Você está na página 1de 347

Copyright © 2023 Jessica D.

Santos

Capa: @designerttenorio
Revisão: Andrea Moreira
Imagens: AdobeStock

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, acontecimentos descritos


são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento e/ou


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios, sem a
autorização da autora. Ressalva para trechos curtos usados como citações
em divulgações e resenhas, com autoria devidamente identificada. A
violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/1998
e punido pelo artigo 184 do código penal.
Nota da autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo
Este livro já esteve na Amazon em formato de conto, e se
você é o meu leitor, provavelmente vai perceber no começo da
história, porém, NÃO CONSIDERO ser o mesmo livro. Apenas
utilizei o ARCO e a IDEIA CENTRAL do enredo para
construir outro livro em cima e, assim, fazer um plot melhor.
98% deste livro são capítulos que nunca foram lidos.
Eu poderia não passar esta informação por ter trabalhado
nele praticamente do zero e aumentando de tamanho (palavras
escritas), porém, meu dever é entregar o meu trabalho com
honestidade e transparência.
Leiam e aproveitem cada linha deste livro!
AVISOS
• Este não é um enredo CHEIO de reviravoltas. É um
romance gostoso, uma leitura tranquila para tirar o leitor da
ressaca. É um clichê objetivo que você pode ler em poucas
horas. Ele se assemelha a um bom filme da Sessão da Tarde! Se
você não gosta desse tipo de leitura, por favor, não leia para não
se frustrar.
• Há gatilhos como luto, talassofobia e conteúdo +18.
• Se você gostar do livro, não esqueça de deixar a sua
avaliação após o final da leitura. É muito importante para que
outros leitores possam ver e deixar as deles também. Incentivar
é inspirador! Muito obrigada!
Meu e-mail - autorajessicasantos@gmail.com
Instagram (me sigam lá para saber das novidades de primeira mão!):
@autorajessicadsantos
Para todas as leitoras que gostariam de viver um romance
como dos livros e que se tornaram muito exigentes depois
conhecerem os homens literários.
No auge dos seus trinta e seis anos, o italiano Matteo
Bianco é um escritor conhecido mundialmente por obras que
marcaram o coração de inúmeros leitores e dono de um
patrimônio bilionário. Apesar de todo sucesso e fortuna, não
está aberto para o amor. Após se tornar viúvo, decidiu criar uma
barreira impenetrável ao redor do seu coração e seguiu com a
sua vida, dedicando-se exclusivamente à sua pequena, Maria
Alice, e à sua carreira.
Aos vinte e quatro anos, Brenda Correia não conseguiu o
tão sonhado emprego que sempre almejou. Com dívidas para
pagar e sem conseguir nada fixo, ela não pensa duas vezes
quando a oportunidade de ser babá surge. Mesmo sabendo
detalhes do emprego, nada a preparou para ter que lidar com um
homem de um gênio tão difícil.
Uma atração incontrolável surgirá entre os dois...
Ele não tinha pretensão de se apaixonar...
Ela descobrirá que lidar com um homem cheio de cicatrizes
não será nada fácil.
A atração entre eles será o bastante para deixarem suas
diferenças de lado e se entregarem à verdadeira felicidade?
— Doutor, ela está sentindo muita dor. Ajude-a, por favor!
— Afasto-me da minha mulher e levo as mãos à cabeça,
chorando desesperadamente ao vê-la deitada na cama hospitalar.
Ela está em trabalho de parto há muitas horas, e está sendo
difícil. Só consigo ouvir seus gemidos e seu esforço para tentar
trazer a nossa menina ao mundo.
— Tente se acalmar. Você está muito nervoso, pode ser pior
para a sua esposa — pede o médico.
Assinto, desnorteado. Depois de tantas horas sofrendo, o
médico decidiu que é melhor Camila fazer uma cesariana, uma
vez que sua pressão está alta demais.
Camila estava tendo contrações, gemia ao meu lado
enquanto vínhamos para a maternidade. Quando parei em um
semáforo no caminho, segurei a sua mão e dei um sorriso para
ela. Mesmo com um pouco de dor, ela sorriu em resposta.
Era para ser um dia feliz com a chegada da nossa pequena
Maria Alice, mas não é felicidade que estou sentindo. Não
consigo mais sorrir e dizer que tudo vai ficar bem. Estou com
medo, assombrado com a cena que presencio.
Mila e eu sempre sabíamos que a gravidez era de risco,
mesmo assim, ela optou por levar adiante, afinal, era o sonho
dela ser mãe e, claro, eu sempre quis ser pai. Mesmo com medo
do que poderia acontecer, respeitei o seu desejo. Minha mulher
ficou radiante quando soube que estava grávida, no entanto,
quando o obstetra nos deu a notícia que ela tinha pressão alta,
fiquei assustado. Mas não tanto quanto descobrir que Camila
corria risco na gravidez e no parto. Perdi meu chão, mas Mila
sempre foi mais forte que eu, ela segurou as minhas mãos e foi o
meu apoio, a minha fortaleza.
— Seja forte, meu amor. — Aproximo-me dela, que joga a
cabeça para trás e choraminga.
Seguro sua mão e ela a aperta antes de me olhar por breves
segundos. Vejo em seus olhos a exaustão e o medo, que não
estavam presentes enquanto vínhamos para cá. Quando Camila
começou a sentir contrações, seu olhar era doce e otimista.
Tento ser forte, mas seus gritos e lágrimas me deixam
assustado.
— Vamos começar a cesariana — o médico diz para ela.
Camila assente e fecha os olhos. O tempo todo fico falando
com ela, dizendo o que faremos com a nossa bebê, tentando
mantê-la consciente.
Aproximo-me mais dela e beijo sua testa pálida e fria.
Agora seus lábios estão brancos, parece estar até perdendo a
consciência, me deixando mais desesperado.
— Amor, você prometeu, lembra? Você prometeu... Eu...
estou aqui, seja forte. Logo, nós três voltaremos para casa. —
Soluço e seguro a sua mão com força, precisando que ela me
garanta isso, que acredite que tudo ficará bem.
Mila abre os olhos lentamente e me dá um sorriso fraco,
tentando fazer com que eu acredite em minhas palavras, mas a
dor a impede disso e ela mostra o que escondeu nos últimos
nove meses – a sua insegurança.
— Você precisa ser forte, estamos realizando nosso sonho.
— Minha voz embarga e os meus lábios tremem ao ver que
começam o trabalho de parto. — Quando nossa Maria Alice
chegar... Nós dois vamos amá-la muito. — As lágrimas rolam
pelo meu rosto e eu acaricio a sua mão que está na minha.
Vamos sair dessa, meu anjo. Você vai.
Beijo a testa suada da minha mulher e fecho os olhos,
engolindo o meu soluço. Estou tão focado em Camila que nem
me dou conta de quanto tempo se passa, mas sei que são horas
de determinação da equipe para trazer a minha filha ao mundo.
A demora é agonizante, mas me mantenho esperançoso, até que
ouço um choro fraco e o médico me mostra a minha filha. Dou
um sorriso e aperto a mão da minha esposa para ela abrir os
olhos e ver a nossa pequena. Ela é tão linda, tão minha, tão
nossa.
Sou pai. Camila e eu somos pais. Uma família completa.
— Eu disse que você conseguiria, Mila. — Aos prantos,
beijo novamente a testa, mas assim que meus lábios tocam em
sua pele, sinto algo que me deixa arrepiado.
O médico entrega a minha filha para a enfermeira e olha
para o aparelho que começou a apitar. A mão da minha esposa
fica mole e escorrega da minha. Olho para o médico querendo
saber o que está acontecendo, quando um enfermeiro se
aproxima e começa a me empurrar para fora da sala.
— Vou precisar que saia, pai, agora! — ele ordena.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, apavorado,
sabendo que algo muito grave está acontecendo com a minha
mulher.
Cumpra a sua promessa, Mila. Eu preciso das duas, vocês
são a minha única família. Por favor! Por favor!
— Tirem o pai daqui. Agora! — o médico grita.
Cada bipe alto da maldita máquina faz meu coração
diminuir o ritmo. Meus olhos ardem e os meus lábios tremem
quando todos se reúnem ao redor de Camila. Tento voltar para
ela, mas o enfermeiro me empurra para fora da sala e fecha a
porta.
Sozinho no corredor, ando de um lado para outro,
preocupado, sendo psicologicamente torturado. Passo minutos
ou talvez horas me sentando, me levantando, puxando meu
cabelo e chorando.
Vai ficar tudo bem, ela prometeu. Ela sempre cumpre o que
promete.
Em breve, o médico vai sair por aquela porta e me dirá
que Mila e a minha filha estão bem.
Com o rosto banhado por lágrimas, sento-me e fecho os
olhos ao me lembrar das palavras de Camila antes de sairmos de
casa.
— Amor, não fique nervoso, vai ficar tudo bem. São só
contrações! — disse com doçura, sorrindo para mim.
— Você leva as coisas com tanta... tranquilidade, minha
linda, isso me apavora — rebati, nervoso, terminando de colocar
as sandálias em seus pés.
— Hoje, teremos a nossa pequena nos braços, Matteo.
Como não ficar tranquila quanto a isso? — Ela tocou no meu
rosto e o acariciou.
— Querida, estou com medo, eu sempre tive — confessei,
quase sussurrando, com os olhos marejados.
— Não precisa ter medo, o que tiver que ser, será — falou
tão otimista que me fez bufar.
Dei um pequeno sorriso para ela enquanto fez uma careta
antes de me dar um selinho rápido.
— Promete que vai ficar tudo bem? Promete, Mila? —
Minha voz saiu embargada.
Minha mulher assentiu, mordendo os lábios. Então as
contrações vieram mais fortes, me deixando apavorado.
— Sim... querido, vai ficar! — Seus olhos ficaram
marejados quando ela segurou as minhas mãos e me fez olhar
com atenção para ela. — Matteo, você será um ótimo pai. O
melhor do mundo!
— E você uma ótima mãe — acrescentei.
— Promete que se algo acontecer comigo, você vai cuidar
da Mali? Vai ser um bom pai, vai dar a ela muito amor, carinho,
atenção. Tudo o que eu não vou poder dar? Promete para mim?
— pediu, soluçando.
Mesmo não querendo ter essa conversa, eu concordei.
— Vamos, amor, você está com dor! — disse, atordoado.
Camila conseguiu me fazer prometer algo sem necessidade,
afinal, nós três voltaremos para casa, certo? Sim. Voltaremos.
Depois de muito tempo, o médico se aproxima, cabisbaixo.
Não vejo isso como um bom sinal, mas talvez seja coisa da
minha cabeça, ele só está cansado. Estou muito nervoso, é
normal que eu imagine coisas.
Com um sorriso frouxo, junto minhas mãos suadas e
geladas enquanto espero que o médico se manifeste, porém,
quando ele me encara, nem preciso que abra a boca para saber o
que está acontecendo. A sua postura e os seus olhos o entregam.
Eu perdi uma das duas.
Ouvi o chorinho da Maria Alice quando ela nasceu. Tenho
certeza de que a minha filha está viva, meu coração diz isso.
— Sinto muito...
— Não, não diga isso, doutor — interrompo-o, chorando.
Nunca me senti tão vulnerável quanto agora.
Ele limpa a garganta e usa o seu tom mais profissional,
mesmo que também esteja tão devastado quanto eu.
— Sinto muito, senhor, mas a sua esposa acaba de falecer
— diz, destruindo o meu coração e esmagando a esperança que
um dia tive.
Tropeço nos meus próprios pés e caio na cadeira. Trêmulo,
balanço a cabeça, não querendo aceitar o que acabei de ouvir.
— Ela... ela... disse que...
— A sua filha está bem. Ela é saudável, forte, logo o
senhor poderá vê-la. Uma enfermeira virá para o acompanhar —
informa e volta para a sala, deixando-me sozinho com minha
dor.
Por meses, esperei por um final feliz, agora vejo o quanto
estive enganado. Camila quebrou a sua promessa, me deixando
sozinho com a nossa filha.
Ela me fez prometer algo que sei que serei capaz de
cumprir, mesmo diante de tanta dor. Cuidarei da nossa filha por
ela, por nós, pelo nosso amor. Mesmo que ela tenha partido,
deixou para mim um pedaço seu, nossa pequena Maria Alice.
— Pai, pai, olha! Que lindo! — Ela larga o seu copo de
suco e aponta para o céu.
Desvio a minha atenção do meu notebook e olho para a
minha filha, que parece impressionada com um arco-íris em um
dia ensolarado.
— Estou vendo, querida, é realmente encantador — falo,
olhando para ela, que continua a encarar o céu e sorrir. Volto a
minha atenção ao arquivo do meu livro revisado que chegou
ontem à noite por e-mail, mas Maria Alice me chama de novo.
— Eu gosto de todas essas cores, papai. São lindas como a
mamãe! — diz, sorrindo, toda inocente.
— Sim, é verdade. — Minha garganta arranha um pouco.
Minha princesa está crescendo tão rápido, está deixando de
ser o meu bebê a cada dia que passa. Fico surpreso com o seu
modo tão “maduro” de dialogar. Desde os seus três anos de
idade que ela sabe que a mãe foi se juntar às milhares de
estrelinhas no céu, explicar para ela dessa forma foi mais fácil
para que compreendesse que Camila não estava mais entre nós e
que não voltaria.
Após a partida da minha esposa, achei que nada mais seria
capaz de me afetar, que não poderia existir outra dor que
pudesse se comparar a da sua morte, porém, voltei a senti-la
quando chegou a hora de contar a nossa menina que sua mãe
havia falecido. Passei anos e mais anos treinando para que
quando chegasse esse dia, eu não falhasse miseravelmente. Foi
doloroso me lembrar que perdi o amor da minha vida naquela
sala de parto.
Parece que foi ontem que tive a conversa com um serzinho
inocente de três anos de idade, no sofá da sala. Ela chorava
porque tinha caído e começou a chamar por “mamãe”, e eu,
desesperado, sem saber o que fazer, comecei a chorar também,
porque desde os seus dois anos eu falava para ela sobre a mãe
para que a memória de Camila se mantivesse viva, só que nunca
cheguei a contar sobre a sua partida. Somente minutos depois
que me recompus, contei para ela sobre a mamãe ter ido embora
para o céu.
Largo o notebook e pego a minha xícara de café, tomando
um gole do líquido morno. Hoje, decidi que tomaríamos café
juntos. Há duas semanas mal vejo a minha filha, mas não é
intencional, tenho ficado muito ocupado com esse livro. Quase
não tenho vida social desde que comecei a trabalhar nele, e
ontem, mesmo receosa, Madalena me alertou que eu estava
deixando Alice de lado e que a menina sente a minha falta.
Sentindo-me culpado, pensei em suas palavras e percebi que
poderia dividir minhas horas com a minha garotinha. Decidi que
mesmo que eu esteja tão atarefado, preciso estar mais presente
para a minha filha, eu sempre estive e não será agora que farei
diferente.
— Um dia, a mamãe vai voltar para nós, papai?
Minha bile sobe com a sua pergunta, não esperava por isso.
— Filha, infelizmente, quem vira estrelinha no céu não
volta mais — respondo, depois de um silêncio desconfortável
que faz com que meu peito fique apertado.
— Se ela voltasse, eu seria muito feliz... — Ela parece
murchar diante dos meus olhos.
— E comigo você não é? — murmuro, vendo seus olhos se
encherem de lágrimas.
— Sou, papai, mas eu gostaria de ter uma mamãe. A
Isabela e a Luísa têm uma mãe, só eu que não. — Seu tom
baixinho é embargado ao mencionar as netas da minha
governanta.
— E quem disse que você não tem? Ela só não está aqui. —
Minha garganta queima.
— Eu sei, pai. — Ameaça chorar, então afasto o notebook,
vou até ela e me ajoelho à sua frente, tocando em seu rostinho
em seguida.
— Maria Alice, a sua mãe pode não estar aqui conosco,
mas ela vive dentro de nós. — Toco em seu peito e depois no
meu, deixando-a atenta aos meus movimentos. — O importante é
que sabemos que, de onde ela estiver, está cuidando de nós. —
Beijo a sua testa e ela agarra meu pescoço, fungando. — Agora
pare de chorar, senão a Madalena não vai trazer as netas dela
para brincar com você, no sábado — proponho, querendo
compensá-la.
Seus olhinhos brilham de contentamento.
— Tá bom, papai! — Se afasta de mim e me dá o sorriso
mais puro de todo o universo.
— Boa menina. Agora termine o seu café — digo,
respirando aliviado por ela ter aceitado. Sinto falta de quando
ela era um bebê e não me fazia perguntas difíceis.

Confiro as horas no relógio em meu pulso e me lembro que


daqui a alguns minutos terei que entrevistar a sexta candidata à
babá para Maria Alice, que desta vez é uma recomendação da
minha fiel governanta e eu não pude negar esse pedido.
Confesso que estou sem paciência alguma para aturar mais
uma amadora. Estou desde segunda-feira entrevistando as
candidatas que a Daniele, prima da minha esposa e minha amiga,
tem me enviado da agência de uma colega dela. Mas as cinco
“profissionais” que entrevistei não eram adequadas para cuidar
da minha filha, e eu não enfio qualquer um dentro da minha
casa. Não mesmo.
— Matteo, a Brenda já chegou para a entrevista. —
Madalena surge no jardim depois de alguns minutos.
— Madalena, leve a Alice para o quarto. Vou para o
escritório e em cinco minutos leve a Brenda — aviso, olhando
para a mulher baixinha de cabelo grisalho.
Fixo meus olhos em Maria Alice e noto que ela terminou
de tomar café, seus olhos estão menos tristes depois da nossa
conversa. Por mais que minha esposa tenha falecido no parto há
seis anos, e desde então venho criando minha filha sozinho,
olhar para Maria Alice é como uma ferida aberta que talvez
nunca vá cicatrizar.
Mila fez a sua escolha, ela quis deixar nossa filha para
mim, mas sei que se fosse eu no lugar dela, teria feito o mesmo.
Pensativo, observo Alice se levantar da sua cadeira e
seguir Madalena para dentro da casa, então faço o mesmo,
caminhando para o meu escritório.
Depois de cinco minutos, ouço batidas na minha porta e
reconheço a voz de Madalena, avisando que está com Brenda.
Ajeito-me na cadeira e peço para que entrem.
— Senhor, aqui está a Brenda — minha governanta fala
assim que entram na sala.
Levo meus olhos para as duas mulheres, notando que a
candidata à babá é bem jovem, bonita e muito atraente.
Lentamente, acabo reparando nela mais do que o necessário. O
seu cabelo castanho-claro está solto e bate na altura dos ombros,
ela não usa nenhum tipo de maquiagem, exceto um gloss rosa,
que mesmo que esteja a alguns metros de distância de mim,
consigo sentir o cheiro de melancia. A sua postura ereta e a
cabeça baixa não me impedem de perceber as curvas nos lugares
certos em seu corpo magro, que está coberto por um vestido
preto.
Acho que a candidata ainda não se deu conta de quem está
diante dela, porque não me olhou diretamente no rosto. Ela
parece um pouco aflita. Seus olhos claros fixam na prateleira de
livros, em qualquer coisa, menos em mim, é evidente o seu
nervosismo.
— Obrigado, Madalena, pode se retirar — agradeço-a.
Antes de sair, Madalena sussurra algo no ouvido da jovem,
que somente acena e agradece.
— Boa sorte, Brenda — deseja minha governanta,
dirigindo-se a ela com um certo grau de intimidade. — Com
licença, senhor.
Limpo a garganta para chamar a atenção da candidata à
vaga, e ela, por fim, ergue o rosto. Assim que olha para mim,
seu semblante muda para pura surpresa.
Ela não esperava que fosse eu. Normalmente, quando vou
fazer as entrevistas, deixo que as candidatas descubram quem
sou eu quando chegam à minha casa, e dessa vez, mesmo que
fosse uma recomendação da pessoa que mais confio nessa vida,
não agi de modo diferente. Comecei a fazer esse tipo de coisa
após receber várias vezes jornalistas intrometidas disfarçadas de
babás para coletar informações sobre a minha vida pessoal, para
expor em revistas. E eu sou um homem muito reservado, não
gosto que invadam a minha privacidade. Se antes de perder a
minha esposa já era assim, depois que ela se foi eu me fechei
muito mais. Dificilmente cedo a entrevistas, desde o nascimento
de Maria Alice e a perda de Camila, fiz com que a minha
agenciadora e a assessora fizessem de tudo para que eu seguisse
minha carreira sem causar muito alarde.
Ter me tornado viúvo tão cedo me obrigou a fazer algumas
escolhas em meu ramo profissional. Uma delas foi proteger a
imagem da minha garotinha desse mundo perverso, onde as
pessoas não se importam em respeitar a sua vontade, só as delas.
E, com certeza, não mediriam esforços para usar imagens da
minha filha em manchetes sensacionalistas.
— Sente-se, srta. Correia — peço, apontando para a
cadeira. A moça rapidamente se senta. — Você sabe por que está
na minha casa? — É a primeira pergunta que faço, o seu rosto é
repleto de confusão com o meu questionamento.
— Sei sim, sr. Bianco. — A mulher assente, desconcertada
por eu manter o nosso contato visual. — É para a vaga de babá.
Eu trouxe o meu currículo para que possa analisar, e tenho três
cartas de recomendação. — Tenta esconder o nervosismo das
palavras, mas é nítida a sua postura apreensiva ao se comunicar
comigo.
— Não me baseio em currículos, muito menos em
recomendação de ex-empregador para contratar alguém para
cuidar da minha filha. Ser babá de uma criança vai além dessas
coisas, é algo muito íntimo, requer cuidado, e muitas vezes nem
sempre o que está escrito é verdade. Qualquer um pode
conseguir uma carta de recomendação falsa, ou até mesmo
montar um currículo listando várias qualidades inexistentes.
Resumindo, srta. Brenda, eu entrevisto as babás da Maria Alice
porque sinto a necessidade de avaliar a pessoa de perto, então
sugiro que esqueça a ideia de me mostrar esses papéis.
A mulher arregala os olhos esverdeados como duas
esmeraldas preciosas antes de os semicerrar levemente, mas
tenta disfarçar com um leve e falso sorriso.
— Claro, senhor, entendo. É só me dizer o que precisa para
que possamos começar a entrevista. Estou aberta a qualquer tipo
de pergunta que queira fazer, inteiramente a sua disposição —
diz, por fim, com a voz firme.
E isso faz com que ganhe um ponto comigo, ela não recua e
escolhe bem as palavras.
Passamos um bom tempo conversando, então consigo
analisar o interesse dela na vaga. Faço perguntas sobre a idade
das últimas crianças que cuidou, o motivo de ter saído do último
emprego e embora saiba que ela tem formação em pedagogia e
os professores devem ser capacitados em primeiros-socorros,
gosto de reforçar a informação. Suas respostas e seu
posicionamento são convincentes o suficiente para que eu tenha
certeza de que ela merece uma oportunidade de provar que é
merecedora da minha confiança.
— Preciso saber se você tem disponibilidade para morar
nas minhas dependências. Embora a minha profissão me permita
trabalhar em casa, passo muitas horas ocupado, e por mais que
eu tente dar atenção a minha filha, às vezes nem sempre consigo
estar com ela. Eu preciso de alguém de confiança para isso, que
cuide da Maria Alice quando eu preciso — termino de narrar,
percebendo que a candidata está bem atenta.
— Eu preciso de uma pessoa que esteja disponível para a
minha filha vinte e quatro horas, e que ela se sinta confortável
enquanto eu não estiver. — Brenda balança a cabeça,
concordando. — A Madalena começa o seu turno às sete da
manhã e larga às dezessete, e as outras funcionárias não foram
contratadas para cuidar da minha filha, não posso jogar para elas
uma responsabilidade que não é delas.
— Sim, entendo. Caso eu seja contratada, terei que morar
aqui... sr. Bianco? — gagueja, meio nervosa.
— Sim, senhorita. Mas não será a semana toda. Eu preciso
do seu serviço de segunda a sábado. E talvez um domingo ou
outro — explico, deixando-a um pouco mais aliviada, isso fica
nítido em sua expressão.
Ainda em silêncio e atenta às minhas palavras, Brenda
assente algumas vezes e diz “compreendo, senhor”. Falo a ela o
que Maria Alice pode e não pode comer, sobre a sua rotina e o
que não permito que faça dentro da minha casa. Também aviso
sobre a restrição à piscina, que Maria Alice não pode, de
maneira alguma, ter acesso. Deixo bem claro que minha filha é
uma criança muito persistente e quase sempre consegue dobrar
qualquer um com aquele sorrisinho meigo dela. Esclareço que,
mesmo que seja difícil, o não deve ser dito quando necessário.
— Além da restrição à piscina, não permito que use o seu
celular para capturar fotos da Maria Alice ou da minha casa, em
hipótese alguma. Eu preciso de alguém de confiança, e se
expuser a minha filha de alguma maneira, você será demitida. —
O rosto dela empalidece com o meu tom quase grosseiro.
Talvez ela ache que estou sendo paranoico, mas é o certo a
se fazer, qualquer pai que ama e preserva o seu filho faria o
mesmo. Ser uma pessoa pública não é fácil, e eu aprendi isso da
pior maneira possível quando aquela maternidade encheu de
repórteres e eu tive que sair com a minha filha pelos fundos, por
não saber lidar com tantas perguntas de uns filhos da puta que
nem respeitaram a minha dor naquele momento.
Foi a partir dali que me tornei um homem mais recluso.
— O.k. Entendido, senhor. — Brenda fica com a pele
branca ainda mais pálida.
— Ótimo.
— Estamos quase nos entendendo, Brenda. Posso te chamar
assim, certo? — Assente e sorri, parece contente. — Só preciso
saber de mais uma coisa para ter certeza de que você é realmente
qualificada para preencher essa vaga. Preciso saber se não há
nada que a impeça de dar toda a atenção que a minha filha
requer. É casada? Tem filhos? — Passo a mão na barba. Um
marido perturbando na porta da minha casa, ou um filho que
precisa da atenção da mãe em horários inoportunos é o que
menos quero no momento.
Ela parece ficar sem jeito por eu ter sido tão direto com as
minhas perguntas, mas elas são cruciais para a sua contratação.
— Não, eu não tenho filhos, muito menos sou casada —
responde, gentilmente.
— Então é isso, Brenda, vamos tentar. — Pego uma folha
com o valor do salário padrão que mostro para todas as
candidatas e empurro para que veja quanto vai receber se for
contratada. — Esse será o seu salário e mais um bônus. Com
todos os direitos trabalhistas assegurados. Mas eu preciso que
você sempre esteja disponível para a Maria Alice. Minha filha
tem apenas seis anos e precisa de muita atenção, é uma garota
muito inteligente e sensível.
— Obrigada, senhor, não irá se arrepender. E quando
começo? — Passa as mãos no tecido do vestido preto, como se
estivesse ansiosa.
— Assim espero. Pode começar amanhã. E preciso que
traga todos os seus documentos. Às sete, meu motorista irá
buscá-la em seu endereço, para que às sete e meia já esteja
iniciando o trabalho — falo enquanto a encaro com seriedade. —
Seja bem-vinda à minha casa, você está contratada. — Me
levanto e ela faz o mesmo.
— Tudo bem. Agradeço por ter me dado essa oportunidade.
— Dá um pequeno sorriso, demonstrando estar menos tensa.
— Até amanhã, Brenda. — Estendo minha mão para nos
despedirmos.
— Até, senhor. Tenha um ótimo dia. Com licença. — Se
despede e sai da sala.
Pensativo, descanso minhas costas na cadeira e fecho os
olhos.
Afastando os pensamentos, retorno para o notebook com a
intenção de terminar a tempo alguns capítulos da primeira
leitura, para ter uma conversa com a minha filha antes do jantar.

