, minhas sobrancelhas se juntando. — Não será
aqui em Miami?
Ele negou com um movimento de cabeça.
— A fundação é daqui, mas o evento irá acontecer em Chicago.
— Uau. Você viaja o tempo todo de avião?
Ele riu, retirando o terno que usava e já indo em direção às suas escadas.
Piscou para mim quando respondeu:
— Geralmente, eu vejo mais o meu piloto, Léon, do que o Joel.
Os cantos da minha boca se curvaram para baixo, impressionada. Meu
pai viajava, mas só nas poucas semanas que estávamos aqui na casa, ele já
viajou umas sete vezes. Dei um sorrisinho de lado e brinquei:
— Quem foi que disse que a vida de um bilionário é fácil?
Mais uma vez, ele piscou, abrindo os braços como se estivesse se
desculpando. O sorriso que ele abriu foi desconcertante de tão lindo.
— Eu nunca ouvi que seria.

As seis e meia, eu estava com meu estômago revirado e a incerteza


estava me deixando inquieta. Faziam quinze minutos que estava de pé
diante do espelho, remoendo sobre o vestido que estava usando.
Ele era lindo demais. Cetim azul, longo, com uma faixa sobre a barriga,
uma fenda que ia até o alto da minha perna e um decote generoso. Eu
sempre estive ansiosa para usa-lo em algum evento, mas agora eu não
estava tão empolgada. A faixa mostrava muito da minha perna e o decote
exibia demais os meus seios.
Olhei para o meu rosto. A parte da maquiagem, eu tinha superado e havia
feito algo bonito. Eu tinha brincos que combinam perfeitamente com o
vestido, assim como minha Fontaine incrível nos pés.
Mas pensar que as pessoas podiam me julgar pela minha roupa, me
deixava nervosa. E se minhas curvas estivessem exibidas demais?
Uma batida firme na porta me fez sobressaltar.
— Entre, por favor!
Pedro apareceu, e meus olhos caíram pelo seu corpo alto e perfeito sob
um smoking feito nas medidas certas para ele. Pela primeira vez, ele usava
uma gravata borboleta. Os seus olhos fizeram a mesma coisa comigo, o que
me fez encolher quando suas sobrancelhas franziram.
— O que você achou? — perguntei, abrindo os braços, muito nervosa.
Seus olhos encontraram os meus e ele fez aquilo que sempre fazia:
— O que você acha?
Grunhi, impaciente, tentando me segurar para não chorar.
— Por que você sempre faz isso? — inqueri, e ele me olhou com
confusão. — Por que sempre devolve minha pergunta? Basta responder o
que você acha e pronto. É assim que as coisas funcionam.
Lentamente, ele entrou no quarto e caminhou em minha direção. Seu
perfume masculino tomou conta do lugar, da mesma forma como sua
presença poderosa fez.
Eu me virei de frente para o espelho de novo quando ele chegou atrás de
mim e pegou meus olhos através do espelho. Sua boca estava curvada em
um sorrisinho ladino, que me provocou coisas estranhas, que eu não sabia
explicar.
— Eu sempre pergunto para você, Giulia — ele começa, a voz rouca,
calma, baixa. —, porque você é a única que precisa achar boa ou não. No
entanto, devo dizer que você está linda.
Os meus batimentos dispararam com violência. Meu peito subiu e desceu
sem explicação. Engoli com dificuldade.
— Grazie. — Anuí, tentando voltar ao normal. O que diabos estava
acontecendo comigo agora? — Mas, será que não devo colocar um vestido
mais decente? Não acha que está mostrando demais?
Quase automaticamente, seus olhos caíram para meu decote e eu pude
ver como ficaram mais escuros que o normal. Eu sempre percebi que isso
era a primeira coisa que os caras viam em mim, desde a época da escola,
mas eu nunca imaginei que fosse chamar a atenção de um homem tão
experiente, que tem tantas mulheres lindas e modelos, com peitos enormes
aos seus pés.
Parecendo ser torturado, ele desviou os olhos rapidamente e voltou para
meus olhos. Deu um passo à frente, e meu rosto queimou mais do que já
estava. Ele levantou as mãos e segurou em meus ombros. O contado de sua
palma quente com minha pele me fez estremecer.
— Olhe para você, Giulia. Você pode trocar de roupa, se quiser, mas é
linda pra caralho, não importa o que esteja vestindo.
Os olhos cor-de-mel de Giulia brilharam através do espelho quando minhas
palavras saíram. Ela arfou, fazendo seu peito subir e descer, o que tornou
seus seios mais proeminentes no decote do vestido.
Eu olhei de volta para seu lindo rosto corado. Ela estava perfeita. Mesmo
que ela tentasse evitar, tudo nela gritava sensualidade. Não importava as
roupas comportadas, o rosto limpo de maquiagem, ela não podia esconder
que ela uma mulher sexy. E, com esse vestido, estava de tirar o fôlego.
Literalmente, eu desaprendi a respirar quando entrei no quarto e a vi. Foi
um sentimento muito ruim vê-la amedrontada e indecisa por conta de sua
roupa. Foda-se o que as pessoas pensam!
Foda-se o que o fodido do Mattia disse para ela! Eu ficaria muito feliz
em encontra-lo de novo para terminar de quebrar a sua cara nojenta e
abusiva, só por ver o que ele fez com ela. Suas palavras a quebraram, e um
dia eu quebrarei sua vida.
Sua pele queimou sob minha palma e eu engoli, arrastando minhas mãos
para baixo em seus braços. Notei que se arrepiou, e eu rapidamente abaixei
as mãos para o lado do meu corpo.
O que eu estava fazendo? Ela era muitos anos mais nova que eu e seu pai
era o melhor amigo do meu pai. Eu prometi protege-la e vigia-la. Eu acabei
de vê-la cair por conta de um relacionamento fodido. Senti toda essa merda
ruim e esquisita que estava sentindo não poderia ser uma opção.
Limpei a garganta quando algo pesou no meu interior e me afastei um
pouco, sacudindo a cabeça.
— Vou esperar você lá embaixo. — Avisei e me virei para sair, mas a
mão pequena e macia de Giulia se fechou em meu pulso, puxando-me de
volta para ela.
Seus olhos procuraram os meus, e eu pude ver algo diferente neles. Ela
nunca tinha me olhado assim antes. Respirando fundo, ela umedeceu os
lábios com a língua, atraindo meu olhar para sua boca pequena.
— Grazie. — disse ela, a voz suave. — Eu já te agradeci uma vez por
tudo, mas quero fazer isso de novo. Então, grazie por tudo isso que você
está fazendo por mim. Está sendo muito importante, pode acreditar.
Meu peito se encheu e afundou, causando uma dor que não era ruim ou
dolorosa. Era apenas diferente. Anuí e estava prestes a dizer “por nada”
quando ela me surpreendeu.
Mesmo com um salto gigante, Giulia ainda era muitos centímetros mais
baixa que eu, então ela soltou meu pulso e trouxe suas mãos para se
fecharem em minha nuca, se empurrou em seus pés, ao mesmo tempo
puxando-me para baixo, e pressionou seus lábios contra o canto da minha
boca.
O meu corpo tencionou no mesmo instante e algo quente percorreu do
meu peito para baixo, até se alojar na cabeça do meu pau, fazendo-o
estremecer junto comigo. Eu paralisei. O medo de se mover e ir mais para o
lado e não conseguir mais parar me envolveu.
Como se soubesse o que eu estava pensando, só para provocar, suas
mãos subiram um pouco para segurar meu rosto e ela se afastou por um fio
apenas para pressionar novamente mais no meio da minha boca. Seus olhos
fechados, suavemente, enquanto uma luta interna ficava enfurecida dentro
de mim. Por fim, ela levou a boca para bem perto do meu ouvido, seus
polegares acariciando meu rosto, quando ela sussurrou em italiano:
— Obrigada, de verdade. Eu nunca vou me esquecer das coisas que está
fazendo por mim.

•••

Durante todo o voo, a voz de Giulia me atormentou. Não a voz dela aqui,
já que ela resolveu jogar dama com Rafael e não estava conversando
comigo; mas sua voz em italiano, sendo sussurrada na porra do meu ouvido,
depois do quase beijo que ela me deu.
“Grazie, davvero. Non dimenticherò mai le cose che stai facendo per
me.”
Eu já tive outras mulheres sussurrando em meu ouvido, mas nenhuma
me deixou tão aceso como Giulia deixou. Apoiei minha cabeça no encosto
do banco de couro e fechei os olhos, buscando minha calma de sempre. Eu
odiava sair do controle por vários motivos, mas o que mais pesava era o
fato de que minhas escolhas se tornavam erráticas e precipitadas. Como
meu pensamento no momento que estava me questionando porque não a
segurei e a beijei.
Isso era errado de muitas maneiras. Eu nunca traí a confiança de
ninguém, e não seria legal começar com o melhor amigo do meu pai.
Quando, finalmente, chegamos no evento, Giulia deslizou sua mão na
dobra do meu braço. Inclinei a cabeça para olha-la e peguei seu sorriso
adorável.
Rafael estava do seu outro lado, os olhos estreitos enquanto olhava ao
redor, provavelmente em busca de Athena, sua nova amizade estranha.
— Uau. — Giulia também deu uma olhada no local, seu corpo ficando
tenso. — Quantas pessoas lindas e elegantes.
Sem pensar direito, com minha parte protetora tomando lugar, levantei a
outra mão e coloquei sobre a dela, dando um aperto de leve.
— Você está ainda mais linda e elegante do que qualquer pessoa presente
nesse evento. Não se esqueça disso.
Ela engoliu com dificuldade, mas assentiu devagar, seus ombros
aliviando com minhas palavras.
— Meu irmão tem razão. — Os olhos escuros de Rafael se voltaram para
ela, seu sorriso era levado. — Não se preocupe. Você está maravilhosa e, se
alguém ousar dizer o contrário, grite por mim e eu quebrarei os dentes do
desgraçado.
Prendi um sorriso, sacudindo a cabeça. É claro que ele sempre demonstra
sua impaciência. Eu não rebato, porque eu seria capaz de fazer a mesma
coisa por ela.
Nós entramos, nos misturando. As pessoas iam nos cumprimentando
enquanto andávamos, e eu estava tão acostumado com elas querendo
chamar minha atenção, que já acenava e sorria em automático.
Ao contrário de mim, meu irmão enfiava as mãos nos bolsos e só falava
com as pessoas que ele gostava. Sempre deixou claro que não suportava boa
parte daquelas pessoas e odiava falsidade. Não iria julga-lo por isso.
Um garçom passou por nós com uma bandeja de drinks, e Rafael pegou
um.
— Eu posso tomar também? — Giulia me perguntou baixo. Depois da
nossa última conversa sobre limites de bebidas alcoólicas para menores de
21 no país, ela não estava mais pedindo vinho em restaurantes.
Levantei a mão e peguei um dos drinks, entregando para ela. Pisquei um
olho e falei:
— Você está comigo. Eles não vão te pedir a identidade aqui.
Eu realmente não ligava para isso. No Brasil, comecei a ingerir bebidas
alcoólicas com quinze anos para me enturmar com as pessoas. Entendo que
ela goste e queira beber, só não iria permitir que passe dos limites e fique
muito alterada.
— Você não vai beber também?
Balancei a cabeça, negando.
— Não isso.
Finalmente, chegamos perto de quem queríamos. Margot foi a primeira a
nos ver e abriu um sorriso radiante quando se aproximou para abraçar
Giulia. Ela estava linda, como sempre, em um longo vestido branco, tomara
que caia e uma fenda que deixava sua perna do lado de fora, assim como o
de Giulia. Em suas laterais, haviam uma lista preta para quebrar mais o
efeito do branco.
— Você parece uma princesa de filmes de romance de tão linda que está!
— Ela elogiou Giulia, que abriu um sorriso tímido.
— Grazie. — Minha acompanhante acenou para seu vestido, parecendo
estar chocada. — Eu nem preciso dizer o quanto você está deslumbrante,
certo?
Margot descartou com um aceno e sorriu.
— Foi o primeiro vestido que vi na minha frente. Não foque nisso
porque você é, definitivamente, a mulher mais linda desse evento.
— Eu disse exatamente isso para ela. — Eu inclinei a cabeça para o rosto
corado de Giulia, e seus olhos brilharam para mim.
Ela podia ser menos linda do que é. Ou, pelo menos, não ser filha do
melhor amigo do meu pai. Ou ter mais idade...
— Claro que você disse. — Margot me abraçou rapidamente, deixando
um beijo em meu rosto. — Você é um cavalheiro e sempre diz as coisas
certas.
Eu sorri para ela e senti a mão de Giulia apertando meu braço. Inclinei a
cabeça para ela, e seus lábios estavam apertados em uma linha fina. Encolhi
meus olhos para ela, que revirou os seus e moveu a cabeça para Margot
com um sorriso.
— Venha, quero te apresentar para uma pessoa. — Margot falou,
estendendo a mão para ela, que rapidamente pegou e me deixou.
Senti-me estranho pra caralho com o que acabou de acontecer, eu decidi
colocar isso de lado e focar nas outras pessoas. Comecei dando um abraço
em Titus, César e Kaan, que estavam presentes.

Margot segurou minha mão e me levou pelo salão repleto de pessoas


muito ricas. Nós paramos diante de Ryle Christ e sua esposa, a maravilhosa
modelo Mia Lazzari Christ.
Ela era linda nas fotos de seu Instagram de mais de cem milhões de
seguidores, mas pessoalmente ela conseguia ser ainda melhor. Era como se
eu tivesse de frente com a versão humana de uma boneca Barbie.
— Mia — Margot tocou se braço com um sorriso largo. —, quero que
conheça minha amiga, Giulia Russo. — Ela olhou para mim. — Essa é Mia
Lazzari, uma velha amiga.
Pelo status do meu pai, eu estava sempre conhecendo pessoas famosas na
Itália, e com o Pedro não era diferente, mas estar diante de uma mulher que
sempre me inspirou com fotos e tudo mais, era bizarro e muito surreal. Eu
estava paralisada, meus olhos arregalados e o pulso disparado.
— Olá. — Mia cumprimentou, seu sorriso era perfeito. Ela se inclinou e
beijou meu rosto. Seu vestido prateado era belíssimo e, com certeza, foi
feito exclusivamente para ela. — É um prazer conhece-la, Giulia.
— O prazer é todo meu. — disse, encantada.
— Ah, italiana também? — Ela reconheceu pelo meu sotaque. — Minha
família é de lá.
Eu anuí, sem conseguir disfarçar minha admiração por ela.
— Conheci uma pequena parte dela. — falei. — Seu pai foi um deles.
Ela sorriu.
— Tenho certeza que eles ficaram encantados com sua beleza, assim
como eu.
— Eu fico muito feliz, principalmente vindo de uma pessoa tão linda
como você.
Seu sorriso alargou, doce e gentil.
— Conhece meu marido? — Ela apontou para Ryle, que estava com uma
mão em sua cintura enquanto bebia um pouco do seu uísque. Ele estava
lindo, como da última vez, só que usava um smoking.
Ele assentiu e acenou para mim.
— É um prazer vê-la novamente. — Então se explicou para a esposa: —
Ela está com Pedro e nos encontramos no Clube uma vez.
— Ah, eu adoro o Pedro e o Rafael! — ela exclamou, fazendo-o torcer o
rosto em uma careta. Bufou e sorriu, batendo no seu peito. — Você me
entendeu.
Então ela e Margot começaram a conversar comigo sobre várias coisas,
inclusive o mundo da moda. Elas conseguiram me distrair dos sentimentos
conflitantes dentro de mim, mas a cada minuto, eu olhava na direção de
Pedro e o pegava me observando.
Seus olhos sempre se apertavam levemente, e meu peito batia mais forte.
Eu quase o beijei hoje. Não saberia explicar o que aconteceu naquele
momento, mas, estar tão perto desse homem tem sido difícil ultimamente.
Eu venho percebendo há algum tempo. Meu corpo inteiro fica quente e as
borboletas se agitam em meu estômago.
Eu tentei evitar, pensando sobre tudo que já aconteceu nos últimos dias.
Toda a dor que senti com o que Mattia fez, o fato de que tenho pavor
sempre que começo a pensar em me relacionar com outra pessoa
novamente, de entregar meu coração. Mas não deu certo. Não tendo Pedro
comigo todos os dias, com suas palavras perfeitas que me ajudam a me
sentir melhor.
Principalmente, não com seu corpo grande e forte, e perfeito. Ele é uma
tentação para os olhos. É o tipo de homem que as mulheres gostariam de
pecar, e eu não estou de fora. Não sou imune a isso.
Tudo treme quando o vejo sem camisa durante as corridas. Eu sempre me
arrepio quando ele encosta em mim, meu corpo reage rápido e
automaticamente.
Não tem como negar: era um caminho difícil e, possivelmente, proibido.
E por mais que minha consciência queira tomar o controle, a atração é
maior e possessiva.

Durante a noite, de volta para a casa, eu me deitei na cama para dormir,


mas os pesadelos tomaram conta dos meus sonhos. Acordei no meio da
madrugada, coberta de suor e desesperada depois de ter o rosto de Mattia na
minha frente, cuspindo todas aquelas palavras na minha cara novamente.
Então, eu fiz algo que eu não parei para pensar direito: eu saí do meu quarto
e subi as escadas que levava ao quarto de Pedro, o qual eu nunca havia
colocado os pés antes.
Tentei ajustar meus olhos com a escuridão do lugar. As paredes de vidro
escureciam — assim como no meu quarto —, para que a luz da lua não
deixasse o quarto tão claro. Eu foquei na cama, andando devagar, na ponta
dos pés para não o acordar.
Com a pouca luz, consegui vê-lo deitado de lado, com as costas para
mim e o lençol coberto até sua cintura. Estava sem camisa.
Eu me aproximei, sentindo-me corajosa, e me afundei com cuidado na
cama ao seu lado. Meu peito batia tão rápido, que eu temia que ele
quebrasse minha caixa torácica ou escapasse pela minha boca.
Pedro se remexeu, com um suspiro suave, e os músculos de suas costas
contraíram com o movimento, o que fez meu corpo acender e meu rosto
pegar fogo.
Com a mão trêmula, toquei seu ombro, na intenção de acorda-lo, mas
minha pele se arrepiou com o contato e eu arrastei meus dedos para baixo
em seu braço, lentamente, a respiração entrecortada.
Até que sua mão veio para a minha, agarrando firme quando fiz menção
de descer mais para seu peito. Sobressaltei, engasgando com o susto.
— O que você está fazendo, Giulia? — Sua voz rouca do sono surgiu,
fazendo-me estremecer.
Ainda segurando o pulso de Giulia, eu me remexi e sentei-me na cama.
Estava um pouco escuro, mas eu conseguia ver seus olhos arregalados. Ela
não esperava que eu acordasse assim, o que me deixa ainda mais intrigado
sobre o motivo de ela estar aqui.
O meu coração estava acelerado por ter sido acordado dessa forma. Eu
não tinha sono leve, então, se ela quisesse andar o meu quarto inteiro, eu
não acordaria, mas me notar, já era outro assunto.
— O que você está fazendo, Giulia? — repeti a pergunta, ainda grogue,
tentando ver mais do seu rosto na escuridão.
Eu ouvi quando ela puxou uma respiração profunda antes de soltar em
uma voz baixa e trêmula.
— Scusi. Eu... eu tive um pesadelo e odeio ficar sozinha quando tenho
pesadelos, então...
Suspirei, soltando seu pulso. Levantei as mãos e esfreguei meus olhos,
deixando meus músculos relaxar depois do susto.
— Tudo bem. — Garanti, tateando pelo controle na mesa de cabeceira.
Quando o encontrei, apertei um botão e as luzes se acenderam. Eu pisquei
para me acostumar com a claridade e quando olhei para Giulia, precisei
engolir com dificuldade para não grunhir.
Ela estava com uma camisola minúscula de seda vermelho e o decote
deixa muito para minha imaginação recém acordada e muito atordoada.
Meu pau contraiu, mostrando que estava mais desperto que eu e minha
cabeça alertou que eu precisava fazer alguma coisa com urgência para não
cair em tentação.
— Você pode dormir aqui se quiser. — eu disse, me arrependendo logo
em seguida, porque, novamente, minha cabeça alertou, dessa vez me
perguntando como isso faria com que eu não caísse em tentação.
— Eu posso tentar, mas nunca consegui voltar para dormir depois que
acordei com pesadelos. — Ela falou baixinho, colocando uma mecha de seu
cabelo para trás da orelha, timidamente.
Anuí, entendendo.
— É porque você precisa relaxar.
Ela mordeu o lábio inferior quando falei, seus olhos caindo para minha
boca. Automaticamente, meu corpo ainda adormecido, se encheu de desejo.
De repente, eu estava desejando me inclinar na cama e beijar sua boca,
tocar seus seios médios e redondos, rasgar a porra da camisola minúscula.
Eu estava querendo isso com uma mulher que era filha do melhor amigo do
meu pai, o qual prometi que cuidaria de sua única herdeira.
Eu também precisava relaxar para voltar a dormir porque agora meu
corpo estava muito aceso e, mesmo se eu quisesse, ele não me deixaria mais
dormir.
— Eu tive uma ideia. — Eu coloquei o lençol para o lado e deslizei as
pernas para fora da cama, impulsionando para levantar. A minha cama era
no estilo japonesa, então era um pouco difícil levantar com meus 1.90
metros quando todo o meu corpo está trêmulo. — Vem comigo. — Chamei,
já indo para a porta.
Giulia se levantou, assentindo em confirmação, mas seu rosto logo ficou
corado. Ao seguir seu olhar, percebi que estava olhando para a parte de
baixo do meu corpo — onde havia uma cabana armada na minha calça de
moletom. Apertei os olhos para meu pau duro, limpei a garganta e continuei
minha caminhada para a porta.
Eu não me importava que ela visse isso. Eu nunca tive vergonha dessas
coisas, mas me sentia um pouco mal por saber que ela era inexperiente e
para algumas pessoas, essa visão poderia ser bem chocante.
Ela me seguiu escadas abaixo até que estávamos em minha cozinha.
Checando os armários, peguei duas canecas e as posicionei sobre a ilha
enquanto ela deslizava sentada em uma das banquetas, me observando.
Peguei uma panela, coloquei no fogão, em seguida, abri a geladeira, peguei
o leite e despejei na panela. Então liguei o fogo para esquentar.
— Leite? — Ela questionou, as sobrancelhas se contraindo.
— A minha mãe costuma dizer que é muito bom para ajudar a dormir. —
expliquei. — Eu e Rafael sempre odiamos qualquer tipo de chá, por isso,
nossa mãe teve que usar esse outro método.
Ela escutou e assentiu, brincando com a alça de uma das canecas.
— E onde sua mãe mora?
— No Brasil. Recife, para ser mais exato.
— Qual o nome dela?
— Polly.
— E por que não aqui com vocês?
Eu levantei a mão para coçar a nuca, e isso fez com que os olhos dela
fixassem no meu peitoral. Eu gostava da admiração e desejo nos seus olhos,
apesar de que tudo dentro de mim gritava o quanto isso era errado.
— Ela preferiu ficar perto da minha avó.
— Grande. — Seu sotaque italiano fez bombear sangue para meu pau,
deixando-o ainda mais dolorido.
Depois de alguns minutos, desliguei o fogo e servi nossas canecas com
leite quente. Eu podia sentir seus olhos atentos nas minhas costas, em cada
movimento meu. Escorreguei em uma banqueta de frente para ela,
segurando minha caneca pela alça.
— Cuidado. — alertei. — Está quente.
— Eu sei. — Seus olhos brilharam para mim, dando outro significado a
sua resposta.
Antes de beber um gole pequeno, soprei um pouco e olhei para ela sobre
a borda da caneca. Falei em tom baixo, quase sussurrando:
— Se você não parar de me olhar dessa maneira, vai ser um pouco difícil
do meu corpo relaxar.
Ela arfou, encontrando meus olhos, suas bochechas aquecendo em um
tom rosado. Eu estava começando a gostar da forma como ela era
inexperiente, mas ao mesmo tempo decidida. Seu selinho ontem, antes do
evento, me mostrou isso.
Eu podia ver como ela gostava de atiçar e tinha prazer nisso. O selinho
não foi acidente; foi de propósito, e me deixando martelando isso durante
todo o resto da noite até que consegui cair no sono. Mas só para ela me
acordar no meio da madrugada, com o caralho de uma camisola pequena e
sexy.
— Bene — ela começou, meneando a cabeça devagar, sua voz frágil e
baixa, assim como a minha. —, que tal criarmos um clube? Porque meu
corpo está em alerta desde que eu toquei em você.
Sua confissão me fez estremecer. Eu posicionei a caneca de volta no
balcão com cuidado e olhei bem nos seus olhos, com as sobrancelhas
franzidas. A minha respiração ficou entrecortada por conta da excitação que
terminei de despertar meu corpo.
— Giulia. — Foi um aviso.
— Eu não gosto de coisas complicadas. — Ela balançou a cabeça. — Se
eu estou sentindo uma coisa, eu apenas falo. Pergunte aos meus pais. — Ela
ironizou.
Inclinei a cabeça, observando seu rosto bonito.
— Eu também odeio, mas nossa relação requer limites.
Ela riu, apertando as mãos ao redor da caneca.
— Pare com toda essa paciência e lógica chata, tudo bem?
— Não é essa a questão e você sabe disso.
Seus olhos apertaram sobre mim, então ela os revirou, estalando a língua
no céu da boca quando entendeu o que eu estava falando. Ela voltou a falar,
só que em italiano, como se não estivesse com paciência de raciocinar em
inglês:
— Nem vem com essa. Dia dezoito agora eu completo vinte anos e,
mesmo se não completasse, já sou de maior até mesmo aqui nesse país.
Você não pode jogar essa desculpa. — Ela se inclinou levemente para
frente, sem querer tornando seu decote mais proeminente. — Vai me dizer
que não ficaria com uma mulher de vinte anos?
— Eu não disse isso. — Balancei a cabeça em negativa, tentando não
abaixar os olhos para seus peitos. Falei com ela em italiano também. Essa
não era a conversa que eu usaria para relaxar e tentar dormir. Isso
geralmente tem o efeito contrário, o qual eu não quero que tenha. — O que
eu estou falando — Eu trabalhei em minha cabeça para me controlar,
respirando devagar. —, é que não tem chance de acontecer nada entre nós
dois.
— Por que? — Ela desafiou, seus lábios movendo devagar, provocando.
Seu corpo ainda estava inclinado sobre o balcão de mármore preto.
— Você é filha do melhor amigo do meu pai. — Falei, fazendo-a erguer a
sobrancelha em questionamento, como se dissesse “e daí”. Eu contendo
para não revirar os olhos, expliquei: — Eu odeio confusões, Giulia. Já
entrei em uma por você e não pretendo me envolver em outra por um
tempo. — Bebi um gole do meu leite quente.
— Você não vai. — Ela rebateu. — O meu pai não vai se importar, já
que ele sabe que não sou mais virgem.
Sacudi a cabeça, lutando para me manter neutro após a lembrança de que
ela se entregou ao fodido Mattia.
— Não vou arriscar. — Levei a caneca para a boca de novo, uma forma
de me distrair dos peitos querendo escapar da seda.
— Você não é o tipo de homem que foge de uma mulher por conta do pai
dela. — Ela provocou.
Olhei em seus olhos, assumindo minha expressão séria.
— Não sou. — Concordei. — Eu sou louco por sexo e você tem razão:
eu não me importo com idade, contanto que a mulher seja de maior e
madura. Mas, no nosso caso, há muitas maneiras disso dar errado.
Eu virei quase todo o leite de uma só vez para me acalmar e tentar
amenizar a dor que estava sentindo com minha ereção muito dura. Agradeci
mentalmente por estar escondida sob a ilha, afinal, Giulia já tinha visto
demais.
Se eu queria aproveitar com ela? Óbvio. A mulher era a porra de um
pecado, com um corpo perfeito, que não me deixaria pensar duas vezes
antes de tê-la em uma cama, ou seja lá onde fosse. Mas eu odiava quebrar
com minha palavra. Ela já tinha se metido em confusão sob minha
vigilância, e não queria fazer isso acontecer de novo. Principalmente
comigo.
Muito provavelmente, eu teria que arrumar alguém para me ajudar a
aliviar o desejo mais tarde. O meu peito doía e reclamava só de pensar que
não seria ela, mas minha consciência sempre vencia.
— Bom — ela escorregou para fora da sua banqueta depois de terminar
seu leite. Seus olhos estavam me provocando, assim como o sorrisinho de
lado que estava curvando seus lábios. Seu sotaque só me golpeava mais, me
deixando mais e mais cheio de tesão. —, tudo que você falou, tenho certeza
que não refletiu dentro de sua calça — ela acenou com o queixo para minha
parte de baixo, que estava escondido sob o balcão. —, mas não vou insistir,
não. Espero que você consiga relaxar e voltar a dormir. Obrigada pelo leite
quente. Eu vou voltar para sua cama.
Ela deu uma risadinha quando viu minha expressão e deu de ombros.
— Foi você quem ofereceu. — Me lembrou e deu as costas para ir para
as escadas.
Eu suspirei, reprimindo um gemido enquanto olhava seu corpo bonito na
pequena camisola. Deixando a caneca de lado, apoiei meus cotovelos no
balcão e curvei os ombros, passando as mãos pelo meu rosto. Alguma coisa
muito pervertida me alertou de que meus dias de paz haviam terminado.

Eu não acordei no dia seguinte para correr.


Primeiro que quando eu havia conseguido pegar no sono, já estava
clareando e segundo porque o colchão de Pedro era tão macio, que todo o
meu corpo se tornou muito preguiçoso.
Eu abri os olhos, piscando devagar por conta da claridade que havia
tomado conta do quarto. As paredes de vidro eram programadas para
permitir a entrada da luz solar depois de uma certa hora. Claro que Pedro
havia programado ela bem cedo, para que o ajudasse a despertar.
A vista era incrível. O mar estava calmo lá fora e quando me sentei, pude
enxergar um barco branco bem longe. Esticando os braços para cima, me
espreguicei. Olhei ao redor e não havia rastro de Pedro em lugar algum. Ele
tinha voltado para o quarto logo depois que eu voltei, mas virou as costas
para mim sem dizer uma palavra.
Dei um sorrisinho pequeno e sonolento ao lembrar de tudo que falei para
ele de madrugada. Quando foi que eu fiquei tão corajosa?
Checando o relógio em sua mesa de cabeceira, vi que já se passava das
dez. Eu me levantei e com os pés descalços andei para o meu próprio quarto
para tomar um banho e fazer minha higiene matinal. Eu havia marcado com
Margot de encontra-la para fazermos compras juntas. Mesmo sabendo que
era a sua forma de me manter ocupada para não cair em desgraça por conta
do meu coração partido, eu estava empolgada. Eu amava fazer compras.
Depois de colocar uma calça jeans branca, saltos e um top cropped
comportado, eu arrumei meus cabelos, apliquei um pouco de rímel, peguei
celular, bolsa e óculos e desci. Encontrei com o Rodrigues mais novo na
sala e abri um sorriso, apesar da sensação chata de aperto no peito quando
vi que não era quem eu queria.
— Buongiorno.
Ele me olhou com sua sobrancelha escura erguida.
— Dia. — Devolveu, olhando com cuidado e desconfiança, outra coisa
que eles adquiriram depois de tudo que rolou. — Para onde você está indo?
— Bal Harbour Shops. — Falei. — Vou me encontrar com Margot para
compras. — Eu alarguei meu sorriso para ele. — Quer ir junto?
Sua cara bonita se fechou e seu humor terrível deu as caras. O meu
sorriso ficou ainda maior.
— Nem fodendo!
Levantei a mão e bati em sua testa.
— Pare de falar assim! — reclamei, ignorando seu olhar mortal. — Cadê
Pedro?
— Foi para o hotel participar de algumas reuniões. — respondeu
emburrado, massageando o local em que bati. — Como pretende chegar ao
Bal Harbour?
Enquanto enviava uma mensagem para Margot, dizendo que estava de
saída, eu respondi sua pergunta:
— Uber. — Então levantei meus olhos para ele, com um sorriso
persuasivo. — Ou você quer me levar?
Ele fez uma carranca.
— Eu não vou para o shopping com você outra vez, Giulia.
Eu fiz biquinho.
Ele me olhou impaciente.
— Não adianta!
Eu juntei as mãos como se fosse rezar e dei a ele um olhar do gato de
Sherek.
Sua expressão se tornou exasperada e começou a falar “não” em várias
línguas enquanto praticamente corria para a parte externa da casa:
— Não. No. Non. Het. Bangō. Hayır...

