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“Fogo de Rael é em brasas. Não recomendo atiçar suas
chamas.”
A todos os amores que ardem sem se ver...
Quando acordei pela manhã e vi a mensagem da Isa,
não pensei duas vezes em verificar se era verdade, se ela
havia realmente achado o que me roubaram há cinco
meses. Fiquei ansioso, nervoso, e saí do castelo pilotando a
moto feito um jato pelas ruas de Lisboa. E no lugar
marcado, encontrei-a à minha espera.
— Não tem nem vinte minutos que te mandei
mensagem.
— Não posso perder mais tempo. Cadê o colar?
— Calma, vou te levar até eles. Estão no terminal
desativado de containers.
— E por que tão discretos?
— Eles sabem que você está atrás desse colar e,
também sabem que é um Calatrone podre de rico. Acha que
não iriam barganhar?
— E sabe que não temeria atirar na cabeça de cada
um para ter o que é meu!
— Eu sei, mas não seja um imbecil.
Isa me leva até um pequeno galpão, cheio de
containers, e para na grade.
— Vou ficar aqui fora, qualquer coisa aciono reforços,
só espero que não seja preciso. Tome cuidado.
Assinto e nervoso, viro as costas, entrando devagar
no local meio escuro, apesar de ser bem cedo. Quatro
homens, que estavam tomando o seu café da manhã,
cessam o que discutiam e me olham durões.
— Rael Calatrone? — um deles questiona, levantando-
se animado da cadeira.
— Eu vim buscar o que me pertence.
— Estamos aqui para colaborar com o senhor, desde
que colabore conosco.
— Bem óbvio que sua colaboração vem de uma
barganha. Qual o valor?
— Meio milhão.
— Meio milhão? — Começo a rir.
— Isso não faz nem cócegas no seu bolso. — É a vez
de ele rir.
Os outros três caras se erguem dos assentos, com as
suas armas empunhadas.
— Cem mil euros e fechamos.
— Acha que eu vou aceitar? Sabemos que cospe
dinheiro. É da família Calatrone, os maiores agiotas de
Portugal. Meio milhão ou nunca mais vê o que tanto
procura.
Ele ergue o colar.
Arregalo os olhos, sem acreditar que depois de tantos
meses o encontrei e está tão perto de mim, ao meu alcance.
— 300 mil euros. Dou a minha palavra.
Eles se olham, resmungando entre si. Até que o do
meio retorna à atenção, aceitando o acordo.
— Tem até 12h para trazer o nosso dinheiro ou… —
ele não termina de falar, inesperadamente leva um tiro na
boca, assustando a todos, que dão um passo para trás e
destravam as suas armas, inclusive eu.
O homem caiu de cara no chão, não tive tempo de
analisar a gravidade da sua morte instantânea, pois mais
sons de tiros se fizeram presentes. E antes que o outro
merda pudesse me acertar, eu o executei com duas balas
na cara. Os três também caíram mortos no chão.
— Não se mexa! — Uma mulher de calça jeans, regata
preta e cabelos presos num rabo de cavalo sai de trás de
um container escuro. Ela aponta a arma precisa na minha
direção. Consigo ver bem pouco da sua face. — Coloca a
arma no chão! — ordena e eu faço isso, querendo ou não,
está com mais vantagem do que eu, ainda atirou nos caras
sem pena nenhuma.
— Você os matou.
— Eles iriam fazer o mesmo comigo.
Ela dá mais alguns passos, até parar ao lado do
primeiro, que acertou na boca. A mulher se abaixa e pega o
meu colar.
— Isso é meu!
Dou um pulo descontrolado e ela atira perto de mim,
parando-me no mesmo lugar.
— Nem mais um passo, Sr. Calatrone! Eu preciso
disso.
— Quem é você, porra? Esse colar me pertence!
— Sinto muito, vou precisar dele para sobreviver.
— Ouviu a minha barganha com esse merda? Posso
dar o dinheiro para você em troca do mesmo objeto.
— E como me daria agora, neste exato momento?
Você não tem nada aí e eu preciso de dinheiro vivo.
— RAEL, A MÁFIA ESTÁ AQUI, FUJA! OS REFORÇOS NÃO
VÃO CHEGAR A TEMPO! — Ouço os gritos da Isa lá fora, a
seguir, uma chuva de disparos atinge o galpão.
Sem me importar com a arma que a mulher mira na
minha cara, eu simplesmente avanço nela, puxando-a para
trás do container vermelho.
— Não me toca, seu…
— Calada! — mando, apertando-a no canto.
Noto que está ofegante, sua aceleração quase
descompensada. Posso escutar os seus batimentos.
— Não tem saída por esse canto, a não ser por cima
dos containers. Por favor, ajude-me a fugir deles, pelo amor
de Deus! — ela se debate no meu peito, em desespero.
Não consigo ver o seu rosto, mas sei que está
chorando.
— A máfia está aqui por sua causa?
— Sim… eles não vão me deixar livre, nem com vida.
Ajude-me, aqui está o seu colar.
Ela me devolve o colar e eu aperto a joia, sentindo um
misto de sentimentos bons e ruins.
— Agora, ajude-me, por favor!
Os tiros cessam.
— Como é o seu nome?
— Jolie.
— O meu é Rael.
— Vai me ajudar?
Assinto, já em dívida por ela ter me entregado o colar
em troca de ajuda… Mesmo que pareça impossível de fazer
alguma coisa que nos salve, estamos cercados pela máfia.
Contudo, surge uma ideia e peço para a Jolie deitar-se ao
meu lado no chão. Ela obedece, seguindo os meus
movimentos de se rastejar até estarmos na saída do galpão.
Durante o percurso, mais tiros são disparados. Eu pego a
arma e acerto um cara a alguns metros. O tempo deles
entenderem de onde veio a bala é o mesmo de sairmos
rápidos para nos escondermos atrás de uma parede.
Eu vejo a Isa escondida do outro lado, à minha frente
muita água do oceano atlântico. Não vamos ter escolha.
— Vamos ter que pular do cais.
— O quê? — Ela arregala os olhos. — Está louco? Olha
a altura disso! Se não morrermos afogados, morreremos de
hipotermia!
— Quer ficar viva? Essa é a un… — De repente, eu
olho para ela e perco o fôlego, também a fala.
Puta que pariu, que mulher bonita é essa? Agora, com
a luz do sol, que eu pude analisá-la direito, dos pés ao
último fio da cabeça. E puta que pariu de novo, seu corpo é
perfeito, distribuída nas medidas certas. Seu cabelo
castanho é bonito, seus olhos, sua boca, nariz e até as suas
sobrancelhas são lindas.
— Pare de me olhar assim, seu desconhecido... —
sussurra autoritária, desviando brava de mim.
Eu respiro fundo, voltando o sangue para os lugares
certos.
Ouço mais tiros, eles acertam o container na nossa
lateral.
— A máfia entrou no galpão. Precisamos correr até a
ponta do porto. Só assim vamos conseguir salvar as nossas
vidas. Entendeu?
Ela olha para todos os lados, buscando outro plano
possível. E, sem escolha, concorda comigo. De longe, Isa
igualmente viu que a nossa única alternativa será essa…
correr, pular e torcer para ficarmos vivos.
Seja o que Deus quiser.
— Rael?
Abro os olhos, sem parar de piscar as pálpebras
pesadas de sono.
— Que susto me deu.
Observo a Isa dirigindo ao meu lado e ajeito o corpo
no banco.
Ainda estamos na estrada.
— Acho que cochilei.
— Você estava tendo um pesadelo e chamando de
novo por... ela.
— Estava?
Dou de ombros, também bocejo cansado.
— O que sonhou? — pergunta.
— Não sei se é sonho, apenas revivo todo o passado
de novo. Estive tão perto do colar do meu pai.
Isa me fuzila.
— Não é só o colar, é a tal da Jolie.
— Não toque no nome dessa desgraçada! A única
coisa que eu quero é ter de volta o que ela me roubou!
— Ela te deu um tiro, por que não lembra disso antes
de poupá-la? Vocês já se encontraram duas vezes! Em todas
essas vezes, essa vaca teve vantagem. Agora vive
sonhando com ela, chamando pelo seu nome. Jolie foi uma
ingrata, mal-agradecida.
— Chega, Isa. que merda, apenas foque na estrada,
precisamos chegar em Braga antes do anoitecer.
— Eu vou te deixar lá e ir embora!
— Faça o que quiser.
Ela bufa, irritada comigo.
Vamos o caminho inteiro em silêncio, sem falar nada
um com o outro.
Depois de duas horas, finalmente chegamos à cidade
de Braga. Se Lucas estiver certo, é para cá que a demônia
fugiu. Vou encontrá-la, juro que vou.
— Vai ficar sozinho neste hotel?
— Se não estivesse fazendo birra, poderia ficar
comigo.
— Não estou fazendo birra! Voltarei agora mesmo
para Lisboa!
— Então vá! — bato a porta do carro.
— Você ainda vai morrer por causa dessa joia!
Não respondo, continuo caminhando para a recepção
do hotel. Ouço-a pisar no acelerador e ir embora. Faço o
check-in, subo para o quarto e pelo celular, passo a
confirmação de que cheguei na cidade.
E por fim, caio na poltrona, estressado e frustrado ao
lembrar que não vejo há duas semanas a minha família. O
que mais me doeu foi saber do noivado do meu irmão. Não
pude estar lá com ele, comemorando essa ocasião tão feliz.
Foi a sua escolha… a puta da minha consciência
sussurra, deixando-me mais irritado.
Qual é? Preciso encontrar aquele colar, jurei para o
meu pai que o guardaria a sete chaves. Ele o confidenciou a
mim, depositou a sua confiança. E eu fiz uma promessa.
Para não ficar mais louco com os meus pensamentos,
resolvo tomar um banho e ir dormir. Logo a brincadeira de
caça ao tesouro vai começar novamente, mas esse tesouro
vem com um brinde.
Quando eu colocar as mãos naquela Borghi, talvez eu
a foda antes de matá-la e assim apago essa demônia dos
meus sonhos. Não tenho uma madrugada de paz. Por que
diabos foi se tornar uma obsessão, além de vingança?
Chega, putinha de mente, está fodendo o meu
cérebro!
Tento focar em algo que não me estressa, porém, só
relaxo depois de me masturbar pensando em quem não
devia. E durmo como uma pedra.
No dia seguinte, levanto-me mais descansado para
encontrar o Lucas. Aliás, ele já estava à minha espera no
restaurante do hotel.
— Bom dia, Rael.
— Bom dia, Lucas. Alguma notícia boa? E cuidado com
o que vai dizer ou corto a sua língua. — Sorrio, sem menor
humor.
Ele pigarreia, assentindo.
— Notícia ótima, essa noite você tem um evento
importante para ir, ela vai estar lá.
— Ou seja, a ladra tem mesmo uma família a
protegendo em Braga.
— São os Souza, a máfia não deve ter ideia deles. Ao
contrário de nós, que sabemos. Vince também nos ajudou
com a localização.
— O quê? Porra, eu NÃO ouvi isso!
Chuto a perna do Lucas por baixo da mesa.
Ele resmunga instantâneo de dor.
— Eu vou te matar, seu português do inferno! Vou
fazer ovo frito das suas bolas de gude que chama de
testículo!
— Calma, agressivo. Não tive outra opção. Foi difícil
achar essa mulher. Dê valor aos meus esforços. Vince foi o
último dos últimos recursos.
— Vou dar um tiro nessa tua fuça! O Vince é esperto,
agora ele já sabe onde estou e quem estou procurando!
Aquele polaco azedo é um dos melhores hackers do mundo!
— Sabia que agiria assim, por isso não te contei antes.
E já disse, eu não tive outra escolha, estava sozinho com os
nossos homens nessa cidade, sem saber que primeiro passo
dar. Também o Vince não vai falar nada, sabe disso.
— Mas vai me chantagear depois, é meu irmão
mimado aquela praga aproveitadora.
Pego o café que o garçom serviu e bebo num único
gole.
— Já tentou comer alguma mulher para ver se
desestressa um pouco? Não era assim não. Está pior que o
Hoss.
— Quer me ofender? Me compare com os meus
irmãos, seu jumento.
Luca ri.
— Desculpa, não vou brincar com a morte. Vocês,
Calatrone, me dão calafrios, literalmente.
Fuzilo a sua cara e ele se esforça para ficar sério.
— Mudando de assunto, o seu braço melhorou?
— Não muito, faz um mês que aquela ladra atirou em
mim, ainda atirou no lado direito, nem para poupar o braço
que me masturbo. Ando sofrendo para ter maestria com a
esquerda.
— Eu não ouvi essa merda. — Lucas ri, negando com
a cabeça. — Rael, você não vale nem um pentelho seco de
velha. Quem vê esses seus dois metros de puro músculos e
cara de animal feroz, não imagina o cômico insuportável
que é.
Pisco para ele.
— Gosto de descomplicar o que já é complicado por si
só, ou seja, zombar da desgraça, pois se eu levar muito a
sério, me torno um Hoss. E já vou, preciso fazer alguma
coisa para preencher o dia, até à noite.
— Lembrando que vamos estar lá para a sua
segurança, e nessa condição, não pode negar ajuda. São
seis olhos a mais. Ah, e vou buscá-lo no hotel para irmos
juntos.
Concordo em murmúrios, aceitando sem escolha a
sua segurança. Com o braço direito ferido, torno-me um
inútil. Despeço-me dele para refrescar a mente por Braga.
Preciso ficar calmo e recarregar o reservatório de defesas ou
Jolie pode sair por cima de novo, como já fez me enganado
duas vezes. Ela é muito esperta, consegue se fazer de
vítima como ninguém. Na verdade, essa ladra é uma ótima
atriz.
Ela que me aguarde hoje, irei surpreendê-la… sem
dúvidas!
Mais tarde, ao finalmente cair à noite, eu me arrumo
triunfante; visto um terno preto, com a camisa e sapatos da
mesma cor. Finalizo, penteando os cabelos para trás e
borrifando o perfume. Pronto, vou até o Lucas, que me
aguardava para me levar ao tal evento.
— Caprichou. — Ele faz uma cara de admirado. — Se a
sua intenção é chamar a atenção de todos, vai conseguir.
— Quando eu for apresentado pelo meu sobrenome,
chamarei mais atenção ainda.
— Não se preocupe, estaremos de olho em tudo, serei
o seu braço direito.
A paquita do diabo ri, tirando onda. E eu me controlo
para não puxar a arma e alvejá-lo.
— Ainda sei disparar com a mão esquerda. Cala essa
boca e dirige.
Ele volta os olhos para a estrada, sem querer
continuar com o seu risinho debochado. Eu respiro fundo, só
tendo em mente a Jolie e a minha joia. Encontrando essa
tinhosa, também encontro o meu colar. Preciso que ela
realmente esteja lá, pelo bem da minha saúde mental.
O evento fica quase perto do hotel. Uns vinte minutos
de diferença.
— Cadê o convite? — pergunto.
— É uma pulseira — Lucas me entrega a pulseira
dourada.
Eu colo no braço e juntos, descemos do conversível. A
seguir, mais dois dos nossos homens surgem. Os três me
acompanham como seguranças particulares. A gente
caminha até a entrada, mostro a pulseira para uma mulher
ruiva e sou liberado. No interior, como Lucas previu, eu
chamo a atenção de todos, ainda mais com três seguranças
ao lado. Ninguém para de me olhar, até cochicham entre
eles. A música está bem alta.
Aproximo-me das bebidas e viro uma taça de
champanhe.
— Que rápido, já tem um casal vindo até você —
Lucas informa e eu viro a cabeça, flagrando o casal que
realmente caminha até mim. — São os Souza. A segurança
deve tê-los informados da sua presença.
Eles param na minha frente, sorridentes.
— Olá, seja muito bem-vindo ao nosso evento de
aniversário. — A mulher estende a mão.
Eu não pego, mal me mexo para olhá-los com
atenção.
Eles pigarreiam.
— Fomos informados na recepção que é o Sr.
Calatrone, quero dizer, um deles… é uma honra um pouco
assustadora tê-lo presente entre nós. Sou Geovana e esse é
meu esposo, o Raul.
— Prazer em conhecê-los. Recebi o convite para o seu
evento. — Ergo o punho e exibo a pulseira.
— Recebeu? — Eles ficam surpresos. — Bom, alguém
deve ter mandado em seu lugar, para o senhor, mas nos
sentimos honrados… é um Calatrone, pessoalmente, diante
dos nossos próprios olhos, esse sobrenome é… — Eles se
olham retraídos. — Muito poderoso em Portugal. Não sei
nem o que dizer.
— Apenas agradeço a recepção — Sorrio, sabendo que
causei calafrios neles.
Todos aqui também ficariam em choque se eu
revelasse a minha identidade. Às vezes, esqueço do alto
nível que tenho entre esses milionários. É tudo tão normal e
simples no meu cérebro, só que na prática, nós, Calatrone,
causamos medo, arrepios e fábulas, onde somos agiotas tão
poderosos que, com uma “piscada”, conseguimos ordenar a
morte de qualquer um, em qualquer lugar. Também
inventam por aí que nos vingamos dos familiares, pegamos
as mulheres em troca de dívidas. Até de máfia eles nos
intitulam.
— Fique à vontade.
O casal pede licença e se afasta para dar atenção aos
outros convidados. Mas sei que estão de olho em mim.
Viro-me para o Lucas e ele entende o que desejo.
— Ainda não a encontramos.
— Quero um de vocês rondando o local.
Um deles concorda e sai para fazer o serviço.
Eu continuo no mesmo lugar, investigando cada rosto
feminino. Perco a conta de quantas taças eu bebo para
controlar o nervosismo e ansiedade.
— Já estamos há quinze minutos aqui e nada dela. Eu
mesmo vou sair por aí a procura dessa bandida.
— Só cuidado com o outro braço.
Lucas ri e leva uma cotovelada forte na barriga, que o
faz fechar os dentes e perder o fôlego.
— Ri agora.
Em meio a pequena briga com o idiota, eu ergo a
cabeça, arrumando o terno e então… puta merda, arregá-lo
os olhos, sem acreditar na bela mulher que estou vendo do
outro lado do salão.
Finalmente, porra!
Eu vou matá-la!
Lucas segura rápido o meu ombro.
Respiro fundo, quase ao ponto de voar descontrolado
para pôr as mãos no pescoço dela, mas me controlo. Preciso
surpreendê-la de outra forma. E por isso, solto-me, deixando
o Lucas para trás.
Caminho devagar, sem desviar os olhos de cada
passo e de cada movimento dessa mulher. Ela também
começa a andar, exibindo suas curvas atraentes, que
chamam a atenção dos homens.
Como pode ser diabolicamente bonita? Quem vê
assim até pensa que é doce, inocente e sensual na medida
certa. Só que é uma enganadora, falsa, manipuladora.
Não aguento e entro no meio de algumas pessoas,
cada vez mais perto de alcançá-la. Até que a Santa Diaba
vira despretensiosa a cabeça e finalmente me encontra.
Ela paralisa na mesma hora, fechando os lábios,
arregalando os olhos e deixando cair no chão, a taça que
acabara de pegar da bandeja do garçom.
Os músculos do meu corpo se endurecem, já o meu
sangue borbulha nas veias, de fúria.
— Sinto muito, senhorita, foi culpa minha. Eu cuido
disso...
Jolie dá passos atrapalhados para trás, conectada aos
meus olhos furiosos. Tendo a única alternativa de fugir, eu
deixo que ela fuja, pois a sigo como uma fera louca para
abater a sua presa inimiga. Ela se esbarra em vários
convidados, quase tropeçando nos saltos. Seu pior erro é
fugir para fora do evento. Alcanço-a sem muita dificuldade.
— Onde pensa que vai, Sra. Borghi? — Puxo com força
o seu braço.
Ela tromba no meu peitoral.
— Achei que fosse mais inteligente para correr de
salto na grama.
Jolie ergue a cabeça, analisando-me com os seus
olhos de cobra, sem remorso nenhum.
— É tão bom te ver, Rael… — Ao parar os olhos no
braço que me acertou um tiro, eu a sacudo e a prendo mais
forte em mim.
— Eu vou te matar!
— Tem todo o direito.
— É claro que eu tenho!
— Estou nas suas mãos — sussurra e sopra a sua
respiração quente no meu rosto.
— É uma ordinária. Como pude me compadecer
cegamente de você?
— Eu não tive escolha, se eu não tivesse atirado em
você, teria vindo atrás de mim e nós dois estaríamos nas
mãos da máfia.
— E fez isso por qual razão? Para depois fugir deles de
novo?
— Eu…
— Quer saber? Foda-se! Não confio em uma palavra
sua.
Vejo Lucas me observando na entrada do salão do
evento. Volto os olhos fulminantes para a Jolie e essa sua
beleza de causar ereções involuntárias.
Merda, o que estou pensando?
— Vai me dar o que roubou naquela mesma noite que
me feriu ou...
— Ou o quê? Vai me matar?
— E está duvidando?
Eu pego a arma, destravo e coloco apontada
discretamente na sua costela.
— É melhor começar a andar com um lindo sorriso
nesses lábios.
— Rael, você não pode me levar daqui, estou segura
com os Souza, eles…
— Cala essa boca e sorria. Vamos continuar nossa
conversa em outro lugar.
Ela fecha a cara com raiva.
A gente volta para dentro, escoltados pelo Lucas e
nossos homens.
— Tenho que me despedir da Geovana.
— Vai fazer isso por telefone, quando eu achar por
bem.
Não olho para a cara dela, levo-a até o carro blindado,
ainda tive que jogá-la no banco.
— Bruto!
— Cretina!
— Você foi uma maldição na minha vida! Eu devia
ter...
— Devia ter o quê? — Avanço nela, agarrando os seus
cabelos com força e a pressionando na janela dos
passageiros. — Devia ter mirado aquela bala no meu peito?
Lucas pisa no acelerador.
Ela se cala em meio a dor dos meus puxões nos seus
fios castanhos.
— É eu quem não devia ter te salvado naquele porto,
quando nos conhecemos. Pois o que eu recebi em troca? Um
tiro, traição e mentiras. Você é assim, cansei de perder o
meu tempo. Vai me dar o que roubou e depois vou desová-
la em alguma vala podre.
Solto-a, com a respiração acelerada de nervoso.
Jolie permanece com a cabeça na janela, sem
expressar um som sequer, a não ser da sua respiração.
Lucas continua dirigindo e seguindo para outro hotel
que combinamos de mantê-la presa e segura da máfia. Eles
não vão nos encontrar.
Em uma hora e meia a gente chega no local.
— Onde estamos? — Ela olha para mim, por mais que
estejamos no escuro, posso ter certeza de que está
buscando no seu cérebro alternativas de fugir.
Não a respondo, desço, dou a volta no carro e abro a
porta do seu lado.
— Desça ou eu faço questão de arrancá-la à força.
— Tudo é a base da força para você — desce e para
com o rosto a poucos centímetros do meu, fitando-me.
Jolie é muito alta, com os saltos ela fica quase na
minha altura. A porra de um mulherão de pernas longas e
torneadas.
— Com você será sempre assim, acostume-se. Não
vou ser mais o seu bom amigo.
— Que piada. Meu amigo porque eu determinei que
fosse. Para você nunca existiu amizade, os seus olhos
desejam outra coisa de mim, desde o começo que nos
conhecemos. Não é verdade?
Talvez fodê-la como um animal no cio e deixá-la sem
andar por uma semana? – penso, mas me calo e faço a
desgraçada sair rastejada, para entrarmos no hotel, pegar a
chave e subirmos para o último andar. Lucas também ficará
hospedado no mesmo corredor que o nosso, para a
segurança dela.
Eu entro no quarto, a empurro para algum canto e
então fecho a porta.
— Animal! Para de ser bruto comigo, não é assim.
— Eu quero o que roubou do meu pescoço naquela
noite em que me feriu.
— Eu perdi, não tenho mais o colar.
— MENTIROSA! — tomo os seus braços e a sacudo. —
Você sabe o quão importante essa joia é para mim, você
sabe!
— Rael…
— ONDE ESTÁ, JOLIE??? DIGA!!!
— Por favor, está me machucando…
— Eu devia te matar! — empurro-a na cama. —
Cretina dos infernos!
— Não foi por mal o que eu fiz.
— Duas vezes que eu já depositei confiança em você,
na primeira vez, depois que te protegi, fugiu e na segunda,
atirou em mim!
Ela se senta na cama, arrumando a porra do seu
vestido decotado.
— Não estou com o colar, a máfia pegou, eu juro que
é a verdade. Está com eles em Lisboa. Eu fugi para Braga
sem nem uma peça de roupa sequer.
— Então voltaremos para Lisboa e eu te trocarei pelo
que é meu!
