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1.1.

Esclarecimento de Conceitos: Personalidade, Carácter, Temperamento,


Competências, Identidade
Em primeiro lugar, devemos realizar que alguns destes conceitos (caracter,
identidade, personalidade) são usados de forma intercambiável por muita
gente. A seguir tentámos esclarecer e diferenciar estes conceitos em maior
detalhe, realizando que diferentes autores podem utilizar definições que
variam.
1.1.1. A Personalidade
A personalidade é o conjunto de características psicológicas e
comportamentais que podem ser observadas numa pessoa. Não é fixa, é
dinâmico, dependente do contexto individual que pode mudar no curso da sua
vida. A personalidade desenvolve-se, durante a vida, e é influenciada por
factores físicos, psicológicos, culturais e morais.
Estes factores interligam-se, dependendo de como o indivíduo se adapta ao ambiente, em que a
pessoa vive, ao longo do tempo da vida.

São quatro os factores apontados pelos antropólogos como determinantes da formação da


personalidade de um indivíduo:
 As características biológicas e genéticas dos sistemas neurofisiológico e endocrinológico;
 As características do ambiente natural e social, em que o indivíduo vive;
 A cultura, de que o indivíduo participa;
 As experiências biológicas e psicossociais únicas, ou a história de vida do indivíduo.

Para descrever a personalidade o modelo ‘Big 5’ é utilizado muito para captar o essencial da
personalidade de alguém, e é composto de 5 dimensões, cada um como um continuum entre dois
opostos:
Abertura à experiência, Convencional, conservador
receptividade à novidade
Consciencioso, responsável e perseverante Impulsivo e descontraído
Extroversão: obter energia de tempo gasto com Introversão: obter energia de tempo
outros sozinho
Amabilidade, ser agradável e tolerante Ser dominante;
Neuroticismo: ser propenso a mudanças de Ser estável, calmo e relaxado
humor, reagir emocionalmente, ser estressado.

1.1.2. Composição da Personalidade


A personalidade é um termo guarda-chuva que facilmente se confunde com
outros termos como carácter, temperamento, identidade. Dentro do conceito de
personalidade pode se distinguir 3 aspectos: o carácter; o temperamento; e as
competências.
a) O carácter
Também visto como a natureza duma pessoa, refere-se mais às propriedades estáveis da pessoa,
a predisposição recebida no nascimento, embora que haja diferenças de opinião sobre a
influência relativa da natureza (‘Nature’) e criação (ambiente; ‘Nurture’) na determinação da
personalidade. Então o carácter pode ser considerado como a parte da personalidade que é mais
difícil de mudar e que é mais estável. Muitas das vezes o carácter é também considerado como a
camada mais profunda da personalidade.
b) O temperamento
Refere-se à vivacidade duma pessoa, a intensidade com que os estímulos são respondidos, o
nível geral de energia e actividade duma pessoa.

Hipócrates, filósofo grego, foi o primeiro a formular uma teoria do temperamento, baseando- na
teoria dos quatro fluidos corporais (humores): sanguíneo (sangue), fleumático (linfa ou fleuma),
colérico (bílis) e melancólico (astrabílis ou bílis negra). Cada um deles possui uma determinada
característica:

1 - Sanguíneo:
 Pessoa marcante, que não passa despercebida. O seu
espírito é jovial, apaixonado, alegre e sociável;
 É ágil e rápido, tem muita vitalidade, está sempre animado,
gosta do contacto com a natureza, tem amigos em toda a parte. O seu ritmo
é rápido, entusiasta, os movimentos são amplos, dinâmicos e expansivos;
 É um actor nato, exuberante;
 Tem um espírito positivo, prático;
 É alegre;
 É apreciado, pelo seu carácter optimista e caloroso. Sempre demonstra amabilidade,
mesmo quando não sente nada, podendo até cometer pequenas mentiras, aumentando ou
diminuindo as situações, para aparecer ou conseguir o que deseja;
 Expansivo, optimista, mas irritável e impulsivo.

2 - Colérico:
 É uma pessoa calorosa, rápida, impulsiva.
Zanga-se facilmente;
 Esta pessoa é prática, tem muita força de vontade
e é auto-suficiente, e muito independente;
 Tende a ser determinada e com opiniões fortes,
tanto para si como para os outros, e tende a tentar impô-las;
 Ambicioso e dominador, tem propensão a reacções abruptas e explosivas.
3 - Fleumático:
 É uma pessoa calma, tranquila, e raramente fica zangada;
 As pessoas deste temperamento são bem equilibradas;
 O fleumático é frio e é preciso, na tomada de decisão;
 Ele prefere viver numa vida feliz, sem perturbações;
 Pode se dizer que é o melhor temperamento;
 sonhador, pacífico e dócil, preso aos hábitos e distante das paixões.

