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Título Original: Baby Project

Copyright © 2018 por Stacey Lewis


Copyright da tradução © 2020 por Editora Bookmarks.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos
editores.

Tradução: Andréia Barboza


Copidesque: Luizyana Poletto
Capa: Stacey Lewis
Projeto Gráfico de miolo e adaptação de capa: Luizyana Poletto

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Direitos de edição em língua portuguesa, para o Brasil, adquiridos por

Editora Bookmarks.
Caixa Postal: 1037 CEP: 13500-972
contato@editorabookmarks.com
www.editorabookmarks.com
Índice
Sinopse
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Epílogo
Sinopse
Quando o pai de Reed Winston exige que ele tenha um bebê para assumir
o controle da empresa da família ou a venderia para um estranho, ele não vê
outra alternativa a não ser encontrar uma mulher para ajudá-lo.
Fallon, a sua melhor amiga, se oferece para ajudar nesse projeto e Reed
decide aceitar... e dar vazão ao desejo que sente por ela.
O plano era simples e só havia duas regras:
Número um: não se apaixone
Número dois: consulte a regra um quando necessário
Só há um problema... ele não imaginava que seguir as regras seria tão
difícil...
Um

FALLON
Conheço Reed a vida toda. Na segunda série, ele me defendeu quando um
valentão me empurrou no parquinho e disse que eu era feia. E então, quando
eu era caloura no ensino médio, ele me protegeu de um cara que ficou muito
atrevido em uma festa. Ele me viu chorar, enxugou minhas lágrimas e jurou
ser meu melhor amigo para sempre.
O que ele não sabia é que a última coisa que eu queria era ser sua amiga.
Amiga.
A palavra em si faz meu peito doer e enquanto tento afastar o pensamento
doloroso e verifico as horas no computador. Ainda não é nem meio-dia. É
deprimente que eu esteja pronta para ir para casa. Tudo o que quero é voltar
para o meu apartamento e ler um livro... talvez até beber uma garrafa inteira
de vinho.
E não é só porque o Reed não me enxerga como eu gostaria. A semana
inteira foi uma merda. Na verdade, o ano inteiro foi assim. Tenho vinte e
cinco anos, sou apaixonada pelo meu melhor amigo e estou desesperada para
começar minha própria família. Para não mencionar o fato de que estou presa
a um trabalho que detesto porque é a única forma de estar perto dele. O pior
de tudo é que não sinto nada parecido por alguém como o que sinto pelo
Reed, que é completamente alheio a isso.
Não consigo me impedir de achar que todo cara com quem namoro é
idiota, egocêntrico ou babaca e só se importa com sua aparência ou dinheiro.
Nenhum deles é como o Reed.
Mordisco o lábio inferior e tento nos imaginar como um casal, mas é
impossível.
Gostaria que ele me desejasse da mesma forma que o desejo.
Anseio por seus beijos, exatamente como acontece em minhas fantasias.
Quero que ele faça coisas inimagináveis comigo, do tipo que sei que ele
faz com outras garotas.
Sonho em ser a garota certa para ele, mesmo sabendo que não é possível.
Ouço o som de notificação de e-mail recebido, então me afasto do
devaneio e volto à realidade. Abro a mensagem e fico encarando a tela,
confusa. Foi Clark, o pai do Reed, quem a enviou. Ele está convocando todos
os executivos para uma reunião. Só não entendo por que eu estou sendo
chamada. Sou só uma secretária.
Pensar em Clark me faz sorrir. O pai de Reed é um homem mais velho e
muito gentil. Por ser muito amigo do meu pai antes do acidente que matou ele
e minha mãe, Clark me acolheu e me tratou como a filha que ele e a esposa
não tiveram.
Seus três filhos, Reed, Remington e Ryker são meus melhores amigos.
Reed é o mais velho e tem grandes planos para a empresa do pai. Há três
anos, quando comecei a procurar emprego para que pudesse terminar de
pagar a faculdade, ele me contratou como assistente pessoal. Meus pais não
tinham seguro de vida ou reservas financeiras, por isso Clark insistiu em
pagas as mensalidades, mas não aceitei. Queria fazer isso por conta própria,
sem ficar devendo nada a ninguém.
Ryker é o típico filho do meio, sempre fazendo o possível para chamar
atenção. Ele é um palhaço e me faz rir o tempo todo.
O mais novo é o Remy. Também é o mais fofo. É ele que me empresta o
ombro para eu chorar quando Reed faz algo estúpido ou impensado e que me
magoa.
Todos sempre estiveram ao meu lado e acho que nunca vou conseguir
retribuir tudo o que eles fizeram por mim. Não que fossem permitir.
Mas com Reed é diferente. Ele não percebe o quanto eu gostaria de ser
tudo o que ele precisa. Ou talvez note, mas tenha medo de cruzar essa linha
tênue da amizade.
Não quero pensar nisso agora, então fecho o e-mail e me forço a esquecer
o assunto por enquanto. Com um suspiro, volto a trabalhar nas planilhas que
preciso analisar. Os números parecem intermináveis e quanto mais olho para
a tela do computador, mais minha cabeça dói. Matemática não é o meu forte.
— Bom dia, Fal. — Sinto a vibração profunda da voz de Reed em todo o
meu corpo e afasto o olhar da tela para encontrar o dele. Seus olhos azuis
estão mais brilhantes do que o habitual. Quando me observa com mais
atenção, sua expressão parece ficar preocupada.
— Bom dia — murmuro de volta com um grunhido. Reed é bonito pra
caramba e sabe disso. Ele é alto, magro, porém atlético, e seu rosto parece ter
sido esculpido em pedra. É um gostosão e passo muito tempo me
perguntando se ele ainda tem o abdômen tanquinho como no ensino médio.
Ele abre um meio sorriso, o que o faz parecer mais infantil que viril, e
meu coração acelera. Olhar para ele e saber que nunca poderei tê-lo dói... e
muito.
— Tudo certo?
— Sim — respondo dando de ombros e esperando que ele deixe isso pra
lá. — Só estou com enxaqueca. — As palavras mal saem dos meus lábios e
ele coloca suas coisas na mesa, dá a volta e para atrás da minha cadeira. Suas
mãos enormes me seguram pelos ombros, e ele começa a massagear
lentamente meus músculos tensos.
— Onde estão seus óculos? — Reed se inclina e sussurra em meu ouvido.
Seu perfume amadeirado enche minhas narinas enquanto a respiração na
minha orelha me deixa toda arrepiada.
— Eu os deixei... — murmuro e perco a linha de raciocínio à medida que
seus dedos transformam meus músculos em geleca. Em momentos assim,
minhas fantasias sobre como seria ficar com ele aparecem em maior
quantidade.
Ele termina a frase que deixei no ar com um tom de voz divertido.
— Em casa, certo?
— Sim, ao lado do livro que eu estava lendo. — Ele me conhece bem.
Sou esquecida e odeio usar óculos.
— Traga-os amanhã ou então... — Há uma nota de ameaça em sua voz
que me faz com que eu me contorça na cadeira.
Não consigo me impedir de mergulhar nas minhas fantasias. Afinal, suas
palavras abrem espaço para muitas possibilidades. Quero perguntar se ele vai
bater no meu traseiro, mas não sou tão corajosa, então só murmuro:
— Ou então?
Parando de massagear meus músculos, ele segura meus braços com
firmeza e pressiona os lábios na pele sensível abaixo da minha orelha.
— Ou então você vai ter dor de cabeça de novo.
Pisco, percebendo que ele está brincando comigo e que não está prestes a
ameaçar me dar uma palmada... ou dar uns amassos em cima da mesa, como
eu gostaria que ele fizesse.
Limpo a garganta, tentando encobrir a decepção com um sorrisinho e
concordo.
— Certo... sim, outra dor de cabeça.
— Imagino que você tenha recebido o e-mail do meu pai. — A mudança
de assunto inesperada me deixa tonta. Ele faz uma pausa enquanto pega as
coisas da mesa, mas não espera minha resposta antes de dar instruções. —
Vou precisar de você na sala de reuniões em trinta minutos para fazer
anotações. — Olhando para o telefone, ele continua: — Preciso falar com ele
antes. — Ele se sobressalta e me olha como se tivesse acabado de se lembrar
de algo. — Ah, e depois disso vou embora, então, por favor, cancele todas as
minhas reuniões do dia. Se alguém perguntar, diga que fui visitar um cliente.
Ninguém precisa saber dos detalhes.
Engulo em seco, pigarreio e recupero o controle da voz agora que suas
mãos não estão mais em mim.
— Claro, Reed. Vou avisar a todos.
Ele se vira para entrar na sala e sinto a tristeza apertar meu peito enquanto
aquela bunda perfeita me chama. Meu Deus, por que ele tem que ser tão
bonito e ao mesmo tempo estar tão fora do meu alcance?
Balanço a cabeça. Faço uma nota mental de tudo o que ele disse e tento
focar na porcaria da planilha.
Se apaixonar pelo melhor amigo não deveria ser tão difícil.
Dois

REED
Meu pau fica duro no momento em que coloco as mãos nela. Sei que não
deveria tê-la tocado. Deveria ter me afastado em vez de fazer uma piada sem
graça, na esperança de que ela retribuísse meu flerte. Saber que ela está com
enxaqueca e não posso fazer nada para ajudá-la a melhorar me aborrece. O
fato de ela não ser minha namorada e não ser meu papel cuidar dela, me
aborrece ainda mais.
Passei anos ansiando por essa mulher, me perguntando se Fallon me
deseja da mesma forma que eu. Caramba, até arranjei um emprego aqui para
mantê-la por perto. Isso foi há três anos e ainda estou solteiro, transando com
qualquer uma na tentativa de matar esses sentimentos que tenho por ela e me
recusando a sossegar porque não estamos juntos.
Coloco as coisas na mesa, afasto esses pensamentos da cabeça e me
preparo para o anúncio do meu pai. Espero por esse momento há anos: o dia
em que ele finalmente vai passar a Winston Industries para mim.
Passo a mão pelo cabelo com nervosismo antes de me acomodar na
cadeira de couro do escritório, esperando que eu possa administrar este lugar
tão bem quanto ele. Uma batida na porta interrompe meus pensamentos
sombrios e fuzilo a entrada com os olhos. Posso ver a sombra de um homem
pela persiana e sei que só pode ser um dos meus irmãos, não que isso
importe. Trato os dois da mesma forma: como os idiotas que são.
— Vá embora — grunho e abro o laptop para poder fingir que estou
fazendo alguma coisa. A porta se abre devagar e reviro os olhos quando vejo
Ryker colocar a cabeça pela abertura, com um sorriso travesso no rosto. Ele
se parece mais com nosso pai do que eu ou Remy.
Seu cabelo é raspado nas laterais e a parte de cima é mais comprida. Ele é
uns sete centímetros mais baixo que eu, mas é forte como um touro e também
não é tão feio assim.
— Não aja como se eu estivesse interrompendo alguma coisa. — Ele ri e
se convida a entrar.
— Mas está — minto, olhando para o laptop enquanto ele se senta na
cadeira de couro em frente a minha mesa. Sei que ele está fazendo isso para
me irritar.
Ele ri.
— Interrompendo o quê? Você se masturbando com uma foto da Fallon?
Sua pergunta está um pouco perto da verdade. Mal sabe ele que isso
acontece com mais frequência que eu gostaria de admitir.
— Cale a boca e saia do meu escritório. Precisamos estar na sala de
reuniões em dez minutos e, em vez disso, você está fazendo o quê? Zanzando
pelo escritório causando problemas? — Amo meu irmão, mesmo que pareça
que somos insensíveis e quase cruéis um com o outro. É isso o que os irmãos
fazem.
— Ah, por favor. Estava indo para lá quando vi a Fallon... — ele se
interrompe com um sorriso nos lábios, porque sabe que ela é um assunto
delicado para mim. Ninguém pode tocá-la ou falar a seu respeito na minha
presença. Ela é minha no que diz respeito a qualquer outra pessoa.
— Nem comece, Ryker. Vou te expulsar desse escritório, então nem
comece...
Não consigo terminar o que ia dizer, porque o imbecil me interrompe.
— Sabe que ela está tendo a pior enxaqueca de todos os tempos, não
sabe? Eu a vi com cara de dor, então fiz um pouco de massagem... — Só leva
alguns segundos para o meu sangue ferver.
Fecho as mãos, me levanto da mesa e o encaro. Parece que ele quer se
encontrar com o coveiro hoje.
— Você precisa parar com essa merda... — zombo. Sou muito defensivo
com a Fallon, e ela nem é minha namorada.
O sorriso desaparece do rosto dele quando sua expressão fica séria,
mesmo que as próximas palavras sejam para zombar de mim.
— Você precisa contar a ela como se sente... antes que seja tarde demais.
Respiro fundo e minhas narinas se dilatam enquanto tento me acalmar,
mas não perco as palavras que ele adiciona ao final da frase.
Antes que seja tarde demais.
Essas palavras acabam comigo, porque sei que Ryker está certo e talvez
seja por isso que fico tão chateado quando ele me pressiona a fazer algo com
relação a Fallon. Não posso deixar que ele saiba que está me atingindo.
— Saia daqui. Não preciso dessa conversa agora. Não quando estou
prestes a assumir a gestão da empresa. — Balanço a cabeça, frustrado com
minhas palavras enquanto me viro e olho para as janelas de vidro que vão do
chão ao teto, com vista para a rua movimentada.
— Certo — ele fala com desdém —, sr. Sou o chefe agora. Vou embora.
Tensiono a mandíbula enquanto tento dissipar a raiva que estou sentindo.
Por que ele tinha que entrar aqui e me provocar? Como se já não fosse difícil
o suficiente ver a Fallon namorar um monte de caras que não prestam, Ryker
tem que aparecer e jogar tudo isso na minha cara.
Quero a Fallon.
Quero a empresa da minha família.
Quero ser feliz para sempre com a única mulher que já amei, embora não
possa seguir por esse caminho com ela.
Outra batida soa na porta de madeira, e eu perco a cabeça.
— Vá embora, merda — grunho, mas percebo, tarde demais, que é Fallon
que está parada na porta. Ela tem feições de boneca, mas seu olhar está
surpreso.
— Bem, olá para você também. — Ela se recupera rapidamente e fico
feliz porque é a última pessoa que quero magoar.
— Desculpe. Estou estressado e tem muita coisa acontecendo. Do que
você precisa? Conseguiu reorganizar tudo? — pergunto tudo de uma vez,
sem dar tempo para que ela responda. Desvio os olhos de seu corpo perfeito.
Ela está muito gostosa com saia lápis cinza clara e blusa cor creme que
está usando. É difícil não ser atraído pela sua beleza. Combinado com
cabelos castanhos escuros e olhos verdes que te chamam, não é nada difícil
ficar preso em seu olhar e, acredite em mim quando digo que posso encará-la
o dia todo.
— Na verdade, tudo está perfeito, mas seu pai me pediu para te chamar.
Ele quer começar a reunião mais cedo. — Ela sorri. Seus olhos brilham com
alguma coisa, mas desaparece antes que eu possa descobrir o que é. É algo
que nunca vi antes, mas que me faz querer beijá-la.
— Ah... — Inclino o pescoço, solto um suspiro e passo as mãos suadas na
frente do terno de grife.
— Nervoso? — Fallon pergunta, preocupada enquanto me olha com
aqueles cílios longos. Sua beleza faz com que seja difícil respirar ou fazer
qualquer coisa perto dela. Quando aqueles olhos verdes encaram os meus,
sinto que ela me enxerga de verdade. A mim, ao amor que sinto por ela e à
necessidade que sinto de estar ao seu lado.
— Não. Quero dizer, serei responsável por milhares de funcionários e
todo o império da minha família, mas, não... — Minhas palavras estão
repletas de sarcasmo, e Fallon dá uma cotovelada na lateral do meu corpo,
franzindo o nariz quando um sorrisinho aparece no canto da sua boca cor de
rosa. Ela está fingindo que está brava, mas sei que não se zanga comigo por
muito tempo.
Enquanto nos conduzo pelo corredor, ela reclama:
— Não foi o que eu quis dizer e você sabe disso.
Paramos do lado de fora da porta da sala de reuniões, onde vozes podem
ser ouvidas. Eu me viro para ela, nos impedindo de seguir adiante.
— O que você quis dizer? — Me inclino em sua direção enquanto seu
perfume doce e floral provoca ondas de prazer no meu pau.
Não fique duro. Não fique duro.
— Quis dizer que... não é estranho que seu pai mude a data da reunião
para agora? Achei que ele não se aposentaria por, pelo menos, mais seis
meses.
Pisco, sentindo meus olhos vagarem pelo seu rosto, incapaz de pensar em
qualquer coisa além do quanto quero beijá-la... e então o que ela disse me
atinge...
— Sim. — Paro para considerar suas palavras. — Você tem razão. Isso é
estranho. Estranho mesmo. — Ainda estou pensando quando abro a porta,
sabendo muito bem que quando sair dessa sala, ou terei notícias fantásticas
ou uma decepção.
Três

FALLON
Ansiosa para descobrir o que está acontecendo, me sento em frente a
Reed e seus irmãos enquanto seu pai se acomoda na ponta da mesa. O sr.
Winston parece cansado e até mesmo infeliz. As rugas profundas em seu
rosto fazem com que ele pareça ter mais que cinquenta anos. Advogados e
outros executivos se sentam ao meu lado, mas os ignoro e foco o olhar entre
Reed e o pai.
Clark limpa a garganta antes de entrelaçar os dedos e se recostar na
cadeira como se não houvesse nenhum problema no mundo.
— Tenho certeza de que a maioria de vocês está ciente do motivo dessa
reunião, embora eu saiba que vocês não fazem a mínima ideia do porquê. —
Ele sorri para mim e eu retribuo, sentindo meu interior se aquecer. Clark
sempre foi muito gentil comigo, e eu o considero uma figura paterna.
Remy dá uma risada e diz algo em voz baixa. Isso faz com que Reed lhe
dê um olhar de provocação. Tusso para esconder o riso, mas estou adorando
vê-los juntos novamente. Cada um dos irmãos trabalha em andares e
departamentos diferentes, já que o pai sabe melhor que ninguém que mantê-
los juntos só resulta em confusão. Quando se administra uma empresa de
bilhões de dólares, é importante colocar a mão na massa.
— Acho que estamos todos ansiosos para ouvir o que mudou, pai —
Reed comenta, e me pergunto se ele está com medo de que o pai tenha
decidido não lhe dar o comando da empresa.
Reed já havia me confidenciado que tinha medo de que isso acontecesse.
Falamos muitas vezes sobre esse assunto, geralmente por telefone, tarde da
noite quando a preocupação dificultava seu sono. Se ele não assumir a
empresa, ela será vendida e anos de trabalho duro teriam sido em vão.
— Bem, a minha saúde, por exemplo, mudou. — Me remexo na cadeira e
minha postura fica mais ereta ao ouvir suas palavras. Um milhão de cenários
diferentes passam pela minha cabeça. Ele está doente? Morrendo? Está com
câncer, como a mãe de Reed teve?
É possível ver a preocupação estampada no rosto dos três homens, que
arqueiam as sobrancelhas enquanto esperam que o pai continue. Ryker é o
primeiro a falar e pergunta o que todo mundo deve estar pensando.
— Sua saúde? Você está bem?
Clark sorri de forma carinhosa para o filho.
— Estou ficando mais velho e, com a idade, vem as doenças. Não vou
entrar em detalhes agora, mas mudei de ideia com relação à empresa e
acrescentei algumas exigências a serem cumpridas antes de transferir tudo
para o Reed.
É estranho como posso sentir o medo do meu melhor amigo me
envolvendo, me sufocando, como se fosse meu. Sinto todas as suas emoções
e isso me assusta. Ele geralmente é bem seguro de si e vê-lo tão
desconcertado é esquisito. Reed sempre controla a situação e nunca deixa que
ela o controle.
— Que tipo de exigência? Faço o que for preciso. Estou ao seu lado e ao
lado da empresa. Sabe disso. — Posso ver a angústia dominá-lo e preciso me
esforçar muito para não me levantar e ir confortá-lo. Sei que se eu fizer isso,
ele não vai ficar feliz. Reed odeia fofocas no escritório e a maioria dos
funcionários já acha que temos um caso por causa de todo o tempo que
passamos juntos.
O suspiro de Clark é igual ao que já ouvi muitas vezes durante o tempo
que passei na casa deles quando éramos mais novos. Sempre que um dos
garotos fazia algo que o decepcionava, ele respirava fundo e todos se sentiam
constrangidos e faziam o que fosse preciso para conquista-lo novamente.
Mas algo me diz que não há como sair dessa. Clark parece decidido.
Quando o homem mais velho fala novamente, a exigência cai como uma
bomba. Todos nós ficamos em choque.
— Decidi que quero um neto antes que você assuma o controle da
empresa, Reed.
O pânico me atinge e meu coração dispara. Isso significa que Reed vai ter
que se casar. Ele vai ter que encontrar alguém e minhas chances de ser a
mulher da sua vida estarão acabadas. Será tarde demais para dizer a ele que
eu o amo.
Com a visão embaçada e sentindo meu corpo estremecer, tenho o impulso
de me levantar e me voluntariar, mas sei que isso só vai resultar em rejeição
e, pior ainda, vou perder sua amizade.
Atordoado, Reed limpa a garganta e abre a boca como se fosse dizer algo,
mas seu pai levanta a mão, cortando-o com um único movimento.
— Estou decidido e nada do que você disser vai me convencer do
contrário. Me dê um neto e a empresa será sua. Se recusar, vou vendê-la. —
O som da caneta contra o papel enche a sala e, em seguida, um silêncio
completo nos envolve. Olho para os homens do outro lado da mesa, cujos
rostos exibem emoções variadas. Reed parece estar irritado, aterrorizado e
enfurecido. Ryker está sorrindo de orelha a orelha, embora eu não tenha
certeza do porquê.
Ele pisca quando me pega olhando em sua direção, o que faz minhas
bochechas esquentarem e eu desvio o olhar rapidamente. Observo Remy, que
parece estar alheio a tudo, sem se importar com o que acontece com os
negócios da família.
Após suas palavras finais, Clark dispensa a sala inteira. Enquanto as
pessoas saem, continuo sentada, com muito medo do que pode acontecer
quando a sala estiver vazia. Nunca pensei que veria o dia em que o pai de
Reed o forçaria a se casar e ter filhos.
— Que merda foi essa? — Reed pergunta. Esse comportamento é
completamente diferente do que o de costume, pelo menos quando se trata de
estar em ambiente de trabalho.
Ryker dá de ombros:
— Nosso pai te enquadrou. Caramba, ele acabou de te encurralar. — O
Winston do meio parece muito feliz para alguém que acabou de descobrir que
o futuro dos negócios da família depende de seu irmão mais velho ter um
filho ou não... e logo.
Reed se levanta e empurra a cadeira para trás com um movimento brusco.
A provocação de Ryker o tira do sério.
— Cale a sua boca. Você está enchendo meu saco desde que pisou no
escritório e já estou ficando cheio disso.
Seus olhos estão vidrados e as mãos estão fechadas ao lado do corpo. Ele
parece um guerreiro a caminho da batalha. Ryker não é seu inimigo, mesmo
que esteja fazendo todo o possível para antagonizá-lo. Não sei o que
aconteceu em sua sala mais cedo, mas, seja o que for, fez Ryker adorar o que
o pai disse.
— Olha, cara — o irmão fala, mas o sorriso presunçoso em seu rosto leva
Reed ao limite. Antes que eu possa piscar, ele está do outro lado da sala,
empurrando-o contra a parede e pressionando o antebraço em sua garganta.
Presencio a cena com os olhos arregalados. A cena é bem parecida com as
que costumavam acontecer em sua casa quando eles eram mais jovens. Ryker
se inclina para frente, chegando o mais perto possível de Reed, depois diz
algo com a voz muito baixa para eu ouvir. Sua mão livre se fecha e sei que
tenho que agir rápido, porque ele vai se arrepender disso mais tarde.
Meu coração está batendo forte, mas me aproximo bem a tempo de
segurar o braço de Reed.
— Parem com isso — ordeno, olhando para os dois com desaprovação
quando eles me encaram. — Brigar um com o outro não vai mudar nada. —
Minha voz reflete o fato de que estou exausta com esta reunião. Não só isso,
mas estou magoada e mais do que pronta para encerrar o dia.
Ryker abre a boca para dizer algo, mas balanço a cabeça e o interrompo.
— Não. Não sei por que você está se esforçando para irritar seu irmão,
mas discutir só vai piorar as coisas. Vocês precisam trabalhar juntos,
descobrir uma maneira de fazer Clark voltar à razão.
Ryker se recosta contra a parede e é possível ver o arrependimento em
seu rosto. Quando Reed percebe que ele está recuando, abaixa o braço e dá
um passo para trás, se desvencilhando de mim com o movimento. Sinto a
perda imediatamente, mas tento não demonstrar como isso me faz sentir. É
como se ele estivesse me rejeitando, mas nem se dá conta. E isso me mata.
Sabendo que preciso me concentrar na questão do bebê, olho de um para
o outro.
— O pai de vocês não pode simplesmente exigir que o Reed lhe dê um
neto. O que ele deve fazer? Ligar para um de seus casinhos e pedir que ela
doe um óvulo? O mundo não funciona assim. Além disso, ele deve amar a
pessoa com quem vai ter um filho. — Olho para o chão por um momento,
pois minhas palavras foram honestas, românticas e reveladoras demais.
Quando volto a olhar para eles, Ryker está me encarando com um sorriso
malicioso que se espalha pelo rosto.
— Sabe de uma coisa? Tem razão. Talvez você devesse ajudar meu irmão
a dar um neto ao nosso pai. Pelo menos, nós gostamos de te ter por perto.
Espero Reed zombar ou descartar a ideia de imediato, mas isso não
acontece. Quando volto a olhá-lo, ele parece pensativo. Como se estivesse
considerando a ideia maluca do irmão.
— Acho que não, Ryker... — Faço uma breve pausa para ver se Reed vai
dizer alguma coisa, mas ele não fala nada. — De um jeito ou de outro, não
podemos simplesmente forçar alguém a ter um bebê. É imoral e não é algo
que seu pai faria. Precisamos descobrir o que está acontecendo e o que o fez
dar esse ultimato. Algo não está certo aqui.
A voz profunda de Remy nos assusta. Nós nos viramos em sua direção
quando ele se levanta.
— Ela tem razão e vocês dois sabem disso. Se querem brigar pelo que
está acontecendo, sigam em frente, mas não resolve nada. O problema
começa e termina com o nosso pai.
Sorrio para ele, agradecida por pelo menos um dos irmãos Winston ter
um cérebro dentro da cabeça.
— Não importa, Rem. Você ouviu o nosso pai. Ele não vai escutar nada
que qualquer um de nós diga. Ou faço o que ele quer ou ele vai vender a
empresa. — Reed está se debatendo sobre essa coisa toda muito mais que o
necessário.
Talvez seja um mal-entendido... É possível que ele mude de ideia
amanhã. Mas e se não mudar? O pensamento permanece muito tempo dentro
da minha cabeça.
— Bem, se não quiser discutir com ele, é melhor publicar um anúncio nos
classificados ou no Tinder... — Reed tensiona a mandíbula com o comentário
de Remy. Ele não gosta da ideia de ter que encontrar alguém, ou talvez seja a
ideia de ter um bebê e se casar que não o agrada.
— Você sabe que já saí com muitas mulheres, Remy. A chance de
encontrar alguém solteira nessa cidade pequena que já não tenha dormido
comigo é quase nula. E todas as que conheço com certeza não quero que
sejam a mãe dos meus filhos. — Ele me observa enquanto fala, e juro que
sinto uma corda imaginária ao meu redor que me puxa em sua direção, me
fazendo querer implorar para que ele me deixe ser essa mulher.
Aquela que vai dizer sim.
A que vai ser a mãe dos seus filhos.
Nossos filhos.
Mas ele desvia o olhar de repente e o momento passa. Fico me
perguntando se estou vendo coisas ou se é real, porque agora que o tempo
está correndo, não vai demorar muito para que minhas chances de ser a
mulher de Reed acabem.
Quatro

REED
Balanço o uísque no copo enquanto me inclino no sofá de couro da minha
cobertura. Sinto um milhão de emoções diferentes me atingindo. Quero ficar
bravo com meu pai por ter me colocado em uma situação tão horrível, mas
também estou preocupado com a sua saúde. Ele se recusa a falar sobre isso
com qualquer um, incluindo eu e meus irmãos, o que nos impede de saber a
extensão da sua doença. Não engoli a desculpa de “estou velho” e sei que
meus irmãos também não.
Tomo um gole e deixo o uísque revestir minha boca antes de engolir. A
bebida me aquece de dentro para fora e se acomoda em meu estômago
ansioso.
O iPhone toca, indicando que chegou uma mensagem de texto, e fico
olhando a tela por mais tempo que o necessário quando o nome e a
mensagem de Fallon aparecem ali.

Espero que você esteja bem.


Me avise se precisar de alguma coisa.
Estou com você.

Enquanto esfrego a mandíbula, levo em consideração o que Ryker disse


mais cedo. Fallon seria a escolha perfeita para ser a mãe dos meus filhos.
Caramba, ela seria a noiva, esposa e mãe perfeita, mas cruzar essa linha
poderia acabar com uma longa amizade. Estremeço com esse pensamento,
porque mesmo que eu queira mais dela, estou bem em tê-la só como amiga.
Não posso perdê-la, não importa o que aconteça. O telefone toca de novo,
indicando outra mensagem, mas desta vez é Ryker.

Vai pedir que ela seja a mãe do seu bebê? ;)

Sorrio, mesmo que o que ele tenha dito hoje cedo tenha me irritado muito.
Sei que ele só quer o melhor para mim, e ele sabe que amo a Fallon muito
antes de admitir isso para qualquer pessoa, inclusive para mim mesmo.
Não respondo a nenhum deles. Termino o uísque e fico olhando para a
cidade, imaginando como vou encontrar uma mulher que esteja disposta a me
dar um filho sem exigir uma fortuna. O telefone toca de novo e o som
preenche o espaço, mas não quero ver a mensagem. Não quero ler os
comentários idiotas de Ryker, nem ver a preocupação de Fallon, então pego o
telefone, o coloco no bolso e dou um jeito na casa antes de ir para o quarto.
Quando passo pela foto da minha mãe no corredor, paro e a observo até
meus olhos ficarem marejados. Sinto mais saudade dela hoje do que jamais
senti desde o dia em que ela morreu.
Se ela estivesse aqui, saberia o que eu deveria fazer. Ela me daria o
conselho que preciso e me diria para onde seguir. Caramba, ela
provavelmente convenceria meu pai a desistir desse plano maluco. Se ela
estivesse aqui, sei que as coisas seriam diferentes.
Fecho os olhos e enxugo as lágrimas. Sou um homem adulto e chorar não
vai mudar nada. Ainda tenho que encontrar alguém para ser a mãe perfeita
para que eu possa cumprir minha parte no acordo e herdar os negócios que
minha família construiu do zero.
Mal desabotoo a camisa quando ouço uma batida na porta da frente.
Que merda é essa? Desvio os olhos para o relógio na cômoda. São quase
dez da noite. Quem pode ser e o que quer?
Atravesso o apartamento, vou até a porta da frente e a destranco. Ao abri-
la, me deparo com Fallon, que está muito fofa e possivelmente bêbada.
Ela me olha, sorri e seu rosto angelical me faz esquecer todas as besteiras
da minha vida. Retribuo o sorriso e faço sinal para que ela entre. Ela engole
em seco de forma visível enquanto encara meu torso nu.
— Não seja tímida. Você já me viu praticamente nu — brinco enquanto
ela entra e eu fecho a porta atrás de nós. Há uma timidez em seus olhos que
me faz pensar no que está acontecendo. Conheço esse olhar. Ele denuncia
que ela tem algo a dizer ou pedir, mas está com medo ou constrangida.
— Isso não é engraçado, Reed. Nunca vi seu pênis antes. — Suas
bochechas coram quando ela percebe o que disse e gagueja uma explicação.
— Eu... eu... quero dizer, nunca te vi nu.
Como foi que ela conseguiu ficar solteira por tanto tempo?
Porque você ainda não foi atrás dela, idiota. A voz na minha cabeça me
irrita, e eu a desligo.
— Bem, eu estava prestes a entrar no chuveiro, então essa é a sua única
chance — provoco enquanto observo suas bochechas corarem ainda mais. O
sangue corre em meus ouvidos e me vejo beijando-a da cabeça aos pés,
dando atenção especial a tudo o que está no meio.
— Você checou suas mensagens? — Nervosa, ela morde o lábio inferior
enquanto me sento no sofá de couro.
— Sim, mas ainda não tive chance de responder. Está tudo bem? —
pergunto, me questionando se algo está errado e não estou percebendo.
Se alguém a machucou... que Deus me ajude.
É óbvio que ela bebeu. Provavelmente desde que saiu do trabalho, porque
ainda está usando as roupas de trabalho.
Umedecendo os lábios, ela solta um suspiro antes de caminhar até onde
estou sentado, depois se inclina para olhar no meu rosto. Nossos lábios ficam
a uma distância mínima um do outro. Se eu fosse metade do homem que
considero ser, eu a abraçaria e a beijaria como sempre quis.
— Não há nada de errado... — ela interrompe suas palavras e desvia o
olhar como se estivesse tentando criar coragem, o que aumenta minha
curiosidade. — Só quero te ajudar. Ser sua amiga. — Não deixo de notar a
ênfase que ela coloca na palavra amiga. Por alguma razão, isso me dói.
— O que você quer dizer com ser minha amiga? Já não somos amigos?
— Semicerro os olhos e a puxo para o meu colo quando deveria afastá-la.
Isto está errado. Somos amigos. Melhores amigos. Não posso desejá-la... ou
posso? Sei que se cruzar essa linha, haverá consequências. Se beijá-la, vamos
entrar em um território desconhecido e não sei como vamos sobreviver.
— Somos... — Ela está olhando para meus lábios e juro que ela vai me
beijar. Posso sentir seu hálito doce contra a minha pele e quero provar sua
boca. Quero devorá-la. — Mas depois de hoje, me pergunto se poderíamos
cruzar essa linha. Se posso te ajudar e você me ajudar. — Recuo e pisco,
sentindo minha ereção se formar e enquanto tento me ajeitar para que ela não
sinta, me pergunto o que quer dizer.
— Te ajudar? De que tipo de ajuda você precisa? Se estiver precisando de
dinheiro, é só me dizer. Ou alguém te magoou? — questiono, parecendo mais
um namorado superprotetor que seu melhor amigo.
Fallon balança a cabeça e se aconchega em meu peito. Abraço seu corpo,
sentindo o cheiro do vinho que sai de seus poros. É doce e inebriante e quase
gemo enquanto inspiro seu perfume.
— Do que você está falando, Fallon? — Estou quase implorando para ela
me dizer o que está acontecendo.
— Você está tão quente e seu peito é tão macio. Parece que saiu da capa
de uma revista GQ. — Ela soluça e ri enquanto passa as pontas dos dedos
pelo meu peito e murmura bobagens. Estou lisonjeado e até um pouco
animado por ela me achar atraente, mas não é como se ela nunca tivesse dito
coisas semelhantes antes. Amigos podem se achar atraentes, certo?
Eu a acaricio, passando os dedos por seus cachos macios enquanto desejo
que pudéssemos ter um relacionamento de verdade, que eu pudesse cuidar
dela, acariciá-la e lhe dar prazer.
— Acho que alguém bebeu um pouco demais. — Por mais que eu queira
me deixar levar pelo que ela está oferecendo, sei que vai se arrepender de
manhã e não estou disposto a arriscar nossa amizade por uma noite de prazer.
— Eu poderia te ajudar — ela continua a divagar com a voz quase
inaudível. — Poderia te dar um bebê. Quero um filho, uma família. Poderia
ser um esforço conjunto. — A voz de Fallon é suave, embora suplicante, e
paro de acariciá-la enquanto absorvo suas palavras. Ela está realmente
dizendo que quer ter um filho meu? Que ela também quer um bebê? Como eu
não sabia disso? Ouvi-la dizer que quer uma família faz meu coração se
apertar dolorosamente.
Levo um momento para recuperar o controle e limpo a garganta, incapaz
de olhar diretamente para ela.
— Esse é um compromisso enorme, Fallon, algo grande demais para se
pedir a um amigo. Como podemos continuar amigos e ter um bebê juntos? —
Volto a me perguntar de onde isso veio. Será que o Ryker a mandou até aqui
para brincar comigo? Estou certo de que ela não teve essa ideia sozinha e
depois do comportamento dele hoje, não duvidaria que essa ideia fosse do
meu irmão.
Ela se afasta um pouco e seus olhos parecem perdidos. Juro que posso ver
a dor irradiar em suas profundezas verdes, mas antes que eu possa dizer
qualquer coisa, ela se levanta do meu colo e corre para a porta. Vou atrás,
porque não quero que ela vá, não assim.
— Só estou tentando ajudar — Fallon retruca com um pequeno soluço. —
Não precisa me olhar como se preferisse comer o braço esquerdo a ter um
filho comigo. — Ela funga, deixando claro que meus comentários a
magoaram, mas não sei como consertar as coisas. Não sei de mais nada e a
frustração me faz suspirar.
— O Ryker mandou você me oferecer isso? É algum tipo de piada? —
Fallon se vira com descrença e assim que nossos olhares se encontram, sei
que minha pergunta foi idiota. Mesmo que Ryker tivesse tentado convencê-la
a isso, Fallon não concordaria se não fosse um desejo seu.
— Sério? — ela grunhe. — Isso é uma piada, né? Tem que ser, porque
para você realmente achar que eu consideraria fazer algo assim com base em
algo que o Ryker disse... significaria que você não me conhece. — Posso
sentir seu choque, raiva e tristeza.
Me repreendo mentalmente por ser um idiota e por ter feito uma pergunta
tão estúpida quanto essa. Ela se virar para a porta da frente mais uma vez, e
eu a chamo.
— Fallon. — Seu nome sai dos meus lábios em um apelo angustiado.
Estou morto de vergonha por tratá-la dessa maneira. — Não quis dizer isso.
Só achei que você não poderia estar falando sério. Você é a minha melhor
amiga e a exigência do meu pai é bem clara. Ele quer que eu tenha um bebê,
alguém que será criado por mim e pela pessoa que eu escolher. Não posso
arriscar perder você nem nossa amizade. — Finalmente digo as palavras que
não achei que conseguiria pronunciar. Sinto um turbilhão dentro de mim,
mesmo que eu pareça confiante e frio por fora.
— Mas também não pode perder a empresa — ela me lembra. Olho para
seu rosto em forma de coração, sabendo que ela está certa. Não posso perder
a empresa, seria péssimo, mas também não posso perdê-la. Isso seria
insuportável.
— Não... não posso — sussurro, apoiando a cabeça nas mãos. Se eu
aceitar sua oferta, arrisco acabar com a nossa amizade, porque todo mundo
sabe que amizade colorida não funciona. Sexo complica as coisas. Mas se eu
não aceitar sua proposta, corro o risco de perder a empresa e a ela para
sempre. Além disso, há seu desejo. Não posso vê-la procurar outra pessoa
para ser pai do seu filho. Não vou sobreviver a isso.
Esse é um daqueles momentos em que vou me foder se aceitar, mas vou
ficar fodido se recusar.
Cinco

