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“Fogo de Rael é em brasas. Não recomendo atiçar suas
chamas.”
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todos os amores que ardem sem se ver...
Quando acordei pela manhã e vi a mensagem da Isa,
não pensei duas vezes em verificar se era verdade, se ela
havia realmente achado o que me roubaram há cinco
meses. Fiquei ansioso, nervoso, e saí do castelo pilotando a
moto feito um jato pelas ruas de Lisboa. E no lugar
marcado, encontrei-a à minha espera. 
— Não tem nem vinte minutos que te mandei
mensagem.
— Não posso perder mais tempo. Cadê o colar? 
— Calma, vou te levar até eles. Estão no terminal
desativado de containers. 
— E por que tão discretos?
— Eles sabem que você está atrás desse colar e,
também sabem que é um Calatrone podre de rico. Acha que
não iriam barganhar?
— E sabe que não temeria atirar na cabeça de cada
um para ter o que é meu!
— Eu sei, mas não seja um imbecil.
Isa me leva até um pequeno galpão, cheio de
containers, e para na grade.
— Vou ficar aqui fora, qualquer coisa aciono reforços,
só espero que não seja preciso. Tome cuidado.
Assinto e nervoso, viro as costas, entrando devagar
no local meio escuro, apesar de ser bem cedo. Quatro
homens, que estavam tomando o seu café da manhã,
cessam o que discutiam e me olham durões. 
— Rael Calatrone? — um deles questiona, levantando-
se animado da cadeira.
— Eu vim buscar o que me pertence.
— Estamos aqui para colaborar com o senhor, desde
que colabore conosco.
— Bem óbvio que sua colaboração vem de uma
barganha. Qual o valor?
— Meio milhão.
— Meio milhão? — Começo a rir. 
— Isso não faz nem cócegas no seu bolso. — É a vez
de ele rir.
Os outros três caras se erguem dos assentos, com as
suas armas empunhadas.
— Cem mil euros e fechamos.
— Acha que eu vou aceitar? Sabemos que cospe
dinheiro. É da família Calatrone, os maiores agiotas de
Portugal. Meio milhão ou nunca mais vê o que tanto
procura.
Ele ergue o colar. 
Arregalo os olhos, sem acreditar que depois de tantos
meses o encontrei e está tão perto de mim, ao meu alcance.
— 300 mil euros. Dou a minha palavra.
Eles se olham, resmungando entre si. Até que o do
meio retorna à atenção, aceitando o acordo.
— Tem até 12h para trazer o nosso dinheiro ou… —
ele não termina de falar, inesperadamente leva um tiro na
boca, assustando a todos, que dão um passo para trás e
destravam as suas armas, inclusive eu.
O homem caiu de cara no chão, não tive tempo de
analisar a gravidade da sua morte instantânea, pois mais
sons de tiros se fizeram presentes. E antes que o outro
merda pudesse me acertar, eu o executei com duas balas
na cara. Os três também caíram mortos no chão.
— Não se mexa! — Uma mulher de calça jeans, regata
preta e cabelos presos num rabo de cavalo sai de trás de
um container escuro. Ela aponta a arma precisa na minha
direção. Consigo ver bem pouco da sua face. — Coloca a
arma no chão! — ordena e eu faço isso, querendo ou não,
está com mais vantagem do que eu, ainda atirou nos caras
sem pena nenhuma.
— Você os matou.
— Eles iriam fazer o mesmo comigo.
Ela dá mais alguns passos, até parar ao lado do
primeiro, que acertou na boca. A mulher se abaixa e pega o
meu colar.
— Isso é meu!
Dou um pulo descontrolado e ela atira perto de mim,
parando-me no mesmo lugar.
— Nem mais um passo, Sr. Calatrone! Eu preciso
disso.
— Quem é você, porra? Esse colar me pertence!
— Sinto muito, vou precisar dele para sobreviver.
— Ouviu a minha barganha com esse merda? Posso
dar o dinheiro para você em troca do mesmo objeto.
— E como me daria agora, neste exato momento?
Você não tem nada aí e eu preciso de dinheiro vivo.
— RAEL, A MÁFIA ESTÁ AQUI, FUJA! OS REFORÇOS NÃO
VÃO CHEGAR A TEMPO! — Ouço os gritos da Isa lá fora, a
seguir, uma chuva de disparos atinge o galpão.
Sem me importar com a arma que a mulher mira na
minha cara, eu simplesmente avanço nela, puxando-a para
trás do container vermelho.
— Não me toca, seu…
— Calada! — mando, apertando-a no canto.
Noto que está ofegante, sua aceleração quase
descompensada. Posso escutar os seus batimentos.
— Não tem saída por esse canto, a não ser por cima
dos containers. Por favor, ajude-me a fugir deles, pelo amor
de Deus! — ela se debate no meu peito, em desespero.
Não consigo ver o seu rosto, mas sei que está
chorando.
— A máfia está aqui por sua causa?
— Sim… eles não vão me deixar livre, nem com vida.
Ajude-me, aqui está o seu colar. 
Ela me devolve o colar e eu aperto a joia, sentindo um
misto de sentimentos bons e ruins.
— Agora, ajude-me, por favor!
Os tiros cessam.
— Como é o seu nome?
— Jolie.
— O meu é Rael.
— Vai me ajudar?
Assinto, já em dívida por ela ter me entregado o colar
em troca de ajuda… Mesmo que pareça impossível de fazer
alguma coisa que nos salve, estamos cercados pela máfia.
Contudo, surge uma ideia e peço para a Jolie deitar-se ao
meu lado no chão. Ela obedece, seguindo os meus
movimentos de se rastejar até estarmos na saída do galpão.
Durante o percurso, mais tiros são disparados. Eu pego a
arma e acerto um cara a alguns metros. O tempo deles
entenderem de onde veio a bala é o mesmo de sairmos
rápidos para nos escondermos atrás de uma parede.
Eu vejo a Isa escondida do outro lado, à minha frente
muita água do oceano atlântico. Não vamos ter escolha.
— Vamos ter que pular do cais.
— O quê? — Ela arregala os olhos. — Está louco? Olha
a altura disso! Se não morrermos afogados, morreremos de
hipotermia!
— Quer ficar viva? Essa é a un… — De repente, eu
olho para ela e perco o fôlego, também a fala.
Puta que pariu, que mulher bonita é essa? Agora, com
a luz do sol, que eu pude analisá-la direito, dos pés ao
último fio da cabeça. E puta que pariu de novo, seu corpo é
perfeito, distribuída nas medidas certas. Seu cabelo
castanho é bonito, seus olhos, sua boca, nariz e até as suas
sobrancelhas são lindas.
— Pare de me olhar assim, seu desconhecido... —
sussurra autoritária, desviando brava de mim.
Eu respiro fundo, voltando o sangue para os lugares
certos.
Ouço mais tiros, eles acertam o container na nossa
lateral.
— A máfia entrou no galpão. Precisamos correr até a
ponta do porto. Só assim vamos conseguir salvar as nossas
vidas. Entendeu?
Ela olha para todos os lados, buscando outro plano
possível. E, sem escolha, concorda comigo. De longe, Isa
igualmente viu que a nossa única alternativa será essa…
correr, pular e torcer para ficarmos vivos.
Seja o que Deus quiser.

 
— Rael?
Abro os olhos, sem parar de piscar as pálpebras
pesadas de sono. 
— Que susto me deu.
Observo a Isa dirigindo ao meu lado e ajeito o corpo
no banco.
Ainda estamos na estrada.
— Acho que cochilei.
— Você estava tendo um pesadelo e chamando de
novo por... ela. 
— Estava?
Dou de ombros, também bocejo cansado.
— O que sonhou? — pergunta.
— Não sei se é sonho, apenas revivo todo o passado
de novo. Estive tão perto do colar do meu pai.
Isa me fuzila.
— Não é só o colar, é a tal da Jolie. 
— Não toque no nome dessa desgraçada! A única
coisa que eu quero é ter de volta o que ela me roubou!
— Ela te deu um tiro, por que não lembra disso antes
de poupá-la? Vocês já se encontraram duas vezes! Em todas
essas vezes, essa vaca teve vantagem. Agora vive
sonhando com ela, chamando pelo seu nome. Jolie foi uma
ingrata, mal-agradecida.
— Chega, Isa. que merda, apenas foque na estrada,
precisamos chegar em Braga antes do anoitecer.
— Eu vou te deixar lá e ir embora!
— Faça o que quiser.
Ela bufa, irritada comigo.
Vamos o caminho inteiro em silêncio, sem falar nada
um com o outro.
Depois de duas horas, finalmente chegamos à cidade
de Braga. Se Lucas estiver certo, é para cá que a demônia
fugiu. Vou encontrá-la, juro que vou.
— Vai ficar sozinho neste hotel?
— Se não estivesse fazendo birra, poderia ficar
comigo.
— Não estou fazendo birra! Voltarei agora mesmo
para Lisboa!
— Então vá! — bato a porta do carro.
— Você ainda vai morrer por causa dessa joia!
Não respondo, continuo caminhando para a recepção
do hotel. Ouço-a pisar no acelerador e ir embora. Faço o
check-in, subo para o quarto e pelo celular, passo a
confirmação de que cheguei na cidade. 
E por fim, caio na poltrona, estressado e frustrado ao
lembrar que não vejo há duas semanas a minha família. O
que mais me doeu foi saber do noivado do meu irmão. Não
pude estar lá com ele, comemorando essa ocasião tão feliz. 
Foi a sua escolha… a puta da minha consciência
sussurra, deixando-me mais irritado.
Qual é? Preciso encontrar aquele colar, jurei para o
meu pai que o guardaria a sete chaves. Ele o confidenciou a
mim, depositou a sua confiança. E eu fiz uma promessa.
Para não ficar mais louco com os meus pensamentos,
resolvo tomar um banho e ir dormir. Logo a brincadeira de
caça ao tesouro vai começar novamente, mas esse tesouro
vem com um brinde.
Quando eu colocar as mãos naquela Borghi, talvez eu
a foda antes de matá-la e assim apago essa demônia dos
meus sonhos. Não tenho uma madrugada de paz. Por que
diabos foi se tornar uma obsessão, além de vingança?
Chega, putinha de mente, está fodendo o meu
cérebro!
Tento focar em algo que não me estressa, porém, só
relaxo depois de me masturbar pensando em quem não
devia. E durmo como uma pedra.
No dia seguinte, levanto-me mais descansado para
encontrar o Lucas. Aliás, ele já estava à minha espera no
restaurante do hotel.
— Bom dia, Rael.
— Bom dia, Lucas. Alguma notícia boa? E cuidado com
o que vai dizer ou corto a sua língua. — Sorrio, sem menor
humor.
Ele pigarreia, assentindo.
— Notícia ótima, essa noite você tem um evento
importante para ir, ela vai estar lá.
— Ou seja, a ladra tem mesmo uma família a
protegendo em Braga.
— São os Souza, a máfia não deve ter ideia deles. Ao
contrário de nós, que sabemos. Vince também nos ajudou
com a localização.
— O quê? Porra, eu NÃO ouvi isso!
Chuto a perna do Lucas por baixo da mesa.
Ele resmunga instantâneo de dor.
— Eu vou te matar, seu português do inferno! Vou
fazer ovo frito das suas bolas de gude que chama de
testículo!
— Calma, agressivo. Não tive outra opção. Foi difícil
achar essa mulher. Dê valor aos meus esforços. Vince foi o
último dos últimos recursos.
— Vou dar um tiro nessa tua fuça! O Vince é esperto,
agora ele já sabe onde estou e quem estou procurando!
Aquele polaco azedo é um dos melhores hackers do mundo!
— Sabia que agiria assim, por isso não te contei antes.
E já disse, eu não tive outra escolha, estava sozinho com os
nossos homens nessa cidade, sem saber que primeiro passo
dar. Também o Vince não vai falar nada, sabe disso.
— Mas vai me chantagear depois, é meu irmão
mimado aquela praga aproveitadora.
Pego o café que o garçom serviu e bebo num único
gole.
— Já tentou comer alguma mulher para ver se
desestressa um pouco? Não era assim não. Está pior que o
Hoss.
— Quer me ofender? Me compare com os meus
irmãos, seu jumento.
Luca ri.
— Desculpa, não vou brincar com a morte. Vocês,
Calatrone, me dão calafrios, literalmente.
Fuzilo a sua cara e ele se esforça para ficar sério.
— Mudando de assunto, o seu braço melhorou?
— Não muito, faz um mês que aquela ladra atirou em
mim, ainda atirou no lado direito, nem para poupar o braço
que me masturbo. Ando sofrendo para ter maestria com a
esquerda. 
— Eu não ouvi essa merda. — Lucas ri, negando com
a cabeça. — Rael, você não vale nem um pentelho seco de
velha. Quem vê esses seus dois metros de puro músculos e
cara de animal feroz, não imagina o cômico insuportável
que é.
Pisco para ele.
— Gosto de descomplicar o que já é complicado por si
só, ou seja, zombar da desgraça, pois se eu levar muito a
sério, me torno um Hoss. E já vou, preciso fazer alguma
coisa para preencher o dia, até à noite.
— Lembrando que vamos estar lá para a sua
segurança, e nessa condição, não pode negar ajuda. São
seis olhos a mais. Ah, e vou buscá-lo no hotel para irmos
juntos. 
Concordo em murmúrios, aceitando sem escolha a
sua segurança. Com o braço direito ferido, torno-me um
inútil. Despeço-me dele para refrescar a mente por Braga.
Preciso ficar calmo e recarregar o reservatório de defesas ou
Jolie pode sair por cima de novo, como já fez me enganado
duas vezes. Ela é muito esperta, consegue se fazer de
vítima como ninguém. Na verdade, essa ladra é uma ótima
atriz.
Ela que me aguarde hoje, irei surpreendê-la… sem
dúvidas!
 

 
Mais tarde, ao finalmente cair à noite, eu me arrumo
triunfante; visto um terno preto, com a camisa e sapatos da
mesma cor. Finalizo, penteando os cabelos para trás e
borrifando o perfume. Pronto, vou até o Lucas, que me
aguardava para me levar ao tal evento.
— Caprichou. — Ele faz uma cara de admirado. — Se a
sua intenção é chamar a atenção de todos, vai conseguir.
— Quando eu for apresentado pelo meu sobrenome,
chamarei mais atenção ainda.
— Não se preocupe, estaremos de olho em tudo, serei
o seu braço direito.
A paquita do diabo ri, tirando onda. E eu me controlo
para não puxar a arma e alvejá-lo.
— Ainda sei disparar com a mão esquerda. Cala essa
boca e dirige. 
Ele volta os olhos para a estrada, sem querer
continuar com o seu risinho debochado. Eu respiro fundo, só
tendo em mente a Jolie e a minha joia. Encontrando essa
tinhosa, também encontro o meu colar. Preciso que ela
realmente esteja lá, pelo bem da minha saúde mental.
O evento fica quase perto do hotel. Uns vinte minutos
de diferença.
— Cadê o convite? — pergunto.
— É uma pulseira — Lucas me entrega a pulseira
dourada.
Eu colo no braço e juntos, descemos do conversível. A
seguir, mais dois dos nossos homens surgem. Os três me
acompanham como seguranças particulares. A gente
caminha até a entrada, mostro a pulseira para uma mulher
ruiva e sou liberado. No interior, como Lucas previu, eu
chamo a atenção de todos, ainda mais com três seguranças
ao lado. Ninguém para de me olhar, até cochicham entre
eles. A música está bem alta.
Aproximo-me das bebidas e viro uma taça de
champanhe. 
— Que rápido, já tem um casal vindo até você —
Lucas informa e eu viro a cabeça, flagrando o casal que
realmente caminha até mim. — São os Souza. A segurança
deve tê-los informados da sua presença.
Eles param na minha frente, sorridentes.
— Olá, seja muito bem-vindo ao nosso evento de
aniversário. — A mulher estende a mão.
Eu não pego, mal me mexo para olhá-los com
atenção.
Eles pigarreiam.
— Fomos informados na recepção que é o Sr.
Calatrone, quero dizer, um deles… é uma honra um pouco
assustadora tê-lo presente entre nós. Sou Geovana e esse é
meu esposo, o Raul.
— Prazer em conhecê-los. Recebi o convite para o seu
evento. — Ergo o punho e exibo a pulseira.
— Recebeu? — Eles ficam surpresos. — Bom, alguém
deve ter mandado em seu lugar, para o senhor, mas nos
sentimos honrados… é um Calatrone, pessoalmente, diante
dos nossos próprios olhos, esse sobrenome é… — Eles se
olham retraídos. — Muito poderoso em Portugal. Não sei
nem o que dizer.
— Apenas agradeço a recepção — Sorrio, sabendo que
causei calafrios neles.
Todos aqui também ficariam em choque se eu
revelasse a minha identidade. Às vezes, esqueço do alto
nível que tenho entre esses milionários. É tudo tão normal e
simples no meu cérebro, só que na prática, nós, Calatrone,
causamos medo, arrepios e fábulas, onde somos agiotas tão
poderosos que, com uma “piscada”, conseguimos ordenar a
morte de qualquer um, em qualquer lugar. Também
inventam por aí que nos vingamos dos familiares, pegamos
as mulheres em troca de dívidas. Até de máfia eles nos
intitulam.
— Fique à vontade.
O casal pede licença e se afasta para dar atenção aos
outros convidados. Mas sei que estão de olho em mim.
Viro-me para o Lucas e ele entende o que desejo.
— Ainda não a encontramos.
— Quero um de vocês rondando o local.
Um deles concorda e sai para fazer o serviço.
Eu continuo no mesmo lugar, investigando cada rosto
feminino. Perco  a conta de quantas taças eu bebo para
controlar o nervosismo e ansiedade.
— Já estamos há quinze minutos aqui e nada dela. Eu
mesmo vou sair por aí a procura dessa bandida.
— Só cuidado com o outro braço.
Lucas ri e leva uma cotovelada forte na barriga, que o
faz fechar os dentes e perder o fôlego.
— Ri agora. 
Em meio a pequena briga com o idiota, eu ergo a
cabeça, arrumando o terno e então… puta merda, arregá-lo
os olhos, sem acreditar na bela mulher que estou vendo do
outro lado do salão.
Finalmente, porra!
Eu vou matá-la!
Lucas segura rápido o meu ombro.
Respiro fundo, quase ao ponto de voar descontrolado
para pôr as mãos no pescoço dela, mas me controlo. Preciso
surpreendê-la de outra forma. E por isso, solto-me, deixando
o Lucas para trás.
Caminho devagar, sem desviar os olhos de cada
passo e de cada movimento dessa mulher. Ela também
começa a andar, exibindo suas curvas atraentes, que
chamam a atenção dos homens.
Como pode ser diabolicamente bonita? Quem vê
assim até pensa que é doce, inocente e sensual na medida
certa. Só que é uma enganadora, falsa, manipuladora.
Não aguento e entro no meio de algumas pessoas,
cada vez mais perto de alcançá-la. Até que a Santa Diaba
vira despretensiosa a cabeça e finalmente me encontra.
Ela paralisa na mesma hora, fechando os lábios,
arregalando os olhos e deixando cair no chão, a taça que
acabara de pegar da bandeja do garçom.
Os músculos do meu corpo se endurecem, já o meu
sangue borbulha nas veias, de fúria.
— Sinto muito, senhorita, foi culpa minha. Eu cuido
disso...
Jolie dá passos atrapalhados para trás, conectada aos
meus olhos furiosos. Tendo a única alternativa de fugir, eu
deixo que ela fuja, pois a sigo como uma fera louca para
abater a sua presa inimiga. Ela se esbarra em vários
convidados, quase tropeçando nos saltos. Seu pior erro é
fugir para fora do evento. Alcanço-a sem muita dificuldade.
— Onde pensa que vai, Sra. Borghi? — Puxo com força
o seu braço.
Ela tromba no meu peitoral.
— Achei que fosse mais inteligente para correr de
salto na grama.
Jolie ergue a cabeça, analisando-me com os seus
olhos de cobra, sem remorso nenhum.
— É tão bom te ver, Rael… — Ao parar os olhos no
braço que me acertou um tiro, eu a sacudo e a prendo mais
forte em mim.
— Eu vou te matar!
— Tem todo o direito. 
— É claro que eu tenho!
— Estou nas suas mãos — sussurra e sopra a sua
respiração quente no meu rosto.
— É uma ordinária. Como pude me compadecer
cegamente de você? 
— Eu não tive escolha, se eu não tivesse atirado em
você, teria vindo atrás de mim e nós dois estaríamos nas
mãos da máfia.
— E fez isso por qual razão? Para depois fugir deles de
novo?
— Eu…
— Quer saber? Foda-se! Não confio em uma palavra
sua.
Vejo Lucas me observando na entrada do salão do
evento. Volto os olhos fulminantes para a Jolie e essa sua
beleza de causar ereções involuntárias.
Merda, o que estou pensando?
— Vai me dar o que roubou naquela mesma noite que
me feriu ou...
— Ou o quê? Vai me matar?
— E está duvidando?
Eu pego a arma, destravo e coloco apontada
discretamente na sua costela.
— É melhor começar a andar com um lindo sorriso
nesses lábios.
— Rael, você não pode me levar daqui, estou segura
com os Souza, eles…
— Cala essa boca e sorria. Vamos continuar nossa
conversa em outro lugar.
Ela fecha a cara com raiva.
A gente volta para dentro, escoltados pelo Lucas e
nossos homens.
— Tenho que me despedir da Geovana.
— Vai fazer isso por telefone, quando eu achar por
bem.
Não olho para a cara dela, levo-a até o carro blindado,
ainda tive que jogá-la no banco.
— Bruto!
— Cretina!
— Você foi uma maldição na minha vida! Eu devia
ter...
— Devia ter o quê? — Avanço nela, agarrando os seus
cabelos com força e a pressionando na janela dos
passageiros. — Devia ter mirado aquela bala no meu peito?
Lucas pisa no acelerador.
Ela se cala em meio a dor dos meus puxões nos seus
fios castanhos.
— É eu quem não devia ter te salvado naquele porto,
quando nos conhecemos. Pois o que eu recebi em troca? Um
tiro, traição e mentiras. Você é assim, cansei de perder o
meu tempo. Vai me dar o que roubou e depois vou desová-
la em alguma vala podre.
Solto-a, com a respiração acelerada de nervoso.
Jolie permanece com a cabeça na janela, sem
expressar um som sequer, a não ser da sua respiração.
Lucas continua dirigindo e seguindo para outro hotel
que combinamos de mantê-la presa e segura da máfia. Eles
não vão nos encontrar.
Em uma hora e meia a gente chega no local.
— Onde estamos? — Ela olha para mim, por mais que
estejamos no escuro, posso ter certeza de que está
buscando no seu cérebro alternativas de fugir.
Não a respondo, desço, dou a volta no carro e abro a
porta do seu lado.
— Desça ou eu faço questão de arrancá-la à força.
— Tudo é a base da força para você — desce e para
com o rosto a poucos centímetros do meu, fitando-me.
Jolie é muito alta, com os saltos ela fica quase na
minha altura. A porra de um mulherão de pernas longas e
torneadas.
— Com você será sempre assim, acostume-se. Não
vou ser mais o seu bom amigo.
— Que piada. Meu amigo porque eu determinei que
fosse. Para você nunca existiu amizade, os seus olhos
desejam outra coisa de mim, desde o começo que nos
conhecemos. Não é verdade?
Talvez fodê-la como um animal no cio e deixá-la sem
andar por uma semana? – penso, mas me calo e faço a
desgraçada sair rastejada, para entrarmos no hotel, pegar a
chave e subirmos para o último andar. Lucas também ficará
hospedado no mesmo corredor que o nosso, para a
segurança dela.
Eu entro no quarto, a empurro para algum canto e
então fecho a porta. 
— Animal! Para de ser bruto comigo, não é assim.
— Eu quero o que roubou do meu pescoço naquela
noite em que me feriu.
— Eu perdi, não tenho mais o colar.
— MENTIROSA! — tomo os seus braços e a sacudo. —
Você sabe o quão importante essa joia é para mim, você
sabe!
— Rael…
— ONDE ESTÁ, JOLIE??? DIGA!!!
— Por favor, está me machucando…
— Eu devia te matar! — empurro-a na cama. —
Cretina dos infernos!
— Não foi por mal o que eu fiz.
— Duas vezes que eu já depositei confiança em você,
na primeira vez, depois que te protegi, fugiu e na segunda,
atirou em mim!
Ela se senta na cama, arrumando a porra do seu
vestido decotado.
— Não estou com o colar, a máfia pegou, eu juro que
é a verdade. Está com eles em Lisboa. Eu fugi para Braga
sem nem uma peça de roupa sequer.
— Então voltaremos para Lisboa e eu te trocarei pelo
que é meu!
— Não, pelo amor de Deus, não faça isso! Os Borghi
vão me matar! — ela corre até mim, suplicando em
desespero. — Não pode fazer isso.
— Eu posso!
— Sei que está furioso comigo, com raiva, mas esfrie
a cabeça, por favor. Além de que eles podem nem te
devolver a…
— Cala essa boca, Jolie!
Quase ergo a mão para ela, mas dou um passo para
trás e passo os dedos trêmulos nos cabelos, na barba e viro
as costas, antes de cometer alguma besteira.
Saio do quarto sem mais querer olhar na cara dessa
mulher.
Lucas deixa um dos homens vigiando a porta e me
acompanha para fora do hotel.
— Precisa manter a calma.
— Eu estou calmo!
— Está é a cada dia mais idêntico ao nervosinho do
Hoss. Deve ser o mal dessas mulheres, nos enfurecer e nos
enlouquecerem — ele tira um cigarro do bolso, acende e me
oferece.
Eu pego, tragando bem forte.
— Faz tempo que eu não sei o que é colocar nicotina
na boca.
—  Fume só esse, não quero ser o responsável pelo
retorno dos seus vícios. Argus me castraria.
Trago mais um pouco do cigarro e jogo o restante fora.
— O que vai fazer com ela?
— Jolie disse que o colar está com a máfia em Lisboa.
Sabe o que isso pode significar?
— Eles não vão ser capazes de abrir o pingente.
— Não conhece esses filhos da puta. Eu devia estar
protegendo a joia, como prometi ao meu pai.
— E os outros Calatrone sabem?
— Só o Hoss sabe que procuro por um colar herdado
pelo nosso pai, porém, não sabe o porquê de ser tão
importante para mim.
— Pois acho que devia ligar para ele e contar a
verdade. Sua família vai estar louca te procurando.
— Está fora de cogitação. Vão querer se meter, fazer
perguntas. Preciso resolver isso sozinho e de uma vez. 
— Se quer assim, não posso fazer nada, a não ser te
proteger, afinal, também é o meu chefe. Só que agora, e
sobre a Jolie, vamos segurar a Borghi até amanhã na
cidade?
— Não sei ainda. Não sei nem se eu acredito
completamente na versão que me contou. Isa teve razão de
implicar com ela desde o começo, vivia dizendo que Jolie
era uma falsa, que estava me manipulando. As duas nunca
se entenderam. E eu não dei ouvidos a Isa, confiei na Jolie,
pois me compadeci do seu sofrimento, da sua história. No
final fui um idiota, um trouxa. 
— Concordo que foi um tremendo idiota. Porra, Rael,
ela é uma Borghi. Não devia se meter com a máfia. Ainda
mais com a viúva do primogênito assassinado. O chefão
está com sangue nos olhos para vingar a morte do filho.
— A Isa já repetiu esse caralho milhões de vezes. Eu
sei! Mas compadeci dela e do seu tal sofrimento. Ela foi
destinada desde que nasceu a ser esposa do Pedro Borghi.
— E o que tinha a ver com isso? Era até
compreensível você ter salvado ela naquele tal porto,
também ter a ajudado a fugir, agora tomar as dores da sua
vida? Por isso acabou com um tiro no braço. Sempre
querendo ser o salvador da pátria.
— Meu braço está ficando ótimo para acertar a sua
cara. E não pedi a sua opinião para nada — bato no peitoral
dele. — E vamos dividir o quarto.
— Hummm… está com medo de se render aos
encantos da ladra? — ele ri. — Pois a mulher é bonita, vou
te contar viu. Que curvas.
— É melhor você se cuidar, caro Lucas, posso não
resistir à tentação se virar de ladinho mais tarde — pisco e
ele me xinga. 
— Você está é louco para comer a viúva Borghi. Vou
apostar que até o final da semana transam.
— Se eu não matar essa cretina antes, talvez
compenso a minha frustração a fodendo. E vou ver como ela
está.
Só pode ser um pesadelo. Não acredito que o Rael me
encontrou. E como ele fez isso, sendo que nem a máfia
consegu3iu me localizar em uma semana? Que ódio.
Eu vou até a janela do quarto, com os punhos
cerrados. Respiro fundo, pensando no susto que foi vê-lo
naquela festa, fiquei sem reação nenhuma… nem quando
me alcançou, tocou no meu braço com as suas mãos brutas
e me tomou para ele, em fúria, soprando labaredas pelas
narinas. Desde que o conheci, nunca o vi tão bravo daquele
jeito, e justo comigo. Tá bom que eu dei um tiro no seu
braço, mas acontece, não é? Droga, ele tem todo o direito
de acabar com a minha raça. E isso é o que mais me
apavora, saber que o Rael é capaz, que ele mata pessoas
friamente. Eu o apunhalei pelas costas. Contudo, que
escolha eu tive? Já o meti demais com a máfia… a minha
“família”. Como detesto carregar esse sobrenome, detesto
todos os responsáveis que me obrigaram a tê-lo no meu
registro.
Agora, sigo mergulhando o Rael ainda mais no meio
dos Borghi.
Olho o meu reflexo pelo vidro, admirando a minha
beleza, os meus olhos matadores… frios. Às vezes nem eu
acredito no que sou capaz de fazer. Talvez seja egoísmo?
Medo? Solidão? Sobrevivência?
Não sei. Não me reconheço, ou nunca cheguei a me
conhecer realmente. Desde que nasci a minha família me
criou para ser a esposa de um mafioso. Tinha que ser assim,
eu fui o pagamento de uma promessa, a esposa destinada...
Escuto a porta do quarto ser aberta, mas não faço
questão de virar para olhá-lo e enfrentá-lo de novo. 
— Seria impossível pular dessa janela.
— Isso nem passou pela minha cabeça.
Não sei se ele está mais calmo. Desconfio que não.
— Preciso das minhas coisas, elas estão na mansão
dos Souza.
— Você vai ligar amanhã de manhã para eles. Peça
para embalarem seus pertences.
Resolvo encará-lo.
— E o que mais decidiu, Rael?
— Você ficará por dentro de tudo, conforme a
carruagem anda — ele observa o quarto. — Isso tudo é
consequência sua. Espero que tenha uma péssima noite de
sono.
— Péssima? Pelo contrário, minhas noites são sempre
ótimas. E achei que você fosse adorar dormir aqui comigo.
— Como se atreve a empinar a porra desse nariz?
— E o que queria? Deboche e sarcasmo são as únicas
coisas que eu posso usar até você me matar. Além do meu
orgulho e coragem.
Deixo-o puto. 
— Vou comprar uma focinheira para calar essa sua
boca. Como pode ser tão irritante? E não tem esse direito,
me roubou, é uma traíra!
— Já não estou aqui para você se vingar de tudo o que
eu fiz? — caminho até ele e paro desafiadora na sua frente.
— Juro que se o colar ainda estivesse comigo, eu te
devolveria.
— Mentirosa!
Rael me surpreende ao tocar numa mecha do meu
cabelo, aproximando o seu rosto selvagem do meu. Ele é
tão bonito, abrasador.
— Mas não vou sair perdendo nessa, Jolie. Tenho
muitos planos com você, antes de descartá-la.
— Planos que nunca foi capaz de me dizer? —
também chego mais perto do rosto dele, controlando-me
para não tocar na sua barba cheirosa. Noto que o deixei
rígido. — Planos que a sua cadelinha Isa te atrapalhava a
realizar comigo, não é?
— Eu devia ter a ouvido desde o começo. Isa tinha
razão sobre o seu mau-caráter.
Rael desliza o dedo indicador na pele macia do meu
braço. Quase perco o ar diante desse homem cheio de
músculos e beleza desconcertante.
— E por que não acreditou? — sussurro.
— Por que eu fui um imbecil por me compadecer da
sua situação? Se arrependimento matasse pelo menos.
Observo os olhos violentos dele. Sinto-o se
controlando para não avançar em mim e me devorar.
Também não evito analisar os seus lábios carnudos, a sua
barba grande e bem-feita.
— É você quem me quer, Jolie, desde o começo —
Rael sobe os dedos grossos para a alça fina do meu vestido
de gala. — Sempre me analisando com esses olhos
famintos… imagina seus pensamentos íntimos?
Minha respiração fica mais pesada, tento dar um
passo para bem longe dele, mas não tenho forças. Ele me
embriaga, deixa-me sem forças. 
Rael sorri e se afasta.
Permaneço parada, sem o calor do seu corpo, o toque
da sua mão na minha pele carente... sem ele.
— Ligue para quem precisa e peça as suas coisas —
estende o celular.
Ergo a cabeça e sem deixar me abalar, eu faço o que
mandou. E assim que finalizo a chamada, Rael toma o
celular da minha mão, me dá o seu último olhar de desprezo
e se retira do quarto. 
Bufo furiosa, tirando os saltos dos pés e jogando na
porta.
— VAI PARA O INFERNO, SEU OGRO!

Pela manhã acordo mais cedo do que gostaria (mal


consegui dormir). Fiquei no quarto umas 2h aguardando
novamente pelo Rael. Também esperando os meus
pertences, em particular a minha… nem termino os
pensamentos e ele surge, empurrando violentamente a
porta.
— Jolie!
Sentada na cama, eu cruzo as pernas e suspiro pela
sua presença cheirosa. Até olhar para a sua mão e o que
carrega com bastante desgosto.
— Que diabos é esse bicho!
— Ah, é a Lady. E não faça isso com a minha filhinha
— ergo-me rápida, evitando que ele soltasse a caixa da
Lady no chão, ainda com ela dentro. — Aliás, não sabe o
que é uma gata?
— Não me importa, você vai consumir com essa
praga.
Tiro a Lady da caixa e ela sobe no meu colo, com seus
pelos negros e brilhosos. Estava com saudades da mamãe.
— Ameaça de novo a minha gata e eu juro que corto a
sua língua e dou para ela comer!
— Eu quero a cada dia mais te estrangular!
Arqueio a sobrancelha e encaro os seus olhos bravos.
Quando nos conhecemos ele não era assim, tão nervoso ao
ponto de me empurrar de tobogã nos quintos dos infernos.
Pelo contrário, Rael me fazia rir com o seu jeito descontraído
e simples de ver as coisas. Para ele é tudo meio fácil de se
resolver, “é a gente que complica”. Pena que na prática não
é assim. Não para mim. 
— E por que não faz? Pegue a arma e acabe com a
minha existência. Não é você que vê tudo com facilidade?
Faça isso.
— Acha mesmo que eu vou acabar com a minha
vingança tão rápido? Quero o meu colar, depois decido o
que faço com você.
Eu ranjo os dentes e acaricio a Lady, que ronrona
satisfeita pelo carinho.
— E a sua vingança é me manter presa nessa
espelunca até quando?
— Não se preocupe, voltaremos para Lisboa amanhã.
— Amanhã? — arregalo os olhos. — Não podemos
voltar para Lisboa amanhã!
— Você não pode.
Deixo a minha gata na cama e avanço nele. Nem
penso nas minhas ações.
— Não vai fazer isso! Não posso voltar para Lisboa! —
quase bato no seu peito gigante, mas ele segura os meus
punhos e me prende contra a porta.
— Não tem esse direito de pedido, Jolie!
— Eu tenho o de querer ficar viva!
Meu fôlego sobe e desce, sem saber recuperar a
normalidade dos pulmões.
— Seu colar não está lá… eu menti.
Rael se exaspera, sufocando-me ainda mais entre a
porta e o seu corpo grande. Gemo de dor pela brutalidade.
— É claro que mentiu. Eu sabia. Não tem por que dos
Borghi ficarem com algo que mal sabem o valor. Você
jamais contaria a verdade para a sua adorável família de
mafiosos, pois os odeia. Não é, Jolie? 
Eu me calo e ele aperta abaixo dos meus seios, que
sobem e descem cada vez mais em busca de ar.
— Não percebe que depois do que fez comigo eu ando
tendo muita paciência com você? Por isso, não me faça
perdê-la completamente.
Ele inclina a cabeça até o meu pescoço e percorre sua
barba na minha pele. Arrepio-me tão intensa, que chego a
não sentir as pernas. Por alguns segundos agradeço por ele
estar me segurando firme.
— Onde está o meu colar?
— Quando eu fugi para Braga, estava sem um tostão
no bolso, não tive escolhas, o vendi.
Desta vez ele me machuca de verdade ao apertar o
meu corpo e me sacudir alucinado.
— Eu não acredito em você!
— É-é essa a verdade que eu não tive coragem de te
contar quando me encontrou. Sabia que reagiria assim,
senão pior.
Ele me solta e chuta a parede. Então mete o dedo
indicador na minha cara.
— Vai me levar até o infeliz que você vendeu o colar.
Arrume-se! Tem cinco minutos!
— Rael… — chamo-o, mas ele bate à porta.
Droga!
Só para sair dessa espelunca, eu nem penso, me
arrumo rápida; calça, regata, jaqueta, bota, boné e um
óculos escuros para não ser reconhecida na rua. Não duvido
que o Toretto tenha movido mares e terras à minha procura.
E como ordenado, em cinco minutos Rael apareceu
para me arrastar com ele e seus seguranças.
— Eu não tomei o café da manhã — reclamo, quando
a gente passa na frente do restaurante e o cheiro delicioso
de pão faz minha barriga se corroer de fome.
Rael não se importa comigo e continua o seu percurso
até o carro. Vamos sozinhos no veículo, só eu e ele. Também
fui praticamente jogada no banco dos passageiros. Do fundo
da minha alma, estou odiando ser tratada assim. Por mais
que eu mereça o desprezo por tê-lo ferido, poderia ser
menos violento. 
— Onde fica o endereço? — pergunta ao me olhar pelo
retrovisor.
Estou sentada no banco de trás.
— Eu não sei o endereço com exatidão, só sei que é
uma joalheria do centro. Se formos até a rua principal do
parque, eu consigo te mostrar.
Ele respira fundo e sem dizer mais nada, apenas vai
seguindo as minhas coordenadas. No local, Rael não deixa
que eu desça para acompanhá-lo. Ele coloca um tal de
Lucas para me vigiar. E, de propósito, eu sorrio para o
segurança, admirando o seu belo físico. O homem fica
desconcertado, o que me faz sorrir cada vez mais.
Pareço uma psicopata, mas adoro descontar as
minhas frustrações em homens assim. Meu ex-marido vivia
me cercando desses tipos de segurança. Eu fazia todos
comerem o pão que o diabo amassou. 
Alguns minutos depois o Rael volta da joalheria e
chama o Lucas para conversar algo. Observo os dois de
longe, sem conseguir decifrar o que dizem. Eles demoram,
discutindo e mexendo no celular, parece que estão
procurando alguma coisa. Quando terminam de discutir,
eles se separam e Rael vem em direção ao carro onde
estou.

 
— Então? — Lucas indaga.
— Mostrei a foto do colar para o joalheiro e ele
reconheceu a joia. Também afirmou que comprou de uma
mulher alta, de cabelos castanhos.
— Jolie disse a verdade, desta vez. Conseguiu o nome
do comprador?
— Tive que mirar uma arma na cabeça do velho para
conseguir essa  informação — tiro o celular do bolso e
mostro a rede social dele. — É esse cara aqui. Consegue
rastrear o endereço sem consultar o polaco azedo?
— Como assim? Sabe que ele é o único que podemos
recorrer agora, e com rapidez
— Que merda, eu preferia um tiro nos testículos.
— Se quiser eu poss…
— Mais um piu e corto a sua língua com um beliscão.
Ele ergue as mãos, rendendo-se.
— Você não vai melhorar mesmo esse humor “Hoss”
enquanto não recuperar esse colar.
— E não vou! Sabe o quão importante é para mim.
— Tem algo dentro do pingente, não tem?
Eu suspiro, sem querer afirmar nada no momento,
pois nem eu sei direito.
— Seu pai mandou você abrir?
— Não, apenas guardar até a hora certa.
— Quem manda alguém guardar um colar com o
pedido de “guardar até a hora certa''?
— Não sei Lucas, só estou fazendo, ou tentando fazer
o que ele me pediu à risca. Mas, se não percebeu, parece
que a porra do universo não está deixando.
— Primeiramente, você quem perdeu o colar.
— Dá para calar essa boca de hipopótamo, seu
trambiqueiro do cão? 
— É esse Rael que eu gosto.
Lucas pisca, querendo realmente ficar sem uns dez
pares de dentes.
— Cansei dessa sua cara, já não basta ter que
suportar a daquela mulher de nariz empinado, atrevida,
ladra, insuportável, gostosa… — resmungo.
— Eu ouvi, Sr. Calatrone. Não está é se aguentando de
vontade de fodê-la. 
— Como diriam no Brasil, vai catar coquinho! — sem
dar continuidade ao assunto, eu viro as costas e me retiro
da mesma presença que a do estrupício.
Retorno para o meu carro e desta vez, para a
presença perturbadora da Jolie. Ela não me pergunta nada,
permanece quieta durante o percurso todo. E acho até bom,
já que só a sua voz me deixa frustrado.
No hotel, ainda por pena e preocupação, levo-a para
almoçar. Sei que nem tocou no jantar ontem, deve estar
faminta.
— Obrigada… — ela agradece, após eu servir o vinho
em sua taça.
Volto a sentar no meu assento, sendo inevitável o
murmúrio de dor. Tirei a tipoia apenas para Jolie não ter o
gostinho de ver o que fez comigo há um mês e meio, e que
ainda doí essa porra. Tive que esconder da minha família o
tempo todo, nem sequer desconfiaram.
— Sinto muito, Rael — diz, sem nem encarar os meus
olhos.
— Você não sente coisa nenhuma.
— Eu não sou um monstro, sabe disso.
— Não sei de nada, eu não te conheço. E pelo que
tentei entender ou conhecer, você não vale a pena. Não
valeu nem os meus esforços para te proteger.
Ela ergue a cabeça, com o mesmo olhar frio, sem
demonstrar nada.
Por que essa mulher é assim?
— E você tentou mesmo me entender? Tem certeza
disso? Posso voltar ao início da história? — corta com força
a carne no prato, resmungando. — Tentou me entender…
sendo que estava sempre junto da cadelinha da Isa. Ela
preferia que você tivesse me abandonado à sorte naquele
porto. Você nunca tentou me entender! Pelo contrário,
ficava criando só suposições da minha vida  com a sua
amiguinha. Acha que eu não escutei as suas conversas com
ela? 
— Não tem nenhum direito de discutir isso, Jolie! Eu te
salvei da máfia, entendi a sua situação de querer liberdade,
e que não podia, porque era esposa do Pedro, também,
porque sabia demais. Por compaixão da sua situação, por
misericórdia de te matarem, eu te deixei segura por três
dias, até que fugiu. Recorda disso? Na segunda vez, você
conseguiu o meu número e me ligou pedindo para te deixar
segura de novo. O que eu fiz? O trouxa te ajudou por mais
uma semana, te mantive segura em um dos meus
esconderijos pessoais… até aquele sábado à noite, quando
a máfia te encontrou e você mirou uma arma na minha
direção. Sabe o que senti quando te vi apertando aquele
gatilho? A porra da dor no peito, pensei que tivesse
acertado a bala bem no lado esquerdo. Depois de ter
atirado com tamanha frieza, ainda teve a coragem de se
aproximar de mim, puxar o colar do meu pescoço e correr.
Não consegui reagir, fiquei ouvindo o som estridente dos
seus saltos sumirem. Só estava torcendo para morrer ali, de
tão idiota que fui de ter ajudado e confiado numa cretina
que carregava Borghi como sobrenome. Isa sempre teve
razão sobre você. Fui um tolo.
E de novo, diante do meu relato sincero, Jolie não
demonstra nada, nenhum arrependimento, culpa ou
qualquer coisa que torna essa demônia humana. Inclino-me
raivoso sobre a mesa, para ela ver como quero estrangulá-
la.
— Depois que eu conseguir o meu colar, que você
roubou, vou descartá-la do mesmo jeito que fez comigo.
— Que seja — é só o que declara, a seguir desvia e
começa a almoçar.
Isso me revolta tanto que eu dou um soco na mesa,
empurro o prato no chão e me levanto da cadeira.
Lucas aparece rápido, juntamente com os dois
seguranças.
— Rael… calma.
Ele me olha, enquanto eu respiro e suspiro como um
animal em fúria. Meus punhos estão cerrados, a adrenalina
faz cada veia do meu corpo pulsar.
— Assim que essa vadia terminar de comer, leve-a até
o seu quarto!
Sem conseguir mais olhar na cara dessa mulher, eu
saio do hotel e sumo! Desapareço o restante do dia, até
como umas putas para desestressar a porra do estresse!
Lucas me liga umas mil vezes. Ao anoitecer, sou encontrado
por ele na rua, enchendo o estômago de cachorro-quente.
— Que fossa… — ele se senta ao meu lado no banco.
— Fiquei preocupado, não atendeu nenhuma das minhas
ligações. Pelo menos passou a raiva?
— Tive que deixar o pau na carne viva para voltar ao
normal — respondo de boca cheia, sem me importar com a
boa etiqueta. 
—  É muito afetado pela Jolie, já percebeu? Sendo que
mal tem uma relação importante com ela. Quero dizer…
depois de salvá-la no porto e recuperar o colar, você a
protegeu por três dias, na verdade, quem ficou responsável
foi a Isa… aí ela fugiu, e semanas…
— Chega, Lucas, não sei o que quer insinuar, e não
me interessa no momento.
— Tá bom — ergue as mãos, em gesto de quem se
rende. — Ainda assim, a viúva do mafioso te afeta de um
jeito que nenhuma outra mulher fez. 
Não concordo, não discordo, estou cansado.
— Eu vou resolver isso. Só preciso do meu colar.
— Vince conseguiu a localização do tal homem que o
joalheiro vendeu a joia. 
— Onde? Quero todas as informações.
— Relaxa, amanhã só vista o seu melhor traje social,
tem um coquetel bem importante para ir às 09h.
— Ele vai estar lá?
— O cara é o anfitrião.
— Só para complicar mais.
Passo as mãos no rosto, coço a barba, então ergo-me
do banco para ir embora. Sem dizer nada, ele entende o
recado e me acompanha.
De volta ao hotel, eu e o Lucas subimos os lances de
escada, discutindo sobre a Jolie e o tal coquetel de amanhã. 
— Não é seguro levá-la, não quero os Borghi na minha
cola. Sabe do que eles são capazes de fazer.
— Certo. E?
— E o quê, já não fui claro?
— E o porquê de ainda querer conversar com ela uma
hora dessas?
— É a melhor hora, essa tarde fodi quatro mulheres,
estou mais controlado do que um buda em meditação por
meses.
Luca segura o riso.
— Fazer o que, querendo eu ou não é o meu chefe, só
estou aqui pela sua segurança.
— Ótimo, agora volte para o quarto, bate uma
punheta e larga de ser um chato de galocha.
— O que é chato de…
— Procura no google, estou sem tempo, meu caro.
— Calatrone… vivem com reis na barriga, tudo farinha
do mesmo saco.
Rolo os olhos.
— Juízo, estarei bem de olho.
Rolo os olhos de novo.
— Vai logo bater uma punheta com esse seu cotonete.
— Vou nem te responder.
No nosso corredor, Lucas entra no quarto e eu paro
diante da porta da Jolie. 
Sinto o sangue já borbulhar e o corpo transpirar fora
do normal.
Sem pensar muito, dou duas batidas na porta, já a
abrindo. Não ouço a sua voz, mas a vejo em pé, diante da
vista escura da janela. Está penteando os cabelos
castanhos.
E voltamos ao início…
— Achei que não queria mais me ver, pelo menos não
hoje — ela vira o corpo perfeito, enrolada no seu roupão
branco.
— E não quero mais.
Jolie cruza os braços e para perto da cama, sem
nenhum receio de me ver de novo.
— Não tem medo de mim, Jolie? Estamos sozinhos, eu
e você.
— Não, pois sei que não me machucaria. Se está
enfurecido, com raiva, ódio, eu mereço de certa forma. 
Ela me analisa do pescoço aos pés, torcendo o maxilar
ao retornar o olhar estranho para o meu.
— Que nojo, sinto daqui a mistura de um monte de
perfumes femininos e vagabundos, de quinta categoria.
— Andei fodendo algumas mulheres — não resisto em
me jogar na poltrona perto do abajur. — Algum problema
que te diz respeita por acaso?
— Nenhum, você faz o que bem entende com o seu
pau aí — ela empina o nariz. — Graças a Deus, as mulheres
têm apenas uma cabeça, e com cérebro.
Eu franzo o cenho para o seu comportamento agitado.
— É o mesmo papo do homem pensar com a cabeça
de baixo e blá, blá, blá. Não me cansa, Jolie.
—  Você invade o meu cárcere nessa espelunca e diz
“não me cansa, Jolie”? O que quer mais aqui? Já disse tudo o
que tinha para me dizer. Sei que me detesta, que eu sou um
demônio irritante. Agora deixe-me em paz até o veredito
que der sobre a minha vida!
Ela se exalta, indo até a cama puxar os edredons e as
almofadas arrumadas pelas camareiras.
Respiro fundo, querendo entender o motivo dela estar
se exaltando comigo, sendo que quem deveria estar assim,
com toda a razão, sou eu.
Mulheres são insuportáveis mesmo. 
— Você atirou em mim!
— E vai ficar chorando o tempo todo, igual um
bebezão?
Não, ela não disse isso!
Dou um pulo súbito da poltrona, avançando nela.
Jolie arregala os olhos, tentando correr, mas a alcanço
pelos cabelos e a jogo na cama.
— Você, caralho!
Eu subo em cima dela e prendo os seus punhos, que
tentavam me socar.
— Não me toque, solte-me seu cachorro, cre…
Tampo a sua boca com a outra mão.
— Olha que maravilha essa boca fechada!
— Humm — ela se sacode.
— Eu sou controlado, Jolie, sempre fui, até você cruzar
o meu caminho.
Não aguento sentir a palma da minha mão contra os
seus lábios macios e a sua respiração quente. Só que antes
de me afastar, distancio os dedos para acariciar a sua boca
carnuda. Jolie respira mais exigente.
— Você está tentando resistir — sussurra.
Meu coração acelera.
— Eu sabia que avançaria em mim se eu afetasse o
seu ego. 
Jolie aperta as coxas no meu quadril. 
Eu olho para baixo e o seu roupão aberto, revelando
as suas coxas grossas e expostas para o meu toque. Estou
posicionado para penetrá-la, por isso a pressão rígida na
calça é inevitável, também os pensamentos maliciosos de
como é estar dentro dela, envolvido pela sua intimidade
molhada. Tento focar no seu rosto deitado no colchão, mas
ela toca no meu peitoral. 
— Eu sabia que manipulava situações. É da sua
índole.
— Não me conhece, não sabe de nada.
— Não me interessa te conhecer — digo próximo ao
seu rosto.
— Rael… — geme. — Você foi o segundo homem que
eu pude estar tão perto assim — acaricia a minha barba. —
Em toda a minha vida.
Eu a fito, frustrado pelo meu corpo fácil, agora tão
duro como pedra. 
O que ela está dizendo?
— Não me importo se não acredita, não ligo.
Pela primeira vez eu vejo sentimentos nos olhos dessa
mulher.
— Nunca pertenci a alguém, apenas a mim mesma. 
— Diz isso estando nas minhas mãos? 
Jolie não responde, ela simplesmente suspira a minha
pergunta.
— Estou em tuas mãos… — ergue o rosto e roça seus
lábios nos meus.
Seguro firme a sua coxa, em posse e
desesperadamente excitado. Só de encostar na sua pele eu
incendeio.
— Não sabe o que está fazendo. Não me provoque!
— Eu sei muito bem o que estou fazendo… desde o
começo.
— Não faça isso!
Não consigo impedir que ela puxe a corda do roupão.
E paraliso com a visão dos seus peitos fartos, de mamilos
rosados e pontudos. Eles são enormes, lindos, acho que
nunca vi tamanha perfeição, não é possível. Meu corpo,
minha cabeça, tudo enlouquece. Essa mulher vai me matar.
Não respondo mais por mim, jogo ela contra os travesseiros
e caio de boca nos dois manjares.
Ela geme, se deliciando alto com a minha língua
habilidosa. Eu a devoro, louco, frenético. Estou diante de
algo que nunca toquei ou provei igual. Sugo quase enfiando
tudo na boca, mas não cabe, são enormes, lindos.
— Ahh Rael, é muito melhor que nas minhas fantasias.
Humm, muito, muito melhor.
Chupo os mamilos, mordo os bicos duros, bufando
como uma fera. Olho para ela se contorcendo de prazer.
Meu pau lateja com suas reações, querendo explodir dentro
da calça.
Como isso pode estar acontecendo? Eu fodi quatro
mulheres hoje!
Pego os seios e junto diante do meu rosto,
intercalando as lambidas e as mamadas. Os dois se
balançam esculturais. Não sei o que faço, não sei, estou
maluco. 
— Rael! — Jolie curva as costas, chamando-me em
desespero.
Não paro, não posso, é impossível. Cada apalpada,
cada mordida, é pouco, é insaciável, preciso de mais.  Até
que em meio a ferocidade da minha ensaieis, explodo
dentro da calça, sem nem ter entrado nela, sem nem sequer
ter sentido o seu toque em mim.
Jolie não nota que me fez gozar, mas nota que
desacelerei. Ela toca nos próprios peitos, querendo que eu
continue a mamando. Já está toda marcada pela minha
boca.
Não sei o que eu faria com ela se eu não tivesse me
acabado de gozar essa tarde. Mesmo assim, despejei por
Jolie e continuo duro.
— Não pare… — geme.
Ela me olha excitada. Não deixo que desvie. Percorro
os dedos pela sua barriga, descendo lentamente até o seu
ventre, mas no cós da calcinha eu luto contra os meus
próprios impulsos sexuais e me afasto.
— Rael, não! — ela se ergue e puxa a minha camisa.
— Por favor.
Eu olho para o seu corpo, querendo muito essa
mulher, mais do que posso imaginar. Só que não pode ser
agora, não pode ser hoje. Tem que ser no último dia que ela
for embora, pois terei a certeza de que nunca mais a verei,
será o fim desse desejo fora do normal. 
Ela é perigosa demais para mim, eu sei disso.
Afasto com brutalidade o seu braço.
— Eu te causei tanta repulsa assim?
Isso é até uma ofensa. Eu a quero, a quero
perdidamente. Porém, não respondo a sua pergunta, ela
merece ficar à deriva.
Viro as costas, sem querer mais olhá-la… e não
conseguir resistir a sua beleza, o seu perfume, o contato da
sua pele perfeita. Ainda sinto a sua maciez nas minhas
mãos e a saudade de tocá-la...

