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Copyright © 2019 Jussara Leal

EXAGERADO 1

Revisão: Vanessa Santana


Diagramação: April Kroes
Capa: Ellen Scofield
Produção editorial: M10 Marketing Digital.
A reprodução, transmissão ou distribuição não autorizada de qualquer parte
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Os direitos morais do autor foram declarados.
Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes
são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais,
vivas ou mortas, eventos ou estabelecimentos é mera coincidência.
Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.
Produzido no Brasil.
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Bônus
Quando você é um cara regrado e sua vida sempre caminhou nos trilhos,
qualquer mudança parece assustadora demais.
Eu sempre tive controle sobre mim, inclusive sobre meus sentimentos e
até mesmo meus atos. Porém, de uma hora para outra, num piscar de olhos, vi
minha visão de tudo o que sempre acreditei ser o certo modificar. Tudo isso
por conta de uma garota de dezoito anos, é isso, dezoito anos, maldita seja!
Isso tudo é tão ridículo que eu nem consigo pensar direito.
Eu, Bernardo, o homem que só se envolve com mulheres acima dos 30,
fui nocauteado por uma pirralha. Ela simplesmente tem minhas bolas nas
mãos. E por falar em mãos, porra, ela tem as mãos mais delicadas que eu já
vi. A pele lisa e alva, os cabelos de um loiro completamente diferente de
todos que já vi, mas nem tudo é perfeito. A garota é completamente louca,
maluca e pirada. Ela fez Deus de bobinho na hora de passar na fila do juízo e
eu não me conformo por ter sido derrubado... porra, eu mandei nudes para a
maldita! EU MANDEI NUDES! Você tem ideia do que significa eu,
Bernardo, mandar nudes? É a maldita de uma infantilidade, é medíocre, é
repulsivo. Não acredito que me deixei levar por alguém desse tipo...
Esse tipo que tem o sorriso perfeito e olhos brilhantes, que faz jus a
palavra falsa-magra com aquele bumbum tão perfeito, que tem os lábios
carnudos e perfeitamente bem moldados.
Foco Bernardo, foco porra!!!!!!!!!
Estou com dó do saco de pancadas nesse momento. São tantos socos
que, mesmo com luva, tenho certeza que minhas mãos ficarão marcadas e,
pior de tudo, não está me ajudando em nada!
Eu preciso sair dessa fossa, eu vou sair desse inferno, minha vida vai
voltar ao normal e eu voltarei a ter controle de tudo. Grito esse mantra para
mim mesmo e vou em busca de extravasar em um dos aparelhos da academia.
Beatriz Albuquerque tem pacto com alguma força oculta!
BERNARDO

Após uma reunião exaustiva fora do escritório com nosso novo cliente,
não há nada mais que eu queira além de ir para casa. Às vezes, acho que
minha mãe está certa sobre eu ser centrado demais. Tenho apenas 20 anos de
idade e já fechei os maiores contratos da história da empresa.
Nossa empresa cresceu muito ao longo dos anos, e trabalhar no ramo de
Telecomunicações é quase exaustivo. Trabalhamos com soluções de TI,
telefonia, pagamentos e um Call Center de última geração, e isso requer
muita organização e controle. Hoje, nossa empresa desenvolve tecnologias
exclusivas para organizações do mundo inteiro e sou grato por termos uma
excelente equipe, que está conosco desde a época em que meu avô
comandava tudo. Tivemos um crescimento assustador nos últimos cinco
anos, quando minha mãe fechou um contrato gigantesco com uma empresa
em Miami, mas eu, na verdade, só passei a trabalhar após completar a
maioridade. Meus pais não admitiram que fosse diferente, embora eu tenha
insistido muito.
No auge dos meus 15 anos, até tentei fazer algumas campanhas como
modelo, mas percebi que ali não era meu lugar, e sim do meu pai. Senhor
Bernardo ainda é chamado para alguns trabalhos. Porém, atualmente, ele faz
questão absoluta de cuidar apenas da administração dos nossos abrigos para
crianças carentes. Meu pai era morador de rua e, em quase 22 anos atuando
como modelo, posso dizer que ele tem o suficiente para manter bem até os
tataranetos. Mas, quem o conhece de verdade, não consegue acreditar em
todo poder aquisitivo que ele possui. Meu pai é exemplo de humildade e
bondade, assim como minha mãe. Eles são as pessoas mais simples e o casal
mais apaixonado que conheço; criaram eu e meus irmãos da mesma maneira,
com muita humildade e amor. Victória e Pietro, os gêmeos não idênticos da
família, são cópias perfeitas da minha mãe; já eu só puxei as covinhas e o
talento para o mundo dos negócios dela, o resto sou todo meu pai.
Chego no condomínio e estaciono o carro. Ao entrar no apartamento,
encontro meu pai.
— Oi filhão, como foi o dia?
— Cansativo, mas bem-sucedido. — Respondo, mesmo com seu olhar
reprovador estando tão óbvio.
— Você deveria tirar umas férias.
— Em breve, pai. Cadê a mamãe e os pirralhos?
— Sua mãe saiu do trabalho e foi direto buscá-los. Cheguei agora de
Campo Grande, fui dar uma conferida em como andam as coisas no lar.
— E está tudo sob controle?
— Sim. Deixaram uma bebê na porta ontem, acredita? — Ele me diz,
revoltado. Isso acontece com muita frequência, mas para nós ainda é bastante
inaceitável. Nunca vou entender porque tantas pessoas arrumam filhos se não
tem condições financeiras e psicológicas para isso. Existem muitos métodos
contraceptivos de graça, tanto para mulheres quanto para homens.
— Quantos meses você acha que ela tem? — Pergunto e, antes que
digam algo devido ao fato de eu dizer “você”, o tratamento senhor e senhora
é proibido aqui dentro de casa.
— No máximo três meses. A pediatra vai lá dar uma olhada e realizar
alguns exames amanhã.
— Beleza. Vou dar uma passada lá também. Vou tomar banho, pai.
— Tudo bem, filho. Está com fome? Dona Laura deixou torta de frango
pronta, se quiser esquento no micro-ondas para você.
— Hum, perfeito! Nunca podemos negar a torta de frango da dona
Laura. — Sorrio, seguindo para o banho. Tudo que mais quero é me livrar do
terno nesse momento.
Às vezes, me pego pensando se todas as pessoas possuem a sorte de
terem pais tão bons quanto os meus. Tenho sorte!
Horas mais tarde, estou envolvido na escuridão do meu quarto assistindo
filme quando minha mãe aparece carregando um pote de pipoca nas mãos.
— Ei.
— Oi dona Eliza, linda.
— Vim curtir meu bebê um pouco, fora daquele universo de trabalho.
— Diz, se enfiando debaixo das cobertas. Dona Eliza, sempre se cobrando
tanto! — Que filme está assistindo?
— Convergente, é uma série, esse é o terceiro filme. — Explico.
— Ah, já sei, aquela que tem um rapaz que chama três ou quatro?
— Exatamente! — Rio. — Ele se chama quatro.
— Não temos ficado muito tempo juntos sem ser na empresa, não é
mesmo, filho? Estou me sentindo uma mãe relapsa. Nem sei da sua vida
direito. — Sabia que era isso.
— Não tem nada de relapsa mãe, você é perfeita. — Digo, porque
realmente ela é. Não sei como ela dá conta de ter tantas atribuições e ainda
cuidar da nossa família tão bem. Ela é como uma mulher maravilha e meu pai
o super-homem. Eles são incansáveis.
— Sabe, queria que você aproveitasse mais sua idade, fosse menos
centrado, filho. Não acho justo ter essa rotina atribulada tão jovem. Também
comecei no mundo dos negócios cedo, eu era como você, sabe, desde
pequena ficava na empresa com meu pai, até que ele morreu e eu não tive
escolha a não ser tomar frente de tudo. Não é seu caso, eu estou viva e seu pai
também, você deveria sair, viajar...
— Mãe, você e meu pai precisam parar com essa preocupação excessiva
comigo. Estou onde quero estar, sabe? Eu amo isso mãe. Eu tenho amigos, de
vez em quando saímos, mas não me imagino vivendo a vida que eles vivem.
Eu sou feliz como sou.
— Mas Bê, você não tem nem uma namorada, meu filho.
– Não tenho, não quero isso para mim agora. Não quero nada sério, sou
jovem, quero me dedicar à empresa e construir minha independência.
– Está vendo, maduro demais! – Ela adverte e eu sorrio. – Você não tem
nem uma "ficante" como vocês falam?! Você é virgem filho? – Ela pergunta
rápido demais, se embolando nas palavras. Nunca conversamos sobre isso
antes.
– Não mãe, não sou virgem desde os 16 anos. E sempre fico com
algumas garotas. – Minto. Fico com mulheres pouco mais novas que ela,
talvez da sua idade. Isso não seria interessante para ela descobrir agora.
– 16 anossssssss????????????? Como assim Bernardo? Seu pai sabe
disso? – Pergunta, chocada.
– Sabe, mãe. Pietro também não é mais virgem. – Informo.
– Pietrooo?????? Oh meu Deus!!!! – Ela se levanta e sai do quarto. Fico
rindo, até que ela volta com meu pai. – Por que você não me contou que
nossos filhos não são mais virgens desde os 16 anos da idade? – Questiona, e
meu pai segura o riso.
– Liz, minha princesa, isso são coisas de homens. Eles se sentiram à
vontade dessa maneira, contando apenas para mim. – Ele explica
pacientemente e Pietro entra no quarto.
– O que houve? Reunião de família?
– Meu bebê, você já transou! – Ela diz e o abraça, que fica sem entender
nada.
– Liz, é a lei da vida, meu amor. Bernardo já tem 20 anos.
– O que quer dizer que tem quatro anos que ele transa! – Ela diz
agarrada a Pietro.
– Mãe, eu te amo, mas você está me sufocando.
– Minha Vic. Já levei ela ao ginecologista, mas virgindade nunca foi
pauta. Preciso saber se ela também já não é mais virgem! Oh meu Deus!!!
Não sei lidar com isso. – Ela sai do quarto desesperada, e nós três ficamos.
– Ela vai ficar muito decepcionada se souber que já tive essa conversa
com Victória? – Papai pergunta, e eu e Pietro arregalamos os olhos.
– Vic não é mais virgem? – Perguntamos, juntos.
– Ela é, graças a Deus! Porra, graças a Deus mesmo! – Ele solta um
suspiro e rimos. – Eu só tive essa conversa com ela porque sua mãe ainda
acha que vocês são crianças, que não terão relações tão cedo.
– Espero que Victória continue sendo a criança que mamãe pensa. –
Digo. Ter irmã é foda! Vic se tornou uma menina mulher linda. Ainda é
difícil lidar com o fato de que ela já beija e que futuramente estarão fazendo
com ela o que eu faço com as irmãs dos outros. É um inferno isso!
– Bernardooooo! – O grito da mamãe atrai nossa atenção. Eu me levanto
e nós três vamos tentar acalmar dona Eliza! Que Deus nos proteja!
BEATRIZ

Estou em outro planeta, me libertando de um sono profundo. Tento abrir


os olhos, mas não consigo, algo me puxa para um lugar onde só há escuridão.
Um choro atrai todos os meus sentidos. Ouço algumas vozes, porém, o choro
sobressai. Será que eu morri?
Vou lutando contra mim mesma na busca incansável de tentar me situar.
Alguns longos minutos vão passando sem que eu consiga obter sucesso. Uma
voz doce...
– Calma, minha filha, jovens fazem isso. – De repente, meu coração e
minha mente parecem ganhar vida. É a voz da minha avó. Tudo se torna real
demais novamente, principalmente após entender que o choro é da minha
mãe.
Maldição, por que não consigo abrir os olhos???? Onde estou??? Eu
nunca vi minha mãe chorar em toda minha existência!!! Isso é desesperador!
– Eu falhei, mãe. Eu definitivamente sou uma péssima mãe! – Ela chora
entre as palavras.
– Mariana, não pode se culpar pelo erro dos seus filhos. Nunca! Você e
Arthur criaram essas crianças em berço de ouro, sempre pensaram no melhor
para eles.
– Não bastou. Talvez eu tenha sido legal demais, boazinha demais. O
que Arthur vai pensar de mim agora, mãe? Meu casamento vai ruir pela
primeira vez. – Ela chora. –Minha menina poderia ter...
– Não. Não diga isso. – Vovó diz, e ouço uma batida na porta, e em
seguida a voz do meu irmão, irritante...
– Mãe, tipo, não querendo te desesperar, mas já desesperando...
– Fala logo, Matheus!
– Papai chegou mais cedo da viagem e eu tive que falar que estamos no
hospital. Ele está vindo. – Nesse momento, tiro forças não sei de onde e abro
meus olhos a tempo de ver minha mãe se jogando no chão de joelhos e
agarrando as pernas da minha vó.
– Mãe, ele vai ficar tão decepcionado comigo. – Ela chora, e Matheus a
pega pelos braços.
– Mãe, você não tem culpa das merdas que Beatriz faz não. Papai não é
louco de culpá-la.
– Mãe. – Tento chamá-la. – Mãeee.
– Oh meu Deus, você acordou! – Ela corre até a cama. – Porra, eu vou
matar você, Beatriz. – Ela passa a mão pelo meu cabelo. – Mentira, não vou.
– O que houve?
– O que houve? Se prepara, papai vai arrancar seu couro pela primeira
vez na vida! –Matheus diz, sério.
– Vá para o inferno pirralho! – Respondo, e ele ri. Cara, eu e Matheus
temos uma relação de amor e ódio. Temos 1 ano de diferença e ele já comeu
metade de Belo Horizonte e região, incluindo algumas amigas minhas. Já eu,
por incrível que pareça, sou virgem. Já fiquei com muitos caras, já sarrei, mas
nunca consegui ir até o final. O assunto sexo nunca foi um tabu na nossa
casa. Mamãe e papai sempre trataram isso com muita naturalidade e sempre
conversaram com a gente sobre. Talvez seja por isso que ainda sou virgem,
devido a liberdade que eles nos dão. Acho que tem algo relacionado a
psicologia reversa, mas só fez efeito comigo.
Todas as minhas amigas invejam minha mãe. Ela é a conselheira de
todas nós. Uma mãe completamente divertida e desprovida de tabus. Parece
adolescente às vezes, toda cheia de vida, e coloca meu pai de cabelos em pé
sempre que possível. Além de tudo, ela é destruidora. Tem um corpo que eu
jamais terei e uma beleza sem igual. Minha mãe é uma gata!
Eu tenho a família perfeita, mas hoje, pela primeira vez, estou com
medo de ter desestruturado um pouco isso.
– Não fale assim com seu irmão! Do que você se lembra, filha? Você
precisa me contar, Bia.
– A última lembrança que tenho é de chegar na festinha na casa do Caio.
Depois disso, não me lembro de mais nada.
– Claro. Esse moleque te drogou com boa noite Cinderela, filha. Você
poderia ter sido estuprada se sua amiga Carol não tivesse se importado com
seu sumiço. – Diz, chorando e me agarrando.
Eu poderia ter sido estuprada. Merda. Caio.
– Esteja preparada, papai vai adiantar a mudança depois disso. –
Matheus diz, e minha vó puxa a orelha dele.
Há pouco mais de um mês, papai jogou a bomba em cima de mim ao
anunciar que nos mudaríamos para o Rio de Janeiro logo após o réveillon.
Todos ficaram imensamente felizes, menos eu! Eu amo o Rio, temos uma
casa em Ilha Grande e sempre que dá estamos todos lá, mas mudar nunca
esteve nos meus planos. E, para completar, papai vai tentar levar toda a
família, isso só pode terminar em muita confusão!
A porta se abre e minha mãe aperta minha mão, fechando os olhos.
Segundos depois, olhos azuis, completamente sem brilho, me encaram.
Tenho raiva até hoje por meus olhos terem mudado de cor quando completei
dois anos. Meu pai tem os olhos mais lindos que já vi, pena que estão
completamente sem vida agora.
– Onde o garoto mora?
– Pai...
– Onde o garoto mora, Beatriz? Você sabe onde é, Mari? – Ele vira o
olhar para minha mãe.
– Eu a levei. Quem te contou? – Mamãe pergunta, abrindo os olhos.
– O médico. O garoto é maior de idade? – Papai olha para mim e
pergunta.
– Sim.
– Excelente. Ele vai aprender a se responsabilizar pelos atos. Mari, você
vai para casa descansar com Matheus e sua mãe. Nós estamos mudando em
dois dias. – Diz Arthur, deixando minha mãe boquiaberta, mas ela não se
opõe. Em seguida, se vira para mim. – E você está de castigo para aprender a
não se envolver com esse tipo de gente e colocar sua vida em risco.
– Pa....
– Não quero ouvir, Beatriz. Olha o estado que sua mãe está! Eu sempre
pedi a você para nunca a decepcionar.
É verdade, desde que eu era pequena ele sempre dizia "nunca
decepcione sua mãe". Neste momento, sem saber, ele acabou de dar uma
facada no meu peito. Ela está arrasada como nunca vi.
– Você não está cansado? – Mamãe pergunta quando ele a abraça.
– Não se preocupe com isso, minha maluquinha. Quero que você
descanse. Amanhã Beatriz terá alta logo cedo.
– Eu te amo, me desculpe por falhar como mãe.
– Mariana, quem disse que você falhou? Você é perfeita. Nós sempre
fizemos tudo pelos nossos filhos. Eles estudam nos melhores colégios, têm
sempre as melhores coisas. Nós não podemos nos culpar por cada erro que
cometerem. – Ele diz, soltando um suspiro. É visível que está tão arrasado
quanto ela e está se esforçando para manter o controle da situação.

Minutos depois, após muito choro ao se despedir, mamãe deixa o quarto


junto com Matheus e vovó. Escolho dormir para não ter que encarar meu pai
nesse momento...
BEATRIZ

Quando acordo, mais uma vez demoro a entender onde estou e o que
aconteceu. Não tenho noção de horário ou de qualquer outra coisa. Levanto
minha cabeça o máximo que consigo e vejo meu pai com os cotovelos no
joelho e apoiando a cabeça com as mãos, olhando para baixo. Isso me traz de
volta a realidade e a culpa começa a me invadir. A dimensão do ocorrido
supera qualquer merda que eu já tenha feito antes. Nenhuma delas chega na
sombra do risco que corri ontem ou hoje, nem sei se ainda é hoje ou já
amanhã... estou confusa demais.
Eu gostaria de arrancar o soro e a sonda que me impedem de ir até ele.
Queria abraçá-lo e dizer o quão arrependida estou, mas, na verdade, estou me
perguntando até onde eu sou realmente culpada do que ocorreu? Qual culpa
eu tenho de ter sido dopada? Jamais direi isso a eles, é óbvio, não quero ouvir
que escolho mal minhas companhias ou que mudei muito após começar a
andar com certa turminha. Pior é saber que eles estão cobertos de razão, e
minha mãe alertou muito antes de me deixar na festa, parecia que ela já sabia
que ia dar merda.
Minha mãe é incrível em diversas maneiras inexplicáveis. Ela tem uma
ligação muito forte comigo e com meu irmão, parece que ela sente tudo o que
nós dois sentimos, chega a ser assustador.
– Como está se sentindo? – Sou desperta dos meus pensamentos pelo
meu pai em pé, ao lado da cama. Ele está com a aparência de exausto.
– Melhor do que mereço. – Respondo, segurando sua mão, e ele solta
um longo suspiro.
– Ainda bem que foi só um susto, eu odeio pensar no que poderia ter
acontecido, filha. Nunca mais quero passar por um susto desses.
– Pai, me desculpa. – Digo, com lágrimas nos olhos. – Me desculpa de
verdade. É horrível ver a dor que eu causei no senhor e na mamãe. Pai, eu
nunca mais quero vê-los destruídos como hoje.
– Sabe Bia, eu já tive sua idade. Você e seu irmão estão na fase de se
autoconhecerem, numa fase de transição. Eu e sua mãe não somos tolos de
imaginar que vocês dois não vão aprontar. Mas você precisa estabelecer um
limite, filha, um limite seu. Ok, estou nervoso e está ficando confuso isso
aqui. – Ele ri, respira fundo e volta a falar. – Você precisa ter consciência de
até onde pode ir, até onde aguenta ir e, principalmente, conhecimento do que
é certo e errado. Tem que aprender a ver maldade nas pessoas Beatriz, não
pode se deixar levar por um rostinho bonito. Eu sei que aí bem no fundo você
sabe o que ia te acontecer.
– Sei... mas eu nunca...
– Eu sei que você é virgem. – Ele diz, e suas bochechas se enrubescem.
Volta a soltar um longo suspiro e continua. – Beatriz, como eu já disse, já
tive sua idade. Os hormônios estão a flor da pele. Eu acho quase um milagre
você ser virgem nos dias atuais, onde os adolescentes estão cada dia mais
sem limites, descontrolados. Isso só me prova mais que sua mãe é foda, ela
sabia o que estava fazendo quando decidiu incluir o sexo na educação de
vocês. – Diz, com os olhos brilhando de orgulho e admiração, é lindo de ver.
– Me responda, vamos supor que o pior tivesse acontecido hoje, você estaria
feliz? É essa a lembrança que você gostaria de levar de um momento tão
importante?
– Não, pai.
– Então. É disso que estou falando, saiba até onde deve ir, desconfie das
pessoas, não caia na lábia de qualquer um, Bia, porque rostinho bonito muitos
têm, mas caráter é para poucos. Você cresceu, virou uma linda mulher, vive
rodeada de garotos, mas não é por isso que você tem que sair fazendo
besteiras. Pense bem, esteja certa quando resolver se entregar a alguém. A
primeira vez pode ser traumática se não for feita com confiança e respeito,
filha. Você tem um exemplo dentro de casa, seu irmão. – Ele ri e balança a
cabeça; meu irmão é um verdadeiro moleque piranha. – Garotos tendem a
pensar com a cabeça de baixo, para eles é bacana, para mim era bacana, mas
eu tenho certeza que para as garotas não é. Imagina, dorme com um cara hoje
e amanhã ele passa do seu lado com outra?
– Entendi pai, eu entendi. – Corto-o. Ele, como sempre, me deixa no
chão com suas palavras tão certeiras.
– Agora será que conseguiríamos fugir daqui? Você já está realmente
boa? – Diz, me surpreendendo.
– Estou.
– Então vou chamar a enfermeira e ver se conseguimos uma alta durante
a madrugada mesmo. É horrível ficar aqui.
– Pai. – Chamo-o, e ele desacelera um pouco.
– Oi.
– Eu amo você, me desculpe. – Digo, e ele engole seco, emocionado.
BERNARDO

TRÊS DIAS DEPOIS

Acordo com um barulho horrível que não sei de onde pode estar vindo.
Isso não é nada bom para começar uma segunda-feira. Tento dormir
novamente, em vão. O maldito barulho quase me faz cair da cama de susto.
Esfrego os olhos e me levanto, abro a cortina e observo a vista da lagoa,
e isso traz de volta minha paciência após respirar fundo três vezes. Vou até o
banheiro e faço minha higiene matinal. Sigo para a cozinha e meus pais já
estão na mesa, tomando café da manhã com os pirralhos.
– Bom dia.
– Bom dia, filho. – Meus pais dizem.
– De onde vem esse barulho? – Pergunto.
– Vizinhos novos. – Pietro responde, e o desânimo me toma. São apenas
dois apartamentos na cobertura, e o outro apartamento sempre esteve
fechado, então nunca tivemos que conviver com vizinhos barulhentos.
– Que maravilha, ganhei o dia com essa notícia. – Respondo.
– Xi, alguém acordou mal-humorado hoje. – Mamãe diz, e eu sorrio.
Tomamos nosso café conversando sobre assuntos diversos, como
fazemos todos os dias e, em seguida, vou me arrumar para ir à empresa,
enquanto meu pai sai para levar os pirralhos para a aula.
Minha mãe aparece na porta do quarto.
– Filho, vou tirar um dia para mim hoje, não irei à empresa.
– Tudo bem, dona Eliza, vai ficar ainda mais linda para o senhor
Bernardo?
– A gente faz o que pode, filho. – Ela ri. – Por favor, prometa que vai
pensar no que eu te disse?
– Prometo mãe, mas já vou avisando, não está nos meus planos agora.
– Você precisa tirar umas férias, Bê. – Suspira, desanimada.
– Eu estou ótimo mãe, cheio de saúde, vitalidade e criatividade. Acho
que você e o papai que deveriam fazer uma lua de mel, renovar os votos, ir
para aquele lugar que você sempre fala da lua de mel. – Digo, e ela parece
estar analisando a ideia, tanto que sai do quarto sem se despedir.
Antes mesmo de entrar no elevador, pego um casal, provavelmente
meus vizinhos do lado, se beijando. Hoje é meu dia!
– Desculpe. – O homem diz, sem graça.
– Sem problemas. – Tento fazer a política da boa vizinhança, mas me
surpreendo ao observar a mulher. Uau!
– Somos os novos moradores. Devo presumir que você será nosso
vizinho?
– Exatamente.
– Olha, Beatriz e Matheus podem ser amigos dele. – Ela diz, sorridente,
com uma alegria que chega quase a contagiar o ambiente, e eu só fico
pensando quem diabos é Beatriz e Matheus. – Prazer, me chamo Mariana e
meu marido se chama Arthur.
– Prazer, sou Bernardo. Se precisarem de qualquer coisa, não hesitem
em nos chamar. Estou indo trabalhar, mas já já dona Laura chega e minha
mãe ainda está em casa. –Digo, apressado.
– Desculpe, qual sua idade? – Ela pergunta, e vejo Arthur
desconfortável.
– 20 anos.
– Que lindo, minha filha precisa de amizades assim. – Ela diz sem nem
me conhecer direito e sorrio, sem graça.
– Bom, preciso mesmo ir. – Informo e eles se afastam do elevador, me
dando passagem. – Bom dia.
– Bom dia. – Eles respondem, educados. Sigo para o carro meio
desconcertado e com uma pitada de curiosidade para saber se a filha dela é
tão gata como a mãe.
Enfim, estamos em solo carioca.
Foi difícil ter que aceitar a mudança, afinal vivi 18 anos da minha vida
em Belo Horizonte, mas ao entrar no nosso novo condomínio, já recebi vários
incentivos e provações de que não será tão mal quanto eu estava imaginando.
É um condomínio com vários prédios, cercado por uma enorme lagoa,
parques e, o mais incrível, tem um mini shopping onde há várias lojinhas,
mercado, restaurantes e cursinhos. Totalmente diferente de tudo que já vi.
Fora os homens lindos correndo sem camisa pelos parques. Isso sim foi o
grande ponto alto, o que faltava de incentivo nessa nova etapa.
Matheus parece estar no paraíso. Gostaria de saber o que se passa na
cabeça dele às vezes. O menino parece viver num universo voltado
exclusivamente para o sexo onde só se pode ver bocetas espalhadas por todos
os lados. Não entendo, nunca irei entender. Pior que meu pai acha isso lindo,
tem orgulho do filho comedor, e minha mãe fica encantada cada vez que
Matheus diz que o enorme estoque de camisinhas acabou (sinal de que pelo
menos um pouco de juízo ele possui). Cara, isso é insano, insano do tipo
Deus perdoa e Matheus não.
O enorme apartamento, um tanto quanto exagerado, que meu pai
comprou já estava completamente mobiliado. Então, a única coisa que me
restou fazer foi guardar as roupas no closet.
Assim que possível, terei que arrumar um lugar para comprar objetos
que façam eu me sentir realmente no meu quarto. O mais incrível dele é a
vista para uma enorme lagoa e a varanda privativa, que tem em todos os
quartos, mas que no meu me fez realmente feliz. Talvez uma rede caia bem...
nem posso acreditar que estou pensando em rede sendo que minha agitação
não combina nada com isso. Talvez seja melhor uma mesinha com uma
poltrona que dê perfeitamente para eu tomar algo alcoólico observando a
paisagem.
A porta do quarto se abre num estrondo e eu nem preciso olhar para
saber quem é.
– Porra Matheus, eu poderia estar pelada!
– Aí, já entrou no grupo do condomínio? – Ele diz, se jogando na cama.
– Que grupo? – Pergunto, intrigada, e me jogo ao lado dele.
– Tem um grupo principal no Facebook, de todos os moradores do
condomínio, e a parte jovem criou um grupo no zap, maneiríssimo. – Diz,
me mostrando o celular.
– Ok, me adiciona lá.
– O que eu ganho com isso?
– Para de show, me adiciona nessa merda.
– Cara, a questão é o seguinte, vamos ter que nos unir, maninha. –
Anuncia sério e levanta acelerado, em seguida volta a sentar. Completamente
louco.
– Nos unir? Que merda você está pensando, Matheus?
– Tipo, eu não conheço ninguém aqui e você também não. Estamos no
Rio de Janeiro e nossos pais vão querer nos regular em tudo, esse é o
momento para nos unirmos, nos acobertarmos. Sem contar que agora você já
pode tirar habilitação.
– Acho que estou entendendo. – Digo, e me vejo servindo de taxista
muito em breve.
– Você vai precisar de mim e eu de você, maninha. Pode trocar de
roupa.
– Trocar de roupa para que?
– Vamos sair para correr no parque e ver se fazemos alguma amizade.
– Você não entrou nesse tal grupo? – Questiono.
– Entrei, mas ainda é sem graça.
– Cara, são cinco horas da tarde, acabamos de nos mudar, qual a
necessidade de fazermos amigos hoje?
– Necessidades fisiológicas, agora anda logo. Te dou dez minutos. –
Viu? Ele só pensa em foder!
– Ei, só uma perguntinha... – Digo, e ele para no meio do caminho. –
Não consegue ficar uns dias com o pau dentro das calças?
– Um dia sem agilizar uma futura foda é um dia perdido, querida irmã,
agora agiliza. –Diz, me deixando boquiaberta.
É, eu tenho um belo exemplo de filhadaputagem em casa, meu querido
irmão. Minha dica é: nunca se envolvam com ele, o chifre é certo. E o medo
de todos serem como ele também é bem certo em mim. Isso influenciou
significativamente no fato de eu ainda não ter liberado a pepeca, mas aos 18
anos de idade, sinto que está na hora de conhecer o lado negro da força.
Me troco e, em poucos minutos, estamos no elevador. Obviamente que
estou com meus enormes fones de ouvido escutando minha maravilhosa
seleção de músicas, porque ficar ouvindo as merdas do Matheus já é demais
para minha sanidade. Minha mãe surge do além e coloca a mão, impedindo o
fechamento da porta.
– Ei, onde os senhores vão?
– Vamos correr, mãe. – Respondo.
– Vocês dois vão correr? Juntos? – Ela pergunta, arqueando a
sobrancelha.
– Sim. Por que? – Digo.
– Devo me preocupar ou me preparar para alguma merda de grande
dimensão?
– Não, que isso, só vamos correr. – Matheus diz como um anjinho, e
minha mãe sorri.
– Tudo bem. Juízo. – Ela retira a mão e a porta se fecha.
O galã de meia tigela concentra-se única e exclusivamente em seduzir as
mulheres que passam com seu tanquinho e seu v que deixa muito para a
imaginação. Infelizmente, meu irmão herdou a beleza do meu pai e a
seduzência da minha mãe, chega a ser ridículo o tanto de mulheres que
pagam pau para ele. É um novinho sagaz esse garoto.
Tiro meu foco dele e começo a observar os descamisados, afinal,
também sou filha de Deus. Fico brincando de contar gominhos por todo o
caminho, até um cara pegar no pau e balançar por cima da bermuda, que
horror! Será que ele pensou que eu estava olhando para suas partes baixas
cobertas pelo seu short preto da Nike? Não se faz mais homens decentes
nesse mundo. Penso e me repreendo, afinal, o que eu sei sobre homens?
Muito pouco. Sou Ph.D. em moleques piranhas, novinhos como eu, esses eu
domino em alguns aspectos.
Meu celular começa a vibrar constantemente e logo vejo o motivo.
Matheus acabou de me adicionar no grupo do condomínio. Não sei como ele
conseguiu essa proeza em meio a corrida.
Quando não aguento mais correr, coloco minhas mãos sobre os joelhos e
tento buscar ar. Mesmo com os fones de ouvido, consigo ouvir os
xingamentos do meu querido irmão e eu trato logo de mandá-lo para um
lugar nada agradável com um sinal de dedo.
Com a visão turva de tanto cansaço, começo a andar novamente, mas
agora rumo a casa. Foda-se, não nasci para ser fitness, ainda bem que sou
magra de nascença, graçasaDeusamém!
– Cara, não dá, você é péssima. – Matheus diz, arrancando meus fones.
– Estamos a quarenta minutos correndo para você ficar se exibindo,
cansei caramba. Preciso de um banho na mesma proporção que você precisa
de xanas. Se quiser ficar, fique, eu fui! – Digo e saio andando; ele, marrento,
fica.
Torno a colocar meus fones e uma música que amo começa a tocar.
Chego no prédio no piloto automático, entro no elevador, fecho os olhos e
concentro na música até um ser humano puxar meus fones; sem pensar duas
vezes, dou um belo chute no saco de Matheus. Bom, pelo menos eu achava
que era Matheus, e tudo que eu quero nesse momento é morrer, porque o
serumaninho de terno, gemendo de dor com as mãos nas partes íntimas, não
tem absolutamente nada a ver com meu irmão.
– Puta que pariu, caralho! – Digo, e coloco as mãos sob a boca em pleno
estado de choque.
MATHEUS

Cariocas são gostosas.


Obviamente sentirei saudade das minhas mineiras, principalmente as
que comem quieto porque sabem que só assim poderão repetir a dose.
Nunca esteve em meus planos abandonar a capital mineira. Sou mineiro
de corpo, alma e coração. Eu amo e respiro Minas Gerais. Mas tendo em vista
minha menor idade e minha incapacidade de independência, tive que sair do
meu habitat natural. Óbvio que demonstrei boa vontade e total tolerância com
as escolhas deles, afinal meus pais são os melhores. Devo a eles minha vida,
minha existência, minha educação e principalmente a vida maravilhosa que
proporcionam a mim, à minha irmã e a Jé.
Mas, como diz "O Rappa", navegar é preciso senão a rotina de cansa. E
é por isso que, já que estou aqui, preciso começar a navegar e dar uma fugida
da rotina.
Em minha corrida, tanto estou distribuindo olhares, quanto recebendo.
Muitos até bastante abusados, gosto disso. Mulheres gostam de um tanquinho
e um pau generoso que marca a bermuda, a maioria parece se importar com o
tamanho, isso é tanto engraçado quanto curioso.
Sobre elas, prefiro as ousadas às tímidas. Embora as tímidas se tornem
devassas entre quatro paredes, prefiro a facilidade com que as ousadas se
entregam, levando em conta que, com elas, você não precisa perder muito
tempo na arte da conquista. É simplesmente chegar, jogar um charme, pegar e
ponto final. Usar e ser usado, melhor coisa da vida. Sempre deixo claro, é
apenas uma ficada, nada além disso. E, felizmente, graças a modernidade,
todas aceitam. Há uma ou outra que vira um calo no pé, mas esquecem
quando vê que não tem jeito e que eu realmente sou um puto!
Uma loirinha passa batendo em meu braço propositalmente e eu começo
a persegui-la. Ela é bem gostosa, estilo mulher "cavala", bunduda, peitos
maneiros, gostosa.
Quando ela cansa de correr, paramos, e ela ri.
– Você tem disposição. – Diz.
– Muita. Qual seu nome? – Questiono, observando-a cuidadosamente.
– Lívia, e o seu?
– Matheus.
– Você é novo no condomínio? – Questiona.
– Sim. Você pelo visto não. – Sorrio, e ela suspira.
– Você é... uau!
– Que tal você me levar para conhecer a trilha que há aqui no
condomínio? Sou novo, não conheço nada, estou completamente perdido e
deslocado. – Proponho, fingindo uma cena melodramática. De quebra, ganho
um sorriso bastante tentador.
Eu conheço a trilha e ela conhece cada centímetro do meu pau.
E, antes que pergunte, eu sou um puto, mas um puto consciente. Ando
com preservativo até dentro de casa, porque nunca se sabe o que pode
acontecer...
Ao chegar no prédio e entrar no elevador, ouço uma garota gritando para
eu esperá-la e, então, coloco meu braço para evitar que a porta se feche. A
garota entra apressada e só depois consigo olhar para o rosto dela. E quando
eu olho...
Não sei que porra acontece.
– Sardinhas... – Digo, do nada, e ela me encara com um olhar tão
penetrante que me deixa sem graça. Porra. Matheus Albuquerque sem graça...
– Sardinhas bonitinhas. –Digo novamente, mas dessa vez levo minha mão em
seu rosto e passo o polegar em suas sardinhas. Ela é tão fodidamente linda,
naturalmente perfeita. Possui cabelos castanhos claros e essas sardinhas são
completamente perfeitas em seu rosto.
– Você está indo para a cobertura? – Pergunta, com as bochechas
coradas, e eu volto ao meu estado normal, retirando a mão de seu rosto.
– Desculpe. Sim, eu vou.
– Somos vizinhos. – Ela sorri, e eu fico mais uma vez hipnotizado. –
Moro na porta de frente para o seu apartamento, do outro lado do corredor. –
Explica. – Me chamo Victória, e você?
– Vizinha.
– Você está bêbado? – Pergunta, de um jeito engraçado.
– Talvez.
– Qual seu nome?
– Matheus. Matheus Albuquerque. – Informo.
– Victória, Victória Brandão. – Diz, dando uma risada.
– Vic.
– Theus.
– Isso. – Sorrio, e é a vez dela ficar séria.
– Você tem covinhas.
– E você sardinhas. – Porra, que patético eu estou sendo.
– Bom, até mais Matheus. – Diz, ao chegarmos em nosso andar.
– Até mais, sardinhas bonitinhas.
BEATRIZ

O ser humano engravatado enfim consegue voltar ao seu estado normal,


e eu permaneço estática, aguardando o momento em que ele vai arrancar
minha cabeça fora.
Quando consigo visualizar seu rosto, o choque aumenta, aumenta com
força, porra, aumenta demais da conta. O engravatado é novo, novo do tipo
novinho sagaz, e ainda que seu rosto esteja completamente vermelho pela
dor, sua beleza é bastante notável. Ele é um espetáculo daqueles que dá
vontade de ficar sentada só admirando, por horas, sem intervalos. Tão gato
que eu sinto uma enorme vontade de rir de tudo isso, na verdade quero muito
rir, mas se eu fizer isso creio que a situação ficará ainda pior. Então, retiro
minhas mãos da boca, respiro fundo e tomo coragem para falar. Alguém tem
que tomar uma atitude, e tendo em vista que acabei com seu órgão genital,
sou eu quem devo quebrar o silêncio.
– Me desculpe, por favor. Eu achei que era meu irmão quando retirou
meu fone. Há algo que eu possa fazer por você? – Digo, com a voz mais doce
e fingida que consigo, e vejo seu pomo de adão subir e descer sucessivas
vezes enquanto ele permanece em silêncio, me encarando. – Por favor, diga
alguma coisa, não fiz por querer. – Imploro e ele, enfim, consegue pegar uma
longa respiração antes de dizer:
– Eu só queria perguntar qual seu andar, já que estava dentro do
elevador parada e não tinha botão nenhum aceso, porém, o som estava tão
alto que eu conseguia ouvir perfeitamente a música. – Suspira forte, com as
mãos em sua genitália ainda. Não consigo desviar o olhar da sua parte baixa
até que ele fala novamente. Me recomponho, fixando meu olhar apenas em
seu rosto angelical. Ele é lindo! – Só não esperava correr o risco de ficar
estéril. – Responde, desconcertado e sério demais.
– Décimo quarto. – Respondo automaticamente, enquanto brigo comigo
mesma por ser tão retardada.
– O que? – Pergunta, assustado.
– Décimo quarto andar.
– Não! – Diz mais para ele do que para mim mesma, e me sinto
ofendida.
– Não por quê? É onde moro, tem alguma coisa contra? – Meu lado
barraqueira dá as caras e cruzo os braços, encarando-o.
– Sério? Que maldição é essa! – Exclama, e eu mantenho minha postura
de revoltada, até ele dizer algo que me dá uma descarga de energia. – Quer
dizer, você é minha nova vizinha. – MEN-TI-RA, grito comigo mesma por
dentro.
– Nossa senhoraaaaaa! – Não consigo me conter ao dizer e ele ajeita sua
postura, ficando ereto, no bom sentido, é claro.
– Olha, você é apenas uma garotinha, vamos relevar isso já que seremos
vizinhos. Me chamo Bernardo, e você? – Pergunta, apressado, e eu fico muito
prostituta da vida por ele me chamar de garotinha. Decido ser educada e rezo
em pensamento para que ele frequente bem a cobertura do apartamento dele
que tem um pouco de visão para a minha. Assim ele verá quem é garotinha.
– Beatriz. – Digo, fingindo ser uma boa "garotinha", e ele estende a mão
para um cumprimento.
– Prazer, Beatriz. Espero não sofrer mais nenhum tipo de agressão. – Ele
sorri, e eu fico boquiaberta com seu sorriso cheio de dentes. Lógico Beatriz,
ele não é a porra de um banguelo. Mas o sorriso dele é perfeito, dentes
alinhados e brancos e uau...
– Satisfação garantida, com certeza. – Penso alto e ele me encara de um
jeito aterrorizante de tão sério. – Desculpe, é um prazer, Bernardo. – Digo,
constrangida. Ele se cala, mas minha curiosidade grita e não me contenho em
perguntar: – cara, só uma dúvida, qual sua idade? – Pergunto, sem vergonha
alguma.
– Cara? – Ele pergunta e sacode a cabeça. – Tenho 20 anos. – Responde
secamente e sorrio. Como pode me chamar de garotinha quando temos
apenas dois anos de diferença? Pelo terno talvez ele seja um velho/jovem
desprovido de um pouco de diversão.
– Sério? Talvez eu não seja tão garotinha quanto disse. Tenho apenas
dois anos a menos que o senhor. – Ele me olha incrédulo, me analisando de
cima a baixo.
– Parece ter 14. – Informa quando o elevador chega ao nosso andar, e
nem me dá tempo de mandá-lo para algum lugar nada agradável e educado.
Grande idiota. – Adeus, vizinha. – Diz, antes de entrar em seu apartamento
com um sorrisinho e eu, sem ação, vejo a porta do elevador se fechar, e volto
ao subsolo morrendo de raiva.
BERNARDO

Tomar banho frio foi bastante reconfortante depois de quase ter tido
minhas bolas arrancadas por uma garota inconsequente. Sim, não preciso
conhecê-la para dizer algo que já é visível, ela é inconsequente. Quem em sã
consciência sai batendo nas pessoas gratuitamente?
"Talvez eu não seja tão garotinha quanto disse". Ok, fisicamente ela não
se parece como uma garotinha, mas com o pouco que vi, tenho certeza de que
não errei ao dizer que ela é uma garotinha. Tudo bem, garotinhas não têm
bunda e pernas bem torneadas ou seios devidamente esculpidos, mas porra,
ela é a maldita de uma garotinha e, mesmo com aquele olhar que entrega uma
cabecinha um tanto quanto perversa, ela não faz meu estilo; mulheres mais
velhas fazem. Mulheres que não esperam um eu te amo, um SMS, flores,
bombons. E não, eu não sou traumatizado ou coisa parecida, apenas tenho
outros objetivos na vida que não envolvem me amarrar a alguém, sou
bastante jovem ainda para compromissos.
Saio do banho com o corpo mais frio, mas a mente ainda está um
turbilhão, e sei bem o porquê. Pela primeira vez, estarei perdendo um pouco
da minha privacidade, pela primeira vez o andar deixou de ser apenas meu e
da minha família, para ser divido com vizinhos que possuem uma filha
desconcertante.
Deito na minha cama em busca do descanso dos justos e me distraio ao
ver centenas de mensagens no grupo do condomínio. Nem sei porque estou
nisso, mas meus amigos insistiram muito. Vou tentando ler as mensagens
passadas até que começo a entender o motivo do alvoroço. ELA. A tal da
Beatriz está a todo vapor fazendo amizades e um tal de Matheus também. De
repente, a curiosidade fala mais alto e eu me vejo dando um oi para o grupo.
"Fala meu amigo, resolveu dar o ar da graça? " – Pedro, um dos meus
amigos, diz.
– "Sim, de vez em quando é bom aparecer. "
"Bê, você vai na festa a fantasia amanhã, não é? Diz que sim. " – Diz
Bianca, uma outra amiga do condomínio. Eu mal me lembrava dessa festa e,
sinceramente, a vontade de ir é zero, mas me lembro que prometi após ter
fugido de três festas.
"Vou." – Respondo, e vejo Pedro me chamar no privado.
Dezenas de mensagens explodem na tela do celular, mas de repente uma
outra janela se abre, e é um convite irrecusável do meu pai para irmos jantar
fora em família. Eles sempre serão minha prioridade.
BEATRIZ

Meu irmão é um gênio da lâmpada. A melhor coisa que ele fez foi me
colocar nesse grupo, já consegui várias amizades desde ontem e agora me
encontro na frente do espelho dando o retoque final na minha fantasia
escolhida com um único propósito: mostrar àquele idiota quem é garotinha, já
que o mesmo confirmou presença na festa. Só me estranha o alvoroço que
causou sua confirmação e, de certa forma, acabei descobrindo um pouco mais
dele. Ele não curte festas, definitivamente. Em que mundo vive?
A porta do quarto é aberta da maneira que só meu irmãozinho faz, mas
dessa vez decido não reclamar, principalmente ao analisar a fantasia dele, se é
que posso chamar disso.
– Traduza sua fantasia, por gentileza. – Peço gentilmente.
– Você vai de burca? – Ele pergunta, chocado.
– Lógico... que não! Mas mamãe e papai não precisam saber disso, não é
mesmo? Minha fantasia está por baixo.
– Cara...
– Nem começa, Matheus, ou vou te sujar com nosso pai. Vamos às
regras. Primeira regra, não fique perto de mim ou vão achar que somos algo
além de irmãos e vai sujar nossos futuros esquemas. Segunda regra, não
deixe de olhar o celular e não esqueça que temos que chegar juntos em casa.
Eu vou te esperar no hall do prédio se eu chegar antes, e você faça o mesmo
caso chegue primeiro. Terceira regra, não banque o irmão super protetor ou
eu vou chutar suas bolas. Enfim, acho que é isso.
– Ah, claro bonitinha, só porque é um pouco mais velha acha que pode
criar regras. Eu espero que não esteja seminua debaixo dessa burca ou a
situação vai se complicar para você, não esqueça que após a última que
aprontou nossos pais não estão para brincadeira. Agora vamos, tenho
mulheres a pegar. – Diz, dando um último confere no cabelo.
O filho da mãe é bonito, mas claro, nunca falarei isso, pois o ego dele já
vale por mil!
Olho uma última vez para o espelho e fico satisfeita comigo mesma.
Respiro fundo algumas vezes e sigo para a primeira festa carioca da minha
vida.
BERNARDO

O sermão da minha mãe para eu aproveitar a festa está enfim fazendo


efeito. Eu demorei bons minutos para deixar de me achar tão ridículo e sair
do quarto. Eu estava fantasiado de algo que não sabia identificar.
Uma calça de couro preta completamente justa que poderia explodir a
qualquer momento, uma regata preta justa, uma gravata borboleta, a maldição
de uma tiara de coelho, riscos pelo rosto e óculos escuro na intenção de
manter ao menos meu olhar escondido, já que meu corpo está completamente
marcado por peças colantes e eu estou me sentindo ridículo, graças a minha
irmã que inventou essa fantasia de última hora.
Tomo duas doses de whisky com meu pai e finalmente crio coragem
para sair. Logo no corredor, o susto começa quando a porta da vizinha se
abre, mas para minha alegria, é o espetáculo da mãe dela. Não que eu tenha
interesse em mulheres casadas, aliás respeito muito, mas não tem como não
dar uma leve passeada com os olhos pelo corpo dela, já que a mesma está
usando uma camisola de seda.
– Ei, desculpa. – Diz, e eu apenas aceno a cabeça, sorrindo com
educação. – Você vai na festinha a fantasia?
– Sim, vou.
– Olha, essa é minha filha e o número do meu celular está atrás. – Diz,
me entregando uma foto da maluca da filha dela. – Não sei se você já a viu
por aqui, mas ela vai estar lá e ela me deixa com os cabelos em pé. Então, por
favor, caso veja algo errado, me ligue. Desculpa te pedir isso, mas aqui é Rio
de Janeiro e ela não está acostumada, fico preocupada. – Diz, visivelmente
preocupada, e isso me deixa em alerta.
– Tudo bem, vou ficar de olho nela. – A doida me abraça e, em seguida,
me solta.
– Muito muito obrigada. Você parece um bom garoto, por isso estou
pedindo isso.
– Não precisa agradecer. – Respondo, e o elevador chega. – Preciso ir.
– Divirta-se e obrigada novamente.
Entro no elevador meio em estado de choque com os acontecimentos
desde ontem. É muita loucura em pouco tempo, e algo me diz que minha vida
nunca mais será a mesma depois desses vizinhos. Talvez eu deva sugerir para
meus pais uma mudança para a casa antiga dos meus avós, mas decido deixar
isso para depois. Após todos os acontecimentos inusitados, sinto sede de
bebida e distração, e isso é raro demais de acontecer.
Chego na festa e já tem um número grande de pessoas. Cumprimento
meus amigos e resolvo aproveitar a noite como o jovem homem que sou, sem
reservas.
Três doses de bebida e me sentindo um pouco mais solto, é então que
noto os olhares atraídos para a porta de entrada do salão de festas.
Acompanho e vejo o que tanto está atraindo as pessoas.
Há um garoto sem camisa com uma gravata borboleta, obviamente
fantasiado de gogo boy, mas o que todos estão observando mesmo é a mulher
que está tirando uma roupa preta parecida com uma túnica.
– Porra, quem será essa mulher misteriosa? Olha as pernas dela... –
Pedro diz ao meu lado e, quando vou responder, ela termina de tirar e balança
os cabelos, tentando arrumá-los.
– Beatriz. – Digo mais para mim do que para ele. Me pego tão fixado
quanto os demais homens da festa, sinto como se ela fosse uma bomba
prestes a explodir e, mesmo de longe, consigo sentir o cheiro de problema
que emana dela. Aonde eu estava com a cabeça quando aceitei cuidar dessa
garota?! Que Deus me ajude!
BEATRIZ

Ao ver todos os olhares direcionados a mim, seguro a vontade de rir ao


me lembrar de uma frase que faz parte de mim: "Se não for pra causar, eu não
vou." Definitivamente, ela se encaixava nesse momento. Eu estou causando,
talvez por ser carne nova no pedaço, ou pelo show que fui obrigada a
protagonizar ao tirar a burca que escondia minha fantasia.
Balanço meus cabelos na tentativa de ajeitá-los e coloco o acessório que
falta: minhas orelhinhas. Dou uma olhada por todo o local e logo encontro
quem estava procurando, me metralhando com o olhar. Por sinal, ele está
usando uma tiara ridícula de coelhinho. Bernardo, meu vizinho, está todo
vestido de preto e pela primeira vez posso constatar que existe um corpo atrás
daquele terno.
Algumas garotas com quem eu conversei pelo WhatsApp se aproximam
e fujo dos tiros daquele olhar maligno e destruidor.
– Beatriz, não é? – Uma delas disse e eu sorrio, concordando. Quando
olho para o lado, meu irmão já não está.
– Bianca, Tata e Lud. – Ela diz, amigavelmente. – A propósito, sua
fantasia está destruidora.
Sim, está mesmo, eu escolhi minuciosamente e fiquei pelo menos duas
horas na loja de fantasias.
– A de vocês também, estão todas lindas e maravigolds. Agora me deem
bebidas porque preciso me soltar. – Digo, e Bianca me puxa pelo braço.
– Já amei você. – Ela diz, empolgada, e me leva até o barman. Tomamos
quatro doses de tequila e já sinto meu corpo pegando fogo instantaneamente.
Vamos para a pista de dança e começamos a dançar.
Se mudei de cidade e me afastei de algumas amizades não me lembro, se
fui amante de música eletrônica não me lembro, acabo de perceber que sou
do funk e que minha bunda tem vida própria.
Enquanto me acabo na pista, meu irmão está atracado com uma loira
espetacular que deve ter no mínimo uns seis anos a mais que ele, quase
protagonizando uma cena de filme pornô. Rápido ele é, viu! Bianca quando
vê faz um biquinho de decepção e me vejo obrigada a alertá-la
– É por causa do meu irmão? – Pergunto em seu ouvido.
– Ele é um gato. – Ela responde.
– Tem para todo mundo miga, não se preocupe, sua hora vai chegar. –
Digo, rindo.
– Credo, Beatriz!
– Filha, meu irmão é um moleque piranha, um novinho sagaz, um
prostituto diferenciado. Se você o pegar, por favor, não se apegue querida, ele
é 99% safado e o 1% que sobra resume todo o restante da vida dele. – Digo,
e ela cai na gargalhada. Aproveito a deixa para saber um pouco mais sobre
meu vizinho. – O que tem a me dizer sobre Bernardo? – Pergunto, e o riso
dela para.
– Xi miga, sua louca, esqueça. Bê é um dos meus melhores amigos, e só
pega coroas. Ele é o tipo de jovem centrado e meio nerd, não perde tempo
com relacionamentos. Inclusive ele é alvo de apostas.
– Quem aqui falou de relacionamento? – Pergunto, rindo. – Ele só é
misterioso, e tem uns braços incríveis. Não sabia que aquele terno escondia
uns músculos. Que tipo de aposta você está falando?
– Ah, porque você não o viu sem camisa ainda. Esteja preparada. Então,
apostamos quem consegue ficar com ele já tem uns cinco meses e nada.
Ninguém conseguiu ainda. Eu apostei que minhas amigas não conseguem. –
Ela diz, e minha mente já começa a preparar um plano que o faça ficar sem
camisa e caia na minha graça, nas algemas da paixão.
– Posso participar dessa aposta? – Pergunto, decidida.
– Claro, você tem exatamente 1 mês para conseguir. Caso contrário, tem
que pagar uma cesta básica para um dos abrigos da família dele. – Explica.
– Abrigos?
– Sim. É uma longa história, mas resumindo, eles têm alguns abrigos
para crianças carentes espalhados pelo Rio e, pasme, eles bancam tudo
sozinhos. – Ela conta, e eu fico chocada com a nova informação.
– Uau!
– Pois é. Ainda vai querer participar da aposta, sabendo que ele é muito
além de impossível?
– Se eu conseguir hoje, eu quero quatro cestas básica de cada e, como
dizia Chorão, impossível é só questão de opinião, só os loucos sabem. –
Digo, e ela dá uma gargalhada. – É sério.
– Tudo bem. Fechado. – Diz, e fechamos nossa aposta.
Um grupo de cinco garotos se juntam a nós na pista. Dois deles são uns
verdadeiros espetáculos da natureza e parecem estar na casa dos 20 anos, mas
ainda assim me pego olhando para o nerd encostado no balcão, bebendo,
alheio a tudo que está acontecendo na festa. Não é amor à primeira vista, nem
nada do tipo. Mas o fato de saber que ele é o fruto proibido, que é o
impossível, me atiça ao extremo. Gosto de coisas perigosas, improváveis e
impossíveis, sempre gostei. Agora tem esse lance de abrigo, porra, que
menino de Deus.
E eu? Sou a personificação do capiroto!
Bebo mais algumas tequilas que passam distribuindo e, enfim, crio
coragem para ganhar a aposta. Só não sei como.
BERNARDO

Estou definitivamente alcoolizado, num nível que de repente estou


curtindo as merdas que estão saindo pelos alto falantes. O alto falante está
defecando e eu estou achando engraçado. Sem contar que estou me sentindo
quente como um vulcão. Isso que dá não ser acostumado a beber. Minha mãe
ficará feliz em saber que estou tomando um leve porre.
Me levanto e resolvo agir um pouco mais relax. De repente, me lembro
do pedido de uma coroa estonteante e começo a procurar a meliante. Não
demoro muito a encontrá-la, rodeada da maioria dos homens da festa,
também parece que saiu de uma revista da Playboy direto para a festa.
Volto ao balcão e pego uma garrafinha de água, tomo tudo num único
gole e atravesso a pista para ir ao banheiro. Após lavar o rosto e fazer minha
necessidade, saio e encontro-a parada na porta, com a mão na testa.
– Tudo bem? – Pergunto, me aproximando.
– Me deu um pouco de tontura. – Responde, se apoiando em meu braço.
– Acho que preciso lavar o rosto, mesmo que isso acabe com a minha
maquiagem. – Diz, com a voz manhosa, e eu a levo até o banheiro.
– Vamos lavar o rosto. Você não deveria beber tanto. – Digo, enquanto
abro a torneira, e ela ri.
– Por que sou uma garotinha? – Pergunta, provocativamente.
– Exatamente por isso. – Respondo, e ela me dá um leve empurrão, pega
um pouco de água e passo no rosto. Em seguida, fecha a torneira e se vira
para mim, com algumas gotas de água escorrendo pelo decote. Difícil não
acompanhá-las ou invejá-las.
– Nesse momento, eu pareço uma garotinha? – Pergunta, e eu tento
entender onde ela quer chegar com isso. Está tentando me seduzir?
– Parece. – Respondo, sério, com a garganta seca ao vê-la passeando
com o dedo pelo decote.
– Você parece um garotinho medroso e sem atitude. – Diz e, lentamente,
caminha em minha direção, até que eu bato minhas costas contra a parede.
– Você acha que eu tenho medo de você? Não confunda medo com não
querer te pegar. – Digo, pegando pesado.
– Oh, claro, você não gosta de garotinhas, não é mesmo?
– Nem um pouco. – Pontuo e ela sorri de um jeito bastante provocante.
Acho que nunca estive numa situação em que fui prensado na parede por uma
garota. Nenhuma foi tão ousada e isso é instigante, essa garota tem problema
tatuado na testa.
– Sabe, gosto de desafios.
– Você deveria se conter, é o tipo atirada demais. Faz isso sempre?
– Não, nunca precisei, sempre são os homens que ficam insistindo para
ficar comigo, e não o contrário.
– Homens ou garotos? – Provoco, e ela fica visivelmente revoltada.
– Você calado é mais interessante. – A louca diz e, sem me dar tempo,
gruda os lábios nos meus. Tento afastá-la, mas ela é insistente, e quando me
dou conta, estou sem camisa, já a coloquei sentada sobre a pia e estou
respondendo o beijo com todo furor que há dentro de mim.
Me afasto no momento em que me dou conta de onde isso pode chegar.
Eu, Bernardo, o cara que foge de problemas, acabo de me envolver com a
garota problema. Fecho os olhos e as mãos, me controlo para não dar um
soco na parede. Abro os olhos e vejo a confusão no rosto de Beatriz, chega a
dar vontade de abraçá-la, mas passa assim que ela sorri da mesma maneira
provocante.
– Não gosta de garotinhas, hein?! Uau. Não sabia que tinha um corpo
desse por trás daquele terno. Você brilhou, vizinho. E seu beijo? Jesus, me
chicoteia!
– Você não tem filtro?
– Não, ainda mais vendo que você ficou alegrinho com nosso beijo. Isso
manda todos os meus filtros para o inferno. Não vamos continuar de onde
paramos? – Atiça, mordendo o lábio inferior, e eu balanço a cabeça em
descrença. Não é possível!
– Não, foi um erro gravíssimo.
– Tudo bem, se você não quer, tem quem queira. A noite é uma children,
vamos aproveitar!!! – Ela salta da bancada, abre a porta e sai na maior cara
lavada, literalmente, e eu fico igual um pateta tentando entender tudo.
BEATRIZ

Quando estou quase chegando ao salão, sou pega pela cintura e levada
para uma sacada que eu nem sabia que existia. Só quando sou colocada no
chão consigo ver quem foi o meu sequestrador e não consigo conter um
sorriso bastante debochado. Por que eu sou transparente demais, por que
Deus?! Não consigo controlar as minhas atitudes, sou o descontrole em forma
de gente. E, ao ver um pouco a cara dele, de quem está travando uma
pequena guerrilha, não resisto e grudo nossos corpos, puxando-o pela gola da
camisa. Só queria entender de onde eu tirei tanta ousadia e safadeza.
– O que você quer comigo? – Pergunto, quase colando minha boca na
sua e fazendo sua respiração falhar.
– Olha, eu devo estar muito alcoolizado por fazer isso, mas tenho uma
proposta. –Anuncia, apertando minha cintura.
– Proposta decente ou indecente? – Provoco.
– Por que você é tão atirada? – Pergunta.
– Eu não sou atirada, essa é minha primeira vez. Agora pare de mimimi
e faça logo sua proposta.
– Ok. Nós... eu quero te beijar, mas vai ser só hoje, só essa noite. Nada
de esperanças, nada de amanhã. Eu não gosto de garotas novas, não quero
relacionamento e muito menos alguém que fique no meu pé. – Ouço
atentamente, absorvendo cada palavra.
– Tudo bem, eu aceito. Mas não quero ninguém no meu pé, não quero
um relacionamento ou crises de ciúmes, e não quero indiretas ou coisas do
tipo. Hoje, apenas hoje. Tudo que você disse a mim vale para você também. –
Digo e ele sorri pela primeira vez. Em seguida, sou encostada na pilastra e
quase comida por um beijo faminto, quase capaz de abalar minhas estruturas.
Quando enfim afastamos nossos lábios, sinto como se o chão fosse ruir a
qualquer momento, ao mesmo tempo que sinto que deveria parar com isso.
Bernardo parece um vulcão expelindo lavas de tão quente. É muita
intensidade, muita "dureza" e isso é algo que não estou acostumada, muito
menos sei como lidar. Eu não sei onde isso vai parar se continuarmos nos
pegando dessa maneira, e sinto até um pouco de medo. Meu lado racional
quer parar, mas o emocional quer sentir de novo todas as sensações que ele
provoca em mim.
Bernardo parecia tão frio...
Ele dá alguns passos e passa as mãos pelos cabelos, já eu me viro e
apoio a testa e as duas mãos na parede. Me sinto encrencada e ridícula por ser
inexperiente e estar com medo, contrariando a imagem que passei a ele de
atirada.
– Sério, você tem mesmo que ficar virada para mim desse jeito? Você
não tem ideia da visão que estou tendo e sua fantasia deixa tudo muito mais
tortuoso. Não acredito que vou falar isso, mas neste momento eu daria muitas
coisas para estar em um lugar privado com você. – Diz, distante, e eu respiro
fundo, me virando em seguida.
– Nossa, cadê o homem certinho e comprometido com o trabalho, que
não sorri e é sério demais?
– Você, com toda sua sagacidade e atrevimento, deveria saber que por
trás de um homem sério e centrado, se esconde um homem completamente
perverso e safado. –Diz, fazendo correr um arrepio frio em meu corpo. Puta
que pariu! Tomar na água! Mexi com a pessoa errada!
– Sagacidade, hein?! – Tento brincar, mas ele não sorri. Apenas se
aproxima como um predador, com um olhar estranho.
– Será que estou brincando com uma garotinha? – Pergunta mais para si
mesmo do que para mim. – Por que eu acho que estava certo sobre você? –
Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e me prende na parede.
– Por que está dizendo isso? – Pergunto.
– Por que você está com medo, é visível. – Afirma.
– Eu não estou com medo.
– Está, eu não erro. Sua postura está dura, você não está nem um pouco
relaxada e entregue. Do que você tem medo?
– Você parece muito sóbrio para quem alega estar alcoolizado. –
Rebato, tentando mudar o foco. – Está desperdiçando nosso curto tempo de
uma única noite para fazer constatações infundadas. – Digo, num ato de
coragem e insanidade.
Afasto-o, vou até um garçom que está mais ou menos próximo, pego
duas doses de não sei o que e viro de maneira que o líquido âmbar desce
queimando meu corpo. Porra! Era disso eu que precisava. Volto feito um
furacão e agora sou eu quem o jogo na parede.
– Você...
– Cala sua boca por favor! Já falou demais! – Corto-o, beijando-o.
Grudo nossas bocas com uma ferocidade sobrenatural. Até mesmo sinto um
leve gosto de sangue na boca, e tento de todas as maneiras colocar em minha
cabeça que é só uns pegas de uma noite que não nos levará a qualquer coisa
próxima a sexo. Dessa vez, estou mais do que entregue, tanto que ele tem que
me conter, pois estamos praticamente protagonizando uma cena quente em
público. Meu corpo está reagindo ao dele de maneira explosiva e assustadora.
Posso sentir minha umidade entre minhas pernas. Eu quero mais do que um
simples pega, é essa a verdade dos fatos. Ele teve o dom de me fazer querer
mais em apenas alguns segundos, enquanto eu namorei meses e nunca senti
isso pelo defunto do meu ex. Eu estou fodida, mas se é por uma noite, irei
aproveitar ao máximo!
Bernardo pega minha mão e sai me arrastando em meio a dezenas de
pessoas na pista de dança. Bianca fica boquiaberta quando vê a cena e eu
sorrio, afinal ela e as demais meninas acabaram de perder a aposta. Eu
consegui o impossível! Sou foda! A vontade é de gritar para o mundo que eu
sou muito foda, cara! Mas a graça acaba quando ele nos leva a um lugar
completamente escuro onde não sou capaz de enxergar absolutamente nada.
– Agora podemos continuar a brincadeira. – Diz, me sentando em uma
espécie de mesa, abrindo minhas pernas e se encaixando entre elas, bem
grudado ao meu corpo. De um jeito que me faz arfar e ficar constrangida por
soltar um leve gemido. Merda, eu nunca havia gemido, essa era a verdade.
– Meu Deus... não faça isso de novo. – Alerta, me deixando
constrangida.
– Por que? Foi sem querer!
– Isso me faz querer ir além do que estamos fazendo. Não repita se não
quiser ir além, por favor. – Adverte, me fazendo engolir a seco antes de ter
meus lábios esmagados pelos dele novamente.
BERNARDO

Merda! Que diabos está acontecendo comigo? Eu estou descontrolado e


excitado demais, tanto que não consigo pensar direito. Ela é atrevida e
quente, mas eu sabia que havia algo a mais escondido dentro dela. Essa
garota é completamente maluca. Cheia de atitude, depois medo, e agora a
verdadeira tentação. Eu a quero de uma forma que parece que vou explodir
minhas calças. Não sei quando foi a última vez que estive em uma situação
dessas. Todos os meus encontros são marcados e premeditados. Esse foi
inesperado e estou me sentindo um verdadeiro adolescente que não consegue
controlar os hormônios. Pegar uma garota num canto escuro de uma festa é
coisa de completo adolescente, talvez eu tenha feito no auge dos meus quinze
anos, quando ainda era virgem.
Estou satisfeito com toda escuridão e os benefícios que ela poderá me
proporcionar. Sentir sua bunda maravilhosa em minhas mãos é perfeito. E
saber que ela está gostando é o paraíso.
Beatriz agora sim está entregue, posso perceber enquanto ela tira minha
camisa dando leves arranhões em minhas costas. Deus me perdoe, eu quero
fazer sexo com ela aqui e agora. Ela precisa parar ou perderei o controle dos
meus atos.
Tento me desvencilhar, mas ela está implacável e decidida, me puxando
para si. Eu sou homem, não há uma célula do meu corpo que não responda
aos estímulos dela. Nossa pegação está ficando insana demais. Mas tem algo
estranho, Beatriz não permite que eu me aproxime de sua parte íntima, toda
vez que tento ela retira minha mão.
Beijo seu pescoço e puxo seus longos cabelos de um jeito que a faz
gemer da mesma maneira que antes. Novamente arrisco minha mão pelo seu
corpo, tomado pela vontade de senti-la, ansiando poder sentir se estou
causando nela mesmo que ela está causando em mim, em vão novamente.
Algo está errado, minha razão grita isso e me afasto. Ao fazer uma pequena
análise de minutos antes na sacada do salão, já tenho uma desconfiança, só
preciso ouvir da boca dela e saber até onde posso ir.
– O que foi? – Pergunta assim que paro nossa situação. Pego meu
celular e ligo a lanterna, porque preciso olhar seu rosto, preciso
principalmente focar em seus olhos.
– Beatriz, vou te perguntar algo e preciso que seja sincera. Se você for
sincera, nós continuamos de onde paramos, mas se estiver mentindo nós
acabamos aqui.
– Como assim? – Pergunta, levemente assustada.
– Eu trabalho diretamente com pessoas desde muito novo. Eu sou bom
em análises pessoais e sei quando uma pessoa está mentindo ou ocultando
algo. Eu vou perguntar e ficarei muito feliz se você me disser a verdade, tudo
bem? Como eu disse, se me disser a verdade, nós continuamos o resto da
noite juntos.
– Tudo bem. – Suspira, quase se encolhendo sob meu olhar.
– Vamos lá, vou ser direto. Beatriz, você é virgem? – Pergunto, e ela
fecha os olhos.
– Por que isso? Não é como se fôssemos transar agora.
– Sério? Porque eu acho que se continuarmos mais cinco minutos nessa
pegação eu estarei dentro de você de uma maneira nada delicada. – Rebato,
vendo um misto de confusões passar pelo seu rosto. – Responda minha
pergunta para eu saber como devo agir com você, por favor. Mostre que eu
estava errado sobre a garotinha e haja como uma mulher de dezoito anos. Ser
virgem não te torna uma garotinha, mas mentir sobre isso sim. Não me
decepcione. – Incentivo de um jeito mais carinhoso, tentando obter uma
resposta dela.
– Tudo bem, eu vou dizer ok?!
– Sou todo ouvidos.
– Merda, você é irritante. Eu sou virgem, ok? Satisfeito? Agora pode
sair. Não tenho nada a te oferecer hoje. – Diz, com rebeldia.
Eu sabia. Ela estava fazendo muito “barulho”, mas pude ver o medo em
seu rosto mais cedo. Estava óbvio. O que importa é que agora eu precisarei
pegar mais leve, mesmo que ela tenha gostado, se eu continuar naquele ritmo
estarei prejudicando a mim e as minhas bolas que já estão roxas.
– Vai ser rebelde? Eu disse que isso não mudaria nossa noite. Ainda
quero você. Ser virgem não é nenhuma vergonha, muito pelo contrário. –
Digo acariciando seu rosto, que está completamente vermelho. Em seguida,
apago a lanterna do celular e a beijo, de maneira mais delicada, vendo-a de
um jeito diferente agora.
Queria entender o que se passa na cabeça de algumas meninas que
querem se auto afirmar e acham que ser virgem aos dezoito anos é
vergonhoso, mas por ora vou me dedicar em terminar nossa noite de forma
satisfatória.
BEATRIZ

Digamos que eu não esperava essa atitude de Bernardo, talvez eu o


subestimei muito. Ele mostrou apenas que não é um garoto, e sim um homem
muito bem resolvido.
Eu queria o fogo que estávamos antes, mas agora, um pouco mais
calmos, me sinto mais leve pelo fato dele saber da minha situação. Só tem um
pequeno probleminha, FODEU! Fodeu, mas fodeu com muita força, do tipo
que te rasga de tão fodida. Deixa eu explicar, apenas estou num estado de
fascinação absurdo por ele. Ele não é o tipo de homem ou projeto de homem
que tenho costume de me envolver. O cara tem valor. No pouco que eu o
conheço, já puder perceber sua educação, sua classe. Bernardo não brinca
com as pessoas. Ele é um tipo muito diferenciado e raro.
É safado? É safado! É o rei da calcinha molhada? É o rei da calcinha
molhada! Tem um prostituto escondido dentro dele? Tem um prostituto
escondido dele!!! Mas ele é incrivelmente foda nas atitudes. É homem
demais, deu para perceber em outro sentido também... Merda, ele é homem
demais no jeito como conduz as coisas. É admirável, babável e extremamente
orgástico.
Gente, sério, é muita palhaçada isso! No tutorial de hoje, vou ensinar
vocês a ficarem imaginando um futuro com a pessoa já no primeiro encontro,
sendo que foi combinado que não existirá futuro algum e nenhum pega-pra-
capar em outro momento. Maldição!!!! Eu deveria ter seguido minha intuição
e vazado desse inferno que está me arrebatando. Se eu tirar a calcinha e
torcer, encho uma piscina de 1000 litros! Ok, exagerado, mas de uma coisa
eu tenho certeza, ao menos um balde sei que encho.
Pior de tudo é que ele está me beijando e estou pensando em como será
amanhã quando eu tiver que começar a bancar a egípcia e fingir que nada
aconteceu. Talvez seja melhor não sair de casa por um tempo e tentar
esquecer isso, ou sair e pegar ox cariocax tudo, não me decidi ainda. Será que
devo me converter igual a ele e virar a garota séria e centrada? Não me
imagino nerd dessa maneira, mas posso ter dupla personalidade como ele, só
por isso já se torna tentador essa opção. Imagina eu, com 18 anos, sentada
num escritório trabalhando junto com meu pai, vestindo um incrível terninho
comportado e óculos de grau para dar um charme?! Ao menos ficaria sexy,
eu acho.
Porra, todo mundo nasce predestinado a seguir alguma carreira e eu
nasci predestinada a me meter em confusões, beber e pegar caras errados,
nisso eu sou Ph.D., definitivamente.
– Ei, você está distante. – Diz, se afastando.
– Só uns pensamentos aqui. Acho que estou com sede de tequila.
– Quer voltar para a pista? – Pergunta, de forma linda cara, meu Deus,
ele é lindo! Que grande bosta!
– Nossa, santo anjo do Senhor. Eu queria uma pegada daquelas que
estávamos dando antes de você descobrir minha pureza e inocência, queria
que você fodesse minha mente e meu psicológico de forma que eu não
conseguisse pensar em nada e só curtir o momento. Te aperta? – Questiono
tudo tão rapidamente que ele começa a rir, e por Deus, a gargalhada dele é
como estar no céu. É deslumbre demais para uma pessoa só, eu
definitivamente preciso de um tratamento de choque, estou inebriada. Preciso
encher o cuscuz de álcool e mandar ele para merda, Bernardo representa
perigo.
– Você é um biscoito de polvilho perfeito. Faz tanto barulho. – Diz.
– Haha ri internamente. Só porque sou virgem não podemos continuar
sarrando? – Pergunto.
– Sarrando? Vou começar a andar com um bloquinho para escrever
essas palavras que você diz.
– Não podemos continuar? – Pergunto decidida e começando a
estressar.
– Podemos sim fazer isso que você disse, sarrar né?! Mas já estou com
as bolas roxas e o pau petrificado. Isso é judiação. Você não tem ideia do que
é ficar de pau duro e não poder fazer nada, ao menos por enquanto. – Frisa a
última parte, me deixando com a imaginação a mil.
– Por enquanto? – Pergunto, já me imaginando voyeur observando ele
desembolar cenas típicas de filme pornô sem perceber que está sendo visto
por mim. Será que eu consigo descobrir onde é o quarto dele e talvez pular do
meu apartamento para o dele escondido, sem risco de cair do décimo quarto
andar? Talvez eu devesse praticar esportes radicais, cara, minha mente é
muito fértil, de verdade!
– Olha, você deveria se conter nos pensamentos. É bem transparente,
sabia?
– Onde fica seu quarto? – Pergunto, e ouço seu riso. É horrível estar tão
escuro que não dê para visualizar seu rosto.
– Não vou tirar sua virgindade Beatriz, pode esquecer.
– Não tem nada a ver com isso, é só curiosidade. E saiba, querido, eu
jamais faria sexo com você.
– Jamais? – Pergunta, se encaixando entre minhas pernas de novo.
– Em hipótese alguma. – Afirmo e ele me beija, do jeito que eu pedi
minutos atrás e fui negada. Muito inconstante.
Ele me pega pela bunda, me tirando de cima da mesa, e me gruda numa
parede, não deixando nem um vento passar entre nós. Isso sim é uma sarrada
violenta! Sinto vontade de rir ao constatar o quão nervosa e necessitada estou
ficando com essa brincadeira.
São muitos extremos para uma noite só. Uma hora calmo, outra hora
louco. Bagunçando completamente comigo, logo eu que sou a bagunça
completa. Logo eu que estou apertando a senhora bunda dele e o puxando
ainda mais, como se fosse capaz de tê-lo dentro de mim.
A situação torna-se desesperadora e enfio minhas mãos em seus cabelos
para controlar sua boca que está passeando pelo meu pescoço e me
enlouquecendo. Eu perderia minha virgindade com ele, aqui e agora.
Me forço a afastar da parede e ele me coloca no chão sem entender. Eu
inverto os papeis e sorrio maquiavelicamente. Me abaixo um pouco e começo
a lambê-lo do cós da calça até o pescoço, lentamente, enquanto tenho meus
cabelos agarrados com força. Eu deveria ficar revoltada por toda a força, mas
de alguma forma, me parece bom e meu corpo está respondendo
satisfatoriamente a isso. Pularia numa piscina de gelo e, ainda assim, não
conseguiria acalmar a quentura em que me encontro.
Me levanto e o beijo. Bernardo segura minha bunda com tanta força que
tenho certeza de que seus dedos ficarão marcados em minha pele, já que as
únicas coisas que estou vestindo são uma meia arrastão e body.
Deus, a sensação de estar grudada a ele é incrível e está me causando
sensações ainda desconhecidas.
Ele me faz de gato e sapato. Me vira de costas para ele e gruda por
completo em minha traseira, enquanto apoio minhas mãos em suas coxas.
Ele joga meus cabelos para o lado enquanto passa um braço pela minha
cintura, apoiando meu corpo quando percebe que já não sou capaz de
comandar minhas pernas. Sopra minha orelha descendo até o pescoço, onde
beija com devoção, me fazendo gemer pela segunda vez e morder minha
própria mão com vergonha disso. Ele usa sua mão livre e passeia com um
dedo pelo meu decote. Me sinto completamente entregue e um fantoche em
suas mãos.
O garoto é realmente bom no que faz. Vai descendo o dedo até minha
coxa e volta. Vira minha cabeça e beija meus lábios, e enquanto nos
beijamos, aperta pela primeira vez meu seio sem muita delicadeza, porém de
um jeito maravilhoso que quase me faz entrar em combustão. Ele nota minha
respiração descompassada a cada aperto e sorri em minha boca. Continua me
beijando e começa a descer a mão até tocar a minha parte mais sensível e
desesperada. É a primeira vez que deixo alguém ir tão longe e, se eu soubesse
que um toque ali era tão bom, certamente teria deixado antes. Já nem sei onde
estou tamanha loucura em que me encontro. Seguro suas coxas com tanta
força que também estou certa de que ele ficará marcado mesmo usando calça.
Seu braço já não segura mais minha cintura, e sua mão livre agora
sustenta meu pescoço. Porra, é quente, quente demais.
Ele faz círculos no local certo e, mesmo estando com uma roupa nos
separando, é perfeito, sinto algo crescendo dentro de mim que faz todo meu
corpo tremer. Embora esteja com medo dessa novidade, quero muito tudo o
que está oferecendo. Sei perfeitamente o que estava se construindo em meu
interior e é exatamente o que eu preciso, um alívio!
Ouso subir um pouco a mão direita e, pela primeira vez, faço contato
com algo grandioso que estava guardado dentro de sua calça. Está realmente
petrificado, e quando dou um leve aperto, ele solta um gemido que me faz
desintegrar. Percebendo o que está acontecendo, ele leva suas mãos à minha
cintura como forma de apoiar meu corpo mole. Beira a assustador a maneira
como estou trêmula e viajando. Até mesmo vejo luzes loucas passeando pela
minha cabeça e perco completamente a noção de tudo a minha volta. Porra, é
como se meu cérebro tivesse parado. Completamente arrebatador e
angustiante ao mesmo tempo, sinto uma vontade extrema de gritar, mesmo
estando mais mole que uma gelatina. Isso é um orgasmo!
Bernardo retira sua mãe da minha intimidade, me vira e sou pega em
seus braços. Me deposita novamente sentada sobre a mesa e, então, me
abraça tão docilmente que eu começo a sentir vontade de chorar. Ele
conseguiu bagunçar ainda mais comigo, que já sou uma bagunça completa.
Minutos se passam e eu permaneço agarrada a ele como se ele fosse... como
se ele fosse tudo. Porra! Esse caralho de amor à primeira vista existe! Odeio
isso!
– Está tudo bem? – Pergunta carinhosamente, e minha razão começa a
me trair.
Como eu posso estar bem? Acabei de ter meu primeiro orgasmo, um
semi-sexo-sarrado com meu vizinho perfeito e maravilhoso que terei que
encontrar praticamente todos os dias, e por obra do destino me propôs uma
ficada de uma noite só... e a ficada foi tão boa que eu o pediria em casamento
agora mesmo se pudesse. Porra, eu daria para ele! Daria de verdade, foda-se
meu hímen caralho, só gostaria de ver o estrago que seria capaz de fazer
estando dentro de mim. Merda. Por que, Deus????????????
Eu cuspi na santa ceia, só pode!
E ele é tão fofo que está aqui, aguardando pacientemente eu travar um
conflito comigo mesma.
– Não, não está nada bem, de verdade. Preciso ir embora. – Digo, e saio
o mais apressada que consigo diante de toda aquela escuridão, como uma
garotinha perturbada por acontecimentos fantásticos. Eu preciso ficar longe
de tudo e todos, só preciso da minha cama neste momento!
BEATRIZ

Enquanto o elevador me leva ao décimo quarto andar, sinto o peso das


ações de minutos atrás caindo sobre os meus ombros. Na verdade, estou me
julgando e me auto ridicularizando. Foi apenas uma ficada, não tinha porquê
eu estar dessa maneira, tonta, trêmula e com o coração disparado. É ridículo,
foge de todas as minhas crenças e convicções.
Quando adentro ao meu andar e abro a porta, minha mãe está deitada no
sofá junto com seu travesseiro e uma coberta. Isso poderia ser uma cena
normal de uma mãe esperando os filhos, mas se trata da minha mãe e ela está
longe de ser normal. Ela estar dessa maneira significa apenas uma coisa: dona
Mariana fez alguma merda.
– Oi filhote. Como foi a festa? – Pergunta com a naturalidade e
felicidade de quem sabe que, em poucos minutos, meu pai irá pegá-la e
arrastá-la até o quarto. Os dois são assim, previsíveis, mas agora eu preciso
da minha melhor amiga para desabafar, e minha melhor amiga é ela.
– Foi horrível, mãe. Na verdade, foi perfeita. Quer saber? Foi horrível
mesmo. –Desabafo e ela se senta, sinalizando para eu me acomodar ao seu
lado.
Me acomodo e deito minha cabeça em suas pernas, e quando estou
confortável o suficiente, desando a falar:
– Eu fiz uma grande merda. O vizinho. Eu o perturbei, mãe.
– O vizinho? Aquele garoto? Meu Deus! Beatriz, o que você fez com
ele? – Ela arregala os olhos e espera pelo pior, mas na verdade, dessa vez a
situação é outra.
– Eu o seduzi e ele não gosta de meninas novas, mas eu forcei uma
situação e o beijei no banheiro. E depois disso ele foi atrás de mim e me
levou pra sacada, nos beijamos novamente e depois fomos para um local mais
reservado e nos pegamos como se não houvesse amanhã, mas haverá e ele é
meu vizinho e eu não tenho como fugir, e foi perfeito e eu queria de novo,
mas combinamos que não teria um de novo e tinha química mãe, muita
química e...
– Calma. Você o seduziu no banheiro? Como é isso? Meu Deus, era tão
fácil dar conselhos para sua tia, mas você é minha filha, que grande terror.
Vamos lá, vou ser imparcial, somos amigas, é isso. – Diz, demonstrando
nervosismo. – Ok, filha. Você o seduziu, beleza, vocês se beijaram no
banheiro e depois na sacada e depois se pegaram. Traduzindo, devo presumir
que foi um pega naquilo e aquilo te pega. Merda, ao menos ele parece ser um
menino bom. Ok, e por que foi tão horrível?
– Mãe, foi perfeito mãe. Nunca senti nada nem próximo ao que ele me
fez sentir, entende? Aí que está o problema. Pelo que entendi, ele só fica com
mulheres mais velhas. Ele me propôs que continuássemos o beijo, mas seria
só por uma noite e eu aceitei, mas não imaginava que seria a melhor noite.
Mãe, ele é maravilhoso e é educado, e é bonzinho e é explosivo ao mesmo
tempo. É uma confusão de “eus” que habitam nele que estou me sentindo
completamente abalada.
– Tipo, ele foi o melhor garoto de toda a sua existência? – Pergunta, de
modo descolado. Minha mãe é mesmo a melhor mãe que alguém poderia ter.
Ela conversa comigo como se soubesse exatamente cada coisa que está
acontecendo e como se tivéssemos a mesma idade.
– Exatamente isso. – Respondo.
– Sei bem como é isso. E o que você realmente quer? – Oi?
– Como assim?
– Filha, você precisa pensar e decidir qual atitude você quer tomar
diante dos acontecimentos. O que você quer? Mais algumas ficadas? Ter ele
só para você? Ou esquecer tudo que aconteceu e ir curtir a vida adoidado?
Entende? Você precisa colocar na balança o que você quer e, a partir daí,
traçamos um plano em cima da sua vontade.
– Traçamos um plano? – Pergunto, incrédula.
– Óbvio. Querida filha, quando decidimos que queremos algo, temos
que ir com tudo, lutar até conseguirmos. Ou você acha certo querer algo e
não correr atrás?
– Tudo bem, eu entendi. Mas mãe, quando um não quer, dois não
brigam. E eu nem quero relacionamento, só queria mais do mesmo.
– Por capricho pelo fato dele ser quase impossível ou por desejo e
vontade?
– Estou confusa no momento. – Admito.
– Tudo bem. Agora me responda, ele gostou? Como ele reagiu? – Sério,
ela parece psicóloga às vezes.
– Ele parece ter sentido o mesmo que eu, parece ter gostado, na verdade
estava bem óbvio, mas como podemos entender os homens? Mãe, nos
conhecemos ontem no elevador e hoje já aconteceu tudo isso. É muito
precoce.
– Nem a NASA explica. – Diz, sorrindo. – Tome um banho, relaxe e
pense no que você quer. Amanhã com certeza sua mente estará mais tranquila
e saberá distinguir que turbilhão é esse que passou pela sua noite. Vocês
podem ter se conhecido hoje filha, infelizmente existem coisas que em
questão de segundos podem mudar sua vida. E lembre-se, você é minha filha,
enfim, não preciso falar mais nada. – Conclui, e eu sei o que ela quer dizer
com isso, sei muito bem. Porém, nossa conversa está prestes a acabar, já que
meu pai chega como um homem das cavernas na sala vestindo apenas uma
cueca boxer.
– Pro quarto, agora! – Diz, antes de me notar no sofá e mudar a
expressão por completo. – Filha? O que houve? – Nessa hora, ele deixa de
lado qualquer pensamento e é como se tivéssemos apenas eu e ele. Amo
quando eles demonstravam que em primeiro lugar sempre estamos eu e
Matheus, por mais louco que sejam.
– Nada pai, só acabei de chegar da festa.
– E Matheus? – Pergunta.
– Está lá ainda atracado numa loira eu acho. Mas fiquem tranquilos, lá
está tranquilo, só moradores do condomínio. Bom, vou dormir, pode carregá-
la para o quarto, homem das cavernas.
Levanto, deixando-o voltar a ser o primitivo após me dar um beijo na
testa.
– Mariana, eu mandei você ir para o quarto agora. – Ordena e não posso
deixar de esconder para presenciar a cena. Eu amo vê-los, é tão fofo e
engraçado.
– Querido, não sou obrigada a nada. – Ela cruza os braços e faz pirraça,
como se fosse uma adolescente. Meu pai passa as mãos pelos cabelos e solta
um longo suspiro antes de pegá-la pelas pernas e jogá-la nos ombros como se
fosse um saco de cimento. A cena é cômica, porém me faz pensar em
algumas coisas.
Vou para meu quarto pensando no relacionamento dos meus pais. Tem
um lado ruim ser filha de pais tão apaixonados. O amor deles é inabalável e
sólido, é algo que deixa a gente com vontade de ficar sentada observando
como se fosse um filme. Eles são dois loucos apaixonados e por isso o
pequeno lado ruim: a expectativa que eu tenho sobre um relacionamento. Eu
não aceito um relacionamento que não possua a pureza do amor deles. Tudo
bem, tenho apenas dezoito anos, sou muito jovem e sempre fui conhecida
pelas maluquices, mas no lado negro da força quando se trata de
relacionamentos, eu sempre fujo. Sempre gostei de ficar com garotos lindos e
maravilhosos, é bom para o ego, muito bom mesmo, mas nunca passou de
uma ficada e uma tirada de onda. Eu, desde muito nova, idealizo um
relacionamento como o dos meus pais, e é por isso realmente que preservei
minha virgindade. É essa a minha verdade.
Isso me faz crer também que, dentro de mim, habita um pouco de
sensatez e maturidade, mas prefiro agir com um pouco de inconsequência
enquanto sou jovem.
BERNARDO

Demorei alguns segundos para assimilar o que acabou de acontecer. É


um furacão que acabou de passar na minha vida, não restam dúvidas.
Tentando entender, consigo chegar a algumas conclusões:
1º- Eu me excedi. Simplesmente deixei que minhas vontades falassem
mais alto do que realmente era o certo a se fazer.
2º- Eu gostei. Todos os encontros que já tive na vida sempre foram um
misto de ser dominado e dominar. O “ser dominado” sempre prevalecia mais
por serem mulheres mais experientes, mas também tinha meus momentos de
dominação. Com Beatriz, ser dominado é algo que está muito longe de
acontecer. Eu a dominei o tempo todo. Ela estava entregue e aguardando
meus atos e comandos. Porra, isso foi demais. Por mais nova que ela seja,
perto das mulheres com que saio, eu tenha que admitir, a menina é foda. Toda
foda.
3º- Eu quero mais. Como poderia ser diferente? Ela acordou um lado
meu que eu nem sabia que existia. Um lado professor que quer ensinar toda e
qualquer coisa que minha experiência permita.
4º- Acabou. A nossa única noite havia acabado após o momento em que
ela saiu demonstrando perturbação. Eu a entendo. Estou me sentindo da
mesma forma, um completo perturbado pela forma como tudo aconteceu. Um
garotinho. Que grande fim de carreira.
Após muito pensar sobre tudo, chego a uma última conclusão: foi como
deveria ter sido, excelente. Curtimos a noite conforme combinamos e agora
vida que segue. É isso. Minha mãe queria que eu tivesse uma noite de
"jovem", ficará feliz em saber que minha noite de jovem foi concluída com
sucesso, inclusive me atraquei com a nova vizinha num banheiro, numa
sacada e num corredor escuro.
Vergonha não estou sentindo, inclusive estou lutando para ter um
arrependimento, mas no fundo não estou arrependido. Só me resta a culpa
pelo excesso. Não precisávamos ter ido tão longe, eu não precisava ter
escutado o som delicioso que ela fazia a cada nova sensação que eu
provocava.
É hora de ir para casa, definitivamente a noite acabou, ao menos para
mim. Tudo que eu preciso agora é de um banho bem frio e algumas horas de
sono para colocar a cabeça no lugar.
Não quero nem mesmo me despedir das pessoas, estou fugindo de
qualquer conversa nesse momento. Simplesmente saio do salão direto para o
elevador e do elevador direto para meu banheiro. Bendito seja a água fria, a
única capaz de esfriar meu corpo nesse momento.
Após uma boa noite de sono, sou acordado por meu pai com uma notícia
que cai como um raio desestabilizando novamente tudo em mim.
– Estamos oferecendo um almoço aos novos vizinhos. É indelicado você
não aparecer, filho. – Diz gentilmente, enquanto me pergunto qual foi a parte
da vida em que errei para merecer uma provação dessas.
– Tudo bem. Vou tomar um banho e apareço. – Digo, indo direto para
mais uma sessão de banho bem frio. Terei que passar ao menos uma parte do
dia com a vizinha que fodeu minha mente. Sou um grande sortudo, só que
não!
BEATRIZ

– Beatriz, não vou repetir, nós temos um almoço em alguns minutos.