4 - Melancólico:
 É uma pessoa com alto nível de sensibilidade;
 É o mais rico e o mais complexo de todos os temperamentos;
 O temperamento melancólico geralmente faz com que a pessoa seja
dedicada, talentosa e perfeccionista;
 Esta pessoa é de natureza muito sensível, emocional, e é propensa à
depressão;
 É a pessoa que mais aprecia as artes;
 É propensa à introspecção;
 Nervoso e excitável, tendendo ao pessimismo, ao rancor e à solidão.

Adiante, esta teoria foi actualizada por Wundt (1903), que tratou de definir duas dimensões do
temperamento: a “intensidade dos movimentos internos (emoções)" e a "velocidade da variação
dos movimentos internos (emoções)". Acerca da primeira dimensão, Carl G. Jung introduziu a
classificação de introvertido (pessoa voltada para dentro ou fechada) e extrovertido (pessoa
voltada para fora, aberta e mais simpática e acessível).

Concluindo, na realidade é muito raro que uma pessoa tenha as características de um só tipo de
temperamento. As personalidades são complexas. O indivíduo nasce com determinado
temperamento, mas os factores ambientais podem modificar-lho: a educação; a alimentação; as
doenças; o clima; os acontecimentos e outros factores causam algumas transformações, nos
traços temperamentais. A vida ensina o homem a controlar ou a estimular o seu temperamento.
Conhecendo-nos bem, podemos dominar os aspectos negativos e estimular e desenvolver os
aspectos positivos.

Porém, vale ressaltar que esta tipologia, já não é frequentemente utilizada, e a ideia que o nosso
temperamento tenha qualquer relação com os fluidos corporais ficou completamente
ultrapassada.

c) As competências ou habilidades
Trata-se daquilo para o qual uma pessoa pode ter uma predisposição, mas que depende do
ambiente e contexto para ser desenvolvido. Como exemplo, podemos citar a capacidade de tocar
um instrumento musical, de praticar certo desporto, ou as competências cognitivas que são
objecto dos currículos universitários.
Pode-se distinguir entre competências específicas a uma disciplina ou profissão; e competências
genéricas que se aplicam a todas as disciplinas.

Dentro das competências genéricas, alias as competências que cada um de nos precisa, se
encontram também as habilidades de vida: é o conjunto de habilidades psicossociais para
desenvolver comportamentos que permitem um indivíduo lidar com os requerimentos e os
desafios da vida diária, e de participar plenamente e de forma produtiva na sociedade.
Elas devem permitir-nos negociar e proteger-nos de uma série de ambientes e comportamentos
de risco.

Importantes Habilidades de Vida (CASEL, 2015)1


Competências Autoconsciência: avaliar os seus próprios sentimentos, interesses,
pessoais valores e forças; desenvolver auto-confiança;
Auto-gestão: regular as suas emoções para lidar com estresse, e
controlar impulsos;
Competências Consciência social: ser capaz de ter a perspectiva e de ter empatia com
interpessoais os outros;
Habilidades de relacionamento: desenvolver e manter relacionamentos
saudáveis e gratificantes; ouvir e escutar; comunicar; resistir pressões
sociais inapropriadas; resolver conflitos;
Competências Tomada de decisão responsável: tomar decisões na base de normas
cognitivas sociais apropriadas e respeito para os outros;
Aplicar habilidades de tomada de decisões nas situações académicas e
sociais; pensamento e reflexão crítico;

1.1.3. Autoimagem e identidade


A identidade duma pessoa são os papéis com os quais você mais se identifica e
através dos quais você se distingue de outras pessoas. Uma pessoa pode se
identificar mais com seu papel de pai ou mãe por exemplo; ou com a profissão
que ocupa, por exemplo de ser médico, ou professor, ou capelão; as pessoas se
identificam também com certa cultura, com religião ou nacionalidade, e assim
fala se de identidade cultural, identidade nacional.

