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*Você conheceu o astro do rock Vince Jennings como o melhor

amigo e companheiro de banda de Hawkin Play no livro Sweet


Ache. Agora prepare-se para se apaixonar perdidamente por ele em
seu próprio romance independente, segunda chance, estrela do
rock e bebê secreto.
Bristol
Onze anos atrás.
Meu coração salta do peito enquanto examino as sombras do
meu quarto em busca do que quer que tenha me tirado do sono.

Batendo. Batendo. Batendo.

Engulo um grito quando os meus olhos registram a silhueta


escura do lado de fora da janela do meu quarto.

Mais ou menos ao mesmo tempo que o meu cérebro calcula a


noção de que um assassino de machado não estaria batendo, ele
apenas invadiria, meu telefone vibra na mesa de cabeceira ao meu
lado. A tela iluminada mostra texto após texto de Vince.

Arrasto-me para fora da cama, com os olhos turvos e ansiosa.


Olho para a porta do meu quarto para ter certeza de que está
fechada, puxo a cortina para o lado e abro a janela o mais
silenciosamente possível.

— O que você está fazendo? — Eu sussurro antes de emitir


uma risada nervosa e olhar por cima do meu ombro novamente.
Ele removeu a tela. Não tem como ele entrar aqui. E se os meus
pais ouvirem? E se eles entrarem? E se... — Você está louco? Você
sabe que ficarei de castigo se os meus pais o encontrarem aqui?
Em quantos problemas estaremos?
Mas, ao mesmo tempo, estou tão feliz que ele esteja aqui.
Nossa briga anterior foi uma raridade, e eu odiei a sensação de
enjôo que senti no estômago quando fui para a cama sem notícias
dele.

— Problema? — Ele ri, mas não soa como o Vincent que eu


conheço. Ele soa estranho. Abatido. Talvez até bêbado. — Como se
eu me importasse em me meter em encrencas. — Ele segura minha
nuca e traz sua boca para a minha.

Por um breve segundo, a luta anterior desaparece e me perco


em tudo que Vincent Jennings se tornou para mim. A centelha
escura na minha vida mundana. O melhor amigo que posso dizer
qualquer coisa. O rebelde que ultrapassa os meus limites quando
prefiro pintar dentro das linhas, ou exatamente, perfeitamente nas
linhas. A pessoa que me olha e me faz sentir bonita.

Meu primeiro amor.

Mas há algo mais nesse beijo e no leve gosto de cerveja em sua


língua, e levo alguns segundos para reconhecê-lo.

Há desespero aqui “fome” uma urgência que não consigo


compreender.

— Vince? — Eu pergunto quando o beijo termina e ele


descansa sua testa na minha, sua mão ainda na no meu pescoço
me segurando contra ele. — O que está errado?

Ele dá um leve aceno de cabeça, mas não se move.

Ele já veio assim antes, quando o que quer que aconteça em


sua casa... acontece. Ele vem até mim não para conversar, mas a
minha companhia. Ele vem até mim com a bochecha inchada ou o
lábio quebrado, mas se recusa a explicar, a não ser fingir com um
comentário do tipo “você deveria ter visto o outro cara.”

Mas ele nunca bateu na minha janela às duas da manhã. Ele


nunca me beijou assim, então isso me faz sentir como se este
pudesse ser nosso último beijo. Sua presença nunca causou
pânico na minha garganta como agora.

Eu não sei o que fazer, então beijo-o novamente. Suave e


devagar e sem saber, tentando dar a ele tudo o que ele precisa,
mas não vai dizer que ele faz.

— Bristol — ele murmura contra os meus lábios antes de


forçadamente dar um passo para trás.

— O que? O que aconteceu? — Eu olho para a minha porta


novamente. — Diga-me. — Por favor, diga-me desta vez. — Suba.

Ele está no meu quarto em um segundo. Quando os seus pés


pousam no chão, soa como uma manada de elefantes na minha
cabeça, e tenho certeza de que os meus pais entrarão aqui a
qualquer momento.

Mas eles não vêm.

Minha porta não abre.

É só Vince e eu olhando um para o outro na escuridão do meu


quarto, ambas as mãos segurando uma a outra. Mas quando ele
se mexe e o luar atinge o seu rosto, posso ver o hematoma em sua
bochecha. Percebo os seus olhos vermelhos e, pela primeira vez,
espero que seja por causa do álcool e não do choro.

Embora o beijo dele tenha gosto de cerveja, sei que não é disso.
A solenidade em seu comportamento me diz o que eu não
quero saber e o que ele nunca falou nos três anos que estamos
juntos.

Da casa dele.

O pai dele.

As coisas que acontecem lá.

Esforço-me para saber o que dizer enquanto ele olha para mim
com uma determinação resignada que não entendo... e não pense
que eu quero.

— Isso é sobre mais cedo? — Eu pergunto, tentando encontrar


algo para apagar a expressão em seu rosto.

Ele dá um sorriso que é tão sutil quanto o balanço de sua


cabeça para sua resposta.

— Já pensei e percebi que causei uma briga porque estava


nervosa. O que as pessoas vão pensar de mim se descobrirem que
fomos até o fim? Então eu estava preocupada que pudesse ser
diferente entre nós depois que fizéssemos isso e... Eu só não quero
estragar isso. Nós. E... — Minha risada nervosa interrompe minha
divagação sem fim que sabemos que pode durar para sempre.
Deslizo minha mão em volta do seu pescoço e trago os seus lábios
nos meus. — Estou pronta, Vince. Eu quero…

— Não, Shug. — A tensão do meu corpo o faz praguejar. —


Deus, sim, eu quero você. Como você poderia pensar de outra
forma? Você é tudo em que penso. Às vezes eu te quero tanto que
dói fisicamente. Mas não assim. Agora não.
— Mas... — Sua rejeição dói e é mais confusa do que o que ele
está fazendo aqui agora.

— Você não vê? Você merece muito mais do que eu. Muito mais
do que posso lhe dar. Que…

— Não seja ridículo. — Eu agarro sua cabeça com as duas


mãos e encaro aqueles olhos verdes que são tão claros que são
quase translúcidos. — Você é tudo o que eu preciso. Você é tudo
para mim.

— Por enquanto, talvez. Mas você tem um futuro enorme pela


frente. Você será a oradora oficial quando se formar. Em seguida,
irá para a faculdade. E faculdade de direito depois disso. Quero
dizer…

— Nós já conversamos sobre isso. Planejamos isso. Você vai


comigo. Tocar nos clubes locais onde quer que eu vá e tentar ser
visto lá. Ninguém pensou que duraríamos um mês, mas aqui
estamos. Vai ser difícil, mas vamos fazer dar certo. Sempre
fazemos.

Ele balança a cabeça, mas se recusa a encontrar os meus


olhos.

— O que foi, Vince? O que você não está me contando? — Esse


pânico ressurge, arranhando minha garganta.

— Estou indo embora, Shug.

— O que você quer dizer com você está indo embora? Tipo para
o fim de semana? — Minha mente dispara. — Pensei que íamos
para... deixa para lá. Entendo. Você tem planos. Mas você estará
de volta no domingo, certo?
— Não. Vou. Agora. Esta noite. — Ele levanta o olhar para
encontrar o meu, e todo o ar é sugado do quarto enquanto sua
expressão se contrai. — Para o bem.

— Eu...eu não entendo. — Bolas de emoção na minha garganta


e calafrios perseguem minha pele. — Você não pode ir. Temos
planos. — Eu balanço a cabeça como se a ação ajudasse a fazer
sentido. Não. — Mas você…

— Não aguento mais isso. — Sua voz quebra junto com o meu
coração ao som dela.

— Não aguenta mais o que? — Eu pergunto, mas sei antes que


ele responda. Seu pai. A razão pela qual nos três anos que estamos
namorando, eu só encontrei o homem uma vez, e porque só posso
ir à casa dele quando o pai dele não está.

Fairfield conhece o pai de Vince, Deegan Jennings, como o


homem que na maioria das vezes é reservado. Aquele que se senta
em seu Bronco vintage na rua do lado de fora do estádio de futebol
para assistir aos jogos do colégio de longe, desejando que o seu
filho estivesse no campo em vez de brincar com o seu violão de
segunda mão. O homem que quer um rei do baile como filho, em
vez de um pária que não se importa se ele se encaixa. Aquele que
frequenta a loja de bebidas com muita regularidade, mas sempre
dá um aceno sutil ou um sorriso discreto para quem diz oi.

Mas eu o conheço como o homem que Vince odeia. Eu o


conheço como o homem com críticas duras e piadas humilhantes
em segundo plano durante nossas conversas telefônicas. Eu o
conheço como o homem responsável pelas marcas no rosto de
Vince, embora ele nunca tenha confirmado isso.
— Eu simplesmente não posso, ok? — Ele engole, sua voz
grossa das lágrimas transbordando em seus olhos que ele pisca
para afastar. — Eu deveria ter feito isso no dia em que me formei,
saído daqui... mas...

— Mas você ficou por minha causa.

Ele aguentou qualquer inferno sobre o qual não fala por minha
causa. Meu coração se parte um pouco mais.

Ele concorda. — Você é a única coisa boa que tenho aqui,


Bristol.

— Mas não é o suficiente. — Minha voz é quase inaudível.

— Não. Não é isso. — Ele segura o meu queixo e olha nos meus
olhos enquanto sua primeira lágrima escorre por sua bochecha.
Este menino... esse homem que eu amo parece tão quebrado e não
sei como consertá-lo. Como ajudá-lo. — Você é mais do que
suficiente. Você é tudo, mas se eu ficar, acho que nunca terei a
chance de me tornar o que ele acha que não posso ser, e sei que
posso ser.

— Sim você consegue. Eu sei que você vai. Você é…

— Shh. — Ele pressiona um dedo nos meus lábios e balança


a cabeça. — E se eu ficar, você não vai correr os riscos que precisa
correr. Você vai se conter por minha causa. Você vai escolher uma
faculdade onde acha que existe uma cena musical para mim, em
vez de uma que seja melhor para você.

— Eu não vou. Eu prometo.


— Eu te conheço melhor do que isso. Você é altruísta assim, e
não posso fazer isso com você. Não posso impedir você de ser a
pessoa que nós dois sabemos que você pode ser.

— Você só está dizendo isso para facilitar para ir embora. Você


está apenas…

— Você tem razão. Eu estou. — Ele engole rudemente. — Eu


tenho que acreditar. — Suas mãos estão em minhas bochechas.
Sua testa está descansando contra a minha novamente. — É a
única maneira de fazer isso. É o melhor.

Sinto um gosto salgado em meus lábios. Minhas próprias


lágrimas caem fortes e rápidas e o meu cérebro tenta processar a
decisão de Vince.

Que ele realmente está indo embora.

Que ele está indo embora sem lutar.

Tínhamos planos. Amanhãs e eternidades. Um futuro.

Eu amo ele.

Eu posso ver esses mesmos pensamentos refletidos em seus


olhos. A mesma dor. A mesma mágoa. O mesmo arrependimento.

Não posso fazê-lo sofrer mais por causa da sua lealdade a mim.
Não posso forçá-lo a suportar qualquer coisa que acontece em sua
casa simplesmente porque preciso dele.

Ele precisa de muito mais. Ele merece muito melhor.

Pressiono o mais terno beijos em seus lábios. Adeus, Vince.


Em algum lugar no fundo, encontro forças para dar a ele o que ele
precisa enquanto isso me mata lentamente.
— Eu entendo — eu sussurro e engasgo com as próximas
palavras. — É o melhor.

Seus olhos seguram os meus antes que ele acene com a cabeça
e volte para a janela.

Outro beijo.

Um aperto nos nossos dedos entrelaçados.

Um suspiro trêmulo de aceitação, embora eu não queira


aceitar nada.

Ele sai pela janela.

Lute contra as lágrimas.

Ele se vira para mim.

Não deixe sua voz falhar.

— Eu vou ligar para você — ele diz, mas eu sei que ele não vai.

Se tem uma coisa que eu sei sobre o meu namorado é que ele
é tudo ou nada. E o seu tudo está à frente dele, e eu sou o nada
que deve ficar para trás. Eu sou o nada que pode puxá-lo de volta
quando ele não pode nem mesmo olhar para trás.

— Não ligue — eu digo.

Seus olhos piscam para os meus. Explosões de mágoa neles


seguidas por aceitação.

É isso.

Uma pausa.
A chance de ir embora enquanto estou segurando os meus
pedaços quebrados juntos... para que ele não precise me ver
desmoronar.

Ele me encara longamente e duramente por um momento. A


escuridão mascara tanto, e não tenho certeza se estou grata por
isso ou se prefiro vê-lo.

— Adeus, Shug.

— Adeus, Vince.

— Talvez eu te veja algum dia.

— Talvez.

Luto para manter minha compostura. Minhas mãos em


punho. Meus dentes cavando em meu lábio inferior. Minha
mandíbula está apertada com força.

Observo sua sombra desaparecer na noite... — Vince, espere!


— Mas ele continua saindo da minha vida.

— Eu já sinto sua falta — eu sussurro.

Eu nem mesmo chego na minha cama antes de desmoronar.


As lágrimas vêm rápidas, fortes e incontroláveis.

Ele se foi.

Minha força se dissolve em desespero. Minha determinação se


desfaz em desgosto.

Eu esperaria por ele. Ele sabe isso. Eu sei disso. Mas também
não posso passar minha vida esperando por ele.

A esperança é suficiente para sustentar alguém e quebrá-lo


simultaneamente.
Eu o seguraria com força se achasse que ajudaria.

Mas, por algum motivo, acho que já está perdido.

Ele merece muito mais do que ser o saco de pancadas do pai.

— Realize todos os seus sonhos, Vince. Eu sei que um dia sua


estrela vai brilhar.
Bristol
Eu deveria ter ficado na cama.

Se o alarme de fumaça tocando às três da manhã (porque não


é sempre assim quando as baterias acabam), a cafeteira
quebrando e Jagger vomitando em todas as minhas roupas
minutos antes de eu sair pela porta, não eram um sinal de alerta
que eu deveria ter atendido, então não sei o que foi.

E agora, enquanto Simone olha para mim com as


sobrancelhas erguidas, olhos cheios de expectativa e outro pedido
imponente, sei que estar aninhada em minha cama quente e macia
teria sido muito melhor do que o que estou prestes a concordar em
fazer.

— Não me olhe assim — ela diz. — Eu faria o mesmo por você,


se você pedisse.

— A diferença é que eu não pergunto. Nunca.

Seu suspiro e o movimento dos seus pés são todas as provas


de que preciso. Ela sabe que estou certa. Que isto é definitivamente
um relacionamento de mão única, a menos que você considere o
riso que ela arranca de mim diariamente. Se compararmos isso,
então ela é a razão de eu ficar sã na maioria dos dias.
E pela mesma razão olho para ela, mas aceno com a cabeça.
— É melhor que ele seja um bom transador se você está me fazendo
cobrir você.

— Sério? — Simone junta as mãos e faz uma dancinha, seus


cachos em espiral saltando e seu sorriso atingindo os níveis de
megawatts. Tudo para cobrir seu turno hoje à noite, para que ela
possa estar com o sabor atual do mês, e ela muda mensalmente,
que passa a noite na cidade. Mas quem sou eu para negar a
alguém apaixonada a noção de estar apaixonada e a vertigem
viciante que vem com isso?

— Sério — eu digo zombeteiramente, já odiando que eu não


posso dizer não a ela.

— Oh meu Deus. Você é a melhor. Talvez isso a coloque na


frente e no centro de Xavier, para que ele veja como você é uma
dádiva de Deus e, finalmente, a trate com o que você vale.

Xavier MacMann. Schmoozer1 para as estrelas. Em


abundância. Nosso chefe. Como ele levou a McMann Media
Management a ser uma das principais empresas de mídia e
relações públicas de Los Angeles está além de mim. Com sua
agenda cansativa, suas exigências inflexíveis e suas habilidades de
comunicação de estalar os dedos, é melhor você pular, ele só
parece notar você quando você estraga tudo.

E ainda assim nós duas trabalhamos aqui porque ele é o


melhor dos melhores. Seu selo de aprovação é o bilhete de ouro
para uma carreira de sucesso na indústria. As conexões que você

1
Alguém encantador, e muito talentoso.
faz trabalhando para ele garantem isso. Se lidar com ele e suas
demandas é o que eu preciso fazer para aprender as cordas e
colocar o meu pé na porta, sinto que tenho pressionado pelo que
parece uma eternidade, então que assim seja.

Um dia pretendo ser ele.

Ter minha própria empresa de publicidade ou gestão de


talentos. Meus próprios funcionários. Minha própria reputação.

Comecei um pouco mais tarde do que o planejado...

O revirar dos meus olhos em resposta diz tudo.

— Nada jamais fará Xavier me ver. — Não importa o quanto eu


trabalhe, ele nunca vai me notar. — Também nunca estamos no
mesmo lugar. — Nos raros casos em que estamos, meu trabalho
mais importante é relegado a pegar café. Aparentemente, o meu
chefe imediato quer as tarefas mais importantes para tentar
causar uma impressão duradoura no superior.

— Ele vai estar lá hoje.

— Não ele não vai. Ele vai….

— Aqui. Em Los Angeles. Ele voltou de Napa cedo porque


surgiu uma coisa e ele queria estar aqui para isso. Então você sabe
que é um grande problema quando ele adianta uma viagem.

— E essa coisa seria...

— Nenhuma pista. — Seu encolher de ombros é tão indiferente


quanto o seu tom ao ter essa conversa agora. Tenho certeza de que
os seus pensamentos já estão em seu encontro esta noite. — Está
tudo guardado a sete chaves.
— E você vai sair?

— Eu sei. Provavelmente vou dar um tiro no pé por isso


quando você for promovida a vice-presidente ou alguma merda
assim depois de arrasar hoje.

— Sim. Ok. — Eu balanço o meu braço em movimento de


merda e estalo. — Meu jogo de gofer 2 é tão forte que Xavier vai me
promover na hora.

Saber que ele estará lá pelo menos me dá uma razão positiva


para fazer hora extra. Por mais que ele seja um pé no saco, sempre
há uma oportunidade quando ele está na sala.

— Tanto faz.

— Agora, você vai me dizer quais são os meus deveres de


trabalho esta noite?

— Não sei.

E é por isso que começar minha carreira tarde é frustrante.


Frequentemente trabalho com funcionários mais jovens, que
muitas vezes não estão cientes dos pontos delicados.

E, mesmo na idade de Simone, eu teria conhecido os detalhes


mais íntimos.

— Como assim?

— Não sei. — Ela dá de ombros de novo, seu sorriso tão


açucarado que sinto cáries se formando.

— Bem, então você pode pelo menos me dizer quem é o cliente?

2
É um jogo de tiros.
— Não. Como eu disse, tudo está sendo mantido em segredo.

— Ótimo. Você não sabe o quê e não sabe quem. Estou


começando a não gostar dessa ideia. — Eu gemo. — Da última vez
que tivemos silêncio, o inferno começou.

Simone bufa quando nós duas nos lembramos do desastre de


pegar um caso de um atleta de choque3 como cliente e tentar
resgatá-lo aos olhos do público. Desnecessário dizer que a parte
da redenção teve vida curta e foi inútil no final.

— Eu não acho que seja esse tipo de segredo. Acho que é mais
como Xavier roubando um grande nome de outra empresa, e temos
que manter isso em segredo. Ele quer a presença de uma grande
equipe para mostrar o talento que estamos temos para apoiá-lo de
qualquer maneira possível.

— Ah, a rotina de música e dança.

— Exatamente.

— Então é ele?

— Sim. Um homem. Quero dizer, pelo menos sabemos que não


é uma diva com exigências ridículas.

Dou a ela um olhar de soslaio porque nós duas sabemos que


os homens podem rivalizar com as mulheres no fator diva às vezes.

— Olha, eu te devo um milhão... algo assim. — Ela acena com


a mão e ri. — Eu não posso dizer dólares porque nós duas sabemos
que eu com certeza não tenho isso.

3
Famoso.
— O mesmo, garota. — Eu suspiro, ainda me resignando ao
fato de que concordei em fazer isso. — Diga-me aonde preciso ir e
a que horas preciso estar lá.
Bristol
— Onde está Simone? — Kevin pergunta no minuto em que
entro no estúdio enquanto ele passa por mim como se sua bunda
estivesse pegando fogo. Ou melhor, como nós, associados juniores,
devemos agir independentemente de haver um incêndio ou não.

Mas ele não é um associado júnior, e isso me diz que a


vitalidade em seu passo é porque Xavier já está aqui.

— Eu vou estar aqui esta noite.

Seu passo vacila por meio segundo, ele estica o pescoço por
cima do ombro e abre um sorriso rápido. — Não vou reclamar
disso. Você sabe que todos nós brigamos por você. A vida é muito
mais fácil quando você é designada para os nossos eventos.

— Estou emocionada. — Eu coloco minha mão sobre o meu


coração e pisco quando ele levanta um dedo me dizendo que já
estará de volta.

— Desculpe-nos — vem um som da minha direita. Eu saio do


caminho de algumas pessoas que estão apressadamente
empurrando as caixas pretas com rodas que existem em todos os
palcos de som em que já estive. Depois que eles passam, examino
o espaço enorme para tentar obter uma dica de quem é esse cliente
secreto.
A sala não me dá muito mais para continuar, exceto que estou
claramente em um cenário de som (eles custam dez centavos a
dúzia na área de Los Angeles), e há um monte de gente aqui.
Engenheiros de som com seus fones de ouvido pendurados no
pescoço e pedaços de fita adesiva presos em suas roupas
totalmente pretas onde eles colocam os microfones para alguém. A
equipe de cabelo e maquiagem fica sussurrando furtivamente em
um canto com os cintos cheios de pincéis ou acessórios de cabelo
presos na cintura ou com uma bolsa transversal. A equipe de
iluminação está na escada enquanto ajustam cabeças móveis e
holofotes em direção ao meio da área do palco. Mais para o outro
lado da sala há um amontoado de pessoas onde Xavier fica bem
no centro, claramente no controle, dada a atenção extasiada de
todos ao seu redor.

Há algumas portas fechadas atrás de tudo, mas é muito longe


para eu ler os pedaços de papéis impressos nos suportes de acrílico
que normalmente identificam a que porta pertence o talento.

E há uma dúzia ou mais de outras pessoas circulando por aí


que parecem importantes, ou, pela minha experiência, estão
tentando parecer importantes para o bem dos seus próprios egos.

Rapidamente tento ligar para minha mãe e checar Jagger, mas


como de costume, ela não atende. O que eu daria para essa mulher
tirar o telefone da bolsa e tirar o não pertube, para que ela ouça de
fato quando eu ligar para ela.

— Bristol.

Coloco o meu telefone no bolso e olho para cima quando o meu


nome é chamado do outro lado da sala. Kevin está parado ao lado
de Xavier, e os dois estão olhando atentamente para mim. Kevin
acena para que eu vá.

Com um grande gole de lá vamos nós, atravesso o grande


espaço, sempre ciente de que eles estão me examinando
descaradamente enquanto ando.

Estou velha demais para me preocupar com Xavier e com o


que ele pensa de mim. A maioria dos associados juniores de
McMann são cinco a sete anos mais novos do que eu e têm muito
menos força de vontade.

Ambos servem como uma bênção e uma maldição para mim.

Ter vinte e oito anos significa que preciso ser amável e não
irritar nenhum dos associados ou gerentes seniores. Também
significa que tenho idade suficiente para ter um bom senso de
identidade, um bolso cheio de experiência para extrair e já lidei
com besteiras suficientes que prefiro não tolerar mais.

Como eu disse, uma bênção e uma maldição. Especialmente


quando minha boca se abre para me defender sem pensar, quando
os meus colegas mais jovens provavelmente acenariam com um
sorriso e engoliriam qualquer tarefa de merda que fosse colocada
diante deles.

Há um yin e yang definido, e tenho certeza que ainda estou


encontrando o equilíbrio correto para isso. Um que não vai me
demitir.

É uma coisa estranha ser mãe, ter o controle de tudo quando


estou em casa, e depois vir trabalhar e receber ordens de todo
mundo.
— Você acha que ela é muito velha? — Xavier pergunta quando
estou ao alcance da voz.

Kevin franze os lábios. Uma inclinação de sua cabeça. Meus


ombros se ergueem em uma repreensão silenciosa.

Esta é a única indústria onde examinar a aparência de uma


pessoa é perfeitamente normal e aceito.

Escuto, mas olho por cima do ombro para ver de quem eles
estão falando.

— Não. Seu cabelo arrumado pode parecer certo. A pele dela é


impecável. Ótima coloração e sem rugas — Kevin diz.

— O problema não é a pele dela. — O sorriso de Xavier se


aperta, seus olhos se desviando de mim. — O tipo de corpo está
errado.

Kevin muda de posição quando paro diante deles. — É


verdade, mas a inclusão do corpo é uma grande coisa agora. Pode
fazer uma declaração que parece boa para ele. O tipo de coisa
'todos os tipos de corpo são bonitos'.

— Você tem um ponto. — Claramente Xavier não é um fã dessa


ideia pelo sorriso tenso e tique-taque muscular em sua mandíbula.

— Quero dizer, de forma alguma é o que havíamos planejado,


mas estamos em apuros e, sem dúvida, ela pode fazer o que precisa
ser feito.

— Quem pode fazer o quê? — Eu pergunto, olhando de um


para o outro e depois de volta.

— Nosso artista principal está doente e o elenco não recebeu


uma resposta da nossa empresa de terceirização.
— O que isso significa?

— Significa que podemos fazer você ficar de pé até


conseguirmos trazer alguém aqui — Kevin diz e processo as
críticas sutis que eles estavam fazendo sobre o meu corpo – porque
isso é exatamente o que toda mulher quer ouvir... nunca nenhuma
mulher.

— Espere. O quê? — Eu pergunto.

— Acredito que eles estão dizendo que querem que você seja o
meu interesse amoroso.

O tenor profundo nas minhas costas faz o meu coração bater


ferozmente porque eu reconheceria aquele cascalho mergulhado
em uma voz aveludada em qualquer lugar. E por mais que eu
espere estar errada, quando me viro para encarar o dono da voz,
cada parte de mim fica em atenção quando estou certa.

Vincent Jennings.

Cabelo escuro. Olhos claros. Uma manga de tatuagens que


espreita para cima e além da gola da sua camiseta preta que é sua
marca registrada. Aquele foda-se enrolado em seus lábios que
sempre esteve lá, provocando e seduzindo simultaneamente.

Estou aliviada ao ver o choque passando por aquele rosto lindo


dele. Pelo menos eu não sou a única sendo jogada para um loop
agora.

— Ei, Shug. — Shug, abreviação de docinho, um apelido que


originalmente eu desprezava, mas que de alguma forma ele fez ao
longo do tempo que passamos juntos. É um nome que não ouço
há anos, que faz o meu coração apertar e rejeitá-lo ao mesmo
tempo.

Ou tenta, porque naquele olhar, um milhão de sentimentos


voltam. O sentimento agridoce do primeiro amor e o desespero
esmagador do primeiro coração partido. A humilhação absoluta da
rejeição e o lembrete constante de que, de alguma forma, sempre
estarei em dívida com ele. Não que ele jamais saberá.

Fico paralisada de surpresa com a cabeça e o coração


disparados, mas minhas primeiras palavras não são para o homem
que possuiu minha vida de uma forma que ele nem conhece. Em
vez disso, elas são direcionadas a Xavier e o seu olhar curioso. —
E...eu não entendo. Não contratamos estrelas do rock. McMann
não faz isso. Gerenciamos estrelas de cinema. E chefs da Food
Network. E influenciadores de mídia social... mas não ele.

Kevin puxa uma respiração rápida quando Xavier cruza os


braços sobre o peito e estreita os olhos para mim. —
Representamos quem quer que eu diga que representamos — ele
diz naquele tom autoritário e suave. Aquele que diz para não
questionar ou foder com ele. — Ou você esqueceu que é o meu
nome no seu contracheque?

— Sim. Eu sei. Quero dizer... — Pare, Bristol. Simplesmente


pare. Minha língua parece pesar meio quilo e o meu corpo inteiro
vibra com a adrenalina que corre. — Mas não ele.

O rápido pigarro de Kevin é um aviso. Assim como os seus


olhos estão voando entre nós quatro, como se ele estivesse fazendo
um balanço de quem eu ofendi mais. — O que eu acho que você
quis dizer é como é emocionante que a McMann Media
Management agora tenha decidido se aventurar a representar
músicos. E como temos sorte de que o supertalentoso deus do rock
Vincent Jennings será o nosso primeiro cliente nesse reino.

— Nosso cliente? — Eu balbucio quando a realização rompe a


névoa pesada que vê-lo novamente me pesou.

— Sim. Nosso cliente. — O músculo pulsa na mandíbula de


Xavier e ele olha para mim. — Alguém que pode não se sentir bem-
vindo dada a sua recepção encantadora.

— É bom ver você de novo — Vincent diz nas minhas costas,


ignorando completamente Xavier e o seu sarcasmo, como se ele e
eu fôssemos os únicos na sala.

Sua voz sempre me possuiu, e desta vez não é exceção,


independentemente do oceano da história em que nós dois
estamos navegando agora.

Olhos expectantes me encaram e me forço a virar e encarar


Vince. Olhos que fazem um milhão de perguntas naquela simples
troca.

Como você está?

O que você está fazendo aqui?

Como é que já faz tanto tempo?

Isso não é uma coisa boa, você estar aqui.

Eu o via na televisão, nos tablóides, em shows de premiação


mais vezes do que eu gostaria de contar, e ainda assim, de pé aqui,
cara a cara com ele, estou no limite da nostalgia agridoce e
indiferente. Descrença.
Indiferente.

Não foi isso que prometi a mim mesma que seria se


estivéssemos cara a cara de novo?

Então por que o meu coração está acelerado? Por que minha
boca está seca? Por que estou dizendo a mim mesma que ele não
pode estar aqui, que isso não pode acontecer, enquanto sou
incapaz de desviar os meus olhos dele?

Por que é tão difícil ficar indiferente quando estou diante dele?

— Vincent. — Eu aceno e minha cabeça nada com memórias.


Primeiros beijos. Dedos e ombros unidos para suporte. Despedidas
à meia-noite e lágrimas sem fim. Sexo desesperado para
compensar o tempo perdido. Palavras finais que nunca perdoarei
ou esquecerei. Balanço a cabeça, tentando me concentrar no aqui
e agora. Em fazer o meu trabalho e não deixá-lo estragar os meus
planos.

— Bristol.

— Eu não entendo — eu digo quando minha mente racional


alcança. — O que você está fazendo aqui?

Os lábios de Vince se curvam de um lado, uma covinha que


conheço muito bem em uma bochecha. — Bem auto-explicativo.
Estamos gravando um videoclipe.

Meu sorriso é indiferente quando olho por cima do ombro


porque dói muito olhar em seus olhos. Eles são muito familiares.
Muito esmagador.

O tempo e as experiências de vida podem ter entorpecido a dor,


mas não apaga nem a minha própria participação.
— Temos grandes planos com Vincent, aqui — Xavier diz,
dando um passo à frente, seu peito estufado, seu sorriso no modo
de pau grande e ele dá um tapinha no ombro de Vince. — Hoje à
noite, estamos gravando um vídeo para o promissor single Heart
of Mine. O resto desta semana será de várias sessões de debates
de ideias com sua equipe de relações públicas. Então vamos
começar a trabalhar nos bastidores do documentário. Temos
muito o que fazer com ele enquanto estiver na cidade.

— Documentário? — Eu bufo. Vince não é exatamente o tipo


de documentário. E é muito mais fácil focar nisso do que ouvir que
ele vai ficar na cidade por um longo período.

— Sim. Sobre o Vince. Como você sabe, quando você controla


a narrativa, fica mais fácil controlar os danos — Xavier diz. — É
melhor se tivermos os paparazzi do nosso lado do que com o
sangue deles em nossos punhos.

— Ele merecia isso. — Vince revira os olhos.

— E é por isso que falaremos por você — Xavier adverte, mas


com um sorriso.

A risada de Vince é um aviso que tenho certeza de que Xavier


acredita que pode pacificar e que sei por experiência que não pode.
— Ninguém fala por mim.

Xavier acena com a cabeça, claramente aplacando Vince. — O


documentário vai e vamos garantir que ele diga exatamente o que
queremos que diga. — Seu sorriso é rápido e involuntário quando
ele olha para mim. — Quando terminarmos sua campanha, todo
mundo que ainda não conhece o seu rosto o reconhecerá.
— E espero que isso se traduza em uma semana de
lançamento monstruosa para o seu primeiro álbum solo completo
— Kevin interrompe, tentando voltar à conversa.

Vince é o baixista de uma das maiores bandas da cena rock,


Bent.

Era.

Ele era o baixista de uma das maiores bandas do rock.

Há um ano, Bent fez uma pausa para buscar projetos


individuais depois de anos juntos. Projetos de paixão, acredito que
eles chamaram assim.

Vince lançou um álbum estendido desde então, algumas


músicas em um mini-álbum. Ele se saiu bem, mas não tão bem-
sucedidos quanto a música de Bent. Mas ele já alcançou todos os
picos antes com eles, ele ganhou Grammys, liderou as paradas da
Billboard, esgotou turnês em estádios, teve álbuns que ganharam
disco de platina... então, por que esse novo impulso? Por que ele
está tão desesperado para provar a si mesmo quando já fez? —
Desculpe repetir, mas por que Vince precisa…

— Porque nenhuma imprensa é má imprensa? — Vince


responde. Pode ter se passado anos desde a última vez que nos
vimos, quase sete anos para ser exata, mas eu conheço o homem
diante de mim bem o suficiente para ver a sombra em seus olhos
se escondendo atrás da sua resposta irreverente. Há mais em seu
raciocínio.

E eu serei amaldiçoada se eu quiser saber o que é. Ou mesmo


o que isso importa.
— Exatamente — Xavier diz. — A reinvenção é a chave deste
negócio. Vince aqui foi incrível com a banda Bent. Estamos aqui
para garantir que ele arrase como frontman. Quero dizer, quem
diria que o cara poderia cantar uma música como ele, certo? —
Xavier dá um tapinha no ombro de Vince. — E agora McMann vai
ajudar a levá-lo ao próximo nível. Deixar o mundo ver o homem
fora dos holofotes. Manter a aura de tudo o que é Vincent Jennings
e fazer as pessoas sentirem que conhecem a pessoa real por baixo.

Concordo com a cabeça, acostumada com as besteiras de


Xavier, mas o que estou perdendo? Por que Vince trocou de
agência? Por que ele está aqui? Por que McMann está
diversificando para músicos agora? Por que agora, por quê?

— Parece perfeito — Vince diz, mas ele não se move, seus olhos
ainda fixos nos meus.

Perguntei-me se esse dia chegaria. Ensaiei e imaginei o que


faria e diria. Como eu me sentiria. Se aquele soco visceral no
estômago que ver Vince sempre me fez sentir ainda estivesse lá.

A resposta é sim.

Sempre.

— Você pode nos dar um minuto? — Vince pergunta.

— Claro. — Alegremente. Estou prestes a sair do caminho para


que Vince e Xavier possam conversar quando Vince estende a mão
e agarra o meu braço.

— Não você — ele diz para mim antes de olhar para Xavier e
Kevin com as sobrancelhas levantadas.
— Oh. — Claramente irritado e confuso, Xavier se assusta
momentaneamente ao ser afastado. Ele estreita os olhos para mim
antes de olhar para Vince. — Sim. Claro. Há algo que eu possa
fazer por você?

— Sim. Dê-nos a privacidade que eu pedi — Vince diz,


dispensando-os efetivamente e fazendo ondas com o meu chefe que
não estou exatamente entusiasmada.

Com os dentes cerrados, eu os vejo ir embora e tento ignorar


a sensação da mão de Vince em mim. Seu toque... sempre me
afetou de maneira diferente do que qualquer outra pessoa.

Mesmo agora, quando eu não quero.

Medo e confusão serpenteiam pela minha espinha. As duas


emoções forçam uma decisão. Elas me pressionam a reagir,
escolher a autopreservação depois de tudo que passamos, ou
apenas aceitar o que sempre esteve entre nós e a caverna.

Mas só há uma opção desta vez.

Só há uma maneira de mantê-lo à distância e, de preferência,


fora da minha vida.

É hora de lutar ou fugir, e escolho lutar.

— Você está tentando me colocar em apuros? — Eu arranco o


meu braço do seu aperto no minuto em que estamos fora do
alcance.

— Problemas? Com quem? Aquele idiota?

— Esse idiota é sua nova representação e o meu chefe. Por que


você assinou com ele se não gosta dele?
— Eu precisava de uma mudança. Ele é supostamente um dos
melhores. — Seu encolher de ombros me diz que ele ainda não está
convencido disso.

— Você tinha CMG. Eles são do mesmo calibre e mais


adequados para gerenciá-lo corretamente.

— As coisas mudaram.

— Exatamente. Elas mudaram. — Eu mudei. Eu cruzo os


braços sobre o peito. — E isso não explica por que você está aqui
no meu espaço, na minha empresa, afastando o meu chefe e
colocando um enorme holofote em mim, e não do tipo bom. Não
sorria para mim desse jeito.

— De que jeito? — Ele ergue as mãos, seu rosto é uma máscara


de inocência fingida.

— Assim. — Eu empurro um dedo em sua direção. — A última


coisa de que preciso é ser demitida e...

— Eu vou cuidar dele para você.

— Eu não quero isso, Vince. Não quero você 'cuidando dele'


para mim. Não com o meu chefe... com ninguém.

Sei que Vince ouve minhas palavras, a convicção e a


determinação por trás delas, porque seu sorriso desaparece e os
seus olhos se estreitam. — Você está realmente chateada comigo,
não está? Faz anos que não te vejo...

— Sete para ser exata, mas quem está contando?

— Claramente, você está — ele murmura, cruzando os braços


sobre o peito e inclina a cabeça para o lado para me estudar. E
naquele breve momento de escrutínio, minha insegurança mostra
sua cara feia. Lá está Vince Jennings parecendo ainda melhor do
que da última vez que o vi. Alto e bronzeado, os bíceps esticando
os punhos da camisa, ainda tão esculpidos quanto os meus dedos
se lembram de passar por eles.

E eu estou aqui, precisando desesperadamente de um bom


corte e pintura no cabelo, com o mínimo de maquiagem e um
pouco mais suave nas bordas do que da última vez que ele me viu.

Passam-se segundos que parecem minutos enquanto


travamos um impasse visual.

— Achei que estávamos bem com a forma como deixamos as


coisas da última vez que nos vimos. Nós concordamos de antemão
que…

— Eu sei o que nós concordamos, muito obrigada — eu disparo


para ele e odeio isso. Mas concordar com nenhum compromisso de
antemão e depois lidar com a turbulência emocional do rescaldo
são duas coisas completamente diferentes.

Mas ele não sabe disso.

Ele não pode saber disso.

— Ainda sarcástica, eu vejo.

— Ainda sarcástico, eu vejo. — Eu levanto minhas


sobrancelhas em desafio e os seus olhos procuram os meus.

— Você parece incrível, mas, novamente, você sempre parece


— ele diz, derrubando o proverbial vento de minhas velas.

Vento que eu precisava para manter aquela minha parede


fortificada... então ele não conseguiria derrubar, como só ele sabe
fazer.
Respiro fundo e fecho os olhos por um instante. Por que ele
não consegue ver que não pode dizer merdas como essa? Merda
que torna difícil ficar com raiva dele quando essa é a única maneira
que eu conheço para que eu possa mantê-lo à distância?

— Como você está, Shug?

— Pare de me chamar assim.

Ele franze os lábios e acena com a cabeça, mas não tenho a


menor impressão de que ele vá me ouvir. Vince sempre jogou de
acordo com suas próprias regras, sempre conseguiu se safar, e é
ingênuo da minha parte pensar que ele é diferente agora.

— Velhos hábitos custam a morrer. Principalmente com a


nossa história. — Seu sorriso suaviza assim como o seu olhar e
aquela dor familiar em meu peito retorna.

— É só isso. História. No passado, onde pertencemos — eu


digo mais dura do que deveria e tento encontrar o meu equilíbrio.
Para tentar não cair no feitiço de Vincent Jennings. Tivemos
nossas chances de fazer as coisas funcionarem. Isso não
aconteceu. Eu tive anos para aceitá-lo. Anos para questionar e se?
Anos para aprender a amar a vida que fiz. A última coisa de que
preciso agora que finalmente estou estabelecida é que ele apareça
e destrua o meu mundo cuidadosamente construído em
pedacinhos.

— Tão mais fácil de dizer. Muito mais difícil de fazer — ele diz
e dá um passo em minha direção que me deixa tensa e me preparo
para o seu toque que não vem.
Costumava ser tão fácil entre nós dois. Sem esforço.
Despreocupado. Real.

Até que não foi.

E isso até que não fizesse parte é o que eu seguro enquanto


olho para o homem que uma parte de mim sempre amará de
alguma forma, maneira ou jeito.

— Não faça isso — eu sussurro.

— Fazer o que?

— Isto — eu digo enfaticamente.

Sua risada é um estrondo baixo. — O que é isso? Conversar


com uma velha amiga? Perguntar como ela está? Perguntar por
que ela está... tanto faz a sua posição aqui... em vez de dirigir esta
maldita empresa como você deveria estar?

A vergonha aquece minhas bochechas. Um milhão de


desculpas de por que não estou onde deveria estar em minha
carreira enchem minha cabeça, mas permanecem em silêncio em
meus lábios.

— Você sabe o que estou fazendo aqui, Bristol, mas não me


contou o que está fazendo aqui.

— Trabalhando.

É a vez dele de dar um suspiro exasperado, mas ele não pode


entrar aqui e jogar a carta do eu-sou-um-deus e pensar que vou
responder a todas as perguntas que ele me fizer.

Eu não devo nada a ele.

— Isso não foi o que eu quis dizer…


— Desculpe a interrupção, Sr. Jennings, mas estamos prontos
para recebê-lo. — Nós dois olhamos à nossa direita para uma
mulher que nem percebemos que estava ali. Seu fone de ouvido,
prancheta e expressão séria me dizem que ela é a assistente de
direção ou primeiro AD ou segundo AD. Alguma posição para
afetar onde o estresse é algo que ela prospera.

— Claro. — Ele dá um aceno educado. — Vamos fazer o clipe.


Vai ser uma longa noite. Esta pronta?

— Para que? — Eu pergunto, minha mente tão confusa que já


esqueci como essa conversa começou.

— Para ser o meu interesse amoroso no clipe — ele diz. A


maneira como o seu rosto se ilumina me faz balançar a cabeça
imediatamente.

— Não. Você está louco se pensa...

— Brigando. Se beijando. E fazendo as pazes.

— Absolutamente não.

— Pelos bons tempos. — Ele dá de ombros, seu sorriso de


menino no modo de roubar corações. — Costumávamos ser muito
bons nisso.

Eu sei. Acredite em mim, eu sei. Eu rio e respiro fundo para


me acalmar. Este homem é tão frustrante. — Não faz parte da
descrição do meu trabalho. — Eu dou outro passo para trás. — E
eu com certeza não recebo o suficiente para...

— É um ponto discutível. — Nós dois nos viramos e olhamos


para a AD quando ela silencia nossa brincadeira. — O elenco saiu
no último minuto. Uma atriz apareceu. Ela é a loira linda que se
encaixa no papel. — Ela aponta por cima do ombro para destacar
a mulher. E quando olho de volta para a AD, suas sobrancelhas
estão levantadas no que eu tento não tomar como julgamento, mas
faço de qualquer maneira. — Viu? Você não é mais necessária.

Alívio corre através de mim seguido por um leve traço de inveja


que não tenho absolutamente nenhum direito de sentir. Ou querer
sentir.

— Perfeito — eu digo com um flash de sorriso que eu tenho


certeza que não atinge os meus olhos. — Agora, se me der licença,
tenho trabalho a fazer.

— É isso? — Vince pergunta, e estende a mão para o meu


braço novamente, mas não pega quando dou um passo para o
lado. Ele não está acostumado com mulheres se afastando dele.
Isso eu sei que é verdade. Na verdade, tenho certeza de que esse é
o forte dele.

— É isso. — Meu sorriso é tenso. Meu encolher de ombros sem


remorso. Meu coração trovejando em meu peito.

Ele está fazendo isso mesmo?

Ele acena com a cabeça sutilmente, e não consigo ler o olhar


que ele me dá. — Bom ver você, então. Talvez eu veja você de novo
enquanto estiver na cidade, e podemos tomar uma bebida para
relembrar os velhos tempos.

— Talvez. — É preciso tudo o que tenho para virar as costas e


ir embora quando deveria ser a etapa mais fácil da minha vida.

Um pé na frente do outro, Bristol. Crie espaço. Crie a


distância. Não o deixe passar por sua guarda.
Mas só ando alguns metros antes de me virar, em conflito e
sentindo que preciso dizer mais a ele. Por culpa? Fora da
responsabilidade? Fora de... não importa. Não importa porque
Vincent já está caminhando para onde o resto da sala o espera
pacientemente para começar a longa noite.

A loira escultural quase pulando na ponta dos pés de


excitação, inclusive.

Não sei por que esperava que ele estivesse parado ali ainda
olhando para mim. Esperando por mim. Me querendo.

Não foi isso que pensei da última vez que nos vimos? Que a
conexão entre nós seria tão forte que ele ainda estaria lá?

Dou uma risada nervosa, o gosto de rejeição que eu não


deveria sentir como um gosto amargo na minha língua. Um que
lembro a mim mesma ser necessário para lidar com Vince.

Uma velha amiga.

Seu rótulo atinge os meus ouvidos novamente e me faz sentir


ridiculamente estúpida e profundamente colocada em meu lugar.

Aqui estava eu pensando e me preocupando enquanto ele


estava olhando para mim, falando comigo, que cairíamos de volta
no que sempre fomos. Conectados por uma química inegável que
nunca poderíamos ignorar. Que eu teria que me manter firme e
dizer a ele que não estou interessada.

Todo aquele gosto por nada.

Eu sou apenas uma velha amiga. Pfft.

Uma mulher entre muitas para ele com quem ele teve um
pouco mais de história.
Mas eu já não sabia que era onde eu estava? Não foi isso que
combinamos da última vez que estivemos juntos? Então, por que
a emoção queima no fundo da minha garganta?

Porque uma parte pequena e tola de você tinha um pingo de


esperança de que talvez ele pensasse em você como mais. Ver Vince
novamente apenas reafirmou que a esperança era tão ridícula
quanto eu pensar nisso.

Além disso, vivemos duas vidas completamente diferentes em


dois mundos muito diferentes. Isso nunca funcionaria. Nós nunca
trabalharíamos.

Por motivos além do óbvio.


Bristol
Precisando de um momento para processar os últimos dez
minutos, propositadamente me misturo às sombras contra a
parede.

Vai ficar tudo bem.

Vince ficará em Los Angeles por um tempo. Ele vai fazer a coisa
dele. Ele vai embora e depois voltará para onde mora.

Simples. Fácil. Não há necessidade de misturar nossas vidas


novamente. Problema resolvido.

Acho que ainda assim, quando olho para cima, fica claro que
Vince já encantou quase todos nesta sala. É impossível não se
sentir atraída por ele. Há um carisma sobre ele. Uma ludicidade.
Uma vantagem nele que atrai você e torna impossível desviar o
olhar.

E não machuca, ele é mais do que agradável aos olhos.

Durante os próximos trinta minutos, me ocupo com tudo e


qualquer coisa que esteja o mais longe possível dele. Nunca estive
tão disposta a fazer as tarefas sem sentido que Kevin solicita como
estou agora. Café fresco. Uma mensagem entregue ao AD. Uma
lista de tarefas ditada digitada no meu telefone para ele. Mas, como
todos os outros na sala, quando Vince sobe ao palco e começa a
cantar para a câmera, todas as tarefas são esquecidas. Eu paro.
Dou um passo em direção ao palco, depois outro, e caio no transe
de sua voz.

Coração mole. Faca afiada.

Esse nosso amor me arruinou para o resto da vida.

Palavras duras. Paredes perfuradas.

Essa dor é crua, mas valeu a pena a queda.

Sonhos partidos. Linhas de cicatrizes.

Você sempre será a dona neste meu coração.

Por um momento, permito-me acreditar que ele está cantando


para mim. Me permito a fantasia fugaz de que tudo isso aconteceu
de forma diferente.

Mas apenas por um segundo.

Só para que eu possa me lembrar por que isso não aconteceu.

E quando pisco para afastar as lágrimas que brotaram em


meus olhos, Vince está com as mãos protegendo os olhos das luzes
e está olhando diretamente para mim.

Não tem como ele me ver onde estou me misturando com a


escuridão da sala.

Não tem como ele saber...

— Matthews.

Saio do meu transe ao som da voz de Xavier e imediatamente


fico em alerta. Sem dúvida ele está vindo para me dar uma bronca
sobre mais cedo. Ou me demitir. Já o vi despedir pessoas por
menos. Depende apenas do humor em que ele está.
Vamos torcer para que ele esteja bem.

— Sim, senhor? — Eu pergunto com ânimo, que não sinto


infundido em meu tom.

— Qual é o problema com você e Jennings?

— Não há nenhum problema, senhor.

— Brinque com o fato de que não nasci ontem. Claramente


vocês se conhecem. Preciso me preocupar com alguma coisa aqui?
— Seus olhos perfuram os meus, exigindo respostas que não me
sinto exatamente confortável em dar.

— Nós fomos juntos para o ensino médio. — Embora seja


verdade, não é toda a verdade.

— Então você o conhece?

— Eu o conhecia, sim, mas não o via há anos.

Xavier morde o interior da bochecha, e me encara com os olhos


travados e os braços cruzados sobre o peito. — Ele é seu.

— O que quer dizer com ele é meu?

— Ouvi coisas boas sobre o seu trabalho. Suas atitudes. Seu


relacionamento com o talento. Nossa lista de clientes está
transbordando e, embora eu esteja emocionado por ter Jennings a
bordo depois de anos de perseguição, foi tudo um pouco
inesperado.

— Parabéns. — É um comentário idiota, mas é tudo que


consigo pensar em dizer, porque estou com medo do que acho que
ele vai dizer a seguir.
— Parabéns mesmo. Ele é um grande trunfo. Um pouco
imprevisível. Muito sem roteiro. Tudo o que nós, como fãs,
esperamos de uma estrela do rock, certo? — Ele olha por cima do
ombro para onde o riso ressoa sobre algo no set. — E é por isso
que acho melhor designar você para ele.

— Designar-me a ele?

— Eu não gaguejei, gaguejei?

— Não. É que...

— Você vai recusar a oportunidade que qualquer pessoa em


sua posição nesta empresa mataria para ter?

— Eu não disse isso. — Eu engulo o nó na garganta.

— Otimo. Eu não estava perguntando se você queria isso. —


Eu estava dizendo a você. Seu sorriso é rápido e implacável. — Não
tenho pretensão de que ele será um cliente fácil para nós, mas
acho que sua familiaridade com ele será útil para nós dois.
Considerações?

Balanço minha cabeça porque Xavier não quer as minhas


considerações. Ele só quer se ouvir falar e tudo bem para mim,
porque minha cabeça está girando com os acontecimentos das
últimas duas horas.

Vendo Vince novamente.

Conseguir a oportunidade que eu esperava.

Para minha sorte, consegui minha primeira chance real neste


trabalho, que o Xavier McMann realmente me notou, e ele me
recompensa com uma oportunidade como esta. Ele me
recompensa com Vince. A ironia é tão rica que nem vale a pena
provocar o riso.

— Perfeito. Vou garantir que Kevin fale com você em breve


sobre o que eu espero.

— Sim senhor.

— Independentemente da situação, é o seu trabalho fazer com


que o cliente pense que está sempre certo, mesmo quando não
está.

— Mm-hmm.

— E é o meu nome que você está representando. Espero


profissionalismo em todos os momentos. Esta nova posição é
temporária, a menos que você me mostre o contrário.

— Obrigada. Eu... — Mas ele se afasta, e atende o telefone


tocando antes que eu possa dizer qualquer outra coisa.

Fico olhando para ele por um instante, minha adrenalina


bombeando e minha cabeça nadando com uma miríade de
emoções. Excitação. Confusão. Precaução. Trepidação. Otimismo.
Preocupação.

Não deveria ser possível sentir todas essas coisas ao mesmo


tempo, mas eu sinto.

Eu posso fazer isso. Fácil. Sou apenas uma velha amiga,


lembra? Manter minha vida profissional separada da minha vida
pessoal é algo que faço todos os dias.

Agora não deve ser diferente.


O diretor grita ação e a música envolve o palco sonoro mais
uma vez. A melodia contundente da balada atinge os meus
ouvidos. Outra tomada de palavras que chega um pouco perto
demais de casa.

Você sabia? Você se importou?

Eu olhei para cima para descobrir que você não estava lá.

Luvas de criança. Segurando firme.

Eu ainda alcanço você no escuro da noite.

Esperanças despedaçadas. Amor indefinido.

Você sempre possuiu este meu coração.

Sim, deve ser fácil... se eu não ouvir suas letras.


Vince
— Porra. — Droga. — Desculpem rapazes. Foi mal — eu
resmungo, erguendo as mãos para espiar além das luzes do palco.
— Eu juro que sei a letra da minha própria música.

— Não é nada demais — o meu diretor diz da escuridão. —


Tem sido uma longa noite. Acontece com o melhor de nós.

Não há necessidade de acariciar o meu ego. Eu estou fodendo


e eu sei disso.

— Vamos dar um tempo nessa cena — ele diz, sua voz se


aproximando até que eu possa ver o seu rosto sombreado. —
Vamos dar um descanso à sua voz e passar para a cena da luta.
Dessa forma, podemos envolver Jennifer e sair do set e depois
voltar para esta parte. — Ele acena para a atriz.

— Parece bom.

E antes que eu tenha a chance de soltar minha alça da


guitarra do pescoço, toda a sala começa a mudar seu foco para a
direita, onde uma simulação de bastidores foi criada para a cena
de luta. Porra de Hollywood, cara.

O lugar onde algo pode ser feito do nada. Um conjunto. Uma


cena. Mesmo uma estrela do rock. Eu sou a prova viva disso.
Entrego a minha guitarra para a assistente que eles
designaram para mim, todos os olhos de corça e mãos trêmulas, e
sigo para minha garrafa de água fora do palco. Meu primeiro gole
me fez desejar que fosse algo mais forte. Eu preciso de algo para
tirar a porra do limite.

E por que isso, Jennings?

Por que você continua fodendo? Por que sua cabeça está tão
enfiada na bunda que você não consegue se lembrar das palavras
que escreveu?

Procuro a escuridão além do palco novamente e não encontro


nada. Provavelmente é melhor. Vê-la só vai foder ainda mais com
a minha concentração.

Maldita Bristol Matthews.

Dizer que este seria o último lugar que eu pensaria em vê-la


seria uma mentira. Eu esperaria vê-la aqui. Só não como uma
serviçal de merda, qualquer que seja a posição que ela tenha.

E, no entanto, procuro-a pelas paredes novamente.

Foda-se isso.

— Preciso de outra coisa — eu digo ao meu assistente. Um gole


nunca é demais. — Algo mais forte.

Os olhos da pobre criança se arregalam como se ela não


pudesse acreditar que eu estou pedindo álcool. Novata
definitivamente. O álcool não tem nada a ver com algumas das
merdas que já vi pedirem e fornecerem no set. No palco. Em
qualquer lugar, realmente.

— Hum, isso é permitido? — ele pergunta.


— Meu palco. Minhas regras. — Eu pisco. — Um greyhound4,
por favor. Quem tem o álcool saberá o que há nele. — Ela apenas
fica lá e olha para mim.

— Você está falando sério.

— Eu estou. — Eu sorrio e ela continua parada lá. — Por favor.

— Sim senhor. Desculpe, Sr. Vincent. Quero dizer, Jennings,


quero dizer...

— Vince está bem.

Vai ser uma noite longa pra caralho, se a crepitação dela for
alguma indicação.

Mas ela esta fazendo o trabalho dela e está fazendo bem,


porque a bebida está na minha mão em minutos. É forte como o
inferno. Bem do jeito que eu gosto.

— Alguma pergunta? — o diretor pergunta enquanto tenta


focar minha atenção distraída no storyboard5 na minha frente.

Parece uma história em quadrinhos com cada quadrado


ilustrado, retratando o que está na próxima cena do videoclipe.
Não é nada criativo em termos de videoclipes, inferno, os
videoclipes estão morrendo em certo sentido, mas eles são uma
necessidade para o bem da publicidade.

E não importa quantos eu tenha feito, ainda é muito legal fazê-


los.

— Entendi. Fingir argumentar. Jogar o meu copo contra a


parede. Jennifer dá um soco em mim, e então eu a prendo contra

4
É um coquetel que consiste em suco de laranja e gin.
5
Uma série de ilustrações ou de imagens.
a parede. E a beijo com força. — Eu concordo com a cabeça e tomo
um gole, meu sorriso torto. — Você sabe, assim como eu faço com
todas as mulheres que conheço nos bastidores. — Minha piada
provoca algumas risadas, mas quando olho de volta para o
storyboard novamente, algo me impressiona.

Cenário semelhante, mas sem a luta.

A última vez que vi Bristol, foi assim que tudo começou. Eu.
Ela. Contra a parede do corredor do hotel. Com força.
Desesperado.

Como terminou foi ainda melhor.

Cristo. Não penso nisso há anos. Risca isso. Eu preciso.


Desligar e ligar. Quando eu escrevo músicas. Quando vejo alguém
que se parece com ela. Quando tenho uma noite de folga, bebo
algumas cervejas demais e amaldiçoo por que o que é, é.

Porra, aquela noite entre nós deveria ser um encerramento,


mas tudo o que fez foi abrir feridas. Feridas que tentei fechar com
supercola, para nunca mais serem abertas.

Até agora.

Até que eu a vi parada olhando para McMann, e tudo veio


correndo de volta.

Porra do inferno.

Foi a mesma coisa para ela depois daquela noite? O mesmo


acontece quando ela me vê agora?

Não é como se você soubesse, Jennings, desde que você


bloqueou o número dela do seu celular depois daquela noite.
Cristo.

Tomo outro longo gole da minha bebida e me preparo para a


próxima cena.

Não é como se fosse dificil beijar outra mulher por causa de


um clipe. Ou por qualquer motivo, na verdade.

Mas à medida que passamos pelos exercícios, tomada ampla,


tomada em close, tomada detalhada, tomada após tomada, beijo
após beijo intenso, é Bristol quem está em minha mente. É Bristol
quem está fodendo minha concentração.

Ela está assistindo?

Ela está com ciúmes?

Ela está desejando ser ela quem eu estou beijando?

Maduro. Realmente maduro pra caralho.

Então, novamente, não há nenhuma lei que diz que eu tenho


que fazer.

As unhas de Jennifer arranham minhas costas enquanto sua


língua dança com a minha. E por mais que haja luzes e pessoas
assistindo, é difícil não ficar excitado com a sensação do corpo dela
contra o meu. Pelo zumbido pouco profissional de sua aprovação
contra o meu peito. Pelo calor da sua boceta na minha coxa, onde
está pressionada entre suas pernas.

Ela está enviando todos os sinais de que estaria disposta a


continuar de onde paramos depois que ambos sairmos do set.

Outra hora, talvez.

Outro lugar.
Em algum lugar onde Bristol não esteja, talvez.

Mas por quê? Não é como o fato de saber que ela existe tenha
me impedido de viver minha vida ao longo dos anos. Já beijei um
monte de mulheres. Eu fodi mais do que posso contar. Tudo sem
pensar em como isso faria Bristol se sentir.

Eu sou uma estrela do rock. É assim que funciona.

Então, por que isso agora está me incomodando, porra?

— Você pode entrar um pouco mais nisso, Vince? — O diretor


pergunta.

— Se eu entrar mais nisso, estarei dentro dela — eu digo,


arrancando uma risada de todos e o aperto de sua coxa contra a
minha.

— Ok. Sim. — Claramente, não estou vendendo pelos


comentários do diretor. — Coloque a mão no peito dela. Sim.
Assim. A outra mão no cabelo dela. Ótimo. — Ele cantarola em
aprovação e presumo que fale com o diretor de fotografia. — Amplie
a mão dela torcida na camiseta dele. Então em seu joelho entre
suas coxas. Em seguida, em suas bocas enquanto se movem. Sim.
Perfeito. Acreditável. Sexy como o inferno.

Nós continuamos. Ficar em uma sala cheia de pessoas, não


que isso seja novidade para mim, mas não normalmente com
câmeras e luzes brilhantes documentando cada deslize da língua.

Bristol ainda é uma beijadora incrível?

O gosto dela ainda é tão viciante quanto me lembro?

— Corta — grita o diretor.


Nós nos desvencilhamos um do outro e, quando olho para
cima, encontro os olhos de Bristol, onde ela está alguns metros
acima do ombro do diretor.

Vê-la me atinge como um soco, ainda mais do que quando ela


se virou hoje cedo.

Ela não consegue me olhar assim. Não com a mágoa. Não com
a dor. Não com aqueles grandes olhos castanhos me julgando por
fazer o meu trabalho. Aqueles olhos que costumavam me possuir.

Ela é passado. Aquela que me deixou ir embora. Aquela que


concordou com uma noite incrível.

Ela é quem... acabou de sair deste palco sonoro.

Foda-se.

Droga.

Porra.

Por que você se importa, Vince?

Passo a mão pelo meu cabelo e tomo o resto da minha bebida.


— Eu preciso de um minuto — eu murmuro para qualquer um ao
alcance da voz, sabendo que eles não dirão uma palavra. Eles estão
aqui por minha causa. Vantagens de ser uma estrela.

Uma risada baixa ecoa pela sala. Eles estão presumindo que
estou de pau duro e preciso me acalmar.

Eles podem pensar o que quiserem. Não é como se eu já tivesse


me importado de uma forma ou de outra, e com certeza agora não
me importo, e casualmente faço o meu caminho em direção às
portas de saída que Bristol acabou de empurrar.
McMann entra no meu caminho. — Tudo certo? Precisa que
eu cuide de algo para você?

Levanto o meu celular. — Preciso fazer uma ligação rápida. —


É a única explicação que dou.

— Sem problema — ele diz enquanto passo por ele. — Oh, e se


você precisar de alguma coisa, eu designei nossa associada júnior
Bristol para você. Ela pode cuidar de qualquer que sejam suas
necessidades.

Tenho muitas necessidades quando se trata dela, Xav. Você


pode não querer dizer isso.

— Entendido — eu digo e continuo saindo pela porta.


Vince
Ela está parada alguns metros à esquerda da saída. Ela está
de costas para mim com os braços cruzados e os ombros curvados
para afastar o ar frio da noite.

Por que vê-la novamente fode com a minha cabeça? Ela foi
minha vida no passado. Feito e acabado.

Eu senti falta dela? Cristo, depois que eu fui embora pela


última vez, ela era dona da minha mente junto com a porra do meu
coração partido. Ela é a única coisa que eu já amei além da música.
Eu odiei deixá-la, mas era a coisa certa a fazer.

Entendo que ela ainda pode estar brava com a minha saída
covarde naquela noite, mas essa tensão entre nós parece tão
errada. Então... fora.

No passado, nós nos víamos e os certos, errados e tudo entre


eles simplesmente evaporavam no ar até que restassem apenas
nós novamente. Esse sempre foi o nosso momento.

Como faço para recuperar isso? Como faço para corrigir isso?

Devagar, Vin. Seu tempo aqui é limitado. Não comece o que você
não pode terminar.

— Bristol.

— Por favor, Vince. Não faça isso agora.


— Fazer o que? Desde quando falar é crime?

Seus ombros caem lentamente, e ela finalmente se vira para


olhar para mim.

Foda-se, ela é linda.

O cabelo escuro em ondas nas costas. Os grandes olhos


castanhos claros. Os lábios carnudos e rosados. As curvas cheias
do seu corpo – que ela sempre odiou e se sentiu julgada – por baixo
do seu jeans preto e suéter.

Ela ainda é deslumbrante.

— Este não é o momento nem o lugar para relembrar nosso


passado, ok? Preciso que você volte ao trabalho.

Linda e profissional.

Então, por que as palavras dela parecem um soco no meu


estômago?

— Claro. Ok. Sem repetição. Mas você pode pelo menos


explicar por que está com raiva de mim? — Quando ela continua
a olhar para o chão, dou um passo mais perto. — Fale comigo,
Shug.

Ela cerra os dentes e encontra os meus olhos. — Olha. Você


tem uma sala cheia de pessoas esperando por você — ela diz, toda
profissional e ignorando completamente a minha pergunta. —
Você deveria voltar para eles.

— De acordo com o que Xavier me prometeu, você deveria estar


fazendo o mesmo.
Solto uma piada e só recebo as mãos dela em punhos ao lado
do corpo em troca. Costumava ser tão fácil fazê-la rir. O que estou
perdendo aqui? Por que ela está tão fechada?

— Não fico esperando ninguém de braços cruzados. — Há


aquele fogo dela que eu costumava amar. — Mas como a pessoa
encarregada de garantir que você faça o que é necessário, peço
gentilmente que paremos de falar para que você possa começar a
trabalhar. Garanto-lhe que todos lá dentro gostariam de terminar
mais cedo ou mais tarde, para que possam ir para casa com suas
famílias antes que o sol nasça.

