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EXAGERADO 1
Após uma reunião exaustiva fora do escritório com nosso novo cliente,
não há nada mais que eu queira além de ir para casa. Às vezes, acho que
minha mãe está certa sobre eu ser centrado demais. Tenho apenas 20 anos de
idade e já fechei os maiores contratos da história da empresa.
Nossa empresa cresceu muito ao longo dos anos, e trabalhar no ramo de
Telecomunicações é quase exaustivo. Trabalhamos com soluções de TI,
telefonia, pagamentos e um Call Center de última geração, e isso requer
muita organização e controle. Hoje, nossa empresa desenvolve tecnologias
exclusivas para organizações do mundo inteiro e sou grato por termos uma
excelente equipe, que está conosco desde a época em que meu avô
comandava tudo. Tivemos um crescimento assustador nos últimos cinco
anos, quando minha mãe fechou um contrato gigantesco com uma empresa
em Miami, mas eu, na verdade, só passei a trabalhar após completar a
maioridade. Meus pais não admitiram que fosse diferente, embora eu tenha
insistido muito.
No auge dos meus 15 anos, até tentei fazer algumas campanhas como
modelo, mas percebi que ali não era meu lugar, e sim do meu pai. Senhor
Bernardo ainda é chamado para alguns trabalhos. Porém, atualmente, ele faz
questão absoluta de cuidar apenas da administração dos nossos abrigos para
crianças carentes. Meu pai era morador de rua e, em quase 22 anos atuando
como modelo, posso dizer que ele tem o suficiente para manter bem até os
tataranetos. Mas, quem o conhece de verdade, não consegue acreditar em
todo poder aquisitivo que ele possui. Meu pai é exemplo de humildade e
bondade, assim como minha mãe. Eles são as pessoas mais simples e o casal
mais apaixonado que conheço; criaram eu e meus irmãos da mesma maneira,
com muita humildade e amor. Victória e Pietro, os gêmeos não idênticos da
família, são cópias perfeitas da minha mãe; já eu só puxei as covinhas e o
talento para o mundo dos negócios dela, o resto sou todo meu pai.
Chego no condomínio e estaciono o carro. Ao entrar no apartamento,
encontro meu pai.
— Oi filhão, como foi o dia?
— Cansativo, mas bem-sucedido. — Respondo, mesmo com seu olhar
reprovador estando tão óbvio.
— Você deveria tirar umas férias.
— Em breve, pai. Cadê a mamãe e os pirralhos?
— Sua mãe saiu do trabalho e foi direto buscá-los. Cheguei agora de
Campo Grande, fui dar uma conferida em como andam as coisas no lar.
— E está tudo sob controle?
— Sim. Deixaram uma bebê na porta ontem, acredita? — Ele me diz,
revoltado. Isso acontece com muita frequência, mas para nós ainda é bastante
inaceitável. Nunca vou entender porque tantas pessoas arrumam filhos se não
tem condições financeiras e psicológicas para isso. Existem muitos métodos
contraceptivos de graça, tanto para mulheres quanto para homens.
— Quantos meses você acha que ela tem? — Pergunto e, antes que
digam algo devido ao fato de eu dizer “você”, o tratamento senhor e senhora
é proibido aqui dentro de casa.
— No máximo três meses. A pediatra vai lá dar uma olhada e realizar
alguns exames amanhã.
— Beleza. Vou dar uma passada lá também. Vou tomar banho, pai.
— Tudo bem, filho. Está com fome? Dona Laura deixou torta de frango
pronta, se quiser esquento no micro-ondas para você.
— Hum, perfeito! Nunca podemos negar a torta de frango da dona
Laura. — Sorrio, seguindo para o banho. Tudo que mais quero é me livrar do
terno nesse momento.
Às vezes, me pego pensando se todas as pessoas possuem a sorte de
terem pais tão bons quanto os meus. Tenho sorte!
Horas mais tarde, estou envolvido na escuridão do meu quarto assistindo
filme quando minha mãe aparece carregando um pote de pipoca nas mãos.
— Ei.
— Oi dona Eliza, linda.
— Vim curtir meu bebê um pouco, fora daquele universo de trabalho.
— Diz, se enfiando debaixo das cobertas. Dona Eliza, sempre se cobrando
tanto! — Que filme está assistindo?
— Convergente, é uma série, esse é o terceiro filme. — Explico.
— Ah, já sei, aquela que tem um rapaz que chama três ou quatro?
— Exatamente! — Rio. — Ele se chama quatro.
— Não temos ficado muito tempo juntos sem ser na empresa, não é
mesmo, filho? Estou me sentindo uma mãe relapsa. Nem sei da sua vida
direito. — Sabia que era isso.
— Não tem nada de relapsa mãe, você é perfeita. — Digo, porque
realmente ela é. Não sei como ela dá conta de ter tantas atribuições e ainda
cuidar da nossa família tão bem. Ela é como uma mulher maravilha e meu pai
o super-homem. Eles são incansáveis.
— Sabe, queria que você aproveitasse mais sua idade, fosse menos
centrado, filho. Não acho justo ter essa rotina atribulada tão jovem. Também
comecei no mundo dos negócios cedo, eu era como você, sabe, desde
pequena ficava na empresa com meu pai, até que ele morreu e eu não tive
escolha a não ser tomar frente de tudo. Não é seu caso, eu estou viva e seu pai
também, você deveria sair, viajar...
— Mãe, você e meu pai precisam parar com essa preocupação excessiva
comigo. Estou onde quero estar, sabe? Eu amo isso mãe. Eu tenho amigos, de
vez em quando saímos, mas não me imagino vivendo a vida que eles vivem.
Eu sou feliz como sou.
— Mas Bê, você não tem nem uma namorada, meu filho.
– Não tenho, não quero isso para mim agora. Não quero nada sério, sou
jovem, quero me dedicar à empresa e construir minha independência.
– Está vendo, maduro demais! – Ela adverte e eu sorrio. – Você não tem
nem uma "ficante" como vocês falam?! Você é virgem filho? – Ela pergunta
rápido demais, se embolando nas palavras. Nunca conversamos sobre isso
antes.
– Não mãe, não sou virgem desde os 16 anos. E sempre fico com
algumas garotas. – Minto. Fico com mulheres pouco mais novas que ela,
talvez da sua idade. Isso não seria interessante para ela descobrir agora.
– 16 anossssssss????????????? Como assim Bernardo? Seu pai sabe
disso? – Pergunta, chocada.
– Sabe, mãe. Pietro também não é mais virgem. – Informo.
– Pietrooo?????? Oh meu Deus!!!! – Ela se levanta e sai do quarto. Fico
rindo, até que ela volta com meu pai. – Por que você não me contou que
nossos filhos não são mais virgens desde os 16 anos da idade? – Questiona, e
meu pai segura o riso.
– Liz, minha princesa, isso são coisas de homens. Eles se sentiram à
vontade dessa maneira, contando apenas para mim. – Ele explica
pacientemente e Pietro entra no quarto.
– O que houve? Reunião de família?
– Meu bebê, você já transou! – Ela diz e o abraça, que fica sem entender
nada.
– Liz, é a lei da vida, meu amor. Bernardo já tem 20 anos.
– O que quer dizer que tem quatro anos que ele transa! – Ela diz
agarrada a Pietro.
– Mãe, eu te amo, mas você está me sufocando.
– Minha Vic. Já levei ela ao ginecologista, mas virgindade nunca foi
pauta. Preciso saber se ela também já não é mais virgem! Oh meu Deus!!!
Não sei lidar com isso. – Ela sai do quarto desesperada, e nós três ficamos.
– Ela vai ficar muito decepcionada se souber que já tive essa conversa
com Victória? – Papai pergunta, e eu e Pietro arregalamos os olhos.
– Vic não é mais virgem? – Perguntamos, juntos.
– Ela é, graças a Deus! Porra, graças a Deus mesmo! – Ele solta um
suspiro e rimos. – Eu só tive essa conversa com ela porque sua mãe ainda
acha que vocês são crianças, que não terão relações tão cedo.
– Espero que Victória continue sendo a criança que mamãe pensa. –
Digo. Ter irmã é foda! Vic se tornou uma menina mulher linda. Ainda é
difícil lidar com o fato de que ela já beija e que futuramente estarão fazendo
com ela o que eu faço com as irmãs dos outros. É um inferno isso!
– Bernardooooo! – O grito da mamãe atrai nossa atenção. Eu me levanto
e nós três vamos tentar acalmar dona Eliza! Que Deus nos proteja!
BEATRIZ
Quando acordo, mais uma vez demoro a entender onde estou e o que
aconteceu. Não tenho noção de horário ou de qualquer outra coisa. Levanto
minha cabeça o máximo que consigo e vejo meu pai com os cotovelos no
joelho e apoiando a cabeça com as mãos, olhando para baixo. Isso me traz de
volta a realidade e a culpa começa a me invadir. A dimensão do ocorrido
supera qualquer merda que eu já tenha feito antes. Nenhuma delas chega na
sombra do risco que corri ontem ou hoje, nem sei se ainda é hoje ou já
amanhã... estou confusa demais.
Eu gostaria de arrancar o soro e a sonda que me impedem de ir até ele.
Queria abraçá-lo e dizer o quão arrependida estou, mas, na verdade, estou me
perguntando até onde eu sou realmente culpada do que ocorreu? Qual culpa
eu tenho de ter sido dopada? Jamais direi isso a eles, é óbvio, não quero ouvir
que escolho mal minhas companhias ou que mudei muito após começar a
andar com certa turminha. Pior é saber que eles estão cobertos de razão, e
minha mãe alertou muito antes de me deixar na festa, parecia que ela já sabia
que ia dar merda.
Minha mãe é incrível em diversas maneiras inexplicáveis. Ela tem uma
ligação muito forte comigo e com meu irmão, parece que ela sente tudo o que
nós dois sentimos, chega a ser assustador.
– Como está se sentindo? – Sou desperta dos meus pensamentos pelo
meu pai em pé, ao lado da cama. Ele está com a aparência de exausto.
– Melhor do que mereço. – Respondo, segurando sua mão, e ele solta
um longo suspiro.
– Ainda bem que foi só um susto, eu odeio pensar no que poderia ter
acontecido, filha. Nunca mais quero passar por um susto desses.
– Pai, me desculpa. – Digo, com lágrimas nos olhos. – Me desculpa de
verdade. É horrível ver a dor que eu causei no senhor e na mamãe. Pai, eu
nunca mais quero vê-los destruídos como hoje.
– Sabe Bia, eu já tive sua idade. Você e seu irmão estão na fase de se
autoconhecerem, numa fase de transição. Eu e sua mãe não somos tolos de
imaginar que vocês dois não vão aprontar. Mas você precisa estabelecer um
limite, filha, um limite seu. Ok, estou nervoso e está ficando confuso isso
aqui. – Ele ri, respira fundo e volta a falar. – Você precisa ter consciência de
até onde pode ir, até onde aguenta ir e, principalmente, conhecimento do que
é certo e errado. Tem que aprender a ver maldade nas pessoas Beatriz, não
pode se deixar levar por um rostinho bonito. Eu sei que aí bem no fundo você
sabe o que ia te acontecer.
– Sei... mas eu nunca...
– Eu sei que você é virgem. – Ele diz, e suas bochechas se enrubescem.
Volta a soltar um longo suspiro e continua. – Beatriz, como eu já disse, já
tive sua idade. Os hormônios estão a flor da pele. Eu acho quase um milagre
você ser virgem nos dias atuais, onde os adolescentes estão cada dia mais
sem limites, descontrolados. Isso só me prova mais que sua mãe é foda, ela
sabia o que estava fazendo quando decidiu incluir o sexo na educação de
vocês. – Diz, com os olhos brilhando de orgulho e admiração, é lindo de ver.
– Me responda, vamos supor que o pior tivesse acontecido hoje, você estaria
feliz? É essa a lembrança que você gostaria de levar de um momento tão
importante?
– Não, pai.
– Então. É disso que estou falando, saiba até onde deve ir, desconfie das
pessoas, não caia na lábia de qualquer um, Bia, porque rostinho bonito muitos
têm, mas caráter é para poucos. Você cresceu, virou uma linda mulher, vive
rodeada de garotos, mas não é por isso que você tem que sair fazendo
besteiras. Pense bem, esteja certa quando resolver se entregar a alguém. A
primeira vez pode ser traumática se não for feita com confiança e respeito,
filha. Você tem um exemplo dentro de casa, seu irmão. – Ele ri e balança a
cabeça; meu irmão é um verdadeiro moleque piranha. – Garotos tendem a
pensar com a cabeça de baixo, para eles é bacana, para mim era bacana, mas
eu tenho certeza que para as garotas não é. Imagina, dorme com um cara hoje
e amanhã ele passa do seu lado com outra?
– Entendi pai, eu entendi. – Corto-o. Ele, como sempre, me deixa no
chão com suas palavras tão certeiras.
– Agora será que conseguiríamos fugir daqui? Você já está realmente
boa? – Diz, me surpreendendo.
– Estou.
– Então vou chamar a enfermeira e ver se conseguimos uma alta durante
a madrugada mesmo. É horrível ficar aqui.
– Pai. – Chamo-o, e ele desacelera um pouco.
– Oi.
– Eu amo você, me desculpe. – Digo, e ele engole seco, emocionado.
BERNARDO
Acordo com um barulho horrível que não sei de onde pode estar vindo.
Isso não é nada bom para começar uma segunda-feira. Tento dormir
novamente, em vão. O maldito barulho quase me faz cair da cama de susto.
Esfrego os olhos e me levanto, abro a cortina e observo a vista da lagoa,
e isso traz de volta minha paciência após respirar fundo três vezes. Vou até o
banheiro e faço minha higiene matinal. Sigo para a cozinha e meus pais já
estão na mesa, tomando café da manhã com os pirralhos.
– Bom dia.
– Bom dia, filho. – Meus pais dizem.
– De onde vem esse barulho? – Pergunto.
– Vizinhos novos. – Pietro responde, e o desânimo me toma. São apenas
dois apartamentos na cobertura, e o outro apartamento sempre esteve
fechado, então nunca tivemos que conviver com vizinhos barulhentos.
– Que maravilha, ganhei o dia com essa notícia. – Respondo.
– Xi, alguém acordou mal-humorado hoje. – Mamãe diz, e eu sorrio.
Tomamos nosso café conversando sobre assuntos diversos, como
fazemos todos os dias e, em seguida, vou me arrumar para ir à empresa,
enquanto meu pai sai para levar os pirralhos para a aula.
Minha mãe aparece na porta do quarto.
– Filho, vou tirar um dia para mim hoje, não irei à empresa.
– Tudo bem, dona Eliza, vai ficar ainda mais linda para o senhor
Bernardo?
– A gente faz o que pode, filho. – Ela ri. – Por favor, prometa que vai
pensar no que eu te disse?
– Prometo mãe, mas já vou avisando, não está nos meus planos agora.
– Você precisa tirar umas férias, Bê. – Suspira, desanimada.
– Eu estou ótimo mãe, cheio de saúde, vitalidade e criatividade. Acho
que você e o papai que deveriam fazer uma lua de mel, renovar os votos, ir
para aquele lugar que você sempre fala da lua de mel. – Digo, e ela parece
estar analisando a ideia, tanto que sai do quarto sem se despedir.
Antes mesmo de entrar no elevador, pego um casal, provavelmente
meus vizinhos do lado, se beijando. Hoje é meu dia!
– Desculpe. – O homem diz, sem graça.
– Sem problemas. – Tento fazer a política da boa vizinhança, mas me
surpreendo ao observar a mulher. Uau!
– Somos os novos moradores. Devo presumir que você será nosso
vizinho?
– Exatamente.
– Olha, Beatriz e Matheus podem ser amigos dele. – Ela diz, sorridente,
com uma alegria que chega quase a contagiar o ambiente, e eu só fico
pensando quem diabos é Beatriz e Matheus. – Prazer, me chamo Mariana e
meu marido se chama Arthur.
– Prazer, sou Bernardo. Se precisarem de qualquer coisa, não hesitem
em nos chamar. Estou indo trabalhar, mas já já dona Laura chega e minha
mãe ainda está em casa. –Digo, apressado.
– Desculpe, qual sua idade? – Ela pergunta, e vejo Arthur
desconfortável.
– 20 anos.
– Que lindo, minha filha precisa de amizades assim. – Ela diz sem nem
me conhecer direito e sorrio, sem graça.
– Bom, preciso mesmo ir. – Informo e eles se afastam do elevador, me
dando passagem. – Bom dia.
– Bom dia. – Eles respondem, educados. Sigo para o carro meio
desconcertado e com uma pitada de curiosidade para saber se a filha dela é
tão gata como a mãe.
Enfim, estamos em solo carioca.
Foi difícil ter que aceitar a mudança, afinal vivi 18 anos da minha vida
em Belo Horizonte, mas ao entrar no nosso novo condomínio, já recebi vários
incentivos e provações de que não será tão mal quanto eu estava imaginando.
É um condomínio com vários prédios, cercado por uma enorme lagoa,
parques e, o mais incrível, tem um mini shopping onde há várias lojinhas,
mercado, restaurantes e cursinhos. Totalmente diferente de tudo que já vi.
Fora os homens lindos correndo sem camisa pelos parques. Isso sim foi o
grande ponto alto, o que faltava de incentivo nessa nova etapa.
Matheus parece estar no paraíso. Gostaria de saber o que se passa na
cabeça dele às vezes. O menino parece viver num universo voltado
exclusivamente para o sexo onde só se pode ver bocetas espalhadas por todos
os lados. Não entendo, nunca irei entender. Pior que meu pai acha isso lindo,
tem orgulho do filho comedor, e minha mãe fica encantada cada vez que
Matheus diz que o enorme estoque de camisinhas acabou (sinal de que pelo
menos um pouco de juízo ele possui). Cara, isso é insano, insano do tipo
Deus perdoa e Matheus não.
O enorme apartamento, um tanto quanto exagerado, que meu pai
comprou já estava completamente mobiliado. Então, a única coisa que me
restou fazer foi guardar as roupas no closet.
Assim que possível, terei que arrumar um lugar para comprar objetos
que façam eu me sentir realmente no meu quarto. O mais incrível dele é a
vista para uma enorme lagoa e a varanda privativa, que tem em todos os
quartos, mas que no meu me fez realmente feliz. Talvez uma rede caia bem...
nem posso acreditar que estou pensando em rede sendo que minha agitação
não combina nada com isso. Talvez seja melhor uma mesinha com uma
poltrona que dê perfeitamente para eu tomar algo alcoólico observando a
paisagem.
A porta do quarto se abre num estrondo e eu nem preciso olhar para
saber quem é.
– Porra Matheus, eu poderia estar pelada!
– Aí, já entrou no grupo do condomínio? – Ele diz, se jogando na cama.
– Que grupo? – Pergunto, intrigada, e me jogo ao lado dele.
– Tem um grupo principal no Facebook, de todos os moradores do
condomínio, e a parte jovem criou um grupo no zap, maneiríssimo. – Diz,
me mostrando o celular.
– Ok, me adiciona lá.
– O que eu ganho com isso?
– Para de show, me adiciona nessa merda.
– Cara, a questão é o seguinte, vamos ter que nos unir, maninha. –
Anuncia sério e levanta acelerado, em seguida volta a sentar. Completamente
louco.
– Nos unir? Que merda você está pensando, Matheus?
– Tipo, eu não conheço ninguém aqui e você também não. Estamos no
Rio de Janeiro e nossos pais vão querer nos regular em tudo, esse é o
momento para nos unirmos, nos acobertarmos. Sem contar que agora você já
pode tirar habilitação.
– Acho que estou entendendo. – Digo, e me vejo servindo de taxista
muito em breve.
– Você vai precisar de mim e eu de você, maninha. Pode trocar de
roupa.
– Trocar de roupa para que?
– Vamos sair para correr no parque e ver se fazemos alguma amizade.
– Você não entrou nesse tal grupo? – Questiono.
– Entrei, mas ainda é sem graça.
– Cara, são cinco horas da tarde, acabamos de nos mudar, qual a
necessidade de fazermos amigos hoje?
– Necessidades fisiológicas, agora anda logo. Te dou dez minutos. –
Viu? Ele só pensa em foder!
– Ei, só uma perguntinha... – Digo, e ele para no meio do caminho. –
Não consegue ficar uns dias com o pau dentro das calças?
– Um dia sem agilizar uma futura foda é um dia perdido, querida irmã,
agora agiliza. –Diz, me deixando boquiaberta.
É, eu tenho um belo exemplo de filhadaputagem em casa, meu querido
irmão. Minha dica é: nunca se envolvam com ele, o chifre é certo. E o medo
de todos serem como ele também é bem certo em mim. Isso influenciou
significativamente no fato de eu ainda não ter liberado a pepeca, mas aos 18
anos de idade, sinto que está na hora de conhecer o lado negro da força.
Me troco e, em poucos minutos, estamos no elevador. Obviamente que
estou com meus enormes fones de ouvido escutando minha maravilhosa
seleção de músicas, porque ficar ouvindo as merdas do Matheus já é demais
para minha sanidade. Minha mãe surge do além e coloca a mão, impedindo o
fechamento da porta.
– Ei, onde os senhores vão?
– Vamos correr, mãe. – Respondo.
– Vocês dois vão correr? Juntos? – Ela pergunta, arqueando a
sobrancelha.
– Sim. Por que? – Digo.
– Devo me preocupar ou me preparar para alguma merda de grande
dimensão?
– Não, que isso, só vamos correr. – Matheus diz como um anjinho, e
minha mãe sorri.
– Tudo bem. Juízo. – Ela retira a mão e a porta se fecha.
O galã de meia tigela concentra-se única e exclusivamente em seduzir as
mulheres que passam com seu tanquinho e seu v que deixa muito para a
imaginação. Infelizmente, meu irmão herdou a beleza do meu pai e a
seduzência da minha mãe, chega a ser ridículo o tanto de mulheres que
pagam pau para ele. É um novinho sagaz esse garoto.
Tiro meu foco dele e começo a observar os descamisados, afinal,
também sou filha de Deus. Fico brincando de contar gominhos por todo o
caminho, até um cara pegar no pau e balançar por cima da bermuda, que
horror! Será que ele pensou que eu estava olhando para suas partes baixas
cobertas pelo seu short preto da Nike? Não se faz mais homens decentes
nesse mundo. Penso e me repreendo, afinal, o que eu sei sobre homens?
Muito pouco. Sou Ph.D. em moleques piranhas, novinhos como eu, esses eu
domino em alguns aspectos.
Meu celular começa a vibrar constantemente e logo vejo o motivo.
Matheus acabou de me adicionar no grupo do condomínio. Não sei como ele
conseguiu essa proeza em meio a corrida.
Quando não aguento mais correr, coloco minhas mãos sobre os joelhos e
tento buscar ar. Mesmo com os fones de ouvido, consigo ouvir os
xingamentos do meu querido irmão e eu trato logo de mandá-lo para um
lugar nada agradável com um sinal de dedo.
Com a visão turva de tanto cansaço, começo a andar novamente, mas
agora rumo a casa. Foda-se, não nasci para ser fitness, ainda bem que sou
magra de nascença, graçasaDeusamém!
– Cara, não dá, você é péssima. – Matheus diz, arrancando meus fones.
– Estamos a quarenta minutos correndo para você ficar se exibindo,
cansei caramba. Preciso de um banho na mesma proporção que você precisa
de xanas. Se quiser ficar, fique, eu fui! – Digo e saio andando; ele, marrento,
fica.
Torno a colocar meus fones e uma música que amo começa a tocar.
Chego no prédio no piloto automático, entro no elevador, fecho os olhos e
concentro na música até um ser humano puxar meus fones; sem pensar duas
vezes, dou um belo chute no saco de Matheus. Bom, pelo menos eu achava
que era Matheus, e tudo que eu quero nesse momento é morrer, porque o
serumaninho de terno, gemendo de dor com as mãos nas partes íntimas, não
tem absolutamente nada a ver com meu irmão.
– Puta que pariu, caralho! – Digo, e coloco as mãos sob a boca em pleno
estado de choque.
MATHEUS
Tomar banho frio foi bastante reconfortante depois de quase ter tido
minhas bolas arrancadas por uma garota inconsequente. Sim, não preciso
conhecê-la para dizer algo que já é visível, ela é inconsequente. Quem em sã
consciência sai batendo nas pessoas gratuitamente?