Não me faça te tirar da cama e enfiá-la na água fria. – Minha mãe grita após a
quinta tentativa de me tirar da cama.
– Mãe, não acredito que fará isso comigo depois de tudo que te contei.
Como eu posso ir na casa dele?
– Bia, mais cedo ou mais tarde você terá que vê-lo, então é melhor que
seja mais cedo. É bom que esse almoço pode clarear suas ideias, filha. Vê-lo
de novo será bom para ter certeza de tudo que me disse ontem. Não podemos
fazer essa desfeita, eles foram muito gentis.
– Ah, que merda essa política da boa vizinhança!
– Eu te dou cinco minutos, nem um segundo a mais que isso, mocinha! –
Anuncia séria e sai do quarto.
Eu odeio ser tratada como uma criança, por mais errada e relutante que
eu esteja em seguir a ordem. Isso modifica meu humor consideravelmente,
mas nesse momento, estou mesmo agindo como uma perfeita criança,
imatura e medrosa.
Medo de que porra? Estou transtornada, definitivamente! Foram apenas
uns pegas. É nisso que eu preciso focar. Estou vivendo um momento delicado
de mudanças e com certeza isso está me afetando, é isso, tenho certeza.
Faço o que me foi "ordenado". Levanto e vou direto para o banho.
Enquanto a água caía sobre mim como uma cachoeira, relaxo e me permito
focar apenas em coisas boas. Enquanto ensaboo meu corpo, passando a
esponja por todos os cantos, me sinto no auge da sensibilidade. Cada lugar
que toco está a flor da pele e estou me sentindo um pouco mais mulher.
Bastou uma noite quente para que, enfim, meu corpo desperte para a
necessidade de novas sensações. Isso é traiçoeiro demais comigo. Já beijei
mais de cem bocas e apenas uma conseguiu tal proeza. É o momento de
beijar mais algumas para acabar com o encanto, estou disposta e me envolver
com homens um pouco mais velhos do que de costume e tentar acabar com o
encanto em me encontro.
Minha mãe está certa, esse almoço pode servir para eu ver que não
passou de um encantamento.
É pensando dessa maneira que saio do banho preparada para qualquer
acontecimento, inclusive para provocar. Coloco um vestido falso/angelical,
exatamente isso. O vestido é azul bebê, justo até a cintura e um pouco
soltinho embaixo, curto, mas na medida certa, e o que chama atenção é a
parte de cima que marca bem meus seios e ainda dá uma breve visão deles
olhando pelo lado. Uma verdadeira enganação. Coloco uma rasteirinha e
passo uma maquiagem bem básica, apenas rímel, lápis e gloss. Quando vejo o
resultado final, tenho a vontade louca de colocar uma tiara com chifrinhos
vermelhos, estou diabólica e isso faz surgir uma empolgação dentro de mim.
A Beatriz está de volta, ela ainda habita em mim, afinal.
A primeira pessoa a notar meu vestido é meu querido irmão.
– Se eu fosse nosso pai não deixaria você usar esse vestido. – Resmunga
sentado no sofá, rindo.
– Matheus, vai cuidar das suas cuecas, filhinho. Sua irmã é linda e
jovem. – Minha mãe me defende e eu faço o dedo do meio para ele.
– O que está havendo? – Meu pai pergunta ao chegar na sala.
– Nada meu amor, vamos? – Minha mãe diz com a cara de santa que só
ela sabe fazer.
– Vamos, você está linda. Aliás, as duas mulheres da minha vida estão
maravilhosas. –Ele beija minha testa e Matheus faz careta. É cômico e
infantil, nós sabemos.
Atravessamos o corredor e estamos em frente o apartamento dele. Tão
óbvio.
Uma mulher maravilhosa abre a porta e eu começo a achar que deveria
ter me arrumado mais.
– Bem-vindos, é um prazer tê-los em nosso lar. – Ela diz com o sorriso
perfeito e meu queixo vai ao chão. Ela é mãe ou irmã do Bernardo? Seja o
que for, agora está explicado porque ele é o que é.
– Obrigada. – Respondemos como um coral, e todos riem.
– Olá. – Um homem que parece ter saído da capa de alguma revista
chega sorrindo e eu quase morro. Puta que pariu, isso que eu chamo de
homem mais velho. Seguido dele, chegam um garoto e uma garota que
parecem ter minha idade ou a idade do meu irmão, que dá no mesmo. Eu
foco no garoto e tenho quase certeza que meu irmão deve estar fixado na
garota, porra, eles são lindos! O garoto é lindo do tipo que se eu não tivesse
na vibe mais velha pegaria com vontade. Só espero que meu irmão mantenha
o pau nas calças e não seduza a filha do vizinho, porque aí sim vai dar uma
grande merda!
– Gente, que família é essa? – Pergunto para mim, mas sai em alto e
bom som, me deixando constrangida. Eu me recuso a aceitar que essa mulher
a minha frente é mãe deles.
– Oh querida, eu quem faço essa pergunta. Me chamo Eliza, mas pode
me chamar de Liz. – Ela diz e me dá um abraço. – Você deve ser Beatriz,
seus pais me falaram de você, e esse deve ser Matheus. – Diz, indo até ele. –
Esse é meu marido Bernardo e esses são nossos filhos Victória e Pietro, eles
têm dezessete anos. Espero que possam ser amigos. Nosso primogênito já
deve estar saindo do banho. – Ela termina de dizer super simpática e sinto
meu coração acelerar pela primeira vez.
BERNARDO

Quando crio coragem e saio do quarto, vou direto para o andar de baixo
cumprimentar nossos convidados.
Encontro apenas meus pais e os pais da temível Beatriz, e cumprimento-
os educadamente. Eu não sei o que se passa na cabeça da mãe dela, mas os
olhos dela chegam a brilhar quando me vê, como se soubesse de algo. Ela me
olha como se pudesse ver além, é instigante.
– Onde está o restante? – Pergunto.
– Ah, estão na cobertura, achei que já tivesse visto eles. – Minha mãe
diz.
– Não os vi. Vou até lá, me deem licença. – Digo.
– Meu Deus, seu filho é educadíssimo. – Ouço a mãe da Beatriz falando
e não quero continuar escutando onde a conversa irá parar. Se ela soubesse o
quanto cuidei da filha dela ontem, não diria isso.
Subo as escadas novamente indo em busca deles. Os primeiros que vejo
é Vic e Pietro e Matheus, irmão da garota problema, envolvidos num papo
que parece estar interessante já que nem notaram minha presença.
– Olá. – Digo, enquanto dou um beijo em Vic e aperto a mão de Pietro e
Matheus.
– Oiiii irmãozinho. – Vic me abraça.
– Oi, pirralha.
– Fala cara, prazer, sou Matheus. – Ele diz, educadamente.
– Bernardo, fique à vontade. Se precisar de qualquer coisa, peça a um
dos pirralhos. –Brinco, e Pietro me dá um soco.
– Minha irmã está perdida aí pela casa. – Diz, como se eu estivesse
perguntando, e apenas aceno a cabeça.
Procuro por toda a cobertura e não a encontro, só há um lugar que não a
procurei e algo me diz que é lá que ela está.
Abro a porta do jeito mais delicado que consigo e enfim a encontro.
Gostaria de entender o que essa garota está fazendo no meu quarto, mais
especificamente na varanda do meu quarto, olhando como se tivesse
procurando algo e deixando metade da sua bunda a mostra num vestido
completamente indecente e desconcertante. É a maldição do tigre, eu já estou
duro novamente por essa diaba.
Sorrateiramente vou me aproximando. Ela está muito perdida em sua
observação, tanto que não se deu conta da minha presença. Colo meu corpo
ao dela e a vejo estremecer. Mais que rapidamente, ela se vira para me
encarar, mas eu não movo um centímetro do meu corpo, estamos grudados,
mais uma maldita vez.
– Procurando algo? – Pergunto, abaixando o olhar dos olhos para o
decote lateral do vestido dela. Deus, é provocação ou um teste? Eu posso ver
a curva dos seios dela, quero ver mais, agora sem o escuro de um salão de
festa para impedir minha visão.
– Eu não, mas você parece estar. – Diz, mordendo os lábios.
– Sua mãe não ensinou que não se deve invadir o quarto das pessoas?
Pode ser perigoso. – Digo, passando o dedo em seu decote lateral. Porra, é
tentador.
– Depende. O que é perigoso para você pode não ser para mim.
– Você não está facilitando as coisas para mim, Beatriz. Você não
deveria estar no meu quarto usando esse microvestido que deixa pouco para a
imaginação. Sou homem, não sou feito de ferro.
– Quem disse que eu facilitaria? É apenas um vestido simples para um
dia de verão, Bernardo.
– Você quer me provocar, não é? Não bastou me deixar com as bolas
roxas. Por que fugiu ontem?
– Eu... eu não fugi.
– Você fugiu. – Afirmo, olhando em seus olhos.
– Eu só estava perdida, ok? Eu nunca tinha ... eu estava. – Ela fica
completamente sem graça e vermelha.
– Você estava morrendo de tesão porque tinha acabado de gozar nos
meus dedos e ficou com medo de onde isso podia nos levar. – Digo por ela
que abaixa o olhar, e em seguida, levanto seu queixo, fazendo-a me encarar. –
Foi isso, Beatriz?
– Sim, foi.
– Compreensível e contraditória. Ainda assim, perdida e com vergonha,
você acordou com coragem o suficiente para entrar no meu quarto.
– Eu só estava curiosa para saber qual era o seu quarto e para onde ele
tinha visibilidade. – Diz, como se tivesse dito que estava observando o céu
azul. Por que ela está interessada na visibilidade do meu quarto? Totalmente
sem filtro!
– Sério? Não se preocupe, posso pular da minha cobertura para a sua
facilmente. –Brinco e ela fica séria, provavelmente levando a sério o que
acabei de dizer. – E agora? – Pergunto. A verdade é que eu estou me
controlando para não jogá-la na cama e acabar com essa vontade que está me
consumindo. Me sinto como um verdadeiro babaca por pensar dessa maneira,
mas não estou sendo eu desde ontem, então é irrelevante. Certas mulheres
possuem o dom de desestruturar os homens, Beatriz é uma delas, com essa
mistura de garota e mulher, de inconsequente e medrosa, ela vai de tímida a
safada muito rapidamente, parece loucura.
– E agora o que? – Pergunta com cara angelical e eu a encaro. – E agora
vou mudar meu quarto para a cobertura, hoje ainda. – Agora o angelical já
não existe. É uma confusão completa.
– Tudo isso para eu fazer umas visitinhas noturnas? – Provoco e ela cora
facilmente, dá para entender?
– Olha só, vamos ser sinceros. – Diz, me empurrando, e começa a andar.
– Você está duro de tesão em mim agora, é visível. – Ela aponta para minha
bermuda marcada e sorrio. – Pois é, e eu estou molhada de tesão por você,
mesmo que não seja visível. Cara, você é um gostoso do caralho! Entenda,
não se trata de paixão, amor ou relacionamento, mas eu acredito que
possamos, ao menos mais uma vez, dar um pega daqueles como ontem,
pronto falei! Me julgue, querido!
– Quão molhada você está agora? – Pergunto apertando minhas mãos até
meus dedos ficarem brancos, a um passo de cometer uma loucura.
– De 0 a 10? – Pergunta, mordendo o maldito lábio. Desço meus olhos e
vejo seus pequenos mamilos enrijecidos em evidência. Nesse momento não
sei quem sou mais.
– Sim. – Digo, lutando para encontrar controle.
– 8. Seria 10 se eu estivesse... – Porra! Corto-a antes que ela termine.
– Nossos pais estão lá embaixo e nossos irmãos estão bem próximos de
nós. Se você não quiser que façamos uma loucura, aconselho que saia do
quarto agora. E eu estou falando sério, Beatriz. Saia ou vai dar ruim. – Aviso
enquanto ela sorri, me levando a insanidade.
MATHEUS

Ela é linda demais. Puta merda!


Eu já muitas mulheres/garotas bonitas. Já tive mulheres, de todas as
cores, de várias idades, de muitos amores...
Olha a situação em que me encontro, Deus!
Enfim, o que quero dizer é que já comi mulher pra caralho, do pau ficar
esfolado. Mas essa garota, com sua carinha angelical e inocência nítida me
fodeu só com o olhar.
Estou conversando com ela e com Pietro, mas nem mesmo ouço o que
ele diz. Só sei que é sobre faculdade...
Ela cora com facilidade, tem o riso frouxo, é doce, angelical. Ela está
com uma blusinha tomara que caia, seus cabelos estão presos num rabo de
cavalo e, pela primeira vez, deixo meu olhar varrer seu corpo.
Em seus ombros e acima dos seios há várias sardinhas, eu passaria um
dia e uma noite toda contando-as. Ela possui um belo par de seios
completamente proporcionais ao seu corpo. Não tão grandes, nem tão
pequenos. São medianos e incríveis.
Ela se levanta para buscar algo e disfarçadamente eu observo o restante
da obra prima. Ela tem uma bunda... e que bunda. Porra! A bunda dela é
grande do tipo que dá vontade de dar umas palmadas. Daria minhas duas
bolas para vê-la nua.
Que mulher! Ou não... Que garota! Puta que pariu. Estou perplexo. Juro
que não sei o que é mais bonito nela... o rosto, os seios, a bunda ou restante.
Já sei.
O rosto e o resto.
Linda da cabeça aos pés.
BEATRIZ

Se Bernardo soubesse o quanto gosto de rir na cara do perigo...


Aliás, o perigo que estou correndo não é nada mal. É do tipo que
qualquer uma ficaria feliz em correr.
Ele está parado a poucos metros de mim usando havaianas brancas, uma
bermuda azul escura e uma regata branca, espetacular, com os punhos
fechados e me encarando como se fosse um leão feroz prestes a devorar sua
presa. Ele fica encantando vestido dessa maneira tão casual. Não combina
nada com o cara sério que está me encarando, estou mordendo meus lábios
para não rir da situação. Ficamos alguns longos segundos nos encarando, até
que não resisto mais e dou um sorriso. Um sorriso que faz um efeito de uma
bomba atômica no mesmo momento, e conforme ele vem andando até mim,
vou andando sem saber para onde ou até mesmo o que tem atrás de mim.
Desde pequena, sou boa nessa brincadeira de polícia e ladrão, é assim que me
sinto agora.
Quando enfim bato na parede, ele sorri. Um sorriso daqueles de tirar o
fôlego e deixar de pernas bambas. Fico paradinha, apenas respirando e
esperando o que quer que ele vá fazer comigo. Surpreendentemente, ele retira
sua regata e a joga longe, aproveito e subo o olhar do seu peitoral para seu
rosto, buscando respostas, mas a única que tenho é quando ele retira seus
chinelos e em seguida a bermuda, ficando apenas de cueca boxer
BRANCA!!!!!!!!!!!!!!!! A resposta está bem na minha frente, ele não está
brincando.
– O que você está fazendo? – Pergunto, chocada, quando sinto seus
dedos tocando meu corpo, trabalhando para abrir o zíper na lateral do meu
vestido. Onde essa brincadeira está chegando?
– Eu dei uma opção, você não saiu. – Diz, me deixando desesperada. Eu
já não sei se sou corajosa ou medrosa. Não estou entendendo mais nada do
que está se passando comigo. Fui eu quem sugeri que deveríamos continuar
nesse pega louco e agora estou aqui, me cagando.
– E agora? Vamos transar? Nossos pais estão logo... – Ele não me deixa
falar, simplesmente desiste de luta contra o fecho, me pega pelas pernas e me
beija enquanto as enrolo em sua cintura. Aliás, estou começando a ficar
expert em enrolar pernas na cintura dele.
Seu beijo tem o poder de fazer minha mente apagar para todas as outras
coisas, mas quando vejo meu corpo sendo depositado sobre a cama, ela volta
a trabalhar com força total. Puta que pariu! Eu estou na cama com o vizinho
que eu conheci há menos de três dias.
– Para! Meu Deus, nós estamos na cama, Bernardo!
– Mais confortável que uma parede ou uma mesa. – Informa, descendo
beijos em meu pescoço.
– Eu preciso ir, não podemos fazer isso agora, dessa maneira. Não vou
ficar à vontade.
– Nós não vamos transar, se é esse o seu medo. Eu jamais tiraria sua
virgindade sem termos ao menos um relacionamento sério. – Como assim?
Então nós nunca chegaremos nas vias de fato.
– Mas você...
– Eu estou de cueca? E você de vestido. Apenas quero te mostrar novas
sensações, Beatriz, sem uma calça jeans ou qualquer outra coisa grossa nos
atrapalhando. – Diz, me olhando com intensidade.
– Eu quero. – E por Deus, eu quero muito, quero tanto que chega a
doer.
– Eu sei que quer. – Sorri. – Vou ser menos impulsivo, Beatriz. Você é
inexperiente. –Diz e se levanta.
– Como assim? Você deixa meu corpo gritando e sai? É isso mesmo? –
Pergunto, apoiando meus cotovelos na cama e o encarando.
– Não. Eu vou cuidar do seu corpo. Mais tarde, quando todos já
estiverem dormindo, no seu quarto. Você vai se sentir mais à vontade.
– Mas já estávamos a um passo. – Reclamo.
– Eu estava Beatriz, você não. Não precisa fazer essa carinha, isso não é
um ponto final. – Diz, ao vestir sua roupa e meu humor fica como?
PORRA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eu me levanto parecendo estar incorporada pela garota do exorcista!
Sinto sangue nos olhos. Passo por ele como uma descontrolada e, ao colocar
a mão na maçaneta, o diabólico me pega pela cintura, me vira para ele e me
dá um beijo daqueles cinematográficos, que ao invés de me acalmar, me
deixa insana.
– Não adianta lutar, eu sou mais forte. – Anuncia, rindo.
– Ok, mas quero ir embora e preciso que me solte.
– Você vai mudar de quarto? – Pergunta, ainda grudado em mim de um
jeito que eu mal consigo respirar.
– Sim.
– Hoje?
– Sim.
– Você vai deixar a cobertura aberta para mim? – Pergunta mordendo o
lábio inferior, meu Deus, ele é lindo.
– Aham.
– Está mais calma? – Cara de pau, tem a coragem de perguntar isso?
– Nem um pouco. – Digo mal-humorada e ele me solta. Quando estou
saindo pela porta, ele grita.
– Garotinha, sente-se ao meu lado na mesa do almoço. – Sugere sério, e
eu saio apressada em busca de um banheiro para me recompor.
BERNARDO

Assim que a gostosa/ louca/ garotinha sai do meu quarto, tenho a


impressão de estar entrando num erro com ela, é completamente errado isso.
Mas ser jovem significa errar, eu pelo menos penso assim. Ou passei a
pensar, não sei. Eu não sou "jovem" a muitos anos e não admito errar, mas
esse erro está sendo delicioso. Por mais que eu queira estar arrependido, não
estou.
Meu celular apita e confiro uma mensagem. É de uma das mulheres com
quem tenho encontros sexuais casuais. Uma loira de 35 anos, linda e
extremamente quente que eu, mesmo necessitando de sexo e sabendo o quão
louca ela é na cama, estou dispensando. Eu, Bernardo, estou dispensando
uma noite incrível de sexo para introduzir minha vizinha de dezoito anos ao
sexo. Eu estou louco? Claro que sim! Porém, isso é algo novo para mim.
Beatriz é a inexperiência em pessoa e eu jamais imaginei que
inexperiência seria algo que um dia pudesse atrair minha atenção. Mas, na
verdade, não é só isso, e sim o conjunto da obra. Beatriz tem uma sequência
de fatores que me deixa louco, inexperiência é provavelmente o menor deles.
Ela é aventureira, desbocada, direta, louca, mimada, linda, gostosa,
provocante e por fim tímida.
Ela fica completamente tímida quando avanço o sinal, e é lindo vê-la
perdendo a marra e o controle. Parece aqueles cachorrinhos pequenininhos
que botam a maior marra, mas não aguentam dar uma mordida direito. Isso
me faz ter os pensamentos mais sujos e perversos em relação a ela. É como se
fosse um fetiche que até então eu ainda não havia descoberto.
Vou até meu banheiro e tomo mais um banho frio, vou começar a contar
quantos terei que tomar por causa dessa garota. Quando saio do quarto, vou
direto para a cozinha e já encontro todos sentados. Como uma garota
obediente, Beatriz está sentada ao lado de uma cadeira vazia e quase deixo
todos perceberem o sorriso que dou.
– Até que enfim, filho! – Meu pai exclama.
– Sim. Podemos comer? Devo ter matado todos de fome. – Brinco, e
todos começam a servir. Quando estamos comendo, minha mãe chama
Beatriz.
– Então Beatriz, já está na faculdade? – Pergunta, e noto Beatriz ficar
desconfortável.
– Na verdade, ainda não, não estou certa do que quero fazer. – Normal.
Nem todos os jovens chegam ao período da faculdade sabendo o que querem
cursar. Mas, por algum motivo, ela parece desconfortável com isso.
– Tem ao menos algumas opções em mente? – Pergunto, curioso.
– Estou na dúvida entre Direito para seguir a carreira do meu pai ou
Administração. De qualquer forma, qualquer uma das duas me permite
trabalhar junto a ele. – Responde de forma madura e fico quase encantado.
– Bernardo cursa Administração, Beatriz, e já administra nossa empresa.
Por que você não combina um dia para levá-la para conhecer a empresa e ver
um pouco mais do trabalho que desempenha, filho? – Meu pai sugere sem
saber o que é passar um tempo ao lado dela. E olha que passei pouco tempo e
já estou achando um caos.
– Claro, quando ela quiser.
– Ah! Estou muito feliz por nossos filhos fazerem amizade. – A mãe
dela diz, animada. Essa mulher é demais em todos os sentidos, inclusive o da
loucura.
– Também ficamos contentes. – Minha mãe sorri. – Beatriz, faça
Bernardo sair mais de casa.
– Eu saio de casa, mãe. – Argumento.
– Um pouquinho a mais não seria tão ruim, não é mesmo? – Ela pisca o
olho e vejo Beatriz rindo.
– Garotinho, não acredito que você é caseiro. – Sem filtro, ela diz, e
todos passam a prestar atenção em nós, menos meu pai e o dela que estão
envoltos numa conversa. E nossos irmãos que estão viajando em outra
conversa.
– Sua filha é muito engraçada, dona Mariana.
– Não me chama de dona em hipótese alguma. Me chame de Mari ou
Mariana. –Repreende e então sorri. – Ela é muito engraçadinha mesmo. Um
dia te conto umas histórias dela.
– Excelente. Acho que vou adorar saber. – Sorrio, colocando uma mão
na perna de Beatriz, e começo a subir lentamente por sua coxa. Isso tanto a
deixa desconfortável, como ofegante.
– Vocês já são amiguinhos? – Minha mãe pergunta desconfiada e
Mariana se engasga, fazendo com que Beatriz fique vermelha.
– Amiguinhos, mãe? Sério isso? – Pergunto. Se ela soubesse o tipo de
amizade que quero...
– Deixa sua mãe, garotinho. Nós nos conhecemos na festa ontem. –
Beatriz explica satisfeita e eu aperto os dedos em sua coxa.
– Que legal Beatriz, então o chame sempre que quiser sair. Eu brigo com
ele para ser um jovem normal, que saia e beba, mas ele é a cópia perfeita do
que eu e o pai dele costumávamos ser. Porém, eu tinha noção de que a
seriedade toda era desnecessária e combinamos de sair ao menos de quinze
em quinze dias para agirmos como jovens. –Minha mãe conta. – Mas é uma
longa história e a nossa realidade era outra. Éramos assim porque a vida
exigiu de nós dois cedo demais, não tínhamos como fugir, já nosso filho, não
tem motivos, pode sair, viajar, curtir. Me sinto culpada.
– Não se sinta, mãe.
– Não diga isso, Liz. Eu gostaria que Beatriz fosse um pouco mais
centrada como seu filho. Matheus ainda está cursando o último ano do
colegial, mas Beatriz já formou e é festeira demais, sem foco. Eu e Arthur
não a forçamos, em hipótese alguma, mas seria bom um pouco mais de foco.
– Mariana diz e a merda está feita. Elas irão se unir, é fato.
– Ok, vamos para a sobremesa? – Mudo de assunto e Beatriz agradece
prontamente.
Beatriz e sua família ficaram boa parte do dia em nossa casa, e eu sou
obrigado a ler um livro inteiro para evitar mais encontros quentes em um dos
cômodos da casa.
Estou distraído em minha leitura quando meus pais surgem:
– Ei, estamos te chamando a alguns segundos. – Minha mãe diz e me
levanto.
– Desculpe, estava perdido... no livro.
– Boa noite filhão, vai ficar lendo? Já são 23 horas. – Meu pai diz.
– Uau, quase perdi a hora.
– Vai sair? – Minha mãe pergunta.
– Não mãe, é porque vai passar um filme que eu estava esperando. –
Minto. – Bom, vou subir e tomar um banho antes que comece. Boa noite para
vocês.
– Boa noite, filho.
Subo e, mais que rapidamente, pego meu celular, procuro no grupo pela
foto dela e clico, fico alguns minutos observando a foto da garota antes de
mandar uma mensagem. É, ela é bonita demais.
Após nosso breve diálogo, tomo um banho, e ao invés de um filme,
coloco música para aguardar o momento certo de dar o bote.
Estou ansioso!
BEATRIZ

Meia noite e quarenta e nada do meu vizinho dar sinal de vida.


Enquanto meu irmão se diverte com a garota que pegou ontem, estou aqui,
insatisfeita e frustrada, assistindo clipes em um canal de música. Estou
prestes a explodir, por isso tenho a excelente ideia de roubar uma garrafa de
vinho na adega que fica na cozinha. Vinho me faz relaxar e dormir, isso é
exatamente o que preciso.
Desço as escadas com cuidado e por sorte está tudo na mais perfeita paz.
Pego uma garrafa de vinho, uma taça, um abridor, uma garrafinha de água e
volto para o meu quarto. Luto duramente e, depois de muito tempo, consigo
abrir a merda do vinho. Estou tão prostituta da vida que tomo uma longa
golada na garrafa mesmo. O líquido desce queimando pela garganta e
incendiando o restante do meu corpo. Fico feliz com a sensação e, com mais
algumas goladas, já me encontro rindo de nada e com a mente muito mais
leve. Santo remédio!
Verifico o relógio e já são 01:15. Já era. Esse babaca não vem mais!!!
Eu vou matá-lo por me fazer esperar! Quando estou perto de uma síncope,
Marília Mendonça explode pelo alto falante da minha tv. Chega a dar uma
leve dor no peito porque torna-se impossível não lembrar das minhas amigas
de BH. Sofrência demais!
Vem que tem infiel!!!
Com lágrimas nos olhos e cachaça na cabeça, pego o controle e finjo ser
meu microfone, começo meu show com direito a dancinha da sensualidade.
Êta tremmm! Eu era mais feliz em BH, sem dúvidas. Bastou poucos dias no
Rio para minha vida virar toda essa bagunça. Lá, ao menos, a bagunça era
organizada. Sem vizinhos desconcertantes.
Minha mente encontra-se vacilando entre continuar meu show feliz e
dormir, porque ao contrário do que imaginei, cantar não está diminuindo meu
estado “prostituta da vida”. A segunda opção enfim vence, eu desligo a
merda toda e me deito agarrada a um travesseiro.
Mil e um pensamentos passam pela minha cabeça, um deles é que
Bernardo deve estar com outra pessoa, alguém que ofereça uma noite incrível
de sexo a ele. Enquanto eu não passo de uma simples garotinha virgem como
ele mesmo diz. Eu não tenho a experiência que ele tanto gosta para oferecer,
isso me torna completamente desinteressante. A partir de agora, eu só tenho
que tirá-lo da mente e isso vai começar amanhã mesmo. É apenas a realidade
que eu tentei “infringir” para meu próprio prazer. Pensar de uma forma mais
madura é a melhor opção, também não sei como essa brincadeira iria acabar.
Quando finalmente chego a tal conclusão, relaxo, dessa vez de verdade.
Deixo que meus pensamentos se dissipem até que o sono ganha a parada.
Doce ilusão... o universo tem outros planos para minha noite...
Quando enfim o peso dos meus olhos vence minha mente, sou desperta
ao sentir um peso sobre a cama. No primeiro momento, penso estar
sonhando, mas quando sinto um peitoral desnudo em minhas costas e braços
fortes me envolvendo numa conchinha perfeita e me puxando para si, meu
corpo entra em total estado de alerta e meu coração dispara.
Ele veio.
Me desvencilho dos seus braços e me viro de frente para ele, mais que
depressa tenho seus lábios grudados aos meus. O beijo que começa calmo
toma grandes proporções em poucos segundos. Bernardo parece ter nascido
para beijar, pois seu beijo provoca em mim tudo que nenhum outro conseguiu
provocar. Quando me dou conta, ele está sobre mim pedindo passagem entre
minhas pernas, e quando se acomoda e abaixa, vou do céu ao inferno com a
pressão dos nossos corpos.
– Shiu, não queremos ser pegos. – Diz, ofegante, enquanto rasga minha
camisola lentamente, me deixando chocada.
– Você rasgou minha camisola?
– Eu te dou mil camisolas, agora fica quietinha, minha delícia. –
Responde e eu foco no “minha” antes mesmo de focar em sua boca em meus
seios. Minha delícia, Deus eu queria realmente ser dele. – Você está com
sabor de vinho.
– Eu bebi quase uma garrafa. Deus...
– Bernardo. Não chame Deus, não nesse momento. – Diz, rindo. –
Inferno, você me deixa insano com essa porra de inexperiência.
– É tão ruim ser inexperiente? – Pergunto, tentando afastá-lo.
– Aí que está o grande problema Beatriz, descobri que não é nem um
pouco ruim, muito pelo contrário. Agora eu preciso de você, só quero ouvir
seus gemidos e nada mais. Tem alguma luminária? Não aguento mais ficar
com você em lugares onde não posso observar suas feições.
– Você me deixa sem saber o que fazer e completamente sem graça. –
Informo, enquanto ele se levanta. – Na mesinha tem uma luminária. – Aviso.
Ele vai batendo em tudo até achar a mesa e a luminária, e quando acende
tenho uma excelente visão de sua traseira tampada apenas por uma boxer
preta. Cara, ele é... chega, não vou ficar falando como uma garotinha
encantada.
– Agora sim. Linda. Você fica absurdamente linda corada, por favor, tire
as mãos deles. – Diz se referindo aos meus seios, e eu retiro num ato de
coragem graças ao vinho! Preciso provocá-lo como ele me provoca, sem
pensar em nada. Me levanto, fico de joelhos na cama o encarando e
observando seu pomo de Adão subir e descer. Seu olhar queima através do
meu corpo e sinto uma mudança abrupta de eletricidade.
– Eu quero ir rápido com você, mas ao mesmo tempo penso em ir lento
e aproveitar mais. – Confessa sério, parado como uma estátua. Sorrio. Viu?
Sou uma garotinha, mas posso deixá-lo sem saber o que fazer.
– Qual das duas opções está gritando mais alto dentro de você? –
Pergunto, mordendo o lábio. Ele olha por todo o quarto até parar em uma
cadeira de canto. Voltando o olhar para mim, ele sorri, fica de pé, se acomoda
na cadeira e me chama.
– Vem cá. – Convida e me levanto. Ando lentamente até ele com uma
confiança incrível e surpreendente com a segurança estando num estado de
quase nudez. Paro bem diante dele, que me puxa para seu colo. Deus! Ele me
puxa, fazendo com que eu sente sobre suas pernas, com uma perna em cada
lado de seu corpo. Sou pega pela bunda e puxada para mais perto, de uma
maneira que fico sentada bem em cima de toda sua dureza. Estarmos apenas
separados por nossas roupas íntimas deixa tudo mais realista e sensível.
Fecho os olhos e respiro fundo, não acredito que estamos numa situação
dessas. É tão desconcertante.
Bê carinhosamente joga meus cabelos para trás dos ombros, e em
seguida enfia uma mão por entre eles e os puxa, fazendo com que eu arqueie
as costas e jogue minha cabeça para trás. Com a mão livre, rodeia o braço em
minha cintura de um jeito que mal consigo me mover. Sinto sua boca
passeando pelo meu pescoço e apoio minhas mãos em seus ombros. Meu leve
movimento faz uma fricção entre nossas partes e o ouço ofegar.
– Faça de novo. – Diz em meu pescoço.
– O que? – Pergunto, desorientada.
– Abra um pouco mais as pernas e movimente seu quadril devagar. –
Guia e eu faço o que manda. Abro um pouco mais as pernas e a posição se
torna mais prazerosa. Em seguida, remexo meu quadril como se estivesse
rebolando e, na segunda remexida, paro. Puta que pariu, é como se
tivéssemos transando de roupa!
– Isso é...
– Desesperador, insano. – Responde por mim. Fico impressionada com o
efeito que estou causando nele. Nos encaramos e seus olhos brilham de
excitação e desejo. Ele retira a mão dos meus cabelos e segura minha cintura,
busca minha boca e nos beijamos, enquanto força movimentos até que eu me
encontre fazendo sozinha. Agora entendo por que a grande maioria das
mulheres gostam de estar por cima, puta que pariu! – Devagar, Beatriz
– Não dá. Eu quero você.
– Eu vou gozar na cueca como um adolescente, puta que pariu, colabora
comigo por favor. Terei que ficar no controle da situação?
– Você está no controle desde o início. Se mudar de posição, eu te mato,
Bernardo. –Digo, rebolando como uma profissional do sexo. Por que eu
nunca me permiti fazer isso antes? Misericórdia. Isso sim é uma sarrada!
– Está gostoso, não está? – Questiona, ofegante entre os beijos.
– Sim.
– Porra, não faça isso. Não me olhe com essa carinha de inocente, esse
olhar me dá vontade de fazer coisas muito mais indecentes do que o que
estamos fazendo e não podemos.
– Indecentes? – Sorrio e concentro no meu trabalho sujo, aumento mais
minhas investidas. Preciso que ele sinta o mesmo que eu, preciso vê-lo
completamente entregue.
– Você fica perfeita rebolando em mim, gemendo. – Abaixa os lábios
para meus seios e começa a chupá-los com fervor. Ele também me causa um
efeito com o jeito carinhoso/safado dele. Mais algumas reboladas depois,
estou entregue ao segundo orgasmo arrebatador da minha vida, porém, dessa
vez ele me acompanha. Assim que a sensação avassaladora explode dentro de
mim, passo a me concentrar em Bernardo, que está com a cabeça jogada para
trás e seus braços me segurando firmemente.
Um sorriso brota em meu rosto sem que eu consiga contê-lo. Eu o fiz
gozar. Eu fiz isso. Ele fica lindo gozando. Estou tão ferrada que me jogo
sobre ele e o abraço forte. Queria congelar esse momento.
Após uma respiração longa, se inclina para frente comigo em seus
braços:
– O que foi? Não gostou de algo? – Pergunta, carinhosamente.
– Não foi nada, eu amei. E você?
– Nunca gozei assim antes. Preciso muito mais que uma “esfregadinha”
para isso acontecer. – Ele ri, e eu sorrio de volta.
– Precisamos de um banho. – Digo.
– Não existe nenhuma chance de tomarmos banho juntos, Beatriz. Não
daria certo. Vá na frente, quando acabar eu vou.
– E sua cueca toda melecada? – Pergunto, timidamente.
– Sou precavido, trouxe outra.
– Uau, já tinha coisas indecentes na mente! – Brinco.
– Exatamente. – Responde. Me levanto, agora sem graça, e corro para o
banheiro.
Fico alguns minutos olhando meu reflexo no espelho, completamente
vermelha e descabelada. O que está havendo entre nós dois? Por que as
coisas chegaram a esse ponto tão rapidamente? Perguntas e perguntas, sem
nenhuma chance de obter respostas. Entro embaixo da ducha morna e deixo
que a água caia sobre meu corpo com toda força.
Minutos depois, após esconder minha camisola rasgada, já estou deitada
o aguardando sair do banheiro e, quando ele sai com os cabelos molhados e
algumas gotas de água escorrendo pelo peitoral, suspiro.
Ele volta a se acomodar ao meu lado e me puxa para seus braços.
Sinceramente, é clichê, mas eu gostaria que ele nunca mais saísse daqui.
– Você vai ficar? – Pergunto.
– Você quer que eu fique? – Pergunta, beijando minha testa e fazendo
cafuné em meus cabelos.
– Sim.
– Então eu ficarei. – Sorri, e me aconchego mais a ele. É a primeira vez
que durmo com um homem. Parece tão certo o que estamos fazendo, parece
tão certo estar nos braços dele. Com esse pensamento, sorrio e me entrego a
um sono tranquilo e delicioso.
BEATRIZ

Sinto leves mexidas em meus cabelos enquanto permaneço envolta a


braços fortes. Abro os olhos, um lindo homem com covinhas e olhinhos
puxados devido ao sono me encara, nossas pernas estão entrelaçadas e eu
estou com a mão em seu peitoral. Minha mente está oscilando entre o sonho e
a realidade. É tão bom e aconchegante acordar dessa maneira, que parece um
sonho. Tão certo, como se não houvesse empecilhos ou diferenças entre nós
dois, aliás nem mesmo parece que acabamos de nos conhecer.
– Bom dia. – Bernardo diz.
– Bom dia, está acordado há muito tempo? – Digo, me espreguiçando.
– Não muito. Dormiu bem?
– Muito bem, nunca havia dormido com ninguém, está sendo uma
experiência nova e gostosa.
– É? Eu também nunca havia dormido com uma garota. – Diz, e eu o
encaro.
– Jura?
– Juro. Já fiz sexo grande parte da noite, mas nunca dormi com qualquer
pessoa.
– Interessante. – Respondo puta da vida, nem sei porquê.
– Está sendo uma experiência nova e gostosa para mim também.
Inclusive, gostaria de ficar mais, porém o dia já está amanhecendo e não
podemos ser pegos. – Estou feliz por tudo que fizemos, mas de repente a
felicidade é substituída pelo pânico. Ele vai embora e não tenho a menor ideia
do que acontecerá com nós dois. A verdade é que eu não quero que isso
acabe, eu gostaria muito que continuássemos com o que quer que esteja
acontecendo, mas ele realmente precisa ir ou meu pai irá matá-lo.
– Tudo bem. – Suspiro, e ele deposita um beijo demorado em minha
testa antes de se levantar. Quando se levanta, não há como não notar o
volume grande em sua cueca. Fico paralisada alguns segundos até ele me
trazer de volta.
– Ereção matinal.
– O que? – Questiono.
– Você está secando meu pau e eu estou dizendo que é ereção matinal. –
Sorri com suas covinhas.
– Ah sim, bacana. – Digo, e ele ri enquanto termina de vestir seu casaco.
Aliás, por que ele veio de casaco?
– Você é muito engraçada. – Diz, vindo até mim. – Vou indo nessa, a
gente se fala. – Me surpreende com um selinho e sai, deixando meu quarto
vazio demais. Puxo o travesseiro que ele dormiu e seu perfume está
impregnado nele. Enquanto estou cheirando, a porta se abre novamente
fazendo com que eu leve um susto.
– Que susto!!!! – Exclamo, suspirando.
– Só queria dizer que eu estava errado quando disse que você gozando
era a imagem mais linda, vê-la acordando superou tudo. – Pisca um olho e
fecha a porta em seguida. Puta que pariu!!!!!!!!! O que ele quis dizer com
isso?
...
Uma hora depois, após muito lutar, entendo que não conseguirei dormir
mais. Não aguento mais rolar na cama e pensar. As 7:30 da manhã, estresso
de vez. Desço até a cozinha, faço um lanche, tomo banho e saio para correr.
O condomínio tem um bosque que eu ainda não havia conhecido e resolvo
correr até que meu corpo não aguente mais. Quando volto para casa, todos
estão acordados, exceto meu irmão:
– Uai, onde a senhorita estava uma hora dessas? – Minha mãe pergunta.
– Não consegui mais dormir, aí saí para correr na trilha. É incrível lá,
bem na beira da lagoa, cercada por árvores, micos, pássaros.
– Qualquer dia podemos correr lá, amor. – Meu pai diz.
– Claro, Tutu. – Ela sorri carinhosamente. – E quais seus planos para
hoje, filhota?
– Mãe, eu estou pensando em irmos ao shopping comprar coisas de
decoração para meu quarto. Aliás, decidi, vou ficar no quarto de cima
mesmo. – Digo, roubando uma rosquinha.
– Podemos irmos todos ao shopping, enquanto vocês torram o dinheiro
eu e Matheus ficamos tomando uma cerveja, aproveitamos e almoçamos
todos juntos. – Meu pai propõe.
– Excelente ideia, pai!!! Você é o melhor! – Sorrio.
– Ameiii! Vou aproveitar e comprar algumas coisas para a casa, para dar
um toque pessoal. O ruim de mudar para uma casa decorada é que não tem
muito nossa personalidade.
– Eu vou a falência hoje, gostosa. – Meu pai diz rindo e a beija. Não
aguento essa melação de cueca dos dois.
– Devo me retirar? – Pergunto.
– Deve, apenas para acordar seu irmão. Agora estou empolgadíssima
para nossa manhã de compras. – Ela responde.
BERNARDO

Dormir com Beatriz não foi uma boa ideia, definitivamente. Agora não
consigo tirá-la da minha mente, não consigo parar de pensar em tudo. Fui
nocauteado por uma garota de 18 anos em apenas dois dias, incrível!
Tomo um banho, visto uma roupa e pego uma fruta antes de sair de casa.
Só há um lugar capaz de fazer com que eu mantenha minha mente distraída e
é para lá que vou.
Já ouviu falar aquela frase clichê "homens e seus brinquedinhos"?
Então, eu me encaixo perfeitamente nela. Não sou o tipo que gosta de
ostentar, mas desde criança sempre fui apaixonado com carros, desde os
clássicos até os modelos mais modernos. Meu Porsche Cayman branco é
minha paixão. Quando entro nele, permito-me ser o jovem que minha mãe
tanto anseia. E como obra do destino, que está querendo me foder sem ao
menos usar um lubrificante, quem eu vejo correndo a poucos metros do
prédio? Ela!!!
Ok, respire! É o que digo a mim mesmo antes de acelerar o carro.
Minutos depois, estaciono em frente ao primeiro abrigo que meus pais
conheceram e tornaram-se proprietários. Sorrio quando todas as crianças
correm até mim, como de costume.
– Oláaaa!!! – Digo, e ouço um monte de "tio Bê".
Dona Ana, a senhorinha que fundou o abrigo, vem até mim com seus
cabelos brancos e seu riso frouxo.
– Filho, que bom que veio! Maria está aqui. – Ela sorri.
Maria foi criada aqui, é um pouco mais velha que eu, e meus pais a
conheceram quando ela ainda era bebê. Hoje é formada em assistência social,
já tem sua casinha, seu emprego, é voluntária do abrigo e uma das minhas
melhores amigas.
– Que bom, estava mesmo precisando falar com ela. Mas, antes vou
jogar uma pelada com esses moleques, alguém está afim? – Pergunto, e os
meninos gritam sim.
Todas as crianças de todos os abrigos que meus pais têm estudam,
possuem acompanhamento médico, psicológico e nutricional, além de
recreadores. Meus pais são pessoas extremamente grandiosas e eu tenho
orgulho disso.
Passo a manhã jogando bola com os garotos, e assim que termino de
tomar um banho, vou atrás de Maria.
– Eiiii, Bê!!!!! – Exclama quando me vê e corre para me dar um abraço.
– Almoça comigo hoje? – Peço.
– Já disse para você que não me envolvo com amigos, Bê. – Brinca. –
Almoço com uma condição, se for no shopping!
– Aff, que coisa irritante. Agora tem condições para aceitar meus
convites?
– Eu preciso de uma boa livraria e só no shopping tem. – Ela faz
biquinho e me convence.
– Tudo bem, chata. Vamos ao shopping.
– Por isso que eu te amo! – Sorrio e, após nos despedirmos de todos,
seguimos para o shopping.

– E então, desabafe. Uma das suas coroas te pegou de jeito e agora está
apaixonado, ou sua mãe continua brigando por você estar se tornando um
velho chato e ranzinza aos vinte anos de idade que só pensa em trabalho? –
Pergunta, dando um leve gole em seu suco. Somos amigos confidentes desde
crianças. Atualmente, ela namora com Pedro, que também era do abrigo e
hoje é formado em enfermagem.
– Está preparada para a bomba? – Pergunto, e ela ri.
– Vá. Diga logo, Bê.
– Eu fiquei com uma garota de 18 anos dois dias seguidos, por sinal ela
é minha mais nova vizinha e não consigo tirá-la da mente. Dormimos juntos
essa noite. – Digo, e ela arregala os olhos. – Só dormimos, ela é virgem. – Ela
engasga assim que termino de falar.
– Isso é sério ou é mais uma das suas brincadeirinhas "vou ser pai”?
– Pior que dessa vez é sério. – Suspiro, frustrado comigo mesmo. É bem
sério.
– Ok. Calma! Primeiro vou rir porque eu sobrevivi para ver este dia. –
Anuncia, rindo, mas ao ver que estou sério, contém. – 18 anos, virgem e em
dois dias mudou sua cabeça? Me apresente, ela merece o Oscar!!!
– Está me ajudando muito, Maria.
– Tudo bem, vou falar sério agora. O que você acha disso tudo?
– Não sei, estou confuso.
– Como vocês dormiram juntos? – Pergunta, curiosa.
– Ela mora na cobertura ao lado da minha. Pulei o muro que separa e
dormimos juntos no quarto dela. – Digo, e ela paralisa. Isso está ficando
ridículo.
– Tia Liz ia amar saber disso. – Ela dá uma gargalhada.
– Você está um pé no saco hoje, sabia? – Está foda!
– Ok, parei, pequeno aborrecente! – Fuzilo ela com o olhar e a contenho.
– Desculpe! Parei mesmo dessa vez. Você quer continuar? – Pergunta, e eu
pondero bastante entre continuar falando ou parar.
Eu quero continuar? Beatriz, pelo pouco que conheci, parece uma
bomba relógio prestes a explodir. Eu quero continuar com isso? Porra, eu
quero! Ela traz leveza para a vida, é transparente e no fundo é só uma jovem
perdida. Ela é doce, linda, gostosa e completamente entregue. Me sinto num
círculo vicioso.
– Não precisa mais responder. Você quer. – Maria diz.
– Querer nem sempre é o certo. – Digo. – Ela tem um lado complicado,
é impulsiva, isso pode dar ruim. E eu não quero um relacionamento.
– Bê, esse lance de relacionamento já virou uma crença limitante sua.
Você já fica com uma pessoa com isso na cabeça, "eu não quero
relacionamento". Isso é errado. Você precisa se deixar levar mais, ir curtindo
um dia de cada vez até ver onde isso pode levá-lo. Se você está gostando de
ficar com alguém, não tem porquê parar apenas para não ter um
relacionamento futuro. Pare de ser tão controlador consigo mesmo. Você se
cobra demais, parece um velho, sua mãe está certa todas as vezes que te cobra
viver mais como um jovem. Agora, voltando sobre a garota, eu acho que dois
dias é muito pouco para você já estar de quatro, você pode estar confuso por
ter gostado de se envolver com uma garota nova e inexperiente. Vou te
aconselhar a ficar uns dias afastado dela, Bê. Só assim você vai conseguir
entender o que está rolando dentro de si. Por mais que ela seja sua vizinha,
como falou, acho que tem como evitá-la ao menos enquanto não tiver certeza
do que realmente quer, ninguém merece ser iludida.
– Você sempre tem os melhores conselhos, mesmo que hoje tenha sido
irritante!
Saímos do restaurante abraçados e, quando dobramos o corredor,
encontramos com Beatriz e a mãe, carregadas de sacolas.
– É ela. – Digo.
– Ela parece não ter gostado de nos ver. – Afirma o que eu já havia
percebido.
BEATRIZ

– Filho da puta! – Digo ao ver Bernardo abraçado a uma garota.


– O que foi?
– Nada mãe, esqueci de comprar um negócio que estou precisando.
Precisamos voltar. – Puxo-a pelo braço e voltamos até uma loja qualquer.
Dizer que eu estou puta seria pegar leve demais. Não acredito que cai no
papinho "eu só fico com mulheres mais velhas" e nem acredito que me
permiti ser usada por aquele filho de quenga. Sei que o provoquei, mas ainda
assim, não é justo.
Assim que almoçamos, tomo uma taça de vinho e por fim convenço a
mim mesma que foi melhor eu ter visto logo quem ele é.
Porémmm...
MEU NOME É BEATRIZ, E BEATRIZ NÃO É BAGUNÇA!!!
Passo o maldito resto do dia trancada no quarto armando minha
vingança, e só saio dele após me olhar no espelho e ter a certeza de que estou
destruidora e confiante!
Como dizia a pensadora contemporânea Anitta "Acharam que eu não ia
rebolar minha bunda hoje?". Queridaaaa, estamos no Rio de Janeiro, aqui é
festa de segunda a segunda! E para fechar o domingo com um pouco de
dignidade, irei me acabar numa boate com meus novos
vizinhos/amigos. Aqui não tem dor de cotovelo não, meu amor! Vai tomar no
toba, imbecil! Aqui é girl power, caralho!
– Uau, meu orgulho!!!! – Minha mãe diz quando me vê e sorrio. – Juízo,
Beatriz, ou cortarei suas asinhas.
– Pode deixar, mãe.
– Esse projeto de saia está muito curto. – Meu pai afirma nada satisfeito
e minha mãe como sempre fala "ela é jovem". – Se precisar de qualquer
coisa, me ligue filha. Quer mais dinheiro?
– Não pai, já estou com seu cartão, preciso de mais o que? – Digo, rindo.
Cartão sem limites é o que temos para hoje! Eu amo meu pai!!!!!!!! Ele é o
melhor e é corajoso o bastante para me dar seu cartão!
– Vocês vão me falir. Pegue dinheiro Beatriz, nem todos os lugares
aceitam cartão. – Diz, abrindo sua carteira.
– Já estou levando pai, não precisa se preocupar. Prometo me comportar.
– Sorrio e olho para minha mãe que está fingindo não escutar.
– Ligue se precisar Beatriz, estamos no Rio de Janeiro, aqui é perigoso.
– Diz meu pai, me abraçando.
Entro no elevador e desço ao encontro da galera, ao todo somos quinze
pessoas divididas em cinco carros.
– Uoww, que gostosa! – Um dos meninos diz e eu sorrio. Querido, hoje
eu estou para o crime e o garoto é um gato, pena que não sei seu nome! Seria
uma boa distração. – Ela vai comigo.
– Vai com ele, Bia? – Bianca pergunta, rindo.
– Preciso fazer mais amizades, né?! Por que não?! – Respondo, mas
alguém entra no meio do assunto sem ser chamado e eu reviro meus olhos.
– Ela vai comigo. – Uma voz já bem conhecida anuncia. Não era ele que
não saía de casa? Então o que esse demônio está fazendo aqui empatando
meus esquemas?
– Não vou não! Você não é caseiro? O que está fazendo indo para uma
balada? –Retruco, cruzando meus braços e aguardando sua resposta.
– Estou gostando de coisas novas. – Ele sorri e todos ficam atentos ao
nosso diálogo confuso. – Aliás, tia Mari está contando que eu tome conta de
você hoje. – Tia Mari? Vai tomar no orifício! Desde quando minha mãe virou
“tia Mari”?
– Meu cu! – Rebato revoltada e ele abre a boca em choque, enquanto
Bianca ri. – Não preciso que ninguém tome conta de mim, muito menos
você.
– Você vai por bem ou por mal? – Pergunta, sorrindo.
– Vá para o inferno, Bernardo.
– 1, 2... – Ele começa uma contagem. Que ódio! Solto um suspiro e
decido ir com esse mestre da imbecilidade antes que faça um show.
Entramos no prédio novamente e descemos até a garagem. Paramos em
frente a um Porsche branco e eu dou uma crise de riso. O carro não tem nada
a ver com o jeito sério dele, é um carro de playboy.
– Não acredito que esse carro de playboy é seu. – Digo, me
acomodando.
– Acredite.
– Posso dirigir? – Peço, fazendo cara de pidona, e ele me encara.
– Você não tem habilitação e eu jamais deixaria uma louca dirigir meu
carro.
– Olha, para começar, você está sabendo muito da minha vida, e por
favor, pare de me chamar de louca quando você mal me conhece. Aliás, não
chame minha mãe de tia também. Você não é meu parente! – Digo.
– Tia Mari me contou. – Diz, sorrindo.
– Que eu sou louca? – Pergunto em choque.
– Não, que você não tem habilitação ainda. – Ri. – Sua loucura é
visível.
– E sua escrotice também, babaca! – Respondo.
– Seu sotaque é bonitinho. – Afirma. Por que esse filho do cão está tão
bem-humorado? Odeio pessoas bem-humoradas quando estou puta!
– E o seu é ridículo. – Digo e ele dá uma gargalhada, me irritando ainda
mais.
– Você vai dar partida nessa merda ou vamos ficar na garagem????? –
Grito.
– Não se envolva com Yuri, ele não é garoto para você. – Que diabos ele
está falando? Isso está além de escroto!
– Quem é garoto para mim? Você? Não me envolvo com caras sem
caráter e comprometidos. Agora você pode por favor dar partida no carro ou
irei voltar para a casa.
– Tudo bem, vou dar partida, mas não vamos para a boate.
– O que? Você está brincando comigo! – Digo, tentando abrir a porta,
mas está completamente travada. Puta que pariu!
– Nós estamos indo a um encontro. – Afirma, piscando um olho. – Eu e
tu, tu e eu.
– Querido, eu não sou a Fátima Bernardes, não quero um encontro. –
Informo para que ele saiba. Eu lá sou garota de ir em encontro? Foda-se!
Quero ir bater a bunda no chão e ser feliz!
– Não tem discussão, não haja como uma garotinha. Precisamos
conversar. – Diz, sério.
– Conversar sobre o que, “querido”?
– Sobre nós. – Diz, e me convence. Nós... isso é interessante, embora no
momento eu não esteja disposta a dar o braço a torcer.
– Tudo bem.
– Boa garota! – Sorri e aperta minha bochecha. Conto de um a dez para
não dar um soco nesse rostinho... fofo!
Fico em silêncio. Enquanto saímos do nosso condomínio, ele coloca
uma música eletrônica e fico o observando dirigir. Estou indo a um encontro!
Quando imaginei que ele me chamaria para um encontro? Não consigo
entender o que ele quer com isso. Encontro com Beatriz Albuquerque! Foda-
se. Estou prostigariranha da vida!
Uma música que adoro começa a tocar e volto meu olhar para ele mais
uma vez. Puta merda, nunca serei capaz de ouvir essa música novamente sem
lembrar dele, por mais que a letra não tenha nada a ver. Agora sim permito-
me analisar como ele está vestido, adoro o estilo intelectual/sexy dele. Hoje
está usando uma calça branca, tênis branco e uma regata cinza clara, com um
relógio chamativo no pulso. Seus cabelos estão desgrenhados e
absolutamente perfeitos. Homão da porra, viu!!!
– O que foi? – Pergunta.
– Nada. – Respondo, e ele sorri.
– Chegamos. – Informa, parando um carro em frente a um restaurante.
Um homem abre a porta e me ajuda a descer do carro gentilmente, enquanto
o manobrista pega a chave com ele. Um flash atrai minha atenção.
– O que é isso? – Caralho! Um flash!
– Você tem algum problema em aparecer na mídia? – Pergunta,
suspirando frustrado. Que porra é essa?
– Como assim aparecer na mídia, Bernardo?
– Meu pai foi e ainda é um modelo famoso, esse restaurante é famoso,
logo estamos sendo fotografados por paparazzis. – Ótimo!!!!!!!!!! Era tudo
que eu precisava!!! Inferno!!!!
Ele me pega pela cintura e nos leva até o interior do restaurante sob o
clarão de inúmeros flashes, e eu só consigo pensar que amanhã estarei no Ego
e no TV Fama! Cara, TV Fama é fim de carreira demais para um dia só! Já
consigo ver Nelson Rubens dizendo "Ok Ok, filho de modelo famoso é visto
acompanhado". Eu acho isso cúmulo do brega e da degradação social. Isso
deve ser uma pegadinha!
– Você tem ideia que nossos pais podem vir a ver isso? A sua namorada
pode ver isso! – Pergunto enquanto ele gentilmente puxa a cadeira para que
eu possa me sentar. Que bonitinho!
– Maria não é minha namorada, ela é quase uma irmã que namora com
um outro irmão meu. Eles foram criados no primeiro abrigo dos meus pais,
fomos criados como irmãos. Satisfeita? – Pergunta, me deixando
completamente sem graça. Maria é meu cu! Só se for Maria Madalena, aquela
vadia do cão!
– Não pareceu.
– As aparências enganam. – Diz, sorrindo, enquanto lê o cardápio.
– Tenho que concordar, você é jovem e parece um velho da benga mole!
– Retruco. Ao invés de ficar puto, o imbecil gostoso começa a rir.
– Benga mole? Tem certeza? – Pergunta, pegando minha mão e a
levando por cima da sua calça, onde sua “benga” encontra-se bem dura por
sinal! Novamente já consigo visualizar uma notícia. "Ok Ok filho de modelo
famoso é apalpado sexualmente em restaurante." Tiro a mão mais que
depressa. Meu Deus, terei pesadelos com Nelson Rubens!
– Tudo bem, você já provou seu ponto.
– Vamos tomar um vinho? – Propõe.
– Claro, por que não? – Finjo ser super simpática, não quero sair feia
nos tabloides. Imagina eu saindo na mídia com cara de cu? Deus me livre
dessa maldição!
Ele pede uma garrafa de vinho, suave porque sou dessas, e juntos
escolhemos uma massa. Quando o garçom volta com o vinho, começamos a
conversar:
– Então, agora você já sabe quem a garota do shopping é.
– Sei, e o quico?
– Quico? Sério, Beatriz? – Questiona, e eu sorrio. – Eu tenho uma nova
proposta para te fazer, por isso estamos aqui.
– Olha Bernardo, sabe, foi péssimo passar a noite com você e depois vê-
lo com outra, por mais que seja sua “irmã”, e foi mais péssimo ainda o fato
de eu ter sentido tanto. –Respiro fundo. – Eu não sei se devemos continuar
com essas propostas. Em apenas dois dias, tivemos algo completamente
diferente de tudo que já vivi, eu não quero continuar e ficar me iludindo, não
tenho como controlar o que sinto e o que penso. –Afirmo, e ele sorri. Encaro-
o sem entender.
– Você me encanta com essa transparência e falta de filtro.
– Obrigada? – Pergunto, duvidosa.
– Eu tenho uma proposta séria, Bia. – Bia é minha bunda!
– Não me chama de Bia, gosto quando fala Beatrixxx, com seu sotaque.
– Informo. É quase um orgasmo instantâneo quando ele diz Beatrixxx... Puta
merda.
– Você quem manda. – Ele sorri. – Beatriz, então, quero que a gente
continue com isso que está rolando, quero que a gente continue ficando. Eu ia
dar um tempo, mas não sou o tipo de homem que foge das vontades por medo
do que está sentindo. Eu quero continuar ficando com você, sem rótulos por
enquanto, um dia de cada vez. – Diz logo a que veio. Direto e reto!
– Uau!
– Sim, eu estava confuso, chamei Maria para conversar e não estou
seguindo os conselhos dela de deixar passar uns dias para entender o que
estou sentindo. Eu apenas sinto vontade de estar com você o tempo todo e
quero que continuemos. Não é um namoro, mas vou respeitá-la e quero que
me respeite. – Me chicoteiem! Não creio no que acabei de ouvir.
O garçom chega com nossa massa, serve nossos pratos e se vai. Então,
solto a realidade:
– Eu quero transar com você! – Vou logo dizendo, já que estamos sendo
sinceros.
– Estamos em um restaurante, seja mais delicada com as palavras. –
Adverte, forçando um sorriso com as bochechas completamente coradas.
– Eu só aceito se formos transar e sermos felizes, sabe? Não vou ficar
com excitação reprimida e nem ficar te vendo de pau duro.
– Ok Beatriz, vamos falar de outra coisa agora. Você está delicada como
um coice hoje! – Desconversa. – Então vamos continuar?
– Se você aceitar minhas exigências! – Digo, e bebo um pouco do
vinho.
– Então vamos fazer um brinde, agora somos ficantes oficiais. – Diz,
levantando sua taça.
– Vamos transar, fazer sexo quente, cruzar? – Pergunto, empolgada,
enquanto ele bate sua taça na minha sem responder minha pergunta.
– Você é linda, louca e mimada. Há uma música sobre isso.
– Eu ser assim é ruim? – Pergunto, enquanto como um delicioso
canelone de ricota com presunto ao molho branco. – Nossa, isso está dos
deuses!
– Podemos voltar sempre.
– Isso é meio namorado. – Informo.
– Ficantes saem, não saem? Não entendo desse universo.
– E cinquenta tons de cinza se repete. Eu sou a virgem que não sabe de
sexo e você o fodão que não entende de corações e flores. Sim, ficantes saem,
para comer hambúrguer no Mc Donalds, baladas, botecos que vendem
porções de fritas com queijo e bolinhos de bacalhau e ainda por cima tem
cover artístico. Não saem para restaurantes altamente luxuosos com direito a
paparazzis. Estou esperando pelo momento em que Tiago Iorc vai entrar
cantando “Eu amei te ver”. Não que eu esteja reclamando. Só explicando
mesmo.
– Acho melhor você beber uma Coca-Cola. O vinho está fazendo um
efeito muito doido. – Diz, rindo, e chama o garçom para pedir a conta.
– Sobre os paparazzis, o que vamos dizer aos nossos pais caso nossas
fotos saiam em algum site de fofoca?
– Vamos dizer a verdade, que estamos nos conhecendo melhor. – Diz,
simplesmente. O jeito prático dele é incrível. Assim que o garçom traz a
conta, ele faz questão de pagar, me deixando sem graça.
Quando me levanto para sair, ele junta nossas mãos, me surpreendendo.
Saímos pela porta de mãos dadas e alguns poucos flashes começam, me
deixando ainda mais sem graça. Bernardo ri do meu incômodo e, para não
socá-lo, finjo simpatia.
O ritual da chegada se repete na saída e em poucos minutos estamos
longe do restaurante.
– Puta que pariu, isso é muito estranho!
– Não é sempre que acontece, não se preocupe, realmente te trouxe num
restaurante badalado. E controle sua boca suja. – Pau no cu dele se ele pensa
que irei controlar minha boca.
– Foda-se, nem vi nenhum famoso. – Reclamo.
– Ainda terá oportunidade de ver. – Explica, depositando uma mão sobre
minha perna. Preciso me acostumar com esses toques inesperados, mas isso
não impede que eu morda meu lábio.
– O que vamos fazer agora? – Pergunto, tentando quebrar o clima de
tensão sexual em que me encontro. Foda é que ele me olha com um sorriso
descarado e eu já estou na enxurrada vaginal.
– Bom, infelizmente eu trabalho amanhã. – Diz, me desanimando. – Mas
ainda é cedo, posso pensar em muitas coisas para fazermos. – A alegria volta
na mesma velocidade e já me encontro gritando por dentro.
BERNARDO

Ficantes.
Passei a tarde toda decidindo sobre o que é o certo a se fazer diante dos
meus sentimentos. Coloquei todos os acontecimentos na balança, inclusive as
palavras dos meus pais e de Maria, e então cheguei à conclusão que muitas
das coisas que eles disseram é a mais pura verdade sobre mim.
A verdade é que quando acredito em uma certa coisa, só consigo nutrir
minha crença. O meu envolvimento com mulheres mais velhas veio da
adolescência e, por não existir cobranças, sempre foi o tipo de envolvimento
que mais me atraiu. Porém, me dei conta de que sou um covarde que foge de
cobranças e responsabilidades. Eu quero usar as mulheres, não mais que isso.
De repente, me encontro agarrado por uma garota de 18 anos e tudo que
eu sempre achei o certo simplesmente mudou. Acho que esse é o timing
perfeito. Eu realmente preciso me permitir viver novas experiências, Beatriz
com certeza trará a leveza e um pouquinho de adrenalina para meu mundo
controlador.
Ela tem alguns defeitos (não tão defeitos assim) que chegam a ser
engraçados. Beatriz peca pelo excesso de verdade e transparência, é cômico e
um pouco instigante a forma como as palavras saem com facilidade da sua
boca. E ainda tem a mente dela que é extremamente fértil, é bastante
admirável.
– O que vamos fazer agora? – Ela pergunta, me tirando do momento
reflexão.
– Bom, infelizmente eu trabalho amanhã. – Digo, observando-a fazer
uma cara de frustração. Porra, ela é muito fácil de ser lida e eu gosto de irritá-
la. – Mas ainda é cedo, posso pensar em muitas coisas para fazermos. – Ela
muda o semblante instantaneamente e começa até a cantarolar a música que
estamos escutando pela terceira vez. Não sei o que ela tem com essa música.
É do Bastille – Pompeii, acho que nunca mais serei capaz de escutá-la e não
lembrar de Beatriz.
Penso em muitas coisas que poderíamos fazer, só não consigo pensar em
algo que não nos leve diretamente ao sexo. Eu sei que se continuarmos
ficando da maneira quente que estamos, iremos transar muito em breve, mas
a bichinha é impulsiva e não quero que a primeira vez dela seja feita dessa
maneira. Preciso que esteja certa do que quer. Aliás, isso contou na minha
decisão também. Beatriz está no auge da sexualidade e tirar a virgindade de
uma garota exige muita responsabilidade antes, durante e depois. Ao menos
todos os homens deveriam pensar dessa maneira. Agora que propus ficarmos
juntos, provavelmente carregarei essa responsabilidade com muita satisfação.
Puta merda, olha no que estou pensando. Perdi minha bendita mente!
Uma ideia surge e eu mudo nosso trajeto.
– Onde estamos indo? – Pergunta, inquieta.
– Vamos passear na orla e dar “uns pegas”, como você diz. – Respondo,
e ela sorri.
– Ainda não fui a praia desde que cheguei. Caramba, cheguei há quatro
dias e já tenho um ficante fixo. – Diz, rindo.
– Você chegou há quatro dias e já se tornou minha ficante fixa, incrível
e sagaz. Qual é a dessa música, Beatriz? Eu sei que ela é legal, mas já é
quinta vez? Sei lá, perdi as contas.
– Eu estou apaixonada. – Diz, sorrindo, e eu a encaro quase perdendo o
controle do carro. Ela não pode estar falando sério. – Pela música, Bernardo.
Você não é tão homão da porra para que eu me apaixone assim, tão
facilmente.
– Homão da porra? Que diabo é isso? – Pergunto, aguardando as proezas
que vão sair de sua boca.
– Homão da porra é o tipo de homem incrível em todos os sentidos, em
especial na gostosura.
– Se eu não sou homão da porra, então eu não sou gostoso entre outros
adjetivos? –Pergunto, segurando o riso.
– Exatamente. Não te testei sexualmente. – Diz.
– Bom, até onde eu sei você é virgem. Com base em que você saberá se
eu sou tão homão da porra quando fizermos sexo? – Saia dessa, Beatriz.
– Bom ponto. Sabe, eu sou virgem, mas já vi filmes pornográficos, com
base neles eu vou saber se você é bom. – Explica com a facilidade de uma
garota que está lixando as unhas e decidindo a cor do esmalte.
– Calma aí, vou ser comparado a um ator pornô? – Pergunto, chocado
com sua resposta.
– Qual o problema? Está com medo?
– Medo? Beatriz, aqui é a vida real, e não um filme pornográfico. Não
quero uma nota pelo meu desempenho sexual. – Rio da maluquice, e então
ela sorri. Que sorriso perfeito...
– Ok, eu guardo a nota para mim. Ah, e gostoso você é demais da conta.
– Fico lisonjeado, você também é gostosa demais da conta, mineirinha.
– Respondo, enquanto estaciono o carro.
Descemos no mirante do Leblon e nos acomodamos num lugar
privilegiado, onde temos vista para o mar. A brisa e a enorme lua cheia
deixam o clima mais... romântico? Que absurdo!
BEATRIZ

Estamos mais uma vez de mãos dadas e num clima de romance. É a


primeira vez que venho nesse lugar e ele já se tornou um dos meus preferidos
do Rio, apenas pela vista. Por obra do destino, hoje a lua está nos agraciando
com um espetáculo e tanto, e somos apenas eu e ele aqui.
Toda essa brisa marítima e o barulho das ondas dissipam um pouco
minha ansiedade por algo mais e me trazem uma leve calmaria. Estou nos
braços de Bernardo e com a cabeça encostada em seu peito. Isso parece
Titanic, mesmo que não estejamos num navio e de braços abertos.
Quando vamos dar nosso primeiro beijo da noite, sinto meu celular
vibrando, o nome MÃE aparece na tela e atendo.
– Oi mãe, está tudo bem? – Pergunto sob o olhar receoso de Bernardo.
– Eu que te pergunto filhinha, está tudo bem? – Pergunta animada, com
voz de quem está sorrindo.
– Está uai, por que?
– Confira por favor os sites de fofoca Vip e o Ego. Beijos filha, mande
um beijo para meu genro. – Diz, desligando antes mesmo que eu possa
responder.
– O que houve? – Bernardo pergunta enquanto eu me acabo no
touchscreen do celular.
Abro primeiro o site de fofocas e, após alguns flagras, vejo o real motivo
da ligação da minha mãe.
Há uma matéria sobre nós dois, com direito a foto e tudo mais, com
especulações de um possível relacionamento entre o filho do famoso modelo
Bernardo e me chamando de “garota misteriosa”.
Eu olho para a foto e em seguida para Bernardo, completamente
boquiaberta. Não posso acreditar nisso!!!! Entrego meu celular a ele, que olha
a foto e ri.
– Esses foram rápidos. – Diz, como se fosse algo banal.
– Minha mãe disse que estamos em outro site de fofocas também. Estão
falando que somos namorados e eu saí com cara de apaixonada na foto, isso é
inadmissível.
– Nem sou famoso, logo isso cai no esquecimento, Beatriz. E você ficou
linda com cara de apaixonada. – Conclui, me puxando novamente para os
seus braços.
– Sim Bernardo, mas agora minha mãe te chamou de genro e eu não
quero sair no TV Fama, porque acho algo realmente ridículo!
– Não vamos sair em nada, só nesses sites de fofoca, e quanto aos seus
pais eu faço questão de explicar para eles a nossa relação.
– Cê ta me zoando. – Digo, embasbacada.
– Não, eu vou falar para o seu pai que não estamos namorando, e sim
nos conhecendo melhor. – Diz, com a tranquilidade de um homem bem
resolvido.
– Que loucura isso tudo, parece que estou presa num filme, ainda
preciso raciocinar sobre todos os acontecimentos. Vou para Ilha Grande!!!
– Quê? – Pergunta, rindo.
– Vou passar uns dias em Ilha Grande, temos uma casa. Lá é perfeito
para colocar a cabeça no lugar.
– Uau, está tão confusa que precisa de uma fuga? – Questiona.
– Não é fuga e não estou confusa, só foram muitos acontecimentos em
pouco tempo, tenho até um ficante. – Explico. De brinde, ganho um sorriso
perfeito.
– Desde que esteja aqui sábado que vem...
– Por que?
– Sábado eu e minha família faremos um baile beneficente para
arrecadarmos fundos para a universidade que vamos construir para os menos
favorecidos. – Explica, e eu acho tão bonito.
– Eu quero conhecer os abrigos e saber mais sobre como funcionam,
saber toda a dinâmica que acontece neles.
– Será um prazer. Você vai se encantar. – Gente, há tanto orgulho em
suas palavras que é encantador.
– Tenho certeza que sim. Tem algum motivo em especial para vocês
serem tão envolvidos nessa causa? – Pergunto.
– Sim, meu pai foi morador de rua dos 11 aos 21 anos de idade. Por
conta disso, minha mãe passou a ter um interesse grandioso pela causa e
sempre foi o sonho do meu pai poder ajudar crianças que passam por isso. –
Explica.
– Nossa! Sua mãe o conheceu quando ele ainda morava nas ruas?
– Sim, é uma história e tanto. Resumindo, meu avô faleceu e deixou de
herança para minha mãe uma empresa grande, que é a nossa empresa. Ela
tinha um namorado problemático e, em uma das brigas entre eles, ela se
jogou do carro e caiu aos pés do meu pai. Foi tipo essas histórias de amor à
primeira vista. Depois de alguns dias, ele sumiu sem deixar rastros, acho que
tinha vergonha pelo fato da minha mãe ser tão rica e ele não. Ele queria
tornar-se digno, ter um trabalho apenas para não ser inteiramente dependente
dela. Oito meses depois do sumiço do meu pai, ela foi num desfile e quem
estava lá na passarela? – Pergunta, mostrando o orgulho que tem da história
dos pais.
– Seu pai??? Meu Deus, Bernardo! Incrível.
– Sim, ele contou com a ajuda dos meus avós Luzia e João, e construiu
sua carreira. Depois disso, explodiu em campanhas no mundo todo.
– E você não quis seguir a carreira dele? – Pergunto, interessada.
– Fiz alguns trabalhos até os 16 anos, mas eu nasci para o mundo dos
negócios. Não sou muito sociável para ser modelo.
– Entendi. – Realmente, ele é mais fechado.
Fico sem graça ao me dar conta que aos 16 anos ele já sabia o que queria
para a vida, enquanto eu, com 18 anos, só tenho a certeza de que quero
fornicar com ele.
Por tudo que já ouvi falar sobre decisões na adolescência e na pós-
adolescência, tenho que dizer que talvez não seja eu quem estou atrasada, e
sim ele que está adiantado demais. Garoto prodígio! Pensar dessa maneira,
sem cobrar a mim mesma, é melhor!
– Acho melhor irmos, aqui está deserto e pode ser perigoso. – Diz, me
desviando dos pensamentos.
– Para onde iremos? São onze da noite, eu aceitei sua proposta e até
agora não demos um beijo sequer. – Protesto.
– Vamos dar “uns pegas” em algum lugar seguro. Já tenho um em
mente... – Avisa piscando um olho e sorrindo. Pelo menos 2 litros de líquidos
vaginais se formam em minha calcinha.
BEATRIZ

Entramos no carro e quando Bernardo liga o som, Sia explode pelos alto
falantes. O cara é lindo, fofo, gostoso, tem o melhor beijo, a melhor pegada e
ainda tem um gosto musical incrível. Me fode! Aliás, será que ele está me
levando para o abate? Ok, pesado falar isso, mas foda-se, tenho certeza que
ficarei rindo igual hiena por dias depois que ele me abater.
Foda-me, Bernardo!
Resolvo bancar a tímida e comportada, mas me decepciono ao ver a
entrada do condomínio. Ele deve estar de brincadeira com a minha face! Era
para eu estar na balada rebolando minhas nádegas e seduzindo os novinhos,
mas fui a um jantar de ficantes e até agora nem uma apalpada na bunda levei,
é a treva! Vou romper esse acordo de ficante se ele não me beneficiar.
Mentira. Ele é “foda” demais para eu romper isso. Bernardo é o único quem
tem que romper algo, se é que me entendem.
Rompa meu hímen, Bernardo!
– Está vermelha. – Comenta, ao estacionar o carro na garagem. É óbvio
que estou vermelha, o capiroto está habitado em mim nesse momento.
– Você acha, querido? – Finjo doçura e, em seguida, fecho a “face”.
Aliás, gostei desse negócio de “face”, vou aderir para a vida. Bernardo dá um
sorriso sem vergonha e nesse momento eu gostaria de ser um mestre Jedi
(Jedái) para combater a força com meu sabre de luz.
Por que diabos ele tem essas benditas covinhas? Isso me desarma! Vejo
meu sabre de luz imaginário virar fumaça instantaneamente.
Saímos do carro e do nada ele me puxa e sou jogada contra o capô do
carro, sem ter ao menos tempo de raciocinar sobre suas ações. Sua boca se
choca contra a minha numa violência que consigo até sentir um leve gosto
ferroso do sangue.
Que diabo é isso que está acontecendo? Me foda!
Puxo-o pelo cordão e enrolo minhas pernas em torno de sua cintura,
porra, estamos na garagem! A chance de sermos pegos traz adrenalina
demais! As mãos dele estão segurando minhas coxas com tanta força que já
consigo visualizar o hematoma. Foda-se! É como se eu tivesse me jogando de
um penhasco, em plena queda livre, com aquele friozinho delicioso na
barriga. Do nada, baixa o Railander nele e me tira do capô. Então me coloca
de costas para ele e me faz deitar com a bunda empinada para o alto. Fico
parecendo uma meliante sendo revistada, porém com o torso deitado sobre o
carro.
Pelo amor de Deus! Estou de quatro na garagem do prédio!
Ele se abaixa e, lentamente, vai subindo as mãos pelas minhas pernas.
Misericórdia, vem que tem! Bernardo é meio dominador, até combina mesmo
com o Grey. Jovem empresário, tendências dominadoras, controlador...
Hummm, que delícia de criança! Acontece que eu não sou Anastasia Steele.
Aqui é o capiroto encarnado.
Uma mistura de arrepio e ansiedade me fazem rir involuntariamente. Ele
me pega pelos cabelos e me levanta, grudando em minha bunda. Isso contém
meu riso instantaneamente.
– Está engraçado? – Pergunta em meu ouvido e, com a mão livre, aperta
meu seio esquerdo. Puta que pariu, que diabo é isso que eu estou sentindo?
Me sinto uma garota da vida me esfregando nele desavergonhadamente. Meu
riso novamente se esvai e mordo a boca para não gemer, ainda não me
acostumei a gemer livremente assim. – Acabou a graça?
– Aham.
– Isso aí. Menina obediente. – Diz, e começo a me perguntar se ele tem
tendências dominadoras de verdade, sem ser minha mente pregando peças.
Santo Deus... esse homem! Me chicoteie!
Ele vai descendo a mão livre e entra por dentro da minha saia. Quando
se aproxima de onde mais desejo, me solta e retira a mão. Me apoio no carro
e respiro fundo para não mandá-lo para o quinto dos infernos!!!!!!!!!!
Me viro para ele igual a Samara, do filme “O chamado”. Tenho sangue
nos olhos, com certeza. Ele começa a se afastar e eu vou seguindo-o. O sabre
de luz é pouco, o que eu desejo agora tem nome e se chama facão do Jason,
porque eu vou matá-lo lentamente. O filho da puta está andando de costas e
rindo, enquanto eu estou soltando fumaça pelas narinas.
– Você está de brincadeira comigo, eu vou arrancar seu fígado e jogar
seu corpo de um penhasco próximo ao mar.
– Nossa, que assassina em série que estou me envolvendo. – Debocha,
rindo.
– Dá para parar de andar para que eu execute meu plano maligno?
– Você quer ser pega “sendo pega” na garagem do prédio em que
moramos? –Questiona.
– Confuso isso aí, hein?! – Digo, e acabo rindo.
– Vamos assistir um filme na minha casa? – Convida e então anda até
mim. Não acredito que ele está me convidando para ver um filme na casa
dele.
– Como assim, ver filme na sua casa? O que te deu hoje? Está louco?
Fumou orégano estragado?
– Não vai ficar à vontade, não é? Bom, temos o cinema do prédio, como
não vamos assistir filme mesmo, podemos pegar qualquer merda que estiver
disponível. Só preciso pegar a chave na recepção. – Cara, esse prédio e esse
condomínio são um sonho.
– Não vamos assistir ao filme? – Sorrio.
– Só se você quiser. – Informa, me dando a mão, e nos leva até a
recepção. A recepcionista nos dá um cardápio de filmes do Netflix e
começamos a discutir.
– Eu quero “Como eu era antes de você”!
– Não. “Esquadrão suicida” é excelente, você vai gostar.
– Ah para! Filmes de garotinhos eu não gosto.
– E eu não curto filmes de mulherzinha. Para, não vamos assistir
mesmo. – Anuncia alto e eu chuto sua canela com força. – Porra!
– Ele está muito engraçadinho hoje! – Digo à recepcionista. – Vamos
ficar com o “Como eu era antes de você”, no meu caso eu era menos
agressiva antes dele. –Explico. Ele fica calado e a mulher ri.
Bernardo me guia até o cinema e, ao abrir a porta, meu queixo cai. Não
tem cadeiras, mas sim uma espécie de “sofá-cama” onde podemos nos deitar
tranquilamente para assistirmos ao filme ou não. Agora consigo entender o
motivo dele ter dado a ideia de assistirmos um filme no cinema do prédio.
Olho para ele e o encontro prestando atenção em mim enquanto sorri.
– Preparada para o filme? Quando sairmos daqui, quero deixá-la se
questionando pelo resto da noite como era antes de mim. – Anuncia, fazendo
referência ao filme e me fazendo arrepiar.
– Vamos ver quem vai sair daqui pensando isso. – Entro no recinto e
começo a procurar possíveis câmeras. Felizmente, não há vestígios de que
estamos sendo filmados. Bernardo fecha a porta, liga o projetor e apaga as
luzes. Me sento como uma mocinha comportada e ele se junta a mim, me
puxando para o conforto dos seus braços. Na metade do filme, já estou
chorando por saber o final, e Bernardo afasta o suficiente para me olhar nos
olhos.
– Você está chorando. – Afirma.
– Ele vai morrer. Ele escolheu o dia da morte e vai morrer, vai deixá-la.
– É um filme, Beatriz. – Diz, sorrindo, e eu escondo meu rosto em seu
peito.
– Eu sei.
– Por que escolheu esse filme então, garotinha? Não chora. – Diz,
carinhosamente, e levanta minha cabeça, trazendo sua boca até a minha.
Inicialmente, ele me beija com carinho, mas aos poucos a intensidade vai
aumentando e ele vai me deitando. De repente, o ar condicionado parece não
fazer efeito, fica tudo quente demais.
Bernardo se encaixa entre as minhas pernas e gemo ao sentir um pouco
de sua dureza posicionada no local ideal. Sua boca desce para meu pescoço e
o forço a tirar a camisa. Assim que está livre dela, arranca minha saia numa
única puxada e passa a língua pelos lábios ao analisar minha calcinha preta
com uma boa transparência. Me levanto o suficiente para tirar a minha blusa
e ele arregala os olhos pela minha atitude. Aqui tem atitude, querido! Agora
estou vestida apenas com minha roupa íntima e minha sandália.
Puxo-o pelo cordão, trazendo-o para mim, e o beijo. Esse homem
despertou um vulcão dentro de mim. Estou incendiando por dentro.
Enquanto me beija, tento abrir o botão de sua calça e ele se afasta,
facilitando meu serviço. Desço um pouco, mas ele levanta, retira o tênis e a
calça, ficando apenas com uma cueca boxer azul escura. O filho da mãe fica
em pé rindo da minha cara e a louca que habita em mim faz com que eu fique
de pé e o jogue no colchão.
– Agressiva!
– Muito. – Digo, enquanto me posiciono sobre ele, deixando-o
ofegante.
Bernardo deposita as mãos em minha cintura e fica me analisando.
– Você é linda. – Elogia, me deixando corada. Vai traçando um caminho
com o dedo indicador do meu pescoço até a barra da minha calcinha e, em
seguida, enfia uma mão em meus cabelos e me puxa para mais um beijo. Eu
que sou agressiva? Meu senhor... eu preciso tê-lo em mim de todas as
maneiras.
Em questão de segundos, sou levada a vários lugares nesse jogo
delicioso. Já não sei mais quem sou eu ou quem é ele, nos tornamos quase um
só. Às vezes, ele para a pegação e fica me encarando com um brilho nos
olhos indecifrável. Enquanto eu, apenas fico impressionada com o controle
que ele exerce sobre si mesmo. Chega a ser frustrante, quando acho que
enfim vai avançar o sinal, ele se controla. Isso me faz ter mais admiração,
mesmo que fique um pouco frustrada por querer ir direto ao ponto. Como se
pudesse ler meus pensamentos, ele diz:
– Você sabe o quanto eu quero que isso aconteça? – Pergunta, com a
respiração pesada, e eu balanço a cabeça negativamente. – Eu quero muito,
muito mesmo, eu quero que você se lembre para o resto da sua vida desse
momento, Beatriz. Se for mesmo acontecer, farei com que seja num momento
especial. – Diz, e engulo seco pela emoção, ele está falando com tanta
intensidade que consigo ver a verdade através dos seus olhos cor de mel.
– Sim, eu sei que vai.
– Não vai ser numa sala de um cinema ou no seu quarto, vai ser num
lugar especial. Você entende? Por mais que eu adoraria estar dentro de você
agora, eu não posso. Não posso porque respeito você e acho que merece mais
que isso para uma primeira vez. – Diz, passando os dedos pelos meus
cabelos.
– Eu entendo. – Acho que agora estou apaixonada e dessa vez é
verdade...
– Nós vamos continuar brincando e nos conhecendo. Não vamos
combinar, as coisas vão acontecer naturalmente. Quando nos dermos conta, já
estaremos transando. – Oh, meu Deus! Eu estou arrepiada de todas as
maneiras possíveis, por dentro e por fora. Há até mesmo um frio na barriga
incontrolável.
– Tudo bem.
– Devo me preocupar com esse seu lado boazinha e sensata? – Pergunta,
sorrindo.
– Talvez deva, talvez eu só esteja em choque por enquanto e quando a
minha mente voltar a processar as coisas, posso estuprá-lo. Vamos esperar
alguns minutos e ver qual lado meu vai dar as caras. – Brinco, e uma batida
na porta chama nossa atenção. Eu voo do colo dele e começo a me vestir, ele
faz o mesmo.
Quando abrimos a porta, a recepcionista fica nos encarando. Bernardo
olha para mim e balança a cabeça como se não tivesse acreditando. Me olho e
percebo minha saia do lado avesso. Para piorar, passo as mãos pelos cabelos;
eles parecem como uma palha de aço, puta merda!
– É, desculpem. – Ela diz, corada. – É que já são 1 da manhã e era para
ter fechado o cinema meia noite. Por mim poderiam ficar, mas o supervisor
está de olho.
– Tudo bem, já vamos sair, nos dê um minutinho. – Bernardo sorri
educadamente e fecha a porta para que eu corrija a bagunça em que me
encontro. Um verdadeiro lorde.
Enfim fazemos a caminhada da vergonha pelo longo corredor que nos
leva ao elevador. Me sinto mortificada pelo que acabou de acontecer.
– Não foi nada, somos jovens, não somos? Jovens fazem isso, dão uns
amassos ousados no cinema. – Argumenta, na tentativa em vão de me
tranquilizar.
– Com certeza, no cinema da rua e não no cinema do nosso prédio. Você
ao menos sabe o nome dela? Não quero sair de casa quando for o turno dela.
– Anuncio, nervosa.
– Não vai adiantar ficar assim, apenas pense comigo, nós pagamos um
condomínio de altíssimo padrão que muitas pessoas não podem pagar. É do
dinheiro dos nossos pais que saem os salários dos funcionários do prédio,
então apenas relaxe. Não estávamos fazendo nada demais e tenho certeza que
ela vai manter o sigilo. – Diz, me abraçando.
Ao chegarmos no saguão dos nossos respectivos apartamentos, ficamos
parados, nos encarando por alguns segundos, até que ele vem até mim e me
beija carinhosamente, completamente diferente de todas as outras vezes que
me beijou.
– A gente se vê, garotinha. – Diz, se afastando, e eu só consigo pensar
naquela música "nóis se vê por aí" . Balanço a cabeça tentando desanuviar a
mente desse terrível pensamento. Velho, por que caralho minha mente é tão
fértil?
– Tudo bem, nos vemos. – Sorrio, e entro no apartamento. Assim que
fecho a porta, me encosto nela e respiro fundo. O que foi tudo que aconteceu
hoje? Jamais esperei por todos os acontecimentos, foram fortes emoções do
início ao fim!
Sigo para o meu quarto e, ao abrir a porta, dou de cara com a minha
mãe, puta merda!
Ela parece ter saído da capa de alguma revista com seu robe azul
turquesa. Aliás, dona Mariana sempre está deslumbrante. Poderia ir
facilmente para uma balada com esse robe.
– Eu estava estranhando a doutora não estar na sala. – Digo, rindo.
– Vamos, desembuche!
– Mãe, você parece sempre estar indo para uma festa.
– Querida, seu pai é a festa. Você já parou para observá-lo? É festa e um
playground completo. Você tem ideia da quantidade de mulheres que o
desejam? Eu preciso valorizar a mim mesma. Aprenda uma coisa, não
importa quantos anos você esteja casada, nunca se descuide, nunca deixe o
brilho se apagar e nunca deixe de seduzir. Esse é um dos segredos de um
casamento feliz. Modéstia à parte, eu e seu pai fizemos isso direitinho. Agora
que já te dei uma informação valiosa, me conte tudo. – Pede empolgada, e
anoto no meu bloco mental mais uma das informações preciosas de dona
Mariana, deve fazer sentido. Sempre seduzir... é isso aí!
– Ok, não estou namorando mãe, estamos nos conhecendo apenas.
– Aham, tudo bem. E por que vocês não estavam numa balada? –
Pergunta.
– Eu estava indo, mas ele disse que nos levaria a um lugar mais
interessante, e fomos a um restaurante chiquérrimo. O pai dele pelo que
parece é famosinho, aí deu aquilo tudo. – Explico, enquanto começo a tirar
minha roupa.
– E? – Pergunta, arqueando a sobrancelha, e eu reviro os olhos. Ela não
vai sossegar enquanto eu não contar cada detalhe.
– Ok mãe, e aí fomos e ele me fez uma proposta de continuarmos
ficando e nos conhecendo melhor, e eu aceitei, mas não é nada sério. – Ela
bate palminhas, demonstrando empolgação.
– E como você se sente sobre isso?
– Me sinto anestesiada, mas bem.
– Então não tenho um genro ainda? – Pergunta, me abraçando.
– Não mãe, não tem.
– Tudo bem, a esperança é a última que morre. – Ela sorri. – Se precisar
conversar, mamãe está aqui.
– Eu sei, você é a melhor.
– Te amo muito filha, muito mesmo. – Diz, e eu a abraço forte. –
Amanhã vamos fazer um programa de meninas? – Pergunta, sugestivamente.
Nosso programa de meninas é ir fazer compras, ir ao salão e se acabar de
comer no Mc Donalds, eu amo.
– Vamos. – Respondo. – Cadê Matheus?
– Não sei se já dormiu ou está vendo alguma série.
– Oh. – Respondo, perplexa pelo fato dele estar quietinho em casa. Ele
não pôde ir a boate por ser menor, mas também nem demonstrou interesse em
burlar regras. Deve estar doente, no mínimo.
– Deve estar sentindo falta dos amigos. – Explica, e me dou conta de
que ainda não tive muito tempo de sentir falta de nenhuma amiga.
– Eu estou gostando daqui. – Informo, fazendo-a sorrir abertamente.
– Claro que está!
– HAHAHA engraçadinha. – Sorrio de volta.
– Bom, vou dormir filha. Até amanhã. – Me dá um beijo na testa e sai.
– Até.
...depois de muito pensar e um bom banho frio, durmo.

