Você está na página 1de 337

COPYRIGHT © 2023 by Pâmela Jardim.

É proibida a distribuição de toda ou qualquer parte desta história.


Os direitos da autora foram assegurados. Plágio é crime.
Esta é uma obra de ficção recomendada para maiores de dezoito anos.
Nomes, cidade onde a história majoritariamente se passa, personagens e
acontecimentos descritos aqui são frutos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Capa: Luana Berle | LB Design Editorial (@lbdesigneditorial)


Diagramação: Luana Berle | LB Design Editorial (@lbdesigneditorial)
Revisão de texto: Hanna Câmara (@revisabyhanna)
Artes: Adácia Raquel (@adacia_art)
NOTAS DA AUTORA
AVISOS DE GATILHO
PRÓLOGO
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Oie! Antes de mais nada, gostaria de começar essa nota explicando os
títulos dos capítulos, para que não haja confusão e é bem simples: são
comidas e bebidas favoritas, das minhas pessoas favoritas. Brega, eu sei, mas
amo ser cafona.
Agora sim, tudo bem com vocês? Espero que esteja, e, caso não, que
tudo venha a se resolver em breve.
Sou Pâmela Jardim e é um prazer ter você leitor aqui, novo ou antigo,
e espero que nessas páginas possam encontrar um refúgio durante a leitura, e
que MaDu possa lhe arrancar algumas risadas e sentimentos bons.
Devo dizer que se esperam por um casal repleto de declarações
intensas, meloso e romântico ao extremo, definitivamente Marcos e Duda não
são para vocês, ainda assim espero que possam dar uma chance a eles, pois
tenho certeza que, se deixarem, vão te conquistar com suas ousadias,
teimosias e absurdos.
Quando comecei a escrever esse livro, estava pronta para alertar que
esse casal é repleto de falhas e de imaturidade, mas imaginem a minha
surpresa conforme fui escrevendo ao ver que são muito mais maduros do que
eu pensava? Ainda assim, são como pessoas reais, possuem erros e são falhos
em suas atitudes apesar da grande vontade de acertar e corrigi-los, Duda é
apenas uma garota de vinte anos, inconsequente em suas atitudes e Marcos
passou tantos anos fechado em seu próprio casulo após seus erros, que está
aprendendo outra vez sobre como levar a vida de uma maneira mais suave.
Ainda vão errar, terão atitudes imaturas, então peço que os entendam e os
acolham, eles merecem todo o amor desse mundo e todo carinho que
puderam dar.
Marcos e Duda são diferentes de outros casais escritos por mim, não
entoam grandes declarações de tirar o fôlego, o que em um primeiro
momento me deixou frustrada, revendo e tentando modificar várias partes, até
eu entender a forma que demonstram seus sentimentos, e tudo se encaixou.
Eles exalam o seu amor e sua paixão, através dos gestos, muitas vezes quase
imperceptíveis, mostram através de atitudes, de palavras de conforto e com
seu jeitinho único de ser e relacionar, vão lhe mostrar a conexão
extraordinária que possuem.
Espero que os recebam de braços abertos e que caiam de amores por
Duda e sua falta de noção, assim como me vi caindo.
Boa leitura!
Esse livro retrata de forma direta a Síndrome dos Ovários Policísticos
e toda a sua escrita foi acompanhada por uma leitura sensível através de uma
pessoa que possui o mesmo problema. Apesar disso, os sintomas e tudo que é
descrito aqui, não serve como diagnóstico, então caso venha a correlacionar
algo com o que passa, procure um médico especialista.
O livro também aborda palavras de baixo calão, sexo explícito,
consumo de bebidas alcoólicas e negligência paternal, sendo estritamente
proibido para menores de dezoito anos.
Caso venha a se sentir desconfortável com algum dos assuntos
abordados, peço que não continue a leitura. Fico muito feliz pelo interesse,
mas sua saúde deve ser prioridade.
Também entre em contato comigo através das redes, através do
usuário @autorapjardim, para trocarmos experiências, surtos também são
muito bem-vindos no Jardimverso.
Para todos aqueles que se sentem acovardados em relação ao amor,
o deixando escapar por entre os dedos; espero que Marcos e Duda possam
lhes trazer a dose de coragem da qual precisam, e mostrem como vale a pena
viver.
E para a minha Falsa Alice e sua personalidade extraordinariamente
única: que você nunca a perca e continue encontrando motivos para sorrir
em meio ao caos.
Amo você.
"É um verão cruel
Tá tudo bem, é o que eu digo a eles
Sem regras no paraíso frágil
Mas ooh, uau, oh
É um verão cruel"
Cruel Summer – Taylor Swift
Conquista!
Eis aí uma palavra pequenininha, mas que me gera uma puta sensação
de tesão.
Preciso ser sincera: adoro os caras fáceis quando quero uma transa
rápida e sem complicações, mas amo ainda mais me deliciar de um desafio,
onde preciso realmente me empenhar e usar minha criatividade para
conseguir fazer o sujeito cair de quatro sob meus pés.
Dizem por aí que a conquista é uma arte a ser apreciada, e eu, como
uma boa artista, não poderia discordar do gênio que as proferiu.
Minha pele completamente exposta por conta do micro vestido que
uso essa noite, sente a aproximação da presa que arduamente venho tentando
fisgar na última hora.
Outra coisa que aprecio além da conta: a arte de flertar.
Não tem nada que me divirta mais do que pequenos flertes sem
intenção, e acredito que chega a ser um hábito, como se já fizesse parte da
minha personalidade e estivesse entranhado em mim.
Não é minha culpa, até mesmo quando não estou minimamente
interessada acabo me envolvendo mais do que deveria no assunto e, quando
me dou conta, já estou flertando e fazendo promessas que excepcionalmente
não vou cumprir.
Mas essa noite é diferente, eu realmente quero muito que o homem
que se aproxima, descubra a cor da lingerie que estou vestindo.
Não preciso nem olhar para o lado, para saber que se trata do cara de
expressões fechadas, que apesar de tentar fingir que não me notava, não
conseguia tirar os olhos azuis do meu corpo.
Assim que passei pelas portas da boate e me deparei com ele, que até
então segurava um copo de whisky nas mãos e encarava a pista como se fosse
sua mais doce inimiga, decidi que o teria para mim essa noite.
Aproveitei que seus olhos estavam nos corpos se movimentando com
a trilha sonora horrível dessa balada, para chamar sua atenção, e preciso
admitir que há tempos eu não me esforçava tanto para atrair um homem como
fiz essa noite. Devo dizer que apesar de ter sido vitoriosa, precisei pelejar um
pouco mais do que eu previa para conseguir com que tivesse seu olhar
voltado apenas para mim.
Mas ele realmente estava se fazendo de difícil, porque, apesar de me
ver sorrindo em sua direção feito uma idiota, ele apenas ergueu um dos lados
de sua boca linda, antes de me dar as costas, como se tivesse coisas mais
interessantes para olhar.
Não gosto de contar vantagem, mas se tem uma coisa que sei
reconhecer, é quando um homem está interessado em mim, e esse aqui, com
certeza teve pensamentos impuros enquanto seus olhos me devoravam.
O seu único erro foi ter me permitido notar seu olhar de desejo, já que
não faz ideia de como posso ser insistente quando quero alguma coisa.
Talvez eu tenha até precisado sossegar a minha bunda nesse banco,
que já está deixando-a quadrada, apenas para fazê-lo se intrigar com meus
olhares obstinados sobre ele, e por acaso eu tenha derrubado, logicamente
sem querer, o restante da minha bebida em sua camisa quando estava
passando ao seu lado.
Mas são apenas hipóteses, é claro.
O que importa é que finalmente ele caiu em si sobre a deusa que o
está desejando tanto quanto ele parece desejar, antes que eu precisasse tomar
ações mais ousadas, e não estou falando de deixar meu número anotado no
guardanapo, como se faziam na antiguidade.
— Posso lhe pagar uma bebida? — ah essa voz.
Quase não tinha conseguido ouvi-la quando me desculpei pela bebida
em sua roupa, por conta do som alto, mas tê-la tão próxima a mim, sentindo
seu hálito em meu rosto, faz com que eu precise controlar o sorriso vitorioso
que desejo abrir.
Viro lentamente meu rosto em sua direção, encontrando seu sorriso
galanteador e meus olhos passam minuciosamente e de forma descarada por
seu rosto e corpo. Seus cabelos estão bem alinhados e sua camisa já está
quase completamente seca do martini que lhe derrubei.
O homem parece ter sido esculpido a mão pelo próprio Deus, de tanta
perfeição.
Não me preocupo em demorar a responder, e viro meu rosto de lado
como um maldito cachorrinho, analisando com calma cada um de seus
detalhes.
Seus olhos azuis parecem intensos e sua sobrancelha espessa e
levemente franzida, só o deixam ainda mais atraente. Porra, até mesmo os
pequenos pés de galinhas e as marcas de expressão que começam a surgir,
parecem ter sido colocadas milimétricamente, com a intenção de torná-lo o
pecado perfeito.
Esse homem é realmente uma perdição e sequer preciso devorar seus
braços fortes que estão à mostra, para ter a certeza disso.
Ele com certeza é bem mais velho que eu e pode até ser que tenha
idade para ser meu pai, mas quem está ligando?
Eu com certeza não, já que raramente os homens conseguem fazer
minha boceta piscar com apenas sua presença.
Esse homem é uma perdição, com certeza.
— Não deveria ser eu a fazer essa proposta? — minha voz soa
divertida, mas também falsamente constrangida, o equilíbrio perfeito, e
aponto para a pequena mancha em seu ombro. — Afinal de contas, eu quem
fiz o papelão de lhe sujar.
Arqueio uma sobrancelha, colocando meu sorriso mais angelical e
inocente no rosto.
— Faria certo sentido. — Ele suspira e não consegue desviar os olhos
dos meus lábios. Obrigada preenchimento labial, por me concederem bocas
de Kardashians. — Mas na realidade quem acabou sem a bebida, foi a
senhorita.
Ele sorri galante, voltando a atenção dos olhos para os meus e sorrio
tímida em resposta, concordando com sua fala.
— Vou ter que admitir que dessa vez, você está com a razão. — Ele
assente, pressionando os lábios um ao outro. — O que me recomenda, então?
— Preciso ser sincero e te confessar que é a minha primeira vez nesse
lugar. — Ele retorceu os lábios em um sorriso que faria qualquer uma babar
por ele, e só agora noto que possui um certo sotaque estrangeiro.
Deus, será que finalmente chegou minha hora e você foi
misericordioso em colocar um velho da lancha no meu caminho? E, melhor
ainda, um velho gringo?
— Uma pena, porque também é a minha primeira vez nessa boate. —
Me finjo de triste porque é uma completa mentira, e quase consigo ouvir
Maycon, o bartender gostoso que já me virou do avesso muitas vezes no
almoxarifado, soltar uma risada discreta. — Sendo assim, acho que vou ter
que recusar sua oferta.
Meus olhos passeiam por seu corpo, e forço uma expressão de
decepção antes de esquivá-los para seus olhos e boca.
— Uma pena mesmo. — Penso alto e ele me olha confuso. — Tenho
que ir.
Lanço-lhe uma piscadela e me preparo para levantar, torcendo para
que esse homem reaja. Quero muito que ele conheça a renda azul que estou
usando hoje e espero que ele não me decepcione.
Assim que estou prestes a lhe dar as costas, sinto seus dedos
segurarem meu pulso e ele praticamente me puxa para sentar de volta no
banco desconfortável, enquanto chama por Maycon, que vem até nós com um
sorriso simpático e completamente falso no rosto.
— Não precisamos ser tão extremistas, tenho certeza que uma bebida
gelada pode abrir o seu paladar para o que pode experimentar mais tarde. —
Volto a olhá-lo, reconhecendo as segundas intenções de sua fala e aproveito
para sorrir da forma mais perversa que consigo. — O que foi?
— Não quero nada gelado em contato com a minha língua. — Faço
questão de morder meus lábios enquanto meus olhos passeiam por todo seu
corpo, se prendendo ao volume de sua calça.
Me aproximo ainda mais dele ao vê-lo abrir mais um sorriso matador
de calcinhas, e encosto meus lábios em sua orelha.
— Acho que você consegue pensar em opções melhores para essa
noite. — Deixo uma mordidinha sutil em seu lóbulo, ouvindo-o suspirar e
logo sinto sua mão envolvendo meu maxilar, trazendo minha boca até quase
encostar na sua.
— Acho que já entendi que essa carinha de santa e inocente é só
fachada, Sweet. — Ah não, que apelido mais broxante, claro que ele tinha que
ter um defeito. — O que acha então de darmos logo o fora daqui para eu
poder colocar algo bem quente nessa sua boca?
Sua voz parece engrossar mais, e ele me puxa para um beijo
repentino, mas de arrancar o fôlego.
Graças a Deus não faço o tipo puritana que não dá na primeira vez
que conhece um cara, porque eu pretendo amanhecer sem voz e
completamente assada.
Nossas línguas se encontram e sinto a pressão de sua mão em meu
rosto, fazendo com que a imagine em outros lugares, levando minha calcinha
à ruína em questão de segundos.
Tá querendo enganar quem, Eduarda? Sua calcinha foi arruinada
desde o momento que ele praticamente te comeu com os olhos naquela pista
de dança.
— Agora estamos falando a mesma língua, docinho. — Já que ele
começou com essa de apelidos broxantes, acho que tudo bem eu usar
também. — Por que ainda estamos aqui?
Aproveito seu sorriso bonito para puxá-lo em meus dentes e ele logo
tira a carteira do bolso, deixando algumas notas sobre o balcão, avisando que
também está pagando o que eu havia consumido.
Sua mão grande envolve a minha minúscula e ele sai na frente,
abrindo passagem para nós enquanto lanço uma piscada para Maycon, que
me olha sorrindo desacreditado enquanto recolhe as notas de cem deixadas
ali.
Vou cobrar um agradecimento, já que claramente sua gorjeta deve ter
sido muito boa graças a mim.
Não sei para onde o homem está me levando e apenas me deixo ser
guiada para o estacionamento do lugar e assim que entro em seu conversível,
a voz dos meus pais ecoa em meus pensamentos, dizendo para nunca entrar
em carros de estranhos.
O que me consola é que não somos mais estranhos, já que sua língua
esteve em minha boca há alguns minutos. Ao menos sei seu nome? Não, mas
isso é um mero detalhe.
Assim que estamos no aconchego do veículo, não perco tempo e
monto em seu colo, puxando sua boca para mim outra vez, sentindo o gosto
de nossas bebidas se misturarem uma à outra e logo tenho suas mãos
passeando por meu corpo, subindo ainda mais meu vestido que já deixa
pouco para imaginação.
— Já te disseram que é perigoso ir entrando em carros de estranho?
— ele se afasta apenas para questionar, e me surpreendo com seu olhar
preocupado.
— E você por acaso é o meu pai?
— Linguinha afiada, acho que gostei. — Ele sorri e volta a sugar
minha boca na sua.
Pego uma de suas mãos, que estavam passando por minha coxa e a
levo em direção a minha calcinha, puxando o tecido para o lado e ofego
quando seus dedos entram em contato com a minha umidade, que pulsa
apenas pela imaginação de ter esse cara me fodendo.
— Também preciso dizer que é muito apressada? — ele ofega quando
minha outra mão apalpa seu pau por cima da calça.
— Estou apenas provando que não somos mais estranhos. — Sorrio
diabolicamente enquanto abro seu zíper, e minhas mãos logo encontram a
cabeça de seu pau saindo pela borda da cueca. — Agora será que pode me
conceder o que prometeu? Não vejo a hora de provar o quanto deve ser
quente em minha boca.
Passo minha palma por sua glande e ele ofega em uma risada.
— Não transo dentro do carro, Sweet. — Afasto minhas mãos de seu
corpo e faço menção de me afastar e sair dali, mas ele me prende em seu colo
e não consigo conter o gemido quando minha boceta, coberta pela calcinha
outra vez, raspa em seu membro duro. — Já te disseram que precisa aprender
a ser mais paciente, apressadinha? — Apesar de sua expressão ser
naturalmente fechada, ele me concede um sorriso divertido. — Ainda vou te
foder, mas não aqui onde qualquer um poderia ouvir seus gemidos, então
tenta controlar essa boceta apressada, trate de sentar essa bunda gostosa no
banco ao lado, e não esquece de apertar bem o cinto.
Sua boca toma a minha e ele deixa um aperto em minha bunda
descoberta pelo vestido.
Ah, esse homem parece ser uma caixinha de surpresas, e estou doida
para descobrir o que posso encontrar dentro.
É uma verdadeira pena que eu só tenha algumas horas para isso.
Ao menos, não vou desperdiçá-las e espero que ele também faça valer
minha expectativa.
— Eu necessito de mais detalhes, Maria Eduarda! — A maluca da
minha melhor amiga se levanta de onde está e se senta em cima da minha
mala. — Não vou tirar meu traseiro daqui até que me conte mais sobre esse
daddy gostosão com quem você passou a noite.
Apesar da expressão irritada que lhe lanço por estar me atrapalhando,
preciso conter o sorriso. Ao menos, preciso tentar contê-lo, já que se trata de
uma tarefa árdua quando se trata da presença dela.
— Pode, por favor, sair de cima da minha mala? Está me atrasando,
Lua.
Tento empurrá-la para que saia e caia na cama, mas ela reluta e segura
firme nas bordas do objeto.
— Tira esse cu seco daqui antes que meus pais venham me xingar por
sua culpa, Luana Cristal Albuquerque! — Utilizo da minha força para poder
empurrá-la para trás e a idiota cai de costas no colchão, me dando tempo de
tirar a mala de suas vistas. — Obrigada.
Me abaixo no chão, onde deixei todas as coisas que vou levar na
viagem, espalhadas de uma maneira organizada. Se meu pai entrasse aqui
agora diria que está tudo uma bagunça, mas o que importa é que sei onde está
cada um dos itens que levei a manhã toda para separar.
A esquerda estão as roupas para a noite, a direita para o dia, ao centro
as roupas de banho, e mais acima estão as diversas necessaires com todos os
produtos de cuidado que vou precisar nessas férias, além de algumas peças de
frio para caso precise, e como estamos indo para o Sul, é muito provável que
utilize todas.
— Não se faça de sonsa, Maria Eduarda Porto! — A cabeça de Lua
surge ao meu lado e observo que está deitada de bruços em minha cama. —
Você parou de contar na melhor parte!
Olho para a minha amiga, vendo como seus olhos escuros estão
saltando de tanta ansiedade para que eu lhe conte como foi a noite de ontem.
Temos intimidade o suficiente para isso, já que sempre
compartilhamos nossas aventuras sexuais, mas por algum motivo quero
manter a noite com aquele homem somente para mim. Posso sonhar acordada
com o que passamos quando eu estiver me sentindo entediada e
provavelmente precisando me dar prazer sozinha.
— Acho que encontrei o amor da minha vida. — Solto um suspiro
dramático e logo a gargalhada de Lua explode em meus ouvidos, não caindo
em minha falsa atuação. — Por acaso meus sentimentos são motivos de
piada?
Ela para de rir e a encaro, mas assim que passamos mais de cinco
segundos presas ao olhar sério uma da outra, caímos juntas em uma risada
alta.
Eu sou uma piada.
Ela então, nem se fala.
Somos tão palhaças que quando estamos juntas no mesmo ambiente,
nossos pais sempre pensam na ideia de nos entregar para o circo mais
próximo e nos deixar lá por uma pechincha.
Somos assim desde que nos conhecemos e por mais que só tenham se
passado seis anos desde então, nossa conexão nos entrega que nossa amizade
já estava destinada, acredito que possa ser até um encontro de outras vidas.
Lua é como a irmã que nunca tive, e vice-versa.
— Tudo bem, agora que já fez sua gracinha, pode me contar como
foi. — Ela ajeita sua postura ao se sentar e limpa uma lágrima que desce por
sua bochecha. — Juro que quando sua mãe me ligou hoje cedo perguntando
de você, pensei que acabaríamos encontrando seu corpo em alguma vala, mas
logo me lembrei de quem estávamos falando. Mais fácil você se tornar a
cafetina de algum puteiro, do que ser morta por aí.
— Como vocês são exagerados! — Balanço a cabeça, fazendo um
coque despojado em meu cabelo enquanto volto a organizar minhas coisas na
mala. — Passamos a noite no Hotel Sanderson, suíte presidencial.
— O cara te levou para passar a noite no hotel que é considerado um
dos mais luxuosos, tipo assim, do mundo? — sua boca se abre em descrença
e um sorriso logo se forma quando confirmo com uma mordidinha na boca.
— Você venceu tanto na vida, Duda. Como é ser uma das preferidas de
Deus?
Não acredito como essa vagabunda tem coragem de me falar isso. É
sempre bom lembrar que sua família paterna é considerada uma das mais
influentes e lucrativas no mundo da medicina e, além de possuírem centenas
de hospitais espalhados pelo globo, lucram o dobro por conta de sua
fabricação própria dos instrumentos cirúrgicos.
— Me diga você, Herdeira Albuquerque. — Ela solta um suspiro com
um risinho debochado, mas ergue as sobrancelhas e já a conheço o bastante
para saber que esse olhar se trata de um “sabe que não é bem assim.” — É,
eu sei. Brigaram de novo?
— Sempre, mas isso é assunto para uma outra hora, agora estamos
falando de como o daddy que você sequer fez questão de descobrir o nome,
fez da sua noite incrível, te levando a orgasmos múltiplos. — Essa sabe
desviar a atenção dos próprios problemas como ninguém, e a filha da mãe
ainda o faz com um sorriso no rosto.
No começo da nossa amizade eu costumava me sentir um pouco
culpada por não ter problemas em casa, ao menos, não como ela e meus
colegas sempre tiveram. Hoje consigo ser muito grata por fazer parte da
pequena porcentagem da população que não sofre com o famoso daddy
issues.
Isso não significa que meu coração não sangre por Lua não poder
dizer o mesmo.
— Não tem muito o que contar, além de dizer que apesar de parecer
ter a idade do meu pai, ele transa bem para um caralho. — Solto um suspiro,
me lembrando da madrugada que tive. — Acordei toda dolorida e até um
pouco assada como bem pretendia. Ah, e também posso dizer que pela
primeira vez, achei que o pau não fosse caber por completo, então o que
importa saber é que passei muitíssimo bem essa noite.
O restante, vou deixar para minhas lembranças.
— Para você se recusar a compartilhar detalhes, só pode significar
que está com ciúmes do pau do cara. — Ela aponta o dedo em minha direção.
— Pegaram o número um do outro, pelo menos?
— Não, sabe que não sou disso e tenho asco a trocar mensagens ou
ligações. — Passo as mãos por meus braços como se estivesse tendo um
arrepio, antes de partir para as organizações das minhas roupas de banho. —
Além de que ele só está de passagem pelo Brasil, sequer vai ficar aqui em
São Paulo, disse que veio passar o verão com um amigo e eu também tenho
planos com a viagem em família, então seria um desperdício de tempo tentar
encontrá-lo novamente. Foi só uma boa foda, Lua, coisa de uma noite e
nunca mais.
Dou de ombros como se fosse a coisa mais simples do mundo, porque
nos últimos anos aprendi que de fato é.
— Já estou fanficando! — menos para a minha amiga. Essa garota é
tão romântica que chega a me dar ânsia. — Você em uma viagem com a
família, numa ilha quase desconhecida e deserta, acaba trombando com o
homem gostosão com quem jurou ser apenas uma noite.
— Não começa com suas ideias irrealistas. — Bato nela com uma
canga e a idiota ri.
— No pôr do sol, as ondas ficam mais fortes quando seus olhares se
cruzam. — Ela continua como se estivesse recitando Shakespeare, suspira e
deixa um beijo em minha cabeça. — Pensa se o destino apronta uma dessa
pra você?
— Eu faço meu próprio destino, então não, muito obrigada. — Ajeito
a última nécessaire em cima das roupas. — Por que não se arrisca na escrita?
Tenho certeza que se daria bem no ramo.
— Agradeço o conselho, mas estou indo muito bem usufruindo do
status de Herdeira do papai. — Ela me lança um beijo — Agora me fala,
como vou sobreviver quase três meses sem você?
Olho para ela e vejo seus lábios se retorcerem em um bico gigantesco.
— Sabe que não precisa de um convite para ir junto, né?
— É claro que sei, mas seu pai chamou amigos dele para estarem com
vocês, aposto que ele não quer passar tanta vergonha de uma vez. — A olho
confusa. — Só uma palhacinha da dupla já é o suficiente, não precisa de duas
para envergonhá-lo quando você sozinha já faz o papel muito bem.
Pego um dos biquínis que ainda estão com etiquetas, que deixei
separado por ter desistido de levar, e jogo nela, que o agarra e encara o tecido
boquiaberta.
— Ei, essa cor fica péssima em você, sabia, sua branquela? — ela
dobra o tecido e corre em direção a sua bolsa, o colocando nela. — Muito
obrigada pelo presente.
O biquíni em questão se trata de um amarelo vibrante, com pequenos
girassóis por todo ele. Realmente não o comprei na intenção de usá-lo, mas
assim que o vi na vitrine logo pensei em Lua. Tenho certeza que ficará
incrível em seu corpo, destacando ainda mais sua pele escura, e seu modelo
vai valorizar muito bem as suas curvas.
Minha amiga é uma deusa.
— Sua sorte é que eu já havia comprado na intenção de te dar. —
Tento fechar a mala com um pouco de dificuldade e olho para ela que me
encara com um sorriso. — Vai esperar eu pedir ajuda?
Ela apenas assente e cruza os braços, encostando a bunda na minha
penteadeira.
— Vem aqui logo antes que eu te jogue da sacada.
Ela revira os olhos e prende os cabelos cacheados em seu lacinho
antes de se sentar na mala, fazendo pressão no objeto para que eu finalmente
consiga fechá-la.
— Uma mala só? Está levando poucas coisas dessa vez. — Ela coloca
a mão sobre minha testa, como se conferisse minha temperatura. — Tem
certeza que o chá de pica do vovô não te deixou doente?
Tiro a mão dela com um tapa e lhe lanço um sorriso irônico.
— A outra mala meu pai já colocou no carro, mas ainda faltam os
utensílios de cozinha, então vai ser para lá que vamos agora, e você vai me
ajudar a organizar tudo.
A puxo pelo braço e a faço passar na minha frente para que eu vá lhe
dando alguns empurrões leves até o andar debaixo, já que nunca vi garota
mais preguiçosa que essa.
— Você está de férias, pelo amor de Deus! — Vira parcialmente o
rosto para mim. — Tenho dó da sua família que serve de cobaia para suas
receitas. — Coloca um sorriso zombeteiro no rosto e eu apenas suspiro,
também sorrindo.
Sei que está brincando sobre seu compadecimento com a minha
família, já que sabe muito bem que sou boa no que faço e não é de agora, já
que desde que nos conhecemos ela adora experimentar tudo que apronto na
cozinha. A Universidade de Gastronomia que estou fazendo só vem nos
provando que estou seguindo o caminho certo quando se trata da minha vida
profissional.
— A propósito, adorei os brownies recheados que trouxe do show na
sexta-feira. Estavam melhores que os seus, deveria pedir a receita para a
garota. — me lança uma piscada, passando a rebolar de maneira debochada.
A verdade que não contei a ela, é que realmente pedi a receita à
Maria, uma das garotas que estavam comigo no show da minha loirinha.
Acabei fazendo amizade enquanto esperávamos a Taylor subir ao palco, ela e
Lívia foram minhas companheiras e além de ter trocado algumas receitas
açucaradas, também trocamos pulseiras da amizade entre nós três, antes de
estarmos completamente acabadas e sem voz por conta do show, que mais
uma vez, foi incrível.
Não tinha como não ser, Taylor Swift é simplesmente a maior cantora
que já pisou nessa Terra e nunca vão me convencer do contrário. Me tornei fã
no auge dos meus onze anos, quando estava ouvindo músicas aleatórias e me
apaixonei por “Wildest Dreams”, uma das músicas do melhor álbum dela,
“1989”.
Nunca mais larguei a loirinha desde então.
Dou um tapa em sua bunda e, antes de sair correndo gargalhando e
gritando por minha mãe, me mostra a língua feito uma criança birrenta.
Tenho certeza que, mesmo eu odiando, vamos sobreviver de muitas
chamadas de vídeo nessas férias, já que mesmo a base de implicâncias e
brigas, não conseguimos nos largar.
— Eu realmente deveria considerar te levar para a delegacia, seu
estupido. — Solto uma risada com a fala do meu amigo.
— Ela era maior de idade, não seja tão exagerado e puritano, quando
nem mesmo eu estou sendo. — Confiro as horas no relógio de pulso
enquanto volto a organizar minha mala, notando que já estou em cima da
hora para o voo e ainda preciso atravessar o caótico trânsito de São Paulo.
— Como tem certeza disso?! — ele grita do outro lado da linha. —
Por acaso pediu para ver os documentos dela antes de fodê-la dentro do
carro?
— Ei, vamos com calma, sabe que não sou esse tipo de cara. — Olho
para o meu aparelho, como se ele pudesse ver a carranca que lhe lanço. —
Não transamos no carro, a levei para um de meus hotéis.
— Que vontade de dar na sua cara quando te encontrar, Marcos. —
Ele suspira e se bem me lembro de suas feições, deve estar com um bico
gigantesco, por algo que sequer tem a ver com ele. — Mas sério, como sabe
que ela não era de menor? Pelo que me disse a garota parecia ser muito
mais nova que você.
— Não entram menores de idade naquela boate. — Fecho a mala que
apesar de básica e pequena, possui tudo que vou precisar para passar o verão
por aqui. — Por que está tão preocupado com isso, vovô?
— Para começo de conversa, Deus me livre de ser avô, sou muito
novo para isso e minha filha é só um neném ainda. — Ele aumenta o tom de
voz, voltando a ficar puto. — E é justamente por ela que essa situação me
preocupa, já que se eu soubesse que minha garotinha fica com homens que
estão praticamente na meia idade, eu faria questão de deixá-la de castigo até
os quarenta, além de quebrar o nariz do infeliz.
Não consigo me conter e solto uma risada. Ele sempre menciona a
filha em nossas conversas e a forma com que fala dela, qualquer um que
pudesse o ouvir, chegaria à conclusão de que se trata de uma criancinha, e
não de uma adolescente.
Ao menos, acredito que ela seja adolescente, já que nunca mais a vi
por conta da distância, a última vez foi em sua festa de dois anos.
Até Pedro, que mesmo sendo meu melhor amigo desde os primórdios,
vejo poucas vezes ao ano, apenas quando nossos destinos de viagem
coincidem ou quando ele está de passagem por algum motivo profissional a
Chicago, mas que minha intuição me leva a acreditar que é justamente para
me sondar que ele aparece por lá ao menos três vezes ao ano. Já eu, é a
primeira vez que volto a pisar no Brasil depois de ter me mandado daqui aos
dezoito anos.
Temos mais de trinta anos de amizade e, apesar da distância, a
amizade se manteve a mesma por todos esses anos. Pedro sempre foi minha
família, o irmão mais velho que eu nunca tive a sorte de ter tido. Esse cara e
sua família já me salvaram incontáveis vezes quando éramos moleques e mal
posso mensurar o tamanho da minha gratidão por eles.
— Vai falando assim, que logo sua garotinha aparece com algum
marmanjo mais velho que ela, e vou assistir de camarote você se derreter por
seu genro. — Ele grita uma exclamação de pavor. — Já chegou na casa?
Minha mudança de assunto foi completamente estratégica já que não
queria nem ter compartilhado a noite de sábado com Pedro, mas o mesmo
insistiu para que eu dissesse onde estava, quando deveria estar em sua casa
como eu havia prometido.
Não quero ficar pensando naquela boceta deliciosa e em todas as
loucuras que fizemos, muito menos quero imaginar aqueles olhos castanhos
dourados, que apesar de passarem um olhar inocente, se transformaram de
maneira deliciosa quando estava gemendo nesse mesmo quarto de hotel.
Acordei com o cheiro adocicado dela impregnado por todos os lados e
com um bilhete colado na cabeceira da cama. Colado de maneira improvisada
com um chiclete mascado, o que devo admitir, me deu uma leve ânsia quando
o notei.
Custava apenas ter deixado o papel sobre a mesinha de centro e usado
o celular como peso para não correr o risco de voar?
— Sim, chegamos ontem à noite. Minhas costas estão detonadas já
que Roberta não quis dividir o volante. — Ouço ele suspirar antes do som
inconfundível do mar entrar na ligação. — Pelo menos agora posso abrir
minha cerveja e beber apreciando essa vista maravilhosa.
— Mas a dor nas costas vai demorar a passar. — termino de conferir
se não deixei nada para trás antes de me dirigir para a saída do quarto. — Te
falei que poderíamos ir todos juntos de avião. Ele decola em menos de quatro
horas e em uma hora de voo estou aí. Você que preferiu passar sete horas ao
volante.
Tranco a porta e coloco o cartão de acesso junto a minha carteira,
colocando logo em seguida no bolso, onde sinto um papel dançando ali
dentro, mas decido conferir outra hora do que se trata.
— As meninas amam a estrada, cara. — Mais um suspiro e um gole
do que imagino ser sua cerveja. — Elas adoram ir apreciando as paisagens,
fazendo brincadeiras, cantando como loucas as músicas no som alto, além
das besteiras que passam a viagem toda comendo. É cansativo, mas
igualmente divertido e adoro vê-las tão felizes. Deveria pegar James algum
dia e tentarem.
Era de se esperar que Pedro se tornasse a porra de um pau mandado.
Sempre foi emocionado até mesmo com as paqueras e paixonites da
adolescência, então não me surpreendi quando começou a me falar de sua
nova tutora no estágio em nossas ligações.
Logo após o primeiro encontro, senti que ele se entregaria de corpo e
alma na relação, já que falava dela como nunca falou de ninguém antes.
Também nunca tive dúvidas de que ele seria um pai incrível quando, seis
meses depois de anunciar o namoro, apareceu com a notícia de que Roberta
estava grávida.
Apesar de tudo ter acontecido rápido demais, o filho da mãe não
hesitou em nenhum momento ao tomar a iniciativa de começar a construir
sua família. Sempre foi apaixonado por suas garotas, acredito que só falta dar
a patinha, caso pedirem.
Posso estar pensando nisso como um velho rabugento, mas a verdade
é que suas atitudes só me fazem o admirar ainda mais e, em contrapartida, me
frustrar ainda mais com a minha vida pessoal.
— Que horas chega aqui? Preciso já estar no aeroporto para te
pegar. — Passo pelo lobby do hotel cumprimentando os funcionários que me
dirigem sorrisos amigáveis, notando a mudança de assunto quando não o
respondi sobre James.
— Acredito que por volta das onze e meia eu esteja pousando. —
Paro em frente ao balcão de atendimento, onde uma das funcionárias logo me
entrega os papéis que fiquei de assinar antes da minha saída e afasto o celular
da orelha para falar com ela. — Pode avisar a Jéssica que já estou de partida,
mas que caso precise estou à disposição e não precisa se preocupar e entrar
em contato.
A mulher simpática concorda com um sorriso e palavras de
agradecimento, me desejando boa viagem.
— Vou pegar o Uber agora para ir ao aeroporto, nos vemos daqui
algumas horas. — Me dirijo até a saída onde possui vários táxis esperando na
fachada, assim como o desembarque de novos hóspedes.
Às vezes gosto de dar uma escapada dos escritórios e ficar na fachada
dos hotéis, apreciando o tráfego de nossos hóspedes. Além de um momento
de contemplação sobre tudo que conquistamos, é ótimo para uma pesquisa de
campo discreta, ao perceber as reações com que deixam nossos hotéis.
— Estarei lá te esperando. — Pedro se despede, mas antes de
desligar ouço uma voz feminina ao fundo, que nos confins da minha mente,
poderia ser facilmente confundida com a voz da garota de sábado.
Só posso estar tendo algum tipo de delírio, principalmente por ainda
estar pensando naquela garota e me lembrar perfeitamente de sua voz.
Não sou de cometer muitas loucuras, muito menos sou inconsequente
com as mulheres com que fico vez ou outra, mas preciso concordar com
alguma fala de Pedro quanto isso. Eu com certeza mereço um soco na cara.
Não sei onde estava com a cabeça quando a chamei para o carro, e
muito menos sei o que estava pensando quando a trouxe para o hotel.
Foi uma loucura, deliciosa posso dizer, mas realmente não consigo
entender o porquê seu olhar me atraiu tanto, em meio as pessoas daquela
boate. A notei desde que passou pelas portas da entrada, e logo depois passou
a retribuir meus olhares. Não sou idiota ao ponto de não ter percebido que
dançava para mim na pista, muito menos sou sonso para não ter percebido
que derrubou aquela bebida em mim de propósito.
Ela queria chamar a minha atenção, e fui maluco o suficiente para me
deixar ser atraído por ela e aqueles olhos dourados.
Sei que aparentava ser muito mais nova que eu, mas com certeza
Pedro exagerou em sua reação sobre o medo dela ter menos de dezoito… ou
não?
Trombo em uma das pessoas que estava passando e logo peço
desculpas.
Meu Deus, existem carteiras de identidade falsificadas. E se aquela
mulher for louca o suficiente para isso? E se realmente ela for menor de
idade?
Sou um criminoso?
Preciso encostar na parede as minhas costas, sentindo minhas pernas
falharem ligeiramente e uma tontura me acometer.
Com certeza minha pressão caiu, porra.
Começo a respirar fundo, tentando ser coerente comigo mesmo.
Ela parecia sim ser mais nova, isso era mais do que óbvio, mas não
parecia ter menos de vinte anos.
Com certeza não.
Não, né?
Pode ser um pouco antiético um homem beirando os quarenta ficar
com alguém quase vinte anos mais novo, mas não é crime se ela já atingiu a
maioridade.
Certo?
Claro que sim.
Ela era de maior, tenho certeza disso.
Ao menos, é isso que vou manter em minha mente, já que agora a
merda já está feita.
Porra, isso com certeza vai servir de lição para eu não me deixar levar
como aconteceu naquela noite, ou melhor, vou seguir o conselho de Pedro e
pedir a identidade de todas as mulheres antes de sequer enfiar minha língua
em suas bocas.
Não vou enfiar esse pau em ninguém tão cedo depois desse susto.
Sinto que meu coração não vai conseguir se acalmar tão rápido diante da
situação.
Mas como vou conseguir descobrir se aquela mulher tem mais de
dezoito anos se nem mesmo trocamos telefone?
Como vou conseguir tirar isso da minha cabeça agora?
Porra!
Vejo o carro que o aplicativo anuncia como meu motorista e vou logo
colocando a malas no porta malas após ele o destrancar, entrando no veículo
e tentando parar meus pensamentos sobre o assunto.
— Ta me olhando como se estivesse apaixonado por mim, Marcos. —
Meu sorriso aumenta em direção ao meu amigo, que dirige pelas ruas de
Florianópolis como se estivesse acostumado com o trânsito local. — Posso
pedir o divórcio para Roberta se quiser me assumir.
Se vira por poucos segundos, apenas para me lançar um beijo.
— Só aquela guerreira para aguentar seus dramas e emoções, Pedro.
— Dou um soquinho fraco, direcionando meus olhos para a vista linda que a
cidade possui. — Estava com saudades, já faz quase seis meses desde a
última vez que esteve em Chicago.
Estamos passando por cima da Ponte Hercílio Luz para fazer o
contorno até a estrada que vai nos levar até sua casa de praia, e preciso
confessar que a vista daqui é uma das mais lindas que já presenciei. A
avenida repleta de carros e as pessoas em sua correria diária abaixo de nós, só
aumenta o contraste com a calmaria do mar.
A casa de praia de Pedro fica a poucos menos de quarenta minutos
daqui, ao menos, foi isso que ele me disse, já que nunca estive na cidade,
muito menos em sua casa.
Pelo que me contou, fica um pouco afastada do centro da cidade, em
uma praia mais reservada, porém próxima das mais badaladas.
— Estava me lembrando do fato de que é a primeira vez que se
hospeda em casa, apesar de estar todo mês em um país diferente. — Ele se
vira com uma falsa frustração — Você é um péssimo melhor amigo,
considerando que já estou casado há dezesseis anos e nunca veio nos visitar.
— Não faça dramas, estive aqui nos aniversários de um e dois anos da
pequena. — Ele faz alguns movimentos indignado com as mãos. — Isso não
basta?
— Esteve no de quatro também e nunca mais voltou, sequer
compareceu ao meu casamento depois disso.
— Você também não compareceu ao meu, e sabe que só vivo pulando
de um lado pro outro por conta do trabalho. — Ele me olha desconfiado. —
Essa é a primeira viagem que faço sem objetivo comercial, se sinta grato.
— Ah claro, devo agradecer a mim mesmo, já que só está aqui por eu
ter feito da sua vida um inferno sobre essa viagem. — Ele faz uma curva,
pegando uma estrada deserta e o olho curioso. — A casa é escondida, já te
avisei.
— Estou com medo que me sequestre para pedir resgate, ouvi dizer
que está falido. — Ele ri e o acompanho. — E pode se dar o direito de se
sentir grato, já que eu realmente não estaria aqui se não fosse sua azucrinação
sobre somente você ir até Chicago me ver.
Ele assente agradecido, com um sorriso vitorioso.
Seguimos os próximos minutos em silêncio até chegar em uma
pequena mansão escondida em meio a serra. Da calçada é possível ouvir o
barulho do mar, que provavelmente fica ao fundo da casa e já imagino que a
área externa leve direto na areia.
Descemos do carro e conforme vamos entrando, posso sentir o cheiro
característico de carne assando na churrasqueira. Deixo minha mala em um
canto da sala como me orienta, antes de seguirmos para o fundo da casa.
O lugar é realmente meio deserto e pelo que vi antes de entrar,
acredito que se trata de uma praia escondida em meio a vegetação.
— Disse que a casa era um pouco mais escondida, mas não fazia ideia
que ficaríamos ilhados. — Bato em seu ombro enquanto ele me guia. — Está
fugindo de alguém, por acaso?
— Sabe como sou, só…
— Ele só gosta de fingir ser um pobre coitado, exilado onde ninguém
pode perturbá-lo. — ele é interrompido por uma voz estranhamente familiar,
vinda da área externa — …, mas esqueceram de avisar que é impossível
fingir ser um coitado, tendo uma casa dessas.
Sinto meu coração acelerar como um louco enquanto meu cérebro
tenta associar a voz divertida, a pessoa que a carrega
Não poderia ser.
— Se começar com suas gracinhas, já te coloco de castigo antes da
viagem começar, Maria Eduarda.
— Calma, velhinho, não posso nem brincar? — Não, essa voz não.
Não é possível que meu cérebro esteja certo. — Esse é o tal amigo?
A garota pergunta, mas ainda não conseguimos nos ver por conta da
pilastra que divide os ambientes, que estou cogitando usar como esconderijo.
Se eu estiver certo sobre essa voz, estou completamente fodido.
— É sim, filha, esse é o Marcos.
Filha?!
Puta que me pariu, Senhor, seria uma boa hora para me levar.
Pedro me concede passagem, e preciso dar um passo para longe da
pilastra, o que me permite avistar a pessoa a quem se dirige como filha.
Não.
Nem fodendo.
Não! Em mil vidas, não!
Deve ser algum tipo de castigo por todos os meus pecados.
Assim que os olhos dourados da morena me encontram, brilham e se
arregalam em surpresa, ao mesmo tempo em que sinto meu coração entrando
em curto, pelo medo do que estou vivendo.
Minha saliva desce arranhando por minha garganta, começo a
hiperventilar e, porra, estou até suando.
Meu amigo — o caralho do meu melhor amigo —, nos olha em
expectativa por conta do momento e vejo um sorriso travesso se abrir no
rosto angelical de sua filha.
— Marcos? — ela se aproxima, tendo em vista que pareço ter virado
uma estátua.
— S-sim. — Porra ela não pode ao menos fingir que não me
conhece?! É pedir demais isso, Deus?
— É um imenso prazer te conhecer, Marcos. Ouvi falar muito de
você.
Ela estende a mão e seu sorriso gentil não vacila nem por um
segundo.
Não sei se posso considerar algo positivo vindo dessa diaba em pele
de anjo.
Onde eu fui me meter?
Ou melhor, onde fui meter o meu pau, Senhor?
Puta merda, não pode ser.
Preciso fazer um esforço gigantesco para manter meu sorriso o mais
gentil e inocente possível, já que todos os nossos momentos estão passando
em minha mente.
Nossos momentos pelados, ou quase isso, óbvio. No elevador do
hotel, prensados na porta do quarto, na cama gigantesca, na banheira
deliciosa, no chuveiro potente, na sacada.
Foi uma longa noite, e igualmente deliciosa.
— Está tudo bem, Marcos? — meus pensamentos depravados são
interrompidos pela voz do meu pai, que olha para o amigo de maneira
preocupada. — Ficou pálido de repente.
Marcos, o homem que, para minha doce surpresa, acabo de descobrir
se tratar do homem com que passei toda minha madrugada e amanhecer de
domingo, que, puta merda, coincidentemente, é também o famoso “Marcos,
o melhor amigo de infância do papai.”, finalmente pega minha mão
estendida.
O homem está suando, provavelmente de nervosismos já que acaba de
descobrir que comeu a filha do seu melhor amigo, seria estranho se não
ficasse em choque diante dessa situação.
Mas, eu?
Eu estou achando extremamente divertido ver a forma com que seu
rosto fica cada vez mais sem cor e a maneira com que engole saliva a cada
dez segundos.
Ele vai acabar desmaiando bem aqui, meu Deus!
O quão desequilibrada eu seria, se por acaso estivesse gostando de
toda essa situação estranhamente divertida?
Estou adorando, essa é a verdade.
Até por que, quem poderia prever ou até mesmo imaginar que o
homem que ouço falar desde que me entendo por gente, se trata do mesmo
que me fez ter a porra de um squirt na sacada de um hotel?
Sempre que pode meu pai está falando desse tal amigo, afinal de
contas cresceram juntos, e pelo que eu soube, passaram poucas e boas nesses
anos de amizade, até ele se mandar do Brasil e ainda assim, mantiveram
contato por todos esses anos.
Meu pai fala dele como se fosse seu irmãozinho caçula e se preocupa
como um pai faria. Faz questão de o visitar onde mora, ao menos três vezes
por ano, dizendo que precisa ter certeza que está tudo realmente bem.
Esse amigo deve ser um tanto mentiroso, levando em consideração
que uma das coisas que meu pai mais detesta no mundo, são viagens de
avião, e ainda assim, faz questão de fazê-las algumas vezes ao ano só para ver
com os próprios olhos como andam as coisas com ele.
Acho que chego a ter até um pouco de ciúmes, já que mesmo com
toda a minha habilidade surpreendente de persuasão, só consegui levar meu
pai para viagens internacionais quatros vezes nesses meus vinte anos.
Ele diz que eu e mamãe adoramos viajar de carro quando se trata do
Brasil, mas a verdade é que ele tem pavor de voos e só não sabe admitir.
Agora também estou puta com ele por ter se esquecido de avisar que
seu amigo é um maldito gostoso. Sempre que começava seus monólogos
decorados sobre ele e eu fingia escutar, imaginava que esse homem fosse um
quarentão barrigudo e careca.
Nunca fiquei tão feliz por estar enganada.
— Acho que só preciso comer alguma coisa. — Posso me pôr à mesa
agora ou depois? — É um pra… é muito bom te conhecer. Da última vez que
te vi, você…v-você tinha essa altura.
Ele tenta a todo custo não olhar para o meu corpo, consigo notar, mas
também está quase tendo treco tentando manter os olhos nos meus. Vejo
quando solta minha mão de maneira abrupta e a coloca na altura de seus
joelhos, demonstrando o tamanho que eu tinha da última vez que
provavelmente nossa família toda estava reunida.
— Minha garotinha cresceu muito nos últimos anos. — A voz
orgulhosa do meu pai soa mais próxima e ele coloca um dos braços ao redor
do meu pescoço, me puxando para um abraço. — Da última vez que você
esteve aqui ela ainda comia areia no parquinho da esquina, e agora é quase
uma adulta, faz faculdade e já está me enchendo de cabelos brancos
precocemente por não ter alguns parafusos na cabeça.
— Meu paladar se sofisticou com o tempo, pai. — Não disfarço o
olhar carregado de más intenções sobre o corpo de Marcos, vendo seu rosto
passar do branco para o quase roxo. — Você quem me derrubou do berço
quando eu era bebê, é o único culpado por isso. — O abraço de volta,
recebendo um beijo no topo da minha cabeça. — Está melhor, senhor
Marcos? Parece mais corado.
Meus olhos continuam no homem à nossa frente, e não consigo conter
a mordida que dou no cantinho do meu lábio, apenas para conseguir segurar o
riso que quer ser libertado.
Seus olhos caem diretamente na minha boca e tenho a deliciosa visão
dele arfando enquanto coloca a mão sobre o peito, fingindo uma falsa tosse.
— Estou bem sim, obrigada. — Mais algumas tosses. Alguém precisa
avisar esse cara que ele seria um péssimo ator. — Acho que também deve ter
a ver com o clima, sabe? Há muitos anos que não venho para o Brasil, meu
sistema imunológico deve estar em colapso.
Assinto erguendo uma das sobrancelhas para que só ele possa notar
minha expressão clara de quem não acredita em uma só palavra.
— Vou ali chamar Roberta, o almoço já está pronto e só estávamos
esperando por você. — Meu pai me concede mais um beijo fraternal, antes de
passar pelo homem de olhos azuis e deixar uma tapinha em seu ombro, dando
as costas e nos deixando a sós.
— Então, senhor Marcos Freitas… — coloco minhas mãos
entrelaçadas para trás enquanto me aproximo do homem prestes a ter um
surto. — Que grande coincidência, não é mesmo?
Percebo que conforme vou me aproximando, ele recua dois passos
para trás, dando com as costas na pilastra.
— Parece com medo de mim. — Solto uma risada. — Não estava
assim duas noites atrás quando estávamos fazendo um meia no…
— Pedro! — puta que pariu, meus ouvidos. — Pedro!
Preciso pôr as mãos nas orelhas por conta do grito muito próximo, e
aproveitando do meu atordoamento, Marcos passa por mim, adentrando a
casa e foge da minha presença tal qual o Diabo foge da cruz.
— Onde você está, cara? — ainda o ouço gritar mesmo não estando
mais no meu campo de visão. — Ainda nem me apresentou a casa. E onde
está Roberta? Muito tempo que não a vejo e ainda preciso cobrar dela o que
ficou me devendo quando nos vimos no ano passado.
Não consigo mais me conter e caio na gargalhada.
Não sei a merda que pode sair disso, mas tenho a sensação que vou
adorar descobrir no que vai dar. Tenho a certeza que meu verão ficou muito
mais interessante agora que minha presa está de volta ao meu abate. Bom,
pelo que parece vou precisar caçá-la com ainda mais afinco que da última
vez, mas ao menos agora sei que vale muito a pena.
Com certeza meu pai não pode nem sonhar nas coisas que já fiz e
ainda pretendo fazer com o amigo dele, mas eu não conseguiria me perdoar
se deixasse esse homem escapar de mim. Nem que for ao menos por mais
uma vez, preciso tê-lo de novo.
Provavelmente vai me dar mais trabalho agora que descobriu ser
amigo do meu pai, mas sei muito bem como ser insistente, e também como
atormentar as pessoas como ninguém.
É pensando nas incontáveis formas de como posso tirar o juízo desse
homem nessas férias, que me sento no sofá da área externa, que foi
posicionado para ter uma visão ampla do mar calmo a frente. Estou me
coçando para descer até a areia desde que chegamos aqui, mas preciso subir e
passar ao menos um protetor solar antes de o fazer.
Apesar de não ser um estado tão quente, o sol está a todo vapor e não
posso nem pensar em pegar uma insolação.
Puxo minha garrafa de Corona, pois é a melhor cerveja já criada pelo
ser humano, que havia deixado na mesinha de centro e enquanto me delicio
da bebida gelada e amarga, ouço meus pais tendo uma conversa animada com
o nosso convidado e não consigo deixar de sorrir outra vez.
Pego meu celular no bolso traseiro dos shorts e envio uma mensagem
sublimática para Lua, com alguns emojis, dentre eles um vovô, uma berinjela
e um guarda sol de praia, dizendo que tenho novidades, apenas para deixá-la
curiosa.
Aposto que assim que visualizar a mensagem vai me ligar no mesmo
instante, dizendo sobre aquela história de destino outra vez. Bom, isso se ela
conseguir decifrar minha mensagem.
— Pensando em entrar no mar, Duda? — alguns minutos depois
minha mãe se senta ao meu lado com um prato repleto de carne assada.
— Sim, mas acho que estou com muita preguiça agora. — Pego um
pedaço de seu prato, bem mal passado e com aquele pedaço de gordura
delicioso, e olho em volta, não encontrando meu pai e muitos menos Marcos.
— Cadê o pai?
Em outras palavras, onde está o amigo gostoso do papai?
— Foi apresentar as redondezas para o Marcos, a pedido dele. Acho
que precisava ir em uma farmácia ou algo assim. — Fujão do caralho. — Se
lembra dele, filha?
Só se for da maneira com que ele meteu em mim, mãe.
— Não faço ideia de quem seja. Só as coisas que o pai já contou,
sobre como sempre foram melhores amigos, como vocês se encontram
algumas vezes no ano e que ele se mandou do Brasil por motivos pessoais,
mas não me lembro de já o ter visto antes.
Deito no ombro da minha mãe, me aconchegando a ela.
— Eles foram praticamente criados juntos, moravam no mesmo bairro
e passavam por dificuldades muito parecidas. — Ela inicia um carinho
gostoso, que faz com que eu boceje algumas vezes. Estou cansada por ter ido
dormir de madrugada e ter sido acordada muito cedo para ir ao mercado
comprar tudo que eu precisaria para o jantar de hoje. — Mesmo longe eles
não perderam contato, ele até chegou a vir para cá quando você nasceu e em
alguns aniversários, mas depois ele acabou se casando e, enfim, a última vez
que veio aqui foi para o seu aniversário de quatro anos.
A olho curiosa, atenta aos detalhes importantes.
— Mas vocês se casaram depois disso, ele não veio nem mesmo na
festa?
Ela me olha com um sorriso pesaroso no rosto enquanto nega com um
balançar de cabeça.
Entendo o porquê desse olhar triste. Pelo que sempre deu a entender,
meu pai e ele foram criados quase como irmãos e não o ter no casamento,
deve tê-lo deixado mais do que chateado.
Seria como, se por acaso algum dia um milagre muito divino
acontecesse, eu me casasse e Lua não fizesse parte desse momento.
Partiria meu coração não ter minha melhor amiga ao meu lado.
Apesar de provavelmente ter partido o do meu pai, porque precisamos
admitir que é uma manteiga derretida, ainda sim o perdoou e passou ele
mesmo a ir atrás do amigo, então bons motivos devem ter tido.
Quando o conheci naquela noite, passou pela minha cabeça que havia
algo intrigante em seu olhar, por algum motivo o enxerguei como uma
caixinha surpresa, que estava louca para descobrir mais sobre.
Acho que agora vou ter um tempo para tentar desvendar essa caixinha
misteriosa.
Sinto dedos cutucarem meu braço e rosto, até mesmo alguns
chacoalhões em meu corpo, que fazem com que eu desperte do meu sono
gostoso.
Abro os olhos lentamente, me situando sobre onde me encontro, já
que não me lembro de ter subido para o quarto para dormir, muito menos de
ter fechado os olhos para isso.
Minha visão um pouco embaçada encontra o rosto do meu pai, que
está debruçado no sofá externo, onde estou deitada e às suas costas, posso ver
que já está anoitecendo.
Caralho, eu dormi ou entrei em coma?
— Dormiu a tarde toda, dorminhoca. — Lhe dou um tapa na mão
quando ele aperta meu nariz, o puxando com um pouco de força. Detesto seus
modos de demonstrar carinho. — Pensei que teria que te jogar na água para
acordar.
Me sento enquanto me espreguiço, sentindo minhas costas e braços
estalarem. Preciso procurar um quiropraxista para dar um jeito nisso.
— Não é tão maluco ao ponto de comprar uma guerra com sua única
filha em plenas férias de verão, velhote. — Apesar do tom ameaçador, lhe
lanço um sorriso, que só aumenta quando ele se joga em cima de mim, me
abraçando. — Te amo, pai.
Deixo um beijo em sua testa carregada de oleosidade, e dessa vez
estou tão envolvida no abraço gostoso que trocamos, que sequer tenho a
coragem de limpar meus lábios, como sempre faço.
Sei que perturbo as paciências desse homem, mas ele não imagina o
quão grata me sinto por tê-lo em minha vida.
— Está ficando doente ou coisa assim? — ele franze a testa enquanto
se afasta para me olhar no rosto.
— Não, por quê? — minha pergunta vem com um tom de
preocupação e minhas mãos abandonam o abraço, passando por todo meu
rosto com medo de que algo tenha acontecido. — Apareceu alguma coisa no
meu rosto? Tá vermelho ou coisa pior?
Minha saúde é um pouco fodida, então estou sempre pronta para
qualquer situação inesperada.
Para ser sincera, é apenas uma doença em específico que fode com
todo meu corpo e acaba com todo o meu sistema imunológico.
O SOP[1] acaba comigo diariamente, principalmente quando eu
preciso pagar minhas sessões de depilação, já que essa atrocidade sempre me
deixa repleta de pelos em lugares incontáveis. O pobre do meu rosto é o que
mais sofre com essa injustiça, mas já estou acostumada a isso.
Só preciso esconder da minha mãe que da última vez que deixei
atrasar a depilação, estava quase descolorindo todos os pelos onde minha
vista alçava, apenas para ver como ficaria.
Será que eu combinaria como loira?
— Não, mas está se declarando desse jeito sem ter recebido para isso.
— Vejo o sorriso debochado visitar seu rosto. Depois diz que não sabe para
que eu puxei. — Só pode significar que algo não anda bem.
Solto uma bufada e tento o empurrar, mas sou vencida por seus
braços, que voltam a me abraçar quando quase consigo me levantar, e caímos
de volta no estofado macio. O movimento nos arranca uma gargalhada, e por
conta dela, meus socos em seu peito ao tentar me libertar, se tornam inúteis.
— Também te amo, sua desmiolada. — Ele suspira em meus cabelos,
deixando um beijo ali também. — Mesmo acreditando que ainda vai acabar
me enterrando antes de eu completar quarenta e três.
Ele passa a me olhar, e encontro ali o mesmo brilho de admiração que
sempre tive o privilégio de enxergar.
É tão bom se sentir amada dessa forma, se sentir única sob a
perspectiva de alguém.
— Pedro, se lembra daquela vez em que quase apanhamos da sua mãe
quando chegamos bêbados em casa depois de termos matado aula? — nosso
momento é interrompido pela voz de Marcos, que mexe no celular enquanto
vem de encontro a nós. — Roberta me contou que você reclama da forma que
sua filha be…
Seus olhos finalmente nos encontram e vejo ele passar da pose
relaxada, a qual já notei que sempre deixa a vista quando está com meu pai,
para uma completamente mecânica.
Não é possível que esse homem vai ficar nervoso dessa maneira toda
vez que estivermos no mesmo recinto, serão quase três meses.
Quer dizer, isso se ele não desistir antes.
— Desculpa, não queria atrapalhar vocês. — Ele passa os olhos
rapidamente por meu rosto, antes de voltar para o do meu pai.
— Não atrapalhou nada. — Meu pai finalmente se levanta, me
ajudando a fazê-lo também — Estava apenas apreciando um momento
milagroso.
Ele o encara confuso e me sinto ser puxada de novo para mais um
abraço.
Sei que existe isso de linguagens do amor, e com certeza a do meu pai
é toque físico. Nunca vi homem mais grudento, como pode?
— Dudinha estava dizendo que me ama. — Os olhos azuis do homem
passam de mim para o meu pai outra vez. — É um evento estratosférico, já
que ela é uma megera sem sentimentos. Acho que até precisamos abrir uma
cerveja para comemorar.
— Não sou uma megera, apenas não saio distribuindo meu amor para
qualquer um. — Empurro meu pai, saindo de seu abraço. — Sei me valorizar,
você e minha mãe que me ensinaram a ser assim, e não seja tão exagerado, o
que o nosso convidado vai pensar de mim?
Me encaminho para dentro, piscando um dos olhos em direção a
Marcos enquanto o faço, sentindo seu corpo paralisar quando passo ao seu
lado. Acredito que até mesmo a respiração ele prendeu.
— E você errou, cara. — A voz do meu pai me segue, acredito que
também estejam adentrando a casa — Minha mãe chegou a nos bater, acho
que tenho até hoje os dedos dela nas minhas costas.
Os dois soltam uma risada e preciso me segurar para não me jogar nos
braços de Marcos ao ouvir sua risada rouca e gostosa, pedindo para que me
foda outra vez.
— Ficamos tão loucos naquele dia, que fiquei sem beber por dois
meses. — O pecado em pessoa parece concordar e me viro para os dois, os
pegando de surpresa. — Disse algo errado?
Cruzo meus braços, fazendo minha melhor cara de desaprovação e
levanto um dos dedos em riste em direção ao meu pai.
— Estou achando que vou adorar a presença do seu melhor amigo
com a gente nessas férias. — Meu olhar vacila até os olhos azuis, que
passaram a me encarar com curiosidade. — Acho que vou descobrir muitos
podres do senhor, e dito isso, espero nunca mais levar esporro por chegar
bêbada em casa, já que pelo visto você fazia o mesmo. Ao menos eu, nunca
matei nenhuma aula para me embebedar.
Os olhos castanhos do meu pai se direcionam furiosos para o amigo,
que se desculpa com um olhar por acabar me dando munições contra ele.
— Como se você ligasse para as nossas repreensões. — Minha mãe
aparece na sala, estendendo meu celular em minha direção. — Vinte ligações
perdidas da Lua, atendi a última dizendo que você apenas capotou por conta
da noite mal dormida.
Ela o entrega a mim e deixa um beijo em meu ombro, me olhando
com carinho.
Droga, acho que meus hormônios devem estar desregulados já que
estou emotiva demais, como por exemplo agora, pensando no quanto sou
felizarda e amo ser filha dessa mulher incrível.
Agradeço a ela com um beijo, mas logo volto minha atenção para o
meu pai, que agora se encontra um pouco bicudo.
— Sua mãe está certa. — Reviro os olhos, divertida. — Você ouve
meus discursos e conselhos, finge que entendeu, os joga fora e tenho certeza
que os odeia.
— Não odeio, apenas não me acrescentam em nada. — Dou de ombro
sorrindo, sabendo o quanto ele fica puto com essas nossas discussões bobas e
eu adoro. — Não é como se eu fosse uma alcoólatra, pai, sou muito
responsável quando se trata desse assunto.
— Maria Eduarda, sábado passado você saiu de casa às três da tarde,
dizendo que ia tomar um sorvete.
Meus olhos encontram o rosto apreensivo de Marcos, e quase posso
sentir seus pelos do braço se eriçando quando a palavra “sábado”, deixa a
boca do meu pai.
Ah meu amigo, você não faz ideia do que te espera.
— E o sorvete estava delicioso, lhe garanto que chupei até a última
gota. — Sorrio para o meu pai e ouço uma gargalhada da minha mãe, que
passou a tirar algumas compras das sacolas, que estavam jogadas no sofá. —
Queria que eu te levasse um e por isso ficou chateado?
— Se eu tivesse te pedido, teria apenas o suco dele, já que a senhorita
desapareceu completamente, nos deixando de cabelos em pé e só tivemos um
sinal de vida seu, às nove da manhã do domingo, quando nos enviou por
mensagem, uma foto da sua cara amassada. — Seu nariz infla e vejo seu
pescoço começando a se avermelhar.
Para o meu deleite, Marcos não se encontra tão diferente do amigo.
— Ah meu pai, e você pode ter certeza que naquele dia, não só o meu
lindo rosto foi muito bem amassado, como meu corpo todo também, mas o
horário não nos permite ter essa conversa ainda. — Suspiro sorrindo, fazendo
esforço para meus pensamentos não me levarem aquela noite, e preciso
segurar a gargalhada quando Marcos começa a pigarrear. — Se quiser posso
te contar com detalhes tudo que fiz e deixei de fazer nas horas em que fiquei
sumida, pai, acho que você vai adorar saber.
Discretamente desvio meu olhar para o homem de olhos azuis, que
parece estar com muita dificuldade para respirar, e enxergo um vislumbre de
raiva passar por seu rosto em meio ao nervosismo que se encontra.
Esse homem não sabe o problema em que se meteu. Tirar a paz das
pessoas da melhor forma que consigo é tipo um hobbie e o coitado está no
topo da lista hoje.
Por sua sorte, minha mãe está ocupada demais com as compras que
fizeram mais cedo e meu pai está quase tendo um infarto, como sempre
acontece sempre que abro a boca para lhe contar das minhas aventuras.
— Maria Eduarda Porto da Silva! — é o limite para mim, então deixo
a risada alta escapar. — Você não tem vergonha nessa cara, filhote de cruz
credo?
— Claro que não, ela é linda! — me aproximo dele rindo, tentando o
abraçar, mas ele me afasta e quando o faz, sem que perceba, mando um beijo
no ar em direção a Marcos, que parece estar se recuperando de sua crise de
falta de ar. — Se quiser posso até te dar umas dicas, aposto que a mamãe vai
adorar.
— Eu me garanto, filha, muito obrigada. — Minha mãe é a melhor,
não tem como. — Mas sabe que ainda vai matar seu pai com esses assuntos,
não sabe?
— Se eu infartar vou estar no lucro! — O homem de quarenta e dois
anos berra, o que me leva a rir ainda mais. Quase vinte e um anos lidando
comigo e ainda não se conforma que criou uma desequilibrada. — O
problema são os cabelos brancos que estão surgindo cada vez mais depressa e
aposto que centenas de fios caem da minha cabeça sempre que essa garota
abre a boca para falar dessas merdas. Estou ficando calvo precocemente e
tudo por culpa dela.
— Vai ser um careca bonito, pense positivo. — Me assusto com o
tom brincalhão vindo de Marcos.
— Ei, é sua obrigação ficar do meu lado nesse embate aqui. — Meu
pai aponta o dedo para ele. — E você, sobe para o seu quarto agora, está de
castigo.
Meus olhos seguem curiosos e presos ao homem, que
surpreendentemente de uma hora para a outra parece ter deixado o
nervosismo de lado, pensando que com certeza preciso descobrir o motivo
dessa mudança abrupta de humor.
— Com prazer, pai. — Vou até ele deixando um beijo em sua
bochecha. — Mas vai ter que pedir uma pizza, já que não vou cozinhar para
gente hoje.
Saio correndo em direção a escada, subindo para os quartos enquanto
ouço os xingamentos.
(...)
Depois de passar bons trinta minutos debaixo do chuveiro e mais
quarenta assistindo Miss Americana, documentário da minha diva, Taylor
Swift, pela milésima vez, senti o aroma de algo assando no andar debaixo,
então finalmente saí do quarto pronta para jantar o que quer que tenham
preparado sem minha ilustre presença.
É claro que aquele papo de castigo não era verdade, considerando que
foram poucas as vezes que fiquei realmente de castigo. Meus pais sempre
optaram por me educar com o bom e velho diálogo, até mesmo por isso
somos muito abertos uns com os outros.
Não possui um assunto que seja difícil para nós, sempre me foi
ensinado a lhes contar tudo e não esconder nada, sabendo que o pior que
fosse o que eu tivesse feito, seria resolvido na base da conversa e da
coerência.
Apesar dos surtos ocasionais do meu pai sempre que passo um pouco
dos limites, ele sabe que só o faço para vê-lo perder as estribeiras, então até
mesmo com ele, sei que posso contar para desabafar caso algo esteja indo
mal.
Amo ter tanta intimidade com meus pais dessa forma, sinto como se
realmente fossem meus melhores amigos, aqueles com quem devo contar em
todos os momentos, como deveria ser em qualquer relação familiar.
Desço os degraus de dois em dois, saltitando como uma garotinha que
acaba de receber um doce, isso tudo porque avisto Marcos sentado no sofá,
com seu celular em mãos.
Sua expressão está séria e ele digita rapidamente, provavelmente
resolvendo algo relacionado aos seus negócios, que ainda não sei bem do que
se trata, já que nunca fiz questão de ouvir de verdade sobre isso quando meu
pai falava dele.
Assim que chego na metade das escadas, ele nota minha presença e
passo os olhos pela sala, notando que para minha sorte, ele está sozinho.
Começo a descer devagar, segurando no corrimão como aquelas vilãs
de novelas, e coloco meu sorriso maravilhoso nos lábios, não desviando meu
olhar dos seus nem por um segundo sequer.
Suas expressões já fechadas, se retorce ainda mais, em nada
lembrando o homem simpático e relaxado que se mostra quando está com
meu pai, se parecendo mais com o homem das cavernas que me deixou
assada duas noites atrás.
Acho que por enquanto gosto mais dessa versão que tenho agora.
Apesar de também seguir me olhando enquanto desço, seu olhar me
entrega que está puto com a situação que estamos passando, ou está puto
consigo mesmo por desejar desviar sua atenção para o meu corpo, que se
encontra bem marcado no vestido de verão que uso.
Chego perto de onde está e simplesmente me jogo ao seu lado,
cruzando as pernas, fazendo com que meu vestido suba ainda mais e que ele
não consiga tirar os olhos do pedaço de pele exposta.
Encosto meu queixo em seu ombro, ainda sorrindo e aprecio o
homem fechar os olhos em uma respiração profunda, enquanto seus dedos
parecem querer esmagar o celular com apenas um apertão.
Como eu daria tudo para ter meu pescoço no lugar desse aparelho,
ainda mais com ele exalando essa loção amadeirada.
— Pode sair, por favor? — ele finalmente fala comigo. — Estou
tentando ser educado, então por favor, se afaste.
— Vamos mesmo fazer isso? — ele me olha confuso enquanto se
levanta e se dirige até o outro sofá. — Está me tratando como se eu tivesse
uma doença contagiosa, muito diferente de quando me chupou inteira quando
estávamos naquele quarto de hotel.
Não faço questão de falar baixo e seus olhos quase saltam das órbitas
enquanto se levanta olhando tudo ao redor, com medo de encontrar meus
pais.
Minha tática funciona, já que ele volta a se sentar do meu lado, mas
um pouco mais distante do que eu acharia necessário.
— Você ficou maluca, menina? — sussurra e suas sobrancelhas quase
se encontram quando me olha bravo e só consigo sentir uma pulsação na
minha calcinha. — Está me olhando como naquela noite, pode parar agora
mesmo antes que seu pai apareça.
— Não posso fazer nada se não consigo esconder que sua presença
me deixa com tesão. — Ele avança em minha direção, colocando a mão em
minha boca.
— Não sabe controlar essa língua, sua diaba?
Nego com a cabeça e quando ouvimos passos se aproximando, o
observo praticamente se jogando para o sofá da frente, me mandando ficar
quieta.
Ele precisa saber que me falar isso, só faz com que eu tenha ainda
mais vontade de abrir a minha boca. Amo contrariar as pessoas e agir de
modo inesperado.
— A pizza está pronta. — Minha mãe diz enquanto tem meu pai lhe
fazendo um carinho nos ombros e todos seguimos para cozinha. — Se você
abrir essa boca para reclamar do jantar, te dou um beliscão.
Ela sibila a última parte para mim quando ficamos apenas eu e ela na
sala, mas assim que entramos na sala de jantar e vejo o que temos na mesa,
entendo o motivo.
— Nem fodendo que vou comer pizza congelada. — Três pares de
olhos me encontram. Um deles está puto da vida, o outro me encara
entediado e o último é confuso. — Sabem que a maior atrocidade que existe é
essa. Se eu soubesse, teria descido e feito o jantar eu mesma.
— Por que pizzas congeladas seriam uma atrocidade? — Marcos
parece completamente perdido. — Essa marca é muito famosa lá fora, posso
te garantir que são boas.
— Você é brasileiro, mas fala como um norte americano nojento. —
Desaprovo sua escolha e meu pai pede desculpas por mim. — Massas
industrializadas são horríveis, não possuem gosto de nada a não ser plástico.
Seria mais barato comermos as sacolinhas do mercado, já que teriam o
mesmo sabor.
— Desculpe, mas você por acaso é uma especialista no assunto? —
quero sorrir ao notar como ele está começando a se soltar na minha presença,
e levando em conta a forma que estava quando chegou, isso é um bom sinal,
mas apenas abro um sorriso enquanto observo meus pais também o fazerem.
— Quase, já que não estou estudando gastronomia à toa. — Faço um
coque em meus cabelos, prendendo com o elástico. — Se tivessem me
avisado o que seria nosso jantar, teria descido e preparado algo melhor. Vou
lavar as mãos e já cozinho algo rápido e delicioso pra gente.
— Vai me fazer passar vergonha ao recusar a comida do nosso
convidado? — meu pai pergunta e apenas assinto com um sorriso. — Como
eu ainda não te expulsei de casa?
— Para de drama, você não vive sem ela. — Minha mãe interfere e
começa a cortar a pizza. — Eduarda, sossega essa bunda na cadeira, antes que
eu cumpra minha promessa e te entregue aquele beliscão.
— Ou eu te coloque de castigo por ser tão mal educada. — Apenas
gargalho com a fala de meu pai, o que faz com que nosso amigo em comum o
olhe com estranheza.
— Mas ela já não estava de castigo?
— Senhor Marcos, precisa saber que a última vez que de fato fiquei
de castigo, eu tinha dezessete anos. — Dou de ombros enquanto minha mãe
me obriga a sentar.
— E por um bom motivo, não é, Maria Eduarda? — meu pai se senta
ao lado do amigo, pegando um dos pratos servidos para si. — Achei que eu
iria morrer naquele dia.
— Não seja tão exagerado, pai.
Mordo um pedaço da pizza horrenda. Papelão seria mais saboroso que
isso, juro, além de fazer um mal tremendo para minha saúde já precária.
— Exagero, Maria? — minha mãe também se senta com seu prato,
atraindo atenção de todos. — Você simplesmente decidiu fugir de casa sem
dinheiro algum, para segundo suas palavras, viver do que a vida lhe
oferecesse. — Minha mãe continua enquanto me olha incisiva. — Fugiu para
a porra da praia depois de encher o cu de cachaça.
— Fugiu de casa? — Marcos parece interessado na história e sorrio
para ele quando me olha.
— Se ela quisesse apenas morar na praia seria fácil de resolver. —
Meu velhote volta a abrir a boca depois de um gole em sua tão amada
cerveja, a qual compartilho o bom gosto. Uma coroninha gelada é tudo para
mim. — O problema foi ela ter fugido loucona e ter feito a porra de uma
tatuagem no meio dessa confusão toda. Por sorte Lua estava junto, se não
algo pior teria acontecido, tenho certeza.
Os olhos azuis se arregalam cada vez mais, mas por poucos segundos
posso notar que olha para mim de maneira pensativa, como se estivesse
analisando minhas reações.
— E no fim de tudo isso, nos ligou pedindo dinheiro para pagar o
tatuador já que havia gastado sua mesada em bebida. — Minha mãe concluiu
a história.
— Somente porque o cara não aceitou o meu método de pagamento,
senão eu nem teria ligado. — Ergo as mãos em rendição, como se tivesse
sido simples.
— Depois de ouvir tudo isso — Marcos termina de mastigar antes de
continuar e parece realmente chocado com a história. —, acho que estou com
medo de perguntar qual seria seu método.
Meus pais abrem a boca para me mandar ficar quieta, mas sou mais
rápida que eles ao tentarem me calar e sorrio abertamente.
— Com um belo boquete, é claro.
— MARIA EDUARDA!
Sei que já fiz grandes merdas nesses meus trinta e nove anos de vida,
e até recentemente acreditava fielmente que a maior delas tinha sido a loucura
de me casar com Cassandra.
Entretanto, a vida veio me mostrar que existem castigos muito piores
do que ser casado com aquela cobra.
Como por exemplo, acabar transando com uma garota que mal saiu
das fraldas, e tudo piorar quando você descobrir que ela é filha do seu melhor
amigo de infância, o qual vão passar todo verão juntos.
Como uma boa transa me colocou em uma situação tão filha da puta
assim?
Ouço ela contar detalhadamente como acabou tendo que oferecer um
boquete ao tatuador, que após sua insinuação ameaçou chamar a polícia para
ela, e somente por isso teve de recorrer ao pai para pagar o que havia feito, e
como no final de tudo, todos acabaram descobrindo que ela possuía
identidades falsas.
Ela diz com o maior orgulho.
Essa garota não tem nenhum tipo de filtro ou senso?
Garota.
Meu deus ela é uma garota, o que eu fiz?
Dei um jeito de fugir dessa casa, fazendo Pedro me levar para
conhecer as redondezas e até me desculpei por tê-lo feito almoçar fora
quando tínhamos um almoço perfeito na mesa. Por sorte importei comigo
algumas das melhores comidas de Chicago e espero que sirva como pedido
de desculpas.
Não me sinto envergonhado por estar correndo dessa situação
constrangedora e devo admitir que ter Pedro tagarelando em meu ouvido a
tarde toda, foi tortura o suficiente por hoje.
A culpa de ter dormido com sua filha está me consumindo pouco a
pouco e a cada vez que ele a menciona, sinto como se ferro quente estivesse
sendo passado em minha garganta. Sei que provavelmente eu deveria lhe
contar, acredito que seria o correto, mas então me lembro do que me disse
quando lhe contei da tal garota da noite sábado e com certeza não quero ter
meu nariz quebrado por ele.
Porra, quem poderia imaginar que ela seria filha dele?
Não sou um homem que transa casualmente por aí sempre que sai, e
aparentemente sou azarado demais, pois quando resolvo fazê-lo, algo assim
me acontece.
A última vez em que eu estive no Brasil, Maria Eduarda era uma
criancinha, quase um bebê, e agora está uma mulher feita, como eu poderia
me lembrar de suas feições após tantos anos?
E também não é como se Pedro tivesse alguma rede social em que
posta fotos mensais com a família, para que eu pudesse reconhecê-la de
algum lugar.
Droga, estou jogando a culpa da merda que fiz, em cima da pessoa
mais inocente da história.
A gargalhada alta da mulher de olhos dourados me traz de volta ao
foco enquanto ouço seus pais a repreendendo.
Existem muitos inocentes nessa história, mas com certeza essa
pequena diaba não é uma delas, e seu modo de agir comigo quando seus pais
não estão presentes, só me comprovam isso.
Será que ela sabia quem eu era e me atraiu de propósito naquela
noite?
E se ela me manipulou para acabar comigo na cama apenas para
provocar seu pai?
Ah Marcos, o que está pensando?
Preciso parar de tentar jogar a responsabilidade do que fiz para outra
pessoa, afinal de contas, quis foder tanto quanto ela queria.
E como fodemos bem juntos, porra!
Preciso pensar em outras coisas antes que seu corpo nu venha em
minha mente, e levando em conta a história que acabei de ouvir, sei
exatamente sobre a tatuagem que falam.
Um sol e uma lua em meio às ondas do mar, posicionada em sua
costela.
Me lembro perfeitamente de como passei minha língua no local do
desenho, sentindo a textura macia de sua pele, inalando seu perfume doce e
sensual.
Seria um crime eu pensar que gostaria de tê-la para mim mais uma
vez, mesmo agora sabendo de quem se trata?
— Te entendo perfeitamente, Marcos. — A voz de Pedro se sobressai
a discussão divertida de mãe e filha à nossa frente.
Olho para ele em pânico.
Pensei alto demais? Por que ele entenderia meus pensamentos?
Consigo ouvir meu coração bater de forma desenfreada.
Acho que vou precisar encurtar essas férias.
Droga, por isso não as tiro. Minhas primeiras férias de verdade em
anos, e olha a merda em que me enfiei.
— O que? — tomo um gole da cerveja que sequer vi que foi aberta e
posta ao lado do meu prato. — Me entende?
— Claro, se eu não fosse o pai dessa coisa e estivesse acostumado
com os absurdos que ela fala, também ficaria completamente assustado,
como está agora. — Ele solta uma risada. — Sempre te disse como ser pai de
mulher esgotava todas as minhas paciências.
— Dizia que sua filha aprontava muito, mas que apesar de te deixar
careca, não poderia ser mais grato por tê-la. — Tento respirar fundo e evito
olhar para a mulher a minha frente. — Só nunca havia dito o quão… —
diabólica. — Espontânea, ela poderia ser.
Olho para Roberta com um sorriso amarelo, fingindo que estou
assustado com a personalidade da filha deles, e não com o fato de tê-la visto
pelada recentemente.
— A vida deles seria completamente sem graça se eu não existisse. —
A morena lança uma piscadela para mim e quase me engasgo enquanto ela
leva seu copo com refrigerante a boca. — Podemos ser sinceros, se por
alguma razão eu me tornasse uma completa santa, eles sentiriam falta. Sou a
luz da vida deles.
— Não sei a quem puxou com esse ego enorme. — Roberta deixa um
beijo na bochecha da filha quando se senta ao seu lado. — Talvez da sua avó,
mas não vamos estragar a noite falando dela.
Ouço meu amigo suspirar enquanto olha as mulheres de sua vida
começarem uma conversa sobre um assunto aleatório, totalmente alheias a
nossa presença.
— Felizmente essa desmiolada está certa, sabe? — só consigo me
sentir ainda mais culpado pelo que fiz, ao vê-lo admirar tanto sua família. —
Mesmo se me garantisse que eu continuaria com todos os fios do cabelo
intactos, não trocaria ela por nenhuma outra criança mais tranquila.
E é justamente por esse tipo de fala que eu acreditava que a filha dele
ainda tivesse uns doze anos. Mas não, ela é uma das mulheres mais gostosas
que cruzou meu caminho em todos esses anos, e que sabe muito bem como
deixar um homem de quatro na cama.
Vou acabar indo pro inferno por ter feito o que fiz, meu Deus.
— Ela…. — Preciso agir como se nada tivesse acontecido, porra. Não
quero perder sua amizade por conta de um momento impensado. — Não
puxou em nada a você e Roberta.
— Não mesmo, mas a culpa é totalmente minha. — O olho confuso.
— Eu realmente a deixei cair do berço quando era bebê, talvez isso a tenha
afetado.
— E como raios eu não fiquei sabendo disso?! — olho espantado para
ele. — Não me lembro de ter me contado na época.
— É porque fiquei com medo e não disse a ninguém. — Esse homem
só pode ser louco, está explicado o porquê da filha ser assim, e não falo da
queda. — Fiquei com medo de apanhar de Roberta na época, por ter
derrubado nossa bebê de cinco meses, e só contei a elas no aniversário de
quinze anos de Duda, em frente ao coliseu de Roma. — Arqueio uma
sobrancelha. — Ela optou por um mochilão ao invés da festa, enfim, tudo
ficou bem, mas acho que algo balançou muito lá dentro e soltou alguns
parafusos do cérebro.
Esse cara não existe.
Ele apenas dá de ombros e volta a comer a pizza, que segundo sua
filha, tem gosto de plástico.
Sei que nos Estados Unidos nossa alimentação não chega nem perto
da riqueza gastronômica do Brasil, mas ofender o que trouxe da forma que
ela fez, me deixou um pouco chateado.
Não foi nada barato importar a melhor pizza de Chicago para cá, para
ela fazer uma desfeita dessa.
Meus olhos desviam para o seu rosto angelical por alguns segundos e
faço em um péssimo momento já que encontro seu sorriso direcionado a sua
mãe.
Esse sorriso não é carregado de nenhuma malícia ou deboche, como
todos que já me direcionou. É genuíno e sincero, daquelas que nos fazem
querer apenas observar a felicidade presente no momento.
Seus olhos diminuem um pouco e suas bochechas ficam redondinhas
e saltadas por conta do riso largo que solta, fazendo sua franja escura escapar
do coque mal feito, cobrindo parcialmente seu rosto.
Ela precisava ser tão bonita desse jeito?
Quando a avistei pela primeira vez naquela boate, não teria como ela
passar despercebida em meio à multidão, nem mesmo se quisesse ou tentasse
muito.
Apesar da roupa provocativa que utilizava e de seu corpo também ter
me atraído, o que verdadeiramente me chamou atenção foi seu sorriso
extravagante combinado ao olhar marcante.
Agora sei que seus olhos se tratam de um tom de castanho, onde na
luz do dia é possível notar como ficam claros, mas na iluminação em que o
avistei, pareciam dourados. Fui atraído diretamente por eles que pareceram
me prender, e apesar de não ter conseguido, precisei de um esforço
gigantesco para tentar manter meu olhar longe dela.
Até que ela começou a dançar e percebi que estava me olhando como
um predador admira sua presa, então caí facilmente em suas armadilhas.
Na verdade, acho que sem me dar conta, eu estava desesperado para
ser caçado por ela.
Como eu conseguiria resistir a essa mulher?
Não consegui o fazer, mas agora preciso me manter o mais afastado
possível.
De repente a vejo se levantar, subindo para o andar de cima em
seguida, e sinto minhas pernas coçarem para levantar e segui-la.
Droga, preciso ao menos ter certeza de que não fez de propósito. De
que não sabia quem eu era.
Além de que preciso estabelecer os limites, já que claramente não o
percebe. Ela não pode dizer as coisas das quais me diz quando estamos
sozinhos, muito menos se colar ao meu corpo da maneira que fez.
Poderia estar pensando que não posso me manter perto dela por conta
do meu amigo, mas a verdade é que tudo é uma questão de autopreservação,
considerando que tenho medo de não conseguir me controlar e fazer uma
merda ainda maior, debaixo do nariz de Pedro.
O que ele pensaria se descobrisse o que fizemos? Esse cara salvou
minha vida incontáveis vezes quando éramos moleques.
Não posso fazer isso com ele.
Com a filha dele.
Precisamos de limites e regras, se vamos ter que lidar com a presença
um do outro.
Dou uma desculpa para ir ao banheiro e subo rapidamente em direção
ao lavabo que fica no corredor dos quartos, onde posso ver que ela entrou em
um dos cômodos que provavelmente a pertence.
Ouço alguns barulhos vindo da porta que se encontra aberta e quando
a vejo saindo, puxo seu braço rapidamente para que entre no lavabo comigo,
colocando minha mão sobre sua boca para evitar que seu grito seja ouvido
por seus pais no andar de baixo.
Assim que fecho a porta e retorno meu olhar para o seu rosto, vejo a
audácia brilhando neles e um sorriso malicioso se abre quando deixo sua
boca livre.
Preciso me afastar quando ela envolve meus ombros com seus braços
e meu nariz é atingido por seu perfume.
É a porra da tentação.
— Pensei que resistiria por mais tempo. — Ela fala baixo com sua
voz sedosa e preciso me esforçar para tirar os olhos de seus lábios cheios.
Com certeza, eu a beijaria outra vez se não fosse a filha de Pedro.
— Do que está falando, maluca? — tiro suas mãos de mim e me
encosto na parede oposta a ela. — Droga!
Passo a mão na testa, sentindo gotículas de suor que se formam ali.
— Não se faça de desentendido. — A iluminação do local é baixa por
conta da luz amarela e vejo ela encostar na pia, apoiando suas mãos no
gabinete de mármore. — Com certeza deve estar querendo reviver aquela
noite. Ao menos espero que esteja, porque eu quero muito.
Ela sorri de lado e preciso respirar fundo, me concentrando no que
pretendia fazer ao puxá-la para esse cubículo.
— Não é nada disso. — Sibilo em sua direção, sentindo meu coração
se acelerar pelo medo de ser pego por seus pais nessa situação. — Nunca
