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Para todos os leitores de Lutarei Por Você, deixo o meu
agradecimento.
Lettie S.J.
Prólogo
Nova York
Victoria Stevens
ANALISEI COM ATENÇÃO a foto do homem arrasador à
minha frente.
Muito bom. É o macho-alfa que eu preciso!
Aquele homem estava à altura de competir com Daniel, sem
dúvida alguma. John trabalhou rápido e de forma eficiente, o que
demonstrava estar acostumado a conseguir rapazes para os clientes dele.
Em menos de uma hora, eu já tinha nas mãos um bom portfólio de
modelos brasileiros para o “trabalho” que estava contratando.
Sempre fui uma mulher objetiva e certeira nas minhas escolhas.
Não era à toa que hoje era a poderosa esposa de Scott Stevens. Com
apenas um rápido olhar, não demorei muito para descartar os candidatos
que não possuíam a força que eu precisava. Mas aquele era perfeito para
a missão de seduzir Ana Cabral.
Eu já não tinha mais tempo a perder. Cada minuto a mais que
Daniel passasse com aquela mulher poderia significar o afastamento
total de Meghan e isso eu não ia permitir de jeito nenhum.
Agora, precisava tomar três providências importantes. Peguei o
celular e liguei para o John.
— Já escolheu, meu amor?
— Já. Quero o Arthur Montenegro. — Fui direto ao ponto. —
Contrate logo e deixe-o à espera de minhas orientações para agir.
Conversaremos sobre os detalhes depois.
— Tudo bem. Farei isso agora.
— Estou contratando-o pelos próximos quinze dias com
exclusividade. Nada de trabalhos paralelos, entendeu?
— Sim, querida. Deixe comigo.
Desliguei, ainda observando a foto de Arthur Montenegro.
Comecei a digitar, procurando o site de relacionamento onde o
Daniel e a Ana se conheceram. A página inicial do famoso
mensagensde@mor surgiu na tela.
Com um sorriso de satisfação, peguei o chaveiro e abri a última
gaveta da minha mesa de trabalho. De dentro dela, retirei a pasta com a
cópia do perfil de Ana Cabral que Deborah havia encontrado na sala de
Daniel. Em poucos segundos, eu já tinha o rosto dela no monitor.
— Vadia! Está pensando que vai tirar o Daniel da minha filha?
Pois se prepare para conhecer Victoria Stevens.
Criei um perfil para o Arthur no site, colocando a foto que
recebi de John e escrevendo uma mensagem para Ana Cabral com um
texto parecido com o que Daniel enviou para ela no primeiro contato.
Era mesmo uma grande sorte que as primeiras mensagens que eles dois
trocaram estivessem no material que Deborah providencialmente
encontrou em uma gaveta do escritório dele.
Com aquela foto de Arthur e um texto tão apelativo, a
brasileira oportunista com certeza ia querer conhecê-lo em Nova York,
bem debaixo das barbas de Daniel.
Depois que preparei a armadilha, liguei para Deborah.
— Boa tarde, senhora Stevens.
— Boa tarde, Deborah. Envie para o meu e-mail a agenda de
reuniões de Daniel nos próximos quinze dias.
— Mas o doutor Daniel não terá reuniões durante este período,
exceto com os chineses.
Que mulher burra!
— É exatamente esta agenda em especial que eu quero.
Senti a hesitação dela, mas Deborah se recuperou rápido.
— Sim, senhora Stevens. Vou enviar agora.
Aguardei impacientemente, tamborilando as unhas na madeira
da mesa. Aquela informação era crucial para o meu plano dar certo. Eu
precisava saber quais eram os dias e os horários em que Ana Cabral
ficaria sozinha, para que o Arthur pudesse encontrá-la.
Quando aquilo acontecesse, os dias dela ao lado de Daniel
estariam contados.
Daniel
Aproveitei que Ana estava na cozinha ajudando Carmencita
com os últimos detalhes do jantar e fui ao escritório ligar meu notebook,
disposto a fechar definitivamente o perfil dela no mensagensde@mor.
Já havíamos conversado sobre o assunto e ela deixou bem claro
que não fazia questão de estar presente quando eu o fechasse. Foi difícil
não me sentir emocionado com a confiança que Ana depositou em mim,
ainda mais depois de descobrir que a própria tia a havia enganado
durante anos.
Sem perder mais tempo, abri o perfil. Logo de cara, dei com a
foto dela que tanto me impressionou na primeira vez em que a vi.
Abaixo, estava a descrição mais do que verdadeira.
Jack Spencer
Tirei o celular do bolso, irritado, vendo que era uma ligação de
Jonas.
Merda!
Mas o que ele queria comigo justamente agora, quando eu
estava concentrado nos jornalistas que vieram cobrir o show de Terri?
— Estou ocupadíssimo! — fui logo dizendo, para que não
esticasse muito a conversa.
— Vai ter que perder um tempinho comigo, porque preciso
preveni-lo de algo.
O tom de voz dele era sério e aquilo já me deixou mais irritado
ainda, porque significava confusão.
— Então fale logo! — rosnei com raiva, mas sorri e acenei
para mais um jornalista que circulava no camarim.
— Aquela garota brasileira, a Ana Cabral. — Ele começou,
despertando o meu interesse na hora. — Ela se perdeu de Beatriz e está
circulando sozinha aqui no meio do público. Uma oportunidade
imperdível.
Afastei-me discretamente em direção à porta, pois se a Ana
estava sozinha e perdida, quem ia encontrá-la seria eu.
— Onde ela está?
— No lounge externo. Ainda me aproximei e ofereci ajuda,
mas ela se afastou como se eu tivesse uma doença contagiosa.
A mulher gosta do que tem qualidade, seu idiota!
— Já estou indo. Vou só avisar Ashley de que preciso sair
alguns minutos.
— Se não vier agora, não vai pegar a garota sozinha, garanto
— ele alertou, fazendo-me ranger os dentes de raiva. — Ela falou com
alguém no celular. Se não foi com a Beatriz, tenho certeza de que o
advogado arrogante vai chegar daqui a pouco para levá-la.
Droga!
Aquela era uma oportunidade de ouro, quase um presente dos
deuses.
Ana sozinha, perdida, sem o Daniel, sem a Beatriz e sem falar
o inglês. O que mais eu podia esperar?
Nada!
Por causa daquilo tudo, resolvi sair dali imediatamente, sem
sequer falar com a Ashley.
Continuei ouvindo o Jonas.