"Talvez eu não seja tão garotinha quanto disse". Ok, fisicamente ela não
se parece como uma garotinha, mas com o pouco que vi, tenho certeza de que
não errei ao dizer que ela é uma garotinha. Tudo bem, garotinhas não têm
bunda e pernas bem torneadas ou seios devidamente esculpidos, mas porra,
ela é a maldita de uma garotinha e, mesmo com aquele olhar que entrega uma
cabecinha um tanto quanto perversa, ela não faz meu estilo; mulheres mais
velhas fazem. Mulheres que não esperam um eu te amo, um SMS, flores,
bombons. E não, eu não sou traumatizado ou coisa parecida, apenas tenho
outros objetivos na vida que não envolvem me amarrar a alguém, sou
bastante jovem ainda para compromissos.
Saio do banho com o corpo mais frio, mas a mente ainda está um
turbilhão, e sei bem o porquê. Pela primeira vez, estarei perdendo um pouco
da minha privacidade, pela primeira vez o andar deixou de ser apenas meu e
da minha família, para ser divido com vizinhos que possuem uma filha
desconcertante.
Deito na minha cama em busca do descanso dos justos e me distraio ao
ver centenas de mensagens no grupo do condomínio. Nem sei porque estou
nisso, mas meus amigos insistiram muito. Vou tentando ler as mensagens
passadas até que começo a entender o motivo do alvoroço. ELA. A tal da
Beatriz está a todo vapor fazendo amizades e um tal de Matheus também. De
repente, a curiosidade fala mais alto e eu me vejo dando um oi para o grupo.
"Fala meu amigo, resolveu dar o ar da graça? " – Pedro, um dos meus
amigos, diz.
– "Sim, de vez em quando é bom aparecer. "
"Bê, você vai na festa a fantasia amanhã, não é? Diz que sim. " – Diz
Bianca, uma outra amiga do condomínio. Eu mal me lembrava dessa festa e,
sinceramente, a vontade de ir é zero, mas me lembro que prometi após ter
fugido de três festas.
"Vou." – Respondo, e vejo Pedro me chamar no privado.
Dezenas de mensagens explodem na tela do celular, mas de repente uma
outra janela se abre, e é um convite irrecusável do meu pai para irmos jantar
fora em família. Eles sempre serão minha prioridade.
BEATRIZ
Meu irmão é um gênio da lâmpada. A melhor coisa que ele fez foi me
colocar nesse grupo, já consegui várias amizades desde ontem e agora me
encontro na frente do espelho dando o retoque final na minha fantasia
escolhida com um único propósito: mostrar àquele idiota quem é garotinha, já
que o mesmo confirmou presença na festa. Só me estranha o alvoroço que
causou sua confirmação e, de certa forma, acabei descobrindo um pouco mais
dele. Ele não curte festas, definitivamente. Em que mundo vive?
A porta do quarto é aberta da maneira que só meu irmãozinho faz, mas
dessa vez decido não reclamar, principalmente ao analisar a fantasia dele, se é
que posso chamar disso.
– Traduza sua fantasia, por gentileza. – Peço gentilmente.
– Você vai de burca? – Ele pergunta, chocado.
– Lógico... que não! Mas mamãe e papai não precisam saber disso, não é
mesmo? Minha fantasia está por baixo.
– Cara...
– Nem começa, Matheus, ou vou te sujar com nosso pai. Vamos às
regras. Primeira regra, não fique perto de mim ou vão achar que somos algo
além de irmãos e vai sujar nossos futuros esquemas. Segunda regra, não
deixe de olhar o celular e não esqueça que temos que chegar juntos em casa.
Eu vou te esperar no hall do prédio se eu chegar antes, e você faça o mesmo
caso chegue primeiro. Terceira regra, não banque o irmão super protetor ou
eu vou chutar suas bolas. Enfim, acho que é isso.
– Ah, claro bonitinha, só porque é um pouco mais velha acha que pode
criar regras. Eu espero que não esteja seminua debaixo dessa burca ou a
situação vai se complicar para você, não esqueça que após a última que
aprontou nossos pais não estão para brincadeira. Agora vamos, tenho
mulheres a pegar. – Diz, dando um último confere no cabelo.
O filho da mãe é bonito, mas claro, nunca falarei isso, pois o ego dele já
vale por mil!
Olho uma última vez para o espelho e fico satisfeita comigo mesma.
Respiro fundo algumas vezes e sigo para a primeira festa carioca da minha
vida.
BERNARDO
Quando estou quase chegando ao salão, sou pega pela cintura e levada
para uma sacada que eu nem sabia que existia. Só quando sou colocada no
chão consigo ver quem foi o meu sequestrador e não consigo conter um
sorriso bastante debochado. Por que eu sou transparente demais, por que
Deus?! Não consigo controlar as minhas atitudes, sou o descontrole em forma
de gente. E, ao ver um pouco a cara dele, de quem está travando uma
pequena guerrilha, não resisto e grudo nossos corpos, puxando-o pela gola da
camisa. Só queria entender de onde eu tirei tanta ousadia e safadeza.
– O que você quer comigo? – Pergunto, quase colando minha boca na
sua e fazendo sua respiração falhar.
– Olha, eu devo estar muito alcoolizado por fazer isso, mas tenho uma
proposta. –Anuncia, apertando minha cintura.
– Proposta decente ou indecente? – Provoco.
– Por que você é tão atirada? – Pergunta.
– Eu não sou atirada, essa é minha primeira vez. Agora pare de mimimi
e faça logo sua proposta.
– Ok. Nós... eu quero te beijar, mas vai ser só hoje, só essa noite. Nada
de esperanças, nada de amanhã. Eu não gosto de garotas novas, não quero
relacionamento e muito menos alguém que fique no meu pé. – Ouço
atentamente, absorvendo cada palavra.
– Tudo bem, eu aceito. Mas não quero ninguém no meu pé, não quero
um relacionamento ou crises de ciúmes, e não quero indiretas ou coisas do
tipo. Hoje, apenas hoje. Tudo que você disse a mim vale para você também. –
Digo e ele sorri pela primeira vez. Em seguida, sou encostada na pilastra e
quase comida por um beijo faminto, quase capaz de abalar minhas estruturas.
Quando enfim afastamos nossos lábios, sinto como se o chão fosse ruir a
qualquer momento, ao mesmo tempo que sinto que deveria parar com isso.
Bernardo parece um vulcão expelindo lavas de tão quente. É muita
intensidade, muita "dureza" e isso é algo que não estou acostumada, muito
menos sei como lidar. Eu não sei onde isso vai parar se continuarmos nos
pegando dessa maneira, e sinto até um pouco de medo. Meu lado racional
quer parar, mas o emocional quer sentir de novo todas as sensações que ele
provoca em mim.
Bernardo parecia tão frio...
Ele dá alguns passos e passa as mãos pelos cabelos, já eu me viro e
apoio a testa e as duas mãos na parede. Me sinto encrencada e ridícula por ser
inexperiente e estar com medo, contrariando a imagem que passei a ele de
atirada.
– Sério, você tem mesmo que ficar virada para mim desse jeito? Você
não tem ideia da visão que estou tendo e sua fantasia deixa tudo muito mais
tortuoso. Não acredito que vou falar isso, mas neste momento eu daria muitas
coisas para estar em um lugar privado com você. – Diz, distante, e eu respiro
fundo, me virando em seguida.
– Nossa, cadê o homem certinho e comprometido com o trabalho, que
não sorri e é sério demais?
– Você, com toda sua sagacidade e atrevimento, deveria saber que por
trás de um homem sério e centrado, se esconde um homem completamente
perverso e safado. –Diz, fazendo correr um arrepio frio em meu corpo. Puta
que pariu! Tomar na água! Mexi com a pessoa errada!
– Sagacidade, hein?! – Tento brincar, mas ele não sorri. Apenas se
aproxima como um predador, com um olhar estranho.
– Será que estou brincando com uma garotinha? – Pergunta mais para si
mesmo do que para mim. – Por que eu acho que estava certo sobre você? –
Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e me prende na parede.
– Por que está dizendo isso? – Pergunto.
– Por que você está com medo, é visível. – Afirma.
– Eu não estou com medo.
– Está, eu não erro. Sua postura está dura, você não está nem um pouco
relaxada e entregue. Do que você tem medo?
– Você parece muito sóbrio para quem alega estar alcoolizado. –
Rebato, tentando mudar o foco. – Está desperdiçando nosso curto tempo de
uma única noite para fazer constatações infundadas. – Digo, num ato de
coragem e insanidade.
Afasto-o, vou até um garçom que está mais ou menos próximo, pego
duas doses de não sei o que e viro de maneira que o líquido âmbar desce
queimando meu corpo. Porra! Era disso eu que precisava. Volto feito um
furacão e agora sou eu quem o jogo na parede.
– Você...
– Cala sua boca por favor! Já falou demais! – Corto-o, beijando-o.
Grudo nossas bocas com uma ferocidade sobrenatural. Até mesmo sinto um
leve gosto de sangue na boca, e tento de todas as maneiras colocar em minha
cabeça que é só uns pegas de uma noite que não nos levará a qualquer coisa
próxima a sexo. Dessa vez, estou mais do que entregue, tanto que ele tem que
me conter, pois estamos praticamente protagonizando uma cena quente em
público. Meu corpo está reagindo ao dele de maneira explosiva e assustadora.
Posso sentir minha umidade entre minhas pernas. Eu quero mais do que um
simples pega, é essa a verdade dos fatos. Ele teve o dom de me fazer querer
mais em apenas alguns segundos, enquanto eu namorei meses e nunca senti
isso pelo defunto do meu ex. Eu estou fodida, mas se é por uma noite, irei
aproveitar ao máximo!
Bernardo pega minha mão e sai me arrastando em meio a dezenas de
pessoas na pista de dança. Bianca fica boquiaberta quando vê a cena e eu
sorrio, afinal ela e as demais meninas acabaram de perder a aposta. Eu
consegui o impossível! Sou foda! A vontade é de gritar para o mundo que eu
sou muito foda, cara! Mas a graça acaba quando ele nos leva a um lugar
completamente escuro onde não sou capaz de enxergar absolutamente nada.
– Agora podemos continuar a brincadeira. – Diz, me sentando em uma
espécie de mesa, abrindo minhas pernas e se encaixando entre elas, bem
grudado ao meu corpo. De um jeito que me faz arfar e ficar constrangida por
soltar um leve gemido. Merda, eu nunca havia gemido, essa era a verdade.
– Meu Deus... não faça isso de novo. – Alerta, me deixando
constrangida.
– Por que? Foi sem querer!
– Isso me faz querer ir além do que estamos fazendo. Não repita se não
quiser ir além, por favor. – Adverte, me fazendo engolir a seco antes de ter
meus lábios esmagados pelos dele novamente.
BERNARDO
Quando crio coragem e saio do quarto, vou direto para o andar de baixo
cumprimentar nossos convidados.
Encontro apenas meus pais e os pais da temível Beatriz, e cumprimento-
os educadamente. Eu não sei o que se passa na cabeça da mãe dela, mas os
olhos dela chegam a brilhar quando me vê, como se soubesse de algo. Ela me
olha como se pudesse ver além, é instigante.
– Onde está o restante? – Pergunto.
– Ah, estão na cobertura, achei que já tivesse visto eles. – Minha mãe
diz.
– Não os vi. Vou até lá, me deem licença. – Digo.
– Meu Deus, seu filho é educadíssimo. – Ouço a mãe da Beatriz falando
e não quero continuar escutando onde a conversa irá parar. Se ela soubesse o
quanto cuidei da filha dela ontem, não diria isso.
Subo as escadas novamente indo em busca deles. Os primeiros que vejo
é Vic e Pietro e Matheus, irmão da garota problema, envolvidos num papo
que parece estar interessante já que nem notaram minha presença.
– Olá. – Digo, enquanto dou um beijo em Vic e aperto a mão de Pietro e
Matheus.
– Oiiii irmãozinho. – Vic me abraça.
– Oi, pirralha.
– Fala cara, prazer, sou Matheus. – Ele diz, educadamente.
– Bernardo, fique à vontade. Se precisar de qualquer coisa, peça a um
dos pirralhos. –Brinco, e Pietro me dá um soco.
– Minha irmã está perdida aí pela casa. – Diz, como se eu estivesse
perguntando, e apenas aceno a cabeça.
Procuro por toda a cobertura e não a encontro, só há um lugar que não a
procurei e algo me diz que é lá que ela está.
Abro a porta do jeito mais delicado que consigo e enfim a encontro.
Gostaria de entender o que essa garota está fazendo no meu quarto, mais
especificamente na varanda do meu quarto, olhando como se tivesse
procurando algo e deixando metade da sua bunda a mostra num vestido
completamente indecente e desconcertante. É a maldição do tigre, eu já estou
duro novamente por essa diaba.
Sorrateiramente vou me aproximando. Ela está muito perdida em sua
observação, tanto que não se deu conta da minha presença. Colo meu corpo
ao dela e a vejo estremecer. Mais que rapidamente, ela se vira para me
encarar, mas eu não movo um centímetro do meu corpo, estamos grudados,
mais uma maldita vez.
– Procurando algo? – Pergunto, abaixando o olhar dos olhos para o
decote lateral do vestido dela. Deus, é provocação ou um teste? Eu posso ver
a curva dos seios dela, quero ver mais, agora sem o escuro de um salão de
festa para impedir minha visão.
– Eu não, mas você parece estar. – Diz, mordendo os lábios.
– Sua mãe não ensinou que não se deve invadir o quarto das pessoas?
Pode ser perigoso. – Digo, passando o dedo em seu decote lateral. Porra, é
tentador.
– Depende. O que é perigoso para você pode não ser para mim.
– Você não está facilitando as coisas para mim, Beatriz. Você não
deveria estar no meu quarto usando esse microvestido que deixa pouco para a
imaginação. Sou homem, não sou feito de ferro.
– Quem disse que eu facilitaria? É apenas um vestido simples para um
dia de verão, Bernardo.
– Você quer me provocar, não é? Não bastou me deixar com as bolas
roxas. Por que fugiu ontem?
– Eu... eu não fugi.
– Você fugiu. – Afirmo, olhando em seus olhos.
– Eu só estava perdida, ok? Eu nunca tinha ... eu estava. – Ela fica
completamente sem graça e vermelha.
– Você estava morrendo de tesão porque tinha acabado de gozar nos
meus dedos e ficou com medo de onde isso podia nos levar. – Digo por ela
que abaixa o olhar, e em seguida, levanto seu queixo, fazendo-a me encarar. –
Foi isso, Beatriz?
– Sim, foi.
– Compreensível e contraditória. Ainda assim, perdida e com vergonha,
você acordou com coragem o suficiente para entrar no meu quarto.
– Eu só estava curiosa para saber qual era o seu quarto e para onde ele
tinha visibilidade. – Diz, como se tivesse dito que estava observando o céu
azul. Por que ela está interessada na visibilidade do meu quarto? Totalmente
sem filtro!
– Sério? Não se preocupe, posso pular da minha cobertura para a sua
facilmente. –Brinco e ela fica séria, provavelmente levando a sério o que
acabei de dizer. – E agora? – Pergunto. A verdade é que eu estou me
controlando para não jogá-la na cama e acabar com essa vontade que está me
consumindo. Me sinto como um verdadeiro babaca por pensar dessa maneira,
mas não estou sendo eu desde ontem, então é irrelevante. Certas mulheres
possuem o dom de desestruturar os homens, Beatriz é uma delas, com essa
mistura de garota e mulher, de inconsequente e medrosa, ela vai de tímida a
safada muito rapidamente, parece loucura.
– E agora o que? – Pergunta com cara angelical e eu a encaro. – E agora
vou mudar meu quarto para a cobertura, hoje ainda. – Agora o angelical já
não existe. É uma confusão completa.
– Tudo isso para eu fazer umas visitinhas noturnas? – Provoco e ela cora
facilmente, dá para entender?
– Olha só, vamos ser sinceros. – Diz, me empurrando, e começa a andar.
– Você está duro de tesão em mim agora, é visível. – Ela aponta para minha
bermuda marcada e sorrio. – Pois é, e eu estou molhada de tesão por você,
mesmo que não seja visível. Cara, você é um gostoso do caralho! Entenda,
não se trata de paixão, amor ou relacionamento, mas eu acredito que
possamos, ao menos mais uma vez, dar um pega daqueles como ontem,
pronto falei! Me julgue, querido!
– Quão molhada você está agora? – Pergunto apertando minhas mãos até
meus dedos ficarem brancos, a um passo de cometer uma loucura.
– De 0 a 10? – Pergunta, mordendo o maldito lábio. Desço meus olhos e
vejo seus pequenos mamilos enrijecidos em evidência. Nesse momento não
sei quem sou mais.
– Sim. – Digo, lutando para encontrar controle.
– 8. Seria 10 se eu estivesse... – Porra! Corto-a antes que ela termine.
– Nossos pais estão lá embaixo e nossos irmãos estão bem próximos de
nós. Se você não quiser que façamos uma loucura, aconselho que saia do
quarto agora. E eu estou falando sério, Beatriz. Saia ou vai dar ruim. – Aviso
enquanto ela sorri, me levando a insanidade.
MATHEUS
Dormir com Beatriz não foi uma boa ideia, definitivamente. Agora não
consigo tirá-la da minha mente, não consigo parar de pensar em tudo. Fui
nocauteado por uma garota de 18 anos em apenas dois dias, incrível!
Tomo um banho, visto uma roupa e pego uma fruta antes de sair de casa.
Só há um lugar capaz de fazer com que eu mantenha minha mente distraída e
é para lá que vou.
Já ouviu falar aquela frase clichê "homens e seus brinquedinhos"?
Então, eu me encaixo perfeitamente nela. Não sou o tipo que gosta de
ostentar, mas desde criança sempre fui apaixonado com carros, desde os
clássicos até os modelos mais modernos. Meu Porsche Cayman branco é
minha paixão. Quando entro nele, permito-me ser o jovem que minha mãe
tanto anseia. E como obra do destino, que está querendo me foder sem ao
menos usar um lubrificante, quem eu vejo correndo a poucos metros do
prédio? Ela!!!
Ok, respire! É o que digo a mim mesmo antes de acelerar o carro.
Minutos depois, estaciono em frente ao primeiro abrigo que meus pais
conheceram e tornaram-se proprietários. Sorrio quando todas as crianças
correm até mim, como de costume.
– Oláaaa!!! – Digo, e ouço um monte de "tio Bê".
Dona Ana, a senhorinha que fundou o abrigo, vem até mim com seus
cabelos brancos e seu riso frouxo.
– Filho, que bom que veio! Maria está aqui. – Ela sorri.
Maria foi criada aqui, é um pouco mais velha que eu, e meus pais a
conheceram quando ela ainda era bebê. Hoje é formada em assistência social,
já tem sua casinha, seu emprego, é voluntária do abrigo e uma das minhas
melhores amigas.
– Que bom, estava mesmo precisando falar com ela. Mas, antes vou
jogar uma pelada com esses moleques, alguém está afim? – Pergunto, e os
meninos gritam sim.
Todas as crianças de todos os abrigos que meus pais têm estudam,
possuem acompanhamento médico, psicológico e nutricional, além de
recreadores. Meus pais são pessoas extremamente grandiosas e eu tenho
orgulho disso.
Passo a manhã jogando bola com os garotos, e assim que termino de
tomar um banho, vou atrás de Maria.
– Eiiii, Bê!!!!! – Exclama quando me vê e corre para me dar um abraço.
– Almoça comigo hoje? – Peço.
– Já disse para você que não me envolvo com amigos, Bê. – Brinca. –
Almoço com uma condição, se for no shopping!
– Aff, que coisa irritante. Agora tem condições para aceitar meus
convites?
– Eu preciso de uma boa livraria e só no shopping tem. – Ela faz
biquinho e me convence.
– Tudo bem, chata. Vamos ao shopping.
– Por isso que eu te amo! – Sorrio e, após nos despedirmos de todos,
seguimos para o shopping.
– E então, desabafe. Uma das suas coroas te pegou de jeito e agora está
apaixonado, ou sua mãe continua brigando por você estar se tornando um
velho chato e ranzinza aos vinte anos de idade que só pensa em trabalho? –
Pergunta, dando um leve gole em seu suco. Somos amigos confidentes desde
crianças. Atualmente, ela namora com Pedro, que também era do abrigo e
hoje é formado em enfermagem.
– Está preparada para a bomba? – Pergunto, e ela ri.
– Vá. Diga logo, Bê.
– Eu fiquei com uma garota de 18 anos dois dias seguidos, por sinal ela
é minha mais nova vizinha e não consigo tirá-la da mente. Dormimos juntos
essa noite. – Digo, e ela arregala os olhos. – Só dormimos, ela é virgem. – Ela
engasga assim que termino de falar.
– Isso é sério ou é mais uma das suas brincadeirinhas "vou ser pai”?
– Pior que dessa vez é sério. – Suspiro, frustrado comigo mesmo. É bem
sério.
– Ok. Calma! Primeiro vou rir porque eu sobrevivi para ver este dia. –
Anuncia, rindo, mas ao ver que estou sério, contém. – 18 anos, virgem e em
dois dias mudou sua cabeça? Me apresente, ela merece o Oscar!!!
– Está me ajudando muito, Maria.
– Tudo bem, vou falar sério agora. O que você acha disso tudo?
– Não sei, estou confuso.
– Como vocês dormiram juntos? – Pergunta, curiosa.
– Ela mora na cobertura ao lado da minha. Pulei o muro que separa e
dormimos juntos no quarto dela. – Digo, e ela paralisa. Isso está ficando
ridículo.
– Tia Liz ia amar saber disso. – Ela dá uma gargalhada.
– Você está um pé no saco hoje, sabia? – Está foda!
– Ok, parei, pequeno aborrecente! – Fuzilo ela com o olhar e a contenho.
– Desculpe! Parei mesmo dessa vez. Você quer continuar? – Pergunta, e eu
pondero bastante entre continuar falando ou parar.
Eu quero continuar? Beatriz, pelo pouco que conheci, parece uma
bomba relógio prestes a explodir. Eu quero continuar com isso? Porra, eu
quero! Ela traz leveza para a vida, é transparente e no fundo é só uma jovem
perdida. Ela é doce, linda, gostosa e completamente entregue. Me sinto num
círculo vicioso.
– Não precisa mais responder. Você quer. – Maria diz.
– Querer nem sempre é o certo. – Digo. – Ela tem um lado complicado,
é impulsiva, isso pode dar ruim. E eu não quero um relacionamento.
– Bê, esse lance de relacionamento já virou uma crença limitante sua.
Você já fica com uma pessoa com isso na cabeça, "eu não quero
relacionamento". Isso é errado. Você precisa se deixar levar mais, ir curtindo
um dia de cada vez até ver onde isso pode levá-lo. Se você está gostando de
ficar com alguém, não tem porquê parar apenas para não ter um
relacionamento futuro. Pare de ser tão controlador consigo mesmo. Você se
cobra demais, parece um velho, sua mãe está certa todas as vezes que te cobra
viver mais como um jovem. Agora, voltando sobre a garota, eu acho que dois
dias é muito pouco para você já estar de quatro, você pode estar confuso por
ter gostado de se envolver com uma garota nova e inexperiente. Vou te
aconselhar a ficar uns dias afastado dela, Bê. Só assim você vai conseguir
entender o que está rolando dentro de si. Por mais que ela seja sua vizinha,
como falou, acho que tem como evitá-la ao menos enquanto não tiver certeza
do que realmente quer, ninguém merece ser iludida.
– Você sempre tem os melhores conselhos, mesmo que hoje tenha sido
irritante!
Saímos do restaurante abraçados e, quando dobramos o corredor,
encontramos com Beatriz e a mãe, carregadas de sacolas.
– É ela. – Digo.
– Ela parece não ter gostado de nos ver. – Afirma o que eu já havia
percebido.
BEATRIZ
Ficantes.
Passei a tarde toda decidindo sobre o que é o certo a se fazer diante dos
meus sentimentos. Coloquei todos os acontecimentos na balança, inclusive as
palavras dos meus pais e de Maria, e então cheguei à conclusão que muitas
das coisas que eles disseram é a mais pura verdade sobre mim.
A verdade é que quando acredito em uma certa coisa, só consigo nutrir
minha crença. O meu envolvimento com mulheres mais velhas veio da
adolescência e, por não existir cobranças, sempre foi o tipo de envolvimento
que mais me atraiu. Porém, me dei conta de que sou um covarde que foge de
cobranças e responsabilidades. Eu quero usar as mulheres, não mais que isso.
De repente, me encontro agarrado por uma garota de 18 anos e tudo que
eu sempre achei o certo simplesmente mudou. Acho que esse é o timing
perfeito. Eu realmente preciso me permitir viver novas experiências, Beatriz
com certeza trará a leveza e um pouquinho de adrenalina para meu mundo
controlador.