FALLON
Mesmo no meu estado alcoolizado, percebo que Reed está arrasado.
Quero confortá-lo, mas ele está fazendo tudo o que pode para me afastar. Ele
não consegue ver o amor que sinto, e não sei mais como demonstrar além de
dizer em voz alta. Mas ainda tenho muito medo de fazer isso. Quero ajudá-lo,
talvez até abrir seus olhos para que possamos ter algo mais, mas ele achou
que eu estava brincando e que seu irmão me incentivou a isso. Como ele pôde
pensar assim? Nunca fiz nada com intenção de magoá-lo.
— Sabe de uma coisa? Vou embora. Não sei no que eu estava pensando
ao aparecer aqui. — Me esforço ao máximo para esconder a dor enquanto
percorro o resto do caminho até a porta. Meu coração bate forte no peito e as
lágrimas se formam enquanto seguro a maçaneta, pronta para abri-la e fugir
de todos os acontecimentos dessa noite miserável. Por que achei que me
oferecer para ser a mãe do filho dele seria uma boa ideia?
— Espere — Reed exige. Me viro e ficamos cara a cara. Ele é tão lindo e
há uma necessidade tão feroz em seus olhos que me atinge e implora que eu
fique e ceda ao desejo que corre pelas minhas veias.
— Não. — Balanço a cabeça antes de falar. — Não posso ficar aqui com
você... — O restante das palavras se perde quando os lábios macios de Reed
tocam os meus. Sinto prazer e calor percorrerem meu corpo e antes que eu
possa me impedir, enrosco as mãos em seus cabelos e o devoro. Ele morde
meu lábio inferior e abro a boca para que sua língua acaricie a minha de um
jeito que deixa meus joelhos fracos e meu corpo vibrando de desejo.
Nesse momento, tenho certeza de que pertenço a ele. Nenhum outro beijo
se compara ao de Reed.
Sua língua recua e a minha segue. Sou eu quem explora o interior da sua
boca agora, absorvendo o máximo que posso do seu sabor único. Ele tem
gosto de uísque, mas há algo mais também. Não sei como descrever, mas é
viciante.
Reed não me deixa controlar o beijo por muito mais tempo. Ele empurra a
língua de volta para dentro da minha boca enquanto suas mãos se enterram
nos meus cabelos, inclinando minha cabeça para que esteja na melhor
posição.
Darei a ele qualquer coisa, desde que não pare de me beijar.
Me derreto ainda mais contra ele enquanto minhas curvas suaves
pressionam cada centímetro firme do seu. Estamos unidos do peito à virilha,
o que me permite sentir sua ereção crescer de encontro ao meu ventre. Essa
noção me faz gemer e quando o som sai da minha boca, Reed volta ao
presente. Sei o momento exato em que ele percebe o que está fazendo. O que
nós estamos fazendo.
Ele se afasta tão rápido que tenho que me encostar na porta para ficar de
pé. Quando o encaro, vejo que ele me observa com uma expressão que não
consigo decifrar. É como se uma máscara cobrisse seu rosto, algo que nunca
vi antes. Sempre fomos honestos um com o outro, mesmo quando é difícil,
mas agora ele está se escondendo de mim e por mais que eu queira perguntar
o motivo, não consigo falar.
Beijei meu melhor amigo. E ainda mais chocante, me beijar o excitou.
Tenho vontade de levantar o braço e comemorar, mas contenho o desejo. Por
alguma razão, Reed não está sentindo as mesmas emoções que eu e isso dói
tanto que quase me deixa de joelhos. Vir até aqui esta noite foi uma ideia
ruim, relembro a mim mesma.
Não deveria ter me deixado levar pela garrafa de vinho que bebi e ter
vindo até aqui para dizer o que gostaria que acontecesse. Não sei onde estava
com a cabeça para achar que isso ia fazer com que ele concordasse.
Respiro fundo e olho em seus olhos azuis. O calor que vejo neles me
atinge. Ele me deseja. Quase posso provar sua necessidade, mas ele está
negando esse sentimento. Isso me irrita, mas a rejeição também dói. Há muito
tempo, ele prometeu que nunca me magoaria, mas está aqui fazendo
exatamente isso.
— Acho que está na hora de ir embora — falo com os lábios inchados,
sentindo que se não me virar agora e não sair do seu apartamento, algo
horrível pode acontecer. Só estou em dúvida se seria começar a chorar ou dar
um soco nele. Neste ponto, pode ser qualquer um dos dois.
Reed não diz nada. Ele apenas me olha de um jeito que me deixa
incomodada e sua expressão corporal demonstra tensão. Não sinto medo dele.
Na verdade, meu maior receio é o que pode acontecer com meu coração se eu
ficar. Me viro rapidamente e fujo do apartamento, rezando para entrar no
elevador antes que ele venha atrás de mim.
Assim que chego aos degraus da frente do prédio, me dou conta de que
deixei a bolsa lá dentro... com ele. Solto um gemido, estremecendo quando
um vento leve balança meu cabelo. Não posso voltar para pegá-la. Estou
muito perto de entrar em colapso. Se voltar, vamos brigar e por mais chateada
que eu esteja, posso dizer algo de que vou me arrepender mais tarde.
Felizmente, moro a poucos quarteirões daqui e mantenho uma chave
escondida em um vaso de plantas na varanda. Sei que essa não é a ideia mais
inteligente do mundo, e os três irmãos Winston já gritaram comigo por causa
disso, mas continuo me esquecendo de mudar de lugar. Por mais que eles
odeiem meu esconderijo, agora sou grata por ele.
Ando o mais rápido que posso pela calçada. As ruas não estão muito bem
iluminadas e o medo aumenta o frio na minha barriga ao pensar em ser
sequestrada ou coisa pior. Até que ouço passos atrás de mim e meu coração
acelera. Começo a correr, ignorando minhas pernas trêmulas e meus pés
latejando.
— Fallon. — Ouço a voz profunda de Reed e percebo que estou correndo
sem motivo. Desacelero, mas não paro. Ainda estou brava com ele e agora
estou ainda mais irritada porque ele quase me matou de susto. Infelizmente,
Reed é muito mais alto que eu, o que faz com que ande mais rápido. Então
ele me alcança logo.
Reed segura meu braço e para, me forçando a fazer o mesmo. Ele me
puxa para encará-lo e posso ver o arrependimento em seu rosto.
Mas é do beijo que ele se arrepende ou da maneira como me tratou?
Estou com muito medo de perguntar, então fico calada, mas consigo me
soltar do seu aperto e puxo a bolsa da sua mão. Ele parece confuso quando
começo a andar em direção a minha casa.
— É sério? Você simplesmente vai voltar para casa? — Reed parece
irritado e tudo em que consigo pensar é que finalmente, finalmente ele está
sentindo alguma coisa.
— Sim, Reed. Vou simplesmente voltar para casa — repito suas palavras.
— É o que eu estava fazendo antes de você me interromper de forma tão rude
— retruco, tentando esconder minhas emoções e o desejo de implorar que ele
me beije de novo, me diga que estava errado e que quer ficar comigo.
— No escuro... — Ele faz uma pausa, mas ouço seus passos atrás de mim
e sei que ele vai me seguir. Ele não está correndo para me acompanhar,
apenas me seguindo a uma distância segura. Por mais chateada que eu esteja,
saber que ele está fazendo o que pode para me proteger aquece meu interior.
Ele poderia ter levado minha bolsa para o trabalho no dia seguinte, mas
mesmo sendo um idiota às vezes, sei que gosta de mim... só não é do jeito
que eu queria que fosse.
— Não posso fazer nada sobre estar escuro aqui fora, Reed. Não controlo
o tempo — respondo de forma autoritária, reviro os olhos e continuo
andando. Ficamos em silêncio, ouvindo o som de alguns grilos e dos poucos
carros que passam. Luto contra a necessidade de me virar e dizer o quanto ele
me deixou brava e me magoou. Mas tenho certeza de que ele já sabe, porque
embora Reed possa mascarar suas emoções, eu nunca fui capaz disso.
Tudo o que sinto aparece de forma clara em meu rosto. É algo que sempre
odiei, especialmente porque meus sentimentos por ele devem ficar óbvios,
apesar de ele nunca ter percebido. Ou talvez escolhesse não ver. Isso pode ser
ainda pior.
Reed me segue como se fosse meu protetor, e quando chegamos à calçada
em frente de onde moro, ele se aproxima, mas para quando percebe a maneira
como meu corpo fica tenso.
— Por favor, Fallon — ele quase implora. — Posso entrar? Só quero
conversar. — Ele parece muito sincero, mas não tenho certeza de que estou
forte o suficiente para falar sobre esta noite sem soluçar e confessar meus
sentimentos. Pode ter sido só um beijo, mas despertou algo dentro de mim,
algo que mantive escondido por anos. Desde que eu era adolescente e percebi
que Reed era o cara certo para mim.
— Não acho que seja uma boa ideia. Na verdade, prefiro nunca mais falar
sobre isso. É embaraçoso e não quero relembrar. Nem hoje, nem qualquer
outro dia. — Forço um sorriso e ouço seu suspiro profundo de desaprovação.
Espero que ele discuta, mas quando não diz nada, passo pelo portão e o deixo
em pé na calçada me olhando. Posso sentir o calor do seus olhos nas minhas
costas conforme me afasto. Cada passo dói, mas é necessário.
Estou quase na varanda quando ele finalmente fala.
— Não precisamos conversar hoje à noite, Fallon, mas vamos falar sobre
isso. Discutiremos o que você ofereceu. — Sua voz demonstra raiva, mas
também muita determinação. Faço o melhor para evitar o arrepio que surge
em reação ao seu tom exigente.
Reed nunca falou comigo assim e me sinto balançada ao ouvi-lo assumir
o controle. Ou pelo menos tentar. Ele continua me observando enquanto eu
me inclino para pegar a chave escondida, grunhe quando percebe o que estou
fazendo, mas permanece onde está. Ele sabe que não deve me pressionar
quando estou chateada.
Preciso de três tentativas para encaixá-la na fechadura e abrir a porta.
Depois de cruzar o batente, volto a encará-lo, mas não consigo ver sua
expressão. O céu parece ter ficado muito mais escuro, apesar de só ter
passado alguns minutos. Levanto a mão para acenar, mas ele não retribui.
Fecho a porta devagar e quando chego à janela da sala, ele já se foi.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando me recordo dos eventos desta
noite. Ainda não consigo acreditar que fui até lá e me ofereci para ser sua
doadora de óvulos. Poderia jurar que nunca mais vou tomar vinho, mas seria
mentira. A única coisa que quero fazer agora é desabar na cama e torcer para
descobrir, ao acordar de manhã, que isso não passou de um pesadelo. Talvez
eu tenha desmaiado no sofá e não saído de casa.
Até parece.... Vou ter que enfrentar as consequências amanhã ou quando
Reed decidir que é hora de conversar, mas, por enquanto, posso fingir que
isso nunca aconteceu.
Seis

REED
Dei a ela uma semana. Uma semana inteira. Foi angustiante vê-la andar
pelo escritório e não poder falar sobre nada além de trabalho, mas foi o que
fiz. Sei que ela não quer falar sobre aquilo. Nem sobre o beijo ou a oferta que
me fez, mas a situação está prestes a mudar. Hoje à noite, ela vai conversar
comigo a respeito de tudo, mesmo que eu tenha que forçá-la.
Olho para a pilha de papéis na mesa. Sei que tenho um monte de coisas
que precisam ser assinadas, enviadas por correio e e-mail, no entanto, tudo o
que quero é me recostar na cadeira e assistir a um jogo. Decido fazer
exatamente isso e ligo a TV presa na parede da sala, xingando por dentro
quando ouço uma batida na porta. Não estou com vontade de conversar com
ninguém.
— Toc. Toc. — A voz profunda de Remy ecoa pela sala. Viro a cadeira e
sorrio. De nós três, ele é o mais quieto e discreto, o que é estranho, porque é o
mais novo.
— E aí, como vai? Nosso pai te mandou trabalhar no último andar hoje?
— Ele é o único dos irmãos que trabalha no segundo andar. Ryker e eu
ocupamos cargos executivos, enquanto ele prefere o desenvolvimento.
Meu irmão fecha a porta antes de se acomodar no sofá e me observa com
a expressão séria.
— Não. Só vim ver como você está.
Esfrego o queixo, pensando se devo ou não contar o que aconteceu com a
Fallon e pedir seu conselho. Na verdade, não sou do tipo que pede conselhos
aos irmãos.
— Tudo ótimo. Só estou cansado.
— Tem certeza? Isso não tem nada a ver com o fato de a Fallon estar
mais irritada que o normal?
Semicerro os olhos, me perguntando se ele está procurando informações
ou apenas tentando conversar.
— Talvez ela esteja na TPM. — Tento fazer uma piada, mesmo sabendo
que é de profundo mal gosto. E mesmo assim, ela não surte o efeito desejado,
então volto a fingir que não sei que o problema sou eu.
— É, talvez. — Remy sorri e seus olhos cor de avelã brilham. Ele se
parece com a nossa mãe. Herdou a pele e os olhos mais claros. — Ou talvez
você tenha feito algo idiota e ela tenha contado ao Ryker... que me contou.
Tensiono o maxilar enquanto meu coração começa a bater tão forte que
parece que vai sair do peito.
Por quê? Por que ela diria alguma coisa para ele? Porque você é um
péssimo amigo.
Segurando os braços da cadeira com força, fecho os olhos e conto até dez
em silêncio.
— Isso não é da sua conta. A Fallon e eu somos muito capazes de
resolver as coisas por conta própria. — Estou tremendo por dentro, mas
consigo parecer calmo.
Remy revira os olhos e sei que ele não acredita em mim.
— Certo. Do mesmo jeito que você pode lidar com seus sentimentos por
ela.
Abro a boca, chocado porque nunca admiti ter sentimentos pela Fallon,
pelo menos, não em voz alta para ninguém além de Ryker, e leva alguns
minutos para que eu me recupere o suficiente para falar.
— Nunca admiti sentir nada além de amizade por ela, idiota. Não
presuma coisas das quais você não sabe.
Remy ri.
— Ah, entendo. Sua forma de lidar com seus sentimentos é ignorá-los.
Faz todo o sentido. — Sua diversão faz com que eu fique ainda mais irritado.
— A Fallon e eu somos amigos, então se veio aqui só para causar
problemas, pode sair. — Aponto para a porta, mostrando a ele onde pode
fazer seus comentários idiotas.
— Só amigos... sério? — Ele inclina a cabeça e seus cabelos loiros, tão
parecidos com os da nossa mãe, caem sobre um olho. — Porque a Fallon
contou que você a beijou e que ela retribuiu o beijo... — Ele se interrompe
quando bato o punho na mesa, fazendo com que ela vibre. O café balança e
escorre pela borda da xícara. Saber que ela contou aos meus irmãos o que
aconteceu me deixa irritado. Se queria conversar com alguém, ela deveria
falar comigo.
— Cai fora — grunho. Remy descruza as pernas, fica de pé e passa as
mãos pelo terno. Ele ainda está sorrindo, e eu estou debruçado sobre a mesa a
ponto de estrangular ele e o Ryker.
— Claro, mano, mas lembre-se... — Ele me olha nos olhos enquanto diz
as próximas palavras — amigos não se beijam, então se você estiver pronto
para enfrentar seus sentimentos pela Fallon, esse seria um bom momento.
Sabe que só depende de você manter a empresa na família.
— Sai daqui! — grito. Remy sai do meu escritório sem olhar para trás.
Passo a mão pelos cabelos em sinal de frustração, puxando-os com força
suficiente para causar dor. Parece que meus irmãos estão se esforçando ao
máximo para me convencer a ficar com ela e, se eu for sincero, estou
realmente perto de fazer isso. Olho para o teto da sala e começo a contar até
cem, tentando esfriar a cabeça, inspirando e expirando.
Vá se foder, Remy. Penso. Então empurro a cadeira com força, o que a faz
bater na estante modulada que fica atrás.
Quero ser o homem que vai conquistar a Fallon, que irá reivindicá-la e
lhe dar tudo o que seu coração deseja, mas também não quero perder nossa
amizade se as coisas não derem certo. Não sou do tipo que tem
relacionamentos, então há uma grande chance de que tudo dê errado.
Fallon merece se relacionar com alguém que não vá estragar tudo. Ela
merece o mudo com um enorme felizes para sempre no topo.
— Violência no escritório é extremamente desaprovada, sr. Winston. —
Meus olhos se concentram em seu corpo esbelto quando ela aparece na porta
do meu escritório.
Eu a encaro, querendo ficar bravo, atacar e dizer o quanto estou com
raiva. As palavras queimam minha língua, mas as impeço de sair porque
tenho outros planos e afastá-la não vai me ajudar em nada.
— Não tem problema quando se trata do chefe do lugar. Agora, o que te
traz aqui? — pergunto com rispidez. Fallon mordisca o lábio inferior e meus
sentimentos mudam de raiva para luxúria... a necessidade de colocá-la
sentada sobre a minha mesa para que eu possa capturar sua boca de novo é
quase irresistível.
Sinto um desejo insano de prová-la...
Aposto que ela tem gosto de mel, o mais doce que já provei.
— Preciso da sua assinatura em alguns documentos. Só isso. — Sinto
meu corpo se aquecer quando ela atravessa a sala e me entrega os papéis e
uma caneta. Nossos dedos se tocam por menos de um segundo, mas uma
corrente elétrica me atinge.
Quero gemer com a intensidade, mas me seguro com medo de assustá-la.
Fico chocado quando a vejo suspirar e seus lábios perfeitos com batom cor de
rosa formam um “O”. Ela também sentiu o choque de dor e prazer.
Limpando a garganta, rabisco meu nome nos papéis sem nem olhar para o
que estou assinando. Fallon fica me encarando e seus grandes olhos verdes
me dizem tudo que preciso saber.
Ela quer isso, me quer, e de jeito nenhum vou deixar esse momento
escapar. Da última vez, cometi um erro, mas agora vou garantir que ela
entenda a minha posição.
— Esteja pronta às sete da noite. — Ignoro a respiração pesada que
escapa dos seus lábios e quase rio. Fallon é adorável quando fica brava, só
que é um cãozinho que ladra, mas não morde. Seu desagrado não é sincero e
mesmo quando ela briga com alguém, não é grande coisa. Ela odeia ser
malvada com outras pessoas, não importa o quanto mereçam.
— Não, obrigada. Tenho planos para esta noite e eles não incluem você
— ela diz com desdém, como se eu fosse inferior. Ficaria magoado se não
soubesse que ela nunca pensaria isso de alguém.
Meu tom não aceita discussão quando reitero.
— Eu disse para ficar pronta, Fallon. Às sete. Em ponto. Vamos jantar.
Só você e eu. — Sei que pareço ser arrogante, mas não me importo. Puxo a
cadeira de volta para a mesa e me sento, notando como ela segura os papéis
contra o peito.
Ela semicerra os olhos verdes e a dor que vejo neles atinge meu coração.
— Não quero que você perca seu tempo. — Seu rosto está completamente
inexpressivo. Isso me preocupa, mas não digo nada.
— Você nunca será perda de tempo, então, se não quiser sair para jantar
comigo, estarei na sua casa com comida chinesa às sete. De um jeito ou de
outro, vamos falar sobre o que aconteceu no último fim de semana e a oferta
que você me fez.
Suas bochechas esquentam com o lembrete, e ela se vira para encarar a
porta. Suas pernas parecem um pouco trêmulas.
— Você é quem sabe. Se aparecer, vai ficar sozinho do lado de fora, pois
não. Estarei. Em. Casa — ela pontua a última frase como se achasse que isso
me fará desistir, mas ela me conhece bem o suficiente para entender que só
vai me deixar mais determinado.
Quando ela sai do meu escritório e volta para sua mesa, sorrio, porque a
coloquei exatamente onde a quero e, pela primeira vez, sou o foco da sua
irritação. Ela não está mais pisando em ovos comigo e só consigo pensar em
ter aquele fogo que descobri debaixo de mim, sobre mim... e de qualquer
outra maneira que ela queira.
Sete

FALLON
Fico cada vez mais nervosa à medida que vejo o relógio se aproximar das
sete horas. Sinto frio na barriga e as mãos úmidas. Disse ao Reed que não
estaria em casa, que tenho planos, mas ele percebeu a mentira. Como vou
enfrentá-lo depois do que aconteceu? Ter que vê-lo todos os dias no trabalho
tornou minha semana um inferno. Ainda estou envergonhada. Tanto quanto
estava quando aconteceu.
O fato de que reviro na cama todas as noites sem conseguir dormir e
quando durmo, sonho com aquela noite, não ajuda em nada.
Às vezes, termina de um jeito diferente. Em algumas noites, ele aceita
minha proposta e me leva para a cama. Claro, sempre acordo ofegante e
trêmula antes que ele faça amor comigo. Sempre estou tão perto de gozar que
só preciso fazer alguns movimentos leves no clitóris para atingir o clímax. É
irônico que os melhores orgasmos que já tive foram os que me proporcionei
pensando em Reed.
É ruim pensar no seu melhor amigo enquanto se masturba?
Provavelmente.
Olhando para o relógio na parede, percebo que só tenho quinze minutos
antes que ele chegue. Entro em pânico, porque só tomei banho, me penteei e
me maquiei. Ainda estou enrolada na toalha!
— Respire fundo, Fallon — sussurro para mim mesma. Pego o telefone
da mesa de cabeceira e ligo para a única pessoa que conheço que pode me
salvar... ou pior, me afundar ainda mais.
— Ei! — Sua voz alegre me cumprimenta quando ela atende antes do
terceiro toque. — E aí?
Nem sei por onde começar, então solto todos os eventos da semana
rapidamente. Tudo o que não contei nos dias em que nos encontramos para
almoçar, embora ela soubesse que algo estava acontecendo e perguntou o que
havia de errado nas duas vezes em que a vi. Mel é uma boa amiga, do tipo
que não pressiona até que você esteja pronta para uma conversa real.
Quando termino, ela fica em silêncio. Chego a olhar para o telefone para
garantir que não desligou. Quase suspiro de alívio quando vejo seu nome na
tela, porque não sei se posso repetir tudo mais uma vez. Foi difícil o
suficiente — mortificante o suficiente — da primeira vez.
— Mel? — chamo quando mais um momento se passa e ela ainda não
respondeu. — Você me ouviu?
Ela ri alto.
— Se eu te ouvi? Ah, meu Deus, Fal! Não acredito que você não me
contou nada essa semana. Como conseguiu guardar tudo isso? — Sei que ela
realmente não quer uma resposta, o que é bom, porque não tenho nada a
dizer. — Eu poderia te bater agora, sabia? Poderia mesmo. Sou a sua melhor
amiga desde o jardim de infância, e você não me disse que se ofereceu para
ser a mãe do bebê do Reed. Isso é loucura... mas, ainda assim, estou muito
orgulhosa de você!
— Orgulhosa de mim? Por quê? Por ser idiota? — Reviro os olhos com a
sua exclamação. Ela parece animada, mas não consigo encontrar razão para
isso. Estraguei a única amizade real que tenho além da sua, e ela está feliz
com isso?
Ela zomba.
— Aff. Me poupe. Se oferecer para ser a mãe do filho dele não foi
estupidez. Garota, já faz muito tempo que essa paixonite existe. Não te falei
antes que é impossível que garotos e garotas sejam apenas amigos? A única
razão pela qual vocês duraram tanto tempo é porque têm tesão um pelo outro
e têm medo de agir de acordo com seus sentimentos. — Ela faz uma pausa
para respirar, e eu tento negar, mas ela continua falando. — Na-não. Nem
tente me dizer que não é verdade. Claro que é, ou ele não teria te beijado. Se
ele te visse só como amiga, teria se afastado. Mas em vez disso, tentou
engolir sua língua.
— Mel... — O nome dela sai como um gemido. — Você não está me
ajudando.
Sua gargalhada ecoa pelo alto-falante novamente e se eu não a amasse,
ficaria chateada por rir de mim. Nada disso é engraçado.
— Fal, você está brava porque sabe que estou certa. Ele vai chegar aí às
sete, certo?
Suspiro com o lembrete, porque só tenho cinco minutos para me arrumar
ou sair. Ah, a quem estou tentando enganar. Não vou a lugar nenhum. Posso
ouvir minha amiga acenando pelo telefone.
— Hum-humm. O que você vai usar para este encontro? Precisa ser algo
sexy, algo que fará com que ele a veja como uma mulher, não como uma
garota comum que está com ele e os irmãos desde que se mudou para a casa
ao lado.
Nós duas ficamos quietas enquanto repassamos mentalmente o meu
guarda-roupas. Mel sabe tudo o que tem dentro dele, pois é quem me arrasta
para fazer compras o tempo todo. Se não fosse por ela, eu estaria usando
calcinha e sutiã de algodão branco em vez de conjuntos de seda e cetim de
uma das lojas mais caras do shopping.
— Ah! — Posso vê-la batendo palmas de alegria. — Já sei o que você
deve usar. Aquele vestido verde esmeralda. Sabe aquele que compramos no
mês passado quando fomos ao shopping? Ele realça a cor dos seus olhos e
fica incrível com seu cabelo escuro. Reed vai dar uma olhada em você e vai
ficar louco.
O vestido a que ela está se referindo deve ser a peça mais sexy que tenho.
É um vestido de malha que se molda ao meu corpo. Ele tem um decote em V
profundo que mostra muito e, mesmo que tenha mangas compridas, é super
curto. Do tipo que mal cobre minha bunda.
Antes que eu possa protestar, ela continua a me orientar.
— Se certifique de usar a lingerie que compramos com ele. Dessa forma,
quando ele tirar o vestido, você ainda estará usando o mesmo tom de verde,
só que com um adicional da renda preta. Ele não vai ser capaz de pensar
direito quando a vir.
Ela parece muito confiante e feliz por mim. Não quero estourar sua bolha,
então concordo. Com um rápido Boa sorte hoje à noite!, ela desliga, me
deixando continuar com essa loucura sozinha.
Pego o vestido do armário, junto com um par de sapatos de salto alto
preto. Depois vou para a cômoda e pego a lingerie e as meias. Estou
prendendo a liga quando a porta do meu quarto se abre e Reed aparece.
A primeira coisa que penso é como ele entrou em casa, mas a segunda é,
caramba, como ele é gostoso. Ele está usando o mesmo terno preto de hoje de
manhã, mas tirou a gravata e deixou os dois primeiros botões da camisa
branca abertos. Meu olhar viaja pelo seu corpo e quando nossos olhares se
encontram, vejo uma fome profundamente enraizada que me faz formigar por
inteiro. E então me lembro que as únicas coisas que estou usando são sutiã,
calcinha, liga e meia-calça.
A mão de Reed aperta o buquê de flores que está segurando e tudo o que
posso fazer é me endireitar, manter a cabeça erguida e apreciar a expressão
em seu rosto enquanto ele me devora. Quando fala, sua voz é quase um
grunhido e o som faz minhas pernas tremerem.
— Puta merda.
Oito

REED
— Como você entrou?
Não consigo tirar os olhos dela. Absorvo cada centímetro da pele exposta.
Já a vi de maiô, mas nunca assim, usando meias e lingerie rendada.
Posso me imaginar tirando essas peças com os dentes. Jamais vou apagar
essa imagem da cabeça, nem quero esquecer. Recupero um pouco a
compostura para poder responder.
— Com a chave extra. Você me deu uma, lembra? — Balanço o chaveiro
na frente do seu rosto para que ela possa vê-la. Minhas mãos estão suando
porque estou nervoso pra cacete, e ela estar quase nua não ajuda em nada.
— Te dei para você usar em caso de emergência. E não estamos em uma.
— Sua atitude esta noite é tão diferente do normal que não consigo entender.
Contra meu melhor julgamento, entro no seu quarto e olho em volta. O lugar
é exatamente como imaginei: limpo, feminino e a cara dela.
Coloco as flores na beirada da cama, respiro seu perfume floral e meus
olhos permanecem nos seus, porque se saírem dali, teremos problemas.
Grandes problemas.
— Eu bati... — Me inclino na direção do seu rosto bonito e irritado e
continuo — duas vezes. — Ela continua a me encarar. — Foi você quem
disse que tinha “planos” esta noite e que não estaria aqui. Quando não
atendeu, entrei para ter certeza de que não estava se escondendo de mim. —
E vendo o que ela está vestindo agora, estou muito feliz por ter entrado. Até
que o pensamento de ela estar aqui com outro homem me vem à cabeça e fico
nervoso.
Fallon se irrita com o meu comentário.
— Me escondendo de você? — Ela balança a cabeça. — Você é fogo,
sabia? — Ela está tão chateada comigo que se esqueceu que está seminua. E
então ela se aproxima e sussurra. — Eu disse que não queria sair hoje à noite.
Já pensou que talvez eu não tenha atendido porque não queria te ver ou
estava ocupada com outra pessoa? — Ela levanta uma sobrancelha
perfeitamente delineada como se estivesse me desafiando, me implorando
para ceder à sua provocação.
Aceito o seu desafio, me aproximando até ficar cara a cara com ela,
forçando-a a me olhar.
— Outra pessoa? Baby, se houvesse outra pessoa, você não teria me
pedido para transar com você.
Sorrio como o idiota que sou e a vejo levar as mãos ao meu peito. Meu
coração bate forte embaixo delas. Me pergunto se ela consegue perceber o
quanto estou nervoso, mas antes que eu possa me deleitar com a sensação das
suas mãos em mim ou ter um pensamento coerente, ela me empurra com
força. Não estou esperando por isso, então acabo recuando um passo.
Ela arregala os olhos de um jeito engraçado, como se não pudesse
acreditar no que acabou de fazer, mas antes que possa dizer qualquer outra
coisa, dou um passo à frente, envolvo sua cintura e puxo seu corpo de
encontro ao meu, nos encaixando perfeitamente. Suas curvas suaves se
moldam ao meu corpo e o tecido do sutiã é tão fino que posso sentir os
mamilos intumescidos contra o meu peito. Sei que ela está excitada e, embora
tenha medo do que o futuro nos reserva, ela quer estar comigo, assim como
eu quero estar com ela.
É nesse momento que perco o controle. Uma fome profunda dentro de
mim se liberta e me inclino em sua direção como um leão reivindicando sua
presa. Não há como escapar nem nos esconder de nossos sentimentos agora.
Somos só nós dois. Como sempre deveria ter sido.
Ela abre a boca, provavelmente para me pedir para soltá-la ou para me
mandar ir para o inferno, mas nesse momento eu a beijo e minha língua a
invade. Não dou chance para que ela responda ou me afaste, apenas a beijo.
Seu gosto de menta e algo mais é viciante e tudo em que consigo pensar é
que quero mais. Preciso de mais. Fallon luta comigo por um segundo. Mas
então suas mão deixam de tentar me afastar e agarram minha camisa para nos
aproximar mais.
Ela está tão confusa quanto eu. Mas de uma certa forma, isso é bom,
porque faz com que nós dois estejamos juntos nessa situação louca.
Aprofundo o beijo, passo as mãos pelos seus braços e sigo até suas
bochechas, emoldurando-as com gentileza e beijando-a como se minha vida
dependesse disso.
Fallon geme e eu sorrio, incapaz de me conter. Seu gemido de prazer é
música para meus ouvidos, e eu a aperto ainda mais querendo me agarrar a
esse momento para sempre.
— Reed... — Sua voz soa rouca quando ela começa a se afastar. As
bochechas estão rosadas e os lábios, inchados. Ela parece pronta para que eu
a leve pra a cama, mas sou homem o suficiente para esperar.
Precisamos conversar primeiro. Temos que chegar a algum tipo de acordo
que proteja nossa amizade caso essa relação não dê certo. Dou um passo para
trás com um suspiro, observando a decepção cintilar em seus olhos.
Corro para tranquilizá-la.
— Eu sei, Fallon. Você não tem ideia do quanto é difícil te soltar depois
de te ver nessa lingerie, mas precisamos conversar antes de fazer alguma
coisa. Fiz reservas naquele restaurante do centro que você ama. Vamos jantar,
relaxar e nos divertir um pouco. Depois podemos voltar para cá ou ir para
minha casa e descobrir qual caminho seguiremos. Não consegui parar de
pensar na sua oferta a semana toda.
Não vou contar a ela que meu pau está dolorido por causa da quantidade
de vezes que me masturbei enquanto “pensava” em sua oferta. Ela nunca
mais me olharia nos olhos.
— Não há oferta, Reed. Eu estava bêbada. Foi um lapso de julgamento da
minha parte e nunca mais acontecerá. — Ela diz as palavras como se
estivesse tentando nos convencer de que não queria o que ofereceu.
O fato de ela estar tentando agir como se não quisesse tanto quanto eu,
me dói. Não deveria, porque sei que ela está mentindo, mas imagino sua
barriga crescendo com meu filho desde o momento em que Ryker colocou a
ideia na minha cabeça. Não vou deixá-la voltar atrás. Isso vai acontecer. Só
tenho que convencê-la de que podemos seguir esse projeto sem estragar nossa
amizade.
— Vamos lá, Fallon. Nós dois sabemos que sua oferta foi genuína. Você
não pode usar a desculpa de que estava bêbada. Além disso, “as palavras de
um bêbado são os pensamentos de um homem sóbrio”, não é isso que sempre
dizem?
— Eu não deveria ter dito nada. Vou ter mais cuidado da próxima vez...
agora podemos deixar isso de lado, porque estou com fome e não estou afim
de discutir o resto da noite sobre algo que não vai acontecer. — Ela pega o
vestido que está sobre a cama e antes que eu perceba o que estou fazendo,
seguro seu queixo para que ela olhe nos meus olhos.
Seu hálito quente toca meus lábios e a necessidade de beijá-la novamente
quase me vence. Suas pupilas dilatam, e sei que ela também sente a
necessidade e o desejo entre suas coxas. Sua calcinha provavelmente está
encharcada e mal posso esperar para ver o quanto ela pode ficar molhada para
mim. Mas por enquanto vou deixá-la com algumas palavras de despedida.
— Uma coisa que você precisa entender é que isso vai acontecer, Fallon.
Você é minha e não vou mais negar o que nós dois queremos. Agora vista
aquela merda de vestido e me deixe te levar para jantar.
Percebo que ela está tremendo e fico impressionado com a necessidade
que sinto de proporcionar um orgasmo para mantê-la satisfeita até
terminarmos de comer. Quero tanto que até dói. Mas não vou fazer nada,
porque se tenho que ficar sexualmente frustrado, ela pode sofrer comigo.
Mais cedo ou mais tarde, nós dois conseguiremos o que queremos. Chegar lá
é que vai ser difícil.
Saio do quarto antes que eu faça algo estúpido como ceder a essa
necessidade. Fecho as mãos como se estivesse apertando bolas de estresse.
Sinto como se elas pudessem conter o desejo incessante que estou sentindo.
É isso aí.
Não transo há semanas, porque não consigo parar de imaginar Fallon e eu
juntos toda vez que fecho os olhos. Depois de chamar seu nome quando gozei
enquanto estava com outra mulher, soube que estava na hora de parar de
transar com qualquer uma.
Percorro o pequeno apartamento de Fallon e aprecio a decoração leve.
Suas fotos com os pais estão apoiadas sobre a lareira, que parece nunca ter
sido usada. Passo os dedos em uma delas. Ela era uma menina, talvez
estivesse com seis anos, e eles estão de pé na frente da casa que possuíam
antes de se tornarem nossos vizinhos. Essa foto deve ter sido tirada alguns
dias antes de nos conhecermos. Ela era linda na época, e me pergunto como
não percebi isso. Quando penso em tudo o que Fallon sofreu com a perda dos
pais, precisando lutar com unhas e dentes para concluir a faculdade e depois
tudo que aconteceu comigo, sinto meu coração doer.
Se ela fosse esperta, encontraria outra pessoa. Não precisaria se oferecer
para me dar um bebê, para nos dar um bebê, mas agora que ela o fez, não
consigo parar de desejar que aconteça. Não consigo me impedir de tentar
convencê-la a nos dar o que queremos.
Alguns segundos depois, a porta do quarto se abre e eu me viro, mas
minha respiração fica presa na garganta enquanto a observo. Se eu achava
que ela estava gostosa quando estava seminua, eu estava errado. Ela está mais
do que gostosa com o lindo vestido que está usando agora.
Ele abraça suas curvas exuberantes e exibe os seios. Quando ela se vira,
juro que vejo uma das nádegas brincando de esconde-esconde sob o vestido.
Quase peço que ela volte para o quarto e o tire, mas em vez de fazer isso,
me aproximo e sussurro as palavras que quis dizer a noite toda.
— Vamos, linda, antes que eu faça algo louco como transar com você
contra a parede.
Ela não emite qualquer som, apenas me olha surpresa antes de começar a
caminhar em direção à porta como uma boa garota.
A minha garota.
Puta merda, estou ferrado.
Estou. Ferrado. Pra. Cacete.
Nove