— E tem mais — ele prosseguiu, fazendo um relatório do que
acontecia. — A mulher chama mesmo uma atenção da porra! Está com
uma roupa que mostra o quanto é gostosa.
Sim, eu já tinha visto os seios altos e fartos que o decote da
blusa não conseguia esconder totalmente. Foi difícil fingir que não os vi
quando eles chegaram, mas seria tolice provocar um homem como o
Daniel ao olhar descaradamente para a mulher dele.
Infelizmente, havia também a Beatriz.
— Já teve um cara falando com ela, que também foi
dispensado. — Jonas continuou, mostrando satisfação por não ter sido o
único desprezado da noite. — Tenho certeza de que outros vão tentar.
Se você chegar agora, vai ser o herói da noite! Ela vai sair daqui com
você como um cordeirinho.
Quase gozei só de imaginar aquele cordeirinho caindo direto na
boca do lobo mau.
— Não a perca de vista. Estou chegando.
Apressei os passos, tentando ultrapassar com rapidez a
multidão de pessoas à minha frente.
— Se o Ortega chegar antes de você, já sabe que não ficarei
aqui — ele lembrou.
Apertei os lábios com irritação, ciente de que Daniel acabaria
com a raça de Jonas se o visse perto da preciosa Ana Cabral dele.
— Só preciso me livrar dessa gente toda que lota a saída dos
bastidores e chego aí.
— Ainda está nos bastidores? Então não vai dar tempo.
— Vai! — rugi, determinado a ter aquela mulher para mim.
Nem que fosse uma única vez, eu teria Ana Cabral.
— Vai uma porra! — Jonas falou, xingando uma série de
pragas com a voz cheia de rancor e ódio. — Ortega acabou de chegar e
estou saindo fora!
Merda! Mas que grande merda!
— Tem certeza?
— O que acha? Que vou confundir aquele grandessíssimo filho
da puta com outro homem? — Ele cuspiu aquelas palavras com raiva.
— Nunca mais me esqueço dele e garanto que ainda vou pegá-lo
qualquer dia desses.
Parei de andar abruptamente, retornando os meus passos na
direção contrária ao lounge.
— É melhor você se preparar para enfrentá-lo — Jonas me
alertou. — Não duvido nada de que a gostosona vai contar para ele que
me encontrou no show e Ortega não vai gostar.
Ainda mais essa!
Capítulo 11
Ana
SUSPIREI ALIVIADA QUANDO entramos no Escalade
para voltar ao hotel. Ficamos até o término do show e nos despedimos
de todos combinando o passeio à Estátua da Liberdade no dia seguinte.
Durante todo o restante do tempo que permanecemos lá, a
expressão séria de Daniel não mudou. Ao contrário, só ficou pior.
Agora, dentro do carro, a fisionomia dele estava mais
carregada ainda e eu suspeitava de que tinha algo a ver com a rápida
conversa que teve em particular com o Jack antes de seguirmos para o
estacionamento.
— Por que não me ligou? — ele perguntou de repente.
Entendi que se referia ao fato de ter sido ele a ligar para mim
quando me perdi, em vez de ter sido eu a ligar para ele.
Mentir não era mais uma opção, por isso fui sincera.
— Como o celular não é meu, sempre travo quando vou usá-lo.
— Respirei fundo, olhando pela janela e vendo as luzes da cidade
passarem rapidamente. — Se estiver nervosa, pior ainda, porque acabo
por bloquear totalmente.
A mão forte envolveu as minhas sobre o meu colo, apertando-
as com carinho e me dando segurança para continuar.
— Eu procurei o seu número, mas não consegui achá-lo. Tentei
encontrar, mas o primeiro que apareceu para mim foi o de Bia e liguei
para ela. Acho que deixou o celular na bolsa sobre a mesa, porque não
me atendeu.
— Ela deixou na bolsa. — A voz dele endureceu quando
confirmou. — Ouvi o celular tocando e na hora só pensei em você. A
minha intuição dizia que se estava ligando para ela era porque não
estavam juntas, por isso liguei para você imediatamente depois.
Dei graças a Deus por Daniel ser tão perceptivo e rápido na
hora de agir ou eu teria passado muito mais tempo perdida. Nem queria
pensar no estresse que uma situação daquelas podia me trazer de novo.
Uma única vez já foi o suficiente para mim!
— Sinto muito ter de dizer isso, porque sei que Bia é sua
amiga, mas fica difícil continuar confiando nela para estar ao seu lado
aqui em Nova York.
O tom de voz de Daniel era irredutível e percebi que não seria
fácil convencê-lo do contrário. Fiquei pensando como poderia mudar
aquela opinião.
Ele virou o rosto para mim enquanto dirigia, deixando-me ver a
expressão dura com que falava dela.
— Concordo que Bia é uma boa pessoa, que gosta realmente de
você e não teve más intenções em tudo o que aconteceu, mas, a meu
ver, ela hoje foi displicente demais.
Apesar das palavras não terem sido tão duras quanto a
expressão do rosto ou o tom de voz, ainda assim percebi que Daniel não
parecia disposto a mudar de opinião.
— Ela não teve culpa — repeti novamente, porque não queria
que ficasse chateado com ela. — Aconteceu tudo rápido demais e
demorei a reagir. Em questão de segundos já estávamos separadas.
Engoli em seco, decidindo que devia me expor mais aos olhos
de Daniel.
— Já lhe disse que sou distraída e desatenta.
O olhar dele se desviou novamente do trânsito e veio parar no
meu rosto. Incrivelmente, o que vi lá foi um sentimento quente e
profundo.
— Não acho que seja nada disso, Ana. Sua reação no momento
foi a mesma de qualquer outra pessoa que não esperasse ver as luzes
sendo apagadas, ficando quase no escuro dentro de um ambiente
desconhecido. Não se culpe por isso.
Aquele comentário, feito em tom compreensivo, fez-me
relaxar.
— Então você vai concordar comigo que Bia também não teve
culpa.
O rosto másculo adquiriu uma expressão nada compreensiva.
— Não vamos falar mais sobre isso agora. — Foi o único
comentário dele, voltando o perfil sério novamente para a direção do
carro. — Mas saiba que não pretendo correr riscos quando o assunto é
você.
Fiquei calada, pois sabia que se fosse o meu pai que estivesse
ali comigo, ele diria a mesma coisa. E, infelizmente, a Bia estaria
ferrada!
