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LEVE
Laboratório de
leveza
E-BOOK
Transcrição do Laboratório
“
Sou Roberta Ferec, escritora, empreendedora, mãe de três crian-
ças e fã incondicional de uma vida mais leve. Este laboratório foi
escrito com muito carinho, muito empenho, muito estudo, mui-
ta reflexão sobre as nossas próprias vivências, é um livro que eu
gostaria de ter lido três filhos atrás. Não porque eu ache que a minha mater-
nidade teria sido mais perfeita, que eu teria feito as coisas de uma maneira
melhor. Não, longe disso! Eu acho que fiz tudo relativamente bem porque o
intuito nunca foi perfeição. Mas acredito, de verdade, que poderia ter sido
mais leve. Acho que trouxe para minha vida, para a vida da família, pesos que
não precisavam estar ali. Hoje eu consigo enxergar. E é por isso que estou
muito feliz com essa oportunidade de poder lhe ajudar a fazer essa reflexão.
”
“
Meu nome é Rafaela Carvalho, sou co-fundadora do Portal Intei-
ras junto com a Roberta. Também sou fundadora da Editora Ma-
trescência e tenho sete livros publicados. Mas mais importante
que tudo isso, sou mãe de quatro filhos: Cae de 17 anos, Dom de
6, Zara de 5 e Ravi de 3. Assim como a Roberta, eu adoraria ter tido acesso
a esse tipo de conteúdo lá atrás, quando passei por diversos turbulências na
vida: filho recém-nascido, lutos, divórcio, mudança de país… E embora todos
esses momentos tenham sido realmente difíceis, a jornada poderia ter sido
um pouco mais leve, menos excruciante. Hoje, sinto gratidão pela oportuni-
dade de produzir esse material e compartilha-lo com outras mulheres. E para
você, leitora, deixo o meu abraço apertado e os parabéns pela sua disposição
e empenho para aprender mais sobre leveza. Saiba que este conteúdo foi
feito com muita dedicação e amor.
”
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ÍNDICE
• Objetivo | Página 5
• Pesos | Página 7
• Para pesos que não estão sob nosso controle: uma mudança
de olhar | Página 116
O QUE É LEVEZA
“
Ser leve não é padecer de otimismo crônico. Não é ser alienada,
fada sensata, diva zen.
”
R O B E R TA F E R E C
OS PESOS
* https://news.stanford.edu/pr/2013/pr-veterans-breathing-study-052213.html
Gatilhos
1. Choro
2. Remoendo pensamentos
Meditar uma vez por dia é uma ferramenta eficaz para redu-
3. Expectativa de gratidão
Dividindo experiências
Dividindo experiências
Nós estávamos há anos sem vir ao Brasil, sem ver minha mãe.
Então, eu criei a expectativa de que quando as crianças chegassem
ao Brasil eles vissem a praia de água transparente, reencontrassem
a avó e, entusiasmados, agradecessem. Criei a expectativa de que
uma viagem como essa, fosse capaz de evitar brigas entre eles. Nós
temos muito medo que nossos filhos sejam crianças que não sejam
gratas pelo momento. Mas a cabeça deles não pensa nisso ainda,
então a nossa expectativa acaba servindo como gatilho.
Esta é uma dica que pode parecer óbvia, mas muitas vezes não
é. Tenha regras em casa.
Dividindo experiências
Quem tem mais de um filho em casa, sabe que briga entre ir-
mãos é algo corriqueiro. É normal, é esperado e é saudável que ir-
mãos briguem, por tudo e qualquer coisa: porque um está olhando
para o outro, por causa da peça de lego, por causa do número de
cubos de gelo dentro do copo d’água, por causa da cor do prato. As
brigas acontecem em casa, no carro, na rua, na chuva, na fazenda,
você estando de férias no Havaí ou em Santa Catarina porque é o
que irmãos fazem. Irmãos brincam, faz parte do pacote.