FALLON
Meu corpo estremece com o desejo que sinto em suas palavras. Reed
mexe comigo e não consigo tirar da cabeça a expressão em seu rosto quando
me viu com esse vestido. As palavras que ele me disse antes de sairmos de
casa se repetem, e eu esfrego as pernas na tentativa de aliviar a dor entre elas.
Puxo a barra do vestido enquanto seguimos em silêncio. Está me matando
não dizer algo sobre transarmos. Uma parte de mim quer dizer o quanto eu o
desejo, mas a outra, a mais racional, diz que ultrapassar esse limite é uma má
ideia.
É como a Mel disse antes. Amigos não podem transar. Muitas pessoas já
haviam provado essa teoria. Quando você transa com um amigo, a amizade
não é mais a mesma. E aí os dois ficam nessa área estranha que chamamos de
amizade colorida. E nesse ponto, as amizades morrem. Não quero que isso
aconteça conosco. Quase suspiro com o estresse que essa situação está
provocando em mim.
— Está tudo bem? Você parece meio enjoada. — Ele me olha do banco
do motorista do seu Mercedes SLR McLaren e parece preocupado. O carro é
extravagante demais para o meu gosto, mas ele gosta e o seu pai se esforçou
muito para ajudar a encontrá-lo. Isso é tudo o que importa para mim.
Respiro fundo, mas isso não acalma o frio que sinto na barriga. O
perfume de Reed está no carro todo e agora grudou na minha pele. Posso
senti-lo a cada respiração e fica cada vez mais difícil me lembrar que somos
só amigos e não pular nele.
Afasto esse pensamento e semicerro os olhos em sua direção.
— Estou bem. Só estou com fome. — É mentira. Talvez eu esteja
realmente faminta, mas o que quero não está no cardápio e, possivelmente,
nunca estará.
Reed sorri como se pudesse ler minha mente e manobra o carro esportivo
em uma vaga longe da entrada, provavelmente para evitar arranhões e batidas
nas portas.
— Fallon... — Ele se vira para mim e sua expressão é indecifrável. O
interior do carro está escuro, a não ser por um pequeno faixo de luz
proveniente de um poste que está acima de nós e entra pelo para-brisa. Seus
olhos estão escuros e um arrepio involuntário percorre minha coluna
enquanto ele fala. — Eu não estava mentindo quando disse que queria transar
com você, então se lembre disso quando entrarmos. Talvez eu não consiga
controlar os olhares direcionados a você, mas posso controlar o que você faz,
e haverá consequências para suas ações hoje à noite.
Suspiro, sem saber de onde vem tudo isso. Reed nunca falou comigo
assim e não sei como responder. Devo brigar com ele? Dizer que sou dona do
meu nariz e que ele não pode me controlar? Não posso negar que o que ele
acabou de dizer aumenta minha excitação. As possibilidades são infinitas
quando se trata de consequências, e já li romances o suficiente para que
minha criatividade consiga trabalhar bastante.
A atenção de Reed se volta para minhas pernas inquietas e ele geme. Se
inclina na minha direção como se estivesse prestes a me beijar mais uma vez,
mas nada acontece. Antes que eu possa decidir se é isso que quero, ele sai do
carro e dá a volta para me ajudar.
É bom sentir o ar frio contra a minha pele quente. Inspiro profundamente
para que o perfume de Reed se dissipe. Ele apoia a mão nas minhas costas
enquanto caminhamos até a entrada. O homem é tão bonito que as mulheres
param para encará-lo, mesmo quando estão acompanhadas.
O pensamento de que ele poderia sair com qualquer uma delas surge do
nada e tenho que me forçar a reprimir o ciúme. Essa não é uma emoção que
eu deveria sentir quando se trata de um amigo e de amizade em geral.
Reed abre a porta do restaurante para mim e somos recebidos pela
hostess, que nos conhece pelo nome. Sally, uma senhora que trabalha no
Lenny’s Italian Bistro desde que éramos crianças, sorri para mim. Ela está
radiante, e eu quase gostaria de poder dizer que me sinto da mesma maneira.
— Só vocês dois esta noite? — ela pergunta com os cardápios na mão,
mesmo sabendo que não precisamos deles. Frequentamos esse lugar desde os
dez anos. Nossos pais costumavam juntar as famílias uma vez por mês e só
pararam quando os meus morreram.
— Sim, somos só nós dois. — Reed deve sentir minha melancolia, porque
responde por mim, e ela nos leva a uma mesa nos fundos. O jantar é
basicamente à luz de velas, o que passa uma sensação romântica que eu
realmente amo. Reed puxa a cadeira para mim, me ajudando a sentar antes de
se acomodar à minha frente. O cavalheiro perfeito. Por inteiro.
E ele nem é meu.
— O que está se passando nessa linda cabecinha? — ele pergunta
enquanto a garçonete se aproxima para anotar nossos pedidos. Peço uma taça
de vinho e Reed, uma cerveja. Ela se afasta para pegar nossas bebidas e ele
volta sua atenção para mim.
— Você se lembra de que vínhamos aqui quando crianças? Antes dos
meus pais morrerem? — Quase faço uma careta com a pergunta. Raramente
falo sobre os dois, não importa o quanto eu sinta a falta deles ou me odeie por
também não estar no carro no dia em que morreram. A dor da perda é tão
forte hoje quanto no dia em que aconteceu. Quem diz que o tempo ameniza o
sentimento está mentindo.
Reed assente e me dá um sorrisinho que demonstra saber que estou
sofrendo.
— Claro. Seus pais eram minhas pessoas favoritas além de você. — Ele
pisca, tentando aliviar ao máximo a energia triste da nossa conversa.
— Estar aqui me faz sentir falta deles. Não falo sobre isso, mas às vezes
sinto tanta saudade que quase não consigo suportar. — Dou de ombros e
mexo no guardanapo até a garçonete voltar com o vinho. Pedimos o mesmo
de sempre: lasanha, salada e pão de alho com queijo.
Um silêncio constrangedor cai entre nós depois que ela sai. Detesto isso.
Normalmente, Reed e eu falamos sobre tudo, mas desde que fiz essa oferta
idiota sinto como se não soubéssemos nos comportar perto um do outro. Me
sinto uma boba, e ele não consegue dizer que não está interessado. Viu? Nem
precisávamos de sexo para estragar nossa amizade.
Olho para a mesa desejando sumir dali. É quando a mão de Reed cobre a
minha. Ele a aperta e chama meu nome baixinho. Olho para ele e seu olhar
me assusta. É terno e cheio de carinho. Ele abre um meio sorriso, assente e
olha para as nossas mãos.
— Que bom que o guardanapo é de pano. — Posso ver que ele está tendo
dificuldade para impedir que o sorriso se amplie.
Também olho para baixo e quando volto a encará-lo, franzo o cenho em
confusão.
— O quê?
— Do jeito que você o está torcendo, estaria completamente arruinado se
fosse de papel. — Sua voz é cheia de alegria, mas ele consegue não rir
quando coro. Sinto as bochechas quentes e sei que elas estão em um tom
muito vermelho. Largo o guardanapo imediatamente, me ajeito na cadeira e
apoio as mãos no colo. Reed abre a boca para dizer algo, provavelmente para
me tranquilizar, mas antes que ele possa fazer qualquer coisa, alguém se
aproxima da mesa e nós dois olhamos para cima quando uma voz familiar diz
meu nome.
— Fallon? É você?
Semicerro os olhos e tento ver se realmente é quem estou pensando.
— Charlie? — digo o nome como uma pergunta, mesmo sabendo que é
ele. — O que está fazendo aqui? — Me repreendo internamente por fazer
perguntas tão idiotas. Continuo olhando para ele, aguardando sua resposta.
Ele passa a mão na nuca e parece um pouco envergonhado.
— Ah... estou aqui com a minha mãe. — Ele vira a cabeça e eu sigo o
movimento com o olhar, examinando o salão até vê-la. A mãe de Charlie é
incrível. Ela me adorava quando estávamos juntos.
Mas da última vez que a vi, ela agiu como se eu não existisse. Acho que
terminar com o filho dela a fez deixar de me amar.
— Só vim te dizer oi.
Charlie é tão atraente quanto Reed, mas de uma maneira mais atlética.
Eles são opostos completos, e provavelmente é por isso que fiquei com ele.
— Oi. — Sorrio para ele de forma calorosa, odiando tê-lo magoado da
forma como fiz. Foi melhor terminar quando finalmente admiti que não era
com ele que eu queria estar. O relacionamento nunca iria adiante. Dessa
forma, o deixei livre para encontrar outra pessoa. Pelo jeito, isso infelizmente
ainda não aconteceu, já que ele está aqui com a mãe.
Reed limpa a garganta, chamando minha atenção. Olho para ele e pela sua
expressão, posso dizer que não está satisfeito. Não sei o que há de errado. Ele
não costuma agir assim. Quando estávamos namorando, ele gostava do
Charlie, então qual é o problema agora? Eu o chuto por baixo da mesa, mas
ele nem se mexe. Gostaria que esses sapatos fossem mais pontudos, porque
não posso dizer ou fazer mais nada sem que seja óbvio.
— Ah. Oi, Reed. — Charlie o cumprimenta com uma risada ansiosa.
Fuzilo Reed com os olhos e rezo para que ele entenda a dica.
— Estamos em um encontro, cara. Você poderia esperar até mais tarde —
ele grunhe, parecendo mais viril que o normal. Charlie me olha e abre um
meio sorriso. Ele não é do tipo que confronta, então é mais do que provável
que desconsidere tudo o que Reed disse, mas essa não é a questão.
Mesmo com a luz fraca do restaurante, vejo meu ex-namorado ficar
vermelho. Ele está envergonhado e isso me faz sentir ainda pior.
— Ah... oh... — ele começa a gaguejar e olha para todos os lugares,
menos para nós. Vou matar o Reed. Charlie finalmente me olha, fazendo tudo
o que pode para evitar Reed. — Desculpe, Fallon. Vou embora.
Parte de mim quer que ele fique só para deixar Reed mais irritado, mas
não é justo com Charlie.
— Está tudo bem — tento tranquilizá-lo. — O Reed está um pouco
irritadiço hoje. Mas foi bom te ver. Diga a sua mãe que mandei um oi, tá? —
Sorrio como se estivesse genuinamente feliz quando, no fundo, quero gritar
com Reed por se comportar dessa maneira.
Só faltava ele demarcar o território.
No segundo em que Charlie está fora do alcance, me viro para ele e
sussurro:
— O que foi isso?
— O quê? — Seu tom é inocente, mas o sorriso revela a verdade.
Ah, ele me faz querer gritar... ou chutá-lo. Talvez as duas coisas.
— Sabe exatamente do que estou falando, Reed Alan Winston. Não fique
aí sentado agindo como se não tivesse feito nada errado. O que o Charlie te
fez? — Estou com tanta raiva que tensiono a mandíbula. Ele está agindo
como se fosse meu dono.
Ele arqueia uma das sobrancelhas perfeitas, mas pelo menos o sorriso se
desfez. Após alguns segundos, Reed dá de ombros.
— Ele te tocou. Se lembra das consequências que mencionei?
Abro a boca e quase grito.
— Ele me tocou? — Minha voz é muito alta para o restaurante tranquilo e
as pessoas sentadas ao nosso lado começam a nos olhar e sussurrar.
Estou com muita raiva para me importar com qualquer coisa.
— O que isso tem a ver? Ele segurou minha mão, me beijou, que seja.
Não é como se fosse fazer isso de novo. Caso você não saiba, fui eu quem
terminou com ele.
Reed se inclina para frente e quando fala, meu corpo inteiro fica tenso.
— Não dou a mínima se ele não vai fazer isso de novo. Ele fez uma vez e
é isso que me irrita.
Ele está sendo ridículo. Por que essa atitude possessiva está me
excitando? Sinto raiva, calor e frio ao mesmo tempo. Quero que ele me leve
para a cama e peça desculpas com seu corpo. Quero dar um tapa nele e
empurrá-lo para longe, mas também quero puxá-lo para meus braços e provar
seus lábios.
Mas não faço nenhuma dessas coisas. Em vez disso, levanto as mãos em
sinal de exasperação, porque tudo isso é loucura.
— Ah, meu Deus, Reed! Você sabe que não sou sua, não é? — Não
importa o quanto eu queira ser. Quero que ele me diga que estou errada, que
sou dele, mas ele apenas me encara como se não pudesse acreditar no que
estou dizendo.
Nos olhamos sem dizer nada pelo que parecem horas, mas só se passaram
alguns instantes. Finalmente, Reed parece encontrar sua voz. Logo quando
ele começa a falar, a garçonete vem até a nossa mesa com a comida. Sinto
vontade de gritar ou até chorar por ser tão azarada.
Nos encaramos enquanto ela coloca tudo na mesa, e espero, impaciente,
que ela termine para que possamos ficar sozinhos de novo.
Ela parece sentir a tensão e se apressa em servir a comida para poder se
afastar. Depois de se certificar de que não precisamos de nada, ela sai e
ficamos olhando um para o outro em silêncio de novo.
Sem piscar, Reed fala:
— Você pode não ser minha ainda, mas quando chegarmos a um acordo
sobre a oferta que me fez, vai ser. — Será que ele acredita no que está
dizendo?
— Só porque me ofereci para ter um bebê não significa que sou sua. Não
sou um objeto, Reed. Sou um ser humano e sem um anel no dedo, não há
nada que você possa fazer para me impedir de estar com outra pessoa.
Sinto orgulho de mim mesma por dizer isso. Tudo que quero é Reed,
nosso bebê e sua aliança no meu dedo. Mas ele precisa entender que se
formos adiante com esse projeto, ter um filho dele não significa que ele será
meu dono.
O garfo em sua mão cai, fazendo um barulho alto no prato. Ele tenta
segurá-lo antes que faça mais barulho e eu quase rio, porque, pela primeira
vez, deixei o playboy em choque.
— Isso significa que você concorda... com o acordo? — Reed gagueja
como se não pudesse acreditar no que está ouvindo.
Balanço a cabeça devagar.
— Não, não concordo. Só estou dizendo que você não é meu dono e não
tem direito a sentir ciúme. Você pode não me querer, mas isso não impede
que outro homem queira. — Eu o observo com atenção. — Se eu concordar
com isso, você vai exigir que eu fique sozinha para sempre? Eu não deveria
ter alguém para me amar além do nosso filho?
Reed balança a cabeça com raiva.
— Não, Fallon, não é isso que estou dizendo... — Ele está frustrado
comigo e com todas as coisas que estou falando, mas é verdade. O que vai
acontecer comigo se eu concordar em ter um filho com ele? Algum dia ele
vai se apaixonar por outra pessoa ou nós dois estaremos destinados a não
amar?
Meu estômago revira e quando olho para a minha refeição favorita, perco
todo o apetite. Não posso comer agora. Não me sentindo assim.
— Eu só... ver você com outra pessoa me mata aos poucos. — Pisco ao
perceber que ele acabou de admitir que tem sentimentos por mim, pelo menos
indiretamente. Seu rosto fica pálido, como se ele tivesse acabado de notar o
que disse. Como se suas palavras fossem os pregos finais no caixão da nossa
amizade.
— A mim também, Reed. — Sinto as lágrimas se formarem nos olhos e
nem sei ao certo o porquê. Tudo o que sei é que preciso me afastar dele, pelo
menos por alguns minutos.
Sem dizer nada, coloco o guardanapo sobre a mesa e evito seu olhar
penetrante. Vou direto para o banheiro e as lágrimas escorrem dos meus
olhos quando passo pela porta.
Meu coração dói, meu corpo estremece e eu me pergunto:
Estou condenada a ficar sozinha para sempre?
Dez

REED
Fallon fica em silêncio até chegar na minha casa, olhando pela janela e
fazendo tudo o que pode para agir como se não estivéssemos juntos no carro.
Ela finalmente se vira para mim com um olhar incrédulo no rosto quando
estaciono.
— Por que estamos aqui?
Sei que ela está esperando uma resposta, mas se não tomar cuidado, ela
exigirá que eu a leve para casa e não posso arriscar. Temos que conversar.
Preciso de uma chance para mostrar a ela que o ciúme que senti no jantar não
me representa. Bem, isso não é totalmente verdade, porque sempre fui um
cara possessivo quando se trata dela. Só não consegui demonstrar isso até
agora.
Se a Fallon soubesse o quanto eu odeio pensar em qualquer outro homem
colocar as mãos nela, reviraria os olhos e me diria que sou ridículo antes de
exigir que eu a levasse para casa e esquecesse tudo sobre essa ideia de ter um
bebê.
Ela abre a boca, em choque quando saio do carro sem responder e a vejo
mexendo na maçaneta da porta para me seguir e conseguir respostas.
— Sério, Reed? — Ela caminha até onde estou com uma carranca. — Vai
me ignorar agora? — Continuo em silêncio, e ela grunhe com frustração
antes de murmurar: — E era para ser uma conversa entre adultos.
É difícil manter a expressão séria quando ela cruza os braços e me encara,
mas consigo. Ignoro sua raiva, seguro seu cotovelo e a direciono para os
elevadores que nos levarão à minha cobertura.
Surpreendentemente, ela não discute comigo e depois de uma subida
silenciosa — a não ser por seus suspiros altos e reclamações murmuradas —
até o nono andar, ela passa como um furacão pelo corredor em direção a
minha porta. Assim que estamos dentro do meu apartamento, ela gira para me
encarar mais uma vez.
É bom saber que, no fundo, ela me ama, porque se não amasse, eu ficaria
preocupado achando ela estaria tentando decidir a melhor maneira de me
castrar. Ela provavelmente está pensando em me dar uma joelhada nas partes
baixas. Não seria a primeira vez... e também não seria a última.
Eu a deixo de pé no meio da sala enquanto sirvo uma bebida para nós
dois no barzinho que montei no canto. Preciso de alguns minutos para
organizar meus pensamentos, mesmo sabendo que manter o silêncio só vai
deixá-la ainda mais irritada.
Fallon tem que concordar em fazer isso. Sei que foi sua ideia, mas agora
ela está repensando sobre a oferta e achando que talvez não seja uma boa
ideia. Preciso convencê-la de que é a melhor ideia do mundo, apesar do meu
comportamento idiota desta noite. Quando volto para onde a deixei, ela não
está mais lá. Merda. Entro em pânico por um segundo, pensando que ela foi
embora, mas percebo que a porta não fez barulho, então ela tem que estar
aqui em algum lugar.
Ando sem rumo pela casa, verificando a cozinha, o banheiro e o
escritório. Quase suspiro de alívio quando finalmente a encontro no meu
quarto. Seus braços ainda estão cruzados e ela está olhando para as portas
francesas que levam para a pequena varanda. A vista daqui é incrível e a
maneira como ela reagiu quando a viu no dia em que visitou o apartamento
comigo foi o que me fez assinar o contrato.
Ainda me lembro do seu sorriso enorme e da felicidade que brilhava em
seus olhos. Ela ama este lugar mais do que eu. Observo-a por um momento,
apenas um segundo enquanto ela ainda não sabe que estou aqui, e admiro
como as luzes da cidade iluminam seu corpo. Elas criam uma auréola ao seu
redor e me aproximo até ficar atrás dela.
O corpo de Fallon fica tenso quando meu peito encosta nela, e eu estico o
braço para lhe entregar um copo do uísque. Este é o seu favorito e só o
mantenho aqui para ela beber. Pessoalmente, prefiro scotch, mas a primeira
vez que ela experimentou esse, não parou de falar sobre o sabor da baunilha,
amêndoas e nem me lembro do que mais.
Mesmo com raiva, Fallon sorri quando pega o copo.
— Pelo menos, você tem uma bebida decente aqui. — Tenho que
disfarçar minha risada, porque não é como se fosse a melhor das bebidas. É
um uísque barato e comum, mas ela é assim. A Fallon não é o tipo de mulher
que se preocupa com o que meu dinheiro pode comprar. É outra razão pela
qual esse acordo entre nós faz muito sentido. Não preciso me preocupar que
ela seja uma interesseira, e ela sabe que vou cuidar dela. Agora só tenho que
mostrar como vou fazer isso.
— Antes de conversarmos, quero que saiba que eu não estava tentando te
magoar. Espero que você entenda isso — falo baixinho, querendo beijar a
pele exposta na parte de trás do seu pescoço.
— Eu sei. — Ela se vira para ficarmos frente a frente e seus lábios quase
tocam os meus. Sua beleza me deixa sem fôlego e me faz pensar em coisas
que eu não deveria. — Não fiquei chateada por você ter ficado todo machão.
Fiquei aborrecida por você dizer que estava bravo por me ver com outra
pessoa...
— Eu estava... — Minha voz falha, revelando as emoções e antes que eu
possa terminar, ela está me beijando e assumindo o controle do momento.
Seus lábios se colam aos meus, devorando-os com pouco esforço. Queria
testá-la hoje à noite, ver se ela me deixaria tocá-la, se me permitiria explorar
seu corpo, mas agora percebo que é ela quem está me testando.
Então ela se afasta, sem fôlego.
— Acha que não sinto o mesmo? Acha que gosto de ver você desfilar
com aquelas moças esbeltas que parecem ficar mais burras a cada vez que
você escolhe uma nova? — Seu comentário faz meus lábios tremerem e, pela
primeira vez, fico feliz em ouvir seus pensamentos reais sobre todos os meus
casos.
— Você nunca demonstrou se importar. — Sei que pareço petulante, mas
é a verdade. Fallon sempre foi amigável com todas as garotas com quem me
viu, mesmo quando elas se sentiam ameaçadas pela nossa proximidade.
Ela dá um passo para trás. Não há para onde ir. Ela está encostada na
janela e quando seu corpo tensiona, entendo que ela também percebeu. Quero
me aproximar, mas sei que ela precisa da distância para poder dizer o que
está pensando.
— Como eu deveria agir, Reed? — ela pergunta com uma risada triste. —
Odiá-las não teria te impedido de ir para a cama com elas.
Não suporto saber que a tristeza em sua voz é motivada pelas minhas
ações. Fallon sempre foi tão auto suficiente e segura de si que me esqueço do
quanto ela pode ser sensível e frágil.
Antes que eu possa me desculpar... de novo... ela leva o copo aos lábios e
engole o uísque de uma vez, depois passa por mim para se sentar na beirada
da cama.
— Você queria falar sobre esse acordo, então vamos acabar logo com
isso. — Sua voz está completamente vazia de emoção. Parece que ela está em
um julgamento, a espera de que a declarem culpada. Não é isso que eu queria.
Sei que ela espera que eu me sente ao seu lado, mas se fizer isso, ela vai
conseguir esconder seus verdadeiros sentimentos. Então pego a cadeira que
fica no canto do cômodo e a puxo para me sentar bem na sua frente.
— Tudo bem, vamos conversar.
Agora que o momento chegou, não tenho ideia do que dizer. Eu tinha
tudo planejado, mas ver Fallon quase nua e Charlie ter aparecido na nossa
mesa durante o jantar, me deixou completamente perdido.
Levantando o dedo, Fallon começa.
— Primeiro, quero deixar registrado que acho que essa é uma péssima
ideia.
Não consigo deixar de rir.
— Fallon, a ideia foi sua.
— Eu sei — ela assente —, é por isso que sei que é ruim. Ideias que
parecem boas quando a gente está bêbado nunca devem ser consideradas
válidas.
Chegando mais perto dela, seguro suas mãos.
— Fallon. — Minha voz é baixa. Tão baixa que ela tem que se aproximar
para me ouvir. — Pense nisso. Um filho que será metade de você e metade de
mim? Não vê o quanto seria incrível? — Ela balança a cabeça e começa a
falar, mas eu a corto, sem querer ouvir quaisquer argumentos que ela tenha.
— Você sabe o quanto a empresa é importante para mim, o quanto quero
mantê-la na família. Podemos fazer isso juntos. Além do mais, não consigo
pensar em ninguém em quem confie mais que você. É por isso que sei que
vai funcionar.
Seus ombros caem e ela parece um pouco desanimada, mas antes que eu
possa perguntar por que, ela endireita a coluna e me olha nos olhos.
— Se realmente vamos embarcar nesse projeto, precisamos de algumas
regras.
Assinto, tentando não sorrir. Ela vai aceitar. Se ela fosse cem por cento
contra, nem estaria discutindo.
— Concordo.
Ela olha para todos os lados, menos para mim enquanto pensa no que vai
dizer em seguida. Acho que ela nem notou que está roendo as unhas, algo que
costumava fazer o tempo todo quando era pequena. Sua mãe passou tanto
tempo gritando com ela e tentando coisas diferentes para impedi-la de roê-las,
mas nada deu certo. Agora ela só faz isso quando está realmente preocupada
com alguma coisa.
— Acho que a primeira regra deveria ser... — Faço uma pausa, sem saber
como ela reagirá a isso. — Não se apaixonar. — Vejo a tristeza cintilar em
seus olhos novamente, mas afasto essa percepção para longe. Não posso amar
Fallon, mesmo que eu também queira. Posso desejá-la, mas estar comigo
acabaria destruindo um de nós.
Ela suspira.
— Certo. E isso é só sexo.
O simples pensamento de Fallon debaixo de mim e do meu pau entrando
e saindo de dentro dela, me faz querer terminar essa conversa para que eu
possa mostrar o prazer que sou capaz de proporcionar.
— Apenas sexo. Sem amor. — Minha voz falha quando repito as
palavras, percebendo a grande burrada que vamos fazer.
Ela coloca um dedo no meu peito e sua unha pressiona a minha camisa de
algodão.
— O que significa que não haverá gracinhas como as de hoje.
— Não. Nunca. Jamais. — Faço uma pausa a cada palavra, mas não
desvio os olhos da sua boca. Quero beijá-la até ficarmos sem fôlego. Assim
que terminarmos nossas negociações, é exatamente o que vou fazer.
Precisamos de algo para impedir que a gente se envolva demais. Não
posso arriscar que ela se apaixone por mim e não há absolutamente nenhuma
forma de não me apaixonar por ela. Pelo menos, não mais do que já estou.
— Acho que precisamos de uma segunda regra.
Ela parece um pouco surpresa e muito cautelosa.
— Segunda regra?
— Sim. — Quanto mais penso sobre isso, mais faz sentido. — Regra
número dois: se apaixonar encerra o contrato, tornando-o nulo. — Estou
inventando tudo isso, mas ter essa garantia me faz dar um suspiro de alívio.
Ela parece estar pensando profundamente e mordisca os lábios enquanto
considera o que acabei de dizer. Quase não consigo respirar enquanto espero
que ela tome uma decisão e, finalmente, ela assente devagar.
— Tudo bem. Acho que não precisamos dessa regra, porque não tenho
planos de me apaixonar por você, mas se quiser inclui-la, eu concordo.
Me aproximo mais, querendo beijá-la quando sussurro as palavras:
— Não quero que seja uma regra, Fallon. Preciso que seja. É para nos
proteger. — Finalmente desisto e a beijo de leve, acariciando seus lábios com
os meus alguma vezes antes de me afastar para olhar em seus olhos.
— Já que teremos que dormir juntos, é bom que a gente pratique... —
Suas bochechas ganham um atraente tom de rosa com as palavras, e eu quase
rio.
Ela não pode ser tão inocente, pode?
— Você já transou com alguém? — O pensamento de ser o primeiro me
deixa excitado.
Observo quando ela morde o interior da bochecha e sei a resposta para
minha pergunta quando seus olhos se recusam a encontrar os meus. Puta
merda, ela é virgem. Como isso é possível? Não consigo disfarçar meu
espanto. Estou chocado, mas também excitado. Saber que nenhum outro
homem a tocou, faz com que eu queira tomá-la aqui e agora. Mas não sei
exatamente o quanto ela é inocente e corro o risco de estragar tudo antes
mesmo de começar se for com muita sede ao pote.
Onze

