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O que faz a alma gozar, transforma

FICHA TÉCNICA

Título: O que faz a alma gozar, transforma


Autor: Benjamim João Luís
Capa e ilustrações: Aldo Fonseca Fernandes
Género: Poesia
Número de registo: 1145/RL/INICC/2023
Depósito Legal: DL/BNM/1270/2023
ISBN: 978-989-35268-0-4
Edição, revisão e maquetização: Manuel Gimo José
Coordenação editorial: Clube do Livro da Beira

Projecto Kutanga #0002

Beira, Agosto de 2023


Copyright © Benjamim João Luís
Todos os direitos de autor reservados
Uma iniciativa:
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À guisa de um prefácio

Quando recebi o convite de Benjamim João Luís, o Poeta Ambulante, para pre-
faciar a sua obra de estreia, um calafrio percorreu-me a espinha e uma vaga inenarrá-
vel de sentimentos inebriou-me o corpo. Quando o choque passou, apercebi-me de
que se tratava de um misto de sentimentos que tomara de assalto o meu corpo, como
que no momento de iminente orgasmo. Espanto, alegria e medo.
Espantou-me a sua escolha pela minha pessoa. Nunca imaginara isso nem mes-
mo nos meus mais delirantes sonhos. Alegrei-me que me tivesse concedido tamanha
honra de rabiscar alguns pareceres sobre a presente obra, a primeira pedra sobre a
qual este jovem escritor pretende construir a sua carreira literária. Causou-me medo
porque o nascimento de uma obra de estreia, que pavimenta o caminho do escritor
emergente no panorama literário, carrega uma grande dose emotiva e toneladas de
expectativas.
Todos esses sentimentos foram transformando-se em um só enquanto lambu-
zava os poemas: maravilhamento. São poemas ousados, instigantes, primorosos e,
verdade seja dita, colossalmente excitantes. Provocantes e assumidamente lascivos,
vão agradar a qualquer amante da poesia erótica, e impressionar o leitor desavisado.
Benjamim João Luís revela-se um poeta completo, capaz de induzir o leitor a
uma representação imagética da diegese com elegância acentuada. Aliás, pela paixão
e carga emocional que os poemas exalam, pode-se apressadamente cogitar que os
sujeitos poéticos sejam o próprio autor, narrando suas aventuras ou divagações eróti-
cas. Quiçá seja isso, por isso tamanha delicadeza no espaço discursivo. Ou não, o que
comprovaria o talento deste jovem poeta de usar a poesia a serviço da imaginação.
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Curiosamente, eu estive envolvido no processo de edição desta obra. Na ver-


dade, tenho sido o revisor de Benjamim João Luís desde que ele desadormeceu o
poeta nele. O que significa que tenho acompanhado de perto a sua evolução como
poeta e a sua trajectória pela poesia de temática erótica. Portanto, não deixo de notar
a maturescência e a estoicidade com que tem redigido seus poemas, com que redigiu
estes 48 poemas que figuram nesta obra. “O que faz a alma gozar, transforma” é uma
simbiose dos géneros erótico e romântico bem elaborada e com um primor estético-
-linguístico elevadíssimo. Essa relação interespecífica é visível nos versos que evocam
o amor como a quintessência do coito: “(…) / o suor e o fervor, corpos contorcidos, / juras
de amor, promessas, fricção pele contra pele, / latidos, gemidos, zumbidos e orgasmos”, “(…) /
Imagino-me dentro do teu templo / Perambulando e degustando cada perímetro / Com amor e
devoção”, “(…) / Confesso, / Que anseio por nadar na tua ilha / Com a língua, com o cajado
e todos outros remos / Confesso, / Que te quero. / Por uma noite, / Por uma manhã e para todo
o sempre”, “(…) / Vi bocas gemendo e zumbindo / Pois a feijoada era mais que sexual / Era
uma autêntica ivirapema / (…)”. A substantivação, o corriqueirismo e o brasileirismo
encerram não só uma primazia estética mas um recurso imagético.
Finda a leitura deste deleitoso empreendimento literário, uma coisa é certa:
“O que faz a alma gozar, transforma” é a plenitude da maturação de Benjamim João Luís
enquanto escritor. É uma obra grandiosa e deveras prazerosa, um aperitivo do futuro
promissor deste jovem poeta que tem muito a contribuir para a literatura nacional.
Esta é uma estreia arrebatadora de um jovem escritor que promete na literatura mo-
çambicana. Está de parabéns o meu amigo Poeta Ambulante, Benjamim João Luís.