mais vamos repetir aquilo, não sei o que anda passando na sua cabeça por
pensar em uma coisa dessas.
— Provavelmente as mesmas coisas que passam na sua. — Ela
umedece os lábios. — Ou vai me dizer que nossos momentos juntos não
passaram nenhuma vez nos seus pensamentos?
Prefiro me manter calado ou mentir dizendo que não, porque para o
meu desespero, foi o que mais pensei no dia de hoje.
— Eu poderia te ajudar a refrescar sua memória, bem aqui. — Solto
um xingamento quase incompreensível, que faz com que ela erga as mãos. —
Tudo bem, já percebi que vai se fazer de difícil. De novo. — Essa mulher não
tem senso. — Se não queria dar uma rapidinha, porque me puxou para cá?
— Me mostra seu documento.
Jogo minha cabeça para trás, batendo com um pouco de força na
parede, e fechos meus olhos, tentando colocar meus pensamentos em ordem.
— Como é? — a idiota começa a rir alto e preciso avançar até ela
com rapidez, tampando sua boca outra vez.
Nossos rostos ficam a centímetros de distância e ela arqueia uma das
sobrancelhas enquanto se desencosta da pia e gruda seu corpo ao meu.
— Apenas preciso ter a certeza de que não cometi um crime. — Falo
baixo, próximo a ela após tirar a mão de sua boca. — Então pega a porcaria
do seu documento, para ao menos eu ver que é de maior.
Ela sorri de maneira provocativa enquanto desbloqueia o celular.
— Está com medo de que eu te denuncie, senhor Freitas? — seu rosto
iluminado pela luz do celular se torna uma visão torturante por conta da nossa
proximidade. Seria tão fácil apenas agarrar sua boca para mim. — Não se
preocupe, não é um pedófilo, apesar de não ter se preocupado em averiguar
isso quando me levou para o seu carro.
Ela vira a tela em minha direção, mostrando sua identidade digital,
constando que está a menos de dois meses de completar vinte e um anos.
Solto um suspiro de alívio, voltando a me afastar do seu corpo e me
jogando contra a parede outra vez, voltando a fechar os olhos.
É como se um peso, ao menos uma parcela dele, fosse retirado de
mim.
Depois que descobri de quem a endemoniada é filha, quase havia me
esquecido da preocupação que me atormentava antes, sobre o medo dela ser
menor.
Se ao menos eu a tivesse pedido sua identificação antes de beijá-la,
poderia ter descoberto sua filiação e não teria cometido essa grande loucura.
Será que vou precisar começar a pedir os documentos das mulheres
antes de enfiar minha língua nelas?
— Agora que já se sente mais aliviado sobre isso — abro os olhos
sentindo sua aproximação. —, será que podemos, por favor, repetir algumas
das coisas que fizemos naquela noite?
Ela sorri daquela maneira falsamente inocente, que me levou ao
inferno no sábado, antes de nos jogarmos do precipício do tesão, e preciso
respirar fundo, tentando controlar a porra do meu pau que começa a dar sinal
de vida com sua presença tão próxima.
— Você é a filhinha preciosa do meu melhor amigo! — meu sussurro
é quase uma súplica de clemência. — Será que não entrou isso nessa sua
cabecinha linda, ainda?
Em um ato estupido, pego sua cabeça em minhas mãos, nossos olhos
não se desviam um do outro, nossas respirações igualmente ofegantes, se
misturam em uma só e quase perco todo meu juízo ao vê-la entreabrir os
lábios, desviando por alguns segundos o olhar até a minha boca.
— Nunca pensei dizer isso em toda a minha vida, mas — sinto suas
mãos delicadas em minha camisa, a puxando para si enquanto ela tenta
aproximar ainda mais nossas bocas —, ele não precisa ficar sabendo, poxa.
Nego enquanto tento respirar fundo e fazer o juízo voltar ao meu
corpo.
Ela é filha do seu melhor amigo.
Mas é tão fodidamente linda.
Os pais delas, os seus amigos, estão no andar de baixo, Marcos.
Não vão sequer desconfiar.
Ela é quase vinte anos mais nova, porra.
Só um último beijo.
— A gente só precisa…
Não a deixo terminar de falar e a solto, afastando nossos corpos e sou
capaz de ouvir seu suspiro frustrado, assim como na vez em que não a deixei
gozar quando estava a chupando na sacada do hotel.
Droga, Marcos, tira essas imagens da cabeça.
— Fez de propósito? — se estivéssemos em um lugar maior, com
certeza eu estaria andando de um lado ao outro. — Sabia quem eu era
naquela noite e por isso me seduziu?
Ela abre um sorriso orgulhoso, que só me comprova a minha
desconfiança.
— É bom ouvir de sua própria boca que consegui te seduzir. — Não
leva nada a sério, como pode? — Foi bem difícil chamar sua atenção, tive até
que me desfazer da minha bebida para isso.
Não vou lhe dizer que na verdade, difícil foi tentar me manter
composto e meus olhos afastados por mais de cinco minutos durante aquela
uma hora em que passamos trocando olhares intensos.
Só tinha vontade de chamá-la para sair daquele lugar logo, e apesar de
ter o feito, ainda me segurei por muito tempo até tomar a decisão.
Nunca fui o tipo de cara que sai para festas a procura de alguém, não
faço o tipo de uma noite e nunca mais, entretanto quando bati meus olhos na
mulher de cabelos negros e olhar selvagem, algo em mim se agitou, me
dizendo que eu precisava tê-la na minha cama.
Tentei ser racional, mas não tinha como ser com ela me olhando
daquela forma, me atraindo para sua rede, e fui como um peixinho
masoquista, feliz por estar indo para o abate.
— Responde a minha pergunta, Maria Eduarda. — Coloco as mãos no
rosto, passando elas ali para aliviar a tensão e espantar os pensamentos
invasivos. — Sabia que eu era amigo de seu pai e fez aquilo só para ter mais
uma história engraçada que o tiraria do sério?
— Como pode me acusar de algo assim? — ela tem a cara de pau de
levar a mão ao peito, falsamente horrorizada. — O que te levou a pensar que
eu ficaria com um amigo do meu pai de propósito, apenas para irritá-lo?
— As histórias que passei o dia todo escutando — ela sorri com um
suspiro orgulhoso. — Com certeza o faria.
— Dessa vez não tive culpa alguma, juro. — Volta a se recostar na
pia, beijando os dedos numa espécie de promessa. — Não fazia ideia de
quem você se tratava, só te avistei, te achei gostoso pra caralho e fiquei com
vontade de te dar. Nada demais.
— Deus esqueceu de te entregar um filtro quando te fez. — Ela dá de
ombros. — Vou confiar na sua palavra dessa vez.
— Pode confiar sempre, não sou mentirosa. — Ela pisca e me olha de
lado, como se analisasse algo. — Sempre vi fotos suas com meu pai, de
quando eram adolescentes, mas sinceramente, parece até outra pessoa. Fez
alguma plástica nos últimos vinte anos?
— Ficou louca?! — avanço em direção a porta, mas ela entra em
minha frente, tocando meu rosto com os dedos. — Me deixa passar, sua
maluca.
— Estou falando sério! Nas fotos o tal Marcos era feio e tinha um
narigão horrendo. — Ela tem a ousadia de apertar meu nariz. — Eu com
certeza teria te reconhecido das fotos, mas parece até que trocou de corpo.
Tenha a santa paciência, meu Deus.
Seguro seus ombros a colocando para trás de mim enquanto alcanço a
maçaneta e saio o mais rápido possível de perto dela.
Preciso encurtar essa viagem antes que essa garota acabe com toda
paciência que sempre achei possuir, ou pior, que eu cometa algo do qual vou
me arrepender se Pedro vir a descobrir.
Tento com todas as minhas forças, não direcionar meu olhar para a
mulher que a todo custo, tenta atrair ele para si.
Está sempre interrompendo minhas conversas com seus pais,
perguntando coisas que não lhe são do respeito, parecendo uma maldita
criança que quer participar da roda dos adultos, como por exemplo agora, me
enchendo de perguntas sobre com o que trabalho.
— Me lembro de ouvir uma das conversas com meu pai ao telefone,
mas não consegui compreender do que se trata. — Ela finaliza sua fala
levando a boca, a colher que utilizou para comer o doce preparado por ela
mesma. — Sou um tanto curiosa.
Solta um risinho que poderia ser confundido com timidez ou algo do
tipo, mas mesmo mal a conhecendo, sei que se trata de uma provocação.
Foco minha atenção em seus olhos, que brilham em uma espécie de
desafio. É como se ela estivesse duvidando da minha capacidade de manter
nossos olhares cruzados quando estamos na presença de seus pais.
O que poderia ser mais infantil que isso?
Respiro fundo, controlando todos os pensamentos revoltos que se
misturam aos de desejo que sinto por ela.
Poderia ser um pouco mais fácil controlar a atração que sinto por ela,
se eu não conhecesse cada detalhe do seu corpo, e desejasse por mais.
— Sou uma espécie de geren…
Comprovo meu pensamento anterior ao perder a linha de raciocínio
quando observo ela lamber todo material metálico, não poupando gemidos de
satisfação enquanto o faz.
Eu certamente não precisava ter ouvido isso, pois logo meu cérebro
ingrato me traz a recordação de como gemeu quando eu estava dentro dela.
— Sei que não vou me especializar na confeitaria, mas acho que se
quisesse, me daria bem nesse ramo também. Sou realmente boa em tudo que
faço. — Ela comenta com a mãe, que revira os olhos para o egocentrismo da
filha. — Pode prosseguir, Marcos, desculpe por atrapalhar o senhor.
Ela finaliza dando um sorriso cínico de desculpas.
Pedro, apesar de saber tudo que a filha apronta, pensa ter um anjinho
em casa, mas mal sabe que convive com uma pequena diabinha.
— Bom… — pigarro tirando os olhos de seu rosto, aceitando a
derrota de seu desafio implícito. — Sou como um gerente geral da rede de
Hotéis Sanderson International, atualmente desenvolvo meu trabalho na sede
principal em Chicago, mas estou sempre tendo que viajar, pulando de estado
em estado, país em país, resolvendo as urgências das redes franqueadas e
contratadas que abrange nossa rede. Basicamente, administro os gerentes de
todas as unidades espalhadas por aí.
— Para de se tentar fazer de humilde e diga logo que é o dono de
todos os hotéis. — Pedro bate de leve em meu ombro, pedindo para a filha
passar a travessa do brownie recheado — Você pode não gostar, mas eu
adoro me exibir dizendo que meu amigo é dono de uma das redes dos hotéis
de luxo mais conhecidos do Mundo.
Mal tenho tempo de contradizê-lo, pois logo ouço a exclamação de
Maria Eduarda, levando meus olhos diretamente para sua boca aberta.
Seus olhos me encaram com intensidade, como se em seu cérebro
estivesse fazendo algumas conexões, que posso imaginar do que se trata.
Em nossa noite a levei para o meu quarto no Hotel Sanderson,
localizado na zona Sul de São Paulo, e apesar de ter me olhado com
curiosidade quando os funcionários me trataram com uma cordialidade e
formalidade exagerada, não perguntou coisa alguma já que estava mais
interessada em outras coisas, como tentar me despir no elevador privativo.
A verdade é que não sou dono de coisa alguma, apesar de ser o
principal CEO atualmente. Queria eu ser o dono da Rede de hotéis que ocupa
o top três dos mais luxuosos do mundo, com pouco mais de um bilhão de
quartos espalhados entre as redes contratadas e franqueadas, que levam o
mesmo nome.
Bom, sou praticamente um herdeiro, se é que posso dizer assim, isso
se meu sogro, o verdadeiro dono desse império e que vem tirando anos
sabáticos enquanto deixa tudo em minhas mãos, realmente cumprir com a
promessa de deixar seus hotéis para mim. Para ser sincero, já ficaria satisfeito
com cinquenta por cento de tudo, não sou tão ambicioso, apesar de cuidar dos
negócios junto dele desde que era um garoto.
Ex-sogro, Marcos.
— Você é, tipo assim, o dono de um dos hotéis mais famosos da porra
desse mundo? — ela bate as mãos na mesa, abrindo um sorriso e desvia a
atenção para o seu pai. — Por que demorou tanto para chamar ele pra passar
um tempo conosco? O cara é bilionário e você fazia uma desfeita dessa?
— Dudinha, pelo amor de Deus. — Meu amigo retorce os lábios. —
Desse jeito ele vai pensar que não se passa de uma interesseira.
Volto a comer meu doce, agradecendo pela atenção ser desviada para
a conversa dos dois.
— Pai, sei que somos ricos, classe alta no Brasil, família importante
no meio da arquitetura e tudo mais e não podemos reclamar de quase nada —
ela aponta a colher de mim para o pai. —, mas esse homem aqui é bilionário,
b i l i o n á r i o, não tem como fingir não se interessar nas coisas que ele
pode nos oferecer. — Ela suspira indignada. — Ninguém pensaria que ele
tem tanto dinheiro a julgar pelo furo que possui na cueca.
Começo a tossir, me engasgando com a porra do doce enquanto vejo
seus olhos também se arregalarem ao perceber o que acabou de dizer.
No dia que ficamos, a filha da mãe encontrou um furo milimétrico em
minha cueca e na hora achei adorável a forma com que achou engraçado e até
gostei de sua risada zombeteira. Agora, só estou odiando como possui a boca
tão aberta e a língua tão solta.
— Como sabe disso, Eduarda? — é Roberta quem questiona de
maneira séria enquanto Pedro bate em minhas costas após trazer a água em
minha direção. — Responde.
— Ué, mãe. — Vejo ela engolir em seco, olhando assustada para a
loira. — E-eu vi, né? — olha para mim, pedindo socorro com o olhar, mas
apenas bebo minha água na velocidade da luz, evitando olhar para o meu
amigo. — D-desculpa senhor Marcos, acredito que tenha derrubado algumas
roupas da mala quando a estava levando ao quarto, e no meio das roupas
tinha uma cueca com um rasguinho. Coloquei de volta no quarto e não queria
falar antes para não ficar constrangido.
Como pode alguém que alega não manter segredos dos pais, mentir
tão bem e rapidamente dessa maneira?
— Tudo bem, agradeço a gentileza. — Pedro volta a se sentar ao meu
lado, seus olhos indo de mim para a filha.
Volto a me concentrar no doce, que mesmo doendo admitir, já que foi
feito pela maluca, está divino. Sei que disse que estuda gastronomia, mas o
fato de ser uma simples estudante não tornaria tudo que faz instantaneamente
gostoso. Para o meu azar e ao ego dessa garota, ela parece saber muito bem o
que fazer na cozinha.
Fez questão de apresentar o prato quando o colocou em nossa frente.
Está servindo um brownie recheado com uma espécie de creme de maracujá.
O doce contrastando com o leve amargor da fruta, equilibra o paladar. É
divino.
— Por um momento meu coração errou uma batida e pensei que por
algum motivo você já o havia visto só de cueca. — Pedro coloca a mão sobre
o peito, respirando fundo, — Ou sei lá, que você postasse essas fotos sensuais
e tudo nas redes sociais, e acabou postando uma com a cueca furada.
Todos os olhares são atraídos para ele, e dou graças a Deus por
esquecerem de todos os outros assuntos.
— Por que você acharia que logo o Marcos seria desses caras
biscoiteiros? — sua esposa o encara como se tivessem crescido três olhos em
seu rosto. — Não conhece o amigo que tem? Ele só não é pior que você nas
redes porque tem a decência de priorizar o trabalho por conta da mídia que o
favorece.
— E eu teria como saber? — ele parece indignado. — Não tenho
Instagram, não posto foto nem no WhatsApp e não uso nenhuma das outras
coisas que vocês amam fuçar para saber da vida dos outros.
— Falando em fotos. — O rosto da morena se volta para mim e quase
praguejo em voz alta. — Você fez algum procedimento estético
recentemente, Marcos?
Não acredito que ela voltou com esse assunto, e na mesa do jantar em
frente aos pais.
— Que tipo de pergunta absurda é essa, Duda? — Pedro se espanta.
— Não queria constranger ele por conta das roupas encontradas no
corredor, mas agora tá fazendo pior, perguntando da aparência? — Uma das
mãos de Roberta vai em direção ao braço da filha, que salta da cadeira antes
de ser beliscada. — Perdeu todo restante do juízo que tinha?
— Foi só curiosidade. — Ela praticamente grita, erguendo os braços e
só tenho vontade de socar minha cara na parede. — É que me lembrei das
fotos que o pai me mostrou uma vez, de quando eram adolescentes.
— E o que isso tem a ver com o assunto que levantou? — seu pai
parece inconformado. — Desculpa, cara, mas agora consegue entender o
porquê nunca a levei junto para Chicago.
Faço um sinal com as mãos, tentando dizer que está tudo bem, já que
as palavras travaram na minha boca por conta do momento constrangedor.
Devo ter feito algo de muito errado em outra vida, para estar sofrendo
um castigo desses. Tenho certeza que meu rosto deve estar roxo de vergonha,
e também pelo medo do que essa garota pode acabar deixando escapar.
— Me lembro de que nas fotos seu tal amigo era quase horrendo,
oras. — Ela diz como se fosse normal soltar uma coisa dessas para alguém
que acabou de conhecer. — O nariz dele era enorme e o queixo pequeno
demais, tudo assimétrico, e agora não é mais assim, olhem.
Pedro e Roberta voltam a se sentar juntamente de Maria Eduarda,
todos trocando xingamentos e pedidos de desculpas direcionados a mim em
um verdadeiro caos.
Confesso que se meu rosto e feiura passada não fossem a pauta do
momento constrangedor, provavelmente estaria rindo se tivesse vendo a cena
em terceira pessoa.
Meus olhos ficam presos a garota que volta a fazer um coque nos
cabelos escuros e compridos, já que o que fez anteriormente se desfez,
enquanto tenta argumentar com os pais sobre sua curiosidade e parece ficar
ainda mais bonita lutando para estar certa, mesmo sabendo que ultrapassou
alguns limites.
— Acho que podem encerrar a discussão. — Falo um pouco mais
alto, interrompendo toda a confusão e por incrível que pareça, preciso segurar
o riso quando percebo que se esquecerem da minha presença, já que me
olham assustados. — Se é de tamanha importância sanar sua curiosidade,
Maria Eduarda, fiz sim, alguns procedimentos estéticos já que também via os
mesmos defeitos que você. Acertou em cheio sobre eles, inclusive.
Diferente do que pensei que faria, pois estava esperando uma risada
ou uma comemoração vitoriosa, ela sorri pacificamente em minha direção,
fazendo um biquinho como se estivesse arrependida do que disse, e entendo
como um pedido de desculpas.
Já meu amigo, demonstra a quem a filha puxou quando solta a mais
alta das gargalhadas ao meu lado.
— Sempre me questionei onde havia ido parar aquela carne que
sobrava em seu nariz, mas não tinha coragem de perguntar se realmente havia
feito algo. — Ele diz em meio a risada. — Duda estava certa, afinal de
contas.
— Claro que sim, nunca erro quando o assunto é estética alheia. —
Ela arrebita o nariz, pegando um copo de água e levando a boca.
— E como poderia ser diferente? A cada trinta dias vai a esteticista
mudar algo nesse rosto.
— Mãe! — ela quase cospe toda água de sua boca para fora e preciso
muito me segurar para não rir de suas bochechas vermelhas ao me olhar. —
Não precisava dizer isso, e nem é todo mês.
— Mas é como se fosse, acho que não tem nada original no seu corpo,
filha. — Pedro passa a provocá-la também. — Se duvidar, até silicones você
já deve ter posto.
Mesmo tentando me conter, meus olhos vão em direção ao decote
raso do seu vestido e minha mente se enche das imagens de quando peguei e
chupei seus seios como um louco sedento.
Quase consigo sentir a textura de seus bicos rígidos em minha língua,
de como a região se arrepiou quando passei a distribuir mordidas ali e minhas
mãos coçam, desejando sentir outra vez a sua forma e maneira de como
couberam perfeitamente ali
Com certeza não tem silicone ali, meu amigo.
Sem conseguir evitar, minha boca se levanta em um dos cantos ao
perceber como ela repreende os pais sobre o assunto.
— Silicone não, meu amor, mas a boca é repleta de preenchimentos, o
maxilar possui um retoque e outro e o nariz também sofreu uma leve ajeitada.
— Maria Eduarda cruza os braços, brava com a mãe que lhe puxa para um
abraço. — E está tudo bem também, o importante é você se sentir bem
consigo mesma, não importando o que precise fazer para isso.
Pedro concorda com a esposa e logo o assunto é desviado para outras
coisas, mas meus olhos quase não se desviam do da morena a minha frente.
Em um momento impensado, sorrio amigavelmente para ela, me
incomodando um pouco com a forma com que ficou envergonhada após as
declarações dos pais a seu respeito, e algo em mim se arrepia ao ter o sorriso
retribuído de maneira calma.
Droga!
Até hoje, acreditava que havia vivido dias insanos, mas nenhum deles
chegou aos pés do que eu acabei de vivenciar. Nem mesmo quando atravessei
a pé boa parte da Dutra, completamente bêbada com minhas garrafas de
tequila a tiracolo, sendo impedida por Lua de entrar em um carro qualquer e
cometer ainda mais loucuras, foi tão surreal quanto esse dia.
Meu Deus, Lua.
Me levanto da cama a qual eu havia acabado de me jogar após vestir
meu pijama, e vou em direção ao celular, esquecido em uma das cômodas.
Prometi que ligaria para ela assim que ficasse sozinha depois de a
tranquilizar sobre o assunto. Ela apenas respondeu com uma figurinha
agressiva por eu ter ignorado suas chamadas e a deixado curiosa.
Abaixo o volume de Willow[2], que toca em minha caixa de som, com
dor no coração por precisar silenciar mesmo que brevemente a maioral,
Taylor Swift.
Volto a me jogar em meus lençóis, cobrindo todo meu corpo com a
colcha, que coincidentemente possui o rosto divino da loirinha, já que mesmo
com o calor infernal de hoje, preciso ter algo sempre me cobrindo quando me
deito.
— Eu estava prestes a fazer as malas e bater aí em Floripa, Maria
Eduarda. — é a primeira coisa que ouço minha amiga dizer assim que atende
minha ligação. — Recusou vinte chamadas minhas, porra.
— Eu acabei dormindo no sofá lá de fora e depois acabei não tendo
tempo de retornar, só agora, que todos foram para a cama, incluindo eu. —
Ela bufa do outro lado da linha e posso visualizar perfeitamente sua carranca.
— Não foi culpa minha.
— Era só não ter dormido e nem venha dizer que estava com o sono
atrasado, estou pouco me fodendo para isso.
— Ei! — me sento, gritando alto demais para o celular e solicitando
uma chamada de vídeo, que logo é atendida. — O que você fez com a minha
amiga doce e gentil?
— Enterrei por conta de uma fofoca mal contada. — Meu olhar
confuso a deixa ainda mais puta. — Que merda de emojis são aqueles?
Tenho minhas teorias, mas prefiro ouvir de você.
Vejo ela se acomodar em sua cadeira, em frente à mesa de estudos
que, sinceramente, não sei para que serve já que nunca a vi abrir um caderno
sequer depois que terminamos o ensino médio.
Me encosto na cabeceira macia da cama, ajeitando os zilhões de
travesseiros ao meu redor enquanto a observo prender os cachos em sua touca
de cetim roxa.
— Não vai acreditar no que aconteceu! — abro um sorriso e ao notá-
lo a mesma arqueia uma das sobrancelhas, preocupada. — O que foi?
— Conheço esse sorriso sacana, Maria. — Ela pega o celular nas
mãos, aproximando de seu rosto. — Uma das minhas teorias sobre a
mensagem, era de que acabou vendo, sem querer, o pinto murcho do seu avô,
mas agora acho que estou muito errada.
Explodo em uma risada alta, não conseguindo me controlar diante do
absurdo que ela fala.
— Ei, poderia acontecer, já que ele sempre aparece aí quando estão
de férias. — Ela volta a colocar o celular em seu apoio na mesa, cruzando os
braços enquanto me encara ter uma crise de riso. — Já chega, Maria
Eduarda.
— V-você ficou maluca?
Minha pergunta é feita quase sem voz, já que estou usando todo meu
fôlego para rir e justamente por não fazer questão de me segurar ou rir baixo,
logo a porta do meu quarto é aberta por meus pais, ambos em seus pijamas
combinando.
Oh, coisa brega.
— Tem pessoas querendo dormir nessa casa, Eduarda. — Minha mãe
é primeira a dizer enquanto meu pai me olha bravo. — O que tá acontecendo?
Apenas tampo minha boca com uma das mãos, tentando controlar a
crise e com a outra lhes mostro o celular, vendo de relance quando Lua
manda um tchauzinho para eles.
— É claro que tinha que ter o tiquinho de gente envolvido nisso. —
Ele usa o apelido que concedeu a ela, por sua baixa estatura comparada a
nossa família. — Se viram ontem. Não conseguem passar mais de vinte e
quatro horas sem olhar uma na cara da outra?
— Não! — dissemos em sincronia e trago o celular para mim outra
vez.
— Desculpem pelo barulho, prometo que não vai acontecer de novo
— meu pai franze a sobrancelha por conta da palavra usada. — Prometo que
não vai mais acontecer nessa noite.
Dou um beijinho na ponta do meu dedo indicador, apontando em sua
direção e como sempre, desde que eu era só uma tampinha de quatro anos e
aprendi o significado e a importância de uma promessa, ele adentra o quarto
beijando a ponta de seu dedo, o levando a tocar o meu, assim como manda
nossa tradição.
Nunca quebrei uma promessa feita aos meus pais, levamos esse tipo
de coisa a sério nessa família.
— Amo vocês. — Digo um pouco mais alto antes de fecharem a porta
e consigo vê-los me lançando beijos. — Estou tão fodida com eles se
descobrirem o que fiz, meu Deus.
Prefiro nem pensar no que podem pensar a respeito, então logo afasto
os olhares de desaprovação que me lançariam caso descobrissem sobre
Marcos.
Volto a deitar, escondendo meu corpo com o edredom e Lua me olha
séria,
— Melhor me dizer logo que merda aconteceu, antes que eu apareça
aí.
— Lembra do cara de sábado? — ela balança a cabeça, como se fosse
óbvio o fato de se lembrar dele. — Ele vai passar os próximos meses com a
gente.
É a vez dela de gargalhar e se bem a conheço, não acreditou em
minhas palavras.
— Para de brincar com aquela minha fanfic sobre o destino os juntar
nessas férias. — Aponta um dedo para mim. — Sabe que sou romântica e
sonhadora, não julgue.
— E também deve ter jogado alguma praga para mim, porque não
estou brincando. — Ela percebe meu tom sóbrio e muda sua expressão,
entrando em alerta enquanto me espera continuar. — Agora tenho sua
atenção?
— É claro que tem, e minha preocupação também. — Ela suspira. —
Encontrou mesmo com o vovozinho da balada aí?
Assinto e a vejo fazer uma careta.
— E trate de ficar preocupada mesmo, já que tudo piora. — Ela faz
um sinal com as mãos para que eu continue. — Lembra daquele amigo de
infância que meu pai sempre fala sobre?
— Um tal de Marcos não sei o que, que é dono de uma rede famosa
de hotéis. — Bom saber que ela presta mais atenção que eu nas coisas que
meu pai fala. — O que tem ele?
Sua pergunta é carregada de desconfiança e preocupação.
Faço um gesto de positivo com a cabeça, a balançando lentamente e
vejo ela colocar as mãos sobre a boca, em choque,
— Pois se trata justamente daquele mesmo homem com que passei a
noite.
— PUTA MERDO, MANO! — minha única reação diante da sua, é
rir, mas muito mais controlada dessa vez. — Meu Deus, como assim?
Conversaram a respeito daquilo? Ele sabia quem você era? Você sabia quem
era ele naquele dia? — ela pega o celular aproximando a câmera de seu
rosto, e vejo o desespero enquanto me metralha perguntas. — Espera, por
que está sorrindo desse jeito? Te conheço, Maria Eduarda, por que não está
surtando como estou?
Suspiro, soltando uma risadinha.
— Para ser sincera, a única vez que surtei por isso foi no jantar,
quando deixei escapar que já vi a cueca dele. — seus olhos se arregalam
ainda mais, se possível. — E aí constatei uma coisa.
— O que? Que é completamente maluca? Porque se for isso, eu tento
te dizer há tempos.
— Não, sua idiota — ela revira os olhos escuros. — Que se eu não
tivesse todo esse amor surreal pela culinária, eu me daria muito bem como
atriz.
— E eu acreditando que sairia algo grandioso dessa fala. — Ela
suspira e afasta novamente a câmera do rosto, e vejo colocar a mão sobre o
coração. — Ser sua amiga vai acabar me matando precocemente.
— Estou falando sério, poxa, menti tão bem que meus pais na hora
caíram na história que contei sobre o mal entendido da cueca dele. — Sorrio
orgulhosa, me lembrando de como foram desesperadores os segundos em que
levou para eu inventar algo para dizer. — Quer saber o que disse para me
livrar dessa?
— Lógico que não, estou mais interessada em como seu pescoço
ainda está na sua cabeça, pois tenho certeza que quando seu pai descobrir
que já dormiu com o amigo dele, ela vai rolar bem rapidinho.
Apesar de engolir em seco, sentindo meu corpo todo arrepiar com o
medo repentino de decepcionar meu pai por conta disso, espanto os
pensamentos negativos momentâneos e volto a sorrir.
— Ele descobrir está fora de cogitação. — Faço um movimento com
as mãos. — Mas voltando ao assunto inicial, adorei saber que aquele Deus
grego se trata do melhor amigo dele. — lhe lanço um sorriso que ela
chamaria de diabólico.
— Devo me preocupar com isso? — arqueio uma sobrancelha. — É
claro que devo, que pergunta a minha. O que está pensando em aprontar
dessa vez?
— Nada demais! — me indigno. — Por que vocês sempre esperam o
pior de mim?
— Seu histórico não é um dos melhores, amiga, você só tem vinte
anos, mas fez coisas que até Deus duvidaria se não te guardasse a todo
tempo. — Sua expressão é tediosa.
— Bom, só gostei de saber que vamos passar essas férias juntos,
porque agora ao menos vou ter a chance de levá-lo para cama mais uma vez.
— Ela arfa em surpresa, passando a balançar a cabeça como se não
acreditasse no que acabo de falar. — Tem que concordar comigo que será um
verão divertido.
— Essa é a sua definição de diversão?! — assinto com a cabeça.
—Não, verão divertido foi o que passei na Itália, com beijos fofos ao
entardecer, com uma paixão de veraneio, encontros nas gelaterias mais
famosas de lá, passeios românticos e até mesmo transar bêbados em um
vinhedo após uma degustação exagerada dos vinhos. — Já fazem cinco
meses dessa sua paixão louca e ela não o esquece, vivendo uma espécie de
namoro virtual. — Trocar flertes com um homem muito mais velho e ir para
cama com esse mesmo homem, que, por acaso, é melhor amigo do seu pai,
bem debaixo do nariz dele, correndo o risco de serem pegos, não é sinônimo
de diversão, Maria Eduarda.
Meu Deus, a garota perdeu até o fôlego.
— Temos conceitos e visões diferentes em relação a essa coisa toda.
— Ela suspira, se jogando em sua cama enquanto recupera o ar, sabendo que
não importa o que disser, nada vai tirar essa ideia da minha cabeça. — Vou
trazê-lo para minha cama, escreva o que estou dizendo.
— Sabe se ao menos se ele quer ou se concorda com isso?
— Posso lhe garantir que apesar de dizer o contrário, seu corpo e suas
reações são toda a resposta de que preciso para saber que ele quer isso tanto
quanto eu. Só está com medo e não sabendo como admitir que, mesmo agora
sabendo que sou a filha de seu amigo, ainda me comeria de novo.
— Preciso descobrir um modo de encapsular sua autoestima para
vender, vou ficar milionária. — Sua voz começa a ficar lenta enquanto ela se
ajeita e apaga as luzes.
— Você já é milionária, amiga, e pode confiar em mim. — Também
me deito, apagando as luzes que havia deixado acesas até então. — Noto bem
como seus olhos devoraram meu corpo sempre que meus pais não estavam
olhando. Eles realmente não notaram, mas me senti praticamente despida por
ele quando estava de olho no meu decote mais cedo. Sei que ele quer, só
precisa ser um pouco mais corajoso e vou lhe ajudar com isso.
— Vai ajudar como? Existe coragem a pronta entrega nas farmácias
daí? — ela coloca o celular do outro lado do colchão, para que possa dormir
enquanto conversamos sem correr o risco de perdê-lo durante a noite e fecha
os olhos. — E o meu pai é milionário, eu sou uma simples e pobre herdeira.
— Pode fazer piadas a vontade, mas vai me aplaudir quando eu lhe
contar detalhadamente a forma com que o levei ao limite. — Ela abre um
olho, desacreditada. — Vou provocá-lo até ele não conseguir mais se segurar
e vou ensinar a esse vovô como pode ser divertida toda essa situação. Sabe
que minha especialidade é infernizar as pessoas e é justamente o que vou
fazer.
— Minha vida amorosa é praticamente inexistente se compararmos
com a sua. — Ela volta a fechar os olhos, bocejando. — Somos um perfeito
equilíbrio.
— Você passou o verão na Itália, se apaixonou por um moleque
badboy que cheira a problemas, passou pouco mais de dois meses com ele, se
apaixonou perdidamente e mesmo morando em outro país, meses depois
ainda trocam mensagens, ligações e chora de saudades do bebêzão mesmo
após toda a despedida exageradamente dramática que tiveram ao fim do
verão italiano. Se acha tudo isso inexistente, está precisando reav…
Ela desligou na minha cara.
— EI, VAGABUNDA!
Grito sozinha e muito alto, ouvindo um barulho como se alguém
estivesse estapeando a parede do quarto ao lado logo em seguida.
— PERDÃO PAI, MAS NÃO FOI UMA RISADA!
Mais um estrondo é ouvido da parede e aproveito para colocar meus
fones, colocando um som ambiente de chuva para tocar enquanto durmo.
Sem querer acabo resmungando e fazendo bico por conta da falta de
educação de Lua, mesmo estando acostumada a esse tipo de atitude quando
ela não quer falar sobre algo específico.
Finalmente fecho meus olhos, com um sorriso nos lábios, pensando
em tudo que posso aprontar nos dias que virão, apenas para ver Marcos
perder o juízo e tê-lo pelado em minha cama.
Ele totalmente sem roupa aparece em meus pensamentos.
Ah, uma bela visão antes de dormir.
Sempre fui conhecido em meus ciclos de amizade, por ser um homem
de extrema paciência.
Tudo bem que esse número de amigos não é exorbitante ou coisa
assim, mas é uma das coisas pelas quais tenho muito orgulho.
Na pré-escola eu ouvia a professora comentando com a minha mãe de
que eu sempre era cauteloso nas atividades e não me apressava nos
momentos cruciais, quando em contrapartida o meu amigo, aquele melhor
amigo ao qual já comi sua filha, precisava ser chamado a atenção várias vezes
por sempre se afobar demais e não respeitar os próprios limites.
Na adolescência não foi diferente, enquanto eu preferia pensar
quinhentas mil vezes antes de me entregar a um novo sentimento, Pedro caía
de cabeça em suas paixões e aventuras. Ele sempre foi emocionado demais,
enquanto eu era racional. Éramos o equilíbrio perfeito um do outro.
Ele me fazia não levar as coisas tão a sério o tempo todo, enquanto eu
o ajudava a refrear suas emoções quando preciso.
Claro que já cometi muitas loucuras na adolescência mesmo com o
senso de responsabilidade presente, mas o ponto é que, eu sempre fui
paciente, passional e um pouco calculista. Sempre meticuloso, mentalizando
e fazendo hipóteses dos prós e dos contras do que poderia dar errado antes de
tomar uma decisão. Nunca me desespero e me deixo levar nos momentos
cruciais.
E a verdade é que apesar de tudo isso, minha paciência já está se
esgotando e estou chegando ao meu limite em se tratar da morena que passa o
bronzeador de maneira tentadora por seu corpo.
Hoje está completando três dias do meu sofrimento e tormento.
No dia seguinte daquele jantar caótico em que ela cometeu o deslize
de dizer que já viu uma de minhas cuecas, fui despertado por seus gritos no
andar debaixo da casa. Estava cantando uma música em inglês que não
consegui identificar qual era e fui surpreendido por um banquete de café da
manhã na sala de jantar, que a mesma estava preparando.
Pelo que parece, ela realmente possui apreço pela arte da culinária, e
mesmo um pouco distante venho notando nesses dias que se passaram, que
sempre que pode está com a barriga colada ao fogão.
Passei dois dias fugindo de sua presença, aproveitando que já havia
dito a Pedro que apesar de ter conseguido essas férias, ainda precisaria
permanecer presente online para quando acontecesse algum problema, e algo
divino resolveu interceder por mim, porque passei os últimos dois dias
praticamente preso no quarto.
Participei de incontáveis chamadas de vídeo, resolvendo problemas
com o financeiro de uma de nossas franquias do Canadá, lendo e assinando
contratos dos nosso hotéis em Bordeaux, definindo como será feita a
inauguração deles, e estive até em reunião com o meu ex-sogro, Luxemburgo
Sanderson, juntamente de William Richards, um juiz importante que trabalha
diretamente da cúpula do presidente dos estados Unidos, com todos os
políticos influentes.
Pedro e Roberta entenderam perfeitamente toda a situação e me
perdoaram por estar ausente, apenas aparecendo nos jantares e eu claro, dei
graças a Deus por ter escapado dos olhares aguçados de Maria Eduarda, que
sequer disfarça quando me come com os olhos.
Mas agora que todas as situações emergenciais foram resolvidas,
estou sentado numa cadeira reclinável, no fundo da casa, que
coincidentemente, é uma das praias mais lindas e reservadas de Florianópolis.
Por conta do calor, o lugar está com algumas pessoas, mas com um
número muito baixo por conta da localização. Acredito que poucos saibam da
existência dessa praia e seus caminhos para chegarem aqui.
Minha cabeça está estourando de tanta dor e apesar de eu ter dito a
Pedro que o motivo foi o estresse das reuniões às pressas que participei esses
dias e todos os problemas que surgem no trabalho, na realidade é só a culpa
me consumindo.
Outra coisa boa que essas reuniões me trouxeram, foi o fato de que
não pensei tanto na merda que fiz no fim de semana passado.
Sempre que olho para Pedro me lembro de como contei a ele sobre
como a transa com a garota da balada foi boa e agora só consigo imaginá-lo
socando minha cara e me expulsando de sua casa a chutes se descobrir de
quem eu estava falando.
Entretanto o que está me fritando os neurônios agora, é que mesmo
com o sentimento de culpa presente, ainda não consigo desviar os olhos do
corpo de sua filha.
Eles a acompanham esfregar o produto oleoso por suas pernas,
apoiadas uma de cada vez em sua cadeira e meus orbes seguem suas mãos
passando de suas panturrilhas até chegar a sua bunda. Ela acaricia o local
lentamente, e preciso respirar fundo diante do que vejo.
Por sorte estou com óculos escuros de sol e não conseguem ver onde
meus olhos estão.
É claro que não me esqueci do quão bonito seu corpo é, mas sequer
pensei que iria vê-lo outra vez e agora estou aqui, à luz do dia, vendo a filha
da mãe em um biquíni minúsculo de um verde vibrante, enquanto me provoca
silenciosamente.
Ocasionalmente vejo seus olhos em mim, e quando o faz, ainda tem a
ousadia de sorrir de canto.
É claro que deve imaginar onde meu olhar está.
Se eu realmente pudesse, não pensaria duas vezes antes de arrastá-la
casa adentro para meter em sua boceta gostosa enquanto a ouço gargalhando
vitoriosa.
Mas então seu pai solta um comentário ou outro, atraindo minha
atenção de volta para si e me lembro de quem se trata.
Ela finalmente termina o que estava fazendo e se senta na cadeira,
puxando o cooler pesado para perto de si.
Ouço seu pai comentando sobre o jogo passado, mas minha
verdadeira atenção está em sua filha, que tira uma Corona de dentro e abre
sua tampa sem esforço algum. Meus olhos ficam vidrados no caminho que o
gargalo faz até sua boca e meu pau pulsa quando a safada me olha de canto,
lançando uma piscadinha antes de abocanhar a garrafa, tomando um gole
generoso da cerveja gelada.
Pigarreio algumas vezes quando ela deixa algumas gotas da bebida
cair em seu corpo. As gotas caem em seu colo e descem vagarosamente até a
região do cós de sua calcinha.
A vejo passar os dedos ali e caio no erro de imaginar como iria adorar
limpar eu mesmo, com a minha língua, sentindo o sabor amargo da bebida se
mesclar com o salgado de sua pele sedosa.
Droga! O que eu estou pensando?!
Mal a vi nos últimos dois dias e em apenas algumas horas em sua
presença ela já está quase me levando ao limite.
— No que tanto pensa?
— Na loucura que estou quase cometendo. — Respondo Pedro no
automático e logo percebo minha bola fora quando ele abre um sorriso
sacana. — Quer dizer, esquece.
Ele puxa minha cadeira para mais perto da sua, me entregando mais
uma cerveja nas mãos.
— Sabe que é impossível. — Ele sorri — Marcos Freitas quase nunca
comete loucuras, então é claro que preciso saber do que se trata.
— Não vai querer saber, é só uma estupidez que me vem no calor do
momento. — Tomo um gole, desviando meus olhos para o mar. — Nada com
que tenha que se preocupar.
— Seja o que for, te dou meu apoio. — Volto a encará-lo,
estranhando sua fala. — Convenhamos que o fato de você estar tirando férias
após não sei quantos anos sem fazê-lo, se trata de um milagre.
— O que isso tem a ver com o que eu disse?
De canto de olho posso ver Maria Eduarda conversando com a mãe,
onde as duas apontam para alguns locais da praia.
Por que minha atenção é puxada para ela a toda hora? Tô ficando
cansado disso porque sinto como se meu autocontrole se esvaziasse mais a
cada vez que meus olhos passam por ela.
— É um sinal de que voltou a viver a vida como ela deve realmente
ser vivida. — Ele brinda nossas garrafas. — Você é sempre tão controlado e
calculista com absolutamente tudo que faz, apoio se jogar ao momento e
viver na emoção de vez em quando.
Não apoiaria se soubesse que jogar meu autocontrole pelos ares,
significaria comer sua filha bem debaixo do seu nariz.
— E se assim… — pigarro uma vez, ensaiando nos meus
pensamentos o que vou falar. — Se por acaso, o que eu estiver pensando em
fazer, te desagradasse?
O assisto franzir a sobrancelha.
Sei que pareço uma criancinha preocupada com o que o pai vai achar
se souber que acabou matando aula, mas a verdade é que desde que nos
conhecemos no jardim de infância, Pedro se tornou como um irmão mais
velho para mim. Sua família se tornou a minha e devo muito a eles,
consequentemente, sua aprovação para as coisas que realizo, nunca deixaram
de ser relevantes desde então.
— Por que me desagradaria? — Ele abre um sorriso. — Sabe que
poucas coisas me deixariam nesse estado.
— E se eu estivesse pensando em entrar em contato com a garota da
balada de sábado.
Ele cospe o pouco da bebida que havia acabado de levar à boca e
volta o olhar para mim. O que antes possuía um sorriso divertido e acolhedor,
agora posso ver suas sobrancelhas unidas em uma expressão furiosa.
— A dor de cabeça está afetando seu cérebro? — Tento relaxar meu
corpo na cadeira, encostando a cabeça no encosto para fugir de seu olhar. —
Você sequer tem a certeza de que ela era de maior e ainda me admitiu quando
estávamos vindo do aeroporto para cá, que apesar de ter sido uma foda
incrível, foi uma loucura que não cometeria nunca mais.
— Acabou de dizer que apoia minha nova impulsividade. — Meus
ombros tensionam, sentindo a culpa pesar outra vez. — Só estava
pensando…
— Pois não pense. — é a minha vez de franzir as sobrancelhas para
ele. — Quer dizer, pense justamente como o Marcos calculista e responsável
que sempre foi. A garota tinha idade para ser sua filha — na verdade, sua
filha. —, não faz ideia de que tipo de pessoa ela é. Acho até que está
precisando de algumas aulas com a Dudinha.
Meus olhos se arregalam e assim que ouve seu nome, a morena estica
o pescoço em nossa direção, louca para ser inserida na conversa.
— O que tem eu?
— Precisa dar umas aulas para Marcos. — Ela abre um sorriso
malicioso em minha direção e sinto perder o fôlego diante do olhar que me
lança.
Estou começando a pensar que tenho medo desse olhar.
Me faz ter vontade de jogar tudo para o alto e me enterrar nela até
cansar.
— Sei muitas coisas que poderia ensinar a ele, pai — ela suspira
enquanto segue me olhando. — Precisa ser mais específico.
— Como é aquilo que sempre fala quando passa a noite com alguém?
— Pedro questiona a filha. — Uma foda boa é só…
— Uma foda boa só vai ser outra foda qualquer depois da próxima
boa foda — ela pisca para mim e o seu pai ergue a garrafa, como se brindasse
a fala. — Sou muito sábia, eu sei.
Ela beija seu ombro desnudo e preciso desviar a atenção dela.
— Exatamente! — Pedro se volta para mim outra vez. — Só precisa
parar na cama de outra, que vai parar com esses pensamentos absurdos.
— Agradeço o conselho. — Olho para ele com tédio. — Com certeza
agora…
— Mas por que a pergunta, pai? — a enxerida tem a ousadia de se
levantar e trazer sua cadeira consigo até se sentar de frente para o seu pai. —
Marcos não está conseguindo esquecer da última foda que teve?
Ela olha do pai para mim com curiosidade e posso jurar ver seus olhos
brilhando diante de sua constatação.
Agora sim estou ainda mais fodido.
— Não está apaixonado, está Marcos? — É vez de Roberta arrastar
sua cadeira até nós, o que faz com que Maria Eduarda coloque a sua bem em
frente à minha, dando espaço à mãe. — Pensei que nunca mais veria isso
depois da última vez.
— E não verá, Roberta. — Ela faz um biquinho diante da minha
resposta. — Foi só loucura de uma noite, que com certeza não pretendo
repetir.
De canto de olho posso ver o risinho da morena se transformar em um
bico magoado, mas ela logo solta uma gargalhada.
— E mesmo com essa certeza, está pensando na mulher e na
possibilidade de tê-la de novo há quanto tempo? — filha da mãe. — O chá
deve ter sido muito bom ao ponto de fazer um vovô como você, ficar
encantado com ela mesmo após alguns dias.
No momento não consigo dizer se a cor some do meu rosto ou se eu
poderia ser comparado com um tomate, a única certeza que tenho é de que as
palavras travam na minha língua e não consigo sequer me expressar.
Essa garota tem o poder de me calar e de fazer minha pressão baixar
numa proporção absurda.
— Maria Eduarda, olha o respeito. — Roberta chama a atenção da
filha enquanto Pedro a olha igualmente bravo. — Marcos vai cansar de nos
ouvir pedindo desculpas por sua causa.
— Desculpem, sabem como sou quando pego intimidade. — Ela de
ombros, tomando mais um gole da cerveja, deixando claro o prazer que sente
ao tomar a bebida. — Vamos passar o verão todo juntos, é melhor ir se
acostumando.
Sua última fala é direcionada a mim com um sorriso angelical, como
se estivesse pedindo desculpas.
Como se acostumar a ser fodido por uma garota, e com o medo de
sempre que estamos no mesmo lugar, acabar o dia levando um soco do meu
melhor amigo?
O assunto logo é desviado quando uma criança passa espirrando água
com uma arminha de brinquedo em Maria e sua mãe vem logo atrás pedindo
perdão.
Mesmo fazendo o máximo para não olhar em sua direção, não
consigo evitar prender meus olhos em seu rosto quando a diaba sorri para a
criança e passa a conversar com a mesma.
A filha da mãe se levanta e ouço Pedro dizendo algo sobre marcamos
uma viagem juntos, mas minha atenção verdadeira está em sua filha, que
após se levantar, começa a correr com a criança, brincando com ela como se
fossem íntimas.
Porra, Marcos, o que está fazendo?
— Mal começamos essas férias e já está querendo me foder com outra
viagem? — tomo um gole da cerveja trincando e ele ri um pouco.
— Pare de ser um bebe chorão, Marcos. — é a vez de Roberta me
cutucar. — Precisa gastar seus milhões antes que morra, tem que aproveitar
ao menos um pouco de tudo que conquistou.
— E quem disse a senhora, que eu não usufruo de tudo? — ergo uma
sobrancelha em questionamento. — Só sou discreto.
Ambos chacoalham a cabeça e numa sincronia perfeita e estranha,
bebem da garrafa que tem em mãos. Casais sincronizados assim são
apavorantes.
Por um pequeno instante, procuro Maria Eduarda com os olhos e me
recrimino quando aprecio suas curvas enquanto corre em nossa direção com a
arminha de brinquedo em mãos.
Franzo o cenho quando a vejo apontando em nossa direção, mas antes
que eu possa fazer qualquer coisa, todos os meus pensamentos são
interrompidos por jatos de água salgada, que chegam a derrubar meus óculos
do rosto.
Ela acerta tanto aos pais quanto a mim, gargalhando feito criança
enquanto seus pais a xingam e eu apenas tento, irritadiço, secar a água que
escorre pelo meu rosto, já que no corpo ela foi muito bem vinda devido ao
calor.
Essa garota é sem noção, age feito criança.
Não, ela faz até pior.
Finalmente consigo secar meus olhos, que ardem por conta do sal, e
quando consigo os focalizar, vejo Pedro correndo atrás da filha. Ele a pega
pelos pés e joga seu corpo nas costas, como um saco de batatas, indo em
direção ao mar.
A morena larga a arminha enquanto gargalha e sequer faz esforço
para se soltar, adorando a situação e até mesmo quando Pedro a joga nas
ondas, ela parece feliz ao ter o corpo lavado pela água do mar.
Me assusto quando Roberta se levanta e sai correndo em disparada até
eles, tentando derrubar o marido, que como o maldito cachorrinho que é,
finge cair para agradar a mulher, que logo é molhada pela filha.
Segundos atrás estavam xingando a garota e agora estão
protagonizando uma cena de novela das sete.
São uma família comercial de margarina, isso sim.
Quanta amargura, Marcos.
Só está com inveja do que seu amigo conseguiu construir e manter,
diferente de você, que deixou isso escorrer entre os dedos.
Meu olhar não se desvia deles, e logo James vem em meus
pensamentos. Ele adorava quando íamos juntos à praia e era doido para
aprender a surfar. Dizia que pintaria os cabelos de loiro e viveria como os
surfistas que adorava fotografar.
A realidade se tornou bem diferente disso.
Como será que ele está?
Testando seu anjo da guarda em cima daquela monstruosidade, ou
tentando matar a mãe do coração com suas rebeldias? Acho que as duas
opções dão na mesma.
Me odiando, com certeza.
Sou tirado dos meus devaneios quando a família feliz retorna
correndo em direção a casa.
— A água estava mais gelada do que previmos, vamos correr pra água
quente! — Pedro grita já quase chegando na escadaria que leva a sua
varanda, agarrado Roberta em um abraço.
O idiota está no Sul e não quer que a água esteja gelada, só Pedro para
pensar algo assim.
Maria Eduarda se aproximou pegando sua toalha e me odeio por não
desviar nem por um segundo, os olhos de seu corpo enquanto ela o seca.
— Se está querendo de novo, é só saber pedir. — Sua voz é risonha e
encontro um sorriso em seus lábios. — Eu não me faria de santa e nem
sonharia em negar.
Solto um suspiro exalado e levo minhas mãos até os cabelos, o
esfregando.
— Se escondeu todos esses dias, mas acho que não vai mais conseguir
fugir tão fácil de mim. — Ela se aproxima e para ao lado da minha cadeira,
me levando a inclinar o rosto para enxergá-la, por estar recostado. — Não
vou implorar por você, mas vai ser delicioso te ouvir pedindo por mais do
que fizemos naquela noite.
— Não sabe o que está dizendo, Maria Eduarda. — Minhas mãos
suam de nervosismo, com medo de que minhas ações sejam diferentes do que
minhas palavras. — Não vamos repetir nada e para o nosso bem, é melhor
que esqueça do que aconteceu, assim como eu mesmo já o fiz.
— Pare de ser tão mentiroso! — ela força uma risada. — Te conheço
há pouquíssimo tempo, mas vejo que não combina com você. Consigo ver e
até sentir que seu corpo exala o oposto do que sai dessa sua boquinha. — Ela
sorri daquele jeito que me fez cair em sua armadilha e se aproxima até seu
rosto estar a milímetros do meu, fazendo nossas respirações se encontrarem.
— E mesmo sendo completamente broxante, preferia quando me chamava de
“Sweet.”
Antes que eu pudesse reagir, ela cola nossos lábios em um beijo
rápido, que mesmo durando segundos, me faz sentir sua textura macia,
gostosa e muito tentadora.
Me assusto com a atitude e assim que ela se afasta sorrindo
diabolicamente, me levanto com o coração acelerado, olhando em direção a
casa para saber se seus pais presenciaram isso.
— Não se preocupe, vovozinho. — Ela atrai a minha atenção e
quando vai em direção a arminha largada no chão. — Sei muito bem o que
faço e quando faço!
Ela grita a última parte já longe, devolvendo a arma a criança que
estava brava por praticamente ter sido furtada e vislumbro sua bunda perfeita
enquanto sinto meus lábios formigarem pelo beijo, e meu cérebro entra em
curto circuito por ter sentindo seu perfume tão perto outra vez.
Merda de férias, quem me convenceu a essa ideia ridícula?
Uso todo meu autocontrole, quase inexistente, para não pular no
pescoço de Marcos.
Ele fica tão gostoso na pose de empresário sério. Olha só esses braços
fortes e essa mão grande segurando o celular com raiva, os olhos fulminando
algo que lê no notebook apoiado na mesinha de centro da sala. Admiro ele
respirar fundo antes de fechar os olhos e finalmente digitar algo no aparelho
em mãos.
Com certeza alguém fez uma merda muito grande para ele estar tão
puto, e eu pagaria a pessoa para deixá-lo assim mais vezes, só para ter essa
paisagem em minha frente.
Fala sério, o homem já é lindo de morrer, e quando está com essa
carranca fica ainda mais gostoso. Eu lamberia ele todo agora mesmo e ainda
agradeceria pela honra.
Acredito que chego a passar minha língua sobre os lábios alguma vez,
tentando me lembrar de como foi ter os seus por míseros dois segundos
quando o beijei rapidamente mais cedo.
Quando o fiz, jurei ter visto seu rosto passar para um vermelho sangue
por tamanho medo e preocupação, apesar de saber que desejava ter
aprofundado aquele beijo.
Venho notando como quase não consegue evitar olhar para mim. Até
tentou fugir da minha presença, mas uma hora ou outra ele teria que conviver
conosco e seu trabalho não seria mais uma desculpa.
Assisto-o comprimir os lábios um no outro e solto um suspiro audível,
atraindo sua atenção para mim, do outro lado da sala.
Seus olhos recaem diretamente em minha boca, e sorrio em sua
direção, tentando fazê-lo enxergar que essa ideia de fugir não vai durar muito
tempo.
Quero ele em minha cama, preciso ser fodida por ele ao menos mais
uma vez.
Lhe lanço beijinho no ar e tenho privilégio de vê-lo puxando o ar com
força, como se apenas com essa minha ação, todo o oxigênio fosse tirado de
seu arredor.
— Nem consegue disfarçar que me deseja, e ainda teve a cara de pau
de mentir olhando em meus olhos? — minha voz é quase um sussurro e tenho
o prazer de vê-lo revirar os olhos, todo bravinho. — Covarde.
Suas sobrancelhas se franzem em raiva e mesmo quando ameaça se
levantar e vir até mim, sua consciência deve berrar, pois no mesmo segundo
que se levanta, cai sentado de volta no sofá.
Deixo uma risada leve escapar enquanto eu mesma vou ao seu
encontro e com seus olhos preocupados me acompanhando a todo instante,
não penso muito quando apenas me sento ao seu lado e seguro seu rosto com
as mãos. Sinto sua pele quente e seus olhos se desesperam ao olhar em volta.
— O que pensa que está fazendo? — ele leva as mãos às minhas, mas
ao invés de tirá-las apenas segura com força ali, mostrando como seu corpo
age diferente do que diz. — Ficou maluca de vez?
— Tente pensar um pouco menos, Marcos.
Seu olhar finalmente foca no meu após a minha fala e sorrio de canto
antes de matar minha vontade e selar nossas bocas em uma só. Sinto que ele
prende a respiração com força diante da surpresa de minha ação, e logo estou
passando minha língua em seus lábios, tentando aprofundar o beijo.
Ele não cede, mas também não me solta em momento algum, como se
pensasse no que deve fazer, então vou deixando pequenos beijos em sua boca
e rosto, descendo até sua orelha.
— Um beijinho nunca matou ninguém, apenas relaxe. — Sussurro e
deixo um beijo molhado em seu maxilar, o levando a suspirar alto, se
permitindo de uma vez a essa maluquice.
Duda 1 x 0 Marcos
— Essas férias vão me foder tanto…
Sua voz é apenas um murmúrio antes dele procurar minha boca com a
sua e logo nossas línguas estão se encontrando de maneira explosiva. Chego a
perder o fôlego por conta da intensidade do beijo e meu coração dispara ao
sentir seu gosto outra vez. Eu com certeza poderia repetir isso todos os dias
até cansar.
Para minha tristeza, o paraíso dura pouco, pois logo estou sendo
empurrada para longe de seu corpo, logo quando minhas mãos desciam de
encontro ao seu peitoral.
Caio deitada na extensão macia do sofá e sorrio contente ao vê-lo
andando de um lado ao outro pela sala, com os dedos sob os lábios levemente
inchados, fechando os olhos como se pedisse uma intervenção divina, até
ouvir passos na escada e os arregalar em choque.
— Filha, sua tia e avós acabaram de chegar. — A voz estridente de
minha mãe invade a sala enquanto ela desce as escadas. Time perfeito. —
Vamos ajudá-los com as malas.
Você não perde por esperar, Marcos Freitas.
Pisco para o homem inquieto enquanto me levanto e assinto, indo em
direção a porta de entrada, ouvindo a euforia da minha pequena família do
lado de fora, e um sorriso de felicidade genuína se abre em meu rosto.
Posso contar nos dedos de uma única mão as coisas que
verdadeiramente me fazem feliz e realizada, e com certeza minha família está
entre eles. Bom, ao menos o lado paterno, e isso já é tudo que preciso.
Ouço Marcos falando algo com a minha mãe, ou melhor tentando, já
que gagueja de nervosismo, sobre ter ficado surpreso quando meu pai lhe
contou sobre a filha de minha tia Carina, como nunca pensou que ela teria
filhos um dia, e não consigo deixar de pensar que ele realmente conhece
muito bem todos que cercam a vida do meu pai, me intrigando novamente
sobre o motivo de ter perdido contato com quase todos de forma tão bruta
depois que se mudou para os Estados Unidos.
Assim que desço correndo as escadas largas da fachada da casa, ouço
meus avós brigarem comigo, para que eu tomasse cuidado ao correr ali. Mal
tenho tempo de lhes responder, porque logo sou atacada por um pequeno
furacão loiro.
— Dada! — Maria Eloisa pula em meu colo, como se ela ainda fosse
um bebê fácil de se carregar. — Nem deveria estar falando com você, mas
senti muita saudade.
Seus bracinhos circulam meu pescoço e logo tenho meu rosto atacado
por pequenas beijocas.
— Também senti saudade, amorzinho. — Deixo um beijo longo na
testa da garotinha que me ensinou a amá-la como uma irmã mais nova —
Mas posso saber o porquê nem deveria estar falando comigo?
Ela logo cruza os braços, me olhando de maneira debochada. Se não
fossemos primas, poderíamos facilmente ser confundidas como irmãs, já que
ela é minha cópia fiel. Tia Carina está tão fodida com essa aqui.
— Porque me deixou no vácuo, né Dada. — Ela revira os olhos e bufa
como um adolescente. — Te mandei mensagens pelo celular da mãe e até da
vovó, mas você não respondeu ninguém, poxa.
Faço uma careta de quem foi pega fazendo merda.
— Desculpa, Elô, esqueço de ver as mensagens então é mais fácil me
ligar quando a saudade apertar muito.
Ela suspira assentindo enquanto pede para descer do meu colo, e
quando sou abraçada por meus avós, ouço a pequena correndo em direção a
minha mãe.
— Ah, então a filha de Carina ainda é só uma criança? — me viro ao
ouvir o comentário de Marcos, que parece aliviado pela constatação. — Oi,
pessoal.
Ele acena para todos, que possuem expressões de surpresa, já que meu
pai decidiu não contar da presença do velho amigo da família.
O dito cujo aparece atrás da minha mãe, gritando “surpresa” e
dizendo que realizou um milagre ao trazer Marcos de volta.
Logo sua encenação teatral é interrompida quando minha vó corre até
nosso hóspede com os olhos cheios de lágrimas. Ela o envolve num abraço
bem forte e para minha surpresa, vejo Marcos retribuir o gesto com tanto
afeto quanto recebe.
De canto de olho vejo meu avô fungar enquanto sorri olhando a cena,
e até a tia Carina parece boquiaberta e um pouco chorosa.
— Quanta saudade que sentimos de você. — Minha vó diz chorosa
após se soltar enquanto segura seu rosto. — Muitas coisas mudaram nesse
rostinho, mas o sorriso tímido continua igual.
Ele solta uma risada um pouco alta e logo minha tia Carina, corre para
abraçá-lo também.
Tudo bem que eles cresceram juntos, amigos de infância e tudo mais,
mas preciso descobrir qual o verdadeiro passado que Marcos possui
compartilhado com a minha família. Meus avós não choraram nem quando
ficaram mais de quatro anos sem ver as próprias netas porque estavam num
mochilão por esse mundo, e agora estão chorando por um vovozinho que,
pelo que parece, virou as costas para eles.
Droga, agora além de levá-lo para cama, vou ter que desvendar seus
segredos.
— Tia, o que está fazendo?! — meu grito urgente assusta a loira, a
levando a parar o desastre que estava prestes a fazer. — Por que está jogando
as raízes do alho poró no lixo?
— Porque o que você vai usar no risoto já está todo cortado ali na
praça onde me designou. — Ela aponta para um local da bancada da cozinha,
onde está cortando todos os alimentos que vou usar para preparar o risoto de
limão siciliano. — Guardei as folhas no congelador para o seu caldo e isso
aqui é inútil.
Ela aponta as raízes e volta a aproximá-las da lixeira.
— Pare agora o que está fazendo, steward[3]. — Aponto para ela com
a faca em minha mão, que utilizava para cortar o salmão, — Pode reservar
elas em algum pote na geladeira, posso fritá-las e ficam uma delícia.
Ouço seu suspiro, mas ela assente, fazendo o que lhe pedi e noto que
todos pararam o que estão fazendo para olharem a cena.
— Vamos, equipe, esse risoto e esse salmão grelhado não vão ficar
prontos sozinhos, com vocês apenas me olhando. — Bato a faca de leve no
mármore da pia e sorrio ao ver todos voltando às praças[4] que lhes designei.
— Muito bem.
Posso ver até Marcos ajudar minha mãe com o molho da salada
enquanto me olha de maneira estranha. Já estou acostumada com seus olhares
de desejo e até mesmo me acostumei com o pânico em seus olhos, mas esse
que me lança agora poderia ser interpretado como intrigante. É como se
tentasse entender o que se passa em minha mente.
Provavelmente está se perguntando o porquê de eu ter separado toda
minha família em equipes dentro de uma cozinha um pouco apertada a julgar
pelo número grande de pessoas, como se estivéssemos na cozinha de um
restaurante.
Bom, se ele pudesse abrir minha cabeça com uma faca de ostras,
provavelmente encontraria todo amor que tenho pela gastronomia bem
guardadinho aqui dentro.
Sou completamente apaixonada por esse mundo desde pequena,
quando fazia bolos de lama para minhas amigas do jardim de infância
provarem, e quando completei dez anos, vovó começou a me ensinar a
cozinhar, pois dizia que se um dia eu dependesse dos meus pais, morreríamos
de fome.
Desde então fui pegando gosto pela culinária e meu momento
preferido da semana era quando estava com minha avó para testarmos uma
receita nova que eu ou ela havíamos descoberto. Conforme fui crescendo, fui
entendendo que assim como toda a arte, a culinária além de apreciada
também poderia ser aperfeiçoada através de estudos e técnicas, então passei a
pesquisar cada vez mais tudo que poderia aprender com a internet, enfiando
na minha cabeça que faria uma especialização na área assim que terminasse a
escola.
Depois do meu ano sabático após o ensino médio, ano passado
finalmente iniciei o curso de gastronomia e a cada aula teórica, onde aprendo
um pouco da história ou curiosidade de cada alimento, ou a prática de uma
nova técnica, meu coração se enche de certeza que estou no caminho certo.
Amo cozinhar, é uma coisa que vai além de explicações, mas se eu
pudesse tentar, diria que estar na cozinha, cercada pelas cores, sabores e
aromas dos alimentos, me acalentam a alma. Consigo me transformar em
outra pessoa quando estou cercada pelos utensílios que adoro utilizar para
criar novos sabores, como se existisse uma Duda fora e outra dentro da
cozinha, e claro, nada traz mais prazer para minha alma, do que ver os olhos
das pessoas brilharem ao provar algo feito por mim.
Essas pessoas atualmente se resumem aos meus amigos, familiares e
professores da universidade, mas um dia serão os clientes do meu restaurante,
e sei que nada vai me fazer mais realizada comigo mesma, do que receber
elogios sobre a minha maestria na gastronomia.
Volto minha atenção ao que estava fazendo, conferindo como está
indo cada uma das pequenas equipes que separei.
Adoro colocá-los para fazer algo, me sinto como se já fosse uma
chefe renomadíssima.
— O tio Pedro tá fazendo tudinho errado, Dada. — A voz sapeca de
Malu me chama atenção e olho para ela encontrando seu sorriso. — Estou
falando a verdade dessa vez.
— Confio no seu tio de olhos fechados quando se trata de grelhar o
salmão, Eloísa. — Ela ri animada apesar de ter feito bico por eu não ter caído
em sua pegadinha, só para ver eu brigando com meu pai.
— Dada? — o homem que tem invadido meus sonhos mais sujos,
pergunta confuso.
— Quando começou a falar, se recusava a pronunciar o “u” de Duda,
então ficou por isso mesmo até hoje. — Respondo enquanto lhe seco com um
olhar.
Nossos olhares não se desviam e preciso respirar fundo para voltar a
me concentrar onde minha atenção deve ser total no momento, mas não me
escapa quando ele devora meu corpo com seus olhos azuis, antes de suspirar
pesaroso.
Vou ter que encurralar esse animal medroso na calada da noite.
— Vô, aperta o play da caixinha de som, por favor!
Ouço muxoxos frustrados de todos e logo nossos ouvidos estão
estourando ao som de Reputation, segundo melhor álbum de Taylor Rainha
Swift e suspiro de prazer, pelas férias estarem indo a mil maravilhas.
Tento não fazer careta enquanto Pedro se ilude com suas falas,
sabendo que agora vai ser muito difícil dissuadi-lo do que pensa.
— Sabe que ela tinha uma quedinha por você no fundamental, não é?
— ele pergunta, certo da minha resposta e preciso confirmar com um suspiro.
— Então, por que não dá uma chance agora? Tenho certeza que ela ainda tem
um fraco por você, é a oportunidade perfeita para você esquecer aquela
garota da boate.
Ele aponta sua estratégia como se fosse a solução para todos os meus
problemas.
— Percebeu que está quase me implorando para usar sua irmã mais
nova como um objeto para esquecer outra mulher? — É impossível não
torcer minha cara desacreditada para ele.
Pedro endireita a postura na cadeira e leva a mão à boca, como se só
agora tivesse se dado conta do que acabou de falar.
— A gente pode fingir que eu não disse isso de uma forma tão
escrota? — assinto, fechando meus olhos. — Obrigado.
Sinto ele dar alguns tapas em minha coxa.
— Mas falei sério, adoraria te ter na família de forma mais efetiva e te
ter como cunhado seria incrível. — Sorrio, pensando que com certeza isso
não faria diferença alguma, já que nos tratamos como irmãos desde que nos
conhecemos. — No que tanto pensa?
— No fato de que não preciso ficar com a sua irmã para sermos
família, seu idiota. — Abro os olhos, encontrando seu sorriso. — Sabe que
falo sério, nosso passado prova isso.
Compartilhamos um olhar significativo, que prova que os mesmos
pensamentos que passam em minha mente, devem passar pela dele.
Lembranças de quando ele e sua família estiveram nos piores momentos da
minha vida. Seja me aconselhando, puxando minhas orelhas ocasionalmente
ou me abrigando quando tudo parecia complicado demais em casa.
Nunca poderei retribuir tudo o que fizeram por mim no passado e
quando penso que, mesmo sem intenção, acabei me afastando daqueles que
me acolheram quando todos pareciam me dar as costas, sinto uma vontade
real de me socar a cara.
Acredito que essas férias, mesmo a contragosto de início, seja a
maneira que a vida esteja jogando na minha cara que preciso consertar alguns
erros passados, me reconectar com aquele Marcos e com tudo que era
significativo para ele.
Com o tempo, deixei os problemas do cotidiano me afastaram de
tudo, até de mim mesmo.
— Eu sei, mas isso não significa que você não seria um ótimo
padrasto para a Malu. — Ele sorri divertido — O que achou da pequena?
Suspiro aliviado quando me lembro da garotinha loira, que me
recebeu como se já fossemos conhecidos. Toda falante e extrovertida assim
como a família, e com certeza puxou a prima, pois assim como a mesma,
percebi que não possui filtro algum quando me confidenciou ter me achado,
nas palavras dela, bonitão.
Confesso que quando Pedro me contou que sua irmã e pais estavam
vindo por alguns dias e que a família tinha uma integrante ainda não
conhecida por mim, senti minha pressão se elevar um pouco, ainda mais
quando ele fez questão de dizer que a irmã escolheu o nome da filha para que
combinasse com o da prima, dizendo que as duas eram como carne e unha.
Tive medo que uma Maria Eduarda 2.0 estivesse a caminho e eu
sofreria com as duas falando sobre mim às escondidas, como amigas
confidentes. Acho que até cheguei a imaginar a garota chegando e rindo na
minha cara, dizendo que não vou conseguir escapar das garras da prima.
Por sorte, Maria Eloisa é apenas uma criança de sete anos, muito
esperta para idade e com certeza, fã número um da prima mais velha.
— Um amor de criança. — Volto minha atenção a Pedro, que
aguardava uma resposta.
— Ela foi a luz e a salvação de Carina. — O olhar dele se torna
distante, como se lembrasse de como as coisas eram antes dela nascer. —
Quando aquele traste que sequer merece ser chamado de pai, a largou como
uma qualquer ao descobrir a gravidez, pensávamos que Carina se afundaria
de vez, mas foi o contrário. Ela encontrou forças para lutar pela pequena.
Pelo que lembro das poucas vezes que Pedro falava sobre a irmã, ela
estava em uma relação pra lá de abusiva com o antigo namorado, que
aparentemente a abandonou depois de descobrir a gestação. Não consigo
entender por que os homens fazem isso, como possuem a coragem de
abandonar um ser tão indefeso quanto um bebê.
Bom, não que eu possa ser um exemplo grandioso quanto a isso.
Pedro volta seu olhar preocupado para mim, notando como meu
semblante caiu de repente.
— Falando nisso. — Ele pigarreia. — Não que você possa ser
comparado com o progenitor de Malu, mas, como está James? Ou melhor,
como está a relação de vocês?
— Nos falamos pela última vez há seis meses, ou oito… nem sei mais
quanto tempo faz. — apoio meus cotovelos no joelho, inclinando meu corpo
enquanto passo as mãos pelo rosto, sentindo minhas costas pesarem. — Hoje
Cassandra me ligou cerca de três vezes, e rejeitei todas elas. Sei que sou um
merda, mas sinceramente, não quero ouvir os problemas que ele vem
causando agora.
— Você sabe o que penso sobre tudo isso e em como eu torço para
que se acertem antes que seja tarde demais. — Ele franze os lábios. — Até
pensei em lhe dizer que o trouxesse junto, mas tem que ser uma coisa sincera,
partida de você. — Sua mão alcança meu ombro, dando batidinhas de apoio.
Sei que sou um pai de merda, assim como sei que não faço nada para
tentar mudar esse fato, mas ultimamente James vem passeando tanto por
meus pensamentos, que venho pensando seriamente em ir atrás do moleque
para saber o que anda acontecendo.
Dizem que pais possuem aquilo de sentir quando o filho está
precisando de ajuda, e é claro que penso no meu filho sempre que minha
cabeça esvazia dos problemas do trabalho, mas recentemente, pensar nele
vem me trazendo um aperto estranho no peito, como se o tempo de eu
consertar minhas merdas com ele, estivesse se findando ou algo assim.
— Pode ser que eu ligue para ele por esses dias. — Ergo o rosto a
tempo de ver Pedro comprimindo os lábios em um sorriso — Só para saber se
está precisando de alguma coisa, já que da última vez que o imbecil me ligou,
foi para tirá-lo da cadeia e o mandei não me ligar mais depois de tirá-lo
daquele lugar.
Pedro não consegue disfarçar o riso.
— Como vocês puderam criar uma pessoa completamente oposta a
tudo que vocês são?
— Não tenho ideia, amigo. — Suspiro, olhando para o horizonte onde
o sol se põe. — Talvez tenha sido o fato de termos sido negligentes na
criação. Consequências dos nossos atos.
Nunca precisei esconder quem sou de Pedro. Nunca deixei de lhe
contar um mísero segredo que fosse, e até dos meus piores medos, defeitos e
erros, ele tem conhecimento. Mesmo não me orgulhando, ele sabe de cada
uma das falhas que cometi com James ao longo da vida.
Talvez ele esteja certo e eu precise ter coragem de tomar uma
iniciativa com relação a isso.
Caímos em um silêncio confortável, quando de repente um vulto
agitado de cabelos negros invade nosso espaço correndo, trazendo de volta
aquela ponta de Suspiro culpa que me assola.
Nunca escondi nada de Pedro em todos esses anos de amizade, mas
como vou lhe contar que fodi com sua filha e, pior ainda, que a beijei bem
debaixo de seu nariz e quando o fizemos, fiquei ainda mais louco para tê-la
de novo nos braços?
Volto a me encostar na cadeira, sentindo meu corpo todo vibrar
enquanto Maria Eduarda tenta tirar o pai de sua cadeira, aos puxões.
Fico apenas observando a forma com que interagem, me lembrando
do ato impulsivo que ela teve ontem. É claro que por um breve momento, eu
mesmo quase a puxei daquele sofá e invadi sua boca com a minha língua,
quando ouvi a palavra “covarde” sair dela.
Sei que ela notou que sim, a desejo e, sim, adoraria fodê-la outra vez,
mas aparentemente ela não se importa com o fato de ser filha do meu melhor
amigo. Ou é corajosa demais para realmente tentar algo comigo às costas
dele, ou estupida o suficiente para isso.
O que estou pensando? Essa garota exala ousadia por seus poros, eu
que sou estupido por ainda querê-la.
É, eu com certeza me encaixo na categoria da estupidez, já que
mesmo tentando lutar contra meus desejos, recebi de bom grado aquele beijo
e teria feito muito mais se sua mãe não nos interrompesse, mesmo sem
imaginar o que se passava naquela sala.
Ter a boca dela na minha outra vez, sentir seu gosto e a forma faminta
com que devorou meus lábios, só me fez pensar em cometer ainda mais
loucuras com ela.
Sentir seu sabor, ter sua boca se arrastando lentamente por minha
mandíbula até meu ouvido e ter sua pele contra a minha, só trouxe à tona a
vontade que estou de despi-la como fiz naquela noite. Me deixou na ânsia de
trilhar seu corpo de beijos e me afogar em seu perfume adocicado.
Sou controlado, sou centrado, tenho um juízo tremendo e sei muito
bem como tomar decisões sensatas, então porque não estou conseguindo
pensar com clareza quando se trata dela?
Sei que ela possui algo de diferente. Consegui notar isso logo quando
nosso olhar se cruzou naquela boate e foi ficando ainda mais claro depois de
trocarmos algumas palavras.
Talvez o que a torne atraente e viciante seja a maneira com que confia
em si mesma, ou seu olhar animalesco, que sempre que me fuzilam
transmitindo toda sua vontade, é como se lançassem uma corda invisível, que
me deixa sob seu domínio.
Seja o que for, acredito que me levará a loucura, pois estou quase
cedendo as minhas vontades, que são as dela também.
— Vocês ficaram fora o dia todo, e agora querem que eu saia a
procura de algo para comerem? — Pedro, que ainda reluta para ficar em seu
lugar, diz exasperado. — Pois você que trate de cozinhar alguma coisa.
— Pai, eu tô cansada! — ela solta o braço dele, cruzando os próprios
sob o peito coberto pelo biquíni preto. — Passei o dia todo jogando Malu
pelos ares naquelas ondas pesadas, não aguento segurar nem uma faca direito.
Pedro imita a posição da filha, como se não soubéssemos que fará a
vontade dela.
— E eu estou de férias, Maria Eduarda, inclusive de ser o seu chofer.
— O homem sorri enquanto a filha bufa irritada. Como consegue ficar
atraente até bicuda assim? Eu tiraria esse bico com uma mordida deliciosa. —
Marcos pode ir com você.
— Ei, espera! — acho que acabo falando alto demais, pois logo tenho
os dois pares de olhos castanhos me fitando com intensidades diferentes. —
Quer dizer, o que tem eu?
— É, não tinha pensado nisso. — A garota que acredito ter neurônios
a menos, abre um sorriso ladino enquanto me fita de corpo inteiro. —
Imagino que, saiba dirigir?
Ela sugere com uma malícia implícita em suas palavras, pois é claro
que sabe a resposta.
— Ele sabe sim. — Me assusto quando Pedro joga as chaves de seu
carro em minha direção. — Faça esse favor e ature Maria Eduarda por um
tempo em meu lugar.
Esse homem é um maldito cachorrinho que faz todas as vontades da
filha e da mulher, e justo agora está se recusando a seguir o roteiro de sua
vida?
— O-o que? Não! — Pareço desesperado, como me sinto? Devo
parecer pois a morena prende o riso mordendo o cantinho interno da boca e
Pedro me olha curioso. — Também tô cansado.
Finjo um bocejo, vendo meu amigo revirar os olhos e logo minhas
mãos são atacadas pela de Maria Eduarda, que me puxa para levantar.
— Vamos logo, pois estão todos morrendo de fome e vai ser difícil
achar comida boa aqui perto, então vamos ter que ir para o centro.
Acredito que entro em estado de estupor por conta do choque, pois me
deixo ser levado pela mesma, que me guia para dentro da casa, passando
pelos olhares de todos, até a porta.
Meu coração quase sai pela boca ao nos imaginarmos sozinhos em um
carro, mais precisamente na merda que podemos cometer, já que só de sentir
seu corpo próximo e inalar seu cheiro inebriante, me sinto tonto de desejo por
ela.
Isso não vai dar certo, porra!
— Eu r-realmente acho que não é a melhor ideia swe… — gaguejo
tentando fazê-la desistir disso, enquanto sou empurrado porta afora e meus
olhos saltam quando quase deixo escapar o apelido que lhe dei no primeiro
dia, o mesmo que ela fez questão de dizer ter achado broxante quando nos
reencontramos. — Peça a sua tia ou avô.
— Estão cansados do passeio de hoje. — Ela solta uma respiração de
profunda satisfação, e os pelos do meu pescoço se eriçam quando sinto o
calor dela, me levando a prender o ar. — Você e meu pai foram os únicos que
não foram com a gente. — A olho sobre o ombro e ela sorri tristemente,
como se lamentasse por isso. — E eu já perturbo meu pai demais, não é uma
pena que tenha sobrado para você?
Ela pisca aqueles cílios extensos de maneira excessiva, parecendo
uma caricatura.
Será que sabe que quando faz essas gracinhas exageradas, fica fofa
para caralho? Com certeza sim, e deve fazer por saber disso, já que quando
vejo seus olhos de gato de botas me fitarem, paro de relutar e ando
decentemente até o carro.
— Eu tô faminta, mas não consigo preparar nada hoje, e infelizmente
ainda não dirijo, então preciso de alguém que vá comigo. — Seu lábio
inferior salta para fora.
— Você é uma pedra no meu sapato, sabia garota?
Me solto de seus braços que ainda estavam em meus ombros, me
guiando.
— Adoraria estar em outro conjunto de suas roupas. — Ela passa por
mim, piscando e já não mais com aquela carinha fofa e inocente. — Vai ser
um prazer ter você como acompanhante para ir atrás da nossa comida essa
noite.
Involuntariamente, bato de levinho minha testa na porta do carro que
acabo de abrir, fechando meus olhos em uma prece silenciosa, para que Deus
me ajude a manter o pau nas calças durante essas férias, quando de repente
ouço a voz da minha salvação.
— Ei, Dada! — olhamos em sincronia para a loirinha que vem
correndo até nós, com um sorriso no rosto. — A mamãe deixou eu ir com
vocês, não é legal?
Meu sorriso é espontâneo e enorme.
Essa pequena criaturinha mal sabe que acaba de evitar que eu
cometesse um crime.
Ao menos, quem não consideraria crime agarrar a filha do seu melhor
amigo no carro dele?
— Tira essa mão daí, Maria Eduarda! — Sibilo pelo que imagino ser
a quarta vez em dez minutos ou menos. — Você está me testando e não vai
gostar nem um pouco do resultado disso.
Minha voz é um sussurro, apesar de saber que a pequena está distraída
com seu tablet no banco de trás, mas antes que eu pudesse conferir pelo
espelho retrovisor, a morena invade meu espaço pessoal, colando sua boca
em minha orelha.
— Eu compartilho de uma opinião contrária. — Sinto meu corpo
retesar quando ela deixa uma mordida leve no local. Por que mesmo entrei
nesse carro? — Vou adorar te levar ao seu limite.
Sua voz é igualmente sussurrada, carregada por uma sensualidade que
me faz sentir uma fisgada nas calças. A filha da mãe testa todos os limites
quando deixa alguns beijos no meu pescoço, soltando uma risada gostosa
demais para a minha sanidade, ao notar a força com que envolvo o volante do
carro.
— Por que não cede de uma vez por todas? — sua voz é manhosa e
logo minha mão encontra seu pulso quando a mesma inicia um carinho por
meus ombros — Ei, essa pegada me traz lembranças.
Tento de alguma forma empurrá-la para longe de mim, evitando
contato visual direto com ela, pois sei que se nossos olhares cruzarem, estarei
perdido.
— Sua prima está no banco de trás, garota, não tem medo? — olho
apenas de relance quando ela se endireita no lugar, com um suspiro divertido.
— Estou começando a acreditar no que seu pai disse sobre ter perdido alguns
parafusos quando ele te deixou cair ainda pequena.
— Ele adora essa história depois que finalmente tomou coragem de
nos contar. — Solta uma risada espontânea ao pensar no pai. — Acho
bonitinha a forma com que tenta se confortar por eu ainda ser um tanto
desmiolada mesmo após seus esforços na minha criação.
Meus olhos passeiam pela pequena, distraída com algum vídeo em
seu aparelho, já que também usa fones de ouvidos e logo volto a me atentar a
estrada, conferindo rapidamente se estou seguindo o caminho certo do
aplicativo de mapas que Maria Eduarda colocou para eu seguir.
— Não tem medo de decepcioná-lo ou de enraivece-lo? — minha
pergunta é carregada de seriedade, e vejo que pensa a respeito por um
momento.
— Não sei do que está falando. — Olho para ela, vendo um sorrisinho
de canto se abrir, mas noto como seus olhos estão sérios.
— Não se faça de sonsa, sei que é bem mais esperta do que isso. —
Ouço seu suspiro, mas ainda assim, ela não diz nada. — Já me provou que é
corajosa e inconsequente, mas não sente nem uma pontada de medo que ele
descubra o que fizemos? Ou que ele acabe nos pegando em uma dessas suas
ousadias?
— Ousadias essas, que você muito bem sabe que não vem mais
conseguindo resistir, não é? — o tom brincalhão volta a sua boca e ela volta a
depositar a mão em minha coxa. — Por que você tem tanto medo?
— Ele é o seu pai, Maria Eduarda! Meu Deus, eu tenho idade para ser
seu pai! — meu tom desesperado que sempre que estou tentando contra
argumentar com ela, contra as minhas vontades, volta a surgir enquanto faço
uma curva lenta para entrarmos na avenida Mauro Ramos. — Tem noção do
quanto dizer isso em voz alta soa tão errado e sujo?
— Não dizem que é melhor pedir perdão, do que permissão?
Ela aperta de maneira suave a região onde sua mão descansa, e sinto
como se estivesse tentando me confortar de algum modo e estranhamente traz
algum resultado, já que respiro fundo, seguindo o ritmo de seu suposto
carinho, tentando conter meus batimentos e a confusão dos meus
pensamentos a respeito do desejo que sinto por ela.
— Ele é o meu melhor amigo, fomos praticamente criados juntos,
porra, como não consegue entender o porquê de eu ter tanto medo?
— Seria apenas uma curtição passageira, Marcos, o que tem de errado
nisso? — ela exclama como se fosse simples. — Não é como se fossemos nos
casar nesses três meses, mas poderíamos tirar proveito desse tempo juntos e
ele nem sonharia com o que estamos fazendo.
Como ela consegue dizer essas coisas de forma tão tranquila?
Aparentemente não entra na cabeça dela o quão errado é o que nossos desejos
representam. É uma questão de ética e lealdade, porra!
— Tem noção de como estou usando todo meu autocontrole quando
estou perto de você? — meu tom de voz muda, como se uma raiva
subconsciente se apossasse de mim por ainda me manter tão controlado. —
Acha que se fosse simples eu já não teria te jogado sobre as costas e te
arrastado até um dos quartos daquela casa, pra te fazer minha outra vez? —
olho para ela a tempo de vê-la prendendo os lábios nos dentes. — Acredite
em mim quando digo que não é tão fácil, porque se fosse, não estaríamos
tendo essa conversa, Sweet.
Minha voz cai algumas oitavas, deixando explícito o meu desejo por
ela, que só aumenta quando a vejo pressionar uma coxa na outra, contendo a
excitação que deve sentir no momento.
— Da próxima vez me lembre de não deixar Malu entrar em um carro
em que estejamos juntos. — Sua voz é entrecortada e seu olhar é profundo,
antes de eu desviar os meus para a avenida. — Juro que se não fosse por ela
ali atrás, eu teria pulado em você agora mesmo, como da última vez.
— Confesso que agradeço a presença da garotinha, porque se não
fosse ela, eu já teria me enterrado em você na primeira vez em que colocou as
mãos em mim.
Ouço ela suspirar pesadamente enquanto solta um palavrão, antes de
me pedir que mude a rota, para irmos até um supermercado mais a frente.
Pelo que me disse, entre sílabas cortadas, provavelmente poupando
fôlego após nossa conversa sincera, nossos pratos já foram pedidos pelo
aplicativo do restaurante, é preciso apenas passar pegá-los e enquanto não
ficam prontos, ela precisa de alguns ingredientes do supermercado.
Faço o novo caminho em silêncio, ouvindo apenas alguns murmúrios
seus vez ou outra, acredito que minhas palavras a afetaram o suficiente para
que calasse a boca por algum tempo e talvez esteja digerindo o que lhe disse,
acho que até mesmo eu esteja fazendo o mesmo.
Ainda não acredito que lhe confessei em alto e bom tom, que se não
fossem as circunstâncias, já teríamos fodido outra vez. Não que ela não
soubesse, mas eu confessar é outra coisa, pois abre portas que eu preferia ter
deixado fechada.
Tenho certeza que depois desse nosso momento, agora que ela não me
deixa mais em paz e algo me diz que vai adorar ainda mais testar meus
limites.
Apesar de silenciosa, sinto seus olhares em mim, e sei que devo ter
entregado a arma que lhe faltava nessa caçada.