— Ok. Eu vou. Logo após esta conversa.

— Por que isso?

— Porque estou mais do que certo de que é importante. — Eu


dou um passo mais perto e instinto, velhas memórias, não sei o
quê, me faz tentar passar minhas mãos para cima e para baixo em
seus bíceps para afastar o frio da noite. Ela dá um passo apressado
para trás.

— Eu não mordo. — Minha risada desta vez me rende um


suspiro exasperado.

— Vince, você não pode simplesmente entrar aqui e agir como


se não houvesse um passado entre nós, mas me toca como se
houvesse.

— Então talvez devêssemos falar sobre esse passado. Você é


quem está tentando ignorá-lo.

Seu rosto se contrai, mas os seus olhos transmitem que há


muito mais do que suas palavras estão dizendo. — Não posso
repetir o que houve sete anos atrás, quando você brinca comigo
enquanto está na cidade e depois volta para sua vida glamorosa
sem nunca olhar para trás.

Uau. Ok. Eu com certeza não estava esperando por isso.

— Brincar com você? Isso é o que você chama o que aconteceu


da última vez? Porque de onde eu estava, você era uma
participante mais do que disposta.

— Aconteceu. Pretérito. — Ela dá um rápido aceno de cabeça.


— Tenho certeza de que isso não acontecerá novamente.

— Quem disse que eu quero? — Minhas palavras são cruéis,


mas servem a um propósito.

A reação dela é o que eu precisava ver.

O estremecimento em sua expressão. O alargamento de suas


narinas. O ranger dos seus dentes.

Ela está blefando. Ainda há algo lá. Sempre esteve lá. Bom ver
que não sou o único que sente isso.

E foda-me por ainda querer isso.

Então, novamente, eu não, apesar de me convencer do


contrário?

— Continue pensando nessa linha — ela diz, suas palavras


traindo o olhar em seus olhos. — Também não há necessidade
deste lado.

— Então, quem é ele?

Choque passa pelos seus olhos e aterrissa como um soco no


meu estômago. Ela está com alguém? Namorando? Casada?
Não faça perguntas para as quais não quer respostas, Vin.

Meu estômago revira com o pensamento enquanto olho para o


dedo dela, procurando um anel, mas sua mão está enfiada sob o
outro braço e não consigo vê-la.

— Isso é rico. Você pensando que a única razão pela qual eu


não quero que nada aconteça entre nós é por causa de outro
homem. Talvez haja um. Talvez não haja. Minha vida não é da sua
conta.

E por que não obter uma resposta concreta me deixa louco?

— Justo — eu digo e deixo um sorriso lento rastejar em meus


lábios. — Mas vamos lá, é de nós que estamos falando.

— Não existe nós, Vince.

— E ainda assim, você ainda pensa em mim. — Vamos lá.


Sorria para mim, Shug. Assim que conseguir isso, sei que poderei
tirar mais de você. Como por que você parece tão brava comigo.

— Nunca. Raramente. É apenas... — Ela respira fundo. — Não


é mais tão fácil. A vida não é tão fácil.

— Só é difícil se você fizer assim.

— Nem todos nós temos escolhas como essa.

— Afinal, o que isso quer dizer? O que aconteceu que eu não


sei? — Que tal sete anos de vida, Vin? O olhar em seus olhos diz
que ela está pensando a mesma maldita coisa. Coloco as mãos nos
bolsos e balanço nos calcanhares. — Então, há quanto tempo você
se mudou para cá?
Ela olha para mim por baixo dos seus cílios quase como se
estivesse debatendo se responder à pergunta seria me deixar
entrar demais. O menor aceno de cabeça diz que ela não pensa
assim. — Um tempo atrás.

Nem todos nós temos escolhas como essa.

Suas palavras atingem os meus ouvidos novamente e


despertam minha curiosidade. — É por isso que você é uma
associada júnior da McMann?

— Volte novamente?

Huh. Assunto delicado. Talvez se eu apertar o suficiente dos


seus botões, vou me esgueirar por aquela maldita parede que ela
ergueu e obter uma reação dela. Uma reação que não é tão medida
e cautelosa. Uma que vai me dar uma pista do que ela está sendo
tão protetora.

— Você disse que nem todos nós temos escolhas como essa. O
que isso significa? O que aconteceu? A vida está sendo difícil
porque os sonhos que você teve ainda são apenas isso, sonhos?

— Falar comigo por dez minutos depois de sete anos não lhe
dá o direito de fazer essa pergunta.

— Talvez não, mas estou confuso por que você está com
McMann em um trabalho que está muito abaixo de você. — Seu
estremecimento é revelador. Eu só queria saber o que isso
significava. — Ser babá de idiotas mimados é superestimado,
Bristol.

Algo pisca em seus olhos. É tão breve que não consigo ler, mas
é seguido por um enrijecimento da espinha dela. Deus, o fogo dela
é excitante, mesmo agora. — Por que você deixou seus melhores
amigos para trás, deixou uma porra de coisa boa, e saiu por conta
própria? Huh? O que aconteceu com Hawke e os caras? Com Bent?
Seu ego ficou tão grande que você pensou que não precisava mais
deles?

— Tou-porra-ché. — Chego a admirar uma mulher que sabe


bater onde dói. E essa porra doeu.

Parece que a vida deu a Bristol Matthews uma espinha dorsal


mais forte.

— E enquanto estamos nisso, atenha-se ao que você faz de


melhor. Domino foi decente — ela diz, referindo-se ao meu último
single que fracassou — mas não foi você. Não havia vantagem
nisso. Nenhum som da marca registrada de Vincent Jennings. Foi
suave. Genérico. Mais como um ruído branco que se misturou ao
fundo.

— Para alguém que nunca pensou em mim, você com certeza


tem muito a dizer. — Ela está no ponto sobre a música. Eu odeio
isso, mas ela está certa. Eu não esperaria nada menos dela.

— Chame isso de pesquisa profissional.

— Besteira. Você não sabia que eu assinei com McMann até


esta noite e ainda afirma que conhecer minhas músicas é uma
pesquisa. Finja o quanto quiser, mas ainda você pensa em mim.
Você ainda me segue.

— E seu ego ainda é tão grande quanto o Texas.

Entre outras coisas.


— Então você não quer falar sobre o nosso passado. Você não
quer falar sobre o que está fazendo agora. — Eu cruzo os braços
sobre o peito e dou de ombros. — Vai ser uma conversa muito
chata ficar aqui, olhando um para o outro e sem falar nada.

— Então devemos voltar ao trabalho.

Minha risada é misturada com confusão quando o


pensamento me atinge. — É por causa da última vez?

— O que é por causa da última vez? — Com os braços ainda


cruzados. Dedo ainda escondido. Cabeça inclinada para o lado.

— Por que você está com raiva de mim? Você se arrepende? —


E por que isso me mataria se ela dissesse sim? — É muito tempo
para abrigar algo, se for o caso.

— É um longo tempo. É por isso que tive que aceitar o que


aconteceu e seguir em frente com minha vida.

— Essa é uma descrição bastante clínica para algo em que


ambos entramos voluntariamente. — Não foi uma transação
comercial, pelo amor de Deus.

— Você sabe... — Ela engole com força e balança a cabeça


sutilmente. Ela abre a boca para falar e a fecha com a mesma
rapidez. Juro que há lágrimas em seus olhos, mas ela olha para
baixo, então não tenho certeza. O problema é que, quando ela olha
para trás, a emoção se foi. Toda emoção. Bristol levantou a guarda
de uma forma que eu nunca vi antes. — Nada. Deixa para lá. Por
mais que você pense que precisamos falar sobre o passado,
realmente não precisamos. Nós dois seguimos em frente, e tudo
bem. Nós dois temos um trabalho a fazer aqui, então vamos voltar
a isso e deixar o passado para trás. Ok? Você tem pessoas
esperando por você e eu tenho um trabalho a fazer para não ser
demitida.

— Saia para beber comigo. Depois que terminarmos. Podemos


conversar sobre o que você quiser. O quanto minha música é uma
merda. Se você ainda gosta de assistir beisebol. A porra do tempo,
pelo que me importa.

Ela acena para que eu volte para a porta. Nenhuma porra de


anel. Pelo menos sem isso.

Mas havia um? É por isso que ela é tão cautelosa? Ela foi
casada? Divorciada? Ela foi magoada?

Ele a machucou?

— É provavelmente melhor se não o fizermos. Linhas borradas


e tudo.

Coço-me para agarrar o seu braço e puxá-la contra mim.


Passei anos querendo que essa mulher tivesse apenas uma noite
comigo.

Claramente aquela noite não foi suficiente. Porra.

— Sério?

— Sério — ela diz e se move em direção à porta, mas minha


mão está em seu braço neste momento.

Olhe para mim.

E quando ela faz, ainda está lá. Eu não estou imaginando isso.
Essa coisa que sempre esteve entre nós ainda está lá, porra.

Por que de repente sinto a necessidade de fazê-la ver isso?


— Você sabe... — Eu digo brincando. — Preciso de muita
manutenção. Eu e o meu ego? Somos exigentes. Mesquinhos.
Tenho muitas necessidades. — Eu dou de ombros. — McMann
disse que qualquer coisa que eu precisasse, você forneceria.
Aposto que você fará o seu trabalho da melhor maneira possível.

— Você não ousaria.

Levanto o meu pulso e mostro a ela o coração rosa claro


tatuado ali. Aquele que é a prova de um desafio que fiz. Um sobre
o qual tivemos toda uma discussão sobre a última vez que a vi,
então ela sabe o significado por trás disso. — Na verdade, você
sabe que eu faria.

— Deixe de ser egoísta. As pessoas estão esperando para


terminar e ir para casa — ela diz e então passa por mim. Sei que
ela tenta bater a porta, mas o choque na dobradiça a impede de
fazer.

Eu rio.

Nada como ser negado.

Porra. Passo a mão pelo cabelo e olho para a porta pela qual
ela acabou de passar. A que eu também devo entrar porque ela
tem razão, todos lá dentro estão esperando por mim.

Afastei-me dela há muito tempo sem olhar para trás.

Eu a vi uma vez desde então, e essa vez está cimentada em


minha memória para sempre.

Então, por que vê-la de novo, quando já estou vivendo minha


vida, causa tanta confusão?
Porque sua vida está no limbo, Jennings, e ela foi a única coisa
real que você conheceu.

Porra, cara.

Se eu soubesse que Bristol trabalhava para a McMann Media,


talvez não tivesse aceitado a oferta deles.

Quem eu estou enganando? Isso teria me feito assinar ainda


mais rápido.

Sim, fui eu que fui embora da última vez. Que bloqueou o


número dela no meu celular tantos anos atrás. Mas agora a vida é
muito real, e me perder nela por um tempo parece que poderia ser
uma boa distração.

— Não posso repetir sete anos atrás, quando você brinca comigo
enquanto está na cidade e depois volta para sua vida glamorosa
sem nunca olhar para trás.

Ela está certa.

Eu sei que ela está certa.

Mas isso não me faz desejá-la menos.

Você assinou na linha pontilhada, Vin. Você tem um trabalho


a fazer. Um trabalho que você está claramente lutando para
terminar, e é apenas a porra do primeiro dia.

Faça o trabalho.

Faça a única coisa que você nunca foi capaz de fazer quando
se trata dela, mantenha suas mãos para si mesmo.

Tente esquecer o quão difícil é desistir de Bristol Matthews.


Com um suspiro que sinto profundamente em meus ossos,
abro a porta com a determinação de lembrar essas três coisas e a
resignação de que provavelmente vou falhar em pelo menos duas
delas.
Bristol
— Mamãe?

Jagger se mexe sob as cobertas, deslizo ao lado dele e o puxo


contra mim. Ele se aconchega em mim, seu rosto sob a curva do
meu pescoço como faz desde que era um recém-nascido, sua mão
descansa em meu coração e os seus pés esfrega suavemente contra
os meus como um grilo.

— Estou aqui, amigo — eu murmuro antes de pressionar um


beijo no topo da sua cabeça e simplesmente respirá-lo. Xampu de
morango e tudo o que é meu garotinho tece em minha alma, e eu
suspiro.

Seus cabelos escuros e olhos claros. Sua tez morena. Seu


sorriso travesso e gargalhadas.

Enquanto eu estava na porta observando-o dormir, meu


coração parecia um balão em meu peito, expandindo com mais
amor por este pequeno ser humano perfeito que criei. Que eu
carreguei. E todos os meus erros — aqueles que roubaram dele
coisas que todo garotinho merece — fizeram aquele balão parecer
que ia estourar.
Eu precisava segurá-lo. Tocá-lo. Agarrá-lo com força. Para
tentar apagar a torrente de emoções que vem sobre mim uma após
a outra.

— Eu não me sinto mais nojento — ele fala em seu estado de


sonolência. Parece que faz dias desde que ele vomitou nos meus
sapatos e foi menos de vinte e quatro horas atrás.

— Isso é bom. — Eu me inclino para trás, afasto o seu cabelo


da testa e não posso deixar de sorrir. Seus cílios escuros e
bochechas rosadas sempre me pegam.

— Escola?

— Uh-uh. Ainda não. Volta a dormir. — Eu o seguro um pouco


mais forte e acaricio levemente suas costas para ajudá-lo. Ele tem
algumas horas antes de começarmos a rotina matinal. Uma rotina
que sem dúvida será muito mais fácil, pois minha mãe, que
atualmente está dormindo no sofá, está lá para ajudar.

— Você está na minha cama.

— Só senti sua falta, só isso.

— Eu senti sua falta também — ele diz segundos antes da sua


respiração se estabilizar novamente.

Dormir. Isso é o que eu deveria estar fazendo. Isso é o que eu


quero fazer, considerando que tenho andado com fumaça e cafeína
nas últimas horas.

Eu e minha hora normal de dormir às dez da noite e Vince e


sua energia de coelhinho energizador que nunca diminuiu durante
toda a noite e de manhã cedo enquanto ele filmava tomada após
tomada para o clipe.
E como ele fez demanda após demanda para mim. Sempre
brincalhão. Completamente desnecessário, já que ele tinha uma
assistente no set. Mas exigiu, no entanto, sob o olhar cuidadoso
de McMann para me lembrar que minha única escolha era fazer o
que ele pediu ou arriscar o meu emprego.

Idiota.

Então por que há um sorriso suave no meu rosto? Por que me


peguei rindo das piadas que Vince estava fazendo com a equipe
enquanto tentava ficar com raiva dele por motivos pessoais? Por
que descobri que aquela raiva que estava tentando segurar apenas
para mantê-lo à distância, estava se dissolvendo lentamente?

Provavelmente a mesma razão pela qual agora preciso segurar


Jagger. Porque algumas coisas são tão naturais que é difícil
abandoná-las.

Sufoco o meu bocejo, sabendo que preciso dormir. Minha


madrugada não significa que vou faltar ao trabalho amanhã.

E amanhã terá mais Vince.

Fui ingênua em pensar que esse dia nunca chegaria. Era ainda
mais ridículo pensar que, se isso aconteceria, eu poderia descartá-
lo e não faria diferença.

Como eu poderia ter pensado isso quando minha vida foi


rotulada em três partes. Com Vince. Depois de Vince. E Depois,
Depois de Vince. E não importa o quanto eu diga a mim mesma
que me ressinto e não gosto dele com cada parte do meu ser depois
de tudo que passamos, ele sempre fez parte da minha vida.
Desde aquele primeiro dia, ele entrou na sessão de tutoria com
o lábio quebrado e uma atitude ruim no meu primeiro ano.

As memórias me atingem. Uma após a outra. A boa. A má. A


feia. E a única coisa incrível que tirei de tudo isso, apesar da dor,
da dúvida e do sofrimento.

Mas depois há a culpa, ainda presente depois de todo esse


tempo. Ainda me fazendo pensar e questionar se fiz a coisa certa.
Jagger vai odiar as escolhas que fiz por ele?

Certamente é melhor você não conhecer o seu pai do que


acreditar que você é indesejado. A pergunta que sempre me fiz é
se Vince ainda sente o mesmo. Que a última coisa que ele gostaria
é que alguém carregasse o nome Jennings.

Você tem arrependimentos? É muito tempo para abrigar algo, se


assim for.

Arrependimentos? Não. Aquela noite me deu a coisa mais


importante da minha vida.

Mas eu fiz isso sozinha. Certo, errado ou indiferente, quando


ele cortou todos os meios de comunicação comigo sem saber por
que eu precisava falar com ele, tomei decisões que até hoje tomaria
novamente se fosse necessário.

Quando chegou a hora, ele me excluiu e seguiu em frente com


sua vida enquanto todo o meu mundo mudava e girava em um eixo
diferente.

E, independentemente do seu sorriso torto e charme


espirituoso, preciso me lembrar disso.
Fui eu quem estendeu a mão para ele. Quem tentou. Quem foi
rejeitada.

Achei que tinha feito as pazes com minhas decisões e


enterrado a mágoa que vinha com elas. Agora não tenho tanta
certeza... sobre qualquer coisa realmente.

Além do choque de ver Vince novamente, hoje trouxe tantas


incógnitas à tona. Desconhecidas para os quais preciso descobrir
as respostas. Desconhecidas que poderiam virar de cabeça para
baixo o meu mundo perfeito, caótico e cuidadosamente construído.

Desconhecidas que antes pareciam tão concretas e agora


parecem extremamente egoístas quando nunca pensei nelas como
sendo isso antes.

— Oh, Jagg — eu murmuro na escuridão, puxando-o ainda


mais contra mim. — O que devo fazer agora?
Bristol
Entro no escritório de Burbank com um café expresso em uma
das mãos, duas garrafas de energéticos líquidos na bolsa e
pensamentos sobre a rapidez com que este dia pode passar para
que eu possa recuperar o meu sono.

Porque o pouco sono que finalmente consegui ter não foi o


suficiente. Sonhos atormentaram o meu sono. Sonhos que
retrocederam no tempo e me lembraram de coisas que eu havia
esquecido há muito tempo.

Mas hoje estou mais segura. Aproveitei o tempo extra que não
tinha para fazer o meu cabelo e maquiagem, quando normalmente
é um penteado, ou uma ou duas escovas de rímel. Acho que talvez
seja por isso que me senti mal na noite passada ao ver Vince, bem,
além dos motivos óbvios. Então, hoje, pensei em consertar o que
pudesse da minha parte para ter certeza de que não me sentiria
assim novamente.

Enquanto atravesso o labirinto cúbico das mesas dos


associados juniores, cabeças surgem como toupeiras malucas,
olhando para a sala de conferências, antes de se sentarem com a
mesma rapidez. Há mais burburinhos baixos de conversa do que
o normal.
A última vez que o escritório ficou tão agitado foi quando a
associada sênior, Lilah Glasnow, foi demitida por dormir com o seu
cliente. A última coisa que McMann quer é que sua empresa
pareça pouco profissional e, quando esses rumores começaram a
circular, seus documentos de desistência foram datilografados. Ela
não foi sem lutar. Houve uma gritaria com insultos lançados e
ameaças feitas enquanto todos ficaram sentados de cabeça baixa,
ouvindo cada palavra deliciosamente escandalosa.

Procuro Simone em seu cubículo, sabendo que ela vai me


atualizar, mas ela não está lá. No entanto, eu a encontro sentada
na minha cadeira, na minha mesa, com os braços cruzados, as
sobrancelhas levantadas e os pés apoiados na minha mesa.

— Sinta-se em casa, por que não? — Eu digo, percebendo que


ela empurrou o meu corpo para o lado, de modo que minha foto de
Jagger está voltada para a parede.

— Eu estou. Obrigada. — Ela coloca na boca um dos copinhos


de manteiga de amendoim que deixei em um prato sobre a mesa e
sorri enquanto mastiga, sem tirar os olhos dos meus.

— O que? — Eu pergunto, já na defensiva porque eu conheço


esse olhar.

— Eu nem recebi um telefonema? — Ela diz.

— Por quê? — Mas eu já sei.

É por isso que os pescoços estão voltados para a sala de


conferências. Por que a conversa está muda, mas ainda animada.
Estamos acostumados a ver celebridades por aqui. É o que nossa
empresa faz, mas nem toda celebridade tem a mesma mística que
o homem que tenho certeza que está sentado na referida sala de
conferências.

— MalditoVincent Jennings? — Simone diz, confirmando o


meu palpite. — Primeiro, você descobre quem é o cliente secreto e
não diz uma palavra. — Ela aponta um dedo. — Em segundo lugar,
você foi designada como assistante dele, uma promoção porra, e
você esqueceu de me ligar. — Ela aponta outro dedo. — E, por
último, deixe-me reiterar, maldito Vincent Jennings. — Ela joga as
mãos para cima. — Eu pensei que você fosse minha garota, mas
não, você deixa minha bunda no frio e não diz uma palavra.

— Só cheguei em casa depois das três da manhã e tive a


impressão de que você estava ocupada com outras coisas. — Eu
cruzo os braços sobre o peito e me inclino contra uma das paredes
portáteis de tecido cinza.

— Eu estava, oh eu estava — ela murmura, com os olhos vivos


com a sugestão — mas isso não significa que uma garota não vá
verificar suas mensagens durante o período de brilho pós-coito.

— Jesus. — Eu reviro os olhos.

— Quero dizer, eu te entrego um presente, e não consigo nem


mesmo um sinal de fumaça para me dizer o que está acontecendo.
Eu tive que aparecer hoje e levar um tapa quando isso... — ela
simula arrepios — a beleza deslumbrante de um homem entrou no
elevador logo antes de as portas se fecharem. Quer dizer, ele estava
perto o suficiente para eu tocá-lo. Olhar furtivamente para os
desenhos intrincados das suas tatuagens. Para cheirar sua
colônia.

— Simone…
— Precisava ter uma 'limpeza no corredor cinco' de poça de...
mim, isso estava por todo aquele andar do elevador.

— Tanto faz.

— Mas você já sabia como todas essas coisas eram boas


porque você passou a noite inteira com ele. Ao lado dele. Ouvindo-
o. — Ela leva as costas da mão à testa e finge que desmaiou.
Dramas são definitivamente seu ponto forte. — Desejando por ele.

— Reabastecendo sua bebida e dando a ele tudo o que ele


pediu.

— Por favor, diga que ele perguntou por mim. — Ela estende
as mãos como se estivessem algemadas. — Você pode me servir
em uma bandeja para ele.

— Diz a garota que estava ocupada transando.

Ela começa a rir e põe os pés no chão com força. — Você sabe
que eu só estou fodendo com você. — Ela suspira alto. — Mas
inferno se eu não estou com raiva de mim mesma por escolher sexo
em vez de trabalho e com ciúmes de você de todas as melhores
maneiras.

— Eu sei. Por que vale a pena, Xavier fez parecer que a


promoção é temporária e apenas porque estamos com poucos
funcionários no momento. E o Vince? Vince é... — Uma piada?
Exigente? Um singer? Penso nas dezenas de coisas que poderia
dizer para fazê-la se sentir melhor por ter perdido a oportunidade
que ela me deu, mas não consigo mentir.

— Ele é o quê? Maravilhoso? Misterioso? Sexy? Quero dizer…


— Matthews. — Nós duas pulamos ao som da voz de Kevin do
outro lado da sala.

Olho para ela com os olhos arregalados antes de pegar um


bloco de papel que não sei se vou precisar ou não. Essa coisa toda
de ligar para um cliente em vez do meu chefe imediato é tudo novo
para mim. — Estou indo.

Posso sentir os olhares dos outros associados juniores


enquanto atravesso o escritório. Já estive onde eles estão,
observando alguém ter a oportunidade que tanto deseja, e não
tenho pretensão de que não serei eu novamente em um piscar de
olhos se eu não impressionar Xavier com o que quer que eu deva
estar fazendo para Vince.

Entro na sala de conferências vazia exceto pelo homem à


minha frente. Xavier está com a bunda contra a parede de vidro
das janelas, os braços cruzados sobre o peito e a cabeça inclinada
para o lado me avaliando.

Contorci-me sob menos escrutínio, mas na verdade agora


tenho sua atenção, então o encontro com aquele olhar.

— O que posso fazer para você?

— Estamos fazendo um debate de ideias hoje. O marketing vai


se encontrar conosco no décimo andar em breve.

— Ok. — Eu olho para Kevin e depois de volta. — Você precisa


de papel, café ou eu para arrumar as coisas...

— Nós precisamos de você.

Tanto a cabeça de Kevin quanto a minha giram em uníssono.


— Eu?
Os associados juniores geralmente ficam do lado de fora
dessas paredes de vidro olhando para dentro. A menos, é claro,
que sejam solicitados a buscar algo trivial para o qual são
convidados a entrar e, em seguida, prontamente conduzidos para
fora.

— Sim — ele diz, mas por algum motivo não parece muito feliz
com isso. — Senta.

— Ok. Por que…

— Eu disse a eles que você teve ótimas ideias ontem à noite e


que queria você por dentro disso. — O soco nos pacotes de voz de
Vince não diminuiu da noite para o dia. Não que eu pensasse que
seria.

Viro-me para olhar para onde ele acabou de entrar na sala. Ele
está com um par de óculos escuros, embora estejamos lá dentro,
seu cabelo parece que suas mãos passaram por ele sem parar, e
os seus lábios estão franzidos daquele jeito que me diz que ele está
estudando cada coisa sobre mim.

Sem mencionar o fato de que ele mentiu descaradamente


sobre eu ter tido boas ideias ontem à noite. Sobre o que? Sobre
como eu não o quero aqui? Sobre como eu disse a ele que o seu
último single não era bom?

— Sim — Xavier diz antes que eu possa falar. E eu sei


exatamente por que ele parece irritado. Xavier McMann não gosta
de ser forçado quando se trata de qualquer coisa. E está claro que
ele está atendendo ao pedido de Vince para me receber aqui.
Claro que ele está mantendo o seu novo cliente feliz, mas
também está me colocando em uma posição muito precária.

— Você se importa em compartilhar algumas dessas ideias? —


Kevin pergunta.

Olho para ele e depois para Vince. — Eu…

— Ela me contou porque o meu último single fracassou.


Explicou as razões de sua opinião.

— Agora você é uma crítica de música? — Xavier pergunta, os


tendões em seu pescoço tensos enquanto ele controla o seu
temperamento.

Por que me sinto no meio de uma luta pelo controle que um


tem dificuldade em ceder e o outro se diverte testando?

— Isso não foi o que eu quis dizer. Eu estava simplesmente


dizendo a Vince que essa nova música que ele estava cantando...

— Heart of Mine.

— Sim, está mais de acordo com o que seu público espera. E


se ele está se separando de Bent e tentando se estabelecer, então...

— Ele já se estabeleceu muito bem. — Aquele sorriso fugaz e


apertado é mostrado em minha direção. Aquele que diz
claramente, não sei do que você está falando. — Eu designei
alguém para você. É o seu trabalho saber essas informações.

Fale sobre expectativas irreais, considerando que ele me


empurrou para Vince ontem. Há uma razão pela qual as pessoas
dizem que se você pode sobreviver a McMann, você pode sobreviver
à indústria.
— Porque esta é uma carreira para você, certo? Não apenas
um trabalho para preencher o tempo enquanto você descobre o
que fazer da sua vida enquanto ganha o direito de se gabar de ter
acesso aos famosos? Como é para a maioria dos associados lá fora?
Se fosse, você teria encontrado tempo para saber tudo sobre o
nosso mais novo cliente para poder antecipar resultados, mitigar
expectativas e ajudar no planejamento do seu futuro.

Ele tem uma marca de nascença na parte interna da coxa. Que


tal conhecer mais o seu novo cliente de dentro para fora? Engole
isso, seu idiota.

— Só então algum de nós quer ouvir suas opiniões sobre a


carreira do Sr. Jennings. E se você não estiver disposta a dedicar
tempo e esforço, há mais de uma dúzia de pessoas na sala atrás
de você esperando para ocupar o seu lugar.

O constrangimento aquece minhas bochechas por deixá-lo me


repreender assim em geral, mas também na frente de Vince. Sei
que sou melhor do que isso, mas também sei que tenho que pagar
minhas dívidas para seguir em frente. Infelizmente, engolir isso, e
engolir o meu orgulho é o que é necessário por enquanto.

Aparentemente, cada degrau acima vem com um pouco mais


de respeito. Ou pelo menos, assim me disseram. Neste momento,
o degrau em que estou não é exatamente assim.

Meu sorriso é apaziguador, apesar do enrijecimento da minha


coluna. — Garanto-lhe que...

— Ela estava apenas me dando o feedback honesto que eu


pedi. — Vince dá um passo mais para dentro da sala, seus ombros
retos enquanto ele dá de ombros com o seu tom impenitente. —
Verdade seja dita, ela estava certa sobre o dinheiro.

— Não cabia a ela opinar — Xavier diz.

— Bem, eu prefiro a verdade. A maioria das pessoas me diz o


que eu quero ouvir, beija a minha bunda por causa de quem eu
sou. Eu respeito que ela teve a coragem de dizer a verdade em vez
de adoçá-la. — Ele olha de Xavier para Kevin e depois de volta. —
É por isso que pedi que ela participasse das minhas sessões de
debate.

Vince olha na minha direção, sua expressão impassível, mas


seus olhos fazem perguntas que não quero responder. Por que você
aguenta essa merda? Por que você deixa ele te tratar assim? O que
aconteceu com aquela garota teimosa que eu conhecia?

Ela ainda está aqui. Ela apenas se desviou por um tempo, fez
alguns sacrifícios e precisa desse trabalho para chegar onde
deseja.

— Entendi — Xavier diz com um breve aceno de cabeça. —


Kevin garantirá que ela seja mantida informada sobre todos esses
tipos de reuniões.

— De preferência todas as reuniões — Vince diz neste cabo de


guerra tácito.

— Essa não é exatamente a hierarquia que temos aqui —


Xavier diz.

— Então faça o ajuste — Vince diz, claramente ciente de que


tem o poder nesse relacionamento.
— Claro. Vou abrir uma exceção para as próximas semanas
enquanto você estiver na cidade e estaremos organizando nossos
planos para você.

— Ótimo. Certifique-se de fazer isso. — Vince se senta e sem


cerimônia coloca suas botas de combate na mesa da sala de
conferências como se discutir o meu destino e os meus deveres de
trabalho fosse algo que ele tivesse o direito de fazer. Minhas mãos
se fecham sobre esse súbito desamparo que sinto. — Agora que
está resolvido, vamos acabar com essa coisa chata. Eu tenho
tempo de estúdio que estamos perdendo, e minha musa está
falando comigo.

— Claro. — A boca de Xavier se contrai momentaneamente. —


Bristol? Por que você não nos dá cerca de trinta minutos para
revisar algumas coisas, e então você pode levar o Sr. Jennings para
a reunião com a equipe de documentários. — Ele olha para Vince,
claramente infeliz por estar fazendo sua próxima pergunta. — Se
estiver tudo bem para você, é claro?

Vince concorda. — Tudo bem.

— Avisaremos quando for necessária novamente.

— Parece bom. — Meu sorriso é rápido, mas o alívio ainda mais


rápido quando saio rapidamente da sala de conferências.

Estou começando a achar que vou precisar de algo mais forte


do que café para aguentar o dia de hoje.
Bristol
— Vou entregar para você amanhã de manhã. Eu tenho mais
algumas coisas que preciso adicionar à lista antes que ela esteja
pronta — eu digo a Bianca enquanto Simone e eu passamos pelo
seu cubículo.

— Parece bom. Pelo menos eu sei que quando você diz que vai
ser feito, vai ser feito. Ao contrário de alguns outros por aqui — ela
diz um pouco mais alto do que o necessário para o que uma
besteira tossida é ouvida do outro lado das paredes do seu
cubículo.

Nós duas rimos, e programo um lembrete no meu telefone para


mais tarde hoje, para não esquecer minha promessa a ela.

— Então, o que está acontecendo? — Simone sussurra. — Por


que ele está usando você como uma espécie de alavanca contra
Xavier?

— O inferno que eu sei.

— Garota, você estava fazendo mais do que apenas servir as


bebidas do homem ontem à noite? É por isso que ele está exigindo
sua presença em todas as reuniões? — Ela provoca. — Porque se
você está deixando de me contar esses detalhes, não somos mais
amigas.
— Você vai calar a boca? — Eu olho em volta para ver se
alguém poderia tê-la ouvido. Eu sei que ela está brincando, mas a
última coisa que eu preciso é de boatos circulando por aí.

— Oh, por favor. — Ela ri.

— Estou falando sério. É como se ele tivesse colocado um


grande alvo nas minhas costas com McMann — eu digo enquanto
entramos no meu cubiculo.

— Quem colocou um alvo nas suas costas?

Simone grita baixinho ao ver Vince sentado na minha cadeira,


um tornozelo apoiado no joelho oposto. Sua grande estrutura
consome o que resta do pequeno espaço que sua presença ainda
não possui.

— Oh. Meu Deus — Simone murmura baixinho antes de dar


uma última olhada e depois ir embora.

E embora ela possa estar cobiçando, a confusão reprimida e a


raiva sobre como Vince me usou como um peão em seu jogo de
poder com Xavier retorna.

E então morre rapidamente quando um pensamento permeia


todos os outros: minhas fotos.

Eu tenho alguns segundos de medo abjeto até que eu vejo que


o quadro que mostra Jagger em toda a sua glória pateta e adorável
ainda está voltado para a parede do cubículo onde os pés de
Simone o bateram antes.

Se Vince visse uma foto de Jagger, ele saberia. Não tem como
ele não saber.
O alívio que me inunda é de curta duração, pois minhas
emoções dispersas lutam para encontrar o equilíbrio.

— O que você está fazendo aqui?

Ele dá de ombros daquele jeito arrogante e casual dele. —


Tentando descobrir o que é esse olhar em seu rosto.

— Que olhar?

— Esse que me diz que você viu um fantasma. — Seus olhos


se estreitam e ele me estuda.

— Sem fantasma. — Eu mantenho os meus olhos nele em vez


de escanear o meu espaço como eu quero, só para ter certeza de
que não há outros objetos pessoais visíveis. Eu tenho muito que
encobrir, e agora não é o momento para fazer isso.

Sem entender minha guerra pessoal, Vince inclina a cabeça e


simplesmente me encara. Isso me faz sentir como se ele pudesse
ver através de mim. — Então o que é, Shug, porque tem uma coisa
que você não está me contando.

Minha risada nervosa voa pelo ar. Esse é o bom e o ruim de


estar tão conectado com alguém. Eles veem tudo quando você
quer... e mesmo quando você não quer.

— Não estou dizendo a você? — Eu bufo e desvio. — Que tal


você parar de me usar para irritar o meu chefe.

— De novo com a raiva? Achei que tinha diminuído um pouco


ontem à noite. O que? Você foi para casa e decidiu que me odiava
de novo e pensou em se certificar de colocar o pé no chão hoje e
realmente me deixar ficar com isso?

— Eles estão prontos para você lá embaixo? — Eu pergunto.


— Você não respondeu a minha pergunta — ele diz
completamente imperturbável. — Esta foi uma reação
predeterminada esta manhã ou me ver apenas trouxe o melhor de
você?

Por que tudo é tão casual para ele, tão fácil, quando se trata
de interagir comigo quando sinto que estou andando descalça em
volta de vidro quebrado?

— É porque você sentiu tanto a minha falta, não é? — ele


continua.

— Eu não vou fazer isso com você.

— Parece que você não quer fazer muita coisa comigo. — Vince
se levanta e olho em volta com fervor, esperando que isso impeça
as pessoas de ouvir esta conversa. Quando olho para trás, ele está
se coçando logo acima da cintura, os dedos segurando a camiseta
preta para cima, de modo que sou saudada com um vislumbre do
seu rastro feliz.

— Isto aqui.

Seu gemido ofegante enquanto eu mordisco de brincadeira a


cavidade dos músculos é uma sedução por si só. — E daí?

— Eu poderia me perder aqui a noite toda. — Eu olho para o


plano do seu peito e encontro aqueles olhos claros. Suas pálpebras
estão pesadas de excitação enquanto ele olha intensamente para
mim.

Seu sorriso é torto. Arrogante. — Com certeza, Shug. Leve todo


o tempo do mundo. Você não vai me encontrar reclamando disso.
A memória me atinge do nada. Duro, rápido e muito real e,
pelo sorriso em seus lábios quando encontro os seus olhos, ele está
se lembrando disso também.

— Vamos — eu digo, desviando os meus olhos dele e de sua


trilha da felicidade.

— Para onde? Para aquela bebida que você me prometeu? Boa


ideia. — Frustrada e exasperada, eu o agarro pelo braço e o puxo
para fora do meu cubículo, sua risada baixa e retumbante
irritando todos os meus nervos. — Deus, você é tão fácil de irritar.

Encaro-o por um momento, sem dúvida minhas bochechas


estão coradas, antes de caminhar pelo labirinto de cubículos em
direção ao elevador dos fundos neste andar. O corredor que leva a
ele está fechada, porta após porta fechada, atrás da qual estão
vários itens armazenados. Arquivos. Mobília. Eletrônicos. Lugares
onde ninguém deveria estar e, portanto, quaisquer provocações de
flerte que Vince possa lançar em meu caminho não serão ouvidas.

Seus passos são pesados atrás de mim.

Pelo menos ele não está discutindo comigo sobre isso.

Mas ele está fazendo pequenos comentários enquanto


andamos. Comentários feitos para me irritar ainda mais, mas que
tento bravamente ignorar.

Se existe algo para ignorar Vincent Jennings.

— Para onde você está me levando? Este não é o elevador em


que entrei — ele diz quando chegamos ao final do longo corredor.

— Você tem razão. Não é. É o elevador de carga. — Eu me viro


para encará-lo para encontrar sua testa franzida enquanto ele me
estuda. — Oh espere. Desculpe. Esqueci que você precisa ter todo
mundo olhando para você para alimentar esse seu ego gigante. —
Eu reviro os olhos. — Perdoe-me por não pensar em suas
necessidades primeiro.

— Há aquela animosidade de novo.

— Você está certo que está lá — eu resmungo.

Vince entra no meu espaço pessoal. Espaço que eu quero dar


um passo para trás e recuperar, mas isso só provaria a ele que ele
está me atingindo quando eu não quero que ele saiba disso. —
Qual é o seu problema, porque da última vez que verifiquei, minha
presença a excitou e não foi assim.

Seu comentário foi feito como uma piada. Aquele sorriso torto
e olhos tímidos dizem isso. Mas tudo o que faz é criar uma
confusão que não quero sentir e fazer com que todos os cilindros
do meu temperamento disparem.

Entro no elevador que acabou de abrir, ficando de costas para


ele até que as portas se fechem. E no minuto em que fazem, me
viro para ele, pressiono o dedo em seu peito e vomito minha raiva.

— Se você quer ter uma briga com McMann, tenha. Mantenha-


me fora disso. Eu preciso deste trabalho, e quando você for
embora, seja quando for, eu ainda tenho que estar aqui. Eu ainda
preciso do emprego. Do salário.

Ele olha para mim, o maxilar estalando, os olhos queimando,


mas ele não diz uma palavra.
— Por que você está aqui em McMann, afinal? — Eu pergunto.
— Claramente você tem problemas com Xavier, então por que
assinou com ele?

— Não tenho problemas com ele.

— Você poderia ter me enganado. Por que você saiu da CMG?


— Eu pergunto sobre sua empresa de gestão anterior.

E é aquela careta fugaz, aquela que ele esconde tão rápido


quanto aparece, que me diz que há mais na história do que eu
pensava.

— Ele é um idiota, admito, mas ele é bom no que faz — Vince


diz calmamente.

— Então você contratou um homem que você odeia?

— Ódio é uma palavra forte.

— Que tal não gostar? É melhor?

— É. — Ele dá um aceno medido seguido por um rastejar lento


de um sorriso. — Você me conhece, não sou exatamente fã de que
me digam o que fazer.

— Então McMann era a pessoa errada para contratar. — Eu


bufo.

— Precisava de uma mudança de cenário e de alguém que


conhecesse o campo de jogo. Ele é um dos poucos que se encaixa
nessa conta.

— Sim, bem, eu odeio dizer isso a você, mas você é tão ruim
quanto ele.

— Sim, claro que eu sou. — O revirar dos seus olhos me irrita.


— Bem, ele fala de mim como se eu fosse sua propriedade.
Você também.

— Então comece a agir como se você não fosse propriedade de


ninguém. Esse seria um bom lugar para começar.

Encaro Vince com os olhos arregalados e uma expressão vazia,


sem saber o que dizer.

Odeio que ele esteja certo.

— Você não entende. McMann come associados juniores no


almoço, e você acabou de me servir em uma bandeja, dizendo a ele
que ofereci minhas opiniões.

— A Bristol Matthews que eu conhecia não deixava ninguém


lhe dizer o que fazer. Eu esperava que ela ainda estivesse por perto.

— Isso não é justo. — Minhas palavras são quase um sussurro


e o meu ego é atingido, e nós ficamos ali olhando um para o outro.
Este trabalho é minha única fonte de renda. Mal cobre minhas
contas, alguns extras para Jagger aqui e ali e os juros do meu
empréstimo estudantil deferido, mas me dá a experiência de que
preciso e o tempo livre para estudar. Perdê-lo é a última coisa de
que preciso, e Vince estar aqui, puxando sua besteira de bater no
peito como ele fez na sala de conferências, torna isso uma
possibilidade. Recuso-me a deixá-lo ser a razão de tudo mudar em
minha vida. De novo.

— Bristol? — Ele finalmente diz.

— Hum?

— Você precisa empurrar o botão, querida, ou não vamos a


lugar nenhum.
— Oh. eu não...

Mas sou silenciada quando ele passa por mim e aperta o botão
do décimo andar. Acontece que, para fazer isso, seu corpo inteiro
pressiona o meu.

E este elevador, aquele que é usado para carga e é maior do


que o normal, de repente parece tão minúsculo com Vince
ocupando o que parece ser cada centímetro do espaço e a
respiração dele.

Quando ele puxa o braço para trás, ele não move o corpo.
Todos os mais de um metro e oitenta dele permanecem firmemente
contra o meu. Sua colônia é sutil. Seu hálito cheira a menta. E
quando me atrevo a encontrar os seus olhos e a intensidade neles,
é minha própria respiração que suga.

Os segundos parecem minutos.

Minutos que precisam acabar, mas que a história me prende.

— Você se lembra de como éramos bons? — ele murmura. Sua


respiração se espalha contra os meus lábios enquanto ele corre as
costas da sua mão pela minha bochecha.

Arrepios percorrem minha pele, a minha cabeça e o meu corpo


lutam pelo controle da narrativa. Aquele que sabe que isso não
pode acontecer. O outro que anseia que aconteça.

— Vince. — É apenas um sussurro quando sua mão desliza


pelo meu pescoço até a curva do meu ombro, e o seu polegar
descansa no meu queixo.

— Eu sei. É uma loucura ainda estar aqui depois de todo esse


tempo.
— Não podemos…

Ele passa o polegar sobre os meus lábios para me impedir de


falar. Seu polegar... quando tudo o que eu quero são os seus lábios.

Ele descansa sua testa contra a minha, sua boca a um


sussurro de distância, e nós apenas ficamos assim por um
instante.

Meu pulso troveja.

Meu peito se contrai.

Mas minha cabeça sabe muito melhor do que começar isso.

E quando o elevador apita, não tenho certeza se o suspiro que


emito é de alívio ou derrota.
Bristol
Foco é uma luta.

E não é porque passei do ponto de exaustão em que o café


costuma funcionar.

É o elevador que não consigo tirar da cabeça. A mão de Vince


no meu rosto. A maneira como suas palavras me fizeram sentir.

E a confusão que ambos criaram.

Como posso odiar um homem e ser atraída por ele? Como


posso ter passado anos dizendo a mim mesma que Vince Jennings
não significa nada para mim e, então, na primeira vez que o vejo,
sinto o meu coração tropeçar em si mesmo para ignorar as
cicatrizes que ele deixou lá?

As palavras de Vince voltam à minha mente: A Bristol


Matthews que eu conhecia não deixava ninguém lhe dizer o que
fazer. Onde ela está?

O problema é que eu achava que sabia quem era a nova Bristol


Matthews. O Depois Depois de Vince. Agora estou começando a me
preocupar por não ter a menor ideia. Que não sou nem de longe
tão forte quanto pensei que fosse.
A decepção profunda comigo mesma me atinge com força. Mas
não tão forte quanto o soco do tenor profundo de Vince me
lembrando o quão bom costumávamos ser.

Nenhum dos dois me emociona.

E, no entanto, lá estava eu agindo como uma colegial tonta


ansiando por seu ex como se ela tivesse esquecido tudo de ruim
que aconteceu.

Mas eu não estou no ensino médio.

E há muito mais em jogo do que minha reputação desta vez.

Mas a pergunta que fica é por quê? Por que eu queria que ele
me beijasse? Por que ainda estou pensando nisso?

Por nostalgia? Pelos bons tempos? Por prazer não adulterado?


Para provar que eu poderia beijá-lo e ir embora, estar no controle
disso, em vez de devastada por isso?

Mas esses são todos os jogos. Jogos que estou muito velha
para jogar e realmente não quero jogar de qualquer maneira.

— Eu sei. É uma loucura ainda estar aqui depois de todo esse


tempo.

Atração. Isso é tudo que ele estava falando. Nossa química. A


maneira como nossos corpos reagem um ao outro sem pensar.

Mas não é isso que Vince é? Ele sempre foi bom com as
palavras. Fazendo-me sentir desejada.

Mas foi aí que ele parou em todo o resto. Ele me amou até não
amar. Ele precisava de mim até que não precisava. Ele me queria
até que não quis.
— Certo?

Eu sorrio reflexivamente enquanto olho para cima para


encontrar quatro pares de olhos olhando para mim. Vince's, o
diretor do documentário, Will, seu assistente que está fazendo
anotações e a pessoa que o entrevistará para a câmera, Jasmine.

— Desculpe. Estava pensando em outra coisa. O que eu perdi?


— Eu pergunto.

— Eu só estava dizendo o quão perfeito é você trabalhar aqui


desde que conheceu Vincent há muito tempo — Jasmine diz. —
Você pode nos dar algumas informações adicionais quando
voltarmos para sua cidade natal na próxima semana.

— Semana que vem? O que?

— Está na agenda à sua frente — Vince diz com um movimento


para o papel sobre a mesa. Seu sorriso é implacável. — Só por
alguns dias.

Aceno com a cabeça, meu sorriso tenso.

Não gosto do inesperado. Gosto de planos e horários e de ter


tempo para digerir o que esperam de mim. Enquanto alguém como
Vince prospera na espontaneidade, isso me dá urticária
metafórica.

Dizer que sinto que estou sendo jogada no fogo é um


eufemismo. Agora estou sendo forçada a viajar com o homem pelo
qual estou atualmente me amarrando. Além disso, agora preciso
pedir mais ajuda à minha mãe com Jagger quando ela já faz muito.

Ele é o meu filho. Ele é a minha responsabilidade. Sou eu


quem deveria e quer estar cuidando dele, não minha mãe.
— Dê a ela um segundo — Vince diz. — Ela é uma planejadora,
então isso vai deixá-la confusa.

Todos na mesa riem enquanto Vince estremece quando o meu


sapato acerta sua canela.

— Semana que vem. Anotado — eu digo e ofereço um sorriso


açucarado para ele. Sem dúvida, isso vai deixar uma marca. — E
não se preocupe. Terei muitas coisas que posso contar para
aprimorar o documentário de Vince.

— Você não ousaria — ele diz, com malícia em seus olhos.

— Teste-me.

A mesa inteira irrompe em mais gargalhadas, mas o olhar de


Vince permanece no meu e o seu sorriso torto aparece.

Minha ameaça soa vazia para os meus próprios ouvidos,


porque sei que revelar muito sobre o passado de Vince só vai me
colocar no centro das atenções. E a última coisa que quero que
alguém faça é olhar mais de perto para mim.

— Então vamos começar — Will diz. — O objetivo desta pré-


entrevista é para que possamos eliminar as coisas normais do dia
a dia e talvez encontrar uma pepita ou duas para focar. Algo que
vai atrair o público a querer saber mais sobre isso.

— Não há muito por aí que as pessoas já não saibam — Vince


diz.

— Sempre há. — O sorriso de Will diz que ele está determinado


a encontrar algo. — Tudo o que decidirmos falar durante as
filmagens será informado com antecedência para que você não seja
pego de surpresa.
Vince se mexe desconfortavelmente, seus olhos focados no
papel em suas mãos por um instante antes de colocar a máscara
pública e sorrir. — Bata em mim.

Mas está lá. Aquele pequeno deslize. Assim como ele fez ontem
à noite ao falar sobre Bent. Claramente, o que quer que esteja
acontecendo, ele está determinado a mantê-lo trancado num cofre.

— Perfeito — Jasmine diz. — Vamos cobrir alguns princípios


básicos. Mãe. Pai. Irmãos. Irmãs. Infância normal. Infância
conturbada. Esse tipo de coisa.

— Infância normal. — O tom de Vince é monótono e ele olha


em minha direção, com aqueles olhos penetrantes, reafirmando
sua mentira.

— Ok. — Ela faz uma anotação. — E sua mãe e o seu pai?

— Pai. — É tudo o que ele diz, e isso faz com que a sala pare
brevemente.

— Ok. — Ela dá um aceno lento antes de aparecer um sorriso


encorajador em seus lábios. — Conte-me sobre o que aconteceu
com sua mãe. Dê-me mais informações sobre como foi crescer na
casa de dois homens Jennings.

Aperto minhas mãos entrelaçadas com mais força, sabendo


que o que parecia ser uma conversa simples se tornou bastante
espinhoso.

— Minha mãe foi embora antes de eu completar dois anos. Isso


é tudo que eu sei e não há muitos detalhes que uma pessoa possa
se lembrar nessa idade.

Outro aceno lento de Jasmine. — Desculpe.


— Não precisa. — A voz de Vince é áspera, apesar do encolher
de ombros indiferente.

— E o seu pai?

Os lábios de Vince se contraem. — Ele era um pai e não muito


bom nisso. Próxima?

— Não há mais nada que você gostaria de dizer sobre isso?


Este pode ser o seu momento de falar, de controlar a narrativa e
explicar a sua infância. Por que você é quem você é — Jasmine diz.

— Eu sou quem eu sou por causa de mim. Minha unidade.


Meu desejo. Minha necessidade de ser qualquer coisa além dele.
Os sacrifícios que fiz para ser o homem que eu queria ser. Essa é
a única explicação que você vai conseguir de mim sobre isso.

— Vince. Eu entendo sua posição, mas mostrar ao público de


onde você veio vai torná-lo mais simpático a...

— Não quero a simpatia de ninguém. Entendeu? Isso não é,


“vamos falar sobre o quão ruim o pobre Vinnie passou. Não é uma
maneira de desculpar algumas das merdas que fiz. Meu pai era e
ainda é um idiota. Não há muito mais a dizer”.

Jasmine olha para Will e depois de volta para Vince. Ela está
prestes a abrir a boca quando Vince se levanta da cadeira. — O
que mais você quer saber? Eu tenho uma namorada? Não. Já me
apaixonei? Só uma vez. — Ele para nas janelas. Seus polegares
enfiados nos bolsos, de costas para nós, observando os carros
marchando como formigas na sempre congestionada rodovia 110.
— Se eu quero me casar um dia? Eu não sei, porra. Eu quero
filhos? Isso é um não difícil, porra. — Ele dá de ombros com
desdém. — Isso lhe dá o básico de que você precisa? Isso é
suculento o suficiente para você? Porque há todo um tesouro a
mais de onde veio depois que eu o tornei grande que você pode
vasculhar. Eu garanto que essa merda é muito mais interessante
pra caralho.

Will gira em sua cadeira para que ele esteja olhando para as
costas de Vince. — Olha. Não é divertido para nós perguntar sobre
coisas sobre as quais você claramente não quer falar. Entendemos.
Já fizemos esses documentários o suficiente para saber que todo
mundo tem um ponto quente. Mas precisamos revisar essas coisas
rapidamente para aqueles que podem estar familiarizados com
Bent como um todo, mas não com você em particular.

Vince revira os ombros antes de se virar e nos encarar. —


Entendi.

— Antes de seguirmos em frente, eu seria negligente se não


mencionasse que enquanto vasculhava sua cidade natal, seu pai
nos procurou. Disse que adoraria ser entrevistado.

— Ele não fará parte disso.

— Tudo bem, mas ele...

— Se você quer que eu faça parte do meu próprio


documentário, certifique-se de que ele não faça isso. Ficou claro?
Terminamos aqui?

E antes que eles possam responder, Vince sai furioso do


escritório sem dizer mais nada. Luto contra a vontade de ir atrás
dele. Para confortá-lo. Para dar a ele o que eu precisaria se
estivesse no lugar dele, mas sei que não.
Parece que o homem agora não é muito diferente do
adolescente que conheci. Mantendo tudo dentro. Suportando o
peso de uma mão de merda que lhe foi dada por conta própria. Um
fardo que só ele realmente conhece.

Ele nunca falou sobre sua mãe.

Seu pai e o que aconteceu em sua casa sempre estiveram fora


dos limites. No colégio, olhando de fora, parecia que ele morava
sozinho. Como se ele fizesse suas próprias regras e tivesse a vida
que todos os outros adolescentes invejavam.

Mas eu estava perto o suficiente de Vince para ver os


hematomas desaparecendo. Eu sabia que eles apareciam depois
que ele estava convenientemente doente da escola ou abandonado
por alguns dias. Eu estava bem ciente do seu humor e da sua
determinação.

Claro, eu sei porque fui uma vítima nisso tudo.

— Sinto muito — eu murmuro, tentando aliviar a tensão que


ele levou quando saiu. Eu conhecia Vince naquela época e ele
nunca falava sobre coisas de família. Ele manteve perto do colete.

— Não precisa se desculpar. Estamos acostumados com isso.


Nem todo mundo quer que sua vida seja descascada como uma
cebola — Will diz.

— Falando nisso — Jasmine diz, sua expressão suavizando. —


Depois de cruzar os nomes com nossa pesquisa, é verdade que
você e Vince namoraram no colégio?

Eu tento manter o meu rosto impassível. Se Vince quisesse


que eles soubessem disso, ele já teria mencionado. Além disso,
quanto menos se falar de mim, melhor. A última coisa de que
preciso é um holofote sobre mim para que as pessoas olhem mais
de perto.

Minha risada é desdenhosa. — Você sabe como é, dar uma


carona para alguém depois da aula podia ser considerado um
namoro no ensino médio.

— Então você não namorou?

Pisco rapidamente e tento descobrir a resposta que Vince


gostaria que eu desse. Há fotos de nós dois em um anuário em
algum lugar. Os colegas podiam falar. Mas, ao mesmo tempo,
ninguém se importava muito ou provavelmente prestava muita
atenção sobre a nerd wallflower e o solitário aspirante a músico da
Fairfield High. Eu dou a maior resposta sem resposta que posso
pensar. — Fomos a alguns encontros. Mas Vince namorou muitas
pessoas naquela época. Ele não era bom com compromisso.

— Agora parece que ele não está também. — Jasmine ri e


termina de fazer algumas anotações em seu bloco de papel.

Olho para a porta que Vince acabou de sair e me pergunto por


que ele exigiu que eu estivesse aqui. Não foram necessárias
opiniões. Nenhum conselho a ser dado. Ele nunca foi alguém que
precisou da sua mão, então por que me pedir para estar aqui?

Mas minha mente continua voltando para a linha improvisada


dele. Aquela que se destacou para mim acima de todos os outros.

Aquela que me faz sentir um idiota egoísta, já que havia tantos


outas importantes.

Eu já estive apaixonado? Só uma vez.


Você é estúpida por pensar que ele estava falando sobre você,
Bristol. Ele viveu muito depois de você.

Assim como você.

Mas por que espero que tenha sido eu?


Vince
— Isso é besteira. — Eu coloco minha guitarra para baixo e
ando pelos limites da pequena sala.

— É a guitarra? Você está confortável com isso? Eu posso tocar


se você quiser pegar o baixo — meu produtor/parceiro de
composição, Noah, diz e se recosta, cruzando os braços sobre o
peito.

— Eu tenho jogado tanto a minha vida inteira. Não é a porra


da guitarra.

Ele morde o interior da bochecha e apenas acena com a


cabeça, mais do que acostumado com as birras de astros do rock
frustrados. — Você disse que sua musa estava falando com você.

— Estava. Agora não está.

Porra.

Passo a mão pelo meu cabelo, a energia inquieta que sinto


desde o elevador até a sala de conferências estragou
completamente minha concentração.

Um foi bem-vindo.

O outro nem tanto.


— O que há? — ele pergunta enquanto se serve de um duplo
e toma um longo gole.

— Nada. Tudo. Foda-se se eu sei.

Mas eu sei. É a merda do documentário e as perguntas sobre


o meu pai. É o material prestes a ser desenterrado do passado para
fazer as pessoas ignorarem as porcarias que fiz recentemente.

É uma viagem, porra, de elevador com Bristol. A sensação do


seu corpo contra o meu. O engate da sua respiração. A vontade de
começar algo com ela, de usar o seu corpo, de simplesmente se
perder um pouco no passado. Apenas para abafar as besteiras que
parecem não acalmar mais.

Uma solução temporária para uma situação


permanentemente fodida.

Os problemas com o meu pai permanecerão. Ser alienado de


Hawke, Gizmo e Rocket não vai mudar. E terei que ir embora, não
importa o quão bom seja estar com Bristol novamente.

Houve uma razão para você ter se afastado dela antes. Essa
mesma razão ainda é válida agora.

Você fez isso consigo mesmo, Jennings. Não adianta trazê-la


para baixo com você.

— Podemos fazer uma pausa — Noah sugere.

— Eu não quero fazer uma porra de uma pausa. Eu quero


descobrir isso para que possamos deixar isso de lado e seguir em
frente.

— Então, só a música? Você desistiu da letra?


— Apenas... apenas grave e veremos o que acontece.

— Tudo o que você diz, chefe, mas me dê alguns. — Ele dá de


ombros e se levanta para esticar as pernas. Estamos nisso há tanto
tempo que está começando a parecer forçado.

E “forçado” acaba sendo uma música de merda.

Meu suspiro é pesado enquanto toco a última tomada. É uma


merda. Ótimo. Tudo isso... reprimi tudo, e não tenho nada para
mostrar.

A emoção costumava me ajudar a escrever melhor. Os


demônios com quem luto adicionaram essa vantagem. Mas isso...
isso é um lixo total.

— Os caras estiveram aqui outro dia — Noah diz casualmente


enquanto as palavras atingem o meu peito como uma adaga
enferrujada.

Eu resmungo em resposta. Para o mundo, estamos em pausa


para projetos individuais. Nem uma palavra ruim foi dita
publicamente. Era em particular que nossas palavras eram usadas
como armas. Onde o que saiu da minha boca fodeu tantas coisas.

— Eles soaram bem. Não é o mesmo sem você, veja bem, mas
ainda bem. Eles tinham algumas coisas novas que vão arrasar.

— Bom para eles.

O ciúme é uma cadela amarga, especialmente quando se trata


dos seus melhores amigos.

Então, novamente, que direito eu tenho de chamá-los assim?


Assumir que eles ainda pensam em mim como o mesmo?
— Você vai se juntar a eles novamente quando terminar este
álbum? Ou é muito difícil ir do segundo plano para o homem da
frente e depois voltar para o segundo plano novamente?

Abro a boca para falar e depois a fecho. Tudo isso não me


ensinou que algumas coisas são melhores quando não ditas?
Porque se forem, não há necessidade de retirá-los.

Um sorriso tenso é tudo que ofereço em resposta e levanto o


queixo em direção à mesa e à garrafa de Jack. Resta o único vício
que me permitirei. — Sirva-me um, ok?

Noah faz o que eu peço sem dizer uma palavra e estende o copo
para mim. Eu bebo em um longo gole.

Congratulo-me com a queimadura e espero por alguma clareza


como resultado antes de agarrar o braço da minha guitarra e
posicioná-la no meu colo enquanto me sento. Meus dedos
começam a dedilhar automaticamente. Um hábito enraizado em
cada fibra. Uma maneira de acalmar o tumulto interno. Um
mecanismo para acalmar o caos com o qual vivi toda a minha vida.

Meus dedos mudam para dedilhar as cordas e criam uma


melodia que não consigo tirar da cabeça. Há uma borda dura
sublinhada por uma melodia assombrosa. A combinação dos dois
causa arrepios na minha pele, um sinal claro de que estou no
caminho certo.

Fecho os meus olhos e continuo tocando, continuo


experimentando, sabendo que estamos gravando isso em nossos
telefones para que eu não precise parar para anotar tudo.
As palavras vêm a mim. Algumas canto em voz alta, outras
cantarolo para serem preenchidas mais tarde. E repito o processo.

De novo e de novo.

De novo e de novo.

O problema? Quando abafo todo o barulho externo, quando


realmente tento entrar na música, é a voz de Hawkin que ouço
cantando. É a sua grade única que espero ouvir pular e assumir o
controle, como fizemos inúmeras vezes antes.

Sempre fomos um time muito bom.

Mas não há nenhum Hawkin para fazer isso. Nada de Rocket


para contar uma piada e aliviar a tensão quando estamos
frustrados e começamos a bater uns nos outros. Nenhum Gizmo
para experimentar algum riff totalmente inesperado que nunca
imaginaríamos, mas que é absolutamente perfeito para a música
que estamos construindo. Sem Bent para tornar esta experiência
o que eu sei que pode ser. O que eu esperava que fosse.

Sou só eu.

É apenas Noah.

Apenas muita solidão e aceitação de que parece vazio sem eles.

E um monte de coisas não resolvidas que não podem ser


consertadas no meio.

Eu misturo os acordes. — Porra. — E dou um tapinha nas


cordas para fazer o som parar. Quando estendo o meu copo, Noah
o enche novamente sem dizer uma palavra.

Eu diminui.
Agora eu bebo menos. Para um músico de qualquer maneira.
Mas vai ser preciso muito mais do que um copo de Jack para
descobrir o que sinto que está faltando. A coragem líquida pode
resolver muita coisa, mas não vai consertar o estrago que causei.
Vince
Um ano atrás.
— Se você não gosta mais, lá está a porra da porta.

Encaro o meu melhor amigo, a sala girando enquanto inclino


a garrafa aos meus lábios, bebendo até o último gole de Jack. A
queimadura é melhor do que a resposta que tenho medo de dar.

— Não me diga o que fazer, porra, Hawke — eu digo com os


dentes cerrados. Sua risada é condescendente pra caralho. Do
outro lado do estúdio, sua bunda está apoiada na frente da mesa
de som, seus braços estão cruzados e o balançar de sua cabeça só
serve para me irritar ainda mais.

Hawkin. Vocalista da nossa banda, Bent. Meu irmão de outra


mãe. A pessoa que conhece todos os meus segredos. Cara bom em
geral. E aparentemente, pela ameaça que ele acabou de fazer, um
novo destruidor de bolas.

Foda-se isso.

Jogo a garrafa vazia no lixo à minha frente, e o som de vidro


batendo no metal ricocheteia pela sala.

— Não te digo o que fazer? — Ele emite aquela risada


paternalista de merda de novo que irrita todos os meus nervos. —
Eu não tenho que te dizer merda nenhuma, irmão, porque parece
que você está contente em fazer o estrago sozinho.

Aqui vamos nós outra vez.

— Deixe-me adivinhar. Rocket e Gizmo armaram para você


fazer isso — eu digo sobre os nossos outros companheiros de
banda. Dos nossos amigos. A família que arrumei para mim. Os
homens que fugiram daqui depois da nossa sessão provavelmente
para que Hawkin pudesse me ler o maldito ato de motim. — O que?
Você teve uma porra de sessão de kumbaya sobre como brigar com
Vince e proteger a preciosa maldita imagem de Bent?

— Imagem? — Hawke grita, jogando os braços para os lados.


— Somos estrelas do rock. A bebida e as drogas são esperadas.
Para a porra do curso. O que não é normal é ficar tão chapado
como você, menos foder a garota do Rocket. — Ele olha para mim
com olhos arregalados que com certeza combinam com os meus.
— Jesus Cristo. Você nem se lembra disso, não é?

— Não brigamos por causa disso na semana passada? — Eu


digo bobamente, tentando quebrar o meu cérebro se o que ele está
dizendo é verdade.

Mas ele está certo. Eu não consigo me lembrar.

Eu não fiz isso, fiz?

— Sim, e vamos falar sobre isso novamente. Porra, Vin, você


quase perdeu nossa apresentação no Saturday Night Live porque
estava fora fazendo sabe-se lá o quê.

— Eu sei o que estava fazendo e porra, ela foi incrível. — É


mentira. Eu estava chapado pra caralho e perdi a noção do tempo.
Mas neste ponto parece que a mentira vai se sair melhor para mim
do que a verdade.

— Ato de classe. Muito bem.

— Foda-se.

— Você provavelmente gostaria que eu fosse, hein? Então você


poderia contornar o ralo sozinho e provar que o seu pai está certo.

— Não o mencione novamente — eu aviso.