Ela tem alguns defeitos (não tão defeitos assim) que chegam a ser
engraçados. Beatriz peca pelo excesso de verdade e transparência, é cômico e
um pouco instigante a forma como as palavras saem com facilidade da sua
boca. E ainda tem a mente dela que é extremamente fértil, é bastante
admirável.
– O que vamos fazer agora? – Ela pergunta, me tirando do momento
reflexão.
– Bom, infelizmente eu trabalho amanhã. – Digo, observando-a fazer
uma cara de frustração. Porra, ela é muito fácil de ser lida e eu gosto de irritá-
la. – Mas ainda é cedo, posso pensar em muitas coisas para fazermos. – Ela
muda o semblante instantaneamente e começa até a cantarolar a música que
estamos escutando pela terceira vez. Não sei o que ela tem com essa música.
É do Bastille – Pompeii, acho que nunca mais serei capaz de escutá-la e não
lembrar de Beatriz.
Penso em muitas coisas que poderíamos fazer, só não consigo pensar em
algo que não nos leve diretamente ao sexo. Eu sei que se continuarmos
ficando da maneira quente que estamos, iremos transar muito em breve, mas
a bichinha é impulsiva e não quero que a primeira vez dela seja feita dessa
maneira. Preciso que esteja certa do que quer. Aliás, isso contou na minha
decisão também. Beatriz está no auge da sexualidade e tirar a virgindade de
uma garota exige muita responsabilidade antes, durante e depois. Ao menos
todos os homens deveriam pensar dessa maneira. Agora que propus ficarmos
juntos, provavelmente carregarei essa responsabilidade com muita satisfação.
Puta merda, olha no que estou pensando. Perdi minha bendita mente!
Uma ideia surge e eu mudo nosso trajeto.
– Onde estamos indo? – Pergunta, inquieta.
– Vamos passear na orla e dar “uns pegas”, como você diz. – Respondo,
e ela sorri.
– Ainda não fui a praia desde que cheguei. Caramba, cheguei há quatro
dias e já tenho um ficante fixo. – Diz, rindo.
– Você chegou há quatro dias e já se tornou minha ficante fixa, incrível
e sagaz. Qual é a dessa música, Beatriz? Eu sei que ela é legal, mas já é
quinta vez? Sei lá, perdi as contas.
– Eu estou apaixonada. – Diz, sorrindo, e eu a encaro quase perdendo o
controle do carro. Ela não pode estar falando sério. – Pela música, Bernardo.
Você não é tão homão da porra para que eu me apaixone assim, tão
facilmente.
– Homão da porra? Que diabo é isso? – Pergunto, aguardando as proezas
que vão sair de sua boca.
– Homão da porra é o tipo de homem incrível em todos os sentidos, em
especial na gostosura.
– Se eu não sou homão da porra, então eu não sou gostoso entre outros
adjetivos? –Pergunto, segurando o riso.
– Exatamente. Não te testei sexualmente. – Diz.
– Bom, até onde eu sei você é virgem. Com base em que você saberá se
eu sou tão homão da porra quando fizermos sexo? – Saia dessa, Beatriz.
– Bom ponto. Sabe, eu sou virgem, mas já vi filmes pornográficos, com
base neles eu vou saber se você é bom. – Explica com a facilidade de uma
garota que está lixando as unhas e decidindo a cor do esmalte.
– Calma aí, vou ser comparado a um ator pornô? – Pergunto, chocado
com sua resposta.
– Qual o problema? Está com medo?
– Medo? Beatriz, aqui é a vida real, e não um filme pornográfico. Não
quero uma nota pelo meu desempenho sexual. – Rio da maluquice, e então
ela sorri. Que sorriso perfeito...
– Ok, eu guardo a nota para mim. Ah, e gostoso você é demais da conta.
– Fico lisonjeado, você também é gostosa demais da conta, mineirinha.
– Respondo, enquanto estaciono o carro.
Descemos no mirante do Leblon e nos acomodamos num lugar
privilegiado, onde temos vista para o mar. A brisa e a enorme lua cheia
deixam o clima mais... romântico? Que absurdo!
BEATRIZ
Entramos no carro e quando Bernardo liga o som, Sia explode pelos alto
falantes. O cara é lindo, fofo, gostoso, tem o melhor beijo, a melhor pegada e
ainda tem um gosto musical incrível. Me fode! Aliás, será que ele está me
levando para o abate? Ok, pesado falar isso, mas foda-se, tenho certeza que
ficarei rindo igual hiena por dias depois que ele me abater.
Foda-me, Bernardo!
Resolvo bancar a tímida e comportada, mas me decepciono ao ver a
entrada do condomínio. Ele deve estar de brincadeira com a minha face! Era
para eu estar na balada rebolando minhas nádegas e seduzindo os novinhos,
mas fui a um jantar de ficantes e até agora nem uma apalpada na bunda levei,
é a treva! Vou romper esse acordo de ficante se ele não me beneficiar.
Mentira. Ele é “foda” demais para eu romper isso. Bernardo é o único quem
tem que romper algo, se é que me entendem.
Rompa meu hímen, Bernardo!
– Está vermelha. – Comenta, ao estacionar o carro na garagem. É óbvio
que estou vermelha, o capiroto está habitado em mim nesse momento.
– Você acha, querido? – Finjo doçura e, em seguida, fecho a “face”.
Aliás, gostei desse negócio de “face”, vou aderir para a vida. Bernardo dá um
sorriso sem vergonha e nesse momento eu gostaria de ser um mestre Jedi
(Jedái) para combater a força com meu sabre de luz.
Por que diabos ele tem essas benditas covinhas? Isso me desarma! Vejo
meu sabre de luz imaginário virar fumaça instantaneamente.
Saímos do carro e do nada ele me puxa e sou jogada contra o capô do
carro, sem ter ao menos tempo de raciocinar sobre suas ações. Sua boca se
choca contra a minha numa violência que consigo até sentir um leve gosto
ferroso do sangue.
Que diabo é isso que está acontecendo? Me foda!
Puxo-o pelo cordão e enrolo minhas pernas em torno de sua cintura,
porra, estamos na garagem! A chance de sermos pegos traz adrenalina
demais! As mãos dele estão segurando minhas coxas com tanta força que já
consigo visualizar o hematoma. Foda-se! É como se eu tivesse me jogando de
um penhasco, em plena queda livre, com aquele friozinho delicioso na
barriga. Do nada, baixa o Railander nele e me tira do capô. Então me coloca
de costas para ele e me faz deitar com a bunda empinada para o alto. Fico
parecendo uma meliante sendo revistada, porém com o torso deitado sobre o
carro.
Pelo amor de Deus! Estou de quatro na garagem do prédio!
Ele se abaixa e, lentamente, vai subindo as mãos pelas minhas pernas.
Misericórdia, vem que tem! Bernardo é meio dominador, até combina mesmo
com o Grey. Jovem empresário, tendências dominadoras, controlador...
Hummm, que delícia de criança! Acontece que eu não sou Anastasia Steele.
Aqui é o capiroto encarnado.
Uma mistura de arrepio e ansiedade me fazem rir involuntariamente. Ele
me pega pelos cabelos e me levanta, grudando em minha bunda. Isso contém
meu riso instantaneamente.
– Está engraçado? – Pergunta em meu ouvido e, com a mão livre, aperta
meu seio esquerdo. Puta que pariu, que diabo é isso que eu estou sentindo?
Me sinto uma garota da vida me esfregando nele desavergonhadamente. Meu
riso novamente se esvai e mordo a boca para não gemer, ainda não me
acostumei a gemer livremente assim. – Acabou a graça?
– Aham.
– Isso aí. Menina obediente. – Diz, e começo a me perguntar se ele tem
tendências dominadoras de verdade, sem ser minha mente pregando peças.
Santo Deus... esse homem! Me chicoteie!
Ele vai descendo a mão livre e entra por dentro da minha saia. Quando
se aproxima de onde mais desejo, me solta e retira a mão. Me apoio no carro
e respiro fundo para não mandá-lo para o quinto dos infernos!!!!!!!!!!
Me viro para ele igual a Samara, do filme “O chamado”. Tenho sangue
nos olhos, com certeza. Ele começa a se afastar e eu vou seguindo-o. O sabre
de luz é pouco, o que eu desejo agora tem nome e se chama facão do Jason,
porque eu vou matá-lo lentamente. O filho da puta está andando de costas e
rindo, enquanto eu estou soltando fumaça pelas narinas.
– Você está de brincadeira comigo, eu vou arrancar seu fígado e jogar
seu corpo de um penhasco próximo ao mar.
– Nossa, que assassina em série que estou me envolvendo. – Debocha,
rindo.
– Dá para parar de andar para que eu execute meu plano maligno?
– Você quer ser pega “sendo pega” na garagem do prédio em que
moramos? –Questiona.
– Confuso isso aí, hein?! – Digo, e acabo rindo.
– Vamos assistir um filme na minha casa? – Convida e então anda até
mim. Não acredito que ele está me convidando para ver um filme na casa
dele.
– Como assim, ver filme na sua casa? O que te deu hoje? Está louco?
Fumou orégano estragado?
– Não vai ficar à vontade, não é? Bom, temos o cinema do prédio, como
não vamos assistir filme mesmo, podemos pegar qualquer merda que estiver
disponível. Só preciso pegar a chave na recepção. – Cara, esse prédio e esse
condomínio são um sonho.
– Não vamos assistir ao filme? – Sorrio.
– Só se você quiser. – Informa, me dando a mão, e nos leva até a
recepção. A recepcionista nos dá um cardápio de filmes do Netflix e
começamos a discutir.
– Eu quero “Como eu era antes de você”!
– Não. “Esquadrão suicida” é excelente, você vai gostar.
– Ah para! Filmes de garotinhos eu não gosto.
– E eu não curto filmes de mulherzinha. Para, não vamos assistir
mesmo. – Anuncia alto e eu chuto sua canela com força. – Porra!
– Ele está muito engraçadinho hoje! – Digo à recepcionista. – Vamos
ficar com o “Como eu era antes de você”, no meu caso eu era menos
agressiva antes dele. –Explico. Ele fica calado e a mulher ri.
Bernardo me guia até o cinema e, ao abrir a porta, meu queixo cai. Não
tem cadeiras, mas sim uma espécie de “sofá-cama” onde podemos nos deitar
tranquilamente para assistirmos ao filme ou não. Agora consigo entender o
motivo dele ter dado a ideia de assistirmos um filme no cinema do prédio.
Olho para ele e o encontro prestando atenção em mim enquanto sorri.
– Preparada para o filme? Quando sairmos daqui, quero deixá-la se
questionando pelo resto da noite como era antes de mim. – Anuncia, fazendo
referência ao filme e me fazendo arrepiar.
– Vamos ver quem vai sair daqui pensando isso. – Entro no recinto e
começo a procurar possíveis câmeras. Felizmente, não há vestígios de que
estamos sendo filmados. Bernardo fecha a porta, liga o projetor e apaga as
luzes. Me sento como uma mocinha comportada e ele se junta a mim, me
puxando para o conforto dos seus braços. Na metade do filme, já estou
chorando por saber o final, e Bernardo afasta o suficiente para me olhar nos
olhos.
– Você está chorando. – Afirma.
– Ele vai morrer. Ele escolheu o dia da morte e vai morrer, vai deixá-la.
– É um filme, Beatriz. – Diz, sorrindo, e eu escondo meu rosto em seu
peito.
– Eu sei.
– Por que escolheu esse filme então, garotinha? Não chora. – Diz,
carinhosamente, e levanta minha cabeça, trazendo sua boca até a minha.
Inicialmente, ele me beija com carinho, mas aos poucos a intensidade vai
aumentando e ele vai me deitando. De repente, o ar condicionado parece não
fazer efeito, fica tudo quente demais.
Bernardo se encaixa entre as minhas pernas e gemo ao sentir um pouco
de sua dureza posicionada no local ideal. Sua boca desce para meu pescoço e
o forço a tirar a camisa. Assim que está livre dela, arranca minha saia numa
única puxada e passa a língua pelos lábios ao analisar minha calcinha preta
com uma boa transparência. Me levanto o suficiente para tirar a minha blusa
e ele arregala os olhos pela minha atitude. Aqui tem atitude, querido! Agora
estou vestida apenas com minha roupa íntima e minha sandália.
Puxo-o pelo cordão, trazendo-o para mim, e o beijo. Esse homem
despertou um vulcão dentro de mim. Estou incendiando por dentro.
Enquanto me beija, tento abrir o botão de sua calça e ele se afasta,
facilitando meu serviço. Desço um pouco, mas ele levanta, retira o tênis e a
calça, ficando apenas com uma cueca boxer azul escura. O filho da mãe fica
em pé rindo da minha cara e a louca que habita em mim faz com que eu fique
de pé e o jogue no colchão.
– Agressiva!
– Muito. – Digo, enquanto me posiciono sobre ele, deixando-o
ofegante.
Bernardo deposita as mãos em minha cintura e fica me analisando.
– Você é linda. – Elogia, me deixando corada. Vai traçando um caminho
com o dedo indicador do meu pescoço até a barra da minha calcinha e, em
seguida, enfia uma mão em meus cabelos e me puxa para mais um beijo. Eu
que sou agressiva? Meu senhor... eu preciso tê-lo em mim de todas as
maneiras.
Em questão de segundos, sou levada a vários lugares nesse jogo
delicioso. Já não sei mais quem sou eu ou quem é ele, nos tornamos quase um
só. Às vezes, ele para a pegação e fica me encarando com um brilho nos
olhos indecifrável. Enquanto eu, apenas fico impressionada com o controle
que ele exerce sobre si mesmo. Chega a ser frustrante, quando acho que
enfim vai avançar o sinal, ele se controla. Isso me faz ter mais admiração,
mesmo que fique um pouco frustrada por querer ir direto ao ponto. Como se
pudesse ler meus pensamentos, ele diz:
– Você sabe o quanto eu quero que isso aconteça? – Pergunta, com a
respiração pesada, e eu balanço a cabeça negativamente. – Eu quero muito,
muito mesmo, eu quero que você se lembre para o resto da sua vida desse
momento, Beatriz. Se for mesmo acontecer, farei com que seja num momento
especial. – Diz, e engulo seco pela emoção, ele está falando com tanta
intensidade que consigo ver a verdade através dos seus olhos cor de mel.
– Sim, eu sei que vai.
– Não vai ser numa sala de um cinema ou no seu quarto, vai ser num
lugar especial. Você entende? Por mais que eu adoraria estar dentro de você
agora, eu não posso. Não posso porque respeito você e acho que merece mais
que isso para uma primeira vez. – Diz, passando os dedos pelos meus
cabelos.
– Eu entendo. – Acho que agora estou apaixonada e dessa vez é
verdade...
– Nós vamos continuar brincando e nos conhecendo. Não vamos
combinar, as coisas vão acontecer naturalmente. Quando nos dermos conta, já
estaremos transando. – Oh, meu Deus! Eu estou arrepiada de todas as
maneiras possíveis, por dentro e por fora. Há até mesmo um frio na barriga
incontrolável.
– Tudo bem.
– Devo me preocupar com esse seu lado boazinha e sensata? – Pergunta,
sorrindo.
– Talvez deva, talvez eu só esteja em choque por enquanto e quando a
minha mente voltar a processar as coisas, posso estuprá-lo. Vamos esperar
alguns minutos e ver qual lado meu vai dar as caras. – Brinco, e uma batida
na porta chama nossa atenção. Eu voo do colo dele e começo a me vestir, ele
faz o mesmo.
Quando abrimos a porta, a recepcionista fica nos encarando. Bernardo
olha para mim e balança a cabeça como se não tivesse acreditando. Me olho e
percebo minha saia do lado avesso. Para piorar, passo as mãos pelos cabelos;
eles parecem como uma palha de aço, puta merda!
– É, desculpem. – Ela diz, corada. – É que já são 1 da manhã e era para
ter fechado o cinema meia noite. Por mim poderiam ficar, mas o supervisor
está de olho.
– Tudo bem, já vamos sair, nos dê um minutinho. – Bernardo sorri
educadamente e fecha a porta para que eu corrija a bagunça em que me
encontro. Um verdadeiro lorde.
Enfim fazemos a caminhada da vergonha pelo longo corredor que nos
leva ao elevador. Me sinto mortificada pelo que acabou de acontecer.
– Não foi nada, somos jovens, não somos? Jovens fazem isso, dão uns
amassos ousados no cinema. – Argumenta, na tentativa em vão de me
tranquilizar.
– Com certeza, no cinema da rua e não no cinema do nosso prédio. Você
ao menos sabe o nome dela? Não quero sair de casa quando for o turno dela.
– Anuncio, nervosa.
– Não vai adiantar ficar assim, apenas pense comigo, nós pagamos um
condomínio de altíssimo padrão que muitas pessoas não podem pagar. É do
dinheiro dos nossos pais que saem os salários dos funcionários do prédio,
então apenas relaxe. Não estávamos fazendo nada demais e tenho certeza que
ela vai manter o sigilo. – Diz, me abraçando.
Ao chegarmos no saguão dos nossos respectivos apartamentos, ficamos
parados, nos encarando por alguns segundos, até que ele vem até mim e me
beija carinhosamente, completamente diferente de todas as outras vezes que
me beijou.
– A gente se vê, garotinha. – Diz, se afastando, e eu só consigo pensar
naquela música "nóis se vê por aí" . Balanço a cabeça tentando desanuviar a
mente desse terrível pensamento. Velho, por que caralho minha mente é tão
fértil?
– Tudo bem, nos vemos. – Sorrio, e entro no apartamento. Assim que
fecho a porta, me encosto nela e respiro fundo. O que foi tudo que aconteceu
hoje? Jamais esperei por todos os acontecimentos, foram fortes emoções do
início ao fim!
Sigo para o meu quarto e, ao abrir a porta, dou de cara com a minha
mãe, puta merda!
Ela parece ter saído da capa de alguma revista com seu robe azul
turquesa. Aliás, dona Mariana sempre está deslumbrante. Poderia ir
facilmente para uma balada com esse robe.
– Eu estava estranhando a doutora não estar na sala. – Digo, rindo.
– Vamos, desembuche!
– Mãe, você parece sempre estar indo para uma festa.
– Querida, seu pai é a festa. Você já parou para observá-lo? É festa e um
playground completo. Você tem ideia da quantidade de mulheres que o
desejam? Eu preciso valorizar a mim mesma. Aprenda uma coisa, não
importa quantos anos você esteja casada, nunca se descuide, nunca deixe o
brilho se apagar e nunca deixe de seduzir. Esse é um dos segredos de um
casamento feliz. Modéstia à parte, eu e seu pai fizemos isso direitinho. Agora
que já te dei uma informação valiosa, me conte tudo. – Pede empolgada, e
anoto no meu bloco mental mais uma das informações preciosas de dona
Mariana, deve fazer sentido. Sempre seduzir... é isso aí!
– Ok, não estou namorando mãe, estamos nos conhecendo apenas.
– Aham, tudo bem. E por que vocês não estavam numa balada? –
Pergunta.
– Eu estava indo, mas ele disse que nos levaria a um lugar mais
interessante, e fomos a um restaurante chiquérrimo. O pai dele pelo que
parece é famosinho, aí deu aquilo tudo. – Explico, enquanto começo a tirar
minha roupa.
– E? – Pergunta, arqueando a sobrancelha, e eu reviro os olhos. Ela não
vai sossegar enquanto eu não contar cada detalhe.
– Ok mãe, e aí fomos e ele me fez uma proposta de continuarmos
ficando e nos conhecendo melhor, e eu aceitei, mas não é nada sério. – Ela
bate palminhas, demonstrando empolgação.
– E como você se sente sobre isso?
– Me sinto anestesiada, mas bem.
– Então não tenho um genro ainda? – Pergunta, me abraçando.
– Não mãe, não tem.
– Tudo bem, a esperança é a última que morre. – Ela sorri. – Se precisar
conversar, mamãe está aqui.
– Eu sei, você é a melhor.
– Te amo muito filha, muito mesmo. – Diz, e eu a abraço forte. –
Amanhã vamos fazer um programa de meninas? – Pergunta, sugestivamente.
Nosso programa de meninas é ir fazer compras, ir ao salão e se acabar de
comer no Mc Donalds, eu amo.
– Vamos. – Respondo. – Cadê Matheus?
– Não sei se já dormiu ou está vendo alguma série.
– Oh. – Respondo, perplexa pelo fato dele estar quietinho em casa. Ele
não pôde ir a boate por ser menor, mas também nem demonstrou interesse em
burlar regras. Deve estar doente, no mínimo.
– Deve estar sentindo falta dos amigos. – Explica, e me dou conta de
que ainda não tive muito tempo de sentir falta de nenhuma amiga.
– Eu estou gostando daqui. – Informo, fazendo-a sorrir abertamente.
– Claro que está!
– HAHAHA engraçadinha. – Sorrio de volta.
– Bom, vou dormir filha. Até amanhã. – Me dá um beijo na testa e sai.
– Até.
...depois de muito pensar e um bom banho frio, durmo.
...
Não preciso terminar de descer os degraus para perceber que meus pais
já estão ligados nos 220 volts. Chego até a sala e minha mãe está deitada no
sofá enquanto meu pai está em pé, descompassado.
Matheus chega no mesmo momento, completamente descabelado e sem
entender nada, igual a mim. Ele faz um gesto com os olhos e eu levanto meus
ombros. Também não sei o que aconteceu, mas uma coisa é fato... minha mãe
aprontou!
– Bom dia. – Me arrisco a falar e eles respondem automaticamente.
Matheus me encara e eu já sei que é para tomar partido. – Tá, o que minha
mãe fez? – Pergunto, enquanto caminho até a mesa onde está nosso café da
manhã. Pego um pão de queijo e suspiro, nada como morar num prédio que
tenha serviço de hotelaria, não quero imaginar o que mamãe faria de café da
manhã.
– Sua mãe está grávida. – Ele diz e eu engasgo, cuspindo o pão para
todos os lados enquanto Matheus esmurra minhas costas. Me levanto e dou
um chute nele, filho da vaca.
– Seu idiota!!!!!!!!!! – Grito, e ele ri.
– Você é maluco, Arthur? Eu não estou grávida e você está falando isso
para as crianças. – Ela esbraveja, se levantando e encarando meu pai. É o
duelo do século.
– Eles não são mais crianças e você está grávida sim. – Ele diz,
apontando o dedo na cara dela, e eu e Matheus apenas ficamos assistindo o
empasse de camarote. Adoro eles brigando, são os mais engraçados. Mas
grávida? Santa virgem!
– Não estou não, já estou muito velha para estar grávida, Arthur, já
temos Beatriz com 18 anos e Matheus com 17, se não engravidei em 17 anos,
não é agora que vou ter engravidado.
– Ok! Pessoal, beleza! Pai, de onde você tirou essa teoria de que mamãe
está grávida? Entro na frente dos dois e cruzo os braços, esperando uma
resposta. – Meu pai me encara, perplexo.
– Você é a mini cópia da sua mãe, né? – Diz e até dá um sorrisinho,
como se estivesse orgulhoso por isso. Então seu sorriso morre e ele começa a
dizer. – Pois bem, dona Beatriz, sua mãe além de estar atrasada, está com
enjoo matinal, comendo mais do que o normal e está me consumindo. –
Informa.
– Arthur, meça suas palavras. – Ela alerta e eu já entendi qual é a do
consumismo.
– Oh, não fizemos um filho rezando, Mariana. – Exaspera, e meu irmão
solta uma gargalhada em alto e bom som. Porém, ao ver todos o encarando,
ele contém o riso no mesmo momento.
– Desculpa! – E voltamos nossa guerra em trio. Agora fico de costas
para o meu pai e encaro minha mãe.
– Mãe, você está grávida! – Anuncio, e meu pai bate palmas.
– Até que enfim alguém para entender o que eu digo, e depois teremos
uma conversa, mocinha. – Diz para mim.
– Pai, não é sobre mim agora. – Respondo, me safando, e ele respira
fundo.
– Parem, apenas parem. Vá trocar de roupa Beatriz, temos um dia de
meninas e preciso sair antes que eu enlouqueça.
– Você só sai dessa casa passando por cima de mim, Mariana! Nós
estamos indo fazer a porra de um exame!
– Me obrigue! – Ela diz, ficando de pé e vindo duelar com ele por cima
de mim. Eu saio de fininho do meio dos dois porque o pau vai quebrar real.
Ninguém merece!
– Não faça eu perder a cabeça!
– Ah é? O que você vai fazer? Greve? – Ela diz e eu fico me
perguntando que diabo de greve é essa. Eu já até imagino... merda... eles são
muito sexuais!