1
Casel, 2015 Core competences: https://casel.org/core-competencies/
No curso da sua vida, as pessoas obtêm uma imagem de si-próprio, através de feedback que eles
recebem dos pais, amigos, e em geral de outras pessoas, mas também porque os indivíduos se
perguntam ‘quem sou eu?’, ‘o que eu sei fazer (bem)?’, ‘o que quero fazer na minha vida?’.

Quanto mais velho, mais estas perguntas são levantadas, e as pessoas tornam se cada vez mais
conscientes daquilo que os distingue de pares e de outras pessoas. Este sentimento de unicidade
que se desenvolve é chamado ‘identidade’. Quatro elementos importantes no desenvolvimento da
identidade são:
 Sentimento de continuidade: embora as pessoas reagem e se comportam diferentemente
em diferentes circunstâncias e no tempo, eles estão cientes de sempre ser a mesma
pessoa, desde infância até numa idade avançada;

 Sentimento de reconhecimento e valorização de si-próprio pelas outras pessoas;


 Dentro de certas regras (sociedade, cultura, família, escola, etc.), as pessoas são cientes
de ter uma liberdade de fazer aquilo que gostam de fazer: liberdade na dependência;

 Ter objectivos e sonhos para o seu futuro e se sentir útil nesta perspectiva.

Exercício 1A. Quem sou eu?


Reflecte, individualmente, sobre as seguintes características, e responde, o mais espontâneo e
honesto possível:
 Descreve o seu sexo, idade, a sua origem: onde nasceu e cresceu, ocupação e
características dos seus pais, composição da família;
 Quais os seus hobbies, a sua religião, a inclinação política, a carreira ou campo de
estudo? O que você é bom em fazer?
 O que você gosta de si mesmo? O que você não gosta de si mesmo? Quais são as minhas
características únicas, os meus pontos fortes e fracos?
 Como é que está a viver? Com quem? Quem são as suas relações mais estreitas ou
íntimas?
 Como você lida com as críticas dos outros?
 Qual a sua maior preocupação?
 Você tem um objectivo ou sonha para o futuro?
Escreve uma alínea (com cerca de 200 a 250 palavras) com tema ‘quem sou eu?’; fique longe das
coisas das quais não quer falar ou que não quer partilhar agora com colegas.
O facilitador pede 3 voluntários para partilhar a reflexão deles

1.2. O modelo Big Five


Embora haja uma variedade de definições para o conceito da personalidade, a
avaliação dela irá depender da teoria adoptada e as principais características
desta teoria. Um dos modelos mais difundidos para descrever a estrutura da
personalidade é o modelo dos Cinco Grandes Factores da personalidade,
também conhecido como Big Five, considerado uma teoria explicativa e preditiva da
personalidade humana e de suas relações com a conduta (Garcia, 2006) citado por (Silva & de
Cássia Nakano, 2011).

Os autores definiram cinco grandes factores na teoria de personalidade, distinguindo, dentro de


cada factor, uma série de facetas ou aspectos que caracterizam o factor.

Exercício 1B. Modelo Big Five


Mais a baixo, encontram-se algumas características que lhe podem, ou não, dizer respeito. Por
favor escolha um dos números na escala que melhor expresse a sua opinião em relação a si
mesmo e assinale-o, colocando (X) na coluna correspondente à sua opinião. Contudo, saiba que
não existem respostas certas, nem erradas!

Observe a tabela a baixo apresentada. A seguir, utilize a escala para responder a cada afirmação:
1 2 3 4 5
Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
totalmente nem discordo totalmente

Nº Vejo-me como alguém que… 1 2 3 4 5


1 É conversador, comunicativo
2 Às vezes é frio e distante
3 Tende a ser crítico com os outros
4 É minucioso e detalhista no trabalho
5 É assertivo, não teme expressar o que sente
6 Insiste até concluir a tarefa ou o trabalho
7 É depressivo, triste
8 Gosta de cooperar com os outros
9 É original, tem sempre novas ideias
10 É temperamental, muda de humor facilmente
11 É inventivo, criativo
12 É reservado
13 Valoriza o artístico, o estético
14 É emocionalmente estável, não se altera facilmente
15 É prestativo e ajuda os outros
16 É, às vezes, tímido e inibido
17 Pode ser um tanto descuidado
18 É amável, tem consideração por outras pessoas
19 Tende a ser preguiçoso
20 Faz as coisas com eficiência
21 É relaxado, controla bem o stress
22 É facilmente distraído
23 Mantém-se calmo nas situações de tensão
24 Prefere trabalho rotineiro
25 É curioso sobre muitas coisas diferentes
26 É sociável, extrovertido
27 É geralmente confiável
28 É, às vezes, rude (grosseiro) com os outros
29 É cheio de energia
30 Começa discussões, disputas, com os outros
31 É um trabalhador de confiança
32 Faz planos e segue-os à risca
33 Tem uma imaginação fértil
34 Fica tenso com frequência
35 É engenhoso, alguém que gosta de analisar profundamente as
coisas
36 Fica nervoso facilmente
37 Gera muito entusiasmo
38 Tende a ser desorganizado
39 Gosta de reflectir, brincar com as ideias
40 Tem capacidade de perdoar, perdoa facilmente
41 Preocupa-se muito com tudo
42 Tende a ser quieto, calado
43 Tem poucos interesses artísticos
44 É sofisticado em artes, música ou literatura