Ele me vê. Ele me ouve. Mas ele claramente não se importa


com o aviso porque aquela risada está de volta e também o
balançar de cabeça desapontado.

O que ele não sabe é que decepcionei todo mundo na minha


vida inteira, então por que começar a mudar essa merda agora?

— Você nos fez uma promessa, Vin. Você me fez uma. Desde
o início, concordamos que estaríamos em primeiro lugar, a banda
e os seus melhores interesses sim.

— Qual é o seu ponto?

— Isso com certeza não parece mais ser o caso.

— Bem, talvez seja hora de uma mudança, então, hein?

— Não no meu turno.

— Ai Jesus. Você está ouvindo a besteira egoísta que você está


vomitando? Não no meu turno — eu imito.

Porra. Preciso de outra bebida, mas me viro para descobrir que


minha segunda garrafa que coloquei na mesa já está vazia. Eu fiz
isso? Hawke tomou?
— Você ainda não é nada, Vinnie. Nunca foi. Nunca será. Você
não conseguiria hackear sozinho mesmo se tentasse, porque com
certeza você não é bom o suficiente com o seu talento medíocre e
falta de motivação.

— A administração não está feliz — ele diz suavemente.

— Danem-se eles. Eles nunca estão felizes conosco, mas


somos nós que estamos enchendo os bolsos deles, então não dou
a mínima para o que eles pensam.

— Você está fodendo tudo, cara.

— Então você disse.

— No palco. No estúdio. Em público. Em particular. Não há


muitos outros lugares que você possa foder.

— Tenho certeza que vou descobrir como fazer. — O sarcasmo


escorre de minhas palavras e o meu melhor amigo me encara com
um desdém que não entendo.

— Estou preocupado com você.

Minha garganta parece que está fechando. Balanço minha


cabeça, rejeitando as palavras de Hawke. Não vale o suficiente
para ser cuidado. — Como se você desse a mínima para mim. —
Afogue-o. Cale-o. — Tudo o que importa é a sua própria imagem
intocada. Mas eu sei, Hawke. Eu sei sobre o seu irmão fodido e a
merda que ele fez. A merda que você escondeu e protegeu dele. Eu
sei que você não é nem de longe tão perfeito quanto o público pensa
que você é — eu digo, tentando jogar tudo na pia da cozinha.

Querendo o argumento.

Precisando do argumento.
— Você tem razão. Estou longe de ser perfeito. Mas, assim
como você me ajudou naquela época e em todas as outras vezes,
agora eu quero ajudá-lo.

— Foda-se você e o seu tom apaziguador. Eu não preciso de


nada de você. — Eu passo a mão pelo cabelo e ando pelo pequeno
espaço. Para frente e para trás, as mãos se fechando enquanto a
raiva queima um buraco no meu estômago. — Deus, eu preciso de
uma porra de uma bebida.

— Porque é exatamente disso que você precisa.

— Você tem razão. Uma garrafa de bebia é melhor do que eu


ter que ouvir mais disso. — Viro-me e olho para ele. — Desde
quando você enfia esse pau na bunda? Huh? O que você está
fazendo? Sendo a divertida polícia agora?

— Sim. Claro que sim. E comecei a ser assim quando você


decidiu começar a se matar lentamente.

— Tanto faz.

— Pare com essa merda, Vin. Sou eu aqui. Eu só quero te


ajudar. O que está acontecendo que você não está me contando?
O que você está tentando entorpecer? Eu te conheço há muito
tempo para saber que algo está errado.

— Como eu criei uma boceta dessas, hein? Um homem de


verdade não precisaria se esconder atrás do seu melhor amigo para
conseguir. Um homem de verdade seria capaz de fazer isso sozinho.

— Foda-se, pai. Você não sabe…


— Ah, mas eu sei. — Sua risada é irritante. Suas palavras são
uma repetição reencarnada da mesma merda que ouço há mais de
uma década. — Eu sei que sua mãe foi embora porque ela não
queria você. Eu sei que lutei por anos para te dar tudo para você
fazer o quê? Ficar em segundo plano porque você é muito marica
para ocupar o centro do palco? Eu teria matado por essa chance, e
claramente você simplesmente não tem isso em você. Um homem de
verdade faria isso, mas, novamente, é você, certo? Não posso
esperar muito de você quando você nunca foi muito para começar.

— Nada está errado — eu murmuro.

— Isso é besteira.

— Ok. Chame do que quiser. — Eu dou de ombros. — Faz você


se sentir melhor?

— Isso não é uma piada.

— Quem está rindo? — Eu pergunto.

— Você não está me levando a sério.

— Eu me orgulho disso.

Hawke aperta a ponta do nariz e suspira. — Olha. Você


estragou tudo ontem à noite.

— Boa mudança de tática. Você sempre foi aquele que tentou


manter a paz.

— Noite passada? — Ele ergue as sobrancelhas e exige uma


resposta para a qual não tenho uma resposta boa o suficiente.
— O filho da puta merecia aquilo — eu digo sobre o repórter
que repreendi no tapete vermelho. Na TV ao vivo. — Fazer
perguntas estúpidas como aquela e...

— Eles só são estúpidos se não forem verdadeiros.

— Eu não toquei na mulher. A criança que ela diz ser minha,


não é. Nunca vou arriscar meus genes fodidos em uma próxima
geração.

— Vamos lá. Fale comigo. Talvez eu possa ajudar.

— Eu não preciso da porra da sua ajuda, Doutor Play. Eu


apenas preciso... — Eu não sei o que diabos eu preciso, mas tenho
certeza que pode ser encontrado do outro lado de um vício.

Apoio minhas mãos na mesa de som e olho para o estúdio


vazio. Aquele em que estávamos trinta minutos atrás. Aquele que
me deu o único alívio que pareço ter hoje em dia, a música.

O suspiro do meu amigo é tão pesado quanto o peso em meu


peito. — Então é assim que vai ser?

— Como vai ser? Você está tentando me controlar? Eu gosto


de algemas, irmão, mas só quando são usadas durante o sexo.

Se eu continuar pressionando, talvez ele simplesmente vá


embora. Talvez ele apenas me deixe em paz.

— Só estou tentando ajudar, Vince.

No minuto em que sua mão toca o meu ombro, meu


temperamento estala e o braço está inclinado para trás, pronto
para voar.
Ele olha para mim, os olhos me desafiando a acertar o soco e
me implorando para não fazer isso ao mesmo tempo.

Ele não entende.

Ninguém entende.

Como você odeia alguém e o ama simultaneamente? Mesmo


quando eles não fazem nada além de te derrubar? Especialmente
porque eles são as únicas pessoas que não te deixou?

— Estou morrendo, Vinnie. Câncer de fígado. Estágio quatro.

As palavras do meu pai vêm do nada. Porra?

— Um ano, talvez.

Eu mantenho minha cabeça baixa e apenas aceno. Que porra


eu devo dizer?

— Só pensei que você gostaria de saber.

Eu resmungo. É normal não sentir nada ouvindo isso?

— O que? Sem resposta? Nenhuma palavra doce de um filho


para o seu pai? — Sua risada é cruel. — Não se preocupe. Eu não
esperava muito do meu filho totalmente perdedor. Talvez a vergonha
que sinto por você me mate antes que da porra do câncer.

Abaixo o meu punho, a necessidade de jogá-lo ainda vibrando


através de mim. Ainda me possuindo. Ainda implorando pela
libertação e não consigo encontrar. Ótimo pra caralho. Maneira de
ser como seu velho. Saia balançando quando se sentir encurralado
em um canto. Você é um idiota, Jennings. Um completo idiota.

— É assim que vai ser? Você não quer ouvir a verdade, então
vai lutar para sair dessa? — Hawke pergunta.
Em vez de responder, ando pela sala de novo, procurando uma
garrafa de alguma coisa, qualquer coisa, para aliviar a dor. — Você
esquece, irmão. Eu nunca tive uma mãe e com certeza não preciso
de uma agora.

O pó. Esqueci que tinha um pó de bem-estar comigo. De costas


para Hawke, tiro-o do bolso, coloco um pouco de pó na ponta do
dedo e passo um pouco na gengiva. O chute é quase instantâneo.
A sensação de que tudo está bem com o mundo. A euforia que me
deixa respirar de novo. A capacidade de esquecer por apenas um
momento.

— Quer um pouco?

— Foda-se, não — Hawke grita, derrubando o pacote aberto


da minha mão antes que eu mal consiga terminar minha pergunta.
Ele cai no chão e se espalha. — O que você está fazendo?

Minha risada é alta. Minha cabeça como um balão flutuando


e presa ao meu corpo por uma corda. — Como eu disse, Pretty Boy
Play é bom demais para mim agora.

— Porra, Vince. Este não é você. Isso não é…

— Como se você tivesse olhado de perto o suficiente nos


últimos meses para ter o direito de dizer que me conhece.

— Que diabos, cara. Como você ousa dizer…

— Tanto faz. — Eu aceno com a mão em sua direção. — Eu


não preciso de você. Eu nunca precisei. Eu nunca mais precisarei.
Volte para o seu canto de merda, sua preciosa banda, para a sua
pretensiosa e fodida esposa. Tenho certeza de que você ficará
melhor sem mim.
Hawkin fica ali estupefato, balançando a cabeça e cerrando os
dentes. O punho que eu esperava lançar sobre o meu insulto à
esposa dele, a mentira descarada, não veio. Inferno, ele nunca
aperta. — É assim que você quer, hein? — Suas palavras são
medidas.

— Tenho certeza de que não precisa ir a lugar nenhum quando


já está pronto e desaparecido há algum tempo.

— O que você está dizendo?

— Não precisa ser dito, não é? — Olho ao redor do estúdio,


balanço a cabeça e digo: — Foda-se — antes de ir em direção à
porta.

— Você está desistindo? Simples assim, depois de tudo?

— Bem desse jeito. Eu estou melhor sem você. Sem isso.


Espere e verá.

— Você vai se arrepender dessas palavras. — Sua declaração


me faz parar no meio do caminho com a minha mão pressionada
contra a porta aberta.

Abaixo minha cabeça por um instante e rio baixinho, apesar


da pontada que suas palavras criam. — Não, o que eu lamento é
deixar você me derrubar por tanto tempo que eu realmente
acreditei que era menos do que você.

Estou me afogando em álcool, em arrependimento, em


palavras que sei que falamos e que não posso retirar. Que eu não
tenho certeza se quero retirar porque, porra, é bom dizê-las. Para
dizer ao meu melhor amigo o quanto me ressinto dele por ser ele
quando eu tenho que ser eu.
Aí está a porra da prova. O dinheiro não conserta a merda do
seu passado. A fama não preenche os vazios que outros deixaram.
A amizade não ofusca o abandono.

Mas o álcool ajuda a entorpecer tudo.

Cocaína ajuda a esquecer ainda mais.

Eu ainda amo ele, Rocket e Gizmo?

Foda-se sim, eu faço. Mais do que qualquer pessoa que já


conheci, exceto por uma pessoa.

Mas também os odeio.

E quando saio pela porta, empurrando-a com tanta força que


bate contra a parede atrás dela, sinto um gosto amargo na boca
por palavras que nunca poderei retirar.

Olho para trás e vejo Hawkin parado no estúdio escuro, seu


ombro apoiado contra a parede, e o seu rosto com uma expressão
que espero nunca mais ver.

Desapontamento.

Preocupado.

Dor.

Pena.

Foda-se, Hawke.

Apenas foda-se.
Bristol
— Ele está ficando tão grande — eu murmuro para ninguém
enquanto minha mãe recolhe suas coisas atrás de mim e se
prepara para voltar para sua casa. Jagger está no pequeno pátio
dos fundos do meu apartamento. Ele montou uma pista
improvisada e está “dirigindo” seus caminhões nela e,
ocasionalmente, colidindo-os uns com os outros com os efeitos
sonoros para acompanhar.

— Passa em um piscar de olhos, não é?

— Parece que sim.

— Ontem você tinha essa idade e agora olhe para você. — Sua
risada é agridoce, muito parecida com como me senti nos últimos
dias. — Ele acordou querendo aprender a tocar violão hoje de novo.

Ela diz as palavras como se já soubesse o que preciso dizer a


ela. Como se ela já soubesse que Vince está na cidade.

— Vou ter que dar aulas para ele. — Eu suspiro. — Apenas


mais uma coisa para tentar administrar, outra despesa para
descobrir... e outra coisa que não quero privá-lo.

Ela desliza o braço em volta do meu ombro e me puxa contra


ela. — Se você não fosse tão teimosa e independente, as coisas
poderiam ser mais fáceis para você, sabe. Menos estressante.
Morar comigo significaria um quintal maior para Jagg. Menos
trabalho para você porque reduziríamos nossas despesas pela
metade. Uma babá embutida que você não precisa se preocupar
em pedir para ficar porque este ou aquele enlouqueceu no
trabalho, ou Deus me livre, você teve um encontro quente e queria
um pouco de ação. Ouvi dizer que alivia o estresse de vez em
quando também.

Eu rio quando ela bate o seu quadril contra o meu, mas parece
tão distraída quanto os meus pensamentos.

Ela merece saber, não é? Afinal, ela já passou por tudo isso
comigo. Descobriu. As consequências. O desgosto. A decisão.

E, no entanto, estou hesitando.

Porra. Aqui vai...

— Falando em estresse, preciso falar com você sobre algumas


coisas, mãe.

— São coisas boas ou ruins? É melhor que não seja porque


você está se mudando para fora do estado e longe de mim.

— Não. Não é nada disso. É mais como se eu tivesse uma


promoção temporária no trabalho.

— Você teve? — Ela grita alto o suficiente para que Jagger


levante os olhos do seu carro de demolição, oferece um estou feliz
que você esteja rindo, mas os meus carros são mais interessantes
do que sua conversa sorria, e então volta a fazer um som de
estrondo. — Isso é incrível, Bri. Me fale sobre isso. O que você está
fazendo? Por que é temporário? Isso significa que aquele McMann
finalmente descobriu o que eu já sei? Que minha filha é uma força
absoluta a ser reconhecida e ele está perdendo o barco se não
utilizar todo o potencial dela?

Dou um passo para longe dela e faço um gesto de calma. Isso


não significa que o elogio não seja bom, mesmo que seja sua mãe
dizendo isso. — É principalmente por causa de um cliente. Aquele
que eu tive que ficar até tarde na outra noite. McMann quer que
eu segure a mão do cara enquanto trabalhamos para reembalá-lo
para o público, por assim dizer.

— Por favor, me diga que isso não significa que o cliente vai te
tratar como merda. McMann já faz o suficiente disso. — Dizer que
minha mãe odeia o meu chefe é um eufemismo. Mas, novamente,
eu também não gosto dele. Para mim, ele é um trampolim para
chegar onde quero chegar.

— Na verdade, o cliente me defendeu várias vezes até agora.

— Eu já gosto dele. Você tem permissão para me dizer quem


é? — Ela pergunta. Eu sempre digo a ela, mesmo quando a
identidade do nosso cliente deve ser mantida em sigilo.

— Bem, essa é a segunda parte que eu gostaria de contar.

— Oh? — Ela senta no sofá, distraída ao endireitar as


almofadas de cada lado dela. Mas quando ela olha para cima e
percebe minha expressão, ela faz uma pausa. — O que você não
está me dizendo?

Tire o Band-Aid, Bristol.

Depois de uma rápida olhada para Jagger, confesso. — É o


Vince.
Sua boca cai em um chocado O. — Bristol. — Meu nome é um
aviso, uma pergunta e uma exclamação.

— Eu sei.

— Você sabia que esse dia poderia chegar.

— Estou bem ciente desse fato. — Não sei por que de repente
me sinto na defensiva, mas estou.

— Eu nem sei o que dizer ou perguntar.

— Nem eu, para ser honesta. — E não sei por que de repente
parece que um peso foi tirado do meu peito, mas é o que acontece.
Tenho pensado nisso nos últimos dias, preocupada com isso, e
agora sinto que finalmente tenho uma caixa de ressonância.

Embora uma caixa de ressonância muito opinativa, mas ainda


assim.

Ela olha para Jagger e sorri suavemente. — Você vai contar a


ele?

Essa é a questão, não é?

— Eu não pretendia. — Eu quero filhos? Isso é um grande não.


Suas palavras outro dia me atingiram profundamente e
reafirmaram minhas decisões. Antes e agora. — Ele não queria
filhos naquela época e ainda sente o mesmo. Quem sou eu para
estragar a vida dele por causa de uma decisão que tomei e tomaria
de novo se fosse preciso?

— Essa é uma escolha de pensamento. A outra é que ele tem


todo o direito de saber. Talvez ele se sinta diferente quando
conhecer o seu filho incrível. — Ela franze os lábios. — Você
poderia obter algum apoio financeiro então, e não teria que
trabalhar até os ossos...

— Não quero dinheiro dele.

— Você tem direito a isso.

— Eu tenho direito a muitas coisas, mas isso não significa que


eu tire vantagem disso.

Ela acena com a cabeça, mas o seu olhar é pesado. — Por que
você me contou se não quer nenhum dos meus conselhos?

— Eu quero, eu só... — Eu solto um suspiro pesado e me movo


pela minha casa. Pode ser pequena, mas é minha e cheio de tanto
amor por Jagger que me deixa feliz. — É complicado. Os meus
sentimentos. Os meus pensamentos. Simplesmente tudo é
complicado.

— Tudo o que tem a ver com uma criança é complicado. Quero


dizer, olhe para o papai e para mim. Esperamos o divórcio até você
ter dezenove anos porque temíamos como isso afetaria você. E
mesmo assim, isso devastou você.

— Estamos falando de maçãs e laranjas — eu digo, mas


entendo o seu ponto.

— Estamos falando sobre o seu filho e o que você vai fazer ou


não fazer quando se trata do pai dele.

— Eu me preocupo em estar machucando-o todos os dias


porque ele não tem um pai presente. Você sabe disso. Eu sei. Mas
não seria mais doloroso para ele ter um pai que sabe sobre ele e o
rejeita do que não conhecê-lo?

— Contar a Vince não é o mesmo que Jagger saber.


Forço-me a parar de me mover e me sento. Ela está certa.
Talvez seja o meu próprio coração que estou protegendo. Talvez eu
ficaria arrasada se contasse a Vince e ele rejeitasse Jagger na hora.
Isso seria pior do que arrancar o meu coração e pisar nele.

— Eu disse a ele que estava grávida. Ou tentei de qualquer


maneira, mas fui criticada pelo empresário dele. E então ele não
atendia minhas ligações. Então ele me bloqueou. Quero dizer...
isso me disse o suficiente por si só. — Eu belisco a ponta do meu
nariz. Ela sabe de tudo isso, mas é quase como repetir que me faz
sentir melhor sobre minha decisão. — Talvez eu não tenha me
esforçado o suficiente. Talvez, embora eu estivesse com medo e
com o coração partido, eu estava preocupada que Vince tentasse
me convencer a não ter Jagger quando eu sabia que o queria mais
do que qualquer coisa no mundo.

— Talvez não vá te dar suas respostas, querida.

— Eu sei. Acredite, eu sei. — Eu descanso minha cabeça no


encosto do sofá e olho para o teto. Aquelas visões de contos de
fadas que tive no passado voltam. Aquelas em que Vince e Jagger
estão sentados no chão brincando. Onde Vince estava sem
camiseta e segurando o nosso filho recém-nascido. Onde o Dia dos
Pais é comemorado em vez de ser um dia em que tento preencher
as coisas que Jagger está perdendo.

— Você teve a chance de falar com ele? Realmente falar com


ele? Ou essa conexão não existe mais?

— Está lá. — Eu balanço minha cabeça como se eu não


quisesse que ela estivesse lá. — Mas isso não significa nada.
Ela mordisca os lábios de um jeito que me faz querer saber o
que ela está pensando. — Então eu acho que isso significa que não
houve tempo para vocês dois conversarem sobre... coisas.

— Como nós terminamos com isso na última vez que nos


vimos? Eu acordando e ele estando longe de ser encontrado? Eu
ligando para ele várias vezes sem uma única resposta? Sendo
criticada pelo seu empresário e ele ter me colocado em meu lugar,
então eu sabia que era apenas uma na longa lista de muitas de
Vince? Você quer dizer aquela conversa? — Eu bufo. — Tenho
certeza de que ambos estamos evitando isso, ou só realmente
importa para mim por causa do que resultou disso.

— Vocês dormiram juntos. Acho que isso importa para vocês


dois.

— Mãe, ele é um astro do rock. Não sou ingênua o suficiente


para pensar que ele não tem mulheres alinhadas do lado de fora
do seu camarim antes e depois de cada show.

— E isso não te incomoda?

— Eu não estou com ele, estou? É problema dele o que ele faz.
Ele é um menino grande.

Seus olhos seguram os meus, e seu sorriso suaviza um pouco


quando ela vê o que eu tenho tentado esconder o tempo todo.
Talvez até para mim mesma.

— Você nunca deixou de amá-lo, não é? — Ela murmura.

Minha garganta arde de emoção. — Não seja ridícula.

— Você não respondeu à minha pergunta.

— Talvez eu não tenha uma resposta para a pergunta.


— E talvez você esteja sendo evasiva como quando sabe a
resposta, mas teme que isso vai me chatear. — Ela olha de volta
para Jagger, seus olhos firmes nele quando ela fala.

— Chatear? Não. Mas, quero dizer... olhe para ele e olhe para
mim.

— O que isso significa?

Inclino minha cabeça para o lado e simplesmente a encaro


enquanto estendo minhas mãos. — Ele é ridiculamente bem-
sucedido enquanto eu ainda estou estudando e trabalhando para
ser aceita na faculdade de direito e, eventualmente, passar no
exame da ordem. Ele é cobiçado por milhões, e este meu corpo não
está exatamente em sua melhor forma.

— Primeiro, sim, você está trabalhando para a direção certa.


Sabe quantas pessoas teriam desistido do seu sonho? Você não
desistiu, então não quero ouvir uma palavra sobre isso. E segundo,
você realmente quer que eu comece a ver como você se vê?

— Bem observado. Deixa para lá. — Eu rio disso, mas isso não
tira minhas inseguranças.

— Não. Não importa. Você perguntou, então eu vou dizer. O


que há de errado com o seu corpo? Suas curvas são mais
pronunciadas do que eram no ensino médio. Isso se chama ser
normal. Isso se chama amadurecimento. Isso se chama ter um
filho. Isso se chama ser uma mulher voluptuosa.

— Chama-se ter estrias.

— E cada uma delas te deu aquele lindo garoto lá fora, então


eu não quero ouvir isso. Além disso, nunca me lembrei de Vince
ser um homem superficial. Ele te amava mesmo quando você
usava aparelho. E aquela fase de cabelo permanente onde você
parecia um poodle. — Ela estremece. — Ah, e até a fase da sombra
branca e brilhante. Quero dizer…

— Sim. Ok. Entendi. — Eu rio. — Mas isso não significa que


vê-lo novamente me faz sentir menos do que quando ele se tornou
muito mais.

— E ele fez você se sentir assim? Ele disse oh, uau, você tem
curvas de Marilyn Monroe e uma bela bunda, e eu não gosto disso?

— Sério, mãe?

— Ele fez?

— Não. Claro que não.

— Ponto feito. — Ela me dá um aceno resoluto e, em seguida,


um sorriso presunçoso. — Agora que desmascaramos esse mito,
vou dizer o seguinte. Vince é o único homem com quem já vi você
chateada. Duas vezes. Isso diz muito, e é por isso que perguntei se
você já parou de amá-lo.

O comentário dela abre uma porta pela qual tenho medo de


entrar. Se eu não der a ela uma resposta direta, então não preciso
reconhecê-la eu mesma.

Quem eu estou enganando, afinal?

Eu soube desde o momento em que ouvi sua voz naquela


primeira noite no estúdio de som.

— Acho que uma parte de mim sempre o amará — eu


finalmente admito.
— Mmm — ela diz daquele jeito que me faz sentir julgada.
Ninguém nunca quer se sentir julgada pelos seus pais.

— Agora eu sou mais velha. Eu sou mais sábia — eu digo,


sentindo a necessidade de justificar o meu comentário. — Eu
poderia amá-lo o quanto eu quisesse, mas isso não o faria ficar. E
eu mereço isso. Alguém que vai ficar e ter uma vida comigo. Não
alguém que se recusa a criar raízes. Ele pode dizer o quanto quiser
que é por causa do seu estilo de vida – de turnê e tudo o mais –
mas eu sei que é por causa dos seus pais. Se você não colocar os
pés no chão, não poderá se apegar e, portanto, não poderá se
machucar. Você não pode ficar para trás.

— Você pensou muito sobre isso.

— É tudo em que tenho pensado. Antes e agora. Além disso,


justifiquei muito minhas decisões internamente ao longo dos anos.

— Desnecessariamente, mas eu entendo. — Ela toma um gole


de água. — E agora? Se essa conexão existe, quem disse que ele
não vai te convidar para sair enquanto estiver aqui?

— Sei lá no fundo que qualquer coisa com Vince seria


passageira. — O quase beijo no elevador preenche minha cabeça.
Não parei de pensar nisso ou nele, para ser justa. — O problema é
que eu me apegaria. Ele vai passar para a próxima cidade, a
próxima mulher, a próxima que seja, e eu estarei aqui sofrendo.
Já deixei o homem me machucar mais do que o suficiente.

— Ninguém nunca disse que o amor sempre é bom.

— Então por que sentir isso?


— Porque não é uma escolha. É apenas algo que acontece
mesmo quando você não quer.

— Por que você soa como se estivesse encorajando isso?

— A única coisa que estou te encorajando são as decisões que


você tomar.
Bristol
— O que quer dizer com não saber como estão indo as sessões
de gravação? Você não deveria ficar de olho nele? Certificando-se
de que ele tem tudo o que precisa? Este trabalho é demais para
você, Matthews? Eu preciso colocar outra pessoa para Jennings?

As palavras de Xavier se repetem em minha mente. Suas


palavras gritadas pelo telefone que felizmente respondi, mesmo
estando no meio de uma aula de spin.

A única aula de spin que pude fazer no último mês e, claro,


meu chefe a interrompe, mais uma vez reforçando o quanto de vida
eu não tenho. Ele acha que a minha vida deve ser vivida
exclusivamente para ele.

Mas eu perguntei “quão alto” ao seu proverbial comando para


pular. Claro que sim, porque estou parada na porta do Bellinger
Studios, onde Vince supostamente está lá dentro. Eu não sabia as
respostas para as perguntas de Xavier porque tenho evitado Vince.

Não é exatamente uma tarefa fácil quando eu deveria estar


cuidando dele, mas algumas doses da minha própria realidade,
Jagger caindo da bicicleta e esfolando os joelhos, um professor me
dizendo que esperava mais de mim no trabalho que entreguei, o
meu carro está tão estragado que tenho medo do que o mecânico
vai dizer quando eu o levar para a oficina — eram todos os
lembretes de que eu precisava. Esta é a minha vida, e a de Vince é
o oposto.

A questão é: o que pretendo fazer antes que esse dia aconteça?

— Não há nada a fazer — eu murmuro para mim mesma e


abro a porta indefinida para o prédio na minha frente, esperando
como o inferno que eu esteja no lugar certo.

As paredes são escuras e a iluminação fraca, e não há


ninguém na recepção. Nem parece que alguém o usou em algum
tempo pelas grandes pilhas de várias coisas cobrindo sua
superfície.

Com medo de gritar e atrapalhar a sessão de gravação de


alguém, fico ali por alguns minutos debatendo o que fazer. Eu
sempre poderia enviar uma mensagem de texto para Vince e avisá-
lo que estou aqui, mas isso daria a ele o número do meu celular e
não tenho certeza se quero que ele tenha isso ainda.

Ridículo, eu sei.

Parada na indecisão, eu me assusto com o som de uma porta


abrindo, e fechando, seguido por passos no corredor.

— Ei. Oi. Para quem você está aqui e eles sabem que você está
aqui?

Abro um sorriso apesar de me sentir fora do meu elemento. —


Sou Bristol Matthews da McMann Media. Estou aqui para ver
Vincent Jennings e não, ele não sabe que estou aqui.

Ele inclina a cabeça para o lado, estreita os olhos e me estuda


por um instante antes de abrir um sorriso lento. — Talvez você
possa deixar aquele filho da puta ranzinza de bom humor pela
primeira vez. Porra, cara. Tudo o que tenho conseguido é o idiota
do Vince. E eu posso lidar com o Vince Idiota, mas com certeza
seria bom ter o Vince Normal de volta por um tempo.

— Isso é ruim, hein? — Eu pergunto.

— No final do corredor. Última porta à direita. — Seu tapinha


nas minhas costas e sua risada são a única resposta que ele me
dá. — Boa sorte. Tenho que pegar minha filha na escola. Eu
voltarei.

— Espere, você está me deixando sozinha com ele?

Sua risada é ainda mais alta quando ele abre a porta e sai.

Grosso.

Idiota.

Ótimo. Pelo menos eu sei no que estou entrando.

Quando abro a porta da sala escura, há uma janela de vidro


na minha frente, caixas de som na parte inferior com todos os tipos
de botões e botões acesos. Ouço alguém mexendo em uma
guitarra, a mesma corda repetidamente, seguida por um
xingamento e muito frustrado.

E lá está ele.

Prendo a respiração involuntariamente quando vejo Vince. Ele


está em uma sala com paredes brancas forradas com o
reconhecimento da indústria, sentado em um banquinho. Seu
violão está apoiado em seu colo, suas costas curvadas e seus dedos
estão nas cordas. Seus olhos estão fechados, e alguns dos seus
cabelos estão caindo sobre sua testa que está enrugada em
concentração.
Claro que ele é um pacote devastador de se olhar, o tipo de
homem que faz você parar para olhar duas vezes e tentar descobrir
se ele faz jus à vibe de bad boy que ele exala, mas quando ele abre
a boca para cantar, é de uma beleza de parar o coração.

Pelo menos ele sempre foi assim para mim.

Fico lá hipnotizada enquanto ele trabalha com acordes da


guitarra e letras murmuradas. Elas não fazem nenhum sentido,
mas de alguma forma ainda têm um ritmo que causa calafrios na
minha pele e o meu corpo balança para frente e para trás.

Durante o meu breve período na aula de spin, tomei a decisão


de não deixar Vincent Jennings me desgastar de nenhuma
maneira, forma ou jeito. Nada de colocar o papo em dia no café.
Sem relembrar como costumávamos ser bons juntos. Nada de
beijar apenas uma vez pelos velhos tempos.

Autopreservação completa e absoluta.

E, no entanto, parada aqui, observando e ouvindo-o, odeio os


velhos sentimentos que estão sendo revirados como partículas de
poeira. Do tipo que dança no fluxo da luz do sol para que você
possa vê-los, para que possa estudá-los, para que possa se
perguntar de onde eles vieram quando você nunca percebeu que
eles estavam lá em primeiro lugar.

As mesmas partículas de poeira que você nunca percebe


quando está no escuro porque elas não parecem mais importar.

A questão é, deixo-os assentados no escuro ou mexo-os e os


trago à luz um pouco?
E agora, eles estão no escuro. Devo ficar aqui e telefonar para
Xavier e avisar que Vince está fazendo o que deveria estar fazendo,
trabalhando em seu novo álbum, ou eu entro na luz e digo a Vince
que estou aqui?

Ainda indecisa, fico de pé e observo Vince sem que ele perceba.


Ele está onde ele pertence, em um estúdio com uma guitarra em
seu colo e uma batida tão parte dele quanto o sangue fluindo em
suas veias.

— Noah? Voce ainda esta aí? — Vince grita segundos depois


que a música para, e sua mão bate nas cordas para pará-las.

Mantenha-os no escuro ou traga-os à luz, Bristol? O que será?

Abro a porta do estúdio, minha mente de repente justificando


minhas ações, reconhecendo que o estúdio de gravação está escuro
e, portanto, não estou exatamente tomando uma decisão concreta
ainda.

— Noah se foi. Foi buscar a filha dele na escola, embora ele


não pareça ter muito mais de vinte anos.

Vince levanta a cabeça lentamente, aquele sorriso torto não


fazendo nada para diminuir a intensidade nas profundezas dos
seus olhos, mas definitivamente ilumina a sala.

— Quarenta, mas sim, você nunca saberia — ele diz e abaixa


a guitarra, cruza os braços e se recosta na cadeira. Ele me estuda
daquela maneira desarmante que ele tem. Do jeito que ele fez
quando o conheci durante o meu primeiro ano, parece que seu
olhar está passando por cada centímetro seu. Isso faz você ficar
um pouco mais empolgada e esperar que ele goste do que vê. —
Esta é uma boa surpresa. Achei que você estava me ignorando a
todo custo.

— Eu nunca disse isso.

— Você não precisava. Você esqueceu, eu conheço você.

— Você me conhecia. Passado.

Eu tenho tempo suficiente para pegar o seu aceno de cabeça


antes de me virar para olhar a sala. Sua risada me segue quando
eu faço. É um estrondo suave que eu juro que posso sentir em meu
peito, mesmo que isso seja impossível.

— Você pode falar o quanto quiser, Shug, mas isso não


significa que nenhum de nós vai acreditar.

Passo os dedos sobre as teclas do piano, em seguida, vou até


a bateria do outro lado da sala e bato minha unha contra ela.

Vince se move do seu assento porque posso senti-lo atrás de


mim, observando, seguindo e esperando.

— Fui convocada para dar uma atualização sobre o que vocês


estão fazendo e como estão as composições. McMann precisa ser
mantido informado.

Quando Vince não responde, me viro para encontrá-lo a


poucos metros de mim, as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans
e os ombros apoiados contra a parede atrás dele.

— O que? — Eu pergunto.

— Você não precisa mentir para entrar aqui. Não há problema


em admitir que você sente minha falta e precisava me ver de novo.
— Há aquele sorriso quando os seus olhos me percorrem
novamente.

— Sim, é exatamente isso — eu digo ironicamente.

— Bem vamos ver. Você poderia ter pegado o telefone e ligado


ou enviado uma mensagem para obter sua resposta, mas não fez.
Em vez disso, você veio aqui. — Ele dá de ombros. — Isso indica
muita coisa para mim.

— Sim, porque a última coisa que eu queria fazer hoje, quando


finalmente tive alguns momentos para mim, tive que sair da minha
aula de spin vinte minutos antes e correr até aqui para tomar conta
de você.

— Voltaremos a isso em um segundo.

— O que isso significa? — Eu pergunto, já irritada com sua


indiferença.

— Você poderia ter falado ao bom e velho McMann se ele


quisesse ver como eu estava, ele poderia ter vindo aqui
pessoalmente.

— Então não haveria necessidade de mim e do meu trabalho,


então não seria o melhor conselho.

Ficamos a alguns metros de distância e simplesmente olhamos


um para o outro, quase como se estivéssemos nos preparando para
uma guerra que está chegando, mas da qual não sabemos.

— Verdade — ele finalmente diz. — Mas tenho coisas melhores


para falar do que Xavier McMann. Como aquela sua aula de spin.

— O que tem? — Agora é a minha vez de rir.


Ele desencosta da parede com o seu jeito sem pressa
característico. — Isso fica muito bem em você.

— O que?

— A legging. O top apertado. — Ele emite um gemido selvagem


no fundo da sua garganta que apaga cada grama da minha
autoconsciência. — Jesus, você está tentando me matar?

— Tanto faz — eu digo com um aceno de mão e um rubor nas


minhas bochechas, mais do que agradecida por hoje, de todos os
dias, ter decidido usar minha legging de super suporte que segura
tudo onde deveria estar.

Mas isso não me faz sentir menos constrangida com os seus


olhos avaliando cada centímetro meu e o que eu sinto são falhas.

— Não importa — ele murmura. — Você sempre pode derrubar


um homem de joelhos. É bom ver que algumas coisas não
mudaram, embora você continue dizendo que sim.

— Bajulação não vai te levar a lugar nenhum.

Ele ri novamente. — Isso ainda está para ser visto.

Tenho uma dúzia de piadas na ponta da língua e, no entanto,


todas parecem ter morrido como as partículas de poeira deixadas
sufocadas na escuridão.

O silêncio se instala. A eletricidade estala entre nós como se


fosse um fio energizado. Se eu posso sentir isso, então com certeza
sei que Vince pode. O olhar em seu rosto, o músculo em sua
mandíbula pulsando, seu olhar estreito, suas pálpebras pesadas,
me diz isso. Os nervos dançam com os arrepios que parecem
sempre presentes quando ele está por perto.
Quão tola fui de pensar que a luz fraca me permitiria ficar no
limbo sobre o que fazer quando se trata dele?

Limpo minha garganta. — Olha, eu tenho pensado muito sobre


isso.

— Sobre o que?

— Sobre como podemos trabalhar juntos, apesar da nossa


história.

— Eu não sabia que nossa história era um problema.

— Não é isso. É sim. — Eu abaixo minha cabeça e respiro


fundo antes de encontrar os seus olhos e levanto minhas mãos. —
Eu quero uma trégua.

— Uma trégua? — Suas sobrancelhas se erguem. — Eu não


sabia que estávamos brigados.

— Não estamos... é apenas...

— É só que você ainda me quer, e esta é a sua maneira de


justificar por que está com raiva de si mesma por se privar de mim.

— Nem sempre é sobre você — eu rosno, frustrada antes de


me reagrupar. — Temos o hábito de cair de volta no que éramos...

— Só uma vez.

— É a única vez que nos vemos desde o colégio — eu digo.


Apenas uma vez. — Isso tem que permanecer profissional. Tenho
um trabalho a fazer.

Ele balança a cabeça com humor em seus olhos, o que só serve


para me frustrar ainda mais. — Então não haverá desgaste para
você? Sem te pressionar contra a parede e te beijar sem fôlego?
Sem ver se você ainda gosta de ser beijada naquele ponto na parte
interna da sua coxa? Sem conhecer a atual Bristol Matthews? Sem
nada? — Ele pergunta enquanto eu mudo meus pés. — Apenas
uma simples trégua.

— Sim. Uma relação de trabalho em que nos beneficiamos


mutuamente.

Ele dá uma risada.

— Profissionalmente — eu advirto, apesar da minha mente


voltar para aquela noite em que estivemos juntos. — Preciso
atualizar o meu chefe. — Ele apenas continua me olhando e sorri
como se soubesse onde estão os meus pensamentos, me viro e
estudo os discos de ouro que revestem as paredes porque são mais
fáceis de olhar do que olhar para ele. — Como vai a escrita? Se
você está tendo algum problema ou tem algum pedido para Will e
Jasmine? Se você viu os cortes preliminares do clipe Heart of Mine
e tem algum feedback?

— Eu adoro quando você é toda profissional.

— Eu sou toda profissional porque é o meu trabalho ser.

— Sabe o que isso me lembra?

— Nenhuma pista. — Leio os nomes nas placas de cada disco.


A pop princess. A Latin superstar. A boy band who’s endured.

— Tutoria. Seu primeiro ano. Meu segundo ano. Eu poderia


me preocupar menos…

— Não poderia me importar menos. — Eu rio. — Claramente


eu não fiz um bom trabalho ensinando você.
— Não, você sabia, mas como eu disse a você, quando eu iria
saber a tabela periódica ou o uso correto do particípio passado ou
o que quer que seja chamado? É que eu estava mais distraído com
minha tutora bonita e certinha. Ela se sentava lá todos os dias
tentando ajudar um garoto que não conseguia se concentrar
porque estava muito ocupado tentando descobrir como fazer com
que ela o notasse.

Suas palavras fazem com que um sorriso se espalhe em meus


lábios que ele não pode ver.

— Eu nunca carreguei o meu computador, então fui forçado a


sentar ao seu lado e usar o seu. Posso ter reprovado em alguns
testes de propósito, então tive que continuar vendo você. Eu posso
até ter deixado você louca tocando uma batida na mesa com
minhas mãos para que você fosse forçada a estender a mão e
agarrar os meus pulsos para me impedir. — Ele ri. — E aquele
toque pode ter deixado esse garoto de dezesseis anos duro como
uma pedra debaixo da mesa onde estávamos sentados juntos.

As memórias são agridoces. O fato de ele se lembrar delas


ainda mais. E apesar de tudo o que aconteceu, elas são tão boas.

— Então, um dia, em The Catcher in the Rye...

— To Kill a Mockingbird — eu corrijo.

— Eu me inclinei e te beijei. — Suas últimas palavras são


sussurradas em meu ouvido por trás. O calor da sua respiração
faz cócegas em minha bochecha. Eu tenho que me conter
ativamente para não me encostar nele enquanto as boas memórias
me atacam.
Eu fico focada nos discos de ouro na minha frente. Um ícone
do rock. Um cantor de jazz.

— Nós éramos bons juntos, Shug. O que aconteceu conosco?

— Você foi embora. Lembra? — Eu tento manter minha voz


leve, não afetada, mas não sou nada.

Uma artista de hip-hop.

— Não, não depois do ensino médio. Quero dizer, a última vez.


— Ele coloca a mão no meu quadril. Seus dedos ásperos como
guitarra fazem cócegas tão suavemente enquanto descansam na
minha pele entre o meu top e a minha legging. O calor do seu corpo
está nas minhas costas.

Foco, Bristol. Obtenha as respostas que McMann deseja. Saia


prontamente. Salve-se da mágoa que é Vince.

— Como deixamos isso escapar de nós? Como nos afastamos


de nós?

— Eu não sabia que já existiu um nós?

Uma banda de rock chamada Bent. Uma foto dos quatro —


Hawkin, Vince, Rocket e Gizmo — ao lado do disco de platina na
moldura.

Lembre-se de como ele machuca.

— Por que você saiu da banda? — Eu pergunto, agarrando-me


à palha, à minha sanidade, de ceder à sua voz sedutora e aos
sentimentos que não posso apagar.

Sua mão fica tensa na minha barriga. É breve, mas eu sinto


isso. — Por que eu te deixo nervosa?
— Você não deixa. E eu lhe fiz uma pergunta.

— Sim, e perguntei primeiro, mas você está evitando essa


discussão. Parece que é algo que você domina.

— Ei... — Mas quando me viro para encará-lo, para discutir,


me encolho, porque agora estamos cara a cara e bem dentro do
espaços pessoal um do outro.

Beija-me.

No minuto em que o pensamento atinge a minha mente, dou


um grande passo para trás, como para me castigar. Vince estende
a mão para me impedir de cair contra a parede. Imediatamente
dou de ombros para fora do seu alcance.

— Não me toque. — É minha única linha de defesa e não


funciona porque suas mãos estão de volta em meu bíceps e sua
boca está a centímetros dos meus lábios. — O que você está
fazendo? — Eu pergunto quando ele não se move.

— Estou deixando você se acostumar com a ideia de que vou


te beijar. É inevitável, não é? — Ele se inclina para frente e roça os
seus lábios levemente contra os meus. É o mais leve dos toques,
mas há beleza em sua simplicidade. Uma ternura tão inesperada
de um homem que é tudo ou nada. Uma corrente subjacente em
ambas as nossas respirações instáveis que o segue. Uma
queimação passa pelo meu corpo querendo mais, ter mais e mais.

— Eu não posso… nós não podemos fazer isso — eu consigo


dizer. Minha mente corre a um milhão de milhas por hora
enquanto os meus pés não querem se mexer. — Nós decidimos
uma trégua. Nós concordamos…
— Você decidiu. Eu não concordei com nada. — Ele estende a
mão e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. —
Você sempre foi viciante, Bristol, e isso é ruim para um homem
com uma personalidade viciante como a minha. Um gosto nunca
é o suficiente.

Dê um passo para trás.

— Vai ter que ser. — Meu maxilar está tenso. Minha


determinação é frontal e central. Trégua. Trégua. Trégua. Desvia.
Desvia. Desvia. — Por que você deixou Bent?
Vince
— Tudo bem. — Eu deixo um lento sorriso rastejar em meus
lábios. Trégua, minha bunda. Ela me quer. Está claro como a porra
do dia.

Tanto para a minha determinação de manter minhas mãos


para mim mesmo, mas foda-se se não é difícil quando ela está
vestida assim.

Então, vou agradá-la um pouco. Vou jogar o jogo dela de não


me querer quando tudo nela diz que ela quer. Então vou pegar o
que eu quero. — Vamos jogar do seu jeito. E depois vamos jogar o
meu.

Eu quero mais desses lábios. Do gosto dela. Apenas dela.


Definitivamente ainda mais do que o garoto de dezesseis anos fez
naquele primeiro beijo, anos atrás. E com certeza mais do que o
meu eu de 23 anos fez da última vez.

Esqueci como era ter que trabalhar para conseguir uma


mulher. A emoção da perseguição. O desespero pela vitória.

Ironicamente, sempre foi Bristol que eu tive que perseguir.

A mulher parada diante de mim com as bochechas coradas e


os olhos ariscos enquanto ela tenta negar que me quer tanto
quanto eu a quero.
— Não há como jogar nada além de tocar o violão — ela diz.

— A senhora tem piadas.

— A senhora tem um trabalho a fazer.

— Ah sim. — Eu observo sua bunda enquanto ela atravessa a


sala. É difícil não fazer isso, especialmente quando ela se move
para evitar olhar para mim. — As perguntas sem fim. Cristo. Diga
a McMann que a escrita é o que é. Minha musa está em silêncio,
ou talvez ela tenha morrido. Quem diabos sabe. A arte é trágica ou
algo assim. Sem dúvida, ele ouvirá aquela frase de efeito e fará com
que as pessoas corram para tentar consertar coisas que não
podem ser consertadas.

— Parece promissor. — Ela olha por cima do ombro e levanta


as sobrancelhas em desafio.

— Um documentário não é exatamente minha praia. Você sabe


disso. Eu sei. Eles sabem disso. Mas, aparentemente, é uma
necessidade polir minha imagem manchada. Uma imagem que eu
poderia dar a mínima.

— Você se importa — ela diz e se vira para mim, aqueles olhos


inteligentes dela me estudando. Olhando mais de perto do que eu
quero. — Você se importa mais do que deixa transparecer.

— Não preciso ser o queridinho da mídia. Nunca fui. Nunca


serei.

— E mesmo assim você ainda se importa.

— Apenas na medida em que as pessoas ainda compram


minha música.
— É por isso que você está sozinho? Você precisa conseguir
um novo sucesso?

— O que isso significa?

— Significa que você deixou algo bom uma vez antes para
perseguir o sucesso. Parece apropriado que você faça o mesmo
novamente.

Aí está a escavação. O lembrete sutil de que me afastei dela,


mas sem reconhecer minha falta de opções. Foram os punhos do
meu pai, sua desaprovação e ficar com ela, ou deixar tudo para
trás e tentar fazer algo por mim mesmo.

Não há correlação entre aquela época e o que aconteceu com


Hawkin.

Nenhuma conexão além do meu pai fodendo as coisas para


mim mais uma vez.

Mas ele não pertence a este momento. Na minha cabeça. Não


quando a mulher em quem pensei mais vezes do que nunca ao
longo dos anos está diante de mim, tentando-me com sua
insolência, sua coragem e um corpo que estou mais do que ansioso
para tocar.

É incrível a facilidade com que você pode desconsiderar o


quanto está conectado a alguém quando há muito mais do que
ruído em sua vida. Mas nunca me esqueci de Bristol. Ela é tudo que
um homem sã gostaria. Ela é o prêmio máximo, mas nunca estive
na disputa. E nunca estarei.

— Vou te dar aquela cutucada, Shug. Mas por que você pode
trazer o passado à tona e eu não? — Eu dou alguns passos em
direção a ela, o desejo de tocá-la mais forte a cada segundo que
passa. — Quero dizer, se vamos lá, então vamos falar sobre a
última vez que nos vimos.

Ela olha para mim com o que parece ser um milhão de


pensamentos não ditos em seus olhos que eu gostaria que ela
expressasse. — Não há o que falar.

Mentirosa.

— Não?

— Sabíamos no que entramos naquela noite. Fizemos de bom


grado. Fizemos isso sabendo que iríamos embora com um pouco
mais de encerramento do que antes. Eu acordei. Você se foi. — Ela
engole com força, mas mantém o queixo erguido enquanto suas
palavras me atingem onde dói. — Você deixou mais do que claro
que isso é tudo. Atender o telefone era demais para você. Eu não
era apenas uma groupie, você sabe.

A mágoa em sua voz se esconde sob a sua coragem. —


Ninguém nunca disse que você era.

— Você não precisava dizer isso, Vince. As ações falaram alto


o suficiente.

Eu suspiro. O que eu esperava que ela pensasse? — Eu tive os


meus motivos. Aqueles que…

— Guarde-os. Eu não ligo.

— Isso não é justo. — Porra. Eu passo a mão pelo meu cabelo,


querendo uma bebida, mas precisando ter essa conversa com ela.
Franzo os lábios e balanço a cabeça. — Culpado da acusação. —
Eu mantenho minhas mãos para cima. Se ao menos ela
entendesse o porquê por trás disso. — Afastar-me é algo que pareço
ter dominado bem.

— Nós concordamos em trégua. Não importa mais. — Seu


sorriso é trêmulo, mas ainda assim. — Viu como isso funciona?
Quão fácil é?

Ela diz as palavras, mas pela minha vida, não acredito nela
mais do que acredito em mim.

— Nada é tão fácil assim, Shug.

Nossos olhares se sustentam. — Verdade. — Ela ergue o


queixo para o disco de platina na parede de Make Me Fall, o single
do enorme sucesso de Bent. — Por que você deixou Bent?

— É uma longa história. — Eu aponto para o meu violão. — E


McMann quer um progresso que eu não posso fazer se estiver
mandando.

— Você é tão cheio de merda. Você mesmo disse que sua musa
está morta. — Ela ergue as sobrancelhas.

Cristo. Nós realmente temos que fazer isso? Há coisas muito


melhores que eu preferiria estar fazendo do que falar sobre essa
merda.

— Como eu disse, é uma longa história.

— A maioria é. — Ela dá de ombros. — O que aconteceu?

— Hawke e eu brigamos. Palavras foram trocadas. Ameaças


foram feitas. Muitas coisas foram ditas que não podem ser
desditas. Feliz?
— Não, porque não parece que você está. Por que vocês
brigaram?

Nada. Tudo.

Já me fizeram essa pergunta centenas de vezes e nunca quis


falar sobre isso. Por que eu quero falar sobre isso com ela?

Coloco minhas mãos atrás do meu pescoço e suspiro. — Olha.


Eu estava em um lugar ruim e disse um monte de merda. Arrumei
minha cama e agora estou deitado nela.

— É fácil retirar as palavras. Ainda mais fácil dizer que sente


muito pelo que fez.

Encontro os seus olhos e sinto que agora ela está falando sobre
mais do que apenas Hawkin.

— É complicado. — Minha resposta representa a luta e como


deixei as coisas com ela da última vez. Me pergunto se ela sabe
disso.

— Muitas vezes a miséria é.

— Quem disse que sou miserável?

Ela cruza os braços sobre o peito. — Você esqueceu que eu


também te conheço.

E não é esse o ponto principal? Ela me conhece e, por mais


que eu goste disso, também significa que ela pode ver através de
mim.

— Você tem razão. Você conhece. E isso significa que você sabe
que a única coisa em minha mente agora é como eu não dou a
mínima para tréguas.
— O que a trégua tem a ver com isso?

— Nada. Não quando tudo o que você quer fazer é falar sobre
merdas que não importam e fico aqui obcecado com o quanto eu
quero te beijar de novo. Seu decote fica espetacular com os braços
cruzados assim, e estou desesperado para parar de falar sobre
besteiras fúteis.

— Vince. Estou falando sério. Claramente você está...

— Estou falando sério também. Eu agradei você. Respondi


suas perguntas. O tempo de estúdio é precioso e estamos
desperdiçando-o, então agora é hora de voltar ao que quero falar.

— E isso é sobre o que?

Jesus. Ela ainda tem que perguntar? Dou três passos para a
frente e agarro a nuca dela. Já tive muitas mulheres, não vou
mentir. Mas sempre houve algo... mágico sobre Bristol. Sua
inteligência, sua beleza e sua presença. Parece que sempre que
estou perto dela, tudo que consigo pensar é em querer ela. E digo
as palavras que não precisam de mais explicações. — Isso. Apenas
foder isso — eu digo antes de inclinar os meus lábios sobre os dela
e reivindicá-los.

Seu suspiro assustado me dá acesso, e deslizo minha língua


entre os seus lábios para encontrar a dela.

Porra.

Meu gemido diz tudo enquanto ela reage e cede ao desespero


de um beijo que parece que esperamos há sete anos.

Eu ainda não sou bom o suficiente para ela, mas foda-se se eu


não vou aproveitar cada segundo desse beijo.
Tem sido muito tempo.

Muito tempo sem o gosto dela. Aquele gemido suave no fundo


da sua garganta. A cravada de suas unhas em meu bíceps. A
sensação do seu corpo contra o meu.

Eu pego sem pedir. Língua, dentes e lábios. Dedos


emaranhados em seu cabelo.

Já querendo mais.

Já precisando de mais.

— Não. — Bristol pressiona o meu peito e me empurra para


trás. — Não posso. Não podemos.

— Nós queremos. Nós podemos. E faremos novamente. — Eu


estendo a mão para ela novamente e ela balança a cabeça com
força, com os olhos arregalados.

— Não. Eu vou ser demitida.

Eu bufo. — Você é tão cheia de merda.

— Não. Estou falando sério. — Ela anda de um lado para o


outro da sala. Suas mãos se movem tanto quanto os seus pés. —
Lilah Glasnow foi demitida no mês passado. Ela dormiu com um
cliente. McMann descobriu.

— Como se eu desse a mínima para Lilah, quem é ela?

— Mas você dá a mínima para mim, então isso deveria


importar. Quero dizer...

Jesus. Ela é linda quando divaga, e eu definitivamente não


estou reclamando de observar o balanço dos seus quadris
enquanto ela anda, suas palavras saindo.
— Bristol. Pelo amor de Deus, pare. — Eu caminho até ela e
bloqueio o seu caminho. Ela tenta se esquivar para a direita e eu
a impeço. Então a esquerda e ela colide diretamente comigo. Peitos
contra o meu peito. Seus lábios se fecham mais uma vez. — Beijar
não é dormir, então estamos bem.

— Isso não é uma piada. Estou falando sério.

— Eu também. Foda-se McMann. Como ele saberia que nos


beijamos? — Precisamos superar esse obstáculo, Shug, porque
pretendo fazer muito mais do que apenas beijar quando se trata de
você. — Quem vai contar a ele?

— Ele simplesmente saberá. Alguém vai dizer alguma coisa e...

— Venha aqui — eu digo.

— Absolutamente não. Você não manda…

— Bristol.

Ela não se mexe, ela nunca foi de receber ordens, mas seus
olhos me acompanham, me aproximo dela e fecho a porta do
estúdio. — Viu? Agora ele não pode saber. Fácil.

— Eu entendo que tudo isso é divertido para você, mas isso é


minha...

— Desculpa? Justificativa? Porque de onde estou, você gostou


daquele beijo tanto quanto eu. Parece que toda vez que você cede
o mínimo, você luta para justificar por que não deveria. Nós dois
sabemos que você quer isso tanto quanto eu. Primeiro foi a trégua
e agora é McMann. — Eu dou de ombros. — Se você não me quer,
apenas diga, e irei embora.
Observo os seus lábios. Eu espero que eles me neguem.
Segundos se passam e as nossas respirações continuam sendo o
único som na sala.

— Achei que o tempo de estúdio era precioso — ela finalmente


diz. Eu não quero você, nunca sai dos seus lábios.

Solto uma risada. É tudo o que posso fazer porque quero


prendê-la contra a parede atrás dela e derrubar aqueles discos de
ouro. — Isso é. Acho que posso abrir uma exceção desta vez.

Ela balança a cabeça. — Você não entende. Você nunca jogou


de acordo com as regras, então por que eu esperaria que você
fizesse isso agora?

— Tudo bem — eu finalmente digo, embora com muita dor. —


Podemos jogar de acordo com as regras.

Seus olhos brilham e sua boca se choca em um O. Ela quer


dobrá-los tanto quanto pretendo quebrá-los.

Perfeito.

— Esqueci como é difícil para você sair fora das linhas, Shug
— eu murmuro, me aproximo dela e traço a ponta do dedo sobre
sua clavícula. Ela puxa uma respiração, e é tudo que eu preciso
ouvir.

Eu a li direito.

Ela quer isso.

Ela me quer.

Mas ela não sabe ceder ao que quer.

Graças a Deus, porra, eu sei como fazer isso por ela.


— Então vamos seguir as regras. — Eu me inclino, meus lábios
bem em seu ouvido e o seu perfume em meu nariz. — Há muita
coisa que podemos fazer.

— Vince. — Meu nome é parte apelo, parte protesto e um


monte de área cinzenta no meio.

Eu amo áreas cinzentas.

Eu me inclino para trás. — McMann diz que não podemos


dormir juntos. Ok. Então isso significa que o sexo está fora de
questão. Importa-se de definir esse termo para mim? Sexo?

Ela me olha com os olhos arregalados, lábios entreabertos e


bochechas coradas. Esse olhar por si só é o suficiente para me
deixar duro.

— Não tocar.

— Não? — Eu a estudo. — Então, se eu fizesse isso, estaríamos


quebrando as regras? — Passo as costas da minha mão pelo seu
braço, e deslizo os meus dedos sobre sua barriga, antes de agarrar
o seu quadril e puxá-la contra o meu pau. Não há dúvidas sobre o
que ela está fazendo comigo. Meu pau duro como pedra, confinado
pelo meu jeans, fala por si.

— Sim. — Ela está sem fôlego. Afetada. — Não tocar.

— Hum. — Eu mordo o meu lábio inferior, a dor é uma algema


em minha contenção. — Não seria comovente se você deslizasse os
seus dedos entre suas coxas e eu observasse. Quero dizer, isso
definitivamente não seria sexo, certo? Seria eu curtindo sua
companhia, só isso.

— Não podemos…
— Mas nós não estaríamos nos tocando. Assim como se
enquanto você estivesse espalhada aqui, com a bunda naquela
mesa de som, coxas abertas para que eu pudesse ver essas suas
unhas vermelhas trabalhando sobre o rosa da sua boceta, e eu
tirasse o meu pau desse jeans e acariciasse enquanto eu assistia...
Quero dizer, isso ainda seria colorir dentro das linhas, não é?

Ela emite um som que não consigo decifrar, mas aposto que é
mais do lado do desejo do que da negação.

— E se eu roçasse os meus lábios nos seus — eu digo, de forma


que com cada palavra, nossos lábios compartilhem apenas um
sussurro de um toque — e então passasse minha língua sobre os
seus lábios assim, me pergunto se você consideraria essa
coloração bem nas linhas ou se está do lado de fora.

— Vince.

— Sim, Shug? — Eu murmuro, meus dedos coçando para


tocar e o meu corpo implorando para tomar.

— Eu quero...

— Ou o contato pele a pele é sua definição de toque? Eu


poderia fechar minha boca sobre o seu mamilo assim — eu
murmuro com a boca cheia — e tecnicamente não estaríamos nos
tocando.

Mas sua cabeça cai para trás e o arco do seu peito


pressionando mais contra minha boca me diz que estou tão perto
de quebrar essa vontade dela.

— Eu não posso — ela geme.


— Ah, mas você acabou de dizer que quer, e eu com certeza
também quero — eu murmuro e caio de joelhos na frente dela, e
faço exatamente a mesma coisa que fiz com o seu peito, mas desta
vez com sua boceta. — Espere aí, Shug. Meu cabelo está aqui para
segurar, se você precisar.

Ela grita quando coloco uma de suas pernas por cima do meu
ombro. Imediatamente ela agarra o meu cabelo em busca de
equilíbrio ao mesmo tempo em que fecho minha boca sobre ela.

Eu respiro fundo, me afogando em tudo o que é Bristol


Matthews... tudo que é menos o maldito gosto dela.

Mas eu trabalho minha língua sobre e contra o tecido. Traço


as linhas dos seus lábios quando ela começa a inchar e sua calça
fica molhada.

Ela empurra sua boceta na minha cara, nenhum homem


jamais reclamaria disso, e um gemido suave flutua pelo estúdio
enquanto faço o melhor que posso, dadas as restrições.

Minhas bolas doem ferozmente com um desejo que não sinto


há uma eternidade. Se eu pudesse libertar o meu pau e acariciá-
lo enquanto a segurava, eu faria, mas eu só tenho duas mãos, e
foda-se se eu vou desistir de qualquer pingo de concentração
agora.

— Vince. — Meu nome é a maldita música mais sexy para os


meus ouvidos. Farei o que for preciso para ouvi-la novamente.

Seu perfume fica mais doce à medida que ela fica mais
excitada. Enquanto eu a trabalho em um frenesi. Seus dedos
apertam com mais força e o meu pau fica mais duro.
Foda-se sua coloração dentro das linhas, Shug.

Foda-se suas roupas.

Foda-se suas regras.

Mas eu prometi jogar por elas, para ela, só desta vez. Da


próxima vez será para o bem.

Ela grita quando, sem aviso, solto sua perna, puxo-a contra
mim e fecho minha boca sobre a dela.

— Isso. Só isso — eu murmuro novamente antes de mergulhar


de volta, desesperado para provar muito mais do que apenas sua
língua.

Quero você.

Agora.

Desesperadamente.

— Vince. Não podemos. — Ela diz as palavras, mas agarra o


meu pau.

O gemido gutural que enche os meus ouvidos deve ser meu,


mas diabos se eu me lembro de emiti-lo porque estou muito
ocupado tocando. O cabelo dela. Sua bunda. Seu peito. Ela…

A batida na porta do estúdio me traz de volta à realidade.


Pessoalmente, não quero estar nem perto da realidade, já que não
inclui a porra da Bristol no chão.

— Oh meu Deus — ela diz, se afastando de mim e arrumando


suas roupas freneticamente.

Eu a observo, rindo. Como eu esqueci como ela fica nervosa


quando pensa que vai ter problemas? É adorável.
— Pare de olhar para mim — ela repreende em um sussurro.
— Ele vai saber o que estávamos fazendo. Vá atender a porta.

Noah pode esperar um segundo enquanto minha ereção se


dissipa. Isso, e assim posso roubar mais um beijo dela.

— Eu amo tréguas — eu murmuro enquanto os meus lábios


encontram os dela.

— Não. — Ela empurra as mãos no meu peito, lutando contra


mim e eu rio contra os seus lábios.

— Relaxa. Tenho certeza de que muitas coisas piores


aconteceram neste estúdio antes. — Dou um passo para trás e
pisco enquanto a levo mais uma vez. — Você pode querer se sentar
na cabine por alguns segundos. Esperar essa mancha molhada
que deixei na sua calça secar.

Ela olha para baixo e depois para cima, com os olhos


arregalados e cheios de pânico antes de correr para a cabine para
se sentar no sofá e cruzar as pernas, segundos antes de eu
destrancar a porta.

— Ei. Desculpe por isso, Noah... — Mas, quando abro a porta,


não é apenas Noah que está parado ali. Eu tusso uma risada. —
Xavier. Bem, isto é uma surpresa.

Conhecendo Bristol, ela provavelmente está tendo a porra de


um ataque cardíaco ao ouvir o nome dele. Quando estendo a mão
para apertar sua mão, saio sabendo que um minuto atrás aquela
mesma mão estava em Bristol.

— Não tenho recebido nenhuma atualização, então pensei em


vir sozinho para ver como as coisas estão indo.
— Tudo bem aqui? — Noah pergunta enquanto entra na
cabine e acena para Bristol.

— Sim. Porra. A porta trancada. É um hábito. Faça isso sem


nem pensar. — Eu sorrio através da minha mentira para Xavier,
que ainda está parado na porta. — Tive que instalar essas
fechaduras com código em minha casa porque ficava me trancando
do lado de fora.

— Bom. Ótimo — Xavier diz, passando por mim e entrando na


cabine. — A escrita está saindo… Matthews? Você está aqui.

Graças a Deus pela luz fraca ou pelas bochechas coradas,


cabelo despenteado e sorriso nervoso de Bristol podem nos delatar.

— Claro, que estou aqui. Não é isso que você queria? Para eu
relatar uma atualização? — Ela pergunta.

Ele a estuda por um instante. Eu posso ver o seu pulso


batendo na veia em seu pescoço.

— E, no entanto, da última vez que verifiquei, não recebi


nenhuma atualização.

Esse cara de merda e o seu ego. Um idiota. — Sim. O serviço


de celular aqui é péssimo, com paredes à prova de som e tudo.
Além disso, eu precisava da ajuda dela — eu explico antes que ela
possa falar.

Seja bom. Não provoque o filho da puta. Não é o seu trabalho


que está em jogo. Pinte dentro das malditas linhas.

Tente, pelo menos.

— Tenho uma mensagem digitada para enviar a você — ela


diz, segurando o seu celular com o que parece ser uma longa
mensagem da nossa distância — mas não consegui enviar. Achei
que ajudar Vince era mais importante.

Tudo o que ela precisa é de um bastão de chicotadas e uma


reverência para ajudar com o seu complexo de deus.

— Ajudar? Como assim? — Xavier pergunta, com os olhos


estreitos e os braços cruzados.

— Gravando a sessão para mim. Parando e começando a cada


tomada. Você sabe, apenas no caso de algo bom acontecer para
que eu não esqueça o que é. Pode não funcionar para a música
atual, mas isso não significa que não funcionará para a próxima.