– Matheus, vá trocar de roupa! – Meu pai diz, ainda encarando minha
mãe.
– Para que? – Matheus pergunta com o pão parado no ar.
– Nós vamos ter um dia de homens.
– Aff. – Digo, não entendendo mais nada dessa vida. Me sinto num
manicômio. Matheus segue o mandamento do nosso pai e sai.
Minha mãe sai em seguida pisando duro e, segundos depois, ouço a
porta do quarto batendo, provavelmente o prédio todo escutou. Meu pai passa
as mãos pelos cabelos exasperado. Em seguida, pega o celular e digita
algumas coisas, pega o telefone fixo e disca alguns números.
– Bom dia, eu quero dez testes de gravidez... pode ser cinco de cada...
Mandarim, apartamento 1402... Arthur... débito... ok.
– Pai, dez testes? – Pergunto, chocada.
– Sua mãe só funciona dessa maneira, filha. – Comenta e sorri. – Será
que teremos outro bebê? – Pergunta, com brilho nos olhos e cheio de emoção.
Cara, eles são lindos demais!
– Não sei. São tantos acontecimentos que não consegui raciocinar
ainda.
– Por falar nisso, que porra é essa de namorado? – Pergunta, e me
arrependo da última coisa que falei. Nem estava lembrando desse assunto
mais.
– Não estamos namorando, só nos conhecendo, pai. – Opto pela
sinceridade e aguardo sua reação.
– Pelo menos é um menino de família, trabalhador. Tem minha benção.
– Diz, me deixando perplexa. – Mas estou de olho na senhorita!
– Tudo bem, pai. – Digo, sorrindo, e o interfone toca. Dois minutos
depois, o entregador chega com uma sacola de testes e meu pai paga. Ele
fecha a porta e olha para mim.
– Bom, agora é hora de cutucar a onça com vara curta. Me deseje sorte!
– Pede, sorrindo.
– O senhor sabe lidar com a mamãe, vai se sair bem.
– Vou ter que amarrá-la à cama antes de mostrar os testes. – Anuncia
rindo, e eu concordo.
– Faça isso. – Ele sai e eu volto a mesa do café. Que Deus nos proteja da
fúria de dona Mariana. Será que terei um irmão ou uma irmã? Puta que pariu!
Minha mãe vai ficar mais surtada que já é!!!
Um bebê não seria nada mal!
BERNARDO
Puta merda!
Sardinhas bonitinhas é a mais linda desse lugar.
É a primeira vez em toda minha existência que sinto meu coração bater
tão forte e não é pela adrenalina que o tesão traz. Eu nunca a toquei, nunca a
beijei, nunca transamos. Isso me faz crer que essa garota tem um poder
hipnótico que nenhuma outra possui.
É inaceitável!
– Ei! – Ela sorri assim que me acomodo ao seu lado na mesa.
– Ei, sardinhas bonitinhas.
– Você cismou com isso. – Diz, revirando os olhos.
– Você não seria tão linda sem elas. – Digo, e seguro sua mão
minúscula. – Suas mãos são delicadas. Amei a cor do seu esmalte. – Ela ri e
balança a cabeça, como se estivesse negando algo a si mesma.
– Você é muito legal, estou gostando de ser sua amiga.
– Sou o melhor amigo que você poderá ter nessa vida. – Sorrio, piscando
um olho.
– Suas covinhas são fantásticas. – Afirma. – Então, me conte um pouco
sobre a capital mineira... – Pede, e então passamos horas perdidos
conversando sobre capitais, países. Assim, do nada, a conversa apenas vai
fluindo. Eu passaria o resto da noite conversando com ela.
Victória é tão inteligente, culta, levemente divertida.
Além de ser linda e gostosa.
Na verdade, acho que inteligência é o que ela possui de mais lindo.
Ela é hipnótica... Eu estou fodido!
BEATRIZ
Você percebe que está fodida quando a pessoa some a porra da semana
toda e quando aparece, você, ao invés de ficar puta, fica completamente boba
parecendo uma apaixonada.
Não poderia ser diferente, merda; ele é realmente apaixonante, e está
cantando uma música romântica em meus ouvidos. Logo eu... a anti-
romance!
– Você sabe a tradução? – Pergunto e ele balança a cabeça
afirmativamente. Puta que pariu, se ele sabe a tradução e está cantando para
mim, isso pode significar muitas coisas. – É uma declaração? – Pergunto
olhando em seus olhos, e ele sorri. Em seguida, me puxa ainda mais para seus
braços e continuamos dançando o resto da música como se estivéssemos
apenas eu e ele no salão.
Assim que acaba a música, ficamos parados no meio do salão e ele fica
me observando atentamente, sem esboçar qualquer reação. Após longos
segundos angustiantes, ele quebra o silêncio.
– Você está certa das suas vontades em relação a mim ou sou apenas
uma ficada, como você mesma diz? – Uau. Que pergunta. Que isso, Brasil...
Socorro Jesus!
– Por que esse questionamento? – Indago, curiosa.
– Porque quero fazer algo que depende da sua resposta. – Responde,
seriamente.
– Sexo? – Pergunto mordendo os lábios, e ele sorri. Ok, eu só penso em
sexo com ele e nem mesmo compreendo o motivo disso. Esse homem ativou
minha sexualidade.
– Está incluso no pacote. Vem, vamos ter essa conversa num lugar mais
tranquilo. – Ele me pega pela mão, pega uma garrafa de champanhe, me
entrega duas taças e, em seguida, nos leva para o lado de fora do salão, onde
há um enorme jardim.
Nos sentamos em um banco de ferro e ele abre o champanhe, nos
servindo. O líquido frio desce pela garganta e alivia um pouco do calor.
– Devagar com isso, mocinha. – Repreende, enquanto volta a encher
minha taça. O que é champanhe perto das bebidas que estou acostumada? Ele
não sabe de nada, inocente! Desce uma Cîroc, companheiro! Só me
contenho porque tenho que pagar de moça bem-comportada.
– Preciso muito mais que champanhe para ficar alcoolizada. – Informo,
fazendo-o sorrir.
– Se você está dizendo. – Diz, e volta com seu olhar enigmático.
– Por que está me olhando dessa forma, como se eu pudesse te dar
respostas?
– Gosto de te olhar. Você fica corada e tímida. E, além disso, preciso de
algumas respostas realmente, Beatriz. Eu sei o que quero, preciso saber se
você quer o mesmo. – Confessa e então toma um gole de champanhe.
– O que você quer, Bernardo? – Pergunto, enquanto ele passa o polegar
pelo meu lábio inferior.
– Você. – De forma direta, responde.
– Eu estou aqui, você me tem.
– Eu preciso saber se você quer continuar com isso que estamos tendo
ou se devemos parar por aqui. – Explica. Por que ele é tão sério e centrado?
– Não é óbvio para você? – Pergunto, arqueando as sobrancelhas, e o
vejo sorrir.
– Não tanto. – Responde.
– O que mais eu preciso fazer? Eu já deixei você me tocar de maneiras
que nunca ninguém ousou tocar antes, já me ofereci a você. Eu quero você,
não é tão óbvio?
– Eu sou um jovem garoto velho, Beatriz, sempre fui sério, centrado.
Você possui 18 anos de idade, e é cheia de vontades de viver pelo que já
percebi. Não quero que se prenda a mim se não for do seu interesse, essa é
minha preocupação. Eu quero conhecê-la mais e melhor, ir mais a fundo; para
isso, eu preciso saber se você quer o mesmo. E, antes que pense, eu não quero
que se torne uma jovem garota velha como eu, nós podemos conciliar nossas
vontades, não quero mudá-la. – Diz, e eu termino de virar mais uma taça de
champanhe. Não sabia que a conversa chegaria a um ponto mais sério. Nós
não seríamos apenas ficantes? Ficantes são vida louca! Mas eu o que quero, o
quero demais, nem sei mesmo o porquê de o querer tanto, mas quero.
– Sinceramente, não estou entendendo bem ao certo onde você quer
chegar com essa conversa séria, mas de qualquer maneira eu quero que vá
fundo comigo, quero continuar com você, e não quero mais ficar uma semana
toda sem vê-lo. – Digo essa última parte completamente sem graça, e o vejo
sorrir.
– Sendo assim, preciso ir conversar com seu pai. – Diz, num tom
decidido. Eu abro a boca e a fecho vezes seguidas. O que ele quer conversar
com Arthur Albuquerque?? Ele se levanta e oferece sua mão; com relutância,
entrego a minha. Sou puxada para seus braços e beijada intensamente. Seus
lábios são firmes e exigentes, capazes de deixar meu corpo mole em questão
de segundos. Quando se afasta, tento recuperar o fôlego e a sanidade.
Sangue de cordeiro, pena de pavão, vai me foder hoje sim ou não?
Ele volta a nos guiar para dentro do salão, um pouco apressado, e tento
entender qual será sua próxima ação:
– Bernardo, o que você vai fazer?
– Estou indo chamar seu pai para uma conversa. – Responde, decidido.
– Que tipo de conversa?
– Apenas sente-se com nossos familiares e aguarde enquanto converso
com seu pai, ok? – Aconselha com segurança e adentramos ao salão.
Chegamos até a mesa e novamente sou surpreendida por sua atitude:
– Podemos trocar uma palavrinha, Arthur? – Intima meu pai e minha
mãe me olha em completo estado de choque.
– Claro. – Meu pai concorda, se levantando sobre o olhar curioso de
todos que estão na mesa, incluindo os pais e irmãos de Bernardo.
Eles saem e eu me sento ao lado da minha mãe. Todos estão me olhando
curiosamente, parece cena de novela mexicana.
– Tudo bem, não vamos ser hipócritas, não é mesmo? – Minha mãe diz a
todos e volta seu olhar a mim. – Conte-nos tudo, por favor! Tenho certeza
que todos aqui estão curiosos.
– Bom, garotos, acho que é uma conversa de mulheres, devemos nos
retirar Matheus e Pietro. – Bernardo “paizão delícia” sugere se levantando, e
Pietro o acompanha, juntamente com Matheus.
– Então... – Eliza parece mais ansiosa que minha mãe.
– Não tenho a menor ideia do que se trata essa conversa. Estou tão
curiosa quanto vocês. – Desabafo e bebo uma taça de champanhe que estava
na mesa.
– Nem uma desconfiança do que seja? – Eliza volta a perguntar.
– Absolutamente nada. Nós dançamos, depois tivemos uma conversa um
pouco séria que foge um pouco do nosso combinado e ele simplesmente disse
que precisava falar com meu pai e estou no escuro, não tenho a menor ideia,
de verdade. – Respondo.
– Que saco isso! – Minha mãe suspira, exasperada. – Teremos que
esperar então, odeio esperar.
– Também odeio. – Eliza concorda.
– Vic, vamos dançar? – Pergunto, e Victória levanta no mesmo
momento. Não aguento ficar esperando, preciso de algo que me distraia.
BERNARDO
Eu não respondo, apenas levanto num salto e vou direto para o banho.
Em menos de duas horas, estarei dentro de um avião embarcando para uma
viagem que promete ser quente. Mal posso me conter!
Saio do banho e escolho uma roupa confortável para encarar dez horas
de voo. Desço as escadas numa empolgação e encontro meu pai e minha mãe
já acomodados na mesa me esperando.
– Bom dia. – Eles dizem em uníssono.
– Bom dia.
– Venha tomar seu café, filhota, precisa se alimentar bem antes da
viagem. – Minha mãe diz e meu pai fica com o queixo apoiado nas mãos, me
encarando.
– Já conferiu seus documentos, passaporte? – Ele questiona e morro de
dó... tadinho.
– Sim pai, está tudo certo. – Respondo. Do nada ele me entrega dois
cartões, um de banco e um plano de saúde internacional.
– É internacional e sem limites, acho que dá para aproveitar sua viagem.
Não hesite em gastar e não saia de casa sem o cartão do plano, use para o que
for preciso, Beatriz.
– Tudo bem pai, obrigada e fique tranquilo, sou mais ajuizada do que
parece.
– Eu acredito nisso ou não deixaria você ficar tanto tempo fora, em
outro país. – Ele suspira. – Minha garota cresceu. – Eu quero abraçá-lo agora,
mas sei que irei chorar se o fizer.
– Sim amor, ela cresceu e virou uma linda mulher, nosso homenzinho
está dormindo lá no quarto e talvez tenha um bebê dentro da minha barriga. É
a lei da vida. Filhos nascem, crescem, procriam... – Minha mãe diz, tentando
quebrar o clima sentimental, e meu pai arregala os olhos.
– Não procrie agora ou eu te deserdo, Beatriz. – Ameaça, me fazendo
rir.
– Não vou procriar tão cedo pai, não se preocupe, de verdade!
Meia hora depois, estamos todos no saguão do nosso andar. Eu, minha
mãe, meu pai, Bernardo, Eliza e Bernardo pai. Talvez seja interessante eu
inventar um apelido para distinguir Bernardo de seu pai.
– Bom dia. – Ele diz e beija minha testa, mostrando que é um bom moço
para nossos pais. Falso puritano do caralho!
– Animada para a viagem? – Eliza questiona me abraçando e,
sinceramente, ela parece muito mais animada que eu mesma. Enfim, alguém
tão empolgada quanto minha mãe.
– Bastante. – Respondo feliz quando o elevador chega.
– Desçam vocês primeiro que eu e Beatriz descemos com as malas em
seguida. –Bernardo diz e todos concordam com sorrisinhos nos lábios.
Assim que as portas se fecham, ele me joga na parede e me beija com furor.
Pena de avestruz pena de faisão me come agora na pressão!
– Meu Deus, você não pode me beijar dessa maneira aqui. – Digo,
tentando me recompor. – Você é um grande safado que se faz de santo perto
dos meus pais.
– Se quiser, eu posso ser um garoto comportado, basta falar. – Anuncia,
se afastando, e eu o puxo.
– De jeito nenhum, só não vou conseguir trocar a calcinha nas próximas
horas.
– Está molhada? – Pergunta, com as bochechas coradas e me olhando
fixamente. Estou tímida... sério.
– Você fica desconcertante me olhando assim.
– Você fica linda quando não sabe o que dizer. – Diz, sorrindo.
– Eu espero que essa viagem tenha sido decidida levando em conta fins
sexuais, de verdade. Não quero ficar frustrada em plena Nova York. –
Informo e o elevador chega novamente. Bernardo fica calado e coloca nossas
malas dentro, e em seguida eu entro.
– Cara, para que tanta roupa? – Questiona.
– Você quer andar com uma mulher feia? Preciso de roupas. Bom que
você só está levando uma, aí lá podemos comprar outra mala para trazermos
coisinhas.
– Não vá me fazer entrar em todas as lojas. Não estamos indo para fins
comerciais, Beatriz.
– Então são sexuais? – Provoco, e ele ri.
– Estou muito fodido nessa viagem. – Afirma, rindo. É bom que ele
saiba disso...
– Você não, mas eu pretendo ficar e não vou jogar limpo. – Vejo o
sorriso sumir de seu lindo rosto na mesma hora e agora sou eu quem rio.
– Virgem só no ato, né? Porque você fala cada coisa que beira ao
absurdo, como se eu não soubesse que você está se borrando de medo de
chegarmos às vias de fato.
– Não estou com medo. – Minto, e ele ri.
– Tudo bem, acredito. – A porta se abre e, em minutos, estamos dentro
dos respectivos carros. Ele com os pais e eu com os meus pais.
Quando chegamos ao aeroporto, é chegada a hora do show de dona
Mariana, que me abraça morrendo de chorar.
– Nunca fiquei tanto tempo longe da minha filhote. Prometa que vamos
conversar por Skype e que vai me ligar todos os dias?
– Prometo, mãe. – Digo, e meu pai se junta ao abraço.
– Se comporte filha, tenha juízo e volte para mim inteira, por favor.
Você é tudo que eu tenho de mais precioso na vida. – Ele diz, e então começo
a chorar. Merda.
– Merda, vocês podem parar? É só uma viagem. Eu amo vocês!!!
– Tudo bem, não quero que borre a maquiagem. Se cuida, filhote. –
Minha mãe... ela é a melhor!
Em seguida, é a vez de despedir dos pais de Bernardo e ouvir vários se
cuidem, nos ligue e bla bla bla.
Bernardo está com as nossas malas em um carrinho e me oferece o
braço.
– Preparada? – Pergunta com as covinhas a mostra, e eu balanço a
cabeça afirmativamente.
Entregamos nossas passagens e, após a verificação, somos liberados
para a verificação de segurança. Após deixarmos as malas na esteira e
fazermos todos os procedimentos, caminhamos até o terminal de espera onde
nos servem champanhe. Ulalala!
– Já vai a bebum beber de manhã cedo. – Bernardo brinca, enquanto
bebe uma água com gás.
– Precisamos aproveitar as vantagens da primeira classe, mon'amour.
– Sinceramente, não via a hora de ficarmos sós, longe de toda a melação
dos nossos pais. – Diz, me surpreendendo.
– Tenho que concordar.
– Quem diria que eu estaria viajando com a garotinha. – Suspira, rindo.
Pelo alto falante, anunciam nosso voo, e o frio na barriga aparece na mesma
hora. Termino de tomar meu champanhe e Bê me dá a mão para
caminharmos ao embarque.
Uma van nos leva até o avião e, quando entramos, meu queixo cai. O
avião é extremamente luxuoso e eu tenho certeza de que vou me esquecer que
estou dentro de um meio de transporte. Porém, os assentos são separados e
isso me deixa um pouco incomodada.
– Não tinha assentos juntos. – Bê explica ao ver minha expressão.
– Tudo bem. Vamos passar 15 dias juntos. – Na verdade, eu sempre
tenho receio de voos, mas decido não comunicar isso a ele ainda.
– Estou ansioso para chegarmos. – Confessa com um olhar cheio de
promessas. Eu estou em pânico de tanta ansiedade.
– Vira uma cama, não é? – Pergunto me referindo ao assento, e ele
confirma.
– Sim, tem botões de instruções. Podemos ir assistindo filmes, fora o
serviço de bordo, é incrível.
– Você sabe de tudo?
– Eu quis o melhor e mais confortável para você. – Diz timidamente e eu
o beijo.
– Eu... você... – Ele coloca o dedo no meu lábio, me impedindo de falar.
Outros passageiros se acomodam em seus lugares e fazemos o mesmo.
A comissária indica todos os procedimentos de rotina aos passageiros e,
ao decolar, seguro em suas mãos. É horrível.
– Tem medo? – Pergunta, sorrindo.
– Só da decolagem. Me dá nervoso. – Digo.
– Estou aqui, vai ficar tudo bem já. – Diz me transmitindo segurança, e
eu fecho os olhos; mais por medo dos sentimentos que estou tendo por ele do
que pela decolagem. Que inferno! O cara é perfeito demais!
BERNARDO
Bernardo está parado na porta, ora olhando para o quarto ora olhando
para mim, com um olhar indecifrável. É a primeira vez que terei o privilégio
de ter esse quarto para mim e o prazer de dividi-lo com ele.
– Então? – Pergunto, conseguindo sua atenção juntamente com um
sorriso promissor.
– Essa cama, essa cadeira e essa vista são perfeitas. Esse é o nosso
quarto? – Pergunta, colocando uma mecha dos meus cabelos atrás da minha
orelha.
– Só se você quiser. – Explico. Ele me encosta no vão da porta e me
beija carinhosamente.
– Irei até a rua comprar algumas coisas. – Informa, mudando o foco
todinho da situação. Talvez ele esteja querendo ganhar tempo.
– Tenho certeza que a geladeira está abastecida, sempre quando vamos
vir minha mãe avisa a senhora que cuida daqui para comprar coisas. Você
está querendo fugir de mim? – Pergunto, fazendo-o rir.
– De forma alguma Beatriz, fui eu quem inventei essa viagem. Só quero
criar um clima mais gostoso antes de levá-la direto para a cama. Quero
comprar um bom vinho e mais algumas coisas.
– Camisinhas? – Pergunto, e ele ri ainda mais.
Não vou usar camisinha com você, não na primeira vez. – Diz, como se
eu tivesse acabado de falar um absurdo.
– Você sabe ao menos se faço uso de anticoncepcional? Me questionou
se quero isso?
– Não faço a menor ideia, mas na primeira vez eu quero te sentir por
completo e não vai existir nada entre nós. – Ele me convence com seu
sorriso promissor.
– Nós vamos... você sabe... hoje? – Pergunto, com muita vergonha. Puta
merda, isso é humilhante.
– Fazer sexo, foder, fazer amor? Talvez. Não temos que planejar, apenas
deixar as coisas acontecerem. Não pense tanto nisso. Relaxe, tome um banho
enquanto vou em busca de bebidas. Tudo bem? – Incentiva de forma
carinhosa.
– Sim.
– Apenas relaxe, Beatriz, você está exalando tensão. Não vamos planejar
e nem forçar nada, ok? Não a convidei para essa viagem pensando apenas em
sexo, a convidei para passarmos alguns dias juntos e poder conhecer um
pouco mais da menina mulher que tem tirado meu sossego e mudou meus
padrões. Não sou tolo de dizer que não quero transar com você, é óbvio que
quero, mas se fosse só sexo eu a teria levado para um motel na nossa cidade e
gasto muito menos que uma viagem internacional. Nós não estamos aqui para
transar, estamos para conhecermos um ao outro. Sexo pode vir a ser uma
consequência de tudo, mas não é o principal, tenha isso em mente. –
Surpreendente! Coisa mais linda, gente! Estou babando e não é só pela
boca...
– Ok. – Digo, depositando um beijo demorado em seus lábios.
Ele enfim se afasta e segue rumo a sua fuga, sim, isso é uma fuga, eu
sei. Aproveito e vou até a sala pegar minhas malas.
Tomo um banho quente e demorado, sorrindo como uma idiota e
pensando em todos os acontecimentos surreais.
Assim que termino de me vestir, pego meu celular e vou para a sala ligar
para meus pais enquanto o bonitão não chega. Minha mãe atende no primeiro
toque e eu me encosto na grande janela enquanto conversamos.
– Filha, acabei de falar com Bernardo, ele nos ligou para avisar que
chegaram bem. – Ela diz empolgada e eu fico surpresa por ele ter ligado.
– Ah sim, ele foi até a rua, não sabia que iria ligar. – Digo.
– A geladeira está devidamente abastecida? – Eu aposto que está!
– Mãe, eu não vi ainda, mas com certeza deve estar, não precisava se
preocupar.
– Seu pai está mandando um beijo, se cuide ok? Fique bem e relaxe
filha.
– Está bem, mãe, manda beijo para todos. – Encerro a ligação sorrindo.
Vou até a cozinha e na geladeira mal tem espaço, está além de
abastecida. Há até mesmo duas garrafas de vinho e algumas cervejas. Tendo
em vista que preciso relaxar, abro uma long neck e bebo a cerveja de uma só
vez. O líquido estupidamente gelado desce congelando tudo por dentro e eu
abro uma segunda, repetindo o mesmo feito anterior. Na terceira garrafa, a
porta se abre e meu príncipe sem cavalo branco entra com duas sacolas
enormes.
– Demorou. – Digo, sorrindo, e me sento no balcão enquanto ele coloca
as sacolas no mesmo.
– E a senhorita estava bebendo sem me esperar. Vou tomar um banho e
venho guardar as coisas.
– Pode deixar que eu guardo tudinho. – Informo sorrindo e ele me
encara.
– Pegue leve com a bebida. – Diz, de forma repreensiva.
– Ok, papai. – Reviro os olhos.
– É sério, Bia.
– Não me chame de Bia, já falei. – Ameaço, e o filho da mãe sorri.
– Beatrixxxx. – Diz me irritando e sai para o banho.
Abro as sacolas e me surpreendo com a quantidade de chocolates e
bebidas que ele comprou. Luto para tentar organizar as bebidas na geladeira
que está lotada e depois de muita técnica consigo guardar tudo. Pego um
snicker e como, enquanto bebo mais uma cerveja observando a paisagem pela
janela. Falei sério quando disse a ele que meu sonho é morar aqui. Talvez eu
deva pensar nisso melhor e vir estudar aqui. É um ritual virmos uma vez ao
ano para cá passar férias, e ter que voltar às origens é sempre extremamente
ruim após passar dias no paraíso.
Ao me dar conta, já se foram seis cervejas e quando estou partindo para
a sétima, Bernardo chega na sala apenas de toalha e eu me perco nas gotas de
água escorrendo pelo seu peitoral.
– Bonito, que bonito hein... – Digo. – Não existe a menor chance de me
manter virgem essa noite, você sabe disso, não sabe? – Anuncio. Vou foder
com esse homem pra caralho. Quero nem saber de hímen!