•••

— Eu vou esperar você aqui nesse café e nem venha com o biquinho e o
olhar pidão, porque vou manter minha palavra! — Rafael estava
gesticulando enquanto falava. Estávamos parados diante de um café chique
dentro do Bal Harbour Shops, esperando Margot aparecer. Depois que ele
me mostrou que sabe falar “não” em mais de oito línguas diferentes,
incluindo bielo-russo e gaélico-escocês, que eu nem sabia que existia, ele
me trouxe.
Eu sorri para ele, anuindo.
— Tudo bem, você pode ficar aqui.
Ele resmungou algum palavrão em português e entrou no café.
Depois que eu e Margot entramos e compramos na Prada, Chanel, Dolce
& Gabanna, Dior e, claro, Fontaine, nós fomos para a minha loja de
lingeries favorita. Era a coisa que eu mais amava comprar e por mais que eu
não esteja ainda tão confiante de usar de novo, eu gostava de olhar os
modelos novos e imagina-los no meu corpo.
— Eu amei essa! — Margot apontou para uma lingerie toda preta, com
calcinha minúscula e cinta-liga que estava em uma manequim. — O que
você acha?
Assenti, sorrindo.
— É linda e vai ficar perfetta no seu corpo. — Apontei, as palavras
pesando na minha língua após meu cérebro idiota formar a imagem dela
usando-o para Pedro ver.
Ela inclinou a cabeça com seu sorriso gentil para mim.
— Eu não estou dizendo para mim, baby. É para você.
Surpresa, olhei de novo para manequim. Era realmente linda e, apesar de
estar decidida a comprar algo vermelho, eu tinha que confessar que ela me
ganhou. Anuí, com um sorriso e pedi para a vendedora pegar meu tamanho.
Enquanto pagávamos nossas lingeries, fiquei inquieta. Pensar sobre
Pedro e roupas intimas me deixou com um calor fora do comum. E saber
que esse calor não iria passar tão cedo porque o bendito homem não queria
entrar em uma “discussão” com meu pai, me deixava frustrada.
Quando pisamos para fora da loja, tomei uma respiração profunda e reuni
toda a coragem que eu tinha. Virando para Margot, questionei:
— Quando você está querendo fazer... sexo, mas não tem ninguém para
fazer com você, o que você faz para liberar a excitação? — Eu despejei de
uma vez, o que fez a pobre mulher hesitar na caminhada, as sobrancelhas se
erguendo em surpresa e seu queixo caiu ligeiramente.
— Bom — ela começou, meio que sem saber como falar, mas ela não era
do tipo de mulher que se esquivava dessas conversas. Assim como Pedro,
era bem resolvida demais para isso. —, não é comum não ter ninguém para
isso. — Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso sensual. Ela
meneou a cabeça — Mas, claro, quando estou com muita vontade e acordo
no meio da noite, por exemplo, eu uso meus brinquedos sexuais.
Corei, arregalando os olhos.
— Você quer dizer... pênis de plástico?
— Também. — Ela mexeu levemente a cabeça. — Mas tenho alguns
outros. — Ela olhou para mim com curiosidade. — Você está excitada?
— No! — Respondi rapidamente. — Agora não, pelo menos.
Ela soltou uma risadinha e tocou meu braço.
— Tudo bem, fique calma. É muito normal, principalmente quando
sabemos o quão bom é fazer sexo.
Eu torci o nariz, lembrando que eu só sei isso porque deixei Mattia tirar
minha virgindade. Foi um pouco dolorido, mas, com toda merda, o diabo
fez de uma forma que fosse boa para mim.
— Por que não compra um vibrador? — Margot sugeriu. — Ele não
precisa introduzir para que você chegue ao orgasmo, caso você ainda esteja
desconfortável, e é fácil de usar.
Minha boca secou.
— Eu nunca usei um.
— Não tem segredos, você vai. — Ela segurou minha mão. — Eu
conheço um sexshop aqui, vamos lá.

•••

De noite, depois do jantar, eu me despedi de Pedro e fui para o quarto.


Estava nervosa por conta da minha compra mais cedo e com muita vontade
de testar.
Ele não questionou o motivo de eu subir tão cedo, provavelmente por
conta da nossa última conversa.
No meu quarto, eu tomei um banho, vesti uma camisola nova de seda
verde-lodo depois de hidratar meu corpo. Então peguei a caixa do vibrador
que estava sobre a cama e abri, retirando o vibrador recarregável com 10
vibrações. As minhas mãos estavam trêmulas quando o peguei, sentindo o
peso razoável. Ele era grande e branco, e pelo que a vendedora falou, tinha
a vibração bastante forte. Era o que mais vendia.
Com meu coração martelando contra minha caixa torácica, agarrei ele e
meu celular e corri para o banheiro, fechando a porta. Eu não queria correr
o risco de Pedro escutar alguma coisa. Respirando fundo, eu apertei no
botão para ligar. Saltei com um grito mudo quando começou a vibrar na
minha mão. Pelo o que o manual dizia, ele ficava mais forte cada vez que
você apertasse, então eu comecei a testar na minha palma.
O tremor do 2 me deixou arfando. Aumentei mais e meu coração
começou a bombear com mais força. Quando cheguei no 5, o tremor foi tão
forte, que enviou uma onda potente através do meu corpo, que se alojou no
meio das minhas pernas. Engasguei, olhos arregalados e rosto queimando.
Eu engoli e deixei o vibrador sobre a pia do banheiro, pegando meu
celular com as mãos tremendo de excitação. Eu nunca tinha usado um
vibrador e Margot me falou que eu podia ver alguma coisa, como um vídeo,
se eu precisasse de incentivo. Abri meu safari e pesquisei vídeos
pornográficos com vibradores.
Não fazia ideia de quanto tempo se passou, mas eu já tinha assistido
quase uma dúzia de vídeos — o que não estava funcionando por conta de
toda tensão que envolvia meu corpo —, quando uma batida na porta do
banheiro me fez saltar com o susto. Rapidamente desliguei o vídeo e
bloqueei o celular. Estava ofegante e uma olhada no espelho, percebi o
quanto estava corada.
— Giulia? — A voz de Pedro enviou toda minha excitação de volta,
causando um tremor no meu núcleo. — Você está bem?
Droga.
Ele deve ter batido na porta do quarto e me checado, já que esqueci de
trancar a porta.
Tomando fôlego, forcei meu corpo vibrando para abrir a porta. Encarar
Pedro em um momento como esse não foi uma boa ideia. Eu fiquei tonta.
— Você está vermelha, Giulia. — Ele percebeu, contraindo as
sobrancelhas em preocupação. — O que está sentindo? Está passando mal?
Eu juro que eu ia desmaiar.
Ele não estava sem camisa, mas a merda de sua camisa estava bem
colada em seu peito e braços musculosos.
— Estou bem. — Falei, meio hesitante, em italiano.
A suspeita cintilou em seus olhos, mas logo passou quando ele olhou
sobre minha cabeça. Sua expressão se fechou, suas mandíbulas se
contraíram, e ao intenso passou em suas íris escuras e incríveis — algo tão
acentuado, que me fez ondular e apertar uma perna na outra. Quando
abaixou a cabeça para me encarar de novo, eu não consegui evitar o arquejo
cheio de desejo que saiu da minha boca quando ele me inqueriu, mas sua
voz não era nem um pouco paciente; era dura e com uma lasciva que eu
nunca vi no tom de nenhuma outra pessoa na minha vida:
— Você estava se masturbando?
Meu corpo enrijeceu quando ele fez a pergunta. Por conta de sua atenção
tranquila e intensa sobre mim, meus mamilos endureceram. A excitação já
tinha me envolvido, atacando minhas entranhas, bombeando meu sangue de
uma forma tão forte, que fez meu coração querer quebrar minhas costelas
com a violência.
Sacudi a cabeça, mas foi um movimento tão pequeno, que ele só
percebeu porque estava muito focado em mim, esperando minha resposta.
— Ainda não. — Soltei.
Seu peito subiu e desceu pesadamente e ele ergueu as mãos, apoiando-as
no batente da porta. Isso fez seu torso ficar mais largo e meus olhos eram
quase bêbados, encarando os músculos contraídos sob a camisa.
— Então você vai se masturbar? — Ele não tinha vergonha ou hesitação
para perguntar. Seus olhos queimavam sobre mim.
— Eu... — Estreitei as pálpebras quando ergui o queixo para encara-lo,
ponderando na minha resposta por um instante. — Eu estava tentando
entender como se usava porque eu... eu nunca... — gesticulei, um tanto
trêmula, em direção ao aparelho vibrador, meu rosto queimando mais a cada
palavra que saía da minha boca.
— Você nunca usou um vibrador? — Ele inqueriu, mas não parecia ter
dúvidas nisso.
Anuí.
— Nunca.
Pedro ficou em silêncio, estudando meu rosto com cuidado e uma
mansidão inquietante, que fazia meu corpo inteiro palpitar em ansiedade.
Por fim, ele soltou:
— Você nunca se masturbou, não foi?
Dessa vez, eu cruzei meus braços, odiando que ele saiba o quão
inexperiente eu sou nessa porcaria. Eu me remexi, encabulada e estreitei os
olhos para ele, mas minha coragem vacilou quando o peguei focado nos
meus peitos, que ficaram bem proeminentes por conta dos meus braços
cruzados. Eu não os abaixei. Gostava de ver como eles chamavam atenção
desse homem.
— Olha, realmente eu nunca fiz isso. — Confessei, empinando o nariz.
— Mas eu estou muito excitada, sabe? Tipo, de verdade. O tempo todo. —
Inclinei a cabeça, estudando sua expressão de tranquilidade que estava
feroz. Provoquei: — Já que você não quis me ajudar, eu resolvi comprar um
vibrador, mas não...
Antes mesmo que eu acabasse de falar, Pedro me empurrou para dentro
do banheiro, seguindo-me bem de perto. Eu abri a boca para perguntar o
que ele estava fazendo, mas fiquei chocada quando ele estendeu a mão e
agarrou o aparelho vibrador. Seus olhos duros caíram para meu rosto.
— Vire-se de frente para o espelho. — A sua ordem me fe estremecer.
Eu era uma pessoa muito teimosa e odiava receber ordens, mas, dessa
vez, eu não protestei. O anseio correu por todo meu corpo e eu obedeci,
virando e deixando meus braços caírem, apoiando minhas mãos no balcão
da pia com um suspiro trêmulo.
Pedro estava bem atrás de mim. Tão perto, que seu corpo cobria o meu e
seu calor podia ser sentido em cada célula viva dentro de mim. Seus olhos
escuros estavam muito intensos quando ele me olhou de volta no espelho. A
sua língua saiu e, bem devagar, ele passou em seus lábios para umedece-los.
— Agora eu preciso que você relaxe. — Ele murmurou bem perto do
meu ouvido, o seu braço livre vindo ao redor do meu corpo, sua palma
tocando a área do meu estômago.
Ofeguei, sentindo minhas pernas bambas. A minha pele formigou sob
seu toque.
— É um pouco difícil dessa forma... — Minha voz soou em um fio,
partida.
Ele balançou a cabeça, chegando mais perto até que minhas costas
estavam colocadas na sua frente. Algo duro cavou na parte baixa das
minhas costas, e eu engasguei.
Eu já sabia que ele era grande por conta da cabana que formou em sua
calça de moletom ontem, mas ele parecia bem grosso. Engoli em seco.
— Giulia — Ele chamou em um sussurro, seus lábios quase encostando
minha orelha, e meu arqueou com um arrepio. —, eu vou ajudar você a
relaxar.
Sua mão desceu em minha barriga, o atrito que o tecido macio da
camisola fazia na minha pele era gostosa. A minha boca secou e eu inclinei
a cabeça um pouco para o lado, dando a ele mais acesso.
— Pensei que não íamos... rolar? — Eu o desafiei, tentando amenizar o
choque do meu corpo.
Seus lábios se curvaram em um sorrisinho lascivo, maldoso.
— Acho que pensei errado. — Então sua mão se enfiou debaixo da
minha camisola e seu dedo apertou sobre meu pequeno nervo necessitado
sobre o tecido da calcinha.
Engasguei, meu corpo ondulando para frente, agarrando com mais força
na pia.
Com um olhar satisfeito, ele ligou o vibrador em uma vibração baixa.
— Abra mais as pernas. — ordenou, e eu logo fiz, sem hesitação. —
Agora se incline para trás, em meu peito.
Assenti, eufórica e fiz, deitando a parte de trás da minha cabeça em seu
peito duro.
Com os dedos grandes e ágeis, ele pegou minha calcinha e puxou para o
lado, então, com os olhos nos meus, levou o aparelho para minha
intimidade. Solucei quando a vibração tocou meu clitóris, fazendo todo meu
corpo de acender.
Segurei em seu braço que estava ao redor do meu corpo, meus olhos se
fechando com o desejo que pesava dentro de mim. Eu nunca tinha sentindo
uma sensação como essa. Era muito gostoso e meu cérebro ainda estava
tentando se acostumar com o fato de que era Pedro quem estava me
mostrando isso.
— Quero você olhando para mim, Giulia. — Ele sussurrou rouco. —
Abra os olhos e olhe para mim.
Com um aceno leve, abri as pálpebras pesadas, encontrando seus olhos
selvagens no espelho. Sem desviar do meu rosto, atento aos meus reflexos,
ele aumentou a vibração, e eu engasguei, minhas unhas cravando em seu
braço, no entanto, ele pareceu nem sentir.
Sua mão que estava na minha barriga levantou e ele afastou um pouco
sua cabeça, apenas o suficiente para que conseguisse pegar todo o meu
cabelo e levar para cima do meu outro ombro, deixando a parte direita do
meu pescoço livre para ele. Abaixando, sua boca encostou no meu ombro,
com um beijo suave e foi começou a subir, seus dentes raspando em meu
pescoço. A minha veia pulsou com força e eu ofeguei.
Ele aumentou mais, e um gemido escapou dos meus lábios. Ele sorriu,
malvado, gostando de me ver dessa forma.
Eu não fazia ideia de que ele era dessa forma — safado, descarado,
indecente, entre vários outros sinônimos apropriados para sua expressão de
agora. Pedro era um homem lindo, alto, com um corpo extremamente
atraente e, ovviamente, um pau capaz de satisfazer uma mulher. Mas
acredito que isso não é apenas o que importa; ele precisa ser bom no que
faz. E basta olhar nos seus olhos nesse momento, para saber que ele é muito
bom. Ele apenas está usando um vibrador em mim e já me tem derretida em
seus braços.
Mais uma vez, ele aumentou, chegando ao nível mais alto, e dessa vez,
eu lamentei, arqueando minhas costas. Levantei uma mão e fui para trás,
segurando seu pescoço, meu corto todo inclinado contra o seu. Então, com a
mão livre, ele atacou meu seio e apertou meu mamilo ereto e dolorido.
— Pedro... — implorei, meus olhos se fechando.
Ele riu no meu ouvido, o som rouco me deixando ainda mais necessitada,
pingando. Ele apertou o vibrador contra meu clitóris, movendo o aparelho
lá, causando ainda mais atrito delicioso.
— Per Dio! — Gemi, meu corpo ondulando. Meu braço caiu de seu
pescoço e eu levei à boca para reprimi meus gemidos, que estavam
começando a ficar altos demais, mas ele me impediu, segurando meu pulso,
e rosnou para mim:
— Não se segure! Pode gemer à vontade, alto e gostoso. — Ele voltou
para meu peito, amassando com sua mão enorme.
Apoiei mais uma vez minhas mãos na pia, meu corpo indo para frente,
nossos olhos segurando um ao outro através do espelho, enquanto uma onda
quente e muito forte começou a se acumular no meu ventre, como se tivesse
se preparando para uma explosão.
Pedro pressionou mais em minha intimidade, seus olhos queimando para
mim.
— Relaxe, Giulia. — ele mandou, sua outra mão aproveitando que agora
eu estava inclinada sobre a pia para cavar por trás. Ele deslizou-a pela
minha nádega e encontrou seu caminho para minha boceta. Diminuiu um
pouco as vibrações, mas só o tempo de introduzir um dedo dentro de mim.
Engasguei com um gemido de lamentação, mas meus quadris se
moveram de encontro a ele.
— Eu quero que você goze nos meus dedos. — disse ele, colocando
outro dedo, me alargando. Não havia barreiras para tornar dolorido porque
eu estava tão molhada. Ele voltou a aumentar e pressionou meu clitóris,
bem quando começou a meter seus dedos rápidos.
Então a onda que estava acumulando explodiu, convulsionando todo o
meu corpo, fazendo-me fechas as mãos sobre a pia e encolher os dedos dos
pés, gemendo alto, chamando seu nome. Ele desligou e abandonou o
aparelho de lado para segurar meu corpo, circulando o braço em minha
barriga, mas não retirou os dedos. Continuou metendo, diminuindo a
velocidade aos poucos.
Ainda com a adrenalina em mim, levantei a cabeça e olhei para ele sobre
meus ombros. Desesperada por mais aproximação, segurei sua nuca de
novo e puxei sua cabeça para baixo, encaixando meus lábios na sua boca
em um beijo muito ansioso e urgente. Ele devolveu, sua mão livre subindo
para segurar meu pescoço, o polegar fazendo círculos de carinho na minha
garganta.
Quando enfim retirou os dedos, eu lamentei. Ele descansou a testa na
minha, eu podia sentir seu coração martelando em minhas costas.
— Eu quero você. — ele sussurrou asperamente, excitado. — Eu preciso
sentir com meu pau o que meus dedos sentiram agora.
Engoli em seco com suas palavras indecentes e anuí com firmeza.
— Per favore!
Ele gemeu dolorosamente, suas mãos escorregando e se fechando com
força nos meus cabelos.
— É jogo sujo falar em italiano nesse momento. — Mas ele não esperou
que eu dissesse nada, segurou minha mão e me arrastou para fora do
banheiro, em seguida, para fora do meu quarto e em direção às suas
escadas.
Franzi o cenho, minhas pernas bambas com o orgasmo que havia tido,
mas entendi quando chegamos no seu quarto o motivo de ele ter me trazido
para cá.
Ele pegou um pacote fechado de camisinhas na gaveta de uma cômoda.
Eu estranhei, mas não fiz perguntas. Voltou para mim, que estava parada ao
lado de sua cama oriental, sem saber bem o que fazer. Ele segurou meu
rosto e afundou sua boca na minha, em um beijo mais suave dessa vez,
apesar de ser firme. Sua língua lambeu a minha e seus lábios me chuparam
como um cara realmente profissional nisso.
Segurando minha camisola em cada lado, ele se afastou para puxa-la pela
minha cabeça, deixando-me apenas com a calcinha encharcada. Os seus
olhos caíram para meus peitos médios, com os bicos doloridos e empinados,
implorando por uma atenção. Depois de se livrar da sua camisa, ele passou
um braço pela minha cintura e me ajudou a deitar na cama, em seguida, não
perdeu tempo e começou a chupar meu peito.
Eu arqueei em seu colchão macio, adorando a sensação que sua boca
dava enquanto trabalhava sem pressa nos meus peitos. Ele chupava,
mordiscava, lambia. Era perfeito.
Uma mão desceu entre minhas pernas e para dentro de minha calcinha,
então começou a me atiçar novamente, fazendo movimentos precisos em
meu clitóris sensível.
— Você é tão quente... — ele murmurou contra minha pele, enquanto sua
boca deixava uma trilha de beijos em minha barriga. Ele interrompeu os
movimentos deliciosos e seus dedos se fecharam em uma alça da minha
calcinha, seus olhos brilharam com malicia, mas antes que eu pudesse
protestas, ele puxou com força, rasgando-a.
Soltei uma exclamação, surpresa.
— Você sabe que isso era uma VS, certo? — questionei, apoiando-me
em meus cotovelos para poder olhar bem para ele entre minhas pernas.
Sua sobrancelha ergueu com arrogância e seus ombros encolheram
brevemente.
— Amanhã você pode ter uma loja inteira da VS em seu armário.
Eu ia rebater, mas ele foi mais rápido, abaixando a cabeça, tirando sua
língua e me lambendo com o movimento certo. As minhas pernas se
abriram mais e meu corpo caiu de volta no colchão com o impacto do
prazer que isso teve.
Ele fez mais uma vez e chupou com vontade, mas não demorou. Ficou de
joelho na cama, se livrou da calça de moletom e seu pau saltou livre de
cueca. Arfei, chocada. Imaginei que fosse grande e grosso, mas olhar para
ele de verdade me assustava tanto quanto excitada. Seu pênis tinhas veias
por toda a extensão e era... lindo. Me deu água na boca e um desejo absurdo
e ir até ele e envolve-lo com meus lábios e mãos. Só que Pedro tinha outro
plano: ele vestiu a camisinha e veio para o meio das minhas pernas
novamente, pairando sobre meu corpo pequeno e se sustentando com um
braço que estava ao lado do meu rosto. Seus olhos queimaram nos meus, ele
estava com muito desejo.
— É a sua segunda vez, então eu serei suave com você. — Ele avisou,
sua voz tremia de excitação.
Anuí, deslizando minhas mãos em seu peito duro. Ele colocou uma mão
entre nós e posicionou sua cabeça em minha entrada, e meu quadril se
moveu para cima, como um convite claro, então ele entrou lentamente.
Foi desconfortável enquanto ele me preenchia, mas manteve sua palavra
e foi suave, devagar, assistindo minhas reações, e sempre que eu fazia uma
careta, ele fazia uma pausa. Quando eu estava toda preenchida ao ponto de
sentir sua pélvis, percebi sua mandíbula se contrair. Ele estava se
segurando.
— Você é muito apertada. — gemeu. — Como está se sentindo?
— Cheia. — Soltei uma risadinha, tentando aliviar a preocupação que
estava enrugando sua testa. — Sto bene. — Garanti, segurando seu rosto e
puxando para baixo até que sua testa encostou na minha. Então sussurrei:
— Faça sexo comigo, per favore.
Então ele começou a se mover devagar, e eu fui me acostumando, a
sensação de incomodo sendo substituída pela sensação de prazer divino.
Sua boca foi para meu pescoço, e minhas mãos deslizaram para suas costas,
onde senti seus músculos contraindo com o esforço.
Meus gemidos eram altos, assim como as suas lamentações roucas em
minha pele. Ele me preenchia tão bem, me fazia sentir como se estivesse
cheia e completa. Todo mundo tinha razão: fazer sexo era bom demais.
Cravei minhas unhas na carne de suas costas, e pelo som que saiu de sua
boca, soube que ele gostou disso. Ele mordiscou meu pescoço e quando me
arqueei, ele fez a mesma coisa na pele sensível da minha garganta, depois
sua língua lambeu o lugar até meu queixo, onde seus dentes se fecharam.
Suas investidas começaram a ficar mais fortes, mas precisas. Ele se
ergueu, ficando de joelho, segurando minhas pernas e pressionando-as
abertas enquanto metia fundo.
Sem conseguir raciocinar e precisando apertar alguma coisa, minhas
mãos agarraram meus seios e eu os apertei com força, arqueando minhas
coisas, gemendo como uma louca. Ele grunhiu, e eu o vi encarar meus
peitos pressionados para cima, então ele foi mais fundo ainda, atingindo um
ponto sensível que fez meus olhos se revirarem.
Um sorriso perverso curvou seus lábios quando ele percebeu, então ele
tornou a fazer. E fez de novo, e de novo, e de novo. Cada vez mais forte e
mais rápido, até que eu explodi novamente, numa convulsão ainda mais
forte que a anterior, me apertando ao seu redor enquanto meu corpo tremia,
o que o fez gozar também, seu corpo caindo e me agarrando. Sua boca
pegou a minha e nossos gemidos foram engolidos por um beijo quente e
feroz.
Alguns minutos depois, ele já tinha descartado a camisinha, e eu me
encolhi em seu peito quando ele me abraçou. Assim como o meu, seu
coração ainda estava um pouco acelerado, mas nossos corpos já estavam se
acalmando, relaxados.
Eu não sabia o que dizer, estava sem palavras. Eu cheguei a imaginar
fazer sexo com ele, mas não sabia que seria tão bom. Talvez seja o sexo em
si, afinal, estou conhecendo agora e não teve a dor que a primeira vez teve,
apesar do esforço que Mattia fez para ser tranquilo.
A recordação me fez estremecer e rapidamente puxei o lençol para cobrir
meu corpo nu. Em nenhum momento durante o que fizemos, eu pensei
sobre meu corpo cheio de curvas e bunda cheia — Pedro me fez entender
que estava apreciando, então esqueci de todas minhas atuais inseguranças.
Ele deve ter percebido isso, já que puxou o lençol para longe do meu
corpo e o jogou no chão ao seu lado.
— Não faça isso. — falou, sua voz dura e chateada. — Seu corpo é a
porra da perfeição.
Corei, engolindo em seco, em seguida dei um sorrisinho, tentando me
afastar.
— Você não precisa me dizer coisas bonitas só porque acabamos de fazer
sexo...
— Eu não estou. — Ele me segurou, seus olhos pegando os meus com
um brilho intenso. — Acredite em mim, eu tenho notado suas curvas e sua
bunda desde chegou. Foda-se se isso me faz um pervertido ou algo assim.
Sei perfetta. — Ele forçou seu sotaque para falar a última parte em italiano,
e eu derreti em um sorriso abalado.
— Grazie. Eu realmente gosto de ouvir você falando minha língua, então
vou ignorar o palavrão.
Ele tocou meu queixo e se aproximou, seus olhos caindo para minha
boca:
— Acabei de descobri que gosto da sua língua. — ele sussurrou
roucamente. — Mas gosto de chupar ela com a minha boca. — E me beijou,
fazendo exatamente o que acabou de falar. Quando terminou, deu um leve
mordisco no meu lábio inferior e desceu sua boca para chupar meu pescoço
suavemente, me fazendo ofegar.
Eu ri, deliciada com as sensações que ele está causando em mim.
Provoquei quando estiquei mais a cabeça para que ele tivesse mais acesso:
— Desistiu de não entrar em problemas por mim?
Ele me lambeu, sua mão deslizando e apertando minha bunda com força.
— Você acaba de se tornar meu problema favorito.
No momento em que abri os olhos, a luz invadiu, fazendo-me voltar a
fecha-los novamente. Algo se mexeu contra meu corpo e o cheiro de maçã e
pêssego do cabelo de Giulia adentrou minhas narinas, terminando de
despertar.
Abri meus olhos de novo, me acostumando com a claridade e olhei para
a parte de trás da cabeça dela. Ela estava deitada com as costas coladas
contra minha frente e a cabeça fazendo meu braço esticado de travesseiro.
Eu ainda podia sentir seu corpo nu debaixo das cobertas e as recordações
vieram com tudo.
Eu já fiz muito sexo na minha vida. E eu sou muito exigente quando se
trata do ato sexual. Não sou tão paciente quando estou com uma mulher na
cama. Eu gosto de puxar o cabelo, bater nas nádegas, meter com força, sexo
bruto e duro. Mas, ontem foi um pouco diferente. Eu me segurei, engoli a
vontade de coloca-la de quatro, empinar sua bunda perfeita e meter com
muita força, porque era sua segunda vez apenas.
Eu não tinha experiência alguma com mulheres inocentes. Até mesmo a
mulher com quem tirei minha virgindade era perita nesse assunto. E, claro,
eu sempre procurei por mulheres assim, que sabiam o que estavam fazendo
e faziam perfeitamente o que eu gostava. A mulher que vai para cama
comigo precisa saber como chupar meu pau e tem que aguentar levar bem
fundo, em qualquer posição. Por isso eu e Margot temos esse lance há tanto
tempo. É a forma que ela gosta de fazer também. Ela até brinca, dizendo
que isso é porque temos o mesmo signo e é um signo safado.
Obviamente, se em algum momento está desconfortável para alguma das
mulheres, eu paro e tento fazer de uma forma boa e prazerosa para ela. Não
sou um filho da puta que só pensa no próprio prazer.
Só que com Giulia, tudo dentro de mim gritava para ir com calma,
devagar, praticar a paciência que eu pratico no dia a dia. E estava indo tudo
muito bem, eu estava sob controle, até que ela enfiou as unhas nas minhas
costas e despertou a porra do tesão desesperado.
Se tinha uma coisa que eu mais amava durante o sexo, era quando as
mulheres me arranhavam e mordiam. É o caralho da perfeição. E mesmo
que ela seja tão inexperiente, ela fez, sem que eu pedisse.
Ela se remexeu, esticando o corpo como se estivesse se espreguiçando e
gemeu. Respirei fundo quando sua bunda se empurrou contra meu pau, que
já estava desperto com meus pensamentos e a famosa ereção matinal. Com
a voz sonolenta, ela murmurou risonha:
— Eu já ouvi falar que homens acordam com ereção, mas presenciar e
sentir isso, é... delicioso.
Eu ri de boca fechada, e ela se virou para ficar com o rosto de frente para
meu peito. Ela beijou o ponto onde fica meu coração e sorriu.
Ela era linda normalmente, mas vê-la acordando me deixa saber que ela é
o próprio sinônimo de beleza.
— Bom dia, bambina. — falei, beijando sua testa enquanto passo a mão
em seu cabelo.
— Buongiorno. — Ela devolveu com um grunhido, seus olhos ainda
pesados de sono. Uma de suas mãos começou a explorar meu peito,
abdômen, e parou no meu pau, que contraiu, deixando meu corpo todo
tenso, mas ela retirou a mão rapidamente. — Você está sentindo dor?
— Um pouco. — confessei em sussurro, minha boca pressionada na sua
testa enquanto ela espiava por baixo do lençol. Eu podia sentir sua
indecisão. — Mas, não se preocupe. Nada que eu não possa resolver depois
de fazer minha necessidade fisiológica.
— Você quer dizer mijar? — Seu tom era divertido.
Eu assenti, sorrindo.
— Exatamente.
— Então, quer dizer, que não tem nada a ver comigo?
— Oh, não. Acredite em mim, você tem tudo a ver com isso. Não é fácil
acordar com você pelada e colada em mim, mas vai passar.
Ela afastou a cabeça para olhar nos meus olhos.
— Você se arrependeu do que aconteceu?
— Por quê?
Seus ombros encolheram de leve.
— Não sei. Você tinha me falado que não íamos rolar porque não queria
problemas com meu pai. Eu entendo que o que aconteceu pode ter sido por
você ter me ajudado com o vibrador e tudo o mais, então, se você se
arrependeu, pode falar para mim. Prometo que ninguém vai saber. Eu nunca
vou contar para meu pai, porque não quero prejudicar você.
Eu encarei seu rosto bonito por um instante. Gostava da forma direta que
ela lidava com as situações, mesmo que certas coisas — como essa — a
deixasse com o rosto corado de vergonha. Tirando seu corpo, isso foi o que
mais me chamou atenção nela. Ponderei sobre sua pergunta, tentando
entender o que eu estava sentindo agora, e talvez seja pelo fato de tê-la sem
roupa tão perto de mim, mas simplesmente, tudo o que eu sentia agora, era
excitação.
— Não estou arrependido, Giulia. — falei com sinceridade. — E eu sei o
que te falei durante a madrugada de ontem. Não suporto problemas, por isso
tenho evitado a mídia durante toda minha vida. Mas, vou te contar um
segredo.
Ela anuiu. Eu continuei:
— Eu não dou satisfação da minha vida pessoal para ninguém. Sair com
muitas mulheres ao longo da minha vida, e as pessoas não fazem ideia
porque não é da conta delas. No entanto, o fato e não gostar de entrar em
problemas, não significa que eu fujo de um quando ele me alcança. E eu
não vou fugir desse. Você é meu problema agora, lembra?
Seu sorriso apareceu e ela deu outro beijo no meu coração antes de se
sentar no colchão, segurando o lençol contra seu corpo bonito.
— Eu nem preciso falar que eu amo um problema, certo? — Sua cabeça
tombou para o lado, sua expressão animada
Eu ri, minha mão massageando suas costas nua.
— Não, você é a própria deusa da confusão.
Giulia anuiu, rindo para mim.
— Tudo bem, eu preciso de um banho agora.
— Eu também. — Disse após dar uma olhada no relógio.
— Vai sair?
— Eu preciso ir à Nova York hoje.
Seu cenho franziu.
— Volta ainda hoje, certo?
Minha mão parou em suas costas e eu encontrei seus olhos ansiosos.
— Não sei, talvez só amanhã. Eu vou me encontrar com alguém lá para
comprar um par de prédios em Albany, para poder construir um hotel novo.
As suas sobrancelhas contraíram.
— Mas não tem um Palace NY?
— Tem, só que fica em Manhattan. Eu quero um em Albany.
— Humm, nossa. — Os cantos de sua boca se curvaram para baixo,
impressionada. — Você fala comprar um par de prédios como se fosse
comprar dois lanches do McDonald's.
Eu sorri.
— E você fala como se não tivesse dinheiro, Giulia. Seu pai é um
homem rico, também.
— Meu pai tem apenas 10% do negócio, enquanto você e Rafael possui
todos os outros 90%. E eu já ouvi falar que você faz investimentos, o que
significa que não recebe apenas da rede de hotéis. — Ela revirou os olhos,
sorrindo. — Isso, tirando o fato de que você é um bilionário e considerado
um dos homens mais ricos do mundo. Babbo é um pobre coitado, se formos
compara-lo a você, por isso eu fico impressionada com as coisas que você
faz, fala e tem.
Não falei nada, porque já estava acostumado com as pessoas falando
sobre minha posição social e financeira, então se levantou, levando o lençol
junto com ela, enrolado em seu corpo, e eu me sentei, estreitando os olhos:
— Por que você está se escondendo de novo?
Ela encolheu os ombros, um sorriso tímido enquanto seus dentes
prendiam o canto do seu lábio inferior.
— Porque eu vou descer para tomar um banho e não quero esbarrar com
Warren assim. E estou com preguiça de vestir meu pijama
— Tome banho aqui. — Apontei para o meu banheiro, fantasiando tudo
que eu poderia fazer com ela no chuveiro.
Ela olhou para a porta fechada, seus olhos apertando em mim. Ela
esticou os ombros e fez aquela expressão maliciosa, que ela faz quando
quer me provocar:
— Só se você tomar banho comigo.
Eu apenas ri e pulei da cama.