Manuel Gimo José


Beira, Novembro de 2022
O que faz a alma gozar, transforma | 9

ALGUNS BEIJOS

Alguns beijos
Não se contentam apenas com a maciez da boca
Deslizam pelo corpo todo causando calafrios
Deslizam pelos lábios
da buceta
Causando latidos e orgasmos
Benjamim João Luís | 10

A LONGA-METRAGEM

A sua pele queimava


Devagar,
Deslizava a minha língua em sua vulva
Lambia lento,
lambia longo cada centímetro
do pequeno a grande lábio
Nadava eufórico
Até ao seu clitóris
E ela ainda queimava.

Seus olhos lampejavam,


Sedentos.
E a sua boca latejava,
De prazer.
Os seus peitos tesos,
Gemiam a cada aperto.
Devagar,
Fui entrando dentro dela
Profundo... Profundo... Mais fundo
E a longa-metragem findou com a terra molhada,
Como resultado de intensos beijos de pingos de chuva.
O que faz a alma gozar, transforma | 11

DEBAIXO DO CÉU ESCURO E MISTERIOSO

A distante proximidade, o olhar profundo, o suspiro,


o roncar do estômago, o tremer das mãos,
o batimento desordenado do coração,
a saliva, bocas gemendo,
o suor e o fervor, corpos contorcidos,
juras de amor, promessas, fricção pele contra pele,
latidos, gemidos, zumbidos e orgasmos.
Dançamos cânticos dos deuses,
e embevecemos as nossas almas.
Benjamim João Luís | 12

SEXO CASUAL

Sexta-feira à noite
Jazz, whiskey, poesia, música acústica
e no balcão uma deusa de vestido vermelho
Boca rosada, textura labial insana,
e carnuda.
Cheirava a fruto proibido.
Sorriso de puta.
Sabia o que queria.
Eu sorri,
Ela sorriu.
Cinco minutos depois,
Eu contorcia-me naquele balneário
Enquanto sussurrava os nomes de todos os antepassados.
Maldita puta que sabia ser puta.
O que faz a alma gozar, transforma | 13

UMA TARDE DE GOZO

Sábado à tarde
Televisão ligada (no mute…)
Imagens passam como um flash
Um dia quente,
E o ar-condicionado está uma porra
Do lado de fora
Oiço vozes tristes e vejo almas vagando sem rumo
Oiço o grito tétrico de corações estilhaçados,
e vejo mulheres chorando de desamor
Um vinho,
Uma taça,
Uma puta,
Um livro de Pablo de Neruda,
Mas era a poesia de Bukowski que eu declamava
Naquela incomparável buceta
Benjamim João Luís | 14

SAUDADES

Saudades do que não vivemos


Saudades dos beijos que não demos
Saudades das noites em que não passámos juntos
Saudades dos orgasmos que não tivemos
Saudades dos gemidos e latidos que não vivemos
Saudades de entrar em ti sem pedir licença
Saudades de visitar todas as tuas entradas
Saudades de percorrer entre as tuas entranhas
Saudades de tudo
Saudades de nada
O que faz a alma gozar, transforma | 15

MÉNAGE À TROIS

Uma boca no meu cajado


Outra boca,
na minha boca.
Uma mão dando uma sensível passeata em minhas bolas
Uma buceta dando uma sensível passeata em minha boca
Vozes roucas
Putas exóticas
Rugidos silenciosos
Gemidos mansos
Galopes orgásticos
A lua cheia orgasmificando a dócil tortura
Benjamim João Luís | 16