Exausto por ter passado tantas horas trancafiado no


escritório lendo meu arquivo e corrigindo algumas lacunas que
encontrei, estou pronto para tomar um banho e depois ir até o
quarto de Maria Alice, mas eu a encontro sentada no sofá, com o
seu livrinho infantil, o primeiro que comprei para ela para que já
criasse o hábito da leitura desde pequena. Mesmo que ainda
esteja aprendendo a ler, é curiosa o suficiente para tentar.
Sorrindo, vendo-a distraída com a perninha em cima da
outra e o livro em seu colo, aproximo-me dela e beijo o alto da
sua cabeça, sentindo o cheiro do xampu de melancia entre os
seus fios loiros iguais os da mãe.
— Hm, minha filha está cheirosa. A Lena já te deu banho?
— Sorrio, sentando-me seu lado. Ela ergue o rostinho para me
encarar com aquele sorriso que é a razão da minha felicidade
todos os dias.
— Sim, papai! Não tá vendo que estou usando o meu
vestido novo? — questiona-me, colocando a mão na cintura
como se fosse gente grande. Só então reparo na sua roupa, que
comprei na viagem que fizemos para a Itália quando fomos
visitar a minha nonna, no ano passado.
— Verdade, filha, só reparei agora. — A serelepe dá uma
risadinha.
Perdi meus pais muito cedo. Na época eu estava na
faculdade, faltava somente um mês para a minha formatura em
economia, quando eles sofreram um acidente de gôndola em
Veneza e morreram afogados. O único sobrevivente foi o
barqueiro. O meu pai tentou salvar a minha mãe, mas no
processo, acabou se afogando também, foi assim que perdi as
duas pessoas que eu mais amava no mesmo dia, doze anos atrás.
E anos depois, a história quase se repetiu, por pouco não perdi
minhas duas garotas.
Às vezes, me pergunto se estou fadado a perder as pessoas
que amo sempre nos momentos que deveriam ser os mais felizes
da minha vida. Depois da Camila, comecei até temer a tal
felicidade, aprendi que posso me decepcionar no momento em
que menos espero.
Após ter pedido meus pais, quem deu continuidade a minha
criação, mesmo eu já sendo um homem formado, foi a minha
avó, minha única família viva. Meu pai era filho único, assim
como eu sou.
Como único herdeiro, a editora Bianbooks ficou para mim,
porém, ao perder meus pais não fazia mais sentido continuar
vivendo na Itália. Decidi vir morar no Brasil para reconstruir a
minha vida.
E foi assim que conheci Camila. No aeroporto trombei com
uma brasileira língua-afiada que só faltou me bater quando
quase a derrubei no chão e estraguei a surpresa que ela tinha
feito para a sua mãe, que estava voltando de uma viagem
internacional. Foi amor à primeira vista, eu a amei primeiro e
depois ela me amou mais do que eu mesmo me amava, porque
foi capaz de dar a sua vida para que a nossa filha viesse ao
mundo.
Vim para o Brasil achando que iria reconstruir a minha
vida. Teria finalmente o meu tão sonhado felizes para sempre ao
lado das pessoas que eu amava, como eu costumava a colocar em
meus livros.
Mas quem disse que tudo é como queremos ou sonhamos?
Anos depois, vivendo em plenitude com a minha esposa e à
espera da nossa filha, recebo o segundo maior tombo; estava
perdendo novamente alguém que amava para a maldita morte.
— Pai, quando eu for dormir, pode contar uma historinha
para mim? — pede, com os olhinhos brilhando, me tirando dos
devaneios.
— Conto, sim, princesa. — Deposito outro beijo em sua
cabeça. — Mas agora o papai quer ter uma conversa séria com
você. — Fito-a, que me encara curiosa.
— Mas o senhor disse que crianças não têm conversa séria!
— Se recorda e eu jogo a cabeça para trás, gargalhando.
— Garotinha esperta! — Faço cócegas nela, que começa a
rir. — Eu consegui uma nova babá, Maria Alice, ela vai começar
amanhã. Quero que se comporte e seja uma boa menina, tá bom?
— digo, depois de ela parar de rir.
— Mas eu sou, papai! — Cruza os braços, sorridente.
— Eu sei disso, só estou te lembrando, o.k.? — Passo a
mão em seu cabelo, que está com maria-chiquinha.
— E se ela for má igual àquela da última vez? Eu ainda
tenho que ser boa com ela? — Faz um biquinho.
— Não vai ser, prometo. — Eu a puxaria para um abraço,
mas preciso de um banho.
A última babá foi um desastre total. Quando descobriu
quem eu era, ficou tão eufórica com a minha presença na casa,
que deixava os seus afazeres de lado, principalmente a minha
filha, para estar no mesmo ambiente que eu. A maior patifaria
foi quando a mulher teve o atrevimento de ficar tirando fotos
minhas e de Maria Alice, sendo que desde o início eu já tinha
avisado sobre o uso de câmeras. No mesmo dia eu disse que ela
podia arrumar suas coisas, pois estava demitida.
— Eu queria a Renata de volta, papai, ela era boa comigo.
— Faz biquinho novamente.
— Filha, você sabe que ela estava esperando um bebê e não
poderia mais ficar aqui. — A Renata foi uma excelente babá
para a Maria Alice por três anos, só que depois que engravidou,
ela tomou a decisão de focar exclusivamente em sua gravidez e
na família.
— O senhor deveria ter deixado ela trazer o bebê, eu
ajudaria a cuidar.
Minha filha me faz gargalhar com as suas palavras.
— Mali, bebês não são como as suas bonequinhas, são
delicados e precisam de mais atenção — explico a ela, que dá
um sorriso travesso.
— Então eu sou o seu bebê, não é, papai?
— Sim, é o meu.
— Qual o nome da moça que vai cuidar de mim? —
inquire, curiosa.
— Brenda — murmuro, pensando na candidata.
Ela é a mais jovem e a mais bonita que já pisou nessa casa
para querer cuidar de Maria Alice. Posso afirmar que será um
perigo constante para mim –reparei demais nela e a achei uma
gracinha –, mas não passará disso, não me envolvo com
funcionários. Muito menos com as mulheres que cuidam da
minha filha, não gosto de misturar as coisas.
— É um nome bonito, papai.
Assim como a dona dele.
Balançando a cabeça para expulsar o meu pensamento
insano, levanto-me para subir para meu quarto.
— Vou me arrumar para jantarmos, não demoro —
prometo.
— Tá bom! A Lena disse que a Tina fez tilamisú, meu doce
preferido.
Rio baixinho por ela pronunciar o nome da tradicional
sobremesa italiana errado.
— O.k. Já volto. — Pisco para ela, girando nos calcanhares
e seguindo para o meu quarto.
Após a entrevista na mansão do sr. Bianco, vou direto para
a minha casa, mas deixo tia Lorena a par de tudo por ligação.
Assim que chego, me deparo com Fernanda, minha melhor
amiga, me esperando para saber mais detalhes sobre a vaga de
babá. Conto a ela que o meu futuro chefe é um escritor famoso,
e que eu não sabia de nada disso até pôr meus pés lá. Por pouco
não tive um treco ao me deparar com Matteo Bianco à minha
frente assim que entrei em seu escritório.
Não foi somente por ele ser um homem conhecido que
fiquei estagnada diante dele. Não posso negar que aqueles olhos
castanhos deslumbrantes parecendo duas amêndoas e aquele ar
de arrogância – que talvez seja mais do que eu esteja julgando –
faz um contraste com a sua beleza. Matteo é mais lindo
pessoalmente, tem muita presença, agora entendo o porquê dos
seus fãs serem loucos por ele. O encanto que sentem pelo
escritor vai além das palavras que o sr. Bianco escreve. E hoje,
eu pude afirmar isso, estive a poucos metros dele e foi suficiente
para admirar a sua beleza, o rosto másculo e definido coberto
por uma barba bem-feita. A sua expressão estava endurecida,
mas ao mesmo tempo se tornava algo intrigante e sexy.
Quando a amiga da tia Lorena de longa data, a sra.
Madalena, disse que o patrão dela estava precisando de uma
babá para a filha dele, eu me animei, afinal, já tinha exercido
essa função. Eu também sou formada em pedagogia, dei aula em
duas escolas, e como adoro crianças e sei lidar com elas, pedi a
minha tia para falar com a Madalena se ela poderia fazer com
que eu fosse entrevistada para preencher a vaga. Na ligação, um
dia antes da entrevista, ela me disse que o sr. Bianco é muito
reservado e que eu tivesse cuidado com cada palavra que fosse
dizer.
No momento em que cheguei à mansão Bianco, que fica em
um condomínio luxuoso afastado da cidade, não consegui
associar o nome, muito menos o sobrenome, por estar muito
ansiosa para conseguir a vaga de emprego. Mas no instante em
que a governanta me guiou até aquela sala e abriu a porta, eu
tive que controlar a minha surpresa por estar diante de alguém
tão bem falado por seus textos no mundo da literatura, então agi
o mais profissional possível.
Bom, se ela tivesse deixado claro que era Matteo, o
escritor, eu saberia até de quem se tratava. Na época em que a
esposa dele faleceu, saiu somente uma nota de falecimento e
depois não houve mais notícias.
— Nem adianta ficar me olhando assim, já tomei a minha
decisão e não volto atrás — murmuro, suspirando.
Estou sentada na cama com minha amiga, que está um
pouco revoltada por eu ter aceitado o emprego com as condições
impostas por ele.
Quando o empregador da Madalena me disse o valor do
salário, eu quase caí para trás, me segurei para não demonstrar o
tamanho da minha alegria. Com o valor, vou conseguir pagar as
minhas contas, me organizar em muitas coisas e ainda sobra um
valor considerável para começar uma poupança para alguma
emergência.
— Você enlouqueceu, minha amiga? Vai virar prisioneira
nesse emprego? Nem por um milhão de reais eu trocaria a minha
liberdade — resmunga, ainda indignada com a minha decisão.
— Não exagere, é claro que por um milhão você daria mais
do que a sua liberdade. — Bufo, fazendo-a rir baixinho.
— Um milhão é um milhão, né. — Pisca para mim.
— Hipócrita — provoco-a.
— E você é maluca por ter que morar no trabalho, mesmo
que vá receber muito bem por isso — retruca.
Não que eu tivesse muito tempo para pensar sobre isso, no
entanto, preciso pagar as minhas contas.
Estou desempregada há quase um ano, a ponto de ficar
louca. Eu gosto de trabalhar, de ter as minhas coisinhas, pagar
as minhas contas, ficar sendo sustentada por minha tia por tanto
tempo está me deixando triste, até mesmo meio deprê.
— Não estou em condições de exigir nada, preciso de um
trabalho. Tia Lore precisa que eu também ajude aqui dentro!
Não posso ser um estorvo, e não sei se você se lembra, mas
tenho um empréstimo para quitar com o banco. Eu não ligo de
morar lá e viver para a garota, o importante é que terei o meu
salário e os meus direitos. Sem contar que vou conseguir colocar
comida na mesa depois de tanto tempo — declaro, me
remexendo na cama.
— Sim, eu sei, você tem razão. Mas continuo achando que
é uma loucura ficar disponível dessa maneira. Isso é exploração!
Se quiser, eu te empresto uma grana para você se manter até
conseguir algo melhor. Eu te ajudo no que posso, somos amigas,
certo? Você não precisa se submeter a um trabalho com uma
pessoa cheia de exigências! — exclama, revoltada, passando a
mão em seu cabelo cacheado.
— Trabalho não mata ninguém, você sabe muito bem disso.
E algo melhor? Onde vou conseguir um salário como esse? Eu
sempre recebi quase que o mínimo, para mim é uma fortuna. E o
melhor é que vou trabalhar com o que eu gosto, e com uma
criança só. — Sorrio para ela.
— Não acredito que vou perder minha amiga para um
emprego! — Ela faz manha, e eu acabo rindo.
— Um emprego maravilhoso onde receberei cinco vezes
mais do que nos outros que já tive, e ainda terei um bônus. Sem
contar os direitos trabalhistas. E você não vai me perder,
teremos os domingos em que eu não precisar trabalhar,
Fernanda. Pare com esse drama todo.
— O.k. O.k. Quando começa, Brenda? — Minha amiga
parece ter sido vencida pelo cansaço.
— Amanhã bem cedinho tenho que estar na mansão. Eu
preciso arrumar minhas coisas hoje à noite — esclareço,
pegando as mãos dela. — E não pense que estou sendo orgulhosa
ao não aceitar a sua ajuda, não é isso. Eu tenho que me virar
sozinha, e, convenhamos, amiga, não tem como recusar um
emprego desses. Nanda, eu tenho vinte e quatro anos, passou da
hora de ser independente, e a tia Lorena não tem obrigação
alguma de me sustentar. Você sabe que o rendimento dela é
pequeno com a venda do seu artesanato.
— Está certa, Brenda, me desculpe. Estava sendo um pouco
egoísta, queria você só pra mim, amiga. Sou uma péssima pessoa
por ter tentado te convencer a não aceitar — diz, meio tristonha,
mas sorri em seguida. — Como você mesma disse, trabalhar não
vai te matar. Nunca matou, né?!
— Exatamente! Não tenho nada que me impeça de ficar por
lá, não tenho namorado e não sou de viver em festas. — Abro
um sorriso para ela, no entanto, ele some assim que me lembro
do meu ex-namorado, aquele encosto, ainda bem que me livrei
dele. Eu não o vi mais depois que ele terminou comigo para
ficar com uma mulher mais velha que o bancava. Esse sempre
foi o sonho do André, ser bancado por uma mulher, e como
nunca dei isso a ele, preferiu uma que pudesse lhe dar vida boa.
— O.k., o.k., me convenceu. Mas você não namora porque
não quer. — Faz uma expressão divertida e semicerra os olhos
castanho-escuros.
— Quase isso. — Caio na gargalhada. — Agora me ajude a
arrumar as malas, não posso perder tempo. — Me levanto e ela
me segue.
— A tia Lorena sabe que seu futuro chefe exigiu que você
morasse lá? — indaga, enquanto me ajuda a tirar as minhas
roupas do guarda-roupa.
— Sim. Quando eu saí da mansão do sr. Bianco, liguei para
ela e contei como foi a entrevista. De início percebi que ficou
triste, mas depois ela entendeu e me apoiou. Mais ou menos do
mesmo jeito como você reagiu. — Rindo, eu me afasto da minha
amiga e jogo minhas roupas na cama para arrumar na mala.