Daniel permaneceu em silêncio durante o restante do caminho,
mas sem largar a minha mão. Fechei os olhos e encostei a cabeça no
banco macio do carro, aproveitando o ambiente aquecido que mantinha
o frio da noite outonal do lado de fora.
Quando, enfim, entramos na suíte, Daniel repetiu o mesmo
gesto da tarde, pegando-me nos braços e levando para a cama. Fui
deitada com suavidade e fiquei observando enquanto ele se despia em
pé à minha frente. O olhar quente ia percorrendo o meu corpo à medida
que ele arrancava rapidamente as peças de roupa e as jogava
displicentemente para o lado.
Deliciei-me com o peito largo que surgiu diante dos meus
olhos famintos, aumentando o meu desejo e deixando-me ansiosa por
tocá-lo.
Daniel havia sido feito para o prazer de uma mulher, pois, a
meu ver, era simplesmente perfeito.
Um espasmo de antecipação desceu até o meio das minhas
pernas, molhando-me toda quando a mão firme começou a descer o
zíper da calça, mostrando o pênis duro apontando para cima preso
dentro da cueca preta.
Minha Nossa Senhora! Ainda não me acostumei que tudo isso
é meu.
E aquilo tudo pulou para fora assim que ele baixou a cueca
pelas pernas, ficando totalmente nu diante de mim. Passei a língua nos
lábios inconscientemente, como se estivesse prestes a saborear uma
daquelas sobremesas que tanto gostava.
Daniel veio para a cama e se inclinou sobre mim, uma mão
vindo direto para o meu busto, onde os seios ficavam parcialmente
expostos pelo decote profundo da blusa.
— Fui obrigado a olhá-los a noite inteira sem poder tocá-lo da
maneira que eu queria — falou com a voz enrouquecida de desejo, a
boca substituindo a mão em um beijo molhado. — E querendo esmurrar
todos os homens que ousaram olhá-los também.
Percebi que falava sério e aquilo me surpreendeu, porque
Daniel em nenhum momento deixou transparecer qualquer tipo de
reação naquele sentido.
Ele olhou muito seriamente para mim, uma mão poderosa
segurando com possessividade um de meus seios.
— Mais uma vez, não vou pedir que deixe de usar blusas como
essa, porque ficam lindas em você, mas posso pedir que só o faça
quando estiver comigo ao seu lado.
Nem pude responder, porque o beijo de posse sobre a minha
boca calou qualquer tentativa minha de dizer alguma coisa. Isso se eu
quisesse falar algo, o que não era o que acontecia naquele momento.
E que mulher era louca o suficiente para negar algo a Daniel,
ainda mais com um pedido feito daquele jeito apaixonado? Eu não era e
assim me rendi totalmente ao beijo dele, deixando que satisfizesse sua
necessidade de posse. Necessidade que eu também sentia no mais
íntimo do meu ser e que já não conseguia mais negar, nem que quisesse.
Foi com urgência que nos abraçamos, aquela experiência
traumática da noite servindo para aumentar a nossa ansiedade um do
outro. Sentir o peso de Daniel sobre mim era mais do que estimulante, o
corpo já totalmente nu pressionando o meu. Aproveitei para deslizar as
mãos pelos ombros largos, novamente deliciada com o contorno dos
músculos sob a minha palma.
Ele gostava quando eu fazia aquilo, uma vez que o gemido de
prazer que emitia já era algo que identificava facilmente. Sabia quando
ele estava emocionado, quando estava excitado e quando estava
gozando. Os sons do prazer de Daniel eram marcantes demais para mim
e eu usava toda a minha sensibilidade para satisfazê-lo ao máximo, pois
era naquele momento de amor com ele que eu mais me sentia mulher,
alcançando uma autoestima que me faltava em tantas outras áreas da
vida.
Com o amor que sentia por mim, Daniel me fazia sentir
autoconfiante e poderosa.
E como é bom me sentir assim!
Eu estava totalmente viciada nele e nem queria pensar como
faria na hora de voltar ao Brasil.
Não demorou muito para Daniel tirar a minha roupa e estarmos
os dois nus entre os lençóis, pernas e corpos entrelaçados com uma
ansiedade incontrolável. Não havia tempo para fazer nada lentamente,
porque a urgência era grande.
No entanto, só me lembrei da merda do preservativo quando a
ereção roçou o meu corpo úmido.
— Não! — Empurrei-o suavemente, xingando a mim mesma
por ter esquecido de falar com ele antes de chegarmos àquele ponto.
Meu Deus, como é difícil ter de parar logo agora!
Mas a minha consciência gritou: Mas é fácil engravidar!
— Não, Dan! — Empurrei-o mais firmemente, já que da
primeira vez ele pareceu não ouvir.
Daniel parou, totalmente surpreso com a minha negativa.
Apesar de ainda ter o desejo brilhando forte nos olhos, afastou-se de
mim.
Eu até compreendia a surpresa dele, porque nunca me neguei a
fazer amor antes e escutar uma negativa agora era algo totalmente
improvável diante do entendimento que tínhamos alcançado na cama.
— O que foi? — ele perguntou com voz enrouquecida, mas
extremamente preocupada. — Fiz algo que machucou você?
— Não!
Neguei de imediato, sem querer que achasse que houvesse feito
algo de errado, quando era sempre perfeito comigo.
Engoli em seco antes de continuar.
— É que precisamos usar preservativo.
Capítulo 12
Ana
AQUELAS ÚLTIMAS PALAVRAS saíram da minha boca
em um sussurro e foi impossível não me sentir chateada por abordar o
assunto em um momento tão delicado. Eu sabia que Daniel ia estranhar
o fato de antes aquilo não me incomodar em nada e agora sim.
Ouvi a inspiração rápida que ele deu quando escutou o que eu
disse, as narinas se dilatando com o esforço para se controlar. A
surpresa inicial foi substituída pela desconfiança quando me olhou com
seriedade.
— Por quê? — Foi a única coisa que disse, ainda suspenso
sobre mim e com a ereção me tocando.
Mas que merda!
— Porque posso engravidar — respondi simplesmente.
O tempo pareceu parar dentro do quarto. Daniel virou a cabeça
para o lado e fechou os olhos, permanecendo naquela posição por
breves segundos, mas que pareceram longos minutos para mim. Fiquei
com a nítida impressão de que ele estava contendo as emoções a custo.
Depois, olhou-me fixamente em silêncio, antes de voltar a
falar.