– Você está parecendo uma maníaca me olhando dessa maneira. – Ele ri,
pegando sua mala.
– E você está um tesudo andando pela casa dessa maneira. – Respondo e
viro mais um gole de cerveja. Nossa senhora da perdição e dos gominhos
trincados, me salve!
– Olha, ela está atirada, voltando às origens! – Provoca, rindo, e sai para
o quarto de novo. Puta que pariu nesse homem! Ele é muito gostoso!
Quando volta, está com uma bermuda e camiseta preta, e eu estou
completamente sedenta nele.
O interfone toca e ele o procura até encontrar, fala algumas palavras e
volta ao balcão, entrando entre minhas pernas.
– Nosso jantar chegou.
– Oh, pensei que ia me mostrar seus dotes... – Digo, sorrindo. –
Culinários, é claro.
– Eu me lembro de ter dito para você parar de beber. -Repreende mais
uma vez.
– Eu não estou nem perto de estar alcoolizada, não se preocupe.
– Vai ser mais difícil do que imaginei a convivência, acho que vou
começar a beber também. – Avisa sorrindo.
– Acho que seria uma boa ideia, podemos beber algo mais forte, tipo o
whisky que você comprou, ou alguma bebida diferenciada com a vodca e as
frutas que têm na geladeira.
– Você está sem sutiã. – Percebe, encarando meus seios através da
camiseta branca. Não foi proposital.
– Não foi por maldade dessa vez. – Explico, e a campainha toca.
– Ok, vou pegar nossa comida.
Ele vai até a porta e eu termino minha cerveja. Realmente vai ser
bastante complicada a convivência, preciso logo acabar com a “barreira” que
impede nossa felicidade completa e bolar algo que o faça pensar menos.
Ele volta e abre uma enorme embalagem com uma massa.
– Lasanha de presunto com ricota e um bom vinho, o que acha? –
Pergunta, sorrindo, e meu apetite dá sinal de vida.
– Acho excelente! – Me levanto, pego os pratos e talheres enquanto ele
pega o vinho na geladeira e abre com muita facilidade, servindo as duas
taças.
Sirvo os dois pratos e os levo para a mesa. Na primeira garfada, é quase
impossível contar o gemido de apreciação.
– Magnífico.
– Muito bom mesmo. – Concorda. – Então, o que gosta de comer? –
Pergunta.
– Posso dizer que sou magra de ruim, como de tudo, mas tenho uma
paixão maior por massas e fast foods. Sou chocólatra, quase uma
formiguinha, só evito tomar refrigerantes, mas se não tiver opção eu bebo
Coca-Cola feliz da vida. – Sorrio. – E o senhor?
– Eu amo massas e besteiras, mas evito comer. Durante a semana,
procuro ter uma alimentação mais saudável. Também sou chocólatra
assumido.
– Então vamos brigar por chocolate?
– Bem provável. – Responde, dando um sorriso.
– Me conta mais sobre seu envolvimento nos abrigos dos seus pais? –
Peço, curiosa.
– Então, eu sou engajado na causa desde criança, principalmente por
saber tudo que meu pai passou e como pode ser difícil sobreviver nas ruas.
Vou ao menos uma vez por semana em todos os abrigos e gosto de ajudar o
máximo que posso, mas quem são os cabeças por trás de tudo são meus pais.
Meu envolvimento é mais com brincadeiras, ajudar crianças e pais que vejo
nas ruas. Um trabalho de resgate.
– Então o projeto não é focado apenas em crianças? – Pergunto.
– Na verdade sim, mas quando as crianças possuem pais, nós os levamos
para um outro abrigo junto com os familiares e damos todo suporte até serem
capazes de se sustentarem.
– Sabe, Bianca vai ter que levar algumas cestas básicas a alguns
abrigos. – Digo, sorrindo.
– Sério? Por que?
– Você estava sendo alvo de uma aposta e ela com as amigas perderam.
– Que aposta? – Pergunta, curioso.
– Apostaram que conseguiriam ficar com você, mas eu, logo de
primeira, fui a única que consegui.
– Oh, então a senhorita se aproximou de mim por uma aposta? – Ele
pergunta, sorrindo.
– Não, na verdade, a aposta foi só um incentivo. Desde o momento em
que chutei suas bolas, deu vontade de te dar uns pegas.
– Que belíssimo linguajar. Devo ficar feliz sabendo que você queria me
dar uns pegas? – Ele arqueia a sobrancelha e me encara.
– Acho que sim, afinal, graças a minha atitude nós estamos aqui, não
estamos? – Saia dessa, querido. Aqui tem atitude e sagacidade!
– Me conte sobre você ter sido dopada e quase violentada. – Pede, me
deixando boquiaberta. Meu pai com certeza o alertou sobre isso. Puta merda!
– Meu pai, não foi? – Pergunto, e ele acena afirmativamente. – Eu
estava em uma das muitas festas que tinha costume de frequentar e um dos
garotos que eu ficava me deu uma bebida, e logo não vi mais nada. Quando
acordei, estava num hospital com a minha mãe aos prantos.
– Você tem ideia da gravidade disso? – Pergunta, sério.
– Absolutamente. – Respondo terminando de comer e tomo um gole do
vinho.
– Por que resolveu se manter virgem? – Pergunta.
– Porque nunca me permiti ser usada. Eu cresci em meio a muito amor e
muita informação. A relação dos meus pais é o exemplo que tenho de
relacionamento e o diálogo aberto deles me ensinou muitas coisas. Eu beijei
centenas de garotos, muitos deles, os mais bonitos do colégio, os mais
bonitos das baladas, mas eu nunca vi nada além de vontade sexual deles para
comigo. Havia garotos que gostavam e gostam de mim de verdade, mas não é
e nunca foi recíproco. Nunca teve um que estimulasse tanto meu lado sexual
a ponto de conseguir me levar para a cama. Eu sou a maluquinha que beija e
bebe, gosto de aventuras e adrenalinas, mas nada que envolva minha
virgindade. Eu nunca quis antes...
– E você quer agora. – Afirma. – Por que você quer?
– Por que se interessou por uma garota mais nova? – Corto sua pergunta
com outra.
– Porque você simplesmente quis algo, foi lá e fez com audácia e
ousadia suficiente. Eu te achei linda desde que me chutou as bolas, mas já
achei centenas de outras garotas lindas e nunca tive interesse algum por elas.
Eu gostei do seu jeito louco e audacioso. Foi como se tivesse chegado para se
encaixar em mim e mudar minha cabeça.
– Será que mudei o suficiente? Será que não sente falta dos seus casos
sexuais? –Pergunto, e ele sorri.
– Acredite, eu não senti falta de nada disso desde que nos beijamos.
Agora responda minha pergunta, por que você quer, Beatriz? Impulso? –
Merda.
– Porque com um beijo você passou a ter comando sobre todo meu
corpo. Bastou um beijo para que eu sentisse vontade de ir mais além com
você.
– O vinho está te deixando corada. – Diz, me analisando.
– Com calor também.
– Está com calor? – Pergunta provocando e eu aceno a cabeça. Ele se
levanta e retira nossos pratos, colocando-os na cozinha. Em seguida volta e
enche nossas taças. –Levante-se, senhorita. – Ordena e eu levanto. –
Proponho um brinde.
– Um brinde? – Pergunto, enquanto ele nos leva até a enorme janela da
sala.
– Um brinde às nossas primeiras vezes. – Diz levantando a taça e
brindamos. Viro todo o conteúdo da taça e o encaro enquanto ele bebe a
dele.
– Uma salva de palmas para todo esse ambiente sexual que se cria
quando estamos perto um do outro... – Digo, sorrindo.
– Você também sente isso?
– Em cada centímetro do meu corpo. Eu preciso que me beije e acalme o
que estou sentindo agora. – Imploro. Ele pega a taça da minha mão e a leva
até a mesa. Assim que as coloca, ele retira a blusa me encarando, e eu engulo
seco enquanto meu corpo parece entrar em combustão a cada passo que ele
dá até mim. Sou pega pela cintura e então rodeio minhas pernas em volta
dele. Nos encaramos alguns segundos até que sua boca cai sobre a minha de
maneira exigente, fazendo com que eu sinta extrema necessidade de ficar
nua.
Não sei o que vamos fazer ou onde vamos parar, mas tenho total
convicção de que não vou impedi-lo de fazer o que quer que seja.
BEATRIZ
É agora caralho! Minha Dora aventureira está mais que pronta para ser
explorada. Enquanto ele chupa meu pescoço, dou o sorriso do gato da Alice,
estou literalmente no país das maravilhas, mas queria mesmo era dar uma de
Jane e segurar no cipó de Bernardo.
O cipó dele está explodindo pela bermuda e eu estou revoltada por ter
escolhido ficar de calça. Como eu sou burra!
– O que foi? – Ele pergunta, ao ouvir o protesto que nem eu mesma
tinha consciência de ter dito.
– Preciso ficar nua. – Informo, e ele solta uma gargalhada.
– Podemos ir com calma? As preliminares são para isso. Já ficará livre
das suas roupas.
– Calma? Você está com um tronco de árvore dentro da bermuda,
roçando em minha perseguida, beijando meu pescoço como se fosse minha
boca e quer me pedir calma? Eu só quero ficar nua e te ver nu pela primeira
vez.
– Um tronco de árvore? Você vai deixar um tronco entrar em você? –
Pergunta, rindo, e me coloca no chão. – Desculpa, você é muito
engraçada. Só me prometa que nunca mais vai chamá-la de perseguida. –
Pede, quase engasgando de rir. Que ódio!
– Não tem graça alguma, eu só quero mais do que beijos.
– É isso que estou tentando fazer, mas você está desperdiçando tempo
falando asneiras. – Informa, ainda rindo. – O tempo que você está falando, eu
já poderia tê-la levado para a cama...
Enquanto ele está falando, sinto uma onda de calor atravessar meu corpo
e parar bem no meio do meu estômago. Saio correndo desesperada para o
banheiro. Só tenho tempo de fechar a porta e ajoelhar diante do vaso. Não
sobra nada além de uma forte dor no estômago. Que ÓDIO INFERNO
ASTRAL!
– Beatriz, abre a porta. – Ele pede, socando a porta.
– Calma, só preciso de um banho. – Digo, porém ele insiste.
– Abra a porta, você está passando mal, não pode se trancar assim.
– Você não vai me ver neste estado deplorável! Só vou tomar banho e já
saio. – Informo e ele se cala. Maldita hora que fui beber cerveja e vinho. É a
lei mais simples dos bebedores, nunca misture vinho com qualquer outra
bebida! Puta merda, estraguei tudo!
Escovo os dentes cinquenta vezes e, em seguida, entro embaixo da
ducha fria. Me sento no chão e deixo a água cair com força sobre mim. A dor
no estômago parece aumentar a cada segundo e estou mortificada pelo fato de
ter estragado uma noite que tinha tudo para ser bem-sucedida.
Não sei quanto tempo estou embaixo do chuveiro, mas sou atraída de
volta a realidade com Bernardo socando a porta.
– Beatriz abre a porra da porta ou vou arrombá-la. – Grita furioso e me
levanto, desligo o chuveiro e me enrolo em uma toalha. Abro a porta e ele
solta um suspiro. – Você dormiu aí? Fui à rua comprar remédio, voltei e nada
de você sair. Estou te chamando há cinco minutos. Vem. – Suspira, me
pegando no colo como se eu fosse um bebê.
Ele me coloca sobre a cama, sai do quarto e volta com outra toalha.
– Você não vai me enxugar. – Aviso.
– Vou sim.
– Oh, não vai não. – Digo, e a dor no estômago faz com que eu me
encolha.
– Merda, eu avisei para não beber. Vou pegar o remédio. – Ele sai e em
seguida volta com três vidrinhos com um líquido amarelado. – Abra a boca.
– Não! Ecaaaa, isso deve ser horrível!
– Vamos princesinha, por favor, abre a boquinha para o Bê. – Pede,
sorrindo com as covinhas, e eu abro. Tomo os três vidrinhos e quase morro
com o gosto horrível. – Viu? Esse é meu segredo para fazer com que as
crianças do abrigo tomem remédio, funcionou com você, garotinha. A
vontade é de matar, mas a gente finge um carinho. – Afirma, contendo o
sorriso.
– Eu poderia estar quicando, poderia estar chupando, poderia estar
beijando, mas estou aqui, me fodendo de outra maneira. – Suspiro e começo a
chorar. Eu só queria sexo quente e suado!
– Durma Beatriz, apenas durma! – O filho de uma mãe maravilhoso está
rindo. – Você precisa de um filtro na boca, para bebidas e palavras.
Maluquinha.
– Você me chamou igual meu pai chama minha mãe. – Comento.
– Talvez a loucura seja de família. Vamos tirar essa toalha molhada e me
deixe te enxugar.
– Eu não quero que me veja nua se não pode me usar.
– Eu não vou te usar, vou fazer amor com você. Não hoje, óbvio.
– Quem vive de amor é dono de motel. Eu quero ser usada por você. –
Ele perde a paciência, arrancando a toalha de mim. Eu me cubro
imediatamente com o edredom e ele fica rindo.
– Não vai vestir nada? – Pergunta.
– Não.
– Sendo assim, eu vou dormir na sala, porque haja pau duro para
aguentar a noite.
– Tudo bem, eu visto qualquer coisa. – Me rendo a tortura e ele acende a
luz, pega uma camisa dele e me ajuda a vestir.
– Onde estão suas calcinhas? – Pergunta, e eu indico a mala. Ele solta
um suspiro enquanto escolhe uma e me joga. – Vista! – Ordena e eu visto,
rindo pra caramba dele. Ele apaga a luz novamente e se acomoda ao meu
lado. Ficamos em silêncio, mas não consigo dormir. Viro de todos os lados
possíveis.
– Cara, eu vou voltar dessa viagem completamente maluco, sabia? –
Confessa, me puxando para uma conchinha. – Sossegue garotinha, quero
você bem amanhã.
– Ao invés de perseguida, o que você acha de Dora? – Pergunto, após
longos minutos de silêncio, e sinto ele levantando a cabeça.
– Dora? Você está se referindo ao que estou pensando? – Pergunta,
demonstrando choque.
– Dora Aventureira, aquela do desenho, que gosta de brincar de
exploração e aventuras. Eu estava pronta para ser explorada e agora estou
aqui, sentindo seu cutuque na minha bunda e com estômago queimando.
– Nem perseguida e muito menos Dora, isso é horroroso. – Informa,
rindo. – Eu sinceramente acho que você deveria dormir, é sério. Amanhã a
gente brinca de exploração... no caso, exploração sexual.
– Tudo bem, me desculpa? Obrigada por cuidar de mim. – Digo,
apertando seus braços em volta de mim.
– Estou aqui para cuidar de você. – Ele dá um beijo em minha cabeça e,
em poucos minutos, sinto meu corpo relaxar e me entrego ao sono.
Acho que nunca a vi tão brava. Ela se levanta da cama, tira a blusa e taca
no meu rosto, e sai pisando duro, e logo ouço a batida da porta do banheiro.
Irritá-la é sensacional, mas tenho certeza que acalmá-la será melhor ainda.
Me levanto e levo a bandeja com o que sobrou do café para a cozinha.
Em seguida, forço a maçaneta do banheiro e surpreendo ao ver que a porta
está sem chave. Pondero se devo ou não entrar e evito pensar muito. Abro a
porta e, felizmente ou não, ela já está com a toalha envolta ao corpo.
– Já vou me arrumar, querido. – Diz, fingindo estar calminha.
– Você já parece pronta.
– Não posso sair de toalha, querido.
– Não entendo como você pode pensar que realmente vamos sair de casa
hoje. – Digo, puxando-a para mim. Ela permanece firme segurando a toalha e
me encara. – Nós temos que resolver nossas diferenças.
– Temos? – Pergunta, receosa, e vejo mil e uma emoções passando pelos
seus olhos. Ela me atenta, mas no fundo sei que tem um pouco de medo.
– Temos. – Respondo, analisando-a. – Mas vai ser do meu jeito dessa
vez.
– Como assim?
– Vai ser com calma e delicadamente, ao menos no início. – Vejo-a
corar assim que termino de falar. – Temos o dia e a noite toda, não
precisamos de pressa, a pressa é inimiga da perfeição e eu quero que seja
perfeito para você. Entende isso, Beatriz?
– Sim. – Responde, completamente a mercê dos meus comandos.
– Eu quero você, você quer isso? Você se sente preparada?
– Completamente preparada. – Responde fechando os olhos, enquanto
coloco seus cabelos para trás dos ombros e cheiro seu pescoço. Seguro seus
cabelos com uma mão e com a outra a faço soltar a toalha. Sinto seu corpo
tremer assim que o tecido escorrega até o chão e me afasto o suficiente para
olhá-la completamente nua a minha frente.
Primeiro meu olhar cai para seus seios devidamente esculpidos sob
medida, os mamilos rosados e delicados. Cintura fina e barriga
completamente reta, quadris levemente largos e quando chego em sua parte
delicada e completamente lisa, preciso de todo autocontrole que tenho
guardado dentro de mim.
– Linda.
– Eu quero você nu. – Pede, e eu a pego no colo. Saímos do banheiro e a
coloco deitada sobre a cama. Ela coloca as duas mãos sobre os seios e levanta
uma perna na tentativa de esconder seu corpo de mim.
– Retire as mãos, você me quer nu mas está tentando esconder o que
acabei de ver segundos atrás. – Repreendo, e ela retira as mãos. Eu entendo
seu nervosismo, mas não posso afrouxar, uma hora isso vai ter que acontecer.
Então, lentamente começo a tirar minha cueca observando o olhar curioso
dela. Quando enfim termino a retirada, ela faz um “o” com a boca que quase
me faz rir, mas então tapa os olhos e eu morro de amor. Essas nuances entre
inocência e safadeza me deixa louco.
– Oh meu Deus... isso é insano! Preciso de duas taças de vinho ao menos
na primeira vez. – Diz, e eu subo na cama pedindo passagem entre suas
pernas. Ela abre as pernas e eu me encaixo sem fazer contato direto com
nossos corpos, em seguida retiro suas mãos do rosto e a encontro
completamente vermelha.
– Ei, você não precisa de vinho, só precisa se acostumar com a situação.
Nós só precisamos estar confortáveis um com o outro. – Falo, tentando
acalmá-la. – Olha para mim, por favor. – Peço e ela me encara. Quase penso
em desistir ao ver sua carinha assustada. – Você quer que a gente continue? –
Pergunto de forma carinhosa mais uma vez antes de qualquer atitude. Deus,
que ela diga sim, porque eu realmente quero isso mais do que quis alguma
outra coisa na vida.
BEATRIZ
Acordo com o sol forte entrando pela janela, olho para o lado e vejo
Beatriz tão apagada quanto eu estava segundos atrás. Pego meu celular na
mesinha de cabeceira e verifico as horas, três da tarde. Meu estômago
protesta com fome e lembro que só tomamos o nosso desjejum. Me levanto
lentamente para não acordá-la e fecho as cortinas do quarto para ficar
devidamente escuro novamente.
Vou até a cozinha e decido fazer uma refeição leve, tendo em vista o
mal que Beatriz passou na noite anterior. Não sou um mestre da culinária,
mas sei me virar quando preciso. Enquanto coloco alguns legumes para
cozinhar, me sirvo de uma taça de vinho e decido ligar para minha mãe, que
atende no primeiro toque.
– Filho, como estão?
– Estamos bem mãe, e vocês? E os pirralhos?
– Estamos bem, você está fazendo falta, mas quero que se divirta. Como
está Beatriz?
– Está bem, está dormindo.
– Dormindo? Que horas são aí?
– Três e meia da tarde.
– Ohhh. – Ela diz e se cala, mas sou capaz de imaginar o que está
passando pela sua cabeça nesse momento.
– Bom, só liguei para dar notícias, dê um abraço em todos aí, dona
Eliza.
– Tudo bem, filho. Amo você, dê um beijo em Beatriz por mim e se
cuidem.
– Pode deixar, também amo você mãe. – Encerro a ligação e me viro
encontrando minha garotinha na porá, sorrindo e corada
– Oi. – Diz timidamente, como uma perfeita garotinha.
– Oi. – Digo, puxando-a para meus braços. – Como está se sentindo?
– Você é tão preocupado, acho fofo. – Sorri. – Bom, estou bem, minhas
pernas é que estão doendo absurdamente como se eu tivesse acabado de
correr a São Silvestre toda. – Sorrio com sua resposta.
– Foi uma boa maratona para sua primeira vez, não acha?
– Realmente foi. Preciso de um relaxante muscular e uma massagem.
– O relaxante eu posso dar agora, a massagem vai ter que ficar para
depois. Estou preparando nosso almoço. – Me afasto para conferir as panelas.
– Oh, você sabe cozinhar? – Pergunta, impressionada.
– Não tanto, mas sei me virar.
– O que comeremos? – Questiona.
– Alguns legumes refogados e um bife de picanha sem gordura.
– Só? Você é fitness? Porque eu não sou. – Exclama, me fazendo rir.
– Bom, eu não sou fitness, mas você passou mal ontem, precisa de
coisas mais leves na refeição hoje.
– Ao menos uma batata frita tem que ter nesse almoço. No congelador
tem um sacão de batatas, é só fritarmos. Eu já estou ótima, de verdade. –
Anuncia, pegando minha taça de vinho, e no mesmo momento a tomo dela.
– Tudo bem, batata eu posso fritar, mas vinho hoje não, bonitinha. – Ela
faz cara de contrariada e em seguida sorri.
– Tudo bem, não pense que vai ficar ditando ordens, só vou obedecer
essa porque você está certo e me deu uma excelente manhã, estou bem-
humorada.
– Você gostou mesmo? Foi como imaginou? – Me aproximo, sentando
ao seu lado, e ela me olha como se eu estivesse falando libanês.
– É sério isso? – Pergunta e eu a encaro sério. Porra, é óbvio que eu
estou falando sério. – Foi muito melhor do que imaginei, muito mesmo, as
duas vezes. – Ela diz corada e abaixa os olhos como não é de costume.
– Você é instigante, Beatriz. Uma hora é toda atirada e na outra abaixa
os olhos com timidez. Isso é encantador, atrativo e instigante ao mesmo
tempo.
– Sou uma mulher de fases, decifra-me se for capaz.
– Você tem dúvidas sobre minha capacidade de te decifrar? – Provoco-a
arqueando a sobrancelha, e ela sorri.
– Se eu tinha, hoje elas desapareceram. Só me intriga parecer que nós
começamos com isso há meses, quando tem pouquíssimo tempo. Eu nem sei
o que você gosta de comer ou fazer nas horas vagas, não sabemos muito um
do outro e já estamos nesse estágio sexual e sentimental, já estamos
namorando e eu já sinto tanto por você. Sabe me dar uma explicação lógica
para tudo isso?
– Primeiramente, não estamos em estágio sexual, o estágio sexual
começou hoje Beatriz. – Digo, e ela arregala os olhos. – Acontece que nós
dois tivemos algo quente desde o início, bem explosivo e sabíamos que mais
cedo ou mais tarde iria acabar onde acabou, então que seja mais cedo. Agora
eu não sei te dar uma explicação para os demais acontecimentos, sendo que
nem eu mesmo estou entendendo. Apenas estou sentindo e deixando as coisas
seguirem o curso normal. Não quero ficar pensando muito e ficar me
cobrando respostas. Estou sentindo e estou tomando atitudes em relação aos
sentimentos. Quanto a mal nos conhecermos, acredito que a partir de agora
teremos tempo suficiente para isso, já que é minha namorada.
– Sim, é que não caiu a ficha sobre o namoro ainda e tudo mais. Foi
rápido e intenso.
– Eu prefiro pensar que foi, e está sendo, como deveria ser. Você pensa
diferente? –Pergunto.
– Não, eu não penso.
– Você está feliz? Eu me sinto feliz. – Afirmo sob seu olhar intenso.
– Eu estou muito feliz e saciada. – Responde, sorrindo.
– Então é isso que importa.
BEATRIZ
Olha, vou falar uma coisa, Rio de Janeiro tem atendido minhas
expectativas fielmente. Com poucas semanas, já tive relações com 4 garotas,
porém, tem uma outra garota que não sai do meu sistema nem fodendo. Para
piorar a situação, conquistá-la está sendo mais difícil que imaginei.
A garota é Victória, minha vizinha linda, inteligente, meiga e gostosa.
Estou usando todas as táticas do tipo fingir ser intelectual, bom rapaz,
menino de família, romântico, poético... por enquanto não rolou e ainda acho
que ela pensa que eu sou gay, porque vive me pedindo dicas de moda e me
convidou para ir ao shopping com ela; como amiguinhos, sim ela disse
“amiguinhos”. Se ela souber o tamanho da amizade que eu nutro por ela... é
grande viu?!