O REENCONTRO

Olhar intenso e recíproco


Ansiedade;
Curiosidade;
Saudade;
Toques;
Beijos;
Carinho;
Lambidela,
Suave e longa.
Gemidos;
Fervor;
Desejo;
Penetração;
Zumbidos;
Ofegos;
Orgasmos.
O que faz a alma gozar, transforma | 17

O OLHAR

Fitou-me,
faminta
Mordiscava o seu lábio inferior
e sussurrava o proibido
Escutei o silêncio do seu coração
Senti a humidade da sua ilha,
enquanto as oito mil terminações sensoriais
mendigavam um acicate abrasador

Naquele instante
Havia um incêndio dentro de mim,
na verdade uma queimada descontrolada
Que nunca conseguiria debelar
Benjamim João Luís | 18

CHOVE NA MINHA ALMA

Chove em mim,
Torrencialmente.

Dança e saltita nesta minha terra húmida


Escorre dentro de mim
E inunda toda a minha ilha.

Pinga em mim,
Intensamente.
Enxuga o denso em mim,
Com mestria e delicadeza.
O que faz a alma gozar, transforma | 19

O SILÊNCIO RUIDOSO DAS PALAVRAS

Foi no silêncio e no cintilar do teu olhar,


Que o teu coração disse tudo
o que a tua língua tímida não conseguia dizer.
Foi no morder suave do teu lábio inferior,
Que a tua boca rosada proferiu sobre o amor.
Foi no tremer das tuas mãos,
Que o teu coração denunciou o impacto da minha presença.
Foi no silêncio ruidoso da tua voz,
Que me convidaste para nadar até à tua foz.
Benjamim João Luís | 20

A ALMA DE UMA MULHER

Embevecer a alma de uma mulher


De tesão e amor
É um vício de conhecedores refinados
Os outros, talvez muitos
Se contentam apenas com o seu corpo
Outros ainda,
Fodem o coração e a vida delas
Eu, de tão refinado que sou,
Prefiro foder a alma delas
Pois é aí onde reside o que encanta esse ser
O que faz a alma gozar, transforma | 21

SE EU FOR TUDO O QUE VOCÊ DESEJA

Se eu for tudo o que você deseja,


Desista.
Eu sou incompleto
E imperfeito.
Louco, sedento
E ninfomaníaco.

Se eu for tudo o que você deseja,


Pense bem.
Eu venho do além,
E só sei matar
De prazer.
Benjamim João Luís | 22

DESEJO E PERIGO

Em manhãs de Inverno
O seu verso cria em mim inesgotável desejo
Movimentos delicados,
enquanto o esfregão limpa vagarosamente o chão
O seu verso baila,
provocante e embevecente
Suas mãos delicadas e pequenas,
Seguram no cabo, firme.
Como se de cajado se tratasse

Temo confessar
que a desejo como um louco
Que debaixo daquele uniforme branco
se encontra uma poesia que eu anseio por declamar

Em silêncio,
Grito
Em silêncio,
Gemo
Em silêncio,
Gozo
O que faz a alma gozar, transforma | 23

SAUDADES

Saudades dos beijos inebriantes e loucos


Saudades da mordida delicada em seus lábios.
Pequenos e grandes.
Saudades de perambular pelos seus corredores,
Abrasadores.
Saudades de velejar durante a madrugada escura,
E mesmo assim alcançar o seu altar sagrado sem ajuda de uma bússola.
Saudades,
De visitar o seu Triângulo das Bermudas
E nunca mais voltar
Benjamim João Luís | 24

IMAGINO-ME

Imagino-me embalado em teu templo,


Respirando a um centímetro da tua boca.
Sentindo a tua energia,
A tua pele colada na minha.
A tua boca respirando na minha.