Noah se ocupa, seu sorriso malicioso escondido de todos


menos de mim. Ele sabe que eu sou cheio de merda, mas joga
junto.

Xavier olha para ela novamente. — E eu aqui estava com medo


de que Matthews estivesse deixando a bola cair e não atendendo
às suas necessidades.

Eu tenho muitas necessidades, Xav, e agora cada uma delas


tem a ver com aquela mulher ali.

— Sem reclamações por aqui. — Eu rio. — Afinal, o tempo de


estúdio é precioso.
Bristol
Sete anos atrás.
Nunca me senti mais ingênua em minha vida do que neste
momento.

As mulheres circulam ao meu redor. A maioria está meio


vestida com saltos altíssimos. Algumas estão bêbadas, falantes ou
ambas. Todas estão perto da saída dos bastidores esperando por
um breve vislumbre de qualquer um dos membros da banda Bent
na esperança de que eles saiam por aquelas portas e façam a
caminhada até o ônibus da turnê.

E nesse vislumbre, não tenho dúvidas de que elas esperam ser


vistas, notadas e depois escolhidas na multidão para se juntar a
eles durante a noite.

Não estou protegida de forma alguma, mas dizer que não estou
surpresa com os comentários que estão sendo feitos ao meu redor
é um eufemismo.

Conseguir um autógrafo é a última coisa na cabeça dessas


mulheres.

Ouvi dizer que ele é incrível na cama. Eu planejo descobrir.

Se eu piscar para eles quando estiverem passando, você acha


que isso ajudaria?
Calcinhas não são permitidas. Eu quero que ele veja como estou
molhada para ele através das minhas calças.

Achei que conseguir o ingresso do show e dirigir quatro horas


até o local seria a parte mais difícil desta noite. Claro, isso me
custou algumas das minhas economias, mas ver Vince novamente
era tudo em que eu conseguia pensar.

O show por si só já valeu a pena. Bent era mais do que


empolgante, mas, verdade seja dita, eu não estava exatamente
prestando atenção. Meus olhos estavam cem por cento fixos em
Vince.

Ele era... incrível. Fantástico. Hipnotizante. Tudo isso e mais


alguns considerando que eu conhecia o garoto que mexia em seu
violão e corava quando estragava um acorde. Vê-lo tão confiante e
brincando com a multidão era tudo o que eu esperava que fosse.

Mas agora estou aqui. Fora da porta dos fundos. Uma com
centenas de mulheres competindo para serem vistas e não
exatamente certa de como fazer.

Já tentei falar com os seguranças na porta. A única coisa que


sei é que ele mudou de número em algum lugar nos últimos anos.
Foi a sua maneira de romper com o seu passado?

Não tenho pretensões de como essa conversa será além do


forte desejo que tive de me dizer que precisava estar aqui. Que eu
precisava vê-lo apenas para saciar minha curiosidade e encontrar
um pouco de fechamento em uma ferida que há muito cicatrizou.

A questão é... como exatamente eu faço isso?


A confiança que eu tinha em minha aparência, minha roupa
nova, meu cabelo recém-cortado e colorido, meu bronzeado
perfeito, desaparece quando observo todas essas mulheres e os
seus corpos incríveis. Eu só poderia desejar ter confiança para
usar essas roupas minúsculas que elas estão usando.

É disso que Vince gosta agora? Este é quem ele é? Isso


realmente importa, Bristol? Isso não é sobre sexo. Certo?

— Tentando entrar nas calças dele agora que conseguiu, hein?


Não se deixe enganar pelas luzes. Ele ainda é o mesmo perdedor
fodido que era naquela época. Talvez ainda mais agora. Não perca
o seu tempo. Ele não vale a pena.

O leve insulto em suas palavras, a letargia inata, o desdém


pelo seu filho... foi horrível. O fato de eu ter que implorar a esse
homem... Por alguma razão, ele me deu o número de Vince e, até
agora, eu não tinha certeza se algum dia o usaria. Mas eu preciso
tentar. Não posso deixar esse momento passar em branco.

Eu disco o número que Deegan Jennings me deu e espero ele


chamar, chamar, até que uma voz eletrônica atende. Porra. Então
olho para o meu telefone me perguntando o que enviar. Demoro
muito para descobrir. Digitei e apaguei várias vezes, mas, no final,
acho que ser mais direta é melhor.

Eu: É Bristol. Estou aqui na arena. Na porta dos bastidores. O


show foi ótimo. Eu sei que você está ocupado, mas esperava vê-lo
por alguns minutos. – Shug.

Aperto enviar e surto silenciosamente. Acabei de jogar a única


mão que tenho e pode não ser suficiente. Agora Vince detém todas
as cartas.
Os minutos se arrastam enquanto minha esperança de vê-lo
desaparece.

A porta se abre e todos se voltam para as cordas enquanto um


homem alto de camisa branca, jeans rasgado e um boné puxado
sobre sua testa caminha em nossa direção. Ele começa a apontar
para mulheres diferentes e, em seguida, aponta o polegar em
direção à porta de onde acabou de sair. — Você. E você. — Ele fica
na ponta dos pés e olha além da fila da frente, onde estou enquanto
as duas primeiras mulheres gritam e quase correm em seus
calcanhares em direção à porta. — Você, você e você — ele
continua, olhando para mim. — É isso.

Cada parte de mim esvazia enquanto tento chamar sua


atenção. — Ei. Eu preciso ver o Vince.

— Assim como todas, querida. Deixe-me adivinhar, você o


conhece pessoalmente.

— Eu conheço. Eu prometo. Diga a ele que a Shug está aqui.

Uma rodada de risadas vem das mulheres bloqueando a visão


na minha frente, e então há um silêncio que não consigo
compreender.

— Shug? É você?

A voz de Vince soa seguida por suspiros das mulheres ao meu


redor quando ele aparece.

— Vince. Estou aqui. Sou eu. — Minhas palavras são


frenéticas. Meu coração está acelerado. E os próximos segundos
são um borrão absoluto quando o homem que mais tarde descubro
ser o gerente, Mick, agarra minha mão e me puxa para fora da
multidão. Eu nem tenho tempo para ver ou falar com Vince
enquanto a multidão se espreme ao nosso redor. Mick nos
empurra pela porta antes de fechá-la atrás de nós.

— Cristo, Jennings. Você está tentando me matar, porra? —


Mick pergunta enquanto o empurra por trás.

Vince ri. — Pena que não funcionou.

— Fodido — Mick murmura ao mesmo tempo que Vince se vira


para mim.

A área em que estamos é bem iluminada, tem piso de concreto,


paredes brancas, e Vince está diante de mim vestido de preto da
cabeça aos pés.

Ele é lindo.

Quero dizer, ele sempre foi, mas o seu rosto de menino


amadureceu. Sua mandíbula é mais forte, coberta por mais barba
por fazer, e seus olhos, embora iluminados de surpresa, são mais
reservados. Seu braço esquerdo tem algumas tatuagens que lhe
dão mais vantagem do que o cara que eu conheci. E depois há o
seu corpo. Aquele adolescente magro que eu amei é
definitivamente um homem com peito largo, ombros quadrados,
coxas fortes e mãos sexy como o inferno.

E naquele olhar, um milhão de sentimentos voltam correndo


para mim como se o tempo não tivesse passado.

Mas passou.

Com certeza passou.

Nós olhamos um para o outro pelo que parece uma eternidade,


mas são apenas alguns segundos antes de um sorriso lento
rastejar em seu rosto bonito. — Jesus, é mesmo você — ele diz
antes de me dar um abraço, me levantando do chão enquanto faz
isso, e apenas me segura firme com o rosto enterrado na curva do
meu ombro.

Ele cheira a couro e sabonete do banho que deve ter tomado


depois do show. Seu cabelo está molhado contra o lado do meu
rosto, os seus braços são fortes, e me apertam com força.

Processar os meus sentimentos é impossível, então eu os


afasto e tento memorizar o momento.

— Foda-se, cara. Se você vai transar com ela, pelo menos saia
do corredor — alguém diz enquanto passa por nós.

— Não é desse jeito. — Vince ri e me coloca no chão.

É agora que nos encaramos que o constrangimento se instala.


Nos primeiros momentos, era como se ele fosse o cara que eu
conhecia, e agora ele é o músico famoso que eu realmente não sei
nada.

Quando finalmente falamos, ambos começamos ao mesmo


tempo.

— Desculpe — dizemos em uníssono.

— Você primeiro — eu digo rindo.

— Ainda não consigo acreditar que você está na minha frente.


— Ele passa a mão pelo cabelo e balança a cabeça. — O que você
está fazendo aqui? — ele pergunta e faz sinal para que eu saia do
caminho. As distrações estão por toda parte ao nosso redor.
Pessoas se movimentando. Caixas pretas sendo movidas aqui e ali.
Vozes gritando e ecoando pelos corredores.
Há uma dureza nisso tudo que claramente Vince está mais do
que acostumado.

— Eu não sei — eu digo e dou de ombros quando alguém passa


por ele e lhe entrega uma cerveja.

— Quer uma?

— Não. Eu não acho...

— Show matador, cara — um cara diz e o cumprimenta com o


punho. — Eu amo aquele novo riff que você adicionou em Take Me
Down. Fale sobre chutá-lo para cima um entalhe. Sem dúvida, as
crianças estarão em todas as redes sociais tentando copiá-lo. —
Ele ri. — É assim que você sabe que conseguiu. Ei, você está indo
com a gente?

Vince olha para mim e depois de volta para ele. — Não. Agora
não.

O cara olha para mim e os seus olhos se arregalam. — Oh.


Entendi. Cara, seu ônibus está livre e liberado se você precisar...
— Ele olha para mim novamente e sorri. — Para o que você
precisar.

— Eu-eu não… — eu começo a dizer quando percebo que ele


pensa que sou uma groupie para dormir com Vince, mas o homem
apenas levanta as mãos em um movimento sem julgamento antes
de dar um passo para trás e ir embora.

— Apenas ignore-o — Vince diz com uma risada. — Ele é


apenas... Jimmy.

Olho para Vince e de repente me sinto absolutamente ridícula


por estar aqui. O que eu esperava? Que nos veríamos e as coisas
seriam como eram quando estávamos no ensino médio? Que
voltaríamos a falar sobre como o Sr. Parker é péssimo como
professor de matemática, como minha mãe não cede ao meu toque
de recolher... e eu nem sei o que mais.

— Desculpe. — Eu rio nervosamente e olho em volta para esse


caos em que ele vive e sei que estou fora do meu elemento. — Eu
simplesmente apareci sem avisar. Tenho certeza de que você tem
outros planos.

— Traga sua bunda aqui, Jennings — alguém chama de uma


porta aberta. Na verdade, estou grata pela interrupção, então
tenho tempo para acalmar os meus nervos.

— Siga-me por um segundo? — ele pergunta e se move em


direção à porta. É uma sala grande, o que eu acho que seria um
backstage por excelência. Um grande tapete oriental, sofás por
toda parte e pessoas andando de um lado para o outro. Os
membros da banda. As mulheres de fora. Outras pessoas tentam
parecer adequadas, mas se destacam como um polegar dolorido.

A música está alta e a fumaça do cigarro é espessa quando


Vince me apresenta a algumas pessoas. Eu gosto dos seus
companheiros de banda imediatamente. Hawkin Play, o vocalista,
definitivamente é o dono da sala. Ele é carismático e enérgico
mesmo depois de correr pelo palco nas últimas horas. Rocket, o
outro guitarrista, é definitivamente o palhaço da turma do grupo,
e Gizmo, o baterista, o mais suave.

Tenho certeza de que a suavidade não é prejudicada pela


garganta da mulher que ele atualmente está com a língua para
baixo.
Vince é puxado para resolver um debate entre Gizmo e Hawkin
e me movo para o canto da sala e apenas observo tudo. Esse novo
e louco estilo de vida que ele leva.

E enquanto estou aqui, é óbvio para mim, pelas várias pessoas


que disputam a atenção de Vince, que todo mundo quer algo dele.
Seus companheiros de banda querem suas habilidades de
mediação. As mulheres que continuam andando e passando a mão
em seu braço com enormes olhos de vem me foder querem em suas
calças. Os outros convidados esperam um pouco do seu tempo e
parecem satisfeitos quando conseguem.

Quão tolo é para mim ainda amar um homem tão intocável


quanto ele?

E, no entanto, não consigo tirar os meus olhos dele.

Por causa dessa incapacidade, vejo o minuto em que ele


percebe que me esgueirei para as sombras da sala. Ele fica na
ponta dos pés e examina a sala para me encontrar, seu sorriso me
cumprimentando quando ele me encontra.

Ele está ao meu lado em segundos. — Desculpe. É hábito


relaxar assim depois de um show.

— Não se desculpe. Eu não deveria ter vindo. Eu…

— O que você está falando? — Vince diz, alargando o sorriso.


— Isso é muito. Eu sei, mas você se acostuma. Vamos, vamos para
o meu camarim. Lá é mais tranquilo.

Eu o sigo quando ele começa a andar, minha mente ainda


tentando processar que Vince está na minha frente. Como a vida
dele é muito diferente da minha.
E agora?

Passamos por algumas portas abertas, uma onde outra festa


está claramente acontecendo. Outra em que alguém grita o seu
nome e ele apenas levanta o dedo do meio para ele. Uma terceira
onde o cheiro de maconha permeia o ar. As pessoas o param para
elogiá-lo ou fazer perguntas e, a cada vez, ele se desculpa.

— Vai ser mais silencioso aqui — ele diz e abre uma porta com
o seu nome. A sala é de tamanho médio. Um sofá de couro está de
um lado, uma mesa na parede oposta com uma variedade de
comidas e bebidas. Um cabideiro com roupas está ao lado. Jazz
toca suavemente em um alto-falante no canto mais distante, o que
deveria me surpreender mais, mas ele sempre gostou de ouvir para
relaxar.

— Obrigada — eu murmuro, ainda sem saber o que fazer ou


dizer.

— Sente-se. Posso pegar alguma coisa para você? — Ele


pergunta. — Água. Cerveja. Uma coca-cola?

Agora mesmo eu poderia usar uma garrafa inteira de algo forte


para lutar contra os meus nervos. — Uma cerveja está bom.

Ele levanta a sobrancelha para mim, quase como se ele


também estivesse tendo dificuldade em lembrar que não estamos
mais no ensino médio.

Eu pensei que isso seria muito mais fácil do que está sendo.
Sempre tivemos uma amizade sem esforço, então não sei ser de
outra forma com ele.

Não há tempo como o presente para descobrir isso.


— Eu não queria apenas aparecer. Eu vi que você estava na
cidade e decidi dirigir até aqui. Não pensei que você pudesse ter
planos com os caras... ou outras mulheres para sair ou... qualquer
coisa. Eu acabei de…

Ele coloca uma mão brincalhona na minha boca por trás e me


entrega uma cerveja com a outra antes de sussurrar em meu
ouvido. — Você sempre divagava quando estava nervosa. — Ele ri.
— Por que você está nervosa, Shug?

Ele me solta e circula ao meu redor para sentar no braço do


sofá com uma bota de combate na almofada ao meu lado e a outra
no chão para que ele possa me encarar.

— Não estou nervosa. — Eu tomo um gole da cerveja e me


encolho com o gosto.

Ele apenas olha para mim, a cabeça inclinada para o lado, a


mão estendida para coçar o lado do pescoço. Ele tem um par de
pulseiras de couro em seu pulso. É muito mais fácil focar nelas do
que nele, mas há uma em particular que me chama a atenção.

É uma trança fina, preta e desbotada de uma pulseira.


Lembro-me de ter dado isso a ele em seu aniversário de dezoito
anos, porque era tudo que eu podia pagar, mas pensei que ele
gostaria.

Meus olhos piscam para os dele e um canto dos seus lábios se


levanta, seus olhos são suaves. — O que posso dizer? É o meu
amuleto da sorte.

— Você guardou todo esse tempo?


— Algo parecido. — Ele toma um longo gole da sua cerveja e
ignora uma batida na porta. Uma pequena parte de mim se derrete
sabendo que ele a manteve todos esses anos. — O que você achou
do show?

— Achei vocês incríveis. Energia alta. Boa lista de músicas. A


multidão gostou muito.

— Obrigado, mas ainda precisamos trabalhar. Rocket fodeu


com uma música. Eu perdi um acorde em outra. Hawkin esqueceu
a letra e apenas disse à multidão para cantar junto para encobrir.

— Não percebi nada.

— Sim, mas há um milhão de outras bandas esperando para


tomar o nosso lugar. — Ele levanta a cerveja novamente, me dando
uma visão melhor de algumas de suas tatuagens. Alguma escrita
japonesa. O braço de uma guitarra. Mais que não consigo
entender.

— Você sempre foi duro consigo mesmo.

— Precisamos ser melhores. Isso é tudo.

— Melhor? — Eu rio. — Eu diria que ter o álbum número um


no país é muito bom. Não pode ir muito mais alto do que isso.

Vince olha para mim, suas bochechas corando, e o seu sorriso


tímido me lembra de um garotinho antes de balançar a cabeça. —
É absolutamente louco, não é? Uma foda total. Os caras... ainda
não conseguimos entender isso.

— Não consigo imaginar.

— Passamos de surfar no sofá e ramen para The Ritz e jatos


particulares em um ano.
Outra batida na porta. — Temos que ir. Os ônibus estão
lotando — diz uma voz através da porta.

Meu coração afunda. É isso? Isso é todo o tempo que eu


recebo?

Vince olha para mim e depois para a porta antes de correr até
ela e abri-la. — Vá em frente — ele grita. — Eu vou alcançá-lo. —
Ele se vira para mim. — Eu conheço um lugar não muito longe
daqui. A comida não é tão boa, mas está escuro, então não serei
reconhecido. Quer ir?
Bristol
Sete anos atrás.
— Depois havia o Japão. Esgotamos o estádio construído para
cinquenta mil pessoas, antes de seguirmos para a Alemanha. É
uma loucura pra caralho lá.

Eu o estudo através de uma mesa cheia de pratos sujos e


garrafas de cerveja vazias. Não tenho ideia de que horas são porque
parece que o tempo parou enquanto conversamos no restaurante
mal iluminado. A equipe saiu há muito tempo, exceto por uma
pessoa para quem Vince deu uma quantia ridícula de dinheiro.
Essa pessoa está atualmente sentada nos fundos, sem dúvida,
mexendo em seu telefone e entediado pra caralho.

Gostei de ouvi-lo me deliciar com histórias sobre suas viagens


e fãs loucos. Sobre locais esgotados e bares vazios. Mas esse é o
famoso Vince falando.

— E então no Brasil…

— Vince?

Ele para e olha para mim. — Sim?

— Eu não me importo.
— O que você quer dizer com você não se importa? — Ele ri, e
estende as mãos.

Já bebi vinho suficiente para acalmar. Me inclino para frente


e sussurro. — EU. NÃO. ME. IMPORTO.

— Shug…

— Olhe para você. Você conseguiu ir contra todas as


probabilidades. Estou tão orgulhosa de você... mas eu ouço você
falando sobre todas essas coisas e não me importo, porque quando
olho para você, ainda vejo o adolescente parado na minha janela
às duas da manhã.

Vejo minhas palavras o atingirem. Uma por uma. — Bristol.

— Estou falando sério. Ninguém merece isso mais do que você.


— Meu sorriso é suave e o dele também enquanto nos olhamos
fixamente sobre a penumbra.

E pela primeira vez em toda a noite, está lá.

Aquela química palpável que sempre tivemos. O tipo que


nunca tivemos que trabalhar, mesmo quando nos sentávamos um
ao lado do outro enquanto eu o ensinava. Lutei contra isso a cada
passo do caminho, imaginando como essa mocinha poderia
encontrar um rebelde tão irresistível?

Achei que talvez tivesse desaparecido com o passar dos anos,


e há algo na maneira como aqueles olhos verdes claros dele estão
olhando para mim que diz que eu estava errada.

O balanço do seu pomo de Adão e o olhar para os meus lábios


me dizem que ele sente isso também.
— E você? — Ele pergunta para quebrar o silêncio. —
Passamos todo esse tempo falando sobre mim, quero saber o que
você tem feito.

— Sou insignificante em comparação com suas realizações.

— Eu quero saber. — Ele estende a mão e minha mão esquenta


sob o seu toque. — Fale-me sobre a faculdade e como você está
conquistando o mundo.

Meu sorriso é afetado enquanto eu minto. — Apenas faculdade


e trabalho. Coisas normais. — Não há necessidade de elaborar
sobre como o divórcio dos meus pais me deixou confusa. Como eu
estava desesperada para sair de casa e conseguir algum espaço
depois de me sentir traída por eles. Mas quando o meu pai perdeu
o emprego e a economia entrou em declínio, o dinheiro estava
apertado, então optei por uma faculdade júnior 6 em vez de colocá-
los em dívidas. Como estou trabalhando à noite e indo para o curso
durante o dia, esperando para me transferir para uma
universidade de quatro anos no ano que vem.

— Onde você foi parar?

— Estado da Califórnia. — Eu aceno com a mão para ele, mais


do que pronta para sair desse assunto. — São duas da manhã.
Devíamos deixar aquele coitado voltar para casa — eu digo sobre
o funcionário e então percebo que ir embora pode significar que
nossa noite acabou. Nosso tempo acabou. E de repente eu quero
retirar as palavras.

6 É um programa de cursos de verão na faculdade de duração de 2 anos.


— Você tem razão. Deveríamos. — Vince se levanta, dá um
último gole em sua cerveja e joga um maço de dinheiro na mesa,
me repreendendo quando pego minha carteira para contribuir. Ele
agarra o meu pulso. — Nem pense nisso.

Mas quando olho para cima para encontrar os seus olhos, meu
protesto morre em meus lábios.

Ele está tão perto. Tão perto que juro que dói olhar para ele.
Estar tão perto dele, desejá-lo e não tê-lo. A dor no meu peito é tão
pungente que juro que ele pode sentir isso também.

Minha inalação trêmula soa como um grito no silêncio, mas


Vince não reconhece isso quando ele estende a mão para segurar
o lado do meu rosto.

— Eu senti sua falta — ele diz, seus olhos fixos nos meus e ele
passa os seus lábios nos meus.

É um suspiro suave de um beijo, uma lembrança do que


costumava ser. Um breve toque de nossas línguas é mais do que
suficiente para me lembrar o quanto eu desejei o gosto dele depois
que ele saiu.

Quanto doeu pegar o telefone e não tê-lo lá. O quanto me


arrependi de não ter dado a ele a parte de mim que nunca poderia
retirar.

Instinto misturado com memórias e saudade me faz estender


a mão, coloco os meus dedos em seu cabelo e aprofundo o beijo.

Ele coloca a mão nas minhas costas e me puxa para ele


enquanto a outra puxa minha cabeça para o ângulo do beijo. Não
há urgência, apenas a combustão lenta das cinzas tendo um novo
oxigênio soprado nelas.

Dura apenas alguns segundos antes de ele terminar o beijo,


mas é o suficiente para solidificar que a conexão entre nós ainda
está lá.

Quando abro os olhos, os dele estão bem fechados e sua mão


está fechada ao lado do corpo, como se estivesse se castigando.

— Vince? — Confusão tece através do meu tom.

Ele abre os olhos, seu sorriso tenso e uma voz rouca. — Nós
devemos ir.

Agarro sua mão e o seguro no lugar quando ele vai embora.


Ele olha para nossas mãos e depois de volta para mim, mas não
diz uma palavra. Ele não precisa porque o aço em seus olhos é
duro o suficiente. É quase como se ele estivesse esperando que eu
desse uma resposta para a qual nunca havia feito a pergunta, mas
não tenho chance de fazer.

— O erro foi meu. — Ele tira a mão do meu aperto e, em seguida,


gira nos calcanhares.

Arrasto-me atrás dele enquanto os seus passos largos


percorrem a calçada que leva até a limusine. Ele abre a porta do
carro para mim, mas não me olha nos olhos e não diz uma palavra
quando entramos.

O que estou perdendo? Eu fiz alguma coisa errada? O que


aconteceu?

É como se um interruptor tivesse sido acionado e eu estivesse


do lado errado.
— Para onde? — O motorista pergunta.

— Em que hotel você está hospedada? — Ele finalmente fala.

— Nenhum. Eu não estava planejando ficar.

Seu suspiro é pesado. — São duas da manhã, porra. Você


realmente acha que vou deixar você dirigir para casa agora?

Pela maneira como ele se recusa a olhar para mim, acho que
é exatamente isso que ele quer.

— Esse era o meu plano. Como eu poderia saber que íamos


sair para jantar e conversar até quem sabe quando?

— Então você imaginou que dirigiria por quatro horas, diria oi,
dar um tiro e depois voltar?

Dar um tiro? — Vince. O que diabos você está…

— O hotel de sempre, Brian — ele diz ao motorista.

— Vou avisá-los que você está indo — Brian diz e, em seguida,


dá partida no carro.

— Depois que ele deixar você, ele pode me levar para pegar o
meu carro? — Eu pergunto. Vince não responde, apenas olha pela
janela para a cidade que passa. — Ótimo. Perfeito. Obrigada pela
resposta. É bom saber que a fama subiu à sua cabeça e fez de você
um idiota.

Ele ri sarcasticamente, mas finalmente olha na minha direção.


— Vou providenciar para que você pegue o seu carro pela manhã.
Você não vai dirigir para casa agora.

— Bem, eu com certeza não vou ficar com você.


— Eu não vou ficar. Os ônibus já têm três horas de vantagem
sobre mim. Eu tenho que alcançá-los. O show tem que continuar.
— Ele limpa a garganta. — Vou levá-la para o seu quarto, e então
o Brian vai me levar onde eu preciso estar.

É a minha vez de olhar pela janela e deixar o silêncio consumir


os meus pensamentos. Ele fugiu da sua banda, da sua agenda, da
sua pós-festa, para mim. Eu nunca esperei isso, porra, eu estava
falando a verdade quando disse que não sabia o que esperar. A
culpa me consome. Estragar sua agenda não era minha intenção.

É por isso que ele está irritado comigo? Ele está arrependido
da sua decisão? É por isso que o nosso beijo, oh porra. Ele tem
uma namorada? Ele estragou tudo, me beijou por nostalgia, e
quando eu o beijei de volta, ele deu um passo para trás?

Deslizo um olhar em sua direção. Quão estranho é ter o gosto


dele ainda na minha língua e sentir a sensação dos seus dedos
ásperos como guitarra na minha pele, e ainda assim ele de repente
parece estar a um milhão de quilômetros de distância.

Não conheço mais Vincent Jennings.

Eu deveria ter deixado as coisas como estavam. Ser capaz de


vê-lo novamente, ver que ele estava feliz e dizer a ele que eu estava
orgulhosa dele deveria ter sido o suficiente para mim. Deveria ter
sido aquele fechamento inatingível que eu estava procurando.

Querer Vince sempre foi a parte fácil. Todo o resto que foi o
problema.

Acho que algumas coisas nunca mudam.


— Obrigada — eu sussurro, lutando contra as emoções
conflitantes dentro de mim. Aceitar que aquela pequena parte de
mim que se agarrou ao seu namorado do ensino médio nunca
deveria ter sido agarrada. — Eu aprecio você ter tirado um tempo
da sua agenda lotada para me ver. E para encontrar um quarto de
hotel para mim.

Ele acena com a cabeça, os olhos segurando os meus


brevemente antes de olhar para fora da janela novamente. — Não
seja ridícula. Claro, que eu arranjaria um tempo para você.

Então por que você parece tão bravo comigo? Eu quero gritar.

— Chegamos — Brian anuncia enquanto entramos no que


parece ser um edifício de boa aparência.

— Entrada de serviço — Vince explica enquanto abre a porta


e me conduz para fora. — Dessa forma você não tem paparazzi
esperando por você pela manhã. Se alguém nos vir chegando na
frente, estará estacionado em qualquer lugar pensando que ainda
estou na sua cama. Eles são raivosos. Você definitivamente não
quer esse tipo de atenção.

Ou é você que não quer ser visto comigo? Um restaurante


vazio. A porta dos fundos de um hotel.

Ele definitivamente tem uma namorada.

O quanto é ruim que o meu peito dói com o pensamento? Não


é como se eu não tivesse visto suas muitas façanhas espalhadas
em revistas de fofocas e na Internet antes, mas tê-lo tão perto,
beijá-lo mais uma vez, torna tudo mais real.
Não é como se eu pudesse reivindicar um homem que foi o
meu namorado do ensino médio.

— Você tem razão. Eu não. Obrigada — eu digo pelo que parece


ser a décima vez quando a porta dos fundos se abre quando nos
aproximamos dela. Uma mulher pequena com um crachá que
denota que ela é a gerente cumprimenta Vince com um sorriso e
entrega a ele um cartão-chave. Claramente, ele já fez isso antes.

Eles trocam gentilezas rápidas e em segundos estamos no


elevador de serviço indo para o décimo andar, o constrangimento
entre nós ficando mais intenso a cada segundo.

Nunca fiquei tão aliviada ao ouvir um barulho de elevador na


minha vida. A porta se abre para um corredor curto com uma porta
solitária no final. Sigo Vince para fora do elevador e, por mais que
eu odeio reconhecer isso, ficarei aliviada quando ele sair e eu puder
ficar sozinha com os meus pensamentos.

Mas, em vez de abrir a porta com o cartão-chave, Vince cruza


os braços e se encosta na parede à minha frente, com os olhos
fixos nos meus. — Foi bom ver você, Shug. Muito bom. Você foi
uma pequena fatia do normal neste mundo louco em que vivo
agora.

— Mesmo aqui. Quero dizer, não a parte do mundo louco,


mas...

— O que você está fazendo aqui? Por que você está aqui? É por
dinheiro? Para…

— O quê? — Suas perguntas me pegam desprevenida e


acendem um fósforo em meu temperamento.
— Eu sei tudo sobre os seus pais. O divórcio deles. Seu pai
perdendo o emprego e vendendo a casa. Você estar em uma
faculdade júnior. Você colocou isso nas redes sociais para todos
verem, e ainda assim você sentou lá esta noite e mentiu
descaradamente para mim. Então, vou fazer a pergunta
novamente, você está aqui por dinheiro?

— Foda-se — eu resmungo, uma bola de fogo de mortificação


queima em minha garganta. Eu o encaro – boca relaxada, e com
olhos arregalados – em total descrença.

— Todo mundo quer algo de mim hoje em dia. Dinheiro. Fama.


Um apertar de mão. Uma esmola. — Seu encolher de ombros
indiferente apenas alimenta a minha raiva. — O que você quer,
Shug?

— Você realmente acha que é para isso que estou aqui? — Eu


dou alguns passos para longe dele e rio porque é tudo que consigo
pensar em fazer.

— Um de nós não está dizendo a verdade, e com certeza não


sou eu. Geralmente é assim que tudo começa. — A maneira como
ele pode lançar os insultos tão casualmente para mim os faz doer
ainda mais. A maneira como ele me encara ainda mais.

— Há uma enorme diferença entre mentir e omitir, Jennings.


— Eu cruzo os braços sobre o peito e me mantenho firme. — Só
porque eu não te contei toda a triste história, não significa que eu
quero algo de você. Você era o meu melhor amigo. O garoto que eu
pensei que teria para sempre. Mas agora posso ver que era uma
fantasia infantil. Eu não preciso ou não quero nada de você. Com
certeza eu não quero um único centavo seu. — Eu coloco o meu
dedo em seu peito.

— Hmph. — Seu sorriso é tão irritante quanto o som.

Este foi um erro estúpido pra caralho.

— Eu só queria saber se você estava feliz, Vince. Isso é tudo


que eu precisava saber. — E agora que eu sei que ele se tornou um
idiota autointitulado, estou pronta para dar o fora dele.

— Todo mundo quer algo de mim, Bristol. Eu tenho pessoas


saindo da toca a torto e a direito. Família que nunca conheci
pedindo dinheiro. Uma mulher que não conheço afirmando ser
minha mãe. — Ele joga as mãos para cima. — Cristo, eu até tenho
mulheres que nunca conheci alegando que estão tendo filhos meus
para entrar contra ação de pensão. Então não me venha com essa
besteira de que você não quer nada de mim. Todo mundo quer,
porra.

— Eu não — eu grito, não me importando que estejamos em


um hotel e que as pessoas possam nos ouvir. — Eu não queria
nada de você além de apenas ver você. Curiosidade satisfeita.
Totalmente decepcionada.

Pego o cartão-chave de sua mão e caminho até a porta, mas


sua mão agarra o meu braço e me puxa contra ele. Estamos peito
a peito. — Todo mundo quer algo de você quando você consegue.

— Bem, eu nunca quis nada de você além de você. — Eu tento


tirar o meu braço livre do seu aperto, mas ele apenas aperta com
mais força, bem como apertando o meu coração. — Deixa. Eu. Ir.
O sopro de ar quente dos seus lábios me atingem. O cheiro do
seu chiclete de menta misturado com o cheiro de couro da sua
colônia enche o meu nariz.

Antes que eu possa processar minha raiva, a situação, suas


palavras duras e acusações, Vince reivindica minha boca em um
beijo carregado de desejo violento. É tudo o que eu pensei que
queria, mas agora estou lutando contra.

Tento balançar minha cabeça de um lado para o outro, tento


lutar contra o contato, mas ele apenas segura o lado do meu rosto
enquanto sua cabeça e os seus lábios dominam.

Ele se afasta, os olhos mais claros que eu já vi. — Eu quis você


desde que eu tinha dezesseis anos. Cada maldito minuto de cada
maldito dia. Tenho negociado comigo mesmo a noite toda por que
isso não pode acontecer. — Ele arrasta os dentes sobre a minha
clavícula. Meu corpo resiste em um reflexo traidor. — Mas porra,
Shug, você é difícil de largar.

Suas palavras me chocam. Meu corpo queima com uma dor


tão doce e uma cabeça tão fodida que me forço a acreditar em
minhas palavras quando as falo. — Eu não quero nada de você.

— Sim, você quer — ele murmura segundos antes de dar outro


beijo ganancioso que me faz agarrar sua camiseta, mas não tenho
certeza se é para puxá-lo para mais perto ou afastá-lo.

Seu beijo é como uma droga. Um golpe certeiro. Alto e


perverso. Uma porta de entrada para querer mais. — Você está
certo — eu digo. — Eu menti. Eu quero você tão ruim quanto. Só
você. Só essa noite.
Seus olhos piscam para mim, as emoções conflitantes que
estavam neles desde que saímos do restaurante não estão em lugar
nenhum. Eu só vejo luxúria. Eu só sinto desejo. — Isso é tudo que
posso te dar. Estou em uma cidade diferente a cada noite. Uma
cama diferente. Eu não sou digno de...

Pressiono o meu dedo em seus lábios para silenciar suas


palavras. Para impedi-lo de me rejeitar. Com nossas testas
encostadas uma na outra e nossos corpos prontos para reagir, eu
sussurro — Apenas me dê esta noite. Apenas me dê isso uma vez.
Só isso.

— Shug. — A palavra soa aflita. Como um homem no limite do


controle. Como um homem questionando sua própria
determinação.

— Sem amarras. Sem promessas que teremos que quebrar.


Apenas uma noite de doce arrependimento.

Ele se inclina para trás, um sorriso torto em seu rosto bonito.


— Não tenho muito tempo para realizar todas as malditas fantasias
que tive com você ao longo dos anos.

— Você fantasiou sobre mim?

Sua risada é um estrondo baixo que quase posso sentir entre


minhas coxas. — Mais vezes do que posso contar.

A pressão no meu peito diminui. O pânico diminui. — Então


acho melhor começarmos.

Um gemido selvagem ecoa pelo corredor quando Vince se lança


contra mim bem ali contra a porta. A preocupação e a raiva de
momentos atrás estão rapidamente sendo apagadas da minha
cabeça a cada toque. Depois de cada beijo. Com cada fantasia
prestes a ser realizada.

Nós nos beijamos com uma fome que nunca tive antes.
Tocamos com desespero em níveis que eu nunca soube que
existiam.

É tudo tão novo e familiar ao mesmo tempo. Os mesmos


ângulos, as mesmas ações, mas porra se o nível de habilidade não
aumentou exponencialmente.

A diferença?

Aos dezessete anos, a dor iluminando cada parte de mim em


chamas me assustou. Eu estava curiosa sobre a queimadura, mas
com medo do que e de quem isso me fazia sentir.

Agora? Eu sou mais velha. Eu sou mais experiente. Eu sei que


Vince está prestes a virar todas essas coisas do avesso, de cabeça
para baixo.

Fazer a fantasia se tornar uma realidade da qual temo nunca


me recuperar.
Bristol
Sete anos atrás.
Suas mãos estão em todos os lugares e não há lugares
suficientes ao mesmo tempo. Segurando a parte de trás da minha
camiseta quando eu quero elas na minha pele. Em meus seios
quando eu as quero entre minhas coxas.

Mais.

É o meu único pensamento.

Mais.

Seus lábios estão nos meus. Nas encostas dos meus ombros.
Seus dentes arranham minha clavícula. Sua língua trava uma
guerra total contra os meus sentidos.

Mais.

Nossas camisetas estão sobre nossas cabeças no minuto em


que a porta se fecha em nossas costas. Não nos preocupamos em
encontrar o interruptor de luz porque estamos tão consumidos um
pelo outro e o fogo que queima forte pra caralho entre nós.

Esbarramos na parede da suíte, a cama ao nosso lado, e


nossas risadas abafadas de beijos se transformam em gemidos
quando nos acomodamos nela. Enquanto todo o peso do corpo de
Vince pressiona contra o meu e insinua a promessa sombria do
que vem a seguir.

Minhas mãos se fecham em seu cabelo. Meus dedos arranham


o seu abdômen nu — unhas compridas sobre os músculos tensos.
Meus dedos desfazem o seu cinto e depois o zíper.

— Eu preciso de você com menos roupas — eu murmuro antes


de mordiscar o seu lábio inferior e segurar a protuberância que
está pressionada contra a sua calça jeans.

O gemido que ele emite é selvagem quando ele puxa minha


cabeça para trás para expor o meu pescoço. Ele raspa os dentes
sobre a minha pele e murmura em meu ouvido. — Você quer o meu
pau, Shug? Você aceitará como a boa garotinha que você é? Você
vai me deixar enchê-la até que você não aguente mais e então me
deixe empurrá-la ainda mais? Você vai gritar o meu nome quando
gozar?

O calor da sua respiração.

Seu pau duro se contraindo na minha mão.

A sedução em suas palavras.

Arqueio minhas costas para tentar pressionar o meu corpo


contra o dele, desesperada pela conexão com ele.

Sua risada ressoa através de mim. — Garota gananciosa. Já


querendo mais quando você ainda nem conseguiu. — Suas mãos
ainda agarram o meu cabelo e ele inclina sua boca sobre a minha
e leva até que eu não consiga recuperar o fôlego. — Eu gosto disso.
Eu recompenso a ganância. — Outro beijo ardente, mas desta vez
ele solta o meu cabelo e desliza as mãos até minha bunda, e
pressiona o meu corpo contra o seu pau.

Provocando-me.

Provocando-me.

Avisando-me.

Seus lábios estão a um sussurro dos meus, nossos olhos fixos


um no outro através da luz fraca. A expectativa aumenta à medida
que minha respiração se esforça. O desejo me domina conforme
ele fica mais duro, e fico mais molhada.

E assim que penso que ele vai me beijar de novo, ele dá um


passo para trás, seu olhar me desafiando. — Tire o resto de suas
roupas. Eu quero olhar para você.

Engulo um nó nervoso na minha garganta, mas faço


exatamente o que ele diz. Minhas inseguranças se escondem na
escuridão do quarto. O medo de não ser o suficiente para ele se
dissipa.

É o gemido dele que ouço. O brilho do calor em seus olhos que


eu vejo. O — Cristo, você é linda — que me faz ficar mais animada
sob sua adoração. Isso me faz sentir linda, destemida e desejada.

Assim como Vince sempre fez.

— É a sua vez de assistir, Shug. Não tire os olhos de mim. Eu


amo saber o quão desesperada você está para me tocar. Para me
provar. Sentir isso dentro de você. — Ele tira as calças com essas
últimas palavras e o seu pau salta livre. A visão dele, grosso e duro
com um brilho de pré-sêmen na ponta, me faz engolir à força.
Ele fica parado na mesma faixa de luar em que estou, mas
para ele parece que está no palco e os holofotes estão destacando
sua beleza. A tinta escura de suas tatuagens. A lambida de sua
língua para molhar os seus lábios. A contração do seu pau em
resposta ao meu olhar.

— Sua boceta está molhada? Seus mamilos doem para eu


tocá-los? Seu clitóris está inchado e pronto para brincar?

— Vince. — Seu nome é um apelo.

— Não se preocupe Shug, temos todo o tempo do mundo. —


Ele dá um passo mais perto. — Hora de usarmos uns aos outros.
A primeira rodada em que podemos finalmente dar prazer um ao
outro. — Outro passo. — Uma onde você pode me dizer o que você
quer. — Ele estende a mão e dá um tapinha no V entre minhas
pernas, fazendo com que ondas de choque ricocheteem em mim.
— Uma onde eu possa conseguir o que quero. — Desta vez, ele
pega sua mão, fechando-a ao redor do seu pau para que nós dois
observemos enquanto ele o bombeia lentamente. — E então quem
sabe o que virá a seguir.

— Sim. Por favor. — As palavras são ofegantes.

Sua risada é baixa e sugestiva. — Acho que você não tem ideia
do quanto gosto de ouvir essas palavras saindo da sua boca. — Ele
se inclina e lambe os meus lábios. Meu coração dispara. Meus
mamilos endurecem. A dor por ele cresce. — Deite na cama como
uma boa menina e abra as pernas para que eu possa ver o que
quero foder.

Jesus.
Quero dizer, os meus pensamentos estão tão confusos quanto
minhas entranhas e faço exatamente o que Vince manda. Este é
um lado totalmente diferente dele e não estou reclamando... nunca
pensei palavras como boa menina iria me excitar, mas inferno se a
excitação não está cobrindo a parte interna das minhas coxas
enquanto volto para a cama. Vince está de pé, seus ombros largos,
o músculo em sua mandíbula pulsando, e os seus dedos rolando
um preservativo sobre o seu pau enquanto ele me observa abrir
minhas coxas para ele.

— Mmm. Você obedece tão bem — ele murmura. — Aposto que


sua boceta tem um gosto tão bom quanto parece.

Eu não tenho tempo para me contorcer antes que ele agarra


os meus tornozelos, me puxa para ele, e ele dê um longo e errante
golpe com sua língua em minha fenda e fecha sua boca sobre o
meu clitóris e chupa.

Meu grito se transforma em um gemido, meus quadris se


movem e minhas mãos voam para se enredar em seu cabelo
enquanto as sensações me inundam. Toda essa dança de
preliminares me deixou mais pronta do que nunca, e tudo o que
eu quero é ele dentro de mim. Em mim. Trabalhando em mim.

— Você é uma garota gananciosa, não é? — Ele pressiona um


beijo na minha barriga enquanto enfia três dedos em mim. —
Saber disso me deixa duro pra caralho. — Ele fecha os lábios em
volta do meu mamilo e chupa. Seus dedos se movem para dentro.
Para fora. — Me faz querer você pra caralho. — Ele lambe uma
linha do meu peito que se conecta com cada nervo dentro. — Me
faz querer te mostrar como você gosta de mim. — Ele inclina os
seus lábios sobre os meus, sua língua deslizando entre eles, para
que eu possa provar o doce sabor da minha própria excitação.

Este homem está fazendo coisas para mim, fisicamente,


emocionalmente, e ele ainda nem sequer entrou dentro de mim.

— Vamos provar mais disso mais tarde — ele murmura contra


os meus lábios e se levanta, apesar das minhas mãos tentarem
mantê-lo contra mim.

— Pare de me provocar e apenas foda-me já — eu exijo.

Ele dá um tapinha no meu clitóris com um pouco mais de força


desta vez. Uma reprimenda pela qual quero ser punida novamente.
Qualquer coisa pelo seu toque. Qualquer coisa para saciar a doce
dor que ele continua alimentando.

— Eu esperei muito tempo para te foder. Anos e anos. Já


pensei como seria. Como seria a sensação. Como você ficaria
deitada embaixo de mim. Não se importe comigo, mas acho que
vou admirar essa sua linda boceta por mais um segundo antes de
puni-la com prazer.

Ele corre a cabeça do seu pau para cima e para baixo,


espalhando minha umidade ao redor. Meus músculos ficam tensos
com antecipação, necessidade, ganância e muito desejo. Com a
ponta descansando bem na minha entrada, ele passa a mão para
cima e para baixo ao longo da parte interna das minhas coxas,
causando arrepios em seu rastro. Seus polegares roçam o meu
clitóris enquanto cada terminação nervosa implora por mais
fricção. Por mais dele.
Ele me dá. Em um ritmo lento quando eu quero rápido. Uma
pressão aqui seguida por sua risada. Uma massagem ali
complementada por elogios.

A pressão aumenta, meu corpo está no auge do momento.

Ele afunda os dentes em seu lábio inferior e empurra o seu


pau para dentro de mim muito lentamente. Juro que o seu gemido
sacode as paredes, mas não posso ter certeza porque estou muito
cega pelo prazer que toma conta de mim.

Ele vai devagar. Centimentro por centimetro. A doce


queimação dos meus músculos ajustando-se e aceitando-o.

— Você é uma garota forte. Eu sei que você pode me levar tudo
— ele diz quando estendo minhas mãos para pressioná-lo para me
dar um segundo. E ele me dá esse tempo, mas então ele pega
minha mão pressionada contra o seu quadril e a move para onde
agora estamos unidos. — Enrole os seus dedos ao redor do meu
pau. Eu quero que você me sinta. Para nos sentir. Para me guiar
até que você não aguente mais o meu pau.

Eu o envolvo. A base endurecida. Observo como me sinto


esticada perto dele. Quão molhada eu estou. É uma grande
ativação. Ainda mais olhar em seus olhos enquanto ele olha para
mim. Enquanto ele assiste quando ele se afunda em mim.

Tenciono os meus músculos ao redor dele. Uma demanda


silenciosa para me dar o que nós dois queremos. O que nós dois
precisamos. O que nós dois esperamos por anos.
As veias em seu pescoço ficam tensas e suas mãos apertam
minhas coxas. Sua contenção está sendo visivelmente testada, e
amo ser eu quem está fazendo isso.

Aperto-o novamente e observo os seus olhos revirarem para


trás.

— Olhe para você. — Sua risada é tensa, sua respiração se


torna difícil.

— Mm-hmm. Olhe para mim — eu murmuro quando os seus


olhos encontram os meus. — Eu fui uma boa menina, Vince, agora
me faça sua.

A restrição foi quebrada. O desejo se libertou. Um gemido feroz


foi emitido.

Quando ele começa a se mover, nós dois sabemos que não há


como voltar atrás. Ele nos leva ao limite, chamando o meu nome
repetidamente como um juramento que ele manterá para sempre.

Eu sei que não há nenhuma maneira no inferno de uma noite


com Vince ser suficiente.

Eu menti. Para ele. Para mim.

Eu menti e sei que nunca mais tê-lo será o preço que pagarei
por isso. Mas é um preço que vale a pena pagar.
Vince
Sete anos atrás
Pego minha calça jeans do chão e a visto. Cada botão é mais
difícil do que o último a apertar. Cada botão feito significa um
segundo mais perto de me afastar dela novamente.

Ela merece o melhor.

Ela merece mais.

Um homem que pode estar lá todas as noites para ela. Um


homem que é digno do seu amor. Um homem que não vai
decepcioná-la.

Puxo a camiseta pela cabeça e toco a pulseira que ainda uso.


O pedaço dela que guardei comigo todos esses anos.

Quatro anos é muito tempo para se perguntar se o que


tínhamos era real.

Agora eu sei.

Era.

E enquanto eu fico aqui olhando para ela, todos os motivos


pelos quais corri antes voltam com uma vingança e mais alguns.

Eu tenho que ir.

É o melhor.
Inclino-me e pressiono um beijo em sua têmpora. São os lábios
dela que eu realmente quero, um último gosto da única coisa real
que já tive na minha vida, mas não posso arriscar acordá-la. Se eu
fizer isso, os próximos passos que tenho que dar serão ainda mais
difíceis.

— Adeus, Shug — eu murmuro contra sua pele e respiro ela


uma última vez.

Minha garganta parece que está desmoronando enquanto


caminho os poucos metros até a porta. Uma última olhada por
cima do ombro para minha fantasia adolescente e minha queda
adulta.

É ela.

Não foi sempre ela?

Saí antes porque a amava e achava que eu não era suficiente


para ela.

Agora vou embora porque sei que a amo e ainda não sou bom
o suficiente para ela.

— Eu te amo. Eu sempre amei.

A dor bate no segundo em que fecho a porta atrás de mim.


Vince
A batida corre em minhas veias. Meus dedos manipulam as
cordas enquanto fecho os olhos e me perco na única coisa que já
consegui controlar: a música.

Meus dedos voam. Velozes e furiosos. Tons cheios enfatizados


com um toque de agudos. A banda da casa muda, e aceito o desafio
de ajustar, improvisar e contribuir para a porra da música
matadora que eles estão fazendo.

O Viper Room está lotado. Sempre está. Mas não sinto


nenhuma pressão dos olhares do público. Não sinto o calor das
luzes do palco batendo em mim. Não sinto o peso de ter que
produzir um álbum que fará sucesso.

Sou só eu. É apenas a minha guitarra. É apenas um convite


improvisado para subir no palco e tocar um pouco com a banda
da casa.

Para lembrar como eu costumava ser faminto por esse


sentimento. Por esta liberdade. Pela falta de expectativa do
anonimato e pela adrenalina quando você sabe que está
absolutamente arrasando.

Não são necessários vocais.

Nenhuma merda de frontman é esperada.


Só eu e o meu instrumento e uma tonelada de inspiração.

Abro os olhos e quase espero ver Hawkin no microfone, Rocket


ao meu lado e Giz atrás de mim na bateria, como nos velhos
tempos.

Como eu queria que eles estivessem.

Despejo minha raiva em minha música. Adiciono a dor a isso.


É a única maneira que conheço de lidar.

A única maneira que conheço de resolver minha confusão.

A única maneira que conheço de sobreviver.

●●●

— Isso foi incrível pra caralho, cara. — O vocalista da banda


da casa me dá um soco e depois dá um tapinha nas minhas costas.
— É uma honra para eu dividir o palco com você.

— Agradeço o convite.

— Normalmente eu tocaria com calma, mas, cara, é foda com


você. Quero dizer, eu e os caras vimos você entrar. Queríamos
convidar você para tocar conosco, mas estávamos tão nervosos que
tivemos que jogar Pedra, Papel e Tesoura para decidir quem faria
o pedido. — Ele ri e dá uma tragada no cigarro.

— Estou feliz que você fez. Foi bom apenas tocar sem
expectativas.

— Isso não é o melhor do caralho?


Levo minha garrafa de cerveja aos lábios e observo a multidão
ao nosso redor. As mulheres estão por toda parte, tops justos,
saias curtas, me fazendo gozar com os olhos cada vez que me
conecto com elas. Então, novamente, elas estão sempre em todos
os lugares quando você vive minha vida.

Normalmente, eu escolheria uma para a noite. Usá-las para


ajudar a perseguir o alto desempenho no palco que me deu. Mas
ninguém desperta o meu interesse esta noite.

A pessoa que procuro não está aqui.

— É isso. — Vamos ver com que rapidez a palavra se espalha


na Internet. Dou vinte minutos até Xavier ligar.

Ele não vai ficar chateado por eu ter feito isso. Ele vai ficar
chateado por não ter sido ideia dele. Que ele não estava no controle
disso.

E preciso ir embora enquanto posso, antes que a notícia se


espalhe e as pessoas venham para cá.

— Estou fora. — Eu aperto sua mão novamente.

— Volte quando quiser.

Abro caminho no meio da multidão. Em uma tentativa de não


ser um completo idiota, eu paro a cada poucos metros e dou um
sorriso meio bobo para a selfie ou foto de alguém. Sou conduzido
para a área dos bastidores e saio pela porta dos fundos.

Os paparazzi estão lá. Porra sabia que eles estariam. Flashes


disparam como fogos de artifício no beco escuro. Meus óculos de
sol ajudam a salvar os meus olhos.
Mas com os flashes vem a enxurrada de perguntas rápidas.
Uma após a outra, enquanto tento passar pela multidão para
chegar ao meu carro.

— Vince. Por aqui.

— É verdade que você terminou com o Bent?

— Quando sai a próxima música?

— Você dormiu com a esposa de Hawke? Foi por isso que te


expulsaram da banda?

Minhas mãos se fecham e uso cada grama de contenção para


estar no meu melhor comportamento.

— Sai fora do caminho — eu digo e aceno minhas mãos para


eles enquanto luto para abrir minha porta com pressa.

Uso o meu antebraço para me proteger de mais flashes, ligo o


carro e começo a me afastar.

Quando o meu telefone toca, eu apenas rio.

— Ficando de olho em mim, McMann? — Eu rio da pergunta.

— Sim, mas eu não sou McMann.

Meus dedos apertam o volante com mais força ao som da voz


do meu pai. — Pai.

— Filho — ele zomba de mim. — Não tenho notícias suas há


algum tempo.

Sem merda. Esse é o plano. — Não sabia que você precisava.

— Ah, eu estou sempre pronto para um momento individual.


Meu. Meu menino.
Jogar alguns insultos, alguns comentários humilhantes, é
uma festa totalmente Jennings como só ele pode dar.

— É um pouco tarde para você estar de pé, não é?

— Câncer não tem horas.

Engulo o comentário espertinho que o idiota dentro de mim


adoraria dizer. — Por que você ligou?

— Ah, o pequeno Vinnie ficou magoado da última vez que


conversamos? Não culpe o seu velho por dizer a verdade. Uma
espada pela outra espada.

— O que você precisa, pai? — Não estrague minha boa noite.


Não comece com suas besteiras.

— Eu estou ficando sem dinheiro. Precisei de um pouco de


CBD 7para a náusea e você sabe que essa merda de receita médica
é cara.

Eu bufo. — Eu pago pelo seu seguro. Eu pago suas despesas


diretas com o tratamento. Eu pago para manter um teto sobre sua
cabeça. Isso é mais ou menos o equivalente ao que você fez por
mim enquanto crescia. Não lhe devo mais do que isso. — Ele não
vai conseguir mais um centavo de mim.

— Faz você se sentir bem em dizer isso? Para tentar jogar na


minha cara? — Sua risada me faz apertar minha mandíbula. —
Não é de admirar que sua mãe tenha deixado você, sua fraude sem
talento.

7 Canabidiol.Um remédio feito de maconha.


— Estou cumprindo minha obrigação com você. Nada mais.
Nada menos.

— Você acha que aquelas pessoas que vieram bisbilhotar por


aqui, aquelas que estão fazendo aquele documentário sobre você,
gostariam de saber que merda inútil você é pela forma como trata
o seu pai moribundo?

— Seja o meu convidado. Eu parei de me importar com o que


você pensava de mim há muito tempo — eu minto.

— Ooooh, suas bolas finalmente caíram. Demorou bastante.


Parabéns. Finalmente algo pelo qual posso me orgulhar de você.

Foda-se, pai.

Foda-se. Você.
Bristol
— Esta é a minha Stolie. — A voz do meu pai ressoa pelo
telefone. O apelido que ele me chama desde sempre, duas sílabas
arrastadas. — Como você está? Como está a faculdade? Como está
o idiota do seu chefe?

— Otimo. Pai…

— Aquelas fotos novas que você me enviou de Jagger? Tenho


mostrado a todos. Phyllis, minha amiga do tênis, não consegue
acreditar em como ele cresceu. Josi. Você conhece Josi. Você a
conheceu alguns anos atrás naquele churrasco que fomos onde o
molho não era doce o suficiente e ficaram sem sobremesa. Aquela
era a casa dela. De qualquer forma, eu a encontrei na loja, no
corredor de frutas, para ser exato, e ela acha que ele está
começando a se parecer cada vez mais com você.

Não é exatamente difícil para alguém pensar quando não tem


conhecimento de quem é seu pai para fazer uma comparação
verdadeira.

— E então eu mostrei a Randy. Ele pescou uma truta arco-íris


de cinco quilos, então está convencido de que Jagger traz boa
sorte. Ele quer que você o traga de volta aqui em breve para que
ele possa pescar conosco.
Eu amo o homem até a morte, mas ele é exaustivo em todos
os sentidos da palavra. E eu preciso que ele não seja agora.

— Pai. Eu…

— Oh. Falando de…

— Pai — eu falo mais alto. — Eu preciso da sua ajuda.

— O que está errado? — Preocupação percorre através da


linha.

A mesma preocupação que sinto quando olho ao redor do


estacionamento quase vazio fora do trabalho. — É o meu carro. —
Minha risada é de descrença enquanto aperto a ponta do meu
nariz. — Estou tentando ligá-lo e não está funcionando.

— Onde você está? — Ele pergunta como se estivesse na


mesma rua e não a várias horas de distância.

— Fora do meu apartamento — eu minto. A última coisa que


ele precisa saber e se preocupar é comigo sozinha em um
estacionamento às dez da noite. — Eu sei que você não pode fazer
nada, mas pensei que talvez pudesse tentar me ensinar e que você
pudesse ouvi-lo. Dessa forma, quando eu levar para a oficina, eles
não tentam tirar vantagem de mim.

— Claro. Claro.

Seguimos a rotina de tentar ligar o carro para que ele possa


ouvir várias vezes. — Meu palpite é um alternador ou motor de
partida ruim, mas abra o capô. Tire uma foto dos cabos da bateria
para ver se estão corroídos. Se for esse o caso, é uma solução
simples.
— Ok. Um segundo. — Eu vou abrir o capô, mas levo um
momento para encontrar a alavanca e mais ainda para descobrir
onde colocar a “coisinha’ que sustenta o capô com segurança. O
flash da primeira foto que tiro me cega temporariamente.

— Ei?

Grito com a voz nas minhas costas e me viro,


instantaneamente na defensiva. Mas então vejo Vince no minuto
em que registro que é a voz dele.

— Stolie? Você está bem? O que está errado? — A voz do meu


pai soa alto.

— Sim. Desculpe. Estou bem. — Eu viro as costas para Vince


e abaixo minha voz. — O guincho apareceu.

— Faça com que ele mostre sua identidade para que você saiba
que ele é quem diz ser.

— Ele já fez — eu minto.

— Ok. Ligue-me mais tarde e deixe-me saber a estimativa. Se


for demais, sempre posso dirigir e trocá-lo para você.

Meu sorriso suaviza. — Obrigada. Eu te amo.

Quando me viro para encarar Vince, ele já está inclinado sob


o capô do meu carro. Ele está segurando a lanterna do celular com
uma das mãos e puxando os cabos da bateria e ligando coisas que
não sei o nome com a outra.

— Suponho que não está ligando? Os cabos parecem bons.


Talvez o alternador ou motor de partida — ele murmura,
inspecionando tudo.
— Sinta-se em casa — eu digo, com um rápido olhar para o
prédio de escritórios atrás dele.

— Você não me envia mensagem. Você não liga. Você me


ignora a todo custo. — Ele olha na minha direção, o sorriso em seu
rosto é o suficiente para parar o coração de qualquer um, ainda
mais o meu. — E então você finge que o seu carro está quebrado
no estacionamento porque está tão desesperada para me ver, mas
não tem certeza de como admitir isso sem parecer fraca. — Ele
pisca. — Está tudo bem, Shug. Vou jogar junto.

Por que ele tem que ser tão charmoso? Tão amável quando
seria muito mais fácil se ele fosse o idiota para mim que é para
muitas outras pessoas.

— Você não pode estar aqui.

— Um pouco tarde demais para isso — ele diz e se vira para


mim. Sem fingimento, ele puxa a camiseta pela cabeça, e limpa as
mãos nela.

Mas não estou olhando para as mãos dele ou para a graxa


nelas. Não quando Vince está parado sem camiseta ao luar. Uma
coisa é sentir as linhas duras sob a camiseta, outra é vê-las.

E oh, posso vê-las.

O sorriso em seu rosto me diz que ele sabe exatamente o que


está fazendo.

— Estou falando sério. McMann está me observando como um


falcão. Há câmeras neste estacionamento que ele provavelmente
está observando, pelo que eu sei. Desde o outro dia no estúdio, ele
sabe que algo está acontecendo...
— Algo estava definitivamente acontecendo — ele murmura e
os seus olhos percorrem o meu corpo.

— Viu? Isso não pode acontecer. — Eu dou um passo para trás


e torço o nariz.

— Então você não quer que eu descubra o que há de errado


com o seu carro?

— Não. Não quero que você fique parado assim, seminu no


estacionamento do meu trabalho.

— Ficarei feliz em estar seminu em outro lugar. Como o meu


hotel. Como o seu lugar. — Ele engancha o polegar por cima do
ombro. — Na traseira do meu SUV poderia funcionar também, mas
pode ser um pouco apertada. — Ele ri. — Não seria a primeira vez
que nos beijamos em um carro, no entanto.

— Você vai parar? Por favor? — O homem é exasperante. E


sexy. E... — Eu disse que não podemos fazer isso, e eu quis dizer
isso.

— Shug, você pode dizer isso a si mesma até ficar com o rosto
roxo, mas me dê algum crédito. Nós dois sabemos que é diferente.
Bom, ruim, indiferente, essa coisa que temos parece não querer ir
embora.

— Coloque sua camiseta — eu ordeno, ignorando-o


completamente.

— Hoje você não foi nas reuniões. Mais cedo esta noite. Isso
faz parte do que não podemos fazer isso, então vou ignorá-lo de
novo? — Ele pergunta e dá um passo mais perto.

Mantenha os seus olhos nos dele.


Não no corpo dele.

Não na tatuagem escura serpenteando por seu bíceps e parte


do seu torso.

Não no rastro feliz que desaparece logo abaixo da sua calça


jeans.

— Eu tive os meus motivos — eu finalmente digo.

— Quais foram?

Eu não conseguia parar de pensar em você ou na sensação de


suas mãos em mim. O sabor dos seus lábios. O pensamento de que
eu acho que nunca poderia me cansar de você.

Mas isso é apenas luxúria, Bristol. Luxúria pura e não


alimentada por Vince Jennings, o homem mais gostoso que já vi.

Isso, e não ajuda que já faz algum tempo, muito tempo, desde
que eu fiz sexo. Ser mãe solteira significa que Jagger vem em
primeiro lugar. Isso significa que minhas necessidades nem
sempre são atendidas e, embora eu tenha aceitado isso
completamente, isso não as faz desaparecer.

Mas eu estar com tesão e em um período de seca não significa


que eu tenha que ceder ao homem que faz o meu corpo doer de
desejo.

Porque Vince ainda é Vince. Ele vai embora. Eu vou ficar para
trás. E arriscar o meu trabalho para satisfazer essa necessidade
que ele criou não vale a pena.

E outro dia no estúdio chegou perto demais para o conforto.


Foi um momento de fraqueza que não tenho intenção de repetir,
independentemente de quão incrivelmente gostoso ele esteja
parado ali sem camiseta.

Não estou mais vivendo apenas para mim. Não é nisso que
tudo se resume?

Esse tipo de abnegação é algo que Vince não tem ideia.

Mas essas são todas as coisas que não posso explicar


exatamente a ele, então decido: — Eu estava ocupada. — Sua
expressão me diz que ele sabe que estou mentindo. — Achei que
você estaria no estúdio.

Ele bufa. — Estou preso. Bloqueio de escritor ou como você


quiser chamá-lo. Está se tornando uma coisa e não estou
particularmente entusiasmado com isso.

— Então por que você está aqui?

— Tive uma reunião de última hora com Will e Jasmine.


Precisei discutir algumas coisas que surgiram que eu quero e não
quero deixar antes de voltarmos para Fairfield na próxima semana.

A afirmação me intriga. A menção de ter que sair da cidade na


próxima semana, nem tanto.

— Você deve ter uma tonelada de trabalho para fazer se ainda


está aqui às dez da noite — ele diz.

— Eu estava curtindo o silêncio. A Internet incrivelmente


rápida. A falta de interrupções. — Eu dou de ombros e sei com a
minha próxima declaração que estou deixando-o entrar mais do
que eu pensava anteriormente. — É o melhor lugar para estudar.

— Estudar? — Mesmo ao luar, posso ver a surpresa em seus


olhos.
— LSATs8. Antes tarde do que nunca, certo?

— Bristol. — Ele olha para mim com um movimento sutil de


cabeça. — Isso é ótimo. Parabéns, bem, parabéns pela pontuação
mais alta porque sei que você vai conseguir uma, mas... por que
você não disse nada antes?

— Você não precisa saber tudo sobre mim.

Sua risada ressoa pela noite. — Você me deixa enfiar o rosto


entre suas coxas, mas fica ofendida como se eu estivesse invadindo
sua privacidade quando pergunto sobre ir para a faculdade de
direito? — Ele estende a mão e coloca uma mecha de cabelo atrás
da minha orelha. — Voltamos a ser a impassível Bristol de novo?