 
Rael bate à porta e eu continuo deitada na cama,
olhando para o teto e revivendo a sensação de ter a sua
boca em mim, devorando-me. Nunca fui, literalmente,
“devorada” desse jeito, esse homem é perfeito. O que está
fazendo comigo? 
Também não é possível que eu cause repulsa nele, sei
que queria transar comigo, saiu daqui desejando muito
mais, só que resistiu.
— Ahh Rael… — toco na minha boceta, molhada por
ele. — Você é tudo que eu sempre quis...
Masturbo-me sozinha, por horas, arfando,
contorcendo-me e gozando com os dedos. Assim que
levanto, me limpo e volto a minha solidão, sem ninguém,
como sempre foi. Exceto que agora tem esse homem nos
meus pensamentos. Respiro fundo, igualmente pensando no
dia seguinte. Mais um dia presa nesse inferno de espelunca.
Só espero que o Rael não encontre o colar tão cedo.
Como previa, na sexta seguinte, eu e a Lady ficamos
presas no quarto. Recebemos o café e só. Nenhuma notícia
sobre o Rael me tirar daqui, entretanto, o segurança disse
que ele saiu para algum lugar importante. 
Talvez tenha encontrado o comprador da joia.
— Acho que ele encontrou sim, Lady — eu a acaricio,
enquanto adormece no meu colo. — Mas não é o fim para
nós. Rael não pode se livrar de mim.       
Cada vez mais morrendo de tédio por ficar sem nada
para fazer, eu começo a bater na porta, querendo sair desse
inferno. Sou capaz de demolir as paredes.
O segurança abre a porta, com cara de cachorro
raivoso.
— A senhorita poderia se manter quieta?
— Um não responderia a sua pergunta? — sorrio tão
maldosa que ele desvia de mim. — Onde está Rael? Já vai
dar o horário do almoço e estou aqui, presa!
— Ele logo vai chegar, volte para dentro e… — no
momento em que ia terminar a frase, o celular dele toca no
bolso e ele se interrompe para atender a chamada. 
Parece bem nervoso com a ligação. Só sabe responder
“sim”, “sim senhor”, “sim, entendi”.
Ao desligar, o segurança se dirige rápido a mim.
— Aqui não é mais seguro, precisa pegar as suas
coisas para irmos embora.
Aleluia. Uma notícia maravilhosa, vou sair dessa
espelunca cheia de baratas.
— E por quê? Aconteceu alguma coisa grave?
— O Sr. Calatrone te dirá na hora certa. Arrume as
suas coisas e coloque aqui na porta.
Passo por ele e o cara me barra.
— A senhorita tem que…
— Eu já fiz isso, está tudo pronto em cima da cama —
passo a mão no peitoral dele e ele fica em choque, sem
saber como reagir. Adoro causar pane nos cérebros
inexistentes dos machos. — Só tome cuidado com a minha
gata, entendeu? Seja bem cuidadoso. Ela fica um pouco
agitada ao ser carregada na gaiola.
Pisco para ele.
— Agora pode me levar para onde o todo poderoso Sr.
Calatrone ordenou.
O pobrezinho demonstra dificuldades ao voltar os
movimentos do corpo, mas ele consegue criar forças e pede
para que o segundo segurança me leve embora, já que o
próprio cuidaria das malas de todos. E sou levada, mas não
sei para onde. Depois de ter descido no térreo e entrado no
carro, permaneci quieta, pensando no motivo de terem me
tirado às pressas do hotel.
Será que a máfia descobriu a minha localização? Só
torço para que não seja isso, pelo bem do Rael e de todos.
Eu toco nos meus dedos, nervosa pela minha mente
que não para de pensar. Observo também o caminho que o
segurança faz, ele está me levando para o meio do NADA. 
— Para onde estamos indo?
Ele não responde.
Será isso? O Rael vai cumprir a sua palavra de me
matar e me desovar em qualquer buraco?
— O infeliz é mudo? Eu perguntei para onde estamos
indo!
— Ao encontro do Sr. Rael. Só mudei a rota por
segurança — então responde e meu coração dá uma
desacelerada brusca.
— Muito bem, era só ter respondido isso, antes de eu
repetir a pergunta.
Noto o pobre apertando o volante. Como é prazeroso
irritá-los.
Demoramos cerca de vinte minutos para chegar ao
destino, a estação de comboios de Braga.
Vamos fugir de trem? Agora para onde?
Não faço perguntas ao segurança, deixo que ele me
leve para a linha que Rael, Lucas e uma mulher me
aguardam. Eles notam a minha presença de longe e quando
eu chego mais perto, reconheço a mulher, ou melhor, a
cadelinha ao lado do Rael. Eu desfilo ainda mais sensual,
com os meus saltos e o meu vestido bem colado ao corpo.
Os dois não desviam os olhos de mim, enquanto Isabel me
fuzila de inveja. Essa tem que engolir muito caviar para
chegar aos meus pés.
— Bom dia… — digo, ao parar na frente deles.
E nossa. Perco o ar com o Rael. Ele está vestindo um
terno muito chique, os cabelos penteados para trás, a barba
bem aparadinha e não preciso chegar mais perto para ter
certeza de que está irresistivelmente cheiroso. Que ogro
perfeito.
— Bom dia, Borghi — Isa responde, ao me olhar de
frente.
Mas não faço questão de dar a ela importância. 
Desvio para o Rael. 
— Por que me tirou tão depressa daquele hotel?
— Na cabine conversaremos melhor. Precisamos
entrar logo.
— Eu vou esperar as malas, o trem vai partir daqui a
quinze minutos.
— Certo, qualquer pessoa suspeita que avistarem, me
avisem por mensagem.
Após se despedirem, Rael sinaliza para que eu entre
no trem. Mas ao caminhar, esbarro “sem querer” na
cachorrinha.
Ela tenta revidar, mas Lucas segura o seu braço.
— Não vale a pena, Isa.
— Essa desgraça tinha que morrer!
Rael pega na minha mão, desta vez me arrastando
impiedoso com ele.
— Não precisa ser deselegante! — no corredor, entre
as poltronas, eu puxo a minha mão da dele.
— Sente-se na quinta poltrona… — resmunga.
Sigo para o meu lugar perto da janela. E noto o vagão
vazio, sem mais nenhum passageiro, além de nós.
— Como é possível não ter nenhum passageiro?
— Eu comprei todos os outros bilhetes — responde ao
sentar-se ao meu lado.
É óbvio, ele é milionário.
— Então? — indago, sem encará-lo, estou observando
a janela.
— Hoje recuperei o colar que roubou de mim.
Eu aperto os olhos, com um sentimento horrível,
quase destruindo o meu coração.
— E agora, o que vai fazer comigo? — resolvo virar a
cabeça e encontrar as suas íris escuras.
— Muitas coisas, antes de descartá-la.
— Não poderia só me “descartar” em Braga?
Ele passa a mão no rosto, tentando esconder como
está estressado. E como isso foi sexy, fiquei tentada a tocá-
lo.
— A máfia sabe que você está aqui.
— E resolveu me salvar, mesmo depois de recuperar o
seu colar?
— Eu não estou te salvando, Jolie! Quero que você se
foda! — esbraveja, demonstrando o seu descontrole
emocional.
— E para onde está me levando?
— Porto. 
— Lá você vai me deixar sozinha? 
Ele não responde, em vez disso, chega mais perto de
mim.
— Você é um perigo, uma bomba relógio para todos
nós. Sabe muito bem do que a máfia é capaz de fazer. É a
viúva de Pedro Borghi, eles jamais te deixariam livre.
— Mas eu quero ser livre, não importa se eu tenha
que fugir para outro continente. Você não entende, não
sabe de nada. Não suporto mais a máfia. Nunca escolhi
nada disso, fui obrigada a me casar aos 15 anos com o
Pedro! Fui o objeto penhorado que os Borghi tomaram
quando me tornei mulher. 
Rael mal se mexe, seu olhar está fixo e incrédulo.
— E realmente tenho razão, não me conhece… —
sussurro e de novo viro a cara para o vidro.
Ele não fala nada, nem dez minutos depois, quando o
trem começa a se mover.
Respiro alto, inquieta.
Rael também respira alto, inquieto e chamando a
minha atenção. Não evito o desejo de olhá-lo. E olho.
— O que foi? — arqueio a sobrancelha.
— Talvez seja fome? — indaga, todo rabugento.
— Você com fome é insuportável.
— Depende da fome que estiver se referindo.
Eu olho para a calça dele e arregalo os olhos para o
volume enorme do seu membro. 
Imediatamente o calor sobe entre as minhas pernas e
me faz pulsar.
— Você que é uma porra insuportável, Jolie — Rael
arruma a sua ereção, que com certeza está lhe causando
dor. — Ergue esses olhos — ele manda, mas não faço, de
propósito continuo mapeando o seu pacote evidente.
Fico olhando e imaginando eu abrindo o cinto… a
braguilha... o botão da calça e mergulhando os dedos até o
destino que vai me dar muito prazer. Pelo que estou
deduzindo, Rael é bem-dotado.
De repente, ele leva a mão grossa no meu rosto e
ergue o meu queixo.
— Está me vendo e pensando em ontem, nas
chupadas que dei nos seus peitos?
— Não, estou pensando no arrependimento, seguido
da frustração por não ter me comido, sendo que eu estava
quase nua, só de roupão para você.
Rael afasta rápido a mão, controlando-se para não
fazer algo impiedoso comigo.
— Eu quero o mesmo, Rael. Dei-me isso e pode ir
embora, já tem o seu colar.
— Por que, Jolie?
— Porque eu te desejo me comendo.
— Mas que inferno, estou tentando lidar com o meu
autocontrole para não te foder aqui.
— Eu sei, desde que me viu pela primeira vez deixou
isso bem claro. Suas vontades são gritantes.
— Nada diferente da sua, mas quero saber o porquê
daquela noite.
— E vai acreditar em mim?
— Só espero que tenha uma boa razão.
— Você. 
Rael até senta direito no assento.
— Eu?
— Eles iriam te matar e se eu não tivesse feito aquilo,
atirado no seu braço, teriam entrado no esconderijo e o
executado sem pensar duas vezes. Só que não fugi, na
saída me rendi aos homens dos Borghi e eles me levaram
de volta para a mansão. Fiquei presa naquele inferno por
dois meses, até a última semana, quando consegui fugir de
novo. Cheguei em Braga sem um tostão sequer.
— A parte do colar que não se encaixa em nada.
— Se encaixa sim, eu o vendi para sobreviver em
Braga. Vim para cá porque demoraria para a máfia
descobrir, além de que eu conhecia os Souza.
— Então, depois que me feriu, olhou para o chão onde
eu estava agonizando, o colar no meu pescoço e já pensou
no seu futuro, em vendê-lo para fugir?
Eu não o respondo… pois como eu vou dizer que fiz
isso, que manipulei tudo só para ele vir atrás de mim... para
não me deixar? 
Jolie permanece em silêncio. Eu me ajeito
desconfortável na poltrona, ainda sem saber o que fazer
com essa mulher. Não entendo o porquê de me sentir tão
responsável por ela, sendo que a própria me traiu e me
roubou. A parte do colar não se encaixa, o motivo de ter o
levado. Lembro de ter lhe dito uma vez que ele era
importante para mim, por ser algo herdado do meu pai -
não entrei em mais detalhes. 
Também sei que a Jolie é uma vítima de máfia, tudo o
que está fazendo é para ser uma mulher livre. Todavia, isso
vai ser impossível, eles vão caçá-la até no inferno e eu vou
junto, se continuar perto desse furacão ambulante, que me
deixa em brasas. 
— Falta meia hora para chegarmos — aviso e ela vira
a cabeça, com seus lindos olhos castanhos.
— Parece que estamos aqui há mais de duas horas.
Você nem cochilou?
— E tem como? — questiono concentrado, observando
os traços bonitos do seu rosto.
— Está cansado, Rael.
— Como se importasse de verdade.
Ela franze o meio das sobrancelhas.
— Você pensa que eu sou o que, por acaso, sem
sentimentos?
— Eu me surpreenderia se tivesse um coração
batendo nesse lado esquerdo do seu peito.
— Não acredito nisso! — ela vira rápido para mim,
brava e quase me dando um tapa, mas nem ousou. — Eu
tenho coração sim, seu… idiota!
— Ah é? Essa foi a melhor piada do dia.
— Para de ficar me julgando pelo que eu fiz com você,
não foi por mal. Pois acredite, se eu quisesse te matar eu
teria feito, sou ótima com armas e defesa pessoal. 
— Não acredito que a máfia te ensinou a usar armas. 
— Não ensinou, aprendi após persuadir um dos
homens dos LosBor a me ajudar. Só que depois de algumas
aulas ele tentou se aproveitar de mim. Pedro soube de tudo
e o torturou por uma semana inteira, como punição,
também me levou para ver o que estava fazendo com ele…
matando-o aos poucos, sem piedade e sem misericórdia. 
Eu fico nervoso por ela, seus olhos estão frios e
distantes. É como se estivesse contando uma historinha
simples que viveu e que não a afeta mais.
— Por que quer fugir dos Borghi? Isso é loucura. 
— Eu já te disse, não foi a minha escolha me casar
com o Pedro. Não tive escolha de nada, desde que
nasci. Agora que ele morreu, quero me libertar.
Eu puxo a mão da Jolie, a mão mais macia que senti
em toda a minha vida. Ela é perfeita demais, não consigo
parar de repará-la.
— Rael… — Jolie leva um choque, fica sem ação. —
Não está fazendo isso.
— Pegando na sua mão?
— Deixando-me excitada. 
Porra, eu aperto os dedos dela e abro mais as minhas
pernas, para tentar afrouxar a calça apertada. Estou
enrijecido como uma tora. Minhas bolas latejam doloridas.
Jolie observa o que me provoca, seu jeito é calculista
e manipulador. Não moveu nem um dedo para me encostar,
e se fizesse isso eu pegaria fogo, entraria em combustão.
Estou suando de calor. E ela sabe, ela até parou o assunto. 
Solto a sua mão, tentando contar até dez.
Um - preciso fodê-la, dois - preciso comê-la, três -
preciso devorá-la.
Minha contagem me deixa ainda pior.
— Estou te devendo por ontem, não estou? — fala
sensualmente com seus lábios vermelhos.
— Pois me pague Jolie! — exclamo, já pronto para
cometer uma loucura.
— Ou?
— Ou eu dou um tapa bem ardido nesse seu traseiro!
De repente eu puxo a mão dela de novo, agora para
colocar sobre o volume do meu pau. Jolie geme,
aproveitando na mesma hora para me apertar e sentir a
minha dureza ereta.
— Faz meses que o imagino… — ela se inclina sobre
mim e coloca a cabeça no meu ombro. É a minha vez de
gemer com o seu toque, a sua aproximação e o seu
perfume. — Imagino como é o seu pau e se eu seria capaz
de fazê-lo gozar.
E ela ainda acha que não é capaz? Só a sua menção
de existência já me fez gozar. Ontem foi a prova disso.
— Pois não tem um segundo que eu não imagino a
minha boca devorando a sua boceta… a língua percorrendo
o seu clitóris… sentindo o seu gostinho.
— Rael...
Ela abre vagarosamente o cinto, a calça, a braguilha e
desliza a mão suave para o calor do meu membro.
Assim é judiação, é um sonho prazeroso que não
quero acordar.
— Encontrou a cobra? 
Ela sorri, sem nem perceber que fui eu mesmo, o Rael
que nunca perde a piada. 
— Encontrei, mas saiba que não tenho medo de pegá-
la.
— Muito corajosa.
Jolie brinca com ele dentro da boxer. Percorre os
dedos pelo meu comprimento latejante, enrijecido,
acariciando-o e alisando na glande sensível.
Seguro-me para não explodir.
— Se isso entrar em mim, vai me deixar sem andar. 
— Se essa não for a intenção, eu não sou digno de
tamanho dote.
— Nem se acha.
Ela afasta a mão, porém, seguro-a.
— Planeja a festa e não aguenta ir até o fim?
Jolie sorri, maldosa. Um sorriso que me faz desejar
beijá-la. Nunca a beijei, não sei como é o gosto desses
lábios. Agora necessito saber.
— É com pesar que estou me vingando por ontem,
deixou que eu terminasse a minha festinha sozinha, só com
os dedos. Não é justo, não é?
Sem respondê-la, permito que se afaste. E ainda mais
frustrado por não conseguir liberar a droga do tesão
acumulado, começo a murmurar, enquanto fecho a calça.
Tento também não olhar para a mulher gostosa ao meu
lado, o motivo das minhas frustrações diárias. Fico contando
os minutos para chegarmos na estação do Porto. Lucas e Isa
vão me encontrar no local combinado, os dois resolveram ir
de carro.
— Estamos perto — ela fala ao apontar para a
estação. 
Graças a Deus.
Ao chegarmos, desembarcamos rapidamente. 
— Você vai me fazer cair dos saltos.
— Precisamos entrar em algum táxi.
— Então espera, por favor, preciso arrumar o vestido.
— Não!
— Espera!
— Seja rápida!
Eu viro brusco e ela bate contra o meu peitoral.
— Ai, seu brutamontes! 
Jolie se abaixa e ergue mais o vestido apertado. Seu
corpo é um paraíso, uma alucinação. Que tortura, o que eu
fiz para merecer isso?
— Está vendo como ele é apertado? Vamos devagar.
— Agradeça por estarmos em público, caso contrário,
eu o rasgava no seu corpo.
— O quê? — deixo-a com a boca aberta e volto a
caminhar para fora da estação.
Consigo encontrar um táxi na frente. A gente entra e
passo a localização para o motorista.
— Para onde estamos indo?
— Minha família tem uma casa segura aqui no Porto. 
A casa não é muito longe do centro, em menos de
meia hora a gente já está na frente da residência de dois
andares. Descemos, pago o táxi e chamo a Jolie para entrar.
Ela está deslumbrada pela beleza do oceano atlântico
cercando os arredores do terreno.
— Uau, que lugar mais acolhedor. A casa é linda.
— Faz um ano que eu e a minha família não viajamos
para cá.
— Vocês são muito unidos, não são?
Assinto para ela, que agora, após entrar na casa, está
explorando a decoração do lugar. 
Fecho a porta, não deixando de garantir que estamos
sozinhos.
— Eu nunca tive isso… família. Deve ser bom ter
pessoas que se importam de verdade com você.
E de novo, ela fala esse tipo de coisa com a maior
simplicidade, sem perceber que as suas palavras foram
como uma segunda facada nas minhas costas. Elas me
afetam. Não posso me deixar compadecer pela Jolie, não
posso. Meu desejo, minhas vontades, tudo não passa de um
acúmulo de tesão. E já tenho o colar, devo abandoná-la em
breve.
— Vou pedir comida para nós — digo e vou para a
sala, pegar um pouco de conhaque, para realizar o pedido
no meu restaurante preferido da cidade.
Observo a Jolie de longe, tirando os saltos e o casaco.
Meu caralho volta a endurecer. Seu vestido é branco, justo
até os joelhos e decotado nas costas. 
— Apreciando-me?
Ela vai até o outro sofá e se senta, cruzando as
pernas.
— E quer que eu diga o quê? — questiono-a, após
fazer o pedido.
— Que eu sou muito gostosa? É fato que deixo os
homens babando pelo meu corpo. Seus seguranças
pareciam cachorros babando por mim.
— Seu convencimento pode ser o seu maior defeito.
— Não sou convencida, mas orgulhosa de mim. Eu era
extremamente fora do peso “normal” e era humilhada por
conta disso. Mas dei a volta por cima — Jolie se ergue e vai
até a prateleira de bebidas, servir-se do mesmo conhaque
que peguei. — Pedro morreu sabendo que eu fui muito
desejada, pelo contrário do que me dizia e me… —crespira
fundo, parece com raiva. — Enfim, um brinde por eu ser
uma puta gostosa. 
Eu me levanto, até mais rápido do que pensei. Jolie
vira o copo num gole generoso e mal percebeu que eu já
estava na sua frente.
— Isso não é alucinação do conhaque — declara ao
me fitar. — Não, não é — ela toca no meu peitoral forte, que
sobe e desce, junto da respiração ansiosa, desesperada
para possuí-la.
Então mergulho os dedos nos cabelos da sua nuca,
jogo a sua cabeça para trás e lambo o seu pescoço. Jolie
geme. Com a outra mão eu acaricio os lábios da sua boca
sedosa.
— Me beija, Rael… — ela alisa a minha barba, o meu
rosto e igualmente puxa o meu cabelo. — Me beija agora!
Nem penso duas vezes, empurro-a para trás,
prendendo-a na coluna e finalmente sinto o sabor da sua
boca macia. Beijamo-nos de forma devassa, libidinosa. É
ardente.
Forço a Jolie ainda mais contra o meu corpo, para
sentir toda a minha masculinidade em forma de ereção.
Minhas mãos não param quietas, começo a beijá-la mais
faminto, conforme mapeio as suas curvas deliciosas. Desço
os dedos na pele das suas costas nuas, até a curva da sua
bunda avantajada e aperto as duas nádegas sem pena.
— Ahhhh! Merda… — resmunga de dor, não por muito
tempo, pois volto a preencher a sua boca com a minha
língua necessitada.
Não quero nunca mais parar de beijá-la. Nunca senti
satisfação igual.
E não é possível que esse seja o melhor beijo da
minha vida… de anos. Ontem mesmo não beijei umas
quatro mulheres naquele puteiro em Braga?
Em meio aos meus pensamentos, Jolie cria forças para
me empurrar no sofá. Eu caio sentado. Ela avança de
pernas abertas no meu colo.
Mais que… paraíso!
— Foda-se tudo, Rael, quero o seu pau dentro de mim!
— Tudo tem um preço — dou um tapa gostoso no
traseiro dela. 
— Minha boceta já vai pagar um preço muito alto com
o seu mastro bem-dotado me fodendo. 
Jolie rebola exigente na minha ereção pulsante na
calça. Chego a fechar os olhos, para me concentrar. Ela me
deixou pré-ejaculado só de se esfregar. É maravilhoso sentir
a sua bocetinha se friccionando assim, indo e vindo gostoso.
— Será que eu vou ter que tomar a frente tudo,
homem?
— Um beijo e você rebola à vontade. 
Acaricio as suas coxas, sem crer no mulherão que
tenho sobre o meu poder. Como desejei isso, como me
masturbei pensando nesses momentos. 
Ela nega e escorrega as mãos pelo meu abdômen
definido.
Oponho bruto o meu tronco e ficamos cara a cara. 
— Fode comigo… — sinto a sua respiração quente,
seus lábios abrindo aos poucos, o hálito sabor conhaque —
Fode, Rael!
— Ainda vou me vingar pelo que fez. 
— Faça o que quiser, eu sou toda sua.
— Não diga isso, Jolie, não diga! — afundo a mão
entre as suas pernas escancaradas, querendo-a mais do que
tudo no mundo. E quando a sinto molhada por mim, é meu
fim. Que boceta perfeita, lisa, macia e sedenta por minha
rola a arrombando
— Eu sou sua.
Não, não! 
Pego no seu pescoço, abro a calça e solto o meu
caralho pulsante para fora, ele saltou enorme, com as veias
inchadas, a cabecinha vermelha e babenta. Nunca senti
tanta dor nas bolas. Jolie tenta abaixar a cabeça para me
ver, mas não permito!
— Você não é minha, Jolie! Jamais vai ser! Não a
quero!
Ela ri, debochando do que eu disse. Isso é o limite de
tudo. Aperto ainda mais forte o seu pescoço, quase a
enforcando. Perdeu até o ar.
— Veremos em breve, quando abandoná-la.  
Afasto a sua calcinha, para sentir os seus lábios da
vagina, lisinhos e lubrificados. Ela arfa e aperta os peitos
presos pelo vestido. Eu massageio o meu pau, olho a olho
com ela.
— E-eu quero vê-lo... quero tocá-lo… — gagueja.
— Não merece.
— Por favor — ela se desespera com a cabeça do
pênis a pressionando na grutinha apertada. Sua xaninha até
contraiu forte. — Desgraçado!
— Xinga mais, xinga…
Começo a penetrá-la, lentamente, centímetro por
centímetro. 
Jolie abre a boca e geme mais alto.
Também libero por completo a mão do seu pescoço,
deposito as duas nos seus quadris, sustendo-a para não
sentar de uma vez. Ela tem que sentir eu a rasgando bem
aos poucos, como se não houvesse fim.
— Rael!!! — geme, sem forças para respirar.
— Quer mais fundo, Jolie? Pede aqui para o
desgraçado.
— Hummm… ma-mais fundo! 
— Por favor? Pelo amor de Deus?
— Eu vou te matar! Por favor! Pelo amor de Deus!
É a minha deixa, vou mais fundo, permito que a
cabeça do pau escorregue todo para dentro.
Ela finca as unhas nos meus ombros. 
Respiro acelerado, sufocado.
— Rael… — chora, ao sentir que estou todo dentro
dela.
Não me apavoro, pelo contrário, aprecio essa mulher
se contorcendo de prazer/satisfação. É uma tortura
deliciosa. Jolie se segura, descendo e subindo devagar, para
se acostumar com a grossura e o tamanho.
— Você é um cavalo, não é possível... — suas palavras
são blasfemadas em meio às lágrimas.
Eu mordo a boca dela, sem tempo para deixá-la se
acostumar com o meu pau a arrombando. Movo os seus
quadris, dando o começo da dança da sua cintura. E Jolie se
incorpora, investindo nas reboladas mais ferozes.
Que coisa de outro mundo!
Isso é mil vezes mais torturante. No meu caso é um
canudo cheio de leite até o talo, onde a minha obrigação é
não deixar que exploda! Inferno mesmo de ejaculação
precoce é essa mulher. É isso, deveria nomeá-la de minha
ejaculação precoce. E ela mal notou o quanto estou louco,
gemendo o seu nome e pressionando o seu traseiro
empinado, conforme quica e rebola, acabando comigo. 
— AHHH!!! HUUMMM!!!
— Rebola, Jolie, quica gostoso com essa boceta — falo
baixinho na sua orelha.
Bato na sua bunda, estimulando a ir cada vez mais
rápido, pois não vou aguentar mais.
E não posso mais aguentar, já estou suportando
desde que a vi e a coloquei em meus sonhos eróticos. 
— A camisinha… — resmungo puto entre os dentes ao
liberar as jatadas fortes de esperma. 
Jolie para ofegante, gemendo estremecida. Também
está gozando. Perdeu as forças, mal consegue abrir os
olhos. Já meu peito está suado. Transpiro o cheiro do nosso
sexo.
Como pude esquecer da camisinha? Sou um miserável
mesmo. 
Meu pau continua duro dentro dela, pronto para
treparmos de novo, até deixá-la sem andar, mas a
campainha toca. É a nossa comida.
— Rael… — fala, quase sem ar.
Eu fico hipnotizado ao olhá-la assim, com os cabelos
desgrenhados, o vestido amontoado na cintura, a boca suja
de batom, os lábios inchados pelo meu beijo e com a cara
suplicando por mais prazer.
— É uma delícia sentir o meu pau melado dentro de
você — murmuro ao pé do  seu ouvido. — Ainda estamos
latejando...
Ela tenta pôr rápida a mão por baixo, para puxar o
pau e vê-lo, mas não permito, antes que pudesse fazer de
novo, seguro as suas mãos e guardo a minha rola na calça.
— Eu preciso ver!
— Precisa ver minha porra?
— Não pode me deixar curiosa desse jeito.
Ah, mas deixo. Inclusive, a abandono no sofá e me
levanto para pegar a nossa comida na porta. Quando volto,
Jolie está terminando de se organizar.
Na minha mente ainda se passa a sensação de estar
dentro dela, acolhido pelas suas paredes apertadas. Foi
pouco, muito pouco, preciso de mais, preciso dela
completamente nua numa cama e eu explorando o seu
corpo com a boca.
A gente organiza a mesa de estar em silêncio mútuo,
como se não estivéssemos exalando suor e cheiro de sexo,
e comemos do mesmo jeito, como se agorinha não
tivéssemos fodido insaciáveis. Impossível não olhar para ela
e não continuar duro, pensando em fodê-la novamente.
— Tem alguma roupa, para que depois eu possa tomar
um banho?
Jolie fita os meus olhos, limpando maliciosa o canto da
boca. 
Desvio dela, indo contra a pulsação na calça.
— Suba para o segundo andar e procure nos armários
do quarto.
Ela assente, e assim que termina de comer, sobe para
o andar de cima. Não nego que fui seguindo a sua bunda,
enquanto rebolava de propósito e escalava os degraus de
mármore branco.
Que sacanagem, não posso pensar nela tirando a
roupa, ficando nua e entrando no chuveiro. Não posso,
mente encapetada.
Jogo-me no sofá, coloco o braço sobre os olhos
fechados e fico mentalizando cenas broxantes, que possam
amolecer a minha pica enrijecida. E no exato momento que
estava imaginando uma velha fazendo strip-tease com uma
fantasia de it a coisa, a campainha toca. Vou atender,
sabendo que é o Lucas e a Isa.
— E aí, chegaram rápido de trem? — Lucas questiona
ao sentar-se na poltrona.
— Sim, também já almoçamos. 
— Só almoçaram? — Isa me analisa da cabeça aos
pés, está inquieta e de braços cruzados.
— Algum problema, Isabel? — devolvo o seu olhar de
desprezo, mas com uma sobrancelha arqueada.
— “Jolie” responde? Não confio nessa mulher, estando
ainda sozinho com ela!
— Ah, e resolveu se preocupar? Me surpreendeu muito
por voltar para Braga, depois de dizer que não iria ficar
comigo. Lembra que me deixou no hotel e saiu pisando no
acelerador?
— Lembro, e não voltei, eu estava em Braga o tempo
todo, de olho em vocês.
Lucas ri.
— Eu sabia que estava em Braga. Jamais abandonaria
o Rael.
Eu também sorrio.
Ela rola os olhos.
— Não nasci grudado com o Calatrone, ele só paga o
meu salário.
— Você me ama, Isinha — pisco.
Ela fica quieta, e sem dar mais bola para nós, vai se
servir de alguma bebida na prateleira.
Lucas acena para mim, querendo saber da Jolie.
Aponto lá para cima, não podendo dar mais detalhes. Ele
faz o sinal de dedo em círculo e coloca o indicador no meio,
insinuando que trepamos.
— Vamos voltar para Lisboa hoje? — Isa pergunta e eu
assinto, mas foi para a insinuação do Lucas. — Até que
enfim está sendo sensato!
— Quero dizer, não, não hoje. 
— Não hoje? Rael, a sua família está desesperada
atrás de você! Vai faltar ao casamento do seu irmão? Hoss
vai te matar, já faltou ao noivado! E faz quinze dias
“desaparecido”.
Penso no meu irmão e passo a mão no rosto, frustrado
com o que fiz, num dos momentos mais especiais da sua
vida. 
— Isa... — Lucas a olha feio.
— O que foi? E quem mais diria essas verdades para o
Rael? — ela me encara. — Você já recuperou o colar, agora
abandone essa mafiosa que quase te matou e volte para
Lisboa. Não tem nem o que pensar.
— Eu farei as coisas na hora certa. Meu irmão ainda
não marcou a data do casamento, foi apenas um noivado. 
— Eles estão desesperados atrás de você. Amanhã já
é domingo, vamos embora, por favor. Minhas férias também
estão acabando — suspira, muito sincera e preocupada.
Isa sempre cuidou de mim. Salvou duas vezes a
minha vida. Nunca vou saber agradecê-la por ter me
ajudado em cobranças de risco.
Até se tornou a comandante chefe dos nossos
cobradores. Tudo é passado e organizado por ela. É uma
mulher foda, sem comentários. Sei que sempre vai desejar o
meu bem, assim como eu vou desejar o dela.
— Eu vou decidir até à noite.
— Isso inclui sobre a viúva do mafioso?
— Eu vou decidir, Isa, está bem?
— Está bem… 
Calado, ergo-me do sofá e peço para o Lucas me
ajudar com as malas.
Após tomar um longo banho de banheira, saio
enrolada na toalha e encontro a minha mala sobre o banco
aos pés da cama. Com certeza foi o Rael que deixou.
Escolho uma peça elegante, faço uma maquiagem, coloco
as joias, esborrifo o perfume, visto os saltos e desço plena
os degraus da escada. 
Embaixo, dou de cara com a Isabel.
Grande sorte ou azar? Vou no azar, detesto essa
cachorrinha.
Ela me vê. 
— Gostou do vestido? — questiono, dando um meio
sorriso sínico, após desfilar e parar na sala. 
Estamos em pé, olhando uma para a outra.
— Bem de vadia vulgar, o seu estilo.
— Obrigada, infelizmente esse estilo não combina
com você, é mais agressiva, cavala e deselegante.
Isa vem de punhos fechados até mim.
— Eu só não matei você, por causa do Rael, porque a
minha vontade era de meter uma bala no meio dessa sua
carinha bonitinha.
— Acha que eu tenho medo de você, Isabel? Por acaso
sabe quem eu sou, com quem eu me casei e o sobrenome
que carrego?
— É claro que não tem medo. E eu, assim como o
Rael, sabemos muito bem quem é você, uma mafiosa, ladra,
assassina, que não merece a nossa confiança, nem um
pingo de compaixão. Não sou igual a ele, que cai nas suas
historinhas falsas e manipuláveis. Não vou permitir que o
machuque de novo!
— Eu não tenho nada para provar a você, nem a
ninguém. Quem ainda me segura aqui é o seu querido…
sabe, ele é louquinho por mim. Não sei se percebeu.
A mal-amada arregala os olhos e de repente me
empurra contra a mesinha de centro.
Eu caio sentada no chão, por pouco não me
machucando na quina de vidro.
— Isa! — Rael surge imediatamente, acompanhado do
Lucas.
Eles correm até nós. 
Lucas segura a cachorrinha violenta, já Rael me ajuda
a me levantar.
— Ela merece ser presa e torturada até a morte! 
— Chega, Isa, vocês duas não podem ficar sozinhas!
— Já tem o seu colar. Abandone essa desgraçada,
Rael! Ela não é responsabilidade sua, nem nossa! 
Eu aperto o braço do Rael, quietinha, sem falar nada.
O silêncio demonstra poder, maturidade e equilíbrio.
Aprendi a usá-lo muito bem ao meu favor. Ainda mais numa
situação como essa, onde só uma opinião importa, a do
homem que me segura firme.
Ele me olha, mas eu abaixo a cabeça. Não quero que
me abandone, porém, não sei como dizer isso a ele, apenas
agir.
Rael é o homem que não imaginava existir no mundo.
Ele me tem e eu o quero.
Sem responder a sua amiguinha, Rael pede licença a
eles, levando-me para fora da casa. Vou entre tropeços. 
Está bravo, bruto e pronto para me estrangular. É
excitante.
No jardim, com vista para o oceano, ele me larga e
segura-se na cerca, respirando e inspirando. Não o toco,
por mais que eu queira sentir os seus músculos quentes,
subindo e descendo enrijecidos como armadura.
— Ela está certa — confesso com sinceridade. — Não
tem responsabilidade comigo, nem mereço que se
responsabilize. Eu o machuquei, não pode ficar perto de
mim.
— Você jamais seria capaz de me machucar. 
— Obrigada por isso — olho para a mesma vista que a
dele. — O que fiz foi por causa dos Borghi, eles sim seriam
capazes de te machucar para sempre, para nunca mais
estar entre quem gosta de verdade. Não esqueci que no
começo me protegeu, me deixou segura. Jamais seria uma
desgraçada a esse ponto.
— E o risco contrário, Jolie? Você sabe o que se passa
na minha cabeça? Sabe o motivo que ainda não te mandei
para o inferno?
A gente se encara.
— Não via tudo com facilidade? É só me mandar para
o inferno e virar as costas. Não sou a sua responsabilidade,
já disse.
— E é de quem?
— De mim mesma, eu me viro sozinha. Sei lidar com
os Borghi, afinal, também sou da família mafiosa. 
— Mentira, não se vira sozinha. Isso não é verdade, eu
sei que não é. Seu olhar, seus gestos, eles me dizem outra
coisa.
Rael segura o meu rosto. 
Olho no fundo das suas íris castanhas.
— E diz o quê?
Que não me abandone, nem me deixe sozinha – não
aguento meus pensamentos e desvio dele, fraca para
esconder a verdade que jamais vou assumir.
— Você sabe o que dizem. 
Eu analiso o seu rosto, a sua barba grande e suspiro.
— Faça o que achar melhor. 
— É essa a questão, você é uma bomba relógio. Não
sei o que fazer.
— E eu não posso te ajudar com isso, estou como uma
marionete nas suas mãos. Pode tirar até a minha vida. Acho
que nem me importo, não tenho mais nada a perder.
Afasto-me, volto a atenção para a vista do oceano. 
— Esta noite saberá a minha decisão.
Sinto os olhos do Rael ainda me analisando. 
Meu coração doí, com medo de que me deixe sozinha,
de que vá embora. Não tenho mais ninguém para confiar.

Lucas tem razão, já estou ferrado o suficiente com


essa Borghi. Mesmo assim, quando estou com ela, perto do
seu calor, do seu perfume, encarando os seus olhos… tudo
que pensei, conversei, parece um absurdo, é como se ela
me pedisse para não a deixar.
Estou louco! Essa mulher é um perigo! 
— Onde está a Lady? — assim que voltamos para
dentro, ela fez questão de perguntar sobre a sua gata.
— Lucas deve ter a abandonado em qualquer
esquina. 
Jolie arregala os olhos, fuzilando-me.
Lucas pigarreia ao nosso lado, ele está segurando a
bendita gata. Até dou dois passos para trás. E porra, Jolie
percebe.
— Algum problema com gatos? Não me diga que tem
medo. 
Ela sorri maldosa, pegando a diaba no colo.
— Eu odeio gatos!
— Pena, isso não é problema meu e nem da Lady.
A tal Lady me olha, com a sua fuça feia. Faço a
mesma cara para essa feiosa.
— Veja, o ódio é mútuo entre ambos. Agora, se me
derem licença, vou descansar… dei muito de mim naquele
sofá. 
Jolie morde os lábios. Puta que pariu, eu engulo em
seco, entrando em ebulição de novo. Foi pouco aquela
trepada, foi muito pouco. Meu pau pulsa sanguinário dentro
da calça. E quando a diaba mãe - da gata - vira a bunda, ele
pulsa de novo. Que visão, que traseiro delicioso.
— Que cara é essa? — Lucas ri. — Essa mulher é
muito atraente, eu te entendo.
— Pois você não tem que entender nada, seu jumento.
Cuide para a Jolie e a Isa não se esbarrarem pela casa. Vou
para o escritório, preciso fazer uma ligação.
— É para quem estou imaginando?
Não respondo, apenas assinto. A seguir, retiro-me.
No escritório, vou até a poltrona, sento-me e com o
celular nas mãos, demoro para realizar a chamada. Fico
batendo o pé, ansioso, nervoso.
Ele com certeza sabe onde eu estou, o que vim fazer
e pegar. Ele sempre está a um passo à nossa frente.
Respiro fundo, tomando coragem para apertar em
cima do seu nome. E no segundo toque ele atente.
— Alô?
— Tio Argus…
— Quinze dias, sobrinho — é só o que ele responde,
afetando-me terrivelmente.
Droga, quinze dias sem dar notícias, sem estar ao
lado da família, sem estar compartilhando da felicidade do
meu irmão mais velho. Ele vai soltar os cachorros quando
nos encontrarmos.
— Perdão, tio. Eu precisava resolver meus problemas
sozinho.
— E resolveu? 
— Resolvi… na verdade, quase resolvi. Você com
certeza sabe o que eu vim fazer.
— Eu não sei de nada, filho. Não até que me conte. 
Alguém acredita nisso? É o Gavião (seu apelido).
Respiro fundo, pela milésima vez, para então contar
tudo o que estou vivendo há menos de um ano. Sobre o
meu pai, o colar, a Jolie e o tiro que escondi da família. Fingi
que machuquei o braço lutando boxe, já que é o meu
esporte favorito.
Tio Argus se aquieta do outro lado, no entanto, não
por muito tempo.
— Eu sabia que não havia deslocado esse braço.
Sorrio, por mais que o nervosismo seja maior.
— Não sei o que fazer com ela. É a viúva do
primogénito que assumiria a máfia Borghi. Também, já
temos problemas suficientes com a Elena, a ex-noiva do
Paulo.
— A viúva do Borghi é uma bomba maior que a Elena.
E novamente a história se repete — noto o tio Argus
agitado. Pela entonação da voz, ele se levantou de onde
estava. 
— Já tomei a minha decisão. Vou deixá-la, não posso
trazer mais problemas para nós, Calatrone.
— Jolie é só uma vítima nisso tudo, Rael. Ela nasceu
destinada a ser da máfia, nunca foi sua escolha.
— Eu sei, entendo-a, mas o que posso fazer? Também
não tenho culpa do seu destino.
— Ela estava segura em Braga, não devia ter a levado
com você.
— E como eu recuperaria a porra do meu colar?!
Acabei de te revelar que fiz uma promessa ao meu pai!
— É tarde também para nos lamentar. Disse que no
coquetel viu os homens da máfia e que o próprio anfitrião
era um primo de terceiro grau. Precisou sair às pressas da
cidade.
— Sim, o coquetel foi em um dos hotéis mais luxuosos
de Braga. Lucas conseguiu acessar o quarto, depois de
roubarmos a chave de segurança. Ele quem achou o colar.
Mas na saída, nos deparamos com o cumprimento “LosBor”.
Foi quando descobrimos que o anfitrião, que comprou o meu
colar, era um primo distante deles.
— Los Borghi. — Tio Argus murmura. — Eram aliados
do clã. Você precisa voltar para Portugal hoje mesmo. Está
em risco sozinho, por mais que tenha o Lucas e a Isa.
— Jolie, ela…
— É tarde, Rael, muito tarde para abandoná-la. Jamais
permitiria que fizesse isso, se imaginasse o que eu tive que
enfrentar pela sua mãe… — ele se cala, está com a
respiração anormal. 
— É esse antes, do passado dela em Portugal que
nunca nos contou.
Tio Argus não responde, ele muda de assunto.
— Volte hoje mesmo, precisamos nos reunir para o
próximo passo dessa guerra. Você e o Hoss sempre me
contam do incêndio após as chamas já terem se alastrado.
Espero que seja a última vez. Aguarde o jatinho na nossa
pista.
— Aguardarei.
Sem ter mais o que dizer, finalizamos a ligação.
E eu realmente nem teria o que dizer. Tio Argus é… tio
Argus. Impossível refutá-lo.
Muito pensativo, encho o copo de whisky e continuo
alguns minutos no escritório. Até criar fôlego para avisar o
Lucas e a Isa da minha decisão.
Encontro os dois na sala, conversando em cochicho.
Não demoro para informá-los que voltaremos para Lisboa. E
não demorou para a Isa questionar sobre a Jolie.
— Ela voltará comigo.
— O quê? Não pode fazer isso! Está colocando toda a
família Calatrone em risco! 
— É a minha decisão, não vou abandoná-la.
— Depois de tudo o que essa mafiosa fez, ainda sente
compaixão? Ela está te manipulando!
— Não vou discutir, antes de amigos, eu sou o chefe
de vocês. E essa é a minha decisão.
Lucas assente. Isa cruza os braços, negando-se a
aceitar.
Não me importo, peço licença e deixo-os sozinhos. É a
vez de informar a Jolie. Faço isso rápido, direto da sua porta,
para não ceder e acabar entrando no seu quarto... a seguir,
vou para o meu, atrás de paz e descanso.
Quatro horas mais tarde, já com todas as malas
prontas, Lucas e os seguranças me levam para a pista com
a Jolie. Eles voltarão juntos com o carro, incluindo a Isa.
O Jatinho particular da família estava pronto,
aguardando-nos.
— Está tudo bem? — Jolie pergunta, após entrarmos
em voo de cruzeiro.
Depois de informá-la da minha decisão, virei as costas
e não nos falamos mais, até agora. 
Ela está sentada na minha frente. Sua diaba filha está
dentro da caixa, ao seu lado.
E sem a minha resposta, Jolie suspira.
— Vai me entregar para a máfia?
— Decido quando chegarmos à Lisboa.
— Por favor, não pode fazer isso, já recuperou o seu
colar.
— Se não tivesse me roubado, não estaríamos aqui.
Ela cruza as pernas, retorcendo os lábios.
Meus olhos recaem na fenda do seu vestido, é
inevitável, irresistível não admirar essas coxas.
Passo a mão na barba, coçando-a.
— Está nervoso… é por rever a sua família?
Não, é por querer continuar a nossa foda de hoje mais
cedo.
Não consigo parar de pensar na maciez da sua pele,
no seu perfume e na sua boceta sufocando-me. Ficarei
louco! Sinto-me em chamas perto dessa bruxa.
— Meu irmão vai me matar e a Hera vai ajudá-lo a
desossar, esquartejar e consumir com o corpo.  Vince,
provavelmente, vai ficar rindo igual um bocó.
— Quem é “Hera”?
— Minha prima-irmã. 
— Hum… e eles vão querer fazer isso comigo
também, quando souberem que eu sou a viúva Borghi? 
— Você já é um grande problema, Jolie, um dos
maiores.
Ela dá de ombros.
— De certa forma, vai ser um prazer conhecer a
família de agiotas mais poderosa de Portugal. Sempre ouvi
falar por alto dos Calatrone, bem impiedosos ao cobrarem
os seus devedores. O chefe da máfia odeia vocês, é proibido
citar esse sobrenome nas confraternizações.
— Eles acham que igualmente somos uma máfia, que
estamos crescendo para bater de frente, poder com poder.
— É o que também penso ou pensava, não conheço os
“métodos” de vocês.
— Não tem “métodos”, somos agiotas e fim. 
— Que matam…
— Esse ramo é assim. Antes de fecharmos qualquer
negócio, deixamos claro as leis dos Calatrone. Se vacilar,
cobrados com a vida. É simples.
— Nada que me surpreenda.
— E o que surpreenderia a viúva Borghi? 
Sem aguentar, volto a babar pelas suas pernas
torneadas. Meu pau lateja, asfixiado pela calça social. 
Jolie olha diretamente no meu volume.
— Nada relacionado a morte, tortura, já vi essas
barbaridades desde que nasci. Nada me assusta, a não
ser…
— A não ser?
— O novo — fita-me. — Você se encaixa nesse novo.
Eu nunca vivi fora da bolha que é a máfia.
Ela não entende mesmo que me afeta. Estou a cada
hora mais enterrado nela, e nem é com o pau.
Olho para a cabine do piloto e do copiloto.
— O que quer fazer?
Volto para frente e me deparo com o seu olhar
curioso, hipnotizante, que sabe muito bem o que eu quero
fazer.
Se já estou na chuva, não adianta evitar me molhar. E
necessito de me molhar.
Ergo-me, dando só um passo para estar de joelhos
diante das suas coxas.
Jolie perde até o ar com a minha rapidez. Seguro a
vontade de beijá-la, desviando da sua boca carnuda.
— Vai me comer com a sua língua? — sussurra e toca
na minha mão que a aperta.
Ela acompanha o deslize suave dos meus dedos por
entre as suas paredes macias e quentes.
— Eu preciso provar da sua bocetinha, aliás, posso
fazer o que eu quiser com você.
Aperto o botão que inclina a poltrona, abro mais as
suas pernas e passo a língua bem perto da virilha. 
Ela geme gostoso.
— Eu sou toda sua… 
Fico irritado por ouvir isso pela terceira vez da sua
boca.
Jolie não é minha, não vou aceitá-la! Não passa de um
desejo sexual.
Meus dedos chegam na renda da calcinha, afasto de
entre os lábios maiores e esfrego o clitóris. Sinto a pulsação
aumentar conforme a masturbo.
— Olhe para mim, Jolie — peço, com os olhos
nublados de desejo.
Ela olha, enquanto se contorce com meus
movimentos penetrando lá no fundo da sua intimidade
encharcada. Minha boca saliva para prová-la, e não perco
mais tempo. Ajeito-me no meio das suas pernas, abaixo a
cabeça e primeiro sinto o seu cheiro feminino, depois
percorro a ponta do nariz na vagina bem fechadinha e
lisinha. É a boceta mais perfeita que já vi.
— Rael — Jolie arqueia as costas. — Como isso está
bom…
— Vai ficar melhor.
Meto a língua nela, chupando finalmente o seu grelo e
saboreando o sabor dos deuses. Desço para sua entrada
molhadinha e volto ao clítoris. Faço o dedo anelar ir e vir
com força, intercalando em círculos com a língua. Passo
minutos provando-a assim, com dedicação. Estou no
paraíso. 
Jolie segura o tempo todo os gemidos altos,
contorcendo-se de prazer.
É uma visão digna de um filme de Hollywood.
Acelero as chupadas e as dedadas, até seu abdômen
se contrair, a boceta pulsar e ela fechar as pernas, recaindo
na poltrona ao gozar com a minha mão no meio das suas
coxas. Não resisto a erguer o tronco e me aproximar do seu
rosto delicado. Continuo a massageá-la bem devagarinho.
Ela retorce os lábios, fico necessitado de beijar a sua
boca, de fazê-la provar do seu próprio gosto.
— Nunca recebi uma oral tão gostosa — sussurra,
olhando nos meus olhos.
Não falo nada, só avanço e a beijo. Jolie abre os
lábios, sentindo a minha língua penetrá-la, faminta. Ela
corresponde com mais tesão, mais fome e mais
necessidade. Até que se abre e se entrelaça em mim. Ainda
se esfrega no meu pau duro. 
Mordo os seus lábios, aperto o seu peito e me esfrego.
Mas, com o pouco de sanidade que me resta,
distancio a nossa boca ofegante.
— Deixa eu te aliviar? — pede baixinho, acariciando a
minha barba.
Oferta infernalmente irresistível, exceto para a cabeça
de cima, que toma o controle da situação. É o basta.
— Vou me aliviar mais tarde, não se preocupe — falo
tão maldoso, que Jolie fecha a cara e tira as mãos de mim,
empurrando-me do seu corpo.
— Cretino!
Afasto-me por completo dela, do seu bendito perfume
e da sua bendita boca viciante, antes que não respondesse
mais por mim.

Na chegada à pista de Lisboa, permaneço alguns


minutos no jatinho. Ligo para o meu tio, sem saber para
onde irmos, se a levo para o castelo ou outro esconderijo.
Para a minha surpresa e nervosismo, ele comunica que
posso levá-la até o castelo. Desligo a chamada, já
preparando as pistolas para descer.
— Não tenho dúvidas de que a viúva da máfia sabe
usar uma dessas — estendo uma das armas para ela.
Jolie ainda está de cara feia comigo, como se tivesse
direito. Até assim é bonita.
— Tem certeza? Isso é muito confiança para quem
quase te “matou”.
— Pega logo!
Ela me fuzila. 
Estou sem paciência no momento, para não dizer
frustrado por não ter gozado, sendo que ela queria me fazer
gozar! Porra mesmo!
— Também prenda o cabelo, coloque os óculos e a
minha jaqueta.
Ela faz tudo o que mando. Em seguida, descemos
rápido, já correndo para o carro preto que nos aguardava.
— Sr. Calatrone… — o motorista acena discreto para
mim.
No caminho, fico cada vez mais ansioso. Não estou
pronto para enfrentar a minha família, não sei nem que
desculpas dar sobre a mulher que estou levando comigo.
Imagina quando descobrirem que ela é a viúva de Pedro
Borghi? 
Não sei o que vai acontecer, sinceramente não sei.
Penso no Hoss, ele com certeza vai ficar furioso
comigo, isso por eu ter sumido essas semanas. Somos
muito parceiros, ainda mais nas cobranças dos devedores.
De repente, sinto a mão da Jolie sobre a minha coxa.
Olho para ela e mantenho o nosso contato visual.
— Está muito inquieto.
— É claro que estou.
— Devia ter deixado eu te relaxar àquela hora.
É devia, que droga! 
Ela percorre as suas unhas compridas até a minha
virilha. Aperto os seus dedos, distanciando o seu toque de
mim. Fico em brasas, excitado. A porra da mão até tremeu.
Assim eu morro, que poder essa bruxa tem? Ela ainda
carrega essa gata preta junto dela. Deve ser bruxa
mesmo… a bruxa mais bonita e gostosa de todas.
Em meia hora a gente chega aos portões bem
protegidos do castelo. Os seguranças me liberam assim que
eu abro um pouco o vidro.
— Uau… que lugar incrível. É tudo tão verde.
Jolie se surpreende ao ver o castelo imponente, de
cinco andares. Realmente é lindo, temos um chafariz
enorme na frente da fachada principal.
— Vocês não brincam em ser poderosos. 
Sem respondê-la, eu desço do carro. Ela igualmente
desce, para me acompanhar para dentro. Seus saltos vão
fazendo barulho na calçada de pedras. Abro a porta
principal, entrando e respirando o ar de casa.
— Nossa… — atrás vem a bruxa, cada vez mais
boquiaberta com a decoração luxuosa.
— Não diga quem é você. Por enquanto, pelo menos.
— Está bem.
Na sala de pé direito alto, eu entro, tendo o encontro
com a primeira pessoa da família.
— Rael! — Ela se ergue em um pulo do sofá, sem
acreditar, está arregalada. — É você?
— Olá, cunhadinha, na verdade sou um fantasma.
— Rael! — Elena corre até mim, quase chorando. —
Sua família está triste pelo seu sumiço. Hoss então… ele…
— Fique calma. Veja, estou bem, foi só algumas
semanas.
— “Só algumas semanas”, sem dizer que estava vivo,
sendo que os Calatrone têm centenas de inimigos, incluindo
a máfia! Ai Meu Deus… — Elena balança a cabeça. —
Desculpe-me, acho que já estou com o mal da Hera. Não
tenho esse direito.
Sorrio, feliz por ter visto a Elena primeiro, pois agora
já sei o que me aguarda dos meus irmãos.
Elena inclina a cabeça, encontrando a Jolie atrás de
mim. Ela enruga a testa, como se estivesse montando um
quebra cabeça mental. Creio que as duas não se conheçam,
por mais que quase tenham sido cunhadas… ou se
conhecem?
No segundo que Elena ia abrir a boca, do outro lado
apareceu um exército de três, todos com as espadas nas
mãos e com sangue nos olhos para assassinar o inimigo -
EU.
— Rael, como pode! — Hera é a primeira a berrar.
— Seu filho da puta! — Hoss berra logo depois.
— Querem ajuda para matá-lo? — E por fim, Vince
sorri, adorando ver o circo pegar fogo. Ele sempre gosta.
Que porra, é três contra um nesse cacete mesmo?
Estou fodido!
— Como pode sumir dessa forma, sem nem sequer
nos avisar! Nunca fez isso! Nunca!
— Hera, fique calma — Elena tenta apaziguar, mas é
em vão, senão pior.
— Fique não, priminha, solte os cachorros.
— Vai se foder, seu branquelo azedo! — exclamo para
o Vince.
— Onde esteve? 
— Eu vou explicar tudo para vocês, na sala de
reuniões.
Hera ergue a cabeça sobre os meus ombros. Acho que
também encontrou a Jolie, pois como a Elena, calou-se e
franziu a testa.
Eles quatro se olham, curiosos.
Respiro fundo, dando espaço para a mulher na minha
lateral.
— Essa é a Jolie.
— Olá — ela fala.
— Olá...
Eles a cumprimentam bem retraídos. Continuam me
olhando, esperando mais explicações. 
— Vamos para a sala de reuniões.
Antes de ir com eles, peço para o Luiz cuidar da Jolie
até eu voltar.
E como se já estivesse à nossa espera, assim que
entramos na sala, o tio Argus estava sentado no seu lugar,
bem na ponta.
— Quem é aquela mulher?! — Hera questiona sem
demora.
— Antes de qualquer pergunta, acomodem-se em
seus lugares — nosso tio manda e nos sentamos. — Onde
está o Morcego?
— Acho que dá para fazer essa reunião sem o meu
marido, agora, pai, quero que o Rael desembuche tudo!
Porque eu fiquei sofrendo por ele, com medo de que tivesse
morrido e semanas depois ele aparece assim, de repente,
sem avisar e ainda com uma mulher na bagagem!
Encaro o Hoss, que está puto, batendo os dedos na
mesa.
— Aquela mulher é a Jolie Borghi — simplesmente
confesso, sem rodeios.
Eles ficam estáticos, incrédulos. 
Hoss até parou de bater os dedos.
— Eu ouvi direito?
— Espera, aquela mulher é a viúva que fugiu? Ela
fugiu com você?
— Calma, filhos.
— Eu detesto, odeio essa palavra! Calma não existe
para os Calatrone!
— Ela então é a viúva do falecido Pedro Borghi? —
Elena questiona.
— Eu a conheci no porto de containers, há alguns
meses. Estava com a Isa, atrás de algo que me foi furtado.
Jolie havia sido sequestrada pelos mesmos negociantes que
estavam com o meu objeto. Só que, no meio da negociação,
ela apareceu atirando nos homens, matou todos, menos eu.
Nisso, a máfia também surgiu, metralhando tudo à nossa
volta. Jolie revelou quem era, que eles estavam atrás dela e
que tinha que fugir. Pediu que eu a ajudasse e eu não
poderia deixá-la ali, morreríamos juntos — resumo rápido e
sem muitos detalhes desnecessários.
— Você a salvou, igual fez com a minha irmã — Elena
aperta a mão do Hoss.
— Sim, eu a salvei. Conseguimos escapar dos homens
da máfia, pulando no mar. Nos salvamos e levei a Jolie para
um esconderijo seguro, tanto para me proteger, como para
proteger ela e a Isa. Eu queria entender em que merda eu
havia me metido, pois aquela mulher era a viúva Borghi. O
chefe da máfia jamais a deixaria viva e mataria qualquer
um para resgatá-la.
Hoss passa a mão no cabelo. 
Hera respira fundo, muito nervosa.
Vince até se calou e não está fazendo piadas.
— Ela disse que queria fugir da máfia, ter liberdade,
viver a vida dela.
— Mas eles não vão permitir! 
— Eu sei, porra! — fuzilo o meu irmão mais velho. —
Pedi para Jolie ficar uns três dias no esconderijo, para ter
certeza de que a máfia não havia me reconhecido no porto
e não viria atrás de mim, nem da minha família. E eles não
vieram, e, Jolie, no quarto dia, fugiu sem dar maiores
explicações. Agradeci! Já estávamos com problema demais
com a Elena. Desculpa, Elena.
— Tudo bem. É a verdade, eu trouxe muitos
problemas para vocês.
— Não foi culpa sua — Hoss fita a sua mulher, como
se fosse capaz de matar mil homens por ela.
— Mas e agora? Jolie está sentada lá na nossa sala.
— Depois de algumas semanas do ocorrido, Jolie
conseguiu o meu número e me ligou, pedindo por favor que
eu a protegesse, que a escondesse de novo. Ela havia
fugido pela segunda vez da máfia. E o trouxa a ajudou.
— Olha, tirou o adjetivo da minha boca — Hoss
encosta na cadeira. 
— Que porra, Rael! — Vince resmunga. — Trouxa
mesmo.
—  Ajudei e ela fugiu novamente, desta vez levando o
que era meu. Fiquei louco, puto, demorei meses para
localizá-la. E assim que localizei, ausentei-me para ir atrás
da Jolie, junto com a Isa e o Lucas. Estava louco, furioso com
ela.
— Espera, você a protegeu e essa mulher ainda fez
isso, te roubou? — Hera fica brava, fecha até os punhos. —
Ela é uma Borghi!
Respiro fundo, agradecendo por não ter contado que
antes de me roubar, Jolie ainda me deu um tiro no braço, o
qual omiti para a família.
— Sim, uma Borghi que não merece a nossa
confiança! 
— Hoss tem razão.
— Sim, Hoss tem razão. E ainda, essa mulher está nos
colocando num fogo cruzado, diretamente com o chefão —
Vince acrescenta.
— Não quero ela aqui!
— Não é assim que as coisas funcionam, Hera.
— Chega de ser o salvador da pátria, Rael! Ela é uma
Borghi, uma bomba que vai explodir a nossa família! E todos
aqui concordam com isso! Não quero essa mulher no
castelo e fim de reunião! — Hera se ergue, empurrando
furiosa a cadeira.
Imagina se eu tivesse contado do tiro?
— Sente-se, Hera! — seu pai manda na mesma hora.
Ela para, mas não se senta, continua em pé,
descontrolada. 
— Não tem mais o que discutir, não vou aceitar essa
mulher aqui e ponto final! Não vou permitir que alguém
coloque a vida da minha família em risco! E antes que me
refutem, a nossa Elena foi outro caso, completamente
diferente da Jolie!
— Jolie não é como você pensa, assumo que teve um
motivo até compreensível para ela ter me roubado e fugido
novamente. 
Eu acho que tem...
— Para de defendê-la! Não importa! O que importa,
como o Vince mesmo disse, é que essa Borghi coloca todos
nós em risco direto com o chefe da máfia! São capazes de
fazer mal até para a nossa pequena Maria! Eles são
horríveis, sem escrúpulos!
Hoss se ergue, passando a mão pelo cabelo.
— Eu a quero fora desse castelo agora mesmo!
É a minha vez de ficar mais puto que eles e levantar-
me, batendo na mesa. Por mais que tenham razão, tudo
aqui no meu peito vai contra. Assim como foi de abandoná-
la sozinha no Porto. Eu pensei nisso, na segurança da nossa
família, porém… Porra, nem sei o que explicar. 
— São três contra um. Não vamos proteger essa
mulher!
Meus dedos tremem, meus músculos se enrijecem e
estralo o queixo.
— Tio Argus decidirá!
Argus respira calmamente, observando-nos putos,
ferozes. 
Aguardamos a sua palavra final.
 
Eu fico sozinha na sala, tomando chá e contemplando
a beleza do castelo. É perfeito, magistral. Também luxuoso e
bem moderno. Logo o meu tempo sozinha é preenchido por
um pequeno ser humano, que vem arrastando um urso
maior do que ela.
Que linda, meus olhos brilham. Nunca estive tão perto
de uma criança tão pequena e isso nem é mentira. Quando
me casei com o Pedro, a minha enteada já tinha dez anos.
Aliás, que saudades dela, ainda é uma pestinha que vai
contra todas as regras do avô.
— Oi… — a menininha me olha curiosa do outro lado.
— Oi, linda.
— Quem é você?
— Eu sou a Jolie e você?
— Maria — ela responde, puxando o urso para perto
da mesa de centro. — Essa é a Poly.
Sorrio.
— É um prazer te conhecer, Poly.
— Ela disse que também é bom te conhecer.
Maria abraça a Poly, deixando-me derretida por ser
tão pequenininha. Parece uma boneca, ainda mais com esse
vestidinho roxo, dá vontade de pegar no colo.
Enquanto assisto a pequena Maria brincar com o seu
urso, Rael se aproxima de nós. Estranho-o. Seu caminhar é
duro, sua cara é raivosa. Parece até um touro com sangue
nos olhos. 
— Tio Rael! — a menininha vê o seu tio e corre
saltitante até ele.
— Oi, bonequinha...
Rael a pega no colo, mudando a sua cara assustadora
de agora pouco. Essa cena é fofa demais. Um homem de
quase dois metros, cheio de músculos, segurando uma
criancinha tão delicada. Parece até que vai machucá-la com
as suas mãos grossas.
— Você sumiu, pai Hoss e todos ficaram muito tristes.
Eu também.
Rael me olha e volta para a sobrinha.
— Precisei resolver uns problemas fora da cidade.
— Vai embora de novo?
— Não. Vou estar aqui, ao seu lado e ao lado da nossa
família.
Ela sorri e o abraça de novo.
Eu mexo com os dedos, sentindo um aperto no
coração. Nunca vi demonstrarem amor assim. Pedro não era
de demonstrar carinho com a filha, nem comigo… assim
como todos os Borghi. 
Será que eu também não sei? 
— Precisamos conversar a sós. 
Rael coloca a sobrinha no chão e vira-se para mim.
Ergo-me, apenas assentindo. 
— Já volto, bonequinha.
Ele me chama e o acompanho até uma sala próxima. 
Ao entrarmos, Rael fecha a porta e vai direto a mesa
de bebidas, servir-se.
— Aconteceu alguma coisa?
— Você já é o acontecimento — resmunga.
— É sobre a sua família?
— Eles não te querem aqui no castelo. Você é um
perigo para nós. Não é bem-vinda.
Fico parada, pensando no que dizer.
— E para onde eu vou agora? Não posso sair pelas
ruas de Lisboa, tem LosBor (homens da máfia Borghi) por
todos os lados! 
— Meu tio conseguiu convencer os meus irmãos e a
minha prima a te manterem aqui até domingo. E até eu…
ajudar você.
— Ajudar? — debocho. — Não quis dizer “despachar”?
Afinal, não é responsável por mim, não sou problema seu.
Ah, e já disse centenas de vezes que queria me matar.
— Jolie! 
Ele dá um passo e me puxa pelo braço. Bato no seu
peitoral, cara a cara com a sua feição animal.
— A verdade é que essa é a terceira e última vez que
te ajudo, não terá a quarta, nem a quinta chance. Estou
cansado de você me fazendo de trouxa. Eu sou um
Calatrone, porra!
— Eu nunca te fiz de trouxa. Desculpe-me se pareceu
isso. 
Rael afrouxa a sua mão do meu braço, deslizando os
dedos para a minha cintura. 
— Só até domingo, entendeu? — então volta ao
assunto do começo. — Querendo ou não, é um perigo para a
nossa família. Já temos problemas demais.
Desvio dele, revoltada, triste.
Serei assim para sempre? Sozinha, abandonada e pelo
motivo de ser um perigo? Eu só quero liberdade! Quero ser
a Jolie! 
Empurro o Rael, sem evitar a minha raiva
escancarada.
— Prometo que não será maltratada pela minha
família.
— Apenas suportada e engolida até domingo, mas é
compreensível, sou a viúva Borghi. Por isso, também não se
preocupe, eu sei o meu lugar.
Ele respira fundo, sem ter mais o que dizer.
— Descansa. Amanhã começo a decidir o que fazer.
Vou levá-la até o seu quarto.
Permaneço quieta, obedecendo tudo o que ele manda.
Afinal, eu escolhi isso… escolhi ele e a mim.

Deixo a Jolie em seus aposentos e saio pelos


corredores do castelo; nervoso, tenso e estressado. Não
paro de me irritar com ela. Nem sei se irritação é o
sentimento certo para explicar isso.
Por essa mulher estou desafiando a minha própria
família, assim como desafiei os meus próprios princípios. E
isso vale a pena?
Não me reconheço mais.
Entro no escritório, batendo a porta.
Está tudo saindo do controle, nunca fui assim.
Praticidade era o meu sobrenome!
Fico sozinho no escritório, enchendo a cara de álcool,
até o meu irmão mais velho aparecer com a sua ilustre
presença. Já estava esperando por ele, é agora que vamos
conversar de verdade.
— Demorou para me pegar sozinho, e isso nem foi
duplo sentido — debocho.
— Vai se lascar, caralho! — esbraveja, sentando-se na
poltrona ao meu lado. 
— Estava muito calminho na reunião, não quis voar na
minha cara? Já sei, é fato que não aguenta cair no soco
comigo.
— A sorte é sua, por estar bêbado e eu não poder te
fazer engolir suas palavras.
— Sabe que não estou bêbado.
Hoss respira fundo, passa  a mão na barba e depois
repousa o cotovelo no descanso da poltrona. Realmente
está muito estranho, calmo demais. Cadê o meu irmão
explosivo?
— Fiquei muito preocupado com você… muito mesmo.
A gente prometeu nunca desaparecer sem dar notícias.
Abaixo a cabeça, recordando de quando os nossos
pais foram sequestrados. Ficamos semanas sem receber
notícias deles, e quando descobrimos a sua localização,
meu pai já estava morto. Minha mãe ainda resistiu por duas
semanas na UTI, até o seu óbito. Foi a pior dor que já senti,
acho que eu e os meus irmãos nunca sentimos dor igual a
essa… até hoje. Lembrar deles doí tanto.
— Precisava encontrar o colar do nosso pai. Jolie foi só
um obstáculo que apareceu no meu caminho.
— Se é um obstáculo, é só você se livrar dela! Não é
sempre o irmão que leva tudo na facilidade? Como se não
houvesse nada difícil para se resolver?
— Que inferno, Hoss, já estou torturando o meu
cérebro com isso. Não precisa humilhar explicitamente que
sou um fodido.
De repente, a porta do escritório é aberta, e sem nem
terem batido.
— Opa, irmãozinhos lindos do meu coração.
Adivinha quem é? 
Eu e Hoss reviramos os olhos.
Vince já chega invadindo, puxando a cadeira e
sentando-se.
— Ninguém te chamou aqui.
— Eu sou o irmão caçula, suportem-me. Também,
continuem de onde pararam, só vim ouvir a fofoca de
perto. 
— E tem alguma fofoca nisso? — murmuro.
— Não, pelo que sei, só tem você e o Hoss se
lascando por causa de duas mulheres da máfia. E não
querendo puxar o saco do Hoss, a situação dele é até
aceitável. Elena não teve culpa nenhuma.
— Jolie também não teve. Desde que nasceu, ela foi
destinada ao dono da máfia, em troca de uma dívida ou
promessa aos Borghi. Só sei que ela quer ser livre e eu
estou no meio disso, no meio da máfia e dessa bendita
mulher.
— Isso não é problema seu, nem nosso. Já temos
merdas demais para resolver. Somos agiotas, cheios de
inimigos querendo nos ver a sete palmos do chão. 
— E o que eu faço? Como é olhar para ela e ver seus
olhos suplicando que não a deixe, que não a abandone, por
mais que não diga?!
Enfureço-me e taco a garrafa na parede. O vidro se
estilhaça em milhares de pedaços
— Paulo pode não deixar barato o fato de eu ter ficado
com a Elena, de ela ser minha. É recente, mas a gente
espera que ele supere, que a esqueça, pois agora tem duas
responsabilidades: a futura esposa e o filho, que está sendo
gerado — Hoss desabafa. — Por mais que sejamos
milionários, ainda não podemos ser páreos para os Borghi.
Eles são poderosos até na Espanha, tem ideia disso, Rael? E
é nesse momento que entra a Jolie, que diferente da Elena,
foi casada com o primogênito, o filho herdeiro do chefão. Ele
jamais vai deixá-la livre ou viva. É fato.
— Estou ciente de tudo isso. 
Algo dentro de mim explode de ansiedade, desespero.
— Eu sabia onde o Rael estava.
— Como é, água de arroz? E não nos disse nada?!
Hoss chuta forte o Vince.
— Ai, calma, sem agressividade, só descobri nessa
última semana que ele estava em Braga. As outras duas
não consegui localizar, sofri o mesmo tanto que a nossa
família.
— Estava caçando a Jolie por Portugal, passamos por
algumas cidades até chegar em Braga.
— Humm… e foi com a Isabel? — ele sorri malicioso.
É a minha vez de chutar o Vince.
— Que porra, para de agredir a criança indefesa. EU.
— Mas precisava sair viajando sem avisar aos seus
irmãos? — Hoss não esconde a sua cara de decepção —
Perdeu a minha festa de noivado.
— Sinto muito. Eu não podia dizer, não podia revelar a
vocês sobre o colar.
— Como não? Somos filhos do mesmo pai.
— Ele confidenciou isso a mim, não sei se fui egoísta,
mas eu quis desse jeito… fazer tudo sozinho, como o filho
do meio, que falou pela última vez com o seu pai.
Vince e Hoss se olham, tentando ser compreensíveis.
— Não vamos te pressionar sobre a história desse
colar, porém, o assunto ainda não acabou. Assim que se
sentir bem, conte todos os detalhes para nós.
— É melhor também não termos mais segredos
familiares. Afinal, não somos uma família? Papai sempre nos
ensinou a trabalhar em equipe, para lutarmos um pelo
outro, juntos. 
Concordamos com o Vince, recordando da voz do
nosso pai dizendo essas mesmas palavras. Como aquele
louco faz falta.
— Vai tomar um banho e descansar, Hera está doida
para te pegar sozinho. Morcego que está segurando a fera
— Hoss muda de assunto.
Suspiro, sem energias para enfrentar aquela
formiguinha. Ela vai, literalmente, me pegar de jeito,
Resolvo subir para o meu quarto. E pelo caminho, sou
informado pelo Luiz, nosso mordomo, que a Jolie já havia
lanchado e já estava com todos os seus pertences, incluindo
a gata feia. Deixa só o Bravos ou o Gorila pegarem aquela
criatura peluda pelos corredores do castelo.
Ao anoitecer, e sem apetite, eu recuso o jantar. Fico
no quarto, ou na minha mais nova prisão. Pelo menos aqui
eu tenho uma vista privilegiada para o jardim e para um
lago enorme. Na mansão Borghi também tinha um, amava
me sentar na frente dele, para tomar sol com a minha
enteada. Nosso entretenimento era esse, explorar os
arredores da mansão. 
Deito-me na cama com a Lady, pensando na minha
vida.
Os Souza não são mais confiáveis. Rael é a minha
única alternativa, o meu único refúgio. Não planejei tudo
para chegar aqui e perdê-lo. Preciso conquistar a família
Calatrone antes de domingo, para eles me aceitarem de
verdade e não me abandonarem. 
E não existe outro plano… infelizmente.
Mergulhada em pensamentos, eu durmo. Volto a
consciência só na manhã seguinte, quando abro os olhos
por causa da Lady, que me acordou miando.
— Está com fome?
Ela ronrona, brava comigo.
Levanto-me, dou seus petiscos, depois me arrumo
meio simples, sem muitas joias ou roupas chiques. Não
quero passar uma má impressão para os Calatrone, não
como uma dondoca… ou melhor, como uma Borghi.
Alguém bate à porta e entra no quarto.
Passo a mão no vestido mídi, encarando o Rael. 
Ele me inspeciona dos pés à cabeça, a seguir,
encontra os meus olhos. 
Caminho até ele, desfilando de propósito. Ao parar na
sua frente, perco o ar, arrepiada pelo seu perfume, a sua
beleza e a sua imponência masculina.
— Bom dia, Sr. Calatrone.
Ele não responde.
Eu toco no seu peitoral, perdendo desta vez a força
nas pernas.
— Bom dia, Rael — repito.
Ele toca na minha cintura e me puxa forte, como se
eu fosse uma boneca manipulável. Gosto disso nele, dessa
pegada quente. Sinto o meu corpo em brasas. Meu sexo até
pulsou, molhadinha por mais atenção.
Ficamos nariz com nariz, e um milímetro boca com
boca.
Não sei porque ele me puxou, igualmente, não sei
porque já está me largando e se afastando. 
— Quero que me foda — sussurro, sem a menor
vergonha de esconder o que já é mais do que óbvio. —
Quero você dentro de mim.
Rael quase enlouquece e me agarra de novo, mas ele
resiste, segurando os seus impulsos.
— Não, vou te foder só no último dia, quando se for da
minha vida.
Ergo a cabeça e sorrio.
— Sabemos que é um plano falho.
Então passo rebolando por ele, para aguardá-lo na
porta do quarto.
Rael vem e me pressiona no portal.
Arqueio as costas, com dor.
— Se eu começar a te foder, não vou mais parar. Não
ouse provocar isso, ou posso te mandar embora bem antes
de domingo!
— O problema não sou eu provocar, é você resistir a
mim — lambo a sua boca e ele me larga bravo, saindo pelo
corredor a fora.
Vou atrás, sorridente e satisfeita. 
Seja o que for, vou deixar esse homem louco!
Descemos até a sala principal do castelo e não paro
de abrir a boca, deslumbrada. Não há palavras para esse
lugar. É tanto luxo. 
Rael me leva para tomar café no jardim, juntamente
com o Lucas, que já nos aguardava.
— Olá, Lucas.
Faço questão de me aproximar e cumprimentá-lo
intimamente.
O coitado olha para o Rael, sem reação.
Eu sorrio e sento-me.
O homem ao meu lado me fuzila. 
Será que está incomodado? Ia adorar que sim.
— Humrun — Lucas pigarreia. — Você tem muitos
compromissos essa tarde?
— Preciso saber como anda os negócios da família,
estive semanas fora. Morcego pretende me atualizar.
— É que necessitamos de algum Calatrone na
academia. Isa quer recrutar novos homens.
— Vocês chegaram hoje e já estão focados no
trabalho?
— Também estivemos fora… junto com você. Durante
a viagem já estávamos calculando nossos afazeres.
— Certo, avise a Isa que os Calatrone confiam
perfeitamente nela. Está autorizada a realizar os
recrutamentos sem a nossa supervisão. Informarei ao meu
tio e aos meus irmãos.
— Ok… — Lucas me olha e pigarreia de novo, ao
desviar. — Você pensou no que te pedi? Sobre me contratar
para ser um cobrador?
— Em breve, Lucas. No momento, precisamos de você
na academia.
Lucas empalidece de decepção, mas concorda e toma
calado o seu café.
Que dó, parece que ele queria muito isso.
Logo termino de comer primeiro do que eles, que
conversam o tempo todo sobre essa tal academia que a
cachorrinha da Isabel é chefe. Odeio essa idiota.
— Rael? — chamo a sua atenção. — Posso dar uma
volta pelo jardim?
Ele assente, sem maiores oposições e eu retiro-me,
dando graças a Deus. 
Adoro o ar livre, ainda mais em um jardim tão bem
cuidado como esse.
Faço um passeio demorado pelos labirintos. Tudo ao
meu redor me deixa curiosa, com espírito explorador. Em
meia hora volto para dentro, só que não pelo mesmo
caminho, pois já me perdi. Entro no castelo, explorando
agora uma ponte pequena, que me leva até o salão de
festas, que tem outra ponte maior, bem ornamentada. Essa
é a segunda entrada do castelo Calatrone.
Que incrível. Estou num conto de fadas.
Eu olho para as escadas em espiral e paro perto de
uma mureta, contemplando tudo que está ao alcance dos
meus olhos.
— Olá. 
Levo um pequeno susto com a mulher que para ao
meu lado. Não a vi chegar, acho que estava tão entretida
com a vista. Analiso a beleza dela, parece uma modelo,
seus cabelos castanhos, seus olhos claros, os traços, as
curvas, é linda. Lembro-me dela ontem, foi a primeira a dar
um sermão no Rael. Acho que é a noiva de um dos seus
irmãos.
— Olá, bom dia.
— Contemplando o castelo?
— Sim, é magnífico em todos os sentidos.
— É mesmo, estou há pouco tempo morando aqui e a
ficha ainda não caiu. Não sei se lembra do meu nome, mas
sou a Elena.
— Lembro sim. E eu sou a Jolie, a viúva, deve saber da
história.
— Soube ontem à tarde pelo Hoss, o meu noivo. É
tudo muito novo para mim. Não pertenço a esse mundo.
— Se não pertence, por que está aqui, sendo uma
Calatrone?
Elena respira fundo e toca na sua barriga.
— Virei uma tola apaixonada, que aprendeu a amar
outro tolo mais apaixonado ainda.
— Você está grávida… — sorrio, encantada ao
imaginar a sua barriga crescendo.
Pedro nunca quis me dar um filho, não que eu
quisesse também. Por mim, a família Borghi poderia se
findar para sempre, exceto pela minha querida enteada. 
— Estou, descobri esse mês, acredita?
— Sério? Parabéns, que sua gestação seja tranquila e
que no fim o seu bebê venha com muita saúde.
— Obrigada, Jolie.
Elena me observa, parece com vontade de dizer mais
coisas. Sinto-a atolada de palavras.
— Você e o Rael estão juntos, em algum
relacionamento? Desculpa perguntar...
— Não, ele jamais ficaria com uma bomba, que pode
explodir a qualquer momento nas suas mãos. Eu e o Rael
não passamos de um sexo muito quente, cheio de desejo
carnal. Já tenho consciência disso.
— Era o mesmo que eu dizia sobre o Hoss.
— Eu sou diferente, Elena. 
— Mas não tão diferente de mim e do seu cunhado, o
Paulo Borghi, quase fui… — Ela balança a cabeça.
— Quase foi? 
— Desculpa, Jolie, você não é muito confiável no
momento.
— É claro… — desvio dela, muito atenta ao assunto,
principalmente ao seu comportamento. — Não se preocupe,
sei que não sou bem-vinda.
— Nossa situação é um pouco igual. Não sei o que vai
acontecer, mas sei que a Hera vai ser um grande desafio
para você. 
— Está tudo bem. Sou uma mulher muito forte, já
enfrentei desafios piores.
— Bom, Hera é… bem protetora, diria uma leoa com a
família. 
— E eu sou um risco a todos que ela ama. Ela pode
ser capaz de qualquer coisa para me ver bem longe daqui…
até do Rael.
Fecho a mão com força, não querendo isso, por mais
que eu não tenha o controle do destino.
  — Jolie! — e falando no bendito, ouço a voz do Rael
estridente, cada vez mais próxima de nós.
Ele está subindo ligeiro a escada do salão.
— Já vou, Jolie, qualquer coisa estou na sala, com
licença… — Elena se retira.
— Resolve sumir assim? Estava te procurando!
Ele chega, parando bravo na minha frente. Só faltava
soltar fogo pelas narinas...
— Qual o problema? Que eu saiba, fugir do castelo
não é uma opção que me mantenha viva. Só estava
explorando os arredores.
— Chegou ontem e já quer sair explorando o que não
deve.
Entediada, dou mais um passo na direção dele e
respiro o aroma inebriante do seu perfume.
— Você não tinha um monte de coisas para fazer,
referente a sua vida de agiota? 
— A tarde, Jolie. A tarde que estarei bem longe de
você.
— E vai estar onde… com a sua cadelinha na tal
academia? — questiono debochada. 
— E se eu estiver? 
Fuzilo ele.
— Vai lá então!
Tento ir embora, mas o Rael puxa o meu braço e
aperta a minha cintura.
— É uma mulher impossível.
— Sou toda possível, é você que não quer me comer
direito.
— Jolie, porra! 
Ele me aperta mais no seu corpo e sinto a sua ereção
rígida no meu quadril. É espessa, deliciosa.
— Quero ver o seu pau, quero tocá-lo, prová-lo… mal
imagina o que posso fazer.
Rael pressiona a minha bunda com força.
Aperto o seu queixo e beijo o canto da sua boca,
achando que não seria retribuída, porém, ele surpreende e
avança faminto nos meus lábios, como se estivesse prestes
a sugar a minha alma. Não perco tempo, retribuo igual,
chupando e saboreando a sua língua maravilhosa, muito
habilidosa. 
O calor começa a dominar o meu corpo, a subir pelas
pernas, conforme o Rael conduz o nosso beijo. 
Beijo não, sexo, pois ele está penetrando a língua
igual uma oral.
Fico louca, querendo mais.
 