— Me recuso a passar essa vergonha, Maria Eduarda. — Cruzo os


braços, olhando em volta enquanto ela se coloca dentro do carrinho do
supermercado junto de Maria Eloisa. — Estou começando a entender porque
seu pai estava louco para se livrar dessa tarefa.
Passo uma mão pela testa, limpando um suor inexistente, e preciso
correr ao seu encontro quando a mesma passa uma das pernas para dentro do
objeto de rodas, e por não ter equilíbrio, quase vai ao chão.
— Você não tem um senso de autopreservação, garota? — me sinto
um idiota chamando sua atenção enquanto a seguro e mesmo sem intenção, a
ajudo com a tarefa. — Certeza que tem vinte anos?
Ela apenas deixa escapar um riso satisfeito enquanto se acomoda atrás
da prima, prendendo o corpo da pequena com seus braços.
— Estamos prontas para partir, Capitão! — ela fala como se estivesse
em uma navegação e meus olhos seguem as duas colocarem a mão sobre a
testa, como uma saudação. — Vamos, não temos tempo a perder.
Ela me olha como se eu soubesse o que fazer com suas ordens.
— Precisa empurrar a gente, tio! — a loira aponta para o passador do
carrinho, sorrindo com sua banguela perfeita para mim. — O mais rápido que
você conseguir.
Não acredito que estou passando por isso, puta que pariu.
Me posiciono e começo a empurrar o maldito carrinho, evitando olhar
para as pessoas que olham de forma estranha para a adulta dentro dele
Sinto que meu rosto começa a arder por tamanha vergonha, quando
elas me fazem entrar em um corredor lotado de gente. O que me salva do
constrangimento completo, é que as pessoas parecem não reparar em mim, e
sim nas gargalhadas que as duas soltam enquanto jogam as coisas de que
precisam dentro do espaço em que estão.
Agora entendo o que Pedro disse sobre as duas serem muito
conectadas, é por que Maria Eduarda possui a mentalidade de uma criança de
sete anos.
— Pode aumentar a velocidade dessa joça enquanto vamos até a
sessão de frios, capitão, ou teremos que demiti-lo — A morena me olha em
um tom desafiador, levando a pequena a fazer o mesmo.
— Estamos num corredor lotado, Maria Eduarda! — digo entredentes,
olhando ao redor.
— Ah, vai me dizer que está com medo, tio! — Malu cruza os braços
em desafio. — Tio Pedro sempre nos empurra em alta velocidade, sabia?
— Pois é, amorzinho, tinha me esquecido que o tio Marcos é um
covarde. — Maria Eduarda diz a última palavra de forma lenta e provocativa,
e preciso morder o interior da minha boca.
— Não sou covarde. — Prendo meu olhar severo aos audaciosos dela.
— Só sou cauteloso.
— Isso para mim se chama covardia. — Ela balança a cabeça. —
Sabe, quando evitamos fazer o que queremos por medo do que vão pensar.
Admita que é um covarde, Marcos e, talvez, ganhe um prêmio de consolação.
Ah, se eu pudesse, provaria para ela agora mesmo o quão errada está
no que diz e tento passar isso a ela com um olhar.
— Ih, o tio Marcos é um frangote, então. — A loira começa a rir com
sua inocência sobre o verdadeiro assunto por trás das provocações da prima.
— Frangote igual meu papai, né Dada? Minha mãe também falou que ele foi
covarde.
Ah não.
Não posso deixar essa doce e inocente criança sequer pensar em me
comparar com seu maldito progenitor.
Respiro fundo, apertando meus dedos em volta do objeto que guio,
desacreditado do que estou prestes a fazer.
Maria Eduarda começa a dizer algo, mas sequer consigo ouvir pois
logo estou correndo em linha reta com o carrinho, e as gargalhadas das duas
chegam aos meus ouvidos com gritos animados.
Assim que sou atingido pelas risadas gostosas e orgulhosas das duas,
tiro de foco os olhares tortos que algumas pessoas lançam em nossa direção,
e vou virando pelos corredores enquanto um sorriso sincero se abre em meu
rosto.
Corro por mais alguns metros, sentindo uma falta de ar me atingir e
uma fina camada de suor se acumula em minha testa. Quando finalmente
paro em frente à estação de pães, estou ofegante e com uma dorzinha nas
pernas.
Sabia que ser sedentário um dia teria sua cobrança.
Abaixo a cabeça enquanto tento recuperar o fôlego e as duas ainda
gargalham juntas. Levanto minha cabeça encontrando dois pares de olhos
brilhando e exalando felicidade em minha direção.
Vai parecer muito brega, mas não consigo me lembrar da última vez
que me lançaram um olhar tão feliz assim.
Porra, Marcos, é claro que se lembra.
A imagem de James dentro de um carrinho de brinquedo no meio do
Lincoln Park enquanto eu o pego no colo e o iço para cima, junto de sua
gargalhada infantil e deliciosa, invadem meus pensamentos, fazendo com que
o sorriso murche em meu rosto e meu coração se aperte com a lembrança.
Estávamos tão felizes naquela tarde, me lembro dele me olhar com
uma alegria e uma admiração desmedida. Foi a última vez que tive seus olhos
dessa maneira sobre mim.
Volto a focar minha visão nas duas, que esperam que eu me recupere.
— Agora precisa nos levar para os frios, vovozinho, então pode
poupar seu fôlego no caminho até lá. — Maria Eduarda diz entre uma risada
e outra.
Volto a abrir um sorriso sutil, e desejando sentir mais um pouco dessa
emoção e de ouvir essas gargalhadas de puro prazer, respiro fundo antes de
voltar a empurrá-las com toda velocidade.

— Não acredito que essa pestinha dormiu o caminho todo de volta. —


Tiro o cinto ao estacionar em frente à casa, olhando para a loira que chega a
babar no banco. — Eu que estou com as costas doendo por carregá-la nos
ombros enquanto estávamos na fila do caixa.
— Ela se divertiu o dia todo, de um desconto. — Maria Eduarda
também desafivela o seu, se aproximando de mim ao ponto de eu sentir sua
respiração contra minha bochecha, me levando a fechar os olhos. — Não faz
essa cara, deve saber que depois do que me confessou hoje, não vou te deixar
em paz, Marcos.
— E você chegou a fazer isso em algum desses dias? — volto a abrir
os olhos e me viro lentamente em sua direção, vendo seu sorriso lindo. —
Não sorri assim desse jeito, já te disse que apesar de querer muito, não vai
acontecer, Sweet.
— É verão, Marcos. — Ela diz manhosa outra vez, como se o fato da
estação em que estamos justificasse nossas ações, e leva as mãos para o
colarinho da minha camiseta. — Vamos aproveitar esse tempo que temos e
depois nunca mais vamos nos ver. É o momento para tomar decisões
estúpidas e culpar a insolação que as férias trazem.
— Ainda estamos em novembro e mesmo se já fosse verão, Maria
Eduarda, isso não justificaria nada. — Ela faz um biquinho magoado ao me
ouvir. — E muito menos abrandaria a reação do seu pai caso ele descobrisse
um dia.
Ela suspira e sou atingido por seu hálito de hortelã, graças ao chiclete
que mascava a alguns minutos. Meus olhos passeiam lentamente por seu
corpo, se demorando mais do que deveria em seu busto descoberto por conta
do biquíni preto e em seus lábios tentadores. Quando finalmente minha
inspeção minuciosa chega aos seus olhos, encontro aquele brilho repleto de
sede, como quem pede para que eu vá ao inferno por eles.
— Uma noite, Marcos. — Ela se aproxima mais, sua voz apenas um
lamurio baixo, respaldando sua boca na minha. — Eu disse que não vou
implorar, mas isso não significa que não farei nada a respeito disso.
Sua voz agora somente é um murmúrio, que logo é abafado quando
nossos lábios se encontram vagarosamente. Ela os acaricia um no outro, me
instigando e me tentando com sua maciez.
Respiro fundo ao segurar seu pescoço com uma das mãos e a força
que coloco ali, é a que desejaria ter para controlar meus atos referentes a essa
mulher perturbadora. Respiro fundo, sentindo o cheiro de maresia que se
prendeu em seu corpo e de repente me sinto inebriado por ela, almejando
sentir seu gosto
Quando menos espero, estou grudando nossas bocas de maneira firme
e voraz, minha língua invade a sua boca, buscando senti-la mais uma vez,
minha outra mão se prende em seus cabelos e sinto seus dedos retorcerem o
tecido do que visto.
Chupo seus lábios e todos os medos se esvaem da minha mente
quando o faço, a única coisa que se passa nela, são as incontáveis maneiras
que eu poderia levá-la ao orgasmo, bem aqui onde estamos.
Continuamos nos devorando de maneira urgente, como se
estivéssemos consumando um ato há muito esperado e quase perco a linha de
raciocínio quando ela solta um gemido rouco em minha boca. O beijo
continua de maneira intensa, nossa pulsação aumentando a cada segundo e o
sangue bombeado em nossas veias parece querer explodi-las a qualquer
momento.
Nos afastamos para recuperar o fôlego e meus olhos se abrem,
encontrando seu olhar letárgico e sua boca ainda mais inchada e avermelhada.
Seu peito sobe e desce de maneira desenfreada e com a ponta do polegar,
trilho o caminho de sua bochecha passando pela lateral de seu pescoço, até
encontrar o vale de seus seios, desejando me enterrar bem ali.
Todos os pensamentos do que eu poderia fazer com ela são
interrompidos por uma voz sonolenta.
— Ja chegamos? Tô com muita fome, Dada! — Nos afastamos
rapidamente, Duda rindo baixinho e meu coração subindo pela garganta
enquanto encontramos o olhar perdido de Malu. — O que vocês estão
fazendo tão pertinho?
— O tio estava com um cílio no olho, precisei assoprar, amorzinho.
— Como pode ser tão cínica até com uma criança? Não que não tenha nos
livrado de algo embaraçoso. — Chegamos sim, vamos descer e já comer,
amorzinho.
A loirinha logo se livra do seu cinto e pula do carro como um foguete,
indo apertar a campainha da casa, sob nossos olhares.
— Duda, e s-se ela contar para a-alguém, e se…— preciso parar para
recuperar forças, sentindo só agora o sangue voltar a circular por meu corpo
após a fala da garotinha e ouço a morena rir da minha cara, com prazer. — O-
o que é tão engraçado? Pensei que tivéssemos concordado que sou medroso.
— Concordamos, mas ainda é engraçado. — Ela suspira e me fita os
olhos com curiosidade, me levando a erguer uma das sobrancelhas. — Notou
que é a primeira vez que me chamou por meu apelido, senhor Freitas?
Ela provoca e vejo um sorriso de canto se abrir enquanto dou de
ombro e ajeito a postura.
— Não acabamos por aqui, Marcos. — Ela diz me provocando e se
aproxima da minha bochecha, deixando uma mordida até que carinhosa, no
local. — Vamos entrar logo, antes que estranhem.
Ela desce do carro, mas ainda fico mais alguns minutos, pensando em
tudo que deixei acontecer essa noite e no momento de frustração, bato a
cabeça no volante, me assustando quando a buzina soa estridente.
Como uma simples ida ao mercado pode me colocar nessa situação,
porra? Agora que ela não me deixa mesmo em paz, e o mais louco de tudo
isso, é que depois de hoje, acho que também não quero que me deixe.
“Estou chegando para assistir de camarote essa novela.”
É a única resposta que tenho de Lua depois de lhe contar as novidades
dessa noite e fico pensando no que essa doida está aprontando, já que não me
respondeu mais depois dessa mensagem.
Certeza que vai aparecer por aqui, bem mais cedo do que eu previa.
Suspiro com um sorriso no rosto enquanto termino de colocar os potes
descartáveis que vieram nossas comidas, em uma sacola para a coleta seletiva
da cidade.
Olho para baixo, notando que ainda estou com as mesmas roupas que
saí de casa logo cedo para aproveitar o dia com meus avós e Malu, onde até
minha mãe e tia Carina acabaram indo, e só por garantia, dou uma
fungadinha em minhas axilas.
Não estou cheirando azedo, com certeza vou comprar mais do
desodorante novo.
Ou será que hoje peguei o da minha mãe, sem ela saber?
Um estrondo na sala chama a minha atenção e corro até lá para saber
do que se trata, temendo que alguém tenha se ferido, apesar de não ouvir
gritos ou choro.
Juro que esperei encontrar milhares de cenários.
Como Malu estatelada no chão, meus avós caídos e ensanguentados
ou algo assim, mas nada me preparou para encontrar meu pai agarrado junto
a Marcos sobre o tapete, fazendo cosquinha no homem que tem a capacidade
de alagar minha calcinha com apenas sua voz.
Ainda não consigo acreditar em como meu tesão se triplicou ao ouvi-
lo me chamando de “Sweet” há algumas horas naquele carro. Eu jurei ter
achado broxante naquela maldita noite, poxa.
Uma pena que Malu estava conosco, pois tenho certeza que se eu
partisse para cima dele, não teria resistido e me fodido ali mesmo, sem se
importar com o lugar que estávamos. De maneira deliciosa, ele mesmo me
confessou que o faria.
O homem de olhos azuis profundos começa a gargalhar no chão,
empurrando meu pai para longe e me encosto na pilastra que separa os
ambientes, apreciando esse estranho momento.
A risada dele merecia ser aplaudida, puta que pariu.
É gostoso ver meu pai tão solto e a vontade com um amigo dessa
forma. Não que ele seja introvertido ou coisa do tipo, mas acredito que nunca
tenha visto ele tão íntimo com nenhum de seus colegas que mais frequentam
nossa casa. Agora consigo entender sobre tudo que falava da tal conexão que
tem com Marcos, que faz com que eu sinta uma pequenina pontada de culpa
pelo que venho querendo.
Que por falar nele, também não parece em nada com o homem à beira
do desespero sempre que está sozinho comigo.
Bom, ele pode até se desesperar, mas tudo porque sabe que não vai
resistir por muito tempo e nossa ida até o mercado essa noite só me provou
isso. Não vejo a hora de pegá-lo sozinho mais uma vez.
— Posso saber o que está acontecendo? — pergunto a minha família,
que gargalham junto dos homens enquanto assistem a cena do sofá. — Vão
me dizer que a brincadeira favorita deles era se fazerem cócegas?
Minha mãe me puxa para me sentar em seu colo, e como a garotinha
mimada que sou, vou de bom grado.
— Seu pai está tentando arrancar o motivo do sorrisinho que Marcos
grudou no rosto a noite toda. — Ah, isso. Também o notei, mas evitei atribuir
o motivo a mim, apesar da verdade. — Como você está percebendo, ele não
vem tendo muito sucesso.
Retorço a boca enquanto continuo olhando e não é possível que todos
estejam achando normal ou engraçado, ver dois homens quase da meia idade,
rolando no chão em uma brincadeira de cosquinhas.
Olho para meus avós, que parecem ter uma expressão nostálgica no
rosto, enquanto tia Carina já ostenta certo… deslumbre?
Reconheço esse olhar de idiota. É o mesmo com que ela olhava para o
antigo namorado, só que em menor intensidade.
Com o olhar traço uma linha imaginária dos seus olhos para onde
quer que esteja olhando dessa forma, e ela me leva diretamente ao homem
que estou tentando ter de volta no meio das minhas pernas.
Ah, tia Carina, sinto muito, mas esse peixão já está praticamente
fisgado.
— Vai mesmo se recusar a contar o que te deixou com essa cara? —
pelo que parece, meu pai desiste de sua tática, ao se levantar e colocar as
mãos na cintura. — Tenho certeza que aquele sorriso safado em que te vi
abrir várias vezes quando olhava para o nada, tem a ver com alguma mulher.
— Deixa de ser idiota, Pedro. — Marcos se levanta, passando as mãos
pelos amassados que ficaram em suas roupas. — Está começando a imaginar
coisas, não fiquei sorrindo porra nenhuma.
Eu seria muito intrometida se…
— Ah, estava sorrindo sim. — Não consigo controlar minha boca,
quando vejo já estou sorrindo com um olhar cheio de significados para ele —
Também notei e se quer minha opinião, concordo com meu pai em dizer que
pode ter a ver com alguma mulher. Foi um sorriso bem cretino.
Ouço minha mãe rir abaixo de mim e minha tia suspirar ao meu lado.
— Você estava com ele um pouco antes, sabe dizer se ele encontrou
alguma mulher no mercado? — não pai, mas seu amigo quase deixou uma
tatuagem de seus dedos em meu pescoço, um pouco mais cedo. — Estou
torcendo para que tenha visto alguém, porque a outra alternativa me faz
querer socar-lhe a cara.
— Não que eu tenha notado. — O olhar de Marcos, que até então era
apreensivo em minha direção, brilha alívio junto de um suspiro. — Ele
passou a maior parte do tempo ocupado empurrando eu e Malu no carrinho.
Os olhos azuis parecem me agradecer por não ter dito nada que o
colocasse em encrenca e sutilmente, aceno com a cabeça.
— Não que eu seja curiosa, mas — Tia Carina entra na conversa,
olhando do meu pai para o homem de pé ao seu lado. —, qual seria a
alternativa que te desagrada?
— Esse idiota está com uma ideia fixa na cabeça. — Meu pai suspira
pesaroso. — Não para de pensar na mulher com quem passou sua primeira
noite em São Paulo. — Então mesmo que de forma indireta, ele comentou a
meu respeito com meu pai. Não consigo conter o sorrisinho que lanço para
Marcos, e ele rapidamente desvia os olhos de mim, como se tivesse sido pego
fazendo o que não devia. — Eu o apoiaria ir atrás da garota, mas pelo que
parece ela é uns bons anos mais nova que ele, talvez seja até mais nova que a
Dudinha.
— Notaram que estão falando da minha vida íntima como se eu não
estivesse bem aqui? — Ele se senta ao lado de Malu, que dorme
tranquilamente em um dos sofás. — Havia me esquecido como gostam de
cuidar da vida dos outros.
— Só estamos tentando colocar juízo nessa sua cabeça para não ir
atrás de uma garotinha apenas porque ela fode bem. — O olhar de todos é
voltado para a loira da sala, e tenho o prazer de ver Marcos passar para um
tom pálido. — Você não disse isso com todas as letras, mas sabemos
reconhecer as entrelinhas, meu amigo. Supere, foi apenas uma boa boceta e
tenho certeza que é capaz de encontrar melhores.
Sempre que se perguntam de onde puxei a falta de filtro, é só olharem
para minha mãe que logo se lembram.
Tenho vontade de gritar que a da minha boa boceta que estão falando
e preciso morder a língua para me segurar.
— Até você, Roberta?! — ele exclama e passa a ter as bochechas
avermelhadas pela vergonha, colocando as mãos sobre o rosto, o esfregando.
— Jonas e Marta, peço perdão pelo que esses idiotas estão dizendo, mas
vocês conhecem como são.
— Não se preocupe, filho. — Meu avô dá de ombros, soltando sua
risada de fumante.
— Sabemos bem como são esses dois quando querem tentar resolver
a vida de alguém. — Minha vó completa. — Mas se estiverem certos sobre a
idade da mulher, acho que dessa vez concordo com eles. Não seria muito bem
visto um homem de quase quarenta anos, correndo atrás de uma jovenzinha,
não é certo.
Vejo os ombros de Marcos cederem com o peso do que acaba de
ouvir e seu olhar passa por mim, desviando rapidamente para o chão,
concordando com a fala da mais velha.
Ah não! Minha família intrometida não vai fazer com que todo meu
esforço nesses últimos dias, vá para o ralo, assim sem mais nem menos.
Consegui arrancar dois míseros beijos dele e depois de hoje,
finalmente pude sentir que está chegando ao seu limite e quase cedendo ao
que deseja. Não é agora que vou ver todo meu progresso desabar como um
maldito castelo de areia.
— Ah, o que estão falando? — me levanto indo até onde o homem
que quero está e me sento ao seu lado, colocando a mão em seu ombro de
maneira amigável. — Não dizem que idade é apenas um número? Eu dou
total apoio para que Marcos siga o que sua cabeça de baixo manda.
— Eduarda! — minha mãe me fulmina com o olhar.
Droga, talvez eu não tenha sido tão sutil.
— O que? — ergo as mãos, me fazendo de inocente. — Só acho que
ninguém deve deixar de fazer o que quer, por medo do que os outros vão
pensar ou falar. As pessoas julgam as ações dos outros desde que esse mundo
é mundo, não podemos deixar de viver como queremos por conta de alguns
mal amados.
— Maria Eduarda. — Meu pai me chama e meu olhar segue até sua
expressão pensativa. — Que merda aprontou agora?
Oh porra.
Sinto o corpo de Marcos tremer ao meu lado e se fizéssemos um
pouco mais de silêncio, aposto que escutaremos seu coração acelerado, de
maneira perfeita.
— Por que eu teria feito alguma coisa?
— Te conheço, filha. — Ele suspira pesadamente, levando os dedos à
testa como se já estivesse ensaiando o discurso da bronca. — Só usa esse tom
e faz esses discursos prontos usando a situação dos outros, quando você
mesma fez alguma merda e não quer contar. Você quase nunca liga para o
que as pessoas querem e muito menos intercede por alguém dessa forma.
Minha boca se abre em indignação e levo meus dedos indicadores ao
meu próprio peito, exclamando um “eu” sem emitir som algum.
— É, seu pai está certo. — Minha mãe entra na onda do marido e
passa a analisar meu corpo. — Não fez outra tatuagem escondida, fez?
— Ih, já estou prevendo meses de castigo pra essa aí nessas férias. —
Minha tia traidora diz aos meus avós, igualmente traidores, que soltam uma
risada em conjunto.
— O que vocês pensam da minha pessoa? — me levanto, já
planejando minha rota de fuga para o quarto, antes que eu possa deixar algo
comprometedor escapar. — Vocês são todos caluniadores, tudo bem?
Vou andando em direção a escada, mas não sem antes dar uma boa
olhada no homem que estará em meus pensamentos quando eu pegar alguns
dos meus brinquedinhos após o banho e o encontro me olhando de maneira
séria. Acho que até consigo ver o que se passa em sua cabeça, já que parece
furioso comigo ao ponto de me degolar, ou louco para prender meu pescoço
em posições bem mais prazerosas.
Torço para meu segundo palpite, já que vejo seus olhos desviarem por
alguns segundos até a minha bunda, que vaza a polpa pelos shorts jeans
curtos.
Como eu daria tudo para arrastá-lo para cima comigo.
— Onde pensa que está indo, mocinha? — a voz do meu pai
interrompe meus pensamentos libidinosos.
— Para o meu quarto, já que me recuso a ficar em um ambiente onde
não confiam em mim ou na minha palavra. — Dou um sorrisinho
decepcionado para todos antes de subir correndo as escadas, ouvindo os
gritos dos meus pais e as risadas dos meus avós.
Sempre foi assim e sei que não ficaram bravos de verdade por eu ter
apenas os largados lá, aposto que antes de dormirem, vão passar no quarto
para me desejar boa noite.
Uma pena eu desejar receber a visita noturna de um certo empresário
de olhos azuis, que eu faria com que me desse um bom orgasmo como boa
noite.
Não têm sido noites fáceis para esta safada aqui.
Desperto com a claridade que captura meus olhos, e logo que meus
sentidos retornam após o sono, sinto meu rosto arder com o calor do sol.
Vou abrindo os olhos devagar, sentindo todo meu corpo doer em
protesto e logo percebo a forma desconfortável que estou sentado no sofá da
área externa da casa.
Assim que consigo abrir os olhos por mais de dois segundos, encontro
o sol despontando no horizonte, fazendo que a água brilhe de forma cristalina
com seu reflexo, tornando uma paisagem surreal de linda.
Tento me levantar, mas assim que sinto minhas costelas doerem, volto
a me sentar, jogando a cabeça para trás.
Não acredito que acabei passando a noite em claro aqui fora, e pior
ainda, que o cansaço foi tanto, que sequer me importei de subir para o quarto
antes de apagar.
Poderia pensar que não consegui dormir por estar pensando na mulher
do quarto ao lado e em como me chamou descaradamente até ele, pouco
antes de eu ir me deitar, ou sobre como meu amigo ficou desconfiado de algo
depois de voltarmos do mercado, mas a verdade é que me lembro de tudo isso
desaparecer da minha mente depois de finalmente atender a uma das ligações
de Cassandra, por volta das duas da manhã.
Depois de ouvir seus xingamentos incontáveis sobre eu a estar
ignorando, finalmente me contou que já faz alguns dias que não tem qualquer
sinal de James. Pelo que ela deu a entender, tiveram uma discussão feia sobre
algo que não entendi muito bem e depois dele pegar aquela monstruosidade
que chama de moto e sair de casa, não atendeu mais as ligações dela.
O único sinal de que o garoto está vivo, são as notificações que
chegam no cartão, que aparentemente ele roubou antes de sair de casa, além
de uma mensagem que uma garota amiga dele enviou, pedindo para não nos
preocuparmos, pois ele está bem.
Claro, como se a simples mensagem de uma desconhecida pudesse
acalmar o coração de uma mãe preocupada com o filho.
Desde que desliguei após concordarmos em irmos nos atualizando
caso ele apareça para algum de nós dois, não consegui mais pregar os olhos.
Me lembro de virar de um lado ao outro na cama e quando o colchão
começou a parecer com espinhos afiados na minha pele, decidi descer até
aqui para respirar um pouco de ar puro, já que as paredes da casa pareciam
querer me sufocar.
Cheguei a descer até a área da piscina da casa, pensando seriamente
em pular nela para ver se o choque da água gelada me fizesse cair na cama,
fiquei algumas horas discando e apagando o número de James, sem coragem
o suficiente para completar a ligação. Só não sei dizer se o medo maior foi
dele recusar todas as minhas chamadas, ou de fato atender.
O que eu diria caso me atendesse?
Olha filho, não pode simplesmente desaparecer pensando que manda
em sua própria vida?
Depois de tanto tempo sem sequer falar com ele, acho que não tenho
mais esse direito, mesmo que eu saiba que as coisas não podem mais
continuar dessa forma.
Preciso dar um jeito na nossa relação.
Sei que além de toda confusão que está minha mente por conta da
atração surreal que sinto por Duda, sempre que observo a forma com que
interage com o pai, além daquela pontada de traição que me atinge por tudo
que fiz com ela e por tudo que ainda desejo fazer, também estou sendo
açoitado por uma inveja terrível por não ter isso com meu próprio filho.
Não faz nem duas semanas que estou no Brasil e nessa casa, mas
somente de admirar a relação que meu amigo tem com a filha, vem me
despertando uma vontade de correr atrás do tempo perdido com James e algo
me diz que essa seria a oportunidade perfeita, mesmo que eu ainda não saiba
como fazer essa reaproximação.
A verdade é que Duda estava certa com o que disse ontem.
Sou um maldito covarde.
Olho as horas no celular encontrando o número sete brilhando na tela
e me assusto quando ouço uma buzina estridente vir da frente da casa.
Mas quem poderia estar chegando aqui uma hora dessas? Pedro não
comentou nada sobre ter chamado mais gente.
Mesmo com todos os protestos do meu corpo, me levanto e atravesso
a casa silenciosa, chegando à porta de entrada e abrindo após encontrar a
chave certa no aparador.
Minha visão é recebida por uma mulher baixinha, de pele escura e
olhos curiosos sobre mim quando me encontra. Seus cabelos cacheados estão
soltos e apenas sua franja está presa por um óculos de sol que repousa em sua
cabeça.
— Pois não? — minhas sobrancelhas se franzem quando ela começa a
abrir um sorriso discreto.
— Bom dia, sou a Lua. — Ela larga uma das malas que traz nas mãos,
para estendê-la para mim em cumprimento. — Luana Albuquerque, e você,
eu presumo que seja o Marcos.
— Sou sim. — Não tiro a expressão desconfiada do rosto e entro em
seu caminho quando ameaça entrar na casa. — Desculpa, mas não sei de
quem você se trata, então acho que não posso deixar ir entrando dessa
maneira.
Ela suspira, ainda com um sorriso divertido nos lábios e passa a
língua por eles, tirando os óculos de cima da cabeça, voltando a ajeitá-lo no
mesmo lugar.
— Você é ainda mais bonito do que ela fez parecer, e esqueceu de
dizer que ainda por cima é educado.
Ergo uma de minhas sobrancelhas, mesmo que no fundo eu já
imagine a quem ela se refere e quando nota o que acaba de dizer, vejo suas
bochechas serem tomadas por um tom avermelhado que se mescla ao
pigmento já presente ali, seus olhos dobram de tamanho, mas logo se
desviam para algo às minhas costas
— Ah, não acredito no que estou vendo. — Me viro até encontrar
Pedro descendo as escadas com o rosto amassado. — O que está fazendo
aqui, tico de gente?
A tal Lua, que mesmo notando ser bem baixa de estatura, se abaixa e
passa por debaixo meu braço que estava apoiado no batente para evitar sua
entrada, e logo vejo que voltou a sorrir.
— Sabe que entramos em risco de morte súbita se ficarmos separadas
uma da outra por tempo demais. — Ela abraça meu amigo, que lhe retribui o
abraço e a ouço cochichar algo em seu ouvido antes de voltar a falar com
clareza. — Imagino que a dorminhoca ainda esteja na cama.
Pedro se afasta e suspira pesaroso olhando para o rosto da que
imagino ser amiga de Duda, e confirma com acenar leve de cabeça.
Não é preciso muito depois disso, para que ela suba as escadas
correndo, pedindo para que Pedro pegue suas malas na calçada.
— Vou avisar ele como me pediu, mas depois vamos conversar sobre
o que me disse. — Pedro grita para o corredor, mas a única resposta que tem
são os gritos histéricos vindo de um dos quartos.
Fico estático, olhando para o andar de cima como se conseguisse ver
toda a cena do que se passa lá. Provavelmente sua amiga entrou abrindo as
janelas, já que pude ouvir os berros de Duda falando que o sol estava a
desintegrando, e logo em seguida pedia para que não fosse esmagada.
— Amigas? — aponto para cima quando Pedro se aproxima da porta
para pegar as coisas da mais baixa.
— Melhores e inseparáveis amigas. — Ele suspira enquanto arrasta
duas malas para dentro e logo depois estou fechando a porta. — Se ficou
chocado com a personalidade da Dudinha, espere até ver no que ela se torna
quando está com a sua duplinha. O circo fica completo.
Engulo em seco. Com certeza Maria Eduarda contou sobre mim a
essa amiga, sua forma de falar sobre minha aparência deixou isso muito
claro, e se não tivesse deixado, essa simples declaração de Pedro já o deixaria
por si só.
Se antes eu já estava fodido e sendo atormentado, não quero nem
pensar no que vai ser de mim agora.
— Lua? — confirmo com ele, o seguindo até a cozinha quando me
assusto com o som alto vindo de cima, com uma música animada da mesma
cantora que Maria Eduarda coloca todos os dias para ouvir. — Ela consegue
ser ainda pior que sua filha?
Ele solta uma risada, colocando a máquina de café na tomada.
— Ela é mais tímida e meiga, mas a cumplicidade das duas me chega
a assustar, então até ela se torna um pouco impossível de lidar quando estão
juntas, ainda assim, é uma boa garota. — O assisto pegar uma xícara e
balanço a cabeça em afirmativa quando me oferece uma. — Não que eu não
esperasse que viesse, pensei que aguentaria esperar ao menos um mês, mas
tem muitos problemas com o pai e como me alertou agora mesmo, só
escapou para cá tão rápido por conta disso, e ainda deixou a bomba de contar
a ele, nas minhas mãos.
Meus lábios se franzem e prefiro ficar quieto quanto a isso. Meus
ombros se pesam com as lembranças dessa madrugada e minha cabeça dói
com a ideia do que preciso fazer, mas que ainda não consigo.
Preciso dar um jeito de falar com James.

Me jogo no sofá da casa, colocando meu copo de coca na mesinha de


centro, sentindo meu corpo se aliviar um pouco com a maciez do material.
Apoio meus cotovelos nos joelhos e levo as pontas dos dedos as
minhas têmporas, as massageando e tentando me livrar da dor que vem se
espalhando pela cabeça desde que acordei todo torto.
Já tomei alguns comprimidos, mas nada faz a dor passar.
Confiro o celular mais uma vez, no íntimo desejando que tivesse
alguma ligação de Cassandra.
Não é possível que aquele moleque inconsequente venha tirando
minha paz e sanidade depois de todos esses anos.
Custava ao menos avisar do paradeiro, porra? Um sinal de vida para
sabermos que está bem?
Bom, ao menos para sua mãe, já que provavelmente deve acreditar
que sequer estou sabendo ou me importando com sua fuga.
Meus dedos teclam rapidamente o caminho da agenda do telefone,
ensaiam por diversas vezes o ato de clicar em seu nome e apertar o verde.
Após a terceira tentativa, jogo o celular na mesinha, jogando minha
cabeça para trás, olhando para o pé direito alto da casa e perco tempo
contando quantas pedras adornam o lustre que desce em cascata pela sala.
Todos saíram para passear, ou fazer compras, não sei ao certo, estava
focado mais nos meus pensamentos quando Pedro subiu até o quarto me
chamar.
Desci apenas para o almoço e mesmo tendo os olhares aguçados da
nova visitante e de Duda sobre mim, não consegui me preocupar com isso ou
com os olhares que trocavam, pois o medo de que algo aconteça com James,
vem me corroendo.
Neguei ir com eles, alegando a dor de cabeça e deixaram a casa
alguns minutos, então desci para pegar um copo de água. Acabei me servindo
de um copo generoso de Coca-Cola ao invés disso, e agora estou aqui, jogado
no sofá, sendo medroso demais para ligar para o meu próprio filho.
Me assusto quando mãos finas e delicadas pousam em meus olhos,
deixando toda minha visão no completo breu, mas não preciso pensar muito
sobre quem se trata, já que eu reconheceria o aroma que me atinge mesmo a
quilômetros de distância.
É uma mistura deliciosa de maresia, flores do campo e estranhamente,
pão assado.
Torna ela doce, mesmo que de maneira suave.
— Pensei que tivesse saído junto com todo mundo. — Não luto para
tirar suas mãos e meu corpo se arrepia ao sentir sua risada em meu pescoço.
— O que está fazendo?
Ela tira as mãos de mim e pula sobre o sofá, se sentando diretamente
em meu colo.
Com um ato impensado e talvez sendo levado pelo caso de bolas
roxas que estou desde que cheguei, a deixo ali, rodeando meus ombros com
os braços enquanto analisa meu rosto cansado.
Não a tiro e nem tento evitar seu contato, não sei se tomado por uma
súbita coragem por saber que ninguém poderia nos flagrar, ou se devo ao
cansaço mental que vem me vencendo contra a força de relutar contra o
desejo que sinto por ela.
— Era para você ter me jogado para longe, com xingamentos e
protestos mesmo que seu pau mostrasse o contrário de suas ações. — Essa
garota não existe. — Você não está batendo bem da cabeça.
Sua voz é delicada e seus olhos passeiam por minha expressão.
— Não. — como um sinal de confirmação do meu estado mental, um
de meus braços rodeou sua cintura, a mantendo presa em meu colo, enquanto
a outra mão encontra sua nuca, livre por conta do coque que estão seus
cabelos. — Por que ficou?
— Porque você não está bem. — Ela sorri de forma leve e suas mãos
começam um carinho gostoso em meus ombros. — Passou a manhã toda com
uma cara estranha, isso quando não estava enfiado no quarto, então fingi uma
dor de barriga pra poder ficar e saber se posso ajudar com algo.
Suspiro, sentindo todas as minhas armas e armaduras que venho
levantando contra ela, caírem por terra, ao menos nesse momento. Não sei ao
certo se pela fragilidade que meus sentimentos e pensamentos estão no dia de
hoje, ou se realmente já não estou mais aguentando lutar e resistir a ela.
— Tô tendo alguns problemas com meu filho. — Não faço ideia do
porque digo isso a ela, mas vou me sentindo um pouco mais relaxado
conforme faço círculos com o polegar em seu maxilar, e suas massagens
leves chegam a aliviar a pressão em minha cabeça.
— Espera, você tem um filho?! — ela exclama e se afasta levemente
de mim, me olhando como se tivessem nascido antenas na minha testa. — Ta
de brincadeira?
— Não. — Tento sorrir de lado. — Tenho um filho de …
Minha voz é silenciada quando ela leva dois dedos aos meus lábios e
se acomoda de forma que suas pernas fiquem cada uma de um lado do meu
corpo.
A filha do capeta ainda dá uma reboladinha e sinto meu pau reagir na
mesma hora.
— Eu disse que fiquei para ajudar e pretendia usar a boca sim, mas
não dessa forma que está tentando. — Ela abre aquele sorriso que me faz ter
vontade de jogar todos os medos pro alto. — Não fiquei por querer ouvir seus
desabafos e te aconselhar, Marcos.
Meu peito sobe e desce com firmeza pela força da minha respiração e
puramente tomado pela dor nas bolas que já venho ficando por conta dela,
subo a outra mão em direção a sua nuca, aprisionando seu rosto para mim e o
aproximando do meu rosto.
Meus olhos descem para seus lábios carnudos e sinto ela arfar quando
pressiono sua nuca com mais força, de repente sedento para senti-la e pouco
me importando com as consequências que isso pode trazer.
Ela já vem deixando mais do que claro que quer tanto quanto eu, mais
uma dose do que fizemos naquela noite e agora com a casa vazia, nada e
ninguém pode impedir essa loucura.
Meus olhos passam por todo seu rosto, observando o sorriso
selvagem, se perdendo nos olhos felinos que me fazem esquecer, mesmo que
brevemente, toda a loucura que se encontra em minha mente.
Agora não tem uma criança no sofá ao lado para nos atrapalhar, não
sou capaz de ouvir a voz de seus pais para colocar o peso em minha
consciência, e muito menos sinto a presença de seus avós para me lembrarem
da culpa de estar com uma garota que tem metade da minha idade.
Jogo tudo de vez para o alto quando puxo sua boca entre os meus
lábios, chupando e sentindo sua textura macia. Ela se entrega ao beijo com
um arfar longo, de quem pensa “finalmente vamos fazer isso.”
Nosso beijo começa faminto e desesperado, como se estivéssemos
sedentos um pelo outro, mas aos poucos vai se tornando lento, como se de
repente lembrássemos que agora não precisamos ter pressa, que não seremos
interrompidos tão cedo. Nossos corpos entram em sincronia, nossas línguas
se encontram de maneira delicada, aproveitando cada segundo da calmaria do
beijo.
Ela se remexe em meu colo e sinto meu pau crescendo cada vez mais
nas calças, as suas mãos passeiam por meus ombros, vez ou outra arranhando
de leve com as unhas curtas, minha pele desnuda.
Meus dedos se enveredam por seus cabelos em uma carícia bruta e
afasto nosso rosto, a puxando para trás.
Ela me olha com um sorriso vencedor, seus olhos se abrindo
lentamente, ainda mais sedentos que antes, como se me capturasse para si.
— Disse que me ajudaria. — Ela assente devagar. — Então me
mostra o que pode fazer com essa boquinha linda, Sweet.
Minha voz é rouca, tomada pelo desejo repentino de ter meu pau
envolto por seus lábios e logo que ouve, Maria Eduarda sai do meu colo, se
pondo de joelhos no tapete felpudo, e com a minha ajuda, puxa os shorts
junto da cueca, deixando toda minha extensão já ereta para fora.
Ela começa massageando meu membro, passando a palma da mão na
glande rosada e antes de abocanhá-lo de vez, deixa um beijinho casto no
local, como se zombasse da situação, o que só aumenta minha vontade de tê-
la.
Ela o devora de uma vez, fazendo com que uma arfada escape de mim
ao sentir a maciez e umidade de sua boca. Não perdendo tempo, Duda engole
todo meu pau sem pestanejar, o sugando de forma precisa, com sua língua o
envolvendo e me deixando à beira do precipício do prazer.
Com uma das mãos ela se apoia em meu joelho, cravando as unhas
para se segurar enquanto a outra, inicia uma massagem violenta em minhas
bolas pesadas.
Sinto a contração do orgasmo começar a se formar, um formigar
gostoso passa por todo meu corpo em expectativa enquanto seus olhos
famintos não deixam os meus. É como se estivéssemos ligados por algum
tipo de magnetismo que não nos permite desviar um do outro. Uma das
minhas mãos segura com força sofá e a outra levo em direção aos seus
cabelos, agarrando os fios com força enquanto minha respiração se acelera
conforme o orgasmo chega cada vez mais perto.
Pouco me importo de não estar durando tanto tempo em sua boca, já
que estava há dias me segurando para não gozar nas calças apenas com seu
olhar e o estresse era tanto, que sequer tive tempo de pensar em eu mesmo
me satisfazer. Talvez algo em mim sabia que isso acabaria acontecendo e eu
desejava que ela fosse a causadora desse orgasmo.
Explodo em sua boca e no momento em que o faço, puxo ainda mais
seus cabelos, o deixando emaranhado, investindo contra ela enquanto a
assisto engolir tudo que derramo.
A adrenalina percorre meu corpo antes da letargia me atingir e preciso
abrir os lábios para liberar um gemido grave e satisfeito, que faz com que
Duda revire os olhos em prazer antes de tirar meu pau da boca e me lançar
um sorriso carregado de perversidade.
Sinto meu coração bater como um louco no peito, a respiração
desenfreada após o orgasmo há muito esperado e a puxo para cima,
capturando sua boca com a minha, sentindo o leve amargor que meu gosto
deixou nela, pouco me importando com isso.
Ela se esfrega contra meu pênis ainda semiereto mesmo após gozar e
ela começa a gargalhar no beijo, me deixando louco para me enfiar dentro de
sua boca outra vez.
Ela desce seus beijos em direção ao meu pescoço, deixando uma
mordida sutil no local, antes de se endireitar e capturar meu rosto.
Ela aperta meu queixo com seus dedos fortes e aumento a pressão
com que ainda seguro seus cabelos, agora bagunçados por conta da maneira
com que o segurei enquanto ela me fodia com a boca.
— Da próxima vez, vou querer que goze em meus peitos. — Sua voz
é macia, seu olhar brilha em expectativa com o que me confidencia.
Balanço a cabeça em uma negativa, um sorriso singelo brotando em
meus lábios.
— Não vai ter próxima, Duda.
Minha fala tem efeito contrário ao que eu esperava, pois, seu sorriso
se alarga ainda mais e ela desce suas mãos até nosso meio, fazendo pressão
em meu membro e preciso conter o gemido.
— Você sabe tanto quanto eu, que não vamos acabar por aqui,
docinho. — O apelido é carregado de sarcasmo antes dela deixar meu colo.
— Isso foi só o começo, pode considerar como uma prévia do que está por
vir nesse verão.
A assisto andar até a escada e subir os degraus com calma, me
deixando com as calças abaixadas e com uma ereção já se formando outra
vez e logo meus ouvidos são agraciados com sua voz cantando junto da
música que estoura do andar de cima.
Inacreditável.
Essa garota é inacreditável.
Fez o que queria, conseguiu uma parcela do que vinha tentando há
dias, e simplesmente me deixou aqui sem mais nem menos.
E o pior disso tudo?
A culpa não esmaga mais meus ombros com tanta força como antes,
ao chegar à conclusão que ela está certa.
Quero mais dela, preciso de mais.
Não acredito no que fiz.
Porra, fiz mesmo isso?!
Meu Deus, sim, eu fiz!
Paro de dar pulinhos no quarto quando percebo que estou sendo
infantil, me lembrando até a cena de Enrolados, quando a Rapunzel percebe
que tomou coragem para fazer algo de útil em sua vida.
Okay, respira, Maria Eduarda.
Idai que você pagou um boquete para o melhor amigo do seu pai, que
é o cara que está tentando pegar desde que chegou na sua casa?
Está tudo sob controle.
Respiro fundo, olhando à minha volta.
Quer saber? Foda-se a infantilidade, acabei de chupar o homem mais
gostoso que ja teve o prazer de ter o pau na minha boca e foi incrível!
Coloco Delicate[5] para tocar no último volume, acompanhando a
música com a minha voz de taquara rachada, até porque sou realista,
excelente cozinheira, mas uma péssima cantora.
Me jogo na cama, sorrindo feito pinto no lixo por finalmente ter
sentido o gosto de Marcos depois do nosso reencontro, e ainda fiz questão de
não desperdiçar nenhuma gota.
Disse sério que da próxima quero vê-lo gozando em meu corpo e só
não me permiti a isso hoje, pela preguiça de ter que me limpar depois, já
quanto a fala dele sobre não existir essa possibilidade, a descartei assim que
passaram por meus ouvidos, pois sei que agora ele já está praticamente
laçado, não tem como resistir mais ou fugir.
Sua entrega de hoje foi sinal o suficiente para deixar escancarado que
nem ele mesmo está aguentando lidar com essa resistência.
Meus pensamentos e meu sorriso são interrompidos quando batidas
estrondosas na porta me assustam.
Me apoio nos cotovelos, olhando para a madeira com certo receio.
Será que meus pais chegaram e viram alguma coisa que não deveriam
ter visto?
Bom, se for o caso, não vai adiantar muito eu tentar explicar que só
queria consolar um homem que parecia triste demais para estar no meio de
umas férias.
As batidas não param e quando pergunto de quem se trata, a pessoa
aumenta a força com que esmurra, me levando a levantar e abri-la de uma
vez.
Um sorriso satisfeito volta aos meus lábios quando encontro a
expressão enraivecida de Marcos. Seus olhos azuis parecem ainda mais
vívidos com as suas sobrancelhas franzidas e sua boca forma um bico
perfeito para ser beijado.
Noto que sua respiração ainda está acelerada e com uma inspeção
rápida, percebo que subiu os shorts de qualquer jeito e o tecido macio deixa
em evidência a nova ereção que desponta no meio de suas pernas.
— Está precisando de uma mãozinha? — balanço as sobrancelhas em
direção ao seu pênis e ele bufa irritado. — Como consegue estar tão
amargurado depois de um boquete incrível como o que eu te dei?
Coloco as mãos na cintura, realmente me perguntando o que se passa
na cabeça do homem.
— É sério que me largou lá daquela maneira? — ele não esconde sua
frustração e arqueio uma sobrancelha em questionamento. — Já pedi para
não se fazer de sonsa, Maria Eduarda!
Mal tenho tempo de calcular seus movimentos, pois logo meu corpo é
puxado contra ele, que enlaça minha cintura com um dos braços e puxa
minha cabeça em direção a sua com a outra.
Nossos olhos se encontram e posso ver o quanto está faminto por
mim, preciso inclinar meu rosto apenas alguns centímetros para sentir sua
respiração bater diretamente contra a minha, sem esforço algum já que temos
quase a mesma estatura.
Apesar de sentir minha boceta se contorcer na calcinha por sentir sua
pegada firme em meu corpo, não me rendo tão facilmente e levo minhas
mãos ao batente da porta, me apoiando nele ao invés de na pele quente e
convidativa de Marcos.
— O que foi, hein? — não escondo o riso sarcástico e ele respira
fundo, controlando seus instintos. — Já te ajudei da forma que pretendia, não
consigo tecer conselhos para um homem que está tendo problemas com o
filho, quando nem eu mesma sei o que estou fazendo com a minha própria
vida. — Seus olhos devoram minha boca enquanto falo. — Se esperava um
ombro amigo, conselhos ou palavras de conforto quanto a seus problemas,
veio ao lugar errado.
Posso estar sendo um pouco escrota? Com toda certeza, mas
sinceramente, geralmente quando os pais dizem estarem com problemas com
os filhos, é sempre o progenitor que fez merda e minha cabeça não está muito
a fim de tentar funcionar para entender o outro lado da moeda a qual não
estou habituada.
Não faço ideia de quantos anos seu filho tem, muito menos quais os
problemas que está tendo, por Deus eu sequer sabia que ele é pai, mas me
lembro claramente de todos os desabafos dos meus amigos sobre a relação
conturbada com os pais, então de certo que esse homem que me segura como
se quisesse sugar tudo de mim, deve ter feito algo para chatear o filho.
Fiquei com pena do estado em que estava hoje, seu olhar cabisbaixo
foi digno de pena, mas isso não significa que devo passar a mão em sua
cabeça.
Bom, talvez em seu pau.
Apesar de estar pensando pela perspectiva de que ele realmente tenha
feito algo errado, não quero saber o que realmente aconteceu, ao menos, hoje
não.
— Eu quero mais.
Sua voz possui um tom quase suplicante que me assusta por estar
concentrada demais em condenar sua relação com o filho em meus
pensamentos. Tento me afastar o olhando desconfiada, mas ele não permite
com que eu faça, me trazendo para ainda mais perto dele, fazendo com que
sua ereção pressione meu baixo ventre e um calor se espalhe por todo meu
corpo.
Porra, minha boceta ta pegando fogo.
— E todo aquele papo de que não poderia acontecer? De que não
haveria uma próxima? — ergo o canto dos lábios, sentindo o prazer incrível
de ter um homem que jurava não me querer, sob meus pés.
Todas as mulheres do mundo deveriam sentir essa satisfação ao
menos uma vez na vida.
— Eu quero você, preciso de mais de você. — Ele balança a cabeça
como se espantasse o que eu disse e passa a deixar beijos em meu pescoço.
— Pensei que fosse algo errado e sujo.
Grudo minhas mãos em seus ombros, aproveitando da sensação de
formigamento que seus beijos molhados deixam em minha pele conforme ele
arrasta o rosto na região.
— Esqueça o que eu disse, foi antes de ter essa sua boca gostosa me
sugando como se estivesse chupando a porra do seu doce favorito. — Ele diz
as palavras como se tivesse com raiva de dizê-las, deixando uma mordida em
meus lábios. — Acho que acabei pegando uma insolação a julgar pelo que
estou prestes a dizer, mas aceito aquela ideia de aproveitar o verão, que ainda
nem começou.
Sua boca deixa meu corpo para o seu olhar poder se fixar ao meu e
não consigo conter o sorriso satisfeito.
— Eu disse que você iria me implorar por isso. — Suspiro sentindo
minha alma se renovar por estar certa mais uma vez.
Sua mão segura com mais firmeza minha nuca, trazendo minha boca
de encontro a sua em um beijo explosivo, que me deixa rapidamente sem
fôlego.
— A verdade é que você é uma pequena Diaba. — Ele diz ofegante
entre o beijo. — E eu não consigo mais resistir à tentação que é te ver todos
os dias e não poder te tocar por ser um maldito covarde.
Sua língua volta a me devorar e ele vai descendo os beijos em direção
ao meu pescoço outra vez, onde aproveito para me livrar da camiseta que eu
estava, dando a ele acesso aos meus seios descobertos pela falta de sutiã.
Ele não perde tempo e abocanha um deles, colocando na boca tudo
que consegue, o sugando com precisão enquanto sinto minha boceta se
contrair com sua ação.
— Mas será só por essas férias, Maria Eduarda. — Ele para o que
estava fazendo para me dizer e sem dar importância, empurro sua cabeça de
volta para meu peito. — E ninguém pode sequer desconfiar, entendeu?
Seu tom é imperativo, o que adoro e ele aprisiona um dos bicos em
seus dedos, como se estivesse me punindo e encontro seus olhos em meu
rosto, esperando uma confirmação.
— Já entendi, Marcos. — Seguro suas bochechas com uma das mãos,
colocando a mesma força com que aprisiona meu bico em seus dedos. —
Aceito ser o seu segredinho sujo.
Um sorriso divertido se abre em meu rosto e logo que o solto, ele
volta a lamber e sugar meu seio, suas mãos se enveredando pelo cós do meu
short.
Minhas mãos encontram seus cabelos enquanto vamos andando para
trás até cairmos na cama, e meus olhos se fecham em deleite assim que ouço
o zíper do short se abrindo.
Quando ele se afasta para puxar o tecido junto da calcinha, até meus
pés, somos surpreendidos pelo estrondo da porta no andar de baixo, seguido
por vozes me chamando.
Por alguns segundos, parecemos mais com duas estátuas com os olhos
fixos na porta aberta e passos nas escadas nos fazem voltar a realidade e
tomar uma atitude. Me levanto já colocando o short de volta no lugar e corro
em direção a blusa jogada no caminho, a vestindo também.
Olho para trás após conferir no espelho se já estou devidamente
vestida e com nada fora do lugar que diga “estava prestes a ser comida
quando nos interromperam”, e encontro Marcos parado no meio do quarto,
os olhos arregalados em direção a porcaria da porta, da mesma forma que o
deixei quando o empurrei para me levantar.
— Porra, Marcos, vai ficar parado aí feito estátua? — ele olha para
mim em desespero, sem saber o que fazer conforme os passos avançam. —
Corre para debaixo da cama, seu idiota!
Minha voz é um sibilo baixo, apontando para onde ele deve se enfiar,
mas o homem não reage, ao ponto de eu precisar ir até ele empurrá-lo para
que começasse a agir.
Em questão de segundos ele se arrasta para debaixo da cama,
deixando escapar um espirro quando o faz, batendo a cabeça em algum lugar
ali embaixo e enquanto confiro se está tudo bem com ele, ouço os passos nas
minhas costas.
— O que tá fazendo aí? — meus ombros relaxam em alívio ao ouvir a
voz de Lua. — Endoidou de vez?
Me levanto com o maior dos sorrisos e ela notando minha expressão
atentada, suspira como se já soubesse que estou prestes a falar a maior das
atrocidades.
— Então, é que você não vai adivinhar o que aconteceu enquanto
saíram. — Assim que começo a dizer, sinto dedos se enrolarem em meu
tornozelo, deixando um apertão como se me lembrassem de não dizer
nenhuma merda. — E não vai acreditar quando eu te disser quem está
debaixo da minha cama. — Os dedos me deixam um beliscão. — Ei!
Pulo para o lado e Lua leva os olhos castanhos até a mão branquela de
Marcos, e coloca as próprias mãos sobre a boca.
— O daddy gostosão, tá aí? — ela sussurra o apelido que lhe deu em
choque e assinto empolgada. — Mas por quê?
— Não estamos brincando de esconde-esconde, te garanto.
Ela revira os olhos e se abaixa para espiar o homem que solta outro
espirro e quando o faz, meu pai aparece na porta do quarto.
— O que está fazendo aí, Lua? — ela se levanta rapidamente,
colocando as mãos para trás como se escondesse algo. — Tem algo de errado
embaixo da cama?
Meu coração começa a palpitar de forma estranha quando vejo ele
avançar para dentro do quarto, olhando para o móvel que guarda o meu
segredo e me coloco à sua frente, interrompendo seus passos.
— Duda perdeu um chinelo, estava tentando pegar para ela. — Minha
amiga pensa rápido apesar do tom vacilante na voz.
— Quer ajuda, filha? — meu pai tenta passar por mim, mas seguro os
ombros dele. — O que foi?
Porra, se eu estou quase tendo um filho aqui por conta do nervosismo,
Marcos deve estar tendo um piripaque ali em baixo.
Só espero que não espirre mais nenhuma vez, ou então estaremos
fodidos.
— Ela já pegou. — Mostro meus pés calçados com o chinelo branco,
— Viu, tá tudo bem.
O faço dar meia volta e vou o guiando até a porta enquanto ele me
olha confuso.
— Por que voltaram cedo?
— Não consegui deixar Marcos sozinho naquele estado. — Droga,
pai, por que tinha de ser um amigo tão bom? — Ele não parecia muito legal e
acho que queria desabafar sobre algo. — Ele suspira e vou levando-o pelo
corredor até alcançarmos as escadas. — Por falar nele, o viu?
Ah claro, pai! Ele se enfiou debaixo da minha cama depois de dar
uma rápida mamada nos meus peitos.
— Se não me engano deve estar trancado no banheiro. — Meus lábios
se comprimem pesarosos. — Lembro de tê-lo visto subindo as escadas
correndo e se trancando no quarto.
Ele assente e sorri para mim antes de descer o primeiro degrau e para,
me dando um beijo na testa.
— E você? Melhorou da dor? — assinto com um sorriso. — Ótimo,
se precisar vamos até o hospital, sabemos que não podemos brincar com
essas suas cólicas.
Sério, eu amo tanto esse homem que chega a me doer um pouquinho
por mentir para ele, mas aquela pica vale a pena.
O assisto descer as escadas e quando está pisando na sala, volto
correndo para o quarto, fechando e trancando a porta com um suspiro de
alívio enquanto me escoro na madeira.
Caralho, que adrenalina gostosa!
Se tivessem me dito que a sensação de esconder um segredo seria
essa, teria feito antes.
Sinto como se pudesse correr uma maratona bem agora, movida pela
energia que meu corpo proporciona.
— Eu não vou chegar vivo até o fim do verão. — Me viro quando
ouço a voz de Marcos, que sai do esconderijo com a ajuda de Lua. — Vou
infartar até lá, isso se seu pai não descobrir tudo e me matar antes.
Ele põe as mãos no peito, respirando fundo e vejo que Luana tenta
segurar a risada.
— Pense pelo lado positivo. — Ele me olha carrancudo enquanto se
aproxima. — Essas férias vão ficar para história, e vai ter o que contar aos
seus netos, sobre seus dias dourados.
Ele resmunga um palavrão antes de passar por mim para alcançar a
porta.
— Não vou ganhar nenhum beijinho de despedida?
Ele se vira transtornado, aposto que pronto para me xingar, mas então
seus olhos encontram minha amiga e ele apenas me lança um olhar profundo
antes de deixar meu quarto de fininho.
Me viro encontrando Lua quase roxa por tentar segurar a risada, mas
quando nossos olhares se cruzam, passamos a gargalhar juntas.
Esse verão vai ser inesquecível.
Não consigo acreditar no que fiz.
O jantar se dá de maneira tranquila, ao menos é o que espero já que
não consigo prestar atenção, assim como também estou torcendo para que
não notem meu olhar desesperado em direção a Maria Eduarda, que insistiu
em se sentar ao meu lado e não para de passar a porcaria da mão nas minhas
coxas por debaixo da mesa, e tô ficando com uma ereção enorme, bem aqui.
Ela não tem um pingo de juízo
Tudo bem que eu também fui bem idiota ao não conseguir me
controlar e subir até seu quarto e depois de praticamente esmurrar a porta,
entreguei o que tanto queria, me deixando ao seu nível de desajuizado.
Ainda não sei como tive coragem o suficiente de dizer que aceito essa
ideia absurda dela, de vivermos algo nessas férias, mas poderia apostar que
fui movido pela incredulidade do que ela fez.
Me largou com as calças arriadas, como se não estivesse me
perturbando há dias com suas provocações.
O boquete foi ótimo, mas eu queria mais, muito mais, então
simplesmente levantei e tomado por uma coragem desgovernada, subi e me
entreguei de mãos atadas a ela, parecendo até um bicho indefeso e muito
masoquista, quase implorando para ter mais do que ela pode me
proporcionar.
É difícil acreditar, mas nem mesmo o quase flagra de Pedro me fez
arrepender do que fiz, e posso dizer que aquele ato impensado trouxe bons
frutos, pois fui movido pela momentânea capacidade de lidar com meus
medos, e acabei ligando para James.
Meu coração se partiu segundos depois dele atender a chamada,
quando perguntou quem era na linha, me levando a crer que não meu número
salvo.
Assim que ouviu minha voz lhe dando boa tarde, o merdinha desligou
na minha cara.
Okay, tudo bem que mereci a julgar pelo nosso último encontro, mas
porra, me magoou mesmo assim.
Apesar de ter me desanimado, a tristeza de perceber que meu filho
sequer suporta ouvir minha voz, fez algo borbulhar em mim. Vou tentar
contatá-lo mais vezes, vou tentar consertar as coisas entres nós, mesmo que
ainda eu não saiba como de fato fazer isso e muito menos se minhas
desculpas são plausíveis.
Essas férias começaram como algo simples, apenas um agrado a um
amigo que me perturbava muito para tirá-las, mas já vem transformando
minha vida de incontáveis formas, sendo a principal dela, que posso acabar
voltando para Chicago numa caixa de sapatos caso Pedro descubra algo
relacionado a mim e Duda.
No momento, a garota que aos poucos vem me levando ao inferno,
está se gabando com seus familiares por conta dos elogios tecidos a sua
comida dessa noite, que até mesmo eu não posso negar, mais uma vez está
divina.
Um fricassê de frango maravilhoso, que arrancou suspiros e gemidos
de satisfação de todos à mesa. Ela sabe mesmo o que faz e pelo pouco que
pude observar de sua atuação nos preparos, pude perceber que se entrega de
alma ao que faz, me fazendo questionar como uma mulher tão sem juízo,
pode controlar e organizar uma cozinha de maneira tão eficiente.
Essa mulher possui camadas, e algo me diz que vou descobrir
algumas delas nos dias que seguirão, e não estou falando de quantas peças de
roupas vou lhe arrancar do corpo.
— No que você tanto pensa, Marcos? — A voz doce de Carina me
chama atenção. — Passou o dia todo meio pensativo. Problemas no paraíso?
Ah, se ela soubesse.
— Alguns. — Retorço os lábios, mas faço um movimento amplo com
as mãos quando vejo quase todos os pares de olhos da mesa se virarem para
mim. — Nada com que precisem se preocupar.
— Não sou bisbilhoteiro nem nada, mas vi quando tentou falar com
James hoje mais cedo. — É Pedro quem diz e sinto meu corpo todo
endurecer. — Não desista na primeira tentativa, vai valer a pena insistir.
Aceito seu conselho com um suspiro alto e um aceno gentil, e logo
quando abro minha boca para começar a falar, os dedos de Duda abandonam
meu corpo e ela se endireita em seu lugar, tirando o foco da conversa que se
inicia entre eu e seu pai.
Me lembro da forma com que falou quando pensou que fui atrás de
um ombro amigo mais cedo. Estava muito gostosa, mas isso não a deixou
menos escrota em suas falas. É como se a garota tivesse asco a sentimentos e
desabafos.
— Não vou desistir. — Vejo um sorriso brotar no rosto dos meus
amigos. — Acho que preciso te agradecer por ter me perturbado por tantos
anos para vir passar as férias com vocês. Algo aqui tem me levado a sentir a
necessidade de consertar as coisas com ele.
— Ficamos felizes em ouvir isso. — A mãe de meu amigo me lança
um sorriso gentil. — Mais torta?
Respondo com uma afirmativa a sua oferta, levando meus olhos para
a morena que conversa sobre algo com sua amiga, aquela mesma amiga que
sabe sobre a gente e que me pegou debaixo da sua cama em uma situação
constrangedora, e noto a forma com que tenta parecer indiferente a mim.
Com certeza possui parafusos a menos, mas vamos ver se continua
com essa pose toda quando eu a estiver fodendo como vem me mostrando
que quer.
Ah, o que estou fazendo?