Eu bufo e ele ri. — Não achei que importasse. Em algumas


semanas, você estará de volta ao seu mundo, e eu ficarei aqui no
meu. Você saber que estou fazendo os LSATs realmente não
importa no esquema das coisas.

Ele inclina a cabeça para o lado. — Por que você não pode
estudar em casa?

— Por que você não pode ligar para Hawkin e tentar consertar
as coisas com o seu melhor amigo?

— Foi uma mudança sutil de assunto. — Sua risada é rápida


e o seu suspiro é pesado.

— Nada passa por você.

8 Teste de admissão para a faculdade de direito.


— Como você disse, em algumas semanas estarei de volta à
minha vida e você à sua e minha reconciliação ou falta dela com
Hawke não importará.

— É verdade, mas você sente falta dele. Você sente falta deles.

— Isso não é nem aqui nem ali. — Ele limpa a garganta, segura
o lado do meu rosto e passa o polegar pelo meu queixo. Eu deveria
recuar, preciso, porque, pelo que sei, Xavier observa as câmeras a
cada minuto e, ainda assim, pela primeira vez, me dou a graça de
inclinar minha cabeça em sua mãos. — Você está exausta.
Queimando a vela nas duas pontas, hein?

— Estou bem — eu digo e, como se fosse uma deixa, meu


bocejo vem.

— Vou levar você para casa.

— Tenho que ligar para o guincho. Meu carro…

— Vai ficar bem aqui esta noite. Vou cuidar disso para você.

— Eu posso lidar com isso sozinha. Não quero nada de você.

Os olhos de Vince piscam para encontrar os meus, as palavras


do nosso passado ainda tão comoventes agora quanto eram
naquela época. — Eu sei que você não quer. Mas me processe por
querer cuidar disso para você.
Vince
Ela está escondendo algo de mim.

Algo que aconteceu com ela. Algo que a descarrilou. Não sei o
que é, mas Bristol não está me contando toda a verdade.

E odeio isso, mas também, ao mesmo tempo, não tenho o


direito de saber o que ela não está me contando também.

Assim como você não disse nada sobre o seu pai para ninguém.

Passo minha mão pelo meu cabelo e olho para ela, onde ela
está cochilando no banco do passageiro.

Sua cabeça está apoiada na janela, seus olhos estão fechados


e sua respiração é regular. As luzes e sombras brincam em seu
rosto enquanto vou até o endereço que ela digitou no meu telefone.

Há algo tão certo sobre ela estar aqui, ao meu lado, deixando-
me cuidar dela. Não deveria ser, mas simplesmente é.

É ela. Ela sempre pareceu tão certa. A confiança dela não é


algo que eu mereça, especialmente depois de como deixei as coisas
da última vez, mas é o que eu quero desesperadamente.

Eu deveria estar flertando com ela? Não.

Espero que ela perca o emprego? Porra não.


Mas ela é como uma droga, e tudo em que consigo pensar é no
próximo gostinho dela. Merecido ou não.

Dirijo por um bairro mais antigo. Os apartamentos se alinham


nas ruas e as calçadas estão rachadas. As árvores competem com
os postes de luz por espaço.

Parece simples.

Assim como o carro de Bristol.

E não que haja algo de errado nisso, porque não é de lá que


eu vim? A norma em que todos são como todos os outros, todos
lutando para sobreviver no dia a dia, todos lutando para obter uma
vantagem no mundo?

Um lugar que eu ainda deveria estar, com toda a honestidade.

Mas definitivamente não onde ela deveria estar, no entanto.

A culpa me consome. É cru, real e infundado quando estaciono


na rua, mas está lá mesmo assim.

E se eu não tivesse saído da última vez?

E se eu soubesse como consertar a merda dentro de mim para


que eu pudesse ser o que ela merece?

E se. E se. E se.

Estaciono o SUV, estranhamente esperando ter mais alguns


momentos com ela, mas o movimento a acorda. Suas mãos se
debatem, derrubando a bolsa do colo e parte do conteúdo cai no
tapete.

Atortoada, ela agacha para juntar tudo e enfiar de volta na


bolsa. — Desculpe. Adormeci. Eu não queria…
— Bristol. — Ela enfia outra coisa em sua bolsa. — Tudo bem.
Relaxa. — Eu coloco minha mão em seu antebraço para acalmá-
la. O engraçado é que eu não sabia o quanto precisava da conexão
também. Seus olhos encontram os meus e, quando ela sorri, o
único pensamento que consigo fazer é: por que isso é tão fácil
quando simplesmente não pode ser? — Você está queimando a vela
nas duas pontas. Não se desculpe.

Saio do carro e abro a porta para ela. — Deixe-me acompanhá-


la.

— Não. Estou bem. sério. É só subir as escadas. — Ela sorri e


ignoro o seu nervosismo por ter acordada assustada.

Cada parte de mim quer dar um beijo de boa noite nela. Quer
segui-la escada acima. Quer sentir o calor do corpo dela contra o
meu. Quer acordar ao lado dela.

Desligue isso. Desligue isso. Vá embora.

Não se trata do que é melhor para você quando se trata dela,


Jennings. Sempre foi sobre o que é melhor para ela.

Por que mudar agora?

Inclino-me para frente e dou um beijo em sua bochecha. —


Boa noite, Shug. Durma um pouco. Me envie uma mensagem de
manhã e vou garantir que você chegue ao trabalho na hora.

Espero uma recusa, mas sou recebido com um fantasma


sonolento de um sorriso e um rápido aceno de cabeça. — Obrigada.
Boa noite.
Bristol se afasta com um rápido olhar por cima do ombro antes
de desaparecer entre dois apartamentos em um tesouro na
escuridão.

Conflito com coisas das quais nem tenho certeza, fico olhando
para onde a vi pela última vez por muito mais tempo do que
deveria. É só quando volto para o meu SUV que percebo sua
carteira de motorista no banco do passageiro. Deve ter caído da
bolsa dela.

Ela olhando para mim na foto. Seu cabelo está um pouco mais
escuro e o seu sorriso torto. Sou trazido de volta aos dias de
fotografia no ensino médio e esperando para ver qual de nossas
carteiras de estudante era pior. Como ela carregava a minha na
bolsa e a guardava muito depois do fim do ano letivo.

Mas há algo mais que me chama a atenção. O endereço. É


diferente de onde estou estacionado. Uma rápida olhada na data
de emissão de sua licença diz que tem apenas alguns meses. Isso
significa que o endereço deve estar correto.

A curiosidade me faz digitar o endereço no meu GPS e ir para


lá.

O pequeno apartamento tipo chalé fica a dois quarteirões e um


quarteirão abaixo de onde deixei Bristol. A entrada da frente está
vazia e a varanda da frente tem alguns vasos de flores que se
espalham pelas bordas.

Assim que estaciono do lado oposto da rua, uma luz se acende


na sala da frente e Bristol vai até as janelas e fecha três conjuntos
de persianas.
Não tenho certeza se estou magoado ou impressionado com a
mentira dela. Mágoa por ela não querer que eu saiba onde ela mora
e impressionado por ela ter tido coragem de me enganar.

A questão é, enquanto sua silhueta se move pela sala, por que


ela não falou?

Parece que outra pessoa também está mantendo a guarda alta.

Então, por que isso me deixa ainda mais determinado a


derrubá-la?

Sento aqui e fico olhando para a casa dela muito depois da


hora que as luzes se apagam. É sentar aqui ou olhar para o meu
teto. A insônia é uma cadela para dizer o mínimo.

Esses malditos e ‘ses’ voltam para me assombrar no silêncio


do meu carro.

Meus dedos começam a bater um riff no volante.

Os acordes começam a se repetir continuamente na minha


cabeça.

Aquelas malditas letras que me escaparam semana após


semana se materializam do nada.

Uma noite. O amor brilhou.

O gosto de você ficou na minha mente.

O nascer do sol. Adeus.

As palavras que dissemos eram mentiras totais.


Estradas longas. Becos-sem-saída.

Estar bem sozinho era tudo fingimento.

Na estrada. No palco.

Pra viver sem você eu tive que me desvencilhar.

Você foi a única, desde o início.

Por causa disso, quebrei o seu coração.

Eu sempre te amei,

Mas eu não poderia ficar com você.

Você não vai me perdoar.

E eu não posso esquecer.

Você sempre foi o meu doce arrependimento.

Olho para as palavras que rabisquei no verso de um recibo que


tinha na carteira. Eu os leio várias vezes, a música para
acompanhá-los, mas se compondo em minha cabeça.

Acho que minha musa está falando de novo.

Pena que eu não posso dizer a ela as palavras que ela merece
ouvir.
Vince
Uma viagem de volta a Fairfield não estava exatamente na
minha lista de desejos. Nos arredores da Bay Area, é conhecida por
estar perto de vinhedos, mas não tem nenhum, clima quente de
verão, falta de empregos e lar de um certo Deegan Jennings.

Prefiro que ele não reivindique essa última parte.

Quando saí daqui, a única coisa que me tentou a voltar foi


Bristol. Não me passou despercebido que ela também estava aqui
hoje enquanto eu caminnhava pela estrada da memória. Uma rua
onde os únicos bons estavam com ela.

Uma única visita à escola secundária. Um reencontro com o


professor de música da escola que me ensinou a ler partitura.
Outro no primeiro clube underground em que toquei, onde menti
sobre minha idade para poder subir no palco. Uma entrevista que
comeu o resto da porra do meu dia.

Espalhou-se a notícia de que eu estava lá. Maldita cidade


pequena. Pela maneira como as pessoas apareceram, tenho
certeza de que as mensagens de texto estavam voando sobre onde
as equipes de filmagem estavam com o passar do dia.

Eu não me importei. Não é como se eu ainda não estivesse


acostumado. McMann adorou, mas atenção é coisa dele.
A porra de tudo isso era que me fazia procurar em cada
multidão, preocupado que o meu pai estivesse lá. Preocupado que
ele aparecesse bêbado, fizesse uma cena e me revelasse o impostor
que ele diz que eu sou.

Só porque ele não apareceu não significava que estava imune


aos rumores. Os textos vieram. Oh, como eles vieram. Um após o
outro.

Pai: Ah que lindo, hoje você está fingindo ser uma verdadeira
estrela do rock.

Pai: Onde podemos nos encontrar?

Pai: Você sabe onde deixar um cheque.

Pai: Estou sentado aqui esperando.

Pai: Última. Chance. Porra. Faça isso direito.

Mesma merda. Dia diferente.

Esfrego a mão no rosto, grato por me livrar de toda a


maquiagem que hoje fizeram em mim para não parecer abatido
durante as filmagens.

E mais do que grato pela viagem de carro de uma hora daquela


cidade de merda e aliviado por estar sentado em meio às luzes
brilhantes de São Francisco. O horizonte salpicado de arranha-
céus. O vermelho da Golden Gate Bridge perdido em uma névoa
de neblina. A sombra assombrosa de Alcatraz no meio.

Minha cerveja está vazia.

Minha mente está vagando.

Meu corpo está cansado.


E o meu suspiro pesa uma tonelada quando o meu celular
toca. Mas quando olho para a tela, fico surpreso porque não é
quem eu penso que é.

— Hawkin?

— Ei.

A estranheza permeia o silêncio.

Como você está?

Eu fodi tudo.

Eu sinto sua falta.

— O que posso fazer para você? — Eu pergunto, a voz rouca,


a cabeça girando e o orgulho se recusando a me deixar dizer as
coisas que preciso dizer. Deveria dizer.

— Você está bem?

— Ótimo. Perfeito. Por quê?

— Nada. — Ele limpa a garganta. — Eu estava no estúdio hoje.

— Sério? — Por que ele está me dizendo isso?

— Sim. Noah tocou para mim a última faixa que você fez — ele
diz, e estremeço. — É bom, cara. Muito bom.

— É uma merda e você sabe disso.

— Você sempre foi duro consigo mesmo.

— Algumas coisas nunca mudam, né?

— Sim. Acho que sim.

Por que é tão difícil falar com o homem que costumava ser o
meu melhor amigo?
— Como está Quinlan?

Volte para a porra da sua esposa pretensiosa.

Minhas próprias palavras ecoam de volta para mim, e mereço


a hesitação que ele dá em resposta. — As coisas estão bem em
todos os aspectos.

— Que bom. Fico feliz em ouvir isso. — Eu aperto a ponta do


meu nariz, sem saber como engolir o meu orgulho e dar aquele
passo adiante.

Apenas faça isso, Jennings.

Eu vou abrir minha boca, mas antes que eu possa dizer


qualquer coisa, Hawke fala. — Eu tenho que ir.

— Sim. Claro. Sem problemas.

— Talvez eu fale com você algum dia.

— Talvez — eu murmuro, o silêncio se estendendo. — Ei,


Hawke?

— Sim?

— Obrigado pela ligação.

— Sem problemas.

Quando a ligação termina, fico olhando para a tela por mais


tempo do que deveria, sem saber como me sinto sobre a conversa
além de me sentir imprudente pra caralho.

A última coisa que quero é jantar com Xavier. O filho da puta


está tão enfiado na minha bunda que consegue ver o meu umbigo.
Estou acostumado à liberdade, a não ser controlado com luvas de
pelica, então talvez seja por isso que me sinto confinado.
E é ainda pior saber que ele está ao lado do meu quarto e
Bristol do outro.

Foda-se.

Os olhos de Bristol estão arregalados de surpresa quando ela


abre a porta e me encontra lá.

— Você voltou.

Ela foi em um carro separado de volta para a cidade, para que


ela pudesse ficar para trás e visitar o pai.

— Sim. O que está acontecendo?

Por cima do ombro dela, posso ver um laptop e livros


espalhados por toda a cama. Seu cabelo está preso em um coque
bagunçado que só serve para destacar o seu longo pescoço no
moletom ombro a ombro que ela está vestindo.

— Nós vamos sair.

— Não, não vamos. — Ela dá um passo à frente e olha para


frente e para trás no corredor, sem dúvida para Xavier.

— Onde está o seu senso de aventura?

— Firmemente enraizado em manter o meu emprego. — Ela


me oferece um sorriso açucarado antes de tentar fechar a porta.

Eu paro com a mão e entro atrás dela. — Você quer ser


advogada, certo? Tornar-se uma agente e gerenciar talentos algum
dia? — Eu me movo na frente dela para que ela não possa me
evitar. — Você pode estudar o quanto quiser, Shug, mas as lições
mais valiosas que você vai aprender serão na prática.
— Sem dúvida você acha que essas mãos deveriam estar em
você. — Ela revira os olhos.

— Viu? Você já está ficando mais esperta. — Ela me dá um


tapa, mas ri quando pego sua mão, seguro o seu pulso e começo a
puxá-la para a porta.

— Não. Eu não posso.

— Estou levando você para o tipo de escola que só eu posso


ensinar.

— O que você está…

— Shh. — Eu coloco o meu dedo em seus lábios e pisco. —


Estou prestes a dizer ao seu chefe que não estou me sentindo bem
e vou pular o jantar esta noite. A última coisa que você quer que
ele faça é ouvir você me sequestrando. — Seus olhos se arregalam
enquanto eu a conduzo pela mão pelo corredor, passando em
frente ao quarto dele, até o elevador.

— Vincent Jennings — ela sussurra ... mas apenas sem


entusiasmo.

— Ajuda! — Eu falo enquanto as portas se fecham. — Estou


sendo maltratado e sequestrado.

— Isso nem é engraçado. — Ela balança a cabeça e olha para


mim, com as bochechas coradas, mas com um sorriso largo. —
Preciso da minha bolsa. Eu preciso de…

— Não, você não precisa.

Deslizo um olhar para ela e dou um tapinha nas minhas


costas. Vamos pintar a porra da cidade enquanto eu a mimo.
E eu vou aproveitar cada porra segundo disso.

●●●

Aceno o meu dedo para Bristol fazer um giro. Ela apenas me


dá aquele olhar, todo homem sabe qual é o olhar, mas quando o
vendedor superatencioso sai do vestiário para retirar as roupas
descartadas, Bristol faz exatamente isso.

Sua saia é curta, mas elegante. Seu top é justo com decote
matador e mangas compridas. Suas botas pretas são tão altas que
só consigo pensar em como seria difícil abri-las, já que minhas
mãos iriam querer continuar subindo por sua coxa até sua boceta.

Posso ter pago para a boutique ficar aberta e atender Bristol,


mas tenho certeza que esse preço não inclui o direito de fodê-la
contra a parede como o meu pau está me implorando para fazer
agora.

Isso não significa que eu não tenha pensado nisso, no entanto.


Mas isso exigiria rapidez e silêncio, eu recebendo apenas o meu, e
depois de esperar sete anos para ter Bristol Matthews novamente,
é melhor você ter certeza de que quero levar o meu tempo.

Mas um homem pode sonhar.

Porra, ele pode sonhar.

— É esse — eu digo. Visões de despi-lá mais tarde já são


fantasias concretas em minha mente.
— Não sei. — Ela faz uma careta e se olha no espelho. — Eu
acho que é muito apertado e mostra demais...

— E você fica incrível nele — eu digo, ando por trás dela e


pressiono um beijo em sua nuca exposta.

Quando encontro os seus olhos no espelho, ela está olhando


para mim com uma expressão que não tenho certeza se consigo
ler, mas não acho que vou esquecer tão cedo.

Ela balança a cabeça rapidamente, quase como se estivesse


limpando quaisquer pensamentos que esteja pensando, e então
volta a se concentrar em seu reflexo. Ela alisa as mãos nos quadris
e estreita os olhos em indecisão.

— Estou te dizendo, esse é o meu favorito.

— Caso você não tenha notado, não estou tão magra quanto
costumava ser.

A porra da sociedade e os seus padrões de merda.

— Eu não tinha notado.

Ela bufa e revira os olhos. — Ok, certo.

Meu silêncio puxa os seus olhos de volta para encontrar os


meus. — Você acha que estou mentindo?

— Vince...

Coloco minhas mãos em seus ombros e a viro para mim. Ela


faz com relutância, sua expressão duvidosa me lembrando muito
de quando estávamos no ensino médio. É difícil não sorrir.
— Quando olho para você, tudo o que vejo é você. Você não
entende isso? Este corpo que me excita desde os dezesseis anos.
Eu te asseguro…

— Mas este corpo mudou um pouco.

— Assim como o meu. Mais cicatrizes. Mais tatuagens. Mais…

— Barriga. — Outro revirar de olhos que me faz sorrir.

Estendo a mão e emolduro o seu rosto para que ela seja


forçada a encontrar os meus olhos. — A sua mudança é a sua
beleza, Shug. Sempre foi para mim. Sempre será para mim. Você
não vê isso? — Pela primeira vez desde que voltei, quando roço os
meus lábios nos dela, ela não luta comigo e com certeza não
esconde as lágrimas que brotam em seus olhos.

— Já decidiu? — A vendedora diz enquanto entra no provador,


seus saltos parando abruptamente quando ela nos vê. — Desculpe.
Me desculpe…

— Vamos levar todos.

— Vince…

— Ela vai manter este aqui. O resto pode ser enviado para o
nosso hotel.
Bristol
A sua mudança é a sua beleza.

Não consigo tirar esse comentário da porra da minha cabeça,.


Não depois da boutique, quando ele me levou a um salão para fazer
o meu cabelo e minha maquiagem. Não depois de jantar em um
telhado com vista para a ponte Golden Gate. E, no entanto, isso
não era nada em comparação com o homem à minha frente.

— E você, Vince? Você está aqui agora, mas para onde você irá
depois? Depois de terminar o álbum. Voltar para Nova York? Para
Londres? — Eu dou uma garfada na comida, precisando ter essas
respostas para cimentar as muitas razões pelas quais esses
sentimentos, que continuam crescendo em todas as fendas do meu
coração como ervas daninhas invasivas em uma calçada, precisam
ser ignorados. — Você planeja se estabelecer? Estabelecer onde?

Vince inclina a cabeça e olha para mim. O mesmo olhar que ele
me deu quando beijou minha nuca mais cedo em uma rara
demonstração de afeto verdadeiro. — Não sei se algum dia vou me
estabelecer. Eu sou um bastardo egoísta, você sabe disso — ele diz
com um sorrido fantasma para encobrir a autodepreciação. — A
palavra lar sempre teve uma conotação ruim para mim. Um lugar
para ficar longe, então... quem sabe. — Ele ri, a emoção em seus
olhos clareou a parede parcialmente levantada. — Talvez na casa
dos quarenta. Esta indústria se move em um ritmo relâmpago. As
pessoas vêm e vão, são esquecidas e enterradas quando a próxima
grande novidade chega. Eu só quero fazer o passeio o máximo que
puder, o mais longe que puder. Cada estrada me leva para mais
longe dele e da vida que nunca planejei ter.

Acho que é a coisa mais honesta que ele me disse desde aquela
noite em que saiu do meu quarto. E dói ao mesmo tempo.

— E o Bent? Sobre os planos para...

— Não faço planos para o futuro. É melhor para mim se eu


simplesmente não fizer. — Ele estende o braço por cima da mesa e
aperta a minha mão. — Chega de falar de mim. Esta noite é tudo
sobre você. Grande parte do mundo gira em torno de mim, parece
que todo mundo já sabe de tudo e, se não souber, o documentário
ajudará nisso. — Ele leva uma taça de vinho aos lábios, mas me
encara por cima da borda. — Então me conte mais...

— Não há muito mais a dizer — eu digo, magoada, porque a


coisa mais importante da minha vida, a coisa que eu falo e me gabo
para todo mundo, eu não posso contar a ele. Se eu fizer, ele pediria
uma foto e saberia imediatamente.

Jagger foi minha decisão. Ele é minha responsabilidade. E se


há uma coisa que estou aprendendo sobre Vince hoje, e o homem
com quem fiz sexo sete anos atrás, é que ele não quer estar preso
com ninguém. Ele está cansado de pessoas querendo coisas dele. A
última coisa que quero é que ele pense que eu tive Jagger para
prendê-lo para mim. Para nós. Para contê-lo e impedi-lo de alcançar
o seu objetivo, conquistar o mundo.
Portanto, não vou sobrecarregá-lo com esta verdade. Ele deixou
claro que uma criança é a última coisa que ele quer. E estou bem
com isso. Estou mais do que em acordo com isso.

Da mesma forma, eu não quero que Jagger acredite que não é


desejado. É melhor não ter pai do que saber que você tem um pai
que não quer você.

— Tenho certeza de que há muito para contar sobre sua vida,


Bristol. Eu quero ouvir tudo.

O jantar levou a selfies na ponte Golden Gate. Risadas e


brincadeiras. Tantas risadas. Sundaes no Ghirardelli. E para mim
nos bastidores do Bottom of the Hill, com uma grande multidão
esperando, e Vince prestes a subir ao palco sem avisar.

Olho-me no espelho à minha frente, com a mão na barriga, e


me pergunto quem é essa pessoa cujo reflexo está olhando para
mim.

Eu definitivamente não pareço a mãe de uma criança de seis


anos... e ouso dizer que é incrível voltar a ser um pouco do que era
antes.

E embora eu diga isso agora, faz menos de vinte e quatro


horas, e já sinto uma falta absurda de Jagger.

Não ajuda que minha cabeça esteja zumbindo com o turbilhão


desta noite, e toda vez que olho para Vince o meu coração dispara
um pouco mais rápido.

— O que você está fazendo aqui? — Eu olho para a placa azul


neon que diz Bottom of the Hill e de volta para Vince.
— Dando uma ordem pra você para esta noite. — Ele sorri e isso
faz o meu pulso acelerar. Ele me pega pela mão e me puxa para o
que parece ser um clube quando entramos. Ele me conduz para a
área de trás e me empurra para frente na parte inferior das minhas
costas.

— É por isso que você trouxe o seu violão. — Eu percebo que


Vince pretende tocar aqui esta noite. Fiquei curiosa para saber por
que o violão estava no carro quando saímos do hotel.

— Tenha um violão. E viajará. — Ele o segura e me dá um


sorriso. — Eu planejei tocar aqui o tempo todo. Foram as coisas
antes de tocar que fizemos hoje à noite que foram improvisadas.

— Então o que você precisa que eu pergunte…

— Tim é o dono. Ele faz uma barganha difícil e é um defensor


quando se trata de sua agenda e não a atrapalha. Pergunte por ele
e então…

— Eu não quero ser uma promotora, Vince. Eu quero ser uma


agente.

— E ser uma agente é defender o seu cliente. Eu sou o seu


cliente. Quero experimentar umas coisas novas esta noite. Sou tão
imprevisível e tão idiota que, se você não me der o que eu quero, vou
jogar no lixo alguma merda e dar a você ainda mais com que se
preocupar. — Seu sorriso comedor de merda me diz que ele está
brincando, mas o ponto está feito. — Agora, qual é a ordem que o
seu cliente imprevisível exigiu que você cumprisse?

Encontro os seus olhos e suspiro, secretamente excitada pela


adrenalina correndo em minhas veias. — Dizer que você quer tocar,
mas que seja anunciado apenas como convidado especial e não pelo
nome. Que você precisa fazer uma rápida passagem de som.

— Sim. — Ele olha a hora no celular. — E eles abrem as portas


às dez, então temos que nos mexer.

— Ok.

Ele ergue o queixo em direção ao fundo do lugar. — Ele é o único


com a camisa azul escura.

Começo a me afastar e sou puxada para trás sem aviso,


recebida pelo calor lento e sedutor dos lábios de Vince nos meus. As
borboletas na minha barriga ganham vida.

— Eu não estou beijando o meu cliente — eu digo quando ele dá


um passo para trás e pisca.

— Eu sei, mas achei que poderíamos usar um pouco de sorte.

Olho para Vince. Ele está sozinho em um lado do bar. Sua


cabeça está abaixada, suas mãos que estavam brincando com o
seu violão agora estão ociosas ao lado do corpo, e pode-se pensar
que ele tem o peso do mundo em seus ombros ou que está prestes
a enfrentar o mundo.

Ambos dão a ele uma vulnerabilidade que eu nunca vi antes.

Meu peito se contrai. O instinto me faz querer andar até ele,


deslizar os meus braços em volta da sua cintura e oferecer-lhe
apoio moral. Mas as circunstâncias, nossas circunstâncias em
particular, me dizem que não tenho certeza se isso seria bem-vindo.
Isso não é ensino médio. Ele é um homem adulto.

Esta noite foi... incrível. Incrível. Uma vez na vida. A última


coisa que quero fazer é arruiná-lo.
— Ei — eu murmuro, precisando fazer ou dizer alguma coisa.

Vince levanta a cabeça e encontra os meus olhos. Seu olhar é


forte, resoluto, e o sorriso suave e o aceno sutil que ele me dá dizem
ainda mais. Esta noite também significou algo para ele.

Sua mão vai para o pulso oposto, aquele com a pulseira que
dei a ele tantos anos atrás, e ele sorri. Seu sorriso ilumina a sala,
apesar da súbita sensação da gravidade que sinto dele. Mas o
momento é passageiro quando a equipe chega e diz a ele que é hora
do show.

Estou nervosa por ele. A multidão é pequena em comparação


com arenas lotadas a que ele está acostumado, mas ainda não
consigo me imaginar de bom grado no palco e me abrir para as
críticas, julgamentos e, vamos encarar, adoração de todos.

Ele é anunciado apenas como um convidado especial. Observo


da direita do palco enquanto as luzes se acendem sobre ele no
centro do palco, sua cabeça baixa com o capuz do seu moletom
lançando sombras sobre o seu rosto e suas mãos posicionadas em
seu violão.

Ele não fala. Ele não olha para cima. Ele simplesmente começa
a tocar.

É lento e assombroso no início. Apenas Vince e a acústica.


Apenas prendo a respiração do público e calafrios perseguem
minha pele. Apenas os seus dedos, o seu talento e um microfone
para compartilhar.

Uma coisa é observá-lo dos assentos em uma arena. Você pode


ouvir a música lá e sentir que ele está se divertindo.
Outra é ficar a alguns metros dele e observar a música tomar
conta dele. Possuí-lo. Acalmá-lo e possuí-lo. Tornar-se parte dele
a partir da postura do seu corpo e dos tendões tensos em seu
pescoço.

Ele termina o solo de violão, deixa a nota morrer até que o


silêncio permeia no bar. E com um timing que foi claramente
aperfeiçoado, antes que a multidão comece a bater palmas, Vince
joga a cabeça para trás, então o moletom cai, e começa a música
mais popular de Bent.

A multidão reconhece tanto ele quanto a música e fica


absolutamente louca. Mesmo de onde estou atrás dos alto-
falantes, o rugido é insano.

Vince absorve tudo, sua presença dominadora e um sorriso


arrogante nos lábios. Ele toca os acordes sem pensar antes de
avançar e cantar os primeiros compassos da música.

As palavras que Hawkin geralmente canta.

Joga comigo. Implore-me. Leve-me. Me faz.

Seja a única a me fazer cair.

Seja a única a levar tudo.

Não importa para a multidão, no entanto. Eles ainda estão em


choque com a sorte de estarem aqui esta noite. Os telefones estão
gravando, transmitindo ao vivo, compartilhando tudo o que é Vince
Jennings.

Pego os olhares rápidos por cima do ombro como se ele


estivesse procurando por sua banda, hábito de alguns anos.
Percebo a pertubação da sua expressão em seu rosto quando ele
percebe que os seus irmãos companheiros de banda não estão lá.
Mas é leve e rápido.

Mas está lá.

— Como vocês estão esta noite? — Ele pergunta depois de


algumas músicas. Ele está sem fôlego, suado e pelo sorriso no
rosto, amando cada minuto.

A multidão ruge em resposta. Ele abaixa a cabeça timidamente


e ri antes de olhar para eles e se sentar no banquinho que um
ajudante de palco colocou para ele.

— Então, eu estava na cidade para algumas coisas e fiquei com


vontade de tocar. Meu pessoal entrou em contato com o pessoal
deles e perguntou se eu poderia tocar algumas músicas para vocês
hoje à noite. — Ele passa a mão pelo cabelo que já está úmido. —
Espero que vocês não se importem por eu ter estragado a noite de
vocês.

Ele nem termina. O público abafa suas palavras com


apreciação.

— Acho que isso significa que estou perdoado. — Mais


animado. — Menor às vezes é melhor. Locais. Estou falando de
locais, pessoal. Porra, cara. Tire sua mente da sarjeta. — Ele ri. É
o som mais puro para mim.

E soa como Jagger.

O pensamento me desconcerta quando não deveria. A culpa


por estar mantendo esse ser humano incrivelmente perfeito longe
de Vince ainda mais.
Mas ficar aqui, observando-o, conhecendo-o... amando-o, sei
que é aqui que Vince deveria estar.

Foi por isso que ele partiu há tantos anos.

Ele pertence a eles.

Não para mim.

E eu estava certa todos esses anos em não tentar mais fazer


dele algo que ele não queria ser, não importa o quanto eu adoraria
que ele quisesse.

— Então, eu escrevi algumas coisas para o novo álbum.

— Eu amo Hawkin! — Uma mulher grita da escuridão.

O sorriso de Vince é agridoce, sua voz é um reflexo disso. —


Eu também, querida, mas tenho a sensação de que o seu tipo de
amor pode envolver coleiras e algemas. — Ele ergue as mãos. —
Cada um na sua.

A multidão ri e um intrometido grita: — Certo.

— Como eu estava dizendo — ele diz através de uma risada.


— Eu escrevi algumas coisas novas. Eu queria tocar um pouco
disso. Vejam se vocês gostam para eu saber se estou no caminho
certo. Vocês acham que se eu tocar para vocês, vocês poderiam me
dizer se gostaram?

Aplausos mais fortes.

— Ok. Parece bom. — Ele pigarreia, pega sua palheta e ajusta


o microfone. — Esta aqui uh... significa muito para mim. Vocês
podem ver... é sobre uma garota... — Vince olha para mim. Seu
sorriso suaviza. Seus olhos nadam com tanta emoção que não sei
qual escolher. — Uma garota cujo a sua mudança é a sua beleza.
A música se chama Sweet Regret.

Erros. Dores de cabeça.

Meu coração está aqui, é seu para levar.

Afogado. Segurando.

Seu amor por mim ainda está forte?

Linhas desenhadas. Sinais mistos.

Afastei-me sem dizer uma palavra.

Chamadas bloqueadas. Paredes perfuradas.

Suas lágrimas silenciosas eu nunca ouvi.

Você era a única, desde o início.

Por causa disso, quebrei o seu coração.

Eu sempre te amei,

Mas eu não poderia ficar com você.

Você não vai me perdoar.

E eu não posso esquecer.

Você sempre foi o meu doce arrependimento.


Bristol
Algo mudou entre nós.

Não sei se é a música ou o olhar que ele me deu depois ou as


lágrimas que fingi não chorar, mas algo mudou.

Quase uma renúncia ao nosso destino.

Ele não disse isso na música que escreveu? Nas letras que ele
cantou? Na maneira como ele saiu do palco, me puxou contra ele
e apenas me segurou como se estivesse se despedindo?

É quase como se nas letras de sua música, Vince colocasse


todas as cartas na mesa e, no entanto, nós dois percebêssemos
que ele ainda não pode vencer a mão. Há uma pequena vitória em
fazer a jogada e uma derrota silenciosa em saber que ainda não é
suficiente.

Não nos falamos durante a viagem de carro de volta ao hotel.


Nossos dedos estão ligados e olhares são compartilhados, mas
nenhuma palavra é trocada.

Apenas agradecimentos ausentes e de boas-vindas quando as


portas são abertas, quando o botão do elevador é pressionado, e
caminhamos em direção à porta do meu quarto de hotel.

Abro sem convidá-lo a entrar. Não preciso. Ele apenas entra


atrás de mim e fecha a porta atrás de si.
Ele sabe exatamente como eu. Não importa o quanto qualquer
um de nós iria lutar contra isso, essa atração inegável que temos
um pelo outro, que no final é mais forte do que nós.

Dou-me a graça de olhar pela janela para a cidade além. Não


vou me convencer de que estar com Vince é para encerrar, que
poderei ir embora nos meus termos.

Os anos não me ensinaram que não há termos quando se trata


de Vince? Existe apenas o aqui e agora. O momento para se
divertir. Os amanhãs para esquecer. As sensações para me perder.
Os sentimentos que preciso controlar e não abandonar.

— Shug. — Sua voz é calma, muito diferente da personalidade


grandiosa no palco algumas horas atrás.

Com o coração na garganta, viro-me para encarar o homem


que mais amei na minha vida, sabendo que o amor por si só não é
suficiente.

Ele estende a mão e segura o meu rosto, fazendo-me sentir


como se eu fosse a única coisa que ele vê. Ele se aproxima, seus
olhos procurando, pelo que eu não sei.

Nossos rostos estão a centímetros de distância.

Nossos corpos já aquecidos.

Nossas cabeças já imaginando como o outro vai se sentir


novamente.

Nossos corações já sabendo que isso pode nos quebrar, mas


não podemos mudar o que está escrito nas estrelas.

— Eu pensei em estar com você de novo tantas vezes — ele


sussurra e roça os meus lábios nos dele. — Nas noites solitárias.
— Ele abre a parte de trás da minha saia. — Quando algo me
lembra você. — Ele empurra minha saia para baixo sobre os meus
quadris, beijando a curva do meu pescoço. — Quando me permito
o direito de sentir sua falta.

Os nervos percorrem através de mim, roubando o momento.


Minhas inseguranças me fazem estender a mão para puxar minha
camisa para baixo para cobrir as estrias em meus quadris. Para
distrair da flacidez dos meus seios. Para esconder a espessura das
minhas coxas. As cicatrizes de batalha que atribuo à maternidade.

— Shug. Olhe para mim.

Coloco um sorriso no rosto, mas ele não acredita nem por um


segundo. — O que? Estou bem. Apenas nervosa. Eu não sou a
mesma que costumava ser.

Ele balança a cabeça quase como se admitisse que também


está nervoso. Quase como se ele estivesse reconhecendo que há
tanta coisa em jogo neste momento, tanta expectativa construída
em relação a ele, que ele tem medo de estragar tudo também.

Ele me beija novamente. Nossas línguas dançam e nossos


lábios falam por meio de ações. E enquanto fazemos isso, ele tira
a barra do meu top das minhas mãos antes de lentamente puxar
sobre a minha cabeça. Meu sutiã vai em seguida.

Quando enrijeço, ele apenas balança a cabeça, desliza as mãos


pelo meu corpo e se abaixa enquanto desce.

— Você é linda, Bristol. — Ele beija minha barriga. — Você


sempre foi. — Outro beijo em cada um dos meus quadris. — Você
sempre será. — Ele desce as mãos até o topo das botas que ainda
estou usando antes de voltar a segurar minha bunda. — Eu me
ofereço para apagar as luzes para você. — Um beijo na parte
inferior do meu peito. — Para fazer você se sentir mais confortável.
— Um beijo para o outro. — Mas eu sou um homem egoísta. — Ele
está de volta ao nível dos meus olhos e não há como confundir o
desejo em seus olhos. — Eu não quero perder nada esta noite e
isso inclui ver você. — Ele me beija com ternura. — Eu me
desnudei para você esta noite. Eu expus tudo para o mundo ouvir.
Para você saber. Por favor, não se esconda de mim.

— Vince…

— Deixe-me amar você, Bristol. Deixe-me mostrar a você a


única outra maneira que conheço.

Eu inicio o beijo desta vez. Minhas mãos passam pelo cabelo


na base do seu pescoço enquanto o algodão macio da sua camisa
faz cócegas em minha pele nua. Nós nos beijamos como nunca
antes. Lento e tímido. Suave e calmo. Como se nunca quiséssemos
que acabasse.

Há intimidade nisso. Ao deleitar-se com a calma antes da


tempestade. Em aproveitar o agora e esquecer o amanhã.
Tentando memorizar cada gemido e suspiro, e a maneira como ele
prova e como me sinto sob o seu toque.

Eu era muito jovem para pensar nisso da última vez. Para


tentar gravar o momento em minha mente sabendo que seria a
única vez. Não dessa vez. Agora não.

Eu tiro a camisa dele.

Eu desabotoo a calça e empurro para baixo.


É o corpo dele que admiro em sua incrível totalidade.

Eu beijo o meu caminho para baixo em seu torso. Lábios em


seu peito. Abaixo da linha do seu abdômen. Sua trilha feliz. O
dente em seus quadris. E então, quando me abaixo de joelhos, olho
para ele.

Seus olhos ficam escuros, sua respiração superficial, agarro o


seu pau e lentamente o chupo em minha boca.

Sua cabeça revira para trás em seus ombros e suas coxas


ficam tensas, mas sua mão encontra seu caminho sob o meu
queixo e a mantém lá. Olho para ele com o seu pau ainda na minha
boca e todo o meu corpo implora para que eu vá mais rápido para
que eu possa ter o seu toque.

— Continue. — Seu pau se contorce na minha boca. — Eu


quero observar você. Seus lábios. Suas bochechas. Sua mão. Seus
olhos. Quero memorizar este momento.

Começo a trabalhar nele lentamente. O raspar mais suave dos


meus dentes ganha um silvo de prazer. A sucção dos meus lábios
garante um aperto mais firme no meu queixo para que ele possa
foder minha boca. A lambida e o zumbido em seu comprimento me
fazem murmurar.

— Isso.

— Bem desse jeito.

— Deixe a porra da sua boca linda me manipular.

Mas, dessa vez, esse elogio é acompanhado de gentileza. Uma


solenidade sobre o momento. Um entendimento tácito de que,
assim como da última vez, só teremos uma noite.
Para fazer as pazes.

Para compensar o tempo perdido.

Amar um ao outro sabendo que não há amanhãs.

— Eu preciso estar dentro de você — ele sussurra antes de me


ajudar a ficar de pé. Ele leva um momento para ele colocar
camisinha antes de sentar na cama onde eu monto nele.

Inclino-me para frente e o beijo com um desespero enquanto


ele posiciona o seu pau, e afundo lentamente sobre ele. Nossos
beijos sufocam o seu gemido e o meu suspiro quando acomodo ele
totalmente dentro de mim.

Há um momento em que estamos completamente conectados,


quando nossos olhos se encontram, e juro por Deus que ele pode
ver cada verdade que estou escondendo. Que eu o amo. Que eu
sempre o amei. Que temo nunca ser capaz de amar outro como ele.
Que eu sou a mãe do seu filho.

O tempo suspende.

A emoção brota em nossos olhos.

E começo a balançar sobre ele. Gentil. Devagar. Sem qualquer


urgência.

Nossos lábios se encontram. Nossas mãos vagam. Nossa pele


se aquece. Nossos corpos esquentam de desejo e o desejo realizado.

Meus dedos se fecham em seu cabelo enquanto o meu corpo


começa a se contrair. Camada sobre camada. Tijolo sobre tijolo.
Emoção sobre emoção.

Minha respiração é superficial.


Meu coração dispara.

Seu nome é um zumbido em meus lábios, suas mãos me


ajudam a subir e descer sobre ele.

— Olhe para mim — Vince murmura.

Mas eu não consigo.

Eu não posso.

Há lágrimas em meus olhos que não entendo. Isso me


confunde, mas apenas torna o prazer mais intenso e o momento
mais cruciante.

Eu o amo com tudo o que sou. Com tudo o que tenho.

— Porra, Shug. Olhe para mim. Eu quero me lembrar de você


assim. Eu preciso.

A quebra em sua voz me faz encontrar os seus olhos enquanto


nossos corpos se movem juntos. Minhas unhas começam a cavar
em seu bíceps, e meus músculos apertam em torno do seu pau.
Luto para mantê-los apertados e presos aos dele porque as
sensações são muito cruas, muito intensas e muito reais. Cada
nervo se sente tocado. Cada gota de sangue parece revigorada.
Cada inspiração é inebriante.

— Olhos em mim — ele murmura, o seu rosto começa a se


contrair e os seus músculos ficam tensos contra os meus.

O orgasmo me atinge como um maremoto em vez de um raio.


É uma onda lenta de sensação que aumenta e aumenta e aumenta
até atingir uma ferocidade enganosa.
Balanço os meus quadris sobre os de Vince, querendo mais
fricção para prolongar o prazer. Para fazer o momento durar.

— Vince. — É um apelo ofegante e dentro de uma batida, ele


está com a mão na minha nuca e traz os seus lábios aos meus em
um beijo faminto. Um cheio do mesmo desejo violento que está
pulsando através de mim.

— Eu estou com você, Shug. Eu estou com você — ele diz, me


segura no lugar e começa a fazer o trabalho para mim com os seus
próprios quadris.

Ele estabelece um ritmo contundente que é exatamente o que


eu preciso para desencadear o efeito cascata novamente. Para
prolongar a queda. Para nos manter neste momento pelo maior
tempo possível.

E assim que começo a subir novamente, assim que caio


daquela cachoeira, Vince grita o meu nome em duas sílabas
quebradas.

Suas mãos estão em mim, puxando-me contra ele, apertando


ao meu redor enquanto os seus lábios encontram os meus
novamente. Não há espaço entre nós. Nenhuma lufada de ar que
não seja compartilhada. Nenhum batimento cardíaco que não seja
recíproco contra o nosso peito.

É apenas Vince.

É apenas eu.

É apenas um último e doce arrependimento.


Bristol
Estendo a mão e coloco minha mão sobre o coração de Vince.
Sua batida é forte e constante. Muito parecido com a presença dele
na minha vida, mesmo quando ele não está perto de mim.

Ele está de lado, o braço sob a cabeça, o cotovelo dobrado de


modo que a tinta escura das suas tatuagens se destaca contra o
branco nítido da fronha. Seus olhos estão fechados. Uma camada
de barba por fazer está em sua mandíbula. Sua expressão é de paz.

É estranho como ainda vejo o menino no homem diante de


mim. Ou talvez seja o contrário. Mas ambos ainda estão lá. Aquele
que arruinou o meu coração, que o encheu de um amor que não
conhece, que sempre amará.

Apoio-me no cotovelo e estudo a estonteante variedade das


tatuagens em seu braço e no seu peito. Notas musicais, uma
palheta de guitarra, o logotipo de Bent entre outras, mas há uma
em particular que eu não havia notado antes e que me chamou a
atenção. Está em seu flanco esquerdo, escrito de lado e
completamente diferente do resto deles. C 12 H 22 O 11.

Lágrimas queimam em meus olhos, as memórias vindo mais


rápido do que eu posso processá-las, enquanto estendo a mão para
tocar a fórmula molecular do açúcar marcada em Vince.
— Você não está se concentrando.

— Porque a química é chata. — Vince suspira frustrado. Ele


imediatamente começa a bater com os dedos na mesa naquele ritmo
que só ele pode ouvir em sua cabeça.

Estendo a mão e agarro o seu pulso para detê-lo. — Talvez, mas


você precisa disso para se formar, Vincenzo. — Eu pronuncio o
apelido que dei a ele. O que eu comecei a usar não só porque o irrita,
mas porque me faz sentir especial. Como se eu tivesse uma piada
interna com o garoto bonito da escola. Ninguém mais tem permissão
para chamá-lo assim.

Ele revira os olhos quando digo isso, mas suas bochechas ficam
rosadas.

— Vamos encarar tudo isso. Assim que me formar, vou embora


daqui. A última coisa que vou precisar saber são estruturas
moleculares e a diferença entre neurônios e prótons.

— Nêutrons.

— Mesma coisa.

Eu rio e olho em sua direção enquanto ele abaixa a cabeça para


ler o livro mais uma vez. Seus dentes estão afundados em seu lábio
inferior, e aquele cabelo castanho escuro dele cai sobre sua testa
cobrindo o corte que ele disse ser de bater em uma porta de armário
aberta.

Ouvi os rumores sobre ele antes de concordar em ser sua tutora


na semana passada. Um solitário que não se importa com o que as
pessoas pensam. Um bad boy que é rápido com a língua e os
punhos. O cara sobre o qual sua mãe avisa e de quem uma garota
como eu deveria ficar longe.

Só tivemos duas sessões, mas não vejo nada disso. Acho que
ele só não entendeu. Inteligente, mas não gosta de se esforçar.
Empolgado, mas apenas para aprender música. Ele está aqui
porque tem que estar ou o seu pai vai perder a cabeça. Mal-
humorado, mas com um sorriso torto que me perturba quando ele
me agracia com ele.

E quente. Daquele jeito misterioso, sexy e indiferente que me faz


roubar olhares de vez em quando.

Ele balança a cabeça e suspira. — Não importa quantas vezes


eu leia, nunca vou me lembrar disso. O Sr. Johnson vai me reprovar.
Eu vou desistir. Você nunca mais me verá. Fim da história.

— Você não vai desistir. Você não vai desistir. E se você não
voltar, eu vou atrás de você.

— Você faria isso? — Há algo na maneira como ele diz isso que
me faz pousar o lápis e estudá-lo.

— Claro que sim — eu digo quando ele apenas balança a cabeça


e desvia os olhos. — Agora, vamos. Vamos nos concentrar para que
possamos fazer isso. O primeiro composto que você precisa saber é
o açúcar. C 12 H 22 O 11.

— Como se isso fosse fácil. — Ele revira os olhos.

— Então vamos tentar associá-lo a alguma coisa. Algo que você


vai lembrar que…

— Como você.

— Como eu? — Eu rio.


Ele balança a cabeça e inclina a cabeça para o lado olhando
para mim. — Você é doce. Como açúcar.

— Obrigada. Eu acho. — Calor sobe pelas minhas bochechas.


— A questão é como exatamente eu ser doce vai fazer você se
lembrar do composto?

— Não sei, Shug, mas acho melhor a gente dar um jeito.

Ele tatuou o meu apelido nele. Ele usa algo que dei a ele anos
atrás. Ele me carrega com ele onde quer que vá. Cada país que ele
viaja. As diferentes camas em que ele dorme todas as noites.
Mesmo com as outras mulheres com quem ele dorme.

Ele me ama à sua maneira, mas não permite que o amor seja
retribuído.

Eu pensei que poderia fazer isso. Durmir com ele novamente.


Estar com ele novamente. Desfrutar dele sem precisar de
encerramento ou amanhãs ou tudo mais, mas verdade seja dita,
eu o amo. Eu o amo e isso só parece me machucar mais.

Há uma razão para não podermos ficar juntos. Por que isso
acontece, eu não tenho ideia... mas simplesmente é e está na hora
de aceitar.

Venho perseguindo o impossível há onze anos. Talvez seja hora


de parar de perseguir. Talvez seja hora de começar a descobrir
como viver sem ele.

Inclino-me para frente e pressiono o mais leve dos beijos em


seus lábios.

Visto-me.
Reúno minhas coisas.

Levanto-me e olho para ele deitado na cama e, pela primeira


vez, entendo por que Vince me deixou como fez da última vez. Sem
uma palavra. Sem um adeus. Sem fechamento.

Provavelmente é melhor eu não estar aqui quando ele acordar.


Me chame de vadia. Chame minhas ações de merda. Mas isso nos
salvará de fingir que pode haver mais nisso do que aparenta. De
fazer promessas que não pretendemos cumprir. De segurar um ao
outro das pessoas que deveríamos ser.

Pelo menos eu sei a verdade. Ele me ama. Mas não o suficiente.

— Não sei se algum dia vou me conformar. Eu sou um bastardo


egoísta, você sabe disso. As pessoas vêm e vão, são esquecidas e
enterradas quando a próxima grande novidade chega. Eu só quero
fazer o passeio o máximo que puder, o mais longe que puder.

Se ao menos Vince percebesse que ele já é a próxima grande


novidade.

Ele pode me amar o quanto quiser, mas ele mesmo disse isso.

Eu sempre te amei,

Mas eu não poderia ficar com você.

Você não vai me perdoar.

E eu não posso esquecer.

Você sempre foi o meu doce arrependimento.


Vince
Sei que ela se foi antes mesmo de abrir os olhos.

O único vestígio dela é o perfume que está em mim de ontem


à noite e o batom deixado na taça de vinho ao lado da cama.

— Porra. — É um gemido. É resignação. É resistência.

Não tenho certeza de qual eu quero que seja mais. Nem como
me sinto sobre eles como um todo.

Pego o meu telefone, não esperando uma mensagem dela, mas


olhando de qualquer maneira.

Nada.

Como se fosse uma deixa, o meu celular toca, mas é a última


pessoa com quem quero falar.

— Oi — eu respondo.

— Você já viu as redes sociais? — Xavier pergunta.

— Eu estava ocupado vendo a parte de trás das minhas


pálpebras.

— Eu pensei que você não estava se sentindo bem na noite


passada.
Foda-se. Passo as mãos no rosto. Dane-se essa mentira. — Eu
me sinto melhor. Estava um pouco inquieto e acabei em Bottom of
the Hill. — Eu bocejo. — E aí?

— Aquela música que você cantou. Esse novo material? Está


viralizando. Porra. Você precisa definir essa faixa e lançá-la o mais
rápido possível.

— Sim. Claro. Vou falar com a Sony.

— Acho que você não entendeu, Vince. Está em todo lugar. Eu


tenho o meu pessoal online empurrando-o também. É como se
tudo estivesse se encaixando na hora certa. É ouro pra caralho.

Sento-me, o papel alumínio da embalagem da camisinha da


noite anterior flutuando para fora da cama. Eu não posso angariar
mais emoção do que isso. — O ouro é bom. Platina é melhor.

— Isso pode estar nas cartas. Olha, cara, você escreveu essa
música. Você falou suas palavras. O público está ouvindo alto e
claro.

— Hum — eu digo. Ao lado da cama vazia ao meu lado, acho


que outra pessoa também ouviu as palavras alto e claro. — Ótimo.

Eu preciso de uma porra de bebida já.

— Você deveria ter levado Jasmine e Will lá ontem à noite.


Teria sido ótimo para o documentário.

Foda-se o documentário.

— Aparentemente, já há filmagens suficientes nas mídias


sociais. Tenho certeza de que eles encontrarão uma maneira de
usar isso.
— Sim. — Ele limpa a garganta. — Então ainda vamos almoçar
às onze horas e depois vamos pegar o jato e voltar. Discutiremos a
estratégia de como manter esse ímpeto durante o voo.

— Claro. — Eu ainda estou em uma névoa. — Bristol estará


na reunião hoje?

— Ela saiu há cerca de uma hora. Voo comercial de volta. Algo


sobre uma emergência em casa. Não se preocupe. Nós a
atualizaremos assim que descobrirmos tudo. Ok?

— Ok.

Termino a ligação e jogo o meu telefone no chão onde não


consigo alcançá-lo.

É para isso que tenho trabalhado, certo? Sucesso solo?


Mapeando o meu próprio território? Eu deveria estar em êxtase.
Eu deveria estar navegando na Internet e absorvendo tudo.

Então por que parece vazio pra caralho?

Uma emergência, minha bunda.

Ir embora é algo que eu pareço ter dominado e dominado bem.

Parece que você também, Bristol.

Touché, porra.
Bristol
Sete anos atrás.
— Você tentou ligar para ele de novo? — Minha mãe olha para
mim, com os braços sobre o peito, preocupação gravada em cada
linha do seu rosto.

Ela parece velha. Sem dúvida, essas duas últimas semanas


são as culpadas por aumentar isso.

— Eu liguei. Uma tonelada de vezes. Deixei mensagens. Enviei


mensagens de texto.

— Ele não respondeu?

— Meio difícil quando ele bloqueou o meu número.

— Como você sabe disso? — Ela pergunta, sua xícara de chá


esfriando na frente dela.

— Porque agora, quando envio uma mensagem, ele não recebe.


Quando ligo, diz que o número não está disponível. Chegar a essa
conclusão não doeu nem nada.

— Huh — ela diz. — E o pai dele? Você já ligou para ele antes...

— Não. Absolutamente não. O cara é um idiota, e só vai me


passar o mesmo número que agora me bloqueou.

— E se ligássemos para o seu pai...


— Não. Por favor. — Eu aperto a ponta do meu nariz e suspiro.
— Papai não pode saber quem é o pai. Odeio dizer isso porque ele
é papai, e eu o amo, mas ele também é papai. O homem que não
consegue guardar um segredo para salvar sua vida. Se eu fizer
isso…

— Então ninguém pode saber — ela diz calmamente.

— Pelo bem do bebê. Sim. Ele ou ela precisa saber que vem de
um lugar de amor, não de um abandono.

— Isso não combina comigo, Bristol.

Estendo a mão por cima da mesa e seguro suas mãos.


Lágrimas brotam e pisco para afastá-las. Minhas emoções estão
em todo lugar com esses hormônios. — Eu sei, mas esta é a minha
decisão e preciso que você a respeite. Confiei em você porque
valorizo sua opinião. Eu te disse porque não posso fazer isso
sozinha. Eu sei que você pensa que estou me precipitando e não
sei nem a metade quando se trata de maternidade. E você está
certa. Eu não quero. Ninguém. Não é essa a beleza e a dor nisso?
Tudo o que sei é que esse bebê nasceu de um amor que nunca
senti com mais ninguém.

— Você é jovem. Você tem uma vida pela frente para encontrar
um amor ainda melhor. Isso é ainda mais doce.

Ela não entende. Eu vi o amor entre ela e o meu pai. Foi sutil
e discreto. Conheço o amor que sentia por Vince, mesmo em tenra
idade. Foi implacável e único.

— Não sei explicar. Você só tem que respeitar.

— Vince tem o direito de saber.


— Ele tem. — Eu pisco para afastar mais lágrimas e ignoro a
queimação em meu peito. A mesma queimação que senti quando
imaginei uma vida junto com ele e nosso filho. A mesma queimação
que se transformou em total desgosto quando ele se recusou a me
ligar de volta. Quando ele se recusou a atender minhas ligações.
— Foi ele quem bloqueou o meu número. Foi ele quem deu aquela
entrevista que acabei de mostrar para você, dizendo que ele nunca
deseja ter filhos.

— Dizer e significar são duas coisas diferentes.

— Não foi você que o gerente da turnê humilhou quando


ofereceu para mim mil dólares para usar como eu quisesse,
aprovado pelo próprio Vince.

— Você não tem que ficar com o bebê. Não há vergonha em


admitir que você não está pronta. Ao fazer uma escolha para você
e para o seu próprio futuro.

Fecho os olhos e acalmo as lágrimas. — Não estou sendo


ingênua nisso. Eu sei que vai ser difícil. Eu sei que isso vai
atrapalhar os meus planos por um tempo, mas a decisão é minha.
Eu vou manter.
Vince
Sete anos atrás.
— Dói ser tão popular?

— Do que diabos você está falando? — Eu pergunto a Mick,


nosso gerente de turnê.

— Garotas me chamando para chegar até você. Para ficar com


você. Para…

— Diga a elas que ele é uma péssima foda e que o baterista é


melhor — Gizmo diz.

Levanto o dedo do meio ao mesmo tempo que esvazio o resto


da minha cerveja. — Você só está com ciúmes, cara.

— Aquela garota com quem você estava em... Jesus, que


cidade era aquela? — Mick pergunta.

— Que porra de garota? — Hawke pergunta e ri.

— Porra, acho que ela disse que o nome dela era... Crystal.

Todos nós caímos na gargalhada. — O filho da puta chama


todo mundo de Crystal — Rocket diz e toma o resto da sua cerveja.

— Sim, bem. Crystal ligou — Mick diz, pegando a garrafa de


Jack e servindo-se de um pouco.
— Que porra de cidade era mesmo? — Hawkin pergunta. —
Vince tem estado em um doozy de um pussy bender desde... — Ele
se inclina para trás e olha para mim. — Desde que cidade era, Vin?

Desde Los Angeles. Desde Shug. Tenho tentado tirá-la do meu


sistema, para que todas as mulheres se misturem e eu possa
tentar esquecê-la.

Chame-me de idiota. Chame-me de muito pior. Especialmente


quando fiz Hawkin pegar o meu telefone, bloquear o número dela
para que se perdesse no meio das centenas que já bloqueei, antes
de apagar cada maldito rastro dela dos meus contatos para que eu
não pudesse ligar de volta.

Isso é o que a porra da Bristol Matthews faz comigo.

Passo as mãos no rosto. — Cidade? Foda-se se eu me lembro.

— Perfeitamente dito, meu irmão — Rocket diz e me dá um


soco com uma risada. — Foda-se se você se lembra.

— Então, o que Crystal queria? — Gizmo pergunta.

— Para você ser o papai do bebê dela — Mick diz seguido por
um gemido coletivo de todos nós.

— Que dia é hoje? — Eu pergunto. Está se tornando uma


fodida ocorrência semanal. E como tenho uma política sem
amarras, sem amor, não estou nem um pouco preocupado.

— Cinco. Cinco? — Gizmo pergunta.

— Acho que é cinco — Rocket responde. — Coletivamente. Não


apenas para Vin. Não queremos dar a ele uma cabeça grande ou
algo assim.
— Foda-se — eu digo.

— Isso soa como um 'por favor, cuide disso para nós', se é que
já ouvi um — Mick diz.

— Perfeito. — Eu descanso minha cabeça no sofá enquanto o


camarim começa a girar.

— Talvez deixemos todas as Crystais em paz por alguns dias


— Hawkin diz.

— Só se você deixar todas as suas Cherrys em paz por um


tempo — eu digo, referindo-me ao nome que ele usa coletivamente.

— Bem-vindos à fama, cavalheiros — Mick diz, erguendo o


copo. — Agora você sabe que conseguiu oficialmente.
Bristol
— Pepitas de dinossauro para a vitória — eu murmuro para
mim mesma, obtendo qualquer vitória que posso enquanto Jagger
passa por sua fase de comedor exigente, e um prato limpo deixado
para trás é definitivamente uma vitória.

Lavo o prato, coloco no escorredor e penso no que quero fazer


com a minha noite, agora que Jagg está dormindo e a casa
arrumada.

Devo terminar de ler o restante do meu guia de estudo LSAT


atual.

Devo responder a todos os e-mails que ainda não li.

Eu deveria mandar uma mensagem para o Vince... e dizer o


que? Não é como se ele tivesse tentado entrar em contato comigo
desde que saí.

Mas minha garrafa de vinho aberta e um documentário sobre


crimes reais que eu queria ver estão vencendo tudo.

Uma taça é servida e o controle remoto está na mão quando


alguém bate na porta. Não é incomum ter alguém batendo na
porta, os chalés no meu complexo parecem os mesmos, então as
pessoas costumam confundi-los, mas não a esta hora da noite.
Vou na ponta dos pés até a porta e olho pelo olho mágico
apenas para pular para trás. Vince. O que diabos ele está fazendo
aqui? Como ele sabe onde eu moro?

JAGGER.

Meu coração pula na minha garganta, e congelo


momentaneamente e o meu corpo leva um segundo para
acompanhar os pensamentos do meu cérebro de simplesmente
fingir que não estou em casa.

Batida. Batida. Batida.

— Eu sei que você está aí, Shug. Você estava parada na janela.
Estou mais do que pronto para ficar aqui e bater a noite toda até
você atender a porta.

Batida. Batida. Batida.

Ignorá-lo é uma opção mais do que válida, mas isso significa


que ele vai bater, bater e vai acordar Jagger, e então Vince vai ouvi-
lo e quem sabe o que vai acontecer...

Pego o meu telefone que tem o monitor do quarto apenas no


caso de ele acordar, abro a porta, autopreservação é o meu único
pensamento, e saio, fechando minha vida secreta atrás de mim. —
O que você está fazendo aqui?

Não pergunto como ele sabe onde moro. Estou realmente com
medo de quanta escavação ele pode fazer.

— Oi. — Seu sorriso não chega aos olhos enquanto ele segura
um pacote de doze cervejas, duas delas já faltando.

— Oi. Está tudo bem?


— Isso é subjetivo. — Ele se senta no concreto como uma
criança com as costas contra a parede e o rosto voltado para o céu.
— Junte-se a mim?

Nossos olhos se fixam por um instante antes de assumir uma


posição semelhante ao lado dele. Sentamos em silêncio, os grilos
ao nosso redor e meia lua acima de nós.

— Seu carro está funcionando bem? — Ele finalmente quebra


o silêncio.

— Está. Obrigada novamente por me ajudar. Eu gostaria que


você me deixasse recompensá-lo.

— Você não esteve no trabalho — ele finalmente diz. — Está


tudo bem?

Concordo com a cabeça, um movimento que tenho certeza que


ele pode ver em sua periferia. — Tinha alguns projetos para fazer
fora do local. Aqueles em que eu estava antes de você chegar, que
eu tinha que terminar. — Eu pego uma cerveja que ele me entrega
e tomo um gole só para fazer alguma coisa. — Ouvi dizer que a
música está um sucesso. A música é ótima e ainda nem foi
lançada.

Ele dá de ombros e emite um som evasivo. — É tudo relativo.

Um carro passa. Alguns cachorros latem em algum lugar na


rua. Um percevejo rasteja tão lentamente pela lateral do estuque.

— Você quer me dizer por que você está fora da minha casa às
dez horas da noite de terça-feira?

Ele leva uma cerveja aos lábios e dá um longo gole antes de


colocar a garrafa vazia de volta na caixa e pegar outra. O estouro
da tampa faz com que o percevejo congele. — Por uma série de
razões, eu acho.

— Como?

— Como por que você me disse que morava a alguns


quarteirões de distância quando na verdade mora aqui.

Meu suspiro é pesado. Meu coração ainda mais porque algo


sobre toda essa situação parece tão definitivo. Sombrio.

— Verdade?

— Sempre.

Tomo um gole de coragem. — Porque estou envergonhada por


você ser você e eu ser eu, e isso é tudo que tenho para mostrar.

— Cristo, Bristol. Você acha que isso realmente importa para


mim?

— Você queria a verdade.

— Eu quero. Não significa que eu tenha que gostar. Mas por


que é a pergunta. O que aconteceu para ir embora? Isso é o que
você não está me dizendo.

A parte bonita de você que está dormindo lá dentro, a cinco


metros de distância. O garotinho que inclina a cabeça igual a você.
Aquele que ganhou seu primeiro violão do avô ontem e passou horas
fingindo que tocava.

— Vince... — Diga à ele. Diga! As palavras estão lá, mas a


finalidade em seu tom, o arrependimento tecido nele, me faz
hesitar.

— Tudo bem. Você não me deve isso. Eu entendo.


Fecho os meus olhos momentaneamente, sem saber se estou
aliviada ou chateada quando ele não pressiona. Provavelmente um
pouco de ambos. — Obrigada.

Com a cabeça ainda contra a parede, ele se vira para encontrar


os meus olhos. — Todos nós temos segredos que não queremos
contar, Shug. Tudo bem.

A emoção forma um nó na minha garganta. — É um dos seus


por que você está aqui?

Ele dá de ombros e começa a brincar com o rótulo da garrafa.


Ele parece ter o peso do mundo nas costas. — Eu estraguei tudo
de tantas maneiras que não sei como sair disso.

Eu tento juntar as coisas, tento entender do que ele está


falando. — Eu duvido disso. — Sua risada é um estrondo baixo
que faz o meu coração doer por ele. — Isso é sobre Bent? Sobre…

— Um deles.

— Você sente falta deles.

Ele bufa. — Próxima questão.

— Por que não voltar? Se você está tão infeliz por estar
sozinho, por que não...

— Porque eu fodi tudo. Viu? Eu te disse. História da minha


vida, certo? Não posso me estabelecer em casa, então vou embora.
Eu tenho esse show que milhões matariam para ter, onde posso
sair com os meus melhores amigos todos os dias e fazer o que amo
com eles, e vou embora.