•••

— Relaxe e coloque sua mão contra a parede. — Instruí quando me


ajoelhei e levantei uma perna sua para meu ombro. A água morna no
chuveiro era forte em minhas costas, mas eu não me importei. A minha
visão de Giulia agora era o paraíso.
Ela fez o que eu mandei, engolindo em seco, seus olhos não desviavam
dos meus.
Com um sorrisinho de lado, eu lambi sua boceta, e ela estremeceu com
um gemido sufocado. Deliciosa demais. Eu queria devora-la, descontando
todo o tesão que estava nas minhas veias, mas ela ainda estava dolorida e eu
queria ir com mais calma. Fechando minha boca em seu clitóris, eu a
chupei. Sua mão desceu e deslizou em meus cabelos, apertando-me contra
ela.
Os seus gemidos eram como músicas para meu ouvido, e eu nem estava
mais ouvindo o barulho do chuveiro. Seu corpo inteiro se movia contra
minha boca enquanto eu a chupava.
— Pedro... per Dio! — Ela implorou, sua cabeça tombando para trás no
azulejo, os olhos fechados.
Minha língua tremeu em um movimento rápido e eu enfiei dois dedos
dentro dela, adorando o aperto e o calor de sua boceta ao redor dos meus
dedos. Meu pau contraiu, protestando, lembrando-me que é muito mais
gostoso quando ele está lá dentro, mas eu não me importava comigo quando
eu via que ela estava sentindo prazer.
— Oh, Dio! Dio, Dio, Dio... — Ela engasgou quando eu aumentei a
velocidade da minha língua e dos meus dedos, a mão livre agarrando seu
peito, amassando com força, me dando a visão mais excitante da minha
vida.
Eu suguei seu clitóris no mesmo instante em que torci meus dedos dentro
dela, atingindo seu ponto g, e ela explodiu com um orgasmo violento. Seu
corpo inteiro estremeceu e ela gritou meu nome. Continuei lá, metendo os
dedos lentamente, bebendo todos seus sucos, até que não tinha mais nada.
Então me levantei, observando-a.
Ainda respirava com dificuldade, os olhos cor-de-mel arregalados, a
expressão satisfeita. Ela segurou meu rosto entre as mãos, se empurrou na
ponta dos pés e me beijou.
Eu devolvi o beijo, assaltando sua boca e já buscando sua língua.
Admirado por ela não se importar de me beijar depois que eu a chupei.
Muitas mulheres não gostam disso, mas tanto ontem como hoje, ela fez.
Quando separamos nossas bocas, ela olhou para baixo, para meu pau
ereto e muito dolorido.
— Você quer que eu...
— Não precisa. — Eu segurei seu pulso antes que ela o tocasse.
— Mas isso deve estar doendo! Eu posso ajudar você.
Eu peguei seus olhos, a água caindo em nossas cabeças.
— Você já fez um boquete?
Seu rosto corou forte e ela sacudiu a cabeça em negação.
— Não, mas eu posso tentar. Se você me disser o que fazer, eu posso
fazer.
Sorri, largando seus pulsos para segurar seu rosto lindo e beijei sua boca.
— Depois. Se você colocar a sua boquinha no meu pau agora, não vou
querer parar tão cedo. Provavelmente, vou te comer aqui, depois na cama e
vou me atrasar.
Seus olhos se arregalaram com minhas palavras, mas não para reclamar
das minhas palavras, foi por excitação. Eu pude dizer por conta da sua
inspiração.
Quando saímos do banheiro, ela estava com um roupão meu, que a
engolia. Ela recolheu sua roupa enquanto eu separava as que eu usaria para
viajar. Ao chegar na porta do meu quarto, ela se virou para mim:
— Eu posso ir para NY com você? — perguntou. — Sempre quis visitar,
então...
Balancei a cabeça para ela.
— Você tem roupas de frio?
— No. — Ela fez uma careta fofa, e eu sorri.
— Deixe para lá. Se arrume e desça para tomarmos café. Compraremos
alguma coisa para você lá.
Ela se virou com um sorriso enorme e satisfeito e saiu.

•••

— Você nunca foi à Nova York antes? — Rafael puxou os fones de


ouvido e perguntou para Giulia, com curiosidade.
Estávamos no avião e eu aproveitei para responder alguns e-mails no
caminho. Rafael e Giulia estavam sentados um na frente do outro. Meu
irmão escutava música enquanto Giulia via alguma coisa em um iPad
adaptado ao avião.
— Nunca. — ela respondeu. — Na verdade, eu só conheci Paris e
Londres, porque fui recompensada por ir bem na escola e babbo me deixou
ir para assistir a uma apresentação de balé com a mamma.
Ele torceu um nariz e me deu um olhar, que transmitiu o mesmo
sentimento que eu estava tendo agora: indignação.
Patrizio tinha dinheiro o suficiente para deixar sua filha visitar os países
quando quisesse, mas suas regras familiares não permitiam isso. O que me
levava a pensar sobre o que aconteceu entre Giulia e eu. Ele não estava
muito bem por descobrir o que ela fez com Mattia, se soubesse de nós, ele
com certeza, viria para cá e tentaria me matar.
Ainda assim, eu não me arrependo. Olhando para a mulher linda, de
aparência doce, com as pernas cruzadas e olhos brilhando para a tela do
iPad, eu não conseguia achar um pingo de receio dentro de mim. Ela me
excitava da mesma forma que fazia com que eu questionasse se minha
paciência era forte o suficiente para aguenta-la. Eu gostava disso — do
desafio, do proibido.
Talvez eu fosse um filho da puta por estar desejando uma mulher como
ela, tão jovem, sem um fio de arrependimento. Mas eu a experimentei e não
estava com vontade alguma de não continuar experimentando.
Assim que chegamos em Nova York, fomos direto para o Palace NY.
Obviamente, ficamos com as melhores suítes. Uma mulher bonita e de
sorriso fácil entregou a Pedro e a Rafael seus cartões e nos dirigimos para o
elevador.
As suítes ficavam no mesmo andar então saímos juntos. Quando entrei
na suíte que dividiria com Pedro, meus olhos se arregalaram quando vi
várias araras de roupas femininas espalhadas pelo lugar.
— Eu mandei mensagens para uma amiga que tem uma loja de roupas
aqui em Manhattan, e ela prometeu que traria as melhores opções para
você. — Pedro falou enquanto eu dava uma olhada de perto nas roupas,
encantada com tantas roupas de frio elegantes.
— Grazie. — Eu puxei um vestido bonito, de seda vermelha, que seria
perfeito para uma noite em uma balada. Franzi o cenho quando o aproximei
do meu corpo. — Como sabia meu tamanho?
Ele me olhou de onde estava parado, perto do sofá, de pé e checando seu
celular.
— Disse para ela que o que servisse para ela, serviria para você.
Alcei uma sobrancelha. Seus lábios estremeceram com um sorrisinho.
— Vocês têm o mesmo tamanho e, provavelmente, pesam a mesma
coisa.
Meneei a cabeça e devolvi o cabide do vestido para a arara, em seguida,
comecei a me aproximar dele, devagar, as mãos unidas atrás do corpo,
minhas sobrancelhas franzidas.
Ele me observava como um lobo, atento e com cuidado.
— Ela é uma amiga tipo a Margot? — questionei. Algo picou dentro de
mim, me deixando desconfortável com esse pensamento, o que era ridículo,
já que eu sabia que ele tinha um lance casual com Margot e, com certeza,
com várias outras mulheres pelo mundo.
A calma com que ela me encarava, me deixou um pouco irritada. Quando
cheguei perto o suficiente para inalar seu perfume amadeirado e delicioso,
ergui o queixo para encarar seus olhos, no momento em que ele enfiou as
mãos nos bolsos de sua calça.
— Eu nunca tive nada com a Clara. — declarou, seu tom muito
tranquilo. — Como falei há alguns minutos, ela é uma amiga e não passa
disso. Nunca passou.
Encolhi os ombros, reprimindo minha satisfação em ouvir aquilo. Eu
precisava rir sem que ela visse, então me virei para ficar de costas para ele e
voltar para roupas, mas sua mão se fechou em meu braço e ele me puxou
novamente, fazendo-me esbarrar em seu peito forte.
Levantei a cabeça, mordendo o interior da minha bochecha para não cair
na risada, e seus olhos se estreitaram:
— Ciúmes, Giulia?
Dei de ombros novamente, os cantos da minha boca se curvando para
baixo.
— Talvez seja por conta da minha criação, sabe? — Espalmei minhas
mãos em seu peito, amando toca-lo, sentir seu coração. — Mas eu acabei
ficando um pouco possessiva com coisas que, às vezes, nem são minhas.
Ele pareceu gostar da minha resposta, já que segurou meu rosto com uma
mão ao redor do meu queixo e me beijou. Sua língua procurou a minha,
lambendo minha boca, me beijando daquele jeito, que minhas pernas
começam a ficar bambas.
Eu devolvi, segurando em seus braços para poder me empurrar mais para
ele. Meu corpo inteiro pegando fogo, necessitando de mais ao recordar de
sua boca em outros lugares, fazendo tudo explodir de prazer.
O som do seu celular tocando nos fez parar, ofegantes. Ele checou a tela
e fez uma careta.
— Preciso atender. — Me falou, alisando meu rosto. — Fique à vontade,
tudo bem? Se estiver com fome, peça alguma coisa, mas não coma muito,
porque vamos almoçar daqui a uma hora. — Ele atendeu a chamada e pediu
para quem quer que seja para esperar um minuto, então me deu outro beijo
rápido. — Vou para o escritório resolver algumas coisas e mais tarde
terminamos o que começamos.
Quando ele sumiu dentro do escritório, eu suspirei longamente, meus
olhos atingindo a vista. Impactada com a visão do Central Park, eu me
aproximei na porta de vidro que leva ao terraço e deslizei-a, então saí para o
terraço enorme.
O clima gelado de fim de tarde de NY me fez encolher. Eu me abracei e
fui mais perto do parapeito. As pessoas estavam indo e vindo, correndo e
caminhando. Algumas corriam ao redor do parque e crianças brincavam lá
também.
Eu sorri, admirada com tudo que estava vendo. Eu sempre amei filmes
em Nova York, porque é uma cidade linda, que todos já sonharam conhecer
um dia. Ou até mesmo morar.
Miami é linda, mas NY é encantada.
Enquanto Miami é baladas, NY é romance. Eu não reclamaria de viver
em uma cidade como essa, mesmo que as pessoas digam que os moradores
só pensam em trabalhar.
É uma energia muito boa, mágica.
E muito frio nessa época do ano. Estremeci com uma rajada de vento
gelado e corri de volta para dentro, para o conforto do aquecedor, e decidi
escolher uma roupa para almoçar mais tarde enquanto Pedro trabalha no
escritório.

•••

Como sempre, Pedro estava um pecado. Sua camisa, calça jeans e


sobretudo eram pretos. A única coisa que dava uma diferenciada era a fina
correntinha prateada que estava pendurada em seu pescoço e o brinquinho
em sua orelha. Inclinei minha cabeça em aprovação, tentando entender
como um homem tão lindo, grande e poderoso estava fazendo sexo comigo.
A insegurança se instalou nas minhas veias quando comecei a pensar
sobre isso. Sobre Margot e todas as outras mulheres que ele tem na palma
de sua mão. Até fiquei pensando sobre minha escolha de roupa. Eu estava
com um vestido branco, com alças fininhas, e um comprimento que ia até o
meio das minhas pernas, no entanto, ele tinha uma fenda que mostrava mais
da minha perna e um decote generoso. Escolhi um sobretudo na cor creme
para colocar por cima quando sairmos e minha sandália, como sempre, era
uma Fontaine. Talvez não seja o certo e eu precise trocar.
Mas algo nos olhos de Pedro me fizeram parar no mesmo momento:
desejo, aprovação e admiração.
— Se esse não fosse um almoço de negócios... — Ele murmurou,
balançando a cabeça devagar enquanto seus olhos estavam no meu decote.
Eu soltei uma risada nervosa.
Ao seu lado, seu irmão — que eu só notei agora — estava sentado,
observando tudo e arregalou os olhos ao constatar o que estava acontecendo
entre nós.
— Puta merda! — Ele sufocou um sorriso conhecedor, colocando a mão
sobre a boca.
Meu rosto corou, sem saber como reagir. Não era como se eu não
soubesse que Rafael um dia descobriria, mas isso ainda me deixava
acanhada por não saber o que ele iria achar sobre isso.
Pedro o ignorou e veio até mim, abaixou a cabeça e beijou meu nariz
para não borrar o batom que eu, finalmente, tinha colocado depois de passar
um tempo tentando decidir o que faria.
— Você está muito linda, bambina.
Eu fui hipnotizada pelo seu olhar intenso e derreti com um sorriso:
— Grazie. Você está muito lindo, também.
No elevador, Rafael se remexeu, coçando a nuca:
— Desde quando, hein? — Ele estava curioso.
Eu apertei os lábios para não rir e Pedro colocou as mãos nos bolsos,
sereno como sempre.
— Ontem. — Ele respondeu o irmão, sem se importar de falar sobre o
assunto.
— Ok...? — Rafael franziu o cenho e olhou para mim. — Você está bem
com isso, não é?
Anuí.
— Sì.
Ele cruzou os braços, encabulado.
— Porra. De algum jeito, eu já sabia que isso iria acontecer. —
resmungou. — Vocês são exatamente o oposto um do outro. Era óbvio que
uma hora a bomba ia explodir e vocês iriam se atracar.
Eu empurrei meu ombro contra ele, sorrindo e provoquei:
— Se sabia, por que não me contou logo? Eu teria feito bem antes. —
Enviei um sorriso travesso para Pedro, e ele piscou um olho para mim.
— Não é Ave Maria, mas é cheia de graça, não é? — ele deu uma risada
sem humor, bufou, mas acabou sacudindo a cabeça e curvando os lábios
com um sorriso verdadeiro. — Um brasileiro e uma italiana de família
tradicional? — Alçou uma sobrancelha divertida para o irmão. — Isso não
tem como acabar tranquilo, sabe disso, não sabe?
Pedro deu de ombros.
— Talvez.
Ele riu quando as portas do elevador se abriram.
— Para sua sorte, eu sou apaixonado pelo perigo e gosto de chutar umas
bundas de vez em quando. Não vou reclamar se precisar chutar umas por
você. — Então apontou para mim. — E eu vou na janela dessa vez, nem
invente que quer ir. — E saiu na frente, apressado para não perder o lugar.
— As vezes, eu acho que vocês dois têm 5 anos. — Pedro murmurou,
balançando a cabeça, enquanto me guiava para fora do hotel, com uma mão
quente em minha coluna.
Fingi ofensa.
— Mas eu não fiz nada!
— Ainda não fez nada. — ele corrigiu. — De vocês, eu espero qualquer
coisa.

•••

Dessa vez, não fiz nada. Deixei que ele fosse na janela, mesmo que eu
ame ir para assistir a cidade e conhecer um pouco sobre ela. Mas,
aparentemente, Rafael tinha uma cisma gigante de ir na janela, então não
briguei.
Dessa vez.
Peguei a mão de Pedro e a segurei sobre meu colo. Ele abaixou a cabeça
e franziu a sobrancelha para o gesto, observando meu dedo delinear a
tatuagem de pássaro no seu dorso.
Eu tinha notado suas tatuagens, mas nunca tinha realmente parado para
analisa-las. Essa, em particular, era linda e incomum. Mesmo na pouca luz
de dentro do carro, consegui ver que era uma Phoenix com um crânio
dentro. Olhei para cima, para Pedro e não precisei nem perguntar, ele viu a
curiosidade nos meus olhos.
— Ressurgimento e imortalidade. — explicou baixinho, seu polegar
passou sobre meu dedo, que descansava sobre a tatuagem.
Eu anuí, gostando do significado, mesmo não sabendo o motivo de ele
ter feito. Eu queria perguntar das outras, mas não tive tempo porque o carro
estacionou diante de um hotel 5 estrelas.
Como sempre, Rafael saiu primeiro, depois Pedro saiu, e eu estava
prestes a sair — porque já estava acostumada com a falta de cavalheirismo
desses dois, quando Pedro estendeu a mão para me ajudar a sair. Surpresa,
demorei alguns segundos para, finalmente, colocar minha mão sobre a ele.
Eu nem consegui evitar o sorrisinho satisfeito com aquilo.
Quando já estava de pé, ele me ajudou a colocar o sobretudo e com a
mão em minha coluna, me guiou para a entrada do prédio. No lobby
luxuoso — não tanto quando o lobby do The Palace —, fomos abordados
por um homem tão alto como os dois irmãos. Sua aparência asiática e a
beleza que toma conta dele chama atenção de qualquer pessoa.
Geralmente, eu vejo as pessoas falando como as pessoas asiáticas são
todas iguais, mas esse homem desfaz esses comentários apenas com sua
presença. Ele apertou a mão de Pedro e a de Rafael, em seguida, quando
fomos apresentados, ele apertou a minha. Seu nome era Cassian Jin.
— É um prazer conhece-la, srta. Russo.
— O prazer é todo meu. — Devolvi a gentileza, e ele nos levou para o
35º andar, onde havia um restaurante muito chique.
Pelo que eu entendi da conversa, Cassian era dono da maior parte dos
prédios de Nova York. Sua empresa comprava empresas falidas ou prestes a
falir, as reerguiam e quando não mantinham, as vendias por um preço muito
maior. Ou seja, mais um bilionário na parada. Ele não hesitou quando
apertou a mão de Pedro para fechar negócios e vender dois dos seus prédios
comerciais em Albany para que um novo The Palace nascesse.
Quando o almoço terminou, eles marcaram de se encontrar com seus
advogados para assinar os papéis da venda e nos despedimos no mesmo
lugar em que nos encontramos.
— Diga a Clara que eu lhe enviei um abraço. — Rafael falou ao dar
tapinhas em suas costas.
Cassian meneou a cabeça, um sorriso divertido nos lábios.
— Eu te desafio a fazer isso. Ela não quer me ver no momento.
— Estão brigados de novo?
— Eu comprei o prédio onde fica a loja dela e acho que ela não achou
muito legal.
Pedro riu.
— Você a conhece por sete anos e ainda não a entendeu?
— Às vezes, a minha vontade era apenas de não conhecer, sabia? —
Cassian coçou a nuca. — Ela sabe me deixar maluco quando quer.
— E por que você não dar a ela? — Rafael perguntou. — Tipo um
presente. Eu tenho certeza que não vai fazer falta para você.
— Acha que não tentei? Ela não quer de jeito nenhum!
Pedro bateu em suas costas de forma camarada.
— Ela te ama, cara. Vai voltar ao normal logo, logo.

•••

De noite, eu, Pedro e Rafael, jantamos no restaurante do hotel mesmo.


Logo depois, Rafa saiu com uns amigos e nós fomos para nosso quarto.
Eu tinha usado o vestido vermelho que a amiga de Pedro mandou e saltos
alto. O vestido era de seda e mais curto do que eu usei no almoço. Eu fiquei
tímida e insegura, mas, como sempre, Pedro me fez sentir bem comigo
mesma.
Na suíte, eu conectei meu celular no alto falante e coloquei minha
playlist favorita. Começou com a música Arrogante de Irama. Era bem
dançante e uma das minhas músicas preferidas do meu país. Com o lábio
inferior preso entre meus dentes, observei Pedro no sofá, olhando alguma
coisa em seu iPad.
Quando a música começou, ele me deu um olhar intenso. Seu terno já
tinha sido dobrado e colocado sobre o encosto do sofá, as mangas de sua
camisa foram empurradas para seus cotovelos e os primeiros botões
estavam abertos. Ele era um homem delicioso.
Sem querer atrapalhar o que ele estava fazendo, retirei minhas sandálias
e fui na adega na ponta dos pés. Prendendo meu cabelo em um nó
desajeitado, eu peguei um vinho que estava ali, já aberto de mais cedo,
antes do jantar, e servi uma taça.
— Você quer? — perguntei, enquanto balançava meus quadris no ritmo
da música. Eu espiei, e ele estava me encarando, ainda com o iPad nas
mãos.
Seus olhos se apertaram, como se ele estivesse tentando me entender,
mas sua expressão era de um predador.
— Depende. — ele disse.
A música não estava tão alta, então não estávamos precisando elevar a
voz.
— De quê? — Bebi um pouco da minha taça, sem tirar os olhos dele.
— Do que você está oferecendo.
Meu corpo inteiro se arrepiou e eu pousei a taça sobre o balcão, bem
devagar. Irama terminou de cantar, em seguida, começou novamente com a
música CREPE. Sem dizer uma palavra, caminhei até ele, lentamente.
Pedro descartou o aparelho que estava segurando de lado quando cheguei
diante dele. Puxando o vestido para cima, segurei em seus ombros e montei
dele, ofegando com seu pau, já dando sinal de vida, roçando contra mim. O
jeans que o cobria ainda causava um atrito bem maior contra meu sexo
escondido apenas por uma pequena calcinha de renda, já encharcada.
Pedro deslizou as mãos em minhas laterais, seus olhos queimando no
meu decote generoso. Eu segurei seu rosto e o fiz me beijar na boca. Seu
gosto era perfeito. Ele ainda tinha vestígios do vinho que tínhamos tomado
no jantar. Aprofundei o beijo, me pressionando contra ele, precisando desse
contato. Ele agarrou minha bunda, forçando-me mais para baixo, para roçar
em sua protuberância. Nós gememos juntos.
— Eu quero você dentro de mim. — eu sussurrei contra sua boca.
Surpreso, ele afastou o rosto, apenas o suficiente para encarar meus
olhos. Eu balancei a cabeça, passando meu polegar em seus lábios, antes
que ele dissesse qualquer coisa:
— Não quero que se controle só porque está comigo, está bem? Nem nos
seus atos e movimentos, nem na sua fala. — Sob seus olhos atentos e
intensos, segurei no meu vestido e o puxei para cima, arrancando-o pela
minha cabeça. Fiquei apenas com minha lingerie vermelha, da mesma cor
do vestido, que tinha uma cinta-liga que não podia faltar para mim.
Isso chamou atenção de Pedro. Sua expressão ainda mais selvagem. Suas
mãos passaram pela cinta-liga, como se a tivesse desenhando em meu
corpo.
— Caralho. — ele xingou baixinho, com um rosnado quase animal.
— Você gosta?
Seus olhos duros e excitados encontraram o meu:
— Você com isso é o meu novo fetiche. Puta que pariu!
Sorri, satisfeita com o que eu consigo causar nele.
Depois de inspecionar minha lingerie mais um pouco, ele levou sua mão
pelas minhas costas e desfez o fecho do meu sutiã como um profissional.
Quando meus peitos saltaram livres, ele não perdeu tempo. Sua boca se
fechou em um deles, com força, chupando com muita vontade. Enquanto
me deixava louca com sua boca e língua, sua mão desceu para meu sexo
molhado, seus dedos começaram a sacudir em meu clitóris.
— Pedro. — Eu implorei, meus olhos se fechando, minha cabeça caindo
para trás. Eu o queria tanto, que meu ventre doía em ansiedade.
Ele gemeu como um animal furioso, sua outra mão agarrando os cabelos
da minha nuca, forte, fazendo-me arfar e gemer logo em seguida. Da
mesma forma que fez da outra vez, ele lambeu o caminho da minha
garganta até meu queixo, então sua boca pegou a minha em um beijo
beirando a violência.
Estranhamente, isso me excitou ainda mais, e ele sentiu isso quando
introduziu a mão sob minha calcinha.
— Está tão molhada, que nem precisa da minha língua aqui. — ele
comentou, a voz transbordando satisfação.
Anuí, bêbada de tesão e pressionei minha mão na sua ereção:
— Eu preciso disso. Per favore...! — Essa última, eu implorei com um
sussurro em italiano, porque sabia bem o que isso causava nele.
Seus olhos se estreitaram e seus lábios se contraíram em um sorriso
muito malvado. Sem desviar do meu olhar para assistir minha reação, sua
mão caiu em um tapa forte na minha nádega.
Um gritinho escapou da minha boca, mas só serviu para me deixar ainda
mais cheia de desejo. Quase sem paciência nenhuma, esperei ele abrir a
calça e, com muita água na boca, vi seu pau grande e bonito saltar, em toda
sua glória. Mas foi seu gemido sofrido que me fez desviar os olhos para seu
rosto.
— O que foi?
— Precisamos ir para o quarto.
— Por quê? — perguntei, atordoada só de pensar em andar isso tudo para
poder tê-lo dentro de mim.
— A camisinha está lá.
Grunhi, chateada.
— Não podemos fazer sem? Eu tomo anticoncepcional desde mais nova
por conta do meu ciclo menstrual.
Ele me olhou estranho.
— Eu fiz um exame há dois meses, mas não o tenho aqui para provar
isso, portanto, aguente firme. — Ele me agarrou e se levantou comigo nos
braços.
Enquanto íamos, eu beijei sua boca rapidamente.
— Sabe que confio em você e não tem que me provar nada, certo?
— Não deveria. — ele disse. — Mas fico feliz em saber que confia em
mim.
No quarto, ele pegou uma camisinha em uma caixa dentro de sua bolsa,
sem me soltar. Quando caiu na cama, ele me manteve montada nele.
— Quer experimentar essa posição?
Assenti, empolgada, assistindo-o vestir a camisinha em seu pau lindo.
— Você me ajuda?
— Com certeza. — ele me deu um sorriso safado, então pegou minha
cintura. Quando ele tocou a alça da minha calcinha, eu bati em sua mão:
— Dessa vez não! — reclamei antes que ele rasgasse. — Essa foi uma
edição limitada e não existe mais, então você não vai fazer como da outra
vez.
Ele levantou uma sobrancelha, me desafiando.
Eu fiz beicinho:
— Per favore, Pedro! Eu amo essa lingerie.
Ele balançou a cabeça, se rendendo. Então ele apenas a colocou para o
lado e me ajudou a monta-lo.
Eu estava tão molhada, que escorreguei muito fácil até que minha boceta
encostou em sua virilha. Gemi, muito cheia com ele dentro. A sensação é
tão gostosa, que eu passaria o resto da noite nessa posição.
— Gostosa pra porra! — Pedro gemeu, segurando minha cintura e
começou a me mover para cima e para baixo.
— Você é tão... Eu me sinto tão bem com você assim... — murmurei
entre gemidos.
Ele estava indo tão fundo e sabia como me enlouquecer. Eu comecei a
ajuda-lo, quicando nele, minhas mãos em seus ombros. Meus olhos estavam
quase nublados, mas queria tanto sentir sua pele contra a minha, que iniciei
uma batalha para abrir os restos dos botões de sua camisa. Quando
consegui, o abracei, pressionando nossos peitos juntos, mas não parei os
movimentos dos meus quadris. Segurei seu pescoço e mergulhei minha
língua na boca dele e nós fizemos sexo assim, abraçados, nos beijando, até
que gozamos juntos.
Estávamos deitados um de frente para o outro depois do sexo maravilhoso.
Nossos corpos ainda nus, cobertos pelo lençol de seda. Meu rosto estava na
altura do seu peito, então comecei a delinear a tatuagem sobre seu peito
esquerdo. O nome Felipe estava escrito em uma linda letra cursiva, como se
fosse um autógrafo ou algo assim.
— Meu pai. — ele sussurrou enquanto me observava deslizar meu dedo
pelo seu peito.
Anuí devagar.
— Eu sei disso. Eu não me lembro muito dele, porque babbo não gostava
que eu ficasse por perto quando haviam visitas, mas já ouvi falar bastante
sobre ele. — Olhei para cima, para seus olhos e vi um brilho de tristeza
neles. — Scusi. Não vamos falar sobre isso, está bem?
Ele levantou a mão para escovar meus cabelos com os dedos.
— Não se desculpe. Tudo que aconteceu faz muito tempo, eu já me
acostumei.
— Nem posso imaginar como deve ter sido difícil. — falei baixinho. E
eu realmente não tinha ideia. Eu tinha meus pais vivos, e mesmo que eles
sejam dessa forma, que só pensam em negócios e imagens, eu os amava
demais e não desejo mal para nenhum dos dois.
— Meu pai era um homem muito bom, um pai sensacional. Eu o amava
e admirava, então foi muito difícil no começo, sim. Eu tento seguir seus
passos até hoje. Ele é meu espelho, é como ele que eu quero ser.
— Ele também era calmo como você ou impaciente como Rafael?
— Rafael tem o temperamento da nossa mãe. Estoura sempre por coisas
pequenas. Já o meu, é igual ao do meu pai. As pessoas diziam que para
aguentar a minha mãe, ele precisava ter muita paciência.
Eu sorri.
— Nossa, então ela deve ser muito a versão feminina do Rafael mesmo.
— Ah, você não faz ideia. — ele riu também e beijou minha testa. —
Agora durma. Precisamos acordar cedo para ir à Albany amanhã.
— Quem vai construir esse hotel também é a LEA?
Ele assentiu, puxando-me para mais perto dele.
— Sempre serão eles.