Algumas explicações do modelo Big Five.


O modelo dos ‘Big 5’ descreve as 5 grandes dimensões ou vertentes da personalidade.

Todavia, é preciso saber que, a teoria sobre a personalidade suscita ainda muita discussão entre
académicos, por exemplo sobre até que ponto a personalidade é predeterminada desde o
nascimento, e até que ponto é modificável dependente do contexto e ambiente em que uma
pessoa cresce. Assim sendo, a personalidade pode ser vista como uma tendência da pessoa no
seu comportamento e na sua maneira de ser.
Extroversão versus introversão: extrovertido / energético vs. solitário / reservado.
 Extroversão (E) é o traço de personalidade de buscar satisfação de fontes externas à
pessoa própria ou na comunidade.

 Os extrovertidos tendem a ser muito sociais, aproximam-se facilmente das outras


pessoas, também preferem a companhia dos outros, são mais assertivos e dominantes, são
energéticos com estilo de vida acelerado, inclinação para optimismo, e tem desejo de
alegria.

 Os introvertidos preferem trabalhar em seus projectos sozinhos. São mais reservados,


preferem actividades individuais como a leitura, são mais tranquilos, com estilo de vida
lento.

 Amabilidade (concordância) versus antagonismo; Orientação para ajudar os outros


(contra interesses próprios ou contrários).

 As pessoas agradáveis tendem ser mais tolerantes e acreditam na honestidade e boas


intenções dos outros, são sinceras na expressão de opiniões e sentimentos, são generosas,
tendem evitar os conflitos interpessoais e mostram mais a conformidade com outros, são
modestas, e mostram preocupação com outros (empatia).

 As que são mais antagonistas são mais suspeitas dos motivos dos outros, tendem ser
bastante cínicas sobre o mundo, são dispostas a usar a astúcia e a lisonja para receber
favores dos outros.

 Conscienciosidade versus falta de direcção: Cuidado (versus descuido)


Consciênciosidade é o traço de personalidade de ser organizado e trabalhador.

 Os conscienciosos gostam duma abordagem metódica nas tarefas, tem capacidade de


lidar com desafios, são dogmáticos em seus valores, são motivados por metas e disposto a
trabalhar duro, são dedicados e pouco distraídos, e contemplam cuidadosamente antes de
agir, tendem preparar listas de tarefas; tendem a seguir regras e preferem casas limpas.

 Os menos conscienciosos são mais impulsivos e mais distraídos; agem mais na base de
espontaneidade; fogem de horários e planos fixos.

Neuroticismo (instabilidade emocional) versus estabilidade emocional:


 Os neuróticos têm tendência a ter sentimentos depressivos, com dificuldade de
concentração e perca de energia; podem reagir facilmente com frustração ou mesmo
raiva; mostram tensão e medo; não são capazes de controlar desejos, impulsos e emoções;
têm dificuldade de lidar com estresse; sentem se frequentemente envergonhados.

 Os mais estáveis controlam melhor as suas emoções; são calmos e relaxados; lidam bem
com situações de estresse.

 Abertura a novas experiências, sendo aberto a diferentes perspectivas (opiniões) sobre


qualquer tema específico (versus teimosia e fechada)

 As pessoas abertas podem sonhar muito, tem forte imaginação; apreciam da arte, da
música e da beleza; são criativas; são dispostos a experimentar (actividades, alimentos,
etc.); possuem curiosidade intelectual, e estão prontos para explorar e avaliar os seus
próprios valores e ideias políticas e religiosas; tendem sentir emoções muito intensas.

 As pessoas mais fechadas são mais convencionais; tendem ser pé-no-chão; e os seus
interesses são mais estreitos.

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