Me assusto quando a porta do meu quarto é descaradamente aberta, e


salto da cama com um pulo.
— Ficou maluca, porra? — coloco a mão sobre o peito quando vejo o
brilho do sorriso brincalhão de Duda. — Queria me acordar ou me levar
direto para o cemitério?
— Fica quietinho. — Ela sussurra enquanto coloca o indicador sobre
meus lábios e aproxima o rosto bem próximo ao meu. — Tenho planos para
essa noite e se você continuar falando tão alto, tudo irá pelo ralo.
Respiro fundo, controlando minha respiração por conta do susto e
quando o faço, o aroma floral dela entra por minhas narinas, me intoxicando
e me deixando tonto.
Quando a avistei naquela balada, quase conseguia imaginar seu
perfume, pensava em algo doce em exagero e puramente sensual, mas minha
surpresa foi tremenda quando descobri que a pequena diaba usa flores para
atrair suas presas, exalando um adocicado suave.
Faz sentido, até porque vou seguindo seus passos enquanto seus dedos
se entrelaçam aos meus, como uma maldita abelha perseguindo seu pólen
favorito, pouco me importando com o que vamos fazer ou se corremos algum
risco.
Vamos andando pela casa de maneira silenciosa e quando ouvimos
um passo em um dos quartos, a maluca sai correndo, me levando a correr
também e me guia em direção a área externa, descendo pela escada a direita,
que nos leva na direção da piscina.
Os únicos sons que sou capaz de ouvir, são dos nossos passos
descalços batendo contra a madeira do deque e o mar revolto bem próximo,
quando de repente a gargalhada de Maria Eduarda rasga a noite de forma
encantadora.
Ela para de correr para gargalhar com todo o fôlego que tem, mas não
solta minha mão no processo e acabo ficando preso a imagem dela rindo com
a lua banhando seu corpo bem esculpido.
Pela primeira vez desde que me puxou para fora do quarto, passo os
olhos por seu corpo e arfo com o que veste. A filha da mãe está num baby
doll vermelho, que mal cobre sua bunda, seus cabelos ondulados e escuros
estão soltos em cascatas por suas costas, que balançam com o vento e o com
o movimento que seu corpo faz.
Minha atenção se volta para seu rosto e não consigo deixar de sorrir
ao ver sua expressão repleta de felicidade, como se o que estivéssemos
fazendo lhe divertisse mais do que poderia expressar.
É uma maldita diaba, e toda a atração que meu corpo sente por ela,
me passa a mensagem que está me levando diretamente ao inferno.
Não consigo mais me conter e a puxo para mim, aprisionando seu
corpo contra o meu enquanto interrompo sua risada com um beijo sedento.
Minha boca devora a sua como se a muito tempo não o fizesse, nossas
línguas deslizam uma contra a outra em pura sincronia e ela possui um sabor
de pecado delicioso.
Aperto sua bunda e a puxo para o meu colo, e com um gemido em
minha boca ela vem prontamente, enrolando as pernas esguias em meu
quadril, pressionando sua pélvis contra a minha ereção que começa a crescer.
— Aqui não, eles enxergariam da janela da sala. — Sua voz é
ofegante enquanto aponta para cima, logo antes de direcionar os dedos para
uma escada sob o chão, atrás da piscina gigantesca. — A escada leva para um
porão.
Olho com estranheza para o lugar.
— Quer transar na porcaria da casa de máquinas? — ela faz aquela
expressão de sonsa que me tira do sério, dando de ombros. — Pirou de vez,
docinho?
Ela sorri com o apelido utilizado de maneira debochada.
— É a casa de máquinas, ou fazemos um show particular para o meu
pai, já que aquele ali — ela aponta para a varanda do terceiro andar —, é o
quarto dele.
Sem dizer mais nenhuma palavra, a aperto mais contra meu corpo e
sigo para a porcaria do porão.
Preciso pedir para alguém internar, só posso estar doente para estar
aceitando esse tipo de coisa, e ainda correndo o risco de ser decapitado por
Pedro.
A meia idade se aproxima e de presente vou ganhar uma passagem só
de ida para o hospício, tudo por conta dessa mulher.
Assim que passamos pela porta e adentramos o cômodo pequeno e
abafado, Duda desce do meu colo e acende as luzes do lugar, e minha
surpresa só não é tanta ao ver uma maldita colcha no lugar, porque ela me
olha sorrindo de maneira depravada.
E porra, eu me odeio por adorar quando sorri assim.
— Planejei isso aqui depois que deixou meu quarto mais cedo. — Ela
se aproxima e enlaça meu pescoço com os braços. — Agora me mostra que
pode fazer até melhor do que fez naquele quarto cinco estrelas, Marcos
Freitas.
Ela não precisa dizer mais nada, pois logo estou tomando seus lábios
novamente nos meus e levando minhas mãos em direção a barra do pedaço de
pano que veste.
— Vai se arrepender por ter me feito passar tanta raiva nos últimos
dias, sua diaba.
A filha da mãe gargalha enquanto me livro de suas roupas com puxão
brusco e jogo o tecido longe
— Raiva ou desejo? — sua voz é sedosa em meus ouvidos, onde a
mesma deixa uma mordida e logo depois uma lambida que me arrepia por
inteiro.
Sinto seus seios pesados contra meu peitoral desnudo e não consigo
me conter ao preencher minhas mãos com eles.
— Por que não os dois? — Minha voz é pesada enquanto a empurro
até nossos pés estarem na colcha macia e grossa. — Deita.
Ela me obedece com um sorriso que exala satisfação, deixando uma
mordida no canto dos lábios, que faz meu pau pulsar nas calças, que logo
estão fora do meu corpo, junto da cueca, ambas perdidas em algum lugar do
cômodo quente.
Pouco me importo com o fato de sentir minha pele se aquecer por
conta do lugar, e logo estamos com nossos corpos colados outra vez, seus
seios sendo esmagados por mim, meu pau pressionando sua pélvis coberta
pela calcinha de renda quase transparente.
A filha da mãe abre as pernas para me receber, achando que vai ter o
que quer de maneira fácil e tenho o prazer de ver seu sorriso murchar quando
seguro seu maxilar com força e afasto minha cintura de seu corpo.
— Não vá com tanta sede ao pode, Sweet. — Meus lábios quase
encostam nos seus e coloco a língua para fora, a passando por sua boca,
descendo para o seu pescoço e me deliciando do sabor único que sua pele
bronzeada e macia possui. — Vai me pagar por cada dia que me fez ir dormir
com as bolas pesadas e doloridas.
Com a mão livre vou descendo desde seu pescoço, a passando de
forma bruta por todas as suas curvas, apertando sua carne, marcando sua pele
e quando chego em sua calcinha, adentro o tecido e a penetro com um dedo,
sentindo o quanto está molhada e pronta para o que deseja receber.
— Marcos…ahh, porra! — ela deixa escapar um gemido e sinto suas
cordas vocais tremerem ao descer minha mão de seu maxilar para seu
pescoço, pressionando levemente. — Vai me torturar?
Ela me olha desafiadora, mas consigo ver em seus olhos o quanto
estava ansiosa para isso.
— E você vai adorar cada segundo, implorando por mais. — Sussurro
contra o vale de seus seios, onde deixo uma mordida forte, a levando a gemer
outra vez. — E só vai gozar, quando eu deixar, ouviu bem?
Ela não responde, apenas arfa quando meu dedo estoca em seu canal
úmido, me levando a abandoná-lo e prender seu clitóris entre os dedos em um
beliscão que a leva a gemer.
— Combinado — arfa outra vez e abre a boca em um gritinho
silencioso quando pressiono mais seu clitóris — Já entendi, porra, então pode
continuar.
Sua voz apesar de tentar ser ousada, sai mais como uma súplica, me
levando a sorrir quando a vejo fechar os olhos em deleite quando solto seu
ponto sensível com um puxão.
Suas mãos abandonam a colcha que apertava e vem de encontro aos
meus ombros, seu toque assim como naquela noite, diferente do que parece
não é bruto e sim delicado, apesar de me apertar para si. As tiro do meu
alcance e aprisiono seus pulsos sobre sua cabeça com uma das mãos,
enquanto a outra aperta seu rosto.
Aproximo nossos rostos e me delicio de sua imagem, que tem a
respiração acelerada por conta da posição e quando encontro seus olhos, me
perco nas chamas que encontro ali. Suas írises parecem ferver, me atraindo de
uma maneira surreal e volto a compará-la como uma caçadora impiedosa, que
mesmo diante do perigo que sua presa apresenta, não perde a veracidade e a
vontade de dominá-la.
É tomado por essa atração e por esse poder que seu olhar tem de me
puxar para suas garras, que esqueço todas as promessas feitas há poucos
minutos e agarro sua boca na minha em um beijo urgente.
Acabo soltando suas mãos, que logo alcançam meu membro ereto e
passam a estimulá-lo. Aproveito a liberdade da mão esquerda, já que um
sentimento de necessidade me leva a não abandonar seu rosto da outra, desço
meus dedos até encontrarem sua calcinha e levado pelo desespero de estar
dentro dessa mulher, numa tentativa de empurrar o tecido para o lado, meus
dedos penetram a renda e a rasgam, permitindo que sua entrada fique livre
para mim.
Afasto minha boca da sua, meus olhos ficam vidrados nos lábios
avermelhados e ainda mais inchados, o qual ela carrega aquele sorriso
perverso que me faz acreditar ser meu inferno particular.
Seu peito sobe e desce com velocidade, assim como o meu e aperto
seu maxilar com mais força, adorando ver a forma com que adora quando o
faço e sinto suas pernas se cruzarem ao meu redor, a cabeça do meu pau
pincelando sua entrada com sua ajuda e ambos gememos com o ato.
— Essa noite vai nos levar para o inferno, Sweet. — Minha voz é
rouca, mas não mais receosa sobre o que desejo.
— Então vamos abraçar o capeta, meu bem.
Seu sorriso aprisionador é o que me leva ao limite após sua fala e a
penetro de uma vez, sentindo suas unhas curtas se fincarem contra meus
ombros e mal tenho tempo de tampar sua boca, pois logo um gemido
delicioso de ouvir, escapa por seus lábios sem que eu pudesse evitar.
Começo a estocar de maneira forte, sentindo meu pau pulsar contra
suas paredes que me recebem de maneira deliciosa e desço um pouco minha
mão para o seu pescoço, com a intenção de aprisionar seus gemidos apenas
para mim e ainda assim, não é o suficiente para abafá-los, então engulo todos
eles com um beijo desesperado.
Suas pernas me aprisionam ainda mais contra seu corpo, e sinto
minhas bolas pesadas baterem contra sua bunda. Com a mão livre seguro sua
coxa com força, não me importando com fato de poder estar deixando-a
marcada, apenas tentando pensar numa forma de trazê-la para mais perto de
mim enquanto meu pau a bombeia sem piedade.
Sinto uma fisgada tomar conta das minhas bolas, anunciando a
chegada do orgasmo quando uma das mãos de Duda aprisionam minha bunda
contra si da mesma forma que aperto sua perna, e afasto meu rosto do dela,
deixando seus gemidos escaparem outra vez e perco alguns segundos
deslumbrado com a bagunça linda que encontro em suas expressões.
Ela tem os olhos fechados enquanto sua boca se abre soltando
gemidos manhosos e deliciosos, seus cabelos estão espalhados por todos os
lados, grudados em seu pescoço e contra meus dedos suados e suas
bochechas, igualmente molhadas de suor, mostra uma coloração avermelhada
que me faz querer tomá-la para mim.
Aumento a velocidade das estocadas assim como a força com que
coloco nelas e logo sinto o canal de Duda me aprisionar no mesmo instante
em que sua boca se abre em um grito desesperado de prazer, me levando a
gozar junto dela.
Nossos líquidos se misturam e escorrem por suas pernas enquanto tiro
meu membro de dentro dela e sem mais forças para me segurar, desabo ao
seu lado com a respiração entrecortada, ouvindo a mesma começar com suas
gargalhadas de satisfação.
— Porra, isso foi mais do que perfeito.
Sua voz é rouca e por mais que eu tenha sentido meu cérebro se
derreter por conta da força do orgasmo, não consigo me arrepender do que
fizemos e deixar de pensar o mesmo que ela.
É, acho que as férias com o próprio diabo começaram.
Passada a momentânea letargia após o orgasmo, começo a me
levantar e vou em busca das parcas peças de roupa das quais eu estava
vestida.
Pelo canto de olho vejo Marcos se apoiar em seus cotovelos e me
olhar como se não entendesse minha atitude. Ele provavelmente é daqueles
que gosta de ficar de chameguinho após o sexo, mas essa nunca foi minha
praia.
Comigo é sempre só sexo, para que ficar de carinhos e abraços
quando a questão principal já aconteceu? Criar laços e essas coisas são perda
de tempo, sério, inclusive a noite em que acabei dormindo com Marcos
naquele hotel, só ocorreu porque o colchão macio estava tão convidativo após
nossas fodas, que não tive forças de me levantar e ir embora.
Foi uma pequena fraqueza, mas que também não me arrependo.
— Não está se esquecendo de nada, Duda? — sua voz é baixa e o
olho confusa.
— Se está esperando que eu me deite ao seu lado para trocarmos
palavras fofas depois de gozarmos como loucos, não vem prestando muita
atenção em mim. — Antes que eu pudesse vestir o baby doll, ele o puxa de
minhas mãos, me fazendo bufar irritada. — Falo sério, Marcos, melação não
faz meu estilo e agora que consegui o que queria para essa noite, vou indo.
Lhe lanço um sorriso sarcástico quando ele arqueia uma das
sobrancelhas grossas antes de lhe dar as costas, pouco me importando se vou
ter que atravessar todo o quintal e a casa apenas com a calcinha em farrapos.
Era só o que me faltava, eu insistir para transar com esse homem,
fantasiar como nossas fodas seriam fantásticas, e agora descobrir que ele faz
o tipo melodramático.
Não tenho sorte mesmo.
O que custa entenderem que é apenas sexo? Os homens não
costumavam ser tão sentimentais assim, porra. Ou será que eu sou o cara
tóxico e escroto de todas as minhas relações?
Se for o caso, é só mais um motivo para eu me orgulhar ainda mais
das minhas atitudes, afinal de contas, pode ser um tipo de reparação histórica
por todas as coitadas que são iludidas diariamente pelos homens que só
pensam com o pau, assim como já fui um dia.
Meus pensamentos são interrompidos antes que eu pudesse chegar à
pequena porta da saída da casa de máquinas, quando a mão quente de Marcos
segura meu pulso com força, me puxando para seu encontro. Meus seios
batem em seu peitoral igualmente desnudo e reviro os olhos, tentando resistir
a inquietação que se aloja no meio das minhas pernas, ao notar que sua
ereção se pressiona dura contra a minha barriga.
Esse quarentão ta muito melhor que muitos novinhos por aí, e Deus
me ajude para não sentar nele como se seu pau fosse a maldita Excalibur,
porque eu não deixaria ninguém ser digno o suficiente para tirá-lo de mim.
— Ja entendi que abomina um contato mais íntimo do que aquele que
deseja e também que é alérgica aos sentimentos humanos — quando meus
olhos deixam seu maldito tanquinho e encontram seu rosto, vejo um sorriso
malicioso aparecer ali, fazendo minha boceta pulsar ainda mais forte. —, mas
acho que está se esquecendo da promessa que me fez mais cedo.
Arqueio uma das sobrancelhas e arfo quando uma de suas mãos
capturam meu rosto, o apertando contra seus dedos enquanto ele aproxima a
boca da minha, deixado uma mordida que me faz revirar os olhos de tanto
tesão.
Que poder estranho esse homem tem de me deixar molhada com
gestos tão pequenos?
Se ele fosse um super herói com certeza estaria ligado ao resgate da
libido alheia.
— Me prometeu que na próxima, eu gozaria nesses seus peitos lindos.
— Sua voz é sussurrada, colada a minha boca e passo a língua por seus
lábios. — Não vai sair daqui enquanto minha porra não tiver estampada em
você como se fosse a pintura mais erótica existente.
É a gota d'água para eu capturar sua boca na minha, minhas mãos
logo encontrando sua barriga arranhando os gominhos que estão ali e sua
mão não deixa de apertar minhas bochechas, trazendo controle para o que
fazemos, me deixando louca no processo.
Vou descendo minha boca por seu pescoço, deixando pequenas
chupadas em sua extensão enquanto sinto sua respiração se descontrolar. Sua
mão deixa meu rosto e se emaranha por meus fios soltos, colocando pressão
em minha nuca e, quando dou por mim, já estou ajoelhada perante ele,
sorrindo para seu pau ereto como se estivesse ganhado na loteria.
Inclino a cabeça para encontrar seu olhar afetado sobre mim, me
seguro em suas coxas para me dar sustentação e antes de enfiar toda sua
extensão na boca, começo com pequenas lambidas em sua glande e
cumprimento, que fazem o aperto em meus cabelos aumentarem.
Sinto seu gosto se espalhar pela minha boca, me lembrando da
sensação que foi tê-lo mais cedo e da adrenalina ao fazer isso correndo o
risco de sermos pegos a qualquer momento, gerou em mim. Começo a sugá-
lo aos poucos, com movimentos de vai e vem enquanto minha língua se
delicia dele. Levo seu pau até meu limite e com uma das mãos massageio
suas bolas, ouvindo um gemido rouco escapar de sua boca.
Levo meus olhos para cima, encontrando seu olhar compenetrado ao
que faço, e a forma com que me olha, perdido no próprio prazer que a minha
sucção lhe proporciona, faz com que eu abandone suas bolas para levar meus
dedos até o meu próprio centro, estimulando meu clitóris que pulsa de tanto
desejo.
Assim que Marcos percebe o que faço, vejo sua respiração falhar e
faço o possível para me concentrar na forma com que o chupo, soltando
alguns gemidos em seu pau. Sinto meus cabelos serem puxados com força
pouco antes dele começar a estocar em minha boca, fazendo com que meus
olhos lacrimejem ao sentir sua glande batendo contra minha garganta.
Sua ação e seu olhar desesperado para gozar, faz com que eu acelere
movimentos em minha própria boceta, sentindo o prazer se espalhar por
minhas veias e quando dou por mim, estou gemendo feito louca, sentindo
meu próprio gozo nos dedos.
É o limite para Marcos, que retirou o pau da minha boca enquanto eu
gemia e logo estou sentindo os jatos pegajosos de seu gozo em minha
bochecha e pescoço. Minha pele pega fogo por conta do calor, sinto meu suor
se misturando ao líquido em mim e não consigo conter a gargalhada contente
que escapa da minha boca.
Sinto a mão de Marcos me puxando para cima, segurando minha
cintura com força antes de atacar minha boca com a sua em um beijo
eufórico. Sorrio em seus lábios, sentindo meu coração começar a desacelerar
e quando abro os olhos, encontro seus oceanos profundos me encarando de
uma forma diferente, não sei discernir se com desejo ou admiração.
Talvez um pouco dos dois.
— Todos os pecados que cometi em minha vida, não chegam nem
perto do pecado que é transar com você, sua diaba! — ele une suas
sobrancelhas, passando a língua sobre os próprios lábios enquanto tenta
normalizar a respiração. — Ao menos, nenhum deles foi tão prazeroso.
Seu polegar passa em minha bochecha, espalhando sua porra no local
e seus olhos ficam vidrados no caminho que seu dedo percorre, até estar na
minha boca. Meus olhos nunca deixam os seus e o chupo com vontade,
sentindo seu gosto único em minha língua, o levando a arfar com a visão que
possui.
Dou uma mordidinha na ponta dele enquanto o retira da minha boca e
um sorriso orgulhoso se abre em meus lábios, mas antes que eu possa dizer
qualquer coisa, ouvimos barulhos vindo da casa, que fazem com que
instintivamente Marcos se soltasse do meu corpo e se afastasse dando passos
rápidos para trás.
O que ele não esperava nessa pressa de se ver longe de mim, mesmo
que quem quer esteja acordado sequer possa nos ver, é que ao andar para trás,
sua bunda fosse dar de encontro com um dos canos de alta temperatura da
máquina da piscina.
— MAS QUE PORRA! — ele urra de dor enquanto volta em minha
direção, colocando a mão sobre a bunda. — Caralho, acho que me queimei
nesse caralho!
Apesar do susto com sua atitude e com seu grito, que com certeza
poderia ter sido ouvido da casa, preciso prender meus lábios nos dentes,
segurando a risada que quer escapar ao ver seus olhos arregalados de pavor e
dor.
Ele se vira de costas para mim e levo uma mão à boca para prender a
risada quando vejo a pequena manchinha vermelha que se formou em uma de
suas nádegas.
— Queimou, não foi? — sua voz parece embargada enquanto vira o
rosto para mim, balançando as mãos agitadas pela dor. — Que droga, garota,
porque está rindo? Isso é culpa sua.
— Minha?! — levo as mãos ao meu peito, deixando uma risada
escapar enquanto ele tenta ver o machucado. — Você que se assustou à toa e
correu para longe de mim.
Ele me olha de maneira repreensiva e quando deixo a gargalhada
escapar, sinto minhas bochechas grudando, só então me lembro que ainda
estou com o rosto cheio de gozo. Me abaixo para pegar meu baby doll e vou
deixando o lugar, ouço Marcos se vestindo às pressas enquanto reclama da
dor, e logo me alcança nas escadas.
Vou andando sentindo um incômodo gostoso no meio das pernas, o
sorriso satisfeito não deixa meus lábios e suspiro contente quando sinto uma
brisa gostosa atingir meu rosto, trazendo o cheiro da maresia para perto.
— Não tem medo que alguém te encontre estando vestida dessa
forma? — a voz do homem é bem próxima, apenas nego com a cabeça. —
Maluca.
Toda a leveza com que eu me encontrava é arrancada de mim ao ouvir
o portãozinho da escada que traz da casa para a piscina, juntamente de passos
muito conhecidos por mim.
Me viro em direção a Marcos que parece ter paralisado ao ouvir o
mesmo que eu e antes que fosse tarde demais, ao ver a luz externa ser acesa,
o empurro para dentro da piscina, me jogando em seguida, mal tendo tempo
de reclamar da temperatura da água, que por sorte se encontra morna por
conta do aquecedor.
— Ficou doida? — ele parece desesperado e consigo ver o tom pálido
que seu rosto assumiu. — Como achou que seria uma boa ideia nos jogar
aqui? Ele vai nos ver na piscina, e acha que vai pensar o que quando
encontrar você só de calcinha, com esses peitos de fora?
— Se esconde debaixo da água. — Ele arregala os olhos e ouço os
passos descerem as escadas, que por sorte não dão visão direta para onde
estamos até que chegue exatamente aqui — Vai me dizer que não sabe
mergulhar, vovozinho?
— É claro que sei, mas não espere que eu aguente ficar sem respirar
por muito tempo.
— Espero muito que consiga, já que eu diria que sua vida depende
disso nesse momento. — Não consigo deixar de abrir um riso debochado e
vejo suas narinas inflarem com a raiva. — Se abaixa agora, Marcos.
— Limpa essa cara cheia de porra antes. — Ele sibila em minha
direção, jogando água em meu rosto. — Rápido, Maria Eduarda.
Esfrego as mãos sobre minha bochecha e pescoço, tirando o líquido
pegajoso dali e quando ouço os passos ainda mais próximos, enfio a cabeça
de Marcos para dentro da água, o vendo desaparecer abaixo de mim.
— Dudinha? — a voz do meu pai é receosa e me viro em sua direção,
tampando os peitos com o braço. — Que merda ta fazendo aqui? Ouvi
barulhos e pensei que fosse algum animal.
O assisto cruzar os braços enquanto olha para além da piscina,
encontrando o mar revolto.
Por sorte, mesmo com a iluminação da lua e da luz, o ambiente ainda
fica um pouco escuro e meu pai vem adquirindo presbiopia[6] nos últimos
tempos, mas ainda assim, meu coração se acelera pelo medo dele enxergar
Marcos debaixo da água.
Meus olhos desviam rapidamente para onde o homem mergulhou, o
encontrando colado à beirada oposta a que está à vista do meu pai.
— Sou só eu. — Lhe dou um tchauzinho com a mão livre. — Estava
com muito calor e fiquei com vontade de um banho de piscina. — Ele me
olha desconfiado. — O que foi?
Sorrio de maneira angelical, daquela forma que conquista a todos e o
sorriso quase vacila quando vejo seus olhos encontrarem minha camisola
jogada perto dos seus pés.
Ele franze as sobrancelhas.
— Pelada, Maria Eduarda? — ele parece chocado e se afasta ainda
mais da piscina, levando uma mão aos olhos. — Que porra é essa?
— Tô fazendo topless sob o luar. — Apesar de ele não estar vendo,
sorrio inocentemente. — Dizem que faz bem para o corpo, alma e mente. O
sagrado feminino e essas coisas, sabe? Pode até fazer bem ao meu útero
ingrato, não seria bom?
Tento puxar em minha mente algo que remeta ao que estou falando,
tenho certeza que uma das garotas que fazem faculdade comigo já comentou
sobre o assunto, mas justamente agora me deu um branco terrível.
— Quando eu acho que você não pode piorar, filha. — Ele balança a
cabeça e dá as costas indo em direção as escadas outra vez. — Que seja, bom
banho lunar e boa sorte ao que quer que isso signifique, mas entre logo, antes
que pegue um resfriado.
Meus ombros se aliviam da tensão e chego a soltar a respiração que
nem percebi estar prendendo.
— Obrigada pela preocupação, paizinho.
Vejo ele acenar enquanto desaparece na curva da escada e logo estou
puxando os cabelos de Marcos para cima.
Ele abre os olhos assustados, deixando escapar o ar que estava
prendendo nas bochechas, e vejo como seu rosto se encontra vermelho agora.
Sua respiração é desregulada e ele tenta respirar fundo, recuperando o
ar após quase um minuto debaixo da água e quando o recupera, me encontra
sorrindo, o que faz com que uma carranca volte a repousar em seu rosto
bonito.
— Estou falando sério quando digo que não chegarei vivo ao fim
dessas férias. — Ele sai andando, subindo as escadas da piscina enquanto
murmura consigo mesmo. — Não sei onde estava com a cabeça, porra. Acho
melhor conseguir falar com aquele desgraçado antes que eu parta dessa…
É a última coisa que consigo entender do que saiu de sua boca antes
dele seguir para a casa, molhando todo o caminho e sem se dar conta de que
poderia encontrar meu pai no caminho a qualquer momento.
Parte de mim fica intrigada com sua fala, já que sei que o desgraçado
ao qual se referia não é o meu pai, o que me leva a crer que estava falando de
seu filho.
Não sou de pensar muito sobre a vida dos outros, a não ser por
simples curiosidade, mas sinto uma pontada diferente de interesse para saber
o que tem de errado em sua relação com o filho, intrigada como se uma
preocupação pairasse sobre mim ao me lembrar de como estava chateado por
não conseguir falar com ele mais cedo.
É quase um pecado um rosto bonito como o dele, ficar triste e tão
cabisbaixo daquela forma.
Respiro fundo, tentando não gastar meus neurônios nisso enquanto
me deito boiando, soltando uma risada quando vejo os bicos dos meus seios
ficarem de fora da água gostosa.
Passo os próximos vinte minutos pensando na loucura deliciosa que
estão sendo esses dias, enquanto meu corpo boia livremente e meus olhos
admiram a lua nova cercada pelas estrelas.
É uma boa noite.
É inacreditável o que estou fazendo.
Me esgueirando pela casa, como se fosse um bandido e estivesse
fazendo algo errado, ou ainda pior, como um adolescente que precisa
esconder os rastros do que fez.
Talvez esteja muito errado e a minha consciência, a do Marcos
responsável que jurava que não se renderia às armadilhas de Duda, logo me
lembra que estou arriscando uma amizade de anos, tudo por não ter
conseguido ficar com o pau dentro das calças.
O mais incrível disso tudo, é que apesar da pequena pontada de culpa
que me atinge o peito por me lembrar do meu amigo, estou começando a
pensar que não deixaria de fazê-lo mesmo se ela continuasse me corroendo
por dentro.
Não é ele mesmo que passou os últimos anos me enchendo o saco
dizendo que eu deveria me soltar mais, me arriscar e viver melhor a minha
vida?
Eu estou vivendo agora, mesmo que do jeito errado e de uma forma
que se ele descobrir, me jogaria aos tubarões, mas estou apenas seguindo seus
conselhos.
Subo as escadas aos poucos, me odiando por estar molhando toda a
casa e quando ouço uma porta batendo no corredor, meus passos se aceleram
em direção ao meu quarto. Assim que fecho a porta, não sei o que me toma,
mas começo a rir feito um idiota, por conta da situação em que estou.
Um velho de quase quarenta anos, tendo que se esconder por estar
metendo o pau onde não deveria. Nem quando eu era adolescente precisava
fazer esse tipo de coisa, mas olha só para mim agora. Seria cômico se não
fosse um tanto preocupante, mas aquela diaba, ainda assim, consegue me
divertir em meio a essa loucura que estamos metidos.
O sorriso no meu rosto se desfaz e a risada cessa quando sinto uma
pontada de dor na minha bunda e vou logo em direção ao banheiro, tirando as
peças de roupas molhadas e quando me vejo no espelho gigante que fica na
porta, encontro o pequeno traço vermelho deixado por aquela porcaria
quente.
Por sorte me afastei assim que minha bunda entrou em contato e não
queimou muito, talvez o fato de aquela louca ter me jogado na água também
deva ter ajudado em algo.
Um sorriso brota em meu rosto espontaneamente quando me lembro
da morena.
Já havia notado nesses dias seu modo ousado, mas a cada dia que
passa, suas atitudes me surpreendem ainda mais. Tudo bem que na hora
fiquei puto e principalmente, apavorado com o medo de sermos pegos, mas
agora que estou em segurança nas paredes do quarto, consigo até achar
engraçado o que passamos há alguns minutos.
Não que eu deseje repetir todo esse caos que vem sendo o ato de me
esconder de Pedro quando estou com ela, mas algo como uma sensação de
que está valendo a pena toda essa loucura, passa por meu corpo, não
deixando o sorriso e muito menos as lembranças dessa madrugada se esvair
de mim.
Engraçado, apesar do medo agora também me sinto ansioso para
saber em quais situações ela vai nos colocar até o fim dessas férias.

A tosse seca não se finda mesmo após tomar um gole generoso da


água que Carina colocou em minhas mãos, e até quando Roberta vem socar
minhas costas para que eu desengasgue, não consigo parar de tossir.
Sinto meu rosto se transformar em um pimentão enquanto meus olhos
encontram a expressão de estranheza de Pedro do outro lado da mesa.
Assim que me acalmo, meus olhos encontram o rosto pacifico de
Duda, que segue comendo sua torrada como se sua mãe e tia não tivessem
comentado a pouco, sobre os barulhos estranhos que ouviram da área da
piscina nesta madrugada.
O que me fodeu foi que ouvi o que as mulheres estavam dizendo,
justo quando levava a xícara de café até a boca e acabei me engasgando,
derramando o líquido quente e escuro na toalha, antes da crise de tosse me
atingir.
Porra, não sirvo para manter uma relação em segredo, por isso eu era
um garoto certinho, que andava na linha.
— Tudo bem, Marcos? — Carina parece preocupada, então logo
confirmo com um acenar. — O café acabou descendo pelo buraco errado?
Pela visão periférica vejo o sorriso carregado de malícia que sua
sobrinha abre e faço o possível para não rir também, após notar o duplo
sentido que a frase pode ter.
Essa mulher tem me contagiado com seu humor duvidoso.
— Então, como estávamos falando antes de Marcos quase passar
dessa para melhor — Roberta volta a se sentar, se servindo de um copo de
suco de laranja. — Primeiro pensei que tivesse ouvido gemidos, talvez os
gatos da vizinhança estivessem se divertindo no nosso quintal, mas então
ouvi um grito de pavor, ou dor, não sei bem. Pedro foi verificar o que era.
Os olhares curiosos da mesa se concentram no meu amigo que
finalmente relaxa a expressão e volta a comer sua torta.
— Imaginem a minha surpresa ao encontrar Duda fazendo a porcaria
de um topless na piscina, tomando um banho de luar. — Os olhos então se
voltam para a morena. — Ouviu algo parecido com o que sua mãe disse?
— Talvez fosse algum bicho no meio desse mato todo. — Ela faz um
gesto amplo com as mãos. — Deve ser época de acasalamento ou cio de
algum deles.
Ela dá de ombros e graças aos céus, todos parecem deixar o assunto
de lado, voltando a se concentrar no café.
— Bom dia, família linda. — Luana, amiga de Maria Eduarda,
adentra a sala de jantar com um sorriso feliz nos lábios. — Pensei que teriam
mais consideração e me esperariam para o café.
— Eu literalmente te derrubei da cama para acordar e você
simplesmente virou para outro lado e voltou a dormir. — Duda a olha com
tédio. — Sua sorte é que te amo e deixei um pedaço de torta para você.
A mulher de pele negra passa por nós, mandando um beijo em direção
a amiga antes de sentar ao seu lado.
— Eu sonhei ou vocês também ouviram um barulho estranho nessa
madrugada? — meus olhos encontram os castanhos da recém chegada,
desacreditado do que diz.
Impossível que fizemos tanto barulho para todos dessa casa ouvirem
do segundo andar. Bom saber que da próxima vez vou ter de amordaçar a
maldita bocuda por conta de seus gemidos.
Entretanto quando encontro seu rosto, vejo ela sorrindo de forma
despretensiosa e trocando um olhar significativo, carregado de malicia com
Duda.
Mas é claro que ela contou sobre nossa pequena aventura para a
melhor amiga, como posso ser tão burro?
Estou fodido com essas duas, meu Deus.

— Vai desistir quando? — meu coração chega a parar de bater por


alguns segundos ao escutar sua voz.
Quanto tempo que não a ouço?
Me levanto em estado de choque, sentindo minhas pernas bambearem,
meus olhos desfocarem toda minha visão e meus ouvidos quase não alcançam
meu amigo gritando para que Duda baixe a música que ouve enquanto
prepara o jantar.
— Filho, eu… — minha boca seca como se eu tivesse corrido uma
maratona inteira sem beber um gole d'água e meu coração bate tão forte
quanto. — Eu… meu Deus.
Digo em português por ter voltado a me habituar com ela após esses
dias e tendo em vista que não o ensinei a minha língua à toa.
— Acha mesmo que ainda tem direito de me chamar de filho? — sua
pergunta vem carregada de ironia, em sua língua materna. — É melhor parar
de ligar antes que eu tenha que trocar de número. Já basta minha mãe me
perturbando todos os dias, não preciso de mais um fingindo que se importa.
— James eu… — não termino de falar pois logo escuto o som
característico da chamada encerrada. — Ele desligou.
Olho para Pedro, meus sentidos voltando ao normal e caio sentado na
cadeira, o choque desse momento sendo tanto, que mal sinto a porcaria da
minha bunda doer. Meus olhos se direcionam até o mar à nossa frente. Ao
longe encontro um casal brincando com uma criança na areia, de repente o
pequeno sai correndo e o seu pai corre atrás, o pegando no colo e o içando
para cima. O garotinho provavelmente gargalha, pois vejo a sua boca se abrir
em um sorriso.
Pelo visto a vida está querendo jogar na minha cara o quão horrível
e miserável eu sou.
De repente sinto como se meu coração murchasse no peito e uma
angústia me invade, fazendo com meus olhos se incomodem por conta das
lágrimas a caminho.
Desde que decidi ligar para saber sobre seu paradeiro, não parei de
tentar, mesmo que alguma vez caísse na caixa de mensagens e outras ele
mesmo desligasse antes mesmo de tender, persisti.
Porra, se tenho coragem para foder com a filha do meu melhor amigo
debaixo do teto dele, como não teria para encarar meu filho após anos de
negligência?
Pensei que talvez agora não fosse tão tarde, mas aparentemente para
ele, é.
Limpo a lágrima solitária que desce quente por minha bochecha, meus
ombros pesam com a dor de sua rejeição.
No meu íntimo meu subconsciente me alfineta, me alertando que
talvez seja isso que ele vem sentido por todos esses anos.
Sou mesmo um merda.
— Pai, já posso pôr a música de volta? — viro meu rosto para que
Maria Eduarda não me veja tão frágil. A garota parece ter o coração
empedrado, vai que ela acabe vomitando por encontrar sentimentos na minha
expressão facial? — Ei, o que aconteceu?
O cheiro do molho vermelho que pinga de sua colher de silicone
invade meu olfato, confortando parcialmente minha dor nesse momento.
Consigo distinguir seu tom de voz como curioso e vejo seu pai lhe
lançar uma cara feia, provavelmente a fazendo recuar os passos, pois ouço ela
bater de na porta de vidro que concede passagem da sala até a varanda onde
estamos, e quando uma exclamação de dor sai de sua boca, me viro em sua
direção.
Seu olhar vagueia por meu rosto de forma breve, antes de comprimir
os lábios em uma linha fina, como se pensasse no que dizer, mas logo seu
olhar abandona o meu, passando para o seu pai.
— Só me avisem quando eu puder colocar minha loirinha para cantar
de novo. — Ela assente para o pai, que confirma com um movimento. —
Obrigada, o jantar logo fica pronto.
Ela entra de volta na casa, meus olhos se fixam em seu corpo vestido
em uma saia jeans curta, o avental dobrado para que não fique tão comprido
cobre parcialmente sua t-shirt preta, que também deixa a mostra sua barriga.
Seus cabelos compridos estão presos no que imagino ser um coque por
debaixo de um boné com o número “1989” gravado em azul, que mesmo não
conhecendo muito, sei que deve ser de sua cantora favorita por conta das
iniciais que vem atrás.
A garota é realmente fã, já que todos os dias que estive aqui não teve
um em que não tenha ouvido suas músicas, e até colocou um documentário
da cantora para a família assistir hoje à tarde, que graças a uma reunião de
emergência, escapei.
Assim que ela e sua bunda gostosa somem de vista, solto um suspiro
cansado enquanto sinto meu amigo se sentar ao meu lado, colocando a mão
em meu ombro.
— Pensa pelo lado positivo. — O encaro e minhas expressões devem
lhe mostrar que agora só estou pensando em negatividade.
— Meu filho me odeia depois de eu ter sido um pai de merda, Pedro,
não existe positividade nisso.
— Ele ao menos te atendeu dessa vez.
— Para falar que não mereço chamá-lo de filho e que não quer minha
aparente falsa preocupação. — Aponto o óbvio e ele revira os olhos. — Não
faça isso, sei que estou certo.
— Acha que se ele te odiasse por completo, iria perder o tempo dele
atendendo a ligação apenas para te dizer isso? — ele me faz pensar e o encaro
com a testa franzida. — Acredite em mim, se ele realmente não quisesse mais
contato e tivesse desistido de você, teria logo jogado o celular fora pra você
nunca mais o encontrá-lo.
— Como pode ter tanta certeza?
— Não foi isso que você fez com o seu pai de merda? — ele me
lembra. — Você foi até mais radical que isso e se mudou de país quando ele
começou a te encher o saco, mesmo após ter te expulsado de casa.
— Eu já tinha esses planos, só não fui antes porque não era de maior
ainda.
Tento continuar com a razão pelo medo de que uma esperança
enganosa permaneça acesa a respeito de James.
— Continue dizendo isso até você mesmo acreditar. Sabemos que se
não fosse por sua mãe, teria dado um jeito de ir embora muito tempo antes.
— Ele me empurra com o ombro antes de se levantar. — Ela era a única
coisa que te mantinha preso aquela casa, tanto que depois da morte dela, não
levou muito tempo para estar morando com a gente.
Me levanto junto dele, indo em direção a sala, onde pretendemos
assistir ao jogo de hoje.
— Ele me expulsou de casa, é diferente, Pedro.
— E se você não o odiasse, teria sido tão teimoso quanto está sendo
agora, para ficar ao lado dele, mas não o fez. — Ele deixa um tapa em minha
cabeça. — Só espere um pouco antes de voltar a ligar para o moleque, tenho
certeza que na próxima ele também vai te atender e quem sabe, deixe até
você falar depois que passar sua gagueira.
O olho com a cara fechada, recebendo seu sorriso em troca e balanço
a cabeça, desistindo de lutar contra suas palavras.
Ele é um pai melhor que eu, com certeza tem mais credibilidade e
deve estar mais certo nesse assunto. Posso esperar uns três ou quatro dias,
talvez dois, para voltar a perturbar James com as minhas ligações.
Suspiro me jogando no sofá e quando solto um gemido de dor por
conta do queimado na bunda, recebo o olhar estranho de Pedro, mas que logo
é desviado para a televisão que liga.
Sei que sou realista e não gosto muito de fantasiar, mas espero que
dessa vez Pedro esteja certo e eu ainda tenha me tocado o quão escroto estava
sendo como pai, a tempo de consertar tudo que preciso com James.
— Ainda não acredito que vocês estão fazendo isso. — Lua coloca a
mão sobre a boca, tampando seu sorriso. — Como ele acabou aceitando?
— Sabe como sou irresistível e era só uma questão de tempo até ele
se dar conta disso.
Dobro a colcha que usamos no porão essa madrugada, que fiz questão
de colocar para lavar um pouco antes de subir para o quarto, acabando com as
provas do que fizemos, até porque posso ser inconsequente, mas não burra.
— Ou acabou vencendo o coitado pelo cansaço. — Ela faz seu
apontamento com um sorriso.
Dou uma piscada para ela, colocando a colcha em uma gaveta do meu
guarda-roupa, junto de algumas bugigangas sentimentais que guardo da
minha adolescência e entre eles, uma foto com meu primeiro e único
namorado, o mesmo que me concedeu um belo par de chifres.
E há quem pense que sou um animal indefeso.
— Não sei o que realmente o levou a ceder, mas sei que farei questão
de aproveitar cada segundo dessas férias deliciosas. Ele fode tão bem, amiga,
acho que vou ficar sem andar qualquer hora.
— Você sem andar e, se continuarem sendo tão barulhentos, talvez,
Marcos sem voltar com vida para os Estados Unidos.
A olho com um falso pavor no rosto.
É claro que lhe contei sobre a nossa aventura dessa noite, ocultando
os detalhes mais sórdidos, porque não lhe interessa saber quão bem ele é com
o pau, ou quão gostoso é chupá-lo. Isso deixo para os meus pensamentos
quando eu quiser me recordar de algo.
— Falo sério, Maria. — Ela me olha preocupada. — Não tem medo
que seus pais descubram?
Paro para pensar um pouco no assunto, sentindo meus ombros
pesarem.
Apesar de não ser algo que me tire o sono ou que me apavore tanto
quanto apavora Marcos, cheguei a pensar no que aconteceria caso ele
descobrisse.
Com certeza vou ter seu olhar de decepção sobre mim e isso vai me
dilacerar por dentro, mas convenhamos que ele sabe muito bem a filha que
tem e eu com certeza seria louca o suficiente para ficar com algum amigo
dele. Eu mesma já lhe disse uma vez após ele me levar a um jantar de
negócios, então em seu íntimo não é como se ele não soubesse que isso
poderia ocorrer um dia.
Tudo bem que depois que lhe falei com todas as letras que seus
colegas de trabalho eram gostosos e eu me renderia facilmente por algum
deles, nunca mais pude pisar no escritório e sequer chegar perto da calçada
do prédio, mas não precisei nem ir atrás de algum deles, já que tirei a sorte
grande e Marcos caiu no meu caminho sem que eu pudesse evitar.
— Acho que ele ficaria decepcionado comigo, mas hora ou outra
passaria, então vou continuar aproveitando muito bem dessa pica enquanto
posso. — Tiro uma pomada contra assaduras da minha maleta de primeiros
socorros e mostro a Lua, que me olha sem entender. — Não me deixe
esquecer de levar isso até Marcos, o coitado queimou a bunda nos canos lá de
baixo.
Minha melhor amiga explode e uma gargalhada que não consigo
evitar de acompanhá-la enquanto me jogo na cama. Solto um suspiro após me
acalmar e ao me ajeitar em uma posição que nossos rostos fiquem um de
frente para o outro, coloco as palmas das mãos sobre meu queixo, a olhando
com um pedido intrínseco que se abra comigo.
— Por que está me olhando assim? — ela puxa um travesseiro para o
colo enquanto pauso o filme que passa na tv sem a nossa atenção. — O que
é?
— Tem fugido de uma conversa mais séria desde que chegou aqui de
surpresa, mas não vai mais escapar. — Ela bufa, revirando os olhos que
exalam seu cansaço mental. — Sei que não veio apenas para ver de perto o
que estava acontecendo na minha vida sexual, chegou parecendo fugir de
algum lugar. O que aconteceu dessa vez?
— Prefiro falar sobre a sua vida, é bem mais interessante, sabia? —
ela sorri de lado, mas ele logo murcha. — Te contei que agora sou
universitária?
Meus olhos se arregalam, não escondendo o choque por suas palavras
e preciso até mesmo me sentar para absorver melhor a informação.
— Como assim?
— Me matriculei numa faculdade antes de vir bater na sua porta. —
Ela balança os ombros, como se estivesse dando uma informação banal. —
Agora vai ter de me ouvir reclamando das tarefas e trabalhos em grupo
também.
— Espera aí que tô sentindo minha cabeça zonza. — Peço e coloco as
mãos sobre a cabeça, realmente sentindo uma leve tontura. — E o papo de
que ser herdeira já bastava?
— Me toquei que preciso ao menos fingir ser alguém na vida? — ela
me pergunta.
— Meu Deus, não vai me dizer que finalmente cedeu à pressão do seu
pai e vai cursar Medicina. — Suas sobrancelhas quase se encontram por
conta da expressão de horror que surge em seu rosto. — Estou vendo o
cansaço estampado no seu olhar já tem um tempo e como é uma vagabunda
que não faz nada para se cansar, pensei que tivesse cansada dos embates com
ele e aceitado de uma vez.
— Vou fazer Pedagogia, Eduarda. — A filha da mãe começa a
gargalhar quando a olho confusa. — Prazer, tia Lua.
Ela estende a mão, que mando para longe com um tapinha que a faz
rir ainda mais.
— Como assim? Por quê? — Engulo em seco, digerindo o que me
disse. — Nada contra a profissão, até porque sem os professores nenhuma
outra profissão existiria e só devemos gratidão a eles, mas é que nunca pensei
em você como professora, ainda mais de crianças?
Ela suspira com um sorrisinho e dá de ombros, se recusando a me
dizer os motivos.
— Está fazendo isso só para irritar seu pai, não é? — seu sorriso
tranquilo se transforma em um travesso ao qual conheço muito bem. — Vale
a pena o esforço de iniciar um curso em uma universidade, apenas para vê-lo
se irritar com você?
— Vale, adoro contrariar suas vontades e ele ficou tão furioso quando
lhe dei a notícia, que sua pressão chegou a subir enquanto gritava comigo. —
Apesar da risada, noto a tristeza que ela tenta esconder. — E quem sabe eu
até goste do curso?
Suspiro com um sorriso no rosto, torcendo para que realmente isso
ocorra e ela tome um rumo ao qual goste na vida, para não seguir por
caminhos que sequer a satisfaçam apenas para poder contrariar seu pai. A
relação deles nunca foi boa, desde antes do divórcio dele e de sua mãe, mas a
pressão que ele coloca nela para que seja médica e assuma os hospitais da
família, faz com que o pequeno demônio que habita o coração de Lua,
apareça com força total.
Não imagino o quão difícil seja ter uma relação conturbada com o
próprio pai, mas também me entristece ver que ainda assim, mesmo que
indiretamente e da forma contrária, Lua deixa de viver sua vida por conta do
pai.
— Já percebeu que até mesmo quando toma essas atitudes para
perturbá-lo, está deixando de viver sua vida como deseja? — ela suspira e
vejo os olhos sentimentais da minha amiga se encherem. — Apesar de não
seguir o que ele quer, também não está fazendo nada por si mesma, Lua.
Ela deixa algumas lágrimas escaparem antes de vir deitar em meu
colo, onde início um carinho suave em seus braços.
Sei que na maioria das vezes detesto essa coisa sentimental que as
pessoas tem, mas também sei reconhecer a necessidade que algumas tem
desse acalento, e, para o meu doce azar, minha melhor amiga é
completamente o oposto de mim, ou seja, tem o coração mais mole que geleia
de amora, e preciso ser a firmeza que ela precisa vez ou outra.
— Eu sei, e isso me entristece de uma forma que você não imagina,
mas agir dessa maneira com ele, foi a forma que aprendi para chamar a sua
atenção. — Ela dá algumas fungadas, limpando as lágrimas. — Teve uma
época que apenas aceitava tudo que ele dizia e por ser assim, ele sequer me
notava. Em partes eu ficava feliz pela satisfação que ele parecia sentir, por ter
uma filha que não lhe dava trabalho algum, até perceber que também não
tinha de fato sua atenção.
Ela se vira de barriga para cima, seus olhos molhados encontram os
meus e ela tenta sorrir.
— Sabe que sou tranquila e nunca viveria minha vida de maneira tão
apocalíptica como você vive a sua, então foi a maneira que encontrei de atrair
sua atenção para mim. — Ela suspira. — O irritando com pequenas coisas,
indo contra suas vontades e tomando decisões que, apesar de não me
deixarem cem por cento satisfeita, também não me prejudicam e no processo,
faço com que me note, fazendo com que ao menos eu receba uma ligação
ocasional, mesmo que seja pra me xingar e dizer o quanto eu estresso e sou
um desgosto em sua vida.
— Nunca vou conseguir entender esse sentimento, mas espero muito
que um dia você consiga viver sua vida por e para você, Luana Cristal
Albuquerque. — Ela assente e pega minha mão deixando um beijo ali. — E
independentemente de quais caminhos você tome, vou estar aqui te apoiando
em todos eles, e meus pais também.
— Eu sei, e não consigo mensurar a gratidão que sinto por tê-los em
minha vida. — Ela consegue sorrir em meio às lágrimas. — Obrigada por
serem a família que eu tanto precisava.
— Para antes que me faça chorar. — A empurro para longe do meu
colo, mas antes que eu pudesse deixar a cama, ela se joga em mim, me
abraçando. — Te amo, minha Lua, só quero te ver bem.
— Também te amo, meu Raio de Sol. — Retribuo o abraço apertado.
— Obrigada por tanto.
Ouvir o apelido que ela utilizou uma única vez em todos esses anos,
no mesmo dia em que fizemos uma tatuagem em homenagem a nossa
amizade, a dela, até hoje muito bem escondida de todos, faz com que meus
olhos deixem escapar uma lágrima.
Balanço a cabeça e seguimos ali naquele abraço apertado,
mentalmente agradecendo a Deus por ter cruzado nossos caminhos e antes
que pudéssemos nos separar, olho em direção a porta e encontro Marcos nos
olhando com curiosidade.
Sorrio para ele, me lembrando de como seu semblante estava triste
hoje mais cedo após uma ligação, e apesar de não chegar aos olhos, ele sorri
de volta antes de voltar a andar pelo corredor.
Minha amiga me solta e começa a tagarelar sobre a grade do curso
que vai fazer, e apesar de me interessar pelo assunto, uma pontada estranha
de preocupação sobre o porquê do olhar cabisbaixo do homem que segundos
antes estava na minha porta, não deixa meus pensamentos.
— Para onde está nos levando agora, hein garota? — a voz de Marcos
é carregada de leveza, muito diferente de sua reação preocupada da noite
passada, quando o levei para transar naquele porão.
Olho para ele de relance enquanto guio nosso caminho até o carro do
meu pai, e quando percebe nosso objetivo, seus olhos passam a ter um ar
preocupante.
— Te avisei logo quando nos conhecemos que não transo em carros,
Maria Eduarda. — Ele diminui os passos e sua mão que estava colada à
minha, passa a suar. — E muito menos vou te comer no carro do seu próprio
pai.
Minha risada o leva a sorrir de uma forma bonita, seus olhos se fixam
nos meus lábios e aproveito sua distração com a minha linda boca, para puxá-
lo até a porta do motorista, mas quando tento abri-la, sua mão a segura com
força, não dando brechas para tal.
— Não vamos transar no carro, vovozinho — ele bufa com o uso do
apelido e vejo que se segura para não revirar os olhos feito um adolescente
birrento. — Vai ser nosso meio para chegar ao destino, te garanto.
— E por que precisamos sair daqui?
— Bom, se quer que a casa toda me escute gemendo loucamente
enquanto você mete em mim, tudo bem então. — Balanço os ombros e pisco
lentamente, dando meia volta, parando apenas quando ele segura meu pulso.
— O que foi? Pensei que estivesse tudo bem acordar a casa inteira com
nossos barulhos.
O olho de maneira inocente e o assisto suspirar longamente enquanto
balança a cabeça e murmura algo inteligível consigo mesmo.
— Não sei onde eu estava com a cabeça quando me rendi a essa ideia
estupida de aproveitarmos o verão. — Ele finalmente abre a porta do carro e
estende a outra mão para mim. — Passa a chave logo para cá e entra nessa
porcaria.
Sorrio satisfeita por sua decisão e antes de me dirigir ao lado do
passageiro, deixo um selinho em seus lábios, gostando de ver o sorriso
mínimo que ele abre no processo.
— O endereço já está no GPS. — Pisco para ele antes de entrar e
colocar meu cinto, o assistindo fazer o mesmo. — Um dia precisa me dizer o
porquê dessa ideia ultrapassada de não fazer sexo no carro.
— Só sou um tanto conservador, me chame de velho ou do que
quiser. — Ele liga o carro, saindo da garagem que se abre quando aperto o
controle. — Se nos meter em encrenca, faço com que a culpa caia toda em
seu colo.
Minha única reação para sua fala é rir, notando que apesar de estar
cedendo cada vez mais, ainda deixa os traços do Marcos medroso aparecer.
O caminho é feito em completo silêncio, o que não o torna
desconfortável e sim muito agradável, já que passo todo o tempo babando
nele enquanto dirige. Suas mãos enormes trocando a marcha, que agora
preciso lembrar de agradecer ao meu pai por ser o hater número um de carros
automáticos, e a outra manuseando o volante com precisão. Queria entender o
que torna um simples dirigir tão atraente quando feito pelos homens, ainda
mais quando utilizam apenas de uma mão para fazer uma curva, como a que
Marcos faz agora.
Ah, eu tocaria uma para ele bem aqui.
Esse homem me leva ao tesão em questão de segundos e com tarefas
tão banais, que não é à toa que não aguentei esperar mais para tê-lo de novo e
bati em sua porta hoje, mesmo após o quase flagra do meu pai na noite
passada, que claro, me levou a ideia brilhante de nos levar para longe de casa.
Só espero que o conservadorismo de Marcos esteja ligado apenas ao
carro, não a automóveis em geral.

— Que porra estamos fazendo na Marina, Duda? — sua voz é


apreensiva enquanto passamos por Carlos, o segurança e sinto minha boca se
abrir em um sorriso incontrolável ao ouvir meu apelido em sua voz
— Obrigada, Carlinhos. — Dou um tchauzinho para o homem que
agora anda no sentido contrário ao nosso, bem contente com cinco notas de
cem em seu bolso. — O que acha que estamos fazendo aqui? Com certeza
não vou estar te ensinando a pilotar um barco.
O homem que tem a mão suando contra a minha, exclama
xingamentos enquanto passamos pelos barcos, lanchas e jet-ski de tamanho
diversos, que boiam ancorados ao deck.
Marcos vai reclamando por todo percurso, mas o sorriso não deixa
meu rosto ao notar que nem por um segundo ele cogitou largar minha mão ou
sugeriu algo parecido com a ideia de voltarmos embora.
Ele sequer percebe, mas já está na minha rede, sem chances de
escapar ou de ser devolvido ao mar antes do fim dessas férias, e agora estou
percebendo que nem ele deseja isso, mesmo que ainda não note, sei que
adorou ser capturado por mim.
Assim que chegamos em frente ao nosso destino final e lhe peço
ajuda para subirmos, ele me olha espantado e quase engasga com a própria
saliva.
— Aqui?! — ele quase grita, olhando ao redor enquanto eu confirmo.
— Nem fodendo, ficou louca?
— Por que não? — apesar do aparente pânico, ele me ajuda dando
sustentação para que eu suba na proa do iate lustroso. — Vem logo.
Estendo minha mão para ajudá-lo enquanto ele se decide e apesar de
não servir de muita ajuda, já que ele é bem mais forte e pesado que eu,
consigo fazer o esforço mínimo de puxá-lo para dentro do barco quando ele
se iça. Assim que para ao meu lado, suas mãos grudam em minha cintura
para nos apoiarmos enquanto o automóvel balança com o agito das águas e o
olho sorrindo.
— O que estamos fazendo passa de todos os limites do errado. — Ele
sussurra nervoso enquanto o guio até o convés, onde deixo meu celular em
cima da mesa que tem ali. — Isso é invasão de propriedade, o que estamos
fazendo é crime.
Começa a andar de um lado ao outro, olhando para além dos outros
iates ao lado, com medo de que alguém apareça, mas garanti com Carlos para
que não fossemos incomodados, e me permito até mesmo acender as luzes
tanto externas quanto internas da embarcação, sorrindo satisfeita com a
beleza do lugar.
— Não é crime se essa belezinha aqui estiver no nome do meu pai, ou
ainda é? — ele para de andar, de repente passando os olhos minuciosamente
por cada canto.
Me permito admirar seu rosto enquanto ele o faz, meus olhos passam
por cada linha de expressão que só o deixam ainda mais irresistível, sua boca
rosada e gostosa se abre algumas vezes, pelo espanto da informação, e sinto
uma coisa estranha na boca do estômago quando seus olhos encontram os
meus. Os azuis estão ainda mais intensos por conta da iluminação ambiente e
apesar de saber que está pensando no que lhe disse, sinto seu olhar me
penetrar de uma forma diferente.
Eu hein, que coisa estranha.
Chacoalho o corpo, como se pudesse expulsar essa sensação que
passou por mim.
— Seu pai comprou um iate? — assinto enquanto me encaminho até a
geladeira, conferindo se deixamos algo da última vez que utilizamos. —
Quando? Melhor ainda, por que não fiquei sabendo disso?
— Como vou saber? — dou de ombros e sigo até a proa, já me
livrando das peças de roupas que estou, lembrando de tirar os pacotes de
camisinha do bolso dos shorts. — Você que deveria ter a resposta para essas
perguntas, já que são tão amigos.
Me viro para conferir se me seguiu até o local acolchoado, e o
encontro paralisado, os olhos passando por todo meu corpo como se quisesse
me despir além do que já estou despida.
Sinto uma corrente elétrica atravessar minha espinha ao notar a forma
com que me devora com um simples olhar e sinto uma pontada na minha
boceta quando o assisto passar a língua nos lábios e soltar uma arfada.
De repente, pela primeira vez em muito tempo, me sinto tímida com a
minha nudez aos olhos de um homem. Não uma timidez que me faça querer
me esconder, mas que me faz desejar ser ainda mais observada pelo homem
que parece admirar cada uma das minhas curvas, subindo e descendo o olhar
repetidas vezes pelo meu corpo,
Contraditório, mas na minha cabeça faz sentido.
Não consigo me lembrar da última vez que tive alguém admirando
meu corpo, que é o que eu sinto que ele faz, ainda mais quando se aproxima
aos poucos, nossos corpos se balançando involuntariamente por conta do
mar, abrindo a própria camisa e a deixando para trás, sem nunca deixar os
olhos de mim.
Engulo em seco quando ficamos a um palmo de distância um do
outro, meus pelos se eriçam, os bicos dos meus seios se enrugam e minha
boca seca, sedenta pelos beijos dele.
— T-trouxe… — que porra, desaprendi a falar de repente? Solto uma
tosse fingida antes de continuar. — Trouxe algumas camisinhas hoje, já que
esquecemos desse detalhe na última vez.
Mostro para ele a embalagem metálica em mãos e ele a toma dos
meus dedos, jogando no local em que logo estaremos suados e arfando de
prazer.
— Acho que ainda não disse isso a você — seus dedos antes suados e
agora quentes encontram minha cintura e ele a circula com as mãos,
colocando pressão no local, me levando a arfar. —, mas você é maravilhosa.
Seu corpo é perfeito, você é linda por inteiro, Maria Eduarda, sem pôr ou
tirar, do dedinho do pé até aos fios rebeldes do seu cabelo. É maravilhosa.
Ele diz essas palavras após passar os olhos por todo meu corpo outra
vez, os fixando em meu rosto. Uma de suas mãos alcança minha bochecha,
onde ele deixa um carinho suave que estranhamente faz meu estômago tremer
outra vez. Seus olhos passeiam por minha boca até encontrar os meus, que
parecem vidrados nos oceanos que ele tem.
Puta que pariu, acho que estou hiperventilando.
Sei que sou bonita, me sinto assim na maioria dos dias, a não ser
quando minhas acnes e os pelos faciais aparecem com força total por conta
dos hormônios, mas… porra, ouvir isso vindo dele, de alguma forma meche
com uma parte minha que não quero despertar.
Porra...
Seus dedos seguram as mechas da minha franja enorme, que estão
jogadas para frente, e as leva para trás da minha orelha e apesar de me sentir
em um maldito filme romântico ou coisa do tipo, gosto da sensação de ter
seus olhos dessa forma em mim, de ter seus dedos depositando uma caricia
suave nos traços do meu rosto enquanto seus olhos trilham o mesmo
caminho.
De repente ele inclina a cabeça e eu o sigo, notando que passa a
admirar a lua sob nós, que exala uma luz forte na noite de hoje.
— O luar combina com você. — Ele volta a me olhar e me puxa mais
para si. — Exalta ainda mais a sua beleza, ficou ainda mais deliciosa.
Ele abre um sorriso sacana, que logo é interrompido quando sem mais
conseguir esperar, tomo sua boca na minha, desejando devorar cada uma de
suas palavras ditas e também o silenciar, me odiando internamente por ter
gostado tanto delas.
Nossas línguas se encontram afoitas, minhas mãos logo estão por todo
seu peitoral firme, apalpando e desejando que me foda de uma vez. Sinto as
suas mãos gigantescas apertarem com força minha bunda e me impulsiono
para o seu colo, envolvendo sua cintura com minhas pernas enquanto ele se
ajoelha e me coloca deitada sobre a esteira acolchoada presente ali.
Ele se afasta para terminar de se despir e sou agraciada com a visão de
seu pau ereto, batendo quase em seu umbigo e chego a revirar os olhos pela
benção de paisagem que tenho quando ele volta a se ajoelhar sobre mim.
Seus olhos estão presos em meu rosto e me sinto ir ao inferno quando
ele abre aquele maldito sorriso, que faz com que as linhas de expressões ao
redor de seus olhos se acentuem mais, o tornando ainda mais charmoso e
gostoso.
— Bom que nos trouxe para um lugar quase deserto essa noite. — Ele
segura com força em minhas coxas antes de me puxar por elas. — Porque
hoje vou te chupar até que fique sem voz para cantar as malditas músicas que
tanto adora.
Abro um sorriso em meio ao gemido enquanto o observo se abaixar
até sua boca ficar a centímetros da minha.
— Só porque disse isso, vou fazer questão de ficar o mais calada
possível. — Ele me olha repressivo e morde meus lábios.
— Vai estar gemendo feito uma puta antes mesmo de eu meter a
língua em você, Sweet. — Ah, porra, esse maldito apelido que de repente
passou a me causar um tesão fodido. — Não quero que desvie os olhos de
mim, entendeu?
Deixo uma mordida em meus lábios e suspiro quando seus dedos
encontram minhas bochechas, as apertando até que receba minha
confirmação.
— Entendi. — Seguro seu pulso, sentindo o meio das minhas pernas
ficarem melados apenas com essa ordem.
Ele não esboça nenhum sorriso de satisfação com a minha obediência
e logo sua boca já está trilhando beijos quentes e molhados pelo vale dos
meus seios. Prendo a respiração quando sinto seu hálito atingir um dos meus
biquinhos que clamam por atenção, mas ele apenas me deixa na expectativa,
deixando uma mordidinha leve no local e logo descendo os beijos para a
minha barriga.
Sua boca finalmente chega onde mais me interessa e quando menos
espero, suas mãos estão puxando minhas pernas cada uma para um lado, me
deixando completamente exposta para ele, que suspira em contentação
quando encontra minha boceta inchada de desejo por ele.
Seus dedos encontram minhas dobras molhadas e ele os passa entre os
pequenos lábios, sentindo como estão quentes e somente com esse contato,
preciso morder o interior da minha boca para não gemer, entretanto todo meu
esforço não vale de nada quando ele me penetra com dois dedos de uma vez,
me levando a grudar as unhas no acolchoado, arfando como louca enquanto
sinto meu corpo todo se arrepiar.
Ele passa a estocar com força e sinto minhas paredes pulsarem. Minha
respiração se acelera sem que eu possa controlar e meus olhos assistem
minha boceta engolir seus dedos, que deslizam facilmente em um vai e vem
bruto.
— Disse que quero seus olhos nos meus, Sweet. — Ele diz e prende
meu clitóris em seus dedos. — Seja obediente, que te deixo gozar.
Imediatamente meus olhos encontram os seus, adorando a forma
maliciosa com que me olham e assim que o faço, seus dedos soltam me
ponto, voltando a mover os outros dentro de mim, fazendo com que um
gemido alto escape da minha boca.
— Ah, porra… — o assisto sorrir ao me ouvir. — Isso é tão gostoso,
não para…
Minha voz sai entrecortada e o olho furiosa quando ele faz justamente
o que pedi para não fazer.
— Só queria provar o meu ponto que estaria gemendo loucamente
antes mesmo da minha língua chegar perto de você. — Ele pisca com um dos
olhos, me levando a bufar. — Não precisa ficar brava, adoro quando geme
meu nome como uma putinha.
Mal tenho tempo de pensar no que dizer com a sua fala, que faz com
que minha boceta pisque e ele logo está puxando minhas pernas outra vez,
abaixando o rosto até a minha pélvis e deixando um beijo casto em minha
coxa, antes de eu sentir sua língua quente e escorregadia em minha boceta.
— Caralho…— não consigo conter os gemidos que me escapam, e
coloco mais força no aperto da minha mão, quase acreditando que minhas
unhas curtas rasgariam o tecido.
Sua língua passa a explorar toda minha vagina, dando chupadas lentas
e ritmadas enquanto vez ou outra sinto sua boca chupando meus clitóris que
pulsa. Ele encontra a sequência perfeita de me chupar e lamber enquanto os
gemidos saem da minha boca, altos e chamativos, sem nexo algum e sem me
importar com quem quer que os esteja escutando.
De repente sinto sua língua penetrar meu canal, fazendo movimentos
de vai e vem enquanto um de seus dedos estimula com vontade o meu
clitóris. Meus dedos dos pés se contraem e arqueio a coluna, sentindo meu
limite chegar e quando chega, pressiono minhas coxas aprisionando a cabeça
de Marcos, que não para com os movimentos mesmo após sentir meu
orgasmo.
Minhas mãos encontram seus cabelos, puxando os fios sedosos
enquanto passo a rebolar em seu rosto, ainda sentindo os movimentos de seus
dedos e língua.
— Marcos…. Meu Deus… — minha voz é sôfrega e tento me afastar
dele, que não deixa. — Eu ja gozei e estou prestes a ter um piripaque se
continuar com isso… ah, porra, não para!
Sinto meu coração disparado no peito e todo meu corpo sente os
espasmos do orgasmo, que logo se transforma em um delicioso squirt.
Marcos se afasta enquanto me jogo de costas, sentindo minhas pernas
tremerem em uma fraqueza deliciosa, meu coração e corpo recuperando o
ritmo ideal. Ele me olha e seu rosto está coberto pelo meu líquido, seu sorriso
de lado me faz revirar os olhos enquanto ele o aproxima de mim e prende
meu rosto em sua mão.
— Não me obedeceu e fechou esses malditos olhos enquanto gozava,
Sweet, vai ser cobrada por isso. — Sorrio para ele, sentindo meu corpo voltar
ao normal, mas ainda assim assinto, já que sequer percebi que havia fechado
os olhos. — Ainda sente as pernas?
Sem ter forças o suficiente para falar, apenas confirmo com um acenar
de cabeça e o assisto esticar o braço até alcançar um dos pacotes de
camisinha e vestir o material de látex em seu pau ereto, que pulsa e baba.
— Ótimo, quero que cavalgue em mim. — Antes de se deitar ele
segura em minha cintura, me levando para cima dele. — Quero te foder
enquanto assisto a lua sobre as nossas cabeças.
Ele diz de forma séria enquanto me olha nos olhos e de alguma forma,
meu coração já acelerado, bate em um ritmo diferente e desconhecido por
mim. Sem parar para pensar muito no que essas maluquices significam,
deslizo por seu pau de uma vez, gemendo quando o sinto por inteiro e espero
que meu corpo se acostume a ele antes de começar a me movimentar.
Espalmo minhas mãos agora suadas em seus ombros enquanto as suas
apertam com força a minha cintura. Meus olhos não abandonam o seu e
respiro fundo quando uma brisa gelada passa por nós, arrepiando meu corpo
por inteiro. Começo a me movimentar com lentidão, rebolando em seu pau
enquanto minhas paredes o esmagam e ouço um gemido sair da boca de
Marcos, que faz com que eu repita as minhas ações.
Começo a cavalgar nele, sentindo sua extensão sair por completo de
mim antes de voltar sentar nele até a base, minha respiração volta a se agitar e
sinto um leve incômodo na região íntima, devido a sensibilidade causada pelo
orgasmo a pouco, ainda assim, não deixo de gemer sentindo meu corpo todo
receber o prazer que é tê-lo em mim.
Meus movimentos se aceleram cada vez mais com a sua ajuda, que
impulsiona o quadril ao mesmo tempo que controla a força com que sento.
Sinto meu canal o apertar cada vez mais e meus olhos não deixam os seus,
que se fecham vez ou outra quando ele abre a boca para soltar seus gemidos e
arfadas, me dando uma visão e tanto. Dou uma última cavalgada, sentando
até a base e dando uma rebolada, minhas paredes aprisionam seu pau com
pressão, que sinto pulsar em mim logo antes de chegarmos ao orgasmo
juntos.
Suas mãos apertam minha cintura com mais força antes de uma delas
subir até minha nuca e se embrenhar pelos meus cabelos, me puxando para
um beijo afoito, repleto de gemidos e suspiros pelo orgasmo.
— Porra, garota… — seu gemido é grosso e faz com que eu arfe em
sua boca, sentindo ele estocar em mim uma última vez. — Não poderia ser
um pouco menos gostosa?
Ele me olha sério antes de descer os beijos por meu pescoço e tórax.
Sua mão espalma minha coluna enquanto ele trilha beijos pelo meu corpo,
chegando em minha costela, onde deixa uma mordida seguida de um beijo no
local que tenho a tatuagem.
Puxo sua boca de volta para mim, deixando ali um beijo lento antes
de retirar seu pau da minha boceta e me afastar dele o mais rápido que
consigo. Meus olhos encontram minhas roupas e me levanto com dificuldade,
sentindo minhas pernas ainda um pouco bambas e minha intimidade
levemente ardida, mas um suspiro desacreditado me faz voltar o olhar para o
homem que se livra da camisinha usada.
— O que foi? — ele solta um riso irônico e ja imagino que deva estar
pensando algo sobre minha forma de agir depois do sexo. — É só uma boa
foda, Marcos. Não fique triste por eu não querer ter um momento terapia
depois de gozarmos.
Lhe lanço um sorriso de lado e volto a pegar minhas roupas, mas
enquanto as visto, de repente me vem flashes de seu olhar magoado e aflito
durante todo o dia e meu coração que tem estado meio estupido nessa noite,
se aperta um pouco.
Deve ser só a curiosidade para saber o porquê vem estado tão
cabisbaixo, mas ainda assim, me recuso a escutá-lo. O aperto idiota vai ter
que passar na marra e minha curiosidade vai precisar aprender a lidar com
frustrações, já que não posso dar brechas para contatos mais íntimos.
É sempre uma péssima ideia, dar ouvidos a esses apertos estúpidos
que o coração sente.
Não é?
Não é possível que essa mulher seja tão fria assim!
Ainda mais tendo o conhecimento de que foi criada por Pedro, o cara
mais emotivo e sentimental que conheço.
Sei que existem muitas pessoas que realmente só se importam com o
ato do sexo e estão pouco se fodendo para a relação além disso, mas eu com
certeza não me encaixo nesse grupo.
Posso até ser considerado ultrapassado por pensar assim, mas não
faço o tipo de apenas uma foda e dane-se o resto, por isso mesmo passei
muito tempo sozinho depois do divórcio com Cassandra, e apesar de não me
envolver sentimentalmente com nenhuma mulher desde então, tenho meus
casos fixos em Chicago, que apesar de não mantermos contato direto,
também não é da maneira que Maria Eduarda age.
Além de que com ela, a história é completamente diferente. Porra
vamos passar pouco mais de dois meses na mesma casa, é impossível agir
como se ela fosse apenas mais uma que eu fodo.
Assisto-a ir em busca das peças de roupas, espalhadas por todo iate e
não consigo deixar de pensar no que disse a ela pouco antes de deitarmos
aqui.
Não sei o que deu na minha cabeça de dizer em voz alta, mas não se
passaram de verdades. A filha da mãe tem uma beleza fora do normal, cada
centímetro de pele parece perfeito e sob a lua, o reflexo dos seus olhos me
puxaram com um magnetismo diferente.
Sempre que suas írises amendoadas estão em mim, me sinto atraído
naturalmente por elas, como se me puxassem sem que eu pudesse controlar e
essa noite, tudo pareceu ainda mais intenso, como se fizesse sentido estar sob
seu domínio.
— Está esquecendo de uma coisa. — Ela se vira quando ouve minha
voz e noto seu rosto um pouco mais tenso do que estava há alguns minutos.
— Está me devendo algo por ter fechado seus olhos enquanto gozava, quando
mandei não o fazer.
Um sorrisinho safado se abre em seu rosto, e ela larga todo o tecido
que estava em mãos, voltando para perto de mim. Sinto o ar a minha volta
desaparecer quando ela se ajoelha e com as mãos apoiadas no estofado, vem
engatinhando até estar sobre o meu corpo.
Uma puta visão erótica que não vou esquecer mesmo após essas
férias, e Pedro que me perdoe por isso.
Apesar de sentir uma fisgada no meu pau, espero que seu rosto
chegue perto do meu para só então colocar minhas mãos em sua cintura e
puxá-la para baixo de mim, invertendo nossas posições.
Estudo sua expressão, seu sorriso lindo não desaparece enquanto ela
leva as mãos ao redor do meu pescoço e deixo um riso escapar ao pensar que
ela deve estar imaginando a rodada de sexo que teremos
— Vai ficar aqui e conversar comigo como uma pessoa normal. —
Instantaneamente vejo seu sorriso desaparecer e ela tenta me empurrar para
longe. — Só vamos trocar algumas palavras, Maria Eduarda, não seja
estupida.
— Não gosto de tornar pessoal meus casos que são estritamente
sexuais — sua voz derrama toda raiva que está sentindo por estar presa
debaixo de mim. — Detesto confundir as coisas, então me solta, Marcos,
agora.
— Sou o melhor amigo do seu pai, uma porcaria de amigo, mas ainda
assim, sou. — Franzo minha testa e vejo seu olhar desviar dos meus. — Isso
aqui se tornou pessoal a partir do momento que descobri sua filiação, então o
mínimo que eu espero é que aja de forma madura e tenha uma conversa
comigo.
Ela se mexe, e posso estar louco, mas ouço uma espécie de rosnado
sair de sua garganta enquanto ela tenta se soltar e pressiono ainda mais meu
corpo no dela, a levando a bufar irritada.
— Se não o que, hein? — ela desiste de se debater quando ouve
minha risada. — Vai ameaçar não transar mais comigo? Por que se for, tenho
certeza que seria uma ameaça inútil, já que não vai mais conseguir se afastar
agora que se lembrou do que nos tornamos quando estamos fodendo.
Ela abre um daqueles sorrisos que vem fazendo meu corpo todo se
arrepiar e para o meu desespero, está certa em suas palavras. Não vou
conseguir me manter afastado dela depois de tudo, e acho que nem quero.
— Convenhamos que seria desvantajoso. — Ela fica confusa com a
minha fala. — Se vou acabar sendo morto pelo seu pai caso ele venha a
descobrir, que seja por ter aproveitado o máximo disso que estamos fazendo.
Ela volta a sorrir, suspirando por estar certa mais uma vez e não
resistindo a beleza de seu rosto quando surge esse convencimento, deixo um
beijo em seus lábios, que ela aprofunda, me puxando pelo pescoço enquanto
deixa carícias no local.
Sinto sua perna envolver meu corpo e ela tenta levantar o quadril,
fazendo com que sua boceta se aproxime de meu pau, que volta a endurecer.
Me afasto dela abruptamente, sorrindo para sua frustração, mas não
resisto em deixar um carinho em seu rosto, sentindo a pele macia sobre meus
dedos.
— Mas posso deixar você sem gozar nas próximas vezes que
fodermos, só para deixar de ser tão convencida.
— Pouco me importa, posso muito bem chegar ao orgasmo sozinha,
sem a sua ajuda.
— Claro que pode, mas precisa admitir que — aproximo nossos
rostos outra vez, adorando a forma que sua respiração se descompassa. —, é
bem melhor quando eu te faço gozar — abaixo até deixar um beijo molhado
em seu pescoço —, do meu jeito — outro beijo em sua clavícula — com os
meus dedos — passo minha língua pelo vale dos seus seios, sentindo seu
gosto viciante e ouvindo um gemido escapar de sua boca. —, com a minha
língua e principalmente — subo para deixar uma mordida em seu queixo. —,
com o meu pau.
Fricciono nossos quadris apenas para ela sentir como já estou ficando
duro por ela e assim que me afasto, a vejo fechar os olhos após revirá-los, e
suspirando como se pensasse no que fazer, os abre enquanto tenta me afastar,
sendo impedida.
— Posso ao menos colocar uma roupa para a sessão de terapia? —
sua fala é carregada de ironia e a olho com desconfiança. — Não vou fugir,
prometo.
Ela beija seu dedinho e o estande para mim, como se tivéssemos cinco
anos de idade e não me arrependo de murmurar um xingamento, pois logo
sou agraciado com sua risada.
E que droga de risada gostosa a filha da mãe tem.
— Promessas são sérias para a família Porto, então trate de apertar
meu dedinho. — Ela faz um movimento com a cabeça indicando o dedo que
me estende.
— Não vou confiar na sua palavra através de um gesto infantil, Maria
Eduarda.
— Para de ser tão ranzinza e aperta logo. — Reviro os olhos, mas
faço o que ela pede, recebendo um beijo em nossos dedos unidos. — Viu só,
não lhe arrancou nenhum pedaço, agora com licença.
Com um suspiro pesado rolo para o lado, alcançando minha calça e a
colocando enquanto a morena vai atrás das suas peças. Vejo que ela procura
por algo, que imagino ser sua calcinha, mas quando não a encontra apenas dá
de ombros para si mesma e coloca os shorts sem a peça íntima.
Ela vem andando até mim com uma expressão tediosa, e se joga ao
meu lado, deitando e colocando as mãos cruzadas sobre a barriga enquanto
olha para o céu noturno, então faço o mesmo.
— Aquela sua pose de homem frio e calculista me enganou direitinho
na balada. — Viro meu rosto para enxerga-la, mas ela continua com o olhar
vidrado na lua. — Pensei que fizesse o tipo que comia e caia fora, mas aqui
estamos, com você todo sentimental querendo bater um papo depois de uma
foda.
Ela balança a cabeça como se não acreditasse no que está fazendo, e a
ouço murmurar um palavrão baixinho.
— Pode não parecer em um primeiro momento, mas gosto de
conversar, o que tem de errado nisso?
— Nada, a não ser quando você transa com a pessoa com quem quer
conversar. — Ela finalmente vira o rosto em minha direção e sou agraciado
por seus olhos, que parecem brilhar ainda mais essa noite. — Isso significa
que está querendo criar laços e conexões. Nada de bom pode vir disso.
Ela volta a olhar para o céu, mas noto quando suspira e seu olhar
vacila para baixo, como se estivesse lembrando de algo.
— Quem partiu seu coração, Sweet?
Minha resposta é uma gargalhada alta, que apesar de me fazer querer
revirar os olhos, faz com que eu abra um sorriso por ouvi-la.
— Quem disse que alguém partiu o meu coração? — ela volta a me
olhar. — Tenho cara de sofrida ou algo do tipo?
— Não, mas parece esconder suas mágoas por trás dessa altivez. —
Seu sorriso murcha um pouco. — Além de que é impossível chegar à sua
idade sem ter tido o coração partido, tem que ter ao menos uma
rachadurazinha.
— Eu é que parto os corações desavisados, Marcos. Então é melhor
ficar esperto com o seu. — Ela pisca em minha direção e sinto o órgão ao
qual se referiu, bater de uma maneira diferente. — Não vá se apaixonar por
mim.
É minha vez de rir e enquanto o faço, não deixo de perceber a forma
com que seus olhos passeiam por meu rosto, com um sorriso nos lábios.
— Por que acha que eu me apaixonaria por você?
— Me diz você, já que está todo sentimental hoje, cheio de elogios e
querendo conversar.
— Vê se sossega essa cabecinha, afinal de contas, não é como se
fossemos casar em dois meses por ter essa conversa. — Bato com a ponta do
dedo em sua têmpora e ela me olha com os olhos arregalados e um sorriso
divertido nos lábios. — O que?
— Essa fala é minha.
— Patenteou ela? — viro o olhar para o céu, sorrindo por estar tendo
uma conversa decente com essa maluca, sem ela sequer perceber. — Hm, não
sabia.
Ela ri e bate o ombro no meu e por um breve momento, percebo que
estou me divertindo como a muito tempo não fazia. Sem pensar em todos os
problemas que me esperam fora daqui, na culpa por ser um amigo péssimo
assim como tenho sido um pai horrível.
De repente só existe eu, ela, o som do mar e o brilho da lua sob nossas
cabeças.
Gosto da sensação
— Idiota. — Seu xingamento me faz sair dos pensamentos.
— Ah, e sobre os elogios, eu reconhecer e dizer a verdade, não
significa que sou todo sentimental. — Me viro e a encontro estudando minha
expressão. — Você é realmente maravilhosa, e não falo apenas da aparência.
Posso ter batido com a cabeça sem notar, ou a força do meu orgasmo
foi tanta que agora me causa alucinações, mas posso jurar ter visto suas
bochechas ganharem um tom rosado enquanto seu olhar se prendia ao meu.
Ela pigarra algumas vezes, voltando a desviar os olhos.
— O que quer conversar? — reviro os olhos e deixo uma risada
escapar. — O que foi?
— Não notou que já estamos tendo uma conversa?
— Bom se era só isso, estou indo então. — Ela faz menção de se
levantar, mas sou mais rápido e seguro seu braço a puxando de volta para
deitar quando levanta o busto. Ouço sua respiração pesada e ela volta a
posição que estava antes.
— O que mais gosta de fazer?
Já que com ela o simples não funciona.
— Essa é fácil, cozinhar. — Ela abre um sorriso. — E você?
— Por que cozinhar?
— Ei, não é assim que funciona. — Ela levanta, se apoiando nos
cotovelos enquanto me olha brava.
— Isso não é um jogo de perguntas e respostas, não tem jeito certo de
funcionar. — A olho de relance, estalando a língua. — Agora vê se deita e
responde.
— Você sabe ser chato.
Sorrio e ela logo começa a falar, mal percebendo o quanto se entrega
no assunto.
— Gosto de cozinhar desde pequena, minha avó me ensinou falando
que era isso ou passar fome se dependesse dos meus pais, e a verdade é que
fui me apaixonando por esse universo. A cada receita que preparávamos
juntas, sentia como se pudesse passar todo o tempo do mundo ali, entre as
panelas, os sabores e os aromas diferenciados.
— Ah, com certeza passaria fome. — Ela me olha e tento conter a
emoção que me fez sentir ao ouvi-la falar com tanto carinho sobre o que ama.
— Sua mãe não tenho certeza, mas do que eu conheço de Pedro, sei que eu
preferia comer papelão ao que ele cozinha.
— Papelão não é muito diferente do que as comidas industrializadas
que você provavelmente come no seu país. — Junto minhas sobrancelhas e
ela dá de ombros. — Mas está certo, meu pai é péssimo cozinhando.
— Todo talento foi para você, sem dúvidas.
Vejo um sorriso orgulhoso se abrir e ela apruma os ombros.
Mais convencida, impossível.
— Aceito o elogio, mas preciso lembrar que não é só talento. — Ela
suspira e ergue as mãos, enumerando nos dedos. — Também é preciso
dedicação, aprendizado, esforço, técnicas e muitas outras coisas que venho
aprendendo com a faculdade.
— É difícil? — seu olhar é interrogativo. — Cursar gastronomia.
— Mais do que as pessoas normalmente pensam, mas eu dou conta.
— Ela derrama aquele ar de convencimento que venho adorando ouvir de
seus lábios. — Minha maior dificuldade no início foi sair da minha bolha do
senso comum, sabe? As pessoas acham que o ato de cozinhar e seguir uma
receita já é o bastante para se comparar com um chefe gastronômico, mas vai
muito além disso, exige muito estudo e aperfeiçoamento. Antes eu apenas
seguia uma receita, sem ter muita noção das técnicas e de tudo que envolve a
preparação correta de um prato, mas, cada nova aula e novo aprendizado é
um desafio diferente, que só me fazem apaixonar ainda mais por essa
profissão.
Sorrio ao notar a certeza em suas palavras.
— Pretende seguir carreira, então? Não é só um hobbie.
— Um dia quero ter meu próprio restaurante, ser uma chefe renomada
e quem sabe até colecionar algumas estrelas Michelin. — Ela me olha
divertida. — Apesar de sonhar alto e ser ambiciosa, a melhor parte dessa
profissão, sem dúvidas é poder presenciar o que podemos proporcionar com a
gastronomia, ver a satisfação das pessoas enquanto provam algo de sua
autoria, saber que, de alguma forma, você vai estar marcando aquele paladar
para sempre, marcando ocasiões e criado memórias. É gostosa a sensação de
saber o poder que um simples prato pode possuir.
Ela diz com tanta paixão, que uma parte minha, daquele menino
sonhador que almejava conquistar o mundo quando saiu do seu país natal
para algo completamente incerto e novo, se emociona ao ver a sinceridade de
seus sonhos.
— Você parece amar mesmo o que faz.
— Amo muito. — Ela suspira — Sei que pareço ser um pouco
irresponsável e completamente desorganizada em tudo que eu faço, mas é na
cozinha que me sinto transformada, certa de quem sou. Não existe a Duda
que dá vexames quando está bêbada, ou a Duda que fala o que vem à mente
sem pensar nas consequências. Tudo ali precisa ser milimetricamente
calculado para sair perfeito, um erro e tudo desanda, então é preciso cautela
acima de tudo. Me sinto como se existissem duas de mim e apesar de amar
muito as duas e não ver elas existindo uma sem outra, é na cozinha que vejo o
meu verdadeiro potencial, que me vejo sendo capaz de conquistar os meus
sonhos e sendo realmente satisfeita e realizada com a minha vida.
Ela mal se dá conta, mas acaba totalmente embalada na conversa e
apenas a escuto, perguntando uma coisa ou outra, sem desejar interromper o
fluxo de suas falas. Ela me conta como amou suas últimas aulas sobre
panificação e como vem pensando seriamente em se especializar no assunto
após faculdade, e até me conta algumas curiosidades interessantes sobre o
universo gastronômico.
Não escondo minha surpresa ao me contar que o nome “Restaurante”
se dá por conta da criação de um “caldo restaurador”, durante a revolução
francesa dado aos soldados, e muito menos meu choque ao descobrir que o
inventor do Chantilly se matou por conta do atraso de uma entrega de alguns
frutos do mar, para um de seus banquetes.
Ouvindo-a contar sobre sua paixão, começo a me lembrar de todas as
vezes que a vi na cozinha nesses últimos dias e não consigo deixar de
concordar com ela.
Fora da cozinha ela pode ser completamente inconsequente e
desgovernada, mas quando está entre as panelas, ingredientes e temperos,
pude ver o quanto leva aquilo a sério, cheia de possibilidades, controlando
diversas tarefas ao mesmo tempo sem surtar.
Consigo admirá-la ainda mais por isso.
Não costumo detestar muitas coisas em mim, principalmente na
minha aparência, claro que depois de alguns procedimentos estéticos, então
não vejo mais motivos para me auto criticar, mas se tem uma coisa que me
tira verdadeiramente do sério, é a porcaria dos meus ovários policísticos.
E o que eles têm a ver com meu belo rosto, que encaro fixamente no
espelho agora?
Os hormônios horrendos me transformam numa pequena lobisomem.
Me distraio olhando para meu reflexo no espelho pendurado em uma
das paredes do iate, notando em como já preciso tirar os pelos grossos que
voltam a cobrir toda a extensão de pele possível. Nem parece que os eliminei
há menos de duas semanas atrás e já estão aqui, me atormentando.
Aproveito que estou fazendo uma inspeção e acabo olhando para o
meu corpo, notando que estou um pouco mais inchada que o normal,
provavelmente vou menstruar em breve, e sofrer com as dores horrorosas no
processo.
Descobri o problema nos ovários por volta dos quatorze anos, quando
depois de menstruar passamos a notar a falta de regularidade da menstruação
e o fato de eu sempre sofrer de muitas dores anormais durante o ciclo, além
da quantidade absurda de acnes e do ganho excessivo e sem explicação do
meu peso. Fomos atrás de fazer todos os exames orientados pelo médico e
descobrimos a SOP, que é basicamente um distúrbio hormonal causado por
vários pequenos cistos em meus ovários.
Geralmente o que o acompanham são o ganho de peso excessivo e
com isso vários problemas de saúde, como colesterol e outras coisas do tipo,
que tento manter ao máximo sob controle, tendo refeições regulares e
mantendo uma boa alimentação, o que tornam as acnes e a quantidade
excessiva de pelos faciais, os meus maiores problemas, mas sei que eu
mesma optei por não fazer uso de nenhum medicamento e controle hormonal
algum tempo atrás. Por conta da SOP vejo minha menstruação de duas a três
vezes por ano e estou sentindo que por esses dias ela vai vir fazer uma visita,
me fazendo sofrer e chorar feito bebê.
Odeio meus ovários.
Dou um suspiro enquanto me dirijo até a mesa da embarcação, onde
meus pais juntamente de minha tia, Lua e Marcos já estão almoçando,
enquanto meus avós optaram por ficar em casa, alegando estarem com dores,
mas acredito que só queriam aproveitar com a casa vazia.
Olho para o mar, sentindo o cheiro delicioso da maresia e meus olhos
batem na proa do iate, trazendo recordações de duas noites atrás.
Poderia muito bem estar me lembrando de como Marcos me deixou
fraca nas duas rodadas de sexo que fizemos aquela madrugada, mas indo
contra toda a minha razão, o que passeia por minha mente é o momento de
conversa que tivemos entre elas.
Me senti diferente naquele dia.
Conversar com ele foi tão fácil e tranquilo, por mais que apenas eu
estivesse tagarelando horrores sobre minha futura profissão, gostei da forma
com que ele parecia realmente se importar e como estava de fato prestando
atenção em tudo que eu falava. Algo no modo como ele agiu, mexeu comigo
e com uma parte que pensei que não emergiria tão cedo depois do meu último
relacionamento.
Foi um momento leve e divertido, que passei a acreditar que não
pudesse ter com os homens que servem apenas para o prazer, então ele me
provou o contrário, com aquele olhar mandão e os sorrisos tranquilos.
Olho para frente e encontro o homem que vive com as expressões
fechadas, as mesmas que me enganaram direitinho dias atrás. Venho
descobrindo que ele é bem menos ranzinza do que pretende mostrar e, com
certeza, não é o homem frio e calculista como acreditei que fosse. Ele chega a
ser fofo ao seu modo, querendo conversar, perguntando sobre coisas
relevantes para mim e elogiando meu profissionalismo culinário.
Não consigo controlar os pulos que meu coração dá quando me
lembro dele sorrindo de uma maneira encantadora enquanto tirava suas
dúvidas do meio gastronômico, me contando que vai passar a ser mais
atencioso com a parte do restaurante de seus hotéis após tudo que lhe contei,
e preciso morder meu lábio interior para evitar sorrir com a lembrança.
Onde já se viu? Eu sorrindo feito tonta por pensar em uma conversa
com um homem?
Nunca é um bom sinal, da última vez acabei num namoro que durou
quase três anos e sinto dores de cabeça até hoje, pelos galhos que o
desgraçado fez questão de deixar em minha cabeça.
— Vocês se incomodariam de receber um amigo meu durante umas
duas semanas nessas férias? — meu olhar se desvia para Lua, que questiona
aos meus pais e lhe dou um cutucão. — Aí, que foi?
— Que história de amigo é essa? — vejo suas bochechas corarem e
ela desvia os olhos para o mar. — Meu Deus, é o mucilon da Itália! Como
assim, ele tá vindo para cá?
Levo minhas mãos até a boca por conta da surpresa da notícia.
— Ele faria uma surpresa para mim, até eu falar que não estou em
casa. — Ela coloca as mãos cruzadas embaixo do queixo e sorri para os meus
pais. — Por favor, tio Pedro e tia Roberta! Talvez seja minha chance de
desencalhar se eu conseguir o trancafiar no porão e o impedir de voltar para
casa.
Reviro os olhos e vejo a carranca do meu pai, que apenas finge pensar
no assunto pois é claro que vai fazer as vontades de Lua. Ele a ama e a venera
quase tanto quanto eu.
— Ajoelha no chão, amiga, quem sabe isso conquiste eles. — Cutuco
sua costela com meu cotovelo e me assusto quando ela sai do banco para se
ajoelhar e me puxa junto. — Ei, eu não! Tenho alergia a mucilon, eu
imploraria mais por um daddy gostoso.
Quando falo, faço questão de direcionar o olhar para Marcos, sorrindo
de maneira pervertida e me surpreendo quando ao invés de ficar todo
vermelho e nervoso, avisto um sorrisinho de lado, discreto o suficiente para
apenas eu enxergar.
Não faço ideia do porquê, mas apesar de sempre rir horrores com seu
nervosismo quando estamos na frente de todos, gosto ainda mais de ver como
aceitou esse risco, agora praticamente sem medos.
Maria Eduarda muda vidas, anotem aí.
Volto a sentar no banco, rindo da forma que Lua implora para o meu
pai e quando a tortura acaba e ele finalmente cede dizendo suas regras, assim
que ela volta a se sentar ao meu lado, aproveito a oportunidade para lhe
desferir um beliscão.
— Ai! Ficou doida? — ela exclama passando a mão sobre o local. —
O que foi isso?
— Um beliscão, ou quer que eu repita para entender o que foi? — ela
revira os olhos. — Foi por não ter me contado que ele está vindo para cá.
Ela abre um sorrisinho e suspira toda apaixonada e apesar de implicar
com ela sobre isso, espero que dê certo com esse cara. Venho aguentando-a
falar dele desde as férias na Itália, pelo menos agora ele vai dar um bom chá
de pica nela, e espero que a faça sossegar um pouco.
— Ei, gente, olha o que eu encontrei ali naquele cantinho. — Me viro
em direção a vozinha de Malu e meus olhos se arregalam quando vejo minha
calcinha fio dental, de renda preta, pendurada em seus dedinhos. — De quem
será que é isso?
Me viro para frente e preciso prender o riso ao notar o olhar chocado
de todos, inclusive de Marcos, que sabe muito bem a quem pertence.
— É tão estranha e pequena, não parece ser legal de usar isso. — Eu e
Lua não controlamos a risada com a fala da pequena. — E é feia, mamãe,
precisa avisar de quem é pra jogar fora.
— Filha, onde achou isso? — minha tia vai até a loirinha, tomando o
tecido da mão dela e o joga ao mar sem pensar duas vezes.
— Ei, ela foi cara para caramba, tá? Vai me comprar outra. — É mais
forte que eu e quando dou por mim, tenho os olhares de todos em meu rosto
enquanto começo a cortar um pedaço da carne em meu prato. — Qual o
espanto?
— Quando trouxe alguém para cá? — é meu pai que pergunta com
sua expressão séria. — Encontrei uma camisinha na proa do iate quando
cheguei hoje cedo para ver se estava tudo certo, mas pensei que tivesse sido
alguém burro o bastante para invadir.
— Bom, nossa filha além de ser burra para isso, também é descarada
o suficiente para se entregar. — Minha mãe diz com alguém um suspiro e
volta a comer sua comida.
— Depois me passa a conta da calcinha. — tia Carina deixa um beijo
no topo da minha cabeça antes de sentar ao lado de Marcos, e não sei dizer o
porquê, mas algo no jeito que ela o olha, me incomoda.
Por sorte, tenho muita confiança no meu taco, mas também nunca me
importei de dividir.
Mas dividir ele? Hmm, acho que não.
— Vou te passar uma listinha de compras, pelos juros. — Pisco para
ela que sorri enquanto revira os olhos.
— Nada de desviar do assunto. — Meu pai volta a dizer, me fazendo
olhá-lo. — Lua, quem ela trouxe para cá?
Olho para minha amiga que cospe o refrigerante que levava à boca.
Meu pai sabe que é uma boca de sacola, por isso perguntou diretamente a ela.
— E-eu não sei, tio.
Ele faz uma cara de tédio para a mesma e faço um sinal de zíper na
boca da mesma.
— Eu mesma posso falar, pai, por que não me pergunta? — vejo o
medo voltar a tomar conta do rosto de Marcos e ele passa a beber água
desesperadamente. — Foi um cara, obviamente, muito, mais muito gostoso…
Enquanto vou dizendo, tomo a ousadia de esticar minha perna e levar
meu pé descalço até a perna do homem à minha frente, o passando por todo o
local em uma carícia.
Olho para Marcos e diferente do que esperava, seu desespero por estar
lhe tocando quando todos podem ver, ele somente segue bebendo o líquido
transparente, então vendo que não o abalei como desejava, abandono o
carinho.
— Me fala mais sobre esse cara, Maria Eduarda, agora. — A voz do
meu pai soa alta, me assustando com seu tom repentinamente raivoso. —
Quem você trouxe aqui?
Beberico um pouco da minha amada cerveja, chegando a soltar um
suspiro de satisfação por ela estar bem gelada como gosto, ressaltando seu
amargor e matando minha sede.
— Não acho que você o conheça, mas pode ter certeza que eu saí
muito satisfeita do que fizemos. — Meu tom é sonhador enquanto observo o
rosto do meu pai ser tomado por um tom avermelhado, quase atingindo a
coloração do vinho que minha mãe bebe.
Um dia ainda vou acabar causando um ataque cardíaco nele.
— Como deixaram você entrar? — é a vez da minha mãe perguntar e
olho para ela como se a resposta fosse óbvia. — Esqueça o que perguntei,
não quero saber porque corro o risco de descobrir que cometeu um crime.
Não pretendo me estressar hoje.
Sorrio de lado quando vejo os meus criadores trocarem um olhar
como se esperassem de tudo da filha, e volto a levar meu pé em direção a
Marcos por baixo da mesa, passando os dedos por sua perna, sentindo seus
pelos se arrepiarem enquanto o faço e subindo até encontrar o meio de suas
coxas, o vendo saltar pelo susto dessa vez, me fazendo conter a risada.
— Não precisam saber de quem se tratava, mas podem ter certeza de
que foi uma das melhores transas da minha vida. — Digo enquanto sorrio e
vou fazendo círculos com meus dedos, no tecido de tactel dos shorts, o vendo
me olhar em desespero. — Sabiam que ele até conseguiu um milagre? Me fez
conversar depois de transarmos a primeira vez, tipo uma sessão terapia,
sabem? E o mais engraçado foi que eu gostei.
— Não queremos detalhes, Duda, pelo amor de Deus, tem criança
aqui. — Minha tia aponta ́ Malu deitada em outro banco, com seu tablet e
fone.
— Só saibam que eu… — minha voz trava na garganta quando vou
tirar meus pés do homem e ele o segura com força, me impedindo de afastar e
também me fazendo dar um pulinho pelo susto de ter suas mãos em minha
pele. — Que foi incrível e… — tenho de puxar o pé, mas ele continua
impedindo, e noto seu sorriso discreto. Desgraçado, o ensinei bem demais. —
… e que estou pensando em não dar mais para ele, porque essa última valeu
por todas, acreditam?
Dito isso, vejo sua expressão se fechar e ele imediatamente solta meu
pé, me permitindo voltar a sentar direito.
— Eu já desisti de você, filha. — Meu pai fala desacreditado, levando
todos a rirem. — Pelo menos agora sei que se previne, e por enquanto isso já
é o suficiente para mim, prova que lhe ensinamos tudo que precisávamos.
Claro, quando me lembro de me prevenir, como foi o caso da
camisinha que encontrou pai, que só lembramos de usar na segunda noite
juntos. Por sorte meu sistema reprodutor é rebelde e quase não funciona, mas
preciso me lembrar de perguntar se Marcos está limpo.
E falando no homem que venho conhecendo uma versão que não
esperava, uma que sabe rir, fazer gracinhas e passar horas conversando
enquanto admira o céu estrelado, repentinamente o mesmo sai atendendo uma
ligação falando em outra língua, que acredito ser o espanhol, e desce para o
interior do iate, me dando uma ideia brilhante.
É como se uma lâmpada piscasse em minha cabeça, junto da minha
boceta.
Marcos
Estou tentando fazer o máximo para não ficar focado no trabalho
durante os momentos com o pessoal, mas a ligação que me tomou cerca de
meia hora era inadiável, sobre o novo hotel de Cancún, que está custando um
investimento altíssimo para nós. Preciso me desculpar com Pedro depois,
detesto ter que sair dos lugares da forma que fiz, sem ao menos avisar.
Acabei usando o quarto como uma espécie de escritório improvisado,
e quando acabamos, minha bexiga estava a ponto de explodir por conta de
toda água que bebi quando aquela diaba estava falando para o seu pai sobre a
noite com o suposto cara, e o ápice do meu nervosismo foi ter o pé da filha da
mãe passeando descaradamente por meu corpo, mas acabo sorrindo sozinho
quando me lembro de tê-la feito perder a fala quando prendi seu pé junto a
mim.
Saio do banheiro da suíte do iate, que justamente dois dias depois de
termos transado por aqui, Pedro resolveu nos trazer em um maldito passeio, e
me seguro na lateral da porta por conta do movimento brusco que as ondas
fazem na embarcação.
— Opa, quer uma ajudinha para se equilibrar? — me assusto com a
voz de Maria Eduarda, que adentra o quarto — Posso me trocar aqui?
A morena começa a tirar seus shorts jeans e o joga na cama, antes de
tirar sua calcinha e a jogar diretamente em minha direção.
Sei que não chego vivo até o ano novo, mas ao menos agora aceitei e
venho tentando me divertir com o jeito dessa mulher.
— Que merda está fazendo, garota? — apesar do meu desespero ao
ver o que faz, seguro o tecido macio nas mãos enquanto vou até a porta, a
fechando.
— Nada demais, vim colocar meu biquíni. — Ela aponta para as
peças em cima da cama, antes de tirar sua camiseta, liberando seus seios
medianos e empinados para minha visão. — Pode me ajudar, senhor Marcos?
Ela faz um biquinho pidão enquanto se aproxima e estende os braços
feito uma criança, como se quisesse que eu a vestisse.
— Definitivamente, não posso. — Meu olhar vacila até seu centro
livre de pelos, subindo para os bicos rijos dos seus seios. — Você é uma
perdição, porra.
Dou dois passos para trás, na intenção de abrir a porta e me ver livre
de fazer uma merda com toda sua família a poucos metros de nós.
— Ah, por favor. — Ela cola seu corpo no meu, e assim que sinto
seus seios contra o meu peitoral igualmente desnudo, meu pau começa a se
agitar nos shorts. — Só uma ajudinha para vestir isso.
Ela pega as peças do biquíni vermelho e os coloca em minhas mãos,
antes de vestir a calcinha da peça.
— Você se mostra cada vez mais desequilibrada, sabia? — pergunto
nervoso, sentindo meu pau crescer cada vez mais por vê-la se inclinar ao
vestir a peça. — Alguns passos de alguém e podem nos pegar aqui, sei que
não tem medo, mas teria criatividade para lidar com isso?
— Claro, só estou pedindo ajuda a um amigo. — Ela pega a peça de
cima, passando pelos ombros e segurando as faixas entre os dedos. — É
apenas isso, você quem está pensando absurdos. Me ajuda?
Ela se vira, colando a bunda empinada e durinha bem contra a minha
ereção enquanto me pede para amarrar o biquíni, que o faço sob tortura,
sentindo minhas bolas se pesarem com o tesão de ter seu corpo tão próximo
dessa maneira.
— Porra, Marcos… — ela geme quando se esfrega em meu corpo. —
Vai ter que resolver isso antes de subirmos, tenho camisinha no bolso dos
shorts.
Tento afastar ela, pegando em seus ombros e a empurrando, mas ela
usa a oportunidade apenas para pegar a embalagem metálica e voltar a se
colar em meu corpo.
— Não vamos fazer nada, já pegaram sua calcinha e uma camisinha
usada lá em cima, se pegarem aqui vão saber quem é o maldito homem. —
Minha voz é sôfrega, urgente por querer tanto quanto ela e precisar pensar
com lucidez por nós dois. — Vamos subir.
— Não, por favor, só uma rapidinha. — Ela volta a se esfregar de
costas e pega uma de minhas mãos, levando até estar em sua boceta, por
dentro do tecido, e encontro-a encharcada por sua excitação. — Sente como
eu estou por você, Marcos, seria um pecado me deixar nesse estado.
Sua voz é manhosa e ela inclina a cabeça em minha direção, sou
atingido por seu perfume e quase escapo um gemido quando ela passa a
morder e beijar meu pescoço.
Porra, não existe juízo que me faça fugir disso.
Movo meus dedos em sua carne escorregadia e antes que caísse na
tentação de saboreá-la aos poucos, me lembrando do conceito de uma
rapidinha, tomo a camisinha de sua mão, ouvindo um gritinho feliz sair da
mesma enquanto apenas coloco meu pau para fora, o vestindo com o material
de látex.
— Vai ter que calar essa boca, escandalosa. — Ela solta uma risada e
beija os dedos, prometendo que vai se comportar. — Se gemer muito alto,
vou ter que enfiar essa calcinha na sua boca.
Mostro o tecido que ainda está em minhas mãos e a safada sorri
descaradamente.
— Talvez eu faça de propósito, então.
— Sua diaba, você é o próprio pecado, sabia?
É a última coisa que digo antes de circular sua cintura com um dos
meus braços, a prendendo ao meu corpo e com a outra mão, afasto para o
lado o tecido de sua parte de baixo, metendo nela em seguida.
Ela solta um gemido alto assim que o faço, fincando as unhas curtas
em meu braço que a sustenta, enquanto a outra mão se gruda em minha nuca.
— Eu disse para ficar quieta, Sweet. — Dou mais duas estocadas
brutas, sentindo o seu interior se apertar deliciosamente em torno do meu
pau, e a filha da mãe geme mais alto. — Não vou ter outra escolha, porra.
Enfio a porcaria da calcinha de algodão em sua boca, vendo quando
ela sorri de lado e morde o tecido, rebolando em meu pau e logo soltando
mais gemidos, que são abafados pelo pano.
— Agora sim, vou te comer como deseja. — Levo minha mão para
seu maxilar, o apertando e adorando a forma que se entrega e confia seu peso
em minhas mãos.
Volto a estocar com força, sentindo meu coração começar a acelerar
desenfreado enquanto sua respiração também se acelera junto a minha.
Nossos corpos se chocam, criando atrito e por conta do local fechado, logo
estamos suados e escorregadios.
Inclino seu corpo para frente, tendo a visão de sua boceta engolindo
meu pau por inteiro, o esmagando, me levando a loucura do prazer, e solto
um gemido rouco com a visão que tenho.
Mais algumas estocadas e gemidos tanto meus quanto delas, e sinto
uma pontada anunciar meu orgasmo no mesmo momento que volto a colar
nossos corpos e sinto suas paredes me apertarem com toda força, anunciando
que também está prestes a gozar.
— Só vai gozar comigo, quando eu deixar, Maria Eduarda. — Falo de
maneira imperativa em seu ouvido e nos assustamos com um barulho
próximo, que faz com que ela me olhe assustada, negando com a cabeça. —
Ah sim, sei que é bem corajosa, então agora só vai gozar quando eu disser
para gozar, ouviu?
Minha voz é grossa e a vejo revirar os olhos quando rebolo com meu
pau dentro dela. Vou deixando beijos em sua orelha, segurando seu maxilar
para mim e é uma visão do caralho tê-la gemendo com a boca preenchida por
sua calcinha, enquanto sinto sua boceta deslizando em meu pau durante as
estocadas.
Aumento a velocidade, intercalando com algumas reboladas e quando
sinto que vou gozar, deixo uma mordida no lóbulo de sua orelha.
— Pode gozar agora, Sweet.
É como se ela realmente só estivesse esperando meu comando, pois
logo suas unhas estão me arranhando com toda força e suas pernas se
enfraquecem enquanto sua boceta me aperta por conta do seu orgasmo. Sinto
meus jatos na camisinha, meu coração batendo frenético e até sinto uma leve
fraqueza nas pernas pela força do gozo.
Duda se desmancha em seu orgasmo, soltando todo o peso do corpo
em meus braços, que a seguram firme enquanto também recupero o fôlego. Já
estava preparado para ser tirado a tapas da posição que nos colocamos,
mesmo que ela caísse no chão por ainda ter as pernas tremendo, mas me
surpreendo quando seus braços seguram os meus e sua cabeça se joga para
trás, apoiando em meu ombro.
Ela está suada e ofegante, os olhos fechados e quando levo uma mão
para tirar a calcinha de sua boca, a mesma abre um sorriso letárgico, que faz
um suspiro escapar de mim, junto de um sorriso.
— Já te disse que é linda, mas preciso dizer o quanto fica ainda mais
depois de gozar. — Ela solta uma risada e suspira antes de se afastar. —
Vamos à sessão de terapia, agora?
Meu tom é brincalhão e ela nota isso quando se vira dando risada.
Tiro a camisinha na intenção de descartá-la corretamente e, mais uma vez, a
garota impulsiva me surpreende ao enlaçar meu pescoço e colar nossas bocas
em um beijo lento e suave.
Até o momento os nossos beijos haviam sido cheios de fogo e tesão, o
que não faltam nesse, mas todos foram tão apressados e afoitos, que agora
saboreando sua boca com calma, me sinto tentado a ligar o foda-se para
absolutamente tudo, e a fazer minha outra vez nessa cama, com lentidão e
cuidado, me deliciando de tudo que podemos oferecer um ao outro.
E no fundo, tanto a falta de medo quanto de culpa, me assustam mais
do que a ideia de estar me acostumando a ela, muito além do que eu deveria.
Limpo as lágrimas que caíam em cascatas há alguns minutos e me
olho no espelho do banheiro.
Sou maravilhosa até chorando, simplesmente não existe defeito.
Antes de jogar um pouco de água gelada para amenizar a vermelhidão
e o inchaço, fico tentada a tirar uma selfie, mas estaria pagando muito a
língua, já que acho a coisa mais brega e horrorosa do mundo essas pessoas
que tiram foto chorando.
— Duda, tá tudo bem? — a voz de Lua vem preocupada depois de
duas batidas na porta. — Posso entrar?
— Pode sim. — Sorrio quando sua cabecinha aparece em um vão
mínimo que ela abre. — Oi.
— Oi? — ela me olha de corpo inteiro e então invade o banheiro,
furiosa. — Acordou chorando feito doida e não falava se estava com dor ou
algo do tipo, queria me matar de susto?
Começo a rir da mesma, que acaba me desferindo alguns tapinhas
leves na minha bunda, me levando a gemer por conta da cólica terrível que
acordei hoje.
— São só meus hormônios me enlouquecendo. — Começo a tirar os
produtos de skincare que vou usar, da minha cestinha dentro do armário. —
Nem sei o porquê chorei, mas acordei com um aperto tremendo na garganta,
que se não chorasse ia acabar me sufocando. Percebeu que coloquei minha
playlist triste pra conseguir chorar? Nem mesmo pensar no anel da Cartier
que perdi no mar nas férias passadas, ajudou as lágrimas a saírem.
— Como não perceber? — ela se senta na tampa do vaso enquanto
começo a limpar meu rosto. — Acordei assustada com o colchão tremendo,
meus ouvidos estourando com “All i Want” tocando e você soluçando.
Pensei que alguém tivesse morrido.
— Pode ficar tranquila, está tudo sob a mais perfeita ordem. —
Começo a espalhar a máscara pelo meu rosto. — Estou de férias e sem
preocupações, sendo fodida regularmente por um homem gostoso, faço a
noite das garotas todos os dias com a minha melhor amiga. Só seria ainda
mais perfeito se meu útero não tentasse me assassinar.
Olho para ela, que tem um sorriso nos lábios e, antes que pudesse
dizer algo, seus olhos voltam para o celular em mãos.
— Por que não me contou que o garoto da Itália vem te visitar? — ela
volta a olhar para mim surpresa, notando meu tom magoado.
— Porque sempre que falo dele você zomba da situação por ele ser
mais novo que a gente. — Ela diz sorrindo, como se fosse óbvio e como se eu
não fosse ficar magoada com isso, e geralmente não ficaria até porque sei que
às vezes sou bem cruel com minhas palavras, mas hoje consigo sentir meus
hormônios borbulhando dentro de mim. — Ei, tá chorando de novo?
Nego enquanto sinto as lágrimas quentes descerem e estragarem a
porcaria da máscara, então jogo água no rosto outra vez.
— Tá chorando sim! — ela exclama surpresa enquanto se levanta e
vem até mim, me fazendo soltar um soluço quando seus braços me rodeiam.
— Meu Deus, quanto tempo não te vejo dessa forma? Qual foi a última vez
que sua menstruação veio?
— Seis meses? Não sei, só sei que agora com certeza ela vai vir
jorrando e destruindo tudo. — termino de secar o rosto e aceito seu abraço
enquanto ela me guia até o quarto. — Perdão por as vezes ser tão insensível,
mas sabe que apesar de tudo que eu falo, vou sempre te apoiar no que fizer,
mesmo que seja a loucura de se envolver com um garoto que mal saiu das
fraldas, e se enfiar em uma relação à distância.
— Ei, eu sei. — Ela diz rindo enquanto passa a mão em minha
cabeça, com dificuldade já que sou uns bons quinze centímetros mais alta que
ela. — Só não te contei porque ele ainda não sabe exatamente quando vem e
queria te dar uma data precisa, mas então lembrei que eu precisava falar com
seus pais antes.
— Vou acreditar na sua palavra. — Enxugo mais lágrimas e começo a
rir da situação deplorável que estou e ela deixa um beijo em meu ombro antes
de me soltar. — Agora vamos esquecer que esse momento vergonhoso
aconteceu.
— Toc toc. — Meu pai coloca a cabeça para dentro do quarto. — Já
estão prontas para ir?
Droga, me esqueci completamente do passeio de hoje. Todos
resolveram ir a um parque natural que tem aqui perto, mas eu me recuso a
sair de casa nesse estado que estou.
— Ei, minha princesinha, o que foi? — ele entra no quarto e me
abraça após olhar minuciosamente para o meu rosto. — O que aconteceu?
Alguém fez alguma coisa que te magoou?
— É mais fácil ser o contrário, tio. — Aponto o dedo do meio para
Lua, que vai em busca de sua bolsa. — Beijinhos, Eduarda, até mais tarde.
Ela beija minha bochecha antes de sair do quarto, já me conhecendo o
suficiente para saber que não vou querer sair.
— Como assim? — o homem que sempre soube como me confortar
não importando a situação, olhou para o meu corpo ainda vestido no pijama
de estrelas. — Por que não está pronta, Dudinha?
— Acordei com meu útero e hormônios me assassinando hoje, não
vou sair de casa nem que me paguem. — Levo meus dedos até seus lábios, o
impedindo de dizer algo sobre ficar comigo e falar com minha mãe para ficar
também. — Quero ficar sozinha nessa casa, preparando o café da tarde de
vocês, que vão chegar famintos, enquanto aproveito de um bom vinho seco
porque a nossa boa Coroninha acabou, ouvindo minha loirinha no último
volume.
Seus ombros caem, sabendo que não adianta me contrariar.
— Sabe que eu largaria tudo para ficar com você, então se acaso
piorar ou se sentir mal em ficar sozinha, promete ligar para a gente voltar?
— Assinto enquanto beijo meu dedo, finalizando a promessa como a nossa
tradição manda, e o abraço de volta quando ele se despede. — Preciso ir
porque sua tia e Marcos foram juntos na frente, já estamos atrasados.
Como é?
Meu coração para por alguns segundos e sinto minha cabeça tonta
enquanto a erguia em direção ao meu pai.
— Por que eles foram juntos e antes de todos? — um sorriso
malicioso se abre na boca do meu pai e detesto isso. — Malu foi junto, né?
— Foi sim, e foram juntos porque Carina ofereceu levar ele,
precisamos dividir o pessoal nos dois carros e ele já estava pronto. — Ele
deixa um beijo em minha testa, não percebendo o quanto queimo de raiva por
dentro. — Tchau filha, melhoras e, por favor, nos ligue caso precise ir ao
hospital ou queira companhia.
Assinto enquanto o assisto sair do meu quarto e meio que o odeio por
sua saída não levar o gosto amargo que ficou em minha boca.
Minhas veias parecem queimar e a boca do meu estômago dói, me
causando uma ânsia. Reconheço esse sabor, e não consigo acreditar que estou
com ciúmes de Marcos.
Pensar nele sozinho com a minha tia em um carro, imaginando se vai
agir da maneira que age comigo ou não, me faz sentir pontadas de dor na
cabeça, nos mesmos lugares que exibo meus chifres.
Mas que porra.
Nunca liguei para isso, não sou possessiva, mas nem fodendo que
quero dividir esse homem, que foi um grande achado e terrível de conquistar,
muito menos com a minha tia!