— Não, pelo amor de Deus, não faça isso! Os Borghi
vão me matar! — ela corre até mim, suplicando em
desespero. — Não pode fazer isso.
— Eu posso!
— Sei que está furioso comigo, com raiva, mas esfrie
a cabeça, por favor. Além de que eles podem nem te
devolver a…
— Cala essa boca, Jolie!
Quase ergo a mão para ela, mas dou um passo para
trás e passo os dedos trêmulos nos cabelos, na barba e viro
as costas, antes de cometer alguma besteira.
Saio do quarto sem mais querer olhar na cara dessa
mulher.
Lucas deixa um dos homens vigiando a porta e me
acompanha para fora do hotel.
— Precisa manter a calma.
— Eu estou calmo!
— Está é a cada dia mais idêntico ao nervosinho do
Hoss. Deve ser o mal dessas mulheres, nos enfurecer e nos
enlouquecerem — ele tira um cigarro do bolso, acende e me
oferece.
Eu pego, tragando bem forte.
— Faz tempo que eu não sei o que é colocar nicotina
na boca.
— Fume só esse, não quero ser o responsável pelo
retorno dos seus vícios. Argus me castraria.
Trago mais um pouco do cigarro e jogo o restante fora.
— O que vai fazer com ela?
— Jolie disse que o colar está com a máfia em Lisboa.
Sabe o que isso pode significar?
— Eles não vão ser capazes de abrir o pingente.
— Não conhece esses filhos da puta. Eu devia estar
protegendo a joia, como prometi ao meu pai.
— E os outros Calatrone sabem?
— Só o Hoss sabe que procuro por um colar herdado
pelo nosso pai, porém, não sabe o porquê de ser tão
importante para mim.
— Pois acho que devia ligar para ele e contar a
verdade. Sua família vai estar louca te procurando.
— Está fora de cogitação. Vão querer se meter, fazer
perguntas. Preciso resolver isso sozinho e de uma vez.
— Se quer assim, não posso fazer nada, a não ser te
proteger, afinal, também é o meu chefe. Só que agora, e
sobre a Jolie, vamos segurar a Borghi até amanhã na
cidade?
— Não sei ainda. Não sei nem se eu acredito
completamente na versão que me contou. Isa teve razão de
implicar com ela desde o começo, vivia dizendo que Jolie
era uma falsa, que estava me manipulando. As duas nunca
se entenderam. E eu não dei ouvidos a Isa, confiei na Jolie,
pois me compadeci do seu sofrimento, da sua história. No
final fui um idiota, um trouxa.
— Concordo que foi um tremendo idiota. Porra, Rael,
ela é uma Borghi. Não devia se meter com a máfia. Ainda
mais com a viúva do primogênito assassinado. O chefão
está com sangue nos olhos para vingar a morte do filho.
— A Isa já repetiu esse caralho milhões de vezes. Eu
sei! Mas compadeci dela e do seu tal sofrimento. Ela foi
destinada desde que nasceu a ser esposa do Pedro Borghi.
— E o que tinha a ver com isso? Era até
compreensível você ter salvado ela naquele tal porto,
também ter a ajudado a fugir, agora tomar as dores da sua
vida? Por isso acabou com um tiro no braço. Sempre
querendo ser o salvador da pátria.
— Meu braço está ficando ótimo para acertar a sua
cara. E não pedi a sua opinião para nada — bato no peitoral
dele. — E vamos dividir o quarto.
— Hummm… está com medo de se render aos
encantos da ladra? — ele ri. — Pois a mulher é bonita, vou
te contar viu. Que curvas.
— É melhor você se cuidar, caro Lucas, posso não
resistir à tentação se virar de ladinho mais tarde — pisco e
ele me xinga.
— Você está é louco para comer a viúva Borghi. Vou
apostar que até o final da semana transam.
— Se eu não matar essa cretina antes, talvez
compenso a minha frustração a fodendo. E vou ver como ela
está.
Só pode ser um pesadelo. Não acredito que o Rael me
encontrou. E como ele fez isso, sendo que nem a máfia
consegu3iu me localizar em uma semana? Que ódio.
Eu vou até a janela do quarto, com os punhos
cerrados. Respiro fundo, pensando no susto que foi vê-lo
naquela festa, fiquei sem reação nenhuma… nem quando
me alcançou, tocou no meu braço com as suas mãos brutas
e me tomou para ele, em fúria, soprando labaredas pelas
narinas. Desde que o conheci, nunca o vi tão bravo daquele
jeito, e justo comigo. Tá bom que eu dei um tiro no seu
braço, mas acontece, não é? Droga, ele tem todo o direito
de acabar com a minha raça. E isso é o que mais me
apavora, saber que o Rael é capaz, que ele mata pessoas
friamente. Eu o apunhalei pelas costas. Contudo, que
escolha eu tive? Já o meti demais com a máfia… a minha
“família”. Como detesto carregar esse sobrenome, detesto
todos os responsáveis que me obrigaram a tê-lo no meu
registro.
Agora, sigo mergulhando o Rael ainda mais no meio
dos Borghi.
Olho o meu reflexo pelo vidro, admirando a minha
beleza, os meus olhos matadores… frios. Às vezes nem eu
acredito no que sou capaz de fazer. Talvez seja egoísmo?
Medo? Solidão? Sobrevivência?
Não sei. Não me reconheço, ou nunca cheguei a me
conhecer realmente. Desde que nasci a minha família me
criou para ser a esposa de um mafioso. Tinha que ser assim,
eu fui o pagamento de uma promessa, a esposa destinada...
Escuto a porta do quarto ser aberta, mas não faço
questão de virar para olhá-lo e enfrentá-lo de novo.
— Seria impossível pular dessa janela.
— Isso nem passou pela minha cabeça.
Não sei se ele está mais calmo. Desconfio que não.
— Preciso das minhas coisas, elas estão na mansão
dos Souza.
— Você vai ligar amanhã de manhã para eles. Peça
para embalarem seus pertences.
Resolvo encará-lo.
— E o que mais decidiu, Rael?
— Você ficará por dentro de tudo, conforme a
carruagem anda — ele observa o quarto. — Isso tudo é
consequência sua. Espero que tenha uma péssima noite de
sono.
— Péssima? Pelo contrário, minhas noites são sempre
ótimas. E achei que você fosse adorar dormir aqui comigo.
— Como se atreve a empinar a porra desse nariz?
— E o que queria? Deboche e sarcasmo são as únicas
coisas que eu posso usar até você me matar. Além do meu
orgulho e coragem.
Deixo-o puto.
— Vou comprar uma focinheira para calar essa sua
boca. Como pode ser tão irritante? E não tem esse direito,
me roubou, é uma traíra!
— Já não estou aqui para você se vingar de tudo o que
eu fiz? — caminho até ele e paro desafiadora na sua frente.
— Juro que se o colar ainda estivesse comigo, eu te
devolveria.
— Mentirosa!
Rael me surpreende ao tocar numa mecha do meu
cabelo, aproximando o seu rosto selvagem do meu. Ele é
tão bonito, abrasador.
— Mas não vou sair perdendo nessa, Jolie. Tenho
muitos planos com você, antes de descartá-la.
— Planos que nunca foi capaz de me dizer? —
também chego mais perto do rosto dele, controlando-me
para não tocar na sua barba cheirosa. Noto que o deixei
rígido. — Planos que a sua cadelinha Isa te atrapalhava a
realizar comigo, não é?
— Eu devia ter a ouvido desde o começo. Isa tinha
razão sobre o seu mau-caráter.
Rael desliza o dedo indicador na pele macia do meu
braço. Quase perco o ar diante desse homem cheio de
músculos e beleza desconcertante.
— E por que não acreditou? — sussurro.
— Por que eu fui um imbecil por me compadecer da
sua situação? Se arrependimento matasse pelo menos.
Observo os olhos violentos dele. Sinto-o se
controlando para não avançar em mim e me devorar.
Também não evito analisar os seus lábios carnudos, a sua
barba grande e bem-feita.
— É você quem me quer, Jolie, desde o começo —
Rael sobe os dedos grossos para a alça fina do meu vestido
de gala. — Sempre me analisando com esses olhos
famintos… imagina seus pensamentos íntimos?
Minha respiração fica mais pesada, tento dar um
passo para bem longe dele, mas não tenho forças. Ele me
embriaga, deixa-me sem forças.
Rael sorri e se afasta.
Permaneço parada, sem o calor do seu corpo, o toque
da sua mão na minha pele carente... sem ele.
— Ligue para quem precisa e peça as suas coisas —
estende o celular.
Ergo a cabeça e sem deixar me abalar, eu faço o que
mandou. E assim que finalizo a chamada, Rael toma o
celular da minha mão, me dá o seu último olhar de desprezo
e se retira do quarto.
Bufo furiosa, tirando os saltos dos pés e jogando na
porta.
— VAI PARA O INFERNO, SEU OGRO!
— Então? — Lucas indaga.
— Mostrei a foto do colar para o joalheiro e ele
reconheceu a joia. Também afirmou que comprou de uma
mulher alta, de cabelos castanhos.
— Jolie disse a verdade, desta vez. Conseguiu o nome
do comprador?
— Tive que mirar uma arma na cabeça do velho para
conseguir essa informação — tiro o celular do bolso e
mostro a rede social dele. — É esse cara aqui. Consegue
rastrear o endereço sem consultar o polaco azedo?
— Como assim? Sabe que ele é o único que podemos
recorrer agora, e com rapidez
— Que merda, eu preferia um tiro nos testículos.
— Se quiser eu poss…
— Mais um piu e corto a sua língua com um beliscão.
Ele ergue as mãos, rendendo-se.
— Você não vai melhorar mesmo esse humor “Hoss”
enquanto não recuperar esse colar.
— E não vou! Sabe o quão importante é para mim.
— Tem algo dentro do pingente, não tem?
Eu suspiro, sem querer afirmar nada no momento,
pois nem eu sei direito.
— Seu pai mandou você abrir?
— Não, apenas guardar até a hora certa.
— Quem manda alguém guardar um colar com o
pedido de “guardar até a hora certa''?
— Não sei Lucas, só estou fazendo, ou tentando fazer
o que ele me pediu à risca. Mas, se não percebeu, parece
que a porra do universo não está deixando.
— Primeiramente, você quem perdeu o colar.
— Dá para calar essa boca de hipopótamo, seu
trambiqueiro do cão?
— É esse Rael que eu gosto.
Lucas pisca, querendo realmente ficar sem uns dez
pares de dentes.
— Cansei dessa sua cara, já não basta ter que
suportar a daquela mulher de nariz empinado, atrevida,
ladra, insuportável, gostosa… — resmungo.
— Eu ouvi, Sr. Calatrone. Não está é se aguentando de
vontade de fodê-la.
— Como diriam no Brasil, vai catar coquinho! — sem
dar continuidade ao assunto, eu viro as costas e me retiro
da mesma presença que a do estrupício.
Retorno para o meu carro e desta vez, para a
presença perturbadora da Jolie. Ela não me pergunta nada,
permanece quieta durante o percurso todo. E acho até bom,
já que só a sua voz me deixa frustrado.
No hotel, ainda por pena e preocupação, levo-a para
almoçar. Sei que nem tocou no jantar ontem, deve estar
faminta.
— Obrigada… — ela agradece, após eu servir o vinho
em sua taça.
Volto a sentar no meu assento, sendo inevitável o
murmúrio de dor. Tirei a tipoia apenas para Jolie não ter o
gostinho de ver o que fez comigo há um mês e meio, e que
ainda doí essa porra. Tive que esconder da minha família o
tempo todo, nem sequer desconfiaram.
— Sinto muito, Rael — diz, sem nem encarar os meus
olhos.
— Você não sente coisa nenhuma.
— Eu não sou um monstro, sabe disso.
— Não sei de nada, eu não te conheço. E pelo que
tentei entender ou conhecer, você não vale a pena. Não
valeu nem os meus esforços para te proteger.
Ela ergue a cabeça, com o mesmo olhar frio, sem
demonstrar nada.
Por que essa mulher é assim?
— E você tentou mesmo me entender? Tem certeza
disso? Posso voltar ao início da história? — corta com força
a carne no prato, resmungando. — Tentou me entender…
sendo que estava sempre junto da cadelinha da Isa. Ela
preferia que você tivesse me abandonado à sorte naquele
porto. Você nunca tentou me entender! Pelo contrário,
ficava criando só suposições da minha vida com a sua
amiguinha. Acha que eu não escutei as suas conversas com
ela?
— Não tem nenhum direito de discutir isso, Jolie! Eu te
salvei da máfia, entendi a sua situação de querer liberdade,
e que não podia, porque era esposa do Pedro, também,
porque sabia demais. Por compaixão da sua situação, por
misericórdia de te matarem, eu te deixei segura por três
dias, até que fugiu. Recorda disso? Na segunda vez, você
conseguiu o meu número e me ligou pedindo para te deixar
segura de novo. O que eu fiz? O trouxa te ajudou por mais
uma semana, te mantive segura em um dos meus
esconderijos pessoais… até aquele sábado à noite, quando
a máfia te encontrou e você mirou uma arma na minha
direção. Sabe o que senti quando te vi apertando aquele
gatilho? A porra da dor no peito, pensei que tivesse
acertado a bala bem no lado esquerdo. Depois de ter
atirado com tamanha frieza, ainda teve a coragem de se
aproximar de mim, puxar o colar do meu pescoço e correr.
Não consegui reagir, fiquei ouvindo o som estridente dos
seus saltos sumirem. Só estava torcendo para morrer ali, de
tão idiota que fui de ter ajudado e confiado numa cretina
que carregava Borghi como sobrenome. Isa sempre teve
razão sobre você. Fui um tolo.
E de novo, diante do meu relato sincero, Jolie não
demonstra nada, nenhum arrependimento, culpa ou
qualquer coisa que torna essa demônia humana. Inclino-me
raivoso sobre a mesa, para ela ver como quero estrangulá-
la.
— Depois que eu conseguir o meu colar, que você
roubou, vou descartá-la do mesmo jeito que fez comigo.
— Que seja — é só o que declara, a seguir desvia e
começa a almoçar.
Isso me revolta tanto que eu dou um soco na mesa,
empurro o prato no chão e me levanto da cadeira.
Lucas aparece rápido, juntamente com os dois
seguranças.
— Rael… calma.
Ele me olha, enquanto eu respiro e suspiro como um
animal em fúria. Meus punhos estão cerrados, a adrenalina
faz cada veia do meu corpo pulsar.
— Assim que essa vadia terminar de comer, leve-a até
o seu quarto!
Sem conseguir mais olhar na cara dessa mulher, eu
saio do hotel e sumo! Desapareço o restante do dia, até
como umas putas para desestressar a porra do estresse!
Lucas me liga umas mil vezes. Ao anoitecer, sou encontrado
por ele na rua, enchendo o estômago de cachorro-quente.
— Que fossa… — ele se senta ao meu lado no banco.
— Fiquei preocupado, não atendeu nenhuma das minhas
ligações. Pelo menos passou a raiva?
— Tive que deixar o pau na carne viva para voltar ao
normal — respondo de boca cheia, sem me importar com a
boa etiqueta.
— É muito afetado pela Jolie, já percebeu? Sendo que
mal tem uma relação importante com ela. Quero dizer…
depois de salvá-la no porto e recuperar o colar, você a
protegeu por três dias, na verdade, quem ficou responsável
foi a Isa… aí ela fugiu, e semanas…
— Chega, Lucas, não sei o que quer insinuar, e não
me interessa no momento.
— Tá bom — ergue as mãos, em gesto de quem se
rende. — Ainda assim, a viúva do mafioso te afeta de um
jeito que nenhuma outra mulher fez.
Não concordo, não discordo, estou cansado.
— Eu vou resolver isso. Só preciso do meu colar.
— Vince conseguiu a localização do tal homem que o
joalheiro vendeu a joia.
— Onde? Quero todas as informações.
— Relaxa, amanhã só vista o seu melhor traje social,
tem um coquetel bem importante para ir às 09h.
— Ele vai estar lá?
— O cara é o anfitrião.
— Só para complicar mais.
Passo as mãos no rosto, coço a barba, então ergo-me
do banco para ir embora. Sem dizer nada, ele entende o
recado e me acompanha.
De volta ao hotel, eu e o Lucas subimos os lances de
escada, discutindo sobre a Jolie e o tal coquetel de amanhã.
— Não é seguro levá-la, não quero os Borghi na minha
cola. Sabe do que eles são capazes de fazer.
— Certo. E?
— E o quê, já não fui claro?
— E o porquê de ainda querer conversar com ela uma
hora dessas?
— É a melhor hora, essa tarde fodi quatro mulheres,
estou mais controlado do que um buda em meditação por
meses.
Luca segura o riso.
— Fazer o que, querendo eu ou não é o meu chefe, só
estou aqui pela sua segurança.
— Ótimo, agora volte para o quarto, bate uma
punheta e larga de ser um chato de galocha.
— O que é chato de…
— Procura no google, estou sem tempo, meu caro.
— Calatrone… vivem com reis na barriga, tudo farinha
do mesmo saco.
Rolo os olhos.
— Juízo, estarei bem de olho.
Rolo os olhos de novo.
— Vai logo bater uma punheta com esse seu cotonete.
— Vou nem te responder.
No nosso corredor, Lucas entra no quarto e eu paro
diante da porta da Jolie.
Sinto o sangue já borbulhar e o corpo transpirar fora
do normal.
Sem pensar muito, dou duas batidas na porta, já a
abrindo. Não ouço a sua voz, mas a vejo em pé, diante da
vista escura da janela. Está penteando os cabelos
castanhos.
E voltamos ao início…
— Achei que não queria mais me ver, pelo menos não
hoje — ela vira o corpo perfeito, enrolada no seu roupão
branco.
— E não quero mais.
Jolie cruza os braços e para perto da cama, sem
nenhum receio de me ver de novo.
— Não tem medo de mim, Jolie? Estamos sozinhos, eu
e você.
— Não, pois sei que não me machucaria. Se está
enfurecido, com raiva, ódio, eu mereço de certa forma.
Ela me analisa do pescoço aos pés, torcendo o maxilar
ao retornar o olhar estranho para o meu.
— Que nojo, sinto daqui a mistura de um monte de
perfumes femininos e vagabundos, de quinta categoria.
— Andei fodendo algumas mulheres — não resisto em
me jogar na poltrona perto do abajur. — Algum problema
que te diz respeita por acaso?
— Nenhum, você faz o que bem entende com o seu
pau aí — ela empina o nariz. — Graças a Deus, as mulheres
têm apenas uma cabeça, e com cérebro.
Eu franzo o cenho para o seu comportamento agitado.
— É o mesmo papo do homem pensar com a cabeça
de baixo e blá, blá, blá. Não me cansa, Jolie.
— Você invade o meu cárcere nessa espelunca e diz
“não me cansa, Jolie”? O que quer mais aqui? Já disse tudo o
que tinha para me dizer. Sei que me detesta, que eu sou um
demônio irritante. Agora deixe-me em paz até o veredito
que der sobre a minha vida!
Ela se exalta, indo até a cama puxar os edredons e as
almofadas arrumadas pelas camareiras.
Respiro fundo, querendo entender o motivo dela estar
se exaltando comigo, sendo que quem deveria estar assim,
com toda a razão, sou eu.
Mulheres são insuportáveis mesmo.
— Você atirou em mim!
— E vai ficar chorando o tempo todo, igual um
bebezão?
Não, ela não disse isso!
Dou um pulo súbito da poltrona, avançando nela.
Jolie arregala os olhos, tentando correr, mas a alcanço
pelos cabelos e a jogo na cama.
— Você, caralho!
Eu subo em cima dela e prendo os seus punhos, que
tentavam me socar.
— Não me toque, solte-me seu cachorro, cre…
Tampo a sua boca com a outra mão.
— Olha que maravilha essa boca fechada!
— Humm — ela se sacode.
— Eu sou controlado, Jolie, sempre fui, até você cruzar
o meu caminho.
Não aguento sentir a palma da minha mão contra os
seus lábios macios e a sua respiração quente. Só que antes
de me afastar, distancio os dedos para acariciar a sua boca
carnuda. Jolie respira mais exigente.
— Você está tentando resistir — sussurra.
Meu coração acelera.
— Eu sabia que avançaria em mim se eu afetasse o
seu ego.
Jolie aperta as coxas no meu quadril.
Eu olho para baixo e o seu roupão aberto, revelando
as suas coxas grossas e expostas para o meu toque. Estou
posicionado para penetrá-la, por isso a pressão rígida na
calça é inevitável, também os pensamentos maliciosos de
como é estar dentro dela, envolvido pela sua intimidade
molhada. Tento focar no seu rosto deitado no colchão, mas
ela toca no meu peitoral.
— Eu sabia que manipulava situações. É da sua
índole.
— Não me conhece, não sabe de nada.
— Não me interessa te conhecer — digo próximo ao
seu rosto.
— Rael… — geme. — Você foi o segundo homem que
eu pude estar tão perto assim — acaricia a minha barba. —
Em toda a minha vida.
Eu a fito, frustrado pelo meu corpo fácil, agora tão
duro como pedra.
O que ela está dizendo?
— Não me importo se não acredita, não ligo.
Pela primeira vez eu vejo sentimentos nos olhos dessa
mulher.
— Nunca pertenci a alguém, apenas a mim mesma.
— Diz isso estando nas minhas mãos?
Jolie não responde, ela simplesmente suspira a minha
pergunta.
— Estou em tuas mãos… — ergue o rosto e roça seus
lábios nos meus.
Seguro firme a sua coxa, em posse e
desesperadamente excitado. Só de encostar na sua pele eu
incendeio.
— Não sabe o que está fazendo. Não me provoque!
— Eu sei muito bem o que estou fazendo… desde o
começo.
— Não faça isso!
Não consigo impedir que ela puxe a corda do roupão.
E paraliso com a visão dos seus peitos fartos, de mamilos
rosados e pontudos. Eles são enormes, lindos, acho que
nunca vi tamanha perfeição, não é possível. Meu corpo,
minha cabeça, tudo enlouquece. Essa mulher vai me matar.
Não respondo mais por mim, jogo ela contra os travesseiros
e caio de boca nos dois manjares.
Ela geme, se deliciando alto com a minha língua
habilidosa. Eu a devoro, louco, frenético. Estou diante de
algo que nunca toquei ou provei igual. Sugo quase enfiando
tudo na boca, mas não cabe, são enormes, lindos.
— Ahh Rael, é muito melhor que nas minhas fantasias.
Humm, muito, muito melhor.
Chupo os mamilos, mordo os bicos duros, bufando
como uma fera. Olho para ela se contorcendo de prazer.
Meu pau lateja com suas reações, querendo explodir dentro
da calça.
Como isso pode estar acontecendo? Eu fodi quatro
mulheres hoje!
Pego os seios e junto diante do meu rosto,
intercalando as lambidas e as mamadas. Os dois se
balançam esculturais. Não sei o que faço, não sei, estou
maluco.
— Rael! — Jolie curva as costas, chamando-me em
desespero.
Não paro, não posso, é impossível. Cada apalpada,
cada mordida, é pouco, é insaciável, preciso de mais. Até
que em meio a ferocidade da minha ensaieis, explodo
dentro da calça, sem nem ter entrado nela, sem nem sequer
ter sentido o seu toque em mim.
Jolie não nota que me fez gozar, mas nota que
desacelerei. Ela toca nos próprios peitos, querendo que eu
continue a mamando. Já está toda marcada pela minha
boca.
Não sei o que eu faria com ela se eu não tivesse me
acabado de gozar essa tarde. Mesmo assim, despejei por
Jolie e continuo duro.
— Não pare… — geme.
Ela me olha excitada. Não deixo que desvie. Percorro
os dedos pela sua barriga, descendo lentamente até o seu
ventre, mas no cós da calcinha eu luto contra os meus
próprios impulsos sexuais e me afasto.
— Rael, não! — ela se ergue e puxa a minha camisa.
— Por favor.
Eu olho para o seu corpo, querendo muito essa
mulher, mais do que posso imaginar. Só que não pode ser
agora, não pode ser hoje. Tem que ser no último dia que ela
for embora, pois terei a certeza de que nunca mais a verei,
será o fim desse desejo fora do normal.
Ela é perigosa demais para mim, eu sei disso.
Afasto com brutalidade o seu braço.
— Eu te causei tanta repulsa assim?
Isso é até uma ofensa. Eu a quero, a quero
perdidamente. Porém, não respondo a sua pergunta, ela
merece ficar à deriva.
Viro as costas, sem querer mais olhá-la… e não
conseguir resistir a sua beleza, o seu perfume, o contato da
sua pele perfeita. Ainda sinto a sua maciez nas minhas
mãos e a saudade de tocá-la...