...
Não preciso terminar de descer os degraus para perceber que meus pais
já estão ligados nos 220 volts. Chego até a sala e minha mãe está deitada no
sofá enquanto meu pai está em pé, descompassado.
Matheus chega no mesmo momento, completamente descabelado e sem
entender nada, igual a mim. Ele faz um gesto com os olhos e eu levanto meus
ombros. Também não sei o que aconteceu, mas uma coisa é fato... minha mãe
aprontou!
– Bom dia. – Me arrisco a falar e eles respondem automaticamente.
Matheus me encara e eu já sei que é para tomar partido. – Tá, o que minha
mãe fez? – Pergunto, enquanto caminho até a mesa onde está nosso café da
manhã. Pego um pão de queijo e suspiro, nada como morar num prédio que
tenha serviço de hotelaria, não quero imaginar o que mamãe faria de café da
manhã.
– Sua mãe está grávida. – Ele diz e eu engasgo, cuspindo o pão para
todos os lados enquanto Matheus esmurra minhas costas. Me levanto e dou
um chute nele, filho da vaca.
– Seu idiota!!!!!!!!!! – Grito, e ele ri.
– Você é maluco, Arthur? Eu não estou grávida e você está falando isso
para as crianças. – Ela esbraveja, se levantando e encarando meu pai. É o
duelo do século.
– Eles não são mais crianças e você está grávida sim. – Ele diz,
apontando o dedo na cara dela, e eu e Matheus apenas ficamos assistindo o
empasse de camarote. Adoro eles brigando, são os mais engraçados. Mas
grávida? Santa virgem!
– Não estou não, já estou muito velha para estar grávida, Arthur, já
temos Beatriz com 18 anos e Matheus com 17, se não engravidei em 17 anos,
não é agora que vou ter engravidado.
– Ok! Pessoal, beleza! Pai, de onde você tirou essa teoria de que mamãe
está grávida? Entro na frente dos dois e cruzo os braços, esperando uma
resposta. – Meu pai me encara, perplexo.
– Você é a mini cópia da sua mãe, né? – Diz e até dá um sorrisinho,
como se estivesse orgulhoso por isso. Então seu sorriso morre e ele começa a
dizer. – Pois bem, dona Beatriz, sua mãe além de estar atrasada, está com
enjoo matinal, comendo mais do que o normal e está me consumindo. –
Informa.
– Arthur, meça suas palavras. – Ela alerta e eu já entendi qual é a do
consumismo.
– Oh, não fizemos um filho rezando, Mariana. – Exaspera, e meu irmão
solta uma gargalhada em alto e bom som. Porém, ao ver todos o encarando,
ele contém o riso no mesmo momento.
– Desculpa! – E voltamos nossa guerra em trio. Agora fico de costas
para o meu pai e encaro minha mãe.
– Mãe, você está grávida! – Anuncio, e meu pai bate palmas.
– Até que enfim alguém para entender o que eu digo, e depois teremos
uma conversa, mocinha. – Diz para mim.
– Pai, não é sobre mim agora. – Respondo, me safando, e ele respira
fundo.
– Parem, apenas parem. Vá trocar de roupa Beatriz, temos um dia de
meninas e preciso sair antes que eu enlouqueça.
– Você só sai dessa casa passando por cima de mim, Mariana! Nós
estamos indo fazer a porra de um exame!
– Me obrigue! – Ela diz, ficando de pé e vindo duelar com ele por cima
de mim. Eu saio de fininho do meio dos dois porque o pau vai quebrar real.
Ninguém merece!
– Não faça eu perder a cabeça!
– Ah é? O que você vai fazer? Greve? – Ela diz e eu fico me
perguntando que diabo de greve é essa. Eu já até imagino... merda... eles são
muito sexuais!
– Matheus, vá trocar de roupa! – Meu pai diz, ainda encarando minha
mãe.
– Para que? – Matheus pergunta com o pão parado no ar.
– Nós vamos ter um dia de homens.
– Aff. – Digo, não entendendo mais nada dessa vida. Me sinto num
manicômio. Matheus segue o mandamento do nosso pai e sai.
Minha mãe sai em seguida pisando duro e, segundos depois, ouço a
porta do quarto batendo, provavelmente o prédio todo escutou. Meu pai passa
as mãos pelos cabelos exasperado. Em seguida, pega o celular e digita
algumas coisas, pega o telefone fixo e disca alguns números.
– Bom dia, eu quero dez testes de gravidez... pode ser cinco de cada...
Mandarim, apartamento 1402... Arthur... débito... ok.
– Pai, dez testes? – Pergunto, chocada.
– Sua mãe só funciona dessa maneira, filha. – Comenta e sorri. – Será
que teremos outro bebê? – Pergunta, com brilho nos olhos e cheio de emoção.
Cara, eles são lindos demais!
– Não sei. São tantos acontecimentos que não consegui raciocinar
ainda.
– Por falar nisso, que porra é essa de namorado? – Pergunta, e me
arrependo da última coisa que falei. Nem estava lembrando desse assunto
mais.
– Não estamos namorando, só nos conhecendo, pai. – Opto pela
sinceridade e aguardo sua reação.
– Pelo menos é um menino de família, trabalhador. Tem minha benção.
– Diz, me deixando perplexa. – Mas estou de olho na senhorita!
– Tudo bem, pai. – Digo, sorrindo, e o interfone toca. Dois minutos
depois, o entregador chega com uma sacola de testes e meu pai paga. Ele
fecha a porta e olha para mim.
– Bom, agora é hora de cutucar a onça com vara curta. Me deseje sorte!
– Pede, sorrindo.
– O senhor sabe lidar com a mamãe, vai se sair bem.
– Vou ter que amarrá-la à cama antes de mostrar os testes. – Anuncia
rindo, e eu concordo.
– Faça isso. – Ele sai e eu volto a mesa do café. Que Deus nos proteja da
fúria de dona Mariana. Será que terei um irmão ou uma irmã? Puta que pariu!
Minha mãe vai ficar mais surtada que já é!!!
Um bebê não seria nada mal!
BERNARDO

Passo grande parte do dia em meio a centenas de papeis, decidindo os


últimos detalhes do baile beneficente junto a minha mãe, que está me olhando
de um jeito diferente desde o início da manhã e ainda não se pronunciou
sobre o que eu sei que ela sabe. Meio confuso, não é mesmo? Tão confuso
como me sinto; confuso, desconexo. Porém, sinto-me imensamente satisfeito
por não ter tido tempo de pensar hoje. Essa semana vai ser corrida e
cansativa. Além da organização do evento, estou montando uma apresentação
sobre nosso projeto universitário e tem que ser algo claro, direto e
convincente, que deixe as pessoas sem mais dúvidas. É um projeto
grandiosíssimo e estaremos recebendo pessoas importantes.
No meio da tarde, decido ir comer algo e, logicamente, dona Eliza
aproveita para vir também.
Vamos até um restaurante próximo à empresa e fazemos nosso pedido.
Enquanto aguardamos, fico a encarando sorrindo, como um desafio para que
ela fale logo.
– Está bem, já entendi. Não tem nada para me contar? – Sorri,
bebericando seu vinho.
– Estamos apenas nos conhecendo mãe, não se anime, continuo não
querendo relacionamento sério.
– Você é um estraga prazeres! – Suspira, frustrada. – Pensei que nossa
querida vizinha já era minha nora, mas ela vai ter que trabalhar mais duro
nisso do que eu imaginava!
– Por que a senhora cismou com isso de namorar, baladas? – Pergunto,
sério, e cruzo as mãos esperando sua resposta.
– Simples, você está deixando de aproveitar a melhor fase da vida, sem
motivos. Bernardo, você tem tudo, não precisa abrir mão desses momentos. –
Justifica, e eu tento entender sua preocupação. Ela e meu pai tiveram que
abster de um pouco da diversão quando eram jovens. Ele por não ter
condições e ela por ter que assumir a empresa. Por isso, eles fazem tanta
questão que eu tenha um pouco de diversão.
– Eu estou me esforçando, mas não serei nem de perto o que a senhora
pretende que eu seja, mãe. Não gosto dessas baladas loucas e de me
embriagar, não gosto de iludir pessoas e não farei isso. Mas prometo que vou
tentar me enturmar e ter um pouco mais de diversão.
– Não me chame de senhora, Bernardo! – Ela adverte e depois sorri. –
Desculpe filho, é só uma preocupação de mãe. Eu sou muito feliz por você
ser assim, tão comprometido e correto, não deveria estar insistindo nisso.
– Mãe, eu entendo você, não se preocupe.
– Você viu todas as fotos? – Pergunta, e me entrega o celular. Permito-
me pela primeira vez observar dezenas de fotos minhas com a Beatriz. Esses
paparazzis são repetitivos. Beatriz aparece ligeiramente corada na maioria
delas. Porém, ainda assim, linda de mãos dadas comigo. Até que formamos
um casal bonito.
Quando termino de ver, minha mãe está com um sorriso idiota no rosto e
eu reviro os olhos. Fico pensando se Beatriz está passando pela mesma
situação com a magnífica mãe dela.
...
O resto da semana passa como um borrão. Ou seja, minha rotina se
resumiu em acordar às 7 da manhã, ir para a empresa e sair de lá por volta da
meia noite. Não tive tempo para nada e hoje, sexta-feira, estou no auge do
meu cansaço psicológico.
Não falei com a Beatriz essa semana, mas cuidei de tudo para que ela e
sua família recebessem o convite para o baile. Preciso confessar, senti
saudades dela, mais do que deveria, e isso está fazendo com que surja uma
quantia generosa de questionamentos em minha mente. Estou ansioso para
que chegue logo amanhã, e muito dessa ansiedade é porque finalmente irei
vê-la. Pensando nela, decido enviar uma mensagem antes de dormir.
[...]
Quando acordo, a mensagem não foi visualizada ou respondida.
O dia todo é uma grande correria. Mas, enfim, quando chego ao local
que acontecerá o baile, fico imensamente satisfeito. Todo esforço valeu a
pena. Está tudo impecável.
Dezenas de fotógrafos estão a postos fotografando minha família. O fato
do meu pai ter sido um modelo famoso atrai grande visibilidade para nossos
projetos e muitas pessoas dispostas a ajudarem. Felizmente.
O coquetel começa e eu divido meu tempo entre dar atenção aos
convidados e esperar uma certa garota. Não entendo o motivo de estar tão
ansioso.
Uma hora se passa e é hora de começarmos o show. Ainda não me
habituei a falar para centenas de expectadores. Então, viro uma taça de
champanhe tentando ganhar um pouco mais de coragem. Eu fui o escolhido
para abrir o discurso.
Respiro fundo antes de pisar no palco. Me posiciono em frente ao
microfone e o silêncio se faz no salão; sou inundado por flashes de todos os
lados e, mesmo quase ficando cego, dou início ao discurso:
Caros Investidores e Empreendedores presentes,
Minhas senhoras e meus senhores,
Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, a todos os que quiseram
honrar-nos com a sua presença neste baile, em especial a quem faz questão
de acompanhar e de participar ativamente deste projeto que reúne grandes
expectativas, abre novos horizontes e apela para pensarmos no futuro de
nossas crianças e adolescentes.
Esse projeto é muito mais que a realização de um sonho para mim e
minha família. Meu pai viveu a triste realidade de morar nas ruas, de não
poder estudar, não ter uma alimentação completa. Esse é um projeto que
significa muito para nós. Há anos vivemos lutando em prol dos menos
favorecidos e buscamos dar a eles oportunidades, encaminhando-os para
terem um futuro digno. Hoje, precisamos da ajuda de todos vocês para que
possamos conseguir dar mais um grande passo e criarmos nosso projeto
Universidade para Todos. Acreditamos que a educação é capaz de mudar o
mundo.
Encerro a frase e fico mudo, estático ao ver a linda mulher na entrada do
salão, a muitos metros de distância, mas bem em minha direção. Ela levanta a
cabeça, percebe que estou mudo e sorri, e eu digo a primeira coisa que me
vem à mente.
– Uau! – Digo alto no microfone. De repente, vejo todos acompanhando
meu olhar, e risos se instalam no salão. Beatriz fica tão corada quanto eu.
Olho para meus pais e eles estão rindo e cochichando algo, assim como meus
irmãos. Traidores.
Ela está maravilhosa com um vestido prateado, feito sob medida para
seu corpo e com uma fenda que deixa pouco para a imaginação. Está
magnífica e extremamente elegante e sexy, parece uma mulher totalmente
diferente da garotinha que conheci. Eu nem percebo os familiares dela, acho
que nunca estive num estágio de encantamento como estou agora.
– Bom, depois dessa eu deixo aqui meus agradecimentos e passo a
palavra para minha mãe, Eliza. – Digo em tom de brincadeira e todos
aplaudem. Dou um beijo em minha mãe e ela retoma de onde parei. Me
posiciono ao lado do meu pai, e ele diz:
– Vá. – Incentiva e eu o encaro, sem entender.
– O que?
– Vá encontrá-la. Você já fez seu papel filho, está liberado. Há uma
linda garota te esperando. – Ele dá uma batida no meu ombro e eu faço o que
ele falou, não sem antes olhar feio para meus irmãos.
Tento encontrá-la discretamente, ando por todo o salão tentando não
chamar atenção e então a encontro. Primeiro, cumprimento seus pais, em
seguida o irmão e por último ela. Fico paralisado alguns segundos,
observando-a agora de perto, completamente corada. Pego sua mão e a beijo
delicadamente.
– Você está maravilhosa.
– Nos deem licença, vamos nos sentar. – A mãe dela carinhosamente diz
e eles se retiram, nos deixando a sós.
– Você também está maravilhoso, gostei desse estilo “empresário sexy”.
– Diz, mordendo o lábio em seguida. Minha vontade é de beijá-la
instantaneamente.
Pego sua mão e a faço girar, arrependo no mesmo minuto. Se de frente
ela estava deslumbrante, de costas ela está escandalosamente sexy. As costas
estão desnudas e o vestido justo está exaltando sua bunda nada pequena.
– Você está gostosa, Beatriz! – Exclamo sério e ela ri.
– Não é muito gentil falar dessa maneira com uma dama em um baile.
– Minha gentileza foi para o espaço em questão de segundos. Quero te
beijar, senti sua falta. – Confesso, ainda segurando sua mão.
– Também senti, pensei que você tivesse rescindido o contrato comigo,
já estava pensando em uma multa contratual. – Ela sorri e então brinca com a
gola da minha camisa.
– Nosso contrato está em pleno vigor, você não faz ideia.
– Temos uma cláusula a acertar. – Diz com sua boca esperta.
– Podemos marcar uma reunião de negócios para discutirmos isso. –
Brinco, mas ela parece estar falando sério.
– Hoje! – Fala, decidida, e eu fico tentando entender onde ela quer
chegar com toda provocação. Puxo-a delicadamente pela cintura e dou um
beijo casto em sua boca. Um fotógrafo se aproxima e pede para tirarmos uma
foto juntos. Olho para ela e, após sua confirmação, permito que nos fotografe.
Aplausos irrompem e percebo que a apresentação acabou quando uma
música começa a tocar.
– Preciso ir. – Informo. Bia balança a cabeça, concordando. – Você vem
comigo! – Dou a mão a ela e seguimos pelo salão. Durante o caminho, somos
parados e todos querem conhecer minha "namorada". Sou surpreendido ao
ver a família dela e a minha sentados juntos em uma mesa.
Quando nos aproximamos, minha mãe se levanta para cumprimentá-la.
– Minha linda, você está deslumbrante! – Dona Eliza diz beijando
Beatriz e, em seguida, meu pai repete o mesmo gesto. Minha mãe me olha
com brilhos nos olhos e mal consegue conter sua animação nos vendo de
mãos dadas.
Noto o irmão dela numa conversa animada com a minha irmã.
– Está rolando algo entre nossos irmãos? – Pergunto no ouvido dela.
– Não que eu saiba, espero que não. – Responde, sorrindo. Pego duas
taças de champanhe e entrego uma a ela. Uma música versão orquestral que
conheço começa a tocar e puxo-a até a pista de dança.
– Já dançou com alguém assim antes? – Pergunto em seu ouvido,
enquanto a puxo para mim.
– Não.
– Nem eu. – Respondo.
– Vamos nos sair bem. – Afirma, me olhando nos olhos. É possível estar
apaixonado tão rapidamente? Porque eu acho que estou!
Começo a cantar a música enquanto ela coloca a mão livre sobre meu
peito, e dançamos lentamente.
– Você sabe a tradução? – Questiona, sorrindo enquanto canto, e eu
aceno a cabeça afirmativamente. – É uma declaração? – Apenas sorrio, sem
responder. Talvez seja.

Eu quero te dar amor selvagem


O tipo que nunca desacelera
Eu quero levá-la até lá em cima
Que nossos corações sejam o único som
Eu quero ir aonde as luzes estejam escurecendo e você é apenas minha
Eu quero te dar amor selvagem
MATHEUS

Puta merda!
Sardinhas bonitinhas é a mais linda desse lugar.
É a primeira vez em toda minha existência que sinto meu coração bater
tão forte e não é pela adrenalina que o tesão traz. Eu nunca a toquei, nunca a
beijei, nunca transamos. Isso me faz crer que essa garota tem um poder
hipnótico que nenhuma outra possui.
É inaceitável!
– Ei! – Ela sorri assim que me acomodo ao seu lado na mesa.
– Ei, sardinhas bonitinhas.
– Você cismou com isso. – Diz, revirando os olhos.
– Você não seria tão linda sem elas. – Digo, e seguro sua mão
minúscula. – Suas mãos são delicadas. Amei a cor do seu esmalte. – Ela ri e
balança a cabeça, como se estivesse negando algo a si mesma.
– Você é muito legal, estou gostando de ser sua amiga.
– Sou o melhor amigo que você poderá ter nessa vida. – Sorrio, piscando
um olho.
– Suas covinhas são fantásticas. – Afirma. – Então, me conte um pouco
sobre a capital mineira... – Pede, e então passamos horas perdidos
conversando sobre capitais, países. Assim, do nada, a conversa apenas vai
fluindo. Eu passaria o resto da noite conversando com ela.
Victória é tão inteligente, culta, levemente divertida.
Além de ser linda e gostosa.
Na verdade, acho que inteligência é o que ela possui de mais lindo.
Ela é hipnótica... Eu estou fodido!
BEATRIZ

Você percebe que está fodida quando a pessoa some a porra da semana
toda e quando aparece, você, ao invés de ficar puta, fica completamente boba
parecendo uma apaixonada.
Não poderia ser diferente, merda; ele é realmente apaixonante, e está
cantando uma música romântica em meus ouvidos. Logo eu... a anti-
romance!
– Você sabe a tradução? – Pergunto e ele balança a cabeça
afirmativamente. Puta que pariu, se ele sabe a tradução e está cantando para
mim, isso pode significar muitas coisas. – É uma declaração? – Pergunto
olhando em seus olhos, e ele sorri. Em seguida, me puxa ainda mais para seus
braços e continuamos dançando o resto da música como se estivéssemos
apenas eu e ele no salão.
Assim que acaba a música, ficamos parados no meio do salão e ele fica
me observando atentamente, sem esboçar qualquer reação. Após longos
segundos angustiantes, ele quebra o silêncio.
– Você está certa das suas vontades em relação a mim ou sou apenas
uma ficada, como você mesma diz? – Uau. Que pergunta. Que isso, Brasil...
Socorro Jesus!
– Por que esse questionamento? – Indago, curiosa.
– Porque quero fazer algo que depende da sua resposta. – Responde,
seriamente.
– Sexo? – Pergunto mordendo os lábios, e ele sorri. Ok, eu só penso em
sexo com ele e nem mesmo compreendo o motivo disso. Esse homem ativou
minha sexualidade.
– Está incluso no pacote. Vem, vamos ter essa conversa num lugar mais
tranquilo. – Ele me pega pela mão, pega uma garrafa de champanhe, me
entrega duas taças e, em seguida, nos leva para o lado de fora do salão, onde
há um enorme jardim.
Nos sentamos em um banco de ferro e ele abre o champanhe, nos
servindo. O líquido frio desce pela garganta e alivia um pouco do calor.
– Devagar com isso, mocinha. – Repreende, enquanto volta a encher
minha taça. O que é champanhe perto das bebidas que estou acostumada? Ele
não sabe de nada, inocente! Desce uma Cîroc, companheiro! Só me
contenho porque tenho que pagar de moça bem-comportada.
– Preciso muito mais que champanhe para ficar alcoolizada. – Informo,
fazendo-o sorrir.
– Se você está dizendo. – Diz, e volta com seu olhar enigmático.
– Por que está me olhando dessa forma, como se eu pudesse te dar
respostas?
– Gosto de te olhar. Você fica corada e tímida. E, além disso, preciso de
algumas respostas realmente, Beatriz. Eu sei o que quero, preciso saber se
você quer o mesmo. – Confessa e então toma um gole de champanhe.
– O que você quer, Bernardo? – Pergunto, enquanto ele passa o polegar
pelo meu lábio inferior.
– Você. – De forma direta, responde.
– Eu estou aqui, você me tem.
– Eu preciso saber se você quer continuar com isso que estamos tendo
ou se devemos parar por aqui. – Explica. Por que ele é tão sério e centrado?
– Não é óbvio para você? – Pergunto, arqueando as sobrancelhas, e o
vejo sorrir.
– Não tanto. – Responde.
– O que mais eu preciso fazer? Eu já deixei você me tocar de maneiras
que nunca ninguém ousou tocar antes, já me ofereci a você. Eu quero você,
não é tão óbvio?
– Eu sou um jovem garoto velho, Beatriz, sempre fui sério, centrado.
Você possui 18 anos de idade, e é cheia de vontades de viver pelo que já
percebi. Não quero que se prenda a mim se não for do seu interesse, essa é
minha preocupação. Eu quero conhecê-la mais e melhor, ir mais a fundo; para
isso, eu preciso saber se você quer o mesmo. E, antes que pense, eu não quero
que se torne uma jovem garota velha como eu, nós podemos conciliar nossas
vontades, não quero mudá-la. – Diz, e eu termino de virar mais uma taça de
champanhe. Não sabia que a conversa chegaria a um ponto mais sério. Nós
não seríamos apenas ficantes? Ficantes são vida louca! Mas eu o que quero, o
quero demais, nem sei mesmo o porquê de o querer tanto, mas quero.
– Sinceramente, não estou entendendo bem ao certo onde você quer
chegar com essa conversa séria, mas de qualquer maneira eu quero que vá
fundo comigo, quero continuar com você, e não quero mais ficar uma semana
toda sem vê-lo. – Digo essa última parte completamente sem graça, e o vejo
sorrir.
– Sendo assim, preciso ir conversar com seu pai. – Diz, num tom
decidido. Eu abro a boca e a fecho vezes seguidas. O que ele quer conversar
com Arthur Albuquerque?? Ele se levanta e oferece sua mão; com relutância,
entrego a minha. Sou puxada para seus braços e beijada intensamente. Seus
lábios são firmes e exigentes, capazes de deixar meu corpo mole em questão
de segundos. Quando se afasta, tento recuperar o fôlego e a sanidade.
Sangue de cordeiro, pena de pavão, vai me foder hoje sim ou não?
Ele volta a nos guiar para dentro do salão, um pouco apressado, e tento
entender qual será sua próxima ação:
– Bernardo, o que você vai fazer?
– Estou indo chamar seu pai para uma conversa. – Responde, decidido.
– Que tipo de conversa?
– Apenas sente-se com nossos familiares e aguarde enquanto converso
com seu pai, ok? – Aconselha com segurança e adentramos ao salão.
Chegamos até a mesa e novamente sou surpreendida por sua atitude:
– Podemos trocar uma palavrinha, Arthur? – Intima meu pai e minha
mãe me olha em completo estado de choque.
– Claro. – Meu pai concorda, se levantando sobre o olhar curioso de
todos que estão na mesa, incluindo os pais e irmãos de Bernardo.
Eles saem e eu me sento ao lado da minha mãe. Todos estão me olhando
curiosamente, parece cena de novela mexicana.
– Tudo bem, não vamos ser hipócritas, não é mesmo? – Minha mãe diz a
todos e volta seu olhar a mim. – Conte-nos tudo, por favor! Tenho certeza
que todos aqui estão curiosos.
– Bom, garotos, acho que é uma conversa de mulheres, devemos nos
retirar Matheus e Pietro. – Bernardo “paizão delícia” sugere se levantando, e
Pietro o acompanha, juntamente com Matheus.
– Então... – Eliza parece mais ansiosa que minha mãe.
– Não tenho a menor ideia do que se trata essa conversa. Estou tão
curiosa quanto vocês. – Desabafo e bebo uma taça de champanhe que estava
na mesa.
– Nem uma desconfiança do que seja? – Eliza volta a perguntar.
– Absolutamente nada. Nós dançamos, depois tivemos uma conversa um
pouco séria que foge um pouco do nosso combinado e ele simplesmente disse
que precisava falar com meu pai e estou no escuro, não tenho a menor ideia,
de verdade. – Respondo.
– Que saco isso! – Minha mãe suspira, exasperada. – Teremos que
esperar então, odeio esperar.
– Também odeio. – Eliza concorda.
– Vic, vamos dançar? – Pergunto, e Victória levanta no mesmo
momento. Não aguento ficar esperando, preciso de algo que me distraia.
BERNARDO

Arthur me segue até o local onde eu e Beatriz estávamos minutos atrás.


Ainda não estou certo do que estou fazendo, mas estou me permitindo não
pensar tanto.
– Devo presumir que é uma conversa séria sobre minha garota? – Ele
questiona curioso, e eu tomo um ar antes de começar a falar.
– Bom, senhor Arthur, acredito que saiba que eu e sua filha estamos nos
conhecendo.
– Sim, estou ciente.
– Bom, eu gostaria da sua permissão para levá-la a uma viagem
comigo. – Ele arqueia as sobrancelhas, respira fundo e pergunta:
– Viagem? Ela está sabendo disso?
– Não, ela não está porque não quero causar um mal-estar entre vocês
dois, caso o senhor não esteja de acordo. – Ele me encara, surpreso.
– Atitude louvável, garoto, me chame apenas de Arthur.
– Certo, Arthur.
– Para onde seria essa viagem e qual o intuito dela? – Ele é muito
advogado, é perceptível.
– Nova York. – Ele arregala os olhos e eu imagino quão difícil deve ser
possuir uma filha. Sinceramente, não deve ser fácil ter que lidar com essa
situação. – Eu trabalho desde os 16 anos de idade, estou precisando tirar
umas férias. Levando em conta que estamos nas férias escolares e Beatriz
ainda não se decidiu sobre a faculdade, pensei que ela poderia ir comigo e
assim poderíamos nos aproximar e nos conhecer um pouco mais.
– Vocês dois já...? – Pergunta completamente sem graça, e eu logo
entendo.
– Não, nós não chegamos às vias de fato. Eu a respeito, Arthur, você
deve saber melhor que eu que sua filha é um pouco impulsiva, nunca entrarei
nesse mérito se perceber que ela está sendo impulsiva. Não sei se você sabe,
mas sua filha ainda é... virgem. – Merda! Eu não estou certo se deveria dizer
isso, mas ele parece saber.
– Tenho que dizer que estou bastante surpreso com sua atitude,
Bernardo. Mas Beatriz é minha garota e sempre será, tenho mil e um motivos
para ficar de olhos bem abertos quando se trata dela. Não sei se ela já entrou
nesse assunto com você, mas poucos dias antes de nos mudarmos para cá,
Beatriz foi dopada e por pouco não foi estuprada. – Ele diz, me deixando em
total estado de choque, tanto que mal consigo me conter. Estou perplexo com
essa “novidade”. – Eu estava viajando, cheguei indo direto para o hospital.
Beatriz não sabe muito bem, mas eu e sua mãe já estávamos planejando essa
mudança há muito tempo com o intuito de afastá-la de certas amizades, e esse
acontecimento só contribuiu ainda mais para termos certeza de que estávamos
fazendo as escolhas certas por ela.
“Eu não posso dizer que confio cem por cento em você, garoto, afinal
nos conhecemos a pouquíssimo tempo, mas minha intuição de pai me diz que
você é um bom rapaz e é diferente da maioria dos jovens. Me parece
confiável o suficiente e agora tenho contato direto com seus pais, logo, sei
que são uma boa família. Quero que saiba que estou entregando minha vida
em suas mãos permitindo que Beatriz faça essa viagem, tenha isso em mente.
Se um dia você tiver filhos, em especial uma filha, certamente irá me
entender. Eu me preocupo com ela e com toda impulsividade que carrega
consigo. Ela é como a mãe, porém a mãe tem experiência suficiente, Beatriz
não.”
– Eu te entendo. Desculpe perguntar, mas tomaram alguma providência
em relação ao acontecido?
– Sim, ainda estou tomando na verdade, mas espero que isso fique entre
nós, pois é contra a vontade de Bia. – Informa, aumentando meu choque.
– Contra a vontade dela? – Pergunto assustado pela ousadia da
garotinha.
– Sim, por ela eu ficaria quieto, Beatriz não vê tanta maldade nas coisas,
mas que espécie de pai e advogado eu seria se não tomasse providências?
– Ufa, ainda bem! – Exclamo mais para mim do que para ele.
– Quantos dias? – Pergunta, voltando ao assunto viagem.
– 20.
– 10. – Rebate, mas não aceito. Estamos em uma negociação e não sou o
tipo que perde negócios.
– 20. – Insisto.
– 15 e não se fala mais nisso. – Ok, 15 dias é tempo o suficiente. Aceito
para mostrar que posso ser maleável.
– Perfeito, 15 dias são suficientes.
– Bom, minha sogra tem um apartamento próximo ao Central Park,
ficaria feliz e mais tranquilo se você aceitasse ficar lá. – Informa.
– Se isso for deixá-lo mais tranquilo, estou de acordo.
– Você é bom de negociações, Bernardo, tem um futuro promissor.
Agora eu peço um enorme favor já que estou fazendo concessões, não a
magoe em hipótese alguma. – Pede bastante sério enquanto damos um aperto
de mão.
– Não tenho intenção alguma de magoá-la.
– Perfeito. Tem minha aprovação. Agora, precisamos da aprovação da
mãe dela. Eu não posso apenas deixá-la ir e passar por cima de Mari. É uma
decisão que devemos tomar juntos, mas já posso garantir que ela não vai se
opor. Vou verificar o passaporte de Beatriz e você pode marcar a viagem.
– Muito obrigado Arthur, eu prometo cuidar de Beatriz e manter contato
todos os dias da viagem, se ela aceitar ir comigo.
– Acho ótimo. – Ele bate no meu ombro e voltamos ao salão.
Arthur senta-se ao lado de Mariana, que tem um olhar inquisidor, e
minha mãe se levanta vindo até mim.
– Tudo bem, filho?
– Tudo sim mãe, vou tirar umas férias. – Comunico, ganhando um
enorme sorriso.
– Sério? – Ela pergunta, animada.
– Sim, não era isso que tanto queria? Vou levar Beatriz comigo. –
Informo, e ela coloca as duas mãos sob a boca. Dona Liz está chocada, isso é
engraçado.
– Meu Deus, isso é maravilhoso, Bernardo. Você me enche de orgulho
cada dia mais, filho! – Sorri com lágrimas em seus olhos e eu a abraço.
– Ei, não é para tanto, é apenas uma viagem.
– Estou muito feliz pela viagem e por Beatriz. – Diz.
– Onde ela está? – Pergunto.
– Dançando com Victória.
– Vou atrás dela. – Peço licença a todos na mesa e vou em busca dela.
Não é difícil encontrá-la. Ela está na pista com Victória, Pietro, Matheus
e mais dois garotos. Pela primeira vez, sinto ciúmes de verdade, assusto
comigo mesmo quando a puxo pela cintura.
– Oi. – Ela diz, sorrindo.
– Você aceita passar uns dias comigo em Nova York? – Pergunto em
seu ouvido e a sinto estremecer.
– Adoraria, mas meus pais não vão gostar da ideia tão facilmente. – Faz
um biquinho me agarrando mais, de forma provocativa.
– Seu pai já autorizou. – Informo. Ela começar a rir e então percebe que
não foi uma brincadeira.
– Mentira! Isso que vocês estão conversando? – Pergunta.
– Exatamente.
– Ele deixou real? – Pergunta novamente e parece empolgada.
– Sim. Ia olhar um hotel legal, mas seu pai quer que a gente fique no
apartamento dos seus avós. Diga que eles não moram lá, por favor!
– Eles não moram lá. – Ela confirma e ansiedade toma conta de mim. –
Aliás, eles serão nossos vizinhos em breve.
– Ótimo, então seremos só eu e você durante 15 dias, Beatriz.
– Quinze dias? Meu pai permitiu isso? – Balanço a cabeça
afirmativamente e ela sorri. -Devo me preocupar? – Pergunta, beijando meu
pescoço disfarçadamente.
– Talvez eu deva me preocupar. Está animada? – Pergunto.
– Muito, e feliz também.
– Seu pai fez eu prometer que não tocaria em você e não tiraria sua
pureza. – Minto e ela se afasta em choque. A garota quer sexo comigo de
qualquer maneira, estou percebendo isso. Tanto quanto eu quero com ela.
Isso é uma maldição.
– E você aceitou isso?
– Aceitei. – Estou sério quando confirmo minha mentira. Ela parece
nervosa agora.
– Eu vou trabalhar duro para fazer com que quebra a promessa. –
Informa. Essa garota vai me enlouquecer!
BEATRIZ

Após o baile, Bernardo não apareceu mais. A única conversa que


tivemos foi ontem (segunda-feira) quando ele me mandou uma mensagem
avisando que nosso voo sairia amanhã. Eu me dediquei em arrumar malas e ir
ao shopping comprar algumas coisas, o que foi uma boa distração.
Já passam das dez horas da noite quando minha mãe aparece no quarto,
conforme eu já havia previsto.
– Oi filha, posso entrar?
– Claro. – Respondo. Ela entra e se acomoda ao meu lado na cama. – Já
está tudo pronto?
– Sim, tudo sob controle.
– Está ansiosa? – Pergunta, segurando minha mão. Eu me sinto
completamente ansiosa. Desde o primeiro momento em que ele disse que
iríamos viajar, a ansiedade bateu com força em mim. Sei tudo o que ele
pretende por trás dessa viagem e tenho certeza que ela vai nos levar a um
outro nível. E, por mais que eu queira esse outro nível, me sinto
completamente nervosa. No calor do momento, as coisas parecem fáceis
demais, mas, quando ganhamos tempo para pensar, todo o peso das escolhas
cai de uma vez só sobre nós. Estou alçando um novo voo. Sei que, no final
dessa viagem, eu serei uma nova mulher.
– Estou, mãe, ansiosa e nervosa. – Confesso e tapo meu rosto com as
mãos. Ela começa a rir e então me abraça.
– Eu sei, mas você está certa de que quer ir, não está? – Pergunta.
– Sim, estou.
– Então apenas vá, sem fazer planos ou grandes expectativas. As
melhores coisas acontecem quando menos esperamos, Bia. Eu sei o que deve
estar passando nessa cabecinha, mas o importante é que você não force
situações, apenas deixe que as coisas aconteçam naturalmente. Pense que
você está indo com um amigo num passeio, sabemos que não é bem isso, mas
coloque na mente para se sentir mais leve. – Ela diz tranquilamente como se
fosse apenas simples demais os últimos acontecimentos.
– Você faz parecer simples.
– E você faz parecer difícil demais. O quão difícil é viajar com um boy
magia decidido e homem suficiente para peitar seu pai? – Quando abro a
boca para responder, ela me cala. – Veja bem Beatriz, não estou te
empurrando a ninguém, mas você tem mostrado bastante interesse por esse
garoto. Estou tentando facilitar as coisas para você, filha. Apenas siga seu
coração e dê uma pausa para a mente ou você vai passar mal nessa viagem de
tanto pensar. Deixe fluir naturalmente, sem cobrança, sem nervosismo. Se
tiver que acontecer, acontecerá. Deixa de ficar pilhada. Entregue-se à essa
viagem. Sei que Bernardo irá respeitá-la caso não queria fazer nada além de
dar uns amassos. – Ela é desconcertante.
– Mãe, eu te amo demais, você está certa como sempre. Obrigada.
– Por nada filha, só sinto muito que você não vá estar aqui quando for
realizar o exame de sangue para descobrir se terei um bebê.
– Mãe, no fundo você sabe que está grávida, mesmo que os exames de
urina tenham dado negativo. – Sorrio, porque ela sabe testar meu pai.
– Talvez, prefiro manter seu pai em alerta, ele fica engraçado. – Viu? Eu
disse!
– Meu pai ainda vai te matar, mãe, definitivamente.
– Vai nada, bobinha. Bom, agora tente descansar porque amanhã o voo
sai bem cedo e precisa se produzir antes. – Ela diz e se levanta.
– Tudo bem. Obrigada novamente, mãe. – Digo, abraçando-a.
– Você é a minha vida!
– Eu te amo muito. É a minha melhor amiga da vida toda. – Ela acena a
cabeça emocionada e se vai.
Meu despertar foi ao som do meu celular indicando uma mensagem.
Quando abro, sorrio, e então meu coração começa a bater descompassado.

“Falta pouco para o “enfim sós”.”

Eu não respondo, apenas levanto num salto e vou direto para o banho.
Em menos de duas horas, estarei dentro de um avião embarcando para uma
viagem que promete ser quente. Mal posso me conter!
Saio do banho e escolho uma roupa confortável para encarar dez horas
de voo. Desço as escadas numa empolgação e encontro meu pai e minha mãe
já acomodados na mesa me esperando.
– Bom dia. – Eles dizem em uníssono.
– Bom dia.
– Venha tomar seu café, filhota, precisa se alimentar bem antes da
viagem. – Minha mãe diz e meu pai fica com o queixo apoiado nas mãos, me
encarando.
– Já conferiu seus documentos, passaporte? – Ele questiona e morro de
dó... tadinho.
– Sim pai, está tudo certo. – Respondo. Do nada ele me entrega dois
cartões, um de banco e um plano de saúde internacional.
– É internacional e sem limites, acho que dá para aproveitar sua viagem.
Não hesite em gastar e não saia de casa sem o cartão do plano, use para o que
for preciso, Beatriz.
– Tudo bem pai, obrigada e fique tranquilo, sou mais ajuizada do que
parece.
– Eu acredito nisso ou não deixaria você ficar tanto tempo fora, em
outro país. – Ele suspira. – Minha garota cresceu. – Eu quero abraçá-lo agora,
mas sei que irei chorar se o fizer.
– Sim amor, ela cresceu e virou uma linda mulher, nosso homenzinho
está dormindo lá no quarto e talvez tenha um bebê dentro da minha barriga. É
a lei da vida. Filhos nascem, crescem, procriam... – Minha mãe diz, tentando
quebrar o clima sentimental, e meu pai arregala os olhos.
– Não procrie agora ou eu te deserdo, Beatriz. – Ameaça, me fazendo
rir.
– Não vou procriar tão cedo pai, não se preocupe, de verdade!
Meia hora depois, estamos todos no saguão do nosso andar. Eu, minha
mãe, meu pai, Bernardo, Eliza e Bernardo pai. Talvez seja interessante eu
inventar um apelido para distinguir Bernardo de seu pai.
– Bom dia. – Ele diz e beija minha testa, mostrando que é um bom moço
para nossos pais. Falso puritano do caralho!
– Animada para a viagem? – Eliza questiona me abraçando e,
sinceramente, ela parece muito mais animada que eu mesma. Enfim, alguém
tão empolgada quanto minha mãe.
– Bastante. – Respondo feliz quando o elevador chega.
– Desçam vocês primeiro que eu e Beatriz descemos com as malas em
seguida. –Bernardo diz e todos concordam com sorrisinhos nos lábios.
Assim que as portas se fecham, ele me joga na parede e me beija com furor.
Pena de avestruz pena de faisão me come agora na pressão!
– Meu Deus, você não pode me beijar dessa maneira aqui. – Digo,
tentando me recompor. – Você é um grande safado que se faz de santo perto
dos meus pais.
– Se quiser, eu posso ser um garoto comportado, basta falar. – Anuncia,
se afastando, e eu o puxo.
– De jeito nenhum, só não vou conseguir trocar a calcinha nas próximas
horas.
– Está molhada? – Pergunta, com as bochechas coradas e me olhando
fixamente. Estou tímida... sério.
– Você fica desconcertante me olhando assim.
– Você fica linda quando não sabe o que dizer. – Diz, sorrindo.
– Eu espero que essa viagem tenha sido decidida levando em conta fins
sexuais, de verdade. Não quero ficar frustrada em plena Nova York. –
Informo e o elevador chega novamente. Bernardo fica calado e coloca nossas
malas dentro, e em seguida eu entro.
– Cara, para que tanta roupa? – Questiona.
– Você quer andar com uma mulher feia? Preciso de roupas. Bom que
você só está levando uma, aí lá podemos comprar outra mala para trazermos
coisinhas.
– Não vá me fazer entrar em todas as lojas. Não estamos indo para fins
comerciais, Beatriz.
– Então são sexuais? – Provoco, e ele ri.
– Estou muito fodido nessa viagem. – Afirma, rindo. É bom que ele
saiba disso...
– Você não, mas eu pretendo ficar e não vou jogar limpo. – Vejo o
sorriso sumir de seu lindo rosto na mesma hora e agora sou eu quem rio.
– Virgem só no ato, né? Porque você fala cada coisa que beira ao
absurdo, como se eu não soubesse que você está se borrando de medo de
chegarmos às vias de fato.
– Não estou com medo. – Minto, e ele ri.
– Tudo bem, acredito. – A porta se abre e, em minutos, estamos dentro
dos respectivos carros. Ele com os pais e eu com os meus pais.
Quando chegamos ao aeroporto, é chegada a hora do show de dona
Mariana, que me abraça morrendo de chorar.
– Nunca fiquei tanto tempo longe da minha filhote. Prometa que vamos
conversar por Skype e que vai me ligar todos os dias?
– Prometo, mãe. – Digo, e meu pai se junta ao abraço.
– Se comporte filha, tenha juízo e volte para mim inteira, por favor.
Você é tudo que eu tenho de mais precioso na vida. – Ele diz, e então começo
a chorar. Merda.
– Merda, vocês podem parar? É só uma viagem. Eu amo vocês!!!
– Tudo bem, não quero que borre a maquiagem. Se cuida, filhote. –
Minha mãe... ela é a melhor!
Em seguida, é a vez de despedir dos pais de Bernardo e ouvir vários se
cuidem, nos ligue e bla bla bla.
Bernardo está com as nossas malas em um carrinho e me oferece o
braço.
– Preparada? – Pergunta com as covinhas a mostra, e eu balanço a
cabeça afirmativamente.
Entregamos nossas passagens e, após a verificação, somos liberados
para a verificação de segurança. Após deixarmos as malas na esteira e
fazermos todos os procedimentos, caminhamos até o terminal de espera onde
nos servem champanhe. Ulalala!
– Já vai a bebum beber de manhã cedo. – Bernardo brinca, enquanto
bebe uma água com gás.
– Precisamos aproveitar as vantagens da primeira classe, mon'amour.
– Sinceramente, não via a hora de ficarmos sós, longe de toda a melação
dos nossos pais. – Diz, me surpreendendo.
– Tenho que concordar.
– Quem diria que eu estaria viajando com a garotinha. – Suspira, rindo.
Pelo alto falante, anunciam nosso voo, e o frio na barriga aparece na mesma
hora. Termino de tomar meu champanhe e Bê me dá a mão para
caminharmos ao embarque.
Uma van nos leva até o avião e, quando entramos, meu queixo cai. O
avião é extremamente luxuoso e eu tenho certeza de que vou me esquecer que
estou dentro de um meio de transporte. Porém, os assentos são separados e
isso me deixa um pouco incomodada.
– Não tinha assentos juntos. – Bê explica ao ver minha expressão.
– Tudo bem. Vamos passar 15 dias juntos. – Na verdade, eu sempre
tenho receio de voos, mas decido não comunicar isso a ele ainda.
– Estou ansioso para chegarmos. – Confessa com um olhar cheio de
promessas. Eu estou em pânico de tanta ansiedade.
– Vira uma cama, não é? – Pergunto me referindo ao assento, e ele
confirma.
– Sim, tem botões de instruções. Podemos ir assistindo filmes, fora o
serviço de bordo, é incrível.
– Você sabe de tudo?
– Eu quis o melhor e mais confortável para você. – Diz timidamente e eu
o beijo.
– Eu... você... – Ele coloca o dedo no meu lábio, me impedindo de falar.
Outros passageiros se acomodam em seus lugares e fazemos o mesmo.
A comissária indica todos os procedimentos de rotina aos passageiros e,
ao decolar, seguro em suas mãos. É horrível.
– Tem medo? – Pergunta, sorrindo.
– Só da decolagem. Me dá nervoso. – Digo.
– Estou aqui, vai ficar tudo bem já. – Diz me transmitindo segurança, e
eu fecho os olhos; mais por medo dos sentimentos que estou tendo por ele do
que pela decolagem. Que inferno! O cara é perfeito demais!
BERNARDO

Eu perdi as contas de quanto tempo estou segurando a mão de Beatriz


enquanto ela dorme. Na verdade, ela só dormiu depois disso, pois passou
grande parte da viagem acordada, exalando ansiedade e medo por estar dentro
de um avião, nem teve como tentar distrai-la com um corredor nos
separando. Mas eu gostaria de ter feito...
Quando enfim a comissária avisa que vamos aterrissar em breve, sou
obrigado a acordar a linda garotinha dorminhoca. Ela abre os olhos e sorri ao
me ver.
– Hora de colocar o cinto, vamos aterrissar. – Aviso, e ela aperta os
comandos para o assento voltar ao normal.
– Que horas são aqui? – Questiona.
– Quase cinco da tarde. No Brasil, devem ser umas sete da noite. –
Respondo.
– Uau. Parece que fui atropelada por um caminhão.
– Nada que um banho, uma massagem e uma boa noite de sono não
resolvam. – Digo e ela cora. Sei que muitas coisas estão passando pela
cabecinha promíscua dela, é engraçado, nunca tive que lidar com esse tipo de
situação antes, é tudo completamente novo para mim. Essa inexperiência é
linda.
Ela pega um Trident e joga outro para mim. Quando o avião começa a
descer, ela fecha os olhos e aperta minha mão com uma força sobrenatural, e
só os abre novamente quando somos informados do desembarque.
– Mais calma agora? – Pergunto, tentando não rir.
– Sim, com tantos aviões caindo, dessa vez fiquei receosa. – Explica
sorrindo e nos levantamos. Não é o momento de eu explicar que a taxa de
acidentes aéreos é infinitamente menor que a taxa de acidentes em veículos
terrestres.
Ela vai andando lentamente conforme os demais passageiros vão
descendo, e eu a abraço por trás. A partir de agora, tenho 15 dias para
conhecer melhor essa mulher e ver que rumo vamos seguir. Estou ansioso,
empolgado, atento, eufórico e até mesmo um pouco receoso.
Assim que pegamos as malas e nos dirigimos aos táxis, Beatriz vira uma
verdadeira criança dançando e cantando New York sob o olhar avaliador de
dezenas de pessoas.
– Eu amo esse lugar! – Exclama, pulando e apoiando as mãos em meu
ombro. – Até o cheiro daqui é diferente.
– Tenho que concordar. – Nos acomodamos no táxi, passo todas as
instruções que Arthur me deu ao motorista e, longos minutos depois, ele
estaciona em frente a um prédio estilo aqueles dos filmes, bem próximo ao
Central Park no Upper East Side, uma das melhores localizações. – Uau, sua
vó tem um apartamento na melhor localização.
– Meu sonho é morar aqui um dia. – Beatriz comenta e o motorista nos
ajuda com as malas. Acerto tudo com ele e entramos no hall. A recepcionista
nos entrega a chave e, em seguida, entramos no elevador.
Beatriz não para quieta um só minuto, desconfio que essa viagem será
meu fim.
Ao entrar no apartamento, a primeira coisa que atrai minha atenção é a
vista. Deixo as malas no meio do caminho e sigo até uma enorme janela ao
fundo da sala.
– Ali é o rio Hudson, e ali o Central Park. – Beatriz explica indicando os
lugares com o dedo, orgulhosa. O rio Hudson está um pouco distante, mas
ainda assim dá para vê-lo.
– Incrível.
– Esqueci de dizer, você fica sexy conversando em inglês. – Ela anuncia
e eu a puxo para meus braços.
– Garotinha, você é encantadora. – Sorrio.
– Vem, vamos conhecer os outros cômodos. – Convida animada e eu a
acompanho, observando melhor a sala. – Minha mãe redecorou o
apartamento há dois anos. – Diz e passamos pela cozinha, pelo banheiro
social, um escritório e dois quartos. De repente, ela para em uma porta
fechada e me olha mordendo os lábios.
– O que foi, dona Beatriz? – Pergunto, encantado por ela estar com essa
carinha.
– Preparado para conhecer a melhor parte do apartamento? – Diz,
atiçando minha curiosidade.
– Sim. – Respondo e ela abre a porta de um quarto, provando que
realmente é a melhor parte do apartamento.
BEATRIZ

Bernardo está parado na porta, ora olhando para o quarto ora olhando
para mim, com um olhar indecifrável. É a primeira vez que terei o privilégio
de ter esse quarto para mim e o prazer de dividi-lo com ele.
– Então? – Pergunto, conseguindo sua atenção juntamente com um
sorriso promissor.
– Essa cama, essa cadeira e essa vista são perfeitas. Esse é o nosso
quarto? – Pergunta, colocando uma mecha dos meus cabelos atrás da minha
orelha.
– Só se você quiser. – Explico. Ele me encosta no vão da porta e me
beija carinhosamente.
– Irei até a rua comprar algumas coisas. – Informa, mudando o foco
todinho da situação. Talvez ele esteja querendo ganhar tempo.
– Tenho certeza que a geladeira está abastecida, sempre quando vamos
vir minha mãe avisa a senhora que cuida daqui para comprar coisas. Você
está querendo fugir de mim? – Pergunto, fazendo-o rir.
– De forma alguma Beatriz, fui eu quem inventei essa viagem. Só quero
criar um clima mais gostoso antes de levá-la direto para a cama. Quero
comprar um bom vinho e mais algumas coisas.
– Camisinhas? – Pergunto, e ele ri ainda mais.
Não vou usar camisinha com você, não na primeira vez. – Diz, como se
eu tivesse acabado de falar um absurdo.
– Você sabe ao menos se faço uso de anticoncepcional? Me questionou
se quero isso?
– Não faço a menor ideia, mas na primeira vez eu quero te sentir por
completo e não vai existir nada entre nós. – Ele me convence com seu
sorriso promissor.
– Nós vamos... você sabe... hoje? – Pergunto, com muita vergonha. Puta
merda, isso é humilhante.
– Fazer sexo, foder, fazer amor? Talvez. Não temos que planejar, apenas
deixar as coisas acontecerem. Não pense tanto nisso. Relaxe, tome um banho
enquanto vou em busca de bebidas. Tudo bem? – Incentiva de forma
carinhosa.
– Sim.
– Apenas relaxe, Beatriz, você está exalando tensão. Não vamos planejar
e nem forçar nada, ok? Não a convidei para essa viagem pensando apenas em
sexo, a convidei para passarmos alguns dias juntos e poder conhecer um
pouco mais da menina mulher que tem tirado meu sossego e mudou meus
padrões. Não sou tolo de dizer que não quero transar com você, é óbvio que
quero, mas se fosse só sexo eu a teria levado para um motel na nossa cidade e
gasto muito menos que uma viagem internacional. Nós não estamos aqui para
transar, estamos para conhecermos um ao outro. Sexo pode vir a ser uma
consequência de tudo, mas não é o principal, tenha isso em mente. –
Surpreendente! Coisa mais linda, gente! Estou babando e não é só pela
boca...
– Ok. – Digo, depositando um beijo demorado em seus lábios.
Ele enfim se afasta e segue rumo a sua fuga, sim, isso é uma fuga, eu
sei. Aproveito e vou até a sala pegar minhas malas.
Tomo um banho quente e demorado, sorrindo como uma idiota e
pensando em todos os acontecimentos surreais.
Assim que termino de me vestir, pego meu celular e vou para a sala ligar
para meus pais enquanto o bonitão não chega. Minha mãe atende no primeiro
toque e eu me encosto na grande janela enquanto conversamos.
– Filha, acabei de falar com Bernardo, ele nos ligou para avisar que
chegaram bem. – Ela diz empolgada e eu fico surpresa por ele ter ligado.
– Ah sim, ele foi até a rua, não sabia que iria ligar. – Digo.
– A geladeira está devidamente abastecida? – Eu aposto que está!
– Mãe, eu não vi ainda, mas com certeza deve estar, não precisava se
preocupar.
– Seu pai está mandando um beijo, se cuide ok? Fique bem e relaxe
filha.
– Está bem, mãe, manda beijo para todos. – Encerro a ligação sorrindo.
Vou até a cozinha e na geladeira mal tem espaço, está além de
abastecida. Há até mesmo duas garrafas de vinho e algumas cervejas. Tendo
em vista que preciso relaxar, abro uma long neck e bebo a cerveja de uma só
vez. O líquido estupidamente gelado desce congelando tudo por dentro e eu
abro uma segunda, repetindo o mesmo feito anterior. Na terceira garrafa, a
porta se abre e meu príncipe sem cavalo branco entra com duas sacolas
enormes.
– Demorou. – Digo, sorrindo, e me sento no balcão enquanto ele coloca
as sacolas no mesmo.
– E a senhorita estava bebendo sem me esperar. Vou tomar um banho e
venho guardar as coisas.
– Pode deixar que eu guardo tudinho. – Informo sorrindo e ele me
encara.
– Pegue leve com a bebida. – Diz, de forma repreensiva.
– Ok, papai. – Reviro os olhos.
– É sério, Bia.
– Não me chame de Bia, já falei. – Ameaço, e o filho da mãe sorri.
– Beatrixxxx. – Diz me irritando e sai para o banho.
Abro as sacolas e me surpreendo com a quantidade de chocolates e
bebidas que ele comprou. Luto para tentar organizar as bebidas na geladeira
que está lotada e depois de muita técnica consigo guardar tudo. Pego um
snicker e como, enquanto bebo mais uma cerveja observando a paisagem pela
janela. Falei sério quando disse a ele que meu sonho é morar aqui. Talvez eu
deva pensar nisso melhor e vir estudar aqui. É um ritual virmos uma vez ao
ano para cá passar férias, e ter que voltar às origens é sempre extremamente
ruim após passar dias no paraíso.
Ao me dar conta, já se foram seis cervejas e quando estou partindo para
a sétima, Bernardo chega na sala apenas de toalha e eu me perco nas gotas de
água escorrendo pelo seu peitoral.
– Bonito, que bonito hein... – Digo. – Não existe a menor chance de me
manter virgem essa noite, você sabe disso, não sabe? – Anuncio. Vou foder
com esse homem pra caralho. Quero nem saber de hímen!
– Você está parecendo uma maníaca me olhando dessa maneira. – Ele ri,
pegando sua mala.
– E você está um tesudo andando pela casa dessa maneira. – Respondo e
viro mais um gole de cerveja. Nossa senhora da perdição e dos gominhos
trincados, me salve!
– Olha, ela está atirada, voltando às origens! – Provoca, rindo, e sai para
o quarto de novo. Puta que pariu nesse homem! Ele é muito gostoso!
Quando volta, está com uma bermuda e camiseta preta, e eu estou
completamente sedenta nele.
O interfone toca e ele o procura até encontrar, fala algumas palavras e
volta ao balcão, entrando entre minhas pernas.
– Nosso jantar chegou.
– Oh, pensei que ia me mostrar seus dotes... – Digo, sorrindo. –
Culinários, é claro.
– Eu me lembro de ter dito para você parar de beber. -Repreende mais
uma vez.
– Eu não estou nem perto de estar alcoolizada, não se preocupe.
– Vai ser mais difícil do que imaginei a convivência, acho que vou
começar a beber também. – Avisa sorrindo.
– Acho que seria uma boa ideia, podemos beber algo mais forte, tipo o
whisky que você comprou, ou alguma bebida diferenciada com a vodca e as
frutas que têm na geladeira.
– Você está sem sutiã. – Percebe, encarando meus seios através da
camiseta branca. Não foi proposital.
– Não foi por maldade dessa vez. – Explico, e a campainha toca.
– Ok, vou pegar nossa comida.
Ele vai até a porta e eu termino minha cerveja. Realmente vai ser
bastante complicada a convivência, preciso logo acabar com a “barreira” que
impede nossa felicidade completa e bolar algo que o faça pensar menos.
Ele volta e abre uma enorme embalagem com uma massa.
– Lasanha de presunto com ricota e um bom vinho, o que acha? –
Pergunta, sorrindo, e meu apetite dá sinal de vida.
– Acho excelente! – Me levanto, pego os pratos e talheres enquanto ele
pega o vinho na geladeira e abre com muita facilidade, servindo as duas
taças.
Sirvo os dois pratos e os levo para a mesa. Na primeira garfada, é quase
impossível contar o gemido de apreciação.
– Magnífico.
– Muito bom mesmo. – Concorda. – Então, o que gosta de comer? –
Pergunta.
– Posso dizer que sou magra de ruim, como de tudo, mas tenho uma
paixão maior por massas e fast foods. Sou chocólatra, quase uma
formiguinha, só evito tomar refrigerantes, mas se não tiver opção eu bebo
Coca-Cola feliz da vida. – Sorrio. – E o senhor?
– Eu amo massas e besteiras, mas evito comer. Durante a semana,
procuro ter uma alimentação mais saudável. Também sou chocólatra
assumido.
– Então vamos brigar por chocolate?
– Bem provável. – Responde, dando um sorriso.
– Me conta mais sobre seu envolvimento nos abrigos dos seus pais? –
Peço, curiosa.
– Então, eu sou engajado na causa desde criança, principalmente por
saber tudo que meu pai passou e como pode ser difícil sobreviver nas ruas.
Vou ao menos uma vez por semana em todos os abrigos e gosto de ajudar o
máximo que posso, mas quem são os cabeças por trás de tudo são meus pais.
Meu envolvimento é mais com brincadeiras, ajudar crianças e pais que vejo
nas ruas. Um trabalho de resgate.
– Então o projeto não é focado apenas em crianças? – Pergunto.
– Na verdade sim, mas quando as crianças possuem pais, nós os levamos
para um outro abrigo junto com os familiares e damos todo suporte até serem
capazes de se sustentarem.
– Sabe, Bianca vai ter que levar algumas cestas básicas a alguns
abrigos. – Digo, sorrindo.
– Sério? Por que?
– Você estava sendo alvo de uma aposta e ela com as amigas perderam.
– Que aposta? – Pergunta, curioso.
– Apostaram que conseguiriam ficar com você, mas eu, logo de
primeira, fui a única que consegui.
– Oh, então a senhorita se aproximou de mim por uma aposta? – Ele
pergunta, sorrindo.
– Não, na verdade, a aposta foi só um incentivo. Desde o momento em
que chutei suas bolas, deu vontade de te dar uns pegas.
– Que belíssimo linguajar. Devo ficar feliz sabendo que você queria me
dar uns pegas? – Ele arqueia a sobrancelha e me encara.
– Acho que sim, afinal, graças a minha atitude nós estamos aqui, não
estamos? – Saia dessa, querido. Aqui tem atitude e sagacidade!
– Me conte sobre você ter sido dopada e quase violentada. – Pede, me
deixando boquiaberta. Meu pai com certeza o alertou sobre isso. Puta merda!
– Meu pai, não foi? – Pergunto, e ele acena afirmativamente. – Eu
estava em uma das muitas festas que tinha costume de frequentar e um dos
garotos que eu ficava me deu uma bebida, e logo não vi mais nada. Quando
acordei, estava num hospital com a minha mãe aos prantos.
– Você tem ideia da gravidade disso? – Pergunta, sério.
– Absolutamente. – Respondo terminando de comer e tomo um gole do
vinho.
– Por que resolveu se manter virgem? – Pergunta.
– Porque nunca me permiti ser usada. Eu cresci em meio a muito amor e
muita informação. A relação dos meus pais é o exemplo que tenho de
relacionamento e o diálogo aberto deles me ensinou muitas coisas. Eu beijei
centenas de garotos, muitos deles, os mais bonitos do colégio, os mais
bonitos das baladas, mas eu nunca vi nada além de vontade sexual deles para
comigo. Havia garotos que gostavam e gostam de mim de verdade, mas não é
e nunca foi recíproco. Nunca teve um que estimulasse tanto meu lado sexual
a ponto de conseguir me levar para a cama. Eu sou a maluquinha que beija e
bebe, gosto de aventuras e adrenalinas, mas nada que envolva minha
virgindade. Eu nunca quis antes...
– E você quer agora. – Afirma. – Por que você quer?
– Por que se interessou por uma garota mais nova? – Corto sua pergunta
com outra.
– Porque você simplesmente quis algo, foi lá e fez com audácia e
ousadia suficiente. Eu te achei linda desde que me chutou as bolas, mas já
achei centenas de outras garotas lindas e nunca tive interesse algum por elas.
Eu gostei do seu jeito louco e audacioso. Foi como se tivesse chegado para se
encaixar em mim e mudar minha cabeça.
– Será que mudei o suficiente? Será que não sente falta dos seus casos
sexuais? –Pergunto, e ele sorri.
– Acredite, eu não senti falta de nada disso desde que nos beijamos.
Agora responda minha pergunta, por que você quer, Beatriz? Impulso? –
Merda.
– Porque com um beijo você passou a ter comando sobre todo meu
corpo. Bastou um beijo para que eu sentisse vontade de ir mais além com
você.
– O vinho está te deixando corada. – Diz, me analisando.
– Com calor também.
– Está com calor? – Pergunta provocando e eu aceno a cabeça. Ele se
levanta e retira nossos pratos, colocando-os na cozinha. Em seguida volta e
enche nossas taças. –Levante-se, senhorita. – Ordena e eu levanto. –
Proponho um brinde.
– Um brinde? – Pergunto, enquanto ele nos leva até a enorme janela da
sala.
– Um brinde às nossas primeiras vezes. – Diz levantando a taça e
brindamos. Viro todo o conteúdo da taça e o encaro enquanto ele bebe a
dele.
– Uma salva de palmas para todo esse ambiente sexual que se cria
quando estamos perto um do outro... – Digo, sorrindo.
– Você também sente isso?
– Em cada centímetro do meu corpo. Eu preciso que me beije e acalme o
que estou sentindo agora. – Imploro. Ele pega a taça da minha mão e a leva
até a mesa. Assim que as coloca, ele retira a blusa me encarando, e eu engulo
seco enquanto meu corpo parece entrar em combustão a cada passo que ele
dá até mim. Sou pega pela cintura e então rodeio minhas pernas em volta
dele. Nos encaramos alguns segundos até que sua boca cai sobre a minha de
maneira exigente, fazendo com que eu sinta extrema necessidade de ficar
nua.
Não sei o que vamos fazer ou onde vamos parar, mas tenho total
convicção de que não vou impedi-lo de fazer o que quer que seja.
BEATRIZ

É agora caralho! Minha Dora aventureira está mais que pronta para ser
explorada. Enquanto ele chupa meu pescoço, dou o sorriso do gato da Alice,
estou literalmente no país das maravilhas, mas queria mesmo era dar uma de
Jane e segurar no cipó de Bernardo.
O cipó dele está explodindo pela bermuda e eu estou revoltada por ter
escolhido ficar de calça. Como eu sou burra!
– O que foi? – Ele pergunta, ao ouvir o protesto que nem eu mesma
tinha consciência de ter dito.
– Preciso ficar nua. – Informo, e ele solta uma gargalhada.
– Podemos ir com calma? As preliminares são para isso. Já ficará livre
das suas roupas.
– Calma? Você está com um tronco de árvore dentro da bermuda,
roçando em minha perseguida, beijando meu pescoço como se fosse minha
boca e quer me pedir calma? Eu só quero ficar nua e te ver nu pela primeira
vez.
– Um tronco de árvore? Você vai deixar um tronco entrar em você? –
Pergunta, rindo, e me coloca no chão. – Desculpa, você é muito
engraçada. Só me prometa que nunca mais vai chamá-la de perseguida. –
Pede, quase engasgando de rir. Que ódio!
– Não tem graça alguma, eu só quero mais do que beijos.
– É isso que estou tentando fazer, mas você está desperdiçando tempo
falando asneiras. – Informa, ainda rindo. – O tempo que você está falando, eu
já poderia tê-la levado para a cama...
Enquanto ele está falando, sinto uma onda de calor atravessar meu corpo
e parar bem no meio do meu estômago. Saio correndo desesperada para o
banheiro. Só tenho tempo de fechar a porta e ajoelhar diante do vaso. Não
sobra nada além de uma forte dor no estômago. Que ÓDIO INFERNO
ASTRAL!
– Beatriz, abre a porta. – Ele pede, socando a porta.
– Calma, só preciso de um banho. – Digo, porém ele insiste.
– Abra a porta, você está passando mal, não pode se trancar assim.
– Você não vai me ver neste estado deplorável! Só vou tomar banho e já
saio. – Informo e ele se cala. Maldita hora que fui beber cerveja e vinho. É a
lei mais simples dos bebedores, nunca misture vinho com qualquer outra
bebida! Puta merda, estraguei tudo!
Escovo os dentes cinquenta vezes e, em seguida, entro embaixo da
ducha fria. Me sento no chão e deixo a água cair com força sobre mim. A dor
no estômago parece aumentar a cada segundo e estou mortificada pelo fato de
ter estragado uma noite que tinha tudo para ser bem-sucedida.
Não sei quanto tempo estou embaixo do chuveiro, mas sou atraída de
volta a realidade com Bernardo socando a porta.
– Beatriz abre a porra da porta ou vou arrombá-la. – Grita furioso e me
levanto, desligo o chuveiro e me enrolo em uma toalha. Abro a porta e ele
solta um suspiro. – Você dormiu aí? Fui à rua comprar remédio, voltei e nada
de você sair. Estou te chamando há cinco minutos. Vem. – Suspira, me
pegando no colo como se eu fosse um bebê.
Ele me coloca sobre a cama, sai do quarto e volta com outra toalha.
– Você não vai me enxugar. – Aviso.
– Vou sim.
– Oh, não vai não. – Digo, e a dor no estômago faz com que eu me
encolha.
– Merda, eu avisei para não beber. Vou pegar o remédio. – Ele sai e em
seguida volta com três vidrinhos com um líquido amarelado. – Abra a boca.
– Não! Ecaaaa, isso deve ser horrível!
– Vamos princesinha, por favor, abre a boquinha para o Bê. – Pede,
sorrindo com as covinhas, e eu abro. Tomo os três vidrinhos e quase morro
com o gosto horrível. – Viu? Esse é meu segredo para fazer com que as
crianças do abrigo tomem remédio, funcionou com você, garotinha. A
vontade é de matar, mas a gente finge um carinho. – Afirma, contendo o
sorriso.
– Eu poderia estar quicando, poderia estar chupando, poderia estar
beijando, mas estou aqui, me fodendo de outra maneira. – Suspiro e começo a
chorar. Eu só queria sexo quente e suado!
– Durma Beatriz, apenas durma! – O filho de uma mãe maravilhoso está
rindo. – Você precisa de um filtro na boca, para bebidas e palavras.
Maluquinha.
– Você me chamou igual meu pai chama minha mãe. – Comento.
– Talvez a loucura seja de família. Vamos tirar essa toalha molhada e me
deixe te enxugar.
– Eu não quero que me veja nua se não pode me usar.
– Eu não vou te usar, vou fazer amor com você. Não hoje, óbvio.
– Quem vive de amor é dono de motel. Eu quero ser usada por você. –
Ele perde a paciência, arrancando a toalha de mim. Eu me cubro
imediatamente com o edredom e ele fica rindo.
– Não vai vestir nada? – Pergunta.
– Não.
– Sendo assim, eu vou dormir na sala, porque haja pau duro para
aguentar a noite.
– Tudo bem, eu visto qualquer coisa. – Me rendo a tortura e ele acende a
luz, pega uma camisa dele e me ajuda a vestir.
– Onde estão suas calcinhas? – Pergunta, e eu indico a mala. Ele solta
um suspiro enquanto escolhe uma e me joga. – Vista! – Ordena e eu visto,
rindo pra caramba dele. Ele apaga a luz novamente e se acomoda ao meu
lado. Ficamos em silêncio, mas não consigo dormir. Viro de todos os lados
possíveis.
– Cara, eu vou voltar dessa viagem completamente maluco, sabia? –
Confessa, me puxando para uma conchinha. – Sossegue garotinha, quero
você bem amanhã.
– Ao invés de perseguida, o que você acha de Dora? – Pergunto, após
longos minutos de silêncio, e sinto ele levantando a cabeça.
– Dora? Você está se referindo ao que estou pensando? – Pergunta,
demonstrando choque.
– Dora Aventureira, aquela do desenho, que gosta de brincar de
exploração e aventuras. Eu estava pronta para ser explorada e agora estou
aqui, sentindo seu cutuque na minha bunda e com estômago queimando.
– Nem perseguida e muito menos Dora, isso é horroroso. – Informa,
rindo. – Eu sinceramente acho que você deveria dormir, é sério. Amanhã a
gente brinca de exploração... no caso, exploração sexual.
– Tudo bem, me desculpa? Obrigada por cuidar de mim. – Digo,
apertando seus braços em volta de mim.
– Estou aqui para cuidar de você. – Ele dá um beijo em minha cabeça e,
em poucos minutos, sinto meu corpo relaxar e me entrego ao sono.

Acordo com a claridade invadindo o quarto e encontro Bernardo


dormindo de bruços, com os braços para fora da coberta. Fico alguns minutos
o observando, encantada com a bela visão de tê-lo em minha cama, mas logo
o fiasco de ontem volta em minha mente. Não creio! Preciso me redimir.
Levanto-me e fico em pé alguns segundos tentando sentir se meu
estômago já está ok. A dor deu lugar a um vazio, graças a Deus. Vou até o
banheiro fazer minha higiene matinal e quando me olho no espelho dou conta
de que estou vestindo apenas a blusa do Bernardo e uma calcinha. Sorrio de
mim mesma, me sinto ridícula com essa paixonite aguda que estou sentindo
por ele. Mal consigo disfarçar o quão boba estou.
Vou até a cozinha e agradeço a Deus a existência de uma cafeteira que
só precise de um sachê e água. Preparo um sanduíche e o devoro em poucos
minutos. Em seguida, arrumo uma bandeja com várias “gordices” e resolvo
acordá-lo com um café da manhã na cama, em agradecimento por ter cuidado
de mim e para me redimir do mico e o estrago da noite passada.
Coloco a bandeja na mesinha de cabeceira e subo na cama. Ele agora
está virado de barriga para cima e aproveito o momento para dar uma olhada
no pacote completo. Afasto o edredom com todo cuidado que tenho até que
ele esteja completamente descoberto. O diabo está apenas de cueca boxer
azul marcando bem seus dotes e eu sorrio em apreciação. Vou subindo o
olhar por sua barriga, contando os gominhos e reparando um pouquinho de
pelos que ele possui, tão delicados como ele.
– Você é tarada. – Anuncia, com a voz rouca, e o susto é tão grande que
caio da cama.
– Puta que pariu! Eu só estava vendo a paisagem. – Explico, ficando de
pé, e ele estica o braço para me puxar de volta para a cama.
– Não foi minha intenção assustá-la. – Sou puxada e acomodada em seus
braços. – Está melhor?
– Sim, trouxe café da manhã para você. – Digo, sorrindo, e ele sorri de
volta.
– Você fica linda quando acorda, já disse isso?
– Sim, essa é a segunda vez que me vê acordar.
– Então vou dizer mais uma vez só para você ficar sabendo, você fica
linda quando acorda. Já comeu?
– Um sanduíche, acordei faminta. – Pego a bandeja e coloco na cama.
Ele se senta, serve um copo de iogurte e eu o acompanho.
– O que quer fazer hoje? – Pergunta, e eu sorrio.
– O que você quiser fazer.
– Você se sente realmente bem? – Ele me olha, esperando uma resposta.
– Me sinto maravilhosamente bem.
– Então posso pensar em muitas coisas que podemos fazer. – Diz, com
cara de safado, e seu olhar faz algo se agitar dentro de mim.
– Oh, estou ansiosa. – Meu Deus! Vai acontecer, eu acho!
– Podemos passear no Central Park e depois almoçar fora. – Diz, me
irritando.
– Você está falando sério? – Pergunto, revoltada.
– Não, na verdade não. Podemos ir visitar a Estátua da Liberdade ou a
Times Square.
– Claro, acho excelente, vou entrar em todas as boutiques da Times
Square e estourar o cartão do meu pai comprando Loboutins e lingeries na
Victória Secrets. Aliás, vou começar a me arrumar, estou empolgada, de
verdade! Na verdade, vai ser maravilhoso irmos juntos, assim você carrega
todas as sacolas!
BERNARDO

Acho que nunca a vi tão brava. Ela se levanta da cama, tira a blusa e taca
no meu rosto, e sai pisando duro, e logo ouço a batida da porta do banheiro.
Irritá-la é sensacional, mas tenho certeza que acalmá-la será melhor ainda.
Me levanto e levo a bandeja com o que sobrou do café para a cozinha.
Em seguida, forço a maçaneta do banheiro e surpreendo ao ver que a porta
está sem chave. Pondero se devo ou não entrar e evito pensar muito. Abro a
porta e, felizmente ou não, ela já está com a toalha envolta ao corpo.
– Já vou me arrumar, querido. – Diz, fingindo estar calminha.
– Você já parece pronta.
– Não posso sair de toalha, querido.
– Não entendo como você pode pensar que realmente vamos sair de casa
hoje. – Digo, puxando-a para mim. Ela permanece firme segurando a toalha e
me encara. – Nós temos que resolver nossas diferenças.
– Temos? – Pergunta, receosa, e vejo mil e uma emoções passando pelos
seus olhos. Ela me atenta, mas no fundo sei que tem um pouco de medo.
– Temos. – Respondo, analisando-a. – Mas vai ser do meu jeito dessa
vez.
– Como assim?
– Vai ser com calma e delicadamente, ao menos no início. – Vejo-a
corar assim que termino de falar. – Temos o dia e a noite toda, não
precisamos de pressa, a pressa é inimiga da perfeição e eu quero que seja
perfeito para você. Entende isso, Beatriz?
– Sim. – Responde, completamente a mercê dos meus comandos.
– Eu quero você, você quer isso? Você se sente preparada?
– Completamente preparada. – Responde fechando os olhos, enquanto
coloco seus cabelos para trás dos ombros e cheiro seu pescoço. Seguro seus
cabelos com uma mão e com a outra a faço soltar a toalha. Sinto seu corpo
tremer assim que o tecido escorrega até o chão e me afasto o suficiente para
olhá-la completamente nua a minha frente.
Primeiro meu olhar cai para seus seios devidamente esculpidos sob
medida, os mamilos rosados e delicados. Cintura fina e barriga
completamente reta, quadris levemente largos e quando chego em sua parte
delicada e completamente lisa, preciso de todo autocontrole que tenho
guardado dentro de mim.
– Linda.
– Eu quero você nu. – Pede, e eu a pego no colo. Saímos do banheiro e a
coloco deitada sobre a cama. Ela coloca as duas mãos sobre os seios e levanta
uma perna na tentativa de esconder seu corpo de mim.
– Retire as mãos, você me quer nu mas está tentando esconder o que
acabei de ver segundos atrás. – Repreendo, e ela retira as mãos. Eu entendo
seu nervosismo, mas não posso afrouxar, uma hora isso vai ter que acontecer.
Então, lentamente começo a tirar minha cueca observando o olhar curioso
dela. Quando enfim termino a retirada, ela faz um “o” com a boca que quase
me faz rir, mas então tapa os olhos e eu morro de amor. Essas nuances entre
inocência e safadeza me deixa louco.
– Oh meu Deus... isso é insano! Preciso de duas taças de vinho ao menos
na primeira vez. – Diz, e eu subo na cama pedindo passagem entre suas
pernas. Ela abre as pernas e eu me encaixo sem fazer contato direto com
nossos corpos, em seguida retiro suas mãos do rosto e a encontro
completamente vermelha.
– Ei, você não precisa de vinho, só precisa se acostumar com a situação.
Nós só precisamos estar confortáveis um com o outro. – Falo, tentando
acalmá-la. – Olha para mim, por favor. – Peço e ela me encara. Quase penso
em desistir ao ver sua carinha assustada. – Você quer que a gente continue? –
Pergunto de forma carinhosa mais uma vez antes de qualquer atitude. Deus,
que ela diga sim, porque eu realmente quero isso mais do que quis alguma
outra coisa na vida.
BEATRIZ

Bernardo está pairando sobre mim, aguardando meu aval, enquanto eu


brigo comigo mesma internamente, tentando entender que espécie de ser
humano eu sou. Do que eu estou com medo? Dor física eu já estou preparada,
mas o meu medo é o depois, esse é o problema. Eu só consigo pensar no
depois, se vamos continuar juntos ou não, se está muito cedo ou não. As
palavras da minha mãe surgem na minha cabeça "apenas relaxe e deixe as
coisas acontecerem naturalmente”. Vê-lo nu só me mostra o quão tudo isso é
real e está prestes a acontecer, não é mais um sonho ou um desejo, basta uma
palavra e tudo que sonhei nos últimos dias vai acontecer. O momento em que
esperei grande parte da vida vai acontecer com um homem muito gostoso,
muito bem-dotado e muito intenso, enquanto eu sou apenas uma garotinha
medrosa ainda.
"Pense bem, esteja certa quando decidir se entregar a alguém." Agora
são as palavras do meu pai que invadem minha mente e consequentemente
me fazem enxergar o que está bem diante de mim: o homem paciente,
educado e carinhoso que me analisa como se pudesse ver e entender tudo que
estou pensando. Não restam dúvidas, não mais. Enfim, sorrio e sua
expressão de angústia muda para admiração?! Não sei bem ao certo, mas a
preocupação sumiu muito rapidamente e estou vendo de forma crua e
primitiva o quanto ele me deseja e o quanto ele quer fazer com que seja tudo
perfeito. Eu nem mesmo preciso responder; Bernardo, mesmo com pouco
tempo de convívio, sabe me ler melhor do que eu mesma; prova disso é ele
tomando iniciativa de grudar nossos lábios da forma mais sutil que pode
existir.
Meu coração parece estar prestes a sair pela boca a qualquer momento.
Me encontro em total estado de alerta, mas sei que preciso da entrega
completa. Eu preciso parar de pensar e apenas sentir, preciso dele para me
ajudar.
– Me faça parar de pensar. – Peço, afastando nossos lábios, e ele me
olha ofegante, lutando contra o próprio desejo. Eu o admiro ainda mais por
isso.
– Em que está pensando?
– No que está por vir. – Digo, olhando em seus olhos.
– Eu acho que tem algo que vai fazer com que se sinta melhor. – Diz, e
se levanta gloriosamente nu.
Ainda não consigo ficar tão à vontade olhando para as partes íntimas
dele, então fecho os olhos e permito que faça o que quer que seja. Quando
sinto o peso dele voltando para a cama, abro-os e encontro o quarto escuro de
maneira que eu só consigo enxergá-lo bem próximo.
– Me dê uma de suas mãos. – Ele ordena e eu entrego minha mão direita
a ele. Ele faz a única coisa que não imaginei que faria com a minha mão:
encaixa nossos dedos e em seguida a beija. Ele se abaixa até mim e volta a
me beijar, fazendo com que eu me perca no encantamento do cuidado que
está tendo comigo. As duas últimas ações dele me fizeram sentir mais segura
e certa de tudo, mais apaixonada também. Felizmente o ambiente mais
escuro contribui grandiosamente para que eu me sinta infinitamente melhor e
mais confiante.
O beijo delicado vai evoluindo lentamente, assim como calor que emana
entre nós dois. Ele parece saber exatamente o que está fazendo, pois meu
corpo começa a sentir urgência de toques mais intensos, beijos e tudo mais.
Ele se afasta e me olha novamente.
– Está tudo indo bem? – Pergunta. Eu quero casar com ele e ter no
mínimo três filhos!
– Aham. – Digo, e desce sua boca para meu pescoço enquanto segura
firme minha coxa e aumenta mais o contato entre nós, fazendo com que eu
solte um gemido e morda a mão para abafá-lo. Porra... o que é tudo isso?
Sexo! Você queria dar a Dora, não queria? Queria sofrer a
exploração... agora aguenta filha da... Mari! – Meu subconsciente grita.
– Não, você não vai fazer isso, Beatriz.
– O que? – Pergunto.
– Você não vai abafar gemidos, eu quero que se entregue por completo e
quero ouvir cada gemido que você der. – Ele diz e empurra mais seu corpo ao
meu, me fazendo gemer de verdade agora.
– Meu Deus, estou com vergonha! – Confesso, e ele me faz gemer
novamente e de novo e de novo até que eu fecho os olhos e me entrego ao
momento. É maravilhoso ter nossas partes tão próximas e sua boca sobre meu
corpo.
Ele vai deslizando a língua até chegar aos meus seios, dando devida
atenção a cada um deles, aperto nossas mãos e ele aperta de volta como se
dissesse "eu sei, tenha calma". Aos poucos, vai descendo beijos e língua pelo
resto do meu corpo até chegar a zona de risco. Era mais tranquilo quando
brincávamos apenas com dedos, agora ele está prestes a inaugurar meu
primeiro oral e eu estou mortificada o suficiente por esse momento. Quando
penso que vai começar a tortura, ele volta e me beija da mesma maneira que
faz com que eu esqueça qualquer coisa e só me concentre em sua língua
passando pela minha.
Ele solta minha mão e eu a coloco em suas costas dando leves
arranhões. Bernardo parece gostar, porque solta um ruído que vai direto ao
meu sexo e volta. Puta merda, esses sons são bem afrodisíacos. Quando
percebe que já estou entregue novamente, ele volta para a parte de baixo.
Rodeia os braços nas minhas duas coxas e suas mãos firmes forçam ainda
mais minha abertura. Eu agarro o lençol e fico em total estado de alerta, nada
acontece. Apoio em meus cotovelos e olho diretamente para ele que estava
apenas esperando meu olhar para passar sua língua pela primeira vez em
minha intimidade. Puta que pariu três vezes! É a cena mais quente que já vi
em toda minha vida e a melhor sensação que já senti. Me jogo novamente na
cama e volto a agarrar a tábua de salvação chamada lençol. Bernardo lambe
e beija como se tivesse beijando minha boca, e quando usa o polegar para
brincar com meu clitóris, eu perco toda a consciência e agarro seus cabelos.
Minhas pernas tremem como se fossem duas gelatinas e minha barriga dá
espasmos incontroláveis a cada nova lambida. Sinto a mesma sensação de um
orgasmo crescente que senti quando estávamos no meu quarto da primeira
vez, mas dessa vez ele não espera que o orgasmo se complete, simplesmente
se afasta e volta a pairar sobre mim, deixando-me frustrada.
– Sinta seu gosto, a partir de hoje você precisa acostumar com ele. –
Diz, trazendo sua boca até a minha. Não creio estar beijando ele após isso,
mas logo esqueço porque como um toque de mágica, ele apaga minha mente
mais uma vez.
Depois de me envolver o suficiente, sinto-o se posicionando em minha
entrada e permito deixar o nervosismo dar as caras. Meu coração acelera em
espera e Bernardo coloca sua mão em meu peito.
– Eu prometo fazer ficar bom, confia em mim? – Diz, ofegante, quase
me levando a loucura com sua voz rouca.
– Confio.
– Ok. Agora eu vou beijá-la e logo tudo vai ficar bom. Preciso que
relaxe, ok? – Me guia e eu aceno a cabeça, concordando. Ele volta a me
beijar, me envolvendo cada vez mais e eu vou relaxando enquanto brinca em
minha entrada, deixando a necessidade de tê-lo falar por mim. Quando estou
completamente entregue, ele entra em mim de uma só vez e eu volto ao
mundo real com o beliscão de dor. Ele afasta nossos lábios e respira com
dificuldade, assim como eu. Porra, isso dói!
– Oh meu Deusssss...
– Olhe em meus olhos. – Pede, e eu fixo meu olhar em seus olhos que
estão completamente tomados de prazer. Ele sai vagarosamente de mim e
volta a entrar. –Relaxe. – Diz, ofegante. – Apenas olhe em meus olhos e
relaxe. Se entregue a mim por completo, Beatriz. – Santa merda... ele volta
e entrar e sair cuidadosamente e repete isso até meu corpo estar quase que
completamente relaxado e ter se acostumado com a sensação de tê-lo por
completo.
A dor vai aos poucos sumindo. Eu quis tanto isso que seria covardia
comigo mesma não me entregar ao momento. Descubro que o segredo está
em relaxar e assim o faço. Relaxo e uma nova onda de calor começa a tomar
meu corpo. Bernardo se abaixa e me beija, involuntariamente envolvo minhas
pernas em sua cintura e gememos juntos. Dessa maneira, é como se não
passasse um único ar entre nós dois, e a sensação se amplifica, começando a
melhorar a cada movimento.
Minutos após toda a delicadeza, a urgência nos toma e ele começa a
movimentar de forma mais brusca enquanto eu arranho suas costas. Sua boca
passeia pelos meus seios, meu pescoço, uma mão está na minha bunda e a
outra ele enfia em meus cabelos e aperta com força. Puta que me pariu, um
espírito maligno toma conta de todo meu ser, e me pego encarnada numa
devassa total.
– Mais forte.... bem mais forte. – Eu imploro entre gemidos e ele faz
exatamente o que eu pedi até que o orgasmo mais alucinante nos toma por
completo, nos fazendo uivar e gemer como malucos. Sinto que perdemos a
órbita juntos por alguns segundos, apenas respiramos e tentamos voltar de
onde quer que tenhamos estado.
Eu o abraço tão forte quanto consigo, sinto vontade de chorar e gritar ao
mesmo tempo. Ter me entregado a ele foi a escolha mais certa que já fiz na
vida e eu vou lembrar desse momento pelo resto dos meus dias com muito
orgulho. Sinto que nunca irei superar o dia de hoje, nunca. Nunca mais serei a
mesma mulher depois dele.
Ele tira o peso do corpo de cima do meu e me puxa de lado, com nossos
corpos ainda grudados me olha.
– Você está bem? – Pergunta, passando a mão em meu rosto.
– Bem? Eu sou transparente, você sabe.
– Sei.
– Você sabe que não tenho filtro, não sabe? – Pergunto.
– Sei demais. – Ele responde, rindo, expondo minhas covinhas
preferidas.
– Oh merda, não tem outro jeito senão não falar a verdade. Eu estou
completamente apaixonada por você, foi a melhor coisa que já aconteceu e
vou guardar cada detalhe comigo para o resto da vida. Eu não sei o que será
de nós assim que essa viagem acabar, mas preciso que saiba que nunca mais
serei a mesma depois do dia de hoje, e não estou pedindo para ser recíproco,
só precisava falar, de verdade, eu quero que saiba o quão maravilhoso você é
e o que me faz sentir. – Digo, com lágrimas nos olhos e com medo de tudo
isso acabar, e o pego sorrindo da forma mais encantadora.
– Que bom que eu não estou apaixonado sozinho. Eu me encantei por
você desde o primeiro beijo e quando passamos uma semana sem nos ver e te
vi entrando no baile, descobri que estava completamente apaixonado. Isso
foge de tudo que idealizei na vida, mas é algo que quero viver. – Diz, me
fazendo sorrir em meio às lágrimas. – Seja minha namorada.
– Oi? – Pergunto em choque, tentando entender se escutei o que ele
acabou de dizer.
– Eu planejei pedir de forma diferente, num lugar diferente de Nova
York, mas sinto que esse é o momento certo. Seja minha namorada, seja
minha.
– Oh minha santa Dora aventureira, você está falando sério?
– Eu estou.
– Eu sou sua namorada, sou sua e não quero ser de mais ninguém porque
você é maravilhoso o suficiente e sabe fazer coisas com meu corpo que nem
eu mesmo tinha ideia de que seria tão bom. – Digo e o beijo, me
aconchegando mais ainda em seus braços.
Sou exagerada, sim eu sou mesmo!
– Você toma pílula?
– Sim, desde os 16 anos para conter as espinhas indesejáveis e regular
meu ciclo. – Respondo, e ele sorri.
– Perfeito, minha primeira namorada.
– Perfeito meu primeiro namorado e primeiro pau... – Digo, e ele me
cala.
– Já posso andar nu? – Pergunta, sorrindo.
– Ainda não, preciso me acostumar mais.
– Farei com que se acostume. – Sorri e me beija, dessa vez sem
delicadeza alguma. Em seguida, se levanta gloriosamente nu, me deixando
um vazio ao sair de mim. – Vamos limpar essa bagunça que fiz em você. –
Me pega no colo e me leva até o banheiro.
Eu não quero mais pensar se estou certa ou errada, se temos um futuro
ou não. Quero me jogar nisso sem pensar e sem mentir sobre os sentimentos.
Preciso contar para minha mãe!
BERNARDO