— Eu não acho que você está sendo justo consigo mesmo.


— É como quando tudo está no seu melhor para mim, ele volta
e eu tenho que ir embora.

— De quem estamos falando, Vince?

Ele abre outra cerveja e engole tudo em um longo gole. — Ele


está morrendo de câncer.

— Quem? — Eu exijo, apavorada e confusa.

— Meu pai.

— Oh. — É tudo que consigo pensar em dizer enquanto penso


em como reagir. Não sei como me sentir em relação a um homem
que difamei por quase quinze anos. — Sinto muito — eu murmuro.

— Eu não. — Suas palavras gritam no silêncio. Sua risada que


se segue zomba disso. — Isso faz de mim um bastardo sem
coração, não é? O filho da puta está morrendo e não sinto
absolutamente nada por dentro.

Estendo a mão e entrelaço os meus dedos com os dele,


querendo mostrar apoio. — Isso te torna humano, Vince.

— Isso me deixa fraco. Ele sempre teve um jeito de fazer isso


comigo. Me deixando fraco. Derrubando-me apenas quando eu
pensei que tinha feito algo de mim mesmo ou descoberto minha
merda. Deixando-me saber o quão pouco ele pensava de mim.
Quão pouco o mundo pensava de mim.

— Eu entendo porque você pode pensar que parece assim,


mas...

— Não é de admirar que eu precise subir em um palco e ter


milhares gritando comigo para sentir alguma coisa. — Ele passa a
mão pelo cabelo e joga a cabeça para trás novamente para olhar o
céu. — Ele me quebrou de uma forma que acho que nunca posso
ser consertado. Eu tentei. Mais e mais, mas não adianta.

— Você não está quebrado, Vince.

— Hum.

Suas palavras me consomem. Eles tecem em minha alma. Eles


explicam coisas que eu sempre presumi e nunca tive certeza.

— Você nunca falou sobre ele. Eu nunca soube ou teria...


ajudado. Não sei. — Eu balanço minha cabeça. — Não sei o que
poderia ter feito. Mas pelo que pude ver, não acho que você deve
muito ao seu pai. Lamento que ele esteja morrendo de câncer,
ninguém, independentemente da vida que viveu, merece isso, mas
lamento principalmente que ele não tenha amado você como um
pai deveria. Os pais devem amar e apoiar os seus filhos. Eles
devem pegá-los e embalá-los quando estiverem feridos. Eles
deveriam ser um pilar de força, não uma cerca de arame farpado
segurando você.

— Aquela noite? Na janela? Por isso tive que sair. Eu não


poderia mais fazer isso. Eu temia no que ele havia me
transformado. Que eu iria explodir e me tornar ele ou fazer algo
que eu nunca poderia voltar atrás.

— Vince.

— A ironia é que agora passei anos fazendo coisas que não


posso voltar atrás. Foda-se. Provando que ele está certo. — Ele
flexiona e desflexiona a mão.

— Discordo. Você…
— E agora estou desesperado para provar que ele está errado
antes que ele morra, para que eu possa dar a ele o último foda-se.
Então eu posso ganhar. Quão doentio é isso? Que tipo de pessoa
isso me torna?

— Você está sozinho. — Um quebrado.

Descanso minha cabeça em seu ombro e tento processar todas


essas coisas que ele está jogando em mim, que ele está segurando,
e ainda não sei como ajudá-lo. Eu não sei se posso.

Ele pressiona um beijo no topo da minha cabeça e apenas


deixa sua boca lá, seus pensamentos tão pesados que eu
praticamente posso senti-los. — Você já se perguntou o que
poderia ter sido? — Ele murmura.

— Em relação a que? — Eu pergunto quando já sei a resposta.


A mesma pergunta que me fiz um milhão de vezes, não apenas
para mim, mas para o garotinho enfiado em sua cama lá dentro.

— Nós.

Minha expiração é uniforme, meus pensamentos medidos. —


Eu já. Por muito tempo. Então eu parei.

— Por que você parou?

Porque eu tinha que parar. Porque você não me deu escolha. —


Porque agora somos duas pessoas diferentes. Vivemos vidas muito
diferentes.

— Mas, apesar disso, ainda há algo lá. Ainda há algo entre nós
que continuamos voltando de alguma forma.

— A química com certeza. Mas quando a luxúria desaparece,


quando não são anos entre nós que nos vemos, mas sim minuto a
minuto ou hora a hora, não tenho certeza de que restará muito de
nós. Eu tenho que acreditar nisso. Se não fizer, fico com a
esperança de algo que nunca acontecerá.

— É por isso que você me deixou em San Francisco?

É a minha vez de olhar para o céu. Para tentar encontrar


alguma estrela que não tenha sido abafada pelas luzes da cidade.
— Parece que somos melhores nos afastando um do outro do que
realmente estando juntos.

— Bem, pelo menos posso afirmar que sou bom em alguma


coisa, hein? — Sua risada cai no entanto.

— Ainda assim não faz doer menos.

Ele acena com a cabeça, seus lábios franzidos. — Então por


que você deixou isso acontecer? Você poderia ter fechado a porta
do seu quarto no hotel, mantido suas armas sobre McMann, e eu
teria que me bastar com minha mão e minha maldita miséria.

Eu sorrio com a imagem que ele pinta, e isso se suaviza com a


lembrança de nós dois juntos. Dar e receber. Amar e deixar ir.

— Eu não deixei isso acontecer — eu finalmente digo.

— Uh. Eu estava lá. Tenho certeza de que não foi só eu.

— Isso não foi o que eu quis dizer. Era inevitável, certo? Fomos
nós.

— Você diz isso como se fosse uma coisa ruim.

— Somos iguais, Vince. Começamos quentes, quase violentos


em nossa necessidade um do outro, antes de queimar
completamente. Na outra noite, acendemos o fósforo.
— E agora?

— Agora é só fumaça. — Eu dou de ombros.

— Mas onde há fumaça, há fogo.

— E onde há fogo, as coisas são destruídas. Devastadas.


Tornar-se irreconhecível do que era o seu antigo eu.

— Ei.

Viro-me para olhar para ele, realmente olho para ele pela
primeira vez nesta conversa. — Hum?

Ele estende a mão e passa as costas da mão pela minha


bochecha. Esfrega o polegar sobre o meu lábio inferior. Coloca a
mão na curva do meu pescoço para que seu polegar possa se mover
para frente e para trás sobre minha clavícula.

— O que você está dizendo, Shug?

Você usa uma pulseira que lhe dei, mas não atendeu minhas
ligações.

Você se marcou permanentemente com uma tatuagem do meu


apelido, mas nunca pensou que bastava me dizer.

Você olha para mim com amor em seus olhos, mas já se


passaram mais de dez anos desde que você falou essas palavras.

Você me ama de longe, mas não pensa que pode me amar


pessoalmente.

Estendo a mão e seguro o lado do seu rosto. Sinto a aspereza


da sua barba sob minha palma. Absorvo o calor da sua respiração
em minha pele. — Eu te amo, Vince, mas não podemos continuar
fazendo isso. Eu mereço mais do que um pedaço de você a cada
dois anos. Ninguém é culpado. Você não é. Eu não sou.
Provavelmente é assim que deveríamos ser.

Inclino-me para frente e o beijo. Eu despejo todo o amor que


tenho por ele nesta conexão simples enquanto as lágrimas
escorrem pelo meu rosto.

Descansamos nossas testas uma na outra quase como se


estivéssemos tentando deixar essa “nova realidade de nós” se
estabelecer. Quase como se fosse algo que sabíamos o tempo todo,
mas agora temos que enfrentar.

E quando me inclino para trás para olhar para ele uma última
vez, a única lágrima que escapa e escorre por sua bochecha me
devasta.

— Eu menti — ele murmura.

Jagger passa pela minha mente. Eu também. — Sobre?

— Sobre precisar do palco para me fazer sentir. — Ele limpa a


garganta. — Você me faz sentir completo também. — Ele baixa os
olhos por um instante antes de olhar para mim. — Mas não é o
suficiente, não é?

— Não. — Dói pronunciar uma única palavra. Ele acena


sutilmente enquanto me levanto, nossos dedos ainda ligados. —
Seu diferente também é bonito, Vince. Sempre foi. Sempre será.

Com isso, me viro e entro em casa.

Eu fecho a porta.

Eu tranco.

Deixo as partículas de poeira assentarem na escuridão.


E então deslizo, caio no chão e choro até não poder mais.

Não tenho certeza de que horas são quando vou para a cama,
mas quando olho pela janela, Vince ainda está lá sentado. Ainda
olhando para as estrelas. Ainda parecendo tão quebrado como
sempre.
Vince
A cela é iluminada e o barulho constante de coisas e conversas
de pessoas é suficiente para deixar um homem bêbado sóbrio.

Oh.

Espere.

Porra, não importa.

Eu estive aqui por muito tempo e a sala ainda está se


movendo.

Talvez porque seja mais fácil ficar bêbado. Mais simples viver
na neblina do que sentir que o meu peito foi aberto e o meu coração
arrancado para cagar e rir.

— Isso está ruim, hein, cara? — O meu companheiro de cela


diz de onde ele está revirando em sua cama, incapaz de ficar
parado.

— Foda-se — eu murmuro.

— Ah. Para mim parece problema com uma mulher.

— Para mim, isso significa que você deve cuidar da porra da


sua própria vida.

— Calma, cara. Eu só estava jogando conversa fora.


Resmungo e rolo de costas, meu antebraço sobre os olhos,
repassando os eventos de hoje à noite. Manhã. Quem diabos sabe
quando é porque perdi a noção do tempo.

Bristol. A varanda dela. Suas palavras. Seu beijo de despedida.

Um bar. O'Hallahan's, acho que era o nome. Eu não me


lembro. Cuidando da minha vida. Um idiota. Em seguida, outro
idiota que não me deixou em paz. Então aquele maldito idiota que
me empurrou porque eu não queria tirar uma maldita foto com ele.

Péssima ideia.

Ou talvez não. Pelo menos aqui, não posso machucar mais


ninguém.

O dano está feito.

Feito e fodido.

Eu deveria ter tentado mais anos atrás. Eu nunca deveria ter


ouvido Cathy. E enquanto estou sentado neste buraco infernal,
tudo o que posso fazer é repassar a porra da conversa de seis anos
atrás uma e outra vez. A conversa que me convenceu a esquecer
Bristol para sempre.

— Alô?

— Shug?

— Desculpe, você ligou para o número errado. — Algo soa


estranho com a voz dela.

— Bristol. Sou eu.

A mulher ri. — Oi, sou eu. É a mãe de Bristol, Cathy.

— Cathy. É o Vince. Como você está? Faz tempo.


Há uma longa pausa e controlada. — Faz mesmo.

— Eu estava procurando por Bristol.

— Imaginei já que você ligou para o telefone dela. — Ela ri, mas
há algo no som dela que me faz sentar um pouco mais reto. — Como
você conseguiu o número dela?

Eu bufo e passo a mão pelo meu cabelo. — É uma longa história.


— Por exemplo, passei horas percorrendo todos os meus números
bloqueados tentando encontrá-lo sem sucesso. Em seguida,
implorando e ligando para o comitê de ex-alunos da Fairfield High
School para rastrear alguém que possa conhecê-la. — Ela está aí?
Eu posso falar com ela?

— Agora ela está dormindo. Está trabalhando em dobro no


momento.

Trabalhando em dobro? — Está tudo bem?

— Mm-hmm.

— Então o que é isso?

— Vince. — Um suspiro que não soa bem. — Você sabe que eu


penso muito em você, mas acho que é melhor você esquecer esse
número.

— Eu não entendo…

— Eu acho que você faz. — Ela faz uma pausa e o silêncio


consome a distância. — Esperar a vida inteira para que alguém te
ame de volta não é uma maneira feliz e saudável de viver.

— Cathy...
— Sim eu sei. Você a ama. Do seu jeito especial. Mas o seu amor
está olhando para o passado em vez de olhar para o futuro. Ela
merece avançar, Vince.

— Eu não sei o que dizer.

Você tem razão.

Você está errada.

Eu gostaria de poder, mas não posso.

— Você é um homem bom, mas em algum momento terá que sair


da montanha-russa. — Ela funga, e juro por Deus que o som dói
tanto quanto suas palavras, porque ela está certa. Tudo isso.

Ela está certa.

Não posso amar Bristol do jeito que ela merece ser amada. Não
foi por isso que me afastei em primeiro lugar? Não é por isso que não
estou lutando agora?

— Por que você está me contando isso?

— Sou eu quem tem que ajudá-la a juntar os cacos. Depois que


ela te ver. Depois que ela assite você na TV. Depois que ela ouve
você no rádio. Depois... depois desta última vez.

Não posso culpá-la. Você bloqueou a porra do número dela. Você


a cortou porque não conseguiu lidar com o desejo de uma mulher
que não poderia ter. Por amar uma mulher que merecia mais. Por
fazer exatamente o que a mãe dela diz que você está fazendo.

— Se você a ama, do jeito que eu acho que você ama, então você
precisa deixá-la ir.

— Jennings? Você está livre.


— Foda-se — eu gemo e me sento. Minha cabeça parece que
Gizmo está usando como bumbo. Deveria ser um crime trazerem
óculos de sol para cá.

— Sorte a sua — o meu companheiro de cela diz.

— Vá a merda.

— Você primeiro, seu filho da puta mal-humorado.

Arrasto-me para fora do corredor, pego o saco com os meus


pertences que eles me dão e dou uma olhada duas vezes quando
entro na sala de espera e vejo Hawkin parado ali.

Que porra?

Minha expressão deve dizer isso, porque ele diz: — Você estava
tão bêbado que não se lembra de ter me ligado para pagar a sua
fiança?

Torço o meu nariz e balanço a cabeça. Eu fiz?

— Eu tomo isso como um sim. — Ele ri. — Nem mesmo você


pode se livrar daqueles caras que estão apresentando queixa.

— Não me lembro de muita coisa.

— Você fez um bom número neles. — Ele aponta para minhas


mãos e com certeza, elas estão machucadas e ensanguentadas.

Uma cadeira quebrando volta para mim. A trituração do meu


punho acertando um nariz.

— Os filhos da puta estavam pedindo...

— Guarde isso para lá fora. Você não quer que seja o que for
que você vai dizer publicado em toda a porra do lugar. — Ele coloca
a mão nas minhas costas e me empurra para a frente. — A fiança
está paga. Vamos.

— Espere. — Eu esfrego a mão no rosto. — Há algo que preciso


fazer primeiro.

— Como o que? Dar um beijo de despedida no seu


companheiro de cela? — Ele brinca.

— Mais como pagar a fiança do filho da puta.

— Certo. Vá em frente. Vou esperar. Mas apenas um aviso.


Você vai querer colocar os óculos de sol e puxar o boné para baixo
ou estar preparado para dizer queijo quando sairmos. A notícia já
foi divulgada.
Vince
Cruzo os tornozelos na parte traseira da caminhonete e me
inclino contra a cabine atrás de nós. É aquela hora da manhã
antes do nascer do sol, quando o céu e o oceano têm a mesma cor,
e você não sabe onde termina um e começa o outro. O grasnido
das gaivotas é ridiculamente alto. Carros errantes entram no
estacionamento a cada dois minutos. Eles estacionam e os
surfistas saem, cafés na mão, roupas de mergulho prontos e
disparam como se pertencessem a algum clube do qual eu com
certeza não quero fazer parte.

— Você quer falar sobre isso? — Hawkin finalmente pergunta.


Ele pega a tampa da garrafa da sua cerveja e a joga na caixa diante
de nossos pés.

— Não. De verdade.

— Resposta clássica de Jennings. É bom ver que isso não


mudou.

— Foi você quem me sequestrou e está se recusando a me levar


de volta para minha casa.

— Sequestrou? — Ele balança a cabeça. — Que tal ter salvado


sua pele quando eu não deveria?

— Semântica.
— Há vídeos, Vin. Do bar. Da sua prisão. Saindo da delegacia.
Essa nova empresa de relações públicas chique que você contratou
vai precisar fazer muita limpeza.

— Ou não. Eu sou um idiota. Isso já não é de conhecimento


de todos?

— Eu não estou mordendo a isca. Da última vez que fiz isso,


perdi o meu melhor amigo. — Ele faz uma pausa, suas palavras
me atingindo tão forte quanto aquele filho da puta fez no bar. —
Se você quiser falar, então eu vou ouvir. Se você quer me dizer para
calar a boca... então diga.

Solto um suspiro. — Eu não sei mais o que quero.

— Justo. — Ele abre uma cerveja e a entrega para mim. — Pelo


de cachorro e tudo mais.

Depois de um olhar longo e duro, balanço a cabeça. — Não.


Tenho certeza de que bebi minha parte justa ontem à noite.

— Bom ponto tomado.

Outro carro entra no estacionamento alguns lugares abaixo. A


música deles é alta e o motor soa como uma merda. Observo o cara
dirigindo inclinar-se e beijar a garota no banco do passageiro.

Meu estômago revira.

A noite passada, a parte antes do bar, se repete na minha


cabeça. Suas lágrimas. A falha em sua voz. A dor em seus olhos.

Você fez isso com ela.

Perdoar a mim mesmo não é uma opção.

— Fale-me sobre Bristol.


Viro minha cabeça em sua direção, mas ele apenas olha para
o oceano além como se esta fosse uma conversa cotidiana que
temos.

— Então e ela?

— Você a mencionou quando me ligou ontem à noite.

— E o que eu disse?

Ele ri e parece uma lixa nos meus tímpanos. — Você me diz.

— Jesus, Hawke. Sério?

Ele vira a cabeça e me estuda. — Por que você está tentando


tanto foder a merda para si mesmo?

Um gracejo espertinho está na minha língua, mas eu o deixo


morrer. Parece que já causei danos suficientes às pessoas que amo
em minha vida. O problema é que estou sentado no fundo de um
poço e não faço ideia de como sair dele. Eu não sei como fazer a
vida solo. Não sei como passar pela vida me sentindo tão livre. Eu
a levo comigo para todos os lugares por mais de uma década, mas
não tenho certeza se posso mais fazer isso.

E as palavras de Bristol continuam voltando para mim.

— Eu te amo, Vince, mas não podemos continuar fazendo isso.


Eu mereço mais do que um pedaço de você a cada dois anos.
Ninguém é culpado. Você não é. Eu não sou. Provavelmente é assim
que deveríamos ser. Você é diferente e também é lindo, Vince.
Sempre foi. Sempre será.

E então as palavras da mãe dela, o que é estranho,


considerando que não penso nessa conversa há anos.
— Sou eu quem tem que ajudá-la a juntar os cacos. Depois que
ela te vê... se você a ama, do jeito que eu acho que você ama, então
você precisa deixá-la ir.

Mas o que Hawke quer saber é por que eu me esforço tanto


para foder tudo. Então, eu respondo com honestidade.

— Parece que sou bom nisso.

— Ou é uma desculpa conveniente. É melhor do que enfrentar


aquilo de que você mais tem medo: pessoas que se preocupam com
você. — Quando vou retrucá-lo, ele apenas levanta a mão para me
impedir. — Eu não quero ouvir isso. Você me empurrou para longe.
Você sempre a afastou. A questão é por quê.

— Estou lidando com muita merda.

— Sozinho. Quando você não precisa.

Eu concordo. Minhas mãos machucadas são mais fáceis de


olhar do que para o meu melhor amigo. Tive sorte de não ter
quebrado nenhum maldito osso. Se eu tivesse, isso teria estragado
minha capacidade de tocar guitarra por algum tempo. — Há apenas
algumas coisas que preciso fazer. Preciso provar a mim mesmo que
posso fazer.

— Eu posso respeitar isso. Mas e daí, Vin? Para onde você terá
que voltar se colocar fogo e queimar o mundo ao seu redor?

Eu não estou te afastando.

Estou protegendo todos de mim.

— Nenhuma resposta é necessária. — Ele bate com o punho


na lateral da caminhonete. — Esta conversa é muito delicada para
esta maldita hora da manhã. Antes de tomar o meu café. — Ele
aponta para o meu celular que continua zumbindo contra a
carroceria da caminhonete, texto após texto de McMann. — É
melhor você chamar aquele idiota de volta ou ele vai explodir.

— Pode ser mais divertido assistir se ele fizer isso.


Bristol
— Está vendo? — Simone aponta para a transmissão ao vivo
do YouTube na tela do computador. — Você não dá nenhuma ação
para aquele garanhão gostoso, e ele vai e se mete em uma briga de
bar e é preso por causa de toda a sua frustração sexual por ansiar
por você.

Reviro os olhos, esperando ser capaz de fazer isso o suficiente


para que ela acredite em mim. Eu daria qualquer coisa para poder
dizer a ela a verdade. Ter alguém em quem confiar e receber
conselhos. Mas contar a Simone é chegar muito perto de casa
quando se trata de trabalho e minha segurança lá.

— Sua falta de resposta está me dizendo que estou certa.

— Sim, você é uma leitora de mentes. Vince entrou em uma


briga por minha causa. — Eu reviro os olhos e, em seguida, olho
novamente para a tela do computador. A transmissão ao vivo em
sua tela mostra a sala de imprensa da McMann Media. A câmera
está voltada para uma mesa na frente da sala e, pelo ângulo, você
pode ver as cabeças dos repórteres enquanto esperam
pacientemente pelo início da coletiva de imprensa.

— Você sabe que agora McMann está enlouquecendo. Ele pode


se casar com o pedido de desculpas sincero de Vince e trabalhar
para que, enquanto o mundo estiver assistindo, anuncie quando o
single será lançado. Não há nada que ele ame mais do que uma
crise para que ele possa intervir e usar sua energia de pau grande
para fingir que salvou o dia.

— Hum.

— Há uma razão para ele ter enviado você para Burbank


comigo hoje. Com você fora do local e Kevin de férias, ninguém
pode roubar nenhum crédito dele.

É triste que ela esteja cem por cento certa, mas estou mais do
que feliz por ter atravessado a cidade hoje. A última coisa que eu
precisava hoje era enfrentar Vince.

Não depois da noite passada.

Não depois de questionar e saber que fiz a coisa certa. Não


importa o quanto dói.

Não depois da culpa que sinto por saber que nossa conversa
provavelmente foi o catalisador por trás disso.

Eu vi as imagens circulando na Internet. O olhar enlouquecido


em seu rosto. A raiva desenfreada. O desespero total.

Eu fiz isso com ele.

Eu o empurrei para agir.

Eu machuquei o homem que amo.

Eu tento me concentrar no trabalho em nossas mãos, mas


para ser honesta, a concentração é difícil de encontrar com o quão
pouco eu dormi. Especialmente com o reviver constante de tudo o
que dissemos um ao outro. Não é como se eu tivesse tempo de
desabafar e contar a minha mãe sobre isso em nossa troca de oi
quando ela apareceu e eu corri porta afora. Além disso, não é como
se eu pudesse dizer a ela com Jagger parado ali.

— Você acha que com a partida de Vince, que McMann


manterá o seu status na terra de ninguém entre um associado
júnior e um associado? Ou ele vai colocá-lo totalmente em um
papel ou outro?

— Sinto muito, o que você quer dizer com Vince indo embora?

— Claramente você ainda não leu os seus e-mails hoje.

— Não. Eu estava atrasada. Aí o trânsito ficou brutal. — Eu


balanço minha cabeça. E possivelmente tenho evitado toda e
qualquer coisa que tenha a ver com ele. — O que ele disse?

— Versão curta? Vince disse a McMann que estava voltando


para Nova York. Algo sobre querer trabalhar com um produtor lá.
Foi tudo de última hora. Decidido esta manhã. Talvez algum tempo
na prisão tenha dado a ele uma epifania. — Ela ri. — Mas houve
uma grande disputa para coordenar as aparições e uma coletiva
de imprensa para que eles pudessem lançar o single assim que a
Sony Music aprovasse. Quero dizer…

— Senhoras e senhores — Xavier diz enquanto se aproxima da


mesa com Vince. Ambos se sentam.

Vince parece rude. Cansado. Seu sorriso está lá para as


câmeras, mas soa vazio para alguém como eu que o conhece.

— Eu escalaria aquele homem como uma árvore e o cavalgaria


com tanta força que todas as suas frutas cairiam. Porra — ela
murmura.
— Obrigada pela cena — eu digo, incapaz de tirar os olhos de
Vince. É difícil assistir a pessoa que você machucou, sofrerndo.

Brutal, realmente.

— A qualquer momento.

— Obrigado por virem hoje — Xavier diz. — De acordo com a


política da McMann Media, sempre que surge um problema com
um de nossos clientes, gostamos de abordar a situação
imediatamente para impedir que uma torrente de desinformação
se espalhe como fogo na Internet. Temos tantas coisas
empolgantes no horizonte para Vince e não queremos que
nenhuma dessas bobagens nos distraia deles. — Ele olha para
Vince ao lado dele, e Vince sorri e acena com a cabeça como se
estivesse de acordo.

Mas ele parece tão feliz por estar lá quanto alguém que está
arrancando o dente do siso. Sem anestesia.

— Dito isso, gostaria de apresentá-lo à Sra. Paula Gladstone.

Uma mulher de terninho cor de vinho senta-se ao lado deles e


sorri para a imprensa à sua frente. — Boa tarde. Sou Paula
Gladstone da Gladstone and Associates, a firma que representa o
Sr. Jennings no que esperamos que seja um assunto resolvido o
quanto antes. Ontem à noite, o Sr. Jennings estava tentando
desfrutar de um pouco de paz e sossego em um estabelecimento
local quando vários clientes começaram a importuná-lo. Para
conversar. Para autógrafos. Para fotos. Ele atendeu os pedidos
deles por alguns momentos, mas depois, quando pediu que
respeitassem o seu espaço e sua privacidade, as coisas foram
exageradas e consideradas ofensivas, como às vezes acontece
quando o álcool está envolvido. As ações de todos os envolvidos
resultaram no Sr. Jennings tendo que se defender contra três
outros homens. Todos os participantes foram acusados de conduta
desordeira e intoxicação desordeira. Na esperança de capitalizar a
situação, os outros participantes apresentaram acusações de
agressão contra o Sr. Jennings. Visto que Vince estava apenas se
defendendo, esperamos que essas acusações sejam retiradas nos
próximos dias. — Paula olha para McMann e acena com a cabeça
antes de descer sem fazer perguntas.

McMann aproveita o momento para sorrir e se certificar de que


está na frente e no centro da câmera. Um pequeno murmúrio
começa a se espalhar entre a imprensa. É leve, mas você pode
ouvir um embaralhamento e ver as cabeças se movendo enquanto
todos olham para o que se poderia supor serem os seus telefones.

Simone olha para mim. Ela também percebe.

— Como é natural hoje em dia, quando alguém entra no centro


das atenções, atrai a atenção, boa e ruim. E com os holofotes
brilhando sobre Vince com a explosão viral do seu novo single a
ser lançado em breve, Sweet Regret, é exatamente isso que é. —
Xavier dá um breve aceno com a cabeça enquanto mais ruídos
abafados vêm da mídia. — Abriremos a palavra para algumas
perguntas, mas o tempo é limitado, pois esperamos um voo para
Nova York em breve.

Há uma confusão de repórteres quando o nome de Vince é


chamado. Uma voz soa alta e clara sobre as outras e chama a
atenção de McMann. Ele aponta para a repórter de pé.
— Vince. Gil Litman com TMZ aqui. — Vince sorri. — Brigas
em bar. Sendo preso. Ficar bêbado e descontar o que quer que seja
em clientes desavisados... que tipo de mensagem isso passa para
aqueles que o admiram? Para as crianças que querem ser como
você?

Os olhos de Vince baixam por um momento, e ele dá um leve


aceno de cabeça em resignação. — Não há desculpa para o que eu
fiz — ele diz, seguindo a linha da empresa que todos nós da
McMann já ouvimos várias vezes e poderíamos repetir de cor.
Claramente, Vince aprendeu a mesma lição que todos nós. —
Brigar nunca é uma opção. Isso é…

— Mas e o que você vai dizer ao seu próprio filho? — Gil


persiste.

A risada de Vince é baixa e condescendente. Irreverente. — Eu


não tenho filhos, então a pergunta é irrelevante.

Há outro murmúrio de inquietação ao longo da imprensa que


me faz sentar um pouco mais ereta. Todos eles gritam por atenção
novamente, suas perguntas se perdendo no barulho.

— Então deixe-me acompanhar isso — Gil diz, dando um


passo à frente para tentar ganhar qualquer ponto que esteja
tentando fazer. — De acordo com o artigo que acabou de sair no
US Weekly, você de fato tem um filho. Gostaria de comentar sobre
isso?

A risada de Vince é sarcástica e abafada pelas batidas do meu


pulso em meus ouvidos e pelo assobio dramático de Simone.
— Qualquer coisa para contar uma história. — Vince se
levanta do seu assento. — Terminamos aqui.

— Seu pai deu exclusividade. Sobre você. Sobre o seu filho,


você tem se escondido do mundo que se recusa a reivindicar como
seu. Você gostaria de ser o primeiro a comentar?

Eu sou uma mistura de emoções, e aquela que anda de carona


é uma confusão. O que diabos está acontecendo?

— Você é louca pra caralho — Vince murmura e começa a se


mover para fora do palco.

— Ou você está nos enganando, que é exatamente o que seu


pai disse que você faria.

— O homem é um idiota ganancioso que provavelmente foi


pago por suas mentiras, então não confie demais em suas
afirmações.

— Já chega, Vince — McMann diz, perdendo o controle da


narrativa e do espetáculo que está se tornando. Eu luto entre
querer pesquisar no meu telefone e não querer perder um único
minuto do que está acontecendo na tela do computador.

— Leia você mesmo. — Gil estende o seu telefone quando os


pés de Vince param. — O nome dele é Jagger.

O mundo cai sob os meus pés.

Não.

Eu luto para respirar.

Não.

Pensa.
Deus não.

Para me forçar a olhar para Vince e o seu sorriso arrogante e


incrédulo para a repórter como se ela fosse provar que ele estava
errado com o mesmo soco que ele deu na noite passada. — Jagger,
hein?

Gil não perde o ritmo. Mas o meu coração sim. Ele perde cada
ritmo quando a repórter olha nos olhos de Vince e diz: — Sim,
Jagger Matthews.
Vince
Todo o ar é sugado para fora da sala.

Meus pulmões parecem que estão entrando em colapso.

Meu coração parece que vai parar.

Minha cabeça parece implodir.

— Você está mentindo — eu digo, o sussurro em meus lábios,


mas um grito em minha cabeça.

Jagger Matthews.

Eu luto para processar. Para pensar direito. Para refutar o que


uma parte de mim sente ser inegavelmente verdadeiro.

A vontade de derrubar o telefone da mão de Gil é forte. O


impulso de agarrá-lo e ler cada maldita mentira que o meu maldito
pai disse é tão forte quanto.

McMann me agarra antes que eu possa fazer qualquer coisa e


me conduz para fora da sala enquanto os repórteres ficam loucos
atrás de mim.

É apenas ruído branco.

São apenas luzes brancas à frente.

É apenas uma pressão inacreditável no meu peito que


aumenta a cada segundo.
— Vince.

— Não. Não me toque. — Eu jogo meus braços para cima para


empurrar Xavier para longe de mim. — Eu acabei de... Eu preciso
ir. Eu tenho que ir...

Ver se eu tenho um filho?

Ver se Bristol está mentindo para mim?

Ver se o meu pai está certo?

— Eu só tenho que ir.


Bristol
Lágrimas ameaçam, mas não vêm.

Meu peito queima, mas sou forçado a respirar, cada inspiração


dói mais do que a anterior.

Minhas mãos agarram o volante enquanto o tráfego me


bloqueia, como a claustrofobia que sinto agora.

O telefone toca no meu bluetooth. De novo e de novo. A voz


eletrônica que Vince usa para uma mensagem fala. — Vince.
Preciso que você me ligue. Por favor. Nós precisamos conversar.

Ligo para a próxima pessoa com quem preciso falar. O telefone


toca. Mais e mais enquanto meus dedos ficam brancos. — Atenda
o telefone, mãe. Atenda. Atenda. Atenda.

— Esta é Cathy. Por favor deixe uma mensagem.

— Mãe. Por favor me ligue. É urgente. Ele sabe sobre Jagger.


Ele. sabe. — Minha voz falha.

E parece que tudo o que há dentro de mim também.

Ligo para Vince novamente.


Vince
O endereço errado.

Não me convidando para entrar.

Os contratempos em ir para a faculdade de direito.

Minutos. Momentos. Segundos. Cada um que passei com ela


precisa ser dissecado, reconsiderado e fodido até a morte, mas as
únicas coisas em que minha mente pode se concentrar agora é
chegar à casa dela.

É descobrir a verdade por mim mesmo.

É saber se Jagger é real ou não.

Ou dar um soco na cara do meu velho.

Eu paro na rua, estaciono o meu SUV e então percebo que o


garoto pode nem estar aqui. O trabalho dela. A escola dele. Uma
babá. Quem diabos sabe.

Mas eu corro pela calçada de qualquer maneira, sabendo que


se eu tiver um filho, ele estará aqui.

Mas como isso é possível? Usamos camisinha todas as vezes


naquela noite. Não tem como isso ser possível.

Não pode ser.

Eu bato na porta. Um punho após o outro.


— Qual é o problema... lem — Cathy diz quando ela abre a
porta e me encontra lá.

Seus olhos estão arregalados. Seus lábios franzidos. E a


última conversa que tivemos volta de uma forma que faz mais
sentido do que nunca.

Ela sabe que eu sei.

— Vince. — Meu nome é um sussurro que não ouço enquanto


passo por ela e entro no pequeno apartamento.

Mas todo o meu entusiasmo, todas as minhas razões pelas


quais isso não é real, como ele não pode ser meu, vão à merda
quando vejo o garotinho sentado no sofá. Ele é tão pequeno. Sua
cabeça está baixa, uma mecha de cabelo escuro caindo sobre sua
testa enquanto ele se concentra em um pequeno violão apoiado em
seu colo. Ele faz ruídos desafinados enquanto seus dedinhos
tentam operar o traste e as cordas.

Ele inclina a cabeça para o lado e franze os lábios em


concentração, como já vi em centenas de fotos tiradas de mim
mesmo.

As palavras me escapam.

Minha cabeça balança para frente e para trás enquanto estou


congelado no lugar olhando para algo que eu disse a mim mesmo
que nunca permitiria que acontecesse.

Todo o resto desaparece quando aquele rostinho ergue os


olhos e me vê ali. Encontro os meus próprios olhos olhando para
mim. Com um sorriso torto que é a imagem espelhada do meu
sorriso de volta.
O vento é nocauteado para fora de mim.

Todas as imagens que vi de mim mesmo quando criança estão


sentados à minha frente, olhando para mim com curiosidade em
sua expressão e inocência em seus olhos.

— Oi. Quem é você? — Ele pergunta com uma voz rouca.

— Eu... — Eu olho para onde Cathy está, com lágrimas


brotando em seus olhos, antes que ela sorria como se me dissesse
que não há problema em falar. — Eu-eu sou um amigo da sua
mãe.

— Huh. — Ele inclina a cabeça para o lado e me observa, seus


olhos demorando em minhas tatuagens, fazendo-me sentir
constrangido sobre elas como nunca antes. — Como você conhece
ela?

— De muito tempo atrás. Nós nos conhecemos há mais tempo


do que nunca.

— O que isso significa?

— Nada. Só isso... nós nos conhecemos há muito tempo. — Eu


aliso minhas mãos em meu jeans, precisando de algo, qualquer
coisa para fazer com as minhas mãos. Isso não as impede de
tremer. — Você se importa se eu me sentar?

Ele dá o mais sutil dos acenos, seus olhos nunca deixando os


meus. — Você meio que se parece com aquele cantor que vemos
na TV, não é, Nana? — Ele olha para Cathy. — Aquele que faz a
mamãe às vezes ficar com lágrimas nos olhos.

— Mais ou menos — Cathy murmura, com a mão descansando


sobre o coração, seu sorriso preocupado, mas esperançoso.
— Você é ele? — Ele pergunta.

— Talvez — eu sussurro e finalmente encontro coragem para


me mover mais para dentro da sala para que eu possa me sentar
em frente a ele.

— Então isso significa que você sabe tocar? — Ele levanta o


violão. — Meu pai comprou para mim. Tem alguns arranhões, mas
ele diz que os arranhões lhe dão personalidade. Mamãe está
economizando para as aulas para mim, mas estou tentando
mesmo assim.

Minha garganta arde de emoção. — Eu sei fazer, sim. Talvez


eu possa te ensinar algum dia, se sua mãe e o seu pai não se
importarem.

Seu sorriso cai. — Apenas mamãe.

— Oh? — O som fica preso na minha garganta.

— Meu pai me ama mais do que o mundo, mas ele não estava
pronto para lidar com toda essa grandiosidade — Jagger diz, com
um sorriso tímido, mas agridoce no rosto. — Talvez algum dia.

Abro a boca, mas as palavras não saem. Ainda estou


sobrecarregado com tais contrastes violentos de emoções.
Descrença casada com choque. Ferido de raiva. A reverência
guerreando contra o ceticismo.

— Uma quantidade enorme de grandiosidade — eu digo,


minha voz falhando. — Quantos anos você tem?

Eu pergunto, mas já sei a resposta. Ele tem seis anos. O


restaurante vazio. O passeio de limusine. O hotel. O ir embora sem
olhar para trás. Suas mensagens de voz que apaguei porque era
muito difícil ouvi-las e suas chamadas que bloqueei.

— Seis. É uma boa idade, não acha?

Eu rio e, pela primeira vez, sinto que, ao inalar, o oxigênio


chega aos meus pulmões. — Definitivamente é uma boa idade.

— Quantos anos você tem?

— Trinta.

— Isso é velho. — Seus olhos se arregalam quando ele fala. —


Desculpe, Nan. Não é velho.

Ela ri, e é como se o som diminuísse um pouco a tensão na


sala. Mas o arame farpado que envolve cada maldita sensação
dentro de mim permanece.

— Acho que alguém realmente quer falar com você — ele diz,
apontando para o meu bolso, onde o meu telefone vibra
incessantemente.

— Ah bem. Não quero falar com eles. — Eu jogo meu telefone,


e ele cai com um baque no chão.

Ele ri, e não tenho certeza se é a melhor ou a pior coisa que já


ouvi. Melhor porque... Jesus. Pior porque ele tem seis anos e é a
primeira vez que ouço isso.

— Eu sou Jagger — ele diz e estende a mão. — Tão bom


conhecer você.

Estendo a mão e pego sua mão. É minúscula e a minha a


engole... mas o seu toque. É saber que ele é realmente real que me
faz engasgar com o meu próprio nome. — Vince. — Eu abro um
sorriso, mas não tenho certeza se consigo sorrir. — Tão bom
finalmente conhecer você também.

Seguro aquela mãozinha, o peso do momento é esmagador,


enquanto olho para este pequeno ser humano e luto para
compreender o que e para quem estou olhando.

Meu filho.

O filho que eu nunca soube... porque Bristol acredita que sou


indigno de saber.

— Talvez algum dia. — Não, ela nunca teria me contado.

Eu sou apenas um fodido.

O pedaço de merda inútil.

Um hack inútil e sem talento.

Suas palavras soam verdadeiras, não é?

Uma e outra vez, eles correm voltas pela minha cabeça.

E agora sei que Bristol sempre sentiu o mesmo.

Posso tê-la bloqueado antes, impedido que ela me alcançasse,


mas agora ela teve semanas para me contar.

Mas por que me falar sobre um filho quando ela não quer nada
de mim?

O ataque de pânico me atinge do nada.

Cabeça tonta. Boca seca. Coração batendo a um milhão de


milhas por minuto.

— Mãe? Jagger? — Os gritos de Bristol são ouvidos segundos


antes de a porta da frente se abrir. Um soluço sufocado vem da
sua garganta, e então ela me vê. Lágrimas mancham suas
bochechas e os seus olhos me imploram, pelo quê? Não tenho
certeza. — Vince. — Mensurado. Apologético. Aterrorizado.

Levanto-me da cadeira enquanto luto para respirar, e minha


visão começa a escurecer. A admiração de Jagger diminuiu com a
traição de Bristol. Pelo pânico subindo pela minha garganta.

Eu deveria dizer adeus a ele.

Eu deveria prometer ensiná-lo a tocar violão.

Eu deveria segurá-lo com força e não deixá-lo ir.

Em vez disso, ofereço a ele um sorriso, mesmo que isso conflite


com o caos dentro de mim.

Pego o meu telefone e caminho a curta distância até a porta


da frente, cada parte de mim se rebelando contra a outra.

— Vince. — Desta vez é um grito desesperado e estrangulado


do meu nome quando Bristol estende a mão e agarra o meu braço.

— Não. — Eu aviso, mas é o suficiente para quando encontro


os seus olhos, ela dá o mais sutil dos acenos antes de me liberar e
dar um passo para trás.

Eu a encaro. Na única pessoa que amei de verdade e, pela


primeira vez na vida, sei como é a verdadeira dor de coração.

Porque ela acabou de partir o meu coração.


Bristol
Jagger está sentado enrolado em uma bola, com a cabeça em
um travesseiro no meu colo, dormindo profundamente. Brinco
distraída com o seu cabelo, incapaz de tirar os olhos dele, e me
perguntando quando ele for mais velho se vai me odiar pelas
decisões que tomei.

— Você pode ir, mãe. Eu estou bem — eu murmuro pelo que


parece ser a centésima vez. Uma parte de mim precisa que ela vá
embora para que eu possa processar tudo, enquanto a outra parte
de mim está com medo de enfrentar tudo isso sozinha.

— Eu não estou indo a lugar nenhum. Além disso, mesmo que


eu quisesse, acho que não conseguiria ir embora. É um
estacionamento lá fora com todos aqueles malditos repórteres
acampados na frente. — Ela olha por cima do ombro como se
pudesse vê-los através de todas as persianas fechadas. — É
incrível a rapidez com que descobriram onde você mora.

— Bem-vinda à internet, mãe.

— Mas como? Eles chegaram aqui em uma hora.

— Todo mundo está disposto a ser pago por informações hoje


em dia. Caso em questão, Deegan fodido Jennings. — Eu inclino a
cabeça para trás e fecho os olhos. Revi o artigo, sua entrevista
exclusiva, tantas vezes que posso vê-lo em minha mente. Foi uma
tentativa desesperada de um homem mentalmente doente e em
estado terminal de dar um último golpe em um filho que finalmente
o mandou se foder. Um filho que deveria ter feito isso anos e anos
atrás.

— Eu sempre odiei aquele homem.

— Eu concordo, mas não tenho ninguém para ficar brava além


de mim mesma.

— Seu pai nunca deveria ter...

— Não deveria ter o quê? Exibido fotos do seu neto para se


gabar? Como ele poderia saber que Deegan estava parado atrás
dele no bar ou que quando Deegan deu uma olhada na foto de
Jagger, ele imediatamente viu Vince como uma criança nele? Não
havia como papai saber que Deegan se lembrava do ano em que
liguei para ele, desesperada pelo numero do celular de Vince, só
porque era a noite da sua trigésima reunião do ensino médio. Que
ele ouviu o pai dizer a idade de Jagger e depois calculou quanto
tempo se passou desde então para ver se os números estavam
alinhados? São muitos pontos para conectar que papai nunca
poderia imaginar que aconteceriam. O pai nunca poderia ter
pensado que alguém usaria para me machucar ou Jagger. Papai
pode não ser sua pessoa favorita, mas você e eu sabemos que ele
nunca tentaria nos machucar de propósito.

Ela acena com a cabeça, firmemente colocada em seu lugar,


embora essa não fosse minha intenção. Estou apenas frustrada e
desesperada para falar com Vince, para tentar explicar a ele, mas
quando eu ligo para ele, vai direto para o correio de voz.
— E se ele não falar comigo? — Eu finalmente murmuro, meu
maior medo vindo à tona.

Esqueça isso, acho que o meu maior medo seria Vince


conhecer Jagg e nunca mais querer vê-lo.

Posso dizer que entenderia se ele fizesse, mas seria mentira.

— Você precisa dar a ele tempo para digerir tudo.

— Digerir? Eu terminei com ele para sempre, disse a ele que o


amava, mas ainda precisava terminar as coisas, e então no dia
seguinte ele descobre que eu menti para ele o tempo todo sobre a
maior coisa em nossas vidas. Estou pensando que deve haver uma
palavra mais forte do que digerir aqui.

Ela acena com a cabeça, mas há algo incomodando-a que ela


não está me contando.

— O que foi, mãe?

— Eu disse a ele para não ligar mais para você. — Ela olha
para as mãos em vez de encontrar os meus olhos.

— O que você está falando?

Ela engole em seco. — Ele ligou para você. Você tinha acabado
de ter Jagger. Você estava exausta e com o coração partido e
finalmente adormeceu, então peguei o telefone e atendi para não
te acordar. Era ele.

Meu coração se aloja como uma bola de dor na minha


garganta. — Mãe... olhe para mim.

— Eu estava cansada de ver você se machucar. — Lágrimas


brotam dos seus olhos enquanto seus dedos se mexem e os ombros
encolhem. — Por favor, me perdoe, mas eu não poderia lidar com
ele criando esperanças novamente apenas para esmagá-la
novamente. — Ela soluça sobre um soluço. — Eu disse a ele que
se ele não pudesse te amar do jeito que você merecia ser amada,
então ele precisava deixá-la ir para que você parasse de viver
apenas para esperar por ele. — Eu abaixo minha cabeça quando
suas palavras me atingem como um soco duplo. — Eu sinto muito,
querida.

Olho para Jagger através de lágrimas borradas. O meu doce


menino. Em todo o meu maldito mundo. Terei que pedir-lhe o
mesmo perdão algum dia? Vou querer que ele aceite minhas
desculpas pelos erros que cometi pensando no bem dele?

As perspectivas mudam quando você tem um filho.

Agora eu entendo isso.

— Está tudo bem, mãe. — Vou ficar pensando nisto por um


bom tempo, mas no final não muda nada.

Pego o telefone para ligar para Vince novamente.

Eu preciso.

Eu tenho que falar.

É a única conexão que tenho com ele agora além do garotinho


no meu colo.

O correio de voz dele atende. Eu ensaio todas as coisas que


preciso dizer a ele na minha cabeça e espero ter a chance.

Sinto muito que o seu pai o tenha vendido pelo lance mais alto.
Como sinto muito por tê-lo traído, mas sinto que fiz pelos
motivos certos.

Como eu sinto muito...


Vince
Eu dirijo.

Hora após hora.

Quilômetros após quilômetros.

Dirijo para limpar minha cabeça. Para processar os meus


pensamentos. Para entender o que Bristol fez e Jagger como um
todo.

Eu tenho um filho.

Eu jurei de cima a baixo que nunca teria um filho e então,


quando o vi pela primeira vez, algo pareceu quebrar dentro de
mim.

Minha determinação?

O estrangulamento da minha raiva?

Tudo o que eu segurei por tanto tempo que me segurou?

Foda-se se eu sei.

Eu tenho um filho.

Não consigo tirá-lo da cabeça. Seus dedinhos tentando segurar


o violão. Seus enormes olhos verdes olhando para mim. O sorriso
dele. Sua risada. As verdades que ele contou sobre o seu pai.
Você está pronto para lidar com toda a grandiosidade dele, Vin?
Você é homem o suficiente para isso?

Meus olhos ficam embaçados enquanto estou sentado no meu


carro com um copo de café escaldante e debatendo a porra da
minha vida. Minhas malditas escolhas. E eu finalmente ligo o meu
telefone.

Ele apita instantaneamente. Constantemente. Chamadas


perdidas. Textos perdidos. Não tenho certeza se estou pronto para
lidar com qualquer um deles ainda.

Como se fosse uma deixa, toca na minha mão e é


provavelmente a única pessoa no mundo com quem posso falar
agora.

— Ei.

— Você está bem? — Hawkin pergunta. — E não venha com


essa conversa de que “o que você acha”? Estou falando sério. Você
acabou de ter um monte de merda jogada no seu colo. Fale comigo,
irmão.

Suspiro e aprecio que ele me deixa ali sem me pressionar. —


Você leu o artigo?

— Sim. E você?

— Tenho estado um pouco ocupado processando as


consequências de tudo isso para ter a chance de ler mais do que
as manchetes e citações que as pessoas me enviaram.

— Você quer saber?

Se eu confio em alguém para me esclarecer, é Hawkin. O


homem que afastei. O amigo que me recusei a deixar me ver
sofrendo. O irmão que ainda está do outro lado da linha mesmo
assim. — Sim.

— É uma tentativa desesperada de um pedaço de merda de ter


controle sobre você uma última vez antes de morrer. E estou
assumindo que a última parte, a parte da morte, você já sabia.

— Sim. Cerca de um ano.

— Então, na época em que você se afastou de nós.

— Eu disse a você que fodi um monte de merda. Eu não preciso


de sermões...

— Sem sermões, Vin, só estou tentando juntar as peças para


poder ajudá-lo da melhor maneira possível.

— Obrigado. — A palavra é quase inaudível.

— Ele tenta pintar você sob uma luz ruim, o filho famoso que
cortou o pai moribundo, mas sua ganância viscosa aparece.
Inferno, o escritor até diz que cheques descontados provaram que
você pagou por todo o tratamento dele, o que, para constar, é mais
do que eu faria por aquele filho da puta, mas estou divagando.

— Eu sei.

— Ele critica você por não ser bem-sucedido por conta própria.
Parece um verdadeiro idiota, para ser honesto. Claramente, o
idiota não checou a mídia social ultimamente porque você não
pode assistir a nada sem ouvir aquela porra de Sweet Regret nele...
então foda-se ele.

— Foda-se ele.
— A essência é, foi um acaso total que ele descobriu sobre o
seu filho. Lendo nas entrelinhas diz que ele imaginou que se você
não lhe desse o dinheiro que ele queria, então ele o venderia para
o tabloide para conseguir ele mesmo. E ele se importa com as
consequências? Ele está morrendo, certo? Então, sim, foda-se ele.

— Foda-se ele.

— Nada mudou nele, Vin. Nunca. E porque os homens


pequenos machucam os outros para se sentirem maiores, ele está
fazendo uma última investida para virar o seu mundo de cabeça
para baixo simplesmente porque sua alma podre pode. Ele vai
embora e vai para o inferno e você vai se machucar... então minha
pergunta é. Seu mundo ainda está girando ou você já está
tentando firmar os pés?

— Estou em toda a porra do lugar, cara.

Ele fica quieto por alguns segundos. — Jagger, hein?

Só o nome já me faz fechar os olhos e vê-lo sentado ali. — Sim


— eu quase sussurro, este território completamente desconhecido.

— Nome legal. É quase como se alguém soubesse que você é


fã dos Stones — ele diz com um tom astuto.

A noção de que Bristol deu a ele um pedaço de mim, o nome


do cantor da primeira música que aprendi a tocar no meu violão,
mesmo sem me dizer, não passou despercebida.

— Eu o conheci ontem. — Eu mal consigo pronunciar as


palavras. Não porque eu luto contra elas, mas porque ainda é tão
avassalador.

— Você quer falar sobre isso?


— Ainda estou tentando entender isso.

— Isso é típico quando é pego de surpresa.

Eu resmungo.

— Quer dois conselhos?

— Sim. Eu quero. — Eu posso praticamente ver o choque em


seu rosto por eu dizer isso.

— Você tem que parar de correr, cara. Posso citar três razões
logo de cara.

— Claro que você pode.

— A banda. Bristol. Jagger. E não nessa ordem específica.

Eu rio. É a primeira vez que abro um sorriso há algum tempo.


— Foda-se, cara.

— Eu não posso fazer você lutar, inferno, eu não posso nem


mesmo fazer você querer lutar, mas posso te dizer que essas três
coisas podem fazer de você um homem melhor do que o fodão que
eu já sei que você é...

Isso vindo do homem que usei como um saco de pancadas


verbal meses atrás. Quem eu deixei no meio da gravação de um
álbum. De quem me afastei por causa da minha própria cabeça
fodida. — Bom ponto tomado.

— Ei, Vin?

— Sim?

— Uma última coisa. O melhor foda- se para o seu pai não


seria você se tornar exatamente o tipo oposto de pai que ele era
para você? Para provar que você não é nada como aquele pedaço
de merda?
Vince
— Eu sei que sou a última pessoa que você quer ouvir agora.
Eu entendo — Cathy diz — mas não sei para quem mais ligar com
experiência que possa me dizer como lidar com isso.

— Lidar com o quê? — Eu pergunto, os meus próprios


sentimentos como um tornado girando dentro de mim.

— Eles estão por toda parte.

— Quem está por toda parte?

— Fotógrafos. Paparazzi. Como quer que você os chame. Eles


estão acampados no gramado. Sentado nas árvores do outro lado
da rua. Tentando espiar pelas persianas. Mesmo revirando o nosso
lixo pelo amor de Deus. Qualquer coisa para tentar tirar a primeira
foto de Jagg e lucrar. Sei que ele não é sua responsabilidade, mas
ele está apavorado. Como faço para que eles desapareçam?

Ele está apavorado.

Essas duas malditas palavras se repetem na minha cabeça


enquanto vou para a casa de Bristol. Eu não tenho nenhum plano
em vigor. Inferno, eu ainda nem resolvi os meus sentimentos e com
certeza não estou com vontade de falar com ela ainda, mas tenho
oito anos de experiência lidando com esse tipo de caos. Não é nada
com que uma criança de seis anos tem que lidar.
Vou tirá-los de lá.

Vou protegê-lo disso de alguma forma.

Então vou descobrir o que diabos eu vou fazer... com tudo.

A rua dela é um caos quando dirijo por ela. Os carros estão


estacionados em cada centímetro livre da rua e ocupam todos os
espaços nos lotes de apartamentos. Fotógrafos, alguns que agora
reconheço de vista, já que estou em LA há tanto tempo, circulam
por lugares considerados públicos. Aqueles que fixaram residência
em gramados pagaram aos moradores pelo acesso, sem dúvida.
Suas câmeras são longas e monstruosas. Seu apetite por invadir e
perturbar a vida das pessoas é vergonhoso. Seus impulsos para a
primeira foto exclusiva, tenaz.

Paro na frente da casa dela e estaciono no único lugar que


consigo encontrar, no meio da rua. No momento em que os
paparazzi registram quem eu sou e correm atrás de mim com os
seus gritos e os seus flashes, já estou batendo na porta da frente,
ombros curvados e com a cabeça baixa.

No minuto em que ouço a porta destrancar, abro a porta, entro


e a fecho atrás de mim. Mas o barulho ainda está lá, abafado, mas
tumultuado.

Cathy está parada no centro da sala de estar, seus olhos


solenes, sua expressão sombria. — Eu implorei para ela ligar para
você — ela sussurra. — Ela acha que não tem o direito de pedir
ajuda, mas eu disse a ela que talvez você pudesse dizer como
escapar daqui. Como evitá-los. Eu não queria que você tivesse que
vir aqui. Enfrentá-la e.… ele novamente antes que você estivesse
pronto para isso.
Aceno enquanto percebo as coisas desta vez. O Lego
semiconstruído colocado no canto. A obra de arte de Jagger
emoldurada na parede atrás da pequena mesa da sala de jantar,
uma exibição de uma mãe orgulhosa. Uma pilha de livros na
mesinha. Fotos emolduradas de Bristol e Jagger ao longo dos anos
espalhadas em superfícies ao redor do local.

Eu sou atraído por elas. As lembranças que não tenho direito,


mas quero ver mesmo assim. Jagger com alguns meses de idade
com cabelos escuros e um sorriso gengival. Bristol segurando
Jagger na praia enquanto ele tenta enfiar um punhado de areia em
sua boca. Os dois juntos em uma doca, onde fica claro que Bristol
está tentando ensiná-lo a pescar. Uma após a outra. Pedaços de
uma vida sendo vivida.

Quando olho para cima, Cathy se foi e Bristol está lá. — Oi. —
Ela pigarreia e eu apenas a encaro, vendo-a sob uma luz diferente.

Como a mulher que eu amava.

Como a mulher que escondia segredos de mim.

Como a mãe do meu filho.

E me pergunto como esse último entra em jogo agora. Será o


que nos unirá ou será a dor que sua decisão causou será o que
nos separará?

É isso que estou lutando para compreender.

— Ele está bem? — Eu pergunto.

Ela me dá um sorriso tímido, mas não responde à pergunta.


Protegendo o seu filho do mundo exterior e de mim.

Porra, cara. Não sei como isso me faz sentir.


— Você não precisava vir — ela diz calmamente. — Você
poderia ter me dito o que achava melhor pelo telefone.

Concordo com a cabeça e dou alguns passos em direção a ela.


— Ele não pediu isso. Ele não merece isso. O mínimo que posso
fazer é ajudá-lo com a bagunça que fiz para ele.

Lágrimas brotam dos seus olhos. — Obrigada.

Limpo minha garganta e resisto ao impulso de ir até ela. Para


encontrar conforto na única mulher que já procurei.

— Precisamos conversar sobre... tudo — ela diz.

Outro aceno porque é mais fácil do que falar. — Agora não.


Ainda não. Estou lutando com o que dizer... e como me sentir em
relação a você.

Acho que dar um soco no estômago dela doeria menos do que


as palavras que acabei de dizer, mas ela ergue o queixo. — Eu sei.

— Faça uma mala por alguns dias — eu digo enquanto um


plano se forma em minha cabeça. Um desencadeado pelas fotos
que acabei de ver. — Até que tudo esfrie um pouco, pelo menos.
Ligue para McMann. Peça uma folga...

— Não preciso. Ele me despediu esta manhã por confraternizar


com um cliente — ela diz calmamente.

— Cristo. — Eu me sinto desamparado. O filho da puta a


demitiu por minha causa. Demitiu-a por causa de algo que ela não
fez. — Desculpa. Eu vou falar com ele. Vou deixar a agência para
não haver conflito de interesses. Doente...

— Agora, tudo que me importa é tirar Jagger daqui. Ele é


minha única prioridade.
— Ok. — Essa palavra parece tão totalmente inadequada.

— Eu vou fazer as malas. — Ela se vira e segue pelo curto


corredor. Uma parte de mim quer segui-la, ver onde Jagger dorme,
passar a mão em suas coisas, enquanto outra parte de mim
questiona como posso sequer pensar nisso.

Volto-me para as fotos, estendo a mão instintivamente para


tocá-las como se quisesse me inserir na memória.

— Não foi uma decisão fácil para ela. Você precisa saber disso.

— Tenho certeza que não foi — eu digo a Cathy, mas não me


viro para encará-la.

— Ela tentou por meses entrar em contato com você. Seu


gerente da turnê tentou pagá-la depois que você a bloqueou. Ela
tinha certeza de duas coisas. Que ela manteria o bebê e que ele foi
feito de amor.

Lágrimas queimam e ameaçam. Limpo minha garganta. — Isso


foi passado, Cathy. Eu não posso mudar isso. Mas já estou aqui
há semanas. Semanas em que Bristol e eu passamos um tempo
juntos e ela ainda optou por não me contar. Eu tinha o direito de
saber.

— Você tinha. Eu disse isso a ela. E então ela me mostrou


algumas entrevistas que você deu. A Rolling Stone foi a que mais
me lembro. Você falou sobre...

— Paternidade. — Foda-se. — Eu disse algo sobre como prefiro


ser estéril do que arriscar ser pai.

Isso é você, Jennings. Cem por cento você.


Quando encaro Cathy, linhas de preocupação estão gravadas
em sua expressão. Minha mãe já se importou o suficiente comigo
para ter aquele olhar em seu rosto?

— Tem sido difícil para ela? — Eu faço a pergunta, precisando


ouvir a resposta que eu já sei. Precisando ser punido por ser quem
eu sou. Por dizer as coisas que eu disse. Por ser tão covarde sobre
o que eu sentia por ela que bloqueei o número dela. Que eu causei
isso.

Ela acena com a cabeça. — Ela colocou seus sonhos em espera


para um novo sonho que ela nunca esperava que acontecesse. Ela
recusa ajuda monetária. Ela... você sabe como ela é teimosa.

— Você se preocupa com ela.

— Diariamente. — Ela sorri suavemente. — Ela queima a vela


nas duas pontas o tempo todo. Ela não quer desistir do seu sonho
para provar a Jagger que não importa quantos anos você tenha,
você ainda pode realizá-lo. Ao mesmo tempo, ela se sente culpada
por perder tanto tempo com ele por causa do trabalho, que tenta
ser super mãe em todos os outros aspectos. Eu não seria uma boa
mãe se não me preocupasse.

— Vou levá-los embora por alguns dias. Então o que vai


acontecer? Eu não sei. Você é bem-vinda para vir. Sei que se você
ficar aqui também será assediada.

— Eu vou ficar bem. Vocês três precisam desse tempo para...


fazer o que você decidir. — Ela olha para minhas mãos onde estou
segurando uma foto de Jagger. Eu nem percebi que peguei. — Você
é um bom homem, Vincent. Seus pais não fazem você ser quem
você é, mas às vezes eles podem fazer você pensar que você é quem
você não é.

Andar arrastando os pés pelo corredor tem toda a minha


atenção, e quando eu olho, juro por Deus, meu coração dispara no
meu peito.

— Desculpe as botas — Bristol diz enquanto Jagger caminha


pelo corredor com um par de botas de cowboy enormes. —
Estamos passando por esta fase, e é a minha fase favorita.

— Oi — Jagger diz, acenando com a mão que não está


segurando a mão de sua mãe.

— Botas legais, cara.

Ele olha para elas e depois de volta para mim de onde ele está
se escondendo parcialmente atrás do quadril de Bristol. — Mamãe
disse que vamos fazer uma pequena viagem com você.

— Só por alguns dias. — Eu me agacho para ficar no nível dele.

— Ela disse que não posso levar o meu violão. É muito grande.

— Existem violões para onde estamos indo. Talvez eu possa


lhe dar aquela aula que você queria.

Ele balança a cabeça, com os dentes no lábio inferior, e avança


um pouco mais. — Mm okay.

— Como vamos passar por tudo isso? — Bristol pergunta e


levanta o queixo, referindo-se aos paparazzi.

— Aposto que você gosta de brincar de esconde-esconde, não


gosta? — Eu pergunto a Jagger e recebo um aceno de cabeça em
resposta. Ele sorri e levo um segundo para encontrar minha voz.
— Aposto que você é bom nisso.

— Mamãe nunca consegue me encontrar.

— Então isso significa que você é realmente bom. Então aqui


está o que vai acontecer. Temos que sair para o carro, mas tem
todas aquelas pessoas lá fora.

— Eles são assustadores.

— Eles são. É por isso que vamos brincar de esconde-esconde.


— Eu olho ao redor da sala e vejo um cobertor no sofá. — Vou
carregá-lo até o carro enquanto você se esconde sob este cobertor
para que ninguém possa vê-lo.

— Você acha que vai funcionar? — Ele pergunta.

— Eu sei que vai. Mas enquanto você está lá embaixo, quero


que tampe os ouvidos porque vai ficar muito alto por alguns
segundos. Você pode fazer isso por mim?

Ele balança a cabeça enquanto Cathy pega o cobertor para


nós.

— Está pronto? — Eu pergunto enquanto o pego sem pensar.


Mas no minuto em que ele está em meus braços, pernas em volta
da minha cintura, mãos entrelaçadas na parte de trás do meu
pescoço, eu congelo. A enormidade de quem estou segurando me
atinge. Ele olha para mim, cílios agitados e bochechas rosadas, e
me esforço para respirar.

Meu filho.

— Cobertor? — Eu pergunto, minha voz quebrando nas


sílabas, e viro o meu rosto para que ele não veja as lágrimas em
meus olhos. Mas Bristol sim. Ela apenas segura o meu olhar, um
poço de emoção em seus olhos que não tenho tempo de desvendar.

Mas sei de uma coisa: nunca vou esquecer o olhar dela ou a


expressão em seu rosto enquanto eu viver.

Jagger ri quando Cathy coloca o cobertor sobre a cabeça dele,


e ele descansa a cabeça no meu ombro, segurando os braços com
mais força.

— Tampe os seus ouvidos, amigo — Cathy diz enquanto passa


as mãos sobre as costas cobertas pelo cobertor.

— Preparada? — Eu pergunto a Bristol. Quando a vejo acenar


com a cabeça, abro a porta e saio para o abismo caótico. Gritos,
pedidos e flashes chovem sobre nós enquanto eu os empurro para
chegar ao SUV. O instinto me faz pegar a mão de Bristol para ter
certeza de que ela está bem.

Lutamos para chegar ao SUV. Para abrir a porta. Colocar


Jagger e Bristol no banco de trás antes de ir para o lado do
motorista.

Eu sei que quando eu começar a dirigir, alguns irão me


perseguir. Sei que outras pessoas já ligaram para colegas de
trabalho para avisar que estamos saindo.

Todas as perguntas são ignoradas. Apenas mantenho a cabeça


baixa até ligar o carro e sair da vizinhança.

— Bom trabalho, Jenzo — Bristol diz, despenteando seu


cabelo depois que ela se certifica de que o cinto de segurança dele
esteja preso.

— Jenzo? — Eu pergunto.
Seus olhos encontram os meus no espelho retrovisor. —
Jagger Enzo Matthews.