FALLON
Minha pulsação acelera e minhas bochechas se aquecem quando percebo
o que ele acabou de perguntar. Você é virgem? Ele me encara intensamente e
sei que, de uma maneira ou de outra, vou ter que contar.
— Tenho que dizer isso em voz alta? Você já deve ter entendido. —
Quero me enrolar em uma bola no canto do quarto. Estou muito
envergonhada.
Ele abre um grande sorriso e sinto que algo mudou entre nós. É como se a
Terra tivesse mudado seu eixo.
— Você não tem ideia do quanto isso me deixa excitado, não é?
Pisco e olho para ele com espanto. Ele realmente acabou de dizer isso?
— P... por que isso te deixa... — tento contornar a palavra. — Você
sabe...? — Reed sorri e começa a desabotoar a camisa. Posso sentir minhas
coxas se apertando pelo desejo. Eu o quero tanto que quase posso sentir seu
gosto na minha língua.
— Porque, por mais estranho que seja, saber que serei o primeiro me faz
sentir extremamente sortudo. Vou fazer de tudo para ser perfeito para você.
Suas palavras deveriam me deixar com raiva, mas não deixam. Elas me
excitam tanto que meu corpo se remexe de forma desconfortável contra os
lençóis. Sempre quis que Reed fosse o primeiro, que fosse o homem a quem
eu me entregaria.
— O que você está fazendo? — questiono, observando enquanto ele tira o
paletó e termina de desabotoar a camisa. Minha boca saliva quando dou uma
olhada em seu abdômen por baixo da roupa. Na verdade, ainda não vamos
fazer nada, certo? Não sei se estou pronta hoje à noite.
Reed sorri enquanto segura a gola da camisa por trás. Ele a tira, a deixa
cair no chão e revela seu corpo deslumbrante para mim.
— Eu te devo um pedido de desculpas e precisamos de um test drive. Me
deixe fazer carinho em você, Fallon. Quero te dar o melhor orgasmo da sua
vida.
Demoro um minuto para perceber o que ele está pedindo. Meu melhor
amigo está me perguntando se pode me dar um orgasmo e tudo o que consigo
pensar é: sim, sim, por favor. Quero gritar a resposta, mas me contento com
um aceno.
Assim que dou minha permissão, ele ataca. Vem em minha direção e me
deita na cama. Seus braços enormes me prendem e me sinto segura como se
nada pudesse me magoar de novo. Fecho os olhos quando sua boca cobre a
minha. Esse beijo não é nada como os outros que já dei. Reed me devora e
sua língua entra e sai do jeito que eu gostaria que outra parte dele estivesse
fazendo.
Ele explora cada centímetro da minha boca antes de deixá-la para
espalhar beijos na minha mandíbula. Meu corpo treme com a necessidade.
Fico ofegante e meu corpo tensiona quando ele mordisca o lóbulo da minha
orelha. Seus lábios continuam a se mover pelo meu pescoço, parando por um
breve momento ao tocarem o tecido do vestido. A antecipação vai me matar.
Já sinto que estou prestes a gozar e ele mal me tocou.
Estremeço, esperando que ele faça alguma coisa. Qualquer coisa para
aliviar minha dor. Começo a implorar quando tudo que ele faz é depositar
beijos suaves contornando a costura.
— Reed — gemo —, por favor... preciso... — Viro a cabeça de um lado
para o outro no edredom macio. Não sei como pedir o que quero.
Ele levanta a cabeça, e o sorriso que me dá promete todo tipo de coisa
sacana.
— Sei do que você precisa, linda — ele murmura.
Ele desliza um dedo pela bainha do vestido, mal tocando minha pele
superaquecida e deixando-a arrepiada. Arqueio as costas em uma tentativa
desesperada de me aproximar e quando ele puxa a parte superior do vestido
para revelar meus seios, fico feliz por ter escolhido usá-lo, uma vez que o
tecido permite que ele se estique.
Espero que ele afaste a taça do sutiã, mas ele não o faz. Em vez disso,
acaricia meu mamilo por cima da peça, encharcando a seda e provocando
atrito contra a pele. Ele aperta o outro mamilo com a mão livre, fazendo com
que fique mais intumescido, alongando-o como se estivesse implorando por
sua boca.
Ele alterna entre lamber e sugar os mamilos até que me contorço embaixo
dele. Os únicos sons no quarto são meus gemidos e sua boca contra a minha
pele.
Estou tão concentrada no que ele está fazendo com meu corpo que não
noto sua mão se mover até a parte interna da minha coxa e começar a
acariciá-la com as pontas dos dedos. Estremeço com o contato. Ele ri e o som
reverbera em meu peito sensível.
Reed passa os dedos pela borda da calcinha, evitando tocar o ponto em
que mais preciso dele. Gemo de frustração e tento mover os quadris para que
ele faça o que preciso. Em vez de conseguir o que quero, fico chocada
quando ele morde meu mamilo. Nesse momento, sou atingida por uma
pontada de dor e prazer. Então ele volta sua atenção para a minha boca.
— Posso te tocar? — ele pergunta, roçando os lábios nos meus a cada
palavra. Assinto, mas ele permanece imóvel. Encontro forças para verbalizar
a resposta, adorando o fato de ele estar pedindo permissão a cada nova
experiência.
Ele quer que isso seja bom e perfeito para mim. Essa atitude me faz
desejá-lo cem vezes mais.
— Sim — repito.
Assim que a palavra sai da minha boca, seu dedo desliza pela borda da
calcinha e ele geme alto.
— Tão macia... tão molhada.
Meu interior se aperta e rezo para que ele não pare.
— Preciso de você, Reed — suspiro, disposta a implorar se ele quiser.
Nunca estive tão dominada por um orgasmo. Por outro lado, nunca desejei
alguém do jeito que desejo Reed, e isso me assusta. Me aterroriza.
— A perfeição leva tempo, Fal. Precisa ter paciência. — Ele se afasta,
empurra o vestido sobre meus quadris e expõe minha intimidade. Seu dedo
roçando em meu clitóris me faz ofegar e um gemido profundo sai dos meus
lábios quando ele acaricia o ponto inchado.
— Algum homem já te provou? — Umedeço os lábios, quase incapaz de
formar um pensamento coerente. Balanço a cabeça depressa, querendo seu
toque, precisando dele.
— Fale, Fallon. Preciso ouvir você dizer. — A voz de Reed soa estranha
e com medo de que ele pare, eu respondo.
— Não... nenhum homem fez isso. — Estremeço, implorando pelo
orgasmo que ele pode me dar. Ele sorri e quase gozo quando passa os dedos
pela borda da calcinha e a puxa. O material não é páreo para sua força. Só é
preciso um estalo agudo e ela se foi, me deixando nua para ele. Eu deveria
me sentir tímida, mas não. Deveria fechar as pernas e dizer a ele que não
podemos fazer isso, que é errado, mas não posso.
Parece muito certo. O pedaço de renda cai no chão, e Reed se ajoelha na
beirada da cama, afasta minhas pernas com gentileza e expõe minha boceta
ao ar fresco. Minha pele se arrepia e estremeço involuntariamente quando ele
assopra minha vagina.
— Nunca pensei que seria o primeiro homem a fazer isso com você. —
Ele está quase grunhindo e quero implorar para que ele me lamba e chupe
meu clitóris inchado, mas ele já está lá. — Nunca pensei que fosse fazer isso
com você — é a última coisa que ele diz antes de me tomar em sua boca e
penetrar um dedo em mim.
A combinação de sensações é demais e meu clímax me pega de surpresa.
Não se parece com os orgasmos que eu mesma proporcionei enquanto
fantasiava com ele. Ele me leva ao limite entre a dor e o prazer e me lembro
de que esperei por esse momento a vida toda. O ar enche meus pulmões como
se eu estivesse respirando pela primeira vez.
Sinto um frio na barriga e sorrio.
— Reed... — murmuro seu nome com um sorriso, sentindo como se
estivesse flutuando. Minha boceta aperta seu dedo grosso, e eu gostaria que
fosse seu pau dentro de mim.
— Puta merda, Fallon — ele murmura, mas não consigo compreender,
pois ele começa a lamber meu gozo e sua língua desliza sobre a minha
intimidade a cada investida. Ele move o dedo para dentro e para fora, fazendo
com que outro orgasmo se forme.
— Ah, caramba! — grito e mordo o lábio inferior. Não quero fazer
barulho, mas o prazer está me dominando.
— Quero ver você gozar de novo — ele exige e insere um segundo dedo
em minha boceta apertada. Sinto como se ele estivesse me preparando para
seu pau.
— Não pare — imploro, sem fôlego. Levanto os quadris para encontrar
seu movimento. Ele curva os dedos, se esfregando em um ponto que vai me
fazer voar.
Minha cabeça ainda está girando quando ele beija o interior da minha
coxa. Minha pele está formigando e é como se meu corpo estivesse na beira
do penhasco. Com uma última estocada dos seus dedos dentro de mim, gozo,
sentindo o corpo tremer e as pernas se transformarem em geleia enquanto o
prazer percorre minhas veias. Nunca senti nada assim
Minha respiração está irregular e o batimento cardíaco, acelerado. Estou
quase com medo de abrir os olhos e ver que tudo não passou de um sonho.
— Abra os olhos, linda. — A voz de Reed é profunda e grave, me
forçando a seguir seu comando. Quando abro, vejo seu belo corpo pairar
sobre mim. Ele se parece muito mais com um homem, não com o garoto com
quem cresci.
— Isso... — Não tenho palavras para descrever como ele me fez sentir, e
ele deve saber, porque simplesmente assente e coloca dois dedos sobre a
minha boca. Chupo-os, sentindo o gosto do meu próprio prazer. O sabor
explode na minha língua à medida que Reed me observa com uma fome tão
selvagem que me pergunto se ele vai abrir a calça e me penetrar agora.
Vou deixá-lo fazer isso?
— Eu te achava linda antes, mas não há nada tão bonito quanto você
gozando. — Quando ele se afasta, a decepção me atinge.
— Você quer que eu...? — Minha voz falha quando me sento e ajeito a
parte de cima do vestido.
Reed passa a mão pelos cabelos castanhos escuros e não tenho certeza se
ele está fazendo isso por frustração ou para se impedir de me tocar.
Ignoro seu silêncio e vou até ele. Meu corpo se move por vontade própria
enquanto fico de joelhos na sua frente. Sinto sua ereção e quando toco o
botão da sua calça, sinto seus olhos em mim.
— Não precisa fazer isso. Hoje foi tudo para você. Eu te devia um pedido
de desculpas. O problema é que quero me desculpar de novo e de novo, mas
com meu pau. — Sua resposta me assusta, porque não espero que ele me
queira tanto quanto eu o quero.
— Mas eu quero... — Mordo o lábio inferior, nervosa. — Por favor? —
acrescento, esperando que isso ajude. Um leve sorriso surge em seus lábios
quando ele sussurra as próximas palavras.
— Você é perfeita, Fallon. Perfeita demais. — Sinto a emoção me atingir
quando percebo que realmente vai acontecer. Vou chupar o pau do meu
melhor amigo, o homem com quem venho fantasiando desde que tinha idade
suficiente para saber o que era sexo.
Abro o botão da calça antes que perca a coragem. Reed segura minha
bochecha, emoldurando-a com a palma da mão enquanto acaricia meu lábio
inferior com o polegar. Sua calça cai no chão, revelando um Reed muito nu e
animado.
— Me ajuda? — pergunto, em choque. Reed apenas sorri enquanto eu
tomo seu comprimento enorme. Ele é longo e grosso, e acho que nunca vi
alguém daquele tamanho. Enquanto o observo, fico apreensiva. Como isso
pode se encaixar em qualquer parte do meu corpo?
— Não tenha medo. — Ele deve ter sentindo a minha tensão. Afasto
qualquer pensamento e umedeço os lábios antes de tomar seu comprimento
em minhas mãos. Não deixarei que a ansiedade me impeça de fazer o que
quero.
Ele geme alto com o meu toque e inclina a cabeça para trás, olhando para
o teto. Aproveito o momento para lamber a ponta do seu pau, girando a
língua ao redor da cabeça com suavidade. Ele segura as coxas e as veias dos
braços ficam aparentes.
— Você está bem? — pergunto e sorrio com malícia enquanto passo um
dedo para cima e para baixo em seu pênis liso. A cabeça é aveludada e macia,
mais do que eu esperava que fosse.
— Estou ótimo — ele range os dentes, e eu seguro a risada que ameaça
escapar, escolhendo chupar a cabeça do seu pênis. Abro bem a boca, tentando
acariciá-lo e alternando entre chupar e lamber, esperando que ele goste, já
que só fiz isso uma vez antes.
Ele geme, e eu o olho. A expressão intensa em seu rosto me faz
pressionar as coxas com uma necessidade renovada. Reed está me olhando
como se eu fosse o centro do seu universo e o sentimento é viciante. Quero
que ele me olhe assim para sempre.
Não consigo encaixá-lo por inteiro na boca, então coloco a mão na base e
o acaricio para cima e para baixo. Seus gemidos ficam mais altos e me
esforço para não colocar a mão entre minhas próprias pernas. Antes, o foco
dele estava todo em mim, então agora quero retribuir. Preciso mostrar que
posso agradá-lo tanto quanto ele me agradou.
Os quadris de Reed começam a subir para encontrar minha boca e quando
ele atinge o fundo da minha garganta, tento engolir. Assisti a filmes e li
pornografia suficiente para saber que se quiser fazer garganta profunda, tenho
que lidar com isso. Não funciona tão bem quanto nos vídeos, mas o som que
emito o faz aumentar ainda mais na minha boca. Sua mão pousa na parte de
trás da minha cabeça.
Ele puxa meu cabelo e direciona meus movimentos em um ritmo sexy,
me pedindo para levá-lo cada vez mais fundo. O gosto de seu líquido pré-
ejaculatório enche minha boca quando ele se aproxima do orgasmo, e eu
engulo avidamente, querendo tudo que ele tem pra oferecer.
Ele toma minha boca com uma necessidade carnal que me excita ainda
mais. Nunca, nem em meus sonhos mais loucos, pensei em ver o pau de
Reed, muito menos colocar a boca nele.
— Vou gozar, Fal. Se não quiser que seja na sua boca, se afaste agora —
ele grunhe e solta meu cabelo.
Suas palavras me estimulam ainda mais. Eu o chupo com mais força,
acariciando-o com a mão e a boca e mantendo os olhos fixos nos seus. Noto o
prazer por me ver tão ávida para prová-lo em sua expressão. Ele inclina a
cabeça e grunhe, empurrando os quadris para frente quando seu pênis começa
a pulsar, gozando na parte de trás da minha garganta.
Engulo o mais rápido que posso, pois não quero desperdiçar nenhuma
gota. Não sei quanto tempo se passa até que seu corpo relaxe. Suavizo os
movimentos, mas continuo acariciando seu pênis duro com a boca. Diminuo
o ritmo da mão gradativamente e finalmente recuo, pressionando um último
beijo na ponta.
Reed emoldura meu rosto e esfrega o polegar na minha bochecha.
Continuo olhando para ele, à procura de pistas sobre como se sente a respeito
do que acabamos de fazer. Ele gozou, então deve ter sido bom, não é?
Ele me ajuda a levantar e me beija de um jeito suave.
— Isso foi incrível, Fallon. — Coro de prazer com suas palavras e
aconchego o meu corpo ao seu. Ele segura minha mão, me puxando para sua
cama, e eu entro em pânico.
Ainda não podemos fazer isso. Não estou preparada.
— O que você está fazendo? — Escondo o medo da melhor forma que
posso.
Reed se vira para me olhar e seus olhos refletem confusão.
— Está tarde e nos esforçamos muito. Não sei você, mas não dormi bem
a semana toda. — Ele inclina a cabeça para o lado enquanto continua a me
observar. — Só quero te abraçar. Tudo bem?
Tudo o que eu quero é me deitar naquela cama com ele, principalmente
depois de ouvi-lo dizer essas palavras, mas a noite foi intensa e não posso
ficar aqui, por mais que eu também queira.
Balanço a cabeça, solto sua mão e ajeito meu vestido, me certificando de
que está cobrindo todos os lugares importantes, principalmente porque ele
destruiu minha calcinha na pressa de me provar.
Mesmo estando decente, ainda me sinto nua, pois toda emoção e
sentimento que tenho por ele, está exposto. Comecei o dia de hoje pensando
que nossa amizade havia terminado e agora concordei em ter um filho com
ele, tive meu primeiro orgasmo a dois e chupei o pau de Reed. Isso é demais
para uma única noite. Deixá-lo me abraçar enquanto dormimos seria pressão
demais.
— Não acho que seja uma boa ideia — digo, olhando para todos os
lugares menos para ele.
Reed se aproxima e faço um grande esforço para não me afastar. A única
coisa que me impede de fazer isso é saber que minha atitude vai magoá-lo.
Ele acha que me pressionou, que as coisas foram longe demais. Não é o caso.
Só preciso de tempo para processar tudo e aceitar as questões que vão mudar
minha vida.
Passamos vinte anos como amigos e depois de tudo o que fizemos hoje à
noite, os limites estão confusos.
Meu corpo fica tenso, esperando que ele discuta comigo ou me pergunte o
motivo, mas depois de alguns segundos, eu o ouço suspirar. Ele sabe que sou
obcecada com as coisas e toda essa situação é muito séria para nós dois.
— Tudo bem, Fallon. — Ele parece triste, o que me faz querer voltar
atrás e concordar em passar a noite para que ele fique feliz. Mas não posso,
porque se isso tiver que dar certo entre nós, se vamos ter um filho, não
podemos nos apegar um ao outro. Não podemos nos apaixonar.
Mantenho os olhos no chão e percebo quando ele se abaixa para pegar a
calça.
— Me dê um minuto para que eu possa me vestir e vou te levar para casa.
A resignação em sua voz está me matando. Se ele me levar para casa e
tentar me dar um beijo de boa noite, vou ceder. Desta vez, recuo, precisando
colocar distância física entre nós.
— Não. — A palavra sai muito mais firme do que pretendo. Vejo seu
braço congelar e seu corpo está parcialmente curvado. Finalmente me forço a
encontrar seus olhos. Minha voz soa baixa quando continuo. — Preciso...
preciso de espaço, Reed.
Ele começa a falar, e eu o interrompo, sabendo o que está prestes a
perguntar. É exatamente o que eu temia.
— Não me arrependo do que aconteceu entre nós. Nem um pouco. Mas
preciso de tempo para... pensar sobre tudo isso, todas as mudanças que estão
prestes a acontecer. Não é você, de verdade, sou eu.
Dou um passo para mais perto e coloco a mão em seu braço quando ele se
endireita. Minha pele formiga onde toca a sua, mas eu ignoro. Seus olhos
procuram os meus e eu tento tranquilizá-lo.
— Quero fazer isso por você. Por favor, acredite em mim. Podemos
conversar amanhã, depois que nós dois tivermos chance de dormir.
Posso dizer que ele quer argumentar, mas quando olha em meus olhos,
concorda.
— Tudo bem. Se é disso que você precisa. — Ele sorri. É um sorriso
pequeno, mas ainda está lá. — Pelo menos posso pedir que chamem um táxi
para você? Não quero que fique esperando alguém a essa hora.— Sua
preocupação por mim aquece meu coração e, desta vez, sou eu quem sorri.
— Sim, acho que posso deixar você fazer isso, mas não precisa me
acompanhar até o saguão. — Semicerro os olhos, afastando quaisquer
pensamentos que ele possa ter.
— Tudo bem — ele concorda de má vontade. — Mas quero que você me
mande uma mensagem assim que chegar em casa.
Depois que concordo com isso, ele me puxa para um abraço e sinto seu
coração batendo contra o meu. Reed respira fundo e depois sussurra:
— Obrigado por tudo que você me deu hoje à noite, e não só por
concordar com essa ideia.
— De nada, Reed. Qualquer coisa para o meu melhor amigo. — Sorrio,
me afasto e posso ver a tristeza em seus olhos. Ele me leva até a porta, me
deixa sair e nossos olhos se encontram uma última vez antes de me virar e ir
em direção ao saguão.
Lágrimas se formam em meus olhos quando percebo o quanto isso está
mudando as coisas entre Reed e eu. Se algo der errado, não haverá como
voltar a sermos apenas amigos e acho que é isso que mais me assusta.
Doze

REED
O fim de semana parece se arrastar. Não consigo beber o suficiente para
me livrar da lembrança de Fallon chupando meu pau. Quero muito ligar para
ela e implorar para que saia comigo, mas resisto, sabendo que esse é o
primeiro sinal de algo muito pior, algo de que vou me arrepender no futuro.
Primeiro, vamos transar. Depois, os encontros noturnos e, antes que a
gente perceba, estaremos apaixonados e violando a primeira regra do nosso
acordo.
Vejo todos chegando ao trabalho na segunda-feira de manhã do meu
escritório. Todos chegam no horário certo. No entanto, só quero saber da
mulher sentada à mesa do lado de fora do meu escritório.
Hoje ela está usando um vestido justo e florido. A peça é linda, mas o que
ela cobre é ainda melhor e quero prová-la de novo, mais do que gostaria de
admitir.
Solto um gemido contra a xícara de café e ajusto meu pau, que ficou duro
de repente. Merda, não consigo tirar Fallon da cabeça. Todas essas regras
estão fazendo com que seja questão de tempo quebrá-las.
Olho para ela e me pergunto como vou lidar com o fato de ela se envolver
com outro homem algum dia. Serei capaz de ver sua barriga crescendo com o
filho de outro? Eu a encaro por muito mais tempo que o necessário. Tanto
que não ouço Ryker pigarrear na porta da sala.
— Tire uma foto, vai poder usar por mais tempo. — Ele ri como se
tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do planeta. Reviro os olhos,
engulo o café e coloco a caneca de volta na mesa, embora a ideia de jogá-la
em sua cabeça seja bastante tentadora.
— Se você gosta tanto do seu trabalho quanto diz, sugiro que volte para o
seu andar e tente fazer algo produtivo. — Ligo o computador, insiro a senha e
começo a verificar os e-mails. Há um da assistente do meu pai, mas não
consigo clicar, porque Fallon aparece na porta um segundo depois.
— Seu pai convocou uma reunião. Ele quer ter certeza de que você está
colocando seu projeto em prática. — Quando ela diz a palavra projeto, eu
quase rio. Quase. Ninguém sabe que fizemos um acordo para isso.
Ryker revira os olhos.
— Obrigado, Fallon. Eu ia contar, mas ele me mandou voltar ao trabalho
— ele resmunga, empurra a cadeira de couro e se alonga. Olha para Fallon
com carinho, dá um beijo rápido em sua bochecha e passa por ela, seguindo
em direção à sala de reuniões.
Pela primeira vez desde o fim de semana, ficamos sozinhos. Suas
bochechas se aquecem quando olho para ela.
— Como foi seu fim de semana? — pergunto baixinho, embora tudo em
que posso pensar é em colocá-la sobre a mesa e beijar cada centímetro da sua
pele. Ela é viciante, melhor que o uísque mais forte. Melhor que qualquer
droga. Ela é uma espécie de heroína. A minha heroína.
— Bom... — Ela limpa a garganta e olha para o chão.
Estou tão perto que não consigo me conter. Inclino seu queixo para cima
e o desejo de beijá-la ultrapassa qualquer pensamento que eu tenha.
— O que aconteceu entre nós não foi um acidente e vai acontecer de
novo. Você precisa se acostumar com isso. Com o fato de que te quero como
algo além de uma amiga e de que vamos nos ver no trabalho. — Dou um
beijo suave nos lábios pintados de vermelho. Pela maneira como ela torce o
nariz e arqueia a sobrancelha, sei que há uma pergunta se formando.
— Precisamos ir. — Ela respira fundo em vez de dizer o que está
pensando. Seus olhos verdes encontram os meus, e sei que ela vê tudo, até as
partes que não quero que sejam vistas. É o que acontece quando você se
entrega a alguém.
Talvez eu me recuse a admitir. Talvez não queira encarar. Mas sei que, há
muito tempo, me entreguei a Fallon. Não como amante, mas como melhor
amigo, e isso é o mais próximo que já fui de qualquer mulher.
Afasto a mão do seu queixo e a coloco em suas costas.
— Tudo bem, vamos lá — digo com um sorriso, mesmo que não esteja
contente. Estar perto da Fallon me faz esquecer a exigência maluca que meu
pai fez.
Caminhamos juntos e em silêncio até a sala de reuniões. Espero que meu
pai não tenha chamado todo mundo. Não há necessidade de todos estarem
presentes para conversar sobre esse plano. As únicas pessoas que precisam
saber de alguma coisa são eu, Fallon e meu pai, é claro.
Suspiro quando ela abre a porta e entro logo atrás. Ryker, Remy e meu
pai estão sentados ao redor da enorme mesa oval.
— Droga. Achei que não viria mais — meu pai diz com uma risada
enquanto olha para o relógio.
— Tenho outros afazeres além de ser obrigado a cumprir a sua estranha
ordem de ter um filho, então não quero ouvir nada a respeito do meu atraso.
Seu sorriso se amplia e eu me acomodo na cadeira mais próxima. Fallon
se senta ao meu lado.
Ryker bate os dedos na mesa, impaciente.
— Falando nisso, como vai a busca pela mamãe perfeita?
Suspiro o mais alto possível e reviro os olhos enquanto Remy ri.
Mas não posso culpá-lo por não querer ficar entre Ryker e eu. Se ele fosse
defender um de nós, só resultaria em mais discussões. E essa é mais uma
coisa que não estou disposto.
— Sim, Reed. Como está indo a busca pela mulher perfeita para dar à luz
o herdeiro do império Winston? — Me encolho com as palavras do meu pai,
sentindo a tensão de Fallon se espalhar pela sala.
— Já está resolvido. Estou confiante de que você terá um neto em pouco
tempo — falo com os dentes cerrados, desejando não ter essa conversa.
Fallon está sentada ao meu lado com a coluna ereta, e sinto que a estou
magoando por não contar que ela é a “mãe do bebê” de quem eles estão
falando. A mulher que vai salvar a empresa.
Meu pai semicerra os olhos como se não acreditasse em mim e se vira
para Ryker a fim de lhe dar ordens.
— Quero o nome, a idade, o endereço e uma verificação completa dos
antecedentes dela. — Fallon ofega ao meu lado, e preciso fazer um esforço
enorme para não tranquilizá-la. Ela disfarça o suspiro com uma tosse e a
atenção se volta para mim. Bem, menos a de Ryker. Ele está analisando a
situação de forma mais profunda e me pergunto se ele já sabe que essa pessoa
é a Fallon.
— Você não estipulou essas coisas como parte do acordo, então não. Não
vou concordar em fazer nada disso. Ela vai ter um filho meu e isso cumpre a
minha parte no acordo. E aí você vai transferir a direção da empresa para
mim. — Sinto a tristeza me envolver quando encaro meu pai. Sua pele está
muito envelhecida.
Os cabelos grisalhos estão afinando e ele tem olheiras, como se a empresa
estivesse drenando sua vida, ou talvez, seja apenas a doença que se recusa a
admitir que tem.
— Tudo bem, mas quero conhecê-la. — Meu pai se mexe, recostando-se
na cadeira. — No baile de caridade, aquele que sua mãe tanto amava. Quero
que ela vá. Cuide disso. — Não é uma declaração, e sim uma ordem. Pelo
som da sua voz, fica claro para mim que não devo insistir no assunto, mas,
mesmo assim, olho para Fallon.
Ela empalidece, e sei que preciso fazer algo quanto a isso.
— Tem certeza de que é isso que você quer, pai? Talvez ela não queira ir
a um baile de caridade para as pessoas mais ricas da cidade — minto,
sabendo que Fallon irá se eu pedir.
Meu pai passa a mão pelo rosto antes de me olhar com seus olhos escuros
que demonstram decepção e algo mais.
— Leve-a. É parte da exigência. Se quiser a empresa, precisa concordar
com coisas que nem sempre funcionam a seu favor. — Ryker ri ao lado dele
e minhas narinas se dilatam quando inspiro.
Sua presença está me incomodando hoje, e tenho certeza de que meu pai
sabe disso, já que não diz uma palavra para contê-lo.
— Claro, papai — respondo com sarcasmo, querendo que ele perceba
como estou insatisfeito com toda essa situação. Se ele quer tanto ter netos,
poderia pedir a Remy ou Ryker, mas ele quer que venham de mim e não
entendo o porquê.
— Ótimo. — Ele se levanta, tremendo um pouco e parecendo mais fraco
do que na uma semana. — É bom ver vocês de novo, crianças, mas tenho
trabalho a fazer. — Fecho as mãos em punhos, ignorando a sensação de
ansiedade.
Observo-o sair da sala e sinto meu coração afundar com o medo. Ele me
irrita, mas não quero perdê-lo. Para que ele se recuse a nos contar o que há de
errado, deve ser ruim.
Me levanto assim que ele sai, e Ryker me observa enquanto vou em
direção à porta. Fallon está atrás de mim, mas como suas pernas são mais
curtas, ela demora para me alcançar.
— Afinal, quem é a garota? É alguma prostituta? É por isso que está
fazendo birra para levá-la ao baile de gala? Porque ela não é... — Me viro e
vou em sua direção, sentindo a adrenalina correr pelas minhas veias enquanto
sou tomado pela irritação.
— Chega — falo alto, agarrando-o pela camisa. Eu o empurro de
encontro à parede de vidro e ouço sua cabeça bater. Ele me olha de um jeito
ameaçador e sei que quer brigar comigo. E por mim, tudo bem, porque estou
precisando extravasar a tensão.
— Te incomoda que eu saiba... que eu saiba quem ela é... — Ele tem
dificuldade para falar, uma vez que estou torcendo a gola da sua camisa. Suas
palavras me levam ao limite. — Se você não for homem o suficiente, eu
posso dar um filho a ela. — Essas palavras me provocam e antes que eu
possa respirar fundo, dou um soco nele. Minhas juntas doem com o impacto e
eu o solto com um empurrão, me odiando por bater no meu irmão a fim de
esconder o que Fallon e eu estamos fazendo. Ela não merece ser o segredinho
sujo de ninguém, especialmente o meu.
— Vamos — falo para Fallon, pegando seu braço e praticamente
arrastando-a pelo corredor até o meu escritório. Ela não diz nada enquanto
caminhamos e fico feliz, porque tenho medo de gritar com ela. Respiro
fundo, mas isso não alivia a raiva que estou sentindo.
Estou lívido. Comigo, com Fallon, com toda essa situação absurda, e dar
uma surra no meu irmão não vai mudar nada. Sei disso.
Assim que fecho a porta da sala e a persiana, percebo que a maneira mais
fácil de liberar a tensão que está dentro de mim é Fallon. Giro a fechadura e
me viro para vê-la parada no meio da sala.
Ela é linda, ainda mais quando goza.
— Sente-se na beirada da mesa — ordeno e meu pau endurece com o
pensamento de transar com ela aqui e de que seu gozo cubra meu pau pelo
resto do dia.
Fallon enrijece com minhas palavras, mas faz o que pedi e agradeço por
isso. Outra discussão é a última coisa de que preciso. Eu a encaro por um
longo momento, admirando seu corpo sexy. Seu vestido subiu, mostrando as
pernas brancas e macias. Parece uma ninfa, e eu a desejo mais cada vez que a
vejo. Eu a quero tanto que quase posso sentir seu gosto.
— O que está acontecendo, Reed? Você está bem? — Sua preocupação
por mim é adorável, mas não é comigo que ela precisa se preocupar. É com
ela mesma.
— Abra as pernas o máximo que puder. — Umedeço os lábios,
observando enquanto seus olhos procuram os meus. Ela hesita, mas faz o que
peço. Suas bochechas coram quando percebe o que eu quero.
— Não podemos fazer isso aqui. E se alguém ouvir ou mesmo entrar? —
Ela não tem ideia do quanto eu quero que esse andar todinho saiba que ela me
pertence. Então ela gritar meu nome enquanto goza não me incomoda nem
um pouco.
— Shhh, Fal. Confia em mim? — pergunto. Estou salivando enquanto me
ajoelho na sua frente. Ela se segura na madeira maciça da mesa e sei que,
apesar de seus protestos, está tão animada com o que está prestes a acontecer
quanto eu. Meu pau implora para ser libertado da calça, mas sei que logo a
reivindicarei. Só tenho que dar um tempo a ela.
— Sim... — ela suspira enquanto empurro seu vestido até os quadris,
expondo a pele nua. Quando vejo a tira de renda cobrindo sua vagina, quase
gemo alto.
Puta merda. Juro que ela vai ser a minha morte.
Treze

FALLON
Estremeço involuntariamente quando os olhos azuis de Reed escurecem e
percorrem cada centímetro do meu corpo exposto. Posso ver o quanto ele está
excitado. Eu o quero e não me importo com o fato de estarmos no escritório.
Esse sentimento me assusta, porque se não colocarmos limites, podemos
acabar estragando tudo. Perder a virgindade enquanto o andar está lotado de
funcionários ouvindo não é algo que eu deseje.
— Calcinha fio dental? — A voz de Reed fica mais rouca, e eu engulo
qualquer palavra que gostaria de dizer. A maneira como a sua voz fica grave
quando ele se excita faz meu cérebro amolecer e a única coisa em que
consigo pensar é no prazer que sei que ele vai me proporcionar. Assentindo,
mordo o lábio inferior com força enquanto ele segura e a tira.
Solto um gemido com o contato, e Reed desvia o foco da minha vagina.
Seus olhos parecem queimar de desejo... por mim... e esse é um sentimento
inebriante. Nunca fui desejada por alguém. Sou uma garota comum, a melhor
amiga... mas nunca fui a amante.
O acordo que fizemos deveria me aterrorizar, mas a única coisa em que
consigo pensar é no prazer que sua boca e seus dedos me proporcionaram há
algumas noites. Quero mais desse sentimento. É libertador e cativante.
Preciso dessa liberdade. Isso me impede de me preocupar com o que vai
acontecer se e quando eu engravidar. O que vai acontecer quando o bebê
nascer? E o pior de tudo, o que acontecerá quando ele não precisar mais de
mim?
Reed rasga a calcinha, e eu suspiro.
— Não achou que eu te deixaria ficar com ela o dia todo depois de vê-la,
não é? — Sua voz aquece meu sangue e me inclino ao seu toque.
Observo enquanto ele enfia o tecido no bolso e me dá um sorriso
malicioso.
— Vou usá-la mais tarde para acariciar meu pau, Fallon. Saber que essa
renda tocou sua boceta vai me fazer gozar demais.
Suas palavras são tão sacanas que desejo que ele me faça gozar. Sinto
vontade de implorar e estou mais do que pronta para fazer isso.
— Me toque — imploro, estendendo a mão com uma coragem que eu não
sabia que tinha. Seguro sua mão, a levo até a minha boceta e imploro com os
olhos para que ele faça alguma coisa.
Ele faz círculos suaves no meu clitóris. Não é o toque que quero e gemo
enquanto as carícias parecem desacelerar ainda mais.
Por que ele está me torturando?
— Não posso acreditar que você guardou isso para mim. — Reed assopra
minha boceta, e eu caio em cima da mesa ao mesmo tempo em que agarro a
madeira. — É tão delicada — ele sussurra e a sensação me leva à beira da
loucura. — Tão rosada. — Ele me lambe e eu suspiro. — Apostaria cada
centavo que tenho que está molhada o suficiente para receber meu pau. —
Ele sorri e sua língua circula minha intimidade. Em seguida, aprofunda a
carícia, devorando minha vagina como um homem faminto. O toque dos seus
lábios é quase cruel, e ele suga meu clitóris incansavelmente, liberando-o
assim que o prazer começa a se formar dentro de mim.
Encho o peito de ar, mas não consigo respirar. Tudo nesse homem tira o
meu fôlego, desde a voz profunda até a forma como ele provoca meu corpo.
— Reed. Ah, minha nossa. — Solto um gemido alto o suficiente para que
a sala do outro lado do corredor possa ouvir. Meu orgasmo está muito
próximo e sei que ficar em silêncio será impossível. Reed deve saber o
quanto estou desesperada por seu toque, porque assim que as palavras saem
dos meus lábios, ele insere dois dedos profundamente dentro de mim. Ele os
move, e eu gozo no mesmo instante enquanto minha boceta os aperta.
Espero que ele se retire quando meus músculos param de apertá-lo, mas
isso não acontece. Meu corpo relaxa aos poucos e quando finalmente abro os
olhos, me apoio nos cotovelos e o observo enquanto ele olha minha
intimidade como se não pudesse acreditar no que está acontecendo.
Ele vai continuar?
— Quero que saiba de uma coisa. — A voz de Reed fica mais sombria, e
eu estremeço, sentindo-o retirar os dedos. Nem tenho chance de me ajustar à
perda do seu toque, pois ele os insere de volta. Isso me rouba o ar e me faz
inclinar o corpo na mesa.
Gemo baixinho, incapaz de impedir que o som saia dos meus lábios. Me
sinto possuída, consumida e com um desejo que só ele pode satisfazer.
— Isso... — Ele tira os dedos novamente e penetra em mim mais uma
vez, me abrindo ainda mais — é meu.
Meu corpo estremece quando seus olhos azuis escuros encaram os meus.
Nem sei como descrever aquele olhar. É possessivo, selvagem e até um
pouco zangado.
Isso me atinge de um jeito que suas palavras jamais conseguiriam. Ele tira
os dedos e os leva aos lábios, lambendo a umidade deles.
É erótico pra caramba e sinto minha boceta pulsar, implorando que ele
volte e reivindique o que lhe pertence.
— Você é minha, Fallon — ele se aproxima enquanto passa as pontas dos
dedos nas minhas coxas antes de colocá-los de volta na minha vagina.
Eles entram e saem, me possuindo, me marcando como sua. O ar entre
nós está cheio de eletricidade e antes que eu possa me conter, puxo-o em
minha direção. Meus lábios capturam os seus com paixão.
Esfrego a boceta em sua mão, necessitando de mais. O atrito da palma no
meu clitóris aumenta enquanto seus dedos se movem dentro de mim e me
levam ao limite. Gozo de novo e seu nome deixa meus lábios em um grito
agudo. Curvo os dedos dos pés dentro do sapato, e sinto como se meu corpo
estivesse voando.
Me sinto viva. Meu coração bate forte e, nesse momento, ouço um
barulho.
Uma batida na porta de madeira ecoa pelo ambiente e a maçaneta gira,
demonstrando que quem está do outro lado está tentando entrar. A névoa de
luxúria desaparece do meu corpo na mesma hora e meus membros se
contraem de medo.
— Minha, toda minha — ele sussurra contra os meus lábios, sem se
importar que alguém tenha batido no momento em que gozei gritando seu
nome.
Ouço mais uma batida, mais forte desta vez, e posso ver a relutância em
seu rosto quando ele se endireita. Então o som se repete uma terceira vez, e
ele vira a cabeça para a porta com um murmúrio:
— Merda. — Observo-o se arrumar de forma distraída, me deixando
sentada com as pernas ainda abertas.
Assim que ele se afasta, desço lentamente da mesa. Mal consigo sustentar
meu peso depois de dois orgasmos incríveis. No momento, tudo o que quero
fazer é me aconchegar no sofá do escritório e tirar uma soneca, mas a pessoa
que está do outro lado da porta não vai deixar isso acontecer.
Em segundos, puxo a saia de volta ao lugar, mas sem acesso ao espelho,
não posso verificar a maquiagem ou o cabelo. Tudo o que posso fazer é
esperar que o batom de longa duração faça jus ao que promete enquanto
prendo o cabelo, que deve estar totalmente bagunçado, em um rabo de
cavalo.
Reed me olha enquanto se aproxima da porta para abri-la. Posso ver a
máscara que cobre suas emoções e isso faz meu coração afundar. Ele tem
uma grande capacidade de encobrir o que sente e isso o faz parecer frio,
mesmo que eu saiba que não é nada disso. Quando ele coloca as mãos em
mim, quase pego fogo.
No segundo em que ele destranca a porta, ela se abre e Ryker entra. Ele
respira fundo e, em seguida, olha para o irmão de forma significativa e isso
me faz corar.
Sei que Ryker vai implicar com ele para irritá-lo, o que provavelmente
vai me deixar constrangida, então abaixo a cabeça e passo rapidamente pelos
dois. Tenho o cuidado de evitar qualquer tipo de contato e assim que
atravesso a porta, Reed a bate e eles ficam sozinhos.
Mantenho a cabeça baixa até chegar na minha mesa. Infelizmente, quando
a levanto percebo que não estou sozinha. Há um grupo de garotas ao meu
redor e todas estão me olhando. A que está encostada no canto com os braços
cruzados está sorrindo para mim.
Andi é a fofoqueira do escritório e uma das poucas garotas daqui que sei
que realmente transou com Reed. Tensiono a mandíbula e espero que ela saia
do meu caminho. Deus sabe que não preciso acrescentar mais essa confusão à
minha vida.
Mas ela não sai, e não tenho escolha a não ser encarar seus olhos
maliciosos.
— Estava imaginando se os rumores eram verdadeiros, mas considerando
que você acabou de sair cabisbaixa da sala do Reed, não preciso. — Suas
palavras me atingem e morro de vergonha.
Não quero ser esse tipo de garota. Aquela que todas invejam e que vira
alvo de fofoca na empresa. Só quero ser eu mesma.
Empurrando uma mecha solta de cabelo para atrás da orelha, respondo:
— Não tem nada acontecendo, Andi. Então, se você não se importar em
afastar a central de fofocas da minha mesa, seria ótimo. Tenho muito trabalho
a fazer e já ouvi que o chefe é um idiota às vezes. — Sorrio, mentindo por
entre os dentes. Minhas bochechas ainda estão quentes por causa da nossa
sessão de amassos.
Todas as outras garotas reviram os olhos e fazem beicinho enquanto
voltam ao trabalho. No entanto, Andi é persistente e quando sabe que algo
está acontecendo, fica determinada a descobrir o que é.
— Você pode mentir para todo mundo, mas sei que tem algo acontecendo
entre vocês dois e só vou te dar um aviso. — Ela fica cara a cara comigo.
Seus olhos estão escuros e tempestuosos. — Se acha que vai conseguir mudá-
lo e fazê-lo sossegar, está muito enganada. Você pode ser a melhor amiga
dele, mas não é mulher suficiente para ser sua esposa.
O desgosto em sua expressão quando me olha é óbvio. Me sinto enjoada e
quando ela se afasta da minha mesa, a última coisa em que consigo pensar é
trabalhar.
Então volto a olhar para a porta do escritório de Reed. Ainda está fechada
e os dois irmãos estão lá dentro.
Por quê? Não sei, mas tenho um sentimento ruim, especialmente depois
do soco que Reed deu no irmão na sala de conferências. Me sento na cadeira.
Minhas mãos tremem e meu corpo está mole. Tudo por causa de um homem
que me possui por inteiro.
Suspiro ao me lembrar do jeito como ele me fez sentir há poucos
instantes. Sei que dissemos que a regra número um era nunca se apaixonar,
mas acho que já estou me apaixonando.
Estou me apaixonando perdidamente pelo meu melhor amigo.
Catorze