Eu ainda me encontro assustado com que acabamos de fazer. Não pelo


sexo, mas pela forma como tudo acabou de acontecer, os olhares, a troca de
cumplicidade, a delicadeza e entrega de Beatriz, que sempre se mostrou tão
autossuficiente. Ela correspondeu a todos os meus atos e comandos e
permitiu que eu a levasse da forma mais leve e prazerosa. Não havia
imaginado que seria dessa maneira, não poderia imaginar sendo que nunca
transei por outro tipo de sentimento que não fosse tesão. Transar apenas por
prazer carnal é muito diferente disso que acabamos de fazer. Foi a primeira
vez que fiz algo por sentimento, por paixão, por imaginar como poderá ser no
futuro. Não se tratou apenas da minha vontade sexual, mas da vontade de
fazê-la se sentir bem, de sentir prazer comigo e foi surreal ver que fiz
exatamente tudo da maneira certa. Enfim, rompi o limite entre nós dois e
colherei as dores, as delícias e as consequências do ato.
Nós estamos travando uma pequena batalha no banheiro. Ela quer que
eu saia e eu quero ficar e tomar banho com ela. Isso é tão infantil, mas ao
mesmo tempo é tão engraçado. Mais engraçado ainda é como as coisas
mudam de românticas para cômicas em questão de segundos.
– Eu não estou preparada para isso ainda. É um passo gigante para
minha pessoa.
– Mas você precisa se acostumar, desculpa a falta de delicadeza, mas há
cinco minutos atrás você estava gemendo e gozando com meu pau dentro de
você.
– Olha, ele aprendeu a ser sem filtro rápido demais! – Ela diz, corada.
– Convivência. Tudo bem, serei paciente. Enquanto você toma banho,
eu vou retirar o lençol sujo da cama. Onde encontro outro? – Pergunto e ela
arregala os olhos completamente chocada. Foi proposital. Sou rebelde.
– Isso é tão humilhante.
– Para de bobeira, nós vamos sujar muitos lençóis, não de sangue, mas
vamos. – Digo, passando a mão em seu rosto.
– Ok, tome banho comigo e eu troco o lençol. Preciso me acostumar,
não é mesmo?
– Precisa, com toda certeza. Somos namorados e seremos um casal
sexualmente muito ativo, então acostume-se. – Passo por ela e entro no box
para ligar a ducha. Em seguida, a puxo e ela me empurra até a parede.
– Já que vamos fazer isso, vamos fazer direito. Você fique paradinho,
não quero um movimento enquanto eu me lavo.
– Olha, ela voltou a ser audaciosa! – Provoco-a, ganhando uma carinha
de brava. Começo a observá-la atentamente, estático como foi ordenado,
aguardando suas ações.
Beatriz entra embaixo da ducha e fecha os olhos, deixando a água cair
por seus cabelos e seu corpo. Meu coração começa a acelerar ao ver a cena
desembolando a apenas dois palmos de distância, não consigo tirar os olhos
das gotas que escorrem pelos seus seios. Ela enfim abre os olhos e me
encara, completamente corada pela intensidade que estou a encarando, e
sinceramente foda-se se ela ao menos imaginou que eu iria obedecer seus
comandos de "não me toque". Não sou de ferro. Pego-a pela cintura e a faço
enganchar as pernas em volta de mim, encosto-a na parede e sem dar tempo
de reclamação, me encaixo lentamente dentro dela, sentindo suas paredes me
apertarem centímetro por centímetro. Minha garotinha é tão apertada que
preciso me certificar de que está tudo bem antes de levar a brincadeira para
um lado mais sério.
– Está tudo bem?
– Aham. – Ela responde, ofegante.
– Não está doendo? – Me certifico mais uma vez.
– Aham. – Responde, e eu sorrio.
– Aham é sim ou não? – Pergunto.
– Não. Um pouco. Não. Talvez. Nem um pouco. Na verdade, foda-se,
apenas continue. – Diz, e dá uma leve remexida me fazendo suspirar. Eu
luto contra o instinto de fodê-la com urgência e começo a dar investidas
lentas e profundas, apreciando cada detalhe do seu rosto. – Meu Deus, isso
pode ser viciante.
– Você acha? – Pergunto e não obtenho resposta.
BEATRIZ

É assombroso o quão bom é tê-lo dentro de mim, e o quão delicado e


atencioso ele consegue ser. Bernardo está o tempo todo preocupado comigo e
com meu bem-estar, e por mais que eu esteja sentindo um leve incômodo, ele
está fazendo isso cair no esquecimento com muita facilidade usando os
movimentos certos e devidamente controlados. Mas, o mais intrigante desde
o início tem sido o quanto as reações dele me afetam, o quanto o suspiro, o
leve gemido e até mesmo a voz rouca são capazes de me levar tão facilmente
a beira da loucura. Sinto-me descobrindo meu lado sexual, descobrindo o
que gosto aos poucos e sem sombra de dúvidas os sons que saem dele estão
no topo da lista de coisas que amo, bom, ao menos por enquanto.
– Deus, você é linda Beatriz! – Murmura, enquanto os nossos corpos se
fundem e se tornam mais urgentes. Ele diz como se estivesse louvando meu
nome.
Desce a boca para o meu pescoço e em seguida para os meus seios, e me
agarro forte, segurando-o pelos cabelos. Parece que nada que eu faça é
suficiente para acalmar o que estou sentindo. Ele parece ter sido criado para
dar prazer.
O calor, que já está tornando-se familiar desde o primeiro momento em
que nos beijamos, começa a surgir. Começo a me mexer juntamente com ele
sem estar certa do que estou fazendo, apenas deixando meu corpo se libertar
da leve fúria que há dentro dele. Eu não sabia que excitação era algo que
podia ser tão enlouquecedor e que pudesse extrair de nós mesmas todo o
pudor e controle. Bernardo está me ensinando isso como um perfeito mestre.
Sua boca se choca com a minha transbordando desejo, poder e luxúria.
Ele para os movimentos que estavam rápidos e volta a ser sutil, tira seu
membro lentamente e estoca com força, repete isso algumas vezes até que eu
esteja gemendo seu nome, caminhando para o êxtase. Avanço meus quadris
em sua direção, não aguentando mais a tortura agoniante da lentidão e ele
geme deliciosamente com minha ousadia. Uso seus ombros de apoio e volto
a fazer movimentos enquanto ele fica parado, apenas deixando que eu tome
um pouco de controle.
Ele geme mais e meu corpo se incendeia ao perceber que estou fazendo
a coisa certa. Uau, eu posso fazer isso bem. Noto como nossas respirações
começam a ficar mais aceleradas, e percebo que ele está sentindo o mesmo
que eu, se controlando ao máximo para controlar seu próprio prazer. Ele
assume o controle total e começa a se mover de uma forma que não moveu
antes, e completamente tomado pelo tesão se perde em mim com precisão,
numa velocidade assustadora que me joga numa intensidade de prazer
surreal. A explosão dos nossos corpos acontece no mesmo minuto, como se
tivéssemos programados um ao outro para isso.
– Bernardo! Meu Deus!
– Beatriz... – Suspira, ofegante, e coloca sua cabeça no vão do meu
pescoço para tentar acalmar a respiração. Se ele me soltar agora eu sinto que
vou ao chão.
Minutos depois, me coloca no chão com uma delicadeza absurda e eu
não me encontro em condições de protestar quando ele pega o sabão, a
esponja e começa a me lavar. Apenas me apoio nele e deixo que faça o que
quiser e como quiser.
Assim que terminamos, não quero saber de almoço ou qualquer outra
coisa. Apenas me ajeito na cama ao lado dele e me entrego ao cansaço físico
dos esforços matinais.
BERNARDO

Acordo com o sol forte entrando pela janela, olho para o lado e vejo
Beatriz tão apagada quanto eu estava segundos atrás. Pego meu celular na
mesinha de cabeceira e verifico as horas, três da tarde. Meu estômago
protesta com fome e lembro que só tomamos o nosso desjejum. Me levanto
lentamente para não acordá-la e fecho as cortinas do quarto para ficar
devidamente escuro novamente.
Vou até a cozinha e decido fazer uma refeição leve, tendo em vista o
mal que Beatriz passou na noite anterior. Não sou um mestre da culinária,
mas sei me virar quando preciso. Enquanto coloco alguns legumes para
cozinhar, me sirvo de uma taça de vinho e decido ligar para minha mãe, que
atende no primeiro toque.
– Filho, como estão?
– Estamos bem mãe, e vocês? E os pirralhos?
– Estamos bem, você está fazendo falta, mas quero que se divirta. Como
está Beatriz?
– Está bem, está dormindo.
– Dormindo? Que horas são aí?
– Três e meia da tarde.
– Ohhh. – Ela diz e se cala, mas sou capaz de imaginar o que está
passando pela sua cabeça nesse momento.
– Bom, só liguei para dar notícias, dê um abraço em todos aí, dona
Eliza.
– Tudo bem, filho. Amo você, dê um beijo em Beatriz por mim e se
cuidem.
– Pode deixar, também amo você mãe. – Encerro a ligação e me viro
encontrando minha garotinha na porá, sorrindo e corada
– Oi. – Diz timidamente, como uma perfeita garotinha.
– Oi. – Digo, puxando-a para meus braços. – Como está se sentindo?
– Você é tão preocupado, acho fofo. – Sorri. – Bom, estou bem, minhas
pernas é que estão doendo absurdamente como se eu tivesse acabado de
correr a São Silvestre toda. – Sorrio com sua resposta.
– Foi uma boa maratona para sua primeira vez, não acha?
– Realmente foi. Preciso de um relaxante muscular e uma massagem.
– O relaxante eu posso dar agora, a massagem vai ter que ficar para
depois. Estou preparando nosso almoço. – Me afasto para conferir as panelas.
– Oh, você sabe cozinhar? – Pergunta, impressionada.
– Não tanto, mas sei me virar.
– O que comeremos? – Questiona.
– Alguns legumes refogados e um bife de picanha sem gordura.
– Só? Você é fitness? Porque eu não sou. – Exclama, me fazendo rir.
– Bom, eu não sou fitness, mas você passou mal ontem, precisa de
coisas mais leves na refeição hoje.
– Ao menos uma batata frita tem que ter nesse almoço. No congelador
tem um sacão de batatas, é só fritarmos. Eu já estou ótima, de verdade. –
Anuncia, pegando minha taça de vinho, e no mesmo momento a tomo dela.
– Tudo bem, batata eu posso fritar, mas vinho hoje não, bonitinha. – Ela
faz cara de contrariada e em seguida sorri.
– Tudo bem, não pense que vai ficar ditando ordens, só vou obedecer
essa porque você está certo e me deu uma excelente manhã, estou bem-
humorada.
– Você gostou mesmo? Foi como imaginou? – Me aproximo, sentando
ao seu lado, e ela me olha como se eu estivesse falando libanês.
– É sério isso? – Pergunta e eu a encaro sério. Porra, é óbvio que eu
estou falando sério. – Foi muito melhor do que imaginei, muito mesmo, as
duas vezes. – Ela diz corada e abaixa os olhos como não é de costume.
– Você é instigante, Beatriz. Uma hora é toda atirada e na outra abaixa
os olhos com timidez. Isso é encantador, atrativo e instigante ao mesmo
tempo.
– Sou uma mulher de fases, decifra-me se for capaz.
– Você tem dúvidas sobre minha capacidade de te decifrar? – Provoco-a
arqueando a sobrancelha, e ela sorri.
– Se eu tinha, hoje elas desapareceram. Só me intriga parecer que nós
começamos com isso há meses, quando tem pouquíssimo tempo. Eu nem sei
o que você gosta de comer ou fazer nas horas vagas, não sabemos muito um
do outro e já estamos nesse estágio sexual e sentimental, já estamos
namorando e eu já sinto tanto por você. Sabe me dar uma explicação lógica
para tudo isso?
– Primeiramente, não estamos em estágio sexual, o estágio sexual
começou hoje Beatriz. – Digo, e ela arregala os olhos. – Acontece que nós
dois tivemos algo quente desde o início, bem explosivo e sabíamos que mais
cedo ou mais tarde iria acabar onde acabou, então que seja mais cedo. Agora
eu não sei te dar uma explicação para os demais acontecimentos, sendo que
nem eu mesmo estou entendendo. Apenas estou sentindo e deixando as coisas
seguirem o curso normal. Não quero ficar pensando muito e ficar me
cobrando respostas. Estou sentindo e estou tomando atitudes em relação aos
sentimentos. Quanto a mal nos conhecermos, acredito que a partir de agora
teremos tempo suficiente para isso, já que é minha namorada.
– Sim, é que não caiu a ficha sobre o namoro ainda e tudo mais. Foi
rápido e intenso.
– Eu prefiro pensar que foi, e está sendo, como deveria ser. Você pensa
diferente? –Pergunto.
– Não, eu não penso.
– Você está feliz? Eu me sinto feliz. – Afirmo sob seu olhar intenso.
– Eu estou muito feliz e saciada. – Responde, sorrindo.
– Então é isso que importa.
BEATRIZ

Nós almoçamos e passamos grande parte da tarde assistindo TV.


Eu já não aguento mais ficar tão quieta, e então tenho a excelente ideia
de sairmos. Obviamente, Bernardo só concorda depois que eu juro de
mindinho que estou me sentindo bem. Já tomei dois relaxantes musculares,
me sinto pronta para outra maratona. Os planos são apenas dar uma volta no
Central Park e talvez comer algo mais tarde.
Minha perseguida, Dora aventureira, está em chamas. Há uma leve
ardência, mas foda-se! Taca-lhe pau!
Eu já estou pronta, vestindo uma roupa mais básica e esperando
Bernardo. Quando ele chega na sala, meu queixo cai. Ele não é o cara mais
lindo do mundo que já me envolvi, mas com toda certeza ele é o único que,
apenas com sua presença, faz meu coração acelerar e a boca ficar seca, e para
piorar ele está usando óculos de grau e eu nunca imaginei que poderia ser tão
sexy isso! Ele está com um moletom cinza, uma bermuda branca e chinelo, a
imagem está mais excitante do que vê-lo de terno.
– Vai ficar me olhando, garotinha? – Pergunta, arrancando de mim o
maior dos sorrisos.
– Óculos de grau?
– Um pouquinho, bem pouquinho mesmo de miopia. – Responde.
– Já amo sua miopia. – Respondo e me levanto. – Vamos? – Ele fica me
encarando como se eu tivesse dito uma aberração, mas depois se rende.
Ele me dá a mão e seguimos para o elevador. Assim que entramos,
sorri.
– Você ama minha miopia? Como funciona isso? – Questiona.
– Você fica sexy de óculos.
– Então não devo colocar lentes? – Pergunta, arqueando a sobrancelha.
– Jamais, isso seria um atentado contra as forças da natureza. Continue
assim e você chegará longe, em lugares nunca habitados antes. – Respondo, e
ele solta uma gargalhada.
– Você fica sexy com essa micro-roupa, mas não me sinto confortável
sabendo que chama tanta atenção. – Confessa, apertando minha mão com
força quando saímos do prédio.
– Ciúmes? – Pergunto, sorrindo.
– Talvez. Não gosto de sentir isso.
– Entendo. Bom, o que faremos pelo Central Park? Não me diga que
quer visitar os museus! – Pelo amor de Deus, não nasci para essa caceta não.
– Não tenho muita paciência para museus. – Informa, me dando um
enorme alívio. - Podemos ir no zoológico de Madagascar, passear de barco
pelo Boathouse e comermos em um restaurante.
– Sim, um programa bem casal em lua de mel. – Respondo, rindo.
– Somos praticamente isso, não é? Um casal em lua de mel de início de
namoro. – Diz, sorrindo.
– Tudo bem, mas amanhã vamos atrás de um pouco de adrenalina.
– Preocupante ouvir você dizendo isso. – Eu quase rio da cara dele.
– Namorados fazem concessões. Eu abro mão da adrenalina hoje e você
abre mão do sossego amanhã. Assim, creio que não cairemos numa rotina tão
cedo.
– Não vamos cair na rotina tão cedo, não se preocupe. – Ele afirma com
convicção.
– Eu sei que não. Beatriz é vida louca. – Sorrio
– Tem uma música que me lembra de você, garotinha.
– Qual?
– "Ela é a vida, após a vida despedida pros seus dias mais normais". –
Ele canta, me fazendo rir.
– Faz sentido. Ela é o barco mais bolado que aportou no seu cais, as
outras falam, falam, ela chega e faz".
– Oh, tem essa parte também, você chegou e fez, garotinha. – Concorda
comigo.
– Pronto para ter sua vida saindo da normalidade? – Pergunto quando
chegamos ao parque.
– Perfeitamente pronto.
Passamos o final do dia passeando pelo parque, andamos de charrete,
visitamos o zoológico, remamos pelo lago, e passamos pelo Strawberry
Fields - um jardim em homenagem ao John Lennon, onde demoramos
quarenta minutos para conseguirmos tirar uma foto próxima ao mosaico
escrito Imagine.
Ao anoitecer, resolvemos comer algo. Caminhamos até o Starbucks e
peço um enorme Starbucks Chocolate Crunch Frappuccino e dois cupcakes
de caramelo.
– O que foi? – Pergunto, enquanto Bernardo me encara.
– Isso é bom?
– O melhor do universo todo. – Respondo, e então faz o mesmo pedido.
– Vai deixar de ser fitness? – Provoco, ganhando um sorrisinho.
– Não sou fitness. Só não como tantos doces como você. Vamos comer
aqui ou prefere levar para casa?
– Vamos comer aqui mesmo, estou realmente faminta.
– Eu devo ser um homem de sorte por ter arrumado uma namorada que
gosta de comer. – Ele até suspira e eu molho.
– Ou azarado porque vou te fazer comer todas as porcarias do mundo e
engordar. –Digo, rindo.
– Por sorte eu gosto de malhar.
– É visível. Você é gostoso pra caralho, seus braços são um tesão e sua
barriga e seu...
– Ok, estamos num café, controle a boquinha.
– Estou falando em português, quem vai entender? -Digo rindo.
– Tem muitos brasileiros em Nova York, Beatriz.
– Eu sei. – Nosso pedido chega e começamos a comer. Morro de rir
com a cara que Bernardo faz ao morder o bolinho. – Gostou?
– Vou pedir mais alguns para levar para casa.
– Só isso que você vai comer em casa? – Pergunto, com a cara mais
angelical que consigo, e ele me encara com o cupcake parado no ar.
– Hoje estou cheio de apetite, pode ser que eu coma outras coisas.
– É... tem que comer com sustância para ficar fortinho e crescer. – Digo,
colocando minha mão em sua coxa.
– Cresce mesmo, já está grande só por causa desse joguinho que você
está fazendo. – Afirma, pegando minha mão e a colocando em seu membro
(por cima da sua bermuda) me deixando completamente vermelha. – Gosta
de provocar em público, Beatriz?
– Parece legal, aqui você não pode tomar nenhuma atitude drástica. –
Digo, chupando o canudinho do frapuccino, tentando não pensar na espada de
Jedy. Sem-or, a jabiroba desse homem é quase uma madeira de jatobá, não
abaixa por nada, me sinto uma verdadeira trepadeira.
– Você precisa descansar a Dora, ela só aprendeu a brincar hoje. – Ele
diz, me fazendo engasgar. Não acredito que ele levou a sério o nome Dora.
BERNARDO

Beatriz está rindo há alguns minutos sem parar e eu estou apenas a


observando. Ela mal entrou na brincadeira e já quer ser dona do playground.
– Bernardo, aprenda uma coisa, quem perde tempo é relógio parado,
quem tem limite é 4G, quem tem dó é violão, quem sabe a hora de parar é
motorista de ônibus e não você. – Diz, me fazendo segurar o riso.
– Seus argumentos são ótimos, bastante espirituosos, mas sou um
homem visionário, estou pensando no seu bem-estar. Se eu te ferir ou te
deixar dolorida, teremos que abster de sexo por alguns dias. Você não tem
ideia do quão apertada você é. – Digo, sentindo uma leve contração no pau.
Mereço o prêmio da ereção, porque não é possível ficar dessa maneira o
tempo todo perto dela. Chamo a garçonete e peço mais seis bolinhos para
viagem enquanto observo Beatriz chupando o maldito canudinho. –Dá para
se controlar?
– Quem tem controle é TV. – Diz, provocando com seus trocadilhos
absurdos.
– Você está brincando comigo, é isso?
– Quem brinca em serviço é palhaço. – Sorri, passando a língua pelo
canudo.
– Você poderia esperar para me provocar quando tivermos num
ambiente particular, apenas eu e você.
– Quem espera é grávida. – Quando vejo, estou dando um soco na mesa
e ela rindo.
– Já parou? E não venha com mais um de seus trocadilhos infames. –
Ela chupa o restante do frapuccino tão rápida quanto Bolt e para de rir. A
garçonete traz os bolinhos e a conta, então suspiro frustrado, porque, neste
exato momento, eu preciso muito da ajuda de Beatriz. – Preciso que se
levante e venha aqui do meu lado para que eu possa levantar. – Peço,
fazendo-a arregalar os olhos.
– Por que? – Pergunta, mordendo o lábio.
– Você sabe porquê. – Ela sorri e faz o que pedi. Me levanto, seguro em
sua cintura e andamos como bonequinhos grudados até o caixa. Ela na frente
e eu grudado em sua traseira bendita. Isso não facilita as coisas.
Assim que pago a conta e saímos, ela começa a rir descontroladamente.
Deus, nunca passei por uma situação dessas! Isso que eu chamo de sair da
normalidade com força.
– Vamos ficar andando assim até chegar em casa? – Pergunta, rindo, e
eu dou um tapa em sua bunda. – Oh, podemos testar uns tapas na hora do
sexo. O que acha?
– Você deveria testar seu filtro e seu freio, Beatriz.
– Quem tem freio é bicicleta. – Agora ela foi longe. Eu paro de andar,
permanecendo agarrado a sua cintura, e a ouço rir. – Você vai estragar os
bolinhos.
– Antes estragá-los, que estragar você. Vai parar ou não com esses
trocadilhos? –Questiono, sério.
– Depende, o que vou ganhar com isso?
– Não pense no que vai ganhar, pense no que vai perder. Você vai
perder a chance de testarmos coisas novas se continuar com gracinhas.
– Isso é uma ameaça? – Essa garota é fodida pra caralho. Estou
começando a ficar surtado.
– Isso é um aviso. – Informo, e voltamos a andar. Aos poucos, meu
amigo vai acalmando e consigo sair de trás dela. Não satisfeita, ela fixa o
olhar na minha bermuda e sorri.
– Quantos centímetros? – Pergunta.
– O que?
– Quantos centímetros tem o Bê Júnior? – Fico chocado com a forma
como ela pergunta, cheia de naturalidade como se estivesse falando de um
animalzinho de estimação. Eu não aguento e começo a rir.
– Bê Júnior é pior que Dora. – Dou-lhe essa informação rindo.
– Responda minha pergunta.
– Não tem como responder, você acha que eu fico com fita métrica
medindo o tamanho do meu pau? – Pergunto, e ela me olha chocada.
– Não creio, todos os adolescentes fazem isso.
– Não eu, qual a necessidade disso? Ficar competindo quem tem o pau
maior? Tamanho não é tudo Beatriz, o que importa é o talento.
– É, você tem tamanho, grossura e talento. Precisamos medir seu dote. –
Era só o que me faltava.
– Tire essa ideia da mente. -Alerto e ela sorri.
– Acho que tem mais de 22 centímetros, por aí. – Diz, enquanto
entramos no elevador. Eu decido ficar calado, o silêncio é a melhor maneira
de lidar com loucos.
Assim que entramos no apartamento, deixo os bolinhos na bancada da
cozinha enquanto Beatriz vai ao banheiro. Quando ela sai, a pego no colo e
ela vai gritando até eu depositá-la sobre a cama.
– Linda e louca. – Digo antes de beijá-la, mas somos interrompidos pelo
toque do meu celular. – Preciso atender, me espere. – Ela sorri, concordando,
e levanto para atender vendo o nome MÃE no visor.
– Oi dona, Eliza.
– Filho, desculpe te ligar, estou atrapalhando algo? – Pergunta. Quase
atrapalhando... mas ligou no timing perfeito.
– Não, pode falar. Acabamos de chegar do Central Park.
– Que ótimo, filho. Estou sem graça por ligar, mas é você quem está
cuidando do novo contrato da Experience. Infelizmente, preciso que dê uma
analisada rápida em um dos termos que eles estão me cobrando e não sei ao
certo como foi fechada a negociação.
– Não tem problema, vou pegar o notebook e te chamo no Skype, me dê
alguns segundos.
– Ok. Desculpe filho, mas é que eles estão insistentes mesmo.
– Não se desculpe, vou desligar, nos falamos no Skype. – Desligo,
voltando ao quarto para pegar o notebook.
– Maluquinha, vou precisar de alguns minutinhos para resolver um
problema com a minha mãe.
– Tudo bem, vou tomar um banho enquanto isso. – Responde e fica de
pé. Puxo-a para mais um beijo antes de ir aos negócios.
– Estou doido por você. – Confesso, ganhando um sorriso lindo.
– E eu por você.
MATHEUS

Olha, vou falar uma coisa, Rio de Janeiro tem atendido minhas
expectativas fielmente. Com poucas semanas, já tive relações com 4 garotas,
porém, tem uma outra garota que não sai do meu sistema nem fodendo. Para
piorar a situação, conquistá-la está sendo mais difícil que imaginei.
A garota é Victória, minha vizinha linda, inteligente, meiga e gostosa.
Estou usando todas as táticas do tipo fingir ser intelectual, bom rapaz,
menino de família, romântico, poético... por enquanto não rolou e ainda acho
que ela pensa que eu sou gay, porque vive me pedindo dicas de moda e me
convidou para ir ao shopping com ela; como amiguinhos, sim ela disse
“amiguinhos”. Se ela souber o tamanho da amizade que eu nutro por ela... é
grande viu?!
Tem algumas vantagens nisso. Meu pai disse que temos que ser
visionários e estou usando isso. Se o fato dela pensar que eu sou gay fará com
que tenha mais liberdade comigo, que assim seja! Serei seu mais novo amigo
gay até surgir a oportunidade perfeita de mostrar o Albuquerque Jr.
– Onde você vai filho? – Minha mãe pergunta, me encarando de cima a
baixo.
– Vou ao shopping com Victória.
– Victória, nossa vizinha? – Ela pergunta boquiaberta e eu sorrio.
– Exatamente, dona Mari.
– Matheus, ela não é menina para você. A menina é quase uma santa.
Não faça um absurdo desses! Controle seu pau dentro das calças. – Não tenho
credibilidade nem mesmo com minha mãe.
– Está aqui, quietinho e virado para a esquerda. Não vou fazer nada com
ela, mãe, só vamos ao shopping, ela pensa que sou gay. – Explico, e ela
revira os olhos.
– Ela é menina de família, pelo amor de Deus, não vamos criar
inimizade com os vizinhos, eles são tão educados.
– Mãe, relaxa ok? Eu sei o que estou fazendo. – Digo, tentando
tranquilizá-la.
– Eu espero mesmo que saiba Matheus, vai de balsa?
– Sim. Você não vai liberar o carro mesmo. – Sorrio.
– Faça 18 anos e tire habilitação, bonitinho. – Ela diz, e eu dou um beijo
em sua testa antes de sair.
Victória já está me esperando no hall do elevador e nos
cumprimentamos com dois beijinhos. Não sei onde estou com a cabeça de
fazer um programa desse tipo, mas vamos lá, talvez eu a convença a assistir
um filme e dar uma sarrada nervosa no cinema, tendo em vista que ela está
com um vestidinho incrível.
– Está bonita, sardinhas bonitinhas. – Elogio, porque simplesmente
sempre sinto a necessidade de elogiá-la.
– Você também está bonito, Tetheus. – Vontade de mostrar o Tetheus
para ela.
– Tetheus de novo? – Pergunto, rindo do apelido ridículo que ela me
colocou.
– Oh, é bonitinho. Um apelido fofo para um amigo fofo. – Brinca, e eu
fico perplexo. Fofo é demais para minha masculinidade.
– Fofo hein? – Digo sugestivamente e ela sorri. Se ela soubesse como o
fofo não tem nada de fofo...
Vamos caminhando até as balsas do condomínio que atravessam o lago
e nos deixa em frente ao shopping. Victória me dá o braço e eu me sinto mais
amigo gay do que já estou sentindo. Andar de braços dados é coisa de amigo
gay, eu sei porque tinha amigos gays no colégio e eles cismavam em andar de
braços dados comigo.
– Preciso achar o vestido perfeito e você vai me ajudar! – Exclama,
animada, e meus pensamentos tornam-se obscuros. Para que ela precisa de
um vestido? Porra!
– É? Para que tipo de ocasião?
– Um baile no final de semana, você poderia ir. – Anuncia, convidativa.
– Mais um baile? – Pergunto. Baile para mim só se for funk, não
consigo aturar dois bailes em menos de um mês, é demais para minha
sanidade ter que ficar preso dentro de um terno.
– É, dessa vez somos os convidados e não os anfitriões.
– Ah, então vamos em busca do vestido ideal. – Digo, e ela pula em
minhas costas.
– Você é o melhor! Nem minhas amigas gostam de vir ao shopping. –
Afirma, e já começo a temer. Se as amigas dela não gostam, é preocupante.
– Depois podemos pegar um cineminha. – Sugiro.
– Claro! E tomar um milk shake.
– Claro, um milk shake é perfeito. – Estou tentando não rir do quão
ridículo estou sendo. O fato é que ela não ter me dado mole é quase inédito,
isso a torna ainda mais atraente aos meus olhos. Ela é diferente. Eu já estou
de quatro e nem mesmo a beijei.
Assim que chegamos ao shopping, ela sai saltitante e eu penso o quão
fodido estou.
– Não me diga que vamos entrar em todas as lojas. – Digo fingindo
brincar, e ela sorri.
– Para a sua sorte, já tenho minha loja preferida. – Informa, me puxando
até uma loja completamente rosa, tão rosa que chega a doer meus olhos
âmbar. A atendente fica me encarando e mal presta atenção no que Victória
está pedindo, não sei porque mulheres mais velhas me dão tanto mole. Não
entenda como uma reclamação, é apenas uma constatação interessantíssima.
Porém, hoje não vai rolar nem uma troca de telefones. Quem eu quero está
agitada escolhendo vestidos pelas araras de roupas espalhadas pela loja.
– Vem. – Sardinhas diz, colocando um monte de vestidos em meus
braços e me puxando para o provador. A situação está começando a ficar boa,
ser amigo gay tem muitas vantagens. – Sente-se aí enquanto experimento e te
mostro todos. Ordena, e eu me sento no enorme banco em frente ao provador.
Ela pega alguns vestidos dos meus braços e entra. A atendente chega e sorri
para mim.
– Aceita uma água ou qualquer outra coisa? – Pergunta sugestivamente e
eu fico a encarando de cima embaixo por alguns segundos. Pernas grossas,
peitos grandinhos, rosto bacana. Ela é bem gostosa e está vermelha com a
minha medição. Um boquete seria bom, mas não hoje.
– Hoje não quero nada, não. – Digo, frisando bem o hoje, e ela sorri
mais ainda. A porta do provador se abrindo atrai minha atenção e Victória sai
com um vestido preto grudado ao corpo expondo todas as suas curvas. Que
coisinha...
– Que tal? – Pergunta, e eu faço mais uma análise. Por algum motivo,
não quero que ela mostre tanto o corpo. Não quero mesmo! Ela é minha!
Não, ela não é minha. Mas nem por isso...
– Não, é bonito, mas não para um baile. Achei vulgar. Procure algo mais
discreto e solto.
– Certo, também pensei isso, mas precisava de uma segunda opinião. –
Diz, fazendo uma carinha de decepção enquanto volta ao provador. Volto
meu olhar a atendente, ela balança a cabeça e sai, vai entender!
A porta se abre novamente e Victória aparece completamente linda, com
um vestido preto completamente discreto e que a deixou ainda mais bonita.
– Que tal? – Ela pergunta, enquanto eu a fito de cima abaixo repetidas
vezes. Velho, ela é linda e gostosa ao extremo.
– Linda. – Respondo evasivo e ela me encara.
– Só?
– Você quer minha sinceridade mesmo? – Questiono.
– Por favor!
– Fodidamente linda e gostosa. Realça seus seios de maneira discreta,
sem exibir muito. O fato dele ser levemente solto da cintura para baixo
mostra a curvatura da sua bunda de maneira sensual, é incrível. O
comprimento é perfeito. Sexy sob medida. –Digo e ela abre a boca em
choque, esqueci por um momento que ela pensa que sou gay. – Quer dizer,
traduzindo, realça seu corpo de maneira discreta, deixa curiosidade.
– Curiosidade? – Pergunta, sorrindo.
– Sim, curiosidade para saber o que tem por baixo. – Respondo,
encarando-a, e ela fica tímida.
– Certo, vou ficar com esse então.
– Perfeito. – Respondo, e ela volta ao provador. Me levanto e começo a
andar pela loja pensando em como devo agir. Não dá para fincar bancando o
amigo gay por mais tempo, é hora de morfar.
Ela sai e vai direto ao caixa. Eu pego o vestido de suas mãos e pago
enquanto ela fica boquiaberta sem ação.
– Você não fez isso. – Diz.
– Sim, eu fiz. – Respondo, satisfeito por ter minhas próprias economias.
– Por que?
– Porque eu quis, uai. – Informo.
– Repete. – Ela diz sorrindo.
– Porque eu quis, uai.
– Você fica fofo quando fala mineirês. – Ela sorri. – Mas voltando ao
assunto, você não tinha que pagar isso.
– Eu quis dar um presente para uma amiga fofa, que mal tem? –
Respondo.
Quando saímos da loja, ela volta a pular no meu ombro.
– Obrigada, amiguinho! Eu pago o milk shake pelo menos.
– Tudo bem. – Respondo e ela pula de novo, dessa vez eu me viro de
lado e a pego pela cintura. Ela me encara atônita e ficamos alguns segundos
assim, sem se importar com as pessoas passando ao nosso lado. – Eu vou te
beijar. – Aviso, e entendo seu silêncio como um consentimento. Coloco
minha mão esquerda em seu pescoço e levo minha boca até a dela.
Assim que nossos lábios se tocam, eu não vejo mais nada ao nosso
redor. Beijo-a delicadamente, sem pressa, e ela corresponde de maneira
intensa. Brinco com sua língua e sinto um leve sabor de hortelã em sua boca
deliciosa. Esse beijo... sem comentários! Há intensidade, química, física,
biologia, a porra toda nele.
Quando terminamos, estou sem fôlego e perdido com a nossa pequena
conexão. Ela me olha estupefata e sorrio.
– Eu... nós... você não era gay?
– Quem disse isso?
– Eu achei que você era gay, você é tão legal e atencioso, e trocamos
tantas ideias e você aceitou vir ao shopping fazer compras, e... – Ela começa
a falar desesperadamente e eu a beijo novamente, tentando acalmar sua mente
turbulenta. Quando me afasto, ela está desnorteada, mas fica em silêncio sem
saber o que dizer.
– Vamos ao cinema? – Pergunto e ela apenas balança a cabeça,
concordando. Pego sua mão cruzando nossos dedos e andamos pelo
shopping. Sinto seu olhar em mim como se não estivesse acreditando e
seguro o sorriso. O primeiro passo foi dado com sucesso. Vamos aos
próximos...
BEATRIZ

Faz cinquenta minutos que Bernardo está numa reunião via Skype e eu
inquieta rodando por todo apartamento. Eu sei que o assunto principal já foi
tratado e agora eles estão apenas falando mais do mesmo. Queria entender
qual parte do código da viagem está escrito “trabalhar nas férias”...
Não conseguindo mais controlar minha inquietação, me sento na cadeira
do outro lado da mesa de frente para ele. Ele tira os olhos um pouco da tela
do computador e dirige o olhar a mim, e sorrio docilmente. Bê volta o olhar
para a tela e continua a incansável discussão com sua mãe.
Com um pé, começo a subir por suas pernas e então ele me olha com
cara de bravo. Isso não me contém, e apenas continuo minha subida até
chegar ao ponto alto da coisa. Sua mão voa imediatamente para meu pé,
detendo meus movimentos, e eu me forço até que ele solte. Não dá certo!
Olho para os lados tentando pensar em algo que o desconcentre e uma ideia
maravilhosa surge na mente. Aproveito seu momento de total atenção a
conversa e me abaixo lentamente até estar embaixo da mesa. Cautelosamente,
coloco minhas mãos sobre as coxas dele e ele afasta o computador,
completamente aturdido. Ouço Eliza perguntando o que foi e recebe como
explicação a desculpa mais ridícula do mundo ao dizer que foi uma fisgada
na perna. Recebo uma encarada reprovadora através do vidro da mesa e
sorrio, enquanto tento abaixar sua bermuda. Não sei se é uma boa ideia para o
primeiro boquete... Mas, depois de tanto lutar com ele, consigo expor seu
glorioso membro que se encontra bastante acordado para a vida. Uma
maravilha dos deuses!
Fico encarando aquela magnitude e me concentro tentando pensar nos
filmes que já vi, aliás um salve para a indústria pornográfica que tanto
contribui para momentos como esse. Bernardo está discutindo a cláusula
cinco do contrato quando envolvo minha mão em seu membro. Dirijo mais
uma vez o olhar a ele através do vidro da mesa e o pego com os olhos
fechados e a cabeça baixa, como se estivesse sofrendo.
– Filho, está tudo bem? É a fisgada na perna? – Ouço Eliza perguntar e
controlo a vontade de rir.
– Tudo sob controle mãe, vamos continuar, parágrafo terceiro... – Ele
vai dizendo e eu volto a me concentrar no servicinho sujo que estou prestes a
fazer. Conforme mexo minha mão o sinto pulsar, a hora é agora, digo a mim
mesma. Levo a minha boca até sua ereção e começo testando com a língua,
lambendo-o. – Puta que pariu! – Bernardo grita e Eliza se desespera no
computador.
– Filho, cadê a Beatriz? Está doendo tanto assim? Você tem que ir ao
médico. Onde ela está?
– Não mãe, não é nada grave, ela está deitada descansando como um
anjo. Aliás, ela é uma garota angelical. – Explica-lhe, e eu aproveito a deixa
para testar como é chupar um pau. No mesmo instante em que chupo sua
glande, ele agarra meus cabelos com uma mão e tenta me conter, porém,
como sou muito malvada, dou uma leve mordida até que me solte.
– Conseguiu localizar nas cláusulas? Da nossa parte, está tudo correto,
se eles estão cobrando serviços que não estão inclusos no contrato teremos
que fazer uma emenda e um acréscimo nos valores. – Argumenta,
demonstrando desespero, enquanto eu o coloco na boca o máximo que
consigo. Quase tenho ânsia de vômito. Nesse momento, agradeço que ele
esteja no Skype, sem observar a cena horrorosa que estou protagonizando na
minha primeira chupada. Volto a fazer com mais calma e tento usar a língua
enquanto deslizo por sua extensão, e então Bernardo solta um gemido que me
faz conter os movimentos e voltar meu olhar para ele. Está tão legal o vidro
nos separando. Me sinto segura, mesmo sabendo que estarei fodida em
questão de segundos...
– Bernardo, acorde Beatriz, eu estou realmente ficando preocupada.
Pode ser uma pedra nos rins, ou na vesícula, pelo amor de Deus, filho. – Liz
grita, desesperada.
– Na verdade, acho que é dor de barriga, comi porcarias hoje na rua. –
Explica, e eu rio com seu digníssimo membro de ouro atolado em minha
boca. Sou pega pelos cabelos mais uma vez e envolvida pelo ritmo ragatanga
(sim, essas pegadas nos cabelos têm o dom de nos transformar numa devassa
completa), começo a chupá-lo como se estivesse chupando um sorvete de
casquinha do Mc Donald's. Quando a situação se torna insuportável, ele toma
uma atitude drástica me fazendo paralisar:
– Mãe, eu preciso ir ao banheiro. Eu ligo mais tarde.
– Ok filho, não deixe de dar notícias. Amo você.
– Também te amo. – Responde, e ouço o baque alto quando fecha a tela
do notebook brutalmente. Percebo que estou seriamente encrencada quando
ele me afasta, levanta e diz:
– Saia daí agora. – Ordena, enquanto eu uso o vidro de escudo humano,
como se fosse minha tábua de salvação. – Vamos, Beatriz, saia. – Balanço
minha cabeça negativamente. Vejo-o passar as mãos pelos cabelos e em
seguida retirar a camisa, deixando a mostra seu torso perfeito. Em seguida,
termina de tirar a bermuda ficando completamente nu e sinto minha boca
secar diante da visão. Sangue de cordeiro, devolva minha dignidade porque
não está fácil não. – O que você acha que eu vou fazer, Beatriz? Te espancar?
– Pergunta, e eu sorrio com a ideia de um espancamento. Será que doi levar
uns tapas no ato sexual?
Bernardo me olha uma última vez, se acomoda no sofá, coloca as mãos
atrás da cabeça e relaxa completamente nu e ereto, fazendo com que eu
arrepie da cabeça aos pés. Acho incrível como ele não tem problemas em
expor sua nudez enquanto eu estou morrendo de vergonha apenas por vê-lo
assim.
– Beatriz, você não vai sair daí? Eu estava discutindo um contrato de um
milhão e meio de reais e a senhorita não se importou em tirar minha
concentração, agora que conseguiu vai ficar embaixo da mesa? – É, faz
sentido. Penso, e saio engatinhando. Fico de pé e o encaro enquanto mexo
nas pontas dos meus cabelos. O quão ridícula eu estou nesse momento? Devo
estar muito, porque Bernardo acaba de soltar uma das suas gargalhadas. –
Vem cá. – Chama, e dou passos vagarosos até me posicionar na frente dele. –
Você tem ideia do quão contraditória é? Não tem lógica uma hora estar toda
cheia de coragem e na outra parecendo uma menininha amedrontada. – Diz,
me puxando de forma que caio no sofá.
– Não estou com medo. – Digo embaixo dele.
– Então termine o que começou. – Nossa... – Sabe, Beatriz, eu sou muito
correto e centrado no mundo dos negócios e você acabou de tirar meu foco de
tudo, isso é inédito.
– É?
– Você me faz perder a coragem de tomar atitudes inusitadas me
olhando dessa maneira. – Confessa, se levantando e me pegando no colo.
– Onde vamos? – Pergunto, e ele dá um lindo sorriso.
– Para o quarto, vamos fazer amor.
BERNARDO

Ela me enlouquece com esse jeito único, definitivamente. Tenho


vontade de matá-la na mesma proporção que tenho vontade de amar cada
pedacinho dela. Beatriz me deixa possesso e me desarma no segundo
seguinte. É cheia de coragem, mas quando vê que conseguiu atiçar meu lado
negro da força, se encolhe como uma gatinha medrosa. Uma coisa já consigo
prever, nós viveremos sempre com fortes emoções e ela vai sempre dar um
jeitinho de me enlouquecer.
Coloco-a de pé em frente a cama, deixando-a nua e completamente
corada; isso beira ao inacreditável e me faz balançar a cabeça em descrença
repetidas vezes. Tenho certeza que ela vai ficar mortificada nesse instante,
mas vamos lá, não é tão cheia de coragem?
Dou a volta e me deito na cama.
– Vem cá. – Convido, e ela se vira para me encarar. Tão linda!
Em seguida, dá a volta na cama e se posiciona ao meu lado.
– Sente-se em cima de mim. – Peço, e ela senta com delicadeza sobre a
minha barriga. Fica me olhando, aguardando meus comandos. É linda quando
ela fica dessa maneira. – Não assim, sente-se sobre mim de costas, olhando
para meus pés.
– Como? O que vamos fazer? -Pergunta assustada.
– Vire-se Beatriz e saberá. – Com muita relutância, se vira, me dando
uma bela visão da sua traseira. Nesse momento, puxo-a pelas coxas, trazendo
o que quero até meu rosto. Dou uma leve mordida em sua bunda e ela solta
um gritinho.
– É... um 69? – Questiona.
– Exatamente, você não queria me chupar? Então estou te dando a
oportunidade de fazer isso e ser chupada ao mesmo tempo. – Explico,
observando-a abaixar a cabeça. Dá vontade de rir.
– E se eu fizer algo errado?
– Estou aqui para te ajudar, somos um só, não há o que temer. –
Tranquilizo e a puxo um pouco mais até ter sua parte molhada em minha
boca. Dou uma leve passada de língua em sua fenda e a ouço arfar. Garotinha
está completamente tensa. – Relaxe princesa, se entregue a mim, eu quero
você.
– Eu estou com meu furico no seu rosto. Isso é vergonhoso. – É muito
difícil conter um gargalhada.
– Não é vergonhoso, é perfeito, em breve ele será meu.
– No seu sonho! Nunca, never, jamais!
– Ok, então apenas relaxe e concentre-se no que está perto da sua boca.
Você sabe que quando fica entregue tudo fica melhor, pode perceber isso
duas vezes hoje. – Ela envolve sua mão em meu membro e começa a passar a
língua. Sua inexperiência é o que mais me deixa maluco. Fecho os olhos e me
concentro apenas em dar prazer a minha garotinha e, com toda sensibilidade
de uma principiante, ela se desfaz muito rapidamente em minha boca. Porém,
tenho meu pau sendo estrangulado em sua mão. Não a advirto para não
deixá-la sem graça, apenas a pego pela cintura e a faço virar de frente para
mim.
– É melhor dessa maneira. – Confessa, corada, apoiando as mãos em
meu peitoral.
– O que é melhor dessa maneira?
– Você me beijando lá...
– Oh, sim. Você gostou? – Pergunto, posicionando-a sobre meu
membro, que escorrega para dentro dela com um pouco mais de facilidade
devido ao seu orgasmo de segundos atrás. Ela arregala os olhos e respira com
dificuldade enquanto entro por completo. – Está doendo? – Pergunto.
– Não. O que devo fazer?
– Se mexer da forma como quiser, vou te ajudar. – Tranquilo segurando
em sua cintura e guiando seus movimentos de forma bem calculada. Aos
poucos, vai começando a dominar a situação e retiro minhas mãos de sua
cintura para trabalhar em seus seios e seus mamilos acesos.
– Está diferente nessa posição. – Diz, entre gemidos, atraindo minha
atenção.
– Diferente como? Bom ou ruim?
– Muito melhor... meu Deus... muito melhor mesmo! – Exclama
empolgando e se entregando por completo à situação, tanto que eu tenho que
controlar meu próprio orgasmo. Luto para prolongar o momento, enquanto
ela cavalga como uma profissional. Nem parece que perdeu a virgindade
horas atrás.
– Isso, linda... – Incentivo, puxando-a para minha boca. Mal
conseguimos nos beijar e eu sinto que estou prestes a explodir. Ela embarca
na explosão junto e por alguns segundos nos perdemos um grudado ao outro.
Eu costumava durar mais... ela está me levando a ruína. Eu estou
ficando louco.
– Isso foi bom. Rápido, mas bom. – Sorrio, e ela se deita sobre meu
corpo.
– Você é perfeita, foi maravilhoso, princesa.
– Não quero sair daqui nunca mais. Como será quando tivermos que
voltar a realidade? –Pergunta, levantando a cabeça para me olhar. Não havia
pensando nisso ainda. Não tenho a menor ideia de como será, mas sei que vai
ser difícil não acordar todos os dias ao lado dela.
– Não sei, mas vamos dar um jeito ok? Nem que eu tenha que confrontar
o senhor Arthur, meu sogro.
– Promete? – Pede.
– Prometo.
BEATRIZ

Eu e Bernardo estamos em um pitoresco restaurante almoçando e


falando futilidades após termos transado duas vezes durante a manhã. Aliás,
sexo é o que realmente temos feito, de verdade!
– Eu prefiro Nova York no inverno.
– Podemos voltar no inverno. – Ele diz, sorrindo.
– Sim, vamos patinar no gelo. Se estivéssemos no inverno, nossos
passeios estariam regados a muita adrenalina.
– Não quero imaginar você patinando no gelo. – Afirma sério e faço
uma careta. Realmente, que ele não queira mesmo imaginar, não consigo
ficar 1 minuto de pé.
– Sou expert nisso. – Me gabo sob seu olhar de quem sabe que estou
mentindo.
– Ok, senhorita expert que ama adrenalina.
– Podemos fazer um passeio de bote até a Estátua da Liberdade, já que
patinação no gelo está fora do nosso alcance.
– Tudo bem, então hoje fazemos o passeio de bote e em seguida ficamos
um pouco em algum parque, e amanhã acordamos bem cedo para irmos à
praia.
– Coney Island? – Pergunto, sorrindo, e ele fecha a cara.
– Putz, você vai querer ir na montanha russa! – Diz, como se tivesse
arrependido da ideia.
– Óbvio, querido, iremos. Como eu não havia pensado nisso antes?
Você brilhou nessa, amiguinho! – Digo, beijando seu rosto até arrancar-lhe
um sorriso.
– Então combinado, garotinha.
– Perfect, my litlle boy. Porém, tem um pequeno detalhe, coisa boba. –
Digo, já aguardando sua reprovação.
– Han, diga.
– Não trouxe biquíni, isso significa que teremos que ir às compras hoje.
– Tudo bem, preciso conhecer seu lado consumista, afinal estamos aqui
para nos tornarmos mais íntimos, não é?
– Estamos desbravando um ao outro.
– Preciso te desbravar mais. – Ele diz, intenso, e eu sorrio.
– Diz o cara que não quer que a viagem seja apenas sexual! – Brinco,
revirando os olhos, já que hoje tivemos uma pequena discussão sobre sair ou
não de casa, onde Bernardo me deu o sermão da montanha sobre não
basearmos nosso relacionamento em um cruzo frenético sem limite.
– Beatriz, você entendeu o que eu quis dizer perfeitamente hoje de
manhã. Eu não quero explorar só sua cavidade vaginal, quero explorar suas
qualidades, defeitos, gostos.
– Eu tenho boca e cu também, de qualquer forma não seria apenas
cavidade vaginal. – Digo, e ele arregala os olhos e olha para todos os lados:
– Eu já disse que tem muitos brasileiros aqui? Vou repetir, tem muitos
brasileiros aqui! – Repreende, sério e bravo. – Como você consegue ser tão
sem filtro? Tem ideia do que acabou de falar?
– Prefiro ser sem filtro do que ser encubada. Só falei verdades, meu
bem! Tenho cu!
– Quero ver se você vai continuar com a mesma opinião quando eu tiver
entrando na sua porta dos fundos. – Diz, rindo, e me fazendo rir junto.
– Migo, eu gosto de adrenalina, de sentir as coisas na pele, de me jogar,
arriscar. Você acha mesmo que vou ficar com medo disso?
– Eu tenho certeza absoluta, meu “biscoito de polvilho”.
– Por falar nisso, já passamos da fase de adaptação ao sexo.
– E o que você quer dizer com isso? – Pergunta, arqueando a
sobrancelha e me olhando.
– Nada... só estou te lembrando isso.
– Você vai me enlouquecer ainda! – Responde, sabendo exatamente o
que quero dizer. Incrível como ele sabe me ler. A verdade nua e crua é que
estou louca para saber como é ser fodida sem cuidados ou preocupações com
minha inicialização ao sexo, sem amorzinho. Sei que ele está sendo
cuidadoso e controlado, mas estou ansiosa para fazê-lo perder o controle por
completo.
– Você acha? – Pergunto, mordendo o lábio.
– Eu tenho certeza, Beatriz.
– De repente, ficou quente aqui. – Provoco. Meu garotinho balança a
cabeça e sorri.
– Vamos dar uma volta no parque e ir em alguma loja comprar o que
você precisa, deixamos a estátua para outro dia. – Ele se levanta, me dando a
mão, e saímos do estabelecimento após uma luta para ver quem iria pagar a
conta. No caso, eu venci!
Aliás, pela primeira vez na vida estou sentindo vontade de trabalhar, ao
menos para Bernardo parar de me tratar como filha, achando que tem que
pagar tudo para mim! Isso é bastante chato e ele não entende o fato de eu ter
uma mesada excelente e uma conta bancária desde criança.
Sentamos no gramado de um enorme parque e ficamos em silêncio, até
que Bernardo começa a rir descontroladamente.
– Que foi? – Pergunto, sorrindo. Ele sorrindo é a perfeição!
– Programa de velho, né? Não tem nada a ver com você e até mesmo
comigo que sou um jovem senhor.
– Bom, podemos marcar uma viagem para a Disney, lá vamos ter
adrenalina o dia todo. – Brinco, ganhando mais um sorriso. – Mas agora
falando sério, até estou gostando. Já que agora somos um casal, casais fazem
programas assim. Estamos podendo conversar sobre coisas banais e tudo
mais. Não está tão entediante como você está pensando.
– Quando chegarmos ao Rio, você vai continuar andando seminua? –
Pergunta, olhando o decote do meu top.
– Por que?
– Não quero todos olhando para o seu corpo, não quero ouvir
comentários sobre você. – Diz, sério, olhando para o nada.
– Ciumento? – Pergunto, sorrindo, e ele sorri de volta.
– Protetor. Não deve ser bom ouvir outros homens falando que sua
namorada é gostosa.
– Oh, entendi, ciumento!
– Isso tudo é novo para mim e não sei como vou lidar. – Confessa.
– Não temos que nos preocupar com isso agora, e eu prometo ser mais
comportada em nosso habitat natural, mas nem pense que vai mandar em
minhas roupas porque se tem uma coisa que eu não sou é obrigada! – Digo,
séria, e ele ri levantando as mãos.
– Ok senhorita, não quero mandar nas suas roupas, não sou um homem
das cavernas, mas ficaria feliz se você não andasse tão seminua,
principalmente perto dos garotos do condomínio.
– Acho que posso fazer isso e ficaria feliz se você não ficasse tão
grudado naquela piriguete que você chama de quase irmã.
– Oh, ciumenta? – Pergunta me copiando e eu rio de forma maléfica.
– Ciumenta e psicopata!
– Maria não é piriguete, Beatriz.
– Bernardo, eu aposto meu arrombamento anal que ela deseja seu corpo
nu e só não te atacou ainda porque você a trata como irmãzinha.
– Não sei o que te faz pensar dessa maneira. – Ele diz.
– Ok. – Digo, e pego meu celular. – Vou anotar no meu celular o dia e a
hora em que estou tendo essa conversa com você, para depois você não dizer
que eu não avisei. Meu sexto sentido não se engana, Bernardo. Quando as
coisas acontecerem, eu terei prazer em lembrá-lo dessa conversa.
– Tudo bem, se houver algo eu te darei razão, garotinha.
– Acho ótimo! – Digo. Ele me puxa para seu colo e começa a me encher
de beijos. Aos poucos, a louca dentro de mim começa a se acalmar e eu os
retribuo.
...

No dia seguinte, acordo ao som do despertador e não encontro Bernardo


na cama. Dou uma grande espreguiçada e um belo sorriso por lembrar da
noite romântica que tivemos ontem (após chegarmos das lindas compras onde
comprei coisas absurdas) regado a vinho e uma massa preparada pelo meu
boy. Pena que o vinho me deixou tão mole que eu dormi enquanto Bernardo
me beijava.
Vou até o banheiro e, ao sentar no vaso, sinto todo líquido que tem
dentro do meu corpo sair pela amiga Gina. Aliás, por falar nisso, desde que
chegamos ainda não cortei o rabo do macaco! Isso é algo que tenho que me
preocupar. Intestino preso é foda.
Escovo os dentes e dou uma leve ajeitada no cabelo para ir em busca do
príncipe encantado. Encontro-o na bancada preparando um lanche e sorrio.
– Bom dia! – Digo, chegando por trás dele.
– Bom dia, bela adormecida, como está? – Vira para mim e me segura
pela cintura.
– Estou bem, desculpa por ontem, fiquei bamba.
– Percebi, está bem para irmos à praia?
– Estou ótima! – Afirmo, animada.
– Então, preparei um café da manhã.
– Ai, estou ficando tão mal-acostumada com isso! Você cozinhando,
preparando café da manhã, me mimando. Uau, tenho sorte na vida! – Digo, e
ele me pega no colo.
– Você deveria parar de andar de calcinha pela casa, não é justo.
– E você deveria parar de ser perfeito, não é justo também, jovem. –
Sorrio.
– Eu não sou perfeito, estou longe de ser. – Diz, e eu o agarro com
voracidade.
Não posso tê-lo tão perto que entro numa combustão completa, não sei
que porra é essa! Beijo-o até que esteja sentindo um gosto ferroso na boca e
tenha bagunçado todo seu cabelo. Então, me afasto e ele me olha. Há
maldade em seu olhar, bem crua. Ele respira fundo e, assim que pega fôlego o
bastante, me pega em seus braços e me joga contra a parede. Sou
deliciosamente atacada e, surpreendentemente, sem o mínimo de delicadeza.
Ele apoia minhas pernas em suas coxas e abaixa a bermuda, liberando meu
café da manhã preferido. Afasta minha calcinha e dá exatamente tudo que eu
estava precisando.
– Delícia.
– Meu café da manhã preferido. – Gemo, enquanto estoca com toda
força em mim.
– Diga se eu estiver sendo rude. – Pede, beijando meu pescoço e levando
sua boca aos meus seios.
– Você não está sendo rude, embora eu gostaria. – Provoco. Ele cessa o
movimento e me olha nos olhos:
– Está ruim da forma como tenho feito?
– Em hipótese alguma. – Afirmo, verdadeira.
– Então tenha paciência, só perdeu a virgindade há três dias, seu corpo
ainda está se ajustando as mudanças e estamos nos familiarizando. Você quer
que eu te cubra de hematomas e te espanque agora?
– Oh! Você é sádico? – Pergunto, e ele sorri:
– Não, mas você parece querer que eu seja. Cale a boca e deixa eu te
comer. – Diz e volta a se mover. Eu permaneço o encarando, mas aos poucos
ele faz com que eu fique totalmente entregue outra vez com seus movimentos
certeiros e velozes, melhorando a cada segundo e me levando a desintegração
rapidamente.
– Quer que eu te foda com força, mas é sensível demais, garotinha!
Teremos que ter algumas aulas de como segurar orgasmos.
– Como assim? – Questiono, curiosa.
– Toda vez que eu perceber que a senhorita está prestes a gozar vou tirar
meu pau de dentro de você e impedir que faça.
– Assim, creio que você irá invocar a minha fúria. – Informo, enquanto
ele continua arremetendo sobre mim.
– Assim você vai demorar a gozar e só vai fazer quando eu permitir.
– Se você estiver preparado para lidar com a minha fúria e minha
loucura, fique à vontade.
– Estou ansioso por isso, quero ver o seu pior. – Afirma ofegante, e sem
sair de dentro de mim, nos leva até o quarto, onde começa a brincar da
maneira que eu estava ansiando, com pegadas fortes, chupões
enlouquecedores. Quando percebe que estou no limite mais uma vez, ele se
afasta. Eu o encaro chocada enquanto termina de tirar sua bermuda e a
camisa. – Calma. Não estamos brincando disso ainda, só precisava me ver
livre das roupas e te dar uma prévia de como será daqui para a frente. –
Informa, sorrindo, e me vira como um fantoche fazendo com que eu fique de
quatro. É a primeira vez que fazemos assim e me sinto completamente
perdida. Ele coloca a mão sobre minhas costas e faz com que eu abaixe meu
torso, grudando meus seios na cama e estufando mais a bunda,
completamente vulnerável. Em seguida, rasga minha calcinha e eu tento
encará-lo, mas ele repete o ato, me empurrando para baixo.
Um leve toque de ansiedade cai sobre mim por não conseguir visualizá-
lo, mas passa assim que sinto sua boca beijando da nuca até minha bunda.
Sinto suas mãos abrindo levemente minha bunda e seu membro é encaixado
em minha entrada com uma agoniante lentidão. Não consigo conter um grito
de prazer, essa posição parece me deixar mais apertada.
Bernardo ganha seu tempo me fazendo acostumar com a posição e em
seguida começa se locomover um pouco mais rápido.
– Agora, sou eu quem precisarei de controle para não acabar com a
brincadeira tão rapidamente. Você é tão apertada e tem uma bunda perfeita,
Beatriz. – Diz com satisfação, sendo logo tomado por um pouco de violência.
Sua mão puxa meus cabelos com força e sou obrigada a levantar minha
cabeça levemente. É uma nova intensidade de tesão e adrenalina.
– Puta merda! Isso é punk! – Digo, empolgada com a adrenalina que a
dor me traz. Ele aumenta o ritmo e dá um belíssimo tapa em minha bunda,
que me faz levantar e virar a cabeça para ele igual a menina do exorcista.
Velho, puta que pariu, agora entendo Anastásia Steele! Isso é doloroso e
excitante ao extremo.
– Era isso que queria? – Pergunta, tomado pelo tesão e me puxando para
seu corpo. Fico de joelhos encostada em seu peitoral e com ele dentro de
mim. Bernardo segura meu pescoço com uma mão e com a outra mão passeia
pela minha barriga, descendo até minha intimidade. Ele começa a brincar
com meu clitóris e eu sinto que vou morrer. Sexo é vida... ou talvez seja a
morte. – Responda, gemer não é o mesmo que responder. – Diz, travando
meus gemidos.
– Sim. – Respondo, enquanto passeia com a língua vagarosamente pelo
meu pescoço. Em seguida, me empurra de volta a posição que estava e
começa a fazer muito mais do mesmo, tapas, puxões de cabelo e socando
com toda força dentro de mim até que eu me desintegro pela segunda vez,
dessa vez acompanhada dele, que assim que encontra a libertação, cai sobre
mim.
Só consigo pensar em uma pergunta... que espécie de relacionamento
teremos diante de tanto sexo? Puta que pariu! Como não viciar nisso? Como
não querer ele o tempo todo? Estou fodida e não é só sexualmente!
Precisamos ir à praia, definitivamente!
BERNARDO

Chegamos à praia e Beatriz já está mais conformada em não poder


nadar. Vamos apenas passear pela orla e fazer qualquer outro programa que
não inclua tirar seu short e mostrar a marca da minha mão em sua poupa. Não
foi proposital, na verdade, eu sequer lembrei que iríamos à praia quando
estava a pegando por trás, porém, surpreendentemente, ela está radiante. Eu
jurava que ela iria ficar puta e me tacar fogo.
– Ali! – Ela diz, empolgada, me fazendo rir.
– Ali o que, garotinha?
– Vamos fazer tatuagens de henna!!!
– Você está falando sério? – Pergunto, já sabendo da resposta. Nem sei
porque pergunto.
– Sim, vai ser legal, vamos!!! – Anuncia e sai me puxando pela mão até
chegarmos a uma barraca de tatuagens de henna. Ela está tão empolgada que
a deixo escolher tudo, inclusive a minha que é uma pequena tribal no braço.
Enquanto um tatuador trabalha na dela, o outro trabalha na minha. – Amo sua
tatuagem no pulso. – Comenta, me fazendo a olhar. – É tão você. Seu sorriso
tem esse poder. – Termina de dizer e cora.
– Você acha? – Pergunto, sorrindo.
– Sim. "Smile and the world will smile with you" "Sorria e o mundo irá
sorrir com você". O mundo irá sorrir principalmente quando perceber essas
covinhas.
– Você gosta delas? – Pergunto, ganhando um sorriso da minha garota.
– Eu amo. Deixa seu sorriso ainda mais lindo. São afrodisíacas.
– Afrodisíacas? – Questiono rindo. – Você é linda e encantadora com
esse jeitinho, garotinha!
– Ainda não sei se amo ou odeio que você me chame de garotinha.
– Não tem mais jeito, já é seu apelido oficial. – Informo, e ela faz uma
carinha de brava, mas dura pouco quando o tatuador avisa que a dela já está
pronta.
– Ai, ficou perfeita!
– Tipo aquelas tatuagens indianas. – Digo, observando a mão dela
coberta pela tinta negra.
– Sim, a sua também está ficando legal.
– Não gosto muito de tatuagens, fiz a do pulso por se tratar de um lugar
discreto.
– Tem outros lugares discretos que você poderia fazer. – Anuncia,
mordendo o lábio, e em seguida sorri.
– Vou fazer uma tribal próxima ao meu pênis. – Digo, e ela dá uma
gargalhada.
– Pênis é tão feio. Pau fica mais macho.
– Ainda bem que eles não entendem nossa língua. – Rio e um tatuador ri
junto. Beatriz olha para minha cara com a boca aberta e eu o encaro.
– Eu juro que não estou ouvindo nada. – Ele diz em português e Beatriz
solta um “puta que pariu”.
– Você ouviu todas as conversas? – Ela pergunta, impactada. – Ele
também é brasileiro? – Ela pergunta, apontando para o outro tatuador.
– Eu? Não ouvi, jamais. Estou focado na tatuagem. – Brinca. – Sou
brasileiro.
– Viu, eu disse que há muitos brasileiros em Nova York. – Relembro,
rindo, e ela sorri de volta.
– Você que começou a falar de pênis.
– Sim, dessa vez eu assumo. Temos que ter filtro.
– Pênis é meio antiquado para um casal tão jovem. – O cara diz e
Beatriz ri.
– Não acredito que estamos tendo esse debate com o tatuador. O que o
trouxe até aqui? Por que não falou em português com a gente? – Ela
pergunta.
– Vocês falaram inglês comigo e eu apenas respondi, não quis deixá-los
constrangidos. Moro aqui há dez anos, desde que perdi minha esposa em um
acidente resolvi recomeçar longe do lugar que me lembrava ela, e trabalho
em várias coisas por aqui, durante o dia faço henna, e a noite sou barman.
Tenho uma vida digna e boa.
– Que história triste e ao mesmo tempo surpreendente. – Minha
garotinha diz.
– E você tem uma nova família? – Pergunto.
– Tenho, tenho uma filha de quatro anos e minha esposa está esperando
um garotão.
– Que bom, cara, fico feliz pelo seu belo recomeço. – Digo, com um
pouco de orgulho pelo tatuador.
– E vocês, jovens, são namorados há muito tempo? – Ele pergunta.
– Não, há três dias. Viemos fazer a viagem para nos conhecermos
melhor, mas na verdade eu já estava apaixonado por essa garota, digamos que
é uma lua de mel de namoro. – Informo, observando-a corar.
– Desculpa, qual a idade de vocês? – Ele pergunta enquanto termina de
limpar a tatuagem.
– Eu tenho 20 e ela 18.
– Mas pode traduzir que ele tem 40 e eu 18. – Beatriz diz, rindo.
– Que isso jovem! – Ele diz, rindo. – Bom, o serviço está feito. Não vou
cobrar de vocês.
– Jamais permitiremos isso. Fazemos questão de pegar. – Beatriz afirma
enquanto entrego o dinheiro para o outro tatuador que está alheio a conversa.
– Tudo bem, foi um prazer conhecer vocês. – Ele nos dá um aperto de
mão e, ao sairmos, solta mais uma pérola. – Oh, não diga pênis, diga qualquer
outra coisa.
– Pode deixar. – Rio enquanto Beatriz se curva de rir e a pego no colo. –
Não tem graça, garotinha.
– Tem muita graça, senhor pênis.
– Agora que somos um casal tatuado, o que faremos, senhorita? –
Pergunto, e ela dá um sorriso daqueles, do tipo que diz "vem merda".
– Agora vamos andar na montanha russa e em seguida na roda gigante. –
Sabia!
– Tudo bem.
– Uai, vai aceitar assim de boa? – Diz, com seu sotaque mineiro.
– Sim, hoje estou de bom humor.
– Imagino o que ocasionou isso.
– Eu estou feliz não apenas pelo sexo matinal maravilhoso. Estou feliz
porque estou feliz, estou me permitindo ser mais leve, estou vivendo dias
diferentes, coisas novas e estou namorando uma super garota maravilhosa.
– É uma declaração? – Pergunta, empolgada.
– Sim, é uma declaração.
– Preciso me declarar também! Espere. – Ela diz e corre até uma
barraquinha que vende algumas bugigangas de mulheres. Segundos depois,
faz sinal para que eu me aproxime e coloca um anel em meu dedo. – Serviu!
– Grita, empolgada, e pega outro anel colocando em seu dedo. – Ela paga a
senhora da barraca e sai me puxando.
– Um anel?
– Sim, é fajuto, vai descascar em poucos dias, mas é simbólico.
– E o que isso significa? – Pergunto, sorrindo.
– Que você está me fazendo muito feliz. Que em poucos dias está me
transformando em uma mulher e não é só sexualmente, é em vários outros
sentidos. Estou feliz por você ter entrado na minha vida tão rapidamente.
Você é um príncipe. É educado, carinhoso, gentil, discreto e extremamente
paciente com uma garota que é seu oposto, louca, descontrolada, sem filtro...
BEATRIZ

Bernardo cala a minha boca com um beijo explosivo. Tenho certeza que
estamos protagonizando um show, tanto que sinto necessidade de contê-lo.
– Uow. – Digo, segurando em sua camisa.
– Quero você. – Ele diz com a testa grudada na minha, buscando
controlar a respiração com os olhos fechados.
– Você me tem. – Respondo, e ele sorri.
– Eu queria você de outra forma nesse momento. – Abre os olhos e eu
entendo perfeitamente, sorrio.
– Você é bem tarado e contraditório. – Brinco.
– Você também é, então estamos quites. Vamos logo naquela montanha
russa para ver se minha vontade some um pouco.
Primeiro vamos na roda gigante, mas é entediante demais, por mais que
estejamos numa altura absurda. Ao descermos, até mesmo meu jovem senhor
concorda que foi um saco e se anima à montanha russa.
Assim que compramos nosso ingresso, Bernardo vai até uma
barraquinha e compra uma blusa para mim.
– Para que isso? – Pergunto, enquanto me entrega.
– Não quero seus seios pulando para fora e dando um show para os
demais.
– Entendi. – Digo, sorrindo, e visto a blusa.
Me acomodo no primeiro assento e Bernardo entra atrás.
– Nunca andei nessa coisa. – Confessa, rindo.
– Para tudo tem uma primeira vez, você vai gostar.
– Não sou o tipo esportes radicais, Beatriz.
– Feche os olhos e se entregue, não foi assim que me disse na nossa
primeira vez? – Digo, e ele sorri.
– Você tem respostas prontas para tudo. Está usando minhas próprias
palavras contra mim.
– Aqui tem sagacidade, garotinho. – Digo, e o auxiliar da montanha
russa coloca o cinto de proteção em nós. Ouço Bernardo respirando fundo
atrás de mim e controlo o riso.
Lentamente, ela começa a se locomover e mal sabe ele que essa lentidão
está prestes a terminar.
Ela vai subindo e quando chega na hora da descida vem a melhor parte:
a adrenalina na medida certa. Começo a gritar empolgada enquanto Bernardo
solta um "puta que pariu, não acredito que aceitei fazer essa porra", mas
acaba gritando junto comigo.
Cinco minutos depois, paramos no terminal de desembarque e Bernardo
sai mais branco que o normal, me fazendo rir.
– Foi tão ruim assim? – Pergunto.
– Foi meio louco demais. Preciso de uma água.
– Poxa, ia te chamar para irmos de novo. – Finjo tristeza e ele me olha
com uma cara engraçada.
– Nem fodendo, vamos beber água e almoçar. Já atingi o estoque de
adrenalina do dia.
BEATRIZ

E assim os dias passaram...


No avião, prestes a voltar a realidade, posso dizer que passei
praticamente todas as horas do voo pensando, comendo tudo que me foi
oferecido e o que tinha no cardápio. Sofro de ansiedade e quando estou
extremamente ansiosa desconto tudo na comida. Só consigo pensar no final
da noite passada e no início da manhã de hoje, quando realmente caiu a ficha
de que era o fim...

Pensamentos e lembranças da Beatriz

"Todo conto de fadas tem um final... Era hora de voltar a vida real e
enfrentar tudo que isso traria a nós.
Enquanto fechava minha mala, me dei conta de quão vulnerável me
tornei em poucos dias. Pela primeira vez na vida, estou sentindo uma dor e
não é de barriga ou cabeça, nem mesmo a dor de perder meu lacre é páreo
para o que estou sentindo. É uma dor no peito e uma imensa vontade de
chorar. O medo do futuro se faz presente em uma quantidade generosa
dentro de mim.
Bernardo não tem ideia, mas pode ser minha destruição, assim como
pode ser minha salvação.
Não acho que seja exagero pensar dessa maneira. Não quando você
nunca viveu algo ao menos parecido e com tanta intensidade. Nesses dias
juntos, nos tornamos íntimos não apenas sexualmente, mas em todos os
demais sentidos. Eu já sou capaz de perceber coisas apenas pelo olhar dele,
e ele é capaz de ler a mim de uma maneira que nem eu mesma consigo. Não
sei como será não poder acordar com ele diariamente, passar 24 horas por
dia juntos e sair da bolha que nos encontramos.
Hoje pela manhã, já deu para ter um leve deslumbre do que vem pela
frente nas atitudes dele. Bernardo leve já era, deu lugar ao Bernardo centrado,
ao homem de negócios e com extrema responsabilidade. Pude notar enquanto
ele arrumava sua mala e falava no celular sobre reuniões de negócios, e até
mesmo a preocupação e a tensão que está sentindo em me levar em segurança
para casa e me entregar aos meus pais.
A noite, não dormimos muito bem. Após ele ter me amado da forma
mais doce que poderia, começamos um vira-vira na cama. Naquele momento,
saber que ele estava tão receoso quanto eu não me confortou em nada.
E eu nem mesmo consigo entender o porquê de todo receio com o
futuro... acho que o fato de sermos inexperientes no assunto relacionamento
está finalmente começando a pesar.
Assim que terminei de arrumar as malas, o deixei e fui até a janela
observar a vista perfeita em busca de tranquilidade e paz, e instintivamente
comecei a pensar em todos os momentos que vivemos nos últimos dias. Os
passeios no Central Park, o dia em que fiz Bernardo me acompanhar em
todas as lojas de grifes, o dia em que o fiz me acompanhar nos cenários que
foram gravados Gossip Girl, os jantares em restaurantes refinados ideais para
casais da idade dos nossos pais e a fuga após os jantares para um Drive-thru
do Mc Donald’s, os passeios de metrô, a primeira vez incrível que deu
sentido a todos os demais acontecimentos... Puta merda, foram os melhores
dias que já passei em Nova York, sem sombra de dúvidas.
Nessa manhã, quando senti sua presença atrás de mim, eu soube que ele
estava pensando e relembrando as mesmas coisas. E quando ele me confortou
dizendo que a única coisa que iria mudar era o cenário, eu não pude deixar de
admirá-lo por seu gesto grandioso de tentar me confortar.
Não é só o cenário, é a rotina toda que tivemos nos últimos dias que irá
mudar, mas eu estou me apegando às suas palavras como tábua de salvação e
conforto, agarrei-as com unhas e dentes e levantei a cabeça decidida de que
tudo dará certo entre nós dois.
Descobri até que eu não sou pessoa de sentir pouco, quando sinto eu
sinto muito em todas as interpretações possíveis que cabe.