O gosto da sua saliva, a maciez dos seus lábios, nunca
experimentei boca tão viciante. Não consigo parar de prová-
la, de desejá-la. Preciso acabar com esse desejo, mas sei
que uma noite não será capaz de suprir nem metade. Posso
não parar, isso é pior.
— Rael… — Jolie geme, esfregando-se no meu pau.
Eu agarro a sua bunda avantajada, louco com o seu
corpo dos deuses. É perfeita, maravilhosa.
Ela afasta a cabeça, para poder respirar.
Vou descendo os beijos pelo seu pescoço, explorando
cada extensão de pele e comprovando o meu desespero
para fodê-la, não consigo parar. Minhas mãos tomam vida
própria e deslizam pelas suas curvas.
— Tem gente… vindo. 
Desta vez é a Jolie que me faz resistir, a um fio de
pular do precipício.
— Como me frustra fazer você parar, eu te quero. 
Ela alisa o meu volume, sentindo a sua rigidez
inclinada para a esquerda. Eu latejo mais dolorido.
Olho para o lado e são duas empregadas que
apareceram com os seus materiais de limpeza. Elas ficaram
chocadas ao nos verem por pouco transando no meio do
corredor.
— Vem, vamos — puxo a Jolie para sairmos rápido.
— Vai continuar de onde paramos? — sussurra
maliciosa.
— Preciso ficar longe de você. Até no inferno se for
preciso.
— Para de se martirizar, quando nos conhecemos não
era assim.
— Quando nos conhecemos, você havia acabado de
matar três caras e tentado roubar o meu colar.
— Ah, de novo esse colar… 
Ela para e eu viro, encarando os seus olhos escuros,
misteriosos.
— Fica só revivendo o que já aconteceu. Também para
de me tratar assim, como se eu fosse um monstro.
— Não estou te tratando dessa forma. Quer saber?
Nem eu me reconheço perto de você, Jolie. Nunca fui desse
jeito. Quero-a longe de mim, ao mesmo tempo que quero
arrancar as suas roupas e te foder até não existir mais
nada, além dos seus berros de prazer.
Jolie passa exasperada a mão no meu peitoral, só que
a distancio.
— Não quero você, porra, não quero.
— Eu quero, Rael, quero muito.
Nego com a cabeça, maluco com tudo isso.
— Volte para o seu quarto agora mesmo, siga o
corredor, entra no elevador e suma da minha frente, até eu
querer ter contato de novo com você!
— É um covarde, hipócrita! Fala isso, sendo que
escolheu por vontade própria me trazer para cá, para o
meio da sua família! 
— Se eu te deixasse lá, morreria! Você mesmo
suplicou isso, a minha ajuda! E pela milésima vez eu fiz
papel de trouxa!
— Eu não supliquei merda nenhuma! Não te pedi
ajuda, nem a sua pena idiota.
— Seus benditos olhos pediram! Não negue isso! Está
sozinha, abandonada! Não tem mais ninguém, além de
mim! 
— Cala essa merda de boca!
Os olhos dela lacrimejam.
— Não tenho ninguém, mas não é culpa minha, seu
traste! — ela bate no meu peitoral. — Eu só tinha 15 anos
quando fui obrigada a aceitar o meu destino pelos Borghi!
Nada disso é pela minha vontade! Você não sabe meio terço
do que tive que passar naquele inferno! E jamais vou te
contar! Jamais serei vulnerável de novo!
Então vira as costas, caminhando exasperada para o
final do corredor.
Jolie… Droga.
Encosto na parede, sem forças para dar meio passo e
ir atrás dela. 
Não entendo, não consigo compreender, ao mesmo
tempo que também entendo e a compreendo. Não sei o que
fazer com essa mulher, não sei o que fazer comigo.
Jolie me deixa encurralado. Tudo é imprevisível, fora
do meu controle, não sei o que pode acontecer amanhã.
Isso me amedronta, enlouquece mais do que o desejo
de transarmos.
Bendita hora que eu fui conhecer essa bruxa. Queria
voltar ao passado e apagá-la da minha existência.

 
— Por que permitiu que eu a trouxesse para o
castelo?! — Invado o escritório do meu tio, esbravejando
contra ele.
Desde que cheguei não conversamos sozinhos, cara a
cara.
Tio Argus sai de perto da janela e me olha.
— Você começou tudo isso, filho. Não devia ter a
levado de Braga, era a sua última chance.
— Como poderia ser a minha última chance? Posso
descartá-la da minha vida a qualquer momento!
— Pare de negação, Rael. Está pior do que o Hoss.
— Estou louco! Quero Jolie longe de mim!
— E por quê?  
Argus serve duas bebidas e me oferece uma.
Sento-me no sofá e bebo numa golada.
— Ela me faz sentir medo… medo de perder todos que
amo. Não paro de me corroer de remorso, arrependimento
por ela estar aqui. Ao mesmo tempo… — suspiro. — Sei que
a Jolie é uma vítima da máfia.
— Não é só o medo que te perturba em relação a
Borghi. Ela dificulta a sua vida, que sempre foi fácil, ao seu
ver. Está se sentindo fora do controle da situação.
— É claro que saberia disso… 
— Escuta, Rael. Não tenta tomar controle de tudo ao
seu redor, só para buscar métodos que facilite as coisas,
pois, quando não acha, começa a ficar louco de verdade.
Como agora.
— Eu sei que sou assim, e eu teria com certeza
deixando a Jolie para trás, pois taco o foda-se sem pensar
duas vezes. Só que estar sozinho com ela, é como se me
manipulasse, enfeitiçasse-me a querer protegê-la. Seus
olhos misteriosos deixam isso explicito, é um socorro, um
“não me deixe”. — Passo a mão no rosto, louco de novo. —
Ou não é… não sei.
— Jolie não tem ninguém e ela jamais diria
explicitamente que também precisa de alguém. Foi uma
mulher criada pela máfia, para ser poderosa, inabalável,
fria, calculista e perversa. Quando deseja, ela sabe se trajar
muito bem dessa mulher. Já a vi em ação, foi num evento
político há dois anos. Não teve um ser humano que não a
admirou e se amedrontou. 
— Ela não é essa mulher comigo, ela é só… a Jolie, ou
a viúva Borghi — dou de ombros. 
— Então a mesma não está manipulando nada, está
sendo real, confiante a você.
— E o que eu faço, tio? O que eu faço com ela? É isso
o que preciso saber.
Pela primeira vez eu vejo o meu tio quieto e
pensativo.
— Estou pensando, filho. Responda-me, você está se
envolvendo com a Borghi?
— Já viu aquela mulher, o quanto é bonita? Tem como
resistir?
— Rael — Argus me repreende. — Não se envolva
emocionalmente.
— Não tenho outros sentimentos por ela, além de
desejo.
— Mas ela pode ter.
Respiro fundo, tendo certeza de que estou fissurado
apenas para fodê-la, assim como Jolie. Chegamos muitas
vezes perto dos finalmente, isso já nos frustrou demais.
— Marquei uma reunião com o Morcego, preciso ir… —
ergo-me do sofá, sem querer tocar mais nesse assunto
“Jolie”, estou cansado.
Meu tio apenas assente e retiro-me da sua sala.
A reunião dura meia hora, Hoss participa e nenhum
deles tocam no nome dela. Eles me atualizam de tudo que
aconteceu nas últimas semanas, incluindo os novos
clientes. Depois, eu e o Hoss saímos para cobrar alguns
devedores. Como demoramos, almoçamos fora e ainda
passamos na academia, onde recrutamos novos “caras”.
Eles não são fixos, são convocados só quando precisamos.
Contudo, há um processo de treinamento. Devem ser leais
aos Calatrone, caso nos traiam, morrem. É simples.
Voltamos para casa às 16h30.
— Já terminei o meu carro — Hoss informa e acena
para acompanhá-lo até a garagem. — Graças a você
precisava entreter a cabeça.
— E não vai agradecer a mim por te dar esse
desempenho?
— Vai para a puta que te pariu, Rael.
— Vai se foder você, seu ingrato.
— Ingrato é minha mão na sua fuça, seu arrombado.
— Hoss, como ousa? Sou o seu irmão preferido.
— Já não mandei você a merda?
— A verdade é que me ama incondicionalmente.
— Eu amo a minha mulher e a minha anãzinha, por
você eu tenho o mesmo carinho que tenho por um pé de
alface.
— Espera… Oh, meu Deus — coloco a mão no peito,
atuando uma cena de ofendido, digna de Oscar. —  Você
odeia alface. Como pode me comparar assim?
Hoss rola os olhos, enquanto eu analiso o seu carro
impecável. É, ele conseguiu mesmo.
E aí, o que achou?
— Porra, o carro ficou foda! Precisamos dar uma volta
nele.
— Já dei a volta com o Vince.
— O quê? — coloco a mão de novo no peito. — Como
ousa tamanha traição? Não quero mais viver, é demais para
mim.
— Por mais que eu te deteste, sinto-me feliz por ver o
meu irmão de volta. E me refiro a essa sua naturalidade de
irritar as pessoas como ninguém.
Hoss bate no meu braço.
Ele acabou com o clima dramático que criei.
— Talvez seja porque eu estou longe daquele furacão
Borghi.
— Está se envolvendo com ela, não está, Rael? —
Hoss de repente me enfrenta, bravo. — Vou ter que prender
esse seu pau com cadeado, ou castrá-lo!
— Isso não é da sua conta.
— Se tornou da minha conta quando trouxe essa
mulher para se esconder embaixo do mesmo teto que o da
nossa família!
— Chega, Hoss! 
Viro as costas para o meu irmão, sem querer discutir.
Darei uma solução para isso, eu sempre dou!
— Senhor… — Luiz, nosso mordomo, me para perto do
elevador.
— Sim, Luiz?
— A Sra. Jolie não saiu do quarto e nem tocou no
almoço. Levei outro lanche para ela, mas também não quis
comer. Sua única refeição do dia foi só o café da manhã.
Molho os lábios, sem entender o motivo dela não estar
comendo.
— Prepare outra bandeja com muita comida, vou
aguardá-lo.
Ele assente.
Espero o Luiz, impaciente para vê-la de novo. Jolie vai
comer por bem ou por mal. O que ela está pensando? Em
morrer de fome?

— Aqui, Sr. Rael. 


Luiz volta rápido com a bandeja e me entrega.
Agradeço, entro no elevador e subo até o quarto da Jolie.
Desta vez bato na porta, até ela abrir. E quando abre, fico
nervoso ao vê-la só de roupão, parece que tomou banho a
pouco tempo. Sinto até o cheiro doce da sua loção corporal. 
— Aprendeu a bater na porta? — debocha ao dar de
cara comigo.
Não dou ouvidos e entro, esbarrando no seu ombro.
— Por que não está comendo?
— Dever ser porque estou sem fome! — Fecha à
porta.
— Foda-se, senta-se aqui e come!
— Vai me obrigar? 
— Vou!
Após colocar a bandeja sobre a cama, eu chego perto
dela, imponente com meu peito inflado e músculos
enrijecidos.
— Vai já comer, Jolie!
— Eu já estava me arrumando para o jantar, não
quero comer aqui.
— Pois vai comer aqui.
Ela enfrenta os meus olhos.
— Continue sendo um arrogante comigo, você vai se
arrepender.
Em passos duros, Jolie vai até o banco aos pés da
cama e se senta. Enquanto come, eu analiso-a, com
remorso pela forma que estou a tratando. 
Não sou assim… que merda.
Caminho até o banco e me sento na outra ponta.
Não falamos nada. Às vezes trocamos olhares, porém,
hostil da parte dela. Pego um cacho de uva verde para
comer… e tomar a porra da coragem para me redimir.
— Jolie…
— Se for para ser ainda mais arrogante, não diga
nada.
— Não estou sendo, é só a minha forma de me
defender de você.
— Se defender de mim? 
— Sabe o que eu quero dizer.
— Eu sei, você tem medo do que eu posso causar às
pessoas que ama… — ela abaixa a cabeça e parte o pão
doce. — Queria ter esse sentimento, nunca tive um parente
sequer para se importar comigo.
Meu peito acelera e me arrasto para mais perto dela.
— Não sinta pena, Rael. É um simples comentário.
Jolie fita os meus olhos.
— Só quero você me satisfazendo, é pedir demais? —
simplesmente bufa e abandona o pão.
Não aguento. Que tortura, preciso dessa mulher.
Afasto a bandeja, puxo o seu braço e colo a nossa
testa.
— Por favor, não comece, se não for até o fim...
Ela sopra o seu hálito sobre os meus lábios. 
Inclino a cabeça e beijo-a com vontade, mostrando
que vou nos satisfazer loucamente, até mais do que o fim.
Jolie não demora para retribuir mais faminta do que
eu, sugando a minha língua e mostrando que também não
vai me deixar parar.
Ela passa a perna esquerda sobre as minhas coxas e
escala o meu colo.
Eu passo a mão por baixo do seu roupão e sinto-a
nua, sem as roupas íntimas.
— Eu vou te comer, Jolie, vou meter meu pau tão duro
entre as suas pernas — rosno contra o seu pescoço,
mordicando-o.
— É isso o que eu quero — ofega sem ar e rebola forte
no meu membro.
Abro o seu roupão, tonto com a vista dos seus seios
esbeltos, mamilos rosados e empinados. Ela é perfeita, seus
quadris são grandes, a bunda avantajada, as coxas grossas.
Sei nem como descrever tamanha perfeição. Quero-a.
Meu coração acelera, repleto de adrenalina. Aproximo-
me com a boca e abocanho o primeiro mamilo, o segundo
massageio, intercalando a atenção em cada um; chupo,
mordo, mamo, delicio-me, é um banquete.
Jolie segura a minha cabeça, gemendo e rebolando
excitada no meu pau.
— Hummm… que delícia. 
— Vai ficar mais gostoso.
Pego-a no colo, levo até a cama e deito o seu corpo
nu, de pele branca como a neve. Seus seios ficaram bem
vermelhos pelas minhas mamadas.
— Tira a roupa — Jolie pressiona as coxas, não
permitindo que eu leve a mão ao seu clítoris. — Tira logo. 
— Quer tanto ver o meu pau?
— Só vi dois na vida. Claro que eu quero.
— É o que vai ter...
Afasto-me e tiro primeiro a camisa, depois os sapatos
e a calça, juntamente com a cueca. E quando meu pênis se
evidencia grande, grosso e inchado, Jolie arregala os olhos.
— Não é possível. É muito mais dotado do que
imaginei.
— Entre os dois que viu, eu fico com o top 1?
Ela sorri, morde o lábio e me chama toda safadinha
com o dedo indicador.
— Só merecerá o top 1 se me fizer gozar pelo menos
uma vez. É capaz?
— Jolie, Jolie, não ouse perguntar essa porra de novo.
Dou dois passos até a cama e quando paro, ela toca
no meu pau. Fecho os olhos, latejando de excitação.
— Nossa, como é grosso… muito grosso. 
Jolie dá uma lambida na cabeça e num reflexo de
segundos, eu seguro o seu pescoço, jogando-a com força
contra o colchão.
— Rael…
— Não me provoque sem eu mandar.
Ela sorri e se ajeita com os cotovelos.
Que vista linda, ela assim, toda peladinha.
— Ah, então devo esperar você mandar?
— Exatamente.
— Tá bom, vamos fingir que manda.
Toco nas suas pernas, subindo os dedos entre as
paredes quentes das suas coxas.
Ela geme.
— Abre as pernas, Jolie.
— Não quero preliminares, não será necessário, estou
encharcada o suficiente para meter bem gostoso.
Mas que… cacete, assim fica difícil mesmo.
Subo nu em cima dela, esfregando meu caralho na
testa da sua boceta. Pareço um tarado. Pego a camisinha,
abro com raiva e revisto-me no látex apertado do inferno.
— Essa cara furiosa, cheia de pequenas cicatrizes…
você é assustador. Muito assustador — sussurra,
mordiscando a minha orelha e envolvendo os meus quadris.
Sem muitos esforços, o pênis fica posicionado
certinho na sua entradinha molhada. Ele sabe o caminho,
ele esperou muito por isso
Jolie olha bem no fundo dos meus olhos. 
Eu abaixo a cabeça, envolvo os seus cabelos e beijo-a,
enquanto penetro a sua vagina apertada.
— Hummm… — ela separa os nossos lábios, fecha os
olhos, aperta mais a pélvis e morde a boca, gemendo cada
vez mais de prazer.
Cada centímetro que avanço é uma tortura.
Que tesão. Sinto cada pedaço de pele transpirar em
chamas.
— Mais, Rael… Ahhhhh!
Respiro fundo e meto tudo de uma vez. Não deixo
nem que se acostume com a grossura.
Jolie finca as unhas nas minhas costas, chorando
lágrimas de verdade, a cada arremetida forte.
— Está... chorando… 
— Estou sentindo um poste dentro de mim, o que
queria?
Não aguento e quase me enfraqueço de rir. Jolie
também. Até que o riso se vai e a gente fita um ao outro,
apreciando nossos batimentos cardíacos, a respiração
ofegante e a ligação dos nossos corpos. Tudo queima dentro
de mim, será que ela sente esse mesmo fogo?
— Rael… não para — suplica e tenta se movimentar.
Beijo-a e volto a bombardeá-la ferozmente. 
— Mais! Mais! Mais!
Não paro por hipótese alguma. Começo a pensar em
milhares de cenas brochantes, só para não gozar primeiro
do que ela. 
— AAHHHH.
— Porra, Jolie, porra!
Tento abafar seus berros e recebo em troca arranhões
nas costas. Ela já está fora de si, completamente entregue
ao nosso prazer. É ainda mais excitante. Sinto o seu
abdômen contrair, a boceta me apertar e todo o seu corpo
tremer. Então é a minha vez de despejar na camisinha.
Sem querer parar, Jolie aproveita que estou fraco e
nos vira, vindo por cima de mim.
— É a minha vez de mostrar quem manda, Sr. Rael.
Ela joga os cabelos para o lado e sem penetrar, rebola
no comprimento do pau. Rebola mostrando que pode foder
muito bem com o meu pobre psicológico. Fico duro de novo.
Louco e gemendo, agarro os seus quadris,
estimulando a rebolar e quicar com mais fervor. Seus seios
balançam, os fios de cabelos grudam pelo rosto suado e as
coxas entram em atrito com as minhas. 
Não, não, droga. Fecho os olhos, para não ver essa
cena maravilhosa e gozar feito um velho precoce. O foco é
nela, em fazê-la gozar até desmaiar de exaustão. 
E faço, tomo posse novamente e desconto toda as
torturas que tive ao fantasiar nossa noite de sexo, os
momentos que me consolei apenas com a punheta e a
imaginação. Agora tenho-a aqui, nas minhas mãos, para
fazer o que eu quiser.
Taco Jolie de quatro, de frente, de lado. Ela até tenta
tomar o controle de novo, mas não consegue, não mais…
ainda não terminei o meu trabalho.
 
Eu gemo baixinho, arqueando as costas e suspirando
o último fôlego dos pulmões. Rael me olha ofegante. Ainda
está dentro de mim com o seu mastro grosso e enorme. Vou
sentir tanta dor quando o meu corpo “esfriar”, mais do que
já estou sentindo nas coxas, costas e entre as pernas.
Nunca fui tão bem fodida desse jeito. Sabia que o Rael era
único em todos os sentidos dessa palavra.
— Foi a primeira vez que dei de quatro.
— Droga, Jolie...
Rael sai de cima de mim, tentando não olhar para o
meu corpo.
Estamos suados e cansados.
Esse sexo foi um alívio de meses de desejo, apenas
isso. O próximo será mais calmo, mais íntimo. Eu quero isso,
quero mais desse homem. Quero tudo que nunca tive no
meu matrimônio. E quero dar tudo que nunca pude dar.
— Pois, espero que tenha sido ótimo para você.
Sem respondê-lo, puxo os lençóis da cama para
tampar a nudez.
Ele vira de costas, com a sua bunda bem avantajada e
durinha. Tem a marca das minhas unhas nela. Ele tira a
camisinha, dá um nó, veste a cueca e vai até o banheiro.
Continuo esparramada na cama, olhando apreensiva
para o teto. Quando Rael volta, ele nem olha para mim, mal
me dá atenção, só termina de vestir suas roupas, passa a
mão na barba, no cabelo e tenta ir embora.
— Rael… 
Paro-o.
Ele fita os meus olhos.
— Já está arrependido?
— Arrependido por não ter te fodido mais? — bufa,
todo gostoso com esse burrismo. — Não vou ficar viciado,
estou no controle disso.
Rolo os olhos.
Por que ele acha que pode controlar a si mesmo? É
impossível. Nada está o tempo todo sob o nosso controle. E
é esse o defeito dele, por isso se frustra e se estressa tanto.
No fim, desconta essa frustração em mim, como já andou
fazendo, desde que me achou em Braga.
— Não pode controlar os seus desejos.
— Não, mas eu posso resistir.
É o que veremos.
Só não vou provocá-lo agora, porque acho que não
terei forças nas pernas para correr desse ogro de dois
metros. Amanhã estarei pior, assada e dolorida.
Sento-me na cama, bem devagarzinho. E só para
testar o meu poder de manipulação, dou um gemidinho
dramático e fecho os olhos.
— Jolie? — Rael vem rápido até mim. — Que foi?
Viu como isso não estava no controle dele, mas sim
do meu?
Seguro a vontade de rir e me apoio na mão grossa
dele, forçando-me a manter a cara de doentinha.
— Não sei, estou tão fraca e cansada.
— Claro, está desde ontem sem fazer uma refeição
decente. Para complementar, foi muito bem fodida até o
esgotamento das forças. 
— Muito bem fodida?
Puxo a mão dele e ergo-me, deixando o lençol para
trás e revelando “inocentemente” a minha nudez.
Sinto o coração do Rael acelerar desesperado, ele
parece lutar contra a vontade de me soltar e sair correndo.
Coitadinho, perdeu até a direção da vida.
A verdade é que o deixo fora do controle. Sou a
própria gasolina que incendeia seu fogo em chamas vivas. E
ele não consegue apagar.
— Minhas pernas, Rael…
Ele se aproxima de mim, segurando-me mais forte.
— Você é porra mais perfeita desse mundo, Jolie. 
— Eu sei.
— Ainda é metida.
— Sou mesmo.
— Merecia mais tapas nessa bunda — sussurra,
apertando o meu pobre traseiro. 
— Não vou aguentar, você acabou comigo.
— É melhor que descanse.
Assinto e fito os seus olhos, querendo que ele decifre
o meu desejo de tê-lo, e de querer ser sua.
— Depois eu volto. Tenta comer pelo menos a metade
dos alimentos da bandeja, vai se sentir melhor.
Lutando para não escanear novamente a nudez do
meu corpo, Rael então me solta e vai embora, sem olhar
para trás. 
Sozinha e supersatisfeita, jogo-me na cama e começo
a sorrir.
Meus planos estão seguindo como queria… como o
queria. Mesmo assim, ainda é tudo incerto. Preciso
aproveitar isso.
Mais tarde, Rael não volta para o meu quarto. Resolvi
continuar “presa”. Não desci para interagir com a família
Calatrone, por mais que nem bem-vinda eu seja. Entretanto,
na manhã seguinte, acho que fui a primeira a estar de pé no
castelo, não antes dos empregados, mas antes de toda a
família sim.
— Uau, tem um sol reluzente no meio da nossa sala.
Bom dia, Sra. Borghi.
Um homem alto, de cabelos loiros, cumprimenta-me e
me analisa por inteira, sem nem sequer disfarçar. Ele é
bonito, sei que é o terceiro irmão do Rael. A beleza e o olhar
quente não negam o parentesco.
— Bom dia, e por favor, chame-me apenas de Jolie.
— Que tal anjo? Combina mais com sua beleza dos
deuses.
Sorrio. Já adorei o jeito dele, pelo menos não me
maltratou.
— Bom dia…
A prima deles surge na sala. Ela também me analisa
dos pés à cabeça, mas de um jeito nada receptivo. Essa
mulher é belíssima, alta, pele negra, cabelos bem
cacheadinhos e um olhar bem intimidador.
— Bom dia — respondo.
— Caiu da cama priminha? Já sei, levou outro susto
com a cara de sapo do seu marido?
— Vince, sem tempo para você, vai encher o saco de
outra.
— Quanto amor, assim parte o meu coração. E vou
encher a minha barriga, estou morto de fome.
— E quando não está?
— Quando estou dormindo — debocha e dá uma
piscadinha. — Com licença, belas damas, vou tentar
adiantar o nosso delicioso café da manhã. Tentem manter
as unhas nos dedos, já volto.
Ele se retira.
Hera me observa, a seguir, se aproxima elegante de
mim. Em nenhum momento ela desfaz a sua cara séria,
nem quando para na minha frente com os seus saltos
estridentes. Igualmente eu, que não abaixo a cabeça.
— Não sou a sua inimiga, Jolie. Só preciso saber o que
você e o meu primo tem.
Arqueio a sobrancelha.
É a primeira vez que ela conversa diretamente
comigo.
— Nada, de nenhuma das partes.
— Não acredito em você, nem mesmo nele. Tem um
prazo neste castelo, até domingo, e nada pode estender
essa tortura de semana.
— Não sou má pessoa, não pedi para estar aqui, nem
para ter cruzado o caminho do seu primo. 
Ela se cala, entretanto, não muda a posição
irredutível.
— Não confio em você, apenas sei da gravidade que
pode causar às pessoas que amo, isso inclui o Rael.
— Tenho consciência, estou nas mãos dele. O que for
decidido, assim será.
Vejo algo diferente nela, nervosismo. Talvez a nossa
conversa não tenha saído como esperava. Apenas fui
sincera, estou nas mãos do Rael, não tem como suplicar que
ele me proteja, que faça algo por mim, não tenho esse
direito. Estou aqui, quero-o e vou viver isso até onde seja
possível – da parte dele.
Afastando o clima pesado que ficou, é a vez da Elena
aparecer na sala. Ela olha demorado para Hera, adiante,
cumprimenta-nos.
— Aparentemente, deixamos os nossos despertadores
no mesmo horário hoje. 
— Lembrando, dona Elena, que foi você quem me
tirou cedo da cama. 
— Mentira, você que estava toda animada para a
inversão de papéis.
— Eu? Claro que sim — Hera se senta no sofá, com
cara de maléfica. —  O noivado já aconteceu, agora, você e
o Hoss precisam ir ao cartório marcar o casamento. Não
vejo a hora de começarmos a organizar a cerimônia.
Elena rola os olhos,
Fico quieta, apenas ouvindo-as.
— Hera, vamos com calma, não tem nem dois meses
que entrei para a família Calatrone.
— Mas, Eleninha, no ramo da nossa família, tempo é
dinheiro. O amor não espera, vocês precisam viver isso
loucamente. O amanhã é incerto. Ainda mais para nós, que
vivemos noite e dia sobre fortes riscos de vida — Hera me
olha. — Não é mesmo, Borghi?
Assinto, tão misteriosa e novamente sincera.
Sei que Hera não está tentando ser amigável. 
— Entendo como ninguém. O pior é quando não
podemos ter escolha, de não viver esses riscos. Temos que
ser fortes, agir muitas vezes sem pensar no amanhã. Assim
como disse...
E de novo, deixo a Hera sem ter o que dizer. Seu olhar
fica distante, pensativo. Ela desvia de mim e molha os
lábios.
— Hoss vai colocar a aliança oficial nesse seu dedo
antes do ano novo. Escreve o que eu estou falando. 
Elena se ergue, tão bonita, elegante e poderosa. 
— Falando em Hoss, ele saiu às 04h da manhã com o
Rael e ainda não voltaram.
— Normal, foram cobrar algum cliente. Recebemos
semanalmente. Sabe como é a regra dos Calatrone… 
Elena assente.

 
Sem suportar mais o infeliz do Igor me enchendo o
saco, eu meto a arma na sua cara.
— Vai continuar zombando?
— Eita porra! Vamos com calma Rael do meu coração
— ele ergue as mãos, segurando a vontade de rir. 
— Rael, abaixa a droga dessa arma e pega o dinheiro.
Hoss me passa as três bolsas pretas e eu jogo dentro
do porta-malas.
Assim que entramos no carro, Igor troca o seu olhar
comigo. Já sei o que pensa, é o mesmo que a minha família.
— Você não pode suprir algo por ela, precisa parar
isso antes que se foda bonito.
— Ainda estou pensando no que fazer.
— Já sabe o que fazer — Hoss pisa no acelerador. —
Você sempre sabe.
— Desta vez eu não sei, merda, só de tocar na
existência dessa mulher já fico maluco.
— Estamos deixando que pense até domingo,
enquanto isso, está proibido de visitar o quarto da Borghi,
pelo seu próprio bem. Para não a foder!
— Um cinto de castidade seria mais seguro.
Não aguento e fuzilo o meu irmão.
— Não é problema seu se eu quero comer a Borghi ou
se estou comendo! Deixe-me tomar as minhas decisões.
— Sabe como foi entre mim e a Elena. Eu não tive
controle sobre o que iria acontecer, ainda não tenho.
— Eu tenho o controle sobre as minhas decisões.
— Isso é uma piada?
— Vai para o caralho que te parta, Hoss!
— Por favor, Senhores Calatrone — Igor pigarreia. — E
Hoss, você passou a rua da academia.
— Foi proposital.
Ele aponta para o retrovisor e avistamos um carro na
nossa cola.
— Ele está nos acompanhando desde que saímos da
casa do devedor.
— Máfia? — Igor questiona.
— Pode ser, estão nos vigiando.
Hoss gira o volante e entra por trás no
estacionamento do subsolo da academia.
Ao estacionar, eu saio do carro, deixando-os para
trás. 
Entro na sala principal. Tem alunos treinando boxe,
Judô, Jiu-jitsu, Muay Thai e Caratê. Aqui também abrimos
aulas à tarde para crianças. Um jeito de nos camuflar.
— Rael! Bom dia — assim que a Isa me vê, ela corre
para me cumprimentar.
— Bom dia, Isa — aperto a sua mão e ela se afasta. —
O que faz por aqui?
— Estou acompanhando o Hoss.
Aponto para ele e o Igor, que se aproximam de nós.
Ao pararem, saúdam a Isa.
— Bom dia.
— Bom dia. Aconteceu alguma coisa?
— Não, vim aqui só para te pedir algo.
— Sim, senhor?
— Preciso saber quais são os teus dias livres na
semana, para ensinar a Elena a lutar.
— A Elena, sua noiva? Mas ela não está gravida?
— Apenas treine tire ao alvo, pelo menos atirar ela
deve aprender.
— Um risco, se não andar na linha, ela pode te partir
no meio, igual a Hera e o Morcego. Pobre homem.
— Vai se lascar, Rael.
— Que foi, maninho, ficou nervoso? É apenas um fato,
meu doce.
— Depois que falo as coisas, fica putinho também —
ele me fuzila. — E voltando ao nosso assunto, Isa, quando
vai poder? Quero as aulas no castelo, é mais seguro.
Isa me olha, coloca as mãos para trás e pigarreia.
— Estou sempre livre depois das 16h. Posso ir todos
os dias, se o senhor quiser.
— Perfeito, quanto mais rápido ela souber se defender
e lutar, melhor.
— Acho que sou mais adequando a ficar com a parte
de ensiná-la a atirar. Afinal, até você sabe que eu sou o
melhor atirador do mundo — Igor se gaba.
— Filho da puta, convencido. 
— Aceita que dói menos, Rael.  
Eu soco o braço dele
— Ai, porra.
— Agora entendo porque é o melhor amigo do Vince.
Dividem o mesmo neurônio. Se tiverem um.
— Era só isso mesmo, Isa — Hoss nos ignora. — Pode
começar amanhã. Seu salário também será aumentado.
— Perfeito, Sr. Hoss, fica combinado. E Rael, posso
falar um minutinho a sós com você?
Assinto e me afasto para um canto com ela.
— Que foi?
— Então… — pigarreia. — É o meu aniversário
sábado…
— É? Já está pertinho. 
— Sim, e gostaria de convidá-lo para a minha festa
aqui na academia, com os rapazes.
— Nem precisava me convidar. É claro que eu venho,
sabe que é a minha salvadora — pisco.
Ela sorri.
— Que bom… era só isso mesmo…
Vejo-a estranha, como se não fosse só isso. Ou é o
jeito dela?
— Rael, vamos, temos mais uma cobrança para fazer
— Hoss me chama.
Despeço-me da Isa, com um “até amanhã” e retorno
ao trabalho. 

Mais tarde no castelo, chego das cobranças e


questiono o Luiz sobre a Jolie. Ele informa que ela está lá
fora no jardim, perto do lago. Porém, antes que eu pudesse
ir ao seu encontro, fui parado no meio do corredor pela
Hera.
— Hoje eu quero falar com você.
Finalmente, estava até demorando para essa
conversa acontecer.
Viro-me de frente. 
Hera está em pé, de braços cruzados e impaciente.
—  Não precisa nem gastar saliva.
— Não seja debochado, infeliz, ou aperto as suas
bolas até virarem omelete. Além de que deve ficar na sua!
— Estou na minha, você que está toda estressadinha.
— Meu estresse tem nome, Rael Calatrone!
— Eu estou resolvendo as coisas, Hera.
— Não está não, pelo contrário, está se relacionando
com a Borghi.
— E andou tratando-a mal por causa disso?
— Eu jamais a trataria mal, mas não vou me
aproximar e criar qualquer ligação, pelo bem da nossa
família. Ah, e isso foi um sim, está se relacionando com a
Jolie?
Não a respondo.
Hera respira fundo, desistindo de continuar me
confrontando. 
— Só até domingo, Rael.
Então ela se retira.
Eu passo a mão na barba, no cabelo e sem pensar
muito, vou atrás daquela bruxa. Vejo-a sentada no banco
perto do lago, ao lado da pequena Maria. Até me
surpreendi.
— Hoje a tia Elena comprou cachecol pra mim.
— E ela comprou de qual cor?
— Preto, amarelo e a cor do seu vestido…
— Roxo?
— Sim, menos rosa, pois não é uma cor bonita.
— Como assim, você não gosta de rosa?
Chego perto delas e observo a Maria dar de ombros.
Ela é tão lindinha.
— Preto é a minha cor preferida… rosa é muito, não
sei… feio.
— Acho que você não nega o sangue da sua família
Calatrone.
Os olhinhos dela brilham.
— Amo a minha família, eles me amam também e
cuidam de mim. Tenho um pai, é o Hoss. Só minha mamãe e
vovó que viraram estrelinhas, sabia? 
— Sinto muito, pequena… deve estar com saudades.
— Não sei, gosto mais daqui.
— Meninas… — digo e elas me olham.
— Tio Rael! — Maria fica toda feliz ao me ver, pula do
banco e corre para o meu colo. — Você e o pai Hoss
saíram? 
— Saímos e já estamos em casa.
Ela toca na minha barba com as suas mãozinhas
pequenas e inclina a cabeça, para falar algo bem baixinho
no meu ouvido.
— Jolie estava te procurando, mas não te achou e eu a
trouxe para o lago, porque eu queria vir aqui ver os patos…
acho que o pai Hoss vai ficar bravo. Ele falou para não
conversar com ela.
Jolie me olha e abaixa a cabeça, desviando para a
vista.
— Isso vai ser o nosso segredo, pode ser?
— Pode — ela faz o dedinho e eu repito o sinal. — De
dedinho, tio.
— De dedinho, princesa. Agora volte para dentro.
Beijo o seu rosto e a coloco no chão, com os seus
sapatinhos brancos.
— Tchau, Jolie… obrigada por vir ao lago comigo.
— Eu quem agradeço, bonequinha.
— Tchau, tio Rael.
A pequena volta correndo pelo gramado, fico de olho
nela, até entrar na área de lazer e sumir para dentro do
castelo.
E a sós com a Jolie, sento-me ao seu lado.
— Como está? — pergunto.
— Se refere ao meu estado, depois de ser fodida
ontem?
Ela me encara maliciosa.
Não aguento e fito a sua boca carnuda.
— Não me provoque, Jolie.
— E se eu provocar, vai fazer o quê?
Ela se inclina e coloca a mão sobre a minha perna.
Rápido, avanço no seu pescoço.
— Rael…
— Já falei para não me provocar, Borghi.
— Não ligo — fala com dificuldade.
E com seus dedos, ela aperta o meu membro, já
enrijecido.
— Que vontade de meter de novo a rola em você —
murmuro, aproximando a sua boca da minha.
O seu perfume feminino me deixa maluco de desejo.
— Nem me lembre, não paro de pensar no seu pau
bem-dotado. Acho que o meu cérebro ainda não processou
a imagem dele ao vivo. Só consigo processar as dores que
ele causou entre as minhas pernas.
Ela sorri e roça os nossos lábios.
— O que vai fazer comigo, Rael?
Hoje, essa é a pergunta mais difícil do mundo, só que
o Rael de duas semanas atrás saberia como respondê-la.
Com um foda-se.
— Eu quero fazer tudo com você.
— Você sabe que a pergunta não…
Beijo-a brutal, calando a sua boca deliciosa, com a
minha língua dentro. Exploro cada canto molhado, mostro
que quero devorá-la por inteiro.
Jolie aperta com mais força o meu pau, endurecendo-o
ainda mais.
— Como é duro… imaginei ele agora… dentro de mim.
Ela se contorce, retribui o beijo e quando eu estava
prestes a mergulhar minhas mãos entre as suas pernas
aberta, ouvimos um latido.
— Rael!
Jolie me empurra, arregala os olhos e sobe no banco,
quase em cima de mim, desesperada para se proteger do
Bravos.
— É só o meu cachorro.
— É um monstro! Olha essa fera horrível!
— Monstro é aquela sua gata das trevas.
— Não fala assim da Lady, seu desgraçado. 
Ela bate agressiva no meu peito.
— E prende esse dinossauro que você chama de
cachorro!
Bravos pula todo feliz com as patas grandes nas
minhas pernas, mostrando a língua babenta. Tadinho, ele é
um rottweiler, só tem carinha de assassino. 
— Não escute essa bruxa, filho.
— Bruxa é sua… vó!
— Bruxas que tem gatos pretos.
— Vai a merda!
— Ah, é?
Levanto-me do banco e a deixo sozinha.
— Então eu vou a merda e a bruxa fica aí.
— Você volta a… AÍ, RAEL ESSE CACHORRO DO CÃO!
Bravos late para cima dela e eu sorrio diabólico.
— Continua rindo! Eu vou te matar, desgraçado dos
infernos, creti… RAEL!
Bravos late ainda mais alto e mostra os dentes.
— Será que ele te achou saborosa?
— Seu filho da…
Bravos rosna de novo e quase avança.
— Ele não gosta que xinguem o seu querido dono.
— Ele vai me matar!
— Só se eu permitir — pisco e então viro as costas,
chamando o meu cachorro.
— Rael!
— Estarei na sala, bruxinha.
— Filho da mãe!
Deixo a Jolie para trás e em vez de ir para a sala
principal, eu vou para a sala de reuniões. Lá, abro a porta e
encontro o Hoss e a Elena trepando. De novo, caralho, já
estou traumatizado. 
— Mas que porra é essa, seus safados?
Elena solta um grito assustador e tenta pular da
mesa, mas Hoss a segura, pois ele com certeza está com o
pedaço de palito de dente para fora.
— Empata foda dos infernos!
— Vocês têm uma suíte de rei lá em cima para
transarem, não tem vergonha não?
— Você que não tem de atrapalhar um orgasmo.
— Iam gozar na mesa de reuniões? Cadê tio Argus!
— Rael, cala essa matraca! — Elena resmunga, toda
vermelhinha de vergonha.
Hoss fecha as calças, arruma a saia da sua mulher e
tira-a de cima da mesa, a seguir, Elena dá um tapa no
futuro marido.
— Ai, droga.
— Culpa desse cretino, faminto, que só de me ver já
quer coisa errada. Não sabe controlar esse bendito pau
carnívoro!
— Isso mesmo, cunhada, dá também um chute nos
testículos dele, se bem que não é inocente, estava trepada
na mesa com o meu irmão.
— Rael, quem vai dar um chute nos seus testículos
sou eu!
— Uma bala na fuça daria menos trabalho! — Hoss
puxa a sua arma e mira na minha direção.
— Você não é louco! — Elena arregala os olhos e
quase tropeça no tapete.
— Ele é sim, cunhada. Está vendo o que eu aguento
desde criança? E só por ser o irmão do meio.
Noto a Elena apavorada com a arma nas mãos do
Hoss. É, já está na hora dela começar a se acostumar. Em
breve será oficialmente uma Calatrone. Ainda não viu
metade do que podemos fazer.
Hoss abaixa a arma e vira para ela, reproduzindo os
meus pensamentos.
— Já tem que se acostumar.
— Eu nunca vou colocar uma arma na mão!
— Na do Hoss você pega sem reclamar.
Hoss ri e Elena taca um copo de canetas na minha
direção. 
Eu nem corri e fui acertado em cheio.
— Ai, doeu...
— Bem-feito.
— Agora sei porque você e Hoss se merecem.
Elena me fuzila e volta a enfrentar o noivo.
— Voltando ao assunto, antes de você me seduzir e
quase me foder, eu não sei se quero aula de defesa pessoal
e nem de tiro.
Entro na sala, para ir até o meio da mesa me servir de
um whisky, enquanto os pombinhos discutem.
Não posso perder essa novela. Adoro fofoca, ainda de
camarote.
— Não vou te obrigar a nada, mas se for para ficar ao
meu lado, sendo a minha mulher, você tem que aprender a
se defender sem mim. Entende isso? É para deixar meu
coração, assim como a minha consciência, mais tranquila.
Ela suspira e nos olha.
— Estou com medo de tudo, ainda mais agora, com
essa viúva da máfia, já não bastava o Paulo.
— Não só por isso — Hoss agarra o rosto dela e a
segura firme. — Amo você, preciso que aprenda a se
defender sem mim. Isso, se ainda me quiser, se ainda quiser
essa vida de perigo que te proporciono. Mas saiba, que não
sei mais viver sem você.
Eu abaixo a cabeça, tão tocado pelos dois. Eles se
amam… isso é amor de verdade.
Será que um dia serei capaz de amar alguém como os
nossos pais se amavam e como a Elena e o Hoss se amam?
Elena assente, emocionada.
— Que lindo, só não comecem a trepar na minha
frente.
E em segundos acabo deliciosamente com o clima
deles. 
Os dois reviram os olhos, resmungando palavrões.
— Esqueci que esse estrume de cavalo estava aqui.
— Querido, você me ama mais do que a sua mulher,
eu sou o seu irmão preferido.
— Eu não mereço esse Rael.
Elena ri, beija o noivo e acaricia a sua barba.
— Eu escolhi isso, escolhi ser da família Calatrone,
pelo homem que eu amo. Por isso, aceito receber esse
treinamento. Acho também ser o certo, para o meu bem,
né? Hera disse a mesma coisa.
— Exatamente. E fim de papo.
Hoss dá outro beijo meloso nela e logo Elena vai
embora. 
Ficamos a sós.
— Quer alguma coisa, além de empatar a foda dos
outros?
— Não, só queria empatar a foda de vocês mesmo,
estou sem nada para fazer.
— Amanhã é quinta, teremos algo para fazer, às 22h.
Cobrança de vida.
— Eu posso ir sozinho nessa, fica de boa.
— Sozinho não, vai pelo menos com o Diego ou o Igor,
um dos nossos cobradores de confiança. É importante que
um Calatrone esteja lá.
— Eu estarei.
Hoss assente e se senta na cadeira à minha frente.
— Elena te viu da janela, aos beijos com a viúva, perto
do lago mais próximo do castelo.
Não respondo o meu irmão. Não tenho respostas para
nada.
— Já tem o colar do nosso pai, ela é descartável.
— Ela não é descartável, porra!
Hoss balança a cabeça, confirmando algo
internamente.
— Está se apaixonando e se contradizendo. 
— Ah, incrível, agora está dentro da minha cabeça
para saber o que eu sinto?
Ergo-me bravo da cadeira.
— Se não está apaixonado, então foda-se essa Borghi,
nossa família sempre será a nossa prioridade.
— E eu faço o quê? Deixo que eles a matem? Jolie não
tem culpa também.
— Mas você, eu e as pessoas que amamos também
não temos culpa. É uma escolha difícil, que até domingo
terá que decidir.
Bato na mesa e saio da sala de reuniões.
 
Volto sozinha para dentro do castelo. Mas, como não
encontro nenhum Calatrone, e estou entediada, resolvo
visitar a biblioteca luxuosa deles. E para a minha prazerosa
surpresa, passo o restante do dia, até a noite, devorando
um livro bem hot, que encontrei numa das dez prateleiras
lotadas. É um romance quente de época. Só falta vinte
páginas para eu finalizar a leitura. Nem vi as horas
passarem… e, também não vejo, ao terminar de ler essas
páginas restantes. 
Espreguiço os braços, erguendo-me da poltrona.
Adiante, saio da biblioteca, com outro livro em mãos. Estou
ansiosa para ler esse, é bem sexy e contém… de repente,
eu viro em um corredor estreito do castelo e paro abrupta,
deixando o livro cair no chão.
Arregalo os olhos.
A tatuagem! Não é possível! 
— Gavião?
Dou de cara com alguém parecido com ele, está
parado bem próximo da janela medieval, com as mãos nos
bolsos. Seu olhar, nem cabeça se viram para mim. Ele está
fixo na vista, seja lá o que esteja vendo. Meus olhos não
desviam do desenho da asa, que sai do seu pescoço, é a
tatuagem… é ele. Reconheço tudo, cada traço. É como se
ele tivesse só envelhecido.
— Vo-você, o que…
Meu Deus, começo a me tremer. Não tenho nem voz
mais.
Como isso é possível?
— Não é possível, você não está morto? Duas vezes
morto! — esbravejo.
— Sim, para algumas pessoas e para você, era
necessário, Jolie.
— Não… não… — meus olhos ardem. — Eu não estou
entendendo nada!
O Gavião se vira para mim e fita o mais profundo das
minhas íris.
É ele, e ele está vivo!
— Eu não morri.
— Eu precisei de você e você foi embora! Você
morreu!
Não aguento e meus olhos se enchem de lágrimas. A
dor retorna como uma punhalada no coração.
— Me perdoe.
— Todos esses anos, eu sofri tanto! Eu só tinha 15
anos, estava prestes a ser deles. Não me salvou, não me
tirou de lá!
— Jolie…
Ele tenta se aproximar, mas me afasto.
— Eu não podia, minha identidade estava prestes a
ser descoberta, isso colocaria em risco os meus sobrinhos, a
minha família.
— E eu? Eu não fui uma família para você? Você me
prometeu!
— Jolie, me escu… 
— Quem é você, de verdade?! Por que deixou que eu
tivesse esse sobrenome desgraçado?
— Eu sou o seu padrinho, o que cuidou de você esse
tempo todo.
— É mentira, não cuidou de mim! Fez o mesmo que os
meus pais, deixou que eu fosse o pagamento de uma
dívida! A destinada ao mafioso!
— Escute-me! — ele finalmente chega perto de mim e
puxa o meu braço. — Meu nome é Argus Calatrone, pai da
Hera e tio do Rael, Hoss e Vince. Tive que fazer um
sacrifício, por todos que eu amava, porém, em nenhum
momento te deixei desamparada. Naquela mansão sempre
tinha alguém para te proteger, meus aliados...
— E sofreu também?
— É claro que sofri. Queria muito ter lhe tirado de lá,
ter a criado ao lado de nós Calatrone.
— Assim como fez com a Samira Borghi?
Argus então fecha a boca, escurece os olhos e aperta
o meu braço.
— Eles não devem saber a verdade sobre ela, por
favor, Jolie. Prometa-me?
Meu coração volta a se apertar, ao pensar no Rael.
— Prometo…
— Não revelei a minha identidade assim que chegou
ao castelo, pois precisava que agisse naturalmente, como
se os Calatrone fossem só uma família de agiotas, que você
ouviu por alto, quando ainda era esposa do Pedro.
Tento puxar o meu braço, mas ele não deixa. Ele
segura a minha cabeça.
— Nunca esteve desamparada, filha, desde que pisou
naquela mansão e desde que fugiu pela primeira vez. 
— É mentira… 
— Eu quem cruzei o seu caminho com o do Rael, eu
quem perdi o colar dele, eu quem manipulei tudo para ele
estar naquele porto de container… fui eu! Eu precisava te
salvar, te aproximar de mim.
— E usou o Rael?
— Não o usei. No final, eu sabia que em nenhum
momento o meu sobrinho a deixaria, e nem o restante da
família, quando souberem da verdade. 
Abaixo a cabeça, tentando ser forte.
— E levou tantos anos assim? Você estava esse tempo
todo vivo, exceto para mim.
— Precisa compreender. Fui o único homem a dar
força para três crianças que perderam os pais num brutal
assassinato. Eu também não podia colocar a vida dos meus
sobrinhos em risco, nem a da minha filha. E sofri com essa
decisão, ela me custou uma afilhada. Mesmo assim, estava
segura… mesmo com os Borghi. E eu estive presente, eu
recebia informações da sua saúde, do seu estado. Sei que
não levou um arranhão, pelo contrário, Toretto te fez uma
esposa forte, para ficar ao lado do Pedro.
— Eu não o amava… nem ele a mim. Pedro era… —
olho para Gavião e balanço a cabeça. — Preciso digerir tudo
isso que disse, desculpe-me.
— Você sabe de muita coisa. Sei que seu pai te
contava tudo.
— Exceto o seu nome verdadeiro. Só sabia que meu
padrinho era do Brasil e estava morando há dez anos em
Lisboa. Fiz mais perguntas quando você morreu, e ele não
teve escolha ao me dizer a sua relação com os Borghi,
também a dele e a do seu irmão. 
Ele fica quieto, pensativo. Seus olhos obrigam
qualquer um a abaixar a cabeça e respeitá-lo. Não sei
explicar, acho que me sinto segura, depois de tantos anos
sozinha.
— Guarde para você tudo o que sabe. Agora suba,
descanse e pense em quem eu sou, no que eu fiz, por que
eu fiz e que hoje está segura, tem a mim. 
Assinto.
Ele beija a minha testa e então se vai, imponente. 
Eu fico sozinha no corredor frio, sem nem saber como
separar cada sentimento.
Seu nome é Argus e ele está vivo! Meu padrinho está
vivo, após todos esses anos! Quero chorar de alegria.
 
— Jolie?
Rael entra no quarto e me encontra jantando.
Olho para ele, já no fim do meu suco de laranja.
— Não te vi, depois do café da manhã.
— Não sou muito bem-vinda pela sua família, então
passei o dia na biblioteca.
— Ninguém vai te tratar mal, tenha certeza. Pode
fazer todas as suas refeições conosco.
Ergo-me e vou até o Rael.
Deixo o coitado até sem reação, devido a minha
camisola transparente. Marca bem os mamilos duros e
rosados.
Ele até salivou, minha nossa, que tesão.
— Quero sair um pouco. Leve-me para andar no
castelo. Tem muitos lugares que ainda não conheço.
Ele fica nervoso, passa a mão na barba, sem saber o
que fazer.
— Preciso de ar, quero sentir um pouco de frio.
Viro-me e sem a sua resposta, visto o robe que joguei
no banco, aos pés da cama. Ele é quentinho. Acredito que
não tenha ninguém acordado uma hora dessa.
— Vamos?
— Que porra, Jolie…
Sorrio internamente. Com certeza, durante a minha
viradinha para pegar o robe, ele comeu com os olhos a
minha bunda comportada num lindo fio dental preto e
transparente pela camisola.
— O que foi?
Olho cinicamente para ele. “Inocente”,
— Parece que vai sentir frio… — resmunga.
— Não, o robe é quentinho.
Rael respira fundo.
Coitado, deve estar bem excitado. Que delícia
imaginar o seu pau entrando em mim. Quero foder com ele
de novo, quero um sexo lento e intenso. Preciso disso,
depois de tudo que descobri hoje.
Ele, sem escolha, estende o braço e me leva para fora
do quarto.
— O restante dos Calatrone estão dormindo? —
pergunto, enquanto caminhamos juntos.
— Não, estão todos na boate Fogo.
— Boate Fogo?
— É a boate da nossa família, só é frequentada por
pessoas com autorização. 
— Que sonho, queria tanto beber e me divertir ao som
de músicas brasileiras.
— Lá é o meu lugar preferido, não tem uma noite que
eu não vá.
— E não foi hoje? 
Rael me fita. Fico arrepiada pelo seu olhar quente, em
chamas.
Como esse homem é bonito, selvagem.
— Nem ontem, nem anteontem, desde que chegou ao
castelo.
— Não estou te segurando, pode ir — dou de ombros,
já incomodada ao imaginar ele com outras mulheres nessa
boate. Vontade de matar todas as barangas!
— Como se não estivesse mesmo — murmura.
— Ah, estou?
— É claro que está, não vou te deixar sozinha.
Então ele me faz perder a fala.
Lembro do que o Gavião disse, sobre ele ter
manipulado tudo, principalmente o roubo do colar do Rael,
pois sabia que o seu sobrinho me encontraria e não me
deixaria. E é verdade, Rael não consegue me deixar ir, e
nem eu quero ir embora.
— Jolie?
Perto da área com saída para a piscina, ele me para.
Nem notei que estava calada, só pensando.
— Oi?
— Está muito estranha. Vem, vou ligar a lareira perto
da piscina para ficarmos quentes no sofá.
Na palavra “quentes”, eu molho os lábios.
— Perfeito, Sr. Calatrone.
Sento-me no sofá branco e deixo que ele faça o
serviço. A noite está linda e fria.
— Faltam só três semanas para dezembro e está tão
frio.
Rael deixa a lareira alta e vem sentar-se ao meu lado.
— Falando nisso, Hera ainda não decidiu se foca na
decoração de Natal ou no casamento da Elena, mas acho
que a festa de casamento só vai ser em janeiro. 
— Eu vi umas dez caixas na segunda sala do segundo
andar, todas com pisca-piscas.
— Pois então ela já vai começar a decoração de Natal.
Rael me olha, estou com os pés encolhidos no sofá.
Nunca conversamos tão civilizados assim, principalmente
ele, que vive querendo me estrangular.
— Sua família é incrível. Você tem muita sorte. A
minha sempre foi desunida e metida com a máfia, para
ganhar dinheiro fácil, no fim, eu quem paguei o pato por
eles. 
— Qual era a dívida?
Desvio, até diria a verdade, se não fosse essa tarde...
o Gavião. 
— Meu pai prestava serviços para a máfia, até ele
tentar roubar um carregamento de drogas… o chefão
descobriu e aí eu paguei o pato. Ainda de brinde, ele está
morto — dou de ombros, conformada. — Nem a minha mãe
pouparam.
— Sinto muito.
— Está tudo bem. Minha vida inteira foi trágica.
Não aguento e me encolho para mais perto do Rael,
do seu corpo musculoso e do seu perfume viciante.
— Você está me deixando puto.
— Puto de tesão? — coloco a mão sobre a sua coxa
grossa.
— Puto para te foder de novo, sendo que não tem
nem 24h que trepamos.
Ele segura o meu rosto e puxa uma mecha de cabelo
para cheirar. Isso me fez ter borboletas no estômago.
— Ainda estou bem dolorida — confesso, pertinho do
seu ouvido, porém, apertando o volume do seu pau duro.
— Você é meu martírio, Jolie — diz, com os lábios bem
próximos dos meus.
— Sou? É bem estranho não estar nervoso com isso,
ao ponto de não querer me estrangular, como hoje de
manhã.
Rael geme por eu apertar com mais força a sua
ereção.
Continuo a provocá-lo. Abro a sua calça, mergulho os
dedos por dentro da cueca, sentindo os seus pelos quentes
e o pênis ereto, sufocado pelo jeans.
Apenas com o meu toque ele se enrijece ainda mais.
Como é possível essa tora ficar ainda mais dura?
— Como é delicioso sentir o seu pau ereto. E sabe o
melhor? É saber que está assim por minha causa.
— Porra, Jolie! — bufa e aperta a minha coxa. — Eu te
fodi ontem inferno, era para esse caralho não estar duro por
você!
— E está xingando por que, querido? 
Termino de abrir a sua calça e finalmente trago para o
ar livre o seu poste grosso e bem dotado. Como é lindo,
imponente, majestoso… até salivei.
— Você é o meu inferno, bruxa.
Sorrio e viro de bruços no sofá.
Estou pronta para me dedicar por inteira a essa rola
bem-dotada e que agora me pertence. 
Rael fica louco pelo que está por vir, segura os meus
cabelos, completamente possuído pelo tesão.
— Relaxa, Sr. Calatrone, aproveite a mão habilidosa
da bruxinha.
Massageio o seu comprimento, subindo, descendo e
fazendo leves contorções na base da cabecinha. Parece que
estou diante da torre Eiffel, misericórdia de pau bonito,
escultural.
— Jolie… — geme entre os dentes.
Ele lateja e pulsa na minha mão.
Inclino a cabeça e começo a lamber a glande pré-
ejaculada, girando a ponta da língua no topo deste
monumento. Merece muito o meu esforço de degustá-lo.
— Que porra, eu vou gozar antes de meter o pau
nessa sua garganta.
O desesperado esfrega a rola na minha cara e dá
batidas no meu rosto.
— Rael! — dou um tapa nele e o jogo de volta contra o
encosto do sofá. — Se você apressar o meu boquete, vai
ficar sem nenhum!
— Eu vou ficar sem uma porr…
— Para de xingar, homem! Controle-se — sussurro. —
Deixa eu lamber o seu pau, encharcá-lo com a minha
saliva… assim… — coloco toda a língua para fora e lambo-o
lentamente.
Rael pragueja até a sexta geração da minha família, a
seguir, a sua. Nem seu tataravô Miguel escapou.
Só para aliviar o pobre coitado, no primeiro round,
começo a acelerar as lambidas, evoluindo para chupadas
rápidas e uma garganta profunda, que quase me matou
engasgada pelo seu tamanho dotado.
— Jolie… sua bruxa gostosa, ahh, merda! 
Faço sucções barulhentas, com força, para adormecer
a boca. 
— Eu vou explodir — avisa exasperado e não me
deixa tirar o seu pau da boca, o filha da puta volta e segura
os meus cabelos. — Você vai engolir tudo!
— Hummmm! — arquejo, mas não tenho tempo de
agir, a sua porra chega quente, fervendo.
É um vulcão expelindo lava. 
Rael despeja jatadas fortes, é impossível eu engolir
tanto esperma, chego a me afogar. Tusso, sem fôlego e
banhada de gozo na cara.
— Sa…ca… nagem — falo sem ar, ainda tossindo.
Ele não me deu nem dez minutos direito.
O cafajeste tira a sua mão de entre os meus cabelos,
encosta no sofá e fecha os olhos.
— Rael!! — ele leva o segundo tapa no braço, o qual
nem se mexeu.
Cretino mesmo, no final ele acabou com o meu
boquete, tudo para o seu deleite.
Tudo bem, vamos para o segundo round…

— Você é meu martírio, Jolie — diz, mais ofegante do


que eu.
Ergo-me e ficamos cara a cara.
Ele resmunga algo e então aproxima os seus lábios
dos meus, penetra a língua e me toma de alma e corpo,
num beijo insaciável.
Esse homem é a minha salvação. Quero-o tanto, sinto
que tudo que eu fiz não foi em vão, que era necessário,
para eu estar aqui. 
— Estou com o seu gostinho de porra — sorrio entre
os seus lábios.
Sem responder, Rael morde a minha boca e me puxa
para ele, para deitar-se sobre o seu peito. Por mais que
esteja frio, nos encontramos em chamas, transpirando calor.
A verdade é que Rael é esse fogo, só de estar perto
dele já sinto um calor fora do normal.
O safado abre o meu robe por baixo e com as duas
mãos, ergue a camisola e apoia o meu traseiro, numa posse
fervorosa, como se a minha bunda lhe pertencesse.
— Como pode ser tão gostosa? Minha vontade era de
comer você agora, aqui, de quatro, com esse rabo
empinado para mim.
Rael belisca a minha bunda avantajada, alisando-a
igual um tarado no cio.
— Ao contrário das magricelas que você andava
fodendo, eu tenho muita carne para pegar e se saciar —
pisco, sendo a minha vez de ser a taradona e alisar o seu
peitoral definido, super musculoso.
Que homem delicioso, perfeito!
Ele ergue o meu queixo, beijando-me safado. Só
separamos as nossas bocas quando perdemos o oxigênio.
— Como tem sorte de estar assada, por ontem… —
sussurra no meu ouvido. — Continuo faminto para fodê-la,
parece que nunca estivesse dentro de você.
Arrepio-me, tonta por estar sussurrando cada palavra
maliciosa no meu ouvido, ainda mordiscando o lóbulo da
minha orelha.
— Ahhh, Rael, como é excitante… minha calcinha está
encharcada.
Ele grunhe ao afastar a renda e comprovar a situação
da minha boceta encharcada.
— Boa noite, senhores e senhoras!
Rápidos e assustados, num piscar de olhos, eu e Rael
nos afastamos ao dar de cara com o irmão mais novo dele.
Ele nem avisou que estava se aproximando.
— Espero não estar atrapalhando os pombinhos.
Rael fuzila a cara dele.
Vince cai no sofá da outra ponta.
— Hoss teria metido um tiro na sua cara pela cena
que vi aqui — ele fala maldoso para o irmão. — Com todo o
respeito, Jolie Borghi.
— Só Jolie.
Olho para o Rael, que também me fita, incomodado.
Parece que caiu na real, de novo, sobre mim e o que fazer
comigo até domingo. E me foder não é uma boa opção, isso
só complica mais as coisas para ele. Só que estamos tão
envolvidos… tão quentes... tão necessitados um do outro.
— É melhor eu ir descansar — digo e me ponho de pé,
pronta para ir embora.
— Porra… — Vince  de repente xinga, boquiaberto ao
me analisar dos pés à cabeça.
Droga, o robe já é meio transparente, a camisola
piorou.
— Agora te entendo de vez, completamente, sem
dúvidas maninho…
— Vira essa cara pra lá, seu adotado do inferno!
Rael dá um pulo e se coloca tão bruto na minha
frente, que cheguei a ficar mole das pernas.
Porém, sorrio, sem acreditar no comportamento dele.
— Gostou, Vince?
Tento passar ao lado do Rael, mas enfurecido, ele me
segura com as suas mãos fortes.
— Calma, ainda estou extasiado com a visão do
paraíso que eu tive. Só pode ser um sonh… AÍ RAEL!
Rael pisa com toda a força no pé do Vince, puxa o
meu braço e sai igual um neandertal, quase me arrastando
pelos cabelos.
— Rael! 
Ele não para, não me ouve, vou em tropeços.
E no meu quarto, o animal bruto empurra-me para
dentro e fecha a porta num baque, sem nem sequer me
desejar um “boa noite”.
Ele é louco? Ou isso foi… ciúmes?
Ainda parada em frente a porta, arregalo os olhos, se-
será que foi ciúmes? Meus Deus, será mesmo? Não posso
acreditar!
Jogo-me na cama, rindo de alegria e um prazer sem
igual.
Sinto que foi ciúmes sim!
Sou dele e ele sabe disso… Rael sabe!
 