— “Should've gave you all my hours when I had the chance.”[7]


A voz desafinada e chorosa de Maria Eduarda explode pela casa
assim que passo pelo batente da porta de entrada.
Franzo o cenho e meu nariz se aguça sentindo cheiro de algo doce
vindo da cozinha, de onde também vem a voz e a música no último volume.
Adentro o local repleto de móveis claros, e deixo as sacolas que
carrego em cima da bancada oposta a que a morena está, onde mexe algo nas
panelas do fogão. Ela sequer nota minha presença, então aproveito o
momento para admirá-la um pouco. Ela está de pijama, um tom de azul claro
com várias estrelas pretas, seus cabelos estão presos em um coque muito
bagunçado e vez ou outra posso ver que ergue a colher até a boca, como se
fosse seu microfone.
— “Take you to every party, 'cause all you wanted to do was
dance”[8] — ela solta um soluço e não consigo deixar de rir com a cena que
vejo. — “Now my baby is dancing, but she's dancing with another man”[9]
Assim que seus pais chegaram no parque sem sua presença, não me
contive e questionei o porque não havia ido, jurei ter visto um sorriso de
canto se abrir no rosto de Pedro quando perguntei, e ele explicou que ela
acordou muito mal hoje, estava cheia de cólicas e sofrendo por alguma coisa.
Não teve como não me sentir em partes aliviado pelo seu sofrimento,
porque se tem cólica é um sinal de que está menstruada ou perto disso, o que
significa nada de gravidez, e considerando que esquecemos a camisinha
algumas vezes, isso é um alívio e tanto.
Já sou péssimo sendo pai, imagina sendo pai do filho da filhinha do
meu melhor amigo?
Minha cabeça chega até a ficar tonta.
— “My pride, my ego, my needs and my selfish ways”[10] — desligo o
som e ela se assusta, se virando em minha direção. — Mas que porra é essa?
— Gosta da música por se identificar com esse trecho? — Aponto
para o caixinha enquanto a vejo desligando o fogo antes de voltar para mim
outra vez. — O que está fazendo para comermos?
Ela me olha estagnada, parecendo em choque por minha presença e
apesar de suas bochechas já estarem vermelhas por conta do choro, acredito
que também se sinta envergonhada por ter sido pega nesse momento.
Meus olhos estudam sua expressão, tentando descobrir se vai me
botar para fora a pontapés ou não, e enquanto faço, sinto me perder um
pouco.
Nunca pensei que alguém pudesse ficar tão bonita com o rosto todo
inchado por conta do choro e com lágrimas manchando as bochechas, mas até
isso ela consegue. Seus olhos estão ainda mais claros, um feixe de luz da
janela também os torna ainda mais dourados, como ouro líquido.
É perfeita.
Ela enxuga as lágrimas e limpa a garganta.
— Fiz um bolo de cenoura e acabei a cobertura dele agora, mas
também vou fazer um de fubá. — Ela cruza os braços sobre o peito e seu tom
delicado me entrega que realmente não está bem, mostrando sua fragilidade.
— Por que voltou?
— Porque você não foi. — Vejo seus olhos dobrarem de tamanho e
sinto meu coração descompassar de forma estranha, engulo em seco,
pensando que realmente voltei por ela, sem um pingo de medo de admitir. —
Seu pai disse que não estava bem, então um tempo depois dei uma desculpa
sobre uma reunião e peguei um Uber. Comprei algumas coisas para você no
caminho.
— Por quê? — Sua voz é fraca e ela dá um passo à frente, tirando os
chocolates que trouxe para ela, junto de algumas balas e chicletes. Também
trouxe uma Corona, vi hoje cedo que as suas acabaram. — Marcos, por...
— Porque você não estava bem, Maria Eduarda. — Tomo coragem e
me aproximo dela, me deixando guiar por minhas vontades e tomo seu corpo
em meus braços. — Porque ninguém merece ficar doente sozinho, sei como é
solitário e só atrasa o processo da recuperação.
Deixo de fora a parte que voltei porque me angustiou pensar nela
sozinha nessa casa enquanto sofre de dores. Porque senti a estranha
necessidade de cuidar dela, sabendo o quanto é teimosa e detesta ajuda,
principalmente depois do seu próprio pai dizer que ela prefere estar sozinha
quando algo não vai bem.
— Não estou doente. — Ela diz com seu tom de teimosia, mas se
deixa ser abraçada por mim. — Mas também não estou a fim de reclamar de
nada hoje.
Ela me olha nos olhos e constato que deve estar muito mal, quando os
vejo se enchendo enquanto ela engole com dificuldade. Deixo um beijo em
sua testa antes de tomar sua boca para mim, em um beijo lento.
Nos deliciamos um da boca do outro com calma, sinto minhas veias
pulsarem em euforia e é estranho me sentir assim apenas por um beijo,
mesmo sabendo que essa garota não é qualquer uma. Sinto meu coração bater
como um louco enquanto seus dedos deixam uma carícia gostosa em minha
nuca e também sinto sua pulsação intensa quando desço meus dedos para seu
pescoço, deixando um carinho delicado ali.
Essa garota está começando a mexer comigo de uma forma diferente
da qual imaginava quando começamos tudo isso, e tenho medo de perder
outra coisa, sem ser a cabeça e a paciência, por ela.
Faz cerca de meia hora que cheguei na casa e nesse tempo, Maria
Eduarda já bebeu sua cerveja, chorou quando começou a tocar uma música de
sua cantora favorita e me contou a história por detrás da letra de “Last kiss”,
que fala sobre o relacionamento com um ex da cantora, onde a parte inicial da
música dura exatamente o tempo que o babaca levou para terminar com ela
por ligação, vinte e sete segundos, e agora estou ajudando-a a preparar um
bolo de fubá.
— Coloca mais açúcar nisso aí, pelo amor de Deus, homem. — Ela
ordena enquanto eu coloco o ingrediente aos poucos. — Se não jogar esse
pote inteiro de uma vez, vou tomar da sua mão e eu mesma fazer.
Sorrio em ironia para ela, passando a colocar ainda mais devagar.
— Até agora não entendi o porquê aceitei sua ajuda — ela balança a
cabeça.
Termino de colocar o açúcar na bacia com os ovos e o óleo e quando
me estico na bancada para ligar a batedeira, Maria Eduarda faz o mesmo,
fazendo nossas cabeças se chocarem.
Me afasto colocando a mão onde fui atingindo, sentindo o local latejar
e fecho os olhos por conta do impacto.
Quando volto a abri-los, encontro Duda massageando sua cabeça
também, mas com um sorriso divertido nos lábios.
— Desculpa, provavelmente foi um dos meus chifres que te fez sentir
mais dor que eu. — Ela diz rindo e me espanto. — O que foi?
Ela liga a batedeira, e a encaro ouvindo o zunido baixo do
eletrodoméstico.
— Talvez nossos chifres tenham se encontrado, então. — é sua vez de
parecer surpresa, e chega a levar as mãos sobre a boca.
— Quem foi a sem noção que teve coragem de te trair? — ela me olha
de cima a baixo.
— Minha ex-mulher. — Suspiro, me lembrando do dia que a
encontrei com um dos nossos motoristas. — Os peguei transando no nosso
carro.
Ela abre a boca em choque, seus olhos indo de um lado ao outro como
se ligasse as informações.
— Por isso não transa em carros, pegou trauma. — Assinto pesaroso.
— Se separaram depois disso?
Ela começa a mexer em alguns utensílios da bancada, adicionando os
outros ingredientes na batedeira.
— Um tempo depois, e nunca mais tive nada sério com ninguém.
Ela me olha como se estivesse entendendo perfeitamente o que falo.
Fica difícil de confiar depois de uma apunhalada tão grande.
— Se eu que fui traída em um namoro de dois anos, já evito ficar com
alguém por mais tempo que o necessário, imagino você que chegou a se casar
com a vadia.
Solto uma risada da forma que ela fala.
— Fomos casados por quase sete anos. — Minha voz é grave com o
peso da lembrança. — Apesar de tudo, sou grato por nossa trajetória.
Eu fui completamente apaixonado por Cassandra, chego a acreditar
que ela foi meu primeiro amor e isso deve ter me cegado para o seu jeito. No
início ela era perfeita, mas com o tempo notei que era mesquinha, só se
preocupava com o próprio nariz, sem dar importância a quem estivesse ao seu
redor. Não tinha um pingo de empatia e chegava a ser desprezível com
aqueles de classe mais baixa.
Começamos a ter problemas no casamento por conta disso, cada vez
mais discussões, até o dia que a flagrei com o motorista. Levei o casamento
até ali por pensar que nos amávamos e que ainda salvaríamos nossa família,
mas não notei o quanto só eu acreditava nessa mentira.
— Ei. — Os dedos da morena estalam na minha frente, me trazendo
de volta a realidade. — Acho que me ensinou a gostar das sessões
terapêuticas e sou muito curiosa, então pode começar a me contar essa
história direito
Penso em não contar, mas quando vejo seus olhos empolgados para
me ouvir, tão diferente das outras vezes que estivemos assim, abro um
sorriso, pronto para contar uma parte da minha vida a ela.
Uma sensação gostosa tomando meu peito por compartilharmos um
momento íntimo.
— Conheci Cassandra uma semana depois de chegar em Nova Iorque,
não sei se seu pai chegou a lhe contar, mas assim que completei dezoito anos
me mudei daqui. — Ela assente enquanto volta a ligar a batedeira. — Eu
estava a uma semana lá, completamente perdido, ficando na casa de um
colega que já havia ido alguns meses antes, e ela me ajudou quando eu estava
pedindo emprego em um restaurante, fazendo confusão com a língua. Apesar
de saber me comunicar, não era fluente e ela me ajudou. — Mesmo sem
querer, um sorriso se abre em meu rosto ao me lembrar daquele dia,
Cassandra estava vestida com suas roupas de patricinha da época, seus
cabelos estavam soltos e seu sorriso era lindo. — Me apaixonei por ela.
— Dá pra notar, a forma que fala dela, apesar de ter ressentimento,
não deixa esconder o quanto te fez bem também. — A voz da morena é
serena, e ela sorri enquanto despeja a massa na forma, a levando para o forno.
— Não sei que tipo de droga venho tomando e como tenho ingerido, que me
faz dizer isso, mas até que estou gostando dessa coisa de conversa, sabia?
Vem.
Ela liga o timer do fogão e me puxa pela mão, me jogando no sofá e
se sentando em meu colo, se aninhando em mim como uma gata manhosa.
Aproveito para apertá-la, beijando sua boca de maneira suave e ela
suspira.
Alguma coisa está começando a mudar entre nós, em nossa forma de
agir e sinto que ela também percebe isso.
— Continue sobre sua história de amor. — Ela diz rindo. — Ou seria
tragédia?
— A segunda opção. — Minha careta arranca uma risada dela. —
Bom, nos apaixonamos e apesar de ter me emocionado com o sentimento,
como sempre fui cauteloso em minhas relações fomos nos conhecendo aos
poucos, sem apressar nada, tudo no tempo certo, e quando finalmente conheci
sua família, não esperávamos que o lugar que eu havia conseguido um
emprego, era justamente no novo hotel do pai dela.
Vejo a expressão surpresa tomar conta do rosto de Duda, sua boca se
abrindo em um “o” perfeito, que me fez ter vontade de tomá-la com a minha.
Acredito que essa garota vem me ensinando a ser impulsivo, pois é
justamente o que faço, tomando-a em um beijo. Sorrio em sua boca quando
ela me empurra aos resmungos.
— Agora não é hora de putaria, é a hora da fofoquinha. — Ela diz
séria. — Estou quase indo pegar uma bebidinha pra acompanhar essa história,
então continue.
Ela espera em expectativa e algo dentro de mim fervilha de felicidade
ao notar a forma com que demonstra querer saber mais sobre a minha vida,
mesmo sendo somente uma curiosidade insignificante.
Ao mesmo tempo que meu sangue ferve em alegria, algo embrulha
meu estômago ao me lembrar qual foi a última vez que senti algo parecido
por uma mulher.
Droga.
Ela me dá dois tapinhas para continuar e tento sorrir, organizando
meus pensamentos para satisfazer sua curiosidade.
— Enfim, eu não havia lhe dito em qual hotel estava trabalhando,
sempre fui muito reservado com meus casos amorosos, por receio de dar
demais para algo sem futuro, então foi uma grande surpresa descobrir que
meu futuro sogro, era na verdade o dono de tudo aquilo. — Ela concorda,
como se entendesse o meu susto na época. — Eu sabia que ela era rica, mas
não tinha noção da magnitude. Para resumir, acabamos nos casando, nos
mudamos para Chicago, onde fica a sede e o primeiro hotel de seu pai, e
nesse meio tempo conquistei a confiança dele, nos tornamos até amigos e ele
investiu em mim, ambos acreditavam no meu potencial. Me pagaram estudos
e especializações e, aos poucos, fui subindo de cargo por meu próprio mérito,
até chegar à gerência geral da rede do hotel e, como meu sogro gosta de
lembrar sempre que fala de sua aposentadoria, herdeiro de todo seu império.
— Caralho, não fazia ideia. — Ela se ajeita em meu colo, parecendo
realmente deslumbrada com a história da minha vida. — Quer dizer, era de se
esperar que não nasceu em um berço de ouro a julgar por sua amizade desde
a infância com meu pai, já que ele também era meio pobre.
Não consigo conter a risada que me escapa, e inalo seu pescoço,
sentindo o seu aroma único, doce e suave que me embriaga cada vez mais.
Sweet, combina mesmo com ela.
— Nada contra os pobres, claro, sem desmerecimento nenhum. — Ela
tenta corrigir, como se eu pudesse achar essa garota perto de ser arrogante por
possuir a condição que tem. — Não sou essas garotas mimadas que só por
terem nascido com uma boa condição, destratam os que vem de outra classe.
Respeito muito aqueles que precisam batalhar, sabe? Assim como você e meu
pai.
— Eu sei, suas atitudes nunca me provaram o contrário disso, —
sorrio me lembrando das vezes que já estivemos juntos por aí, sempre
fazendo questão de tratar todos igualmente, respeitosa e generosa. — Enfim,
essa é a minha história, acabei me apaixonando pelo meu trabalho, até demais
eu acho, viajo o mundo todo, conheço tantos lugares e países que antes
somente sonhava em visitar, e sei que grande parte de tudo isso, devo à
família de Cassandra, mesmo quase a repudiando hoje em dia, ainda sou
muito amigo de seu pai.
— Deu para notar que fala dele com muito carinho. — Ela concorda.
— Mas pulou a melhor parte. — Arqueio as sobrancelhas em
questionamento. — O drama romântico.
— Não vai querer ouvir sobre isso. — Faço uma careta e tento
colocá-la no sofá para me levantar, mas a filha da mãe se agarra ao meu
corpo como um filhote de preguiça, me fazendo levá-la comigo quando
levanto e rio de sua atitude. — É sério isso, meu docinho?
— Meu docinho? — é sua vez de rir. — Que isso agora?
— Não sei, você é uma garota doce por baixo de toda essa marra, tem
um cheiro docinho gostoso também. — Volto a me sentar e enquanto falo,
deixo um cheiro em seu pescoço, sentindo-a arfar. — E me disse que o Sweet
é brochante.
— Pois não acho mais, mas só quando está me fazendo gritar seu
nome de tanto prazer. — Ela sorri. — Não coloque apelidos, conversar já está
sendo minha grande exceção para você, não torne isso importante demais,
senhor Marcos.
Consigo sorrir com sua fala, mas por dentro sinto meu coração
diminuir um pouco de tamanho. Estou me lembrando porque não mantenho
contato diário com meus casos sexuais.
Sou emocionado quando me deslumbro por alguém.
Por trás dessa grande fachada de homem sério, existe um garoto que
sempre foi carinhoso, amoroso e romântico. O deixei de lado pelo medo de
ter todos os relacionamentos fracassados, como era o dos meus pais, como foi
meu casamento.
Por isso não me permiti mais, por isso que fujo de tudo.
Sou covarde.
— Vamos, conte sobre seu casamento fracassado. — Ela volta a se
sentar como estava antes, as pernas por cima das minhas, a bunda gostosa no
sofá e os braços rodeando meu pescoço.
Respiro fundo, pronto para lhe contar uma das minhas maiores
frustrações.
— Sempre quis ser casado, sabia? Diferente do seu pai, nunca fui
impulsivo nas relações, e depois de ter certeza que era Cassandra, nos
casamos. — Ela ergue as sobrancelhas, surpresa. — Dois anos depois de
casados, três anos juntos ao todo, ela ficou grávida. Surtei de tanta felicidade.
Minha mente é levada para lembrança de quando descobri que seria
pai. Meu peito parecia explodir de tanta felicidade, me lembro de ter chorado
horrores, ter pego Cassandra nos braços e sair rodopiando com ela no nosso
quarto. Foi um dia tão feliz, assim como o nascimento de James e os poucos
anos que se seguiram.
— Seu nascimento foi como uma benção para nós, eu me sentia o
homem mais sortudo e feliz do mundo. — Sinto meus olhos lacrimejar, me
lembrado também de como deixei tudo escorrer entre meus dedos. — Mas
pouco tempo depois, fui enxergando como Cassandra era podre, arrogante,
mesquinha, e enfim, começamos a discutir com frequência e sempre que o
assunto do divórcio surgia, nos lembrávamos de James, apesar de hoje saber
que teria sido muito melhor para ele, termos nos separado logo. — Respiro
fundo, tomando fôlego para lhe contar a parte da minha vida que mais me
traz pesadelos até hoje. — A nossa última briga séria, foi pouco antes de
James ser internado.
Sinto seu corpo pequeno se remexer em mim, mas não olho para ela,
meus olhos estão fixos na mesinha de centro da sala, como se estivesse
revisitando meu passado.
— Deve se perguntar por que não estou nas fotos do casamento de
seus pais e a resposta é que eu estava assistindo meu filho lutar por sua vida,
em uma cama de hospital. — Fungo, sentindo que estou prestes a chorar por
lembrar dessa época dolorosa, mas a culpa é que me atinge em cheio, me
lembrando do que fiz a ele anos depois, de como praticamente o abandonei
todos esses anos. — Ele ficou um tempo internado, os médicos faziam
exames e mais exames e não sabiam o que ele tinha, até que descobriram a
meningite[11].
— Meu Deus, eu sinto muito. — Sinto um carinho suave em meus
ombros e consigo sorrir com o conforto que me traz. — Não precisa
continuar, se não quiser.
— Quero sim. — Aperto mais seu corpo ao meu, ainda sem ter
coragem de olhar para ela, prestes a chorar. — Foram meses no hospital,
inúmeros tratamentos até que ele se curasse e isso acabou meio que unindo eu
e Cassandra outra vez, ao menos por um tempo. Foi insuportável assistir
nosso filho naquela condição e acredito que se não fosse por ela me
amparando, me dando força e vice-versa, não teríamos suportado.
Me assusto quando sinto seus dedos passando por minhas bochechas,
limpando as lágrimas que caíram sem que eu notasse.
As limpo e deixo escapar uma risada nervosa, envergonhado por
chorar desse jeito em sua frente, jogando meus problemas passado para seus
ouvidos.
— Desculpe, acho que você nem quer mais ouvir os lamentos de um
velho chorão.
Faço menção de levantar, mas ela me segura, empurrando-me pelo
peito até estar recostado no sofá outra vez. Ela segura meu queixo, me
fazendo olhar para ela, a encontrando com os olhos cheios de lágrimas
também.
— Não consigo imaginar a dor que foi ter que passar por isso. — Ela
deixa um beijo casto em minha boca, sendo carinhosa. — Vamos até o fim
com essa sessão de terapia, docinho.
Ela diz o apelido de forma irônica, me fazendo rir e fico alguns
minutos calado, apenas absorvendo o momento.
— Vamos, continue.
— Bom, depois disso como sequela veio a epilepsia[12], estávamos tão
envoltos por ele, que esquecemos dos nossos problemas por um tempo. —
Limpo a garganta. — Então cerca de um ano depois, as brigas voltaram, eu
passava tempo demais irritado com absolutamente tudo e acabei sendo
terrível com James em um dia desses. — Meus olhos transbordam de novo,
me recordando de quando acabei com tudo. — Me senti o pior pai do mundo
e, somado a traição que descobri perto desse dia, tomei a decisão de me
afastar completamente, por medo do que nossas vidas tornaram, com receio
de ser ainda pior no futuro. Não tive o melhor exemplo dentro de casa, sabe?
Tive medo da história se repetir, então nos divorciamos e, depois disso,
passei a me dedicar exclusivamente ao trabalho. Ainda via James aos finais
de semanas, um tempo depois em tempos mais espaçados, até negligenciá-lo
por completo. Poucas ligações para saber como ele estava, nosso fuso horário
não batia nunca por eu sempre estar em uma viagem e, aos poucos, o perdi, o
afastei quase que por completo.
Mais lágrimas voltam a cair sem meu controle, me sentindo uma
porcaria de pai, de homem. A risada do meu pai ecoa no meu cérebro, a voz
arrastada do bêbado fedido, jogando na minha cara que acabei me tornando
pior que ele.
— Pelo que eu percebi esses dias, você está tentando contato. — Sua
voz é receosa. — Está tentando consertar as coisas.
— Estou. — Assinto, olhando em seus olhos enquanto ela limpa
minhas lágrimas outra vez. — Faziam anos que eu não tirava um tempo longe
de tudo, para pensar sem o peso das preocupações excessivas do trabalho e
ter esse tempo aqui com vocês, vendo como meu amigo se tornou um pai
incrível, me fez ter medo de esperar ser tarde demais. Quero meu filho de
volta, quero saber como está, quero reconquistá-lo apesar de não saber como.
Desejo saber como vai seu coração, fazer parte da vida dele outra vez.
— Nunca é tarde demais para boas intenções, Marcos. — Ela suspira.
— Se minhas experiências com amigos que são cheios de problemas com os
pais me ensinaram, é que apesar de negarem, estão sempre esperando e
torcendo por um pedido de perdão, por uma aproximação. Não desista dele só
por ele ter desligado na sua cara, ele não deve estar sabendo lidar com sua
tentativa de se aproximar outra vez, deve ter medo de ser só momentâneo,
precisa provar que não é.
— E não é, mesmo, preciso me desculpar por tudo, lhe contar o
porquê fiz o que fiz naquela época, o que me levou a me afastar. — Suspiro,
deixando minha cabeça descansar na curva de seu pescoço, aceitando seu
cafuné. — Me culpo até hoje pelo que fiz a ele, preciso lhe contar que…
Minha voz é silenciada por seus dedos.
— Não preciso ouvir suas explicações do porque fez o que quer que
tenha feito. — Sua voz é carinhosa, compreensiva, me mostrando um lado
seu, desconhecido até então. — James é quem precisa ouvi-las, não eu.
Suspiro, concordando com um aceno, e minha mente viaja por um
tempo, meu coração se preocupa com James, pensando naquela
monstruosidade que ele chama de moto.
Sequer sabemos onde o filho da mãe está, meu Deus.
E se ele sofrer um episódio epiléptico quando estiver naquilo? Se não
tiver ninguém perto para socorrê-lo?
Pois quando nos aproximarmos e eu recuperar sua confiança, a
primeira coisa que vou mandar fazer, é colocar rodinhas naquela coisa, dar
jeito de torná-la mais segura.
— Você até que é boa como terapeuta, sabia? — volto a puxar
assunto depois de um tempo em silêncio. — Tem um coração bonzinho
batendo aí dentro, mesmo que negue isso.
Ela solta uma risada quase diabólica e muda de posição, levando as
pernas para cada lado do meu corpo, rebolando a boceta em meu colo, me
levando a suspirar e sentir parte do meu sangue ser levado para meu pau.
— Mas saiba que apesar disso, ele é feito de pedra, altamente
destrutivo. — Ela sorri, puxando meus lábios para si, entre os dentes. —
Então trate de proteger o seu, que já percebi ser bem molenga e fraco.
— E se eu não quiser protegê-lo?
A pergunta é séria, sinto meu pulso se acelerar esperando sua
resposta. Sua expressão continua taciturna, mas consigo quase ouvir as
engrenagens de seu cérebro voltando a se mover após travarem pela minha
fala.
— Sou a filhinha do seu melhor amigo. — Ela acaba comigo quando
diz e sabe disso, pois sorri docilmente. — Trate de manter seus sentimentos
covardes, sempre se lembrando disso.
— Eu estava pronto para ter uma ereção, acabou com ela quando me
lembrou disso.
Ela ri, colando nossas boas e voltando a rebolar.
— Essa questão eu resolvo rapidinho, seu pau não é tão medroso
quando você.
Ela volta a me beijar, sugo sua boca para mim, sentindo a lembrança
amarga da cerveja que tomou há pouco, saboreando enquanto minhas mãos
apertam seus quadris, incentivando seu rebolado.
Meu coração sobe a boca quando ouvimos a porta abrir, a risada de
todos ecoando, por conta de algo que foi dito antes. Ao mesmo tempo que
jogo Duda para longe, ela salta do meu colo, mas me sinto quase infartando
quando ao invés de me deixar sair correndo, ela pega minha cabeça e gruda
ao encosto do sofá, segurando meus olhos com os dedos e pego uma
almofada para tampar minha ereção.
— Marcos? — é a voz de Carina que ouço e posso jurar ter visto
Duda revirando os olhos quando ouviu a voz da tia. — O que estão fazendo?
Pela visão periférica vejo todos entrando ao lado da loira, meu amigo
sorrindo para algo que a esposa disse, antes de fixarem os olhos em nós. A
pequena Malu acorda sonolenta nos braços do avô.
— Nós… quer dizer… eu — minha voz treme, sinto isso, o suor
começa a pinicar minha testa. — Nina, meu olho…
Uso o apelido antigo de Carina, que acredito nem usar mais hoje em
dia.
— Entrou um cisco, que estava ajudando a tirar. — A voz de Maria
Eduarda é estranhamente rude, antes de assoprar com força demais em meu
olho.
— Você ja fez isso nele antes, Dada. — A garotinha diz com a voz
mole, coçando os olhos enquanto se espreguiça. — Lembra daquele dia no
carro, tio?
A atenção de todos recai sobre ela, e sinto meu coração bater tão
acelerado, que me passa a impressão de que todos poderiam ouvi-lo.
— Os cílios dele são um pouco grandes, amorzinho, estão sempre
dobrando e atrapalhando a vista. — A morena disfarça e sorri para a prima,
soprando com mais calma dessa vez. — Prontinho.
Ela se afasta sorrindo para a família enquanto fico com os olhos
ardendo, e o coração galopando pelo medo. Terceira vez que quase fomos
pegos… ou quarta? Já até perdi as contas.
Respiro mais aliviado quando todos começam um novo assunto, nos
contando tudo que fizeram nesse tempo que não estive e indo atrás da
morena, em direção a cozinha, para cobrar o café da tarde que ela prometeu.
Que dia, Marcos Freitas, que dia.
Minha cabeça está longe.
Não sou de divagar muito, principalmente quando alguém está
falando comigo, mas ultimamente tem sido frequente.
Apesar de ouvir a voz de Carina, não consigo entender nenhuma
palavra que sai de sua boca, pois tudo que consigo pensar é na pontinha de
esperança que passou a brotar em meu coração.
Após o susto que Duda e eu passamos ontem, parei para pensar em
nossa conversa quando me deitei, sobre o que me disse sobre não desistir de
James, mais especificamente. Não que eu estivesse cogitando a ideia, mas fui
contra os conselhos de Pedro sobre esperar ao menos mais alguns dias para
voltar a tentar falar com ele, e mandei uma mensagem de boa noite ao meu
filho.
Nada demais, apenas desejando que ele estivesse bem onde quer que
estivesse, mandando um abraço. Fui pego de surpresa quando ele a visualizou
e deixou um emoji de joinha na mensagem. Meu coração bateu tão forte que
achei que seria capaz de pular para fora do meu peito, e me assustei quando o
primeiro pensamento que me tomou, foi contar a novidade à morena.
De manhã mandei mais uma, lhe desejando bom dia e ele chegou até
a responder com algumas palavras, me desejando o mesmo. Hoje pela tarde,
quando estava tomando um sorvete com Carina e Malu no centro da cidade,
que inclusive achei bem estranho seu convite repentino, me afastei certo
momento para tentar ligar para ele.
Quase perdi a fala outra vez quando ele atendeu, mas consegui manter
a calma e lhe perguntar como estava. Ele não me respondeu com as
grosserias da última vez, apesar de ter sido irônico quando me perguntou o
porquê das mensagens repentinas e das ligações, mas fiz questão de deixar
claro que estou tentando ser melhor, correndo atrás do tempo perdido para
mudar as coisas entre nós. Não sei se acreditou muito em mim, mas ao menos
não desligou em minha cara como anteriormente, e nos despedimos de forma
até que bem tranquila.
Considero um avanço e tanto.
— Marcos, está escutando? — a mão de Carina mexendo em meu
ombro, me traz de volta ao foco, e torno a olhar para o seu rosto. — Parecia
estar com a mente longe.
Ela deixa escapar uma risada tímida, me lembrando da garotinha que
foi um dia.
— Desculpe, Nina. — Passo as mãos pelo rosto. — Estava pensando
em James.
Ela abre um sorriso radiante, não entendo o porquê, considerando que
sabe superficialmente que a relação com o garoto não é boa.
— Percebeu que começou a usar meu antigo apelido? — solta uma
risada. — Quase não me lembrava dele.
Puta que pariu.
De repente me lembro da conversa que tive com Pedro dias atrás,
quando me disse da quedinha que Carina tinha por mim, perguntando se
ainda poderia rolar algo agora.
Será que o infeliz comentou o mesmo com ela, para voltar a investir
agora que nos reencontramos?
Mas, depois de todo esse tempo? Não.
Olho para ela, estudando sua expressão, suas bochechas estão rosadas.
Ah, não pode ser, porra, isso não.
Será que Pedro me mataria se eu ficasse com sua filha e com a sua
irmã?
Não que eu esteja pensando em chegar perto disso com Carina, para
mim ela sempre foi como uma irmã mais nova, ou sei lá, uma priminha, além
de que a morena com os olhos enfeitiçadores não deixa minha mente nem por
um segundo, me atormentando e me impedindo de sequer imaginar estar com
outra mulher no momento.
— Carina, eu… — ela aguça o olhar em mim. — Acho que
precisamos conversar sobre uma coisa, quero esclarecer, na verdade…
Minha voz é silenciada e esqueço de tudo ao meu redor, quando
minha visão é preenchida por Maria Eduarda, que desce as escadas, vestida
completamente para levar qualquer homem ao delírio. Sinto meu coração
pulsar junto do meu pau, principalmente quando recebo seu olhar fatal.
Ela parece pronta para espantar qualquer um que ouse entrar em seu
caminho, como se tivesse o poder de tocá-los para longe com um simples
peteleco, feito moscas, ela desvia o olhar penetrante de mim, como se
estivesse me esnobando, como se eu fosse o incômodo em seu caminho.
E isso me irrita, como também me deixa em sinal de alerta.
Porra estou preocupado sobre ter feito algo a ela, que a deixasse
brava, tendo certeza que não fiz.
Ela veste uma blusinha curta e praticamente transparente, na cor preta
e de alcinhas finas, sua superfície é coberta por costuras, também preta, que
formam algumas rosas e seus ramos. Por debaixo é possível enxergar quase
todo seus seios, a não ser os bicos, que estão tapados por algum tipo de
adesivo, em formato de coração. Também é possível enxergar uma espécie de
sutiã contornando seu corpo, se é que pode ser chamado disso.
São como fios prateados e cravejados, seguindo o molde de um sutiã,
mas obviamente sendo só um adorno, como uma joia. Me lembro que usava
um modelo desses no dia que nos conhecemos, usando um vestido que quase
não cobria seu corpo.
Na parte de baixo ela veste uma mini saia jeans, nos pés, sandálias
baixas de tiras, que sobem em uma amarração bonita em sua perna, as
tornando ainda mais atraente aos olhos, prateadas como o adorno dos seios.
Volto meu olhar lentamente para o seu rosto, notando que conversa
algo com a tia, e quando ela sorri, puta que pariu, a fisgada no meu pau é
tremenda e só consigo pensar em como vou adorar tirar cada peça que usa,
me deliciando de cada segundo.
Ela não usa maquiagens fortes, apenas um lápis de olho preto,
realçando seu olhar que ainda me hipnotiza, me levando para mais fundo de
sua armadilha. Também noto uma sombra marrom puxada para fora de sua
pálpebra em uma linha fina e um batom rosa suave, com partículas de brilho.
Não precisa de nada muito extravagante, já que sua roupa faz isso por
ela.
Vejo sua amiga descer em seguida, também vestida para sair,
cobrindo mais pele que Duda. As duas encaixam os braços e saem mandando
beijinhos, dizendo para não as esperarmos acordados.
Mas nem fodendo.
Já se passaram das três da manhã e apesar dos meus olhos estarem
implorando para se fecharem e eu poder dormir tranquilo, não consigo o
fazer.
Fiquei na sala após o jantar, conversando com Pedro e quase não
conseguia prestar atenção no que ele falava, algo sobre eu estar mais relaxado
nos últimos dias, mais leve e como ele está feliz de me ver aproveitando de
verdade essas férias.
Não ficaria se soubesse que parte disso inclui o sexo absurdo com sua
filha, mas estou tão preocupado sobre o paradeiro daquela diaba, que sequer
me importei de ser um amigo tão filho da puta enquanto o ouvia.
Pensar que ela está vestida daquele jeito em alguma festa, que pode
estar nas mãos de outro homem, que qualquer um possa estar saboreando
daquela boca deliciosa e de seu corpo perfeito, faz com que meu sangue vire
fogo nas veias.
Nunca fui muito ciumento, mas por alguma razão, só de imaginá-la
com outro, minha respiração chega a ficar irregular. Não vou conseguir
pregar os olhos enquanto ela não chegar e eu poder ter certeza de que não foi
tocada, e caso contrário, estabelecer o que temos como algo fixo e
monogâmico, mesmo que passageiro.
Não quero dividi-la com mais ninguém.
Me assusto quando um baque estrondoso vem da porta que se abre, e
vou ao encontro das duas mulheres que entram se apoiando uma na outra,
gargalhando como se tivessem acabado de ouvir a melhor piada da história.
Seguro Maria Eduarda pela cintura, sentindo sua pele pegar fogo
contra a minha, e a vejo mandando Lua fazer silêncio, voltando a gargalhar
em seguida.
— Meu Deus, vocês estão muito bêbadas. — Minha voz é um
sussurro, enquanto sinto o cheiro de álcool me envolver. — Vamos subir.
— Ei, eu não estou bêbada, daddy gostosão. — Duda Diz apontando
para o meu rosto, sua língua se enrolando nas palavras, e em seguida, pega
meu nariz em seus dedos, o apertando. — Como pode ainda ter um narigão
desse tamanho, se fez cirurgia?
Ela encara o que segura, chegando a ficar com os olhos vesgos e
levando Lua a rir, e sinto o bendito do nariz coçar por conta de seus dedos o
pressionando, então os tiro de lá.
Detesto bêbados.
— Eu realmente não estou bêbada — a mulher de pele negra ergue a
mão, sorrindo com calma. — Bebi apenas uma cerveja, não gosto muito do
sabor do álcool, e não tinha vinho nessa festa que fomos.
Seus lábios se curvam para baixo, e imagino que deva gostar mais da
bebida adocicada.
Ela se solta de Duda, vendo que eu a estou segurando, ainda mais
quando a amiga se joga sobre mim, abraçando meus ombros enquanto passa o
nariz por meu pescoço, e não parece mesmo ter bebido muito.
Sinto meu corpo todo arrepiar quando Maria Eduarda inala
profundamente, deixando um beijinho em minha pele.
— Deixa de beber para cuidar dela quando saem juntas?
— Não, realmente não gosto muito, a não ser que envolva vinhos. —
Ela suspira, olhando sorrindo para a amiga. — Eu realmente teria que cuidar
dela agora, mas já tive que passar a noite toda ouvindo-a falar sobre você,
então tome conta, por favor.
Ela apenas joga a bomba, me deixando sozinho com a bêbada que me
cheira como se fosse um cachorro da polícia, e eu, a droga que procura.
Após deixar um beijo na testa da amiga, a assisto subindo as escadas
com as bolsas das duas, e ouço o som característico da porta do quarto de
Duda sendo trancado.
Droga.
Apoio a morena em mim, que murmura algo que não consigo ouvir
sobre minha pele e tento subir as escadas com ela. A missão é falha pois ela
não consegue se manter em pé, que dirá subir os degraus de maneira certa e
segura.
A sento na escada, ela começando a rir e dizer o quanto fico gostoso
em meus pijamas de flanela e tiro suas sandálias, deixando escapar um riso
quando noto o quão feinho é seu pé visto de perto. Amarro as tiras do sapato
uma sobre a outra, as encaixando em meu ombro como se fosse uma bolsa,
antes de pegá-la no colo.
— Uoooou! — ela grita e gargalha enquanto começo a subir as
escadas. — Parece que estou numa montanha russa. Uhuuul!
Ela joga os braços para cima e joga a cabeça para longe do meu
ombro, os balançando cheia de alegria, e é impossível não rir com sua
atitude.
Assim que fecho a porta do quarto em que estou hospedado e a coloco
no chão, não espera um convite e simplesmente começa a tirar as roupas, se
jogando em mim outra vez depois de estar completamente despida.
Suas pernas engancham em minha cintura, seus braços rodeiam meu
pescoço, sinto seus biquinhos duros em mim mesmo com o adesivo que os
cobre. Sua boceta quente se acomoda em meu baixo ventre e preciso respirar
fundo, mantendo o controle sobre meu corpo.
Ela segura meu rosto com as mãos, ficando séria de repente enquanto
olha em meus olhos.
— Que tipo de droga você usa? — arqueio as sobrancelhas, não
entendendo o que diz. — Então está me drogando, é isso. Como faz?
— De que merda está falando, Sweet?
Minha voz é rouca, desejosa por ela.
— Eu saí hoje porque estava louca para foder com alguém que não
fosse você, já que mesmo depois de ontem, hoje passou o dia todo mais
interessado na minha tia do que em descobrir a cor da minha calcinha. — Ela
confessa sussurrando, os olhos passeiam por meu rosto. — Mas eu não
consegui…
Sua voz é tão baixa e trêmula,
— Não estou te drogando e acredite, sou limpo em todos os sentidos.
— Digo com um sorriso nascendo. — Então, não ficou com ninguém hoje?
Minha voz é insegura, o medo da resposta dominando meu corpo.
— Beijei um cara ou dois. — Meu coração se contorce, minhas veias
pulsam de raiva. — Quer dizer, tentei, já que sempre que a língua nojenta
deles encostava na minha, você vinha na minha cabeça como uma maldita
assombração, então os largava.
Não consigo esconder a felicidade e o sorriso com sua fala, levando-a
a balançar a cabeça.
— Só conseguia pensar em você me beijando… — ela suspira e leva
a boca para meu maxilar, deixando um beijo ali. — Em você me tocando…
— os beijos vão descendo para o meu pescoço, ela raspa os dentes em minha
pele e suas mãos vão para a minha nuca, apertando e puxando os cabelos para
si. — Me fodendo…
Ela rebola, meu pau começa a se erguer e sua boca volta para a
minha, tocando com calma e antes que ela pudesse me beijar, me afasto.
— Me beija, Marcos — ela pede, os olhos parecendo em chamas. —
Me fode…
Ela volta a se movimentar, instigando meu pau que já sentiu pulsar
contra sua intimidade, mas suspiro, me mantendo calmo.
— Hoje não, Sweet.
— Hoje sim… — sua voz é entrecortada como se estivesse
desesperada por algo. — Preciso que me coma, preciso de você em mim…
Ela tenta me beijar outra vez e afasto seu rosto, segurando em sua
nuca com força, a obrigado a me encarar.
— Não com você nessa condição. — Nossas respirações se misturam,
a minha tão acelerada quanto a dela. — Quero que se lembre de cada uma das
vezes que eu me afundar em você, Maria Eduarda, de cada vez que fodermos
juntos e atearmos fogo em nossos corpos apenas por estarem em contato. Não
vamos fazer nada com você estando nesse estado, linda.
Ela arfa, e uma lágrima solitária cai de seus olhos, que a enxugo com
meu polegar.
— Odiei te ver de conversinha com a minha tia, você até mesmo saiu
com ela hoje, como se fosse um encontro e estivessem no colegial outra vez.
— Sua voz é um sussurro, como se fosse uma confissão pecaminosa. — Não
posso ter esse sentimento de posse sobre você, não posso começar a sentir
como se nenhum outro fosse conseguir me foder como você, beijar como
você…
Apesar de sussurrada, noto o ódio que sente ao dizer essas palavras,
seu aperto se tornando quase agressivo em minha nuca, como se mesmo que
sua boca estivesse dizendo que não pode me ter como posse, seu corpo
desejasse justamente o contrário.
Adoro me sentir desejado dessa maneira por ela, porque uma parte
minha começa a sentir o mesmo.
— E eu odiei ver você saindo daquela forma mais cedo, vestida como
se quisesse foder com o meu psicológico, tive medo que deixasse outras mãos
lhe tocar e te despir. — Ela avança na minha boca outra vez e eu desvio. —
Não vou te beijar enquanto estiver com o gosto de outro na boca, Sweet.
Mais lágrimas caem de seus olhos, mas posso notar que não é de
tristeza ou ressentimento, e sim de raiva, como se o que tivesse acabado de
me confessar fosse como veneno queimando suas veias.
Adoro ver como seus olhos inflamam enraivecidos por se sentir
possessiva sobre mim.
A coloco no chão, ela volta a se amolecer, e tento guiá-la para o
banheiro, mas ela protesta, segurando no batente.
— Sempre que tomo banho bêbada, acabo tendo queda de pressão e
quase desmaio. — Ela me olha e desvia o olhar para a minha cama. — Só
preciso dormir, amanhã já vou estar cem por cento, sem lembrar de nada.
Ela apenas caminha a passos lentos até a cama, e se joga em uma das
extremidades, pegando para si a coberta e abraçando, envolvendo em suas
pernas.
— Odeio dormir encostando nas pessoas, então faça o favor de dormir
virado para o chão. — É apenas o que ouço antes dela se virar para a parede,
se embolando ainda mais no tecido. — Boa noite.
Consigo sorrir com a cena e me lembro de trancar a porta antes de
apagar as luzes. Me deito na cama, e me sinto rebelde ao me deitar virado
para o mesmo lado que a morena, a luz que a lua concede pela janela aberta,
banhando seu corpo, os piercings na orelha se tornando mais brilhantes, e
meus olhos passeiam por suas costas nuas, chegando ao começo de sua
bunda, que é escondida pela coberta. Demoro olhando a tatuagem em sua
costela, mas não cedi a tentação de passar meus lábios ali, ainda mais quando
ouço o ressonar baixinho vindo dela.
Suspiro e fecho os olhos, me sentindo estranhamente corajoso ao
pensar que não sabemos como vai ser quando amanhecer e Duda não estiver
em seu quarto, sem ter ideia de como vamos nos livrar de sua presença do
meu, sem que todos notem.
Contrariando tudo que me falou antes de fechar os olhos e apagar em
um sono profundo, me assusto quando seu corpo pequeno se cola ao meu e
sinto seus braços me apertarem contra si enquanto se aconchega ainda mais,
sua respiração apenas um ressonar suave. A envolvo em um abraço apertado,
adorando tê-la tão perto dessa forma.
Mais uma vez, durmo sorrindo por sua causa, sem conseguir me
lembrar qual foi a última vez que isso aconteceu antes dela.
E a sensação é boa.
Engatinho pela cama ainda nua, minha boca salivando e minha boceta
pulsando ao ver o peito desnudo de Marcos, que deve ter tirado a camiseta
em algum momento depois de termos deitado, pois me lembro de tê-lo visto
com ela quando cheguei.
Começo a beijar o caminho em V que levam direto para o meu
brinquedo particular favorito dos últimos dias, e vou subindo os beijos, ora
chupando, ora mordendo, trilhando sua barriga bem esculpida e sorrio
quando ele se movimenta, gemendo com rouquidão, seu corpo se arrepiando
e sua ereção matinal ganhando ainda mais volume.
Por sorte acordei mais cedo que ele, já que estava agarrada em seu
corpo como se ele fosse um ursinho de pelúcia quente e muito gostoso.
Nunca que posso dar esse gosto a um homem, o último me deu uma galhada
imensa, então nunca mais dormi abraçada com ninguém, não me permiti mais
a ter esse tipo de aconchego e a parte insana da minha mente se perguntou o
por que hoje cedo, visto que dormi feito uma princesa nos braços de Marcos.
Acordei me aninhando ainda mais ao seu corpo, tive que lutar contra a
vontade de ficar agarrada a ele feito um bichinho preguiça, sentindo seu
coração batendo tranquilo e sua respiração quente.
— O que está fazendo, Sweet? — sua voz é sonolenta, rouca e grossa,
fazendo minha boceta molhar. — Que horas são?
Ele tenta alcançar o celular, mas o impeço antes que consiga, pois
logo meus lábios chegam ao seu rosto.
Olho para ele, notando como fica parecendo um deus perfeito com o
feixe de luz que entra pela janela, banhando seus detalhes. O azul de seus
olhos parece cristalino, como se brilhasse e me atraíssem de uma forma
magnética, alguns fios grisalhos que começam a surgir em seus cabelos e na
barba rala, parecem ainda mais bonitos com a iluminação. Seus lábios estão
pressionados um no outro, ele franze as sobrancelhas em uma careta e quando
percebe que estou sentada em cima dele, leva suas mãos diretamente a minha
cintura, as segurando com força.
— Não importa que horas são, o que importa é que acordei sedenta
por você. — Rebolo em sua ereção, sentindo minha umidade friccionar no
tecido dos shorts e ouço um gemido escapar de ambos. — Agora me dê o que
não me deu quando te pedi.
Não espero uma reação dele, sequer me importo que ele não tenha
escovado os dentes e grudo nossas bocas com ferocidade.
Odiei tentar tirá-lo de minha cabeça ontem, mas todas as bocas que
encostei pareciam mais como lixas sebosas, me fazendo sentir falta da sua.
Detesto ter de admitir para mim mesma que senti falta de seus beijos e
toques.
Senti falta dele.
Assim que nossas línguas se encostam, ele me segura pelo pescoço, o
pressionando levemente e preciso soltar um gemido de contentação, mesmo
que esteja me afastando.
— Não vou beijar você. — Ele respira fundo, seus olhos me
lembrando o quanto estava irado quando me viu saindo pela porta ontem à
noite.
— Já escovei os dentes, não tem mais nenhuma lembrança da boca de
outro na minha língua. — Sorrio e ele me puxa de volta, nossas bocas se
chocando famintas. — Isso…
Nos devoramos com fúria e rapidez, nossos gostos se misturam e
começo a rebolar em seu colo, ele se levanta, ficando sentado e agarro suas
costas, passando meus dedos por toda sua pele, sentindo como pega fogo
sobre a minha palma.
Quando estávamos num frenesi de sensações, eu quase o terminando
de despir após mandar seus shorts longe com a sua ajuda, ele interrompe o
beijo, me afastando e me olhando com um sorriso de lado.
—Então, se lembra de tudo dessa madrugada. — Continuo sorrindo,
esperando que me foda como lhe pedi. — Sentiu mesmo ciúmes de sua tia?
Meu sorriso se fecha imediatamente.
— Não me lembro de ter dito isso. — Me faço de sonsa, voltando a
beijá-lo, mas ele desvia e acabo colando a boca em seu pescoço, quase
suspirando com seu cheiro viciante. — Qual foi, Marcos?
— Mas disse, também falou que odiava se sentir possessiva comigo.
— Droga de velho emocionado. Ele me segura pelo pescoço outra vez, como
se lesse meus pensamentos pois estava pensando em sair de cima dele e ir eu
mesma resolver o tesão que estou. — Se lembra de eu ter confessado ter
odiado te ver saindo daquela forma?
Tento não sorrir, porque para a minha infelicidade, me lembro de
todos os detalhes.
A raiva me consumindo por tê-lo visto com a minha tia, saindo com
ela como se fossem um casalzinho feliz. Não sou dessas, mas estou me
sentindo estranhamente possessiva com esse homem e tenho vontade de
tatuar em sua testa que me pertence, para ninguém sequer ousar olhá-lo.
Sou individualista com minhas coisas pessoais, homens nunca
entraram nessa categoria, mas esse em minha frente, acabou entrando nela
sem que eu percebesse e estou odiando isso.
Coloquei na minha cabeça que precisava sair e foder com alguém
diferente, quando me dei conta desse fato. Pensei que o ciúmes só poderia ser
uma consequência por eu estar transando com o mesmo homem
frequentemente, o que não acontecia a muito tempo, mas então…
Broxei com todos os que me interessavam.
Ou eram fáceis demais, lerdos demais, novos demais, beijavam como
se eu estivesse beijando uma parede e alguns, exalavam um fedor horrível,
então os dispensava antes mesmo de abrirem a boca para falar comigo.
A visão de Marcos, suas expressões fechadas, ele me xingando
enquanto me fode e até seus sorrisos, começaram a aparecer em minha
cabeça, como se eu estivesse sendo assombrada por estar tentando ficar com
outras pessoas.
— Porque eu odiei. — Sua voz é firme, ele encara meus olhos com
fúria e sinto meu coração se acelerar junto da minha boceta voltando a
molhar os seus shorts. — Detestei imaginar os cenários na minha cabeça,
seria capaz de cuspir fogo só por pensar em outro te tocando, tirando sua
roupa, beijando seu corpo. Não quero que fique com mais ninguém, Sweet.
Como se eu tivesse conseguido.
Sorrio maliciosa, sentindo como sua voz é possessiva, como se me
quisesse só para ele, gostando da sensação e todos os alertas vermelhos
brotam em minha mente, como se nossas próximas atitudes pudessem nos
colocar em risco.
— Somos um caso de verão, Marcos, tão passageiro quanto ele. —
Me ajeito em seu colo, segurando com força em seus ombros. — Não seja
emocionado ou vai ter o coração partido, já te avisei que o meu é destrutivo.
— Talvez eu queira, convenhamos que seria interessante ter o coração
partido no auge dos meus quarenta anos, por uma garota petulante feito você.
— Ele fala sorrindo e sinto algo estranho no meu peito, meu rosto deve
expressar o meu pavor com a sua fala. — Mas quero você só para mim, não é
negociável. Quero que seja minha, e somente minha.
Indo contra todos os alertas que surgiram na minha mente, eu sorrio,
brincando com fogo ao me aproximar dele o quanto permite, sussurrando em
seus lábios.
— Não tenho dono, e nunca terei.
Deixo uma lambida no local, que faz com que ele feche os olhos e
respire fundo antes de voltar a abri-los, ainda mais obstinado, acelerando meu
coração.
— Que pena, porque eu sou seu e você é minha, Maria Eduarda. —
Ele diz de forma imperativa, inclinando minha cabeça para o lado, passando a
beijar meu maxilar. — Ao menos até eu embarcar de volta para Chicago,
somos apenas um do outro e isso não é um pedido.
Ele deixa uma lambida lenta no local, me levando a arfar com o
prazer que isso me causa e mexo o quadril, sentindo meu clitóris pulsar.
— Ainda assim, quero que me prometa isso — droga, como negar
algo assim quando sequer consegui beijar alguém ontem, ainda mais tendo
esse homem sussurrando rouco em meu ouvido dessa forma? — Promete,
Maria Eduarda, que vai ser minha até que eu vá embora.
Isso só pode ser dívida de jogo, porra.
Me remexo, respirando fundo, sentindo-o voltar a morder o local que
beijava, deixando mais uma lambida em cima.
— Me promete, Sweet.
Porra de homem tentador.
— Prometo. — Minha voz é fraca, apesar de detestar demonstrar,
adoro as sensações que ele me causa, a loucura que faz com meus sentidos e
até meu coração, esse teimoso, vem perdendo o ritmo em sua presença,
mesmo sendo perigoso.
Ele se afasta quando estou prestes a atacá-lo, desviando outra vez.
— Promete direito. — Não entendo o que diz. — Vamos, você me
ensinou isso.
Ele então faz algo que me tira da órbita, e ao mesmo tempo que sinto
seu pau sobre o tecido de sua boxer, um maldito gostoso, também me derreto
por sua fofura repentina.
Ele estende seu mindinho, beijando o mesmo, me levando a sorrir
junto a ele.
Sei que a tradição de promessas da minha família não é feita com o
dedinho e sim com o indicador, de uma forma totalmente diferente, mas
quando lhe apresentei o juramento naquele iate, algo me levou a mudar
algumas coisas em sua execução, e agora vejo o quanto fui estupida por ter
tornado esse modo de fazer algo único e somente nosso.
De alguma forma, meu interior consegue sentir que é especial, como
se tivéssemos iniciado uma nova tradição.
Repito os movimentos e selo a promessa, dando beijinhos em nossos
dedos cruzados e sinto como se estivesse fechando um pacto com o próprio
diabo.
Mesmo que passageiro, nunca prometi ser de ninguém depois da
minha decepção com o maldito traidor, mas me anima em muito ser dele, e
ter ele. Apenas meu, por um tempo estipulado, mas ainda assim, todo meu, e
seus olhos me dizem que posso confiar em sua palavra, suas atitudes provam
ainda mais.
Devoro seu corpo inteiro com o olhar, rebolando e gemendo, levando-
o a fazer o mesmo.
Em pensar que foi difícil convencê-lo a se entregar e agora estamos
aqui, cometendo essa idiotice de promessa, que sinto como se estivesse nos
enfiado em um carro a mil quilômetros por hora, sem freios ou equipamentos
de segurança contra acidentes.
A batida vai ser estratosférica e violenta, e não quero nem pensar nos
estragos.
Assim que voltamos a colar nossas bocas, pulamos com o susto de
alguém batendo na porta, quase a derrubando.
— Marcos, está acordado? — é minha mãe que pergunta. — Desculpa
se te acordei com a pancadaria.
— Já estava acordado, Roberta. — Ele responde, arfando quando tiro
o pau dele para fora e passo a estimá-lo. — Aconteceu algo?
Ele olha para mim, sorrindo com a minha coragem. Adoro essa nova
versão dele, todo ousado.
— Maria Eduarda não dormiu em casa, estamos a procurando —
assim que minha mãe se cala, o medo cobre o rosto do homem, o tornando
pálido e preciso segurar a risada. — Vamos sair com o carro dar umas voltas,
a idiota não levou celular.
— Q-querem ajuda? — não sei se gagueja pelo medo que sente de
sermos descobertos, ou por conta da lambida que dou na glande de seu pau.
— Posso ir com vocês.
— Não, só estamos avisando caso levante e não nos encontre. — Ela
espera Marcos dizer algo, mas está ocupado demais arfando por conta das
minhas mãos em seu pau. — Certeza que vamos encontrá-la dormindo em
alguma praça com uma galera, como já aconteceu no passado, ou saindo de
algum hotel. Já voltamos.
Ela não espera resposta e logo ouvimos seus passos na escada, e tenho
seu olhar pensativo sobre mim.
— Já dormiu bêbada na praça?
— Uhum. — Sorrio para ele com meu mais falso ar de inocência. —
Também já fui pega batendo o maior papo com um coqueiro, que, segundo
eu, não me deixava fazer xixi.
Dou de ombros e odeio me sentir satisfeita ao arrancar uma risada
dele com a minha fala.
Volto a empurrar seu corpo até suas costas baterem na cabeceira da
cama.
— Me lembro de ter dito que é limpo de todas as maneiras possíveis,
quando lhe acusei de estar me drogando. — Ele ergue uma sobrancelha, o
sorriso de lado surgindo outra vez por perceber que não me esqueci de nada.
— Isso quer dizer que podemos continuar transando sem camisinha, sem
peso na consciência?
Ele solta uma risada, se livrando de sua cueca de uma vez, meus olhos
brilhando ao encontrar seu pau já pronto para mim.
— Isso quer dizer que também é limpa e que não precisamos nos
preocupar com nada?
— Com certeza.
Sorrio esfregando toda a minha excitação em sua coxa, gemendo de
prazer quando meu clitóris é estimulado no processo e me assusto quando ele
me agarra pela nuca, ainda sorrindo.
—Me lembrei de uma coisa. — O questiono com um olhar. — Você
deixou aquele bilhete antes de sair às escondidas do hotel, com um chiclete
mascado, Maria Eduarda.
Ele fez uma cara de nojo e não consigo não gargalhar de sua
expressão, vendo um sorrisinho abrir em seu rosto enquanto seus olhos
passeiam por mim.
— Foi lembrar disso justo agora? — ele assente, divertido. — Por
quê?
— Porque apesar de dizer que não dorme na mesma cama com quem
transa, já é a segunda noite que passamos juntos. — Ele sorri e rouba um
beijo meu diante do meu choque com sua fala.
Realmente, é a segunda vez que durmo ao seu lado, e preciso
empurrar para as profundezas do meu cérebro a sensação boa que essa
constatação me causa.
Volto a rebolar em seu colo, levando seu olhar para o local que
fricciono.
— Não é hora para conversar, meu bem. — Sorrio e ele segura meu
rosto com força, deixando um beijo afoito e até obsceno em minha boca e me
assusto com a ardência que toma meu seio esquerdo quando ele tira o adesivo
de coração de uma vez, me causando prazer também. — Ah, porra Marcos…
Ele sorri com a minha reação e faz o mesmo do outro lado.
Quando dou por mim, ele está se afastando e como se eu não pesasse
nada, me tira do seu colo, mudando nossas posições e me pondo ajoelhada no
colchão, minha bunda se inclina imediatamente para ele, que se coloca atrás
de mim.
— Quero te foder de quatro hoje, Sweet. — Sua voz é grave, ele
embola meus cabelos compridos em um rabo de cavalo em sua mão, os
puxando e me fazendo sentir a minha boceta latejar por ele. — Se lembre de
fazer silêncio, querida.
Minha resposta é um gemido.
Acho que adoro a forma que ele fala comigo quando estamos
transando.
Apesar de eu ser a mais ousada fora da cama, ele se transforma e me
deixa completamente submissa a ele, me dominando como deseja, me
levando a pensar que somos o encaixe perfeito.
Apoio meus cotovelos na cama, me empinando ainda mais pra ele,
que passa os dedos por minha entrada, sentindo o quanto estou encharcada e
depois de tirá-los dali, ouço o som característico dele os chupando.
— Que caralho de boceta gostosa, Maria Eduarda. — Ele diz em meu
ouvido, passando os dedos novamente na minha excitação. Eu gozaria só com
ele falando dessa forma. — Experimenta.
Ele traz os dedos brilhando em minha boca, e os chupo sentindo o
meu próprio gosto, o levando a pincelar o pau em minha boceta.
Sem mais esperar, ele me invade, me levando a arquejar e segurar
com força os lençóis, mordendo a boca para evitar gemer tão alto.
Ele começa a estocar em mim com força e lentidão, indo fundo e
atingindo meu maldito ponto G.
— Tão gostosa. — Sua voz é baixa, ainda assim uma delícia de ouvir.
— Está me deixando louco, Sweet, viciado nesse corpo, nessa boceta. — Não
consigo conter o gemido quando ele deixa um tapa forte em minha bunda. —
Viciado em você.
Ele me puxa pelos cabelos, e sinto uma mordida em meu ombro, solto
um choramingo, suas estocadas ainda firmes e ritmadas.
Meu coração já acelerado junto da minha respiração, bate de uma
forma ainda mais diferente, ao perceber que também sinto o mesmo, mas faço
questão de afogar esse pensamento, me concentrando apenas no prazer de ser
preenchida por ele.
Traz dois dedos para minha boca outra vez, continuando a meter em
mim, e enquanto chupo eles como se fossem seu pau, deixando uma mordida
quando preciso conter o gemido alto ao senti-lo rebolando dentro de mim.
Ele leva os dedos molhados até o meu ânus, circulando a entrada,
aumentando meus batimentos ainda mais, causando uma pontada em meu
baixo ventre pela expectativa.
— Enfia logo esse dedo aí, Marcos. — Minha voz é fraca, meus
dedos agarram o lençol com força. — Por favor, preciso disso agora que me
atiçou.
Ouço sua risada rouca e logo arfo de prazer ao sentir seu dedo
penetrando a entrada da minha bunda aos poucos, sinto uma leve ardência por
não estar devidamente lubrificada, mas logo ela é substituída por uma onda
gigantesca de prazer.
Rebolo contra ele, enquanto sinto seu pau e seu dedo me levar à
loucura com os movimentos sincronizados.
— Mais rápido… — minha voz pede em um gemido, imploro por ele.
— Por favor, Marcos, mais rápido…
Ele atende ao meu pedido e acelera as estocadas de ambas entradas,
empurrando minha cabeça até eu ter minha bochecha no colchão macio,
minha respiração descontrolada e sentindo o orgasmo chegar. Mordo o lençol
sentindo meu corpo ir ao extremo com a dupla penetração e o meu fim é
quando ele enfia um segundo dedo em meu ânus.
O orgasmo chega com força, e logo em seguida sinto seu gozo
também me preenchendo, quente e pegajoso, escorrendo por minhas pernas,
ouvindo sua respiração forte. Meus dentes doem por estar mordendo o lençol
com muita força, tudo para não gritar e nos descobrirem.
Antes de desabarmos, ele tira os dedos de mim e seu pau também,
passando sua glande por onde escorreu seu líquido, pincelando e levando até
meu ânus, pressionando a cabeça na região, depois dá mais um tapa estalado
em minha bunda.
— Você fica perfeita com a minha porra escorrendo por seu corpo. —
Ele deixa uma lambida onde deixou o tapa, me soltando e me deixo cair,
cansada e ofegante. — Parece que foi feita para estar em você, te marcando
como minha.
Meu corpo todo se arrepia ao ouvi-lo falando dessa forma, como se
desejasse ser apenas dele.
Ele cai por cima de mim, espalhando beijos suaves por minhas costas
depois de afastar meus fios compridos do local.
Ele beija a tatuagem e volta a envolver meu corpo com os braços, nos
mudando de posição, nos deixando em uma conchinha grudenta, suada e
muito quente.
Gostosa.
Minha respiração se regulariza, mas assim como sinto seus
batimentos contra as minhas costas, não sinto o meu maldito órgão
desacelerar também, mesmo após alguns minutos, e o medo sobe por todo
meu corpo.
O que estamos fazendo?
O sol brilha sob meu corpo, e ajusto as tiras do maiô, espalhando o
bronzeador no local. Essas marquinhas vão me deixar ainda mais gostosa.
Arrumo os óculos de sol em meu rosto, cobrindo meus olhos para
enxergar o espetáculo que acontece à minha frente.
Estamos em um clube de campo aqui de Florianópolis, o qual meu pai
é sócio, e o mesmo juntamente de Marcos, está jogando futebol junto de uns
colegas.
Depois que me acordaram e passaram a programação do dia, recusei a
ideia ao imaginar ter que aguentar velhos correndo atrás de uma bola, a única
parte boa seria a comilança e a bebida, mas então me lembrei do que meus
olhos enxergam agora.
Marcos Freitas vestindo apenas um short, o peitoral todo desnudo,
com gotículas de suor o cobrindo enquanto ele corre. Sua pele brilha, ele arfa
e respira fundo várias vezes quando precisa parar para recuperar o fôlego, e
vejo que aproveita para me olhar de maneira discreta.
Lhe lanço um sorriso.
Gostaria que todas as minhas segundas-feiras fossem tão difíceis
quanto essa, aiai.
De canto de olho consigo ver algumas mulheres de olho nele, na carne
nova do pedaço, já que possuem conhecimento sobre a fidelidade do meu pai,
um desses pares sendo o da minha própria tia, e sinto minhas veias
esquentarem pela raiva e frustração de ter que tolerar isso.
Suspiro, me lembrando da promessa que fizemos ontem, me dando a
segurança de que o tenho só para mim, mas ainda assim, não consigo deixar
de me incomodar com os olhares aguçados.
Mesmo odiando estar me tornando possessiva com ele, é uma delícia
saber que apesar disso, tenho seu corpo todo só para mim, e queria até poder
me vangloriar disso.
— Filha. — Minha mãe toca gentilmente em minha mão, e sentindo
seu tom preocupado, tiro os óculos para lhe encarar. — Podemos conversar
rapidinho?
Assinto enquanto me viro em sua direção na espreguiçadeira, sorrindo
ao notar a coincidência de estarmos usando o mesmo modelo de maiô hoje, o
dela sendo um pouco mais decente que o meu, mas ainda assim, deixando
todas as suas curvas de fora.
— Pode falar, minha deusa. — Tomo um gole da minha adorada
cerveja e a vejo sorrir.
— Estava com o mesmo homem que levou ao iate? — ela se refere ao
dia em que saí para a balada. — Maria Eduarda?
Respiro fundo enquanto assinto com um sorrisinho.
Ontem depois que eu e Marcos acabamos e sai de fininho de um
quarto para o outro, liguei para os meus pais, avisando que havia chegado em
casa e Lua me contou que estavam à procura.
Lembro de como doeu mentir desse jeito para eles.
Descobri que sou ótima nisso, mas não estou acostumada a ter que
esconder coisas e fingir para eles. Os dois sabem mais da minha vida do que
eu mesma.
Disse que havia ido para um hotel com alguém e depois de alguns
puxões de orelha, deixaram por isso mesmo, como sempre fazem por
confiarem plenamente em mim, apesar de tudo.
— Era ele mesmo. — A mentira mais uma vez acertou meu peito
como uma flecha me incomodando. — Por quê?
— Então estão ficando de forma recorrente? — assinto mais uma vez,
não entendendo onde quer chegar com as perguntas. — Está tudo bem, filha?
— Sim, por que não estaria?
Tento soltar uma risada.
— Nunca fica com o mesmo cara muitas vezes seguidas e quando o
faz, conta tudo sobre ele para eu e seu pai, na esperança de colocarmos juízo
em sua cabeça por medo de se apegar. — Ela me lembra o quanto somos
confidentes, estrangulando ainda mais meu coração. — Sempre que está se
apegando, gosta de falar tudo que precisa para cair em si e chutar o pobre
coitado e não fez isso ainda. Imagino que seja sério, então?
Sua expressão muda, se tornando esperançosa e um sorriso enorme
abre em seu rosto, me levando a engasgar comigo mesma.
Começo a tossir, colocando a garrafa na mesinha ao lado e a minha
criadora começa a rir do meu desespero, se aproximando e dando tapinhas
nas minhas coisas.
— É, estou achando que o coração de alguém finalmente foi fisgado e
logo terei um genro para chamar de meu. — Somente de pensar na ideia,
sinto meu estômago borbulhar, meu coração acelerar e um frio cobrir meu
corpo. — Está pálida, filha.
Ela continua rindo enquanto me abana.
Assim que vou me acalmando, fecho os olhos para respirar fundo.
Sinto algo estranho passar por meu corpo, como se estivesse sendo observada
e após voltar a abri-los, eles vão de encontro ao campo, encontrando o olhar
preocupado de Marcos sobre nós.
Desvio rapidamente quando meu coração dá um salto, que vem sendo
recorrente na presença do homem mais velho.
Droga, não! Me recuso a ter esse tipo de reação a ele, sentir essas
coisas que prefiro nem nomear. Definitivamente não.
— De onde tirou isso, mãe? — afasto seu contato como se ela falasse
absurdos, o que são. — Não contei sobre ele, justamente por não ter
relevância alguma, é apenas uma foda que vem sendo boa para os dois. O
verão acabando, tudo acaba também, então não se preocupe, não terá um
genro tão cedo e sabe disso.
Volto a sorrir, erguendo a cerveja e toco em seu drink, brindando a
isso.
Volto a me ajeitar para ver o espetáculo, mas a voz de minha mãe não
sai dos meus pensamentos, me causando angústia tremenda.
Não pelo que disse sobre ter um genro e meu coração ser fisgado.
Não tinha parado para pensar nisso ainda, porque no começo disso
tudo pensei que seriam realmente algumas transas e pronto, mas agora que
prometemos levar isso até o fim dessa viagem, até ele voltar para casa, sinto
como se eu fosse a pior filha do mundo.
O que fariam se descobrissem sobre nós? Ambos acabariam com
Marcos, sem dúvida, mas e comigo?
Ficariam arrasados.
Nunca tive seus olhares de decepção mesmo após todas as merdas que
cometo, e não consigo pensar em ter que lidar com isso algum dia, me corrói
por dentro só de imaginá-los triste e perdendo a confiança em mim.
Olho para o jogo, notando como Marcos interage rindo com meu pai.
Ele não vai gostar do que vou propor a ele, mas acho que precisamos
contar antes que descubram de outra forma e torne tudo ainda mais difícil,
pois algo me diz que hora ou outra, vão descobrir.
Conheço meus pais, saber por mim, mesmo sabendo que estávamos
escondendo, vai ser bem mais tranquilo do que se descobrirem de outra
maneira. Sempre tive sua confiança por nunca esconder nada, por pior que
pudesse ser minha atitude, quebrar ela dessa forma, arruinaria nossa relação.
Ouço um celular vibrar, tirando meu foco dos pensamentos
amedrontados e encontro o visor do aparelho de Marcos brilhando na
mesinha.
Quando eu estava prestes a levar a mão até o aparelho para sanar
minha curiosidade sobre o que se tratava, tia Carina é mais rápida e o espia
antes, abrindo um sorriso.
— O que é? — pergunto e nós duas recebemos um olhar de
repreensão de minha mãe. — Ninguém mandou ele deixar a porcaria do
celular aqui.
— Duda está certa nessa. — Minha tia ergue as mãos em rendição. —
Acho que é do filho dele, está respondendo sobre algo que ele mandou.
Os olhos da minha mãe se arregalam em surpresa e ela pega o celular
nas mãos, para ler a mensagem. Eu e tia Carina trocamos um olhar e
começamos a rir da atitude da mesma, que nos julgava ainda pouco.
— Olha, é dele mesmo, está bem bonito, filha. — Sua voz é cheia de
segundas intenções. Obrigada mãe, mas já estou pegando o pai do pirralho.
— Ele está respondendo sobre os planos para esse fim de ano.
Ela larga o celular, nos olhando em choque.
— Ele poderia convidá-lo para vir ficar conosco. — Ela diz como se
fosse a ideia mais brilhante que já teve. — Vou dizer ao seu pai para dar a
ideia a ele.
— Pelo jeito a reaproximação está dando certo. — Minha tia quem
comenta.
As duas iniciam um assunto sobre como criar filhos é complicado e
como pretendo nunca passar por isso, meus ouvidos simplesmente desligam e
foco meus olhos outra vez no homem que ri enquanto chuta a bola, fazendo
um gol.
Sorrio o olhando, e começo a pensar que fico feliz que esteja dando
certo a segunda chance que está tentando com o filho. Não conversamos mais
sobre isso depois daquele dia em que eu estava deplorável e carente, e
acabamos tendo um momento até fofo com os seus desabafos.
Ele chorou em minha frente e meu coração se angustiou ao notar
como ele estava perdido sem saber o que fazer para tentar se aproximar do
filho. Não quis ouvir o porquê de ter se afastado pois não menti, não me
importam seus motivos, e sim James, que precisa ouvir suas justificativas.
Para mim, já fiquei contente por ver que apesar de confessar ter sido
um pai de merda, está tentando mudar, como muitos não tentam fazer, e isso
só demonstra o quanto é um homem bom.
Sinto aquela pontada estranha no coração outra vez, ao me lembrar de
como venho descobrindo sua personalidade por baixo daquela máscara de
frieza. Ele é um bom homem, gentil, amoroso e chega a ser muito fofo
quando quer.
Meus olhos focados em seu sorriso levam minha boca a sorrir como
uma idiota outra vez e quando percebo isso, faço questão de espantar os
pensamentos, focando no que me interessa.
Seu lindo e delicioso corpo.
Esse homem é um espetáculo, fala sério.
Devoro cada um de seus músculos com os olhos, os deixando pegar
fogo quando chegam no caminho em “V”, que levam a minha perdição e
chego a suspirar.
Me assusto quando a boca da minha mãe cola na minha orelha.
— Está quase babando enquanto olha para ele, melhor procurar um
babador, meu bebê. — Sua voz é risonha e estanco no lugar em choque, sem
conseguir olhar em sua direção. — Na verdade, pare de olhar, sabe que ele
não é pro seu bico então trate de tomar juízo.
Levo a mão até os óculos no topo da cabeça ao invés de cobrir meus
olhos. Bem que estranhei estar enxergando as cores vívidas demais.
Porra, como fui burra.
Ela se afasta e volta a conversar com a minha tia, me deixando com o
coração batendo como se estivéssemos fugindo de algo e não consigo nem
ouvir o que Lua diz, quando volta molhada da piscina, com uma Malu
friorenta agarrada ao seu corpo.
Porra, precisamos contar antes que seja tarde demais para eu me
humilhar pedindo perdão por esconder tudo isso deles.
Marcos vai enfartar, droga.
Respiro fundo, passando a mão sobre a minha barba, coçando os pelos
bem aparados.
— Não sei como começar isso, Carina, mas — engulo em seco,
desviando os olhos dos dela, notando que sorri abertamente, ansiosa para o
que vou lhe falar. —, preciso te falar para não tentar investir em nada
relacionado a nós dois, porque não temos chance alguma.
O sorriso dela desmancha e vejo suas bochechas avermelharem de
vergonha, seus olhos perdem o brilho.
Ótimo Marcos, tão suave feito um coice de mula.
Ela se levanta da cadeira e me levanto também, indo tocá-la para
confortar de alguma forma, mas desisto no meio do caminho, pensando que
isso poderia passar a ideia errada.
— É… como você soube que eu… — ela respira fundo, desviando o
olhar para o mar à nossa frente. — Quer dizer, tudo bem, não preciso saber
como percebeu, até porque eu não estava sendo muito sutil, e fico feliz que
tenha esclarecido de uma vez antes que criasse algum tipo de esperança.
— Obrigado por entender. — Respiro fundo, verdadeiramente
aliviado. — E me desculpe mesmo por ser tão grosseiro, estava planejando
ser mais cauteloso para esclarecer essa questão…
Soo confuso a levando a soltar uma risada, notando que está tudo bem
entre nós.
— Tudo bem, na verdade não estava contando que algo de fato
acontecesse. — Ela suspira, levando as mãos na cintura. — Acho que te
encontrar após tantos anos trouxe a lembrança daquela paixonite infantil que
tinha por você. — Ela respira fundo. — Acho que, de uma forma sutil, eu
estava tentando descobrir se poderíamos ao menos acabar na cama, algum dia
desses.
Me assusto com sua fala direta, já que sempre foi mais contida
quando se trata desses assuntos.
— Não te vejo dessa forma, Carina, perdão.
— Claro, o papo de eu ser como uma irmã mais nova. — Ela dá de
ombros sorrindo. — Te ouvi dizendo isso para Pedro um dia, mas eu com
certeza o tentaria provar o contrário.
Ela sorri maliciosamente, e sinto minha bochecha esquentar.
Essa família tem o poder de me colocar em saia justa.
— Acho que não, Nina, e estou sendo completamente sincero,
acredite nisso. — Me afasto um pouco, me precavendo. — Nós não daríamos
certo.
— Não pode dar essa certeza sem sequer ter nos dado uma única
chance. — Ela sorri, tentando jogar seu charme e começo a ficar ainda mais
nervoso.
Estava sendo fácil demais, porra, ela não poderia aceitar e dar meia
volta?
— Não, Carina, tenho certeza que não. — Engulo em seco, virando a
cabeça e meus olhos encontram a casa, onde estão todos preparando o café da
tarde. — Vai ser clichê e idiota o que vou dizer agora, mas não é nada com
você, sabe?
— “Não é você, sou eu.” — ela finge uma voz grossa. — Vocês
homens com a mesma desculpa de sempre.
— É muito sério dessa vez, não há nada de errado com você, acredite
em mim, é que eu… — minha boca pinica para soltar que estou em um
relacionamento, mas sei que também não daria muito certo dizer isso, meu
coração palpita nervoso sem saber o que falar para que acredite, então solto a
primeira coisa que vem a minha mente. — Eu… e-eu estou apaixonado por
alguém. Não esperava isso, mas aconteceu meio de repente, então realmente
o problema não é com você.
Ela se assusta com a minha confissão e só agora com seu choque,
noto o que realmente deixei escapar, sem sequer ter certeza de que realmente
sinto.
Ela abre e fecha a boca várias vezes, pensando no que dizer e caímos
em um silêncio constrangedor por alguns segundos.
— V-você está apaixonado… — ela fala demoradamente. — Meu
Deus, eu estava tentando dar em cima de alguém comprometido! Perdão.
— Não é isso, eu…
— Claro que é, meu Deus. — Ela me interrompe, não me deixando
concluir. — Você tem alguém em Chicago e tudo bem. Meu Deus, eu deveria
ter sido direta e perguntado antes.
Ela se afasta com as mãos sobre a boca e não sei como reagir diante
disso.
Quando lhe chamei para conversar, pretendia apenas lhe perguntar se
realmente estava entendendo certo as suas tentativas de chamar minha
atenção nos últimos dias, mas acabei sendo completamente grosseiro e agora
não sei como agir.
Como posso trabalhar com gerenciamento de pessoas, e não saber
como agir em situações assim em minha vida pessoal?
— Bom, como eu já havia dito, acredito que sua presença trouxe à
tona aquela paixão boba de adolescência, ainda mais agora que está ainda
mais bonito que antes e… — ela se cala, seu rosto se avermelhando ainda
mais. — Não que fosse feio, eu só…
— Entendo, Carina. — Consigo soltar uma risada, notando que
também está nervosa com a situação. — Estamos bem?
Estendo a mão para ela, que pega ainda receosa.
— Só se esquecermos isso, já que tudo foi vergonhoso demais. — Eu
assinto, sorrindo em confirmação. — Promete?
— Preciso te dar meu mindinho também?
Ela me olha de forma estranha, mas ri da minha fala.
— Não, assim está de bom tamanho. — Ela solta minha mão e
suspira, dando passos pra trás enquanto acena. — Até mais.
Se vira de costas e me deixo cair na cadeira de praia, fincando meus
pés na areia fina, olhando para o horizonte onde o sol começa a se pôr.
Porra, como sou péssimo com essas coisas.
Fecho os olhos, voltando a respirar direito e tentando não pensar no
que disse a Carina.
Não estou apaixonado, foi só para encerrar a discussão.
Alguns minutos se passam e me assusto quando dedos finos tocam
meus ombros. Abro os olhos sorrindo para a morena que se joga na areia ao
meu lado.
— O que estava falando com a minha tia? — ela é direta, e acabo
sorrindo sentindo seu incômodo com a situação. — Não sorria desse jeito e
só me responde logo.
— Eu estava lhe falando que não vai acontecer nada entre nós dois,
antes que ela tentasse algo a mais e criasse expectativas. — Noto quando ela
respira fundo, e desvia os olhos de mim para o mar. — Sou todo seu, lembra?
Vejo a sombra de um sorriso se abrir em seu rosto.
Ela se apoia nos cotovelos, deixando seu colo exposto por conta da
blusinha sem mangas. O sol alaranjado cobre seu corpo, o tornando de uma
cor pecaminosa e que me faz ter vontade de distribuir beijos por todo ele, o
tratando com a reverência que merece.
Ela fecha os olhos e joga os cabelos para trás, balançando com a brisa
suave. A cor preta ondulada é linda, sinto seu aroma floral daqui e passo
meus olhos por cada centímetro de seu corpo, me lembrando de como venho
gostando tê-lo colado ao meu.
Seja quando estamos pelados e arfantes, quando estou chorando com
ela no meu colo, ou com ela brincando sobre como nossos corações são
completamente opostos.
Quando meus olhos chegam ao seu rosto, traçando seus olhos que me
capturaram desde a primeira noite, em seus lábios cheios e deliciosos, que
quando sorri, os torna ainda mais perfeitos, suspiro.
Me apaixonei por essa diaba?
Acho que sim, porra, mas não consigo me sentir culpado mais.
Era inevitável, acredito eu. Sou todo emocionado apesar da fachada
de frieza e acredito que meu coração só estava esperando-me dar a
oportunidade de ceder a alguém, de me dar ao prazer de ter alguém em minha
vida outra vez. Eu me permiti, depois de muito tempo preso a mim mesmo,
me mostrei verdadeiramente a ela e então, ela o fisgou sem percebermos.
Duda me obrigou a isso, não tive escapatória e me surpreendo ao me
sentir grato por isso.
Seu jeito espontâneo e inconsequente me levou à loucura nos
primeiros dias e quase me enfarta quando nos mete em confusão, mas aos
poucos, fui conseguindo ceder, me divertir e relaxar de verdade como a muito
tempo não fazia. Seu modo apaixonante de viver a vida, resgatou o Marcos
sonhador que fui um dia, o garoto que almejava viver o mais plenamente
possível, desde que com objetivos.
Sentia falta dessa leveza que ela trouxe com suas loucuras e falas
impensadas e, droga, não só fodi como também me apaixonei pela filha do
meu melhor amigo.
Pedro vai me matar, isso é certo.
— Precisamos contar aos meus pais sobre nosso caso de veraneio. —
Meu coração que estava se acelerando por pensar em como essa garota mexe
comigo de uma forma que a muito tempo não me sentia, para por alguns
segundos. — Vamos fazer um jantar para eles e contar.
Ela volta a abrir os olhos, notando como estou paralisado e sorri
fraco, como se estivesse pedindo desculpas, agindo como se estivesse me
contando sobre o tempo, algo como “desculpe por ter te trazido até essa
praia paradisíaca, mas vai chover amanhã”.
— Como? — eu pergunto, não cedendo a vontade de agarrá-la pelos
cabelos e colocá-la no meu colo, sabendo que as pessoas estão na casa e
podem nos ver a qualquer momento. — Por-porque?
Ela suspira e se levanta, fazendo justamente o que estava em meus
pensamentos, se sentando sobre minhas coxas. Meu coração volta a correr
contra o tempo.
— Duda e se eles ve…
Minha voz é silenciada com um beijo seu, e esqueço que qualquer um
poderia nos ver e me entrego a ela. Devoro seus lábios como gostamos,
sentindo nosso gosto se misturar.
— Mandei todos às compras, vovô ficou dormindo e Lua está
assistindo um desenho com Malu. — Ela diz sussurrando contra a minha
boca. — Precisamos contar antes que descubram por eles mesmos, e eu perca
totalmente a confiança deles.
Seu tom é sério, abatido até, como se sentisse dor somente por
imaginar algo assim acontecendo.
— Seu pai vai me matar! — não sou contra a ideia, notando que isso
já está indo longe demais e estamos ficando cada vez mais descuidados. —
Vou voltar para Chicago em uma caixa de sapatos, somente minhas cinzas,
logo agora que voltei a me aproximar de James.
Ela sorri.
— Por que está sorrindo?
— Por ter respeitado a minha decisão e não se recusado a contar. —
Ela suspira, como se minha reação a aliviasse. — Sei que vai ser difícil, mas
vamos conquistá-los pelo estômago. — Ela então começa a descrever seu
plano. — Preparamos um jantar, o prato preferido dos meus pais, com tudo
que amam, contamos com calma explicando como tudo aconteceu e o porquê
de não termos contado antes. Falamos que foi inevitável, o tesão e toda a
química, a biologia explica, que quando nos conhecemos não fazíamos ideia
de quem realmente éramos, e acabamos não resistindo por termos que morar
na mesma casa por esses dias. — Ela para e toma fôlego. — Vão ficar com
pena de nós por termos preparado um jantar gostoso com as melhores das
intenções, e estarmos nos sentindo afogados em culpa por ter escondido
deles. Vai ser tranquilo, eles nos amam.
Ela enumera o que vamos fazer e sorrio para ela, apenas babando em
como sua cabeça sem parafusos funciona.
— Acho que não estou preparado para ter meu melhor amigo me
odiando, mas — suspiro colocando uma mecha de seu cabelo para trás de sua
orelha. —, vale a pena.
— Eu sei que meu belo corpo, e nossa foda incrível vale muitas
coisas. — Ela diz em tom brincalhão e orgulhoso, me levando a sorrir. —
Mas confia em mim, ele vai entender.
Não confio no que diz ao me lembrar de todas as vezes que Pedro
falava da filha, mas sentindo meu coração explodir no peito ao constatar que
sem querer e sem perceber, acabei me apaixonando por ela, a sensação alivia
a culpa que se fez mínima após esses dias juntos.
— Caso contrário, prometo que envio suas cinzas em uma caixa bem
bonitinha com fit…
— Você vale a pena, Duda. — Ela fecha a boca pois interrompo sua
fala e seus olhos dobram de tamanho. — O que passei a sentir por você
nesses dias, vale a pena.
Ela não tem reações, apenas passa os olhos por todo meu rosto, sinto
sua respiração mudar de ritmo e rio de seu choque, vendo como a deixei sem
palavras e pego uma de suas mãos, levando ao meu peito, onde meu coração
bate como louco.
— Estava certa, seu coração de pedra vai destruir o meu que é todo
molenga, mas ainda vai valer a pena.
Tomo sua boca num beijo, não desejando que fale nada que venha a
estragar o momento, até porque sei que apesar de agora perceber o que ela me
despertou, é passageiro.
Um amor de verão.
Rio durante o beijo ao pensar nisso.
Quando eu poderia acreditar que passaria por uma situação dessa após
tantos anos?
— Por que está rindo? — sua voz me parece insegura e abro os olhos
encontrando seu olhar preocupado. — O que foi? Achei que teria que chamar
uma ambulância para lidar com seu enfarte quando eu ouvisse que quero
contar a eles, mas está quase gargalhando.
Seguro seu rosto, sentindo suas mãos quentes em meu peitoral mesmo
com o tecido da camiseta e não consigo deixar de pensar que surtou menos
do que eu esperava com a minha fala.
— Nunca pensei que me apaixonaria outra vez, e muito menos que
seria por uma pirralha inconsequente como você. — Ela arregala os olhos e
me desfere um tapa no peito. — Ei, isso doeu.
— Não me chama de pirralha, perdeu o juízo? — cruza os braços,
uma veia saltando no meio de sua testa, entregando que está preocupada
apesar de tentar não demonstrar. — E não fala mais sobre essa loucura de
estar apaixonado, se não vou ter que partir seu coração ao meio.
Não deixo de sorrir e ela semicerrou os olhos sobre mim.
— Vai parti-lo como? — ela arqueia uma das sobrancelhas. —
Dizendo que não sente o mesmo? Que me avisou antes que seu coração é
destrutivo, ou que não podemos ficar juntos?
Solto uma respiração exasperada, passando as mãos sobre seus fios
negros, deslumbrado em como a luz do pôr do sol bate contra eles e junto da
brisa os esvoaçando, a tornam uma visão surreal, quase divina.
Linda, não me canso de pensar sobre sua beleza.
— Tenho consciência sobre tudo isso e também não espero que caia
de amores por mim. — Apesar de notar como vem agindo diferente nos
últimos dias, acredito que mal percebe que também vem se apegando ao que
temos, mesmo que negue sentir algo, acendi alguma coisa dentro dela, tenho
certeza. — Sou adulto, Maria Eduarda, entendo que as coisas não acontecem
como nos filmes ou nos livros. A vida real é bem mais complicada e a
realidade, mesmo sendo um pouco decepcionante, me proporcionou viver
uma aventura sexual e romântica mesmo após todos esses anos. Não espero
nada de você, não vou lhe fazer juras de amor e te cobrar reciprocidade,
entretanto admito que me sinto grato por ter derrubado aquela bebida em
mim naquela noite, e ter me feito cair em sua armadilha. Acho que eu
precisava me lembrar que ainda estou vivo e ainda tenho muito o que viver.
Ela suspira novamente e sorrio estufando o peito, orgulhoso de como
a estou deixando sem falas.
— Você lida muito bem com algo como uma paixão, para alguém que
sofreu tanto com o amor no passado. — Ela pensa alto, fitando meus olhos.
— Está aceitando isso sem surtar.
— Acredite quando eu te digo que até eu estou surpreso, mas acho
que não tem por que eu surtar mais. — Coloco seus cabelos para trás, o
embolando e prendendo como consigo para ter acesso ao seu rosto. — Joguei
tudo pelos ares quando fodemos naquela casa de máquinas, o que veio depois
daquele dia são somente consequências dos nossos atos, Sweet. Sei que sou
medroso e covarde e acredite, agora não, mas quando chegar a hora vou
tremer de medo de seu pai, mas preciso agir de acordo com a minha idade e
assumir as responsabilidades pelas minhas atitudes.
— Eles vão acabar com você. — Ela diz em tom choroso, passando os
dedos pelo meu rosto. — Ainda bem que pude aproveitar dessa carinha
bonita enquanto ela não é desfigurada.
Deixa um selinho em meu sorriso, noto sua tática de desviar do
assunto e não a culpo.
— Vou ter que gastar com mais plástica. — Ela ri da minha fala. —
Vou fazer você pagar, já que foi a culpada.
— Eu?! — coloca as mãos no peito de forma exagerada. — Que
calúnia, Marcos.
— Claro que foi você. — Abraço sua cintura, colocando meu nariz
em seu pescoço para sentir seu aroma docinho. — Me conquistou com essa
boca sem filtro — deixo um beijo em seu pescoço, a sentindo se arrepiar. —,
com esse olhar magnético e essa boca cheia de preenchimento, mas ainda
assim, muito gostosa de beijar. — Deixo uma mordidinha agora. — Com
essa falta de senso, sendo inconsequente até os ossos. — Subo para seu
maxilar, a sentindo arfar. — Com essa risada gostosa de se ouvir. — Chego
em sua boca. — Você é deslumbrante, Sweet, não tem quem não se apaixone
após te conhecer, e por isso tem uma coleção de corações quebrados para si.
A olho nos olhos e posso jurar ver os seus lacrimejar.
— Eu diria que se desse uma chance aos pobres coitados, eles com
certeza a tratariam como uma deusa na terra, mas ainda bem que os destrói
por onde passa. — Beijo sua boca. — Se não tivesse os feito, eu não teria a
honra de ter o meu pobre coração mole, ser partido por você
Falo contra a sua boca e ela aprofunda o beijo, segurando meu cabelo
com força, puxando os fios enquanto deixa um arranhão gostoso em minha
nuca com a outra mão.
— Para de falar essas coisas. — Sua voz é um sussurro e ela se afasta.
Seu olhar é penetrante por um tempo e ela engole com dificuldade
antes de balançar a cabeça.
— Me desculpa por ter que acabar com sua amizade com o meu pai.
— Vamos torcer para ele se contentar com quebrar a minha cara e me
expulsar a pontapés. — Ela me olha confusa. — Estou aprendendo que
segundas chances existem, se ele ao menos me deixar sair com vida do
Brasil, posso conquistá-lo de novo.
Ela solta uma risada, mas logo volta a ficar séria, segurando meu
rosto em suas mãos.
— É sério, me perdoa por me sentir no dever de contar. — Ela
suspira.
— Não te culpo. — E realmente não o faço. — Admiro a relação de
vocês, a forma com que sempre compartilham tudo sobre a vida uns dos
outros. Possuem uma confiança bonita, não quero ser o causador dessa
quebra.
Ela me olha deslumbrada, como se tudo que disse, estivesse passando
por sua cabeça.
— É exatamente isso. — Ela exaspera. — Nunca precisei esconder
nada deles e achei que poderia lidar com esse segredo, mas hoje caiu a minha
ficha que se eles acabarem descobrindo de alguma outra forma, vou estar
arruinando anos de confiança e nossa relação, com certeza, vai se abalar por
conta disso. Não quero decepcioná-los quando mesmo nesses vinte anos de
tantas merdas cometidas, nunca o fiz. — Seus olhos voltam a lacrimejar. —
São meus melhores amigos, além de Lua, e não aguentaria o olhar de
desaprovação deles, de decepção. Me quebraria.
Consigo entender seu ponto de vista e não desejo arruinar a relação
que tem com os pais por conta do nosso segredo.
De arruinada já basta a minha relação com James, que estou
consertando a passos lentos, então não me perdoaria se fizéssemos isso com a
deles também.
Por dentro quase consigo sentir meus órgãos se chocando um contra o
outro, por estar tremendo de medo do que Pedro pode fazer comigo, temendo
ainda mais perder a sua amizade, mas como disse anteriormente a ela, sou
adulto e preciso lidar com as consequências das minhas ações.
Estranhamente, Duda deita em meu ombro e respiro fundo, sentindo
meu peito se acalmar com seu contato, e por mais que a ideia me assustasse
um tempo atrás, me sinto grato por estar vivendo isso após tantos anos
fechado para qualquer sentimento bom e tranquilo.
Perdi muito tempo literalmente vivendo em torno do trabalho, mas
essa viagem resgatou o Marco que enxergava a vida como uma grande
oportunidade.
É bom sonhar, viver, experimentar e claro, se apaixonar, mesmo que a
certeza do coração partido seja uma realidade tão vibrante como o pôr do sol
à minha frente.
Vale a pena viver.
Leio a mensagem outra vez, surpreso demais com o que vejo escrito
na tela, com medo de estar alucinando.
— Pedro, lê aqui. — Estendo o celular para o meu amigo, que está
concentrado em seu time perdendo na tv — Pedro, porra!
Sua atenção é puxada para mim, e ele me olha como se fosse capaz de
me bater só por atrapalhá-lo.
Espere para quando descobrir sobre mim e sua filha, aí sim terá
motivos.
— O que é isso? — ele pega o aparelho na mão e seus olhos ficam tão
surpresos quanto os meus depois dele ler. — Ele realmente aceitou vir passar
uns dias com a gente?
— Não li errado, é exatamente isso, certo?
Questiono sentindo minha boca secar.
Venho conversando cada vez com mais frequência com James, e
ontem lhe chamei para passar uns dias aqui, garantindo que arcava com os
custos quando me contou que sua mãe bloqueou seus cartões e ele parece
muito animado com a ideia, já que não se lembra de quando visitou meu país,
ainda era muito pequeno.
Puta que pariu, vou ver meu filho após meses sem ter coragem de
encará-lo.
Da última vez tivemos uma briga feia, o tirei da cadeia porque foi
pego pixando alguns prédios pela cidade, além de ter irregularidades com a
sua monstruosidade ao ser pego fugindo após o flagra. Disse coisas das quais
me arrependo porque já estava tendo dias estressantes com o trabalho e ser
chamado para tirar ele da cadeia, quando estava de partida para outro país
para fechar negócios importantes, me levou a loucura.
E agora, estou há alguns dias de encontrá-lo outra vez, com a
promessa de tentarmos consertar nossa relação, onde vou ter a chance de me
desculpar pessoalmente e da maneira certa, por ter sido um pai de bosta todos
esses anos.
Envio a resposta, dizendo que o dia que preferir mando preparar o
jatinho para ele, garantindo que é muito bem-vindo pois me perguntou se
meus colegas não o achariam um intruso nas nossas férias.
Mais uma vez Duda estava certa, afinal de contas. Apesar de negar, o
garoto só estava precisando que eu provasse que minhas intenções são
verdadeiras, e venho fazendo isso durante a última semana, com conversas e
ligações frequentes, mantendo minha palavra de quero ser melhor do que fui.
Sinto minhas mãos suarem, já me sentindo nervoso sobre esse
encontro.
— Acho que vou ter um piripaque. — Recosto no sofá e Pedro ri, me
abanando com uma almofada. — Puta que pariu, nem acredito que isso vai
mesmo acontecer. Cassandra vai surtar por eu tirá-lo do país de repente.
Me lembro da minha ex-esposa, que acabei entrando em contato para
dar notícias de James como havíamos combinado, e tive que ouvir o quanto o
garoto era ingrato por estar aceitando meu contato e ainda recusando suas
ligações.
Não conversei com ele a respeito disso como a mesma me pediu, não
querendo tomar partido da mãe e sinceramente, só consigo me sentir aliviado
por estar tendo essa chance com ele, não quero que nada atrapalhe.
Não sei como, ja que estou tremendo pelo nervosismo, consigo lhe
enviar que vou deixar tudo preparado e como estávamos conversando
simultaneamente, logo recebo suas respostas, com os dados de que preciso
para sua embarcação.
— Estou orgulhoso, Marcos. — Pedro estapeia minhas costas com
carinho, e sinto uma lágrima escorrer. — Te disse que nunca é tarde demais.
Assinto, sentindo meu corpo ainda em choque por conta da novidade,
ainda não assimilando essa notícia e só consigo pensar em como vai ser esse
encontro.
O que vamos falar um para o outro, se vamos conseguir manter uma
conversa, qual vai ser nossa reação quando nos encontrarmos.
Lhe estendo minha mão, ou puxo para um abraço como é meu desejo?
Um toque como esses jovens fazem hoje em dia?
Não sei, e já sinto minhas mãos suando, apesar do coração eufórico e
da tentativa do meu corpo de processar a loucura do rumo que tomou nossa
conversa em menos de dois minutos, uma sensação de conforto passa por
meu corpo, como se finalmente tudo estivesse voltando a se alinhar após
muito tempo fora dos eixos.
Nunca imaginei que umas simples férias fossem causar mudanças tão
radicais na minha vida, e agora já consigo me ver voltando para Chicago na
companhia do meu filho.
Que loucura.