Tem algumas vantagens nisso. Meu pai disse que temos que ser
visionários e estou usando isso. Se o fato dela pensar que eu sou gay fará com
que tenha mais liberdade comigo, que assim seja! Serei seu mais novo amigo
gay até surgir a oportunidade perfeita de mostrar o Albuquerque Jr.
– Onde você vai filho? – Minha mãe pergunta, me encarando de cima a
baixo.
– Vou ao shopping com Victória.
– Victória, nossa vizinha? – Ela pergunta boquiaberta e eu sorrio.
– Exatamente, dona Mari.
– Matheus, ela não é menina para você. A menina é quase uma santa.
Não faça um absurdo desses! Controle seu pau dentro das calças. – Não tenho
credibilidade nem mesmo com minha mãe.
– Está aqui, quietinho e virado para a esquerda. Não vou fazer nada com
ela, mãe, só vamos ao shopping, ela pensa que sou gay. – Explico, e ela
revira os olhos.
– Ela é menina de família, pelo amor de Deus, não vamos criar
inimizade com os vizinhos, eles são tão educados.
– Mãe, relaxa ok? Eu sei o que estou fazendo. – Digo, tentando
tranquilizá-la.
– Eu espero mesmo que saiba Matheus, vai de balsa?
– Sim. Você não vai liberar o carro mesmo. – Sorrio.
– Faça 18 anos e tire habilitação, bonitinho. – Ela diz, e eu dou um beijo
em sua testa antes de sair.
Victória já está me esperando no hall do elevador e nos
cumprimentamos com dois beijinhos. Não sei onde estou com a cabeça de
fazer um programa desse tipo, mas vamos lá, talvez eu a convença a assistir
um filme e dar uma sarrada nervosa no cinema, tendo em vista que ela está
com um vestidinho incrível.
– Está bonita, sardinhas bonitinhas. – Elogio, porque simplesmente
sempre sinto a necessidade de elogiá-la.
– Você também está bonito, Tetheus. – Vontade de mostrar o Tetheus
para ela.
– Tetheus de novo? – Pergunto, rindo do apelido ridículo que ela me
colocou.
– Oh, é bonitinho. Um apelido fofo para um amigo fofo. – Brinca, e eu
fico perplexo. Fofo é demais para minha masculinidade.
– Fofo hein? – Digo sugestivamente e ela sorri. Se ela soubesse como o
fofo não tem nada de fofo...
Vamos caminhando até as balsas do condomínio que atravessam o lago
e nos deixa em frente ao shopping. Victória me dá o braço e eu me sinto mais
amigo gay do que já estou sentindo. Andar de braços dados é coisa de amigo
gay, eu sei porque tinha amigos gays no colégio e eles cismavam em andar de
braços dados comigo.
– Preciso achar o vestido perfeito e você vai me ajudar! – Exclama,
animada, e meus pensamentos tornam-se obscuros. Para que ela precisa de
um vestido? Porra!
– É? Para que tipo de ocasião?
– Um baile no final de semana, você poderia ir. – Anuncia, convidativa.
– Mais um baile? – Pergunto. Baile para mim só se for funk, não
consigo aturar dois bailes em menos de um mês, é demais para minha
sanidade ter que ficar preso dentro de um terno.
– É, dessa vez somos os convidados e não os anfitriões.
– Ah, então vamos em busca do vestido ideal. – Digo, e ela pula em
minhas costas.
– Você é o melhor! Nem minhas amigas gostam de vir ao shopping. –
Afirma, e já começo a temer. Se as amigas dela não gostam, é preocupante.
– Depois podemos pegar um cineminha. – Sugiro.
– Claro! E tomar um milk shake.
– Claro, um milk shake é perfeito. – Estou tentando não rir do quão
ridículo estou sendo. O fato é que ela não ter me dado mole é quase inédito,
isso a torna ainda mais atraente aos meus olhos. Ela é diferente. Eu já estou
de quatro e nem mesmo a beijei.
Assim que chegamos ao shopping, ela sai saltitante e eu penso o quão
fodido estou.
– Não me diga que vamos entrar em todas as lojas. – Digo fingindo
brincar, e ela sorri.
– Para a sua sorte, já tenho minha loja preferida. – Informa, me puxando
até uma loja completamente rosa, tão rosa que chega a doer meus olhos
âmbar. A atendente fica me encarando e mal presta atenção no que Victória
está pedindo, não sei porque mulheres mais velhas me dão tanto mole. Não
entenda como uma reclamação, é apenas uma constatação interessantíssima.
Porém, hoje não vai rolar nem uma troca de telefones. Quem eu quero está
agitada escolhendo vestidos pelas araras de roupas espalhadas pela loja.
– Vem. – Sardinhas diz, colocando um monte de vestidos em meus
braços e me puxando para o provador. A situação está começando a ficar boa,
ser amigo gay tem muitas vantagens. – Sente-se aí enquanto experimento e te
mostro todos. Ordena, e eu me sento no enorme banco em frente ao provador.
Ela pega alguns vestidos dos meus braços e entra. A atendente chega e sorri
para mim.
– Aceita uma água ou qualquer outra coisa? – Pergunta sugestivamente e
eu fico a encarando de cima embaixo por alguns segundos. Pernas grossas,
peitos grandinhos, rosto bacana. Ela é bem gostosa e está vermelha com a
minha medição. Um boquete seria bom, mas não hoje.
– Hoje não quero nada, não. – Digo, frisando bem o hoje, e ela sorri
mais ainda. A porta do provador se abrindo atrai minha atenção e Victória sai
com um vestido preto grudado ao corpo expondo todas as suas curvas. Que
coisinha...
– Que tal? – Pergunta, e eu faço mais uma análise. Por algum motivo,
não quero que ela mostre tanto o corpo. Não quero mesmo! Ela é minha!
Não, ela não é minha. Mas nem por isso...
– Não, é bonito, mas não para um baile. Achei vulgar. Procure algo mais
discreto e solto.
– Certo, também pensei isso, mas precisava de uma segunda opinião. –
Diz, fazendo uma carinha de decepção enquanto volta ao provador. Volto
meu olhar a atendente, ela balança a cabeça e sai, vai entender!
A porta se abre novamente e Victória aparece completamente linda, com
um vestido preto completamente discreto e que a deixou ainda mais bonita.
– Que tal? – Ela pergunta, enquanto eu a fito de cima abaixo repetidas
vezes. Velho, ela é linda e gostosa ao extremo.
– Linda. – Respondo evasivo e ela me encara.
– Só?
– Você quer minha sinceridade mesmo? – Questiono.
– Por favor!
– Fodidamente linda e gostosa. Realça seus seios de maneira discreta,
sem exibir muito. O fato dele ser levemente solto da cintura para baixo
mostra a curvatura da sua bunda de maneira sensual, é incrível. O
comprimento é perfeito. Sexy sob medida. –Digo e ela abre a boca em
choque, esqueci por um momento que ela pensa que sou gay. – Quer dizer,
traduzindo, realça seu corpo de maneira discreta, deixa curiosidade.
– Curiosidade? – Pergunta, sorrindo.
– Sim, curiosidade para saber o que tem por baixo. – Respondo,
encarando-a, e ela fica tímida.
– Certo, vou ficar com esse então.
– Perfeito. – Respondo, e ela volta ao provador. Me levanto e começo a
andar pela loja pensando em como devo agir. Não dá para fincar bancando o
amigo gay por mais tempo, é hora de morfar.
Ela sai e vai direto ao caixa. Eu pego o vestido de suas mãos e pago
enquanto ela fica boquiaberta sem ação.
– Você não fez isso. – Diz.
– Sim, eu fiz. – Respondo, satisfeito por ter minhas próprias economias.
– Por que?
– Porque eu quis, uai. – Informo.
– Repete. – Ela diz sorrindo.
– Porque eu quis, uai.
– Você fica fofo quando fala mineirês. – Ela sorri. – Mas voltando ao
assunto, você não tinha que pagar isso.
– Eu quis dar um presente para uma amiga fofa, que mal tem? –
Respondo.
Quando saímos da loja, ela volta a pular no meu ombro.
– Obrigada, amiguinho! Eu pago o milk shake pelo menos.
– Tudo bem. – Respondo e ela pula de novo, dessa vez eu me viro de
lado e a pego pela cintura. Ela me encara atônita e ficamos alguns segundos
assim, sem se importar com as pessoas passando ao nosso lado. – Eu vou te
beijar. – Aviso, e entendo seu silêncio como um consentimento. Coloco
minha mão esquerda em seu pescoço e levo minha boca até a dela.
Assim que nossos lábios se tocam, eu não vejo mais nada ao nosso
redor. Beijo-a delicadamente, sem pressa, e ela corresponde de maneira
intensa. Brinco com sua língua e sinto um leve sabor de hortelã em sua boca
deliciosa. Esse beijo... sem comentários! Há intensidade, química, física,
biologia, a porra toda nele.
Quando terminamos, estou sem fôlego e perdido com a nossa pequena
conexão. Ela me olha estupefata e sorrio.
– Eu... nós... você não era gay?
– Quem disse isso?
– Eu achei que você era gay, você é tão legal e atencioso, e trocamos
tantas ideias e você aceitou vir ao shopping fazer compras, e... – Ela começa
a falar desesperadamente e eu a beijo novamente, tentando acalmar sua mente
turbulenta. Quando me afasto, ela está desnorteada, mas fica em silêncio sem
saber o que dizer.
– Vamos ao cinema? – Pergunto e ela apenas balança a cabeça,
concordando. Pego sua mão cruzando nossos dedos e andamos pelo
shopping. Sinto seu olhar em mim como se não estivesse acreditando e
seguro o sorriso. O primeiro passo foi dado com sucesso. Vamos aos
próximos...
BEATRIZ
Faz cinquenta minutos que Bernardo está numa reunião via Skype e eu
inquieta rodando por todo apartamento. Eu sei que o assunto principal já foi
tratado e agora eles estão apenas falando mais do mesmo. Queria entender
qual parte do código da viagem está escrito “trabalhar nas férias”...
Não conseguindo mais controlar minha inquietação, me sento na cadeira
do outro lado da mesa de frente para ele. Ele tira os olhos um pouco da tela
do computador e dirige o olhar a mim, e sorrio docilmente. Bê volta o olhar
para a tela e continua a incansável discussão com sua mãe.
Com um pé, começo a subir por suas pernas e então ele me olha com
cara de bravo. Isso não me contém, e apenas continuo minha subida até
chegar ao ponto alto da coisa. Sua mão voa imediatamente para meu pé,
detendo meus movimentos, e eu me forço até que ele solte. Não dá certo!
Olho para os lados tentando pensar em algo que o desconcentre e uma ideia
maravilhosa surge na mente. Aproveito seu momento de total atenção a
conversa e me abaixo lentamente até estar embaixo da mesa. Cautelosamente,
coloco minhas mãos sobre as coxas dele e ele afasta o computador,
completamente aturdido. Ouço Eliza perguntando o que foi e recebe como
explicação a desculpa mais ridícula do mundo ao dizer que foi uma fisgada
na perna. Recebo uma encarada reprovadora através do vidro da mesa e
sorrio, enquanto tento abaixar sua bermuda. Não sei se é uma boa ideia para o
primeiro boquete... Mas, depois de tanto lutar com ele, consigo expor seu
glorioso membro que se encontra bastante acordado para a vida. Uma
maravilha dos deuses!
Fico encarando aquela magnitude e me concentro tentando pensar nos
filmes que já vi, aliás um salve para a indústria pornográfica que tanto
contribui para momentos como esse. Bernardo está discutindo a cláusula
cinco do contrato quando envolvo minha mão em seu membro. Dirijo mais
uma vez o olhar a ele através do vidro da mesa e o pego com os olhos
fechados e a cabeça baixa, como se estivesse sofrendo.
– Filho, está tudo bem? É a fisgada na perna? – Ouço Eliza perguntar e
controlo a vontade de rir.
– Tudo sob controle mãe, vamos continuar, parágrafo terceiro... – Ele
vai dizendo e eu volto a me concentrar no servicinho sujo que estou prestes a
fazer. Conforme mexo minha mão o sinto pulsar, a hora é agora, digo a mim
mesma. Levo a minha boca até sua ereção e começo testando com a língua,
lambendo-o. – Puta que pariu! – Bernardo grita e Eliza se desespera no
computador.
– Filho, cadê a Beatriz? Está doendo tanto assim? Você tem que ir ao
médico. Onde ela está?
– Não mãe, não é nada grave, ela está deitada descansando como um
anjo. Aliás, ela é uma garota angelical. – Explica-lhe, e eu aproveito a deixa
para testar como é chupar um pau. No mesmo instante em que chupo sua
glande, ele agarra meus cabelos com uma mão e tenta me conter, porém,
como sou muito malvada, dou uma leve mordida até que me solte.
– Conseguiu localizar nas cláusulas? Da nossa parte, está tudo correto,
se eles estão cobrando serviços que não estão inclusos no contrato teremos
que fazer uma emenda e um acréscimo nos valores. – Argumenta,
demonstrando desespero, enquanto eu o coloco na boca o máximo que
consigo. Quase tenho ânsia de vômito. Nesse momento, agradeço que ele
esteja no Skype, sem observar a cena horrorosa que estou protagonizando na
minha primeira chupada. Volto a fazer com mais calma e tento usar a língua
enquanto deslizo por sua extensão, e então Bernardo solta um gemido que me
faz conter os movimentos e voltar meu olhar para ele. Está tão legal o vidro
nos separando. Me sinto segura, mesmo sabendo que estarei fodida em
questão de segundos...
– Bernardo, acorde Beatriz, eu estou realmente ficando preocupada.
Pode ser uma pedra nos rins, ou na vesícula, pelo amor de Deus, filho. – Liz
grita, desesperada.
– Na verdade, acho que é dor de barriga, comi porcarias hoje na rua. –
Explica, e eu rio com seu digníssimo membro de ouro atolado em minha
boca. Sou pega pelos cabelos mais uma vez e envolvida pelo ritmo ragatanga
(sim, essas pegadas nos cabelos têm o dom de nos transformar numa devassa
completa), começo a chupá-lo como se estivesse chupando um sorvete de
casquinha do Mc Donald's. Quando a situação se torna insuportável, ele toma
uma atitude drástica me fazendo paralisar:
– Mãe, eu preciso ir ao banheiro. Eu ligo mais tarde.
– Ok filho, não deixe de dar notícias. Amo você.
– Também te amo. – Responde, e ouço o baque alto quando fecha a tela
do notebook brutalmente. Percebo que estou seriamente encrencada quando
ele me afasta, levanta e diz:
– Saia daí agora. – Ordena, enquanto eu uso o vidro de escudo humano,
como se fosse minha tábua de salvação. – Vamos, Beatriz, saia. – Balanço
minha cabeça negativamente. Vejo-o passar as mãos pelos cabelos e em
seguida retirar a camisa, deixando a mostra seu torso perfeito. Em seguida,
termina de tirar a bermuda ficando completamente nu e sinto minha boca
secar diante da visão. Sangue de cordeiro, devolva minha dignidade porque
não está fácil não. – O que você acha que eu vou fazer, Beatriz? Te espancar?
– Pergunta, e eu sorrio com a ideia de um espancamento. Será que doi levar
uns tapas no ato sexual?
Bernardo me olha uma última vez, se acomoda no sofá, coloca as mãos
atrás da cabeça e relaxa completamente nu e ereto, fazendo com que eu
arrepie da cabeça aos pés. Acho incrível como ele não tem problemas em
expor sua nudez enquanto eu estou morrendo de vergonha apenas por vê-lo
assim.
– Beatriz, você não vai sair daí? Eu estava discutindo um contrato de um
milhão e meio de reais e a senhorita não se importou em tirar minha
concentração, agora que conseguiu vai ficar embaixo da mesa? – É, faz
sentido. Penso, e saio engatinhando. Fico de pé e o encaro enquanto mexo
nas pontas dos meus cabelos. O quão ridícula eu estou nesse momento? Devo
estar muito, porque Bernardo acaba de soltar uma das suas gargalhadas. –
Vem cá. – Chama, e dou passos vagarosos até me posicionar na frente dele. –
Você tem ideia do quão contraditória é? Não tem lógica uma hora estar toda
cheia de coragem e na outra parecendo uma menininha amedrontada. – Diz,
me puxando de forma que caio no sofá.
– Não estou com medo. – Digo embaixo dele.
– Então termine o que começou. – Nossa... – Sabe, Beatriz, eu sou muito
correto e centrado no mundo dos negócios e você acabou de tirar meu foco de
tudo, isso é inédito.
– É?
– Você me faz perder a coragem de tomar atitudes inusitadas me
olhando dessa maneira. – Confessa, se levantando e me pegando no colo.
– Onde vamos? – Pergunto, e ele dá um lindo sorriso.
– Para o quarto, vamos fazer amor.
BERNARDO
Bernardo cala a minha boca com um beijo explosivo. Tenho certeza que
estamos protagonizando um show, tanto que sinto necessidade de contê-lo.
– Uow. – Digo, segurando em sua camisa.
– Quero você. – Ele diz com a testa grudada na minha, buscando
controlar a respiração com os olhos fechados.
– Você me tem. – Respondo, e ele sorri.
– Eu queria você de outra forma nesse momento. – Abre os olhos e eu
entendo perfeitamente, sorrio.
– Você é bem tarado e contraditório. – Brinco.
– Você também é, então estamos quites. Vamos logo naquela montanha
russa para ver se minha vontade some um pouco.
Primeiro vamos na roda gigante, mas é entediante demais, por mais que
estejamos numa altura absurda. Ao descermos, até mesmo meu jovem senhor
concorda que foi um saco e se anima à montanha russa.
Assim que compramos nosso ingresso, Bernardo vai até uma
barraquinha e compra uma blusa para mim.
– Para que isso? – Pergunto, enquanto me entrega.
– Não quero seus seios pulando para fora e dando um show para os
demais.
– Entendi. – Digo, sorrindo, e visto a blusa.
Me acomodo no primeiro assento e Bernardo entra atrás.
– Nunca andei nessa coisa. – Confessa, rindo.
– Para tudo tem uma primeira vez, você vai gostar.
– Não sou o tipo esportes radicais, Beatriz.
– Feche os olhos e se entregue, não foi assim que me disse na nossa
primeira vez? – Digo, e ele sorri.
– Você tem respostas prontas para tudo. Está usando minhas próprias
palavras contra mim.
– Aqui tem sagacidade, garotinho. – Digo, e o auxiliar da montanha
russa coloca o cinto de proteção em nós. Ouço Bernardo respirando fundo
atrás de mim e controlo o riso.
Lentamente, ela começa a se locomover e mal sabe ele que essa lentidão
está prestes a terminar.
Ela vai subindo e quando chega na hora da descida vem a melhor parte:
a adrenalina na medida certa. Começo a gritar empolgada enquanto Bernardo
solta um "puta que pariu, não acredito que aceitei fazer essa porra", mas
acaba gritando junto comigo.
Cinco minutos depois, paramos no terminal de desembarque e Bernardo
sai mais branco que o normal, me fazendo rir.
– Foi tão ruim assim? – Pergunto.
– Foi meio louco demais. Preciso de uma água.
– Poxa, ia te chamar para irmos de novo. – Finjo tristeza e ele me olha
com uma cara engraçada.
– Nem fodendo, vamos beber água e almoçar. Já atingi o estoque de
adrenalina do dia.
BEATRIZ
"Todo conto de fadas tem um final... Era hora de voltar a vida real e
enfrentar tudo que isso traria a nós.
Enquanto fechava minha mala, me dei conta de quão vulnerável me
tornei em poucos dias. Pela primeira vez na vida, estou sentindo uma dor e
não é de barriga ou cabeça, nem mesmo a dor de perder meu lacre é páreo
para o que estou sentindo. É uma dor no peito e uma imensa vontade de
chorar. O medo do futuro se faz presente em uma quantidade generosa
dentro de mim.
Bernardo não tem ideia, mas pode ser minha destruição, assim como
pode ser minha salvação.
Não acho que seja exagero pensar dessa maneira. Não quando você
nunca viveu algo ao menos parecido e com tanta intensidade. Nesses dias
juntos, nos tornamos íntimos não apenas sexualmente, mas em todos os
demais sentidos. Eu já sou capaz de perceber coisas apenas pelo olhar dele,
e ele é capaz de ler a mim de uma maneira que nem eu mesma consigo. Não
sei como será não poder acordar com ele diariamente, passar 24 horas por
dia juntos e sair da bolha que nos encontramos.
Hoje pela manhã, já deu para ter um leve deslumbre do que vem pela
frente nas atitudes dele. Bernardo leve já era, deu lugar ao Bernardo centrado,
ao homem de negócios e com extrema responsabilidade. Pude notar enquanto
ele arrumava sua mala e falava no celular sobre reuniões de negócios, e até
mesmo a preocupação e a tensão que está sentindo em me levar em segurança
para casa e me entregar aos meus pais.
A noite, não dormimos muito bem. Após ele ter me amado da forma
mais doce que poderia, começamos um vira-vira na cama. Naquele momento,
saber que ele estava tão receoso quanto eu não me confortou em nada.
E eu nem mesmo consigo entender o porquê de todo receio com o
futuro... acho que o fato de sermos inexperientes no assunto relacionamento
está finalmente começando a pesar.
Assim que terminei de arrumar as malas, o deixei e fui até a janela
observar a vista perfeita em busca de tranquilidade e paz, e instintivamente
comecei a pensar em todos os momentos que vivemos nos últimos dias. Os
passeios no Central Park, o dia em que fiz Bernardo me acompanhar em
todas as lojas de grifes, o dia em que o fiz me acompanhar nos cenários que
foram gravados Gossip Girl, os jantares em restaurantes refinados ideais para
casais da idade dos nossos pais e a fuga após os jantares para um Drive-thru
do Mc Donald’s, os passeios de metrô, a primeira vez incrível que deu
sentido a todos os demais acontecimentos... Puta merda, foram os melhores
dias que já passei em Nova York, sem sombra de dúvidas.
Nessa manhã, quando senti sua presença atrás de mim, eu soube que ele
estava pensando e relembrando as mesmas coisas. E quando ele me confortou
dizendo que a única coisa que iria mudar era o cenário, eu não pude deixar de
admirá-lo por seu gesto grandioso de tentar me confortar.
Não é só o cenário, é a rotina toda que tivemos nos últimos dias que irá
mudar, mas eu estou me apegando às suas palavras como tábua de salvação e
conforto, agarrei-as com unhas e dentes e levantei a cabeça decidida de que
tudo dará certo entre nós dois.
Descobri até que eu não sou pessoa de sentir pouco, quando sinto eu
sinto muito em todas as interpretações possíveis que cabe.
(No avião)
– Eu não quero ser indelicado, mas estou começando a ficar com medo
de você passar mal. – Comenta. Eu paro o salgadinho no ar e chego para
frente onde posso vê-lo.
– Por que?
– Você está comendo há exatas 9 horas, com intervalos mínimos. –
Informa.
– Estou dando intervalos sim.
– Isso é ansiedade? – Ele pergunta, sorrindo, e eu percebo que não estou
realmente com fome. Coloco o salgadinho de volta na bandeja e decido
conversar com meu boy.
– Sim, exatamente.
– Eu disse a você e vou repetir, só vai mudar o cenário e alguns
pequenos detalhes que não irão interferir na nossa relação. – Afirma com
segurança.
– Sim, como dormirmos e acordarmos juntos, e passarmos o dia todo
juntos.
– Exatamente, ninguém vive dessa maneira a não ser casais aposentados,
nem mesmo os bilionários vivem assim. – Explica, sorrindo. – Eu terei meus
compromissos e quero muito que você tenha os seus.
– O que quer dizer com isso? – Pergunto, intrigada.
– Quero que você decida o que quer da sua vida profissional. O que quer
estudar, trabalhar. Sei que seus pais nunca a pressionaram e eu nem tenho a
intenção de fazer isso, mas posso garantir com propriedade que irá se sentir
muito mais autossuficiente quando se tornar um pouco mais independente.
Pude ver durante esses dias que a dependência não te deixa a vontade. – Viu?
Eu disse que ele sabia me ler. É a verdade nua e crua. Ele me avaliou bem.
– Ainda está de pé eu conhecer a empresa dos seus pais?
– Claro que está, quero que conheça também os abrigos. Beatriz,
existem muitas outras profissões que você pode seguir, não precisa ser
necessariamente Administração ou Direito por causa dos seus pais, nem
mesmo Arquitetura como sua mãe.