Vince.

Vincenzo.

Enzo.

Jagger Enzo.

Outro pedaço de mim que ela deu ao nosso filho. Outra coisa
que talvez eu nunca tenha conhecido.
Bristol
O reflexo do sol no lago faz com que prismas dancem por toda
a cozinha.

Beijos do sol.

Não é assim que Jagger os chamou ontem quando ele sentou


aqui e tentou contá-los antes de cair na gargalhada quando me
mexi e um pousou bem no meu rosto?

Recordações.

Estamos fazendo memórias aqui. O tipo de memória que surge


quando você se afasta da sua rotina diária e tem a chance de estar
atento a cada minuto do seu tempo. Memórias que Jagger não é
pior para o desgaste, mas que parecem muito agridoces para mim
desde que estou do lado de fora olhando para dentro.

Já se passaram três dias desde que saímos de casa, entramos


em um avião particular e chegamos aqui no Lago Chelan, em
Washington.

A casa de Vince aqui é impressionante no tamanho. Uma


enorme sala grande é o ponto principal e, a partir dela, os
corredores se ramificam de cada lado, cada sala uma parede de
janelas para não perder a água azul cristalina do lago. É uma
mistura de moderno e minimalista que de alguma forma se
encaixa.

Depois, há a própria propriedade com o seu enorme gramado,


uma piscina considerável e um deck sobre a água.

Acrescente a isso que é totalmente privado com entrada


fechada e sistema de segurança de última geração... e até agora,
nenhum paparazzi sentado em árvores com lentes para fotos.

A privacidade e o espaço não me deram nada além de tempo


para pensar. Não ajuda que as mensagens de Simone ainda
cheguem velozes e furiosas. Sobre eu esconder dela quando se
tratava de Vince. Sobre que besteira é que McMann me demitiu.
Sobre tudo o que mantive em segredo dela.

Mas pelo menos agora posso confiar nela, mesmo que seja
apenas para saber que outra pessoa está ao meu lado neste
momento de caos absoluto.

Estou desempregada. Não é isso que eu temia que acontecesse


o tempo todo? E agora que realmente mudou, não há muito que
eu possa fazer de onde estou sentada, me escondendo no deserto
de Washington.

Então eu tive que colocar minha busca por emprego em


segundo plano – a preocupação, a raiva, a confusão – porque tudo
o que importa agora é ter certeza de que Jagger está bem. Que ele
acha que essas pequenas férias são simplesmente isso, uma
viagem com o novo amigo da mamãe, em vez de uma fuga de todos
os malucos que estavam em nossa casa.
E eu ainda não consegui explicar isso a ele. Mas eu preciso
porque sem dúvida a pergunta virá novamente.

Enquanto isso, Jagger está se divertindo muito. Ele nunca teve


um quintal tão grande para andar livremente, para encenar
batalhas imaginárias e uma piscina para nadar sempre que quiser.

Para ele, isso é o paraíso. Ele me pega sem trabalho ou escola.


Ele fica ao ar livre e tem alguma liberdade. E ele começou a brincar
com o seu novo amigo.

E aquele novo amigo de Jagger, Vince, não causou nada além


de completa e absoluta miséria para mim.

Não por causa do que ele fez, mais por causa do que ele não
fez, o que é essencialmente me desconsiderar, a menos que ele
tenha que interagir comigo.

Três dias é muito tempo para viver com o tratamento do


silêncio. Tentar agir como se tudo fosse normal para o seu filho de
seis anos, enquanto espera que sua próxima interação com Vince
seja o catalisador para finalmente abrir as linhas de comunicação.

Porque nós precisamos conversar. Correção, eu preciso


conversar. Explicar. Para justificar minhas razões e tudo mais.
Essa espera está me matando, e nas poucas vezes que peguei
Vince olhando para mim, a mágoa irradia como uma aura ao redor
dele.

O estúdio no segundo andar é para onde ele vai quando não


está com Jagger. Quando ele está lá, me evitando, uma mistura de
sons escapa pelas janelas abertas e flutua até onde estamos
sentados no quintal. Mas é a letra que não consigo entender, e é
ela que eu mais quero ouvir. Tenho a sensação de que elas podem
ser minha única janela para o que Vince está sentindo por dentro.

Um beijo do sol atinge o meu rosto novamente, como ontem, e


me tira dos meus pensamentos e me leva de volta ao assunto em
questão, pegar os lanches que Jagger pediu para o nosso
piquenique.

Com as mãos ocupadas, volto para fora para onde ele está
construindo um conjunto de Lego em uma mesa ao ar livre. Mas
quando viro o corredor, os meus pés param de funcionar e o meu
coração dispara no peito. Vince e Jagger estão sentados lado a lado
no sofá de vime ao ar livre com violões combinando descansando
em seus colos.

Vince explica pacientemente o posicionamento das mãos e


ajuda a colocar as mãozinhas de Jagger no lugar certo.

— Assim — Vince diz e toca alguns acordes. Jagger olha para


baixo e tenta o mesmo, então faz um som quando não consegue
acertar. — Não fique frustrado. Há muitas partes móveis. Estou
aqui para ajudá-lo.

Jagger olha para Vince, para o seu pai, e a confiança absoluta


em seus olhos, sua inocência imaculada, faz com que lágrimas
brotem em meus olhos.

— Venha aqui. Deixe-me te mostrar. — Vince abaixa o seu


violão e pega Jagger e o coloca em seu colo. A partir daí, ele envolve
os braços e as mãos de Jagger para ajudá-lo.

Mesmo daqui, posso ver que Vince está fazendo todo o


trabalho enquanto alguns acordes são tocados, mas o choque
ofegante e o sorriso de orgulho no rosto de Jagger possuem cada
parte da minha alma.

E se isso não me deixou emocionada, depois que eles


terminam, quando Vince coloca Jagger de volta ao lado dele e pede
para ele brincar com ele, e ambos mantêm suas cabeças no mesmo
ângulo e franzem os lábios da mesmo maneira, isso com certeza
fez.

O que eu faria para ter uma foto desse momento. Poder


capturar este momento e colocá-la numa moldura para colocar
entre todos as outras que tenho em casa.

Mas eu não quero me mexer e arriscar estragar o momento.


Também não acho que seria capaz de me afastar e arriscar vê-lo
com os meus próprios olhos.

Enquanto eles tocam, enquanto Jagger olha para baixo,


concentrando-se como nunca o vi antes, Vince olha para cima e
encontra o meu olhar.

Há uma série de emoções em seus olhos, tudo o que seria


conjectura para eu adivinhar. Mas uma coisa é certa, minhas
decisões roubaram muito dos dois homens que amo em minha
vida.

Tempo.

Recordações.

Momentos.

Mentoria.

Amor.
A questão é, se eu tivesse que fazer tudo de novo, eu teria feito
diferente sabendo o que sei agora?

Não sei.

Eu simplesmente não sei.


Bristol
Sigo em direção ao quarto de Jagger, sem saber qual é o som
que acabei de ouvir. Ele teve um sonho ruim? Ele teve que ir ao
banheiro, mas está com medo do bicho-papão debaixo da cama,
que pode agarrar os seus pés quando ele pular?

Ele está nesta casa grande e desconhecida com sombras e


rangidos diferentes dos que ele está acostumado. É normal que
qualquer criança fique um pouco assustada com isso.

Mas quando chego ao quarto dele, vejo a porta entreaberta e


espio, encontro Vince lá. Ele está sentado na beirada da cama, a
mão nas costas de Jagger e com os olhos fixos ali.

Quantas vezes sonhei em ter um momento como esse? Ver


Vince com o nosso filho? Vê-los interagir? Perceber que imagens
espelhadas eles são um do outro e ter um pouco de ciúme disso ao
mesmo tempo?

Ver o amor que ele tem pelo nosso filho, mesmo que ele mesmo
não consiga ou não queira reconhecê-lo?

Ah, Vince. O que você está pensando? O que você está sentindo?
Por favor fale comigo. Por favor, grite comigo. Por favor, faça o que
tiver que fazer, escreva uma música me dizendo o pedaço de merda
que eu sou, apenas para colocar tudo para fora para que possamos
começar de algum lugar e descobrir o próximo passo adiante.

Dou um passo para trás para deixá-lo em paz, mas o meu


movimento chama a sua atenção. Ele olha para mim antes de se
levantar e sair do quarto. Eu fico lá, esperando que talvez seja a
hora de falar com ele. O tempo para a cura começar de alguma
forma.

Mas ele fecha a porta suavemente e diz: — Vou trabalhar no


estúdio.

— Vince... — Seu nome é um apelo, mas é recebido com um


olhar mortal antes de ele virar as costas e seguir pelo corredor até
o seu estúdio sem dizer mais nada.

Corro atrás dele e o sigo até o estúdio, bloqueando a porta com


a mão quando ele a fecha como se eu não estivesse lá. — Você tem
que falar comigo em algum momento. Você tem que...

— Eu não tenho que fazer nada — ele diz enquanto começa a


mexer com a pequena mesa de som que ele tem lá, de costas para
mim, sua capacidade de me ignorar é frustrante pra caralho.

— Sim. Você tem — eu digo e olho por cima do meu ombro


para a porta aberta, preocupada com Jagger ouvir isso. — Em
algum momento, precisamos colocar tudo para fora.

— Você quer brigar? — Ele grita e depois vai até a porta e a


fecha com força. — Vamos brigar porra. Você está em um estúdio
à prova de som, Bristol. Jagger não pode nos ouvir, então vamos
colocar tudo para fora. Talvez isso faça você se sentir melhor, mas
acho que vai levar muito tempo para eu chegar lá.
— Temos que conversar. Temos um filho juntos...

— Você está certa, nós temos — ele troveja enquanto se vira


para mim e fica na minha cara. — Temos um filho. — As palavras
são estilhaçadas. Os tendões do pescoço tensos. A dor que ele
sente é quase palpável. — Um filho que você esqueceu de me
contar, então não me diga o que devemos ou não fazer porque você
perdeu todos os direitos no minuto em que mentiu para mim.

— Eu não menti para você.

— Uh-huh. Não me contar é o mesmo no meu livro.

— Mas eu tentei. Eu tentei, porra. Eu liguei para você. Enviei


uma mensagem para você. E liguei para você de novo e de novo.
Você é quem me bloqueou. Foi você quem fez isso...

— Porque doeu demais, Bristol. Você não entende isso? — Ele


abaixa a cabeça e balança. A dor nessas palavras me rasga. —
Doeu muito ver você, sentir o gostinho do que poderia ter sido e
saber que eu não poderia ter aquilo.

— Isso foi você, Vincent. Não eu. Você foi o único que foi
embora todas as vezes. Não eu.

— Então a culpa é minha? — Ele joga os braços para cima e


ri. — Você quer me culpar? Me culpe. Você quer me odiar? Me
odeie. Mas não jogue pedras na porra das casas de vidro se você
não gosta de catar cacos de vidro que você ajudou a quebrar. Você
tomou decisões que tiveram tudo a ver comigo, então não aja como
se você não tivesse feito isso.

— Você tem razão. Eu fiz. — Eu dou um passo para mais perto


dele, meu dedo espetando-o no peito. — E eu faria a mesma merda
de novo se fosse preciso. Eu escolheria Jagger em vez de você todos
os dias de cada semana porque ele está lá. Ele é meu. E ninguém
pode tirá-lo de mim. — Eu viro as costas para ele e caminho até a
janela. E encontro os seus olhos através do reflexo, minha própria
coragem não é forte o suficiente para dizer as próximas palavras
para ele cara a cara. — Ele era a única parte de você que me
restava, Vince. A única parte do único homem que já amei que não
achava que era suficiente para me amar. — Minha voz falha e as
primeiras lágrimas caem, mas não me importo. Tudo o que me
importa é que os anos de mágoa, preocupação e dúvidas
finalmente acabaram.

— E ao fazer isso você tomou decisões longe de mim. Em vez


disso, você deu ao meu filho a mesma porra de destino que minha
mãe me deu. Você o deixou para sentir que não era digno o
suficiente para ser amado. Como se eu o tivesse abandonado.
Como se ele...

— Não se atreva porra — eu grito, virando-me em um piscar


de olhos. Sua acusação me desconcerta e me atordoa. Como não
pensei nisso? Como não olhei pelos olhos de Vince e vi a correlação
que ele faria? — Aquele garotinho foi amado a cada segundo de
cada minuto de cada dia. Ele não merece nada menos, então tentei
dar a ele tudo o que pude para compensar as decisões que tomei.
Não se atreva a me acusar de não lhe dar amor suficiente.

Eu digo as palavras, mas as imagens dos últimos dias voltam


e me estripam. Jagger e Vince em seus violões. Jagger brincando
com Vince na grama. Jagger adormecendo no peito de Vince
enquanto assistiam filmes de ação juntos.
Culpa. Ele possui cada parte de mim e me faz lutar ainda mais
para provar que eu era o suficiente para Jagg. Que não o privei de
suas necessidades por causa do meu medo e egoísmo.

— Você me perguntou o que descarrilou os meus sonhos? Os


meus planos? Foi esse amor por ele. Eu nunca saí do lado dele. Eu
tentei ser os dois pais e mais alguns, então pare de quebrar o vidro
também, a menos que você queira derrubar a maldita casa inteira.

Eu não consigo respirar. Eu não consigo pensar. Meu peito dói


enquanto reconheço mentalmente os meus erros e as minhas
deficiências. Como reconheço as coisas das quais privei os dois.

Vince apenas olha para mim com olhos vazios. Tudo o que eu
quero fazer é abraçá-lo. Para brigar contra ele. Rebelar-se contra
essa nossa história que nos fez isso.

— Eu perguntei o que te descarrilhou, Bristol. Abri tanto a


porra da porta para você me dizer que ela quebrou as dobradiças.
Cristo, na sua casa, na varanda, eu disse que sabia que você
estava escondendo alguma coisa. Por que você não confiou em
mim então?

— Eu quase fiz. Eu estava tão perto — eu digo e mantenho o


meu polegar e indicador a uma polegada de distância. — Mas sabe
o que você me disse?

Ele balança a cabeça. Ainda com tanta raiva. — Nada que


justifique suas desculpas.

— Você disse: 'Está tudo bem. Você não me deve isso. Eu


entendo isso.'— Eu fecho os meus olhos momentaneamente, mas
não antes de ver os seus ombros caírem e sua mandíbula cerrar.
— Então é por isso que você não me contou? Porque eu te dei
a porra da permissão para não fazer isso? Você é impossível de
amar, sabia disso? — Ele diz.

— Eu? — Eu retruco. — Você é o idiota egoísta que não


consegue reconhecer...

— Egoísta? — Ele solta um grunhido que ecoa pelas paredes


do estúdio. — Você é tão cheia de merda. Tão envolvida em
desculpas que você não consegue ver direito.

— Desculpe-me por ser como você então...

Ele está a trinta centímetros de distância de mim, com aquele


músculo pulsando em sua mandíbula, seu cabelo uma bagunça
do caralho, seus olhos olhando para mim, e tudo o que eu sempre
quis ao meu alcance.

Um segundo se estende a cinco.

E no sexto, riscamos o fósforo e acolhemos de bom grado as


chamas.
Vince
Os meus lábios colidem com os dela.

Tomando o que eu quero.

Tomando o que precisamos. O tempo desde a última vez que


nos tocamos parece mais anos do que semanas. Semanas
desejando uma mulher, sem saber que nenhuma outra me
satisfará. Horas pensando em como seria tê-la novamente.

Nosso beijo é faminto. Desesperado. O vencedor leva tudo. E


foda- se se não é exatamente como me sinto agora. Estou tão
cansado de desejá-la, mas odiá-la. De amá-la, mas ressentir-se
dela. De sentir falta dela, mas ficar confuso com tudo o que vem
conosco.

Apenas nos fodendo.

Deixo minhas necessidades assumirem. Permitindo que a


raiva afogue minha cabeça. Permitindo que o meu corpo use a
sensação dela para se perder no momento.

E Jesus, ela é tão boa.

O gosto da sua língua. O cheiro da sua pele. O calor do seu


corpo.

Estou desesperado por mais dela. Disso. De não pensar.


Tudo nela me faz sentir fora de controle. Minhas emoções.
Minhas reações. O que acontece depois.

É tão bom colocar minha mão em seu cabelo e gentilmente


puxar sua cabeça para trás. Seus lábios estão inchados. Seu peito
está arfando. Suas bochechas estão rosadas. — Você acha que
pode entrar no meu estúdio? Brigar comigo? E depois me foder?

O desafio está em seu sorriso e o desejo domina os seus olhos.


— Não é a melhor coisa?

Minhas bolas doem com suas palavras. Em seu desafio. Em


ter a chance de fazer isso de novo. Fazer com ela de novo. — Isso
não resolve nada.

— Não?

— Não — eu murmuro com um aceno de cabeça e uma


lambida da minha língua até o lado do seu pescoço. Ela tem gosto
de sal e sexo, e estou aqui para isso. — Foder você. Dar prazer a
você — eu sussurro em seu ouvido. — Não conserta porra
nenhuma, exceto por foder minha cabeça mais do que já está.

Exceto por apenas me fazer querer você ainda mais.

Ela engole em seco, mas o fantasma de um sorriso permanece


em seus lábios. Pego minha mão livre e a deslizo por baixo do seu
cós. A ausência de calcinha é uma surpresa bem-vinda, mas é a
faixa de cachos apertados que fazem cócegas em meus dedos e a
maciez logo abaixo dela que me faz emitir um gemido torturado.
Ela abre as pernas sem que eu precise pedir e me dá acesso ao
paraíso entre elas.
— Eu quero você, Vince — ela murmura, seus lábios a
centímetros dos meus. — Eu nunca paro de querer você. Mesmo
quando estamos brigando, mesmo quando estamos separados,
mesmo quando você me odeia, eu nunca paro de querer você.

Suas palavras fazem coisas dentro de mim. Me dominam. Me


abastece.

Bato minha boca de volta na dela enquanto o meu dedo enfia


dentro do seu calor quente e úmido. Minha língua desliza para
dentro e para fora da sua boca, assim como os meus dedos fazem
em sua boceta. Eu tomo e tomo tudo dela até que não podemos
respirar e os seus quadris estão empurrando para a frente em
minha mão.

Chega de preliminares.

Chega de esperar porra.

Interrompo o maldito beijo e seguro o seu olhar. — Nós vamos


nos despir, Shug, e então você vai ficar de joelhos como a boa
menina que você é para que eu possa admirar sua bunda.

Solto o seu cabelo e com nossos olhos ainda um no outro, nós


dois nos despimos. Camisas acima da cabeça. Calças abaixadas.
E então ela se ajoelha e olha por cima do ombro para mim,
enquanto se apoia nas mãos.

Jesus, porra, Cristo.

A visão dela aqui assim. Bunda para cima. Coxas brilhando


da sua excitação. Bunda apenas esperando por mim para bater.

Acho que nunca fiquei tão duro na minha vida. Ou tão


desesperado.
— Essa é a minha garota — eu murmuro e caio de joelhos,
agarro a sua bunda com as duas mãos e, em seguida, mergulho
para enfiar minha língua em sua boceta. Seu gemido enche a sala
e o seu gosto domina os meus sentidos.

Enterro o meu nariz entre suas coxas e bebo tudo o que ela
me dá. Com a orientação da minha mão, pressiono os seus quadris
para frente e para trás para que ela foda o meu rosto. O cheiro
dela. O gosto dela. A sensação dela. É uma euforia como nenhuma
outra.

Bem, exceto por uma.

E agora estou prestes a aceitar isso.

— Você gosta disso? — Eu murmuro enquanto mordo sua


bunda de brincadeira. — Você gosta de saber que pode me possuir
assim com o seu gosto? Que você pode me deixar louco pra
caralho?

— Eu estava tão perto de gozar. — Suas palavras são


ofegantes, tensas, e foda -se se não me destroem.

— Mmm. — Eu passo minha mão do seu pescoço para baixo


em sua espinha e, em seguida, acaricio sua boceta com força
suficiente para que ela estremeça em resposta.

Fale sobre uma bela vista. Toda aquela carne lisa e rosa
reagindo assim.

— Eu quero estar dentro de você quando você gozar, Shug. Eu


quero te sentir. Eu quero ver você. Eu quero possuir você.

Ela geme enquanto eu traço os meus dedos muito suavemente


em torno da sua abertura. E com os lábios, o queixo e o nariz
molhados e cheirando a seu cheiro viciante, eu recuo, coloco uma
camisinha e empurro o meu pau para dentro dela.

Porra do inferno.

Esta mulher.

Ela vai ser a minha queda e a minha única salvação.

Eu a seguro ainda pelos quadris e me deleito com a sensação


dela. Em sua umidade cobrindo minhas bolas. Nas sensações
lentamente começando a crescer quando eu ainda nem comecei.

Olho para baixo. Para a bunda dela. Com cerca de um


centímetro do meu pau incapaz de caber dentro dela. No trecho da
sua pele ao meu redor, me aceitando, e então lutando para me
manter dentro enquanto deslizo pela primeira vez.

Bristol empurra de volta para mim, pequenos pulsos para


frente e para trás do seu corpo para que minha cabeça possa
atingir qualquer ponto dentro de que ela precisa.

Parece o céu.

Ela é como o céu.

— Deus, você fica linda assim. Eu amo o jeito que você faz isso.
— Ela geme e me movo dentro dela lentamente. — Nunca me senti
assim antes. Nunca — eu digo e então me inclino para pressionar
os meus lábios em seu ombro. O movimento me empurra ainda
mais para dentro dela e ganha um apelo ofegante do meu nome.
Eu rio contra o seu ombro e fecho minha mão na frente da sua
garganta como um colar. — Você leva o meu pau tão malditamente
bem, você sabia disso? Bem pra caralho. — Eu belisco e chupo a
curva do seu pescoço.
E quando me levanto, tonto e com o corpo queimando de
desejo, sei que não posso mais me segurar. Eu parei tempo
suficiente para que o prazer agora se transformasse em dor. Que
minha necessidade agora se tornou ganância.

— Oi, Shug?

— Hum?

— Prepare-se porque é o meu nome que quero em seus lábios


quando você gritar.

Desta vez eu puxo para fora e, em seguida, bato de volta nela


com força suficiente para que sua bunda balance. Entre a visão
disso e a sensação dela e o som do seu gemido suave e implorante,
a restrição se quebra.

Eu fodo ela. Duro. Rápido. Implacável. Com uma paixão


selvagem que não consigo controlar.

Nossos corpos batem. Sua boceta me encharca e se contraí ao


meu redor enquanto o meu pau incha tanto que dói.

— Goze. Vamos. Goze — eu imploro, porque estou fazendo


tudo o que posso para me segurar antes dela gozar. Meus dedos
machucam os seus quadris. Minhas coxas queimam com
contenção. Minhas malditas bolas doem por liberação.

E no minuto em que ela chama — Vince — eu sou um maldito


caso perdido.

Minha visão escurece e minha respiração falha, enquanto


injeto tudo o que tenho nela até que os meus pensamentos se vão
e o meu coração esteja cheio.
Até que eu saiba que ninguém jamais será capaz de me fazer
sentir do jeito que ela faz. Nunca.

E isso só confunde ainda mais as coisas.


Vince
— Por que toda vez que transamos, eu acabo de costas? —
Bristol pergunta através de uma respiração ofegante.

Eu me apoio no cotovelo para poder olhar para ela. Seu cabelo


está uma bagunça, suas bochechas estão coradas e os seus lábios
sorridentes estão inchados por causa dos meus. Eu nunca poderia
me cansar de olhar para ela assim, linda, saciada, olhando para
mim com algo em seus olhos que faz o meu coração parecer que
vai bater fora do meu peito. Me inclino para frente e dou um beijo
em seus lábios antes de encostar minha testa na dela e descansar
a mão em sua barriga. Quando ela tenta se afastar, aperto os meus
dedos em seu lado, forçando-a a deixar minha mão lá.

Como foi quando ela estava grávida? Ela teve enjoos matinais?
Que comidas estranhas ela desejou? Como soou o batimento
cardíaco de Jagger? Qual foi a sensação quando ele chutou contra
sua barriga inchada? Como soaram os seus primeiros choros?

E de onde diabos esses pensamentos vieram? Para um cara


que nunca quis filhos, Jennings, você com certeza está pensando
demais.

E ainda... as perguntas que nunca terei respostas ainda


persistem.
— Coloquei suas músicas para ele o tempo todo — Bristol
murmura quase como se pudesse ouvir os meus pensamentos. —
Entrevistas que você deu. Músicas que você cantou. Colocava o
telefone na minha barriga e tocava várias vezes. Eu queria que ele
conhecesse sua voz.

Processar tudo isso tem sido uma sobrecarga mental e


emocional. Ir de zero a cento e oitenta no que parecem dois
segundos é avassalador e desconcertante.

E pensar que me contentei em não querer uma coisa toda a


minha vida para agora tê-la e tentar entender por que não estou
lutando contra isso com mais força.

Olhar para Bristol e me ressentir pelo que ela fez. Claro, eu


poderia olhar para mim mesmo, para o Mick que a afastou, tendo
Hawke bloqueando-a em meu telefone, não retornando suas
ligações, mas reviver o passado não justifica o seu silêncio nas
últimas semanas. Isso não lhe dá um passe livre.

Olhando para Jagger, me vejo em cada fibra dele, e então, nos


poucos lugares onde não estou, vejo Bristol lá.

Ofereço um leve aceno de cabeça em resposta e então deito no


tapete e olho para o teto. O que devo dizer, obrigado? Porque
embora eu esteja feliz por ela ter tentado me manter presente em
sua vida, eu não estava em sua vida da maneira mais importante
possível.

— Vince... Desculpe. Isso é tudo que posso dizer a você, e


espero que você realmente ouça. Desculpe. Fiz o que achei que era
certo. Nunca passou pela minha cabeça o que você disse sobre sua
mãe e Jagger sentirem o mesmo por você. — Ela soa tão em conflito
quanto eu. — Por favor, saiba que eu liguei. Eu tentei, mas quando
você me bloqueou, quando o seu gerente de turnê me ofereceu um
cheque para cuidar disso da maneira que eu quisesse, eu...

— Cristo. — A memória volta com força total. Mesmo depois de


todos esses anos, a conversa ficou na minha cabeça naquela época
e agora, novamente. A piada sobre Crystal.

Crystal.

Bristol.

Ele poderia facilmente ter ouvido um nome quando ela disse o


outro.

Passo a mão pelo meu cabelo e suspiro com um peso que


Bristol nunca vai entender. Fale sobre fazer as escolhas
subconscientes.

Eu estava tão afundado na toca do coelho tentando me


convencer de que não amava Bristol, saber que ela estava grávida
faria alguma diferença? Eu gostaria de pensar que sou um homem
melhor do que isso, mas naquela época... porra, há uma enorme
diferença entre os vinte e três e os trinta anos.

Eu gostaria de pensar que o homem que sou hoje é melhor do


que isso... mas acho que isso ainda está para ser visto.

— O que está errado? — Ela pergunta.

— Nada. Apenas... — É que você não pode voltar, Vin. Você


cometeu tantos erros quanto ela, apenas de maneiras diferentes. Se
você pode perdoar a si mesmo, isso significa que você deve perdoá-
la? — Isso explica por que você estava tão brava comigo na
gravação do clipe. Tão grossa comigo — eu digo, os pontos se
conectando mais enquanto eu relembro todo o tempo que
passamos juntos.

— Sim. — É quase inaudível. — Fiquei chocada ao ver você lá.


Era como se uma parte de mim quisesse pular em seus braços e
segurá-lo, enquanto a outra precisava mantê-lo à distância, com
medo de que você descobrisse sobre Jagg antes que eu pudesse
descobrir a coisa certa a fazer. Tudo isso me fez muito bem, hein?

— Humph. — Mas faz sentido de algo que eu não conseguia


entender antes. Por que eu a senti empurrando com tanta força
contra mim quando seus olhos diziam exatamente o oposto.

— A coisa de não confraternizar com os clientes era real, no


entanto... como mostra o meu atual estado de não emprego.

— Eu vou cuidar disso para você.

— Eu não quero que você cuide de nada para mim. Por


enquanto, já causei confusão suficiente. Eu posso descobrir minha
própria vida.

E embora eu saiba claramente que ela vai, já que ela fez tudo
isso sozinha até agora, eu ainda quero cuidar disso para ela. Na
verdade, eu sei que vou.

Mas pensamentos sobre McMann e o seu trabalho são alvos


fáceis para eu focar, distrações, em vez do que realmente
precisamos conversar.

Fecho os olhos e o vejo dormindo. A ascensão e queda do seu


peito. O cabelo bagunçado no travesseiro. Sua pele que cheira a
loção.
— Eu fico olhando para ele às vezes. É impossível desviar o
olhar.

— Eu ainda me sinto assim — ela sussurra.

— Ele é incrível, Shug. Você... você fez um trabalho incrível


com ele.

Ela não agradece. Ela não estende a mão e agarra a minha


mão, apesar do sexo que acabamos de fazer. É quase como se
aquele contato específico depois de tudo que passamos fosse mais
íntimo. Significando que estamos bem com as coisas que fizemos
um ao outro quando nenhum de nós está nem perto de estar. Em
vez disso, ela apenas fica sentada em silêncio ao meu lado,
tentando julgar onde e como me sinto, porque ainda estou
tentando descobrir isso sozinho.

— Por que você está com tanto medo dele? — Ela finalmente
pergunta.

Ela ainda pode me ler como a porra de um livro. E minha


resposta é a resposta mais honesta que já dei em minha vida. —
Eu não quero arruinar a perfeição dele.

A admissão me custou mais do que eu pensava. A emoção


queima em minha garganta e as lágrimas brotam em meus olhos,
enquanto o arrependimento rivaliza com o ressentimento dentro
de mim.

— Vince. Você não vai...

— Eu estrago tudo o que importa.

Ela pressiona um beijo no meu ombro e apenas deixa os lábios


lá enquanto ela fala. — Para constar, ele está longe de ser perfeito.
Ele tem se comportado muito bem enquanto estamos aqui. Sua
perfeição cai em desgraça de vez em quando, e fica com acessos de
raiva e obstinação, e se recusa comer qualquer coisa que seja da
cor vegetal, como ele chama.

Eu deveria saber disso. Eu deveria saber o que ele gosta e não


gosta. Como ele fica irritado quando está cansado. Como ele tem um
ataque quando você diz não.

Mas eu teria desejado se tivesse tomado a decisão de saber


disso antes de ele nascer? É mais fácil porque não posso refutar,
já que ele está em cores vivas na minha frente?

Meus pensamentos continuam fodendo comigo. Continua


bancando o advogado do diabo contra mim. Continua protestando
contra aceitar o que sinto tão facilmente.

— Eu sei, Vince. Eu posso ouvir você pensando. Eu roubei


você de saber tudo e qualquer coisa. De experimentá-lo em
primeira mão. Não há nada que eu possa dizer além de me
desculpar.

Quando ela estende a mão para colocar a mão sobre a minha,


todo o meu corpo fica tenso. Ela pode sentir isso. Eu sei que ela
pode sentir isso. Mas ela não a move. Ela não vai embora como eu
fiz com ela. Ela deixa lá quase como uma prova de que não importa
o quanto eu sinto vontade de correr, ela fica lá parada.

— Shug?

— Hum?

— Estou lutando com o que sinto sobre... tudo.

— Eu entendo.
— Não. Acho que não.

— Então me diga. Fale comigo. — Ela se mexe para poder ver


o meu rosto. — Faça a única coisa que você nunca fez antes,
explique para mim.

Explique para mim. Parece tão simples de dizer, mas é algo que
nunca expliquei a ninguém. Como eu começo, porra?

— Você sabe como é viver a vida inteira dizendo a si mesmo


que não pode ter algo? Então, quando você inesperadamente o tem
na ponta dos dedos, quando você o toca, quando o experimenta,
quando percebe que estava completamente errado, você luta para
refutar todos os motivos que já usou para se convencer do
contrário?

Nossos olhos borrados pelas lágrimas se encontram, e quando


ela balança a cabeça, uma lágrima escorre por sua bochecha. —
Eu sei — ela sussurra. — Eu me sinto assim quase todos os dias
desde que você saiu da minha janela naquela noite.

Você começou esses anos de dor, Vin. Cabe a você terminar, de


uma forma ou de outra.

Limpo minha garganta. — Eu tive os meus motivos. — Razões


que parecem tão sem sentido agora.

— Eu sei que você teve.

— Tentei deixar você ir mais vezes do que posso contar, Bristol.


Eu tentei desesperadamente. A primeira vez que me afastei porque
não tive escolha. Na segunda vez, na noite em que fizemos Jagger,
percebi que cortar você da minha vida era a única maneira de
sobreviver. Eu não suportaria a ideia de manchar sua perfeição
com as minhas merdas. Eu não poderia te dar nada. Eu só poderia
te dar amor, mas nunca ficar com você.

Aquelas palavras.

— Acho que talvez eu estivesse fazendo o mesmo, do meu jeito,


do meu lado. — Ela balança a cabeça levemente. — Como você me
disse, sou impossível de amar.

— Não, isso não é verdade. Eu disse essas palavras, mas é


mais por minha causa, por mim, do que por você. Eu sou
impossível de amar. Eu acho... preciso de tempo. Isso tudo é
demais. Muito rápido. Estou tentando descobrir como seguir em
frente sem arrastar todos esses motivos comigo. — Eu respiro
fundo. — Para fazer as pazes com os meus demônios, e há muitos
malditos demônios.

— Não há pressão do nosso lado. Ele não sabe que você é o pai
dele. Eu não quero o seu dinheiro. Eu não quero nada de você.
Você não tem obrigação de estar em nossas vidas. — Ela pigarreia
e cerra o maxilar. — Quando as coisas se acalmarem, Jagger e eu
podemos ir embora, voltar para nossas vidas. Vou encontrar um
novo emprego. Vou entrar na faculdade de direito. Nós vamos
seguir em frente, e você pode fazer o mesmo. Podemos lançar um
comunicado de imprensa sobre o seu pai estar errado. Dizemos
que fizemos um teste de paternidade que concorda e encerramos.

Bom em teoria, mas isso nunca funcionaria. Os paparazzi são


implacáveis. É preciso apenas um deles para desenterrar uma foto
minha quando criança e compará-la com a foto da escola de Jagger,
eles sem dúvida estão pagando o pai de algum colega agora e eles
saberiam que estávamos mentindo.
Suas palavras pressionam uma ferida profunda, no entanto.
Elas machucam de uma maneira que eu nunca pensei que as
palavras pudessem, e isso é dizer uma tonelada de merda,
considerando que Deegan Jennings é meu pai.

— Como você pode dizer isso? Você realmente acha que é quem
eu sou? Esse é o tipo de homem que eu sou?

— Não, mas também sei que você tem uma vida que não tem
nada a ver com isso. Comigo. Com ele. Você tem uma carreira para
a qual deseja voltar. Um público que te adora. — Ela dá de ombros,
mas não consegue encontrar os meus olhos. — Eu ouvi você no
telefone mais cedo. O single será lançado na próxima semana e
tenho certeza que você está ansioso para promovê-lo. Para subir
no palco na frente das pessoas. Para viajar sem amarras. Eu não...
não vou culpá-lo por escolher essas coisas sobre isso. Só porque
escolhi isso para você, não significa que você deve fazer o mesmo.
Não vou pensar mal de você por isso.

Mas eu sim.

— Bristol...

Ela estende a mão e coloca a mão nos meus lábios e me cala.


— Não tome decisões agora. Nós desempacotamos muita merda e
ainda temos mais, ... mas é um começo, e isso é mais longe do que
já chegamos antes. — Ela se levanta, seu belo corpo me tentando
enquanto ela fica em cima de mim. — Não me olhe assim. — Ela
sorri pela primeira vez em toda a noite. — Nunca tivemos
problemas com o físico. Mas nós o usamos para ignorar todo o
resto. Desta vez não podemos.

Ela está certa, mas ainda não me impede de olhar e querer.


— Eu sei — eu murmuro.

— A bola está do seu lado. Eu não vou empurrar. Eu não vou


questionar. Vou ficar fora do caminho para que você possa passar
um tempo com Jagg. Iremos a partir daí, se e quando você quiser.
— Ela pega suas roupas e para na porta. Nós nos encaramos por
alguns segundos. Você teria que ser cego para não ver o amor em
seus olhos. O mesmo amor que fingi não ver no passado. O mesmo
amor que sempre senti por ela. — Boa noite, Vince.

Fico deitado no tapete, olhando para o teto até de madrugada,


repassando a conversa na minha cabeça.

Iremos a partir daí, se e quando você quiser.

Alguma vez realmente houve uma escolha quando se trata


dela?

Nunca.

Sempre foi ela, mesmo quando eu não queria que fosse.

Ainda mais agora quando seguro o nosso filho e vejo o melhor


de nós nele.

Agora preciso me convencer de que mereço isso. Agora eu


preciso tentar ao máximo ser o homem que eles merecem que eu
seja...
Bristol
— E?

— E o que, mãe?

— Eu ouvi tudo sobre as coisas divertidas que Jagger está


fazendo, nadar e andar de caiaque e aprender a tocar violão, mas
você não está me contando sobre você. Sobre o Vince. Sobre como
está indo em geral... se é que está acontecendo.

Eu suspiro e então sorrio quando a risada mútua de Jagger e


Vince chega até mim de onde eles estão amontoados no forte que
construíram. É uma tenda com uma caixa de papelão montada
como entrada de um túnel para combater os invasores do espaço,
ou seja, meninas, já que só meninos podem entrar. — Ele é muito
bom com ele, mãe. Tipo, eu me pergunto como isso é algo que ele
não queria quando é tão completamente natural com ele.

— Ele tinha medo de repetir o ciclo. Talvez ele esteja vendo que
é algo que você escolhe, não algo que você foi ordenado a ser.

— Dói da melhor maneira possível vê-los juntos. Para perceber


o quanto Jagg precisava de uma figura masculina em sua vida.
Tentei ser isso para ele, mas não há substituto para a coisa real.

— Você acha que Jagger tem alguma pista de quem é Vince?

— Em algum nível subconsciente, talvez, mas fora isso, não.


— Mas ele gosta dele?

— Quem não gosta de Vince? — Eu pergunto. McMann tinha


uma coisa certa, eles o queriam em todos os lugares, e agora,
graças ao vídeo viral de São Francisco, ele está enlouquecendo em
todos os lugares. E ao invés de estar promovendo seu novo single,
ele está aqui, conosco. Com Jagger.

Ações falam mais alto que palavras e agora essas ações são
inconfundíveis. Ele ama Jagger. Ele pode não ser capaz de
reconhecê-lo, mas está claro como o dia para aqueles que estão
assistindo de longe.

Só estou tentando não ter muitas esperanças sobre o que o


futuro reserva.

— Verdade. — Ela limpa a garganta. — Mas...

— Mas o que?

— Como está indo tudo?

— A bola está com ele. Como pode não ser dada a situação?

— Mas você já falou sobre tudo?

— Sim e não. — Eu sei que essa resposta vai frustra- lá, então
eu elaboro. — Eu o peguei de surpresa, mãe. Arranquei o tapete
debaixo dele, então não tenho escolha a não ser me afastar e deixá-
lo encontrar o equilíbrio.

— Mas como está você?

Eu fungo. — Eu não tenho o direito de nada. Você me disse


quando tomei a decisão que Vince tinha o direito de saber. Em
retrospectiva, sim, ele tinha, mas não posso viver olhando para
trás. Tudo o que posso esperar é que ele sinta o mesmo. Pelo amor
de Jagger.

— E para o seu.

Concordo com a cabeça, mas ela não pode ver. — Agora o que
importa é Jagger. O que é melhor para ele é nisso que estou focada.

— Você está preocupada que ele vá embora, não está?

— Estou preocupada porque é sempre isso que Vince faz


quando as coisas ficam muito difíceis. Mas então eu os vejo juntos,
seus sorrisos, suas risadas, seu vínculo depois de apenas duas
semanas, e não posso deixar de ter esperança. Não posso deixar
de ver um futuro.

— Talvez de alguma forma distorcida, Jagger prove a Vince que


ele é o suficiente. Talvez isso seja tudo o que ele precisa para parar
de correr.

— Isso é suficiente para superar anos pensando o contrário?


— Eu suspiro. Estou tão cansada de pensar nisso, me preocupar
com isso, ficar obcecada com isso. Eu diria que só quero minha
vida de volta ao que era, mas então paro, faço um balanço e
percebo que isso foi uma amostra do que poderia ser. Eu não sei o
que é pior embora. Sentir o gosto e depois ser arrancado ou nunca
saber como é.

— Ele vai te perdoar — ela murmura.

Mas eu quero mais do que perdão. Cada minuto que estamos


aqui, que o vejo com o nosso filho, me apaixono mais por ele. Mais
do que eu já estava.
O perdão é apenas uma pequena parte do todo que eu quero.
Que nós merecemos.

Mas não posso dizer isso a ele. Não posso adicionar essa
pressão quando já criei o suficiente.

Tudo o que posso fazer é ficar com o coração nas mãos e


esperar para ver se ele ainda quer. Se ele ainda nos quer.

— Eu posso esperar.

— Ele é um bom homem, Bristol. Ele só precisa ver. Assim que


perceber, ele será tudo o que você precisa e muito mais.

E se ele não perceber?

Essa é a pergunta que tenho medo de colocar em palavras.

— Mamãe?

Assusto-me e olho para a minha direita, onde Jagger está


parado com Vince. — Eu tenho que ir — eu digo para a minha mãe.
— E aí, cara? — Eu me certifico de focar em Jagger ao invés de
Vince.

— Vamos sair de barco.

— Oh, tudo bem. — Eu sorrio. O passeio de barco se tornou


sua aventura diária juntos. Eles exploram enseadas. Eles param,
atracam e compram casquinhas de sorvete na loja do outro lado
do lago. Eles pulam no meio dela e fingem que são piratas. Eles
cantam música a plenos pulmões. Engraçado, as músicas que
Jagger pede para serem repetidas várias vezes são músicas do
Bent. Músicas que ele disse a Vince que conhece por assisti-lo na
televisão comigo. — Você precisa que eu pegue alguns lanches
para a viagem? Algum protetor solar?
— Não, eu quero que você vá conosco — ele diz.

— Oh. — Meu sorriso vacila enquanto descubro como me livrar


de seu tempo juntos. Eu consegui muito bem até agora, tendo
desculpas prontas para que Jagger não sinta que eu não quero ir
com eles, mas simplesmente não posso por uma razão ou outra. A
última coisa que Jagger precisa é sentir a tensão entre nós ou que
Vince sinta que estou forçando. — Obrigada, filho, mas tenho
alguns a fazer. Meu antigo professor se ofereceu para ajudar...

— O estudo pode esperar, não pode? — Vince pergunta. —


Queremos que você venha conosco.

— Vince? — Eu encontro os seus olhos.

— Eu quero que você venha conosco. — Ele acena com a


cabeça, quase como se estivesse me dizendo que este é o começo
de tudo o que pode vir a seguir.

Pelo menos eu acho que é isso que ele está me dizendo.

— Tem certeza? — Eu pergunto.

— Tenho certeza.

Suas palavras me atingem da melhor maneira. Elas se


entrelaçam em minha alma e envolvem o meu coração. Elas me
dizem que isso pode ser apenas o começo que eu esperava, em vez
do final que me preocupava.

— Ok.

— Yes! Mamãe está vindo conosco.

O passeio é tudo o que eu pensei que seria das minhas


observações na praia. Várias vezes Jagger apontando para Vince e
dizendo a ele para onde ir. Ainda mais Vince bagunçando o cabelo
de Jagger e explicando as coisas para ele. Tem até Vince colocando
Jagger no colo e deixando ele conduzir o barco. O olhar no rosto
de Jagger, orgulho misturado com preocupação, enquanto ele
olhava em minha direção a cada poucos segundos agora que um
dos seus segredos havia sido revelado.

Mas mais do que tudo foram as poucas vezes que peguei Vince
olhando para mim. Nossos olhos se encontravam e um leve sorriso
se curvava nos cantos dos seus lábios.

Eu estava contente com isso. Na verdade, fiquei emocionada


com os passos de bebê que parecia que tínhamos dado. Era mais
do que suficiente para mim... ou então eu pensei.

Então Vince vai e rouba mais do que o meu coração. Ele


também me oferece esperança quando olha para mim e diz: — Isso
parece real e certo, Shug — seguido pelo sorriso mais suave que já
vi em seu rosto.

Sim, Vince. Isso realmente é real.

Eu quero dizer a ele isso e muito mais. Como a cada dia que
ele se aproxima de Jagger, ele está provando que o seu pai está
errado. Que ele não é um ser humano sem valor. Que ele é um
bom homem, um homem talentoso e que, mais do que qualquer
outra coisa, ele merece isso. Amor. Uma família para chamar de
sua. Um futuro conosco.

Eu quero que ele faça parte de nossas vidas. Sempre. Só não


sei se algum dia ele vai querer a mesma coisa.
Espero que este momento seja uma indicação. Um vislumbre
do que poderia ser.

Um verso corrigido e cheio de esperança para o seu doce


arrependimento.
Vince
A cerveja está gelada. O céu está abafado em tons de rosa e
laranja de onde o sol se pôs sobre as montanhas, e o som das
risadas de Jagger e Bristol flutuam até mim da grama abaixo.

Eles estão brincando de algum jogo de pega-pega. Ele corre.


Ela finge perseguir. Então ela permite que ele se esgueire sobre ela
e a derrube. Seguem-se as cócegas. Então risos. E o cenário se
repete indefinidamente.

— É a política da empresa, Vince.

— O que? Para ser sua garota de recados e estar à disposição


do talento? Para usá-la por uma conexão passada que ela teve com
o talento “eu”, mas depois demiti-la por ter esse passado? Nós nos
conhecíamos antes de eu me tornar o seu cliente. Vamos, Xavier.
Você está se agarrando a qualquer palha aqui. Se Bristol quisesse,
ela poderia processá-lo de sete maneiras a partir de domingo por
rescisão ilegal. Maldito McMann.

— Não é tão simples assim.

— Então corte e seque. — Eu dou um gole na minha cerveja,


sabendo que Bristol ficaria furiosa comigo por causa dessa
conversa, mas preciso fazer mesmo assim. — Sua reputação está te
precedendo e não de um jeito bom.
— Você está me ameaçando, Jennings?

— Não preciso recorrer a ameaças para você consertar as


coisas. Seu trabalho fala por si. Ela não precisa de alguém como eu
lutando por ela.

— E ainda assim você está.

Concordo com a cabeça, embora ele não possa ver. Eu


definitivamente estou.

Só espero que, talvez, quando Xavier ligar para Bristol e lhe


oferecer o emprego de volta, ela diga a ele para enfiá-lo onde o sol
não brilha.

Já é hora de alguém fazer isso.

Mais risadas me puxam da conversa repetindo na minha


cabeça. Elas me fazem inclinar um pouco mais para a frente e
olhar pela janela do segundo andar do meu estúdio de gravação.

Ainda é um choque vê-lo. Ainda é um choque na minha cabeça


e no meu coração perceber que ele é parte minha, feito de mim, e
que ele é incrivelmente perfeito.

É impossível ouvir aquela gargalhada e não sorrir também.


Isso é normal? É só porque tudo isso ainda é tão novo?

Isso parece certo.

Não foi isso que eu disse a Bristol? E isso é verdade porra. Não
consigo explicar, mas é quase como se tivéssemos passado todos
esses anos separados, passando pela merda que passamos, e
talvez pela primeira vez vamos acertar.
Se ainda me ressinto dela por algumas das decisões que ela
tomou? Claro que sim. Ainda me ressinto por algumas delas? Com
certeza.

Mas a pergunta que continuo me fazendo é: se eles fossem


para casa amanhã, seria um alívio eles terem ido embora? Eu me
deleitaria com o silêncio e a falta de merda infantil por toda a casa?
Minha cerveja gelada no pátio dos fundos seria mais agradável sem
Nickelodeon ao fundo em algum lugar?

Ou eu ficaria sentado no estúdio a noite toda porque não tinha


mais nada pelo que esperar depois? Eu iria para o quarto de Jagger
e sentaria em sua cama e sentiria falta dele? Eu entraria na grande
sala e perderia a visão de Bristol sentada à mesa da cozinha, de
cabeça baixa como a de Jagger enquanto ela o ajudava com o seu
trabalho escolar remoto?

É tão foda como você pode amar sua vida de um jeito e, em


poucas semanas, perceber que não era tão perfeito quanto você
pensava.

Outra risada. Um guincho de Bristol quando ela é jogada


novamente, sem dúvida. Uma “mamãe” expressa através de
gargalhadas.

É como se este fosse um novo normal que eu quero. Um novo


normal que eu posso aceitar.

É típico de Bristol explodir o meu mundo e depois segurar


minha mão enquanto os pedaços caem ao meu redor... apenas
para fazer o mosaico mais bonito deles.
As bordas irregulares são amortecidas com argamassa. O
quebrado é agora uma obra-prima.

Mas ainda faltam algumas peças desse mosaico. Ou isso ou


eles são muito grandes, muito opressores, e preciso cortar suas
bordas para que caibam na imagem que eu quero deixar.

Como faço para lascar neles? Como faço para me livrar das
bordas feias para encaixá-las?

Isso é o que eu preciso descobrir.

Essa é a única maneira de seguir em frente.


Bristol
— Faça um desejo e apague sua vela — eu digo, pegando o
flash de sorriso de Jagger, aperto dramático dos seus olhos, e
então sua respiração teatral no vídeo no meu celular.

Desde o passeio de barco outro dia, parece que as coisas


mudaram de novo. Com Vince. Conosco. As coisas parecem
diferentes.

Parece haver menos... escuridão, menos melancolia, na


expressão de Vince.

Ele parece mais à vontade. Mais leve. Atrevo-me a dizer, mais


esperançoso?

Eu sou a rainha da leitura das coisas, então estou tentando


não inferir muito sobre o que estou vendo. Estou com medo de ter
esperança. Com medo de desejar mais, quando eu vejo quando ele
olha para mim.

Mas eu estou.

— O que você desejou? — Vince pergunta, vindo atrás dele e


fazendo cócegas para que ele se mexa.

Eu tiro fotos mentais do momento. Imagens que posso gravar


na memória para nunca mais esquecer.
Clique. Vince atrás de Jagger. Seus rostos lado a lado. Suas
cabeças com chapéus de festa combinando. Os sorrisos tortos e
felizes.

— Eu não posso te dizer isso — Jagger diz. — Se eu fizer, não


se tornará realidade.

Clique. Jagger olha Vince. Seus perfis idênticos.

— Então eu acho que você não receberá os seus presentes —


Vince brinca.

— Isso não é justo. Espere...

Clique. A expressão chocada de Jagger e a de Vince.

— ...você vai me dar um presente? — Jagger pergunta.

— Sim. Sete — Vince diz.

— Por que eu fiz sete anos? — Jagger pergunta.

Vince acena com a cabeça, mas também olha para mim.

Clique.

Felicidade agridoce em seus olhos.

Sete presentes, um para cada ano que ele perdeu.

— Se você não vai me contar o seu desejo, então o que você


deve fazer para ganhá-los? — Vince pergunta, a guarda perdida
que ele me deixou ver, ele me deixou capturar, agora firmemente
de volta no lugar, substituída por um sorriso para Jagger.

— Abraços de ataque — Jagger diz e se lança em Vince e eles


caem para trás. Eles explodem em um festival de cócegas.
Clique. Os braços de Vince envolvem Jagger. Seu rosto enterra
na curva do seu pescoço. Seus olhos se enchem de lágrimas. Seu
sorriso, um que acho que vou lembrar pelo resto da minha vida.

Depois do bolo, ele abre os presentes, depois brinca com os


presentes (anda em sua nova bicicleta em todos os lugares) e, em
seguida, um rápido FaceTime para a minha mãe e para o meu pai
para que Jagger pudesse falar a um milhão de milhas por minuto,
contando a eles tudo sobre os seus presentes e que ele agora sabe
conduzir um barco.

Matou-me não poder compartilhar o seu aniversário


pessoalmente com eles este ano, mas ambos graciosamente não
me disseram o quão difícil foi para eles. Ambos sabem o quanto
este momento é importante para mim, para Jagger e para a
possibilidade do nosso futuro.

Peguei o meu pai dando uma olhada em Vince antes de ele


terminar a ligação. O tipo de olhar que diz não estrague tudo ou
você terá que responder para mim.

A festa familiar do FaceTime foi seguida por uma fogueira e


s'mores 9 no deck traseiro. A última coisa que Jagger precisava era
de mais açúcar, mas o seu único desejo foi uma fogueira sob as
estrelas, então uma fogueira ele iria conseguir.

Os s'mores foram ideia do Vince. Sem dúvida, ele nunca teve


que limpar o marshmallow aquecido do rosto e das mãos de uma
criança se contorcendo, mas ele lidou com isso como um
profissional, transformando-o em uma brincadeira.

9 Marshmallow assado na fogueira e uma camada de chocolate entre duas fatias de bolachas.
— Este foi o melhor aniversário de todos! — Jagger diz, o
açúcar atingindo-o profundamente pelo jeito que ele não conseguia
ficar parado.

— Foi? — Vince e eu perguntamos em uníssono.

Jagger acena com a cabeça enfaticamente. — Por que você me


deu tantos presentes? — Jagger pergunta a Vince.

— Jagger — eu advirto. — As palavras são obrigado, não...

— Tudo bem. Ele pode perguntar — Vince diz.

— Então por que você fez? Eu costumo ganhar um ou dois,


mas você me deu sete. SETE.

Vince ri. — Porque você tem sete anos, amigo, e como eu sou
o seu... — Vince se detém quando o meu coração pula uma batida.
Ele pigarreia e balança a cabeça, quase como se não pudesse
acreditar como foi fácil dizer isso. — Como o seu melhor amigo,
tenho o direito de mimá-lo. Sete presentes por sete anos.

Amigo. A palavra soa tão tensa. A luta no rosto de Vince é real.

A palavra que ele quase falou, a mais real de todas.

Ele olha para mim por cima da cabeça de Jagger e sorri. É um


sorriso hesitante que esconde verdades que estou desesperada
para saber... mas pelo menos ele está mostrando-os para mim.

Mais passos de bebê.

Cada dia que passa, cada momento que passamos, nosso


relacionamento está se construindo. Vince e Jagger. Vince e eu.
Nós três juntos.

Isso parece real e certo, Shug.


Com certeza sim.

— Eu vou colocar essas coisas no meu quarto — Jagger diz,


interrompendo nossa conexão.

— Sua bicicleta pode ficar aqui embaixo — eu digo para o que


recebo um revirar de olhos bem adolescente. Eu definitivamente
não estou pronta para isso ainda. — Você precisa de ajuda?

— Não. Eu consigo. — Ele carrega em seus braços com um


conjunto de Lego, um novo jogo para jogar e algumas palhetas de
violão, entre outras coisas. Ele entra na casa e se vira. — Ei,
mamãe?

— Sim, filho?

— Espero que nunca vamos embora daqui — ele diz antes de


entrar em casa e fechar a porta.

Eu também. Essa bolha longe do mundo exterior é mágica. Eu


também.

Encaro a porta fechada porque é muito mais fácil olhar para


lá do que enfrentar o peso do olhar de Vince.

— Obrigada — eu sussurro. — Por tornar o aniversário dele


especial. — Por este tempo. Para... o perdão com o qual espero que
você me agracie.

— Não precisa me agradecer. — Na minha periferia, posso vê-


lo se mexer em seu assento. Isso o move um pouco mais perto de
mim para que ele possa pegar outro pedaço de madeira para jogar
no fogo.

— Sim preciso. Você não precisava comprar presentes para


ele.
— Tenho sete anos para compensar.

Suas palavras estão lá, mas não parecem tão cortantes quanto
eu esperava. Sendo resignadas e decididas, se é que isso existe. —
Eu sei, mas você não precisava compensar nada. A última coisa
que quero é que você pensa que eu...

— Pare de falar. — Seus lábios estão nos meus e suas mãos


seguram o meu rosto daquele jeito que eu amo. A maneira que
sempre me fez sentir como se eu fosse o seu mundo inteiro.

Eu deveria estar surpresa com a ação, mas não estou. Parece


tão real, tão natural, tão perfeito, tão nós.

Não deixo o meu coração começar a ter esperança, mas


simplesmente me permito aproveitar o momento. Desfrutar dele e
da simplicidade de estar na frente de uma lareira e sob as estrelas
com um homem que sempre amei, independentemente das
circunstâncias de merda que a vida nos apresenta.

Seu beijo é suave e terno. Um toque de línguas. Algumas


pinceladas de lábios. Curto e breve... mas o significado por trás
disso é muito mais pungente do que eu já senti antes.

Quando o beijo termina, eu levo minha mão até sua bochecha


e encontro os seus olhos. Ele fala antes que eu possa pensar
demais em tudo.

— Estamos resolvendo isso, Shug. No nosso próprio ritmo. À


nossa maneira. Nós vamos descobrir isso.

A rápida inalação de ar nos faz pular para trás e olhar para


encontrar os olhos arregalados de Jagger.

—Jagg? Porra. O que eu disse? O que eu faço?


— Eu sabia — ele diz e ri com um descuido que raramente ouvi
dele.

— Sabia o quê? — Eu pergunto enquanto Vince ri baixinho.

— Que vocês queriam ser namorados.

Eu gaguejo por uma resposta. Uma resposta responsável que


não o deixará esperançoso por algo que pode não acontecer,
especialmente com a nossa história.

— Vince olha para você do jeito que as pessoas olham nos


programas que a Nana assiste. — Ele faz um som de blech. —
Aqueles em que às vezes ela tem que cobrir os meus olhos para
que eu não veja coisas que ainda não tenho idade para ver.

— Jesus — eu murmuro baixinho. Vince apenas ri até se


dobrar para esconder. — Você não está ajudando. — Eu o cutuco
com o cotovelo.

— Desculpe. Seu rosto, no entanto. Essa expressão não tem


preço — ele diz e então tenta ter uma expressão severa antes de se
virar para Jagger. — Você está bem com isso?

— Vince, você simplesmente não pode...

— Sim. Eu estou bem com isso — Jagger diz e então bate o


punho em Vince como se ele tivesse dezesseis anos.

— Viu? — Vince diz. Ele se levanta e sorri, orgulhoso de si


mesmo por lidar com a situação. — Você está pronto para eu
mostrar como colocar uma roda em sua bicicleta?

— Mas está escuro lá fora — Jagger diz, agarrando a mão de


Vince como se fosse tão natural. Como se não tivéssemos tido essa
conversa embaraçosa, e ele não apenas nos viu beijando.
— Nunca deixe o escuro estragar sua diversão. É para isso que
servem as luzes.

Eu os encaro, com um enorme sorriso nos lábios, e me sinto


bem pela primeira vez em semanas.

Isso pode funcionar.


Vince
— As coisas não poderiam estar melhores — Greta diz, meu
contato na Sony Music. — O single está arrasando. Subindo nas
paradas. Cada vez mais tempo no ar.

— Exatamente como prevíamos — Xavier interrompe na


teleconferência. — Quando podemos esperar você de volta? Você
precisa estar visível agora e fugir para o deserto não está ajudando
nisso.

Nem você demitir Bristol. Mas voltar para isso ainda não está
acontecendo, seu idiota. Vai acontecer. Acontecerá ou eu talvez eu
esteja voltando para o CMG.

— Estou ocupado escrevendo o resto das músicas do álbum.


Tenho certeza que Greta não vai reclamar disso.

— Nem um pouco — ela diz.

— Estou planejando escrever uma lista sólida de quinze


opções para escolhermos. Eu também tenho algumas outras de
Steven — eu digo, mencionando um compositor conhecido — se
precisarmos de algo mais que eu não tenho.

Ela assobia. — Você tem sido um homem ocupado.

— Recuperei minha musa — eu digo e olho pela janela do


estúdio para o pátio vazio abaixo. Me levanto e coloco minha
cabeça para fora para ver se consigo ver Bristol e Jagg, mas eles
não estão em lugar nenhum.

É normal sentir aquele soco no estômago de preocupação?


Para saber se eles estão bem, mesmo quando você sabe que eles
estão porque sua propriedade é uma maldita fortaleza de
segurança?

— Certo, Vince?

— Desculpe. O que foi? — Eu pergunto, forçando-me a voltar


para a conversa e sair da minha própria cabeça irracional.

— Eu disse, música para os meus ouvidos — Greta diz com


uma risada. — Literalmente. Mas Xavier está certo. Precisamos de
algum tempo cara a cara com você. Estarei em Los Angeles na
próxima semana. Podemos marcar um encontro? Mesmo por
pouco tempo?

— Vou ver o que posso fazer — eu digo.

— Eu preciso de mais do que isso — Xavier diz. — Preciso


saber que você estará aqui para planejar algumas reuniões
adicionais para você. Reunião com a imprensa. sei lá o quê.

— Sim. Claro. Ok. — Eu me forço a parar e lembrar que Greta


não teve nada a ver com Xavier demitindo Bristol.

— Eu sei que houve algumas... reviravolta em sua vida


ultimamente — Greta diz — mas o tempo é precioso, pois queremos
bater com força enquanto sua visibilidade está em alta.

— O trabalho vem em primeiro lugar — eu digo, mas pela


primeira vez na minha vida, quando desligo o telefone, não me
sinto assim.
Normalmente, depois de uma ligação como essa, eu me
esforçava para limpar as letras e aperfeiçoar algumas das
melodias. Eu esqueceria as horas, diabos, esqueceria até que dia
era hoje, e não viria à tona até que o que precisa ser feito fosse
feito.

Então, por que estou jogando o meu celular na mesa à minha


frente e saindo do meu estúdio para ver o que Bristol e Jagger estão
fazendo?

Por que algo parece mais importante do que a música pela


primeira vez na minha vida?

Falar sobre algo diferente para envolver minha cabeça.

Eles não estão na sala de jogos. Não no quarto de Jagger. Não


no jardim da frente. Estou prestes a chamar os seus nomes
quando entro na grande sala e os encontro.

Bristol está deitada no sofá com Jagger de conchinha na frente


dela. Um livro que suponho que eles estavam lendo está no chão
na frente deles.

O meu mundo inteiro.

O pensamento vem à minha mente e se instala como se sempre


houvesse um lugar para ele. Como se fosse completamente
destinado a ser.

Mas como posso pensar isso? Como posso fazer isso? Eu


conhecia a versão colegial de Bristol por dentro e por fora. Suas
comidas favoritas. Seu animal de estimação irritante. Seus hábitos
irritantes. Eu a amei até doer. Eu a amava tanto que me afastei
dela.
Mas eu realmente não conheço a versão dela que está
dormindo com o nosso filho nos braços. Ela ainda tem as irritações
e os hábitos irritantes que tinha quando tinha dezessete anos? Ela
ainda tem medo de altura, mas não se importa em ir em parques
de diversões que ficam de cabeça para baixo? Ela adora molho de
tomate, mas odeia tomates?

São as pequenas coisas que não sei, nas quais não tenho
pensado muito. O quadro maior ofuscou tudo.

Mas essas pequenas coisas realmente importam, Vin?

Nós nos amamos há quase quinze anos. Ela ainda está lutando
por mim. Ela ainda me ama, apesar de todos os defeitos malditos
e há muitos.

É natural questionar os porquês e os comos, mas que tal eu


simplesmente aceitar que é? Que podemos ser. Que nós somos. E
seguir em frente.

O engraçado é que acho que já fiz. Esses dias e noites aqui


foram alguns dos melhores da minha vida fora dos meus destaques
profissionais. Não estou apenas conhecendo Jagger, mas estou
conhecendo Bristol também. Isso não diz nada sobre as coisas que
estou aprendendo sobre mim.

Não estou apenas aprendendo a amar o meu filho, mas


também estou me apaixonando perdidamente por Bristol quando
já pensava que estava.

Eu estou descobrindo, eu não estava nem perto antes.


O amor que tenho por eles é tão intenso que acordo algumas
noites com o aperto no peito e vou de quarto em quarto, só para
vê-los dormir.

Só para ter certeza de que não é um sonho.

Só para ter certeza de que ainda estão lá.

Só para ter certeza de que não estraguei tudo desta vez.


Bristol
— É assim que é ter um pai?

As palavras de Jagger permanecem na minha cabeça muito


tempo depois que o sono o pega, mas me escapa.

Talvez seja.

Uma resposta tão esfarrapada para uma mãe que foi pega
completamente desprevenida. Para uma mãe que sentiu a culpa
por roubá-lo. Por não poder contar a verdade a ele quando um
raciocínio semelhante é o que a colocou nessa situação.

— Não consegue dormir?

Eu olho por cima do meu ombro para onde Vince está no lado
oposto da sala. Ele está vestindo uma calça de moletom cinza, um
olhar intenso em seus olhos e nada mais.

— Não esta noite, não. Terminou de trabalhar? — Eu


pergunto. Normalmente ele passa os dias comigo e com Jagger e
depois trabalha a noite toda enquanto todos dormem. Uma parte
de mim acha que a rotina o ajuda a evitar ter que falar sobre coisas
difíceis comigo. A outra parte de mim ficou na porta fechada do
estúdio, punho erguido para bater, precisando de Vince em mais
de uma maneira.
É difícil se contentar com alguns beijos aqui e ali quando seu
corpo sabe o que o dele pode fazer com o seu.