Rael bate à porta e eu continuo deitada na cama,
olhando para o teto e revivendo a sensação de ter a sua
boca em mim, devorando-me. Nunca fui, literalmente,
“devorada” desse jeito, esse homem é perfeito. O que está
fazendo comigo?
Também não é possível que eu cause repulsa nele, sei
que queria transar comigo, saiu daqui desejando muito
mais, só que resistiu.
— Ahh Rael… — toco na minha boceta, molhada por
ele. — Você é tudo que eu sempre quis...
Masturbo-me sozinha, por horas, arfando,
contorcendo-me e gozando com os dedos. Assim que
levanto, me limpo e volto a minha solidão, sem ninguém,
como sempre foi. Exceto que agora tem esse homem nos
meus pensamentos. Respiro fundo, igualmente pensando no
dia seguinte. Mais um dia presa nesse inferno de espelunca.
Só espero que o Rael não encontre o colar tão cedo.
Como previa, na sexta seguinte, eu e a Lady ficamos
presas no quarto. Recebemos o café e só. Nenhuma notícia
sobre o Rael me tirar daqui, entretanto, o segurança disse
que ele saiu para algum lugar importante.
Talvez tenha encontrado o comprador da joia.
— Acho que ele encontrou sim, Lady — eu a acaricio,
enquanto adormece no meu colo. — Mas não é o fim para
nós. Rael não pode se livrar de mim.
Cada vez mais morrendo de tédio por ficar sem nada
para fazer, eu começo a bater na porta, querendo sair desse
inferno. Sou capaz de demolir as paredes.
O segurança abre a porta, com cara de cachorro
raivoso.
— A senhorita poderia se manter quieta?
— Um não responderia a sua pergunta? — sorrio tão
maldosa que ele desvia de mim. — Onde está Rael? Já vai
dar o horário do almoço e estou aqui, presa!
— Ele logo vai chegar, volte para dentro e… — no
momento em que ia terminar a frase, o celular dele toca no
bolso e ele se interrompe para atender a chamada.
Parece bem nervoso com a ligação. Só sabe responder
“sim”, “sim senhor”, “sim, entendi”.
Ao desligar, o segurança se dirige rápido a mim.
— Aqui não é mais seguro, precisa pegar as suas
coisas para irmos embora.
Aleluia. Uma notícia maravilhosa, vou sair dessa
espelunca cheia de baratas.
— E por quê? Aconteceu alguma coisa grave?
— O Sr. Calatrone te dirá na hora certa. Arrume as
suas coisas e coloque aqui na porta.
Passo por ele e o cara me barra.
— A senhorita tem que…
— Eu já fiz isso, está tudo pronto em cima da cama —
passo a mão no peitoral dele e ele fica em choque, sem
saber como reagir. Adoro causar pane nos cérebros
inexistentes dos machos. — Só tome cuidado com a minha
gata, entendeu? Seja bem cuidadoso. Ela fica um pouco
agitada ao ser carregada na gaiola.
Pisco para ele.
— Agora pode me levar para onde o todo poderoso Sr.
Calatrone ordenou.
O pobrezinho demonstra dificuldades ao voltar os
movimentos do corpo, mas ele consegue criar forças e pede
para que o segundo segurança me leve embora, já que o
próprio cuidaria das malas de todos. E sou levada, mas não
sei para onde. Depois de ter descido no térreo e entrado no
carro, permaneci quieta, pensando no motivo de terem me
tirado às pressas do hotel.
Será que a máfia descobriu a minha localização? Só
torço para que não seja isso, pelo bem do Rael e de todos.
Eu toco nos meus dedos, nervosa pela minha mente
que não para de pensar. Observo também o caminho que o
segurança faz, ele está me levando para o meio do NADA.
— Para onde estamos indo?
Ele não responde.
Será isso? O Rael vai cumprir a sua palavra de me
matar e me desovar em qualquer buraco?
— O infeliz é mudo? Eu perguntei para onde estamos
indo!
— Ao encontro do Sr. Rael. Só mudei a rota por
segurança — então responde e meu coração dá uma
desacelerada brusca.
— Muito bem, era só ter respondido isso, antes de eu
repetir a pergunta.
Noto o pobre apertando o volante. Como é prazeroso
irritá-los.
Demoramos cerca de vinte minutos para chegar ao
destino, a estação de comboios de Braga.
Vamos fugir de trem? Agora para onde?
Não faço perguntas ao segurança, deixo que ele me
leve para a linha que Rael, Lucas e uma mulher me
aguardam. Eles notam a minha presença de longe e quando
eu chego mais perto, reconheço a mulher, ou melhor, a
cadelinha ao lado do Rael. Eu desfilo ainda mais sensual,
com os meus saltos e o meu vestido bem colado ao corpo.
Os dois não desviam os olhos de mim, enquanto Isabel me
fuzila de inveja. Essa tem que engolir muito caviar para
chegar aos meus pés.
— Bom dia… — digo, ao parar na frente deles.
E nossa. Perco o ar com o Rael. Ele está vestindo um
terno muito chique, os cabelos penteados para trás, a barba
bem aparadinha e não preciso chegar mais perto para ter
certeza de que está irresistivelmente cheiroso. Que ogro
perfeito.
— Bom dia, Borghi — Isa responde, ao me olhar de
frente.
Mas não faço questão de dar a ela importância.
Desvio para o Rael.
— Por que me tirou tão depressa daquele hotel?
— Na cabine conversaremos melhor. Precisamos
entrar logo.
— Eu vou esperar as malas, o trem vai partir daqui a
quinze minutos.
— Certo, qualquer pessoa suspeita que avistarem, me
avisem por mensagem.
Após se despedirem, Rael sinaliza para que eu entre
no trem. Mas ao caminhar, esbarro “sem querer” na
cachorrinha.
Ela tenta revidar, mas Lucas segura o seu braço.
— Não vale a pena, Isa.
— Essa desgraça tinha que morrer!
Rael pega na minha mão, desta vez me arrastando
impiedoso com ele.
— Não precisa ser deselegante! — no corredor, entre
as poltronas, eu puxo a minha mão da dele.
— Sente-se na quinta poltrona… — resmunga.
Sigo para o meu lugar perto da janela. E noto o vagão
vazio, sem mais nenhum passageiro, além de nós.
— Como é possível não ter nenhum passageiro?
— Eu comprei todos os outros bilhetes — responde ao
sentar-se ao meu lado.
É óbvio, ele é milionário.
— Então? — indago, sem encará-lo, estou observando
a janela.
— Hoje recuperei o colar que roubou de mim.
Eu aperto os olhos, com um sentimento horrível,
quase destruindo o meu coração.
— E agora, o que vai fazer comigo? — resolvo virar a
cabeça e encontrar as suas íris escuras.
— Muitas coisas, antes de descartá-la.
— Não poderia só me “descartar” em Braga?
Ele passa a mão no rosto, tentando esconder como
está estressado. E como isso foi sexy, fiquei tentada a tocá-
lo.
— A máfia sabe que você está aqui.
— E resolveu me salvar, mesmo depois de recuperar o
seu colar?
— Eu não estou te salvando, Jolie! Quero que você se
foda! — esbraveja, demonstrando o seu descontrole
emocional.
— E para onde está me levando?
— Porto.
— Lá você vai me deixar sozinha?
Ele não responde, em vez disso, chega mais perto de
mim.
— Você é um perigo, uma bomba relógio para todos
nós. Sabe muito bem do que a máfia é capaz de fazer. É a
viúva de Pedro Borghi, eles jamais te deixariam livre.
— Mas eu quero ser livre, não importa se eu tenha
que fugir para outro continente. Você não entende, não
sabe de nada. Não suporto mais a máfia. Nunca escolhi
nada disso, fui obrigada a me casar aos 15 anos com o
Pedro! Fui o objeto penhorado que os Borghi tomaram
quando me tornei mulher.
Rael mal se mexe, seu olhar está fixo e incrédulo.
— E realmente tenho razão, não me conhece… —
sussurro e de novo viro a cara para o vidro.
Ele não fala nada, nem dez minutos depois, quando o
trem começa a se mover.
Respiro alto, inquieta.
Rael também respira alto, inquieto e chamando a
minha atenção. Não evito o desejo de olhá-lo. E olho.
— O que foi? — arqueio a sobrancelha.
— Talvez seja fome? — indaga, todo rabugento.
— Você com fome é insuportável.
— Depende da fome que estiver se referindo.
Eu olho para a calça dele e arregalo os olhos para o
volume enorme do seu membro.
Imediatamente o calor sobe entre as minhas pernas e
me faz pulsar.
— Você que é uma porra insuportável, Jolie — Rael
arruma a sua ereção, que com certeza está lhe causando
dor. — Ergue esses olhos — ele manda, mas não faço, de
propósito continuo mapeando o seu pacote evidente.
Fico olhando e imaginando eu abrindo o cinto… a
braguilha... o botão da calça e mergulhando os dedos até o
destino que vai me dar muito prazer. Pelo que estou
deduzindo, Rael é bem-dotado.
De repente, ele leva a mão grossa no meu rosto e
ergue o meu queixo.
— Está me vendo e pensando em ontem, nas
chupadas que dei nos seus peitos?
— Não, estou pensando no arrependimento, seguido
da frustração por não ter me comido, sendo que eu estava
quase nua, só de roupão para você.
Rael afasta rápido a mão, controlando-se para não
fazer algo impiedoso comigo.
— Eu quero o mesmo, Rael. Dei-me isso e pode ir
embora, já tem o seu colar.
— Por que, Jolie?
— Porque eu te desejo me comendo.
— Mas que inferno, estou tentando lidar com o meu
autocontrole para não te foder aqui.
— Eu sei, desde que me viu pela primeira vez deixou
isso bem claro. Suas vontades são gritantes.
— Nada diferente da sua, mas quero saber o porquê
daquela noite.
— E vai acreditar em mim?
— Só espero que tenha uma boa razão.
— Você.
Rael até senta direito no assento.
— Eu?
— Eles iriam te matar e se eu não tivesse feito aquilo,
atirado no seu braço, teriam entrado no esconderijo e o
executado sem pensar duas vezes. Só que não fugi, na
saída me rendi aos homens dos Borghi e eles me levaram
de volta para a mansão. Fiquei presa naquele inferno por
dois meses, até a última semana, quando consegui fugir de
novo. Cheguei em Braga sem um tostão sequer.
— A parte do colar que não se encaixa em nada.
— Se encaixa sim, eu o vendi para sobreviver em
Braga. Vim para cá porque demoraria para a máfia
descobrir, além de que eu conhecia os Souza.
— Então, depois que me feriu, olhou para o chão onde
eu estava agonizando, o colar no meu pescoço e já pensou
no seu futuro, em vendê-lo para fugir?
Eu não o respondo… pois como eu vou dizer que fiz
isso, que manipulei tudo só para ele vir atrás de mim... para
não me deixar?
Jolie permanece em silêncio. Eu me ajeito
desconfortável na poltrona, ainda sem saber o que fazer
com essa mulher. Não entendo o porquê de me sentir tão
responsável por ela, sendo que a própria me traiu e me
roubou. A parte do colar não se encaixa, o motivo de ter o
levado. Lembro de ter lhe dito uma vez que ele era
importante para mim, por ser algo herdado do meu pai -
não entrei em mais detalhes.
Também sei que a Jolie é uma vítima de máfia, tudo o
que está fazendo é para ser uma mulher livre. Todavia, isso
vai ser impossível, eles vão caçá-la até no inferno e eu vou
junto, se continuar perto desse furacão ambulante, que me
deixa em brasas.
— Falta meia hora para chegarmos — aviso e ela vira
a cabeça, com seus lindos olhos castanhos.
— Parece que estamos aqui há mais de duas horas.
Você nem cochilou?
— E tem como? — questiono concentrado, observando
os traços bonitos do seu rosto.
— Está cansado, Rael.
— Como se importasse de verdade.
Ela franze o meio das sobrancelhas.
— Você pensa que eu sou o que, por acaso, sem
sentimentos?
— Eu me surpreenderia se tivesse um coração
batendo nesse lado esquerdo do seu peito.
— Não acredito nisso! — ela vira rápido para mim,
brava e quase me dando um tapa, mas nem ousou. — Eu
tenho coração sim, seu… idiota!
— Ah é? Essa foi a melhor piada do dia.
— Para de ficar me julgando pelo que eu fiz com você,
não foi por mal. Pois acredite, se eu quisesse te matar eu
teria feito, sou ótima com armas e defesa pessoal.
— Não acredito que a máfia te ensinou a usar armas.
— Não ensinou, aprendi após persuadir um dos
homens dos LosBor a me ajudar. Só que depois de algumas
aulas ele tentou se aproveitar de mim. Pedro soube de tudo
e o torturou por uma semana inteira, como punição,
também me levou para ver o que estava fazendo com ele…
matando-o aos poucos, sem piedade e sem misericórdia.
Eu fico nervoso por ela, seus olhos estão frios e
distantes. É como se estivesse contando uma historinha
simples que viveu e que não a afeta mais.
— Por que quer fugir dos Borghi? Isso é loucura.
— Eu já te disse, não foi a minha escolha me casar
com o Pedro. Não tive escolha de nada, desde que
nasci. Agora que ele morreu, quero me libertar.
Eu puxo a mão da Jolie, a mão mais macia que senti
em toda a minha vida. Ela é perfeita demais, não consigo
parar de repará-la.
— Rael… — Jolie leva um choque, fica sem ação. —
Não está fazendo isso.
— Pegando na sua mão?
— Deixando-me excitada.
Porra, eu aperto os dedos dela e abro mais as minhas
pernas, para tentar afrouxar a calça apertada. Estou
enrijecido como uma tora. Minhas bolas latejam doloridas.
Jolie observa o que me provoca, seu jeito é calculista
e manipulador. Não moveu nem um dedo para me encostar,
e se fizesse isso eu pegaria fogo, entraria em combustão.
Estou suando de calor. E ela sabe, ela até parou o assunto.
Solto a sua mão, tentando contar até dez.
Um - preciso fodê-la, dois - preciso comê-la, três -
preciso devorá-la.
Minha contagem me deixa ainda pior.
— Estou te devendo por ontem, não estou? — fala
sensualmente com seus lábios vermelhos.
— Pois me pague Jolie! — exclamo, já pronto para
cometer uma loucura.
— Ou?
— Ou eu dou um tapa bem ardido nesse seu traseiro!
De repente eu puxo a mão dela de novo, agora para
colocar sobre o volume do meu pau. Jolie geme,
aproveitando na mesma hora para me apertar e sentir a
minha dureza ereta.
— Faz meses que o imagino… — ela se inclina sobre
mim e coloca a cabeça no meu ombro. É a minha vez de
gemer com o seu toque, a sua aproximação e o seu
perfume. — Imagino como é o seu pau e se eu seria capaz
de fazê-lo gozar.
E ela ainda acha que não é capaz? Só a sua menção
de existência já me fez gozar. Ontem foi a prova disso.
— Pois não tem um segundo que eu não imagino a
minha boca devorando a sua boceta… a língua percorrendo
o seu clitóris… sentindo o seu gostinho.
— Rael...
Ela abre vagarosamente o cinto, a calça, a braguilha e
desliza a mão suave para o calor do meu membro.
Assim é judiação, é um sonho prazeroso que não
quero acordar.
— Encontrou a cobra?
Ela sorri, sem nem perceber que fui eu mesmo, o Rael
que nunca perde a piada.
— Encontrei, mas saiba que não tenho medo de pegá-
la.
— Muito corajosa.
Jolie brinca com ele dentro da boxer. Percorre os
dedos pelo meu comprimento latejante, enrijecido,
acariciando-o e alisando na glande sensível.
Seguro-me para não explodir.
— Se isso entrar em mim, vai me deixar sem andar.
— Se essa não for a intenção, eu não sou digno de
tamanho dote.
— Nem se acha.
Ela afasta a mão, porém, seguro-a.
— Planeja a festa e não aguenta ir até o fim?
Jolie sorri, maldosa. Um sorriso que me faz desejar
beijá-la. Nunca a beijei, não sei como é o gosto desses
lábios. Agora necessito saber.
— É com pesar que estou me vingando por ontem,
deixou que eu terminasse a minha festinha sozinha, só com
os dedos. Não é justo, não é?
Sem respondê-la, permito que se afaste. E ainda mais
frustrado por não conseguir liberar a droga do tesão
acumulado, começo a murmurar, enquanto fecho a calça.
Tento também não olhar para a mulher gostosa ao meu
lado, o motivo das minhas frustrações diárias. Fico contando
os minutos para chegarmos na estação do Porto. Lucas e Isa
vão me encontrar no local combinado, os dois resolveram ir
de carro.
— Estamos perto — ela fala ao apontar para a
estação.
Graças a Deus.
Ao chegarmos, desembarcamos rapidamente.
— Você vai me fazer cair dos saltos.
— Precisamos entrar em algum táxi.
— Então espera, por favor, preciso arrumar o vestido.
— Não!
— Espera!
— Seja rápida!
Eu viro brusco e ela bate contra o meu peitoral.
— Ai, seu brutamontes!
Jolie se abaixa e ergue mais o vestido apertado. Seu
corpo é um paraíso, uma alucinação. Que tortura, o que eu
fiz para merecer isso?
— Está vendo como ele é apertado? Vamos devagar.
— Agradeça por estarmos em público, caso contrário,
eu o rasgava no seu corpo.
— O quê? — deixo-a com a boca aberta e volto a
caminhar para fora da estação.
Consigo encontrar um táxi na frente. A gente entra e
passo a localização para o motorista.
— Para onde estamos indo?
— Minha família tem uma casa segura aqui no Porto.
A casa não é muito longe do centro, em menos de
meia hora a gente já está na frente da residência de dois
andares. Descemos, pago o táxi e chamo a Jolie para entrar.
Ela está deslumbrada pela beleza do oceano atlântico
cercando os arredores do terreno.
— Uau, que lugar mais acolhedor. A casa é linda.
— Faz um ano que eu e a minha família não viajamos
para cá.
— Vocês são muito unidos, não são?
Assinto para ela, que agora, após entrar na casa, está
explorando a decoração do lugar.
Fecho a porta, não deixando de garantir que estamos
sozinhos.
— Eu nunca tive isso… família. Deve ser bom ter
pessoas que se importam de verdade com você.
E de novo, ela fala esse tipo de coisa com a maior
simplicidade, sem perceber que as suas palavras foram
como uma segunda facada nas minhas costas. Elas me
afetam. Não posso me deixar compadecer pela Jolie, não
posso. Meu desejo, minhas vontades, tudo não passa de um
acúmulo de tesão. E já tenho o colar, devo abandoná-la em
breve.
— Vou pedir comida para nós — digo e vou para a
sala, pegar um pouco de conhaque, para realizar o pedido
no meu restaurante preferido da cidade.
Observo a Jolie de longe, tirando os saltos e o casaco.
Meu caralho volta a endurecer. Seu vestido é branco, justo
até os joelhos e decotado nas costas.
— Apreciando-me?
Ela vai até o outro sofá e se senta, cruzando as
pernas.
— E quer que eu diga o quê? — questiono-a, após
fazer o pedido.
— Que eu sou muito gostosa? É fato que deixo os
homens babando pelo meu corpo. Seus seguranças
pareciam cachorros babando por mim.
— Seu convencimento pode ser o seu maior defeito.
— Não sou convencida, mas orgulhosa de mim. Eu era
extremamente fora do peso “normal” e era humilhada por
conta disso. Mas dei a volta por cima — Jolie se ergue e vai
até a prateleira de bebidas, servir-se do mesmo conhaque
que peguei. — Pedro morreu sabendo que eu fui muito
desejada, pelo contrário do que me dizia e me… —crespira
fundo, parece com raiva. — Enfim, um brinde por eu ser
uma puta gostosa.
Eu me levanto, até mais rápido do que pensei. Jolie
vira o copo num gole generoso e mal percebeu que eu já
estava na sua frente.
— Isso não é alucinação do conhaque — declara ao
me fitar. — Não, não é — ela toca no meu peitoral forte, que
sobe e desce, junto da respiração ansiosa, desesperada
para possuí-la.
Então mergulho os dedos nos cabelos da sua nuca,
jogo a sua cabeça para trás e lambo o seu pescoço. Jolie
geme. Com a outra mão eu acaricio os lábios da sua boca
sedosa.
— Me beija, Rael… — ela alisa a minha barba, o meu
rosto e igualmente puxa o meu cabelo. — Me beija agora!
Nem penso duas vezes, empurro-a para trás,
prendendo-a na coluna e finalmente sinto o sabor da sua
boca macia. Beijamo-nos de forma devassa, libidinosa. É
ardente.
Forço a Jolie ainda mais contra o meu corpo, para
sentir toda a minha masculinidade em forma de ereção.
Minhas mãos não param quietas, começo a beijá-la mais
faminto, conforme mapeio as suas curvas deliciosas. Desço
os dedos na pele das suas costas nuas, até a curva da sua
bunda avantajada e aperto as duas nádegas sem pena.
— Ahhhh! Merda… — resmunga de dor, não por muito
tempo, pois volto a preencher a sua boca com a minha
língua necessitada.
Não quero nunca mais parar de beijá-la. Nunca senti
satisfação igual.
E não é possível que esse seja o melhor beijo da
minha vida… de anos. Ontem mesmo não beijei umas
quatro mulheres naquele puteiro em Braga?
Em meio aos meus pensamentos, Jolie cria forças para
me empurrar no sofá. Eu caio sentado. Ela avança de
pernas abertas no meu colo.
Mais que… paraíso!
— Foda-se tudo, Rael, quero o seu pau dentro de mim!
— Tudo tem um preço — dou um tapa gostoso no
traseiro dela.
— Minha boceta já vai pagar um preço muito alto com
o seu mastro bem-dotado me fodendo.
Jolie rebola exigente na minha ereção pulsante na
calça. Chego a fechar os olhos, para me concentrar. Ela me
deixou pré-ejaculado só de se esfregar. É maravilhoso sentir
a sua bocetinha se friccionando assim, indo e vindo gostoso.
— Será que eu vou ter que tomar a frente tudo,
homem?
— Um beijo e você rebola à vontade.
Acaricio as suas coxas, sem crer no mulherão que
tenho sobre o meu poder. Como desejei isso, como me
masturbei pensando nesses momentos.
Ela nega e escorrega as mãos pelo meu abdômen
definido.
Oponho bruto o meu tronco e ficamos cara a cara.
— Fode comigo… — sinto a sua respiração quente,
seus lábios abrindo aos poucos, o hálito sabor conhaque —
Fode, Rael!
— Ainda vou me vingar pelo que fez.
— Faça o que quiser, eu sou toda sua.
— Não diga isso, Jolie, não diga! — afundo a mão
entre as suas pernas escancaradas, querendo-a mais do que
tudo no mundo. E quando a sinto molhada por mim, é meu
fim. Que boceta perfeita, lisa, macia e sedenta por minha
rola a arrombando
— Eu sou sua.
Não, não!
Pego no seu pescoço, abro a calça e solto o meu
caralho pulsante para fora, ele saltou enorme, com as veias
inchadas, a cabecinha vermelha e babenta. Nunca senti
tanta dor nas bolas. Jolie tenta abaixar a cabeça para me
ver, mas não permito!
— Você não é minha, Jolie! Jamais vai ser! Não a
quero!
Ela ri, debochando do que eu disse. Isso é o limite de
tudo. Aperto ainda mais forte o seu pescoço, quase a
enforcando. Perdeu até o ar.
— Veremos em breve, quando abandoná-la.
Afasto a sua calcinha, para sentir os seus lábios da
vagina, lisinhos e lubrificados. Ela arfa e aperta os peitos
presos pelo vestido. Eu massageio o meu pau, olho a olho
com ela.
— E-eu quero vê-lo... quero tocá-lo… — gagueja.
— Não merece.
— Por favor — ela se desespera com a cabeça do
pênis a pressionando na grutinha apertada. Sua xaninha até
contraiu forte. — Desgraçado!
— Xinga mais, xinga…
Começo a penetrá-la, lentamente, centímetro por
centímetro.
Jolie abre a boca e geme mais alto.
Também libero por completo a mão do seu pescoço,
deposito as duas nos seus quadris, sustendo-a para não
sentar de uma vez. Ela tem que sentir eu a rasgando bem
aos poucos, como se não houvesse fim.
— Rael!!! — geme, sem forças para respirar.
— Quer mais fundo, Jolie? Pede aqui para o
desgraçado.
— Hummm… ma-mais fundo!
— Por favor? Pelo amor de Deus?
— Eu vou te matar! Por favor! Pelo amor de Deus!
É a minha deixa, vou mais fundo, permito que a
cabeça do pau escorregue todo para dentro.
Ela finca as unhas nos meus ombros.