Imagino-me dentro do teu templo


Perambulando e degustando cada perímetro
Com amor e devoção
O que faz a alma gozar, transforma | 25

SÓ ACEITO SE FOR INTENSO

Não suporto metades,


Amo a loucura,
E tudo que complementa.
Gosto de beijos intensos;
Abraços calorosos;
Penetração profunda;
Língua afiada;
Circunferência grossa;
Garganta profunda,
E tudo que sacia a minha alma.
Benjamim João Luís | 26

PLENITUDE

Entrego-me de corpo e alma,


Nesta noite friorenta.
Entrego-me sedenta,
Clamando pelo que abrasa o meu âmago.
De cabeça abaixada,
Obedeço-te como uma cadela obedece ao seu dono.

Faz excursão em meu gramado,


E visita o centro da minha alma.
Com a tua língua,
Prova da água que emerge da minha fonte.
Sente o pulsar do meu coração
E a melopeia que emerge dos lábios
que rodeiam o centro do meu poder.

Toma-me por inteira


Toma-me por completo
Come-me,
Sem dó nem piedade.
Come-me,
Com toda vontade e vaidade.
O que faz a alma gozar, transforma | 27

ALGUMAS BUCETAS

Algumas bucetas
São como o Triângulo das Bermudas
São misteriosas.
São uma viagem só de ida.
São perigosas.
Algumas bucetas,
Não vale a pena ousar visitar
Ou morres, ou vais e nunca mais voltas.
Algumas bucetas,
São figuras geométricas
que não te permitem calcular os seus perímetros
Benjamim João Luís | 28

PARA O EDGAR, O RAPAZ QUE AMEI

Deu-me utópica atenção


E declaração
[De amor]…
Embalou a minha vagina,
E explodiu o meu coração.
O que faz a alma gozar, transforma | 29

A BÚSSOLA PARA ACHAR O ALTAR MILAGROSO

É preciso ser um grande navegador,


para achar o altar.
É preciso ter neurotransmissores lúcidos,
capazes de guiá-lo no escuro
Não só para achar os lábios,
mas também para achar onde os homens dão a luz

É preciso saber navegar no corredor central do mar


para chegar ao altar
É preciso saber reduzir a velocidade em cada curva labial,
pequena ou grande
Vai surfando,
na intensidade das ondas
De pernas firmes, língua mole, movimentos suaves,
Vai chegando aonde acontece o milagre
Benjamim João Luís | 30

QUE NÃO ME MATES

Que não me mates de ansiedade,


Nem de vontade.
Que não me mates de desejo,
Nem de tesão.
Mata-me,
De prazer.
Mata-me,
De gozo.
Juro que eu morreria feliz.
O que faz a alma gozar, transforma | 31

CONFESSO

Confesso que atiças o meu âmago,


Com um simples olhar.
Confesso que anseio por nadar da margem,
Até à tua foz,
Para fazer a tua alma gozar
De amor e prazer

Confesso que das vezes que te tive a um centímetro


Fiquei trémulo,
Ofeguei e a minha alma gozou

Confesso,
Que anseio por nadar na tua ilha
Com a língua, com o cajado e todos os outros remos
Confesso,
Que te quero.
Por uma noite,
Por uma manhã e para todo o sempre.
Benjamim João Luís | 32

O TEU TEMPLO

Neste teu corpo


Misterioso e curioso
Há melodias que nunca trauteei

Neste teu corpo de notas, tons e semitons


Sempre me perco
Desafino,
E passo a vida perambulando de galáxia em galáxia
Em busca de notas certas para compor a mais linda canção
De amor
O que faz a alma gozar, transforma | 33

Gosto,
Quando gemes
Gosto,
Quando sussurras o meu nome
No momento de cânticos e danças à volta da fogueira
Gosto,
Quando gritas pelo meu nome
Com uma voz rouca que conhece o orgasmo
Gosto,
De senti-la dentro de mim quente,
Ofegante e reluzente.
Benjamim João Luís | 34