— Por quê, Ana? — insistiu, mergulhando as mãos no meu
cabelo e segurando-me com visível possessividade.
O movimento só fez com que a fricção entre nossos corpos
aumentasse, deixando-me louca de vontade de erguer o quadril e
finalizar a penetração.
Segurei-o com força pelos bíceps.
— Dan, não pergunta nada, por favor! Apenas coloca um
preservativo e me ama — implorei, sem conseguir controlar a ansiedade
de senti-lo dentro de mim.
Ele grunhiu de frustração.
— Não posso! Não tenho preservativos aqui. Já não ando com
eles, porque não os uso mais desde que estou com você, maldição! —
Fechei os olhos quando ouvi aquilo, dividida entre resistir ou sucumbir.
— Olha para mim e me diz o porquê disso agora, Ana.
Encarei-o, pedindo compreensão com o olhar.
— Não posso ficar grávida — sussurrei mais uma vez a minha
resposta.
— Por que antes podia e agora não pode mais? O que
aconteceu que a fez mudar de ideia de ontem para hoje?
— Aconteceu tudo e agora não quero mais — desabafei de um
fôlego só, tentando encontrar uma explicação que fosse válida.
Eu não podia simplesmente dizer que ele corria o risco de ter
um filho disléxico comigo, por isso pensei rapidamente em alguma
coisa, chateada por não ter procurado uma justificativa antes de já
estarmos fazendo amor.
Que Deus me ajudasse, porque teria de mentir novamente para
o Daniel. O meu único consolo é que seria uma meia-mentira.
— Não posso voltar grávida para o Brasil e dizer ao meu pai
que engravidei de um namorado americano que conheci pela internet e
que ele nem sabe que existe.
Senhor, que isso não seja um motivo para nos afastarmos!
— Então não quer mais engravidar?
A explicação que dei pareceu não causar efeito nenhum nele,
como se fosse de pouca importância. A atenção de Daniel estava focada
apenas na minha negativa de engravidar. Era como se soubesse que
nada importaria para mim se eu desejasse mesmo aquela gravidez com
ele.
Aquilo era tão certo, que foi quando tive total consciência do
quanto Daniel já conhecia do meu íntimo.
O tom de voz inquisitivo dele me fez vacilar por um instante,
mas depois sustentei a minha negativa.
— Não.
Uma única palavra, mas que custou muito colocar para fora,
ainda mais sob o escrutínio do olhar penetrante dele.
— Por quê? — ele insistiu de forma incisiva.
— Ainda é muito cedo — repeti as palavras de Bia. — Eu não
teria como enfrentar o meu pai com uma gravidez agora.
As mãos dele se firmaram mais no meu cabelo, o rosto se
aproximando a ponto de quase nos beijarmos e o corpo grande
totalmente colado em mim.
— Eu sei que ainda é cedo. Não sou nenhum adolescente
inconsequente que não tenha consciência disso — rosnou com
indignação. — Agora, quero que se esqueça do seu pai e de todo o
mundo. Pense apenas em você e em mim. Em nós dois juntos!
Daniel desceu a mão por meus seios, quadril e coxa,
acariciando com possessividade o meu corpo, moldando minha carne à
dele e, com isso, estimulando os meus sentidos. Ele parou no meu
joelho, firmando ainda mais as minhas pernas ao seu redor.
Inspirei fundo com aquele gesto de posse de Daniel, presa na
força do olhar decidido.
— Sei que ainda é muito nova e que tenho quase dez anos a
mais do que você. Até entendo que fique insegura com uma gravidez
agora, mas quero muito um filho seu — ele admitiu com segurança. —
Na verdade, você me fez querer esse filho. E sei que você também o
quis.
Fiquei emocionada com o tom seguro e firme com que ele
assumiu aquilo, pois era tudo o que eu sempre desejei ouvir na vida. Um
homem forte e determinado, que me amasse acima de tudo e quisesse
uma família comigo, ciente das minhas limitações.
Só que Daniel desconhecia as minhas limitações, sequer
suspeitava da minha dislexia, muito menos que aquele filho que tanto
desejava poderia nascer disléxico como a mãe.
— Você o quis tanto quanto eu! — ele repetiu
categoricamente. — Agora, diga-me o que aconteceu para mudar de
ideia.
O que dizer? Admitir que era disléxica?
Olhei o rosto másculo tão perto do meu e o olhar
profundamente sério e decidido, que mostrava bem o homem
determinado que Daniel era. Tentei encontrar coragem para confessar
tudo, mas a covardia foi maior, alimentada pelo medo da perda.
Então, calei-me sobre a verdade.
— É tudo muito recente entre nós dois. Mal nos conhecemos e
também moramos em países diferentes. — Comecei a citar todos os
impedimentos que havia entre nós dois. — A minha realidade no Brasil
é totalmente diferente desta sua realidade aqui e não vejo como poderia
me adaptar a isso. Também tenho o meu pai no Brasil e preciso estar ao
lado dele.
O olhar decidido não se alterou minimamente com tudo o que
eu dizia, como se nada daquilo continuasse importando para ele.
— Você quer engravidar, Ana? — Foi a única coisa que disse.
— Gostaria de ter um filho meu? Apenas me responda isso e deixe que
o resto eu resolvo.
Prendi a respiração com aquelas últimas palavras, fortes e
decididas como ele.
“Deixe que o resto eu resolvo.”
Com aquela determinação férrea que possuía, eu não tinha
dúvida nenhuma de que ele resolveria tudo mesmo. Mas Daniel não
poderia tirar de dentro de mim o gene da dislexia que eu passaria para o
filho dele.
Quase gemi com a angústia que senti ao ter de negar algo que
tanto queria.
— Não quero engravidar — afirmei em um fio de voz,
engolindo em seco.
O peito largo se expandiu com a longa inspiração que ele deu.
As mãos se crisparam, segurando o meu cabelo e pressionando a minha
perna com mais força
— E se já estiver grávida, o que vai fazer? — rosnou com
seriedade.
— Não estou — neguei com firmeza.
Ele me olhou com suspeita.
— Como tem tanta certeza disso? — Levou uma mão protetora
até a minha barriga, como se sentisse alguma ameaça ao filho dele.
Não ia ser fácil destruir as esperanças dele, mas, naquele ponto,
eu tinha de ser sincera. Não havia como esconder a verdade.
— Terminei o meu ciclo na véspera da viagem, Dan. É quase
impossível que esteja grávida.