Respiro acelerado, sufocado.
— Rael… — chora, ao sentir que estou todo dentro
dela.
Não me apavoro, pelo contrário, aprecio essa mulher
se contorcendo de prazer/satisfação. É uma tortura
deliciosa. Jolie se segura, descendo e subindo devagar, para
se acostumar com a grossura e o tamanho.
— Você é um cavalo, não é possível... — suas palavras
são blasfemadas em meio às lágrimas.
Eu mordo a boca dela, sem tempo para deixá-la se
acostumar com o meu pau a arrombando. Movo os seus
quadris, dando o começo da dança da sua cintura. E Jolie se
incorpora, investindo nas reboladas mais ferozes.
Que coisa de outro mundo!
Isso é mil vezes mais torturante. No meu caso é um
canudo cheio de leite até o talo, onde a minha obrigação é
não deixar que exploda! Inferno mesmo de ejaculação
precoce é essa mulher. É isso, deveria nomeá-la de minha
ejaculação precoce. E ela mal notou o quanto estou louco,
gemendo o seu nome e pressionando o seu traseiro
empinado, conforme quica e rebola, acabando comigo.
— AHHH!!! HUUMMM!!!
— Rebola, Jolie, quica gostoso com essa boceta — falo
baixinho na sua orelha.
Bato na sua bunda, estimulando a ir cada vez mais
rápido, pois não vou aguentar mais.
E não posso mais aguentar, já estou suportando
desde que a vi e a coloquei em meus sonhos eróticos.
— A camisinha… — resmungo puto entre os dentes ao
liberar as jatadas fortes de esperma.
Jolie para ofegante, gemendo estremecida. Também
está gozando. Perdeu as forças, mal consegue abrir os
olhos. Já meu peito está suado. Transpiro o cheiro do nosso
sexo.
Como pude esquecer da camisinha? Sou um miserável
mesmo.
Meu pau continua duro dentro dela, pronto para
treparmos de novo, até deixá-la sem andar, mas a
campainha toca. É a nossa comida.
— Rael… — fala, quase sem ar.
Eu fico hipnotizado ao olhá-la assim, com os cabelos
desgrenhados, o vestido amontoado na cintura, a boca suja
de batom, os lábios inchados pelo meu beijo e com a cara
suplicando por mais prazer.
— É uma delícia sentir o meu pau melado dentro de
você — murmuro ao pé do seu ouvido. — Ainda estamos
latejando...
Ela tenta pôr rápida a mão por baixo, para puxar o
pau e vê-lo, mas não permito, antes que pudesse fazer de
novo, seguro as suas mãos e guardo a minha rola na calça.
— Eu preciso ver!
— Precisa ver minha porra?
— Não pode me deixar curiosa desse jeito.
Ah, mas deixo. Inclusive, a abandono no sofá e me
levanto para pegar a nossa comida na porta. Quando volto,
Jolie está terminando de se organizar.
Na minha mente ainda se passa a sensação de estar
dentro dela, acolhido pelas suas paredes apertadas. Foi
pouco, muito pouco, preciso de mais, preciso dela
completamente nua numa cama e eu explorando o seu
corpo com a boca.
A gente organiza a mesa de estar em silêncio mútuo,
como se não estivéssemos exalando suor e cheiro de sexo,
e comemos do mesmo jeito, como se agorinha não
tivéssemos fodido insaciáveis. Impossível não olhar para ela
e não continuar duro, pensando em fodê-la novamente.
— Tem alguma roupa, para que depois eu possa tomar
um banho?
Jolie fita os meus olhos, limpando maliciosa o canto da
boca.
Desvio dela, indo contra a pulsação na calça.
— Suba para o segundo andar e procure nos armários
do quarto.
Ela assente, e assim que termina de comer, sobe para
o andar de cima. Não nego que fui seguindo a sua bunda,
enquanto rebolava de propósito e escalava os degraus de
mármore branco.
Que sacanagem, não posso pensar nela tirando a
roupa, ficando nua e entrando no chuveiro. Não posso,
mente encapetada.
Jogo-me no sofá, coloco o braço sobre os olhos
fechados e fico mentalizando cenas broxantes, que possam
amolecer a minha pica enrijecida. E no exato momento que
estava imaginando uma velha fazendo strip-tease com uma
fantasia de it a coisa, a campainha toca. Vou atender,
sabendo que é o Lucas e a Isa.
— E aí, chegaram rápido de trem? — Lucas questiona
ao sentar-se na poltrona.
— Sim, também já almoçamos.
— Só almoçaram? — Isa me analisa da cabeça aos
pés, está inquieta e de braços cruzados.
— Algum problema, Isabel? — devolvo o seu olhar de
desprezo, mas com uma sobrancelha arqueada.
— “Jolie” responde? Não confio nessa mulher, estando
ainda sozinho com ela!
— Ah, e resolveu se preocupar? Me surpreendeu muito
por voltar para Braga, depois de dizer que não iria ficar
comigo. Lembra que me deixou no hotel e saiu pisando no
acelerador?
— Lembro, e não voltei, eu estava em Braga o tempo
todo, de olho em vocês.
Lucas ri.
— Eu sabia que estava em Braga. Jamais abandonaria
o Rael.
Eu também sorrio.
Ela rola os olhos.
— Não nasci grudado com o Calatrone, ele só paga o
meu salário.
— Você me ama, Isinha — pisco.
Ela fica quieta, e sem dar mais bola para nós, vai se
servir de alguma bebida na prateleira.
Lucas acena para mim, querendo saber da Jolie.
Aponto lá para cima, não podendo dar mais detalhes. Ele
faz o sinal de dedo em círculo e coloca o indicador no meio,
insinuando que trepamos.
— Vamos voltar para Lisboa hoje? — Isa pergunta e eu
assinto, mas foi para a insinuação do Lucas. — Até que
enfim está sendo sensato!
— Quero dizer, não, não hoje.
— Não hoje? Rael, a sua família está desesperada
atrás de você! Vai faltar ao casamento do seu irmão? Hoss
vai te matar, já faltou ao noivado! E faz quinze dias
“desaparecido”.
Penso no meu irmão e passo a mão no rosto, frustrado
com o que fiz, num dos momentos mais especiais da sua
vida.
— Isa... — Lucas a olha feio.
— O que foi? E quem mais diria essas verdades para o
Rael? — ela me encara. — Você já recuperou o colar, agora
abandone essa mafiosa que quase te matou e volte para
Lisboa. Não tem nem o que pensar.
— Eu farei as coisas na hora certa. Meu irmão ainda
não marcou a data do casamento, foi apenas um noivado.
— Eles estão desesperados atrás de você. Amanhã já
é domingo, vamos embora, por favor. Minhas férias também
estão acabando — suspira, muito sincera e preocupada.
Isa sempre cuidou de mim. Salvou duas vezes a
minha vida. Nunca vou saber agradecê-la por ter me
ajudado em cobranças de risco.
Até se tornou a comandante chefe dos nossos
cobradores. Tudo é passado e organizado por ela. É uma
mulher foda, sem comentários. Sei que sempre vai desejar o
meu bem, assim como eu vou desejar o dela.
— Eu vou decidir até à noite.
— Isso inclui sobre a viúva do mafioso?
— Eu vou decidir, Isa, está bem?
— Está bem…
Calado, ergo-me do sofá e peço para o Lucas me
ajudar com as malas.
Após tomar um longo banho de banheira, saio
enrolada na toalha e encontro a minha mala sobre o banco
aos pés da cama. Com certeza foi o Rael que deixou.
Escolho uma peça elegante, faço uma maquiagem, coloco
as joias, esborrifo o perfume, visto os saltos e desço plena
os degraus da escada.
Embaixo, dou de cara com a Isabel.
Grande sorte ou azar? Vou no azar, detesto essa
cachorrinha.
Ela me vê.
— Gostou do vestido? — questiono, dando um meio
sorriso sínico, após desfilar e parar na sala.
Estamos em pé, olhando uma para a outra.
— Bem de vadia vulgar, o seu estilo.
— Obrigada, infelizmente esse estilo não combina
com você, é mais agressiva, cavala e deselegante.
Isa vem de punhos fechados até mim.
— Eu só não matei você, por causa do Rael, porque a
minha vontade era de meter uma bala no meio dessa sua
carinha bonitinha.
— Acha que eu tenho medo de você, Isabel? Por acaso
sabe quem eu sou, com quem eu me casei e o sobrenome
que carrego?
— É claro que não tem medo. E eu, assim como o
Rael, sabemos muito bem quem é você, uma mafiosa, ladra,
assassina, que não merece a nossa confiança, nem um
pingo de compaixão. Não sou igual a ele, que cai nas suas
historinhas falsas e manipuláveis. Não vou permitir que o
machuque de novo!
— Eu não tenho nada para provar a você, nem a
ninguém. Quem ainda me segura aqui é o seu querido…
sabe, ele é louquinho por mim. Não sei se percebeu.
A mal-amada arregala os olhos e de repente me
empurra contra a mesinha de centro.
Eu caio sentada no chão, por pouco não me
machucando na quina de vidro.
— Isa! — Rael surge imediatamente, acompanhado do
Lucas.
Eles correm até nós.
Lucas segura a cachorrinha violenta, já Rael me ajuda
a me levantar.
— Ela merece ser presa e torturada até a morte!
— Chega, Isa, vocês duas não podem ficar sozinhas!
— Já tem o seu colar. Abandone essa desgraçada,
Rael! Ela não é responsabilidade sua, nem nossa!
Eu aperto o braço do Rael, quietinha, sem falar nada.
O silêncio demonstra poder, maturidade e equilíbrio.
Aprendi a usá-lo muito bem ao meu favor. Ainda mais numa
situação como essa, onde só uma opinião importa, a do
homem que me segura firme.
Ele me olha, mas eu abaixo a cabeça. Não quero que
me abandone, porém, não sei como dizer isso a ele, apenas
agir.
Rael é o homem que não imaginava existir no mundo.
Ele me tem e eu o quero.
Sem responder a sua amiguinha, Rael pede licença a
eles, levando-me para fora da casa. Vou entre tropeços.
Está bravo, bruto e pronto para me estrangular. É
excitante.
No jardim, com vista para o oceano, ele me larga e
segura-se na cerca, respirando e inspirando. Não o toco,
por mais que eu queira sentir os seus músculos quentes,
subindo e descendo enrijecidos como armadura.
— Ela está certa — confesso com sinceridade. — Não
tem responsabilidade comigo, nem mereço que se
responsabilize. Eu o machuquei, não pode ficar perto de
mim.
— Você jamais seria capaz de me machucar.
— Obrigada por isso — olho para a mesma vista que a
dele. — O que fiz foi por causa dos Borghi, eles sim seriam
capazes de te machucar para sempre, para nunca mais
estar entre quem gosta de verdade. Não esqueci que no
começo me protegeu, me deixou segura. Jamais seria uma
desgraçada a esse ponto.
— E o risco contrário, Jolie? Você sabe o que se passa
na minha cabeça? Sabe o motivo que ainda não te mandei
para o inferno?
A gente se encara.
— Não via tudo com facilidade? É só me mandar para
o inferno e virar as costas. Não sou a sua responsabilidade,
já disse.
— E é de quem?
— De mim mesma, eu me viro sozinha. Sei lidar com
os Borghi, afinal, também sou da família mafiosa.
— Mentira, não se vira sozinha. Isso não é verdade, eu
sei que não é. Seu olhar, seus gestos, eles me dizem outra
coisa.
Rael segura o meu rosto.
Olho no fundo das suas íris castanhas.
— E diz o quê?
Que não me abandone, nem me deixe sozinha – não
aguento meus pensamentos e desvio dele, fraca para
esconder a verdade que jamais vou assumir.
— Você sabe o que dizem.
Eu analiso o seu rosto, a sua barba grande e suspiro.
— Faça o que achar melhor.
— É essa a questão, você é uma bomba relógio. Não
sei o que fazer.
— E eu não posso te ajudar com isso, estou como uma
marionete nas suas mãos. Pode tirar até a minha vida. Acho
que nem me importo, não tenho mais nada a perder.
Afasto-me, volto a atenção para a vista do oceano.
— Esta noite saberá a minha decisão.
Sinto os olhos do Rael ainda me analisando.
Meu coração doí, com medo de que me deixe sozinha,
de que vá embora. Não tenho mais ninguém para confiar.
— Por que permitiu que eu a trouxesse para o
castelo?! — Invado o escritório do meu tio, esbravejando
contra ele.
Desde que cheguei não conversamos sozinhos, cara a
cara.
Tio Argus sai de perto da janela e me olha.
— Você começou tudo isso, filho. Não devia ter a
levado de Braga, era a sua última chance.
— Como poderia ser a minha última chance? Posso
descartá-la da minha vida a qualquer momento!
— Pare de negação, Rael. Está pior do que o Hoss.
— Estou louco! Quero Jolie longe de mim!
— E por quê?
Argus serve duas bebidas e me oferece uma.
Sento-me no sofá e bebo numa golada.
— Ela me faz sentir medo… medo de perder todos que
amo. Não paro de me corroer de remorso, arrependimento
por ela estar aqui. Ao mesmo tempo… — suspiro. — Sei que
a Jolie é uma vítima da máfia.
— Não é só o medo que te perturba em relação a
Borghi. Ela dificulta a sua vida, que sempre foi fácil, ao seu
ver. Está se sentindo fora do controle da situação.
— É claro que saberia disso…
— Escuta, Rael. Não tenta tomar controle de tudo ao
seu redor, só para buscar métodos que facilite as coisas,
pois, quando não acha, começa a ficar louco de verdade.
Como agora.
— Eu sei que sou assim, e eu teria com certeza
deixando a Jolie para trás, pois taco o foda-se sem pensar
duas vezes. Só que estar sozinho com ela, é como se me
manipulasse, enfeitiçasse-me a querer protegê-la. Seus
olhos misteriosos deixam isso explicito, é um socorro, um
“não me deixe”. — Passo a mão no rosto, louco de novo. —
Ou não é… não sei.
— Jolie não tem ninguém e ela jamais diria
explicitamente que também precisa de alguém. Foi uma
mulher criada pela máfia, para ser poderosa, inabalável,
fria, calculista e perversa. Quando deseja, ela sabe se trajar
muito bem dessa mulher. Já a vi em ação, foi num evento
político há dois anos. Não teve um ser humano que não a
admirou e se amedrontou.
— Ela não é essa mulher comigo, ela é só… a Jolie, ou
a viúva Borghi — dou de ombros.
— Então a mesma não está manipulando nada, está
sendo real, confiante a você.
— E o que eu faço, tio? O que eu faço com ela? É isso
o que preciso saber.
Pela primeira vez eu vejo o meu tio quieto e
pensativo.
— Estou pensando, filho. Responda-me, você está se
envolvendo com a Borghi?
— Já viu aquela mulher, o quanto é bonita? Tem como
resistir?
— Rael — Argus me repreende. — Não se envolva
emocionalmente.
— Não tenho outros sentimentos por ela, além de
desejo.
— Mas ela pode ter.
Respiro fundo, tendo certeza de que estou fissurado
apenas para fodê-la, assim como Jolie. Chegamos muitas
vezes perto dos finalmente, isso já nos frustrou demais.
— Marquei uma reunião com o Morcego, preciso ir… —
ergo-me do sofá, sem querer tocar mais nesse assunto
“Jolie”, estou cansado.
Meu tio apenas assente e retiro-me da sua sala.
A reunião dura meia hora, Hoss participa e nenhum
deles tocam no nome dela. Eles me atualizam de tudo que
aconteceu nas últimas semanas, incluindo os novos
clientes. Depois, eu e o Hoss saímos para cobrar alguns
devedores. Como demoramos, almoçamos fora e ainda
passamos na academia, onde recrutamos novos “caras”.
Eles não são fixos, são convocados só quando precisamos.
Contudo, há um processo de treinamento. Devem ser leais
aos Calatrone, caso nos traiam, morrem. É simples.
Voltamos para casa às 16h30.
— Já terminei o meu carro — Hoss informa e acena
para acompanhá-lo até a garagem. — Graças a você
precisava entreter a cabeça.
— E não vai agradecer a mim por te dar esse
desempenho?
— Vai para a puta que te pariu, Rael.
— Vai se foder você, seu ingrato.
— Ingrato é minha mão na sua fuça, seu arrombado.
— Hoss, como ousa? Sou o seu irmão preferido.
— Já não mandei você a merda?
— A verdade é que me ama incondicionalmente.
— Eu amo a minha mulher e a minha anãzinha, por
você eu tenho o mesmo carinho que tenho por um pé de
alface.
— Espera… Oh, meu Deus — coloco a mão no peito,
atuando uma cena de ofendido, digna de Oscar. — Você
odeia alface. Como pode me comparar assim?
Hoss rola os olhos, enquanto eu analiso o seu carro
impecável. É, ele conseguiu mesmo.
E aí, o que achou?
— Porra, o carro ficou foda! Precisamos dar uma volta
nele.
— Já dei a volta com o Vince.
— O quê? — coloco a mão de novo no peito. — Como
ousa tamanha traição? Não quero mais viver, é demais para
mim.
— Por mais que eu te deteste, sinto-me feliz por ver o
meu irmão de volta. E me refiro a essa sua naturalidade de
irritar as pessoas como ninguém.
Hoss bate no meu braço.
Ele acabou com o clima dramático que criei.
— Talvez seja porque eu estou longe daquele furacão
Borghi.
— Está se envolvendo com ela, não está, Rael? —
Hoss de repente me enfrenta, bravo. — Vou ter que prender
esse seu pau com cadeado, ou castrá-lo!
— Isso não é da sua conta.
— Se tornou da minha conta quando trouxe essa
mulher para se esconder embaixo do mesmo teto que o da
nossa família!
— Chega, Hoss!
Viro as costas para o meu irmão, sem querer discutir.
Darei uma solução para isso, eu sempre dou!
— Senhor… — Luiz, nosso mordomo, me para perto do
elevador.
— Sim, Luiz?
— A Sra. Jolie não saiu do quarto e nem tocou no
almoço. Levei outro lanche para ela, mas também não quis
comer. Sua única refeição do dia foi só o café da manhã.
Molho os lábios, sem entender o motivo dela não estar
comendo.
— Prepare outra bandeja com muita comida, vou
aguardá-lo.
Ele assente.
Espero o Luiz, impaciente para vê-la de novo. Jolie vai
comer por bem ou por mal. O que ela está pensando? Em
morrer de fome?
Sem suportar mais o infeliz do Igor me enchendo o
saco, eu meto a arma na sua cara.
— Vai continuar zombando?
— Eita porra! Vamos com calma Rael do meu coração
— ele ergue as mãos, segurando a vontade de rir.
— Rael, abaixa a droga dessa arma e pega o dinheiro.
Hoss me passa as três bolsas pretas e eu jogo dentro
do porta-malas.
Assim que entramos no carro, Igor troca o seu olhar
comigo. Já sei o que pensa, é o mesmo que a minha família.
— Você não pode suprir algo por ela, precisa parar
isso antes que se foda bonito.
— Ainda estou pensando no que fazer.
— Já sabe o que fazer — Hoss pisa no acelerador. —
Você sempre sabe.
— Desta vez eu não sei, merda, só de tocar na
existência dessa mulher já fico maluco.
— Estamos deixando que pense até domingo,
enquanto isso, está proibido de visitar o quarto da Borghi,
pelo seu próprio bem. Para não a foder!
— Um cinto de castidade seria mais seguro.
Não aguento e fuzilo o meu irmão.
— Não é problema seu se eu quero comer a Borghi ou
se estou comendo! Deixe-me tomar as minhas decisões.
— Sabe como foi entre mim e a Elena. Eu não tive
controle sobre o que iria acontecer, ainda não tenho.
— Eu tenho o controle sobre as minhas decisões.
— Isso é uma piada?
— Vai para o caralho que te parta, Hoss!
— Por favor, Senhores Calatrone — Igor pigarreia. — E
Hoss, você passou a rua da academia.
— Foi proposital.
Ele aponta para o retrovisor e avistamos um carro na
nossa cola.
— Ele está nos acompanhando desde que saímos da
casa do devedor.
— Máfia? — Igor questiona.
— Pode ser, estão nos vigiando.
Hoss gira o volante e entra por trás no
estacionamento do subsolo da academia.
Ao estacionar, eu saio do carro, deixando-os para
trás.
Entro na sala principal. Tem alunos treinando boxe,
Judô, Jiu-jitsu, Muay Thai e Caratê. Aqui também abrimos
aulas à tarde para crianças. Um jeito de nos camuflar.
— Rael! Bom dia — assim que a Isa me vê, ela corre
para me cumprimentar.
— Bom dia, Isa — aperto a sua mão e ela se afasta. —
O que faz por aqui?
— Estou acompanhando o Hoss.
Aponto para ele e o Igor, que se aproximam de nós.
Ao pararem, saúdam a Isa.
— Bom dia.
— Bom dia. Aconteceu alguma coisa?
— Não, vim aqui só para te pedir algo.
— Sim, senhor?
— Preciso saber quais são os teus dias livres na
semana, para ensinar a Elena a lutar.
— A Elena, sua noiva? Mas ela não está gravida?
— Apenas treine tire ao alvo, pelo menos atirar ela
deve aprender.
— Um risco, se não andar na linha, ela pode te partir
no meio, igual a Hera e o Morcego. Pobre homem.
— Vai se lascar, Rael.
— Que foi, maninho, ficou nervoso? É apenas um fato,
meu doce.
— Depois que falo as coisas, fica putinho também —
ele me fuzila. — E voltando ao nosso assunto, Isa, quando
vai poder? Quero as aulas no castelo, é mais seguro.
Isa me olha, coloca as mãos para trás e pigarreia.
— Estou sempre livre depois das 16h. Posso ir todos
os dias, se o senhor quiser.
— Perfeito, quanto mais rápido ela souber se defender
e lutar, melhor.
— Acho que sou mais adequando a ficar com a parte
de ensiná-la a atirar. Afinal, até você sabe que eu sou o
melhor atirador do mundo — Igor se gaba.
— Filho da puta, convencido.
— Aceita que dói menos, Rael.
Eu soco o braço dele
— Ai, porra.
— Agora entendo porque é o melhor amigo do Vince.
Dividem o mesmo neurônio. Se tiverem um.
— Era só isso mesmo, Isa — Hoss nos ignora. — Pode
começar amanhã. Seu salário também será aumentado.
— Perfeito, Sr. Hoss, fica combinado. E Rael, posso
falar um minutinho a sós com você?
Assinto e me afasto para um canto com ela.
— Que foi?
— Então… — pigarreia. — É o meu aniversário
sábado…
— É? Já está pertinho.
— Sim, e gostaria de convidá-lo para a minha festa
aqui na academia, com os rapazes.
— Nem precisava me convidar. É claro que eu venho,
sabe que é a minha salvadora — pisco.
Ela sorri.
— Que bom… era só isso mesmo…
Vejo-a estranha, como se não fosse só isso. Ou é o
jeito dela?
— Rael, vamos, temos mais uma cobrança para fazer
— Hoss me chama.
Despeço-me da Isa, com um “até amanhã” e retorno
ao trabalho.
— Jolie!
Antes de eu pisar no último degrau, que leva ao
grande salão de baile, ouvi a voz da Hera, gritando pelo
meu nome.
Viro-me para vê-la andando apressada até mim.
— Onde pensa que vai?
— Eu?
— Sim, sim, você. Estava nos ajudando na decoração
do castelo, e preciso muito da sua ajuda, não quero
sobrecarregar a Elena, ainda mais nesse início de gravidez.
Fico estática, estranhando a forma dela se dirigir a
mim, tão 'normal'. geralmente, apenas me olha de baixo em
cima e fala palavras curtas, necessárias. Ainda me dá um
olhar de rejeição.
— Bom, achei que não fosse querer mais a minha
ajuda, não depois de agora pouco.
— Só dei um tempo para todos se acalmarem,
incluindo eu. Estou digerindo as coisas. E sinto muito pelo
meu comportamento desde que chegou, estou te devendo
isso, por mais que, talvez, possa compreender as minhas
razões.
— Eu compreendo perfeitamente, já lhe disse, assim
como disse centenas de vezes para o Rael. E obrigada, é a
minha vez de sentir muito.
Hera balança a cabeça e fica quieta, até pedir para eu
acompanhá-la de volta para a sala. E sem mais tocar no que
aconteceu, a gente retorna ao trabalho; eu, Hera, morcego,
Vince e Elena. Só paramos no horário de almoço.
Divirto-me muito com eles, principalmente com a
Hera e o Vince, brigando igual cão e gato, cheios de
implicâncias. Acho que se não fosse a Maria, eles já teriam
xingado todos os palavrões do dicionário brasileiro. Mas
durante a refeição, senti falta do Rael e do Hoss. Sei que os
dois brigaram feio, não querem ver um a cara do outro.