 

Depois de jogar a Jolie no quarto dela, eu vou puto


para o meu. Tomo banho, deito-me e não consigo dormir, na
minha mente só vem pensamentos com a Borghi. Não sei o
que fazer com ela. Não posso entregá-la a máfia,
independentemente de qualquer coisa, Jolie continua sendo
uma vítima daqueles desgraçados sem escrúpulos. Vão
matá-la sem pensar duas vezes.
Aperto os olhos, sentindo uma dor no peito ao
imaginar que podem tirar a sua vida, que nunca mais
poderei ver essa mulher... sentir o seu perfume.
Droga, o que está acontecendo comigo?
Não quero esses pensamentos, por favor, mente, não
quero! Para de arrombar o meu psicológico!
Perdido em minha cabeça fodida, durmo sem nem
perceber. Mas tendo compromisso às 04h da manhã, sou
obrigado a interromper o sono que conquistei com tanto
custo.
Levanto-me com o meu humor estilo Hoss, ou pior.
— Que cara de merda é essa, maninho? — Vince sorri
debochado, após entrar no carro e eu dar partida em meio a
penumbra da madrugada.
— A cara que não te interessa, polaco azedo, cara de
queijo podre.
— Que ofensas mais broxantes, antigamente você era
melhor.
— Não te perguntei nada.
— Eu só não te bato, porque não sou açougueiro para
ficar batendo em vaca.
Reviro os olhos. Mereço.
— Por isso que o Hoss já parte para meter uma arma
no meio das suas bolas. Tenho que ser igual a ele.
— Falando naquela bola de fogo, Hoss é um puto,
agora só quer saber de ficar fodendo a mulher dele. O que
está me restando de companhia é a pequena piolhenta.
Todo dia me obrigo a pagar de tio bobão…
Sorrio, igualmente bobo ao pensar na nossa sobrinha.
Acho que gosto de crianças, pois gosto tanto daquela
princesinha. Ela chegou no castelo para nos trazer mais cor,
juntamente com a Elena. Também gosto muito da minha
cunhada, é uma segunda mandona, como a Hera. São as
mulheres da casa.
— Quero fazer sozinho o serviço de hoje. — Vince fala,
fazendo-me prestar total atenção nele.
— Nem fodendo.
— Chega de me pouparem, Rael. Sou um Calatrone.
— Mas essa parte não é para você, irmão. É melhor na
tecnologia que todos nós e o mundo junto. Sabe disso.
— Nas minhas veias corre o mesmo sangue que o seu,
sabe que sou sedento por esses momentos.
— Eu vou deixar você começar a brincadeira, mas o
xeque mate é meu, entendeu?
— Trato feito.
Como combinado, ao chegarmos no esconderijo do
devedor, deixo a “recepção” para o Vince. Acabamos de
pegar o filho da mãe trepando com a amante. 
— Mas que bonito! Que cena mais linda! Será que
estou atrapalhando o casalzinho aí? — Vince canta, após
invadirmos o quarto com as armas na mão.
Franzo o cenho e o polaco azedo me olha sorridente.
Vou quebrar a cara desse moleque.
— É uma música brasileira, acho que não conhece.
— Vai se foder Vince. Faz o seu trabalho.
— Quanto mau-humor, "gêmeo" do Hoss, isso não é
trabalho, é um divertimento.
Vince muda o seu olhar para impiedoso e chega perto
do casal de amantes na cama.
— Robert, docinho, quer que nos apresentemos?
— Sen… senhores… Calatrone… eu…
Dou um passo e Robert arregala os olhos.
A mulher ao seu lado se encolhe, tremendo de medo.
— Cadê o nosso meio milhão, filho da puta?
— Eu vou arrumar até quinta… eu… eu prometo
senhores.
— Promete, é? Temos uma lei, Robert, a lei dos
Calatrone. A qual foi muito bem-dita, antes de fecharmos o
empréstimo. 
Aponto a arma na direção dele, com fogo nos olhos e
o gosto de sangue na boca.
Então recito palavra por palavra.
— “Se não tiver o que penhorar para garantir que
quitará a sua dívida conosco, a sua vida ficará no lugar.”
Vince também mira a arma para ele.
Robert pula da cama e se joga no chão, nu e de
joelhos. Está em prantos, desesperado.
— Tenham misericórdia. Por favor, senhores Calatrone,
eu vou conseguir o dinheiro, mas só preciso de mais dois
dias. 
— Já demos um prazo, Robert. E você fez a sua
escolha, entre penhorar algo valioso, ou a sua vida. E agora
estamos aqui para cobrar o que nos deve.
— Tenham misericórdia, apenas dois dias, por favor,
senhores. Eu tenho esposa, tenho filh… 
Aperto o gatilho e acerto o meio da boca dele. Vince
finaliza o serviço dando outro tiro no meio da testa. O corpo
cai inclinado para a parede e as cortinas.
  Viro-me para a amante, que não parou de gritar. Ela
chora, em choque, apavorada.
— N-não me machuquem, pelo amor de Deus.
— Como é o seu nome? — Vince pergunta, sem
guardar a arma.
— Nayara...
— O seu nome verdadeiro!
Ela me olha, a seguir, abaixa a cabeça e gagueja em
prantos um “Milena”.
— Pois bem, Milena, você não viu nada. Vaza daqui!
Ela pega o vestido da poltrona e sai correndo do
quarto.
Suspiro, olhando para o corpo no chão.
— Mais alguma cobrança de vida para hoje?
— Nenhuma. Vamos embora, estou morrendo de
fome.
— Quando você não está com fome, Vince? Devia
estar do tamanho de uma baleia.
— Amor, eu converto toda gordura em inteligência,
algo que lhe faltou no nascimento.
— Em você só falta maturidade, nunca chegou aos
vinte e cinco e nunca saiu dos nove.
— Invejoso, só porque tenho 25 e você 30. Além de
que, fui o preferido da mamãe.
— Crianças especiais merecem mais atenção mesmo.
Vince soca o meu braço, após pararmos no último
degrau da escada.
Na volta para casa, vou quieto, pensando na Jolie, no
seu cheiro… essa mulher está me fodendo.
— Tio Argus não te disse nada sobre a viúva Borghi?
— E o que ele poderia dizer?
— Que a família está certa e que a Borghi deve ir
embora imediatamente.
— Eles vão matá-la, Vince. 
Paro no semáforo e olho para o meu irmão, sem
entender claramente o meu desespero, a minha dor, a culpa
se isso acontecer.
— Hoss e nem a Hera querem comprar guerra direta
com a máfia, não depois do Paulo e da Elena. Pois nessa
briga, estamos atacando diretamente o chefe da porra toda.
Se ele souber, vai nos atacar sem dó, pior do que o Paulo
fez, ao matar o nosso cliente e sequestrar a nossa garota.
— Eu sei — murmuro, preocupado. — Hoss tem razão,
não existe outra opção.
— É pelo bem da nossa família. Ainda mais agora com
a Elena grávida, nosso irmão mais velho ficou mais protetor.
— O quê? — freio o carro no meio da estrada. — O que
você disse?
— Irmão? Mais velho? Protetor?
— Da Elena!
— Ah, que a Elena está grávida?
— COMO A PORRA DO HOSS NÃO ME CONTOU ISSO?!
— Aí você tem que quebrar a cara dele para descobrir.
Filho de uma… Como não me contou? Estou há dias
aqui e só soube agora!
Assim que chego emputecido no castelo, vou ao Luiz,
exigindo a localização do cretino do Hoss. Ele me informa
que o energúmeno está no quarto provisório da Maria. Subo
marchando atrás dele.
— Hoss? — sussurro, abrindo a porta da princesinha
da casa. 
Ele acaba de colocar a Maria na cama.
Ainda está muito cedo, são 5h06.
— O que faz aqui? — questiona, sem camisa e de
calça pijama.
— Voltei de uma cobrança com o Vince. Preciso falar
com você, seu ridículo, falso, traíra.
— Fecha a boca, vou quebrar a sua cara se você
acordar a Maria.
— Então vamos sair daqui. Eu quem quero quebrar a
sua fuça. 
Hoss, todo babão, ajeita a cobertinha rosa da Maria,
coloca a sua bonequinha no canto da cabeceira e a seguir,
saímos do quarto.
— Maria anda tendo muitos pesadelos ainda?
— Sim, faz duas horas que ela correu chorando para a
nossa cama. Assim que dormiu trouxe-a de volta, pois caso
não percebeu, eu pretendia foder a minha mulher!
— Falando em sua mulher, seu maníaco tarado, fodido
do inferno, como não me contou que eu serei tio de novo?!
— Vince contou? Aquele fofoqueiro, arrombado!
— Quem merece todos os adjetivos de baixo calão é
você!
— Eu ia te contar, mas andou acontecendo tantas
coisas, não é mesmo? — Hoss me encara e eu fecho os
punhos.
— Não contou de propósito!
— E você, tentou me contar da Jolie, antes de enfiar a
viúva de Pedro Borghi debaixo do nosso teto?
— EU VOU QUEBRAR A SUA CARA!
Quando vejo, já estou avançando no meu irmão e ele
retribuindo os socos. Jogo-o forte contra a janela e o vidro se
despedaça. Hoss revida e acerta a minha cara, também me
jogando contra a parede.
— HOSS!
— RAEL!
Hera e Morcego aparecem, correndo de pijama até
nós. Depois o Vince e o Luiz, que correm pelas escadas e
tentam se por entre nossos socos.
— SEU DESGRAÇADO!
— Você que é um desgraçado! 
— Rael, para com isso! — Hera me empurra,
juntamente com o Vince.
Hoss quase avança de novo, mas devido a Hera no
meio, ele segura os punhos.
— Parecem dois cavalos! Parem com isso, já! Estão
com seus rostos sangrando!
— Você quer pagar de bom homem agora, mas na
hora de negar a sua filha por seis anos, negou e abandonou
sem pensar duas vezes!
— MEU PASSADO NÃO TEM NADA A VER COM AGORA,
RAEL!
— MAS NÃO MINTO!
— Parem vocês, caralho. Chega!
— Se coloque no meu lugar, assim como me coloquei,
quando toda a família se uniu pela Elena e por você!
— Elena foi totalmente diferente de Jolie,
completamente! Está defendendo a viúva porque está
apaixonado por essa mulher! Mas sabe o risco que corremos
nessa história!
— Ela também não tem culpa porra, quer que eu
deixe a máfia matá-la? Era isso que faria pela Elena? Jolie é
a minha responsabilidade, a porra da culpa jamais me
deixaria abandoná-la! Por isso, ela está sobre o nosso
mesmo teto!
— PAREM! — Hera esbraveja e me empurra, para
correr para o outro lado e abraçar a Maria, que está em pé
no corredor, olhando para nós e segurando a sua boneca.
— Vo-vocês tão brigando? — ela pergunta baixinho e
sonolenta.
Hoss passa a mão na barba e me fuzila, antes de ir
até a Hera e a Maria.
— Vai esfriar a cabeça, Rael — Morcego aperta o meu
ombro. — Bebe alguma coisa e se acalma.
Eu xingo, então viro as costas.
 
Eu esqueço as horas e me enfio na academia para
desestressar. Desconto toda a minha frustração no saco de
pancadas. Só paro depois de sentir dores nos dedos.
Ofegante e suado, viro-me para ir até o frigobar pegar uma
água gelada, mas paro no meio do caminho, ao dar de cara
com a razão do meu estresse diário.
Ela está em pé, dentro do seu maldito vestido
apertado e com a sua maldita beleza destacada pelas joias
e o cabelo castanho, em ondas.
— Bom dia, Rael…
Bom dia, pra quem inferno? Para o meu pau que já se
enrijeceu só de sentir o seu perfume? – penso, mas não a
respondo. Continuo muito fora de mim. E o pior, é saber que
100% desse furor é culpa dela. 
Ao chegar perto do frigobar, Jolie se aproxima e então
me estende uma garrafa de água.
Tento não encarar os seus olhos, mas é impossível.
— Toma…
— Você está fodendo a minha vida, Jolie. 
Pego a garrafa da sua mão.
— Eu sei, você está fazendo o mesmo comigo, desde
que me salvou naquele porto. Hera me contou o que
aconteceu hoje cedo. Ela fez questão de contar. E está tudo
bem, no lugar do seu irmão eu faria o mesmo, protegeria a
minha família, as pessoas que eu amo.
Não falo nada, estou até cansado de conversar.
— Desculpa por qualquer coisa. De verdade. Não foi a
minha intenção destruir a sua vida.
Os olhos dela se enchem de lágrimas. E eu me
desestruturo, algo pontiagudo e invisível atravessa o meu
coração, partindo-o em pedaços.
— Quero que saiba que…
— Pare, Jolie — puxo o seu braço e seguro o seu rosto,
desejando-a com toda a vontade do meu viver. — Pare, por
favor.
Não posso me envolver, não posso estar apaixonado
por essa mulher. Eu não quero isso.
Jolie acaricia o meu rosto, suspirando emocionada.
Sinto-a segurar suas palavras. Por mais que eu queira ouvi-
las, será demais para mim. Vai só dificultar a minha
situação… ou a minha decisão.
Ela aproxima nossos lábios, mas paro-a.
— Não me fode mais ainda.
— Não sei estar perto de você, sem querer o literal
dessa palavra.
Antes que eu a puxasse contra o meu corpo e beijasse
a sua boca, lutei e afastei essa mulher.
— Tomou o seu café?
— Sim, na mesa com a sua família, mesmo com eles
me olhando torto.
— Não leve a mal, Hera está fazendo um grande
esforço.
— Para me ver longe daqui?
— Não, o contrário, para não gostar de você e não ser
a sua amiga, pois se não fosse a viúva Borghi e não nos
colocasse em fogo cruzado com a máfia, ela já teria te
obrigado a ser amiga dela, como foi com a Elena. Hera é
assim, intensa com amizades, não deixa nenhuma passar.
Jolie me olha, surpresa pela revelação.
— Só que sempre a segurança da nossa família estará
em primeiro lugar, por mais que haja sacrifícios dolorosos.
— É por isso que os Calatrone são os maiores agiotas
de Portugal, impiedosos, quase uma máfia. É isso o que eu
ouvi. Vocês só se importam consigo mesmos, com quem
tem o sobrenome e com aos seus negócios de agiotagem. 
— Estamos longe de ser uma máfia, e não nos
importamos só conosco, por mais que a família esteja em
primeiro lugar. Caso contrário, nem estaria aqui. Me
importei com você, pois sei que não teve culpa do seu
destino. Não de ser entregue ao Pedro.
Ela abaixa a cabeça.
— Nunca vai entender de verdade o meu lado.
— Eu entendo sim, está aqui por minha culpa. E eles
também entendem. Hoss, Vince, Hera, Morcego, Argus,
todos a entendem. Eu sei que sim, conheço o coração de
cada um. Só que, como eu disse agora pouco, protegemos
as pessoas que amamos, e eles estão fazendo isso.
— Tudo bem, Rael. Por um lado, fico aliviada de saber
que o problema não é eu em si… 
— Infelizmente — resmungo, a seguir, bebo quase
toda a água fresca da garrafinha. — Vou tomar uma ducha.
Jolie olha para a minha regata grudada no abdômen e
morde os lábios, assentindo maliciosa.
— Até que eu gosto desse seu cheiro másculo… me
deixa tão quente.
Só pode ser sacanagem, ela faz de propósito.
— Bruxa!
Viro as costas e saio exasperado. Saio antes de
obedecer a meus impulsos e cometer um ato desumano de
fodê-la. 
E que bruxaria mesmo!
Não entendo como a Jolie pode afetar tanto os meus
nervos, ela não sai da minha cabeça, nem quando eu deito
a noite na cama – imagino essa mulher sendo comida em
todas as posições existentes. Não sei o que fazer, que
decisão tomar. Parece tão fácil, mas na prática é mais difícil.
Cruzo o antebraço no alto da cabeça, com a outra
mão aliso o meu pau embaixo do chuveiro. Estou duro por
imaginá-la agora pouco, com aquele olhar libertino,
desejando-me mais do que a desejo. Como é gostosa,
macia, peituda, bunduda e tem um beijo delicioso.
Caralho, que tortura!
De repente, percebo o vidro do box sendo puxado. E
ao ver surgindo a mão de esmalte vermelho, depois o braço,
a perna, o tronco nu e pôr fim a sua cara, ENLOUQUEÇO.
— O que pensa, droga!
Ela está nua!
— Eu vim te ajudar a relaxar.
Tento não olhar para a sua nudez, mas é demais para
mim, ela não é deste mundo, essa bruxa é perfeita, linda!
Maldição! Só posso ter matado uma macumbeira e ela
me jogado praga antes de morrer.
— Jolie! — rosno, quase fora de mim.
Ela avança, tocando na extensão do meu peitoral. 
— Relaxa comigo…
É o ponto final, empurro-a no box, com o olhar em
brasas, no limite para colocar fogo no mundo e nela. E beijo-
a, afundando a língua fugaz, como se eu necessitasse dos
pulmões dessa mulher para viver, respirar.
Jolie arfa, sentindo a minha ereção na sua pélvis.
— Ma-mal entrei e já estava duro, ereto… hummm…
— ela aperta a minha ereção e eu aperto com força a sua
cintura, maluco de desejo. — Duro por mim, Rael?
— E por quem seria?
Toco na sua bunda avantajada e dou um tapa
estridente. Ardeu até os meus dedos grossos. 
Ela crepita de dor, segurando-se para não gritar, nem
chorar.
Ainda comprimo os seus peitos enormes, querendo
devorá-los.
— Eu quero comer você, antes de rasgar a sua boceta
com o meu pau.
— Ahh Rael… — geme, sem forças, conforme vou me
ajoelhando e descendo a boca pelo seu corpo perfeito.
Ajoelho-me, puxo a sua cintura e fico cara a cara com
a sua barriga branquinha, quero mamar nesses peitos, mas
a imagem da sua boceta é uma droga, que só de ver preciso
consumir.
— Quero você me chupando, deve pelo boquete de
ontem.
— Os papéis de cobrança se inverteram? — questiono
e lambo a testa depilada da sua feminilidade.
É como lamber um doce raro, só existe um no mundo
e o seu sabor é incomparável.
Jolie puxa o meu cabelo, inclinando os quadris.
— Rael, você não tem ideia de como me deixa.
Hummm…
Eu beijo a sua pepeka, passo os dedos entre os lábios
maiores, sentindo a sua vagina ensopada de lubrificação. 
— Eu tenho muita ideia.
Abro os lábios, abaixo a cabeça e dou a primeira
linguada no grelinho duro. Meu pau saltou instantâneo, com
as bolas duras.
Não me aguento, caio de boca nesse paraíso
feminino, completamente dedicado à sua oral, ao seu
prazer. Eu preciso dar tudo de mim.
Seus gemidos são de desespero, deleito.
Lambo o clitóris com a ponta da língua, para frente,
para trás e em círculos. Aliso sua virilha, bunda, coxas e
demoro minutos no seu prazer, por mais que isso me doa no
pau. Ele deseja a todo instante ser enterrado entre as suas
pernas.
— Rael... Ohhhh, que delícia — ela rebola na minha
cara, fincando as unhas na minha cabeça e pedindo-me
mais, que a devore sem pena.
Eu devoro. Mordisco a sua bocetinha rosada, lambo,
chupo, sugo, me acabo.
— Ahh… você que é perfeito!
Jolie revira os olhos.
Não paro. Sentencio-me a tortura, para ela aproveitar
cada segundo, cada sensação, cada arrepio e cada lambida
impiedosa.
Ela é uma deusa que precisa ser adorada.
Levo-a ao céu, até alcançar o seu ápice e perder as
forças.
Seguro-a em minhas mãos fortes, sentindo o seu
líquido quente na minha boca. 
— Rael...
Adoro quando ela geme o meu nome.
— O que foi, bruxa?
— Por favor... — ela suplica e eu começo a subir os
beijos pelo seu corpo.
Ao chegar ao meu destino, aperto com posse os dois
manjares.
— Você é gostosa demais… deliciosa… porra, Jolie —
lambo os seus mamilos eretos, um de cada vez. — Está me
enfeitiçando.
Ela agarra de novo os fios da minha cabeça e esfrega
a minha cara nos seus peitos durinhos. Vejo-a sorrir de
satisfação.
Logo tiro o seu sorrisinho dos lábios, substituindo por
gemidos de boca aberta, conforme sugo e acaricio as suas
auréolas. Não tenho piedade, deixo marcas dolorosas em
sua pele. Amanhã ficará roxa.
Masturbo também sua boceta, agressivo com as
chupadas.
Preciso me enterrar nela, minha rola vai se partir de
tão dura.
— Você tem que gozar — Jolie tira forças do além e
me empurra no azulejo. — Que pênis perfeito, preciso que
meta ele bem gostoso em mim. — Ela olha para o meu pau,
safada para um caralho e cola a sua nudez na minha. — Me
come...
Não aguento, pego nos seus cabelos, com uma força
animal, beijo seus lábios, ergo a sua perna e a penetro
numa arremetida sem dó, sinto chegar ao útero. 
Jolie arregala os olhos, sem tempo para pensar,
respirar ou se acostumar com o meu tamanho de um
cavalo.
Ela chora, gemendo.
Que delícia! Eu pertenço a esse lugar, a esse prazer...
a essa... Não!
Rael me sustenta com os seus braços fortes, de pelos
castanhos e grossos. Eu respiro arfante no seu peito molhado,
entregue a esse homem, a sua força de mil cavalos e a esse fogo
que ele transpira e me deixa quente.
Respiramos fundo, um colado ao outro. Não sei por quanto
tempo permanecemos assim... até que olho nos seus olhos e ele
faz o mesmo. Então vejo de novo, aquele olhar de
arrependimento, de que foi longe demais comigo.
Ele nota as minhas pernas fortalecidas e me solta, para
virar as costas, ligar o chuveiro e entrar embaixo da água fria.
Eu pego a bucha descartável no canto, abro a embalagem,
coloco sabonete e tento passar nele, mas Rael me para,
agarrando o meu braço.
— Jolie…
— Jolie o quê? Para de resistir a isso, a nós, você já foi
longe demais. Você me quer.
— Sabe as consequências de te querer? — ele retorna o seu
corpo para frente do meu, fico do tamanho de uma formiga. —
Ou preciso repetir, porra? 
— Para de se estressar e de ficar puto com a verdade. As
coisas já fugiram do seu controle, já estou aqui, por que não pode
ser uma pessoa mais agradável comigo? Pois de qualquer forma,
se eu for embora e morrer nas mãos dos Borghi, você vai sofrer.
A gente já foi longe demais… — repito, tão sensível e
apaixonada, que não aguento segurar as lágrimas.
Ele e Argus são tudo o que eu tenho…
Rael puxa-me, juntando as nossas testas.
— Eu te quero tanto, seu imbecil — sussurro, capaz de
morrer por esse troglodita. — Não quero ir embora, não quero
ficar sem você, eu não tenho ninguém, eu não tenho.
Em desespero, ele alisa os meus lábios, o meu rosto,
mapeando cada traço de mim.
— Eu não quero que se vá, é isso que acaba comigo,
preciso protegê-la, mas minha família… eles…
Choro mais e me afasto.
— Tá bom, chega. É a sua escolha, nunca pensaram em
mim, não é a primeira vez que acontece. Já disse que te entendo,
não sei nem porque eu disse que… ah, esquece tudo isso.
Sem querer continuar olhando para o Rael e sentindo-me
uma tola vulnerável, tento correr para abrir o box, só que ele me
para bruscamente e me gira contra a parede.
— Estou louco por você, tão louco que… dói — ele coloca a
minha mão sobre o seu peito esquerdo, sinto os seus batimentos
acelerados.
Ah, Rael, o meu também doí.
— Eu te entendo, está tudo bem...
— Não está, mulher!
Mas revoltado, Rael agarra o meu cabelo, puxa a minha
cintura e beija-me ávido. 
Retribuo com a mesma amplitude abrasadora.
É o melhor beijo de toda a minha vida, na verdade, todos
os beijos com ele são os melhores da minha vida. Seus lábios são
macios, molhados, famintos e habilidosos. Perco-me nos
movimentos da sua boca, na sua língua, tendo certeza de que
esse homem virou o meu ponto fraco, o meu primeiro pecado
capital.
Sem ar, gemo. Não posso crer, que depois de ser fodida
sem piedade, fiquei excitada de novo. Minha boceta está ardendo
e as minhas pernas latejando.
Empurro-o, vendo seu pênis ereto por mim. Como pode?
Ele também ficou excitado?
— Vão ter que me internar num sanatório por sua culpa —
murmura. — Estou duro, Jolie! Duro e em carne viva!
— Hummm… se alivie pensando em mim.
Rael toca no seu pau, lambendo os lábios ao observar a
minha nudez.
— Mas sozinho… — a seguir, corro rápida para abrir o box e
consigo fugir dele.
Ouço-o bufar frustrado. 
Respira, Jolie, respira… ele é seu. 
Meu homem!
Visto meu vestido por cima do corpo molhado mesmo,
ainda faço questão de jogar a calcinha para ele, por cima do box.
— Bruxa! Vou te foder! — ele pragueja lá dentro.
Sorrio ao fechar a porta.
Não sei nem explicar a aceleração dos meus batimentos
cardíacos.
Saio rápida da academia.
— Jolie?
De repente, dou de cara com a Hera no corredor do castelo,
estava prestes a virar no próximo e entrar no meu quarto,
quando trombei com ela.
Ela me olha de baixo em cima, desconfiada das pontas
molhadas do meu cabelo, também do vestido com manchas de
água. Não tive tempo de me secar.
— Sim? — ergo a cabeça e encaro os seus olhos.
Hera não chega perto do que eu tinha que enfrentar como
esposa de Pedro Borghi e futura dama do chefe da máfia.
— Isso é tão óbvio, sabia? E não me peça para ser clara.
— Desculpa, Hera, não sei o que pensa de mim, em relação
ao Rael, mas…
— Eu vejo nos seus olhos o “mas”. — Ela chega mais perto,
com a sua beleza morena, imponente. Seus cabelos cacheados a
dão mais poder. — Ele não vai te deixar ir.
Não falo nada, nem desvio do seu olhar observador,
enigmático.
— Estamos na sala organizando a decoração de natal — ela
informa e sai andando com os seus saltos altos.
“Ele não vai te deixar ir.”
Nem Gavião…
Meus olhos se emocionam.
Eu pertenço a esse lugar, é aqui que quero estar, não
naquele inferno.
Arrumo-me e desço meio dolorida... para ver o que está
acontecendo na sala. E encontro a Elena, o Vince, a Hera, o
esposo dela e a pequena Maria montando uma árvore de natal
enorme.
A árvore quase alcança o pé direito alto do castelo. Tem
mais de dez empregados ajudando.
— Essas bolinhas são broxantes, parecem os testículos
murchos do morcego.
— Vai se foder, Vince!
— Ezequiel! — Hera bate nele.
— Como não xingar esse energúmeno irritante?
— Tio Morcego falou palavrão. — Maria estende a mãozinha
para o tio. — Dindin tio, dindin.
— Essa criança vai ficar rica desse jeito! Estelionatária
mirim.
— Já sabe, é uma regra, nada de palavrão perto da nossa
menina. — Elena sorri maldosa.
Resmungando, morcego tira um euro da carteira e dá para
a pequena.
Eu sorrio, pois é algo que eu também faria, ainda mais
tendo tantos homens trogloditas em casa.
— Desse jeito, essa anã piolhenta vai ficar mais rica do que
nós, temos que dar dois euros a cada palavrão nessa porr…
— VINCE!
— VINCE!
Elas batem em dupla nele. 
— Aí, suas cobras de duas cabeças!
Maria mostra a língua para ele.
— Maria, isso é feio!
— Eu não tenho mais piolhos, tia Elena e prima Hera
limparam a minha cabeça. Você que tem, tio Vince. Você é
piolhento e feio, la-la-la-la.
— Piolhenta e ainda mija na cama.
— Eu não mijo na cama. Tia Elena, olha o tio Vince. Feio.
Elas reviram os olhos.
— Não sei quem é o mais infantil.
— Vince para de implicar com ela e vem ajudar a montar a
árvore. Faça algo útil.
Chego perto deles e a Maria é a primeira a me avistar de
longe. 
— Jolie! — ela sorri entusiasmada e corre até mim. — Olha
o tamanho da nossa árvore, olha! 
Todos me observam ser puxada pela pequena.
— É linda.
— Nunca tive uma, sabia? Mas vi desenhos e o papai Noel
aparece pra colocar presentes aqui embaixo, está vendo? — ela
aponta pra baixo da árvore. — Ele vai me dar presentes né, tia
Elena? Papai Noel deixa presentes para crianças boazinhas, você
disse.
Noto a Elena quase chorando, Hera também, até o Vince e
o morcego estão emocionados.
— É-é claro, meu amor... Você vai ganhar milhares de
presentes, merece todos do mundo.
— Eu darei as Barbies mais lindas.
— O tio vai dar a Annabelle.
— Vince!
O engraçado então corta o clima de comoção da família.
— O que foi, é uma boneca — ele ri perverso.
— Ela é bonita, tio Vince?
— Linda, parece até com a prima Hera.
— VINCE VAI…
Hera fuzila-o.
— Que você, seu imbecil, coma um pão bengala e ele saía
inteiro do seu… buraco intestinal!
Balanço a cabeça, não aguentando segurar a risada.
— Não liga, Jolie, Vince não bate bem da cabeça — Elena
suspira e se senta no sofá.
— Quanto amor da parte de você, cunhadinha das trevas. E
Jolie, já que não temos a fera do Rael para nos atrapalhar — o
maluquinho, sedutor e provocador se aproxima com cara
maliciosa. — Aceita tomar um bom vinho comigo esta noite?
— Para de encher o saco e vem ajudar, Vince.
— Um vinho? Hum... adoraria — pisco para o loirinho.
— Meu Deus, levei uma flechada aqui no coração. Deixa-
me comer para recuperar as forças.
Ele vai até a bandeja de biscoitos e pega uns quatro.
Elena sorri fraca para mim, chamando-me para sentar-me
ao seu lado. Hera não fala nada, em vez disso, começa a dar
ordens aos empregados, para colocarem os enfeites onde deseja.
Conforme fico, acabo ajudando-os. E para a minha
surpresa, Hera também acaba me tratando bem e até pedindo
opiniões em grupo, para decorar todo o castelo.
Isso enche o meu coração. Só que no fundo, repito para
mim mesma, para não me iludir, não me apegar a esses
momentos, para depois não sofrer com mais vazios… sozinha.
Vejo uma grande movimentação de gente pelo castelo
e nos arredores do jardim. É a Hera, a Elena e os
empregados, montando a decoração de Natal. 
Para me salvar de não ser um escravo dessas
mulheres maldosas, o Luiz, o nosso mordomo, informa que a
Isa e o Lucas estão na sala de chás. Eles acabaram de sair
de uma reunião com o tio Argus. E por isso, eu vou ao
encontro dos meus amigos.
— Bom dia.
— Rael!
Ao me verem, eles se erguem animados do sofá.
— Bom dia, amigo.
Isa vem até mim e pisca, abraçando-me. 
— Vai no meu aniversário amanhã, né?
Sorrio galanteador.
— Vejo que a minha pessoa está muito requisitada,
posso cobrar?
— Você não seria nem louco, sabe que soco a sua
cara.
— Sempre amorosa, dona Isabel.
Abraço também o Lucas.
— E aí, seu marrento — ele bate nas minhas costas.
— E aí! Como vai a academia? Tiveram sucesso com
os novos alistados?
— Só cinco passaram, mas todos com a minha
confiança. Estou treinando para serem atiradores.
Precisamos de mais, não é mesmo? — Ela me observa
sugestiva.
— Agradeço a indireta.
— E como vão as cobranças? — Lucas se entusiasma
ao tocar nesse assunto.
É o sonho dele entrar na equipe de cobrança, porém,
sabemos que o seu lugar é com a Isa, na academia. Os dois
são os melhores treinadores que existem.
Em tom de divertimento, conto detalhadamente para
eles da minha última cobrança com o Vince, que pegamos o
devedor com a amante. Aproveitamos para rirmos e nos
divertimos como nos velhos tempos, quando eu contava
essas histórias de forma engraçada.
— Precisamos de mais momentos assim — Isa se
senta ao meu lado, recuperando o fôlego, após tantas
risadas e piadas. — Às vezes pensamos só em trabalho e
trabalho.
— Tem razão.
— Você sumiu da boate Fogo — Lucas comenta. 
— Como assim? Aquele lugar não era o seu santuário
de safadeza?
— Voltarei, relaxem.
— Falando em voltar, precisamos retornar ao trabalho,
Lucas.
Eles se erguem, preguiçosos.
Acompanho-os para fora.
— Estou organizando a minha festa de aniversário.
Não falte, Sr. Rael. Vai ser às 19h, na academia de luta. Não
vai ser nada chique, só alguns salgados, doces e muita
cerveja para nossos rapazes e suas mulheres. 
— Já disse que a minha ilustre presença tem preço.
— Que cachorro, já está avisado, se não for, quebro a
sua cara.
— Quem quebra a cara de quem?
Adentramos a sala principal e Hera, Elena, Vince e
morcego estão reunidos, diante da enorme árvore de Natal.
— Olá, bom dia.
Isa e Lucas cumprimentam a todos.
— Olá, Isa, Lucas…
— Isa, sempre uma gata, que paraíso hein — Vince se
aproxima, comendo Isabel com os olhos.
— Queria ver você falando isso quando está sozinho
comigo na academia.
— E eu sou louco, amor? Você me quebra no meio…
não que eu não adore mulheres tatuadas e fortes, dá um
tesão.
Isa revira os olhos
— Vince, vai se foder, vai.
— Não falei com você, Raelzinho. Aliás, sobre que
vocês estavam conversando?
— Amanhã é o meu aniversário e estou preparando
uma festinha simples para comemorar na academia, aí
convidei o Rael. E se também quiserem ir, estão todos
convidados.
— Vai ser um prazer.
— Hun-hum... — de repente, a Jolie aparece astuta, no
meio do arco do hall, à nossa esquerda e chamando a nossa
atenção para a sua pessoa, beleza e altura poderosa.
Ela está segurando um pisca-pisca. Seu olhar é
mortal, de ódio.
— Jolie… — Lucas acena, retraído.
Jolie olha a Isa de baixo em cima, quieta, sem nem
responder o Lucas.
— Ah, eu vou adorar ir — Vince quebra o clima tenso
que se instaurou.
— Que bom, começa às 19h. E antes que me esqueça,
Srta. Elena, não sei se o Sr. Hoss lhe comunicou, mas
segunda iniciamos as aulas de tiro. Não será mais hoje.
— Tá bom.
Após Isa terminar o seu comunicado, ela se despede
de todos, juntamente com o Lucas e pede para eu
acompanhá-la. É quando a Jolie dá um passo e taca os
piscas-piscas no meu peito.
Porra, fingi que nem doeu a ferocidade dessa mulher.
Ela está doida?
— Não, Rael vai ajudar a prima dele a colocar piscas-
piscas na árvore.
— Eu não havia falado com você — Isa rebate calma,
sem nem sequer olhá-la.
— Mas eu respondi por ele, querida.
— Jolie… — aproximo-me das duas.
— Isso vai ficar melhor do que as novelas brasileiras.
Luiz, traga-me pipocas amantei… — piso no pé do Vince,
para ele calar a bosta da boca.
Hera, Elena, morcego e os funcionários estão nos
olhando.
— Seu dia está contado, viúva Borghi. 
— Mas, aproveitei todos os outros anteriores, do
melhor jeito, a qual nunca nem sequer teve gostinho…
afinal, não passa de uma amiguinha.
Isa quase avança na Jolie, só que seguro rápido o seu
braço.
— Isa, é melhor ir embora. Lucas, leve-a daqui.
— Com licença — Isa puxa o seu braço e retira-se,
marchando brava, sem nem sequer olhar para trás.
Viro-me para a minha família, também os empregados
e eles fazem o favor de voltarem a suas obrigações, exceto
a Hera, que está de braços cruzados.
— Isso está mais foda para você, priminho.
— Não só para ele, Hera — Jolie a enfrenta. — Rael
nunca vai abandonar a família, não se preocupe. E nem eu
abandonaria, ou colocaria o sangue do meu sangue em
qualquer risco. Devemos proteger quem amamos — ela
termina suas palavras e passa imponente por nós.
Eu fecho os punhos, e dou um passo furioso até a
Hera, sem me importar com a porra do morcego, que quase
avançou em mim para defendê-la.
— Não precisa dizer nada, Rael — Hera toca no meu
peito, acelerado, desesperado, interrompendo o meu texto
de culpa. — Seus batimentos dizem por si só. Depois
conversaremos com mais calma.
— Não, seu discurso é o mesmo que o do Hoss. Estou
sofrendo com isso, porra! E foda-se! Talvez a minha escolha
de ir com ela possa surpreender a todos.
— Rael, você não é nem louco!
— Eu sou, pelo bem de vocês e quem sabe o meu?
— Não assim, Rael. Devemos ficar juntos! —  Os olhos
da Hera lacrimejam e é a minha vez de virar as costas.
 

Eu olho para o Ezequiel e corro para abraçá-lo.


— Rael não disse isso — Vince sussurra, tão chocado
quanto eu.
— Ele está apaixonado pela Borghi — Elena por fim
assume, aquilo que eu não queria assumir tão cedo.
— Meu pai não o deixaria ir embora. Nem Hoss! Nem
eu!
Afasto-me do meu marido.
— Amor, fique calma.
— Estou calma!
— Calma como um rottweiler.
Dou um tapa no braço do Vince e puxo a Elena
comigo, para bem longe desses machos. Preciso dela.
— Hera, calma.
Levo-a para a outra sala do castelo.
— O que eu faço? Diga algo!
— Ah, e você vem perguntar isso para mim?
— Ele está apaixonado, mas e ela? Se essa Jolie
estiver usando o meu primo, o meu irmão?!
— E como pode saber, Hera? Por um lado, Jolie não é
completamente culpada, sabe disso. Hoss disse que ela foi
uma esposa destinada a Pedro Borghi, desde o seu
nascimento. Imagine viver a vida inteira sabendo que
pertenceria a alguém? Não sei se foi sorte, contudo, fico
aliviada por ter, de certa forma, me livrado do Paulo.
Entretanto, agora me coloco no lugar da minha irmã, ela
não foi por escolha própria… — Elena se emociona. — Era ir
com o Paulo, se casar com ele ou ser morta, sequestrada,
forçada, não sei… tudo pelo filho e o futuro herdeiro desses
cretinos.
Suspiro e caio sentada na poltrona.
— Sinto muito. Tenho medo de perder a minha família.
Penso em você, na Maria, no meu outro priminho dentro
dessa sua barriguinha. Imaginar o Rael longe de nós, deixa-
me prestes a cometer uma loucura. Devemos todos ficar
juntos!
— Hera… — Elena aperta a minha mão. — Amo muito
vocês, amo demais aquele estressado do Hoss, o comilão do
Vince, o quase certinho do Rael, mas perder faz parte, por
mais que tenhamos medo… e ele está apaixonado.
— Ela pode não o merecer.
— Ah, e eu merecia o Hoss?
— Não chamo de merecimento, você pegou foi uma
cruz para carregar, eu hein?! Nem eu dou conta do Hoss,
dou graças a Deus por agora ter uma segunda comandante.
Sorrimos.
— Você gostou da Jolie, não seja falsa.
— E quer o quê? A mulher é foda! Viúva de um
mafioso, patente de fazer qualquer uma abaixar a cabeça.
Aquela Borghi tem história, todos já ouviram falar dela, por
mais que não a conhecessem pessoalmente na vida, como
eu.
— Bom… sim, ela causa um pouco de arrepios. O
olhar dela para Isabel então… nossa. Não queria estar na
pele da Isa.
— Viu?
Bufo, louca de vontade de subir atrás da Jolie e pedir
mais histórias dela, de ser quase a primeira-dama do crime.
Isso é fascinante.
— Confesso que mulheres assim me entusiasmam.
Fortes, poderosas. E ela é isso, na hora certa, diante de
quem precisa ser.
— Você é assim também, Hera.
— Elena, é bem diferente lidar com quem nos deve.
Dizem que a Jolie dominava o Pedro, que se estivesse numa
mesa com o papa e quisesse mudar para outra, ela
conseguia isso… o próprio chefe da máfia mudava junto.
Entende o grau de poder e respeito? 
Elena dá de ombros.
— Para mim, máfia é um grupo de criminosos que
mereciam pagar pelos seus crimes imperdoáveis, quero
esses poderosos bem longe da gente. Não que inclua Jolie…
quero dizer… Ah, não sei. Rael está apaixonado, movido
pelo coração, igualmente pelos medos. É triste não estar
junto de quem se gosta, se amand…
— Não repita isso! 
— Desculpa.
— Rael pode não a amar e ser só atração, sexo!
Paixão física!
— Paixão física, para ele ser capaz de ir embora e
levá-la junto?
— Elena… — meus olhos voltam a se encherem de
lágrimas. — Não vou perder o Rael, serei capaz de qualquer
coisa por ele, assim como fui pelo Hoss e por você.
— E qual o seu plano Hera? Entregar a Borghi para a
máfia?
— E depois deixar o Rael ir atrás dela, como o
Superman, prestes a salvar o mundo? Sabe que esse cabeça
dura é assim, tanto que se sente responsável pela Jolie.
— Eu sei, mas qual o seu plano?
— Saber se a Jolie ama o nosso Rael, se ela o merece.
Assim saberei, se o sacrifício de mil, vale por um.
Entro no elevador e vou até o terceiro andar, sabendo
que a sala do Argus se localiza aqui, eu ouvi do mordomo
ontem, quando ele estava levando um cliente ao chefe
Calatrone. E já no primeiro corredor, vejo duas portas,
enormes e antigas. Deve ser lá! Tem que ser!
Não penso nos meus atos e já chego desesperada,
empurrando as portas, quase em prantos.
— Jolie!
Ele rapidamente se ergue.
— Por que não conta a verdade para eles?
O Gavião vem rápido até mim, fecha as portas e
segura os meus ombros. Seu olhar me causa horror.
— Acalme-se, filha.
— Não aguento mais ter o meu destino nas mãos de
alguém, nas suas! Pode acabar com isso, dizer que eu
pertenço a família.
— É arriscado. Ainda não é a hora certa.
— E como eu fico? Qual é a hora certa?
— Fique aqui, o tempo necessário. Já disse que não vai
embora. Precisa suportar a todos, assim como suportava os
Borghi, sendo esposa do herdeiro da máfia. Lembre-se de
quem pode ser.
— Mas não posso ser essa mulher aqui, eu não
consigo. Eles são diferentes. Rael é mais ainda, ele se
importa comigo, por mais que seja daquele jeito, um
homem em negação, que luta contra os próprios
sentimentos.
— Vai ter que suportar. Primeiramente, precisa salvar
a sua vida, depois cuidar do seu coração.
— Mas eu o quero, não vou perder o Rael! Não fiz o
que fiz para ele vir atrás de mim em vão, ainda me vendo
como uma ladra!
— Armou tudo também…
— Talvez eu tenha sido mais esperta que você? —
debocho.
— Bom, eu jogo a semente, mas não tenho certeza
dos frutos.
— Eu também não tinha, entretanto, ele veio atrás do
colar, de mim!
— Controle essa paixão. É intensa demais, sabia que
se apaixonaria pelo meu sobrinho, assim como ele, por
você.
— Claro que sabia, Sr. Gavião! 
— Jolie! — ele aperta delicado o meu braço. — Sabe
que Toretto não vai deixá-la viva. Não é inocente,
manipulava o Pedro onde ele mais sofria.
— Eu também sofria, não imagina a dor que foi,
quando descobri toda a verdade nojenta sobre o meu
esposo. Era a forma de eu garantir o meu poder como
mulher entre os LosBor.
Argus solta-me, nervoso.
— Precisamos de mais tempo.
— Se eu fugir para outro país, Toretto pode me deixar
em paz.
— E ver o meu filho e a minha filha partindo o
coração? — ele ergue o meu rosto e eu me emociono. —
Agora a tenho perto de mim, para cuidar e estar presente
até os últimos dias de minha vida, assim como prometi ao
seu pai.
— Obrigada por me dar esperanças, estou tão feliz por
tê-lo vivo.
— Prometo que em breve todos saberão a verdade
sobre a nossa história. E tudo será diferente.
Assinto.
Ele beija a minha testa e não fala mais nada.
Respiro fundo.
— Serei quem preciso ser, não se preocupe… — após
as minhas palavras, ergo a cabeça e sem me despedir, saio
por onde entrei, o mais rápido possível.
Preciso aguentar, enquanto planejo o meu plano B.
Mas, isso não significa resistir ao Rael. Ele é tudo o que eu
nunca tive e que eu nunca mais vou ter.
Ele é meu!

— Jolie! 
Antes de eu pisar no último degrau, que leva ao
grande salão de baile, ouvi a voz da Hera, gritando pelo
meu nome.
Viro-me para vê-la andando apressada até mim.
— Onde pensa que vai?
— Eu?
— Sim, sim, você. Estava nos ajudando na decoração
do castelo, e preciso muito da sua ajuda, não quero
sobrecarregar a Elena, ainda mais nesse início de gravidez.
Fico estática, estranhando a forma dela se dirigir a
mim, tão 'normal'. geralmente, apenas me olha de baixo em
cima e fala palavras curtas, necessárias. Ainda me dá um
olhar de rejeição.
— Bom, achei que não fosse querer mais a minha
ajuda, não depois de agora pouco.
— Só dei um tempo para todos se acalmarem,
incluindo eu. Estou digerindo as coisas. E sinto muito pelo
meu comportamento desde que chegou, estou te devendo
isso, por mais que, talvez, possa compreender as minhas
razões.
— Eu compreendo perfeitamente, já lhe disse, assim
como disse centenas de vezes para o Rael. E obrigada, é a
minha vez de sentir muito.
Hera balança a cabeça e fica quieta, até pedir para eu
acompanhá-la de volta para a sala. E sem mais tocar no que
aconteceu, a gente retorna ao trabalho; eu, Hera, morcego,
Vince e Elena. Só paramos no horário de almoço.
Divirto-me muito com eles, principalmente com a
Hera e o Vince, brigando igual cão e gato, cheios de
implicâncias. Acho que se não fosse a Maria, eles já teriam
xingado todos os palavrões do dicionário brasileiro. Mas
durante a refeição, senti falta do Rael e do Hoss. Sei que os
dois brigaram feio, não querem ver um a cara do outro.
— Nunca te perguntei isso, contudo, estou há dias
curiosa, querendo saber com quem você aprendeu
português, Jolie? — Elena questiona. — Afinal, estamos o
tempo inteiro falando nossas línguas maternas. E te vejo
oscilando muito bem nos dois Português.
— Ah, eu estudei muito — sorrio. — Sei falar cinco
idiomas fluentemente.
Eles focam a atenção em mim, admirados.
— Uau, isso é incrível. Parabéns.
— Viver presa em uma mansão te faz buscar coisas
para não surtar. E meu refúgio foram os estudos. Quase fiz
faculdade de economia, mas… é impossível levar uma vida
civil "normal”. Me formei em casa, com professores
particulares.
Noto a Hera suspirar e olhar para o seu pai na ponta.
— Não tem mesmo. Algo frustrante que
compartilhamos muito em comum.
— Vou descansar um pouco. Vem Maria, hora do
soninho...
Elena finaliza o seu prato e se ergue do assento,
parece inquieta, bem incomodada. Ela ajuda a Maria a sair
da cadeira. 
— Vai descansar ou ir atrás do seu ogro Calatrone? —
Vince pergunta, de boca cheia e nada elegante.
Ele parece um garotão esfomeado. Sua beleza viril
engana muito.
— Melhor se tranquilizar, Elena. Depois o Rael e o
Hoss estão aí de novo, inseparáveis.
— Mas ele passou a manhã inteira no escritório. E não
sei fazendo o que, já que odeia tanto aquela sala fechada.
— Vou falar com ele, não se preocupe — morcego diz.
— Hoss gosta do espaço dele, só estava esperando a manhã
passar.
— Nesses momentos ele estaria desestressando com
a Rui… 
— VINCE! — Hera brada. — Hoss vai te matar!
— Vince, vai a merda! Isso não é hora dessas
brincadeiras! — Elena também brada, furiosa e tacando um
pedaço de bolinho na testa dele.
— Ei — Argus só sussurra e todos param, quietos.
Elena bufa, mais irritada do que nunca, pede licença e
se retira com a Maria.
— E Rael? — Quando vejo, já perguntei, com o
coração na mão, doida para estar com aquele homem.
— Eis a pergunta que só o nosso mordomo Luiz
poderia respondê-la, junto do seu tablet sagrado, cheio de
câmeras com infravermelho, onde localiza até os ratos pelo
castelo.
Arregalo os olhos, já imaginando onde transei com o
Rael essa semana. Ele viu? Socorro!
— Relaxa, as câmeras ficam localizadas em pontos
estratégicos, para nossa privacidade não ser violada, tipo
entradas de cima das portas e corredores. E o que é visto
por Luiz, fica com Luiz. Já tentei suborná-lo por imagens da
Hera transando com o morcego nos corredores, mas ele é
um traíra, ergueu o nariz e virou as costas, mandando-me a
merda sem falar um a. Ele só obedece ao tio Argus — rola
os olhos.
— Vince, cresce, seu imprestável! 
— Ninguém te chamou na conversa, projeto de
Batman que deu errado.
E de novo, eles começam a se implicar e eu a me
divertir.
Mais tarde, eu volto ao trabalho com a Hera. Desta
vez, ela está menos brincalhona e eu séria demais.
— Pensando em algo? — ela passa uma bolinha
vermelha para a moça de uniforme preto. E sei que a sua
pergunta foi para mim.
— Talvez… só um pouco desligada.
— Está cansada, passamos a tarde toda aqui. Chega.
Terminamos por hoje — ela bate uma palma, agradece a
todos pela ajuda e manda seus dez funcionários
descansarem para amanhã. 
Eles obedecem na mesma rapidez que pararam.
— Você também, descanse Jolie. Vou me arrumar,
pretendo aproveitar minha sexta à noite na boate com o
maridão — ela pisca, a seguir, deixa-me sozinha.
Solitária na gigantesca sala principal, resolvo fazer um
passeio no jardim noturno.
Estou ansiosa, aflita. Rael não me procurou o dia
inteiro. Também, nesta mesma intensidade de aflição, estou
puta da vida, por causa daquela cadelinha da Isa. Nem
pensar que ele vai amanhã no aniversário dela! Se for, eu
vou!
— Aiii! — sem querer, tropeço para fora da calçada e
caio na grama.
Ai, droga!
Na queda, torci um pouco do pulso.
— Moça!
Um homem bem alto corre até mim, só sinto as suas
mãos grossas ajudando-me a me levantar.
— Meu pulso — choramingo.
— Oi, atenção T2, comunique ao Sr. Cala….
— Não, pelo amor de Cristo — puxo o rádio do homem
forte. — Não quero incomodar ninguém, já estou bem.
Ótima! Agradeço o seu salvamento.
— Por favor, senhorita, caso tenha se machucado,
devo comunicar ao…
— A ninguém, meu lindo. E se quer me ajudar, dê uma
volta comigo, estou abandonada neste castelo. Todos foram
se divertir, enquanto a rejeitada aqui, tem que se contentar
com a lua e as estrelas.
Ele arregala os olhos de cor azul. Então pigarreia,
assentindo.
— Como é o seu nome? — pergunto, enquanto ele
vem devagar ao meu lado.
O cara é um gato. Pena que não criei nenhum
encanto. Ele não chega aos pés daquele desgraçado do
Rael, que me fodeu de corpo e alma.
— Tenho um apelido, abelha.
— Abelha? — sorrio. — Já não bastava termos
“morcego”.
Ele não sorri, por enquanto, mas está bem fixado nos
meus traços e no meu olhar provocador. Adorava fazer isso
com os LosBor, os homens da máfia, seduzia a todos. E
quando precisava de algo, eles faziam o que eu mandava,
igual cachorrinhos adestrados.
— Por que “abelha”?
— Meus pais cultivavam abelhas.
— Só por isso? — faço-o parar perto da piscina. —
Finge que estamos conversando como bons amigos, por
favor, não colabore com meu tédio.
Ele molha os lábios, rendendo-se a termos um bom
papo.
— Desde que nasci, meus pais eram cultivadores de
abelhas. Cresci no meio delas, e por ser um garoto
aventureiro, vivia cheio de picadas. Foi assim que meus
colegas de escola começaram a me apelidar, como zoação.
Porém, o apelido de abelha foi o mais marcante, até hoje.
— Ah, isso sim é um bom motivo, igualmente, um
bom apelido.
Só me faz lembrar de ferrão… bem grande.
Merda, que fogo é esse!
Conforme voltamos a andar, eu vou puxando mais
assuntos divertidos com o abelha. Ele é fácil de soltar as
coisas sobre a sua vida. Descobri que é pai de gêmeos, que
sua namorada morreu no parto e que ele, mas as suas duas
irmãs e mãe, cuidam das crianças. Um guerreiro. Não sei
nem descrever a minha admiração. Em alguns momentos,
acabo me soltando e caindo na risada com ele.
Que noite! Achei que seria horrível, pelo contrário, já
fiz uma amizade bem proveitosa. 
Fujo do castelo igual a porra de um condenado. Tudo
para ficar longe da minha família e da Jolie. Estão me
enlouquecendo, vou precisar ser internado num sanatório.
Não aguento mais isso.
— Sr. Calatrone… — Ruiva se aproxima de mim,
passando a mão nas minhas coxas e no meu volume morto.
Não sinto nada, parece que outro defunto me tocou. E
ela é bonita, gostosa.
— Não quero nada, Ruiva. Só paz.
— Mais um Calatrone pescado por outra mulher —
bufa, frustrada. — Já perdi o Hoss, agora você?
— Você só era a foda preferida dele, não entendeu?
Ela dá de ombros.
— Mas se caso ele brigar com a mulher, estarei de
braços e pernas abertas. Pode passar o recado... com
licença.
Não falo nada, mas sinto vontade de rir.
Se eu ainda fosse amigo do meu irmão, usaria isso
deliciosamente contra ele. Aquele fodido! 
Passo a manhã na boate, que está fechada e em
reforma pela nossa gerente. Ajudo-a em algumas coisas. No
restante da tarde, fico jogado no sofá do terceiro andar,
bebendo e refrescando o cérebro; de falatórios, brigas e
tudo que anda acontecendo no castelo. Ainda assim, ela não
sai dos meus pensamentos.
O que eu faço?
Está tudo fora do controle, é alucinante! 
— Onde estava?
— Você está mesmo me perguntando isso? — indago
a Elena, após acabar de entrar na sala de casa. 
— Ah, agora ficou com raiva de mim, Rael?
— Por que não me contou que estava grávida? Como
futuro tio preferido, eu merecia essa informação! Hoss é um
bastardo! Você uma traíra!
Elena revira os olhos.
— Andou bebendo?
— Só uns goles, e isso não é da sua conta.
— Não sabia que quando bebia virava um insuportável
birrento, igual o Hoss quando está sóbrio! 
 Vou até ela, bravo.
Elena se retrai, intimidada por mim. Então abraço-a,
mesmo sabendo que se o Hoss ver essa cena, ele atira na
minha cabeça, depois nos meus testículos, e sem pensar
duas vezes.
— Rael!
— Parabéns, Eleninha, que alegria, eu amo a pequena
Maria e agora vamos ter outro bebê, para colorir essas
paredes frias. Será que é menino? — seguro os seus
ombros. — Podia ser, para ensinarmos o futebol brasileiro,
da época do Pelé. Inesquecível.
— MAS QUE PORRA É ESSA SEU RESTO DE EMBRIÃO!
E falando no encosto.
Hoss pula em mim, empurrando-me para longe da sua
mulher.
— Hoss, para! Ele bebeu além do que devia.
Elena segura o meu braço.
— Bebi não, nem olha para minha cara, seu infeliz!
— A cara que eu soquei mais cedo? — ironiza.
— Eu que te comi no soco!
Tento avançar nele, mas acabo tendo uma vertigem,
que quase me fez cair no chão, se meu irmão não tivesse
me segurado forte.
— Para ficar nesse estado deve ter secado todas as
garrafas da boate.
— Não te perguntei nada, cara de salsicha podre.
Noto Elena rindo, também com a cara mais boba do
mundo.
— Vocês são tão iguais, dois sequestradores de
criancinhas na floresta.
— Elena…
— Eu ou a sua mulher que bebeu? — franzo o cenho,
mais confuso que o normal.
Ela me chamou do quê?
— Entra embaixo de um chuveiro frio, pois nesse
porre, não dá nem para te mandar a merda justamente.
— Pois digo foda-se para você, não te suporto!
Afasto-o e viro as costas para eles. 
Vou para o elevador, aperto no andar de hóspedes e
paro no corredor da Jolie. Começo a caminhar tonto, até
parar perto da janela ornamentada, segurar-me na parede e
olhar para baixo, para a porra da cena da Jolie e do
segurança do Hoss, sentados no banco do jardim, rindo!
Que desgraça é essa que estou vendo?
Eu vou acabar com os dentes desse arrombado!
Pego a arma e simplesmente atiro em direção ao lago.
Os dois imediatamente pulam assustados do banco. Abelha
também pega a sua ama e segura a minha mulher pela
cintura! Atiro umas três vezes, ainda mais louco!
— Rael!
Luiz surge rápido no corredor, vindo até mim e
puxando a arma da minha mão.
— Rael, o que está fazendo?
— Não me atrapalhe! O próximo tiro era na cabeça
daquele filho da puta! Isso deve ser plano do Hoss!
De repente, a Jolie olha para cima e me vê do alto.
— Tem outras armas? Entregue-me, ou serei obrigado
a chamar o seu tio.
— Luiz, vai cuidar da sua vida!
— Rael, olha como se dirige a mim — Luiz me
repreende, igual fazia na minha adolescência.
— Porra mesmo… — resmungo, passando as minhas
outras duas armas para ele. Enquanto faço isso, volto a
olhar para baixo e vejo que a Jolie e o abelha sumiram.
— Vou atrás daquela mulher e daquele…
— Ela já deve estar vindo na sua direção, não se
preocupe — ele fala, a seguir, retira-se com as minhas duas
armas.
Luiz, seu velho da carrocinha insuportável!
Entro cambaleando no quarto da Jolie e vou até a sua
cama, ainda tonto e puto! Percebo a sua camisola
pendurada no mancebo e estico-me para pegar o pequeno
tecido, de cor branca. Acabo derrubando até o mancebo no
chão. Cheiro bem fundo a peça minúscula, apreciando o seu
perfume e imaginando o seu corpo nu, sua pele quente…
sua respiração arfante… seus lábios rosados…
— Rael!!!
Ela não demora a invadir o quarto.
— Só pode estar louco, ia me matar?!
— Eu ia matar ele!
— Só estávamos conversando.
— Mas está proibida de conversar com qualquer
homem nessa casa… é só eu. EU!
Jolie se aproxima e olha para a sua camisola em
minhas mãos.
— Não tem só você de homem no mundo não. Sempre
fui ótima em fazer amizade com eles.
— Pois não fará mais.
Puxo-a pelo braço e a faço sentar no meu colo. Abraço
o seu corpo quente, não querendo largá-la por nada nesse
mundo.
— Está me sufocando seu troglodita — sussurra,
acariciando o meu cabelo. — Já fui informada que está
alcoolizado. E nem precisavam me dizer, senti o cheiro de
álcool de longe, assim que abri a porta.
— Não estou bêbado.
— Orgulhoso mesmo. Até bêbado acha que está no
controle de si próprio.
— É por sua culpa que não estou no controle da minha
própria vida — arrasto as palavras, embolando a língua. —
Você não sai dos meus pensamentos. Meu coração dói por
você, sabia? Essa porra doí muito. 
— Está confessando isso só por meio da embriaguez…
— Eu-eu não tou — pego a mão dela e paro sobre o
meu coração acelerado. — Acho que você tá aqui, bruxa.
Acho não, você tá. É minha, e quero que se foda tudo e a
todos. 
— Ah tá, que você quer, e a sua família?
— Vamos deixá-los, vamos ir embora, eu protejo você,
cuido de você, a máfia não vai te tirar de mim.
Volto a abraçá-la com força.
Jolie chora, beijando o meu rosto.
— Isso é o que o seu coração quer, mas logo a
consciência e arrependimento regressam... Deita e
descansa Rael, vem…
Ela sai de cima do meu colo e me ajuda a deitar na
cama. Sinto as suas mãos abrindo a minha camisa, tirando
os sapatos e o cinto da calça.
— Bebi por sua causa.
— Bebeu porque foi a alternativa para fugir da
realidade.
— Você não vai embora… talvez, só vai aquela sua
gata feia, das trevas.
Jolie sorri e se deita ao meu lado, sobre o meu peito.
— Se ela for, seus cachorros carnívoros também irão.
— Desde que só você não vá… minha Jolie.
Fecho os olhos, rendendo-me ao sono.
Pela madrugada, desperto-me com a Jolie ainda nos
meus braços, e diferente de mim, ela se trocou e vestiu a
bendita camisola minúscula. Levanto-me fraco das pernas,
com vontade de mijar. Olho meio tonto as horas no relógio
de pulso, são 01h da manhã. Aproveito para tomar um
banho morno. Sinto o álcool descendo pelo ralo. Quando
saio do banheiro, com a toalha na cintura, pego a Jolie
acordada, olhando-me pela iluminação do abajur.
— Não devia ter acordado — advirto.
— Tenho sono leve. Achei que tivesse ido embora…
sempre se arrepende de mim.
— Acha que eu estava bêbado o suficiente para
esquecer tudo o que disse antes de dormir?
Tiro a toalha e fico nu, para secar o meu corpo.
Jolie perde até a noção de resposta, ou sequer de
raciocinar algo, com a visão do meu pau.
Volto para cama e me deito ao seu lado.
— V-vai dormir assim? Pelado?
— E você, vai dormir assim? — resmungo e aperto a
sua bunda avantajada.
Todo o corpo dela é “cheio”, muito peito, muita coxa,
muita bunda. É linda. Puta mulherão. Gosto assim, de ter
onde pegar com força.
— Não faremos sexo… — ela se afasta e repousa no
outro travesseiro.
Fito em silêncio os seus olhos, perdido na exuberância
deles.
— Não esqueceu mesmo? — pergunta baixinho.
— Não.
— Nem quando disse “minha Jolie”.
Chego perto dela e toco no seu rosto.
— Nem quando disse minha Jolie.
Ela suspira com meu toque, agora nos seus lábios.
— Você tem a mim, não está sozinha.
— Eu te quero tanto que às vezes sou orgulhosa de
assumir os riscos que te colo…
— Shhh… 
Não a deixo terminar de falar. Beijo os seus lábios;
lento, molhado e abrasador. Provo que as minhas palavras
não são mais em vão.
Estou cansado disso, de me arrepender. E já não sei
mais como agir, pois domingo, não terei forças o suficiente
para mandá-la para outro lugar, para expulsá-la da minha
vida, como se não fosse nada, como se não significasse algo
para o meu coração. Não consigo, não sei nem se meus
batimentos cardíacos aguentariam ficar longe dela...
Beijo-a, com sede de paixão, degusto da sua língua e
de cada canto da sua boca.
Jolie arfa, com a mesma sede, o mesmo calor, mas
quando tento puxá-la para mim, para devorá-la, ela me
empurra.
— Amanhã você vai me levar no aniversário da Isabel
— diz, inesperada.
— O quê? Está louca? Não!
— Então, ótima noite para o senhor.
Ela vira o corpo para o outro lado, apaga o abajur e
empina a bunda na minha direção.
Que… bruxa!
Meu pau pulsa com a ereção embaixo do edredom. O
beijo estava delicioso. Merda! 
Emburrado, igualmente viro-me para o outro lado e
durmo só pelo sono ser maior que a porra do tesão.
— Que cara de bunda é essa? Bom dia, também.
— Sem tempo para você, Vince! — exclamo, puxando
a cadeira, para sentar-me à mesa do café.
Parece que todos já tomaram, exceto eu e o meu
irmão.
Quando acordei pela manhã, já não encontrei mais a
Jolie no quarto. Ela ainda deixou a calcinha sobre o
travesseiro, de propósito! Bati uma punheta na força do
ódio.
— Antigamente o Hoss ficava nesse mesmo estado,
puto, mas pela sua decoradora, a ex-noiva do mafioso. Não
sei o que vocês têm em se relacionar com ex de…
— Se você não calar essa maldita boca de vaca, eu
corto a sua língua e dou para os meus cachorros.
— Raelzinho, amor, só estou comentando. 
— Onde está a Jolie?
— Com a Elena e a Hera, decorando o castelo para o
Natal.
— Qual é a da Hera se aproximando assim da Jolie?
— Simples a resposta. “Se não pode com eles, junte-
se a eles.” E Hera é intensa para fazer amizades com outras
mulheres. Ela não tem nada contra a Jolie, nem eu, mas
estamos contra a magnitude do perigo que ela nos traz. 
— Cansado disso — passo a mão no cabelo, farto e
com medo.
— Está apaixonado irmão, Jolie faz parte de você. E se
for tudo recíproco, conte comigo para lutar. Jamais estará
sozinho. Agora ótimo café, preciso voltar para a minha sala
de computadores. Beijinhos nas nádegas.
Vince se retira, e eu desabo na cadeira, esgotado.
Termino de comer e vou até a sala do tio Argus. 
— Tio? — paro no portal da porta. —  Bom dia.
— Bom dia, filho.
Entro e acomodo-me na cadeira em frente à sua
mesa.
— Quer algo? — pergunta, lendo algo em seu tablet.
— Por que só vive enfiado dentro desse escritório?
— Se reparar bem, estou ficando mais pela manhã.
Tenho muitas obrigações como chefe dos negócios.
— Não pensa em entregar tudo para o Hoss? Pelo
menos as maiores responsabilidades.
— Não, ainda estou ótimo, em forma fisicamente e
intelectualmente. E vocês, ainda não têm a
responsabilidade certa para administrarem nossa
agiotagem.
— Acho que não tenho mesmo, acho que nem o Hoss.
Ele odeia salas fechadas, sempre foi melhor na cobrança, ao
meu lado.
— Eu sei, por isso não é hora do seu tio sair de cena
— após terminar de falar, ele me encara, vendo além da
minha alma.
— Sei que não necessito de contar o que está
acontecendo comigo.
— Não.
— Então por que não está me ajudando com isso?
— Acha que o Hoss me escutou em relação a Elena?
— Não? — resmungo. — Só que eu estou numa
posição bem diferente da dele.
— Eu sei que está. Faremos uma reunião em família
no domingo.
— Não é só às quintas?
— Domingo — repete.
— É isso?
— E o que eu poderia lhe dizer mais?
— Que… sei lá, que a Borghi é um risco para a nossa
família, que está preocupado, era tudo o que eu esperava
ouvir de você, desde o começo, mais do que ouço
incessantemente da Hera e do Hoss.
— O risco existe, você já foi longe demais por ela.
— Fui, mais do que deveria. Assim que olhei nos olhos
daquela mulher, perdi o controle que sempre administrava
com êxito. Ela não tem ninguém, nem como se proteger.
Não sei largá-la e fingir que não é problema meu.
Noto Argus mais quieto, ele não dá continuidade ao
meu desabafo. 
Quer que eu me foda sozinho?
— Domingo resolvemos isso em família, entendeu,
filho?
Levanto-me, sem respondê-lo.
— Rael?
Ele não pode resolver droga nenhuma.
Viro as costas para o meu tio, com vontade de socar
um saco de pancadas.
Qual a porra do motivo de não conversar direito
comigo? Até parece que não se importa.
 Antes de eu seguir para a academia, sou parado por
Luiz no hall do elevador. As portas mal se abriram e ele já
surgiu igual uma assombração.
— Sr. Rael, o Bravos e o Gorila estão querendo matar
a Lady.
— O quê?
— A gata da Sra. Jolie está sendo perseguida por
Bravos e Gorila. Eu, os empregados e o restante dos
Calatrone conseguimos segurar só o Bravos, na verdade, o
Sr. Hoss conseguiu, já o Gorila está assustador, feroz.
— Onde estão?
— Todos correndo, gritando e latindo no jardim. 
— Vou pegar o Gorila, e se possível, tacar aquela gata
da bruxa pelos muros do castelo.
— Sr. Rael!
— Jogar por cima, não contra o muro — pisco.
Ele reprova com a cabeça e eu vou atrás da confusão
que meus dois filhinhos se meteram.
Conforme me aproximo da saída do jardim, já ouço os
gritos e latidos. Ao parar na calçada de pedras, vejo
primeiro a Hera descalça, perseguindo o Gorila e gritando
para que ele parasse. Morcego está atrás da esposa e da
Elena. Hoss segura o Bravos, meu outro cachorro, e segura
com toda a força que consegue, pois ele também deseja
destroçar a gata. Para colocar a cereja no topo do bolo, Jolie
está correndo em volta do chafariz, com a demônia das
trevas nos braços. Ela grita desesperada, pedindo socorro.
Ai, ai, que cena deliciosa, chego a sentar no banco e
cruzar as pernas para assistir.
— Senhor seus cachor…
— Por favor, querida, um café adoçado com doce de
leite brasileiro — peço a empregada, que veio correndo até
mim, sem fôlego. — Ah, e coloque o doce em volta da
xícara, para degustá-lo devagar. Obrigado.
Ela arregala os olhos, olha para todos desesperados
no jardim, mas faz o que eu mandei. E para ficar melhor,
agora aprecio o espetáculo com um cafezinho gostoso. E
rindo. Não tinha como o meu dia ficar melhor.
Porém, para estragar o meu prazer cômico, Elena me
vê de longe.
— RAEL! — grita e chama a atenção do restante para
mim.
— EU VOU TE MATAR SEU IMBECIL! — Hera berra.
Droga, nem terminei de tomar meu cafezinho
brasileiro.
— Eu vou socar a sua cara! — Hoss declara, ainda
segurando o Bravos com bastante empenho.
— Calma, minha família adorável. 
Vou até eles e assobio, chamando primeiro o nome do
Gorila, que para, rosnando para a Jolie. 
Ela me fuzila, mais furiosa que a Hera e a Elena
juntas.
Porra, estou fodido com essas mulheres.
— Volta Gorila! Vem com papai! — ele volta correndo
para mim. — Bravos, sentado! — Ele também obedece, e
quando menos espero, levo um tapa doído da Hera.
— Que culpa tenho eu, porra?
— Resolveu… pedir… um… café… para… ficar…
rindo… da… nossa… cara… — a cada pausa foi um tapa
ardido da mão dela.
— Aí, aí, merda, tá doendo.
— É a minha vez? — então Jolie me dá outro tapa.
— Agora sou eu e o Hoss, intercalando entre socos e
chutes — Morcego fala.
— Vão se foder! Querem ficar com as bolas
destroçadas pelo Bravos ou pelo Gorila?
Os cachorros rosnam, mas para a Jolie, que ainda
segura a bendita gata nos braços.
— Jolie, melhor deixar a Lady no quarto, esses
monstros aqui não são acostumados com gatos. Vão matá-
la.
— Pois detesto cada um! 
— Problema seu! — Jolie quase me bate de novo, mas
puxo-a pelo braço, na frente da minha família.
— Rael! — ela arregala os olhos.
— Melhor deixar um funcionário levar a gata
endemoniada. 
— João leva.
O funcionário então pega a gata e se retira, correndo.
Tive que mandar meus cachorros continuarem sentados,
para não irem atrás do coitado.
— A minha gata não é um demônio!
— Das trevas, sua bruxa!
— Meu Deus, a delicadeza vem de berço entre os
homens Calatrone.
— Quis dizer alguma coisa? — Hoss resmunga áspero
para Elena.
— Quero sim, que torço para estar grávida de uma
menina!
— O seu rabo redondo!
— Hoss!
Hera bate nele.
— Seja menos ogro!
— Cachorro, cretino!
Já meus olhos continuam fixos nos da bruxa a minha
frente. A bruxa mais linda de todas. Parece que sempre há
algo diferente nela, que eu nunca reparei antes.
— Vamos voltar ao trabalho meninas, quero decorar
todos os pinheiros ainda hoje. 
Jolie tenta se afastar, só que eu não consigo largar o
seu corpo.
Ela toca no meu peitoral, aflita, mas também inerte ao
nosso redor.
Respiro o seu perfume, perdido em sua fragrância
marcante.
— Humrum — Elena pigarreia.
Contrariando os meus desejos, enfim solto-a.
As meninas então saem juntas.
Encaro o Hoss, mandando-o ao inferno sem nem abrir
a boca.
— Vocês não inventem de brigar agora, pois já estou
fodido de correr atrás desses cachorros. — Morcego
reclama, tirando a arma da cintura. — Se começarem, eu
meto bala nos dois.
— Está agressivo hoje, querido? — debocho.
— Rael nasceu só com um dos miolos intactos.
— Não falei com você! — respondo ao ogro verde do
Hoss. 
— Aliás, vão no aniversário da Isa? — Morcego
questiona.
— Sim. 
Respondo também que sim, mas lembro-me da Jolie e
bufo. 
— Ou não.
— Espero que saiba, que ela não pode cruzar o pé
para fora desse castelo. 
— E eu não sei?
— Sabe que também não pode escondê-la para
sempre, nem fugir.
— É aí que está a raiz do problema — confesso. 
— E ela vale a pena? 
— Elena valia? — rebato a pergunta do Hoss.
— Hoje, vejo que mais do que eu. Talvez eu fizesse
tudo de novo.
— Digo o mesmo sobre a Hera.
— Quis dizer, em relação a ter sorte de não
castrarmos você vivo, seu traidor?
— Se poupem, de vocês não senti nem um pingo de
medo, agora do Sr. Argus. Puta que pariu, suei até os
tornozelos quando tive que ir até a sala dele, pedir a Hera
em namoro. O noivado então…  graças a Deus que hoje me
tornei o genro preferido.
Eu e Hoss rolamos os olhos e resolvo ir para o outro
lado, onde fica a nossa oficina, ou parque de diversões. No
meu caso, com motos. Tenho quatro valiosas, que custam
milhões. Morcego resolve voltar para ajudar as meninas, já
Hoss vai atrás de Maria, que deve estar acordando e que
precisa se arrumar para esperar a professora particular.
Passo um bom tempo na oficina, terminando de deixar
a minha moto TOP. Porra, que orgulho, muito bebê do papai,
dá até dó de andar na minha filhinha de duas rodas.
— Está tão linda. Olha esses pneus — falo sozinho, em
êxtase com tanta beleza.
Ficou melhor que o Porsche do Hoss, ele que aceite a
verdade.
A seguir, volto para dentro do castelo, tomo um banho
e me enfio no escritório. Tudo para fugir da Jolie. Farei isso
até o horário de ir para a festa da Isa. A melhor alternativa
para não discutirmos e eu acabar explodindo com ela.