Não desviei o olhar e pude ver o quanto o rosto dele ficou
subitamente carregado. Aquela expressão me lembrou o Daniel que
explodiu no escritório quando se sentiu traído e enganado.
Contudo, no meio daquele turbilhão de emoções que pareciam
dominá-lo, identifiquei no fundo dos seus olhos uma emoção que
roubou o meu fôlego.
Mágoa!
Ele está magoado. Magoado comigo!
— Dan?
Quando estendi a mão para segurar o rosto dele, Daniel saiu
abruptamente de cima de mim, levantando-se da cama.
Fiquei completamente surpresa e sem ação, observando-o
deixar o quarto em direção ao banheiro da suíte. Logo depois, ouvi o
som da porta sendo fechada com um golpe seco.
Oh, Senhor! O que foi que eu fiz?
Eu sabia que ele via com naturalidade uma gravidez minha,
mas nunca pensei que quisesse tanto assim a ponto de se sentir magoado
comigo por não ter contado aquele detalhe antes.
Depois fechei os olhos, ciente de que não havia sido apenas um
simples detalhe. Aquele era um fator determinante para que, desde o
início, não houvesse gravidez nenhuma em causa. Por outro lado, nunca
comentei nada antes, deixando que ele acreditasse que havia a
possibilidade de já estar grávida.
Sentei-me na cama, sem saber o que fazer, agarrando o lençol
em frente aos seios. Olhei ao redor, procurando na penumbra do quarto
silencioso alguma peça de roupa que pudesse vestir.
Vi a camisa dele no chão e não hesitei em vesti-la.
Ainda fiquei na dúvida se deveria ou não ir atrás dele, mas não
conseguia continuar ali na cama sabendo que estava magoado comigo.
A coragem venceu o medo da rejeição e resolvi ir até o banheiro tentar
me explicar melhor.
Mas que outra explicação posso dar, além da verdade?
Levantei-me e caminhei sobre o tapete macio até chegar à porta
fechada. Lá, hesitei novamente, tentando empurrar as minhas
inseguranças para longe.
Não havia um mínimo som lá dentro que indicasse alguma
movimentação de Daniel e aquele silêncio era pior do que se ele
estivesse praguejando em inglês.
Respirei fundo e bati levemente na porta.
— Dan? — chamei baixinho.
Não houve resposta.
E agora? Insistir ou desistir?
Aquele medo horrível da rejeição que eu tinha há anos dentro
de mim voltou com força total. Senti o meu corpo estremecer como se
um vento gelado estivesse correndo solto dentro da suíte, mas eu sabia
que eram os primeiros sinais do estresse daquela noite vindo à tona.
À medida que os segundos passavam sem reação de Daniel, o
medo começou a gritar nos meus ouvidos.
Desista!
Tive vontade de chorar, porque não queria desistir e perdê-lo.
Foi quando os meus sentimentos por ele falaram mais alto, trazendo a
força que eu precisava.
Insista!
É isso! Só mais uma vez.
Mesmo com a mão suada e tremendo, voltei a bater
suavemente na porta outra vez.
— Daniel?
Mordi o lábio ao notar que, apesar da coragem em insistir, o
medo me fez chamá-lo de Daniel e não de Dan.
Segurei o gemido de angústia dentro de mim quando os
segundos foram passando lentamente sem que um único som se fizesse
ouvir no banheiro. Nenhuma palavra, muito menos a porta sendo aberta.
Levei o punho fechado à boca, dando meia volta e indo para o
quarto. Corri até a cama, entrando por baixo das cobertas quentes para
ver se diminuía aquele frio que assolava o meu corpo. Lembrei-me das
inúmeras vezes que cheguei arrasada em casa depois de ser rejeitada na
escola ou humilhada em sala de aula.
Naquelas ocasiões, eu corria direto para a cama, onde chorava
baixinho para os meus pais não ouvirem. Depois adormecia,
completamente esgotada, mas também aliviada, pois sabia que na
escuridão do sono ninguém podia me magoar.
E foi exatamente assim que aconteceu daquela vez.
Capítulo 13
Daniel
APOIEI AS MÃOS na parede à minha frente, tentando manter
a calma, quando a vontade que eu tinha era de esmurrar um saco de
boxe até cansar. A força que fazia para dominar aquela emoção cortante
dentro do peito era tanta que senti o meu corpo tremer, os músculos
pedindo uma explosão de força que eu não podia lhes dar naquele
momento.
“Terminei o meu ciclo na véspera da viagem. É quase
impossível que esteja grávida.”
Impossível que esteja grávida.
Impossível que esteja grávida.
Aquelas palavras não saíam da minha cabeça, batendo,
martelando e esmagando o meu autocontrole. Destruindo a minha razão.
Exigindo uma reação.
Shit! Shit! Shit!
— Dan?
A voz macia de Ana invadiu o banheiro, desestruturando ainda
mais o meu autocontrole.
Fechei as mãos em punhos contra a parede, trincando os dentes
para não responder. A vontade que eu tinha era de jogar aquela dor para
o alto e abrir a porta, arrebatando Ana nos braços. Só assim poderia
saciar a ânsia louca de me enterrar nela como o insano desesperado que
eu me sentia naquele momento.
Enterrar-me nela e engravidá-la!
“Não quero engravidar.”
Quantas mulheres diriam aquilo para Daniel Ortega? Quantas
abririam mão da fortuna, da posição social, do sucesso e do poder de
Daniel Valdez Ortega? Nenhuma! Absolutamente nenhuma.
Exceto, Ana.
— Daniel?
Fechei olhos, mas a única coisa que conseguia ver era a
imagem dela, com os fios macios do cabelo longo espalhados sobre a
cama, o olhar nublado de prazer, os lábios inchados dos meus beijos e o
corpo esguio úmido debaixo do meu.
Eu sabia que se abrisse aquela porta, nada me impediria de
possuí-la, quisesse Ana engravidar ou não.
Lembrei-me da nossa primeira vez, quando ela aceitou tão
prontamente a gravidez.
Victoria Stevens
— O doutor Daniel pediu para confirmar a presença dele, mas
vai acompanhado pela senhorita Ana Cabral.
Assim que Deborah terminou de falar, controlei-me para não
jogar o celular no chão e fincar nele o salto stiletto do meu sapato.
Daniel ia ousar trazer aquela brasileira que não tinha onde cair
morta na festa mais esperada do ano, onde só estaria presente a nata da
sociedade novaiorquina? Onde ele estava com a cabeça?
Oh, mas que pergunta idiota a minha!