— Nunca te perguntei isso, contudo, estou há dias
curiosa, querendo saber com quem você aprendeu
português, Jolie? — Elena questiona. — Afinal, estamos o
tempo inteiro falando nossas línguas maternas. E te vejo
oscilando muito bem nos dois Português.
— Ah, eu estudei muito — sorrio. — Sei falar cinco
idiomas fluentemente.
Eles focam a atenção em mim, admirados.
— Uau, isso é incrível. Parabéns.
— Viver presa em uma mansão te faz buscar coisas
para não surtar. E meu refúgio foram os estudos. Quase fiz
faculdade de economia, mas… é impossível levar uma vida
civil "normal”. Me formei em casa, com professores
particulares.
Noto a Hera suspirar e olhar para o seu pai na ponta.
— Não tem mesmo. Algo frustrante que
compartilhamos muito em comum.
— Vou descansar um pouco. Vem Maria, hora do
soninho...
Elena finaliza o seu prato e se ergue do assento,
parece inquieta, bem incomodada. Ela ajuda a Maria a sair
da cadeira.
— Vai descansar ou ir atrás do seu ogro Calatrone? —
Vince pergunta, de boca cheia e nada elegante.
Ele parece um garotão esfomeado. Sua beleza viril
engana muito.
— Melhor se tranquilizar, Elena. Depois o Rael e o
Hoss estão aí de novo, inseparáveis.
— Mas ele passou a manhã inteira no escritório. E não
sei fazendo o que, já que odeia tanto aquela sala fechada.
— Vou falar com ele, não se preocupe — morcego diz.
— Hoss gosta do espaço dele, só estava esperando a manhã
passar.
— Nesses momentos ele estaria desestressando com
a Rui…
— VINCE! — Hera brada. — Hoss vai te matar!
— Vince, vai a merda! Isso não é hora dessas
brincadeiras! — Elena também brada, furiosa e tacando um
pedaço de bolinho na testa dele.
— Ei — Argus só sussurra e todos param, quietos.
Elena bufa, mais irritada do que nunca, pede licença e
se retira com a Maria.
— E Rael? — Quando vejo, já perguntei, com o
coração na mão, doida para estar com aquele homem.
— Eis a pergunta que só o nosso mordomo Luiz
poderia respondê-la, junto do seu tablet sagrado, cheio de
câmeras com infravermelho, onde localiza até os ratos pelo
castelo.
Arregalo os olhos, já imaginando onde transei com o
Rael essa semana. Ele viu? Socorro!
— Relaxa, as câmeras ficam localizadas em pontos
estratégicos, para nossa privacidade não ser violada, tipo
entradas de cima das portas e corredores. E o que é visto
por Luiz, fica com Luiz. Já tentei suborná-lo por imagens da
Hera transando com o morcego nos corredores, mas ele é
um traíra, ergueu o nariz e virou as costas, mandando-me a
merda sem falar um a. Ele só obedece ao tio Argus — rola
os olhos.
— Vince, cresce, seu imprestável!
— Ninguém te chamou na conversa, projeto de
Batman que deu errado.
E de novo, eles começam a se implicar e eu a me
divertir.
Mais tarde, eu volto ao trabalho com a Hera. Desta
vez, ela está menos brincalhona e eu séria demais.
— Pensando em algo? — ela passa uma bolinha
vermelha para a moça de uniforme preto. E sei que a sua
pergunta foi para mim.
— Talvez… só um pouco desligada.
— Está cansada, passamos a tarde toda aqui. Chega.
Terminamos por hoje — ela bate uma palma, agradece a
todos pela ajuda e manda seus dez funcionários
descansarem para amanhã.
Eles obedecem na mesma rapidez que pararam.
— Você também, descanse Jolie. Vou me arrumar,
pretendo aproveitar minha sexta à noite na boate com o
maridão — ela pisca, a seguir, deixa-me sozinha.
Solitária na gigantesca sala principal, resolvo fazer um
passeio no jardim noturno.
Estou ansiosa, aflita. Rael não me procurou o dia
inteiro. Também, nesta mesma intensidade de aflição, estou
puta da vida, por causa daquela cadelinha da Isa. Nem
pensar que ele vai amanhã no aniversário dela! Se for, eu
vou!
— Aiii! — sem querer, tropeço para fora da calçada e
caio na grama.
Ai, droga!
Na queda, torci um pouco do pulso.
— Moça!
Um homem bem alto corre até mim, só sinto as suas
mãos grossas ajudando-me a me levantar.
— Meu pulso — choramingo.
— Oi, atenção T2, comunique ao Sr. Cala….
— Não, pelo amor de Cristo — puxo o rádio do homem
forte. — Não quero incomodar ninguém, já estou bem.
Ótima! Agradeço o seu salvamento.
— Por favor, senhorita, caso tenha se machucado,
devo comunicar ao…
— A ninguém, meu lindo. E se quer me ajudar, dê uma
volta comigo, estou abandonada neste castelo. Todos foram
se divertir, enquanto a rejeitada aqui, tem que se contentar
com a lua e as estrelas.
Ele arregala os olhos de cor azul. Então pigarreia,
assentindo.
— Como é o seu nome? — pergunto, enquanto ele
vem devagar ao meu lado.
O cara é um gato. Pena que não criei nenhum
encanto. Ele não chega aos pés daquele desgraçado do
Rael, que me fodeu de corpo e alma.
— Tenho um apelido, abelha.
— Abelha? — sorrio. — Já não bastava termos
“morcego”.
Ele não sorri, por enquanto, mas está bem fixado nos
meus traços e no meu olhar provocador. Adorava fazer isso
com os LosBor, os homens da máfia, seduzia a todos. E
quando precisava de algo, eles faziam o que eu mandava,
igual cachorrinhos adestrados.
— Por que “abelha”?
— Meus pais cultivavam abelhas.
— Só por isso? — faço-o parar perto da piscina. —
Finge que estamos conversando como bons amigos, por
favor, não colabore com meu tédio.
Ele molha os lábios, rendendo-se a termos um bom
papo.
— Desde que nasci, meus pais eram cultivadores de
abelhas. Cresci no meio delas, e por ser um garoto
aventureiro, vivia cheio de picadas. Foi assim que meus
colegas de escola começaram a me apelidar, como zoação.
Porém, o apelido de abelha foi o mais marcante, até hoje.
— Ah, isso sim é um bom motivo, igualmente, um
bom apelido.
Só me faz lembrar de ferrão… bem grande.
Merda, que fogo é esse!
Conforme voltamos a andar, eu vou puxando mais
assuntos divertidos com o abelha. Ele é fácil de soltar as
coisas sobre a sua vida. Descobri que é pai de gêmeos, que
sua namorada morreu no parto e que ele, mas as suas duas
irmãs e mãe, cuidam das crianças. Um guerreiro. Não sei
nem descrever a minha admiração. Em alguns momentos,
acabo me soltando e caindo na risada com ele.
Que noite! Achei que seria horrível, pelo contrário, já
fiz uma amizade bem proveitosa.
Fujo do castelo igual a porra de um condenado. Tudo
para ficar longe da minha família e da Jolie. Estão me
enlouquecendo, vou precisar ser internado num sanatório.
Não aguento mais isso.
— Sr. Calatrone… — Ruiva se aproxima de mim,
passando a mão nas minhas coxas e no meu volume morto.
Não sinto nada, parece que outro defunto me tocou. E
ela é bonita, gostosa.
— Não quero nada, Ruiva. Só paz.
— Mais um Calatrone pescado por outra mulher —
bufa, frustrada. — Já perdi o Hoss, agora você?
— Você só era a foda preferida dele, não entendeu?
Ela dá de ombros.
— Mas se caso ele brigar com a mulher, estarei de
braços e pernas abertas. Pode passar o recado... com
licença.
Não falo nada, mas sinto vontade de rir.
Se eu ainda fosse amigo do meu irmão, usaria isso
deliciosamente contra ele. Aquele fodido!
Passo a manhã na boate, que está fechada e em
reforma pela nossa gerente. Ajudo-a em algumas coisas. No
restante da tarde, fico jogado no sofá do terceiro andar,
bebendo e refrescando o cérebro; de falatórios, brigas e
tudo que anda acontecendo no castelo. Ainda assim, ela não
sai dos meus pensamentos.
O que eu faço?
Está tudo fora do controle, é alucinante!
— Onde estava?
— Você está mesmo me perguntando isso? — indago
a Elena, após acabar de entrar na sala de casa.
— Ah, agora ficou com raiva de mim, Rael?
— Por que não me contou que estava grávida? Como
futuro tio preferido, eu merecia essa informação! Hoss é um
bastardo! Você uma traíra!
Elena revira os olhos.
— Andou bebendo?
— Só uns goles, e isso não é da sua conta.
— Não sabia que quando bebia virava um insuportável
birrento, igual o Hoss quando está sóbrio!
Vou até ela, bravo.
Elena se retrai, intimidada por mim. Então abraço-a,
mesmo sabendo que se o Hoss ver essa cena, ele atira na
minha cabeça, depois nos meus testículos, e sem pensar
duas vezes.
— Rael!
— Parabéns, Eleninha, que alegria, eu amo a pequena
Maria e agora vamos ter outro bebê, para colorir essas
paredes frias. Será que é menino? — seguro os seus
ombros. — Podia ser, para ensinarmos o futebol brasileiro,
da época do Pelé. Inesquecível.
— MAS QUE PORRA É ESSA SEU RESTO DE EMBRIÃO!
E falando no encosto.
Hoss pula em mim, empurrando-me para longe da sua
mulher.
— Hoss, para! Ele bebeu além do que devia.
Elena segura o meu braço.
— Bebi não, nem olha para minha cara, seu infeliz!
— A cara que eu soquei mais cedo? — ironiza.
— Eu que te comi no soco!
Tento avançar nele, mas acabo tendo uma vertigem,
que quase me fez cair no chão, se meu irmão não tivesse
me segurado forte.
— Para ficar nesse estado deve ter secado todas as
garrafas da boate.
— Não te perguntei nada, cara de salsicha podre.
Noto Elena rindo, também com a cara mais boba do
mundo.
— Vocês são tão iguais, dois sequestradores de
criancinhas na floresta.
— Elena…
— Eu ou a sua mulher que bebeu? — franzo o cenho,
mais confuso que o normal.
Ela me chamou do quê?
— Entra embaixo de um chuveiro frio, pois nesse
porre, não dá nem para te mandar a merda justamente.
— Pois digo foda-se para você, não te suporto!
Afasto-o e viro as costas para eles.
Vou para o elevador, aperto no andar de hóspedes e
paro no corredor da Jolie. Começo a caminhar tonto, até
parar perto da janela ornamentada, segurar-me na parede e
olhar para baixo, para a porra da cena da Jolie e do
segurança do Hoss, sentados no banco do jardim, rindo!
Que desgraça é essa que estou vendo?
Eu vou acabar com os dentes desse arrombado!
Pego a arma e simplesmente atiro em direção ao lago.
Os dois imediatamente pulam assustados do banco. Abelha
também pega a sua ama e segura a minha mulher pela
cintura! Atiro umas três vezes, ainda mais louco!
— Rael!
Luiz surge rápido no corredor, vindo até mim e
puxando a arma da minha mão.
— Rael, o que está fazendo?
— Não me atrapalhe! O próximo tiro era na cabeça
daquele filho da puta! Isso deve ser plano do Hoss!
De repente, a Jolie olha para cima e me vê do alto.
— Tem outras armas? Entregue-me, ou serei obrigado
a chamar o seu tio.
— Luiz, vai cuidar da sua vida!
— Rael, olha como se dirige a mim — Luiz me
repreende, igual fazia na minha adolescência.
— Porra mesmo… — resmungo, passando as minhas
outras duas armas para ele. Enquanto faço isso, volto a
olhar para baixo e vejo que a Jolie e o abelha sumiram.
— Vou atrás daquela mulher e daquele…
— Ela já deve estar vindo na sua direção, não se
preocupe — ele fala, a seguir, retira-se com as minhas duas
armas.
Luiz, seu velho da carrocinha insuportável!
Entro cambaleando no quarto da Jolie e vou até a sua
cama, ainda tonto e puto! Percebo a sua camisola
pendurada no mancebo e estico-me para pegar o pequeno
tecido, de cor branca. Acabo derrubando até o mancebo no
chão. Cheiro bem fundo a peça minúscula, apreciando o seu
perfume e imaginando o seu corpo nu, sua pele quente…
sua respiração arfante… seus lábios rosados…
— Rael!!!
Ela não demora a invadir o quarto.
— Só pode estar louco, ia me matar?!
— Eu ia matar ele!
— Só estávamos conversando.
— Mas está proibida de conversar com qualquer
homem nessa casa… é só eu. EU!
Jolie se aproxima e olha para a sua camisola em
minhas mãos.
— Não tem só você de homem no mundo não. Sempre
fui ótima em fazer amizade com eles.
— Pois não fará mais.
Puxo-a pelo braço e a faço sentar no meu colo. Abraço
o seu corpo quente, não querendo largá-la por nada nesse
mundo.
— Está me sufocando seu troglodita — sussurra,
acariciando o meu cabelo. — Já fui informada que está
alcoolizado. E nem precisavam me dizer, senti o cheiro de
álcool de longe, assim que abri a porta.
— Não estou bêbado.
— Orgulhoso mesmo. Até bêbado acha que está no
controle de si próprio.
— É por sua culpa que não estou no controle da minha
própria vida — arrasto as palavras, embolando a língua. —
Você não sai dos meus pensamentos. Meu coração dói por
você, sabia? Essa porra doí muito.
— Está confessando isso só por meio da embriaguez…
— Eu-eu não tou — pego a mão dela e paro sobre o
meu coração acelerado. — Acho que você tá aqui, bruxa.
Acho não, você tá. É minha, e quero que se foda tudo e a
todos.
— Ah tá, que você quer, e a sua família?
— Vamos deixá-los, vamos ir embora, eu protejo você,
cuido de você, a máfia não vai te tirar de mim.
Volto a abraçá-la com força.
Jolie chora, beijando o meu rosto.
— Isso é o que o seu coração quer, mas logo a
consciência e arrependimento regressam... Deita e
descansa Rael, vem…
Ela sai de cima do meu colo e me ajuda a deitar na
cama. Sinto as suas mãos abrindo a minha camisa, tirando
os sapatos e o cinto da calça.
— Bebi por sua causa.
— Bebeu porque foi a alternativa para fugir da
realidade.
— Você não vai embora… talvez, só vai aquela sua
gata feia, das trevas.
Jolie sorri e se deita ao meu lado, sobre o meu peito.
— Se ela for, seus cachorros carnívoros também irão.
— Desde que só você não vá… minha Jolie.
Fecho os olhos, rendendo-me ao sono.
Pela madrugada, desperto-me com a Jolie ainda nos
meus braços, e diferente de mim, ela se trocou e vestiu a
bendita camisola minúscula. Levanto-me fraco das pernas,
com vontade de mijar. Olho meio tonto as horas no relógio
de pulso, são 01h da manhã. Aproveito para tomar um
banho morno. Sinto o álcool descendo pelo ralo. Quando
saio do banheiro, com a toalha na cintura, pego a Jolie
acordada, olhando-me pela iluminação do abajur.
— Não devia ter acordado — advirto.
— Tenho sono leve. Achei que tivesse ido embora…
sempre se arrepende de mim.
— Acha que eu estava bêbado o suficiente para
esquecer tudo o que disse antes de dormir?
Tiro a toalha e fico nu, para secar o meu corpo.
Jolie perde até a noção de resposta, ou sequer de
raciocinar algo, com a visão do meu pau.
Volto para cama e me deito ao seu lado.
— V-vai dormir assim? Pelado?
— E você, vai dormir assim? — resmungo e aperto a
sua bunda avantajada.
Todo o corpo dela é “cheio”, muito peito, muita coxa,
muita bunda. É linda. Puta mulherão. Gosto assim, de ter
onde pegar com força.
— Não faremos sexo… — ela se afasta e repousa no
outro travesseiro.
Fito em silêncio os seus olhos, perdido na exuberância
deles.
— Não esqueceu mesmo? — pergunta baixinho.
— Não.
— Nem quando disse “minha Jolie”.
Chego perto dela e toco no seu rosto.
— Nem quando disse minha Jolie.
Ela suspira com meu toque, agora nos seus lábios.
— Você tem a mim, não está sozinha.
— Eu te quero tanto que às vezes sou orgulhosa de
assumir os riscos que te colo…
— Shhh…
Não a deixo terminar de falar. Beijo os seus lábios;
lento, molhado e abrasador. Provo que as minhas palavras
não são mais em vão.
Estou cansado disso, de me arrepender. E já não sei
mais como agir, pois domingo, não terei forças o suficiente
para mandá-la para outro lugar, para expulsá-la da minha
vida, como se não fosse nada, como se não significasse algo
para o meu coração. Não consigo, não sei nem se meus
batimentos cardíacos aguentariam ficar longe dela...
Beijo-a, com sede de paixão, degusto da sua língua e
de cada canto da sua boca.
Jolie arfa, com a mesma sede, o mesmo calor, mas
quando tento puxá-la para mim, para devorá-la, ela me
empurra.
— Amanhã você vai me levar no aniversário da Isabel
— diz, inesperada.
— O quê? Está louca? Não!
— Então, ótima noite para o senhor.
Ela vira o corpo para o outro lado, apaga o abajur e
empina a bunda na minha direção.
Que… bruxa!
Meu pau pulsa com a ereção embaixo do edredom. O
beijo estava delicioso. Merda!
Emburrado, igualmente viro-me para o outro lado e
durmo só pelo sono ser maior que a porra do tesão.
— Que cara de bunda é essa? Bom dia, também.
— Sem tempo para você, Vince! — exclamo, puxando
a cadeira, para sentar-me à mesa do café.
Parece que todos já tomaram, exceto eu e o meu
irmão.
Quando acordei pela manhã, já não encontrei mais a
Jolie no quarto. Ela ainda deixou a calcinha sobre o
travesseiro, de propósito! Bati uma punheta na força do
ódio.
— Antigamente o Hoss ficava nesse mesmo estado,
puto, mas pela sua decoradora, a ex-noiva do mafioso. Não
sei o que vocês têm em se relacionar com ex de…
— Se você não calar essa maldita boca de vaca, eu
corto a sua língua e dou para os meus cachorros.
— Raelzinho, amor, só estou comentando.
— Onde está a Jolie?
— Com a Elena e a Hera, decorando o castelo para o
Natal.
— Qual é a da Hera se aproximando assim da Jolie?
— Simples a resposta. “Se não pode com eles, junte-
se a eles.” E Hera é intensa para fazer amizades com outras
mulheres. Ela não tem nada contra a Jolie, nem eu, mas
estamos contra a magnitude do perigo que ela nos traz.
— Cansado disso — passo a mão no cabelo, farto e
com medo.
— Está apaixonado irmão, Jolie faz parte de você. E se
for tudo recíproco, conte comigo para lutar. Jamais estará
sozinho. Agora ótimo café, preciso voltar para a minha sala
de computadores. Beijinhos nas nádegas.
Vince se retira, e eu desabo na cadeira, esgotado.
Termino de comer e vou até a sala do tio Argus.
— Tio? — paro no portal da porta. — Bom dia.
— Bom dia, filho.
Entro e acomodo-me na cadeira em frente à sua
mesa.
— Quer algo? — pergunta, lendo algo em seu tablet.
— Por que só vive enfiado dentro desse escritório?
— Se reparar bem, estou ficando mais pela manhã.
Tenho muitas obrigações como chefe dos negócios.
— Não pensa em entregar tudo para o Hoss? Pelo
menos as maiores responsabilidades.
— Não, ainda estou ótimo, em forma fisicamente e
intelectualmente. E vocês, ainda não têm a
responsabilidade certa para administrarem nossa
agiotagem.
— Acho que não tenho mesmo, acho que nem o Hoss.
Ele odeia salas fechadas, sempre foi melhor na cobrança, ao
meu lado.
— Eu sei, por isso não é hora do seu tio sair de cena
— após terminar de falar, ele me encara, vendo além da
minha alma.
— Sei que não necessito de contar o que está
acontecendo comigo.
— Não.
— Então por que não está me ajudando com isso?
— Acha que o Hoss me escutou em relação a Elena?
— Não? — resmungo. — Só que eu estou numa
posição bem diferente da dele.
— Eu sei que está. Faremos uma reunião em família
no domingo.
— Não é só às quintas?
— Domingo — repete.
— É isso?
— E o que eu poderia lhe dizer mais?
— Que… sei lá, que a Borghi é um risco para a nossa
família, que está preocupado, era tudo o que eu esperava
ouvir de você, desde o começo, mais do que ouço
incessantemente da Hera e do Hoss.
— O risco existe, você já foi longe demais por ela.
— Fui, mais do que deveria. Assim que olhei nos olhos
daquela mulher, perdi o controle que sempre administrava
com êxito. Ela não tem ninguém, nem como se proteger.
Não sei largá-la e fingir que não é problema meu.
Noto Argus mais quieto, ele não dá continuidade ao
meu desabafo.
Quer que eu me foda sozinho?
— Domingo resolvemos isso em família, entendeu,
filho?
Levanto-me, sem respondê-lo.
— Rael?
Ele não pode resolver droga nenhuma.
Viro as costas para o meu tio, com vontade de socar
um saco de pancadas.
Qual a porra do motivo de não conversar direito
comigo? Até parece que não se importa.
Antes de eu seguir para a academia, sou parado por
Luiz no hall do elevador. As portas mal se abriram e ele já
surgiu igual uma assombração.
— Sr. Rael, o Bravos e o Gorila estão querendo matar
a Lady.
— O quê?
— A gata da Sra. Jolie está sendo perseguida por
Bravos e Gorila. Eu, os empregados e o restante dos
Calatrone conseguimos segurar só o Bravos, na verdade, o
Sr. Hoss conseguiu, já o Gorila está assustador, feroz.
— Onde estão?
— Todos correndo, gritando e latindo no jardim.
— Vou pegar o Gorila, e se possível, tacar aquela gata
da bruxa pelos muros do castelo.
— Sr. Rael!
— Jogar por cima, não contra o muro — pisco.
Ele reprova com a cabeça e eu vou atrás da confusão
que meus dois filhinhos se meteram.
Conforme me aproximo da saída do jardim, já ouço os
gritos e latidos. Ao parar na calçada de pedras, vejo
primeiro a Hera descalça, perseguindo o Gorila e gritando
para que ele parasse. Morcego está atrás da esposa e da
Elena. Hoss segura o Bravos, meu outro cachorro, e segura
com toda a força que consegue, pois ele também deseja
destroçar a gata. Para colocar a cereja no topo do bolo, Jolie
está correndo em volta do chafariz, com a demônia das
trevas nos braços. Ela grita desesperada, pedindo socorro.
Ai, ai, que cena deliciosa, chego a sentar no banco e
cruzar as pernas para assistir.
— Senhor seus cachor…
— Por favor, querida, um café adoçado com doce de
leite brasileiro — peço a empregada, que veio correndo até
mim, sem fôlego. — Ah, e coloque o doce em volta da
xícara, para degustá-lo devagar. Obrigado.
Ela arregala os olhos, olha para todos desesperados
no jardim, mas faz o que eu mandei. E para ficar melhor,
agora aprecio o espetáculo com um cafezinho gostoso. E
rindo. Não tinha como o meu dia ficar melhor.
Porém, para estragar o meu prazer cômico, Elena me
vê de longe.
— RAEL! — grita e chama a atenção do restante para
mim.
— EU VOU TE MATAR SEU IMBECIL! — Hera berra.
Droga, nem terminei de tomar meu cafezinho
brasileiro.
— Eu vou socar a sua cara! — Hoss declara, ainda
segurando o Bravos com bastante empenho.
— Calma, minha família adorável.
Vou até eles e assobio, chamando primeiro o nome do
Gorila, que para, rosnando para a Jolie.
Ela me fuzila, mais furiosa que a Hera e a Elena
juntas.
Porra, estou fodido com essas mulheres.
— Volta Gorila! Vem com papai! — ele volta correndo
para mim. — Bravos, sentado! — Ele também obedece, e
quando menos espero, levo um tapa doído da Hera.
— Que culpa tenho eu, porra?
— Resolveu… pedir… um… café… para… ficar…
rindo… da… nossa… cara… — a cada pausa foi um tapa
ardido da mão dela.
— Aí, aí, merda, tá doendo.
— É a minha vez? — então Jolie me dá outro tapa.
— Agora sou eu e o Hoss, intercalando entre socos e
chutes — Morcego fala.