— O mais importante você não me contou, dona Brenda! —


depois de algum tempo organizando meus pertences, Fernanda se
manifesta.
Olho-a com o semblante confuso e ela começa a gargalhar,
me deixando ainda mais aturdida com a sua reação.
— O que não te contei? — Arqueio a sobrancelha.
— Como é o sr. Bianco pessoalmente? E ele é casado, tem
namorada, uma amante?
Ignoro a primeira pergunta, as seguintes me tocam de
alguma maneira. Lembro-me de Madalena falando que eu nunca
deveria fazer perguntas sobre a falecida mulher do meu futuro
chefe. Então, entendi que falar dela é proibido naquela casa,
pelo menos para os funcionários.
— Se ele tem algum relacionamento, não sei, mas talvez
continue sozinho — revelo, depois de alguns minutos, com os
pensamentos distantes.
— Hm. Mas pelo menos ele é gato? Tipo, nas redes sociais
ele parece ser bonitão, mas você sabe que tem aquelas edições
que famosos usam. — Faz uma careta.
— Nanda, por favor, né — murmuro, tentando fugir da sua
curiosidade.
— Hm, o.k. Falando agora do seu chefe gatão, me lembrei
que você já leu algo dele um tempo atrás, certo? — Fernanda e a
sua mente de elefante.
— Verdade, eu...
Não sou uma fã ou leitora fiel do meu futuro chefe, mas li
um livro dele que foi lançado três anos atrás, só não me recordo
direito do título. A história era de um viúvo solitário, que após a
morte da esposa, foi se refugiar nas montanhas pensando que
encontraria a paz, mas ao contrário do que desejava, acabou
morrendo anos depois. A causa da sua morte foi a saudade e o
amor que sentia pela amada. Na época, foi uma febre, porque o
maior público do sr. Bianco é o feminino. O homem realmente
manda bem, a escrita dele é algo que prende o leitor, mas com
tantos contratempos em minha vida, faz um bom tempo que não
sei o que é ler um livro, embora ame uma boa leitura.
— Quando você for trabalhar, tenta reparar mais nele e
depois me fala se ele é gatinho mesmo — pede, animada.
— Tá doida? — Olho-a feio. — Por que eu iria achar o meu
chefe gato? Minha relação com ele será totalmente profissional,
não tenho que ficar achando nada dele — respondo, tentando
disfarçar a ardência em meu rosto.
— Ah, por favor, amiga. Você não é cega e nem burra.
Vamos lá, me conte todos os detalhes sobre o sr. Escritor bonitão
— insiste, com um sorrisinho irritante.
Bufo ao ouvir sua risadinha depois de ter dado um apelido
ao meu futuro patrão.
— Ele não é feio, alto... é um homem apresentável. Não
reparei muito nele, meu interesse é na filha dele. — Fico sem
jeito ao lembrar de Matteo me ditando regras para ser babá em
sua casa.
— Conta outra, Brenda, pelo amor, né! Sou a sua melhor
amiga, não precisa ficar envergonhada com uma bobagem
dessas.
Meu rosto queima quando meus pensamentos voam até
Matteo Bianco, com aquela aparência elegante e intimidadora.
Ele fica bonito em roupas casuais, e mesmo sendo tão
sério, é lindo com aquela altura toda, sem contar os músculos
firmes que devem ter sido adquiridos com muitos exercícios
físicos. Mas preciso tirar isso da minha cabeça, ele será meu
chefe, jamais devo misturar as coisas.
— Vamos esquecer isso, Nanda. — Comprimo os lábios.
— Vou te deixar em paz. Definitivamente, você deveria ser
freira.
Agradeço mentalmente por ela me deixar em paz depois
disso. Ficamos conversando enquanto arrumamos as minhas
coisas, as horas passam e nem notamos, até que a minha tia
Lorena chega com algumas sacolas e eu a ajudo a colocar as
compras no armário. Então ela prepara um café e ficamos na sala
até que Nanda se despede e vai embora.
— Tia, já vou me deitar. O sono chegou e amanhã tenho
que sair cedinho. — Bocejo, olhando para ela.
— Boa noite, minha filha. Hoje vou dormir mais tarde,
estou com muitos pedidos para personalizar. Vou trabalhar nem
sei até que horas — fala, com um certo orgulho do seu trabalho
manual.
— Certo, tia. Boa noite. — Me aproximo e beijo seu rosto
antes de me afastar.
Depois de tomar um banho relaxante, caio na cama para
descansar. Amanhã começa a minha nova rotina e confesso que
estou ansiosa para conhecer melhor a pequena Maria Alice
Bianco.
Acordo cedo e deixo o café preparado para a minha tia, em
seguida, dou uma ajeitada na casa e coloco os pertences que
levarei para a mansão todos juntos, só então sigo para tomar um
banho.
Decido colocar um vestido soltinho, faço um rabo de
cavalo em meu cabelo e calço as minhas rasteirinhas. Pronta
para enfrentar o dia, pego em minha bolsa a minha a agendinha e
escrevo um recado para a minha tia, pedindo que ela me ligue
quando quiser, já que não nos veremos tão cedo, e o coloco na
mesa de centro.
Vamos lá, Brenda.
Olho para as horas no relógio em meu pulso e vejo que
faltam dois minutos para as sete.
Arrasto minhas malas para fora e me surpreendo ao me
deparar com um homem de cabelo grisalho, com um carro
elegante estacionado em frente à minha casa. Olho para a
vizinhança e agradeço mentalmente por não ver nenhuma
vizinha fofoqueira a essa hora. Dizem que há mais enxeridos em
cidades pequenas do interior, mas é pura mentira, aqui em Monte
Verde, mesmo sendo uma cidade grande, tenho algumas vizinhas
que se pudessem cuidariam da minha vida.
— Bom dia, srta. Brenda. Meu nome é Pedro, o motorista
do sr. Bianco. Deixe-me te ajudar — ele se apresenta e abre o
porta-malas, então vem em minha direção e pega minhas
bagagens.
— Bom dia, sr. Pedro. E pode me chamar só de Brenda. —
Dou um sorriso amigável para ele.
— Então, por favor, me chame de Pedro — diz, enquanto
abre a porta traseira para que eu entre no carro.
Depois de me acomodar no banco e afivelar o cinto de
segurança, ele coloca o automóvel em movimento. Pego meu
celular na bolsa ao ouvir a notificação de uma nova mensagem
no WhatsApp.
É a Nanda. Abro a nossa conversa e começo a ler a
mensagem.
“Boa sorte no emprego, e não se esqueça de avaliar
melhor o chefe gatão para me passar mais detalhes. Te amo!”
Um pouco sem jeito, olho para a frente e encontro o
motorista concentrado ao volante. Solto a respiração lentamente
que nem sabia que estava prendendo. Em uma resposta curta,
envio para ela um emoji de coração e um “ok”.
O trajeto até a mansão Bianco é feito em completo
silêncio. Pelo jeito, Pedro não é uma pessoa muito falante.
Embora a mansão seja afastada da cidade, não demoramos muito
para chegarmos ao nosso destino.
— Brenda, pode descer.
Assusto-me ao ver o motorista com a porta aberta para que
eu saia, não estou acostumada a abrirem a porta para mim.
— Oh, sim. Desculpe-me. — Desafivelo o cinto de
segurança e pego minha bolsa.
— Pode ir na frente, eu levo suas coisas — recomenda e eu
assinto.
Nervosa, caminho em direção à enorme porta da casa de
Matteo Bianco, logo atrás vem Pedro. Quando estou prestes a
tocar a campainha, eu me deparo com uma mulher baixinha de
cabelo grisalho e rechonchuda toda sorridente. Madalena.
— Bom dia, minha filha. Seja bem-vinda. — Ela me dá
espaço para entrar.
— Bom dia, Madalena. Obrigada. — Dou um sorriso
enorme para ela em agradecimento. Se não fosse por essa
senhora, eu ainda estaria desempregada.
— Pedro, coloque as malas da Brenda no quarto, depois
peça para a Joana arrumar as roupas no guarda-roupa — pede a
governanta.
— Pode deixar.
— Não é necessário! — digo rapidamente, com os olhos
arregalados e envergonhada. — Eu faço isso mais tarde.
— O Matteo já informou que você só vai cuidar de Mali,
nada além disso — esclarece Madalena, em um tom de aviso.
Então assinto, sabendo que não posso passar por cima da
ordem do chefe.
Pedro nos pede licença e segue com as minhas coisas para
um corredor no andar de baixo da casa. Dou uma olhada de novo
na casa e percebo que é uma bela residência, muito sofisticada,
toda trabalhada no luxo. Além de ter muitos móveis que parecem
custar uma fortuna e pisos extremamente brilhantes, ela é muito
cheirosa.
— Brenda, está me ouvindo? — Madalena toca em meu
ombro.
Chego a ruborizar ao perceber que ela me pegou
escrutinando a casa elegante, boquiaberta.
— Me desculpe, estava distraída. O que disse? — Passo a
mão por meu cabelo, totalmente sem graça.
— A Maria Alice ainda está dormindo, mas às nove a
professora de piano chega.
Quase me engasgo com a informação. Ela não é muito
novinha para aprender a tocar piano? Se bem que dizem que o
Mozart começou a estudar aos três anos de idade, e a compor
aos cinco.
— Tudo bem — murmuro.
— Enquanto isso, você pode organizar a sala de brinquedos
dela, que está uma verdadeira bagunça. Eu vou arrumar a Maria
Alice para a aula, mais tarde você já pode assumir o seu trabalho
por completo — sugere.
— Você deve ter outros afazeres, posso me virar sozinha,
acredite. E eu preciso conhecer a garotinha tão falada dessa
casa. — Preocupo-me em estar abusando da sua boa vontade.
— Que isso, Brenda. Se digo que vou arrumar a Maria
Alice, é porque sei que não vai terminar de ajeitar aquela
bagunça da sala de brinquedos em menos de duas horas. E você
e ela terão bastante tempo para se conhecerem. — Fita o relógio
pendurado na parede e eu faço o mesmo. — Daqui a pouco dá
oito, as horas passam rápido e o sr. Bianco não tolera atrasos da
filha nas aulas dela, não importa qual seja.
Para não opinar e sair como intrometida, apenas meneio
com a cabeça.
Pelas suas exigências de ontem, ele não nega que é um
homem um tanto controlador.
— Claro, só me dizer onde fica — falo, animada, olhando
ao meu redor. Mesmo sem ter a intenção, olho na direção do
corredor por onde passei para ir até o escritório do chefão ser
entrevistada.
Será que ele está lá trabalhando em seus livros, ou deve
estar dormindo?
Por que estou pensando nisso mesmo? Até ontem, eu nem
sabia que o meu chefe era Matteo Bianco, e agora estou curiosa
para saber até o que ele está fazendo.
— Brenda, está tudo bem? — Um pigarreio me faz gelar, é
Madalena chamando a minha atenção pela segunda vez.
— Ér... Está sim, só me distraí. — Sorrio, sem graça.
— Já tomou café, querida? — pergunta com simpatia.
— Já, sim — informo, sorrindo por sua atitude gentil.
Alegro-me por ser Madalena a pessoa que vai me auxiliar
nesta casa. Imagine se a governanta fosse uma pessoa maldosa?
Eu estaria encrencada, muito encrencada.
— O sr. Matteo saiu e não sei ao certo que horas ele chega
— diz, como se fosse capaz de ler os meus pensamentos
curiosos. Mas o que realmente me deixa confusa é o rumo da sua
conversa. — Novamente, quero frisar sobre a falecida Bianco. A
Camila, aqui dentro, é assunto proibido, o nome dela não pode
ser tocado de maneira alguma, a não ser que o chefe faça isso,
o.k.?
Balanço a cabeça.
— Entendido. — Engulo em seco, balançando a cabeça.
— Pois bem. Me siga, vou te dar o seu uniforme e mostrar
o quarto onde irá ficar — diz ao se virar.
Comecei meu dia com o pé direito, tenho certeza de que
será assim nos próximos dias também.
Levei algumas horas para conseguir dar conta da sala de
brinquedos e, caramba, a Madalena tinha razão. Estava uma
verdadeira bagunça. Nas duas primeiras casas que trabalhei, as
crianças tinham brinquedos, mas não tanto quanto Maria Alice
Bianco. O cantinho dela de diversão, além de ser um cômodo
que é quase do tamanho da minha casa, há várias prateleiras com
bonecas e ursos, fora a minicozinha que tem lá. Não só isso, a
menina tem uma pequena biblioteca com muitos livros infantis,
mas não me surpreendo, ainda mais sendo filha de quem é.
Para deixar organizado como deveria, não foi só colocar
tudo em seus devidos lugares. Encontrei poeira em alguns
cantinhos e aquilo poderia fazer mal a ela, então me dispus a
fazer o serviço completo, afinal, cuidar dela também inclui
preservar sua saúde. Fui à cozinha rapidinho pedir informações
sobre os produtos de limpeza e Madalena me apresentou para a
cozinheira e para a faxineira, ambas foram receptivas e me
deram boas-vindas.
— Agora sim — murmuro para mim, observando ao redor e
notando que tudo está brilhando.
Os móveis pequenos em seus devidos lugares, o chão está
brilhante e o ambiente cheiroso. Aqui estava precisando de uma
atenção a mais, talvez as babás anteriores não tenham
conseguido dar conta de tudo.
Apoiando as mãos na cintura, alongo-me sentindo minhas
costas doendo por ter passado tanto tempo agachada. Respiro
fundo, passando a ponta dos dedos no filete de suor em minha
testa, então recolho os utensílios de limpeza e saio da sala de
brinquedos.
A cada passo que dou, ouço uma voz infantil soar animada
vinda da sala.
— O papai vai ficar orgulhoso, Lena, eu aprendi mais uma
musiquinha! — O tom fofo da garotinha mexe algo dentro de
mim.
— Ele vai, sim — fala Madalena.
Quando alcanço o cômodo, sou alvo de três pares de olhos:
uma miniatura loira de olhos redondos e azuis, muito curiosos,
por sinal, porque me encara fixamente; a governanta, com um
sorriso enorme, e uma senhora com roupas formais segurando
uma maleta.
— Quem é você? — pergunta a menininha que usa um
vestidinho rosa rodado, como de uma princesa.
A maneira como ela olha desconfiada lembra-me do seu
pai. Sorrindo, aproximo-me das mulheres e Maria Alice fita-me
com curiosidade.
— Bom dia. Olá, pequena, sou a Brenda, a sua nova babá e
se me permitir, a sua amiga também.
A expressão de desconfiança da menina suaviza com a
minha informação.
— Ela é a moça que eu te disse mais cedo que cuidará de
você — interfere Madalena, se pondo atrás da filha do patrão.
— Hm, o papai me disse ontem que você vinha. —
Continua me estudando.
Rio baixinho ao notar que ela dialoga como uma pequena
adulta, já deu para perceber que é muito inteligente, assim como
o sr. Bianco tinha dito.
— Madalena, eu tenho outra aula às onze, você pode me
acompanhar até a saída, por favor? — Escuto a voz da
professora de piano pela primeira vez.
— Claro, Sofia, vamos. — Assente a governanta para a
mulher.
— Até a próxima semana, professola! — A loirinha corre
até a mulher e a abraça pela cintura com a maior ternura. Meu
peito se aquece com a cena.
Talvez ela não tenha sido tão acolhedora comigo porque
ainda sou uma estranha para ela.
— Até, Mali!
Maria Alice a solta em seguida e se senta no sofá enquanto
as duas mulheres seguem até a porta.
— Vou guardar essas coisas e já volto para nos
conhecermos melhor, mocinha. — Pisco para ela, que me encara
um tanto retraída. Fico sem entender a razão de uma criança que
aparentemente é extrovertida estar tão fechada.
Rumo até a área de serviço que fica ao lado da cozinha e
devolvo os materiais. Depois de higienizar minhas mãos e
braços, retorno para a sala para tentar conseguir ao menos um
sorriso genuíno daquela pequena loirinha que está muito
introvertida.
— Ela foi para a sala de brinquedos — avisa Madalena
assim que me vê apontar na sala.
— Eu acho que a Maria Alice não gostou de mim, ela está
um pouco cismada — murmuro, preocupada por não ter agradado
a pessoa que vai decidir se fico nesse emprego ou não.
— Impressão sua. — Ela vem até mim e toca em meu
ombro, e fitando-me, comprime os lábios por alguns segundos.
— A Maria Alice não é assim, normalmente é extrovertida, ela
sorri até para um passarinho que pousa na janela — explica-me,
gentilmente.
— Então o problema dela é com as babás? — deduzo,
recebendo um aceno de cabeça.
— A pequena não teve uma boa experiência com a última
babá, que chegou aqui toda carinhosa e depois foi mudando, não
durou um mês. Aliás, depois que a Renata foi embora, a moça
que cuidou dela durante três anos, as babás não ficam muito
tempo — revela, chocando-me.
— Mas por quê? — indago, curiosa.
Madalena se afasta, suspirando.
— Lembra que avisei sobre não tocar no assunto da
falecida Bianco? — Seu timbre é baixinho. — Elas eram
curiosas demais, faziam muitas perguntas à menina e não
agradava ao sr. Matteo. A penúltima, seguiu pelo mesmo
caminho e ainda gritou com a Maria Alice na sala de brinquedos,
achando que ninguém iria ouvir.
— Entendi. — Engulo em seco com a revelação.
— Mas não se preocupe, a Mali é uma criança muito
amorosa, logo ela se solta, e você vai ver que eu tenho razão —
afirma, piscando para mim.
— O.k. Eu vou até ela na sala de brinquedos, é uma ótima
oportunidade. — Respiro fundo e sorrio.
— Vou com você e depois as deixo a sós — decide.
— Perfeito. — Giro nos calcanhares e rumamos até lá.
Encontramos Maria Alice sentada no tapete, com alguns
brinquedos ao seu redor, mas o seu foco está na boneca em seus
braços, que se tivesse alguns centímetros a mais seria do
tamanho dela. Com uma inquietação no peito, eu me aproximo e
me sento de frente para ela, que ergue o rostinho e me analisa.
Logo atrás está Madalena, com o semblante suave e pronta para
interceder por mim.
— Maria Alice, venha aqui, querida — a mais velha chama,
e a menina a observa por cima do ombro.
Ela sorri e larga a boneca, indo até a governanta, que se
agacha e começa a falar em seu ouvido. Não sei o que diz, mas a
garotinha balança a cabeça e dá algumas risadinhas.
— Agora seja uma boa garota. — Ela beija o alto da cabeça
da loirinha, que vem na minha direção já com um olhar diferente
e volta a se sentar. — Brenda, agora é com você. — Sorri para
mim e sai da sala.
— Você gosta de brincar, Brenda? — Rio baixinho com o
“Brenda”.
— Gosto, sim, princesa — falo, carinhosamente.
— Hm, tá bom. Você quer brincar comigo até o papai
chegar? — inquire, pegando uma panelinha de brinquedo e me
estendendo.
— Quero, sim. Mas antes me fale das coisas que gosta de
fazer. — Soo atenciosa.
Maria Alice abre um sorriso genuíno, aquele que estive
esperando minutos atrás.
— Ah, eu gosto de fazer comidinha em minhas panelinhas,
tomar um chá com minhas amigas. — Ela aponta para as bonecas
nas prateleiras, depois se volta para mim, toda animada. — E de
brincar no parquinho que o meu pai fez pra mim. — Maria Alice
abraça a boneca e sorri abertamente.
— Tive uma ideia. — Coloco a mão no queixo, fingindo
estar pensativa, e recebo uma risada gostosa.
— O que é? — Bate palmas.
— O que acha de me levar para conhecer o parquinho? —
sugiro.
E ela adora a ideia, porque seus olhinhos brilham.
— Eu quero! — Se levanta, enérgica.
— O.k. Vamos lá! — Deixo que Maria Alice vá na frente,
assim posso comemorar a minha primeira conquista com a
mocinha.
Na parte da manhã consigo lidar muito bem com a menina,
ela se abriu mais comigo depois de brincarmos no parquinho,
onde fui a quase todos os brinquedos em que eu cabia. Em
alguns minutos ao lado da pequena, notei a sua felicidade e
deduzi que talvez as babás anteriores não se esforçassem o
suficiente, e para mim não é sacrifício algum conseguir arrancar
risadas gostosas e sinceras de Maria Alice.
Vê-la tão sorridente e à vontade comigo aqueceu meu
coração, em pouco tempo estou alcançando os meus objetivos –
manter o meu emprego e roubar muitos sorrisos de uma certa
garotinha, para mostrar a ela que pode confiar em mim.
— Como você prefere o seu cabelo? — pergunto, passando
o pente em seus fios.
Alice está sentada no pufe da sua penteadeira, enquanto
tento fazer um penteado bonito e que ela goste. Faz meia hora
que subimos para que ela pudesse se arrumar para o almoço.
Minutos atrás, eu a ajudei com o banho, mesmo que ela
tivesse me dito que poderia fazer isso sozinha. Acho que até
pode, mas fiquei com receio de que ela escorregasse no banheiro
e se machucasse, ou algo do tipo. Eu perderia o emprego em
menos de vinte quatro horas. O pai dela não parece ser do tipo
que tolera falhas. É mais fácil lidar com Maria Alice do que com
o sr. Bianco.
— Eu gostei do seu penteado. Pode fazer igual em mim? —
Me olha com seus olhos azuis e redondos através do espelho.
— Tem certeza? — Sorrio.
A pequena assente, retribuindo o meu sorriso. Estou
usando um rabo de cavalo simples, acho até estranho uma
criança gostar do meu penteado.
Passo alguns minutos arrumando o cabelo dela. A
personalidade da pequena ainda não está clara para mim, no
entanto, no decorrer dos dias poderei conhecê-la melhor.
— Brenda, tô com fome. — Me dá um sorriso genuíno ao
se virar para mim.
Como é possível se encantar em tão pouco tempo por uma
criança que só conheci hoje?
— Vamos descer, o almoço já deve estar pronto. — Pisco
para ela.
— O meu papai ainda não chegou, acho que ele não vem —
murmura, tristonha. — Quer comê comigo? — A menina me olha
com uma carinha de cachorro pidão.
Antes de subir para cuidar de Alice, Madalena me passou
uma lista das atividades da menina. Entre as tarefas do seu dia a
dia, encontrei uma em destaque, pai e filha sempre almoçam
juntos, só não fazem isso quando ele tem algum compromisso na
editora. E eu achei lindo da parte dele, só demonstra o quanto é
um paizão, afinal, existem pais que nem se dão ao trabalho de
estar com os filhos.
— Eu... tomei café quando saí de casa e ainda não estou
com fome, mas posso fazer companhia a você. O que acha? —
sugiro, com um sorriso, torcendo para que ela não insista.
Imagina se o patrão chega e me vê almoçando com a filha dele?
Nem sei qual seria a sua reação.
Na última casa em que trabalhei, os empregados faziam as
refeições na cozinha, e aqui não deve ser diferente.
— Tá bom.
Assim que Alice balança a cabeça concordando, fico
aliviada e meu sorriso aumenta. O horário de almoço dos
funcionários é diferente dos patrões, não posso simplesmente me
sentar à mesa com Maria Alice e almoçar com ela.
— Vou colocar a banheira para esvaziar e já volto — falo,
girando nos calcanhares ao lembrar desse detalhe.
Ao retornar, fico surpresa ao ver a menina em pé no pufe
da penteadeira. Com medo de que ela caia, rapidamente envolvo
meus braços ao seu redor.
— Nunca mais faça isso, princesa. Você poderia ter caído e
se machucado. Promete que não vai fazer isso de novo? — peço,
com a voz meio desesperada e o coração acelerado. Respiro
fundo e encaro a sapequinha.
Maria Alice sorri abertamente e eu acabo me derretendo
quando ela envolve seus bracinhos ao redor do meu pescoço e
me aperta, a maneira como age me faz pensar o quanto ela
parece ser carente de algo.
Da mãe...
— Hm, você é tão cheirosa e bonita. — Continua me
abraçando.
Muito inteligente. Foram essas palavras que seu pai usou
para descrevê-la. E tenho que concordar, pois a garotinha está
tentando fugir do meu pequeno sermão ao me elogiar. As
crianças de hoje em dia são tão espertas, se deixar, elas colocam
a gente no bolso.
— Não tente me enganar, mocinha. Promete que nunca
mais vai fazer isso? — Afasto-me dela e toco em seu rosto com
as duas mãos.
— Prometo, tia, prometo! Agora quero comer, minha
barriguinha está fazendo barulhinhos de fome — exclama e se
afasta, sem perceber que me chama de tia.
Solto uma risada quando Maria Alice passa a mão na
barriga e faz beicinho para mim.
— O.k., vamos lá, mocinha.
Assim que a coloco no chão, ela entrelaça sua mão na
minha e saímos do seu quarto, seguindo para a cozinha.
— Brenda, será que o meu paizinho vai gostar da minha
roupa e do meu penteado? Eu quis colocar este vestido porque
foi meu papai que comprou para mim. Ele é especial — diz,
enquanto descemos os últimos degraus da escada.
Fico boquiaberta com a desenvoltura que ela tem para
falar, soa tão adulta, conversa com uma certa propriedade que
impressiona qualquer um. Com a educação que deve receber, eu
não deveria ficar surpresa.
— Claro que vai, ele vai amar. Você está muito linda —
afirmo, avaliando sua roupa ao me agachar na sua frente e tocar
o seu rosto. — Tenho certeza de que seu pai adoraria se a visse
agora.
O vestido que ela parece tanto gostar é amarelo, de crochê,
com a saia branca e rodada. Ela até calçou as sandálias de
lacinho da mesma cor, o que deixou ainda mais fofo o seu
visual.
— Você é muito boa, Brenda. É a primeira babá que não
parece ser uma bluxa. — Se joga em meus braços e eu quase
caio para trás com seu abraço de urso.
Depois de ouvir alguns passos vindos em nossa direção,
Maria Alice levanta o rosto para ver quem é, enquanto congelo
ao ouvir a voz do meu chefe. Sequer sou capaz de olhar para ele,
fico grata por estar de costas.
— Vejo que estão se dando bem.
A voz potente e rouca do sr. Bianco me faz engolir em
seco.
— Paaaiiiiii, você veiooo!
A criança me solta tão rápido, que eu caio de bunda no
chão. Envergonhada, mordo os lábios e fecho os olhos.
— Tenha mais cuidado, Maria Alice. — O tom é duro ao
repreendê-la.
Meu coração fica apertadinho com isso. Um pouco sem
graça, eu me recomponho rapidamente e respiro fundo, pronta
para me levantar. Mas fico sem reação ao ver uma mão estendida
em minha direção, perplexa por meu chefe me oferecer apoio. É
neste momento que o observo com mais atenção. E acabo me
recriminando por estar encantada por meu chefe.
Ele está usando um terno que abraça bem os seus músculos,
o seu cabelo negro e liso está penteado para trás.
Perto do sr. Bianco me sinto uma formiguinha, acredito que
ele tenha quase dois metros de altura. Seus olhos são castanho-
escuros e misteriosos, e os lábios finos são atraentes e
convidativos. Seu rosto quadrado tem o maxilar bem-marcado,
muito atraente.
Se o homem fosse um astro do cinema, com certeza daria
um bom papel de vilão, porque sua expressão é naturalmente
dura, qualquer um tem medo quando o vê pela primeira vez. Mas
algo me diz que por trás dessa pose de durão, há uma pessoa
com o coração bom, que se fechou por algum motivo.
Envergonhada por ter ficado tanto tempo o admirando,
desvio meu olhar. E para ajudar um pouco, tenho certeza de que
o sr. Bianco percebeu o que acabei de fazer, posso jurar que vi
uma sombra de um sorriso em seu rosto.
— Brenda? — Ele chama a minha atenção, então engulo a
minha vergonha e aceito a sua ajuda.
Meu patrão me tira do chão como se eu fosse uma pluma.
— Obrigada, sr. Matteo, me perdoe pelo transtorno. —
Umedeço os lábios, meio desnorteada por tê-lo avaliado demais,
agora não consigo parar de pensar no quanto ele é lindo.
Afasto-me dele, só assim consigo soltar a respiração que
estava prendendo. Matteo Bianco, além de ser bonitão, é muito
cheiroso.
Que pensamentos mais impuros. Nunca cheguei ao ponto
de cobiçar meu chefe.
— Não se desculpe por algo que não foi culpa sua. A
minha filha foi imprudente — diz com seriedade, enquanto passa
a mão na barba. Ele agora olha para a filha, que está cabisbaixa
no canto do sofá. — Maria Alice, peça desculpas por ter
derrubado a Brenda. — Seu tom é mais comedido.
— Não é necessário. — Balanço a cabeça. — Não foi culpa
dela. Ela só ficou feliz por te ver e acabou me derrubando, sei
que não foi intencional. — Tento contornar a situação, mas o
homem não parece convencido.
— Filha, o que eu te ensinei? — Ele suspira.
— Eu peço, papai.
Meu coração amolece ainda mais quando ela levanta a
cabeça e vejo que está com os olhos avermelhados, querendo
chorar.
— Senhor... Por favor, já disse que não é necessário. —
Sem pensar, toco em seu ombro e os seus olhos vão para minha
mão depositada ali, e depois ele me fita. — Ela só se animou
demais com a sua presença. — As palavras saem da minha boca
e nós nos olhamos por alguns segundos, até que ouvimos Maria
Alice.
Pigarreio e me afasto dele como se tivesse levado um
choque. O que foi isso?
— Me desculpa, Brenda, eu não queria te derrubar. Só
fiquei feliz por meu pai ter vindo para a casa e... — Maria Alice
começa a chorar.
Querendo protegê-la nem sei do quê, rapidamente me
aproximo dela e a abraço. A pequena passa os braços ao redor da
minha cintura e encosta o rosto em minha barriga.
— Não chora, princesa, sei que não teve intenção. Agora
pare de chorar, porque a tia fica com o coração apertado —
consolo-a, passando a mão em seu rosto molhado.
Mesmo com a cabeça baixa enquanto consolo a filha dele,
sinto seus olhos intimidadores focados em mim, me deixando
incomodada. Ergo o rosto e tenho a confirmação. Matteo estuda
minha atitude, e o que encontro em seus olhos não é repreensão.
Parece ser satisfação, como se o meu gesto o agradasse.
— Agora venha aqui, Mali — chama-a carinhosamente pelo
mesmo apelido que a professora usou pela manhã.
A garotinha se solta de mim e vai ao encontro do pai, que
se agacha e a recebe em seus braços.
— Se te repreendi não foi para que chorasse, o papai não
quis ser tão duro com você, muito menos que se assustasse com
o meu tom de voz. — Ele passa a mão no rosto dela, em seguida
beija a sua testa e a menina se derrete. — Eu também te devo um
pedido de desculpas. — Acaricia a bochecha dela, mas a sua
atenção está em mim, completamente em mim, a ponto de me
fazer secretamente estremecer e o meu estômago se contrair.
Por Deus, é o meu primeiro dia aqui e estou recebendo uma
enxurrada de emoções.
— Estão fazendo uma festa e não me convidaram,
queridos?
Assusto-me ao ouvir uma voz feminina, que fura a bolha
que criei ao redor do meu chefe e da filha dele. Olho na direção
da voz e me surpreendo ao ver uma mulher muito elegante, seu
cabelo loiro chega ao seu ombro. Ela está sorrindo para mim, ou
melhor, para Maria Alice.
— Você disse que não entraria porque estava atarefada
hoje, Daniele — diz Matteo, se levantando. A pequena corre
para mim e faz uma careta.
A mulher bonita revira os olhos, mas não tira o sorriso do
rosto.
— Você demorou muito, sabe que não gosto de esperar,
querido. — Ela o ignora e volta a olhar para a criança, que se
refugiou em mim. — Mali, não vai dar um beijinho na sua tia,
meu amor? — A loira abre os braços.
Notando a resistência da Maria Alice, toco em seus
ombros, mas não me intrometo.
— Filha, fale com a sua tia — pede Matteo, gentilmente.
— Oi, tia Dani — finalmente a menina fala, mas não se
afasta de mim para dar o abraço que a mulher lhe pediu.
Daniele desvia os olhos da sobrinha e passa a me analisar
dos pés à cabeça, me estudando minuciosamente. A avaliação da
mulher me incomoda um pouco, no entanto, não fico intrigada
com isso, porque ela deve saber sobre histórico das outras babás
e certamente é uma tia superprotetora.
— Agora sim. — Pisca para a criança, que continua
agarrada a mim. — Matteo, vamos nos atrasar para o nosso
almoço. Você me disse que só ia pegar alguns documentos no
escritório. — A mulher se vira para o sr. Bianco.
— Não me apresse, Daniele. Essa é Brenda, a partir de hoje
ela vai cuidar da Maria Alice. Você não vai cumprimentá-la? —
Estuda-me, depois faz o mesmo com a loira.
— Mil perdões, linda. — Ela se aproxima de mim e estende
a mão para me cumprimentar. Educadamente, eu aceito. — Sou
Daniele, prima da mãe da Mali e amiga do Matteo. — Dá um
sorriso falso.
— O prazer é meu, senhora. — Sorrio para ela, que
assente.
— Não precisa me chamar de senhora, sem formalidades,
por favor — pede Daniele, bem-humorada.
— Sr. Matteo, se me der licença, tenho que levar a Maria
Alice para almoçar. — Olho para o meu chefe e aguardo a sua
resposta.
— Pode se retirar, Brenda.
— Obrigada, com licença. Vamos, pequena? — Pego a mão
da Maria Alice, mas ela não sai do lugar, fica olhando para o
pai.
— Papai, pensei que fosse comê comigo — diz Maria
Alice, com a voz embargada, enquanto olha para o pai com a
expressão de choro.
— Hoje não posso, filha, tenho alguns assuntos
importantes para resolver na editora. — Ele vem até nós e se
agacha na frente dela.
— Já que você está aqui, papai, poderia...
— Não dá, querida, tenho algumas pendências na editora,
mas amanhã almoçaremos juntos, tá bom? — ele a interrompe,
acabando de uma vez com a esperança da criança, que soluça
alto e assente.
Sem saber como agir ou o que dizer, eu fico calada
observando-os. Disfarçadamente, olho para a Daniele e vejo um
sorriso em seu rosto enquanto observa a interação entre pai e
filha.
— Vamos, princesa — insisto, fitando o pai dela, que nesse
momento toca no queixo dela para que o encare.
— Vamos fazer melhor. Vou tentar chegar mais cedo para
jantarmos juntos. — Meu chefe consegue arrancar um sorriso da
menina.
— Vou pedir pra Tina fazer tilamisú pra você, papai. — Eu
e Matteo rimos ao mesmo tempo, até poderiam dizer que é uma
risada combinada.
— Mas comemos ontem, Mali, pense em outra sobremesa
gostosa — sugere, e a menina se anima.
— Hm, vou vê se ela faz zelope.
Franzo o cenho, tentando entender do que se trata. O pai
dela joga a cabeça para trás e gargalha. Pego-me admirando a
interação deles, mas um bufo vindo da loira chama a nossa
atenção.
— Matteo, vamos nos atrasar para o nosso compromisso —
avisa Daniele, olhando para as horas no relógio em seu pulso.
— Um momento, Dani — pede, sem olhar para ela. — É
zeppole, Mali — ele a corrige, e a filha balança a cabeça.
— Foi o que eu disse, papai. — A menina cruza os braços.
— O.k. Mocinha, peça o zelope para a Tina, até mais tarde,
prometo não demorar. — Pisca para ela e se levanta, mas antes
beija a testa dela.
Escritor. Bonito e um pai presente. Será que pode existir
mais qualidades nesse homem?
A voz da minha melhor amiga soa em minha cabeça, como
um diabinho me mandando reparar mais em meu chefe bonitão.
Então respiro fundo e me repreendo por esses pensamentos
malucos.
— Outro dia venho para brincarmos e te trago um presente,
Mali — diz Daniele, carinhosamente. Então, ela e o sr. Bianco
saem pela mesma porta que haviam entrado há alguns minutos.
— Você gosta de zelope, Brenda? Vou pedi a Tina para
fazer um montão pra você comê também. — A garotinha ergue o
rosto para mim e me lança um sorriso travesso, exibindo seus
dentinhos, que acho uma fofura quando sorri.
— Não sei o que é, mas vou adorar provar.
— É uma sobremesa da Itália, meu pai é de lá e ele gosta
— explica.
— Hm, o.k. Agora vamos ver o seu almoço, você precisa se
alimentar. — Uno minha mão na dela e rumo até a cozinha.
Embora eu tenha uma rotina de acordar todas as manhãs às
cinco para correr e depois escrever alguns capítulos até antes
das nove, o horário que normalmente Maria Alice acorda para
que possamos tomar café juntos, hoje não pude fazer isso, muito
menos receber a nova babá. Após ter visto a mensagem de voz
de Daniele em meu WhatsApp, avisando que o agente da
escritora Audrey William, uma bestseller do New York Times,
avisou que fecharia contrato conosco, tive que largar tudo para
dar atenção às informações que a minha editora-chefe tinha para
me passar, e para isso era preciso que eu me deslocasse de casa
até a Bianbooks.
Tivemos uma reunião com o agenciador da escritora gringa
por chamada de vídeo. O representante dela tirou algumas
dúvidas, quis saber como funcionaria a sua publicação
tradicional, os ganhos e entre outras coisas. Após encerrarmos a
reunião, fui avaliar como estava a produção de alguns livros dos
nossos autores para um evento importante que irá acontecer
daqui a alguns meses.
Passei uma boa parte da manhã na editora, até que Daniele
me lembrou do contrato de um escritor que estava nos dando um
pouco de trabalho, então tive que voltar para casa para pegá-lo.
O filho da puta assinou conosco, mas depois quis desistir e
assinou com a nossa concorrente. A minha equipe jurídica levou
pelo menos uma semana para estudar as cláusulas com a
finalidade de encontrar uma forma de não sermos motivos de
burburinhos no mercado literário.
— Essa nova babá da Mali é jovem. Qual a idade dela? —
Ergue a sobrancelha, cheia de curiosidade.
Chegamos à editora há alguns minutos. No caminho para
cá, Daniele sugeriu que fôssemos almoçar em um restaurante
que costumo ir algumas vezes. Almoçamos e logo viemos para a
Bianbooks
— Não me importo com isso, muito menos fico reparando a
idade dos meus funcionários. A única coisa que quero dela é que
cuide da minha filha bem — retruco, mesmo sabendo que tenho
a informação que ela deseja.
Daniele está querendo informações sobre Brenda desde que
soube que a babá é recomendação da minha governanta, mas só
agora em seu escritório está tendo coragem para me indagar.
— Hm, ela é bem bonita... Não me diga que não reparou
nisso também.
Finjo não a ouvir e volto a prestar atenção no iPad, com
algumas amostras de diagramações do meu e-book que me
enviaram por e-mail.
— Ah, não se faça de difícil, Matteo, é óbvio que você
notou que a babá é muito bonita — insiste, sorridente.
Sim, ela é linda, mas não vou falar isso para a prima da
minha falecida esposa.
— Não fico avaliando as características dos meus
funcionários, já chega disso. — Acabo soando grosseiro ao
deslizar a tela com rapidez e impaciência.
— O.k. E o que está achando dela? A Marcela ficou triste
porque você não quer mais indicações da agência dela.
Fito-a por alguns segundos.
— Por ora, parece estar indo bem, mas ainda é muito cedo
para elogiar. E a se a sua amiga não me enviasse candidatas
incompetentes, talvez tivéssemos dado certo — murmuro,
respirando fundo.
Por enquanto, Brenda Correia está fazendo o que foi
pedido, e, pela primeira vez, minha filha parece ter gostado de
alguém. Tudo bem que hoje é o primeiro dia dela, mas a moça
parece estar conquistando a Maria Alice. Nem mesmo Daniele,
que é sangue do seu sangue, conseguiu tal privilégio. Se bem
que há muita diferença entre as duas mulheres. Dani diz gostar
de Maria Alice, mas só demostra o seu carinho tentando comprar
a minha filha com brinquedos, roupas, dando-lhe presentes, sem
conseguir muita coisa.
Mas Brenda, que ainda é uma desconhecida para a minha
pequena, conseguiu a sua atenção e o seu sorriso em
pouquíssimo tempo. Pude ver a minha filha se comportando de
um jeito diferente no primeiro dia, algo que não vi com as
outras.
Devo admitir que a mulher me surpreendeu de uma maneira
ótima ao ter consolado a minha filha após eu ter chamado
atenção dela, embora não devesse ter feito aquilo, foi uma
novidade para mim, nenhuma outra funcionária minha se
atreveria a fazer isso. Apesar de não ter me animado muito
quando Madalena me disse que a Brenda era uma ótima pessoa e
que saberia conquistar e lidar com a Mali, não dei muita
importância, já que a Daniele falava a mesma coisa de todas as
babás que passaram pela minha casa. E nenhuma durou muito.
Maria Alice já teve tantas babás desde a partida de Renata,
a única que durou na minha casa, e não consigo encontrar
nenhuma outra que a supere. Todos os dias era uma reclamação
diferente que as novas babás faziam, por outro lado, a minha
filha dizia que era maltratada, que puxavam seu cabelo. E como
conheço muito bem a minha pequena, sabia que não estava
mentindo, essas reclamações de Maria Alice me fizeram tomar
certas providências em pôr câmeras na sua sala de brinquedos, e
foi assim que flagrei a penúltima babá a maltratando com
palavras. Foi a gota da água para mim, expulsei a cretina da
minha casa, depois disso foi ficando complicado confiar em
recomendações da amiga de Daniele.
— Como sempre, um carrasco. — Dani revira os olhos e
solta uma risadinha irritante.
— Não confunda a minha sinceridade com grosseria. Nos
conhecemos há tanto tempo, já deveria ter se acostumado com o
meu jeito. — Soo um pouco mal-humorado.
— Que bicho te mordeu, homem? É claro que já estou
acostumada com o seu jeito, mas... só quis expressar a minha
opinião em relação à sua nova empregada. Me perdoe se fui
muito intrometida. — Dá de ombros, chateada.
— E o que vai mudar se eu disser que a minha babá é
linda? — digo, mostrando um pouco de humor na voz, pela
primeira vez.
— Eu sabia! Vi você olhando para ela, cuidado para não se
encantar — provoca-me, e eu gargalho.
— Pelo amor de Deus, não exagere. Só reconheci que a
mulher é bonita. — Arqueio a sobrancelha, deixando o iPad de
lado.
— Não é uma simples mulher, é a babá da sua filha e vai
estar perto de você sempre. Vocês podem acabar criando uma
relação. — Comprime os lábios.
— Porra, Dani, não fique criando essas fanfics na sua
cabeça. O meu relacionamento com a Brenda é e será
completamente profissional. Se eu quiser uma mulher vou
procurar na rua, e não alguém que foi contratada para cuidar da
minha filha. — Minhas palavras a afetam, ela arregala os olhos.
— Às vezes você nem precisa buscar na rua, Matteo, sabe
disso. — Fita-me com intensidade.
Daniele é uma mulher muito bonita, elegante e sexy, tem
tudo o que um homem poderia querer em um relacionamento. E
sei que ela sente algo por mim além de amizade. A prima de
Camila gosta de mim como homem, mas jamais dei margem para
que pensasse que podemos ter algo.
Nunca a vi como mulher para me envolver, eu estaria
desrespeitando a minha esposa se me envolvesse com a sua
prima. Ainda mais em se tratando de uma prima que Mila
sempre foi próxima e gostava tanto. As mulheres com quem me
envolvo passam longe da minha casa.
— Daniele, não começa...
— Não falei nada de mais. — Pigarreia.
— Mas quase disse. — Suspiro.
— A Brenda irá morar na mansão? — sonda-me, curiosa.
— Sim, é uma das minhas exigências para todas as babás,
sabe disso.
— O.k. O.k. Vamos parar por aqui, porque já está ficando
chateado. Não importa se a babá é indicação da Madalena ou da
minha amiga, o importante é que a minha sobrinha seja bem
cuidada. — Encara-me.
Daniele chama Maria Alice de sobrinha desde o nascimento
dela, no entanto, são apenas primas distantes. Desde a morte de
Camila, ela tem sido uma boa amiga, e quando Mali era apenas
um bebezinho, ela me ajudou muito, me apoiou quando eu não
sabia o que fazer com aquele serzinho tão pequeno e indefeso.
— Exatamente, vamos encerrar esse assunto agora. —
Verifico o horário no relógio em meu punho. — Preciso ir,
prometi a Maria Alice que não demoraria. — Estou prestes a me
levantar quando Daniele toca em minha mão.
— Não vai agora, Matteo, preciso de um favor seu — diz,
rapidamente, e eu franzo o cenho. — É importante — acrescenta.
— O que é? — Afasto minha mão da dela, que fica sem
graça.
— Hum-hum, estou com um original que recebemos
semana passada para avaliar, mas eu queria que fizesse isso
comigo...
— Esse não é o meu trabalho, Daniele — eu a interrompo.
— Em uma empresa tão grande como essa, tem pessoas
competentes para fazer esse trabalho para mim. — A mulher fica
com o rosto vermelho e seus olhos se enchem de lágrimas, mas
ela disfarça com um sorriso, só assim noto que peguei pesado.
— Me perdoe, Dani, hoje não está sendo um bom dia. Não gosto
de mudar o meu cronograma, e depois de ter feito isso fico
irritado. — Solto uma lufada de ar.
— Percebi, Matteo, você está bem afiado hoje. — Sorri,
triste.
— Vou tentar me controlar — prometo, sentindo-me
culpado por ter sido tão grosseiro.
— Ou tentar me recompensar. — Pisca para mim,
charmosa.
— Dani...
— Só te perdoo se me ajudar com esse original. — Ela faz
chantagem. — É sério, Matteo, é importante, senão nem estaria
te pedindo, porque sei que as suas refeições com a Mali são sua
prioridade. — Faz uma expressão pidona.
— Tudo bem, eu fico, mas só por mais algumas horas —
murmuro, vendo-a pegar o telefone e digitar alguns números.
— Paula, não deixe que ninguém me interrompa na sala
com o sr. Bianco. — Ela encerra a ligação e fita-me com um
sorriso enorme, que se assemelha ao gato de Cheshire do livro
Alice no País das Maravilhas.
— É um original tão importante assim para precisar da
minha ajuda? — Tiro meu paletó e dobro as mangas da minha
camisa até os cotovelos, sob o olhar de Daniele.
— Sim, é. Você tem malhado muito?
Prendo os lábios entre os dentes ao ouvir a sua pergunta.
— Corro todas as manhãs em volta da minha propriedade e
faço alguns exercícios quando dá — respondo, gentilmente.
— Ah, é por isso que notei que está mais malhado. — Ela
recolhe alguns papéis na mesa e os enfileira.
— Dani, me mostre o tal original, quanto antes
terminarmos, melhor para mim. — Finjo não perceber o seu
elogio.
Ela pigarreia.
— O.k. Vou pegar com o Ricardo, um dos nossos
avaliadores, e já volto.
Nem me dá chance de perguntar o motivo de querer que eu
veja o tal original, já que outra pessoa provavelmente está
fazendo isso.
Daniele está querendo passar mais tempo a sós comigo,
tenho certeza. Essa história de original, querer a minha ajuda e
ainda me elogiar, é típico dela quando dá em cima de mim.
Nunca me envolvo emocionalmente com as mulheres,
sempre sexo casual, elas não sabem da minha vida e nem eu da
delas. Dani é uma mulher inteligente, logo vai entender que
nunca haverá nada entre nós, além da nossa amizade. E se ela
não entender, terei que deixar as minhas intenções mais claras,
embora eu tenha certeza de que ela já sabe disso. Sei que isso a
magoará profundamente, mas esse sou eu – sincero demais para
que eu deixe que alguém confunda a minha gentileza e amizade,
com amor ou um possível relacionamento.
Suspirando, levanto-me e pego meu celular no bolso para
enviar uma mensagem de voz para Madalena.
— Lena, tive um imprevisto na editora, e não sei que horas
vou chegar.
Guardo meu telefone e vou até uma das prateleiras de
Daniele, ao notar um livro meu ali. Com o peito apertado,
deslizo os dedos por ele, lembrando-me que o escrevi baseado
na minha vida. A minha inspiração é algo que poucos sabem,
não quis deixar claro nas notas iniciais, não quis me expor, mas
se a pessoa for muito inteligente, vai perceber que o viúvo
solitário sou eu. A única diferença é que eu não morri naquelas
montanhas por tamanha solidão e saudade do meu amor, como
Maurício morreu por sua amada. Ao contrário dele, eu tive
alguém para ser a minha fortaleza, um motivo pelo qual eu luto
todos os dias, uma razão para dar o meu melhor e seguir sempre
em frente. Maria Alice, a minha promessa. A promessa que
Camila me pediu para fazer antes de partir e me deixar
responsável pelo maior símbolo do nosso amor.
— Eu não quero isto, nem isto e nem este aqui. É nojento.
Eca! — Maria Alice aponta para alguns legumes enquanto
empurra a sua sopa para longe ao encarar o prato.
Segundo a cozinheira, Tina, a menina não gosta de alguns
legumes, mas sempre come. Mas essa noite, em especial, por ser
absurdamente apegada ao pai, está mal-humorada e fazendo
manha, uma vez que o sr. Bianco não conseguiu chegar a tempo.
A pequena ficou chateada também porque eles não vão poder
comer juntos o “zelope” que ela pediu que fizessem para a
sobremesa.
— Você sabia que eles fazem bem para a saúde, mocinha?
Você não quer crescer forte e saudável? Saiba que legumes são
muito bons. Eu amo todos. — Disfarçadamente, empurro
novamente o prato em sua direção.
Maria Alice me olha pelo canto do olho, curiosa com o que
vou falar, mas tenta fingir indiferença.
— Mas se você não quer comer, está tudo bem. Só que a
sopa está parecendo deliciosa. — Sorrio. — Sabia que a tia ama
legumes? Se eu pudesse, comeria todos os dias. — Pisco para
ela, que parece ter sido vencida por mim, porque sorri e pega a
colher.
— Tudo bem, eu vou provar. — Na primeira colherada, ela
faz uma careta engraçada, mas depois da segunda já sorri para
mim, enchendo meu coração de orgulho.
Maria Alice mastiga os legumes com calma, sem tirar seus
olhos de mim. A expressão dela é a melhor. Um pouco
apreensiva, respiro fundo e a observo comer. Depois de alguns
minutos, a menina mostra que realmente está gostando.
— Está boa, Brenda, eu gostei. É muito saborosa. — Leva
a quarta colherada à boca. Sim, estou contando.
— Está vendo? Eu disse que iria gostar. —
Automaticamente, levo a mão ao canto da sua boca para limpar,
em seguida, uso o guardanapo para limpar a minha mão.
Todos os funcionários já foram embora, ficamos somente
eu e ela. Antes da Madalena se despedir, ela me deu as
instruções sobre a Maria Alice, e até agora está tudo em ordem.
Ela mostra resistência de vez em quando, mas não demora muito
para se tornar novamente uma garotinha doce e adorável.
— Brenda, por que não come comigo? Come comigo, por
favor? — pede, com os olhinhos pidão.
Há regras e eu não posso quebrá-las, nem por esse anjinho.
— Prometo que outro dia comemos juntas, pode ser? —
Pisco para ela, que assente.
— Promete? Não gosto de comer sozinha — diz,
entristecida.
Oh Deus.
— Sim, eu prometo. De dedinhos cruzados — digo e ela dá
uma risada gostosa e volta a comer.
Em completo silêncio, observo-a devorar a refeição,
distraída no seu próprio mundinho. Uma hora balança o cabelo,
jogando-o para um lado e para o outro, se remexe na cadeira e
cantarola alguma música de desenho infantil.
— Brenda, você não vai comer o zelope? — pergunta,
depois de um tempo. Acho um charme ela falar o nome da
sobremesa errado.
— Mais tarde. No momento, você é a minha prioridade —
murmuro, apertando de leve a sua bochecha.
— O que é prioridade? — Ela faz uma careta.
— Algo muito importante, que sempre vem em primeiro
lugar. — Tento explicar da maneira mais simples possível.
— Ah! O papai fala que sou a prioridade dele desde que a
mamãe virou estrelinha. Você tem uma mamãe, Brenda? —
Empurra o prato vazio para frente e apoia o bracinho na mesa.
— A minha também virou estrelinha há um tempo —
revelo.
Ela leva a mão à boca e dá um sorriso com os olhos.
— Hm, então nossas mamães são duas estrelinhas!
Os meus olhos ardem com a sua inocência.
— Isso. — Respiro fundo, pegando o guardanapo e
limpando a sua boca e mãos.
— Mas não é bom ser estrelinha, o papai disse que elas não
voltam. — Seu tom fica desanimado e meu coração fica
apertado.
Não, elas não voltam. Se fosse possível trazer de volta
aqueles que amamos, a primeira coisa que eu faria era trazer os
meus pais à vida novamente, mas somos meros mortais,
incapazes de tal proeza.
— Você quer um pouco de sobremesa? — Limpo a
garganta.
— Eu quero comer o zelope com o meu pai. — Faz
biquinho.
— Então, amanhã você come com ele, pode ser? — Ela
assente, silenciosa. — Agora vamos descansar um pouquinho,
depois você escova os dentes para dormir — aviso, me
levantando e a ajudando a sair da cadeira.