Assim que entro no quarto após dizer a todos na sala que estava indo
dormir, me assusto quando encontro Maria Eduarda em minha cama.
O susto dura apenas alguns milésimos de segundos enquanto fecho a
porta a trancando, e logo depois já passo a olhá-la com um sorriso nos lábios.
Seus olhos divertidos encontram-se com os meus, o sorriso lindo
brilhando em seu rosto quando os desvia de volta para seu notebook em seu
colo.
Me aproximo da cama pensando em como passei a tarde toda
fantasiando em como vai ser a minha volta para casa, junto de James se tudo
der certo após sua chegada aqui, e em algum momento da minha reflexão, me
senti entristecer ao perceber que não terei mais essa mulher sem noção na
minha vida.
Faz alguns dias desde que percebi que acabei me apaixonando por ela,
e tenho aproveitado cada momento que estamos juntos, sabendo que isso terá
um fim. Não tocamos mais no assunto da minha breve declaração a ela, não
querendo causar nenhum desconforto.
A garota não tem culpa de ter se envolvido com um velho e ter
despertado o lado emotivo dele. Só de ela ainda manter nossa relação como
estava, já é um alívio, pois quando as palavras saíram da minha boca jurei
que fosse me largar na praia como estava, e não me olharia mais na cara pelos
próximos dias.
— Vou acabar tendo que te denunciar. — Me jogo, deitando ao seu
lado e deixando um beijo em suas coxas desnudas pelo short curto. — Não
para mais de invadir meu quarto. De onde surgiu esse espírito invasor?
Ela deixa escapar uma risada gostosa enquanto digita algo.
— Hoje só vim te mostrar o cronograma do nosso jantar da redimição.
— Seus olhos dourados me encaram. — Senta direito para eu te mostrar.
Ela dá dois tapinhas nos meus ombros e me sento, encostando as
costas na cabeceira da cama, recebendo o aparelho sob minhas pernas, um
slide aberto em sua tela.
— Ontem você apareceu aqui porque estava com insônia e precisava
ouvir minhas histórias de velho para poder dormir, e depois de quase duas
horas rindo sobre minha experiência tenebrosa comendo um escargot, estava
lutando para manter os olhos abertos e então fugiu de volta para o seu quarto.
— Ela ergue uma das sobrancelhas quando começo a falar — No dia anterior
a esse, estava com muita cólica e precisava de um orgasmo para poder passar
e apesar de eu até mesmo ter te feito uma massagem, fugiu assim que a dor
passou.
A vejo cruzar os braços abaixo dos seios.
— Isso é uma reclamação? — ela questiona e noto o tom irritado em
sua voz. — Porque se for, posso sair agora mesmo e não voltar mais.
Não consigo deixar de sorrir para ela.
Meu Deus, estou parecendo até um adolescente estupido que acaba de
se apaixonar pela primeira vez e não consegue manter os olhos nem os
pensamentos longe da mulher.
— Claro que não. — Desvio o olhar para a tela. — Só estou dizendo
que acho que por mais que não queira confessar, não consegue mais dormir
sem ao menos ter ouvido a minha voz, mesmo ainda se recusando a dormir
aqui comigo.
Ouço a risada irônica dela, como se eu estivesse falando bobagens e
sinto meu corpo se arrepiar inteiro por sentir sua respiração em meu pescoço
quando ela coloca o queixo no meu ombro.
— Para de alucinar, vovozinho, e vamos logo com isso.
Ela passa o slide, onde começa a apresentação de como vai ser o
jantar onde vamos contar aos seus pais sobre nosso envolvimento.
Passei esses dias tão concentrado na ideia de fazer as pazes com
James e de aproveitar cada segundo ao lado de Duda antes da minha volta
para Chicago, que meu corpo esqueceu de se sentir nervoso por conta disso.
Enquanto ela vai passando as páginas e explicando o que cada coisa
significa, desde os pratos que vamos preparar juntos, Papillote de tilápia com
legumes, seja o que isso for; como ela vai expulsar todos da casa; o que fazer
para conseguir esse feito, até o discurso e tudo que precisamos deixar claro
para eles, começo a pensar então, na reação do meu melhor amigo e sua
esposa.
Com certeza vão acabar comigo e porra, não consigo nem mesmo
tirar sua razão.
Além de ser quase vinte anos mais velho que a sua filha, o que com o
tempo particularmente percebi ser indiferente para nós dois, ainda sou a
porcaria do seu melhor amigo, o cara que sempre fez questão de tratar como
um irmão, e que deveria ser leal a ele acima de tudo.
Ele provavelmente vai me acusar de todas as coisas as quais eu
mesmo já me acusava no início disso tudo.
Vou ouvir que sou ingrato, uma porcaria de amigo e todos os outros
xingamentos que ele provavelmente vai tecer e ainda assim, sentindo o que
sinto hoje por sua filha, não consigo mais me sentir culpado por estar vivendo
essa experiência surreal ao lado dela.
Sei que no início não queria ceder à tentação que ela me causava por
termos uma diferença de idade absurda e a culpa me corroía ao me lembrar de
quem era seu pai, mas agora, só consigo pensar que ela despertou um Marcos
que eu não via há muito tempo, e o que me assombra realmente nessa história
de confessarmos a eles, é o que poderão fazer com ela.
Quando me confidenciou que precisamos contar a eles por não querer
perder a confiança dos pais e quase chorou por isso, vi o medo real em seu
rosto, então estou disposto a enfrentar qualquer coisa que Pedro venha fazer a
mim, desde que não pegue pesado com ela, desde que suas palavras de
decepções não a atinjam, somente a mim.
Maria Eduarda pode se fazer de forte e inabalável, e é até certo ponto,
mas durante esses dias que nos tornamos mais íntimos, além do sexo, pude
perceber o quão frágil é, e como ainda precisa de cuidados mesmo os
recusando, sei que ela não vai aguentar se sentir desprezada por seus pais por
conta do que fizemos.
Apesar de eu não acreditar que Pedro e Roberta fariam qualquer coisa
para magoá-la, não conseguimos prever qual será a reação deles ao
descobrirem nosso segredo.
— Por que vamos contar antes da sobremesa? — olho para a morena
quando termina sua apresentação. — Não seria melhor os mantermos calmos
com o doce antes?
— Para o caso deles ficarem nervosos e a pressão do meu pai subir.
— Ela dá de ombros como se sua explicação fosse simples. — Aí então
socamos o doce na boca deles, para acalmar os ânimos.
Suspiro, sentindo meu corpo tremer involuntariamente ao pensar em
Pedro nervoso e ela tira o notebook do meu alcance, se levantando com ele
no colo.
Meus olhos a seguem enquanto coloca os chinelos no pé, pronta para
dar o fora, como de costume, mas a interrompo, segurando seu braço.
— O que foi? — me olha com seu olhar malicioso, ao qual me
apaixono mais a cada dia.
— Fique aqui comigo hoje. — Minha respiração é pesada ao lhe pedir
e a vejo deixando o aparelho no chão, mas a interrompi outra vez quando
ameaçou tirar a blusa. — Não dessa forma, só quero sua companhia.
Seu sorriso se fecha, mas antes de sair às pressas após meu pedido,
vejo que olha para a porta, cogitando a ideia
— James aceitou vir passar uns dias com a gente, chega amanhã à
noite talvez. — Não me sinto culpado por apelar para o emocional para tê-la
comigo. — Tô nervoso para caramba e não sei como agir com ele quando
chegar.
Seu suspiro é audível e quando vejo, ela já está passando por cima de
mim, para voltar a se deitar ao meu lado, mas não sem antes pegar o controle
da tv e a ligar.
— Eu fico, mas só se assistir o novo documentário da Taylor comigo.
— Me olha desconfiada, como se eu fosse capaz de negar o que fala, e sorri
quando vê que não o faço. — O namoradinho a distância da Lua também
chega na semana que vem, essa casa virou refúgio de desabrigados
problemáticos?
Não consigo me sentir ofendido e rio com sua fala.
— Pensa pelo lado positivo — me olha aguardando-me completar a
fala. —, vai ser mais gente para você conquistar com seu talento, vai ganhar
todos pelo estômago.
— Você eu ganhei pelo pau. — Adoro a falta de filtro dessa mulher.
— Já pensou que seu filho vai estar aqui para o seu enterro após meu pai
acabar com você?
Ela se deita enquanto procura o quer que assisto com ela e me deito
também, a puxando para deitar em meu peito.
— Não diz assim, como se não fosse chorar no meu túmulo. — O que
eu me tornei? Até fazendo piadinhas sobre o assunto. — Nem que seja por
sentir falta do que faço com seu corpo.
Aperto sua bunda e ela solta uma risadinha safada.
— Posso encontrar outro, mas se quiser posso respeitar o período de
luto de sete dias por sua pica. — Ela me encara ainda sorrindo. — Agora fica
quietinho para prestar atenção na mamãe.
Ela aponta a tv, onde a tela brilha com uma loira muito bonita e que
se estou me recordando bem, já a encontrei no passado.
— Acho que ela já se hospedou em um dos nossos hotéis. — Penso
alto encarando a tela, e me assusto com o pulo que a morena dá no meu colo.
— Ficou louca?
— Como assim a Taylor já se hospedou no seu hotel e você só me
conta agora? — ela parece uma mistura de assustada com eufórica, também
indignada. — Pode me contar essa suposta história agora mesmo, Marcos
Freitas.
Ela se senta no meu colo e não consigo não a puxar para um beijo.
Apesar de estar empolgada com que eu disse, se rende, nos levando a
aprofundar o beijo. Sinto meu corpo se acender e meu coração se acelerar
quando circulo sua cintura com os braços e ela segura meus ombros com
força.
Sei que preciso aproveitar cada um desses momentos com ela por
termos uma data de validade, e meu coração se aperta ao pensar que sequer
podemos pensar em tentar viver em um relacionamento de verdade, mesmo
se ela quisesse tanto quanto eu, nossas vidas tão diferentes e distantes não nos
permitiriam.
Vou sentir falta dessa desmiolada.
Encerramos o beijo e deixo vários selinhos em seus lábios, sentindo
seu sorriso e suspiro, abrindo meus olhos devagar, tendo os seus me
estudando com calma.
— Te conto tudo, se dormir comigo hoje.
Ela suspira, mas sorri e então me surpreendendo, deita ao meu lado, a
cabeça repousando no meu peito enquanto seu braço circula minha cintura.
— Mas não se acostume.
Apesar da minha oferta de lhe contar sobre a hospedagem da loira em
troca disso, algo me diz que ela só precisava de uma desculpa para dormir em
meus braços.
Passamos a próxima hora falando sobre sua cantora favorita e depois
de eu terminar de lhe contar como foi o dia que a recebemos no hotel e como
tudo foi preparado nos mínimos detalhes, até mesmo sobre a questão da
segurança, que me lembro termos sido invadidos por um grupo de fãs, ela
passa a me contar que o amor pela cantora surgiu quando por acaso encontrou
uma música no Youtube, desde então se tornou fã e a acompanha, indo aos
shows sempre que pode e comprando tudo personalizado da cantora, o que
explica suas inúmeras camisetas, shorts e bonés estilizados.
Após isso caímos num silêncio confortável e antes do que previa, sua
respiração ritmada é ouvida por mim e acabo sorrindo com ela dormindo em
meus braços.
Deixo um beijo em sua testa e me ajeito para dormir também, com ela
se aninhando ainda mais ao meu corpo, me apertando como se eu fosse seu
ursinho de pelúcia e não quisesse me perder no meio da noite. Tinha
esquecido de como era dormir colado a alguém dessa forma, e a sensação é
ainda mais gostosa por saber de que se trata da maluquinha.
Inspiro seu cabelo, sentindo o aroma floral dele se misturando ao
cheiro doce de seu corpo, e a aperto ainda mais contra mim, desejando que
seu cheiro se fixe ao meu.
Essas férias podiam durar mais do que apenas alguns poucos meses
Estou surtando.
Sinto meu corpo todo tremer conforme vou cortando a cenoura em
julienne[13], alheia ao homem que faz o mesmo com o pimentão após eu lhe
ensinar.
Não consigo nem me sentir orgulhosa por ter ensinado um marmanjo
desses a cortar algo na cozinha pela primeira vez na vida, nem a voz da
Taylor em “Wildest Dreams”, tocando ao fundo é capaz de me acalmar
agora.
Sei que começamos essa história com ele sendo todo medroso e eu a
ousada, mas agora que nos aproximamos de contar aos meus pais, os papéis
estão invertidos. Nunca me senti assim, como se fosse uma criancinha que
está prestes a contar aos pais que rasgou seu quadro favorito de edição
limitada, que compraram na lua de mel na Romênia, que custou milhares de
dinheiro.
Sei disso porque realmente o fiz e ainda assim tive tranquilidade ao
contar, assumindo a culpa logo que vi a merda feita.
Como sempre chamaram a minha atenção, mas ficaram felizes por eu
não ter tentado esconder nem ter inventado nenhuma mentira, bem diferente
do que fiz dessa vez, escondendo deles por dias o que rolava debaixo do teto
deles.
Enquanto eu já virei toda a taça de vinho branco que enchi para beber
enquanto cozinhamos e meus nervos estão à flor da pele, Marcos parece tão
tranquilo que tenho vontade de lhe socar a cara eu mesma.
Meu sistema está entrando em pane e estou me sentindo uma covarde
enquanto o medroso verdadeiro, corta o que lhe pedi enquanto assobia a
música que toca suavemente.
Não entendo como demonstra tanta tranquilidade, quando deveria
estar pior que eu. Foi ele que comeu a filha do melhor amigo, porra e além do
mais, era para estar ainda pior pois seu filho desembarcou ontem a noite de
seu jatinho particular, e lhe deu um perdido.
Pelo que ouvi hoje logo cedo, o garoto não entrou no carro com o
motorista que estava designado a trazê-lo para cá, parou de responder as
mensagens de Marcos e recusou todas as ligações. Só sei disso pois ouvi ele
conversando com meu pai no café da manhã, e me senti muito estúpida por
ter vontade de abraçá-lo e tentar confortar de alguma maneira, pois parecia
bem abalado.
Pelo que imagino agora, o moleque só queria uma forma de fugir do
país, e quando chegou aqui, sumiu das vistas de todos, deixando Marcos
preocupado, segundo ele o garoto pisou uma única vez no Brasil, mais de
quatorze anos atrás. Mas diferente de como estava antes, depois que
despachei todos de casa e começamos a preparar a refeição, ele se mostra
estranhamente tranquilo.
Me assusto quando o celular do homem toca pela quinta vez seguida
em menos de dez minutos, e diferente de antes ele atende a ligação, me
levando a acreditar que se trata do filho. Entretanto, me surpreendo com uma
voz feminina estridente no viva voz, quando ele deposita o aparelho na
bancada.
— Pensei que tivéssemos evoluído e parado de ignorar as ligações
um do outro, meu querido — a mulher diz em inglês, com uma fluência e
sotaque americano perfeito e por algum motivo, reviro os olhos ao ouvir o
apelido, sentindo a boca do meu estômago doer. — Já descobriu onde nosso
filho se meteu?
Ah, a mulher.
Ex-mulher, por favor, Maria Eduarda
Desvio meus olhos para saber a reação de Marcos sobre ela, sentindo
o gosto amargo tomar minha boca. Como ainda posso sentir ciúmes dele? Me
recuso a sentir qualquer coisa que leve para outros sentimentos, mas não
consigo deixar de odiar cada mulher que se aproxima dele agora.
Ele revira os olhos, cansado e bufa ao mesmo tempo que mostra o
dedo do meio para a tela, mesmo que a mulher não possa ver e internamente,
não consigo deixar de sorrir com sua reação.
— Já te disse que o infeliz não está atendendo minhas ligações e
muito menos respondendo minhas mensagens, Cassandra. — Alguém me
segura porque minha pressão caiu feio e meu tesão subiu alto com a voz
desse homem em inglês. — Já tentou ligar para ele ao invés de ficar me
perturbando?
Puta que pariu, eu juro que seria capaz de esquecer todo o resto e
pular nele agora mesmo. Sua fluência é perfeita e combinado a sua voz já
grave, em outra língua fica ainda mais gostosa e pecaminosa.
Me desconcentro um pouco enquanto babo nele, que corta o legume
de forma lenta, deixando as tiras perfeitas como lhe mostrei, sendo
meticuloso em cada uma delas, mesmo levando o triplo do tempo que eu
levaria.
— Acha que ele me responderia? — a voz da mulher é tão irritante e
sinto vontade de mandá-la a merda, lembrando de tudo que Marcos passou ao
lado dela. — Você poderia ao menos ter contato com a sua família, já que ele
pode estar na casa de alguém.
— James não conhece ninguém da minha família justamente por eu
tê-los abandonado e cortado todos os nossos laços, não merecem nossa
atenção, por que estaria com eles? — minha curiosidade se aguça quando
ouço isso, e começo a montar o Papilote com os ingredientes cortados e
finalizando por cima com o filé de tilápia, que eu mesma cortei ontem à noite.
— Agora pare de me incomodar, porque estou ocupado.
Ele simplesmente desliga a ligação xingando a mulher, e voltamos a
cair no silêncio, apenas a música o preenchendo.
Volto a me concentrar nas porções do prato que monto, gastando
meus neurônios pensando o porque ele não possui contato com a família e me
assusto quando ele encosta o braço no meu.
— Esqueceu de pôr os pimentões. — Sua voz é calma, o que me irrita
e me faz tremer de raiva, pareço um pinscher. — Por que está tremendo desse
jeito?
Olho para ele enraivecida, encontrando seu olhar assustado, sem
entender o porquê da minha ação.
— Por que não está se cagando de medo? — aponto a faca para ele
quando a pego para cortar um único pedaço que ficou mal cortado do
pimentão e ele engole em seco. — Você é o medroso aqui, então porque não
está morrendo de medo do que vai acontecer hoje quando todos voltarem do
parque?
Ele solta uma risadinha, aumentando ainda mais a minha raiva, antes
de me abraçar por trás enquanto tento afastá-lo depois de depositar o objeto
cortante no balcão.
Volto a montar os pacotes de peixe com legumes para levar ao forno,
e me odeio por não estar tão concentrada como o de costume, mesmo estando
fazendo o que mais amo na vida, que sempre me transforma em uma Maria
Eduarda mais centrada e responsável. O medo do que eu vou ouvir dos meus
pais, me tirou do eixo hoje.
Começo a sentir seu carinho na minha cintura enquanto seu queixo
está em meu ombro. Sua respiração no meu pescoço, estranhamente começa a
me tranquilizar junto do seu toque.
Não, ele não pode ser capaz de me relaxar só com alguns toques
bestas, fazendo meu coração acelerar e meu estômago se agitar de uma forma
estranhamente reconfortante.
Me recuso a começar a sentir essas coisas por ele.
Suas mãos sobem para meus ombros, deixando uma massagem
gostosa, tirando os nós dos meus músculos.
— A verdade é que estou morrendo de medo, Duda. — Sua voz é
calma me derretendo por dentro. — Mas quando percebi que estava nervosa
logo quando desceu as escadas essa manhã, enfiei na minha cabeça que teria
que me manter calmo por você, então é isso que estou fazendo. — Ele deixa
um beijo em meu pescoço, que me arrepia e também espanta um pouco da
tensão que estou. — Respira e tenta se concentrar nessa perfeição que está
fazendo.
Sua voz desencadeia algo em mim, como se fosse permitido eu me
sentir fraca agora, deixar essa agonia que vem me tomando aos poucos, vir à
tona.
Apesar de o ouvir, faço justamente o contrário e solto tudo que está
em minhas mãos quando sinto as lágrimas descerem por minhas bochechas.
Seguro na bancada e abaixo a cabeça, soluçando com o choro inesperado e
ele me vira, me levando ao seu peito e me abraçando forte.
Não me faço de difícil e retribuo o abraço, apertando seu corpo contra
o meu enquanto choro.
— Tô morrendo de medo, Marcos. — Não lhe conto que o medo não
é só pelo que vamos fazer hoje, mas também pelo que ele vem causando em
mim. — Eles vão me doar, eu tenho certeza. Vão quebrar sua cara e depois
despachar nós dois daqui, então serei uma sem teto em Floripa.
Ele me afasta um pouco, ainda me segurando, mas então pega meu
rosto, enxugando minhas lágrimas enquanto me recuso a abrir os olhos. Sinto
o beijo que ele deixa em minha testa, e suspiro quando mais uma lágrima
desce enquanto penso o quanto do meu verdadeiro eu e quantas versões de
mim mesma, já mostrei a ele, que sempre acolhe cada uma delas com tanto
cuidado e carinho.
Maldita seja a minha playlist que passa a tocar “Mirrorball” justo
agora.
Não posso estar começando a ter sentimentos por ele. Logo ele vai
embora e não quero ter o coração partido mais uma vez.
— Olha para mim, Sweet. — Porra como não se apaixonar com ele
falando desse jeito? Me tratando como uma princesa nessas horas, e como a
vadia que sou quando estamos na cama? — Abre os olhos para mim, por
favor.
Não consigo recusar o seu pedido, como venho fazendo esses últimos
dias, e então os abro, encontrando seu sorriso discreto e seus olhos azuis
queimando sob minha pele.
Venho surtando desde que ele me contou estar apaixonado e quando
confidenciei isso à Lua, ela entrou em surto comigo, dizendo que eu também
me apaixonaria, apesar de estar relutando.
Tentei não pensar nas suas palavras daquele dia, mas não tem como
não notar seus olhares cada vez mais intensos sobre mim, como se quisesse
me tatuar em sua memória para não esquecer de nada depois que essas férias
acabarem.
A sensação de tê-lo me olhando dessa forma, de tê-lo me tratando
com carinho, com admiração e paciência, além do espaço que me deu após a
declaração, notando que não queria tocar no assunto, mexeu ainda mais
comigo.
— O nervosismo de contar para os seus pais algo que pela primeira
vez escondeu deles, está te cegando. — Sua voz é tão gostosa e pacífica —
Respira fundo e tenta pensar com clareza, acredita mesmo que vão te
expulsar de casa só por isso? Ou que vão se decepcionar com você, quando
na verdade está fazendo o certo e contando a eles sobre o que vem
escondendo, por ter se sentido culpada, por ter sentido que estava os traindo,
mesmo já sendo uma adulta de quase vinte e um anos?
Respiro fundo como me falou e as lágrimas cessam aos poucos.
— Expulsar não, mas com certeza não vão mais confiar em mim
como antes.
Ele nega, um sorriso nascendo.
— Com certeza agora só vai dar mais motivos para confiarem em
você, já que apesar de tudo, tomou coragem de lhes contar. Talvez fiquem
sim chateados, mas nada que leve a quebrar essa relação linda que vocês
possuem.
Balanço a cabeça em uma negativa.
— Não quero que se decepcionem comigo.
Enxugo as lágrimas, voltando a me controlar após esse rompante
louco.
— Não vão, você é uma mulher incrível, Sweet, uma filha que só dá
orgulho com toda sua garra e independência. — Deixa um beijo em minha
testa, me levando a suspirar com seu cuidado — Não precisa ter medo.
Algo em sua fala, sobre a minha suposta independência, traz uma
memória antiga de um tempo atrás, quando dei uma de medrosa e me recusei
a me mudar para Paris, mesmo sendo meu maior sonho estudar gastronomia
lá, desde que passei a entender sobre esse universo fantástico.
Me lembro que apesar dessa casca grossa que tento mostrar, no fundo
sou só uma garotinha mimada e covarde, que morre de medo de conquistar
sua independência longe dos pais, e algo se acende em meu interior ao vê-lo
falando dessa forma.
Respiro fundo mais uma vez, e o afasto com delicadeza, para pensar
direito sem sentir seu aroma inebriante.
— Precisamos terminar esse jantar. — Olho para ele, que volta a
sorrir — Sabe o que me ajudaria na minha concentração?
— O que, meu amor?
Sua voz tranquila e a forma como me chama, como se fosse
absolutamente normal e fizesse parte do nosso dia-a-dia, me traz a louca
sensação de que eu poderia me acostumar a ser chamada assim por ele, e isso
faz meu coração pular com força, então afasto essa sensação com um olhar
malicioso, que lhe agrada.
— Cozinhar enquanto admiro você sem camisa, usando só esse
avental.
Lhe jogo o avental extra além do que uso e ele gargalha lindamente,
suas linhas de expressões enrugando conforme ainda mantém o sorriso no
rosto e ele realmente tira a camiseta, pendurando o eventual em seu corpo
esculpido por Deus.
Estou odiando estar me acostumando com esse homem.