— Vão se foder! Querem ficar com as bolas
destroçadas pelo Bravos ou pelo Gorila?
Os cachorros rosnam, mas para a Jolie, que ainda
segura a bendita gata nos braços.
— Jolie, melhor deixar a Lady no quarto, esses
monstros aqui não são acostumados com gatos. Vão matá-
la.
— Pois detesto cada um!
— Problema seu! — Jolie quase me bate de novo, mas
puxo-a pelo braço, na frente da minha família.
— Rael! — ela arregala os olhos.
— Melhor deixar um funcionário levar a gata
endemoniada.
— João leva.
O funcionário então pega a gata e se retira, correndo.
Tive que mandar meus cachorros continuarem sentados,
para não irem atrás do coitado.
— A minha gata não é um demônio!
— Das trevas, sua bruxa!
— Meu Deus, a delicadeza vem de berço entre os
homens Calatrone.
— Quis dizer alguma coisa? — Hoss resmunga áspero
para Elena.
— Quero sim, que torço para estar grávida de uma
menina!
— O seu rabo redondo!
— Hoss!
Hera bate nele.
— Seja menos ogro!
— Cachorro, cretino!
Já meus olhos continuam fixos nos da bruxa a minha
frente. A bruxa mais linda de todas. Parece que sempre há
algo diferente nela, que eu nunca reparei antes.
— Vamos voltar ao trabalho meninas, quero decorar
todos os pinheiros ainda hoje.
Jolie tenta se afastar, só que eu não consigo largar o
seu corpo.
Ela toca no meu peitoral, aflita, mas também inerte ao
nosso redor.
Respiro o seu perfume, perdido em sua fragrância
marcante.
— Humrum — Elena pigarreia.
Contrariando os meus desejos, enfim solto-a.
As meninas então saem juntas.
Encaro o Hoss, mandando-o ao inferno sem nem abrir
a boca.
— Vocês não inventem de brigar agora, pois já estou
fodido de correr atrás desses cachorros. — Morcego
reclama, tirando a arma da cintura. — Se começarem, eu
meto bala nos dois.
— Está agressivo hoje, querido? — debocho.
— Rael nasceu só com um dos miolos intactos.
— Não falei com você! — respondo ao ogro verde do
Hoss.
— Aliás, vão no aniversário da Isa? — Morcego
questiona.
— Sim.
Respondo também que sim, mas lembro-me da Jolie e
bufo.
— Ou não.
— Espero que saiba, que ela não pode cruzar o pé
para fora desse castelo.
— E eu não sei?
— Sabe que também não pode escondê-la para
sempre, nem fugir.
— É aí que está a raiz do problema — confesso.
— E ela vale a pena?
— Elena valia? — rebato a pergunta do Hoss.
— Hoje, vejo que mais do que eu. Talvez eu fizesse
tudo de novo.
— Digo o mesmo sobre a Hera.
— Quis dizer, em relação a ter sorte de não
castrarmos você vivo, seu traidor?
— Se poupem, de vocês não senti nem um pingo de
medo, agora do Sr. Argus. Puta que pariu, suei até os
tornozelos quando tive que ir até a sala dele, pedir a Hera
em namoro. O noivado então… graças a Deus que hoje me
tornei o genro preferido.
Eu e Hoss rolamos os olhos e resolvo ir para o outro
lado, onde fica a nossa oficina, ou parque de diversões. No
meu caso, com motos. Tenho quatro valiosas, que custam
milhões. Morcego resolve voltar para ajudar as meninas, já
Hoss vai atrás de Maria, que deve estar acordando e que
precisa se arrumar para esperar a professora particular.
Passo um bom tempo na oficina, terminando de deixar
a minha moto TOP. Porra, que orgulho, muito bebê do papai,
dá até dó de andar na minha filhinha de duas rodas.
— Está tão linda. Olha esses pneus — falo sozinho, em
êxtase com tanta beleza.
Ficou melhor que o Porsche do Hoss, ele que aceite a
verdade.
A seguir, volto para dentro do castelo, tomo um banho
e me enfio no escritório. Tudo para fugir da Jolie. Farei isso
até o horário de ir para a festa da Isa. A melhor alternativa
para não discutirmos e eu acabar explodindo com ela.
Acordo com chutes nas pernas, olho para cima e vejo
a cara de tatu do meu irmão mais velho.
— Vai se foder… — murmuro e viro para o outro lado.
— Que decadência, cadê o Rael equilibrado? Você não
é assim. Bebeu a noite toda para terminar dormindo no
chão da boate.
— Ai, cacete!
Hoss me chuta de novo, perto das costas e ao tentar
me levantar para quebrar a cara dele, acabo ficando tonto e
caindo no sofá atrás das minhas costas.
— Está um saco de merda com ressaca, literalmente.
— E isso é da sua conta?
Pego a garrafa de bebida ao meu lado e quase bebo o
restante, se o Hoss não tivesse dado um tapa nela.
— Reage, caralho! Como pode deixar a Borghi
sozinha, depois de tudo que aconteceu ontem à noite?
— E agora ela te importa? — debocho.
— Não, ela te importa e eu me importo com o meu
irmão. E a Hera e a Elena estão furiosas com você, não me
disseram o motivo, mas acredito que você saiba muito bem.
Que merda fez para as duas estarem te praguejando às 05h
da manhã?
— Nada…
Hoss se senta ao meu lado e bate fraco no meu braço.
— Aceita que está tudo fora do controle.
— Eu comecei a assumir a realidade ontem, por isso,
já estou em desgraça, bêbado, acordando no chão. E quer a
verdade? Jolie me fodeu, eu estou apaixonado por ela. Fico
louco só de imaginá-la longe de mim, da minha vida.
Nenhuma outra a substitui, não chegam aos seus pés.
— É assim que me sinto com a Elena. Principalmente
a porra do meu pau, que sobe só com ela.
— É assim também? Meu pau só sobe com aquela
bruxa sem coração. Não sinto nada com as outras. Minha
cabeça, meu pau, tudo pertence a ela.
— Agora que assumiu, o que vai fazer?
— Não comece a repetir os riscos e a porra a quatro
ou taco essa garrafa na sua cabeçona de elefante.
— Bom, já é clichê de tão óbvio. Quero só o seu bem,
assim como das outras pessoas que amamos.
— Eu sei, mas eu quero o bem dela. Jolie não teve
culpa a quem foi destinada e quem se tornou.
— Eu igualmente sei, e vamos dar um jeito. Por
enquanto, viva isso como se o hoje fosse o último dia com
essa mulher. Negar, lutar e fugir é só mais um método de se
auto torturar, até perdê-la da pior forma.
— Nunca pensei que ouviria isso de você. O tio Argus
era o mais esperado, só que nem ele quis me dar conselhos.
— Gavião só observa e age sozinho. Quando vemos,
ele já deu centenas de passos à nossa frente.
— Argus sendo Argus. E agora?
Hoss acaricia o meu cabelo.
— Irmão, se já fodeu a família toda, agora mais “o
quê”? Só ouça meus conselhos, antes que me arrependa e
volte a ficar do lado da Hera. Mas, aparentemente, esta
manhã, todas estão do lado da Jolie. Não entendo essas
mulheres mesmo.
Bufo, sabendo muito bem do que as duas sabem… ou
três. Estou fodido nas mãos da Hera, do Vince e da Elena.
Ainda tenho que me explicar para eles. Aquele beijo foi
dado pela Isa, sobre circunstâncias que fui covarde em
negar. E o pior, necessito de ver a Jolie, saber como está,
isso me dá mais vontade de beber.
Como eu vou olhar nos olhos da minha bruxa, sendo
que prometi que voltaria, que cuidaria dela?
Hoss nota o meu desespero interior e sem fazer
perguntas, devolve a garrafa. Então bebo, pois o álcool vai
me dar coragem ou foder com todo o restante.
Só voltamos ao anoitecer para o castelo, e mortos de
tanto foder naquela lancha. Tomamos banho e dormimos
juntos. É maravilhoso tê-la ao meu lado, repousada nos
meus braços, acho que já me acostumei com a sua
presença, o seu perfume, a sua voz, o seu toque. Como
pude chegar a esse ponto? É assim que o Hoss se sentia
com a Elena… “completo”?
Queria fugir dos problemas, só eu e ela, numa vida
decente, sem medos e inseguranças. Tacar o foda-se.
Respiro fundo.
Ela não quer me deixar, nem eu quero mais isso. Já
estamos tão envolvidos, pertencentes um ao outro. Que
então seja assim.
Pela manhã, acordo com algo me acariciando os pés…
algo tão peludo e macio. Abro devagar os olhos, levando um
susto e chutando a desgraçada da gata, que se esfregava
no meu pé.
— Rael, a Lady!
— Eu vou fazer espetinho dessa maldita gata.
— Qual seu problema com ela, infeliz? — Jolie me
fuzila, após saltar da cama e ir prestar socorro a tal Lady.
— Odeio gatos!
— Problema seu, eu gosto. Respeita a minha filhinha.
Também saio da cama.
— Não quero discutir com você, acabamos de acordar.
— Afinal, sempre perde.
— A tua bunda redonda que perde com meus tapas!
— Sai do meu quarto, anda!
Vou até ela, deixando-a tonta com a visão da minha
nudez.
— O que tem de bem-dotado, tem de ódio por gatos
— ela pega no meu caralho e eu aperto os punhos, para me
deliciar com o seu toque devasso.
— Eu amo as suas mãos… — grunho de prazer.
— Ótimo que as ame, pois as mesmas que te tocam,
te castram ao menor vacilo.
Que bruxa feroz.
Ela para de me alisar e beija a minha boca, possessiva
ao acariciar também o meu peitoral definido.
— Você é meu, Rael.
Meu coração entra em chamas.
E para não acabarmos passando o dia transando na
cama, eu a beijo até faltar fôlego nos nossos pulmões, logo
depois, retiro-me para o meu quarto, tomo banho e me
arrumo para começar mais um dia.
— Bom dia… — encontro a Hera sozinha na sala.
— Bom dia…
— A formiguinha resolveu me responder?
É o seu apelido de infância. Hera gostava de roubar
doces na cozinha e esconder embaixo da cama. Igual uma
formiguinha mesmo. Por isso, começamos a chamá-la
assim, e ela surtava, tacou até um garfo em mim, ele
penetrou as minhas costas, levei um ponto. Saudável
infância.
— Não me chame por esse apelido ou taco esse salto
bem no meio da sua cabeça.
— Sempre carinhosa e amorosa.
— Rael, vem aqui, precisamos conversar… — antes
que eu pudesse me retirar para o outro lado, Hera me
parou. — Senta aqui!
Então volto e sento-me ao seu lado.
— Eu sei o que quer conversar.
— Ótimo… vamos ser diretos, o que tem com a
Isabel?
— Nada, juro para você. Na verdade, o que aconteceu,
foi que eu soube da morte do seu irmão, fui a acalentar e no
meio disso, Isa acabou revelando que era apaixonada por
mim.
Hera não parece nem um pouco surpresa.
— Depois me pediu aquele beijo… só que não fui eu
quem dei, ela quem tomou a iniciativa. Fui covarde demais
para afastá-la e magoá-la.
— Era bem óbvio, né, que ela sempre fora apaixonada
por você. Como não percebeu?
— Nem sequer desconfiei ou tive interesse de
desconfiar, pois somos amigos, ela para mim é uma
salvadora. Não existe qualquer sentimento desse… igual eu
e a Jolie — suspiro. — E por favor, não conte nada para ela.
Jolie detesta a Isabel e acredite, essa mulher é capaz de
tirar membro por membro de alguém.
— Acha que eu não sei? Jolie causa calafrios, gosto
disso nela.
— Gosta é?
— Assim como você, que a ama.
— Hera… — murmuro, em choque com a sua última
palavra.
— Não é cedo para a verdade. Lá no fundo, desde que
a trouxe para o castelo, eu sabia que ela nunca mais iria
embora das nossas vidas. Principalmente da sua. Vocês
foram amor à primeira vista, afinal, desde que se
conheceram, nunca mais se largaram. Não é?
— Acha que eu vou assumir?
Reviro os olhos e levo um tapa da leoa.
— Não brinque com a Jolie, você é o primeiro homem
que ela se apaixona.
— Verdade? — fico surpreso. — Irei eu mesmo saber
pessoalmente disso.
— Ela mesma disse para mim.
— Nosso possível relacionamento é algo de menos
agora. Existe a máfia atrás dela. Não sei o que fazer.
— Eu também não faço a mínima ideia. Estou com
medo de tudo. Com a Elena não foi assim, eu tive tanta
coragem e força para ajudá-la. Agora, sinto-me em um
tiroteio cruzado, sem saber para que lado atirar também.
— Pensaremos no que fazer… — beijo a sua testa e
informo que preciso ir.
Tenho que descobrir uma coisa…
Finalmente, quando cai a noite, tranco-me no quarto e
me arrumo impecável, com uma maquiagem elegante,
vestido preto e um sobretudo da mesma cor.
Não sei o que o Vince aprontou, mas conseguiu
inventar algo que fez o Hoss e o Rael saírem do castelo para
resolverem algo na boate. Mesmo assim, precisaremos
tomar cuidado com a Hera, a Elena, o Morcego e o Argus,
sem falar do Luiz e dos empregados.
Sinto tudo isso ser o certo, só eu posso resolver a
minha situação com a máfia.
Alguém bate na porta.
— Oi?
— Sou eu, o Vince, está pronta?
— Só um minuto.
Esborrifo o perfume, dou uma última olhada no
espelho e saio com a cabeça erguida, capaz de enfrentar
todos os meus inimigos.
— Uau… está uma gatinha das trevas — Vince me vê
e fica boquiaberto.
— Não baba muito, cunhado.
— Cunhado? Já estamos assim?
— É claro, seu irmão me pertence.
— Possessiva, parece que o jogo virou para aquele
monstrão. E precisamos ir, estão todos jantando.
Vince me leva com ele para as entradas secretas do
castelo, que eu jamais descobriria, nem se eu morasse
trinta anos aqui. As passagens são úmidas e apertadas.
— Tem certeza que está me ajudando por boa-fé?
Sinto as coisas rápidas demais.
— Jolie, minha querida gostosa, mulher do meu irmão
ciumento, eu estou vigiando os seus passos desde que
chegou nesse castelo. Também, analisei os cenários para te
ajudar, sem envolver a minha família e infelizmente só vai
existir esse.
— Eu sozinha…
— Logo vou te dar um rastreador, vai colá-lo no meio
do casco da cabeça. Caso você saia de lá para outro destino
diferente, agirei para resgatá-la.
Eu e o Vince descemos muitos lances de escada, até
pararmos na frente de uma porta de pedras.
— Ela é elétrica, abre sozinha — informa, então a abre
e saímos numa garagem. — Entra no carro.
Ele manda e eu entro no primeiro ao lado, depois fico
abaixada no banco, até sairmos dos muros gigantescos do
terreno.
Ergo a cabeça, respirando aliviada, também com
saudades de andar assim de carro.
— Esse evento fica onde, Vince?
— É numa mansão, perto do centro de Lisboa. É o
aniversário de uma amiga da sua enteada. O chefe da máfia
está bancando tudo, pois a família da menina é filha do
subchefe dos Borghi.
— Eu sei quem é. E isso não é bom, ao mesmo tempo
que é. São muitos soldados LosBor. A mansão estará
cercada até uma quadra de distância.
— Se quiser desistir, podemos voltar.
— Não, já estou aqui, já deixei o Rael e o castelo para
trás. Não posso desistir mais. Lá saberei como agir no
improviso.
Vince assente e fica quieto, nervoso. Gostaria de
perguntá-lo sobre a minha enteada, o que conversam tanto
virtualmente, como se conheceram, mas o meu nervosismo
também é maior que qualquer outra coisa.
Estarei cara a cara com o Toretto.
Depois de quarenta minutos, Vince para perto do
evento e me entrega o tal rastreador para eu colocar.
— Vou ficar alguns metros de distância, mas saiba que
estarei te vigiando pelo rastreamento.
— Ok, obrigada, Vince.
— Já sabe como vai entrar né?
— Não quis te contar antes, mas isso de dizer que eu
sou parente da aniversariante não vai funcionar, todos
sabem quem eu sou.
— Devia ter me dito, pois não…
— É tarde.
— Jolie, estará se entregando vulneravelmente para
eles e poderá nunca mais voltar para o Rael, para nós!
Sorrio e abro a porta, puxando o meu braço, para
soltar-me.
— Porra, fiz merda.
— Eu já vivi coisas incríveis com o amor da minha
vida, coisas que em todos os meus anos de vida eu nunca
havia vivido. Obrigada por tudo, Vince. Também, se eu não
voltar, diga para o Rael que eu o amo.
— Jolie...
Ele me larga e eu ando para bem longe do carro.
A cada passo o meu coração acompanha as batidas.
Atravesso a rua olhando para todos os lados possíveis,
chego ao portão, respiro fundo e encaro o segurança atrás
da grade.
— Olá, poderia me ajudar?
Ele me vê e se aproxima desconfiado.
— O que gostaria?
Chego mais perto do homem e tiro a arma, para
apontar na direção da sua barriga. O cara se assusta.
— Sei que não está sozinho aqui na frente, por isso,
seja rápido e comunique em segredo ao Paulo Borghi, que a
cunhada dele está aqui para matar a saudade. E seja
rápido, antes que os homens da máfia apareçam.
— Quem é você?
— Não interessa, faça imediatamente o que te mandei
ou atiro nesse seu lindo corpinho. Anda!
O segurança arregala os olhos e sem mais
questionamentos, ele faz o que mandei, após sair em
tropeços, correndo para dentro da mansão.
Vai ser agora, já imagino centenas de homens vindo
ao meu encontro. E não demora para isso acontecer.
Paulo e o capo aparecem rapidamente com seus
soldados, já abrindo o portão e mandando eu entrar.
Eu entro e o Paulo agarra o meu braço.
— Meu pai vai te matar!
— E você vai deixar isso acontecer?
— Vamos conversar primeiro. Lucas, faça a ronda e
veja se ela está sozinha — ele fala com um dos homens, em
seguida, me arrasta com ele.
— Eu sei andar, Paulo!
— Estou furioso com você! Como aparece assim?
— Eu disse que precisávamos nos encontrar para
conversar.
Ele chega numa área de lazer, com um jardim de
estufa e me joga lá dentro.
— Você não era violento antes de eu ir embora.
— E antes de me abandonar com as merdas das
responsabilidades da máfia!
— Acostume-se, pois não ficarei aqui — meto o dedo
no peito dele. — Tome atitude, você que não pode mais
fugir da sua obrigação.
— Não seria minha obrigação se não tivessem matado
o meu irmão. Ele nasceu para ser o herdeiro.
— Chega de se lamentar. Toretto e você sabem quem
o matou, como ainda não realizaram essa vingança?
— Porque esses mesmos desgraçados estão
dominando as áreas dos nossos compradores de drogas.
Eles estão se fortalecendo, garantindo clientes fiéis e nós,
perdendo o nosso poder de fornecimento.
— Enfim, vocês têm problemas maiores do que eu.
— É da nossa família, Jolie. Lila chora por você todos
os dias, é como uma mãe para ela.
— Sinto muito, mas nem ela pode me segurar com os
Borghi. Eu não tive escolha de nada na minha vida. Só
quero ser feliz, ser “normal”.
— Feliz, como?!
— Com o homem que eu amo de verdade!
Ele então se cala.
— Sabe o que é isso, né? Amar alguém? Pois eu amo
um homem de verdade. Não como o seu irmão, que nunca
sequer tive esse sentimento.
— Esse sentimento é uma mentira, uma ilusão.
— Problema seu se acha isso. E sei de tudo que está
acontecendo na sua vida, da mulher que engravidou e que
está sendo obrigado a se casar por causa do seu pai.
— Não sabe de nada!
— Ah, mas eu sei, meu querido. Sei também que a
sua atual noiva é a irmã da Elena, a mulher que amava de
todo o coração.
Paulo fecha os punhos, com um olhar mortal de raiva.
— Mas sem mais delongas, chega desse papo, eu
quero ficar diante do seu pai. Temos assuntos importantes
para tratar, relacionados ao seu irmão.
— Ele vai querer decepar a sua cabeça.
— Que seja!
Paulo bufa e dá um passo até mim.
— Pare com isso, Jolie. Precisamos de você ao nosso
lado, para vencermos essa guerra.
— Eu quero que o seu pai e que esses problemas se
fodam. Não é uma guerra minha.
— Isso é o que ele vai decidir.
— Que seja!
Então saio pela porta da estufa.
Paulo vem ao meu lado, para me levar a festa de
aniversário, que acontece do outro lado do jardim luxuoso.
Os LosBor me veem de longe e ficam incrédulos,
cochichando entre eles.
— Meu pai já deve estar sabendo da sua presença.
— O subchefe é rápido — sorrio, em deboche e quase
revirando os olhos.
Como odeio aquele homem.
A gente chega na enorme mesa principal e vejo a
Dalila ao lado do seu avô.
— Jolie! — ela tenta se erguer para correr até mim,
mas ele não deixa. — Deixe-me abraçá-la, vô!
— Ela não é digna do seu abraço, nem da sua
saudade, filha — Toretto me observa, com seus grandes
olhos impiedosos. — Jolie te abandonou duas vezes.
Aperto os punhos, mas mantenho a calma, pois cerca
de dez homens estão segurando suas armas, em alerta
contra mim.
— Logo te abraçarei, querida, seu avô com certeza
deixará, após conversarmos.
— Aparece numa festa, em meu momento de
aproveitar à noite, para conversarmos, Jolie?
— Conversamos hoje, ou uma família real te coloca na
lista principal da Interpol.
Toretto descruza as pernas, olha para o Marcos e seu
subchefe vem todo pomposo até mim.
— Olá, Marcos, saudades da sua inimiga? — sorrio
como o próprio diabo incorporado.
— Acompanhe-me, Jolie — rosna. — E Paulo, continue
onde está! — exclama, pois obviamente, Paulo seria capaz
de me defender, temos um carinho e uma amizade muito
forte, por mais que se encontre bravo por eu ter o
“abandonado”.
Marcos e os soldados LosBor me levam até uma sala
particular. É a sala da casa dele. Eles me revistam e tiram a
minha arma.
— Torço para que o Sr. Toretto determine a sua morte.
Terei prazer em fazer o serviço.
— Por que me odeia tanto, Marcos? Só por que o meu
pai se casou com a mulher que você amava?
— Cala a boca, Jolie!
— Meu rosto, meu jeito, tudo faz lembrar a minha mãe
quando era mais jovem. Isso te incomoda, te deixa
seduzido.
Marcos pega a minha própria arma e mira na minha
direção.
— Não, você me faz lembrar do traíra do seu pai, em
como o matei e em como gostaria de matar de novo.
Ele achou que me afetaria? Pois cruzo as pernas e me
mantenho tão fria quanto um iceberg.
— Sr. Toretto logo te mandará para a forca, espero que
esteja ansiosa, pois eu não conto às horas.
Marcos sai da sala e eu suspiro, pensando em planos
e mais planos para pelo menos sair viva dessa.
Precisarei agir rápido. Ainda bem que tenho outra mini
arma letal. Ganho tempo para tirá-la da vagina, desenrolá-la
e escondê-la em outra parte do corpo.
Se eu não sair viva daqui o Toretto também não sairá.
Não demora e dez minutos depois o chefão vem
sozinho ao meu encontro. Ele fecha a porta, respira fundo e
em passos curtos, para na minha frente e então dá um tapa
forte no meu rosto.
Depois de averiguarmos um problema elétrico na
boate Fogo, eu e o Hoss voltamos para o castelo.
Faminto, já chego indo até a mesa do jantar. Luiz me
informa que todos jantaram há meia hora, porém, dá ênfase
no “exceto”.
— Exceto… pela Sra. Jolie, que não desceu e também
não estava no quarto.
Será que está tudo bem? Antes de eu sair com o Hoss,
aparentemente estava tudo normal.
— Como não a encontrou?
— Eu bati a cada dez minutos na porta e em nenhuma
ela respondeu, até que eu abri e realmente não a vi em
seus aposentos.
— Deve estar no jardim, daqui a pouco a procuro.
Luiz me olha estranho, querendo dizer mais coisas, só
que ele não diz e eu termino de comer o mais depressa
possível.
Ao finalizar, ergo-me e Luiz enfim pigarreia.
— Também, não a encontrei pelas câmeras do castelo.
— Como assim? Desse castelo ela não iria sair.
Procure direito, Luiz, deve estar em alguma área de lazer.
Nervoso, assim que eu saio da sala de jantar, Hoss
aparece perguntando se aconteceu alguma coisa, devido a
minha cara de descontrolado. Explico o que Luiz relatou e
ele imediatamente me acompanha para procurar a Jolie.