•••
Alguns dias depois, eu me deito no sofá em frente a piscina na casa de
Pedro. Meus óculos escuros impedem que o sol incomode meus olhos e,
pela primeira vez em um tempo, eu vesti um biquíni de novo.
O dia estava perfeito para pegar um sol e minha pele me agradeceria por
isso, pois já estava quase se tornando verde. Warren me trouxe um suco de
limão para que eu ficasse hidratada, segundo ele.
Pedro não estava em casa. Logo depois do café da manhã, ele saiu para
umas reuniões, e como eu não tinha o que fazer, resolvi me bronzear e curtir
um pouco a piscina.
Coloquei uma música no meu celular e o deixei de lado, então fechei os
olhos, curtindo o som alegre.
— Não sabia que a Itália tinha músicas além daquela que fala do furico
dos outros. — A voz familiar e debochada de Rafael soou por cima da
música.
Levantei a cabeça e ergui meus óculos quando ele se sentou ao meu lado,
capturou meu celular e olhou o nome da música na tela.
— Que música fala sobre isso? — questionei, sem entender.
— Aquela do Luciano Pavarotti. Furico li, furico lá...
Meus olhos se arregalaram e eu explodi em uma gargalhada quando
entendi de qual música ele estava falando.
— Você quer dizer funiculí, funiculá, certo?
Ele deu de ombros, um meio sorriso nos lábios e falou em italiano:
— Eu sei que é assim, mas falar do cu das pessoas é mais emocionante.
Segurei minha barriga de tanto rir dele.
— Claro que é. — Revirei os olhos, mas não consegui parar de rir. Só
depois que me acalmei, eu voltei a falar: — Pedro não está em casa.
— Ele me falou, mas eu estou aqui porque não consegui um tempo para
falar com você desde Nova York.
Anuí, ficando sentada e empurrei os óculos para cima da minha cabeça.
Eu sabia bem o que ele queria falar comigo, então apenas esperei.
Colocando meu celular de volta ao seu lado no sofá, ele se inclinou para
frente, apoiando os braços em suas pernas e olhou para mim. Eu podia ver a
preocupação neles, coisa que só tinha visto algumas poucas vezes desde que
cheguei em Miami.
— Você realmente está bem com o que está acontecendo entre você e o
Pedro?
— Sim, estou. Por que eu não estaria?
Ele deu de ombros.
— Porque eu sei como é difícil se envolver com uma pessoa depois de
ter passado em um relacionamento abusivo.
Eu encolhi e cruzei as pernas debaixo de mim.
— Pedro não é como Mattia.
Uma risada incrédula escapou de sua boca.
— Eu sei que meu irmão não é como o fodido italiano, Giulia. Mas estou
falando de você. Por mais irritante que você seja, eu me preocupo e, por
algum motivo filho da puta, eu sinto que preciso te proteger.
— Talvez seja por conta do que aconteceu com sua melhor amiga? — Eu
inclinei minha cabeça, observando-o. Meu peito contraiu com sua
preocupação por mim. Esses irmãos Rodrigues estão me fazendo apaixonar
por eles desse jeito. Eles estão me dando o cuidado que eu nunca tive na
vida.
Um brilho triste passou em seus olhos e sua mandíbula apertou. Ele
desviou os olhos de mim, fixando-os longe, na praia. O vento soprava,
bagunçando seus cabelos, levando alguns para seus olhos, mas ele nem se
importou.
Vê-lo dessa forma me deixou com o coração doendo, então eu me
aproximei e segurei sua mão, apertando de leve, o suficiente para trazer de
volta para mim.
— Independente do que te levou a ter esse senso de proteção comigo, eu
agradeço. Eu sei como sou irritante às vezes-
— Sempre. — ele interrompeu, mas eu não parei:
— Mas eu já te tenho como um irmão mais velho.
Ele fez uma careta.
— Isso significa que Pedro também é seu irmão, sabe disso, né?
Ri, meu rosto também se transformando em uma careta. Sacudi em
negativa.
— Não, você é um irmão de coração. Pedro é muitas outras coisas... —
Meu rosto corou com as lembranças de nossos momentos íntimos.
Momentos deliciosos, aliás.
Rafael beliscou o dedo da minha mão que estava sobre a sua.
— Foque na nossa conversa, não nas suas lembranças.
Sufoquei um sorriso.
— Estava tão óbvio assim?
— Você parece um tomate vermelho!
Eu cai na gargalhada de novo.
— É sério, Rafael! — reclamei, batendo em seu ombro. — Muito
obrigada pela preocupação. Eu sempre tive pessoas olhando por mim, mas o
intuito era me manter nas rédeas. Nada de namorados, amigos, nada
mesmo. Eu precisava ser uma mulher de respeito e aprender a ser a esposa
perfeita e linda para um homem rico que fizesse parte do ciclo da família.
Ele bufou, seu semblante se tornando revoltado. Mas antes que ele
pudesse falar uma de suas pérolas, eu apertei minha mão na dele e
continuei:
— A sua preocupação é diferente, assim como a preocupação do seu
irmão. Ambos me fazem sentir protegida porque se importam com meu
bem-estar, não com meu futuro casamento ou a imagem da família e dos
negócios. Eu me sinto segura quando estou perto dos dois e isso é uma
sensação tão boa, que você não pode nem imaginar. — Dei a ele um sorriso
doce. — Mesmo que briguemos um com o outro, como duas crianças de 5
anos, como seu irmão diz.
Nós rimos juntos.
— Eu até gosto de te irritar. — Confessei.
Ele estreitou os olhos.
— Eu sempre desconfiei disso. Não é possível uma pessoa ser tão chata
sem querer.
Já estava prestes a rebater com uma gracinha quando seu celular
começou a apitar com mensagens. Ele grunhiu e se mexeu, soltando minha
mão para pegar o celular dentro do bolso de sua bermuda jeans. Ele leu, seu
rosto se transformando em uma careta chateada.
— Athena? — Arrisquei. Eu tinha notado que sua relação com a loirinha
estava muito além que uma amizade simples.
— Não. — ele fez que não com a cabeça. — É Sasha.
— A ruiva chata?
Anuiu.
— Sim, a enviada do Satanás para me atentar.
Fiz uma carranca. Eu tinha visto como ele ficou no dia em que ela
terminou com ele pelo celular.
— O que ela fez agora?
— Ela quer me ver.
Indignada, me inclinei para ver o que tinha na mensagem. Meu queixo
caiu quando vi uma foto de Sasha com os peitos de fora.
— Jura que ela te manda nudes?
Ele torceu o nariz e bloqueou o celular.
— Você precisa parar de olhar ou pegar meu telefone sem permissão. —
disse ele, e eu dei de ombros, pegando meu copo de suco para tomar um
pouco. — O que foi, nunca mandou nudes para ninguém?
Fiz que não com a cabeça.
— Mattia?
Balancei a cabeça novamente, negando.
— Meu irmão?
— Não, não e não. — Eu falei com firmeza. — Eu não teria coragem. É
você que pede essas coisas?
— Eu nunca pedi nada disso. Elas apenas me mandam o tempo todo.
Eu fiz uma careta.
— Pensei que você e Athena estavam juntos.
Com uma expressão chateada, ele coçou a nuca.
— Eu também pensei, mas estava errado.
— Então voltou a falar com a Sasha?
— Não, mas ela é insistente e tem me ligado e mandado esse tipo de
mensagem que você acabou de ver.
Eu não fazia ideia do motivo — claro que fazia —, mas eu não gostava
dessa garota. Ela tinha jurava que era o centro das atenções e, se você não
concordasse com ela e não desse o que ela queria, ela ficava com raiva.
Eu sou uma pessoa mimada, não nego, mas aquela garota, conseguia ser
pior que eu.
Depois das reuniões, eu fui para o Clube encontrar alguns amigos. E, o mais
importante, eu precisava encontrar com Margot.
Eu sabia que ela costumava jogar tênis toda segunda, então eu dirigi até
lá. Desde que comecei a me envolver com Giulia, mal tinha falado com ela,
o que não foi difícil, já que ela também não tinha ligado para nos
encontrarmos.
Assim como eu, Margot tinha outros lances casuais, então com certeza
não tinha ficado sem sexo durante todos esses dias. Ela não escondia para
ninguém que era ninfomaníaca.
Quando entrei no Caliste Club, fui direto para a área que mantém as
quadras de tênis, futebol e vôlei, e também algumas piscinas. Logo
encontrei ela jogando contra o ex caso do meu irmão, Sasha Wesley.
Eu me sentei em uma das mesas do Café da área para esperar e pedi dois
copos de suco de laranja enquanto assistia o jogo das meninas.
Margot Montana era linda demais. Eu conhecia muitas mulheres bonitas,
claro, mas ela sempre chamou minha atenção. Seu corpo magro, com
longas pernas e peitos grandes me deixavam louco só de olhar, da mesma
forma que fazia com a maior parte dos homens que a olhava.
Só que agora, eu olho para ela e, apesar de achar a mesma coisa que
antes, mesmo sabendo que ela seria capaz de me deixar duro a qualquer
momento, eu não tinha vontade nenhuma de leva-la para nosso quarto de
hotel para fodermos como fazíamos. Tudo que passa na minha cabeça, é a
visão de Giulia debaixo de mim, em cima, de lado, com ou sem roupa.
Margot era linda, mas Giulia era a perfeição para meus olhos.
Enquanto estivermos nessa coisa de sexo, eu não precisaria de mais
ninguém. E era isso que eu precisava falar para Margot. Eu não queria estar
com Giulia e outra pessoa, simplesmente porque não dou aos outros o que
não quero para mim. Eu nem consigo imagina-la com outro homem lhe
tocando, então eu não tocaria em outra mulher que não seja ela.
Quando a partida acabou, Margot e Sasha se cumprimentaram e ela abriu
seu sorriso bonito quando me viu sentado. Com a raquete na mão, ela
caminhou para mim.
— Ei, sumido. — ela brincou.
Eu me levantei, e ela beijou meu rosto antes de se sentar na cadeira na
minha frente. Sentei-me novamente e acenei para o outro copo de suco
intocável.
— Pedi para você.
— Oh, obrigada. — Ela pegou o copo e bebeu um pouco. Pousou sua
raquete sobre a mesa, seus olhos azuis me olhando com curiosidade. —
Você não está aqui para me levar ao hotel, certo?
Balancei a cabeça, sorrindo.
— Não. Era o que você esperava?
Ela bufou com um sorriso divertido.
— Eu ficaria surpresa se me chamasse. — declarou. — Como estão as
coisas com Giulia?
Alcei a sobrancelha e, mais uma vez, ela bufou:
— Fala sério, Pedrinho. Eu te conheço há anos. Eu fodi com você há
anos, então sei te ler como ninguém faz. Era meio óbvio que alguma coisa
aconteceria com vocês. Por que acha que eu tenho me mantido afastada
desde que você arrebentou a cara do filho da puta do Mattia? Eu vi como
você ficou transtornado e preocupado com a Giulia.
Eu sabia que ela estava certa, no entanto, ainda queria rebater. Impedir
que meus lábios se transformassem em um sorriso e disse:
— Todo mundo ficou, não fui o único.
Ela assentiu.
— Claro, mas eu olhei nos seus olhos, bebê. Não era preocupação de
amigo ou irmão mais velho, como foi comigo ou com Rafael. Você estava
atraído pela gata italiana.
Cocei a nuca, lembrando daquele dia. Eu fiquei louco de raiva e depositei
todo ódio na cara perfeita de filhinho de papai que Mattia tem. Eu não me
lembrava de muita coisa, mas lembro como meu coração diminuiu,
apertando com violência enquanto voltávamos para o hotel e eu assistia
Giulia encolhida e chorando. A sensação era estranha. Era como se o fodido
tivesse machucado algo que era meu, que eu precisava proteger.
E, sim, eu havia notado Giulia desde o primeiro dia em que a vi deitada
na minha cama de hotel, descansando da viagem. Era impossível não notar
as curvas perfeitas do seu corpo, as pernas grossas, bunda empinada e seios
médios que se encaixavam bem em seu corpo pequeno. Eu sempre estive
atraído por ela, mas até o dia em que a peguei com um vibrador no banheiro
do seu quarto, eu me segurei, sem querer me envolver e acabar com uma
discussão com o seu pai.
— Você sabe que estou certa. — Ela me deu um sorriso de felina, como
quem sabia do que estava falando. — Eu sempre estou certa.
— Você está certa. — Confirmei, com um aceno de cabeça.
Ela suspirou, teatralmente, pegou o copo e bebeu mais um pouco do seu
suco.
— Ai, ai. Eu sei que estou. — cantarolou, brincalhona, Em seguida,
estudou meu rosto por um instante, balançou a cabeça e lambeu os lábios
quando colocou o copo de volta a mesa com cuidado. — Pode parar.
Olhei-a sem entender.
Ela gesticulou em minha direção.
— Não sou nenhuma piranha louca, que vai surtar e começar a bolar
planos para separar vocês dois porque, por algum motivo, não posso viver
sem sua pica de ouro.
Engasguei em uma risada surpresa.
— Pica de ouro?
— É, esses lances malucos de livros e novelas. — Ela revirou os olhos.
— A Mad conta comigo para resolver os perrengues da empresa, portanto,
sou muito ocupada para ficar pensando sobre essas coisas. E, você sabe que
eu posso ter o homem que eu quiser no meio das minhas pernas. Até dois,
se for nos meus dias mais safados.
— Sei bem disso.
Ela se debruçou sobre a mesa, me olhando por baixo de sua viseira e me
deu um sorriso amigável e gentil.
— Qual é, Pedro! Sou sua amiga desde sempre e sabia que isso um dia
iria acontecer. Se não fosse com você, talvez fosse comigo.
— Não poderíamos acabar nos casando? — Sugeri, só para saber onde
iria dar.
Seu sorriso aumentou.
— Teríamos bebês lindos. — ela se divertiu. — Mas, no fundo, sempre
soubemos que acabaríamos como amigos. E eu simplesmente me apaixonei
pela italiana! Eu super shippo vocês dois.
— Super shippa? — Sorri, incrédulo. Essa era uma coisa que eu nunca
imaginei ouvir de Margot.
Ela riu, deu de ombros e pegou seu copo para terminar o líquido laranja.
Era o aniversário de Giulia.
Ela havia ficado até tarde lendo um livro e acabou não acordando hoje
para nossa corrida matinal, nem apareceu no café da manhã. Antes de sair
para trabalhar, eu subi ao meu quarto, onde a encontrei ainda deitada na
minha cama japonesa. Seus cabelos estavam espalhados em meu travesseiro
e suas mãos estavam enfiadas debaixo do seu rosto enquanto ela estava em
posição fetal.
Ajoelhei-me ao seu lado e pressionei meus lábios em sua têmpora,
desejando beijar sua boca e reivindica-la por toda a manhã, mas como era
seu dia especial, eu a deixaria descansar mais um pouco.
Quando joguei a chave do meu carro para o manobrista do hotel, assisti
meu irmão estacionar sua Ducati Superleggera v4 e descer. Ele retirou seus
óculos escuros com uma careta e entregou sua chave para outro manobrista,
junto com seu capacete.
— Ei, feliz aniversário! — Eu o puxei em um abraço, e ele gemeu em
frustração.
— Valeu, cara. — Ele se afastou, o nariz torcido.
— O que houve?
— Mulheres. O que mais seria?
Ri, sacudindo a cabeça enquanto subíamos em direção às escadas.
— Athena está dando problemas?
— Antes fosse. — resmungou. — Eu gosto dos problemas que Athena
me dar. É a Sasha que não me deixa em paz.
— E você não quer mais nada com ela?
Ele empurrou a porta de vidro, a expressão indignada, deixando-me
entrar primeiro:
— Ela acabou comigo pela porra de um telefone! É claro que não quero
nada, mas acho que ela está sentindo falta da atenção, porque não para de
pegar no caralho do meu pé e eu estou prestes a jogar meu celular na caceta
da parede!
Eu segurei em seu ombro quando nossa equipe nos alcançou.
— É seu aniversário, Rafa. Se acalme só por hoje, ok?
Ele bufou, completamente sem paciência. Quando entramos no elevador,
ele se encostou na parede de aço e cruzou os braços, irritado.
Arrisquei um sorrisinho para ele:
— Sabia que hoje também é o aniversário de Giulia?
Ele franziu a testa.
— Sério?
— Sério. Isso diz muita coisa sobre vocês, não acha?
— Do que está falando?
Ri mais um pouco, enfiando as mãos nos bolsos.
— Vocês são muito parecidos. Se eu soubesse que você não era meu
irmão de verdade, apostaria que era o irmão dela.
— Há-há. — Ele torceu o nariz de novo, fechando a cara. — E você é
claramente a alma gêmea dela, todo cheio de gracinha. De repente, todo
mundo está com gracinha para o meu lado!
As portas do elevador se abriram no andar em que ficava a sala de
reuniões, e ele saiu irritado, comigo logo atrás rindo da sua situação.

Quando acabou uma das reuniões, Rafael foi em busca de um café


expresso e eu permaneci na sala, sentado na minha cadeira, porque não
queria ter que ir e voltar para a próxima reunião online com os
administradores de um dos hotéis no Brasil.
Esticando as costas, peguei o celular e abri na foto que Giulia havia
tirado de nós dois enquanto estávamos em um restaurante italiano há dois
dias. Ela estava fazendo biquinho para foto, seu braço ao redor do meu
pescoço enquanto estendia o braço e batia uma selfie. Ela insistiu que eu
também fizesse um biquinho, e eu cedi, mas não ficou tão perfeito quanto o
dela.
Hoje era seu aniversário e eu não fazia ideia do que fazer ou presentear.
Ela, definitivamente, merecia muitas coisas, a porra do mundo, mas eu não
era bom com isso.
Nos aniversários da minha mãe, tudo que ela pedia era um almoço com
os filhos, e eu sempre levava uma coisa significante, como uma joia ou uma
cerveja de anos, como foi da última vez.
Nos aniversários de Rafael, eu costumava lhe presentear com o que ele
ama, que são motos. Eu já tinha uma coleção de motos em sua garagem
especial, a qual ele batizou de O Santuário, que ninguém poderia tocar,
exceto ele. Inclusive, hoje vai chegar uma nova para ele, que é chamada de
avião pelos pilotos, podendo chegar a 400 km/h e tem 420 cv de potencia.
Tudo que ele mais gosta.
Quando a Margot faz aniversário, eu dou uma joia e até o ano passado,
dava a ela uma foda para deixa-la sem forças no final. E eu variava os
presentes com outros amigos.
Mas não faço ideia do que presentear Giulia. Apesar de estar dormindo
com ela todos os dias, não a conheço o suficiente para saber.
Saindo da foto, eu vou na agenda e pressiono seu nome, levando o
celular para a orelha. Ela atendeu rapidamente, cantarolando:
— Buongiorno.
Eu chequei o relógio do meu pulso e vi que já se passava do meio-dia.
— Boa tarde. — Corrigi, divertido. — Diga-me que você comeu alguma
coisa quando acordou?
— Como se Warren fosse permiti que eu não comesse, certo? Ele me
olha como um pai ou sei lá o quê.
Sorri com satisfação.
— O que você está fazendo agora?
— Humm... — ela fez uma pausa dramática. — Bene, eu não tinha nada
pra fazer, então estou sentada no sofá da piscina, lendo um livro.
— Que livro? — perguntei, curioso. Recentemente, ela terminou de ler a
trilogia famosa de 50 tons de Cinza e, pelo que me falou, amou.
— O primeiro livro de uma série chamada Crossfire.
— E sobre o que fala?
Ela riu do outro lado, uma risadinha levada.
— Muitas coisas, incluindo muito sexo. — Ela estava me provocando e
estava funcionando, porque as lembranças vieram com força em minha
memória e meu pau contraiu, só para que eu não esquecesse que ele
também tinha cabeça. — É bom porque eu acabo aprendendo mais sobre
isso, sabe?
Eu olhei para a vista da sala de reuniões, o mar estava calmo e as pessoas
estavam para todos os lados.
— Você não precisa de um livro para aprender mais sobre isso, Giulia.
Gemeu, enviando a mensagem certa para meu pau já endurecido.
— Eu sei que não, mas gostaria de ter mais experiência quando for para
cama com você.
Sua confissão me deixou completamente insano. Eu sempre gostei de
mulheres experientes, mas foda-se isso, eu amava fazer sexo com Giulia
desse jeitinho, ensinando, com calma, observando sua evolução. Minha
mandíbula contraiu e meu peito afundou quando minha cabeça começou a
projetar imagens dela com outro homem, obtendo experiência.
Com a porra do Mattia.
Eu tinha noção de que era um homem possessivo, apesar de nunca ter
sido assim com nenhuma mulher, e me assustava um pouco a forma como
eu queria ter Giulia sob meu olhar, para que nenhum filho da puta ousasse
olhar para ela de forma errada. Mas empurrei meu ciúme para o fundo e
respirei com calma, antes de sugerir:
— Por que você não vai para o quarto, pega o celular e procura por
vídeos pornográficos? Eles obviamente contêm muito exageros, e é claro
que com livros você pode ter o poder da imaginação, o que torna tudo ainda
melhor, mas, coloque no Google vídeos na piscina e assista alguns. Quando
eu chegar, nós poderemos reproduzi-los.
— Na piscina? — Ela engasgou, surpresa.
Eu conseguia ouvir seu espanto e excitação.
— Na piscina, no sofá da piscina, na areia da praia... no lugar que você
quiser. No entanto, acho que você vai gostar de fazer na piscina.
Ela não falou nada, mas eu consegui escutar os passos pesados, como se
ela estivesse correndo. Ela gaguejou um cumprimento para Warren em
algum momento, e eu ri com o desespero em sua voz. Depois de alguns
segundos, ela voltou a falar:
— Va bene, eu vou fazer isso. Estarei esperando você mais tarde.
— Ótimo. — falei, rindo. — Ah, e me diga o que você gosta de receber
de presente.
Ela fez uma pausa.
— Como sabe que é meu aniversário?
— Eu sei muita coisa sobre você, Giulia.
— Bene, bene. — ela resmungou. — Não tenho preferencias. É presente,
então, o que as pessoas me dão, eu aceito de bom grado. No seu caso,
apenas chegue mais cedo, pode ser? Eu acho que vou precisar de você
depois de assistir aos vídeos.
Ela podia não ser experiente no sexo, mas a mulher sabia como me
provocar.
Minha garganta travou e eu precisei tossir para voltar a falar:
— Estarei em casa o mais rápido possível.
— Puta que me pariu! — Rafael exclamou quando os homens da empresa
que comprei seu presente desceram a moto e a posicionaram diante dele.
Levantei a mão e bati na parte de trás da sua cabeça.
— Pare de xingar a minha mãe!
Ele não se importou. Suas mãos estavam em cada lado de sua cabeça
quando ele começou a circular a moto nova para vê-la melhor.
— Eu sabia que você me daria uma moto, porque é o que você faz todos
os anos, mas nunca imaginei que seria essa! — ele apontou, todo
emocionado. — Isso não é uma moto, cara, é a porra de um avião!
— E é toda sua. — Eu acenei para que o entregador desse a chave para
ele.
Meu irmão entregou a chave de sua Ducatti de volta para o manobrista.
Ele veio e me abraçou:
— Valeu, cara. — agradeceu. — De verdade.
Eu bati em suas costas de forma camarada.
— Feliz aniversário, maninho. Você merece.
Como uma verdadeira criança deslumbrada, ele monta seu novo
brinquedo, mas antes de ligar, ele olha para o rapaz que está com sua outra
moto. Erguendo o dedo em riste, ele diz:
— Guarde-a com todo carinho, está bem? Volto para buscar minha bebê
em breve.
O rapaz acena com um sorriso divertido, e Rafael dar partida. É possível
ouvir o motor rugindo como uma verdadeira máquina de corrida enquanto
ele desliza com velocidade sobre a pista, entrando na avenida e sumindo
alguns segundos depois.
Sorrindo, eu me despedi dos funcionários do hotel que estavam por perto
e entrei no meu carro. Agora eu tinha outra missão. Assim que levei o carro
para a pista, pedi para telefonar para o Brasil. A minha mãe atendeu
rapidamente, sua voz surgindo através do viva-voz do carro:
— Não me diga que você deu outra moto ao seu irmão!
— Ele acabou de leva-la para um test-drive.
Ela bufou.
— Meu coração não aguenta uma coisa dessa!
Sorrindo com seu drama habitual, viro a esquina com o carro.
— Como a senhora está?
— Morrendo de saudades dos meus bebês! — ela responde. — E você,
meu amor? Conseguiu ajudar a filha de Patrizio?
— Pois é, mais ou menos. — Eu evitei falar sobre meu envolvimento
com Giulia dessa forma, por telefone. — Foi por isso que liguei, mãe. Hoje
também é o aniversário dela, mas não faço ideia do que dar de presente.
— Já experimentou perguntar para ela?
— Sim, mas ela falou que não fazia questão.
Escutei sua risada.
— Claro que não faz. Às vezes, as mulheres são simples a esse ponto. No
meu caso, eu dizia isso ao seu pai só para fazer charme, e ele sabia tanto,
que nunca deixou de me presentear.
Franzi o cenho sem tirar minha atenção do trânsito.
— Você acha que ela é assim também?
— Não sei, bebê. Nem a conheço para dizer mais ou menos o que ela
gosta, no entanto, se não quiser arriscar, dê algo simples.
— Como assim? — questionei. Eu realmente nunca tinha dado algo
simples para ninguém.
Mãe riu de novo.
— Algo simbólico, não extravagante como as motos que presenteia seu
irmão todos os anos. Dê algo pequeno que mostre para ela que ela é
importante. Depois do que ela passou, ela precisa se sentir importante.
A minha mãe nem imaginava o quanto eu estava lutando para mostrar a
Giulia isso.
— Tudo bem, mãe, obrigado. Pensarei em algo. — eu falo para ela, em
seguida, aviso: — Antes que me esqueça, preciso que a senhora venha para
Miami na semana que vem.
— Por quê?
— É surpresa, mãe. Por favor, eu mandarei o avião para busca-la.
Ela suspirou.
— Está bem, tá bem. Eu vou organizar minhas consultas por aqui,
resolver algumas coisas e semana que vem estarei aí.
— Certo. Beijos, te amo.
— Eu te amo muito mais.

•••

Eu parei em uma loja de joias famosas, onde eu já tinha comprado algo


para minha mãe. Ao entrar, fui recepcionado por uma mulher bonita e
elegante, que estava atrás de uma bancada de vidro repleta de joias caras.
Puxei os óculos do rosto e me aproximei, meus olhos passando pelas
joias extravagantes, que eu não conseguia imaginar Giulia usando nenhuma
delas.
— Boa tarde, senhor. — a mulher cumprimentou, sorridente. — Procura
algo para uma ocasião especial?
— Muito especial, na verdade. — Respondi. Tudo que eu estava vendo
era demais. Grande demais. Brilho demais.
Ela se empolgou e começou a citar os produtos que tinha:
— Supondo que seja para uma mulher, nós temos esse colar com o par de
brincos de diamantes, que com toda certeza, é o sonho de qualquer mulher.
Eu olhei para o conjunto. Havia muitos diamantes ali, chamando atenção.
Era linda, mas não queria algo para Giulia usar em um evento; eu queria
que ela usasse o tempo todo. Então escutei e segui a vendedora pela loja
inteira, descartando todas as opções. Quando já estávamos do outro lado, eu
avistei o que estava procurando.
O colar era delicado. Seu pingente era um pé de bailarina com um
pequeno diamante na ponta da sapatilha. Eu me lembrei da forma graciosa
que Giulia costuma andar pela casa, na ponta dos pés, como uma bailarina.
Apontei:
— É aquele que eu vou levar.
Os olhos verdes-esmeraldas da mulher se arregalaram em surpresa, mas
seu sorriso não vacilou em nenhum momento.
— Ótima escolha, senhor! Esse colar tem uma delicadeza perfeita e é
feito de ouro puro. — Ela pegou o manequim que estava com o colar e
trouxe pra perto de mim, para que eu pudesse observar de perto. — E esse
diamante é um dos mais raros que existem. Custa apenas 80 mil reais.
Sacando a carteira do bolso, peguei meu cartão e passei para ela.
— É débito. E será um presente, então, se você puder arrumar direitinho,
eu agradeceria.
— Claro, senhor. Me dê cinco minutos. — Ela sorriu e foi fazer o que eu
pedi.

Quando voltei para casa, cumprimentei Warren na entrada, pois como


sempre fazia, ele abriu a porta antes mesmo que eu chegasse nela.
— Tudo certo para aquele jantar que pedi?
Ele anuiu com firmeza.
— Tudo certo, senhor. Poderemos servir a qualquer momento.
— Obrigado, Warren. — bati em seu ombro. — Onde está Giulia?
— Na piscina. — Ele gesticulou para o lado de fora.
Com um sorrisinho nos lábios, deixei a sacola com o presente sobre a
mesa de centro da sala e caminhei até a parte externa da minha casa. Já
estava escurecendo, o céu já estava tingido de laranja, vermelho e amarelo.
O vento forte e gelado bateu contra mim, mas eu estava muito focado na
piscina para encolher.
Nadando de um lado para o outro, Giulia chamou minha atenção. Desde
que viemos para cá, ela evitou entrar na piscina, mesmo depois de eu tanto
insistir para que ela entrasse e se divertisse. Ao emergir, passou as mãos
pelo rosto, retirando o excesso de água dos olhos e quando virou a cabeça,
ela me viu e sorriu lindamente.
— Ei! — Ela se animou. Se impulsionando com os braços, ela saiu, o
minúsculo biquíni branco empurrando minha imaginação para o lado das
coisas sujas e imorais. Ela puxou os cabelos para o lado, os espremendo e
alcançou uma toalha que estava em um dos sofás.
Enfiando as mãos nos bolsos, me aproximei devagar, paciente, sem
seguir a parte animal que estava sendo despertada pelo meu pau. Diante
dela, me inclinei e pressionei um selinho em seus lábios.
Ela sorriu mais, observando meu rosto com curiosidade.
— Por que está me olhando dessa forma? — questionou.
— Que forma? — Meus olhos não sabiam se ficavam em sua boca ou em
seus peitos. O segundo estava ganhando em disparada, principalmente
porque começou a ficar arrepiado com minha atenção.
— Como se quisesse me comer. — Ela provocou em um sussurro.
Meus lábios contraíram em um sorriso safado:
— Deve ser porque é exatamente o que eu quero: comer você. — Então
acenei com o queixo para a piscina. — Ali dentro.
Suas mãos vieram para trabalhar nos botões da minha camisa.
— E por que você não entra comigo? — Ela se empurrou na ponta dos
pés, sem parar de abrir os botões, e me beijou delicadamente. — Eu me
masturbei hoje, pensando em você, na sua boca, nas suas mãos...
Gemi contra sua boca, minhas mãos tocando suas laterais e apertando.
— Estou com a impressão de que criei uma pervertida.
— Ah, a culpa é toda sua mesmo. — Ela conseguiu terminar de abrir os
botões e afastou a camisa dos meus ombros, puxando-a pelos meus braços,
até que a camisa foi jogada no chão ao lado. — Eu não consigo pensar em
outra coisa que não seja você.
Olhando em seu rosto corado e excitado, eu me livrei da minha calça,
ficando apenas de cueca boxer. Não me importei com meus empregados,
que ainda estavam acordados. Eles são profissionais o suficiente para não
aparecer aqui sem que eu os chamasse.