REED
Não costumo beber, mas ou bebo ou abro meu coração para Fallon. E isso
é algo que não posso fazer. Então afogo as mágoas em uma garrafa de uísque
caro em um bar no quarteirão do meu apartamento, com um dos meus amigos
mais próximos.
— Está de sacanagem comigo, não é? Seu pai está te obrigando a
engravidar uma garota para que você possa herdar a empresa da família?
Concordo, bebendo mais um gole. O uísque aquece meu interior e
dissolve o frio dentro do meu peito. Contar a Grant o que aconteceu me faz
sentir melhor, como se dividir toda essa loucura com alguém diminuísse meu
estresse.
Sorrindo, coloco o copo vazio no balcão e gesticulo para o barman me
trazer outro.
— Não estou de sacanagem. Você nunca vai adivinhar quem vai ser a
mãe. — Grant me olha como se uma segunda cabeça tivesse aparecido em
mim, e quero rir porque sua expressão é hilária.
— Juro por Deus que se for a Tiffany, vou cortar suas bolas e eu mesmo
vou comprar a empresa. — Dou uma gargalhada e fico feliz por ter saído com
ele.
Respiro fundo e me preparo para o que estou prestes a dizer.
— Não. Pedi a Fallon que fizesse isso. — O silêncio se instala entre nós,
e Grant me olha por um momento. Mas é tempo suficiente para me deixar
desconfortável.
— Pelo amor de Deus, vai falar alguma coisa? — Giro o uísque no copo
antes de olhar nos olhos do meu amigo.
— O que você quer que eu diga? A Fallon é a minha versão feminina. —
Grant parece chocado, e não de um jeito bom. Entendo o sentimento.
Também não tinha certeza de que era uma boa ideia, mas rapidamente fui
convencido do contrário.
Dou de ombros.
— E daí? Não vai mudar nada entre nós — minto, mesmo que já tenha
mudado. Deixo essa informação de lado, porque o que os olhos não veem, o
coração não sente.
Ele inclina a cabeça para trás e ri.
— Essa é a maior mentira que ouvi você contar. E olha que já ouvi muitas
delas.
Não posso deixar de revirar os olhos com seu comentário. Ele sabe tudo a
meu respeito e sabe que eu desejo a Fallon desde sempre.
— Fizemos um acordo para ter um filho, algo que vai satisfazer a nós
dois... — Paro e meu pensamento se volta para o que aconteceu na noite em
que aceitamos os termos, mas rapidamente o afasto. Não devo pensar nela
agora.
— Você a ama desde criança. Agora vão ter um filho e você acha que vai
poder voltar a ser amigo depois?
Certo, ouvi-lo falar desse jeito faz com que as chances de que isso ocorra
sem problemas pareçam estar reduzidas a zero, mas não podemos voltar atrás
no nosso acordo agora.
— Você percebe que está se preparando para fracassar, não é?
Não é isso que quero ouvir. Pensei que contar ao Grant me ajudaria a
consolidar a sensação de que o que estou fazendo é certo. A Fallon é a
melhor opção que tenho para dar o que meu pai quer. Ela é a única mulher
que conheço que não vai se transformar em uma psicopata e começar a exigir
coisas que não estou disposto a dar. Não há como voltar atrás, principalmente
agora. Não posso me esquecer do seu gosto e preciso saber como é ir para a
cama com ela.
— Bem, não posso mudar isso agora.
Grant me olha, esperando que eu conte a ele o que eu fiz.
— Nós... fizemos coisas — digo, pensando na maneira como o corpo de
Fallon reagiu ao meu toque. Nenhuma mulher me fez sentir do jeito que ela
faz, e isso é aterrorizante.
— Jesus, você não perdeu tempo, hein? — Ele ri, e isso me faz relaxar
um pouco. — O que vai fazer se não der certo?
Balanço a cabeça, ofegando com a possibilidade.
— Honestamente? Não sei. Estabelecemos algumas regras. Se um de nós
começar a se envolver demais, o acordo acaba.
— Sinto que você não pensou antes de decidir colocar em prática. Você
não pode simplesmente acabar com o acordo. Tem um bebê envolvido nessa
história e esse é um acordo vitalício — Grant me adverte antes de pedir de
outro copo de uísque.
Não posso deixar de sorrir com as diferenças entre nós. Não sou de beber
muito e quando bebo, não passa de uma dose. Já o Grant? Ele se senta e pede
uma garrafa inteira. Não sei como ele consegue ir embora sem ajuda, mas ele
nunca fica bêbado.
É difícil de explicar sem parecer idiota.
— Isso provavelmente é verdade. De fato, a ideia foi dela. Como eu
poderia negar? — Ele me olha como se não acreditasse em mim, então tento
fingir que ela é só mais uma. — Você recusaria uma boa transa? — Agir
assim me faz sentir culpado. A Fallon vale muito mais que uma transa. Ela é
perfeita para ser esposa e mãe, o tipo de garota que se apresenta para os pais.
Ela é o tipo de mulher com quem se compartilha a vida inteira.
— Você mente muito mal. Nós dois sabemos que a Fallon nunca seria só
uma boa transa. — Bebo mais uísque. Meu interior está zumbindo e meus
pensamentos estão confusos. Faz muito tempo que não bebo tanto.
— Acha que cometi um erro? — Minhas palavras são repletas de
arrependimento.
Grant me encara por um longo tempo, me analisando. É por isso que ele é
advogado e eu não.
— Não. Você não cometeu um erro. Na verdade, acho que você deu o
primeiro passo na direção certa. Agora vai ter que descobrir o que vai
acontecer se você se apaixonar por ela, ou pior, se ela se apaixonar por você.
— Essa é uma colocação pesada, que me faz tomar outro gole da bebida. Não
consigo responder, porque não sei o que vai acontecer se ela se apaixonar por
mim.
Me apaixonar por ela não vai ser um problema, pois já estou. Eu a amo.
Não há uma forma de contornar isso, mas se eu puder impedi-la de se
apaixonar por mim, então talvez, apenas talvez, eu possa nos salvar de ter o
coração partido.
— Não sou o tipo de cara que se compromete, então, se ela não se
apaixonar por mim, vai ficar tudo bem.
Grant chama a garçonete. Sua voz é tão baixa que não consigo ouvir o
que está pedindo. Ele se vira para mim.
— Você não pode dizer que é do tipo que não se compromete, Reed, não
quando se coloca em uma situação que vai te obrigar a se comprometer com
ela pelos próximos dezoito anos ou mais. — A garçonete volta com dois
shots e nós viramos os copos. O conteúdo tem gosto de gasolina.
A bebida queima na minha garganta e meus olhos lacrimejam.
— Se ela se apaixonar por mim, nós dois estamos ferrados. Não vou
poder negar o que quero e... — paro.
Grant termina a frase por mim.
— E você tem medo do que isso significa. — Sorrio para o meu copo
vazio, porque ele me entende. Ele é a versão masculina da Fallon.
O álcool destrói qualquer filtro que tenho, e me vejo contando a ele tudo
o que aconteceu entre nós desde a noite em que nos comprometemos com o
projeto bebê, terminando com o que aconteceu hoje.
— Eu a acariciei e dei uns amassos nela hoje no escritório. Ela é viciante,
e a maneira como me sinto quando ela goza é diferente de tudo o que já senti.
Mas o Ryker foi ao meu escritório e quase derrubou a porta para entrar e me
sacanear, como sempre. Tive que deixá-la sair. Eu nem terminei...
— Ela ao menos chegou lá? — ele pergunta enquanto a nossa bebida vai
diminuindo a um ritmo acelerado.
Eu o encaro, porque sempre me certifico de que a mulher com quem
estou tenha gozado.
— Claro que sim. Eu nunca a deixaria frustrada. Nunca. — Sinto meu
pau endurecer com a lembrança da sua boceta nua.
— Certo. — Grant muda de assunto rapidamente, talvez porque não
queira ouvir todas as coisas sacanas que Fallon e eu fizemos. — O que o
Ryker queria? — Meu humor muda quando penso no que meu irmão disse.

— Tem algo errado com nosso pai. Sei que ele disse que era só a idade,
mas não engoli. Vou investigar. Há uma enfermeira do hospital que está
disposta a descobrir, ainda que eu tenha que pagar uma boa grana para isso.
— Me inclino na cadeira. Há poucos instantes, meu corpo estava relaxado de
prazer e agora estou cheio de preocupações.
Não entendo seu raciocínio.
— Para que ele quer um neto então? — Ryker revira os olhos e sinto
como se ele entendesse mais que eu. E provavelmente é verdade. Ele sempre
foi o mais inteligente. Talvez eu devesse deixá-lo assumir a empresa.
— Não é óbvio? Ele quer que um neto para mimar enquanto pode e
continuar o sobrenome, é claro. Sabe como ele é. Não é tão complicado,
Reed. Além disso, você tem a Fallon agora. Ela está disposta a dar o que o
nosso pai quer, então não sei por que você ainda está estressado.
Não sei dizer a Ryker o verdadeiro motivo pelo qual estou me sentindo
assim. Estou preocupado que esse acordo arruíne tudo o que construímos ao
longo dos anos. Ela é minha melhor amiga, mas e agora que é minha
amante? Nunca transei com uma mulher por quem estivesse apaixonado, e
amar a Fallon me aterroriza.
— Sim, vamos ter um filho, mas é só isso. Não estamos em um
relacionamento. Esse lance é estritamente físico, Ryker.
Há um brilho de travessura em seus olhos que me deixa nervoso.
— Há outros caras interessados nela. Sabe disso, não é? Acha que
consegue vê-la com outra pessoa? E enquanto ela estiver grávida do seu
filho? Vai conseguir lidar com o fato do seu filho estar no ventre dela
enquanto o pau de outro cara lhe dá prazer todas as noites?
Cerro os punhos e o pensamento me deixa furioso.

— E aí? O que foi que ele falou, Reed?


A voz de Grant me puxa de volta ao presente antes que eu consiga
terminar o pensamento.
— Ele acha que nosso pai está doente e que está escondendo isso de nós
há algum tempo. — Só de pensar que ele não está bem e que está passando
por tudo sozinho, me magoa mais do que eu gostaria de admitir. Depois de
perder minha mãe, a morte é a última coisa em que quero pensar quando se
trata do meu pai.
— Sinto muito, Reed. Sei como a morte da sua mãe foi difícil, e agora
essa história com seu pai... — Sua voz diminui e ele balança a cabeça como
se entendesse como estou me sentindo.
Dando de ombros, tento agir como se isso não me incomodasse tanto.
— As coisas são assim. — Minha voz soa indiferente, mesmo que parta
meu coração. Não demonstro fraqueza. Meu pai me ensinou a ser assim. —
Não posso impedir a morte de levar as pessoas que amo. Sei que isso vai
acontecer. Tudo o que posso fazer é aproveitar ao máximo o tempo que tenho
com elas.
Peço outro uísque.
— Vou ficar bem. Sei que vai doer quando eu tiver que deixar a Fallon
partir, mas pelo menos eu a terei feito feliz, assim como o meu pai.
Grant faz uma longa pausa.
— Mas às custas da sua própria felicidade? — ele pergunta. Não
respondo. Não há felicidade para mim. Ficar com a Fallon só vai arruinar o
relacionamento mais importante da minha vida.
Não é o fato de termos um filho que vai nos arruinar. São os sentimentos
que mantivemos escondido por muito tempo.
— Vou encontrar minha felicidade no fundo desta garrafa de uísque.
Quinze

FALLON
Abro os olhos e pisco enquanto me viro na cama. Estou usando uma das
camisetas que Reed me deu quando éramos adolescentes. O pesadelo
permanece na minha cabeça, então, quando ouço as batidas na porta da
frente, me assusto. Corro para a sala e vejo as horas ao passar pelo relógio.
Quem estaria aqui às duas da manhã?
Olho pelo olho mágico. Suspiro e me afasto para destrancar e abrir a
porta. Os olhos vermelhos de Reed encontram os meus.
— O que está acontecendo? Você está bem? — Sinto um nó no estômago
enquanto observo sua aparência desgrenhada. Parece que bebeu a noite toda.
O cheiro de uísque permeia o ar quando ele passa pela porta e me segura.
Ele me toca gentilmente, aquecendo meu corpo. Ele emoldura meu rosto
enquanto fala.
— Sinti xaudadis — ele fala embolado, mas entendo o que quis dizer.
Reed parece frágil e me lembra do garotinho por quem me apaixonei há anos.
— Eu também, mas nos vemos quase todos os dias — digo enquanto ele
aperta minhas bochechas, admirando meu rosto como se nunca tivesse me
visto antes. — Reed, são duas da manhã. O que está fazendo aqui?
Me afasto do seu toque e fecho a porta enquanto ele vai para a sala de
estar tropeçando. Ele está usando camiseta cinza e uma calça jeans que o
deixa muito gostoso. Não consigo evitar de salivar e me excitar ao olhá-lo.
Faz muito tempo que não o vejo com roupas casuais.
— Está me secando, gatinha? — Reed flerta comigo e levanta as
sobrancelhas. Mordo o lábio inferior, tentando evitar o sorriso e balanço a
cabeça em negativa, o que faz com que meus cabelos castanhos se soltem do
coque no topo da cabeça.
— Não estou te observando. Estou tentando descobrir por que você está
cheirando a álcool como se tivesse tomado um banho de uísque.
Ele sorri, e me forço a olhar para o chão, porque sei que se continuar
olhando para seu rosto, vou pular nele.
— Ei. Que olhar triste é esse? — Ele cambaleia e anda pela sala como se
ela estivesse inclinada.
Tento sufocar o riso que ameaça escapar dos meus lábios, mas não é fácil.
— Não estou triste... só estou preocupada com você. Onde esteve? —
pergunto, incapaz de me impedir de passar a mão por seus cabelos castanhos
escuros. Meus dedos afundam nos fios macios, e ele geme, se inclinando para
meu toque e fazendo com que seu corpo quase caia sobre o meu.
— Isso... — Ele geme e segura meu bumbum enquanto pressiona a
cabeça entre meus seios. Continuo passando os dedos pelos seus cabelos. —
Senti falta disso... — Eu o ouço inspirar e reconheço sua dor, a necessidade
de sentir o toque de alguém. Ele precisa de mim, assim como preciso dele.
Seus dedos se espalham no meu traseiro e ele o aperta, fazendo com que
um gemido de prazer escape dos meus lábios.
— Reed — gemo enquanto ele acaricia minha pele.
— Puta merda, Fal. Pensei em transar com você de mil maneiras
diferentes. — As palavras continuam emboladas e sei que não podemos fazer
isso agora. Não enquanto ele estiver bêbado, então o levo em direção ao sofá.
— Não vamos fazer nada essa noite. Você está muito bêbado, e estou
cansada demais. Eu o empurro até que ele esteja sentado no sofá. Me afasto,
pois quanto mais tempo fico perto dele, mais meu corpo me trai. Tudo o que
quero é ceder às suas palavras excitantes e seu toque firme.
Seus olhos estão pesados e cheios de emoção. Sua voz soa levemente
rouca quando ele fala.
— Você é mais do que eu mereço. Mais do que qualquer homem merece.
— Ele pisca para mim enquanto tiro seus sapatos e o deito no sofá. Por que
ele bebeu tanto?
Será que ele está bem?
— É um pouco tarde para dizer isso, não acha? Vamos ter um bebê. —
Rio, mas o sorriso desaparece do meu rosto assim que me lembro do sonho
que tive há alguns minutos.
— É por isso que não te mereço... — Ele para e fecha os olhos. Eu me
pergunto se ele apagou. Pego a manta no encosto do sofá e o cubro, mas
quando olho para seu rosto, ele está me encarando. — Você merece um
homem que se case com você. Alguém que acorde todos os dias e faça amor
contigo, porque é isso que um homem deve fazer com a mulher que ama.
Sorrio com tristeza, porque Reed acha que não é bom o suficiente e que
isso não pode dar certo.
— Curiosamente, essa não é a prioridade na lista de “coisas que um
marido deve fazer”.
Seus olhos cansados encontram os meus, e ele boceja.
— Sim, mas ele vai poder amar a você e ao bebê.
Reed quer tanto esse filho que, de repente, tenho medo de não conseguir
engravidar. Não contei a ele sobre os problemas que minha mãe teve quando
engravidou de mim. Ela e meu pai tentaram por anos e no fim das contas
tiveram que fazer tratamentos de fertilidade. Minha mãe me contou que todo
mês, quando menstruava, se sentava no chão do banheiro e chorava. E se isso
acontecer conosco? Não posso deixar de me preocupar com o pesadelo que
tive hoje à noite.
Mesmo sabendo que é provável que ele não se lembre, não consigo me
impedir de perguntar:
— O que vai acontecer se eu não puder te dar um filho?
Reed pisca e, em seguida, se senta e me puxa para seu colo. Seus reflexos
são rápidos para um homem bêbado.
— Como assim, meu anjo? Não quer mais fazer isso? — Ele franze a
testa como se estivesse tentando entender, e eu balanço a cabeça, querendo
tanto beijá-lo que quase dói.
— Não, o que quero dizer é e se eu não puder ter filhos? Eu quero, mas e
se o meu corpo decidir que não posso? — Não deveria estar discutindo isso
com Reed enquanto ele está bêbado, mas não posso evitar. Estou com muito
medo, porque o sonho foi muito real e vívido. Ainda sinto o pânico me
envolver.
— A prática leva à perfeição. — Ele levanta as sobrancelhas e quando se
aproxima, na tentativa de me puxar para mais perto, eu o empurro para longe.
— Não é disso que estou falando, Reed. — Reviro os olhos para seu
comentário. — Podemos conversar sobre isso quando você estiver sóbrio. —
Ou nunca. Tento sair do seu colo, mas ele me segura, me abraça e me força a
ficar ali.
— Não vou te soltar. — Sua voz é petulante e agora ele volta a se parecer
com o menino com quem cresci. — Você está triste e com medo, e eu quero
te tocar. Estou louco para te tocar, então, por favor, me deixe te abraçar. —
Vejo as lágrimas se formarem nos seus olhos e me pergunto se isso vai se
tornar uma coisa comum entre nós. É a segunda vez que um aparece na casa
do outro, dizendo coisas importantes enquanto estamos bêbados. Eu o encaro,
incapaz de negar qualquer coisa quando ele me olha como se eu fosse seu
mundo. Além disso, quero que ele me abrace enquanto durmo. Na minha
cama, na dele ou em qualquer lugar.
— Tá, mas só desta vez. Se isso virar costume, você vai aparecer aqui
toda hora. — Tento parecer irritada, mas há muita alegria na minha voz.
Reed me carrega no colo e eu grito, me segurando enquanto ele nos leva
para o meu quarto. Seus movimentos são tão lentos que fico com medo de
que ele me deixe cair se não chegamos logo na cama.
— Vamos nos aconchegar.
— Pode me colocar no chão. Não preciso que você me carregue.
Quando chegamos à porta do quarto, ele vira a maçaneta, abrindo-a.
— Sei que não, mas quero — ele grunhe enquanto me coloca com
cuidado na cama. Ele tira a camisa, e eu abro a boca enquanto observo seu
corpo forte. Seus músculos são firmes e o abdômen parece ter sido esculpido
em pedra. Quando ele abre o botão da calça jeans, fico mole por dentro.
Da última vez, ele estava sem cueca. Será que está assim hoje também?
Ele tira a peça de roupa e os músculos fortes da coxa tensionam com o
movimento.
Estou excitada. Reed está excitado... e, definitivamente, sem cueca.
— Ande — ele diz, alcançando o interruptor. Ele se atrapalha por um
momento antes de apagar a luz. E então, seu corpo enorme e quente se
acomoda na cama. Seu calor me envolve enquanto ele se vira de lado e se
encaixa atrás de mim antes de pegar o edredom e puxá-lo sobre nós dois.
— Tem certeza de que deveríamos... — Baixo o tom de voz quando sinto
seu nariz tocar a parte de trás da minha cabeça e seu hálito quente soprar no
pescoço. Ele está me cheirando, e eu me acomodo em seu corpo, sentindo
seus batimentos cardíacos nas minhas costas, os dedos segurando meu quadril
e me puxando de encontro à sua sua virilha.
Ele não estava brincando quando disse que queria me abraçar e cada vez
que respiro, uma sensação de conforto me preenche. Sim, tenho medo do que
o nosso futuro trará, mas meus medos podem esperar. Por enquanto, estou
com ele e não vou cometer o erro de desperdiçar mais um segundo sequer.
— Bons sonhos, Reed. — Acaricio a mão que está embaixo da minha
cabeça e caio no sono. Seu batimento cardíaco e seu cheiro são as canções de
ninar mais doces que já existiram.
Dezesseis

REED
Sinto calor. Em toda parte. Respiro fundo e o perfume floral de Fallon
enche minhas narinas enquanto seu cabelo faz cócegas no meu rosto. Este é o
meu sonho favorito. Sei que não é real, porque ela não está na cama comigo.
Está em seu apartamento, que fica a alguns quarteirões daqui.
Quando tento me virar, uma mão segura meu braço e alguém se
aconchega ao meu lado. Abro os olhos e entro em pânico por um segundo,
esperando não ter levado alguma desconhecida para casa porque estava
bêbado.
Olho ao redor, observando a decoração familiar e a mulher ao meu lado.
Tenho certeza de que Fallon está me abraçando, mas isso não pode ser
verdade. Pisco para afastar o sono e olho novamente para ela a fim de me
certificar que não estou delirando. Estamos na sua cama e meu corpo arqueia,
aliviado por ter vindo para cá ontem à noite em vez de fazer algo de que me
arrependeria. Estou dormindo com ela... literalmente dormindo.
Ela se aconchega ao meu lado. Sua mão está apoiada no meu abdômen
enquanto permaneço de barriga para cima. Posso sentir a ereção matinal se
avolumar a cada segundo que passa e me pergunto se devo me levantar e ir
embora ou ficar e conversar sobre...
Paro de pensar quando as lembranças da noite passada me atingem de
uma só vez:
Grant e a conversa que tivemos. Fallon me deixando levá-la para a cama e
o medo real de ser incapaz de engravidar, a única coisa que ela sabe que
preciso.
Um gemido suave escapa de seus lábios, e eu me viro em sua direção.
Esta pode ser minha única chance de vê-la dormir. Ela parece tão tranquila e
feliz, e eu observo seu rosto em forma de coração. Há sardas bem clarinhas
em seu nariz.
Admiro sua beleza, acariciando sua testa e depois a bochecha. Seus lábios
são de um tom rosa suave, que parecem implorar para serem devorados. Ela
se mexe, mas não acorda com o meu toque.
Meu pau endurece ainda mais, se é que isso é possível... talvez eu deva
me levantar e me aliviar antes que ela acorde. Estou tão tomado pelo desejo
que, provavelmente, é uma boa ideia, mas não consigo deixar de olhar sua
expressão pacífica.
Ela emite outro som e quando olho para seu rosto, sou recebido por seus
olhos sonolentos cor de esmeralda.
— Bom dia, meu anjo — murmuro em seu ouvido e seguro sua bochecha
para que eu possa acariciá-la com meu nariz, inalando seu perfume calmante.
Fallon arqueia sob meu toque e não consigo me impedir de pressionar os
lábios em sua pele. Ela me tenta de maneiras que nunca imaginei. Sua pele é
macia e tem gosto de baunilha e cerejas.
Sinto, mais do que ouço, o suspiro que sai de sua boca no minuto em que
minha língua toca a pele abaixo da sua orelha. Saber que eu a afeto tanto faz
com que eu me sinta um rei. Deixo uma trilha de beijos em seu pescoço e
meus lábios descansam contra sua pulsação acelerada.
— Reed — ela diz meu nome com mais luxúria que nunca.
— Do que você precisa? — Me afasto e olho em seus olhos. Posso ver o
quanto ela me quer e o que está acontecendo entre nós.
Ela levanta a mão para acariciar meus cabelos.
— Eu te quero — ela sussurra tão baixinho que quase não a ouço, mas sei
exatamente do que ela precisa. Ela quer o mesmo que eu. A mesma coisa que
desejo desde sempre.
Temos pisado em ovos nos últimos dias e finalmente é hora de parar.
Preciso tanto dela quanto ela de mim, e preciso ser o único a tomá-la. Quero
ser o primeiro homem a estar dentro dela. Preciso ser o único homem a estar
dentro dela. Sei que devo dizer isso a ela, que devo tranquilizá-la, dizendo
que queremos a mesma coisa, mas as palavras simplesmente não saem.
Viro-a de costas, me acomodo entre suas pernas e apoio os braços nas
laterais da sua cabeça. Fallon me olha com os olhos arregalados, sem saber o
que estou fazendo. Eu a encaro e fico em choque ao perceber o que ela está
vestindo.
— Puta merda... — Deixo as palavras escaparem, porque não consigo
pensar em mais nada para dizer.
Ela está usando uma das minhas camisetas. A peça está cobrindo seu
corpo delicioso. E saber que ela está usando algo meu me deixa frenético para
reivindicá-la. Vê-la com aquela camiseta me faz sentir como se ela me
pertencesse, mesmo sabendo que não posso ficar com ela para sempre.
— Você está bem? — ela pergunta com a voz trêmula. Não quero
assustá-la, mas sinto o controle começar a me deixar e meu desejo assumir.
Minhas mãos tremem enquanto as deslizo pelo seu corpo, seguro a barra
da camisa e a puxo para cima. Ela tenta se sentar, mas balanço a cabeça.
— Fique quieta.
Jogo a camiseta no chão e fico paralisado quando vejo sua calcinha. É
pequena, branca e graças à sua excitação, quase transparente. A necessidade
de tocá-la é enorme e eu movo o dedo para percorrer a peça molhada antes
mesmo de tomar a decisão consciente de fazê-lo.
O gemido que ela solta ao meu toque me estimula e eu passo o dedo pela
borda do tecido para que possa sentir sua umidade. Aprecio a sensação da sua
excitação em meus dedos, adorando saber que a deixo assim, porque,
caramba, não consigo esconder o quanto ela me excita.
— Mas eu quero te tocar. — Posso ouvir o desejo em sua voz, mas tenho
medo de ir longe demais se ela encostar em mim. Balanço a cabeça e deslizo
dois dedos em sua boceta apertada enquanto observo suas costas arquearem
com um gemido de prazer.
— Quero ser gentil com você — gemo, movendo os dedos para dentro e
para fora do seu corpo enquanto a palma da minha mão acaricia seu clitóris o
suficiente para deixá-la ainda mais excitada, mas sem fazer com que ela
chegue ao orgasmo. — Quero que sua primeira vez seja especial. — Acaricio
seu mamilo entre o polegar e o indicador enquanto suas mãos soltam o lençol
para segurar meus antebraços. Ela crava as unhas em mim, mas não impede
meus movimentos. Na verdade, os incentiva. — Só não tenho certeza de que
posso.
O toque das suas mãos quase me faz perder o controle e sinto a
eletricidade fluir, dando vida ao meu corpo.
— Tem certeza de que é isso que você quer? — pergunto com a voz mais
profunda e o corpo tremendo de necessidade.
Sua voz está rouca de desejo, mas as palavras saem claras.
— Sim. Eu te quero, Reed.
— Vou fazer o máximo para que seja bom para você. — Eu me inclino,
libero seu mamilo e dou um beijo firme em seus lábios, roubando seu ar. Ela
me segura com força, me mantendo no lugar, e eu acelero o ritmo dos meus
dedos enquanto meus lábios devoram os seus. Não paro até sentir sua boceta
apertar meus dedos.
Fallon goza. Sua vagina vibra com tremores secundários de prazer e
desfruto do seu clímax enquanto a preparo para acomodar meu pau. Ela o
receberá muito em breve.
— Ahhh... Isso foi... — ela para de falar, e eu sorrio, sabendo que não há
palavras para descrever o prazer que ela está sentindo. Beijo a ponta do seu
nariz e afasto os dedos com gentileza, levando-os ao lábios e lambendo a
evidência da sua excitação.
Fecho os olhos e gemo com seu sabor. Tem um leve toque salgado e um
aroma almiscarado. Não há nada igual. Nada.
— Tem mesmo certeza de que quer isso? Quando começarmos, não sei se
vou conseguir parar — sussurro, mas abro os olhos quando sinto seus dedos
em volta do meu pau.
Ela está mordendo o lábio inferior e olhando para mim de forma sedutora.
— Já disse que te quero, Reed. Quero que a gente faça isso. Será que
podemos?
Tensiono a mandíbula ao ouvir suas palavras provocantes e sinto o
líquido pré ejaculatório vazar do meu pau. Suas palavras me fazem
estremecer de desejo.
Algo cintila nos olhos de Fallon com a percepção de que nossos papéis se
inverteram. Agora sou a presa e ela é a caçadora. Com pouco esforço, ela me
empurra para a cama e eu caio de costas, impotente e cativado por sua
presença.
Ela sorri, e fica nua. Neste momento, somos apenas Fallon e Reed.
Melhores amigos. Amantes. Nada mais importa. Não tem a ver com nosso
acordo, com o que vai acontecer amanhã ou mais tarde. Somos tudo o que
importa.
— Quero te mostrar como você me faz sentir — ela sussurra e segura
meu pau. Seus dedos parecem pequenos ao me segurar e me lembro de como
ela é frágil, assim como esse relacionamento.
Ela esfrega o polegar na cabeça sensível e espalha a umidade pela ponta.
Mordo o lábio, tentando parar meu gemido de prazer, inclino a cabeça para
trás e encaro o teto. Faço o possível para não olhar para a mulher que está
com as mãos na minha ereção. Ela começa devagar, subindo e descendo a
mão em um ritmo torturante.
— Puta merda. — Desta vez, sou eu quem segura os lençóis e vejo o
sorrisinho se formar no rosto de Fallon. Ela gosta que eu esteja à sua mercê, e
eu também.
Ela sorri.
O olhar sedutor em seu rosto me distrai, e ela tira vantagem disso,
liberando meu pau e se virando para montar em mim. Pisco, muito consciente
de que sua boceta está apoiada diretamente sobre minha ereção.
Minhas mãos parecem ter vontade própria, e eu a seguro pelos quadris
enquanto ela se move para cima e para baixo e seu clitóris inchado roça na
cabeça sensível. Ela está espalhando sua umidade em mim e saber que fui eu
quem a deixou molhada quase me leva ao limite.
Ela encaixa a cabeça em sua boceta. Antes que eu possa dizer para ir
devagar, ela se encaixa por completo e sua bunda descansa em minhas coxas.
Dezessete