Para lidar com a briga entre irmãos, não queira mediar as rela-
ções o tempo todo. É importante que eles construam relações
genuínas, que aprendam a encontrar soluções para seus con-
flitos. Nosso papel não deve ser de mediador, de juízes em todas
as ocasiões. Pergunte às crianças quais sugestões elas têm para
resolver uma disputa. Incentive o diálogo, a busca conjunta por so-
luções, sem que você se coloque na posição de juíza. Isso também
ajuda a parar com os gritos. Assumir a posição de mediadora, sem
acompanhar o conflito desde o início, pode acabar gerando injusti-
ças com um ou outro, sem querer. É importante que eles encontrem
os próprios caminhos para a resolução das brigas. E a intromissão
pode gerar nervosismo e permitir que o grito escape.
A criança teve uma atitude que não agradou e que já teve outras
vezes, e com isso você sentiu vontade de gritar? Primeiro, explique
porque o comportamento é errado, mas não remoa a emoção para
não apertar o botão vermelho novamente. Por exemplo, ao dizer
“você não pode bater no seu irmão”, tente não emendar “toda vez
é a mesma coisa, vocês não podem brincar juntos que vem briga,
é sempre assim!” Ao fazer isso, você entra em um redemoinho de
remoer a reviver sentimentos.
Dividindo experiências
Dividindo experiências
Neste grupo tinha um pai com seu filho que na mesma hora
falou, na frente de todo mundo,: “Fulaninho, você que não repita
porque na nossa casa, isso é inadmissível, eu lavo a sua boca com
sabão”. Naquele momento, eu me senti pressionada a ser mais dura
com meu filho, depois de ouvir “na nossa casa isso é inadmissível”.
Eu fiquei um pouco confusa, eu não consegui agir.
Portanto não materne para a plateia, seja mãe dos seus filhos.
Não ceda a essa pressão, aos comentários alheios. Não há nada de
errado em pensar “que bom, na sua casa você lava a boca do seu
filho com sabão, na minha casa, com meu filho, eu vou conversar
com ele depois”. Não queira provar para os outros que você é uma
boa mãe, se descontrolando para mostrar que tem o controle.
Uma boa dica é pensar qual seria sua reação, o que você fa-
ria se ninguém estivesse olhando. No modo automático de viver,
nós costumamos não perceber que gritamos com a criança porque
queremos impressionar alguém. Havendo consciência de que essa
questão existe, fica mais fácil evitar este comportamento.
Por exemplo, se você sabe que pela manhã, enquanto tenta pre-
parar o café da manhã, acontece uma guerra para escolher a roupa
dos seus filhos, busque estratégias para facilitar sua vida e evitar o
multitasking. Temos o costume de viver no piloto automático, nós
sabemos que temos um problema - toda manhã é estressante, por
exemplo - mas não fazemos nada para mudar. Acabamos sendo en-
A lista do sim
No dia seguinte, ele sai para resolver algo de manhã cedo, acon-
tece um imprevisto e ele chega em casa às 11h. Toda aquela progra-
mação que você havia feito, foi por água abaixo. Você pensa que
já não vai dar para parar no posto, vai atrasar a soneca, etc. E sua
frustração sai em forma de gritos e acusações: “você não é parcei-
ro, não se importa com nada…”
Dividindo experiências
A relação que um filho vai ter com a mãe e com o pai não vai
ser a mesma porque somos seres humanos diferentes. Não existe
relacionamento igual, amizade igual, amor igual. Devemos aprender
a deixar que nossos parceiros(as) tenham uma relação diferente da
nossa, com nossos filhos. É essa diferença entre as relações, que
fará com que eles fiquem confortáveis para discutir determinadas
questões com um ou com outro. E isso é ótimo.
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Quanto menos chance damos a esse outro lado de se conectar
com a criança, mais superficial fica essa conexão e menos parceria
vai existir porque o outro vai apenas seguir o script que você deu.