Eu também não parava de pensar nela durante todo o dia, como a porra
de um maníaco possessivo do caralho. Eu sentia que poderia morrer se não
estivesse enterrado nela, pelo menos, em algum momento do dia.
Segurando minha mão, sem dizer mais uma palavra, Giulia me levou
para piscina. Ela desceu pelas escadas, e eu a segui. A água estava morna,
com aquecedor ligado por conta do tempo frio. Quando estávamos dentro, a
água chegando ao meu peito, ela veio montar em mim, abraçando-me com
as pernas e braços.
Eu estava com muito tesão para dizer algo, então apenas a beijei,
espremendo seu corpo contra o meu. Instigando, ela pincelou sua língua
macia na minha, aprofundando o beijo, e uma mão minha subiu e se fechou
em seu pescoço. Meu lado insano e exigente queria muito assumir o
controle, e quando ela gemeu com a forma áspera em que a segurei pela
garganta, eu sabia que ela iria gostar.
Virei-me com ela no braço e a levantei, colocando-a sentada no degrau
mais alto da escada.
— Você vai precisar apoiar as mãos atrás de você.
Ela me olhou sem entender, seus olhos pesados de desejo. Eu segurei a
sua bunda com as duas mãos, puxando-a para cima da água, e ela soltou um
gritinho surpreso e fez o que eu disse.
— Você vai me chupar aqui? — Seus olhos dispararam para a casa, que
tinha as paredes em vidro.
— Os sofás estão impedindo sua visão, porque eu não sou louco de
deixar ninguém ver sua boceta, Giulia. — Dei a ela um sorriso pervertido.
— E eu disse que iria comer você aqui. Como achou que seria?
— Dentro da água, onde poderíamos nos esconder, caso Warren
resolvesse aparecer.
Balancei a cabeça.
— Vamos chegar lá. — Afastei sua calcinha para o lado, gemendo com a
visão molhada de sua boceta, os lábios inchados e bonitos. — E Warren está
resolvendo uma coisa para mim. Não se preocupe.
A minha cabeça abaixou e eu lambi a água antes de fechar minha boca na
pequena boceta. Eu a beijei com vontade, como se tivesse beijando a boca
de Giulia.
A mulher se contorceu, empurrando seus quadris para minha boca, em
busca do máximo de prazer que ela conseguiria com isso. Os gemidos
abafavam o som das ondas tranquilas do oceano. Seu gosto era tão bom,
que eu ficaria aqui o tempo inteiro, se pudesse.
— Pedro... — Ela implorou, choramingando.
Eu ri contra sua intimidade, exultante com a reação do seu corpo. Eu a
devorei da forma que eu gosto: sem hesitação, sem delicadeza. Enfiando
meu dedo nela, comecei a meter rapidamente enquanto a suspendia com
uma mão.
— Oh Dio! — Ela sufocou, seus olhos se fechando. Então ela fez algo
que me deixou insano:
Apoiando-me nos cotovelos, Giulia puxou a parte de cima do biquíni
para o lado, liberando seus seios perfeitos e os apertou, como se aquilo
fosse ajudar a liberar a tensão gostosa de seus músculos.
Acrescentei outro dedo, os torcendo bem fundo quando suguei seu
clitóris, logo em seguida, sacudindo minha língua nele. O corpo pequeno de
Giulia estremeceu de forma violenta em um orgasmo e ela gritou junto,
resmungando em italiano algo do tipo “oh, merda! Merda, merda, merda!”.
Meu sorriso estava radiante quando a puxei para meus braços de novo, já
colocando minha cueca para baixo e procurando me posicionar em sua
entrada. Assim que voltamos de NY, eu insisti para que fossemos em uma
nova consulta. Não que eu duvidasse que ela tomava anticoncepcional, mas
queria fazer direito.
Ela foi a uma nova ginecologista, que acabou mudando sua injeção para
uma, segundo ela, seria bem melhor para o organismo de Giulia. E eu refiz
meus exames. Desde então, não temos nos preocupado com camisinhas,
apesar de que eu ainda estava com um pé atrás sobre isso.
Giulia era jovem e, mesmo sabendo que eu nunca a deixaria na mão,
caso rolasse uma gravidez, eu não tinha certeza se ela gostaria disso agora.
No entanto, sem tempo de discutir de novo sobre isso, porque meu pau
estava muito duro e dolorido, eu a segurei e a abaixei seu corpo mole do
orgasmo anterior. Ela era tão apertada e quente ao redor do meu pau.
Sua cabeça caiu para trás, com um gemido de deleite puro. Eu aproveitei
para sugar um pouco do seu pescoço.
Ela me segurou como se dependesse daquilo para viver, para respirar,
enquanto eu a guiava para cima e para baixo em minha dureza, devagar no
começo, deixando seu corpo acostumar com a invasão. Assim que ela
mesma começou a quicar e nossos gemidos começaram a ficar mais altos,
eu aumentei a pressão.
Giulia segurou meu rosto, seus peitos pulavam juntos com ela, seus olhos
pegaram os meus:
— Eu amo fazer isso com você. — Ela declarou, sua boca raspando na
minha. — Você fica tão perfeito dentro de mim... e com a água é...
— Ainda melhor. — Completei, mordiscando seu queixo.
Ela acenou, como se estivesse em outro mundo, bêbada.
— Eu amo fazer isso com você também.
Seus olhos cor-de-mel se arregalaram, mas ela apenas sorriu lento e
quicou com mais força.
— Eu vou gozar de novo.
Eu a pressionei para baixo, até que sua vagina começou a roçar em
minha virilha, causando o atrito perfeito.
— Goze no meu pau. — Ordenei, indo mais e mais fundo.
Sua boceta se apertou ao redor do meu pau, deixando-me ainda mais
selvagem, então eu meti mais rápido e nós dois gozamos juntos. Ambos
estremecendo com violência. Ela se agarrou em mim, e eu a abracei pela
cintura para não a deixar deslizar enfraquecida.
Foi a primeira vez que gozei junto com ela e foi a melhor sensação da
porra da minha vida.
Depois do nosso sexo na piscina, subimos para tomar um banho e se trocar.
Pedro falou que teríamos um jantar especial por conta do meu aniversário e
o de Rafael, então, para não acabarmos em outra sessão de foda intensa, eu
optei por me arrumar em meu quarto. Ele não ficou satisfeito, mas não
discutiu.
Eu tinha optado por um vestido preto de alcinha, que delineava bem meu
corpo e ia até a parte de cima das minhas pernas. Isso me deixou um pouco
hesitante, o que me deixou mal.
Olhando-me no espelho, eu sabia que Pedro iria amar no meu corpo. Ele
sempre parece amar tudo que eu visto. Mas Mattia conseguiu plantar isso na
minha cabeça e não é tão fácil de arrancar de lá, por mais que eu tentasse.
Eu precisava de ajuda para isso, mas hoje era meu aniversário e eu não iria
deixar isso me afetar.
Eu encerro, soltando meu cabelo do nó que estava preso no alto da minha
cabeça e sento-me na beira da cama para prender as tiras da minha sandália
de salto alto ao redor dos meus tornozelos.
Descendo as escadas, avistei Pedro na sala de estar junto com Rafael e
Athena. Ele correu os olhos pelo meu corpo, admiração brilhando nas íris
escuras. Estava usando uma camisa social preta, com as mangas dobradas
até os cotovelos e os primeiros botões abertos. Como sempre, perfeito, de
dar água na boca.
Rafael estava com uma camisa parecida, mas na cor azul-marinho. E o
vestido de Athena era vermelho, com um decote generoso e muito sexy. A
forma como Rafael a olhava, me fez querer rir. Ele foi o primeiro a me
abraçar quando, finalmente, cheguei perto.
— Feliz aniversário, chatinha.
Eu ri e beijei seu rosto.
— Feliz aniversário, coisa sem paciência.
— Eu sei que você gosta de ler esse tipo de coisa, então, comprei para
você. — Ele me entregou uma sacola bonita e pesada.
Pega de surpresa, com um sorriso bobo, eu me sentei no sofá porque era
bastante pesado. Abrindo, encontrei uma série de 10 livros de Christina
Lauren, chamada Cretino Irresistível. Meus olhos brilharam com carinho
para ele. Desde que cheguei aqui, tenho lido bastante e fico feliz em receber
livros de presente de aniversário.
— Vou ler todos com muito carinho. — eu disse para ele, levantando-me
para lhe dar outro abraço apertado. — Pedro só me disse que era seu
aniversário também agora pouco, então, por isso não deu tempo de comprar
nada para você. Mas prometo que amanhã mesmo resolverei isso.
Ele balançou a cabeça e apertou a ponta do meu nariz com um sorriso
maroto.
— Não se preocupe com isso, eu não ligo muito para esse tipo de coisa.
Pedro limpou a garganta, como se dissesse “Ah, jura?”, e seu irmão
soltou uma risada, apontando para ele.
— Só ligo para os seus presentes, porque eles sempre são os melhores,
mano.
Ele me contou que havia dado uma moto nova para o irmão mais novo.
Sacudindo a cabeça, Pedro me puxou pela mão para que eu ficasse mais
perto dele. Sem tirar os olhos de mim, ele alcançou uma caixa de veludo
que estava perto.
— Agora é a vez do meu presente.
Encantada, peguei a caixa. Minhas mãos tremiam de ansiedade. Dei uma
olhada incrédula para ele:
— Falei que não precisava.
— Você merece. — Ele acenou com o queixo para que eu abrisse logo.
Eu fiz e meu peito apertou com a simplicidade do presente. Era um colar
de ouro, com um pequeno pingente em formato de um pé de bailarina. Na
ponta da sapatilha havia um diamante.
— Pedro, isso é tão lindo! — Meus dedos traçaram a corrente delicada.
Eu já havia ganhado algumas joias durante minha vida, mas todas eram com
a intenção de chamar atenção quando eu chegasse ao local. Nenhuma delas
era tão pequena e simples como essa era.
— Deixe-me ajuda-la a colocar. — Ele pediu, e eu anuí.
Ficando de costas, arrastei meus cabelos para o lado e permiti que ele
colocasse o colar em meu pescoço. Eu o toquei com cuidado sobre meu
colo e abri um sorriso radiante quando me virei de volta para Pedro.
— Grazie. — Minha voz mal saiu com a felicidade envolvendo minha
garganta. — Sério, foi o melhor presente que alguém já me deu.
Um som incrédulo soou, e todos rimos quando percebemos que Rafael
quem o fez:
— Não é legal da sua parte dizer isso quando eu acabei de lhe entregar
um presente!
— O seu também foi maravilhoso, bambino. — Garanti. — Vou devora-
los amanhã mesmo.
Athena veio me felicitar por último. Ela era uma mulher linda e
combinava bastante com Rafael. Mil vezes melhor que a ruiva mal amada.
Seus cabelos dourados estavam soltos e rebeldes e seu batom combinava
perfeitamente com o vermelho de vestido.
— Pensei que estava em Chicago. — eu disse.
— Pois é, eu estava, mas eu prometi que estaria aqui para o aniversário
de Rafael. — Ela deu uma espiada nele e sorriu. Quando ele devolveu o
sorriso, eu captei os sentimentos que já estavam impregnados neles.
Warren apareceu e pediu para que fossemos para a parte externa.
Sentindo a mão de Pedro nas minhas costas, eu caminhei para a área da
piscina e fiquei boquiaberta quando notei a mesa repleta e linda.
Tinha de tudo. De comida italiana a comida brasileira. Até mesmo
comida japonesa. Nós nos sentamos na mesa e o cheiro de lasagna chegou
nas minhas narinas, e eu gemi com água na boca.
Pedro tinha me levado para comer isso em nossa primeira sessão de
compras, mas era como se já fossem anos sem comer.
Eu me sentei de frente para a piscina e isso trouxe as recordações do que
aconteceu lá mais cedo. Corei com força enquanto os outros se
acomodavam e arrisquei uma olhada para Pedro, que me deu um sorrisinho
de lado, levado, sabendo exatamente o que eu estava pensando. Balancei a
cabeça, quase revirando os olhos, mas não consegui impedir meus lábios,
que formaram um grande sorriso conhecedor.
— Hum, eu amo sushi! — Athena bateu palminhas, ansiosa com toda a
comida em nossa frente.
— É por isso que eu falo para você que somos almas gêmeas. — Rafael
cutucou a costela dela com um dedo, fazendo-a se remexer com cócegas,
enquanto ele pegava uma peça de sushi com seus hashis, o melava no
molho. Ele o levou em direção à boca de Athena, mas quando os lábios dela
se abriram animados, ele mudou o percurso e o enfiou em sua própria boca,
rindo da cara dela.
Deixei uma risada escapar quando vi a cara feia que ela fez para ele.
Pedro sacudiu a cabeça, com uma risadinha baixa. Ele estava encostado em
sua cadeira, de forma desleixada, observando-nos. Sua postura estava
tranquila, como sempre e quando seus olhos escorregaram de volta para
mim, arfei com a intensidade.
Eu estava amando esse jantar que ele arrumou para nós, mas é claro que
eu preferiria estar deitada em sua cama, com ele embalando meu corpo ou
apenas dentro de mim. O dia todo, enquanto ele estava fora, eu pensei sobre
isso. Tentei fazer outras coisas, ler, focar minha mente, mas só vinha ele.
A cada passo que eu dava pela casa.
A cada parágrafo que eu lia.
A cada momento desse dia eu só queria vê-lo chegar para abraça-lo e
sentir seu corpo no meu.
O que fizemos na piscina foi perfeito, delicioso, e eu nunca pensei que
ele fosse capaz de deixar o sexo ainda melhor. Eu estava enganada.
— Eu pedi que fizessem bistecca alla fiorentina para você. — Pedro me
disse, indicando a travessa com os bifes bem suculentos. Os meus favoritos.
Olhei para ele, espantada.
— Como sabia que era meu favorito?
Seu sorriso se tornou radiante, lindo.
— Liguei para sua mãe, e ela me contou que era seu prato favorito, logo
depois da lasanha.
Minha boca se abriu em surpresa. Eu nunca tinha contado isso para
ninguém, nem mesmo para minha mãe, então era estranho ver que ela sabia
disso.
Enquanto ele pegava a garrafa de vinho e colocava para todos na mesa,
eu me servi com a bistecca alla fiorentina, minha boca cheia d’água.
Depois, eu pegaria um pouco de lasagna e experimentaria os pratos
brasileiros, mas agora, eu iria matar minha saudade.
Cortei um pedaço da carne e quando a maciez atingiu minha língua, eu
gemi, fechando os olhos, me deliciando com aquela coisa gostosa.
Perfetta.
Aparentemente, o som que eu fiz, chamou a atenção de Pedro. Ele estava
se servindo com um prato brasileiro que continha arroz, feijão, carne seca e
queijo, tudo misturado, mas sua mão congelou no meio do caminho do seu
prato, com a colher cheia de comida, e seus olhos piscaram para mim. Sua
expressão gritava excitação, como se ele me perguntasse “Quer subir para
o quarto?”.
Meu coração bateu forte e duro dentro do meu peito. Sim, eu adoraria,
mas meu gemido agora era voltado para minha comida. Com um sorrisinho
forçando para sair em meus lábios, eu coloquei outro pedaço de carne na
boca e mastiguei.
Ele riu e piscou um olho para mim antes e continuar a se servir.
Rafael estava relaxado, seu braço descansando a parte de trás da cadeira
de Athena. Eles pareciam mais próximos, o que me leva a acreditar que o
problema que estava acontecendo entre eles da última vez que conversei
com Rafael, já foi resolvido.
Athena mastigou seu sushi, torcendo o nariz para ele em brincadeira. Em
seguida, ela bebeu um pouco de seu vinho. Rafael sorriu, extasiado com sua
parceira. E meu peito explodia de satisfação em vê-lo assim, leve, sem a
impaciência corriqueira ou a tensão que seus ombros carregavam sempre
que Sasha o infernizava com mensagens e ligações. Eu ainda diria umas
poucas e boas para ela em breve.
Minha atenção é puxada para o meu parceiro quando sua mão grande
envolve minha perna por baixo da mesa, arrepiando todo o meu corpo. Seus
olhos quentes me consomem por completo enquanto ele toma um pouco do
seu vinho, em seguida, lambe os lábios com sua língua perfeita. Isso atrai
meus olhos para sua boca, ansiando por um beijo seu.
Como seu irmão, ele se inclina, colocando um braço no encosto da
minha cadeira. O vento balança nossos cabelos e leva os deles — um tanto
grandes já — para sua testa. Ele me dá um sorriso secreto e erótico quando
pega uma garfada de sua comida e força na direção da minha boca:
— Experimente. — Ele pede, e eu não hesito em envolver meus lábios
em volta de seu garfo.
Era um gosto diferente, porém gostoso. Deixei um som de satisfação
escapar e acenei em positivo.
— Que delícia! Como se chama?
— Baião de dois. — Ele respondeu. — Comida típica do nordeste do
Brasil.
— E um dos meus pratos favoritos. — Rafael completou, orgulhoso. —
Se achou esse gostoso, espere até experimentar um feito pela nossa prima,
Thammy. É perfeito. Aquela garota sabe como nos fazer delirar por uma
comida.
— Mmm. Eu adoraria experimentar o dela, então.
— Você vai, um dia. — Pedro garantiu com os olhos brilhando.
Nós seguimos conversando animados e divertidos. Foi engraçado ver que
Athena conseguia deixar Rafael mais leve, mais paciente, como se perto
dela, ele não ficasse chateado. Eu também estava mais tranquila e, pela
primeira vez, me sentia em casa de verdade. Esse simples jantar que Pedro
fez questão de fazer, com as minhas comidas favoritas e as de seu irmão, foi
de longe o melhor aniversário que eu já tive.
Com o melhor presente. As melhores pessoas.

•••

No dia seguinte, levantamos cedo para uma corrida. Eu reclamei um


pouco, pois estava exausta após uma noite de muito sexo quente, mas já
estava muito acostumada com as nossas corridas e feliz com o resultado que
isso estava me dando. Em seguida, tomamos um banho juntos — o que logo
se tornou em uma sessão sexual debaixo do chuveiro.
Já vestida, sentei-me na beira de sua cama, as mãos apoiadas no colchão
atrás de mim enquanto o assistia se vestir para mais um dia de trabalho.
Aquilo me deixou um pouco chateada.
Não por ele trabalhar, mas porque parecia que todos faziam alguma coisa
importante por aqui, e eu estava vivendo de acordo com a criação dos meus
pais: Ficando bonita e esperando meu homem rico chegar do trabalho para
satisfaze-lo.
Mesmo sabendo que nunca cheguei a pensar sobre realmente ir à uma
faculdade enquanto estava na Itália, eu nunca quis viver como minha mãe.
Esse foi um dos motivos pelo qual eu me envolvi com Mattia, porque
pensava que ele seria diferente. Minha tábua de salvação.
Bene. Ele estava mais para a porta que manteve Rosie a salvo da água
gelada durante o naufrágio do Titanic, e eu estou mais para Jack, que
morreu porque, aparentemente, a porta não podia sustenta-lo junto com
Rosie.
— Eu quero fazer alguma coisa. — Soltei com um suspiro apertado.
Ele estava dentro do closet, mas saiu, ainda com o peito nu, a calça
aberta e me olhou com uma sobrancelha erguida.
— Então, faça. Você pode fazer qualquer coisa, sabe disso. Joel ficará
aqui para leva-la a qualquer lugar.
Sacudindo a cabeça, eu torci o nariz.
— Não, estou falando sobre fazer alguma coisa do tipo trabalhar,
entende? Sei lá, ir à faculdade.
Seu cenho franziu quando ele entendeu o que eu falava. A sua voz saiu
calma, devagar, quando ele falou:
— Tudo bem. Isso é bom. Vá em frente.
— Você acha? — pergunto.
Ele volta para dentro do closet, e eu perco a visão do seu corpo perfeito.
— Se é isso que você quer, então deve fazer. Não importa o que eu acho.
Essas coisas me enchem de frustração e eu solto um grunhido chateado.
— É claro que importa! Sua opinião é muito importante para mim,
entenda isso, per favore!
Ele sai de novo, agora com uma camisa branca, mas com os botões ainda
abertos.
— Fico muito feliz em saber disso — diz ele, vindo se acocorar na minha
frente, suas mãos segurando minhas pernas —, mas isso é porque você foi
criada para agradar as pessoas ao seu redor. Não importa se isso te faça se
sentir mal ou menor que os outros, sua criação foi para que as pessoas se
sintam bem quando olharem para você, quando a conhecem. Mas está
errado. Você só tem que agradar a si mesma. O que você acha sobre o que
deve ou não fazer, é a única coisa que importa. Foda-se se fulano ou sicrano
não acham certo ou não acham que seria uma coisa boa para você. Se não
for boa, e daí? É a vida, ela foi feita para aprendermos com nossos erros. É
necessário que você se sinta confortável com sua escolha. Só você.
Os meus olhos estão nublados de lágrimas com o que ele estava falando
porque estava certo. Cada palavra foi um tapa na minha cara, como se
estivesse tentando me acordar.
Ele continuou:
— Quer fazer faculdade? Vá em frente. Conheço pessoas que te
colocariam dentro de uma amanhã mesmo, basta escolher o seu curso. Quer
abrir alguma coisa? Uma loja, uma empresa... A gente também resolve.
— E se eu tiver que voltar para Verona? — eu choro, mas enxugo minhas
lágrimas.
Ele me olha bem, as sobrancelhas contraídas, sabendo exatamente do que
estou falando. Sobre nós dois. Como ficaríamos, se eu tivesse que voltar. Eu
sabia que não estávamos namorando ou algo do tipo, mas estamos tão bem,
que eu não saberia se conseguiria viver sem olhar para ele todos os dias.
Carinhosamente, ele levantou a mão e tocou meu rosto, limpando-o com
o polegar.
— Eu tenho a porra de um avião, Giulia. Estaria lá toda semana, se você
quisesse. E você poderia vir sempre, também.
— Mas eu não quero voltar. — Balancei a cabeça em negativa e solucei
baixinho. Cobri a boca com a mão, sorrindo entre o choro. — Sinto muito
por isso. Nem parece que tenho vinte anos.
Ele riu suavemente.
— Não se desculpe. Apenas entenda que não importa o que seus pais
acham ou o que eu acho, só o que você acha. Tire o dia para pensar sobre
isso, para decidir o que quer fazer. Apoiarei qualquer decisão sua, está bem?
Anuí.
— Va bene.
Ele gemeu, fechando os olhos, então se inclinou, beijou minha boca e se
afastou, resmungando:
— Você vai me matar com esse sotaque do caralho!
Eu ri, enxugando as lágrimas.
Meu celular não parava de tocar no quarto, então eu abandonei a minha
mais nova leitura — dos livros que ganhei de Rafael — e corri escada
acima. Ele estava conectado no carregador, por isso o deixei aqui.
Quando vi o nome da minha mãe brilhando na tela, vacilei, sem
conseguir decidir se atenderia ou não. Já fazia dias que não nos falamos por
conta da última vez. Eu não sabia se estava preparada para mais uma sessão
de mandamentos e decepções.
O celular parou de tocar e eu me sentei na cama, ainda o encarando. Era
provável que ela estivesse me ligando porque ontem foi meu aniversário.
Por algum motivo, eu me sentia mal. Principalmente porque ela disse a
Pedro sobre meus pratos favoritos, e eu nem sabia que ela havia notado.
Com um suspiro, peguei o celular, arrastei meu polegar pela tela e liguei
de volta. Ela atendeu rapidamente em italiano:
— Pensei que não ia conseguir falar com você, filha!
— Ei, mamma.
— Como você está, Giulia? Falei com você no início do mês e nunca
mais atendeu ao telefone. Tenho que ficar recebendo notícias suas através
do Pedro.
Eu suspirei, fechando os olhos em frustração.
— Só não estava afim de escutar todas as reclamações e decepções,
mamma.
— Acha que só ligo para minha filha para isso?
— Eu não apenas acho, eu sei. É o que você fez da última vez que atendi
a sua ligação.
Silêncio.
Então ouvi seu lamento.
— Oh, querida. Eu sinto muito. Acho que estou passando tanto tempo
com seu babbo, que acabo me apegando a essas coisas.
— Sempre foi assim, mamma. Já estou acostumada com isso, mas tenho
vinte anos agora. Tenho o direito de não querer ouvir certas coisas.
— Seu babbo não pensa assim. Você não será livre para ele até que se
case. E agora ele está frustrado, pois os pretendentes que ele tinha em vista
para você, arrumaram outras jovens depois do... bem, do que aconteceu aí.
Meus dedos apertaram em volta do aparelho celular e eu queria
arremessa-lo tão longe, que ele iria se despedaçar inteiro, só para não correr
o risco de receber mais ligações da minha mãe. Mas, eu era uma mulher
agora. Se eu quisesse que me tratassem como uma mulher, eu precisava agir
como uma, e não como uma adolescente revoltada. Respirando fundo, reuni
todas as minhas forças antes de falar, calmamente:
— Mamma, diga ao babbo que não vou voltar para Itália. Tampouco irei
me casar com quem quer que seja, só porque ele acha que eu devo. Como
acabei de falar, tenho vinte anos e estou começando um novo ciclo que
requer responsabilidade. Talvez eu curse alguma faculdade, arrume um
emprego, não sei, qualquer coisa. Só sei que não vou ter mais minha vida
sob os gostos dele.
— Querida, ele não permitirá! — Mamma falou, sua voz se tornando
dura. — Se eu disser isso, ele irá cortar seu cartão e fará você voltar.
— Ele não precisa. Não vou mais usar o cartão que ele me deu.
— E vai viver às custas de um homem que nem é seu noivo?
Eu ri em silêncio, olhando para minha mão, que estava sobre meu colo.
Ela não fazia ideia do que estava rolando entre nós dois. E, mesmo que eu
também não tenha ideia do que seja, era alguma coisa.
— Eu posso pedir um emprego para Pedro.
— Você nunca trabalhou!
— É verdade. — Meneei a cabeça, sentindo-me orgulha comigo mesma
com o pensamento que acabei de ter. — Mas, se eu for seguir nesse
raciocínio, eu nunca vou trabalhar. Para tudo existe uma primeira vez,
lembra?
— Giulia, isso é loucura! Você é filha de um homem rico e pode arrumar
um casamento bom, que não vai precisar trabalhar...
— Mamma, eu não vou morrer ou ser pior que alguém só porque vou
trabalhar. Babbo trabalha todos os dias. Pedro também.
— Sabe que não é a mesma coisa. Você é mulher e-
— E por isso meu único trabalho deveria ser uma boa dona de casa? —
Questionei ironicamente. Eu estava me lembrando que precisava me manter
calma, mas essas coisas que meus pais inventavam sempre me tiraram do
sério. Nem mesmo Mattia falava sobre isso. Ele sempre dizia que íamos
construir nossas coisas juntos. — Eu não quero essa vida para mim,
mamma. Quero viver livre, fazer o que eu quiser, sem ter que pedir
permissão e rezar por sim, como você faz. Isso que você chama de bom
casamento, eu chamo de prisão. Eu posso ser jovem e não ter vivido muito
ainda, mas eu experimentei um pouquinho dessa porcaria e, adivinhe só?
Eu odiei! Não vou passar o resto da minha vida como a senhora, que não
pode dar um passo sem que o babbo autorize. Sinto muito, mas essa não
sou eu.
Desligo e devolvo o celular para o carregador.
A minha mãe sempre foi uma mulher incrivelmente linda. Ela sempre
cuidou muito do seu corpo e da sua saúde, mesmo que não tenha se
interessado em conhecer outros homens depois que meu pai morreu.
Quando ela entrou na minha casa, em uma segunda-feira de manhã,
pegando-me de surpresa com a língua enfiada na boca de Giulia após nossa
corrida, estava com um vestido vermelho apertado, que mostrava bem suas
curvas; o cabelo solto e os óculos escuros em suas mãos.
Mas ela apenas limpou a garganta, uma sobrancelha erguida em diversão
e abriu os braços para me pegar em um abraço maternal.
Pela primeira vez, eu desaprendi a falar as palavras.
— É um pouco difícil para uma mãe ver que seu bebê está explorando a
boca de outra pessoa. — Ela brinca, falando em português quando se
afasta, segurando meu rosto entre as mãos. — Mas por que será que não
estou surpresa com isso?
Giulia corou violentamente e deu alguns passos para trás. Ela sabia quem
era minha mãe e a vergonha tomou conta do seu rostinho bonito.
Eu ri, beijando o rosto da minha mãe, em seguida, acenei para minha
hóspede.
— Mãe, essa é Giulia. Giulia, essa é Polly, minha mãe.
— Eu sei. — Ambas falaram em uníssono, e as bochechas de Giulia
ficaram ainda mais vermelhas.
Como toda mãe, a minha não estava nem aí para esses atos de
constrangimentos, então ela apenas sacudiu a cabeça e com um sorriso largo
e conhecedor direcionado a mim, ela foi até minha pequena e a abraçou.
— Você está linda, querida. — Elogiou docemente. — Quando a
conheci, era desse tamanhinho — Ela virou a palma da mão para baixo e
abaixou, sinalizando um tamanho que batia em seus quadris. —, e agora é
esse mulherão todo.
— Ah, grazie. — Os grandes olhos de Giulia me procuraram, a timidez a
pegando com força. Seu sorriso foi tão lindo, que fez algo dentro de mim
sacudir. — A senhora também é muito linda.
Mãe estalou a língua no céu da boca, no mesmo instante em que cocei a
nuca com uma careta, porque sabia que ela odiava ser chamada de senhora.
— Sem essa de senhora, pelo amor de Deus! Ainda sou uma boyzinha.
Giulia dá um sorriso confuso para mim. Eu balanço a cabeça, rindo.
— É uma expressão do Brasil. Significa que é jovem.
— Ahhh — Ela volta para minha mãe, completamente constrangida,
gaguejando: — Claro, claro. Se não soubesse, nunca imaginaria que você é
mãe de Pedro e Rafael. Parece mais irmã.
Eu preciso morder o interior das minhas bochechas para não rir. Ela está
muito vermelha, como um tomate. E pelo olhar da minha mãe — bem
parecido com o de Rafael —, ela iria provocar mais um pouco, só para ver
até onde Giulia conseguia ir, então eu a socorri. Eu me aproximei,
colocando a mão em seu branco quente e sugeri:
— Por que não sobe e vai tomar um banho para podermos tomar café da
manhã?
Ela anuiu rapidamente, pediu licença com um sorriso bonito e correu
escada acima.
Fiquei observando sua bunda redonda trabalhando enquanto ela subia
como se ainda estivesse se exercitando ainda, e eu daria tudo para ir para o
chuveiro com ela. Essa era a intenção quando minha mãe chegou. Mas meu
cenho franziu quando ela foi direto para seu quarto, não para o meu.
— Como assim você está pegando a garota e não me contou? — A
minha mãe me belisca no braço, sussurrando, brava.
— Ai! — Reclamo, afastando-me de seu aperto. — Eu tenho 30 anos,
mãe. Existe coisas que não preciso ficar te dizendo.
— Claro que precisa! E minha necessidade de saber das coisas?
Alço a sobrancelha.
— Isso significa que é uma fofoqueira.
— Curiosa. — Ela corrige, me dando um tapa no braço. — Fofoqueira é
quem sai falando da vida dos outros por aí.
Balancei a cabeça, rindo.
— Sim, sra. Curiosa, por que não me avisou que estava vindo? Eu não
disse que iria te mandar o avião?
Ela bufou e revirou os olhos quando percebeu que eu estava mudando de
assunto e seguiu para a cozinha.
Eu fui atrás para escutar sua resposta.
— Eu não queria vir em um avião gigante sozinha. — Ela pega um copo
em um armário e uma garrafa de água na geladeira. — Peguei um voo legal
e estou aqui. Sã e salva. — Ela se serve de água e bebe um pouco. Seus
lábios se curvam em diversão quando olha para mim de novo. — E acabei
de descobri que meu filhinho está dormindo com uma mulher linda, na casa
dele, não no hotel. O que significa que o negócio é sério.
— Mãe, não é nada disso. — Massageei a nuca, meu cenho se franzindo.
— Então, me explique. — Ela gesticulou para que eu fizesse o que pediu.
Suspiro. Eu sabia que ela iria fazer de tudo para saber o que estava
acontecendo, por isso eu cedi, sem querer prolongar muito essa conversa.
— Depois de tudo que ela passou, ela precisava de um lugar para se
sentir segura, ficar longe das pessoas.
— E você a trouxe para cá?
Anuí.
Minha mãe me olhou com atenção.
— Quanto tempo faz que vocês estão dormindo juntos?
— Há algum tempo. — Eu não iria entrar em detalhes porque a regra de
não falar sobre minha intimidade se estendia para ela também.
— Quem mais sabe?
— Só Rafael e Margot.
Athena também sabia, mas ela não era tão relevante assim, já que minha
mãe ainda não a conhecia.
Mãe meneou a cabeça devagar.
— E os pais dela?
Sacudi a cabeça em negativa.
— Acho que Patrizio já teria me matado se soubesse.
— Por quê?
Dei a ela um olhar incrédulo.
— Porque ela faz parte de uma família tradicionalista. Porque ela não
poderia se relacionar com alguém fora dos padrões de sua família. Porque
ela é 10 anos mais nova que eu. Porque ele confiou em mim para cuidar de
sua única filha. Existem mais uns cem porquês que eu posso citar aqui, se
você quiser, mãe.
Minha mãe abandona o copo com água pela metade sobre a ilha e cruza
os braços.
— E o que ela diz sobre isso?
Dou de ombros.
— Ela está gostando tanto quanto eu estou. Ela quer ser independente e
odeia as regras de sua família.
— E quanto você está gostando?
Eu dei uma olhada para ela que dizia “Eu sei o que está fazendo” e me
afastei.
— Não vou cair no seu interrogatório, mãe. Te conheço o suficiente para
saber como você faz para arrancar o que quer dos outros.
— Eu só estou curiosa com meu bebê!
Ela grita, mas eu já estou correndo em direção às escadas. Grito para ela
escutar:
— Vou tomar um banho e vamos tomar café! É rápido!