FALLON
Puta merda. Por que ninguém me avisou que isso doeria tanto?
No segundo em que seu pau entra em mim, me arrependo de ter me
encaixado com tanta pressa. A dor é imediata e muito maior do que eu
esperava. Perco o ar e olho para Reed.
Seus olhos estão bem fechados e o pescoço tensionado. Ele está tão
bonito que sinto vontade de capturar esse momento para sempre.
Ele aperta minha pele com as pontas dos dedos e essa sensação,
combinada com a sua expressão erótica, é o suficiente para me distrair da dor
que estou sentindo.
Meu corpo inteiro queima quando me levanto e abaixo novamente em sua
ereção. Seu pênis me estica de um jeito delicioso e um gemido de prazer
escapa dos meus lábios antes que eu possa pará-lo. Os dedos de Reed
apertam meus quadris com mais força, quase interrompendo os movimentos
quando eu desço. Ele abre os olhos e o azul cintila com a luz que vem da
janela.
— Você é apertada pra cacete, Fal. Preciso que diminua
a velocidade
Reed exige com os dentes cerrados. Quero obedecer, mas é bom demais.
Era o que eu esperava, e não vou deixar que ele estrague esse momento com
seus avisos e demandas.
Pressiono os lábios nos dele e sussurro:
— Shhh. — E então coloco as mãos no seu peito, me preparando para que
eu possa montá-lo com mais força. Ele revira os olhos e não preciso me
perguntar se estou fazendo direito.
Quanto mais me movo, menos dói e a cada movimento, o prazer cresce
até que todo o meu corpo seja controlado por uma única necessidade: gozar.
Reed deve sentir minha urgência e se move rapidamente. Sabendo do que
preciso, acelero os movimentos como se estivesse correndo em uma maratona
e estivesse perto da linha de chegada. Meu coração bate forte no peito quando
ele estoca dentro de mim e minha boceta pulsa ao atingir o orgasmo.
A intensidade é tanta que paro de me mexer. Fecho as mãos e não consigo
me concentrar em nada além dos sentimentos que percorrem meu corpo.
Estou quase me afogando em prazer. Não consigo respirar, pois as ondas não
param de atingir meu corpo.
Reed continua os movimentos em busca do próprio orgasmo. Fico
paralisada em cima dele, que me vira para ter um acesso melhor. Seus
movimentos prolongam meu prazer e meu corpo pulsa de forma rítmica ao
redor da sua ereção. Ele me preenche por completo. Depois de três estocadas,
sinto o calor da sua liberação na minha boceta.
Seu pênis estica mais uma vez e quando abro os olhos, o encontro me
encarando com os olhos azuis cheios de palavras não ditas. Algo me atinge
nesse olhar, que me diz que jamais seremos os mesmos.
Considerando o fato de que não posso desfazer a transa com o meu
melhor amigo, já sei disso.
Uma vez que ele para, seu foco se volta para mim... e, de repente, me
sinto constrangida. Os olhos de Reed procuram meu rosto em busca de algum
sinal de que o que fizemos me causou dor física ou emocional. Mantenho os
olhos abertos, esperando que ele veja que o que acabamos de fazer foi
incrível, algo que espero repetir em breve.
— Você está bem? — ele pergunta. Sua voz profunda demonstra
preocupação. Por um segundo, me esqueço de que falou comigo e me
questiono se ele sempre fica tão lindo depois do sexo. Seu cabelo castanho
escuro está uma bagunça e gotas de suor se formaram em sua testa com a
força de seus impulsos. Ele parece um dos gatos da academia nos quais
costumo babar.
— Fallon. — Ele emoldura minhas bochechas, forçando meus
pensamentos a voltarem ao presente.
— Sim? — pergunto e minha voz falha. Me sinto tão diferente, renovada
até. Ele não está me olhando de outra forma, o que é estranho, já que eu o
vejo sob uma luz nova.
— Você está bem? Eu te machuquei? — Balanço a cabeça. Ele não me
machucou, a menos que levemos em consideração a primeira, mas a culpa foi
minha.
— Não, mas eu... — Paro para umedecer os lábios quando o sinto
enrijecer dentro de mim. — Podemos fazer isso de novo? — pergunto,
sentindo meu estômago se apertar enquanto espero por sua resposta.
Reed sorri.
— Você é danadinha, né? Nem bem terminamos e já está implorando pela
segunda rodada. — Suas palavras sacanas fazem com que eu me contorça e
seu sorriso se amplia. Ele sabe exatamente como está me afetando.
— É que foi tão bom — falo, fazendo beicinho. — Me desculpe, mas não
passei os últimos quatro anos transando com todo mundo. — Só depois que
falo é que percebo o quanto meu comentário foi ríspido.
Reed não parece perturbado com minhas palavras, mas solta minhas
bochechas e acaricia meu corpo como se estivesse pintando uma obra-prima e
eu fosse a sua tela.
— Vou passar cada minuto acordado para compensar. — Ele se inclina,
suga meu mamilo e provoca arrepios na minha pele. Em seguida, ele o libera
com um som alto que ressoa pelo quarto. Solto um gemido baixinho,
desejando que ele retome o que estava fazendo. — Vou te comer com força.
Ele estoca dentro de mim, e eu suspiro enquanto meu corpo o aperta.
— E rápido... — Ele entra e sai mais duas vezes antes de diminuir o ritmo
e suas mãos tocam todas as partes do meu corpo. — Depois vou desacelerar
para te fazer gozar tantas vezes que você vai me implorar para parar. —
Acredito nele. Meu corpo relaxa no colchão enquanto o deixo fazer o que
quiser. Ele me domina. Domina meu coração, mente, corpo e alma... tudo é
dele.
— Reed — grito enquanto ele me come como se estivesse tentando
deixar sua marca na minha alma. E quando gozo, quase choro, sentindo os
pedaços do meu coração se separarem do corpo como se soubessem que não
me pertencem mais.
Reed Winston.
O meu melhor amigo.
E agora... meu amante.
Dezoito

REED
Algo mudou entre Fallon e eu naquela manhã. Agora, estou muito
consciente de sua presença a cada segundo do dia. Qualquer som que ela faz,
as risadas, tudo. Cada. Coisinha. Seu riso incendeia meu corpo. A semana
demora muito para passar e me pego gravitando em sua direção, querendo
passar cada segundo do dia com ela. Mesmo que as pessoas estejam
começando a perceber, não me importo.
Me olho no espelho e ajeito a gravata borboleta. Estou ansioso e
aterrorizado com o que vai acontecer esta noite. Sei que levar Fallon ao bale
de só hoje vai incentivar as fofocas no trabalho e, mesmo que eu não esteja
escondendo o que compartilhamos, também não quero oficializar.
Meus pensamentos se voltam para o fim de semana passado, quando
acordei na cama de Fallon, e ela me deixou reivindicar um pedaço seu que
nenhum homem jamais teve.

Seus gemidos reverberam pelo meu corpo e cada impulso dentro dela nos
conecta e nos une. Nunca desejei tanto transar com uma mulher quanto
quero com a Fallon e nunca trepei, ou melhor, fiz amor com alguém desse
jeito. Cada impulso me faz ficar mais consciente.
— Reed, eu acho... — As lágrimas se formam em seus olhos enquanto eu
a faço desmoronar em meus braços várias vezes. Então eu a beijo, com medo
das palavras que ela pode estar prestes a dizer. Não quero que ela fale.
Ainda não. Principalmente porque ainda não posso retribuir.
Seu corpo estremece e a visão me faz gozar também. Não sei quanto
tempo se passou, mas a puxo para meus braços, saboreando a suavidade do
seu corpo contra o meu.

— Está pronto? — A voz de Ryker apaga a lembrança como um banho de


água fria. Suspirando, endireito a postura e me olho mais uma vez no
espelho. Odeio esse smoking. É apertado e muito pior que os ternos de grife
que uso diariamente. Fico muito mais confortável com jeans e camiseta, mas
meu pai sempre disse que precisamos nos vestir de acordo com o papel que
temos que desempenhar. Se não pareço bem-sucedido, as pessoas vão
assumir que a nossa empresa também não é.
— Sim — resmungo baixinho.
Ryker está parado na porta do quarto e quando passo por ele, um copo do
que presumo ser uísque é empurrado na minha mão. Olho para o líquido
âmbar, precisando mais da bebida do que gostaria de admitir. Levo o copo
aos lábios e engulo tudo de uma vez. É suave e alivia a tensão em meu
estômago.
— Ei, mano, calma aí. Não posso te mandar bêbado para a Fallon. — Sua
mão pousa no meu ombro, mais pesada do que costuma ser, e eu dou de
ombros. Não posso deixá-lo me provocar hoje. Preciso estar com a cabeça
tranquila, já que vou ter que tomar vinho e jantar com os associados de meu
pai. Qualquer um deles pode ser um comprador em potencial da empresa se o
meu acordo com a Fallon fracassar.
— Me dá uma trégua hoje, Ryker — falo por cima do ombro enquanto
caminho pelo corredor em direção à porta da frente. Olhando para o relógio,
percebo que já estou atrasado.
Merda!
— Trégua? Sem ofensa, mas quem disse que quero estar com você? —
Ryker brinca.
Minhas bochechas ardem quando tento impedir que um sorriso apareça
em meus lábios. Em um minuto, ele está me deixando louco e me causando
problemas. No seguinte, está fazendo com que eu me sinta melhor.
— Não é isso que quero dizer e você sabe. — Me viro e quase
trombamos. Quanto mais o encaro, mais me pergunto se ele seria mais
adequado para a Fallon. Se ele poderia amá-la sem medo das coisas darem
errado, de falhar e perdê-la.
— Sei o que você quer dizer. Não vou estragar nada hoje à noite.
Acredite, não quero que a empresa seja vendida para algum idiota que não
sabe nada sobre a nossa família.
Concordo com um aceno, tentando afastar meus medos. Sinto como se
estivesse me afogando e que respirar fundo só ajudasse a levar mais água aos
pulmões.
Não pense nisso, digo a mim mesmo, expirando antes de me virar e
deixá-lo no corredor. Levo o copo para a cozinha e vou em direção à porta,
pegando as chaves do carro ao passar pela ilha.
— Ei, posso ir com você? — Ele segue atrás de mim como fazia quando
éramos crianças.
— Não. — Rio e seguro a maçaneta para abri-la. Antes que eu atravesse a
porta, ele está falando novamente.
— Certo, desculpe, você está planejando transar hoje à noite. Não pode
ter seu irmão mais novo, ainda que ele seja adulto, atrapalhando seus planos.
— Seu sarcasmo é palpável, e eu reviro os olhos.
— Tranque a porta antes de sair. Te vejo no baile. — Suspiro e fecho a
porta atrás de mim, tentando me acalmar, mesmo que essa seja uma causa
perdida.
Não consigo afastar o medo que faz meu estômago apertar.
Alguma coisa vai acontecer hoje à noite.
A pior parte é que não tenho ideia do que é.

***
Quando chego na casa de Fallon, estou vinte minutos atrasado. Sinto as
mãos úmidas ao pegar as rosas que comprei do banco do passageiro.
Podemos ser só amigos que transam, mas ela merece o melhor, então sempre
que eu puder lhe dar um presente, é o que farei.
Bato na porta, e ela atende de imediato, como se estivesse esperando por
mim. Mais uma vez, fico sem ar. Mas agora é por uma razão muito diferente.
O vestido vermelho se molda perfeitamente ao seu corpo. É muito pior que o
verde que ela usou no nosso primeiro encontro.
Meu pau implora para estar dentro dela.
— Tudo bem? Minha aparência está boa? — Ela cora e me encara com
aqueles olhos verdes enquanto fala. Engulo o nó na garganta e aperto as
flores. Ela não tem a menor ideia do quanto é linda.
— Jura que você está me perguntando isso? — Me inclino para dar um
beijo suave em sua bochecha antes de terminar de falar. — Minha vontade
era de te pedir para se trocar. Todo mundo vai ficar te olhando.
Fallon sorri enquanto um leve rubor invade suas bochechas, mas posso
ver a preocupação que está sentindo. Ela não está acostumada a tanta atenção.
Eu entendo, porque também não estou.
— Você está deliciosa. Na verdade, se tivéssemos tempo, eu te colocaria
sobre a bancada e te devoraria. — Fallon desvia o olhar com timidez, como
se minhas palavras a deixassem envergonhada. Seu cabelo está enrolado e os
fios caem sobre os seios. Cada respiração me diz o quanto ela está afetada por
mim.
Ela contorce as mãos e confessa:
— Estou um pouco nervosa.
Sinto sua ansiedade tomar conta de mim ao segurar suas mãos, e ela
confidencia:
— Só quero estar perfeita para você, e se o vestido não estiver bom... —
Ela tenta se soltar, mas eu a puxo em meus braços.
— Não quero que você se preocupe. Você está perfeita e a opinião dos
outros não importa. — Inclino seu queixo para cima, forçando-a a me olhar.
Vejo a preocupação, o medo e a ansiedade em seus olhos e entendo. Acho
que entendo mais que qualquer outra pessoa. — Os outros não importam. Só
vamos fazer presença por causa da empresa. Quando você quiser voltar para
casa, a gente vem embora.
Fallon assente e abre um sorriso verdadeiro dessa vez.
— Quero estar onde você estiver, Reed. — Então ela me beija de leve. O
mundo inteiro desaparece quando sua pele macia me toca e o aroma doce me
invade.
A preocupação e o medo não existem quando Fallon está comigo, e
desejo, de todo o coração, que pudéssemos ficar juntos — ter uma união de
verdade. Mas quando ela se afasta, esses pensamentos se desfazem no ar
como se nunca tivessem existido.
— Bom, se você estiver pronta, acho que podemos ir. — Quero sorrir,
mas não posso. Desejá-la com tanta intensidade só vai nos magoar no final. É
melhor assim, mesmo que essa situação me machuque.
Seguimos em silêncio. O único som é a música do rádio que ecoa nos
alto-falantes. O trajeto leva cerca de vinte minutos com o tráfego e logo
chegamos ao hotel Montgomery. A família Montgomery organiza um baile
de caridade todos os anos com leilões beneficentes para construção de
abrigos, ainda que eles não se preocupem com mais necessitados. Para eles,
esses eventos servem para manter as aparências.
Entrego as chaves ao manobrista antes de dar a volta para abrir a porta de
Fallon. Quero que a noite seja perfeita para ela. Estendo a mão e a ajudo a
sair do carro. Há flashes piscando e pessoas por toda parte, mas meus olhos
estão focados só nela.
Entramos no hotel e meu estômago afunda quando o vejo. Meu arqui-
inimigo. Ryan Weber, da Weber Estates. Sinto um gosto ruim na boca e puxo
Fallon para mais perto de mim.
Talvez ele não nos note.
Claro, eu não teria essa sorte. O cretino se vira, se afasta de uma conversa
que estava tendo com alguém e se dirige diretamente para mim. Ele me olha e
depois foca sua atenção em Fallon. Solto um grunhido ao perceber como ele
encara seu corpo.
— Reed. — Semicerro os olhos quando ele fala meu nome. — E... — Seu
olhar cintila ao se virar para cumprimentar Fallon enquanto espera que ela
diga seu nome.
— Ah — ela murmura, parecendo confusa com a atenção —, sou a
Fallon. É um prazer conhecê-lo. — Tensiono a mandíbula quando ela estende
a mão e o sacana a leva aos lábios, pressionando um beijo na pele perfeita.
Posso vê-la corar, e meu corpo vibra com a raiva.
— É um prazer conhecê-la, Fallon. O Reed não costuma trazer ninguém
com ele para esse tipo de evento, então conhecer alguém da sua vida pessoal
é muito empolgante. — Vejo a confusão em sua expressão quando ela olha
de Ryan para mim. Ela não sabe quem é esse idiota ou por que ele sabe tanto
a meu respeito.
— Ela é minha namorada e não é da sua conta quem eu trago para esses
eventos. — Deixo a mentira escapar dos meus lábios com facilidade. Fallon
endurece ao meu lado e sei que estou errando com ela. Ryan sorri, como se
soubesse que estou mentindo.
Merda. Agora vou ter que explicar a Fallon porque disse que ela era
minha namorada.
— Ahhh. Bem, posso entender. — Ele parece entusiasmado demais
quando seus olhos se desviam de mim e voltam para ela. O olhar malicioso
em seu rosto inflama meu interior. — Ela é muito linda...
Eu o interrompo antes que perca a cabeça e faça algo de que possa me
arrepender.
— É muita gentileza da sua parte, mas precisamos ir. Meu pai está nos
esperando — minto de novo, querendo me afastar ao máximo desse canalha.
— É ela? — Ele se inclina para sussurrar a pergunta no meu ouvido. Não
sei se está me perguntando se ela é a pessoa certa ou se, de alguma forma, ele
sabe das exigências do meu pai.
— O quê? — Fallon questiona, arqueando as sobrancelhas.
Ryan ri antes de voltar sua atenção para ela:
— Só estava me perguntando se é você quem vai ajudar o Reed a manter
a...
— Chega, Ryan — solto um grunhido, balanço a cabeça e puxo Fallon
em direção à escada.
— Sério, Reed? — Fallon faz uma careta e se afasta de mim como se meu
toque a queimasse.
— Sinto muito. — Solto um suspiro frustrado e passo a mão pelos
cabelos, observando os garçons passando e as pessoas nos olharem,
sussurrando baixinho.
— Sente muito? — Ela me dá um olhar confuso e eu a alcanço, querendo
melhorar a situação, mas sem saber como. Ela dá um passo para trás,
colocando ainda mais distância entre nós. Isso me deixa louco. — Você disse
àquele cara que sou sua namorada. Não estamos namorando, Reed. Você
deixou isso claro. Só sirvo para uma coisa, que é manter a empresa da sua
família.
Suas palavras me atingem, mas o pior é que ela está certa.
A presença de Fallon aqui tem tudo a ver com o que ela me ofereceu. Mas
o jeito como meu coração bate quando ela está por perto e a forma como meu
corpo reage ao seu toque não tem nada a ver com o acordo que fizemos.
Sou medroso demais para admitir que, talvez, eu esteja me apaixonando
pela minha melhor amiga.
Dezenove

FALLON
Ele me olha como se eu tivesse dado um chute no seu saco ou algo assim.
Sua expressão angustiada me faz querer calar meus sentimentos, mas não
posso. Preciso dizer que quero que tenhamos mais do que uma amizade
colorida antes que seja tarde demais. Esse acordo foi um erro. A cada dia que
passa, percebo mais e mais que vou quebrar as regras.
Mesmo que eu tentasse me convencer de que conseguiria fazer isso por
ele, soube, no dia em que bebi a garrafa inteira de vinho e fui à sua casa, que
queria que ele fosse mais que meu amigo. Mas não esperava que as coisas
chegassem a esse ponto. Me convenci de que ele também se apaixonaria por
mim, mas parece que isso nunca vai acontecer.
Permaneço em silêncio pelo resto da noite. O brilho e o glamour do hotel,
assim como os convidados arrogantes me deixam enjoada. Ser o centro das
atenções é algo que odeio e parece que todo mundo está me olhando. Reed
deveria ter me preparado para isso, e estou chateada por ele não ter tido essa
preocupação. Para piorar as coisas, o afastamento entre nós só aumenta à
medida que a noite passa.
Ele ainda age com doçura e sorri para mim quando me pega olhando para
ele, mas não fala comigo. Não mais do que meia dúzia de palavras. O único
que fala comigo é o Ryker e quanto mais conversamos, mais o
comportamento de Reed parece se deteriorar. Não faço ideia do que
aconteceu com ele, mas estou cheia disso.
Tomo outra taça de vinho e Clark finalmente aparece na nossa mesa. Não
sei por que estou tão nervosa, mas de repente, sinto um frio na barriga.
Quando ele me vê, seu sorriso se amplia, fazendo com que o calor se espalhe
pelas minhas bochechas. Percebo por seu olhar presunçoso que ele sabe que
sou a mulher que Reed escolheu para ser mãe de seu filho. Mal sabe ele que
estou mais para a mulher que implorou por isso.
— Fallon, querida — ele dá a volta na mesa, me puxa para um abraço
apertado e beija a minha bochecha. — É maravilhoso te ver. — Ele diz como
se não me visse no trabalho quase todos os dias.
Retribuo o abraço, inspirando seu perfume, o mesmo que meu pai
costumava usar. Seu cheiro é de lar e conforto, e pelo jeito como Reed está
agindo hoje à noite, preciso das duas coisas mais do que imaginei. Meus
olhos se enchem de lágrimas e pisco rapidamente para impedir que caiam.
Ele se senta ao lado de Reed e aperta seu ombro.
— Filho.
— Pai — Reed o cumprimenta com os dentes cerrados, do jeito que ele
está falando com todo mundo desde que nos encontramos com Ryan. Uma
parte de mim quer perguntar qual é o problema, mas a outra está com raiva
demais para se importar.
Um sorriso largo se espalha pelo rosto de Clark quando ele ouve a tensão
na voz de Reed. Ele solta o ombro do filho e desvia a atenção para
cumprimentar o resto dos convidados em nossa mesa. Assim que ele desvia a
atenção de nós, me viro para encarar Reed, sem conseguir me conter.
— Qual é o seu problema? — É difícil repreendê-lo sussurrando, mas
consigo.
Ele tenta parecer entediado, mas posso ver a tensão em sua mandíbula.
Seus dentes estão cerrados e o cenho está franzido.
— Problema nenhum. — Argh. Ele é um idiota! Deveríamos ser melhores
amigos, mas ele está escondendo coisas de mim. Desde que fizemos esse
acordo estúpido, ele está me afastando e odeio isso. Juramos que nossa
amizade não seria afetada, mas foi.
Fico de pé abruptamente e o vejo arregalar os olhos ao perceber a
expressão derrotada no meu rosto. Se é isso que o sexo provoca, pra mim
chega.
Eu o desejo mais do que tudo, mas prefiro tê-lo como amigo. Pela forma
como ele está agindo ultimamente, nossa amizade vai terminar antes que eu
engravide.
Estou tão frustrada que me afasto para não fazer uma cena na mesa,
repleta de colegas de trabalho.
Não importa o quanto eu esteja chateada, sou adulta o suficiente para
manter minhas emoções contidas até ficarmos sozinhos e, se o conheço bem,
ele vai me seguir e me fazer falar. Não quero estar em público quando isso
acontecer.
Os saltos batem no chão de mármore e me pego andando sem rumo, sem
ter para onde ir. Este hotel é enorme. Não tenho ideia de qual caminho seguir
para encontrar uma porta que me leve para a rua e não quero voltar para a
mesa.
Estou pronta para ir embora, com ou sem o Reed. Vou andar até achar a
saída.
O próximo corredor por onde passo está bem iluminado e dou um suspiro
aliviado quando olho para frente. Há uma porta de vidro no fim dele e
consigo ver a cidade iluminada do lado de fora. Não tenho ideia de onde vai
dar, mas é uma fuga muito necessária no momento.
Uma das portas se abre enquanto estou caminhando e eu paro, esperando
para ver quem está saindo. A primeira coisa que noto é um corpo musculoso
em um smoking bem ajustado, mas o reconheço no momento em que vejo
quem está abotoando o paletó.
Seus olhos se fixam nos meus, e ele me dá um sorriso presunçoso.
— Fallon, certo? — ele pergunta como se não tivesse certeza de quem
sou, mas nós dois sabemos que é mentira. Tenho certeza de que ele guardou
meu nome no momento em que Reed o disse. Provavelmente já sabia, pois
pareceu que Reed já havia falado de mim antes.
— Ryan — eu o cumprimento e continuo a andar, sem querer participar
de mais nenhum drama esta noite. Mas ele segura meu braço, me vira para
encará-lo e interrompe minha caminhada.
— Aonde você está indo? — ele pergunta, olhando ao redor como se
esperasse que Reed aparecesse a qualquer momento. Faço o mesmo. Estaria
mentindo se dissesse que não doeu o fato de ele me deixar ir embora. —
Onde está o Reed?
Dou de ombros.
— Provavelmente na mesa. Não sou a mãe dele, então o que ele faz não
me interessa. — Tento parecer indiferente, mas elevo a voz, arruinando a
ilusão de que não me importo com onde ele está ou o que está fazendo.
Ryan se anima com minhas palavras e seus olhos brilham com diversão.
— Você não é a namorada dele, não é? — Quero me bater por deixá-lo
perceber que Reed mentiu.
Ele já sabe a resposta para a pergunta, mas parece querer esfregar sal na
ferida. Reed não gosta dele e estou começando a ver o porquê. O cara é um
idiota.
Me desvencilho e tento seguir caminhando, mas desta vez ele entra na
minha frente, me forçando a parar de novo. Seu corpo está perto do meu, tão
perto que posso sentir o calor da sua pele contra a minha.
— Pode se afastar por favor? — peço com um leve tremor na voz que
odeio. Deveria ter ficado na mesa com Reed.
Nem me importo se estou sendo rude. Esse cara não merece minha
atenção. Caramba, ele nem merece o “por favor” que usei.
Ryan dá um passo à frente, me forçando a dar um passo para trás, a fim
de impedir que nossos corpos fiquem ainda mais perto, e cada vez que me
afasto, ele avança. Faz isso até que não posso mais andar. Minhas costas
estão contra a parede e não há para onde ir. O pânico me consome e, como
um coelho preso em uma armadilha, meu coração acelera dentro do peito.
Mesmo assim, ele continua até que nossos peitos se toquem. Faço tudo o
que posso para não respirar fundo e enquanto o observo com cautela, ele se
inclina para mais perto. Seu hálito quente quase acaricia minha pele. Me
arrepio com a sensação e a bile sobe na minha garganta.
Quando pensei em sair para tomar um ar e fugir do comportamento idiota
de Reed, nunca esperei que algo desse tipo aconteceria. Estou prestes a
empurrá-lo para longe de mim quando vejo Reed no final do corredor. Ele
para quando nos vê tão perto e sinto necessidade de mostrar que não preciso
dele.
Sim, Ryan é detestável e sei que ele só está atraído por mim porque quer
o que Reed tem. Posso estar com um pouco de medo dele, pois sei que Reed
o odeia e deve haver uma razão para isso. Mas neste momento, não me
importo.
Só quero que Reed sinta um pouco da raiva que está correndo em minhas
veias pelo seu comportamento. Quero mostrar como será se ele não enfrentar
seus sentimentos. Então faço o impensável, a única coisa que sei que não
devo fazer... beijo Ryan.
Perco o ar no momento em que nossos lábios se encontram. Sua boca não
é tão macia quanto a de Reed. Ele não reage ao beijo a princípio. Seu corpo
continua rígido e as mãos permanecem ao lado do corpo. Mas tudo muda
quando Reed grunhe, nos deixando perceber sua presença.
Então Ryan sorri contra meus lábios e suas mãos agarram minha cintura,
me puxando para si. Suspiro com o movimento repentino, e ele tira
vantagem, invadindo minha boca com a língua. Seu gosto inunda meus
sentidos e, imediatamente, me arrependo das minhas ações. Enquanto o gosto
de Reed me deixa louca de desejo, o de Ryan me faz ter vontade de vomitar.
Agora que estamos tão próximos, posso sentir o leve perfume de outra
mulher nele. É por isso que ele estava saindo daquela sala. Ele estava ali com
alguém. E essa pessoa provavelmente ainda está lá, prestes a sair e nos ver
aqui. Não sei por que não percebi isso antes.
O pensamento me faz sentir suja, mas não tenho muito tempo para
racionalizar, pois ele é puxado para longe de mim e só consigo ver o Reed. A
raiva em seu rosto é absolutamente assustadora, e tenho que me esforçar
muito para não desmoronar e pedir desculpas pelo que acabei de fazer.
Preciso que ele admita, mesmo que seja só para ele, que o que está
sentindo não é só amizade. Ele está com ciúmes porque seus sentimentos são
mais profundos.
Não tenho certeza do que esperava que aconteceria quando beijei Ryan,
mas definitivamente não era o silêncio de Reed. Ele está tão chateado que
está tremendo. Abro a boca para dizer alguma coisa, embora não tenha ideia
do que, mas antes que eu possa emitir algum som, ele segura meu pulso e
caminha pelo corredor para longe da porta de saída.
Sou forçada a andar rápido para acompanhá-lo. Tão rápido que estou
quase correndo, o que não é fácil com salto alto, mas ele não parece se
importar.
Estou aterrorizada com a profundidade da sua raiva. Acho que deve pedir
desculpas, mas não sei se lamento por isso. Talvez por ter beijado Ryan, mas
não por fazer com que Reed visse. Isso era necessário mesmo que o
magoasse.
— Estou tão bravo que minha vontade é de te estrangular — Reed fala. A
fúria irradia dele.
Afasto o medo que estava sentindo e tento soltar meu braço do seu aperto.
Ele não tem o direito de ficar bravo. Quem está me tratando como se eu fosse
invisível desde que chegamos aqui, é ele. Pelo menos, tentei fazê-lo falar
comigo, mas ele se recusou.
A culpa de tudo isso é dele e vou me certificar de que ele saiba.
— Ah, é? — Coloco a mão na cintura, inclino a cabeça e levanto uma
sobrancelha. — Você não é o único. — Ele tenta me interromper e zombar de
mim, mas ainda não terminei. — Não fui eu quem passou a noite inteira me
ignorando. Não sou eu quem está agindo como se eu tivesse te traído. Nós.
Não. Estamos. Juntos. Reed. Você não tem nada a ver com as pessoas com
quem falo, namoro, beijo e, muito menos, com quem eu vou para a cama.
Ele me olha nos olhos e o calor que irradia deles me incendeia.
— Você não vai transar com ninguém além de mim, Fallon.
Argh. Ele me deixa tão... brava que nem sei o que dizer. Estou
completamente sem palavras. Então, em vez de continuar a discussão aqui no
saguão do hotel, passo por ele com a cabeça erguida e vou até o posto de
manobrista.
Ele não vai vencer esta batalha. Hoje, não. Nem amanhã. Se ele quer que
eu seja sua, precisa se decidir. Não vou arriscar meu coração enquanto o dele
continua seguro.
Os dois manobristas me encaram e sorrio internamente ao saber que isso
vai irritá-lo ainda mais. Talvez se ele ficar bravo o suficiente, admita seus
sentimentos. Quem sabe assim a gente possa seguir em frente.
— O que pensa que está fazendo? — Reed está fervilhando. Eu o ignoro e
pego as chaves da mão do rapaz. Ele sorri e eu agradeço.
— Muito obrigada. — Retribuo o sorriso e sigo pelo estacionamento.
Posso ouvir Reed bufar atrás de mim.
Ele está furioso, mas eu também estou. E não parece que um de nós
planeja recuar.
— Você não devia tê-lo deixado te beijar. — Reed está quase em cima de
mim quando chego ao carro. Me sentindo mais corajosa que nunca, eu o
encaro, deixando claro que não vou desistir dessa briga.
— Gostaria que você tentasse me obrigar a fazer qualquer coisa. —
Enfiando um dedo em seu smoking perfeito, lembro que não sou sua. —
Você não é meu dono, Reed. Eu não pertenço a você e quanto antes você
perceber isso, mas rápido podemos concluir esse acordo idiota, já que é tudo
o que significo para você. Um meio para um fim.
Ele não diz mais nada e talvez seja melhor assim, pois não tenho certeza
do que responderia. Então ele me deixa entrar no carro e vai para o lado do
passageiro.
Um sorrisinho se forma nos meus lábios. Me sinto mais corajosa que
ontem e, definitivamente, não tenho medo de admitir que amo o meu melhor
amigo.
Vinte