Claro que ele estava com a cabeça do pau enfiada no meio das
pernas dela, por isso só conseguia pensar com a cabeça de baixo, claro!
Homens!
— Senhora Stevens? — Deborah me chamou depois do meu
silêncio prolongado.
— Deixe-me pensar! — rosnei com raiva, travando a língua
para não a chamar de idiota.
— Sim, senhora!
Tamborilei os dedos impacientemente sobre a mesa,
arquitetando um plano.
É, talvez não fosse tão mal assim que a Ana Cabral viesse à
festa. Poderia ser o momento ideal para colocar a oportunista no devido
lugar, humilhando-a publicamente. Eu ia lhe mostrar que aquele mundo
de ricos e famosos não era para ela, muito menos o ambiente com o qual
estava acostumada, e que o Daniel também não era para uma qualquer.
Não demorou para o plano completo estar traçado na minha
cabeça. Seria um ataque sistemático e implacável que a tiraria de vez da
jogada. Com isso, talvez nem precisasse usar os serviços de sedução de
Arthur Montenegro.
Muito bem, Ana Cabral, hora de conhecer Victoria Stevens!
— Deborah, quero que envie um convite para Hillary
Reynolds.
Hoje mesmo ligaria para ela, “contratando-a” para um serviço
especial. Eu tinha certeza de que Hillary aceitaria com imenso prazer,
assim que soubesse que seria para descartar a atual namorada brasileira
de Daniel.
— A ex-namorada do doutor Daniel? — a burra perguntou,
parecendo chocada. — É que ele já nem atende as ligações dela aqui no
escritório.
Respirei fundo, controlando a vontade de eliminar aquela
secretária idiota e metida da folha de pagamento da empresa.
— Limite-se à sua função e cumpra as minhas ordens. Tem a
sorte de eu ainda precisar de você — disse-lhe autoritariamente e de
uma maneira muito seca. — Passe-me o contato dela agora.
Segundos depois, desliguei, olhando o número de Hillary.
Daniel e Ana que se preparassem bem para aquela festa,
porque iam ter de lidar ao mesmo tempo com Hillary Reynolds e Arthur
Montenegro. Eu só queria ver até que ponto o ciúme e a desconfiança de
um contra o outro conseguiria manter aquele relacionamento.
De repente, uma outra ideia surgiu à minha mente.
— Oh!! Mas isto é perfeito!!
Soltei uma gargalhada de puro prazer, recostando-me
preguiçosamente no espaldar da poltrona macia. Ia ser muito divertido
assistir de camarote aquele drama no verdadeiro estilo de Otelo.
Ah, Shakespeare! Quem vai matar quem?
Capítulo 26
Daniel
FECHEI O MEU e-mail com alívio ao terminar de trabalhar
no escritório de casa. Agora, só faltava conferir a correspondência e
depois estaria livre para ficar com Ana, que aguardava no quarto
enquanto falava com o doutor Jorge pelo Skype.
Nos últimos dias, criamos o hábito de falar quase diariamente
com ele e Ana estava visivelmente mais relaxada e feliz depois que nos
apresentou. Apesar daquele primeiro contato tenso entre nós dois, hoje o
nosso relacionamento “genro-sogro” fluía muito bem. Não pude deixar
de rir ao me lembrar da dificuldade que foi convencê-lo a gostar de
mim.
Peguei a pilha de envelopes dos correios que Carmencita havia
colocado sobre a mesa e comecei a separá-los por prioridades. Não
pretendia me demorar muito e fui em busca dos mais importantes. Eu
queria tempo livre para estar com ela. Se os meus planos de manter Ana
comigo em Nova York não dessem certo, um mês seria pouco para a
necessidade que sentia dela.
Já ia colocar um dos envelopes de lado para ver depois, quando
ele chamou a minha atenção por ter no remetente o nome completo de
Ana. Franzi a testa, estranhando que ela tivesse me enviado uma
correspondência, uma vez que já estava comigo em casa. Mais estranho
ainda foi ver que o endereço dela que constava no envelope era
americano.
Sentindo uma sensação esquisita no peito, recostei-me no
espaldar da poltrona e fiquei analisando o envelope com atenção.
Parecia inofensivo, mas eu sabia que ali dentro deveria ter uma
informação feita para me desestruturar, pois, definitivamente, aquela
carta não foi enviada por Ana. Nossos nomes no remetente e
destinatário foram digitados em computador, recortados e colados no
envelope. Pelo volume, devia ter no máximo duas folhas de papel
dentro dele.
Depois de perder mais alguns segundos observando-o, decidi
abri-lo, comprovando que havia apenas três folhas com o print de várias
conversas de Ana no site mensagensde@mor. Só que, em vez de ser
comigo, as conversas eram com dois americanos.
Reconheci de imediato o tal Arthur Montenegro e um outro
homem mais velho, aparentando cerca de quarenta anos, chamado
Gordon Smith.
Eram três folhas de conversas íntimas que mostravam uma Ana
ousada e sedutora, que em nada se parecia com a que eu conhecia.
Nelas, a mulher que supostamente seria Ana, avisava sobre a viagem à
Nova York, mas dando uma data de chegada diferente para cada um
deles. Com o Arthur, ela marcou dez dias depois da data em que fui
pegá-la no aeroporto. Com o Gordon, vinte dias depois. Era como se,
desde o início, Ana tivesse tirado trinta dias de férias e reservado dez
dias para cada um de nós.
A adrenalina explodiu em minhas veias como um veneno
quando percebi a lógica daquilo. Era um jogo arriscado, mas que
poderia dar certo se ela soubesse manipular bem os três homens.
Apesar de ter certeza de que aquela mulher ardilosa mostrada
ali não era Ana, foi impossível não sentir a raiva tentando criar raízes.
Era incrível como uma mínima hipótese de traição podia destruir um
homem por dentro. Aquela merda parecia ter vida própria!
Voltei a olhar o envelope, certo de que o uso do nome dela
serviu para chamar a minha atenção e dar uma aparência de
normalidade à correspondência. Eu apostava que aquele endereço não
existia, mas, ainda assim, pediria a Jeremy para investigar.
Eu até poderia achar que tudo aquilo era falso, uma montagem
para me forçar a desistir de Ana. Poderia até achar... se não tivesse visto
Arthur Montenegro com os meus próprios olhos no perfil dela.