(No avião)
– Eu não quero ser indelicado, mas estou começando a ficar com medo
de você passar mal. – Comenta. Eu paro o salgadinho no ar e chego para
frente onde posso vê-lo.
– Por que?
– Você está comendo há exatas 9 horas, com intervalos mínimos. –
Informa.
– Estou dando intervalos sim.
– Isso é ansiedade? – Ele pergunta, sorrindo, e eu percebo que não estou
realmente com fome. Coloco o salgadinho de volta na bandeja e decido
conversar com meu boy.
– Sim, exatamente.
– Eu disse a você e vou repetir, só vai mudar o cenário e alguns
pequenos detalhes que não irão interferir na nossa relação. – Afirma com
segurança.
– Sim, como dormirmos e acordarmos juntos, e passarmos o dia todo
juntos.
– Exatamente, ninguém vive dessa maneira a não ser casais aposentados,
nem mesmo os bilionários vivem assim. – Explica, sorrindo. – Eu terei meus
compromissos e quero muito que você tenha os seus.
– O que quer dizer com isso? – Pergunto, intrigada.
– Quero que você decida o que quer da sua vida profissional. O que quer
estudar, trabalhar. Sei que seus pais nunca a pressionaram e eu nem tenho a
intenção de fazer isso, mas posso garantir com propriedade que irá se sentir
muito mais autossuficiente quando se tornar um pouco mais independente.
Pude ver durante esses dias que a dependência não te deixa a vontade. – Viu?
Eu disse que ele sabia me ler. É a verdade nua e crua. Ele me avaliou bem.
– Ainda está de pé eu conhecer a empresa dos seus pais?
– Claro que está, quero que conheça também os abrigos. Beatriz,
existem muitas outras profissões que você pode seguir, não precisa ser
necessariamente Administração ou Direito por causa dos seus pais, nem
mesmo Arquitetura como sua mãe.
– Eu sei, só nunca tinha parado para pensar no futuro. Eu sempre fui o
tipo que vive um dia de cada vez e deixo os acontecimentos me guiarem.
Acabei de concluir o segundo grau, agora é o momento em que devo pensar
no futuro, só preciso me dedicar a isso.
– Você tem meu apoio! – Ele diz lindamente e me oferece a mão. Essa
merda de termos um troço nos separando é horrível.
– Eu sei que sim.
– Estamos conversados sobre tudo? – Ele pergunta e sorrio.
– Como vai ser dormir sem conchinha? Me acostumei mal!
– Sempre podemos dar um jeito nisso, temos apenas um pequeno muro
que nos separa.
– Você promete que nada vai mudar?
– Eu prometo, Beatriz, não quero que nada mude. – Diz, rindo da minha
preocupação. – Você está tensa a toa, garotinha, não confia no que
construímos nesses dias?
– Confio, só não sei como lidar.
– Estamos juntos, vamos aprender juntos a lidar com que quer que
aconteça. – Sua confiança quase me tranquiliza, e a comissária anuncia que
iremos pousar. Meu coração dá um leve salto e me sinto uma malévola por
não ter sentido nem um pouco de saudade.
Assim que faço todos os procedimentos e aperto o cinto, Bernardo me
oferece sua mão. Fecho os olhos e só os abro quando termina de aterrissar.
Longos minutos depois, estamos com nossas malas indo atrás da nossa
família. Quando chegamos no alto da escada rolante, quase volto para trás.
– Puta que pariu! – Digo ao avistar minhas duas avós, meus dois avôs,
meus pais, meu irmão e toda família do Bernardo nos esperando. Vejo-o
sorrir, incrédulo.
– Tenho que concordar com você, puta que pariu.
– Já chegamos pagando um King Kong desse. – Digo ao ouvir os gritos
da minha mãe "neném da mamãe”.
– Calma, isso é amor. – Diz, me tranquilizando. – Eles são engraçados.
Os senhores são seus avós?
– Sim, e futuros vizinhos. Só falta minha tia comprar um apartamento no
prédio, aí você vai querer se mudar com certeza absoluta.
– Estou me sentindo no filme família Buscapé. – Ele diz, rindo, e eu
soco seu braço. Mas ele está certo, merda, realmente parece.
– É bem isso, mas garanto que são todos legais, apenas um pouco de
loucura, mas são bons.
– Imagino as loucuras. – Assim que terminamos de descer, nossos pais
nos agarram.
– Minha princesa, senti tanto sua falta. – Minha mãe diz, chorando, e eu
olho para ela sem acreditar.
– Eu também senti sua falta, mãe. – Digo, e meu pai me rouba.
– Eu estava com saudade, inclusive de você aprontando.
– Já estou aqui! – Brinco, e num relance eu e Bernardo trocamos um
olhar demorado enquanto estamos abraçados aos nossos pais. Ele pisca um
olho para mim e sorri com suas covinhas, me deixando com um leve frio na
barriga e borboletas no estômago.
Agora sim, nossa viagem está definitivamente encerrada.
Depois que cumprimos todo o cronograma de recepção e apresentamos
o restante da família, Bernardo me puxa pelo braço e nos afastamos um
pouco. Ele gruda nossos lábios e me dá um beijo delicado enquanto passa o
polegar pelo meu rosto. Minhas pernas fraquejam, dessa vez pelos
sentimentos e não pelo tesão.
– Vou deixá-la curtir sua família. Antes de dormir, trocamos
mensagens. – Informa.
– Mensagem no lugar de saliva e suor soa péssimo, mas faz parte. –
Reclamo, fazendo-o sorrir.
– Te transformei num monstrinho.
– Eu provavelmente já era, você só teve o dom de despertar isso de mim.
– Digo, e Liz se aproxima.
– Desculpe interromper o casal, mas precisamos ir, filho. – Sorri
lindamente e me abraça. – Estou muito feliz por vocês estarem juntos, minha
norinha!
– Nós também estamos felizes. – Respondo, sorridente.
– Bom, nos falamos depois, princesa. – Bê diz e me dá um beijo na testa
sob o olhar de todos.
Quando chegamos em casa vou direto para o banho, e assim que estou
vestida com meu pijama de algodão com estampa de unicórnio e pantufas, me
sinto pronta para encarar a família. Meus avós já foram para os respectivos
apartamentos deles e agora sei que terei que encarar meus pais e ser zoada
por Matheus. Desço as escadas e tudo começa.
– Oh, ela aí! – Matheus diz, batendo palmas. – Foi bom para você,
maninha?
– Não começa, Matheus. – Minha mãe repreende e eu mostro o dedo do
meio para ele.
– Filha, venha lanchar. – Meu pai convida e me sento a mesa.
Por incrível que pareça, eles não me pressionam com assunto algum, só
falamos coisas bobas até que entro num assunto diferenciado:
– Mãe, e a gravidez?
– Era um alarme falso, problemas hormonais, mas já estou me cuidando.
– Ela responde e olho para meu pai, que está fingindo não ouvir a conversa.
– Poxa! – Eu queria um irmãozinho. Um bebê em casa seria fantástico.
– Mas eu e seu pai estamos decidindo se vamos tentar ou não ter outro
filho.
– Sua mãe está decidindo sozinha. – Ele responde e sorri.
– Você não quer, pai?
– Eu? Claro que quero, mas sua mãe é osso duro de roer e eu não vou
entrar numa briga ridícula depois de 20 anos de casado para decidirmos se é o
momento ou não de termos outro bebê. – Diz, bravo.
– Não fale assim, Arthur, você sabe que já tenho uma certa idade, não
sou mais aquela mulher de 25 anos.
– Já sabemos que está tudo ok com sua saúde e que está mais que apta a
ter outro filho, mas realmente, não vamos discutir isso na frente das crianças.
– Argumenta a repreendendo, e ela revira os olhos.
– Sabe qual seu problema, Arthur Albuquerque? Falta de sexo. Uma
falta de sexo do caralho! – Ela diz e se desculpa logo em seguida, fazendo eu
e Matheus rirmos. – Como foi a viagem? – Pergunta, sorrindo.
– Foi excelente.
– Só isso? – Meu pai pergunta.
– Muito excelente mesmo. Foi “uau”! – Respondo, não querendo entrar
nos méritos da viagem, e ele sorri.
– Valeu a pena? – Doutor Arthur Albuquerque pergunta, olhando
fixamente nos meus olhos, e entendo exatamente o que ele quer dizer, e
mesmo sem graça respondo:
– Muito, pai. Valeu a pena esperar.
– Isso significa que não temos mais uma virgem em casa? – Matheus
pergunta, rindo, e meu pai taca o guardanapo na cara dele.
– Respeite sua irmã! – Minha mãe xinga.
– Não está mais aqui quem falou.
– Espero que não esteja mesmo Matheus, ou corto sua mesada se ouvir
mais qualquer insinuação. – Meu pai ameaça e eu rio chutando meu irmão
por baixo da mesa. Bem infantis! Eu sei.
BEATRIZ

Passo o restante do final de semana surpresa com o fato da minha mãe


não ter me importunado. Ok, cheguei sábado à noite e ela só se segurou
durante todo o domingo, mas, para quem tem uma mãe como Mariana, isso
significa um avanço e tanto!
Como tudo que é raro dura muito pouco hoje, segunda-feira estou sendo
acordada com um café da manhã na cama por ela mesmo, dona Mariana!!! E
sei que há centenas de intenções por trás disso.
– Bom dia! – Está visivelmente explodindo de alegria enquanto eu me
encontro em total estado de mau humor por não ter visto Bernardo ainda.
– Bom dia.
– Seu pai saiu com seu irmão, então resolvi trazer seu café para
conversarmos. – Adoro como ela é direta ao ponto! Admirável!
– Oh, pensei que não faria isso. –Digo, rindo. – Ok, estava demorando
mesmo. – Ela se acomoda ao meu lado e pega um biscoito amanteigado com
recheio de goiabada, que só ela sabe fazer, e come.
– Então. Conte-me tudo. Passei a vida toda esperando por esse
momento, te dando conselhos, tentando guiá-la. Agora, necessito saber como
foi tudo!
– Mãe, não vou te contar os detalhes sórdidos!
– Nem eu gostaria de saber. – Ela diz, levando a mão sobre o rosto, e
suspira sorrindo ao mesmo tempo. – Você tem ideia de quão louco é saber
que sua filha acabou de entrar para o mundo dos prazeres carnais? Isso é
insano! O dia que for mãe entenderá que, por mais vida louca que seja, saber
que sua filha está fazendo o mesmo que você faz é desconcertante. – Diz,
deixando tão claro a quem puxei.
– Ok mãe, então vamos ao que interessa. Foi perfeito em infinitos
sentidos. Valeu a pena a espera. Bernardo parecia tão certo do que estava
fazendo. – Digo e permito voltar no dia... – Fez tudo de forma tão doce e tão
calculado. Ele não forçou nada, mas apenas teve o dom de fazer com que eu
implorasse e necessitasse daquilo.
– Uau!!!!!!!!!!
– Sim, uau mãe. Foi assustador como me senti e ele foi um gentleman
nos dias que sucederam o grande acontecimento. Foi perfeito!
– Meu Deus, fico tão aliviada e feliz, filha. Minha primeira vez foi uma
merda das grandes. Eu namorava com o filho da puta e transamos sem essa
emoção que você descreveu, foi meio forçado da parte dele, aos dezesseis
anos. Namoramos até os dezoito e o peguei na cama com minha melhor
amiga. É uma coisa que eu evito lembrar. Fico feliz de saber que você vai se
lembrar desse dia com muito carinho e sem arrependimentos. Esqueça a
minha história trágica do lacre. – Ela diz, sorrindo.
– Credo, você nunca tinha contado isso.
– Não é uma história bonita depois do que aconteceu. Eu comecei a
beber, sair, curtir, entrei para a faculdade e peguei todos os boys mais lindos.
– Ok, cadê a parte feia da história?
– Isso foi ruim? – Pergunto.
– Foi e não foi. Posso dizer que me divertir bastante, mas posso dizer
também que eu cheguei num momento em que estava perdendo o juízo
completo e estava tendo minha imagem queimada.
– Onde meu pai entra na sua vida? – Pergunto, curiosa.
– Seu pai era meu chefe. Fui contratada para ser assistente
administrativa dele, ele era casado, mas era um colírio aos olhos de todas as
funcionários e funcionários gays.
– Meu pai era casado? – Pergunto, chocada com a revelação.
– Nunca tive nada com ele enquanto era casado. – Afirma. – Seu pai
sempre foi um homem honesto e íntegro. – Diz, me tranquilizando. – Então,
um dia, seu pai me chamou e disse que iriam alguns advogados na empresa
para trabalharem no divórcio dele. Eu tive que me segurar para não gritar de
alegria que um homem daqueles estava solteiro. Aí vem a parte trágica ou
feliz, não sei distinguir até hoje.
– Qual? – Pergunto, interessada. Ela nunca me contou essa história. Só
disse que eles trabalhavam juntos.
– Eu e algumas amigas fomos comemorar o divórcio dele numa boate,
eu bebi muito e seu pai estava lá e eu me joguei em cima dele sem saber que
ele era ele. Foi um mico horrível! Mas o lado bom é que esse mico fez com
que ficássemos juntos futuramente, mas não vou te contar toda a história
agora porque ficaríamos o dia todo aqui. – Ela diz, rindo.
É incrível tentar imaginar o passado dos pais, pensar que eles já foram
um de nós, já viveram o auge da adolescência e juventude.
– Fico feliz por ter compartilhado a parte leve dos acontecimentos
comigo filha. – Ela diz, emocionada. – Fico feliz por sermos amigas e
confidentes. Agora, você sabe que deve se cuidar mais para evitar uma
possível gravidez. Vocês são muito jovens, tem muito o que viver e
aproveitar.
– Eu sei, obrigada mãe! – Digo, e a abraço. Existe lugar melhor que nos
braços da mãe?
– Bom, vou malhar, você não sabe ainda, mas Jéssica voltou a morar
com a gente, qualquer coisa que precisar peça a ela na minha ausência.
– Você e o papai estão trazendo Belo Horizonte para cá? – Pergunto,
rindo.
– Mais ou menos isso! – Ela sorri e sai.
Levanto e abro as cortinas para admirar o lindo dia e a linda vista que
tenho! É perfeita demais essa lagoa. Ela é tão verdinha...
Tomo um longo banho e tento dar um trato na depilação das minhas
pernas que parecem de urso. Assim que termino, coloco uma roupa e começo
a pensar nos meus planos para o dia de hoje. O primeiro deles é ir até a auto
escola me matricular. Todos os conselhos de Bernardo vêm à minha mente e
eu pondero decidir um curso interessante para fazer.
Chego na cozinha e dou um susto em Jéssica para não perder o costume.
Jéssica está no auge dos seus 28 anos e é formada em Arquitetura e Culinária.
Ela é como uma filha para os meus pais e como uma irmã para mim. Uma
grande amiga completamente. Eu e Matheus agradecemos seus dotes
culinários, porque ela tem o dom de cozinhar todas as besteiras que amamos!
A avó dela foi empregada da minha mãe e faleceu, deixando a guarda dela
aos meus pais. Chocante a história, mas tudo que se trata da minha família é
completamente inconstante e chocante. O mais chocante ainda é Matheus
tentando comê-la de todas as formas possíveis! Acredite! Compreensível,
porque Jéssica é um espetáculo de mulher!
– Demônio, quer me matar diaba? – Ela diz, me batendo com um pano
de prato, e eu a abraço.
– Que felizzzzz que você está conosco!
– Não consigo ficar longe de vocês. Você e seu irmão são meus
malvados favoritos.
– Matheus tem perturbado? – Questiono.
– Como sempre, mas nada que uma pimenta extra na comida dele não
resolva. – Ela diz, me fazendo rir. – Fiz pão de queijo fresquinho para você!
Coma tudo e me conte essa história de namorado. – Me empurra até eu estar
sentada.
– Não sobreviveria sem esses pães de queijo! – Digo, comendo um. –
Então. – Falo com a boca cheia. – Um boy magia que mora na porta ao lado...
tudo começou comigo dando um chute nas bolas dele por engano, agora
fizemos uma viagem onde me desvirginei e estamos namorando.
– Simples, né? – Debocha. – Como seu pai deixou você fazer uma
viagem internacional com quem mal conhece? Tio Arthur implica até
comigo!
–Se você conhecer Bernardo, vai entender porque meu pai deixou! Ele é
incrível e a família nem se fala! Parecem aquelas famílias de capa de revista.
Aliás, eles já devem ter estampado capas de revistas porque o pai dele era um
supermodelo tesudo! – Digo, e ela dá uma gargalhada.
– Você não muda esse lado espirituoso para narrar os fatos né.
– Jamé! Você vai conhecê-los e vai entender tudo! E seu namoradinho
que a impediu de vir morar com a gente?
– Mandei para a casa do caralho. – Responde de maneira direta, me
fazendo engasgar.
– Bacana hein! – Exclamo.
– Sim, demais, mas já estou recuperada e vacinada. Vou arrumar um
magia carioca, quem sabe nesse condomínio chiquérrimo não arrumo um
mega bilionário que me propõe mudarmos para França. – Ela diz, fingindo
ser interesseira.
– Só você, Jessicat.
– Jessicat rima com boquete. – Matheus surge das profundezas na
cozinha e vai massagear os ombros de Jéssica.
– O que eu devo colocar na sua mamadeira, Matheus? – Ela pergunta
provocando, e ele faz uma careta.
– Eu tenho dezessete anos, mas a satisfação é garantida Jé, ou seu
dinheiro de volta. –Ele diz, sentando na mesa. – E aí rompida, como está?
– Rompida vai ficar sua cara, Matheus, idiota! Quer ficar sem mesada,
bebezinho? – Pergunto o socando, e me levanto da mesa.
– Calma maninha, paz e amor.
– Estou calma, estou indo na auto escola, bonitinho. Em breve, estarei
habilitada e passarei por cima de você! – Informo, e saio andando rebolativa.
– Adeus pessoas, que o dia de vocês seja tão bom quanto o meu! – Grito
saindo de casa. Enquanto desço no elevador, vou mexendo no meu celular e
lendo algumas mensagens de grupos no WhatsApp. Quando entro no grupo
do condomínio, vejo todos falando do Bernardo e começo a ler as mensagens
com calma.
Uma delas atrai minha atenção.
"Eta Bê, isso é porque não gostava de novinhas." Acompanhada de um
anexo. Paraliso no hall do prédio e clico para fazer o download do arquivo.
Quando a imagem se abre, eu leio atentamente.
Bernardo aparece estampado de todo tamanho no site de fofoca ao lado
da Maria, aquela piranha desqualificada e filha da puta, num evento que está
acontecendo neste momento. Maria é Maria e literalmente está cheia de graça
para cima de Bernardo, e pelo "clima intimista", devo presumir que ele não
passa de um cafajeste ou é demasiadamente inocente. Só pode ser!
O ódio por não estar dizendo o local no site me invade e, no mesmo
momento, ligo para Matheus.
– Que foi? – Ele atende.
– Preciso de você! Você tem dois minutos para trocar de roupa e descer!
Ah, não esquece de trazer o celular, vamos precisar.
– O que houve?
– Ainda nada, mas hoje a casa cai. – Aviso, encerrando a ligação em
seguida.
Fico andando de um lado para o outro no hall, pensando em como devo
agir e, de repente, me vem a maldita música chiclete na cabeça e eu começo a
imaginar como devo falar.
"Bonito, que bonito hein” ou talvez eu deveria dizer "será que eu estou
atrapalhando o casalzinho aí" ou "que lixo, cê ta de brincadeira" ou talvez
"não sei se dou na cara dela ou bato em você" ou... PARE BEATRIZ!
Merda, eu estou transtornada!!!!!!!! Matheus chega e eu o puxo para um
canto.
– Que porra, Beatriz!
– Anda, abre o zap e pergunte a Victória onde está sendo o evento que
Bernardo está. – Ordeno, e ele me encara.
– O que aconteceu?
– Nada, apenas faça isso pela sua irmãzinha, prometo ser sua motorista
particular! – Imploro e ele faz, em poucos segundos ela responde e eu coloco
o nome do local no Google Maps. – Thank you brother, vem comigo?
– Vou né, sei lá que porra você vai fazer! Parece insana.
– Eu estou insana. – Suspiro, saindo do prédio. Caminhamos até o ponto
de táxi onde entramos no primeiro disponível, e passo o endereço.
Seguimos na fé de que o evento ainda esteja rolando, tendo em vista que
as notícias saem sempre poucos minutos após o flagra. Estou na torcida que
os tabloides tenham sido tão apressados quanto Bernardo foi! Maldito!
Entrego meu celular para Matheus com a imagem aberta e ele lê toda a
notícia.
– Pelo saco. Você conhece essa garota? – Questiona.
– Sim, é uma menina que foi criada em um dos abrigos e finge ser irmã
do Bernardo, mas no fundo ela quer dar o furico para ele.
– Se eu não tivesse transando com Vic... – Ele solta a pérola e se
arrepende em seguida.
– Quem? Você está o que?????? Transando com
Victória??????????????????? A irmã do Bernardo???????????????????? –
Grito e vejo o taxista me olhar pelo espelho interessadíssimo na conversa.
– Coisas aconteceram, maninha, mas o foco agora é no seu caso. Papai
vai matá-lo, não tenha dúvidas, e eu vou ocultar o cadáver. De qualquer
forma, não se preocupe, Victória não é qualquer garota para mim. Ela é
MINHA garota. – Ele anuncia, me deixando chocadíssima. Como assim?
Matheus sempre foi um piranho do caralho e agora tem a SUA garota?! Esse
mundo está do avesso, Deus!
– Pelo amor de Deus, Matheus, isso é segredo, só você sabe, não
aconteceu nada, ok? Bernardo é um anjo! Eu vou resolver isso sem que
nossos pais precisem saber agora.
– Chegamos. – O taxista diz e descemos do carro após deixar meus rins
como pagamento. As pessoas não têm noção de preço nesse lugar?
Me apoio em Matheus e respiro fundo algumas vezes.
– É agora! – Aviso, entrando no local. Me sinto no meio da Mata
Atlântica devido a quantidade de árvores e folhagens que há no local. Pouco
a frente, avisto dezenas de pessoas e sigo reto, confiante.
– Beatriz? – Liz chama e eu olho para o lado, encontrando-a.
– Oi!
– Bernardo não disse que você viria. Ele está lá na frente, minha linda. –
Explica, sorridente.
– Ok, obrigada. – Respondo, deixando Matheus de papo com ela.
Não demoro muito a encontrá-lo e, como previsto, ele está com a Maria
do bairro ao lado. Mal sabe ela que estou a personificação da Paola Bracho!
Vejo-a dando um tapa na bunda dele e viro o capiroto encarnado!
– Olá!!!!!!! – Digo sorrindo e interrompendo a conversa animada que
eles estão tendo.
– Beatriz? – Bernardo pergunta, espantado
– Não, Paola Bracho! – Respondo, sorrindo para Maria.
– Estava ansiosa para te conhecer! – A vadia diz.
– Pois eu também estava muito ansiosa para conhecê-la. – Digo,
puxando Bernardo pelo braço.
– Calminha, princesa. – Diz disfarçadamente no meu ouvido.
– Cadê seu namorado? Ele sabe que você aperta a bunda do meu
namorado? – Pergunto.
– Não tenho mais namorado. – Ela diz, fingindo santidade, mas meu
forte é conhecer falsas puritanas.
– E por que eu não sei desse evento, Bernardo? – Pergunto.
– Nem eu sabia Beatriz, fui pego de surpresa. – Responde e Liz o
chama, puxando-o para apresentá-lo a alguém. Ficamos eu e Maria do bairro
sozinhas e a vejo sorrir com deboche. Quando eu digo que meu sensor não
erra, eu falo sério! Ela é puta!
– Olha, vou ser direta com você. Pior tipo de ser humano que existe é
aquele que usa acontecimentos passados para se passarem de coitadinhos. O
fato de você ter sido criada no abrigo não a torna pior ou melhor que alguém.
O fato do meu pai ser rico não me torna superior a ninguém. Nós vemos
quem são pessoas boas ou ruins através do caráter. Bernardo é tão bom que
não enxerga o que eu enxerguei apenas vendo você de longe no shopping,
sexto sentido sabe? Você não me engana e não me conhece. Não brinque
comigo.
– É para eu ficar com medo? – Pergunta, sorrindo.
– Medo? Não. Quando for para ficar com medo, eu não virei avisá-la
pessoalmente.
– Oh, ela está me ameaçando! – Diz, fingida.
– Olha, você é sonsa e pessoas sonsas me fazem perder a cabeça. Eu não
vou descer do meu salto num evento e prejudicar a imagem da família do
meu namorado.
– É, eles são muito tradicionais e conservadores, não ficaria bem para
sua imagem com eles. – Ela diz, confiante, mostrando que os conhece bem.
– Não ache que você está no topo do seu castelinho encantado, que eu
viro a Nazaré Tedesco e te jogo escada abaixo. – Aviso antes de deixá-la
sozinha, plantada feito árvore.
Saio andando pela festa em direção a saída e quando estou prestes a
chegar na porta, Bernardo surge me puxando pelo braço.
– Eu não tive culpa, eu soube do evento quando já estava na empresa,
não tive tempo para nada.
– Foda-se o evento. O problema aqui é a intimidade que você dá para
Maria do bairro. – Respondo, olhando bem dentro de seus olhos.
– Maria do bairro? – Pergunta, arqueando a sobrancelha.
– Olha, eu não estou para gracinha. Meu nome é Beatriz Albuquerque
Barcelos e não bagunça.
– Você fica linda ciumenta. – Sorri e me beija. Eu quase, quase mesmo,
me derreto. Mas não dessa vez pequeno Bernardo. Empurro-o com força e ele
me olha em choque enquanto passa as mãos pelos cabelos.
– Você me quer? – Pergunto provocativamente e ele engole seco.
– Sim.
– Então faça por merecer! – Respondo e termino minha saída do evento.
Entro em um dos táxis que estão na porta e dou um leve tchauzinho para
ele. Só depois me lembro que esqueci do meu irmão.
É guerra?? Então vamos guerrear!
BERNARDO

Vejo-a entrando no táxi e fico petrificado olhando a cena. Passo as mãos


pelos cabelos repetidas vezes tentando entender o que ela quis dizer com
"faça por merecer" e tentando entender meu erro.
Estou tão acostumado a não ter que dar satisfações sobre meus atos,
meus compromissos. Tenho que me adequar à nova realidade.
Maria se aproxima e me abraça chorando, me deixando completamente
aturdido.
– O que foi? – Pergunto, afastando-a e olhando em seus olhos.
– Ela tentou me bater e me ameaçou. Ela disse que vai me afastar dos
seus pais e que é rica, vai usar até dinheiro se for necessário. Meu Deus, ela é
horrível, Bê. Ela quer me comprar para afastar nós dois. Quer me corromper.
Ouço as palavras e não consigo imaginar Beatriz fazendo algo desse
tipo.
– Ok. – Respondo, ainda engolindo suas palavras.
– Só ok? Você não vai fazer nada, tomar nenhuma atitude? – Ela
pergunta furiosa, completamente diferente da Maria que eu conheço, ou ao
menos achava que conhecia.
– Vou conversar com ela.
– Maria, pode nos dar licença? – Minha mãe chega dizendo e Maria sai
um pouco nervosa. – Beatriz foi embora por isso? – Minha mãe diz, me
entregando o celular onde clico na imagem.
– Porra, então é isso. Foi por isso que ela veio. Vou processar esse site!
– Você não avisou a ela que teríamos um evento? – Pergunta, com a cara
nada boa.
– Mãe, eu só soube do evento quando cheguei na empresa hoje. Eu
estava viajando.
– Bê, como sua mãe e como mulher eu preciso conversar com você,
primeiro tenho uma pergunta, você gosta mesmo da Beatriz? – Minha mãe
pergunta segurando minhas mãos.
– É claro que sim, eu nunca quis um compromisso antes, mãe.
– Então acho que está na hora de você mudar alguns velhos costumes.
Você vê Maria como uma irmã, mas ela não o vê dessa forma. – Informa.
– Como?
– Bernardo, você está sendo inocente há anos filho, sempre foi visível o
interesse dela por você. Você só não notou por nunca ter olhado ela como
uma mulher, e sim como alguém da família, como uma irmã mais velha. É
evidente que Beatriz não vai aceitar outra mulher te abraçando, se jogando
em você. Beatriz parece esperta demais, com certeza ela notou algo. E sobre
você não ter avisado a tecnologia está aí para isso filho, existe WhatsApp,
mensagens, até mesmo ligações.
– Eu nunca tive que dar satisfações antes, é tudo novo. – Explico.
– Então preste mais atenção da próxima vez. Se você quiser realmente
ter algo sério, terá que fazer algumas mudanças na sua rotina, filho.
– Maria disse que Beatriz fez ameaças a ela.
– Olha, eu não posso dizer se isso é verdade ou mentira, apenas converse
com Beatriz e esclareça isso, mas tome cuidado com joguinhos que possam te
afastar de quem você realmente gosta. Mulheres feridas são terríveis. – Ela
diz e sorri. – Bem-vindo ao mundo dos relacionamentos!
– Obrigado?! Já comecei bem mal. – Digo, suspirando. Puta merda, que
confusão. – O que devo fazer?
– Espere o evento acabar. Dê um tempo para Beatriz respirar e digerir a
situação, a noite tente uma conversa.
– Ela disse que se eu a quiser, terei que fazer por merecer. – Digo,
sorrindo, lembrando da imagem dela brava.
– Então, ela já te deu a deixa. Agora faça por merecer. – Minha mãe
sorri e, em seguida, fica pensativa. – Uau, isso que é nora! Gostei dela.
– Tudo bem. Vou ver o que posso fazer. – Digo, dando-lhe um beijo. –
Preciso ir mãe, vou passar em casa e darei um jeito de resolver toda situação.
Cadê Victória?
– Está com Matheus. – Ela responde sorrindo e eu quase volto para ver o
que aquele garoto está fazendo com minha irmã, mas nesse momento há algo
muito mais importante.
Entro no carro, passo numa floricultura e compro um buquê de rosas
vermelhas. Assim que chego no prédio, vou até o apartamento de Beatriz e
toco a campainha. Uma moça atende, fica me encarando de cima embaixo e
foca o olhar no buquê.
– Olá. – Digo, tentando tirá-la do transe. Chega a ser cômico.
– Ah, olá! Flores, né? Deve ser o “senhor perfeito”, Bernardo, não é?
– Sim, Bernardo sim. Senhor perfeito, não. Beatriz está? – Pergunto, e
ela sorri.
– Não, ela saiu cedo dizendo que estava indo até a autoescola se
matricular. – Explica.
– Ah sim, então você pode entregar as flores a ela?
– Só se eu puder ler o cartão. – A cara de pau me faz rir.
– Oh, não, vou retirar o cartão e deixar apenas as flores.
– Sim, mas você sabe né, Rio de Janeiro, clima quente, as flores podem
morrer. –Ameaça, e eu dou uma gargalhada.
– Ok, pode ler, você é da família, não é? – Pergunto. Só pode ser, com
toda essa loucura e ousadia.
– Praticamente. – Responde, rindo, e eu entrego as flores para ela.
– Bom, é isso. Obrigado.
– Não precisa agradecer, você é praticamente meu cunhado! – Aceno
com a cabeça e a maluca bate a porta na minha cara.
Entro no meu apartamento e vou direto tomar um banho com a certeza
de que Beatriz não vai se iludir com flores. Passo meia hora tentando pensar
em algo que consiga deixá-la mais calma além de sexo. Saio do banho e a
ideia ideal surge na minha mente...
BEATRIZ

Passo grande parte do dia resolvendo tudo da autoescola, realizando


pagamentos, fazendo exames. Pelo menos isso tudo conseguiu me distrair dos
acontecimentos da manhã.
Peço o táxi para me deixar na entrada do condomínio e resolvo ir
andando até o prédio, respirar ar puro sempre acalma. No caminho, decido ir
até a Delicatessen onde vou comprando salgados e todos os tipos de
chocolates que vejo pela frente. Chegando ao apartamento, sou recepcionada
por um enorme buquê de flores num vaso sobre o balcão. Meu pai nunca se
cansa de mandar flores para minha mãe, fico admirada com o fato de tantos
anos terem passado e eles continuarem dessa maneira, ao menos 1 vez por
semana minha mãe recebe flores e chocolates.
– Oh, apareceu a margarida! – Jéssica surge da sacada, batendo palmas.
– São para você. – Informa.
– Para mim? – Questiono, em choque.
– Sim, um lindo homem quase transparente de tão branco, com covinhas
e sorriso perfeito, ah, braços fortinhos também, chamado Bernardo, vulgo seu
namorado, veio deixá-las. Embora eu prefira os morenos e acreditasse que
você também preferia, ele é muito lindo. A propósito, o cartão está no balcão,
eu juro que não li, mas ele não precisa saber disso. – Ela diz rapidamente, me
deixando perturbada.
– Ok. – Respondo e pego o cartão. Sorrio ao ler “Fazendo por merecer
parte 1". Se ele pensa que pode me comprar com flores, está muito enganado!
Não sou o tipo que se vende! Quero atitudes!
– E aí? – Jéssica pergunta empolgada e eu apenas balanço a cabeça.
– E aí que eu preciso de um banho. Homens são confusos e
contraditórios o bastante. – Respondo quase como uma confissão e subo as
escadas rumo a meu quarto. Jogo minha bolsa na cama, me desfaço das
roupas e entro na ducha magnífica do meu banheiro. Quando termino, me
enrolo na toalha e assim que saio do banheiro, Bernardo está encostado na
porta do meu quarto com as mãos para trás e um sorriso perfeito.
– O que está fazendo aqui? – Questiono com uma mudança de humor.
Para pior.
– Vim me redimir pessoalmente.
– O que tem nas suas mãos? – Pergunto, arqueando as sobrancelhas. Ele
retira as mãos com cuidados e coloca um gatinho lindo próximo ao rosto.
– Mamãe, perdoa meu papai? – Diz, fazendo uma voz engraçada, e eu
corro até ele para pegar o gatinho.
– Ownnn, é lindo!!! Eu ameiiiiiiiiiii!!!! – Exclamo apaixonada. – É um
menino ou uma menina? – Pergunto.
– É macho e não fêmea. – Responde, rindo. – Ufa, graças a Deus você
me perdoou! –Diz, enquanto eu converso com o gato.
– Ei, seu nome vai ser Simba e você vai dormir comigo.
– Simba?
– Sim, porque ele é lindo igual ao Simba do Rei Leão. Obrigada pelo
presente, amei, pode ir agora que eu preciso cuidar do meu filho. – Informo.
– É meu filho também e não vou embora. Não saio daqui enquanto não
nos entendermos. E saiba que a guarda será compartilhada em caso de
separação. – Informa, me fazendo rir. – Trouxe uma caminha para o nosso
filho e acessórios que ele possa precisar, e ração também. Amanhã verei um
plano de saúde para ele. – É... plano de saúde para gatos, existe isso?
– Acho ótimo! Não quero meu filho passando necessidade.
– Não passará, agora coloque ele na caminha dele e vamos conversar. –
Diz, tentando pegar Simba de mim, mas eu já o amo!!!!!! Coloco-o sobre a
caminha delicadamente e enquanto estou abaixada, Bernardo me pega por
trás, fazendo surgir um frio na barriga. Que bosta! Por que ele é assim?
Me viro para ele e ele arranca minha tolha, jogando-a longe.
– Que bonito, sabia que alguém pode nos pegar? Estamos no início da
noite.
– Eu tranquei com chave e subornei Jéssica, aliás ela é muito louca, não
é? – Pergunta, quase afirmando o óbvio, sem me dar tempo de responder. Me
beija deliciosamente e em poucos segundos apaga qualquer traço da
realidade. Suas mãos... Deus! Eu me sinto envolvida num sonho
maravilhosamente perfeito. Sinto meu corpo esquentando e gritando por ele a
cada segundo, uma sensação ainda mais forte. Me pergunto se o desejo pode
ir aumentando gradativamente e se não tem um limite para isso. Ele domina
meu corpo, minhas reações, tudo de mim com maestria e, de repente, se
afasta, fazendo-me perder a capacidade de manter meu corpo sob controle.
Encaro-o aturdida e o reclamo de volta. Ele sorri numa distância segura
de mim e morde o lábio.
– Aceita jantar comigo?
– Você está brincando comigo? Jantar? Eu quero ser jantada, agora! –
Vou me aproximando e ele impede, me segurando.
– Pensei em te jantar em um lugar diferente após o jantar. Preciso fazer
por merecer, não foi isso que disse?
– Sim, precisa, mas antes podemos dar umazinha. – Informo,
desesperada.
– O "faça por merecer" vale para você também, garotinha.
– O que eu fiz de errado? Não vale porra nenhuma, é exclusivo para
você. Além disso, você tirou minha toalha. – Xingo, e o ouço rir.
– Você está tentando atrapalhar meus planos de tentar conquistá-la
lentamente, então ele foi estendido a você. E a toalha foi para facilitar o seu
serviço de se vestir. Faça por merecer, Beatriz! Seja obediente, troque de
roupa. Te busco em meia hora. E cuide do nosso filho antes de sair. –
Praticamente ordena e sai do quarto, me fazendo gritar de ódio!

E na velocidade da luz, me sinto uma idiota por estar completamente


pronta esperando o príncipe encantado, mesmo com toda vontade de matá-lo.
Fico com Simba no colo e o levo para todos conhecerem. Minha mãe cospe o
suco que está bebendo na mesma hora em que me vê chegar com o pequeno
bebê nos braços.
– Isso é um gato? – Ela e meu pai perguntam em uníssono.
– Sim! Simba, esses são seus avós, vovó Mari e vovô Tutu.
– De onde ele surgiu? –Matheus pergunta.
– Bernardo me deu, ele é nosso filho agora. Vou sair para jantar e
preciso que vocês tomem conta dele.
– Você está zoando? – Matheus interroga, rindo.
– Não, as coisas dele estão no meu quarto, daqui a pouco ele vai querer
dormir.
– Oh meu Deus! Ele é fofo demais! – Minha mãe diz, se aproximando.
– Fodeu! Essa casa vai virar um manicômio completo por causa desse
bicho. – Meu pai resmunga.
– Não o chame de bicho, ele é lindo, meu pequeno príncipe! – A
campainha toca e meu pai abre para Bernardo. Ele me encara de cima a baixo
e parece incomodado com o meu vestido. Sorrio para irritá-lo e ele se distrai
cumprimentando todos. Quando se aproxima de mim, ele deixa de lado o
homem fofo.
– Você está gostosa, mas sinceramente, ninguém mais precisa saber
disso, apenas eu. Acho que seria interessante você trocar esse vestido.
– Eu estou muito bem com ele e você está lindo, tenho certeza que
faremos por merecer essa noite. – Pisco o olho e entrego nosso filho para
minha mãe antes de me despedir de todos.
– Você é tão atrevida. – Pontua quando entramos no elevador.
– Você acha? – Pergunto, rindo.
– Eu acho que vamos ter que mudar o local do nosso jantar.
– É? E vamos jantar onde? – Pergunto, segurando-o pela camisa e
cheirando seu pescoço. Deus! Até o perfume dele é afrodisíaco.
– Num lugar com mais privacidade. – Explica, segurando minha bunda.
– E esse lugar é longe? – Beijo seu pescoço e recebo um gemido
delicioso.
– Tenho certeza que hoje ele vai parecer mais perto que nunca. – Avisa,
gemendo.
– Por que?
– Porra, Beatriz! – Exclama irado e me joga contra a parede do elevador.
Quando enfim vou rodear minhas pernas em volta de sua cintura, a porta se
abre e uma senhorinha nos olha boquiaberta. Bernardo só falta abrir uma
cratera no chão e nos enfiar, enquanto eu escondo meu rosto em seu peitoral.
– Que pouca vergonha, menino Bernardo! – Ela exclama, fazendo com
que nós dois soltemos um suspiro de frustração e vergonha.
BEATRIZ

– Velho, não acredito nisso! – Rio, enquanto descemos os últimos cinco


andares pela escada. Não tínhamos como permanecer no elevador depois
daquela senhora!
– Culpa sua. – Bernardo diz, e eu paro num degrau, encarando-o. –
Claro que é Beatriz, você está me fazendo perder o juízo.
– Meu forevis.
– O que significa “meu forevis”? – Ele pergunta, rindo.
– Meu orifício anal. – Explico.
– Claro, vou começar a escrever um dicionário traduzindo as coisas que
você fala. – Diz. Do nada, ele me puxa e me joga nas costas como um saco de
batata. Como eu gosto de uma coisa errada, nem grito, apenas me concentro
em apertar sua bunda. Ele desce todos os lances de escada comigo dessa
forma. Quando chegamos na recepção, me coloca de volta ao chão e parece
que esteve sentado fazendo ioga.
– Uau hein, que que isso novinho! Que disposição!!!
– Muita. – Sorri de jeito safado.
Enfim, chegamos na garagem. Ele abre a porta do carro para mim, entra
e então saímos.
Ficamos em silêncio enquanto ele dirige, mas num certo momento eu
sinto necessidade de falar, afinal ainda estou magoada com tudo, e mesmo
Simba sendo lindo, ele não é capaz de fazer com que os acontecimentos
passem batido.
– Olha, Bernardo, você chega com um gato e com umas pegadas fortes e
acha que eu estou bem, mas não estou. Só para avisar! – Informo.
– Eu sei, nem passou pela minha cabeça que você estaria cem por cento
bem. Nós vamos conversar. – Diz, sério.
– Que bom. Acho ótimo isso!
– Vou ter que te acalmar antes de uma conversa, garotinha. – Noto como
ele passa a segurar o volante com mais força e torno-me ansiosa.
– Sei que eu acabarei me rendendo ao sexo porque você tem um alto
poder de persuasão.
– Que bom que sabe, acho ótimo! – Copia minhas palavras e eu seguro
um sorriso.
Me distraio olhando o mar através de uma estrada que nunca passei
antes. A vista é perfeita e a noite está tão linda que abro os vidros para
respirar a brisa leve do oceano. Fecho os olhos e só os abro quando noto
Bernardo diminuindo a velocidade. Ele para em frente a um enorme portão e
aperta o interfone. Eu chego para frente e tento entender onde estamos, mas
descubro assim que uma voz soa dando boas vindas e ele diz que tem uma
suíte reservada. Isso é um hotel? Ou um motel?
Assim que o portão se abre, ele me encara e sorri de um jeito safado.
– O que viemos fazer aqui? – Sei que estou bancando a idiota agora, mas
precisava perguntar.
– Comer.
– Em qual sentido? – Pergunto, arqueando a sobrancelha.
– Nos dois. – Sorri com a resposta.
– Ok. Isso é um motel ou um hotel?
– Motel, Vips Motel, o nome já fala por si, VIP. Um local mais seleto,
para poucos. –Responde.
– Ok, e você já veio aqui? – Pergunto, cruzando os braços com raiva.
– Não, Beatriz, sempre quis vir, mas queria que fosse com alguém
especial e esse alguém é você. Adoraria que relaxasse um pouco e tirasse essa
tensão que está exalando. Não pagaria uma fortuna para transar com
qualquer uma. – Ele estaciona em uma garagem e eu suspiro.
– Devo me sentir feliz com isso?
– Deve controlar a sua boca e deixar comigo o resto! Não sou moleque.
– Diz ríspido e eu me encolho com suas palavras. Caralho! Isso foi foda...
Mas foi excitante.
Gosto.
– Desculpe.
Desço do carro e, assim que vou abrir a porta do quarto, Bernardo me
puxa e me cola na parede da garagem.
– Você está muito complicada, estressadinha e brava.
– Não é à toa. – Informo, tentando cruzar os braços, mas ele não deixa.
– Eu sei que não, mas deixa eu te dar uma noite legal e tentar explicar?
Por favor? – Suplica de um jeito tão lindo que me ganha.
– Sim.
– Eu vou beijá-la e fazer com que esqueça essa tensão por um tempo. –
Quase sorrio, mas estou tensa.
– É uma sessão de hipnose?
– Não, é uma sessão de calar a sua boca. Você está interrogativa demais.
Está de TPM?
– Posso dizer que sim. Tensão Pós Maria. – Respondo, fazendo-o
suspirar. Ele balança a cabeça e me pega pelas mãos, nos levando até o
quarto.
[...]
Sabe quando você entra num local e se imagina morando nele? É
exatamente assim que me sinto ao entrar nesse quarto. Minha mãe com
certeza surtaria ao ver o design dele.
– Uau!
– Uau! – Ele diz, reparando todos os detalhes junto a mim.
– Eu quero um quarto exatamente igual a esse quando eu crescer! –
Digo, fazendo-o rir.
Fico tímida ao avistar o balde de champanhe na pequena mesa.
Realmente teremos um jantar e uma conversa, só não esperava que seria num
lugar onde exala romantismo e tensão sexual por si só. Me embasbaco ao ver
a piscina com vista privilegiada para o mar. Eu morri e fui para o céu.
No canto esquerdo do quarto, um enorme ofurô dá um toque final de
elegância e sofisticação. E eu mal sei o que devo fazer agora. Um casal
normal, paz e amor, tirariam as roupas e transariam como dois selvagens, mas
eu e Bê ainda temos alguns pontos, mesmo que eu queira mandar todos eles
para a puta que pariu e aproveitar o momento especial.
Olho para ele e, com meu olhar, ele entende perfeitamente que me
encontro perdida no momento. Ele sorri e me abraça.
– Bom, vou pedir para servirem nosso jantar. – Informa, passando a mão
pelos meus cabelos, e se afasta em seguida.
Passeio lentamente pelo quarto absorvendo cada detalhe e me pego
pensando em tudo que aconteceu nos últimos dias, mais precisamente no
homem lindo que está disposto a se redimir de todas as formas comigo.
Questões antes desconhecidas agora martelam em minha mente e eu
começo a questionar o nível dos sentimentos que estamos nutrindo um pelo
outro, principalmente o que eu sinto. Nunca tive que lidar com borboletas no
estômago, friozinho na barriga, êxtase, ciúme ou até mesmo apego. Em
pouco tempo, todas essas coisas novas têm feito parte da minha realidade
constantemente. Sinto-me mudando a cada dia e descobrindo uma nova "eu".
Eu desconhecia o fato de que um relacionamento poderia mudar tanto uma
pessoa, mudar até mesmo a personalidade, isso é inexplicável e surreal.
Ele volta de onde quer que tenha ido e chega por trás, colocando meus
cabelos para o lado enquanto cheira meu pescoço. Fecho os olhos e peço a
nossa senhora da bike um pouco de equilíbrio.
– Você ainda está tensa. – Afirma o óbvio em meu ouvido, seguido de
mordidas.
Sinto minha calcinha umedecer e minhas pernas quererem fraquejar. Por
que ele tem esse poder? É horrível não ter controle sobre o próprio corpo, é
horrível ter um corpo que me trai a cada segundo e parece obedecer a todos
os comandos de Bernardo. Isso me faz sentir vulnerável no dia de hoje. Após
ter tido uma manhã conturbada, meu corpo está aqui implorando pelos
cuidados dele.
– Você tem ideia do que me faz sentir? – Pergunta, dando mordidas com
um misto de leveza e dor, e eu não respondo. Apoio minhas mãos na parede
de vidro e tento não me deixar levar. – Sei o que você está tentando fazer,
Beatriz. Não faça isso. Não resista. Eu quero tanto você. Tenho sentido sua
falta. Eu quero dormir com você todos os dias. – Diz vagarosamente, com
uma voz regada de sentimentos, e eu fecho os olhos buscando inspiração
divina. Então, sou virada de frente para ele rapidamente e tenho minhas
costas grudadas no vidro. Com os olhos nos olhos, fica difícil demais.
Quando abro a boca para falar, a campainha toca e ele suspira com raiva. – A
conversa não acabou, é nosso jantar. – Informa, saindo para atender.
Permaneço na mesma posição e sinto falta de ser uma louca desequilibrada
nesse momento.
Ele volta com um carrinho trazendo as comidas e o coloca ao lado da
mesa. Afasta a cadeira e faz sinal para que eu me sente. Demoro alguns
segundos; então me acomodo, e em seguida ele nos serve uma suculenta
massa e coloca vinho em nossas taças. Brindamos ao nada e começamos a
comer em silêncio, até que ele apoia o queixo nas mãos e me encara.
– Eu errei com você.
– Eu sei. – Respondo.
– Preciso que me ajude a adaptar nessa nova fase da vida. Eu nunca tive
que dar satisfações antes, nunca tive responsabilidade emocional com
qualquer pessoa que não fosse meus pais. Sou novo nisso. Não é uma
reclamação, Beatriz, é um pedido de paciência apenas. Eu quero nós dois
juntos, quero que dê certo demais isso que estamos tendo.
– Eu perdoo, Bê, perdoo você não ter falado do evento, aliás o fato de
você não ter falado não me chateou. Você sabe muito bem qual foi o erro.
– Quanto a isso, te peço desculpas por não ter escutado o que me disse
em Nova York, eu acredito que você esteja certa agora. Não tinha noção e
achava que era apenas ciúmes porque você não a conhecia direito. Eu estava
errado.
– Oh! – Digo, fingindo incredulidade, e ele ri.
– Sarcasmo não combina com você. Maria me disse coisas hoje.
– Que tipos de coisas? – Pergunto, virando meu vinho e, em seguida,
sirvo mais uma taça. O calor aumenta gradativamente a cada gole.
– Ela disse que você a ameaçou com dinheiro. No momento em que ela
disse isso, eu conheci uma nova Maria, percebi que ela estava agindo de má
fé. Minha mãe disse que, pelo fato de eu sempre tê-la olhado como uma irmã,
não fui capaz de perceber o que estava óbvio. Mas é difícil, a garota passou
horas me aconselhando sobre relacionamentos recentemente.
– Eu amo sua mãe. – Sorrio e como mais um pouco, porque comida vem
sempre em primeiro lugar.
– Eu acho que eu amo você. – Eu engasgo. Pego o guardanapo de pano e
levo a boca. Bernardo levanta correndo para bater em minhas costas de
maneira nada delicada. Corro para o banheiro o mais rápido que consigo e me
tranco nele. Limpo toda a meleca que fiz, jogo o guardanapo no lixo e me
encaro no espelho após lavar a boca. Puta que pariu! O que foi que acabou de
acontecer? Meu Deus!
Bernardo disse que me ama! Eu não estava preparada para um evento
desse porte.
Demoro um tempo, então saio do banheiro e volto a me acomodar em
meu lugar. Bernardo volta a ficar na posição em que estava segurando o
queixo e me encarando, desconcertante “pra caralho”.
– Desculpa por isso, eu não esperava ouvi-lo dizer... – Confesso
timidamente e viro a porra do resto do vinho que tinha na taça,
completamente descontrolada.
– É por isso que acho que amo você, por ser desse jeito louco,
desajeitada, não fugir das emoções, não fingir...
– E como é isso de ACHO que amo você? – Fico na mesma posição que
ele e o encaro fixamente em busca de um entendimento.
– É um sentimento novo que estou descobrindo. – Explica com uma
naturalidade surpreendente.
– Entendo perfeitamente.
– Satisfeita? – Pergunta, olhando para meu prato, e eu não me sinto
capaz de comer mais nada depois do que ele disse.
– Sim. Você não comeu direito. – Ele sorri.
– Não consegui comer. É ruim vê-la tensa e chateada. Pior de tudo é
saber que foi por minha culpa.
– Isso porque não me viu no modo “psicopata”. Não queira ver. –
Alerto e ele ri, enquanto sirvo mais uma taça de vinho.
– Nós estamos bem? Eu vou me esforçar mais. – Agora ele está
segurando minha mão sobre a mesa.
– Dessa vez sim. Espero que não tenham próximas vezes, por favor. Seja
lindo!
– Serei lindo. Um garoto exemplar. – Sorri, e fixo em suas covinhas. Se
eu tivesse pau, ele ficaria duro toda vez que olhasse para essas covinhas.
Bernardo fica sério ao ver meu "secamento" e logo uma eletricidade ondula
entre nós.
Ele se levanta e começa a se despir, iniciando pelo sapato. Cruzo as
pernas e me viro de lado para apreciar o show, igual aos homens que vemos
nos filmes, que ficam observando uma cena de strip em algum clube
clandestino.
Ele retira a calça e em seguida a blusa, ficando apenas de boxer preta.
Engulo seco, analisando seu volume na cueca, e fico chocada ao constatar o
quanto eu estava com saudade de vê-lo assim em apenas pouco mais de 1 dia.
Estou me tornando dependente ou viciada?
– O que está pensando com essa testa franzida?
– Algumas coisas que você não precisa saber, pensamentos ocultos. –
Pisco o olho e ele se aproxima, tirando a taça da minha mão e me fazendo
ficar de pé.
– Não está com calor? – Pergunta em meu ouvido, enquanto abre o zíper
na parte de trás do meu vestido numa lentidão desesperadora. Apoio minha
testa em seu ombro e mordo meu lábio ao sentir seus dedos roçando minhas
costas desnudas. Quando o vestido cai sobre meus pés, ele retira meu sutiã
tomara que caia como um profissional e eu fico apenas de calcinha e saltos.
– Faz mal transarmos agora. – Ele estraga prazeres, mas está me
agarrando pela cintura com uma mão e enfiando a outra entre meus cabelos.
– Sim, imagino que faça. – Respondo, tombando minha cabeça para trás
e expondo meu pescoço a ele.
– Senti falta de ter seus seios grudados em meu peitoral.
– Não fala com essa voz misturada com gemidos e sussurros. – Imploro,
quase chorando.
– Senti falta de estar dentro de você. – Diz.
– Eu também.
– Você está gemendo tão gostoso, Beatriz.
– Por que você está falando essas coisas? Meu Deus! Bernardo, isso é
enlouquecedor. Você era mais contido nas palavras. – Repreendo e o sinto
sorrir sobre minha pele.
– Isso te excita. Aposto que tem um lugarzinho implorando por minha
boca agora, garotinha.
– Isso é maldade e tortura.
– Não vou parar de falar, não agora que sei o efeito que isso causa em
você. – Informa, me olhando nos olhos. – Nós vamos brincar aqui e quando
chegarmos em casa vou pular para seu quarto e vamos brincar lá também. –
Avisa, sério e promissor. – Eu estou louco por você. – Ele me beija
delicadamente e eu percebo que acabou de rolar um Game Over!
BEATRIZ

Lento, doce, sensual e perfeitamente delicioso; são essas palavras que


descrevem o momento que acabamos de ter. Bernardo foi de uma lentidão
agoniante, testando todos os limites da minha paciência e me mostrando que
ter paciência as vezes é a melhor coisa que devemos fazer. Agora entendo a
famosa frase "paciência é uma virtude". Nunca senti tanto prazer em toda
minha existência, e nunca tive que controlar tanto minha raiva por ele saber
exatamente o "que" e "como" deve fazer as coisas. Me pergunto quando
poderei controlar um ato sexual com ele, e me pergunto também se seria tão
prazeroso eu no comando sendo que ele faz tudo tão perfeitamente gostoso e
prazeroso.
Estou estirada dentro da hidromassagem tentando respirar até perder a
sanidade. Enquanto isso, Bernardo me encara deitado na cama.
– Não foi uma boa ideia pular na hidromassagem após três orgasmos. –
Comenta, satisfeito com suas habilidades sexuais, e eu apenas sorrio como
uma boba apaixonada que sou.
– Preciso concordar, ela me deixou ainda mais mole.
– Exatamente, ela ajuda a baixar a pressão e eu quero você com a
pressão nas alturas. Ainda temos algumas horas aqui e você não pode
esquecer que vamos dormir juntos.
– E assim diz o homem que não quer um relacionamento baseado em
sexo. – Provoco, fazendo-o rir. Ele levanta gloriosamente nu e caminha até
mim. Se ajeita na banheira e me puxa para seu colo.
– Eu não quero mesmo, Beatriz. Mas achei que essa seria a melhor
forma de nos conectarmos após os últimos acontecimentos.
– É, você estava certo, nos conectamos por um longo tempo. – Brinco, e
ele beija o topo da minha cabeça.
– Somos muito bons fazendo amor, não posso negar.
– É, estamos ficando expert no amorzinho. Ainda tenho curiosidades se
o sexo selvagem é tão bom quanto à forma como você ama cada pedaço de
mim.
– Isso é uma reclamação, intimação ou indireta? – Pergunta.
– Nenhuma das opções acima. Nunca me senti tão satisfeita, Bê. Como
você faz isso?
– Acho que deixo o coração falar mais alto que a razão. A razão te
espancaria, Beatriz. – Confessa, me fazendo rir.
– Me espancaria?
– Você testa meus limites, tenho que agradecê-la por isso. Estou
descobrindo mais de mim mesmo. Descobri que tenho uma paciência
grandiosíssima.
– Eu também tenho que agradecê-lo por ter me tornado mais calma e
ajuizada, por enquanto. – Finjo doçura e ele dá uma risada gostosa. Sangue
de cordeiro, cada vez me sinto mais fodida!
– O que foi?
– Nada amiguinho, nada. – Respondo, e ouço meu telefone tocar. –
Preciso ver se é dona Mariana ou Arthur. – Digo me levantando e vou
andando lentamente até o aparador onde está meu celular. O nome “Caio
Lindo” pisca na tela e, antes que eu consiga rejeitar, sinto Bernardo atrás de
mim.
– Caio Lindo?
– Caio, apenas caio. – Respondo, fechando os olhos e cantando
internamente “Ih Fudeu”!
– Quem é Caio? – Pergunta, e eu fico em silêncio. Se ele souber quem é
Caio ferrou!
– Ele é de BH. – Respondo vagamente.
– Só isso? – Pergunta, e eu fico em silêncio. – Me dê o telefone. – Pede
e vejo sua mão na minha frente, esperando. Está de brincadeira, só pode. Isso
é uma crise de ciúme?
– Para? – Me finjo de boba para ver se dá certo.
– Para eu atender e descobrir por conta própria. – Diz sério e eu quase
rio, quase.
– Não vou atender.
– Eu vou. Como ele tem seu número do Rio de Janeiro, Beatriz? –
Pergunta, tomando o celular da minha mão.
– Não sei. – Ele permanece me olhando. – Talvez estejamos em algum
grupo no WhatsApp.
– Grupo no WhatsApp. Bacana! – Exclama, enquanto o celular apita
num sinal de mensagem. Corro até ele e ele levanta a mão no alto de forma
que eu não consigo pegar o celular. – Caio está mandando uma mensagem.
Qual a senha do celular?
– Por favor, é apenas bobeira, Bernardo, não converso com ele desde
antes de vir para cá, eu juro. – Imploro, mas ele não se comove.
– Eu não quero invadir sua privacidade, Beatriz, longe de mim fazer
isso, mas quero ler a mensagem desse Caio, apenas isso. Se não é nada
demais, você não vai se importar com isso, não é mesmo? – Ele permanece
irredutível e eu abaixo a cabeça. A noite que estava sendo maravilhosa agora
pode ser transformada numa grande cilada.
Vou até a cama e pego um roupão para aquecer o frio que estou sentindo
de repente. Me apoio na bancada e respiro fundo. Não sei como dizer a ele
quem Caio é, e nem sei o motivo de Caio estar me procurando, o que dá mais
medo. Não sei o que pode estar escrito na mensagem. Talvez se ele tivesse
atendido seria melhor.
Ouço um suspiro forte e em seguida ele vem caminhando até mim, sem
se importar com sua jabiroba balançando.
– Você e ele têm algo? Ou tiveram? – Pergunta e eu abaixo a cabeça
sem responder.
Meu silêncio o deixa completamente incomodado. Ele pega uma cadeira
e se senta bem diante de mim. Olho em seus olhos e engulo seco ao perceber
o quão transtornado ele parece.
– Olha Beatriz, eu nunca quis me envolver com alguém, principalmente
com uma garota jovem como você. Nunca quis ter aborrecimentos, por isso
sempre os evitei. Não estou falando isso apenas pela sua idade, não é isso,
estou falando em relacionamentos em geral. Não estou entendendo o motivo
do seu silêncio, isso me faz pensar que algo está realmente errado e eu não
vou sair daqui sem que me diga o que está havendo. Hoje pela manhã, você
se aborreceu e eu mais do que prontamente tratei de reverter a situação. Vou
te dar uma chance de reverter sua situação comigo, caso contrário nós iremos
rever esse relacionamento.
– Por causa de uma ligação? – Pergunto, perplexa.
– Não, por causa da sua reação. A ligação passaria batido se você não
reagisse tão claramente mostrando que havia algo mais nela. Vou te ajudar.
Vou perguntar mais uma vez, você vai responder e nós dois vamos tentar
voltar ao clima gostoso que estávamos antes.
– Nós não vamos voltar ao clima, Bernardo, eu não sou idiota.
– Eu também não, Beatriz. – Ele passa as mãos pelos cabelos sem soltar
o celular. Fico em silêncio por longos minutos e ele sorri de um jeito
diferente, com cinismo que nunca vi antes. – Quem é Caio? É a última vez
que pergunto.
– Ok, mas prometa que não vai falar com meu pai, por favor. – Digo e
ele abre a boca em descrença. Ele se levanta, pega o roupão e veste. Em
seguida, começa a andar de um lado para o outro.
– Você está brincando que este é o garoto que tentou estuprá-la. Você
está num grupo que ele está? Ele tem seu número, Beatriz? – Pergunta
exasperado e com a voz ligeiramente alterada pela fúria.
– Eu não converso com ele, eu juro, Bê.
– Esse grupo é de amigos?
– Sim, da turma que estudei ano passado. – Respondo.
– Eles não são seus amigos. Eles não permitiriam tê-la no grupo se
fossem realmente seus amigos.
– Eu sei, eu nem tenho entrado nesse grupo, Bernardo. Apenas migrei o
número. –Respondo sob análise minimalista do seu olhar furioso.
– Eu quero ler a mensagem dele, por favor, desbloqueei seu celular. –
Insiste, me entregando o celular. Eu digito minha senha e entrego de volta. O
que é um peido para quem está cagada?!
Bernardo se afasta com o celular na mão e fica longos minutos
encostado numa parede lendo.
– Vocês tinham algo? – Pergunta, sem me olhar.
– Sim, ficamos algumas vezes. – Respondo, sincera. Ele se levanta e
entrega o celular com a mensagem aberta na minha mão.
"Bia, me perdoe por tudo. Seu pai tem entrado em contato comigo
constantemente e estou muito arrependido por ter feito o que fiz. Deveria ter
respeitado sua vontade de esperar um momento especial. Me dê mais uma
chance, vamos ficar juntos? Vou para o Rio para conversarmos, vou te
encontrar aonde quer que esteja."
Leio cada palavra e engulo seco ao ver Bernardo vestindo sua cueca e
pegando a calça. Meu coração acelera de uma só vez e, antes que possa vestir
a calça, corro até ele, o impedindo.
– Por favor, não faça isso. Aquela mensagem, a ligação, nada disso
importa.
– Você tem o dever de informar ao seu pai, Beatriz.
– Eu informo, faço o que quiser, mas por favor não vamos embora dessa
maneira. – Peço, chorando. Não acredito que estou chorando!
– Eu não sei como lidar com isso Beatriz, não sei. – Diz, perdido, e se
afasta mais uma vez. – Vamos embora, voltamos outro dia. – Ele está
decidido, vestindo sua calça. Assim que veste a camisa, eu faço a caminhada
da vergonha até minhas roupas e entro no banheiro, fechando a porta atrás de
mim.
Me olho no espelho e não consigo me conhecer, estou um caco, estou
consumida por uma ligação.
Se Bernardo não sabe lidar com isso, eu também não. Não vou ficar me
humilhando para ele por causa de uma bobeira. Ok, eu poderia ter sido
estuprada, bacana, mas isso não vem ao caso, nada do que eu falei a Bernardo
resolveu.
Visto a roupa e lavo o rosto até que ele esteja um pouco mais decente.
Saio do banheiro e Bernardo está encostado na porta, me esperando. Sem que
ele veja, pego o maldito celular e lanço pela sacada com toda força do mundo
até que ele caia em alto mar. Peço humildemente que Iemanjá leve essa
oferenda para bem longe.
EU NÃO SEI LIDAR COM REJEIÇÃO, PORRA! Apenas não sei.
Nada me fere mais que indiferença e rejeição.
Por que relacionamento tem que ser tão difícil? Nós mal começamos e já
estamos praticamente no fim.
Se é isso que Bernardo quer de mim, é isso que terá. Por mais que esteja
perdidamente apaixonada, não vou mendigar sexo ou amor. Para falar a
verdade, eu estou com uma enorme vontade de dar um chute no saco desse
babaca mais uma vez! Não fiz nada. Apenas estava num grupo e nada além
disso. Sei que fui inocente em todos os demais sentidos, não tenho culpa do
garoto me ligar e enviar mensagens.
Caminho de volta ao quarto e o afasto da porta para abrir.

Fazemos todo o caminho de volta para casa no mais doloroso silêncio e


eu me pego num conflito interno por diversas vezes. Há momentos em que
quero chorar, em outros quero matá-lo. Porém, a realidade cruel é que quero
apenas agarrá-lo e implorar para que voltemos ao motel para podermos
resolver tudo no sexo. Não acredito que joguei um Iphone fora!
Antes mesmo que Bernardo desligue o carro, eu saio do mesmo. Vou
andando a passos largos até o elevador e ao mesmo tempo tento esconder
meus cabelos molhados para que ninguém perceba.
– Não precisa fazer assim. – Diz ofegante por ter corrido até mim.
– Foda-se Bernardo, cansei dessa merda. Eu sou obrigada a entender
sobre Maria Madalena arrependida do bairro, mas quando diz respeito a mim
você simplesmente se fecha e diz que quer ir embora, então um foda-se bem
grande para você. Não bata na minha casa e não me ligue, porque quem vai
atender será Iemanjá diretamente do fundo do mar. E lembre-se quando se
arrepender, foi você quem quis assim!
– Você mantém contato com o cara que quase te estuprou, pede que eu
omita isso do seu pai, o cara diz que quer minha namorada de volta e eu estou
errado por agir assim? – Ele grita dentro do elevador.
– Eu NÃO MANTENHO CONTATO COM CAIO. Apenas não apaguei
o número dele ou saí dos grupos pelo fato de nem estar lembrando dessa
situação porque eu estou apaixonada por um idiota incompreensível que tem
ocupado meu tempo com pensamentos melhores. Que me fez em pouco
tempo pensar no futuro, que me fez querer ser mais do que sou, que me fez
perceber que os outros são apenas outros e que se tornou tudo para mim em
poucos dias. – Grito de volta. – Eu odeio você, Bernardo!!!!!!!!!!! – Grito e
soco seu peito.
Ele aperta um número no elevador e as portas se abrem num andar
qualquer.
Bernardo sai me puxando como se fosse um cachorro até a escadaria,
que está completamente escura, e me joga na parede de um jeito agressivo
que me até dói. Não consigo enxergá-lo bem, mas ouço seus movimentos e,
sem que eu espere, sou pega pelas pernas e tenho minha calcinha rasgada sem
tempo de protestar. Ele me penetra violentamente e mordo seu ombro para
tapar o grito de dor que sinto com o ato inesperado num momento em que me
encontro completamente tensa.
Aos poucos, me deixo levar para o prazer e transamos como dois
selvagens, ignorando o fato de estarmos na escadaria.
Bernardo segura meu pescoço com uma mão, como se fosse me
enforcar, e eu puxo seus cabelos com força, fazendo-o me dar um tapa na
bunda bastante audível e doloroso. Me deixando levar pela dor e pelo prazer,
dou um belo tapa em sua cara. Ele solta um gemido gutural e eu tapo sua
boca com a mão. Em seguida, ele agarra meus cabelos e puxa minha boca
para a sua.
Me beija, chupa meu pescoço e meus seios como se o mundo fosse
acabar em minutos e estivesse fazendo isso pela última vez. E, quando
pressiona o polegar em meu clitóris, é minha vez de gemer como uma grande
vadia e ter a boca tapada enquanto gozo acompanhada dele.
Sinto um líquido escorrendo pelas minhas pernas e me assusto com a
quantidade, enquanto ele permanece me segurando na parede, se recuperando
aos poucos do que acabamos de fazer.
Comigo no colo, se apoia na parede ao lado e escorrega até estarmos no
chão.
– Estou completamente molhada. – Quebro o som das nossas
respirações.
– Não se preocupe, não é xixi. – Diz, rindo, e em seguida fica sério, me
puxando para seus braços. – Eu machuquei você?
– Sim, um pouco. – Digo, sincera. – Mas foi maravilhoso, obrigada por
ter me fodido.
– Eu não queria ter machucado você, é sério, Beatriz.
– Por favor, não arrume mais um motivo para brigarmos hoje, eu não
aguento mais um desentendimento, Bê. Foi maravilhoso. Bruto e
maravilhoso. Eu a...
– Shiu, não vamos falar mais nada ok? – Ele pede e me afasta
delicadamente para ficar de pé. – Uau, não vou conseguir malhar amanhã. –
Ele me puxa para ficar de pé. Quando enfim consegue, minhas pernas estão
como duas gelatinas. Imagino a bagunça que devo estar. – Vamos pegar o
elevador e descer até o subsolo, lá tem banheiro e podemos nos tornar
apresentáveis. No seu quarto, tomamos banho. – A promessa de um banho
juntos me faz sorrir.
– Só vamos dormir mesmo Bernardo. Se eu abrir as pernas novamente,
elas ficarão travadas e eu ficarei como uma rã, sinceramente.
– Só vamos dormir, bem grudados e esquecer qualquer
desentendimento. Amanhã vou comprar um celular para você e você vai falar
com seu pai sobre Caio. – Percebo que não tenho opção a não ser acatar seu
pedido.
– Tudo bem, não se preocupe com o celular. Onde está minha calcinha?
– Pergunto e ele acende o próprio celular para encontrá-la caída no canto da
parede. Ele a pega e enfia em seu bolso após cheirá-la.
– Ela agora é minha. – Informa, me pegando em seus braços. Subimos
alguns degraus e chegamos a um andar de apartamentos onde pegamos o
elevador.
BERNARDO

Sabe quando você está na melhor parte de um sonho, no auge do sono


pesado e alguém te dá um susto que o faz quase ter um ataque cardíaco e vir a
óbito? É exatamente assim que me encontro.
Beatriz quase acabou de me matar e eu estou tentando entender o motivo
enquanto ela faz sinal pedindo que eu cale a boca.
– Minha mãe está batendo na porta e parece que a sua também está aqui.
– Ela diz baixinho, e eu tento me situar. Algumas marcas no pescoço de
Beatriz fazem com que eu recupere do sono na velocidade do Bolt, afasto a
coberta dela e vejo os mesmos hematomas em seus seios e a encaro
horrorizado. Como eu pude perder o controle dessa maneira?
– Porra, tem ideia de como seu corpo está? – Pergunto, enquanto ela
pega Simba no chão.
– Tem ideia da vergonha iremos passar agora? Tem ideia de como meu
pai vai nos matar lentamente? Deus, ainda bem que fechamos a porta com
chave! – Ela suspira e eu quase rio da sua cara de desespero enquanto “nina”
o pequeno gato. O riso morre quando ouço uma nova batida e a voz de
Mariana.
– Beatriz, só queremos saber se está tudo bem e se vocês estão aí
mesmo. Você não atende a porra do celular. Seu pai não está em casa, graças
a Deus!!!! – Eu seguro a gargalhada ao notar Beatriz medindo as palavras da
mãe.
Essa minha sogra é esperta!
– Fique deitado! Vou abrir a porta. – Dita os comandos e eu obedeço.
Ela coloca Simba em sua caminha que está grudada à cama, pega nossas
roupas e esconde embaixo da coberta, veste um roupão e vai até a porta
cautelosamente.
Assim que abre, minha mãe e Mariana adentram ao quarto
abruptamente.
– Ainda bem que você está aqui Bernardo, juro que pensei que você
estava aprontando! São oito da manhã e você deveria estar indo para o
trabalho. Te liguei centenas de vezes e você não atendeu. – Minha mãe é a
primeira a falar, enquanto Mariana, vestida com um pijama cômico da Hello
Kitty, observa o chão atentamente. Quando penso que ela está prestando
atenção no gato, ela me surpreende.
Mariana caminha até ao meu lado e abaixa para pegar algo. Em seguida,
se levanta com a minha cueca na mão e me deixa completamente
constrangido. Não acredito que Beatriz esqueceu de esconder o detalhe
principal.
– Bernardo, você está sem cueca? O que está acontecendo com você?
Que falta de respeito!!!!!! – Minha mãe parece horrorizada. – Desculpe por
isso, Mariana. – Tadinha, está constrangida, mas Mariana parece não ligar,
pois joga a cueca para mim e eu visto como se tivesse num reality show.
– Liz, eles são jovens, eu prefiro que eles façam esse tipo de coisa na
segurança do nosso lar. Não gosto de pensar neles em carros, escadarias,
elevadores, lugares públicos. – Beatriz começa a tossir, engasgando-se
provavelmente com o vento e eu seguro o riso novamente.
– Queria ter essa mente aberta. – Minha mãe comenta mais para ela
mesma do que para nós.
– Eu já tive essas aventuras de jovens apaixonados, é uma fase que todos
nós devemos passar, sabe? Só Arthur que não ficaria satisfeito, mas vou
propor que vocês possam ter um namoro a moda século vinte e um. – Ela se
abaixa e pega Simba no colo como se fosse um bebê, me deixando com a
certeza de que essa família é completamente louca.
– Bom, eu peço desculpas Mariana, mas é que eu e Beatriz estávamos
com saudade de dormir juntos. – Explico, e ela abre a boca em choque. – Não
sexualmente...
– Nós não transamos aqui, ainda. – Beatriz diz de forma simples e minha
mãe ri.
– O “ainda” foi ótimo, Beatriz. Ai meu Deus, nossos filhos transam! –
Dona Eliza, dramática como sempre. – Em breve, eles estarão casando e nós
seremos avós, tem ideia disso? – Ela diz para Mariana.
– Ei, calma aí, acabamos de começar um namoro. – Eu digo, tentando
colocar um pouco de sanidade e realidade na mente das duas.
– Vocês têm ideia de que estão nos constrangendo? – Beatriz pergunta
com a mão na cintura, encarando nossas mães.
– É, provavelmente. Bom, só somos duas mães preocupadas. Se
recomponham e venham tomar café em família. – Mariana convida, sorrindo.
Enquanto ela coloca Simba na cama, a porta se abre, atraindo nossa atenção.
– Não é possível que isso está acontecendo! – Digo, ao avistar Matheus
entrando no quarto seguido de Jéssica.
– Uai, está liberado? Se ela pode eu também posso, só digo isso! – O
meu CUnhado diz.
– Vaza pirralho! – Beatriz ordena.
– Bia, que isso hein novinha! Mal entrou na brincadeira e já está
sentando no playground. – A louca da Jéssica diz entre gargalhadas, mas se
arrepende logo em seguida ao ver que eu não estou achando o mínimo de
graça.
– Filho, você não está vendo nada, é tudo uma miragem até que eu
converse com seu pai. – Mariana informa e eu já não estou mais entendendo
porra nenhuma desse diálogo louco, já nem sei em quem devo prestar
atenção! Olho para Beatriz e ela está me encarando com uma cara
completamente constrangida pela situação, mas Matheus atrai sua atenção e
fúria.
– Agora você está nas minhas mãos, maninha! – Ele anuncia rindo e ela
joga um travesseiro na cara dele. Quando ameaça enforcá-lo com as mãos, é
contida por Mariana sob o olhar observador de dona Eliza, que deve estar
ligeiramente assustada. Pois é mãe, eles são loucos. Bem-vinda a selva.
– Matheus, se você quer ter sua mesada, eu aconselho que se finja de
morto. – Mariana ameaça.
– Vocês só ameaçam minha mesada, isso já está ficando batido,
mamãezinha.
– Até hoje só ameaçamos, talvez esteja na hora de agirmos. – Ele sai do
quarto, levantando as mãos e rindo.
– Vamos Eliza, aguardamos vocês lá em baixo e nada de rapidinhas
matinais.
BEATRIZ

– ...e nada de rapidinhas matinais. – Minha mãe louca fecha a porta do


quarto. Olho para Bernardo e o vejo com o travesseiro na cabeça, tapando
suas risadas.
Seria muito cômico se não fosse trágico e constrangedor.
– Sua família daria um belo filme! É muita gente louca reunida. Isso é
contagiante. – Ele diz, rindo, e eu fecho a cara. – Não fica emburradinha,
vem aqui e vamos acordar direito. – Diz, batendo na cama, e eu cedo. Retiro
o roupão e ele me encara descaradamente antes de eu entrar embaixo da
coberta.
Ele me puxa e me beija delicadamente. Em seguida, se afasta e me
encara sorrindo.
– Bom dia, minha garotinha linda. – Diz tão docilmente que eu derreto
em seus braços.
– Bom dia meu... ursinho.
– Ursinho? Não pude acordá-la como estava acostumado, mas só de
acordar ao seu lado basta, é tão delicioso quanto... – Diz, se referindo aos dias
que passamos em Nova York, onde ele me acordava com um delicioso sexo
oral. Fico vermelha com a lembrança. Oh! Nova York, daria muitas coisas
para que essa viagem estivesse durando até o dia de hoje.
– Queria ficar o resto do dia aqui juntinho de você, apenas abraçados. –
Digo, já me sentindo carente por nosso momento estar prestes a acabar. Aliás,
quando foi que eu me tornei fofa e extremamente romântica? O que ele fez
comigo? Daqui a pouquinho estarei o chamando de "mor" e falando com voz
de criança. Puta que me pariu! Que diabo é isso de amor? Parece que uma
força maior tomou meu corpo e minha mente.
– Eu também, mas o dever me chama garotinha. Assim que surgir um
feriado prolongado, vou providenciar mais uma viagem. Por enquanto, temos
que nos contentar com mais tempo aos finais de semana. – Ai meu
cordeirinho, ele é fofo demais, porra!
– Sim sim. – Respondo, me sentindo melosa demais. Te amo, cara!
– Bom, vamos nos arrumar antes que seu pai apareça e destrua meu
brinquedinho que te faz feliz. Por favor, tome cuidado com a roupa que vai
vestir, você está realmente toda fodida.
– Eu sei que sim, bem fodida mesmo. – Respondo, sorrindo com a
minha cara mais angelical, e ele balança a cabeça.
– Você entendeu o que eu quis dizer.
– Sim. – Bê se levanta e começa a vestir o restante das roupas. Juro que
não sinto o mínimo vontade de sair do aconchego da minha cama, mas sou
puxada pelos braços e ele espera até que eu encontre uma roupa mais
comportada que esconda meu pescoço. Por sorte, tenho muitas blusas de
gola de alta.
Depois de muito relutar, descemos para tomar o café da manhã em
família e paramos alguns degraus antes ao ouvir nossas mães planejando
nosso futuro.
– Eu vou contar com você para me adequar a essa situação, Mari. Você
é mente aberta. Também quero que eles possam dormir na minha casa, achei
muito interessante o que você disse sobre eles estarem sob o nosso teto, em
completa segurança. – Eliza discute seriamente.
– Arthur é ciumento e protetor, mas tenho meus meios de convencê-lo.
Basta uma conversa esclarecedora e ele vai entender bem meu ponto. Acho
que é a forma correta que devemos lidar com filhos jovens. Proibições só
causam problemas desnecessários.
– Oh, será ainda mais difícil quando for a vez da minha Victória. Ainda
bem que ela é inocente demais. – Eliza diz e ouço Matheus engasgar no
mesmo momento. O que será que esse fedelho tem feito com Victória?
Merda! Volto o foco ao meu coisa linda e tento ver o que ele pensa dos
últimos acontecimentos.
– O que você acha de toda essa loucura? – Pergunto baixinho a
Bernardo.
– Eu acho que vou alugar um apartamento, definitivamente. – Diz sério
e depois sorri.
– É tão ruim que sejamos tão jovens e dependentes. Mesmo que elas
estejam discutindo isso com normalidade e pensando num bem comum, é
meio estranho.
– Eu acho que parece mais estranho do que realmente é, pelo fato de
sermos completamente inexperientes em relacionamentos. Geralmente, eu
acredito que os pais tenham essa conversa sem que os filhos possam estar
presentes, mas esse não é nosso caso. Sua mãe é muito aberta e eu admiro
isso. Namorados namoram em casa, convivem em família, é assim. Elas estão
abordando o que presenciaram e certamente é algo que acontecerá sempre. O
melhor é que todos estejam de acordo com isso, porque se depender de mim,
nós vamos dormir juntos muitos e muitos dias na semana. Caramba Beatriz,
nunca me imaginei querendo algo desse tipo, o que está fazendo comigo? –
Questiona, como se tivesse perdido, e sorrio por me questionar a mesma
coisa.
– Eu quem tenho que fazer essa pergunta, Bê.
A campainha toca e nós dois quase caímos da escada.
Terminamos de descer e Victória entra. Eu sinto que é o fim do mundo e
que estou vendo o que sempre achei que nunca veria. Matheus, como um
cavalheiro, se levanta da mesa e puxa uma cadeira para que ela se sente. É o
apocalipse!!!! O mais engraçado é a cara que minha mãe está olhando para
ele, como se não estivesse acreditando e completamente desconfiada de suas
nobres atitudes.
– É, está na hora de enfrentarmos a loucura. Preparado? – Digo, e ele
sorri.
– Sempre preparado.
MARIANA

É fim da tarde e eu estou em meu escritório (uma parte do apartamento


que foi transformada no meu cantinho) projetando a faculdade, um presente
meu e de Arthur para a fundação de Bernardo e Eliza. Um dos momentos que
mais curto em minha vida é quando surge algum megaprojeto onde me
distraio por completo, como se estivesse brincando daqueles joguinhos de
construção.
Me distraio tanto, que quando olho para frente, vejo Beatriz sentada me
encarando.
– Uau, nem vi que estava aqui, filha. – Digo e noto que ela está com um
carinha confusa. Beatriz está passando por várias mudanças em sua vida e eu
estou passando junto, acompanhando tudo que posso na medida do possível,
sem que invada muito o território dela. Sei o que é ter 18 anos, sei o que é ter
um primeiro namorado e perder a virgindade. Por isso, tento ser a melhor
mãe e melhor amiga para ela.
Ser mãe de adolescente é muito mais complicado do que se pode
imaginar, mas incrivelmente acho que eu e Arthur sabemos lidar bem com
essa fase, tanto com Matheus quanto com Beatriz.
– Mãe, preciso de você. – Ela diz emburrada e eu começo a me
preocupar.
– O que está acontecendo?
– Eu preciso me sentir independente, preciso decidir uma faculdade,
preciso trabalhar. – Sorrio, porque sei exatamente o motivo dela estar se
sentindo dessa maneira, se cobrando tanto.
Beatriz está namorando com um garoto maravilhoso. Porém, ele é o
oposto dela, muito comprometido com a carreira e os objetivos,
precocemente a meu ver. Imagino que, por ele ser um pouco mais
independente, ela esteja se cobrando absurdamente por ser completamente
dependente. Oh meu Deus! Minha bebê está crescendo. Isso é meio
desesperador.
– Vamos com calma, filha. Em todas essas coisas que você acabou de
falar, só vejo uma grande importância em uma delas, que é a faculdade. O
resto você pode ir com calma. – Informo.
– Não mãe, você não está entendendo.
– Eu estou entendendo sim, Beatriz. Por que precisa tanto de
independência? Você acabou de completar 18 anos e tem uma família que te
dá toda estabilidade. Quanto a trabalhar, você precisa ter um foco numa
profissão, precisa estudar sobre ela, precisa se empenhar. Você está se
cobrando muito. – Argumento.
– Mãe, mas Bernardo já pode até morar sozinho. – Está vendo? Mãe
sabe exatamente das coisas, tanto que até me pego sorrindo e ganho uma cara
feia dela.
– Beatriz, pelo pouco que conheci dele, vi que é um garoto maduro
demais, isso não quer dizer que você tenha que ser também. Vá com
calma, vocês começaram a namorar recentemente, dê um passo de cada vez.
Você já vai começar a tirar habilitação, se tudo der certo vai escolher uma
faculdade e por aí vai. O crescimento é aos poucos, filha. Não se espelhe em
Bernardo, você é você e ele é ele. E pelo que Liz disse, ele começou muito
cedo. Você só concluiu o ensino médio há pouco tempo, ainda está de férias.
Respeite seu tempo, não se cobre tanto, não seja tão exigente consigo mesma.
– Eu me sinto diminuída. – Confessa, e joga a cabeça sobre a mesa.
Só consigo me lembrar que nessa idade eu estava começando a
faculdade e curtindo a vida sem pressão. Não sei se devo me preocupar com
essa mudança tão repentina dela, ou se é realmente normal.
– Você está de brincadeira, só pode. Beatriz, vocês são jovens, vá
apreciar a fase do namoro, filha, é tão bom namorar, ter aquela expectativa de
passar os finais de semana juntos, sair para jantar fora. Aproveite essa fase
sem que ela invada o resto dos seus projetos. – Aconselho.
– Eu não sei o que devo estudar.
– Olha, você pode estudar o que quiser, eu e seu pai nunca te cobramos
nada. Você tem um advogado e uma arquiteta em casa, já sabe como são
essas profissões, tem muitos métodos de você conhecer outras e ver qual se
encaixa melhor ao seu gosto. –Digo e penso em Matheus que, desde pequeno,
já sabe que quer seguir a profissão do pai. Tão diferentes meus filhotes...
Cada um à sua maneira. Eu e Arthur, quando olhamos para eles, nos
enchemos de orgulho pelo nosso feito. Matheus já é um advogado perfeito
antes mesmo de estar na faculdade.
– Eu acho que gosto mais de arquitetura do que de ficar envolvida num
monte de processos penais. – Diz, e a vejo sorrir pela primeira vez desde que
entrou aqui. Mas, na verdade, não a vejo como arquiteta, e sim como
advogada. Ela e Matheus nasceram para isso, mesmo que eu não vá falar. Ela
precisa descobrir por si só, sem pressão.
– Olha, estou trabalhando no projeto da faculdade da fundação dos seus
sogrinhos, se quiser pode me acompanhar e ver como é tudo. – Sugiro,
tentando buscar uma alternativa e um incentivo.
– Eu não sabia que você faria isso, mãe, que incrível, por que não me
contou?
– Você viajou, filha, e eu e seu pai estamos envolvidos nisso, mas não
lembramos de comentar. Eles iriam pagar uma pequena fortuna pelo projeto à
uma empresa, e como eu sou a profissional que eles precisam, ofereci
gentilmente como uma forma de ajudá-los.
– Você é incrível, queria ser assim, igual a você. – Suspira. – Você faz
parecer tudo tão fácil, mãe.
– Não se iluda, Beatriz, estou no auge dos quarenta anos e é óbvio que
algumas coisas ficam mais fáceis. Já tenho toda minha vida estabilizada, um
marido perfeito, filhos criados. Você só está começando a viver, filha, não
tem que colocar tanta cobrança em si mesma. Você é muito mais privilegiada
do que muitos jovens. Tem ideia de quantos jovens que completam 18 anos
têm que trabalhar para ajudar em casa ou até mesmo conseguir fazer uma
faculdade ou curso profissionalizante? Você não precisa disso, graças a Deus,
então seja mais razoável consigo mesma. Seja mais leve.
– Obrigada, mãe, você sempre sabe me falar as coisas certas. – Agradece
e eu me levanto, indo até ela. Dou um abraço na minha pequena que está
passando pela fase punk da vida. Isso é engraçado. Imagino a confusão em
sua cabecinha.
– Eu amo você, estarei por você a qualquer momento que precise.
– Eu sei, sou uma garota de sorte por ter os melhores pais. – Diz, e
seguro as lágrimas. Eu me surpreendo a cada vez que um deles diz algo
assim. É gratificante, consigo ver que estou fazendo a coisa certa e jamais
imaginei que seria a mulher que sou hoje. Ainda não acredito em tudo que eu
e Arthur construímos juntos. – Mãe, eu vou ali...
– Ali?
– É, Bernardo me chamou para assistir um filme na casa dele. – Me
afasto e a encaro. Os olhinhos brilhando e o rosto corado entregam
exatamente o "filme" que ela está indo ver. Dá um pouco de ciúme de ver
minha menina já fazendo o que eu e o pai dela tanto fazemos, mas preciso
deixá-la viver tudo que há para viver, faz parte da vida. Parte do seu
crescimento e amadurecimento.
– Ok, só não vai dormir "ali". Seu pai deve estar chegando e ele
provavelmente vai querer vê-la hoje. Não que eu queira ser estraga prazer,
mas seu pai tem sentido sua falta. – Digo, e ela sorri.
– Pode deixar. – Me dá um beijo e sai pulando saltitado. Ah o amor...
Eles passaram a noite juntos e não conseguem ficar distantes nem por 24
horas, incrível!
Vou até o notebook e não tenho mais atenção para trabalhar. Sorrio
sozinha vendo o plano de fundo com uma foto onde estamos eu, meu lindo
marido e nossos dois filhos correndo na praia. Fico um pouco sentida, porque
Jéssica quase nunca está conosco nas viagens, por escolha própria. Ela já é
uma mulher feita, tem sua vidinha, seus casos, então ela sempre nos troca.
Me perco alguns longos minutos observando o quão felizes somos e, quando
verifico o relógio, percebo que meu marido está prestes a chegar e estou
morrendo de saudade.
Saio do escritório e encontro Matheus brigando com Jéssica na sala, isso
nunca vai mudar.
– O que está acontecendo aqui? – Pergunto.
– Esse peste me perturbando, vou descer, tia Mari, qualquer coisa me
chama. – Jéssica sai, indo para o apartamento dos meus pais onde ela está
morando. Olho para Matheus e ele dá de ombros, rindo.
– Matheus, pode parar ok? Você só se tem 17 anos, deixa Jéssica em
paz.
– Ok, dona Mari gostosona, eu vou ali... – Ele diz e eu arqueio a
sobrancelha. Hoje é a noite do vou ali?
– Onde? Com quem? Não saia do condomínio!
– Vou assistir um filme com Victória no cinema do prédio. – Informa,
sorrindo, e eu balanço a cabeça.
– Perfeito, se você brincar com essa garota eu mesma vou chutar suas
bolas, está escutando? A menina é filha dos nossos vizinhos, que são pessoas
íntegras e bondosas. Ela é uma menina quieta.
– Mãe, quieto sou eu perto dela. Você não faz ideia não, mãe... – Ele
diz, me deixando assustada. – Só digo isso, sou um anjo perto dela. Victória
é... sinistra!
– Como assim?
– Nem te conto. – Ele ri com carinha de cafajeste. Ele é muito Arthur
Albuquerque... –Vic é quente!
– Quente vai ficar sua bunda na hora que eu te encher de porrada! Agora
vá e tenha juízo.
– Quem está indo onde? – Arthur entra em casa com o cabelo
bagunçado, gravata frouxa e joga sua pasta na mesa.
– Estou indo ali assistir um filme, pai. Mais tarde estou de volta. –
Matheus dá um abraço nele, que me olha com um sorriso no rosto.
– E Beatriz? – Ele pergunta.
– Beatriz também foi um assistir um filme. – Respondo assim que
Matheus sai, e sorrio de um jeito que ele já conhece perfeitamente. É hora do
show! – Então somos só eu e você. – Digo, e ele me surpreende ao retirar a
camisa e abrir a calça, mostrando que já estava preparado muito antes de
mim. Ele vem se aproximando, retira o cinto de uma só vez e o segura como
se fosse me dar uma surra de cinto.
– Sabe, o som estava ligado na rádio, acho que era “FM O DIA”, e
escutei uma música que lembrei de você. – Diz, sorrindo.
– Que música?
– Não entendi a letra direito, mas estou falando de uma parte específica.
– Qual parte? – Arqueio a sobrancelha.
– É assim... Vai toma sua gostosa, vai toma. – Diz, me fazendo rir.
– Isso é um funk, Arthur?
– Sim. Agora você vai tomar, gostosa! Eu estava louco de saudade. –
Me pega no colo (sem soltar o maldito cinto da mão) e enrolo minhas pernas
em volta dele. É por isso que vivo de vestido, nunca se sabe a hora que
Arthur vai dar uma crise de ferocidade sexual.
– O que te deu para chegar em casa nesse fogo todo, tutu?
– Passei o dia pensando em te foder e fazer nosso terceiro filho. Hoje é o
dia mais propício para você engravidar, vi na tabelinha do aplicativo que a
médica passou. Não vou sair de dentro de você a noite toda, gostosa. Vou
gozar gostoso em você várias vezes e você vai gostar de como vou te comer
forte. – Diz, fazendo meu coração acelerar e meu sangue ferver. Quando foi
que ele baixou um aplicativo que regula meu período fértil???
Arthur não vai sossegar enquanto não plantar mais uma sementinha em
mim, e estou preparada, porque isso significa que estaremos fazendo sexo em
todos os momentos disponíveis. Aliás, ter filhos adolescentes têm suas
vantagens.
– Vai me bater com esse cinto? – Pergunto, enquanto ele nos leva ao
quarto.
– Só se você for uma menina malvada.
– Sabe, eu comprei umas coisinhas...
– Que coisinhas, Mariana? – Pergunta, sorrindo.
– Um gelzinho quente e um egg.
– Que diabo é um egg? Espero que seja para enfiar no seu...
– Não é para enfiar em lugar algum, Arthur, é para te dar prazer.
– Me dar prazer? E você? Só tenho prazer te dando prazer. – Ele
pergunta desconfiado e eu sorrio.

(Para quem não conhece, os famosos Eggs que viraram sensação têm
esses formatos por dentro. São feitos para masturbação masculina, mas pode
ser usada para feminina também. Parece pequeno, mas ele se estica por todo
o comprimento do parceiro. Para o casal, um uso interessante é deixar a
parceira masturbar. Por conta da alta estimulação da textura do Tenga, a
sensação de prazer é incrementada pela falta de controle da pressão da mão,
velocidade e pelos diferentes tipos de texturas.)
– Relaxa Tutu, vou ter muito prazer te dando prazer e depois você vai
saber direitinho retribuir. – Digo, indo até minha bolsa pegar os
brinquedinhos enquanto ele se joga na cama completamente nu, me
aguardando.
Retiro minha roupa e o vejo tocando seu membro. Vinte anos se
passaram e eu me sinto da mesma maneira quando ele faz isso. Me posiciono
entre suas pernas e pego o pequeno ovo.
– Olha, se depois de todos esses anos juntos você vier enfiar algo em
lugares inapropriados, nós vamos nos divorciar! – Ameaça receoso, porém,
brincando. Quando abro o ovo, ele começa a rir. – Isso é para o meu pau?
Mari, mal vai caber a cabeça dentro disso.
– Arthur, fica caladinho que isso estica, vai caber tudinho, ou quase
tudo. – Explico, e ele morde o lábio aguardando.
Rasgo a embalagem do sachê de lubrificante e despejo dentro. Em
seguida, começo a trabalhar, deslizando o masturbador em sua extensão, e já
vejo resultados ao vê-lo gemer assustado com a sensação. Assim que desço
até o limite, começo a masturbá-lo lentamente e ele se torna um homem
violento, incapaz de conter as sensações só para si.
– Porra, isso é diferente. – Ele puxa meus cabelos com força e agarra o
lençol de maneira que seus dedos quase perdem a cor.
Vou movendo minha mão delicadamente de cima para baixo, ora
aumentando o ritmo ora diminuindo. Até que Arthur enlouquece e me
empurra fazendo com que eu pare o ato. Caio de barriga para cima na cama e
assim permaneço enquanto o vejo retirando o masturbador de seu membro
um tanto quanto irado e veloz. Ele se ajeita entre minhas pernas e me penetra
duramente num ritmo descontrolado, me fazendo uivar.
– Masturbador nenhum chega perto da sensação que é estar dentro de
você, Mariana, entende?
– Aham.
– Não vou gozar em brinquedinho, vou gozar na minha mulher e vou
fazê-la gozar junto. – Anuncia.
– Homem das cavernas. – Digo, e ele dá um tapa na minha cara, seguido
de um puxão de cabelo, que me faz tirar forças do universo para virá-lo e
ficar por cima dele.
Cavalgo no meu homem até que estejamos desintegrando juntos,
completamente saciados.