Se tem algo que aprendi desde que lido com crianças é que
você nunca deve fazer uma promessa se não tem certeza de que
vai cumprir. Criança cobra e nunca esquece.
— Estou sem sono ainda — fala ela, com o tom triste.
Após o jantar, ficamos vendo desenhos até dar a hora de
ela dormir – por volta das oito –, mas já são nove e nada da
pequena adormecer. Eu contei uma história torcendo para que
ela dormisse rapidamente, só que isso ainda não aconteceu.
Os quartos dos empregados ficam no andar de baixo, e
acho que Maria Alice está com medo de ficar sozinha, já que
não sabemos que horas o seu pai chegará.
— Por que não está conseguindo dormir, lindinha?
Ela vem até mim e coloca a cabeça em meu colo, então me
encara por alguns segundos antes de cessar nosso contato visual
timidamente.
Em um gesto de carinho, passo a mão em seu cabelo loiro e
dou um beijo em sua testa, recebendo um sorriso meigo dela.
— Estou esperando meu pai chegar para me dar um beijo
de boa noite. — Maria Alice me olha dessa vez, sua voz está
desanimada, assim como o seu semblante.
Enquanto o meu coração está apertado, o da pobre
garotinha está partido.
— Eu sei que gostaria que o seu papai estivesse aqui, mas
enquanto ele não chega, o que acha de me deixar te abraçar bem
forte e te dar vários beijos para que você consiga dormir? —
Sorrio para ela.
A menina não diz nada, apenas se levanta e se joga em mim
como se dependesse muito de um abraço. Quando ela afunda o
rosto na curva do meu pescoço, eu acaricio as suas costas,
emocionada com a sua fragilidade.
Ajeito-a em meus braços e a coloco sentada em meu colo,
então começo a cantarolar uma canção de ninar que a minha tia
cantava para mim quando eu tinha a idade dessa garotinha.
É impressionante como sinto a necessidade de proteger
essa menina, colocá-la no meu colo e lhe dar muito carinho.
Paro de cantar assim que percebo que ela foi vencida pelo
cansaço. No fundo, ela estava se esforçando para ficar acordada.
— É, princesa, não sei por que tenho esse sentimento tão
forte por você. Eu te conheço há poucas horas e já te adoro —
murmuro, velando o seu sono.
Com cuidado, eu a coloco na cama, ajeito o seu pijama
branco com alguns desenhos de elefantes e a sua meia rosa,
depois arrumo o travesseiro e, por fim, beijo a sua testa.
— Durma com os anjos — sussurro ao me afastar e apagar
a luz, deixando só o abajur da sua mesa de cabeceira aceso.
Desço a escada com o estômago roncando e com uma leve
dor no abdômen, isso sempre acontece quando demoro muito
para comer. Me doei tanto para Maria Alice nas últimas horas,
que nem tive tempo para comer alguma coisa.
Entro na cozinha e congelo ao me deparar com um homem
alto, com uma calça de pijama de flanela e sem camisa,
deixando à mostra as costas bem-definidas, em frente a geladeira
aberta. Quase engasgo com a minha saliva ao reconhecer o sr.
Bianco.
Quando ele chegou? Nem mesmo foi ver a filha.
Continuo analisando o meu chefe por longos segundos, que
permanece de costas para mim, procurando algo na geladeira.
— Boa noite, Brenda — me cumprimenta.
Dou um pulo para trás, com os olhos arregalados.
Ele me ouviu chegar, mas demorou a me cumprimentar?
Que homem estranho.
— Boa noite, sr. Matteo — respondo ao me recompor, sem
gaguejar.
Ele fecha a porta da geladeira e se vira para mim, seus
olhos automaticamente vão para meus pés descalços e depois,
lentamente, vão subindo por minhas pernas, até chegar ao meu
rosto. No mesmo instante, sinto que fico corada. Não só por ele
me avaliar de uma forma que me deixa desconcertada, mas pela
visão que tenho. Em minha mente, só vem a minha amiga Nanda
pedindo para que eu o observe melhor.
Como se eu já não tivesse feito tal coisa.
— Como foi o seu dia com a minha filha?
Envergonhada, desvio meus olhos para o armário para não
o encarar, quer dizer, o abdômen bonito dele.
— Foi tudo bem. A Maria Alice é uma criança muito
especial, o senhor é uma pessoa de sorte por tê-la. — Volto a
observá-lo e o vejo tirando a sobremesa da geladeira. — Ela
dormiu há alguns minutos, não estava conseguindo. Ela estava
esperando o senhor dar um beijo de boa-noite nela — revelo.
Ele vai até um dos armários e retorna com um prato.
— Antes de ir me deitar, eu vou vê-la. Obrigado por avisar
— diz, sentando-se na banqueta da ilha. Depois de se servir, ele
começa a comer.
— Não precisa agradecer, senhor. Se me der licença, vou
me recolher. — Passo a mão por meu pescoço e traço uma linha
até chegar ao meu ombro para massageá-lo.
O dia foi exaustivo.
— Pensei que tivesse vindo comer. A sua barriga está
roncando desde que entrou na cozinha. — Ele ergue o rosto e me
encara, com aquele olhar que faria qualquer mulher ficar de
pernas bambas. E quando ele dá um sorriso largo, preciso
balançar a cabeça. — E agora está roncando de novo.
Sinto meu rosto arder e meu coração acelerar com a sua
observação.
Que vergonha!
Nem percebi isso, estava distraída apreciando o corpo dele.
— Eu vim, sim.
— Não se incomode com a minha presença, já estou
terminando aqui — avisa, antes de dar uma mordida no zeppole.
Envergonhada, umedeço meus lábios secos com a ponta da
língua e noto que Matteo acompanhou o meu movimento com
seus olhos, me deixando ruborizada ao ser escrutinada.
— A Maria Alice não quis a sobremesa, ela queria comer
com o senhor — conto, assim que me recomponho. Eu o vejo se
levantar para colocar a louça que sujou na pia.
— Amanhã comeremos juntos. — Seu tom é de culpa.
— Ela vai adorar — murmuro.
Ele vem na minha direção com passos lentos, para na
minha frente e olha bem em meus olhos.
Estamos a três passos um do outro.
— Pode comer, não vou te atrapalhar. Boa noite, Brenda, e
seja bem-vinda a minha casa. — Passa por mim e segue em
direção ao andar de cima.
Com o coração acelerado, respiro fundo. Mais recomposta,
pego algo na geladeira para comer. Ao me virar, vejo um celular
em cima da ilha, deve ser do Matteo. Eu o pego para entregá-lo
e a tela acende, logo me deparo com a foto de Matteo e Maria
Alice como tela de bloqueio.
Eles estão lindos. Sorridentes.
— Aí está ele. — Salto para trás e por pouco não derrubo o
celular.
— Ele estava aqui em cima — gaguejando, estendendo o
objeto para o meu chefe.
— Obrigado, Brenda — agradece. Ao pegar o seu telefone,
nossos dedos roçam um no outro e um arrepio se apodera do meu
corpo com o pequeno contato.
— Não há de quê — murmuro, afastando-me dele com a
expressão séria, para que não pense que estou tentando flertar.
— Mais uma vez, boa noite. — Gira nos calcanhares e sai
da cozinha sem olhar para trás.
Assim que entrei em casa, fui direto para o meu quarto
tomar um banho e respirar um pouco. Quando vi a porta do
quarto da minha filha fechada, deduzi que estivesse dormindo,
uma vez que o horário de ela dormir é às oito. Tanto que andei
pela casa em passos silenciosos para não incomodar ninguém.
Também não esperava me deparar com Brenda na cozinha a
essa hora. Ao sentir seu perfume adocicado no ar e me virar, tive
uma visão inesperada. A mulher estava descalça, usando uma
camisola preta simples acima dos joelhos, que moldava as suas
curvas perfeitamente. E quando ela umedeceu os lábios foi
impossível não ficar fascinado com o movimento, para mim, é
particularmente sexy. Sei que não foi intencional, o seu rosto
demonstrou o quanto estava embaraçada com a minha presença.
Assim como eu, ela não esperava encontrar ninguém ali.
Ao ouvir da mulher que a minha filha estava esperando por
um beijo meu, fiquei me sentindo culpado, porque odeio
prometer algo e não cumprir, ainda mais quando se trata da
minha filha.
Realmente, hoje a Daniele conseguiu me segurar na
editora, mas reconheço que poderia ter me mantido firme
dizendo que a minha prioridade é a minha filha. Eu não
precisava ficar até tarde na Bianbooks, já que tenho funcionários
que podem fazer aquele trabalho. Eu sou o dono, posso optar por
trabalhar ou não, e foi até incoerente que eu me dispusesse a tal
papel. Se ela é a editora-chefe, ela que tem que resolver essas
coisas.
Depois de ter terminado a tal avaliação, que não era para
ser algo demorado, minha amiga me convidou para jantar, mas
eu recusei e vim para casa o mais rápido que pude, mesmo
sabendo que encontraria a minha garotinha esperta no segundo
sono.
Em passos silenciosos, entro no quarto de Maria Alice e me
aproximo da sua cama, inclinando o meu corpo um pouco para
dar um beijo em sua bochechinha. Sento-me na beirada da cama
e a observo por alguns minutos.
— Filha, comi só dois zelopes — rio baixinho, usando o
nome errado da sobremesa — para que possamos comer amanhã
no café — murmuro, tocando seus fios loiros. — Sei que vai
estar chateada comigo, mas eu mereço, não cumpri com o nosso
combinado. Saiba que o papai te ama muito, Mali. — Beijo a
testa dela.
Ela se remexe na cama ameaçando acordar, então, com
cuidado, eu me levanto e passo a mão no cabelo, olhando-a uma
última vez antes de deixar o quarto.
Sigo para o meu quarto, que fica ao lado. Antes de me
deitar na cama, pego na mesa de cabeceira o livro que estou
lendo atualmente, um dos preferidos de Camila. Diário de uma
Paixão foi o primeiro livro que dei à minha esposa. Ainda é
fresco em minha memória a Mila chorosa na leitura e ainda
praguejando o Nicholas Sparks por ter esse dom de fazer os seus
leitores chorarem com seus romances.
Inicio a leitura, mas não consigo me concentrar. Ajeito o
travesseiro em minhas costas e tento, outra vez, ler a página em
que parei na noite passada, mas algo dentro de mim me
incomoda. Talvez seja o mesmo sentimento de inquietude que
venho tendo desde que achei o livro perdido em minha prateleira
e que está me fazendo procrastinar.
Largo o livro na mesa de cabeceira e me levanto. Descalço,
sigo até a varanda, encosto meus cotovelos no parapeito e
observo a piscina iluminada pela luz do luar. Engraçado, quando
eu e Mila escolhemos essa mansão para vivermos depois que
descobrimos que seríamos pais, de cara eu a detestei justamente
por causa da piscina.
Porque desde que perdi meus pais fiquei traumatizado,
imaginando tragédias em cima de tragédias, com medo de que
nosso filho pudesse de alguma maneira se acidentar ali e ter o
mesmo fim que os avós. Mas a minha esposa simplesmente
segurou as minhas mãos, olhou em meus olhos e me disse
“Amor, o seu maior algoz é você mesmo. Você precisa superar
os medos, e se essa piscina é um deles, precisa enfrentar. Nada
vai acontecer com o nosso filho, coloque isso em sua cabeça. E
eu estarei sempre aqui para te dizer isso e te apoiar.”
Promessas que não podem ser cumpridas não devem ser
feitas.
Duas semanas depois de ter enterrado a Camila, eu quis
mandar fazer o mesmo com a piscina, porque ela me lembrava a
minha esposa, os meus pais, a minha dor em dose dupla, mas aos
poucos aceitei que eu estava querendo arrumar culpados para
encobrir a minha dor.
Balanço a cabeça e retorno para o quarto, dissipando os
meus pensamentos. Rumo até o meu armário e insiro a senha em
uma das gavetas. De lá, tiro um álbum preto com as siglas na
capa “M&C” – Matteo e Camila – e, em seguida, me sento na
poltrona próxima.
Faz meses que não tenho essa recaída. Todas as vezes que
me lembro dela, preciso olhar o álbum de fotos do nosso
casamento e da gestação de Camila.
Algumas pessoas se sentiriam torturadas por ficar
relembrando o passado, mas, de alguma maneira, fazer isso
alivia pequeno sentimento de culpa em meu peito.
E se ela não tivesse engravidado?
E se ela tivesse escolhido interromper a gravidez?
E se fosse eu a ter que decidir pela vida das duas?
E se eu perdesse as duas?
Esses tantos “e se” me matam por dentro, porque eu jamais
terei essas respostas.
A primeira foto foi tirada quando Camila entrava na igreja,
ela estava sorridente, com um brilho excepcional nos olhos. Na
segunda, já somos nós em frente ao padre, trocando nossos
votos. A terceira é a nossa primeira dança depois de casados. E
as outras mais a frente seguem fielmente a linha cronológica:
lua de mel, a descoberta da gravidez dela até o dia em que Maria
Alice decidiu vir ao mundo. A última foto está longe de ter sido
tirada por um profissional, mas é a mais valiosa para mim.
Com os olhos ardendo e o peito apertado, estudo a imagem
a minha frente. Camila com o seu barrigão, sentada em nosso
sofá ao lado das duas bolsas que íamos levar para a maternidade.
Mesmo diante da dor, ela me pediu para que eu capturasse
aquele momento. Eu nunca poderia imaginar que seria a última
foto que eu tiraria dela.
Eu já aceitei a sua partida, mesmo que não pareça. Mas a
saudade fala mais alto, olhar para as fotografias faz com que eu
me sinta bem com as boas lembranças. A ausência de Mila às
vezes dói, principalmente quando Maria Alice fala sobre a mãe
ser uma estrelinha.
Se todas as estrelas pudessem voltar, a Terra se tornaria
uma constelação.
As horas se passam, e quando vejo já é quase meia-noite.
Bocejando, devolvo o álbum para o mesmo lugar, desligo as
luzes e me deito. Amanhã é um novo dia, um novo recomeço, e
eu preciso voltar à minha rotina.
Após a minha corrida matinal, retorno para casa com o
corpo suado e pronto para tomar uma ducha rápida para, em
seguida, me trancar em meu escritório por algumas horas.
Atravesso a porta dos fundos da cozinha, passando a toalha
em meu rosto e pescoço. Um aroma delicioso de café impregna
em minhas narinas, mas por alguns instantes acho estranho, uma
vez que Tina não chega tão cedo para o serviço. Só então Brenda
aparece em meus pensamentos.
O que ela faz acordada tão cedo?
Observo ao redor à procura da babá, mas só encontro a
cafeteira cheia em cima da ilha e a cozinha vazia. Jogo a toalha
por cima do meu ombro e rumo até o armário para pegar uma
xícara e me servir.
Sirvo-me, em seguida me sento na banqueta da ilha e sopro
a bebida antes de bebericá-la.
Hm, está gostoso. Não está nem fraco e nem forte, nem tão
doce e nem amargo. Na medida certa.
— Fernanda, não são nem seis da manhã e você me
perturbando com isso! Pelo amor de Deus! Vai dormir e esquece
essa sua maluquice. Você me ligou para saber como estou, ou
para saber da beleza alheia? — Escuto a voz da babá soar
próxima e fico curioso, porque o seu tom demonstra irritação.
Ajeito-me na banqueta e olho por cima do ombro, na
direção que vem a sua voz, bem mais próxima do que antes.
Tenho certeza de que ela está voltando para cá.
— Eu também te amo, amiga, mas você cismou com isso. O
sr. Bianco é bem apresentável, tá bom? Te convenci? Agora pare
de me perturbar querendo saber se o meu chefe é gato, isso é
feio! Ele é meu chef...
Brenda quase deixa o celular cair ao se deparar comigo na
cozinha. O seu rosto fica pálido e os seus olhos aumentam de
tamanho.
A princípio, ela abre a boca e fecha, desacreditada em me
ver ali, mas pisca três vezes e ao ter a confirmação, leva a mão à
boca e eu comprimo os lábios para não sorrir com a sua
expressão de horror ao perceber que ouvi o que estava falando
no celular.
Modéstia à parte, sei que sou um homem bonito e atraente,
mas ter a nova babá dividindo isso com uma amiga me intriga.
— Matteo?! — A mulher se atrapalha toda ao me chamar
por “Matteo” e não “sr. Bianco”. — Digo, sr. Bia… Ai, céus! —
Fica nervosa, mexendo no celular.
Eu prendo a risada na garganta ao ver o seu desespero.
— Não me importo em ser chamado de Matteo, Brenda,
contanto que mantenhamos o respeito um com o outro — aviso.
Ela parece que vai infartar a qualquer momento.
— Me perdoe, e-eeu... Estava conversando com a minha
melhor amiga, ela é um pouquinho maluca e... — Ergue o
celular, ficando com as bochechas adoravelmente avermelhadas.
Faz anos que não vejo uma mulher corada de verdade.
— Relaxe, Brenda, já entendi — murmuro, endireitando-me
na banqueta e olhando para a frente.
Pelo canto do olho, vejo-a se mover em minha direção.
— Talvez o senhor tenha ouvido só pela metade, eu não
estava te chamando de bonito. — Se põe na minha frente do
outro lado da ilha.
Eu a encaro com o semblante sério demais, a coitada
percebe o que acabou de falar e novamente fica vermelha.
— Então, estava mentindo para a sua melhor amiga? —
Levo a xícara à boca, escondendo o meu sorriso quando noto a
sua timidez e desespero para me explicar a sua versão.
— Não foi isso, é que ela queria saber se o senhor é bonito.
— Ela se entrega, e pelo seu semblante, sabe que só está
piorando a sua situação.
— Entendo. E o que é ser apresentável para você, Brenda?
— Largo o café de lado e fito-a. A mulher estremece com a
minha pergunta.
— Bom... É uma pessoa normal, decente. — Gagueja um
pouco.
— Mas não bonita? — Não é que eu queira persuadi-la,
mas acho interessante e engraçado o quão atrapalhada fica a
cada segundo que passa.
— Se eu falar a verdade, o senhor vai me demitir? Eu não
tenho nem vinte e quatro horas na sua casa, essa seria a minha
demissão mais rápida. — Massageia as têmporas.
— Nesta casa, eu prezo sempre pela verdade. Sinta-se à
vontade para ser sincera.
A respiração de Brenda oscila e ela meneia com a cabeça.
Eu nunca dei espaço para que as outras babás tivessem por
tanto tempo e em tão poucas horas oportunidade para dialogar
comigo, mas talvez seja porque Brenda é a primeira funcionária
jovem que entra aqui, ou a que mais chamou a minha atenção
por seu comportamento.
Ela é muito espontânea, gosto disso.
— O senhor não é feio, já disse isso para a minha amiga,
só que ela quer que eu fale mais, sabe? Só que eu acho uma falta
de respeito falar que você é bonitão. — Discretamente, ela
analisa meu peitoral e desce por meu abdômen suado até chegar
ao meu short. Não acho que seja intencional me avaliar dessa
maneira, simplesmente acontece.
— Tudo bem, entendi, não precisa mais se explicar. A
propósito, o café estava delicioso. — Levanto-me e sigo para a
pia com o meu copo, e ela faz o mesmo.
— Obrigada. O que vai fazer? — Se põe ao meu lado, mas
fica um pouco distante.
— Lavar o que sujei? — Ergo a xícara.
— Eu posso fazer isso, o senhor é o chefe...
Com a sobrancelha arqueada, observo-a.
— E o que isso tem a ver? Aqui não tem isso de ser chefe.
Sujou, lavou — murmuro, começando a lavar o objeto.
— É a primeira vez que vejo isso. Nos lugares em que
trabalhei, os funcionários faziam tudo — revela.
— A sua função aqui não é ficar lavando os meus pratos,
Brenda, é cuidar da minha filha. — Coloco a xícara no
escorredor e viro-me para ela.
— Sim, eu sei, mas no meu último trabalho de babá, eu
tinha que ajudar a faxineira da casa quando a criança estava no
colégio ou saía com os pais.
Franzo a testa com a sua confissão.
— Mas na sua contratação te avisaram sobre isso? Você
ganhava a mais? — Enxugo minhas mãos no pano de prato e
sento-me à ilha, e ela faz o mesmo, só que do outro lado.
— Que nada! A minha patroa só falava “Brenda, vá varrer
a casa enquanto fulana está lavando os banheiros. As crianças
não estão em casa hoje, então vá ajudar enquanto elas não
chegam”. Como eu não fujo de trabalho e precisava pagar as
contas, fazia de tudo. Não que eu esteja reclamando, sabe? —
Faz uma careta.
— Prossiga. — Fico curioso com a história.
— Nessa de me colocar para ser multifunções, saía da casa
deles bem depois do meu horário combinado. E na hora de me
pagar a hora extra, eu nem via a cor do dinheiro.
Faz tempo que uma mulher não me arranca uma risada
sincera.
— Eu falo demais, não é? — Comprime os lábios, como se
estivesse se reprendendo por dentro.
— Sou um bom ouvinte.
— Percebi — diz baixinho, mas eu escuto.
— Me diga, Brenda. Por que não está atuando na sua área?
— Falta de oportunidade — confessa, suspirando.
— Se a qualquer momento você receber uma proposta
melhor de emprego, irá pedir demissão? — sondo-a, e ela parece
ficar confusa.
Preciso saber se a minha filha corre o risco de ser
abandonada pela babá. Maria Alice pode ser um pouco retraída
no início com as babás, contudo, quando gosta de alguém, é
difícil de desapegar. Ainda mais a minha filha, que mesmo tendo
o meu amor, é uma criança carente e muito sensível.
— Matteo, estava há um tempo sem trabalhar, e a proposta
de vir trabalhar aqui foi a melhor que já recebi em toda a minha
vida, acredite. — Ela me dá um sorriso genuíno. — Não costumo
decepcionar as pessoas que me deram a mão, não se preocupe —
finaliza, seriamente.
E eu espero que seja verdade.
— É bom ouvir isso.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que eu me
levanto, pronto para me retirar dali.
— Brenda, com licença — peço educadamente e ela
assente.
Basta que eu dê as costas para babá para ouvi-la soltar uma
respiração de alívio. Sorrindo, balanço a cabeça e rumo para o
meu quarto. Sinto que hoje o dia será muito produtivo para mim.
Duas semanas voaram.
Na quinta-feira, Matteo pegou a minha carteira de trabalho,
fiquei tão feliz que vibrei por dentro. Juro que pensei que ele
nem iria seguir a diante em me registrar após o episódio na
cozinha, quando fui flagrada em uma ligação com a Nanda.
Embora tenhamos tido uma breve conversa tranquila, em que eu
fui linguaruda e falei mais do que deveria, fiquei criando
paranoias na cabeça. E uma delas era ser mandada para o olho
da rua no dia seguinte.
O.k., talvez eu estivesse exagerando por algo bobo, mas
quem em sã consciência não se angustiaria depois do seu chefe,
que parece ser um homem muito sério, te pegar falando dele?
Por pouco não infartei naquele dia, mas a prova de que ele não
ficou com um pé atrás comigo foi ter seguido com os trâmites
burocráticos do meu registro.
No decorrer das semanas, descobri algumas manias da
menina, nada assustador, continua sendo uma garotinha doce e
cheia de sorrisos. A cada dia gosto mais dela, que retribui o meu
carinho e a minha atenção.
Como lidar com tanta fofura? Maria Alice Bianco é
adorável e já tem um espaço no meu coração. E quando se trata
de crianças, que são a minha paixão, sou fácil de ser
conquistada.
Soube que em alguns sábados as netas de Madalena vêm
para brincar com Maria Alice, mas, infelizmente, hoje as
amiguinhas dela – Isabela e Luísa – não poderão vir, porque
foram passar o final de semana na casa da outra avó. A filha da
Madalena é separada do pai das crianças e eles compartilham a
guarda.
Como a pequena não vai ter alguém para brincar, me dispus
a fazer isso com ela, então acordei antes do meu horário e fiz
todas as minhas obrigações, assim deixo a tarde livre só para
ela.
Desde que cheguei aqui, me comuniquei com a minha tia
quatro vezes, e disse a ela para não se preocupar comigo. Depois
que contei que meus colegas de trabalho são ótimas pessoas, ela
ficou mais tranquila e feliz em saber que estou indo bem. Ela
tinha um certo receio de que eu ficasse cercada por pessoas
maldosas.
Estou me dando muito bem com a faxineira, a Joana. A
Cristina, que chamamos de Tina, uma senhora adorável que é a
cozinheira. O Pedro é o motorista, e a maravilhosa Madalena é a
governanta da casa. Quem ainda não tive a oportunidade de
conhecer melhor foi a professora de piano da Maria Alice, que
essa semana se ausentou. Soube pela Lena que a educadora
pegou virose e o Matteo preferiu que ela ficasse em casa para se
cuidar, e só voltar quando se recuperar totalmente.
Sei que não é certo me intrometer na vida pessoal do meu
chefe, mas como pedagoga, me sinto na obrigação de orientá-lo.
Sei que fui designada a ser babá, contudo, pensei em conversar
com ele para que coloque Maria Alice em um colégio, o mais
próximo daqui, assim eu posso levá-la e buscá-la todos os dias.
A filha dele precisa ter mais amigos, e conhecer novas pessoas a
deixará muito mais sociável e feliz do que já é. Ela tem seis
anos, está na idade de ingressar no colégio, e como ele não me
comunicou nada sobre essa possibilidade, preciso tomar a
iniciativa.
Vou aproveitar que ele está em casa e tentar a sorte. Se eu
receber um não, tudo bem, pelo menos eu tentei. E se receber
um sim vai ser maravilhoso.
— Tina, pode preparar um pouco de salada de frutas para a
Mali, por favor? — peço ao entrar na cozinha.
A cozinheira baixinha de cabelo grisalho sorri para mim
genuinamente.
— Claro, Brenda, em poucos minutos estará pronta. —
Pisca para mim, me fazendo sorrir.
— Obrigada. Estarei na sala de brinquedos com ela, quando
estiver pronta me avisa, pode ser?
— Não se preocupe, eu levo até lá. Você deve estar muito
cansada, a semana toda trabalhando sem parar, e lidar com
crianças não é tão fácil como parece ou pensam. A Maria Alice é
uma menina muito especial... e precisa tanto de você, que acaba
sugando sua energia. — Ela pega as frutas e as coloca no balcão.
— Pode ir, eu levo o lanche da nossa menina.
Maria Alice tem sido amável comigo, e eu com ela, óbvio.
E os dias têm seguido em paz, não houve reclamações de
nenhum dos lados.
— Obrigada, e com licença — agradeço-a, com um sorriso
enorme de satisfação por ter pessoas tão solidárias ao meu redor.
— Ah, Tina, posso te pedir outro favor? — Meu tom é
envergonhado.
— Claro, minha querida. — Fita-me, curiosa.
— Preciso ter uma conversa com o sr. Matteo ainda hoje, e
mais cedo eu o vi entrando no escritório. Se você puder ficar de
olho em Maria Alice um pouquinho enquanto falo com ele...
Prometo não demorar. — Mordo o lábio enquanto a encaro,
ansiosa por sua resposta.
— Sim, sim, filha, que pergunta boba. Mas vá agora antes
que a dona Daniele chegue e roube a atenção dele a tarde toda.
Brenda, nos finais de semana, ela tem a mania de se enfiar aqui
e só vai embora quando dá vontade. Não que eu não goste dela,
mas quando chega, quer mandar nos funcionários como se ela
pagasse o nosso salário, e não o patrão — fala e faz uma careta.
Realmente, nenhum funcionário gosta de receber ordens de
terceiros, ainda mais quando vem de alguém que os maltrata.
Bom, não tenho nada contra a sra. Daniele, a primeira vez
que a vi ela me tratou bem, mas não vou colocar a minha mão no
fogo por ela, já que não nos conhecemos direito.
— O.k., obrigada. Estou indo. — Saio da cozinha a passos
largos.
Receosa, bato à porta do escritório pela segunda vez, e
nada de ele me mandar entrar. Aproximo meu ouvido da madeira
e acabo escutando o que não é da minha conta.
— Dani, se você não vier hoje para a minha casa vou te
agradecer. Quero ficar com a minha filha neste final de semana,
e sei que você vai tentar me distrair e eu quero estar disponível
para ela totalmente.
Fico boquiaberta com a sinceridade do homem, chega até a
soar grosseiro.
— Não. Veja bem, você está me interpretando mal. Eu não
estou rancoroso com algo que aconteceu semanas atrás, na
editora. Eu não disse que a sua presença na minha casa não é
bem-vinda, só estou falando que Maria Alice será a minha única
companhia hoje. Não quero que você venha, porque se vier, não
vai ter a minha atenção. O.k., Daniele, um bom final de semana.
Assim que noto que o silêncio predomina do outro lado da
porta, me afasto rapidamente e bato de novo, esperando que
dessa vez ele me ouça e autorize a minha entrada.
— Sr. Matteo, sou eu, a Brenda — digo, apreensiva.
— Entre.
Coragem, Brenda Correia, coragem! Após uma longa
respiração, entro na sala.
— Aconteceu alguma coisa, Brenda?
A sua pergunta me deixa sem graça por alguns instantes.
— Me perdoe, senhor. — Pigarreio, notando que em vez de
dizer o que quero com ele, fico parada no meio do escritório o
encarando como se fosse uma bobalhona. Mas não é para menos,
o homem está usando roupas casuais e o seu cabelo está um
pouco desalinhado. Matteo parece relaxado, talvez por ser final
de semana.
Sabe quando a pessoa é linda de qualquer jeito? É Matteo
Bianco.
De repente, pego-me lembrando da vez que o vi sem
camisa, com o abdômen cheio de gominhos e o corpo todo suado
por conta da corrida matinal. Não vou negar que por alguns
segundos de distração dele, foi impossível não dar algumas
olhadas, o homem é muito bonito, não tem como passar
despercebido por nenhuma mulher.
— Brenda? O que se passa? — Ele chama a minha atenção,
estalando os dedos, e eu sinto meu rosto arder.
— Desculpe, me distraí. — Pigarreio. — Posso ter uns
minutos do seu tempo? É sobre a Maria Alice. Acredito que seja
importante para ela.
Confesso que não sei como agir quando estou perto dele,
ainda estou me acostumando com a ideia de Matteo ser tão
bonito e elegante.
— Sente-se, por favor. — Aponta para a cadeira, e eu me
sento. — Do que se trata? — Analisa-me cautelosamente.
— Sei que o meu trabalho não é educar a sua filha, muito
menos decidir o que é bom ou ruim para ela, mas gosto de agir
pelo certo, sr. Matteo. — Fixo meus olhos nos seus e o encaro
com seriedade, mantendo a minha postura firme, mesmo que por
dentro eu esteja tremendo de medo de ouvir um não. — A Maria
Alice tem seis anos, e para algumas coisas é um pouco imatura.
Não quero ser intrometida, de forma alguma, e sei que só estou
trabalhando aqui há duas semanas e... — Calo-me, nervosa,
quase tremendo.
— Fale de uma vez, Brenda. Se ficar dando voltas, nunca
vai me dizer o que de fato quer. — Demonstra impaciência com
a minha enrolação, até eu ficaria.
— O senhor não acha que é uma boa ideia que ela
frequente um colégio? Assim ela poderá fazer amigos, aprenderá
a viver com outras pessoas, vai ter mais espaço para um
aprendizado menos rigoroso.
Ele faz um sinal para que eu me cale. Seu semblante
fechado é de fazer qualquer um colocar o rabinho entre as
pernas e sair de fininho.
— E por que achou que pode me convencer a fazer tal
coisa? — Seu tom é calmo, até demais.
— Senhor... a Alice é uma criança maravilhosa, acho que...
— Engulo minhas palavras ao vê-lo me observar com os olhos
semicerrados.
— A senhorita acha ou tem certeza? — indaga, com uma
pitada de diversão, mas volta a ficar sério rapidamente.
— Tenho certeza de que frequentar um colégio fará muito
bem para ela. Maria Alice passa muito tempo nesta casa, com
adultos, sr. Matteo, e criança precisa se relacionar com criança.
— Mordo os lábios enquanto batuco com meus dedos em minha
coxa, o nervosismo me corroendo por dentro.
Estou colocando o meu trabalho em risco, tenho plena
consciência disso, no entanto, essa conversa não poderia ser
adiada. Se importar demais com os outros talvez seja um
defeito, contudo, mesmo que neste momento eu seja demitida
por ter me medito onde não deveria, será por uma boa causa.
— Cadê a Maria Alice? — Ele ignora completamente o
meu questionamento.
— Está na sala de brinquedos. — Passo a mão no pescoço.
Que tensão! Senhor!
— Vá ficar com ela. Pode se retirar agora. — Os olhos
castanhos dele brilham de um modo estranho.
— Sim, senhor. — Assinto, quase trêmula, tentando me
recuperar.
Nervosa, levanto-me e por pouco não tropeço nos meus
próprios pés quando sinto que estou sendo observada a cada
movimento que faço.
Antes ele tivesse dito não, porque além de ter me deixado
ansiosa, fiquei chocada com a sua postura fria e calculista.
— Brenda, espere — chama-me quando já estou com a mão
na maçaneta da porta, que está tão fria quanto o comportamento
dele.
Viro-me para ele, mesmo insegura.
— Sim, senhor? — Fico confusa ao notar que ele está com
a expressão mais suave.
— Eu jamais privaria a minha filha de estudar. Ela já está
matriculada, e você ficará encarregada de levá-la e trazê-la,
confiarei a segurança da Maria Alice a você.
Maravilhada, abro um sorriso enorme que chega a deixar a
minha boca dolorida por alguns segundos.
— Se ela já está matriculada, por que me deixou parecendo
uma boba tentando te convencer e me olhando com essa cara de
mau? — Comprimo os lábios ao notar que falo demais em tão
pouco tempo. Foi no automático, não pude me conter.
— Cara de mau? — Ergue a sobrancelha de um modo
charmoso e me dá um sorriso travesso. O seu sorriso é bonito, os
dentes são perfeitos e branquinhos.
— Não foi isso que eu quis dizer, me expressei mal! —
explico, rapidamente.
— Sei. — Lambe o lábio inferior, demonstrando
divertimento no sorriso contido. — Eu te comunicaria na
segunda-feira, mas como você se adiantou, quis ver aonde
chegaria. — Encosta-se na cadeira e encara-me por um tempo.
— Obrigada. O senhor está fazendo a coisa certa para a sua
filha — agradeço-o, desconcertada com o seu olhar observador.
— Sim, sei que estou. Ainda essa semana mando a
Madalena ir com vocês ao shopping comprar todo o material da
lista de Maria Alice que me enviaram por e-mail. — Seu tom é
de alguém muito pensativo.