E, na ausência desse roteiro, o outro não vai saber como agir. Você
pode pensar, “ah, mas meu parceiro não sabe os detalhes do pedia-
tra”. Deixe-o levar a criança no pediatra para saber como é o acom-
panhamento, qual o antibiótico tem que tomar, livre-se da vontade
de controlar tudo. Foi assim que você aprendeu, levando ao pedia-
tra, ele também pode aprender. Nós sabotamos o relacionamento
alheio, inconscientemente, o que acarreta em sobrecarga, falta de
comunicação.
Pode ser que a sua linguagem do amor seja outra, como, por
exemplo, querer que o outro faça algo por você - tipo sair com as
crianças de casa, para que você tenha um dia livre. Quando nós ver-
balizamos nossas necessidades para os nossos parceiros(as),
eles conseguem reconhecer nosso esforço. E isso tira um peso
enorme dos nossos ombros, que é a necessidade de reconhecimento.
Nós viemos de uma geração que acredita que ser mãe é sinô-
nimo de martírio, de achar que para ser uma boa mãe é preciso
abdicar de tudo na vida. Se esse conceito está enraizado dentro de
você, pode ser que assuma todas as responsabilidades da casa para
provar a você mesma que é uma boa mãe, uma boa esposa, uma
boa dona de casa.
“
Vivemos como se a mãe que mais abdicasse e mais
desaparecesse fosse a que mais ama. Fomos condicionadas a
provar o nosso amor deixando lentamente de existir. Que peso
terrível para os filhos. Porque se mostramos a eles que ser uma
mártir é a forma mais elevada de amor, é assim que eles irão
amar um dia. Quando chamamos amor de martírio, ensinamos
aos nossos filhos que quando o amor começa, a vida termina.
”
É por isso que Jung disse: ‘não existe um fardo maior para
uma criança do que a vida não vivida de seus pais’. Mas e se o
amor não for o processo de desaparecer para as pessoas que ama-
mos, mas de emergir? E se a responsabilidade de uma mãe não
é a de mostrar a seus filhos como morrer lentamente, mas como
permanecer viva até o dia em que se morre? E se o chamado da
maternidade não é ser uma mártir, mas um modelo de como viver
a vida? E se nossos filhos só se permitirem se cuidar e serem felizes
tanto quanto eles nos veem nos permitir?
”
G L E N N O N D OY L E
Dividindo experiências
Por trás de tudo aquilo, havia uma busca por perfeição, havia
vontade de controlar o sentimento das crianças para que elas não
sofressem, havia vontade de compensá-las pelas coisas que eu não
tive. Cada uma precisa olhar a fundo e buscar o que está por trás da
necessidade de controle.
“
E por não caber mais no espaço que eu mesma havia re-
servado para mim, eu tive que me espalhar. É bonita a ideia
de engrandecer e se esparramar para outras esferas da vida,
sobretudo para quem vem se sentindo pela metade. O que nin-
guém te conta é que expandir, apesar de incrível, é também
um processo doloroso pacas. Mais do que isso: é um processo
de renúncia. Isso mesmo. Crescer é renunciar. Renunciar ao
“dar conta de tudo” (ai, que gastura que me dá essa expressão).
Renunciar à ilusão dos pratos todos sempre equilibrados e in-
tactos. Renunciar a esse lugar de ser sempre a pessoa favorita,
a onipresente, a multitarefas, o alecrim dourado da centraliza-
ção de-todos-os-poderes-da-terra-amém.
”
R O B E R TA F E R E C
Dividindo experiências
Foi o meu caso. Para quem não sabe, eu criei filho em tudo quan-
to é lugar do mundo. Eu mudava de país a cada dois anos e meio,
três, então, eu não tinha rede de apoio. Olhando para trás, eu vejo
que eu repetia isso com um certo orgulho bobo. Hoje eu penso que
teria sido possível construir a minha rede de apoio. O que me impe-
dia de fazê-lo? Eu. Tenho certeza que tem relação com meu excesso
de querer centralizar tudo.