•••

Assim que nos sentamos na mesa, meu irmão apareceu. Ele tinha um
sorriso gigante, de orelha a orelha quando viu nossa mãe. Se sentou ao lado
dela e se deixou ser mimado quando ela o apertou e o encheu de beijos pelo
rosto.
— Quem diria que você era um filhinho da mamãe, Rafa. — Giulia
comentou, brincando com ele.
Sua mandíbula contraiu quando ele olhou feio para ela.
— Eu não sou, apenas estava com saudades da minha mãe.
— Giusto, giusto. — Ela escondeu o sorriso com um gole de seu suco.
Sabendo onde isso ia dar, eu sorri e me concentrei em meu Kindle,
deixando que eles se resolvessem, como sempre.
— Mas você é meu bebê mais novo, sim. — A mãe falou, apertando suas
bochechas. Era a única pessoa que conseguia fazer meu irmão se derreter e
se desmanchar fácil em um sorriso.
— Que fofo! — Giulia entrelaçou as duas mãos, seus olhos brilhando
enquanto ela observava a interação entre mãe e filho. — Você fica tão
lindinho assim, todo derretido para sua mãe.
Rafa mostrou a língua para ela, e ela devolveu.
Eu ainda não conseguia acreditar que duas pessoas adultas poderiam
brigar desse jeito.
Após algum tempo, minha mãe se virou para mim e perguntou:
— Querido, você disse que tinha uma surpresa para mim. O que é?
— Ainda não. — Balancei a cabeça. — Amanhã nós iremos para French
Rivera e só lá você vai descobrir.
Seus olhos escuros se arregalaram. Eu podia ver as lembranças do meu
pai passando por eles.
— Nós vamos?
Anuí com firmeza.
— Amanhã cedo.
— E o que vamos fazer lá?
— Você vai ver.
— Pedro, eu nem vou conseguir dormir, pensando sobre isso. Você sabe
como sou ansiosa.
Dou de ombros, meus lábios se curvando com diversão ao ver sua cara
de desespero.
— Ansiosa, não. Como foi mesmo que você disse lá dentro? — Ergui um
dedo em riste, meus olhos se apertando, fingindo que estava ponderando. —
Ah, sim. Curiosa.
Com ofensa fingida, ela alcança um pão de queijo e o lança em mim, mas
eu sou mais rápido e o pego antes que ele chegue ao meu rosto. Dou uma
mordida, rindo dela.
Rafael riu também, mas se inclinou e beijou seu rosto, dando a ela o seu
sorriso de menino doce — que ele só dar para ela —, e diz:
— É uma boa surpresa, mãe. Não se preocupe.

•••

Durante a noite, eu me despedi da minha mãe e subi para um banho.


Giulia não estava no quarto. Talvez ela tenha ido pegar alguma coisa em
seu quarto.
Eu puxei minha camisa pela cabeça e a deixei sobre a cama no caminho
para meu banheiro. Após um banho, enrolei uma tolha na cintura e saí.
Giulia ainda não estava lá.
Entrei no closet, peguei uma calça de pijama e a vesti. Não dormia de
cueca, tampouco de camisa. Quando voltei para o quarto, coloquei as mãos
na cintura, notando que não havia nem sinal de Giulia por aqui. Franzindo o
cenho, virei e saí, descendo as escadas do meu quarto.
Sem bater, eu abri a sua porta e a encontrei na cama, com as pernas
cobertas e as costas descansando contra a cabeceira. Havia um livro aberto
em suas mãos. Ela ergueu os olhos e eu vacilei com o impacto que seu olhar
causou, deixando meu coração acelerado, ansioso, nervoso.
— O que está fazendo?
Sua sobrancelha de arqueia e ela acena com o livro.
— Lendo...?
— Há uma cama enorme lá em cima. Você pode muito bem ler nela.
Ela sorriu. Ela ficava ainda mais linda quando sorria desse jeito.
— Sua mãe está aqui.
— E? — Eu me aproximei. Inclinei a cabeça, observando-a. — A minha
mãe é psicóloga, Giulia. Ela estuda o comportamento das pessoas e,
envolvendo o fato de que ela nos pegou enquanto devorávamos a boca um
do outro, tenho certeza que ela sabe o que está acontecendo aqui.
Ela corou lindamente, soltou o livro e escondeu seu rosto com as mãos.
— Dio mio! Isso vai além do constrangedor, Pedro!
Eu ri baixinho.
— Por que? — Encolho os ombros, escovando seus cabelos para trás
com os dedos.
Ela deixa as mãos cair e levanta o queixo, seu olhar exasperado para
mim, como se estivesse perguntando se eu estava brincando.
Abaixando-me, eu a descubro, enfio um braço debaixo de suas pernas e o
outro em suas costas, e a ergo da cama.
— O que você...
— Você não vai dormir aqui, Giulia. — eu digo com firmeza, segurando-
a contra meu peito. — Eu vou te levar para a cama.
Ela envolve os braços em volta do meu pescoço, todo seu rosto bonito
estava vermelho, mas seu sorriso era sedutor. Eu dei um selinho em seus
lábios e comecei a caminhar. Quando a deito na minha cama, eu me levanto
apenas para admira-la ali. Algo dentro do meu peito aperta e eu percebo
minha necessidade de dormir ao seu lado, abraçada com ela.
Deito-me e a puxo para meus braços, e beija meu peito, bem onde há a
tatuagem com o nome do meu pai.
— Não faça mais isso. — eu peço.
— O quê?
Eu beijo sua testa.
— Ir para longe. É aqui que você dorme agora, não naquele quarto. Esse
é o seu quarto.
Há um silêncio por um instante, e eu encontro seus olhos, que brilham na
escuridão do quarto. Seus lábios se curvam suavemente e ela anuiu.
— Eu não farei de novo. — Ela garante. — Lo prometto.
French Rivera é a costa mediterrânea do sudeste da França. A temperatura
de vinte e sete graus era bem-vindo depois de passar várias horas no avião e
no carro.
Quando descemos na frente de um resort de luxo em Cannes, bem em
frente a praia, que mais parecia um enorme condomínio chique, eu fechei os
olhos e deixei o sol queimar um pouco do meu rosto. O formigamento era
delicioso, uma sensação perfeita.
Uma mão grande segura a minha, e quando abro os olhos, vejo os dedos
longos de Pedro se entrelaçando aos meus. Sorrio para ele, as borboletas em
meu estômago se agitando com a atitude e com o sorriso que está
repuxando seus lábios bonitos e chamativos.
Ele estava lindo. Eu sei que ele sempre estava, mas hoje ele não parecia o
poderoso dono de uma rede de hotéis de luxo. Com uma bermuda branca,
uma camisa de botões azul-claro com os primeiros botões abertos, tênis
branco e óculos escuros, ele estava mais para o poderoso gostoso, que
entrou de férias e está pronto para molhar umas calcinhas de biquínis.
O que não era tão diferente do seu irmão, que também vestia bermuda
jeans, camisa de botões branca, tênis e óculos escuros. O cabelo estava
rebelde porque ele passava muito as mãos sobre ele enquanto olhava o
celular. Talvez falando com Athena ou sendo incomodado pelo furacão
ruivo.
Sua mãe estava esplêndida com um longo vestido de verão e parecia
estar maravilhada por estar ali. Dava para ver o carinho que ela tinha pelo
lugar.
— Eu já estava com saudades. — Ela confessou, olhando ao redor. Ela
sorriu para mim. — Esse lugar me trás muitas lembranças maravilhosas
com o pai dos meninos.
Eu sabia que sim porque Pedro já havia me contado sobre isso, e eu me
senti mal por saber como ela deveria sentir falta de seu amor. Dando uma
olhada na minha mão entrelaçada na de seu filho, pude sentir meu coração
doer com o pensamento de que um dia eu não vou vê-lo mais. Seu sorriso,
seus olhos, sua expressão paciente. Só a mera possibilidade de isso
acontecer, por alguma razão, me deixa com falta de ar.
— Ei, você está bem?
Sacudi a cabeça quando notei que Pedro estava falando comigo. Sem
perceber, eu estava apertando sua mão. Seus olhos me olhavam com
preocupação.
— Você está pálida, Giulia. — Rafael falou quando encostou em meu
braço, parecendo tão preocupado quanto seu irmão. — Deve ter sido o
calor. Você quer que eu vá pegar uma água?
Neguei com a cabeça, forçando um sorriso.
— Não precisa. Estou bem. — Passo a mão livre pelo meu rosto,
constrangida com o que acabou de acontecer. — Estou bem. — repeti.
— Devemos descansar. Todos estamos cansados da viagem. — Polly
sugeriu.
— Eu vou levar você para o quarto para que descanse um pouco. —
Pedro me avisou. Ele encaixou sua mão na parte de trás da minha cabeça e
beijou minha testa.

•••

No quarto, eu ainda me sinto estranha, a sensação não saía do meu peito.


Eu deixei minha bolsa sobre uma mesa e sentei-me no sofá confortável para
retirar minhas sandálias altas.
O tempo inteiro, Pedro me observava, atento aos meus movimentos e
reações. Ele estava muito preocupado, como se eu fosse cair e desmaiar a
qualquer momento.
— Você está bem mesmo? — Ele procurou saber quando se sentou ao
meu lado. Sua mão veio para minha perna, e eu arfei, trêmula.
Anuí como resposta da sua pergunta, mas antes que ele fosse capaz de
perguntar qualquer outra coisa, eu me movi para montá-lo, e suas mãos
agarraram minha cintura quando peguei seu rosto e inclinei para que minha
boca pudesse descer para a sua.
Ele gemeu quando toquei sua língua com a minha. A necessidade
crescendo dentro de mim, queimando, apertando em minhas veias. Ele
escorregou as mãos para minha bunda, apertando as carnes por baixo do
vestido de verão, pressionando meu sexo contra seu pau bem duro e grosso.
Afastei-me apenas o suficiente para puxar meu vestido pela cabeça,
jogando-o longe antes de voltar para sua boca deliciosa. Eu estava
desesperada, e ele também — a forma como me apertava e me esfregava
nele me dizia isso. Não suportaria perder essa química, essa sensação de
bem-estar que acontece quando ele me beija, quando me toca.
Em um minuto, eu estava lutando contra o botão e o zíper de sua
bermuda; no outro, eu estava abaixando sobre ele, seu grande e majestoso
pau me enchendo deliciosamente. Eu o abracei, precisando estar o mais
perto possível dele enquanto o cavalgo. Ele me ajuda, guiando meus quadris
da forma que gosta. Seu beijo gostoso enquanto transávamos me deixou
ainda mais molhada. Eu estava subindo e descendo com muita facilidade.
Excitada ao extremo.
E os sons que saiam de sua garganta junto com a dureza de seu pau, me
dizia que ele não estava muito diferente de mim.
— Isso... assim, deliciosa. — Ele gemeu em minha boca, falando a
última palavra em italiano.
Ri, arrebatada.
— Isso é tão bom... — Mordisco seu lábio inferior, quicando mais
rápido. Arfando, falo em italiano: — Eu amo ter você dentro de mim,
Pedro. É perfeito.
Sua cabeça cai para trás, para me observar melhor e uma de suas mãos se
infiltra entre nossos corpos, seus dedos alcançando meu clitóris. Ele
massageia como sabe fazer: maravilhosamente bem.
Eu seguro bem seus ombros, olhando em seus olhos quando começo a
sentir algo forte em meu núcleo. Eu gozo com um grito e todo meu corpo
convulsiona, caindo para frente, meus olhos se fechando, mas ele agarra
meus cabelos e rosna:
— Abra os olhos. Eu quero olhar para eles enquanto você está gozando
no meu pau, Giulia.
Sua outra mão ainda está em meu quadril e ele começou a mexer mais
seus quadris, metendo para cima em mim.
Faço o que ele pediu, encarando seus olhos escuros e intensos ao mesmo
tempo em que meu corpo treme. E ele goza logo em seguida, jorrando forte
e fundo dentro de mim, chamando meu nome como se estivesse implorando
por alguma coisa.

Uma hora depois, após um banho, estávamos na varanda do nosso quarto


do resort, em um sofá redondo, que estava cheio de almofadas. Eu estava
entre as pernas de Pedro, minhas costas grudadas em seu peito duro, seus
braços em volta do meu corpo. Íamos almoçar fora com Polly e Rafael, mas
eles ainda estavam descansando da viagem.
As ondas faziam um barulho que transmitia tranquilidade, como na casa
em Miami. Eu gostava disso. Amava a paz daqui.
Eu nunca tinha pensado sobre vir para French Rivera, Nice, ou qualquer
outro litoral Francês, mas agora, olhando para esse lugar, com Pedro me
abraçando, eu pondero sobre como eu seria idiota de não conhecer um lugar
tão lindo como esse.
— Sabe — comecei, falando baixinho, distraída com meus dedos
brincando com os de Pedro, olhando para o mar. —, antes de tudo
acontecer, eu tinha um sonho de visitar San Blás no Panamá.
Pedro apoiou o queixo no meu ombro, quieto por alguns instantes.
— O arquipélago?
Anuí.
— Sempre achei muito lindo nas fotos.
— Podemos ver um dia para irmos lá, se você quiser.
Eu dei um sorriso de lado e sacudi a cabeça em negativa.
— Isso foi antes. Quando eu pensava que minha vida era um conto de
fadas e que Mattia era meu cavalheiro de armadura branca. — Eu esperei
pela amargura no meu peito, a dor no interior da garganta, mas nada veio.
Eunão sentia nada em relação a ele. — Era uma coisa que eu queria realizar
com ele, quando fugíssemos.
Eu não consegui entender muito, mas Pedro apertou mais seu braço ao
meu redor, sua boca pressionada contra meus cabelos.
— Eu gosto daqui. — Falei para ele. — E gosto de estar aqui com você.
Ele abaixa a cabeça e seus lábios encostam em meu pescoço, beijando de
forma carinhosa.
— Eu também gosto de estar aqui com você. — confessa, deixando-me
toda arrepiada. — De verdade.
— Você só pode estar brincando comigo!
Eu ri com a reação da minha mãe quando eu e Rafael lhe mostramos o
lugar onde estava sendo construído o The Palace FR. Seus olhos encheram
de lágrimas e ela levou a mão à boca, sem saber se me abraça primeiro ou o
meu irmão. No final, ela puxa ambos em um abraço triplo.
— Eu amo vocês, meus bebês. — ela chora.
— Agora você não vai mais precisar que hospedada em um Resort. —
Eu falei para ela, beijando seu rosto. — Esse sempre foi o sonho do pai, ter
um hotel aqui. Infelizmente não deu tempo pra ele colocar em prática, mas
nós estamos fazendo isso por ele e por você.
Rafael a abraçou por trás, enchendo-a de beijos, deixando seu rosto
avermelhado enquanto ela chora e rir ao mesmo tempo.
— Vamos lá, não chore! É uma coisa boa, não é?
— É perfeito. — Ela concorda, enxugando as lágrimas. — Eu só estou
emocionada com isso. — Ela soluça um pouco. — É o melhor presente que
eu já recebi, depois de vocês, claro.
— Eu já estava me sentindo humilhado. — Meu irmão colocou uma mão
sobre o coração, fingindo ofensa.
Eu beijo a testa da minha mão quando ela abraça meu peito. A satisfação
de estar dando a ela uma coisa como essa me envolve e eu me pergunto o
motivo de não ter feito isso antes.
— Olha só quem está por aqui! — Nico Lazzari se aproxima, retirando
seus óculos escuros e sorrindo do seu jeito maroto.
— Ei, cara. — Eu bato minha mão na dele, seguido de um abraço
masculino.
Em seguida, ele cumprimenta Rafael do mesmo jeito, beija o rosto da
minha mãe e, para finalizar e me deixar incomodado, ele se inclina para
beijar a bochecha de Giulia, que estava ao meu lado.
— Ciao, bella. — ele fala com ela em italiano.
Reviro os olhos, sabendo que é impossível que ele veja por conta dos
óculos escuros que estava usando, e minha mão se fecha em punho, numa
tentativa de reprimir a vontade de perder minha paciência.
Ele nem era italiano de verdade. Seu pai é, não ele.
— Ciao. — Giulia acena com a cabeça, as bochechas coradas, um sorriso
leve.
Respirando fundo, eu enfiei as mãos nos bolsos da minha bermuda e me
afastei um pouco. Eu gostava da minha calma e não queria estrangular um
amigo, então eu precisava me controlar um pouco.
Mas o desgraçado percebeu o que estava acontecendo e seu sorriso se
tornou radiante e levado. Trinquei a mandíbula, encarando-o através dos
óculos, e ele apenas sacudiu a cabeça, rindo mais.
— Então, querem ver como estão as coisas? — Ele ofereceu, ainda me
enviando um olhar conhecer e divertido.
A minha mãe disse sim antes mesmo de eu falar qualquer outra coisa. Ela
colocou sua mão na curva do braço dele e entrou. Rafael foi logo atrás
deles.
Giulia virou para mim, uma sobrancelha questionadora arqueada. Ela
estava prendendo um sorriso.
— O que foi aquilo?
Eu a olhei de cima, sem saber o que estava tão engraçado. Fui direto:
— Ele não precisava beijar seu rosto. Tampouco falar em italiano.
Ela acabou rindo.
— Pensei que o beijo era uma forma de cumprimento. E eu gosto quando
falam em italiano comigo.
— Falar oi também é uma forma de cumprimento. — eu rebato, ainda
com as mãos nos meus bolsos. — E eu posso ficar falando em italiano com
você o tempo todo.
Muito divertida, ela balançou a cabeça, parecendo chocada. Seu sorriso
era grande e encantador.
— Ciumento, Pedro? — Ela jogou a pergunta que eu fiz para ela há
algum tempo, quando ela me perguntou sobre Clara em NY.
Aproximando mais dela, me inclino até que meus lábios estão bem perto
de seu ouvido. Sussurro:
— Eu não gosto da ideia de outro homem tocando você com a boca ou
com as mãos. — Eu volto a minha posição normal e pisco um olho para ela,
antes de leva-la para dentro.

•••

De volta para o resort, eu me sento em uma espreguiçadeira com meu


iPad e celular em mãos para resolver algumas coisas de trabalho enquanto
minha mãe e Giulia estão curtindo a piscina.
Eu estava distraído, babando por Giulia que estava tomando sol ao lado
da minha mãe, em um tipo de espreguiçadeira inflável, dentro da piscina,
quando meu celular apitou com um e-mail novo.
Era Eva, minha chefe de relações públicas.
Endireitando meus olhos, desbloqueei o telefone, imaginando que
poderia ser alguma coisa relacionado as construções dos novos hotéis, que a
mídia vem xeretando em busca de novidades e entrevistas. Quando abri o e-
mail, não era nada disso.
Ela me pediu para abrir o vídeo que veio anexado. Eu abri e me
arrependi rapidamente. A minha respiração travou. Eu travei por completo.
Apenas meus olhos funcionavam enquanto eles captavam as imagens do
vídeo.
Eram Mattia e Giulia.
Fazendo sexo.
A porra da primeira vez dela, que foi filmada.
Não. Não. Não.
Eu não acreditava que estava vendo aquilo ali.
Rafael tocou meu ombro, tentando chamar minha atenção, querendo
saber o que estava acontecendo, mas as palavras estavam presas na minha
garganta. Elas não queriam sair. Então, como ele era um caralho
impaciente, tomou o celular da minha mão.
Meus olhos continuaram no mesmo ponto, só que agora eles miravam o
chão. Meu coração batia tão forte, que eu temi que ele fizesse um buraco
em minha caixa torácica.
— Mas que caralho! — Eu escutei meu irmão gritar. Ele provavelmente
chamou atenção de todos que estavam por ali, mas não se importou. Ele
nunca se importa. — Eu vou matar o filho da puta!
Eu levantei a cabeça, meus olhos foram diretos para Giulia, que junto
com a minha mãe, já estavam vindo para cá. Saber que ela iria ficar
destruída novamente com isso, meu peito apertou. Eu odiava a sensação de
vê-la chorar outra vez.
Obrigando-me a sair do transe, porque agora ela precisaria de mim,
levantei e peguei meu celular de volta enquanto Rafael andava de um lado
para o outro, pronto para quebrar qualquer coisa que estivesse na sua frente.
Antes que minha mãe e Giulia chegassem perto, eu liguei para Eva, que
atendeu rapidamente.
— O que porra é isso? — Praticamente rosnei. — Onde conseguiu o
vídeo?
— Através de um amigo. — disse ela, seu tom preocupado.
— Que amigo, caralho?
— Um amigo que é dono do maior blog de fofocas do momento. — ela
explicou. — Ele recebeu o vídeo do Mattia Bianchi. Com esse vídeo ele
faturaria milhões, mas ele soube que Giulia estava com você e me ligou.
Fechei os olhos, procurando a calma que eu não tinha mais. Escutei
minha mãe perguntando a Rafael o que tinha acontecido, mas ele estava
nervoso demais para responder. Então uma mão macia tocou meu braço, e
um suspiro dolorido escapou da minha boca.
— Pedro, o que houve? — Giulia questionou quando seus olhos grande e
cor-de-mel pegaram os meus, nervosos.
Eu balancei a cabeça e falei com Eva, sem tirar os olhos da minha
mulher:
— Quanto ele quer para não postar o vídeo?
— Dez milhões. — disse ela. — Eu tentei negociar, mas ele falou que
poderia até ganhar muito mais que isso, se fizesse o marketing certo.
Eu xinguei entre dentes, mas não hesitei:
— Diga que farei a transferência ainda hoje, mas com a condição de que
ele apague o vídeo que tem e também que me mande as provas de que o
filho da puta entrou em contato com ele. Vou ligar para Margot e pedir para
ela me ajudar em um contrato de confidencialidade e alegando que ele
apagará tudo.
— Tudo bem. Vou falar com ele. — ela garante. — E o que você vai
fazer?
— Vou resolver isso. Se eu precisar de você, te ligo.