— Se me der licença, vou me retirar.
Ele assente com um meneio de cabeça e eu saio do
escritório.
Rumo até Maria Alice, que provavelmente me fará muitas
perguntas pelo motivo da minha demora. Eu disse que só ia
buscar seu lanchinho. Mas a minha demora valeu a pena, valeu
muito, em breve ela irá para o colégio e nada poderia me deixar
mais contente.
— Brenda, você demorou — exclama a garotinha, fazendo
bico quando me vê entrar na sala. Pelo visto, já lanchou, a tigela
está vazia perto dela.
— Desculpe, princesa, estava ocupada. — Pisco e sento-me
no chão ao seu lado.
Os brinquedos estão espalhados por todo lugar, ela é uma
pequena bagunceira, mas que se adaptou a me ajudar a guardá-
los antes de sairmos daqui.
— Estava fazendo o quê? — Me olha com curiosidade,
piscando várias vezes e dando um sorriso sapeca.
— É segredo, mocinha. — Finjo passar um zíper na boca e
ela faz careta.
— Mas amigas de verdade não contam segredos uma para a
outra? — pergunta, pegando uma boneca e penteando o cabelo
dela.
— Quem está te ensinando essas coisas, menina? — Faço
uma careta perplexa e a puxo para os meus braços, enchendo-a
de beijos na bochecha.
— Ei, ei, isso faz cócegas! — reclama, mas gosta, porque
sorri abertamente enquanto seus olhos brilham.
— O.k., Maria Alice. Vou te contar esse segredo, mas
promete que vai ser só nosso? — Faço cócegas na barriga dela.
— Claroooooo, né, bobinha! — Ri e balança a cabeça, logo
em seguida paro de fazer cócegas e aproximo minha boca da sua
orelha.
— O seu papai te matriculou no colégio. Você vai ter
amiguinhos lá, eu vou te levar e buscar todos os dias. — Sorrio
de orelha a orelha.
— Você jura, tia Brenda? — A menina levanta o rosto e eu
noto seus olhos azul-claros brilhantes. Os meus também estão
brilhando, já que é a segunda vez, depois te tantos dias, que ela
está me chamando de “tia”.
— Aham, vai sim, minha linda. — Balanço a cabeça.
Ela sai dos meus braços e se ajoelha na minha frente.
— Eu vou amar estudar e ter amiguinhos! — Vibra,
sorridente.
— Não tenho dúvidas disso. — O sorriso dela me contagia.
Ela se aproxima e me abraça forte, escondendo o rosto na
curva do meu pescoço.
— Posso me reunir com as garotas?
Não só eu fico surpresa, como Alice também. Rapidamente,
viramos o rosto para encarar o pai dela, que está parado na
porta, descalço, com a mesma roupa de antes e olhando para a
filha com carinho.
— Papai?! — Maria Alice não sai dos meus braços, mas
sorri lindamente para o pai.
— Oi, filha. — Matteo se aproxima. Meu coração, não sei
por que, erra as batidas a cada passo que ele dá, que não são
muitos, mas suficientes para me deixar desorientada. — Posso
ficar com vocês? — Ele se agacha e pergunta diretamente para a
filha, que dessa vez me larga e se joga nos braços dele, que a
abraça e beija o rosto dela.
— Pode sim, papai. Ele pode, né, tia Brenda? — Maria
Alice se vira para mim, ainda abraçada ao pai.
— Claro que sim. — Sinto um frio na barriga.
Não faz muito tempo que saí do escritório dele, e agora
estamos mais uma vez frente a frente.
— Do que estavam brincando? — pergunta ele, sorridente,
ao se sentar no chão e colocar a filha em sua perna esquerda.
— Ainda vamos decidir, mas eu gosto de brincar de boneca
e cozinhar — diz, alegre com a presença da pessoa que ela mais
ama.
— E como você brinca, filha? — Matteo passa a mão no
cabelo da pequena.
Ele a estuda tão pensativo que fico curiosa.
— Ah, vou te ensinar, papai. — A garotinha sai do colo
dele e pega algumas panelinhas, uma cestinha e vai colocando
algumas coisas dentro, sempre sob o olhar do pai. — Pra fazer a
comidinha precisamos de um pouco de água, vou pedir a Tina!
— Maria Alice sai em disparada da sala de brinquedos sem olhar
para trás, Matteo nem mesmo tem tempo de abrir a boca para
pedir que tome cuidado.
— Ela está cheia de gás para brincar, e agora que o senhor
veio se juntar a nós, ela vai aproveitar ao máximo para te
ensinar a cozinhar — comento, risonha.
— Já faz um tempinho que ela tenta. — Rimos e nossos
olhares se prendem um no outro.
— Então o senhor não é um bom aprendiz, porque eu já
aprendi até uma receitinha. — Rio baixinho, vendo-o pegar um
dos objetos minúsculos nas mãos e erguer.
— Ah, é? — Um pequeno sorriso surge no canto da sua
boca.
— Uhum — afirmo, lambendo os lábios. Ele observa meu
movimento com seus lindos olhos castanhos.
— Como se abre isso? — Limpa a garganta, fingindo se
concentrar no brinquedo que segura – uma panelinha de pressão.
Arrasto-me até ele, nos deixando mais próximos e de frente
um para o outro. Se um de nós fizer qualquer movimento, nossos
joelhos se tocam.
— Vou te mostrar — murmuro, gentilmente, e ele me
estende o brinquedo. — Não é tão difícil assim...
As palavras fogem da minha boca quando nossos dedos se
roçam ao pegar o objeto. E mais uma vez, estamos nos olhando
fixamente. Eu não sei o que se passa na cabeça dele, mas na
minha há vários pensamentos e um deles é o quanto o meu chefe
é sedutor sem precisar fazer muito.
Matteo não desencosta sua mão da minha e nem eu da dele,
acho que estamos um pouco em choque pelo contato, mesmo que
não seja a primeira vez. Porém agora estamos próximos o
suficiente para sentir a respiração um do outro, e a minha nesse
momento se encontra pesada.
Desorientada, vejo-o vasculhar meu rosto e descer
lentamente até a minha boca. E eu faço o mesmo, sem conseguir
manter o meu controle. Deixando que uma onda de arrepios
percorra por meu corpo, me arrancando uma respiração pesada.
— Cheguei! — A voz eletrizante de Maria Alice me faz
afastar do pai dela como se tivesse sido pega no flagra fazendo
algo de errado.
Com um sorriso vacilante e o coração bombeando
disparado, fito Maria Alice e ela inocentemente senta-se entre
mim e o pai, iniciando um falatório.
Ainda em choque, dou atenção a pequena quando me pede
para ajudá-la com as suas panelinhas, e mesmo com a cabeça
abaixada, sinto estar sendo vigiada por Matteo.
Por Deus. O que acabou de acontecer aqui?
Em duas semanas, Brenda se mostrou tão dedicada à minha
filha que foi impossível não ficar satisfeito com a recomendação
da minha governanta. Quando Madalena me falou sobre a
Brenda, ela disse que eu não iria me arrepender. Acreditei nela e
acabou que deu certo. Para mim, duas semanas sem queixas de
ambos os lados é uma vitória.
Não houve uma reclamação sequer de Madalena ou dos
seus colegas de trabalho, muito menos da Maria Alice. O fato da
minha filha estar encantada pela Brenda me deixa curioso, até
um tempo atrás Mali não conseguia aceitar outras babás, a única
que a agradava era Renata. Não sei se o fato de ser mais alegre e
sorridente fez com que a minha menina se encantasse por sua
cuidadora, ou se é por ser tão bem tratada. Mas fico com a
segunda opção.
As outras babás que a Marcela enviava não eram tão
dedicadas, e acho que essa mudança de cenário deixou Maria
Alice mais confortável, afinal, nenhuma das que passaram por
aqui a tratava como a “tia Brenda”. Embora durante esses dias
tenha focado mais em meu trabalho para conseguir um resultado
rápido, não sou cego, vejo a diferença, mesmo em tão pouco
tempo.
Quando Brenda veio me pedir para colocar Maria Alice em
um colégio, confesso que me surpreendi, mas antes que eu
cometesse o erro de ser grosseiro com ela, me permiti realmente
escutar o que ela queria falar, mesmo que já tivesse matriculado
Maria Alice no colégio.
Devo me lembrar de agradecer a Brenda por estar sendo tão
carinhosa com a minha filha. É nítido o vínculo que elas estão
criando, qualquer pessoa que fique no mesmo ambiente que elas
consegue notar a cumplicidade.
Quando entrei na sala, há quase meia hora, eu as peguei
abraçadas cochichando. Um sentimento de admiração se
apoderou dentro de mim, não sei descrever exatamente o que
todo esse cuidado de Brenda com a minha pequena me transmite,
mas é uma sensação boa, como jamais havia sentido com as
babás anteriores.
Talvez o meu deslumbre se dê com o fato de que o meu
bem mais precioso tem estado em boas mãos, ou porque a
mulher consegue encantar todos ao seu redor, principalmente a
mim.
O fato é que tenho reparado nela demais, e os seus
pequenos gestos têm roubado a minha atenção, assim como os
seus belos olhos levemente esverdeados e sorrisos fáceis.
Não sou somente eu que tenho a observado demais, vira e
mexe eu noto seus olhos em mim, mesmo que tente disfarçar.
Como agora, que está cabisbaixa desde que Maria Alice quase
“nos flagrou” próximos demais. O semblante dela está
desconfiado, e a cada movimento que faz franze o nariz, que eu
acho uma gracinha – pequeno, fino e arrebitado. Brenda está
fazendo de tudo para evitar contato visual comigo, vez ou outra
arqueia as sobrancelhas castanhas, que são bem preenchidas e
arqueadas. E quando não é isso, mexe no cabelo que tem um
corte abaixo dos ombros.
— Papai, não é assim que se faz! — Maria Alice me
repreende, mas a minha atenção estava no rosto de Brenda, que
até alguns segundos atrás parecia distraída enquanto mordia os
lábios de um modo inocente, ao tentar tampar uma panelinha de
brinquedo.
— E como é? — Fito a minha filha e depois Brenda, que
agora nos observa com a diversão estampada em seu rosto.
— Vou te ensinar, papai, não se preocupe. — Ela se senta
na minha perna, olha para Brenda e depois para mim, pensativa.
— Antes de preparar a comida, temos que escolher a sobremesa,
não é? — Passa a mão no queixo e dá um sorriso sapeca.
— Sim — responde Brenda, levando a sério cada palavra
dita pela criança.
— Eu sei que o papai gosta de tilamisù e zelope. — A
pequena comprime os lábios. — Qual a sua sobremesa favorita,
tia Brenda?
— Hm, eu amo pudim. — Pisca para Mali.
— Vamos fazer, então! — decide Maria Alice. — Papai, me
ajude a fazer a sobremesa. — Pega o objeto em minha mão e sai
do meu colo para recolher algumas coisas no chão.
— O.k., senhorita Master Chef. — Rio baixinho.
— Acho que vamos ter que deixar a sobremesa para outra
hora, porque os nossos ingredientes acabaram.
— Pode ser, princesa — murmura Brenda.
— Concordo, filha, e eu também não levo jeito para fazer
comida. — Comprimo os lábios.
— Claro, papai, a sua mão é muito grande, olha o tamanho
das comidinhas. — Alice pega uma das minhas mãos e a abre,
colocando o objeto na palma.
Rio ao perceber que Brenda acompanha seus movimentos,
parecendo realmente séria, assim como a minha filha.
— Viu? Não dá. Acho melhor a gente brincar de boneca. —
A garotinha esperta se afasta, indo até as prateleiras e pegando
algumas bonecas.
Depois de um bom tempo brincando com Maria Alice,
sentado desconfortavelmente no chão e com dor nas costas,
ainda me mantenho no lugar.
De costas para a gente, minha filha cantarola uma música
de um desenho infantil. Ela tem essa mania quando está
completamente distraída e conversando animadamente com as
bonecas.
— Matteo... Quero dizer, sr. Matteo, está no horário do
almoço de Maria — diz Brenda, envergonhada por seu deslize.
— Pode ir almoçar, Brenda, e tire algumas horas de
descanso. Depois que eu e Maria Alice almoçarmos, passaremos
a tarde juntos — digo, recebendo a atenção da minha filha de
imediato.
— Oba! — exclama Mali, com um sorriso enorme.
— Pode ir, Brenda.
— Sim, senhor. — Sorri.
Olhar Brenda se torna mais interessante quando ela fica
tímida. Agora mesmo estou fazendo isso, gravando cada detalhe
do seu sorriso, que é espontâneo, relaxado e sincero.
Querendo deixar Brenda mais à vontade, eu me levanto e
disfarço rapidamente quando ela me pega olhando em sua
direção.
— Com licença. Até depois, pequena! — Brenda pisca para
a criança.
— Papai, deixa a tia Brenda comer com a gente? Sabia que
quando ela demora muito para comer, fica com dor na
barriguinha e se sente mal? Se ela almoçar com a gente, vou
poder cuidar dela se doer, assim como cuida de mim.
Assim que Maria Alice para de falar, Brenda parece se
engasgar. Olho para ela e a vejo com a mão no peito e com os
punhos fechados perto da boca, tentando se recompor.
As crianças são fiéis até certo ponto, Brenda.
Escondo o sorriso ao perceber que a mulher está mais
recomposta.
— Está tudo bem? — pergunto, mantendo a distância, mas
preocupado por ver que seus olhos estão vermelhos e mais
arregalados.
— Tá sim, obrigada — diz, sentindo-se visivelmente
exposta por minha pequena linguaruda.
— Tia Brenda, o que aconteceu? — pergunta a menina
inocentemente ao se aproximar.
— Nada, princesa. Vou deixar você com o seu pai. Até
mais tarde. — Dá um sorriso sem graça antes de beijar a cabeça
de Maria Alice, que a segura pelos quadris.
— Por favor, tia, come com a gente. Se o meu pai não disse
nada é porque ele deixa. Não é, papai? — implora, sem querer
soltá-la.
Os olhos tensos de Brenda se fixam nos meus, então ela
morde os lábios, nervosa ao me notar calado demais
— Sim, filha, a Brenda pode almoçar com a gente —
concordo, não achando uma má ideia.
Será interessante passar mais tempo observando-a.
— Meu bem, a tia tem que fazer outras coisas antes de
comer. E não quero incomodar vocês. — Brenda tenta
desconversar, acho que ela não percebeu ainda que Maria Alice
é mais inteligente do que nós dois juntos quando quer.
— Sabia que é feio recusar o pedido de uma criança? —
Minha loirinha faz bico e me olha com os olhos marejados.
Cristo. Sobrou para mim.
— Por favor, almoce com a gente. A Maria Alice não vai
desistir tão fácil. — Ela tem a quem puxar. Afago o cabelo da
minha filha e recebo um sorriso dela.
— Diz que aceita? — A menina serelepe bate os cílios para
a sua babá, que semicerra os olhos e depois de um tempo sorri.
— O.k., mocinha, você venceu — diz, sentindo-se
derrotada.
E eu sinto-me vitorioso, mesmo que não devesse.
Maria Alice, por sua vez, solta gritinhos de vitória e
entrelaça a mão na da Brenda e, em seguida, vira-se para mim e
estende a outra.
— Vamos, papai?
Por fim, eu seguro a sua mão.
— Vão na frente, preciso arrumar aqui. Já encontro vocês
— diz Brenda, olhando para os brinquedos.
Mas dessa vez eu que a impeço de fugir com um meneio de
cabeça negando.
— Deixe para depois — peço, gentilmente.
Ela engole em seco e concorda.
Quando saímos da sala de brinquedos, ambos presos nas
mãos de Maria Alice, eu e Brenda sem querer trocamos um olhar
rapidamente, até que ela se acovarda e fura a bolha que criamos.
**
Brenda passou a maior parte do tempo se alimentando de
um modo tímido, até que se sentisse mais confortável para se
soltar. Quem conseguiu fazê-la largar a timidez por estar diante
do chefe foi Maria Alice, que começou a tagarelar e arrancar
algumas risadas dela. Aproveitei o momento para iniciar um
diálogo com ela também. Descobri que foi criada pela tia desde
a morte dos pais, e elas são muito apegadas. O relacionamento
delas é muito saudável e cheio de cumplicidade.
Além da tia Lorena, tem a Fernanda, que é a sua melhor
amiga desde a infância. Essa é a maluquinha – assim ela a
chamou – que estava a pressionando para saber se eu era “gato”
pessoalmente. Só de lembrar do seu rosto ficando vermelho ao
mencionar o episódio sinto vontade de rir.
— Muito obrigada pelo convite, sr. Bianco — Brenda me
agradece, se levantando e começando a recolher algumas
travessas de vidro da mesa.
— Não precisa agradecer. O que está fazendo? — indago,
observando-a.
— Retirando a mesa? — Franze o cenho, enquanto continua
a recolher os pratos.
— Sim, eu sei, mas esse trabalho não é seu. Pode deixar aí.
— Levanto-me também.
— Não faz mal ajudar, sr. Matteo, não se preocupe. — Mas
é teimosa...
— Brenda, você foi contratada apenas para cuidar da Maria
Alice, então não precisa retirar os pratos do nosso almoço. —
Vou até ela do outro lado da mesa.
— Bobagem, acredite. — Junta os talheres.
— Você é muito teimosa — resmungo baixinho e ela ri. —
Vou te ajudar — decido, pondo-me ao lado dela, que se retrai um
pouco. Percebo até que prende a respiração por alguns instantes.
— Não é necessário, eu posso fazer isso. — Ergue o rosto
para me encarar.
— Eu também posso. — Sorrio e ela comprime os lábios.
— Mas o senhor é o chefe. — Faz uma careta engraçada.
— E você a babá, não a ajudante da cozinha — retruco,
ignorando-a e pegando as travessas que se tornam um pouco
pesadas juntas.
— Nada do que eu diga vai te fazer mudar de ideia, não é?
— Estuda-me, escondendo o sorriso.
— Não vai — afirmo, prendendo a risada ao vê-la balançar
a cabeça.
— Tudo bem, só não quero ser advertida por estar fazendo
o meu chefe trabalhar — brinca.
— O único que poderia fazer isso sou eu, então, relaxe —
Entro na brincadeira e ela ri baixinho.
— Por alguns instantes me esqueci. — Encolhe os ombros,
divertida.
— Exato! — Estalo a língua.
— Acho que vamos precisar de uma bandeja, vou à cozinha
buscar. — Prende o lábio nos dentes e solta devagar.
Eu observo o seu gesto e... essa porra é muito sensual.
Percebi que ela costuma fazer esse tipo de coisa quando está
distraída ou pensativa, e mesmo que não seja intencional, vê-la
morder o lábio se tornou algo muito sexy para mim.
— Tudo bem. — Continuo observando a sua boca enquanto
ela está focada nos utensílios à sua frente.
Que diabos tenho na cabeça para ficar secando a cuidadora
descaradamente? Se controle, Matteo.
Engolindo em seco, pigarreio e arrumo a minha postura.
— Matteo, o sr. Mancini está na linha. — Madalena
surgindo na sala de jantar, com o telefone em mãos, faz com que
eu me afaste de Brenda rapidamente.
— Alberto Mancini, Lena? — inquiro, surpreso com a
ligação.
— Ele mesmo. — Ela me entrega o telefone. — Deixei a
ligação em espera. — Alterna um olhar desconfiado entre mim e
Brenda, que pede licença de forma quase inaudível e sai dali a
passos largos.
— O.k. Obrigado, Madalena. Pode se retirar. — Minha
governanta assente e sai. — Alberto? — pergunto, assim que tiro
a ligação da espera.
Estamos há dois anos sem contato. A última vez que nos
vimos foi na feira de livros que, como prefeito de Vale Santo,
ele ajudou a organizar. Fui como um dos autores convidados.
— Sim, sou eu mesmo, Matteo — garante.
— Quando a Madalena me disse que era você, fiquei
surpreso — confesso, sorrindo e puxando uma cadeira para me
sentar.
— Faz anos, não é? — Dá uma risada.
— Sim. — Puxo o ar para os pulmões.
— Muita coisa para dois amigos de longa data.
Nós nos conhecemos através dos meus sogros, quando eu
ainda era noivo da Camila, durante um aniversário na casa dos
Mancini. Como meus sogros eram amigos de longa data do
prefeito, fomos convidados.
Na época, estava iniciando a minha carreira como escritor.
O senhor Mancini é uma das pessoas para quem devo o meu
sucesso. Por ser um homem influente, me passou muitos
contatos na época em que eu buscava realizar meus sonhos.
— Sim — afirmo, passando a mão por minha barba.
— Como está? — sonda-me.
— Mais velho e pai de uma garotinha adorável de seis anos
— falo orgulhoso, e ele ri. — E você? Como tem passado?
— Imagino. Continuo como prefeito em Vale Santo e sou
avó de duas crianças lindas. A esposa do meu filho Andreo teve
uma menina dessa vez. — Seu tom é mais orgulhoso do que o
meu.
— Meus parabéns! — Sorrio, sincero.
— Obrigado. Confesso que encontrei o seu número perdido
por aqui, Matteo. Peço até desculpas por entrar em contato só
agora, mas a vida tem sido corrida demais — comenta.
— Tem sido mesmo. Mas o importante é que estamos nos
falando novamente.
— Verdade. Te liguei para fazer um convite. — Curioso,
ajeito-me na cadeira e fico atento ao que diz. — Daqui a dois
meses, vou lançar uma biografia e gostaria que marcasse
presença no evento, que é tão importante para mim.
— Nem tenho palavras para agradecer pelo convite. —
Sorrio, feliz pela notícia. Anos atrás, ele me disse que se me
contasse a sua vida desde o início, daria um livro.
— Levei três anos para escrever a minha autobiografia,
mas valeu a pena. E agora que estou satisfeito, quero poder
dividir essa conquista com os meus amigos — revela, exultante.
— É claro que eu vou, Alberto! Como recusar um convite
desses? Estamos falando de um livro! — Rimos.
— Pois é! Ficarei grato por sua presença, Matteo, não
imaginei que fosse me responder tão rápido, mas fico feliz com
o retorno imediato.
— Só preciso que me passe o dia e a data para verificar se
vai conciliar com a minha agenda, mas ainda assim, te garanto
que o seu convite será a minha prioridade. — Levanto-me da
cadeira e sigo para o meu escritório, mas no meio do caminho
diminuo meus passos ao encontrar Brenda de costas, com Maria
Alice em seu colo.
— Já te passo o dia e a data, só me deixe confirmar em
minha agenda — pede.
Eu fico em silêncio e aproveito que não sou percebido para
ficar ali no batente da porta da sala, observando as duas.
A cena é linda de se ver. A mulher está distraída,
acariciando o rosto da minha filha e cantarolando baixinho
alguma música de ninar. O tom sereno e o modo como trata a
minha pequena faz meu peito bater acelerado. Dizem que se
alguém quer conquistar um pai ou uma mãe o melhor caminho é
através de seus filhos. Brenda está conseguindo isso. Se alguém
tem o meu bem mais precioso, tem a mim também.
— Matteo, farei o evento em Vale Santo, na minha casa —
informa, em seguida passa a data e o mês do lançamento.
— Tudo bem. Vou me organizar para poder marcar
presença.
Minha voz chama atenção de Brenda, que me olha por cima
do ombro e depois foca em Maria Alice, que certamente já está
dormindo, porque não se move.
Esse colo deve ser muito gostoso para a minha filha ter
dormido com tanta facilidade.
Balançando a cabeça, peço ao prefeito que diga novamente
o que tinha me dito antes de eu me distrair, e ele repete a
informação.
— Traga a sua filha, meus netos irão adorar brincar com
ela — fala, gentilmente.
— Vou levar, sim — confirmo, indo até o aparador onde
fica a base do telefone.
— O.k. Matteo, até breve. E vá me mandando notícias até o
evento.
Nós nos despedimos, então coloco o aparelho de volta na
base e caminho até Brenda, que ajeitando minha filha em seus
braços.
— Faz alguns minutos que ela dormiu. Me pediu para
contar uma historinha e acabou pegando no sono, mas é bom que
ela descanse — comenta, ao me ver parar na sua frente.
— Sim. Me dê ela, eu a coloco na cama — peço,
inclinando-me em sua direção. Pego Maria Alice, que se remexe
em meus braços, mas não acorda.
— Brenda, daqui a dois meses vou a um evento em outra
cidade. Se cair de sábado para domingo, vou querer que me
acompanhe para me ajudar com a Maria Alice, tudo bem? — Já
estou fazendo planos e nem sei se a mulher estará conosco até
lá, mas ela garantiu que não costuma deixar as pessoas na mão.
— Sim, senhor, por mim tudo bem. — Sorri.
— Ótimo. Você pode tirar um tempo para descansar —
aviso.
— Obrigada, mas antes preciso organizar aquela sala de
brinquedos — murmura, levantando-se.
Balanço a cabeça em confirmação e subo com Maria Alice
para o quarto. Eu ia dizer que deixasse para arrumar a sala de
brinquedos outra hora, mas se é um desejo dela, vou deixar que
faça. Não quero que ache que estou confundindo as coisas,
embora me encontre admirado demais por ela.
O quanto errado pode ser o fato de meu chefe e eu
estarmos trocando muitos olhares nos últimos dias? E que toda
vez que percebo que ele me encara, o meu coração bate
acelerado e eu sinto um frio na barriga como se fosse uma
adolescente?
Bem, eu tenho duas preocupações: é ele quem paga o meu
salário e como Madalena irá reagir se souber que tenho reparado
demais no nosso patrão? De forma alguma quero envergonhá-la,
ainda mais por ela ter me recomendado para a vaga de babá.
O Matteo é um homem muito bonito, sabe como atrair a
atenção de uma mulher com simples gestos, e o modo como
cuida da filha, se doa para ela, tem mexido bastante comigo. É
linda a relação deles, e eu tenho admirado em silêncio o paizão
que o meu patrão é para a pequena Maria Alice.
Não vou dizer que o acho perfeito, mas posso afirmar que é
o homem que qualquer mulher sonharia em ter ao lado para
construir uma família. Ele é educado, gentil, inteligente... o
pacote completo.
Eu ando acordando e indo dormir pensando nele. Como
isso é possível? Preciso tirá-lo da minha cabeça antes que seja
tarde demais. E o fato de ter me comunicado sobre a viagem que
fará daqui a dois meses me deixou ainda mais pensativa. Se o
Matteo está fazendo planos para o futuro é por estar contente
com o meu desempenho, isso é muito bom.
Não posso me sentir atraída por meu chefe. É um absurdo.
Eu não sou assim.
Não sou...
Eu poderia dizer que consigo fazer uma lista enorme com
motivos para não ver Matteo Bianco como um homem sedutor,
mas o problema é que não há nada que o torne desinteressante.
Ele é tudo de bom.
— Foco, Brenda! — Balanço a cabeça, dissipando os
pensamentos.
Preciso entrar em contato com a tia Lorena para saber dela
e já estou há alguns minutos sentada em minha cama, segurando
o bendito celular sem fazer nada, apenas pensando em um certo
viúvo charmoso que tem roubado os meus pensamentos.
Fecho os olhos e respiro fundo por alguns segundos, então
entro nos meus contatos e clico no nome da minha tia. Aposto
que estava esperando a minha ligação, pois ela atende no
primeiro toque.
— Bom dia, tia Lorena. — Sorrio, passando os dedos entre
os fios do meu cabelo e o jogando para trás.
— Bom dia, minha filha. Como estão as coisas por aí?
Hoje é domingo, então vem para casa, querida? Eu fiz um bolo
de chocolate, o seu preferido — diz alegremente, fazendo com
que meu sorriso aumente.
— Está tudo bem, tia. Ainda não sei se meu chefe vai me
liberar, qualquer coisa eu te aviso. Hmm, já estou com água na
boca só de imaginar como o bolo deve estar delicioso — digo, e
ela ri do outro lado da linha.
— Tá certo, Brenda. Espero que ele te libere, já estou com
saudade — declara, me deixando com o coração apertado de
saudade.
— Também estou, tia. E como está? Está tudo bem por aí?
Tem se alimentado direito? A Nanda tem ido te ver? — pergunto
tudo de uma vez, sem dar tempo de ela responder a uma
pergunta sequer.
— Respire, filha. As coisas por aqui estão ótimas. E a
doida da Fernanda passou aqui duas vezes, conversamos e
depois ela foi embora.
— Fico feliz que ela tenha ido te fazer companhia. — A
minha melhor amiga é incrível.
— Ela é um pouco doidinha, mas é uma pessoa
maravilhosa.
Eu concordo plenamente.
— É sim, ela é incrível demais.
De repente, alguém bate à minha porta, me deixando
rígida. Bate outra vez sem nem me dar tempo para responder.
— Tia, estão me chamando. Depois eu retorno. Beijos. Te
amo. — Encerro a ligação e deixo o celular na cama enquanto
vou atender a porta.
— Já v... — Calo-me ao abrir a porta e me deparar com o
meu chefe, que me encara sem graça. Ao seu lado está Maria
Alice, com os olhinhos brilhando em minha direção.
É fofo demais ver os dois de mãos dadas. E não parece que
ela acordou agora. Não está de pijama e nem com o rosto
marcado de sono. Maria Alice está com um vestido azul-marinho
com algumas bolinhas brancas, mas o seu penteado não está
nada bom.
Seguro a risada, e ela ri ao perceber que estou encarando o
seu rabo de cavalo torto e emaranhado.
— Oi, tia Brenda — me cumprimenta alegremente.
— Oi, princesa. — Sorrio para ela e pisco. — Bom dia, sr.
Matteo — cumprimento-o em seguida.
— Bom dia. — Ele faz uma pausa, parece envergonhado.
— Desculpe vir até o seu quarto, mas será que pode dar um jeito
no cabelo dela? Eu até tentei fazer certo, mas acho que não
consegui. — Sorri, olhando para o desastre na cabeça da filha.
Matteo deveria sorrir sempre, isso o deixa ainda mais
bonito.
— Brenda, o meu pai me ajudou a tomar banho, sabia? E
também a colocar a roupa, mas quando tentou arrumar o meu
cabelo, o pente enroscou na minha cabeça e eu quase fiquei
careca — conta, fazendo uma careta engraçada. — Mas pelo
menos ele tentou, né? Aí, como eu sou muito inteligente, falei
que é melhor pedir ajuda pra você. — Suas bochechas ficam
levemente avermelhadas.
— Fez o certo. — Dou risada ao me agachar na frente dela.
— Acho que podemos dar um jeito no seu cabelo lindo. —
Aperto de leve a sua bochecha e ela faz careta com meu gesto,
mas não resmunga, apenas assente e solta a mão do pai.
— Obrigada, tia Brenda. Já volto, me espera aqui! — Ela
me dá as costas e sai correndo em direção à escada.
Não sei como agir e muito menos o que falar, então olho
para qualquer lugar, menos para o meu chefe, que continua
parado no mesmo lugar, esperando a filha retornar.
— Tentei me virar, mas a Maria Alice não gostou muito —
ele se manifesta, quebrando o silêncio entre nós.
— Percebi. — Rio, sem graça, encostando-me no batente
da porta. — É... o senhor vai precisar de mim hoje? — Quase
gaguejo no processo, porque eu o flagro encarando a minha
boca.
— Não. — Limpa a garganta quando nota que o peguei com
o olhar nada discreto em meus lábios. — Assim que você
terminar de pentear o cabelo da Maria Alice, peço ao Pedro para
te levar à sua casa. A menos que tenha alguém para te pegar...
— Não, eu não tenho ninguém — impressiono-me com a
minha rapidez para esclarecer.
Que desespero é esse, Brenda?
— Sério? Uma mulher tão...
— Volteeiiii!
Ao ouvirmos a voz e os passos de Maria Alice, o sr. Matteo
comprime os lábios e balança a cabeça.
Uma mulher tão o quê? Por Deus, vou morrer de
curiosidade, porque não ousarei perguntar. De jeito nenhum.
— Tia Brenda, trouxe minhas coisinhas para que possa
pentear meu cabelo. — A menina se aproxima com uma cestinha,
sorrindo de orelha a orelha.
— O.k., vou deixar seu cabelo lindo, mocinha! — Engulo
em seco, tirando a minha atenção do seu pai quando ela me
entrega a cesta com alguns assessórios, escova e pente.
— Vou te esperar na sala, Maria Alice. — Ele gira nos
calcanhares e nos deixa sozinhas.
A pequena invade o quarto e se senta na minha cama, então
faz um sinal para que eu me aproxime e logo estou sentada ao
seu lado.
— Agora venha aqui.
Pego as coisas dela e começo a desfazer a bagunça que o
pai causou na sua cabeleira loira. Passo alguns minutos lutando
para desatar os nós antes de fazer um penteado bonito.
— Prontinho, meu amor. E me lembre de dizer ao sr.
Bianco que não é para assassinar o seu cabelo — brinco e ela
gargalha docemente.
— Tia Brenda, por que não chama meu pai só de Matteo
igual a Lena?
A sua pergunta, mesmo sendo inocente, me faz quase me
engasgar com a minha saliva.
— É por questão de respeito, Maria Alice. Ele é meu chefe,
não devo me dirigir a ele pelo primeiro nome. Tem gente que
não gosta — explico gentilmente.
— Mas o meu pai não é carro para você dirigir. — Ela
demonstra uma certa confusão.
Rio alto ao perceber que ela só prestou atenção nessa
palavra.
— “Dirigir” também significa “falar com alguém”,
princesa. O que eu quero dizer é que não posso tratar seu pai se
fôssemos amigos, pois é errado. Eu sou funcionária dele e tenho
que me comportar como tal.
Por fim, acho que ela entende, uma vez que não me faz
mais perguntas, somente se levanta e me olha com curiosidade
por alguns segundos.
— E por que eu posso te chamar de “você” ou pelo seu
nome? — Faz bico e põe a mão no queixo, parecendo me
analisar.
Seguro o riso. Não, ela não entendeu.
— Porque somos amigas, e amigos se tratam assim.
— Hmm, entendi! — Ela me dá um sorriso. — Obrigada
pelo penteado, Brenda — Maria Alice me surpreende com um
abraço forte.
E antes que eu possa dizer “não precisa agradecer”, ela sai
do quarto como um raio.
Quando Matteo me chamou por Brenda pela primeira vez,
achei que tivesse sido um descuido, mas assim que o fez
novamente, meus olhos quase saltaram do meu rosto tamanho foi
o susto que tomei. Confesso que fiquei tocada ao ouvi-lo me
chamar pelo meu nome, foi algo tão certo e ao mesmo tempo
sexy.
Meu Senhor, o que estou pensando?
Que errado é esse meu pensamento. Não posso sentir
atração pelo meu chefe. É errado. Muito errado. Demais.
Afastando meus pensamentos malucos, fecho a minha porta
e começo a arrumar alguns pertences para ir para a minha casa.
Não vou levar muita coisa, já que volto amanhã cedinho. As
horas passam tão rapidamente, que nem vamos poder curtir
muito o nosso tempo juntas, mas o importante é que iremos nos
ver, que irei matar a saudade que sinto dela.
Antes de ir, tenho que me despedir da pequena, ela
provavelmente ficará chateada se eu não fizer isso. Acho que
nem sabe que estou de saída, mas sei que ficará em ótima
companhia e que seu domingo será maravilhoso.