Quem enviou aquilo sabia da existência de Arthur e não estava
blefando ao me enviar um rosto qualquer. Quanto ao outro homem,
Gordon Smith, não havia como ter certeza, já que fechei o perfil dela no
site e agora não tinha mais como confirmar.
Restava saber quem estava denunciando Ana com a intenção
de me mostrar que ela não era honesta comigo, que me traía.
Decidi esperar que até Jeremy me dissesse algo. Só depois
falaria com Ana.
Arthur Montenegro
Encostei o carro no meio fio e peguei o celular que tocava
insistentemente. Achei que fosse o Ortega, mas respirei aliviado ao ver
que era o Santiago.
Àquela altura, eu desconfiava de que Daniel Ortega já deveria
estar louco para me pegar e que ficaria mais ainda quando recebesse as
fotos. Só esperava que aquele idiota do John tivesse feito tudo certo.
— Diz, Santiago!
— Tenho novidades! Há uma movimentação estranha na casa.
Aquela era uma informação importante e fiquei imediatamente
alerta.
— O que aconteceu?
— Chegaram dois carros, entre eles o furgão habitual. Então, já
sabe, né?
Sim, eu sabia. Só que há muito tempo que a casa não tinha
aquele tipo de movimentação. Havia sido esvaziada e seus “assuntos”
transferidos para outro local.
— Tem certeza?
— Não tenho, por isso estou enviando um vídeo e algumas
fotos que tirei. Veja e decida o que fazer. Ligue-me depois.
Santiago desligou e em questão de segundos o material chegou
ao meu celular.
Analisei as fotos e não vi motivo algum de preocupação, até
uma delas chamar a minha atenção. Uma mulher estava sendo carregada
ao colo, com o cabelo castanho solto ao vento. Não dava para ver o
rosto dela, mas reconheci logo o homem que a carregava, mesmo
encapuzado.
Merda!
Fechei as fotos, irritado, e fui atrás do vídeo.
Era a mulher de costas correndo pelo jardim. Sem dúvida que
estava tentando fugir, mas não foi muito longe até ser pega por ele.
Ninguém conseguia fugir daquela casa!
Após agarrar a mulher, ele se virou para voltarem para dentro e
os dois ficaram de frente para a câmera de Santiago. Foi quando o rosto
dela surgiu no vídeo.
Um rosto que eu conhecia muito bem.
Capítulo 48
Daniel
DESLIGUEI O CELULAR depois que a ligação caiu mais
uma vez sem que ninguém atendesse. Há dois dias que tentava falar
com Arthur Montenegro sem conseguir e, daquela vez, a minha
paciência se esgotou completamente.
Tomaria outras providências daquele momento em diante.
Fiz outra ligação, desta vez para Jeremy e passei para ele todos
os dados que tinha de Arthur, dizendo que estava envolvido no assunto
da carta anônima e pedindo que tentasse descobrir tudo o que pudesse
sobre ele.
Depois liguei para casa, falando com Carmencita.
— Está tudo bem?
— Sim, doutor Daniel — ela garantiu a tranquilidade de
sempre.
— Ótimo. Ana está aí?
Eu sabia que as duas gostavam de ficar juntas na cozinha,
conversando e envolvidas com receitas, tendo a Candy ao pé delas.
Carmencita também estava lhe ensinando o espanhol e o inglês sempre
que podia.
— Sim, ao meu lado.
— Passe-me ela.
Aguardei apenas breves segundos para a voz de Ana acalmar
meu coração.
— Oi, Dan.
Deixei o meu corpo responder por inteiro ao tom naturalmente
sedutor, pois a saudade de possuí-la era grande demais. Eu ainda não
sabia quanto tempo mais conseguiria manter distância e aguardar que
ela estivesse pronta para fazer amor comigo de novo. Nos últimos dois
dias, o tempo parecia passar rápido e lento ao mesmo tempo. Tanto por
se aproximar o fim das férias dela, quanto por se arrastarem lentamente
as horas que não a tinha nos braços.
— Você está bem?
Eu sabia que aquela era uma pergunta idiota, mas ouvir Ana
confirmando me dava uma calma diferente.
— Sim. Estamos programando o jantar que daremos para Bia.
Ouvir o nome de Bia me lembrou do passeio.
— Farei o máximo possível para não me atrasar dessa vez.
— Bom, estarei sempre aqui esperando por você. — O tom era
de riso.
Respirei fundo, controlando a emoção com aquele “sempre
aqui esperando por você”. Limpei a garganta antes de responder.
— Ligarei assim que terminar a reunião. Beijo.
— Beijo.
Logo a seguir, ouvi o latido de Candy, fazendo-nos rir juntos.
— Ela está lhe mandando um beijo também. — Ana traduziu,
brincalhona.
— Dê um nela por mim.
Peguei os relatórios sobre a mesa, meti na pasta e subi para a
presidência, onde o doutor Stevens já estava com a comitiva dos
chineses. Aquela seria uma longa reunião, sem hora prevista para
acabar, mas eu esperava estar em casa a tempo para o passeio com Ana.
Tê-la segura em minha casa e saber que estava feliz me dava a
tranquilidade de que precisava para me concentrar totalmente no
trabalho.
Coloquei o celular offline e, nas horas seguintes, tratei apenas
dos assuntos da empresa, colocando os meus problemas pessoais em
segundo plano. Apesar das longas horas em que a reunião decorreu, o
tempo pareceu voar. Quando terminou e os chineses saíram, ainda fiquei
discutindo o resultado com o doutor Stevens.
Só quando ele se deu por satisfeito foi que aproveitei para
tentar conseguir algum outro contato de Arthur Montenegro.
— Estou há dois dias tentando falar sem sucesso com um
conhecido de vocês, a quem fui apresentado na festa de Meghan. Seria
possível conseguir algum outro contato dele? Chama-se Arthur
Montenegro.
Ele franziu o cenho, como se tentasse lembrar quem era.
— Pelo nome não lembro quem seja.
— Sei que é sobrinho de uma amiga de Victoria que mora no
Brasil. Foi ela quem o apresentou à Ana.
O vinco na testa dele aumentou, passando a ficar com uma
expressão preocupada. Aquela reação me deixou inquieto, uma vez que
conhecia o doutor Stevens há tempo suficiente para saber que ele não
havia gostado de saber daquilo.
— Posso saber qual é o motivo que o faz querer falar com ele?