Os peixes descansam no forno, enquanto preparo a massa da nossa


sobremesa de hoje, depois de ter colocado Marcos apenas para assistir pois
seu corpo colado ao meu, sendo meu companheiro de bancada, estava me
tirando do sério e só pensava em montá-lo depois de lamber cada centímetro
de sua pele.
Não que isso tenha mudado muito, pois apesar de me manter
concentrada no que faço, sinto seus olhos em mim, como se eu fosse uma
obra de arte ou algo assim.
Ele está ao meu lado, com os cotovelos apoiados na mesa, uma mão
sobre o queixo e um sorriso maravilhoso no rosto. Seus olhos não desgrudam
de mim enquanto adiciono aos poucos a farinha na massa de Profiteroles[14]
no bowl, e sentindo seu olhar sobre mim, não consigo deixar de sorrir
também.
Ele parece vidrado em tudo que faço, como se eu fosse um
monumento grandioso que ele passaria a vida toda observando, e meu corpo
queima com seu olhar, meu coração acelerando sempre que nossos olhos se
encontram quando peço algum dos ingredientes da bancada para ele.
— Por que não para de me olhar desse jeito? — pergunto começando
a mexer a massa.
— E que jeito estou te olhando? — sua voz é divertida, tão diferente
do Marcos que conheci no início das férias, o que leva meu corpo a entrar em
ainda mais combustão por ele. — Como se eu admirasse e me orgulhasse de
tudo que você faz? Como se pudesse passar horas apenas te observando
enquanto faz o que ama, me saboreando de cada uma das suas expressões
concentrada, que a tornam ainda mais linda? — sua voz cai alguns tons. —
Porque me sinto assim. — Ele muda de posição, mas não o olho, me sentindo
nervosa de repente. — Como se estivesse apaixonado por você? Porque sem
dúvidas alguma, eu estou e não tenho medo de confessar, sabe bem disso.
Suspiro com sua fala e abandono a massa, virando meu corpo em sua
direção.
Meus olhos são capturados pelo dele, e agora me sinto como se eu
fosse sua presa, sem escapatória de sua teia, e gosto disso.
Meus olhos passeiam por seu rosto, sinto como se seus olhos azuis me
hipnotizassem, e seus lábios ainda com o sorriso, levam meu coração a dar
várias piruetas, mesmo com as minhas tentativas de pará-lo.
A última vez que me senti assim por um homem, entreguei tudo de
mim a ele, para depois o imprestável jogar toda a minha confiança no lixo,
transando com metade da sua turma da faculdade.
— Precisa parar de me olhar dessa forma, e deixar de dizer essas
coisas.
Minha respiração se acelera quando ele se aproxima após a minha
fala.
— Por quê? — sua voz agora é baixa, terrivelmente seduzente e afoga
minha calcinha. — Tem medo de que se eu continuar, acabe se apaixonando
também?
Ele sorri de lado agora, e quase concordo com um aceno.
— N-não!— porra, precisava gaguejar, Eduarda? — Porque já te
disse que vai se frustrar por eu não corresponder a esse sentimento.
… e não quero te ver de coração partido, não vou suportar te encarar
tendo a consciência de ser a causadora de algo que te entristecerá.
Prendo a respiração quando ele envolve minha cintura e me puxa para
ele. Nossos corpos se chocam, e o meu se arrepia por inteiro.
— E eu já te disse que isso não me preocupa. — Ele abaixa e deixa
um beijo no meu maxilar. — Que não vou cobrar que meus sentimentos
sejam correspondidos. — Deixa mais um no meu pescoço antes de voltar a
me olhar. — Sei que o que temos é passageiro, e que meu coração vai se
partir quando eu for embora, mas vou lidar com isso depois.
— Ainda assim…
Meu cérebro derrete quando ele toma minha boca, sugando os lábios
para ele.
— Não tem mais o que dizer, Sweet. — Ele murmura em meus lábios.
— Já falei para não se preocupar com o que eu sinto, mas se segue
preocupada em não querer partir o meu coração, talvez também esteja com
medo de sentir o mesmo.
Tento soltar uma risada, mas ela é falha e para calar meu coração
batendo forte demais para o estado normal, agarro ele para mim, puxando sua
cabeça com as mãos, aprofundando o beijo outra vez.
Entramos em um beijo desesperado, suas mãos apertam a carne da
minha cintura como se quisesse se fundir a ela e faço mesmo com a sua nuca.
Nos perdemos nos lábios um do outro e nas sensações que ele nos traz
e quando dou por mim, já estou sendo colocada em cima da bancada, minhas
pernas abertas abraçam seu quadril, o puxando para perto.
Minhas mãos passam a explorar suas costas, deixando pequenos
arranhões enquanto uma das suas, me segura pelo maxilar controlando o
beijo e sinto seus dedos da outra se enterrando na minha coxa, apertando e
me levando a tentar rebolar contra sua ereção que começa a crescer.
Quando estava prestes a jogar meu profissionalismo e toda a higiene
básica que aprendi com a gastronomia, ao tentar tirar seu short e o meu para
transarmos onde estamos, somos atrapalhados e nos assustamos com um
estrondo que vem de algo caindo com muito impacto na bancada oposta a que
estamos.
Nos separamos ainda afoitos, as respirações aceleradas e os lábios
avermelhados pelo beijo e sinto meu ar evaporar e meu coração parar, minhas
mãos começam a suar e tremer enquanto nos afastamos, ele me ajuda a descer
da bancada e tanto meus dedos quanto os dele, agora estão trêmulos.
Minha visão fica turva ao encontrar meus pais, junto de todos os
hóspedes da casa, na entrada da cozinha. Todos chocados com o que viram,
boquiabertos com o que encontraram, meu pai com a mão grande e pesada,
espalmada contra o mármore frio, que provavelmente ocasionou o barulho.
— MAS QUE PORRA ESTÁ ACONTECENDO AQUI NESSE
CARALHO?
É meu pai quem grita.
Porra, nos fodemos.
Acho que estou prestes a desmaiar.
Só isso explicaria o fato de eu mal sentir as minhas pernas, que estão
bambas, minha visão embaçada, duplicando Pedro e o tornando ainda mais
amedrontador, e o fato de eu ver sua boca se mexer, mas não conseguir ouvir
nada.
Desmaio, na certa.
O que me traz de volta ao foco é quando suas mãos atingem
novamente o mármore, causando mais um estrondo que chega a assustar até
Roberta ao seu lado.
— Ficaram mudos agora, porra?! — sua voz se parece mais com um
rugido e seu rosto está vermelho.
Sinto Duda se assustar ao meu lado, dando um pulinho e quando seu
braço encosta no meu, sinto seu corpo tremer, me levando a pegá-la pela
mão, entrando em sua frente como forma de protegê-la de qualquer reação
mais severa de Marcos.
— Não vai querer ouvir isso agora que já presenciou com seus olhos,
mas podemos explicar. — Aprumo meus ombros, sendo corajoso também por
Duda, que agarra meu braço com seus dedos suando e tremendo. — Mas
precisa se acalmar antes de cometer uma idiotice ainda maior do que a nossa.
Ele respira fundo, suas narinas inflam e vejo que está controlado
quando Roberta dá um leve aperto em seu braço.
— Podemos ir até um lugar mais reservado, pai? — me orgulho da
coragem da morena, que com um passo se coloca ao meu lado, mas o pai
recusa com um movimento de sua cabeça. — Marcos pode ao menos colocar
uma camisa?
Seu tom volta a ser mais parecido com a Duda que conheço, mais
segura de si, mas quando a olho, preciso segurar o riso pois seus olhos na
verdade estão em sua tia, que mesmo chocada com tudo que acontece, seca
meu corpo desde que chegaram.
Acho fofo seu ciúme.
— Não se preocuparam com a plateia quando estavam se comendo na
bancada. — Mesmo ríspido meu amigo respira fundo, vejo que mais calmo
enquanto cruza os braços abaixo do peitoral. — Podem me explicar, mas se
eu entendi bem, um velho de quarenta anos está sendo um pervertido nojento
e ficando com a minha filhinha que tem metade de sua idade.
Consigo relaxar um pouco ao notar em como me xinga, mas não o
ousa fazer o mesmo com Duda.
— Vocês com certeza podem acreditar quando digo que o mais
inocente nessa história toda, é o Marcos — a maluca assume toda a culpa, me
levando a olhá-la, incrédulo. — Sabem da filha que tem, eu o atormentei e
instiguei até que ficasse comigo.
— Ei, perdeu o restante dos parafusos da cabeça — a puxo para que
me olhe.
— Ele vai passar um pano para mim, agora consigo ver isso, então
não precisa arriscar sua vida. — Ela diz baixo, mas duvido muito que Pedro
não tenha ouvido, pois solta um pigarro. — A verdade pai…
Ela se volta para eles e faço o mesmo, a silenciando.
— Não é bem como estão pensando. — Interrompo a morena que
bufa irritada. — Nos conhecemos no dia que cheguei ao Brasil, noite na
verdade, quando era para ter ido para sua casa e ao invés disso, inventei de ir
até uma balada.
Vejo os olhos do meu amigo me fitarem pensativo, como se tudo em
sua cabeça começasse a fazer sentido.
— Não fazia ideia de que ela era sua filha, e acabamos nos
envolvendo naquela noite. — Minha respiração treme quando me lembro que
compartilhei uma coisa ou outra sobre a transa que tive com a garota da
balada. — Assim que cheguei aqui, descobrimos quem verdadeiramente
éramos e nossa ligação com você, e então surtamos.
— Ele surtou de medo e eu de felicidade, mas ainda assim, ele está
certo. — Duda comenta. — Depois que ele chegou aqui, se recusou a ficar no
mesmo metro quadrado que eu sem alguém por perto, chegou a pedir minha
documentação para conferir se eu era de maior e não queria nem me olhar
direito, mas eu o queria, pai, queria muito, e eu consegui.
Vejo o sorriso de orgulho que a pequena diaba tenta esconder e
quando volto a olhar para frente, vejo como todos ainda estão paralisados.
— Podem continuar. — Pedro quase não move os músculos da face
para dizer... — Quero saber o final dessa história, de como meu melhor
amigo, dormiu com a minha filha. — Ele dá ênfase sobre nossa relação. —
Porque pelo que entendi, ela é a garota da balada, que você levou para sua
maldita cama, então é óbvio que estavam transando bem debaixo do meu
nariz por todo esse tempo.
Ele trinca o maxilar e meu coração explode em uma galopada. A
lembrança da culpa que sentia nos primeiros dias volta a surgir, mas todos os
sentimentos bons e os momentos com Maria Eduarda, passam por cima dela,
a tornando só uma lembrança outra vez.
— Sim, transamos. — Confessar isso lhe olhando nos seus olhos, me
causa incômodo apesar de tudo, ainda mais quando vejo os avós dela
chocados, saindo em direção a sala para não escutarem mais. — Apesar de eu
ter me sentido extremamente culpado no início, não consegui me manter
afastado, Pedro, e não espero que entenda, mas sua filha é um espécime raro,
não pude evitar mesmo relutando muito. Fui contra tudo que acreditava ao
me envolver com ela, e sei que traí nossa amizade, mas não consigo me
arrepender.
— Além de que nossa química é absurda, pai, a ciência deve explicar,
tenho certeza. — Duda diz um pouco insegura. — Eu confesso que não
tentei, mas ainda assim também não teria conseguido me manter longe dele.
O queria de novo e não conseguia parar de pensar nisso, como se algo muito
maior e sem explicação, nos mantivesse atraídos um pelo outro. — Ela
respira fundo e não me contenho ao pegar sua mão na minha outra vez, lhe
passando segurança quando ela retribui o gesto. — Também não me
arrependo, apenas de não ter contado antes e eu juro que íamos contar, hoje
mesmo quando voltassem e até preparamos um jantar para isso, porque a
culpa de esconder algo de vocês, estava me corroendo.
Sua voz treme e vejo que tenta não chorar.
— Sei que falo demais, sou toda sem noção e odeio o fato de estar à
beira das lágrimas agora, porque não quero que pensem que estou usando o
choro para facilitar a situação. — Pedro engole com dificuldade e toma a mão
da esposa, claramente angustiado com o estado da filha, que não é de chorar
na frente das pessoas, ou se mostrar tão vulnerável como está agora. —
Realmente estávamos prontos para lhes contar e implorar perdão por ter
escondido nosso envolvimento por todo esse tempo. Não contamos antes
porque estávamos tão envolvidos na nossa bolha, inicialmente acreditando
que seria apenas uma noite, mas então acabamos entrando em um acordo de
nos levarmos até o fim das férias, também porque morríamos de medo de
descobrirem ao acaso e acabar gerando uma confusão maior, justamente por
conta da amizade que possuem, além de ele ser bem mais velho, e não
estávamos esperando que nos pegassem dessa forma.
Noto seu nervosismo enquanto fala, se atrapalhando com o discurso
que preparou e ensaiou, misturando todas as partes que pretendia falar com
calma, mas não estávamos prontos para isso, é completamente
compreensível.
— Não precisa mais dizer nada, filha. — é Roberta quem toma a
palavra agora.
— Preciso sim. — Ela funga, limpando a lágrima que escorre por sua
bochecha vermelhinha. — Preciso sim, porque pela primeira vez estou me
sentindo uma filha de merda, e estou morrendo de vergonha por ser pega com
alguém dessa forma, não por ser Marcos, já que ele vem provando a cada dia
o quão incrível é, como tem um bom coração e me deixando até um pouco
tonta quando percebo que… — ela pigarreia e me olha de canto, o sorriso
brota no meu rosto e não me envergonho disso. — Enfim, mãe, conversamos
sobre isso outra hora, mas o fato é que estou envergonhada por ser pega
mentindo para vocês. Nunca desejei esconder nada e acabamos nos enfiando
nessa bola de neve de segredos por não termos controle sobre o que nos
tornamos, mas isso acabou comigo e me deixou apavorada de medo quando
percebi o que estava fazendo. Nunca desejei decepcionar vocês, muito menos
quero quebrar a confiança que depositam em mim.
Mais lágrimas escapam de seus olhos e vejo os dos meus amigos
lacrimejar também.
— Sou um maldito medroso, Pedro, você sabe muito bem disso, então
imagine o meu estado ao chegar aqui e encontrar a mulher com quem passei a
noite, e que não conseguia tirar dos meus pensamentos, descobrindo que na
verdade era sua filha? — olho para ele, que volta a me encarar, agora
segurando as lágrimas. — Nunca que eu pretendia me envolver justamente
com a sua filha, mas não pude evitar. Me corroí em culpa no começo, e
realmente tentei não me aproximar mais dela, mas como ela mesma disse, foi
como se uma força maior estivesse agindo sobre mim. Nunca desejei ser
desleal com você, e sinto que fiz justamente isso, traindo sua confiança e
desonrando tudo que já passamos e tudo que você e sua família fizeram por
mim, ainda assim — respiro fundo, apertando a mão de Duda mais forte,
como se pudesse me passar forças. —, não vou dizer que me arrependo e que
faria tudo diferente se soubesse de quem ela se tratava quando nos
conhecemos, porque estaria ofendendo a pessoa incrível que está ao meu
lado, estaria desmerecendo a mulher extraordinária que descobri ser, então
não me arrependo, não mudaria nada e nem faria diferente.
Aprumo minhas costas quando o vejo se aproximar, sentindo uma
lágrima escapar do meu olho que arde, e o fungado de Duda chama sua
atenção.
Roberta o segue de perto e consigo ver os rostos curiosos nos
encarando às suas costas, ainda parados na entrada da cozinha, Carina
segurando Malu no colo, que graças a Deus está em um sono profundo.
— Caralho, chega disso. — Pedro solta uma respiração longa, como
se estivesse a aprendendo todo esse tempo, e estranho ao ver Roberta sorrir.
— Não consigo me fazer de durão, sério e malvado como esses pais horríveis
são com os filhos, principalmente vendo minha garotinha chorar desse jeito,
se sentindo culpada ao pensar que está me decepcionando.
Ele surpreende a todos ao agarrar Maria Eduarda em um abraço
apertado, e ela solta a minha mão, retribuindo e caindo de vez no choro.
— Caralho, por essa nem eu esperava. — Ouço a voz de Lua e Carina
concorda com um aceno.
Roberta os abraça de lado, passando as mãos sobre os cabelos
brilhantes da filha, os soltando do que coque despojado que estava e mesmo
me afastando um pouco, sigo completamente confuso.
— Eu nunca me decepcionaria com você, Dudinha. — Ele se afasta e
toma o rosto da filha nas mãos. — Só o que me importa é a sua felicidade,
pouco me fodendo como vai chegar até ela, e eu nunca teria motivos para
perder a confiança em você.
— Sabemos que criamos uma mulher extraordinária, que nunca nos
decepcionará por opção. — Roberta beija a testa da garota. — Na verdade,
mesmo sem intenção, isso nunca será possível meu amor.
Sinto minhas pernas tremerem quando Pedro se aproxima de mim
agora, mas o que me assusta mais é o sorriso que tem no rosto.
— Foi lindo ouvir toda sua explicação sobre o que vinha acontecendo
e fico feliz por ter defendido Duda, mas preciso dizer que ja desconfiava, e
dia desses vocês se entregaram. — Ele me envolve e um abraço. — Acredite
quando te digo que também só quero sua felicidade, seu idiota, e confesso
que desde o seu casamento, nao te vejo tão feliz como vem demonstrando
estar esses dias. Fico contente que alguém esteja lhe mostrando o lado bom
da vida outra vez e como aproveitá-la de verdade, mesmo que essa pessoa
seja a minha filhinha.
Não consigo retribuir seu abraço por conta do choque que me toma e
quando ele se afasta, ainda segurando meu ombro, meu rosto deve entregar
meu estado perplexo, pois ele e a esposa gargalham.
Quase enfartei várias vezes nos dias que se passaram, e eles
gargalham.
Gargalham, porra!
— Como assim, sabia?
Minha voz quase não sai.
Já estava preparado para sair daqui em uma maca do IML por ter
apanhado até a morte, não por ele ter parado meu coração com o fato de saber
do nosso envolvimento.
— Convenhamos que vocês não fizeram tanta questão de esconder,
com todas as trocas de olhares à luz do dia e barulhos de madrugada. —
Roberta diz, ainda abraçando a filha, que consegue sorrir.
Eu não, ainda letárgico por estar indo tudo bem na medida do
possível, bem melhor do que prevíamos.
— Já estávamos desconfiados pela forma estranha que agiam perto
um do outro, e vocês só comprovaram isso aquele dia no iate. — Pedro
suspira.
— Como? — Duda sorri quando pergunta animada, se mostrando já
totalmente aliviada após o momento que teve com os pais. — Me livrei tão
bem daquela calcinha que acharam.
— É, mas então passou os pés na perna dele como se quisesse transar
ali na nossa frente, logo em seguida. — Pedro fala e me deixa corado de
vergonha.
— Como você soube?! — a morena grita em descrença — Tinham
olhos nos pés, por acaso?
Ela olha do pai para mãe, que ri da nossa surpresa.
— Acho que Marcos perdeu a fala agora. — A loira diz.
— Não, é só que…
Aponto em todas as direções, mostrando como ainda não estou
conseguindo processar o que passa à minha frente.
— Acontece, espertinha, que a primeira vez que passou esse seu pé
feio, estava passando na minha perna, por isso Marcos não reagiu como da
segunda vez que imagino ter feito. — Ele deu duas batidinhas no meu ombro
que ainda segura. — O coitado parecia que estava tendo um ataque cardíaco.
Na verdade, sempre que você soltava suas indiretas para ele acontecia isso,
Marcos nunca foi bom mentiroso.
Consigo assentir, tentando respirar mais aliviado por ele estar
tranquilo quanto a isso.
— E por que não nos questionaram ou acabaram com a raça dele
antes? — a morena pergunta me apontando.
— Porque notamos como estavam vivendo algo único, não queríamos
quebrar a onda de vocês. — Roberta deixa um beijo no topo da cabeça dela.
— Sim, somos ótimos pais, muito tolerantes e mente aberta para a nossa
geração. Merecemos um prêmio.
Ela se gaba, lembrando muito o jeito da filha.
— Exatamente. Notamos como estavam diferentes, melhores. Marcos
realmente aproveitando o significado de férias, relaxando e se divertindo,
mais feliz e sorridente como há muito tempo não me lembrava de ser, e você
digamos que menos insuportável, filha, mais empolgada e emotiva que o
normal. — Ele brinca rindo enquanto diz. — Mas, lembra do que te disse ao
telefone quando me contou da garota da boate?
A pergunta é direcionada a mim, que o encaro confuso, tentando me
lembrar desse dia, que só consigo me lembrar de estar surtando com a
possibilidade de ter ficado com alguém menor de idade.
Ele arqueia a sobrancelha e é como se uma lâmpada se acendesse em
minha cabeça.
Ah porra, como pude esquecer?
— Que você daria um…
Minha voz é interrompida por sua mão fechada atingindo em cheio
meu rosto e então tudo que sinto é meu nariz e toda a região ao redor
formigando enquanto minha visão volta a turvar antes de eu fechar os olhos.
Ouço um grito assustado escapar de Duda, assim como de todas as
outras pessoas, e acho que até seus avós voltam para a cozinha. Na tentativa
de acalmar a morena ao meu lado, tento levar a mão até o nariz por conta da
dor, mas então outro soco me atinge, junto de gemidos de dor vindo de Pedro,
que se mesclam aos meus.
Porra, como dói.
Uma dor alucinante toma todo meu rosto, e de repente sinto meu nariz
adormecido enquanto algo escorre dele.
— Caralho pai, acho que você quebrou. — Duda diz preocupada e
logo sinto seus dedos em meus ombros desnudos, e levo a mão ao nariz,
sentindo o que deve ser meu sangue quente escorrer dele enquanto ainda sigo
de olhos fechados, me curvando pela dor — Abre os olhos, Marcos.
A obedeço como um cachorrinho, encarando meu amigo que reclama
da dor que sente na mão.
— Nunca bati em ninguém antes, caralho como dói. — Ele sacode as
mãos, sendo socorrido pela esposa, que também joga um saquinho de gelo e
um pano para a filha. — Sei que está doendo, mas precisa admitir que
mereceu. Transou com a minha filha e no meu iate, Marcos. Isso não se faz
nem com um inimigo.
Consigo concordar com um acenar enquanto ajeito minha postura e
tiro a mão do nariz, vendo os olhos de Duda dobrarem de tamanho, em pavor.
— Ta muito mais feio do que já era, acho que precisa de um hospital,
meu bem. — Sorrio ao ouvi-la me chamando assim, sem ser de forma irônica
ou estarmos pelados, e sinto o gosto metálico invadir minha boca. — Não
sorri, seu idiota, quebrou nariz e está feliz?
— Estou no lucro, lembra? — faço menção a nossa conversa de mais
cedo e quando a vejo revirando os olhos e sorrindo, meu peito se agita como
sempre. Linda demais. — Pedro…
O chamo e quando meus olhos os encontram, o vejo sorrindo com os
olhos em nós.
— Uma parte minha odeia admitir que ficam bem juntos, enquanto a
outra sabe que Duda é uma sem vergonha com o coração de pedra, e nunca
vou poder ver vocês casados. — Ele suspira, olhando para a esposa que revira
os olhos. — O que foi?
— Também preciso dizer que me apaixonei por sua filha. — Solto e
sinto um tapinha da mesma, me repreendendo. — E sei que ela vai partir meu
coração assim que essas férias acabarem, mas saiba que seria um prazer te
chamar de sogro.
— O filho da mãe está até fazendo piadinhas agora. — Ele ri
enquanto assente como se me entendesse — Sempre soube que é emocionado
apesar da fachada de durão, amor, e agora que minha mão está doendo, faça
por mim.
Ficamos confusos enquanto Roberta concorda e se aproxima de mim.
Assim que ela segura em meus ombros, me encolho esperando outro soco
enquanto Duda segura meu nariz com um pano contendo o sangue, mas então
a mulher ergue as pernas e sem que eu pudesse esperar, minhas bolas são
atingidas por seu joelho.
Puta que pariu.
— Isso foi por ter se envolvido tanto ao ponto de se apaixonar. — Ela
tem a cara de pau de deixar um beijo em minha testa.
A dor toma todo meu corpo e chego a sentir cólica por conta da
pontada no saco, sendo aparado pela morena, que apesar chocada solta uma
risada e se desculpa quando a olho morrendo de dor.
Poderiam juntar esse chute com a ereção que eu estava há poucos
minutos antes de chegarem, triplicarem a potência da dor e ainda não
conseguiriam descrever o que sinto. É como se eu fosse capaz de pôr as bolas
para fora com a ânsia que me toma por conta da dor. É agonizante e com
certeza fiquei estéril depois dessa.
— Chega dessa brutalidade desvairada, vamos ao hospital — começa
a andar enquanto me apoio nela — Lua dirige, já que é habilitada.
Passa e puxa a amiga também, que ainda segue boquiaberta com tudo,
mesmo não escondendo o sorriso.
— Tio, seria uma ótima hora pra dizer que meu amigo está chegando?
— ela grita enquanto é levada pela a amiga e ouvimos Pedro negar da
cozinha, dizendo que seria a hora perfeita para o moço chegar.
O caos que esse dia se transformou, meu Deus.
Assim que Duda abre a porta de entrada comigo e sua amiga ao seu
lado, meus olhos não acreditam em quem encontramos prestes a bater ali, e se
meu coração já tem ficado fraco nos últimos tempos por conta da diabinha,
consigo senti-lo entrando em curto circuito agora mesmo.
— James! — eu e estranhamente Lua dissemos juntos e nos
entreolhamos pela surpresa de nos ouvirmos.
— Ah porra, estou muito fodido.
É a primeira coisa que ouço saindo da boca do meu filho, enquanto
ele é abraçado pela baixinha, que parece exultante de felicidade ao encontrá-
lo, como se já esperasse por isso.
Mas que merda é essa?
Contorço meu rosto em uma careta quando mais um xingamento de
Marcos ecoa pelo corredor do hospital em que estamos, chamando a atenção
de todos que vieram.
Meu pai chega a fazer menção de levantar e invadir a sala do médico,
mas minha mãe o segura, tia Carina ainda parece em choque e Lua…
Bom, ela está agarrada ao filho de Marcos, como se ele pudesse sair
correndo a qualquer minuto e ela temesse por isso. Estão trocando sussurros
desde que chegamos e como vieram em carros separados para cá, já que ela
veio comigo, meus pais e Marcos, enquanto tia Carina o trouxe, minha amiga
deve estar atualizando-o sobre todo caos que presenciou.
Passo a estudá-lo, tentando me distrair do que minha imaginação leva
pensar que deve estar acontecendo com o pai dele, imagino que estejam
colocando o nariz de volta no lugar e estou odiando ouvir seus xingamentos
de dor.
Meus olhos passam pelo garoto de cabelos pretos, ainda mais escuros
que os meus, seu rosto não lembra muito o de Marcos, apenas alguns poucos
traços, o que me leva a crer que puxou a sua mãe. Ele usa uma camiseta de
mangas curtas, deixando suas tatuagens do braço em evidência.
Minha mãe estava certa, ele é bonito, muito bonito, mas o tipo de
beleza que nunca chamaria a minha atenção, se posto ao lado de seu pai, por
exemplo, e justamente por isso que eu e Lua nunca vamos brigar por homem.
Seu rosto apesar de suave e angelical, deixando claro que não passa
dos dezenove, é até bonitinho, mas ainda assim prefiro os pés de galinhas, as
linhas de expressões e os parcos fios grisalhos que Marcos carrega. Apesar de
demonstrar calma, consigo ver o quanto ele parece ansioso, balançando a
perna freneticamente, sendo acalmado por Lua, que faz um carinho suave ali
e ele vai parando sem nem perceber.
Ele pode parecer inocente e calmo, mas consigo ver em seu olhar o
poder que tem de acabar com a vida de qualquer desavisada que cruze seu
caminho, com esse seu jeito bad boy, que não deve ficar apenas no estilo.
Ele cheira a problemas, e espero que Lua não saia com o coração
partido, ou não vou me importar de eu mesma acabar com ele, mesmo sendo
filho de quem é.
Apesar de temer pelo coração da minha amiga, noto como ficam bem
juntos e sorrio com o pensamento de que pelo que me parece, ele deu um
jeito de enganar o pai para estar com ela, e tenho vontade de rir quando penso
que acabou justamente dando de cara com ele.
— Que mundinho pequeno, hein? — pergunto sorrindo docemente
enquanto arrasto minha bunda pelo banco extenso, até estar de frente para o
casal. — Tentou dar um perdido no seu pai e acabou batendo na porta dele.
O garoto abre um sorriso cafajeste de lado, e olha para Lua.
— É essa que meu pai tá pegando? — me surpreendo quando ele fala
um português perfeito, imagino que Marcos tenha ensinado as duas línguas a
ele desde muito pequeno pois parece ter familiaridade com ela. — Você
parece ter minha idade, mas como sou respeitoso, devo te chamar de mamãe?
Meu sorriso gentil morre na hora. Esse idiota mal chegou e já teremos
problemas.
— O que acha de fazer companhia pro seu pai naquela sala? — ele
sorri ainda mais com a minha pergunta, me desafiando. — Posso quebrar seu
nariz se quiser, assim vão ser a duplinha perfeita no reencontro de papai e
filhinho.
Ele ri e Lua revira os olhos.
Quando ela falava desse cara, mesmo descrevendo como era e seu
estilo, ainda o imaginava simpático e educado, mas me esqueci de seu
péssimo gosto duvidoso e de seu dedo podre para homens.
É claro que ele teria que ser um idiota, é pré requisito para entrar em
seu coração.
— O pai dele é um assunto delicado, Duda. — Ela se desculpa por
ele, que suspira e deixa um beijo no topo de sua cabeça, a abraçando mais
forte, respirando fundo. — Foi pego de surpresa, dá um tempinho pra ele.
— Imagino como deve ser difícil enganar o pai, que estava esperando
ansioso e contando as horas por sua chegada, e simplesmente desaparecer
assim que os pés sentiram o asfalto do solo brasileiro. — Não consigo
controlar minha língua apesar do pedido de Luana, me lembrando de como
Marcos estava feliz por esse encontro e o quanto parecia frustrado ao telefone
com sua ex mulher. — Usou do dinheiro dele e o respondia enquanto era
conveniente, até conseguir o que queria de verdade, não é?
Ergo minha sobrancelha para Lua, me referindo a ela.
— Não sabe nada sobre a minha relação com o meu pai, então é
melhor ficar quieta, mamãe. — Ele fala entredentes, mas ainda me chama de
forma debochada.
Meu sangue ferve nas veias com a raiva que sinto nesse momento,
ainda mais por não poder rebatê-lo, já que apesar do que Marcos me contou
sobre seu passado, realmente não sei muito o motivo pelo qual a relação foi
estremecida. Posso estar o defendendo pelo que vi acontecer diante dos meus
olhos, mas não sei o que de fato ele causou ao garoto no passado.
Porra, Marcos, tinha que ter sido um pai de merda?
Respiro fundo e volto a deslizar pelo banco para longe deles, não
querendo iniciar uma discussão, ainda mais quando vejo o olhar perdido de
Lua, sem saber a quem apoiar nesse embate.
Acabo me afastando demais e sem perceber, esbarro em minha tia,
que sorri sem graça.
Me lembro de como estava secando Marcos durante toda aquela
confusão, e apesar de sentir ciúmes dela, fico constrangida agora.
— Desculpa. — Me desculpo pelo que acaba de acontecer, e ela
dispensa o pedido com um aceno. — Então…
Bato minhas mãos uma na outra devagar, sem saber o que falar,
mesmo com o sentimento de que preciso dizer algo, como sei lá, “Desculpe
tia, por acabar sendo fodida por sua paixonite de adolescência, mas não me
arrependo de nada porque ele é muito bom”.
— Marcos te contou que eu estava tentando dar em cima dele? —
assinto, soltando uma lufada de ar por ela ter dado início ao assunto e ela ri.
— Eu devia estar muito cega por toda aquela gostosura, para não ter notado
como vocês estavam próximos, já que segundo seus pais, estava na cara.
Tento controlar minha careta pois de tudo que disse, meu espírito de
posse só consegue se concentrar no elogio que tece a ele.
Odeio me sentir possessiva dessa forma, mesmo não sabendo como
controlar ou como surgiu, pois isso nunca aconteceu.
Será que é por conta da nossa diferença de idade? Apesar de me
garantir, sei que ainda sou praticamente uma adolescentezinha comparado
com as mulheres que dão em cima dele, como a minha tia, que é um puta
mulherão e que passaria as pernas em mim com facilidade se sua autoestima
ainda fosse a mesma de antes de se envolver com seu ex.
Mas por que eu me preocupo com isso se o que temos não vai pra
frente, de qualquer forma? Não preciso competir com ninguém, ele logo vai
estar longe e tudo não vai se passar de uma boa história de verão.
— E eu acreditando que quando ele deu um chega pra lá em mim,
estava falando sobre alguma mulher de Chicago. — A confusão se espalha
por meu rosto sem que eu possa esconder. — Ele me disse que estava
apaixonado por alguém.
— Ele disse? — não escondo a minha surpresa, levando uma mão ao
peito, contendo os pulos do meu coração.
— Bom, sim, mas também disse isso ao seu pai e na sua frente, como
não sabia?
— Sabia sim, ele me contou no dia em que conversaram, mas não
fazia ideia que tinha te falado sobre estar apaixonado. — Meus ombros
tensionam e encaro a parede à minha frente. — Mas ele sabe que não sinto
nada e que tudo vai acabar em breve.
Ela faz um som estranho com a boca, como se estivesse
desacreditando do que falo e cruzo meus braços, brava com sua ação, que
solta uma risada, dando tapinhas em meu joelho.
— Então aproveite esses dias e faça tudo que eu nunca tive a
oportunidade de fazer com ele. — Fecho ainda mais a minha cara e a filha da
mãe ri mais alto, atraindo a atenção dos meus pais, que começam a vir em
nossa direção. — Vou ir comprar café, quer algo?
— Não, muito obrigada tia.
— E será que seu enteado quer alguma coisa? — ela diz ironicamente
passando em minha frente sorrindo e deixo um tapa em sua bunda. — Ei,
errou de traseiro, seu homem está urrando de dor ali naquela sala.
Suspiro me deixando sorrir com suas falas, mas logo volto a ficar
tensa quando meus pais se sentam cada um de um lado meu. Meus ombros
relaxam um pouco quando meu pai deixa um beijo em minha cabeça e minha
mãe acaricia minha coxa.
— Então, castigo até o fim dos meus dias por ter levado seu melhor
amigo para cama? — tento soar como eu mesma, apesar do bolo que se forma
na minha garganta.
Mesmo que tenha ouvido de sua própria boca que praticamente não se
importou e como só quer a minha felicidade, fico com medo de que a
realidade do que fiz caia sob suas cabeças, e passem a me tratar com
diferença.
Entretanto, meu peito se enche de emoção e respiro aliviada outra vez
quando ele me puxa para deitar a cabeça em seu peito, e ouço sua risada em
meus ouvidos.
— É claro que não, sua sem noção. — Minha mãe se junta ao abraço.
— Não que eu tenha ficado feliz em saber que meu bebê estava transando
com um cara que tem o dobro de sua idade. Perdi a cabeça por um tempo,
mas lutei contra meus instintos para tentar entender a situação.
— Eu lutei contra sua ideia de questioná-los. — Minha mãe o corrige.
— Enquanto suspeitava até estava achando divertido a ideia de ter o melhor
amigo como genro, mas então quando percebeu que não era coisa da nossa
cabeça e que de fato estava acontecendo, surtou e queria arrombar o quarto de
Marcos para jogá-lo pela janela.
— E você, não surtou mãe? — olho para ela, que está sorrindo.
— Um pouco, mas quando paramos para pensar nas mudanças que
vocês estavam demonstrando, ficamos felizes por vê-los tão bem com tudo,
pensamos que deveria ter uma explicação plausível para tudo. — Ela estende
a mão até o ombro do meu pai, fazendo um carinho,
— Queríamos ouvir de vocês, mas se não nos contassem até a virada
de ano, iríamos colocá-los contra a parede. — Ele concorda. — E
verdadeiramente entendemos como tudo aconteceu. Não tiveram culpa de
terem se conhecido em uma balada qualquer e se sentido atraídos um pelo
outro. Essas coisas quase nunca possuem controle e eu e sua mãe somos
prova disso.
— Acredite, ficar com um cara alguns anos mais novo que eu, que
além de tudo era o estagiário do meu pai, não estava nos meus planos de
carreira, mas então quando dei por mim, estávamos rolando sem roupa sobre
os papéis da mesa do nosso chefe.
— Nunca te contamos, mas seu avô nos pegou em um desses
momentos, quando voltou mais cedo para o escritório. — Meu pai retorce a
cara enquanto eu gargalho, surpresa com o que me contam. — Ele quis me
capar ali mesmo.
— Pelo menos fomos espertos o suficiente para não sermos pegos
pelados, quer dizer — sorri maliciosa e eles reviram os olhos sorrindo, e sinto
que tudo permanece igual, o que alivia meu coração. — Marcos estava sem
camisa e eu estava prestes a jogar nossas roupas de baixo para longe, mas
ainda bem que chegaram antes do previsto.
— É, mas isso não me poupa de saber que transaram no meu iate
novinho. — Vejo meu pai fingir uma ânsia de vomito, me levando a rir e
depois lhe pedir desculpas com o olhar. — Espero que saiba que não
mentimos em nada, nunca nos decepcionaríamos com você, e depois desse
evento, agora sabe que não precisa nos esconder absolutamente nada, mesmo
que o medo a domine.
Ele deixa um beijo em minha cabeça e me aninho a ele feito uma
gatinha, só falto ronronar.
— Acho que poucas coisas seriam capazes de nos abalar como pais, e
a prova disso foi termos descoberto seu envolvimento com Marcos e ele
ainda estar respirando. — Nesse exato momento o homem sai pela porta com
o nariz extremamente vermelho, passando para um tom arroxeado, e muito
inchado. — Quer dizer, acho que talvez ele esteja sofrendo para respirar um
pouquinho.
Caímos na risada, chamando sua atenção, e nossa direção se torna o
destino de seus passos, mesmo após passar os olhos pelo filho, que se levanta
do banco fazendo uma careta ao ver o estado do pai.
— Mesmo depois de terem drenado, ainda precisam que desinche
para saber se vão precisar colocar de volta no lugar, as recomendações agora
são analgésicos e compressas de gelo a cada vinte minutos. — Ele respira
pela boca e não consigo me conter, rindo diante de seu rosto. — Você vai
cuidar disso, estou retirando tudo que disse ao seu pai e jogando toda a culpa
em você, que me seduziu como uma maldita predadora.
Gargalho ao notar seu tom brincalhão, vendo seu sorriso discreto, e
até meu pai solta uma risada, murmurando algo sobre como é bom ver o
amigo dessa forma.
Respiro fundo e me aproximo dele, o sentindo tenso enquanto olha
para o meu pai e dou de ombros para o seu alerta, enquanto envolvo sua
cintura em um abraço.
Venho notando que estou mais afetiva e demonstrando ser bem
carinhosa com ele, como nunca fui com nenhum dos homens que me envolvi
após meu término, mas decido afastar esses pensamentos por hora.
O cara quebrou o nariz por mim, merece uma consolaçãozinha.
Respiro fundo e lhe deixo um selinho, mas peço desculpas após ele
gemer de dor, e ainda o sentindo tenso, pego seus braços o obrigando a me
abraçar de volta.
— Se nos disseram todas aquelas coisas e aceitaram numa boa, vão
ter que lidar com a nossa visão juntos até o fim dessas férias. — Digo
olhando em seus olhos, agora meio apagados por conta da vermelhidão de
seu rosto. — Vamos para casa.
Ele assente ouvindo a risada do meu pai enquanto chama todos para
fora do hospital, e finalmente enlaça a minha cintura com força,
principalmente quando sente que James e Lua estão em nosso encalço.
Saímos abraçados feito um casal e a sensação até que não é tão
incômoda como pensei que fosse.
Solto o terceiro suspiro em menos de dois minutos, voltando meu
olhar para James ao meu lado. Ele segue calado, emburrado e olhando para o
céu escuro e tomado de estrelas à nossa frente.
O chamei para conversar após o jantar, coisa que ainda não fizemos
desde toda confusão pois ele se grudou à Lua e sequer olhava em minha
direção.
— Roubou o cartão da sua mãe para vir para o Brasil encontrar ela?
— decido começar devagar e ele assente, ainda sem me olhar. — Era só ter
me dito, não precisava ter fugido.
Duda me deu um breve resumo da história, contando que se
conheceram no último verão italiano e se apaixonaram, mantendo contato por
todos esses meses.
— Ter te pedido? — sua voz é carregada de ironia e um sorriso de
escárnio se abre em seu rosto. — Voltou a me procurar só depois de a mãe ter
te contado que eu havia saído de casa sem dar explicações, e ela só fez isso
porque sentiu falta da porcaria do cartão, não de mim.
Suspiro outra vez tentando manter a paciência com ele e entendê-lo,
mas pela força do meu movimento, gemo de dor, já que o estrago que Pedro
fez, lateja e dói de uma maneira insuportável.
Aparentemente isso atrai a atenção dele, e posso ver que apesar de
tudo, ainda se preocupa, o que enche meu coração de felicidade.
— Deveria ir se deitar, isso aí tá péssimo. — Orienta utilizando um
tom indiferente, mas nego sua ideia.
— Estou bem, vou fazer mais uma compressa e tomar os remédios,
logo a dor passa.
— Que ideia foi essa de ficar com a filha do seu amigo? Temos quase
a mesma idade, porra. — Ele faz um movimento indignado, falando em
inglês agora. — Pensei que fosse ocupado demais para viver seus casos, mas
pelo que eu vejo tem tempo até de sobra para fazer algumas merdas.
— As coisas mudaram muito desde que desembarquei no Brasil,
James. — Sigo sua língua, desejando o manter o mais confortável possível e
respiro pela boca, já que sinto todos os ossos do meu nariz doerem por conta
do esforço que respirar por ele causa. — Fui sincero em todas as minhas
palavras nos últimos dias em que conversamos e estou pouco me fodendo que
tenha usado de mim para chegar até sua namorada. Só peço que me escute e
me deixe ao menos explicar tudo que aconteceu no passado.
Ele volta a abrir um sorriso debochado, que me irrita profundamente,
ainda mais por ser tão parecido com o da mãe.
James apesar de ter alguns traços meus, é mais parecido com
Cassandra, como os olhos levemente oblíquos de um castanho escuro.
— Não quero ouvir nada de você e se estiver esperando um pedido de
desculpas por isso, não vai ouvir. — Ele se recosta na cadeira e vejo o
movimento rápido de suas pernas, como se estivesse nervoso. Ele mexe no
brinco pendurado em sua orelha. — Planejava fazer uma surpresa pra mia
Luna, mas acabei perdendo todo meu dinheiro por alguns problemas. A
solução que encontrei foi pegar da minha mãe, mas ela bloqueou todas as
contas assim que deu por falta dele. E então você começou a entrar em
contato comigo, dizendo que estava no Brasil, quais as chances de estar no
mesmo país dela e eu não aproveitar disso?
Ele finalmente me olha de lado, o sorriso de espertalhão brilhando em
seu rosto e um arrepio de medo envolve meu corpo ao terminar de ouvir,
pensado em que merdas andou se metendo para ter perdido dinheiro.
— Não quero um pedido de desculpas, sei que fui um idiota todos
esses anos com você, mas eu merecia ao menos a verdade, James. — Meus
ombros caem, cansado do dia de hoje. — Pode não acreditar, mas não
imagina como fiquei preocupado quando o motorista que contratei me ligou
dizendo que você havia desembarcado e ido atrás de um táxi, lhe mandando o
dedo do meio. Nunca pisou nesse país e comete uma loucura dessas, poderia
se perder e acabar em alguma vala.
— Lua tinha me passado o endereço de onde estava, foi a primeira
coisa que comuniquei ao taxista e não me perderia porque apesar de tudo,
preciso te agradecer por ter me ensinando a língua daqui. — Seu sorriso vai
desaparecendo. — Mas eu nunca poderia prever que a casa onde ela estava
hospedada, seria justamente onde você também estaria. Sou azarado desde
que nasci, talvez era pra eu realmente ter morrido naquela época e como não
aconteceu, a vida faz o possível para me desgraçar desde então.
Ele desvia o olhar do meu outra vez e meu coração arde com a sua
fala. Quando levanto a mão para colocar em seu ombro, ele se desvia, se
levantando.
— Não quero te ouvir agora, uma parte de mim até acreditou em suas
baboseiras esses dias, mas acho que você só está sendo movido pela loucura
de achar que é um garotão ainda, consequências da sua nova namorada, eu
acho. — Ele suspira, colocando as mãos no bolso da calça jeans larga. —
Talvez eu consiga te dar essa chance de se desculpar para ficar bem consigo
mesmo até o fim dos nossos dias aqui, mas hoje não. Só quero matar a
saudade da minha Luna, por isso eu vim.
Assinto concordando com ele e sem saber o que fazer em relação a
tudo que me disse, sabendo que contraria-lo vai ser pior.
— Vou esperar seu tempo, filho. — é a primeira vez que o chamo
assim desde que voltamos a nos falar e vejo um pequeno sorriso abrir em seu
rosto, que ele disfarça coçando a boca. — E vê se para de falar tanta besteira,
se tivesse morrido naquela época, não sei o que teria sido da minha vida
você, além de que não teria conhecido sua Lua. — Apelo para o seu coração
e o garoto sorri, apaixonado. — Sei que errei muito, mas percebi que ainda
estamos vivos e enquanto há vida, há tempo de consertar os erros.
Ele assente, e quando me dá as costas, esbarra em Duda que passa
para o lado externo da casa com um copo de água na mão e alguns
comprimidos na outra. Vejo ele sorrir para ela, mas ela não retribui e com seu
olhar, poderia apostar ser capaz de até rosnar para ele.
— Boa noite, mamãezinha. — James usa o português carregado de
toda sua ironia, me levando a entender o porquê da expressão da morena.
Ela se aproxima e me estende os remédios e a água em silêncio que
tomo enquanto a admiro. Nunca a vi tão séria como esta agora, e me pergunto
se é realmente só por conta de James.
— Está pensando em como cortar a cabeça dele fora? — pergunto
com um sorriso.
— Só se for a cabeça do pau dele, se ele magoar Luana. — Ela diz
sincera, me levando a rir e a gemer de dor no processo. — Para quieto antes
que piore toda a situação e…
Sua fala é interrompida por Pedro que se senta ao meu lado,
empurrando a filha para longe.
— Podem conversar outra hora, Dudinha. — Ele pega o copo da
minha mão, devolvendo à filha. — Preciso ter uma conversa séria com ele.
Suas expressões são frias e engulo com dificuldade.
Pensei que tivesse saído no lucro com os dois socos e o chute nas
bolas, mas pelo visto agora que toda a emoção de ter nos pego passou, Pedro
parece estar de cabeça fria e sinto que essa conversa vai definir o futuro da
nossa amizade.

Meu melhor amigo teve a coragem de transar com a minha filha.


Não é uma coisa fácil de se aceitar, mesmo sendo tão mente aberta
para tudo como eu e Roberta somos.
Quando começamos a desconfiar de algo, pelo jeito que Marcos agia
quando estavam perto, como ficava nervoso com as falas de duplo sentido de
Duda, achei até divertido, por um tempo. Como se estivéssemos em uma
sitcom de mal gosto, com plateia e tudo.
Mas então aquele dia no iate, quando contatei a verdade ao sentir o pé
da minha filha passando de forma lenta e sensualmente em mim, notando que
na verdade seu objetivo era o corpo do homem ao meu lado, precisei usar
todo meu autocontrole para manter minha bunda sentada ali e não quebrar a
cara dele naquela hora mesmo.
Roberta mesmo sem acreditar muito, conseguiu ser mais sensata do
que eu em me lembrar da filha que temos em casa e que se algo aconteceu, a
garota também estava envolvida e tinha culpa no cartório, e não havia sido
seduzida por Marcos, como eu já estava o acusando.
Precisei ser paciente e me manter controlado, mantendo em minha
cabeça que eles teriam uma explicação minimamente plausível para tudo e só
o que me manteve sã durante esse tempo, foi notar como meu amigo, que
conheço mais do que ele próprio, estava mudado nos últimos dias.
Marcos sempre foi o mais centrado de nós dois, mais controlado e
regrado e só o vi perder a cabeça e ser um maldito emocionado como me
acusava de ser, quando se apaixonou por Cassandra e ainda assim, tentava
manter tudo sob controle.
Consegui o ver relaxar de verdade, esquecendo de suas reuniões e
todo o estresse que o trabalho o proporciona nos últimos dias, me lembrando
de como ele precisa parar no tempo e aprender a aproveitar de verdade. A
vida já foi muito cruel com ele no passado e acredito que tenha erguido uma
barreira de segurança contra todos, por medo.
E a minha Dudinha, sempre foi meio maluca e com os parafusos meio
solto, mas nunca a vi tão emotiva e aérea como estou vendo. Por vezes notei
como seu olhar se perdia pensando em algo, muitas vezes perdida na figura
de Marcos, estudando suas expressões, sem que ela mesma notasse ou
conseguisse disfarçar. Apesar de se fazer de difícil e desprendida, teve seu
coração partido muito cedo, o que a fechou para qualquer tipo de
envolvimento mais sério com alguém, mas acho que passar os dias
praticamente colada a Marcos, esteja lhe abrindo para essa perspectiva outra
vez.
— Quero te pedir desculpas. — Confesso ao homem com a cara
inchada ao meu lado e rio quando encontro seu olhar perdido. — Meu Deus,
você está horrível, apesar de ter merecido.
— Não entendi. — Franze as sobrancelhas — Veio me pedir
desculpas por algo e aí usa a oportunidade para debochar do meu estado?
Bato em seu peito com a almofada do sofá da área externa, onde
estamos sentados.
— Não estou pedindo desculpas por isso aí, então posso caçoar de
você a vontade. — Aponto para seu nariz. — Quero me desculpar por algo
que disse mais cedo quando me descontrolei por pegar vocês juntos.
Ele assente, mas vejo que ainda não entende o que quero dizer.
— Mesmo aceitando tudo isso e ter me feito de bravo até ouvir a
verdade de vocês, me senti perder a cabeça ao vê-los se agarrando daquela
forma, mesmo que já soubesse e estivesse mantendo o controle com a ideia.
— Suspiro e escoro minha cabeça nas mãos cruzadas atrás da minha nuca. —
Te chamei de pervertido nojento, quando sei que jamais se encaixaria nessa
característica, sei o quanto é respeitoso e ético, por isso te peço desculpas.
Seu rosto se ilumina como se agora tudo fizesse sentido e ainda o
sinto tenso ao meu lado.
— Não tem porque se desculpar. — Ele começa, sua voz fanha. —
Porra, mesmo que não soubesse quem ela era na época, fiquei com a sua
filha, Pedro, e mesmo não me arrependendo disso, sei que não foi certo.
Caímos em silêncio, porque não posso discordar do que diz. Não é
legal saber que sua filha dormiu com a porra do seu melhor amigo de quase
quarenta anos, mesmo que eu ja soubesse que nunca gostou de se envolver
com pessoas mais novas ou da idade dela.
— Desde que nos conhecemos te considero como um irmão, sabia?
— Eu também, mas em minha defesa isso não pode tornar as coisas
mais nojentas, porque eu não sabia quem ela era, portanto nunca a tratei
como sobrinha. — Ele diz e ergue as mãos em rendição. — Se você usasse as
redes sociais com frequência, teria evitado tudo isso.
Rio de sua fala ao notar que tem coragem de brincar com a situação.
— Tudo bem, aceito que joguem a culpa em mim se isso fizer vocês
se sentirem melhor. — Dou batidinhas em seu ombro. — Mas é sério, te
conheço a vida toda e sei que ela nunca foi justa com você, te dando um pai
de merda e levando sua mãe muito cedo. Me lembro dos dias que ficou lá em
casa depois da morte dela, apesar de estar destruído com tudo, foi incrível
dividir o teto com você aqueles meses e não sabe como me senti abandonado
quando foi embora pros Estados Unidos.
— Onde quer chegar com tudo isso? — ele pergunta tranquilo,
apertando meu ombro. — Sei que nunca vou conseguir ser grato o suficiente
por tudo que fizeram por mim. Fui egoísta por ter largado vocês, sem mais
nem menos.
— Não tem culpa de nada. — Espanto sua culpa, sei que em todos
esses anos o peso de ter abandonado muitas coisas em sua vida para se
proteger, o assombra. — Mesmo que algumas coisas tenham dado muito
certo para você, a vida continuou te castigando com tudo que aconteceu com
James e depois com seu casamento. Não merecia nada disso, Marcos e
entendo que tenha se afastado por medo de coisas piores acontecerem. Não te
julgo por ter se afastado e por isso mesmo sempre fiz questão de ir atrás de
você ao menos duas vezes ao ano, só para saber como estava de verdade.
Me lembro que após o episódio com James e logo em seguido seu
divórcio, ele se fechou para o mundo, vivendo apenas para o trabalho, mas
como sempre me senti uma espécie de irmão mais velho, ainda mais após a
perda de sua mãe, o visitava no mínimo três vezes ao ano para me certificar
de que estava bem, apesar de suas mensagens alegando que sim, precisava
ver com meus próprios olhos.
— Sempre se manteve por perto, cuidando de mim. — Ele concorda e
posso sentir sua voz tremer. Marcos nunca teve ninguém, apenas sua mãe e
quando ela se foi, se sentiu abandonado e perdido no mundo. — Espero que
não pare de o fazer depois de tudo que aconteceu.
— É claro que não. — Sou sincero. — Ainda mais agora que sei que
quando retornar, vai estar de coração partido por conta da paixão por minha
filha.
Consigo lhe arrancar uma risada e o acompanho.
— É só passageiro. — Apesar disso, não discorda de minhas palavras.
— Sei que quando eu voltar para Chicago vai doer, mas assim como veio de
repente, vai desaparecer também e vão restar só as boas lembranças.
Bato em sua perna, esperando que esteja certo e que eu não tenha que
ver tanto ele quanto ela, definharem pela saudade
Sei a filha teimosa que tenho e apesar de notar o quanto está
envolvida, também sei que dificilmente vai dar ao braço a torcer para os seus
sentimentos e mesmo se o fizesse, as implicações das diferenças de suas
vidas e toda a distância, seria um problema maior ainda.
Não quero vê-los machucados, é só com isso que me importo agora
— Olha quem decidiu dormir essa noite com o papai e a mamãe. —
Meu pai diz com um sorriso gigantesco ao adentrar ao seu quarto e me flagrar
na cama com a minha mãe. — Se estiver aqui por ainda se sentir culpada,
pode dar o fora.
Ele se joga ao meu lado, me apertando e como seus braços são
enormes, abraça minha mãe junto e me sinto como se tivesse cinco anos outra
vez, onde faziam isso enquanto me enchiam de cosquinhas e beijos, e preciso
conter a vontade de chorar.
— Estão me sufocando e ainda quero chegar aos vinte e dois para
postar foto com a música da loirinha! — grito, tentando os separar e o fazem
dando risada, — Quase vou de arrasta para cima com esse abraço, tenham
piedade.
Os dois me olham confusos por conta do meu linguajar, mas nem
tentam entender o que digo.
— Disse que queria esperar seu pai chegar para falar. — Nos
ajeitamos os três e minha mãe começa um carinho lento em meus cabelos,
que me faz bocejar. Já se passaram das duas da manhã, esse dia não parece
ter fim. — O que está acontecendo?
Respiro fundo, tentando alinhar meus pensamentos sobre o que vou
dizer, para não soar como se eu estivesse à beira da morte e os preocupar no
processo.
— Acho que estou ficando doente. — Sinto eles ficarem em alerta. —
Com certeza deve haver algo com os meus ovários ingratos e posso estar
morrendo.
Me viro, escondendo o rosto no colchão macio enquanto sinto as
mãos de ambos passando por minhas costas e braços.
— Ah é? E o que você está sentindo para acreditar nisso?
A voz da minha mãe é tranquila e ouço até uma risadinha do meu pai,
que me faz voltar à posição inicial que estava.
— A única filha que possuem fala que acha estar morrendo e acham
engraçado? — cruzo os braços mesmo estando deitada. — Que tipo de pais
vocês são?
— Os melhores. — O homem sorri. — Os que apoiam a filha até
quando ela faz a merda de se envolver com um homem que tem o dobro de
sua idade. Somos ótimos, princesinha.
Apesar de ser brincalhão, agora já sei que vai usar o assunto para
debochar de mim e exaltar o quão bom ele é. Puxei daí toda a minha
confiança.
— Quase o dobro. — Corrijo — Vamos acrescentar essa pequena
palavra, mas o foco dessa conversa não é ele, é meu sistema reprodutor
ingrato, que estou prestes a ligar para minha médica pedindo que arranque
tudo.
— Tudo bem então, conte o que está sentindo para acreditar que é
culpa dele. — minha mãe insiste. — Na última bateria de exames estava tudo
controlado e até seu colesterol conseguiu normalizar na medida do possível.
Tinha até esquecido que essa porcaria mexe com isso e fui obrigada a
acrescentar uma quantidade absurda de castanhas, nozes, amêndoas e todo
tipo de óleo na minha dieta.
— Estou muito estranha. — Eles arqueiam a sobrancelha e reviro os
meus olhos. — É sério, além das cólicas terem aumentado muito esses dias e
eu não ter visto a cor da minha menstruação, estou tendo muitas dores de
cabeça, muito mais emotiva e com os sentimentos confusos.
— Que tipo de confusão, filha?
— Não sei, apesar de me sentir como eu mesma é como se outra
tivesse roubado o lugar aqui dentro, mãe. — Suspiro, baixando os braços e
batendo as mãos no colchão. — Venho tomando atitudes que não tomaria
antes, estou mais carinhosa que o normal, chorando por tudo e até ouvindo
desabafos, aconselhando e quase me abrindo demais a quem não deveria.
Estou sentimental demais e estou odiando.
Paro para pensar em tudo que citei, e algo em mim pulsa ao me dar
conta que a maioria dos episódios acontecem na presença e em relação a
Marcos, ocasionalmente com Lua, mas o homem predomina meus
pensamentos.
Minha boceta poderia estar pulsando por ele agora, mas não meu
coração e estômago.
— Estou cedendo a coisas que jamais cederia antes. — Digo mais
baixo, me lembrando das vezes que me dispus a ouvi-lo após nossas transas.
— Necessitada de contato e sempre odiei essa melação, vocês sabem. — As
últimas noites em que procurei Marcos antes de dormir, por sentir a
necessidade do calor do seu corpo e do seu cheiro, passam em meus
pensamentos. — Acho que é o descontrole dos hormônios, a médica falou
sobre isso, lembram? Como os remédios não trouxeram resultado no passado,
talvez seja a hora de eu tirar tudo que tem aqui, pra eu ser normal de novo.
Coloco as palmas das mãos sobre meu baixo ventre, meus olhos estão
no teto e minha visão logo é tomada pela palma da minha mãe, que a coloca
sobre a minha testa.
— Sua temperatura está normal, mas você está corada. — Ela
começa. — O choro e cólica são normais, sempre teve, mas todo o resto,
filha, tem certeza que é por conta da SOP?
— E pelo que mais seria? — olho para ela, verdadeiramente
preocupada. — Uma virose ou algo assim?
— Como pode ser tão inteligente e se fazer de sonsa nessas horas? —
agora ouço o meu pai dizer, virando meu rosto para ele — Filha, não notou
que está apaixonada?
Me sento com um supetão, pegando os dois de surpresa e os
assustando.
— Não! — é óbvio que não estou. — De onde tiraram isso?
— Está bem envolvida com Marcos, Eduarda, precisa ser realista e
admitir a si mesma que, mesmo sem querer, acabou se apaixonando. — Nego
veementemente com a cabeça. — Quanto antes aceitar, menos vai sofrer. Está
apaixonada.
Esses dois só podem estar ficando senis se acham que vou acreditar
no que dizem.
— Confesso que ele vem mexendo comigo de uma forma que eu não
esperava? Sim, mas isso está longe de ser uma paixão. — Começo a me
levantar da cama mesmo com seus protestos, sentindo meu coração se
acelerar muito no peito e uma dor de cabeça forte me tomar. — Saberia se
estivesse apaixonada, o que não estou porque me recuso a estar, não sinto
mais esse tipo de coisa.
— Precisa entender que não temos controle sobre isso, Dudinha. —
Meu pai agora sentado fala como se estivesse explicando para uma criança.
— Fazia muito tempo que não se envolvia com alguém fixamente dessa
forma, acabou se deixando levar e, sem perceber, seu coração se entregou.
Está tudo bem admitir isso, ainda mais quando ele mesmo já o fez.
— Eu controlo sim, pai. — Sinto meus olhos arderem somente com a
possibilidade de sentir algo assim outra vez — Controlo desde a última vez,
que me deixou em frangalhos, ou já se esqueceu de como fiquei após
descobrir que fui usada por Luciano? De como fui traída de todas as formas,
de como ele traiu minha confiança e o meu corpo? Eu o amava, era
apaixonada e endeusava o chão que ele pisava, e acreditava ser recíproco,
mas então descobri que ele dormia com todas que davam em cima dele sem
se importar comigo, e jurei nunca mais me sentir daquela forma, se isso
significasse me sentir tão pequena como me senti depois do término.
Agora as lágrimas descem quentes e grossas, não pelo que disseram,
mas porque minha mente viaja para quando terminei com meu primeiro
amor, quando o peguei na cama com uma das suas amigas, um dia depois de
termos feito dois anos de namoro. Nunca mais quero me sentir daquela
forma, mesmo que para isso eu precise ser covarde quanto aos meus
sentimentos e vontades.
— Não seria como da última vez, filha — minha mãe me abraça de
um lado enquanto meu pai abraça do outro e choro no meio deles, me
lembrando da garotinha acuada que me tornei no mês seguinte após o
término, onde só sabia chorar. — Você era jovem demais, não que não seja
agora, mas Luciano era um merdinha imaturo. Marcos não é assim, ele não é
o Luciano, Duda.
Suas palavras confortam em partes o meu desespero, pois algo dentro
de mim sabe que Marcos jamais faria o que meu ex fez, mas ainda assim me
deixo chorar no colo deles, já nem sabendo mais pelo que as lágrimas saem.
Se pelas lembranças dolorosas de como me senti após ser traída ou se pelo
medo de estarem certos.
Não posso ter me apaixonado por um cara que sequer mora no meu
país, as chances de darem certo caso isso seja real, seriam quase nulas.
— Olha como eu tô chorando feito louca! — minha voz é
estrangulada em meio ao choro. — É meu útero cruel, estou dizendo que os
hormônios são culpados, mesmo que não acreditem!
Já é quase Natal.
O tempo passou voando e como sequer nos demos conta disso,
estamos montando a árvore de e fazendo toda a decoração da casa às pressas.
Nunca fui uma criança que comemorava essas datas que todos
consideram importantes, por ter um pai que detestava pessoas em sua casa,
odiava sair e qualquer tipo de festa que incluía tornar sua casa e nossa família
em um espetáculo, mas me lembro de passar todo final de ano na casa de
Pedro após o conhecer, e adorava.
Quando James nasceu, prometi a mim mesmo que lhe proporcionaria
todas as experiências que não tive ao lado dos meus pais, e agora pendurando
os enfeites na árvore gigantesca da casa de Pedro, consigo visualizar eu e o
meu pequeno que adorava me ajudar com os preparativos. Sua parte favorita
era quando eu o erguia no colo para colocar a bendita estrela no topo.
Quase consigo ouvir sua gargalhada em meus ouvidos, mas quando
olho para o lado oposto ao qual estou, constato que ele realmente está aqui e
sorrindo. Não para mim, e sim para Lua, que foi colocada em seus ombros
para ajustar a estrela que estava torta.
Sorrio com a cena. Tenho notado nessa última semana que ele
chegou, como formam um casal bonito, admiro como tudo se desenrolou
nesta relação e algo me diz que logo vamos ter a notícia que um dos dois vai
abdicar de muitas coisas pra acabar com essa distância entre eles.
Olho ao redor, encontrando Malu enfeitando os móveis da casa com
Carina e os avós.
Pedro e Roberta saíram há pouco tempo com Duda, que vem
reclamando de muitas dores nos últimos dias, e foram até a farmácia à
procura de um novo remédio.
Insisti para ir junto, mas recusaram a minha presença, pedindo para
que eu tomasse conta da casa e não deixasse quem ficou para trás, aprontar,
mas até agora não entendi o que eles poderiam fazer.
— O que vocês acham de a gente entrar no quarto do titio pra olhar os
presentes que ele comprou pra mim? — a loirinha para no meio da sala,
chamando atenção de todos. — Vi que ele chegou cheio de pacotes ontem.
Seus avós, que depois da descoberta do meu envolvimento com a neta
mais velha, ainda estão se adaptando em como o filho levou tudo numa boa,
riem da netinha, mas o sorriso morre quando ouvem a minha risada.
Me olham acanhados, mas já desisti de pedir desculpas a eles. Já o fiz
quando me puxaram para uma conversa séria, sobre o fato de eu achar ou não
certo um homem com a minha idade ter se envolvido com uma moça tão
jovem como Duda, segundo suas palavras.
Disse-lhes a mesma coisa que Pedro ouviu de mim, que apesar de
tudo não me arrependo, só acrescentando as desculpas por estar lhes
espreitando, já que sempre me trataram como se eu fizesse parte da família e
pela primeira vez, recusei ouvir seus conselhos. Depois disso as conversas
comigo diminuíram, mas entendo que seja difícil para eles aceitarem. Não
são tão compreensíveis quanto Pedro e Roberta.
— Sabe que é errado bisbilhotar os presentes antes da hora, Malu. —
Carina repreende a filha, que sorri, sapeca, lembrando o sorriso da prima. —
Só precisa esperar mais alguns dias e logo vai descobrir o que tem neles.
— Mas eu sou tãooo curiosa, mamãe. — Ela dramatiza, se jogando no
chão como se tivesse desmaiado, colocando a mão sobre a testa. — Posso
morrer se demorar muito para descobrir o que é o meu presente.
Todos caem na risada, até mesmo James que apesar de estar sempre
conosco, interage mais com Lua, fechado para o restante de nós a não ser
quando o assunto é implicar com Maria Eduarda.
Mesmo não trocando muitas palavras comigo, adorou lhe perturbar a
chamando de “mamãe” e confesso que adoro ver como suas bochechas se
avermelham de raiva pelo moleque, e preciso conter a risada ao ouvi-la o
ameaçando.
— Lembro que eu sempre dava um jeito de descobrir os presentes,
mas meu pai deixava caixas de papelão vazias nas embalagens enfeitadas e
escondia as verdadeiras. — A fala dele me chama atenção e levo meus olhos
para ele, surpreso por se lembrar. — Mas não morri por isso, e estou bem
vivinho aqui.
Ele coloca a namorada no chão e meu coração se agita no peito
quando se aproxima de mim, estendendo uma mão para que eu possa levantar
com sua ajuda.
— Acho que agora que já digeri o fato de ter sua presença — ele
suspira. —, podemos ter aquela conversa, pai.
Preciso me segurar para não chorar feito criança bem no meio de
todos ao ouvi-lo me chamando de pai. Tinha até esquecido o quão
emocionante é ser chamado dessa forma e aceito sua mão, meus olhos caindo
nas tatuagens pretas de seus braços, me lembrando de quando quase me
infartou quando as vi pela primeira vez, no seu aniversário de dezesseis anos.
Como sempre, brigamos naquele dia por conta disso.
Vamos caminhando juntos até a área externa e sinto todos os pares de
olhos da casa nos seguindo de perto. Quase não consigo ouvir quando voltam
a conversar pois as batidas fortes do meu coração atrapalham a minha
audição.
Nos sentamos no sofá, minhas pernas se agitam freneticamente e noto
que a sua também faz o mesmo movimento. Olho para ele, e seus olhos caem
primeiro no meu nariz, ainda dolorido mesmo após quase dez dias do
acontecido.
— Nem perguntei se melhorou. — Ele aponta para o meio do meu
rosto. — Vi que foi ao médico de novo, deu tudo certo?
Ele puxa assunto, mas noto como está nervoso tanto quanto eu.
Passou todos esses dias fingindo não notar a minha presença, mesmo
quando eu dirigia a palavra a ele, dando bom dia ou oferecendo a garrafa de
café no café da manhã, mas entendi que precisava lhe dar um tempo. Duda
estava a ponto de socar a cara do pobre coitado, me surpreendendo por se
mostrar tão protetiva, apesar de dizer ser por sua amiga e não por mim.
— Depois de desinchado, conseguiram pôr de volta no lugar. —
Passo o dedo no local, onde restou apenas um pequeno calombo. — Ainda
dói, mas os remédios ajudam bastante.
Ele assente e se volta para a frente, olhando o céu enquanto esfrega as
mãos no tecido da calça.
— Olha, passei esses dias pensando se te ouviria, e confesso que só
estou aqui porque a Lua colocou juízo na minha cabeça e me fez perceber
que, apesar de tudo, o que fiz não foi certo. — Ele ainda não me olha. — Não
deveria ter te dado falsas esperanças, mas ainda assim não peço desculpas, e
se estou aqui, não vai me custar nada te ouvir.
— E eu fico grato por ao menos me deixar fazer isso. — Suspiro,
tentando colocar meus pensamentos em ordens.
— Ainda não prometo te perdoar por todos esses anos de negligência,
nem que vamos voltar para Chicago como uma família feliz. — Ele então me
encara. — Até porque, acho que minha nova mamãe não iria conosco e… —
ele limpa a garganta. — Estou pensando em me mudar para o Brasil.
Sua voz é receosa e ele se surpreende quando sorrio, ao constatar que
minha intuição estava certa.
— Conversamos sobre isso em outra hora. — Bato em seu ombro de
forma amigável. — Para começo de tudo, mesmo que não seja uma
justificativa plausível, preciso começar te contando como era a minha relação
com o meu pai, James, o quão horrível era ter ele como pai e como jurei a
mim mesmo não ser igual, apesar de ter me tornando pior.
Ele concorda e passo os próximos minutos revivendo toda a minha
vida antes de me mudar para o Estados Unidos, lhe contando parte da minha
vida que apenas Pedro e sua família sabem. De como meu pai era um
alcoólatra que maltratava a esposa, de como minha mãe se matava para nos
sustentar porque o que meu progenitor fazia, era passar o tempo todo no bar
da esquina, gastando o dinheiro suado dela com bebidas e apostas.
Revivi lembranças que mantenho guardadas em mim, de como
comecei a trabalhar muito cedo para ajudar a minha mãe a pôr comida na
mesa e como tinha que ouvir os xingamentos do homem quando não
tínhamos dinheiro para sustentar seu vício na bebida e nos jogos de azar. Lhe
conto como meu coração foi destruído quando sua avó faleceu por conta de
um ataque cardíaco, meses antes de eu completar dezoito anos.
Preciso segurar o choro quando lhe conto a maneira com que meu pai
me expulsou de casa após isso, porque segundo ele, eu lembrava muito ela e
ele não saberia lidar com a minha figura em sua casa, sem a presença dela.
Fui abrigado na casa de Pedro pelos meses que seguiram e desde então nunca
mais tive contato ou qualquer notícia sobre ele, e me mudei para o Estados
Unidos seis meses depois de completar meus dezoito anos.
Até hoje não sei seu paradeiro, se morreu ou se ainda vive a mesma
vida miserável que sempre levou.
— A partir do momento que descobri a gravidez da sua mãe, prometi
que não seria como ele, que seria minha melhor versão para você e para ela,
apesar dos problemas que começamos a ter na relação. — Paro para recuperar
o fôlego. — Sua gestação foi a melhor notícia que recebi na vida, foi como
uma dádiva para mim, porque apesar de ter crescido em meio aquela guerra,
nunca deixei de sonhar em construir a minha própria família, ter e criar meus
filhos de uma forma muito diferente ao qual fui criado.
— Então por que fez justamente o contrário, pai? — Me interrompe e
sua voz é embargada apesar de ele tentar disfarçar com uma tosse, seu rosto
não me encarando. — Estava certo, tudo que você passou não justifica a
forma como foi me abandonando aos poucos, então porque fez tudo isso
comigo, quando sempre soube a dor que é ter um pai de merda?
De perfil posso ver como seus olhos estão cheios de lágrimas, assim
como os meus e deixo as minhas rolarem por minhas bochechas.
— Porque percebi que estava sendo pior que ele, James. Porque um
dia notei que estava me tornando um monstro muito pior do que ele foi. —
Ele me encara confuso. — Um pouco antes de divorciar da sua mãe, nossas
brigas estavam cada vez mais constantes, eu passava todo tempo irritado e
discutindo com todos, além de todo estresse com o Hotel. Um dia desses
cheguei em casa exausto após passar a manhã toda numa reunião que deu
problemas, e a tarde toda discutindo com a sua mãe, e então descontei em
você, e me senti o ser mais desprezível dessa Terra.
As lágrimas caem dos meus olhos em peso, ainda mais quando
encontro o olhar surpreso de James, seus olhos vermelhos por segurar o choro
e a confusão cobre seu rosto.
— Apesar de todas as besteiras que meu pai falava, ele nunca
encostou um dedo em mim, James, e só falava todas as merdas quando estava
muito bêbado, enquanto eu não precisava ter uma gota sequer de álcool na
boca, para brigar com você por qualquer besteira que fosse, em um dia que eu
julgava ser ruim. — Limpo as lágrimas, sentindo o peso da culpa pelo que
aconteceu na noite em que decidi me afastar de tudo antes que me tornasse
um monstro pior que o meu pai. — Naquele dia você estava empolgado com
alguma coisa, não consigo esquecer de como seus olhos brilhavam quando
entrou em meu quarto gritando e tagarelando sobre algo que não consigo
lembrar. Não sei ao certo o que aconteceu, mas me lembro que estava tão
estressado que a sua voz me irritava ainda mais, e então para silenciar você, o
peguei pelos ombros e chacoalhei seu corpo, gritando para que calasse a boca
por conta da minha dor de cabeça.
Minha mente enche das imagens do garotinho me olhando com medo,
os olhos transbordando em lágrimas.
Me senti um monstro e a voz do meu pai gritava em minha mente, o
quão horrível eu estava sendo, em como eu havia me transformado nele.
— Você teve medo de mim, James, apertei seus ombrinhos com tanta
força, que deixou as marcas dos meus dedos. — é a minha vez de desviar o
olhar do seu, sendo o covarde que sempre fui. — Você ficou apavorado
comigo, teve medo do que eu poderia lhe fazer e começou a chorar
desesperado enquanto eu continuava mandando você calar a sua boca. — Um
soluço escapa de mim, não conseguindo mais controlar meu corpo. — A babá
teve que te tirar de mim, e quando ouvi seu choro ainda mais alto enquanto
ela te dava banho, e depois vi no seu corpo a marca dos meus dedos, me senti
desprezível, tive medo.
Enxugo as lágrimas ouvindo-o fungar também, enxergando pela visão
periférica sua mão limpar as lágrimas.
— Passou os próximos dias afastado de mim, estava com medo. —
Minha voz é desesperada. — Que tipo de pai eu estava me tornando, ao ponto
do meu próprio filho ter medo de se aproximar? Não poderia continuar da
forma que estava e por conta do medo de acabar fazendo pior em algum dos
dias estressantes, fui me afastando aos poucos, pelo seu bem. Alguns dias
depois descobri a traição da sua mãe, nos divorciamos, e percebi que o
melhor para você seria crescer afastado, mas o que moveu tudo isso, foi o
medo de te fazer crescer no mesmo ambiente horrível em que eu cresci.
Me volto para ele outra vez, e puxo seu rosto em minha direção. Seus
olhos castanhos estão banhados de lágrimas, que escorrem grossas como as
minhas.
— Sei que fui um merda, um covarde e te negligenciei por todo esse
tempo. — Tento controlar minha voz — Depois disso esqueci como era
viver, dediquei minha vida exclusivamente ao trabalho, realmente passei a
acreditar que dessa forma as coisas seriam melhores, mas tirar esse tempo me
fez perceber o quão errado eu sempre estive, como ainda tenho tempo de
fazer certo a partir de agora e é por isso que quero pedir desculpas aqui,
olhando nos seus olhos, James. — Ele começa a soluçar, o que parte meu
coração, pois entrega quão pequeno o fiz se sentir todos esses anos. — Quero
pedir perdão por todas as vezes que gritei com você sem justificativa, por
todas as palavras que te magoaram e, principalmente, por toda a minha
ausência. Sei que não quer que eu me reaproxime de você, mas se me der a
chance de fazer parte da sua vida outra vez, prometo que nunca mais vou me
distanciar, não importa o que aconteça. Quero acompanhar você de perto,
saber como é sua vida, conhecer você de verdade, torcer por seu sucesso,
comemorar suas conquistas e te amparar quando fracassar, filho. Quero ver
você se apaixonar, o que acho que já estou vendo, e estar ao seu lado caso te
machuquem, ser seu ombro amigo. Prometo ser melhor do que fui no passado
e posso até fazer um juramento de dedinho quanto a isso, mas ainda assim,
vou entender se não se sentir pronto para isso.
Ele não diz nada, o que enche a minha garganta de um gosto amargo
de agonia, e meu peito explode de felicidade quando ele me puxa para um
abraço, ainda chorando. Seus soluços se misturam aos meus quando o agarro
de volta, sentindo o calor do seu abraço. Minha mente me leva até a última
vez que estivemos assim, e noto as mudanças do seu corpo em todos esses
anos. Meu garotinho cresceu, se tornou um homem e não vi isso acontecer,
mas agora vou estar ao seu lado até o nosso fim.
— É sério que se afastou de mim por uma coisa que eu sequer me
lembro, pai? — sua voz agora parece como a de um garotinho assustado. —
Eu nem lembro desse dia, e sofri todos esses anos com a sua distância,
sentindo a sua falta desde os dias mais importantes da minha vida, até os mais
insignificantes, por conta de algo que não teve importância alguma para
mim?
— Teve para mim, James. — Tento parar de chorar, apesar de ser
quase impossível e o aperto mais. — Sou um covarde, me perdoe por isso,
mas agora com a chegada dos quarenta, acho que finalmente a coragem vem
chegando junto.
Ele consegue rir em meio às lágrimas e se afasta, desfazendo nosso
abraço, mas me mantém perto dele, segurando meus ombros com uma mão
enquanto a outra passa por seu rosto.
— Não imagina o quanto senti sua falta todos esses anos e o tanto de
merda que passava por minha cabeça. — Ele funga, passando as mãos pelos
cabelos cumpridos — Pensei que me odiasse por algo que eu havia feito, por
ter sido uma criança cheia de problemas, ou até porque eu sou filho da minha
mãe, e pode admitir que seria uma justificativa plausível. Ninguém aguenta
aquela velha.
Consigo rir de sua piada, me sentindo um pouco mais leve após tantos
anos, a culpa pelo que fiz a ele, sendo levada finalmente.
— Perdão por ter te feito sentir culpado por algo que só tinha a ver
comigo. — Seguro seu rosto, meus olhos passando por cada traço dele,
desfrutando desse momento único. — Prometo que se me der a chance, vou
fazer tudo diferente dessa vez.
Ele assente, mas noto como ainda parece receoso.
— Passei todos esses anos esperando por isso, pelo dia em que ouviria
de você um pedido de desculpas, uma justificativa. Era tudo que eu mais
queria. — Ele balança a cabeça, parecendo não acreditar que esse dia
finalmente tenha chegado. — Não sou mais seu garotinho engraçado e fofo,
pai. — Ele sorri de uma forma amarga. — Esses anos me tornaram alguém
que eu jamais pensei que seria, então não consigo te prometer que as coisas
vão ser completamente diferentes agora, mas fico feliz em tentar. Vai ser
difícil, eu sou complicado e sei que poucas pessoas têm paciência para lidar
comigo, e também pode ser que agora seja só a emoção de ter ouvido tudo
isso, talvez eu acorde amanhã e volte atrás.
Meu peito se enche de alegria, acredito que o pobre coração seria
capaz de explodir bem agora. Uma tentativa é mais do que eu poderia pedir.
— Isso já é perfeito. — O sorriso não sai do meu rosto. — É mais do
que eu mereço, com certeza.
Ele assente, se afastando por completo agora, enxugando seu rosto e
soltando o ar aos poucos e faço o mesmo, quase sem conseguir acreditar que
por hora, tenho uma pequena chance de fazer tudo diferente.
A porta de correr é aberta com cautela e quando encontramos o rosto
assustado de Lua, James se levanta e vai ao seu encontro, preocupado.
— Mi amore, o que foi? — estranho por não fazer ideia do porquê ele
fala em italiano com ela, mas então me lembro que se conheceram na Itália e
o apelido deve ter a ver com a viagem. — Lua, o que aconteceu?
— Desculpem, não queria atrapalhar vocês e esperei um pouco, mas
precisamos ir ao hospital. — Seus olhos pequenos e assustados encontram
meu rosto e meu peito dá uma pontada em alerta, já me colocando em pé. —
Precisamos levar umas roupas para a Duda, ela começou a passar muito mal,
sentindo enjoos e outras coisas, foram até a emergência mais próxima.
Não espero ela dizer mais nada, vendo que tem uma mochila em seus
braços e passo pelos dois na velocidade da luz, sentindo meu coração se
acelerar de maneira desenfreada, e vou em direção às chaves do carro de
Carina, sem ao menos lhe pedir, ouvindo os passos do casal me seguindo.
Mas que porra aconteceu com ela?
Há dias está sentido dores, e agora essa história de enjoos, será que…
não.
Meu coração sofre uma parada brusca por alguns segundos e tropeço
nos degraus da entrada da casa quando me lembro do início da gravidez de
Cassandra, onde sentia tudo doer e nada parava no estômago.
Ah, porra.
Eu disse que meu útero era o culpado de tudo, mas não acreditaram
em mim.
Agora tô aqui, sentada nessa cama hospitalar desconfortável, sentindo
esse cheiro de produto de limpeza e desinfetantes, misturado com todo tipo
de doença, que aumentam cada vez a minha ânsia.
Era só uma ida à farmácia, mas então tudo saiu do controle quando as
dores voltaram três vezes piores e junto dela, a tontura e a ânsia de vômito.
Odeio hospitais e agora estou presa nessa maca horrorosa, usando um pijama
hospitalar.
Essa cor não está na minha paleta, me deixa sem contraste algum.
Não sei mais quanto tempo vou precisar ficar aqui em observação e
meu único passatempo é olhar o soro gotejar naquele negocinho que sempre
esqueço o nome, até passar pela cânula e entrar nas minhas veias, já que meu
celular foi esquecido no carro.
Essa porcaria me deixa cada vez mais mole e me faz querer vomitar.
Meu nariz se irrita quando uma das auxiliares de limpeza passa e
deixa a porta do meu quarto aberto, fazendo todo fedor dos produtos de seu
balde subir e parecer se alojar em minha garganta.
Por sorte consigo me virar a tempo de pegar o pote que deixaram para
mim caso isso acontecesse e quando menos espero, estou pondo para fora
tudo que comi hoje.
Uma gosma amarela e nojenta se mistura aos pedaços da minha
refeição, o cheiro e a visão disso só geram ainda mais ânsia, aumentando o
vômito e faço barulhos horríveis.
Sou escandalosa vomitando, não sei ser contida.
Me assusto quando escuto passos rápidos entrando no quarto e
fecham a porta com um baque, e acho que a minha curiosidade para o
vômito, para eu poder levantar o rosto e conseguir assistir Marcos vir
correndo ao meu encontro.
Ele está pálido, suando como se tivesse vindo até aqui correndo, e
chega próximo de mim em tempo recorde. Seus olhos azuis lindos me
estudam por inteira, passeando minuciosamente por meu rosto enquanto ele o
pega em suas mãos, tirando meus cabelos suados da testa, e passam por meu
corpo.
Sua preocupação e sua presença disparam meu coração e embrulham
meu estômago outra vez e se não estivesse com a boca cheia de baba de
vômito, eu o beijaria agora mesmo.
— O que aconteceu com você, Sweet? — nunca o vi tão nervoso
antes, nem quando quase fomos descobertos várias vezes e ele parecia prestes
a ter um derrame. — Por que veio para o hospital?
— Eu estou…
Minha fala é interrompida por outra onda de vômito e pode parecer
loucura da minha cabeça, mas sinto meu coração se aquecer e derreter
quando me inclino para pôr tudo para fora outra vez, e sinto os dedos do
homem puxando meus cabelos para trás, os segurando para que não suje.
Com a outra mão ele vai fazendo movimentos circulares em minhas costas, o
que estranhamente me ajuda.
Assim que acabo, espero um pouco para ter certeza que não vomitarei
mais e quando coloco o pote de lado e volto a me recostar no colchão, ele
logo traz lenços umedecidos que estavam na bolsa, que nem tinha visto estar
em seus braços. Também pega a garrafinha de água no móvel ao lado da
maca, e quando ameaço eu mesma pegar, faz uma cara brava, me trazendo o
gargalo na boca, como se eu tivesse cinco aninhos.
Apesar disso, gosto de sua ação, me sinto cuidada por ele, e adoro a
sensação.
— Minhas cólicas aumentaram muito e junto veio a tontura e a ânsia.
— Explico o que pretendia lhe contar. — Meus pais me trouxeram direto
para cá e enquanto faziam os exames básicos, ligaram pedindo para trazer
algumas roupas porque…
Quando estou prestes a falar o motivo, vejo o homem empalidecer
mais do que eu achei ser possível e todo seu peso despenca na poltrona ao
lado da cama. Seu olhar perde a direção e ele parece perdido, vejo seus olhos
encherem de lágrimas.
— Marcos? — me estico para alcançar sua testa, gelada demais ao
meu toque. — Vou ter que chamar uma enfermeira para você, porra? O que
foi?
— V-você… — ele gagueja apontando para mim, e fico cada vez
mais confusa enquanto ele volta a se levantar e se senta na beirada do
colchão, pegando meu rosto em suas mãos, de maneira delicada, mas intensa.
— Vou ser sincero com você, amor.
De novo esse apelido que me deixa toda quente, do rosto a boceta.
Seu olhar é intenso no meu, seria capaz de me incinerar por inteira e
passo a viajar por sua boca, seus traços que tanto me atraem, sentindo toda
aquela loucura hormonal de novo.
Eles parecem entrar em combustão perto desse homem, o que me leva
a pensar na teoria dos meus pais.
Não…
Claro que não, só coincidência.
— Sei que fui um pai de merda para James nos últimos anos, você
não conhece toda a história e se um dia quiser ouvir, com certeza vou te
contar todos os detalhes, mas viu o quanto me arrependo de tudo que fiz a
ele, de toda essa ausência que deixei em sua vida. — Não estou entendendo
nada, mas ele não me deixa falar, me calando com apenas um olhar. — Sei
que não mereço muito sua confiança nesse quesito e estou completamente
perdido agora, meu amor, pelo choque da notícia, mas eu garanto para você
que se quiser, vou ser o melhor pai para o nosso filho. Estou corrigindo todos
os erros com James, e asseguro que não vou cometer os mesmos com esse
pequeno, vou fazer o meu melhor, ser o melhor pai que eu puder para ele, ou
ela.
Mas de que merda esse homem está falando com esse desespero todo,
meu Deus?
E pior ainda, porque ouvi-lo falar dessa maneira, me trazendo tanta
confiança, me faz ter vontade de chorar, por acreditar em cada uma de suas
palavras?
— Sei que começamos do jeito errado, sei que não vai querer ficar
comigo, mas eu faço questão de criar esse filho, não importa a nossa
distância, nossas diferenças e todos os fatores que levariam a dar errado. —
Ele não cala a boca e estou em choque demais para pará-lo agora. — Mas eu
prometo cuidar não só dele, como de você também. Prometo estar ao seu
lado, não importa o que aconteça, em cada um dos estágios da gravidez e
após o nascimento, eu prometo, Sweet, que vou ser o melhor pai que eu puder
para o nosso filho.
Seus olhos agora estão emotivos, e tento controlar a vontade de rir,
meu coração agora disparado por acreditar em tudo que fala, por ter a certeza
de que esse homem nunca seria capaz de me magoar, abandonar ou trair a
minha confiança. Não sei porque seu discurso a respeito dessa criança, me
trouxe essa certeza, esclarecendo meus sentimentos de uma forma incomum.
Apesar de segurar a risada, sinto vontade de chorar por constatar o que eu não
quero aceitar.
Estou apaixonada por esse homem emocionado, agora consigo
entender que não era a SOP e sim meu coração idiota.
Apesar dos meus esforços, caio numa gargalhada escandalosa quando
o vejo erguer o mindinho e beijá-lo com fervor antes de estender para mim,
como o ensinei.
Começo a rir de maneira desenfreada, minha risada é alta e faz ele
recuar um pouco, meus olhos agora cheios de lágrimas, tanto pelo riso quanto
pelos meus sentimentos agora claros como o dia, que me assustam, encontra
seu olhar confuso e ainda assim não consigo parar de rir.
Quando ele está prestes a se levantar, coçando a nuca, pensando que
merda aconteceu, seguro seus braços, tentando controlar a crise de riso. Ele
suspira, esperando-me me acalmar, agora completamente frustrado.
— O que tem de tão engraçado no que eu disse, Maria Eduarda? — já
está carrancudo, me lembrando o Marcos de quando tudo isso começou. — A
ideia de eu ser um bom pai agora, é tão absurda e engraçada para você?
— Não é isso, meu bem. — Acho que gosto de chamá-lo assim, ele
me faz bem. — É só que é um absurdo você chegar à conclusão de que estou
grávida só por ter me visto vomitar.
Vejo a cor voltando ao seu rosto aos poucos.
— Mas e as dores, a ânsia e tudo? — parece confuso. — O vômito e
todo o resto? Não usamos camisinha, e faria muito sentido.
— Até faria, se eu meu corpo fosse capaz de algo assim. — ele não
entende e subo uma mão para seu rosto, acariciando sua bochecha que volta a
coloração normal agora. — Meu útero é praticamente inóspito, Marcos.
Tenho a Síndrome dos Ovários policísticos e como não tomo nenhuma
medicação que trate da infertilidade que ela causa, as chances de eu
engravidar são praticamente nulas.
— Ah, mas…— ele parece pensar, e imagino estar perto de soltar um
suspiro de alívio apesar de sua recente declaração — Então por que está aqui?
Ele olha ao redor.
— Justamente pela SOP. — Ele desconfia — As crises de dores
foram porque minha menstruação não é comum como as de outras mulheres,
só sangro apenas algumas vezes ao ano e estava perto de um novo ciclo.
Viemos ao hospital pela crise de dores e todos sintomas causados por ela, e
menstruei no caminho. Como fazia muito tempo que não acontecia, veio com
força total e por isso passei tão mal. As roupas na mochila são porque aquela
minha mini saia lindíssima, agora é só um trapo ensanguentado.
O tranquilizo e agora sim, ele solta um suspiro aliviado, colando a
testa na minha.
— Realmente pensei que estivesse grávida, e pode parecer cruel, mas
ainda bem que não está. — Rio de sua fala, não deixando de concordar com
ela. — Ser pai aos quarenta deve ser ainda mais difícil e já não tenho um bom
histórico. Meu coração não aguentaria, ainda mais um filho seu, imagine uma
combinação nossa? — sua voz é um sussurro.
— E toda a declaração de apoio?
— Ainda é válida caso venha a engravidar. — Vejo seu sorriso se
erguer e ele se aproxima, pronto para deixar um selinho em mim, mas me
afasto. — O quê?
— Acabei de vomitar, é nojento.
Ele revira os olhos sorrindo, mas se contenta apenas em deixar nossas
testas em contato, me dando um beijo de esquimó, colocando e esfregando
nossos narizes e meu corpo relaxa com seu toque, como se fosse certo, como
se pudesse passar o resto da vida recebendo seus carinhos.
Estou tão perdida e só consigo ouvir “Lover” tocando em looping na
minha cabeça.
Fui me apaixonar logo por alguém que mora tão longe e tem uma vida
tão contrária à minha. Sou idiota?
— Fico feliz em saber que está bem. — Sua voz é calma, e vejo ele
fechar os olhos. — Não imagina o quanto me preocupei.
Mas também, como não me apaixonar quando ele diz esse tipo de
coisa?
— Estou bem, pode ficar tranquilo.
Ele assente, deixando um carinho em minha bochecha e me inclino
ainda mais em sua mão, desfrutando de seu toque.
Eu poderia passar o resto da minha vida nessa carícia.
Nesse momento.
Mesmo que fedendo a vômito e sentindo dores.
Perceber que posso confiar nele e a lhe entregar meu coração, me
causa medo, mas também uma sensação avassaladora de certeza. Não sei
como vai ser se eu resolver confessar o que sinto, mas sei que dessa vez,
estarei entregando meu coração nas mãos certas.
— Fiz as pazes com James — isso me faz afastar, o olhando surpresa.
— Quer dizer, acho que começamos algo.
Meu sorriso se alarga, sabendo o quanto queria essa chance com o
garoto mal educado, que vem me tirando do sério com sua frieza.
— Fico muito feliz com isso. — Passo os dedos por seus cabelos
macios, que mesmo grudando de suor, exalam um aroma gostosos.
A porta é aberta com agressividade e vejo Lua grudada ao dito cujo,
adentrarem o quarto.
Ele segue com suas expressões fechadas, mas noto no olhar pacifico
que lança ao pai, como se estivesse afirmando que as coisas estão bem.
— Seus pais estão pegando a sua alta — lua se aproxima e me abraça
apertado. — Hora de se trocar para irmos.
Assinto com um sorriso.
— Deu um susto no meu pai, hein mamãezinha. Testou o coração
dele hoje. — Esse moleque tem o dom de me tirar as paciências, que agora
não sinto vontade de socar a cara, por saber das pazes que fez com o pai, mas
ainda me irrita. — Quase batemos o carro umas três vezes enquanto ele
ultrapassava os semáforos, sem querer ouvir a explicação de Lua sobre o que
aconteceu com você.
Olho sorrindo de maneira irônica para Marcos, que parece sem graça
com a sinceridade do garoto.
— Por que estão se olhando assim? — é minha amiga quem pergunta.
— Marcos achou que estivéssemos com um mini Porto-Freitas no
forninho. — Digo de maneira debochada e olho para James, que parece
empalidecer com a ideia. — O que acha disso, pirralho? Quer uma irmãzinha
para te atormentar?
Ele se segura em Lua, parecendo odiar a ideia, e a mais baixa começa
a rir da reação dele por saber as chances de isso nunca acontecer e mesmo
Marcos consegue rir com a reação do filho.
E vidrada em sua risada grossa e gostosa, me lembro que preciso me
decidir se lhe conto da minha recente descoberta, ou deixo que nossos
corações se partam com a distância daqui um tempo, sem ter tido
conhecimento sobre ter dominado todo o meu.
Todos na sala explodem em uma gargalhada alta com a tentativa dos
meus avós de realizarem uma mímica descente para o jogo de hoje, a não ser
pelo garoto problema, que vi sorrir poucas vezes em todos esses dias.
Não conversamos muito, entretanto fico feliz de ver o progresso que
Marcos está tendo com ele e até saíram para comprar os presentes de Natal
juntos, o que foi uma péssima ideia, pois voltaram com o porta malas
entupidos de sacolas. Malu adorou a quantidade de brinquedos que ganhou
esse ano, é claro.
— Chega, vocês são péssimos nisso, mãe. — Meu pai pede que os
idosos se sentem, o que fazem a contra gosto, mas ainda assim, desistem e
passam a vez para tia Carina, que sorteia um papel. — Essa vai ser fácil.
Estamos todos jogados na sala depois de jantar apenas aproveitando o
finalzinho desse dia.
Sinto o peito de Marcos tremer abaixo de mim quando minha tia se
coloca numa posição estranha e usa até Malu para tentar ganhar alguns
pontos na brincadeira, e me vejo aconchegando mais em seu abraço, que
aperta os braços ao meu redor.
Já fazem alguns dias desde a minha grande revelação e ainda não sei
se vou me abrir para ele. Nossa relação não mudou quase nada nesse tempo
que se passou, pensei que ficaria mais relutante a aceitar seus carinhos, mas
pelo visto sou uma frangote em se tratando desse homem.
Derreto em seus braços como uma manteiga em um pão quentinho, e
fico até constrangida quando percebo isso, apesar de tudo, ainda não revelei
meus sentimentos, e estou fazendo todo o possível para não deixar escapar
sem querer, evitando até beber muito por esses dias.
Como sei que vou me embebedar com vontade no Natal, preciso
contar antes disso.
Hoje seria um bom dia, já que começamos com tudo isso comigo o
perturbando sobre ser verão e o aproveitarmos, mas somente hoje começou
de fato a estação.
O que me fode é que sou fofoqueira, mas estou me mantendo
composta pelo meu próprio bem.
De que adiantaria eu me declarar para ele, se sabemos que o que
temos possui um limite, um prazo de validade, para então tudo acabar? Só
traria ainda mais frustração do que sua partida vai nos causar, e como ele
mesmo disse uma vez, é passageiro, com o tempo a distância vai aquietar
nossos corações emocionados e tudo volta a ser como antes.
Ao menos, estou torcendo para que isso aconteça
— Eduarda, podemos conversar? — Lua me puxa de cima do meu
homem, que deixa um selinho em meus lábios antes de eu me afastar por
completo. — Coisa rápida, eu juro.
Subimos as escadas e sinto dois pares de olhos nos acompanharem, de
pai e filho, enquanto as risadas seguem explodindo com força total.
Assim que entramos no meu quarto, que confesso mal estar passando
tempo aqui agora que durmo com Marcos com todos dessa casa sabendo, ela
tranca a porta e sentamos na cama, com ela suspirando pesadamente.
— Ah, não. — Coloco as mãos sobre a boca, olhando para a sua
barriga. — Não está grávida do garoto problema, está? Não teria nem como
saber porque não faz nem um mês que chegou nessa casa, Luana.
Ela se espanta com a minha hipótese e logo sinto meu coração se
acalmar tão rápido como se agitou, por saber que estou errada.
— Claro que não. — Me desfere um tapa dolorido no braço. — Está
andando muito colada a Marcos, sendo desesperada sem ao menos ouvir o
que tenho pra dizer.
— Desculpa, só me preocupei. — Dou de ombros e aponto pra ela. —
Por que estamos aqui?
— Está me escondendo alguma coisa?
Seu tom é sério e endireito minhas costas, de repente sentindo o ar
escasso em meus pulmões. Estou mesmo ocultando algumas coisas dela, mas
por não saber como contar ou se realmente é uma verdade absoluta.
Não teria como ela ter descoberto, já que não abri minha boca para
absolutamente ninguém, mas dizem que amigas sempre sabem quando
estamos escondendo algo, tipo um super poder materno.
— Desculpe, não queria fazer a gente sofrer por antecipação. — Abro
um sorriso amarelo para ela. — Estou pensando em ir estudar gastronomia na
França, no ano que vem.
Vejo seus olhos dobrarem de tamanho, isso que já são um pouquinho
grandes, então fica assustadora. Também vejo seu rosto perder um pouco de
cor e ela abre a boca sem emitir som algum, como se estivesse surpresa
demais para o grito sair.
— C-como? — ela gagueja, sua voz sai fraca. — Por que? Quando?
Como e onde? O que disse, Maria Eduarda?
Respiro fundo, tentando pensar em como lhe contar.
A conversa que tive com Marcos no dia que descobriram sobre nós
dois, quando falou sobre minha independência, acendeu uma chama que
estava praticamente apagada dentro de mim. Desde que terminei o ensino
médio, pensava em sair do país para estudar gastronomia, no coração da
culinária, mas não tive forças de ir.
Tive medo de estar muito longe dos meus pais e me senti insegura
demais para isso, então me acomodei por aqui mesmo, onde tinha a
segurança de tê-los ao meu lado. Mas aquela conversa mudou algo em mim,
me fez voltar a pensar nesse sonho esquecido, e reavivar a vontade de ir, o
desejo de seguir meu caminho.
— Ainda estou pensando, mas acho que vou tomar coragem e ir. —
Suspiro, pegando em suas mãos. — Não contei porque ainda não tenho
certeza, não quero gerar uma expectativa em vão, mas sempre foi um sonho
meu, você sabe bem disso, e acho que finalmente estou pronta. Deve ser
incrível estudar gastronomia onde se deu praticamente toda sua descoberta.
Desejo isso desde que tive a certeza do caminho profissional que quero
seguir, mas tinha medo.
— Não tem mais?
— Acho que não, Lua.
Ela abre um sorriso orgulhoso e me puxa para um abraço apertado.
— Me lembro de quando nos conhecemos e só me falava de como
seria incrível viver em Paris, fingindo ser uma garotinha fina enquanto
arregaçava as mangas nas cozinhas mais chiques de lá. — Sua voz embarga,
emotiva com a lembrança. — Fico feliz que esteja pronta para realizar esse
sonho, mesmo que signifique não te ter mais ao meu lado todos os dias, vai
ter sempre meu apoio.
Não consigo responder, sabendo que se abrir boca começo a chorar e
apenas retribuo seu abraço, tentando me afastar quando ele dura demais.
— Ainda não gosto dessa melação.
— Não é o que vejo sempre que está colada em Marcos.
Ela me lembra e então os acontecimentos dos últimos dias passam em
minha mente. Agora que não precisamos nos esconder, ficamos abraçados à
vista, na praia, na piscina, no sofá, na cama e em qualquer superfície que
comporte nós dois juntos. Tem sido muito bom.
— Temos que aproveitar antes dele ir embora.
Dou de ombros como se fosse simples.
— Te chamei aqui porque queria perguntar uma coisa a respeito dele.
— ergo o olhar até ela, que estava concentrado na linha da colcha. — Quando
vai parar de ser estupida e finalmente se declarar para esse homem?
É a minha vez de se assustar com o que sai da sua boca, e a fecho
usando as palmas da minha mão, olhando em volta como se alguém pudesse
ter invadido o quarto para poder ouvir.
— Por que eu precisaria me declarar?
Me acalmo e liberto sua boca, recebendo seu olhar irônico.
— Para de se fazer de idiota, Maira Eduarda. — Chama minha
atenção e suspiro, caindo em seu colo. Não dá pra manter um segredo nessa
casa, poxa vida. — Todos estão vendo que está estampado na sua cara o
quanto está apaixonada, e se ele não tiver notado, é porque é mais sonso que
você achando que consegue esconder de alguém.
— O que? — dramatizo. — Não! Eu escondo tão bem, poxa. Nossa
relação não mudou nada depois que percebi, continuo o tratando do mesmo
jeito e fingindo descartá-lo, lembrando que vai quebrar o coração comigo,
sempre que ele começa a ser meloso demais.
— Duda, sempre que ele tá longe de você, seus olhos seguem o
homem como se estivessem grudados nele, e faz uma expressão muito
parecida com a de uma pessoa com constipação.
— Que comparação horrorosa, Luana Albuquerque.
Não deixamos de rir, apesar do momento de tensão.
— É como se estivesse querendo muito soltar uma coisa, que não
consegue. — Ela tenta explicar sua fala. — E por não conseguir o que quer,
isso te machuca sem que você perceba. Nos casos reais as pessoas percebem
porquê dói absurdamente, e como estamos falando de você, não é uma
questão de não conseguir, e sim de não querer.
Não consigo lhe dizer nada, e apenas faço uma careta, me sentindo
como se estivesse fazendo manha para minha mãe, quando me obriga a
arrumar o quarto.
— Precisa parar de ser tão cabeça dura e contar a ele. — Ela me
aconselha, passando os dedos por meus cabelos soltos, — Eu disse que o
destino reuniria vocês e estava certa, então não deixe a oportunidade de viver
um amor lindo e único, passar por conta da sua teimosia.
— Não é questão de ser ou não teimosa. — Começo com meu
desabafo. — Não queria enxergar o que estava sentindo por conta das
inseguranças que Luciano deixou, mas depois que percebi que poderia
confiar nesse homem de olhos vendados, e não digo só na hora do sexo,
percebi que não teria o porquê eu causar esse sofrimento a nós dois.
— Se declarar para alguém que já se expôs os sentimentos a você, não
é causar sofrimento — ela dá um tapa na minha testa, e reclamo da dor. —
Ele só se sentiria ainda melhor, confia em mim.
— Não, ele provavelmente ficaria feliz, mas seria passageiro. —
Tento fazê-la entender meu ponto. — Seria como a calmaria antes da
tempestade, porque logo ele volta para Chicago e então do que tudo isso teria
adiantado? Pelo menos ele vai sem esperança alguma, por pensar que não é
correspondido.
— Meu Deus, como podemos ser melhores amigas? — ela me joga
longe de seu colo. — Por que nos tornamos amigas?
— Porque apesar de todas as nossas diferenças, temos o mesmo
neurônio, já que ambas queríamos saber como era estudar em uma escola
pública, e acabamos na mesma turma nessa aventura. — Sorrio para ela, que
me manda o dedo do meio. — Me respeita, que sou mais velha.
— Mais velha e ainda assim, menos sensata. — Ela se levanta junto
de mim, me pegando pelos ombros como se fosse me dar um sermão. — E
daí que não vão ficar juntos no futuro? Pelo menos viva a experiência
completa em quanto pode, cheios de declarações e amor, Maria Eduarda, se
permita isso.
Deixa um beijo na minha testa e me larga sozinha no quarto, com
meus pensamentos.
Apesar de simples, suas palavras me inundam de coragem.
Acredito que eu só estava precisando de um empurrãozinho, já que
estava na beira do precipício esse tempo todo.
Talvez a perspectiva de me jogar seja muito pior e mais dolorosa, do
que de fato o fazer.
Não faço ideia de que horas são, ou de quanto tempo estou deitada no
sofá da sala, sozinha, pensando na minha decisão.
Esperando a coragem de mais cedo aparecer de novo.
Faz algum tempo que todos subiram para deitar depois de eu obrigá-
los assistir um programa apelativo de culinária, onde não passam a realidade
de uma cozinha, mas até que servem para ensinar alguma coisa vez ou outra.
Quando sugeri assistirmos o documentário da Taylor, me xingaram e
foram todos dormir.
Marcos subiu com a promessa de que se eu dormisse com ele outra
vez, poderíamos ver juntos e o coitado está me esperando desde então,
provavelmente deve estar dormindo.
É isso, vou subir pronta para me abrir com ele, mas se ele já estiver
dormindo seria insensível da minha parte, e também um sinal de que eu não
deveria fazer isso.
Subo as escadas animada com a minha ideia, sabendo que o coitado
está cansado, pois passou a tarde toda jogando bola com meu pai na praia.
Minha visão agradeceu por ver mais uma vez aquele corpo gostoso correr
atrás de uma bola, mas eles não são mais jovens e estavam acabados no fim
do dia.
Abro a porta empolgada, sabendo que sou genial e assim que entro no
quarto e encontro a cama vazia, meus ombros caem como uma bigorna.
A porta do banheiro se abre, e ele sai de lá em toda sua glória,
vestindo apenas uma boxer branca, gotas de água descendo por seu corpo
enquanto ele seca seus cabelos com a toalha, tampando seu rosto.
Assim que seus olhos me encontram, seu sorriso faz meu corpo todo
tremer e ele se aproxima, jogando a toalha de volta no banheiro. Suas mãos
encontram a minha cintura.
— Vamos assistir? — é a primeira coisa que ele pergunta.
— Você não poderia estar dormindo? — ele estranha a frustração na
minha voz. — Se está apaixonado por mim, deveria facilitar as coisas, poxa.
Ele não entende o que digo, consigo ver isso em seus olhos.
— Pode me explicar o que est…
O calo com um beijo, não aguentando ter ele tão perto sem fazer algo
a respeito.
Nos entregamos num beijo profundo, suas mãos me puxando ainda
mais para si, como se desejasse nos fundir em um só. Quase esqueço tudo
que vim disposta a fazer aqui em cima, quando meu corpo todo se aquece em
contato com o seu, como se fosse certo estar tão junto dele, mas o afasto para
me concentrar.
— Depois fazemos mais disso. — Ele sorri e se afasta para colocar
um short antes de se jogar na cama.
Ele deita de costas, o peitoral exposto para mim e a luz do abajur é
branda, deixando tudo parecendo muito como um sonho muito bom, que não
quero acordar.
Ele abre os braços, anda sorrindo de uma forma maravilhosa e bate
em seu peito, para eu me jogar nele, e com uma risada o faço sem pensar, me
acomodando a ele, passando o braço e uma das pernas por cima de seu corpo,
me prendendo a ele.
— Quero te contar umas coisas — ele murmura algo, para dizer que
está ouvindo. — Percebi que já se abriu bastante comigo, quando nunca
tomei coragem de fazer o mesmo.
— Não sei onde quer chegar com isso, mas estou ouvindo.
Suspiro e fecho os olhos com força, tomando coragem.
— Naquele dia no iate, perguntou quem partiu meu coração. —
Começo e ele logo aperta ainda mais os braços ao meu redor. — Luciano foi
minha primeira paixão, meu primeiro beijo, meu primeiro namorado e
também a que eu confiei para tirar minha virgindade. Também foi ele quem
desgraçou meu coração e levou minha confiança em relacionamentos embora
com ele.
— Por que quer me contar isso, Sweet? — sinto seu coração aumentar
o ritmo no peito e abro um sorriso.
— Só fica quietinho e ouve. — Ergo a cabeça para nossos olhares se
cruzarem. — Fui apaixonada por ele por anos, até começarmos a nos
envolver. Ele era tudo que eu sonhava, me tratava como sempre desejei em
um relacionamento, pensei que fossemos casar algum dia, assim como
acreditei que fosse um desejo recíproco. — Respiro fundo, passando os
acontecimentos na minha cabeça, — Ele era um ano mais velho e entrou na
faculdade antes de mim, ainda assim confiava cegamente no que tínhamos.
Então o boato de que ele estava me traindo pelo campus chegou em mim.
Não acreditei e o contestei, onde ele jurou que nunca faria isso comigo, jurou
que me amava demais para isso. Mas então certo dia cheguei de surpresa em
sua casa, pretendia preparar um jantar para ele que chegava cansado e
havíamos feito dois anos de namoro no dia anterior, que não conseguimos
nos encontrar, e o peguei na cama com uma das suas amigas.
Minha voz embarga e sinto um nó na minha garganta.
— Não precisa continuar se não estiver à vontade com isso, amor. —
Mesmo prestes a chorar por outro cara, ele me faz sorrir.
— Eu quero — volto a olhar para ele, para que veja a verdade em
meus olhos. — Naquele momento foi como se ele tivesse me pegado e me
jogado no lixo, junto de todas as declarações, promessas, momentos bons e
tudo que compartilhamos. — Uma lágrima idiota escorre e seus dedos a
limpam. — Ele disse que eu não estava sendo o suficiente para ele, ainda
tentou pedir perdão por isso e prometeu que nunca mais faria nada parecido.
— Mais uma fungada minha e seus braços me apertam ainda mais forte. —
Me senti minúscula diante da sua traição. Eu parecia doente de amor por ele e
então depois disso, realmente adoeci por conta dele. Passei o mês seguinte ao
término, definhando na cama, só sabia chorar e pensar o quão burra eu havia
sido para confiar tão cegamente nele. Mas aos poucos fui me dando conta de
que ele quem foi o maldito traidor, que eu não era a culpada, então entrei na
minha era Reputation[15] e jurei a mim mesma não me envolver mais com
alguém ao ponto de me apegar, muito menos de me apaixonar, por não serem
confiáveis, por não merecerem sequer o benefício da dúvida.
Ele se mexe, imagino que incomodado com o que falo, e começa um
carinho lento em meu braço, muito gostoso e que nunca pensei que fosse
adorar receber.
— Consigo te entender. — Sua voz é suave, me confortando. — Uma
traição, por mais simples que seja, abala com todas as nossas estruturas. Fica
difícil de confiar quando a pessoa que mais deveria te apoiar e ser leal, é a
primeira a te apunhalar pelas costas. Fico feliz que tenha se dado conta de
que não tinha culpa de nada, Duda.
Sorrio com suas palavras. É claro que ele me entenderia, somos dois
cornos, talvez por isso que tenhamos nos sentido tão atraídos desde aquela
noite, nossas galhadas podem ter alguma espécie de imã.
— Me fechei completamente depois disso. — Assinto e seu peito —
Nunca mais me envolvi com alguém mais do que o necessário e meus casos
não duravam sequer duas semanas, não me permiti mais gostar de ninguém e
sempre que achava que estava correndo o risco, dava um jeito de expulsá-los
da minha vida. — Respiro bem fundo dessa vez, soltando bem devagarzinho
antes de soltar a bomba. — Eu não havia me permitido me apaixonar de
novo, até você, Marcos Freitas, até a sua chegada.
Eu não ouso me mexer e ele também não o faz.
Passamos alguns minutos assim e quando não obtenho nenhuma
resposta, fico preocupada com o que tenha acontecido, me lembrando que é
velho e o coração pode não aguentar, e finalmente ergo os olhos para ele,
rindo quando o encontro sorrindo feito idiota, mesmo sem dizer nada.
— Pensei que eu tivesse te enfartado.
— Acho que estou quase chegando a isso. — Sua voz é rouca e seus
olhos encontram os meus, ardentes. — Repete o que disse.
— Eu estou completamente apaixonada por você, Marcos Freitas, por
seu carinho, por seu cuidado, por sua fofura e gentileza por detrás dessa pose
de durão, e pouco me importa o quanto meu coração vai se partir quando
você for embora, porque você foi capaz de reacender algo dentro de mim, que
pensei que estivesse completamente perdido, e tenho a certeza que você
nunca seria capaz de me magoar propositalmente. Me trouxe confiança de
uma forma que nenhum outro foi capaz de trazer.
Ele me puxa para cima, colando nossas bocas em um de nossos beijos
afoitos e cheios de paixão.
— Nos apaixonamos? — ele pergunta ainda com os olhos nos meus,
parecendo abobalhado. — Como isso aconteceu?
— Acho que quando nos conhecemos nossos chifres se enroscaram,
esse é meu palpite. — Ele gargalha e me beija outra vez e tudo se encaixa,
desde nossas bocas, nossos corpos, corações e galhadas. — Não acredito que
acabei apaixonada pelo cara com que só queria ter uma boa foda.
— Eu me apaixonei pela filha do meu melhor amigo. — Ele ergue as
sobrancelhas, como se fosse uma competição e ele tivesse ganhado. —
Estamos apaixonados e eu vou voltar para Chicago em pouco tempo.
Sinto meu coração apertar somente com a menção a sua partida.
— Prometemos viver isso até o último dia, não vamos sofrer antes da
hora. — Minha voz agora é só um sussurro, pelo medo de que a cachoeira
dos meus olhos deságue. — Vamos aproveitar até que acabe.
É o que consigo dizer para evitar pensar no quão doloroso isso pode
se tornar no futuro.
— Tão madura, a minha garota. — Ele debocha, me levando a rir,
mas solta um gemido quando me coloco em cima dele, as pernas uma de cada
lado do seu quadril e me abaixo para beijá-lo. — Faz amor comigo essa noite,
Sweet?
Sua pergunta atinge partes minhas que jamais pensei que poderiam
ser tocadas apenas com palavras. Meu clitóris pulsa e só preciso sorrir para
que ele tenha sua resposta.
Quando dou por mim, ele já está trocando nossas posições, tirando
sua roupa e ficando completamente nu, meus olhos pegam fogo ao olhá-lo e
sua boca logo volta a capturar a minha.
Ele me beija com lentidão e devoção, passando as mãos por meus
cabelos, espalhando os fios pelo travesseiro antes de começar a descer os
beijos por meu maxilar, depois por minha clavícula, deixando uma trilha de
arrepios pelo meu corpo.
Ele tira a blusinha que estou, encontrando o bico dos meus seios
prontos para ele, que logo os captura, sugando e me levando a arquear a
coluna quando a onda de prazer atravessa meu corpo.
Suas mãos apertam com força meu quadril enquanto me segura e, sem
cerimônias, puxo seus cabelos, me deleitando de sua língua e de suas
chupadas em meus seios.
Ele me marca, como se tivesse vontade de deixá-lo em mim de
maneira permanente.
Ele se afasta e antes de descer os beijos, tenho seus olhos no meu, me
devorando, me marcando em sua memória.
— Vou te deixar tão cheia de mim em seu corpo até a minha partida,
que vai ser difícil estar com outro sem pensar em nós. — Suas mãos
habilidosas tiram os shorts do meu pijama junto da calcinha e joga longe, ele
deixa beijos por minha barriga até chegar ao meu baixo ventre, quase em
minha boceta. — Nunca mais vai esquecer de como é ter minhas mãos em
você, Sweet.
Após sua fala ele separa minhas pernas, segurando com forças em
minhas coxas, e logo seus dedos estão separando meus grandes lábios,
encontrando minha pele macia e molhada para ele, que desliza os dedos na
região, me levando a soltar um gemido, apreciando seu show.
— Vai sempre se lembrar do homem que soube te foder como
nenhum outro. — Ele enfia dois dedos de uma vez, me pegando desprevenida
e me levando a agarrar os lençóis, sentindo ser preenchida por ele, mas
precisando de mais. — Vai sentir falta da maneira como te levo ao orgasmo
apenas com a minha língua.
Ele deixa um beijo nos lábios melados antes de passar a lamber toda a
minha boceta com possessividade, colocando minhas pernas acima dos seus
ombros quando se afunda em mim. Sua língua faz movimentos torturantes no
meu clítoris, e não me importo em não conter os gemidos, que clamam pelo
seu nome.
— Marcos…. — São como uma prece, como se implorasse por ele.
— Não quero que me deixe…
Deixo nos meus gemidos tudo que eu não tive coragem de dizer na
minha declaração porca, pelo medo de parecer uma completa emocionada
egoísta, que não seria capaz de viver mais sem sentir seu perfume, seus
toques e ouvir sua voz.
Quando estou prestes a explodir em um orgasmo intenso em sua boca,
ele a afasta, seu sorriso me hipnotiza, e antes que pudesse reclamar, tenho sua
boca na minha, minhas pernas enlaçam seu quadril, o trazendo para mim
enquanto as minhas mãos vão para as suas costas, o puxando para se fundir a
mim.
— Não quero te deixar, meu amor… — sua voz é sussurrada, como se
também estivesse contando um segredo profano, que não podemos confessar
longe das paredes desse quarto, dessa cama. — Porque ninguém nunca vai
fazer amor com você, como eu faço, Sweet.
É com essas palavras, com os olhos nos meus, que ele me penetra
com seu pau ereto e me sinto finalmente preencher, de uma maneira
completamente diferente de todas as outras vezes.
Nossos corpos começam a se movimentar em sincronia, se chocando
e misturando nossas respirações e gemidos. Suas mãos tiram as minhas de
suas costas e ele entrelaça nossos dedos enquanto os afunda no colchão acima
da minha cabeça, e sinto como se essa fosse uma ação ainda mais íntima do
que todas as que tivemos até então.
Ele estoca forte, seus dedos apertando os meus, os olhos nunca
deixando os meus e sinto as arfadas que dá em meu rosto, assim como
aprecio a satisfação que sente ao ouvir cada gemido meu.
Sua boca procura a minha, o prazer começa a nos consumir de uma
maneira surreal, como nunca senti em toda a minha vida, parece que o que
estamos fazendo agora, ultrapassa os limites da intimidade, como se nossos
corpos estivessem dizendo o quanto nos queremos, declamando todo o
tamanho do sentimento em nós.
Pela primeira vez, percebo que não fodo, eu faço amor e é lindo,
único e delicioso.
É romântico, carinhoso e prazeroso, tudo de uma vez, o que me leva à
loucura.
Ele desgruda as nossas bocas, mas seguem a milímetros de distância.
— Nenhum outro vai saber te foder como eu fodo, não vai encontrar
ninguém que te satisfaça como eu. — Sua voz é rouca e me sinto derreter
ainda mais com suas palavras. — Nunca vão acelerar seu coração da maneira
que eu acelero, nunca vão te escutar como eu te escuto ou cuidar de você
como eu cuido…
Não consigo dizer nada, nem ao menos retribuir o que diz, mas vejo
que meus gemidos é tudo que seus ouvidos querem escutar, pois sinto o
quanto adora ouvi-los, seu corpo me mostra a cada estocada firme, em cada
beijo lânguido que dá em meu rosto.
— Não vamos conseguir esquecer o que aconteceu nesse verão. —
Ele diz em meu ouvido, logo depois lembre meu pescoço, me levando para
mais perto do orgasmo. — Eu amo você, sua pequena diaba.
Ele diz sussurrando bem próximo ao meu ouvido e é simplesmente o
fim para mim, que explodo em um orgasmo violento, logo sentindo os jatos
do seu gozo também tomarem meu corpo, tornando o momento ainda mais
perfeito.
Ele se deita sobre mim, sem tirar seu membro, nossas mãos ainda
entrelaçadas, nossas respirações são os únicos sons que ouvimos além das
batidas desenfreadas dos nossos corações.
Não é passageiro, como pode ser, se é tão perfeito?
O céu apesar de estrelado, tem algumas nuvens esparsas e a brisa que
balança as plantas da varanda da casa, trazem o cheiro característico de
chuva, de terra molhada e eu adoro.
Daqui há três dias entramos no ano de dois mil e vinte e quatro, e só
consigo sorrir para a loucura que minha vida se tornou aos últimos minutos
do segundo tempo do ano atual.
Vou sair dele com o relacionamento com o meu filho em construção,
tendo aprendido que trabalhar sem descanso não me trará benefício algum e
que preciso tirar um tempo para aprender a relaxar.
Faz dias desde que não atendo nenhuma ligação de emergência,
passando todas para os funcionários capacitados para isso, que eu mesmo fiz
questão de ensinar para o dia que tiverem que lidar com a minha ausência, e
tem sido a melhor sensação do mundo, me sentir menos preocupado com
tudo a todo instante.
E claro, a maior mudança surpreendente desse ano, vou sair dele
tendo me apaixonado por Maria Eduarda, que se me perguntassem de quem
ela se tratava alguns meses atrás, responderia com um resmungo qualquer por
não ter noção da verdadeira existência dessa mulher.
Mas agora, sempre que me lembrarem dela, seja por menção a sua
pessoa, por escutar seu nome, ao tomar uma Corona, ver algo relacionado a
sua cantora favorita ou até mesmo quando eu adentrar em um restaurante que
sirva um dos pratos que cozinhou nesses dias, vou ter sua imagem em meus
pensamentos de forma imediata e com certeza, vou sentir meu coração se
apertar com a sua lembrança.
Não sei se vamos voltar a nos reencontrar, até porque sempre que
Pedro vai me visitar, é acompanhado de Roberta quando não está sozinho,
mas vou embora tendo a consciência de que essa garota inconsequente
marcou minha vida de uma forma que pensei que não pudesse mais ser
marcada.
Essa mulher deixa rastros, impossível de ser esquecida.
— Me chamou, pai? — James interrompe minha reflexão e se joga
ao meu lado na areia. — Lua disse que estava me esperando aqui fora.
Olho para ele, assentindo em concordância e me sentindo
completamente emotivo e nostálgico com as datas comemorativas de final de
ano, me permito apenas observar seu rosto, guardando cada traço em minha
memória.
Estamos tentando nos aproximar nesses últimos dias. Alguns são mais
difíceis que outros, em uns conseguimos rir juntos, sair fazer compras e
coisas normais de pais e filhos, mas em outros, ele recua e evita olhar nos
meus olhos.
Estou sendo paciente como disse a ele que seria, entendendo seus
receios de se aproximar demais, e tenho a plena certeza de que vamos
reconstruir nossa relação, a tornando forte como nunca foi.
— Queria te perguntar uma coisa. — Ele concorda e estende as mãos
em um sinal para que eu fale. — Sei que não tenho direito algum de me meter
em sua vida, mas quero saber sobre aquele pensamento de se mudar para o
Brasil.
Ele ergue as sobrancelhas, e passa a mexer o corpo, pensativo.
— Existe a possibilidade, ainda mais agora que terminei os estudos
básicos, — ele solta o ar com força. — Não conversei com Lua a respeito
ainda, e preciso da palavra dela. Ela tem uma relação difícil com o pai e
tenho certeza que saber que o namorado dela, que ele julga e detesta com
todas as forças sem ao menos conhecer, vai estar há poucos quilômetros dela,
podem complicar ainda mais as coisas em sua vida. Não quero que se meta
em encrenca por mim.
Concordo com seu pensamento, me lembrando de quando Pedro me
disse algo a respeito desse assunto em questão.
— Pense com calma, e conte comigo quando tomar sua decisão, tudo
bem?
Bato em seus ombros e ele assente, me concedendo um de seus raros
sorrisos sinceros.
— Obrigado, pai. — As palavras saem com dificuldade. — Confesso
que ainda tenho medo de essa sua fase ser só uma loucura da sua cabeça,
passageira de alguma forma, mas se continuarmos progredindo assim depois
de voltarmos embora, talvez eu até te leve em um dos meus encontros de
moto.
Ele arqueia a sobrancelha preta, sabendo o quanto detesto que ande
em sua monstruosidade.
Me garantiu que é segura e quando lhe perguntei sobre os ataques
epilépticos, me assegurou estar controlado com os medicamentos, e para o
nosso bem, espero que não tenha mentido.
Meu coração sofre só de pensar que algo sério possa acontecer.
— Sua mãe me ligou agradecendo. — Ele me olha sem entender. —
Disse que você finalmente falou com ela, explicando tudo e ela ficou feliz
que estejamos nos aproximando outra vez.
— Aquela mulher não bate muito bem da cabeça. — Apesar das
palavras, diz com um sorriso brincalhão no rosto, de quem apesar de tudo, a
ama muito. — Acho que vou sentir falta dela se me mudar, mesmo que ela
me quebre por inteiro, após descobrir meus planos.
— Também descobri que é fofoqueiro. — Ele começa a se levantar,
fugindo do assunto e me levanto junto, me mantendo perto dele que prende o
riso. — Ela quis me parabenizar pelo novo relacionamento e chegou a desejar
boa sorte, para que esse não seja um fracasso como foi o nosso. Suponho que
tenha contado sobre Duda.
— Talvez eu sem querer tenha deixado escapar algo sobre eu adorar
perturbar a minha nova mamãezinha. — Ele ri e adoro o som de sua risada,
me lembrando a de quando era só um menininho, hoje bem mais grave, é
óbvio — Não menti, se continuarem juntos vai ser emocionante ter ela nos
futuros almoços de família que sua ex-mulher pretende preparar.
Não entendo sua fala, mas também não tenho tempo de questionar,
porque a morena a qual nos referimos, aparece na varanda, gritando ordens
para que entremos para ajudar com o jantar.
— Vamos antes que ela puxe sua coleira e te machuque, papai. —
Seu tom ainda é irônico, mas uma felicidade me transborda quando ao dizer,
ele deixa um tapa leve em minha nuca e sai correndo, rindo como se tivesse
seis anos outra vez, e tivesse acabado de aprontar com o pai.
Estou vivendo a porra de um sonho com esse moleque.
Adentro a casa ainda com um sorriso no rosto e quando chego na
cozinha, vejo que Maria Eduarda já colocou todos em suas posições.
Seus avós arrumam a mesa enquanto Malu mexe uma massa marrom,
acredito que seja algo como massa de modelar comestível, que sua prima a
tenha colocado para mexer apenas para se sentir incluída nas tarefas.
Os outros estão espalhados pela grande cozinha, cada um tomando
conta de uma etapa do nosso jantar enquanto a chefe, ordena o que deve ser
feito, supervisionando como cada um está indo enquanto mexe em algo na
panela.
É incrível a forma como se transforma e como domina totalmente esse
ambiente. É lindo ver ela andando de um lado para o outro, concentrada para
que tudo saia perfeito nos mínimos detalhes, e me sinto vidrado em seu olhar
apaixonado por tudo que faz.
Ela nasceu para isso, sem dúvidas alguma e suas ações provam essa
verdade a cada dia que passa, como quando está estudando mesmo no seu
tempo de lazer, por simplesmente adorar ter conhecimento sobre a profissão,
por cada um de seus poros, exala seu amor à gastronomia.
— Você cortou tão bem aqueles pimentões, que te coloquei para
cortar as saladas. — Ela chega perto de mim sorrindo, me deixando um beijo
nos lábios e me puxa para perto de uma tábua com uma faca. — Pode cortar
daquela mesma forma que te ensinei, é só juntar as folhas da couve, apertar
bem e picar bonitinho.
Mais um beijo em minha boca e outro em meu nariz, agora torto por
conta do trauma, e meus olhos a seguem andando pela cozinha, mandando e
desmandando como quer, ameaçado estapear James quando ele faz alguma
piadinha.
Também vejo o olhar de Pedro em nós, ouvindo murmurar algo sobre
como ainda é estranho presenciar essa cena, e apenas sorrio, abaixando a
cabeça e me concentrando na tarefa que me passou.
Essa mulher extraordinária que conquista a todos por onde passa e
que confessou estar apaixonada por mim alguns dias atrás.
Venho falando e pensando que todo esse sentimento por ela é
passageiro, que assim que voltarmos a nossa rotina, vai desaparecer tão
repentinamente como surgiu, mas depois de ouvir todas aquelas palavras de
sua boca, saber que o que sinto é recíproco e ter sentido meu peito
transbordar de amor por ela, chegando a derramar as palavras em seu ouvido,
começo a pensar que não vai ser tão fácil como pensava.
Um acontecimento tão perfeito como nós dois, não teria o direito de
ser apenas passageiro.
Dou duas batidinhas na porta do quarto dos meus pais, me sentindo
estranha por estar insegura.
Não é muito normal eu sentir esse tipo de coisa, e ela sufoca minha
garganta, apertando meu peito.
Meu pai destranca a porta e me recebe usando uma camisa social
dourada e horrorosa, dobrada até o cotovelo e um short jeans de lavagem
escura.
— Mas que porra é essa, pai? — entro no quarto, o vendo revirar os
olhos. — É virada de ano e vai usar essa coisa feia? E aquele conjunto lindo
que comprei pra você?
Me refiro a roupa que comprei para ele, que combina com meu
vestido e com o macacão da minha mãe, que já o usa, me levando a assobiar
enquanto ela passa o batom em frente ao espelho.
— Aquela porcaria pinica, cheia de brilhos e lantejoulas, Maria
Eduarda — cruza os braços, bicudo feito criança. — Não vou usar aquilo.
— Ah, mas vai sim. — Vou em direção ao guarda roupa, encontrando
a peça dobrada e jogo para ele. — Vamos ficar combinando, os três, e é
melhor vestir ou levo ela para Marcos.
Ameaço e ele bufando, começa a tirar a camiseta horrorosa que usa.
Meu vestido é frente única, as costas totalmente abertas e seu tecido
branco é praticamente todo feito de lantejoulas prateadas, que brilham muito.
O material das roupas do casal que se implica em minha frente, é o
mesmo, e estamos lindos, apesar das reclamações do meu pai.
— Satisfeitas? — ele pergunta nada feliz, mas basta eu pular em seus
braços, o abraçando, que ele desfaz de sua braveza, sorrindo para mim. — Já
notei que sim.
— Eu disse que ela faria você colocar. — Minha mãe nos aproxima
do espelho para tirar uma foto. — Não sei porque teimou e achou que iria sair
com aquilo.
É quase ano novo e todos já estão prontos para sairmos comemorar
em um restaurante aqui perto, logo depois vamos ver os fogos na beira da
praia.
Esse dia me deixou ainda mais emotiva do que já vinha sendo, me
fazendo refletir sobre várias coisas e talvez eu tenha tomado uma dose de
tequila e outra de vodka, para me dar coragem para dizer tudo que preciso
hoje, a começar com meus pais.
— Está todo agoniada, Maria Eduarda, o que aprontou dessa vez? —
meu pai questiona e o olho me fazendo de desentendida, como adoro fazer.
— Está apertando os dedos, estalando-os, mexendo na orelha e girando os
piercings nela sem parar. O que fez?
Assim que a palavra “piercing” sai de sua boca, me lembro da
loucura que eu e Marcos cometemos ontem de madrugada.
Saímos jantar e depois de acabar finalmente transando no carro, ele
dizendo que pouco se importava com o pequeno trauma que sua ex causou, e
me jogando no banco de traz, me fodendo só como ele sabe, estávamos nos
sentindo emotivos demais.
Não nos declaramos mais vezes, eu não lhe respondi nem disse nada a
respeito de suas três palavrinhas, que me fizeram chorar escondida no
banheiro depois, e acho que toda essa emoção acumulada em nós, o levou a
aceitar uma pequena loucura.
O convenci a marcarmos essas férias de alguma maneira permanente,
antes do ano terminar, e acabamos parando em um estúdio de tatuagem, que
foi difícil de achar por já ser tarde.
Ele tatuou um beijo meu em sua costela, e adorei gravar esse
momento, com ele reclamando de dor o tempo todo e quando chegou minha
vez, onde ele pretendia tatuar sua mordida no mesmo local em meu corpo,
revelei que depois da minha primeira e única tatuagem, prometi aos meus
pais que jamais faria outra.
Ele sabe que promessas são sérias para os Porto e surtou, falando que
ele havia entrado na minha onda e agora eu estava dando para trás, e
enquanto ele ficava cada vez mais vermelho, eu só sabia rir de toda a
situação.
No final das contas ele aceitou a minha ideia, que foi furar os dois
mamilos como uma marca desse verão, mas só aceitou tranquilo porque a
pessoa que fazia perfurações era uma mulher, e eu confesso ter achado uma
delícia vê-lo com ciúmes do tatuador, quando os olhos do homem desceram
até meus seios cobertos, quando sugeri os furos.
O arrastei até um beco e transamos ali mesmo, de tanto tesão que
senti ao vê-lo enciumado. Realmente devo ter algum problema, talvez os
parafusos tenham realmente caído da minha cabeça, por conta da queda que
sofri por culpa do meu pai.
— Não aprontei nada, mas não vão gostar muito do que pretendo
fazer no ano que vem. — Disperso as lembranças da madrugada, sentindo o
bico do meu peito arder, ainda dolorido com o metal geladinho do piercing.
Outra hora conto sobre isso, uma loucura por vez ou eles não chegam aos
cinquenta. — Melhor sentarem.
Eles se entreolham, notando como estou nervosa, acatam meu pedido
e se sentam. Me ajoelho em sua frente, segurando as mãos de ambos.
— Sabem que apesar de não saber como demonstrar, sou
imensamente grata por ter vocês como meus pais, não é? — preciso me
segurar para minha voz não embargar e eles assentem. — Sempre me senti
grata e nunca vou saber como retribuir tudo que fazem por mim, tudo que são
e significam para a minha vida e minha trajetória. Provavelmente vou passar
a vida inteira tentando mostrar o quanto amo vocês, ainda mais por não saber
direito como fazer, e o que eu vou dizer agora talvez doa mais em mim do
que em vocês, mas eu preciso seguir meu caminho.
Eles não entendem o que eu digo e vejo suas expressões se tornarem
aflitas, ainda assim não me interrompem, me fazendo engolir com
dificuldade, tentando alinhar tudo que preciso dizer.
Sou péssima com as palavras, porra. Coloquem um frango para eu
desossar e faço em dois tempos, mas não me coloquem para dizer coisas
difíceis com seriedade.
— O que eu estou tentando dizer, é que mesmo me criando com
muito amor e nunca me deixando faltar nada, justamente por isso, na verdade,
precisamos confessar que acabei crescendo muito mimada e nem um pouco
independente. — Eles suavizam as expressões, concordando. — Acredito que
isso minou a minha coragem de seguir o que sempre quis no passado, por
medo de sequer cogitar a possibilidade de me ver longe de vocês. Nunca
consegui pensar em como seria e tenho medo de colocar fogo na casa ou ter
que deixá-la para a primeira barata que aparecesse, mas o que estou tentando
dizer, é que vou embora ano que vem.
Me assusto quando eles se levantam surpresos, quase desesperados e
me olhando como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo,
Porra, faço vinte e um daqui a seis dias, não é tão ruim.
— Filha, entendemos que está apaixonada mesmo se negando a ver
isso, mas não acha que é muito cedo?
Minha mãe questiona se aproximando, pegando minhas mãos e fico
sem entender nada.
— Confio cegamente naquele homem, mas não vou permitir que se
mude com ele para Chicago sem sequer terem um relacionamento de verdade.
— Dessa vez é meu pai que impõe e passo a entender toda a confusão. — Vai
ter que me pedir sua mão antes de eu aceitar algo como isso, e sequer
namoram.
— O que? — abro um sorriso. — Não estou falando de ir morar com
Marcos, ficaram loucos?
— Sobre o que está falando, então? — o homem pergunta nervoso.
— Vou me mudar para Paris, quero estudar gastronomia lá, se me
permitirem, já que o dinheiro seria de vocês, ao menos até eu começar a
trabalhar.
Mordo o lábio, insegura sobre o que vão pensar.
— Tá falando sério, filha? — minha mãe questiona e vejo um sorriso
se alargar no rosto dos dois.
— Sim, essas férias aconteceram tantas coisas inacreditáveis, que me
fez pensar no porque eu deixei esse sonho para trás. — Confesso, os dois me
puxando para um abraço, aparentemente felizes com a minha decisão. —
Percebi que me sentia com medo de me ver longe de vocês, mas também
notei que preciso ter coragem de enfrentar isso, senão nunca vou seguir meu
caminho.
Aprendi vendo como Marcos enfrentou seus medos ao procurar o
filho, e como isso tem dado certo e valeu a pena.
Se aquele velhote medroso conseguiu, por que eu não conseguiria?
— Por que estava com medo de nos dizer? — não sei o que responder
ao meu pai. — É claro que vamos te apoiar, assim como sempre te apoiamos
em todas as suas escolhas, por pior que sejam às vezes.
— Disse quase agora que não me deixaria morar com Marcos. — O
lembro com um sorriso e ele apenas me mostra a língua, me levando a rir. —
Fico feliz em ter o apoio de vocês, vai ser difícil não ser mimada o tempo
todo e tendo vocês me atormentando, mas acho que vai valer a pena.
— É claro que vai. — Minha mãe afaga meu cabelo. — Vai ser uma
jornada incrível, Dudinha
Ouvimos meu pai fugindo, tentando conter as lágrimas e nós duas
caímos na risada com o quanto emotivo ele é.
— Meu bebê está crescendo e deixando o ninho, é um puta momento
então me deixem em paz.
Ele diz e nos agarra, nos grudando em abraço apertado, como sempre
adora e me deixo ali, absorvendo o carinho, o apoio e toda felicidade que
vem deles, mais uma vez sentindo a gratidão me dominar, por tê-los como
pais.