Deixei a mansão com o coração pequenininho. Quando


Maria Alice soube da minha folga, fez uma carinha de choro,
mas eu não poderia deixar de ver a minha tia, uma vez que no
próximo domingo não terei folga, pelo menos é o que eu acho.
Quando eu estava saindo da casa, ela me surpreendeu ao
vir com o pai até a porta para me dar um abraço e dizer que já
estava sentindo saudade. Quando ela me fez prometer que
voltaria, eu me senti muito especial com o seu pedido. Não me
passou despercebido que Matteo também reparou no quanto a
garotinha dele gosta de mim, o homem até sorriu divinamente ao
ver a filha se pendurar no meu pescoço e me encher de beijos.
Assim que Pedro me deixa na porta de casa, me deparo com
a minha tia e a minha amiga me esperando do lado de fora. Eu
só consigo sorrir e agradecer por ter as duas na minha vida.
Fiquei fora só por alguns dias e elas já estavam morrendo de
saudade. Ao entrar, Fernanda começa a me encher de perguntas
sobre o meu emprego. Tomo banho, almoço e ela continua
falando e falando.
— Você já disse que leu um livro dele? — inquire.
— Claro que não. — Comprimo os lábios.
— Por que não? — ela quer saber.
— Porque o meu foco naquela casa é a Maria Alice, e não
falar sobre o livro dele — justifico e ela revira os olhos.
— E o que uma coisa tem a ver com a outra? Aposto que o
seu patrão adoraria saber que você é uma admiradora dele.
Quase engasgo-me com a minha própria saliva e começo a
tossir.
— P-pelo a-amor de Deus, Nanda! — Massageio minha
caixa torácica, tentando me recuperar da tosse. — Não sou
nenhuma admiradora e nem me lembro direito da história. Não
vou chegar do nada e falar “eu já li um livro seu, sr. Bianco”. —
Bufo.
— E por que se engasgou com que eu disse? — Semicerra
os olhos.
— Pelo modo como você falou. — Encolho os ombros e ela
me encara desconfiada.
— Está acontecendo algo entre vocês?! — pergunta,
vibrante.
Se Fernanda souber das nossas trocas de olhares
certamente surtará, e eu não quero que coloque mais minhoca na
minha cabeça, uma vez que estou fazendo isso por conta própria.
— Não! — respondo rápido demais e a minha melhor
amiga dá uma risada.
— Ainda não, você quer dizer, né? — Me cutuca na
costela.
— Fernanda, ele é o meu chefe! Enlouqueceu? E pare de
ficar falando essas coisas, daqui a pouco a tia Lorena escuta e eu
não quero que ela pense que posso prejudicar a Madalena no
emprego...
— Amiga, a Lorena está na cozinha, é impossível ela ouvir
algo que dissermos aqui no quarto — me interrompe.
— Mas já pensou se ela ouve? Eu vou morrer de vergonha
se ela achar que em vez de ir trabalhar, vou tentar conquistar o
meu chefe?! — Limpo a garganta.
— Você adora complicar as coisas, não é? Esses seus
argumentos não são válidos para mim. — Faz uma careta.
— Por que você é tão insistente, Nanda?
— Porque somos melhores amigas desde sempre? E porque
você está com uma expressão de boba desde que chegou da casa
do bonitão? — Sonda-me, como um diabinho.
— É coisa da sua cabeça, sinto muito. — Afasto-me dela,
que gargalha.
— Não quero que se sinta pressionada com as minhas
perguntas, mas que você está com um brilho diferente nos olhos,
está. — Cruza os braços.
— Você sempre me vence pelo cansaço, né?
Ela gargalha mais uma vez.
— Não que seja a minha intenção. — Faz um biquinho
ridículo.
— Te odeio, sua vaca má — brinco e acabamos rindo.
— Não se esqueça que somos melhores amigas e eu estou
aqui para te ouvir, te apoiar, te xingar... — ela lista e eu faço
uma careta.
— Não está acontecendo nada entre nós. — Respiro fundo,
unindo minhas mãos. — Não sei se vai chegar a acontecer, mas
temos trocado alguns olhares, e eu tenho pensado muito nele,
embora ache errado. — Umedeço os lábios.
— E é errado por quê? Por acaso o seu chefe é
comprometido para que fique com esse pensamento? — Ela toca
na minha mão.
— Nada indica que ele tem uma namorada, mas um homem
como ele certamente tem alguém — murmuro, sentindo uma
boba pontada de ciúme.
— Então quer dizer que você tem nutrido sentimentos por
ele? — Seu tom é sério.
— O meu chefe tem mexido comigo. O fato de ele ser
educado, inteligente e ter aquele ar de misterioso tem despertado
algo dentro de mim. — Mordisco o interior da minha bochecha
ao admitir algo que queria guardar só para mim.
— Normal, Brenda. Só se você fosse cega para não
enxergar aquele monumento diante de você. — Ela se abana
exageradamente e eu dou uma risada nervosa.
— Esse é o problema, amiga, eu enxergo até demais. —
Suspiro.
— Se eu tivesse um chefe gostoso como Matteo Bianco,
ficaria muito fogosa, e estou te achando tranquila demais! —
Exibe um semblante safado.
— Sabe que não sou assim. — Rio baixinho.
— Não é mesmo. Se fosse eu, já teria agarrado aquele
homem e o beijado muito. — Faz caras e bocas.
— Fala como se fosse simples. — Contenho minha risada,
porque isso é um assunto muito sério.
— E não é? Se estão trocando olhares é porque querem a
mesma coisa, só estão esperando que o outro tome a iniciativa.
— Bufa.
— Há uma criança envolvida nisso tudo, Fernanda. Não
posso colocar a minha atração por Matteo na frente da minha
prioridade, que é a Maria Alice. — Nervosa, passo a mão por
meu cabelo.
— Verdade, não pensei por esse lado. — Por fim, entende
meu raciocínio.
— E aposto que o Matteo pensa assim também, então não
serei eu a dar o primeiro passo para algo que talvez seja somente
coisa da minha cabeça. — Minha amiga me abraça pelos ombros.
— E tudo em você nesse momento está gritando “estou
muito atraída por Matteo Bianco”. — Ela não diz brincando e
isso me afeta.
— Admito que sim.
— Quer um conselho?
Ergo o rosto na sua direção.
— Apenas deixe rolar e veja o que acontece. — Pisca para
mim.
— É o que tenho feito.
— Ótimo. Se esse homem estiver atraído por você também,
ele vai dar um jeito de você saber.
— Daqui a dois meses, ele tem um evento em outra cidade
e ele me disse que irei para cuidar da filha dele. — Mordo os
lábios e os olhos de Fernanda se iluminam.
— Se ele está te incluindo na viagem, é porque te quer por
perto! — Dá uma risadinha.
— Não vamos também por esse caminho. O Matteo
obviamente irá precisar de alguém para ficar com a Mali.
Meus pensamentos voam para Daniele, a prima da esposa
falecida dele. Eles parecem ser tão próximos. Talvez seja ela a
pessoa com quem ele se relaciona? Foi a única mulher que vi
entrar naquela casa e pareciam tão íntimos.
Eles são amigos, ela é a editora-chefe dele... e
provavelmente tenham... algo.
Mas ele se relacionaria com a prima da falecida mulher?
— Brenda, acorda! — Nanda estala os dedos na frente do
meu rosto. — Escutou o que eu disse?
— N-não, me distraí! O que você disse? — Pigarreio.
— Amiga, eu acho que ele nem precisa levar a filha, só que
quer que você vá junto e arrumou essa desculpa — diz,
maliciosa.
Nego com um gesto de cabeça.
— A mãe de Maria Alice tem uma prima, a Daniele, ela é
bem bonita, elegante e muito educada, e pensando bem... — um
incômodo bate em meu peito — eles podem ter algum
relacionamento e eu estou aqui interpretando mal os gestos dele.
— Ou eles também podem não ter nada. Pare de ser tão
pessimista, pelo amor dos céus — me recrimina.
— Depois do André, aprendi a ser assim quando se trata de
homens. — Falar do meu ex safado embrulha meu estômago.
— Quando for falar de homem, tira aquele traste do meio,
amiga! — retruca, brava.
— Pois é. — Respiro fundo.
— Falando nele, soube que o safado está com uma coroa
cheia do dinheiro em Vale Santo, já trocou de namorada.
Faço uma careta com a informação.
— Pobres mulheres que caem na lábia daquele gigolô. —
Realmente sinto pena delas, o André é mestre em enganar as
pessoas, é o rei da manipulação.
— Pelo menos você se livrou daquele abutre antes que
fosse tarde.
— Ele que terminou comigo, mas não deixa de ser um
livramento também. — Massageio meu pescoço.
— Exatamente! Agora vamos focar no mais importante, me
conte tudo o que aconteceu de interessante naquela casa que
envolva você e o Matteo — pede.
— Antes de ser dispensada essa manhã, ele e a Maria Alice
foram até o meu quarto para que eu pudesse arrumar o penteado
dela. — Pauso minhas palavras ao ver Fernanda vibrar com um
sorriso enorme. — A Mali foi buscar as coisas dela no andar de
cima e ficamos somente nós dois. Acredita que ele tentou me
sondar para saber se tinha alguém para me levar embora? E
depois quase me elogiou. Quer dizer, acho que seria algum
elogio, mas a filha dele chegou antes e ele se calou.
Conto a ela como começaram as nossas trocas de olhares
com mais detalhes e que eu o flagrei fitando a minha boca várias
vezes. Minha amiga, como sempre sendo exagerada, dá alguns
suspiros de sonhadora, me levando a quase fazer o mesmo que
ela, até que a minha tia bate à porta do meu quarto e nos
calamos.
— Meninas, trouxe algo para vocês comerem.
Nanda se levanta da cama e vai ajudar tia Lorena, que está
com uma bandeja com dois pratos com um pedaço do bolo de
chocolate em cada um deles, uma jarra de suco de laranja e dois
copos.
— Você é um anjo, tia Lorena! — digo, ao vê-la colocar a
bandeja na mesa de cabeceira.
— Concordo, Brenda! — Nanda sorri.
Tia Lorena está prestes a nos servir quando eu me levanto
para impedi-la.
— Podemos fazer isso, tia. — Inclino-me e beijo sua
bochecha.
— Não seja boba, filha, sei que deve estar muito cansada e
só tem poucas horas para descansar — diz, sendo teimosa, ao me
entregar um prato.
— Também quero ser mimada, tia Lore. — Rimos com o
que Fernanda diz.
— Aqui tem mimo para as duas!
Enquanto dou uma garfada na fatia do bolo de chocolate,
tia Lorena enche os copos com o suco.
— Hmm, que saudade eu estava de vocês, de tudo,
principalmente do bolo. — Solto um gemido, sentindo a massa
derreter em minha boca.
— Dona Lorena, não sei por que ainda não virou
confeiteira, seus bolos são deliciosos, muitas pessoas iriam
comprar. Tenho certeza disso — comenta minha amiga antes de
colocar um pedaço do bolo na boca.
— Você acha, Nanda?
— Agora vou ficar ofendida, tia! Eu sempre disse isso à
senhora — reclamo, deixando a educação de lado e falando com
a boca cheia.
— A sua opinião não conta, Brenda, você é a minha
sobrinha. Se a massa sair solada, você vai dizer que está
perfeita. — Crispa os lábios.
— Tia! — repreendo-a e Nanda gargalha.
— Diga que não? — Tia Lorena sorri.
— Lógico que não! Se a senhora me ouvisse, poderia parar
de se dedicar tanto tempo aos artesanatos e estaria ganhando
bem mais com os bolos. — Volto a comer.
— Para começar, eu precisaria de capital e isso eu não
tenho. Hoje em dia está tudo caro, o leite, nem se fala —
argumenta.
Vou ganhar um bom salário sendo babá da Maria Alice, o
que o pai dela me ofereceu dá muito bem para fazer um
investimento inicial na minha tia, e aos poucos vou pagando
minhas contas.
— Vou investir na senhora! — decido, colocando meu prato
na bandeja depois de terminar de comer e pegar o suco para
tomar.
— O que disse? — Tia Lorena arregala os olhos.
— Isso mesmo que ouviu. Vou receber muito bem no meu
emprego e posso dar uma parte dele para a senhora começar os
bolos. — Os olhos dela se enchem de lágrimas.
— Eu apoio e ainda vou sair espalhando para todos que a
dona Lorena agora é confeiteira! — fala Fernanda, animada.
— Filha, sei que você tem muitas contas pendentes, deveria
pensar em você primeiro...
— Quando a senhora assumiu a responsabilidade de cuidar
de mim pensou em você primeiro? — contra-argumento e ela
nega com um gesto de cabeça. — Então, pronto! Pode começar a
fazer os orçamentos, e assim que chegar o dia do meu
pagamento, faço uma transferência para a senhora! — Vou até
ela e a abraço.
— Obrigada, minha sobrinha. — Sua voz soa embargada.
— Sou eu quem agradeço por ter cuidado de mim todos
esses anos. — Beijo a sua cabeça.
— Eu também quero me unir a esse abraço — fala Nanda.
Olhamos para ela, que vem até nós.
— Você também faz parte dessa família — falo,
emocionada.
— Claro que faço, e você que diga o contrário — concorda,
nos arrancando uma risada.
Ficamos ali abraçadas por alguns minutos, até que nos
afastamos e Fernanda me convida para ir a um barzinho à noite.
É um encontro entre amigos, mas recuso e digo que na próxima
vez marcarei presença. Ela me compreende quando justifico que
quero descansar um pouco e aproveitar as poucas horas que
tenho ao lado da minha tia.

Algumas horas depois de Nanda ter ido embora, minha tia e


eu fomos preparar o nosso jantar. Ela não ia me deixar ajudá-la
alegando que eu precisava aproveitar meu tempo em casa e que
queria me mimar, mas fui persistente e logo nós duas estávamos
na cozinha, dialogando sobre coisas banais até que o delicioso
strogonoff de carne ficou pronto para comermos.
— Filha, essa semana eu estive falando com a Madalena e
ela te elogiou muito. Fiquei toda cheia de gosto!
Faz meia hora que terminamos de jantar e agora estamos
vendo um filme na sala.
— Sério, tia? — Ergo o rosto para encará-la, que acaricia
meu couro cabeludo, quase me fazendo dormir.
— E eu ia mentir, menina? — me repreende.
— É modo de falar! E então, o que mais ela disse? —
Sento-me, dobrando uma perna debaixo da outra e pegando em
sua mão em seguida.
Será que a Madalena disse para a tia Lorena alguma coisa a
mais e ela não quer contar? Desde o almoço com a Maria Alice e
o Matteo, percebi que a governanta tem nos observado
atentamente.
— Que a menina já te adora e que o senhor Bianco ainda
não fez nenhuma reclamação do seu serviço. Tenho fé que ele
não fará, porque você é uma excelente funcionária — me elogia.
Meu coração bate acelerado com o comentário dela.
— Espero que sim, tia. — Sorrio.
— Você é muito dedicada, Brenda. Logo esse homem verá
como foi o certo te contratar e vai te encher de elogios — diz,
sorridente.
Suspiro ao pensar em Matteo me elogiando.
— Tomara que sim. — Acaricio a mão dela.
— Espere só pra ver. Filha? — Sua voz soa distante.
— Sim, tia? — Fito-a carinhosamente.
— Eu não ia comentar isso, até porque você é maior de
idade e sabe o que faz. Mas por acaso você tem uma quedinha
pelo seu patrão?
— Nnão, tia. — Meu coração congela. — Por que a
pergunta? De onde a senhora tirou isso?! — Sinto meu sangue
fugir do rosto.
— Sem querer, acabei ouvindo um pouco da sua conversa
com a Fernanda, não toda ela, mas te ouvi falar da troca de
olhares que tem tido com o seu chefe.
Arregalo os olhos com a sua confissão. A última pessoa
que eu gostaria que soubesse disso era minha tia. Droga! Eu
sabia que conversar com Nanda sobre esse assunto em casa seria
ruim.
— Tia, não gosto de mentir para a senhora, nunca fiz isso e
não será agora que farei, mas não quero que me interprete mal.
— Respiro fundo e ela assente.
— Eu peguei a conversa pela metade, Brenda, não entendi
direito. Só fiquei preocupada com a Madalena, vai que ela se
chateie comigo e...
— A senhora é como uma segunda mãe pra mim, sabe
disso, né? — Umedeço os lábios, vendo seus olhos se encherem
de lágrimas.
— Claro que sim. — Balança a cabeça.
— Então me deixe te contar tudo do início para que não
entenda nada errado — peço, com seriedade. O que menos quero
é que ela e a amiga rompam por minha causa.
— Estou te ouvindo. — Une a minha outra mão na dela.
— O senhor Bianco tem chamado muito a minha atenção.
— Engulo em seco, reprimindo a minha vergonha, e narro para
ela o mesmo que falei para a minha melhor amiga horas atrás.
Eu me surpreendo com o semblante da minha tia, que vai
suavizando aos poucos. — Mas prometo que vou tentar evitar a
todo custo aquele homem, tia. Sei que estou lá para trabalhar e
não ficar encantada por ele — finalizo, com firmeza, mas com
uma pontada de incerteza.
— Brenda, eu não acho certo você começar a nutrir
sentimentos pela pessoa que vai pagar o seu salário, mas
também não posso te julgar. — Olha bem em meus olhos.
— Eu sei disso tudo.
— E se esse homem só quiser te usar e depois te magoar?
Já pensou se ele fez o mesmo com as babás anteriores, por isso
que ninguém para lá? — Seu tom é preocupado.
— Não, não. Isso eu garanto que ele não fez, pelo menos
não ouvi nenhum rumor que o Matteo tenha se envolvido com
funcionárias.
— Você não pode ter certeza disso, ainda é nova lá. —
Suspira.
— Ele não parece ser esse tipo de homem — murmuro.
— Ninguém parece ser nada até que você o conheça de
verdade.
— Isso é — concordo, pensativa.
— Eu só não quero que se deixe levar por um momento de
deslumbre e se magoe profundamente. Já não basta o que o
infeliz do André te fez. — Comprime os lábios.
— Tia, fica tranquila, apenas tivemos algumas trocas de
olhares, nada de mais. Ele nunca se insinuou para mim.
— Só cuide desse coração, Brenda. Você é uma menina
muito boa, uma pessoa má intencionada poderia te machucar
facilmente — aconselha.
— Também não sou ingênua, dona Lorena. A decepção que
tive com o André me ensinou muito — murmuro, entristecida,
mas não por ainda sentir algo pelo meu ex, e sim por ter
permitido que ele me fizesse de otária.
— Tenho tanta raiva daquele miserável, que se o visse na
minha frente, eu o encheria de tapas! — diz, raivosa.
— É passado, e não vale a pena. — Eu a puxo para um
abraço.
— Sim, é verdade, mas a lei do retorno está aí para
qualquer um. — Roga praga mesmo que não seja diretamente.
— Sim. — Suspiro, ainda a abraçando.
Eu não costumo ser rancorosa, mas com certeza será uma
dessas mulheres mais velhas que irá mostrar a ele como é que se
brinca com os sentimentos dos outros. Algumas pessoas
escolhem não amar, mas ninguém nesse universo é imune ao
amor, quer queira ou não.
— Papai, fica quieto, estou quase terminando o penteado!
— Suspirando, aperto os olhos ao sentir puxões em meu couro
cabeludo.
— Ainda não terminou? Eu já cochilei, acordei e nada de
esse cabelo ficar pronto.
— Quase lá! — Passa uma vez mais o pente em meu
cabelo.
Maria Alice parece estar ligada no 220v esta noite. Depois
que jantamos, viemos para sala maratonar alguns desenhos
favoritos dela na Netflix, eu dormi mais do que assisti, mas a
minha filha fazia questão de me balançar e reclamar que eu tinha
cochilado. Pensei que depois de passar algumas horas vendo
televisão, a minha garotinha serelepe iria dormir rapidinho, mas
ledo engano, ela inventou de pegar o seu kit de salão que ganhou
da minha nonna.
Acho que o que mais faz meu couro cabeludo doer é o fato
de os acessórios serem brinquedos. Como pude me prestar a
isso? A resposta é simples: o que um pai não faz pelo seu filho?
Maria Alice pediu tanto, que acabei cedendo, me rendi ao vê-la
pedir com tanto carinho.
— Filha, o papai já está com dor de cabeça — aviso,
erguendo o rosto para encará-la, que sorri travessa.
— Falta um pouquinho, só vou colocar as xuxinhas. —
Com uma mão, ela segura uma mecha mais longa do meu cabelo,
enquanto com a outra pega o pacotinho de acessórios ao seu
lado.
— Xuxa, Mali? — resmungo, ouvindo a sua risadinha.
— Sim, papai! Você vai ver como ficará bonito.
Derrotado, fecho os olhos e a sinto prender meu cabelo de
um lado e depois do outro. Ela nem demora para finalizar, pois
está craque nisso, já que penteia suas bonecas. Pobrezinhas,
ainda bem que não sentem nada. Essa não é a primeira vez que a
deixo pentear meu cabelo, mas esse penteado é novidade para
mim.
— Quem te ensinou isso? — sondo-a, rindo de nervoso e,
em seguida, fazendo uma expressão de alívio quando ela se
afasta e se senta no braço do sofá.
— O penteado?
Assinto, evitando ao máximo passar a mão em meu cabelo
para confirmar o penteado que fez em mim.
Maria Alice apoia os cotovelos nas coxas e o rosto nas
mãos antes de sorrir para mim.
— A tia Brenda. Ela já fez em mim e eu gostei, papai —
declara, com os olhos brilhando.
E tinha que ser justamente eu a cobaia?
— Entendi. — Pigarreio ao me lembrar da mulher que tem
atormentado meus pensamentos nos últimos dias.
— Vou mostrar como ficou! — decide, se levantando.
— Estou ansioso por isso — minto, sorrindo, observando-a
vasculhar a sua maletinha cor-de-rosa, com algumas figurinhas
coladas, e tirando de lá um miniespelho.
— Primeiro, fecha os olhos — pede.
Eu a obedeço, fingindo não saber que ela fez uma maria-
chiquinha em mim, que provavelmente vai me render uma bela
dor de cabeça mais tarde de tanto que puxou.
— O.k. — Fecho apenas um e deixo o outro semiaberto.
Maria Alice acha graça e solta uma risada divertida.
— Assim não pode, papai! — reclama.
— O.k. O.k. — Rio, obedecendo-a.
— Eu vou contar até três e você olha, tá bom? —
recomenda, animada.
— Sim — concordo, prendendo a risada.
Pela movimentação da minha filha, tudo indica que saiu do
sofá. Ainda de olhos fechados, ouço ela pigarreando antes de
soltar uma risadinha, então ajeito minha postura rapidamente.
— Tá pronto?
— Sim — afirmo.
— Um, dois, três e já!
Abro os olhos e deparo-me com Maria Alice na minha
frente segurando o seu miniespelho rosa ornamentado.
Eu preciso olhar duas vezes para ter certeza do que estou
vendo. O que me assusta não é a maria-chiquinha, são minhas
pálpebras pintadas em um amarelo cheio de brilho e as minhas
bochechas em um tom vermelho. O meu rosto está uma
verdadeira bagunça, a única coisa que se salvou foi a minha
boca. Se Maria Alice tivesse um batom, com certeza teria
passado em mim.
Em que momento ela me maquiou e eu nem vi, ao menos
senti?
— Maria Alice. — Comprimo os lábios, e de olhos
arregalados, fito a minha filha que tem uma mão tapando a
metade do rosto com um sorriso travesso. — Quando você fez
isso?
— Ah, papai, você estava dormindo um pouquinho e nem
percebeu — justifica, sorridente ao colocar o pente na mesa de
centro atrás dela.
— O que eu faço com você, sua menina serelepe? — Tiro
os prendedores do meu cabelo enquanto levanto-me do sofá e ela
começa a rir, então aproveito o seu momento de distração e a
pego no colo.
— Papaiiiiii, desculpaaaaa!!! — exclama, rindo quando
faço cócegas nela.
— O quê? Não vou desculpar, Mali. — Rio, sendo
contagiado por sua alegria.
— Desculpaaaaa — pede, gargalhando, então eu paro de
fazer cócegas.
— Não sei se aceito. — Fingindo estar bravo, fecho a
expressão e ela boceja.
Eu tenho uma pequena atriz em casa.
— Papai, eu tô com sono — murmura, encostando o rosto
em meu ombro.
— Jura, filha? Há poucos minutos estava cheia de energia.
— Toco na barriga dela com a ponta dos dedos e ela dá uma
risadinha abafada.
— É sério. — Passa o braço no meu pescoço e boceja
novamente.
Mesmo sabendo que é manha para se safar do que fez, eu a
ajeito em meus braços e rumo até a escada para que eu possa
levá-la para o seu quarto.
— Pai? — me chama, enquanto subo o degrau.
— Sim, Mali?
Minha garotinha ergue o rosto para me encarar.
— Amanhã a tia Brenda vem, né? — indaga, me deixando
curioso.
— Vem sim, mas por que a pergunta? — Ando pelo
corredor com pouca iluminação.
— Porque a tia Renata era boa também e foi embora. —
Meu peito se aperta ao ouvi-la.
— A Brenda não vai embora — garanto, mesmo sem saber
o que o futuro nos reserva.
— Você promete? Ela cuida de mim — diz, enquanto entro
em seu quarto após abrir a porta com o pé.
Odeio fazer promessas, e manter a babá da minha filha em
nossa casa por muito tempo não é algo que posso garantir. Eu
nem sei como será daqui para a frente, se ela realmente irá ficar
conosco.
— Vamos colocar o pijama? Qual você quer vestir hoje? —
Mudo de assunto, colocando-a na cama e rumando até o seu
armário de roupas.
— O Meu Pônei Pequeno.
— É Meu Pequeno Pônei, Mali. — Um dos seus desenhos
favoritos. — O.k., mocinha, enquanto isso, vá escovar os dentes.
— Começo a vasculhar uma das gavetas onde ficam os pijamas.
— Tá bom.
Como a noite está fria, pego um par de meias do mesmo
desenho com a camisola e coloco as peças na cama, antes de ir
ao banheiro verificar Maria Alice.
— Com mais cuidado, Mali, você pode machucar a
gengiva. — Encosto-me no batente da porta com os braços
cruzados e observo a menina em cima do banquinho, em frente
ao espelho escovando os dentes.
Em poucos minutos, ela termina e voltamos para o quarto.
Eu a ajudo trocar de roupa e colocar as meias, em seguida ela se
deita na cama e eu deposito um beijo em sua testa.
— Boa noite, papai — deseja, sorrindo.
— Boa noite, filha. — Acaricio sua bochecha.
— Você poderia contar uma historinha para mim? — pede.
Eu já tinha imaginado que pediria, porque adora dormir
depois de ouvir uma boa história.
— O que você quer que eu leia? — Olho para a prateleira
do outro lado na parede com alguns livros infantis.
— A Pequena Sereia! — Bate palmas.
Sigo até a prateleira e pego o livro, então me sento na
beirada da cama. Antes de iniciar a leitura, puxo o cobertor para
cima do seu corpo.
— Era uma vez, uma pequena sereia...