Às 18h, noto todos da casa se arrumando para a


droga da festa daquela cadelinha. Minha vontade era de ir
até o quarto do Rael e obrigá-lo a me levar junto. Estou
cansada de ficar presa nesse castelo, mas sei dos riscos que
posso trazer a essas pessoas que não têm culpa de nada.
Até me dói o coração ao pensar na Maria, aquele serzinho
tão inocente e dócil.
Porém, se Rael quiser ir, que vá.
Dou de ombros.
Não temos nada, o que significa que ele pode fazer o
que quiser e eu também. Usarei as armas que tenho. E
vítimas é o que não faltam.
— Oi, sabe me dizer onde está o Abelha? — pergunto
ao segurança, que fica de vigia pela propriedade. Sempre
tem um ou dois fazendo ronda.
O segurança me informa onde ele está e peço para
comunicá-lo no rádio, que o espero nos sofás perto da
piscina.
Estou bem arrumada, digamos que com um vestido
vermelho sangue, justo e com uma fenda na coxa direita.
Ah, e para deixar o look ainda mais poderoso, escolhi uma
maquiagem sexy e um perfume forte, para enlouquecer
qualquer homem.
Que os jogos comecem.
— Boa noite, Sra. Jolie — não demora para o Abelha
aparecer, lindo, forte, olhos claros e perfeito para a minha
noite… e planos. — Gostaria de me ver?
— Mais do que isso, gostaria da sua companhia
novamente — ergo a taça de vinho. 
Ele olha para o cooler de gelo com a garrafa dentro,
depois as minhas pernas e desvia rapidamente,
envergonhado.
— Desculpe-me, estou ocupado.
— Não está não, pois sei que é a sua noite de folga.
Por favor, você se tornou a minha única companhia noturna.
Estão todos saindo e eu restando novamente.
— E sabe porque está “restando”.
Suspiro e dou uma batidinha no sofá, para ele sentar-
se ao meu lado.
— Vem cá, homem, eu não mordo não.
— Você quer me ver morto pelo Sr. Rael, não posso.
— Então é isso? — rolo os olhos. — Eu e o Rael não
temos nada. E eu e você somos amigos. Vem logo,
acomode-se.
Abelha então se rende, mas contrariado e inquieto do
que o normal.
— Você não nega a fama que tem.
Sorrio e degusto do meu vinho delicioso.
— Como a viúva Borghi?
— Como a dama da Máfia.
— Ah, um apelido que eu adoro. Colocava boa parte
dos LosBor para comer na minha mão.
— O que quer comigo, Jolie? — Abelha é direto, após
negar a taça que lhe ofereci. — Quer que eu também coma
na sua mão? Ou a ajude a fazer ciúmes no Rael?
— Apenas a última parte, entretanto, digamos que me
ajude a me vingar dele. E Abelha — seguro o braço do
coitado, deixando-o mais desconfortável. — Não pense que
não aprecio a sua companhia. Pois quando não me
agradam, trato de chutar a bunda. Não perco tempo com
ninguém.
— Palavras bem dóceis às suas.
— Apenas sinceridade, meu querido.
— Não mostra esse lado aos Calatrone?
— Não sei, eu sou “normal” com eles. Acho que nem
me reconheço. Sinto-me tão “eu”, uma Jolie que não precisa
se mostrar forte, estar o dia inteiro sobre saltos. Queria
tanto ser livre, para ir e vir aonde eu quisesse, sem colocar
terceiros em risco.
— Pensa em algo que possa mudar a sua realidade?
— Acho que sim.
— E é aí que eu entro no seu plano?
— É sempre direto?
— Eu sou observador, e sei quando estão articulando.
Você é meticulosa.
— Hummm, já disse que aprecio a sua companhia?
Adoro homens inteligentes.
Cruzo as pernas e bebo mais do meu vinho.
— O que pensa então?
— Quero ficar aqui, ao lado do Rael e dessa família
que já sinto fazer parte… só que preciso tirar o fardo deles,
o medo do que eu posso causar nas suas vidas. Entende
que só eu consigo resolver isso?
Ele assente.
— E eu sou bem fiel ao Hoss, sabe que posso entregá-
la a ele, não sabe?
— E se eu te pedir por favor? Para me ajudar?
— Depende de que riscos pode nos colocar. Por isso,
conte-me os detalhes.
— Eu preciso me encontrar com o Paulo Borghi.
— Isso é loucura. 
— É o único jeito. Tem que encontrá-lo e informá-lo
com essas mesmas palavras: “que precisamos conversar
em sigilo, e que se fizer alguma coisa comigo, a verdade
sobre o seu pai virá à tona”.
Antes do Abelha me responder, ouvimos a voz do
Rael, chamando-me em um rugido feroz. O animal selvagem
aparece, seguido do Vince e da Hera. Ele está mais para um
touro com sangue nos olhos.
Não resisto a gemer baixinho, com a beleza desse
homem; alto, musculoso, com pequenas cicatrizes no rosto,
cabelo bem aparado e uma barba de neandertal moderno. A
boceta até latejou. Que vontade de agarrá-lo e berrar que é
meu! Só eu mereço tudo isso.
— Que porra é essa, seu filho de uma puta! — Rael
simplesmente avança em nós, apontando uma arma para o
pobre do Abelha.
Ele se levanta, acuado.
E eu fico mais excitada, com o perfume do meu
macho.
— Vocês ainda não foram? — questiono calmamente a
Hera, que me observa com um olhar de admiração.
Vejo-a sorrir de canto, bem discreta.
— Estamos querendo ir, se o Rael colaborasse.
— Ele foi perguntar sobre você para o Luiz, mas não
gostou muito da resposta — Vince é outro que sorri
maldoso, mas de prazer, por ver o Rael descontrolado. 
— Vão para o carro de vocês e sumam da minha reta!
— Digo o mesmo para o senhor, vai perder a sua noite
divertida com a amiguinha — acuso, vingativa.
Rael se segura para não me estrangular. Bem
sadomasoquista, combina com ele.
— Vamos perder é os salgadinhos quentes,
sacanagem. Estou desnutrido de fome. Olha o meu olhinho
fundo e amarelo.
Hera rola os olhos.
— Justifique-se, Abelha! — Rael esbraveja e não
desvia a arma da direção do segurança.
— Ele não tem nada para justificar, nem eu,
simplesmente estamos aproveitando a noite fria com um
bom vinho. E Abelha é meu amigo.
Noto o Rael a ponto de enlouquecer, é então que ele
quase agride o segurança, porém, Vince consegue detê-lo.
— Porra, calma aí, estressadinha.
— Vou te mandar para o olho da rua!
— Ah, agora o Abelha tem culpa? — Hera se impõe,
parando elegante ao meu lado. 
Rael empurra o irmão.
— Isso tem dedo do Hoss, eu sei que tem!
— “Dedo” por te provocar ciúmes? — Vince por pouco
não leva um tiro na testa.
— Rael! — Hera bate no primo, assustada pelo
disparo. — Chega, vamos para a festa logo.
— Vão sozinhos, depois eu vou! E você some da
minha reta, Abelha! Ou te mato, caralho! Atiro bem no meio
das suas pernas!
Olho para o Abelha, dizendo algo a mais no olhar;
“depois terminamos de conversar”.
Ele assente e se retira rápido.
— É isso, você acabou com a minha noite? — indago.
— Han, han… Melhor irmos também, formiguinha —
Vince puxa a Hera, que vai arrastada e chocada, após ouvir
o Rael e a sua acusação. 
— Que noite? Iria foder com ele nesse sofá?
Não me movo, nem tenho reação.
— Acha que eu sou assim? Tão desrespeitosa?!
— E eu te conheço bem para ter a certeza da sua
índole? Afinal, foi uma ladra.
Meu coração se parte. Como ele pode me ferir tão
fácil, apenas com palavras?
— E se eu fodesse? Não iria comer a sua amiguinha,
Isa? Aquela vagabunda oferecida! E não sou uma ladra! 
— Eu poderia mesmo comer a minha amiguinha, ela
não é a porra de uma Borghi, que entrou na minha vida só
trazendo desgraças!
— Como pode falar assim comigo?! — dou alguns
passos para o lado, sentindo tudo desmoronar. — Está com
ciúmes, eu sei que é. 
— Agora isso te afeta? É apenas a verdade, Jolie.
— Disse ontem que cuidaria de mim, que poderia
até… fugir comigo. Que eu era a sua Jo… — balanço a
cabeça. — Está me magoando de propósito, por ciúmes!
Ele não responde. 
Rael passa a mão no cabelo e se aproxima
arrependido, mas viro as costas e tento ir embora. 
— Jolie, espere!
Não volto. E sem querer, perto das cadeiras de sol, eu
tropeço nos próprios pés e grito, tentando me segurar na
mesa ao lado, mas é inevitável manter o equilíbrio dos
saltos. Caio de lado, tendo o primeiro impacto de bater a
cabeça e depois mergulhar fundo o corpo, até o solo da
piscina. 
Perco as forças de nadar para o topo. A dor é horrível,
luto para não respirar, só que engulo mais água. Parece que
vou morrer, que não posso fazer mais nada por mim. 
Meu alívio vem em segundos, após ser puxada pelo
vestido e levada à superfície. Sinto que tudo aconteceu num
estalar dos dedos.
— Pelo amor de Deus, por favor, Jolie, desculpe-me.
Olhe para mim!
Tusso, desesperada para respirar. Minha cabeça
começa a girar e a doer ainda mais, como se eu estivesse
levando facadas afiadas no cérebro. Choro.
— Minha cabeça.
Rael toca perto da minha orelha e arregala os olhos.
— O que foi? — só tenho tempo de perguntar
baixinho, antes de perder a consciência.
Ainda ouço seus gritos, chamando por ajuda.
Jolie desmaia nos meus braços e eu grito por ajuda,
desesperado ao ver sangue na minha mão e escorrendo
pela lateral da sua orelha. Levo-a até as escadas, então a
pego no colo. 
Luiz aparece rapidamente. Não preciso dizer nada, ele
vê o sangramento e abre espaço para eu correr.
— Rael, o que aconteceu?
Hoss e Argus assistem eu correndo com ela para a
sala.
— Liguem para os nossos médicos, imediatamente! —
berro. — Ela caiu na piscina e bateu com a cabeça, está
inconsciente.
Argus vem apressado até mim, com um olhar
arregalado, de espanto. O meu é pior, de culpa, de medo,
de tudo!
— Suba para o quarto, filho, vamos chamar por ajuda.
— Vai Rael! — Hoss brada, já pegando o celular e
ligando.
Eu corro para o elevador, subo para o quarto e a
coloco na cama.
— Minha Jolie, acorde — chamo-a, chorando por ver
que o sangramento não para. 
Meu Deus, isso não pode estar acontecendo. Não
pode!
— Tem que estancar! — Luiz dá a volta na cama e
coloca a mão em cima do ferimento.
Nem o vi entrar.
— Ela vai morrer, Luiz?
— Fique calmo, Sr. Calatrone. Não diga besteiras.
— Precisamos levá-la para um hospital, isso é o
correto!
— Não podemos! — Elena também invade o quarto,
ao lado do Hoss e do tio Argus.
— Jolie bateu a cabeça, está inconsciente, o
sangramento pode….
— Os médicos estão a caminho, tenha calma — Argus
para do meu lado. 
— Isso foi culpa minha — sussurro e acaricio o rosto
delicado da minha Jolie. — Eu a fiz correr e ela caiu na
piscina.
— Com certeza foi um acidente — Elena tira os saltos
dela.
Ela está com as roupas ensopadas.
— Vão para a festa, se os médicos estão a caminho,
não precisam esperar. Eu me viro.
— Hera, Vince e Morcego já foram. Vamos ficar aqui,
até os médi…
De repente, a Jolie aperta a minha mão, começa a
tossir e abrir os olhos. Todos ficam atentos a cada
movimento.
— Jolie? Sou eu o Rael…
Ela aperta os meus dedos e pisca seguidamente os
olhos.
— M-minha cabeça…
— Os médicos já estão a caminho, minha querida —
Elena acaricia o seu braço.
Ela olha devagar para mim e o meu coração se parte
em pedaços.
— Desculpa — beijo a sua testa, sem me importar
com a porra da minha família.
Só ela importa agora.
— Vai ficar tudo bem… eu prometo.

Os médicos chegaram 20 minutos depois. Desde


então, não sai um minuto de perto da Jolie, ou até agora,
porque Hoss e o tio Argus me obrigaram a dar espaço aos
profissionais.
Eles a analisam quietos, fazem perguntas e falam que
ela teve um corte profundo atrás da cabeça. Jolie leva dois
pontos. Também, nos dizem que será necessária uma
tomografia, para ver se está realmente tudo bem. Porém,
não podemos levá-la ao hospital. De jeito nenhum.
— Entendo… — Arthur, um dos médicos, assente. —
Ela vai sentir dores de cabeça, mas se depois de três dias
essas dores persistirem e se intensificarem, a paciente deve
ser levada imediatamente para alguma clínica, para a
realização de exames.
Concordamos.
Eles prescrevem alguns remédios, pedem para avisá-
los se a dor não passar, em seguida, retiram-se com o Hoss
e o tio Argus.
— Como se sente? — pergunto-a, puto comigo
mesmo.
— Ótima, pode ir para a festinha da sua amiga.
É, ela me parece recuperada.
— Ficarei aqui!
— Rael… — Elena resmunga. — Jolie acabou de sofrer
um trauma, não está bem para discutir. Os médicos
disseram que ela precisa repousar.
— Estou bem sim — mente, apertando os olhos ao
mexer a cabeça e sentir dor.
— Não está coisa nenhuma, e precisa tirar essa roupa
molhada, perigoso pegar um resfriado.
— Rael!
— Deixe-nos a sós, Elena, por favor. 
— Eu deixo, mas se não sair em dez minutos, mando o
Hoss te buscar a força.
Ela vira as costas e sai com seus saltos barulhentos.
Eu vou até a Jolie, sento-me na cama e ficamos nos
olhando. Meu coração precipita por ela.
— Desculpe-me por estar estressado, não queria que
tivesse se machucado. Estou me culpando.
— Só queria que eu tivesse me magoado? — sussurra
e repousa as costas nos travesseiros. — É assim, qualquer
coisa que acontecer vai jogar na minha cara?
— Eu fiquei louco ao te ver com aquele… merda do
Abelha. E você fez tudo de propósito, mesmo sabendo da
minha reação. Não é santa.
— Porque você iria para a festa daquela mulher e me
deixaria aqui, sozinha.
— Sabe que não poderia ir, e se os Borghi
descobrissem que está conosco? — acaricio a mão dela e a
sinto gelada. — E chega desse assunto. Tem que tirar essa
roupa molhada e aquecer o corpo.
— Não quero me mexer, minha cabeça doí. Não
acredito que levei dois pontos, estou horrorosa.
  — Não dá nem para ver. Foi atrás da orelha, quase
perto do cabelo. E o importante é que não foi mais grave.
Ergo-me e analiso o corpo dessa deusa. Então vou até
a linha da costura e começo a rasgar o vestido justo.
— Rael, não…
— Não se mexa, sua cabeça vai piorar. Só quero que
tire essa roupa molhada e esquente-se.
Dando-se por derrotada, volta a repousar nos
travesseiros e eu volto a rasgar lentamente o seu vestido.
— Isso está pior que tortura — ela fala baixinho, de
olhos fechados.
— Para mim, no caso? Como teve a coragem de se
vestir assim para aquele merda, tendo eu, armado, para
matá-lo?
Quando vejo, num movimento só, chego até o
pescoço. A peça se parte, revelando a nudez do busto. Ela
fica só de calcinha.
Jolie não responde, contínua de olhos fechados.
Porra, eu paro, tonto com a vista dos seus peitos
grandes, de mamilos duros e rosadinhos.
— Gostou? — fito-a e ela demora no meu olhar, até
que pega na minha mão e leva no seio. — Eu sou sua,
Rael… sempre saiba disso.
É claro que ela é! Minha Jolie!
Engulo em seco, querendo-a mais do que tudo na face
da terra. Mas não posso, não com ela machucada, por
minha culpa.
Afasto-me, para pegar a sua camisola. 
E sem a minha resposta, ela muda a cara para séria.
— Assim que estiver melhor a gente conversa sobre
esses sentimentos.
— Pelo menos você sabe o que são sentimentos, eu
acho.
— Não sou uma pedra sem coração não.
— Eu sei…
Ajudo-a a se vestir e beijo a sua testa, para poder sair
do quarto, só que ela me segura.
— Não vá. Fica comigo, é o mínimo por ter agido como
um ogro, antes de eu cair na piscina.
Ela sabe manipular e chantagear como ninguém.
— Prometo que depois ficarei, mas agora preciso ir até
a Isabel desejá-la um feliz aniversário. 
Jolie afasta a minha mão e desvia.
— Vai lá então.
— Eu vou voltar, bruxinha.
— Tá.
— Jolie, olhe para mim.
— Hum? 
— Não está olhando.
Por fim ela não olha, ela me fuzila.
— O que, ainda está aqui?!
— Eu vou voltar e cuidar de você o restante da noite,
entendeu?
Ela assente.
Eu inclino o rosto e beijo-a avassalador, com vontade
de possuí-la. E Jolie só não foi além, porque gemeu de dor.
Eu dei um passo para trás, com medo de agravar a sua
situação.
— Descansa, por favor. Os remédios logo farão efeito.
Elena ficará com você. Já volto.
— Está bem… não demore.
Eu saio do quarto, com o coração na mão por deixá-la
sozinha. Só que não posso desfazer da Isa, ela salvou a
minha vida duas vezes. É uma grande amiga, a qual eu
confidenciei também o segredo do colar. Ainda me ajudou
sem hesitar. Hoje é uma data especial, tenho que desejá-la
felicidades e agradecer a mulher incrível que é.
No térreo, aviso a todos que preciso ir até a festa.
Argus, Hoss e Elena resolvem ficar para vigiar a Jolie. Pego o
carro e dirijo até a nossa academia de treinamento, onde
está acontecendo a festa particular da Isa. Depois de
estacionar, eu desço, entro no local e imediatamente recebo
os olhares dos nossos funcionários. Eles vêm me
cumprimentar e repito para aproveitarem a festa e
beberem, pois amanhã é domingo. Merecem.
— Rael! — Lucas aparece e me abraça. — Que bom
que chegou. Vem beber conosco, Isa não parou um minuto
de perguntar sobre você.
Como o som está muito alto, ele fala gritando.
— Onde ela está? Não vou demorar muito.
— Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Lucas me analisa melhor.
— Amanhã ou depois eu te conto, aqui não dá.
— É ela?
Assinto.
— Isa vai precisar muito de você hoje. O irmão dela foi
executado por alguns bandidos ontem à noite. E
infelizmente, o corpo foi cremado por eles.
— O quê? Por que não me informou disso mais cedo?
Como ela está?
— Um pouco arrasada, afinal, foi esse irmão que a
criou desde que nasceu.
— Meu Deus, como não me falaram? Vou ver a Isa.
Deixo o Lucas para trás e saio à procura da Isabel.
Encontro-a conversando com outras duas mulheres, esposas
ou namoradas de algum dos nossos homens.
— Isa?
Ela me vê e sorri, correndo para me abraçar.
— Rael, que bom que apareceu!
Afasto-a e beijo a sua testa.
— Queria te desejar um feliz aniversário, mas Lucas
me contou o que aconteceu. Vamos para outro lugar, para
conversarmos melhor.
Ela concorda e vamos para o escritório no segundo
andar.
Eu fecho a porta e vou até o frigobar. Pego uma
cerveja, em seguida, me sento no sofá, de frente para ela.
— Como você está?
Isa aperta a minha mão.
— Péssima… chorei o dia todo. Entretanto, estou me
conformando, Ronaldo vivia para o crime, era de se esperar
esse fim trágico.
— Sinto muito, sei que ele era o seu único parente
vivo.
— Eu vou ficar bem.
— Essa fatalidade foi horrível, bem no dia do seu
aniversário.
— Não vamos falar mais sobre isso.
Isa se senta ao meu lado e me abraça.
Nunca a vi tão melancólica assim, ainda me
abraçando com tanto afeto.
— Não pode guardar esses sentimentos para si,
precisa desabafar.
— Já aconteceu, só me resta a tristeza e as
lembranças.
Ela pega a cerveja da minha mão e bebe quase tudo,
num único gole. Então suspira e olha no fundo dos meus
olhos… estranha.
— A morte do meu irmão me fez enxergar a verdade.
Estou cansada de esconder as coisas, Rael.
— Pois não esconda, e agora vai buscar outra cerveja
para mim, sua gulosa.
Ela sorri e antes de dizer algo a mais, busca outras
duas cervejas para nós. Acabo reparando em como Isa está
feminina hoje. Não lembro de já tê-la visto dentro de um
vestido tão justo e curto como esse. É sempre de calça e
regata preta – uniforme da academia.
— Rael? — Isa se senta de novo ao meu lado,
entregando a cerveja.
— Sim?
— Mesmo que eu corra o risco da sua rejeição, preciso
desabafar. Lucas tem razão há muito tempo, em dizer que
isso está me enlouquecendo, deixando-me paranoica.
— Paranoica você sempre foi, também brava e boa de
ringue — rio, mas ela continua séria.
Pigarreio.
— Estou te ouvindo…
Ela desvia, mordendo os lábios.
— Isa?
— Eu gosto muito de você, Rael.
— Mas isso até o papa sabe, só faltava você confessar
— e rio de novo, logo voltando à seriedade.
— Eu gosto de você como uma mulher apaixonada e
nunca correspondida.
Arregalo os olhos e por pouco não cuspo a minha
cerveja.
— O quê? Isa, isso é pegadinha sua?
— Não, não é. Os meus sentimentos são reais, todas
aquelas brincadeiras do Lucas e dos seus irmãos tinham um
pingo de verdade...
Ela chega mais perto de mim e toca na minha barba.
— Desculpe-me... eu não tive controle sobre isso…
Antes que a Isa pudesse fazer algo, eu a afastei
rápido.
— Estou tentando assimilar.
— Sinto-me uma patética.
— Não se sinta, você é linda, maravilhosa.
Ela se ergue do sofá e vai até a mesa do escritório.
— Nada muda o fato de eu estar há anos apaixonada
por você. Já tentei superar essa droga de sentimento com
outros homens, mas sempre tem você na minha mente.
Todos eles são insignificantes, não sei o que fazer mais.
Ergo-me e chego perto dela, para pegar no seu braço.
Isa olha bem no fundo dos meus olhos, triste e
perdida.
— Eu quem devo dizer um sinto muito, nunca me
liguei que pudesse sentir algo de verdade… como, paixão
por mim. Você jamais demonstrou. É toda empoderada, foda
e coloca qualquer homem aos teus pés. E a tenho como a
minha salvadora, uma amiga, confidente. Você e o Lucas.
— Por esse motivo eu nunca tive coragem de assumir.
Não quero que se afaste de mim, que acabe a nossa
amizade e carinho. Só que não aguento mais sofrer,
sozinha, sem você ao menos saber que eu gosto de você.
Por trás dessa mulher foda, tem outra frágil e solitária.
— Eu sei que tem.
— Esses sentimentos não significam nada, eu cheguei
muito tarde.
— Você me importa, é especial para mim.
— Está tudo bem, Rael, não se preocupe.
— Impossível não me preocupar… vem cá — puxo-a
para um abraço, tentando acalentar um pouco do que
sente.
— Você gosta da Borghi? — sussurra.
Minha respiração fica pesada e não sei nem o que
responder. 
— Jolie é uma complicação na minha vida.
— Sabe que é fácil de descomplicar, é só devolvê-la
para a máfia. Essa responsabilidade não é sua.
— Não é bem assim.
— E como é? Pode estar colocando em risco a vida da
sua família pela vida da viúva Borghi. Já pensou se tudo isso
vale a pena? Essa mulher não é de confiança. Estou dizendo
a verdade, como uma amiga, se ainda me considera — bufa
e abaixa a cabeça.
— É claro que te considero.
— Acho que ela está te manipulando.
— Isa, por favor, minha mente já está fodida o
suficiente com esse assunto.
Ela fica olho a olho comigo, em silêncio e acariciando
a minha camisa. Até que chega mais perto.
— Eu queria um beijo seu, para confortar esse
desespero no meu coração.
— Eu… — não termino a frase.
Seus olhos suplicam por isso, estão vermelhos e
quase em lágrimas.
— Por favor…
Fico atado. E ela dá o próximo passo, pois não consigo
nem me mexer por vontade própria. Penso na Jolie, no seu
perfume, na sua pele, nos seus olhos… Isa aproxima os
lábios e por fim me beija.
Não sei dizer não, não sei afastá-la. Penso na sua dor,
na perda do seu irmão… e retribuo, sem sentir nada de
diferente ou feroz. É morno, estranho. Não pertenço a esse
momento.
Ele toca nos meus cabelos, esperando por mais e
antes que eu pudesse pará-la, só ouvi a porta se abrindo e
meu nome sendo pronunciado estridente. 
Rapidamente eu viro e dou de cara com o Vince e a
Hera. 
Eles ficam sem entender nada.
— Rael… Isa? 
— O que está acontecendo aqui?
Afasto a Isa, sem ter explicação, não agora. Que
merda!
Rápida, ela sorri sem graça.
— Rael estava me acalentando… meu irmão foi
assassinado. Não estou muito bem.
Mas eles continuam me olhando, cientes do que
viram.
— Sinto muito por sua perda, Isa — falo. — Preciso ir.
Igualmente te desejo um ótimo aniversário, porque feliz eu
sei que está complicado.
— Você já vai embora? — sua pergunta em tom
baixinho me parte o coração.
Só que estou desnorteado, culpado! E não entendo a
desgraça dessa culpa me assolando! Parece que nada está
certo, e não está.
E de novo… estou fora do controle da minha vida.
— Desculpa, eu preciso ir.
Dou um beijo na sua testa e saio com o sentimento de
covardia, de mais e mais culpa. Passo pelo meu irmão e a
Hera, sabendo que virão atrás de mim.               E eles vem,
só que é a Hera que me para.
— Eu não entendo, Rael!
— E o que poderia entender?
— Você sabe o que vimos, estava beijando a Isabel. E
a Jolie? Que merda vocês têm? Preciso entender!
— Não temos nada, porra, ela não… — chuto a parede
do corredor, ao ponto de surtar. — Deixe-me ir, Hera.
— Não deixo! Você deveria estar com a Borghi
naquele castelo, pois Elena acabou de ligar para o Vince e
nos contou tudo o que aconteceu! Mas não, pelo contrário,
estava beijando a Isa! É por isso que te perguntei, que
merda vocês têm! Ou está fazendo falsas promessas para a
Jolie e saindo à noite para foder com outras mulheres?
Tenho que entender!
— EU NÃO SOU ASSIM! 
Ela toma mais postura e mete o dedo na minha cara.
— Sabe que é tarde para tirá-la da sua vida. Você a
trouxe para a nossa casa e agora não podemos jogá-la na
sarjeta para morrer. Aliás, algo que sempre disse, e que
agora dou razão. Afinal, é a verdade nua e crua, já nos
apegamos a Jolie.
— É por isso que estou perdido, não sei o que fazer.
— Acho que sabe sim, estava beijando outra e prestes
a fazer não sei o quê. Não que eu seja contra a Isabel, eu a
adoro, é uma mulher sem igual. 
— Porra, Hera, não vou ficar te ouvindo e discutindo!
Viro as costas para ela e o Vince.
Desta vez, eles não vêm atrás de mim.
Saio da academia feito um desnorteado, não vou para
o castelo, não vou vê-la… e sim, como um covarde, enfio-
me na boate, para beber até esquecer a merda que se
encontra a minha vida.
 
Elena fica a todo instante comigo no quarto. Ela está
estranha, na verdade, ficou assim depois que recebeu uma
ligação da Hera.
— Está tudo bem, Elena?
— É claro, Jolie. E você, melhorou um pouco da dor de
cabeça?
— Não, mas estou muito sonolenta.
— É o remédio, melhor se render e dormir.
— Não vou dormir, quero aguardar o Rael.
Elena pigarreia e chega perto de mim.
— Tá bom. Hera já está a caminho… e aproveitando
que estamos a sós, eu queria te dizer uma coisa. Posso?
— Sim.
— Eu sou a ex-noiva do Paulo Borghi. 
— Você? — arregalo os olhos. — Paulo sempre dizia
que tinha uma noiva, até que ele a trouxe para a mansão, a
Lupita. Não era ela?
— Lupi é a minha irmã. Eu quem era a noiva dele. O
que aconteceu foi que o Paulo me enganou por um ano,
dizendo que tinha uma profissão comum, que era “normal”.
Até a morte do seu irmão ele mentiu. Quando eu soube que
era um mafioso, terminei na hora. Mesmo assim, esse
homem não deixou de correr atrás de mim. Foi nesse
período que me relacionei com o Hoss e a sua família
Calatrone. Logo que Paulo soube, ele colocou a minha irmã
como cúmplice no seu plano para me “reconquistar”.
— E aparentemente os dois se relacionaram?
— Exato. Lupita contou que foi numa única noite,
onde o Paulo estava bêbado e furioso comigo e o Hoss. Ela
estava o consolando e em meio a sua embriaguez, Paulo a
levou para a cama. Algumas semanas depois, a
consequência foi a gravidez indesejada.
— Obviamente o Paulo teve que a assumir, o seu pai
jamais o deixaria abandonar a Lupita, quanto mais esse
filho, o seu neto. 
— Agora ela é infeliz. Não tem um dia que a minha
irmã não me ligue chorando. Ele não a ama, por mais que a
trate bem, se sente em desgraça, perdido e capaz de
cometer qualquer atrocidade. Paulo nunca quis assumir a
máfia do pai, queria ser uma pessoa comum.
— Eu sei disso. A minha vida foi completamente tirada
de mim. Fui a esposa destinada ao Pedro, desde que nasci.
Ele também não me amava, ou sequer se esforçava para ter
esse sentimento. Sinto muito pela história se repetir
naquela muralha dos Borghi. Lupita vai precisar ser muito
forte. 
— Jamais vou desampará-la, ela sabe que tem a mim.
— Começo a entender tudo, agora. Por isso os
Calatrone têm receio triplo da minha presença, devido ao
seu histórico. 
— Sim, não temos a certeza de que o Paulo me
superou, só que estamos na defensiva com a máfia. É só
mais um motivo para eles quererem destruir a maior família
de agiotagem de Portugal. Os Borghi querem ser o número
um em tudo.
— Isso é verdade, mas acho improvável um ataque do
Paulo, pois o chefe da máfia é o Toretto, o seu pai. E ele
nem deve saber da sua existência, Elena, não como ex-
noiva.
— Será?
— Confie em mim, Toretto tem problemas maiores
para se preocupar do que uma vingança do filho. Tipo eu…
— suspiro, cansada.
Elena nota.
— Melhor pararmos por aqui, estou atrapalhando a
sua recuperação. Depois conversamos com mais calma, ok?
Precisa descansar.
— Você também.
— Sim, já vou, antes que o Hoss apareça e me arraste
pelos cabelos, igual um neandertal.
Sorrio. Adiante, Elena se despede com um boa noite e
se retira.
Eu fico sozinha no quarto, esperando a cada minuto
pelo Rael, e imaginando os seus braços fortes,
aconchegando-me no calor do seu corpo viril, a sua voz, o
seu perfume… Só que ele não está, ele não aparece. Minha
cabeça dói, meu corpo, meu coração.
Vigio as horas até às 03h30, quando não aguento
mais manter os olhos abertos e rendo-me ao cansaço. 

 
Acordo com chutes nas pernas, olho para cima e vejo
a cara de tatu do meu irmão mais velho.
— Vai se foder… — murmuro e viro para o outro lado.
— Que decadência, cadê o Rael equilibrado? Você não
é assim. Bebeu a noite toda para terminar dormindo no
chão da boate. 
— Ai, cacete! 
Hoss me chuta de novo, perto das costas e ao tentar
me levantar para quebrar a cara dele, acabo ficando tonto e
caindo no sofá atrás das minhas costas.
— Está um saco de merda com ressaca, literalmente.
— E isso é da sua conta? 
Pego a garrafa de bebida ao meu lado e quase bebo o
restante, se o Hoss não tivesse dado um tapa nela.
— Reage, caralho! Como pode deixar a Borghi
sozinha, depois de tudo que aconteceu ontem à noite?
— E agora ela te importa? — debocho. 
— Não, ela te importa e eu me importo com o meu
irmão. E a Hera e a Elena estão furiosas com você, não me
disseram o motivo, mas acredito que você saiba muito bem.
Que merda fez para as duas estarem te praguejando às 05h
da manhã?
— Nada…
Hoss se senta ao meu lado e bate fraco no meu braço.
— Aceita que está tudo fora do controle.
— Eu comecei a assumir a realidade ontem, por isso,
já estou em desgraça, bêbado, acordando no chão. E quer a
verdade? Jolie me fodeu, eu estou apaixonado por ela. Fico
louco só de imaginá-la longe de mim, da minha vida.
Nenhuma outra a substitui, não chegam aos seus pés.
— É assim que me sinto com a Elena. Principalmente
a porra do meu pau, que sobe só com ela.
— É assim também? Meu pau só sobe com aquela
bruxa sem coração. Não sinto nada com as outras. Minha
cabeça, meu pau, tudo pertence a ela.
— Agora que assumiu, o que vai fazer?
— Não comece a repetir os riscos e a porra a quatro
ou taco essa garrafa na sua cabeçona de elefante.
— Bom, já é clichê de tão óbvio. Quero só o seu bem,
assim como das outras pessoas que amamos.
— Eu sei, mas eu quero o bem dela. Jolie não teve
culpa a quem foi destinada e quem se tornou.
— Eu igualmente sei, e vamos dar um jeito. Por
enquanto, viva isso como se o hoje fosse o último dia com
essa mulher. Negar, lutar e fugir é só mais um método de se
auto torturar, até perdê-la da pior forma. 
— Nunca pensei que ouviria isso de você. O tio Argus
era o mais esperado, só que nem ele quis me dar conselhos.
— Gavião só observa e age sozinho. Quando vemos,
ele já deu centenas de passos à nossa frente.
— Argus sendo Argus. E agora?
Hoss acaricia o meu cabelo.
— Irmão, se já fodeu a família toda, agora mais “o
quê”? Só ouça meus conselhos, antes que me arrependa e
volte a ficar do lado da Hera. Mas, aparentemente, esta
manhã, todas estão do lado da Jolie. Não entendo essas
mulheres mesmo.
Bufo, sabendo muito bem do que as duas sabem… ou
três. Estou fodido nas mãos da Hera, do Vince e da Elena.
Ainda tenho que me explicar para eles. Aquele beijo foi
dado pela Isa, sobre circunstâncias que fui covarde em
negar. E o pior, necessito de ver a Jolie, saber como está,
isso me dá mais vontade de beber.
Como eu vou olhar nos olhos da minha bruxa, sendo
que prometi que voltaria, que cuidaria dela? 
Hoss nota o meu desespero interior e sem fazer
perguntas, devolve a garrafa. Então bebo, pois o álcool vai
me dar coragem ou foder com todo o restante.

Chego em casa sendo quase carregado pelo Hoss.


— Eu quero vê-la.
— Assim, fedido a putrefação? 
— Ha-ha-ha, o mesmo cheiro do seu saco.
— Rael! — Argus vem até nós e afasto o meu irmão,
tentando me equilibrar sozinho, só que as pernas
bambeiam.
— Oi, tio.
Como na adolescência, encaro os seus olhos sérios,
sentindo vontade de correr, fugir dos seus sermões. 
— Eu quero que você suba, tome a droga de um
banho gelado e se recomponha para conversarmos mais
tarde. A brincadeira acabou, senhores Calatrone! — Tio
Argus esbraveja palavra por palavra e vira as costas.
— Porra, estamos fodidos — Hoss volta a puxar o meu
braço e me levar para o elevador, depois o meu quarto e o
chuveiro gelado.
Tomo o meu banho e caio na cama de cueca, sem
forças para pensar em nada. Simplesmente durmo e acordo
só ao entardecer.
— Merda… — olho as horas, 17h40!
Jolie… tio Argus!
Mesmo tonto e com dor de cabeça, esforço-me para
ficar de pé e ir até o closet me arrumar.
— Boa tarde, Sr. Calatrone — Luiz entra no meu
quarto, carregando uma bandeja. — Aqui, água e uns
remédios para ressaca.
Tomo tudo muito rápido, pronto para sair correndo.
Assim que saio, vou até o segundo andar da Jolie. Nem bato
na porta, já a abro, ansioso. E a vejo sentada na poltrona,
com sua gata preta nos braços.
Respiro fundo, com medo a cada passo que dou.
— Jolie?
Ela não responde, sequer me olha na cara.
Coragem seu filho da puta…
Paro na sua frente, feito uma criança que fez merda.
Meu coração está acelerado e meus músculos rígidos.
— Desculpe-me, por ontem.
— Está desculpado.
— O quê? — arregalo os olhos.
Assim? Tão fácil?
Jolie descruza as pernas, se ergue e me encara.
Noto que ela já está com o seu vestido apertado e de
salto alto. Essa mulher me dá calafrios, e é linda, parece
uma deusa do olimpo.
— Não, você não pode me desculpar assi,..
— Sim, eu desculpo, não devia ter sido fraca e me
humilhado por sua atenção ontem à noite. Eu sou a Jolie
Borghi e não qualquer mulherzinha para ser rejeitada por
seu tipinho. Entendeu, Rael? 
— Ah, porra! Não, você não vai ser essa Jolie comigo,
essa nem é você, com esse sobrenome desgraçado!
— Eu sempre fui. Não me conhece, não sabe do que
eu sou capaz, ou sabe, pois dei aquele tiro no seu braço
sem pensar duas vezes, para limpar a minha pele e deixar
você se foder sozinho — confessa, com desprezo, ódio. —
Essa é a minha índole mafiosa. Não importa quem esteja no
meu caminho, até mesmo o caralho desses sentimentos. A
única pessoa que importa nesse momento, sou eu! E vai se
foder, seu imbecil de merda!
Tento puxar o seu braço, mas Jolie mira de repente
uma arma na minha direção. Assustado, quase avanço nela,
mas minhas pernas ainda fraquejam, ela simplesmente
destrava o gatilho.
— Não ouse tocar um dedo em mim, porra!
— Onde arrumou essa arma? Está fora de si.
— Fora de si? É você que a todo momento é um
covarde! Não ouse me insultar! Não ouse fazer isso! Chega,
Rael!
Ela então segura na parede e fecha os olhos, ainda
mirando a arma.
— Sua cabeça, você não está bem!
— Não se mexa, fique onde está! 
— Foda-se, sua bruxa dos infernos!
Avanço nela e ela simplesmente atira, sem pensar
duas vezes. Fico estático, toco no meu peito… sem dor, sem
sangue. Olho para trás e a bala acertou o abajur. 
Ela teve coragem!
Sem acreditar, eu tomo a arma da sua mão, empurro-
a bruto contra a parede, ergo os seus punhos no alto da sua
cabeça e miro agora o cano da Glock na sua boca.
— Você atirou!
— Uma pena eu não ter acertado, porém, saiba que
eu sou ótima de gatilho.
Meto a arma entre os seus lábios.
— Eu poderia meter meu pau nessa sua garganta e te
foder até perder a fala, filha da mãe!
Ela tenta me golpear e enfio o joelho entre as suas
pernas.
— Me solta, Rael ou eu começo a gritar.
Jolie geme, mas pela dor na cabeça. Ela deve estar
sentindo agulhadas.
— Está com dor, tem que ficar de repouso.
— Cuida da sua vida.
Eu estou cuidando…
Sem querer mais brigar, solto-a e guardo a arma
comigo, na lateral da calça.
— Não vai ficar com a minha arma! — ela se
aproxima, feito uma leoa.
— E acha que você vai ficar?
Olho no fundo dos seus olhos, arrependido, pois vejo
mágoa, raiva. 
— Desculpe-me, eu não sei como me defender dessa
com você, pois sei que cometi um deslize.
— Eu já não disse que está desculpado? E se me der
licença, não vou passar o restante da noite presa nesse
quarto, ainda mais com a sua presença idiota, que não me
significa de nada!
— Está brava e mentindo, não vou mais discutir.
Jolie me fuzila e sai marchando do quarto.
Eu vou atrás, devorando a imagem do seu traseiro
redondo. Só não continuo a seguindo até a sala, pois não
quero encontrar a Hera, nem a Elena. 
Respiro fundo, passo a mão no rosto, na barba e me
preparo para conversar com o tio Argus.
Será que a reunião marcada ainda está de pé? Não
estou equilibrado para mais bate-boca, não com essa
enxaqueca.
Paro na esquina do corredor, observando o Rael dar a
volta e entrar no elevador. Suspiro, um pouco dolorida da
cabeça, mas preciso fazer isso logo. Depois do que a Elena
me confessou, não é possível que ela não o tenha…
Para de pensar, Jolie! Precisa agir logo!
O elevador volta e eu subo para o penúltimo andar. Já
sei que todos estão na sala, terminando a decoração de
Natal. Eu ando rápida, até o quarto deles, abro a porta,
fecho e rezo para que esse aparelho esteja aqui. Procuro
direto nas mesas e só pode ser o meu dia de sorte, não
demora nem um segundo e acho o celular carregando sobre
a mesinha de canto. Pego e procuro na agenda o nome do
Paulo, mas não encontro.
Merda, com não tem? Ela tem que… Ah, a Lupita! Sua
irmã! Encontro o contato dessa mulher e com a caneta que
trouxe, copio o número na palma da mão. É a mais próxima
deles, vai resolver. 
Saio do quarto e corro direto para o elevador. Respiro
até aliviada por não ter sido pega. Agora é a segunda parte
do plano.
Desço para o terraço, a procura do Abelha. Encontro-o
junto dos seguranças. Convenço-o a conversar a sós
comigo. Ao conseguir, vamos para perto do muro, atrás de
dois pinheiros.
— Sra. Jolie, não devia estar aqui fora, quer me
complicar no meu emprego?
— Não tenho muito tempo, preciso que me ajude.
— Não posso, sinto muito, já me meti em muita
confusão com o Sr. Rael, minha sorte é de estar sob ordens
maiores, do Sr. Hoss e do Sr. Argus. Também soube do seu
acidente na piscina, desejo melhoras.
— Abelha! — seguro o seu braço. — Não vá. Só quero
o seu celular, para fazer uma única ligação, por favor. Não
posso fazer essa chamada com os telefones do castelo, pois
sei que são todos grampeados pelo Vince.
Abelha permanece sério, pensativo.
— É só isso e te deixo em paz.
— Isso vai me complicar mais.
— Quer que eu me ajoelhe e te suplique?
O homem suspira, então rendido, entrega o telefone. 
— Só que vai ligar e conversar perto de mim.
Assinto, pego o celular, digito o número e após quatro
chamadas finalmente ouço a voz de uma mulher. Deve ser a
irmã da Elena.
— Alô? — ela sussurra.
— Oi, tudo bem, Lupita? 
— Quem é você? Me conhece?
— Sim, somos mais próximas do que imagina. Por
favor, poderia passar o seu telefone para o Paulo?
Ela não responde.
— Ele está aí, Lupita?
Ela não responde de novo.
Ah, que tédio…
— Diga para ele que é a Jolie Borghi.
— Você é a…
Ela não termina, pois o telefone é tomado da sua mão.
— Como tem coragem? Onde você está, Jolie?! Volte
para o seu lugar!
— Oras, cunhadinho, a gente se dava tão bem, não
posso acreditar na forma que está me tratando.
— Acabou qualquer relação amigável entre nós, você
fugiu duas vezes, agora não importa se vamos te encontrar
morta ou viva!
— A minha vida não importa? A minha liberdade?
— Não para ele, você sabe disso.
— E para você, Paulo? Sabe de tudo que passei nas
mãos do seu irmão, somos amigos.
— Eu igualmente sei o que ele também passou nas
tuas mãos. Você sabe de algo, pois o manipulou e nos
colocou abaixo dos seus pés. O que esconde?
— Você tem razão, eu sei de algo, e é isso que o seu
pai quer de mim. 
— Jolie, volte para o seu lugar, ao nosso lado e não a
machucaremos. Poderá comandar os negócios comigo, ser a
mulher que preciso ao meu lado.
— E a sua futura esposa? Faça como o Pedro e o seu
pai fizeram comigo, a molde para ser a sua primeira-dama
da máfia. Eu não quero mais isso, quero viver a minha vida,
entendeu?
— Meu pai não vai permitir. Não tem mais saída. Volte
para a mansão, chega desse esconde-esconde. Temos
problemas maiores com as nossas cargas de drogas.
— Foda-se os problemas da máfia. Quero um encontro
com o Toretto, porém, informe a ele que se não me liberar,
todos saberão a verdade sobre o Pedro e o príncipe da
Espanha.
— Do que está falando?
— O chefe da máfia saberá. Converse com o seu pai e
diga que essa será a nossa conversa definitiva, onde eu
devo sair viva… já que com um clique, o Sr. Toretto Borghi
poderá se tornar o homem mais procurado pela Interpol.
Ótima noite, cunhadinho.
Desligo o telefone na cara dele e viro-me para o
Abelha.
— É melhor você tirar imediatamente esse chip daí e
destruí-lo.
— O quê?!
— Você entendeu, para não sermos rastreados.
— Meu chip? Que droga — ele fica furioso, mas
preocupado e desesperado, faz o que mandei. — Eu falei
que você só complica o meu lado. E como ele vai entrar em
contato de novo?
— Você vai comprar outro chip e eu farei uma nova
ligação, em breve, para marcar o encontro. E obrigada,
Abelha. Não sei o que faria da minha vida sem você, é um
anjo — aproximo-me dele e dou um beijo no seu rosto. — Se
fosse na máfia e trabalhasse para mim, eu aumentaria o
seu salário mil vezes.
O coitado nem responde, fica estático. Até corou as
bochechas.
A dorei causar isso nesse homem enorme e
musculoso. 
A seguir, despeço-me com um “boa noite'' e volto
rapidamente para dentro do castelo, ou estava prestes a
fazer isso, se eu não tivesse dado de cara com o Luiz na
área da piscina.
— Boa noite, Sra. Borghi.
— Oi, Luiz, boa noite…
— Não devia estar de repouso, como os médicos
recomendaram ontem? 
Ele me olha estranho, desconfiado.
— Eu só quis dar uma volta, passei o dia todo presa
naquele quarto.
— Claro, ar fresco faz bem. Só recomendo andar bem
longe dessa piscina, é melhor se precaver.
— Sim, obrigada, Luiz.
Peço licença, sem dar a ele muita atenção e continuo
o meu percurso até a sala principal. Quando entro, encontro
quase todos os Calatrone reunidos, exceto Rael e Gavião.
— Não acredito, mal chegou o natal e já ganhamos de
presente uma deusa do olimpo? — Vince vem até mim, todo
safado e galanteador.
Ele é muito charmoso, sexy e irresistível com esse
sorriso malicioso.
— Boa noite a todos.
— A noite acaba de ficar boa, gata — ele beija a
minha mão, enquanto a Hera rola os olhos.
— Mereço…
— Você parece um adolescente virgem que nunca
teve contato com uma mulher na vida — Hoss quem
implica, após sentar-se ao lado da noiva e da filha
— Talvez eu seja. Virgem de corpo e alma, quer um
novinho para você, Jolie?
Eu rio.
— Desculpa, não tenho paciência para ensinar quem
está começando — pisco e também me sento numa das
poltronas.
— Nossa, vou fingir que você não enfiou uma adaga
afiada no meu pobre coração virgem.
— Quer biscoitos, tia Jolie? — Maria chega perto com a
bandeja. — Seja rápida, antes que o monstro roube os seus.
— Mostro? 
— Sim… — ela puxa o meu vestido, fazendo-me
inclinar para ouvi-la. — O tio Vince.
— Não quero biscoitos com piolhos — ele escuta.
— Prima Hera, fala pra ele que meus biscoitos não
têm piolhos! Tio Vince que teve, e comeu seus… seus
mirolhos… milolos… aquilo que tem dentro da cabeça e o
tio não tem.
A gente sorri dela tentando falar “miolos”. É tão
inteligente.
— Pelo menos eu sei falar direito, “mirolhos”.
Maria mostra a língua e a Elena a repreende em
segundos.
— Aí você pergunta qual o tio preferido dela e ela
ainda responde que é o tio Vince. — Morcego resmunga.
— E num passeio com o próprio pai quer levar o
insuportável do tio azedo.
— Caro Morcego, e Hoss, larguem de serem invejosos.
As crianças me amam, eu tenho o dom de cativar. Carisma
é o nome! Assistam um vídeo aula no YouTube para tentar
ter 1% e chegar aos meus pés.
— Eu vou meter um tiro na sua cara!
— Ezequiel! — Hera chega perto do marido.
— Hoje é domingo, né? — Elena pergunta. — Vamos
para a balada, dançar e nos divertir?
— Não, você precisa descansar para a sua aula
amanhã — Hoss beija a mão dela, acariciando a sua coxa. —
Já vai fazer muito esforço e está grávida.
Eu suspiro, invejando o tamanho carinho e amor entre
os dois. 
— Isa vem amanhã?
— Esqueceu, Hera? — Elena a olha bem fixa. 
— Ah… — pigarreia. — Estou ansiosa, vou adorar
participar da aula.
— Eu também gostaria de participar — digo e as duas,
incluindo o Vince, me olham na mesma hora.
Será que fui intrometida demais?
— Bom, você e a Isa, ambas com armas em mãos,
ainda no mesmo ambiente? Sei não.
— Deixa o pau torar gostoso — Vince sorri maldoso,
mastigando um pedaço gigante de bolo. — Acho que vou
adorar ser o expectador dessa aula — fala de boca cheia.
— Porco esfomeado…
— Cuida da sua vida, estou desnutrido.
— Jolie, amanhã, se você quiser, pode vir com a
gente, tá — Hera pisca e eu assinto.
Continuamos conversando e rindo. Mas logo não
demora para o Rael aparecer irritantemente na sala. Faço
até questão de me levantar, para ir embora. Ele nota, pois
fecha a cara.
Ninguém sequer fala um “a” para ele.
— Tia Jolie, aonde vai, não vai papar o jantar? 
— Não, querida, perdi a fome.
— É… até eu perderia — Elena murmura. 
— Tem coisas que nos repugna e dá zero fome — Hera
completa. — Que tal uma noite só de meninas na outra sala
de chás?
— Não se preocupem, porra, eu já estou de saída, com
a minha repugnante presença! — Rael rosna bravo e vira as
costas para nós.
— O-o tio xingou? Está bravo?
— Nada sério, pequena.
Eu fico parada, sem entender o comportamento delas,
já o dele, não me importa. 
Não, não importa! Afinal, ontem, ele não se importou
comigo, depois de me fazer cair por acidente naquela
piscina e me abandonar sozinha.
Prometeu que voltaria rápido…  — A minha mente
martiriza e eu fecho os punhos.
— O que aconteceu aqui? 
— Pois é, somos os desatualizados da história.
— Vou atrás dele. 
— Espera, vamos também.
Vince, Morcego e Hoss saem atrás do Rael.
Respiro nervosa e sinto uma pequena agulhada na
cabeça, bem em cima dos pontos que levei. Hera nota e
resolve me acompanhar para o andar do meu quarto. Elena
ficou com a Maria, para daqui a pouco dar o seu jantar e
fazê-la tomar banho.
— Por que daquelas caras e respostas debochadas
para o Rael? 
— Por você e pelo que ele te fez ontem, te deixar
sozinha e ainda ir encher a cara de álcool. Chegou em casa
arrastado pelo Hoss, o defensor de macho.
— E quando que macho não está defendendo macho?
— questiono e ela ri.
— Você é uma mulher admirável, Jolie, quero que
saiba disso, antes de me julgar pelo começo, caso esteja
comparando o meu comportamento.
— Relaxa, Hera, você só está preocupada com a sua
família.
Sento-me na cama e ela na beirada.
— Queria que fosse diferente, que você não nos
colocasse diretamente na mira da máfia. Elena foi um caso
à parte, sem grandes riscos.
— Certeza que o chefe da máfia não sabe sobre a
Elena. Quando eu ainda estava com a família Borghi, Paulo
nos falava de uma noiva, não cheguei a conhecê-la
pessoalmente, pois ele a trouxe para morar na mansão
nessa última vez que fugi. Pensávamos que era ela, a tal
noiva que ele estava apaixonado. Então, acredito que o
chefão pense o mesmo.
— O Paulo ainda ama a Elena, temos medo de que
queira reagir contra o Hoss. E ainda mais quando eles
souberem que você está no nosso castelo.
— Eu sinto muito, Hera… acho que fiquei tão cega
pelo Rael que não medi as consequências das coisas. Por
um lado, ele foi o único que se importou comigo, eu não
tinha saída.
— Ele está completamente apaixonado por você, sabe
disso, não sabe?
— Sei, e ele também sabe que essa droga de
sentimento é recíproco. Quero-o. Eu quero o seu primo com
todas as minhas forças, meu coração chega a doer por ele.
Não tem ideia de como me senti rejeitada essa madrugada,
por ele não ter voltado, após prometer que voltaria para
ficar comigo. 
Hera desvia de mim e aperta a minha mão.
— Mas esse sentimento idiota é o de menos agora —
digo. — Quero lutar pela minha liberdade, para cortar essas
correntes com os Borghi. Chega de Rael, chega dele foder
comigo e minutos depois vir com aquele olhar de
arrependimento, de que foi longe demais e que perdeu o
controle.
— Não seja drástica, Jolie.
— Eu sou, Hera, ainda não me viu em ação. Vocês só
estão vendo uma mulher fraca, rendida a uma experiência
que nunca teve antes, é por isso que fiz o que fiz para estar
com o seu primo. É o basta, agora só tenho um objetivo.
— Tudo bem, por agora deixe o Rael de escanteio e
permita-me ajudá-la, quero você entre nós, na nossa
família. E vivos, por favor, gatinha.
Ela sorri. Eu também.
— Tem certeza de que vai me ajudar?
— Jolie, eu igualmente sou uma mulher foda. Preciso
te contar da noite “armada” para dar um basta entre o
Paulo e a Elena… Descobri tudo sozinha sobre a Lupita.
Quer ouvir?
— Pois conte-me, temos a noite toda.
Ela se anima e vem se deitar no meio da cama
comigo.
Morcego, Vince e Hoss vem atrás de mim, até a sala
de jogos, mas não fico revoltado e nem lamentando de
droga nenhuma. A gente joga um pouco, bebe e a todo
momento tento evitar o assunto relacionado “Jolie”. E
consigo.
Mais tarde, perto do anoitecer, eu vou atrás de uma
cobrança com o Hoss. 
— Está sério e calado o dia inteiro.
— Só pensativo.
— Pensando no quê?
— Nada. Vamos focar na cobrança.
— Eu sou o seu irmão, Rael, pode desabafar comigo.
— Não preciso desabafar, você sabe porque estou
puto hoje. E para não sair metendo bala em todo mundo,
prefiro ficar na minha, pensando.
— Então problema seu, não pergunto mais.
O carrasco do Hoss para o carro na frente da mansão
do nosso cliente e desce. Até agradeço por não estender a
conversa.
A gente aperta à campainha da porta e aguarda ser
atendido pelo mordomo, mas ninguém aparece. Ficamos
uns dez minutos tentando ligar também, tendo zero
respostas.
— Não marcamos nesse horário para receber o
dinheiro? — pergunto.
— Sim, e ele jamais nos deixaria esperando desse
jeito. Pega a arma. A porta da casa está entreaberta, tem
alguma coisa acontecendo aqui.
Foi só falar, que quando abrimos a porta e pisamos no
hall da mansão, quatro homens surgiram, apontando uma
AR-15 para nós. 
— Olá. Finalmente estou conhecendo as lendas da
agiotagem — o homem do meio fala e caminha até o meio
da sala. — Por favor, senhores Calatrone, não façam
desfeita aos LosBor, sentem-se, estávamos os aguardando.
Ah, filhos da puta!
Damos alguns passos até ele e vemos o corpo do
nosso cliente, morto e estendido no tapete, ao lado da
esposa. Ela está viva.
— Acho que vão ficar sem pagamento hoje.  
— Vocês não querem essa guerra — Hoss murmura,
entre os dentes.
Ele está puto.
— Não estamos em guerra, Hoss Calatrone. Se
estivéssemos, nosso chefe já teria colocado seus soldados
para aniquilá-los. Viu como é fácil? E deixe-me apresentar-
me, sou o Caporegime.
— O capo da máfia portuguesa? — sento-me na
poltrona, como se estivesse entediado. — O que querem
conosco?
— Rael, né?
— Não o Pinóquio. Seja direto.
— Queremos uma colaboração entre as duas máfias.
— Não! — o tal capo mal termina de falar e Hoss já
declara a sua resposta. — Não queremos envolvimentos
com vocês.
— Tem certeza? Vão querer mesmo que entremos
nesse mercado? Podemos matar cada cliente dos Calatrone.
Imagine a fama que levariam? O medo que os outros
sentiram de fechar negócios com vocês? 
— E pensam que somos fracos? Que não temos
soldados ou alianças fortes? É claro que não pensam! Afinal,
os ataques da máfia nunca foram drásticos, pois
revidaríamos a altura.
— Não chegam aos pés dos Borghi.
— E agradecemos por isso — digo. — Se parecer com
vocês é o que menos desejamos. Nosso único trabalho é de
agiotagem, não invadimos a sua área de tráfico ou cartéis.
Qual a porra da razão de nos infernizar? Não somos
inimigos!
O tal capo não responde, até ele parece não ter uma
resposta.
— Gostaríamos de entender a ameaça que
representamos a vocês.
— É por isso que podemos fazer uma aliança.
— Não queremos aliança — Hoss vira as costas e os
caras erguem as armas em nossa direção. 
Também me levanto.
— Deixaremos que comunique ao seu tio. Pensem
melhor, não vão ter saída.
— A gente não precisa de…
— Hoss! — pego no braço do meu irmão e o arrasto
comigo, para que não continue a porra da discussão.
— Filhos da puta!
— Calma, caralho, vamos embora. 
Empurro-o para dentro do carro e pego no volante.
Saio a mil, o mais longe possível.
— Tio Argus precisa saber imediatamente de tudo
isso.
— Acho que não somos páreos para esses
desgraçados — falo, com sinceridade.
— Já recrutamos muitos subordinados de nossa
confiança, para lutarem ao nosso lado, não se entrega uma
guerra já subestimando o poder que temos. 
— Eles nunca foram tão diretos conosco, como hoje.
Aliás, nunca havíamos ficado frente a frente.
— Aquele só era o capo, de influência média na
hierarquia dos Borghi.
— Ah, então se fosse o subchefe ou até o chefe,
poderíamos nos preocupar? Uma merda, Hoss, de qualquer
forma a mensagem seria a mesma, eles querem os
Calatrone colaborando com os LosBor, como aliados. 
— Eles querem é o poder de tudo. Vão ser lá no quinto
dos infernos, a agiotagem da nossa família domina e é
independente, não subordinados de máfia.
Respiro fundo e bato no volante, pensando que
quando o chefão souber da Jolie, as coisas vão feder mais
ainda. 

