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FICHA TÉCNICA
À guisa de um prefácio
Quando recebi o convite de Benjamim João Luís, o Poeta Ambulante, para pre-
faciar a sua obra de estreia, um calafrio percorreu-me a espinha e uma vaga inenarrá-
vel de sentimentos inebriou-me o corpo. Quando o choque passou, apercebi-me de
que se tratava de um misto de sentimentos que tomara de assalto o meu corpo, como
que no momento de iminente orgasmo. Espanto, alegria e medo.
Espantou-me a sua escolha pela minha pessoa. Nunca imaginara isso nem mes-
mo nos meus mais delirantes sonhos. Alegrei-me que me tivesse concedido tamanha
honra de rabiscar alguns pareceres sobre a presente obra, a primeira pedra sobre a
qual este jovem escritor pretende construir a sua carreira literária. Causou-me medo
porque o nascimento de uma obra de estreia, que pavimenta o caminho do escritor
emergente no panorama literário, carrega uma grande dose emotiva e toneladas de
expectativas.
Todos esses sentimentos foram transformando-se em um só enquanto lambu-
zava os poemas: maravilhamento. São poemas ousados, instigantes, primorosos e,
verdade seja dita, colossalmente excitantes. Provocantes e assumidamente lascivos,
vão agradar a qualquer amante da poesia erótica, e impressionar o leitor desavisado.
Benjamim João Luís revela-se um poeta completo, capaz de induzir o leitor a
uma representação imagética da diegese com elegância acentuada. Aliás, pela paixão
e carga emocional que os poemas exalam, pode-se apressadamente cogitar que os
sujeitos poéticos sejam o próprio autor, narrando suas aventuras ou divagações eróti-
cas. Quiçá seja isso, por isso tamanha delicadeza no espaço discursivo. Ou não, o que
comprovaria o talento deste jovem poeta de usar a poesia a serviço da imaginação.
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ALGUNS BEIJOS
Alguns beijos
Não se contentam apenas com a maciez da boca
Deslizam pelo corpo todo causando calafrios
Deslizam pelos lábios
da buceta
Causando latidos e orgasmos
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A LONGA-METRAGEM
SEXO CASUAL
Sexta-feira à noite
Jazz, whiskey, poesia, música acústica
e no balcão uma deusa de vestido vermelho
Boca rosada, textura labial insana,
e carnuda.
Cheirava a fruto proibido.
Sorriso de puta.
Sabia o que queria.
Eu sorri,
Ela sorriu.
Cinco minutos depois,
Eu contorcia-me naquele balneário
Enquanto sussurrava os nomes de todos os antepassados.
Maldita puta que sabia ser puta.
O que faz a alma gozar, transforma | 13
Sábado à tarde
Televisão ligada (no mute…)
Imagens passam como um flash
Um dia quente,
E o ar-condicionado está uma porra
Do lado de fora
Oiço vozes tristes e vejo almas vagando sem rumo
Oiço o grito tétrico de corações estilhaçados,
e vejo mulheres chorando de desamor
Um vinho,
Uma taça,
Uma puta,
Um livro de Pablo de Neruda,
Mas era a poesia de Bukowski que eu declamava
Naquela incomparável buceta
Benjamim João Luís | 14
SAUDADES
MÉNAGE À TROIS
O REENCONTRO
O OLHAR
Fitou-me,
faminta
Mordiscava o seu lábio inferior
e sussurrava o proibido
Escutei o silêncio do seu coração
Senti a humidade da sua ilha,
enquanto as oito mil terminações sensoriais
mendigavam um acicate abrasador
Naquele instante
Havia um incêndio dentro de mim,
na verdade uma queimada descontrolada
Que nunca conseguiria debelar
Benjamim João Luís | 18
Chove em mim,
Torrencialmente.
Pinga em mim,
Intensamente.
Enxuga o denso em mim,
Com mestria e delicadeza.
O que faz a alma gozar, transforma | 19
DESEJO E PERIGO
Em manhãs de Inverno
O seu verso cria em mim inesgotável desejo
Movimentos delicados,
enquanto o esfregão limpa vagarosamente o chão
O seu verso baila,
provocante e embevecente
Suas mãos delicadas e pequenas,
Seguram no cabo, firme.
Como se de cajado se tratasse
Temo confessar
que a desejo como um louco
Que debaixo daquele uniforme branco
se encontra uma poesia que eu anseio por declamar
Em silêncio,
Grito
Em silêncio,
Gemo
Em silêncio,
Gozo
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SAUDADES
IMAGINO-ME
PLENITUDE
ALGUMAS BUCETAS
Algumas bucetas
São como o Triângulo das Bermudas
São misteriosas.
São uma viagem só de ida.
São perigosas.
Algumas bucetas,
Não vale a pena ousar visitar
Ou morres, ou vais e nunca mais voltas.