Queria chamar para essa reflexão as pessoas que hoje não têm
rede de apoio. É importante refletir e queimar a capa de super-he-
roína porque vou contar um segredo: ninguém a espera com uma
medalha no fim da linha. Eu cheguei na linha da pré-adolescência
- meu filho mais velho está com 12 anos -, eu etiquetei a casa toda,
Muita gente não quer lidar com essa contrapartida ou quer evi-
tar de conversar com as pessoas da família, da rede de apoio, de
maneira franca. Se a situação com as pessoas da sua família não for
boa, existem alternativas. Pode ser que você tenha uma amiga com
filhos e que vocês combinem que um dia uma fica com os filhos da
outra, fazendo um revezamento. Amigos também são rede de apoio.
Quando falamos em rede de apoio, também não podemos deixar de
falar sobre ajuda paga.
Dividindo experiências
Mas essa é uma conta que não fecha porque nós somos seres
com necessidades. A tampa vai abrir e a nossa falta de autocuidado,
de bem-estar, de saúde, de parceria, de rede de apoio, inevitavel-
mente vai respingar em quem está ao lado. É irreal imaginar que
com todos os problemas fervilhando internamente, a mulher vai
chegar no fim do dia agindo com paciência, carinhosamente, como
se nada estivesse acontecendo. Mesmo a panela de pressão pode
explodir. Precisamos parar de pensar que os pais são como panelas
que não transbordam. Nossa falta de autocuidado e bem-estar, faz
mal para nossa própria saúde, e respinga sim nos outros.
Dividindo experiências
Dividindo experiências
Dividindo experiências
Dividindo experiências
Dividindo experiências
Picuinhas
Eu tenho pra mim que o ‘segurar a mão’ não é apenas calmante, ele é também
remédio anti-picuinha. E como cabe picuinha na vida a dois, né não? VALEI-ME!
Picuinha pela lerdeza, picuinha quando ele sai pro mercado na pior hora possível.
Picuinha pela picuinha.
”
R O B E R TA F E R E C
(trecho retirado e adaptado do livro “Mãe perfeita não está mais se usando”)
Além dessas dicas todas, algo que pode ajudar a resolver picui-
nhas em um relacionamento é o humor. Algumas atitudes dos par-
ceiros e parceiras nos irritam e não deixarão de irritar, mas quan-
Dividindo experiências
Quem já leu meus livros sabe que eu faço a maior piada das
doenças do meu marido, porque quando ele pega uma gripe, acha
que está morrendo. E isso poderia ser um incômodo enorme, e in-
comoda, sim, mas colocando humor, fica muito mais fácil lidar com
esse tipo de picuinha. Ou seja, é importante lembrar que o humor
nos reconecta.
Termômetro Emocional
Dividindo experiências
Quando nós queremos fazer algo por nós, damos um jeito, nós
nos impomos, falamos para o outro que ele vai cuidar do bebê por-
que aquele é nosso momento. Exemplo disso é meu marido, que se
Naquela época, eu não sabia o que eu sei hoje, para iniciar uma
conversa. O que eu fazia era pegar meus cacos e tentar furar meu
marido porque eu não sabia conversar. A coisa mais incrível de co-
meçar a estudar sobre desenvolvimento pessoal, sobre leveza, sobre
melhorar é que a partir do momento que você traz uma informação
dessa para a consciência, o que acontece depois é muito mágico.
Existe ainda a mãe que querem que nós sejamos. Essa mãe
aparece especialmente nos lares onde dar pitaco e opiniões sobre
a maternidade alheia é algo normalizado. Você chega em um lugar
desse e as pessoas acham que é normal dar pitacos sobre a maneira
que está criando seu filho. Por uma falta de limite qualquer, uma fal-
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ta de comunicação mais assertiva, essa pessoa toma a liberdade, de
dizer o que pensa e encontrar diversos problemas no seu maternar.