Nos dividimos. Eu vou para o quarto dela, mas não a
encontro por lá. Sem querer imaginar que fugiu, bato na
porta da Hera e também conto o que está acontecendo. Ela
e Morcego nos ajudam a procurá-la.
Até que se passam mais de vinte minutos. Chegamos
a nos bater pelos enormes corredores, e nada da Jolie.
Colocamos até nossos seguranças para procurá-la pelos
terrenos externos.
— Ela tem que estar nesse castelo!
Tio Argus aparece na sala, pedindo a porra da calma.
— Uma merda de calma! Ela não pode ter ido embora
assim, de novo! Pela terceira vez!
Ela não pode inferno, depois de tudo que aconteceu
entre nós.
— No castelo a Borghi não está — Hoss declara,
nervoso. — Talvez confiou demais na viúva.
— A questão não é só confiança, a questão é que ela
sabia que estava na mira da sua família da máfia, e que não
podia sair assim, era a sua vida em jogo.
Eu me sento no sofá, passando as mãos no rosto.
Hera acaricia o meu cabelo e beija a minha testa.
— Primo, não pense muito.
— E se ela tiver se entregado aos Borghi? Ou fugido
de novo, agora para outro país? Não vou perdoá-la!
— Ela não seria capaz de te abandonar — Argus vai
até o aparador se servir de uma bebida forte. — Nem a
mim, o seu padrinho de nascimento.
— O quê?
Em segundos, todos ficam de pé e incrédulos.
Não é possível que não ouviram o mesmo que eu.
— O que foi que você disse, tio?
— Jolie foi filha de um dos meus melhores amigos aqui
em Portugal. Quando jovens, éramos inseparáveis. Tanto,
que me tornei padrinho da sua única filha.
Eu permaneço boquiaberto.
— Não posso acreditar, esse tempo todo! Por que não
nos disse isso antes?
— Sim, por que não nos disse, pai?! Jolie faz parte da
nossa família, de certa forma!
— Estou dizendo agora para vocês.
Ele se senta na segunda poltrona, olhando-nos.
— É bom que nos dê detalhes tio Argus — Hoss
resmunga.
— Eu errei com a pequena Jolie, prometi ao seu pai e
a sua mãe que cuidaria dela, mesmo que fosse entregue
aos Borghi, numa promessa inquebrável. Só que na época,
fui dado como morto. E era necessário à minha morte, pelo
bem da nossa família Calatrone. E ela, a jovem Jolie, foi
entregue em matrimônio ao herdeiro primogênito. Ela não
teve culpa dos erros dos pais, nem do seu padrinho.
— Não acredito. Quantos segredos tem mais que não
nos conta? — Hera brada contra o pai. — Pois eu, sei que
existe mais! Todos nós sabemos! Não aceito que conviva
escondendo as coisas da gente!
— Por favor, filhos, só saibam que a Jolie nunca esteve
aqui no castelo por culpa do Rael.
Olho para o meu tio, puto por não ter me dito nada.
— O senhor planejou tudo, o colar foi você que o tirou
de mim, não foi?! E ela? Jolie sabia também?
— O que tinha de tão especial nesse colar para o Rael
ficar louco daquele jeito e ir embora sem nos dizer nada? —
Hera questiona.
— Era o colar do nosso pai. Na nossa última conversa,
antes dele ser assassinado pelo rival de agiotagem da
família Calatrone, ele confidenciou a mim a segurança do
objeto. Era importante.
— Depois discutem isso. Escute-me, Rael. Jolie só
soube da verdade, principalmente que eu estava vivo,
depois que a trouxe para a nossa casa. Antes disso, o colar
só foi uma tentativa que joguei ao destino, por mais que eu
já imaginasse que você e ela, assim que se conhecessem,
se envolveriam intensos, são praticamente feitos um para o
outro. Não fique chateado comigo. Foi preciso agir assim,
primeiro pelo bem da nossa família e da própria Jolie.
— Que porra de bem é esse? E onde ela está agora?
— berro. — Você sabe onde ela está!
Argus não responde.
— FALA TIO!
Hoss segura o meu braço, para eu não cometer uma
insanidade.
— Não faça nada que possa nos complicar e complicá-
la, entendeu, Rael? Vamos encontrá-la, eu prometo — ele se
levanta.
— Eu vou atrás dela, diga onde está!
Argus não me dá ouvidos e retira-se rápido.
Chuto a poltrona, com vontade de sair igual louco a
procura da minha Jolie.
— Tenho certeza que ela está com os Borghi!
— Vince pode rastreá-la — Morcego que diz.
— E como, se nem um celular eu deixei com ela?
— Não sei, talvez ele tenha guardado alguma carta na
manga que não sabemos.
— É do feitio dele fazer isso. E falando nele, onde está
o nosso irmão mais novo?
— Deve ter saído para comer alguma puta! Ligue
imediatamente para ele.
Hoss liga, mas as chamadas não são atendidas.
Optamos por aguardá-lo, enquanto eu caminho de um lado
para outro, sem parar de pensar naquela mulher… na minha
mulher.
Deus, ela não pode ter ido atrás deles, assim, do
nada, sem me dizer!
Meu desejo é de pegar o carro e procurá-la nas áreas
da máfia, até descobrir a mansão onde moram. Com certeza
fica perto de alguma fronteira.
Se passam horas e Vince aparece, estranho, nervoso.
— Onde você estava? — Hoss exclama contra ele.
— Ué, fui para a boate. Aconteceu alguma coisa,
minhas bonequinhas de luxo?
— Sim, a Jolie desapareceu e precisamos de você para
encontrá-la!
— Como assim? — ele muda a sua cara para surpreso.
— Se for verdade, já aviso que é impossível de encontrá-la,
já que nem um aparelho celular ela tinha. Talvez Jolie esteja
pelo castelo.
— Já procuramos em todos os buracos possíveis.
— E o que pensam… que eles a pegaram?
— Pior, que se entregou. Já entrevistamos todos os
seguranças também.
— Vou verificar as câmeras direito, pois sem passar
por elas a Jolie não iria. Volto daqui a pouco… — Vince sai,
quieto e tão sério que nem parece ser ele.
— Não tem o que fazer, a não ser esperar, Rael —
Morcego aperta o meu ombro. — Não podemos ir atrás
dessa mulher
— A máfia pode desconfiar e concluir que queremos a
viúva para derrubar o império deles — Hoss se senta ao
lado da Hera e suspira. — É uma batalha que dá medo.
Eu sei o medo do meu irmão, de perder a sua família,
a pequena Maria.
Quero chorar, berrar esse desespero dentro de mim.
Eu também amo a minha família, quero protegê-los
com unhas e dentes, só que a Jolie, igualmente se tornou
algo incomparável na minha vida, eu não paro de pensar
nela, em querê-la no calor dos meus braços, protegida e…
amada.
— Eles já nos têm em mira, não podemos criar uma
guerra com o chefe da máfia. o Paulo é peixe pequeno perto
do seu pai sem escrúpulos.
— Vou dar uma volta… — É só o que eu consigo dizer,
antes de sair da sala e abandoná-los.
Subo correndo para o segundo andar, em direção ao
quarto dela. Entro e vou na primeira coisa que me faz senti-
la perto de mim, o seu pijama, com o seu cheiro forte e
marcante.
Ahh Jolie, por que foi embora sem me dizer? Eu
preferia te impedir de ir e levar outro tiro, do que ficar nessa
tortura, sem o seu corpo, a sua voz, os seus lábios… sem
você… sem saber se está bem.
Sento-me na cama, aperto os olhos e seguro a
vontade de chorar, de frustração e incapacidade de fazer
alguma coisa.
Por que sinto que nada está bem?
Minha intuição só repete que ela se encontra no poder
dos Borghi, em algum lugar. E eu não sei se eles já a
fizeram algum mal, se estão a torturando ou a mataram.
O último pensamento me faz surtar e dar um soco
violento na parede.
Se ela não voltar até amanhã de manhã, a procurarei
do meu jeito, sozinho! Minha família não estará envolvida
mais nisso!
Marcos, o subchefe, bateu na minha porta e mandou
que eu descesse para o café. Estranhei, mas foi tão rápido,
que não consegui contestar o pedido desse estrume que
detesto. Desde que fui trancafiada, não me junto mais a
eles nas refeições.
— Nada fica escondido do chefe… — Marcos sussurra
bem perto do meu ouvido, assim que eu paro nas escadas.
Olho para ele e sorrio.
— Não mesmo, querido Marcos, a verdade sempre
vem à tona.
Sem querer discutir, ele aponta para que eu desça, e
eu desço até a sala, aliviada por respirar novos ares.
Observo que todos os cantos estão sendo vigiados por
homens armados. Toretto intensificou a segurança.
Será que é por causa do Paulo? Não tenho dúvidas de
que ele já tenha descoberto tudo. Preciso saber se ele está
bem, o que aconteceu. Isso está me afligindo.
— Já deve saber o caminho — o arrogante fala.
Vou até a outra sala de jantar e quando atravesso o
enorme portal, paraliso, estática, não consigo nem piscar os
olhos.
Não pode ser ele! Não posso acreditar!
O que esse homem faz aqui? Ele veio atrás de mim?
Isso é loucura!
— Ah, bom dia, Jolie. Estávamos aguardando-a. Sente-
se, filha.
Engulo em seco, sem nem saber como se anda mais.
Ele me olha, tão chocado quanto eu.
Desloco-me até o único lugar da mesa e sento-me,
sem parar de olhar para o Rael. Que vontade de chorar, de
abraçá-lo e de dizer que… amo esse homem. Não tinha um
só dia que eu não pensava nele, com saudades e medo de
não nos vermos nunca mais.
— Bom dia, Toretto — fuzilo os seus olhos.
— Deixe-me apresentá-la ao meu sobrinho… Rael
Calatrone.
Arregalo os olhos.
Sobrinho?
Ele sabe?
Rael sabe!
Toretto contou!
— Mas não precisamos de tantas formalidades.
— O senhor está muito normal, para um filho que foi
em busca da morte esta madrugada — confronto-o de
repente, para não ter delongas sobre a presença do Rael. —
Onde está o Paulo? O que aconteceu? Diga algo, por favor.
— Rael salvou a vida do meu filho irresponsável. Paulo
levou dois tiros e já está salvo e consciente. Mais tarde
estará em casa, com todo o suporte médico necessário. Não
há lugar mais seguro do que a nossa fortaleza.
Olho para o Rael, segurando-me para não desabar.
— Não tem perguntas, Jolie?
— O que vai fazer com o José Neves?
Toretto nota que não quero entrar no mérito “Rael”.
Preciso deixar o meu cérebro trabalhar.
— Ele é um fraco, perdeu todos os seus soldados
ontem. Mas ainda, mesmo na beirada do precipício, deseja
me ver. Também, especificou a sua presença esta noite. E
sabe que sou misericordioso com os meus inimigos.
Estaremos lá pontualmente.
— Qual o plano dele para esse encontro? Ele tentou
matar o Paulo! Além de que assassinou o Pedro!
— José tem garotos sem treinamento, que apenas
recrutou para levantar números — Rael comenta, mas tento
não fitar os seus olhos.
— Por isso foi fácil de se abaterem. José pode ter
guardado os melhores para esta noite. Não estaremos lá
para brincadeiras. Todavia, chega desse assunto, estamos
em família e Jolie, sabe o quanto isso é sagrado para mim. A
família!
— Você sabe — então despejo as palavras. — Sobre…
nós.
— Como? — Rael também o confronta. — Eu estou
cheio de perguntas.
— Eu tenho um informante entre os Calatrone.
— Quem é? Não existem informantes no castelo!
— É quem você menos espera, querido sobrinho.
Nunca estive longe de vocês, por mais que eu tenha feito
uma promessa. Igualmente, nunca os vi como meus
inimigos, por mais que o Argus queira que vocês me vejam
assim. Não o culpo, há motivos plausíveis para isso.
— Isso tem a ver com o meu pai, com a sua… irmã, a
minha mãe, não tem? Eles não morreram pelas mãos da
nossa agiotagem rival — Rael aperta com força a xícara.
Ele está se controlando o máximo que consegue para
não explodir de raiva. E por favor, que ela não exploda.
— Não, eles morreram pelo justo. Não se vira as
costas para a família, sabiam muito bem disso, mas seus
pais, seu tio e os pais da Jolie viraram-se contra mim. Eles
fugiram para o Brasil, ficaram um bom tempo por lá, até eu
descobrir o paradeiro de todos. Como eu disse, não se vira
as costas para a família.
— Rael… — sussurro, impedindo-o de se erguer da
cadeira e cometer qualquer loucura.
— O negócio de agiotagem dos Calatrone também foi
criado escondido de mim, pelo seu pai e o seu tio, enquanto
trabalhavam para a máfia.
— Então eles trabalhavam para você?
— Argus era o meu subchefe, o seu pai, o meu
conselheiro e os pais da Jolie, os meus gerentes. Éramos
uma família, construindo um império, até todos me traírem
e provocarem a morte da minha esposa. Ela não aceitava a
traição.
— E vingou a morte dela, tirando a da nossa família?
— questiono, tão ferida, quanto revoltada. — Por que só
poupou o gavião?
— Porque as crianças não tinham culpa, eram
pequenos. Nossa aliança foi eu me afastar e deixá-los
crescer sob a sua educação. Por isso, Jolie, da sua mãe
também ficar viva, até você poder se casar com o meu
herdeiro e eu aniquilá-la. Fui misericordioso, como sempre
sou.
— Como pode chamar isso de misericórdia?! Tirou a
vida da minha mãe, do meu pai, dos pais do Rael e da sua
própria irmã!
— Não se vira as costas para a família, Jolie. Não
concorda, Rael?
Ele não consegue responder, vejo na sua feição o
quanto está enojado, com desejo de vingar-se. Meu desejo é
o mesmo, quero pegar uma arma, disparar na cabeça do
Toretto e assistir os seus miolos explodirem. Mesmo assim,
não iria suprir o buraco que ele nos fez.
— Já sobre vocês, não sou contra. Pelo contrário,
tenho uma proposta, a qual consiste em poderem ficar
juntos para sempre. Não é por isso que lutam? Pelo amor,
pelo coração? Só basta você ficar aqui, Rael, ao meu lado,
ao lado de Jolie e da nossa família, onde é o seu lugar.
— Não, isso nunca vai acontecer! — exclamo,
levantando-me já farta de ouvi-lo.
— A proposta não foi direcionada a você, Jolie. Sente-
se.
Não me sento, quero matar esse desgraçado.
— Então, Rael? Isso pouparia a vida da sua amada,
pois já sabe as consequências de quem vira as costas para
mim. E ela nos virou duas vezes...
Rael me olha e não aguento, toda a pose de mulher
forte vai ao chão. Estilhaço-me em pedaços.
— Eu aceito.
— Não, você não vai fazer isso! Não vai virar as costas
para a SUA FAMÍLIA!
— Aperte a minha mão, Rael.
Ele desvia do meu rosto, do meu desespero e aperta a
mão do Toretto.
NÃO! NÃO! NÃO!
Choro mais, não aceitando que ele faça isso, que da
mesma forma se prenda aos Borghi e por minha causa. Não
vou me perdoar, não vou!
— Ótimo, querido sobrinho
— Não ficaremos juntos, eu me nego! Eu não gosto de
você, Rael! Tudo passou de um desejo, uma satisfação que
eu nunca recebi de um homem de verdade! Você não
passou da droga de um… um — ele me encara e desabo de
vez na minha mentira. — Insignificante!
— Por favor, já é de casa sobrinho, sirvam-se do café,
preciso ver o meu filho.
— Não pode fazer isso, Toretto!
Ele se ergue, obscuro e inabalável.
— Agradeça-o, Jolie, por salvar a sua vida também.
Com licença.
Ele sai e enlouqueço de vez, inclinando-me na mesa e
jogando tudo no chão.
— Jolie! — Rael corre na minha direção, mas me
afasto, chorando sem parar.
— Por que fez isso?! Por que, Rael?!
Volto a jogar tudo no chão e ele avança, tentando
segurar os meus braços. Acabo socando-o no peito para me
largar, só que sinto o seu toque, o seu cheiro, a sua
presença e paro, abraçando-o com tanta força que sinto o
meu coração doer no peito.
— Porque eu te amo… — sussurra, em lágrimas. —
Porque nada mais faz sentido sem você.
— Por favor, não diga isso — distancio a cabeça e toco
no seu rosto, alisando a sua barba.
Ele limpa as minhas bochechas molhadas.
— Não posso perder você, não imagina ainda o que
está por vir, o que te envolve… eu… Porra, Jolie, é minha, eu
amo você, sua bruxa! Não importa o que aconteça,
ficaremos juntos!
Rael agarra possessivo a minha cintura e beija-me, o
beijo mais faminto, necessitado e quente que me deu.
Retribuo igual, insaciável, desejando-o cheia de saudades. É
como se o meu coração voltasse a bater, o meu sangue
voltasse a bombear pelas veias e como se a metade da
minha alma voltasse ao meu corpo, o lugar onde pertence.
— É meu, eu também amo você — murmuro nos seus
lábios ferozes.
Ele agarra o meu cabelo desde a raiz e aprofunda a
língua, movimentando a cabeça conforme me devora.
Que saudades dessa pegada, desse beijo. Como
aguentei uma semana longe do meu homem?
— Rael… — ofego com calor.
Só paramos de nos beijar por falta de ar.
— E agora? — pergunto.
— Agora não vou me separar de você.
— Não pode confiar no Toretto, não devia ter aceitado
ficar comigo, aqui!
Ele segura a minha cabeça e aproxima a nossa testa.
— Desde que foi embora, essa sempre foi a resposta,
não parei um só dia de tentar fugir daquele castelo para te
reencontrar. Eu seria capaz de invadir essa mansão.
Enlouqueci sem você. E isso nunca aconteceu com
nenhuma outra mulher, e nem se eu tentasse com outra,
aconteceria.
— E nem vai! — esbravejo, não suportando a ideia de
dividir o meu homem. — Meteria outro tiro em você e depois
na cara da vagabunda.
— Incrível, sempre amorosa e delicada.
Ele sorri e me dá um selinho perfeito, com gosto de
carinho e amor.
— Precisamos conversar depois, em outro lugar.
— Isso é impossível… no momento — respondo.
— Quem mais está nessa mansão?
— Lupita e Dalila… inclusive, ainda não conheci a
Lupita pessoalmente.
— E quem é Dalila?
— A minha enteada, quando me casei com o Pedro,
ela só tinha nove anos. Nos apegamos demais, me dói não
poder vê-la, sei que está magoada comigo.
— Sinto muito.
— Tudo bem. Toma o seu café, por enquanto, pensarei
em algo para mudar o seu destino.
— É melhor mudar o “seu” para o nosso destino, pois
não vou a lugar nenhum sem você.
Resolvo não discutir mais com esse cabeça dura, que
me dá borboletas no estomago de tão perfeito que é.
Acompanho-o no café da manhã e não demora para o
Marcos aparecer, supervisionando-nos. Ele deve estar
morrendo de ódio por Toretto ter poupado a minha vida. De
qualquer forma, de novo a merda do meu destino se
repetiu, o chefão dos Borghi destinou-me a alguém,
prendendo-me a máfia, ao lado do Rael, o qual não tem
culpa e não merece esse fim.
Não vou permitir tal destino, nem que seja necessário
acabar com a vida do Toretto. Estou disposta a sujar as
minhas mãos.
Depois do café, Jolie é separada de mim e levada de
volta para o quarto. Eu fico umas duas horas na sala,
sentado no sofá e puto de nervoso, pensando em tantas
coisas que sinto vontade de surtar. Em todo canto que olho
estão os seguranças da máfia, é impossível dar um passo
para qualquer outro lugar.
Lupita, a irmã da Elena, aparece acompanhada de
uma moça baixa, cabelos loiros e olhos castanhos. Tendo o
mínimo de conhecimento sobre a minha pessoa, Lupi me
apresenta para Dalila, a filha do Pedro. A seguir, Lupita
senta e me faz milhares de perguntas, principalmente sobre
a minha presença e sobre o que está acontecendo. Só que o
merda do subchefe aparece e decide sentar-se bem na
nossa frente, vigiando-nos.
Eu informo o mínimo para a Lupi, apenas sobre a
Elena e sobre todos estarem bem.
Ela me olha, marejando os olhos. Sinto a sua alma
presa, prestes a berrar. A moça ao lado também tem o
mesmo olhar de desespero. Que vontade de as proteger, de
tirá-las daqui, mas não posso, não dá para ser um super-
herói.
Contudo, essa noite, eu tenho que agir, Toretto disse
na mesa do café que terá um encontro com o traficante e a
Jolie precisa estar lá também. Já imagino o que José vai
fazer. Pedro deve estar sob o seu poder, essa é a sua carta
na manga. Acho que ele me escondeu mais coisas, é claro
que não revelaria tudo, sendo que eu havia chegado
naquela madrugada. Ele não confiou em mim. E o tiroteio
naquele cais pode ser só a fatia do bolo, os garotos
inexperientes, sua demora de chegar até o Paulo… muito
estranho.
Mais tarde é me oferecido roupas limpas e um quarto
para me arrumar. E quando entro, sou proibido de descer
novamente. Devo aguardar segundas ordens.
Aguardo, duas, três, quatro horas, até o anoitecer.
Fiquei tão estressado, que soquei um monte de vezes
a porra da parede, e quando abriram a porta, avancei.
— Por que porra gostam de me deixar preso?
— Não ficará mais, lhe aguardam lá embaixo.
Passo reto por ele, indo até o último andar.
— O chefe ordenou que fosse também. Levem-no! — o
subchefe manda e obedeço sem pensar duas vezes.
Na verdade, só penso na Jolie, em protegê-la.
Eles me levam para fora da mansão, tem um carro me
aguardando.
— Rael? — abrem a porta e dou de cara com o motivo
da minha loucura diária.
Não tenho nem tempo de fechar a porta e ela me
abraça apertado.
— Senti a sua falta. Ele mandou você vir?
— Acho que sim.
— Toretto foi na frente, todos com carros separados.
O cara ao volante dá partida.
— Onde vai ser esse encontro com o José?
— Não sei, mas parece ser para valer. Toretto quer
acabar com ele de uma vez. Estou com medo, não sei o que
pode... — enquanto fala, Jolie me dá um papel — acontecer
com a gente. Ainda vi o Paulo, depois de suplicar que me
deixassem vê-lo…
“Estou com duas armas, vou te passar uma por trás
das costas, na hora certa iremos usá-las. E é para valer.
Esconda a sua.” — Leio o bilhete, ouvindo-a falar.
— Ele estava bem debilitado, entretanto, vivo. Os tiros
não foram graves, graças a Deus.
— Que bom…
Pego a arma, vigiando o cara pelo retrovisor. Jolie
então vira o rosto e me beija, enquanto eu coloco por baixo
da camisa. E que beijo gostoso, que vontade de a tomar
para mim e nos satisfazer até o mundo acabar.
— Eu amo você.
— Eu também te amo, minha Jolie…
— Acho que está aqui a pedido do Paulo, ele deve ter
convencido o Toretto — sussurra. — Ele está do nosso lado.
— Eu não confio.
Jolie se afasta, também pensativa.
— Eu confio, seja o que Deus quiser.
Não demora e a gente chega a onde deve ser o
destino do encontro. Foi preciso alguns minutos de terra de
chão. Estamos no meio do nada, só com as luzes dos carros
iluminando o terreno de areia e mato seco.
— Tem muitos faróis do outro lado — Jolie aponta. —
São eles.
Somos levados para mais próximo do Toretto e dos
seus soldados mafiosos. Eles conversam estratégias entre
si, até alguém anunciar;
— Estão se aproximando, senhor.
Os faróis ficam mais perto. Todos se posicionam.
Assim que os carros param, José desce rápido,
acompanhado dos seus homens.
Toretto dá um passo, em linha com os LosBor.
— Toretto Borghi, finalmente saiu da toca de onde é
rei? — José se aproxima, sorrindo de orelha a orelha.
— Estou aqui, de frente para o meu inimigo e
assassino do meu filho.
— A brincadeira só está começando. Não vamos
perder tempo. Tenho um presente que vai surpreendê-lo.
— Renda-se, acabou para você.
— Eu já não disse que a brincadeira só está
começando, Sr. Borghi? Tragam-no!
Um dos caras dá a volta em um dos carros, abre a
porta e arranca de dentro, um homem alto, de aparência
magra.
— Surpresa!
É instantâneo, todos arregalam os olhos.
Jolie aperta o meu braço, tremendo, boquiaberta.
— Não pode ser possível… não pode...
Já eu fico de olho a minha volta e a cada passo do
José.
— Pedro?!
José o coloca de joelhos.