Minutos depois, após tomarmos banho, estamos estirados na cama


falando sobre coisas do trabalho. Usando minha psicologia pós sexo, me sinto
à vontade para tocar no assunto Beatriz e Matheus. Matheus sim, porque
nunca dei mais para um filho e menos para o outro. Se Beatriz tem regalias,
meu caçula também tem que ter.
– Queria conversar algo delicado sobre as crianças com você, amor.
– O que está havendo? – Ele pergunta, já atencioso a conversa.
– Sabemos que eles já mantêm suas vidas sexuais ativas. – Digo,
levando a conversa aos poucos. Essa é a melhor forma de tratar assuntos
delicados com Arthur, aprendi com os anos.
– Infelizmente.
– Felizmente nós somos privilegiados, Arthur, poucos contam esse tipo
de coisa aos pais.
– É difícil saber que minha princesinha está... porra, nem gosto de falar.
– Diz, ficando tenso.
– Mas uma hora ou outra isso aconteceria, ao menos foi com um rapaz
legal e nós ficamos sabendo.
– Pelo menos isso. – Responde, emburrado, e quase sorrio ao ver a
carranca que se forma em seu lindo rosto quando o assunto é Beatriz.
– Então, você gostaria que sua filha ficasse se aventurando em motéis,
carro, ou Deus sabe lá onde?
– Eu mataria aquele moleque se ele ousasse expor minha filha!
– Então eu sugiro que eles tenham a liberdade de dormirem juntos,
embaixo do nosso teto, Arthur. – Solto a bomba de uma vez.
– Como assim? Eu nunca vou me recuperar se ouvir Beatriz gemendo ou
transando, Mariana!
– Arthur, isso cabe a Matheus também quando ele arrumar uma garota
séria, obviamente, senão nossa casa vai virar um puteiro com tantas
mulheres. Enfim, nós precisamos permitir que eles possam dormir juntos com
os respectivos parceiros em nossa casa, é mais seguro, está tudo tão perigoso.
Estamos em pleno século vinte e um, acho que não temos que ter tanto tabu
em relação a isso. – Ele me encara atentamente.
– Eu preciso pensar sobre isso, desculpe, mas é difícil.
– Então pense, mas pense com a razão. Eu jamais iria sugerir algo que
fosse contra a moral da nossa família. – Digo e, enfim, o vejo sorrir.
– Você é maravilhosa, já te disse isso hoje? – Agora, mais relaxado, ele
me puxa ainda mais para seus braços.
– Você que é, Arthur, mesmo sendo um marido ciumento e um pai mega
ciumento.
– Protetor, não ciumento. Vocês são as mulheres da minha vida, Mari, e
Beatriz sempre vai ser minha princesinha, sempre.
– É difícil vê-los crescendo. Matheus é um homem já, maior que eu, e
Bia virou uma mulher linda. Aquela garotinha de maria chiquinha agora
cresceu. Eles são tão lindos, Arthur, e tão parecidos com você. Eu tenho tanto
orgulho disso. – Digo, emotiva.
– Será que meu esperma superpotente já está fazendo efeito? Está
sentimental.
– Não estou. Estou apenas fazendo análise dos últimos anos, de todas as
mudanças e conquistas, e estou vendo uma nova Beatriz nascer. Ela está tão
perdida nessa nova fase. Hoje ela me disse que quer ser independente.
– Ela nunca precisou se esforçar para nada, Mari, e está namorando com
um garoto que, mesmo sendo de uma família rica, é muito batalhador. É
normal que ela se sinta dessa forma, mas tenho certeza que vamos saber guiá-
la e aconselhá-la, principalmente você. Agora, quero te foder de quatro. – Me
surpreende como sempre, levando o assunto a outros extremos, os extremos
que nós mais dominamos.
BERNARDO

Dias depois...

Termino de arrumar minha mochila e fico a encarando por longos


minutos, tentando entender o que de fato estou fazendo.
Enquanto todos estão aplaudindo minha decisão, só tenho uma certeza:
estou no olho do tornado. Voltar a faculdade não estava nos meus planos,
mas também não estava nos planos arrumar uma namorada diabólica que fez
o possível e impossível, apelou para todos os tipos de chantagem para que eu
voltasse para a faculdade com a desculpa de acompanhá-la. Ela, enfim,
decidiu cursar Direito, logo ela que é tão fora da lei.
No período passado, após estar muito envolvido com a empresa, decidi
trancar minha matrícula contra vontade dos meus pais. E, há uma semana,
Beatriz virou a nora dos sonhos quando deu a notícia de que havia me
induzido a voltar. Enquanto todos acharam sua atitude admirável, eu me
contorci de vontade de contar como foi que ela me convenceu e tudo que
passamos nos últimos dias. Tenho que parabenizá-la por seu esforço
descomunal!
Beatriz rebolou em todos os sentidos, fez com que quase batêssemos de
carro, ficou escondida embaixo da minha mesa enquanto eu discutia um
contrato milionário, quase fomos pegos pela polícia dentro do carro, prendeu
o zíper da minha calça em minha cueca, fazendo com que eu quase perdesse
meu precioso órgão sexual, fez com que eu ficasse de pau duro num jantar
entre nossas duas famílias, onde Arthur sugeriu que eu me levantasse para
pegar um vinho, fez com que fizéssemos sexo no banheiro do shopping, se
fantasiou de colegial e pulou o maldito muro baixo que separa nossas casas
para me atacar em meu quarto, me mandou nudes enquanto eu estava
jantando com meus pais e irmãos, fez com que eu mandasse a foto da porra
do meu pau pra ela e, por fim, encheu todo meu corpo de chupões
avassaladores de forma que eu não consegui vestir uma maldita camiseta nos
últimos dias!
Para compensar toda essa ferocidade e sede por minha companhia na
faculdade, ela tem me deixado maravilhado com as visitas aos abrigos e está
grudada com o bebezinho de 4 meses que foi achado há 1 mês atrás na porta
de um dos abrigos. Ou seja, estou no auge do amor eterno amém e no auge do
esfolamento do pau! Nunca achei que falaria isso um dia mas, por sorte,
minha garotinha está naqueles dias e estou podendo descansar desde ontem (o
que é excelente, já que estaremos indo passar o final de semana na casa de
praia dos pais dela e meu pau será requisitado ao extremo), e nem passa pela
minha mente exigir a porta dos fundos dela porque sinceramente acho que ela
pode topar e meu pau merece um descanso. Eu juro que sou inocente, juro
que não queria ter um relacionamento baseado em sexo! A menina teve o
dom de me laçar até as bolas, mudar todos os meus planos e agora estou indo
encontrá-la no hall para irmos ao primeiro dia de aula.
Assim que me despeço de todos, vou até ao apartamento da Beatriz.
Antes mesmo de tocar a campainha, sou surpreendido por ela abrindo a
porta.
– Uau, que loira mais gata! – Digo, analisando-a, e ela sorri, fazendo
uma detalhada avaliação sobre mim.
– Uau, homão da porra do caralho!!! – Diz, me fazendo rir e, em
seguida, me analisa novamente. – Não gosto da sua camisa. – Informa,
mudando de humor. Eu me pergunto o motivo, a causa ou circunstância para
ela não gostar.
– O que tem de errado com ela? – Pergunto, olhando para minha camisa
cinza clara de mangas compridas que não combinam nada com o clima
tropical do Rio de Janeiro. Porém, é necessária para cobrir alguns estragos.
– Ela marca seus músculos, seu braço fica em evidência total e eu amo,
absolutamente amo quando veste camisas claras.
– Está com ciúmes, Beatriz? – Pergunto, sorrindo e mexendo em uma
mecha de seu cabelo.
– Eu? Jamais! Vamos?
– Ok, sim senhora madame. – Aceno para Mariana, que está jogada em
um dos sofás comendo algo num pote. Ela se levanta rapidamente e vem até a
porta.
– Desculpa, genrinho, o pote de brigadeiro estava irresistível. – Sorri e
se vira para filha. – Se comporte na faculdade e boa aula, filha. Boa sorte
nessa nova fase, estou orgulhosa de você. Cuide dela, Bernardo.
– Pode deixar que estarei de olho nessa garotinha. – Informo, abraçando
minha garota.
– Por que me tratam como se eu fosse uma criança? – Beatriz protesta.
– Se te serve de consolo, minha mãe acabou de fazer o mesmo comigo.
– Digo, rindo, e nos despedimos da minha sogra.
Mesmo a faculdade sendo a poucos metros do condomínio, decidimos ir
de carro.
Assim que adentramos ao campus, caminhamos juntos até o longo
corredor onde ficam as salas de aula. Levo Beatriz até a porta da sala dela e,
antes de entrar, sou surpreendido com suas palavras:
– Bom, temos algumas regras.
– Regras? – Pergunto, rindo.
– Nada de ficar de mimimi com amiguinhas, nada de usar roupas que
mostrem o quão gostoso você é, seus intervalos devem ser dedicados a mim...
– Contanto que isso sirva para você também, eu estou de acordo.
– Ótimo, Bernardo, eu acho realmente ótimo.
– Ótimo, ciumentinha. Boa aula, minha garotinha, e boa sorte nesse
novo ciclo que se inicia. Amodoro você.
– Obrigada, eu amodoro você também. – Diz, me fazendo sorrir. – Ah,
esqueci de uma regra, seu sorriso com covinhas deve ser reservado para mim
e apenas para mim.
– Eu não tenho como controlar minhas covinhas, mas meus melhores
sorrisos são seus. – Digo e, após um beijo delicado, caminho até a minha
sala.
BEATRIZ

Entro na sala de aula e só há três alunos, e os três parecem


extremamente nerds. Após cumprimentá-los, vou em busca do lugar perfeito
ao fundo da sala. Pego meu caderno e uma caneta e deposito sobre a mesa.
Eu tenho toc de organização do material escolar, sempre tive. Pego uma lixa
de unha, cruzo as pernas e aguardo os acontecimentos. Aos poucos, mais
pessoas vão chegando e eu sorrio simpaticamente a todos.
De repente, a porta se abre e entram 3 homens saídos diretamente do
inferno para torturar mulheres comprometidas. Um deles para na mesa do
professor e os outros dois se encaminham para o fundo da sala. Cumprimento
como cumprimentei todos, com um sorriso, e eles sorriem de volta, fazendo
minha Bia interior dar três socos no meu estômago.
Olho para frente e o terceiro homão da porra está sentado na mesa do
professor, organizando alguma coisa, e quando penso que ele é o assistente
ou qualquer merda do tipo, ele se levanta, sorri e fala o mais improvável:
– Boa noite, sejam bem-vindos. Meu nome é Pedro e sou o professor de
Direito Civil. Estaremos juntos até o oitavo período. – Informa, e eu quase
grito um puta que pariu! Ele é tão jovem. Quando vejo, já estou com braço
levantado e ele está me encarando.
– Pois não, senhorita. – Diz, e eu balanço a cabeça quando vejo todos
olhares direcionados a mim.
– Desculpe, mas acredito que todos aqui estejam com a mesma
curiosidade que eu, qual sua idade, professor? – Pergunto sem um pingo de
vergonha.
– 34 anos, sou formado em Direito, doutor em Direito Cível e Processo
Cível.
– Ok, obrigada.
– A seu dispor. – Ele responde, piscando um olho para mim. Sorrio sem
graça. – Mais alguém com alguma dúvida? – Pergunta ao restante da turma,
enquanto eu pego meu celular onde uma foto minha com meu lindo
namorado está no plano de fundo, trazendo de volta meu foco.
Bernardo é o grande responsável por eu estar aqui hoje, meu grande
incentivador direta e indiretamente. Meu namorado é um exemplo de homem
e eu quero ser tão grande quanto ele é. Não escondo mais o quão apaixonada
estou e quanto ele conseguiu me mudar em tão pouco tempo. Ele é firme nas
decisões, dinâmico, centrado, inteligente, surpreendente... Bernardo já é dono
de si, independente e tem toda sua vida organizada, exceto quando se trata de
mim. Nosso namoro tem sido uma louca aventura, uma curva fora da estrada
que parecia ser tão certa, sem buracos e com uma belíssima paisagem. Nosso
relacionamento definitivamente não constava no gps de Bernardo e
felizmente teve que ser incluso. Eu cheguei para bagunçar um pouco sua vida
certinha, trazendo um pouco de leveza e um bocado de adrenalina. Assim
como ele chegou para trazer um pouco de maturidade, responsabilidade e
juízo para mim. Somos opostos que definitivamente se encaixam de alguma
maneira. Consequentemente, trouxemos um pouco de possessividade, ciúme
e mais alguns sentimentos diferenciados um ao outro, e eu me tornei a
tempestade disfarçada de calmaria.
Eu tenho transbordado demais... sou assim. Bernardo trouxe à tona um
lado meu que desconhecia, o lado apaixonado, aquele lado onde eu quero dar
o melhor de mim a ele, e ele tem conseguido o melhor de mim.
Um leve tapa em minha mesa quase me faz ter um troço, desviando
minha atenção da foto para um papel em minha mesa. Olho para o lado e o
garoto está sorrindo para mim.
– É para assinar seu nome e colocar o número do WhatsApp. – Ele diz,
ao perceber minha cara interrogativa.
– Para que?
– O professor pediu para poder mandar conteúdo.
– Ah sim, obrigada. – Respondo e escrevo tudo no papel. – Falta alguém
para assinar? Estava distraída. – Pergunto baixinho e o garoto sorri.
– Não, você foi a última. A propósito, qual seu nome? – Ele pergunta.
– Beatriz, e o seu?
– Matheus. – Diz, pegando a lista da minha mão e caminha até a mesa
do professor para entregá-la. Lanço um sorriso em agradecimento quando ele
volta e, finalmente, começo a prestar atenção no conteúdo passado pelo
professor durante 2 aulas seguidas. Quando finalmente ele acaba e se retira da
sala, pego minha bolsa e vou atrás de Bernardo.
Encontro-o parado conversando com uma mulher na faixa dos 40 anos,
completamente deslumbrante, que me faz lembrar que antes de mim
Bernardo só ficava com mulheres como ela. Tento controlar o ciúme
possessivo que surge, porém se esvai completamente ao ver o sorriso que ele
abre ao me ver.
Me aproximo e ele passa um braço pela minha cintura, depositando um
beijo em minha testa.
– Essa é Larissa, minha professora de contabilidade. Professora, essa é
minha namorada, Beatriz. – Ele diz, nos apresentando, e damos um aperto de
mãos. Ela se despede mais que depressa e nos deixa a sós. – Como está sendo
o primeiro dia de aula? – Pergunta, nos levando para algum lugar
desconhecido.
– Interessante, e como está sendo voltar a faculdade com uma professora
bonitona? –Pergunto, e ele ri.
– Bom, não vi nenhuma professora bonitona, e voltar a faculdade está
sendo normal, ao menos por enquanto. Já fez amizades? – Pergunta, curioso.
– Não, só conversei o básico com o professor e um garoto que sentou ao
meu lado.
– Eu estou de olho, Beatriz, saiba disso. – Avisa, me fazendo sorrir,
porém o sorriso morre quando vejo Caio subindo a escadaria a qual estamos
prestes a descer. Sinto meus pés vacilarem e meu sangue sumir. O que ele
está fazendo aqui? Como ele pôde descobrir onde estudo? Não acredito que
ele estava falando sério quando disse que me encontraria. Deus, não pode ser
real! Me apoio no corrimão e um calafrio percorre meu corpo enquanto rezo
internamente para que ele não me veja. – O que foi? –Bernardo pergunta
assustado e eu o puxo para cima de mim. – Beatriz, você está branca.
– Me tira daqui o mais rápido que conseguir. – Imploro.
BERNARDO

– Você já teve isso antes? – Pergunto, enquanto carrego Beatriz para o


carro e ela me lança um olhar assustado, balançando a cabeça negativamente.
– Nunca.
Mil e uma possibilidades começam a surgir na minha mente, entre elas a
hipótese de Beatriz estar grávida. Mesmo que ela esteja nos dias sangrentos,
sei que isso pode ocorrer e de repente sou surpreendido pelo medo que me
invade, não por me tornar pai aos 20, mas pelas consequências que a notícia
pode trazer. Ela só tem 18 anos de idade, começou a faculdade hoje, isso
mudaria todos os planos, o pai dela vai me matar.
– O que foi? – Pergunta, e eu apenas balanço a cabeça, indicando que
não é nada.
Chegamos ao carro e abro a porta para que ela se acomode. Em seguida,
me acomodo e respiro fundo. Preciso de calma e clareza, preciso agir com
racionalidade diante das circunstâncias.
– Para onde vamos? Acho que você precisa de um médico, garotinha.
– Não, só preciso de ar puro. Vamos dar uma volta na praia? – Diz,
abraçando a si mesma e olhando para a escadaria da faculdade.
– O que está acontecendo, Beatriz?
– Por favor, conversamos depois, apenas vamos sair daqui. – Pede,
transtornada, e acabo cedendo. Ficamos longos minutos passeando de carro
pela orla até encontrarmos um lugar que não seja tão deserto esse horário
para estacionar.
– Vamos descer? – Pergunto, e ela me surpreende ao dizer que não. – O
que está havendo? Você está grávida, é isso? Se for, não precisa se
preocupar, Beatriz. Ficarei feliz e vou tomar frente de tudo, por mais jovens
que sejamos, eu sei que podemos.
– Você é louco? – Pergunta, dando uma gargalhada. – Meu pai nos
mataria, Bernardo. Eu não estou grávida. – Explica e balança sua cabeça
como se eu tivesse dito algo impossível. A partir do momento que apenas ela
se previne, a gravidez é uma grande hipótese. Não usamos preservativo... é
uma delícia porra!
– Então me diga o que está acontecendo, você ficou branca como se
tivesse visto uma assombração.
– Você promete ficar calmo? – Pede, pegando minha mão, e eu já fico
receoso.
– Você sabe que sou calmo. – Respondo e ela solta um suspiro.
– Não sei se vai continuar sendo depois que te contar. Bê, eu não quero
perder você, não quero. Eu não amodoro você, eu amo você de verdade. – Ela
diz, fazendo meu coração acelerar e minha mente gritar em alerta com medo
do que está por vir. Se fosse algo banal, ela não diria o que disse. Ela fica
nessa de “amodoro” mas nunca foi capaz de dizer que ama de verdade.
– Eu também amo você, mas por favor, diga o que aconteceu. – Imploro.
– O Caio. – Diz e eu tento me lembrar quem é Caio. Poucos segundos
depois, me recordo da mensagem no celular dela e me dou conta. Solto suas
pequenas mãos e aperto o volante, já esperando o pior.
– O que tem ele? – Questiono.
– Eu o vi.
– Você o viu? Você o viu? – Pergunto, incrédulo. Não acredito que ela
teve a capacidade de encontrar com esse projeto de homem.
– Na faculdade. Eu o vi, Bê. Quando estávamos descendo a escada, ele
estava subindo. Ele não nos viu. – Diz, apressada. – Eu não tenho culpa, você
precisa confiar em mim, eu nunca respondi nada dele, não sei como ele pode
ter achado a faculdade. Não faço a mínima ideia. – Porra, que diabo esse Caio
está fazendo no Rio de Janeiro, mais precisamente na faculdade onde Beatriz
começou a estudar hoje? A raiva me invade por ela não ter dito na hora, mas
tento me controlar diante de sua cara de preocupação.
– Por que não me falou? Por que?
– Porque você iria atrás dele e eu não quero que brigue por minha causa.
Você não é baixo como ele, Bê. Você é educado, gentil... – Argumenta e eu
ligo o carro, não posso deixar isso passar batido, ele precisa saber que Beatriz
agora tem alguém que a proteja em quaisquer circunstâncias. Meus instintos
dizem que tem algo obscuro por trás da vinda dele. – O que está fazendo,
Bernardo? – Ela pergunta, desesperada.
– Estou voltando a faculdade e você vai me mostrar quem é ele. – Digo,
e ela me olha em choque, desorientada.
– Não, Bê, nós não vamos fazer isso. Você não vai fazer isso.
– Eu vou. Só o fato dele ter vindo de Belo Horizonte atrás de você já é
preocupante o suficiente, Beatriz. Ele é perigoso. – Informo se ela ainda não
percebeu.
– E o que você vai fazer? Vai bater nele? Acha que isso vai resolver? –
Grita.
– Eu não vou bater nele, não até que ele se aproxime de você. Merda,
Beatriz, por que não me mostrou na hora? – Digo, socando o volante. Me
sinto irado como nunca me senti antes. Nunca estive numa situação tão
absurda como essa antes.
– Eu fiquei com medo. Eu perdi o controle das minhas ações, Bernardo,
tive medo e só queria fugir dali. – Suas lágrimas me fazem sentir uma dor
aguda no peito. Por um momento, Beatriz parece tão frágil quanto um cristal.
– Você tem foto desse garoto no celular? – Pergunto.
– Tem no face de algumas amigas. – Diz, tentando achar. Pouco depois,
ela me entrega o celular com a foto do indivíduo. Após enviar a foto para o
meu WhatsApp, dou partida e a levo para casa.
BEATRIZ

Bernardo está sério, com o semblante fechado e dirigindo acima da


velocidade. Eu permaneço quieta, porém preocupada por não ter a menor
ideia do que ele fará.
Me surpreendo ao ver que estamos entrando no condomínio e o alívio
me invade. Graças a Deus ele não vai fazer nada, ao menos agora. Porém, ele
para o carro na entrada do prédio e me surpreende ao dizer:
– Desce.
– O que? Como assim?
– Desce, eu preciso resolver isso, Beatriz, por favor, me obedeça ao
menos uma vez na vida. – Diz, impaciente. – Diga aos seus pais que você se
sentiu mal, cólica, sei lá. Vou voltar a faculdade e em seguida venho falar
com você. – Ele destrava a porta e eu demoro a sair, o encarando. Me
aproximo o suficiente para puxá-lo para mim e o beijo.
– Não faça nenhuma besteira.
– Não farei. – Me tranquiliza, dando um beijo em minha testa. Desço do
carro e, assim que bato a porta, ele sai rapidamente.
Entro no prédio e logo no corredor encontro Matheus e Victória, só não
sei quem é quem de tanta pegação. De alguma forma, isso me faz rir ao notar
que eles nem mesmo notaram minha presença.
– Isso que eu chamo de sarrada no ar! – Digo, rindo, e Matheus solta
Vic, que cai de bunda no chão.
– Filho da puta! – Ela grita com ele, que prontamente a pega do chão e
se desculpa.
– Imaginem se meu adorável namorado, vulgo futuro cunhado de
Matheus e seu irmão Vic, tivesse pego essa cena? Juro, eu iria rir três
semanas seguidas até o roxo do seu olho sumir, Matheus. – Digo, rindo,
olhando para eles. Matheus suspira e se vira para Vic, ignorando minha
presença.
– Eu disse que era perigoso. – Eu abro minha boca em espanto ao
perceber que ela quem propôs a pentada violenta no corredor.
– Isso é sério? – Pergunto a ele e ele sorri, bem cafajeste, os dois são um
casal cafajestes.
– Não ouça seu irmão, ele queria tanto quanto eu. Por favor cunhadinha,
não conte para Bernardo. Eu e seu irmão não temos compromisso e nem
pretendemos ter. – Explica, me fazendo rir. Matheus está com as bolas roxas
pela Vic, não sei quem eles querem enganar.
– Só amigos com benefícios?
– Muitos benefícios. – Matheus sorri e Victória dá um tapa na cara dele,
me fazendo tapar minha boca para não gritar em espanto. Porém, o safado ri e
a puxa pelos cabelos. Porra, o que estou fazendo aqui vendo uma cena de
sadismo sexual?
– Que nojo! Podem esperar eu subir? Não esqueçam que tem câmera
aqui! – Aviso, puxando a porta do elevador. – Ah, no cinema do prédio não
tem câmeras. Tchauzinho!
– Nós sabemos. – Victória informa, aumentando meu choque. – Não
podemos ir lá hoje porque está se tornando uma rotina.
– E vocês acham que aqui é o melhor local para fazerem... isso? –
Questiono.
– Não. Vamos na trilha? – Matheus propõe a ela, que sorri. Apenas
balanço minha cabeça e desapareço real.
Meu Deus, será que tinha essa pouca vergonha no prédio antes de
mudarmos para cá? Será que minha família está corrompendo a porra toda?
Talvez eu deva ficar atrapalhando o quase-sexo dos dois, ao menos terei
alguma distração capaz de fazer com que eu esqueça que meu namorado está
indo atrás de Caio. Mas não. É foda ter a foda interrompida.
Entro no apartamento e agradeço por meus pais não estarem na sala.
Passo pela cozinha, pego o pote de chocolate e subo para meu quarto.
Encontro Simba dormindo em sua caminha e sorrio. Parece um neném que só
dorme.
Visto uma roupa confortável, ligo a TV e me jogo na cama, satisfeita por
existir Netflix. Bendito seja quem inventou isso! Coloco em The Tudoors só
para ver Henry Cavill desfilando sua bunda magnífica pela tela da TV. Isso
que eu chamo de homão da porra! Esse eu deixaria furar até meus miolos. Se
eu fosse atriz e tivesse que contracenar com um homem desses, minha
carreira seria arruinada!
Após um cochilo, acordo assustada e com sede. Quando vou descer as
escadas, paraliso ao escutar uma conversa entre meus pais.
– Não Arthur, minha filha não vai passar pelo que eu e você passamos.
Você sabe exatamente os dias horríveis que vivemos por causa da
perseguição da Laís, eu perdi nossos bebês e quase perdi a vida. Beatriz não
vai passar por isso, você sabe muito bem que eu sou capaz de fazer o que for
preciso.
– Eu não sabia disso, sinto muito pelo passado de vocês, Mariana. Não
gostaria de estar aqui passando um problema a vocês, mas Arthur é advogado
e pai de Beatriz, me senti na obrigação. – Ouço a voz de Bernardo.
– Não é problema. Eu agradeço imensamente e fico feliz por minha filha
namorar um rapaz responsável como você. – Meu pai diz. – Vou começar e
tomar providências hoje mesmo, peço a você entre em contato imediatamente
a qualquer suspeita, Bernardo.
– Claro, não precisa se preocupar quanto a isso, e eu garanto a segurança
da Beatriz na faculdade, ninguém se aproximará dela. Tentei achá-lo até em
hotéis mas não passam informações sobre os hóspedes.
– Eu não quero nossa filha na faculdade mais, não quero que ela saia,
não quero. –Minha mãe diz, angustiada.
– Calma, nada vai acontecer, Mari, não adianta prendermos Beatriz.
Vamos garantir a segurança dela. – Meu pai diz, tentando acalmá-la.
– Não quero que ela seja perseguida como fomos, não aceito isso. – Ela
começa a chorar e eu termino de descer os degraus. O que quer que ela tenha
passado, deve ter sido muito traumático para estar tão abalada.
Todos me encaram quando percebem minha presença, e eu me espanto
com o semblante da minha mãe, que sempre foi tão leve e feliz.
– Eu escutei um pouco da conversa. Não se preocupe, mãe, eu tenho
dois super-heróis para me defender. – Digo, abraçando-a.
– Promete que vai ter cuidado, filha? Preciso que tenha um pouco mais
de juízo, ao menos até descobrirmos o que esse garoto quer. Bia, eu prefiro a
morte do que ter que lidar com qualquer coisa ruim acontecendo com você.
Eu não suportaria, meu amor. Não suportaria vê-la sofrer. – Deus! Nunca vi
minha mãe assim.
– Entrarei em contato com a família dele. – Meu pai informa se
aproximando de nós e beija minha testa. – Me acompanha até o escritório,
Bernardo?
– Claro. – Bernardo responde e me afasto da minha mãe para abraçá-lo.
– Já volto, garotinha.

No meio da madrugada, um peso sobre a cama me faz despertar. O peso


de um braço me puxando para si e o perfume inconfundível me fazem sorrir.
– Garotinho.
– Garotinha, desculpe te acordar, tentei ser delicado. Não conseguia
dormir sem você ao meu lado. Pode voltar a dormir, anjo. – Sussurra,
cheirando meu pescoço, e eu seguro sua mão que está em minha barriga.
– Amo você. – Ele fica em silêncio ao menos 1 minuto, e então
responde:
– Também amo você. Boa noite, anjo. – Diz, carinhosamente, e juntos
dormimos confortavelmente pelo resto da noite.
BERNARDO

Os quatro dias que sucederam o acontecimento foram bastantes tensos,


tive que travar batalhas para que Beatriz não descobrisse os dois seguranças
que estão nos acompanhando em todos os lugares.
Arthur desconfia que Caio tenha algo ligado ao passado dele e de
Mariana e, por isso, os dois estão em Belo Horizonte desde terça-feira
tomando devidas providências e investigações. O que parecia ser um ato
impensado de um adolescente inescrupuloso está tomando proporções
grandiosíssimas e tem tirado um pouco do meu sossego, ainda mais por não
ter conhecimento sobre o passado que Arthur tanto insistiu em dizer. Eu
tenho evitado nesses dias fazer qualquer tipo de programa com Beatriz que
nos faça sair de casa, só saio para o trabalho e a busco para irmos à
faculdade.
Hoje, finalmente, estaremos indo para a casa de praia em Ilha Grande e,
se Deus me ajudar, Beatriz estará livre da bendita tpm que a tem deixado um
pouco mais louca que o normal. Sim, ela parece a menina do exorcista
escalando parede como o homem aranha faz. Não sei se é apenas por estar
sem sexo ou se a prisão domiciliar tem agravado mais os sintomas; tem dois
dias que não durmo com ela porque está impraticável seu mau humor, e olha
que sou bastante paciente.
Enfim, estaremos indo eu, ela, Matheus, Victória e Jéssica; sim, a quase
irmã maluca vai conosco e eu ainda não consegui entender como Arthur
deixou uma BMW na mão dela. Pietro não quis ir e nem disse o motivo.
Termino de arrumar minha mochila e vou até a sala esperar Vic
enquanto despeço dos meus pais. Dois minutos depois, ela surge com uma
mala de rodinhas e eu nem me atrevo a falar que é exagero por saber que
Beatriz deve estar levando no mínimo duas malas.
Assim que bato na porta de Beatriz, a espetaculosa Jéssica abre e eu fico
tonto só de observar sua euforia.
– Olha, se eu fosse você iria até o quarto buscar sua linda namorada que
está atrasada, e saiba que não iremos naquele objeto de playboy que você
chama de carro e só cabe você e sua alma. Vamos com o carro do Arthur.
– Contanto que eu dirija, vou até de foguete. – Informo, já sabendo que
iremos no carro de Arthur, e ela faz uma careta me dando passagem. Assim
que entro, Beatriz já está na sala com uma cara de diaba misturada com Lolita
usando um vestido rodado e salto, encostada na mesa mordendo o lábio.
Sinto dois espasmos involuntários no meu amigo, que acorda
instantaneamente com a cena.
Me aproximo e dou um beijo casto em sua boca, sem deixar de notar o
fato intrigante dela estar de salto e tão bem arrumada para irmos à uma casa
de praia.
– Você está linda, mas não entendo os saltos. – Digo, com a mão em sua
cintura, e ela me puxa pela camisa e cochicha em meu ouvido:
– São para fincar em sua bunda quando estiver colocando minha
calcinha de lado para me foder contra a parede. – Explica de um modo
safado, me fazendo apertá-la contra mim e esquecer que estamos na presença
de todos. Ela tem o dom de desestruturar um mero mortal como eu.
Beatriz está quase conseguindo me fazer perder a cabeça e dignidade, e
o mais chocante é que ela é tão safada que consegue manter o rostinho de um
anjo como se tivesse acabado de dizer que está usando saltos para ir à missa
rezar um terço.
Ela nota que conseguiu fazer o efeito que tanto desejava e se afasta do
meu aperto, dando um sorriso vitorioso. Me apoio na mesa pensando em
qualquer cena que seja capaz de fazer apagar da mente o que ela acabou de
falar e seu olhar promissor. Como pode uma garota de 18 anos e inexperiente
me derrubar apenas com algumas palavras? Antes dela, precisava de muito
para que eu perdesse um pouco da sanidade. A verdade é que estou
perdidamente com as bolas nas mãos dela e ficando completamente insano.
Beatriz está me transformando rápido demais.
BEATRIZ

Vou até a cozinha e bebo um enorme copo de água na esperança de


apagar meu fogo interno. Não há nada que eu ame mais do que ver o rosto de
Bernardo se transformando em puro tesão. Vê-lo afetado é um afrodisíaco e
tanto, principalmente quando sei que não pode fazer nada a não ser lutar
contra a maldita ereção marcada em sua calça que está prestes a ser vista por
demais pessoas.
– Bernardo está passando mal? – Jéssica pergunta, se aproximando do
balcão, e eu olho para ele de cabeça baixa com as mãos apoiadas sobre a
mesa, e seguro o riso.
– Ele está apenas orando, ele gosta de rezar antes de pegar estrada, é
meio que um ritual. Bê é religioso. – Minto e ela olha para ele com toda
admiração do mundo.
– Que gracinha Bia, não existem mais jovens tão religiosos nos dias de
hoje. Não o deixe escapar, esse menino é uma benção. – Diz, encantada, e eu
faço a cara mais angelical possível em resposta. Ele é uma benção mesmo,
que Deus me perdoe, mas se tem uma coisa que Bernardo é, é abençoado
mesmo. Sangue de cordeiro tem poder, eita cajado bom que esse menino tem,
isso é uma cajadada santa! Sangue e fogo! Esse varão me transformou em
varoa! Chega! Surtei o suficiente!
De volta a realidade, é hora de partirmos, e eu dou logo um chega para
lá para o povo organizar o que falta, exceto Bernardo que fica de cabeça
baixa. Me vejo obrigada a ir até ele:
– Já orou, amor? – Pergunto quando chego ao seu lado, fazendo-o
levantar a cabeça e me encarar perplexo.
– Se eu orei? – Ele pergunta, arqueando a sobrancelha, me fazendo rir. –
Você é suja, Beatriz, como pode dizer que eu estava orando? Minha única
oração é para o meu pau abaixar e eu conseguir sair daqui com dignidade
diante das três pessoas que estão nos aguardando, incluindo minha irmã que
não precisa presenciar o irmão de pau duro. –Diz baixo em meu ouvido,
causando um arrepio involuntário.
– Aleluia! Sua oração está surtindo efeito? – Pergunto também em seu
ouvido, e ele balança a cabeça negativamente.
– É o auge do descaramento, Beatriz. Existe uma coisa chamada limite,
já ouviu falar? Quando tivermos só nós dois você pode falar o que quiser,
mas quando tivermos acompanhados, controle-se. – Repreende, bravo, e eu o
puxo pelo cordão.
– Você gosta que eu sei, porque é safado. Por trás dessa carinha de bom
moço, existe um homem completamente imoral sexualmente. Você gosta que
eu te provoque.
– Vamos embora logo. – Ele tira minha mão do cordão e se afasta, indo
até o sofá pegar sua mochila.
– Bora? – Pergunta a todos e me dá um olhar reprovador antes de
sairmos do apartamento.
Deixamos nosso filho com os pais de Bê desde ontem para que ele se
habituasse aos avós. Por isso, seguimos direto para o elevador sem mais
preocupações.
Descemos os cinco em silêncio absoluto, mas não perco a oportunidade
de dar um aperto da bunda de Bernardo, que solta um leve ruído raivoso.
Colocamos nossas tralhas no porta malas e entramos no carro. Bernardo
não sossega até que todos estejam com cinto de segurança, e eu aproveito
para colocar um pen drive com músicas animadas. Minutos depois, estamos a
caminho do paraíso.
A casa de praia dos meus pais é meu lugar favorito no mundo, é o único
lugar que eu permito deixar a Beatriz agitada de lado e vivo a vibe paz e
amor. Gostaria muito que eu e Bê estivéssemos indo sozinhos, mas tenho
certeza de que não faltarão oportunidades.
Enquanto Matheus, Victória e Jéssica embalam uma conversa animada,
eu encaro Bernardo dirigindo. Gosto de como ele fica apreensivo e sério. Se é
fetiche, eu não sei, mas amo vê-lo dirigindo, amo observar as mãos dele no
volante.
– O que foi? – Ele pergunta, sem tirar os olhos da estrada.
– Acho sexy você dirigindo. – Digo, e ele sorri pela primeira vez desde
que falei safadezas em seu ouvido.
– Já vi que não dormiremos essa noite. Vou precisar de muita munição
para apagar esse fogo.
– Eu estou com saudades de sentir suas mãos em meu corpo, seus beijos,
seus gemidos, de tê-lo...
– Pelo amor de Deus, Beatriz, na estrada não! Não fale coisas desse tipo
enquanto eu estiver dirigindo! – Xinga alto, apertando o volante, e os
curiosos se manifestam.
– O que a capiroto está falando? – Matheus pergunta.
– Não é da sua conta, moleque piranha! – Respondo, e ele me dá um
tapa na testa, me fazendo virar para socá-lo. – Idiota.
– Vocês parecem duas crianças. – Victória diz, me fazendo rir. Meu
choque maior é Bernardo estar tão sério e compenetrado. Jesus, se fosse eu
dirigindo estaria cantando e batucando no volante músicas de Katy Perry ou
Mc Kevinho, bem extremista.
Uma hora depois, estamos no porto de Mangaratiba onde a lancha de
senhor Arthur Albuquerque está nos esperando. Sorrio ao ver que é o piloto
de fuga quem irá nos levar. Bruno é filho do senhor que cuida da nossa casa;
ele tem 23 anos e nos conhecemos desde criança, ele pilota no ritmo tsunami
e mal posso conter a felicidade pela adrenalina que nos espera.
Assim que me vê, ele salta da lancha e sorri.
– Cada dia mais linda! – Elogia, me observando de cima abaixo, e mal
tenho tempo de responder, pois Bernardo passa a minha frente e oferece a
mão para cumprimentá-lo.
– Não sei seu nome, mas o meu é Bernardo e eu sou namorado da
Beatriz. – Bruno, depois de muito observar a mão de Bernardo estendida,
resolve ser educado e o cumprimenta.
– Meu nome é Bruno e sou amigo de infância da Beatriz. – Provoca e eu
fecho os olhos, pensando no quanto fui burra de ter esquecido de mencionar
Bruno. Eu sequer lembrei da existência dele nos últimos tempos, puta
merda!
Bernardo pega minha mão e nos puxa para a lancha. Quando estamos
numa distância confortável, ele pergunta:
– Quem é esse cara?
– Ele é filho do caseiro. – Respondo, cruzando os braços e batendo o pé,
preparada para todos os questionamentos.
– Ele não vai ficar lá, não é?
– Não Bê, ele não vai ficar lá. Ciumento.
– Não estou com ciúmes. – Diz, emburrado.
– Ok, não está. – Digo, rindo, e ele mantém a seriedade.
– Por que não me contou dele? Ele te olha como se fosse um pedaço de
picanha.
– Eu nem lembrei dele Bê, só por isso não comentei. Nem sempre ele
está por aqui.
– Se eu ver ele te olhando daquela forma mais uma vez ou falando
qualquer "cada dia mais linda", vou jogá-lo ao mar, está avisada! – Deixa
avisado e eu o puxo para mim.
– Você está tenso, sei de muitas coisas que posso fazer para aliviar essa
tensão. – Digo e o beijo com toda delicadeza, porém Bernardo já está
possuído pelas forças masoquistas sexuais elevado ao ciúme e a
possessividade e me beija sem o mínimo de decência.
BEATRIZ

– Sério, eu acho que nem mesmo um quarto resolveria o problema dos


dois. Talvez um exorcista. – A voz de Jéssica faz com que Bernardo me
largue abruptamente e eu quase caio no mar, que está bem atrás de nós. Sou
salva por ela, que me puxa de uma só vez, fazendo com que eu caia de
joelhos no deck.
– Só para avisar aí que ela é minha irmã e não estou afim de ver esse
tipo de coisa. – Matheus late como se pudesse muito falar algo. Está mais
sujo que pau de galinheiro, e se Bernardo sonhar que sua irmã está igual Jane
segurando no cipó de Matheus, não quero ver a treta maligna que vai dar. O
bom é que Matheus entende meu olhar de quem sabe de alguns segredos e se
cala.
Bernardo me ajuda a levantar e pede milhões de desculpas. Por fim,
acabo rindo do quão bem nosso final de semana está começando.
Bruno e Matheus colocam nossas malas na lancha e, em seguida, Bê me
ajuda a subir protetoramente e territorial, cuidando para que minha bunda não
seja exposta na "Medina". Porém, ele não sabe que quando venho para cá, a
única coisa que não uso é roupa. Fico praticamente 24 horas de biquíni e já
estou pensando em como ele vai reagir diante disso. Espero que Bruno não dê
tanto as caras.
Bruno liga o som e a lancha enquanto Matheus vai direto no andar
debaixo e volta com um balde de vodca e energético, tudo isso para um
passeio de lancha noturno que vai durar dez minutos. Com uma cordialidade
fingida, ele serve a todos e dá um sorriso escancarado quando chega até
Victória.
– Vic, você vai beber isso? – Bernardo pergunta, já cruzando os braços e
observando friamente a irmã. Dou um aperto no braço dele para que pegue
leve. Irmãos mais velhos, ainda bem que não possuo.
– Não. – Ela diz, cabisbaixa. – Talvez só o Red Bull. – Diz para
Matheus, que parece não gostar muito, porém não se opõe.
– Você acha que ela não bebe? – Pergunto discretamente para Bernardo.
– Não sei, acredito que não, ou acreditava até agora.
– Bê, minha mãe sempre disse a mim e Matheus que se fosse para
bebermos, seria melhor que fosse na presença deles, que não mentíssemos
sobre isso. Talvez você deva dar um pouco mais de crédito para Vic e deva se
tornar mais próximo. Ela é poucos meses mais nova que eu, tire por base tudo
que eu e você já fazemos. Se eu fiz, ela também pode.
– Ela não faz o que nós fazemos, Beatriz. – Ele repreende e eu
sorrio. Pobrezinho.
– Não estou dizendo que faça, mas estou dizendo que essa é a idade da
descoberta e que ela não deve ser repreendida, e sim aconselhada. Nós
estamos aqui para assegurá-la, deixe ela se divertir, sem excesso, mas deixe.
– Ok, então eu peço para que você prepare a bebida dela sem exageros,
por favor. – Ele diz, tirando uma mecha do meu cabelo do meu rosto e sorrio,
acenando a cabeça afirmativamente e indo servir Vic, que fica fascinada com
o fato de eu ter aliviado para o lado dela.
Assim que Bruno estaciona no deck da casa, meu coração acelera. Isso
sempre acontece, todas as vezes, tamanho sou apaixonada por esse lugar.
– Uau, que casa linda. – Bernardo diz, me ajudando a sair da lancha e
observando a casa toda acesa e completamente isolada da civilização.
Percebo ele relaxar instantaneamente a partir do momento em que Bruno
ancora a lancha e vai embora no jet ski. Sorrio internamente por perceber que
meu namorado está me saindo um belo exemplar de homem ciumento e
possessivo.
Levo nossas coisas diretamente para o quarto dos meus pais, que será
nosso ninho esse final de semana, e deixo que Matheus apresente o resto da
casa para ele e Vic. Aproveito o intervalo para vestir uma roupa mais básica
e confortável que se resume em um biquíni e um roupão de seda.
Antes mesmo que eu possa descer as escadas, encontro-o subindo.
– Ei, demorou.
– Eu fui trocar de roupa. – Digo, sorrindo.
– Já vai dormir? – Pergunta, encarando meu roupão.
– Não. – Digo e desfaço o nó para que ele veja que se tem algo que não
farei agora é dormir. Vejo seu pomo de Adão subir e descer rapidamente, e
seu olhar se voltar ao meu tão rapidamente quando suas mãos se fecham em
minha cintura.
– Você acordou com o único propósito de me enlouquecer hoje.
– Talvez. – Respondo, provocando, já sentindo meu corpo mole pelo
desejo desesperador que estou sentindo por ele. É tão louco ter seu corpo
ansiando por alguém. Eu não sabia que poderia ser tão forte assim uma
necessidade física de contato e alívio, e que só pode ser suprida por uma
pessoa específica.
– Quero você. – Diz, apertando a minha cintura.
– Eu preciso de você. – Sorrio, me aproximando de sua boca e dando-lhe
um beijo casto, que é abruptamente interrompido por Jéssica me puxando.
– Vocês terão a noite toda para cruzar, bora beber, preparei uns
aperitivos e estamos na sala. – Avisa com os olhos apontados para o volume
da calça de Bernardo. – Eta lelê. – Diz, dando uma gargalhada.
– Não tem graça, Jéssica. – Xingo, e ela segura a riso. Então acabamos
rindo porque ela é apenas uma versão mais insana da minha mãe.
– Vou me trocar e já desço. – Bernardo diz, dando um beijo em minha
testa, e encara Jéssica com cara de bravo.
– Ui, que medo! – Ela diz e ele mostra o dedo do meio, me deixando em
choque. Bernardo mostrando dedo do meio é inédito!
– Você é muito descarada. – Digo, descendo as escadas.
– E vocês são tarados. Credo Beatriz, nos poupe! Vamos curtir um
pouco, depois vocês transam.
MATHEUS BÔNUS

Um final de semana inteiro junto de Victória, não sei se sairei vivo dessa
para contar.
Vou contar a história desde o início para que vocês entendam como fui
de vilão a vítima tão rapidamente.
Tudo começou com uma ida inocente ao cinema, na verdade não tão
inocente para mim, mas achei que para ela seria. Um beijo delicado que se
transformou quase em uma expulsão do cinema.
Nós fomos assistir um filme qualquer e, por obra do destino, o cinema
estava vazio. Quando vi que só tínhamos nós dois e mais um casal isolado,
logo me empolguei. Com apenas alguns minutos de filme, arrisquei minha
mão em sua coxa e, para minha surpresa, ela abriu levemente as pernas. Eu a
encarei completamente em choque e recebi como resposta um sorriso do mais
safado possível. Victória tem a cara de uma menina completamente inocente
e infantil, eu fui cuidadoso durante dias pensando que iria receber um chute
nas bolas se tentasse ao menos beijá-la, me deixei passar por gay e recebo
uma abertura de pernas de primeira? Isso foi a porra do maior choque da
minha vida!
Enfim, não fui direto ao ponto. Permaneci com a minha mão imóvel em
sua coxa e pude sentir o incômodo que isso estava lhe causando.
Delicadamente, puxei a proteção lateral da cadeira para que pudesse me
aproximar e a puxei para um beijo; queria ir com calma, mas ela demonstrou
que calma não é o forte dela quando enfiou uma das mãos pelos meus cabelos
e aprofundou o beijo violentamente, e quando sua mão livre voou direto para
o pacote no meio das minhas pernas, me fazendo arfar. Eu me joguei de
cabeça, mas não conseguia entender se naquele momento eu estava
decepcionado por ela ser tão ousada ou se estava feliz por saber que entraria
em sua calcinha em breve. Sinceramente, essa porra me atormentou por
alguns minutos e eu quase desisti da pegação.
O que me fez continuar foi quando sua mão saiu da minha calça e foi
direto para o meio das suas pernas; sim, Victória começou a se masturbar por
cima da calcinha e eu me senti um merda de um moleque assistindo a cena
atentamente, como se fosse um filme pornô. Me senti um maldito virgem sem
atitude tamanho foi o meu choque. Tudo piorou quando a demônio me
perguntou com a cara mais lavada e sem papas na língua se eu não ia fazer
nada. Você tem ideia de como eu me senti? Foi a maior humilhação de toda
minha vida, foi até mesmo maior do que quando comi duas mulheres e acabei
gozando em 1 minuto vendo elas se beijarem.
Eu não sabia o que fazer e onde enfiar minha cara; na verdade, eu soube
onde enfiaria quando num ato de loucura escorreguei até o chão e abri suas
pernas, trabalhando arduamente com minha habilidade oral. Eu a chupei até
que minha boca estivesse dormente e ela tivesse gozado duas vezes, e em
seguida recebi a porra do oral mais filho da puta que já recebi em toda minha
existência sexual. Victória me mostrou que as aparências enganam quando
sugou até o último líquido do meu prazer, sorriu abertamente como se nada
tivesse feito quando voltou a se acomodar na cadeira e fixou o olhar à tela do
cinema.
Eu fiquei jogado na cadeira, com a calça aberta e a porra do pau para
fora, respirando com dificuldade não pelo orgasmo, mas pela surpresa e
descrença de tudo que tinha acabado de acontecer. Não pude deixar de pensar
de onde essa criatura tinha tirado tanta experiência e ousadia . Por um minuto
quis me matar mentalmente por ter sentido uma leve fisgada no peito por
ciúme.
Assim que a sessão acabou, eu consegui me recompor e ela me deu sua
delicada mão para continuarmos andando pelo shopping e, sinceramente, não
lembro uma só palavra do que ela disse em todo trajeto. Depois que fomos
para casa, foi que a situação se complicou. Eu fui estuprado no corredor do
prédio e ainda tive que ouvir que estava parecendo um frouxo sem atitude,
porra como eu deveria me sentir? Eu nunca esperei uma porra dessa de uma
garota de 17 anos que tem a família certinha e a cara de anjo. Ela
simplesmente abriu meu zíper e fez todo processo de enfiar meu pau em sua
vagina, que por sinal é o protótipo do paraíso terrestre vaginal. Tão apertada e
quente. Vic emitia sons tão singelos no meu ouvido e disse coisas tão sujas
que era eu quem deveria estar dizendo. Ela feriu a porra da minha
masculinidade e, após isso, começamos a verdadeira guerra dos sexos.
No dia seguinte, eu quis provar-lhe o quão macho eu poderia ser e foi aí
que a brincadeira realmente começou. Desde então vivemos um
relacionamento completamente sádico e dominador, algo completamente
diferente de tudo que já fiz. Victória é extremamente sedenta e ativa, e eu
tenho me sentido como um Power Ranger na 'hora de morfar". Ela quer que
eu morfe toda hora, ela quer sexo o tempo todo e não um sexo comum, ela
quer ser fodida da forma mais brutal e alucinante, e eu estou completamente
em choque por não conseguir comer mais ninguém desde então. Para
completar, minha mãe fez a porra do favor de me colocar na mesma escola
que ela e Pietro estudam e, por obra do filho de uma quenga chamado
destino, eu estou na sala dela e a demônio me provoca a porra da aula toda.
Com uma semana de aula, já estou pensando em mudar de escola.
Nunca imaginei sofrer tanto na minha vida, mas é assim que tenho me
sentido, num completo sofrimento e vivendo dos prazeres carnais. Há
também a preocupação com o fato de sermos descobertos a qualquer minuto.
Ah, não contei isso? Pois vou contar. Eu pedi a demônio em namoro, eu,
Matheus Albuquerque, fui capaz de pedi-la em namoro. Sabe quando quis
namorar? Nunca! Mas com ela eu quis (ainda quero), porém, namorar não
está nos planos da vadia destruidora de pau e coração, ela gosta da adrenalina
de correr o risco de ser pega, ela é a porra de uma gostosa safada e eu estou
muito além de apaixonado. Já vislumbro um futuro onde casaremos e eu serei
pai de todos os filhos dela.
[...]
Estamos sentados no chão da sala da casa de praia e ela dá a ideia
brilhante de Jéssica ir buscar Bia e Bernardo. Assim que Jéssica sai, ela me
encara sorrindo.
– Onde você vai dormir? – Pergunta, com sua voz angelical.
– No meu quarto, se tivesse aceito minha proposta, talvez pudéssemos
dormir juntos. Podia ser a gente, mas você não colabora.
– Sem dramas, Matheus. Durante a madrugada, terei você entre minhas
pernas, aguarde. – Informa.
– Talvez não. Sou um objeto sexual na sua mão. – Informo, tomando um
gole de vodca para acalmar.
– Ninguém mandou ser gostoso.
– Então você assume que sou apenas um objeto? – Questiono.
– Caramba, você está carente hoje? Não, Matheus, você não é só um
objeto, você é meu amigo e gosto de compartilhar não apenas sexo com você.
– Diz.
– Estou pensando seriamente em só transar com você quando resolver
me assumir.
– Caramba, qualquer homem estaria feliz em ter uma amizade colorida.
Você é do contra completamente. – Ela diz, esbravejando, e minha irmã
chega nos encarando.
– Uau, o que está acontecendo aqui?
– Nada. Só estamos conversando sobre as diversidades de
relacionamentos. – Explico, e Beatriz sorri.
– Sei. Bom, vamos beber, comer e curtir a noite. O álcool pode trazer
algumas verdades à tona. – Diz, quando Jéssica a entrega um copo.
Vamos ver se o álcool tem esse poder então.

Me sinto um soldado ferido numa missão! Eu estou apaixonado e tendo


meu coração rasgado pela possível mulher que é o amor da minha vida.
BERNARDO

Não sei qual foi o momento da noite em que perdi completamente o


controle de Beatriz, que está sobre o balcão da cozinha com uma cenoura na
mão fingindo ser um microfone acompanhada de Jéssica, dando um show de
músicas sertanejas com suas vozes maravilhosas. Na verdade, sentado no
sofá, levemente alcoolizado, estou observando a cena e tentando entender
como foi que Mariana e Arthur tiveram a ideia brilhante de pedir que Jéssica
viesse para “cuidar” de Beatriz e Matheus, tipo uma irmã mais velha. Jéssica
mal consegue cuidar de si própria, é visível isso. Ok, ela é gente boa, uma
pessoa incrível e divertida, mas é muito louca, caralho. Tão louca ou mais
louca que Mariana e Beatriz.
– É, elas estão muito doidas hoje. É um belo show. – O tal de Bruno se
acomoda ao meu lado e começa a conversar. Até agora não engoli o fato de
Jéssica ligar chamando ele para voltar à casa. Ela perdeu uns 5 pontos
comigo hoje, mas a compreendo.
– Eu espero que você esteja falando apenas de Jéssica.
– Claro. – Ele diz rindo e, para não virar um soco em sua cara, me
levanto e vou até Beatriz.
– Desce daí! – Ordeno e ela sorri, pegando a cenoura.
– E quem me viu se visse hoje não acreditaria, a periguete virou mulher
de família... – Ela canta embolado e rebolativa, olhando fixamente em meus
olhos e dando uma piscadinha.
– Chega, vamos embrazar. – Jéssica grita pulando do balcão, troca a
música e enche dois copos de bebida, entregando um a Beatriz. Uma batida
de funk começa e eu percebo que o jogo está perdido quando minha garotinha
entra de cabeça e começa a cantar e rebolar. Ao menos minha irmã está
quieta conversando com Matheus, menos um problema para mim.
Sirvo mais um pouco de bebida e viro o líquido de uma única vez.
Quando percebo que Beatriz já está perdendo a noção, agarro-a pelas pernas,
fazendo-a cair sobre meu ombro.
– Bernardo! – Ela grita enquanto me despeço de todos, levando-a para o
quarto. – Me coloca no chão!
– Não! Tentei fazê-la parar no amor e você não quis, então vai na dor. –
Dou um tapa bem dado em sua bunda, como se fosse uma criança
desobediente.
Assim que entramos no quarto, coloco-a no chão e a encaro com as
mãos na cintura.
– Vamos dormir na lancha? – Ela pede, sorrindo de um jeito safado que
já conheço perfeitamente bem.
– Não. A senhorita está alcoolizada.
– Vamos nadar nus? Vamos curtir a noite? Poxa, está cedo ainda, Bê.
– Podemos fazer qualquer coisa desde que seja longe daquele tal de
Bruno, que foi chamado pela Jéssica, mas não consegue manter os olhos
longe de você.
– Hum, isso se chama ciúmes. Que lindo. – Ela diz, rindo. – Você está
com ciúmes, Bernardo? Não se preocupe, o que ele quer só você pode ter. –
Diz de maneira sensual, se esfregando delicadamente em meu corpo.
– É?
– Sim, é. Agora diga que vai dormir na lancha comigo, para eu poder
gemer em paz o resto da noite quando estiver dentro de mim. Não estou afim
de ser silenciosa e tímida essa noite. – Já disse que ela é uma diabinha?
– Ora, ora. Alguém está bastante tarada hoje, pena que é por estar
alcoolizada. – Finjo irritabilidade e ela fica nervosa.
– Ah, para de show, Bernardo. Nem vem com essa de que não vai me
comer porque estou alcoolizada. Somos namorados já. – Ela sai pisando duro
quarto adentro, bastante irritada.
– Você sabe que eu jamais teria um ato de intimidade com você
alcoolizada. – Continuo meu teatro, tentando não rir das feições incrédulas
que ela faz a cada palavra.
– Intimidade? Você está falando como um velho chato da benga mole.
Maior estraga prazeres!!!! Arghhh!
– Beatriz, não seria adequado. Acho que deveria te dar um banho frio e
colocá-la para dormir. Talvez amanhã você esteja melhor.
– Se você encostar em mim, vou chutar suas bolas! Se é para ficar de
miserinha de pau, poderia ter me deixado bebendo e dançando. – De onde ela
tira essas palavras???? Me pergunto a observando.
– Você fala de maneira tão vulgar às vezes que não parece ser uma
garota de família exemplar. – Vou até a varanda do quarto observar a área e
buscar algum modo de sairmos do quarto sem sermos visto.
– Você me conheceu assim e me pediu em namoro assim, se não quiser
foda-se! Tire alguma freira do convento e namore com ela! – Olha! Ela está
nervosinha.
– Uau, é assim que você fala?
– Não, só com quem merece. – Responde, e eu me aproximo.
– Eu mereço?
– Sim, merece. – Informa, e eu a pego novamente. Jogo-a em meu
ombro e então ela começa a socar minha bunda. – Me solta Bernardo, que
merda.
– Não.
– Onde estamos indo? – Questiona, se contendo.
– Você não queria dormir na lancha? – Pergunto.
– Sim, mas não mais.
– Sabe pilotar essa merda?
– Vai deixar eu fazer isso alcoolizada? – Ela pergunta, incrédula e
paralisada como um verdadeiro “saco de batatas” enquanto ando pelo deck.
– Eu estarei atrás de você guiando, só precisamos nos afastar daqui um
pouco, para que você possa gemer e gritar livremente. – Digo e ela
permanece paralisada, totalmente muda por alguns segundos. Assim que
chegamos em frente à lancha, coloco-a sobre o chão e ela me encara com
uma expressão séria.
– Sério Bê, você bebeu? – Pergunta, me analisando minuciosamente.
– Sim, mas não o suficiente para ficar bêbado.
– Então você está disposto a uma adrenalina máxima por livre e
espontânea vontade? – Arqueia a sobrancelha, me fazendo rir.
– Você não disse que eu deveria ser mais jovem, curtir mais adrenalina?
– Digo, e ela balança a cabeça afirmando, e em seguida se joga em meus
braços.
– Por isso que eu te amo.
– Então vamos antes que meu lado idoso fale mais alto. Na lancha tem
tudo que precisamos para sobreviver a uma noite? – Brinco e ela afirma,
parecendo uma criança feliz.
BEATRIZ

Eu me encontro no mais completo êxtase, que aumentou ainda mais com


a ajuda do álcool. Não que eu esteja bêbada, estou apenas "alegre", e ver
Bernardo cedendo à loucura e com promessas altamente sexuais é demais
para a sanidade!
Ele entra primeiro na lancha e me ajuda a pular em seguida. O mais
engraçado é que ele não tem a menor ideia do que fazer ou como conduzir o
brinquedinho caro de Arthur Albuquerque.
– Primeiro você precisa me ajudar a puxar a âncora, bebê. – Digo, indo
até a parte traseira da lancha acompanhada dele.
Resolvo torturá-lo assim como ele me torturou com suas palavras
safadas, e me debruço empinando a bunda para pegar a corrente jogada ao
mar. Eu poderia fazer isso apertando um botão no painel, mas puxar com as
mãos parece legal essa noite.
– Preciso de ajuda, vai ficar só olhando? – Olho para ele e sorrio,
fazendo-o balançar a cabeça. Em seguida, ele se acomoda ao meu lado e
juntos puxamos a âncora.
Assim que terminamos, ele me pega pela cintura e tenta me dar um
beijo, e escapo facilmente, deixando-o atônito.
– Por que está fugindo?
– Não estou fugindo, só estou com pressa de sair logo daqui antes que
sejamos importunados. – Minto, fazendo minha cara mais angelical enquanto
faço os procedimentos para ligar a lancha. – Vamos para uma ilha aqui ao
lado, não podemos ir longe pois não tenho habilitação para pilotar lancha
ainda.
– Isso eu sei, mas acredito que lancha seja menos arriscado, já que
estamos em uma ilha deserta; o risco de você bater em um poste é zero.
– Hahaha, é para rir? Engraçadinho. É bom saber algo que o senhorito
expert em tudo não sabe. Estou no controle hoje! – Informo, fazendo-o rir.
Acendo algumas luzes baixas e coloco uma música. Assim que ligo a
lancha, Bernardo se posiciona atrás de mim e se mostra tenso, diria que quase
arrependido da ideia perfeita que teve. Até eu mesma fico um pouco tensa e
demoro um pouco a sair, testando minha visão levemente turva. Se eu estrago
essa lancha, meu pai me mata! É seu xodó e foi trocada recentemente. Acho
que ela vale mais que nossa casa.
Dou partida com Bezinho segurando minha cintura e grudado em minha
bunda, quase me desconcentrando, mas minha paixão por navegar me faz
abrir mão de qualquer distração sexual.
O céu estrelado, a lua completamente cheia e o mar calmo como uma
piscina trazem a sensação de paz e tranquilidade, completamente diferente da
agitação em que me encontrava há minutos atrás sobre o balcão da cozinha.
Me pego sorrindo sozinha, observando todo o trajeto que eu já conheço tão
bem. Nunca havia saído para passear de lancha a noite, sempre meu pai e
minha mãe inventam jantares românticos e monopolizam a lancha. A
presença do meu namorado deixa tudo muito melhor do que é, e posso dizer
com todo meu coração que não há lugar no mundo que eu queria estar senão
aqui, exatamente como estamos. Enquanto Projota explode pelo alto falante,
eu chego no lugar perfeito que nunca parei antes por ser intimista o
suficiente.
Uma pequena Ilha, com uma pequena faixa de areia a qual já passei
centenas de vezes e sempre fiquei admirada pela beleza do lugar.
– Chegamos? – Bê pergunta.
– Sim. – Sorrio, desligando a lancha, e ele me surpreende indo jogar a
âncora no mar.
Enquanto isso, verifico um dos quartos no andar de baixo. Felizmente,
está com tudo que precisamos. Quando subo, pego uma garrafa de
champanhe e duas taças.
– Champanhe, senhorita?
– Sim senhor, abra por favor? – Peço. Todas as vezes que viemos para
cá, os funcionários abastecem tanto a casa quanto a lancha. Então há bebidas
e comidas suficiente para um batalhão.
– Com toda certeza. – Ele pisca o olho e abre a champanhe, jogando a
espuma no mar. Após completar as taças, ele propõe um brinde.
– A que brindaremos? – Pergunto.
– Brindaremos às estrelas, a lua, a noite maravilhosa que está
colaborando com nós dois, e principalmente ao novo “eu” que você está
fazendo surgir. E a senhorita, quer brindar a que?
– Quero brindar ao seu novo “eu” e dizer que eu amo todos os seus
"eus", apenas isso. – Levanto minha taça e brindamos. Bebemos todo o
líquido com os olhos fixados um ao outro, a tensão sexual quase palpável faz
surgir arrepios involuntários por todo meu corpo e eu quase gemo só com o
olhar penetrante e carnal de Bernardo.
Ter ficado sem sexo alguns dias está surtindo um efeito avassalador,
mas quero que a noite tenha um pouco mais de adrenalina. Por isso, deposito
minha taça sobre o sofá e começo a tirar minha roupa, ficando apenas de
calcinha e sutiã, observando o pomo de adão de Bernardo subir e descer
lentamente. Esse efeito é um dos motivos que me passam confiança para ser
ousada. Ele reage tão bem, deixa todas as fraquezas a mostra.
Quando me encontro completamente preparada, subo no sofá e, em
seguida na beira da lancha, ele abre a boca e fecha algumas vezes, sabendo
perfeitamente o que irei fazer. Como não gosto de contrariá-lo, me jogo ao
mar que, contribuindo para a noite perfeita, está com a água deliciosamente
agradável.
Nado até onde consigo dar pé e o aguardo.
Fico a espera alguns longos minutos e logo sou surpreendida por mãos
fortes, me puxando pela cintura.
– Que susto!!!!!!!!!!!!!!
– Desci silenciosamente pelo outro lado, garotinha, esse jogo é para dois
jogarem. –Sorri me puxando, fazendo eu enganchar minhas pernas em sua
cintura enquanto me olha fixamente nos olhos.
Nos perdemos no olhar um do outro até que o desejo vence e nossas
bocas se conectam num beijo firme, exigente e ao mesmo tempo doce.
Quando nos afastamos, permaneço com os olhos fechados e minha testa
grudada à dele, apenas sorvendo o momento. Aliás, se tornou um hábito todas
as vezes que estamos juntos eu fechar os olhos e tentar encontrar uma
explicação para toda intensidade. Nunca achei que seria possível viver algo
tão intenso sendo tão jovem, é uma besteira pensar assim, mas na minha
mente, era exatamente isso que se passava e hoje sei de todas as
possibilidades, inclusive que elas são infinitas.
Resolvo me afastar e nado rapidamente até a faixa de areia com ele
vindo atrás.
– Você está fujona hoje.
– Pegue-me se for capaz. – Brinco e ele começa a correr atrás de mim,
me pegando em questão de segundos e me puxando de volta ao mar ao som
dos meus gritos.
– Viu, eu sempre te pego, não adianta fugir. – Diz, passando a mão pelo
meu cabelo e me dando um beijo delicado na testa, que me faz fechar os
olhos e abraçá-lo fortemente. – Eu te amo tanto garotinha, por que? Me
explica? – Abro os olhos e sorrio, observando-o a espera de uma resposta.
– Eu sou maravilhosa, é por isso.
– Deve ser por isso. – Concorda, sorrindo.
– Me explica como você consegue me acalmar tão rapidamente, mudar
toda a urgência que estávamos sentindo para um clima de total calmaria e
paz? – Pergunto, pois ele realmente tem esse dom.
– Eu consigo? Ainda estou com urgência, tudo que eu mais quero é amar
você. – Coloco um dedo sobre sua boca e peço gentilmente para que ele faça.
– Me ame.
– Eu vou te amar, agora. – Ele me pega novamente no colo, nos leva até
uma pedra onde me coloca sentada e se encaixa entre minhas pernas.
– E se surgir um bicho? Está escuro aqui.
– Está com medo? – Pergunta sorrindo e mordendo o lábio. Empurro-o e
corro de volta ao mar. – Porra, se eu tiver que te pegar mais uma vez hoje, o
amor vai ficar para outro dia, Beatriz. Não há amor no mundo que suporte
essa merda. – Diz, me fazendo rir.
Mergulho em direção a lancha e, assim que consigo me apoiar na
escadinha, ele me puxa pela perna.
– Viu, me pegou de novo.
– Agora não solto mais. – Ele me apoia na escada e abre meu sutiã,
jogando-o ao mar, e em seguida rasga minha calcinha e a joga no mar
também e, por último, tira sua cueca. As três peças ficam boiando enquanto
eu as observo se distanciando de nós lentamente. Antes que eu perceba,
Bernardo está acomodado entre minhas pernas e lentamente se encaixa em
minha entrada, com um pouco mais de dificuldade devido a água, me
arrancando um gemido.
Sinto sua mão entrando por entre meus cabelos e sua boca conecta a
minha numa delicadeza angustiante, assim como seus movimentos. Toda
lentidão só faz aumentar a necessidade. Afasto o beijo e jogo minha cabeça
para trás enquanto sua boca passeia pelo meu pescoço. Impedida de forçar
qualquer movimento, me entrego à sua maneira, ao que quer que ele queira
fazer comigo. Meus seios ficam pesados e pela primeira vez sinto
necessidade de tocá-los; deslizo minha mão livre ao meu seio esquerdo e o
aperto ao mesmo tempo que sinto Bernardo parar os movimentos e soltar um
som em apreciação. Mordo meu lábio para conter o sorriso e sua boca desce
ao direito e seus movimentos aceleram um pouco enquanto ele trabalha em
meu mamilo.
– Vamos subir. – Sugere, me fazendo levantar a cabeça em protesto e
puxar sua boca de volta ao meu seio. – ,Lá em cima eu poderei chupá-los
melhor. – Fala quase sufocado e eu alivio o aperto em sua cabeça
instantaneamente, fazendo-o dar uma gargalhada.
– Palhaço! – Xingo, afastando-o e subindo mais do que rapidamente.
Ele nem acaba de subir e eu já estou grudada em seu corpo desesperada
o suficiente. Faço-o caminhar até a parte da frente da lancha e ele me deita no
estofado, me dando a bela visão do céu estrelado.
– Beatriz, ouça com atenção. – Encaro-o e espero o que quer que ele vá
dizer. – Vou fazer você lembrar desta noite pelo o resto de sua vida. –
Promete e sorrio.
– Eu te amo.
BEATRIZ

Se você pudesse me ver agora, diria que eu acabei de fumar um baseado.


Estou rindo até dos pássaros que estão sobrevoando a Ilha enquanto observo
o nascer do sol. Bernardo se encontra absolutamente igual a mim, e quando
tento levantar minha cabeça para observá-lo, a risada vem com força total ao
vê-lo tão sem forças quanto eu, com seu membro mole jogado sobre a
barriga. A cena é horrível, de verdade. Não tem sexualidade alguma nisso. O
homem deitado ao meu lado não é o Bernardo, definitivamente, é apenas o
que sobrou dele. Aliás, eu devo estar parecendo com a dona Bela da
escolinha do professor Raimundo, ou coisa pior. O que nós acabamos de
fazer foi o suficiente para ficarmos sem sexo por pelo menos 1 mês tamanha
destruição.
– Você está parecendo uma hiena. – Ele diz com sua voz quase
inaudível, e eu jogo minha cabeça de volta ao estofado.
– Você está péssimo Bê, sério, meu Deus, passou a carreta furacão em
cima de nós dois.
– Que diabos é carreta furacão?
– É uma coisa muito exótica, não queira saber. Eles cantam uma música
“siga em frente, olhe para o lado, se liga no sei lá o que do cavaco...” –
Respondo, rindo, e ficamos em silêncio alguns minutos até ele falar:
– Traumatizei de sexo. – Começo a rir novamente, aliás, eu preciso parar
de rir. Minha mandíbula está doendo.
– Foi você quem disse que eu nunca esqueceria a noite, madrugada, sei
lá, de hoje...
– Você não vai esquecer, não é mesmo? Parecemos dois viciados
drogados, não tem como esquecer. – Ele ri. – Acho que agora meu pau só
sobe a poder de Viagra, acredito que o melhor seja eu comprar um consolo
pra você. – Dou uma gargalhada absurda enquanto ele se esforça para virar e
me encarar. Sério, nunca o vi tão engraçado e com tanto senso de humor.
– Estamos exagerando, não é para tanto. Até a noite você estará ereto. –
Digo, gargalhando.
– Não fale em ereção que meu pau se encolhe!
– Eu acho que deveríamos pegar algo para nos cobrir antes que surja
algum turista curioso olhando a lancha e veja essas duas maravilhas nuas e
destruídas. Vão pensar que fomos assaltados ou estuprados.
– Isso, um de nós tem que pensar. Estou surpreso por ser você. – Ri. –
Vai lá e pega um lençol, aproveita e traz a garrafa de champanhe para
brindarmos.
– Você quem deveria fazer isso. Eu não sinto minhas pernas. Eu sou
menina. – Argumento, fazendo-o rir.
– Meninas não gritam "me fode mais forte, desgraçado", você só é
menina quando convém. – Merda! Eu lembro da madrugada incrível que
tivemos (de pelo menos 5 horas de sexo pelos meus cálculos). Será que
quando tivermos com a idade dos nossos pais conseguiremos fazer esse tipo
de coisa? Pais não transam! É isso!
– Me convém que você cuide de mim.
– Eu tenho vontade de matá-la às vezes.
– Qual motivo, a causa ou circunstância? – Pergunto.
– Porque eu sempre faço tudo que você quer, além de tarada é
manipuladora.
– Eu??? Tarada????? Que atrocidade! Eu não disse que ia te dar uma
noite inesquecível e te comi até do avesso plantando bananeira! Tarado é
você! Fui abusada sexualmente sem condições de me defender. – Justifico.
– Cara de pau.
– Vamos pular no mar para recarregar as energias? – Sugiro, e ele me
olha como se fosse a aberração.
– Mal estamos conseguindo levantar, Beatriz. – É verdade, mas mesmo
assim rastejo até a beirada da lancha, me apoio para ficar de pé e me lanço ao
mar.
Em tempo recorde, Bernardo está ao meu lado, brigando, enquanto eu
seguro minha barriga que dói de tanto rir.
– Você é louca! Se começar a afogar, vai morrer, não tenho condições.
– Estamos dando pé, não vou afogar. Eu te amo, Bebezinho. Você é o
melhor. – Jogo meus braços em volta do seu pescoço e ele me abraça.
Estamos exaustos e, quando vejo o sol prestes a nos agraciar com sua
presença, proponho que a gente suba.
Pego dois roupões enquanto Bê veste sua cueca resgatada do mar (agora
seca) e abre com muita dificuldade mais uma garrafa de champanhe, servindo
nossas taças. Em seguida, ele se senta, me encaixo entre suas pernas e juntos
assistimos o lindo espetáculo de camarote bebendo champanhe.
– Eu proponho um brinde. – Diz.
– Diga.
– Quero brindar a noite maravilhosa que tivemos e quero que possamos
repeti-la muitas outras vezes. E quero brindar também a você que chegou
trazendo luz, diversão e amor para minha vida. Nunca fui tão feliz antes,
garotinha.
– Ownnn, você é lindo meu amor. Eu amo você, bebezinho.
– Te amo também, mas amaria mais se parasse com esse bebezinho. –
Diz, rindo.
– Estou faminta!
– Vamos embora então. Precisamos comer e dormir. Seremos um casal
com hábitos noturnos esse final de semana.
Com muita dificuldade consigo conduzir a lancha, enquanto Bernardo
fica estirado no chão. Alguém me diga o que fizeram com o meu “Bê
responsável”? É inacreditável que ele esteja deixando ser conduzido por mim,
logo eu!
Enquanto faço manobras para “estacionar”, acordo-o para me ajudar.
– Preciso que me ajude a jogar a âncora, bonitinho. – Solicito quando ele
desperta assustado.
– Deixa que eu faço sozinho, não quero você empinando a bunda
enquanto veste apenas esse roupão, aquele cara pode estar escondido
tentando te ver. – Eu quase rio. Quase.
– Bernardo, você não pode estar falando sério. – Digo, seguindo-o até a
âncora.
– Pois saiba que estou. – Responde, jogando-a de uma só vez ao mar.
Ele sobe primeiro e, em seguida, me auxilia a subir. Abraçados,
andamos até nosso lar doce lar.
Estava tudo perfeito até Bernardo congelar seus pés na porta da casa e
colocar em seu rosto um olhar assassino. Demoro um pouco para entender o
que se passa, e dou dois passos para enxergar o que tanto o assombra. Assim
que registro tudo na minha mente sonolenta e exausta, coloco as mãos na
cabeça, se Bernardo não matar Matheus eu mesma o mato por ser tão lerdo e
inconsequente a ponto de dormir com Victória na sala.
Vejo meu namorado dar alguns passos para trás e voltar até a porta,
provavelmente para se certificar de que não é uma miragem. Me dou conta de
que tenho que fazer algo urgente.
A primeira atitude que tomo é abraçá-lo.
– Ela está mesmo nua? – Questiona.
– Não sei, mas se acalme. Vamos subir e descansar, depois resolvemos
isso.
– Eles...
– Bê, o que quer que seja, tenha em mente que sua irmã é pouco mais
nova que eu. Você deve saber que é normal. Tipo, 1 ano.
– Ela é uma criança, Beatriz, uma criança. – Esbraveja.
– Se ela é criança quer dizer que eu também sou, então você está
comendo uma criança. – Digo, revirando os olhos. – Olha, não estou falando
que está certo eles dormirem assim, na sala e serem descobertos dessa
maneira, mas sua irmã não é mais criança, Bê.
– Eu vou matar seu irmão. – Ele diz, se desvencilhando dos meus
braços, e eu uso toda força que tenho para segurá-lo.
– Não, não vai. Ele terá que te matar também porque você come a irmã
dele, tanto que a irmã dele mal é capaz de sentir as pernas. Então pare com
isso. Seja racional, Bernardo. Vamos subir, depois você conversa com Vic e
eu converso com Matheus. –Peço, tentando impedir a luta do século. Ele me
encara e parece ponderar minhas palavras, mas no mesmo momento Matheus
abre os olhos e eu começo a rezar para nossa senhora dos casais jovens-semi-
dominatrix-sadomasoquistas para que os ajudem.
Matheus finalmente dá conta do que está acontecendo e começa a
cutucar o braço de Victória, que abre os olhos assustada.
– Mais que porra, Matheus! – Ela xinga e, ao ver que ele está com olho
fixado a frente, ela segue seu olhar até Bernardo, que dá um sorriso que faz
subir arrepios frios por todo meu ser. – Bê. – Diz, vermelha e sem graça.
– Ei irmãzinha, posso saber o que está acontecendo? Estava fugindo do
lobo mau e acabou caindo na sala em cima do Matheus, ou Matheus seria o
lobo mau que seduziu Chapeuzinho?
– Bernardo, menos! Quase nada! – Digo, tentando acalmá-lo, mas ele
caga 3 kg para mim.
– Você está nua, Victória????? Diz que está com um top tomara que caia
ou eu não sei o que sou capaz de fazer! – Ameaça e Victória me dá um olhar
de pura súplica. Que bonita né, na hora de coisar com força ela coisa! Mas
fico com dó, odiaria ser pega dessa maneira.
– Calma aí cara, vamos conversar civilizadamente. – Matheus diz,
procurando algo embaixo das cobertas e bancando o adulto responsável. Seria
até capaz de me encher de orgulho nesse momento se não tivesse tido a ideia
de jerico de dormir/trepar/apanhar/comer Victória na sala, mas também não
duvido que a ideia tenha partido da ninfa-sádica. Ela é meio punk.
Nesse momento, no alto da escada, surgem Jéssica e Bruno rindo feito
hienas e eu começo a pressentir cheiro de merda quando ele me olha de cima
abaixo, cheio de vontade de provocar Bernardo, e diz:
– Uau Biazinha, que delícia de roupão, noite boa? – Pergunta e, como
num passe de mágica, Bernardo me joga longe e avança nele, agarrando-o
pela camisa. Puta que pariu, que cambada de filho da puta! O que eu fiz para
entrar nessa confusão?
– Do que você chamou minha namorada? – Bernardo grita enquanto
Bruno fica com as mãos levantadas para o alto, pedindo calma.
– Calma, cara!
– Calma? Beatriz é comprometida, o mínimo que você tem que fazer é
respeitá-la, babaca. – Bernardo grita enquanto Jéssica tenta separar os dois.
Aproveito a deixa e mando os dois filhotes de cruz credo se vestirem mais do
que rapidamente. E enquanto me distraio, Bruno diz algo que faz com que
Bernardo dê um soco bem dado em seu rosto e ambos caiam no chão.
Victória se levanta assustada e reparo que a filha da mãe é foda; ela
transformou uma camiseta numa blusa tomara que caia. Que menina safa, já
morro de orgulho dessa ousadia!
Vendo a situação se agravar e Bruno com um corte no supercílio, não
penso duas vezes antes de subir em cima das costas de Bernardo, passando
meus braços em volta do seu pescoço, esquecendo do lindo detalhe que estou
usando apenas um roupão sem absolutamente nada por baixo; e o mais legal é
que eu esqueci, mas ele não!
– Eu vou matar você, Beatriz. – Diz, se contorcendo e me fazendo sentir
em cima de um touro mecânico. Aproveito para dar uma leve risada quando
ele quase me joga no chão.
Bernardo se esforça até que esteja em pé comigo em suas costas e eu
escorrego ficando de pé. Ele me encara com tanto ódio que meu
subconsciente começa a gritar "corre, corre mas corre com vontade, filha da
puta" e sem pensar duas vezes, o obedeço. Corro diretamente para o deck e
isso faz com que ele esqueça de tudo e venha feito um foguete me pegar.
Após umas 3 voltas, enfim, me pega parecendo um homem das cavernas e eu
dou um grito sob olhar de 4 pessoas boquiabertas e medrosas, escondidas
atrás da vidraça da casa.
– Peguei você, jovenzinha rebelde. – Anuncia, bravo, e eu me viro para
encará-lo.
– Bê, você está possuído. Precisa exorcizar seus demônios ou ritual do
descarrego. Calma neném, shiu, eu amo você teteia, de verdade, você é meu
bebezinho lindo doçura. – Digo, com voz de criança.
– Calma? O cara te chama de delícia, você sobe em mim completamente
nua por baixo desse roupão correndo o risco daquele filho da puta te ver
como veio ao mundo e você me pede calma?
– Olha, temos assuntos mais importantes nesse momento. Esqueceu de
Vic? – Pergunto, arqueando a sobrancelha e me sentindo uma verdadeira
vaca por transferir a briga para minha linda e doce cunhada. Bernardo lança
um olhar fatal para Victória, que escorrega pela vidraça provavelmente
xingando até minha mãe.
– Sim, tem Victória, mas ao menos ela está vestida, já você não!
– Bê, eu estou com roupão.
– Eu sei que está, e completamente nua por baixo dele. Vá se trocar! –
Ele grita, perdendo completamente o controle.
– Não grita comigo!
– Vá se trocar, eu estou falando sério, me ajuda, Beatriz. – Passa as
mãos pelo rosto e tenta se aproximar de mim.
– Querido, se tem uma coisa que eu não sou é obrigada. EU NÃO SOU
OBRIGADA A NADA! – Digo em alto e bom tom. – Eu estou bem de
roupão e não vou mostrar minha bunda para ninguém.
– Essa é sua palavra final? Você vai continuar de roupão? – Pergunta
numa falsa calma que faz minha espinha gelar e eu ouso balançar minha
cabeça afirmando. – Tudo bem. – Diz, me deixando sozinha do deck
enquanto caminha para casa, fazendo as 4 almas penadas correrem. Que
ótimo, tudo tem que sobrar para mim, pobre coitada!
Fico alguns minutos observando ele puxar Victória e Matheus pelo
braço, Jessica e Bruno subirem para o quarto e, quando enfim vejo o trio
conversando como adultos, ando até a casa, pego um iogurte, um pacote de
biscoito e vou direto para o quarto me sentindo invisível. Do alto da escada,
chamo Bernardo de babaca e mostro o dedo do meio para que ele saiba que
sou dessas! Agora sim me sinto em paz comigo mesmo!
Minha plenitude dura pouco, pois o mesmo aparece na porta e diz:
– Eu quero esse tal de Bruno fora daqui o quanto antes, e esse dedo você
sabe bem onde deve enfiar já que meu pau não verá tão cedo! – Informa e
bate a porta em seguida, me deixando muito puta da vida!
MATHEUS

– Porra, eu te avisei Victória! Sabia que ia dar merda. – Xingo enquanto


a porra do irmão dela vem andando em nossa direção com o semblante nada
bom.
– Calma, vamos resolver. – Ela diz, baixinho, e a voz dele quase me faz
cair do sofá. Não que eu tenha medo de brigas, sei me defender, mas a merda
toda está no fato dele ser namorado da minha irmã e ainda por cima nosso
vizinho. Meus pais me matariam se eu devolvesse um soco no olho
dele. Vontade não falta, porque ele está me tratando como se eu fosse um
moleque e essa é a última coisa que sou. Só serei paciente em respeito a
Victória e aos meus pais.
– Nós três precisamos conversar! – Diz, se acomodando no sofá e
parecendo transtornado por causa de Beatriz. Minha irmã é a personificação
do demônio mesmo, eu entendo ele. – Se estiver rolando algo, eu quero que
falem agora. Vocês estão namorando?
– Sim. – Respondo, ao mesmo tempo que a cadela da Victória responde
NÃO.
– Sim ou não? – Pergunta, nos encarando.
– Por mim estaríamos. – Digo, me sentindo um tolo, assinando meu
papel de trouxa. Eu nunca quis assumir alguém nessa vida e, de repente,
quando quero, tenho meu coração pisoteado. Talvez aquela história de "pisa
que gama" seja realmente verdade. É a primeira pessoa que me pisa e que eu
realmente quero algo a mais do que apenas uma trepada. Pensar dessa forma
é horrível, mas talvez essa conversa seja um ponto decisivo para nós, bem do
tipo "dá ou racha”. Se ela não tiver coragem de assumir para o irmão o que
está rolando, eu vou largar a exclusividade e tratá-la como qualquer outra
mulher que fico, sem compromisso.
– Então existe algo entre vocês, mas não é um compromisso? – Ele
pergunta, e somos atraídos por Beatriz.
– Babaca! – Ela diz e mostra o dedo do meio para ele, como se gostasse
de rir na cara do perigo. Nem ele mesmo aguenta e começa a rir assim que a
vê entrando no quarto.
– Ela é foda! Já volto, ainda quero entender essa situação. – Avisa e
sobe atrás de Bia. Mais que depressa, Victória quebra o silêncio.
– Você não podia ter falado aquilo, não somos namorados e nem
seremos.
– Olha Vic, vamos ter uma conversa definitiva, é até bom que tudo isso
esteja acontecendo hoje. – Informo.
– Conversa definitiva? – Pergunta, me encarando.
– Exatamente. Nós não somos namorados? Você tem certeza sobre isso?
– Pergunto gentilmente sem parecer querer forçar a barra.
– Não somos. – Afirma, convicta.
– Não seremos?
– Absolutamente não. – Diz tão certa e segura que a invejo.
– Ok, então tudo que tivemos até hoje encerra agora. Nós vamos falar
para o seu irmão que só nos beijamos e acabou.
– Mas... – Tenta dizer e eu a calo, colocando um dedo sobre seus lábios.
– Não tem “mas”. Já estamos conversados. Não vou continuar nutrindo
sentimentos ficando com você sem um propósito. Estou apaixonado por você,
mas você não está apaixonada por mim. Fim. Não se preocupe,
continuaremos amigos como antes.
– Então... – Bernardo volta e eu decido tomar as rédeas da situação.
– Bom, foi apenas um beijo, Bernardo. Nós não temos nada, nunca
tivemos, nunca teremos. Peço desculpas por isso e garanto que não voltará a
acontecer. Ela só dormiu comigo porque estávamos assistindo filme e
acabamos pegando no sono, não rolou nada. – Minto. – Agora vou dar mais
uma dormida, estou exausto. – Digo me levantando e, após um aperto de
mãos ao meu cunhado, subo.
– Psiuuu! – Ouço e vejo Beatriz me chamando pela gretinha da porta e
rio.
– Qual foi, está escondida? – Questiono.
– Não, só quis evitar a fadiga. – Responde, rindo. – Senta aí, me conta o
que está acontecendo. Você é retardado demais de dormir com a Vic na sala.
– Foi um erro, aliás eu e Vic somos um erro, um erro que acabou de ser
corrigido. – Digo, filosofando mais para mim do que para Bia. Porra, estou
fodido internamente. Pela primeira vez, estou sentindo uma vontade gigante
de chorar por uma mulher.
– Como assim?
– Eu gosto dela, é muito fácil gostar dela, mas ela não sente o mesmo,
então não ficaremos mais. Não sou objeto sexual. – Desabafo, e Beatriz dá
uma gargalhada.
– Engraçado ouvir você falando assim. Você comia qualquer ser andante
que tivesse pepeca e agora está se sentindo um objeto. – Pois é... o jogo
inverteu. Aqui se faz, aqui se paga. Definitivamente.
– Ser objeto de alguém quando não temos sentimentos é fácil. Agora
com Vic isso não será possível. Terminamos de vez e vida que segue.
Segunda já arrumo uma distração. Pelo menos durou pouco tempo e é só um
'gostar". – Explico.
– Tem certeza? – Não. Nenhuma. Vai muito além de gostar.
– Sim, chata, eu tenho. Agora vou dormir e se prepara que Bernardo está
bolado.
– Estou sabendo, ele quer que eu mande Bruno embora. Se você puder
fazer isso por mim, eu ficaria grata e arrumaria sua cama por 1 mês. – Pede,
com cara de pidona.
– Vou ver o que posso fazer. – Sorrio, fraco.
– Aff, você está tristinho. – Ela diz me abraçando e eu quero chorar.
Porém, não irei. Victória não merece minhas lágrimas.
– É só sono. Daqui a pouco acordo animado. – Dou um beijo em sua
testa e vou direto para o quarto.
Entro embaixo chuveiro esperançoso que a água fria dissipe tudo o que
estou sentindo e arranque seu cheiro de mim, mas minha mente traiçoeira me
leva diretamente para a noite de ontem.
– Eu quero fazer sexo no mar. – Ela diz em meu ouvido.
– Se seu irmão aparecer e nos pegar?
– Ele deve estar fazendo o mesmo com Beatriz.
Ela dá o sorriso mais angelical do mundo enquanto retira sua roupa e
fica apenas de biquíni. Meus olhos não conseguem mais medi-la, e nem
mesmo esconder o efeito que causa em mim. Antes que eu possa processar,
me vejo dentro do mar, atraído por ela como se fosse alguma maldição e, em
questão de segundos, tenho suas pernas em volta de mim, me provocando até
que eu esteja dentro dela, do jeito que ela gosta, do jeito que nós gostamos.
Nós fodemos com força dentro do mar, fodemos na escada que nos leva ao
deck e fodemos novamente na sala, onde as coisas perdem o controle e ficam
além de selvagens. Ela me bate e eu a fodo tão forte como nunca fodi antes.
Porra, ela é a única que eu dei meu rosto para ser estapeado e meu
coração para ser estraçalhado. É a única que me fez querer mais do que sexo.
Eu podia imaginar fazendo aqueles programas idiotas de casal como ir ao
cinema, tomar sorvete, até mesmo ir à missa. Eu gosto dela! Eu a amo! Só de
pensar em perdê-la, me rasga para caralho.
Agora acabou e eu não voltarei atrás. É melhor que eu a esqueça antes
que as coisas piorem e os sentimentos aumentem. Matheus Albuquerque
voltará desse passeio regenerado.
BEATRIZ