Algumas bucetas,
São figuras geométricas
que não te permitem calcular os seus perímetros
Benjamim João Luís | 28
CONFESSO
Confesso,
Que anseio por nadar na tua ilha
Com a língua, com o cajado e todos os outros remos
Confesso,
Que te quero.
Por uma noite,
Por uma manhã e para todo o sempre.
Benjamim João Luís | 32
O TEU TEMPLO
Gosto,
Quando gemes
Gosto,
Quando sussurras o meu nome
No momento de cânticos e danças à volta da fogueira
Gosto,
Quando gritas pelo meu nome
Com uma voz rouca que conhece o orgasmo
Gosto,
De senti-la dentro de mim quente,
Ofegante e reluzente.
Benjamim João Luís | 34
ASSASSINAMOS A SAUDADE
Lamber,
Chupar,
Acariciar,
Beijar,
Deslizar e penetrar,
É fazer arte com a boca.
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SEXTA-FEIRA, 09 DE SETEMBRO
Naquela noite
Vi sorrisos latindo e gozando gostoso
Vi bocas gemendo e zumbindo
Pois a feijoada era mais que sexual
Era uma autêntica ivirapema
Até orgasmos secos vi nos olhos famintos
Daqueles espectadores
Ninguém sobreviveu,
Nem mesmo eu.
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A DISTANTE PROXIMIDADE
MATA-ME
Mata-me de prazer
Antes que eu morra de vontade
“V”
“V”
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Boca rosada
Enfeitada pela tinta dos deuses
Convidava-me para o sofá
Sem voz
Apenas gemidos
e zumbidos
Convidava-me
Para nadar até à foz
“Após o gozo
Lentamente voltámos da órbita
Trocamos olhares intensos
Falámos dos nossos planos
Falámos das nossas metas
Trocamos risadas
E a vida seguiu…”
O que faz a alma gozar, transforma | 43
O amor e a fome,
Não se contentam em ser saciados pela metade
O sexo,
Não se contenta em ser saciado sem o orgasmo
Seja ele seco ou molhado
A vida,
Não se contenta em ser vivida pela metade
Ame, coma, foda, foda e viva
Benjamim João Luís | 44
SEDE
Seios firmes
Aréolas pretas, muito pretas
E a minha boca envolvia os seus mamilos
sugando o primeiro mel,
De prazer
A alma esconde-se
A vagina esconde-se
As axilas e os sonhos
escondem-se
O RABO DA GRAÇA
O rabo da Graça
Avantajado e abalizado
Que apesar da idade
O tempo jamais conseguiu roubar,
a sua firmeza e destreza.
Oh, Graça!
Que rabo!
O que faz a alma gozar, transforma | 47
ORGASMO
Eu estava vulnerável,
Indefesa e obediente.
Entreguei-me,
e vi o paraíso.
Benjamim João Luís | 48
BASTA
Basta um toque,
Eu entro em choque.
Basta um beijo,
Eu deliro.
Basta um suave sussurro,
Eu mendigo,
Uma eterna noite
de amor sem fim.
O que faz a alma gozar, transforma | 49
A ROSA
A rosa,
Rosada.
Quando molhada,
Abre-se e deixa escorrer o milagre.
Do nó espalhando-se pelas estípulas
Do nó,
Para o pecíolo.
Do nó para a nervura central,
e espelha o orgasmo em todas as lâminas foliares.
A rosa,
Rosada.
O X da função.
Benjamim João Luís | 50
MADRUGADA
Não te apresses,
meu amor.
Hoje quero entregar-me com fervor
Quero que me tomes sem pena
Numa volúpia etérea de luxúria
O teu cheiro é uma artéria
Que me transporta para os tecidos da tua alma
A ti me entrego, obediente
A ti me entrego, delirante.
Não te apresses,
meu amor.
Percorre-me cuidadoso
Percorre-me devoto
Nesta noite galoparemos
Entre gritos, rugidos, latidos,
e zumbidos
Nesta noite,
Brindaremos o orgasmo.
O teu jeito louco de fazer amor
Benjamim João Luís | 54
Aqui
Desde que foi rompido o hímen
Nasceu um hífen
Não horizontal,
mas sim vertical
Este hífen não separa um nome composto,
ou sílabas no fim de linhas
Separa lábios
Finos ou carnudos
Roxos, escuros, castanhos ou rosados
Hipnotizantes e mágicos
CABO DO MACHADO
NESTA MADRUGADA
Nesta madrugada
Em algum quarto
Os meus delicados dedos
percorrerão um corpo violino;
Cabelos lindos,
Seios erectos.
Pele de cetim,
Buceta cheirando jasmim.
Versos duros,
Lábios carnudos.
Para perder-me neste instante,
Distante da realidade.
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