Existem vários desafios que vêm com essas três outras mães
que encontramos na nossa maternidade.
A mãe idealizada
O respeito ao “não” não deve ser uma prisão. Você pede aju-
da para lavar a louça, organizar a casa e a criança diz que não quer.
Você pode aceitar a não participação se essa for a sua escolha. Mas
pode ser também que para você, na sua casa, colaborar nas tarefas
da casa seja um valor inegociável. A leveza é um efeito colateral de
estarmos em paz com as nossas escolhas.
Dividindo experiências
Mas pode ser que as pessoas sejam chatas e querem dar palpi-
tes sobre tudo, mesmo. Se for esse o caso, o que está faltando para
que sua vida seja mais leve é impor limites. Não existe outra manei-
ra de demonstrar para o mundo que é a nossa vida, as nossas esco-
lhas, os nossos filhos, a não ser através de limites. Respeitar o limite
dos outros é algo que necessita bom senso. E mesmo quando existe
permissão, é preciso entrar no território do outro com cuidado.
Não ser a mãe idealizada, a mãe que não tivemos e a mãe que os
outros querem que sejamos, é uma grande ajuda no caminho para
a leveza. É muito cansativo viver de acordo com as expectativas
dos outros. Desenvolva o seu próprio estilo de maternar, usando
sempre do bom senso, pesquisando metodologias e modos de criar
filhos que condizem com suas crenças e realidade, entendendo que
esse é um caminho que só você e sua família podem trilhar e per-
sonalizar.
Dividindo experiências
Hoje eu olho para trás e vejo que poderia ter agido de maneira
diferente a muitas situações. Um dia, no primeiro mês de vida do
Dom, fomos passear na beira da praia e minhas sogras foram junto.
Minha sogra sugeriu de colocar meia no pé do Dom, por causa da
brisa que é comum na beira-mar. Eu não concordava e percebi que
minha sogra ficou bastante incomodada. Hoje eu penso que não me
custava ter cedido a algo que não faria a menor diferença para o
bem-estar do meu filho e que não cedi por pura pirraça.
Muita gente diz que o “não” é uma resposta completa, que dis-
pensa explicações. Mas isso é algo que não condiz com o meu modo
de ser, de me comunicar com as pessoas. Eu aprendi, com o tempo,
que eu não precisava simplesmente dizer “não” e deixar por isso
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mesmo. Que eu podia falar “não” e dar uma explicação simples, e
às vezes bem humorada, do porquê eu fiz as escolhas que fiz.
Existe um ditado que diz “Nasce uma mãe, nasce uma culpa”
em que a palavra culpa carrega uma conotação ruim. E a culpa não
é sempre algo ruim. Você já experimentou ou imaginou viver com
uma pessoa que não sente culpa nenhuma? Imagine viver com al-
guém que trata os outros e age com grosseria, que não se importa
com nada e se sente ok com isso. A culpa regula nossas interações
sociais. Quando machucamos alguém, é a culpa que nos faz perce-
ber que agimos errado, que não é certo machucar as pessoas.
Como eu não posso mais ser para aquela criança, filho de uma
mãe imatura, a mãe que agora eu seria, eu posso ser para ele, hoje,
a mãe de adolescente que eu posso e quero ser, a minha melhor
versão.
Nasce uma mãe e não nasce uma culpa. Nasce, sim, uma pessoa
responsável que quer fazer o melhor possível. Uma mãe que, quan-
do erra, dá um zoom in e um zoom out, assume a responsabilidade
pelo próprio erro e faz algo para repará-lo. A culpa não deve ser
excessiva, mas também não deve ser demonizada.