ASSASSINAMOS A SAUDADE

Naquela tarde de sábado


Assassinamos a saudade
Os meus olhos devoravam cada centímetro
Daquele templo
E este respondia com a mesma exaltação
O ofegar entre os beijos ardentes exaltava a forte paixão

O sussurrar das nossas línguas


Era uma pura manifestação de saudade,
Tesão e amor
O olhar abrasador
Era a manifestação de uma fome insaciável
Naquela tarde de sábado
Amamo-nos e assassinamos a saudade
O que faz a alma gozar, transforma | 35

BOCA QUE TOSTA A ALMA

Lamber,
Chupar,
Acariciar,
Beijar,
Deslizar e penetrar,
É fazer arte com a boca.
Benjamim João Luís | 36

23H00, SÁBADO, 2022

Eu perguntei o que ela tinha vestido para dormir


Ela respondeu: Nada
No súbito instante estremeci
Todos os meus sentidos despertaram do sono profundo
Eu disse a ela: Estou com inveja dos teus lençóis
Ela perguntou: Porquê?
Eu respondi: Seria eu no lugar deles a beijar a tua pele nua e macia
Seria eu no lugar deles a perambular entre as pernas, devagar como uma serpente enrola a sua presa
Ela simplesmente sorriu,
e eu sorri de volta
A conversa continuou fluindo até que pelas 2h00 da madrugada
As linhas invisíveis do celular só transmitiam gemidos e zumbidos
Rimos e vivemos o gozo
O que faz a alma gozar, transforma | 37

SEXTA-FEIRA, 09 DE SETEMBRO

O vermelho dos meus lábios,


Carnudos
O bailado das minhas curvas,
Insanas
O entreabrir da minha boca,
Rosada
Exalam naquela atmosfera,
Desejo, luxúria, ansiedade e tesão
No mesmo instante em que a minha alma também se excita e goza
Orgasmificando todo o salão

Naquela noite
Vi sorrisos latindo e gozando gostoso
Vi bocas gemendo e zumbindo
Pois a feijoada era mais que sexual
Era uma autêntica ivirapema
Até orgasmos secos vi nos olhos famintos
Daqueles espectadores

Ninguém sobreviveu,
Nem mesmo eu.
Benjamim João Luís | 38

A DISTANTE PROXIMIDADE

Somos dois loucos com um fogo enorme


E pouca água para apagar
Morremos na vontade
Morremos na saudade
A distância é um impasse,
uma castidade

Hoje apenas morro de vontade


De morder aqueles lábios lindos e medianos
Morro de vontade de nadar até à foz
E beber do líquido visguento,
e esbranquiçado
O que faz a alma gozar, transforma | 39

MATA-ME

Mata-me de prazer
Antes que eu morra de vontade

Mata-me com os teus beijos quentes


Antes que eu morra de desejos ardentes

Mata-me com uma penetração profunda,


Antes que a minha vontade me afunde.

Mata-me por alguma coisa


Antes que eu morra por nada
Benjamim João Luís | 40

“V”

Algumas te abrasam firme


Algumas te asfixiam
Outras nem por isso
E todas são mágicas,
Pois transcendem a nossa alma
E nos fazem sentir o indizível;
O indescritível;
O inexplicável.
E todas têm a mesma inicial

“V”
O que faz a alma gozar, transforma | 41

MEU PRESENTE DE NATAL

Boca rosada
Enfeitada pela tinta dos deuses
Convidava-me para o sofá
Sem voz
Apenas gemidos
e zumbidos
Convidava-me
Para nadar até à foz

A prenda já estava aberta


Ostentando a sua alma nua
Eu, trémulo e embevecido,
Entreguei-me,
De corpo e alma
Como um cavalo domado
Por uma égua
No seu próprio território
Benjamim João Luís | 42