Matheus sai do quarto e eu fico triste por vê-lo tão sério. Ele nunca foi
assim.
Entro no banheiro e tomo um banho rápido. Sinto cada parte do meu
corpo dolorido, a cabeça pesada pelo sono e necessidade de dormir.
Assim que termino, me ajeito na cama e, minutos depois, ouço Bernardo
entrar no quarto e ir direto para o banheiro. Sorrio escondida debaixo das
cobertas e decido fingir que estou dormindo, assim consigo fugir de toda sua
braveza.
Estou quase dormindo realmente quando o sinto deitando-se ao meu
lado e, sem pensar duas vezes, o abraço.
– Eu não era babaca há alguns minutos atrás? – Questiona, emburrado.
– É o babaca que eu amo. Deixe eu ver sua mão. – Digo, e ele me
mostra sua mão um pouco inchada pelo soco. – Precisa de gelo?
– Já coloquei um pouco. – Responde, se virando para mim.
– Te amo.
– Também te amo, garotinha. – Responde e eu o beijo da forma mais
delicada, provando cada segundo, derramando amor e pensando no quão
grande esse sentimento se torna a cada dia.
Bê me puxa mais para seus braços e passa a comandar os movimentos, e
por incrível que pareça, como uma conexão forte, o frio na barriga surge, o
coração acelera e meu corpo morto volta a vida respondendo às carícias.
Ele para o beijo e, com os olhos fechados e as testas coladas, o vejo
sorrir enquanto controlamos nossa respiração.
– Eu nunca senti isso antes. – Diz, ainda com os olhos fechados, e eu o
aperto a mim, identificando plenamente com o que ele acabou de dizer.
– Nem eu, Bê.
– Nunca me deixe, promete? O que quer que aconteça, nunca vamos
deixar isso morrer. – Pede e lágrimas caem sem que eu seja capaz de segurá-
las.
– Eu prometo.
– Casa comigo. – Diz, e abre os olhos. Nossos olhares se cruzam e
diante da perplexidade eu não consigo responder, apenas chorar. Ele disse
isso ou é armadilha da minha mente tomada pela paixão? – Eu sei que você é
novinha e eu também sou, sei que namoramos há pouco tempo, sei que seu
pai vai me matar por isso, mas eu estou tão certo disso Beatriz, tão certo que
já tenho pensado nisso. Nós podemos fazer tudo com calma. Quero que seja
minha esposa e que num futuro um pouco distante possamos ter filhos, nós
podemos crescer juntos. Quero acordar com você ao meu lado, dormir com
você, viver com você... pode parecer exagerado, mas eu amo você
exageradamente. Apenas case comigo e eu farei valer a pena. – Pede, e eu
me pego imaginando uma cena que não havia passado em minha mente até o
momento; eu vestida de branco, indo em direção ao homem que me espera no
altar. Deus, é surreal, nunca idealizei isso e sequer pensei que um dia seria
pedida em casamento. Eu achei que viria para o Rio, curtiria bailes funks,
festinhas, pegaria geral e ele apareceu do nada e mudou tudo do dia para a
noite e, sem eu menos esperar, agora meu cavalheiro da armadura brilhante
propõe o que eu só conhecia em cenas de filmes e novelas. – Pare de chorar e
responda, por favor.
– Sim. – Respondo com um fio de voz e sou beijada fervorosamente. De
forma tão doce, ele abaixa a alça da minha camiseta e leva sua boca ao meu
pescoço onde distribui beijos molhados e delicados. Eu me viro, deixando
meu corpo livre para que ele faça o que quiser e me dê tudo o que quero e
preciso. Quando ele se ajeita entre minhas pernas, eu puxo sua cueca com os
pés, o liberando completamente para mim, e em seguida tenho meu short
retirado. Seu corpo cai sobre o meu e, sem urgência alguma, ele faz amor
comigo, de um jeito carinhoso e cuidadoso (pelas limitações que ganhamos
pelo uso excessivo da madrugada).
Cada gemido baixo que dá é o suficiente para que meu corpo inunde de
arrepios e fique mais entregue. Analiso suas bochechas rosadas, suas pupilas
dilatadas e sua boca seca, e vejo a verdadeira personificação do desejo mais
cru e primitivo estampado nele. A forma como se preocupa em me dar prazer
antes mesmo de ter seu próprio prazer é algo tão íntimo, intenso e
apaixonante. Eu não consigo imaginar ser tocada por mais ninguém, meu
corpo o pertence completamente e ele sabe exatamente cuidar e aproveitar
isso, lidar com a minha entrega, com as minhas fraquezas e até mesmo com
as minhas resistências. E, tão conhecedor de mim, sabe perfeitamente que
quando nossas bocas se conectam, a explosão é quase avassaladora. Me perco
completamente no universo do prazer e o arrasto junto comigo.
Ele nos puxa de maneira que ficamos deitados de lado, ainda conectados
e ofegantes, nos recuperamos do sexo, mas não da intensidade. Lágrimas
caem de seus olhos e, como se programado, os meus os acompanham. Que
amor é esse??? Não sei, mas sei que quero desfrutar disso até o infinito.
BEATRIZ

DIAS DEPOIS
Sabe quando tudo está bom, perfeito demais para ser verdade?
Pois é... está! Estava...
Parada diante da porta, sinto meus olhos perderem o foco e o sangue do
meu corpo sumir completamente.
Não acredito no que estou vendo, não depois do que vivemos nas
últimas semanas.
Um pedido de noivado, um anel, todos os jantares em família,
revezamento de casas, todas as noites que passamos juntos dividindo o tempo
em transar como dois malucos e fazer planos incríveis para o futuro. Até
mesmo eu ter me tornado voluntária dos abrigos... tudo em vão. Ao menos ter
me tornado voluntária valeu a pena, porque o resto acabou de ir por água
abaixo.
Não sei se grito, "se dou na cara dela ou bato em você" ou se banco a
fina e saio de fininho...
Eu sabia que a Maria do bairro era uma puta de marca maior, mas não
sabia que Bernardo seria tão baixo a ponto de ficar com ela num coquetel
onde está toda nossa família. Na verdade, eu nunca o imaginei fazendo
qualquer coisa desse tipo, traição não combina com ele. Me enganei.
A língua dela está na boca dele, e o ódio está me tomando enquanto vejo
aquelas unhas postiças cravadas na bunda do meu namorado. Sinto vontade
de sumir daqui e ir para um lugar onde eu possa gritar e chorar até
desintegrar, mas, que Deus me perdoe, bancar a fina não é comigo, eu gosto é
do caos. Eu preciso machucá-los, preciso que eles sintam ao menos um pouco
de dor para ficarmos todos quites, e é pensando nisso que dou um chute na
porta com meus legítimos Louboutins de 15 cm porque classe é tudo, sambar
de Louboutins na cara da inimiga é revigorante e ver a cara do Bernardo
completamente sem cor, me encarando, é quase libertador.
Meu assunto não é com ele agora, não mesmo!
– Beatriz... – Ouço sua voz enquanto caminho diretamente para a Maria
do bairro, da cidade, do mundo... ela é puta universal!
Assim que paro diante dela, vejo uma leve ameaça de sorriso vitorioso
que morre assim que minha mão estala de forma bastante audível em seu
rosto, fazendo-a dar três passos para trás. A satisfação me toma quando vejo
o terror estampado na cara de pau que ela tem.
– Bia, por favor, vamos conversar. – Bernardo diz, me puxando pelo
braço, e eu dou um chute em seu saco, exatamente como quando nos
conhecemos no elevador. Se é pra fechar o ciclo doentio no qual estava
envolvida, tenho que fechar com chave de ouro e nada melhor que termine da
mesma forma que começamos. – Porra. De novo. – Diz, se contorcendo,
ajoelhado no chão. De relance, vejo Maria tentando fugir, porém sou mais
rápida e a pego pelos cabelos. Minha vontade é arrancar cada um deles.
– Cadê a coragem que estava estampada na sua cara quando estava
beijando meu ex noivo? – Pergunto e ela sorri, me deixando louca.
Aperto os cabelos dela com tanta força, que sou capaz de afirmar que
assim que os soltar terei um tufo gigante em minhas mãos.
– Você está me machucando. – Ela grunhe.
– Não tanto quanto você me machucou. Vamos lá, Maria, me diga que
coquetel é esse? – Pergunto.
– Das crianças... merda está machucando.
– O que acha que eles vão pensar quando você for jogada em cima do
palco como a puta perfeita e imunda que é? O que acha que Eliza e Bernardo
vão pensar da menina que eles tanto ajudaram e hoje está destruindo não
apenas um relacionamento, mas um coquetel que foi tão esperado? –
Pergunto, observando-a me lançar um olhar desafiador.
Olho para Bernardo no chão e ele implora com os olhos para que eu não
faça nada, e por incrível que pareça isso só me motiva.
– Você não teria coragem. – A puta diz entre gemidos e eu dou outro
tapa em sua linda cara, e outro e outro... até que eu esteja satisfeita. Ela nem
ao menos tenta revidar, parece encarnada no papel de vítima por completo.
Talvez eu responda por agressão e doutor Arthur tenha que me defender nos
tribunais, foda-se, isso é tudo que não importa agora.
Ando com ela por todo corredor, sem soltar seus cabelos e sob o olhar
curioso de várias pessoas que encontramos pelo caminho. Assim que chego
no grande salão é que o show realmente começa. Centenas de pessoas,
incluindo meus pais e os pais de Bernardo, voltam o olhar para nós
duas. Basta um olhar para minha mãe para que ela saiba exatamente o que
acabou de acontecer e acene a cabeça discretamente para que eu faça o que
quer que seja... Eu amo minha mãe!
Meus passos se tornam mais firmes e decididos após isso, e quando
chego em frente ao palco, jogo-a no chão com o rosto completamente
vermelho e os cabelos completamente desarrumados, a perfeita imagem da
humilhação.
– Beatriz, o que houve? Pelo amor de Deus! – Minha sogra me pega
pelo braço. Encaro-a. Vejo choque e decepção, e pela primeira vez, permito
derramar uma lágrima. Ela não merecia isso, mas eu também não.
– Me desculpe, Liz. – Digo e, desvencilhando de seus braços, corro até
que esteja fora daquele ambiente que se tornou insuportável.
Fora do salão, o vento se faz presente e eu tomo uma lufada de ar com
os olhos anuviados.
– Filha, espere. – Meu pai chega correndo e eu o abraço o mais forte que
consigo.
– Pai.
– Cadê aquele moleque? O que ele fez com você? Eu vou matá-lo!
– Matheus já foi resolver isso. – Minha mãe chega dizendo. – Leve-a
para casa, eu e Matheus vamos de táxi.
– Não posso deixar vocês aqui. – Meu pai diz.
– Vá, Arthur, obedeça ao menos uma vez. – Meu pai acata e juntos
andamos até o carro.
Ele não me pressiona e eu o agradeço por isso. Seguimos ao som do meu
choro para casa e, assim que chegamos, vou direto para o quarto, tranco a
porta com chave e entro debaixo da ducha com roupa e tudo...
O vestido preto gruda ao meu corpo e a água desfaz meu penteado. Tiro
meus saltos e escorrego pelo blindex. Vislumbro o anel em meu dedo e me
sinto miserável, ingênua por ter acreditado na história de irmandade entre ele
e Maria que me foi passada.
Bernardo foi o primeiro homem que conseguiu me mudar por completo,
foi meu primeiro amor, meu primeiro sexo e o primeiro a destruir meu
coração.
[...]
Nos três dias que sucederam o acontecimento, me mantive no quarto.
Meus pais, meus avós, Matheus, Jéssica, nenhum deles ousou dizer nada
sobre Bernardo. Vinham até meu quarto apenas trazer comida, doces. Meu
pai sempre trazia flores, mas nunca tentaram me persuadir a sair do
quarto. Meu celular já não existia mais. Era apenas eu e Simba e Netflix e
comida e lágrimas e vômitos. Me sentia doente de verdade. Na madrugada
de terça-feira, ouvi a maçaneta girar pela primeira vez e agradeci por ter
trancado a porta... quando completou 7 dias, acordei decidida a comemorar
os 7 dias de falecimento do meu coração.
Bernardo vai querer nunca ter me magoado!!!
BERNARDO

– Precisamos conversar. – Meu pai me assusta entrando no meu


escritório.
– Pai, o que está fazendo aqui?
– Três pedidos de demissões em uma semana, é isso mesmo? Sua mãe
não sabe mais como lidar com você. Não pode descontar problemas que
você mesmo arrumou em pessoas que não têm absolutamente nada a ver com
a situação. – Diz com firmeza, socando a mesa. Nunca o vi dessa maneira
antes.
– Não foi bem assim. São pessoas que não agregam e que me deram
motivos para isso.
– São pessoas que trabalham nessa empresa há mais de dez anos,
Bernardo! – Ele grita.
– Ok pai, a empresa não é minha mesmo, mamãe pode mantê-los. –
Digo, levantando e juntando minhas coisas.
Cheguei no limite do stress. De um minuto para o outro, vi minha vida
desabar sem ao menos poder me defender. Beatriz não me atende, Mariana e
Arthur não me deixam entrar, Matheus me deu a porra de um soco no olho
que fui obrigado a aceitar sem questionar ou devolver, Maria sumiu do
mundo e o tempo todo sou obrigado a ver pessoas apontando o dedo para
mim, julgando por um erro que não cometi. Ok, ela me beijou e eu fiquei
surpreso, mas como disse ELA ME BEIJOU, e não eu. Minha língua não
entrou naquela boca, nunca!
Nunca me referi a uma mulher dessa maneira, mas Maria é a porra de
uma maldita puta que fodeu com o meu relacionamento.
– Eu estou de saco cheio, pai. Permita-me ser imperfeito ao menos uma
vez na vida.
– Por que ao invés de juntar suas coisas e ir embora você não conversa
comigo? Eu sou seu pai e você não permite nenhum tipo de aproximação
desde sábado passado.
– Eu não quero conversar. Só quero esquecer essa merda toda, pai. Hoje
é sábado, nem deveria estar aqui!
– É assim? Você vai desistir no primeiro obstáculo? – Ele me encara. –
Que tipo de homem você é?
– O homem que deixa a namorada ver outra o beijando. – Bato nas
costas dele e saio.
Dirijo a 180 km/hora na Avenida das Américas até chegar ao
condomínio. Assim que vou entrar no estacionamento do prédio, Bianca pula
na frente do carro.
– Ei! – Diz, quando eu abro a janela.
– Está maluca?
– Festinha hoje às 22 horas. Tendo em vista sua atual mudança de status
de relacionamento, achei bom te convidar.
– Como sabe? – Pergunto.
– Beatriz.
– Ela vai?
– Ela que está agitando a galera, óbvio que vai. Por falar nela... – Diz e
olho para o lado o suficiente para ver Beatriz descendo de um táxi, vestindo
um micro biquíni com uma canga na mão e a bolsa no ombro.
Assim que me vê, seu sorriso morre e ela joga metade do corpo dentro
do táxi, deixando sua bela comissão traseira de fora. Meus dedos ficam
brancos à medida que aperto o volante. Sei perfeitamente o que ela quer com
isso, e o pior, sei perfeitamente que ela está conseguindo, ela sempre
consegue o que quer.
– Eita ... – Ouço Bianca dizer. Entro na porra da garagem mais puto do
que estava antes.
Entro no elevador e ele para no térreo, exibindo-a bem diante de mim.
Beatriz me encara alguns segundos antes de entrar e, assim que entra, o
ambiente se torna quase claustrofóbico. Afrouxo a maldita gravata e dobro as
mangas da camisa sob o olhar quase indiscreto dela.
– Precisamos conversar. – Digo, impaciente.
– Não precisamos não. Atitudes falam mais que palavras. Estamos mais
do que conversados, Bernardo.
– Não é assim que resolve as coisas. Precisamos conversar como adultos
nem que seja para colocarmos um fim digno na relação.
– Você acha que não foi digno? Foi digno de uma adaptação
cinematográfica, Bernardo, não se preocupe com isso. Mas sou boazinha,
podemos ser amiguinhos, o que acha? – Diz, se aproximando e me pegando
pela gravata. Minha respiração chega a falhar e meu coração acelera quando
coloco minhas mãos em sua cintura, sentindo a maciez da pele. – Podemos
nos cumprimentar quando nos encontrarmos. – Fala, passando o nariz pelo
meu pescoço. – Podemos nos esbarrar em algumas baladas e tomar um drink
juntos, ou até mesmo podemos dividir os aparelhos da academia e nadar na
mesma piscina do prédio. – Ela dá um beijo em meu rosto e se afasta. – O
que acha, Bê? Eu ia adorar! – Diz, sorrindo, analisando descaradamente o
volume em minhas calças. Eu uso todo meu autocontrole para não agarrá-la,
não sei que espécie de jogo é esse que ela está querendo jogar.
Quando o elevador chega ao nosso andar, vejo-a propositalmente deixar
a canga cair no chão, e ela se abaixa quase grudando sua bunda em mim.
Fecho meus olhos e minhas mãos em um punho e, quando os abro
novamente, vejo-a entrando em casa. Nossos olhares se cruzam novamente e
posso jurar que vejo lágrimas em seus olhos. Ela fecha a porta e eu solto um
suspiro longo.
Me sinto destroçado como nunca antes.
Minha garotinha está tentando ser forte quando se encontra tão arrasada
quanto eu. Preciso fazer algo para corrigir, não posso perdê-la.
BEATRIZ

Após encontrar com Bernardo no elevador, eu choro o restante do dia.


Quando senti suas mãos em minha cintura, estive bem perto de jogar
tudo para o alto e voltar atrás, bem perto.
Terminar um relacionamento no qual os dois ainda estão bastante
envolvidos é a pior coisa que pode existir. É horrível a perspectiva de que
aquelas mãos nunca mais estarão sobre mim, aquela boca nunca mais
passeará pelo meu corpo, aquele cheiro... isso é terrível de tantas maneiras,
ainda mais quando o corpo e o coração gritam tão alto implorando por isso.
Eu já estou pronta, exceto pela maquiagem que já desfiz três vezes
chorando e lembrando da nossa aventura noturna a bordo da lancha. Há 3
semanas atrás, estávamos literalmente no céu, no ápice do nosso
relacionamento, e agora estou aqui, sentada diante do espelho me arrumando
para ir a uma festa encher o rabo de cachaça e afogar as mágoas.
Se fosse um sábado normal estaríamos nos arrumando juntos para
fazermos algum programa de casal, ou estaríamos assistindo um filme e nos
provocando debaixo das cobertas, no final do filme seria ele completamente
enterrado dentro de mim. Maldito seja... era exatamente isso que eu
queria. Há alguns dias, tenho sentido uma necessidade sexual insana, uma do
tipo que só ele é capaz de controlar.
Uma batida na porta me faz desviar o foco e, em seguida, minha mãe
entra com um embrulho na mão.
– Para você! Não quero que fique precisando usar o celular do Matheus.
– Diz sorridente, me entregando.
– Obrigada, mãe.
– Você estava chorando? – Pergunta, e eu não respondo o que está tão
óbvio. – Olha, não conversamos desde sábado passado, tenho tentado
respeitar seu tempo justamente por ter tido sua idade e saber perfeitamente
tudo que está passando, mas preciso te alertar. Eu passei pela mesma coisa
com seu pai.
– Meu pai te traiu???? – Pergunto, chocada, e ela sorri.
– Não, eu jamais perdoaria traição. Enfim, uma arquiteta de merda
estava cuidando da decoração da nossa casa, de alguns ajustes. Ela já
conhecia seu pai da adolescência. Tínhamos uma reunião com ela na casa,
seu pai chegou alguns minutos antes e assim que ela me viu entrando, o
beijou. – Minha mãe diz e fecha os olhos como se a lembrança ainda a tirasse
do sério. – Aquela vadia!
– E como sabe que ele não retribuiu?
– Eu conhecia seu pai, Arthur é um homem verdadeiro e íntegro. Mas no
calor do momento, eu explodi com ele, estava cega de ódio, filha. Eu
acreditava que ele tinha beijado ela. Fiquei arrasada principalmente porque já
estava grávida de você e eu achava que não teria perdão. Mas aí ele me
procurou bêbado. – Ela ri. – Seu pai bêbado é um desastre. Enfim, ele me
procurou e nós tivemos uma conversa, então eu me dei conta de que estava
delirando em pensar na hipótese dele me trair. Seu pai era apaixonado por
mim, apaixonado por você, apaixonado pelo nosso relacionamento. O que
quero dizer com isso é que o mesmo pode estar acontecendo com você, e que
você deveria procurar o Bernardo e conversar. Não deixe que uma piranha
qualquer tire de vocês algo tão valioso que construíram em tão pouco tempo.
Eu sei que vai nessa festa, vai beber, vai enlouquecer dançando porque eu
era exatamente como você, mas depois que se sentir extravasada e vingada o
suficiente, converse com ele. Cuidado para não abusar em castigá-lo e acabar
o perdendo. Não se pode perder um garoto como ele, Bia, garotos assim são
raros.
– Obrigada, mãe. – Digo a abraçando e limpando as lágrimas dos meus
olhos.
– Vá e se divirta, mas não extrapole, filha. Saiba identificar seu limite.
Arrume essa carinha de choro e me ligue se precisar de qualquer coisa. Seu
pai está preparando um jantar à luz de velas na piscina. – Ela sorri. – Mas eu
sempre estarei disponível para você e seu irmão. – Diz, rindo, com brilho nos
olhos. Já disse que invejo eles? Sim né...
– Ok mãe, mais uma vez obrigada. Você faz tudo parecer tão mais fácil.
– Ah, por falar em fácil, já passam das 23 horas, se Bernardo estiver
nessa festa deve estar rodeado de pererecas piscando, então ande logo. Os
únicos homens que ficam na fossa sofrendo por amor e rejeitando pepecas
são os literários. – Pisca o olho e sai, e eu faço um reboco na minha cara o
mais rápido que consigo.
Abro a embalagem do celular novo e agradeço por já vir semi-
carregado. Após verificar se estou apresentável, sigo para o salão de festas do
condomínio onde Matheus já deve estar passando o rodo.
Por puro instinto, a primeira pessoa que visualizo ao chegar é Bernardo.
Ele está sentado em um banco alto no balcão bem em frente à porta de
entrada com um copo na mão. Me sinto acompanhada do capetinha e do
anjinho. O anjinho grita para que eu vá até ele, enquanto o capetinha grita
torture ele. Obviamente o capetinha vence. Por mais que eu acredite que as
palavras que minha mãe disse podem ser reais, preciso castigá-lo antes de
termos uma conversa decisiva para que ele saiba que, se voltarmos, isso
nunca mais poderá acontecer! Coisa de me auto afirmar mesmo e ele
enxergar que não sou um brinquedo.
O problema todo é que olho para ele e vejo perfeitamente a imagem
daquele sábado, isso me irrita!
Tomo uma dose de amor próprio e começo a me familiarizar no
ambiente. Bianca me entrega um copo com um líquido âmbar e
instantaneamente o cheiro me enoja. Tapo o nariz e viro tudo de uma única
vez. Sinto o líquido descer queimando pelo meu corpo, balanço a cabeça
fazendo uma careta pelo gosto ruim, e logo começo a sentir uma leve
adrenalina.
Uma música eletrônica começa a tocar e deixo meu corpo seguir as
batidas, enquanto roubo o copo de bebida de um desconhecido e viro tudo.
Matheus aparece do nada e segura minha cintura, dançando junto no mesmo
ritmo. As meninas que estão com Beatriz logo se assanham, me fazendo rir.
– Pega bebida para a gente. – Grito no ouvido dele e ele sai.
– Quero seu irmão de novo. – Bianca grita no meu ouvido e eu nem
sabia que ele tinha ficado com ela.
– Vamos ver o que podemos fazer.
– E o Bê? Ele não tira os olhos de você. – Ela diz e eu não respondo. Me
concentro em beber os dois copos de bebida que Matheus trouxe e deixam
minha cabeça anuviada.
– Vai com calma, Bia. – Meu irmãozinho repreende.
– Coloca funk nessa porra! – Grito e Bianca sai correndo para obedecer
meu pedido. O que um irmão gato não faz?
– Bianca está te querendo! – Digo no ouvido de Matheus.
– Desculpa, mas não vai rolar, figurinha repetida não completa álbum.
Talvez no final da festa. – Esse é o Matheus que eu conheço. Parece que ele
se recuperou da fossa. Aliás, ele está fazendo um rodízio de mulheres nos
últimos dias absurdo!
– A não ser que seja uma vizinha do apartamento ao lado, né?! –
Provoco, e ele fecha a cara.
– Não quero lembrar dessa garota. – Afirma e voltamos a dançar juntos.
Hoje somos dois irmãos machucados por outros dois irmãos em busca do
esquecimento.
Tento controlar meu lado psicopata quando vejo uma loira falando algo
no ouvido de Bernardo e ele sorrindo. Quando estou prestes a partir para a
violência, tia Lud me traz de volta a sanidade:
"e que se dane eu quero mais é que se exploda"
Dois podem jogar esse jogo! Viro de costas e volto a dançar. Como meu
santo é forte, vejo Yuri me secando com uma garrafa de vodca na mão, logo
Yuri, o garoto que Bernardo ama de paixão, só que não! Deus é mais! Deus é
pai, não é padrasto! Durma com essa, babaca!
Me aproximo e ele me puxa pela cintura para dançarmos juntos. Me
oferece vodca e joga em minha boca como se fosse um "tequileiro". Se não
fosse Bernardo, eu investiria pesado nesse boy. Yuri é moreno claro, cabelos
arrepiados, possui uma leve barba marcando o rosto, braços fortes e tem um
sorriso perfeito. Definitivamente, ele faz meu estilo, mas não estou bêbada o
suficiente para magoar Bernardo dessa maneira, quero só provocá-lo. Então
ficamos apenas dançando e bebendo juntos, e a cada vez que ele tenta algo
mais eu me esquivo, sorrindo.
Em alguns momentos, olho para o bar e vejo Bernardo me encarando
fixamente. Sorrio para ele e sei que estou deixando-o completamente puto.
Yuri segura forte minha cintura e gruda seu corpo em minha traseira,
enquanto eu e Bernardo permanecemos conectados pelo olhar. Uma música
que eu amo, remix do Dennis Dj, começa a tocar e começo a cantar
especialmente para ele enquanto danço com o lindo homem chamado Yuri!
Fecho os olhos e começo a cantar o refrão
Tô namorando a Budweiser
Sou amante da Skol Beats
Quero que se exploda se o país tá em crise
Ôh, desce uma, desce duas
Desce três e desce quatro...
No “quatro” sinto Yuri voando longe de mim. Me viro para encontrá-lo
caído no chão com a boca sangrando e Bernardo irado.
– Você é louco? – Grito.
– Satisfeita? Era isso que você queria, me provocar até que eu perdesse a
cabeça? – Sou pega pelas pernas e jogada em seu ombro. Ele sai rapidamente
e sinto minha cabeça rodando enquanto bato em sua bunda. Balanço minhas
pernas para que me solte, mas nada adianta.
– Você é um IDIOTA! ME SOLTA BABACA! – Grito e ele não
responde.
Vejo a entrada do nosso prédio e logo estamos descendo um lance de
escadas até o estacionamento. Fico puta com a facilidade que ele me carrega,
como se eu não pesasse absolutamente nada.
Ele me desce e abre a porta do carro. Me segurando pelo braço,
praticamente me joga dentro e fecha a porta. Porém, eu saio correndo assim
que ele se afasta.
Me sinto brincando de pique pega enquanto corre atrás de mim em meio
a dezenas de carro na garagem.
Quando enfim sou pega, ele segura meu braço e anda a passos firmes
até o carro. Completamente sério, abre o porta malas e me encara.
– Não, você não vai fazer isso. – Tento me desvencilhar.
– Vou! – Avisa, sorrindo, e me coloca dentro, mesmo em meio aos
gritos ensurdecedores que dou. Não acredito no que ele acabou de fazer.
Inferno!
É humilhante ir para não sei onde dentro de um maldito porta malas
apertado pra caralho por ser carro de playboy. Na hora que descer dessa
merda, vou matá-lo!
O demônio dirige como um maluco, faz as curvas de maneira insana e
eu só não sou jogada de um lado para o outro por não ter condições de
locomoção dentro dessa lata de sardinha. Grito a plenos pulmões e isso
parece dar mais adrenalina a ele. Sinto meu estômago revirar centenas de
vezes e rezo para não vomitar nessa merda, aliás seria até bom sujar o
brinquedinho dele.
Aos poucos, sinto o carro diminuindo a velocidade e ouço um portão
sendo aberto. O carro volta a andar e em seguida para novamente. Dessa vez,
ele desliga o motor e ouço o som de outro portão.
O filho da mãe abre o porta malas e a escuridão me impressiona. Sou
pega pelo braço e bato em sua mão enquanto me ajeito para sair do carro. Ele
abre uma porta e, enfim, a luminosidade surge.
Assim que me aproximo, percebo que estamos em mais um imponente
quarto de motel. Sinto sangue nos meus olhos na mesma hora!
Se a intenção é me enlouquecer, sei exatamente como fazer três vezes
pior com ele!
Deixo meu vestido caído na porta e adentro ao local usando apenas
minha lingerie preta.
Respiro fundo decidida a infernizar sua vida pelo resto da noite.
Bernardo se aproxima como se eu fosse uma presa e rio do quão absurdo
é isso.
– Você acha que eu vou dar minha pepeca para você? Meu nome não é
MARIA DO BAIRRO! – Digo, pausadamente.
– Acha que vou desistir de você? Acha que eu vou permitir que outro
homem toque no que é meu? – Diz, me prendendo contra a parede, seu
perfume perto demais de me levar ao fiasco.
Desvio. Vou até a TV, digito YouTube e procuro minha playlist, aperto
play e começo a dançar caminhando pelo quarto em busca de álcool. Ele fica
parado, me encarando, e mostro-lhe o dedo do meio. Babaca do caralho...
gostoso filho da puta! Quantos anos tenho? 12? Foda-se!
Acho seis garrafas de Skol Beats Secret no frigobar e bato palmas
internamente... Pego duas e vou gentilmente até Bernardo entregar uma.
– Amiguinho, para você!
– Estou achando lindo. Vamos, continue! – Diz, com sarcasmo.
– Não obedeço a ordens. – Digo, caminhando até o pole dance, onde dou
uma leve rebolada, observando-o engolir a seco.
Sorrio e apoio minhas costas na barra de ferro enquanto abro minha
bebida. Deixo um pouco escorrer pelos meus seios e, no primeiro gole, a
sedução acaba. Assim que a bebida bate em meu estômago, sou obrigada a
correr para o banheiro.
Tranco a porta, ajoelho frente ao vaso e vomito tudo que bebi por longos
minutos. Assim que me recomponho, me vejo completamente pálida diante
do espelho. Pego um pacotinho com escova de dente e pasta e escovo os
dentes. Em seguida, abro a ducha, retiro o sutiã e calcinha e entro. Nunca
passei mal por bebida e nem bebi metade do que estou acostumada a beber.
A verdade é que toda essa história da última semana me deixou doente.
Por mais que queira irritá-lo, estar tão perto é doloroso o suficiente. Fecho os
olhos e a imagem deles me vem à cabeça. Eu deixo as lágrimas e a dor
escaparem como uma cachoeira.
Me sinto tão contraditória. Uma hora quero deixá-lo maluco, e na outra
me sinto tão fraca.
– Beatriz está tudo bem? – Ele bate na porta perguntando.
– Vá para o inferno!
– Eu estou no inferno há sete malditos dias. – Diz socando algo e eu
choro mais. – Eu te amo, garotinha. Volta para mim! – Implora.
– Nunca! Sai daqui! Não era para ter me trazido a um motel, imbecil!
– Foi o único lugar sossegado e seguro que passou pela minha cabeça.
-Foi um erro. – Grito, desligando a ducha.
Sem nenhuma chance de disfarçar que estava chorando, me enrolo numa
toalha, recolho meus pertences e saio do banheiro para encontrá-lo sentado na
frente da porta, com a dor estampada em seu rosto. Me sinto tonta e o enjoo
volta a me atormentar. Jogo tudo em cima dele e corro para o vaso, sem ter
tempo de fechar a porta.
O diabo se aproxima e segura meus cabelos, enquanto choro e vomito
como se não houvesse amanhã. Ele fica em silêncio e, assim que termino, me
ajuda a levantar. Escovo os dentes com suas mãos em meus quadris, paro
algumas vezes para chorar. Eu o odeio!
– Você não bebeu o suficiente para estar mal desse jeito. Se alimentou?
– Pergunta, prendendo meu cabelo num elástico.
– Sim. – Respondo e ele sobe uma mão para minha barriga enquanto nos
encaramos no espelho. Parece ponderar algo, mas não diz. Apenas balança a
cabeça como se tivesse numa conversa secreta consigo mesmo.
Me desvencilho do seu toque, porém sou impedida quando me pega no
colo e me deposita sobre a pia.
– Não fuja de mim. Vamos conversar. – Pede.
– Eu estou nua.
– Eu sei, isso é o que menos importa agora. Eu juro que não te trouxe
aqui pensando em sexo, só quero conversar. – Diz, passando a mão em meu
rosto. Noto sua mão ferida devido ao soco que deu em Yuri e respiro fundo:
– Está doendo?
– Não tanto quanto doeu vê-lo com as mãos em você. – Explica, com
dor em sua voz.
– Ao menos ele não estava com a boca. – Digo, seca. Ele fecha os olhos
abaixando a cabeça, e eu volto a chorar silenciosamente.
– Eu não a beijei, nunca faria isso, nem mesmo se não estivéssemos
juntos.
– Eu te avisei sobre ela e você estava lá, permitiu que ela fizesse isso. –
Digo, tentando conter as lágrimas e a dor.
– Foi meu único erro, ter permitido cair na lábia dela. – Suspira. – Ela
disse que estava tonta e eu fui ajudá-la, ela se aproveitou disso. Foi apenas
isso, Beatriz, não mereço pagar tão caro. – Ele diz e eu não ouço mais nada.
A única coisa que me recordo são flashes de estar caída em seus braços
enquanto ele corre.
BERNARDO

Sentado numa cadeira, observo o soro diminuindo lentamente enquanto


Beatriz dorme, dispersa de tudo. Ainda estou completamente assustado por
vê-la parecendo sem vida em meus braços. Nunca mais quero passar por isso.
Ela estava fria e completamente sem cor quando a deitei sobre a cama e
consegui vestir sua roupa. Sim, eu jamais a traria para um hospital nua,
correndo o risco de ser atendida por um médico. Não gosto nem de imaginar
outro homem vendo-a dessa maneira. Parece doentio, eu sei.
Agora estou aguardando os resultados de uma série de exames aos quais
ela foi submetida. Enquanto isso, seus pais acham que estamos nos
reconciliando em algum lugar. Não quis assustá-los, desde que fui eu a forçá-
la a sair da festa, a responsabilidade pela segurança e bem-estar dela é toda
minha.
A culpa me invade por ela estar passando por isso e me sinto totalmente
ansioso para vê-la abrindo os olhos e voltando a seu estado normal, mesmo
que seja para me provocar ou dar mais um belo chute em minhas bolas. Só
quero que ela acorde e esteja bem fisicamente.
– Bernardo. – Duas médicas entram e eu dou um salto do sofá.
– Os resultados? – Pergunto, ansioso.
– Sim. – Uma delas responde, sorrindo sem graça.
– Então?
– Foi detectado uma alteração no Hormônio HCG no sangue dela,
estamos trabalhando com uma possível gravidez que pode estar muito
recente. Para termos certeza, vamos precisar repetir o exame dentro sete dias.
Meu mundo dá um giro ao ouvir as palavras e, antes mesmo que possa
controlar, sinto lágrimas descendo pelo rosto. É isso mesmo ou é a ansiedade
traindo minha mente? Eu esperei ouvir tantas coisas, mas não estava
preparado para isso, definitivamente não estava.
– Não recomendamos a ingestão de bebidas alcoólicas até
confirmarmos. Fiz uma dieta, estou receitando ácido fólico e algumas
vitaminas para que ela comece a tomar o quanto antes, mesmo que não
tenhamos certeza. Os três primeiros meses requerem mais cuidado, então no
caso de uma possível gravidez, ela já estará se cuidando. Pode ser que ela
continue desmaiando, tonta, vomitando, podem ocorrer oscilações na pressão
arterial, tudo isso é normal. Assim que acordar, estará liberada, mas precisa
evitar atividades físicas em excesso, podem namorar à vontade, mas não
deixe que ela se esforce tanto com atividades pesadas e, como eu disse antes,
ela está veemente proibida de beber! No mais, acredito que você seja o pai,
então procure dar apoio para ela, vocês são jovens demais e vão precisar
apoiar um ao outro. Esses próximos dias provavelmente serão de tensão para
os dois, mas procure mantê-la calma. – Diz, entregando uma papelada, e nem
as vejo sair.
Eu não sei como reagir a isso. Eu engravidei minha namorada de apenas
18 anos, eu traí a confiança de Arthur e Mariana, eu traí a confiança de
Beatriz permitindo aproximação da Maria e agora serei pai aos 20 anos de
idade. Para completar, eu descubro minha possível paternidade no auge da
confusão que está nosso relacionamento e Beatriz nem mesmo está acordada
para dizer qualquer coisa que seja.
Ao mesmo tempo que essa é a coisa mais louca e desesperadora que já
ouvi em toda minha vida, eu sinto meu coração bater mais forte. Um filho...
um filho meu... um filho que eu fiz... puta merda! Eu serei pai! E a garota que
eu amo é a mãe do meu filho!
Eu quero gritar ao mundo que serei pai, ao mesmo tempo que quero me
punir por não ter me precavido, não por mim, mas por ela. Não quero
imaginar o que ela vai fazer quando descobrir isso, nem ao menos tenho ideia
de como contarei isso ela.
Me aproximo e coloco minha mão sobre sua barriga. Porra, eu sei que
não está confirmado! Mas por que tenho tanta certeza de que há um bebê
aqui? Nosso filho está aqui, eu tenho certeza. Eu posso sentir, posso até
mesmo visualizar uma mini ela correndo por todos os lados e me deixando
completamente maluco. Merda! Eu sei que o pai dela vai me matar, mas não
consigo negar que tem uma felicidade crescendo dentro de mim conforme a
ficha vai caindo. É louco, né? Eu sei. Eu nunca imaginei me tornar pai tão
cedo, sempre achei que seria por volta dos 30, 35 anos, mas de repente ser pai
aos 20 parece fantástico mesmo que assustador. Eu estou ficando louco.
Deus, eu estou tão desorientado, uma completa confusão de
sentimentos!!! Sinto que cheguei ao auge da loucura completa! Mas, quando
a vejo com os olhos abertos, me encarando, todos os meus medos
desaparecem, fazendo parecer tão certo tudo isso.
– Onde estamos? – Pergunta sonolenta.
– No hospital, você não se lembra de nada?
– Eu tenho flashes de você correndo comigo. Estou com sede, muita,
minha boca está seca. – Diz com a voz fraca, enquanto encara minha mão sob
sua barriga.
– Vou buscar água. Está sentindo mais alguma coisa?
– Sono. Eu me sinto horrível. – Comenta, enquanto sirvo um copo de
água para ela. – Obrigada. – Agradece e eu puxo minha cadeira bem próxima
a ela. – Você está estranho.
– É, nós precisamos conversar.
– Não estou preparada. Estou me sentindo um grande pedaço de merda e
não consigo esquecer sua boca naquela piricrente, aquele projeto de verme,
aquela vadia mor. – Diz curta e grossa, jogando a cabeça de volta ao
travesseiro.
– É realmente sério, tem a ver com os exames que as médicas fizeram. –
Informo, e então ela levanta a cabeça, demonstrando uma certa preocupação.
– Eu estou com alguma doença? Câncer? Leucemia? Porra, pelo amor de
Deus, me fala logo se for isso. – Pede com lágrimas nos olhos e começa a
chorar. – Eu não quero morrer! – Dramatiza e eu seguro o riso ao ver o
desespero estampado em seu lindo rosto. Meu sorriso morre conforme a
ficha cai sobre mim novamente, puta merda, eu preciso contar.
– Você não vai morrer. – Digo fazendo seu choro morrer
instantaneamente, e a vejo se recompor. Tão louca! Onde fui arrumar essa
garota? Ela é tão engraçada, espirituosa, dramática... Deus, eu a amo tanto! –
Eu não sei como te dizer isso, não faço a menor ideia!
– Pelo amor de Deus, diga logo!
– Eu acho que serei pai, na verdade eu tenho certeza, mas não está tão
confirmado ainda. – É então que o show começa. Beatriz começa a chorar.
Não, na verdade ela mistura choro com grito.
– Eu odeio você! Como pôde fazer isso comigo? Eu te odeio! – Ela
grita, arrancando a agulha do braço, e logo o sangue começa a escorrer pelo
seu braço.
– Porra, você é maluca? – Pergunto, enquanto grito a enfermeira.
Vou até ela e tento segurá-la, enquanto a mesma distribui socos em meu
peitoral.
– Não encoste em mim. Você me traiu, você destruiu minha vida! Como
pôde? Eu te amava e você dormiu com aquela garota! Você é falso e
desprezível! Eu odeio você e odeio seu filho! A Maria do bairro venceu, mas
na novela mexicana da vida eu serei a Usurpadora, eu vou matá-la! Não vai
passar batido! E eu vou rezar para que o filho não seja seu, só para eu rir da
sua cara de otário, seu merda! Sai da minha frente! Infeliz! E quer saber? Eu
fingi todos os orgasmos e seu pau nem é tão grande. Eu te odeio! – Ela grita a
plenos pulmões para quem quiser escutar.
Não acredito que ela está pensando que estou falando de Maria. Puta
merda!
– O que está acontecendo? – A enfermeira entra e eu a solto. Beatriz
mostra o braço enquanto chora e a enfermeira a limpa, colocando um
pequeno curativo em seguida. Ela me entrega o papel com a alta enquanto
Beatriz fica sentada sobre a cama, chorando como uma garotinha que perdeu
o mundo.
Me aproximo e ela me encara.
– Pode ir embora, vou ligar para minha mãe. Não se aproxime de mim
ou dessa vez vou te deixar aleijado, seu filho da puta!
– Não, não vai. Eu já falei com sua mãe. Eu a trouxe e a levarei de volta.
– Respondo, me aproximando, enquanto ela arma um golpe que escapo
facilmente.
– Uma ova que eu entrarei no seu carro. -Diz gritando e chorando. Eu a
abraço, mesmo em meio aos chutes e pancadas.
– Você é a mãe do meu filho. Eu nunca a traí, eu nunca sequer pensei
nessa hipótese. –Digo, tentando acalmá-la, e parece dar certo. Minha
garotinha diminui o ritmo de histerismo e levanta a cabeça para me encarar.
Fica em silêncio longos e preocupantes segundos tentando entender
minhas palavras.
– Eu? – Pergunta.
– Sim.
– Como?
– Quer mesmo que eu explique? Bom, tudo começou com você e eu
nus... aí eu coloquei meu pipi na sua pepeca e ele ficou muito feliz, tanto que
jorrou a sementinha do amor... – Desenho a situação. Ela joga a cabeça em
meu peito e começa a chorar com força.
– Eu estou grávida! – Grita, de repente. – Meu pai vai me matar, minha
mãe vai me estrangular, não posso estar, não quero estar, você beijou aquela
baranga e nós estamos definitivamente terminados e eu serei mãe solteira e
terei que lembrar todos os dias que meu filho é seu e eu te odeio... Eu não
quero estar grávida! Eu não quero um filho seu. Eu só tenho 18 anos.
Ouvir ela dizendo isso é como receber um soco no estômago. Me
pergunto qual seria sua reação se não tivesse acontecido o episódio com
Maria. Agora está tudo indo para um caminho triste demais e eu nem tenho
ideia do que fazer. Sinto um pouco da minha alegria indo embora e dando
lugar à culpa.
– Você tem sete dias para rezar para não estar grávida. – Me afasto e
entrego as sandálias dela, que me encara, parando de chorar.
Não vou discutir, não quando ela está tendo alta de um hospital. Vou
deixar as coisas serem como ela quer que seja e vou procurá-la apenas para
certificar como está sua saúde. Acredito que meu papel eu fiz, expliquei tudo
que houve, a procurei para conversarmos, agora seja o que Deus quiser.
Assim que termina de calçar a sandália, eu pego os papeis que a médica
me deu e abro a porta para que ela saia. Andamos por todo corredor no mais
profundo silêncio, o único som audível é dela chorando baixinho, mas não há
nada que eu possa fazer sobre isso. Sou um homem maduro e independente.
Estarei com ela durante toda a gestação cumprindo meu papel de pai.
Abro a porta do carro para que entre e em seguida entro. Coloco uma
música e vou em busca de algo saudável para ela comer. Por sorte, encontro
uma lanchonete 24 horas e estaciono.
– O que estamos fazendo aqui? – Pergunta assim que desligo o carro.
– Você precisa se alimentar, vou mandar preparar um sanduíche natural,
o que quer beber?
– Pode ser um suco de morango com leite. – Responde, e fico feliz por
não ter que travar uma guerra para ela comer.
Deixo-a no carro e desço para fazer os pedidos, e então sou surpreendido
por uma das funcionárias da empresa:
– Meu Deus! É meu chefe! – Ela diz, rindo, devidamente alcoolizada.
– Não. Sou apenas Bernardo fora da empresa e não sou seu chefe, minha
mãe que é. – Sorrio.
– Graças a Deus! Não estou bêbada, chefe.
– Claro! – Exclamo. Ela está muito além disso e cercada de amigas que
estão iguais ou pior.
– O que está fazendo na rua essa hora, chefe?
– Comprando um lanche para mim. – Beatriz diz antes mesmo que eu
perceba sua entrada e me abraça por trás. Delicada feito um coice de mula.
– Ah, legal. Bom, vou indo. Boa noite. – A garota diz e se afasta com as
amigas. No mesmo instante, me desvencilho dos braços da minha ex atual sei
lá... da mãe do meu filho.
– Pronto, já demarcou território, não precisa mais fingir. – Digo, ao
mesmo tempo que uma tontura a invade e a seguro pela cintura. – Merda!
Não era para ter saído do carro princesa, digo, Beatriz.
Carrego-a para o carro, volto para buscar nosso lanche e quando me
acomodo no carro, vejo-a novamente chorando. Puta merda, é horrível vê-la
chorando.
Coloco os lanches no banco do trás e decido levá-la para casa. Porra, eu
não tenho a menor ideia do que fazer sobre nada! Estou quase parando o
carro e chorando junto, não pelo filho, mas por não saber como agir quando
ela está tão transtornada. Quero abraçá-la e dizer que vai ficar tudo bem, mas
sei que irá me afastar.
Quando estaciono o carro na garagem e vou descer, ela me segura pelo
braço.
– Será que você poderia dormir comigo hoje? Não quero ficar sozinha. –
Pede e eu engulo seco, balançando a cabeça num sinal de sim. – Não quero
contar para ninguém enquanto não está confirmado, pode ser?
– Claro. O que você quiser.
– Se meus pais estiverem acordados e me verem com essa cara, vou
dizer que foi só uma discussão que já foi resolvida, ok?
– Como quiser.
– Vou deixar a porta sem chave. – Avisa com um sorriso fraco que faz
meu coração ficar pequeno.
– Ok. – Respondo e, enquanto ela desce, pego nossos lanches.
Subimos em silêncio e, ao chegarmos no nosso andar, ela pega os
lanches da minha mãe e entra direto para casa.
Já no meu quarto, tomo um banho rápido e visto uma bermuda. Desde
quando Arthur nos permitiu dormir juntos eu não pulo o bendito muro que
nos separa. Dessa vez, é uma circunstância bastante diferente, nada a ver com
toda aquela sede por sexo. Por mais que eu saiba que vai ser uma tortura
dormir com ela, mas porra, não tenho como negar. Minha garotinha precisa
de mim agora e eu estarei lá por ela, haja o que houver, mesmo que isso
implique bolas azuis mais uma vez.
Minutos depois, estou com a mão na maçaneta de sua porta sentindo o
nervosismo de um iniciante. E quando a abro, encontro-a enrolada em uma
toalha, recém-saída do banho, tornando-se impossível conter uma ereção.
Mentalmente lambo cada gotícula de água que está escorrendo em seu
pescoço e indo em direção aos seios.
Que Deus me ajude, o restante dessa noite não vai ser nada agradável.
BEATRIZ

Pelo espelho do meu armário, vejo Bernardo parado na porta, me


encarando. Sinto meu coração se apertar e seguro as lágrimas quando percebo
que nem mesmo ele sabe como agir. Está esperando por qualquer sinal meu
para entrar, como se não tivéssemos o mínimo de intimidade.
Agora, um pouco mais calma após o banho, me dou conta das palavras
que falei ou melhor, gritei.
Dizer que estou desesperada com a hipótese de estar grávida é
blasfêmia. Eu estou muito além do desespero, em dimensões incalculáveis.
Cresci numa família que sempre jogou aberto conversas sobre sexo, tenho
uma mãe que sempre fez questão de manter a informalidade comigo quando
se tratava desse assunto que é um tabu em diversas famílias. Sempre soube
tudo o que deveria ser feito para evitar uma gravidez precoce e fui burra em
achar que estaria a salvo apenas com anticoncepcional. Na verdade, nem sei
como, quando e o porquê falhou. Mas sei que é cedo demais.
Há poucos meses, eu nem sabia o que queria estudar, qual profissão
seguir, acabei de entrar na faculdade e agora não tenho a menor ideia de
como será minha rotina caso a suspeita se confirme.
Nunca idealizei ser mãe, nunca fui o tipo de garota toda "bebês" que não
pode ver um bebê que quer pegar, morder ou apertar. Nunca convivi com
bebês ou crianças, só no abrigo. Estou em choque!
Há também outro agravante, eu e ele não estamos bem. Não consigo
apagar da mente o maldito beijo, por mais que parte de mim acredite que ele
foi tão vítima quanto eu. Porém, vendo-o parado ali, sei que não há nada mais
que eu precise no mundo agora do que estar envolvida naqueles braços. Sei
que ele é o único capaz de me dizer as coisas certas nesse momento, o único
capaz de me reconfortar.
– Não vai entrar? – Pergunto, e então ele parece acordar de um transe ao
ouvir minha voz.
Observo-o entrar e fechar a porta com chave. Em seguida, fica de pé no
canto, completamente desconfortável, tão diferente de como éramos antes.
Vejo-o se abaixar para verificar Simba e percebo que ele está usando apenas
uma bermuda. Eu tento, mas não consigo deixar que sua quase nudez passe
despercebida aos meus olhos.
Tentando agir de forma natural, como éramos antes, deixo que a toalha
caia sobre os meus pés, pego uma camisola juntamente com uma calcinha e
visto. Ao terminar, levo a toalha ao banheiro e volto.
Coloco nosso lanche sobre a cama e o chamo:
– Vamos comer? – Convido com receio, e ele vai até o banheiro.
Quando volta, se acomoda ao meu lado e juntos começamos a comer. O
silêncio é tão perturbador que ligo a TV e coloco em uma série qualquer só
para ouvir um som diferente das nossas respirações.
Longos minutos depois, é Bernardo quem quebra o silêncio:
– Você precisa comer.
– Eu não estou aguentando, já estou satisfeita.
– Que bom, porque assim eu posso deixar o meu sem culpa. – Diz, e dá
um sorriso fraco.
Recolhemos a sujeira e escovamos os dentes lado a lado. Em alguns,
trocamos olhares pelo espelho e eu quero chorar ao mesmo tempo que quero
me jogar sobre ele.
Quando nos ajeitamos na cama, ele fica afastado o suficiente e isso me
incomoda mais do que deveria. O que é uma puta de uma contradição da
minha parte, afinal fui eu quem o afastei a noite toda.
– Podemos conversar? – Digo, olhando para o teto.
– Podemos.
Eu me sento e o encaro, fazendo com que ele faça o mesmo. Cara, isso é
ridículo e a culpa é minha.
– Primeiro eu queria pedir perdão pelo que eu disse mais cedo.
– Sobre não querer um filho meu ou sobre me odiar? – Pergunta,
visivelmente chateado.
– Sobre as duas coisas.
– Não precisa se preocupar com isso. – Diz, num tom frio.
– Bê, eu estou perdida. Numa semana te pego com a piranha e na outra
descubro que posso estar grávida. Meu Deus, eu estava começando a dar
rumo a minha vida e agora tudo parece desabar sobre mim.
– Eu sei, Beatriz, já estava preparado para uma reação não muito
animada, mas ouvi-la dizer com tanto desprezo que não quer um filho meu
foi o limite para mim. Eu não sou tão bobo quanto pareço.
– Você não parece bobo. – Digo, frustrada.
– Você deixou bem claro isso e eu não vou ficar implorando ou me
humilhando para tê-la de volta.
– Bê... – Tento dizer e ele me corta, nervoso.
– E tem outra coisa, se você estiver mesmo grávida como eu acho que
está, essa criança não vai ser sinônimo de destruição de vida para mim. Eu
não queria agora, mas nem por isso vou desprezar um filho. Eu sou jovem,
mas trabalho desde os 16 anos, tenho total condição de criar um filho, além
de nós dois termos toda uma base familiar. Você não precisa abandonar seus
projetos. Você pode continuar estudando esse semestre, e quando estiver no
último trimestre da gestação pode trancar a matrícula e voltar depois. Tenho
certeza que não faltarão pessoas para cuidar do nosso filho ou até mesmo
posso contratar uma babá. Nada precisa mudar de forma radical. Isso não é
uma doença, nem uma desgraça, é uma vida que foi feita com muito amor,
Beatriz, porque em todos os momentos que eu estive dentro de você, por mais
ferocidade que as vezes tínhamos, foi com amor. Nunca foi sexo, sempre foi
amor, ao menos da minha parte. Eu não vou permitir que você trate esse
período com revolta ou infantilidade. – Ele cospe as palavras de uma forma
que nunca vi antes, e eu me encolho diante da sua agressividade.
– Você faz parecer simples e fácil. Parece também que é maravilhoso
que eu, aos 18 anos, serei mãe. – Digo baixo, e ele volta a explodir.
– Você não é a primeira e nem será a última garota a engravidar com 18
anos. Desculpe, mas está sendo egoísta pensando apenas em si mesma. Você
se esquece que eu estou envolvido nisso tanto quanto você? A partir do
momento que fazemos sexos estamos sujeitos a isso, e quer saber? Se você
estiver mesmo grávida, eu ficarei extremamente feliz e, mesmo que não
estejamos mais juntos, eu vou acompanhar passo a passo da sua gestação e
vou criar esse filho junto com você, e caso você não queira criá-lo, pode dá-
lo a mim assim que nascer que eu crio sozinho! E não precisa se preocupar
que eu tomarei frente de tudo, conversarei com seus pais sobre isso e farei
meu papel de pai cuidando da sua saúde durante a gestação. Já levei um soco
do seu irmão, um do seu pai não vai fazer diferença para mim! – Ele diz em
alto e bom som e eu começo a chorar desesperada.
– Bê...
– Não, Beatriz, e quer saber mais? Se você tivesse cometido os mesmos
erros que eu cometi, ainda assim eu te amaria, iria querer ouvir o que quer
que você tivesse para contar pelo simples fato de não conseguir viver sem
você. Eu amaria se morássemos juntos e criássemos nosso filho juntos, eu
amaria pra caralho construir uma família com você! É uma pena que não se
sinta da mesma forma!
Ele se levanta e vai ao banheiro, trancando a porta atrás de si. Ouço o
barulho da ducha ligada, desligo a TV e me acomodo na cama em posição
fetal, abraçando meus joelhos.
Me sinto tão pequena e insegura, foi tão horrível ouvir tudo que acabou
de dizer. Eu o machuquei e ele soube revidar em grande estilo tão facilmente.
Não parece o meu Bê, mas talvez eu não esteja parecendo comigo mesma
também.
Nunca encontrarei alguém que chegue ao menos perto da grandiosidade
que ele possui. E isso é uma grande merda, porque a cada segundo percebo
que também não sou capaz de viver sem ele. Em hipótese alguma! Com ele
ao meu lado, sei que sou capaz de enfrentar qualquer coisa que apareça no
caminho. Inclusive a gestação.
Eu preciso da nossa conexão de volta.
Me levanto lentamente e abro a porta do banheiro cuidadosamente.
Vejo-o com as mãos apoiadas na parede e com a cabeça baixa enquanto a
água cai sobre si. Retiro minha roupa e, segundos depois, estou entre seus
braços.
– Me desculpa? Eu também não sou capaz de viver sem você. – Peço, e
ele me beija. Com uma rapidez surreal, sua boca está sobre a minha,
devorando e me consumindo por inteira, da forma mais primitiva possível
que faz meu corpo explodir de calor.
Envolvo minhas pernas em sua cintura e paro o beijo quando o sinto
dentro de mim. É exatamente o lugar onde pertence, tê-lo assim é meu
paraíso particular.
Nesse momento não há Maria, não há ódio, não há raiva, não há tonturas
e muito menos enjoos. Há apenas desejo cru e fogo, muito fogo. E é
exatamente isso que me fez ficar grávida e eu ficarei grávida centenas de
vezes desde que ele me tome dessa maneira e me faça sentir a mulher mais
completa e bem comida do universo.
Meu namorado me toca de todas as formas nos lugares certeiros,
conhece todas as minhas terminações nervosas, todos os meus pontos fracos
externos e internos, e usa isso perfeitamente a seu favor, fazendo-me
contorcer em seus braços. Fecho meus olhos e permito-me a entrega total a
ele.
– Eu te amo, garotinha. – Ele geme em meu ouvido e abro os olhos para
vê-lo chorando, agarrado a mim, completamente entregue aos sentimentos e
sem a vergonha de demonstrá-los. Tão meu!
– Eu amo você Bê, e vou amar nosso bebê também, eu prometo.
–– Eu sei que sim. Nós estamos juntos nessa, ok? Vamos nos sair bem e
eu vou cuidar de vocês. – Diz, e eu me apego a essas palavras fielmente. A
ficha ainda não caiu, mas sei que serei capaz de me adaptar ao que quer que
seja com ele ao meu lado.
Nos enxugamos e ele me leva para cama, provando incansavelmente
nossa conexão pelo resto da noite.
No dia seguinte, acordo encontrando a cama vazia. Ajusto meus olhos à
claridade e tento retomar a consciência. Não ouço Bê no banheiro e isso me
deixa melancólica o suficiente para sentir lágrimas descendo pelo meu rosto.
Ainda sou capaz de senti-lo dentro de mim, tanto que sinto minhas pernas
formigando. Seu toque, seus beijos, posso apostar que meus lábios estão
inchados e que há marcas espalhadas pelo meu corpo... Que merda, nunca fui
o tipo chorona, mas de alguma forma queria tanto acordar nos braços dele
que é horrível o suficiente acordar sozinha.
Por um momento, passa pela minha cabeça que ele tenha desistido de
mim, e isso dói pra caramba. Rezo para que eu realmente esteja ficando louca
e que isso não aconteça.
Choro pela ausência e choro lembrando da nossa conversa. Ele me
propôs que morássemos juntos num apartamento nesse mesmo prédio e isso é
louco demais. Aliás, tudo está muito louco. Nunca pensei em ser mãe, nunca
pensei em casar, numa sequer pensei em morar junto e agora acontece tudo
na velocidade da luz. Eu mal consigo pensar e absorver direito.
Consigo visualizar nós dois morando juntos e isso remete um monte de
loucura e desastres, assim como foi em Nova York, dois loucos se virando
sozinhos. Ao menos a diversão é certa e, dessa vez, teremos nossos familiares
para nos socorrer.
Olho para minha barriga, luto contra o bloqueio que estou sentindo
colocando minhas mãos sobre ela. Caramba, essa é a coisa mais doida que já
aconteceu em minha vida, pensar que pode ter um bebê aqui dentro é insano.
Como será quando eu puder senti-lo mexer? Será uma menina ou menino?
Não tenho preferência justamente por não ter pensando nisso nunca. Fecho os
olhos e tento imaginar em qual das vezes que transamos como perfeitos
ninfomaníacos conseguimos realizar essa proeza. Será que foi aquela noite na
lancha? Deus, faz todo sentido. Bernardo disse que eu nunca mais esqueceria
daquela noite... seria coincidência demais, mas de qualquer forma aquela
noite vem em minha cabeça todos os dias. Foi a melhor desde o dia em que
nos conhecemos, ou talvez esteja no topo entre as melhores. Uma coisa é
certa, o esperma dele é potente! Merda, eu não posso nem lembrar da sua
potência que o desejo surge do nada.
Mudo o foco e decido tomar um banho e realizar minha higiene matinal,
já que é a única coisa matinal que terei hoje. Queria acordar com ele me
pegando por trás ou da forma que quisesse, contanto que estivesse dentro de
mim... estou com um puta mau humor agora!
Me levanto e, assim que visto meu roupão, uma tontura me bate com
força, fazendo com que eu me apoie na parede. É horrível em mil dimensões.
Vejo meu quarto rodando por completo e, antes que possa voltar à cama, o
chão me engole.
BERNARDO

Volto ao quarto trazendo uma bandeja de café da manhã e sou


surpreendido com Beatriz desmaiada no chão, mais uma vez. O desespero
me invade novamente, mas dessa vez em maiores proporções por estarmos na
casa dela.
Coloco a bandeja rapidamente sobre a mesa e a pego no chão. Por sorte,
ela abre os olhos assim que a coloco sobre a cama e eu solto o ar que estava
preso.
– Puta merda! Graças a Deus! – Digo, beijando-a.
– Eu acho que desmaiei de novo.
– Eu acho que é melhor marcarmos um médico e ver o que podemos
fazer para diminuir isso. Não terei sossego em deixá-la sozinha dessa forma.
Precisa se alimentar melhor, trouxe café da manhã.
– Você desceu na cara de pau e buscou café da manhã? – Pergunta,
chocada. Sim, eu desci na cara de pau porque eu precisava alimentar minha
namorada grávida, porém não falo isso com ela.
– Sim. Aproveitei e conversei com seu pai sobre o ocorrido no coquetel,
estamos bem. Sua mãe está organizando um almoço para hoje e já até
chamou meus pais.
– Uau. Eu nem sei se isso é bom ou ruim. Estou com medo de ficar
desmaiando.
– Acho que alimentação pode ajudar, princesa. Vamos comer num
intervalo menor de tempo e ver se resolve. – Termino de falar e ela abre o
berreiro, chorando como se eu tivesse a matando nesse momento. Dou-lhe
um abraço forte e tento entender o motivo. – O que foi? Está passando mal?
– Você! Você é lindo Bê! – Diz, chorando e limpando as lágrimas na
minha blusa. Ela está chorando por que eu sou lindo? Que diabo é isso? –
Você é gostoso, tem um pau lindo e grande e tem covinhas. – Ela sai dos
meus braços e joga um travesseiro em sua cabeça enquanto chora
desesperadamente.
– Bacana! – Será que ela vai ficar ainda mais louca se estiver realmente
grávida? Talvez seja interessante eu procurar um psicólogo ou até mesmo um
psiquiatra o quanto antes, para mim e para ela. – Bia, para com isso, vamos
comer.
– Você não pode me chamar de Bia! Merda! – Ela grita, chorando, e eu
decido calá-la com um pão.
Vou até a mesa e pego a bandeja, em seguida retiro o travesseiro da cara
dela, enfiando um pedaço de pão em sua boca quase a fazendo engasgar. Ela
se levanta virada no kung-fu e distribuiu tapas em meus braços.
– Você é um idiota!
– Ok, ao menos você parou de chorar. – Sorrio. Ela faz uma careta e do
nada começa a comer tudo que vê pela frente.
Fico observando-a um pouco assustado, mas prefiro que coma tudo e
não desmaie mais, se é que os desmaios têm algo relacionado a alimentação.
Faço uma nota mental para procurar uma ginecologista obstetra para tirar
algumas dúvidas de como lidar com essa loucura hormonal. É isso, psicólogo
e obstetra podem me ajudar!
Assim que se dá por satisfeita, acompanho-a até o banheiro para que
possa tomar banho. O medo de um novo desmaio me faz ficar sentado na
privada aguardando tudo pacientemente; a única coisa impaciente é meu
amigo pênis que tem uma atração fatal por Beatriz, mas eu controlo.
– Ei, que que foi? Que que há? Tá me olhando por que quer me dar? –
Ela canta rindo embaixo da ducha. Há minutos atrás estava chorando e agora
está rindo como uma hiena, isso é preocupante. – Vamos, Bê, seja animado.
Aproveita que a mamadeira está cheia! Ops, mamadeira me lembra bebê,
bebê me lembra gravidez. Não quero mais essa música!
– Eu estou bastante animado, você que não está vendo. – Digo, sorrindo,
enquanto ela rebola ao som de uma música imaginária.
– Preciso me depilar, estou parecendo a Rapunzel. – Anuncia, dando
gargalhadas até dobrar a barriga. – Rapunzel foi ótima! Puta merda! Me
superei nessa. Meus pelos vão daqui até sua casa! Vou usá-los de apoio para
pular o muro. – Ela permanece rindo e eu tento entender quais pelos, já que o
lugar que habitei durante a madrugada estava bastante livre.
– Ok, hora de sair do banho. Estou desconfiado que está saindo cachaça
ao invés de água nessa ducha. – Pego sua toalha e espero até que esteja diante
de mim como uma garotinha obediente.
Ela fica séria enquanto eu a enxugo como se fosse um bebê.
– Fique aqui. – Digo quando termino e vou até seu closet. Pego um
vestido e uma calcinha e volto ao banheiro.
Ela me encara perplexa enquanto a visto, e seus olhos se enchem de
lágrimas assim que termino.
– Que lindo! Eu te amo, meu bebê.
– Eu também amo você, princesa. Agora precisamos descer antes que
pensem que estamos trepando. Você está linda. Está se sentindo melhor?
– Sim, bebezinho. Você é minha lindeza. – Diz, melosa, me abraçando
enquanto eu olho para minha imagem no espelho e converso em códigos
comigo mesmo. Ela surtou, definitivamente. Agora sei que estou fodido
mesmo.
Descemos até a sala e Mariana bate palmas ao avistar Beatriz.
– Que bom... agora que você está aqui, eu e seu pai queremos contar
uma novidade. Bê, você pode escutar porque é meu genro favorito.
– Claro, sou o único genro. – Brinco e ela sorri, enquanto Beatriz espera
pela novidade.
– Tutuuuu!!!!!! Vem, amor. Bia desceu. Tetheu, venha também!
Assim que Matheus entra na sala, me seguro para não dar um soco em
seu olho. Mas o que Mariana diz faz a Terra girar fora de órbita.
– Seu pai e eu trabalhamos bem duro. Durasso mesmo, né Tutu?! E
vocês terão um irmãozinho ou irmãzinha, isso não é o máximo? Teremos um
bebê em casa! Depois de tantos anos. É a magia da fertilidade. – Ela pula no
colo de Arthur enquanto eu começo a me preocupar com Beatriz, que os
encara boquiaberta.
– Parabéns! Não quero nem ver a loucura que vai virar essa casa, um
bebê, caralho! Isso é demais porra! Eu cuidarei! – Matheus anuncia, dando
um beijo na testa da mãe e um abraço em Arthur. Quando menos espero,
Beatriz se joga ao chão chorando desesperadamente.
– O que houve com ela? – Matheus pergunta, enquanto o riso de Arthur
e Mariana morrem.
– Emoção? Já ouviu falar? – Explico e ele faz uma careta. Grande
merdinha, ainda vou socá-lo.
– Filha, pelo amor de Deus, não é para tanto. – Mariana sorri. – Não
sabia que ficaria tão feliz. – Ela abraça o marido e começa a chorar. – Que
linda nossa filha! – Exclama, enquanto eu só consigo pensar na loucura que
vai ser as duas grávidas debaixo do mesmo teto. Puta merda, obrigado Deus!
– Meu Deus... Você ouviu isso, Bernardo? – Bia me olha, pedindo
confirmação.
– Sim princesa, eu ouvi. É demais, não é?
– Porra! – Bia grita, me fazendo saltar para trás.
– Beatriz, você está começando a me assustar. – Arthur diz. – O que está
havendo com ela, Bernardo? – Pronto, sobrou para mim. Tento pensar em
algo para justificar, mas é quase impossível e, por isso, digo a primeira merda
que vem na cabeça.
– É... existe uma frase muito famosa “A alegria pode durar uma noite
inteira mas a lágrima vem pela manhã.” – Digo, tentando justificar a cena.
– Não seria o contrário? – Mariana pergunta, e eu nem consigo lembrar
o que acabei de falar. Que puta que pariu! Vai ser foda!
– Bom, não sei, mas Beatriz me confidenciou que tinha o sonho de ter
um irmão ou irmã. – Minto, e ela me olha com olhar fulminante.
– Ela já tem um irmão. – Matheus diz.
– Ela queria outro. – Respondo, fechando a cara. Abaixo até minha
garota e a levanto. – São lágrimas de felicidade, a realização de um sonho,
não é amor?
– Sim. Com certeza.
– Oh filha, você vai continuar sendo a princesinha do papai. – Arthur
diz, tomando-a dos meus braços.
– Duvido. – Ela diz. – Quer dizer, estou feliz, muito feliz. Porra! Outro
bebê. Vocês têm ideia? – Ela se afasta de Arthur, falando um pouco alto
demais. – Um outro bebê, caralho! Que porra! Isso é insano! – Sim, ela
surtou de vez.
– Outro bebê? – Mariana pergunta, limpando as lágrimas, e agradeço por
Beatriz ter ao menos um neurônio funcionando:
– É mãe, tipo, depois de tantos anos. Vocês devem ter trabalhado duro
mesmo. – Comenta, choramingando.
– Oh, realmente, muito. Seu pai até baixou um aplicativo que mostrava a
hora certa de...
– Mari, eles não precisam saber dos detalhes. – Mariana agarra Arthur
pelo pescoço e eu fico imaginando como deve ser a vida íntima dos dois!
– Eles não nasceram da cegonha, Arthur, eles sabem como surgem os
bebês.
– Sabemos mesmo. – Digo alto.
– Eu ainda vou te dar uma porrada, moleque. – Arthur diz, me
ameaçando, e eu começo a rir. Mas o entendo; se minha filha for mulher, vou
agir igual ou pior que ele.
– Sem violência, sogrão!
– Não precisa ficar falando das suas intimidades com a minha filha. É
horrível imaginar minha princesinha dessa maneira.
– Oh... SEJE menos Arthur. Pelo amor de Deus! Você acha que eles
passaram a noite dormindo? Me poupe, se poupe, nos poupe! O que você
acha que eles ficaram fazendo em Nova York? Você acha que ela fingiu ter
perdido a virgindade? Ela é nossa filha, isso já diz muito sobre a vida sexual
dela. – Mariana argumenta, e Arthur passa as mãos pelos cabelos.
– Cala a boca, Mariana, pelo amor de Deus! Não vou ser bonzinho só
porque está grávida.
– Aff, quer saber? Vocês são todos malucos. – Matheus anuncia o óbvio,
saindo da sala, e eu aproveito a deixa.
– Ok, vou levar minha namorada para respirar um pouco de ar puro. A
emoção tomou conta dela, vocês entendem. É muita felicidade. – Digo,
sorrindo para Arthur e Mariana enquanto a levo até a saída. Preciso tirá-la
daqui o quanto antes.
– Eu espero que vocês voltem para o almoço ou eu não respondo por
mim. – Arthur afirma.
– Claro. – Respondo, e Beatriz finge um sorriso de alegria.
Descemos pelo elevador silenciosamente e resolvo dar uma volta pela
trilha do condomínio com ela. Quando chegamos em um dos parques,
sentamos em um dos bancos e ela solta um suspiro.
– Não acredito que isso está acontecendo!
– Não é tão ruim quanto parece. – Digo.
– Não? Minha mãe está grávida e provavelmente eu também.
– É apenas mais um bebê que vai crescer junto com nosso filho. – Tento
acalmá-la.
– Nosso filho! Você parece tão certo disso e confiante também.
– Alguém tem que tomar partido sobre isso. – Informo. – Você precisa
se preocupar com a saúde e alimentação, eu me preocupo com todos os
demais aspectos. Estou confiante que dará tudo certo, princesa, de verdade.
– Ainda bem que você é pé no chão enquanto eu surto. Porque,
sinceramente, sinto que estou prestes a ficar mais louca do que já sou. – Nem
havia percebido isso!
– Olha, vamos manter a calma ok? Em poucos dias, teremos a
confirmação e partiremos daí. Nós estamos juntos, isso que importa. Quando
voltarmos, chame sua mãe para conversar e diga que está feliz com a
novidade. Vocês duas serão apoio uma da outra durante esse período. Ou
talvez seja melhor eu tirar você de lá o quanto antes, antes que vocês duas
juntas enlouqueçam o restante da família.
– Eu serei uma péssima mãe. Eu nunca segurei um bebê no colo.
– Você será maravilhosa, eu tenho certeza. – Digo, imaginando ela
cuidando de um bebê. Por Deus, estou é fodido! Não consigo imaginá-la
como mãe. Eu terei dupla responsabilidade.
– Você vai ser mil vezes melhor que eu. Sempre lidou com bebês no
abrigo. – Funga, deitando a cabeça em meu peitoral.
– Que tal darmos um passeio na ala dos bebês essa semana? Podemos
começar a treinar. Tem um bebê de mais ou menos três meses lá. – Seu
sorriso diz que foi uma boa ideia.
– Jura?
– Sim. – Respondo.
– Eu quero. Obrigada por isso, Bê. Você está sendo maravilhoso. – Ela
senta em meu colo e começa a beijar todo meu rosto.
– E então, ainda é minha noiva?
– Hum... acho que sim. – Informa, dando um sorriso leve.
– Precisamos nos casar logo.
– Não vou casar logo só porque estou prenha, está maluco? Sou
autossuficiente. E se for para casar é em menos de três meses, porque eu me
recuso a vestir uma capa de botijão de gás. Tenho que estar sexy no vestido e
por baixo dele.
– Oh, com toda certeza princesa, sexy sem ser vulgar. – Sorrio. – Nós já
estávamos cheios de planos para um futuro próximo, agora temos mais um
motivo para levarmos adiante. Mas vamos discutir isso depois. Temos coisas
mais importantes para lidarmos agora.
– Precisamos voltar, devo estar com os olhos inchados, um verdadeiro
show de horror.
– Você está linda. Prometa que vai manter a calma nesse almoço? –
Peço, e ela me beija.
– Prometo se você prometer que não vai me deixar sozinha. – Suspira. –
Preciso de você para me manter sã, principalmente enquanto estiver nessa
tensão até termos o resultado oficial.
– Eu não sairei do seu pé de qualquer jeito. – Anuncio, segurando sua
mão.
BÔNUS ELIZA

A caminho de casa, me sinto completamente nostálgica. O cansaço


psicológico e o fato de ter que lidar com mais um bebê abandonado dentro de
um saco foram o suficiente para me fazer ficar péssima, estressada,
devidamente abalada. Inclusive estou me sentindo uma confusão ambulante
misturando passado, presente e sofrendo pelo futuro.
O tempo tem sido meu maior inimigo nos últimos anos, dar conta disso
às vezes é doloroso. As crianças cresceram e aos poucos cada um está
seguindo seus caminhos. Pietro e Vic estão prestes a finalizar o segundo grau
e já possuem seus respectivos projetos para o futuro e Bernardo, meu
primogênito, praticamente não mora mais em casa. Para mim, que tive uma
vida regada de perdas desde o início, lidar com isso é bastante complicado,
por mais que eu os esteja “perdendo” para a vida e não para a morte.
Hoje, por exemplo, Vic e Pietro foram passar o final de semana num
sítio de um dos amigos, Bernardo saiu cedo da empresa para acompanhar
Beatriz numa consulta de rotina e sei que não voltará para casa. Por mais que
ele esteja na casa ao lado, é ruim demais perceber que meu garoto cresceu e
que em breve terá sua vida, não estará mais debaixo dos meus braços e do
meu teto.
Eu deveria estar feliz por tê-los criado tão bem, por serem filhos
exemplares, mas também é provavelmente por isso que estou nostálgica,
entende?! Daqui alguns anos, ficaremos apenas eu e meu Bê, não terei mais
meus três filhos na mesa do café da manhã todos os dias, não os terei no
almoço ou jantar, eles serão apenas como visita e cara, isso é difícil, por mais
que eu tenha um marido perfeito. Na verdade, não sei o que futuro nos
reserva. Eu tenho medo do futuro, da velhice e da morte. Mas talvez eu esteja
apenas enlouquecendo antes da hora e precisando de umas férias da empresa
e dos abrigos. É isso. Eu preciso de férias!
...
Assim que abro a porta do nosso apartamento, encontro meu marido e
meu filho sentados no sofá com uma expressão bastante séria. Eu os encaro e
eles me olham de volta, fazendo com que meu coração dispare e suba até a
boca.
– Aconteceu alguma coisa com Vic e Pietro? – Fecho a porta tremendo,
e Bernardo se levanta para me dar um beijo.
– Não, amor. – Responde e olho para meu filho, que está apreensivo.
– Aconteceu algo com Luz e João? Algo em um dos abrigos?
– Não mãe, estão todos bem. – Meu menino me dá um abraço apertado e
eu logo sei que há algo errado.
Decido manter a calma, já que não é caso de morte. Tudo que eu não
precisava hoje era lidar com mais um problema ou alguma perda.
– De qualquer forma, eu preciso dar uma notícia. – Meu Bê filho diz e
me entrega um copo d'água. Seu ato me deixa ainda mais louca.
– Sente aqui, amor. – Bernardo ordena e eu me acomodo ao seu lado.
Ele me dá as mãos e nosso filho se senta na mesinha de centro, de frente para
mim.
Minha cabeça trabalha em mil e uma possibilidades e nenhuma delas é
agradável. Meu menino parece assustado, confuso e vejo um certo medo
estampado em seu rosto. É assustador, nunca o vi dessa maneira antes.
– Filho, o que está havendo? – Pergunto e o vejo suspirar fundo antes de
dizer:
– Mãe, a Beatriz está grávida. – Informa, e minha mente começa a
trabalhar e registrar as palavras.
– Grávida? – Pergunto, pedindo uma confirmação para saber se é coisa
da minha mente ou aquilo que ele acabou de dizer é mesmo real. Agora
consigo entender o porquê eu estava me sentindo tão mais estranha que o
normal, era meu sexto sentido de mãe.
– Sim, eu serei pai. Eu sei que não é exatamente o que você e meu pai
queriam para mim tão jovem, mas é o que é. A suspeita começou semana
passada e hoje tivemos a confirmação.
– Meu Deus, Bernardo! Você tem ideia do que está me falando? –
Questiono e me levanto, começando a andar em círculos. – Beatriz tem
apenas 18 anos e você 20. Tudo bem que você já é maduro o suficiente,
trabalhador, mas e ela? Ela acabou de começar a faculdade, meu filho! Por
que não se preveniu? Como pôde ser irresponsável dessa maneira? Já pensou
nos pais dela?
– Liz, se acalma. – Meu marido diz, se levantando.
– Você quer que eu me acalme? Como Bernardo? Seu filho sempre foi
bem instruído. –Respondo.
– Mãe...
– Não tem mãe, eu e seu pai tomaremos frente disso!
– Não. Eu tomarei frente de tudo. Meu filho e minha namorada agora
são responsabilidade minha. – Meu filho anuncia e, por mais possessa que eu
esteja nesse momento, não consigo conter o orgulho pela sua atitude.
Olhando para meu marido, vejo brilhos nos olhos e a mudança de postura ao
ouvir as palavras. É perceptível o quanto meu Bê está orgulhoso do filho e
não é para menos, nosso filho virou um homem correto, responsável e
decidido. De alguma forma, isso me acalma e me dou conta de que eu e meu
marido conseguimos acertar em sua criação.
Viajo ao passado e tenho um deslumbre do dia que descobri que estava
grávida na lua de mel. Ao meu lado, na cama do hospital, tinha um Bernardo
radiante me dando a notícia que me deixou desesperada e ao mesmo tempo
feliz por ser fruto dos momentos deliciosos que compartilhamos. Ali, naquele
olhar, eu via força e felicidade, do tipo que eu nunca havia visto antes. Os
meses que sucederam eu descobri um novo Bê, um Bernardo altamente
controlador e responsável, que controlava até mesmo meus horários, minha
alimentação, inclusive o tamanho dos saltos dos sapatos que eu usava. Eu
passei a ter medo da morte assim que soube da existência do nosso filho,
devido ao fato de eu e Bê termos perdido nossos pais. E enquanto eu temia
que qualquer coisa pudesse nos acontecer, ele me mostrava o quão belo era
tudo aquilo que estávamos vivendo e o quanto Deus tinha sido generoso,
mesmo que eu achasse que éramos jovens demais. O homem que foi morador
de rua por muitos anos mostrou que era muito mais forte que eu e agora,
vinte anos depois, vejo bem na minha frente a cópia perfeita do pai. A única
coisa que os diferencia do passado é que eu e Bê não tínhamos que dar
satisfações para nossos pais, e Luzia e João, os mais próximos que tínhamos
de pais, ficaram radiantes com a notícia. Eu sei que meu filho vai enfrentar o
que tiver que enfrentar e que minha nora é uma garota de sorte por tê-lo. Mas,
neste momento é hora de ser mãe, eu preciso guiar meu filho que, ao mesmo
tempo que se mostra decidido, está parecendo perdido.
– Tudo bem. Eu não tenho dúvidas da sua responsabilidade perante essa
notícia, sei o homem que é e me orgulho muito disso, porém sua
responsabilidade falhou em algum momento ou não estaríamos recebendo
essa notícia tão precocemente. Mas é uma vida, não é? O que posso dizer? Eu
e seu pai estamos com você. Nós sempre estaremos. E eu faço questão de
participar de cada momento dessa gestação. Os pais dela já sabem? Vocês
não tinham um método contraceptivo? – Pergunto, e meu filho passa as mãos
pelo cabelo. Eu me aproximo e o abraço com todo meu amor por alguns
segundos antes que ele me responda. Eu me sinto abalada emocionalmente!
– Eu achei que seria fácil, mas agora diante da notícia tudo parece
assustador. Tenho ensaiado na minha cabeça um modo de abordar isso com
eles, e para completar, Mariana também está grávida como vocês já sabem.
Isso é tão confuso, mãe! E Beatriz toma anticoncepcional, porém não quis
abordar isso com ela, agora não vem ao caso. Não sei se foi um esquecimento
dela, não faço a mínima ideia, mas está feito.
– Precisamos falar com eles. Não podemos adiar, Beatriz precisa
começar o pré-natal o quanto antes. Podemos ir juntos ou podemos marcar
um jantar aqui. – Meu marido diz.
– Ela realmente precisa começar o pré-natal, ela tem desmaiado direto. –
Ele diz.
– Meu Deus, Bernardo, como não me contou? Como estão conseguindo
esconder já que você praticamente está morando com ela? – Volto a andar em
círculos e sinto os braços de meu marido me envolvendo.
– Descobri sua existência num desmaio da sua mãe, ela caiu da escada
na nossa lua de mel. Encontrei-a caída no chão, foi a merda de um susto vê-la
daquela maneira. – Ele diz, orgulhoso.
– Você vai deixá-lo mais nervoso. – Digo.
– Na verdade, eu tenho estado com ela 24 horas por dia justamente por
isso, a peguei desmaiada duas vezes já. Tenho medo de deixá-la sozinha. –
Meu filho diz, inquieto. Ser mãe é muito doido, tudo que eu quero é abraçá-lo
e dizer que eu vou resolver todos os problemas do mundo e que nada de ruim
vai acontecer, mas infelizmente não posso.
– Nós vamos resolver isso hoje? – Meu marido questiona.
– Não pai, Beatriz está completamente abalada, vou até trazê-la para
dormir aqui.
– Traga filho, sua mãe pode conversar com ela, não é Liz?
– Sim, eu vou conversar, vou acalmá-la, filho. Vai dar tudo certo, é só
um bebê e você já é muito bem treinado com bebês. – Digo, sorrindo, e ele
me surpreende vindo nos abraçar com lágrimas nos olhos.
– Eu não sei o que seria da vida sem vocês. Eu sabia que estariam do
meu lado.
– Sempre estaremos, haja o que houver.
– É louco eu dizer que estou feliz por ter um bebê aos 20 anos? – Ele
questiona, se afastando e passando as mãos pelos cabelos.
– Não, você está apaixonado, é lógico que está feliz. Por mais que esteja
cheio de preocupações. – Bê diz.
– Eu quero me casar com ela.
– Calma! Muita calma! – Digo. Esse dia chegou rápido demais, meu
filho quer se casar?! Eu sinto que vou morrer!
– Eu já havia pedido ela em casamento antes dessa notícia, só não
havíamos contado para ninguém ainda. – Diz, sorridente, e eu vejo
novamente o pai estampado nele. Sei que ele não vai desistir até que isso
realmente aconteça.
– Meu Deus, Bernardo, uma notícia de cada vez! – Grito, incapaz de
conter o desespero.
– Respira, Liz, respira. Ele puxou aos pais, o que há de mal em querer se
casar jovem? –Bê diz, massageando meus ombros, fazendo tudo parecer
simples e prático. Às vezes, eu tenho vontade de matá-lo por ser assim, mas
aí percebo que ele é meu equilíbrio completo e tudo passa.
– Eu vou tomar um banho, me avise quando Beatriz chegar!
Deixo-os na sala e vou direto para o quarto, deixando minhas roupas
espalhadas pelo chão. Não é meu costume fazer isso, mas não é meu costume
saber que serei vó também. Eu serei vó aos 42 anos de idade, você tem ideia?
Paro diante do espelho completamente nua e contemplo meu corpo.
Preciso de qualquer detalhe que faça com que eu me sinta avó. Eu era magra
antes de ter meu primeiro filho, mas desde que engravidei eu ganhei curvas,
muitas delas. Tenho seios fartos sob medida, tenho um bumbum generoso,
coxas... meu rosto é liso como bunda de bebê e, de acordo com alguns artigos
que leio, isso tem muito a ver com minha vida sexual, o que eu acho
engraçado. Sexo é a receita para longevidade e beleza, isso não é louco? A
única coisa que encontro de errado são algumas veias praticamente
imperceptíveis devido ao uso constante de salto alto, mas nada que você vá
visualizar facilmente. Realmente, não pareço uma avó, nem mesmo me
pareço mãe de dois adolescentes e um garoto de 20 anos.
Enquanto me perco em pensamentos, a porta se abre e através do
espelho encontro o olhar do meu marido descendo pelo meu corpo nu. Ele
sempre me olha como se tivesse me vendo nua pela primeira vez, chega a
ficar corado me trazendo a lembrança da nossa primeira vez. Acho isso fofo,
ao mesmo tempo que é quente pra caramba perceber que ainda tenho um
efeito sobre ele. Ele também tem sobre mim.
– Linda, está mais calma?
– Não sei. O dia de hoje foi desgastante o suficiente e não estava
preparada para uma notícia dessa proporção. Só queria chegar em casa e
receber uma massagem gostosa, e aí eu chego e descubro que serei avó.
Claro, obviamente isso é feliz, sabe? Mas é tão assustador, Bê. Nós teremos
um neto ou uma neta. – Conversamos através do espelho.
– E você será a vó mais gostosa do mundo, não podemos esquecer esse
grande detalhe. – Avisa, se pondo atrás de mim e logo sinto suas mãos em
minha cintura subindo e descendo. Não deveria sentir tesão, não quando
estou no descontrole emocional, mas eu sinto. Basta um único toque do meu
marido e é exatamente assim que me sinto.
– Eu me sinto jovem para isso. Eu poderia facilmente ter outro filho.
– Sim, mas o destino quis que fosse assim e agora seremos avós. Cabe a
nós aceitar, o destino sempre nos surpreendeu, nunca nos decepcionou, Liz. –
Ele diz, me acalmando, e sobe as mãos para meus seios, apertando-os forte.
Solto um gemido em resposta sentindo seu membro ganhar vida em minha
bunda e ele se afasta, indo até o box abrir a ducha, com um sorriso satisfeito
de quem sabe o efeito que tem sobre a mulher.
Me viro e encosto na pia observando o quão provocador ele pode ser às
vezes. Observo a água deslizando pelos ombros largos e descendo por toda a
extensão de seu corpo. Seria loucura eu dizer que quanto mais velho mais
gostoso meu marido fica? A carinha de bebê foi substituída pela imagem de
um homem maduro, o corpo é bem mais definido e a barba por fazer é algo
realmente fantástico.
Ele se vira de lado e, com um sorriso, me chama. Eu vou como se
estivesse sendo atraída por uma força maior, e quando me acomodo em sua
frente, é como se o mundo paralisasse. Somos apenas eu, ele e a certeza de
que certamente fará com que eu me sinta melhor, ele sempre faz.
– O que eu posso fazer por você, linda?
– Você pode me fazer relaxar. – Digo, passando as mãos em seus
cabelos molhados.
– Será que eu consigo? – Responde, brincando com meus mamilos,
fazendo um arrepio frio correr pelo meu corpo.
– Você sabe que sim, só existe uma forma de relaxar.
– É? Qual? Diz para mim. – Ordena, descendo a mão até meu ponto
pulsante, e com um gemido provoco.
– Tendo você dentro de mim. Acha que pode fazer isso? – Peço. Ele
pega pela cintura e, muito rapidamente, está por completo dentro de mim, me
fazendo arfar. Parado, ele me encara com um sorriso safado.
– Assim?
– Sim, bem assim. Pode ficar melhor se você se mover bem forte contra
mim, acha que consegue? – Peço, tentando mover contra ele, mas sou
pausada por suas mãos fortes.
– Você quer que eu vá duro contra você? – Pergunta, lambendo meu
pescoço.
– Exatamente. – Afirmo, ganhando um forte tapa na bunda que faz com
que eu abra os olhos instantaneamente e o encare.
– Bem forte?
– Sim, Bê, por favor. – Imploro sobre seu olhar nublado e ele dá
exatamente o que preciso.
Bê bate implacável contra mim, mordo seu ombro para abafar os gritos.
É como se eu tivesse saindo do inferno e indo diretamente ao céu. Ele conduz
nossos corpos e eu me entrego por completo. Ele fode muito mais minha
mente do que meu corpo, ele sempre faz isso. Eu me deleito ao prazer, certa
do quanto eu o pertenço e o quão conhecedor ele é de mim.
Eu o beijo e trabalho em conseguir seu próprio prazer, me movendo
juntamente aos seus comandos. Aperto-o dentro de mim e o solto repetidas
vezes ouvindo-o arfar. Me transformo na minha forma mais devassa, o
arranho e puxo sua bunda com os pés. Meu marido segura meus cabelos e faz
nossos olhares se cruzarem enquanto tenta controlar a mim mesma. Sorrio de
um jeito safado e ele joga a cabeça para trás em derrota, me preenchendo com
seu prazer e fazendo com que eu me sinta vitoriosa. No final de tudo, nós
dois vencemos por nocaute.
– Maldita. – Diz, sorrindo em meu pescoço.
– Gostoso.
– Você é uma garota má. – Fala com a voz rouca, me segurando firme
contra ele.
– E você é um garoto safado. – Rebato, fazendo-o soltar uma gargalhada
deliciosa.
– Consegui te deixar relaxada?
– Talvez eu precise de mais assim que conversar com nossa nora.
– Liz, vai dar tudo certo. Nós criamos um bom rapaz. – Me tranquiliza.
– Eu sei que sim.
– Não tenha dúvidas sobre isso, farei você relaxar quantas vezes for
necessário, de forma sacana ou lenta, como preferir.
– Eu sempre prefiro a forma sacana. – Respondo, mordendo os lábios.
– Claro que prefere. – Responde e me beija delicadamente, o contraste
perfeito do que estávamos fazendo há minutos atrás.
BEATRIZ

Estou agarrada à Simba ou poderia facilmente dizer que estou quase o


estrangulando, mas ele virou meu ponto de apoio nesse momento caótico da
vida quando Bernardo não está presente.
Agora, nesse exato momento, devo ter me tornado a pior nora da espécie
e devo estar prestes a viver aqueles conflitos que muitas noras e genros vivem
com a sogra venenosa. Liz sempre me tratou como se eu fosse filha, mas não
sei se continuará dessa maneira após a declaração de Bernardo.
Na verdade, estou desesperada. Meu pai não vai reagir bem, e minha
mãe vai surtar quando souberem que a filhinha de 18 anos está prenha. Vão
analisar friamente o fato de eu ter deixado Bernardo colocar no meu buraco
sem proteção e nem vão cogitar a hipótese do erro ter sido meu, e o pior de
tudo, o erro foi meu! Eu deveria ter tomado a maldita injeção há um mês e
simplesmente só lembrei disso no momento em que Bernardo me deu a
notícia da possível gravidez (que agora se confirmou).
Para completar, já me imagino deixando a criança morrer afogada na
banheira, consigo visualizar uma Beatriz com os cabelos grudando de tantas
golfadas e blusas fedendo a azedo. Consigo até mesmo imaginar merda
vazando pelas fraldas e sujando tudo pela frente. Não visualizo o futuro com
Bernardo, sei que não existirá sexo, baladas ou diversão. Isso é o fim dos
tempos. Deveria ter me mantido virgem até os 35 anos de idade.
Pensando no fim da minha vida, uma luz forte, quase ofuscante, invade
minha mente trazendo uma ideia brilhante. Solto Simba e fico sentida de ver
o pobrezinho fugindo de mim igual o diabo foge da cruz. Ele se esconde em
sua casinha e fica no cantinho encolhido, fazendo com que eu me sinta a
verdadeira Felícia.
Vou até minha cômoda, pego um caderno e volto correndo para a cama.
Mordo a ponta da caneta e dou o sorriso do gato de Alice, abaixando para
fazer minhas anotações. Preciso elaborar um cronograma de coisas a serem
feitas até o quinto mês de gestação que é até onde acho que estarei apta para
ter uma vida normal ou anormal. É aquele esquema "Vamos viver tudo que
há pra viver"
O primeiro item é:
1- Dar uma porrada em Maria. – Lógicooooooo! Enquanto eu tiver a
imagem dos dois lindamente se beijando não terei sossego. Preciso substituir
por uma imagem de dor.
2- Ir ao baile da Favorita (Esse é bobinho, mas preciso).
3- Ir ao baile funk numa favela qualquer (Se tiverem dando tiros para o
alto, será muito doido).
4- Fazer sexo no banheiro de um avião.
5- Chupar Bernardo enquanto ele trabalha (Meu sonho é ver ele tentando
manter a compostura numa conversa enquanto é chupado como um pirulito).
Ok, eu já fiz isso, mas quero novamente.
6- Dar o redondo (apenas para saber se é tão doloroso quanto dizem).
7- Ir para Amsterdam viver dias sem lei (ok, sei que não posso me
drogar, mas posso fingir, o que torna tudo maravilhoso).
8- Ir para o Spring break em Cancun (Merda, esse eu não vou poder ir,
por isso decido riscá-lo).
8- Fazer dupla penetração (ok, eu sei que Bernardo não vai deixar, mas
não custa tentar, nem que seja com um consolo).
9- Conhecer um puteiro chique (Vai falar que você nunca teve
curiosidade de entrar numa zona e ver “comé” que funciona a situação lá?
Não banque a puritana, não aqui!).
10- Dar, dar para caralho, dar tudo que eu puder dar, dar em lugares
inusitados, dar plantando bananeira, fazer todo o Kama Sutra dando (óbvio
que para Bernardo, aliás, eu o amo, mas porra, agora que estou grávida se
torna um desperdício não ter curtido outros paus).
11- ...
– O que está fazendo? – Dou um salto ao ouvir Bernardo entrando e
sentando-se ao meu lado.
– Puta que pariu! Que susto. – Respiro fundo, fechando o caderno.
– Eu li dupla penetração?
– Não, óbvio que não. Você viu dupla gestação que no caso é a minha e
a da minha mãe. – Digo, fazendo minha cara mais inocente e mudo de
assunto. – Como foi com seus pais?
– Um leve sermão da minha mãe por eu ter engravidado uma jovem
garota, mas no fim deu tudo certo. Eles estão nos esperando lá. Achei que
seria melhor dormimos lá hoje.
– Claro, contanto que possamos foder de todas as formas eu estou de
acordo. – Respondo brincando com uma mecha de cabelo e o bichinho me
encara, assustado.
– O que?
– É uai. Foder, fazer sexo, trepar, ser comida, dar... – Respondo,
fazendo-o corar em espanto. Qual é? Ele ainda cora! Ele me engravidou com
seu pau e vem corar porque eu estou dizendo que quero foder! É uó!
– Eu entendi. Já transamos lá algumas vezes.
– Então por que o espanto? – O choque me consome enquanto ele franze
a testa, tentando me entender.
– Nada. Você está bem?
– Estaria melhor se você aceitasse me ensinar uns truques. – Sorrio e me
jogo sobre ele.
– Truques?
– Truques anais. – Mordo o lábio segurando o riso enquanto ele abre e
fecha a boca seguidas vezes.
– Sexo anal? É isso? Você quer que eu coma...
– Meu furico! Sim, eu quero, hoje! Não podemos perder tempo mais, em
breve não teremos vida e quero desfrutar de tudo que for possível nos
próximos meses. – Digo e sou retirada de cima dele, enquanto ri de dobrar a
barriga. – Qual a graça?
– Quero ver você falar naturalmente quando eu tiver prestes a invadir o
território sombrio. São os hormônios, só pode ser. Você nunca deixou que eu
passasse nem o dedo, Beatriz! Meu Deus. Arrume suas coisas e vamos.
Preciso te tirar daqui. – Ele anuncia e eu começo a chorar, nem sei porquê.
Não consigo conter as lágrimas que descem feito uma cachoeira. Talvez
minha bunda não seja tão atrativa ou convidativa.
BERNARDO

É, eu ficarei louco. Sou eu quem preciso de psicanálise, e não Beatriz.