Parecia uma pergunta normal, ainda assim analisei com
cuidado se seria sensato lhe confidenciar as minhas suspeitas contra
alguém que poderia ser um amigo pessoal da família, sem ligações com
o trabalho. Contudo, também não podia ignorar o fato de que o Arthur
havia se transformado em uma ameaça para Ana.
Ele se meteu com a pessoa errada!
— Para ser sincero, não é um homem que me passe confiança.
Tenho provas suficientes de que está se aproximando demasiado de Ana
e quero saber o motivo. Ele já vem assediando minha namorada muito
antes de serem apresentados por Victoria na festa, fato que sua esposa
desconhece. Ela pode estar, inclusive, sendo manipulada por este Arthur
sem nem perceber.
O silêncio se prolongou após minhas palavras e fiquei
analisando a reação dele. Foi quando, enfim, tive a certeza de que algo
não estava bem naquela história toda. O olhar incisivo e frio do doutor
Scott se fixou na ponta da caneta, que fincou no papel à sua frente como
se fosse uma adaga. Aquele gesto não me passou despercebido, uma
característica marcante dele quando se via diante de um adversário que
ameaçava o seu império financeiro.
A partir daquele momento, quem não gostou da situação fui eu.
Até senti o cheiro do perigo ao meu redor, um perigo que ameaçava
Ana!
— O que está acontecendo? — perguntei-lhe, sem disfarçar a
dureza na minha própria voz.
Ele se levantou e fiz o mesmo, ambos tensos demais para
meias-palavras.
— Terei uma conversa séria com Victoria hoje à noite e
amanhã direi algo concreto. Mas garanto que este assunto de Arthur
Montenegro estará resolvido.
— Agradeço, mas gostaria eu mesmo de resolver este assunto
com ele. — Aquilo era algo que eu não abriria mão para ninguém. — Se
conseguir com Victoria um outro contato dele, sou eu quem garanto que
tudo ficará resolvido.
O doutor Stevens apenas assentiu com a cabeça.
— Que seja!
Ana
ENFIM, HAVIA CHEGADO a hora!
Deitei-me na mesa de exame com a ajuda de uma enfermeira
para fazer a minha primeira ultrassonografia. Pelos cálculos da doutora
Barbara, eu estava com seis semanas de gravidez e, naquele dia, íamos
ver como o embrião estava e tentar ouvir seu coraçãozinho.
Quando eu já estava pronta, a enfermeira se afastou e chamou
Daniel para se sentar na cadeira ao meu lado, enquanto a médica se
preparava junto ao aparelho de ultrassom. Concentrei-me em respirar
pausadamente para relaxar, porque a minha ansiedade não tinha
tamanho. Desde a minha primeira consulta com ela, passei a contar nos
dedos o dia em que faria aquele exame.
Antes de começar, a doutora Barbara me olhou com um sorriso
gentil no rosto.
— Vamos a ver a este bebé? — ela me perguntou em espanhol.
Assenti com um meneio de cabeça, incapaz de falar.
Daniel aproximou a cadeira para mais perto de mim e segurou
a minha mão, atento às imagens que já apareciam na tela. Agarrei-me
nele, em uma deliciosa expectativa.
No começo, tudo parecia um borrão, mas a médica foi
mostrando cada pequeno detalhe com muita paciência. Primeiro, o
útero. Depois, o saco gestacional. Por fim, bem pequenino, o embrião.
O meu bebê!
— Ai, meu Deus! — Não consegui segurar a emoção, sentindo
as lágrimas chegarem rapidinho aos meus olhos.
Daniel apertou a minha mão com força, o olhar preso em nosso
filho. Em seguida, ele soltou o ar com força, como se tivesse prendido a
respiração por um longo tempo. Foi com um amor profundo que
segurou o meu queixo e nos olhamos, felizes demais para falar alguma
coisa. Recebi um beijo nos lábios e, logo depois, ele deu um sorriso
orgulhoso que me fez sentir a mulher mais feliz do mundo.
A doutora Barbara chamou a nossa atenção, dizendo que agora
íamos ver o coração dele, e voltamos a olhar para o nosso filho. Apesar
de estar esperando há dias por aquele momento, nada me preparou para
o som das batidas daquele coraçãozinho minúsculo, mas que parecia tão
barulhento para mim.
— Dan! Está ouvindo? — perguntei como uma boba, uma vez
que o som enchia todo o ambiente. — Não é lindo?
— Ele está fazendo tanto barulho que é impossível não ouvir.
— Apesar da brincadeira que fez, a voz enrouquecida de Daniel
mostrava a emoção que sentia.
A médica nos deixou ouvir mais um pouco e depois começou a
tirar as medidas dele, fazendo anotações e cálculos. Quando finalizou,
olhou-nos com um sorriso sereno, confirmando o meu tempo de
gravidez e dando a data provável do parto.
Daniel aproximou a boca do meu ouvido e sussurrou.
— Quer saber o sexo do bebê?
Olhei-o, insegura.
Depois de saber que a dislexia era mais forte nos homens,
fiquei dividida quanto a desejar que fosse um menino. Mesmo sabendo
que amaria o bebê independentemente do sexo, ser um menino me
amedrontava mais.
— Vou amar um ou outro. — Ao perceber a minha
insegurança, ele repetiu com firmeza o que já havia dito várias vezes
desde que lhe contei sobre a gravidez.
— Eu também.
— Então, está decidido. Vou perguntar quando poderemos
saber o sexo do nosso bebê.
Ele olhou para a doutora Bárbara e fez a pergunta. A médica se
afastou do aparelho onde finalizava o trabalho que fazia e os dois
travaram uma rápida conversação em espanhol. Apesar de entender
algumas coisas, a maior parte foi incompreensível para mim, mas
Daniel traduziu logo depois.
— Ela disse que a sexagem fetal pode ser feita a partir da
oitava semana de gravidez, através de um exame de sangue.
Tão cedo assim?
— E você já confirmou com ela que queremos?
— Ainda, não. Posso confirmar, Ana?
— Sim, pode.
Recebi um olhar cúmplice de aprovação antes de ele voltar o
olhar novamente para a médica.
— Nos gustaría hacer el examen. — A voz decidida não
deixava dúvidas sobre sua forma de lidar com a situação.
Ouvi-lo fez o meu coração bater forte, pois agora só restava
saber o que o destino nos reservava.
FIM DO LIVRO 2
Não perca o terceiro e último livro da trilogia apaixonante de
Daniel & Ana na Série Mensagens de Amor, porque o amor verdadeiro
nunca se acaba nem tem fim…
Recadinho da Lettie:
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