Faltam alguns minutos para o novo ano chegar, e estou toda molhada
dentro da água gelada das praias do sul, com Marcos grudado em minha
cintura, me abraçando por trás.
— Já pensou no que vai pedir à meia noite? — sua voz é intensa, me
arrepia inteira. — Porque eu já.
Me viro para ele, segurando-me em seu pescoço e me sinto esquentar
quando seus braços circulam a minha cintura.
Esse homem é surreal demais para essa realidade.
Respiro fundo, tomando fôlego para o que preciso lhe dizer antes que
esse ano se finde.
— Já pensei, mas o pedido é para você. — Lhe roubo um selinho e ele
sorri em minha boca. — Sei que passamos todo esse tempo dizendo que tudo
que sentimos é passageiro, sobre como fica feliz em ter o coração partido por
mim quando tudo isso acabar, mas estive pensando e… — vejo a apreensão
tomar conta do seu rosto. — E se não precisar acabar?
Me odeio por sentir minha voz falhar, ainda mais quando ele não diz
nada.
— Demorei mais do que você para perceber como estou apaixonada,
mas agora que me dei conta, não quero que tenhamos um prazo de validade,
Marcos. Não quero ter que acordar todos os dias, sabendo que você está a
quilômetros e mais quilômetros de distância, me superando e seguindo sua
vida sem mim. — Deixo meu lado possessivo me dominar um pouco,
sentindo meu coração subir à garganta por não ter nenhuma reação de sua
parte. — Não quero me despedir de você e estive pensando, se tudo fosse um
“até breve”? Ao menos até o próximo verão norte americano.
Finalmente volto a respirar com tranquilidade quando um sorriso
enorme, brilhante e lindo se abre em seu rosto. Apesar disso meu coração
parece bater ainda mais rápido, e me seguro com força quando uma onda alta
nos arrasta mais para a beirada, meus pés se arrasaram na areia, me fazendo
cosquinhas.
Ele me segura com força e rimos juntos enquanto arrumamos os
cabelos agora encharcados, ele volta a me segurar pela cintura e me volto a
prender meus braços nele, meu corpo e mente desejando eternizar esse
momento.
— Como eu seria capaz de negar um pedido como este, sendo que
desde que percebi que te amo, somente a ideia de nunca mais te ver, te beijar
e te tocar, faz meu peito doer como se eu estivesse à beira da morte? — Ele
ri e me prende ainda mais a ele. — Quando nos conhecemos, senti que havia
algo diferente em você, em seu olhar, que me puxava para sua órbita, me
prendendo a você, pequena diaba, mas não fazia ideia dos caminhos que
tomaríamos depois daquele dia. Não tinha noção do poder que você passaria
a exercer no meu coração em tão pouco tempo e só a perspectiva de viver
sem seus sorrisos, sem sua voz e sem seus beijos, me deixa a ponto de
enlouquecer. Não teria tatuado seu beijo na minha pele, se não tivesse a
certeza que quero te ter para sempre comigo, Sweet.
Ele gruda nossos lábios e sinto meus olhos lacrimejarem.
— Mas que merda é essa de próximo verão americano? — ele
pergunta rindo quando se afasta.
— Pensei que se recusasse a minha ideia, eu poderia fazer você me
prometer que nos encontraríamos daqui a seis meses, e que se durante esse
tempo, todo esse sentimento ainda seguisse nos acompanhando, nos dando a
certeza de que não é algo passageiro, poderíamos tornar tudo oficial. —
Minha voz não é mais insegura e abro o maior dos meus sorrisos para ele. —
Mas depois dessa declaração, acho que não precisamos de promessa alguma.
— Se não vai ter promessa, preciso te ouvir se declarando ao menos
mais uma vez. — Ele pede, galanteador, me puxando e beijando meu
maxilar. — Confesse seu amor por mim, Sweet. Me conte como se sente
perdidamente apaixonada a ponto de não pensar em viver sem me ter só para
si.
Ele diz bem próximo a minha orelha e se meu corpo todo já não
estivesse molhado com a água salgada do mar, com certeza sentiria minha
calcinha se perder na poça que sai da minha boceta nesse momento.
O pego pela nuca e o puxo para olhar em seus olhos.
— Marcos Freitas, quando nos conhecemos — aproximo minha boca
da sua, quase sussurrando e o admiro fechar os olhos em deleite. —, me
apaixonei perdidamente e incondicionalmente por seu belo pau.
Caio na risada quando ele geme frustrado com a minha fala, e espalho
pequenos beijos por seu rosto, voltando a ficar séria com seu olhar intenso
sobre mim.
— E não fazia ideia que a porcaria do acaso nos juntaria outra vez, e
muito menos que com o passar dos dias, me veria completamente envolvida
por você. — Ele respira fundo, seu olhar queimando o meu, meu corpo se
arrepiando por completo e não pela brisa da maresia, mas por saber que
encontrei o homem com quero dividir os próximos anos da minha vida, tendo
a certeza que ele quer o mesmo. — Não só por seu corpo, mas por sua
personalidade única, fui descobrindo a caixinha de surpresas que você é e
amei saber de cada detalhe, adorei ter conhecimento de cada nova descoberta
e em meio a isso, me vi perdida na sua essência, apaixonada por tudo que
você é e por tudo que me faz sentir.
Aproximo minha boca de seu ouvido direito, deixando uma mordida
na orelha, o levando a apertar com força minha cintura.
— Eu amo você, Marcos Freitas.
Volto a olhar em seu rosto outra vez, me perdendo nas sensações que
ele me causa, em seus olhos azuis agora escuros por conta da noite, sentindo
seu toque me aquecer cada vez mais e um sorriso se abre em meu rosto junto
de uma lágrima que rola por minha bochecha quando ele ergue o dedo
mindinho, o beijando e pondo em frente à minha boca.
— Então prometa para mim, Maria Eduarda Porto, que vamos fazer
isso dar certo. — Ele diz com calma. — Me prometa que não vamos deixar a
distância, nem a idade e todas as diferenças e empecilhos que possam surgir,
atrapalharem o que construímos nesses dias incríveis, porque quero te ter na
minha vida até o fim dos meus dias, mesmo parecendo muito com um velho
emocionado dizendo isso.
Ergo o meu mindinho, beijando e juntando ao dele, onde beijamos ao
mesmo tempo antes de os separar.
— Eu prometo, Marcos Freitas.
Continuamos hipnotizados e presos um no olhar do outro, ouvindo a
contagem regressiva ser entoada por nossa família ao fundo, e quando todos
gritam, desejando um feliz ano novo e os fogos estouram em nossos ouvidos
e visões, ele me puxa para si, grudando nossas bocas em um beijo lento e
cheio de amor, significados e promessas.
Me perco em sua boca, deixo minha pele queimar em contato com a
sua, e não existe forma melhor de começar o ano, do que essa.
OITO MESES DEPOIS
Aponto o celular para o espelho enorme localizado em um dos cantos
do meu loft, centralizando o que escrevi com meu batom vermelho, deixando
em evidência também o sutiã pendurado na lateral.
Envio para o meu único contato fixado e segundos depois uma
chamada aparece na tela, que atendo com um sorriso enorme nos lábios.
— Eu também te amo, amor. — Ele responde à imagem que lhe
mandei, me deixando tonta mesmo não estando nem no mesmo país que eu.
Meses se passaram e não me canso de todo o rebuliço que esse
homem causa em meu corpo.
— Estou tentando ajeitar a bagunça desse novo loft. — Ando pelo
espaço amplo, lotado de caixas de papelão da minha mudança. — Tem muito
mais espaço que o outro, achei bem melhor e a vista é linda. Consigo ver
Paris inteira daqui, dando de cara com a Torre Eiffel da janela do quarto e da
sala.
— Pelas fotos que me mandou, deve ser como estar em um filme. —
Sua voz me arrepia, mesmo que por ligação. — Não vejo a hora de conhecê-
lo. Vou te agarrar e te fazer minha em cada cantinho do seu novo lar.
— Não diz essas coisas estando a seis mil seiscentos e setenta e um
quilômetros de distância, Marcos. — Faço manha, me jogando no puff
gigantesco e macio que está jogado em meio a minha bagunça. — Vou
acabar tendo que resolver a porcaria do tesão sozinha.
Ele ri do meu drama.
— Em menos de duas semanas vamos estar juntos, seja uma boa
garota e acumule todo tesão possível para quando eu estiver aí. — Suspiro,
fechando meus olhos e pensando que nunca foi tão difícil cumprir uma
promessa.
Depois que as férias acabaram, mantemos nosso relacionamento, e até
fui pedida em namoro no dia em que ele embarcou. Não dei uma de
emocionada que fica aos prantos na hora do embarque, mas confesso que
rolaram algumas lágrimas.
Seguimos nos falando todos os dias religiosamente, por ligação,
mensagem e chamadas de vídeos, até que dois meses depois eu o surpreendi e
apareci em sua casa, com a ajuda surpreendente de James.
Não sei porque sofremos com a perspectiva da distância, já que somos
ricos e podemos nos ver semanalmente se preferimos, apesar de não fazermos
por conta das nossas agendas.
Passei os últimos seis meses aprendendo francês e posso dizer que
mando bem na língua, sempre incrível em tudo que me proponho a fazer. Há
um mês, me mudei definitivamente para Paris, após algumas vindas com
meus pais, que me ajudaram com toda a papelada tanto da escola em que vou
me especializar, como com tudo ligado à minha moradia.
Eles me ligam todos os dias, e apesar do medo de voos do meu pai,
prometeram que vão vir me visitar todo mês, trazendo Lua com eles, que
agora engrenou na faculdade e para a surpresa de todos, tem se apaixonado
cada vez mais pelo curso.
Tenho certeza que ela vai ser uma ótima professora, e logo vou estar
indo para o Brasil visitar ela e a James, que se mudou recentemente também,
por conta da gravidez.
Não se passaram nem um ano desde aquelas férias, e as coisas
mudaram drasticamente em nossas vidas, mas tudo vem se ajeitando aos
poucos.
— Se lembrou de trancar a porta? — a voz do meu homem me
desperta dos pensamentos e gemo em resposta. — Maria Eduarda, pelo amor
de Deus, da última vez que deixou destrancada quando saiu para fazer
compras, voltou e encontrou seu vizinho gostoso perambulando pelo seu
apartamento.
— Ei, quem te disse que ele era gostoso? — me apoio nos cotovelos,
como se ele pudesse enxergar a indignação no meu olhar.
— Você mesma, quando me fez ouvir toda a história de como chamou
a polícia para o “invasor gostoso”, segundo suas próprias palavras. — Sorrio
ao notar os ciúmes escorrendo de sua voz. — Faça o favor de ir trancar.
— Daqui a pouco vou. — Volto a me jogar no objeto macio, gemendo
de satisfação. — As aulas logo começam e não vamos ter tanto tempo de
ficar em ligações até tarde, me deixe matar a saudade ao menos da sua voz.
Mesmo com todos os métodos que usamos para nos comunicar, nos
vendo no mínimo uma vez por mês, mesmo que por um final de semana, não
estou sabendo lidar com a saudade que sinto dele.
Sei que posso viver minha vida sem tê-lo colado em mim, realizar
tudo que quero e me tornar tão foda quanto pretendo ser, mas seria bem
melhor se eu pudesse ter tudo isso, com ele aqui do meu lado, me abraçando,
me beijando e fazendo aquele carinho que só ele sabe fazer.
Meu corpo sente falta dele, minha mente também e de uma maneira
absurda.
Apesar que não podemos negar que os reencontros tem nos trazidos
ótimos orgasmos, já que transamos enlouquecidamente sempre que batemos
o olho um no outro.
— Tranca a porta antes, ou vou desligar. — Ele ameaça e me obrigo a
me levantar, indo até a porcaria da porta enquanto reclamo em seus ouvidos.
— Para de ser chata, vai me agradecer por isso.
Assim que meus dedos pegam na maçaneta para trancar, sinto alguém
tentando empurrá-la do lado de fora.
Puta que pariu, só posso ser muito azarada para ter a casa invadida
duas vezes em menos de um mês, em dois bairros diferentes.
Essa cidade me odeia ou é algum tipo de sinal?
Que merda de país, quero ir embora daqui!
Solto o celular, sem me importar com Marcos do outro lado, não
quando minha vida corre risco e empurro a porta com toda força que consigo,
usando minhas costas para não deixar quem quer que seja entrar.
Empurro a todo custo, sentindo a pessoa fazer o mesmo e quando
estou quase perdendo as forças, a voz que vem do outro lado me assusta, me
fazendo pular para longe da madeira.
— Me deixa, entrar, Maria Eduarda, porra.

— Marcos? — sua pergunta vem num tom estridente e quando abro a


porta por completo, encontro seu rosto pálido, como se tivesse vendo um
fantasma. — Mas o que...
— Como pode ser tão difícil fazer uma simples surpresa pra você? —
pergunto largando a mala no chão, abrindo meus braços para que ela pule
neles, mas a filha da mãe só fica me olhando, sem entender nada.
Talvez eu devesse ter pensando em outro modo de surpreendê-la, mas
não pensei que fosse ser tão difícil empurrar a porcaria porta, a garota parece
ter ganhado força sobrenatural.
— Será que pode pular no meu colo com toda a saudade que sente,
antes que eu fique com câimbras?
E então finalmente vejo o sorriso maravilhoso dela, e logo sou
atacado por seu corpo. Ela envolve minha cintura com suas pernas e suas
mãos seguram meu rosto.
Duda começa a distribuir beijos por todo meu rosto, parando com os
lábios na minha boca enquanto a seguro firme depois de fechar a trancar a
porta.
— O que está fazendo aqui, seu louco? — sua voz é embargada e vejo
em seus olhos toda a saudade e emoção que sente ao me ver. — Não estava
viajando para uma reunião importante?
— E estou. — Aperto seu corpo ao meu, sentindo-o e meu coração
finalmente se acalmarem após um mês e meio longe do seu, sentindo como se
finalmente estivesse no lugar certo outra vez. — Pode me receber em sua
casa pelos próximos três meses?
Ela afasta o rosto do meu para poder me olhar incrédula.
— Como assim?
— Estamos negociando dois novos hotéis na cidade, pensei que
poderia ficar com você durante as negociações, ao invés de em um quarto
entediante de hotel. — Seu sorriso se abre aos poucos, deslumbrante.
— É dono de uma rede de hotéis mundialmente famosa e ainda é mão
de vaca para bancar um quarto? — ela faz piada, voltando a aproximar nossas
bocas. — Pode ficar pelo tempo que for, a vida toda, se quiser.
Ouvir essas exatas palavras faz meu corpo se agitar, por que eu viria.
Não consigo ficar longe dela e largaria tudo em Chicago para viver ao seu
lado aqui em Paris, ainda mais agora que James se mudou para o Brasil
depois de me fazer desmaiar com a notícia de que vai ser pai.
Nossa relação tem progredido muito e depois do susto, só conseguia
pensar em como estou velho, me tornando avô antes mesmo de Pedro,
mesmo que isso implicasse o fato de eu ser pai outra vez.
— Podemos pensar nessa possibilidade futuramente.
É a única coisa que digo antes de atacar sua boca com a minha,
faminto e desesperado em matar a sede que meu corpo tem dela. Passo
minhas mãos por suas costas emaranhando uma delas em seus cabelos para
segurar sua nuca, a puxando para trás apenas para poder apreciar um pouco
mais seu rosto lindo.
— Não me canso de te olhar e dizer o quanto é maravilhosa, meu
amor. — Seus olhos voltam a se encher, entregando o quanto está emotiva e
quanto minha surpresa mexeu com ela. — Eu amo você.
Ela não responde, mas não preciso de palavras quando suas ações me
mostram seus sentimentos diariamente, quando se preocupa com cada
mínimo detalhe do meu dia e faz questão que eu fale dos meus problemas
com ela, e até apelidou carinhosamente nossas chamadas de sexta, de
“Sessão terapêutica”.
Venho aprendendo com ela que nosso amor não sobrevive apenas de
palavras, e sim de atitudes. Exalamos ele em cada pequeno detalhe do nosso
dia, em nossas conversas diárias e em nossas ações.
Amo a forma como nos amamos.
— Não sabe como a saudade vem me consumido nos últimos dias. —
Sua voz é sôfrega enquanto ela arrasta os lábios por minha mandíbula,
descendo para o meu pescoço. — Cumpre o que me prometeu.
Ela se endireita no meu colo enquanto caminho e nos jogo sobre o
puff que lhe mandei de presente. Suas mãos seguram com firmeza meu rosto
e nos deixamos nos perder um no olhar do outro.
Nunca tive tanta certeza em minha vida, como tenho a respeito dessa
pequena diaba.
Quero ser dela para sempre, é o certo.
— Me faça sua em cada canto desse lugar. — Sua voz é um sussurro
melódico, que agita o meu pau nas calças, cutucando o meio de suas pernas e
a levando a gemer. — Só me faça sua, sem enrolação.
Ela parece desesperada em seu pedido e contemplo seu olhar, que
sempre me levam a suas armadilhas.
— Não precisa pedir de novo, Sweet.
Nossas bocas logo estão juntas outra vez e sem perder tempo, a
coloco deitada sobre o carpete macio, me livrando de seu pijama minúsculo.
Encontro seus mamilos já intumescidos, as bolinhas do piercing neles trazem
uma sensação gostosa quando passo a sugá-los com vontade.
Enquanto dou atenção aos seus peitos usando a minha boca, desço
uma das mãos até a sua boceta, a encontrando molhada e escorregadia, pronta
para mim.
Sem conseguir esperar mais, a penetro com dois dedos de uma vez,
utilizando o polegar para massagear seu clitóris inchado e logo Duda está
gemendo meu nome, mostrando aos vizinhos o quanto é barulhenta, o quanto
é minha.
Prendo o bico de seu mamilo em meus dentes, sentindo o piercing
fazer atrito neles, e quando o faço, combinado com as estocadas que dou em
seu interior, sinto suas paredes começarem a apertar meus dedos, ela
gemendo enlouquecidamente e os tiro antes do seu orgasmo, sorrindo ao
encontrar seu olhar mortal.
— Nunca vou me cansar dos seus gemidos, e apesar de a ideia de te
ter gozando nos meus dedos me agrade, vai gozar somente no meu pau,
Sweet, mostrando a quem esse gozo pertence.
Subo meu rosto até a sua boca, engolindo seus pedidos para que me
enterre nela de uma vez.
Assim que me afasto e começo a me despir, ela se senta e me coloca
encostado contra a parede. Suas mãos exploram meu corpo e ela deixa
mordidas doloridas e deliciosas no local em que tatuei seu beijo, que apesar
de ter achado uma loucura, o arrependimento nunca me passou pela cabeça.
— Gosta de saber que sou marcado por você, não gosta? — ela se
senta em meu colo, encaixando a entrada em meu pau ereto e, mostrando
como estava sedenta, senta em minha extensão de uma vez, me levando a
grudar as mãos em seus cabelos, os puxando. — Me responde, Sweet, gosta
de saber que sou só seu?
Seguro sua cintura com força, arrancando gemidos dela e a impedindo
de começar a se movimentar em mim.
Ela não responde, ocupada demais gemendo enquanto meu pau pulsa
em seu interior e deixo escapar algumas arfadas sentindo suas paredes me
esmagarem.
— Não vou te deixar cavalgar em mim, enquanto não me responder.
— Minha voz é grave em seus ouvidos, onde deixo uma mordida em seu
lóbulo — Me fala como é possessiva comigo, me mostra como sou só seu,
Maria Eduarda, mostre aos seus novos vizinhos como nos pertencemos
enquanto geme e pede por mim.
Minha voz é afetada por conta da minha respiração e sinto o suor
começar pinicar nossos corpos, que esquentam num frenesi alucinante um
contra o outro, deslizando enquanto ela tenta se mexer.
— Marcos… — ela implora, rebolando e arrancando mais gemidos de
nós dois. — Sim, porra… adoro saber que você é meu, e amo ser só sua,
agora me deixa matar a saudade de sentar nesse pau.
Ela sorri diabolicamente e solto sua cintura, sentindo suas sentadas
ritmadas.
Ela se segura em meus ombros para pegar impulso enquanto meus
dedos ainda estão enroscados em seus cabelos, e a outra mão aperta sua coxa
com força.
Ela aumenta a velocidade e quando dou por mim a estou carregando
no colo, mudando nossas posições enquanto volto a deitar seu corpo no
carpete, ficando por cima. Sito suas pernas se prenderem com força em meu
quadril, suas unhas curtas arranham minhas costas, deixando uma ardência
gostosa enquanto a estoco com firmeza, sentindo nossos corpos se chocarem.
Seguro seu maxilar, mantendo nossos olhares presos um ao outro,
gemendo e atingindo o orgasmo juntos, suados e cansados, dizendo através
desse olhar, tudo que sentimos.
Me deito ao seu lado, e logo meu peito recebe sua cabeça. Abraço seu
corpo, a puxando para ainda mais perto de mim e ela se embola em meu
corpo, nos tornando um amontoado de pernas e braços entrelaçados, da
maneira que adoramos.
A aperto forte contra mim, sentindo a pulseira que me deu há alguns
meses, pressionar contra suas costelas. O adorno se trata de uma pulseira da
amizade, segundo ela, e me explicou que tem a ver com a sua cantora
favorita, que os fãs trocam entre si. Confesso que não entendi muito bem o
que disse e o significado real, mas ainda assim passei a usá-la, ela é feita por
miçangas brancas e azuis, com nossos nomes combinando, junto do dia que
nos conhecemos.
É fofa, delicada, não combina em nada comigo, mas eu gosto. Me
lembra a garota maluca que eu amo, sempre que bato meus olhos ali ou a
sinto balançar em meu pulso durante o dia, é como se estivesse comigo o
tempo todo.
Passamos os próximos minutos apenas desfrutando do silêncio e do
prazer de estarmos juntos outra vez.
A saudade de tê-la longe é tão dolorosa que em alguns dias penso em
largar tudo para tê-la ao meu lado dessa forma todos os dias, mas admito que
não existe nada melhor que o nosso reencontro.
Apesar de concordar comigo nesse quesito, espero que ainda aceite o
pedido que venho planejando para o fim de ano.
Prendendo pedi-la em casamento, e nada melhor do que fazer o
pedido exatamente quando nos conhecemos.
ALGUNS ANOS DEPOIS
— Por que está me contando essa história deprimente, mãe?! —
Beatriz consegue gritar em meio ao choro. — Não é um bom momento, se
não percebeu.
Ela aponta para seu corpo, que está vestido em um pijama largo e
meio fedido demais para o meu gosto e meus olhos se compadecem quando
encontram os seus, de um preto intenso, cheio de lágrimas, que também se
espalham em seu rosto.
Limpo suas bochechas, a trazendo para ainda mais perto de mim, me
deitando com ela em meu peito. Ela agarra minha cintura e logo sinto mais
lágrimas molharem minha camiseta e seus soluços são dolorosos ao meu
ouvido.
— Só estou tentando te dizer que apesar de parecer, um término não é
o fim do mundo, Bea. — Minha voz é suave e começo a passar as mãos por
seus cabelos escorridos. — Precisamos ser fortes para nos levantarmos ainda
melhores depois do tombo que ele nos dá.
Tento aconselhar, me sentindo hipócrita ao me lembrar de quando
sofria e pensava que seria o fim do mundo, mas venho descobrindo que ser
mãe também é mentir quando necessário, e que meus pais nunca me escutem
dizendo isso.
— Já te disseram que é péssima tentando aconselhar? — ela olha para
mim, seus olhos puxadinhos ainda menores por conta do choro. — Acabei de
levar um chute na bunda, mãe, não preciso ouvir esse tipo de coisa agora. Ele
é o amor da minha vida, eu sinto isso de uma maneira tão forte que me causa
falta de ar, e agora tudo foi pro ralo, tudo acabou sem mais nem menos,
quando sempre acreditei que amores foram feitos para durarem uma vida
inteira.
— Discordo. — Ela me olha como se quisesse me estapear. — Nem
sempre vai dividir todos os dias da sua vida, com seu grande amor.
Sentimentos são complicados, difíceis de se entender, mas tenho certeza de
que nem todos os amores foram feitos para serem vividos, e você colocar
nessa sua cabecinha que nunca mais vai viver algo parecido outra vez, é
perda tempo. A vida segue mesmo depois de parecer que tudo acabou, filha.
Sou uma péssima mãe por estar dizendo esse tipo de coisa para ela
em seu primeiro término?
Por apenas não desejar que sofra como uma cadela, como eu sofri no
passado, para que não se feche da maneira como me fechei, correndo o risco
de perder a chance de viver algo incrível num futuro próximo, como eu quase
perdi por ser tão cabeça dura.
— Já me contou essa história antes, não precisava ter me contado de
novo sobre como ficou depois ter levado uma galhada. — Ela enxuga as
lágrimas, se endireitando, aceitando com menos relutância minhas palavras.
— Ainda assim, parece muito injusto que a vida separe casais que foram
feitos um para o outro.
— Sabe que não é verdade. — Bea apesar de estar prestes a completar
vinte e um anos, muitas vezes parece uma garota birrenta de cinco. Me
lembra muito eu em sua idade. — Se eu tivesse parado toda a minha vida por
conta dele, se tivesse continuado em minha bolha para o mundo, não teria
conhecido o seu pai, não teríamos nos apaixonado perdidamente e com
certeza, nunca teríamos adotado você. É injusto para você, nossos caminhos
terem nos levado ao seu, e termos nos tornado seus pais?
Minha pergunta é séria, colocando todo amor que sinto por essa
teimosa em cada uma das palavras.
Ela balança a cabeça negando.
— Vocês foram a melhor coisa que me aconteceu, como poderia ser
injusto?
Pergunta derramando mais lágrimas, voltando a me abraçar e deixo
um carinho em seus braços, meu coração se aperta por não aguentar mais ver
seu sofrimento sem conseguir fazer nada para ajudar.
Me lembro até hoje do dia que nos conhecemos.
Já estava casada há dois anos e, mesmo não podendo engravidar, o
desejo de ser mãe brotou em mim de uma forma surreal, como nunca pensei
que fosse surgir. Assim que entramos no primeiro abrigo, à procura de nos
informar sobre a adoção de crianças carentes, me deparei com uma garotinha
asiática chorando, quase da mesma forma que está hoje, porque sua melhor
amiga havia sido adotada e estava de partida naquele dia.
Ela estava se sentindo sozinha e perdida, e quando nossos olhares se
cruzaram, tive certeza que era ela, minha filha, e tem sido desde então.
Foi a melhor coisa que me aconteceu e nunca pensei que o amor de
mãe fosse tão grandioso, mas sou especialista em pagar com a língua, e faço
isso diariamente na criação de Bea.
— Se eu tivesse desistido de viver depois de ser deixada, se tivesse
me fechado para a vida e para todas as coisas boas que ela pode proporcionar,
não teria a honra de hoje estar vivendo um sonho junto de você e seu pai. —
Acaricio sua bochecha. — Términos machucam, eu sei, mas nem por isso vai
deixar de viver, Beatriz. A dor e toda a angústia que ser abandonada traz
consigo, ainda vai te acompanhar por muito tempo, mas não pode deixar que
te destruam, que acabe com seus sonhos, porque você tem um caminho lindo
pela frente, filha. Não contei essa história por querer que levante dessa cama
agora, finja que está tudo bem e vá correr atrás de outro, as coisas levam
tempo, eu sei.
Diferente de mim em sua idade, Beatriz sonha e respira romance,
acreditou que tivesse encontrado seu príncipe encantado com quem dividiria
o resto da vida e agora está lidando com a realidade terrível de como homens
podem ser cruéis e o amor, decepcionante.
Apesar de achá-la meio pancadinha das ideias vez ou outra, como
quando aos dezessete anos veio me mostrar todo o planejamento que já tinha
do seu casamento, e que na época sequer tinha um namorado, não quero vê-la
desistir de sonhar com seus véus e grinaldas, pois isso me destruiria também.
Respiro fundo, segurando toda à vontade chorar que sinto, mas me
mantendo forte por ela, como uma boa mãe deve fazer.
— Só não quero que perca as esperanças na vida apesar do que ele te
fez, porque ela é linda e merece ser vivida o mais plenamente possível. —
Suas lágrimas quentes molham meus dedos que estão em seu rosto. — Estou
pedindo que não deixe de viver e de sonhar outra vez, porque um cara idiota
te desvalorizou. Não se feche para a possibilidade de amar de novo, e quem
sabe esbarre em um homem qualquer, derrube uma bebida nele e seus
destinos se cruzem de uma maneira inacreditável, te mostrando que viver vale
a pena, que desistir não é o caminho.
Estou parecendo a Lua com esse papo de destino e pelo visto ter me
tornando mãe não me ajudou com essa coisa de palavras, mas estou fazendo
o melhor que consigo.
— Já fazem semanas que ele simplesmente terminou tudo comigo de
uma hora para outra, dizendo que seria melhor cada um seguir seus
caminhos. — Sua voz é tão fraca e preciso me segurar para não chorar com
ela. — Dois anos e meio de namoro, mãe, íamos casar, fazíamos incontáveis
planos sobre isso e então, tudo acabou. — Ela volta a chorar com força total,
se deitando e se fechando em seu casulo de cobertores. — Acredito no que
diz, mas dói tanto que quase não consigo respirar, então por agora só quero
ficar aqui até passar.
Meu peito se aperta ainda mais, me lembrando de quando eu estive
em seu lugar, de como é doloroso ter sua confiança abalada dessa forma.
— Vai passar, meu bem. — Deixo um beijo em sua cabeça, mesmo
que por cima do cobertor. — Só não se perca nessa dor, não deixe ela te
consumir e se lembre de ser forte, tudo bem?
— Promete me ajudar a ter forças? — ouço um barulho de beijo
estalado e sorrio ao ver seu dedo mindinho sair para fora.
Beijo o meu e o enlaço ao seu, deixando mais um beijo ali.
— É claro que prometo. — Ela recolhe o dedo. — Se precisar de
alguma coisa, me chame, preciso ir para aquela cozinha antes que seu pai
coloque fogo nela, ou pior, azede o molho da chefe de cozinha mais bem
sucedida do mercado atualmente, euzinha aqui. Tenho uma fama e minhas
estrelas Michelin a zelar.
Meu peito se aquece ao ouvir que consigo arrancar uma risada dela e
por enquanto, isso já é suficiente.
Vou saindo do quarto aos poucos, pensando que se fosse possível
tomaria toda a dor que sente agora para mim. Passei por isso no passado e
apesar de a dor de ser chutada ser insuportável, passaria tudo de novo por
minha filha.
Sou péssima aconselhando, mas não menti em nada do que disse.
Às vezes o grande amor da nossa vida, não foi feito para estar
conosco até o fim dos nossos dias, a realidade é cruel, mas é a verdade em
sua forma mais crua.
Nem todos os amores foram feitos para serem vividos e Bea está
aprendendo isso da forma mais dolorosa de todas.
Saio de seu quarto deixando a porta encostada e sinto um cheiro
horrível vir da cozinha, me levando a gritar com meu esposo.
— Espero que não tenha queimado a porcaria do meu molho, senhor
Marcos Freitas Porto.
Assim que entro no ambiente, que quando está sob meu domínio, é
controlado e perfumado, vejo a fumaça preta subir de uma das panelas e os
olhos azuis me fitam cheios de culpa.
— Perdão, meu amor, estava ouvindo vocês atrás da porta e acabei
esquecendo de abaixar o fogo. — Ele se aproxima cauteloso, as mãos logo
me puxando pela cintura. — Teve algum progresso? Não consegui ouvir até o
fim.
Suspiro, sentindo parte da angústia que estava em meu peito por ver
nossa filha nesse estado, se abrandar um pouco.
— Será que é um tipo de maldição que caiu sobre ela? — ele não
esconde a falta de compreensão com o que pergunto e me permito rir. —
Sempre dizíamos que só nos aproximamos porque nossos chifres se
enroscaram, e se brincar com isso tenha amaldiçoado nossas futuras gerações
a ter azar no amor da mesma forma que já tivemos?
— Aquele merdinha filho da puta, traiu a minha princesinha?!
Ele se revolta com o que digo, aumentando o tom da sua voz em
níveis absurdos e pouco tempo depois nos assustamos quando o choro
estridente dela vem de muito perto, nos fazendo notar sua presença.
— Ele me traiu?! — ela grita sua pergunta, o rosto banhado em
lágrimas e corremos ao seu alcance, a abraçando. — Fui corna e agora vamos
ser a família dos chifrudos, é isso?
Por mais trágico que o momento esteja sendo, uma vontade
avassaladora de rir me toma.
Essa família é uma baderna, isso sim.
—Não, Bea. — Me apresso em dizer enquanto belisco as costas de
Marcos. — Sabe como seu pai está ficando velho e cada vez mais surdo,
entendeu errado e saiu gritando, todo revoltado.
— Verdade, pai? — ela tenta parar de chorar, abraçando o pai por
inteiro agora.
— É sim, claro. — Ele tenta não gaguejar. — Se ele tivesse te traído,
te garanto que não estaria mais com os dentes na boca, princesinha, ia
garantir que seu irmão quebrasse a cara dele por mim.
Marcos passa os braços enormes por meu corpo, me grudando ao
abraço gostoso que formamos, que me trazem a lembrança de quando eu
fazia parte do outro núcleo dessa configuração familiar.
Nossa família é um caos completo, meu Deus, e não teria como ser
diferente a julgar como tudo começou, ainda assim, não trocaria ela por nada,
nem escolheria estar em outro lugar senão aqui.
Nunca fui de acreditar muito em coisas como destino, como Lua
costumava me encher com suas histórias, mas depois de tantos anos, como
não acreditar depois de tudo que passei ao lado do homem grisalho e gostoso
ao meu lado?
Quais as chances de termos esbarrado em uma balada lotada, ter
descoberto que na realidade ele era o melhor amigo do meu pai e no fim de
tudo isso, eu acabar me tornando madrasta do esposo da minha melhor
amiga?
Porra, quantas mulheres podem dizer que se tornou uma espécie de
sogra para a melhor amiga?
Acredito que poucas, o que me levou a acreditar nessas coisas de
destino, e me fez perceber que apesar de acreditarmos estar sob seu controle,
apenas acatamos o que ele tem reservado para nós, se deixarmos toda a
covardia e teimosia de lado.
Apesar dos anos terem passado, sinto me apaixonar cada dia mais
pelo homem que conquistou meu coração quando jurei não ser possível, e
amo cada vez mais todas as nossas fases, sempre ansiosa para saber o caos
que nos aguarda.
E quer saber? Acho que devo gratidão a algo, então…
Obrigada por tudo, Destino.
Não se esqueça de deixar a sua avaliação.
Cada uma significa muito para mim!
Agradeço primeiramente a Deus e a toda a força que me concede, que
sem ele, tenho certeza de que nada disso seria possível. Agradeço também
aos meus pais, Paloma, familiares e todos os amigos próximos, que me dão
forças e acreditam em mim. Amo cada um de vocês
Sou eternamente grata a você leitor, que chegou até aqui, e espero que
Marcos e Duda possam ter proporcionando bons momentos e boas
lembranças, lhes arrancado algumas risadas e alguns suspiros. Muito
obrigada por tornarem meu sonho, uma realidade. Me siga nas redes sociais
caso ainda não fez, para acompanhar todas as novidades e o futuro do
Jardimverso, será uma honra ter sua companhia por lá, estou em todas elas
com o usuário @autorapjardim.
No início eu não tinha muita noção da real importância sobre os
agradecimentos de um livro, mas com o passar do tempo e conforme fui
presenciando e observando como as pessoas são passageiras em nossas vidas,
aprendi o porquê de se agradecer àqueles que estão ao nosso lado durante
uma jornada. Agradeci pessoas nos últimos livros que hoje nem mesmo
mantenho contato, nem por isso deixo de ser grata por elas, a vida vem me
ensinando muito sobre como tudo é momentâneo, mas fico feliz de tecer os
agradecimentos aquelas que nunca me deixaram desde o início, sendo grata
por cada pessoa que fez parte da minha trajetória até aqui.
Também quero agradecer ao time incrível que me acompanha desde
os esboços do enredo, até sua concretização final, minhas betas maravilhosas,
Amanda, Duda, Maria, Lívia, Regiane, Alanis, Lari e Ray, que sabem o
tamanho da minha gratidão e da importância que possuem. Sem vocês eu não
teria passado pelos momentos difíceis, obrigada por nunca me deixarem
desistir, nem mesmo nos meus piores dias.
Agradeço a Nana, que segue comigo em cada passo, entregando um
trabalho impecável e usando toda sua paciência comigo, sei que às vezes sou
difícil e cada dia sou mais grata por te ter na minha vida. Obrigada por tudo,
sempre.
Agradeço também a uma pessoa que entrou recentemente na minha
vida e que já não me vejo mais seguindo sem ela ao meu lado, Lua, obrigada
por aturar cada surto e indecisão minha, nosso contrato é vitalício, e a
amizade também.
Obrigada a todo time de influencers e parceiros que também me
acompanham em todos os lançamentos, vocês fazem parte de cada vitória.
“...tem pessoas na vida que a gente esbarra, e tem pessoas que a
gente encontra.”
Esses dias estava pensando nessa frase e só conseguia pensar na
Maria Eduarda, em como ela foi um encontro surpreendente e em como eu
não trocaria por nada sua amizade. Duda com certeza foi um encontro, se
pudesse afirmar com total certeza, de outras vidas.
Uma amizade que surgiu como quase todas as minhas outras, nos
detestando à primeira vista. Até porque nunca fui convidativa a fazer amigos
e ela muito menos, mas então um certo dia a garota nova que olhava pra todo
mundo com certo desprezo - que aprendi ser só sua carinha de nojenta
metida, mesmo -, apareceu lendo “A seleção” na sala de aula. Não faço ideia
de como foi nossa primeira conversa ou como a amizade surgiu, mas tenho
certeza que naquele momento eu jamais esperaria o grande acontecimento
que seria ter ela na minha vida.
Se existe uma coisa que nos torna próximas e parecidas, além de
poucas características e da enorme falta de senso, é o nosso amor pelos livros,
porque de resto, Maria Eduarda e eu não temos absolutamente nada em
comum, mas de alguma forma durante todos esses anos, nossas diferenças se
encaixaram uma à outra de maneira perfeita. Isso não significa que não nos
estranhamos vez ou outra, que não desejamos socar a cara uma da outra na
parede, mas como viemos notando, estamos amadurecendo conforme os anos
passam, assim como essa amizade e não consigo deixar de me sentir
extremamente grata por isso.
Confesso que depois de alguns acontecimentos traumáticos, nunca
mais pensei que fosse ser realizada no quesito amizade e apesar de ter feito
muitas amigas incríveis no processo, não se passava pela minha mente que
um dia o sonho de ter aquela melhor amiga que eu pudesse contar para tudo e
vice versa, pudesse ser realizado. Mas então Maria surgiu, o tempo foi
passando e aos poucos, de uma forma que sem explicações, ela se tornou
família. Eduarda é a pessoa que apesar de todos os nossos desentendimentos,
quero sempre levar comigo, não importa o que aconteça. Eu poderia passar
linhas e mais linhas falando aqui o quanto ela é importante pra mim, mas
acredito ter aprendido com Mad que minhas demonstrações vão além de
palavras, então depois de falar tantas abobrinhas, quero finalizar te
agradecendo Duda, por ser quem é, por estar ao meu lado sempre e por me
entender quando nem eu mesma consigo. Ainda vamos viver muitas coisas
juntas, realizar nossos sonhos, vou te aplaudir em todas as suas conquistas, e
como já tem sido, seremos o ombro uma da outra nas horas ruins, vamos
chegar bem velhinhas uma ao lado da outra, não importa o que aconteça e o
que tente nos separar, sei que vamos superar todas as crises. Além de que,
sabe que nossa amizade precisa durar até o túmulo, temos segredos demais
uma com a outra. Eu te amo, minha falsa Alice, obrigada por tudo.
LEIA MEUS OUTROS LIVROS
Perverso Destino
Perversa Atração
Em Seus Braços

[1]
Síndrome do ovário policístico, um distúrbio hormonal que causa um aumento no tamanho dos
ovários, com pequenos cistos na parte externa deles.
[2]
Música da cantora Taylor Swift
[3]
Termo técnico utilizado para um auxiliar de cozinha.
[4]
Segmento da cozinha, como por exemplo, praça de carnes, de finalização, sobremesa, etc.
[5]
Música da cantora Taylor Swift
[6]
Dificuldade para enxergar longe e perto, adquirido conforme o avanço da idade.
[7]
“Deveria ter lhe dado todas as minhas horas quando eu tive a chance” trecho da música “Talking to
the moon”, do cantor Bruno Mars
[8]
“Ter levado você a todas as festas, porque tudo o que você queria fazer era dançar” trecho da
música “Talking to the moon”, do cantor Bruno Mars

[9]
“Agora minha garota está dançando, mas está dançando com um outro homem” trecho da música
“Talking to the moon”, do cantor Bruno Mars
[10]
“Meu orgulho, meu ego, minhas necessidades e meu jeito egoísta”
[11]
Processo inflamatório das meninges, membranas que revestem o encéfalo e a medula espinhal.
[12]
Uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro. Durante alguns segundos ou
minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou
espalhar-se.
[13]
É uma técnica de corte francesa para cortar legumes e frutas em finas tiras, com cerca de 2mm de
largura
[14]
Sobremesa feita com uma massa açucarada recheada com cremes
[15]
Álbum da cantora Taylor Swift

Você também pode gostar