Eu já entendi.
Por que ela está chorando agarrada ao travesseiro? Eu não tenho a
menor ideia do que diabos possa ter acontecido para ela chorar. Eu não sou
mais o mesmo Bernardo, eu sinto que a convivência está me transformando
num ser muito parecido com ela, estou ficando louco e preciso ter paciência e
compreensão. Tudo bem!
Seguro minha vontade de rir e respiro fundo antes de me acomodar ao
seu lado e abraçá-la.
– Ei, não chora. O que houve?
– Minha bunda não te atrai. –Ela diz e eu olho para o nada, tentando
entender de onde ela tirou uma conclusão desse porte, porque eu mal consigo
manter minhas mãos longe da bunda dela.
– Eu amo sua bunda. Eu mal consigo manter minhas mãos longes dela.
Eu amo cada parte do seu corpo, mas sua bunda me deixa maluco.
– Você a rejeitou.
– Beatriz, eu não vou comer sua bunda, e sim um buraquinho bem
pequenininho, o que é bem diferente. – Explico como se tivesse dizendo a um
bebê o motivo de não poder enfiar o dedo na tomada. No caso, estou
explicando sobre um buraco diferente.
– Então você vai comer? – Pergunta, esperançosa e fungando. Não
acredito que estamos discutindo sobre a defloração anal dela.
– Não vamos falar sobre isso agora, vamos deixar acontecer, tudo bem?
– Temos poucos meses. – Diz, e então fico de pé. Preciso colocar um
pouco de seriedade no assunto ou ficarei perturbado.
– Você está falando como se nossa vida sexual fosse acabar com o
nascimento do bebê. Como você acha que nossos pais estão casados até hoje?
Eles parecem tristes ou infelizes? Não. Eles são felizes, Beatriz, muito, tanto
que eles tiveram mais filhos além de nós, sua mãe mesmo está grávida após
tantos anos.
– Ok. – Ela sorri e se joga em cima de mim, rodeando as pernas na
minha cintura. – Eu estou surtada.
– Não percebi. – Respondo e sua boca se choca contra a minha
intensamente. Ela desce dos meus braços e fica de pé, enquanto me dá um
pega sinistro. Sou inocente, juro por Deus.
Beatriz está uma bagunça completa de sentimentos e atitudes extremas.
Num minuto ela está chorando, no outro rindo e em seguida está trabalhando
em abrir os botões da minha camisa com urgência. Sem saber o que fazer ou
como agir, apenas fico parado, deixando que ela faça o que quer que queira
fazer, noto até mesmo sua respiração completamente descompassada pelo
desespero.
Assim que minha camisa voa pelo quarto, pego-a no colo levando até a
cama, onde a deito. Não estava nos planos, mas se ela quer transar agora, eu
estou mais que disposto. Subo sua saia lentamente e, com o polegar, afasto
sua calcinha. Assim que sente meu dedo passando pela sua cavidade, Beatriz
solta um gemido capaz de ser escutado por todo condomínio. Que diabos está
acontecendo com ela?
– Shiu. – Tapo sua boca com a mão e a filha da mãe me morde. – Porra
Beatriz.
– Me toque.
– Então não grite. – Ordeno e ela balança a cabeça, concordando.
Volto os movimentos e a vejo mordendo o travesseiro para abafar os
sons, a imagem é sexy. Incrivelmente é no sexo o único momento em que
consigo ter controle sobre Beatriz. Ela sempre se entrega e deixa eu
comandar as ações.
Como bom conhecedor da minha garota, percebo-a extremamente
sensível, mais que antes, e se foi a gravidez que a tornou assim, preciso dizer
que ela grávida é a perfeição. Está tão molhada e tão à flor da pele que goza
com apenas alguns movimentos diretos no seu ponto G. Chego a ficar
assustado, mas me delicio ao ver seu corpo se contorcer embaixo do meu. A
necessidade agora toma conta de mim e abaixo rapidamente o zíper da minha
calça, livrando meu membro molhado com o pré-gozo. Não tenho tempo de
tirar todo o restante, preciso sentir o aperto dela em volta de mim.
Assim que nossos corpos fazem a deliciosa conexão, suas mãos me
agarram em desespero e eu praticamente me deito sobre seu corpo.
– Você vai me deixar maluco se continuar desse jeito.
– Que jeito? – Pergunta, enquanto me delicio com movimentos entra/sai
e exponho seus seios.
– Você está mais sensível e safada. – Digo e ela finca as unhas na minha
bunda, me puxando para mais de forma que eu mal consigo me movimentar.
Deixo ela fazer do jeito dela. E o jeito dela é de enlouquecer um homem. Seu
corpo se move contra o meu, esfregando-se desavergonhadamente em busca
do próprio prazer e me levando junto. Não existe nada melhor para um
homem do que ver a mulher se satisfazendo com seu pau. É afrodisíaco e
desconcertante. Ter que lutar contra o desejo de gozar para satisfazê-la é
quase insuportável.
– Não vou conseguir segurar. – Digo, olhando bem dentro seus olhos, e
a safadinha sorri.
– Não segure, quero sentir você endurecendo mais ainda e explodindo
dentro de mim. – Puta que pariu.
– Você vai gozar junto comigo. – Gemo e volto a dominar, pressionando
seu clitóris até que ela goza, me levando junto.
...
Meia hora depois, minha garota sai do banho com humor renovado e um
sorriso gigante. Pego uma bolsa pequena com o pijama e uma muda de
roupas para ela e fazemos a descida da vergonha pela casa. É sem graça o
suficiente passar pela sala e as pessoas te olharem como se soubessem
exatamente o que estavam fazendo. Por sorte, meus queridos sogros não
estão, mas Jéssica tinha que estar jogada no sofá comendo pipoca.
– Eta lelê. Seu zíper está aberto. – Ela anuncia, olhando fixamente para
minha calça, e Beatriz faz questão de fechá-lo.
– Você não fique analisando a jabiroba do meu namorado! – Brinca e dá
um puxão de uma só vez, me fazendo saltar para trás. Se essa porra agarrasse
no meu pau nesse momento estaria a jogando pela sacada do apartamento.
– Onde vai? – Eu responderia que não é da conta dela, mas Beatriz
responde na frente.
– Avise aos meus pais que vou dormir no Bê? Cuida do Simba para
mim!!! – Beatriz pede e Jéssica a encara com um sorrisinho no rosto
– Deixa comigo. Use camisinha. Ah, e não grite tão alto. – Jéssica pisca
o olho e vejo o humor de Beatriz mudar no mesmo momento.
– Pode deixar que colocarei uma mordaça nela. Você podia arrumar um
namorado para te dar um sossega leão e deixar de ser intrometida. – Sugiro e
ela taca uma pipoca que passa km de distância de mim.
Ao entrarmos no apartamento, pegamos dona Eliza com um sorriso
enorme no rosto e meu pai na cozinha preparando alguma coisa. O que
aconteceu para ela estar sorridente? Lembro de deixá-la muito mal-humorada
quando saí de casa.
– Minha linda! Como está se sentindo? – Questiona se aproximando de
Beatriz e a abraça.
– Estou me sentindo melhor.
– Que bom! Bê está preparando uma massa gostosa para o jantar. Vem,
vamos conversar. – Ela puxa Beatriz de perto de mim e eu vou para o quarto
colocar as coisas da minha garotinha. Espero que a conversa das duas seja
produtiva e explicativa.
Quando volto a cozinha, pego um vinho na vinícola e sirvo duas taças,
uma para mim e uma para meu pai. É hora de termos uma conversa de
homens. Talvez ele me ajude a entender os hormônios da minha namorada.
BEATRIZ

Assim que chegamos na casa de Bê, Liz me puxa pelo braço e andamos
até ela abrir uma porta (que eu jurava ser um armário embutido) e me levar
para um lindo escritório com vista para a lagoa. Fico abismada com o bom
gosto da decoração, mas tudo passa quando sua voz me tira do deslumbre.
– Sente aqui. – Ela bate no sofá e eu me acomodo ao seu lado. – Então,
como você está lidando com a novidade? – Pergunta, segurando minhas mãos
com uma doçura que eu jamais imaginei. Achei que ela iria me matar, ou me
odiar, mas ela está aqui segurando minhas mãos.
– Eu não sei. Não caiu a ficha. Às vezes, tenho picos de realidade e em
seguida é como se tudo tivesse normal. Em um dos picos, só consigo pensar
que daqui 9 meses minha vida nunca mais será a mesma. – Respondo,
sinceramente.
– Não só daqui 9 meses. A partir do momento em que descobrimos uma
gravidez, tudo muda. Você pode não conseguir visualizar agora, mas muda
para melhor, por mais jovens que vocês sejam.
– Não consigo ver nada melhor nisso. Só tem 3 meses que estamos
juntos. – Confesso enquanto ela fica me estudando por alguns segundos.
– Pouco né? Mas o que você sente por ele? O que você sentiu no
primeiro instante que o viu? É uma conversa de mulheres, e não de sogra e
nora. – Ela questiona sorrindo e eu me ponho a pensar.
O que senti quando vi Bê pela primeira vez? Primeiro, eu senti
desespero por ter dado um chute nas bolas dele, isso é fato. E quando ele
levantou o rosto, eu senti surpresa; quando pude contemplar o rosto dele, o
choque me tomou, foi atração à primeira vista e eu senti uma enorme vontade
de rir, porque aquilo parecia surreal. Depois o encontrei na festa e tive um
deslumbre do seu corpo, e que corpo, a primeira coisa que notei foram os
braços fortes, não bombados, mas fortes. Em seguida, tive um encantamento
gratuito ao saber dos abrigos e pude perceber que ele não era um garoto
convencional, ele era "grande" em sua bondade. Então, senti que ele era um
desafio, e desafios me atiçam, tanto que quis provar a mim mesma que eu
conseguiria tê-lo naquela noite, e foi exatamente o que fiz. Eu o agarrei e
assim que fiz isso descobri que estaria fodida, pois descobri que Bê era bom
demais e trouxe à tona uma vontade louca de sexo em mim. Acho que aquela
noite eu me apaixonei, rápida e enlouquecidamente por ele. E agora,
pensando em tudo que vivemos, até mesmo em tê-lo pego beijando Maria, eu
tenho a certeza de que o amo. Os setes dias que ficamos separados foram os
piores de toda a minha existência. Não restam dúvidas, eu o amo e agora
preciso responder à pergunta de Liz.
– Eu o amo. Nós somos tão diferentes e nos encaixamos tão bem um ao
outro. Sinto que eu trouxe um pouco de loucura para vida dele e ele trouxe
um pouco de juízo para a minha.
– Você consegue se imaginar sem ele, Bia? – Pergunta e eu me
questiono aonde ela quer chegar com isso.
– Não gosto de cogitar essa hipótese. Depois do que aconteceu com ele e
Maria, os setes dias que nos separamos foram os piores dias da minha vida,
Liz. Eu ficava pensando em como seria não ter mais os beijos, o carinho, até
mesmo ele tentando me controlar.
– E agora vocês estão juntos e terão um bebê. Vocês fizeram isso Bia,
esse bebê é fruto do amor de vocês dois. Não existe idade, momento certo, se
aconteceu é porque tinha que acontecer. O destino reservou isso. Eu acredito
muito no destino Bia, eu tenho uma forte razão para acreditar. Você sabe
como conheci seu sogro? – Ela pergunta, dando um sorriso orgulhoso.
– Não, mas tenho curiosidade de saber.
– Vou contar resumidamente, ok? – Ela diz radiante e eu aceno a cabeça,
concordando. Sempre quis saber como foi o início deles. – Eu tinha um
namorado, Humberto. Ele era lindo, absolutamente lindo e sexy. Ele tinha
tatuagens, piercing, um corpo lindo. Eu me apaixonei rapidamente porque ele
fazia tudo para me agradar e me deixar deslumbrada, era o namorado
perfeito, até o dia que meu pai morreu. Assim que meu pai se foi, ele mudou
completamente; começou a querer controlar a empresa que herdei, começou a
se tornar altamente possessivo a ponto de eu não poder conversar com
ninguém, controlava minhas roupas, meus horários, tudo. A paixão que eu
sentia começou a se tornar repulsa, eu tinha pavor quando ele me tocava,
fazia tudo por obrigação até que um dia ele me jogou dentro de um carro e
disse que iria nos matar. Eu tentei de tudo para convencê-lo a não fazer isso,
mas ele estava decidido que nós dois morreríamos juntos e eu, num ato de
loucura e desespero, abri a porta do carro e me joguei. – Ela diz, enquanto
lágrimas escorrem dos meus olhos. – Foi a coisa mais certa que eu fiz na
minha vida. Eu caí aos pés de um morador de rua. E esse morador de rua me
defendeu bravamente contra Humberto. E assim que Humberto se foi e eu
olhei nos olhos daquele morador de rua, soube que minha vida mudaria ali,
naquele momento. O morador de rua era Bernardo.
– Uau! Eu achei que vocês se conheceram depois que ele já não era mais
morador de rua. – Digo, arrepiada.
– Não. Ele era e eu precisava ajudá-lo. Eu simplesmente não conseguia
deixá-lo ali e inventei uma desculpa pela segurança dele e o fiz ficar comigo.
Mas não foi fácil. Nós combinamos que ele ficaria na minha casa por 7 dias,
e foi exatamente o que ele fez. Foram os setes dias mais loucos da minha vida
e foi o tempo que precisei para me apaixonar perdidamente por ele. E quando
eu acordei no sétimo dia, ele não estava mais lá, ele havia partido. Bê sumiu
por oito meses, os oito piores da minha vida, porque eu sabia que ele estava
vivo. Eu perdi duas pessoas que amava para a morte, mas perder alguém que
você ama para a vida é a pior sensação do mundo, porque você sabe que a
pessoa está em algum lugar e você não tem acesso a ela. Bê não aceitou que
eu o ajudasse, que eu o sustentasse ao menos até ele ter uma capacitação e
trabalhar em algo. Ele era um pouco orgulhoso, dizia que precisava ser um
homem digno com seus próprios meios. E aí se foi, sem ao menos se
despedir, e eu quis morrer de verdade.
– Meu Deus!
– Eu dirigia pelas ruas durante a madrugada em busca dele, eu rodava
por todos os cantos, até em favela eu cheguei a ir e nada, absolutamente nada
dele. Oito meses depois, Luz e João me convidaram para um desfile e eu,
com nenhuma vontade, aceitei ir, ficamos na primeira fila. Até arrepio de
lembrar. – Ela diz, corando, me deixando intrigada. – E então as luzes
diminuíram e uma música eletrônica perfeita começou a tocar e veio um
homem lindo desfilando com uma sunga preta, Cap de policial, segurando um
cassetete na mão, e parou diante de mim. Lembro que eu fui subindo o olhar
lentamente, e eu estava feliz porque em oito meses aquela era a primeira vez
que eu estava sentindo atração por um homem. Eu fui subindo, analisando
cada parte do corpo. Ele tinha coxas musculosas, uma barriga com seis
perfeitos gomos, os braços fortes e sarados, e quando subi mais o rosto, parei
no sorriso, eu o reconheci pelo sorriso. – Ela diz com lágrimas nos olhos e eu
desabo em rios de lágrimas. – Era meu Bê. E ele estava incrivelmente lindo.
Na hora, eu quis matá-lo por ter me feito sofrer por oito meses. Eu sai do
desfile com um misto de emoções, me joguei no mar, lutei contra o
sentimento, mas não resisti. Me entreguei a ele na primeira oportunidade, eu
o amava, eu o amo.
– Ai que lindo isso! Deveria virar um livro.
– Ok, sem mais lágrimas. – Ela diz, sorrindo e limpando o rosto. Solta
um suspiro e volta a falar. – O que eu quero dizer com isso é que não adianta
brigar contra o destino, se tiver que acontecer vai acontecer. E aconteceu.
Agora você precisa pensar nesse bebê aí dentro, pensar no relacionamento
com meu filho, pensar no que é melhor para vocês. Sua vida não acabou, sua
juventude não foi jogada fora, Bia. Você vai continuar estudando até quando
for possível e depois vai dar um intervalo para cuidar do meu neto ou neta, e
vai voltar a estudar novamente. Sua vida vai continuar. O Bernardo já é
autossuficiente, ele nunca deixará faltar nada a vocês, e eu sei que eu, meu
marido e seus pais também não. Nós te daremos todo suporte. Não é o fim do
mundo, minha linda. É o início de uma nova vida para você. Eu tenho certeza
que, assim que tiver seu filho no colo, você vai se perguntar como pôde ter
conseguido viver sem esse serzinho. Só vai ter lugar para o amor nesse
coraçãozinho. Embora eu saiba que é assustadora a descoberta sem
planejamento, não se assuste. Tudo vai dar certo.
– Obrigada, Liz. – Digo, abraçando-a e chorando, e me sentindo uma
traidora. Minha mãe sempre foi minha melhor amiga e até agora eu não tive a
coragem de contar para ela ainda.
Essa conversa me alertou o quão bom é ter um porto seguro, e por mais
que Liz esteja me passando todo seu amor, experiência e carinho, eu sei que
minha mãe é insubstituível. O mínimo que tenho que fazer é ir até ela e
contar.
Levanto do sofá decidida.
– Eu preciso ir.
– Você não vai ficar? – Ela pergunta, assustada.
– Essa conversa me alertou sobre algo, eu preciso conversar com a
minha mãe, Liz. Eu não tenho palavras para agradecer o que acabou de fazer
por mim, você me abriu o horizonte.
– Minha linda, você é como uma filha. Eu quero que você e meu filho
sejam muito felizes, assim como eu e o pai dele somos. – Ela me dá um beijo
na testa.
– Eu também quero.
Nós saímos do escritório e encontramos nossos respectivos amores
tomando vinho e conversando. Bê se levanta e vem até mim.
– Está tudo bem?
– Sim. Eu preciso conversar com a minha mãe, se importa de não
dormirmos juntos hoje?
– Vou sentir sua falta, mas eu entendo. – Ele sorri.
Me despeço de todos e decido enfrentar meus próprios receios.
Entro em casa e dou de cara com Matheus dando um tapa na bunda de
Jéssica.
– Gostosa viu Jessica, Jessicat rima com?
– Rima com a minha mão na sua cara, Matheus!
– Rima com você na minha cama. – Matheus diz, rindo.
– Ok, meus pais chegaram? – Digo, e eles notam minha presença.
– O que houve? Aquele babaca fez algo com você? – Matheus vem até
mim.
– Não irmãozinho, e não chame meu namorado de babaca!
– Filhotinha, brigou com Bernardo novamente? – Minha mãe surge,
vindo do quarto completamente radiante numa camisola de seda preta com
detalhes TRANSPARENTES. Ok, e se meu namorado tivesse aqui? Ele a
veria seminua!
– Não, mãe. Eu preciso conversar com você. – Anuncio e ela paralisa,
me analisando friamente. Pela morte do seu sorriso, sei que ela percebeu que
é algo sério.
– Claro. – Ela me oferece a mão e eu vou até ela. Juntas subimos para
meu quarto e nos acomodamos sobre a cama. – O que aconteceu? – Pergunta,
e eu decido soltar tudo de uma só vez.
– Mãe, eu não queria, de verdade, sabe. Sempre fui tão bem assessorada
por você, você e papai sempre fizeram questão de falar abertamente sobre
esse assunto, eu e Matheus tivemos realmente toda uma educação sexual.
– Você está grávida! – Ela afirma e se levanta descompensada. – Meu
Deus, Beatriz. Você está grávida!!!
– Mãe... – Digo, enquanto ela puxa os cabelos, transtornada.
– Não. Me dê 5 minutos para digerir que serei avó e mãe ao mesmo
tempo e nós voltamos a conversar. – Diz, indo até a varanda do meu quarto e
volta segundos depois. – Ok, não tem como esperar 5 minutos. Como? O que
houve? Você não tomou nada que pudesse cortar o efeito da pílula. Só me
explique como Beatriz.
– Eu esqueci de tomar a injeção.
– Meu Deus Beatriz, como você me faz isso? – Ela grita. – Calma, é
isso, eu preciso me acalmar. Eu preciso agir como mãe e amiga, ok, eu
entendi. – Diz para si mesma. – Oh, meu Deus!!!!!!!! Arthur vai matar nós
duas, eu sei. – Ela desespera e então respira fundo diversas vezes. – Ok, estou
mais calma. – Diz, andando de um lado para o outro, demonstrando um total
estado de loucura. Eu fico muda, apenas observando.
– Mãe, eu preciso de você. – Peço, e as palavras parecem surtir efeito.
Ela para de andar e senta ao meu lado.
– Eu sei, eu estou aqui, sempre estarei. É que eu jamais esperei uma
notícia dessas tão cedo. Jamais, Beatriz.
– Nem eu esperei mãe, mas agora não há o que fazer. – Choramingo.
– Quando descobriu?
– A confirmação foi hoje, mas a suspeita começou no final de semana
passado. Eu estou de pouquíssimo tempo, nem 1 mês.
– E como se sente com isso?
– Confusa. Do dia para noite, minha vida mudou. Eu nunca pensei em
constituir família e de repente aqui estou eu, grávida. E não sei o que devo
fazer ou como proceder diante disso. – Confesso.
– Ao menos Bernardo é um excelente rapaz, filha. É muito cedo, vocês
estão juntos há poucos meses e são jovens, mas agora precisam ser adultos e
pensar no melhor para essa criança. Deus, eu sou tão jovem e maravilhosa e
você vem e me transforma em avó. Seu pai super dá no coro e agora vai ser
avô. Seremos avós que fazem sexo, isso é doido. – Divaga consigo mesma.
– Mãe, por favor.
– Desculpa, mas porra, isso é doideira demais. Meu filho ou filha vai
nascer junto com o sobrinho ou sobrinha. Ao menos, vamos poder ir ao
shopping comprar coisas juntas para decoração dos quartos e tudo mais.
Podemos fazer pré-natal juntas. – Ela sorri e bate palmas animada. Seria
Mariana Barcelos um caso a ser estudado pela NASA? – Ok, você ainda não
está no clima. E Bernardo?
– Ele está bem, ele é centrado demais e confiante.
– Ele é perfeito, filha. Não preciso perguntar se você o ama, eu soube
desde a primeira vez que o vi que vocês ficariam juntos. Vocês têm um longo
caminho pela frente e sei que ele será um excelente pai.
– Pois é, ele será um excelente pai, mas e eu? Eu serei uma excelente
mãe? Eu serei uma excelente esposa? Eu serei o que, mãe? – Pergunto, e ela
me encara em choque.
– Esposa? – Ela grita e eu cubro meus ouvidos com as mãos. Acho que
esposa foi demais!
MARIANA

Saio do quarto de Beatriz após 1 hora de muita conversa. Ainda me sinto


inebriada com as duas notícias mais inesperadas que já recebi em toda minha
existência.
Minha filha de 18 anos está grávida e prestes a se casar, assim, do nada.
E eu sou obrigada a agir como uma mãe normal quando minha vontade é
despirocar, encher a cara, perder a noção. Claro, caralho! Só isso para me
acalmar após receber uma notícia dessas. Mas não posso, merda.
A gravidez é até aceitável, mas casamento? Cara, Beatriz mal saiu das
fraldas e de repente vai voltar a ter contato com fraldas e ainda quer casar.
Por mais que eu e Arthur nos damos maravilhosamente bem, casar não é
brincar de casinha. É preciso maturidade, compreensão, humildade,
paciência, saber lidar com frustrações e expectativas, estar preparada para
enfrentar problemas juntos. Não sei se ela está preparada, sinceramente.
Beatriz teve a vida toda projetada, acabou de entrar na faculdade, tem planos
grandiosos e agora teremos uma "pequena" mudança no conto de fadas.
Claro que eu jamais deixarei que a vida dela paralise por um filho, mas não
adianta mentir dizendo que tudo continuará normal. Filho traz
responsabilidades, preocupações. Ela é o exemplo disso, tem dezoito anos e
eu sinto que nunca deixarei de viver esse afeto e proteção. Aliás, nem com
Matheus e esse serumaninho que habita em meu ventre. Ser mãe realmente é
ter o coração fora do corpo, e só de imaginar a angústia que ela está vivendo,
eu passo a me sentir da mesma forma, e sei que muito dessa angústia é por
causa de Arthur. Por mais que eu saiba que ele vai superar a notícia mais
cedo ou mais tarde, sei que ele ficará extremamente sentido por ver sua
princesinha grávida e principalmente por entregá-la a Bernardo.
Sem dúvidas, o casamento vai ser a pior notícia para ele.
Ao mesmo tempo que acho que ela não possui idade ainda para se casar,
penso ser a coisa certa para os dois. Por sorte, Bernardo é um homem
maduro; jovem, mas maduro e responsável demais. Sinto que Beatriz vai
crescer e amadurecer ao lado dele, e acho importante que meu neto ou neta
cresça em uma família sólida, assim como eu cresci e assim como meus
filhos cresceram. Não desmerecendo quem é mãe solteira, obviamente. Mas é
que isso foi tão importante na minha vida, na minha conduta que eu gostaria
que meus filhos pudessem viver o mesmo.
Me encosto no vão da escada e me apoio no corrimão, buscando alguma
forma de controle sobre mim mesma. Certamente eu beberia uma garrafa de
vodca se pudesse, para digerir essa notícia bem. Minha mente tenta
desesperadamente pensar em alguma maneira de abordar Arthur, porque é
óbvio que sou a única que tem a capacidade de contar isso a ele, a única
capaz de conseguir controlá-lo, qualquer outra pessoa que tentar fará com que
nossa família acabe nas páginas policiais.
Eu sei que deveria abordar isso de uma maneira madura, afinal já passei
dos quarenta anos de idade, sou madura e experiente, mãe de três filhos, mas
tratar isso de maneira convencional indica briga, e eu não quero brigar com
Arthur. Não quando estou grávida, com os hormônios à flor da pele. Penso
em várias coisas e não chego à conclusão alguma. Uma viagem a dois não é
opção, não posso deixar Beatriz, já que ela me contou dos desmaios. Sexo
nós já fazemos excessivamente, aliás nem sei como minha vagina sobrevive a
isso, talvez eu deva encontrar alguma outra modalidade de sexo ou usar algo
que o deixe mais calmo, ao menos para receber a notícia.
As possibilidades se tornam bastante limitadas quando você está há 20
anos casada e já fez tudo relacionado a sexo, quer dizer, quase tudo, eu
jamais enfiaria o dedo no cu de Arthur e ele jamais permitiria isso. Enfim, o
que quero dizer é que no decorrer dos anos, eu sempre busquei inovar
sexualmente, e acredito que esse seja o combustível do nosso relacionamento
e o motivo de sermos tão felizes até hoje. Agora vou ter que me virar nos
trinta e tentar amansar a fera para dar a notícia.
Finalmente, crio coragem para descer os degraus que me deixam a
poucos metros do meu marido. Na sala, encontro uma cena bastante curiosa.
Matheus deitado e Jéssica deitada sobre a barriga dele. Ok, Jéssica tem 30
anos e ele 17, porém Matheus tem o sangue quente, o sangue Barcelos é
dominante em meu filho e por isso tenho medo. Espero sinceramente que seja
apenas coisa de irmãos, pelo menos da parte de Jéssica, sei que é ou acredito
que seja. Na verdade, não sei de mais nada!
– Crianças! – Digo alto e Jéssica se joga do sofá com o susto.
– Porra mãe, está louca? – Theus questiona.
– Estou ficando. Posso ficar mais. – Digo, e ele entende logo o recado. –
Bom, estou no quarto, qualquer coisa me chame.
Caminho até o quarto e encontro Tutu já debaixo das cobertas assistindo
uma série. Que comecem os jogos!
Caminho silenciosamente até a chaise long posicionada abaixo da tela
da TV, e subo em cima da mesma. Vejo-o se mexer na cama e sorrio.
– Isso (aponto para a TV) é mais atrativo que isso (abro meu roupão e
exibo minha lingerie sem medo, afinal desde que o conheci estou sempre
preparada para o crime).
– Jamais. – Ele responde, se sentando com um sorriso safado no rosto. –
Você sempre me surpreende, Mariana.
– Você é um homem de sorte. O que acha de fazermos algo diferente
hoje?
– Não venha com esse lance de dupla penetração de novo. – Diz,
fechando a cara e me fazendo rir.
Arthur traumatizou quando brinquei que queria uma dupla penetração e
sugeri que comprássemos um vibrador. Ele disse que o pau dele valia por mil
e que tinha dedos incríveis. Realmente, eu não pude argumentar, contra fatos
não há argumentos.
– Eu iria sugerir que me levasse a um motel. – Digo descendo e
engatinho pela cama até estar próxima dele. Faço minha cara minha angelical
e mordo o lábio, o efeito é visível quando vejo seu olhar escurecer. – Sabe, eu
estou com tanto tesão, Arthur, que não conseguiria conter os gemidos quando
estiver dentro de mim. Hoje é um daqueles dias que quero gritar o quão bom
é ter você me fodendo forte, quero levar boas palmadas na bunda e quero que
diga que eu sou a uma menina má porque não vou deixar você gozar
facilmente. Quero gritar quando estiver me comendo por trás porque quero te
dar tudo de mim.
– Mari.
– Você poderia me dar uma surra de pica hoje? Poderia me levar a um
motel? – Peço, passando a língua em seu pescoço e ele levanta da cama me
levando com ele. Me joga em seu ombro como um saco de batatas, pega algo
na cômoda e sai apressado pela porta.
– Ei, você não vai sair de cueca nem por cima do meu cadáver! – Grito,
apertando a bunda dele, e então o bonitão volta ao quarto. Um homem normal
vestiria uma bermuda, mas Arthur não é normal. Ele puxa um dos edredons
da cama, enrola em sua cintura e volta a andar comigo pelo corredor.
– Ei, onde vocês vão assim? – Matheus pergunta, se levantando, e eu
respondo o olhando de cabeça para baixo:
– Não temos hora para voltar. Comporte-se.
– Pai?
– Ouça sua mãe filho, comporte-se e não temos hora para voltar. –
Arthur responde e bate a porta de casa.
Ele aperta violentamente o botão do elevador e eu fico rindo.
– Não vai me colocar no chão?
– Não. Sua depravada. – Responde e me dá um tapa na bunda, que ecoa
pelo hall e, para minha vergonha, quando elevador se abre, dele saem um
senhor e uma senhora que nos encaram estupefatos. Cumprimento-os de
cabeça para baixo e Arthur diz apenas um olá enquanto rezo para não sejam
avós do meu genro.
– Tutu, que vergonha.
– Não deveria ter. Não estamos nus e sou um homem desesperado.
– Você me comeu hoje de manhã. – Digo, chocada.
– Mas não tive você gritando, não te dei palmadas e o principal, não
comi seu cu. Então sou sim um homem desesperado. É como se eu não te
comesse há um mês.
– Devo lembrá-lo que estou grávida e essa posição não é bacana. –
Informo e ele me tira prontamente dos ombros, visivelmente preocupado.
– Desculpa meu amor, eu esqueci. – Sorri amplamente orgulhoso pelo
feito e coloca a mão sobre minha barriga. Por mais que seja um gesto
completamente paternal, eu sinto mais necessidade de tê-lo. Arthur no modo
pai é sexy pra caralho. Estava com saudade disso...
Devo dizer o quão orgulhosa fico quando ele faz isso? É lindo de ver a
felicidade brilhando em seus olhos por eu estar grávida. O orgulho transcende
e eu o deixo se deliciar com isso.
As portas do elevador se abrem na garagem e ele me dá as mãos,
enquanto nos guia até o carro.
Assim que entramos, o clima no carro se torna altamente quente e eu
passo a ter um único propósito, transar com meu marido. Até ele dirigindo é
sexy. Eu amo como os braços dele ficam tensionados e suas veias evidentes,
amo a maneira como suas mãos prendem o volante, amo até quando a
musculatura de sua coxa fica saltada pelos movimentos. Eu sou a porra de
uma tarada no meu marido e eu não consigo manter minhas mãos longe.
– Mari, eu não quero bater o carro. – Ele diz quando arranho sua coxa
direita com a unha.
– Você fica gostoso dirigindo.
– Eu fico mais gostoso te comendo, por isso precisamos chegar logo ao
nosso objetivo, e com suas mãos me arranhando vai ficar difícil. Não quero te
comer em via pública.
– Mas eu quero te dar em via pública. – Digo e ele me encara friamente,
parando no sinal.
– Abra suas pernas para mim. – Ordena e, após um sorriso safado,
obedeço seu comando. Assim que o sinal se abre, Arthur passa a dirigir com
uma só mão enquanto com a outra desce até minha intimidade. Eu arqueio na
poltrona sentindo o toque e ele solta um gemido delicioso ao perceber o quão
molhada estou por ele. – Por Deus, Mariana, você me deixa maluco! – Ele
retira a mão e começa a dirigir numa velocidade assustadora.
Completamente fora da lei e com um cavalinho de pau impecável, ele
entra em um dos motéis que já passamos perto alguma vezes, mas nunca
tivemos chance de entrar, bem a beira mar. Impaciente, pega o interfone que
se conecta a recepção e pede uma suíte qualquer, enquanto eu trabalho em
manipular seu membro por cima da cueca.
A recepcionista libera nossa entrada e rapidamente ele estaciona na
garagem da suíte indicada. Nós não temos tempo de descer do carro. A
urgência consome e, quando percebo, já estou sentada em seu colo com as
costas pressionadas contra o volante. Arthur desconecta nossas bocas e dá um
sorriso com ar de incredulidade:
– Que maldição você fez comigo? Eu nunca me canso de você, Mari. –
Diz, ofegante, e eu sorrio antes de grudar nossos lábios.
Ele abre a porta e desce comigo em seu colo. Em seguida, sou prensada
contra parede onde ele retira meu roupão, deixando-o no chão da garagem
antes mesmo de adentrarmos a suíte.
Não tenho tempo de analisar o ambiente porque meu marido é um
homem faminto. Enquanto eu engancho um dedo em sua cueca para deixá-lo
livre, meus sutiãs escorregam pelos meus braços impedindo.
Arthur me encosta em algo e segura um seio com a mão, enquanto com
a outra ele tira minha calcinha, se ajoelhando diante de mim. Assim que
termina o feito, faz com que eu abra as pernas e logo sua língua está em
minha intimidade, traçando deliciosas lambidas como se eu fosse o melhor
sabor de sorvete. Agarro seus cabelos e jogo a cabeça para trás, absorvendo
as sensações. Sinto a pulsação e a necessidade em cada partícula do meu
corpo, nada parece o suficiente. Sinto meu orgasmo sendo construído e
interrompido quando ele levanta e me debruça sob o braço de um sofá.
A ansiedade toma conta de mim e logo tenho sua mão agarrando meus
cabelos com força, ao mesmo tempo que a outra se choca fortemente contra
minha bunda. Solto um grito e Arthur se dobra sobre mim, beijando meu
pescoço. Esse homem é o rei do sexo selvagem caralho!
É um animal entre quatro paredes.
Ele leva uma mão até minha intimidade e traz minha excitação até
minha parte traseira. Sinto seu polegar se arrastar e logo tenta ganhar espaço
com dois dedos para eu me acostumar. Arthur sabe me levar no sexo anal
com dominação e delicadeza ao mesmo tempo. Sabe exatamente o que fazer
e como fazer para eu sentir prazer com a prática. Chega a ser assustador.
– Fique aqui e não se mexa. – Ordena, segurando meu pescoço e dando
um último beijo antes de se afastar.
Eu fico paralisada na posição e mordo minha mão tentando conter o
êxtase, e quando ele volta a se aproximar, sinto algo gelado sendo despejado
em minha traseira.
– Esse lubrifica e anestesia como você gosta. – Diz em meu ouvido, e
suas duas mãos trabalham em parceria, uma na frente e a outra atrás. Arthur
vai me estimulando até que eu esteja prestes a gozar e, quando percebe meu
corpo ficando mole, sinto sua ereção me invadindo por trás, delicadamente.
Eu adoro quando ele segura parte da minha bunda para abri-la, adoro vê-lo
fazendo isso por um espelho, mas infelizmente estamos distantes o suficiente
para que eu não consiga ver, apenas sentir.
Sua outra mão trabalha em movimentos circulares em meu clitóris e eu
me entrego ao sexo por completo, relaxando e permitindo sua invasão. Em
poucos minutos, já estou rebolando contra ele e dançando em seus dedos o
ritmo frenético.
– Grita para mim Mari, grita mais alto. – Manda e eu obedeço.
Começa a falar coisas sujas em meu ouvido e eu gozo deliciosamente
em seus dedos pela primeira vez, enquanto ele sorri satisfeito em meu
pescoço. Maldito seja Arthur! Esse homem nasceu para foder, em todos os
sentidos!
Mas quem vai foder a sanidade dele agora sou eu.
Após tomarmos um banho rápido, arrasto-o até a cama, onde o jogo. Me
engatinho subindo até ele e manipulo seu membro com a mão antes de
encaixá-lo em minha entrada. Brinco colocando apenas a ponta e ele me dá
um tapa na bunda antes de forçar meu corpo para baixo. Seu membro me
invade por completo e eu solto um gemido, sentindo a fricção do meu clitóris
em seu corpo. A combinação de ser invadida juntamente com a fricção fazem
meus batimentos acelerarem consideravelmente e minha respiração falhar.
Fica extremamente difícil me manter no controle quando tudo que quero é
convulsionar em volta dele novamente, exatamente da maneira que estamos.

– Não, Arthur. – Gemo, fechando os olhos quando ele me empurra para


frente e para trás.
– Sim, Mariana. Por favor. Eu amo vê-la gozando assim.
– Eu quero fazê-lo gozar. – Peço, abrindo os olhos, e encontro o rosto de
um homem decidido embaixo de mim.
– Não antes de gozar assim, esfregando essa bucetinha em mim. – Suas
palavras derrubam qualquer chance de eu me manter no controle e o deixo
me levar da forma como quer.
Apoio minhas mãos cravando as unhas em seu peitoral, e ele continua
guiando o movimento, ora lento, ora insano. Eu rebolo em torno dele e paro
quando se torna quase insuportável aguentar, tentando prolongar o momento.
Me sinto uma devassa em toda glória, gemendo e o xingando durante todo o
percurso rumo ao clímax. E Arthur torna-se enlouquecido, sentando-se e me
segurando pela cintura fazendo eu quicar em seu colo. Eu atinjo o clímax e
me surpreendo quando o sinto derramar seu prazer dentro de mim. Sorrio
vitoriosa enquanto permaneço agarrada a ele tentando recuperar a sanidade.
Game over para os dois nessa primeira da noite.
O resto da noite é apenas mais do mesmo. Nós trepamos
incansavelmente, perdemos as contas de quantos banhos tomamos e
terminamos estirados numa banheira de frente para o mar, assistindo o lindo
espetáculo do nascer do sol. Só então a realidade bate em minha mente e eu
lembro que precisamos ter uma conversa bastante difícil.
Não demora muito para ele perceber minha mudança de humor e meu
desconforto. Seguro as lágrimas que nublam meus olhos e tento controlar
minha respiração. Não usei nenhuma das opções que passaram pela minha
cabeça. Simplesmente quis adiar e me entregar a ele, agora tenho a missão de
conversar como uma mulher madura, sem embebedá-lo ou estar quicando em
cima dele no momento da notícia. Não tenho a menor ideia de como vai
aceitar isso e meu sexto sentido diz que nós dois não ficaremos bem.
– O que está acontecendo? Está sentindo alguma coisa? – Sua voz rouca
pergunta e eu me viro para ele.
Arthur parece tão relaxado e feliz que isso só dificulta minha
abordagem.
– Aconteceu. Eu não sei como abordar isso com você. – Digo, e noto seu
semblante mudar, tornar apreensivo.
– Apenas fale. O que quer que seja, nós vamos resolver juntos. – Ele
passa a mão pelo meu rosto e eu fecho os olhos, permitindo apreciar seu
gesto.
– Arthur, não há como resolvermos. Já foi feito, não há o que fazer,
apenas aceitar.
– O que houve? – Questiona, se mexendo embaixo de mim.
– Beatriz. – Digo o nome da nossa filha e o vejo fechar os olhos,
entendendo exatamente o que eu nem mesmo precisei falar.
Ele se desvencilha de mim e se levanta da banheira. Vejo-o andar até o
banheiro, abrir a ducha e entrar embaixo dela. Não consigo mais conter as
lágrimas quando o vejo apoiando a cabeça na parede e chorando, chorando
como um garoto perdido. Eu só o vi chorar dessa maneira quando perdemos
nossos primeiros filhos, quando nos separamos por 24 horas e quando nossos
filhos nasceram, isso é assustador pra caralho.
Eu decido me juntar a ele e confortá-lo. Saio da banheira e caminho até
a ducha, o abraçando por trás. Sua mão envolve a minha e ele se vira.
– Por que não me contou antes? – Pergunta, passando as mãos pelo
cabelo e tentando ter algum controle próprio.
– Eu fiquei sabendo à noite e não sabia como abordar isso. Eu não quero
vê-lo tão desolado.
– Foi por isso que sugeriu um motel?
– Não. Não foi, Arthur. Eu sabia que a notícia seria difícil, e queria que
tivéssemos uma noite diferente antes de enfrentar isso.
– A minha princesinha?
– Sim, Arthur. E tem mais uma coisa, Bernardo a pediu em casamento. –
Digo e ouço o blindex estraçalhar e virar mil pedacinhos atrás de nós. Sinto
uma leve ardência pelos cacos que voaram até nós e nem preciso olhar para
saber que estou sangrando. Puta que pariu, o que ele acabou de fazer?
Ele sai insano da ducha e veste sua cueca. Vou atrás fugindo dos
pedaços de vidro que estão no chão e vejo sua mão escorrendo sangue.
– Meu Deus, Arthur! – Corro até uma embalagem e pego uma toalha,
envolvendo-a em sua mão.
– Ela não vai casar. Minha filha não vai se casar com a porra de 18 anos
de idade! Não vai, você está escutando, Mariana? Não há sexo ou qualquer
outra coisa que vá me fazer aceitar isso. Nem se Jesus Cristo descer na terra
eu não vou aceitar essa insanidade! Já basta ela estar grávida. Eu avisei a ela,
eu avisei a ele, eu avisei porra. –Ele diz e joga um aparador com copos longe.
Eu nunca o vi dessa maneira, nunca! Meu coração parece sair pela boca e
uma onda forte de tontura e enjoo chegam juntas até mim.
– Arthur, se acalma.
– Não tem “Arthur se acalma” dessa vez, Mariana. – Avisa e eu corro
para o vaso, colocando até minha alma para fora. Pela primeira vez, ele não
vem ver se estou bem. Eu vomito e choro, e vejo sangue das minhas costas se
misturar a tudo e escorrer junto.
Eu escovo os dentes com o kit higiene, e tento observar minhas costas
vendo vários pontinhos sangrando. Não são machucados profundos, mas há
dezenas de ferimentos provocados pelos estilhaços. Me apoio na pia e choro.
Pela primeira vez em vinte anos, me sinto sozinha carregando um enorme
peso nas costas.
Demoro longos minutos e a decepção me toma quando percebo que ele
está cego a ponto de não se preocupar com a esposa grávida.
Saio do banheiro decidida a ir embora até que sua consciência retorne.
Encontro-o apoiado na varanda observando o mar. Visto minha calcinha e
quando chega a vez do sutiã sinto-o queimando minhas feridas, torna-se
insuportável vesti-lo. Coloco apenas o roupão e vou até Arthur.
– Eu quero ir embora.
– Vá. A chave do carro está no carro. – Diz, demonstrando o mínimo de
importância.
– É isso? Apenas vá? Que porra está acontecendo com você, seu idiota?!
Eu estou grávida e estou ferida porque você enlouqueceu e você está pouco
se fodendo para isso? Que culpa eu tenho nessa história toda? – Digo, o
esmurrando, e ele me segura pelos braços. – Eu sou a porra da sua mulher. Eu
criei a nossa filha e nosso filho da melhor maneira possível, sempre os
ensinei o que era certo e errado, eu não tenho culpa se ela está grávida, eu não
tenho culpa se ela quer casar, eu não tenho culpa. –Grito, sentindo minhas
pernas fraquejarem. – Você vai deixar o primeiro problema nos destruir,
Arthur? Eu amo você, nós estamos juntos. – Imploro clemência com o olhar e
ele reage com indiferença. Isso me deixa em total estado de choque.
Vejo seu olhar completamente vazio de emoções, um olhar que jamais
sabia que ele poderia ter. Retiro suas mãos dos meus braços e faço
exatamente o que ele mandou. Vou até o carro, pego o cartão de crédito dele
e jogo na cama. Em seguida, saio sem ter a menor ideia de onde devo ir ou o
que devo fazer, deixando-o sozinho e ficando sozinha com minha desolação.
Nós estamos arruinados?
BEATRIZ

REAÇÃO À NOTÍCIA

Meus pais saíram ontem à noite e hoje, domingo, mais precisamente 5


horas da tarde, ainda não chegaram ou mandaram notícias.
Eu estou prestes a realizar a centésima ligação quando um ruído na porta
atrai minha atenção. Eu, Matheus e Jéssica nos levantamos rapidamente para
vermos uma cena quase assustadora.
Meu pai enrolado em um edredom, os pés descalços e o rosto vermelho,
como se estivesse chorando. A cena faz a bile subir até minha garganta e,
quando seus olhos me alcançam, tenho a confirmação que tanto temia, ele já
está sabendo da novidade.
Ele desvia o olhar do meu e arranha a garganta antes de se dirigir a
Matheus.
– Sua mãe está em casa?
– Não, ela estava com você pai. – Matheus responde, já apreensivo.
– Ela não esteve aqui desde que saímos? – Pergunta, ficando pior do que
estava, e meu coração acelera.
– Não pai, o que houve?
– Ligue para o meu celular, preciso encontrar sua mãe. – Pede.
– O que aconteceu? O que houve com a mamãe? – Matheus se desespera
e eu tenho um lapso de tontura. Algo muito errado aconteceu e a culpa é
completamente minha.
– Só preciso que a encontre e certifique-se se ela está bem.
– Ela não atende. – Matheus responde. – Já tentamos ligar centenas de
vezes, pensei que estivessem juntos.
– Eu perdi a cabeça e provavelmente perdi sua mãe. – Ele diz e eu me
sento em posição fetal. Cada palavra que sai de sua boca me deixa com a
certeza de que eu acabei de arruinar nossa família. Não consigo conter a
culpa que está me invadindo neste momento.
Meu pai se afasta e os olhares direcionam a mim. Olho para Jéssica e
Matheus, eles precisam de respostas, estão alheios a tudo.
– Eu estou grávida. – Digo de forma direta e vejo as duas bocas
formando um “O” perfeito tamanho choque.
– Puta que pariu! – Matheus é o primeiro a falar e o primeiro a vir me
abraçar. Me agarro ao meu irmão e fecho meus olhos, aproveitando o ombro
amigo que me oferecera. Nem tudo está perdido. Jéssica se aproxima com
lágrimas nos olhos e se junta ao abraço. Ficamos assim por alguns minutos,
os três abraçados. Só sei chorar.
– Nós estamos com você, Bia. – Jéssica diz se afastando, e Theus
permanece.
– Ei, sei que é muito nova e tal, mas sei que será uma ótima mãe. Eu
estou com você, minha princesinha. Amo você pra caralho. – Ele diz,
aumentando meu choro. – Vou ser o melhor tio da história da humanidade. –
Sorrio.
Os minutos seguintes são silenciosos e sombrios. Nós três ficamos na
sala sentados, aguardando qualquer notícia. Matheus liga insistentemente
para o celular do meu pai, mas nada acontece a não ser tocar.
Uma hora depois, o desespero alcança o ápice quando meus avós
chegam, todos com o semblante desesperador. Ninguém ousa falar uma
palavra, minhas avós apenas me abraçam e se juntam a nós no grande sofá.
Enquanto isso, Matheus e meus avôs se juntam ao meu pai no escritório.
A campainha toca novamente e dessa vez é Bernardo quem entra. Vejo
seus pés congelarem na porta ao notar que algo errado está acontecendo e tiro
forças para me colocar de pé e ir ao seu encontro.
Assim que seus braços me acolhem, não consigo segurar mais, eu choro
tudo que posso sem me importar com a presença de uma plateia. Bernardo se
comunica com Jessica através de um olhar e me pega no colo, nos levando
até meu quarto. Ele tenta me colocar sobre a cama, mas apenas não quero
soltá-lo, não quando ele é meu porto seguro.
– O que aconteceu, princesa? Fala comigo.
– Meu pai já sabe. Não sei ao certo o que aconteceu, mas parece que ele
e minha mãe brigaram e minha mãe está desaparecida.
– Desaparecida? – Ele se afasta o suficiente para olhar em meus olhos e
confirmo com a cabeça.
– É tudo culpa minha.
– Não é meu amor, não é. Eles não vão se separar. Deve ter sido difícil
para seu pai descobrir que a princesinha dele está grávida. Eles devem ter
apenas discutido. Já já tudo estará bem. Você se alimentou direito? –
Pergunta.
– Não. Não tenho fome.
– Você precisa comer, pelo nosso filho. – Diz, colocando a mão
protetoramente sobre minha barriga invisível. Ainda não me acostumei a isso,
parece estranho e ao mesmo tempo acho fofa a atitude.
Vejo-o digitar algumas coisas no celular e, dez minutos depois, Jéssica
bate à porta trazendo uma bandeja cheia de alimentos. Não sei se sou capaz
de digerir qualquer coisa nesse momento, mas Bernardo força e me alimenta
como se eu fosse uma criancinha incapaz. Mentiria se dissesse que não gosto
dele me mimando, é reconfortante.
Fico deitada olhando para o teto até escutar uma movimentação aflorada
no andar de baixo. Sem pensar duas vezes, me levanto e me desvencilho dele
indo até lá. Quando chegamos à sala, vejo meu avô segurando o braço do
meu pai, que tem o rosto coberto por lágrimas.
– O que aconteceu? – Pergunto a Matheus, que faz um sinal para que eu
me cale. Bernardo coloca as mãos sobre meu ombro e pede que fique calma,
em vão. Porque quando os olhos do meu pai caem sobre nós dois, sinto um
arrepio frio percorrer todo meu corpo.
– Eu ainda conversarei com vocês dois. – É o que ele diz antes de sair
transtornado pela porta.
– Arthur, merda, vamos aguardar mais um pouco, Mariana não é
irresponsável a ponto de colocar a gravidez em risco. – Meu avô argumenta,
mas meu pai está nervoso demais para ouvir e aguardar o elevador, e desce
pela escada de segurança.
– Fica calma princesa, ele só está nervoso, ele vai se acalmar.
– Filha, você precisa descansar. – Vovó diz, segurando minhas mãos
com uma seriedade que nem nos meus pesadelos vi. – Não pode ficar
nervosa. Já já eles estarão aqui e tudo ficará bem.
Não respondo. Não choro. Não tenho qualquer reação. Deixo Bernardo
me levar de volta ao quarto e, no meio da escada, tudo fica escuro.
ARTHUR

Pego o carro de Mariana decidido a revirar o Rio de Janeiro até


encontrá-la. Eu fiquei de 7 horas da manhã até as 4 horas da tarde num
completo estado de choque em pé na varanda do motel. Não comi, não mijei,
não movi meus pés. Fiquei ali, olhando para o mar infinito que estava diante
de mim. Nesse tempo, nenhum tipo de pensamento passou pela minha
cabeça, foi como se minha mente tivesse se desligado e eu tivesse saído de
órbita. Não tive nenhuma necessidade física ou psicológica. Isso nunca
aconteceu antes.
Quando minha mente resolveu voltar à vida e me dei conta de onde
estava, o desespero me tomou por completo. Além da minha mão estar
machucada, vi cacos de vidros espalhados pelo chão e o choque maior foi ao
perceber sangue neles. Minha mulher não estava ali, não mais, nem mesmo
meu carro estava na garagem, a única coisa que encontrei foi um dos meus
cartões de crédito jogados sobre a cama. Me lembrei de suas palavras,
"Beatriz está grávida e Beatriz vai casar". Depois disso, não me lembro de
mais nada. Comecei a rezar naquele instante para que o sangue derramado no
chão fosse dela e tive um flash de lembrança da minha Mari sorrindo com a
confirmação da gravidez. Rezei também para que não tivesse fodido com
tudo. Minha mulher é e sempre foi a base da minha vida, não me perdoarei se
algo ruim lhe acontecer, em hipótese alguma, muito menos se tiver sido
causada por mim mesmo.
Eu chorei por mais 1 hora antes de deixar aquele local e entrar em um
táxi. No fundo, eu sabia que algo ruim havia acontecido, Mariana não me
deixaria à toa.
Quando cheguei em casa, o susto foi ainda maior ao receber a notícia de
que ela não havia voltado e, pela primeira vez, precisei ser amparado por meu
sogro e meu pai. Eles precisavam saber que algo estava errado e que eu era o
único culpado, por mais que eu não soubesse explicar direito o que havia
acontecido. Um homem de verdade nunca foge das consequências dos seus
atos.
Dirijo pelas avenidas pouco movimentadas numa velocidade mínima em
busca de qualquer sinal. Onde minha Mari pode estar? É a pergunta que faço
a mim mesmo o tempo todo em busca de possibilidades, e um lapso de
memória de 20 anos atrás aparece em minha mente.
"Eu amo você tanto que chega a doer Arthur".
"...isso aqui é amostra grátis do céu".
"Sempre que tivermos algum problema, é aqui que nós iremos nos
entender, no nosso paraíso particular".
As palavras vêm como uma luz. É claro. Mari só pode estar em um
lugar, o nosso lugar.
Viro o carro na contramão e me sinto a bordo do filme Velozes e
Furiosos.
Uma hora e meia é o tempo que levo para chegar em Mangaratiba e
descobrir que estava certo em minhas suspeitas, já que vejo meu carro
estacionado. Desço e corro até o local onde as lanchas ficam ancoradas e,
como esperado, não vejo a nossa. Só vejo o jet ski, mas ele não é uma opção,
não quando estou cego de desespero. Solicito um táxi boat e em poucos
minutos estamos a caminho da casa na Ilha.
Vou por todo caminho em silêncio, numa guerra interna comigo mesmo.
Relaxo ao ver nossa lancha ancorada no píer, é sinal de que minha Mari não
está por aí pilotando a lancha como uma maluca. Entrego algumas notas para
o rapaz e subo as escadas, caminhando apressado até a porta.
Meu coração parece querer sair pela boca enquanto reviro o andar de
baixo atrás da minha mulher. Subo os degraus e vou direto ao quarto onde,
enfim, a encontro.
Ela está sentada na varanda de costas para mim, com os cabelos presos
em um coque que nem sei como é capaz de fazer, usando apenas uma
calcinha e com uma bacia com alguma comida nas mãos. O choque fica por
conta de várias pintinhas de ferimentos espalhadas pelas suas costas nuas,
sinto meu coração parar por alguns segundos e uma dor de estraçalhar a
alma.
Demoro alguns segundos para recobrar a consciência e me aproximo,
sentando ao seu lado. Ela não me encara, apenas continua observando o
anoitecer através do horizonte com um olhar vazio. Me sinto um grande
pedaço de merda por vê-la dessa maneira e saber que fui eu o único culpado.
– O que está comendo? – Pergunto, tentando ganhar alguma reação dela,
qualquer coisa.
– Macarrão com salsicha.
– Posso comer um pouco? – Peço e ela me surpreende, entregando a
bacia que deve conter mais de 1 kg de massa.
Levo o garfo com uma boa quantidade à boca e descubro que foi ela
quem fez pelo tempero.
– Muito bom. – Digo de boca cheia e ela dirige o olhar a mim pela
primeira vez.
– O que está fazendo aqui? – Pergunta e eu termino de mastigar,
colocando a bacia atrás de nós. Respiro fundo olhando em seus olhos e me
aproximo mais.
– Eu vim buscar minha mulher e levá-la para casa. Nossa filha precisa
de nós e eu tenho um genro para matar. – Digo. – Mari, eu não sei o que
aconteceu, a única explicação que consigo pensar é que tive um ataque de
pânico e quando minha mente acordou, vi só destruição naquele quarto. Vi
sangue, cacos de vidro e não vi você. Quando não te encontrei, soube que
algo ruim havia acontecido, você não me abandonaria ali sozinho.
– Não abandonaria. Eu tentei conversar com você e tudo o que fez foi
quebrar o blindex em mil pedaços e ignorar minha presença, ignorar minha
gravidez, ignorar meus sentimentos. Eu sabia que seria difícil, mas não sabia
que poderia ser uma cena digna de filme de terror. – Ela diz, começando a
chorar.
– Está sendo difícil, é minha garota Mari, minha filha.
– Ela é minha filha também. – Justifica.
– Você entendeu o que eu quis dizer, Mariana. – Digo.
– Ao menos, ela tem um namorado excelente, Arthur. Você já parou
para pensar nisso?
– Não. – Afirmo, sincero. – A única coisa que sei nesse momento é que
estarei ao lado dela e que preciso conversar com os dois.
– Que bom que você sabe!
– Fui eu quem a machuquei? – Pergunto, deslizando meus dedos
delicadamente pelas suas costas e ela quebra nosso olhar, voltando-se para
baixo.
– De todas as maneiras possíveis. – Diz, e eu sinto como se tivesse
acabado de levar um tiro.
– Está doendo? – Pergunto, e ela dá um sorriso fraco.
– Sabe o que mais doeu? – Pergunta e volta o olhar para mim, que
balanço a cabeça negando. – Doeu imaginar pela primeira vez como seria
minha vida sem você. Eu deveria mandá-lo tomar no centro do olho do seu
cu, Arthur, deveria chutar sua bunda e mandá-lo embora, deveria bater seu
carro num poste. A Mariana “normal” faria isso, você sabe, mas não imagino
o caralho da minha vida sem você, nenhuma dor é tão insuportável quanto a
dor de imaginar perdê-lo. – Sua sinceridade me surpreende, tanto que sinto
meus olhos marejarem e meu corpo se acender de volta à vida.
– Eu amo você, Mariana, eu sempre amei e sempre irei amar. Eu sou a
porra de um homem desesperado por você. Jamais faria qualquer coisa que
pudesse machucá-la em sã consciência, você sabe disso, não sabe? –
Pergunto, passando os dedos pelos seus braços e vendo sua pele arrepiar. Não
consigo não olhar para seus seios desnudos e seus pequenos botões
gloriosamente acesos. Esse é o efeito que tenho sobre ela e ela tem sobre mim
também.
– Eu sei e é exatamente por isso que estou aqui. Eu sempre disse que
aqui seria o lugar onde nós resolveríamos qualquer problema. Esse lugar é o
nosso céu, Arthur, e eu estou feliz por você ter se lembrado disso e ter vindo
até aqui. – Ela diz tão calma, madura e segura, tão diferente do que eu
esperava. Estou realmente surpreso e admirado. – O que foi?
– Estou surpreso.
– Não fique. Não sou tão madura e boazinha assim. – Ela diz, arqueando
a sobrancelha.
– Como assim? – Pergunto
– Você está sem sexo por 1 mês, mais precisamente 30 dias e não
adianta tentar me subornar ou qualquer coisa do tipo. E eu juro pelo filho que
carrego em meu ventre que não cairei em tentação nem se você bater com o
pau na minha cara! – Anuncia e eu tento segurar o riso. Mariana nunca
cumpre promessas que envolvem ficar sem sexo. Em menos de 1 semana,
estará implorando por isso, assim espero.
– Eu prefiro que você chute minhas bolas, quebre um jarro na minha
cabeça, bata meu Porsche no poste e até mesmo coloque fogo na casa, pode
até destruir documentos importantes do escritório, pode raspar minha cabeça,
ou sair feito maluca com a lancha, torre todo o dinheiro que temos no banco,
faça o que você quiser de mim, me faça de submisso, eu deixo fazer o que
quiser, apenas não me deixe sem sexo. – Imploro, entrando em seu jogo.
– O que eu quiser? – Pergunta com um sorriso faceiro.
– Sim. O que você quiser. – O sorriso se alarga e vira algo diabólico,
deixando claro que vem algo muito errado nesse pedido.
– Posso te dar uma dedada no furico? – Ela pergunta, mordendo o lábio,
e eu a encaro incrédulo por ter ao menos sugerido uma merda dessas. Ela
pode fazer 1 ano de greve que no meu cu não entra nada, só sai.
– Eu aceito 1 mês sem sexo, mas saiba que quando acabar, estarei com
calos na mão e você estará traumatizada. Não esqueça também que seus
hormônios ficam afetados na gravidez e você fica cem por cento tarada, terá
que ser forte para me ver batendo uma bem ao seu lado, acha que consegue?
– Pergunto e ela se põe a pensar seriamente sobre o assunto. – Vou te dar
alguns minutos para me dar a resposta, enquanto isso vou ligar para casa e
avisar que estamos bem.
Vou até o andar de baixo, pego o celular que fica na ilha e ligo. Matheus
atende no primeiro toque.
– Pai?
– Eu a encontrei filho, está tudo bem. Como estão as coisas aí?
– Vocês estão em Ilha Grande? Aqui está tenso, mas agora vai
melhorar.
– Estamos. Beatriz está bem?
– Ela está. Desmaiou, mas já está bem, Bernardo está com ela. – Ele
responde.
– Ok. Voltamos no máximo amanhã de manhã. Qualquer coisa, ligue.
– Mamãe está bem? – Ele pergunta, quando sinto seus braços em volta
de mim, me fazendo sorrir.
– Sim, está tudo bem, graças a Deus.
– Tudo bem. Até amanhã, pai.
– Até filho. – Desligo e me viro para minha esposa. – Já tem uma
resposta?
– Faça amor comigo! Mostre que meu Tutu está aqui, cem por cento. –
Diz, me abraçando, e começa a chorar. Puta que pariu, o que eu fiz com a
minha mulher!
– Mari, me perdoe, me perdoe, não chora, minha rainha. Eu amo você,
eu nunca mais na vida quero vê-la chorar de tristeza, nunca.
– Está tudo bem. – Ela diz, fungando com a cabeça em meu peito.
– Não, não está. Eu farei você esquecer isso, eu prometo.
– Comece fazendo amor comigo, bem lento e delicado, tomando
cuidado com as minhas costas.
– Está doendo muito? Deixe eu cuidar de você. – Seguro-a pela bunda e
ela enrola as pernas em minha cintura, enquanto nos levo até o quarto e a
coloco sobre a cama. –Deite de bruços. – Peço, e ela obedece.
Vou até o banheiro, pego um spray antisséptico na maleta de primeiros
socorros e volto a cama, tirando minha calça e ficando apenas de cueca.
Coloco uma perna de cada lado do seu corpo e começo a beijar uma a uma de
suas feridas. O que era para ser uma cena carinhosa vira uma explosão dentro
da minha cueca a cada gemido prazeroso que ela dá e cada empinada de
bunda.
– Hum Tutu...
– Assim fica difícil eu passar o negócio em você. – Digo, e ela sorri.
– Tem outro negócio que você deve passar em mim, se você tirar minha
calcinha e sua cueca fica fácil, fácil. – Propõe e eu jogo a porra do
antisséptico no chão e passo parte da noite passando meu pau por todos os
lugares do seu corpo, selando a paz e o nosso amor, me redimindo até
estarmos realmente conectados.
BEATRIZ

Após um longo dia e uma noite bem mal dormida, eu e Bê somos


despertados do sono pesado por uma batida na porta.
Bernardo faz sinal para que eu permaneça na cama e vai até a porta abri-
la para revelar meu pai, que entra sem cerimônias. Por sorte, estamos
devidamente vestidos com nossos pijamas e minha libido está adormecida
desde ontem, senão não faço ideia do que ele faria.
– Bom dia.
– Bom dia, pai. – Respondo acompanhada do meu namorado, que está
em pé o encarando. O medo começa a surgir ao perceber que Bernardo está
com olhar tão decidido quanto doutor Arthur Albuquerque.
– Quero os dois no meu escritório assim que tomarem o café da manhã,
pode ser?
– Claro. – Respondemos em uníssono e ele sai pela porta.
– Puta merda! – Digo, cobrindo minha cabeça com o travesseiro.
– Ei, calma, é apenas uma conversa. Acho que vai ser bom resolvermos
isso tudo logo de uma vez. – Bernardo diz, tentando me tranquilizar. Retiro o
travesseiro do rosto, Apoio meus cotovelos na cama e o encaro séria:
– Bê, promete que não vai brigar com meu pai? Eu não suportaria.
– Eu não vou brigar com seu pai, apenas se ele a maltratar. – Ele
responde e eu fico mais tranquila.
Me levanto, tenho uma leve tontura que felizmente passa em segundos,
visto um roupão e, em seguida, descemos para tomar nosso café da manhã.
Encontro uma cena inusitada de dona Mariana jogada no sofá acabada e
meu pai tentando tirá-la enquanto ela ri. Ao menos eles estão bem, isso me
tranquila infinitamente. Eles estando bem, o resto sou capaz de superar.
– Bom dia filhinha, bom dia genrinho. – Ela diz, sorridente, enquanto
meu pai a carrega para o quarto.
– Está vendo? Eles são meio loucos, não tem por que você ficar
desesperada. – Bê diz, agarrado em um pão de queijo.
Não vejo sinal de Matheus e Jéssica, portanto ficamos em silêncio
perdidos em pensamentos até meu pai surgir e avisar que está nos
esperando. Eu achei que eles iriam transar e que teria um tempo para me
preparar psicologicamente.
Quinze minutos depois, estamos sentados frente a frente e Bernardo
segura minha mão de maneira firme, tentando passar segurança e conforto,
enquanto meu pai permanece de cabeça baixa por alguns minutos.
– Não sei como tratar essa situação. Não sei por onde começar. – Ele
confessa, levantando a cabeça.
– Arthur, eu começo por você. – Bernardo diz e eu volto meu olhar para
ele, prestando atenção em cada palavra e com um receio absurdo. – Eu sinto
muito por ter traído sua confiança, não foi planejado. Sei o quão difícil deve
ser digerir uma notícia desse porte. Eu serei pai e pode ser que eu passe pela
mesma situação algum dia, então eu peço desculpas e já adianto que amo sua
filha, muito, e já amo o bebê que está no ventre dela. Eu tenho as melhores
intenções. A partir de agora, irei assumir todas as responsabilidades e quero
casar com Beatriz, quero que sejamos uma família. – Ele diz apertando minha
mão, e eu solto um suspiro ao ver a cara do meu pai.
– Aí chegamos no ponto que tanto está me incomodando. Não sou a
favor do casamento. Vocês são muito jovens, se conhecem há poucos meses.
A gravidez é aceitável, é meu neto ou minha neta, minha filha não é primeira
e nem será a última que engravida tão jovem, apenas não vejo necessidade de
um casamento. Mariana engravidou com três meses de namoro, mas ela já
tinha 24 anos, já era formada, trabalhava e era super experiente. – Suspira. –
Moramos lado a lado, me diga o propósito de um casamento agora?
– O propósito é que eu a amo e acredito que seja recíproco. Acredito
também que o melhor para nosso filho é ser criado por nós dois juntos,
debaixo do mesmo teto. E, antes mesmo de saber que ela estava grávida, já
tínhamos ficado noivos, obviamente não seria um casamento tão rápido, mas
já estava nos planos.
– Você ficou noiva dele e não me contou? – Meu pai pergunta, cruzando
as mãos sobre a mesa.
– Sim. Eu o amo, pai. Bernardo me mudou por completo, ampliou meus
horizontes, todos os dias consigo descobrir novas qualidades nele e até
mesmo em mim. Pai, nosso plano é morar aqui no prédio, então estaremos
sempre juntos, sempre. Eu não deixarei de ser sua filha e nem de te ver
diariamente. – Respondo e ele passa as mãos no cabelo, em sinal de
nervosismo.
– Seus pais já sabem disso? – Pergunta a Bernardo, que afirma com a
cabeça. – É isso que vocês querem?
– Sim, é isso que queremos. – Bê responde por nós dois e ele parece se
dar por vencido.
– Se estão tão decididos, qualquer argumento meu será nada mais que
perda de tempo. Apenas me mantenham informado de tudo. Não quero mais
surpresas. Beatriz, sua mãe vai marcar uma consulta para você na mesma
médica dela. Vocês têm meu apoio no que for preciso. – Diz de maneira
formal e se levanta caminhando até nós, que nos levantamos em
seguida. Primeiro, ele me dá um abraço acolhedor, que faz meus olhos se
encherem de lágrimas. Meu pai sempre foi meu super-herói. No fundo, eu
sabia que ele não me abandonaria, isso é reconfortante em meio ao caos que
se encontra minha cabeça.
Ele se afasta de mim e oferece um aperto de mãos a Bernardo, e então o
abraça também.
– Você é um bom homem. Não aceito que trate minha filha de maneira
inferior a que eu trato. Ela pode ter engravidado, pode casar, mas ainda assim
é minha, muito mais minha do que sua, então não faça com que eu arrependa
de estar a entregando para você. Ela é minha vida, minha princesa.
– Não se arrependerá Arthur, ela é a minha princesa também.
– Assim espero. – Diz, antes de sair emocionado e nos deixar a sós no
escritório.
– Uau! – Exclamo, impactada.
– É, uau!
4 dias depois

São nove horas da manhã e estou sentada na recepção do consultório


observando o quão louco minha família pode ser e me perguntando como e
quando foi que Liz e Bernardo resolveram se tornar adeptos à loucura.
A recepcionista nos encara assustada e eu consigo compreendê-la
facilmente. Meu pai, minha mãe, Matheus, Jéssica, Victória, Pietro, Eliza e
Bernardo, todos aqui aguardando minha primeira consulta, sendo que o certo
seria estar apenas eu e meu lindo noivo sexy. Por sorte, conseguimos driblar
meus avós ou seríamos 14 aqui dentro. Se fosse no dia do parto eu
compreenderia, mas é apenas a primeira consulta e eu duvido que a médica
vá deixar todos esses seres humanos entrarem dentro do consultório. Só falta
servir champanhe, porque parece realmente uma festa.
– De onde nossas famílias surgiram???? – Pergunto, jogando a cabeça
no ombro de Bernardo.
– Isso parece um manicômio. – Responde, enquanto começo a ficar com
vergonha. Tento tirar minha atenção da loucura e então duas pessoas atraem
minha atenção: Victória e Matheus. Ela está sentada na ponta de um sofá e
ele na outra. Ambos com os celulares nas mãos digitando incansavelmente e
guerreando com olhares. De repente, ela pega o celular, joga na bolsa e cruza
os braços, demonstrando estar puta da vida. No mesmo instante, Matheus se
levanta e desaparece. Não satisfeita, Victória levanta e vai na direção onde
meu querido irmão foi. Os dois certamente deveriam ser estudados pela
NASA.
– Beatriz Albuquerque Barcelos. – A recepcionista diz meu nome e
levanto. – Pode entrar com 1 acompanhante. – Diz de maneira enfática e eu
bato palmas internamente para ela. Dou a mão para Bernardo e, quando os
demais vão protestar, interrompo-os com um sinal. – Não se preocupem, no
final Beatriz ganhará um pen drive com a ultrassonografia. – Ela explica.
Bê e eu fugimos o quanto antes e entramos no consultório. Não consigo
conter o frio na barriga pela ansiedade. É provavelmente agora que minha
ficha vai cair por completo.
– Bom dia, Beatriz. – A médica diz, sorridente, me oferecendo sua mão
que a pego prontamente.
– Bom dia, esse é meu noivo Bernardo. – Anuncio, e eles se
cumprimentam. – A médica faz uma série de perguntas e eu vou respondendo
todas rapidamente.
– Bom, querida, vou pedir para você ir até a cabine retirar sua roupa e
vestir o avental. Vamos fazer uma ultrassonografia para sabermos ao certo
com quantas semanas o bebê está, se está tudo sob controle.
Eu faço o que ela manda e, em seguida, me acomodo em uma cadeira
horrorosa onde tenho que colocar meus pés em duas repartições e ficar aberta
como um frango assado. Bernardo se posiciona atrás de mim e eu acho a
situação constrangedora demais, por mais que ele já tenha me visto nua
centenas de vezes. A médica se posiciona entre minhas pernas e pega um
negócio gigante, que faz meu corpo tremer de desespero.
– Onde você vai enfiar isso? Que diabo é isso? – Pergunto e Bernardo
aperta minha mão, enquanto a médica ri.
– Isso é um transdutor. Como estamos no início da gestação, esse
aparelho é mais preciso para termos uma avaliação completa. – Explica,
enquanto o envolve com um preservativo e passa lubrificante. Que merda!
Quando ela vai introduzir, aperto Bernardo com força. É assustador.
Uma piroca sendo introduzida em Dora aventureira é uma coisa, agora esse
objeto não identificado é outra... horrível, Deus! Nunca mais faço sexo.
– Relaxa. Se você relaxar, vai ser mais fácil. – Ela diz sugestivamente e
eu tento pensar no chapeuzinho vermelho, nos sete anões, no pau do
Bernardo, em qualquer coisa que me faça esquecer desse objetivo na minha
vagina. Quando abro os olhos, vejo meu noivo tentando conter uma lágrima
enquanto analisa algo no monitor. Olho e vejo um pequeno ponto. Meu bebê.
– Então, esse pontinho é o bebê. Você está caminhando para cinco semanas
de gestação, Beatriz. A partir da oitava semana, já conseguiremos ouvir os
batimentos com precisão.
Um outro coração bate dentro de mim. Isso é mágico! Sou tomada por
uma onda de realidade e sentimentos que ainda eram desconhecidos por mim.
Ver o pontinho na tela e o micro coraçãozinho batendo fazem aflorar meu
lado materno, é como se eu tivesse acabando de nascer para a vida. É meu
bebê, eu e Bê fizemos isso. É incrível!
Bernardo parece estar sentindo a mesma coisa.
– É emocionante. – Ele diz.
– Bom, está tudo perfeito, papais. – Ela diz, após nos dar várias
explicações, e retira o aparelho delicadamente de dentro de mim. – Agora
pode se trocar que vou solicitar alguns exames e receitar algumas vitaminas
para que tudo continue em perfeito estado.
Após vinte minutos de explicações e duas listas, saímos do consultório.
Vamos todos almoçar em um restaurante.
Enquanto todos estão perdidos em conversas diversas, eu estou perdida
na minha nova realidade. Até ontem, eu queria que tudo não passasse de um
sonho/pesadelo, mas desde o segundo que vi aquele ser minúsculo habitando
meu ventre, só consigo pensar em quando será a próxima ultrassonografia,
em escutar seu coraçãozinho batendo, em seguir todas as dicas e conselhos da
médica para gerar essa vida da melhor maneira possível. De repente, me pego
criando uma nova lista mental, substituindo todos os itens da lista que eu
havia criado sobre coisas que gostaria de fazer antes da minha vida “acabar”.
Afinal, agora sinto que minha vida está realmente começando...
– Fazer pilates e atividades físicas leves
– Fazer um curso de gestantes
– Pesquisar possíveis nomes
– Procurar um apartamento vago em nosso prédio
– Organizar o casamento
– Olhar decorações para o quarto do meu bebê
Deus, é incrível como as coisas mudam de perspectiva tão rapidamente.
Pela primeira vez, desde que soube da notícia, estou me sentindo em paz,
feliz e realizada. Não há medo, receio ou insegurança, simplesmente tudo que
me atormentava sumiu, assim, do nada.
– Vamos brindar à vida. Ao meu bebê, ao meu neto ou neta e a nossa
família que está aumentando e ganhando novos agregados. – Minha mãe diz,
erguendo seu copo de suco e desviando meu foco dos pensamentos.
Erguemos nossos copos e brindamos a nova fase das nossas vidas.
MATHEUS

Revoltado me define. Por que essa diaba tinha que ter aceitado fazer um
trabalho de dupla comigo? Maldito inferno que estou vivendo!
A professora montou as duplas e eu tentei de todas as maneiras mudar,
teria conseguido se Victória não tivesse insistido em continuar alegando que
moramos lado a lado. Pela lógica, era só ela fazer com Pietro, que mora sob o
mesmo teto. Agora estamos no consultório discutindo por mensagens de
textos.
Quando torna-se demais, eu decido sair do ambiente claustrofóbico e
vou para o corredor, necessitando tomar um ar fresco. Vejo algumas gostosas
passando pelo corredor e então a diaba surge.
– Você está agindo como um moleque! – Ela acha que tem o direito de
vir atrás de mim.
– Você está agindo como uma tirana e com segundas intenções! –
Rebato.
– É só um trabalho!
– Só um trabalho que vai terminar na cama, com você cavalgando em
meu pau e voltaremos à rotina sexual desenfreada! – Argumento e ela solta
um gemido que me leva direto para a beira do abismo. Victória sabe todos os
meus pontos fracos e eu me odeio por ter permitido que ela entrasse tão
profundamente em minha vida.
– Como terminará? – Pergunta, segurando minha blusa e colando seu
corpo ao meu.
– Vic, não dá. Eu quero muito mais do que você tem a oferecer. – Digo,
respirando fundo.
– Somos jovens, temos apenas 17 anos.
– Não importa que tenhamos 17 anos, Vic, eu amo você. – Afirmo,
deixando-a visivelmente chocada.
Então ela foge, mais uma vez.
Eu juro por Deus, ela é a pessoa mais complexa que já conheci em toda
a minha vida. Se ela não corresponde, por que não me deixa ir?
A consulta termina. Vamos até um restaurante e nos sentamos o mais
afastados possível. Não conversamos mais no dia de hoje...
Mas no dia seguinte...
– “...E quando a toco, descubro que a atração física não apenas existe,
mas também dá lugar à novos sentimentos e novas forças, fazendo com que
eu tenha descobertas. Eu e você não somos apenas corpos em busca de
prazer. Cada toque é responsável por contar histórias e fazer declarações não
ditas, os gemidos viram melodias que alimentam o momento, tornando-o
mágico e perfeito, preenchendo a alma. Já li em algum lugar que atrações
físicas são comuns e as atrações mentais raras. Porém, é injusto que nenhum
estudo, nem mesmo a química, tampouco a física, consiga explicar o que
acontece quando fundimo-nos em um só. É injusto que você queira fugir da
lei da atração, porque uma vez que seu corpo se desloca, o meu entra em
completa inércia. Da mesma forma que eu preciso de você, sei que algum dia
o meu amor será a força motriz que irá levá-la à lugares onde nunca imaginou
ir.”
– Uau! Você arrasou! – Ela diz, emocionada, e então eu releio a merda
do texto que acabei de criar para a porra do trabalho de português. Onde eu
estava com a cabeça? De repente, tornei-me poeta.
– Pronto! Eu deveria dizer a professora que eu fiz a porra do trabalho
praticamente sozinho. Que a bonitinha aí fez apenas a capa e deu algumas
poucas sugestões. –Protesto.
– Você sabe lidar com o amor melhor que eu. – Suas palavras atraem
minha atenção.
– É visível desde sempre. – Digo, mexendo em meu celular, e então
meus olhos são atraídos quando ela se põe de pé e retira sua roupa, me
deixando num estado de calamidade completo. – Vic, vista suas roupas. –
Peço.
– Não. – Informa e eu guardo o trabalho, tentando não olhá-la. O que é
impossível pra caralho. Seu corpo, sua presença, são como ímãs para meus
olhos. É além da atração física, além da atração mental. Maldita hora que
meus pais mudaram para o Rio. O que parecia ser bom, tornou-se uma dor na
minha bunda. Nunca imaginei sofrer tanto.
Ela joga nossas mochilas no chão e sobe na cama. Traz seu pé em meu
peitoral e empurra até que eu esteja deitado. Então, se abaixa e eu a pego com
toda a vontade que possuo em meu interior.
Algumas coisas estranhas começam a acontecer.
A primeira delas é ela me pedir para ir com calma.
A segunda é ela permitir que eu esteja no controle da situação de forma
não violenta.
A terceira é uma nova conexão, inexplicável.
A quarta acontece quando ela goza e começa a chorar, proferindo
palavras as quais não consigo encontrar explicações lógicas:
– Você fez amor comigo. – Ofega, limpando as lágrimas. – Eu nunca
senti prazer assim, nunca.
Olá, leitora!
Obrigada por ter lido mais um de meus livros. Agora, eu gostaria de
pedir um enorme favor; se você gostou do meu livro, gostaria de te pedir que
deixasse uma avaliação, pois isso é muito importante para mim.
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meu trabalho.
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Muito obrigada! Espero você na família #sadleitoras!


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Table of Contents
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Bônus

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