REED
Não há palavras para descrever as emoções que estou sentindo agora.
Raiva de mim mesmo, de Fallon, de Ryan... caramba, de todo mundo.
Gostaria de ser o homem de que ela precisa e merece, mas não sou. Nunca
serei. Saber disso não impede que seu beijo em Ryan se repita na minha
cabeça, o que faz minha raiva aumentar.
O caminho até sua casa é silencioso e mesmo que eu queira gritar, abrir
meu coração e confessar meu amor, não posso. Não se eu quiser que
continuemos sendo amigos. Estou realmente começando a odiar essa palavra.
Quase agradeço a Deus quando ela chega em sua casa. Preciso sair deste
carro e me afastar do seu cheiro viciante. Ela está me fazendo pensar em
coisas que não deveria, me fazendo sentir emoções que eu nem sabia que
existiam.
Ela sai do carro, deixa as chaves na ignição, e eu luto para controlar
minhas emoções. Se eu a acompanhar, tudo vai mudar. Não serei responsável
pelos meus atos.
Mas já estou na merda. Se não seguirmos com o plano, aquele idiota vai
assumir a empresa do meu pai. Então faço minha escolha. Abro a porta,
desligo o motor e saio para o frio. Fallon mal subiu os degraus quando a
alcanço.
— É hilário que você realmente pense que as coisas serão assim. — Estou
tremendo de raiva, necessidade e algo primordial dentro de mim. — Que
você pense que será capaz de entrar e agir como se eu não tivesse visto
aquele beijo. — Minhas narinas se dilatam quando digo as palavras, fazendo
com que seu cheiro domine meus sentidos.
— Já falei que não sou sua, Reed. — Fallon se vira para me encarar. Ela
abre a porta e entra, então é claro que eu a sigo, já que não terminamos essa
conversa.
— Não é — zombo —, mas temos um acordo. Você prometeu que teria
um filho comigo. Isso não inclui ficar com outras pessoas. — Sinto a
decepção nítida em minhas palavras, mas Fallon ignora meu comentário,
fechando a porta atrás de si. Ela não parece se importar com a minha
presença, e isso me incomoda ainda mais. Preciso que ela me queira. Quero
que ela precise de mim.
— Tudo bem, eu o beijei — ela suspira e tira os saltos. Continuo quieto e
então ela passa as mãos pelos cabelos e geme. — Não transei com ele! Foi só
um beijinho. — Observo quando ela prende o cabelo em um coque apertado.
Em seguida, segura o zíper na lateral do vestido como se fosse tirá-lo.
Se ela fizer isso, não vou conseguir me impedir de colocar as mãos nela.
— Para alguém que só quer ser meu amigo, você está sendo terrivelmente
territorial. — O sorriso que ela me dá provoca o predador dentro de mim.
Aquele que quer dizer tudo que ama nela. Na verdade, tenho que parar por
um segundo e me perguntar se ela não queria justamente isso... que eu a
reivindicasse... confessasse meus sentimentos. Porque, nesse caso, não sei se
posso fazer isso sem correr o risco de perdê-la.
Escolho ignorar os sinais que ela está me dando.
— Ele é detestável, Fallon, e você era a minha acompanhante. MINHA
ACOMPANHANTE. Nem vou mencionar o fato de que ele é o idiota que vai
ficar com a empresa se isso — gesticulo entre nós — não der certo, o que,
pelo jeito, é o que vai acontecer.
Mais uma vez, ela não parece perturbada pelo meu ataque de fúria. Na
verdade, ela parece sorrir um pouco a cada palavra que sai dos meus lábios.
— Acha engraçado? — grunho e a encurralo. Estou selvagem. Possessivo
e com ciúme por Ryan tê-la tocado. Vejo sua língua rosada umedecer o lábio
inferior e não consigo me conter.
Isso é tudo que preciso. Prová-la.
Nesse momento, ela puxa o zíper do vestido. O tecido cai no chão,
deixando-a nua e seu corpo parece brilhar na penumbra da sala de estar.
Minha boca se enche d’água.
— Acho engraçado que você não para de dizer que só podemos ser
amigos. Que podemos transar e que tudo vai continuar como antes. — Ela se
inclina para frente e fica a apenas um milímetro dos meus lábios. — Mas não
podemos fazer isso, Reed. Não podemos ir pra cama e fazer com que tudo
continue igual. Não quando sentimentos estão envolvidos. — Uma parte de
mim não quer ouvir o que ela tem a dizer. Não quero ouvi-la se declarar,
dizer que o sexo mudou o que tínhamos. Mas a outra parte quer que ela diga.
Quero saber como ela se sente. Só não quero perdê-la.
Não posso perdê-la.
— Diga. — Ofego contra seus lábios, sem saber por que estou pedindo
que ela faça isso. — Diga que o sexo mudou o que existe entre nós. Diga e
vou te mostrar que não. — É a única coisa que posso pensar em dizer e se ela
confirmar, é o que farei. Vou provar a ela que não mudou nada. Nadinha.
— O. Sexo. Mudou. Tudo. — Cada palavra que sai da sua boca é como
um soco no meu estômago, mas recebo e absorvo a dor. Então eu a beijo.
Reivindico seus lábios, e sua boca se abre para mim como se ela me quisesse
tanto quanto eu a quero.
Essa é a única coisa sobre a qual não podemos mentir: nós dois queremos
isso, queremos um ao outro.
Minha língua desliza contra a sua como se estivéssemos fazendo amor só
com a boca. Quero beijá-la de forma intensa e devorá-la, mas não posso.
Algo me diz que preciso tomá-la com cuidado.
Um gemido baixo escapa de Fallon quando seus braços envolvem meu
pescoço, forçando nossos corpos a se aproximarem. Sinto que estou vestido
demais. Nos guio para o seu quarto enquanto ela me ajuda com minha roupa.
Eu a quero, mas não posso tê-la do jeito que preciso.
— Vou te comer até que você me implore para parar — prometo,
mordiscando e sugando seu lábio inferior, observando-a revirar os olhos.
— Não me ameace com bons momentos, Reed. — Sem aviso, mordo seu
lábio inchado. Se ela vai me irritar, vou puni-la.
— Suba na porra da cama — digo, liberando-a para que ela possa seguir
meu comando e volto a me despir. Ela me observa com os olhos entreabertos
enquanto as peças caem no chão. Ver a luxúria em sua expressão me deixa
ainda mais louco de desejo.
Assim que termino, nós dois caímos na cama. Mantenho um braço em
suas costas e apoio a mão livre sobre o colchão para não esmagá-la, mas a
nossa queda força meu pau contra sua entrada molhada. Cerro os dentes
tentando evitar de penetrá-la agora.
A última coisa que quero fazer é machucá-la, mesmo que esteja muito
chateado. Ela não está preocupada com isso, e assim que se acomoda, me
beija com paixão e permite a entrada da minha língua.
O beijo é intenso e faço o melhor para apagar qualquer lembrança da boca
de Ryan na sua. Ela nunca deveria beijar ninguém além de mim. Sei que isso
vai contra tudo o que penso, mas agora, neste momento, não sou capaz de ser
racional. Quero marcá-la de todas as maneiras possíveis para que qualquer
homem saiba que ela foi tomada.
Quero que todos saibam que ela é minha. Toda minha e de mais ninguém,
enquanto isso durar.
É ridículo, mas espero que ela não engravide tão cedo, porque isso
significa que ela será minha por muito mais tempo. Me sinto um idiota com
esse pensamento, pois sei que ela está preocupada com isso.
O gemido carente de Fallon me traz de volta ao presente e seu corpo se
contorce debaixo de mim. Ela quer que eu a tome, mas preciso prepará-la
primeiro, porque mesmo que eu a deseje muito, quero ter certeza de que ela
está pronta. Isso precisa ser bom para ela. Nunca vou me perdoar se eu a
machucar.
Faço uma trilha de beijos no seu pescoço e paro em seus seios. Eu os
acaricio e os aperto enquanto chupo, deixando marcas em cada um deles. Ela
mexe a cabeça no travesseiro, sem prestar atenção às manchas vermelhas que
estou deixando em seu corpo.
Aprecio o momento, marcando-a como minha e sabendo que não há nada
que ela possa fazer para me impedir. Quando ela as vir, vai ficar irritada, mas
será tarde demais. Preciso que todos saibam que ela é minha... mesmo que
seja só por um tempo.
Quando capturo um dos mamilos, ele está intumescido. Ela solta os
lençóis que estava agarrando, segura minha cabeça e, no mesmo instante, sei
o que está tentando fazer.
Ela está tentando me mostrar o que quer e precisa. Mas hoje, eu estou no
controle e seu corpo estará à mercê do meu pau, mãos e boca.
— O beijo dele te fez se sentir assim? — falo com os lábios roçando o
mamilo.
Ela balança a cabeça de forma frenética e arregala os olhos, implorando
pelo êxtase que sei que está prestes a alcançar.
— Diga, Fallon. Ou não vou deixar você gozar — minto, sabendo que
não posso negar o prazer que ela precisa, quer e merece. Ela é minha rainha, e
é meu dever proporcionar os melhores orgasmos da sua vida.
— Não — ela suspira — o beijo dele só me fez sentir suja. Má. Foi
errado. — Eu me apego a cada palavra, apagando as coisas ruins que aquele
beijo a fez sentir.
Sorrio contra os seios macios antes de descer, fazendo um caminho com a
língua. Aperto seu quadril e levanto sua bunda, trazendo-a para o meu rosto.
Suas pernas se abrem como se ela estivesse possuída por uma necessidade
que não entende.
— Que bom, porque você é minha. — Coloco a língua em seu clitóris
inchado. Amo como o desejo que ela tem por mim brilha em suas coxas. —
Sua boceta está implorando para que eu te prove, não é? Ela quer que eu a
tome. Você também quer, Fallon? Quer que eu te possua? Que seja dono do
seu corpo do mesmo jeito que sou dono do seu coração? — Seu cheiro está
nublando minha consciência e provocando algo dentro de mim.
— Eu te quero. Por favor... — ela implora. Seus cabelos castanhos
sedosos estão espalhados nos lençóis brancos e seus olhos verdes profundos
me observam como se sua vida começasse e terminasse comigo.
— Você me tem, Fallon. Eu pertenço a você — digo as palavras enquanto
meus dedos abrem seus lábios para que eu possa prová-la. Ela geme com o
contato, mas não paro. Passo a língua por sua intimidade e só paro quando
sinto seus dedos apertando minha cabeça e as pernas começam a tremer.
Nesse momento, ela goza.
Eu me afasto, mas coloco dois dedos dentro dela, esticando-a e
garantindo que esteja perfeitamente molhada e pronta para mim.
— Quero te comer tanto que você vai me sentir por dias.
Meus dedos entram e saem dela e seus gritos de prazer ecoam em meus
ouvidos.
— Mas não posso te machucar. Você é mais do que isso para mim. —
Minha confissão sela meu destino. Não posso transar com ela como fiz com
outras no passado. Ela é diferente. É tudo para mim e tenho que reivindicá-la
com cuidado, com amor.
Retirando os dedos, seguro seu tornozelo e a puxo para a beirada da
cama, alinhando meu pau à sua boceta. Encarando seus olhos verdes, eu a
penetro sem aviso. Ela ofega enquanto o prazer me envolve.
Cada impulso nos faz ficar mais próximos, sua respiração e meus
gemidos se misturam e criam uma melodia única. Quando estamos assim,
somos um.
Sua vagina se contrai ao meu redor, e eu gozo. Desmorono sobre seu
peito suado e pressiono os lábios em seu pulso enquanto as palavras escapam
dos meus lábios sem que eu consiga detê-las.
— Eu te amo. — São palavras suaves e frágeis, e não posso me impedir
de senti-las. Fallon adormece em meus braços, e eu a abraço, sabendo que a
cada dia estou mais perto de ter que deixá-la.
Porque, sinceramente...
Fallon não é minha.
E isso dói.
Vinte e um

FALLON
Eu te amo. Essas três palavras passam pela minha cabeça repetidas vezes.
Talvez ele tenha achado que não o ouvi dizer, uma vez que não respondi.
Mas algo dentro de mim se partiu naquela noite. Ele fez amor comigo de
forma apaixonada, me deixando ofegante e me contorcendo de necessidade.
Reed incendiou algo dentro de mim que só ele poderia apagar.
Já se passaram três semanas e os dias parecem um borrão. Enquanto olho
o teste de gravidez no supermercado, me pergunto o quanto os resultados
mudarão as coisas.
Houve uma época em que eu tinha medo de não poder dar ao Reed aquilo
que ele mais precisava. Agora, tenho medo de estar grávida, porque isso
significa que nosso acordo está encerrado.
Mas ele te ama... uma voz incômoda ecoa no fundo da minha cabeça. Ele
me ama, sempre me amou, mas não consegue enfrentar o medo de sofrer.
Trata-se de salvar nossa amizade, mesmo que isso não seja mais possível. Ele
tinha medo de me perder, e o meu maior medo era perder o que construímos
ao longo dos anos.
Continuo olhando para a prateleira cheia de testes de gravidez. Estou com
medo, muito medo.
O telefone, que está na minha mão, toca e eu olho para a tela. O nome de
Reed aparece. Sua mensagem é simples e vai direto ao ponto.

Precisamos conversar.

Franzo a testa, confusa com suas palavras e coloco o celular no bolso,


concentrando minha atenção na tarefa em questão. Mais do que nunca,
gostaria que minha mãe ainda estivesse aqui. Ela me ajudaria a decifrar as
emoções de Reed e escolher um dos testes de gravidez. Não tenho muitas
amigas a quem possa perguntar, pois todas dizem que sou doida por fazer
isso. Sempre tive medo de que ele se apaixonasse por alguma amiga minha,
então tentei não me apegar muito às pessoas. Nem posso perguntar a Mel,
porque ela entende menos disso que eu. Seu foco é prevenir a gravidez, não o
que acontece quando não há prevenção.
Indecisa, pego o primeiro teste da prateleira. Está escrito Clear Blue na
embalagem e, aparentemente, dá resultados precisos em questão de minutos,
então eu o coloco na minha cesta e termino as compras. Estou quase
chegando ao caixa quando uma voz conhecida — de alguém que odeio e que
me enche de medo — chama meu nome.
— Fallon, é você? — Cerro os dentes e me viro para Andi, uma das
muitas ex-namoradas de Reed e a maior fofoqueira do trabalho. Dou a ela
meu melhor sorriso.
— Ah, oi. Não te vi — minto, sentindo as bochechas esquentarem
enquanto ela e outra colega de escritório, Trisha ou talvez Tammy, me
encaram.
Os olhos escuros de Andi me observam à procura de um ponto fraco para
atacar. No momento em que ela vê o teste na cesta, sei que encontrou algo.
Meu coração começa a bater mais forte enquanto tento pensar em uma forma
de explicar o que estou fazendo sem deixar transparecer o que há entre Reed
e eu.
Se ela descobrir, o prédio inteiro saberá em segundos. Basta uma
publicação em um dos fóruns de trabalho, e não posso deixar isso acontecer.
Nervosa, umedeço os lábios quando sua expressão se torna curiosa e espero
que ela diga algo. Não preciso esperar muito.
— Você está grávida? — Seus olhos brilham com diversão e sua voz é
maliciosa. Ela espera por informações para poder destruir minha reputação no
trabalho, disso eu tenho certeza.
Não sei como devo responder. Se eu negar, ela vai tentar descobrir o que
estou escondendo, e se eu disser a verdade, vai querer saber quem é o pai e
vai assumir que é o Reed ou um dos irmãos. A cesta pesa em meus braços, e
eu decido que precisarei mentir.
— Ah, isso? — Aceno para o teste — Deus, não. Estou comprando para
uma amiga. Ela estava bem assustada, então só estou tentando ajudá-la —
minto, odiando a forma como me sinto.
Como se eu não fosse boa o suficiente. Como se eu fosse uma sujeira
debaixo dos seus pés.
— Sério? Achei que o Reed estava precisando ter um bebê para manter a
companhia... — Enfio alguns fios de cabelo atrás da orelha e balanço a
cabeça, agindo como se não tivesse a mínima ideia do que ela está falando.
Ficar no supermercado lotado discutindo aspectos da minha vida pessoal
e mentir está me deixando enjoada.
— São só rumores — digo a ela dando de ombros. — Deus sabe que não
se pode acreditar em tudo o que ouvimos naquele lugar. — Me forço a rir, me
sentindo idiota por fazer uma declaração tão insignificante.
Andi e sua amiga se olham. Posso dizer que elas não acreditam em uma
palavra que estou dizendo, mas estou muito envergonhada e assustada com o
possível resultado do teste. Então não consigo inventar algo mais
convincente.
— É verdade. São rumores. E estão por toda parte. Fiquei preocupada que
você estivesse achando que tinha chance com o Reed. — Sua risada ecoa e
minhas bochechas ficam avermelhadas. É como estar no ensino médio de
novo. Me sentindo a garota que não é desejada por ele, mas a que todos
odeiam por ser tão próxima.
Cerro os dentes, escondendo a dor sob uma espessa camada de raiva.
— Jamais pensaria isso, Andi. O Reed e eu somos só amigos, nada mais.
— A mentira dói como se eu tivesse enfiado uma faca no coração.
Andi parece aceitar o que digo, uma vez que ela e a amiga se afastam,
voltando a atenção para outra coisa. Suspiro de alívio, quase me encostando
em uma das prateleiras de revistas. Só espero que ela não abra a boca no
trabalho.
Minhas mãos estão úmidas e minha pulsação, acelerada à medida que as
observo caminhando pela fila. Vou para o final e me sinto muito melhor
quando elas saem da loja. Andi me dá um último olhar e desaparece pelas
portas automáticas.
Saio com pressa e volto para casa, onde o cheiro de Reed e as lembranças
do que fizemos nas últimas semanas invadem minha cabeça. A presença de
Andi e suas palavras na loja também permanecem comigo, e sei, bem lá no
fundo, que ela está com ciúmes e com raiva por Reed não estar mais
interessado nela.
Tiro todos os itens da sacola e os guardo, deixando o teste de gravidez de
fora. Hoje à noite, vou até a casa dele tentar descobrir o que está
acontecendo.
A escolha que tenho que fazer se o teste for negativo me aterroriza.
Quero dar um filho ao Reed, mas não às custas do meu coração. Me
apaixonei por ele e por mais que eu ache que ele também se apaixonou por
mim, vou confrontá-lo sobre as coisas que me disse. Sobre me amar. Ando de
um lado para o outro, pensando no resultado de tudo isso.
Felicidade.
Raiva.
Tristeza.
Perda.
Não quero perder Reed, mas não posso fazê-lo confessar seus sentimentos
por mim. Só posso dizer como me sinto e esperar que ele admita o mesmo.
Pego o teste do balcão e o coloco na bolsa. Estou só alguns dias atrasada,
então pode ser muito cedo para fazê-lo. Mas tenho que tirar a dúvida.
Pego o celular e ligo para o número de Mel... preciso do seu conselho. O
telefone toca sem parar enquanto bato os dedos no balcão de mármore com
impaciência.
A ligação vai para a caixa postal, então desligo e passo as mãos pelo
cabelo, frustrada.
— Vá para a casa dele logo. Mantenha a cabeça erguida e diga a ele que o
ama — digo como se estivesse tentando me animar. Uma lembrança me
atinge naquele momento e minhas unhas arranham o mármore.
— Estou sozinha, Reed. Perdi a minha mãe e o meu pai. E aqui estou,
viva. — As lágrimas escorrem dos meus olhos. A culpa é minha. Talvez, se eu
estivesse com eles, o acidente não tivesse acontecido.
— Você não está sozinha, Fallon. Somos a sua família. Eu... — Ele pega
minha mão e coloca sobre seu coração. A batida constante acalma minhas
lágrimas e os pensamentos irracionais que passam pela minha cabeça. —
Sou sua família, Fallon, e nunca vou deixar nada te acontecer. Vou te
proteger de qualquer coisa. Estarei sempre ao seu lado.
Quando seus braços fortes me envolvem, sinto que ele está tentando me
abraçar e me fazer inteira de novo.
A lembrança desaparece e lágrimas escorrem pelas minhas bochechas.
Reed prometeu estar sempre ao meu lado e agora preciso que ele seja sincero
comigo. Que ele seja o homem que sei que é. Ele pode ter medo do que o
futuro nos reserva, e eu também tenho. Mas tenho mais medo de viver um
futuro sem ele e preciso que meu sentimento seja correspondido.
Talvez essa seja a única maneira de fazê-lo admitir que isso é mais que
apenas um acordo entre amigos. Que nós dois estamos apaixonados um pelo
outro há anos.
Basta uma ou duas linhas em um teste para mudar tudo.
E rezo para que o resultado nos aproxime em vez de nos separar.
Vinte e dois

REED
Olho para o telefone, desejando que uma mensagem de Fallon apareça na
tela. Por que ela não está me respondendo? Enviei três mensagens e não tive
respostas. Uma parte de mim está se perguntando se ela está bem enquanto a
outra, a mais cínica, está convencida de que ela saiu com outra pessoa.
Esse pensamento vai arruinar minha noite se eu deixar, então o afasto.
Preciso vê-la para que possamos conversar sobre sua mudança para minha
casa, pelo menos temporariamente. Tê-la aqui vai facilitar todo o processo de
concepção do bebê, além disso, poderia ficar de olho nela. Mesmo sabendo
que é errado dizer que ela não pode ter mais ninguém, tê-la aqui tornaria mais
fácil mantê-la só para mim.
Ouço uma batida na porta e me assusto. Me levanto do sofá de couro, vou
até a porta e a abro sem olhar quem é.
Me arrependo disso imediatamente, porque assim que a porta se abre, me
deparo com a última pessoa que quero ver: Andi.
— Posso entrar? — ela faz beicinho. Quero dizer que não, mas não sei
por que ela está aqui. Algo pode ter acontecido no trabalho, então, contra
meu melhor julgamento, me afasto para que ela entre.
Me viro para encará-la e espero que ela diga o que está acontecendo.
Como ela não diz nada, pergunto:
— O que está acontecendo? — Ela me olha como se eu fosse um pedaço
de carne e, ainda que no passado eu pudesse gostar disso, agora só me faz
sentir sujo.
— Só queria conversar. — Ela baixa o tom de voz e isso me faz pensar
que ela está tentando me seduzir.
Lamento mais uma vez ter aberto a porta. E embora não tenha certeza se
quero saber, pergunto:
— Sobre o quê?
Ela coloca a mão no meu peito e se inclina em minha direção.
— Sobre nós.
— Não existe nós, Andi. — Me afasto dela e vou até o bar, me servindo
de um copo de uísque e tentando descobrir como lidar com isso. Quando me
viro, uma carranca se formou em seu rosto. Cacete, não há bebidas
suficientes no mundo para lidar com a tempestade que está se formando essa
noite.
Quando ela percebe que estou falando sério, inclina a cabeça para um
lado e me encara.
— Eu a vi hoje, no supermercado. — Andi faz uma longa pausa e tomo
um gole de uísque, me recusando a ser atraído para uma conversa que não
quero ter. — Ela estava com um teste de gravidez na cesta e fiquei
imaginando...
Preocupação. Euforia. Medo. Estou cheio de emoções, mas não
demonstro.
— Quem fez você pensar o quê? — Finjo não ter ideia sobre quem ela
está falando. Meu relacionamento com a Fallon não é da conta dela.
Andi me dá um olhar convencido, demonstrando que não acredita em
mim.
— Você sabe de quem estou falando. Sua assistentezinha. A sua melhor
amiga. — Ela fala a segunda parte entre os dentes e preciso fazer um grande
esforço para não revirar os olhos. Ela não é a primeira mulher a reclamar do
meu relacionamento com Fallon.
— O que tem ela? Ela comprou um teste de gravidez? E daí? O que ela
faz fora do trabalho não é da minha conta. — Começo a sentir o peso das
minhas mentiras. Tudo o que a Fallon faz – dentro e fora do trabalho – é da
minha conta.
Andi zomba.
— Até parece, Reed. Vocês dois acham que estão enganando a todos, mas
não somos estúpidos. Existem muitos rumores sobre o que seu pai está te
obrigando a fazer e sei que você a está usando para isso.
— Você não sabe de nada. — Tento desconversar enquanto me pergunto
quem está espalhando esses rumores, já que as únicas pessoas na sala durante
as reuniões eram meus irmãos, meu pai, alguns executivos, nosso advogado e
a Fallon. Como Fallon e eu não contamos a ninguém o que estamos fazendo,
e os advogados e executivos têm um contrato de confidencialidade assinado
com a empresa, ninguém mais deveria saber.
Ela se aproxima e estende a mão para acariciar meu abdômen, algo que
em circunstâncias normais me deixaria excitado, mas não sinto nada. Não só
por já ter tido algo com ela e não querer repetir a dose, mas estou
completamente desinteressado.
Além disso, ela não é minha. E eu não sou dela.
Dou um passo para trás para que ela não me toque, e ela sorri triunfante.
— Foi o que eu pensei.
— O quê? — Não sei por que pergunto. Não quero ouvir nada que ela
queira me dizer. Ela está aqui só para ver o que pode tirar de mim para
espalhar mais fofocas no trabalho. — Não finja que me conhece, Andi.
Ela ri e inclina a cabeça.
— Por favor. Você pode agir como se fossem só amigos, mas amigos não
são tão possessivos quanto vocês. Amigos não tentam se proteger de qualquer
coisa que possa magoar o outro do jeito que vocês fazem. — Ela se aproxima
mais um pouco e pressiona o corpo no meu. — Aposto que posso tirar
minhas roupas agora e você nem vai ligar. E sabe por quê?
Engulo em seco, sabendo que devo afastá-la e mandá-la sair, mas, em vez
disso, pergunto:
— Por quê?
Ela se inclina para mais perto e aproxima os lábios da minha orelha.
— Porque você está apaixonado por ela. — Meu corpo inteiro se
enrijece, mas não concordo ou discordo. Se eu amo a Fallon, é ela quem
precisa saber e não a fofoqueira do trabalho.
Antes que eu possa fazer qualquer coisa, ouço um suspiro vindo da porta
e nós dois nos viramos para encontrar Fallon parada do lado de fora. A dor
em sua expressão é óbvia e saber que causei isso faz meu coração doer.
Me afasto de Andi antes mesmo que perceba o que estou fazendo. Ela
tropeça, mas não dou a mínima. A única coisa em que consigo pensar é em
alcançar a Fallon. Preciso explicar o que houve para que ela não tenha a ideia
errada.
— Fallon... — eu a chamo, mas é tarde demais. Tenho certeza de que ela
já se convenceu de que algo está acontecendo entre Andi e eu, mas ela é a
única pessoa que eu quero.
O riso sarcástico de Andi enche meus ouvidos.
— Não me diga que vai mesmo correr atrás dela. Se precisa tanto de um
bebê, podia ter me pedido.
Antes que eu possa me conter, explodo com ela.
— Saia daqui e nunca mais apareça sem ser convidada. — Saber que ela
pode ter arruinado qualquer chance que tenho com Fallon só me irrita ainda
mais e bato o copo de uísque no balcão. Ele quebra com o impacto e o
conteúdo se espalha pela minha mão. O vidro atinge minha pele e me encolho
com a dor.
Andi sai praticamente correndo do meu apartamento e bate a porta atrás
de si. Ela não fala e sou grato por isso, porque se ela abrisse a boca, faria algo
de que me arrependeria depois. Fecho os olhos e respiro fundo na tentativa de
me acalmar. Preciso falar com a Fallon. Preciso fazê-la entender.
Corro pelo apartamento, calço os sapatos e pego o paletó antes de correr
atrás dela.
Não vejo sinal dela quando chego ao saguão. Por um lado, estou chateado
por ela não ter me dado o benefício da dúvida, mas ela me viu com outra
mulher no meu apartamento. Uma pessoa de quem ela não gosta e posso
admitir que estávamos perto demais. Ainda assim, saber que ela ficou
chateada também me preocupa. Ela poderia se machucar. Eu poderia perdê-
la.
Pego o carro e vou para a sua casa. Já imaginei muitas possibilidades
terríveis no momento em que chego. E se ela não me deixar entrar? E se
deixar, mas disser que me odeia? Vários pensamentos diferentes passam pela
minha cabeça e quando vejo seu carro estacionado na entrada da casa, suspiro
aliviado. Minha frequência cardíaca diminui quando a vejo caminhando até a
porta.
Estaciono ao lado do seu carro, e quando ela se vira, ofega e coloca a mão
no peito. Ela não deveria ficar chocada ao me ver aqui e me magoa o fato de
ela não confiar em mim.
— Jesus Cristo, Reed. Está tentando me matar do coração? — Sua voz
soa tremula e quando seus olhos encontram os meus, posso ver que ela está
chorando. Odeio saber que sou o motivo do seu choro.
O rímel está manchado e as bochechas estão molhadas. Quero puxá-la
para meus braços e tranquilizá-la, mas pela sua postura, sei que ela não vai
me deixar tocá-la.
Então lhe dou um sorriso triste.
— Não, Fallon.
— O que está fazendo aqui? — ela pergunta com um suspiro resignado.
Não sei o que dizer, mas tento.
— Vim para explicar... — ela me interrompe, demonstrando que não quer
me ouvir.
— Não precisa explicar nada. Você adora brincar, Reed. Me diz que não
posso ficar com mais ninguém enquanto estamos juntos e que também não
vai ficar com outra pessoa. Mas quando a primeira mulher se oferece, você
aceita.
O fato de ela achar que vou para a cama com quem quer que se ofereça
faz com que meu pedidos de desculpas se evapore. Fico chateado de novo.
— Para alguém que deveria ser minha melhor amiga, você não tem uma
opinião muito boa a meu respeito. — Ela afasta o olhar e ruboriza, mas
seguro seu queixo e a forço a olhar para mim. Se ela vai me magoar com suas
palavras, precisa ver a dor que causam.
— Falei que não ficaria com mais ninguém e não fiquei. A Andi apareceu
na minha casa e achei que era você. Se soubesse que era ela, teria dito para
ela ir embora.
Fallon zomba, incrédula.
— Até parece. Se fosse verdade, ela não estaria colada em você quando
entrei. Você permitiu que ela entrasse. Deixou que te tocasse. — Ela inclina a
cabeça para o lado como se estivesse tentando me entender. Não vai
conseguir. Fallon pode ser minha melhor amiga, mas há coisas que não conto
a ninguém, nem a ela. — Mas você ficou chateado quando deixei o Ryan me
beijar.
Fico louco só de pensar em Ryan beijando seus lábios.
— Tem razão, fiquei chateado. Você deixou o Ryan te tocar. Enfiar a
porra da língua na sua boca. Eu não deixei a Andi fazer isso. Se tivesse
entrado dois segundos depois, teria me visto afastá-la.
Minha veemência deve superar sua raiva, porque seu corpo rígido relaxa
e a expressão irritada em seu rosto finalmente suaviza.
Estou ansioso para abraçá-la, mas ainda preciso perguntar sobre o que a
Andi me falou.
— Posso entrar? — A expressão em seu rosto demonstra que ela está
prestes a dizer não, provavelmente se lembrando de como as coisas ficaram
fora de controle da última vez que brigamos. O sexo foi incrível, mas por
mais que eu queira repetir, precisamos esclarecer as coisas. Se ela estiver
grávida, precisaremos pegar leve. — Só para conversarmos — falo depressa
para tranquilizá-la.
Depois de considerar por alguns segundos, ela cede.
— Tá, mas, Reed? — Posso dizer que ela está nervosa por me deixar
entrar, como se soubesse o quanto é difícil manter minhas mãos longe dela.
Dou um passo à frente, precisando estar perto dela.
— Sim? — Minha voz suaviza. Mas nossa conexão desaparece quando
ela se afasta.
— Só conversar. — Sua voz falha, e eu concordo. Ela desvia os olhos dos
meus e segue pela calçada para abrir a porta.
Quero abraçá-la, dizer que tudo vai ficar bem. Mas a verdade é que eu
não sei se vai. Não sei se vamos ficar bem.
O apartamento de Fallon normalmente é acolhedor e convidativo, mas
hoje parece frio, como se eu não fosse bem-vindo. Só espero que não seja
uma indicação de como será a nossa conversa.
— O que está acontecendo? Você me disse que precisávamos conversar,
então fale logo. — Suas palavras são duras e sei que ela está tentando
esconder como se sente.
Não consigo mais segurar a pergunta.
— Você está grávida?
Fallon pisca e sua raiva se dissipa. Ela desvia o olhar para a lata de lixo e
acompanho seu movimento. Cerro os punhos e respiro fundo para tentar
manter a calma diante do que vejo. Ela fez o teste sem mim? A caixa vazia
está ali, então ela deve ter feito.
— O que isso importa? Estar grávida não muda nada entre nós. — As
lágrimas se formam nos olhos de Fallon, e digo a mim mesmo que ela está
mentindo para que eu não exploda.
Não quero admitir que ela está certa, por isso ignoro o que diz. Mesmo
sabendo que ela não vai me dar uma resposta direta, faço a pergunta.
— Você fez o teste sem mim? Deveríamos ter feito isso juntos. — Nem
me preocupo em esconder a mágoa que estou sentindo. Suas lágrimas estão
acabando comigo. É justo que ela sinta isso também.
— Não importa. Negativo ou positivo, não muda nada, Reed. Mesmo que
tenhamos um bebê, você não vai me amar do jeito que eu te amo, vai? Você
nem admite que este acordo mudou nosso relacionamento.
Tensiono a mandíbula e sei que não posso enfrentar essa conversa agora.
Eu simplesmente não posso. Fallon quer mais do que posso dar e me sinto um
fracassado. Não é que eu não queira amá-la e lhe dar tudo que ela deseja, mas
não posso. Sou um homem destruído emocionalmente e ela merece mais que
isso.
Começo a entrar em pânico. Sei que a estou perdendo e não posso forçar
as palavras que nos manterão juntos.
— Não posso falar sobre isso agora. — Como explico algo que nem eu
entendo? — Sinto muito. — A angústia me envolve cada vez mais enquanto
me aproximo da porta. Há um buraco enorme se formando entre nós, e a
culpa é minha.
— Não faça isso — Fallon implora com lágrimas escorrendo por suas
bochechas, mas estou longe demais. Não quero magoá-la, e talvez esse seja o
problema desse acordo. Ele só trará sofrimento para nós dois.
— Não fiz nada. — Me viro e vou até a porta. Paro e seguro a maçaneta
de metal. — Foi você quem fez.
A expressão de sofrimento no rosto de Fallon me mata, mas não paro, não
importa o quanto eu queira. Saio da sua casa, entro no meu carro e começo a
dirigir. Passo pelo meu apartamento, mas não desacelero ou me viro, porque
percebi algo.
Fallon estava certa. Totalmente certa.
Tudo mudou.
Tudo. Está. Diferente. Agora.
Vinte e três