Assim que Maria Alice dormiu, deixei o seu quarto e vim


diretamente para o meu. Aproveitei para limpar a bagunça que
ela fez em meu rosto no banho, que durou longos minutos até
que eu conseguisse tirar com sucesso os vestígios da
maquiagem.
Ainda de toalha, pego meu celular na mesa de cabeceira
onde o deixei horas atrás e vejo algumas mensagens de Daniele
no WhatsApp. Dani enviou mais de cinco áudios e fez duas
ligações.
Eu me sento na cama ao lado e coloco o primeiro áudio
para reproduzir. Ela me deseja boa-noite e pede desculpas por
me incomodar em um domingo à noite, mas que é importante.
Nem termino de ouvir os outros, porque o telefone começa a
tocar com uma ligação dela.
— Boa noite, Matteo — fala assim que a atendo.
— Boa, Daniele. Comecei a ouvir os seus áudios agorinha.
— Encosto-me na cabeceira.
— Nem precisa terminar, vou falar sobre o que era. — Sua
voz está mais séria do que habitual.
— Pode falar.
— Liguei para te lembrar da sessão de autógrafo que está
marcada há alguns meses. — Ela me lembra do pequeno evento
que será no shopping do centro da cidade de Monte Verde, de
fato, eu já tinha me esquecido dele.
— Qual o horário? — inquiro, após minha editora-chefe se
calar.
— Começará às dezenove. Está tudo pronto para amanhã,
basta que você esteja lá no horário.
Daniele está estranha. Eu a conheço há anos, sei que algo a
incomoda, o seu tom de voz a entrega. Ela está agindo de um
modo frio, como se eu tivesse feito algo a ela.
— O.k. estarei lá — afirmo. — Aconteceu alguma coisa?
Você parece chateada. Daniele— sondo-a, arqueando a
sobrancelha. Do outro lado da linha, ouço seu suspiro longo.
— Que bom que você perguntou, Matteo — fala, como se
estivesse magoada.
— Pois prossiga — peço, levantando-me.
— A tia Luiza me ligou para me convidar para o
lançamento do livro do prefeito de Vale Santo e ela deixou
escapar que você irá com a Mali. Você nem me contou nada,
Matteo. — Seu tom é acusatório.
Franzo o cenho ao ouvi-la mencionar a avó da minha filha.
O prefeito Alberto deve ter informado a Luiza, que se achando
no direito de se intrometer em minha vida, correu para contar
para a sobrinha.
— Dani, eu te adoro e somos amigos, mas não acredito que
devo te informar sobre todos os meus passos, não é? — Coço a
nuca.
— E-eu não estou te cobrando nada... Só estranhei não ter
me dito, já que quando precisa levar a Maria Alice para algum
lugar, eu vou junto para te ajudar com a ela — gagueja,
nervosa.
— Sabe o que eu acho disso tudo? A mãe da Camila te liga
para falar da minha vida, mas não tem coragem de me ligar para
saber da neta — falo, friamente.
Até hoje, eles não aceitam a escolha de Camila e a partida
dela. Não tanto o senhor Donato, meu sogro, mas a esposa dele o
induz a manter um certo distanciamento da minha filha. Sou
imensamente grato por não fazerem falta a Maria Alice. Faço
questão de dar a ela todo o meu amor para que não sinta que
algo está faltando.
Mesmo que minha sogra não expresse com palavras, sei
que guarda rancor. Maria Luiza, bem lá no fundo, tem raiva de
mim e acha que sou culpado pela morte da minha esposa.
— Matteo, sabe que eu não concordo com o
comportamento dos meus tios em relação a Mali, ela não tem
nada a ver com o que aconteceu com a Mila, mas você tem que
entender que eles são pais e nunca vão aceitar a morte da
Camila. — Tenta justificar algo que nunca poderá ser
justificado.
— E por acaso a minha filha, uma criança inocente, tem
culpa disso? Os seus tios são egoístas, Daniele. Acha que eu
também não sofri ao perder a mulher da minha vida? Passei
todos esses anos criando a Maria Alice sem a ajuda deles, não
me lembro de uma única vez a Maria Luiza vir aqui trocar uma
fralda da neta ou se dispor a ficar com ela nos finais de semana!
— desabafo, irado.
— Eu sinto muito, você tem razão — diz, por fim,
parecendo envergonhada pelos tios.
— Antes da Camila falecer, eu era o melhor genro e marido
do mundo — lamento, com a garganta arranhando. — Bastou que
Mila partisse para que Maria Luiza e Donato dessem as costas
para a neta. — A raiva cresce em meu peito.
— Vai precisar que eu cuide da Maria Alice em Vale Santo
para você? Sei que sempre tem um coquetel depois do evento e
crianças não podem ficar — desconversa, sem jeito.
— Não preciso. A Brenda irá conosco, ela vai ficar com a
Mali — aviso, ouvindo o seu ofego de surpresa.
— M-mas e-eu sempre fiquei com ela...
— Eu sei que você sempre se disponibilizou para me
ajudar, Daniele, mas não é necessário que se preocupe com isso
dessa vez. — Umedeço os lábios. — Sabe que não gosto de te
incomodar, e agora parece que finalmente encontrei uma
profissional para cuidar da minha filha.
— Está me descartando?
— Dani, você está interpretando tudo errado. — Passo a
mão por meu pescoço.
— Mas pela maneira como falou, está bem claro que não
sirvo mais para você ou para a sua filha — acusa e eu aperto os
olhos.
— Daniele, não leve por esse caminho, eu não te disse isso.
— Bufo, irritado.
— Matteo, tenha uma ótima noite. Fico feliz que a nova
babá esteja atendendo às suas necessidades em tão pouco
tempo. — Ela desliga na minha cara, me deixando perplexo com
a sua atitude.
Daniele está com ciúme da Maria Alice, quero acreditar
que seja da minha filha, porque ela sabe que não tem direito
algum sobre mim, nunca dei brecha para que agisse de tal
maneira. E se for realmente ciúmes da Mali, ela irá surtar
quando souber que Madalena irá com Brenda ao shopping fazer
as compras do colégio, porque a minha filha começa a estudar
em breve.
Dani é uma mulher ocupada, comanda a Bianbooks para
mim, e eu não vou tirá-la do seu trabalho para ir ao shopping
comprar material escolar da minha filha. E muito menos darei
motivos para que se ache no direito de me cobrar alguma coisa.
Ainda sem acreditar, fito a tela do celular pela última vez
antes de procurar uma roupa para me vestir e dormir.
Na segunda pela manhã, sigo fielmente a minha rotina.
Mais cedo, antes de sair de casa para correr, recebi uma
mensagem da minha governanta avisando que hoje ela teria de
chegar um pouco mais tarde. Suas netas lhe fizeram companhia
no fim de semana, uma delas passou mal e tiveram que levar
para emergência.
Como a filha dela trabalha em uma empresa com pessoas
difíceis de lidar, preferiu ser ela a se responsabilizar pela neta
no hospital. E é claro que eu dei apoio a ela, e ainda deixei o
meu motorista a sua disposição.
Maria Alice ainda dorme e não irá acordar tão cedo. O
Pedro já saiu para buscar Brenda, uma hora dessas já deve estar
retornando, confirmo ao verificar no relógio em meu pulso que
são sete e quarenta.
Sentado e tomando uma xícara de café, encosto no sofá e
fito a porta da sala. De repente, meus pensamentos voam para
meus sogros.
Vale Santo é uma cidade pequena, com certeza o prefeito
Alberto mencionou o convite que me fez, ou alguém que é
próximo dele contou aos pais de Camila. Bom, não me incomodo
em saberem sobre a minha ida à cidade que moram. Embora eu
não deva nenhuma satisfação a eles, fiquei puto com o fato de
que Maria Luiza consegue ser tão fria quando se trata da minha
filha, a indiferença dela me mata, mesmo que eu tente dizer que
não. Como pode ser tão megera com o seu próprio sangue?
Querendo ou não, Maria Alice é um pedaço da Mila, uma
pequena parte dela que deixou para nós, mas a mãe dela não
compreende isso e acredito que nunca irá.
Espero que realmente saibam que estão fazendo ao se
manterem longe da neta, porque quando virem o erro que estão
cometendo, será tarde demais. Mali não será uma criança para
sempre, e quando ela crescer, será uma decisão dela querer ou
não se relacionar com eles, mas enquanto for menor de idade
farei de tudo para que a minha pequena não se desaponte com os
avós que tem, se é aqueles dois podem ser intitulados assim.
Fecho os olhos e balanço a cabeça para afastar os
pensamentos, mas a porta sendo aberta atrai a minha atenção,
então olho naquela direção e me deparo com a Brenda entrando
na casa.
Cada centímetro da minha pele queima como se eu tivesse
sido posto perto de um fogo. Ela está cabisbaixa, ainda não me
notou, e daqui posso sentir o aroma do seu perfume doce e foral,
como a dona. E fode com o meu juízo o aroma ser tão delicioso
quanto a pessoa que o usa.
Essa é a primeira vez que a observo melhor sem o uniforme
e, caralho, nem parece que sou um homem experiente de trinta e
seis anos. Eu já tinha noção do quanto a mulher tem me atraído
apenas com algumas trocas de olhares, mas vê-la vestida em uma
calça jeans que abraça as suas curvas e uma blusa com um
decote generoso faz com que eu solte um gemido baixinho.
Ela tem um belo par de pernas, quadril arredondado e
cintura fina. Os peitos são medianos, mas caberiam
perfeitamente em minhas mãos quando ela estivesse por cima ou
por baixo de mim, me fodendo.
Preciso colocar uma almofada em cima do meu pau quando
uma onda de excitação me atinge. Uma ereção empurra o tecido
da minha roupa só de observar a mulher a alguns metros de mim.
Quando finalmente me nota, ela sorri de modo tímido. Não sei o
que ela pensa ao ver que estou usando apenas uma calça
moletom, mas fica com o rosto adoravelmente vermelho.
Ou pode ser que tenha notado a maneira como eu estava
apreciando-a.
— Bom dia, sr. Matteo. — Arruma a bolsa em seu ombro,
fitando-me um pouco desconfiada.
— Bom dia, Brenda. — Controlo o meu tom para que o seu
nome não saia em um gemido.
— A Madalena já chegou? — Aproxima-se, mordendo o
canto da boca e tentando desfazer o nosso contato visual, mas há
algo que a impede também.
— Ela vai chegar um pouco mais tarde — informo,
molhando os lábios e notando que ela acompanha o movimento
da minha língua.
— Entendi. Se o senhor me der licença, vou me trocar —
Observa ao redor. Seus olhos vão parar no outro sofá e acaba
encontrando o pente das bonecas que Maria Alice deixou ali.
Ontem, esqueci de recolher a bagunça de Mali, mas ao
acordar foi a primeira coisa que fiz, contudo, devo ter deixado o
objeto perdido.
— Tomou café? — sondo-a, que assente rapidamente.
Não faz mal algum perguntar aos meus funcionários se já
se alimentaram… É normal. Só estou sendo educado.
— Com licença — pede.
— Toda.
Brenda segue para o corredor onde ficam os quartos dos
funcionários e eu a acompanho com olhar.
Só posso estar pagando algum pecado para ter que lidar
com a babá gostosa da minha filha, que tem uma santa bunda
redonda e empinada.
A última mulher com quem saí, conheci em um evento na
casa de um colega escritor que estava comemorando o
fechamento de um contrato com uma plataforma de Streaming
muito famosa. Porra... Eu preciso de sexo, estou há meses sem
foder ninguém.
— Brenda? — chamo-a antes que suma completamente do
meu campo de visão.
— Sim? — diz assim que me olha por cima do ombro.
— Amanhã, você e a Madalena vão ao shopping comprar o
material escolar da Maria Alice — comunico-a, que assente. —
E à noite, vou a uma sessão de autógrafos e precisarei que você
jante com ela para que não se sinta sozinha, a minha filha adora
uma companhia nas refeições.
— Pode deixar, sr. Matteo.
— O.k. — Balanço a cabeça e ela volta a seguir para o seu
quarto. Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás quando vem em
minha cabeça a imagem de Brenda.
A minha imaginação é tão fértil que produzo uma cena da
mulher inclinada na mesa do meu escritório, sem roupa alguma.
A minha mão fechada em sua nuca enquanto como a sua boceta,
deixando que o seu fluido deslize por suas coxas.
De pau babado, saio da sala e subo para o meu quarto.
Tranco a porta e sigo para o banheiro, me livrando da calça
melada com meu pré-gozo. Nu, entro no boxe e ligo o chuveiro,
deixando que a água gelada caia sobre o meu corpo, mas nem
assim a ereção vai embora.
— Puta merda, Brenda — gemendo o nome da babá,
envolvo a mão em meu pau e começo a me masturbar com
velocidade.
Respirando com dificuldade, masturbo-me em um tesão
desenfreado e fecho os olhos, trazendo Brenda aos meus
pensamentos, imaginando-a toda aberta para mim enquanto eu a
fodo. Coloco um braço nos ladrilhos da parede e encosto meu
rosto em meu antebraço, enquanto faço movimentos lentos ao
sentir que estou quase gozando.
— Ahhh, Brenda...
Um gemido baixinho escapa e jato do meu esperma cai no
chão, se misturando na água. Com o batimento cardíaco
acelerado e a respiração descompassada, aperto os olhos ao me
dar conta do que acabo de fazer.
Bati uma punheta pensando na babá. Eu gozei
violentamente imaginando o meu pau metendo fundo no rabo da
minha funcionária. E o pior disso tudo é que não há
arrependimento algum em minhas ações.
Madalena foi cedo com Tina para fazer as compras da
semana no supermercado. Ao sair, ela me lembrou que vamos ao
shopping antes do almoço para comprar o material escolar da
Maria Alice, como o Matteo havia solicitado.
Enquanto eu e a pequena estamos na cozinha tentando fazer
um bolo, o pai dela está no escritório. Hoje, só o vi três vezes
rondando pela casa. Na primeira vez, Matteo estava na sala
usando apenas uma bermuda e com o abdômen brilhando de
suor. Ele tinha acabado de voltar da corrida matinal que costuma
fazer todos os dias. Na segunda vez, foi quando se reuniu com a
filha na sala de jantar para tomarem café; e na terceira, eu o vi
rumar para o seu espaço de trabalho.
— Tia Brenda, esse bolo vai ser o melhor do mundooo! —
A garotinha bate palmas ao fitar os utensílios e os ingredientes
em cima da ilha.
— Vai, sim! — Observo-a sentada na banqueta.
Que Tina não nos pegue invadindo a cozinha dela. A ideia
de fazer o bolo foi da Maria Alice, e inicialmente eu recusei
com receio de Madalena reclamar, mas a menina insistiu e
garantiu que não teria problema algum. Até que eu cedesse
demorou alguns minutos, mas ao ver os olhinhos pidões de
Maria Alice e suas mãos unidas falando “por favorzinho, vai ser
divertido” deixei de lado o receio e embarquei nessa travessura
com ela.
— Eu quebro os ovos! — decide, animada.
— O.k., mocinha. — Meneio com a cabeça.
— Pronto? Posso quebrar? — Ela balança as perninhas,
divertida.
— Calminha, acho melhor colocarmos primeiro em um
recipiente para ver se não tem nenhum estragado — recomendo,
dando para ela uma vasilha transparente.
— Tá bom! — Sorri, sapeca, quebrando os ovos e jogando
no recipiente.
— Boa menina! — elogio, logo em seguida coloco açúcar,
manteiga e o leite, mas quando vou acrescentar os últimos
ingredientes, sou interrompida.
— Tia Brenda, me deixa colocar a farinha e o chocolate,
por favor? — pede, batendo os cílios.
— Só não pode sujar tudo, tá bom?
Mali assente e eu a deixo no comando. Preciso colocar a
mão no rosto quando vejo Maria Alice derramar uma boa
quantidade de trigo no mármore da ilha. Enquanto estou
choramingando pela sua bagunça, ela dá uma risada gostosa e
me encara com aqueles olhos redondos e azuis que conseguem
dobrar qualquer um.
— Céus, a Tina vai me matar! — choramingo ao me
aproximar de Maria Alice.
— Me deixa fazer o bolo sozinha? — pede, manhosa, se
colocando de joelhos na banqueta.
— Melhor não, você pode se machucar. Mas podemos dar
um jeito nisso. — Pego a sua mão e a apoio debaixo da minha.
Maria Alice fica eletrizante e dá risadas altas quando ligamos a
batedeira.
— Um dia, eu vi a Tina fazendo assim. — A menina me
pega desprevenida ao aumentar a velocidade, então a massa voa
para todos os lados, principalmente em nossas roupas.
— Maria Alice! — repreendo-a, boquiaberta, desligando a
batedeira.
— Ops... Desculpa! — Olha-me por cima do ombro e faz
uma expressão fofa.
— Mali, você é muito bagunceira. — Enquanto faço uma
careta, a garotinha dá uma risada.
— Não sou, não.
— Não? Olha como estamos! E a cozinha! — Semicerro os
olhos.
— Assim é mais divertido, e eu não sou bagunceira! —
decide, risonha.
— Claro que é. Tá toda suja, parecendo uma porquinha. —
Faço cócegas nela, que solta alguns gritinhos.
— Porquinha? — Finge irritação com um sorriso no rosto.
— Sim. — Bufo, e ela ri. — Agora vamos limpar esse caos
antes que a Tina e a Madalena cheguem com as compras —
recomendo, olhando ao redor, mas sou pega de surpresa quando
Maria Alice suja a mão com a massa do bolo e passa em meu
rosto.
Perplexa, afasto-me dela e a vejo repetir o gesto em si
mesma, me fazendo cair na risada com a sua travessura.
— Agora eu te pego, sua sapequinha! — Uso um tom sério,
mas em seguida gargalho ao vê-la descer da banqueta e correr na
direção da porta.
— Tiaaaaaa Brendaaa, eu vou lavar as mãos! — Tenta me
enrolar, e eu lambo os lábios, sentindo o sabor adocicado da
massa.
— Não tente me enganar, mocinha. — Rindo, dou passos
na sua direção, mas uma voz potente me faz congelar no lugar.
— O que está acontecendo aqui? — Meu sorriso morre com
a chegada do meu chefe, que olha para a cozinha bagunçada. —
O que estão fazendo o para causarem tanto barulho e bagunça?
Engulo em seco ao notar a seriedade em seu rosto.
— Eu vou limpar tudo isso, sr. Matteo, não se preocupe! —
Ignoro as perguntas anteriores.
— Estamos fazendo bolo, papai! — intromete-se Maria
Alice.
— Bolo, é? — O homem arqueia a sobrancelha, analisando
o caos que causamos na cozinha.
— Vou ao banheiro. — A malandrinha passa pelo pai, me
deixando arcar sozinha com as consequências.
— Eu posso explicar esse alvoroço todo. — Meu corpo fica
trêmulo com a maneira como Matteo olha para mim. Não tenho
como saber o que se passa na cabeça dele, mas suas íris
castanhas estão mais escuras.
— Acho bom mesmo, Brenda. — Quando ele dá passos em
minha direção, meu coração dispara.
Eu sou adulta, não posso jogar a culpa em uma criança.
Embora Maria Alice tenha implorado para fazermos esse bendito
bolo, não vou me acovardar em dedurar a menina para o pai, que
talvez fique bravo e a bronca que vá me dar seja bem pior por eu
ter me deixado ser induzida por uma criança de seis anos.
— Estávamos fazendo o bolo e acabamos nos sujando, sr.
Matteo, mas eu vou deixar tudo em ordem. — Uma confusão me
toma ao notar o divertimento na expressão dele.
— Eu conheço muito bem a minha filha, Brenda. — Ele ri
baixinho e fica a um passo de mim.
Consigo sentir a sua respiração bater em minha testa,
porque estou com o rosto erguido.
— Não entendi — murmuro, franzindo o cenho.
— A marca da mão da Maria Alice está certinha aqui, e
certamente a ida dela ao banheiro foi para se safar. — Aponta
para a minha bochecha que a filha dele sujou.
— Não foi isso... — Tento falar, mas ele toca em meus
lábios com o dedo indicador, me fazendo prender a respiração.
— Pelas risadas que chegavam na sala, vocês estavam se
divertindo muito, não é? — Fita-me com um certo brilho,
enquanto balanço a cabeça sentindo meus lábios formigarem
com o seu toque. — Você está suja aqui. — Examina-me e
desliza o polegar até a minha bochecha. Em seguida, leva à boca
o resquício de massa e chupa o dedo sob meu olhar. — Hm,
deliciosa — completa.
—A minha respiração escapa, arfante. A sua ação
inesperada me afeta a ponto de deixar meus mamilos
intumescidos. O modo como Matteo estuda cada centímetro do
meu rosto faz com que a minha boceta lateje e molhe a minha
calcinha.
— O que disse? — Desconcertada, observo a sua boca e me
dou conta do que estamos fazendo.
— A massa está deliciosa, Brenda. — Ele se afasta,
jogando-me um balde de água fria ao elaborar melhor as suas
palavras.
— Imaginei que fosse isso... — Meu rosto esquenta.
— E o que mais seria? — sonda-me, com um ar
desconfiado.
Eu quero enfiar a cabeça em um buraco de tanta vergonha.
— Nada, eu só...
— Eu já me limpei, papai. — A voz animada de Maria
Alice preenche o ambiente de repente.
Vou dar muitos beijos nessa menina por ter entrado na hora
certa. Acaba de me salvar de uma explicação que sairia muito
atrapalhada.
Como eu iria dizer para ele que achei que estivesse me
chamando de gostosa? Céus, seria o auge do mico. Ainda bem
que não deu tempo de eu abrir a minha boca grande.
— Filha, ajude a Brenda a limpar essa bagunça —
recomenda, estudando a mim e depois a pequena, que está com
as bochechas vermelhas.
— Tá bom, papai.
— Primeiro, vamos colocar o que sobrou da massa do bolo
no forno — aconselho, esperando que a massa ainda sirva.
— Obaaaaaa!!! — Maria Alice bate palmas e corre para
mim, me abraçando pela cintura. Aposto que quer me fazer
esquecer o que aprontou.
— Vou untar a forma — aviso, e ela balança a cabeça.
— Posso colocar a massa, Brenda? — Bate os cílios de um
jeito fofo.
— Acho que não temos mais o que bagunçar, não é? Pode,
sim. — A risada baixa e divertida do pai dela chama a minha
atenção. Ergo o rosto para ele e noto uma certa admiração.
— Bom, vou deixar as garotas trabalhando. Até depois. —
Pisca para nós e gira nos calcanhares, saindo da cozinha em
seguida.
Respiro aliviada e me abaixo para ficar na altura da Maria
Alice.
— Quase recebi uma bronca, mocinha. Sorte que o seu pai
não ficou bravo.
— O papai é bom, ele não fica bravo com besteira. —
Encolhe os ombros.
— Uhum, o.k. Dessa vez foi por pouco, mas agora vamos
agilizar esse bolo para limparmos essa baderna. — Afasto-me
dela e vou até a pia lavar as mãos.
— Tia Brenda, quando podemos fazer outro? Eu gostei
muito de fazer esse.
Rio baixinho e balanço a cabeça.
— Espero que não seja tão cedo.
A menina arregala os olhos.
— O que disse? — Abre a boquinha, chocada.
— Que vamos esperar mais um pouco, pequena bagunceira
— corrijo-me e ela dá uma risada alegre.
— Ah, tá! — Ela volta a se sentar na banqueta e eu respiro
fundo ao analisar nossas roupas.
Depois de organizar tudo por aqui, vou precisar dar um
belo banho na Maria Alice, depois tomarei o meu.

Estamos no shopping há mais de uma hora, mas aqui é


assim mesmo, as horas passam e nem percebemos. Pedro nos
deixou aqui e assim que terminarmos virá nos buscar.
Quando Madalena e Tina voltaram da rua, elas encontraram
tudo limpo, nem parecia que havia uma zona naquele lugar antes
de elas chegarem. Fiz questão de colocar tudo em seu devido
lugar e deixar a Maria Alice pronta para quando fôssemos sair.
Matteo não apareceu mais como eu pensei que faria,
imaginei que já havia passado orientações para Madalena
quando ela foi para o escritório dele antes de sairmos. E isso me
fez questionar se ele estava fugindo de mim depois do episódio
na cozinha. Mas para não ficar paranoica criando teorias, decidi
focar na minha obrigação, cuidar da filha dele.
— Brenda, eu gostei daquela mochila. Ela é linda! — Ela
balança a minha mão unida à sua.
— Qual? — Fito Maria Alice, que me encara de volta com
um sorriso enorme. Ela está deslumbrada com a ideia de ir para
o colégio.
— Gostei daquela ali. — Maria Alice aponta para a
mochila de carrinho com o desenho da sereia Ariel na vitrine da
loja que entramos há alguns minutos. É um kit que vem com a
mochila, estojo e uma lancheira, com um porta-lanche e uma
garrafinha fofa, tudo do mesmo tema.
— Qual o valor desse kit? — pergunto para a vendedora
que está nos acompanhando desde que entramos.
— Está saindo por mil reais. O kit completo. Mas é um
produto de boa qualidade e damos garantia de um ano. — Quase
me engasgo com o valor.
De início, fico chocada com o valor absurdo, mas então me
lembro que estamos no shopping e aqui tudo é caro. Matteo deu
a Madalena um cartão de crédito e, segundo ela, ele disse que é
para comprar tudo o que a filha quer, então, quem sou eu para
discutir valores? Para mim, esse valor é um absurdo, mas se
Maria Alice gostou, vamos levar.
Enquanto estamos na parte das mochilas, Madalena foi
comprar alguns itens da lista na papelaria.
— Caramba, tudo isso? Tem algo especial nela? — Não
consigo me conter e acabo deixando a vendedora com a
expressão fechada.
— É um produto com uma ótima qualidade, se levar, verá
que estou certa. A nossa loja só tem produtos bons, não vai se
arrepender — fala com convicção.
Fico sem graça com a sua resposta. Pode ter a melhor
qualidade do mundo, eu continuo achando caro demais.
— O.k. — Assinto, com um sorriso falso. — Posso dar uma
olhadinha? — digo para a vendedora, antes de olhar para a
menina bocejando agarrada na minha cintura, com a cabeça
encostada no meu quadril.
— Sim, só um instante. — A mulher se afasta.
Passo a mão no cabelo de Maria Alice, que levanta o rosto
e sorri para mim com doçura.
— Está com sono?
Ela assente e boceja novamente.
— Um pouquinho, mas prefiro ficar no shopping, aqui é
muito legal! — Pisca para mim, fazendo com que eu ria.
— Verdade, mas quando voltarmos para casa, você tira uma
soneca gostosa — sugiro.
— Tá bom. — Balança a cabeça e se afasta de mim quando
a vendedora se aproxima e coloca o kit na cadeira atrás de nós.
— Fiquem à vontade, eu já volto. — Ela aponta para a
entrada da loja, onde tem uma mulher grávida segurando a mão
de uma criança que deve ter uns quatro anos. — Se precisarem
de mim é só chamar, estarei por perto, o.k.?
— Tudo bem, obrigada — agradeço-a e ela logo se afasta.
— Ela é linda, tia Brenda! — Maria Alice olha encantada
para a mochila. Seus olhinhos brilham de felicidade quando ela
solta a minha mão para ir até o banco.
— Muito — concordo, indo até ela.
A primeira coisa que ela pega é a lancheira, parece que
esse será seu objeto favorito, porque não desgruda dele.
Enquanto isso, eu analiso com calma a mochila para ver se não
tem defeito antes de fazer o pagamento. Depois de alguns
minutos, percebo que está tudo em ordem, então chamo a
vendedora.
— Gostaram? Vão levar? — pergunta a mulher, animada ao
ver Maria Alice com a lancheira nos braços. Ela realmente
adorou o kit.
— Vamos levar, Mali? — pergunto para ter certeza da sua
escolha.
— Vamos, sim! Eu gostei muitoooo! — exclama,
sorridente.
Retribuo seu sorriso lindo.
— Só um minuto, por favor. — Viro-me para a atendente,
que fica feliz com a venda do produto.
— Claro. — Assente a vendedora, sorrindo de orelha a
orelha.
Pego o meu celular e envio uma mensagem de voz para
Madalena informando a loja em que estamos e que a Maria Alice
escolheu a mochila e que precisamos pagar.
— Semana que vem vou parecendo uma princesa para
escola! Será que o meu papai me leva, tia Brenda? — Será o
primeiro dia de aula da filha dele, acredito que ele irá levá-la.
— Depois você pergunta a ele, o que acha? — proponho,
para não dar falsas esperanças para a menina.
— Tudo bem! — Dá uma risadinha.
— Desculpe a demora, Brenda, me perdi. — Ouço a voz
ofegante de Madalena ao meu lado. A sua respiração está
irregular, como se tivesse corrido até aqui.
— Tudo bem, Lena. — Sorrio, olhando para ela, que tem
algumas sacolas nas mãos. — Me deixe ajudar com essas bolsas.
A Maria Alice gostou do kit que está ao lado dela. — Aponto
para a menina que está distraída.
— Certo. Só vou pagar e já vamos, está quase na hora do
almoço. O Matteo me ligou e avisou que está vindo nos pegar —
informa.
Só consigo focar na parte em que fala que ele virá nos
buscar. Boquiaberta, assinto ainda atordoada com a informação.
— Claro. Vai lá, vou ficar aqui esperando.
Ela se afasta em direção ao caixa.
Maria Alice se aproxima e se oferece para segurar algumas
sacolas também, então dou somente duas, as mais leves, claro.
Me recrimino mentalmente ao perceber que estou afetada
com a ideia de Matteo vir nos pegar. Automaticamente, passo a
mão por meu cabelo para ver se está no lugar antes de fazer o
mesmo em meu vestido florido.
— Está tudo bem, tia Brenda? Tem alguma coisa na sua
roupa e no seu cabelo? — pergunta a menina, com a expressão
confusa.
— Não, princesa. Só estou um pouco inquieta. — A menina
dá uma risada gostosa, só então que noto que estou sendo
patética. Ela quer saber por que estou me conferindo tanto.
— O que é inquieta? — indaga.
Mas antes que eu possa responder, Madalena faz um sinal
que já está tudo certo e podemos sair da loja. Caminhamos em
direção ao elevador que dá acesso para a garagem do shopping.
Assim que Maria Alice nos diz que está com fome, Madalena
recebe uma mensagem do Matteo avisando que está nos
esperando no estacionamento.
— É o meu pai, tia! O meu pai veio! — exclama Maria
Alice assim que vê Matteo apoiado na porta do seu carro, com
os braços cruzados sobre o peito. Ela não ouviu que ele viria nos
buscar, por isso a surpresa.
O homem é bonito demais. Ele está com uma calça social e
uma camisa branca com alguns botões abertos.
— Veio, sim — respondo, desconcertada ao notar que os
olhos dele fixam na filha e logo viram para mim.
Ele fita-me dos pés à cabeça, e mesmo que eu esteja
vestida, sinto-me nua sob o seu olhar quente. O homem observa-
me por um tempo sem se importar se a governanta dele irá
perceber.
Madalena pigarreia ao meu lado, então desvio meu olhar do
dele rapidamente. Maria Alice nem está mais ao nosso lado,
agora corre em direção ao pai, que já abre a porta para que ela
entre na Land Rover preta. Mas em vez da menina entrar, ela faz
um sinal para que ele se abaixe na frente dela. Maria Alice diz
algo em seu ouvido, então ele olha para mim e depois sorri antes
de ficar sério. Fico curiosa para saber do que se trata a conversa
misteriosa deles.
Madalena reduz o passo e eu entendo que ela quer me dizer
algo, porque pigarreia e me observa pelo canto do olho.
— Eu fiz a escolha certa em ter te recomendado para cuidar
da Maria Alice, Brenda. Ela está tão feliz nos últimos dias, é
olhar para ela e ver o quanto está alegre em ter finalmente uma
babá boa. Desde a Renata que a pequena não se acostuma com
ninguém — comenta, porém, há algo em sua voz que me deixa
em alerta.
— Eu tenho muito que te agradecer ainda, Madalena. Esse
emprego chegou na hora certa, muito obrigada — agradeço-a, e
fico receosa quando ela me encara pensativa.
— Não tenho nada do que reclamar de você, mas preciso
fazer uma observação.
Meu corpo inteiro congela.
— O que é? — Estudo pai e filha nos esperando fora do
carro a alguns metros de distância.
— Nos últimos dias, notei que você e o Matteo tem ficado
muito próximos. — Meu coração dispara e a vergonha faz meu
rosto queimar. — Brenda, não vou te dar um sermão, isso é um
assunto particular de vocês, você é maior de idade, mas a minha
preocupação é com outra pessoa e eu não quero que você saia
prejudicada. — Prendo a respiração.
É neste momento que ela vai me contar que o Matteo é
comprometido?
— Eu não vou mentir para você, Madalena, realmente
estamos mais próximos, mas não existe nada entre nós. Eu juro.
— Minha voz sai firme enquanto minhas pernas tremem.
— A sogra do Matteo não aceita que ele fique com
nenhuma mulher, Brenda. A mãe da dona Camila é muito difícil,
e se ela sonhar que algo está acontecendo entre vocês, fará da
sua vida um inferno. Ainda mais que, para ela, a mansão onde a
filha morou deve ser um santuário — confessa, e o meu peito
fica apertado. — Ele nunca levou mulher alguma para casa —
me alerta.
— Não temos nada, Lena. Acredite. — Meu tom é
vacilante.
— Só tome cuidado, uma hora dessas, ela deve aparecer. A
essa altura do campeonato, já deve saber que a neta tem uma
nova babá. A Daniele passa informações da casa para a tia.
A loira amiga do Matteo. Só a vi uma vez na mansão.
— Obrigada por avisar — murmuro.
Ficamos em silêncio enquanto nos aproximamos de Matteo
e Maria Alice, que está colocando as duas sacolas no porta-
malas, então eu e Madalena fazemos o mesmo antes de
entrarmos no carro.
Assim que Madalena e eu nos acomodamos nos bancos
traseiros, Maria Alice pede para se sentar ao lado da janela,
então eu a coloco no lugar sob o olhar atento do pai pelo espelho
do carro. Enquanto afivelo o cinto na filha dele, minha pele
queima ao sentir que estou sendo observada por Matteo.
— Prontinho.
Todos ficam em silêncio no decorrer da viagem até a casa.
Vez ou outra Matteo e eu trocamos olhares pelo retrovisor.