— Sem trabalho esta noite.

— Sério? Por que não?

Ele atravessa a sala até onde estou sentada e estava olhando


pela janela. — Há outras coisas que são muito mais importantes.
Coisas que tenho negligenciado. Fósforos que eu estava
descobrindo como permanecer acesos por muito tempo depois que
deveriam queimar.

— Vince. EU...

— Isso parece certo. Você. Eu. Jagger. Mais certo do que


qualquer parte de mim acha que eu mereço. Mas... eu estou
trabalhando nisso. Em mim. Ao perceber que o meu passado não
precisa ser o meu futuro.

— Você tem razão. Não precisa.

— Passei a minha vida toda amando a ideia de você, mas


nunca me permiti a realidade disso. De haver um nós. — Ele olha
para baixo por um instante, e parece que o peso do mundo que
pesava sobre os seus ombros nas últimas semanas diminuiu. —
Você está certa, você sabia.

— Tenha cuidado — eu provoco. — Essas quatro palavras


podem voltar para morder sua bunda em algum momento.

Ele me oferece um sorriso agridoce e acena com a cabeça. —


Eu tinha toda a intenção de dormir com você enquanto estivesse
aqui e depois voltar para a minha vida normal quando saísse. Mas
o que era fácil no conceito era brutal pra caralho de verdade. Eu
não sei se é por causa do tempo que passou ou porque nós dois
envelhecemos, amadurecemos, mas foda-se, deixar você ir naquela
noite, na sua varanda, foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Isso me
quebrou de uma forma que tenho certeza de que já quebrei você
no passado. Era como se eu estivesse em um tanque de oxigênio e
ainda assim não conseguisse respirar.

Concordo com a cabeça, entendendo exatamente como ele se


sentia.

— Mas eu tive que me afastar. Porque era isso que você


merecia. Porque esse é o covarde que eu era. Porque foi isso que o
meu pai tentou me convencer de que eu era... tanto que eu
acreditei.

— Então Jagger aconteceu — eu sussurro, e ele balança a


cabeça.

— Então Jagger aconteceu. — Ele olha para as escadas onde


nosso filho dorme e balança a cabeça sutilmente. — Lutei com a
enormidade da situação. E por mais que eu odeie a porra da
imprensa por assustar vocês dois, estou muito grato por eles terem
feito isso porque nos deu esse tempo aqui. Isso me forçou a estar
aqui quando a história dita que eu poderia ter fugido para o outro
lado.

Ele diz as palavras, faz a confissão, mas no fundo do meu


coração, e depois de vê-lo agora com Jagger, em retrospectiva, eu
sei que ele nunca teria. Quanto eu teria dado para saber disso
antes.

— Eu sei que você quer promessas e garantias, e você merece


cada uma delas... mas ainda não posso dar. Isso não significa que
elas não estão lá, no entanto. Elas estão. Elas estão ao lado de
como me sinto sobre você e como me sinto sobre Jagger. Elas são
apenas mais difíceis de colocar em palavras por minha causa. Por
causa da merda que preciso resolver quando se trata de mim. Mas
o fato de estar trabalhando nelas quando nunca me importei
antes... Espero que isso ajude você até que eu possa dizê-las.

Ele encontra os meus olhos. A honestidade crua em suas


palavras e em sua expressão sincera é como um bálsamo para as
feridas que esperei curar nas últimas semanas. Talvez até nos
últimos anos.

Ele está trabalhando em seus demônios para ser um homem


melhor para nós. Um pai melhor. Um namorado melhor. Um
parceiro melhor. Um amigo melhor.

Pode não ter sido as palavras que pensei que precisava ouvir,
mas são definitivamente as palavras certas para este momento.

Levanto-me e estendo minha mão no espaço entre nós.


Perguntando. Convidando. Querendo. Ele inspira com dificuldade,
mas respira sem hesitação.

Eu guio o caminho para as escadas.

Já houve hesitação suficiente.

Subimos um de cada vez.

Chega de questionar.

Descemos o corredor.

Chega de perguntar.

Entramos em seu quarto.


Agora é hora de mostrar a ele como ele me faz sentir. Para eu
amá-lo com palavras que não posso expressar, mas quero
desesperadamente mostrar.

Para eu amá-lo.

Nossos lábios se encontram. É a mais simples das ações


íntimas. Os suspiros suaves. Os toques ternos. A concha do meu
rosto e a inclinação da minha cabeça para dar a ele mais acesso.

Cada parte de mim queima por ele. Meu coração com


esperança. Minha pele pelo seu toque. A dor muito doce entre as
minhas coxas. Minha alma com a possibilidade de um futuro.

Nós nos movemos na escuridão do quarto. Não são necessárias


palavras. Não há como se despir desta vez. Não precisamos de
tempo para parar e admirar o outro. Nossos corpos já se
conhecem. Nossos corações já batendo como um.

Subo para a cama, nossos beijos ainda intensos, mas agora


mais suaves. Cada um nos lembrando do nosso passado. Do
presente. E do nosso possível futuro.

Vince rasteja sobre mim e abro minhas pernas para ele.


Estendo a mão para tocá-lo, para ajudá-lo a colocar a camisinha.
Com um cotovelo pressionado ao meu lado e ambas as mãos
envolvendo o seu pau, nós dois o guiamos para mim.

Há uma falta de esforço para nós esta noite. Uma doce


resignação de aceitação quando por tanto tempo só houve
incerteza. Mas nossos corpos não sabem disso. Apenas nossas
cabeças e nossos corações sentem.
E assim deixamos nossos corpos assumirem o controle.
Deixamos que eles nos guiem com o seu empurrão lento e o seu
gemido mudo enquanto ele puxa para fora. Com ele guiando minha
mão para baixo entre minhas coxas para que ele possa me ver
dando prazer a uma parte de mim enquanto ele cuida da outra.

A dor se transforma em prazer. A queimação se transforma em


êxtase.

Somos reduzidos a gemidos de êxtase e longos deslizamentos


de pele. A respirações entrecortadas e elogios murmurados. Seus
dedos me agarrando e minhas unhas marcando-o.

Fazemos amor sem palavras, consolidando emoções que


sentimos pelo que parece uma eternidade. Emoções das quais
temos medo de admitirmos. Agora que estão na luz, nunca mais
poderemos escondê-los no escuro.

Assim como as partículas de poeira dançando ao nosso redor.

Nós nos amamos. Com cada empurrão. Com cada puxão. Com
nossos dedos entrelaçados em ambos os lados da minha cabeça.
Com o movimento lento dos seus quadris. Com o raspar dos seus
dentes no meu ombro e os beijos suaves no meu pescoço.

É uma dança lenta de pele, sensações e emoções. De olhares,


de sorrisos suaves e lábios entreabertos de prazer. De quadris
levantados e costas arqueadas e mãos apertadas.

Trabalhamos juntos para alcançar nossos êxtases. Meu clímax


é um aumento lento de pressão que detona com um aviso de sua
presença, mas não de sua intensidade.
Caio sob sua névoa de prazer. O calor incandescente percorre
pelo meu corpo como um fio elétrico se partindo antes de bater de
volta em meu núcleo. Minhas costas se arqueiam e os meus
quadris saltam e meus dedos agarram os dele.

Só Vince pode fazer isso comigo. Pode evocar isso de mim.


Sempre Vince.

— Você é tão linda quando goza — Vince murmura antes de


encontrar os meus lábios com um beijo contundente. O calor da
sua língua. A moagem dos seus quadris. A sensação do seu corpo
contra o meu.

Cada maldita coisa oprime os meus sentidos, e faço a única


coisa que eu posso. Eu seguro Vince. Com braços, mãos e pernas.
Meu próprio orgasmo, puxando-o comigo. Ele enterra o rosto na
parte de baixo do meu pescoço e começa a empurrar os quadris
mais rápido, com mais força. Meu corpo fica tenso em torno dele,
pois ainda não está terminado, e tudo que posso fazer é aguentar
o passeio.

Sua respiração é quente contra a minha pele. Sua barba faz


cócegas enquanto ele se move. Meus gemidos são suaves em
comparação com a sua respiração áspera. O tapa dos seus quadris
contra os meus é a batida subjacente.

Ele afasta mais as minhas pernas e começa a empurrar com


mais força, mais rápido, implacavelmente, meu corpo para usar.
Seu gemido gutural ressoa pelo quarto e ele pressiona sua testa
contra o meu ombro e reivindica o seu próprio orgasmo.
Nossas respirações ofegantes enchem o quarto e nossos corpos
estremecem com a descarga de adrenalina lentamente diminuindo
de nossos corpos.

Ficamos deitados aqui assim, com o seu corpo no meu, seu


rosto na curva do meu pescoço e minha mão passando para cima
e para baixo em sua costa.

Ficamos deitados aqui assim, absorvendo o momento e nos


perguntando com esperança se isso pode ser uma realidade que
podemos fazer funcionar.

Se a proximidade que sentimos neste momento é um indício


do que poderá ser o nosso futuro quotidiano.
Bristol
Minhas palavras soam em pânico. Quase o mesmo tipo de
pânico que o meu coração sentiu quando Vince desceu as escadas
um tempo atrás com uma mala feita na mão.

Mas estou tentando controlá-lo. Estou tentando evitar que


Jagger veja o meu medo.

Estou tentando não imaginar a história se repetindo.

— É só por uma semana — ele diz. — Talvez mais alguns dias.

Mas você não mencionou isso para mim.

— Eu vou estar super ocupado, no entanto. Reuniões o dia


inteiro e reuniões tarde da noite. Não vou ter muito tempo para
fazer outra coisa senão trabalhar. Estou aqui há tanto tempo que
tenho um mês de trabalho para colocar em dia.

Uma razão pela qual não podemos conversar. Uma desculpa


porque ele está criando distância.

— Sério? — Seus passos param alguns metros atrás de mim.


— Por que você não está respondendo?

— Ok. — Eu falo pela primeira vez enquanto limpo os balcões


com um fervor apenas rivalizado pelo Sr. Clean.
— McMann. O chefe da Sony Music. Os shows da manhã. Os
shows da noite. Eu tenho que me encontrar com eles e... há
algumas outras coisas que eu preciso cuidar.

Ele está saindo, correndo, quando disse que não iria mais
correr.

— Sinto muito que este tempo aqui fez você ficar tão atrasado.

— Não sinta. Não foi isso que eu insinuei. Eu estava...

— Não se preocupe conosco. Vou providenciar para que Jagger


e eu voltemos para casa. Ele já perdeu muita escola presencial. Me
cadastrei em alguns aplicativos para empregos. Eu preciso resolver
isso. Eu tinha um mês de aluguel economizado, mas...

— O aluguel está pago. Mandei dinheiro para sua mãe cuidar


disso um tempo atrás. Você não precisa se preocupar com
dinheiro...

Ele não pode se despedir, então vai começar dizendo que será
apenas uma semana.

— Eu não preciso do seu dinheiro, Vince. — Eu esfrego com


mais força. Esfrego os pontos que não precisam ser esfregados. —
Eu já disse, não preciso nem espero nada de você.

Então a semana se transformará em um mês.

— Bristol.

E o mês vai virar desculpas.

— Vamos voltar para casa e...e... só precisamos voltar para


casa. Recuperar as nossas vidas.

Então as desculpas acabarão por parar.


— Se é o que você quer. — Sua voz é baixa e questionadora. —
Posso pedir ao meu motorista para levá-la ao aeroporto quando o
jato voltar. — Quando eu não responder, é que eu não posso — ele
continua. — Para ser honesto, ainda não estou confortável com
você voltando para sua casa. Prefiro que vocês dois fiquem aqui
onde eu sei que vocês estão seguros e...

E longe de você.

O pensamento surge do nada, mas me atinge como uma


tonelada de tijolos.

Eu não quero o motorista dele.

Eu não quero que ele me diga para onde ir.

Eu não quero que ele me diga o que fazer.

Minhas mãos começam a tremer, e aperto as minhas mãos


com ferocidade para controlá-la. — Eu tenho que voltar para a
minha vida algum dia.

Talvez seja isso que ele quer. Para ele ir embora e para eu me
sentir estranha aqui, então vou para casa sozinha. Então ele pode
voltar para uma casa vazia e os fios podem ser cortados com
precisão, já que não estaremos frente a frente. E ele não terá que
ver o meu rosto quando sair desta vez.

— Shug.

— Estou bem. Está tudo bem — eu murmuro, desejando não


chorar. Não sentir. Não ser nada além da garota forte que eu fui
quando o deixei ir embora pela primeira vez. Então ainda mais
forte que aos 21 anos, quando menti na cara dele e disse que só
queria sexo e apenas uma noite. E, finalmente, a mulher de
algumas semanas atrás que mentiu na varanda quando disse que
o amava, mas não era o suficiente.

Vince fecha os braços em volta de mim por trás. Meu corpo


fica tenso ao senti-lo contra mim, com o conforto que encontrei
nele, quando ele descansa o queixo no meu ombro. — Fale comigo.

Nós somos assim.

— Não há nada a dizer.

Isto é o que fazemos.

— Olhe para mim. — Ele tenta me virar, mas eu apenas agarro


o balcão.

Mas agora há Jagger que também ficará com o coração partido.

Não chore. Não chore. Não chore. — Tenha uma boa viagem. —
Minha voz falha, apesar da indiferença fingida nela.

— Porra, Shug. — Eu posso sentir sua mandíbula apertar o


meu ombro. — Se isso vai funcionar entre nós, você não pode
desligar toda vez que ficar com medo. Eu não tenho permissão,
então você também não. — Desta vez, quando ele tenta me virar,
eu deixo. Seus olhos procuram os meus com uma honestidade que
ele vem mostrando cada vez mais e que preciso me acostumar a
aceitar. — Fale comigo. Por que você está tão chateada?

— Se a sua viagem durar mais de uma semana. Digamos um


mês. Digamos por mais tempo... apenas saiba que está tudo bem.
Eu entendo. Tivemos um bom tempo.

Ele usa o polegar para enxugar a lágrima que escorre pela


minha bochecha. — Não vai.
— Mas se acontecer, apenas saiba que está tudo bem. Apenas
saiba que eu te amo. Apenas saiba que Jagger será amado. — Cada
parte de mim dói com medo de que, quando ele sair pela porta, ele
não volte mais.

Ele já fez isso antes.

— Eu sei que você não tem nada para apagar a não ser o
passado, mas eu não vou a lugar nenhum. — Ele roça um beijo em
meus lábios. — Você quer que eu lute por nós? Então espero o
mesmo de você.

Concordo com a cabeça, mas as lágrimas continuam vindo. O


medo ainda queima forte. — Às vezes é muito difícil ter esperança.

— Então não dificulte. Espere. Confie em mim. Confie em nós.

Ele pressiona um beijo ardente em meus lábios antes de se


inclinar para trás. — A oferta está aí. Você pode ir para casa e
voltar para a sua vida como se nada tivesse acontecido. Ou você
pode confiar em mim e ficar aqui. Estou deixando a bola cem por
cento com você. Se alguém vai embora, vai ser você.

Nossos olhos se encontram antes que ele me dê um beijo


brusco e depois saia para se despedir de Jagger. Odeio isso mais
uma vez, estou olhando para suas costas, observando-o ir embora.
Parece um déjà vu, só que desta vez há muito mais em jogo.

— Você quer que eu lute por nós? Então espero o mesmo de você.
Confie em mim. Confie em nós.

Então ele sobe no carro que está esperando.

Como posso confiar em nós quando não tenho certeza do que


significa nós?
Então ele está a caminho do aeroporto.

Como posso confiar nele quando ele nunca lutou por nós antes?

E fico me perguntando se acabei de dizer adeus para ele para


sempre novamente.

Como posso confiar quando mal sobrevivi a todos os outros


adeus?
Vince
Memórias me assaltam.

Uma após a outra, assim como os seus punhos costumavam


fazer. Assim como suas palavras que deixaram camada sobre
camada de cicatrizes ainda fazem.

Nada mudou. A casa ainda tem a mesma sensação opressiva


de quando saí pela porta onze anos atrás. O mesmo peso do
homem que se deleitava em controlar o seu filho com medo.

E tudo mudou. A cor do sofá. O carpete marrom que agora é de


tábuas de madeira de vinil. A caixa de televisão que agora é uma
tela plana na parede.

O homem deitado na cama de hospital no centro da sala da


família.

Ele parece o inferno. Olhos fundos. Bochechas ocas. Uma


palidez cinzenta. O que sobrou do seu cabelo, que antes era
escuro, agora está branco por causa do estresse da quimioterapia.

Mas seus olhos, nem a idade e nem a doença embotaram o


rancor neles.

Passei a última semana sendo o Vince Jennings que todos


conhecem. Grosseiro. Convencido. Talentoso. Rebelde. Tenho ido
a reunião após reunião. Entrevistas realizadas após entrevista.
Mantive minha posição profissionalmente e pessoalmente.

O lado pessoal teve um custo brutal. Saí de casa, embarquei


no jato, cheguei em Los Angeles, enquanto dizia a mim mesmo que
Bristol estava sendo ridícula por se preocupar com a minha volta.

Então me desafiei a não ligar para ela. Não enviar mensagem


para ela. Para ver se consigo viver sem ela desta vez. Para perceber
o quão miserável eu sou sem eles. Para validar minhas razões para
tudo o que eu preciso fazer. Para mantê-la tão longe do homem
que este momento com o meu pai pode me transformar.

Se ela não estiver perto disso, não posso machucá-la ou a


Jagger com o que vier.

A única coisa que torna essa miséria mais fácil é estar tão
cansado todas as noites que caio na cama. Mas isso não significa
que eu não sinta falta deles. Que eu não pego o meu telefone, ou
escrevo uma mensagem e, em seguida, arquivo-os como um
lembrete de como seria a vida sem eles.

Porque ainda não sou o homem que eles merecem.

Ainda não.

Mas depois de hoje, depois de estar aqui em uma casa que


guarda apenas pesadelos terríveis, preciso ser um homem que
nunca fui antes. O homem que eu sei que eu posso ser. Aquele que
eu quero ser no momento em que sair desta casa, sabendo que
nunca mais voltarei.

— Vincent — meu pai murmura.


Nós olhamos um para o outro por um longo tempo, mas não
falamos. Tenho muito a dizer, mas entrar nesta casa é como voltar
no tempo. Meus pensamentos e palavras imediatamente se
confundem com o medo de estragar tudo. De não me tornar
invisível o suficiente para evitar o que inevitavelmente vem a
seguir.

É incrível como três passos para dentro desta sala e me lembro


de como isso me fez sentir. Como ele fodeu com a minha cabeça.
Como quando fiquei insensível a isso, e ele então me machucou
com os punhos.

Nada jamais será capaz de apagar isso. Nem a sua doença.


Nem um pedido de desculpas. Nem sua morte.

Sua enfermeira se levanta abruptamente de onde está sentada


no canto. Ela me olha com desconfiança. É uma coisa válida para
ela sentir, considerando que estou olhando para o meu pai com
desgosto. Ela olha ao redor da sala como se para ter certeza de que
não há nenhuma arma com a qual eu possa feri-lo. Somente depois
que ela parece confiante de que não há, ela se desculpa e sai da
sala.

Ela se esqueceu de reparar que mãos nuas também são armas.


Basta perguntar ao meu pai. Ele era o mestre em usá-las.

Eu fico onde estou. Costas encostadas no batente da porta,


braços cruzados sobre o peito e um olhar inflexível.

— É a mim que você tem que agradecer pelo seu sucesso,


sabia?
Porra do clássico Deegan Jennings, se é que já o ouvi. Idiota
narcisista. É sempre sobre ele, mesmo quando não é.

— Se é isso que você pensa.

— É o que eu sei. Eu te dei a base que você precisava para ser


quem você é.

Base? Jesus. Ele realmente acredita na merda que está


vomitando?

— Eu te alimentei. Eu te vesti. Eu coloquei um teto sobre sua


cabeça.

Eu deixo ele falar. Congratulo-me com as palavras. Ouço a


besteira nelas. Reconheço as coisas que temi por muito tempo. As
coisas que eu acreditava.

— E você me derrotou por simplesmente respirar. — Minha


risada contém tudo menos diversão enquanto bato palmas
dramaticamente. — O prêmio de Pai do Ano definitivamente vai
para você.

— Você sempre foi ingrato pra caralho, sabia disso?

— Ingrato? Que tal agradecer por você me mostrar tudo que


eu nunca deveria ser como um humano. Como um homem. Como
um pai.

Ele inclina a cabeça para o lado e franze os lábios pálidos antes


que eles apareçam em um sorriso provocador. — Como está o seu
garoto, afinal?

— Meu filho não é da porra da sua conta — eu resmungo.

— Tenho certeza de que ele está sendo família e tudo.


Aperto minha mandíbula com tanta força que dói,
determinado a resistir a deixá-lo apertar os botões que ele domina.

— Você teve prazer nisso, pai? Ser pago para me machucar?


Para tentar me foder? Para entregar o seu filho uma última vez
para que você pudesse se sentir como se ainda estivesse no
comando?

Sua risada diz que sim.

— E para quê? Porque você se ressentiu de mim toda a minha


vida porque mamãe te deixou, e Deus me livre de você ter que
cuidar de seu filho? — Eu balanço minha cabeça. Tanta dor e medo
dos anos diminuindo lentamente para que eu pudesse ver as
verdades que eu estava cego demais para ver antes. A besteira com
que lidei foi sobre ele. Sobre as suas deficiências. Sobre os seus
fracassos. Não sobre mim.

— Eu estava te fazendo um favor.

— Besteira. Você é um filho da puta egoísta que só estava


pensando em dar uma última cutucada no filho antes que de você
morrer. Um último foda-se para reviver o seu coração negro.

Seu sorriso é meio idiota. Seu estremecimento de dor me faz


prender a respiração momentaneamente e querer egoisticamente
que ele não morra para que eu possa terminar o que vim fazer aqui.
— Ou talvez eu estivesse tentando te ensinar uma lição.

— Uma lição? Isso é alguma lógica fodida vindo de um homem


que não tem uma perna para se apoiar.

Ele faz uma pausa e encontra os meus olhos com uma


presunção que já vi mais vezes do que gostaria de contar. — Meu
sangue está correndo por ele também, filhinho. Não se esqueça
disso.

Estou ao lado da sua cama em um piscar de olhos. Minha raiva


explodindo. A vontade de agarrar o seu moletom e puxá-lo de pé
para que possamos ficar cara a cara me domina. Para que ele sinta
o medo que eu tinha toda vez que ele fazia o mesmo comigo.

Mas eu não faço. Agarro a grade da cama até os meus dedos


ficarem brancos enquanto ele se senta lá e se vangloria. Ele
conseguiu o que queria. Uma reação ao saber que ele acertou em
cheio.

Que ele conseguiu sua última escavação.

Mesmo na morte, o meu pai quer que eu saiba que ele ainda
estará lá. Ele ainda estará por perto. Que eu ainda deveria temer
se o que está nele está em meu sangue. Está no sangue do meu
filho.

Eu não quero arruinar o seu perfeito.

Recuso-me a morder sua isca.

Recuso-me a deixá-lo partir desse mundo pensando que teve


sucesso em plantar esse pensamento em minha cabeça.

Em vez disso, levo alguns segundos para olhar para um


homem que costumava causar medo em mim. Agora tudo o que
posso sentir é pena.

Ele é apenas um homem. Apenas carne e ossos.

Ele não sou eu. Eu não sou ele. Eu nunca serei ele.

Como eu poderia pensar o contrário?


Balanço a cabeça e me inclino para perto do seu rosto. — Você
sabe o que? Eu vim aqui pensando que talvez o fato de você estar
derrubando a porta da morte poderia ter feito você querer dizer
algumas coisas, fazer as pazes, corrigir alguns dos seus erros...
foda se eu sei. Mas está claro que não. Está claro que você prefere
morrer sozinho com sua raiva do que com a consciência limpa.

— Vin...

Eu posso ver a luta em seus olhos. O despeito, e eu o cortei


antes que ele pudesse vomitar. — Eu olho para você e sinto pena
de você. Nada mais. Nada menos. Você desperdiçou sua vida sendo
amargo e brutal, apenas se sentindo bem consigo mesmo quando
estava me destruindo. Bem, adivinhe. Não funcionou. Nem o seu
abuso, veja quem eu me tornei. Não é engano seu, veja o que agora
eu amo. Não a base que você preparou para mim, porque nunca
serei como você.

Seu olhar é duro. Sua mandíbula está tensa. Mesmo na morte,


o filho da puta não se curva.

Bem, nem eu. Ao longo dos anos, já me inclinei o suficiente


para ele. Dobrei tanto que pensei que estava quebrado pra caralho.

Não mais.

Nunca mais.

— Adeus, pai. Sinto que não poderia ter sido diferente.


Lamento que você não tenha encontrado em si mesmo para amar.
Apenas saiba que quando você der o seu último suspiro, eu
consegui. Eu sou tudo o que você disse que eu nunca poderia ser.
Eu sou tudo o que eu sempre quis ser. E eu nunca serei como você.
Ando até a porta sem nenhuma outra palavra.

Lágrimas brotam dos meus olhos. Não pelo homem que ele era,
mas pelo homem que ele poderia ter sido para mim. Pelo homem
que eu precisava que ele fosse, mas nunca foi.

Não estou com raiva dele. Passado é passado. Uma frase que
tenho falado muito ultimamente. Mas me ressinto dele pelas
oportunidades que ele me roubou.

Foi a degradação e o abuso dele que me fizeram sair de Bristol


aos dezenove anos.

São as mentiras dele que possivelmente roubaram onze anos


do tempo em que poderíamos estar juntos.

Mas foi ele quem nos uniu. E esse é o melhor foda-se para ele
que eu poderia esperar.
Vince
Hawke está descansando sua bunda contra o carro alugado
quando saio de casa. Eu disse a ele que não precisava que ele
viesse comigo. Eu minimizei e disse a ele que de jeito nenhum
queria que ele viesse para esta cidade infernal. Mas ele me ouviu?

Claro que não.

Em vez disso, ele se sentou ao meu lado no voo. Ele ouviu as


palavras que eu não falei e manteve uma conversa unilateral
comigo, onde respondeu a todas as perguntas que eu estava me
fazendo.

Se você pensa que é como o seu pai, como é tão fácil para você
amar Jagger?

Quantas vezes nas últimas semanas você quis dizer a Jagger


que merda inútil ele é? Quantas vezes suas mãos se fecharam e
você teve vontade de dar um soco nele?

Nunca levantei os meus olhos tão rápido na minha vida como


naquele momento. Mas fui recebido com um sorriso de comedor
de merda e uma elevação de suas sobrancelhas, minha reação a
ele foi uma resposta por si só.

Claro, eu não me senti assim. Nem perto disso. Mas Hawkin,


em seu valor de choque, entendeu o ponto.
Eu não sou a porra do meu pai.

Nunca fui. Nunca serei.

E quando saio de casa e vejo Hawkin parado ali, fico feliz por
ele não ter me ouvido.

— Você está bem? — Ele pergunta de onde sem dúvida está


me estudando por trás dos seus óculos escuros.

— Eu vou ficar.

Ele acena com a cabeça em resposta e, em seguida, sobe no


banco do motorista. Paro por um instante e olho em volta uma
última vez para um bairro que esquecerei e uma cidade para a qual
me recuso a voltar.

A única coisa duradoura que Fairfield me deu foi Bristol.

Fora isso, pode queimar até o chão.

— Acho que uma bebida ou oito está em jogo — Hawke diz. —


Diga-me para onde ir.

Dou a ele instruções para um bar perto do nosso hotel e tento


não ler muito sobre o quanto isso parece como nos velhos tempos.
Hawke. Eu. Um carro. Um bar. Ou talvez seja o fato de ele estar
sentado ao meu lado.

Meu melhor amigo, mesmo quando eu não o mereço.

Passamos por lugares que eu costumava levar Bristol. Um


parque onde costumávamos nos beijar no meu banco de trás. Um
cinema onde pulávamos de sala em sala com um único ingresso
para fugir do calor. A lanchonete onde nos sentávamos e
tomávamos milk-shakes bem depois do toque de recolher porque
eu não queria voltar para casa, e ela sentia os motivos não ditos.

Bristol.

A necessidade de ligar para ela a semana inteira esteve


presente, mas nunca mais do que neste momento. Eu consegui,
Shug. Eu matei o dragão. Sou livre para ser o homem que você acha
que eu posso ser.

Mas mantenho firme a promessa que fiz a mim mesmo.

Eu tenho mais algumas coisas para resolver antes de poder


falar com ela. Antes que eu possa segurá-la. Antes que eu possa
riscar o maldito fósforo pela última vez.

— Quer falar sobre isso? — Hawkin pergunta depois de nos


sentarmos no bar.

— De verdade.

— Você disse o que precisava ser dito? — Ele pergunta, sendo


a única pessoa além de Bristol que conhece o verdadeiro Deegan
Jennings.

— Sim.

— Você se sente melhor com isso?

É uma boa pergunta. Uma que eu pondero enquanto Hawkin


acena para o barman, fala com ele, e o barman fica em choque de
quem está sentado em seu bar e pede nossas bebidas.

— Eu disse o que precisava ser dito. Eu disse o que teria me


arrependido se nunca tivesse tido a chance de dizer. Sentir-me
melhor não vem ao caso.
— Justo. — Ele acena com a cabeça e levanta o queixo para
onde o barman está alinhando duas fileiras de cinco doses cada.
— O jato está programado para decolar em duas horas.

— E você planeja que estejamos com a cara de merda antes


disso?

— Não. Eu planejo que estejamos certos novamente antes


disso. — Ele pega uma dose e a coloca na minha frente antes de
pegar uma para si mesmo. — Estamos comemorando.

— Comemorando o quê?

— Cinco coisas.

— Isso é muito específico — eu brinco. — Se importa em me


dizer quais são?

— Sim. — Ele balança a cabeça e bate a primeira dose contra


a minha. — Por deixar o seu pai ir. — Ele levanta um dedo para se
corrigir. — Devo dizer por finalmente deixar de lado o poder que o
seu pai teve sobre você.

Olho para a dose e aceno com a cabeça antes de tomá-la e


tossir enquanto o liquido desce queimando.

— Queima como um filho da puta — Hawke resmunga. — Pelo


menos sabemos que estamos vivos, porra.

— Amém para isso — eu digo enquanto ele passa a segunda


dose em minha direção. — Uau. O que há com o ritmo vertiginoso?

— Quando se trata de você, o caminho de menor resistência é


embriagá-lo rapidamente.
Eu rio. Deus, é bom tê-lo sentado aqui ao meu lado. Tê-lo aqui
quando eu preciso dele, porque ele simplesmente sabe.

Ele levanta a número dois. — Por finalmente colocar sua


cabeça no lugar quando se trata de Bristol. — Eu o encaro. —
Manda, Vin.

— Quem disse alguma coisa...

— Você amou a mulher toda a sua vida. Eu sei disso. Rocket


e Gizmo sabem disso. Até você sabe disso. Agora seja um bom
menino e admita o que ela significa para você, então você pode
seguir em frente como um filho da puta maduro e fazer dela uma
mulher honesta.

— Estou trabalhando nisso — eu digo, e ele levanta a mão e


aplaude.

— Você está trabalhando nisso há onze anos. Por que você não
trabalha um pouco mais rápido? Saúde, filho da puta.

A segunda desce mais suave, com uma gargalhada e uma


pontada forte no peito.

Eu sinto falta dela.

Porra, senti falta dela no minuto em que saí de casa. Mas eu


precisava dessa distância para clarear a cabeça. Trabalhar e
perceber como seria melhor se ela voltasse para casa depois. Para
ter um pedaço de normalidade em meio a minha loucura. Para
apenas tê-la.

— Número três...

— Você sabe que a última vez que nos sentamos juntos, você
estava chateado com o quanto eu estava bebendo, certo?
Hawkin dá um tapa nas minhas costas e aperta o meu ombro.
— Isso é porque você estava bebendo por miséria. Não de
felicidade. Isso? — Ele levanta os braços. — Isso é tudo felicidade.
Isso tudo é bom. — Ele balança a cabeça para se certificar de que
estou ouvindo. — Agora pegue a sua terceira. Se estou ficando
fodido comemorando por você, é melhor você fazer o mesmo.

Eu rio. — Número três.

— Para Jagger. Às vezes, enfrentar o seu maior medo pode ser


a sua maior recompensa. Tenho a sensação de que ele pode ser
isso. — Ele bate seu copo no meu.

As doses sobem, mas foda-se se tiver que deslizar sobre o nó


de emoção na minha garganta enquanto desce.

Ele tem razão. Olho para o copo vazio e apenas balanço a


cabeça. Ele está certo. Como posso sentir tanto a falta de alguém
que acabei de conhecer?

— Mal posso esperar para conhecê-lo — Hawkin sussurra e dá


um tapinha nas minhas costas novamente.

— Ele é a porra do garoto mais legal do mundo — eu digo.

— Claro que ele é. Ele é seu.

Eu rio e olho para ele quando ele empurra a próxima dose na


minha frente. Minha cabeça já está nadando com essa merda de
bebedeira de garoto de fraternidade.

— Para que serve esta? — Eu pergunto.

— Por fazer isso. — Ele desliza o telefone pelo bar. Na tela está
o Top 100 da Billboard e, em primeiro lugar, Sweet Regret.
Eu o encaro. A ironia não passou despercebida de que o dia
em que deixei o meu pai ir, figurativamente, é o dia em que alcancei
a única coisa que ele disse que eu nunca poderia fazer. Meus olhos
ficam borrados e minha garganta queima.

Eu fiz isso.

Eu atingi o número um.

Apenas eu.

— Parabéns irmão. Estou orgulhoso de você.

Levanto o copo. E engulo a dose.

Mas a felicidade esperada mal chega ao ápice. O orgulho está


lá, mas atinge de forma diferente.

Parece oco.

Vazio.

Porque estou perdendo o maldito ponto que conecta todas as


coisas boas que estamos celebrando. Bristol. Ela tem sido uma
parte, uma razão, um fator impulsionador por trás de todas essas
coisas pelas quais estou sendo recompensado. Pela coragem de ver
que não sou o meu pai. Por nunca deixar de me amar. Por me dar
um filho. Por me dar essa música. A música.

Eu queria que ela estivesse aqui para beijá-la. Eu gostaria que


Jagger estivesse aqui para dar mais cinco beijos. Parece vazio aqui
sem eles ao meu lado. Mas não são só eles. É comemorar esse
grande marco sem os meus companheiros de banda aqui. As
únicas pessoas que podem sentar ao meu lado e se maravilhar com
essa vida maluca que temos.
Eu estou feliz... mas também estou triste.

— Você está bem?

— Sim. — Eu engulo para dissecar mais tarde. Provavelmente


é só o álcool. Apenas o momento. — Para que serve a quinta?

— Isso depende — ele diz.

— Do que?

— Se estamos comemorando sua volta para a banda. Estamos


entusiasmados com o seu sucesso. Nunca duvidamos que você
conseguiria. Mas, Vin, queremos você em casa, conosco. Você é a
nossa família. Nosso irmão. Não é a porra nenhuma sem você.

Olho para a dose na minha mão, olho para Hawke, e então eu


bebo sem questionar.

— Então acho que isso significa que estamos comemorando


então — ele diz antes de me agarrar e abraçar o meu pescoço.

Pela primeira vez na minha vida, estou exatamente onde quero


estar em todas as coisas.

Todas as coisas exceto uma.

E aquela coisa está em casa esperando por mim. Esperando


por mim. Esperando para fazer uma vida comigo.

Esta semana provou que posso viver sem ela e sem Jagger.

Mas o mais importante, este tempo longe apenas cimentou que


eu nunca mais quero viver minha vida sem eles.

Eles são a minha vida.


Bristol
Quando Vince vai voltar?

Essa não foi a pergunta do dia de Jagger, inferno, nos últimos


dias realmente, e aquela que tem sido uma constante em minha
mente?

Porque embora eu tenha me divertido muito explorando com


Jagger e passando um tempo cara a cara com ele, mais do que
parece que sempre fui capaz, há um buraco sem Vince aqui. Algo
indescritível que falta na norma que criamos nas últimas semanas.

É incrível como é fácil cair em alguma coisa, até mesmo em


uma grande mudança na vida, e nunca perceber.

E atualmente é a pergunta sobre a qual me calei porque não


tenho uma resposta para dar.

— Então ele ainda não ligou ou enviou mensagem? — Simone


pergunta.

— Não.

— E você não ligou ou enviou uma mensagem para ele?

— Uh-uh.

— Alerta de conselho indesejado aqui, mas vocês dois podem


ser as pessoas mais teimosas da face da terra.
Eu rio. Ela tem um ponto e ainda... — Eu joguei com Vince
sem ele escolher a não ser criar fogo, e joguei ele dentro dele sem
qualquer aviso.

— Você não o jogou na merda. O pai dele fez.

— Semântica.

— Semântica extremamente importante. Quero dizer, você


estava disposta a seguir seu caminho alegre e não contar a ele.

— Exatamente, o que é um problema por si só se você estiver


no lugar de Vince. — Eu levanto o meu rosto para o sol e dou boas-
vindas ao seu calor, os ruídos aleatórios de Jagger de invasores do
espaço batendo no degrau mais alto da piscina uma constante ao
fundo.

— E isso dá justificativa para vocês não se falarem, por quê?

Quando ela coloca dessa forma, parece bobo. — Ele teve que
sair para promover o novo material. Eu entendo. Mas também é a
primeira vez desde que descobriu sobre Jagger, que ele está longe
de nós. Que ele teve tempo para pensar sem Jagger na frente e no
centro do seu rosto.

— Eu não estou entendendo você.

— Talvez ele precise de tempo para digerir tudo. Para tomar


decisões que agora ele teve tempo de dar um passo para trás e
processá-las.

— Eu posso entender isso. Mas isso não explica por que você
não o procurou, especialmente se ele está lhe dizendo como parece
certo e tudo mais.
— Estou tentando respeitar o tempo dele. Estou tentando
mostrar a ele que acredito nele quando ele me disse para confiar
nele. Isso é difícil para mim, mas se eu enviar mensagens de texto
para ele constantemente, isso não diz o contrário? Que estou com
medo e estou verificando como ele está?

— Você está com medo? — Ela pergunta baixinho.

— Estou tentando não ficar. Cada dia que passa as coisas não
torna tão fáceis, verdade seja dita. Quero dizer, tive vontade de
ligar para ele e parabenizá-lo por ter atingido número um, mas não
importa quantas vezes eu digitei a mensagem ou peguei o telefone,
apaguei e desliguei.

— Talvez você esteja pensando demais nisso.

— Talvez eu esteja tentando me preparar para a vida sem ele.


Por não poder atender aquele telefone e por ele não estar do outro
lado da linha.

Ela bufa. — Enquanto você estiver morando na mansão dele.

Eu rio, seu comentário me fazendo perceber o quão ridícula eu


pareço. — Posso aguentar o tempo que for necessário. Ele precisa
ser aquele que dá o próximo passo.

— Espero que ele não esteja pensando a mesma coisa sobre


você.

Reviro o meu nariz e dou um aceno de cabeça que ela não pode
ver. — Não me faça duvidar de mim mesma.

— Esse não é o meu trabalho? — Ela ri. — E mesmo com tudo


isso, eu sei que você ainda quer perguntar.

— Eu sou tão óbvia?


— Garota, você está se escondendo em uma mansão na terra
dos lagos, apenas respondendo mensagens de texto e, de repente,
você pega o telefone e me liga?

— Se quer saber, eu não estava atendendo porque você só liga


tarde da noite e...

— E você estava muito ocupada sendo criticada pelo deus do


rock para atender. Eu entendo. Eu entendo. Eu estou com você,
garota.

Reviro os olhos. — Eu ia dizer que o meu telefone geralmente


está ligado não perturbe à noite, para não acordar Jagg, mas você
pinta uma imagem muito melhor.

— Sim, não é verdade? E você vai ter que me perdoar porque


eu poderia ter pintado aquele quadro distorcido e me colocado no
seu lugar por um momento fugaz quando ele passou por mim outro
dia. Eu quase morri... aparência, voz, colônia, melancolia...
simplesmente dane-se tudo.

— Você está perdoada. — Mas... como ele parecia? Como ele


estava? Ele parecia bem?

Que resposta ela dará que lhe dará qualquer indicação de que
ele está sentindo sua falta?

Nenhuma. Nada. Zero.

Ele está no trabalho. Ele tem a música número um no país. É


claro que ele não vai se parecer com nada além do arrogante e
nervoso Vince.

— Ele parecia bem, Bristol. Eu sei que você quer perguntar.


Como se cem libras tivessem sido tiradas dos seus ombros.
— Hum.

— E, não. Não pense que ele parece menos sobrecarregado


porque está aqui, longe de você, e está planejando viajar de avião.
Foi mais... Não sei... ele parecia contente. Deus, eu pareço minha
mãe usando essa palavra, mas é a melhor maneira de explicar.

— Ok. O conteúdo é bom. — Aqui comigo é melhor.

— Ele parou na sua mesa, você sabia.

— Minha velha mesa?

— Não. Ainda é sua. McMann não fez nada com ela. Ele não
fez o normal, alguém embalar suas coisas em uma caixa e deixá-
las na recepção. Suas coisas ainda estão lá, exatamente onde você
deixou tudo.

— Ah. Isso é novidade para mim.

— O boato é que Vince brigou por você e disse a McMann que


se você for demitida, ele vai fazer merda.

— Jesus Cristo. A última coisa de que preciso...

— É a primeira coisa que você precisa. Seu homem brigar por


você? Ameaçando todos por você? Garota, coma essa merda.
Deixe-o sentir que está cuidando de você, embora todos saibamos
que você pode cuidar de si mesma.

— Eu sei mas...

— Mas nada. Vince não enviou uma mensagem para você, ele
não ligou para você, mas ainda está tentando cuidar de você.
Porque você não usa isso para aliviar a sua preocupação, e não
diga que ele está conseguindo o seu emprego de volta porque está
planejando deixá-la. Não, ele está fazendo isso porque valoriza o
quão ferozmente independente você é e sabe que de jeito nenhum
você vai deixá-lo jogar essa merda de Cinderela em você.

— Merda de Cinderela? — Eu rio.

— Sim, tirar você do chão, escondê-la em um castelo e nunca


mais deixar você trabalhar.

O pensamento parece atraente, a parte de não ter que


trabalhar para McMann, mas ela está certa. Eu estou pensando
demais. Eu deveria encontrar conforto no fato de que Vince me
conhece tão bem e está tentando manter a minha independência
para mim.

— Para constar, ele estava de pé em sua mesa, com o porta


retrato de você e Jagger na mão, apenas olhando com um sorriso
suave no rosto. Achei que você gostaria de saber disso.

Lágrimas brotam em meus olhos e um sorriso paira sobre os


meus lábios. Sim, eu definitivamente queria saber disso. Eu
precisava disso.

Limpo a emoção da minha garganta. — Simone?

— Sim?

— Obrigada. Eu precisava ouvir tudo isso. Falar com você.


Obrigada.

— Garota, eu vou falar com você fora daqui qualquer dia. —


Ela suspira. — E não se preocupe. Vou pensar em maneiras de
você me retribuir.

Jogo minha cabeça para trás e rio. — Tenho certeza que você
vai.
Desligamos, com um sorriso no rosto e com o meu coração
mais leve do que na semana passada. Nós estivemos escondidos
aqui sem nada além um do outro, ligamos para os meus pais e
nada além de tempo para deixar os meus pensamentos correrem
soltos.

Simone era o que eu estava perdendo. O que eu não sabia que


precisava.

— Era ele, mamãe? Vince vai voltar?

Protejo os meus olhos, olho em sua direção e sorrio. — Ainda


não. Em breve. Eu prometo, ele voltará para casa em breve. — E
pela primeira vez, eu realmente acredito nisso.
Bristol
— Parabéns. Estou tão orgulhoso de você. — Lágrimas caem,
mas eu pisco para afastá-las enquanto Jagger se senta na minha
frente no computador e faz caretas engraçadas para Vince através
da tela.

Ele finalmente ligou, ou melhor ainda, ele ligou FaceTime para


que eu pudesse ver o seu rosto bonito. Então, posso ficar tranquila
com o olhar em seus olhos e o sorriso em seus lábios. Para que eu
pudesse ver o que Simone viu.

Ele parece bem. Como o mesmo Vince que saiu daqui, mas
com menos do mundo pesando sobre ele.

Talvez toda essa preocupação tenha sido em vão.

Talvez eu estivesse certa em finalmente confiar nele. Confiar


que ele voltará para mim.

Talvez...

— Oi, Shug?

— Sim. Desculpe. — Eu sorrio e mesmo através da conexão,


sei que ele pode ver o alívio e o amor em meus olhos. — O que?

— As duas semanas não se transformaram em um mês.


Eu aceno, não confiando na minha voz. Não querendo mostrar
a Jagger a preocupação que escondi dele o tempo todo. — Ok.

— Estou feliz que você decidiu ficar na casa. Em Washington.

— Nós ficamos. — Eu não suportaria ser aquela que iria


embora com tanto em jogo. — Nós ficamos. — Eu sorrio através da
lágrima solitária que escorre. — Ainda estou lutando.

— Eu também — ele sussurra. — Não planejo parar. Estarei


em casa em alguns dias.

Nossos olhos se fixam antes de Jagger exigir mais atenção,


arrancando risadas de nós. E pela primeira vez em treze dias, sinto
que finalmente posso parar de prender a respiração.

Casa.

É isso que é? Porque agora, em casa parece onde quer que ele
esteja... e ele não está aqui.

Mas ele estará em breve.


Vince
Abro a porta da frente em silêncio, querendo surpreender
Bristol e Jagger. Também quero entrar correndo, envolvê-los em
meus braços e nunca mais largá-los.

Falar sobre a rapidez com que a vida muda.

Uma parte de mim quer gritar. Para anunciar que estou em


casa. Para obter a fanfarra que vem com isso. Algo que nunca
experimentei antes.

A outra parte de mim quer entrar em silêncio e surpreendê-


los. Para ver os olhares em seus rostos quando eu fizer isso. Para
fazer isso por eles e não por mim.

Eu vi a preocupação nos olhos de Bristol outro dia. O medo de


que eu fosse correr. Se ela soubesse que o único lugar para onde
eu queria correr era de volta para ela.

Coloco minhas coisas na entrada e me movo silenciosamente


para a grande sala. Meus pés vacilam quando vejo Jagger. Ele está
sentado no balcão da cozinha com um conjunto de Lego
parcialmente construído na frente dele. Sua testa está franzida
enquanto ele lê as instruções.

Meu corpo inteiro se enche de um amor que eu nunca havia


sentido antes.
Como poderia temer tratar uma criança como o meu pai me
tratou? Não entendo como isso é possível quando olho para ele. Eu
o amo. É um conceito insano considerando o pouco tempo que nos
conhecemos, mas eu o conheço.

— Jagg — eu sussurro e pego-o no abraço que ele dá quando


ele se lança para mim.

Eu espero. Eu o respiro. Eu o amo de uma forma que o meu


pai nunca fez comigo.

O que há com essa merda de pai e ficar emocionado?

— Você voltou. — Ele se inclina para trás e olha para mim, os


braços ainda em volta do meu pescoço.

— Sim. — Ele me estuda como se estivesse certificando-se de


que eu pareço o mesmo. — Onde está a sua mãe?

— Shh. — Ele leva um dedo aos lábios. — Ela está em uma


aula com o seu professor. Devo ficar quieto e, se ficar, ela vai me
dar uma guloseima quando terminar. — Eu olho para a mancha
de chocolate em seus lábios. Ele percebe e sorri timidamente. —
Talvez eu já tenha roubado um.

— Então eu notei. — Eu rio, levanto-o e o coloco no balcão na


minha frente para que possamos ficar na altura nos olhos. — Mas
estou feliz que ela esteja na aula porque queria falar com você
sobre uma coisa, de homem para homem.

— Você queria? — Ele se senta um pouco mais reto. — Mesmo


antes de você ver a mamãe?

— Mesmo antes de eu ver sua mãe. — Eu descanso minhas


mãos no topo dos seus joelhos.
— Você não vai embora de novo, vai?

— Não — eu digo imediatamente. — Eu estou aqui. Eu voltei.


E Jagg, amigo? Estou pronto para lidar com toda a sua
grandiosidade.

As palavras saem antes que eu possa detê-las, mas no minuto


em que saem, me pergunto como sua jovem mente irá calculá-las.
Será que ele vai perceber que sou o seu verdadeiro pai? Ou ele
entenderá que sou apenas um homem fazendo uma escolha... e
escolhendo ele?

Seus olhos se arregalam e seus lábios se franzem. — Isso


significa que podemos viver juntos? O tempo todo?

Eu rio e estendo a mão para bagunçar o seu cabelo. — Bem,


era sobre isso que eu precisava falar com você. Veja bem, você é o
homem da casa há sete anos. Preciso perguntar se você acha que
estaria tudo bem se eu compartilhasse essas tarefas com você.

— Sério? — Seu nariz fofo se enruga e seu peito estufa.

— Sério. Eu amo muito a sua mãe. Eu a amo há muito tempo.


E...

— Você acha que poderia me amar também? — Seu lábio


inferior treme e o meu coração quase se despedaça.

— O que eu ia dizer, Jagg, é que eu já te amo também.

Um sorriso hesitante se espalha e ele pisca para conter as


lágrimas. Ele sussurra: — Eu já te amo também, mas me senti
bobo em dizer isso.

Eu o puxo contra mim e apenas seguro. Suas mãozinhas


pressionam minhas costas e o seu hálito quente atinge o meu
peito. — Nunca se sinta bobo dizendo a alguém que você o ama. —
Eu pressiono um beijo no topo da sua cabeça.

Meu pai já fez isso comigo? Ele já me disse que me amava?

Não importa, Vin.

Isso é o que importa. Jagg é o que importa. Fazer certo desta


vez é o que importa.

— O que você diz?

Ele olha para mim com olhos idênticos aos meus. — Você teria
que se casar com ela, você sabe.

Eu jogo minha cabeça para trás e rio. — Esse é o plano, amigo.


Esse é definitivamente o plano.

— Jagger? Você está bem? Ouvi...

Bristol para no corredor quando me vê parado ali. Seu cabelo


está preso no topo da sua cabeça. Seu rosto tem o menor indício
de maquiagem. Sua pele está dourada do sol.

Ela é a coisa mais bonita que eu já vi.

E então ela vem correndo em minha direção, pula em meus


braços e envolve as pernas em volta de mim. Cambaleio para trás
com a força do seu impulso, meu grunhido faz Jagger rir, mas é
bem-vindo a cada centímetro dela se agarrando a mim como se ela
pensasse que nunca mais me veria.

Para um homem que gosta de passear, finalmente encontrei a


única coisa que me faz querer ficar parado. Para estabelecer.
— Você está aqui — ela diz, com o rosto aninhado contra a
curva do meu pescoço, seus lábios se movendo contra a minha
pele enquanto ela fala. — Você voltou para nós.

Minha mão está em seu cabelo enquanto respiro tudo sobre


ela. Este é o menor tempo que já estivemos separados e ainda
assim parece que foi para sempre.

— Eu disse a você que voltaria. — Ela abaixa as pernas e


minhas mãos estão em seu rosto, afastando as mechas soltas do
seu cabelo. Passo os meus lábios contra os dela, o soluço em sua
garganta faz o meu peito inchar.

Se Jagger não estivesse sentado aqui nos observando, tenho


certeza que o beijo se transformaria em nós tirando nossas roupas
e fodendo freneticamente no balcão da cozinha.

— Eu sei que você fez, mas... — Ela dá de ombros timidamente


e pisca para conter as lágrimas.

— Mamãe, você não deveria chorar quando está feliz.

— Eu sei, filho. Eu sei.

— Ele ainda nem te contou a parte boa — Jagger diz.

— Que parte boa? — Bristol olha para mim.

Eu rio e balanço minha cabeça para Jagger. — Você está


roubando meu trovão aqui, Jagg.

Ele dá de ombros. — Então diga a ela.

— Vince? — Bristol pergunta.

— Então eu fiz uma coisa enquanto estava fora, Shug.

— Que tipo de coisa? — Seus olhos se estreitam.


— Comprei uma casa para nós em Los Angeles.

Bristol pisca rapidamente enquanto tenta entender o que


acabei de dizer. — O que você quer dizer que comprou uma casa?

— Exatamente o que parece. Seis quartos. Quatro banheiros.


Um grande quintal com uma piscina incrível e uma bela vista para
a cidade. Um quarto independente para quando um dos seus pais
quiser ficar. Uma casa. Algo para nós começarmos de novo.

— Isso soa como um palácio, não uma casa. — O riso borbulha


em sua garganta enquanto Jagger puxa uma respiração.

— Você me disse que sempre acendemos o fósforo, mas depois


ele queima. Acho que uma casa é feita de madeira. A madeira é
considerada graveto. Então, desta vez, quando acendermos o
fósforo, teremos o suficiente para mantê-lo aceso por toda a vida.

— Você está falando sério?

— Estou falando sério. — Eu passo minhas mãos em seu corpo


e enlaço os meus dedos com os dela. Ela olha para Jagger, que
está com as mãos sobre a boca em excitação.

— Amigo?

— Ele está pronto para a minha grandiosidade, mamãe.

Ela engasga com outro soluço e olha para mim. — Essa é a


melhor maneira que eu poderia dizer a você que isso é real — eu
murmuro e passo os meus lábios nos dela novamente, deleitando-
me com sua suavidade. No momento como um todo.

— Tem certeza? — Ela pergunta com cautela.


— Nunca tive tanta certeza de nada. Eu deixei você ir embora
muitas vezes na minha vida. Você me deixou ir também, e por boas
razões. Mas não desta vez. Nunca mais.

— Você está criando raízes — ela sussurra.

Eu concordo. — A única pessoa com quem eu sempre quis


estabelecer é com você. Estar com Jagger. Você está pronta para
riscar aquele fósforo comigo?

— Nunca quis mais nada.


Vince
Um ano depois.
Jagger atravessa a sala.

— Tudo bem. Tente novamente — Gizmo insiste enquanto


estabiliza o prato vibrante que Jagg acabou de bater, o que
estragou a batida que ele estava aprendendo. — Dirija o pulso
desta vez.

Jagger respira fundo e tenta novamente. Ele cria um groove na


bateria. É de natureza juvenil, mas muito bom para uma criança
de oito anos que está apenas aprendendo.

— Isso é perfeito pra caralho — Gizmo diz e torce o nariz. —


Desculpe. Sua mãe vai bater na minha bunda por isso.

Jagg ri novamente, mas depois estufa o peito, tentando ser


legal. Mais velho. Ele adora estar nos bastidores conosco.

— Tudo bem. Estou acostumado com isso. Meu pai diz isso o
tempo todo.

Pai.

A maldita palavra ainda aperta o meu coração como um torno


toda vez que ele a diz, mas da melhor maneira.
Eu pego o seu olhar. Ele sorri e ergue as baquetas que parecem
tão grandes em suas mãozinhas.

— Parece que você vai ter que comprar uma bateria — Hawke
diz e olha na direção de Jagger. — É melhor tomarmos cuidado ou
ele virá atrás de todos os nossos trabalhos.

— Não brinca — eu digo e tomo um gole da minha cerveja.

Dizer que tivemos que fazer um ajuste em nossas travessuras


passadas nos bastidores é um eufemismo.

Ainda há bebida e festas? Sim. As mulheres ainda são levadas


para Rocket e Gizmo? Definitivamente.

Só um pouco mais às escondidas hoje em dia.

Mas estou bem com tudo isso porque foda-se se algum dia vou
me acostumar a olhar para cima e ver os meus colegas de banda,
os meus irmãos, saindo com o meu filho e tratando-o como se fosse
um deles.

Você falhou, velho. Você pensou que um filho iria me quebrar.


Errado. Ele me fez mais homem, um homem melhor, do que eu
jamais poderia ter imaginado.

Hawkin me cutuca.

— O que?

Ele ergue o queixo em direção à porta. — Olha quem fez isso,


afinal.

Ainda dou uma olhada cada vez que ela entra na sala. É
impossível não pensar quando você passa anos dizendo a si mesmo
que não pode ter alguém, e depois faz com que tenha uma vida
inteira para passar com essa pessoa.

E sim, a proposta está chegando. Ela sabe disso. Eu sei disso.


Mas não há pressa porque estamos juntos para sempre? Isso não
é uma pergunta. O que é, porém, é como propor? Como faço para
tornar esse momento tão especial para ela?

Eu estraguei tudo no ano passado? Escorreguei um pouco ao


se preocupar com quem eu sou? Sim. Não tenho orgulho disso,
mas leva mais de um ano para desfazer uma vida inteira de abuso.

Mas Bristol sempre me esperou. Ela entendia sobre isso. Ela


segurou minha mão, ou me serviu uma bebida, e não deixou de
me amar. Muitas vezes me lembrando que o meu diferente é o meu
lindo.

Assim como o dela é.

Ela cumprimenta Jagger onde ele está sentado na bateria, ele


diz que ela não pode abraçá-lo perto dos caras, e então olha para
cima e encontra os meus olhos.

Esse olhar ainda dá um soco infernal.

Levanto-me do meu assento e caminho até ela.

— Oi, olha — Rocket diz quando ele entra na sala. — Crystal


está aqui.

Bristol apenas olha de soslaio para ele e balança a cabeça com


essa piada corrente e então diz: — Muito engraçado, Rock. Muito
engraçado.

— Crystal. Crystal — Jagger gorjeia, sem ter ideia do


significado por trás do termo.
— Oi, você — eu digo, enganchando os meus dedos em seu
cinto e puxando-a contra mim para que eu possa roçar os meus
lábios nos dela.

— Oi. — Ela tira o meu cabelo da minha testa, seu sorriso


guardando algum tipo de segredo.

— Você está bem-vestida. Você parece incrível. E você tem


aquele olhar em seus olhos. O que está acontecendo, Shug?

— Estamos comemorando.

— Comemorando o que? — Eu pergunto, antes de roçar outro


beijo em seus lábios e depois sussurrar em seu ouvido. — Esse é
o tipo de comemoração que faz o Tio Gizmo olhar Jagg enquanto
vamos 'comemorar' sozinhos no camarim?

Ela ergue as sobrancelhas e passa um dedo pelo meu peito. —


Este é o tipo de celebração Bristol acabou de ser aceita na
faculdade de direito.

— Sem chance. — Todos os meus pensamentos desaparecem


quando suas palavras me atingem.

Ela acena com a cabeça freneticamente com um sorriso que


poderia iluminar todo o maldito estado. — É sério. Acabei de
descobrir. Estou atordoada. Chocada. Quero dizer...

— Você conseguiu isso. — Eu a pego, envolvo os meus braços


em volta dela e a giro. Ela desliza de volta para baixo e encontra
sua boca com a minha. — Você realmente conseguiu isso. Estou
tão orgulhoso de você.

Todos esses anos sozinha. Sendo mãe solteira. Trabalhando e


indo para a escola. Sacrificando o seu sono e sua sanidade para
dar tudo a Jagger enquanto ainda tentava perseguir os seus
sonhos. Encontrando coragem para dizer não a McMann, e
obrigado quando ele lhe ofereceu o emprego de volta.

Todos eles apenas sentiram por ela.

— Sonhos se tornando realidade — eu digo.

Ela estende a mão e segura a minha bochecha. — Eles


realmente estão.
Bristol
Mais tarde naquela noite.
— Então, hoje à noite vamos fazer algo um pouco diferente no
show — Hawkin diz enquanto se move pelo palco, tirando a minha
atenção do meu telefone. Que travessura ele está aprontando esta
noite?

Conheço a performance de cor. Lista de músicas do Bent. As


piadas que eles contam. Os olhares que eles dão quando um deles
faz merda. A brincadeira deles repetem como uma esquete
ensaiada.

Não é que eu esteja entediada com isso, mas vamos apenas


dizer que não me prendo a cada nota como fiz nos primeiros vinte
e poucos shows desta turnê.

Então, quando Hawkin quebra a rotina, isso definitivamente


chama a minha atenção.

Olho para a porta onde o assistente pessoal de Vince levou


Jagger para ir ao banheiro. Se houver algo diferente esta noite,
quero que ele veja.

— Veja, dois anos atrás, como qualquer família, nós... —


Hawkin aponta para Vince, Rocket e Gizmo — precisávamos de
uma pequena pausa um do outro. — Vaias enchem a plateia. —
Eu sei, eu sei. Eu me senti da mesma forma. — Ele levanta o dedo.
— Mas algo muito bom saiu dessa pausa. Meu irmão aqui. — Ele
se aproxima e passa o braço pelos ombros de Vince. — Teve um
single que ficou muito popular, e quero que ele cante para vocês
hoje à noite.

O que? Esta é definitivamente uma mudança.

— Sério? — Vince pergunta, brincando.

— Sério. — Hawkin vai até um ajudante de palco que está


esperando e pega o violão de Vince. Ele o estende para Vince e
troca o seu baixo com ele. — Veja, é uma música boa. Ótima pra
caralho, na verdade. Estou com um pouco de inveja por não ter
escrito sozinho. — Ele ri. — Então, você vai tocar para nós?

A multidão fica tão louca que tenho que tapar os ouvidos.

— Ok. Ok — Vince diz. — Vou tocar, mas vou precisar de


ajuda.

— O que, não somos o suficiente? — Rocket pergunta,


apoiando o cotovelo no ombro de Hawkin.

— Vocês são o suficiente, tudo bem — Vince brinca — mas


alguém que eu conheço tem trabalhado muito para aprender essa
música e quer me ajudar a tocá-la hoje à noite.

Minha cabeça não consegue processar o que o meu coração já


sabe, segundos antes de Jagger subir no palco com o seu violão na
mão. Aquele que combina com o de Vince. Eu suspiro e coloco a
mão no meu coração, as lágrimas já se formando antes mesmo de
fazerem qualquer coisa.
Jagger alcança Vince e olha para ele com um sorriso enorme.
— Você quer dizer oi para todos, Jenzo?

Ele abaixa o microfone e Jagger acena para a multidão, sua


voz estridente saindo dos alto-falantes quando ele diz: — Oi,
pessoal.

A multidão diz oi de volta enquanto flashes iluminam a


escuridão.

Cada um dos caras passa por Jagger e bagunça o seu cabelo


enquanto ele se posiciona ao lado de Vince. Meu coração bate forte
no meu peito e cada célula maternal do meu corpo está
sobrecarregada ao ver os dois juntos assim.

— Então, eu escrevi essa música há pouco tempo — Vince diz


assumindo o centro do palco. — Foi para a única mulher que já
amei. Uma mulher que nunca desistiu de mim ou dos seus sonhos.
Uma mulher cujo diferente é a sua beleza. — Ele ajusta o
microfone e olha para a cabine de imprensa onde sabe que estou.
— Jagg e eu adicionamos um verso extra a ela esta noite. Espero
que vocês gostem. — Mais gritos. — Você está pronto, amigo?

— Sim. Pronto para o rock — Jagger diz e arranca risadas da


multidão. Meu coração está na minha garganta enquanto eu os
observo.

Os acordes familiares de Sweet Regret enchem a arena. As


câmeras das telas grandes dão zoom em Jagger. Na ruga da sua
testa. A mordida dos seus dentes em seu lábio inferior em
concentração. À forma como se posiciona no violão.
E quando a câmera diminui o zoom, meus dois amores estão
lado a lado, quase idênticos em tudo, menos na altura. Eu não
poderia estar mais apaixonada por eles do que já estou.

Vince começa a cantar. Ele me puxa para baixo com sua voz
sexy e as letras que eu sei de cor. Com aquelas que me
convenceram, e tivemos que dizer adeus. Com aquelas que me
fizeram amá-lo ainda mais.

E quando ele termina o refrão pela terceira vez depois da


ponte, ele olha direto para a câmera e canta para mim.

Tempo perdido. Tempo separados.

Mas encontramos nosso caminho, novas vidas para começar.

Corações curados. Nossas almas consoladas.

Você e eu, querida, vamos envelhecer.

Eu olho para ele. Eu olho para você.

O amor que temos continua brilhando.

Eu perdoei.

Você esqueceu.

Perder o tempo com você, o meu único e verdadeiro


arrependimento.

Eu fico olhando para a tela, impressionada com o talento de


Jagger e o amor que sinto pelo homem ao lado dele.
Nunca pensei que poderia ser tão feliz. Tão contente.
Realizada. Tão amada.

Deus, eu os amo.

Eles se curvam e a multidão grita. Vince puxa Jagger em seus


braços e o segura com força. É um momento que vou guardar com
carinho para o resto da minha vida.

Tantas escolhas nos trouxeram até onde estamos hoje. Uma


despedida comovente na janela de um quarto, um ingresso para
um show e um número de telefone de um homem amargo e uma
colega me pedindo para substituí-la em uma noite fatídica.

Mas talvez a escolha mais significativa de todas tenha sido


seguir os nossos corações.

Essa decisão nos levou de volta um ao outro.

Para este momento.

Para um amor que sempre soube que existia, mas nunca


pensei que poderia ter.

Fim...

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