Dividindo experiências
A Brené Brown, de quem já falamos por aqui, tem uma fala mui-
to importante que diz que precisamos aprender a distinguir culpa
de vergonha. A culpa, que é aquele alerta saudável se for na dose
certa, nos diz que cometemos um erro: “eu gritei com meu filho, eu
errei”. A vergonha nos faz pensar que: “eu sou uma péssima mãe
porque gritei com meu filho”. A culpa está relacionada à ação, ao
erro cometido. Já a vergonha coloca o foco no sujeito, é um vere-
dito para quem cometeu o erro. A vergonha nos paralisa, nos faz
acreditar que se somos desse jeito, nunca poderemos mudar. Com
isso em mente, é importante pensarmos na maneira com que fala-
mos com nossos filhos e com nós mesmas. Quando os tachamos de
preguiçosos, mentirosos, folgados, ou qualquer coisa ruim, estamos
jogando vergonha em cima deles. Precisamos trocar o adjetivo pela
ação: em vez de dizer “você é mentiroso”, dizer “você mentiu”.
Existem ainda outros fatores que não têm relação com nossos fi-
lhos, com a maternidade, que também não estão sob nosso controle.
Uma pandemia, por exemplo, ou algo mais simples como uma pes-
soa que resolveu nos ultrapassar de maneira arriscada no trânsito. É
muito pesado tentar controlar algo que não temos o poder de mudar.
É por isso que o Dr. Hanson diz que é possível exercitar a le-
veza e o otimismo, mesmo quando você tem uma tendência
para ser o oposto. Seu livro traz diversos exemplos de pessoas que
nasceram com a “amígdala triste” e conseguiram mudar colocando
em prática a leveza e o otimismo.
Dr. Martin diz também que o otimismo é algo que pode ser en-
sinado às crianças. E que o melhor momento para aprender a ser
otimista são os momentos de crise. As crianças observam e imitam
nosso comportamento. Ser otimista em momentos difíceis não sig-
nifica negar ou esconder as dificuldades das crianças, mas agir sa-
Dividindo experiências
Dividindo experiências
Aliás, colocar humor nos problemas do dia a dia foi muito im-
portante no período que moramos no motorhome. Porque afinal,
eu estava confinada com filhos e marido 24h por dia, no espaço de
um veículo, por sete meses. Quando o caos acontecia, ficava todo
mundo emburrado. Mas, quando alguém - geralmente eu ou o João,
os mais maduros - começava a cantar uma música inventada ou en-
graçada ou fazia alguma palhaçada, o bom humor, o riso contagiava
a todos, mudava o clima geral. Basta um pequeno esforço, escolher
ser a pessoa que traz o humor nas situações difíceis. Não precisa
ser algo grandioso, uma palavra engraçada já é capaz de trazer os
outros para o lado do bom humor.
Dividindo experiências
Por que não é sempre assim? - pensei comigo. Seria tão mais
fácil. Eu conseguiria ser uma mãe calma, sorrir mais vezes, levar
numa boa, conseguiria ser mais… feliz. Mal concluí o pensamen-
to e já fui atropelada por outro. Como irei viver os próximos anos
desse jeito? Estressada, gritando, reclamando, lutando com unhas,
dentes e sanidade, por uma calmaria constante que, obviamente,
não irá existir.
Eu queria ser uma mãe leve, mas para isso eu desejava mudan-
ças na casa, na rotina, no marido, na lista de mercado, na decora-
ção, se duvidar até no Rob, nosso vizinho, mas não em mim. E claro,
neles, nos meus filhos. As crianças precisariam mudar para que eu
conseguisse essa leveza. Não tinha como ser leve com crianças me
chamando, o tempo todo, pela casa. Foi quando percebi que alguma
coisa não se encaixava nesse quebra-cabeça. Foi um daqueles mo-
mentos da vida em que os pensamentos clareiam e os horizontes se
abrem.
”
R A FA E L A C A R V A L H O
(trecho retirado e adaptado do livro “É Fase”)