— Vivo e em ótimo estado, como pode ver.
— Filho? Meu filho? — Toretto o observa, em choque.
— Você incendiou o corpo, nossas testemunhas viram...
— É tão bom te surpreender, depois de tantos anos.
Eu levei meses para criar aquele dublê e assassiná-lo. Ficou
igualzinho, né?
— Pai… — Pedro sussurra e Jolie quase sai de trás dos
LosBor, mas a seguro com força.
José mira uma arma na cabeça do Pedro.
— Para não dizer mais que fui injusto, hoje você o
verá morrer na sua frente.
— Eu vou matar você! — Toretto ergue a voz e todos
LosBor apontam suas armas.
— Se não quer o seu filho morto, venha comigo. Quero
você e a Jolie.
— Não! — o subchefe se opõe, só que Toretto dá um
passo para perto do filho.
— Jolie! — ele a ordena.
Não, porra, por que ele está fazendo isso?
— Não! — tento impedi-la de ir, mas me seguram.
Ela se vai, sem me olhar e sem pensar duas vezes.
Pela manhã, acordo sozinho na cama, já irritado por
ela não estar ao meu lado. Arrumo-me e desço só para
passar mais raiva. Descubro pelo meu tio que ele chamou a
Jolie para irem até o esconderijo do Paulo, sendo que ontem
ela fez questão de não me contar nada.
O que tem com essa bendita mulher?
Como pode mudar comigo da água para o vinho?
Mesmo puto, não discuti, apenas me arrumei e
quando viram, já estava no carro, indo com eles para a pista
do jatinho. Durante a viagem curta, fui afastado dela, até
chegarmos ao destino.
O lugar onde o Paulo se escondeu é bem remoto, pois
depois de descermos do jatinho, fomos levados em meia
hora de estrada de barro até a casa de dois andares na
serra. Lá fomos recebidos pela Lupita e um tal de Manoel,
um homem de confiança do Paulo.
— Só tem vocês? — Tio Argus pergunta para eles.
— Sim, não temos confiança em mais ninguém.
Vamos ficar aqui até o Paulo se recuperar e as investigações
policiais cessarem — Lupita explica e nos serve uma caneca
de chocolate quente.
— É o mais seguro no momento.
— Naquela mesma manhã também mandamos
colocar fogo na mansão, para a polícia não encontrar nada
comprometedor do Toretto, e que igualmente possa recair
sobre o Paulo — Manoel comenta. — Foram ordens dele.
Jolie abaixa a cabeça, pensativa.
— Eu vivi tantas coisas naquela casa, a maioria
lembranças ruins. Não dá para acreditar que tudo aquilo
acabou.
— Eu cheguei a pouco tempo e sinto que vivi anos no
inferno. Sinto o mesmo alívio que você, Jolie.
— Acabou, Lupi, graças a Deus.
Ficamos conversando mais um pouco, sem ainda
incomodar o Paulo, que está dormindo sob medicamentos,
mas quando acordou, tio Argus foi o primeiro a ficar a sós
com ele.
— Vai conversar com a Dalila? — pergunto para a
Jolie, após segui-la até a cozinha da casa aconchegante.
— Daqui a pouco.
Paro-a, olho no fundo dos seus olhos e beijo a sua
mão.
— Por que está brava comigo?
— Eu brava? Desde quando?
— É claro que está, te conheço.
— Pois se me conhecesse, saberia os meus motivos…
— resmunga.
— Eu não sou adivinho, cacete, não tenho testículos
de cristais. Como eu vou saber o que te incomoda?
— Se a sua consciência estivesse pesada, teria todas
as respostas óbvias — ela passa a mão no meu peitoral,
descendo até o cinto da calça. — Agora com licença
Não permito que ela dê meio passo. Agarro a sua
cintura, pressionando-a contra o armário de madeira.
— Rael!
— Vou te mostrar o Rael, bruxa atentada do cão.
Beijo a sua boca, louco com essa mulher irresistível.
Ela chega a perder a força das pernas e dos braços. Devoro
a sua língua, os seus lábios deliciosos, com sede de puni-la
por também estar me punindo por algo que eu nem sei.
Porra, isso me deixa mais feroz, mais faminto e mais
sanguinário ao beijá-la.
— Rael... — Jolie entrelaça os braços no meu pescoço,
gemendo e roçando excitada no meu volume.
— Hã-hã… — de repente, alguém pigarreia e
imediatamente viramos a cabeça, para dar de cara com o
tio Argus.
Afasto a Jolie, recompondo-me.
— O Paulo deseja falar com você, Jolie.
— Cla-claro… já vou — toda fora do lugar, ela limpa a
boca borrada pelo batom, desamassa a blusa e sai por
pouco tropeçando.
— A gente só estava conversando — digo cínico para
o meu tio.
— Eu estava vendo a conversa com muito diálogo.
— Falando em diálogo, o que o senhor e o Paulo
conversaram? — mudo de assunto.
— Não pude me aprofundar muito, devido ao seu
estado debilitado de saúde, no entanto, conversamos o
necessário. Precisamos mantê-lo do nosso lado, é um bom
homem, não desejo que seja corrompido pelo mundo da
máfia.
— Ele realmente parece ser o melhor de toda a família
Borghi. Quem diria que éramos primos… minha mãe, irmã
do Toretto. E nos dizia que ela era uma prostituta… — tento
não criar rancor ao ver o meu tio assentindo.
— Sinto muito filho, ela quem inventou a história para
cortar qualquer pergunta sobre o seu passado verdadeiro. A
mãe de vocês era uma grande mulher, assim como a Jolie.
Ela tinha uma garra, uma força e acreditava no amor. Grega
foi capaz de desistir de tudo pelo seu pai, assim como ele
por ela. Por isso que os dois faleceram juntos. Foi o pior dia
da minha vida… deixei vocês com a Marina e me afastei por
semanas. Não queria que me vissem fraco, sofrendo como
se aquela dor terrível nunca fosse passar. Eu precisava me
recuperar, para voltar forte para vocês três. Era o meu
dever, a minha obrigação com seus pais.
Eu abraço o meu tio.
— Também sofremos. Eu, Hoss, Vince e o senhor
estávamos tentando ser fortes um pelos outros. Ainda
fazemos isso, pois o que nos mantém vivos e corajosos é a
família, foi o senhor que nos ensinou a ser grandes homens.
Ele acaricia o meu cabelo.
— E são, eu tenho orgulho de cada um de vocês,
meus filhos...
Voltamos para o castelo por volta do entardecer. Jolie
se separou de mim e foi atrás de resolver algo, a qual não
quis entrar em detalhes. Na sala, sento-me no sofá, de cara
para o Vince, que está devorando uma bandeja de bolo.
— Eu amo a nossa cozinheira, acho que vou pedi-la
em casamento.
— Ela só tem trinta anos de diferença que você, mas
tem todo o meu apoio.
— Para o amor não tem cor, raça, nem idade,
queridinho. Sempre achei a dona Lucia o amor da minha
vida, sou o preferido dela, sabia? Ela adora me alimentar.
— Não sei como eu perco tempo te dando atenção.
— Rael! — de repente, a Hera surge gritando. — Vai
para a outra sala de chás segurar a Jolie! Ninguém está
dando conta delas!
— Delas?
— Sem perguntas, vai logo!
— Essa eu não posso perder, vou até levar o meu
bolinho… — Vince vem atrás.
Corro rápido até a sala do segundo corredor e quando
entro, dou de cara com a Isabel e a Jolie se descabelando
igual duas leoas ferozes.
Mas o que está acontecendo?
— Sua cadela horrorosa! Ele é meu homem!
— Jolie!
Puxo-a com força, enquanto o Morcego segura a Isa
do outro lado.
— O que está acontecendo aqui?!
— Me solta, Rael!
— As suas mulheres se gladiando.
— Ah, ele tem um triângulo, não é mesmo? — Jolie me
fuzila.
Então olho para a Hera e o Vince, sabendo na hora o
que está acontecendo.
Ela descobriu sobre aquele maldito beijo.
— Jolie, vamos conversar — murmuro, tentando
arrastá-la comigo, só que ela não cede.
— Não, é você e a sua família que deviam conversar
com a Isabel e questioná-la sobre quem é o traidor que
passava informações do Castelo para a máfia!
— O quê?! — todos exclamam juntos.
Morcego chegou a largá-la.
— Do que a Jolie está falando, Isabel? — Hera indaga.
— Ela soltou com a própria boca que fez o que fez
para proteger o próprio irmão!
— Não é verdade! — Isa se defende. — Como podem
acreditar nessa mulher?
— Sua cínica! É claro que foi você, esteve o tempo
todo em contato interno com a família Calatrone, sabia de
tudo que acontecia aqui! É a traíra!
— Isso é verdade, Isabel? — Hera pergunta de novo,
sem querer acreditar.
Nem eu quero acreditar, sequer consegui abrir a boca.
— Gente, o que está acontecendo? — Elena e o Hoss
também aparecem.
— Nada, simplesmente liguei o óbvio e descobri quem
era a traíra no meio de nós.
— Isa, não me faça desconfiar de você! — finalmente
exclamo e ela dá um passo para trás, abalada com o meu
tom nervoso, incrédulo.
— Não foi bem assim, Rael… precisamos conversar a
sós.
— Agora tudo está explicado! — Hoss esbraveja. —
Faça algo ou eu mesmo farei, Rael!
— Por favor, saiam daqui e deixem-nos a sós, é só o
que peço.
Jolie é a primeira a sair, só que antes, ela me dá um
olhar frio.
Eu passo a mão no rosto, na barba, não querendo
acreditar nessa maldita situação.
— Se for verdade, estou decepcionada, Isa... — Hera
sussurra, antes de fechar as portas.
Ficamos sozinhos, encarando um ao outro.
— Não sei nem o que dizer.
— Não precisa dizer nada, entenda que a Jolie me
faria de alvo de qualquer coisa séria, para poder me tirar da
sua vida. E essa é a intenção dela.
— Conte-me a verdade, pois eu sinto que existe algo
incompleto.
— Não vou te enganar mais, eu menti sobre a
verdadeira pessoa que o meu irmão trabalhava. Ele era da
máfia e ficou três anos infiltrado no grupo de traficantes do
José, até descobrir que o Pedro estava vivo e até o José
matá-lo, antes que pudesse contar tudo para o chefão da
máfia.
— E onde você entra nessa história?
— Entra na parte em que a máfia veio atrás de mim,
me sequestrou e me torturou por uma madrugada inteira,
para eu contar tudo o que sabia. Não contei do Pedro, já que
havia sido ameaçada de morte pelo José, mas tive que
entregar a Jolie e algumas informações sobre vocês
Calatrone. Não tive escolha, foi apenas para me libertarem.
— Não teve escolha? Não consigo acreditar em você,
Isabel, sinceramente, não consigo. São tantas versões
diferentes, mas sempre tendo a sua pessoa como
coadjuvante envolvida. Em qual versão acredito? Talvez só
na parte em que entrega a Jolie, pois é claro que gostaria de
se livrar dela!
— Eu não podia te contar, Rael, estava com medo de
te perder, de se afastar de mim. Somos amigos, eu salvei a
sua vida duas vezes.
— Já lhe agradeci e lhe recompensei centenas de
vezes por te salvo a minha vida, para no final, receber essa
traição de você. Agora, não tem mais a minha confiança,
não sinto sinceridade, parece que está o tempo todo
contando tudo pela metade. Acabou!
— Rael… eu estou sendo sincera, é essa a verdade.
— Se é ou não é, tanto faz, não voltará mais a pisar
no castelo.
Ela arregala os olhos, segurando as lágrimas.
— Por favor, perdoe-me, não foi a minha intenção te
decepcionar. Tudo o que eu fiz foi para protegê-lo, proteger
a sua família.
— Chega, Isa! Não vou tirá-la da academia de
treinamento, mas contrataremos outra pessoa para ser
responsável geral.
— É isso? — chora.
— Tudo o que eu tinha para dizer eu já disse, não
quero mais discutir, com licença.
Retiro-me rápido da sala, tão frio e tão revoltado.
Vai ser assim com todos que ousarem quebrar a
minha confiança. Estou cansado de só angústias e
sofrimento. Quero ser feliz, quero ter paz juntamente com
as pessoas que amo.
Evitando a todos, eu vou para a nossa sagrada sala de
jogos, servir-me de qualquer bebida forte. Fico por aqui com
os meus pensamentos fartos, até perder as horas e cair à
noite fria, ou até eu ser comunicado pelo Luiz que a Jolie
mandou eu encontrá-la na área da piscina.
O que ela deve estar aprontando?
Desconfiado, vou até a minha mulher e a encontro
dentro da jacuzzi, só de biquini.
— O que está esperando para tirar a roupa, Sr. Rael?
— fala ao me ver chegando de mansinho.
— Esperando estar seguro eu entrar aí e você não
tentar me matar afogado, é bem da sua índole.
— Engraçadinho…
Sorrio e tiro a roupa para também entrar na jacuzzi.
E que maravilhoso.
— Essa água quente, borbulhando… está uma
delícia… não acha? — ela encosta a cabeça na borda e
relaxa com as bolhas.
— Sim. Estava merecendo, hoje o dia foi cansativo
para você — digo.
Jolie abre os olhos e pega na minha mão.
— Também foi para você, não pense só em mim o
tempo inteiro.
— Não sei como fazer isso, é uma das minhas
prioridades. Amo você.
— Eu também te amo.
— Isso significa que estamos de bem? Pois já descobri
o motivo de ficar brava comigo.
— E quem disse que eu ainda não estou brava? E nem
foi tanto por essa droga de beijo, foi por não ter voltado
para cuidar de mim. Mas já foi, é passado.
— Mesmo assim, perdoe-me.
Jolie assente.
— Gostaria de saber como descobriu sobre a Isa.
— Eu descobri na mesma hora que vi a cara daquela
mulher, ela questionou alto “como ainda pode estar aqui?”,
mas se entregou completamente ao dizer que fez pouco,
que eu não merecia você e nunca vou te merecer. Foi ali
que eu soube a verdade… pois eu te mereço, você é meu.
Meu Deus, nunca senti meu coração tão acelerado
como agora.
— É claro que eu sou seu.
— E eu sou sua…
— Para sempre. Não aceito que digam o contrário —
aliso a sua perna.
— Agora me beija.
— Oi?
— Eu mandei você me beijar! Quer saber? Eu mesmo
faço isso — ela então vira e monta em cima do meu colo,
para beijar-me devassa igual uma amazona.
Isso foi bem surpreendente, confesso que não estava
esperando uma quebra de clima assim.
Eu aperto as suas duas ancas com força, doido com
esse monumento de bunda.
Ela é minha, com toda a certeza do mundo.
Beijo-a com mais apetite, agarrando os seus cabelos
castanhos desde a raiz e mergulhando a língua no profundo
da sua boca molhada.
— Rael… Como pode ser o homem da minha vida? —
pergunta, sem fôlego
Desço os beijos pelo seu pescoço.
Ela rebola no meu pau, esfregando a bocetinha
maravilhosa. Tiro a cueca, também a sua calcinha, só para
ela se esfregar pele a pele comigo e ficar ainda mais
gostoso.
— Isso está tão bom — grunho, mordiscando os seus
lábios já inchados pelo nosso beijo.
— Delicioso, meu amor…
Afasto o seu biquíni para poder lamber os seus
peitos.
— Gosto tanto quando me mama assim.
— E quando faço isso?
Pincelo a cabecinha do pau na sua bocetinha inchada,
louco com a sensação embaixo da água.
— Eu gosto também, porém, gosto mais ainda quando
me sento nele e penetro todo dentro de mim… hmmm…
assim… — ela se senta devagar, arfando com os
centímetros a rasgando gostoso.
— É, assim é maravilhoso, — sussurro no seu ouvido,
lambendo-a e a arrepiando — mas pode ficar melhor com
você…
— Assim, cavalgando? — ela sorri e começa a
cavalgar do jeito que eu gosto.
— Ohh, assim mesmo, amor…
Cato os seus cabelos e deixo-a inteiramente no
controle do nosso sexo, rebolando e me levando ao céu.
Confesso que a Jolie tem todos os poderes sobre o
meu corpo, é mais do que a mulher da minha vida, ela é a
metade do meu coração. Como pude ser tão laçado desse
jeito? Não me vejo sem o aconchego do seu calor ao dormir
e ao acordar pelas manhãs frias, nem do seu carinho, do
envolver do seu beijo apaixonado, do seu cheiro, a maciez
da sua pele perfeita. Cada detalhe nela me resplandece, me
dá fôlego para viver.
— Eu te amo… eu te amo… — minha Jolie repete,
arfando e rebolando igual uma deusa.
Beijo-a, para abafar nossos gemidos de prazer, mas a
minha vontade era de permiti-la berrar de satisfação. É tudo
tão único, parece que nunca estive entre as suas pernas,
nunca senti o seu corpo tremer, as suas costas arquear, os
seus lábios se exprimirem e gemerem o meu nome.
É perfeito.
Todos os dias a desejo como na primeira vez. Nada foi
em vão.
Eu faria tudo de novo para tê-la como minha, para
estar aqui eternamente, amando-a em brasas, até que não
reste nem cinzas de nós.
Ela é o oxigênio que mantém a minha chama viva.
Ela é o oxigênio que mantém a minha chama viva…
Ela é… a minha Jolie. E não poderia estar mais linda.
Quase não me aguentei ao vê-la entrar no salão, toda
linda com o seu vestido cor pêssego e cabelo meio
amarrado para trás, ornamentado com uma pequena coroa
de flores branca.
Quando ela para ao meu lado no altar, eu beijo a sua
testa e sussurro o quanto está perfeita.
Então olho para o Hoss e ele alisa a barba, tremendo
de nervoso. A música começa a tocar e a Elena finalmente
surge na porta, entrelaçada no braço do seu pai. Ela vem
emocionada, arrastando o seu vestido de noiva, com uma
fenda na perna. Ela se encontra deslumbrante. Hoss merece
essa mulher incrível, bonita por dentro e por fora.
Desejo que o amor dos dois seja eterno, na saúde e
na doença e em todas as coisas que o cerimonialista repete
logo depois, só para me fazer lacrimejar.
Que droga, estou tão feliz pelo meu irmão.
Feliz por nós!
Jolie me olha, chorando de felicidade. Os noivos se
beijam e ela se inclina, para sussurrar algo no meu ouvido.
— Amor, já volto…
— O quê? Não pode.
Pego no seu braço, mas ela sorri, repetindo que vai
voltar e afasta-se.
Como assim? Somos padrinhos, onde essa mulher
pensa que vai, logo agora?
— Jolie… — resmungo, só que ela passa ligeira por
trás de nós.
Hera me olha estranha, entretanto, não temos tempo
de falar nada, já que Elena e Hoss se viram para os
padrinhos, madrinhas e os convidados, que são a nossa
família, contando com a enteada da Jolie, os pais e a irmã
da Elena e alguns amigos pessoais.
— Eu quero muito agradecer a Deus e ao sentimento
de amor que ele deu a todos nós seres humanos. Não sei
como explicar o que é o amor, mas é incrível, único,
grandioso, eterno, inteligente, entre trilhões de infinidades.
Eu amo todos vocês aqui, por mais que seja diferente, é
amor e compreendem esse sentimento, pois sei que é
recíproco em várias vertentes, em pequenos ou grandes
detalhes. É amor... — Ela aperta a mão do Hoss, segurando
as lágrimas. Os dois se olham. — Hoss entrou na minha vida
mostrando que esse sentimento pode ser ainda mais
profundo… é uma junção de almas, fazendo-se uma única
pessoa, eu e ele. Sem ele, sinto-me vazia, sem vida, sem
alma. E só pude compreender essa ausência, quando o
homem da minha vida se fez presente… ou os homens da
minha vida. — Ela alisa a barriga e todos abrem a boca,
principalmente o Hoss. — Nossa pequena Maria terá um
irmãozinho em breve, para protegê-la, se bem que eu acho
que vai acontecer o contrário, essa aqui é mais durona que
o pai e os tios juntos.
Sorrimos e olhamos para a pequena no colo do Vince,
ela também está chorando. Oh, Deus, que coisa mais linda
essa princesa.
— Eu te amo, amor… — É só o que ele consegue
pronunciar, em seguida, beijá-la emocionado.
Elena se recompõe, virando-se novamente para nós.
— Hoje, é uma data ainda mais especial para
comemorarmos esse sentimento de amor inexplicável, por
isso, não deem a sua atenção apenas para nós. O
casamento só está começando.
A música de noiva volta a tocar e eu franzo o cenho,
até que todos olham para a entrada da porta.
E não sei quem segurou as minhas costas, mas evitou
que eu caísse sem forças no chão.
N-não posso acreditar nisso!
— Ela está linda. — Hoss bate no meu ombro.
Continuo com os olhos arregalados, sem acreditar no
vestido que veste, no véu e na grinalda que recai nas suas
costas e se arrasta pelo tapete. É a minha Jolie… isso só
pode ser um sonho, não posso estar vendo-a de noiva,
carregada pelo meu tio Argus, o seu padrinho.
Isso não é verdade, não pode ser.
Olho para a minha família e eles estão sorrindo da
minha cara de incrédulo.
Hoss me puxa para o meio do altar, arruma o meu
terno e até coloca uma flor no bolso.
— Acorda, irmão, é o melhor dia da sua vida, não
pode perder nenhum detalhe. Ah, isso vai ser importante…
— Ele me entrega uma caixinha branca.
Aperto a caixinha, erguendo a cabeça para assistir a
minha Jolie desfilando a sua beleza reluzente. Ela está de
noiva, a noiva mais linda desse mundo.
Não, só pode ser um sonho mesmo.
A mulher da minha vida e meu tio param a um metro.
Começo a suar e a tremer. Argus beija a testa dela e a
aproxima de mim, entregando a sua mão.
Jolie chora ao me fitar.
— Esse não poderia ser o melhor momento para
entregá-la, filho. Todos aqui foram cúmplices da felicidade
de vocês, é a hora de concretizar esse amor que sentem um
pelo outro. Não há tempo a se perder.
Eu pego na mão dela, sentindo o meu corpo
desestabilizar de novo. Puxo-a para mim, sem me importar
com todos nos olhando.
— Surpresa… — minha bruxa diz e eu limpo as suas
lágrimas.
— Não pode ser real, amor.
— É claro que é. Eu e toda a sua família planejamos
isso por duas semanas, mas confesso que a ideia foi da
Elena.
— É, eu fui bem responsável por esse momento —
Elena confessa do outro lado. — Por que não matar dois
coelhos com uma cajadada só?
Sorrimos.
— Eu ia te pedir em casamento na festa, juro que ia,
Jolie. — Choro e tiro do bolso a sua aliança de noivado. — Eu
planejei tudo com o traíra do Hoss, mas seu plano foi maior
e jamais pensado por mim. Ainda acho que estou em um
sonho. Isso foi mais surpreendente que aquele tiro…
É vez de ela rir, com os olhos brilhando de amor.
E sem a minha futura esposa esperar, ajoelho-me
diante dela.
— Rael… meu Deus!
— Se é para ser assim, vamos fazer isso direito… —
Pego na sua mão trêmula. — Não importa o amanhã, o
depois, nem o tempo que for, eu sempre vou amar você por
toda a minha vida. Aceita se casar comigo?
As pessoas a nossa volta vibram, emocionados.
— Não acredito que ainda perguntou isso. É claro que
sim!
Coloco o anel no seu dedo e me ergo para beijá-la.
— Agora vamos selar isso para sempre, como deve
ser em toda boa história de amor — sussurro no seu ouvido.
— E a nossa terá o final feliz mais perfeito.
— Não tem como ficar mais perfeito com você ao meu
lado.
Beijo de novo a mulher da minha vida e então,
viramos para o cerimonialista, prontos para sermos um só,
até a eternidade de nossas chamas.
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
Luís de Camões
Olá, meus amores, obrigada por terem chegado até o
final de Rael, espero que tenham gostado. Esse foi o
segundo livro da Série Agiotas Em Chamas. O terceiro vem
aí, com o nosso maravilhoso Vince Calatrone. Ansiosas?
Não deixem de me acompanhar nas minhas redes
sociais, para não perderem datas, notícias e tudo mais
sobre os próximos lançamentos.
Sua avaliação é muito importante para mim. Também
não deixem de avaliar Rael. Grande beijo e nos vemos em
breve, em Vince.
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Me tenha (Livro 1 da Série Alencar)
Me Conquiste (Livro 2 da Série Alencar)
Homem De Verdade (Livro 1 da Duologia Verdade)
Amor De Verdade (Livro 2 da Duologia Verdade)
Comprada Sem Amor
Sereyma (Livro Único)
HOSS – Série Agiotas Em Chamas (Livro 1)