•••

— Per Dio, pode me dizer o que está acontecendo? — Giulia quis saber,
já muito nervosa, quando entramos no nosso quarto com minha mãe e
Rafael. — Por que vocês dois estão tão nervosos assim? E por que a Margot
precisa fazer um contrato de confidencialidade?
— Andem, meninos, falem! — Minha mãe colocou as mãos na cintura.
Ela estava parada bem ao lado de Giulia, ambas nos enviando olhares
assassinos e curiosos.
Com uma carranca, meu irmão atravessou o quarto, indo direto para o
frigobar, pegando a bebida mais forte dali.
Eu deixei uma respiração brusca escapar e abri o vídeo no meu celular,
entregando para as duas. Enquanto elas assistiam, eu observei a reação de
Giulia.
A minha estava segurando o celular, então não tinha como ele cair
quando os ombros de Giulia caíram e seus olhos se encheram de lágrimas.
Dor.
Era isso que eu sentia, vendo-a chorar. Isso acabava comigo.
Ela começou a pisar para trás, o mais longe possível do vídeo. Minha
mãe desligou o celular, horrorizada. Giulia olhou para mim, sua cabeça
inclinada, chorando.
— Como... — ela acenou para minha mãe, soluçando. — Como você...
— Mattia enviou para um blogueiro famoso postar, mas, por sorte, esse
cara conhece minha chefe de relações públicas.
— E-ele vai... postar?
Sacudi a cabeça rápido, indo para perto dela.
— De jeito nenhum. Ele quer dinheiro, e eu darei. — prometi, pegando
sua mão para impedi-la de ir mais para trás. — Por isso preciso do contrato,
para que ele apague tudo que tem.
Ela soluçou baixinho, balançando a cabeça, assustada.
— Por que ele está fazendo isso? — Ela me perguntou. — Ele já não me
humilhou o bastante?
— Porque ele é um filho da puta sádico, Giulia.
— Eu juro que eu não sabia que ele estava filmando!
— Eu sei que não. — A puxo para mim, abraçando-a forte.
Ela enfia o rosto no meu peito e se permite chorar mais.
— Minha nossa. — Minha mãe se senta no sofá, mas ela não parece
muito perturbada. Está mais preocupada, a expressão é séria, quase
profissional. — Esse garoto tem sérios problemas.
— Jura, mãe? — Rafael soou irônico depois de tomar um gole de uísque
direto do gargalho da garrafa. — Ele sempre foi um psicopata do caralho e
todo mundo sabia disso. As únicas diferenças de antes para agora é que Ana
não aguentou e se matou, e não deu tempo pra ele gravar a porra de um
vídeo!
Giulia tremia em meu aperto, então caí sentado em um sofá e a levei
junto. Ela se aninhou em meu peito de novo, ainda chorando.
— Ele já acabou comigo. — Ela escondeu o rosto com as mãos. — Me
humilhou na frente de todas aquelas pessoas, brincou com meus
sentimentos, destruiu minha autoestima e agora isso? O que falta mais para
ele fazer?
— Giulia — eu a chamo, minha voz muito séria quando pego em seus
pulsos e tiro suas mãos do seu rosto molhado e avermelhado. —, ele não
fará absolutamente nada com você outra vez. Eu não vou deixar, você
entendeu? Nunca mais alguém vai machucar você. Nem ele, nem ninguém.
Com o queixo tremendo, ela assentiu.
Eu beijo seu nariz, enxugando seu rosto com meus dedos.
— Eu preciso ligar para Margot agora. Eu vou resolver tudo isso, te
prometo.
— Va bene. — Ela engoliu em seco.
— Vá deitar um pouco. Depois que eu terminar, vou encontrar você.
— Eu preciso de um banho. — Ela se levantou devagar, nos deu uma
última olhada e foi para a suíte.
A minha mãe também se levantou e tocou meu braço.
— Faça o que for preciso, querido. Não o deixe vencer dessa vez.
Assenti com firmeza, meu coração destruído por saber que Giulia está
mal de novo.
— Eu não vou.
— Ótimo. — Ela me beija no rosto. — Vão lá e acabem com isso. Não
se preocupe, eu cuidarei dela o tempo que for preciso.
Depois que minha mãe foi ao encontro de Giulia, eu e Rafael fomos para
o escritório do quarto, e começamos a organizar as coisas.
Eu podia sentir a raiva circulando meu corpo através das minhas veias.
Eu queria matar Mattia, bem lentamente. Queria mostrar para ele que eu
posso sair do sério como qualquer outra pessoa.
Quando tudo aconteceu com Ana, não podíamos provar porque o abuso
era psicológico e ela nunca quis admitir isso. Mas agora, ele foi muito além
do abuso. Ele quer expor algo íntimo, faze-la se sentir ainda pior do que já
estava, e tudo porque ele não conseguiu ir até o final com sua manipulação.
Eu não deixaria isso acontecer. De jeito nenhum.
Disquei o número de Margot e a coloquei no viva-voz para Rafael poder
escutar também. Ela atendeu no primeiro toque:
— Eeei, moço. Conte-me as novidades!
Duas semanas se passaram e eu já estava bem melhor. Nos últimos dias
conversei com Polly, que acabou me aconselhando e comecei a fazer terapia
com uma psicóloga conhecida dela. As sessões têm me ajudado a entender
melhor tudo que aconteceu durante toda minha vida.
Eu entendi que acabei me envolvendo com Mattia, como se ele fosse
minha tábua de salvação, porque foi uma forma que encontrei de escapar do
relacionamento abusivo e controlar que eu tinha com meus pais. Eles me
privavam de tudo. Sem amigos, sem saídas, sem namorados. Era uma
criação severa, onde tudo que importava era que eu tivesse um ótimo
comportamento para não manchar a imagem da família que eles
empregaram. Disso, eu já estava ciente. O que eu não sabia era que pessoas
com esse tipo de criação tendem a procurar parceiros com os mesmos
traços, porque nosso subconsciente acaba aceitando que aquela forma de
viver é a correta.
Gostei tanto, que estou fazendo duas vezes na semana. A dra. Lush até já
me pediu para fazer alguns “deveres de casa” como escolher uma roupa que
eu me sinta confortável e realmente goste para sair, sem pedir a opinião de
ninguém. Estamos trabalhando na minha autoestima, e eu estou muito feliz
que em apenas duas semanas, eu estou melhorando bastante.
Há mais ou menos uma semana, recebemos a notícia de que Mattia havia
sido encontrado morto. Ninguém ainda sabia o que havia acontecido, mas
eu procurei não me envolver nisso e focar na minha melhora.
Hoje, Pedro decidiu trabalhar de casa. Ele se sentou, relaxadamente, em
seu sofá em formato de espreguiçadeira com o laptop e o celular, enquanto
eu nadava um pouco na piscina.
Observando-o de longe, senti minha boca secar. Sim, ele era lindo
demais. E sim, eu já pensei isso muitas vezes, mas é simplesmente
impossível não o desejar. O homem era gato, com mais de 1,90 metros, um
corpo bem estruturado, gominhos maravilhosos e ainda fazia sexo
deliciosamente.
Eu precisaria ser uma lésbica para não babar por ele.
Sentindo-me necessitada — o que não era uma novidade —, saí da
piscina devagar e comecei a caminhar até ele. Percebendo meus
movimentos, ele colocou o laptop de lado e me olhou sob os óculos escuros.
Prendendo o canto do lábio inferior com os dentes, sorri, segurei em seus
ombros e o montei.
— Ops. — brinquei, acenando para os lugares onde eu o molhei. —
Sinto muito, você ficou todo molhado.
Ele sorriu, uma expressão safada em seu rosto bonito. Suas mãos
seguraram minhas nádegas e apertou. Eu gemi e desci minha boca na sua.
Era perfeito. Eu amava como seus lábios e língua me deixavam nas
nuvens, necessitada de mais.
Mas esse efeito durou pouco porque a voz do meu pai encheu o lugar, me
assustando:
— Eu peço para você cuidar da minha filha, e você começa a comer ela?
Rapidamente, saí de cima de Pedro, todo o meu corpo tremendo, a
confusão e a surpresa me deixando de boca aberta. Eu gaguejo alguma coisa
enquanto alçando minha saída de banho preta e a visto com pressa, em
seguida cruzo os braços sobre o peito para tentar esconder minha quase
nudez dos meus pais.
— Babbo!? O que está fazendo aqui? — Quando olho para minha mãe,
ela está chocada, olhando-me como se eu fosse alguém que ela desconhecia.
Ela estava com nojo. Eu me encolhi.
— Bom, eu só queria ver com meus próprios olhos. — Ele acenou entre
Pedro e eu, mas sua expressão não era da forma severa como costumava ser.
Era estranha. Uma expressão que eu nunca tinha visto em seu rosto.
Pedro, calmamente, se levantou e acenou com a cabeça para meus pais.
Como ele estava tão calmo agora?
— Como chegaram na minha casa? — foi a única coisa que ele
perguntou.
Babbo deu de ombros, olhando-o com uma sobrancelha erguida.
— Só precisei pagar alguém para seguir vocês. — disse ele. — Não
demorou muito para descobrir onde era sua casa. — Ele olhou ao redor, os
cantos de seus lábios curvados para baixo. — Aliás, é uma bela casa. Eu
gostei. Bem melhor que uma suíte de hotel. — Então seus olhos cor-de-mel
como os meus pousaram em mim, e eu me arrepiei com a frieza neles, a
malícia: — Tudo que você sempre quis, Giulia.
Pedro olhou para mim, o cenho franzido. Era exatamente essa reação que
o tom de voz do meu pai buscava.
Eu apertei mais meus braços ao meu redor e dei um passo a frente.
Perguntei em italiano:
— Do que você está falando, babbo?
Eu sonhava em ter uma casa com Mattia, claro. Quando você cresce em
um hotel, tudo que você mais deseja é ter uma casa com privacidade, e não
um lugar cheio de gente indo e vindo, onde todas as refeições precisam ser
pedidas e a piscina compartilhada. Eu queria paz, um lugar meu, onde eu
pudesse fazer o que quiser sem a sensação de que alguém está observando.
Mas a forma quase irônica que ele falou, me deixou com uma pulga atrás
da orelha. E, pela cara de Pedro, ele também tinha percebido. Eu nem
consegui olhar em sua direção.
— Ah, pelo amor de Deus, querida! Não seja tímida, diga a verdade.
Não tem para quê mentir mais. — Ele respondeu.
— Que verdade? — Pedro questionou em inglês ao mesmo tempo em
que eu fazia em italiano.
Seus olhos frios voltaram para Pedro e o sorriso que ele abriu me causou
arrepios. Foi sinistro.
— Bene, bene. — Babbo meneou a cabeça devagar. — Eu sinto lhe dizer,
meu querido, mas a minha filha linda não veio para cá sem um propósito.
Eu precisava casa-la com um bom partido, e quem melhor que você para ser
seu marido?
Algo dentro da minha cabeça estalou e eu engasguei, chocada.
A cabeça da minha mãe virou rápido para meu pai, os olhos arregalados,
tão surpresa quanto eu.
— Infelizmente, teve o imprevisto com o menino Mattia, mas depois ela
conseguiu se reerguer, não é mesmo? Ela conseguiu conquista-lo direitinho.
Há até fotos dos dois de mãos dadas na mídia!
— Como é que é? — A fisionomia de Pedro me fez encolher, e o
desespero tomou conta de mim:
— É mentira! — disse, indignada. — Eu nunca fiz parte de plano
nenhum!
Mas Pedro não olhou para mim; ele continuava a encarar meu pai, que
logo continuou a falar:
— Eu posso provar. Sei de cada coisinha que aconteceu entre vocês.
— O quê!? — Eu arregalei os olhos, exasperada.
— Sei quando você a comeu pela primeira vez. — ele continua, me
ignorando. — Você a masturbou no banheiro primeiro. Foi inteligente o que
ela fez. Sei de Nova York, French Rivera... Sei de tudo. Cada detalhe.
Como eu poderia saber disso?
Com aquela tranquilidade irritante, Pedro se virou para mim. Ele me
olhou nos olhos, e eu murchei quando vi decepção e mágoa nos seus lindos
olhos escuros.
Eu balancei a cabeça, de um lado para o outro, meus olhos nublaram com
lágrimas, mas as palavras travaram em minha garganta, que ardia e doía,
assim como meu coração nesse momento.
Por favor, acredite em mim! Eu não tenho nada a ver com isso!
Era o que eu estava tentando dizer para ele, mas não conseguia. As
lágrimas começaram a cair, o desespero tomou conta por completo.
É mentira!
Eu gritei mentalmente. O medo apertou em meu coração e eu dei um
passo para frente, em sua direção, mas ele só franziu o cenho, parecendo
atormentado e pisou para trás. Eu paralisei.
Ele olhou para meu pai, a mandíbula travada:
— Por que se deu ao trabalho de armar tudo isso, Patrizio? Pensei que
era amigo do meu pai. — A sua voz era rude, séria.
— Eu era amigo dele sim. — Babbo rosnou, ficando furioso. — Fui leal
a ele por anos, mas tudo que recebi em troca foram 10% de todo o negócio!
Eu merecia mais! Eu lutei junto com ele, o apoiei e ele só me dar essa
porcaria!? Ele me devia. Você me deve!
— Eu não devo nada a você. — Pedro replicou. Eu estava com pavor da
sua calma. Seus olhos estavam ainda mais escuros quando ele se aproximou
do meu pai, abaixando um pouco para ficar cara a cara: — Meu pai não te
devia nada. Tudo que ele construiu é mérito apenas dele. Agora, vai me
dizer que quer que eu te der o quê? Meus 45% porque dormi com a sua
filha? — Ele riu, sinistro. — Não vai rolar, Patrizio. De jeito nenhum.
— E você acha mesmo que eu faria dessa forma tão fácil? — Meu pai
enfiou as mãos nos bolsos de sua calça cara e abriu um sorrisinho
satisfatório: — Eu soube que teve um pouco de trabalho e gastou alguns
milhões para livrar o rabo da sua bocetinha doce.
Minha mãe soltou uma exclamação afetada, levando a mão à boca.
Eu engasguei com as lágrimas, meu corpo parecia que estava tendo uma
convulsão.
O que ele está fazendo?
Tirando o celular do bolso, ele desbloqueia a tela e vira para que Pedro
possa ver. Eu choro ainda mais quando as imagens do vídeo que Mattia fez
aparece na tela. Os ombros de Pedro se tencionam. Eu corro para frente, me
enfiando entre eles e empurro o peito do meu pai. Grito, chorando:
— Por que está fazendo isso?
Mas ele continua a encarar Pedro:
— Se não quer que esse vídeo vá para internet e termine de acabar com a
vida de vergonha que ela escolheu ter, eu sugiro que você faça exatamente o
que eu falar.
— Para com isso! — Eu implorei, empurrando-o novamente.
Ele segurou meus pulsos, o semblante maníaco, mas antes que ele
pudesse fazer qualquer movimento, Pedro arrancou suas mãos e me puxou
para trás dele, voltando a encara-lo.
— Jogue a porra da merda para fora e termine logo com isso. — exigiu.
Minha mãe me pegou e me afastou dos dois. Era como se eu tivesse
dopada. Tudo que eu fazia era chorar, e senti que minha mãe estava
tentando me tranquilizar, apesar de estar tremendo como eu.
Eu sempre soube que meu pai era um homem ruim, mas nunca imaginei
que ele seria esse monstro.
— Trouxe um contrato para que você assine. — Meu pai disse. — Nesse
contrato diz que você deve se casar com Giulia e isso dará a ela metade de
tudo o que tem, e também me dará o direito de administrar essa parte, já que
ela não entende nada disso.
— Não! — Eu gritei, e minha mãe me apertou em seus braços. — Eu
não quero isso!
Eles não me deram atenção e a aflição ainda mais o interior da minha
garganta.
— Ela é a sua filha. — Pedro jogou na sua cara, com desprezo.
— Eu já falei para você que ela aceitou esse jogo.
— Mentira! — Eu tentei ir de novo para cima dele, mas minha mãe me
segurou e sussurrou no meu ouvido em nossa língua:
— Pare com isso, filha. Não é assunto seu para se meter.
Com muita raiva, o rosto todo molhado, eu me desvencilhei dela:
— É claro que é assunto meu, mamma! Ele está mentindo sobre mim. Eu
não concordei com isso, pelo amor de Deus! — Eu comecei a ir até Pedro.
Eu precisava olhar nos olhos dele e fazê-lo acreditar em mim, mas,
novamente, minha mãe me segurou pela mão. — Pedro, olha para mim, por
favor! — Chorei.
Ele não fez.
Eu lamentei mais.
Os dois homens ficaram em silêncio, um desafiando o outro com os
olhos duros. Meu coração estava prestes a quebrar minha caixa torácica,
com o desespero. Por fim, a voz de Pedro foi como uma facada em meu
estômago:
— Traga o contrato amanhã. Eu farei o que você quer, mas depois disso,
não quero mais ver sua cara de merda.
Então ele desviou do meu pai e foi para dentro da casa.
Não. Não. Não.
Eu me soltei do aperto da minha mãe e corri atrás dele, gritando seu
nome. Ele não parou, e quando alcancei a porta da frente de sua casa, ele já
estava dentro de um carro, cantando pneu.
O desespero cresceu. Eu chorei ainda mais, percebendo que estava com
falta de ar de tanta dor. Eu me segurei na grande porta, minha cabeça
rodava, as lágrimas caíam sem parar. Então foi aí que eu percebi: eu estava
com medo de perde-lo.
O aperto no peito ao vê-lo partir entregou tudo. Eu percebi que eu estava
completamente apaixonada por ele e me sentia sufocada só de imaginar ele
saindo da minha vida. Eu não poderia deixar isso acontecer.
De jeito nenhum.
Eu prometi para mim mesma que meus pais não ditariam mais a minha
vida. Prometi que eu iria fazer isso. Iria viver minha vida de acordo com
minhas próprias regras e escolher as pessoas que fariam parte dela.
Pedro é, definitivamente, a primeira pessoa dessa lista.
Em seguida, a raiva tomou conta. Eu me endireitei, enxugando as
lágrimas do meu rosto com força. Quando me voltei para dentro, encontrei
os dois já na sala de estar.
Warren nem tinha aparecido ainda. Tenho certeza que ele deduziu que
isso era um assunto de família e ele não iria se meter.
Eu avancei para frente do meu pai, que me olhava com aquele jeito de
superioridade machista que ele sempre fazia:
— Por que está fazendo isso? — Eu questionei quase gritando. — Por
que mentiu para ele desse jeito? Você sabe que eu não fiz planos nenhum
com você!
— Giulia! — Foi minha mãe quem repreendeu.
Eu virei para ela, olhando-a feio. Eu sabia que ela fazia tudo para agradar
meu pai, mas isso era além dos limites.
Era doentio.
— Sabia disso, mamma?
Ela nem precisava responder. Seus ombros se encolheram e ela desviou
os olhos para longe de mim. Isso doeu muito em mim, e mais uma lágrima
escorreu.
— Ora, pare de drama, menina. — Meu pai zombou. — Tenho certeza
que não será nenhuma tortura se casar com um homem como Pedro
Rodrigues. Vocês já estão fodendo, então...
O olhei com nojo.
— Eu não vou me casar com ele!
— Pedro é um homem que tem o hábito de proteger quem ele gosta. —
Eu odiava a forma como ele sorria para mim agora, como se estivesse
satisfeito com o mal que estava causando. Ele acena o celular para mim: —
E ele pagou milhões para que esse vídeo não fosse publicado, portanto, sim,
ele se casará com você.
Revoltada, eu arranquei o celular da sua mão e o arremessei longe. O
aparelho se espatifou contra a parede e caiu no chão em pedaços.
— Eu sou sua filha! — Gritei, ignorando a reação assustada da minha
mãe. — Você quem deveria me proteger, não ameaçar me expor dessa
maneira!
A fúria tomou conta de seus olhos e ele agarrou meu braço com força,
enfiando a cara na minha quando cuspiu as palavras com raiva:
— Tudo o que você fez durante toda sua vida foi me dar trabalho. Nunca
andou na linha, nunca ficou quieta como deveria. Você estragou essa família
e a expôs quando começou a sair com aquele merdinha do Mattia Bianchi.
Eu precisava dar um jeito de consertar as coisas, e por isso te mandei para
cá.
Eu tremia com o choro enquanto escutava. Ele nem se importava e cada
vez mais apertava meu braço.
— Pedro sempre foi muito tranquilo, retraído, então talvez ele não
olhasse você com outros olhos. Mas ainda tinha Rafael, que é mais novo,
mulherengo e tem a mesma quantidade de ações que o irmão. — Ele riu de
forma sinistra, olhando para mim. — Tinha certeza que você acabaria dando
para um dos dois. Claro — meneou a cabeça devagar. —, o plano era o usar
o método da virgindade para fazê-lo se casar com você, mas então o fodido
do Mattia entrou no jogo, e você não pôde conter a porra da sua boceta, não
é mesmo?
Eu solucei, minha cabeça balançando, chocada.
— Então eu precisei fazer um acordo com o idiota. — ele continua. —
Eu o deixaria comer você primeiro, como ele queria, e em troca, ele me
daria esse vídeo e colocaria uma escuta no seu telefone. Foi um longo
caminho, confesso. Quase tedioso. — Ele fez uma careta, soltando meu
braço abruptamente e se afastando. — Vocês foram muito lerdos. Parecia a
porra de uma eternidade até que, finalmente, resolveram começar a foder.
Massageando o lugar que ele apertou, eu fiquei ali, de pé, olhando-o com
decepção. Foi assim que ele soube de tudo. Eu nem conseguia olhar na
direção da minha mãe.
Com o canto dos meus olhos, eu vi Warren parado na entrada na sala. Ele
deveria ter entrado em algum momento no discurso psicótico do meu pai.
Solucei, dando alguns passos para trás. Quando consegui falar, minha
voz soou baixa e quebrada:
— Você é tão doente...
Ele me deu uma olhada severa, como se não concordasse comigo e
achasse ofensivo.
Mas eu não me importei.
— Espero que saiba que não vou deixa-lo ganhar isso.
— E o que pretende fazer? — Ironizou. — O idiota ama você e não vai
deixar o vídeo parar na internet. Ou você acha que quebrar meu celular vai
me impedir de fazer isso?
Sacudi a cabeça, encolhendo os ombros.
— Warren, o Joel está disponível? — perguntei, sem tirar os olhos do
meu pai, que franziu o cenho.
— Sim, senhorita.
— Ótimo. — Com um olhar gélido para minha mãe, eu saí, sem me
importar em deixa-los sozinhos na casa de Pedro. Tinha certeza que Warren
não iria permitir que eles mexessem em qualquer coisa.
No carro, eu não conseguia controlar as lágrimas que caíam pelo meu
rosto. Tampouco conseguia respirar direito, pois o medo de Pedro não
querer mais olhar na minha cara era muito grande.
Eu tinha medo de perde-lo. Eu não podia mais nem imaginar uma vida
sem ele olhando para mim com aqueles olhos calmos e intensos.
A dor no meu peito só aumentou.
Joel me olhou através do retrovisor com preocupação.
— Para onde quer que eu vá, senhorita Russo?
Respirando fundo, enxuguei o rosto com os dedos, ciente de que parecia
um tomate vermelho. A verdade era que eu queria encontrar Pedro, mas não
fazia ideia para onde ele foi.
— Será que você sabe para onde Pedro foi?
Ele negou com a cabeça.
— Não, desculpe.
— Tudo bem. — Sacudi a cabeça. — Pode me emprestar seu celular, por
favor?
Eu não tinha nem me dado ao trabalho de pegar meu celular, já que meu
pai havia confessado que o violou com uma escuta.
Joel me entregou seu celular, e minha primeira reação foi ligar para
Pedro, mas as três vezes que tentei, estava desligado. Então, liguei para
Rafael, porque ele poderia ter uma ideia de onde o irmão estava.
— Rafael falando. — ele atendeu rapidamente.
— Ei, é a Giulia.
— Giulia? Cadê seu celular?
— Deixei em casa, mas esse não é o problema.
— Existe um problema?
— Meus pais apareceram na casa do Pedro e meu pai o ameaçou com o
vídeo que o Mattia gravou, e colocou na cabeça do seu irmão que isso foi
um plano que ele arquitetou comigo, então Pedro saiu e não atende o
telefone, e eu estou desesperada porque juro que não fiz nada disso, mas
não posso dizer isso para ele porque não o encontro, e...
— Ow, ow, ow. Calma, mulher! Respira. — Ele pede, e eu escuto um
barulho no fundo, como se ele tivesse acabado de se levantar de uma
cadeira e a arrastou no chão sem querer.
Eu fiz o que ele disse. Fechei os olhos e respirei fundo, mas não consegui
parar de chorar.
— Va bene. — eu falei, mostrando estar mais calma, mesmo não estando.
— Certo. Agora me explica o que aconteceu, com calma.
Então eu comecei a contar tudo, devagar, desde o momento em que meu
pai nos pegou, até a hora que saí da casa. Eu não conseguia controlar as
lágrimas que caíam pelo meu rosto.
— Caralho, que filho da puta! — Rafael xingou, com raiva, do outro
lado da minha.
— Eu juro pela minha vida que não sabia de nada disso! — solucei. —
Eu não seria capaz de fazer algo assim. E-eu sei que você me acha teimosa,
mimada, irritante, e eu sou tudo isso, mas eu nunca, jamais, armaria algo
tão feio para outra pessoa. Tudo que eu sempre quis foi viver a minha vida
livre, sem todas as regras da minha família.
— Você está certa. Eu acho todas essas coisas de você, mas sei que não
seria capaz de uma coisa dessas. — ele disse.
— De jeito nenhum. — eu reforcei. — Mas agora estou com tanto medo,
que estou sufocada. Pedro não atende o telefone, e eu não tenho ideia para
onde ele foi.
Escutei o suspiro dele. Silêncio. Em seguida, ele perguntou:
— O que você sente pelo meu irmão, Giulia?
Meus batimentos pararam e eu engoli em seco. O que eu sentia por
Pedro? Eu nunca realmente tinha parado para pensar sobre isso porque os
últimos dias tinham sido tão bons, que não me deram tempo para questionar
meus sentimentos.
Então, levei um momento para colocá-los na balança agora. Antes, eu
pensava que o que eu sentia por Mattia era um amor arrebatador. Eu fiz
planos e sonhos para viver uma vida inteira ao lado dele. Todos os dias,
quando me deitava, eu imaginava como sempre nosso futuro, nossa casa,
nossos filhos. Eu pensava como seria perfeito me casar com alguém tão
bonito e, até então, tão doce e gentil, que se preocupava comigo.
Mas logo veio o banho de água fria bem na minha cara e eu percebi que
não era nada daquilo. O que eu sentia por ele, na verdade, era esperança de
que ele me salvasse da minha vida de regras chatas. E tudo foi por água
abaixo quando conheci o verdadeiro Mattia.
Agora, ponderando sobre a pergunta de Rafael, eu conseguia sentir as
borboletas fazendo a festa em meu estômago, o coração contraído. Todos os
sentimentos com Pedro foram construídos com calma, tranquilamente como
ele. Foi algo tão natural, que me pegou desprevenida. Eu não precisava
imaginar como seria nosso futuro, porque com ele, eu aprendi que
deveríamos viver o hoje e o agora.
Eu não precisava fazer planos sobre nós, porque ele me ensinou que eu
deveria fazer planos apenas para mim; que eu deveria começar a pensar
mais nos meus sonhos, nas minhas vontades, não na vontade das outras
pessoas.
Arfei quando percebi o que estava sentindo de verdade e levei minha
mão à boca, confusa e feliz ao mesmo tempo.
— Eu o amo. — soltei. — Eu o amo, Rafael. — repeti.
A satisfação tomou conta da voz dele:
— Espere um segundo, então, que eu vou descobrir onde ele está. — E
desligou.
Eu esperei, minhas mãos apertando o celular, ansiosa para tocar
novamente. Eu estava com muito mais medo agora que confessei o que
sentia, porque se Pedro realmente acreditou no que meu pai disse e não
querer mais saber de mim, eu não sei se poderei superar.
Alguns minutos depois, Rafael retorna:
— Ele está no Palace. Eu chego lá em vinte minutos.
— Não. — eu me apressei a falar. — Eu preciso falar com ele sozinha.
— Se tudo aconteceu como você disse, meu irmão está puto da vida,
Giulia. Ele não fica muito bem quando está assim.
Estremeci, recordando como ele ficou no dia em que bateu no Mattia.
— Eu vou arriscar. Sei que ele não me machucaria. Só, por favor, peça
para que me deixem subir.

•••

Eu mal conseguia andar quando entrei na suíte em que fiquei nas


primeiras semanas. Estava silêncio, tudo no lugar, como se ninguém tivesse
ali. Mas a recepcionista me garantiu que ele havia chegado e me entregou
um cartão, mesmo estranhando meu traje de banho — eu ainda estava de
biquíni e com minha saída transparente.
Fui direto para o quarto e só lá escutei o barulho de água caindo.
Chuveiro. Meu coração parecia prestes a quebrar minhas costelas quando
entrei e o vi debaixo do chuveiro, nu, as mãos apoiadas na parede e a
cabeça baixa, deixando o jato forte fazer o trabalho no seu corpo grande.
— Pedro. — chamei, mas minha voz soou tão baixa, que não acreditei
que ele escutou. Cheguei mais perto. — Pedro, por favor, me escuta.
Ele continuou de cabeça baixa, sem mover um músculo.
Deslizando o box de vidro para o lado, pisei para dentro, sem me
importar com a água gelada me molhando inteira. Quando ele não saiu da
posição, eu me enfiei entre a parede e ele, toda espremida. Levantando as
mãos trêmulas, toquei seu peito e olhei seu rosto.
Aparentemente, ele estava tranquilo, de olhos fechados, mas suas
sobrancelhas estão curvadas, em confusão.
— Pedro... eu não fiz aquilo que ele falou, tá bem? Eu nem queria vir
para Miami. Eu só... — Comecei a chorar novamente. — Ele me disse
como sabia de tudo que aconteceu entre nós. Ele fez um acordo com Mattia.
Em troca da minha virgindade, Mattia teria que colocar uma escuta no meu
telefone. Por isso ele sabia cada detalhe, não fui eu quem contei.
Eu nunca faria isso com você, nem comigo.
Eu já estava toda encharcada. O jato era tão forte, que podia muito bem
estar tentando lavar todo esse sentimento ruim de nossos corpos, de nossos
corações.
— E-eu sei que sou teimosa. — Solucei e apoiei a testa no meio de seu
peito. Ele não tinha se movido, e eu precisava ficar o mais perto dele
possível. — Eu sei que fui chata e aprontei, te envolvi em várias confusões,
mesmo quando você deixou claro que não gostava de confusões, mas...
Seu coração martelava com violência dentro do seu peito duro, eu
conseguia escutar. Era uma prova de que ele estava me escutando, me
entendendo.
— Eu passei vinte anos da minha vida fazendo as coisas do jeito que as
outras pessoas diziam que era pra ser. — continuei. — Primeiro com meu
pai, depois com Mattia... — Levantei a cabeça e, para minha surpresa, meus
olhos encontraram os seus, abertos e intensos, como sempre foram.
Observando-me com atenção e curiosidade, a água caindo em seu rosto
perfeito: — Só que quando eu decidi que queria você, Pedro, foi a primeira
decisão que tomei por conta própria. E posso falar com toda certeza do
mundo que também foi a melhor decisão.
Essa última parte sai entrecortada por conta das lágrimas. Eu queria tanto
que ele abaixasse as mãos e me abraçasse. Eu queria seu beijo, seu toque,
sua compreensão.
Mas principalmente, eu queria sua confiança de volta.
Passando as mãos pelo meu rosto para tirar o excesso de água e poder
enxergar melhor, eu disse, controlando o choro:
— Se não me quiser mais, não tem problema, eu entendo. — Era a maior
mentira que eu já tinha contado na vida. — Mas eu não vou conseguir
suportar saber que você acredita que te traí, que te enganei. Eu...
Em um segundo, eu estava olhando-o e implorando, tremendo. No
seguinte, eu tinha minhas costas contra a parede, as pernas em volta de sua
cintura, os braços em seu pescoço e sua boca devorando a minha.
Pedro me beijou como se dependesse daquilo para respirar. Foi um beijo
necessitado, cheio de desejo e desesperado. Suas mãos estavam em todos os
lugares do meu corpo: apertando meus peitos, amassando minhas carnes.
No segundo seguinte, meu biquíni estava de lado e seu pau fazendo o
caminho apertado para dentro de mim. Ele me fodeu e me beijou ao mesmo
tempo, feroz e loucamente. O tempo todo contra a parede.
Eu tentei raciocinar e entender o que estava acontecendo ali e dentro de
mim. Eu estava chorando, mas não era de medo; era de... alívio.
Estava aliviada de tê-lo de novo, de sentir seu corpo, seu beijo, seu
toque. Eu estava aliviada porque eu sabia que o que sentia por ele superou
todas as minhas expectativas sobre o amor.
O amava com naturalidade, sem pressão, com todo o meu coração.
Com desespero.
E eu não falei isso em voz alta, mas eu mostrei da forma que ele havia
me ensinado: lhe dando prazer. Olhei em seus olhos o tempo todo em que
ele esteve dentro de mim. E, no final, eu gozei chamando seu nome várias
vezes enquanto ele rosnava o meu.
Não satisfeito com o que acabou de acontecer, ele me segurou pelas
nádegas, desligou o chuveiro e saiu do box. Tenho certeza que o chão ficou
todo molhado, mas ele não se importou com isso. Carregou-me até a cama e
me deitou bem no centro.
Ajoelhado entre minhas pernas abertas, ele me olhava com uma
admiração que me deixou ainda mais molhada — e eu não estava falando
do corpo recém saído de debaixo do chuveiro.
Eu estava deitada de costas, a saída de banho espalhadas na cama,
deixando o colchão ensopado junto com meus cabelos; a parte de cima do
meu biquíni havia sido puxada para o lado enquanto ele me comia no
banheiro, então meus peitos estavam de fora e arrepiados por conta da sua
atenção; e a calcinha do biquíni estava torta. Eu era uma verdadeira
bagunça mole e excitada.
E ele era um deus em toda sua glória de 1.90 metros e um corpo de tirar
o fôlego. Quando ele veio pairar sobre mim, sustentando seu corpo grande
com um braço apoiado ao lado da minha cabeça, eu não podia deixar de
encarar seu rosto perfeito. Ele puxou os laços da minha calcinha e a retirou
de mim, em seguida, se livrou da saída de banho e do sutiã.
— Agora eu quero fazer amor com você. — ele disse.
Meus olhos se arregalaram, recordando o dia em que ele me falou sobre
essa expressão. Ele fazia sexo, não amor.
— Amor? — Questionei.
Ele anuiu, já se ajeitando em minha entrada. Levantei os braços e circulei
seu pescoço, nossos olhos unidos o tempo. Quando ele começou a entrar em
mim, arqueei minhas costas, arfando levemente. Eu estava um pouco
dolorida da nossa última vez, mas não me importei. Eu só o queria o mais
próximo possível.
Seu pau deslizou com muita facilidade, indo até o fundo, deixando-me
bem preenchida. Ao contrário de como ele fez no banheiro — rápido e duro
—, ele adotou um ritmo calmo e lento, porém tão delicioso quanto.
Nós nunca tínhamos feito tão lentamente. Sempre fomos uma explosão
de tesão e posições variadas. Mas hoje estávamos ao estilo papai e mamãe,
suave, tranquilo e gostoso.
Ele me segurou, e eu o segurei. Olho no olho. Gemidos saindo de nossas
bocas como uma música suave.
Ele usou um braço para sustentar seu corpo enquanto metia fundo e
devagar, e sua outra mão veio para meu rosto. Seu polegar arrastou pela
minha mandíbula, em seguida pelo meu lábio inferior, como se quisesse ver
se era de verdade.
— Eu quero você o tempo todo. — ele confessou, a voz afetada pela
excitação. — E eu confio em você.
O prazer que eu senti ao ouvir isso foi imenso. Os meus olhos arderam
com as lágrimas, só que dessa vez não era lágrimas de medo ou desespero;
eram de amor. Segurei seu rosto entre minhas mãos e sussurrei no meio de
gemidos:
— Grazie, amore mio. — Minha voz embargou, mas eu continuei: — Ti
amo, Pedro.
Ele ficou tenso com minha confissão, o olhar se tornou mais intenso, e
ele foi mais fundo, fazendo-me arfar.
— Tanto, tanto, tanto, que dói.
Ele abaixou a cabeça e me beijou forte, arrancando de mim todo fôlego
que restava.
— Eu te amo, bambina. — revelou ele, respirando em minha boca.
Uma lágrima rolou pelo meu rosto. Eu ondulei debaixo dele, fechando os
olhos e me arqueando para ele.
Então, ele meteu mais fundo, mais forte, um chamando pelo outro,
implorando, se amando. Até que explodimos juntos em mais um orgasmo
violento.
Mas, dessa vez, foi diferente.
Foi um orgasmo cheio de alívio.
Eu amava esse homem de verdade. E ele me amava de volta.