FALLON
As lágrimas não param de cair. Tento contê-las, mas não consigo. De pé
na cozinha, olho para o teste pelo que parece ser uma eternidade. As palavras
horríveis de Reed se repetem na minha cabeça, fazendo meu peito doer a cada
batida do meu coração e me pergunto quanto tempo a dor vai durar.
Não tenho mais certeza se quero saber o resultado. Eu deveria ter dito a
Reed que ainda não fiz o teste, que fui ao seu apartamento foi para que
pudéssemos fazê-lo juntos, mas ele estava muito triste. Ele se recusa a
reconhecer como se sente em relação a mim e fiquei tão brava com isso que o
deixei pensar que fiz o teste sem ele. Queria que ele se sentisse magoado
como eu por saber que ele não admite seus sentimentos ou por ter decidido
que não se sente da mesma maneira que eu. Eu tinha tanta certeza de que ele
me amava e que só precisava de um empurrão para admitir, mas a cada dia
que passa e ele nega, eu começo a perder a esperança.
Não quero que ele fique porque estou grávida e ele se sente culpado.
Preciso que esteja aqui comigo porque me ama e quer que sejamos uma
família. Eu nunca deveria ter concordado com esse projeto idiota.
Não sei quanto tempo fico encarando o teste de gravidez que pode mudar
nossas vidas. Nem preciso fazer para saber o resultado. Meus seios estão
doloridos, vomitei algumas vezes na semana passada e, é claro, minha
menstruação está atrasada. Tudo isso me leva a uma conclusão: estou grávida
de alguém que não tem os mesmos sentimentos que eu. Depois da forma
como ele foi embora, nem sei se vou vê-lo novamente.
A batida na porta me assusta e meu coração acelera. É o Reed? Será que
ele voltou? Corro para abrir a porta, convencida de que ele está do outro lado
prestes a dizer que eu estava certa. Que ele me ama... e que quer ficar comigo
para sempre.
Meu coração se parte quando vejo que não é o Reed, mas o Ryker.
Não consigo esconder a decepção na minha voz, e seus olhos se
arregalam quando a ouve.
— O que está fazendo aqui, Ryker?
— Posso entrar? — Sua voz é suave e compreensiva, e começo a me
perguntar se Reed o mandou para cuidar de mim. Me afasto para que ele
entre, mas não respondo verbalmente. Ele hesita por um segundo, mas
finalmente passa por mim, parando para dar um beijo na minha testa. Fecho
os olhos, que se enchem de lágrimas quando Ryker me dá o carinho de que
preciso agora, mas não me permito desabar. Não quero precisar dele... não
quero precisar de ninguém.
Fecho a porta e me viro para observá-lo enquanto ele se dirige, com
confiança, para o bar. Não percebo que deixei o teste de gravidez não
utilizado sobre abancada até que ele o pega. Fico ruborizada quando ele se
vira para mim.
— Vai fazer? — ele pergunta baixinho.
Ignoro a pergunta e cruzo os braços na tentativa de mantê-lo à distância.
— O que veio fazer aqui, Ryker? — repito a pergunta.
Ele me olha, parecendo enxergar dentro de mim, antes de finalmente
soltar um suspiro pesado.
— Vim para ver como você está.
Minha coluna fica rígida.
— O Reed pediu que você viesse? — digo seu nome como se fosse uma
maldição.
— Na verdade, não. Ele não tem ideia de que estou aqui. — Ryker fala
com indiferença, como se não tivesse ideia do que havia acontecido entre
nós.
— Se o Reed não te mandou, como sabia que eu não estava bem?
Ryker fica em silêncio por um minuto, mas não me encara. Ele passa a
mão pelos cabelos e olha para o chão. Quando finalmente me encara, ele faz
uma careta.
— Tudo bem, não se aborreça.
— O quê? O dia todo eu me aborreci. É impossível não me sentir assim
neste momento. — Só o fato de ele dizer isso me faz querer chutar seu saco.
Especialmente porque Reed não está aqui para que eu desconte nele. Ryker
me conhece bem o suficiente para saber o que estou pensando e levanta as
mãos na frente do corpo em sinal de rendição.
— Caramba. Me desculpe, eu não deveria ter falado assim.
— Você não respondeu à minha pergunta. — Eu o encaro fixamente.
Talvez eu esteja sendo grossa, mas agora não posso me importar. Tenho que
proteger a mim e ao meu coração do inevitável.
— Jesus — ele grunhe por entre os dentes. — Se me der um minuto,
posso te contar.
Depois de balançar a cabeça, ele volta a falar.
— Eu estava no trabalho com meu pai quando o Reed apareceu. Ele
estava tão chateado que nem conseguia falar. Só andava de um lado para o
outro da sala, balançando a cabeça e murmurando consigo mesmo. Meu pai
perguntou o que havia acontecido algumas vezes, mas ele não respondeu.
Eu amo Ryker, mas agora, gostaria de matá-lo. Ele está enrolando sem
motivo. Como se soubesse que estava à beira de um ataque de nervos, ele
começa a falar de novo.
— Quando meu pai foi até ele e segurou seu braço para que ele parasse de
andar, o Reed cobriu o rosto com as mãos e o deixou abraçá-lo. Desde que a
nossa mãe morreu, acho que Reed nunca permitiu contato físico com
ninguém além de você.
Meus olhos se enchem de lágrimas por ouvir que Reed está tão
desestabilizado. Começo a me questionar se não o pressionei demais. Talvez
ele não estivesse mentindo quando disse que não queria a Andi. Estou muito
nervosa e talvez não esteja pensando de forma racional.
— Ryker — murmuro seu nome, incentivando-o a continuar.
Ele me dá um olhar envergonhado antes de me contar o resto.
— Depois, ele deixou que nosso pai o levasse até o sofá e se sentaram. Só
consegui encará-los. Acho que fiquei um pouco chocado.
Reviro os olhos com sua tentativa de aliviar o clima.
— Ele contou que vocês brigaram e quando ouvi isso, achei que você
deveria estar sozinha e sofrendo. Eu os deixei a sós para conversarem e vim
te ver.
Saber que ele veio porque estava preocupado comigo faz com que a raiva
se dissipe. Quase corro até ele na pressa de abraçá-lo e deixá-lo me confortar
enquanto as lágrimas escorrem pelas minhas bochechas.
Era disso que eu precisava. Alguém para me abraçar e desmoronar.
Ele me abraça pelo que parece uma eternidade e quando minhas lágrimas
param de cair, eu me afasto e olho para ele. Ryker emoldura meu rosto e usa
os polegares para enxugar as lágrimas que escorrem na minha pele. Ele me
encara e quando ele tem certeza de que não vou começar a chorar de novo,
abaixa as mãos e dá um passo para trás.
Precisando de algo para fazer, pergunto a ele:
— Quer beber alguma coisa? — Em vez de esperar por uma resposta, vou
até a cozinha e abro a geladeira, prestando muito mais atenção ao conteúdo
do que preciso. Estou um pouco envergonhada por ele me ver assim, mas
também muito agradecida por ele estar ao meu lado enquanto estou
precisando. Mexo na geladeira à procura de uma garrafa de água para ele.
— Fallon. — Seu tom sério me faz virar para encará-lo. Ele está
segurando o teste de gravidez com ponta com dois dedos.
— Já fez?
Balanço a cabeça, sentindo um nó na garganta, e ele me olha de um jeito
severo. Conheço esse olhar.
— Faça o teste, Fal.
Só de pensar em fazer o teste depois da briga com o Reed já fico
assustada, então não me mexo. Ele se aproxima, segura minha mão e coloca o
teste nela antes de fechar meus dedos.
Então ele me vira na direção do lavabo e me dá um leve empurrão.
— Faça. A. Porcaria. Do. Teste. Pelo menos você vai ter certeza. Sei que
está preocupada com o que vai acontecer entre vocês, mas você precisa
saber. Não faz sentido se desesperar com algo se isso ainda não aconteceu.
Sinto os joelhos fracos e as pernas tremendo enquanto sigo para o
banheiro. A batida frenética no meu coração é a é a única coisa que posso
ouvir. Olho para meu reflexo no espelho. Meu rosto está pálido, as bochechas
vermelhas e os olhos manchados com a máscara para os cílios. Estou terrível.
Limpo o que resta da maquiagem e me sento para fazer o teste. Estou tão
trêmula que mal consigo fazer xixi no teste. Nem sei se consigo coletar o
suficiente para ter resultado, mas quando termino, coloco o bastão na bancada
e espero.
Ryker mal me dá tempo para lavar as mãos antes de bater na porta.
— Fallon? Você fez?
Abro a porta, revirando os olhos quando vejo sua expressão ansiosa.
— Sim, papai, fiz a porcaria do teste. — Quero ficar brava com ele, mas
não posso. Ele me empurra ainda mais para dentro do banheiro pequeno e
sorri para mim.
— Seu sarcasmo voltou. Você deve estar se sentindo melhor. — Suspiro
e balanço a cabeça.
Melhor? Nem um pouco.
Nos viramos para olhar para o bastãozinho de plástico que pode mudar
minha vida, e juro que quanto mais eu o encaro, maior ele fica.
Alguns minutos se passam antes de Ryker me cutucar.
— Acho que já pode olhar agora.
Balanço a cabeça.
— Não quero. Veja você. — Sei que estou soando petulante, mas não
posso evitar. Ele queria que eu o fizesse. Então pode ver o resultado. Eu já
sei.
Ele torce o nariz, mas me afasta para que possa olhar. Prendo a respiração
enquanto espero que ele confirme minha suspeita e quando ele se vira para
mim com olhos cheios de reverência, tenho certeza.
— Positivo — ele fala sem sequer tentar esconder a felicidade em sua
voz.
Ryker me segura pela cintura e me gira pelo lavabo. Não sei como ele não
esbarra na parede, na bancada ou nos joga dentro da banheira, mas ele
consegue. Quando finalmente me coloca no chão, estou tonta, com a boca
seca e não tenho certeza de como me sinto sobre o resultado.
— Meu pai vai ficar louco. — Ryker me abraça com tanta força que eu
solto um gritinho. — Você conseguiu, Fal! — Ele parece tão feliz, e eu ainda
estou inquieta.
Sua mão acaricia minha barriga, e meus olhos se enchem de lágrimas.
Deveria ser Reed e eu. Nós dois deveríamos estar aqui emocionados por
termos um bebê. Em vez disso, ele foi embora e estou aqui com o Ryker.
— Reed deveria estar comigo. Ele deveria estar aqui, Ryker. Seu irmão
deveria estar tão feliz quanto você, mas não foi o que aconteceu. Como vou
lidar com isso? — As lágrimas começam a cair novamente, mas dessa vez,
não consigo detê-las. — Ele não me ama do jeito que eu o amo e não há nada
que eu possa fazer quanto a isso. — Soluço e meu peito se contrai cada vez
que eu respiro.
A alegria nos olhos de Ryker diminui, e eu odeio ser a culpada por isso.
Esse deveria ser um momento feliz, mas está longe de significar isso para
mim.
Ele limpa a garganta e ainda abraçado a mim, fala:
— Dê um tempo a ele, Fallon. Sei que o Reed te ama. Todos nós sabemos
disso. Ele só precisa admitir para si mesmo. Quando o fizer, tenho certeza de
que vai implorar para que você o desculpe por te magoar.
Ele parece muito confiante, e eu gostaria de acreditar, mas se Reed
realmente me amasse, não teria fugido de mim. Não quando mais precisei
dele. Nós dois cometemos muitos erros, mas não tenho certeza de que
poderemos superar.
— A gente não magoa quem ama — falo com tristeza.
— Isso é besteira e você sabe. Somos humanos e sempre magoamos as
pessoas que mais amamos, porque sabemos que elas vão nos perdoar. — Ele
está convencido disso, mas não tenho certeza. Por mais que eu queira
discutir, não falo nada. Estou muito cansada e com o coração partido.
Percebendo que argumentar é inútil, Ryker me leva para o sofá. Ele se
senta, me puxa para seu lado e liga a TV. Quando encontra algo para
assistirmos, ele puxa um cobertor sobre mim e coloca o braço nos meus
ombros. Mas ele não é o Reed, e percebo isso pela forma como me abraça.
De qualquer forma, meus olhos ficam pesados e decido não lutar contra o
sono.
Pelo menos por algumas horas, posso esquecer de tudo o que aconteceu
hoje, porque em meus sonhos, Reed e eu estamos felizes, apaixonados e
encantados pela nova vida que criamos.
Porque nos meus sonhos ele me ama tanto quanto eu o amo.
Vinte e quatro

REED
É difícil enxergar quando estamos com raiva. Estou me tremendo todo
enquanto dirijo para o escritório. As palavras de Fallon não param de girar na
minha cabeça, mesmo que eu tente ao máximo esquecê-las.
A insegurança é uma merda e quando se trata de Fallon, não posso deixar
de me perguntar se ela está certa. O resultado do exame não vai mudar nada
entre nós. Mesmo que dê positivo, eu não seria homem suficiente para deixar
meus medos de lado e assumi-la como minha mulher.
Com filho ou sem, ainda sinto medo de perdê-la. Puta merda. Bato a mão
no volante me sentindo um completo idiota. Não há dúvida de que Fallon
merece mais do que posso oferecer.
Entro na garagem e estaciono em uma vaga antes de desligar o motor.
Encosto no banco de couro, sentindo as lágrimas arderem nos meus olhos.
Me sinto fraco. Inútil. Um idiota completo. E toda vez que fecho os olhos,
mesmo que por um segundo, só consigo ver o rosto da Fallon quando ela
percebeu que eu realmente a deixaria.
Deixei as coisas irem longe demais, culpando-a sem motivo. Só porque
eu estava chateado por ela ter feito o teste sem mim. Ela não me confirmou
que havia feito. Merda. Minha estupidez estragou tudo. Eu a acusei, presumi
que ela havia feito algo errado e agora não sei se ela vai me perdoar.
Limpo os olhos com as costas da mão. Não quero e não posso demonstrar
fraqueza para o meu pai. Posso estar aqui para pedir conselhos, mas não
preciso que ele pense que sou um fraco.
O prédio está silencioso quando entro, e levo poucos minutos para chegar
ao último andar. Em qualquer outro horário, demoraria uma eternidade.
Sei que meu pai não estaria em sua casa. Desde que minha mãe morreu,
ele passa mais tempo no escritório do que em casa. A empresa é a sua vida, o
seu bebê, mais do que eu e meus irmãos.
Ouço as vozes deles antes de vê-los. Isso faz com que a tempestade
dentro de mim aumente. A última coisa que preciso é de outra pessoa aqui
para me ver ter um colapso nervoso. Quando entro na sala, Ryker e meu pai
estão discutindo algo sobre a empresa.
Mal consigo respirar. Ando de um lado para o outro, sentindo a raiva e a
dor fervilhando no meu peito. Seria mais fácil dizer a Fallon que a amo se eu
fosse mais parecido com o Ryker?
— Filho. — A voz profunda do meu pai me afasta dos pensamentos
nebulosos. — É ótimo te ver, mas acho que você não apareceu aqui para
andar pela sala...
Eu o encaro. Ele está parado na minha frente, me olhando com simpatia.
Sinto que Ryker está me encarando também, mas não olho para ele. Vou
fingir que ele não está aqui.
— Não. Eu e a Fallon brigamos. Estraguei tudo e não sei como consertar
as coisas. — Cubro o rosto sem perceber o quanto estou desesperado, até que
as palavras saiam.
Meu pai me abraça e, embora normalmente eu me afaste, preciso do
conforto agora.
— Falei um monte de besteiras e não posso voltar atrás. Eu a culpei por
coisas que não são culpa dela. Agora eu vou perdê-la porque sou burro
demais para perceber o que tenho na minha frente.
Meu pai e Ryker trocam um olhar e antes que eu possa dizer qualquer
coisa, ele me leva para o sofá enquanto Ryker pega seu laptop. Ele sorri para
mim quando sai, mas não consigo retribuir.
Quando a porta se fecha, meu pai finalmente fala:
— Vocês brigaram? Qual o problema? Muitos casais brigam. Caramba,
sua mãe e eu costumávamos brigar o tempo todo. — Ele sorri, mas seus olhos
não se iluminam. Ele parece triste e cansado.
— Não somos um casal e tenho muito medo de admitir que as coisas
estão mudando entre nós. Que esse arranjo, essa porcaria de exigência que
você me fez mudou tudo. — Minha voz se eleva a cada palavra e percebo que
estou gritando com ele.
Ele suspira.
— Não fiz essa exigência para tornar sua vida mais difícil. — Se
sentando em uma das cadeiras com vista para o horizonte, ele estende a mão
para segurar a minha.
— Sério? Porque parece que foi exatamente isso. Você sabia que eu não
tinha outra escolha, pai. Que eu não estava pronto para ter um filho ou me
casar, mas você me forçou, colocando a empresa em risco se eu não o fizesse.
— A raiva que eu estava sentindo volta com força total e sei que estou agindo
como um idiota ao procurar um motivo para reclamar. Mas estou cansado de
conter minhas emoções. Se a minha mãe estivesse aqui, nada disso estaria
acontecendo.
Ele balança a cabeça com tristeza.
— Não te obriguei a nada, Reed. Eu simplesmente te dei os recursos para
fazer as coisas acontecerem. Estou cansado de ver você e a Fallon brincarem
de gato e rato, e sabia que sem um ultimato, você não tomaria uma atitude.
Pisco, me sentindo ainda mais irritado.
— Você o quê? — Não consigo sequer entender o que ele está dizendo.
— Você planejou tudo isso, assumindo que eu escolheria a Fallon?
O olhar que ele me dá demonstra que ele me acha um idiota.
— Claro que sim, filho. Há anos que eu vejo vocês apaixonados um pelo
outro. Mas nenhum dos dois tomava a iniciativa e eu sabia que você nunca
faria nada se não tivesse um incentivo. Meu plano te deu o empurrão
necessário, pois sabia que você não deixaria a empresa cair nas mãos de um
rival. Por que acha que escolhi o Ryan? Sei como você se sente sobre ele.
Abro a boca, mas só consigo olhá-lo em choque. Ele realmente planejou
isso com a intenção de que eu engravidasse a minha melhor amiga.
Não sei o que dizer. Quero ficar chateado e gritar com ele, mas as
palavras não vêm. Não consigo nem pensar no quanto o plano dele mudou
minha vida.
— Reed... — ele baixa o tom de voz e percebo o quanto ele está
envelhecido. Mesmo com todas as horas que ele trabalhou desde que a minha
mãe morreu, nunca o vi tão exausto.
Posso dizer que ele está tentando colocar seus pensamentos em palavras.
Vê-lo dessa maneira me dá um mau pressentimento e sei que não vou gostar
do que ele está prestes a dizer. Eu me preparo para o pior e a raiva que estava
sentindo desaparece, dando lugar ao medo.
— O que você tem? — pergunto, hesitante, mesmo sem ter certeza de que
quero saber. Meus instintos me mandam calar a boca, mas as palavras saem
sem que eu possa segurá-las.
Posso dizer que ele quer me contar, mas fica em silêncio por tanto tempo
que começo a me mexer, sentindo a tensão envolver meu corpo. Finalmente,
seus olhos encontram os meus e meu coração dispara enquanto espero que ele
fale.
— Estou doente, Reed. — As palavras me atingem com força. Me lembro
do momento em que ele e minha mãe se sentaram conosco para nos dizer que
ela estava com câncer. Eles estavam confiantes de que ela venceria a doença,
que seria bem fácil de superar, como se fosse só mais uma barreira da vida.
Menos de um ano depois, estávamos enterrando-a.
Pergunto com a voz trêmula:
— Doente? O que você tem? Há quanto tempo sabe? — As perguntas
escapam mais rápidas do que consigo pensar.
Ele interrompe nosso contato visual e olha pela janela, incapaz de me
encarar enquanto destrói meu mundo... pela segunda vez essa noite.
— O tipo de doença que não tem cura. — Ele está resignado. Odeio isso.
Ele vai se entregar? Parece que está perdendo a esperança, como se fosse
desistir.
Não posso deixar de expressar a crítica.
— E então? Você vai só aceitar? Se sentar e esperar a morte?
Ele não responde de imediato, e eu me levanto e começo a andar de um
lado para o outro de novo. Não acredito que ele vá desistir assim. Ele quer
que eu tenha um bebê e talvez nem esteja aqui para ver? Qual o sentido
disso? De repente, sinto um grande peso sobre mim e não consigo respirar.
Estou com muita raiva. Entre a briga com a Fallon e essa informação do
meu pai, me sinto descontrolado, a um segundo de pular no abismo.
— Sente-se, Reed — ele ordena. Quando me viro, ele está estendendo a
mão trêmula e apontando para o local onde eu estava sentado.
Quase o desafio, mas ele é meu pai e fui ensinado a obedecê-lo desde o
nascimento, então me sento na poltrona, carrancudo como um adolescente e
com os ombros caídos.
Ele se inclina para frente, me encara e vejo que seu olhar é feroz. Gostaria
que ele colocasse toda essa força para lutar contra sua doença em vez de usá-
la para me controlar como se fosse um garoto.
— Não é que eu não queira lutar, só estou aceitando o que o médico disse
e me preparando para a morte. — Ele parece decepcionado comigo. — Você
me conhece bem, filho. Consultei vários especialistas, tentei todos os
tratamentos. O câncer não está mais respondendo. Só o encontraram quando
havia progredido para o estágio quatro. Passar meus últimos momentos
rodeado por enfermeiras esvaziando uma bolsa de colostomia não é a minha
ideia de um bom momento. — Sua boca se curva em um sorriso triste.
Não posso deixar que nossa família termine assim.
— Pai... — começo a protestar, mas ele me interrompe.
— Não tenho muito tempo, Reed, e não quero gastá-lo vendo você agir
como um idiota. — Sua voz é dura, e eu me afundo ainda mais na poltrona.
Semicerrando os olhos, ele fala:
— Pare de ser estúpido.
Quase rio da sua frase, mas a situação é muito séria e ainda estou um
pouco chocado.
— Nós dois sabemos que você ama essa garota desde a primeira vez que
a viu. — Meu pai estende a mão e aperta meu joelho. — Ela sempre foi a
garota certa e eu gostaria que você não tivesse visto tudo o que aconteceu
comigo quando sua mãe morreu. Errei em me apoiar tanto em você, em
forçá-lo a crescer rápido demais. Isso te endureceu.
Cubro sua mão com a minha e começo a balançar a cabeça em negação,
mas ele não me deixa falar.
— Deixe de ser medroso e diga a ela como se sente. Se não o fizer, ela
vai encontrar outra pessoa. Não deixe o seu medo te controlar, Reed. Você é
muito mais corajoso do que pensa.
— Estraguei tudo. Nem tenho certeza de que ela vai me querer mais.
Meu pai sorri e meu peito se aperta.
— Não será a primeira ou a última vez que você vai fazer isso. O que
importa é que você volte sempre para ela. Faça o certo ou errado e siga em
frente, porque eu sei, por experiência própria, que nada nesta vida vale a sua
raiva. Você a ama e sabe que ela também te ama.
Cerro os dentes, porque ele está certo. Sei que tenho que fazer isso, não
apenas por mim ou por Fallon, mas pelo meu pai e, possivelmente, pelo
nosso filho também. Ela merece tudo de mim, não a versão resumida que
tenho dado a ela por estar com medo. Fallon sempre esteve ao meu lado e
sempre me amou. Consigo ver tudo com clareza agora.
É como se a névoa tivesse saído dos meus olhos. Meu coração bate forte e
sei o que tenho que fazer para consertar as coisas. Depois de tomar a decisão,
não consigo ficar parado. Tudo o que quero é encontrar Fallon para dizer a
ela como me sinto e demonstrar o quanto ela significa para mim.
— Tenho que ir pai. Preciso dizer isso a ela. Preciso reconquistá-la antes
que seja tarde demais. — Me sinto nervoso com a necessidade de dizer as
palavras e fico de pé, querendo voltar correndo para ela.
Ele me segura e quando me viro para encará-lo, vejo um sorriso e a
caixinha preta que ele está segurando.
— Pegue isso. A sua mãe gostaria que você ficasse com ele. Ela também
amava aquela garota.
Faço uma pausa, abro a caixa e olho para o anel. Não consigo deixar de
sorrir. Ele é perfeito para Fallon. É simples e elegante, mas o diamante de três
quilates é grande o suficiente para que todos saibam que ela foi conquistada.
Fecho a caixa e a enfio no bolso antes de me inclinar para dar um abraço
rápido no meu pai.
— Obrigado, pai — murmuro com a voz cheia de emoção.
— Eu te amo, Reed — ele responde com a voz igualmente embargada. —
Vá buscar sua garota.
E agora sei, no fundo do meu coração, que posso fazer isso. O medo que
eu sentia era só mais uma montanha que eu precisava escalar.
Fallon é minha e será pelo resto da vida.
— Também te amo, pai — digo as palavras enquanto saio de seu
escritório. É a primeira vez que as digo desde a morte da minha mãe. Ele
assente e vejo as lágrimas que enchem seus olhos.
Seu amor e crença em mim são o que me impulsionam, e eu corro até o
carro para reconquistar a mulher dos meus sonhos.
Vinte e cinco

FALLON
Pow. Pow. Pow. O barulho ecoa dentro de mim como se fosse parte do
meu batimento cardíaco. Abro os olhos, registrando o calor no meu corpo, e
percebo que Ryker e eu acabamos adormecendo em algum momento
enquanto assistíamos ao programa de TV.
Os raios de sol atravessam a janela, me cegando e indicando que já é de
manhã.
Ah, merda!
Um barulho alto na porta da frente me assusta, e eu corro para abri-la o
mais rápido que posso. Ouço um gemido atrás de mim, e sei que Ryker
também acordou. Ao abrir, me deparo com olhos azuis da cor do mar,
aqueles que achei que não veria novamente, e meu corpo estremece. Há muita
coisa acontecendo e é muito cedo.
— Quem é, Fallon? — Ryker pergunta de forma severa enquanto vem
atrás de mim, mas seus passos vacilam quando percebe que é seu irmão. O
olhar nos olhos de Reed reflete tudo o que ele sente: está bravo e triste.
Então, me lembro de tudo o que aconteceu ontem. O teste de gravidez e as
emoções que senti quando mais precisei dele. Essas lembranças me fazem
agarrar a maçaneta com força e sinto vontade de bater a porta na sua cara.
— Posso entrar, por favor? — Sua voz falha e receio que ele pense que
algo esteja acontecendo entre mim e Ryker. Mas isso importa?
Claro que sim. Posso estar brava com o idiota, mas ainda o amo.
Faço um gesto para ele entrar e Ryker se afasta. Sinto a tensão aumentar
quando fecho a porta. A temperatura na sala parece subir cem graus.
— Vou embora. Não planejei ficar a noite toda. — Ryker admite. Ele
calça os sapatos, pega o paletó e antes que eu ou Reed possamos dizer
alguma coisa, ele sai. Sinto a dor de cabeça começa a aparecer. É cedo
demais para discutir... caramba, é cedo demais para falar.
— Tudo bem, obrigada por tudo. — Tento sorrir, mas ele se desfaz
quando percebo as olheiras de Reed. Estavam ali ontem? Esfrego os olhos
para afastar o sono e o encaro por um momento.
— Imagina, Fal. Ligue se precisar de alguma coisa. — Com um beijo
rápido na minha bochecha, Ryker vai embora, nos deixando sozinhos pela
primeira vez desde a noite passada. Suspiro e passo a mão no rosto
novamente. Deixo Reed na entrada para que eu possa me servir de um copo
de suco de laranja.
O bebê deve estar com muita sede, penso comigo mesma.
— Sinto muito — Reed deixa escapar.
Paro com o copo na boca, mas não desvio o olhar do seu.
— Sinto muito por ser tão burro, por assumir o pior e por não estar aqui
quando você mais precisou de mim. — Coloco o copo na bancada, com medo
de jogá-lo no chão devido ao tremor da minha mão. Não sei se estou
assustada, sobrecarregada com a emoção ou apenas chocada por ouvir Reed
se desculpar. Meus olhos se enchem de lágrimas e faço o possível para contê-
las.
Serei forte. Serei forte.
— Será necessário mais que isso, Reed. Não preciso nem quero suas
desculpas. Sei do nosso acordo e está tudo bem. Só acho que você deveria
saber... — Antes que eu possa terminar de falar, Reed se aproxima. Seu rosto
fica a centímetros do meu, e ele levanta a mão para emoldurar meu rosto. O
movimento inesperado me rouba o ar.
— Antes que você termine, preciso te contar uma coisa. — Ele parece tão
sério que mordo o lábio inferior e concordo. Seus dedos aquecem meu corpo
e provocam formigamentos de prazer na minha coluna. Não sei o que
aconteceu depois que ele saiu daqui ontem à noite, mas está agindo como
uma pessoa totalmente diferente. Sei que ele é intenso, mas hoje está em
outro nível.
Seu toque desperta o desejo que só ele provoca em mim. Na sua presença,
pareço estar sob um feitiço que não pode ser quebrado. Sou dele.
— Soube que te amava no momento em que te conheci. — Sua voz é
forte e certeira sobre o que está dizendo. Ouvi-lo confessar que me ama faz
meus joelhos enfraquecerem. Meu corpo oscila e vejo seus olhos se
arregalarem. Reed mantém uma mão na minha bochecha, mas coloca a outra
na minha cintura para me manter de pé, unindo minhas curvas suaves aos
seus músculos.
Nos encaixamos perfeitamente, como deve ser.
— Você... você... — Não consigo nem terminar a frase. Estou
aterrorizada que ele me diga que estou errada e que o imaginei dizendo as
palavras que preciso ouvir. As mesmas palavras que quero tanto ouvir desde
que as sussurrou na noite do baile.
Ele sorri para mim e percebo o que está diferente nesta manhã. Reed
parece estar em paz. Não está mais lutando com o que quer que seja.
— Eu te amo, Fallon. De Coração, mente, corpo e alma. Você é minha.
Cada pedaço seu está conectado a mim. Sei que estraguei tudo e que não
mereço uma segunda chance, mas não posso te perder.
As lágrimas caem dos meus olhos. Meu coração bate forte e eu me
aconchego ao corpo forte de Reed. Ele está me dizendo tudo o que anseio
ouvir. Posso confiar nele? Ou só está dizendo porque tem medo de que eu vá
embora?
Enquanto tento decifrar sua intenção, o encaro. Depois de observá-lo por
alguns instantes, sei que está sendo sincero. Seus olhos estão claros e ele está
parado diante de mim, me deixando examiná-lo. Ele não está olhando para
longe ou se esquivando do meu toque. Está me acolhendo, implorando por
mais... por algo mais profundo.
— Pode me dar outra chance? — Sua voz falha quando pergunta, e quero
gritar que sim, mas ele não me dá a chance de dizer qualquer coisa.
Reed dá um passo para trás para poder apoiar a mão na minha barriga e
seus olhos suavizam, mas nunca deixam os meus.
— Quero ter uma família com você, Fallon. E não porque meu pai exigiu.
Quero porque eu preciso estar com você. Quero que fiquemos juntos para
sempre e, se você ainda não estiver grávida, farei tudo o que estiver ao meu
alcance para que isso aconteça o mais rápido possível.
Ele sorri, parecendo muito confiante quando diz todas essas coisas, como
se não adiantasse discutir, porque ele não aceitaria de outra forma. Não
consigo conter a felicidade dentro de mim, então o abraço com força.
— Também te amo, Reed. Muito mesmo. — Posso senti-lo sorrir no meu
pescoço, mas ainda não terminei.
Recuando, olho para ele, incapaz de conter o sorriso.
— Só tem um problema. — Seus olhos se tornam cautelosos, e eu corro
para tranquilizá-lo. — Não precisa fazer o possível para me engravidar,
porque já estou grávida.
Não era exatamente como eu planejava dar a notícia, mas funciona,
porque a alegria em seu rosto me faz sentir como se meu coração fosse
explodir. Este é o melhor dia da minha vida. Conquistei meu grande amor e
vamos ter um bebê. As coisas não podem ficar melhores que isso, podem?
Assim que o pensamento aparece, Reed me solta e dá um passo para trás.
Observo seu rosto com tanta atenção que não percebo que ele está se
ajoelhando.
Cubro a boca com as duas mãos e suspiro. Reed está de joelhos na minha
frente e tudo o que posso fazer é encará-lo com descrença e tentar não me
beliscar para comprovar se isso é real.
Mesmo sabendo o que ele vai fazer, fico paralisada quando ele puxa uma
caixinha do bolso e a segura entre nós. Seus olhos estão brilhando com
lágrimas não derramadas e ele precisa limpar a garganta antes de falar. Meu
estômago está em nós. Não acredito que ele esteja fazendo isso.
— Fallon Marie Leary, você tem sido a minha melhor amiga a vida toda.
Sempre esteve ao meu lado, nunca me julgou nem desistiu de mim. Me amou
antes mesmo de eu perceber o que isso significava.
As lagrimas umedecem meu rosto quando ele abre a caixa para revelar
um lindo anel de noivado de platina. O aro fino é coberto por minúsculos
diamantes e safiras, e há um diamante redondo muito maior no meio. O anel
me é familiar, e logo me lembro de que é o mesmo que a mãe de Reed usava
antes de morrer.
— Fallon, você me dá a honra de ser minha esposa? — Sinto a excitação,
medo e a euforia me envolvendo, e assinto.
— Sim! Sim, Reed. É claro que serei sua esposa. — Há poucas horas, eu
estava com medo de perdê-lo para sempre e agora ele está prometendo ser
meu por toda a vida.
— Graças a Deus — ele suspira aliviado. Assim que coloca a aliança no
meu dedo, ele se levanta. Nem consigo admirar o anel, pois ele me abraça e
cola sua boca à minha. O beijo é diferente de qualquer outro que já trocamos.
Em vez de tentar me devorar, ele é gentil.
O amor que ele sente por mim nos alimenta, e ele me abraça como seu eu
fosse a coisa mais preciosa do mundo. Sua língua acaricia meus lábios e
depois tenta a entrada. No momento em que entreabro os lábios, sua língua
captura a minha.
— Fui muito burro em pensar que admitir meu amor por você me faria te
perder, quando não admiti-lo quase te levou para longe de mim. — Não
posso nem responder às suas palavras, porque sua língua desliza de volta na
minha boca, me fazendo gemer de prazer.
Nunca houve um momento mais real do que esse entre nós, e agora sei
que valeu a pena a espera, a dor e o prazer.
— Eu teria esperado uma eternidade para você perceber isso, Reed —
sussurro quando ele finalmente se afasta e me olha nos olhos.
— Fico feliz que não tivemos que esperar para sempre. — Ele me levanta
e meu corpo se derrete contra o seu. Envolvo minhas pernas em sua cintura e
deixo que ele me leve para o quarto. Os medos, a raiva e a dor que causamos
um ao outro na noite anterior desaparecem e o amor floresce.
Eu te amo.
Repasso as palavras repetidamente em minha cabeça enquanto Reed faz
amor de forma doce comigo. Cada toque e carinho entre nós é amplificado.
Seus dedos me tocam como um instrumento, e eu desmorono várias vezes.
Seus lábios permanecem nos meus e, depois que ele me leva à beira do
prazer, ainda o ouço sussurrar as palavras.
— Eu te amo.
Mas desta vez, elas não estão só na minha cabeça.
Ele está realmente dizendo-as para mim.
Finalmente tenho tudo o que sempre quis.
Reed é meu. Ele me ama. E com o bebê que está crescendo dentro de
mim, fechamos o acordo e concluímos o projeto bebê.
Epílogo

REED
— Vamos, baby, você consegue. Só mais um empurrão — encorajo
Fallon enquanto ela resmunga. Sua pele está vermelha e gotas de suor
escorrem por suas bochechas. A respiração ofegante escapa de seus lábios
enquanto ela se concentra no parto do nosso filho.
— Só mais uma vez, Fallon — o médico a tranquiliza. Ela range os
dentes e um grito horrendo de dor e alívio escapa de seus lábios. Nesse
momento, não consigo conter minha alegria. Eu a beijo enquanto puxam
nosso filho, envolvendo-o em um cobertor azul claro e o colocam sobre o seu
peito.
Posso sentir as lágrimas caindo dos meus olhos enquanto observo seu
narizinho e os fios de cabelos escuros quem cobrem sua cabecinha. Ele se
parece com a mãe, mas posso ver características minhas também. Seu nariz
tem o mesmo formato do dos meus irmãos e o queixo mais quadrado é igual
ao do meu pai.
Deus, queria que meu pai e minha mãe estivessem aqui para conhecê-lo.
Quando seus olhos finalmente se abrem, são do tom de azul mais
profundo que já vi. Quase da cor do céu antes das tempestades.
Fico em transe enquanto o encaro. Meu coração bate forte no peito e sei
que nunca vou decepcionar esse garoto. Enquanto eu viver, ele nunca vai
passar um dia sem saber o quanto sua mãe e eu o amamos.
— Conseguimos, Reed. — Fallon parece exausta, e dou vários beijos em
seu rosto, sabendo que palavras nunca poderiam fazer justiça a esse
momento.
— Não, você conseguiu, baby. Você trouxe nosso menininho ao mundo.
— Ainda estou admirado com ela e tudo o que significa para mim. Em menos
de um ano, deixamos de ser amigos, passamos a amantes e, então, marido e
mulher. Nossos corações agora batem em sincronia.
— Nossos pais o amariam — ela sussurra, olhando para o nosso filho
recém-nascido.
— Já escolheram um nome? — uma das enfermeiras pergunta enquanto o
examina. Desvio o foca da minha linda e pequena família.
— Já... será Maverick Clark Winston. Em homenagem ao meu pai e ao
dela. — Digo o nome com muito orgulho. Soubemos imediatamente, quando
meu pai faleceu há alguns meses, que queríamos que o bebê recebesse o
nome em homenagem a ele, que foi o responsável por nos unir, além de ter
sido o “culpado” pela concepção de Maverick.
— Que nome bonito... — A enfermeira sorri antes de continuar a verificar
os sinais vitais de Maverick e Fallon. Os minutos se passam e,
eventualmente, toda a sala se esvazia, nos deixando sozinhos. Tudo o que
posso fazer é olhar para os dois. Percebo a forma como ela reage a cada
barulho que ele faz, e o sorriso no meu rosto se alarga.
Ela já é uma mãe excelente e sei que sempre será. Fico triste enquanto me
pergunto o que meu pai pensaria nesse exato momento.
Ele e minha mãe ficariam felizes se pudessem conhecer o neto?
— Quer segurá-lo? — Fallon pergunta, se ajustando na cama.
Sinto as mãos suadas e um frio na barriga, porque nunca segurei um bebê
antes, mas assinto.
— Claro, baby — murmuro. Ela o acomoda em meus braços e apoio sua
cabeça em minhas mãos enquanto ele se contorce no meu peito. Ele boceja, e
eu dou uma risada.
— Eu sei, amigo. Também estou cansado. — Me sento no pequeno sofá e
o embalo em meus braços, observando enquanto seus olhos se fecham. Nunca
senti tanto amor por alguém em toda a minha vida.
A voz de Fallon me assusta, e eu olho para ela.
— Ele é incrível, não é? — Ela está me admirando do outro lado do
quarto. Seu rosto está sem maquiagem e juro que ela nunca esteve tão bonita
quanto agora.
— Mais que incrível. Não acredito que você me proporcionou isso. Que
fizemos esse carinha juntos.
Fallon sorri, mas posso dizer que ela está cansada.
— Seu pai nos proporcionou isso. Sei que o perdemos, mas ele nos deu
Maverick como um lembrete do nosso amor. Enquanto nosso filho viver, um
pedaço do seu pai também viverá. — As palavras dela são tão sinceras que
quando olho para meu filho, sei que o que ela disse é verdade.
Por causa da exigência louca do meu pai, Maverick está aqui. É por causa
dele que conhecemos o significado do amor.
— Eu te amo Fallon. Sempre vou te amar. — Me levanto do sofá e
atravesso o quarto com o nosso filho nos braços. Pressionando os lábios
contra os seus, selo minhas palavras com um beijo rápido. Nunca vou me
esquecer de que ela é minha, porque não há nada como ter sua melhor amiga
como esposa. Fallon tira Maverick dos meus braços e o abraça. Ele
imediatamente começa a procurar comida, e ela ri.
— Tal pai, tal filho — ela sussurra baixinho.
Rio também, mas antes que eu possa dizer mais alguma coisa, a porta do
quarto se abre e Ryker e Remy entram correndo. Nós os olhamos, e não
posso deixar de rir do que vejo. Os braços de Ryker estão cheios de bichos de
pelúcia maiores que o bebê, e Remy está carregando tantos balões que mal
consigo vê-lo.
Os dois me ignoram completamente e vão em direção a Fallon e o
sobrinho. Os dois a cumprimentam antes de voltar toda a atenção para o bebê.
É como se eu nem existisse para eles, mas não me importo nem um pouco. O
amor que eles já têm pelo meu filho é óbvio e enquanto eles discutem sobre
qual tio será o favorito, eu olho para o amor da minha vida.
Fallon também está me olhando e seus olhos brilham com lágrimas não
derramadas.
— Eu te amo — ela murmura e sinto a alegria irradiar em todos os poros
do meu corpo.
Minha vida está completa, porque tenho o amor da mulher que escolhi,
tenho irmãos que me irritam, mas que também são meus melhores amigos, e
agora eu tenho um filho para ensinar todas as coisas que meu pai me ensinou.
Sei que ele e minha mãe, junto com os pais da Fallon, estão sorrindo para
nós. Depois da loucura que foi esse ano, mal posso esperar para descobrir o
que vem por aí.
FIM.
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