— Precisamos falar com o senhor… 


Chegamos em casa e fomos direto ao tio Argus.
Ele nos ouve atentamente. Contamos tudo, sem
economizar nos detalhes.
— Nunca tivemos um encontro frente a frente com os
LosBor.
— Os Borghi estão em guerra com outra máfia, eles
querem aliados fortes por causa disso.
— Ah, e acha que devemos entregar os nossos
homens, ou nossos armamentos para eles? Pois é óbvio que
querem isso. 
— Podemos tirar proveito dessa situação.
— Não concordo com nenhuma aliança — Hoss
declara sem rodeios.
— Isso pode evitar uma guerra entre os clãs. Pensarei
no melhor. Também pensem, quinta discutiremos na
reunião. 
— Por que não hoje? Isso é um assunto de urgência.
— Concordo com o Rael.
Tio Argus acende o seu cigarro eletrônico, agindo
numa calma e naturalidade que nem Jesus teve.
— Paciência, meus filhos. Vão tomar um banho, jantar
e descansar.
Eu e Hoss nós olhamos e então saímos bravos da sala.
— Vai confiar nele?
— E quando não confiamos?
— Porra mesmo, e o pior, é que confiamos de olhos
fechados.
— Quer saber? Já deu. Vou para o meu quarto — Hoss
passa a mão na barba, cansado. — Ao contrário de você,
tenho uma mulher me esperando para tomarmos banho e
foder.
— Desnecessário. Eu vou meter um socão na sua fuça
de cachorro!
— Bate uma punhetinha para desestressar,
“maninho”.
— Sim, vou fazer uma homenagem para a sua rola
fina, arrombado.
Hoss sorri e se retira.
Chuto a parede, pensando em ir vê-la. E eu quero vê-
la. Preciso saber se está bem, para ter pelo menos uma
noite tranquila. 
Coragem, caralho! Você não é homem? Só vai!
Mas ao parar na frente da porta da Jolie, eu desisto
como um covarde.
Amanhã será um novo dia… tem que ser.
Pela manhã, acordo tão estressada e enfurecida, que
até a Lady preferiu ficar bem longe de mim. Ela foi se deitar
lá na sacada.
Por que ele não me procurou ontem à noite?
Não que eu quisesse também, mas ele devia ficar
igual um cachorrinho atrás de mim… até me paparicando.
— Droga… — olho-me no espelho. — Precisa ter foco,
Jolie. Foco no seu objetivo de se livrar da máfia. É o que
importa.
Eu estou muito bem hoje, sem dores. É o dia perfeito
para terminar o assunto de ontem com o Abelha.
Infelizmente, só eu posso resolver isso.
No segundo em que eu puxo a maçaneta para sair do
quarto, dou de cara com o Rael, prestes a bater na porta.
Será que é assassinato eu querer furar os dois olhos
dele?
Cretino dos infernos!
— Bom dia…
— Bom dia? — cruzo os braços e olho para trás. —
Bom dia para quem? Pois o meu dia já começou péssimo
com a sua cara o estragando.
Ele se enrijece, nervoso e encurralado.
— Achei que você estivesse menos agressiva do que
ontem.
— Eu fui agressiva, seu infeliz? Diz se eu fui? — meto
o dedo no peito dele, quase perdendo o ar com o seu corpo
gigantesco e musculoso, dando dez de mim. 
— Ah, claro, você não disparou em mim! E sem nem
pensar duas vezes!
— É? E ficou magoadinho?
Rael de repente avança e me prende contra o portal
da porta.
— Abusada! Com você tem que ser tudo na
agressividade mesmo.
— Sim, do mesmo jeitinho que me fode feroz na
cama.
— Jolie! — ele roça a sua ereção na minha pélvis.
— Já quer me comer, Rael? — mordo a boca dele,
sentindo o seu pau cada vez mais duro. — Acha que me
merece?
— Eu quero você como um louco no cio!
Ele tenta me beijar com a sua fome animal, mas não
deixo.
Estou pulsando, já com a calcinha ensopada.
Esse homem é um deus vivo, enorme, gostoso e com
uma pegada indescritível.
— Mas não me merece...
Tento empurrá-lo, só que os seus olhos escurecem e
um fogo começa a me consumir. É apavorante,
desesperador. 
— Eu te mereço, pois eu a quis, você é minha Jolie!
Respiro, por pouco não tendo um ataque cardíaco.
Acho que lá do último andar deu para ouvir os meus
batimentos.
— Me solta…
— Você me provoca até eu enlouquecer e ficar puto!
— ele me prende ainda mais forte.
Eu gemo de dor, pela força que nem tem noção de
estar fazendo.
E quer saber? Eu gosto muito disso.
— Até eu te tirar do controle que tanto preza? 
Não desviamos as íris… pelos olhos eu deixo o mais
claro possível que ele também é meu, que quero o seu
carinho, o seu toque, essa sua pegada animal… seu tudo.
Ele é meu! Meu coração quer berrar tudo isso e até mais. 
Não sei se ele decifrou esse olhar, mas sua ferocidade
diminui ao ponto de afrouxar os meus braços.
— É uma bruxa — ele toca no meu rosto e eu suspiro.
Sua boca parece um imã que eu quero beijar
infinitamente.
— Não vou te desculpar tão cedo — sussurro,
hipnotizada por seus dedos explorando o meu pescoço.
— Eu te perdoei pelo tiro, nada justo.
— Eu não sou justa.
Ele tenta me beijar de novo e eu teria deixado, se não
tivéssemos sido interrompidos pela Hera.
Graças a Deus.
— Ah, bom dia, Jolie.
Hera passa pelo Rael, sem dar-lhe atenção.
— Vamos tomar logo o café, pois já, já começa a aula
da Elena e estou empolgada.
Dou um último olhar para o Rael, antes de ser puxada
pela Hera.
No jardim, a gente toma o nosso café até a cadelinha
da Isa chegar. As meninas e seus companheiros se
deslocam para a aula no jardim. Resolvo ficar de longe, só
observando a Elena praticar a mira. Hoss permanece
grudado na sua mulher, sendo tão cuidadoso que daqui a
pouco a Elena vai errar o boneco e acertar a bala de
propósito na cara dele. Já Hera, é praticamente especialista,
ela deve praticar muito, acho que deve amar tiro ao alvo,
sua empolgação é linda de se ver.
— Você é melhor do que todos ali juntos.
Ouço a voz do Rael e aperto os olhos, para concentrar-
me nos arrepios que senti.
—  Não sabe me deixar em paz, não? Esse castelo é
enorme.
— Não, eu quero ficar ao lado da minha bruxa.
Encaro esse homem delicioso, mas com cara de
superioridade.
— Agora quer né?
— Não vim aqui para trocarmos farpas, que tal
fazermos um passeio?
— Sabe que eu não posso dar um passo longe desse
castelo — suspiro, frustrada e com saudades do centro
movimentado de Lisboa. 
— Mas eu disse que seria fora do castelo? Vamos fazer
uma caminhada até a praia, fica meia hora daqui…
— A pé?
— A vida não é só carro, querida.
— Não vou a pé.
— Pelo menos você vai, já é um progresso.
— Eu não…
— Shhh, vamos logo.
Ele estende a sua mão grossa.
Vou ou não vou?
— Anda, Jolie…
Ainda orgulhosa, demoro de propósito para pensar,
até que enfim aceito ir nesse “passeio”.
 
Jolie é surpreendida ao virar na varanda e dar de cara
com a minha moto estacionada, aguardando-nos.
— Hum…
— Você achou mesmo que iríamos a pé até a praia?
— Se fossemos, você me carregaria no colo para
aprender.
Ela joga os saltos em algum canto e sobe na moto,
depois de eu também subir e ligar.
— Me leva para bem longe… — sussurra e me abraça.
— Vamos fingir que não existem problemas, que existe só
eu e você.
Eu até fico tonto, quente por ela.
Não posso acreditar no que acabou de dizer. É a
mesma Jolie que quase estourou a minha cabeça com um
tiro ontem?
Ela me abraça ainda mais forte e eu acelero, indo
contra o mundo e a vida. Nada mais importa.
Entro com a moto pelas trilhas escondidas na floresta.
Meu objetivo vai além da praia. Ela verá o que nos aguarda.
— Rael, que lindo!
Quase meia hora depois estamos na encosta de
pedras, com vista para o oceano. É um lugar magnífico, não
sei nem descrever quanta beleza natural.
Desço até o barranco de areia e a entrada da lancha,
ancorada na nossa passarela.
— Sério, uma lancha? Esse é o nosso passeio?
— Sim. Muito sério, isso tudo pertence a nós,
Calatrone. E eu vou te sequestrar o restante do dia.
Jolie ri e me acompanha para entrarmos na lancha de
dois andares. 
— Que luxo, estou num paraíso milionário.
— E com seu deus, o próprio tritão.
— Vou nem dizer nada, senhor “tritão”.
Eu desamarro a embarcação do cais, ligo o motor e
enfim saímos de terra.
Jolie para ao meu lado, com seus cabelos esvoaçados
pelo vento. Ela fica toda concentrada na vista, enquanto eu
piloto mar adentro.
— Isso é um sonho? — sussurra e eu beijo a sua testa.
Ela então vai para dentro, conhecer o interior da
lancha.
Eu paro quase em alto mar, desligo o motor, a seguir,
tiro a camisa, a calça, os sapatos e pulo na água.
Sinto a minha alma até se purificar.
— Rael! — imediatamente Jolie corre para me ver.
Volto boiando para a superfície e fico olhando para a
mulher mais perfeita dessa galáxia.
— Lembra que nos conhecemos bem perto da água?
— Adoraria que tivesse sido nessas circunstâncias. E
sai daí, pode ter tubarões, arraias, sei lá.
— Vem nadar comigo…
— Depois… vou beber, achei champanhe e um monte
de comida. Você abasteceu essa lancha pensado em me
sequestrar por quantos dias?
— Na verdade, por meses.
— Não é nem louco.
Eu nado de volta.
Jolie se senta no sofá, observando-me subir e pegar a
toalha.
— Não quero imaginar como essa água está fria.
— Dá para se acostumar.
Chego perto dela, sento-me ao seu lado e aceito a
taça que acabou de servir.
— Quer conversar, antes de eu começar a te foder?
— Como é cafajeste.
— Não existe outro como eu.
Jolie se ergue na minha frente, suspirando ao analisar
o meu físico em forma. Já eu fico tonto com o seu corpo
perfeito, com curvas deliciosas. Ela só se levantou para
pegar a garrafa e nos servir ainda mais.
— Vão sentir a nossa falta.
— E eles importam agora?
— E eu te importo o suficiente, Rael?
— Já sabe a resposta para essa pergunta. Agora, você,
se importa tanto comigo que já atirou duas vezes em mim.
Ela sorri, maldosa.
— Nenhuma para matar.
— É uma bruxa sem coração.
Puxo-a para mais perto e colo a nossa testa
Jolie acaricia a minha coxa.
— Não adianta lutar contra isso.
—  Sabe que não, só se eu estiver bem longe ou
morta…
— Não fala isso! — agarro o seu pescoço, em posse
dela.  — Quero ficar com você, tê-la na minha vida.
— E desde quando eu disse que queria ficar longe?
Você é MEU, Rael!
Sorrio da forma feroz que bravejou o “meu”.
— Também não quero que me abandone... Eu só
tenho você.
Sem esperar por essa segunda declaração, o meu
coração se parte em mil pedaços, e em instantes, tudo se
transforma em desespero para prová-la que não está mais
sozinha, nem abandonada.
— Não vou te abandonar, eu prometo.
Beijo só o canto da sua boca e ela não aguenta, me
beija de verdade, ainda mais feroz. Sua língua me penetra e
eu retribuo mordendo de propósito, para ela ficar brava.
— Ai, seu infeliz!
Ela me empurra violentamente, para eu deitar as
costas no apoio.
— Estava te beijando tão gostoso e faz isso!
Eu rio e aperto o meu pau endurecido.
— Desconta, rebolando bem gostoso na minha pica.
— “Pica”... — ela se interessa pelo adjetivo brasileiro,
erguendo-se, para sentar de pernas abertas em mim.
Porra, e ao fazer isso, eu a vejo sem calcinha, com a
sua bocetinha bem depilada e exposta.
— Eu adoro a sexualização das palavras brasileiras.
Para o que você viu, é o que mesmo. Boceta né?
— Inferno, Jolie, assim é judiação! — aperto o seu
pescoço e toco na sua coxa, subindo para o meu destino
favorito.
— Hummm… — geme, quando a toco no clitóris
molhado.
— Está molhadinha para mim.
— Sempre estou — diz e acaricia o volume do meu
pau.
Beijo-a, ansioso para nos satisfazer em todas as
posições possíveis.
Jolie rebola na minha ereção, suga a minha língua e
tenta arrancar seu vestido. Ajudo-a a ficar nua e a empurro
para deitar-se no estofado.
— Você é perfeita.
Beijo a sua barriga, subindo até os seus belos seios
empinados, que massageio e lambo gostoso, a seguir, abro
bem as suas pernas e vou descendo para a testa da
bocetinha lisa. 
— Mais, Rael…
— Quer que eu desça mais?
Ela puxa o meu cabelo, murmurando que sim.
Então desço e dou uma lambida única no seu clitóris. 
— Ahhh… assim… 
Sinto o cheiro do seu sexo, provo o gosto do seu sumo
e passo o dedo no meio da vagina rachada. Está quente,
sempre úmida para mim. Que delícia.
Jolie se estremece, suplicando para que eu a devore. 
Sorrio, dando a ela o que tanto almeja,
desesperadamente. Empenho-me na sua melhor oral, sem
pressa de que acabe. Minha língua ávida e áspera se move
no seu grelinho, sabendo muito bem o que está fazendo. 
Sou demorado e paciente no seu prazer, para depois
que gozasse, eu a colocasse de joelhos no sofá externo e a
fodesse por trás, puxando os seus cabelos e bombardeando
na sua boceta sedenta. Não estava aguentando mais. Meto
com força, apreciando os seus gritos em alto mar, sem que
ninguém pudesse ouvir o escândalo do nosso sexo
selvagem.
— Hummm….
Empurro-a de quatro, pego o meu pau e pincelo seu
traseiro empinado, entrando e saindo da vagina encharcada
por meu sêmen. 
— Quer gozar, minha princesa?
— Sua rainha — murmura.
Minha rainha…
Ela se empina mais, rebolando para que eu não pare.
Dou um tapa gostoso na sua bunda, extasiado com essa
visão. Aproveito o quanto aguento, pois quando a Jolie
também toma o controle, ela vem obstinada a acabar com o
que resta de mim.

 
Só voltamos ao anoitecer para o castelo, e mortos de
tanto foder naquela lancha. Tomamos banho e dormimos
juntos. É maravilhoso tê-la ao meu lado, repousada nos
meus braços, acho que já me acostumei com a sua
presença, o seu perfume, a sua voz, o seu toque. Como
pude chegar a esse ponto? É assim que o Hoss se sentia
com a Elena… “completo”?
Queria fugir dos problemas, só eu e ela, numa vida
decente, sem medos e inseguranças. Tacar o foda-se.
Respiro fundo.
Ela não quer me deixar, nem eu quero mais isso. Já
estamos tão envolvidos, pertencentes um ao outro. Que
então seja assim.
Pela manhã, acordo com algo me acariciando os pés…
algo tão peludo e macio. Abro devagar os olhos, levando um
susto e chutando a desgraçada da gata, que se esfregava
no meu pé.
— Rael, a Lady!
— Eu vou fazer espetinho dessa maldita gata.
— Qual seu problema com ela, infeliz? — Jolie me
fuzila, após saltar da cama e ir prestar socorro a tal Lady.
— Odeio gatos!
— Problema seu, eu gosto. Respeita a minha filhinha.
Também saio da cama. 
— Não quero discutir com você, acabamos de acordar.
— Afinal, sempre perde.
— A tua bunda redonda que perde com meus tapas!
— Sai do meu quarto, anda!
Vou até ela, deixando-a tonta com a visão da minha
nudez.
— O que tem de bem-dotado, tem de ódio por gatos
— ela pega no meu caralho e eu aperto os punhos, para me
deliciar com o seu toque devasso.
— Eu amo as suas mãos… — grunho de prazer.
— Ótimo que as ame, pois as mesmas que te tocam,
te castram ao menor vacilo.
Que bruxa feroz.
Ela para de me alisar e beija a minha boca, possessiva
ao acariciar também o meu peitoral definido.
— Você é meu, Rael. 
Meu coração entra em chamas.
E para não acabarmos passando o dia transando na
cama, eu a beijo até faltar fôlego nos nossos pulmões, logo
depois, retiro-me para o meu quarto, tomo banho e me
arrumo para começar mais um dia.
— Bom dia… — encontro a Hera sozinha na sala.
— Bom dia…
— A formiguinha resolveu me responder?
É o seu apelido de infância. Hera gostava de roubar
doces na cozinha e esconder embaixo da cama. Igual uma
formiguinha mesmo. Por isso, começamos a chamá-la
assim, e ela surtava, tacou até um garfo em mim, ele
penetrou as minhas costas, levei um ponto. Saudável
infância.
— Não me chame por esse apelido ou taco esse salto
bem no meio da sua cabeça.
— Sempre carinhosa e amorosa.
— Rael, vem aqui, precisamos conversar… — antes
que eu pudesse me retirar para o outro lado, Hera me
parou. — Senta aqui!
Então volto e sento-me ao seu lado.
— Eu sei o que quer conversar.
— Ótimo… vamos ser diretos, o que tem com a
Isabel?
— Nada, juro para você. Na verdade, o que aconteceu,
foi que eu soube da morte do seu irmão, fui a acalentar e no
meio disso, Isa acabou revelando que era apaixonada por
mim.
Hera não parece nem um pouco surpresa.
— Depois me pediu aquele beijo… só que não fui eu
quem dei, ela quem tomou a iniciativa. Fui covarde demais
para afastá-la e magoá-la.
— Era bem óbvio, né, que ela sempre fora apaixonada
por você. Como não percebeu?
— Nem sequer desconfiei ou tive interesse de
desconfiar, pois somos amigos, ela para mim é uma
salvadora. Não existe qualquer sentimento desse… igual eu
e a Jolie — suspiro. — E por favor, não conte nada para ela.
Jolie detesta a Isabel e acredite, essa mulher é capaz de
tirar membro por membro de alguém.
— Acha que eu não sei? Jolie causa calafrios, gosto
disso nela.
— Gosta é?
— Assim como você, que a ama.
— Hera… — murmuro, em choque com a sua última
palavra.
— Não é cedo para a verdade. Lá no fundo, desde que
a trouxe para o castelo, eu sabia que ela nunca mais iria
embora das nossas vidas. Principalmente da sua. Vocês
foram amor à primeira vista, afinal, desde que se
conheceram, nunca mais se largaram. Não é?
— Acha que eu vou assumir?
Reviro os olhos e levo um tapa da leoa.
— Não brinque com a Jolie, você é o primeiro homem
que ela se apaixona.
— Verdade? — fico surpreso. — Irei eu mesmo saber
pessoalmente disso.
— Ela mesma disse para mim.
— Nosso possível relacionamento é algo de menos
agora. Existe a máfia atrás dela. Não sei o que fazer.
— Eu também não faço a mínima ideia. Estou com
medo de tudo. Com a Elena não foi assim, eu tive tanta
coragem e força para ajudá-la. Agora, sinto-me em um
tiroteio cruzado, sem saber para que lado atirar também.
— Pensaremos no que fazer… — beijo a sua testa e
informo que preciso ir.
Tenho que descobrir uma coisa…
 

Eu tomo meu café com os Calatrone e depois de


despistá-los, vou para o outro lado do castelo. A procura do
Abelha, mas sou informada por outros seguranças que ele
ainda não chegou para o seu turno de trabalho.
— Uma linda fada… — Vince aparece de repente,
enquanto eu me deslocava para perto do lago.
— Que susto! — esbravejo, com a mão no coração. —
Quer me matar, Vince?
— Humm… está muito assustada Sra. Borghi.
Ele me analisa com seus lindos olhos claros. Chego a
ficar hipnotizada por esse homem lindo, cativante. 
— Claro, chegou sem avisar.
— Gostaria de saber o que tem com o Abelha, já que o
procura tanto.
Eu paro embaixo de uma árvore, incomodada com a
pergunta.
— Somos amigos.
— Amigo só você e Deus querida, o homem se torna o
seu amigo só quando você não quer que ele te coma. É a
mulher que rotula essa tal amizade.
— Você está generalizando a todos?
— É claro — Vince me para abrupto. — E vamos ser
diretos, Jolie. Eu quero te ajudar.
— Me ajudar? — arquei a sobrancelha, desconfiada.
— Você está usando o Abelha para tentar se
aproximar dos Borghi.
— Ah é? — continuo olhando-o profundamente.
Noto que ele chegou a pigarrear e desviar, intimidado
comigo.
— Eu sou o único que pode te ajudar de verdade.
— E qual seria a sua intenção em me “ajudar”?
— Eu tenho um caso com sua enteada.
— O-o quê?
Arregalo os olhos e quando vejo, já dei um tapa na
cara do Vince.
— Aí, porra, não cheguei nem a dar uns beijinhos nela
— ele se afasta, com a mão onde o estapeei.
— QUE MERDA DE HISTÓRIA É ESSA?! MINHA
ENTEADA TEM 17 ANOS!
— Jolie, calma, sogrinha.
— VINCE!
Ele arruma a postura, para não levar um soco nos
dentes.
— Desculpa… é brincadeira, a parte do “caso”. Na
verdade, eu converso com ela virtualmente. E talvez, de vez
em quando, hackeo a sua webcam.
Estapeio o safado, miserável.
— Se você vê a minha menina, nua, eu arranco o seu
pau!
— Eu sou sincero, calma, você é assustadora!
— E seria ainda mais com uma arma apontada para as
suas bolas! Agora seja direto com o seu plano de me colocar
cara a cara com quem preciso.
— E faremos isso sem dar satisfação ao Rael?
Fico uns segundos quieta, até assentir.
— O importante é os Borghi me deixarem em paz,
para eu viver uma vida com liberdade. Quem sabe ao lado
do seu irmão? Ajude-me, Vince.
— Eu tenho um plano, mas podemos nos foder com
alguém, e não seria com o chefe da máfia, é ainda pior. 
— E quem seria pior que o chefão?
— Hoss, pois precisaríamos da Elena em carne e unha
para o plano.
Abro a boca, sem acreditar. Já imagino aquele homem
de dois metros, surtando, até sendo capaz de me matar.
— Não, não podemos envolver a Elena, nem mesmo a
Hera! Hoss, Morcego e até mesmo o Rael se virariam contra
mim. Sabe que elas são os diamantes desse castelo. E Elena
está grávida!
— Já imaginava que teria essa opinião, por isso, tenho
um segundo plano.  Contudo, nesse você estará sozinha,
contra um batalhão de homens.
—  Não me importo, quando colocamos o plano em
prática?
— Essa noite, o mais rápido possível. Primeiramente,
vamos aos detalhes...

Vince me passa o detalhe de tudo e depois nos


separamos.
Eu volto para o castelo, pensando em cada passo que
darei esta noite.
E como vou despistar o Rael? — a pergunta martela
na minha cabeça.
Perto do almoço, meu monstro alto, de barba grande
e cabelo bem aparado, chega com flores para mim. Sim,
flores! E entregou o buquê na frente da sua família,
inclusive, na frente da cadelinha da Isa, que estava prestes
a ir embora – ela e Elena terminaram o treinamento de hoje.
— Meu Deus, são lindas — digo, apaixonada pelas
rosas vermelhas.
Estamos no meio da sala, cercados pelo Argus, Hoss,
Hera, Elena, Isa e a doce Maria.
— Jolie, as flores são lindas igual você.
— Obrigada meu amor — respondo a Maria e olho
toda desconcertada para o Rael.
— Obrigada, não esperava por isso.
— Devia esperar… elas são lindas como você.
Ele sorri e realmente, sem ligar para a sua família,
avança e me dá um beijo.
Eu toco na sua barba, com o coração mais acelerado
do que nunca.
— E-eu já vou… — Isa fala.
Rael de repente vira a cabeça e se assusta ao vê-la.
Reviro os olhos, com vontade de responder, “já vai
tarde”.
— Eu te levo até a porta — Hera se oferece.
— Vai é tarde… — murmuro e cheiro as minhas lindas
rosas.
— Rael romântico e dando flores, só vendo para crer
mesmo — Hoss diz.
— É, e desde quando você deu flores para a sua
mulher? 
— Ahhh, isso é verdade! Nunca ganhei flores suas —
Elena acusa e vem sentar emburrada no sofá.
— Pai Hoss, tem que dar flores pra a tia Elena, igual o
tio Rael.
— Pronto, agora eu sou o vilão da história.
— Você que começou, seu invejoso.
— Vai pastar, Rael.
Enquanto os irmãos se implicam, Argus fica quieto,
olhando-me. A ansiedade e o desespero me batem forte.
Fico pensando em quando eles souberem a verdade sobre
nós, que sou a sua afilhada.
Por que ele não conta logo? 
— Tudo bem? — Rael aperte delicado a minha mão.
— Sim, vamos para outro lugar? 
Ele assente e saímos para a outra sala.
— Por que das flores?
— Porque eu saí essa manhã e na volta para casa vi
uma loja de buquês e lembrei de você. É a primeira mulher
para quem dou flores, sabia?
Ele fecha a porta da sala e me prensa contra a
parede.
Até abandono o buquê na mesa ao lado.
— Isso foi bem romântico da sua parte.
— Culpa sua, bruxa… está me enfeitiçando.
Sorrio e beijo-o devagar, para apreciar seus lábios e a
sua língua molhada, isso até perder o precioso fôlego.
— Ninguém fez perguntas sobre o nosso sumiço
ontem?
— Não, eles já sabiam, avisei aos meus irmãos — fala
e mordisca o meu pescoço. — E quer tudo mais óbvio do
que é?
— “Sobre nós”?
— Sim. Eu quero esse nós, quero você de verdade.
Como estou amando esse Rael, sinto-me em um
sonho. Nunca imaginei que um dia pudesse ser tratada por
um homem dessa forma, e por esse homem. Ele mudou
tanto comigo.
— Já me disse isso — toco no seu abdômen cheio de
gominhos, por baixo da camisa. É delicioso. — Você é
perfeito, Rael, eu mereço mesmo que seja meu.
O safado ri e aperta a minha bunda.
— Possessiva, assim que gosto. Sua cabeça está
melhor?
— Um pouco dolorida, acho que ontem me esforcei
demais naquela lancha.
— Acho melhor chamarmos o médico amanhã.
— Amanhã… — respiro fundo, com medo desse
amanhã.
Não sei o que pode acontecer hoje à noite, pois será
só eu e eu. Vince não vai poder me ajudar até o final.
— Rael, eu quero que saiba que eu…
— Sim?
Ele acaricia o meu rosto, encarando os meus olhos.
Céus, eu sou fraca demais para dizer essas palavras.
O meu peito chegou a apertar, desesperado para que eu
falasse.
E se for muito cedo? E se não for recíproco, não nessa
intensidade que eu sinto?
— O que foi, linda?
— Está disposto a me querer mesmo?
— Que pergunta é essa? É claro.  Já disse que não
está sozinha. 
— Então não me deixe, nunca — abraço-o. — Eu seria
capaz de morrer por você Rael, até pelo bem da sua família.
— Não diga isso, pelo amor de Deus. 
Meus olhos se enchem de lágrimas e ele me afasta,
para de novo segurar o meu rosto.
 — Você é a mulher mais foda que conheci na vida. A
sua história de ser destinada à submissão pela máfia, o
casamento prometido, como deu a volta por cima dentro do
clã dos Borghi, eu sei de tudo, Jolie. E sei que é capaz de
qualquer coisa também para se livrar deles, mas nunca,
jamais terá de morrer por mim.
— Não vou prometer… e aquele tiro que eu te dei, foi
para te proteger, para você não vir atrás de mim. Eu tive
que pensar muito rápido, eu não podia deixar eles te
encontrarem, saber da sua identidade… eu chorei, senti a
sua falta, foi o único que me protegeu.
— Chega, é passado — Rael limpa as minhas lágrimas,
também com os olhos brilhando. — Agora será tudo novo,
não vai embora daqui, não vai embora das nossas vidas. 
Nos beijamos, com fogo, paixão e necessidade de um
se conectar com o outro, para provar nossos sentimentos. O
dele, de querer cuidar de mim, de me proteger, já o meu, de
provar que amo esse homem. Queria conseguir dizer isso,
só que é mais fácil demonstrar assim.
Que dor no coração… depois dessa noite posso nunca
mais vê-lo.

 
Finalmente, quando cai a noite, tranco-me no quarto e
me arrumo impecável, com uma maquiagem elegante,
vestido preto e um sobretudo da mesma cor.
Não sei o que o Vince aprontou, mas conseguiu
inventar algo que fez o Hoss e o Rael saírem do castelo para
resolverem algo na boate. Mesmo assim, precisaremos
tomar cuidado com a Hera, a Elena, o Morcego e o Argus,
sem falar do Luiz e dos empregados.
Sinto tudo isso ser o certo, só eu posso resolver a
minha situação com a máfia.
Alguém bate na porta.
— Oi?
— Sou eu, o Vince, está pronta?
— Só um minuto.
Esborrifo o perfume, dou uma última olhada no
espelho e saio com a cabeça erguida, capaz de enfrentar
todos os meus inimigos.
— Uau… está uma gatinha das trevas — Vince me vê
e fica boquiaberto.
— Não baba muito, cunhado.
— Cunhado? Já estamos assim?
— É claro, seu irmão me pertence.
— Possessiva, parece que o jogo virou para aquele
monstrão. E precisamos ir, estão todos jantando.
Vince me leva com ele para as entradas secretas do
castelo, que eu jamais descobriria, nem se eu morasse
trinta anos aqui. As passagens são úmidas e apertadas.
— Tem certeza que está me ajudando por boa-fé?
Sinto as coisas rápidas demais.
— Jolie, minha querida gostosa, mulher do meu irmão
ciumento, eu estou vigiando os seus passos desde que
chegou nesse castelo. Também, analisei os cenários para te
ajudar, sem envolver a minha família e infelizmente só vai
existir esse.
— Eu sozinha…
— Logo vou te dar um rastreador, vai colá-lo no meio
do casco da cabeça. Caso você saia de lá para outro destino
diferente, agirei para resgatá-la.
Eu e o Vince descemos muitos lances de escada, até
pararmos na frente de uma porta de pedras.
— Ela é elétrica, abre sozinha — informa, então a abre
e saímos numa garagem. — Entra no carro. 
Ele manda e eu entro no primeiro ao lado, depois fico
abaixada no banco, até sairmos dos muros gigantescos do
terreno.
Ergo a cabeça, respirando aliviada, também com
saudades de andar assim de carro.
— Esse evento fica onde, Vince?
— É numa mansão, perto do centro de Lisboa. É o
aniversário de uma amiga da sua enteada. O chefe da máfia
está bancando tudo, pois a família da menina é filha do
subchefe dos Borghi.
— Eu sei quem é. E isso não é bom, ao mesmo tempo
que é. São muitos soldados LosBor. A mansão estará
cercada até uma quadra de distância.
— Se quiser desistir, podemos voltar.
— Não, já estou aqui, já deixei o Rael e o castelo para
trás. Não posso desistir mais. Lá saberei como agir no
improviso.
Vince assente e fica quieto, nervoso. Gostaria de
perguntá-lo sobre a minha enteada, o que conversam tanto
virtualmente, como se conheceram, mas o meu nervosismo
também é maior que qualquer outra coisa.
Estarei cara a cara com o Toretto.
Depois de quarenta minutos, Vince para perto do
evento e me entrega o tal rastreador para eu colocar.
— Vou ficar alguns metros de distância, mas saiba que
estarei te vigiando pelo rastreamento.
— Ok, obrigada, Vince.
— Já sabe como vai entrar né?
— Não quis te contar antes, mas isso de dizer que eu
sou parente da aniversariante não vai funcionar, todos
sabem quem eu sou.
— Devia ter me dito, pois não…
— É tarde.
— Jolie, estará se entregando vulneravelmente para
eles e poderá nunca mais voltar para o Rael, para nós! 
Sorrio e abro a porta, puxando o meu braço, para
soltar-me.
— Porra, fiz merda.
— Eu já vivi coisas incríveis com o amor da minha
vida, coisas que em todos os meus anos de vida eu nunca
havia vivido. Obrigada por tudo, Vince. Também, se eu não
voltar, diga para o Rael que eu o amo.
— Jolie...
Ele me larga e eu ando para bem longe do carro. 
A cada passo o meu coração acompanha as batidas.
Atravesso a rua olhando para todos os lados possíveis,
chego ao portão, respiro fundo e encaro o segurança atrás
da grade.
— Olá, poderia me ajudar?
Ele me vê e se aproxima desconfiado.
— O que gostaria?
Chego mais perto do homem e tiro a arma, para
apontar na direção da sua barriga. O cara se assusta.
— Sei que não está sozinho aqui na frente, por isso,
seja rápido e comunique em segredo ao Paulo Borghi, que a
cunhada dele está aqui para matar a saudade. E seja
rápido, antes que os homens da máfia apareçam.
— Quem é você?
— Não interessa, faça imediatamente o que te mandei
ou atiro nesse seu lindo corpinho. Anda!
O segurança arregala os olhos e sem mais
questionamentos, ele faz o que mandei, após sair em
tropeços, correndo para dentro da mansão.
Vai ser agora, já imagino centenas de homens vindo
ao meu encontro. E não demora para isso acontecer.
Paulo e o capo aparecem rapidamente com seus
soldados, já abrindo o portão e mandando eu entrar.
Eu entro e o Paulo agarra o meu braço.
— Meu pai vai te matar!
— E você vai deixar isso acontecer?
— Vamos conversar primeiro. Lucas, faça a ronda e
veja se ela está sozinha — ele fala com um dos homens, em
seguida, me arrasta com ele.
— Eu sei andar, Paulo!
— Estou furioso com você! Como aparece assim?
— Eu disse que precisávamos nos encontrar para
conversar.
Ele chega numa área de lazer, com um jardim de
estufa e me joga lá dentro.
— Você não era violento antes de eu ir embora.
— E antes de me abandonar com as merdas das
responsabilidades da máfia!
— Acostume-se, pois não ficarei aqui — meto o dedo
no peito dele. — Tome atitude, você que não pode mais
fugir da sua obrigação.
— Não seria minha obrigação se não tivessem matado
o meu irmão. Ele nasceu para ser o herdeiro.
— Chega de se lamentar. Toretto e você sabem quem
o matou, como ainda não realizaram essa vingança?
— Porque esses mesmos desgraçados estão
dominando as áreas dos nossos compradores de drogas.
Eles estão se fortalecendo, garantindo clientes fiéis e nós,
perdendo o nosso poder de fornecimento.
— Enfim, vocês têm problemas maiores do que eu.
— É da nossa família, Jolie. Lila chora por você todos
os dias, é como uma mãe para ela. 
— Sinto muito, mas nem ela pode me segurar com os
Borghi. Eu não tive escolha de nada na minha vida. Só
quero ser feliz, ser “normal”.
— Feliz, como?!
— Com o homem que eu amo de verdade!
Ele então se cala.
— Sabe o que é isso, né? Amar alguém? Pois eu amo
um homem de verdade. Não como o seu irmão, que nunca
sequer tive esse sentimento.
— Esse sentimento é uma mentira, uma ilusão.
— Problema seu se acha isso. E sei de tudo que está
acontecendo na sua vida, da mulher que engravidou e que
está sendo obrigado a se casar por causa do seu pai.
— Não sabe de nada!
— Ah, mas eu sei, meu querido. Sei também que a
sua atual noiva é a irmã da Elena, a mulher que amava de
todo o coração.
Paulo fecha os punhos, com um olhar mortal de raiva.
— Mas sem mais delongas, chega desse papo, eu
quero ficar diante do seu pai. Temos assuntos importantes
para tratar, relacionados ao seu irmão.
— Ele vai querer decepar a sua cabeça.
— Que seja!
Paulo bufa e dá um passo até mim.
— Pare com isso, Jolie. Precisamos de você ao nosso
lado, para vencermos essa guerra.
— Eu quero que o seu pai e que esses problemas se
fodam. Não é uma guerra minha.
— Isso é o que ele vai decidir.
— Que seja!
Então saio pela porta da estufa.
Paulo vem ao meu lado, para me levar a festa de
aniversário, que acontece do outro lado do jardim luxuoso.
Os LosBor me veem de longe e ficam incrédulos,
cochichando entre eles. 
— Meu pai já deve estar sabendo da sua presença.
— O subchefe é rápido — sorrio, em deboche e quase
revirando os olhos.
Como odeio aquele homem.
A gente chega na enorme mesa principal e vejo a
Dalila ao lado do seu avô.
— Jolie! — ela tenta se erguer para correr até mim,
mas ele não deixa. — Deixe-me abraçá-la, vô!
— Ela não é digna do seu abraço, nem da sua
saudade, filha — Toretto me observa, com seus grandes
olhos impiedosos. — Jolie te abandonou duas vezes.
Aperto os punhos, mas mantenho a calma, pois cerca
de dez homens estão segurando suas armas, em alerta
contra mim.
— Logo te abraçarei, querida, seu avô com certeza
deixará, após conversarmos.
— Aparece numa festa, em meu momento de
aproveitar à noite, para conversarmos, Jolie?
— Conversamos hoje, ou uma família real te coloca na
lista principal da Interpol.
Toretto descruza as pernas, olha para o Marcos e seu
subchefe vem todo pomposo até mim.
— Olá, Marcos, saudades da sua inimiga? — sorrio
como o próprio diabo incorporado.
— Acompanhe-me, Jolie — rosna. — E Paulo, continue
onde está! — exclama, pois obviamente, Paulo seria capaz
de me defender, temos um carinho e uma amizade muito
forte, por mais que se encontre bravo por eu ter o
“abandonado”.
Marcos e os soldados LosBor me levam até uma sala
particular. É a sala da casa dele. Eles me revistam e tiram a
minha arma.
— Torço para que o Sr. Toretto determine a sua morte.
Terei prazer em fazer o serviço.
— Por que me odeia tanto, Marcos? Só por que o meu
pai se casou com a mulher que você amava?
— Cala a boca, Jolie!
— Meu rosto, meu jeito, tudo faz lembrar a minha mãe
quando era mais jovem. Isso te incomoda, te deixa
seduzido. 
Marcos pega a minha própria arma e mira na minha
direção.
— Não, você me faz lembrar do traíra do seu pai, em
como o matei e em como gostaria de matar de novo.
Ele achou que me afetaria? Pois cruzo as pernas e me
mantenho tão fria quanto um iceberg.
— Sr. Toretto logo te mandará para a forca, espero que
esteja ansiosa, pois eu não conto às horas.
Marcos sai da sala e eu suspiro, pensando em planos
e mais planos para pelo menos sair viva dessa.
Precisarei agir rápido. Ainda bem que tenho outra mini
arma letal. Ganho tempo para tirá-la da vagina, desenrolá-la
e escondê-la em outra parte do corpo.
Se eu não sair viva daqui o Toretto também não sairá.
Não demora e dez minutos depois o chefão vem
sozinho ao meu encontro. Ele fecha a porta, respira fundo e
em passos curtos, para na minha frente e então dá um tapa
forte no meu rosto.
Depois de averiguarmos um problema elétrico na
boate Fogo, eu e o Hoss voltamos para o castelo.
Faminto, já chego indo até a mesa do jantar. Luiz me
informa que todos jantaram há meia hora, porém, dá ênfase
no “exceto”.
— Exceto… pela Sra. Jolie, que não desceu e também
não estava no quarto.
Será que está tudo bem? Antes de eu sair com o Hoss,
aparentemente estava tudo normal.
— Como não a encontrou?
— Eu bati a cada dez minutos na porta e em nenhuma
ela respondeu, até que eu abri e realmente não a vi em
seus aposentos.
— Deve estar no jardim, daqui a pouco a procuro.
Luiz me olha estranho, querendo dizer mais coisas, só
que ele não diz e eu termino de comer o mais depressa
possível.
Ao finalizar, ergo-me e Luiz enfim pigarreia.
— Também, não a encontrei pelas câmeras do castelo.
— Como assim? Desse castelo ela não iria sair.
Procure direito, Luiz, deve estar em alguma área de lazer.
Nervoso, assim que eu saio da sala de jantar, Hoss
aparece perguntando se aconteceu alguma coisa, devido a
minha cara de descontrolado. Explico o que Luiz relatou e
ele imediatamente me acompanha para procurar a Jolie.
Nos dividimos. Eu vou para o quarto dela, mas não a
encontro por lá. Sem querer imaginar que fugiu, bato na
porta da Hera e também conto o que está acontecendo. Ela
e Morcego nos ajudam a procurá-la. 
Até que se passam mais de vinte minutos. Chegamos
a nos bater pelos enormes corredores, e nada da Jolie.
Colocamos até nossos seguranças para procurá-la pelos
terrenos externos.
— Ela tem que estar nesse castelo!
Tio Argus aparece na sala, pedindo a porra da calma.
— Uma merda de calma! Ela não pode ter ido embora
assim, de novo! Pela terceira vez!
Ela não pode inferno, depois de tudo que aconteceu
entre nós.
— No castelo a Borghi não está — Hoss declara,
nervoso. — Talvez confiou demais na viúva.
— A questão não é só confiança, a questão é que ela
sabia que estava na mira da sua família da máfia, e que não
podia sair assim, era a sua vida em jogo.
Eu me sento no sofá, passando as mãos no rosto.
Hera acaricia o meu cabelo e beija a minha testa.
— Primo, não pense muito.
— E se ela tiver se entregado aos Borghi? Ou fugido
de novo, agora para outro país? Não vou perdoá-la!
— Ela não seria capaz de te abandonar — Argus vai
até o aparador se servir de uma bebida forte. — Nem a
mim, o seu padrinho de nascimento.
— O quê?
Em segundos, todos ficam de pé e incrédulos.
Não é possível que não ouviram o mesmo que eu.
— O que foi que você disse, tio?
— Jolie foi filha de um dos meus melhores amigos aqui
em Portugal. Quando jovens, éramos inseparáveis. Tanto,
que me tornei padrinho da sua única filha.
Eu permaneço boquiaberto.
— Não posso acreditar, esse tempo todo! Por que não
nos disse isso antes?
— Sim, por que não nos disse, pai?! Jolie faz parte da
nossa família, de certa forma!
— Estou dizendo agora para vocês.
Ele se senta na segunda poltrona, olhando-nos.
— É bom que nos dê detalhes tio Argus — Hoss
resmunga.
— Eu errei com a pequena Jolie, prometi ao seu pai e
a sua mãe que cuidaria dela, mesmo que fosse entregue
aos Borghi, numa promessa inquebrável. Só que na época,
fui dado como morto. E era necessário à minha morte, pelo
bem da nossa família Calatrone. E ela, a jovem Jolie, foi
entregue em matrimônio ao herdeiro primogênito. Ela não
teve culpa dos erros dos pais, nem do seu padrinho. 
— Não acredito. Quantos segredos tem mais que não
nos conta? — Hera brada contra o pai. — Pois eu, sei que
existe mais! Todos nós sabemos! Não aceito que conviva
escondendo as coisas da gente!
— Por favor, filhos, só saibam que a Jolie nunca esteve
aqui no castelo por culpa do Rael. 
Olho para o meu tio, puto por não ter me dito nada.
— O senhor planejou tudo, o colar foi você que o tirou
de mim, não foi?! E ela? Jolie sabia também?
— O que tinha de tão especial nesse colar para o Rael
ficar louco daquele jeito e ir embora sem nos dizer nada? —
Hera questiona.
— Era o colar do nosso pai. Na nossa última conversa,
antes dele ser assassinado pelo rival de agiotagem da
família Calatrone, ele confidenciou a mim a segurança do
objeto. Era importante.
— Depois discutem isso. Escute-me, Rael. Jolie só
soube da verdade, principalmente que eu estava vivo,
depois que a trouxe para a nossa casa. Antes disso, o colar
só foi uma tentativa que joguei ao destino, por mais que eu
já imaginasse que você e ela, assim que se conhecessem,
se envolveriam intensos, são praticamente feitos um para o
outro. Não fique chateado comigo. Foi preciso agir assim,
primeiro pelo bem da nossa família e da própria Jolie.
— Que porra de bem é esse? E onde ela está agora?
— berro. — Você sabe onde ela está!
Argus não responde.
— FALA TIO!
Hoss segura o meu braço, para eu não cometer uma
insanidade.
— Não faça nada que possa nos complicar e complicá-
la, entendeu, Rael? Vamos encontrá-la, eu prometo — ele se
levanta.
— Eu vou atrás dela, diga onde está!
Argus não me dá ouvidos e retira-se rápido.
Chuto a poltrona, com vontade de sair igual louco a
procura da minha Jolie.
— Tenho certeza que ela está com os Borghi!
— Vince pode rastreá-la — Morcego que diz.
— E como, se nem um celular eu deixei com ela?
— Não sei, talvez ele tenha guardado alguma carta na
manga que não sabemos.
— É do feitio dele fazer isso. E falando nele, onde está
o nosso irmão mais novo?
— Deve ter saído para comer alguma puta! Ligue
imediatamente para ele.
Hoss liga, mas as chamadas não são atendidas.
Optamos por aguardá-lo, enquanto eu caminho de um lado
para outro, sem parar de pensar naquela mulher… na minha
mulher.
Deus, ela não pode ter ido atrás deles, assim, do
nada, sem me dizer!
Meu desejo é de pegar o carro e procurá-la nas áreas
da máfia, até descobrir a mansão onde moram. Com certeza
fica perto de alguma fronteira.
Se passam horas e Vince aparece, estranho, nervoso. 
— Onde você estava? — Hoss exclama contra ele.
— Ué, fui para a boate. Aconteceu alguma coisa,
minhas bonequinhas de luxo?
— Sim, a Jolie desapareceu e precisamos de você para
encontrá-la!
— Como assim? — ele muda a sua cara para surpreso.
— Se for verdade, já aviso que é impossível de encontrá-la,
já que nem um aparelho celular ela tinha. Talvez Jolie esteja
pelo castelo.
— Já procuramos em todos os buracos possíveis.
— E o que pensam… que eles a pegaram?
— Pior, que se entregou. Já entrevistamos todos os
seguranças também.
— Vou verificar as câmeras direito, pois sem passar
por elas a Jolie não iria. Volto daqui a pouco… — Vince sai,
quieto e tão sério que nem parece ser ele.
— Não tem o que fazer, a não ser esperar, Rael —
Morcego aperta o meu ombro. — Não podemos ir atrás
dessa mulher
— A máfia pode desconfiar e concluir que queremos a
viúva para derrubar o império deles — Hoss se senta ao
lado da Hera e suspira. — É uma batalha que dá medo.
Eu sei o medo do meu irmão, de perder a sua família,
a pequena Maria.
Quero chorar, berrar esse desespero dentro de mim.
Eu também  amo a minha família, quero protegê-los
com unhas e dentes, só que a Jolie, igualmente se tornou
algo incomparável na minha vida, eu não paro de pensar
nela, em querê-la no calor dos meus braços, protegida e…
amada.
— Eles já nos têm em mira, não podemos criar uma
guerra com o chefe da máfia. o Paulo é peixe pequeno perto
do seu pai sem escrúpulos.
— Vou dar uma volta… — É só o que eu consigo dizer,
antes de sair da sala e abandoná-los.
Subo correndo para o segundo andar, em direção ao
quarto dela. Entro e vou na primeira coisa que me faz senti-
la perto de mim, o seu pijama, com o seu cheiro forte e
marcante.
Ahh Jolie, por que foi embora sem me dizer? Eu
preferia te impedir de ir e levar outro tiro, do que ficar nessa
tortura, sem o seu corpo, a sua voz, os seus lábios… sem
você… sem saber se está bem.
Sento-me na cama, aperto os olhos e seguro a
vontade de chorar, de frustração e incapacidade de fazer
alguma coisa.
Por que sinto que nada está bem? 
Minha intuição só repete que ela se encontra no poder
dos Borghi, em algum lugar. E eu não sei se eles já a
fizeram algum mal, se estão a torturando ou a mataram.
O último pensamento me faz surtar e dar um soco
violento na parede.
Se ela não voltar até amanhã de manhã, a procurarei
do meu jeito, sozinho! Minha família não estará envolvida
mais nisso!

“Rael… por favor… Rael...”


De repente, abro os olhos, ouvindo a voz da Jolie.
Levanto-me rápido da cama e percebo que acabei dormindo
na sua cama. Estava tão cansado. Olho as horas e são
04h55 da manhã.
Tenho certeza de que era a voz dela, eu não estou
louco.
Olho para a cama e a bendita gata que dormia
enrolada ao meu lado. Cansado, eu desço para a sala e
começo a beber whisky.
Eu vou atrás de você… — repito para o meu
consciente, pensando na sua voz me chamando.
— Onde pensa que vai?
Perto da porta principal, encontro o Vince de pé. Ele
mira uma arma na minha direção.
— Sai da minha frente!
— Você não vai sair assim, achando que é o Superman
e que pode salvar o mundo sozinho.
— Mas eu devo fazer isso, sem envolver a nossa
família!
Ele revira os olhos.
— Você é um bosta que no primeiro tiro é abatido
igual um porco. 
— Vai se foder, o merdinha aqui é você!
— Se quiser tentar a sorte e sair do castelo, então
saia, mas aviso que o tio Argus reforçou a segurança e
deixou ordenado aos seguranças, que se você tentasse sair,
fugir ou ferir alguém, era para meter um tiro entre as suas
bolas, ou na perna.
— Some da minha frente, já mandei!
Vince sai da porta e passa por mim.
— Estava ciente que a qualquer momento teria que
soltá-la, que não poderia protegê-la para sempre nesse
castelo. A hora chegou, irmão, sabe disso.
— Mas agora é tarde para eu ter aquele pensamento
de uma semana atrás, onde eu seria capaz de abandoná-la
à sua própria sorte. A verdade, é que eu nunca seria. Jolie
jamais mereceu o destino que a deram.
— Eu sei, só que não vamos deixar você enfrentar o
"impossível" sozinho, mesmo que surte.
Ele me encara, aperta o meu ombro e sai para a sala.
Encosto-me na parede, a ponto de surtar com tudo e
todos.
Eu coloco a mão no meu rosto, sem acreditar no que
esse velho desgraçado fez.
— É assim que volta para a sua família, Jolie?
— Não, eu esperava mais fogos de artifícios da sua
parte.
Toretto me encara neutro, com as mãos nos bolsos da
calça.
— Sabe que a tenho com uma filha, que a desejo ao
lado do Paulo, cuidando da nossa máfia.
— Eu jamais vou aceitar isso, eu quero a minha vida,
longe dos Borghi.
— Não vai ter escolha.
— Ou me mata?
— Sim, sem pensar duas vezes. Não tem mais a
minha confiança, nem da família que virou as costas.
— Não pode me obrigar a viver nesse inferno, eu sei
de toda a verdade. Eu sabia do caso do seu filho e sei que
foi você quem encomendou a morte do príncipe!
Toretto bate na mesa e agarra o meu pescoço.
— Eu… juntei as provas… — digo, sufocada pelos seus
dedos. — E tenho meu álibi… na Espanha, que assim que
anunciado a minha morte, ele espalhará a verdade pela
internet.
— Eu devia ter matado você no primeiro dia que
fugiu!
Ele me solta para trás e eu toco na minha garganta
machucada.
— Pedro não me amava, nem sequer tocava em mim,
sendo eu, a sua esposa. Sabia de tudo, mas não me contou.
— Até descobrir sozinha essa verdade e começar a
ameaçá-lo?
— E vai dizer que não gostava das minhas ameaças?
Ou quando também descobriu, não matou o príncipe? O
senhor agiu sem sequer conversar com o Pedro, fingia que
nada havia acontecido, que essa realidade dele não existia.
E eu, só me defendia dele! Pois Pedro, era um monstro, que
me torturava pelas suas frustrações, pela sua
homossexualidade que nem ele próprio aceitava!
Toretto não move um músculo.
— Você vai morrer com toda essa “verdade”, Jolie.
— Não, desculpe-me, Sr. Toretto, mas eu garanti o
meu fôlego de vida. E se me matarem, todos saberão do
passado do seu filho. É por isso que me destinou desde a
barriga da minha mãe a me casar com ele, mesmo ele
sendo dez anos mais velho! Ah, e Dalila sabe que é filha de
uma prostituta, pois seu avô obrigava o seu pai a foder com
mulheres para virar homem?!
De novo, ele bate no meu rosto, desta vez tirando
sangue do meu nariz.
— Será levada de volta para a mansão, e de lá, não
sairá nunca mais! Está proibida de ter contato com a Dalila,
Paulo ou qualquer outra pessoa! É esse o seu destino, Jolie!
Ele arruma um botão do terno e saí a passos duros.
A seguir, sem eu ter tempo de berrar, cinco homens
entram na sala e tentam me amarrar a força. Eu luto contra
eles, atiro em dois, mas recebo socos na cabeça e caio
contra o chão, fechando os olhos e perdendo a consciência.
Dois dias depois
 
Bato no Igor, chuto as suas pernas, mas tropeço,
atravessando o corpo em cima da mesa de centro.
— Está bêbado e fedendo!
Hoss e Argus tiraram todas as minhas armas de mim,
colocaram até seguranças dentro do castelo, após mais de
vinte tentativas falhas de fugir desse inferno. 
— Eu preciso encontrá-la, ela-ela precisa de mim —
embolo a língua. — Sai da minha frente!
— Chega disso, Rael! — Argus surge furioso,
erguendo-me a força do chão.
— Não fale comigo! Não toque em mim!
Tonto e bêbado, empurro-o para longe, caindo de
joelhos perto do sofá.
— Por favor, Rael — ouço a voz da Hera, embargada
pelas lágrimas. — Não aguento mais te ver assim… pare de
beber, pare de tentar fugir, volte ao normal, volte a ser o
nosso Rael!
— Morcego, tire a Hera daqui, imediatamente!
— Não, eu não vou! Acabe com isso, pai! Acabe com
esse sofrimento dele! — Morcego puxa a Hera, que se
debate, socando-o no peito para largá-la. — Me solta, não
ouse, Ezequiel! Não obedeça ao meu pai, seu capacho
desgraçado! Eu vou matar todos vocês!
Ele a joga nos ombros e entra no elevador, com a sua
esposa xingando, debatendo e chorando.
— Luiz, esconda todas as bebidas deste castelo! —
meu tio ordena, fazendo eco no teto da sala. 
— Sim, senhor.
Continuo tonto, mas ainda tendo consciência ao meu
redor.
— N-não vai me segurar para sempre… Eu sou
adulto… eu vou atrás dela.
— Vai nos agradecer por protegê-lo. 
— EU NÃO PRECISO DE PROTEÇÃO!
— Igor, leve-o para cima.
— EU NÃO VOU! NÃO MANDA EM MIM, PORRA!
— Melhor aguardarmos o Hoss e o Vince para me
ajudarem. Rael é o triplo de mim — Igor responde, como se
eu não estivesse aqui, com a minha autoridade de um
Calatrone, que pode mandá-lo latir e rolar! É um
subordinado!
Assim que os meus irmãos chegam, mesmo sob meus
fortes xingamentos, eles conseguem me carregar obrigado
para o quarto.
Sou jogado na cama e fico mais tonto do que
imaginava estar. Não consigo falar, tudo se embola na
minha boca, só solto murmúrios altos.
— Ele vai dormir para esse álcool sair um pouco do
organismo. Aí conversamos… — ouço o Hoss conversar com
eles, só não escuto tudo, porque os meus olhos pesam.
Entro num submundo escuro, que tento resistir, mas é
mais forte do que eu... E em meus sonhos, encontro a Jolie
no mesmo lugar que nos conhecemos, no porto de
contêineres… está de noite, ela corre até mim, eu puxo a
sua cintura e beijo os seus lábios sem parar, chamando-a de
minha, dizendo que agora estamos juntos e que eu vou
protegê-la deles.
Ela chora, negando com a cabeça…
— Você precisa ficar seguro… — fala, afastando-se do
meu corpo. — Precisa ficar sem mim... sinto muito — então
ela dá um último passo e cai da beirada do porto,
despencando-se para o mar de ondas fortes.
Eu corro o quanto posso, mas não consigo pegá-la,
não consigo salvá-la! Apenas grito por ela!
— JOLIEE!!!
— Ei, ei, calma… 
Abro os olhos e dou de cara com o Hoss, sentado na
beirada da cama.
— Só foi um pesadelo, respira — ele aperta os meus
ombros e me sento, notando que estou ensopado de suor.
Meus batimentos estão acelerados, a minha
respiração ofegante e a minha cabeça lateja.
— Precisa me ajudar, Hoss…
— Te ajudar a morrer? Sabe que é suicídio ir atrás
dela. Não podemos perder tudo o que os nossos pais e
nosso tio construíram. Pensa, pelo amor de Deus, irmão.
Também estou sofrendo ao vê-lo assim, de coração partido,
dilacerado.
— Não aceito mais estar longe dela — meus olhos
ardem e eu desvio para a janela. — Desde ontem me
pergunto se ela ainda está viva, se eles a feriram. Não tem
ideia de como me sinto.
— Eu estou me colocando no seu lugar o tempo
inteiro. Como seria se o Paulo tivesse levado a Elena de
mim? Como eu reagiria? Não sei a resposta certa, mas sei
que você, Rael, lutaria para proteger a nossa família e tudo
que conquistamos juntos, assim como lutou no início,
quando trouxe a Jolie para cá, você queria protegê-la, ao
mesmo tempo que queria nos proteger. Sabia que o fim
seria esse.
— Eu não fiz uma escolha...
— Talvez ela tenha feito por você.
Eu nego a verdade com a cabeça, por mais que o
Hoss tenha razão, por mais que ele esteja certo… eu nego.
— Não aceito que o fim seja esse, não tem como ser,
sinto que não fiz nada por ela, sinto que não agi, não lutei
de verdade para protegê-la. 
Choro e meu irmão me abraça.
— Amo você, irmão, e só lhe queremos bem e ao
nosso lado, não suportaria a mesma dor de quando
perdemos o nosso pai e a nossa mãe. Por você, e por todos
que amamos, eu daria a minha vida. Nos entenda.
Não respondo, fico quieto e de cabeça baixa.
— Tome um banho e coma algo. Luiz já vai trazer o
seu jantar.
— Jantar?
— Sim, você dormiu o dia inteiro. Daqui a pouco eu
volto.
Hoss sai do quarto e eu fico mais alguns minutos na
cama, até levantar tonto, pegar outra garrafa que escondi
dentro dos travesseiros e desabar sozinho. Bebendo o
quanto eu posso até rastejar no chão, atrás da minha Jolie.
Eu a vejo, está na minha frente, perto do espelho.
Mais linda do que nunca esteve.
Ela sorri e eu sorrio de volta, dizendo que agora está
tudo bem, que podemos ficar juntos.
— Eu amo você, sabia? É a minha Jolie…
Quando o Luiz me encontra, ele deixa a bandeja cair
no chão e chama imediatamente o Hoss e o tio Argus. Eles
aparecem furiosos, jogando-me embaixo do chuveiro. Eu
choro, pedindo para eles não deixarem ela ir embora, ela
não pode ficar longe de mim, agora está segura.
— Filho, ela não está aqui… — Argus balança o meu
rosto, enquanto a água fria cai sobre a minha cabeça.
Mando o Hoss e o meu tio a merda.
Eles estão mentindo, só para ela ir embora para
sempre!
Uma semana depois…
 
Sento-me em um dos sofás da nossa boate e fico
louco pelo remorso e o desespero do meu irmão, pensando
na merda que fiz… na merda que o tio Argus mandou eu
fazer na semana passada. Eu até me arrependi na hora, só
que era tarde, Jolie já havia corrido. 
Quando o Rael souber que fui o responsável por tirá-la
do castelo e levá-la para o abatedouro dos seus inimigos,
ele vai arrancar os meus órgãos vivos e fazer carne seca.
Nem é certeza, é a porra do meu pobre destino.
Pelo celular eu fico a todo instante rastreando a viúva.
Ela não saiu um dia sequer da muralha dos Borghi. Acho
que está presa sob o poder do chefão, pois se estivesse
morta, eu saberia, o rastreador informa dos seus sinais
vitais.
— O que está acontecendo com você? Cadê o meu
melhor amigo que só sabe falar merda e fazer todos rirem?
— Igor questiona e eu dou de ombros.
— Isso do Rael acabou com a nossa família. Tem como
ficar feliz?
— Eu sei. Pelo menos agora ele anda mais sóbrio.
— Mas se nega a falar com o nosso tio. Também não
quer que ninguém toque no nome da Jolie, não para nos
lamentar e dizer que “o destino era esse”. Meu irmão
mudou, aquele arrombado que amo igual amo cachorro-
quente.
— Sinto muito. O Sr. Argus não te disse mais nada, do
porquê você ter que ajudar a Jolie naquela noite?
— Ele só disse que eu precisava fazer isso, pois o
restante a viúva se virava. Também, preciso monitorá-la
para saber se está bem. 
— E o Hoss?
— Hoss igualmente sabe de tudo, até mais do que eu.
Ele e o nosso tio andam inseparáveis, cheios de
segredinhos. Preferi me afastar, não quero mais
envolvimentos. Já está sendo muito traumático o
comportamento do Rael conosco.
Igor assente.
— Para você ver o que uma mulher é capaz de fazer
com um homem apaixonado. Nem apaixonado é, acho que
Rael ama essa viúva.
— Lá vem você com essa porra de amor — bato três
vezes na mesa ao lado e reviro os olhos.
— Não existe só amor por comer e foder.
— Acho que comer já se encaixa para “foder” — sorrio
e é a vez dele revirar os olhos.
— Vou nem entrar mais nesse assunto com você,
engraçadinho.
Dou de ombros.
Igor fica até mais um pouco bebendo comigo, mas
logo vai embora para casa, deixando-me sozinho.
Eu viro o meu último copo de whisky, enquanto olho
de novo para o mapa do rastreador… faço isso a todo
momento.
Amanhã é noite de natal, preciso me recompor e ser o
Vince de sempre, o engraçado e o preferido da família. Com
zero modéstia, pois eu trabalho com a verdade. 
Sem foder as minhas deliciosas meninas hoje, eu
decido ir embora com o pinto mais mole que linguiça crua.
Esse miserável não quis subir nem com promessa de sétimo
dia. Essas preocupações do inferno não desocupam a minha
mente.
E se eu metesse a cabeça na parede? Parece uma
ideia genial. Doeria menos que a culpa de estar escondendo
as coisas do meu irmão.
Falando nisso, preciso falar com a Lila, faz uma
semana que ela não me responde pelo jogo e eu nem
consigo hackear o seu computador. É como se ela nem
tivesse ligado o PC esses dias. É a única que poderia me dar
informações da sua madrasta e do seu avô. O que será que
aconteceu?
Merda, eu vou enlouquecer sem informações dessa
garota!
Antes de eu ir para casa, noto uma movimentação
mais séria dos funcionários da boate, isso significa que o
meu tio está presente.
— Argus está na boate?
— Sim, senhor… — a gerente confirma.
Ótimo, quero falar com ele. 
Então subo para o segundo andar e vou até a sala que
tem uma parede de vidro. Do outro lado os clientes só veem
um diabo em chamas (nossa logo) e por dentro, vemos toda
a movimentação deles, bebendo, dançando e conversando.
Tem até um telescópio para analisarmos rosto por rosto.
— Boa noite, querido tio.
Tio Argus olha cansado para mim e se senta no sofá
comprido.
— O que faz hoje na nossa humilde boate? Aceita
alguma bebida especial? Posso pedir para uma garçonete
trazer.
— Não quero nada, Vince. Sente-se aqui também —
fala e pega uma garrafa de conhaque na bandeja da mesa
de centro.
— O senhor está péssimo.
— Como estaria se um filho seu estivesse virando as
costas para você, mal querendo conversar ou olhar nos seus
olhos? Mas eu mereço, já tinha consciência que toda a
revolta do Rael recairia sobre mim. Eu só não imaginava o
quanto seria difícil — desabafa repentino.
— Acho que se falar a verdade para ele, nesse
momento, vai piorar, né?
— Nem pense nessa possibilidade. Já aprenda que,
para o bem de quem se ama, pode ser necessário feri-lo,
seja mentindo ou se crucificando. 
— Mas, tio… com o senhor, eu, o Hoss e com todos os
aliados poderosos que temos, não dá para enfrentar a máf…
— Não! — ele é direto e sério, interrompendo-me na
mesma hora. — Isso é declaração pública de guerra, e não
vou iniciá-la. Protegerei a nossa família a todo custo.
— Mas e a Jolie, também não é da nossa família? Não
vamos protegê-la?
— Eu estou a protegendo, por mais que ela já tenha
uma grande carta na manga para se manter viva entre os
Borghi.
— Tipo o quê? 
— Ameaça, chantagem. Toretto não pode feri-la.
— Mas pode mantê-la em cárcere?
Ele assente.
— E se tivéssemos mantido a Jolie conosco, tio?
— Esse era o plano imperfeito do seu irmão, só que
não tem como criar uma leoa já adulta, achando que ela
nunca vai escapar para ter a sua liberdade. Ou pior, achar
que seu “treinador” jamais vai procurá-la.
— É aí que a tragédia recairia sobre a família
Calatrone?
— Sim… precisamos nos proteger, entendeu, Vince?
Sempre precisamos nos proteger, cuidando um do outro,
nem que isso custe a nossa própria vida.
Apenas balanço a cabeça.
— Posso te fazer uma última pergunta?
— Sim.
— Tem mais algum plano que possa ajudar a Jolie?
Tio Argus demora a me responder, seus olhos ficam
distantes e pensativos.
— Nos aliar ou ficar contra… analisarei o lado mais
vencedor… pois não aceitarei conviver o resto da minha
vida com o remorso de não ter mudado o destino da minha
afilhada, nem de ter plantado em vão a revolta do meu
sobrinho-filho. Tudo precisa fazer sentido no final — meu tio
sussurra, ainda com seu olhar distante. 
Resolvo deixá-lo com os seus pensamentos e ir
embora.
Talvez possa ter outra solução, onde Lila possa me
ajudar. Sei o quanto ela sofre e o quanto deseja igualmente
mudar o seu destino, longe do sobrenome mafioso que
carrega.
Essa garota só precisa dar um sinal de vida, pelo amor
de Deus! Ela precisa o quanto antes, para eu ter uma
bendita noite de sono, sem preocupação!