– Eu sei, só nunca tinha parado para pensar no futuro. Eu sempre fui o
tipo que vive um dia de cada vez e deixo os acontecimentos me guiarem.
Acabei de concluir o segundo grau, agora é o momento em que devo pensar
no futuro, só preciso me dedicar a isso.
– Você tem meu apoio! – Ele diz lindamente e me oferece a mão. Essa
merda de termos um troço nos separando é horrível.
– Eu sei que sim.
– Estamos conversados sobre tudo? – Ele pergunta e sorrio.
– Como vai ser dormir sem conchinha? Me acostumei mal!
– Sempre podemos dar um jeito nisso, temos apenas um pequeno muro
que nos separa.
– Você promete que nada vai mudar?
– Eu prometo, Beatriz, não quero que nada mude. – Diz, rindo da minha
preocupação. – Você está tensa a toa, garotinha, não confia no que
construímos nesses dias?
– Confio, só não sei como lidar.
– Estamos juntos, vamos aprender juntos a lidar com que quer que
aconteça. – Sua confiança quase me tranquiliza, e a comissária anuncia que
iremos pousar. Meu coração dá um leve salto e me sinto uma malévola por
não ter sentido nem um pouco de saudade.
Assim que faço todos os procedimentos e aperto o cinto, Bernardo me
oferece sua mão. Fecho os olhos e só os abro quando termina de aterrissar.
Longos minutos depois, estamos com nossas malas indo atrás da nossa
família. Quando chegamos no alto da escada rolante, quase volto para trás.
– Puta que pariu! – Digo ao avistar minhas duas avós, meus dois avôs,
meus pais, meu irmão e toda família do Bernardo nos esperando. Vejo-o
sorrir, incrédulo.
– Tenho que concordar com você, puta que pariu.
– Já chegamos pagando um King Kong desse. – Digo ao ouvir os gritos
da minha mãe "neném da mamãe”.
– Calma, isso é amor. – Diz, me tranquilizando. – Eles são engraçados.
Os senhores são seus avós?
– Sim, e futuros vizinhos. Só falta minha tia comprar um apartamento no
prédio, aí você vai querer se mudar com certeza absoluta.
– Estou me sentindo no filme família Buscapé. – Ele diz, rindo, e eu
soco seu braço. Mas ele está certo, merda, realmente parece.
– É bem isso, mas garanto que são todos legais, apenas um pouco de
loucura, mas são bons.
– Imagino as loucuras. – Assim que terminamos de descer, nossos pais
nos agarram.
– Minha princesa, senti tanto sua falta. – Minha mãe diz, chorando, e eu
olho para ela sem acreditar.
– Eu também senti sua falta, mãe. – Digo, e meu pai me rouba.
– Eu estava com saudade, inclusive de você aprontando.
– Já estou aqui! – Brinco, e num relance eu e Bernardo trocamos um
olhar demorado enquanto estamos abraçados aos nossos pais. Ele pisca um
olho para mim e sorri com suas covinhas, me deixando com um leve frio na
barriga e borboletas no estômago.
Agora sim, nossa viagem está definitivamente encerrada.
Depois que cumprimos todo o cronograma de recepção e apresentamos
o restante da família, Bernardo me puxa pelo braço e nos afastamos um
pouco. Ele gruda nossos lábios e me dá um beijo delicado enquanto passa o
polegar pelo meu rosto. Minhas pernas fraquejam, dessa vez pelos
sentimentos e não pelo tesão.
– Vou deixá-la curtir sua família. Antes de dormir, trocamos
mensagens. – Informa.
– Mensagem no lugar de saliva e suor soa péssimo, mas faz parte. –
Reclamo, fazendo-o sorrir.
– Te transformei num monstrinho.
– Eu provavelmente já era, você só teve o dom de despertar isso de mim.
– Digo, e Liz se aproxima.
– Desculpe interromper o casal, mas precisamos ir, filho. – Sorri
lindamente e me abraça. – Estou muito feliz por vocês estarem juntos, minha
norinha!
– Nós também estamos felizes. – Respondo, sorridente.
– Bom, nos falamos depois, princesa. – Bê diz e me dá um beijo na testa
sob o olhar de todos.
Quando chegamos em casa vou direto para o banho, e assim que estou
vestida com meu pijama de algodão com estampa de unicórnio e pantufas, me
sinto pronta para encarar a família. Meus avós já foram para os respectivos
apartamentos deles e agora sei que terei que encarar meus pais e ser zoada
por Matheus. Desço as escadas e tudo começa.
– Oh, ela aí! – Matheus diz, batendo palmas. – Foi bom para você,
maninha?
– Não começa, Matheus. – Minha mãe repreende e eu mostro o dedo do
meio para ele.
– Filha, venha lanchar. – Meu pai convida e me sento a mesa.
Por incrível que pareça, eles não me pressionam com assunto algum, só
falamos coisas bobas até que entro num assunto diferenciado:
– Mãe, e a gravidez?
– Era um alarme falso, problemas hormonais, mas já estou me cuidando.
– Ela responde e olho para meu pai, que está fingindo não ouvir a conversa.
– Poxa! – Eu queria um irmãozinho. Um bebê em casa seria fantástico.
– Mas eu e seu pai estamos decidindo se vamos tentar ou não ter outro
filho.
– Sua mãe está decidindo sozinha. – Ele responde e sorri.
– Você não quer, pai?
– Eu? Claro que quero, mas sua mãe é osso duro de roer e eu não vou
entrar numa briga ridícula depois de 20 anos de casado para decidirmos se é o
momento ou não de termos outro bebê. – Diz, bravo.
– Não fale assim, Arthur, você sabe que já tenho uma certa idade, não
sou mais aquela mulher de 25 anos.
– Já sabemos que está tudo ok com sua saúde e que está mais que apta a
ter outro filho, mas realmente, não vamos discutir isso na frente das crianças.
– Argumenta a repreendendo, e ela revira os olhos.
– Sabe qual seu problema, Arthur Albuquerque? Falta de sexo. Uma
falta de sexo do caralho! – Ela diz e se desculpa logo em seguida, fazendo eu
e Matheus rirmos. – Como foi a viagem? – Pergunta, sorrindo.
– Foi excelente.
– Só isso? – Meu pai pergunta.
– Muito excelente mesmo. Foi “uau”! – Respondo, não querendo entrar
nos méritos da viagem, e ele sorri.
– Valeu a pena? – Doutor Arthur Albuquerque pergunta, olhando
fixamente nos meus olhos, e entendo exatamente o que ele quer dizer, e
mesmo sem graça respondo:
– Muito, pai. Valeu a pena esperar.
– Isso significa que não temos mais uma virgem em casa? – Matheus
pergunta, rindo, e meu pai taca o guardanapo na cara dele.
– Respeite sua irmã! – Minha mãe xinga.
– Não está mais aqui quem falou.
– Espero que não esteja mesmo Matheus, ou corto sua mesada se ouvir
mais qualquer insinuação. – Meu pai ameaça e eu rio chutando meu irmão
por baixo da mesa. Bem infantis! Eu sei.
BEATRIZ
(Para quem não conhece, os famosos Eggs que viraram sensação têm
esses formatos por dentro. São feitos para masturbação masculina, mas pode
ser usada para feminina também. Parece pequeno, mas ele se estica por todo
o comprimento do parceiro. Para o casal, um uso interessante é deixar a
parceira masturbar. Por conta da alta estimulação da textura do Tenga, a
sensação de prazer é incrementada pela falta de controle da pressão da mão,
velocidade e pelos diferentes tipos de texturas.)
– Relaxa Tutu, vou ter muito prazer te dando prazer e depois você vai
saber direitinho retribuir. – Digo, indo até minha bolsa pegar os
brinquedinhos enquanto ele se joga na cama completamente nu, me
aguardando.
Retiro minha roupa e o vejo tocando seu membro. Vinte anos se
passaram e eu me sinto da mesma maneira quando ele faz isso. Me posiciono
entre suas pernas e pego o pequeno ovo.
– Olha, se depois de todos esses anos juntos você vier enfiar algo em
lugares inapropriados, nós vamos nos divorciar! – Ameaça receoso, porém,
brincando. Quando abro o ovo, ele começa a rir. – Isso é para o meu pau?
Mari, mal vai caber a cabeça dentro disso.
– Arthur, fica caladinho que isso estica, vai caber tudinho, ou quase
tudo. – Explico, e ele morde o lábio aguardando.
Rasgo a embalagem do sachê de lubrificante e despejo dentro. Em
seguida, começo a trabalhar, deslizando o masturbador em sua extensão, e já
vejo resultados ao vê-lo gemer assustado com a sensação. Assim que desço
até o limite, começo a masturbá-lo lentamente e ele se torna um homem
violento, incapaz de conter as sensações só para si.
– Porra, isso é diferente. – Ele puxa meus cabelos com força e agarra o
lençol de maneira que seus dedos quase perdem a cor.
Vou movendo minha mão delicadamente de cima para baixo, ora
aumentando o ritmo ora diminuindo. Até que Arthur enlouquece e me
empurra fazendo com que eu pare o ato. Caio de barriga para cima na cama e
assim permaneço enquanto o vejo retirando o masturbador de seu membro
um tanto quanto irado e veloz. Ele se ajeita entre minhas pernas e me penetra
duramente num ritmo descontrolado, me fazendo uivar.
– Masturbador nenhum chega perto da sensação que é estar dentro de
você, Mariana, entende?
– Aham.
– Não vou gozar em brinquedinho, vou gozar na minha mulher e vou
fazê-la gozar junto. – Anuncia.
– Homem das cavernas. – Digo, e ele dá um tapa na minha cara, seguido
de um puxão de cabelo, que me faz tirar forças do universo para virá-lo e
ficar por cima dele.
Cavalgo no meu homem até que estejamos desintegrando juntos,
completamente saciados.
Dias depois...
Um final de semana inteiro junto de Victória, não sei se sairei vivo dessa
para contar.
Vou contar a história desde o início para que vocês entendam como fui
de vilão a vítima tão rapidamente.
Tudo começou com uma ida inocente ao cinema, na verdade não tão
inocente para mim, mas achei que para ela seria. Um beijo delicado que se
transformou quase em uma expulsão do cinema.
Nós fomos assistir um filme qualquer e, por obra do destino, o cinema
estava vazio. Quando vi que só tínhamos nós dois e mais um casal isolado,
logo me empolguei. Com apenas alguns minutos de filme, arrisquei minha
mão em sua coxa e, para minha surpresa, ela abriu levemente as pernas. Eu a
encarei completamente em choque e recebi como resposta um sorriso do mais
safado possível. Victória tem a cara de uma menina completamente inocente
e infantil, eu fui cuidadoso durante dias pensando que iria receber um chute
nas bolas se tentasse ao menos beijá-la, me deixei passar por gay e recebo
uma abertura de pernas de primeira? Isso foi a porra do maior choque da
minha vida!
Enfim, não fui direto ao ponto. Permaneci com a minha mão imóvel em
sua coxa e pude sentir o incômodo que isso estava lhe causando.
Delicadamente, puxei a proteção lateral da cadeira para que pudesse me
aproximar e a puxei para um beijo; queria ir com calma, mas ela demonstrou
que calma não é o forte dela quando enfiou uma das mãos pelos meus cabelos
e aprofundou o beijo violentamente, e quando sua mão livre voou direto para
o pacote no meio das minhas pernas, me fazendo arfar. Eu me joguei de
cabeça, mas não conseguia entender se naquele momento eu estava
decepcionado por ela ser tão ousada ou se estava feliz por saber que entraria
em sua calcinha em breve. Sinceramente, essa porra me atormentou por
alguns minutos e eu quase desisti da pegação.
O que me fez continuar foi quando sua mão saiu da minha calça e foi
direto para o meio das suas pernas; sim, Victória começou a se masturbar por
cima da calcinha e eu me senti um merda de um moleque assistindo a cena
atentamente, como se fosse um filme pornô. Me senti um maldito virgem sem
atitude tamanho foi o meu choque. Tudo piorou quando a demônio me
perguntou com a cara mais lavada e sem papas na língua se eu não ia fazer
nada. Você tem ideia de como eu me senti? Foi a maior humilhação de toda
minha vida, foi até mesmo maior do que quando comi duas mulheres e acabei
gozando em 1 minuto vendo elas se beijarem.
Eu não sabia o que fazer e onde enfiar minha cara; na verdade, eu soube
onde enfiaria quando num ato de loucura escorreguei até o chão e abri suas
pernas, trabalhando arduamente com minha habilidade oral. Eu a chupei até
que minha boca estivesse dormente e ela tivesse gozado duas vezes, e em
seguida recebi a porra do oral mais filho da puta que já recebi em toda minha
existência sexual. Victória me mostrou que as aparências enganam quando
sugou até o último líquido do meu prazer, sorriu abertamente como se nada
tivesse feito quando voltou a se acomodar na cadeira e fixou o olhar à tela do
cinema.
Eu fiquei jogado na cadeira, com a calça aberta e a porra do pau para
fora, respirando com dificuldade não pelo orgasmo, mas pela surpresa e
descrença de tudo que tinha acabado de acontecer. Não pude deixar de pensar
de onde essa criatura tinha tirado tanta experiência e ousadia . Por um minuto
quis me matar mentalmente por ter sentido uma leve fisgada no peito por
ciúme.
Assim que a sessão acabou, eu consegui me recompor e ela me deu sua
delicada mão para continuarmos andando pelo shopping e, sinceramente, não
lembro uma só palavra do que ela disse em todo trajeto. Depois que fomos
para casa, foi que a situação se complicou. Eu fui estuprado no corredor do
prédio e ainda tive que ouvir que estava parecendo um frouxo sem atitude,
porra como eu deveria me sentir? Eu nunca esperei uma porra dessa de uma
garota de 17 anos que tem a família certinha e a cara de anjo. Ela
simplesmente abriu meu zíper e fez todo processo de enfiar meu pau em sua
vagina, que por sinal é o protótipo do paraíso terrestre vaginal. Tão apertada e
quente. Vic emitia sons tão singelos no meu ouvido e disse coisas tão sujas
que era eu quem deveria estar dizendo. Ela feriu a porra da minha
masculinidade e, após isso, começamos a verdadeira guerra dos sexos.
No dia seguinte, eu quis provar-lhe o quão macho eu poderia ser e foi aí
que a brincadeira realmente começou. Desde então vivemos um
relacionamento completamente sádico e dominador, algo completamente
diferente de tudo que já fiz. Victória é extremamente sedenta e ativa, e eu
tenho me sentido como um Power Ranger na 'hora de morfar". Ela quer que
eu morfe toda hora, ela quer sexo o tempo todo e não um sexo comum, ela
quer ser fodida da forma mais brutal e alucinante, e eu estou completamente
em choque por não conseguir comer mais ninguém desde então. Para
completar, minha mãe fez a porra do favor de me colocar na mesma escola
que ela e Pietro estudam e, por obra do filho de uma quenga chamado
destino, eu estou na sala dela e a demônio me provoca a porra da aula toda.
Com uma semana de aula, já estou pensando em mudar de escola.
Nunca imaginei sofrer tanto na minha vida, mas é assim que tenho me
sentido, num completo sofrimento e vivendo dos prazeres carnais. Há
também a preocupação com o fato de sermos descobertos a qualquer minuto.
Ah, não contei isso? Pois vou contar. Eu pedi a demônio em namoro, eu,
Matheus Albuquerque, fui capaz de pedi-la em namoro. Sabe quando quis
namorar? Nunca! Mas com ela eu quis (ainda quero), porém, namorar não
está nos planos da vadia destruidora de pau e coração, ela gosta da adrenalina
de correr o risco de ser pega, ela é a porra de uma gostosa safada e eu estou
muito além de apaixonado. Já vislumbro um futuro onde casaremos e eu serei
pai de todos os filhos dela.
[...]
Estamos sentados no chão da sala da casa de praia e ela dá a ideia
brilhante de Jéssica ir buscar Bia e Bernardo. Assim que Jéssica sai, ela me
encara sorrindo.
– Onde você vai dormir? – Pergunta, com sua voz angelical.
– No meu quarto, se tivesse aceito minha proposta, talvez pudéssemos
dormir juntos. Podia ser a gente, mas você não colabora.
– Sem dramas, Matheus. Durante a madrugada, terei você entre minhas
pernas, aguarde. – Informa.
– Talvez não. Sou um objeto sexual na sua mão. – Informo, tomando um
gole de vodca para acalmar.
– Ninguém mandou ser gostoso.
– Então você assume que sou apenas um objeto? – Questiono.
– Caramba, você está carente hoje? Não, Matheus, você não é só um
objeto, você é meu amigo e gosto de compartilhar não apenas sexo com você.
– Diz.
– Estou pensando seriamente em só transar com você quando resolver
me assumir.
– Caramba, qualquer homem estaria feliz em ter uma amizade colorida.
Você é do contra completamente. – Ela diz, esbravejando, e minha irmã
chega nos encarando.
– Uau, o que está acontecendo aqui?
– Nada. Só estamos conversando sobre as diversidades de
relacionamentos. – Explico, e Beatriz sorri.
– Sei. Bom, vamos beber, comer e curtir a noite. O álcool pode trazer
algumas verdades à tona. – Diz, quando Jéssica a entrega um copo.
Vamos ver se o álcool tem esse poder então.
Matheus sai do quarto e eu fico triste por vê-lo tão sério. Ele nunca foi
assim.
Entro no banheiro e tomo um banho rápido. Sinto cada parte do meu
corpo dolorido, a cabeça pesada pelo sono e necessidade de dormir.
Assim que termino, me ajeito na cama e, minutos depois, ouço Bernardo
entrar no quarto e ir direto para o banheiro. Sorrio escondida debaixo das
cobertas e decido fingir que estou dormindo, assim consigo fugir de toda sua
braveza.
Estou quase dormindo realmente quando o sinto deitando-se ao meu
lado e, sem pensar duas vezes, o abraço.
– Eu não era babaca há alguns minutos atrás? – Questiona, emburrado.
– É o babaca que eu amo. Deixe eu ver sua mão. – Digo, e ele me
mostra sua mão um pouco inchada pelo soco. – Precisa de gelo?
– Já coloquei um pouco. – Responde, se virando para mim.
– Te amo.
– Também te amo, garotinha. – Responde e eu o beijo da forma mais
delicada, provando cada segundo, derramando amor e pensando no quão
grande esse sentimento se torna a cada dia.
Bê me puxa mais para seus braços e passa a comandar os movimentos, e
por incrível que pareça, como uma conexão forte, o frio na barriga surge, o
coração acelera e meu corpo morto volta a vida respondendo às carícias.
Ele para o beijo e, com os olhos fechados e as testas coladas, o vejo
sorrir enquanto controlamos nossa respiração.
– Eu nunca senti isso antes. – Diz, ainda com os olhos fechados, e eu o
aperto a mim, identificando plenamente com o que ele acabou de dizer.
– Nem eu, Bê.
– Nunca me deixe, promete? O que quer que aconteça, nunca vamos
deixar isso morrer. – Pede e lágrimas caem sem que eu seja capaz de segurá-
las.
– Eu prometo.
– Casa comigo. – Diz, e abre os olhos. Nossos olhares se cruzam e
diante da perplexidade eu não consigo responder, apenas chorar. Ele disse
isso ou é armadilha da minha mente tomada pela paixão? – Eu sei que você é
novinha e eu também sou, sei que namoramos há pouco tempo, sei que seu
pai vai me matar por isso, mas eu estou tão certo disso Beatriz, tão certo que
já tenho pensado nisso. Nós podemos fazer tudo com calma. Quero que seja
minha esposa e que num futuro um pouco distante possamos ter filhos, nós
podemos crescer juntos. Quero acordar com você ao meu lado, dormir com
você, viver com você... pode parecer exagerado, mas eu amo você
exageradamente. Apenas case comigo e eu farei valer a pena. – Pede, e eu
me pego imaginando uma cena que não havia passado em minha mente até o
momento; eu vestida de branco, indo em direção ao homem que me espera no
altar. Deus, é surreal, nunca idealizei isso e sequer pensei que um dia seria
pedida em casamento. Eu achei que viria para o Rio, curtiria bailes funks,
festinhas, pegaria geral e ele apareceu do nada e mudou tudo do dia para a
noite e, sem eu menos esperar, agora meu cavalheiro da armadura brilhante
propõe o que eu só conhecia em cenas de filmes e novelas. – Pare de chorar e
responda, por favor.
– Sim. – Respondo com um fio de voz e sou beijada fervorosamente. De
forma tão doce, ele abaixa a alça da minha camiseta e leva sua boca ao meu
pescoço onde distribui beijos molhados e delicados. Eu me viro, deixando
meu corpo livre para que ele faça o que quiser e me dê tudo o que quero e
preciso. Quando ele se ajeita entre minhas pernas, eu puxo sua cueca com os
pés, o liberando completamente para mim, e em seguida tenho meu short
retirado. Seu corpo cai sobre o meu e, sem urgência alguma, ele faz amor
comigo, de um jeito carinhoso e cuidadoso (pelas limitações que ganhamos
pelo uso excessivo da madrugada).
Cada gemido baixo que dá é o suficiente para que meu corpo inunde de
arrepios e fique mais entregue. Analiso suas bochechas rosadas, suas pupilas
dilatadas e sua boca seca, e vejo a verdadeira personificação do desejo mais
cru e primitivo estampado nele. A forma como se preocupa em me dar prazer
antes mesmo de ter seu próprio prazer é algo tão íntimo, intenso e
apaixonante. Eu não consigo imaginar ser tocada por mais ninguém, meu
corpo o pertence completamente e ele sabe exatamente cuidar e aproveitar
isso, lidar com a minha entrega, com as minhas fraquezas e até mesmo com
as minhas resistências. E, tão conhecedor de mim, sabe perfeitamente que
quando nossas bocas se conectam, a explosão é quase avassaladora. Me perco
completamente no universo do prazer e o arrasto junto comigo.
Ele nos puxa de maneira que ficamos deitados de lado, ainda conectados
e ofegantes, nos recuperamos do sexo, mas não da intensidade. Lágrimas
caem de seus olhos e, como se programado, os meus os acompanham. Que
amor é esse??? Não sei, mas sei que quero desfrutar disso até o infinito.
BEATRIZ
DIAS DEPOIS
Sabe quando tudo está bom, perfeito demais para ser verdade?
Pois é... está! Estava...
Parada diante da porta, sinto meus olhos perderem o foco e o sangue do
meu corpo sumir completamente.
Não acredito no que estou vendo, não depois do que vivemos nas
últimas semanas.
Um pedido de noivado, um anel, todos os jantares em família,
revezamento de casas, todas as noites que passamos juntos dividindo o tempo
em transar como dois malucos e fazer planos incríveis para o futuro. Até
mesmo eu ter me tornado voluntária dos abrigos... tudo em vão. Ao menos ter
me tornado voluntária valeu a pena, porque o resto acabou de ir por água
abaixo.
Não sei se grito, "se dou na cara dela ou bato em você" ou se banco a
fina e saio de fininho...
Eu sabia que a Maria do bairro era uma puta de marca maior, mas não
sabia que Bernardo seria tão baixo a ponto de ficar com ela num coquetel
onde está toda nossa família. Na verdade, eu nunca o imaginei fazendo
qualquer coisa desse tipo, traição não combina com ele. Me enganei.
A língua dela está na boca dele, e o ódio está me tomando enquanto vejo
aquelas unhas postiças cravadas na bunda do meu namorado. Sinto vontade
de sumir daqui e ir para um lugar onde eu possa gritar e chorar até
desintegrar, mas, que Deus me perdoe, bancar a fina não é comigo, eu gosto é
do caos. Eu preciso machucá-los, preciso que eles sintam ao menos um pouco
de dor para ficarmos todos quites, e é pensando nisso que dou um chute na
porta com meus legítimos Louboutins de 15 cm porque classe é tudo, sambar
de Louboutins na cara da inimiga é revigorante e ver a cara do Bernardo
completamente sem cor, me encarando, é quase libertador.
Meu assunto não é com ele agora, não mesmo!
– Beatriz... – Ouço sua voz enquanto caminho diretamente para a Maria
do bairro, da cidade, do mundo... ela é puta universal!
Assim que paro diante dela, vejo uma leve ameaça de sorriso vitorioso
que morre assim que minha mão estala de forma bastante audível em seu
rosto, fazendo-a dar três passos para trás. A satisfação me toma quando vejo
o terror estampado na cara de pau que ela tem.