“Após o gozo
Lentamente voltámos da órbita
Trocamos olhares intensos
Falámos dos nossos planos
Falámos das nossas metas
Trocamos risadas
E a vida seguiu…”
O que faz a alma gozar, transforma | 43

TUDO PELA METADE NÃO SACIA

O amor e a fome,
Não se contentam em ser saciados pela metade
O sexo,
Não se contenta em ser saciado sem o orgasmo
Seja ele seco ou molhado
A vida,
Não se contenta em ser vivida pela metade
Ame, coma, foda, foda e viva
Benjamim João Luís | 44

SEDE

Ao meu lado ela deitou-se,


Nua e sedenta
Olhos entreabertos e famintos
No mesmo instante ela sussurrava o proibido
O meu coração batia forte
enquanto o meu pénis pulsava em sua boca abrasadora

Seios firmes
Aréolas pretas, muito pretas
E a minha boca envolvia os seus mamilos
sugando o primeiro mel,
De prazer

Suor, saliva, gemidos, latidos, promessas de amor


Continuamos cavalgando
até a aurora rasgar as nossas almas nuas através da janela de vidro
O que faz a alma gozar, transforma | 45

TUDO NELA É FEITO DE MISTÉRIOS

A alma esconde-se
A vagina esconde-se
As axilas e os sonhos
escondem-se

Tudo nela é feito de mistérios


E para alcançá-la é preciso vencer o labirinto
Quem a descobre é o primeiro a ver a aurora
Benjamim João Luís | 46

O RABO DA GRAÇA

Toquei no rabo nu da Graça


Ela fitou-me sedenta e em chamas
Oh, suspirei todo extasiado!
A sua pele era macia
A cada toque meu ela gemia
e mendigava
Obedecia a cada comando
Como uma cadela obedece ao seu dono
Como uma vagina obedece ao chamado de um cajado,
na noite de lua cheia

O rabo da Graça
Avantajado e abalizado
Que apesar da idade
O tempo jamais conseguiu roubar,
a sua firmeza e destreza.

Oh, Graça!
Que rabo!
O que faz a alma gozar, transforma | 47

ORGASMO

O meu corpo vibrava


A cada toque vibrante
A cada olhar penetrante
A cada debate incessante
entre nossas línguas

O meu corpo chamava o dele


Sem voz
O tesão inebriava-me,
e deixava-me tonta.
A minha vagina húmida denunciava
Os meus desejos mais profundos,
Os indescritíveis.

Eu estava vulnerável,
Indefesa e obediente.
Entreguei-me,
e vi o paraíso.
Benjamim João Luís | 48

BASTA

Basta um toque,
Eu entro em choque.
Basta um beijo,
Eu deliro.
Basta um suave sussurro,
Eu mendigo,
Uma eterna noite
de amor sem fim.
O que faz a alma gozar, transforma | 49

A ROSA

A rosa,
Rosada.
Quando molhada,
Abre-se e deixa escorrer o milagre.
Do nó espalhando-se pelas estípulas
Do nó,
Para o pecíolo.
Do nó para a nervura central,
e espelha o orgasmo em todas as lâminas foliares.

A rosa,
Rosada.
O X da função.
Benjamim João Luís | 50

O QUE FAZ GOZAR A ALMA, TRANSFORMA

Achar o que faz gozar a alma


é determinar uma incógnita
É tão difícil quanto achar o caminho de volta
após a chegada ao Triangulo das Bermudas
Mas o segredo está no domínio da função
Porém, nesta matemática da vida nenhuma fórmula
é precisa para achar a solução

Apenas viva e goze,


Goze muito e gostoso.
Seja na Kama [a literatura do desejo]
Ou Sutra [aforismos]
Pois a vida se resume neste breve tempo
quando a cortina da alma fecha e abre
e lhe permite viver incontáveis momentos de
prazer e satisfação.
Saber viver é uma arte
Saber gozar a alma, a mente e o corpo,
é saber viver.
O que faz a alma gozar, transforma | 51