25 de dezembro - noite seguinte...


 
Escoro-me no portal da sala, observando toda a minha
família reunida. Todos estão bebendo e sorrindo felizes, em
meio a decoração luxuosa de natal. Já eu, nem teria descido
do quarto. Mas que culpa eles têm? Amo-os e só queria
estar compartilhando dessa mesma felicidade em seus
rostos.
Lucas e Isa também foram convidados. Ambos não
têm família e faz dois anos que partilham dessa noite
conosco. Eu fui responsável por esse início, por gratidão ao
meu amigo e principalmente pela Isabel, que salvou duas
vezes a minha vida.
Quando me aproximo, eles mudam e parecem
culpados por estarem rindo e se divertindo, como há poucos
segundos. Digo boa noite e me sento ao lado do Lucas.
Ele sorri fraco, desejando-me “Feliz” Natal.
Respondo com outro sorriso falso.
No decorrer da noite, o Rael que há um ano estaria
fazendo todos rirem com piadas, juntamente com o
bastardo do Vince, é inexistente, ele não sente vontade de
interagir, rir, brincar, ainda mais com o tio Argus e seus
olhos frios sobre mim. Nego-me a sequer ouvir a sua voz.
Sei que é o responsável por tirar a Jolie do castelo. Depois
que fiquei sóbrio, isso foi uma matemática bem óbvia de se
calcular. Eu só queria saber o porquê de fazer essa porra,
sem ao menos me comunicar, sem me incluir em seus
planos! Um traíra, mentiroso!
— Rael? — Isa alisa o meu punho esquerdo, que se
fechava com força. 
Acalmo-me com o seu toque e a encaro. Nem percebi
que havia sentado ao meu lado.
— Que tal sairmos daqui para tomarmos um ar fresco?
A ceia vai demorar uma hora ainda.
Sem pensar duas vezes, eu aceito, grato por ela ser a
melhor desculpa para me tirar daquela sala.
— Hoje está bem frio.
— Acho que nem sinto — murmuro.
— Rael… — Isa me para perto da ponte aberta, que
leva para o salão principal.
Paro, aguardando-a falar algo.
— Sim?
— Sinto muito, mas não por ela ter ido embora, mas
por você estar mal. Nunca imaginei ver o Rael Calatrone, o
meu amigo, sem o seu brilho nos olhos, sem as suas graças
leves e sem os seus sermões sinceros.
— Ele existe, Isa. Só não está a fim de se fazer
presente no momento.
— Ele vai se fazer. Preciso te contar uma coisa… — ela
cruza os braços, montada em sua posição de amazona
(assim que a vejo). — Não vou fazer igual o seu tio e te
esconder as coisas. Eu descobri isso ontem à noite, posso
contar?
— Pois me diga sem maiores preocupações, acho que
nada vai me abalar — declaro frio e carregado de revolta.
— Ok… vamos lá, você sabe que meu irmão foi
assassinado por um traficante, né?
Assinto.
— Então, tudo o que eu vou te contar, foi o colega de
“trabalho” dele que me disse. Eles trabalhavam como
atiradores na associação criminosa do José, uns dos maiores
traficantes de drogas de Portugal, o qual é cliente VIP dos
Calatrone… vocês — ela suspira, falando ainda mais rápida.
— Meu irmão trabalhou com ele, até se viciar em cocaína e
começarem a dever o traficante. Já sabe o que aconteceu,
não pagou e o seu final foi aquela morte horrível, queimado
vivo. 
— Como é o nome desse tal amigo do seu irmão?
— Tiago. Ele me procurou, para informar o motivo
detalhado da morte do Francisco, até que deixou escapar,
que se meu irmão não soubesse o real paradeiro de Pedro
Borghi, José até o teria poupado da dívida, assim como a
vida.
— O-o quê? — abro a boca, sem nem ter reação. — O
que disse, Isa?!
— Essa foi a minha reação, ou melhor, eu fiquei sem
reação! Chocada! Ainda tive que fingir que o nome do
mafioso em questão, não me fazia sentido ou era
importante.
— Porra! — eu viro para frente, passando a mão no
cabelo. — Pedro está vivo?
— Não sei, porém, foi o que pareceu. Tiago viu que
falou demais e logo tratou de sair da minha casa. Despedi-
me com um sorriso super caloroso no rosto, agradecendo
por ele ter ido me contar sobre a morte do meu irmão,
mesmo que nunca tivesse me conhecido antes… aí fechei a
porta e caí no sofá, pensando em como te contaria isso. Só
sei que teria que ser hoje.
Respiro, escutando as batidas aceleradas do meu
coração.
— Você vai contar para os seus irmãos? Pelo menos
para o Hoss ou o Vince?
— Não, aqueles traíras estão do lado do nosso tio. E
para eles, o mais importante é me proteger, não importa se
eu vire inimigo de todos.
— Rael, e o que está pensando em fazer com essa
informação? — ela arregala os olhos, desesperada. — Não é
possível que ainda pense em ir atrás da Jolie! Pedro, o
herdeiro direto da máfia Borghi, e esposo dela, pode estar
vivo! Vivo! Entende isso?
— Eu entendo muito bem e te agradeço do fundo do
meu coração por ter me dado uma injeção de coragem,
além de um caminho para começar a traçar.
— Não, não, Rael! Achei que te falando a verdade,
você se conformaria e aceitaria que a Jolie não é pra voc…
— Ela é minha! — cato os seus ombros e quase a ergo
do chão. 
Meus olhos expelem fogo, meu corpo se consome em
adrenalina.
— Sei das suas intenções e sinto muito se não foi
como esperava, também, espero que não conte disso para
ninguém, entendeu?
Ela assente, paralisada.
E como um cego obstinado, guiado por mais e mais
adrenalina, eu viro as costas e vou para outro lugar,
planejar a porra da minha milésima fuga. 
Faz três dias que penso na melhor fuga de todas. Só
preciso de uma arma, depois render o Morcego e obrigá-lo a
pilotar o helicóptero da família. Foda-se as consequenciais,
foda-se esse natal!
Eu começo a agir rápido, primeiro procuro uma arma
entre as coisas do Hoss e acho, depois a escondo e desço
até a sala, para chamar o Morcego. Ele se afasta de todos,
vindo na minha direção. Pergunta se está tudo bem e digo
que não, que preciso da sua ajuda para algo muito
importante. Ele se mostra preocupado e me segue até o
jardim leste, onde está a plataforma do helicóptero. É aqui
que o rendo sem remorso, mirando a arma na direção da
sua cabeça.
— Surpresa, cunhadinho! Sobe no helicóptero!
— O quê? Rael, você só pode estar louco, filho da
puta! Não vai fazer isso! Eu vou te matar, seu merda!
Morcego me xinga de centenas de palavrões, discute
que não vai me ajudar a sair do castelo. Até que por fim,
convenço-o, simplesmente atirando na nossa segunda
aeronave, que fica dentro do galpão. Ele é obcecado por
aeronaves, e o que eu fiz o enlouquece, faz Ezequiel entrar
em surto e aceitar me tirar do castelo sem mais discutir.
Dá tempo de entrarmos no helicóptero e ligá-lo, antes
de mais de vinte seguranças, incluindo o Hoss, o Vince, o tio
Argus e a Hera aparecerem correndo e gritando armados no
gramado.
— Nem pense em descer, Ezequiel — continuo
mirando a arma nele.
— Não pode estar pensando racionalmente. Assim
que estiver melhor da cabeça, eu vou te meter tanto soco
na cara.
Ele ergue o manche, pilotando para cima dos muros
da nossa muralha.
— Quer tentar a sorte? Sabe que nenhum de vocês
chegam aos meus pés, no quesito lutar e quebrar a cara de
alguém. Agora, siga para a praia da Torre, tenho um
esconderijo lá perto e vamos poder pousar na areia.
Morcego pilota pacífico, em meio a sua fúria e a
vontade de acabar com a minha raça.
Quando a gente chega ao destino, eu saio da
aeronave, fazendo-o continuar sentado no seu interior, para
poder levantar voo e ir embora. Ele faz, sem ter como me
contestar. Então corro para dentro, pego roupas limpas,
mais armas, munição e antes de entrar no carro, também
destruo o meu celular, para o Vince não correr o risco de me
rastrear. Em seguida, dirijo por uma hora, até a casa do
José. Sua mansão, assim como o nosso castelo, fica bem
escondida dentro de terras, cercadas por florestas e
armadilhas.
Na frente do portão, sou recebido por cinco homens
com fuzis. Só digo o meu nome e sobrenome e eles me
liberam em minutos. Acelero para dentro, nervoso e
ansioso. 
— Sr. Calatrone? — saio do carro e um homem negro
vem armado até mim. — Sua presença já foi comunicada ao
nosso chefe, por favor, acompanhe-me.
Assinto com a cabeça, seguindo-o para o interior da
grande mansão de dois andares.
— Rael? 
No Hall de recepção, José aparece rápido, franzindo o
cenho.
— Devo desejar feliz natal? O que faz aqui? Sei que
não estou devendo os Calatrone. Aconteceu alguma coisa?
Ouço pessoas no outro ambiente e imagino que seja a
sua confraternização familiar. Já passou da meia noite,
devem estar só nos drinks.
— Sinto muito aparecer assim sem avisar, mas não
poderia esperar amanhecer para fugir e te pedir ajuda.
— Eu ajudá-lo? Está me assustando. É Rael Calatrone,
sabe que quem pede sempre ajuda para a sua família, sou
eu.
— O assunto é outro, José. Temos um inimigo em
comum, que está com algo que é meu e preciso recuperar.
— Tenho muitos inimigos. Quem são eles?
— O mais forte de todos. A máfia Borghi!
Na mesma hora o José ergue a cabeça e sorri.
— Vamos conversar lá em cima, a sós.
A gente sobe até o seu escritório.
Ele fecha a porta e me sento na cadeira da frente,
servindo-me de uma bebida sem ele nem ter me oferecido.
— O que esses vermes roubaram de você?
— Jolie Borghi.
— O quê? — ele arregala os olhos. — Que porra de
piada é essa, Rael?
— Antes de chegar ao ponto que desejo a sua ajuda,
preciso expor o meu começo com a Jolie. Por isso, sente-se
nessa cadeira e escute-me.
— A fama de dominador dos Calatrone não é em vão
— murmura, sentando-se para me ouvir.
Eu começo do início, de como eu e a Jolie nos
conhecemos, como ela me roubou, como a protegi e depois,
de como ainda levei um tiro seu. Detalhei todas as fases,
até chegar no detalhe que eu a protegi de novo, desta vez,
colocando-a dentro do castelo, junto da minha família.
— Por fim, se apaixonou pela viúva e ela fugiu
novamente. Você é louco mesmo! — ele não sabe se ri ou
se fica chocado. — Sua família, com toda a razão, estava
certa de ficar contra, afinal, família é tudo para vocês. São
frios e capazes de matar qualquer um que mexa com um
sangue seu. Admiro muito isso em vocês.
— Esse não é o ponto, José. Porra, não é!
— Seu tio não é do tipo que apareceria com cinquenta
homens na porta do “vilão”, armados até os dentes e a fim
de salvar a donzela do sobrinho. É claro que até te
amarrariam no castelo, isso é suicídio.
— Jamais seria assim, por isso estou aqui, pois você
foi o único que bateu de frente com os Borghi e agora está
se aliando com a máfia rival deles. Estão fortes e seguros
nessa guerra.
— Nossa questão de território e poder, não tem nada
ver de tomar para si um familiar, ainda mais sendo a Jolie
Borghi. Essa mulher, dentro dos LosBor, era a mais
poderosa que o próprio herdeiro do Toretto, ela o colocava
no chão, fazendo-o sentar e rolar. A viúva sabe de muitos
segredos, Toretto jamais a deixaria viva sobre esta terra,
nem adianta pensar em fugir para outros países. Ele e seus
homens iriam procurá-la.
— Minha intenção não seria deixar o Toretto vivo. É aí
que entra eu e você, como aliados, a fim de ganhar todas as
batalhas. Sei que tem uma grande carta na manga. Pedro
Borghi está vivo, não o matou, como todos imaginam.
Sem acreditar no que revelei, José fecha a cara e recai
no encosto da cadeira, passando a mão na barba.
— Nem eles descobriram e você conseguiu essa
proeza?
— Isso é um homem com determinação. Eu só não
entendo o motivo de você ter forjado a morte dele e o
escondido. Por quê? Sendo que estaria na lista número um,
de inimigos do chefe da máfia.
— Porque eu quero ter o prazer de meter uma bala na
cabeça do filho do Toretto, na frente dele, assim que
descobrisse que está vivo. Estou só esperando a hora certa,
enfraquecendo-o como a máfia mais poderosa do tráfico de
cocaína. E sabe por que, Rael? — José chega mais perto da
mesa, com os olhos vidrados, vermelhos e pulsando de
ódio. — Porque ele fez o mesmo com a minha mãe, a
espancando, estuprando e a matando na minha frente. Eu
só tinha dezoito anos quando assisti a cena. Lembro-me de
detalhe por detalhe. Eu gritava que o mataria, que mataria
toda a sua família! — seus dentes rangem. — E é o que
farei, enquanto estiver vivo.
— Sinto muito pelo seu motivo, no seu lugar eu faria o
mesmo. Família é realmente importante para nós.
— Ela era a única família que eu tinha. Eu não tenho
mais nada a perder.
— E qual é o seu próximo passo?
— Vamos matar de verdade agora. Toretto vai chorar,
desta vez tendo o corpo do seu filho na sua frente.
— Pedro?
— Não, vamos armar uma emboscada para matar
Paulo Borghi daqui dois dias. Desta vez é para valer.
Eu suspiro e dou mais um gole na minha bebida.
— A máfia virá com tudo para cima de vocês. 
José sorri.
— Estamos preparados, não tenha dúvidas disso. 

Por volta das 03h, depois de ser levado para o meu


quarto de hospedes, eu permaneço acordado, olhando para
o teto e pensando em tudo que o José disse, também, em
tudo que está acontecendo. Infelizmente, para a Jolie ficar
viva, a consequência é a morte dos Borghi. Isso nunca foi
discutível. 
Eu só queria vê-la de novo, sentir a maciez dos seus
lábios, o cheiro do seu perfume. Não paro um só segundo de
pensar nessa mulher. Preciso que esteja viva, que esteja
bem… preciso de você, minha Jolie…
Na manhã seguinte, passo mais tempo com o José,
ouvindo seus planos, juntamente com os seus aliados do
tráfico. É repassado tudo que irão fazer, onde Paulo vai
estar e como vamos agir. 
— A encomenda deles vai chegar por submarino.
Paulo estará lá para receber e repassar na mesma hora para
o cliente.
— Como pode ter certeza de que Paulo estará no
local? — pergunto.
— Porque o “cliente” está sob a nossa submissão.
Rendemos ele, a sua família e o seu quartel há dois meses.
Estão trabalhando para nós agora.
— Realmente, anos de planejamento — digo.
José e seus outros aliados riem.
— Não estamos para brincadeiras, Sr. Calatrone. Isso
é uma guerra que já está ganha por nós. Amanhã chega
mais armamentos para equiparmos nossos garotos.  A festa
logo vai começar.
— Ansioso para enterrar mais um Borghi… 
Eles se divertem, enquanto eu fico no meu canto,
pensativo sobre toda a situação… tão de repente para mim.
Cheguei esta madrugada e conforme recebo detalhes dessa
operação, fico mais receoso. A segurança de Paulo,
juntamente com as mercadorias, estará triplicada. Eles
podem estar fracos no setor de fornecer suas drogas de boa
qualidade, contudo, nos outros setores do crime, continuam
incomparáveis. Não que eu duvide do José, porém, isso tudo
pode dar muito errado. Tomara que não.
Já no outro dia é conferido os armamentos, os carros e
repassado pela última vez o plano.
— Vamos sair por volta da meia noite. Tem certeza
que deseja nos acompanhar, Rael?
— Você sabe porquê estou aqui, qual o meu objetivo e
se vai me ajudar, também vou ajudá-lo.
— Depois não quero encrenca com o seu tio ou com o
clã que carrega o seu sobrenome.
— Não vamos meter o meu sobrenome nisso, é algo
meu e seu. 
— Certo, melhor assim.
— Gostaria de te fazer uma pergunta, sobre o
paradeiro de Pedro. Não o esconde nessa mansão, né?
— Não, escondemos ele na Espanha, mas já mandei
trazê-lo de volta para Portugal. Agora que começamos,
vamos até o fim.
Assinto, a seguir, José pede licença para realizar as
suas ligações importantes, antes do horário de partirmos.
 
Inquieta, ando de um lado para o outro, já farta de
ficar presa nesse quarto. Sinto falta da Lady, do Rael e da
minha Lila - ela está tão linda, uma mulher adulta. Penso se
continua brava comigo, por eu ter fugido duas vezes, sem
sequer me despedir. Só que era menos doloroso fazer isso.
Não aguentaria ver o seu rosto banhado de lágrimas,
suplicando para eu não ir e deixá-la sozinha. Dalila precisa
também traçar o seu caminho, tomar as suas próprias
decisões, lutar contra o seu avô ou juntar-se a ele. Espero
que ela tenha aprendido que não pode contar comigo para
sempre, por mais que eu queira protegê-la a todo custo.
De repente, ouço a porta do meu quarto ser aberta e
levanto-me, dando de cara com o Paulo. Desde que fui
trazida à força para a mansão e colocada presa nesse
quarto, é que eu não o vejo.
— Jolie?
— Paulo? O que faz aqui?
Ele fecha a porta e eu chego perto dele, estranhando
o seu comportamento afobado.
— Essa noite eu vou enfrentar uma armadilha e
preciso te pedir uma coisa.
— Armadilha? Como assim?
— O traficante José, o mesmo que matou o meu
irmão, planejou me assassinar esta noite, descobri após
investigar o nosso “cliente”. Acabei torturando o filho dele
na sua frente, para que me falasse toda a verdade do plano.
Arregalo os olhos.
— Seu pai sabe?
Ele não responde.
— Com certeza ele não sabe! Está louco? Não pode
enfrentar o José sozinho. Ele deve estar muito mais forte,
deve ter se aliado até com outros traficantes rivais, tudo
para destruir o inimigo mais forte e em comum, vocês! Sabe
disso!
— Eu quero vingar a morte do meu irmão, não vou
ficar quieto igual o meu pai. Vou matar esse desgraçado,
nem que custe a minha própria vida!
— Não, pelo amor de Deus, Paulo! Não pense em ir
nessa armadilha, você não é igual ao Pedro e também não é
igual ao seu pai! É um homem bom, que não escolheu esse
destino onde nasceu. Por favor — aperto o seu braço,
suplicando quase em lágrimas.
— Não vou voltar atrás. Vim aqui pedir, que qualquer
coisa que aconteça comigo, cuide da Lupita e do meu filho.
Dei todos os meus dados bancários para o Manoel, se eu for
morto, ele vai ajudar a proteger vocês, isso inclui a Dalila.
Entendeu? 
— Não vou mais fugir, o que for que aconteça, irei
lutar até o fim.
Ele beija a minha testa e então me entrega duas
armas.
— Lupita e Lila também estão armadas. Por enquanto,
estão seguras na mansão. Vocês só vão agir quando for a
hora certa.
Concordo, cabisbaixa e desesperada.
— Se nunca mais formos nos ver, saiba que você foi o
melhor amigo que Deus poderia ter colocado no meu
caminho. Obrigada por ter me protegido esse tempo inteiro,
pois sei que sabia do meu paradeiro no castelo dos
Calatrone, mesmo assim, não falou nada para o seu pai, ou
tentou me prejudicar. Amo você, cunhado. Tente não morrer
e também não nos deixar… seu filho precisa de um pai
presente.
Ele segura as lágrimas, antes de me abraçar e sair
sem conseguir dizer mais um “A”.
Sento-me na cama, chorando para Deus, desta vez
culpando-o por toda essa vida que não pedimos para ter.
Por que tinha que ser assim? Devia ser tudo mais
fácil!

Quando dá o horário, todos entram nos carros e


partem para o cais clandestino, onde o submarino irá
atracar. Ficamos de longe, sobre uma montanha de areia, só
observando a movimentação.
Paulo e seus homens não demoram a chegar,
armados e bem-preparados. 
— Vamos esperar o aperto de mão e a ordem do
Borghi, para seus caras começarem a esvaziar o
submarino… — José comunica pelo rádio.
Decido ficar na dianteira, aguardando, até que dez
minutos depois ouço a primeira explosão, a seguir, chuva de
tiros. Os tiros se intercalam dos dois lados. Percebo que a
porra dos garotos que José recrutou, a maioria não passa de
meninos sem treinamento, que foram instruídos a só
pegarem nas armas, apertarem no gatilho e atirarem.
Penso rápido e decido tomar a frente, para correr até
o porto. 
Atravesso a grade e vejo o Paulo parado, mirando na
direção do José. Ele não corre, não se mexe, parece querer
enfrentá-lo, ou melhor, parece querer morrer.
José também está imóvel com a sua arma.
Dou sinal para todos os homens pararem, já que os
LosBor igualmente cessaram os tiros.
— Você matou o meu irmão, seu verme! 
— E você será o próximo.
— Darei a sua cabeça para o meu pai!
— Seu pai é um desgraçado! Não sabe a verdade de
nada! E vai morrer sem saber! — José atira e quase acerta o
Paulo, se um dos LosBor não tivesse pulado na frente e
levado o tiro por ele.
José se esconde atrás de um barco, enquanto o Paulo
avança com seus soldados, atirando mais e mais.
Ele vai perder essa merda, e me refiro ao Paulo, pois
tem mais de quarenta homens do José invadindo o cais. E
acontece, Paulo leva um tiro no braço.
— Não atirem no Paulo, ele é meu! — José berra na
mesma hora pelo rádio.
Porra, meu coração acelera. Não paro de olhar para
esse homem, sem mais forças para segurar a própria arma
e se defender!
Eu devia deixar esse cara morrer, por que eu não
deixo e volto lá para o barranco de areia? Essa confusão
toda não me interessa.
Eu atiro em dois LosBor, suando descontrolável.
Inferno de consciência…
— Pula! — grito para o Paulo, que já estava na
beirada.
— Vai se foder! — ele manda e então leva outro tiro.
Esse eu não sei onde foi, pois está muito escuro, mas ouço-
o gritar, assim como o José pelo rádio, ordenando outra vez
para cessar-fogo, pois derrubou todos os homens.
Caralho, eu não devia, eu não devia!
Corro para o lado do submarino e do Paulo, que está
ensanguentado, segurando-se na estaca de amarrar barco...
— Me mata! — pede, após eu parar na sua frente. —
Não vou dar a ele o gostinho de fazer isso, me mata logo!
Antes que eu pudesse pensar…
— Hoje não, Paulo… — abraço-o e pulo no mar, sem
olhar para trás.
Mergulho fundo, para debaixo do cais e ao lado do
submarino.
Quando submerjo para a superfície, arranco a
máscara e escuto mais tiros.
— RAELL!!! — José grita, enquanto dispara na água.
Paulo geme de dor, agarrado ao meu pescoço.
— É a polícia… — sussurro ao escutar vários
helicópteros, também motores de barcos com sirene.
Só penso em que porra passou pela minha cabeça de
salvar o meu inimigo! O que me deu, caralho? 
— Paulo? 
— Humm… — resmunga, fraco e cada vez mais
perdendo sangue.
— Tente se manter acordado. Vou nos tirar daqui.
Está escuro, frio. Analiso as melhores alternativas de
fuga e penso na única, onde ainda não está cercada por
policiais. E nado para mais perto dos barcos. Continua
rolando a troca de tiros entre os homens do José. Isso vai
ser ótimo para despistá-los e fugirmos. Acho um bote com
motor e tento colocar o Paulo dentro, jogo-o praticamente,
não temos tempo. O nosso único tempo vai ser de ligar o
motor e dar partida. Do mesmo modo eu entro no bote e me
deito.
Respiro fundo, contando até dez. No dez eu ligo o
motor, viro-me de bruços para olhar nossa direção e
acelero, rezando para os helicópteros não virem atrás de
nós, nem os tiros nos acertarem. Porém, cada vez que me
distancio do cais, penso que já levei centenas de balas no
corpo. Não sinto nada, a adrenalina, o instinto de fugir, tudo
já tomou conta de mim.
Pego o interior do mar, sem saber para onde ir. As
ondas estão enormes, chacoalhando o bote e molhando-
nos. O frio faz meus dentes baterem um no outro. 
— Paulo?
Sento-me e balanço o seu rosto.
Ele não responde, mas está com sinais vitais.
— É luz! — exclamo ao ver uma casa que fica na beira
das pedras.
E estou vivo, porra!
Toco no meu corpo, tentando sentir alguma dor, de
alguma bala perfurada, só que não sinto nada.
Rápido, paro na plataforma de barcos, tiro o Paulo de
dentro do bote e o afundo com três tiros. 
— Espero que estejam todos dormindo — murmuro,
após pegar o Paulo nos ombros e correr para o jardim do
local.
Preciso de um carro!
Por sorte, consigo o veículo após invadir a garagem da
casa, dar ignição e sair fugido, arregaçando as portas.
Paulo vai agonizando no banco.
O hospital está fora de questão. Só penso em uma
solução que pode salvá-lo.
Droga – bato no volante – é a mesma coisa de voltar
para a morte... mas não tenho escolha, e ele, não tem muito
tempo.
Acelero o quanto eu posso. Deduzo que o território
dos Borghi fica na fronteira com a Espanha. E ao chegar,
dou de cara com um centro de saúde comunitário. Sem
dúvidas que deve ser controlado pela máfia, caso eu esteja
na área deles. Sem pensar muito, pego o Paulo no colo e
chego gritando por ajuda. Enfermeiros aparecem
imediatamente para socorrê-lo. Ele continua tendo sinais
vitais, por mais que fracos. Perdeu muito sangue, não sei
como não morreu durante o caminho.
— O senhor precisa de ajuda? — o enfermeiro
pergunta, após eu ficar sozinho na recepção.
— Não, obrigado.
Não sinto nada no corpo, apenas a enzima da
adrenalina pulsando em minhas veias.
Eles o levam sem me dizer mais nada. Talvez não
saibam que é o Paulo Borghi, mas com certeza constataram
que é alguém da máfia, pois eu vi a forma que se olharam
em silêncio. Não tenho muito tempo, quando souberem da
sua identidade vão avisar aos LosBor, principalmente ao
chefe da máfia.
Peço para a recepcionista me deixar fazer um
telefonema, ela deixa e eu ligo para o meu tio. Quando ele
atende, só digo que salvei a vida do Paulo e que em breve
serei capturado pela máfia. Tio Argus respira fundo e manda
eu continuar onde estou, para não tentar fugir, pois “é hora
dos mortos se revelarem”. Então desliga.
— Olá, senhor?
Viro-me e dou de cara com cinco homens de preto.
— O senhor vem com a gente.
Oras, foi mais rápido do que eu imaginei.
Sem qualquer resistência, eles me revistam e me
levam para o carro preto do lado de fora. Vou o caminho
todo dentro do portas malas, com venda nos olhos e
algemado. Acho que não demora nem dez minutos para
chegarem, seja lá onde for. Deduzo que é a mansão dos
Borghi. No interior do local escuro, sou tirado do carro e
colocado numa cela que fica no subsolo. Arrancaram a
minha venda, também as algemas. Sem dizerem nem um
“tudo bem”, eles me deixam sozinho. A minha volta só tem
paredes de pedras frias.
Penso na minha Jolie, que ela deve estar aqui, tão
perto de mim.
Porra, se eu pudesse, quebraria todas essas paredes
para vê-la. Que falta sinto dessa mulher, parece que nada
faz sentido sem ela.
Morto de cansaço, começo a sentir dores e me deito
no chão. O alívio é instantâneo, assim como o sono. Fecho
os olhos e simplesmente apago, só acordo horas depois,
quando ouço batidas na grade.
— Precisamos levá-lo, levante-se!
Ergo-me do chão e colaboro com eles.
Fora do subsolo, aperto os olhos contra a luz forte do
sol. Já amanheceu, inclusive, a minha barriga e a droga da
minha fome matinal. 
Os mafiosos me carregam para dentro da gigantesca
mansão, cercada por homens com armas do exército. Eles
estão por todas as partes, até no interior da sala. Deve ter
uns vinte homens aqui. Eu entro e sou empurrado para o
meio deles. Um cara alto, de cabelos e barba grisalha se
aproxima de mim.
— É o Rael Calatrone? — pergunta.
— Como sabiam que era eu?
— Ontem descobrimos que você havia levado o Paulo,
depois de fugirem.
É óbvio, a polícia com certeza conseguiu abater os
homens do José e eles, a máfia, se infiltraram no meio para
descobrir o paradeiro do Paulo. Não iam demorar para
chegar até mim.
— O que estava fazendo, Sr. Calatrone, envolvido com
José Neves?
— Eu estava devendo a ele um serviço e tive que
cumprir. Só não imaginava que o serviço era participar do
assassinato do filho do chefe da máfia — minto na maior
lábia, pois eles prezam lealdade e o que fiz por Paulo vai me
dar muito bônus entre os Borghi, inclusive para sair daqui.
— E do nada resolveu salvar a vida de um inimigo
seu? Por quê?
— A máfia não é minha inimiga, nem da minha
família. Conhece os Calatrone, nosso legado de maiores
agiotas de Portugal, nunca nos envolvemos em guerras. Já,
sobre o que fiz por Paulo, foi por fazer, não tenho como
explicar. Talvez a minha honra falou mais alto.
— Típico de um Calatrone… — de repente, um outro
homem grisalho, desce as escadas.
Ele estava nos ouvindo. Percebo todos os LosBor a
nossa volta se afastarem, como em respeito.
Será que é o chefão, o tal Toretto?
— Está no seu sangue… — ele vem devagar até mim
e ao parar cara a cara comigo, analisa-me. Seu olhar é
sombrio, profundo. — Finalmente, ou infelizmente, uma
desgraça para o destino colocar-me de cara com o passado.
Ele está vindo até mim, por sua causa.
— De quem está falando?
Ele continua analisando o meu rosto.
— Salvou a vida do meu filho, serei misericordioso e
justo. Agora, tenho uma dívida com você, posso começar
revelando a verdade.
— Toretto!
Ouço a voz do meu tio e viro-me de lado para vê-lo
invadir o local sozinho.
— Temos uma aliança!
Toretto ergue a cabeça e dispensa seus homens da
sala, deixando apenas o tal de Marcos.
— Chegou rápido.
— Sabe do que eu sou capaz pela minha família.
— Nossa aliança foi há muito tempo. Hoje todos eles
são homens.
— Do que estão falando? — questiono.
— Rael salvou a vida do seu filho, isso já estende a
aliança que vem há meses tentando quebrar, para recrutá-
los. Não devia ter mandado seu Capo, nem matado o nosso
cliente.
— Somos família, Argus. Deveríamos nos unirmos em
um só. Você continuaria com a sua agiotagem.
— Sendo subordinado da máfia? Não deveria nem
pensar nessa possibilidade!
— Você, o seu irmão e os pais da Jolie me traíram,
rebelando-se contra a família. Seu irmão ainda foi o pior, ao
se deitar com a minha irmã e engravidá-la!
— Do que estão falando?! — brado, furioso com essa
discussão.
Eu tenho a porra de centenas de perguntas,
começando por: tio Argus e o Chefe da máfia se conhecem,
foram família? Que merda está acontecendo aqui?
— Estamos falando da sua mãe, a minha irmã, a qual
o seu pai Calatrone engravidou e a convenceu a fugir
juntos, sendo acobertada por Argus e o Mateus. Uma traição
imperdoável.
Arregalo os olhos, sem entender, sem… meu Deus,
não é possível!
Tio Argus mentiu esse tempo todo para nós, sobre os
nossos próprios pais? Somos parentes dos Borghi?
Não! Não!
— Você teve a sua vingança há muitos anos, Toretto,
isso já acabou. Prometeu que deixaria as crianças em paz,
continue cumprindo a sua promessa!
— Minha mãe, ela era uma Borghi? — olho para o tio
Argus, tentando entender de verdade, juro que estou. —
Escondeu isso de nós? O nosso passado? Que nossa mãe,
ela…
— Não vamos falar disso aqui filho.
— Por quê?! — berro a indagação. — Como pode
mentir?
— Porque você e os seus irmãos tentariam me matar
— Toretto responde e se senta no sofá, cruzando as pernas.
— Porque era o melhor a se fazer, jamais me perdoariam e
jamais vão me perdoar.
— Toretto, por favor, chega disso. Vamos embora,
Rael!
Continuo parado, olhando para ele.
— Fique, Rael, e eu te conto toda a verdade. 
— NÃO! Vamos embora, filho, estou ordenando!
Argus tenta puxar o meu braço, só que o afasto.
— Eu vou ficar até saber tudo sobre os meus pais! Eu
quero a verdade que o meu tio escondeu de mim e dos
meus irmãos durante esses anos todos!
— Essa não é a versão que você, nem os seus irmãos
merecem da história.
— Chega de segredos, tio! Chega!
— Ele já tomou a própria decisão, Argus. Retire-se, em
breve nosso sobrinho voltará para casa em segurança.
— Não pode fazer isso, Rael, venha comigo!
A imagem do rosto da Jolie me surge como flashes na
mente e eu nego de novo. Aqui estarei perto dela, de vê-
la… isso acelera o meu coração, minhas esperanças. Não
vou abandoná-la, não depois de tudo o que fiz.
Sem conseguir mais me convencer, tio Argus respira
fundo, mexe o maxilar, aperta os punhos e com um olhar
sem igual, ele desiste, ao virar as costas e deixar-me
sozinho com os Borghi.
Antes de qualquer assunto, é me oferecido primeiro a
mesa do café da manhã.
— Somos família, Rael — Toretto fala sério, ao sentar-
se em seu assento. — Agradeço novamente por ter salvado
a vida do seu primo. Os dois tiros não foram fatais.
Aperto os olhos, enojado com essa história. Minha
única família são os Calatrone.
— Eu só quero saber sobre os meus pais, preciso de
toda a verdade.
— Calma, sobrinho, aguardamos mais companhia para
o café.

 
Marcos, o subchefe, bateu na minha porta e mandou
que eu descesse para o café. Estranhei, mas foi tão rápido,
que não consegui contestar o pedido desse estrume que
detesto. Desde que fui trancafiada, não me junto mais a
eles nas refeições.
— Nada fica escondido do chefe… — Marcos sussurra
bem perto do meu ouvido, assim que eu paro nas escadas. 
Olho para ele e sorrio.
— Não mesmo, querido Marcos, a verdade sempre
vem à tona.
Sem querer discutir, ele aponta para que eu desça, e
eu desço até a sala, aliviada por respirar novos ares.
Observo que todos os cantos estão sendo vigiados por
homens armados. Toretto intensificou a segurança.
Será que é por causa do Paulo? Não tenho dúvidas de
que ele já tenha descoberto tudo. Preciso saber se ele está
bem, o que aconteceu. Isso está me afligindo.
— Já deve saber o caminho — o arrogante fala.
Vou até a outra sala de jantar e quando atravesso o
enorme portal, paraliso, estática, não consigo nem piscar os
olhos.
Não pode ser ele! Não posso acreditar!
O que esse homem faz aqui? Ele veio atrás de mim?
Isso é loucura!
— Ah, bom dia, Jolie. Estávamos aguardando-a. Sente-
se, filha.
Engulo em seco, sem nem saber como se anda mais.
Ele me olha, tão chocado quanto eu.
Desloco-me até o único lugar da mesa e sento-me,
sem parar de olhar para o Rael. Que vontade de chorar, de
abraçá-lo e de dizer que… amo esse homem. Não tinha um
só dia que eu não pensava nele, com saudades e medo de
não nos vermos nunca mais.
— Bom dia, Toretto — fuzilo os seus olhos.
— Deixe-me apresentá-la ao meu sobrinho… Rael
Calatrone.
Arregalo os olhos. 
Sobrinho?
Ele sabe?
Rael sabe!
Toretto contou!
— Mas não precisamos de tantas formalidades.
— O senhor está muito normal, para um filho que foi
em busca da morte esta madrugada — confronto-o de
repente, para não ter delongas sobre a presença do Rael. —
Onde está o Paulo? O que aconteceu? Diga algo, por favor.
— Rael salvou a vida do meu filho irresponsável. Paulo
levou dois tiros e já está salvo e consciente. Mais tarde
estará em casa, com todo o suporte médico necessário. Não
há lugar mais seguro do que a nossa fortaleza.
Olho para o Rael, segurando-me para não desabar. 
— Não tem perguntas, Jolie?
— O que vai fazer com o José Neves?
Toretto nota que não quero entrar no mérito “Rael”.
Preciso deixar o meu cérebro trabalhar.
— Ele é um fraco, perdeu todos os seus soldados
ontem. Mas ainda, mesmo na beirada do precipício, deseja
me ver. Também, especificou a sua presença esta noite. E
sabe que sou misericordioso com os meus inimigos.
Estaremos lá pontualmente.
— Qual o plano dele para esse encontro? Ele tentou
matar o Paulo! Além de que assassinou o Pedro!
— José tem garotos sem treinamento, que apenas
recrutou para levantar números — Rael comenta, mas tento
não fitar os seus olhos.
— Por isso foi fácil de se abaterem. José pode ter
guardado os melhores para esta noite. Não estaremos lá
para brincadeiras. Todavia, chega desse assunto, estamos
em família e Jolie, sabe o quanto isso é sagrado para mim. A
família!
— Você sabe — então despejo as palavras. — Sobre…
nós.
— Como? — Rael também o confronta. — Eu estou
cheio de perguntas.
— Eu tenho um informante entre os Calatrone.
— Quem é? Não existem informantes no castelo!
— É quem você menos espera, querido sobrinho.
Nunca estive longe de vocês, por mais que eu tenha feito
uma promessa. Igualmente, nunca os vi como meus
inimigos, por mais que o Argus queira que vocês me vejam
assim. Não o culpo, há motivos plausíveis para isso.
— Isso tem a ver com o meu pai, com a sua… irmã, a
minha mãe, não tem? Eles não morreram pelas mãos da
nossa agiotagem rival — Rael aperta com força a xícara.
Ele está se controlando o máximo que consegue para
não explodir de raiva. E por favor, que ela não exploda.
— Não, eles morreram pelo justo. Não se vira as
costas para a família, sabiam muito bem disso, mas seus
pais, seu tio e os pais da Jolie viraram-se contra mim. Eles
fugiram para o Brasil, ficaram um bom tempo por lá, até eu
descobrir o paradeiro de todos. Como eu disse, não se vira
as costas para a família.
— Rael… — sussurro, impedindo-o de se erguer da
cadeira e cometer qualquer loucura.
— O negócio de agiotagem dos Calatrone também foi
criado escondido de mim, pelo seu pai e o seu tio, enquanto
trabalhavam para a máfia.
— Então eles trabalhavam para você?
— Argus era o meu subchefe, o seu pai, o meu
conselheiro e os pais da Jolie, os meus gerentes. Éramos
uma família, construindo um império, até todos me traírem
e provocarem a morte da minha esposa. Ela não aceitava a
traição.
— E vingou a morte dela, tirando a da nossa família?
— questiono, tão ferida, quanto revoltada. — Por que só
poupou o gavião?
— Porque as crianças não tinham culpa, eram
pequenos. Nossa aliança foi eu me afastar e deixá-los
crescer sob a sua educação. Por isso, Jolie, da sua mãe
também ficar viva, até você poder se casar com o meu
herdeiro e eu aniquilá-la. Fui misericordioso, como sempre
sou.
— Como pode chamar isso de misericórdia?! Tirou a
vida da minha mãe, do meu pai, dos pais do Rael e da sua
própria irmã!
— Não se vira as costas para a família, Jolie. Não
concorda, Rael?
Ele não consegue responder, vejo na sua feição o
quanto está enojado, com desejo de vingar-se. Meu desejo é
o mesmo, quero pegar uma arma, disparar na cabeça do
Toretto e assistir os seus miolos explodirem. Mesmo assim,
não iria suprir o buraco que ele nos fez.
— Já sobre vocês, não sou contra. Pelo contrário,
tenho uma proposta, a qual consiste em poderem ficar
juntos para sempre. Não é por isso que lutam? Pelo amor,
pelo coração? Só basta você ficar aqui, Rael, ao meu lado,
ao lado de Jolie e da nossa família, onde é o seu lugar.
— Não, isso nunca vai acontecer! — exclamo,
levantando-me já farta de ouvi-lo.
— A proposta não foi direcionada a você, Jolie. Sente-
se. 
Não me sento, quero matar esse desgraçado.
— Então, Rael? Isso pouparia a vida da sua amada,
pois já sabe as consequências de quem vira as costas para
mim. E ela nos virou duas vezes...
Rael me olha e não aguento, toda a pose de mulher
forte vai ao chão. Estilhaço-me em pedaços.
— Eu aceito.
— Não, você não vai fazer isso! Não vai virar as costas
para a SUA FAMÍLIA! 
— Aperte a minha mão, Rael.
Ele desvia do meu rosto, do meu desespero e aperta a
mão do Toretto.
NÃO! NÃO! NÃO!
Choro mais, não aceitando que ele faça isso, que da
mesma forma se prenda aos Borghi e por minha causa. Não
vou me perdoar, não vou!
— Ótimo, querido sobrinho
— Não ficaremos juntos, eu me nego! Eu não gosto de
você, Rael! Tudo passou de um desejo, uma satisfação que
eu nunca recebi de um homem de verdade! Você não
passou da droga de um… um — ele me encara e desabo de
vez na minha mentira. — Insignificante!
— Por favor, já é de casa sobrinho, sirvam-se do café,
preciso ver o meu filho.
— Não pode fazer isso, Toretto!
Ele se ergue, obscuro e inabalável.
— Agradeça-o, Jolie, por salvar a sua vida também.
Com licença.
Ele sai e enlouqueço de vez, inclinando-me na mesa e
jogando tudo no chão.
— Jolie! — Rael corre na minha direção, mas me
afasto, chorando sem parar.
— Por que fez isso?! Por que, Rael?!
Volto a jogar tudo no chão e ele avança, tentando
segurar os meus braços. Acabo socando-o no peito para me
largar, só que sinto o seu toque, o seu cheiro, a sua
presença e paro, abraçando-o com tanta força que sinto o
meu coração doer no peito.
— Porque eu te amo… — sussurra, em lágrimas. —
Porque nada mais faz sentido sem você.
— Por favor, não diga isso — distancio a cabeça e toco
no seu rosto, alisando a sua barba. 
Ele limpa as minhas bochechas molhadas.
— Não posso perder você, não imagina ainda o que
está por vir, o que te envolve… eu… Porra, Jolie, é minha, eu
amo você, sua bruxa! Não importa o que aconteça,
ficaremos juntos!
Rael agarra possessivo a minha cintura e beija-me, o
beijo mais faminto, necessitado e quente que me deu.
Retribuo igual, insaciável, desejando-o cheia de saudades. É
como se o meu coração voltasse a bater, o meu sangue
voltasse a bombear pelas veias e como se a metade da
minha alma voltasse ao meu corpo, o lugar onde pertence.
— É meu, eu também amo você — murmuro nos seus
lábios ferozes.
Ele agarra o meu cabelo desde a raiz e aprofunda a
língua, movimentando a cabeça conforme me devora.
Que saudades dessa pegada, desse beijo. Como
aguentei uma semana longe do meu homem?
— Rael… — ofego com calor. 
Só paramos de nos beijar por falta de ar.
— E agora? — pergunto.
— Agora não vou me separar de você.
— Não pode confiar no Toretto, não devia ter aceitado
ficar comigo, aqui!
Ele segura a minha cabeça e aproxima a nossa testa.
— Desde que foi embora, essa sempre foi a resposta,
não parei um só dia de tentar fugir daquele castelo para te
reencontrar. Eu seria capaz de invadir essa mansão.
Enlouqueci sem você. E isso nunca aconteceu com
nenhuma outra mulher, e nem se eu tentasse com outra,
aconteceria.
— E nem vai! — esbravejo, não suportando a ideia de
dividir o meu homem. — Meteria outro tiro em você e depois
na cara da vagabunda.
— Incrível, sempre amorosa e delicada.
Ele sorri e me dá um selinho perfeito, com gosto de
carinho e amor.
— Precisamos conversar depois, em outro lugar.
— Isso é impossível… no momento — respondo.
— Quem mais está nessa mansão?
— Lupita e Dalila… inclusive, ainda não conheci a
Lupita pessoalmente.
— E quem é Dalila?
— A minha enteada, quando me casei com o Pedro,
ela só tinha nove anos. Nos apegamos demais, me dói não
poder vê-la, sei que está magoada comigo. 
— Sinto muito.
— Tudo bem. Toma o seu café, por enquanto, pensarei
em algo para mudar o seu destino.
— É melhor mudar o “seu” para o nosso destino, pois
não vou a lugar nenhum sem você.
Resolvo não discutir mais com esse cabeça dura, que
me dá borboletas no estomago de tão perfeito que é.
Acompanho-o no café da manhã e não demora para o
Marcos aparecer, supervisionando-nos. Ele deve estar
morrendo de ódio por Toretto ter poupado a minha vida. De
qualquer forma, de novo a merda do meu destino se
repetiu, o chefão dos Borghi destinou-me a alguém,
prendendo-me a máfia, ao lado do Rael, o qual não tem
culpa e não merece esse fim.
Não vou permitir tal destino, nem que seja necessário
acabar com a vida do Toretto. Estou disposta a sujar as
minhas mãos.
 
 
Depois do café, Jolie é separada de mim e levada de
volta para o quarto. Eu fico umas duas horas na sala,
sentado no sofá e puto de nervoso, pensando em tantas
coisas que sinto vontade de surtar. Em todo canto que olho
estão os seguranças da máfia, é impossível dar um passo
para qualquer outro lugar. 
Lupita, a irmã da Elena, aparece acompanhada de
uma moça baixa, cabelos loiros e olhos castanhos. Tendo o
mínimo de conhecimento sobre a minha pessoa, Lupi me
apresenta para Dalila, a filha do Pedro. A seguir, Lupita
senta e me faz milhares de perguntas, principalmente sobre
a minha presença e sobre o que está acontecendo. Só que o
merda do subchefe aparece e decide sentar-se bem na
nossa frente, vigiando-nos.
Eu informo o mínimo para a Lupi, apenas sobre a
Elena e sobre todos estarem bem.
Ela me olha, marejando os olhos. Sinto a sua alma
presa, prestes a berrar. A moça ao lado também tem o
mesmo olhar de desespero. Que vontade de as proteger, de
tirá-las daqui, mas não posso, não dá para ser um super-
herói.
Contudo, essa noite, eu tenho que agir, Toretto disse
na mesa do café que terá um encontro com o traficante e a
Jolie precisa estar lá também. Já imagino o que José vai
fazer. Pedro deve estar sob o seu poder, essa é a sua carta
na manga. Acho que ele me escondeu mais coisas, é claro
que não revelaria tudo, sendo que eu havia chegado
naquela madrugada. Ele não confiou em mim. E o tiroteio
naquele cais pode ser só a fatia do bolo, os garotos
inexperientes, sua demora de chegar até o Paulo… muito
estranho.
Mais tarde é me oferecido roupas limpas e um quarto
para me arrumar. E quando entro, sou proibido de descer
novamente. Devo aguardar segundas ordens.
Aguardo, duas, três, quatro horas, até o anoitecer.
Fiquei tão estressado, que soquei um monte de vezes
a porra da parede, e quando abriram a porta, avancei.
— Por que porra gostam de me deixar preso?
— Não ficará mais, lhe aguardam lá embaixo.
Passo reto por ele, indo até o último andar.
— O chefe ordenou que fosse também. Levem-no! — o
subchefe manda e obedeço sem pensar duas vezes.
Na verdade, só penso na Jolie, em protegê-la.
Eles me levam para fora da mansão, tem um carro me
aguardando.
— Rael? — abrem a porta e dou de cara com o motivo
da minha loucura diária.
Não tenho nem tempo de fechar a porta e ela me
abraça apertado. 
— Senti a sua falta. Ele mandou você vir?
— Acho que sim.
— Toretto foi na frente, todos com carros separados.
O cara ao volante dá partida.
— Onde vai ser esse encontro com o José?
— Não sei, mas parece ser para valer. Toretto quer
acabar com ele de uma vez. Estou com medo, não sei o que
pode... — enquanto fala, Jolie me dá um papel — acontecer
com a gente. Ainda vi o Paulo, depois de suplicar que me
deixassem vê-lo…
“Estou com duas armas, vou te passar uma por trás
das costas, na hora certa iremos usá-las. E é para valer.
Esconda a sua.”  — Leio o bilhete, ouvindo-a falar.
— Ele estava bem debilitado, entretanto, vivo. Os tiros
não foram graves, graças a Deus.
— Que bom…
Pego a arma, vigiando o cara pelo retrovisor. Jolie
então vira o rosto e me beija, enquanto eu coloco por baixo
da camisa. E que beijo gostoso, que vontade de a tomar
para mim e nos satisfazer até o mundo acabar.
— Eu amo você.
— Eu também te amo, minha Jolie… 
— Acho que está aqui a pedido do Paulo, ele deve ter
convencido o Toretto — sussurra. — Ele está do nosso lado.
— Eu não confio.
Jolie se afasta, também pensativa.
— Eu confio, seja o que Deus quiser.
Não demora e a gente chega a onde deve ser o
destino do encontro. Foi preciso alguns minutos de terra de
chão. Estamos no meio do nada, só com as luzes dos carros
iluminando o terreno de areia e mato seco.
— Tem muitos faróis do outro lado — Jolie aponta. —
São eles.
Somos levados para mais próximo do Toretto e dos
seus soldados mafiosos. Eles conversam estratégias entre
si, até alguém anunciar;
— Estão se aproximando, senhor.
Os faróis ficam mais perto. Todos se posicionam.
Assim que os carros param, José desce rápido,
acompanhado dos seus homens.
Toretto dá um passo, em linha com os LosBor.
— Toretto Borghi, finalmente saiu da toca de onde é
rei? — José se aproxima, sorrindo de orelha a orelha.
— Estou aqui, de frente para o meu inimigo e
assassino do meu filho.
— A brincadeira só está começando. Não vamos
perder tempo. Tenho um presente que vai surpreendê-lo.
— Renda-se, acabou para você.
— Eu já não disse que a brincadeira só está
começando, Sr. Borghi? Tragam-no!
Um dos caras dá a volta em um dos carros, abre a
porta e arranca de dentro, um homem alto, de aparência
magra.
— Surpresa!
É instantâneo, todos arregalam os olhos.
Jolie aperta o meu braço, tremendo, boquiaberta.
— Não pode ser possível… não pode...
Já eu fico de olho a minha volta e a cada passo do
José. 
— Pedro?!
José o coloca de joelhos.
— Vivo e em ótimo estado, como pode ver.
— Filho? Meu filho? — Toretto o observa, em choque.
— Você incendiou o corpo, nossas testemunhas viram...
— É tão bom te surpreender, depois de tantos anos.
Eu levei meses para criar aquele dublê e assassiná-lo. Ficou
igualzinho, né?
— Pai… — Pedro sussurra e Jolie quase sai de trás dos
LosBor, mas a seguro com força.
José mira uma arma na cabeça do Pedro.
— Para não dizer mais que fui injusto, hoje você o
verá morrer na sua frente.
— Eu vou matar você! — Toretto ergue a voz e todos
LosBor apontam suas armas.
— Se não quer o seu filho morto, venha comigo. Quero
você e a Jolie.
— Não! — o subchefe se opõe, só que Toretto dá um
passo para perto do filho.
— Jolie! — ele a ordena.
Não, porra, por que ele está fazendo isso?
— Não! — tento impedi-la de ir, mas me seguram.
Ela se vai, sem me olhar e sem pensar duas vezes.

Não olho para o Rael, simplesmente caminho para


perto do Toretto e de encontro para o Pedro. Até que encaro
o fundo dos seus olhos, de joelhos diante de nós, e eu volto
a dar outro passo para trás, após vê-lo sorrir. Arregalo os
olhos e ele puxa uma arma.
— JOLIE! — Rael grita.
Só consigo ouvir o disparo.
Pedro quem disparou, ele estava com uma arma,
pronto para isso!
Não me mexo, minhas pernas estão paralisadas.
Toretto então cai, diante dos meus pés, ainda vivo.
Pedro se agarra a ele no chão de terra, erguendo o
pescoço por trás e ordenando aos LosBor que abaixem as
armas, ou executa o seu pai. Já do lado do José, todos estão
com as suas levantadas.
— Como pode? — ele grita contra o filho. — Eu sou o
seu pai!
Eu permaneço no mesmo lugar, em choque, sem
saber o que fazer, estou na frente deles.
— Sentiu a minha falta, Jolie?
— Por que disso, Pedro? — questiono, mas é o José
quem responde.
— Não fui eu quem planejei tudo sozinho, Pedro e eu
temos rancores em comum. 
— Acabou — ele diz, com a arma apontada para a
cabeça do próprio pai. — Para mim, para você e para o
Paulo.
— É o meu filho, Pedro!
— Pedro, somos a sua família! — Marcos exclama logo
atrás.
— NÃO DIGA QUE SÃO A MINHA FAMÍLIA! — berra e eu
me distancio para perto dos Borghi. — Sabe o que meu pai
fez, Marcos, sabe como ele controlou a minha vida,
escondeu quem eu era! Precisei enfraquecê-los para isso
aqui ser real! Agora, eu sou o herdeiro e vocês devem
obedecer ao novo chefe da máfia!
— Pedro, não… seja misericordioso — mas ele não
ouve o Toretto. 
E sem remorso, o executa com um tiro na cabeça.
Eu fecho os olhos, não querendo ver essa cena brutal.
Os LosBor seguram firmes as suas armas, mas não
reagem, estão rendidos e sob a mira dos homens do José.
Pedro se ergue de pé e sem menor dor, com a maior
frieza, ele dispara ainda mais tiros no corpo do seu pai.
— Nunca foi misericordioso, nunca! Agora toma a sua
misericórdia!
É o fim… ou só o começo do meu inferno!
Não, eu não vou permitir isso! Vou matá-lo!
— A partir de hoje, todos vocês devem obediência a
mim! Herdei o que é meu por direito!
Eles, incluindo o Marcos, assentem com sangue nos
olhos.
— Voltem para a mansão. Seguirei atrás. Já você, vem
comigo, Jolie.
Olho para o Rael quase enlouquecendo para me
alcançar, eles o seguraram.
— Rael, tenho uma traição para tratar com você.
Tragam-no para mim, logo te alcanço Pedro — José diz e eu
arregalo os olhos.
— O Rael? 
— Eu sei de tudo, querida esposa — Pedro puxa o meu
braço e me arrasta a força para o carro. 
Eu começo a gritar.
— Deixe-o livre! Ele não tem nada a ver com isso!
— Ele não é problema meu, mas é o do José.  Entra
nesse carro, sua cachorra!