•••

Uma hora depois, eu estava deitada na cama do hotel, e Pedro estava


com o rosto enfiado no meu pescoço. Nós fizemos sexo mais uma vez na
cama e não tocamos no assunto ruim desde então.
Minha cabeça estava dândi muitas voltas, e todas elas voltavam para a
cena em que meu pai ameaçou me expor para obter um pouco mais dos
negócios de Pedro.
Naquele momento, eu me senti enojada do meu próprio pai. Senti
vergonha de ser sua filha e decepção de ver que minha mãe assistiu tudo
calada.
Eu sempre tive noção de que ela fazia tudo que meu pai queria, mas eu
era sua filha — a única — e era uma questão de exposição para o mundo.
Mas, nem assim, ela foi capaz de ficar ao meu lado. Muito pelo contrário,
ela quis me repreender por debater com aquele homem.
— O que nós vamos fazer? — perguntei baixinho, e Pedro respirou
contra minha pele, ciente do que eu estava falando e se afastou para me
olhar.
Posicionando sua cabeça bonita no travesseiro ao meu lado, ele deslizou
sua mão na minha, pegando meu dedo anelar, fazendo carinho. Sua voz era
rouca quando ele falou:
— Vamos comprar um anel para você.
Sentei-me, sem me importar com o meu peito nu, e movi a cabeça,
chocada com o que ele falou.
— Não! — eu recusei. — Nós não vamos fazer o que ele quer, per Dio!
É exatamente disso que quero fugir, Pedro. Do controle que ele tem sobre
mim. Não vou deixá-lo ter sobre você também.
— Eu também não quero isso, e ele não terá controle sobre mim. — Ele
diz, levando o braço para trás de sua cabeça. Como sempre, ele parecia
malditamente calmo enquanto corria os olhos pelos meus peitos antes de
voltar para meu rosto: — Eu tenho quarenta e cinco por cento dos negócios.
Mesmo depois de passar os 15% para você, eu terei trinta.
Balancei a cabeça.
— Meu pai é ruim, Pedro. E ele tem o vídeo. Mesmo se você exigir no
contrato a exclusão do vídeo, ele dará um jeito de te ameaçar de novo
porque agora ele sabe que você não vai deixar nada acontecer comigo.
Com um olhar pesado e intenso, ele se sentou, beijou meu ombro nu e
alisando minhas costas, ele sussurrou para mim:
— Eu espero mesmo que ele saiba disso, Giulia. Porque eu realmente
não deixarei que nada te machuque. — Ele raspa os lábios pela minha
bochecha, causando um arrepio em meu corpo. — Ações não são mais
importantes que você.
Gemi com seu carinho e meu íntimo derreteu.
— Mas não é justo! Foi seu pai quem criou tudo isso, não ele. Ele não
pode te obrigar a se casar comigo por conta disso.
Seus olhos encontraram os meus, e engoli em seco com a força do seu
olhar.
— Tenho certeza que me casar com você não será nenhum martírio.
Então ele segurou meu rosto com uma mão e me beijou. Sua língua fez
um estrago em mim, deixando-me toda molhada novamente, apesar de
ainda estar dolorida. Ele estava prestes a me deitar de novo quando seu
celular tocou. Gemeu em protesto contra a minha boca, mas não parou.
Deitou por cima de mim, beijando-me com necessidade, excitado.
O celular parou, mas no segundo seguinte voltou a tocar. Eu ri,
segurando seu rosto:
— Acho melhor você atender. — eu disse desgostosa. — Quem sabe não
é mais um problema para nós?
Rosnando uns xingamentos, ele se levantou e foi pegar o celular, que
estava na sala da suíte. Eu fiquei admirando suas costas e bunda nua, ainda
sem acreditar que um homem tão lindo e maravilhoso como ele acabou de
fazer amor comigo.
Ele sumiu de vista e eu escutei quando ele atendeu o telefonema, mas sua
voz foi sumindo também, o que me levou a crer que ele tinha saído para o
terraço.
Fiquei deitada até ele voltar, minutos depois. Tentei analisar sua
expressão, mas como ele era sempre calmo, ficava difícil de entender suas
emoções.
— Aconteceu mais alguma coisa? — perguntei.
Ele sacudiu a cabeça quando se deitou ao meu lado e me puxou para seu
abraço. Beijou minha cabeça e declarou:
— Vamos passar o resto do dia aqui no hotel.
— E o meu pai?
— Ele virá amanhã para assinarmos o contrato.
Eu me encolhi.
— Ainda não gosto disso. Eu não confio nele.
— Nem eu. — ele me disse. — Mas não se preocupe. Eu darei um jeito
nisso.
— Aqui está o contrato. — O advogado do meu pai disse, deslizando o
contrato de duas folhas sobre a mesa.
Estávamos na sala de reuniões do hotel, porque Pedro não queria meus
pais em sua casa.
Margot o pegou, dando um olhar assassino para o homem careca, que eu
tinha visto apenas algumas vezes em Verona. Ela analisou as palavras por
um instante, antes de assentir para Pedro, como uma confirmação.
Quando Pedro se inclinou sobre a mesa, com a caneta na mão, pronto
para assinar, eu suspirei chateada, cruzando os braços e me afastando um
pouco. Eu ainda não acreditava que meu pai iria vencer dessa forma.
O monstro parecia radiante, com um sorriso ansioso nos lábios e um
olhar arrogante. Já a minha mãe estava quieta, como sempre, mas atenta a
cada movimento ao seu redor.
Meu estômago apertou e eu senti vontade de vomitar, sabendo que essas
duas pessoas frias e sem escrúpulos eram meus pais. E foi assim, com o
coração na mão, que eu assisti o homem que mais admiro no mundo assinar
seu nome nas folhas.
Não era justo. Meus olhos lacrimejaram e eu só queria expulsar meus
pais dessa sala, desse hotel, desse país. Os queria bem longe para que eles
não tivessem nenhum poder sobre nenhum de nós.
Com os papéis assinados, Pedro se endireitou e descansou a caneta sobre
eles, olhando diretamente para os olhos do meu pai. A calma o envolvia,
mas era diferente. Quando meu pai pegou os papéis e os assinou com um
sorriso satisfeito, eu vi o alívio nos ombros dele e de Rafael — que estava
ao meu lado, com as mãos enfiadas nos bolsos e um olhar que poderia
matar meu pai facilmente.
— Bene — meu pai suspirou falsamente. —, acho que podemos dizer
que esse foi um ótimo negócio, não é mesmo? Eu vou poder controlar 25%
dos negócios, o vídeo pornográfico da minha querida filha não vaza na
mídia, e você, Pedro, se casará com uma mulher de família.
Eu faço uma careta, com a ânsia de vômito.
— Você é muito nojento.
Seu sorriso se alarga mais e ele fala comigo em italiano:
— Não finja que não gostou, Giulia. Você será rica e será esposa de um
homem poderoso e bonito. Todo mundo sairá ganhando.
— Você sairá ganhando algo que não lhe pertence. Esse negócio foi
construído por Felipe Rodrigues. Tudo o que você tem foi apenas porque
ele cometeu o erro de achar que você poderia gostar de alguém a ponto de
tê-lo como seu melhor amigo. — Eu me aproximei da mesa, olhando-o do
outro lado, a raiva me consumindo, ignorando sua cara feia. — Mal sabia
ele que você é tão incapaz de amar, que ameaçou expor sua própria filha
para o mundo, só para conseguir o que queria.
Ele ficou com muita raiva pelas minhas palavras. Sua mandíbula estava
dura, contraída, e só faltava sair fumaças por suas orelhas.
— Você deveria me respeitar, sua vadia mal-agradecida!
Pedro apertou suas mãos em punho e deu um passo à frente, mas eu o
segurei, sem tirar meus olhos do homem que deveria agir como um pai para
mim.
— Você não pode exigir respeito, Patrizio! Isso é algo que conquistamos,
que merecemos. E você não merece nada.
— Já chega, os dois! — minha mãe grita, nos pegando de surpresa. Ela
nunca gritou com meu pai, então isso o deixou claramente desconsertado
por um instante.
Eu me virei para ela, pronta para dizer que não iria me calar, que não iria
abaixar minha cabeça para eles, que não os queria mais na minha vida, mas
ela foi mais rápida, a expressão séria:
— Você não tem direito aos 25% dos negócios, Patrizio. — ela diz ao
meu pai, o nariz empinado.
Eu franzo o cenho, e meu pai ri, pegando os papéis em suas mãos.
— Não é isso que esse contrato diz, querida.
Ela suspirou.
— Esse contrato diz que sim, Pedro passou os 15% para Giulia, mas ele
também diz que você não apenas não tem nenhum direito sobre eles, como
também passou seus 10% para ela e todo o dinheiro que tinha em sua conta
do banco.
Meu queixo cai, eu olho para Pedro, mas ele não está surpreso. Muito
pelo contrário, ele parece realizado. Enfiando suas mãos nos bolsos de sua
calça, ele pisca um olho para mim e volta sua atenção para meus pais. Eu
faço mesmo, muito chocada.
Minha mãe acena para os papéis, nervosa, seus olhos contendo angustia:
— Você pode checar, se quiser. Eu troquei o contrato hoje pela manhã,
logo depois que seu advogado o verificou.
Ainda sem acreditar, mas já respirando bruscamente, ele fez o que ela
disse e foi ler o que tinha nos papéis que assinou. Quando enfim ergueu os
olhos, a fúria estava lá.
— O que porra você fez, mulher? — ele gritou alto e duro, mas ela não
tremeu ou se encolheu.
Minha mãe pisou mais perto dele, de queixo erguido e o enfrentou:
— Eu nunca deixaria você humilhar a minha filha por nada, Patrizio! —
ela gritou de volta, em nossa língua. — Eu fiquei do seu lado todos esses
anos, fui a esposa perfeita. Aceitei e lhe apoiei sempre, até mesmo quando
resolveu manda-la para longe, porque eu pensava que tudo que você queria
era que ela não se envolvesse com aquele homem. E então eu descubro que
você não apenas fez uma troca com a virgindade dela, como também estava
disposto a colocar um vídeo na internet para humilha-la por conta de
dinheiro? — Ela jogou na sua cara, com nojo.
— Você é minha esposa! Não podia fazer isso comigo! — Ele estava
revoltado. Eu podia ver a veia em sua têmpora saltando enquanto ele
discutia: — Eu passei anos esperando por isso e você arma contra mim?
— E faria de novo, se isso significasse salvar a minha filha de suas
armações maldosas!
— A sua filha não passa de uma vadia...
O som de um tapa cortou o ar quando a mão da minha mãe pousou com
força no rosto dele. Arregalando os olhos, eu tampei minha boca com a
mão, sem acreditar no que estava vendo. Senti alguém me segurando e
sabia que era Pedro.
Patrizio tombou para trás, surpreso e incrédulo, segurando seu rosto
enquanto minha mãe erguia um dedo em riste para ele:
— Cale-se! Você não passa de um monstro, um filho da puta sem
caráter! — Ela apontou para mim quando falou: — E nunca mais abra sua
boca para falar assim da minha filha, você escutou bem, Patrizio?
Ele a olhou com raiva.
— Como você ousa me bater desse jeito? — Sua voz era tão
ameaçadora, que eu temi pela minha mãe, mas ela não se abalou. — Quem
você pensa que é?
— Eu sou tudo que você tem no momento, seu idiota. — ela disse, com
desgosto. — Você não tem mais a sua parte dos hotéis, o que significa que
tudo que sobrou foi a herança dos meus pais. A minha herança. — Ela
apontou para o próprio peito para dar ênfase no que estava dizendo. — Eu
não vou me separar de você, porque faz parte das regras de família, mas, se
você quiser ter onde dormir a noite e ter o que comer, trate de me respeitar
e respeitar a minha filha.
Ele tentou segurar seu braço, mas ela não permitiu. Ele rosnou:
— Isso não vai ficar assim. — prometeu.
Ela riu, friamente.
— Eu espero que você não seja mais burro do que está demonstrando
ser. — falou. — Agora, saia da minha frente e me espere no carro.
Ele não se mexeu, continuou a encarando com ódio.
Minha mãe bufou, revirando os olhos e foi até a porta da sala de
reuniões. O vidro estava embaçado porque estávamos dentro, então não
dava para ver nada do que estava acontecendo lá fora. Ela abriu a porta e
espiou fora:
— Elettra. — ela chamou, e uma mulher apareceu.
Era uma mulher muito bonita, italiana. Ela estava vestida toda de preto e
apesar de estar usando uma jaqueta e que seus cabelos negros estivessem
espalhados ao redor de seu pescoço, eu pude ver as pontas de umas
tatuagens saindo pela gola de sua blusa e enraizando seu pescoço. Ela tinha
olhos escuros e atentos, que passou sobre todos que estavam na sala. Sua
expressão era séria, quase sombria.
Por algum motivo, ela me fez estremecer. E a reação do meu pai a ela me
deixou muito curiosa.
— Vá com Elettra, Patrizio. — Minha mãe instruiu, e ele não discutiu
mais.
Abaixou a cabeça e passou pela porta, sem dar uma palavra.
A mulher, Elettra, deu mais uma olhada fria para nós, em seguida
assentiu para minha mãe e saiu.
Quando minha mãe se voltou para mim, seus olhos continham um
carinho que eu nunca tinha visto ali. Ela sempre fora muito distante de mim,
acatando tudo o que meu pai queria. Mas o que ela fez nesse dia para e
proteger, me mostrou outro lado dela. Um que eu não conhecia.
Margot foi a primeira a pedir licença, se despedindo com um sorriso
cheio de brandura para mim. Logo Rafael tocou meu braço e beijou meu
rosto molhado pelas lágrimas antes de sair também.
Bastou um olhar da minha mãe, que o advogado careta desapareceu da
sala, deixando apenas nós duas e Pedro.
Eu me aproximei dela:
— Mamma...
— Shh, querida. — Ela me olhou com um amor materno desconhecido
para mim. — Está tudo bem agora.
Eu balancei a cabeça.
— Mas, como... Como você fez isso? Quero dizer, o contrato e tudo o
mais.
Minha mãe sorriu tristemente e segurou meu rosto entre suas mãos,
enxugando meu rosto com os polegares enquanto as suas lágrimas
escorriam pelo seu rosto.
— Eu tinha uma vida antes do seu pai, Giulia. Contatei velhos
conhecidos e eles me ajudaram com isso.
— Como assim? Quem era aquela mulher, e por que o meu pai tem medo
dela?
— Essa é uma história antiga e muito longa, a qual eu arrisquei minha
vida para escondê-la de você, para te manter longe de toda a bagunça.
— Que bagunça, mamma? — Eu estava muito confusa e curiosa.
Ela me segurou com mais cuidado.
— Tudo o que importa agora é que você está bem e livre. — Ela me olha
nos olhos. — Eu sei que nunca fui uma mãe para você. Sempre estive do
lado do seu pai, não a escutava, não a entendia. Mas quero que saiba que
tudo o que eu fiz, desde que você nasceu, foi lutar para que você ficasse
bem, que tivesse uma boa vida.
— Mas, mamma, como assim? — Eu insisti, chorando. — Agora eu
estou confusa.
— Querida, apenas entenda que eu amo você mais que tudo no mundo e
nunca deixaria nada de ruim lhe afetar. Nem mesmo Patrizio.
Eu franzi o cenho, suas palavras foram como um soco no meu estômago.
Minha mãe nunca tinha dito isso para mim. Ela nunca tinha feito nada
disso.
— Giulia, olhe para mim. — Ela me arrancou dos meus pensamentos. —
Você está livre para fazer o que quiser agora. Eu quero que você seja feliz.
Quero que pegue essa oportunidade e recomece, construa sua própria vida,
faça suas próprias escolhas. Decida qual será seu futuro. — Ela sorriu
docemente, segurando minhas mãos. — Há uma conta no seu nome com
dinheiro o suficiente para você fazer o que quiser. Pedro já tem tudo.
Eu olho para o homem ao meu lado, que está encostado na mesa, de
braços cruzados, assistindo tudo. Ele me oferece um sorriso ladino,
reconfortante, e uma piscadela, que faz as borboletas em meu estômago se
agitarem.
— E agora você também tem vinte e cinco por cento dos negócios e não
é obrigada se casar por isso. — Mamma continuou. — Use-o da forma que
achar melhor. Trabalhe nele, invista, qualquer coisa. Tenho certeza que terá
bastante ajuda para isso.
Eu anuí, incapaz de formular uma palavra, porque minha garganta doía.
Ela abriu um sorriso frágil.
— Se quiser voltar para Itália, mamma lhe receberá de braços abertos,
está bem? — Ela disse, mas quando deu uma olhada em Pedro, meneou a
cabeça, divertida. — Claro que você não tem motivos para voltar, mas tem
todos os motivos do mundo para ficar aqui. Então se cuide e seja feliz, mia
piccola principessa.
Chorando, eu fiz uma coisa que eu não estava acostumada. Eu abracei a
minha mãe, forte e desabei quando ela devolveu o abraço apertado,
consolando-me com palavras doces e me pedindo para ser feliz, que tudo
estaria bem.
Foi o primeiro abraço que eu dei na minha mãe, a primeira vez que me
senti protegida com ela. Aquilo me tocou profundamente, a sensação de
perda me envolvendo, percebendo que o tempo nunca iria voltar para que
eu pudesse fazer isso mais vezes.
Quando ela se foi, Pedro me pegou, fazendo-me descansar a cabeça em
seu peito quando ele me envolveu com seus braços fortes e protetores.
— Eu não sabia que precisava tanto de um abraço da minha mãe, até
abraça-la. — Eu solucei baixinho.
Ele acariciou meus cabelos.
— Dizem que o abraço de mãe é capaz de curar qualquer coisa. — disse
ele.
Anuí.
Acho que o que dizem é verdade. O abraço da minha mãe, de certa
forma, curou minha alma solitária.
Um mês depois.

Penteei meus cabelos de frente ao espelho enquanto escutava a música


Paloma do Fred De Palma e Anitta. Eu nem conseguia parar de sorrir e
meus quadris balançavam no ritmo envolvente da melodia.
Tudo estava ok na minha vida.
A minha terapia estava indo muito bem.
Meu relacionamento com Pedro estava perfeito. Não nos escondíamos
mais, sempre saímos de mãos dadas e demostramos intimidade em público.
Os tabloides estavam fazendo um festival com os clicks que estamos
rendendo para eles.
Saíram algumas matérias ruins sobre nossa diferença de idade, mas não
demos importância. Nos divertimos com as outras matérias, especulando
sobre como surgiu esse relacionamento, querendo saber tudo sobre minha
vida. E por isso, Pedro e Rafael insistiram que eu andasse sempre com o
Esquadrão, para não ser incomodada com nada quando estivesse na rua.
Eu também tenho saído bastante com Margot e comecei a ter aulas de
tênis com ela no The Caliste Club, onde eu sou a mais nova sócia. É um
esporte legal e interessante, e tem me ajudado a passar um tempo enquanto
não decido o que fazer da minha vida.
E foi lá no Clube que encontrei com Sasha Wesley, bem no momento em
que ela mandava mensagens importunas para Rafael, só para tira-lo do
sério. Eu logo a coloquei no seu devido lugar, deixando claro que, se ela
não apagasse o número dele da agenda do seu celular e não parasse de
incomoda-lo, eu mesma quebraria o aparelho celular na sua cabeça e a faria
engolir.
Ninguém além de mim podia mexer com a “paciência” dele.
Também entrei em contato com a minha mãe algumas vezes. Ela tem
mantido meu pai na linha e, pelo que disse, arrumou um emprego decente
para ele com alguns amigos antigos. Eu ainda não entendi tudo e estava
muito curiosa sobre seu passado e sobre a tal da Elettra, mas não quis fazer
muitas perguntas. Pela primeira vez eu estava tendo uma relação boa com
minha mãe, e não queria afetar isso.
E essa semana, eu recebi uma notícia tão maravilhosa, que me deixou
não apenas feliz, mas muito nervosa. Eu não sabia muito como revelar isso,
então pedi a ajuda de Margot para organizar toda a surpresa.
Checando mais uma vez meu vestido de verão no espelho, me senti
satisfeita com tudo e desci para a sala. Meu coração bateu muito forte
contra a costela quando Pedro entrou pela porta em seu terno caro e rosto
perfeito. Bem atrás dele, veio Rafael.
Eu tinha ligado para ele, pedindo para que viesse também, porque ele
fazia parte do que eu estava planejando.
Pedro segurou meu rosto e abaixou a cabeça para me beijar na boca. Eu
sorri para ele, pegando em seus antebraços.
— Você está linda. — ele elogiou.
— E estava morrendo de saudades de você. — Gemi quando ele
capturou meus lábios de novo, matando a saudade do dia inteiro.
O som de uma garganta sendo limpa nos fez parar, e Rafael nos olhou
com uma careta exasperada.
— Também sinto saudades de vocês e blá blá blá, mas fala logo! — Ele
gesticulou sem paciência. — O que era tão importante para você pedir que
eu viesse também?
Eu coloquei as mãos no peito esquerdo, fingindo estar tocada:
— A sua pacacidade me deixa taãao emocionada...
Bufando, ele revira os olhos.
Eu torço o nariz para ele, segurando minha vontade de lhe mostrar a
língua e aceno para o sofá.
— Sentem, por favor. Eu vou falar o que é.
Eles fizeram o que eu pedi, caindo um do lado do outro no sofá.
Pegando a pasta que eu tinha deixado sobre uma mesinha ao lado do
sofá, eu me sento na mesa de centro, de frente para eles. Engulo em seco
antes de começar a falar:
— Eu estive pensando sobre isso no último mês, mas eu queria fazer
tudo certinho antes de falar com vocês. — Eu entreguei a pasta para Pedro,
que alçou uma sobrancelha em questão para mim quando a abriu. Rafael se
inclinou para perto dele, para ler o que tinha. Eu expliquei: — Pedi a ajuda
de Margot e ela arrumou tudo. Esse documento diz que eu estou
devolvendo os vinte e cinco por cento para você, Pedro.
Ele levantou os olhos para mim, surpreso.
Ofereci um sorriso gentil:
— E também passei os outros dez por cento para vocês. Cinco para cada,
tornando vocês os únicos donos desse negócio, do jeito que sempre deveria
ter sido.
— Puta merda! — Rafael soltou com uma risada incrédula e
impressionada, mas meus olhos estavam presos nos de Pedro.
Ele soltou a pasta, deixando seu irmão pega-la e veio mais para frente,
pegando minhas mãos.
— Por que fez isso? Isso era seu, Giulia. Não precisava devolver.
— E o que eu iria fazer com isso? — questionei. — O Patrizio, pelo
menos, tomava conta dos hotéis na Itália, mas eu não entendo nada sobre
hotéis ou sobre administrar algo tão grande. Além disso, eu decidi que
quero entrar na faculdade de psicologia. E com o dinheiro que eu tenho, vou
investir em uma fundação para ajudar pessoas, homens e mulheres, que
passam ou já passaram por relacionamentos abusivos, seja com um parceiro
ou com a família, mas que não tenham condições para terem ajuda
psicológica.
— Ei — Rafael estendeu a mão e apertou minha bochecha entre o dedo
do meio e o indicador. —, eu estou orgulhoso de você, teimosinha. É uma
ideia ótima, pode contar comigo para isso.
Eu sorri em agradecimento, e Pedro cutucou minha mão, em seguida, a
beijou. O seu olhar transbordava orgulho e intensidade.
— Eu estou dentro também. — disse ele. — Você tem noção o quanto
você é maravilhosa, certo?
Encolhi os ombros, como se não fosse nada demais, mas abri um grande
sorriso animado.
— Eu realmente fico muito feliz que tenham gostado da ideia, porque eu
gostaria da aprovação dos dois.
Ele se entreolha, confusos.
— Para quê? — Pedro pergunta.
— Para colocar o nome de Fundação Ana Campelo. — Falar isso em voz
alta me fez encolher, porque eu não sabia o que esperar da reação deles.
Sabia que era um assunto delicado para ambos e não queria chateá-los
agora.
Ambos ficam tensos, e eu pude ver como seus ombros se enrijeceram.
Rapidamente, eu me senti uma merda por causar isso. Eles ficaram em
silêncio por um tempo. Pedro desviou os olhos para longe, e Rafael abaixou
os seus para a pasta fechada.
Meu coração apertou e eu quis retirar minhas palavras, mas antes que eu
pudesse me desculpar, Pedro me puxou pela mão, fazendo-me sentar em sua
perna e me beijou.
— Eu acho que é o nome perfeito. — ele declarou, alisando minha perna
com carinho. — Será bom mostrar para as pessoas que sofrem com isso o
que a Ana passou e, quem sabe, a história dela não ajuda outras Ana’s por
aí?
Anuí, dando um sorriso triste.
— Pedro tem razão. — Rafael falou baixo. — Será muito bom. Eu vou
ligar para os pais dela amanhã, para ver o que eles acham sobre isso.
— Grazie. — Eu apertei seu antebraço, transmitindo carinho para ele.
Então eu suspirei longamente, porque agora era a hora da notícia principal e
mais importante. — Certo, agora eu preciso contar outra coisa!
— Tem mais? — Meu namorado questionou, desconfiado.
Sorrindo, eu peguei a pasta da mão de Rafael e a abri, tirando as folhas
dos documentos da frente. Eles nem foram mais além para ver o que tinha
ali, tornando esse meu trabalho.
O papel impresso com um ultrassom do meu útero ficou visível e eu
mostrei para eles, meu coração martelando com nervosismo e expectativa.
— O que... — Pedro pegou, aproximando mais do seu rosto para ver
melhor. Seus olhos se arregalaram e ele os levantou para mim, chocado,
admirado. — Isso é o que eu estou pensando?
— Eita porra! — Rafael exclamou, pasmo com o conhecimento.
Eu soltei uma risadinha, assentindo para meu namorado.
— Eu sei que tínhamos conversado sobre isso, e estávamos nos
prevenindo, mas, de alguma forma, o anticoncepcional não funcionou e
agora — Eu peguei sua mão e a coloquei sobre minha barriga, ainda plana.
—, há alguém aqui dentro. — Meus olhos lacrimejaram de emoção.
Pedro permaneceu paralisado, os olhos bem abertos, agora encarando sua
mão em minha barriga. Ele não se moveu, nem falou nada, apenas
continuou dessa forma, como se tocar ali fosse trazer alguma resposta para
ele.
Silenciosamente, Rafael se levantou, gesticulou com a boca um
"Parabéns, teimosinha", beijou o topo da minha cabeça e saiu, nos dando
privacidade.
Sem saber como lidar com a reação de Pedro, eu coloquei uma mão
sobre a dele e a outra, eu toquei seu rosto.
— Sei que sou muito nova, e que você não queria que acontecesse tão
cedo...
— Não, Giulia. — ele me corta, sua voz toda carinhosa. — Não importa
o que queríamos, eu amo saber que vou ser pai e que você é quem está me
dando esse presente.
Não pude impedir as lágrimas de transbordarem. Ele sorriu todo lindo e
sexy, e passou os dedos pelo meu rosto, enxugando-o.
— Eu tenho te falado isso todos os dias desde que descobri, mas deixe-
me frisar bem, ok? — Ele me pega, olhando bem dentro dos meus olhos. —
Eu amo você, Giulia. Eu nunca me senti tão bem com uma mulher, como eu
me sinto com você. Você me mostrou que os opostos se atraem.
Eu soltei uma risadinha, porque se existem duas pessoas que não são
nada parecidas, somos nós dois.
— Você me ensinou que amor não tem idade. — ele continuou. — Me
ensinou que regras são feitas para serem quebradas e que não importa o
quanto planeje sua vida, o quanto leia sobre hábitos e escolhas certas, se
uma coisa tem que acontecer, ela simplesmente acontece. E você aconteceu
na minha vida. — Ele segurou meu rosto. — Um pequeno furacão cheio de
gostos e de nariz em pé, que não deu para trás nem mesmo quando tudo
estava desmoronando sobre sua cabeça. Eu me rendi. Eu sou
completamente apaixonado por você e por tudo que você representa, e esse
presente aqui — Ele tocou minha barriga, a voz embargada. —, e deixou
ainda mais apaixonado por você, bambina.
Eu o beijei com todo meu coração, porque eu simplesmente não podia
mais respirar se não sentisse seus lábios nos meus. Eu já esperava que ele
fosse gostar, mas não imaginava que ele ia me deixar dessa forma, toda
emocional e excitada.
— Ti amo, amore mio. — eu disse entre beijos.
Ele me pegou nos braços e me levou para cima, para nosso quarto, onde
fez amor comigo da forma mais gostosa possível.
Nove meses depois.

— Ahhhhh! — Eu gritei em plenos pulmões quando a dor veio de novo.


Pedro segurou minha mão com força.
— Respire, amor. — Ele instruiu, simulando uma respiração profunda
para que eu o imite.
— Eu estou respirando! — rosnei, sem muita paciência para essas coisas.
A dor estava me deixando insana e com muita raiva. Apertei a mão de
Pedro com mais força. — Ainda faltava uma semana para ela chegar! Uma
droga de semana! — gritei. — Por que ela é tão impaciente!?
— Vamos supor que a mãe dela e o tio não sejam um exemplo de
paciência, certo? — Pedro, meu marido há 3 meses agora, tentou brincar.
Não funcionou.
Eu apertei ainda mais sua mão, e ele estremeceu.
— Ela ainda vai demorar muito? — Rafael colocou as mãos na cintura,
encarando a dra. Lowe que estava junto com sua equipe na nossa casa.
Durante a gravidez, eu optei por um parte domiciliar, na banheira, para
que as pessoas que amo pudessem assistir. Por isso, além da equipe
especializada nesse tipo de parto, também estavam perto meu cunhado,
minha sogra, minha mãe e Margot.
— Está vendo? É disso que estou falando. — Meu marido resmungou,
acenando para seu irmão, que estava a ponto de enforcar a médica.
— Falta pouco, Giulia. — ela me garantiu. — Respire e faça força.
— Ahhhhhhhh! — Eu fiz o que ela pediu. — No, no, no! Chega! Per
favore, me leve para o hospital! — implorei para Pedro. — Não quero mais
assim. Vamos fazer cesárea!
Pedro me segurou firme.
— Amor, fique calma, por favor. A Fiorella precisa que você seja forte
agora...
— É porque não é a vagina dela que está sendo rasgada! Ahhhhhhhhhh!
Puta que pariu!
— Agora chamar palavrão pode? — Rafael questionou, mais nervoso
que o pai da criança.
A mãe dele lhe deu um tapa na cabeça.
Eu ignorei, focando em Pedro e na minha mãe me pedindo para relaxar.
Procurei respirar lentamente, com cuidado, e fiz tudo que a equipe me
pediu.
Após horas e horas de trabalho de parto, eu estava exausta, destruída,
dolorida, mas estava radiante com minha filhinha nos meus braços.
A pequena chorava e gritava, com sua boquinha desdentada. Ela era tão
linda. Meu coração encheu com um amor que eu não fazia ideia de que
existia, tampouco tinha noção do quão grande ele era.
Eu a segurei com tanto cuidado, com medo de que pudesse cair e
quebrar. As lágrimas não paravam de cair.
Pedro também estava chorando e sorrindo ao mesmo tempo. Seus dedos
grandes tocaram o rostinho da nossa bebê, como se não pudesse acreditar
no que estava vendo.
Eu também não acreditava ainda. Beijei a testa pequena e ensanguentada.
As pessoas se aproximaram a ver. Polly e minha mãe choravam de
emoção. Margot tinha um grande sorriso de admiração pela sua primeira
afilhada. E Rafael parecia em choque.
— Ela é tão... pequena. — ele murmurou, sem acreditar. Ele não estava
mais sem paciência; muito pelo contrário, agora, enquanto olhava o
pequeno ser humano nos meus braços, a calma e a tranquilidade tomaram
conta dele.
— Ela é perfeita. — Pedro disse, sem poder tirar os olhos da sua filha.
Anuí, cheia de amor.
— Ela é sim. — Alisei a cabecinha da minha bebê. — Perfetta, mia
principessa.
5 anos depois.

— Papai!
Eu peço licença para as pessoas com quem estou conversando e virou
meu corpo para encontrar minha filha correndo em minha direção. Ela pula,
e eu a pego no ar e a sento em meu colo.
— O que foi, minha vida?
Ela afastou os cabelos que o vento tinha soprado para frente do seu
rostinho e me olha com expectativa:
— Posso ter aulas de karatê?
Ergo uma sobrancelha para ela.
— Por que quer ter aulas de karatê?
— Porque com balé eu não posso bater no Matt! — Ela fala,
gesticulando com as mãozinhas.
— E por que quer bater no Matt?
Ela torce o nariz pequeno em uma careta fofa. Bufa e bate a palma de sua
mão em sua própria testa:
— Porque ele acaba com minha paciência! — A forma como ela diz isso
é como se fosse uma coisa muito óbvia.
Rafael, que está sentado perto de mim, tenta abafar uma risada, mas não
consegue. Eu o olho feio.
Minha filha tem apenas cinco anos, mas desde cedo ela demonstrou ter o
mesmo temperamento do meu irmão. Qualquer coisa a faz perder a
paciência.
Nós decidimos procurar uma psicóloga para ela, na intenção de melhorar
um pouco suas atitudes, mas não têm funcionado. Sua tolerância, assim
como seu tio, era muito pequena.
Como era de se esperar, eles não se desgrudam, e Fiorella é a única capaz
de amolecer meu irmão, principalmente depois que Athena voltou para
França, há cinco anos.
Eu apertei seu narizinho empinado, igual o de Giulia:
— Vida, se quer fazer aulas de karatê, tudo bem, mas não para bater no
Matt ou em qualquer outra pessoa. — eu falei para ela.
— Mas, papai, ele é me deixa muito irritada!
Eu ri.
— Ele não é o único que te deixa assim, princesa.
Ela faz um biquinho, que me derrete todo. Eu nunca pensei que fosse
amar tanto uma pessoa na vida, como eu a amo.
Rafael se levantou e estendeu a mão para ela:
— Vem, meu amor. Vamos assaltar alguns doces daquela mesa antes que
sua mãe apareça por aqui!
Ela saltou do meu colo com um grande sorriso, pegou na mão dele e foi
para a grande mesa de doces que Giulia preparou.
Balançando a cabeça divertido, eu me levantei e segui para dentro, à
procura da minha linda esposa. A casa estava cheia de pessoas e tinha
crianças correndo para todo lado, curtinho a festa de aniversário de Fiorella.
Warren me alertou que Giulia havia subido para nosso quarto, então eu
fui atrás, ansioso para vê-la.
Era estranho. Eu a via todos os dias, mas quanto mais eu colocava meus
olhos sobre ela, mais eu ficava viciado.
Quando entrei no quarto, ela estava saindo do banheiro, arrumando um
brinco. Estava linda com um short cintura alta branco, cropped meia taça e
cabelos soltos e bem escovados. Seu sorriso alcançou os olhos quando me
viu:
— Ei, amor. Eu só precisei pegar uma tarraxa nova, porque perdi a que
eu tinha. — ela se explicou. — Aconteceu alguma coisa?
Eu segurei sua cintura, puxando-a para mim, e ela deu uma risadinha,
envolvendo seus braços ao redor do meu pescoço.
— Aconteceu que eu estou com saudade de você.
— Ah, mesmo? — Ela provocou, raspando seus lábios nos meus,
deixando-me imediatamente duro por ela. — Prometo que mais tarde, eu
deixo você matar toda essa saudade, va bene? Agora temos uma festa para
fazer lá embaixo.
Ela se afastou, e eu gemi em frustração, ajeitando a ereção dolorida
dentro da bermuda. Sorrindo, Giulia se aproximou da janela de vidro e
espiou a festa. Quando ela pareceu prestes a revirar os olhos, eu me
aproximei para ver do que se tratava.
Rafael tinha Fiorella sentada em seus ombros enquanto eles roubavam
alguns doces da mesa. Eu ri e beijei a têmpora da minha mulher.
— É o aniversário dela, amor. Fique calma, deixe-a curtir. Ela ficará
bem.
— Eu sei disso, mas Rafael faz tudo que ela quer. — Ela fingiu estar
chateada, mas parecia se divertir. — As vezes eu acho que ela que manda
nele.
— Eu tenho certeza disso. — declarei.
Nós assistimos mais algum tempo, até que meu irmão colocou nossa
filha no chão e ficou de cócoras para poder ficar do tamanho dela. Ela o
abraçou com seus pequenos bracinhos e beijou seu rosto antes de sair
correndo para as outras crianças.
Giulia deitou a cabeça em meu peito enquanto via tudo e suspirou
lentamente.
— Ela é tão linda, que eu ainda não acredito que é nossa.
— Mas ela é. — Eu a abraço por trás, descansando meu queixo no topo
de sua cabeça. — Ela é perfeita e é toda nossa, bambina.
Anuiu.
— Grazie por me dar ela. — ela tinha a voz cheia de emoção.
A apertei mais em meus braços.
— Eu que te agradeço. — Eu beijei seu rosto. — Vocês duas são tudo
para mim.
Ela se virou para me encarar, os olhos nublados com lágrimas.
— Eu sempre planejei ter uma vida boa com Mattia. Eu idealizei tudo, a
vida perfeita. Iria ter uma casa boa, filhos, iria ser uma esposa maravilhoso.
Tudo isso. Mas nunca, em toda minha vida, eu imaginei que iria dar tantas
voltas apenas para estacionar aqui, com você, com a nossa Ella. Vocês dois
são a coisa mais importante que eu tenho também. Eu os amo com toda a
minha vida. Grazie por tudo, amore mio. — ela chorou um pouco, mas não
parou. — Eu te agradeço por me enxergar, por me acolher, por me escolher.
Te agradeço por me proteger, por confiar em mim. Te agradeço por tudo, va
bene?
Eu segurei seu rosto perfeito e beijei sua boca com todo amor que eu era
capaz de lhe dar.
— E eu agradeço a você por existir. — eu sussurro em sua boca. — Você
e a Ella são minha vida.
E eu daria tudo, todo meu dinheiro, até mesmo a porra do mundo, para
protegê-las de todo o mal.
Elas eram o meu mundo.
Nos vemos no 2º livro da série, que será do César e da Blake.

Você também pode gostar