MADRUGADA

O silêncio faz pairar no ar uma etérea magia


Uma brisa subtil penetra através das portas da janela
E transpõe o espaço ermo entre as paredes do quarto

A lua cheia rasga a janela


e desnuda uma musa que envolve o meu corpo
sinto o meu fluxo sanguíneo agitado
e vivo um orgástico arrepio

O silêncio, a lua cheia


e a minha musa nua
Volúpia, brisa subtil
e ofegos
Eram o prenúncio de uma eternidade
Benjamim João Luís | 52

o seu jeito louco de fazer amor

A devoção com que abria as coxas


Era visceral e de etérea sede
de cavalgar na imensidão do infinito

A sua alma estava apressada e desvaída


pela volúpia que seres reencarnados nela não conseguiam conter
Era fogo que consumia o seu tutano
Era tesão que a fazia perambular para lado nenhum
Estava presa na sua própria sede
Estava louca na sua própria loucura

A roupa jazia pelo chão húmido


Os beijos lampejavam
Os gemidos falavam línguas estranhas
Colisão entre bocas
Lambidelas impacientes
Coito, coito, luz, vida e morte.
O que faz a alma gozar, transforma | 53

NÃO TE APRESSES, MEU AMOR

Não te apresses,
meu amor.
Hoje quero entregar-me com fervor
Quero que me tomes sem pena
Numa volúpia etérea de luxúria
O teu cheiro é uma artéria
Que me transporta para os tecidos da tua alma
A ti me entrego, obediente
A ti me entrego, delirante.

Não te apresses,
meu amor.
Percorre-me cuidadoso
Percorre-me devoto
Nesta noite galoparemos
Entre gritos, rugidos, latidos,
e zumbidos
Nesta noite,
Brindaremos o orgasmo.
O teu jeito louco de fazer amor
Benjamim João Luís | 54

Aqui
Desde que foi rompido o hímen
Nasceu um hífen
Não horizontal,
mas sim vertical
Este hífen não separa um nome composto,
ou sílabas no fim de linhas
Separa lábios
Finos ou carnudos
Roxos, escuros, castanhos ou rosados
Hipnotizantes e mágicos

Aqui a língua é ágil


e escorre como água corrente de um rio apressado
Guiado por uma bússola para desaguar num destino traçado
Aqui a língua é um aspirador
Que age com classe e sem causar dor
Aqui a língua desatina
Até as mais ferozes, seguras
e emancipadas.
O que faz a alma gozar, transforma | 55

CABO DO MACHADO

Adoro quando é grosso


e rústico
Adoro quando é capaz de compor versos
longos e demorados
Adoro quando em simultâneo causa dor
e prazer
Adoro quando é só meu
Sim,
Quando ponho entre as pernas é só meu
E ninguém tasca
Benjamim João Luís | 56

NESTA MADRUGADA

Nesta madrugada
Em algum quarto
Os meus delicados dedos
percorrerão um corpo violino;
Cabelos lindos,
Seios erectos.
Pele de cetim,
Buceta cheirando jasmim.
Versos duros,
Lábios carnudos.
Para perder-me neste instante,
Distante da realidade.
Outras obras do Projecto Kutanga

Título: Recanto do Poeta Louco


Autor: Nasir Oldara Jhons Fortuna
Género: Poesia
Formato: Digital
Ano: 2023

Download gratuito pelo:

Recanto do Poeta Louco é uma obra fruto de uma época de renascença do


jovem poeta moçambicano Nasir Oldara Jhons Fortuna. Nela, vê-se a inspiração
momentânea na qual ele se sentiu mergulhado, da puberdade ao momento em que
o julgamento poético busca a literatura como elemento primordial, para exaltar a
paz, a liberdade, os sentimentos, as suas emoções e memórias, jazidas no passado
e em coligação com o presente. Os seus poemas por vezes criam o deleite quando
divagamos embalados pelos seus versos e por vezes retraímo-nos em profundas
reflexões do mundo injusto em que vivemos.

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