Como esses putos puderam aceitar a morte do Toretto


assim e se direcionaram para ir embora? Eles não se
vingam? Que porra é essa?
Eu enlouqueço, ainda mais vendo eles levarem a Jolie.
A minha Jolie!
Antes que o José pudesse erguer a sua arma contra
mim, eu pego a minha. E para a surpresa de todos, mais
comboios de carros aparecem do alto da estrada,
disparando para todos os cantos.
— ENTREM NOS CARROS! — José berra.
O carro que estava o Pedro e a Jolie, sai derrapando
em meio ao escuro. Eu disparo, mas nenhum tiro os acerta.
— Desgraçados!
— Não terminei com você, Rael! — José quase me
acerta, após pular no carro em movimento, que apareceu
para resgatá-lo.
— Eu que vou terminar com você, seu bundão! VAI
PARA A PORRA QUE TE PARIU!
Eu fico para trás, todos saem em seus veículos. Então
corro, com o novo comboio cercando a volta dos homens do
José e dos LosBor.
Tento caçar uma árvore, um mato alto, só que um
farol me alcança.
— PARA SEU FILHO DA PUTA! — ouço alguém gritar.
Eu canso de correr em vão.
Eles já me pegaram, por isso, paro, rendendo-me com
as mãos para o alto.
— Entra nessa porra de carro ou te picoto na bala,
Rael! — reconheço a voz, é o Hoss.
Puta merda.
Eles param ao meu lado, abrem a porta e eu entro
rapidamente.
— O que fazem aqui? — questiono para tio Argus no
volante, Hoss ao meu lado e o Vince no banco da frente.
— Ah, viemos fazer uma trilha noturna. E você,
Raelzinho, vem sempre para essas bandas? — Vince
debocha, rolando os olhos.
— Vai se foder!
— Para onde eles estão indo? — Hoss pergunta.
— Para a mansão.
— Vamos cercar e mandar bala nos carros.
— Jolie está no segundo veículo atrás.
Eles pisam no acelerador.
— Como nos encontraram? — pergunto.
— Coloquei um rastreador na Jolie, isso foi antes de eu
levá-la embora do cas… — Vince vê que falou demais e se
cala, mas eu ouvi.
— O que seu polaco azedo do inferno? Fala!
— Rael, isso não é hora! — Tio Argus adverte.
Não mesmo, droga.
Eu pego o fuzil que eles separaram para mim, abro a
janela e miro em direção ao carro que está mais próximo de
nós. Hoss consegue acertar o pneu e eu a cabeça do
motorista. Os merdas saem da pista e capotam no barranco.
— De primeira, na cabeça! Desde quando você ficou
tão bom de mira assim? — Hoss debocha.
— Coloque Elena no lugar da Jolie e você terá a sua
resposta.
— Toretto veio também? — Tio Argus questiona.
— Veio, mas foi assassinado pelo filho.
— O quê? Isso é verdade?
— Foi o Paulo? É sério isso mesmo?
— Não, foi o Pedro. Ele esteve esse tempo inteiro vivo,
planejando aniquilar o próprio pai.
Meu tio e meus irmãos ficam chocados, contudo, não
temos tempo de discorrer o assunto, pois junto com os
nossos homens, cercamos dois carros.
— Jolie está nesse da frente.
Tio Argus pega o rádio e comunica aos homens que o
carro da frente é o nosso principal alvo. José está no de trás
e começa a disparar contra a gente. 
— Ah, cambada de maricas do inferno. É agora que
vão cair! — Hoss se coloca na janela de novo e fuzila eles,
sem medo de ser acertado.
Eu também me posiciono do outro lado e juntos,
conseguimos tirá-los da rua e baterem numa pedra.
— Isso, porra!
— Temos que ser rápidos, antes que os reforços de
José cheguem.
— É agora ou nunca!
Colamos na traseira do veículo de Pedro e eu acerto o
pneu esquerdo. Isso o obriga a derrapar. Paramos com o
carro no meio da estrada, seguido de nossos homens. Todos
descem, correm com suas armas e miram no alvo.
Eu desço com o meu fuzil, aproximando-me.
— Renda-se, Pedro!
Ele demora alguns segundos, mas abre a porta e sai,
fazendo a Jolie de escudo humano.
— Não queremos te machucar.
— E qual a garantia disso? Sabe que eu não teria
remorso nenhum de matar a minha esposa.
— Estamos do mesmo lado. Não sabe como ficamos
felizes pela morte do seu pai. Teríamos o matado com as
nossas próprias mãos, pois foi o mesmo que ele fez com os
nossos pais — Hoss fala.
— Apenas nos entregue a Jolie e você pode ir embora.
Ele aperta o pescoço dela. Isso quase me faz tentar a
sorte para fuzilar a sua cabeça.
— Eu sinto muito, senhores Calatrone, mas Jolie sabe
demais sobre nós. Não posso entregá-la assim, com vida.
Jolie me olha e toca na parte da frente da sua calça
jeans. A arma!
Precisamos distraí-lo para ela. Tio Argus me encara,
tendo a mesma conclusão ao observar as suas ações.
— Fazemos uma aliança com você, em troca do
silêncio dela — tio Argus explica. — Estaremos do ao seu
lado quando assumir a direção na máfia.
— Não confio em vocês.
— Queremos provar que somos dignos da sua
confiança.
Jolie puxa a arma de dentro da calça e num
movimento rápido, ergue o cano na cara do Pedro e atira
sem pensar duas vezes.
— Jolie! — grito.
Ele a solta e dá passos desorientados para trás, mas
não consegue revidar, pois Jolie vira e volta a dar mais tiros
nele.
Um, dois, três disparos!
— Para! você já… — puxo-a. — o matou… chega.
Ela joga a arma no chão e me abraça, aos prantos.
— Acabou, Rael. Acabou esse inferno!
Antes de voltarmos para o castelo, Jolie pediu que
passássemos na mansão, para ela poder ver a sua enteada
e contar tudo o que aconteceu. Quando ela fez isso... foi
difícil e doloroso. É como se essa menina tivesse perdido o
pai duas vezes, ainda com o avô junto.
Jolie igualmente conversou com a Lupita e elas
decidiram poupar o Paulo por pelo menos dois dias, antes
de relatá-lo sobre as mortes. É melhor, ele está muito
debilitado e com certeza pode recair.
— Ela não quer vir conosco… — Jolie desce as
escadas, ao lado da Lupita, e para na minha frente. Seus
olhos estão inchados e vermelhos. — O que eu fiz, Rael? —
começa a chorar. — Lila não vai me perdoar, eu matei o seu
pai! Por mais que ele merecesse!
— Jolie, eu sinto muito — Lupi aperta o seu ombro. —
Vamos dar um tempo para ela assimilar a situação, não foi
culpa sua.
— Não foi mesmo, tenha calma, precisamos esfriar a
cabeça. Não tem nem meia hora que tudo aquilo aconteceu.
— Foi sim! Eu só pensei em mim e não na Lila. O
Pedro tinha todos os defeitos, era horrível comigo, mas era
um pai incrível para ela, ele nunca deixou de ser presente,
de ser… pai. A fiz sofrer duas vezes, agora mil vezes pior! 
Eu abraço a minha Jolie, sem ter o que dizer, a não ser
consolá-la. 
Ela respira fundo, vira para a Lupita e pega nas suas
mãos.
— Lupi, vocês precisam sair dessa casa o quanto
antes, entenderam? Vão para a casa da serra, lá estarão
seguros até o Paulo se recuperar e decidir o que fazer.
Manoel vai ajudá-la.
— Ele já providenciou o helicóptero médico para fazer
isso, é nosso protetor. Também, prometo que vou cuidar da
Dalila, vou conversar com ela. No momento, deve estar
sendo tudo traumatizante. Ela só precisa de um tempo.
— Obrigada, eu sei que mal nos conhecemos, mas
pode contar comigo para tudo — elas se abraçam. — Cuida
da nossa Lila, por favor. Logo eu apareço na serra para vê-
los.
— Eu quem agradeço, Jolie, estou livre… eu e o Paulo.
Não sinto nem um pouco pela morte do Toretto, que ele
queime no quinto dos infernos.
— E ele vai, não tenha dúvidas disso.
Elas voltam a se abraçar, para se despedirem por
definitivo e Jolie ir embora comigo para o Castelo. 
Quando chegamos em casa, Elena e Hera já estavam
esperando por todos nós, foi um alívio nos verem bem, elas
pareciam desesperadas.
— Meu Deus, eu fiquei tão preocupada com vocês!
Sentamo-nos na sala, ainda sem acreditar em todas
as emoções que vivemos há poucas horas. Principalmente
eu e a Jolie.
Então relatamos tudo o que aconteceu, mesmo com o
nosso tio intervindo para descansarmos primeiro. Só que eu
precisava desabafar, precisava conversar.
— Eu imaginava uma morte mais marcante para o
chefão dos Borghi. Morrer assim pelo filho, tão fácil? —
Vince comenta. 
— Foi merecido, por mais que não vingasse metade
do mal que ele nos fez.
— Ele matou os nossos pais — sussurro, apertando a
mão da Jolie.
Meus irmãos já sabem de tudo, tio Argus contou para
eles esta tarde. Ainda bem que eu não estava aqui para
sofrer com seus rostos perplexos. Lá na mansão Borghi eu
tive que ser frio ao ouvir aquele diabo relatando friamente
sobre a morte deles. Queria socar a sua cara até não sobrar
nada.
— E pensar que somos família daqueles Borghi, como
não nos contou isso, tio Argus? — Hoss o enfrenta. — Tantos
anos fazendo mistério!
Olho para o meu irmão, tendo o mesmo sentimento
de revolta que ele.
— Eu tinha uma aliança com o Toretto, ele poupou a
minha vida, supliquei por isso, para que não me tirassem de
vocês. Precisavam de mim, eram pequenos, indefesos,
quem ficaria para educá-los?
— Tio, você não tinha…
— Não, Hoss, o que eu fiz ou deixei de fazer, foi pelo
bem da nossa família Calatrone. Se soubessem da verdade,
cresceriam alimentando uma vingança cega pela máfia. E
não era isso que queríamos. Tudo o que fizemos ao trair a
máfia, ao fugir para termos outra vida, a morte dos seus
pais, lutando por vocês, nada poderia ser em vão depois...
Agora chega disso, pelo menos por hoje, descansem, fiquem
com suas mulheres, esfriem a cabeça e logo voltamos a
conversar sobre o passado. Também preciso de um tempo…
Não discutimos, nem o impedimos de se retirar. Por
fim, olhamos um para os outros e suspiramos, cansados.
— Tudo pela família… como sempre.
— Sinto muito por tudo que fiz — Jolie fala e Hera vem
sentar-se ao lado dela.
— Não tem que pedir desculpas, está tudo bem, agora
está conosco, está com o Rael e livre para viver a sua vida.
— Tirando o “livre para viver a sua vida”, porque o
Rael é um grande filho da puta, obstinado por você —
Morcego resmunga, fuzilando-me.
— Sério que vai querer colocar tudo a limpo hoje,
nesse fatídico momento?
— Não, a gente vai tirar a limpo no punho, mais tarde.
— E o Paulo? — Elena pergunta de repente, parece
que estava o tempo todo segurando a pergunta.
Hoss me olha, rolando os olhos de ciúmes.
— Está se recuperando, os tiros não foram graves.
Aliás, ele tem uma grande mulher ao lado, pelo pouco que
vi, a sua irmã é de uma garra incomparável.
— Ela é uma guerreira. Nem acredito que em breve
vou poder vê-la, estarmos perto uma da outra e com nossas
barrigas crescendo, enormes.
— Não garanto muita a proximidade, Paulo se tornou o
chefe da máfia Borghi.
— Tenho certeza de que não é esse o futuro que ele
quer dar para o filho. O conhece, Elena, sabe qual eram os
seus sonhos.
— Sim, ele queria se casar comigo, ir embora para
outro país e viver como uma pessoa normal.
Hoss passa a mão no rosto e levanta-se.
— Vou beber um pouco.
— Também quero — Morcego o acompanha.
— São 7h da manhã! — Elena e Hera advertem juntas,
antes de eles saírem.
— Obrigada por falarem, relógios ambulantes.
— Hoss!
— Não fala comigo, Elena, fique aí fazendo perguntas
sobre o seu ex.
— Coitado, está todo mordidinho de ciúmes.
— Vai a merda, Vince!
— Eu vou é beber com vocês, estou precisando — ele
segue os dois.
Jolie sorri e me olha, com os olhos carregados de
cansaço e beleza.
— Vamos lá para cima — digo baixinho, alisando a sua
mão.
— É melhor irem e ficarem a sós, mandamos um café
bem reforçado para vocês. Permanecerei por aqui, cuidando
da Elena e da Maria.
— Cuidando de mim? 
— É claro, gatinha, você até pode mentir para o Hoss
que está tudo bem, mas eu reconheço quando está
vomitando até as tripas.
— É normal da gravidez, se eu contar para ele desse
meus mal-estares, o doido vai querer me colocar dentro de
um carro e me levar para um hospital.
— Por isso eu sou a sua cúmplice…
Eu e a Jolie deixamos as duas na sala conversando e
subimos para o quarto.
— Lady! — assim que abro a porta, a gata horrorosa
corre para os pés da sua dona.
Jolie a pega no colo e a abraça, sem economizar no
carinho.
— Que saudades, vocês alimentaram a minha filha?
— Eu não, Luiz deve ter cuidado dessa coisa.
Eu tiro a camisa e aperto bem embaixo da costela,
com dor por todos os cantos do corpo. Agora que eu vou me
sentir quebrado.
— Está ferido… — ela abandona a gata e vem até
mim, tocar onde estou morrendo de dor.
— Nem imagina o que fiz por você. Acho que só não
morri, porque não era a hora ainda.
— Não mesmo, a vida não podia ser tão sacana de me
tirar o homem que amo. Não depois do que passamos.
Ela me beija, mesmo sem muitas forças.
Afasto os nossos lábios, beijando a sua testa e
acolhendo-a no meu corpo.
— Vai ficar tudo bem.
— Não paro de pensar na Lila, em como ela deve
estar me odiando e me culpando por tudo que aconteceu.
— Para de pensar nisso, ela só pode estar assimilando
as coisas, foi um trauma. Como Lupita disse, talvez precise
de espaço, de tempo.
— Não entende, Rael, ela sofreu muito com a primeira
morte do Pedro, chegou a entrar em depressão e ficar
anoréxica. Pois ele, acima de qualquer defeito, era o seu
herói, “o melhor pai do mundo”. Eu escondia os abusos e as
violências que passava, para nunca estragar essa imagem
perfeita dele. Só comecei a me defender depois que
descobri que ele era gay e que tinha um amante há anos, o
príncipe da Espanha.
Espera… O QUÊ? É muita informação.
— O príncipe? Como assim? Porra, isso é demais para
o meu cérebro.
— Pois é, o príncipe. Eles se conheceram na
adolescência, em um intercâmbio em Sevilha. Ambos
esconderam o seu romance por anos, até Toretto descobrir e
mandar matar o príncipe. Acho que o Pedro deve ter
descoberto quem o matou e se vingado, não acha?
— É um ótimo motivo de vingança, para ele ter fingido
a própria morte por dois anos e depois aparecido para
matar o pai. Nem imagino o que você passou ao lado desse
desgraçado. Ainda era gay, que revelação.
— Toretto nunca aceitou a sexualidade do filho, vivia o
enchendo de mulheres. Por isso que fui prometida a ele
antes mesmo de nascer. 
— E a filha dele?
— Ela foi fruto de uma noite com uma prostituta…,
mas não sabe. 
— Mais mentiras e segredos? 
— Infelizmente sim. Ele contava para Dalila que a sua
mãe havia morrido no parto. Vou esperar as coisas
esfriarem para contá-la a verdade.
— Também acho melhor, para ambas — beijo a minha
Jolie e a puxo mais firme para os meus braços. — Que
saudades eu estava de você, do seu corpo, da sua pele, do
seu perfume. Eu te amo demais, bruxa.
Ela sorri, alisando o meu peitoral.
— E que saudades de ouvir “bruxa”. Obrigada por
tudo que fez por nós. Eu te mereço, Rael, sempre mereci, é
meu!
— Adoro quando expõe o quanto é possessiva e nada
humilde.
— Não sou humilde mesmo, eu te mereço, assim
como você me merece. Não vejo mais a minha vida sem
estar ao seu lado.
— Nem eu vejo a minha vida sem você, nada mais faz
sentido.
— Te amo, minha Jolie.
— Te amo, Rael.
Nos beijamos de novo, desta vez, lento e demorado,
cheios de paixão e de amor. Ela mostra como desarmar as
suas defesas, enquanto eu, provo o contrário, que ela é
minha força, meu motivo de ser feliz.
É minha Jolie e ninguém mais vai mudar isso.
 
Uma semana depois…
 
Tomo o café da manhã com a Hera e a Elena na área
de lazer, enquanto assistimos a pequena Maria brincar de
boneca no gramado. Ela hoje acordou cedo para realizar as
atividades que a sua professora particular passou ontem.
— Maria faz aniversário essa semana, e na semana
que vem já é o casamento civil da Elena e do Hoss. 
— Como assim? — Elena quase tosse o café. — Meu
Deus, aconteceu tanta coisa nesses últimos dias que havia
esquecido. Ainda tenho que experimentar o vestido.
— Acho que é o mal de grávida — falo e Hera ri. 
— Altera até o temperamento.
— Fiquem rindo, suas cobras, em breve são vocês
duas grávidas, sentindo na pele seus homens enchendo o
saco. Hoss me deixou tão estressada que o fiz dormir essa
madrugada em um dos quartos de hóspedes.
— É sério isso? — pergunto, segurando a vontade de
rir.
— E o que o príncipe perfeito fez para você chutá-lo
sem dó da cama?
— Chutá-lo foi pouco, ficará dias sem sexo. E a culpa é
da sua ex-puta, a “Ruiva”. Ela veio aqui ontem, falar a sós
com ele no escritório. Eu ouvi tudo, a confrontei e disse que
poderia falar comigo mesmo, a dona do Hoss!
— Mentira!
Não aguentamos e caímos na gargalhada.
— Elena, eu adorei.
— Bem-merecido, essas oferecidas tem que saber o
seu lugar.
— Assim como eu coloquei a cadelinha no dela —
resmungo.
— Quem? — Hera pigarreia, fitando a Elena.
— Vocês sabem de quem eu estou falando, da Isabel.
— Ah, sim… Isabel.
— Bom dia, rainhas supremas da casa! — Vince brota,
todo sorridente e interrompendo-nos.
Já sei que ele vai devorar a nossa mesa em segundos.
— Bom dia, criatura insuportável.
— Também acordou de mal humor, prima? Está igual
ao Hoss. Falando nisso, andou fazendo greve de sexo,
Eleninha? Ele está pior do que de costume, saí até de perto
para preservar a minha adorável vida.
— Greve será pouco, ele que aguente.
— Tem todo o meu apoio, adoro esses homens iguais
cachorrinhos no cio.
— Por isso que, graças a Deus, estou solteiro e
disponível para comer qualquer mulher, sem precisar enfiar
um anel de compromisso no dedo, só o pau na...
— Que nojo, Vince! — Hera dá um tapa nele — 25
anos na cara e parece que tem 16!
— Sra. Jolie, Rael pediu que o encontrasse na sala de
reuniões — Luiz informa, depois de chegar todo quieto perto
de mim. — Ele está no seu aguardo.
Agradeço e sem demora, termino de comer e aviso as
meninas que vou me encontrar com ele, para saber o que
quer comigo.
Saio rápida.
—  Rael? — Entro na enorme sala, fechando as
portas. 
Ele está sentado na ponta da mesa, lendo alguns
papéis. Nem me viu direito. 
Isso é estar me esperando?
Rolo os olhos e chego perto dele, afastando seja lá o
que for que estava lendo, também o empurro para trás e
sento-me de pernas abertas no seu colo. Nem liguei para o
vestido subindo à altura dos quadris e evidenciando a
minha calcinha.
Ele arfa, surpreendido
— Porra, minha deusa…
Sorrio e aperto os seus lábios deliciosos, que mordo
bem no cantinho da boca.
— Luiz disse que queria falar comigo, então estou
aqui, todinha para você.
Dou uma rebolada no seu volume, já excitada pelo
meu homem. Ele me deixa em chamas, todo dia querendo
ser fodida. 
— E como eu vou falar com você assim, endurecendo
o meu pobre pau?
— Se preferir, pode falar com ele dentro de mim.
— Jolie, não me enlouqueça uma hora dessas. 
Ele mergulha os dedos entre os vales das minhas
pernas, até a renda da calcinha.
Meu corpo treme de tesão.
— O que quer falar?
— Estava conversando com o meu tio e detalhei a ele
que há um informante entre nós.
— Você não havia dito isso na festa de ano novo?
— Eu disse apenas para o Hoss, resolvemos esperar e
observar as pessoas ao nosso redor, antes de relatar ao
nosso tio.
— E?
— E não desconfiamos de quem poderia ser essa
pessoa. Ou talvez sim, não sei.
— Você falou do Luiz e dos empregados?
— Não consigo desconfiar do Luiz, ele está conosco
desde a nossa adolescência, é outro membro da família. Tio
Argus confia nele de olhos fechados e sabe, nosso tio tem
um olhar de gavião, se fosse o Luiz, já teria descoberto há
muito tempo.
— Então fica um pouco complicado.
Rael suspira de frustração e cai no encosto, passando
a mão na barba aparada. Chegou a afastar os dedos de
entre as minhas pernas. Quem mandou? Estava tão gostoso
o seu carinho safado.
— Hoss já está ficando maluco com isso, ele olha para
todos, tentando desvendar quem poderia ser esse traidor.
— Como Toretto e toda a máfia Borghi caiu, pode ter
certeza de que essa pessoa não vai querer ficar muito
tempo aqui no castelo. Não vai mais existir a quem dar
informações. É como se o serviço dele tivesse chegado ao
fim. Aí vocês vão descobrir a identidade.
— Isso é um ponto a se levar em consideração.
— Sim… 
Começo a abrir o cinto da calça dele.
— Conseguiu conversar com a sua enteada?
De cabeça baixa, eu nego.
— Desculpa por tocar no assunto, sei que o momento
continua delicado.
Rael volta a mergulhar os dedos espessos no interior
quente das minhas coxas, desta vez, obstinado a não parar.
Assim que eu gosto…
— Ela não quer falar comigo, mas estou dando o
tempo que a Lupita recomendou. Andamos sempre nos
falando.
— Faz uma semana que tudo aquilo aconteceu, está
fresco nos jornais de Portugal. Não se fala de outra coisa a
não ser a queda da maior máfia do país. Dê mais algumas
semanas para o tema sair dos holofotes.
Assinto, querendo dispersar esse sentimento de
tristeza e focar por definitivo no homem a minha frente. No
meu homem. Por isso, eu abro a sua calça e toco no seu
volume enorme na cueca, até pulsou na minha mão.
Ele geme e retribui o toque, ao afastar a renda da
minha calcinha e alisar o meu clitóris.
— Eu amo sentir você — sussurra, mordiscando o meu
pescoço e me acariciando.
— E eu amo sentir os seus dedos em mim.
— Só os meus dedos? 
Ele me acaricia lentamente, subindo e descendo nos
lábios maiores.
Abro a boca, com tesão demais para pensar
— Hummm… que delícia...
— Eu fiz uma pergunta.
Não respondo de propósito e o ressentido não gosta
nem um pouco, pois dá um tapa na minha bunda e penetra
dois dedos, masturbando-me com força.
— Ooohhh! — jogo a cabeça para trás, tonta de
prazer.
É maravilhoso. Rael encontra o meu ponto G sem
dificuldades, ele sabe como me deixar excitada, como me
enlouquecer, ele conhece cada parte que me arrepia e me
leva ao ápice. 
Beijo-o da mesma forma, querendo deixá-lo maluco
de tesão. 
— Rael…
Toco no seu pau, tirando o mastro bem-dotado da
boxer e massageando a sua extensão dura. 
Ele grunhi, querendo mais. Então o afasto e saio do
seu colo, para erguer o vestido e tirar a calcinha.
— Que mulher gostosa, a mais perfeita do mundo.
— O que mais?
— É uma deusa, feita para eu comer sem dó.
— Rael, seu…
Rapidamente o safado aperta as minhas nádegas e
me faz voltar para o seu colo nu. Tiro as alças do vestido e
do sutiã, antes dele me penetrar. E isso o fez se
desestabilizar todo, tadinho.
— Meus melões lindos… — geme com a visão dos
meus seios grandes, de bicos eretos e mirados para ele. 
Começo a rir.
— Isso foi broxante.
— Eu chamo do que eu quiser, bruxa peituda. E vê se
isso é broxante…
Ele abocanha um peito e aperta o outro. 
Que homem fora do controle... 
Volto a sorrir e gemer, enquanto roço no seu pau
dotado, indo e vindo com a boceta melada de lubrificação.
Céus, chego a rolar os olhos.
Rael se dedica como ninguém às mamadas;
chupando, lambendo e mordiscando os bicos. Ele me
abocanha, devorando-me sem pena. Agarro os cabelos dele,
louca com a sua boca faminta. 
Isso é tão delicioso, mas pode ficar ainda melhor.
Assim que aperto o seu pau, ele para de me mamar,
só para me fazer sentar de uma vez. Sinto essa maldita rola
me rasgar, de tão grossa e longa. Parece que todo dia
cresce mais um centímetro. Eu choramingo, como sempre,
sofrendo nessa posição. 
— Meu Deus, você me sufoca, amor…
Arregalo os olhos.
— Amor?
Ele sorri e mexe com os meus quadris, para eu
começar a rebolar no seu pênis quente, que lateja dentro de
mim.
Eu abraço o seu pescoço, investindo nas reboladas e
nas quicadas.
Ai como é gostoso sentir o seu pau.
Eu fecho os olhos, gemendo cada vez mais alto. 
Rael beija a minha boca, para abafar a minha vontade
de berrar aos quatro cantos do castelo, de tão delicioso que
está a nossa transa.
— Ahhh, minha gostosa… — ele estremece, sem
conseguir mais me olhar para não gozar.
Pego na sua mão, levando-a de propósito ao meu
pescoço.
— Porra, Jolie, puta que pariu, inferno… — então
xinga, apertando o meu pescoço com a sua mão grossa, do
jeitinho que eu almejava.
Como ser estrangulada pode ser tão gostoso? 
— Não aguento...
Ele explode dentro de mim, enchendo-me de jatadas
de gozo.
Seguro-me nos seus ombros, respirando arfante.
Paramos por alguns instantes, até ele voltar a me beijar
brutal, jogar-me na mesa de reuniões e meter de novo, sem
parar de me foder. Nem seguro mais os gritos de satisfação.
Peço para ele me comer mais forte, sem dó. E ele faz, ele
faz com uma dedicação monstruosa.
Perco as contas de quantas vezes chego ao orgasmo
só deitada na mesa, depois virada de costas e de quatro no
chão. Só não fomos para o sofazinho porque fiquei sem
forças.
— Minha… nossa — arfo, abraçada a ele. — Isso foi
perfeito.  
— Você é perfeita.
Beijo-o e levanto-me devagar para vestir as roupas.
Só que, de repente, somos surpreendidos por alguém
abrindo a porta. Rael puxa-me ligeiro para o seu colo.
— Vocês! 
É o Hoss.
— Não acredito! — Depois que passa o choque de nos
ver, ele começa a rir.
— Vaza daqui primogênito achado no lixo!
— Não imaginava que a vingança seria tão rápida e
plena.
— Eu vou quebrar a sua cara! Minha mulher está nua! 
Rael conseguiu puxar o meu vestido para pelo menos
tampar a minha bunda.
— Como se não tivesse visto a minha mulher, seu
arrombado. E façam o favor de gemer mais baixo, pois
estou ouvindo lá do cômodo de cima o Rael matando a
pobre da Jolie.
Sorrio e Hoss fecha a porta.
— Filho da… mãe.
— Bem-feito, deve ter feito isso milhares de vezes
com ele e a Elena — debocho e o ciumento aperta sem dó a
minha bunda, enquanto saio do seu colo para vestir o
vestido.
Gemo de dor, batendo na sua mão.
— Uma coisa é estar no papel dele, sendo um grande
sacana, outra coisa é ser pego com a minha mulher nua. 
— Exatamente, agora se coloca no papel dele.
— De que lado está, bruxa? — Rael me belisca de
novo e me puxa para me beijar. 
— Ai, seu cretino.
Ele ainda está nu e no meio da sala de reuniões da
família, beijando-me como se a sua vida dependesse da
minha.
É tudo tão mágico, tão perfeito. Nunca imaginei viver
um amor ao lado de um homem que realmente me amasse.
Isso é mais do que desejei.
Com muita dificuldade, largo o meu homem e deixo-o
com os seus compromissos de agiota. Resolvo voltar para a
companhia das meninas na área de lazer. Elas não veem eu
me aproximar e acabo ouvindo “Isabel” sem querer. Então,
paraliso atrás da coluna, para ouvi-las.
— Isso dá Isabel, acho que não é algo para o Rael
contar, já foi, é passado.
— Ok, mas a minha consciência não está limpa, por
mais que ele e ela já tenham se esclarecido sobre o beijo
naquela noite.
Beijo? Rael e Isa?
— Eu ouvi bem? 
Não aguento e avanço.
Hera e Elena arregalam os olhos.
— Jolie! — bradam.
— Rael e a cadelinha andaram se beijando depois que
eu fui embora do castelo?
— Jolie, não! 
— Não foi isso, foi… 
— Foi como?!
Coloco a mão na cintura, esperando a continuação do
“foi”. 
Hera não termina.
— Eu vou matar aquela vagabunda, depois aquele
cafajeste sem vergonha!
— Não foi assim, ele não teve culpa, de certa forma.
— Não pelo beijo, não que isso diminua o que
aconteceu.
— Não posso acreditar que ele andou beijando outra
enquanto estive naquela merda de mansão dos Borghi! E
logo a Isabel!
— Não foi quando você esteve fora.
Hera arregala os olhos para Elena e ela coloca a mão
na boca, após ter soltado a verdade sem querer.
— Ai, meu Deus, Jolie, espera!
Eu viro as costas, disposta a matar aquele homem, só
que elas me seguram fortes.
— Antes de fazer qualquer coisa, ouça-nos, não foi
culpa dele.
Eu paro, irritada o ponto de realmente matá-lo com
outro tiro, e bem no meio das suas pernas!
— Não estamos querendo limpar a barra dele, mas
entenda que isso foi besteira, já passou, não faz mais
diferença, pois agora ele está com você e os dois se amam.
— Aquela vagabunda é minha inimiga!
— Jolie, você prestou atenção no que a Hera te disse?
— Só quero saber quando foi esse maldito beijo!
— Não vai ficar brava?
— Não… — minto, rangendo os dentes e quase
apertando os punhos ao pensar nas minhas mãos
estrangulando aquela cadela loira.
— Foi no aniversário da Isa, naquela festa da
academia. Eu e o Vince pegamos os dois no flagra. Só que
depois, tudo foi esclarecido, ela estava num momento
delicado, seu irmão havia sido assassinado horas antes e
Rael foi consolá-la.
— Consolá-la com um beijo? Muito gentil da parte
dele.
— Ele ficou numa saia justa. No meio disso, Isabel
havia confessado que gostava dele, que era apaixonada, ela
quem deu o beijo.
— Ela quem o beijou? E tudo aconteceu na mesma
noite que eu caí na piscina, bati com a cabeça e pedi para
ele ficar comigo? Para ele voltar da festa e não me deixar
sozinha? Mesmo assim, Rael deixou!
— Jolie, já foi, olha o tanto de coisas que passaram
para se livrarem da máfia e ficarem juntos — Elena e Hera
apertam ternas o meu braço. — Não briguem à toa, Rael te
ama. Quando sumiu, ele ficou louco. Se Hoss, Ezequiel,
Vince e Argus não tivessem o segurado, ele teria ido atrás
de você sozinho, só para te resgatar e te proteger. 
— Estou ainda furiosa com aquela mulher. Preciso
falar com ela e acabar com isso definitivamente.
— Acho que não é o correto — Elena alerta.  — Vocês
se odeiam só de tocar uma no nome da outra.
— A questão é que eu quero colocar as cartas nas
mesas e mostrá-la a quem Rael pertence. E não podem me
impedir disso.
Elas se olham, sabendo que não vão mudar a minha
opinião.
— Certo, amanhã a Isa virá para finalizar o meu
primeiro treinamento e vocês conversam.
— Perfeito, agora com licença! — despeço-me delas e
resolvo ficar sozinha, para me acalmar um pouco, antes que
eu exploda contra o Rael.
— Jolie, filha? — Argus me encontra passando pela
sala e me para. 
— Oi, padrinho.
— Tudo bem?
— Não, acabei de saber que o seu sobrinho esteve
beijando outra.
Ele pigarreia, claramente já por dentro do assunto.
— Com certeza já sabe. Como o senhor pode saber de
tudo, inferno?! 
— Ele me confessou o acontecido na época, ficou
meio desnorteado com o que fez, também culpado. Ele te
ama, filha.
— Pois eu também o amo, sabia disso?
— E como sei, fique calma, não o mate por causa de
algo que já passou. Não vale a pena.
Sirvo-me de um conhaque forte e sento-me ao lado do
meu padrinho.
— Precisava falar com você sobre o Paulo, posso?
Assinto.
— Acha que ele dará conta do que sobrou dos Borghi
ou vai desistir?
— Sinto que ele vai desistir de tudo. Até onde o
conheço, não é o seu sonho de vida ser chefe da máfia —
respondo.
— Mas Paulo perdeu a todos.
— Agora ele tem o filho e a Lupita.
— Paulo não ama a Lupita o bastante para renunciar o
império mafioso do pai em troca da família feliz.
— O que quer dizer com isso? Deduz que ele pretende
retomar os negócios e refazer as alianças poderosas que o
pai tinha?
— Talvez, afinal, ainda é a forma de se manter
milionário.
— E o que pensa? O senhor poderia ajudá-lo. Seja
alguém importante para ele nesse momento que está
escondido na serra. Paulo é fácil de se convencer, tem um
coração muito bom.
— É o que pensei, queria trazê-lo para o castelo, para
estar perto da nossa família.
Arregalo os olhos, pensando imediatamente no Hoss.
— Não, isso não vai dar certo. O Hoss mataria o Paulo
por ciúmes por causa da Elena. E até eu morro de medo do
Hoss. Já olhou para os olhos daquele homem arrepiante? É
pior do que o Rael. Nem imagino o que seria capaz de fazer.
— Acho que os dois se igualam no ciúme. Todavia,
sobre o Paulo vir para cá, é só um pensamento alto. Vou
amanhã para a serra visitá-lo e quero que vá comigo, já
avisei a Lupita.
— Anda conversando com a Lupita?
— Criei muita proximidade com ela — Argus pisca.
— Não tem como me surpreender mais nesta vida. É
claro que teriam contato, a quem mais ela confidenciaria
coisas importantes, que não atordoariam a Elena? Fico feliz
pela Lupita ter essa confiança no senhor também.
— Eu sempre estarei perto de todos, vocês são uma
família para mim. E vai querer ir amanhã?
 — Sim, preciso muito ver a Dalila, ela… — meus olhos
ardem e eu olho para cima, respirando fundo para não
desabar em lágrimas. — Ela está me odiando, culpando-me
por tudo que aconteceu.
— Ela não está te culpando.
— Como pode ter certeza? Quando contei o que
aconteceu, Lila começou a chorar e a se negar a continuar
conversando comigo. Foi horrível. Não imagino a dor que
possa ter sentido com aquela bomba de tragédias, toda de
uma vez. 
— O tempo sempre ajuda, filha. E pode trazê-la para
morar conosco, ficar perto de você. Talvez a faça bem.
— O senhor e toda a família permitiriam? 
— Sem dúvidas, igualmente deve questioná-la se
aceita. 
— Ela só tem o Paulo e a mim de família… talvez não
tenha muita escolha.
— Também fale com o Rael sobre a viagem até a serra
— ele beija a minha testa e eu rolo os olhos. — Jolie, se você
não falar, não irá comigo.
Não o respondo, levanto-me do sofá de nariz
empinado.
— Continua aquela garotinha birrenta. Imagino
pequenas Jolie correndo por esse castelo, birrentas e
valentes igual a mãe ou durões e controladores igual ao pai.
— Padrinho! 
Ele sorri e ergue-se, retirando-se triunfante.
Eu olho para o meio da sala, imaginando isso…
crianças.
Coloco a mão na barriga, balançando a cabeça
veemente. 
Não, não! Não é hora!

Eu e o Hoss voltamos juntos de mais uma cobrança, e,


no carro, conversamos sobre o traficante José.
— Ele está vivo e vai querer se vingar de nós,
principalmente de você. Só não fez isso ainda porque está
acontecendo uma investigação policial, por causa dos
Borghi — Hoss alerta.
— Não tenho um pingo de medo. Somos fortes, bem
mais que ele e todos os seus garotos inexperientes juntos.
— Mesmo assim, precisamos redobrar a segurança,
principalmente quando formos sair do castelo com a
família. 
— Falando em segurança, há em mente mais algum
nome?
— Não, porra! — ele bate no volante.
— Pois eu tenho, não acho o Abelha digno da nossa
confiança. Passei o dia espreitando-o e fazendo perguntas.
— Pois o Abelha é de minha total confiança sim,
conheço ele há anos e sabe disso.
— Pessoas se corrompem, meu caro irmão, não confio
nem na minha sombra, imagine nesse cara sem graça.
— Está com ciúmes, só porque a sua mulher é
amiguinha dele.
Sem me segurar, dou um soco forte no braço do Hoss,
quase nos tirando da pista.
Ele faz careta de dor e manobra o volante para o
centro.
— Filho da mãe!
— Vou deixar essa sua boca banguela, cara de uva
passa estragada! Vai se foder!
— Quinta-feira teremos uma reunião em família e
vamos colocar todos os nomes na mesa, de quem
desconfiamos que seja o traíra que passava informações
para o chefe da máfia. Só vou descansar depois que
descobrir a identidade dessa maldita pessoa.
— Eu também. Não vejo a hora de ter paz, de nos
importar só com os problemas da nossa agiotagem.
— Se Deus quiser irmão, isso será realidade de novo.
Logo chegamos em casa, tomamos banho e jantamos
em família, tendo as graças do Vince e suas implicâncias
com a Maria, o que torna tudo mais divertido. Entretanto,
durante o jantar, estranhei a Jolie me olhando fuzilante. Ela
fez questão de sentar-se do outro lado da mesa, cara a cara
comigo.  E quando cheguei, nem aceitar o meu beijo quis,
apenas virou as costas e me deixou no vácuo.
A gente não estava bem? E muito bem, depois de
fodermos gostoso naquele escritório. Que droga, será que é
aquilo de mulher, PMT, TNT, como é o nome mesmo? Só sei
que antes desses dias, Hoss me alertou para ficar longe
delas, de preferência, comprar doces e mimá-las, já que
podem mudar de humor na velocidade da luz e surtarem do
nada.
— O que foi? — no quarto, finalmente a pego de jeito
contra a parede e questiono o seu comportamento. 
— Não foi nada — responde, com um sorriso forçado.
— Está estranha, mas se não foi nada, ok — depois da
minha resposta, ela me empurra e fica com a cara pior do
que antes.
Que porra, o que há com essa mulher? Está tudo bem
ou não está?
— Qual o motivo dessa cara, posso saber? Não
estávamos bem de manhã? — indago, após a Jolie ir até a
cama e passar um bendito creme cheiroso, que só me faz
lembrar dela, de preferência nua.
— Eu já disse que está tudo ótimo, Rael. 
Respiro fundo, não querendo insistir se está ou não, e
vou até o closet trocar de roupa e vestir um pijama quente.
Quando volto, dou de cara com a Jolie e seu baby-doll
minúsculo.
Inferno, eu vou enlouquecer com essa mulher.
— Não está com frio? Faz 14° graus e vai diminuir
ainda mais a temperatura durante à noite.
— Eu estou ótima! — declara irritada, virando-se para
o outro lado e deixando a sua bunda completamente à vista
dos meus olhos.
Mas que… inferno de novo.
Ajeito o pau na calça de moletom, já irritado com esse
comportamento dela. Mas é melhor deixá-la em paz, para
não correr o risco de levar uma terceira bala perdida. Dessa
doida que amo, eu não duvido de nada, contraprovas não
há argumentos. Também, só para garantir a minha plena
vida, dou uma olhada na sua mesinha e embaixo da cama,
para ver se ela não escondeu nenhuma arma. É melhor
prevenir do que remediar.
Por fim, antes de me deitar ao seu lado, pego mais um
cobertor grosso, pois sei que vai sentir frio em breve, está
praticamente nua com essa camisola provocante. Cubro-a,
mesmo ouvindo os seus resmungos. Então, pelas graças do
bom senhor, deito-me e durmo num piscar dos olhos, morto
de cansaço… até que de madrugada, desperto com a Jolie
me abraçando e enrolando as pernas nas minhas, por causa
do frio. Sabia…
Sorrio, beijo a sua testa e abraço-a no meu corpo
quente, para voltarmos a dormir assim, juntinhos e
sentindo-me num sonho, onde jamais quero acordar. Nele
eu tenho a minha Jolie… para sempre nos meus braços. E o
melhor, é que mais do que um sonho, isso é verdade, é a
nossa realidade.

 
Pela manhã, acordo sozinho na cama, já irritado por
ela não estar ao meu lado. Arrumo-me e desço só para
passar mais raiva. Descubro pelo meu tio que ele chamou a
Jolie para irem até o esconderijo do Paulo, sendo que ontem
ela fez questão de não me contar nada.
O que tem com essa bendita mulher?
Como pode mudar comigo da água para o vinho? 
Mesmo puto, não discuti, apenas me arrumei e
quando viram, já estava no carro, indo com eles para a pista
do jatinho. Durante a viagem curta, fui afastado dela, até
chegarmos ao destino.
O lugar onde o Paulo se escondeu é bem remoto, pois
depois de descermos do jatinho, fomos levados em meia
hora de estrada de barro até a casa de dois andares na
serra. Lá fomos recebidos pela Lupita e um tal de Manoel,
um homem de confiança do Paulo. 
— Só tem vocês? — Tio Argus pergunta para eles.
— Sim, não temos confiança em mais ninguém.
Vamos ficar aqui até o Paulo se recuperar e as investigações
policiais cessarem — Lupita explica e nos serve uma caneca
de chocolate quente.
— É o mais seguro no momento. 
— Naquela mesma manhã também mandamos
colocar fogo na mansão, para a polícia não encontrar nada
comprometedor do Toretto, e que igualmente possa recair
sobre o Paulo — Manoel comenta. — Foram ordens dele.
Jolie abaixa a cabeça, pensativa.
— Eu vivi tantas coisas naquela casa, a maioria
lembranças ruins. Não dá para acreditar que tudo aquilo
acabou.
— Eu cheguei a pouco tempo e sinto que vivi anos no
inferno. Sinto o mesmo alívio que você, Jolie.
— Acabou, Lupi, graças a Deus.
Ficamos conversando mais um pouco, sem ainda
incomodar o Paulo, que está dormindo sob medicamentos,
mas quando acordou, tio Argus foi o primeiro a ficar a sós
com ele.
— Vai conversar com a Dalila? — pergunto para a
Jolie, após segui-la até a cozinha da casa aconchegante.
— Daqui a pouco.
Paro-a, olho no fundo dos seus olhos e beijo a sua
mão.
— Por que está brava comigo?
— Eu brava? Desde quando?
— É claro que está, te conheço.
— Pois se me conhecesse, saberia os meus motivos…
— resmunga.
— Eu não sou adivinho, cacete, não tenho testículos
de cristais. Como eu vou saber o que te incomoda?
— Se a sua consciência estivesse pesada, teria todas
as respostas óbvias — ela passa a mão no meu peitoral,
descendo até o cinto da calça. — Agora com licença
Não permito que ela dê meio passo. Agarro a sua
cintura, pressionando-a contra o armário de madeira.
— Rael!
— Vou te mostrar o Rael, bruxa atentada do cão.
Beijo a sua boca, louco com essa mulher irresistível.
Ela chega a perder a força das pernas e dos braços. Devoro
a sua língua, os seus lábios deliciosos, com sede de puni-la
por também estar me punindo por algo que eu nem sei.
Porra, isso me deixa mais feroz, mais faminto e mais
sanguinário ao beijá-la.
— Rael... — Jolie entrelaça os braços no meu pescoço,
gemendo e roçando excitada no meu volume.
— Hã-hã… — de repente, alguém pigarreia e
imediatamente viramos a cabeça, para dar de cara com o
tio Argus.
Afasto a Jolie, recompondo-me.
— O Paulo deseja falar com você, Jolie.
— Cla-claro… já vou — toda fora do lugar, ela limpa a
boca borrada pelo batom, desamassa a blusa e sai por
pouco tropeçando.
— A gente só estava conversando — digo cínico para
o meu tio.
— Eu estava vendo a conversa com muito diálogo. 
— Falando em diálogo, o que o senhor e o Paulo
conversaram? — mudo de assunto.
— Não pude me aprofundar muito, devido ao seu
estado debilitado de saúde, no entanto, conversamos o
necessário. Precisamos mantê-lo do nosso lado, é um bom
homem, não desejo que seja corrompido pelo mundo da
máfia.
— Ele realmente parece ser o melhor de toda a família
Borghi. Quem diria que éramos primos… minha mãe, irmã
do Toretto. E nos dizia que ela era uma prostituta… — tento
não criar rancor ao ver o meu tio assentindo.
— Sinto muito filho, ela quem inventou a história para
cortar qualquer pergunta sobre o seu passado verdadeiro. A
mãe de vocês era uma grande mulher, assim como a Jolie.
Ela tinha uma garra, uma força e acreditava no amor. Grega
foi capaz de desistir de tudo pelo seu pai, assim como ele
por ela. Por isso que os dois faleceram juntos. Foi o pior dia
da minha vida… deixei vocês com a Marina e me afastei por
semanas. Não queria que me vissem fraco, sofrendo como
se aquela dor terrível nunca fosse passar. Eu precisava me
recuperar, para voltar forte para vocês três. Era o meu
dever, a minha obrigação com seus pais.
Eu abraço o meu tio.
— Também sofremos. Eu, Hoss, Vince e o senhor
estávamos tentando ser fortes um pelos outros. Ainda
fazemos isso, pois o que nos mantém vivos e corajosos é a
família, foi o senhor que nos ensinou a ser grandes homens.
Ele acaricia o meu cabelo.
— E são, eu tenho orgulho de cada um de vocês,
meus filhos...
 

Eu termino de conversar com o Paulo, comovida por


vê-lo dilacerado pela morte do pai e do irmão, novamente.
Tentei esconder as minhas lágrimas, mas foi impossível. Ele
pode contar comigo para o que precisar, pois jamais vou
abandoná-lo, é meu amigo, meu protetor. Quero-o bem e
recuperado de tudo isso, para ser feliz ao lado da Lupita.
— Jolie? — Lupi me vê no corredor, todavia, sou eu
quem a peguei escondida, ouvindo a nossa conversa. —
Desculpa — sussurra, envergonhada.
Noto-a estranha, com os olhos marejados.
— Lupi, está tudo bem com você?
— Sim…
— Seu “sim” foi muito incerto.
Ela suspira.
— Escutei vocês conversando. Estou com medo, não
sei o que pode acontecer daqui para frente.
— Refere-se a você e a ele?
Ela confirma com a cabeça.
— Ele não me ama, não gosta de mim como a sua
mulher. Eu fui um erro, que agora não pode ir embora da
sua vida.
— É claro que pode, se você quer ir embora, você tem
todo direito de ir, entendeu? Toretto não está mais aqui para
dominar as nossas vidas, determinar os nossos passos.
— Mas o Paulo não permite que eu vá, ele já berrou
isso comigo, brigamos centenas de vezes. Eu carrego o seu
filho, o seu sangue e por mais que Toretto tenha morrido,
Paulo continua com o mesmo pensamento mafioso, em
relação a família.
Chego perto dela e abraço-a. 
Ela chora nos meus ombros.
— Você está sofrendo, está apaixonada por ele…
— Não sei nem o que eu sinto. Não queria gostar dele,
eu não gostava, o que tivemos, aquela noite… tudo
aconteceu no calor do momento — desabafa. — Paulo
estava louco por causa da Elena e eu queria os dois juntos,
porque tínhamos uma vida maravilhosa, regrada a luxo, a
viagens pela Europa. É tudo culpa minha, o meu egoísmo
me puniu!
— Lupi, fica calma… — aliso as suas costas,
acalentando a sua dor. — Eu passei por tanto sofrimento
casada com o Pedro. Durante todos esses anos tive que tirar
forças de não sei onde, por mim e pela Lila. Não é fácil, mas
você também pode mudar o seu futuro.
Ela se afasta, limpando as lágrimas.
— Não posso, eu sou dele… tive que assinar o papel.
— Que papel?
— Do casamento, estamos casados — Lupi volta a
desabar.
Meu Deus!
— Não conte para a Elena, por favor, ela também está
grávida e não quero preocupá-la durante esse começo de
gestação, só temos três meses… eu quatro na verdade.
Arregalo os olhos, tão em choque e penosa por ela.
Lupi tem um coração lindo, sem um pingo de maldade, é
uma menina que merece todo amor do mundo.
— Você também está grávida — aliso a sua barriga
pequena, mas saliente. — Se eu tivesse com essa
quantidade de meses, minha barriga já estaria enorme.
Sorrimos, mesmo que eu continue em choque.
— Então estão casados no papel?
Ela assente e mostra aliança no dedo.
— Toretto nos casou na última semana da sua morte.
Não tive forças para contar para a minha irmã, foi o pior dia
da minha vida. Na noite de núpcias ele me deixou sozinha e
foi comemorar a sua desgraça numa balada com um monte
de mulheres. 
— Meu Deus, não sei o que te dizer.
— Não diga nada, agora entende por que não posso
mais ir embora, ainda mais carregando um filho Borghi? Vou
arcar com as minhas consequências, mereci tudo isso.
Não tenho o que dizer, apenas abraçá-la e dar todo o
meu apoio.
— Você tem mais do que uma amiga, o que precisar
ligue para mim sem pensar duas vezes, entendeu, Lupi? Eu
me preocupo com você. E se o Paulo fizer algo, não
esconda, por mais que eu o conheça e saiba que ele não vai
te machucar… não fisicamente, agora o coração… não sei,
espero que ele se apaixone e a ame de verdade.
— Me amar? — ela ri, segurando as lágrimas. — Eu
jamais terei o seu amor. E não se preocupe. Vou tentar ficar
bem. Obrigada, Jolie, você foi a melhor pessoa que poderia
ter me acontecido…
Voltamos a nos abraçar, até eu criar forças para
também respirar fundo e conversar com a Dalila. Lupi me dá
todo apoio, dizendo que a hora é essa.
Ela até agora não fez questão de sair do quarto para
me ver. Estabilizo-me mentalmente, bato na sua porta e
abro sem ela mandar.
— Lila?
Meu peito se aperta ao vê-la.
Ela está na cama, lendo um livro.
— Dalila — chamo-a de novo e ela me olha.
— Oi…
— Eu vim te dar um beijo.
— Antes de me abandonar de novo? — murmura.
— Eu não te abandonei, não quero discutir… por favor.
Ela bufa baixinho, enquanto me aproximo da cama e
me sento ao seu lado.
— Eu te amo, você sabe disso e sabe que fiz o que fiz
por nós.
— Não quero falar do que aconteceu.
— Tudo bem, não vamos falar disso.
Acaricio o rosto dela, sentindo-a rendida pelo meu
carinho.
— O que vai ser de mim agora, Jolie? Tio Paulo não é
igual ao vô Toretto… por mais que eu o ame.
— Se quiser, você pode ficar comigo, já conversei com
o seu tio. Só vamos esperar algumas semanas, para a mídia
e a polícia cessarem o "barulho" em relação aos Borghi.
Lila se arruma na cama, para me ouvir atentamente. 
— Eu, morar com você?
— Quer isso?
— Não sei. Será no castelo dos Calatrone?
— Sim. Lá é enorme, parece um conto de fadas.
— Vince me detalhou como é. Somos amigos.
— Eu sei…, mas vamos aguardar.
— Tudo bem, ficarei cuidando do Paulo e da Lupita até
tudo se acalmar. Até lá, talvez eu até mude de ideia.
— O que decidir terá o meu apoio.
Lila assente, tão fria e muito diferente da garotinha
que ajudei a criar até a adolescência. Sinto-me culpada por
tudo que aconteceu, da mesma forma responsável por
ela. É como uma filha para mim.
Queria que tudo tivesse sido diferente, mas
infelizmente, teve que ser assim. Houve sacrifícios dolosos,
que agora só o tempo pode nos ajudar a curar.

 
Voltamos para o castelo por volta do entardecer. Jolie
se separou de mim e foi atrás de resolver algo, a qual não
quis entrar em detalhes. Na sala, sento-me no sofá, de cara
para o Vince, que está devorando uma bandeja de bolo.
— Eu amo a nossa cozinheira, acho que vou pedi-la
em casamento.
— Ela só tem trinta anos de diferença que você, mas
tem todo o meu apoio.
— Para o amor não tem cor, raça, nem idade,
queridinho. Sempre achei a dona Lucia o amor da minha
vida, sou o preferido dela, sabia? Ela adora me alimentar.
— Não sei como eu perco tempo te dando atenção.
— Rael! — de repente, a Hera surge gritando. — Vai
para a outra sala de chás segurar a Jolie! Ninguém está
dando conta delas!
— Delas?
— Sem perguntas, vai logo!
— Essa eu não posso perder, vou até levar o meu
bolinho… — Vince vem atrás.
Corro rápido até a sala do segundo corredor e quando
entro, dou de cara com a Isabel e a Jolie se descabelando
igual duas leoas ferozes. 
Mas o que está acontecendo?
— Sua cadela horrorosa! Ele é meu homem!
— Jolie! 
Puxo-a com força, enquanto o Morcego segura a Isa
do outro lado.
— O que está acontecendo aqui?!
— Me solta, Rael!
— As suas mulheres se gladiando.
— Ah, ele tem um triângulo, não é mesmo? — Jolie me
fuzila.
Então olho para a Hera e o Vince, sabendo na hora o
que está acontecendo.
Ela descobriu sobre aquele maldito beijo.
— Jolie, vamos conversar — murmuro, tentando
arrastá-la comigo, só que ela não cede.
— Não, é você e a sua família que deviam conversar
com a Isabel e questioná-la sobre quem é o traidor que
passava informações do Castelo para a máfia!
— O quê?! — todos exclamam juntos.
Morcego chegou a largá-la.
— Do que a Jolie está falando, Isabel? — Hera indaga.
— Ela soltou com a própria boca que fez o que fez
para proteger o próprio irmão!
— Não é verdade! — Isa se defende. — Como podem
acreditar nessa mulher?
— Sua cínica! É claro que foi você, esteve o tempo
todo em contato interno com a família Calatrone, sabia de
tudo que acontecia aqui! É a traíra!
— Isso é verdade, Isabel? — Hera pergunta de novo,
sem querer acreditar.
Nem eu quero acreditar, sequer consegui abrir a boca.
— Gente, o que está acontecendo? — Elena e o Hoss
também aparecem.
— Nada, simplesmente liguei o óbvio e descobri quem
era a traíra no meio de nós.
— Isa, não me faça desconfiar de você! — finalmente
exclamo e ela dá um passo para trás, abalada com o meu
tom nervoso, incrédulo.
— Não foi bem assim, Rael… precisamos conversar a
sós.
— Agora tudo está explicado! — Hoss esbraveja. —
Faça algo ou eu mesmo farei, Rael! 
— Por favor, saiam daqui e deixem-nos a sós, é só o
que peço.
Jolie é a primeira a sair, só que antes, ela me dá um
olhar frio.
Eu passo a mão no rosto, na barba, não querendo
acreditar nessa maldita situação.
— Se for verdade, estou decepcionada, Isa... — Hera
sussurra, antes de fechar as portas.
Ficamos sozinhos, encarando um ao outro.
— Não sei nem o que dizer.
— Não precisa dizer nada, entenda que a Jolie me
faria de alvo de qualquer coisa séria, para poder me tirar da
sua vida. E essa é a intenção dela.
— Conte-me a verdade, pois eu sinto que existe algo
incompleto.
— Não vou te enganar mais, eu menti sobre a
verdadeira pessoa que o meu irmão trabalhava. Ele era da
máfia e ficou três anos infiltrado no grupo de traficantes do
José, até descobrir que o Pedro estava vivo e até o José
matá-lo, antes que pudesse contar tudo para o chefão da
máfia.
— E onde você entra nessa história?
— Entra na parte em que a máfia veio atrás de mim,
me sequestrou e me torturou por uma madrugada inteira,
para eu contar tudo o que sabia. Não contei do Pedro, já que
havia sido ameaçada de morte pelo José, mas tive que
entregar a Jolie e algumas informações sobre vocês
Calatrone. Não tive escolha, foi apenas para me libertarem.
— Não teve escolha? Não consigo acreditar em você,
Isabel, sinceramente, não consigo. São tantas versões
diferentes, mas sempre tendo a sua pessoa como
coadjuvante envolvida. Em qual versão acredito? Talvez só
na parte em que entrega a Jolie, pois é claro que gostaria de
se livrar dela!
— Eu não podia te contar, Rael, estava com medo de
te perder, de se afastar de mim. Somos amigos, eu salvei a
sua vida duas vezes.
— Já lhe agradeci e lhe recompensei centenas de
vezes por te salvo a minha vida, para no final, receber essa
traição de você. Agora, não tem mais a minha confiança,
não sinto sinceridade, parece que está o tempo todo
contando tudo pela metade. Acabou!
— Rael… eu estou sendo sincera, é essa a verdade.
— Se é ou não é, tanto faz, não voltará mais a pisar
no castelo.
Ela arregala os olhos, segurando as lágrimas.
— Por favor, perdoe-me, não foi a minha intenção te
decepcionar. Tudo o que eu fiz foi para protegê-lo, proteger
a sua família.
— Chega, Isa! Não vou tirá-la da academia de
treinamento, mas contrataremos outra pessoa para ser
responsável geral.
— É isso? — chora.
— Tudo o que eu tinha para dizer eu já disse, não
quero mais discutir, com licença.
Retiro-me rápido da sala, tão frio e tão revoltado.
Vai ser assim com todos que ousarem quebrar a
minha confiança. Estou cansado de só angústias e
sofrimento. Quero ser feliz, quero ter paz juntamente com
as pessoas que amo. 
Evitando a todos, eu vou para a nossa sagrada sala de
jogos, servir-me de qualquer bebida forte. Fico por aqui com
os meus pensamentos fartos, até perder as horas e cair à
noite fria, ou até eu ser comunicado pelo Luiz que a Jolie
mandou eu encontrá-la na área da piscina.
 O que ela deve estar aprontando?
Desconfiado, vou até a minha mulher e a encontro
dentro da jacuzzi, só de biquini.
— O que está esperando para tirar a roupa, Sr. Rael?
— fala ao me ver chegando de mansinho.
— Esperando estar seguro eu entrar aí e você não
tentar me matar afogado, é bem da sua índole.
— Engraçadinho…
Sorrio e tiro a roupa para também entrar na jacuzzi.
E que maravilhoso.
— Essa água quente, borbulhando… está uma
delícia… não acha? — ela encosta a cabeça na borda e
relaxa com as bolhas.
— Sim. Estava merecendo, hoje o dia foi cansativo
para você — digo.
Jolie abre os olhos e pega na minha mão.
— Também foi para você, não pense só em mim o
tempo inteiro.
— Não sei como fazer isso, é uma das minhas
prioridades. Amo você. 
— Eu também te amo.
— Isso significa que estamos de bem? Pois já descobri
o motivo de ficar brava comigo.
— E quem disse que eu ainda não estou brava? E nem
foi tanto por essa droga de beijo, foi por não ter voltado
para cuidar de mim. Mas já foi, é passado.
— Mesmo assim, perdoe-me.
Jolie assente.
— Gostaria de saber como descobriu sobre a Isa.
— Eu descobri na mesma hora que vi a cara daquela
mulher, ela questionou alto “como ainda pode estar aqui?”,
mas se entregou completamente ao dizer que fez pouco,
que eu não merecia você e nunca vou te merecer. Foi ali
que eu soube a verdade… pois eu te mereço, você é meu.
Meu Deus, nunca senti meu coração tão acelerado
como agora.
— É claro que eu sou seu. 
— E eu sou sua…
— Para sempre. Não aceito que digam o contrário —
aliso a sua perna.
— Agora me beija.
— Oi?
— Eu mandei você me beijar! Quer saber? Eu mesmo
faço isso — ela então vira e monta em cima do meu colo,
para beijar-me devassa igual uma amazona.
Isso foi bem surpreendente, confesso que não estava
esperando uma quebra de clima assim.
Eu aperto as suas duas ancas com força, doido com
esse monumento de bunda.
Ela é minha, com toda a certeza do mundo.
Beijo-a com mais apetite, agarrando os seus cabelos
castanhos desde a raiz e mergulhando a língua no profundo
da sua boca molhada.
— Rael… Como pode ser o homem da minha vida? —
pergunta, sem fôlego
Desço os beijos pelo seu pescoço.
Ela rebola no meu pau, esfregando a bocetinha
maravilhosa. Tiro a cueca, também a sua calcinha, só para
ela se esfregar pele a pele comigo e ficar ainda mais
gostoso.
— Isso está tão bom — grunho, mordiscando os seus
lábios já inchados pelo nosso beijo.
— Delicioso, meu amor… 
Afasto o seu biquíni para poder lamber os seus
peitos. 
— Gosto tanto quando me mama assim.
— E quando faço isso? 
Pincelo a cabecinha do pau na sua bocetinha inchada,
louco com a sensação embaixo da água.
— Eu gosto também, porém, gosto mais ainda quando
me sento nele e penetro todo dentro de mim… hmmm…
assim… — ela se senta devagar, arfando com os
centímetros a rasgando gostoso.
— É, assim é maravilhoso, — sussurro no seu ouvido,
lambendo-a e a arrepiando — mas pode ficar melhor com
você…
— Assim, cavalgando? — ela sorri e começa a
cavalgar do jeito que eu gosto.
— Ohh, assim mesmo, amor…
Cato os seus cabelos e deixo-a inteiramente no
controle do nosso sexo, rebolando e me levando ao céu. 
Confesso que a Jolie tem todos os poderes sobre o
meu corpo, é mais do que a mulher da minha vida, ela é a
metade do meu coração. Como pude ser tão laçado desse
jeito? Não me vejo sem o aconchego do seu calor ao dormir
e ao acordar pelas manhãs frias, nem do seu carinho, do
envolver do seu beijo apaixonado, do seu cheiro, a maciez
da sua pele perfeita. Cada detalhe nela me resplandece, me
dá fôlego para viver.
— Eu te amo… eu te amo… — minha Jolie repete,
arfando e rebolando igual uma deusa.
Beijo-a, para abafar nossos gemidos de prazer, mas a
minha vontade era de permiti-la berrar de satisfação. É tudo
tão único, parece que nunca estive entre as suas pernas,
nunca senti o seu corpo tremer, as suas costas arquear, os
seus lábios se exprimirem e gemerem o meu nome.
É perfeito.
Todos os dias a desejo como na primeira vez. Nada foi
em vão.
Eu faria tudo de novo para tê-la como minha, para
estar aqui eternamente, amando-a em brasas, até que não
reste nem cinzas de nós.
Ela é o oxigênio que mantém a minha chama viva.

 
Ela é o oxigênio que mantém a minha chama viva…
Ela é… a minha Jolie. E não poderia estar mais linda. 
Quase não me aguentei ao vê-la entrar no salão, toda
linda com o seu vestido cor pêssego e cabelo meio
amarrado para trás, ornamentado com uma pequena coroa
de flores branca.
Quando ela para ao meu lado no altar, eu beijo a sua
testa e sussurro o quanto está perfeita.
Então olho para o Hoss e ele alisa a barba, tremendo
de nervoso. A música começa a tocar e a Elena finalmente
surge na porta, entrelaçada no braço do seu pai. Ela vem
emocionada, arrastando o seu vestido de noiva, com uma
fenda na perna. Ela se encontra deslumbrante. Hoss merece
essa mulher incrível, bonita por dentro e por fora.
Desejo que o amor dos dois seja eterno, na saúde e
na doença e em todas as coisas que o cerimonialista repete
logo depois, só para me fazer lacrimejar.
Que droga, estou tão feliz pelo meu irmão.
Feliz por nós! 
Jolie me olha, chorando de felicidade. Os noivos se
beijam e ela se inclina, para sussurrar algo no meu ouvido.
— Amor, já volto…
— O quê? Não pode.
Pego no seu braço, mas ela sorri, repetindo que vai
voltar e afasta-se.
Como assim? Somos padrinhos, onde essa mulher
pensa que vai, logo agora?
— Jolie… — resmungo, só que ela passa ligeira por
trás de nós.
Hera me olha estranha, entretanto, não temos tempo
de falar nada, já que Elena e Hoss se viram para os
padrinhos, madrinhas e os convidados, que são a nossa
família, contando com a enteada da Jolie, os pais e a irmã
da Elena e alguns amigos pessoais.
— Eu quero muito agradecer a Deus e ao sentimento
de amor que ele deu a todos nós seres humanos. Não sei
como explicar o que é o amor, mas é incrível, único,
grandioso, eterno, inteligente, entre trilhões de infinidades.
Eu amo todos vocês aqui, por mais que seja diferente, é
amor e compreendem esse sentimento, pois sei que é
recíproco em várias vertentes, em pequenos ou grandes
detalhes. É amor... — Ela aperta a mão do Hoss, segurando
as lágrimas. Os dois se olham. — Hoss entrou na minha vida
mostrando que esse sentimento pode ser ainda mais
profundo… é uma junção de almas, fazendo-se uma única
pessoa, eu e ele. Sem ele, sinto-me vazia, sem vida, sem
alma. E só pude compreender essa ausência, quando o
homem da minha vida se fez presente… ou os homens da
minha vida. — Ela alisa a barriga e todos abrem a boca,
principalmente o Hoss. — Nossa pequena Maria terá um
irmãozinho em breve, para protegê-la, se bem que eu acho
que vai acontecer o contrário, essa aqui é mais durona que
o pai e os tios juntos.
Sorrimos e olhamos para a pequena no colo do Vince,
ela também está chorando. Oh, Deus, que coisa mais linda
essa princesa.
— Eu te amo, amor… — É só o que ele consegue
pronunciar, em seguida, beijá-la emocionado. 
Elena se recompõe, virando-se novamente para nós.
— Hoje, é uma data ainda mais especial para
comemorarmos esse sentimento de amor inexplicável, por
isso, não deem a sua atenção apenas para nós. O
casamento só está começando.
A música de noiva volta a tocar e eu franzo o cenho,
até que todos olham para a entrada da porta.
E não sei quem segurou as minhas costas, mas evitou
que eu caísse sem forças no chão. 
N-não posso acreditar nisso!
— Ela está linda. — Hoss bate no meu ombro.
Continuo com os olhos arregalados, sem acreditar no
vestido que veste, no véu e na grinalda que recai nas suas
costas e se arrasta pelo tapete. É a minha Jolie… isso só
pode ser um sonho, não posso estar vendo-a de noiva,
carregada pelo meu tio Argus, o seu padrinho.
Isso não é verdade, não pode ser.
Olho para a minha família e eles estão sorrindo da
minha cara de incrédulo.
Hoss me puxa para o meio do altar, arruma o meu
terno e até coloca uma flor no bolso.
— Acorda, irmão, é o melhor dia da sua vida, não
pode perder nenhum detalhe. Ah, isso vai ser importante…
— Ele me entrega uma caixinha branca.
Aperto a caixinha, erguendo a cabeça para assistir a
minha Jolie desfilando a sua beleza reluzente. Ela está de
noiva, a noiva mais linda desse mundo.
Não, só pode ser um sonho mesmo.
A mulher da minha vida e meu tio param a um metro.
Começo a suar e a tremer. Argus beija a testa dela e a
aproxima de mim, entregando a sua mão.
Jolie chora ao me fitar.
— Esse não poderia ser o melhor momento para
entregá-la, filho. Todos aqui foram cúmplices da felicidade
de vocês, é a hora de concretizar esse amor que sentem um
pelo outro. Não há tempo a se perder.
Eu pego na mão dela, sentindo o meu corpo
desestabilizar de novo. Puxo-a para mim, sem me importar
com todos nos olhando.
— Surpresa… — minha bruxa diz e eu limpo as suas
lágrimas.
— Não pode ser real, amor.
— É claro que é. Eu e toda a sua família planejamos
isso por duas semanas, mas confesso que a ideia foi da
Elena.
— É, eu fui bem responsável por esse momento —
Elena confessa do outro lado. — Por que não matar dois
coelhos com uma cajadada só?
Sorrimos.
— Eu ia te pedir em casamento na festa, juro que ia,
Jolie. — Choro e tiro do bolso a sua aliança de noivado. — Eu
planejei tudo com o traíra do Hoss, mas seu plano foi maior
e jamais pensado por mim. Ainda acho que estou em um
sonho. Isso foi mais surpreendente que aquele tiro…
É vez de ela rir, com os olhos brilhando de amor.
E sem a minha futura esposa esperar, ajoelho-me
diante dela.
— Rael… meu Deus!
— Se é para ser assim, vamos fazer isso direito… —
Pego na sua mão trêmula. — Não importa o amanhã, o
depois, nem o tempo que for, eu sempre vou amar você por
toda a minha vida. Aceita se casar comigo?
As pessoas a nossa volta vibram, emocionados.
— Não acredito que ainda perguntou isso. É claro que
sim!
Coloco o anel no seu dedo e me ergo para beijá-la.
— Agora vamos selar isso para sempre, como deve
ser em toda boa história de amor — sussurro no seu ouvido.
— E a nossa terá o final feliz mais perfeito.
— Não tem como ficar mais perfeito com você ao meu
lado.
Beijo de novo a mulher da minha vida e então,
viramos para o cerimonialista, prontos para sermos um só,
até a eternidade de nossas chamas.
 
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
Luís de Camões

 
Olá, meus amores, obrigada por terem chegado até o
final de Rael, espero que tenham gostado. Esse foi o
segundo livro da Série Agiotas Em Chamas. O terceiro vem
aí, com o nosso maravilhoso Vince Calatrone. Ansiosas?
Não deixem de me acompanhar nas minhas redes
sociais, para não perderem datas, notícias e tudo mais
sobre os próximos lançamentos.
Sua avaliação é muito importante para mim. Também
não deixem de avaliar Rael. Grande beijo e nos vemos em
breve, em Vince.
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Me tenha (Livro 1 da Série Alencar) 
Me Conquiste (Livro 2 da Série Alencar) 
Homem De Verdade (Livro 1 da Duologia Verdade) 
Amor De Verdade (Livro 2 da Duologia Verdade)
Comprada Sem Amor
Sereyma (Livro Único) 
HOSS – Série Agiotas Em Chamas (Livro 1)
 

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