– Bia, por favor, vamos conversar. – Bernardo diz, me puxando pelo
braço, e eu dou um chute em seu saco, exatamente como quando nos
conhecemos no elevador. Se é pra fechar o ciclo doentio no qual estava
envolvida, tenho que fechar com chave de ouro e nada melhor que termine da
mesma forma que começamos. – Porra. De novo. – Diz, se contorcendo,
ajoelhado no chão. De relance, vejo Maria tentando fugir, porém sou mais
rápida e a pego pelos cabelos. Minha vontade é arrancar cada um deles.
– Cadê a coragem que estava estampada na sua cara quando estava
beijando meu ex noivo? – Pergunto e ela sorri, me deixando louca.
Aperto os cabelos dela com tanta força, que sou capaz de afirmar que
assim que os soltar terei um tufo gigante em minhas mãos.
– Você está me machucando. – Ela grunhe.
– Não tanto quanto você me machucou. Vamos lá, Maria, me diga que
coquetel é esse? – Pergunto.
– Das crianças... merda está machucando.
– O que acha que eles vão pensar quando você for jogada em cima do
palco como a puta perfeita e imunda que é? O que acha que Eliza e Bernardo
vão pensar da menina que eles tanto ajudaram e hoje está destruindo não
apenas um relacionamento, mas um coquetel que foi tão esperado? –
Pergunto, observando-a me lançar um olhar desafiador.
Olho para Bernardo no chão e ele implora com os olhos para que eu não
faça nada, e por incrível que pareça isso só me motiva.
– Você não teria coragem. – A puta diz entre gemidos e eu dou outro
tapa em sua linda cara, e outro e outro... até que eu esteja satisfeita. Ela nem
ao menos tenta revidar, parece encarnada no papel de vítima por completo.
Talvez eu responda por agressão e doutor Arthur tenha que me defender nos
tribunais, foda-se, isso é tudo que não importa agora.
Ando com ela por todo corredor, sem soltar seus cabelos e sob o olhar
curioso de várias pessoas que encontramos pelo caminho. Assim que chego
no grande salão é que o show realmente começa. Centenas de pessoas,
incluindo meus pais e os pais de Bernardo, voltam o olhar para nós
duas. Basta um olhar para minha mãe para que ela saiba exatamente o que
acabou de acontecer e acene a cabeça discretamente para que eu faça o que
quer que seja... Eu amo minha mãe!
Meus passos se tornam mais firmes e decididos após isso, e quando
chego em frente ao palco, jogo-a no chão com o rosto completamente
vermelho e os cabelos completamente desarrumados, a perfeita imagem da
humilhação.
– Beatriz, o que houve? Pelo amor de Deus! – Minha sogra me pega
pelo braço. Encaro-a. Vejo choque e decepção, e pela primeira vez, permito
derramar uma lágrima. Ela não merecia isso, mas eu também não.
– Me desculpe, Liz. – Digo e, desvencilhando de seus braços, corro até
que esteja fora daquele ambiente que se tornou insuportável.
Fora do salão, o vento se faz presente e eu tomo uma lufada de ar com
os olhos anuviados.
– Filha, espere. – Meu pai chega correndo e eu o abraço o mais forte que
consigo.
– Pai.
– Cadê aquele moleque? O que ele fez com você? Eu vou matá-lo!
– Matheus já foi resolver isso. – Minha mãe chega dizendo. – Leve-a
para casa, eu e Matheus vamos de táxi.
– Não posso deixar vocês aqui. – Meu pai diz.
– Vá, Arthur, obedeça ao menos uma vez. – Meu pai acata e juntos
andamos até o carro.
Ele não me pressiona e eu o agradeço por isso. Seguimos ao som do meu
choro para casa e, assim que chegamos, vou direto para o quarto, tranco a
porta com chave e entro debaixo da ducha com roupa e tudo...
O vestido preto gruda ao meu corpo e a água desfaz meu penteado. Tiro
meus saltos e escorrego pelo blindex. Vislumbro o anel em meu dedo e me
sinto miserável, ingênua por ter acreditado na história de irmandade entre ele
e Maria que me foi passada.
Bernardo foi o primeiro homem que conseguiu me mudar por completo,
foi meu primeiro amor, meu primeiro sexo e o primeiro a destruir meu
coração.
[...]
Nos três dias que sucederam o acontecimento, me mantive no quarto.
Meus pais, meus avós, Matheus, Jéssica, nenhum deles ousou dizer nada
sobre Bernardo. Vinham até meu quarto apenas trazer comida, doces. Meu
pai sempre trazia flores, mas nunca tentaram me persuadir a sair do
quarto. Meu celular já não existia mais. Era apenas eu e Simba e Netflix e
comida e lágrimas e vômitos. Me sentia doente de verdade. Na madrugada
de terça-feira, ouvi a maçaneta girar pela primeira vez e agradeci por ter
trancado a porta... quando completou 7 dias, acordei decidida a comemorar
os 7 dias de falecimento do meu coração.
Bernardo vai querer nunca ter me magoado!!!
BERNARDO
Assim que chegamos na casa de Bê, Liz me puxa pelo braço e andamos
até ela abrir uma porta (que eu jurava ser um armário embutido) e me levar
para um lindo escritório com vista para a lagoa. Fico abismada com o bom
gosto da decoração, mas tudo passa quando sua voz me tira do deslumbre.
– Sente aqui. – Ela bate no sofá e eu me acomodo ao seu lado. – Então,
como você está lidando com a novidade? – Pergunta, segurando minhas mãos
com uma doçura que eu jamais imaginei. Achei que ela iria me matar, ou me
odiar, mas ela está aqui segurando minhas mãos.
– Eu não sei. Não caiu a ficha. Às vezes, tenho picos de realidade e em
seguida é como se tudo tivesse normal. Em um dos picos, só consigo pensar
que daqui 9 meses minha vida nunca mais será a mesma. – Respondo,
sinceramente.
– Não só daqui 9 meses. A partir do momento em que descobrimos uma
gravidez, tudo muda. Você pode não conseguir visualizar agora, mas muda
para melhor, por mais jovens que vocês sejam.
– Não consigo ver nada melhor nisso. Só tem 3 meses que estamos
juntos. – Confesso enquanto ela fica me estudando por alguns segundos.
– Pouco né? Mas o que você sente por ele? O que você sentiu no
primeiro instante que o viu? É uma conversa de mulheres, e não de sogra e
nora. – Ela questiona sorrindo e eu me ponho a pensar.
O que senti quando vi Bê pela primeira vez? Primeiro, eu senti
desespero por ter dado um chute nas bolas dele, isso é fato. E quando ele
levantou o rosto, eu senti surpresa; quando pude contemplar o rosto dele, o
choque me tomou, foi atração à primeira vista e eu senti uma enorme vontade
de rir, porque aquilo parecia surreal. Depois o encontrei na festa e tive um
deslumbre do seu corpo, e que corpo, a primeira coisa que notei foram os
braços fortes, não bombados, mas fortes. Em seguida, tive um encantamento
gratuito ao saber dos abrigos e pude perceber que ele não era um garoto
convencional, ele era "grande" em sua bondade. Então, senti que ele era um
desafio, e desafios me atiçam, tanto que quis provar a mim mesma que eu
conseguiria tê-lo naquela noite, e foi exatamente o que fiz. Eu o agarrei e
assim que fiz isso descobri que estaria fodida, pois descobri que Bê era bom
demais e trouxe à tona uma vontade louca de sexo em mim. Acho que aquela
noite eu me apaixonei, rápida e enlouquecidamente por ele. E agora,
pensando em tudo que vivemos, até mesmo em tê-lo pego beijando Maria, eu
tenho a certeza de que o amo. Os setes dias que ficamos separados foram os
piores de toda a minha existência. Não restam dúvidas, eu o amo e agora
preciso responder à pergunta de Liz.
– Eu o amo. Nós somos tão diferentes e nos encaixamos tão bem um ao
outro. Sinto que eu trouxe um pouco de loucura para vida dele e ele trouxe
um pouco de juízo para a minha.
– Você consegue se imaginar sem ele, Bia? – Pergunta e eu me
questiono aonde ela quer chegar com isso.
– Não gosto de cogitar essa hipótese. Depois do que aconteceu com ele e
Maria, os setes dias que nos separamos foram os piores dias da minha vida,
Liz. Eu ficava pensando em como seria não ter mais os beijos, o carinho, até
mesmo ele tentando me controlar.
– E agora vocês estão juntos e terão um bebê. Vocês fizeram isso Bia,
esse bebê é fruto do amor de vocês dois. Não existe idade, momento certo, se
aconteceu é porque tinha que acontecer. O destino reservou isso. Eu acredito
muito no destino Bia, eu tenho uma forte razão para acreditar. Você sabe
como conheci seu sogro? – Ela pergunta, dando um sorriso orgulhoso.
– Não, mas tenho curiosidade de saber.
– Vou contar resumidamente, ok? – Ela diz radiante e eu aceno a cabeça,
concordando. Sempre quis saber como foi o início deles. – Eu tinha um
namorado, Humberto. Ele era lindo, absolutamente lindo e sexy. Ele tinha
tatuagens, piercing, um corpo lindo. Eu me apaixonei rapidamente porque ele
fazia tudo para me agradar e me deixar deslumbrada, era o namorado
perfeito, até o dia que meu pai morreu. Assim que meu pai se foi, ele mudou
completamente; começou a querer controlar a empresa que herdei, começou a
se tornar altamente possessivo a ponto de eu não poder conversar com
ninguém, controlava minhas roupas, meus horários, tudo. A paixão que eu
sentia começou a se tornar repulsa, eu tinha pavor quando ele me tocava,
fazia tudo por obrigação até que um dia ele me jogou dentro de um carro e
disse que iria nos matar. Eu tentei de tudo para convencê-lo a não fazer isso,
mas ele estava decidido que nós dois morreríamos juntos e eu, num ato de
loucura e desespero, abri a porta do carro e me joguei. – Ela diz, enquanto
lágrimas escorrem dos meus olhos. – Foi a coisa mais certa que eu fiz na
minha vida. Eu caí aos pés de um morador de rua. E esse morador de rua me
defendeu bravamente contra Humberto. E assim que Humberto se foi e eu
olhei nos olhos daquele morador de rua, soube que minha vida mudaria ali,
naquele momento. O morador de rua era Bernardo.
– Uau! Eu achei que vocês se conheceram depois que ele já não era mais
morador de rua. – Digo, arrepiada.
– Não. Ele era e eu precisava ajudá-lo. Eu simplesmente não conseguia
deixá-lo ali e inventei uma desculpa pela segurança dele e o fiz ficar comigo.
Mas não foi fácil. Nós combinamos que ele ficaria na minha casa por 7 dias,
e foi exatamente o que ele fez. Foram os setes dias mais loucos da minha vida
e foi o tempo que precisei para me apaixonar perdidamente por ele. E quando
eu acordei no sétimo dia, ele não estava mais lá, ele havia partido. Bê sumiu
por oito meses, os oito piores da minha vida, porque eu sabia que ele estava
vivo. Eu perdi duas pessoas que amava para a morte, mas perder alguém que
você ama para a vida é a pior sensação do mundo, porque você sabe que a
pessoa está em algum lugar e você não tem acesso a ela. Bê não aceitou que
eu o ajudasse, que eu o sustentasse ao menos até ele ter uma capacitação e
trabalhar em algo. Ele era um pouco orgulhoso, dizia que precisava ser um
homem digno com seus próprios meios. E aí se foi, sem ao menos se
despedir, e eu quis morrer de verdade.
– Meu Deus!
– Eu dirigia pelas ruas durante a madrugada em busca dele, eu rodava
por todos os cantos, até em favela eu cheguei a ir e nada, absolutamente nada
dele. Oito meses depois, Luz e João me convidaram para um desfile e eu,
com nenhuma vontade, aceitei ir, ficamos na primeira fila. Até arrepio de
lembrar. – Ela diz, corando, me deixando intrigada. – E então as luzes
diminuíram e uma música eletrônica perfeita começou a tocar e veio um
homem lindo desfilando com uma sunga preta, Cap de policial, segurando um
cassetete na mão, e parou diante de mim. Lembro que eu fui subindo o olhar
lentamente, e eu estava feliz porque em oito meses aquela era a primeira vez
que eu estava sentindo atração por um homem. Eu fui subindo, analisando
cada parte do corpo. Ele tinha coxas musculosas, uma barriga com seis
perfeitos gomos, os braços fortes e sarados, e quando subi mais o rosto, parei
no sorriso, eu o reconheci pelo sorriso. – Ela diz com lágrimas nos olhos e eu
desabo em rios de lágrimas. – Era meu Bê. E ele estava incrivelmente lindo.
Na hora, eu quis matá-lo por ter me feito sofrer por oito meses. Eu sai do
desfile com um misto de emoções, me joguei no mar, lutei contra o
sentimento, mas não resisti. Me entreguei a ele na primeira oportunidade, eu
o amava, eu o amo.
– Ai que lindo isso! Deveria virar um livro.
– Ok, sem mais lágrimas. – Ela diz, sorrindo e limpando o rosto. Solta
um suspiro e volta a falar. – O que eu quero dizer com isso é que não adianta
brigar contra o destino, se tiver que acontecer vai acontecer. E aconteceu.
Agora você precisa pensar nesse bebê aí dentro, pensar no relacionamento
com meu filho, pensar no que é melhor para vocês. Sua vida não acabou, sua
juventude não foi jogada fora, Bia. Você vai continuar estudando até quando
for possível e depois vai dar um intervalo para cuidar do meu neto ou neta, e
vai voltar a estudar novamente. Sua vida vai continuar. O Bernardo já é
autossuficiente, ele nunca deixará faltar nada a vocês, e eu sei que eu, meu
marido e seus pais também não. Nós te daremos todo suporte. Não é o fim do
mundo, minha linda. É o início de uma nova vida para você. Eu tenho certeza
que, assim que tiver seu filho no colo, você vai se perguntar como pôde ter
conseguido viver sem esse serzinho. Só vai ter lugar para o amor nesse
coraçãozinho. Embora eu saiba que é assustadora a descoberta sem
planejamento, não se assuste. Tudo vai dar certo.
– Obrigada, Liz. – Digo, abraçando-a e chorando, e me sentindo uma
traidora. Minha mãe sempre foi minha melhor amiga e até agora eu não tive a
coragem de contar para ela ainda.
Essa conversa me alertou o quão bom é ter um porto seguro, e por mais
que Liz esteja me passando todo seu amor, experiência e carinho, eu sei que
minha mãe é insubstituível. O mínimo que tenho que fazer é ir até ela e
contar.
Levanto do sofá decidida.
– Eu preciso ir.
– Você não vai ficar? – Ela pergunta, assustada.
– Essa conversa me alertou sobre algo, eu preciso conversar com a
minha mãe, Liz. Eu não tenho palavras para agradecer o que acabou de fazer
por mim, você me abriu o horizonte.
– Minha linda, você é como uma filha. Eu quero que você e meu filho
sejam muito felizes, assim como eu e o pai dele somos. – Ela me dá um beijo
na testa.
– Eu também quero.
Nós saímos do escritório e encontramos nossos respectivos amores
tomando vinho e conversando. Bê se levanta e vem até mim.
– Está tudo bem?
– Sim. Eu preciso conversar com a minha mãe, se importa de não
dormirmos juntos hoje?
– Vou sentir sua falta, mas eu entendo. – Ele sorri.
Me despeço de todos e decido enfrentar meus próprios receios.
Entro em casa e dou de cara com Matheus dando um tapa na bunda de
Jéssica.
– Gostosa viu Jessica, Jessicat rima com?
– Rima com a minha mão na sua cara, Matheus!
– Rima com você na minha cama. – Matheus diz, rindo.
– Ok, meus pais chegaram? – Digo, e eles notam minha presença.
– O que houve? Aquele babaca fez algo com você? – Matheus vem até
mim.
– Não irmãozinho, e não chame meu namorado de babaca!
– Filhotinha, brigou com Bernardo novamente? – Minha mãe surge,
vindo do quarto completamente radiante numa camisola de seda preta com
detalhes TRANSPARENTES. Ok, e se meu namorado tivesse aqui? Ele a
veria seminua!
– Não, mãe. Eu preciso conversar com você. – Anuncio e ela paralisa,
me analisando friamente. Pela morte do seu sorriso, sei que ela percebeu que
é algo sério.
– Claro. – Ela me oferece a mão e eu vou até ela. Juntas subimos para
meu quarto e nos acomodamos sobre a cama. – O que aconteceu? – Pergunta,
e eu decido soltar tudo de uma só vez.
– Mãe, eu não queria, de verdade, sabe. Sempre fui tão bem assessorada
por você, você e papai sempre fizeram questão de falar abertamente sobre
esse assunto, eu e Matheus tivemos realmente toda uma educação sexual.
– Você está grávida! – Ela afirma e se levanta descompensada. – Meu
Deus, Beatriz. Você está grávida!!!
– Mãe... – Digo, enquanto ela puxa os cabelos, transtornada.
– Não. Me dê 5 minutos para digerir que serei avó e mãe ao mesmo
tempo e nós voltamos a conversar. – Diz, indo até a varanda do meu quarto e
volta segundos depois. – Ok, não tem como esperar 5 minutos. Como? O que
houve? Você não tomou nada que pudesse cortar o efeito da pílula. Só me
explique como Beatriz.
– Eu esqueci de tomar a injeção.
– Meu Deus Beatriz, como você me faz isso? – Ela grita. – Calma, é
isso, eu preciso me acalmar. Eu preciso agir como mãe e amiga, ok, eu
entendi. – Diz para si mesma. – Oh, meu Deus!!!!!!!! Arthur vai matar nós
duas, eu sei. – Ela desespera e então respira fundo diversas vezes. – Ok, estou
mais calma. – Diz, andando de um lado para o outro, demonstrando um total
estado de loucura. Eu fico muda, apenas observando.
– Mãe, eu preciso de você. – Peço, e as palavras parecem surtir efeito.
Ela para de andar e senta ao meu lado.
– Eu sei, eu estou aqui, sempre estarei. É que eu jamais esperei uma
notícia dessas tão cedo. Jamais, Beatriz.
– Nem eu esperei mãe, mas agora não há o que fazer. – Choramingo.
– Quando descobriu?
– A confirmação foi hoje, mas a suspeita começou no final de semana
passado. Eu estou de pouquíssimo tempo, nem 1 mês.
– E como se sente com isso?
– Confusa. Do dia para noite, minha vida mudou. Eu nunca pensei em
constituir família e de repente aqui estou eu, grávida. E não sei o que devo
fazer ou como proceder diante disso. – Confesso.
– Ao menos Bernardo é um excelente rapaz, filha. É muito cedo, vocês
estão juntos há poucos meses e são jovens, mas agora precisam ser adultos e
pensar no melhor para essa criança. Deus, eu sou tão jovem e maravilhosa e
você vem e me transforma em avó. Seu pai super dá no coro e agora vai ser
avô. Seremos avós que fazem sexo, isso é doido. – Divaga consigo mesma.
– Mãe, por favor.
– Desculpa, mas porra, isso é doideira demais. Meu filho ou filha vai
nascer junto com o sobrinho ou sobrinha. Ao menos, vamos poder ir ao
shopping comprar coisas juntas para decoração dos quartos e tudo mais.
Podemos fazer pré-natal juntas. – Ela sorri e bate palmas animada. Seria
Mariana Barcelos um caso a ser estudado pela NASA? – Ok, você ainda não
está no clima. E Bernardo?
– Ele está bem, ele é centrado demais e confiante.
– Ele é perfeito, filha. Não preciso perguntar se você o ama, eu soube
desde a primeira vez que o vi que vocês ficariam juntos. Vocês têm um longo
caminho pela frente e sei que ele será um excelente pai.
– Pois é, ele será um excelente pai, mas e eu? Eu serei uma excelente
mãe? Eu serei uma excelente esposa? Eu serei o que, mãe? – Pergunto, e ela
me encara em choque.
– Esposa? – Ela grita e eu cubro meus ouvidos com as mãos. Acho que
esposa foi demais!
MARIANA
REAÇÃO À NOTÍCIA
Revoltado me define. Por que essa diaba tinha que ter aceitado fazer um
trabalho de dupla comigo? Maldito inferno que estou vivendo!
A professora montou as duplas e eu tentei de todas as maneiras mudar,
teria conseguido se Victória não tivesse insistido em continuar alegando que
moramos lado a lado. Pela lógica, era só ela fazer com Pietro, que mora sob o
mesmo teto. Agora estamos no consultório discutindo por mensagens de
textos.
Quando torna-se demais, eu decido sair do ambiente claustrofóbico e
vou para o corredor, necessitando tomar um ar fresco. Vejo algumas gostosas
passando pelo corredor e então a diaba surge.
– Você está agindo como um moleque! – Ela acha que tem o direito de
vir atrás de mim.
– Você está agindo como uma tirana e com segundas intenções! –
Rebato.
– É só um trabalho!
– Só um trabalho que vai terminar na cama, com você cavalgando em
meu pau e voltaremos à rotina sexual desenfreada! – Argumento e ela solta
um gemido que me leva direto para a beira do abismo. Victória sabe todos os
meus pontos fracos e eu me odeio por ter permitido que ela entrasse tão
profundamente em minha vida.
– Como terminará? – Pergunta, segurando minha blusa e colando seu
corpo ao meu.
– Vic, não dá. Eu quero muito mais do que você tem a oferecer. – Digo,
respirando fundo.
– Somos jovens, temos apenas 17 anos.
– Não importa que tenhamos 17 anos, Vic, eu amo você. – Afirmo,
deixando-a visivelmente chocada.
Então ela foge, mais uma vez.
Eu juro por Deus, ela é a pessoa mais complexa que já conheci em toda
a minha vida. Se ela não corresponde, por que não me deixa ir?
A consulta termina. Vamos até um restaurante e nos sentamos o mais
afastados possível. Não conversamos mais no dia de hoje...
Mas no dia seguinte...
– “...E quando a toco, descubro que a atração física não apenas existe,
mas também dá lugar à novos sentimentos e novas forças, fazendo com que
eu tenha descobertas. Eu e você não somos apenas corpos em busca de
prazer. Cada toque é responsável por contar histórias e fazer declarações não
ditas, os gemidos viram melodias que alimentam o momento, tornando-o
mágico e perfeito, preenchendo a alma. Já li em algum lugar que atrações
físicas são comuns e as atrações mentais raras. Porém, é injusto que nenhum
estudo, nem mesmo a química, tampouco a física, consiga explicar o que
acontece quando fundimo-nos em um só. É injusto que você queira fugir da
lei da atração, porque uma vez que seu corpo se desloca, o meu entra em
completa inércia. Da mesma forma que eu preciso de você, sei que algum dia
o meu amor será a força motriz que irá levá-la à lugares onde nunca imaginou
ir.”
– Uau! Você arrasou! – Ela diz, emocionada, e então eu releio a merda
do texto que acabei de criar para a porra do trabalho de português. Onde eu
estava com a cabeça? De repente, tornei-me poeta.
– Pronto! Eu deveria dizer a professora que eu fiz a porra do trabalho
praticamente sozinho. Que a bonitinha aí fez apenas a capa e deu algumas
poucas sugestões. –Protesto.
– Você sabe lidar com o amor melhor que eu. – Suas palavras atraem
minha atenção.
– É visível desde sempre. – Digo, mexendo em meu celular, e então
meus olhos são atraídos quando ela se põe de pé e retira sua roupa, me
deixando num estado de calamidade completo. – Vic, vista suas roupas. –
Peço.
– Não. – Informa e eu guardo o trabalho, tentando não olhá-la. O que é
impossível pra caralho. Seu corpo, sua presença, são como ímãs para meus
olhos. É além da atração física, além da atração mental. Maldita hora que
meus pais mudaram para o Rio. O que parecia ser bom, tornou-se uma dor na
minha bunda. Nunca imaginei sofrer tanto.
Ela joga nossas mochilas no chão e sobe na cama. Traz seu pé em meu
peitoral e empurra até que eu esteja deitado. Então, se abaixa e eu a pego com
toda a vontade que possuo em meu interior.
Algumas coisas estranhas começam a acontecer.
A primeira delas é ela me pedir para ir com calma.
A segunda é ela permitir que eu esteja no controle da situação de forma
não violenta.
A terceira é uma nova conexão, inexplicável.
A quarta acontece quando ela goza e começa a chorar, proferindo
palavras as quais não consigo encontrar explicações lógicas:
– Você fez amor comigo. – Ofega, limpando as lágrimas. – Eu nunca
senti prazer assim, nunca.
Olá, leitora!
Obrigada por ter lido mais um de meus livros. Agora, eu gostaria de
pedir um enorme favor; se você gostou do meu livro, gostaria de te pedir que
deixasse uma avaliação, pois isso é muito importante para mim.
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meu trabalho.
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Table of Contents
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Bônus