Assim que chegamos à mansão, Madalena vai direto para a


cozinha checar a preparação do almoço, enquanto Maria Alice,
Matteo e eu subimos com as sacolas para o seu quarto.
Ela praticamente obriga o pai a ver tudo que foi comprado.
Então nos sentamos na cama dela e começamos a olhar o
material escolar. Aproveito e arrumo os objetos no estojo,
enquanto a pequena conversa com o pai como se fosse gente
grande.
— São lindos, não é, pai? — Mostra para ele o kit.
— Sim, filha, é a sua cara. — Ele sorri para ela, que se
derrete com o seu sorriso, assim como eu.
— Eu tenho a cara da mochila, papai? — Maria Alice
arregala os olhos.
Ela não entendeu o que ele quis dizer, pelo jeito
Rio baixinho e balanço a cabeça. Matteo me acompanha e
tenta explicar para a garotinha curiosa o que quis dizer.
— É modo de falar. — Meu chefe me olha por um segundo
antes de voltar a sua atenção para uma certa menininha muito
curiosa. — Quando eu digo que a mochila é a sua cara, é porque
combina com você — explica.
Maria Alice fica radiante com o elogio.
— Hmm, entendi! — exclama, animada.
— Mali, preciso tomar um banho. Daqui a pouco eu volto.
— Matteo beija a testa da filha, que o agarra pelo pescoço e
beija a bochecha dele.
— Tá bom, papai, eu te amo. Obrigada por ser tão bom
para mim e me fazer sorrir — Maria Alice se declara.
Fico emocionada, meus olhos ardem com a cena tão linda
entre pai e filha. Matteo limpa a garganta, aparentemente tocado
com as palavras da menina, que não tem noção do quanto afetou
o pai com seu carinho.
— Eu também te amo, filha — ele se declara, abraçando-a
e se afastando em direção à porta.
Eu me levanto com as coisas de Maria Alice já arrumadas.
— Pai? — Maria Alice o chama, atraindo a atenção de nós
dois.
— Sim? — Matteo olha para a filha e depois para mim
rapidamente.
Cada vez que ele olha em minha direção, sinto uma tensão
sexual se formando. O homem pode não dizer com palavras, mas
a maneira como passa a língua entre os lábios e semicerra os
olhos quando está pensativo demais olhando em minha direção,
me faz pensar que estamos atraídos um pelo outro. Só que eu
não serei inconsequente a ponto de dar em cima do meu chefe ou
dizer que estou loucamente atraída por ele.
Sou uma mulher que sabe o que quer, mas dessa vez não sei
de mais nada. Matteo Bianco é meu chefe e está fora do meu
limite, e depois que Madalena me disse, não paro de pensar na
mãe da falecida esposa dele, que ainda nem conheço, mas já
sinto pavor só de imaginar qualquer confusão.
— Eu posso convidar uma pessoa para almoçar com a
gente? — Maria Alice bate os cílios para o pai e sorri ao fixar
seus olhos em mim.
— Presumo que essa pessoa seja alguém que conhecemos
muito bem, não é? — O homem arqueia a sobrancelha com
diversão antes de me olhar, fazendo com que eu desvie meus
olhos para o guarda-roupa cor-de-rosa.
— Aham. Eu quero que a tia Brenda venha com a gente,
gosto quando ela está por perto. Você deixa, por favor? — pede,
esperançosa e manhosa.
— Ela já estava convidada antes mesmo de você pedir,
Mali. — Prendo a minha respiração ao vê-lo me estudar
demoradamente com um sorriso sedutor. Não me recordo de ele
ter feito esse pedido, mas tudo bem. — Você aceita almoçar com
a gente, Brenda? — Fixa os olhos em minha boca, depois em
meu rosto.
Santo Deus, esse homem está me tentando.
— Você quer, tia Brenda?
— O que eu quero? — indago, confusa, ao me virar para a
garotinha e logo ouço uma risadinha provocante de Matteo por
saber que de alguma maneira conseguiu me afetar.
— Almoçar comigo e o papai, ué! — Cruza os braços e rola
os olhos.
Nervosa, passo a mão no meu cabelo e mordo meu lábio
inferior.
— Claro, princesa! — Sorrio para ela, que festeja ao sair
da cama e dar alguns pulinhos de vitória.
— Ebaaaaa, então vamos logo. Minha barriga está
barulhenta demais, estou com muita fome! — Ela faz careta e
olha para a barriga.
— Primeiro, a mocinha vai tomar um banho, só então
vamos comer, o.k.? — Aproximo-me dela.
Maria Alice faz bico, mas concorda com um meneio de
cabeça.
— Tá bom, eu vou tomar banho antes.
— Vejo vocês em alguns minutos. Com licença — Matteo
se manifesta e sai sem olhar para trás.
Ao me recordar do evento de hoje, digo a Maria Alice que
preciso falar com o pai dela, mas não demoro. Saio à procura
dele e o encontro quase entrando em seu quarto.
— Sr. Matteo. — Pigarreio e ele me encara.
— Sim? — O modo como me examina faz meu coração
acelerar.
— O compromisso de hoje à noite ainda está marcado? —
sondo-o.
— Primeiro, vamos parar com tanta formalidade, escuto
tanto “senhor” vindo de você que me sinto de fato de um. — Ri
baixinho, charmoso. — Sim. Por que a pergunta?
— Já me acostumei em te chamar dessa forma, me
desculpe. Então, quero saber se a Maria Alice pode ver televisão
na sala. Enquanto o horário de ela de dormir não chega, pensei
em fazermos uma maratona com aqueles desenhos que ela tanto
gosta. — Uno as mãos, aguardando ansiosamente pela resposta
dele.
— Depende. — Dá um passo em minha direção.
— Do quê? — Meu rosto arde.
— De você. — Pisca para mim, me causando um rebuliço
no estômago.
Matteo piscou para mim.
— N-não e-n-ntendi — gaguejo, vendo-o se divertir da
posição que me coloca.
— Concordo, se largar o “senhor” de lado e me tratar por
você. Eu não sou tão velho assim, Brenda, a nossa diferença nem
é tão grande — argumenta, cruzando os braços e dando margem
aos meus pensamentos impuros quando os seus músculos se
destacam na sua camisa.
— Não vejo ninguém te chamando de você, eu não poderia
ser uma exceção — contra-argumento, mesmo sabendo que estou
mentindo.
— Os seus colegas de trabalho não são ninguém? — Ergue
a sobrancelha.
— Eu não disse isso! — retruco depressa.
Ele inclina a cabeça para trás e gargalha.
— Você é uma pequena mentirosa, Brenda. — Estala a
língua, de maneira irritante.
Ele acabou de me chamar de pequena?
— Não vou te chamar de Matteo, é inadequado.
— Para quem? Pra você? — Lambe os lábios, divertido.
— Sim. — É mentira. Eu adoraria chamá-lo de Matteo.
— Se tentar, vai ver que não te fará mal algum. — Joga
charme.
— O.k., Matteo, então essa noite eu e a Maria Alice
faremos uma maratona de desenhos.
O seu sorriso é enorme.
— Assim é melhor, está vendo? — Ele me arranca um
sorriso.
— O.k. Obrigada, senh... Matteo!
— Eu que agradeço, Brenda — diz, sério.
— Bom, era só isso. Vou voltar para a Maria Alice. — Giro
nos calcanhares, e a cada passo que dou até o quarto da Mali,
sinto que ele me observa. Confirmo isso quando olho por cima
do ombro antes de sumir do seu campo de visão.
Morar afastado da cidade tem seus prós e contras. A
vantagem é que sinto mais tranquilidade longe da civilização e
tenho mais privacidade. A desvantagem, é que em época de
eventos, preciso sair mais cedo para chegar pontualmente, e essa
parada na casa Dani irá nos atrasar, já que ela mora em um
bairro distante do shopping.
“Matteo, eu estava tão atarefada esses dias, que quando te
liguei esqueci de avisar que o meu carro está na oficina. E você
sabe que morro de medo de sair à noite com esses carros de
aplicativo. Você poderia passar na minha casa para me pegar e
irmos juntos até o evento?”. Esse foi o pedido de Daniele me fez
algumas horas, por ligação.
Esta noite, Pedro está de plantão e estamos a caminho do
condomínio onde a minha amiga mora. Antes de sair de casa,
Maria Alice me pediu para não demorar porque queria receber
um beijo de boa-noite. Eu a aconselhei que não me esperasse
acordada, porque estava indo para um compromisso muito
importante e não poderia prometer que chegaria a tempo de
encontrá-la acordada. Recomendei a Brenda a não ceder a Mali
caso a minha filha tentasse convencê-la a ficar até tarde me
esperando.
Assim que o meu motorista se aproxima da portaria, eu me
identifico e, pela primeira vez em anos, o porteiro diz que vai
precisar ligar para “dona Daniele” para que ela nos libere.
— Estranho. — Miro a estrada do condomínio pela janela
ao meu lado enquanto Pedro passa por algumas casas luxuosas.
Por que eu tenho a sensação de que algo está acontecendo?
Talvez seja uma falsa intuição, mas quanto mais a casa da
Daniele se aproxima, mais sinto um incômodo que eu nem sei
como descrever. O que há de errado ainda não sei, mas logo vou
descobrir.
Minutos atrás eu estava bem...
Assim que Pedro estaciona em frente à casa da minha
amiga, respiro fundo e examino o lugar demoradamente antes de
pegar meu celular e enviar uma mensagem para Daniele
avisando que estou esperando-a.
A resposta dela vem de imediato me pedindo para que eu
vá até ela para que a ajude com algo. Pergunto do que se trata e
ela diz que se não fosse importante não me incomodaria, então
salto do carro e peço ao meu motorista para nos aguardar.
Toco a campainha duas vezes, mas somente na terceira
Dani abre a porta para mim. Estudo a sua expressão e noto que
ela está desconfiada demais, tanto que me dá um sorriso
amarelo.
— Boa noite, Daniele — cumprimento-a, percebendo que
está muito elegante em seus trajes, mais do que o normal quando
me acompanha a algum evento como esse.
— Boa noite, Matteo. Entre, por favor. — Pigarreia,
passando a mão no vestido vermelho cor de sangue, com uma
fenda na lateral da perna esquerda.
— O.k. — Atendo ao seu pedido, logo ela fecha a porta
atrás de nós.
Não que seja um problema, ela usa o que quiser, contudo,
normalmente Daniele usaria algo básico e mais confortável para
uma sessão de autógrafos que vai durar horas. Mas esta noite ela
está com saltos muito altos e isso com certeza lhe dará um certo
desconforto.
— Do que você precisa? — inquiro, vendo-a se aproximar
de mim em passos lentos.
— Conversar. — Se põe na minha frente e olha bem em
meus olhos.
Confuso, franzo o cenho.
— Agora, Dani? — Observo as horas no relógio em meu
pulso, constatando que estamos atrasados.
— É importante, Matteo. Poderia se sentar, por favor? — A
voz dela está embargada, e o seu corpo, ereto.
— Você está com algum problema? — cedo, ao me sentar
no sofá.
— Não. Quero falar sobre nós. — Daniele se senta de
frente para mim e cruza as pernas, em seguida descansa as mãos
sobre elas.
— Nós? — A confusão me toma mais uma vez, porque não
existe nós, não do modo como ela soa.
— Eu menti sobre o dia da sua sessão de autógrafo, Matteo
— declara, me surpreendendo, porque Daniele jamais fez esse
tipo de coisa e sabe que odeio mentiras. Ainda mais quando está
relacionado ao meu trabalho.
— Eu acho que não ouvi direito, Daniele. — Afrouxo a
gravata do meu pescoço e a encaro.
— Mentir foi a única maneira que encontrei para que
pudéssemos ficar a sós. — A sua firmeza me impressiona, ela
está decidida.
— Então, você me fez sair da minha casa, deixar a minha
filha, pensando que existia um evento para que eu chegasse aqui
para ouvir você me dizer isso? — Meu tom sai em repreensão.
— O que eu preciso te dizer não poderia ser por telefone,
Matteo, tem que ser cara a cara — acrescenta, séria.
— Pois diga, Daniele, eu sou todo ouvidos. — Passo a mão
pelo meu cabelo, desalinhando-o.
— Vou pegar uma bebida para nós. — Ela se levanta e eu
balanço a cabeça.
— Não vim para beber, apenas me fale o que quer me dizer
— digo, decepcionando-a, porque volta a se sentar com o
semblante magoado.
— Primeiro, o evento existe, mas não é hoje — confessa,
baixinho, desviando o olhar do meu.
— Pelo menos isso, agora me fale o que é tão importante
para me atrair até aqui — murmuro, chateado.
— Eu sei que você não é bobo e deve ter percebido os
meus sentimentos por você — começa, se levantando e seguindo
até uma pequena adega embutida na parede, atrás do sofá em que
ela estava sentada.
— Daniele, não vamos por esse caminho. A nossa amizade
é incrível, por favor — peço, limpando a garganta e a
observando encher a metade do copo com uísque, em seguida,
tomar de uma vez só.
— Eu sempre fui apaixonada por você, sabia? — declara,
sem me encarar. — Sou desde que a Camila morreu e você
precisou de mim para te ajudar com a Maria Alice. — Sua voz é
chorosa.
Paixão é uma palavra muito forte. Eu tinha noção dos
sentimentos dela por mim, mas não cheguei a pensar que tivesse
coragem para me fazer uma declaração dessas.
— Dani, não se magoe ainda mais. Você sabe que não terá
nada de mim e se expondo assim, será pior. — Levanto-me e ela
se vira, seus olhos estão avermelhados e as lágrimas descem por
sua bochecha.
— Quando aceitei ser a editora-chefe da Bianbooks, foi
para ficar mais perto de você, sabia? Meu ramo nunca foi livros,
mas para ter você como meu homem, fazia tudo para te agradar.
— Ela ignora o meu pedido e segue falando, enquanto vem em
minha direção aos prantos. — Eu sou apaixonada por você há
anos, Matteo, todos ao nosso redor sabem disso, até mesmo
você. Eu cansei de ficar calada, e essa noite decidi que colocaria
tudo em pratos limpos. — Soluça.
— Eu não quero te machucar com as minhas palavras,
Daniele. — Passo a mão por meu pescoço, nervoso. — Eu digo e
repito, você é próxima da mulher que mais amei nessa vida, e
sempre vou te ver como prima da Camila, como minha amiga, a
pessoa que me apoiou quando precisei. — Suspiro.
— Mas eu não quero a sua gratidão, Matteo! Quero você, o
seu amor. — Chora, borrando a maquiagem.
— Dani, isso você nunca terá — afirmo.
— A Camila morreu há anos, Matteo, você precisa seguir
em frente, ter uma mulher de verdade em sua vida para te ajudar
a terminar de criar a Maria Alice — sugere, se aproximando
mais de mim, mas eu recuo.
— Não se trata disso, Daniele! O problema é que não te
enxergo como mulher, não tenho sentimentos de homem por
você. Apenas te vejo como a minha melhor amiga. — Minhas
palavras saem duras e ela se encolhe.
— Não é por isso, é porque a Camila é a minha prima. —
Limpa o rosto molhado.
— Por isso também.
— Não acha que é uma bobagem isso? — Nego com a
cabeça.
— Daniele, nós dois nunca irá acontecer. Eu te adoro, por
isso vou esquecer essa conversa e peço que esqueça também. —
Respiro fundo. — Você e eu trabalhamos juntos, e para que
continuemos assim, é necessário que apague esse sentimento por
mim ou serei obrigado a te afastar da minha vida de uma vez por
todas.
— Acha que é tão fácil esquecer um amor assim? —
zomba, revoltada com a minha frieza. — Nem sei por que te
pergunto. A Camila já partiu há anos e você continua fiel ao
amor a ela. Nunca arrumou uma mulher, apenas teve
envolvimentos bobos ao longo dos anos. — Ri baixinho.
— Eu já segui com a minha vida, Daniele, apenas não
encontrei uma mulher capaz de me interessar o suficiente para
que eu a assumisse.
Seu rosto empalidece e ela crispa os lábios.
— Qualquer uma pode te interessar, menos eu? — Cruza os
braços.
Meus pensamentos voam até Brenda, em casa com a minha
filha.
— Se qualquer uma me interessasse, eu não estaria
sozinho. Eu nunca vou me interessar como homem por você. —
Impaciente, fecho os olhos.
— Não me acha bonita? Não me acha interessante o
suficiente para você, Matteo? — insiste.
— Você é bonita, inteligente, tem tudo o que um homem
poderia querer em uma mulher...
— Menos você, entendi. — Balança a cabeça.
— Exatamente — confirmo.
— Todos esses anos me dedicando a você foi em vão, não
é? — Puxa o cabelo para trás.
— Daniele, estou indo embora. Peço que avalie bem as
suas ações e entenda que nós dois nunca irá acontecer.
Daniele fica aos prantos e aponta para a porta.
— S-saia da minha c-casa! — grita, nervosa.
— Dani, não destrua a nossa amizade — peço, sentindo a
minha cabeça latejar enquanto vou até ela.
— V-vo-c-cê já fez isso — acusa.
Eu tento abraçá-la, mas ela recua.
— Eu não fiz nada — defendo-me, vendo-a ceder ao meu
abraço. Passo a mão em suas costas e respiro fundo. — Se
depender de mim, continuaremos sendo amigos, mas preciso que
entenda que só vai ter de mim a minha amizade.
— A questão é essa, Matteo, não sei se estou pronta para
ser apenas a sua amiga depois de ter me declarado. — Ela se
afasta e me fita.
— O que quer dizer com isso? — Franzo o cenho.
— Eu acho melhor deixar o meu cargo de editora-chefe na
Bianbooks — decide.
— Daniele, não faça isso. Você é uma excelente
profissional. — Eu me nego a acreditar na sua decisão.
— Espero você encontrar alguém para me substituir. — Ela
se afasta de mim.
— Você está com a cabeça quente. Pense por mais alguns
dias, não vou permitir que misture a vida pessoal com a
profissional.
Daniele fica pensativa.
— Matteo...
— Só pense direito, Dani, não tenha pressa. Estou indo
embora, mas desejo que fique bem. — Beijo a sua testa. — Um
dia, vai encontrar um homem que te ame de verdade e verá que
eu jamais poderia ser ideal para você.
— Eu preciso ficar sozinha, Matteo.
— Eu sei. Boa noite, Daniele. — Giro nos calcanhares e
saio da casa.
Do lado de fora, vejo que passei mais de meia hora
conversando com Daniele. A minha demora fez com que Pedro
até desligasse o carro. Quando nota que estou sozinho, apenas
entra no veículo e eu faço o mesmo.
— Para onde, sr. Matteo? — Ele me examina pelo
retrovisor.
— Vamos passar na Bambino’s, vou pegar uma pizza e
depois vamos para casa. — Puxo o ar para os pulmões e afivelo
o meu cinto de segurança, em seguida, inclino a cabeça para
trás.
Pedro dá partida no carro e eu olho pela última vez para a
porta de Daniele e a encontro encostada no batente aos prantos.

Indo embora, não parei de pensar nas palavras da minha


amiga. Compreendi que me enganei ao achar que estava tudo sob
controle. Mas eu não tinha noção do tamanho dos sentimentos
dela por mim, jamais poderia imaginar que Daniele me amava.
Achava que era apenas uma paixão boba que ela construiu
com base nos nossos anos de convivência e que logo se daria
conta da realidade. Eu nunca iria dar a ela uma falsa esperança,
e tenho certeza de que depois dessa noite, minha amiga terá que
decidir se iremos continuar a nossa amizade ou não. Não quero
perder uma amiga, mas também não posso dar a ela o que quer.
Com uma mão ocupada segurando a caixa de pizza, tento
abrir a porta de casa. Do centro da cidade para cá demorou em
média vinte minutos, a massa já deve ter esfriado, e pelo
horário, Maria Alice não deve estar mais acordada para comer
um pedaço. São quase nove da noite, juntando os minutos que
passei na casa de Daniele e a parada na pizzaria, me tomou
bastante tempo.
— Finalmente — murmuro, entrando em casa. Assim que
fecho a porta atrás de mim e acendo a luz, ouço o som baixo da
televisão.
Rumo até a sala e encontro Brenda deitada no sofá,
encolhida e com a cabeça apoiada na almofada. Na tevê, noto
que estão passando os créditos do filme. Provavelmente Maria
Alice está dormindo, ela deve ter ficado para assistir sozinha e o
cansaço tomou conta dela.
Coloco a caixa da pizza no aparador mais próximo e vou
até Brenda. O seu rosto está sereno e a sua boca levemente
rosada entreaberta. Suspirando, agacho-me na sua frente e a
estudo lentamente. Ela não usa o uniforme, está vestida com
uma camisola preta de tecido fino que desenha o bico dos seus
mamilos e deixa uma boa parte das suas pernas à mostra. O seu
cabelo está solto e espalhado, deixando-a ainda mais linda e
sexy.
Mordendo os lábios, reprimo a frustração do meu tesão por
ela. Meu pau chega a dar sinal de vida com a cena da babá da
minha filha diante de mim. Linda. Muito linda. Eu diria até
deliciosa, mas nunca a provei para afirmar isso.
— Por que tem mexido tanto comigo? — Examino o seu
semblante suave e a sua boca pequena carnuda.
Estendo a mão até o seu rosto e acaricio a sua bochecha,
ela se remexe, mas não acorda. Sorrindo, deslizo meu dedo na
ponte do seu nariz arrebitado, e é assim que a mulher abre os
olhos. Por alguns segundos, ela me encara confusa, até que se
assusta porque fica paralisada e com o rosto empalidecido.
— O-o q-que você estava fazendo? H-há q-quanto tempo
está aí? — gagueja baixinho, e eu permaneço onde estou.
— Observando você. — Brenda arregala os olhos com a
minha confissão. Foda-se, é a verdade. Não há como inventar
uma boa desculpa para isso. — Não faz muito tempo que
cheguei — explico e me afasto dela para que não se sinta
desconfortável.
— O.k. Isso foi um pouco estranho. — Brenda se senta e
põe uma almofada em seu colo.
Umedeço meus lábios sem desviar o olhar da mulher, que
fica envergonhada ao notar que estou a admirando.
— Realmente, me desculpe. Se está sozinha, suponho que a
minha filha já dormiu, certo?
Brenda balança a cabeça.
— Assim que você saiu. Não demorou nada para a pequena
dormir, hoje ela brincou bastante, e quando acontece isso, dorme
mais cedo — comenta, sorrindo.
— Verdade — concordo, por saber que é dessa maneira
mesmo.
— Por que estava me observando... e tocando meu rosto?
— questiona, pigarreando.
Minhas mãos gelam e meu peito bate acelerado. A última
vez que me senti assim foi em meu primeiro encontro amoroso,
há muito tempo.
— Estava apreciando a sua beleza, carina. — Chamo-a de
linda em italiano e eu ouço um suspiro vindo dela.
— O você que você disse?
— Eu estava te admirando dormir. — Passo a mão em
minha barba por fazer.
— E por quê? — Ela se levanta, e eu me aproximo mais.
— Porque você é linda, Brenda. — Se eu der mais um
passo, a nossa distância acaba, daqui consigo sentir a respiração
dela se tornar arfante.
— Me acha linda? — Morde o lábio e sorri.
— Muito. — Toco no rosto dela e acaricio sua bochecha,
fazendo-a fechar os olhos e suspirar.
— E quando percebeu isso? — Encara-me, curiosa.
— Desde a primeira vez que te vi — murmuro, fitando a
sua boca quando sorri para mim.
— Acho que estamos quites, senhor Bianco, porque eu te
acho muito lindo também.
Deslizo o dedo em seu lábio inferior e acaricio com o
polegar.
— O que tínhamos falado sobre o “senhor”? Eu prefiro te
ouvir me chamando de Matteo, Brenda. — Flerto com ela ao
sorrir de canto.
— Ah, é? E por qual razão?
Serpenteio a mão por seu pescoço até chegar ao seu braço,
seus pelos se eriçam com o meu toque.
— Porque eu gosto que você diga o meu nome. — Meu tom
sai baixo e rouco.
— Matteo, estamos flertando ou é impressão minha? — Ela
volta a morder a boca de um modo tentador, me deixando louco
para agarrá-la para descobrir qual o sabor do seu beijo.
— Acho que passamos dessa fase, estamos entrando em
outra. — Acabo de uma vez com a nossa distância ao passar meu
braço por sua cintura e a puxar contra o meu corpo.
— E qual seria essa? — Mira o meu rosto, depois a minha
boca.
— Eu sou melhor em demonstrar do que falar. — Dou um
sorrisinho safado para ela e noto que seu peito sobe e desce
rapidamente. — A propósito, eu adorei a sua camisola,
combinou com você. — Inclino meu rosto para perto do seu e
toco os meus lábios em sua pele macia e cheirosa.
— Você acha? — murmura, virando a boca para a minha e
roçando nossos lábios.
— Até demais, Brenda. — Mordo o seu lábio inferior com
nossos olhares fixos, em seguida mordisco o seu queixo e ela
geme baixinho. — Eu vou beijar você — aviso, voltando a fitá-
la, vendo suas íris verdes brilharem.
— Acho que nesse momento estamos querendo o mesmo...
Grudo minha boca na sua, impedindo-a de falar mais uma
palavra sequer.
Porra... Que tesão! Praguejo mentalmente ao sentir, pela
primeira vez, a textura gostosa dos seus lábios contra os meus.
Brenda leva as mãos ao meu cabelo e o puxa enquanto deslizo
uma mão em suas costas, acariciando-a, enquanto a outra
espalmo em sua bunda, apertando a carne firme entre meus
dedos.
Aprofundo nosso beijo e afundo a língua em sua boca ao
sentir seus mamilos duros contra o tecido da camisola
pressionados em meu tórax. Com um movimento, sem desgrudar
minha boca da dela, eu a levanto e ela passa as pernas ao meu
redor.
Rumo até o sofá com o coração batendo acelerado e me
sento com Brenda por cima de mim. Apoio uma mão em seu
quadril e a outra deslizo em sua nuca enquanto continuamos a
nos devorar em um beijo quente e esfomeado.
Timidamente, ela se move em mim, esfregando a sua
boceta em meu pau coberto pelas camadas de tecido. Eu me
contorço em um gemido ao me afastar para encará-la. Com os
lábios inchados e carregando um sorriso delicioso, a mulher me
fita por alguns segundos antes de morder o meu queixo e voltar
a me beijar.
Inebriado por sua ousadia e com o pau duro apertando e
melando a cueca com meu pré-gozo, puxo a barra da camisola
para cima e subo até a altura dos seus peitos, deixando-os à
mostra. Sem pedir permissão, fecho uma mão em um dos seios e
belisco um mamilo e depois o outro.
— Céus... M-M-a-atteo... — Seu gemido é de surpresa e
excitação.
— Abra mais as pernas, Brenda, eu vou tocar na sua
boceta. — Meu pedido sai cheio de autoridade e o meu corpo
inteiro se arrepia ao vê-la me atender sem pestanejar.
Acabando de uma vez com o meu tesão reprimido de
semanas, levo dois dedos unidos na boca dela e ela me estuda,
confusa, levando-me a acreditar que nunca foi bem fodida.
— Chupe, se lambuze com vontade.
Brenda abre a boca e timidamente chupa meus dedos.
Preciso gemer quando ela fecha os olhos e me encara em
seguida, molhando meus dedos com a sua saliva.
— Boa garota. — Desço o olhar para o seu corpo, parando
em seus seios empinados e convidativos que ainda irei mamar.
— Agora se aproxime mais e esfregue os seus peitos em meu
rosto. — A mulher arfa com o meu pedido.
— N-não... imaginei que fosse tão... — Seu rosto fica
adoravelmente vermelho.
— Safado? — Lambo os lábios e ela assente. — Eu sou um
pacote completo, Brenda, só estava esperando a oportunidade
certa para te mostrar isso. — Afasto a sua calcinha para o lado e
penetro os dedos nela.
Ela está tão encharcada... Caralho, que delícia!
— M-Matteo... — Ela rebola ao me sentir meter nela
vagarosamente.
— Olhe para mim, mia bella — peço baixinho, chamando-a
de “minha linda”.
— Estou olhando — murmura, erguendo o rosto e me
fitando com os lábios entreabertos.
— Eu preciso que rebole em meus dedos. — Inclino meu
rosto para perto do seu e falo em seu ouvido. — Imagine que
está sendo fodida por meu pau. — Trago os dedos melados até o
seu clitóris e volto a penetrar o seu canal apertado com mais
firmeza, ouvindo-a ronronar como se fosse uma gata no cio.
Meu membro vai aumentando de tamanho a cada investida
que dou em Brenda. Ela geme baixinho e chama por meu nome
enquanto a como com a mão. Passo um braço por suas costas e
trago o seu corpo mais para perto, sentindo o seu calor se fundir
com o meu.
Aproveito a sua entrega e as reboladas que não são mais
tímidas para abocanhar um dos seus mamilos intumescidos.
Sugo-os faminto, mordo sem me importar em deixar marcas de
chupões ou dos meus dentes.
Dominado pela luxúria que domina o meu corpo, desabotoo
minha calça jeans enquanto masturbo Brenda. Mesmo prestes a
gozar, ela repara em meu movimento e algo nela a deixa em
alerta. O seu rosto empalidece e parece entrar em estado de
choque, porque tira minha mão da sua boceta e sai do meu colo
em um piscar de olhos.
Com a respiração ofegante, a babá da minha filha arruma a
sua camisola e engole em seco ao me ver observá-la sem
entender o que está acontecendo.
— O que houve? — sondo-a, não escondendo a minha
frustração.
— Me desculpe, mas não sou assim, Matteo! — Firma a
voz, tentando arrumar o cabelo.
— Assim como? — A confusão me toma.
— Não sou o tipo de pessoa que vai para a cama com um
homem no primeiro beijo — esclarece, envergonhada. — Se me
der licença, vou dormir, tenha uma boa noite. — Ela se vira
depois de jogar um balde de água fria em mim e some do meu
campo de visão.
Puto por ter sido um idiota em querer apressar as coisas,
jogo a cabeça para trás e solto um xingamento. Arrumo minha
ereção na cueca e respiro fundo antes de me levantar.
— O que me resta é bater punheta pela segunda vez
pensando nela — resmungo, como se fosse a porra de um
adolescente.
Sigo para o andar de cima, deixando a pizza para trás e a
vontade de comê-la também.
A única coisa que eu queria comer e me fartar fugiu de
mim assim como o diabo foge da cruz.
Tenho evitado Matteo desde o que aconteceu dias atrás, em
seu sofá, mas hoje será inevitável não manter contato com ele. É
o primeiro dia de aula da Maria Alice e fui comunicada por
Madalena que ele vai levá-la ao colégio, mas não será sozinho,
vou ter que acompanhá-lo.
Estou morrendo de vergonha de olhar nos olhos de Matteo
depois do nosso beijo e amassos. Quase me entreguei ao meu
chefe ali mesmo, naquela sala. Os beijos dele, as palavras
quentes e o calor dos seus braços, me inebriaram a ponto de
quase ter permitido que tivéssemos uma transa rápida induzida
pelos nossos anseios.
Não vou negar que desejei que o homem tomasse
iniciativa, mas não esperava que ele pudesse tentar fazer sexo
comigo na mesma noite em que estávamos dando o nosso
primeiro beijo.
Compreendo que o clima entre nós se encontrava delicioso,
só que me vi desconcertada ao notar que Matteo estava
dominado pela luxúria. E se eu seguisse pelo mesmo caminho,
mais tarde me arrependeria por ter deixado que ele me tratasse
como uma transa qualquer, porque foi essa sensação que ele me
passou ao tentar avançar o sinal.
É algo pessoal, mas não iria me sentir bem depois se ele
pensasse que fui fácil demais, ou que no outro dia me tratasse
como se nada tivesse acontecido. Na minha vida, só me
relacionei sexualmente com dois homens. O primeiro, meu
namorado da adolescência que estudava comigo no ensino
médio, e o segundo, foi o embuste do André.
Aprendi a ser uma mulher muito cuidadosa, principalmente
com o meu coração, depois da minha decepção com o André.
Embora Matteo não se pareça com esse tipo de homem, tenho
medo de deixá-lo me levar para cama e me magoar em seguida,
dizendo que o nosso envolvimento foi coisa de momento.
É normal que eu me sinta insegura, pelo menos acho que
sim. Afinal, há muita coisa em jogo, o meu emprego e o carinho
que estou nutrindo por Maria Alice são algumas.
Nesses dias, mantendo-me afastada do Matteo, tenho me
perguntado se realmente a minha intuição esse tempo todo
estava certa. Ele nem me procurou, não fez questão de
questionar o meu distanciamento, e todas as vezes que teve
oportunidade para me abordar, não o fez.
Será que ele pensou que eu seria um alvo fácil? Será que...
Céus, o tanto que a minha cabeça está confusa. Meus
pensamentos seguem tão bagunçados que eu nem sei mais o que
pensar, apenas tenho criado teorias malucas em vez de buscar as
respostas. E me sinto covarde por isso.
Eu não diria covarde... Acredito que seja mais medo de não
receber uma resposta positiva dele e me decepcionar.
— Tia Brenda, você tá tristinha hoje. — Maria Alice me
tira dos devaneios ao se pôr em minha frente.
— Não estou não, Mali. — Balanço a cabeça, afastando os
pensamentos perturbadores.
Estamos no parquinho ao lado da casa, mas desde que
viemos para cá, meia hora atrás, reconheço que não tenho sido
uma das melhores companhias para a pequena. Deixei meu
celular no quarto para não me distrair com nada e cá estou,
perdida em pensamentos por causa de um certo alguém que não
desgruda da minha cabeça.
— Tá sim. Quando você está feliz, seus olhinhos brilham
muito, e agora eles não estão assim.
Boquiaberta com a observação da criança, solto uma
risadinha sincera pela primeira vez essa manhã.
— Que garotinha esperta. Meu Deus! — Maria Alice sorri
genuinamente para mim.
— Você está triste por que, tia Brenda? — Ela se senta na
toalha de piquenique e estuda-me com atenção.
— É um problema de adulto, Maria Alice, e assunto de
“gente grande” é um pouco chato, sabe? Por isso a tia está
distante, mas eu não estou triste. — Pisco para ela, enquanto
puxo a cesta com alguns lanches e retiro uma vasilha com salada
de frutas. — O que acha de comer um pouquinho de fruta? —
Mostro a ela a vasilha destampada.
— Hmm, tá bom!
Sorrio satisfeita ao notar que Maria Alice se convence do
que falo e esquece de me fazer mais perguntas.
— Qual pedaço você quer primeiro? — Movimento as duas
sobrancelhas para cima e para baixo, arrancando uma risada
genuína da menina. — Morango? Banana? Maçã? Mamão...
hmmm, pêssego? — Listo as frutas, apontando com a ponta do
garfo, e a menina se diverte.
— Tudooooo! — Gargalha e eu também.
— Então abre o bocão assim. — Abro a boca e ela faz o
mesmo. — Isso, agora olha o aviãozinho — brinco, divertindo-a
muito.
— Mas eu não sou mais um bebê para fazer isso, tia
Brenda! — Faz careta e eu rio.
— Eu sei que não, mocinha, mas você pode ser o meu —
murmuro, e ela dá a primeira garfada na fruta.
— O papai me disse que eu sou o bebê dele. — Sua voz sai
abafada enquanto mastiga.
— Ei, primeiro termine de comer para não se engasgar. —
Finjo normalidade quando menciona o pai, o homem que tem
tirado a minha paz nos últimos dias.
Em silêncio, observo-a mastigar e balançar a cabeça.
Respirando fundo, sentindo o cheiro da natureza e ouvindo
o som da calmaria que é esse lugar por ser distante da agitação
da cidade, olho ao redor e por alguns segundos penso estar
vendo uma miragem. Matteo está do outro lado dos arbustos, a
alguns metros de distância, usando apenas uma calça moletom
preta. Ele está com o celular na orelha e desliza os dedos entre
os fios molhados do seu cabelo algumas vezes, o seu gesto
repetitivo é tão sexy que preciso suspirar baixinho.
— Eu quero mais!
É neste momento que o pai dela me flagra espiando-o e o
meu rosto fica vermelho, mas não consigo quebrar o contato
visual com Matteo, que me encara de onde está com um sorriso
malicioso e provocante.
— Tia Brenda?! — Maria Alice me cutuca na perna e eu
arregalo os olhos.
— Me perdoe, pequena. — Pigarreio, sem graça.
— Eu quero comer sozinha — decide.
— O.k. — Entrego a ela o pote, então começa a comer sem
se dar conta da presença do seu pai, que continua me fitando.
Será que vou até ele? E o que eu falarei?
— Hmmm, minha barriguinha está cheia, essa salada de
fruta estava boa!
Olho para Maria Alice e decido por fim esquecer que o pai
dela está ali.
— Pois fale para a Tina, ela adora ser elogiada. — Pisco
para ela, limpando a sua boca suja com o pano.
— Ela gosta mesmo! — Balança a cabeça e eu sorrio.
— Está ansiosa para ir ao colégio hoje? — sondo-a.
— Simmmmm, eu tô feliz! Vou ter amiguinhos para
brincar. — Sorri.
— Isso mesmo! — Aperto de leve a bochecha dela.
— Será que a minha professola nova vai ser igual a Renata
e você? Tomara que ela seja boa, e não uma bluxa. — Cruza os
braços e faz um biquinho fofo.
— Ela será maravilhosa, pequena, aposto que vai.
A expressão dela suaviza.
— Como você sabe? — Franze o cenho.
— Porque é impossível não gostar de uma pessoinha tão
incrível como você. — Cutuco a barriga dela com a ponta dos
dedos e a menina gargalha.
— Verdade? — Seus olhinhos brilham.
— Sim, mocinha, agora vamos arrumar essa bagunça e
entrar, porque o sol já está esquentando — comento, sentindo os
raios de luz atravessarem a árvore que estava nos
proporcionando uma sombra.
— Tá bom! — concorda, se levantando.
— Você recolhe os seus brinquedos na grama e eu ajeito as
outras coisas, pode ser? — sugiro.
Maria Alice concorda sorridente e eu agradeço por ela
colaborar sem reclamar.
Levamos alguns minutos para recolher tudo o que
trouxemos. Em seguida, entramos na casa pela porta dos fundos
para deixar a cesta na cozinha. Encontramos somente Tina, a
todo vapor para terminar o almoço.
— Olá, meninas. Como foi o piquenique de vocês? — Ela
sorri.
— Foi bom, a Maria Alice adorou a sua salada de frutas. —
Pisco para a minha colega de trabalho ao colocar a cesta na ilha
e equilibrar a toalha de piquenique debaixo do braço.
— Eu amei, Tina, mas você também é a melhor cozinheira
do mundo! — elogia Maria Alice, segurando a boneca e a
minicestinha com algumas panelinhas de brinquedo.
— E você, a menina mais linda! — Tina se derrete.
Maria Alice adora ouvir o elogio, porque dá uma risadinha
gostosa.
— O que teremos para comer no almoço, Tina? — sondo-a,
ao sentir o cheiro delicioso da comida, mas não consigo
identificar o que é.
— Lasanha e torta de camarão.
— Hmmm, fiquei com água na boca agora!
— E a sobremesa, Tina? — Maria Alice é louca pela
sobremesa.
— Musse de limão, Mali.
— Ah, eu pensei que ia fazer zelope ou tilamisú.
Rimos com o que ela diz.
— As mesmas sobremesas acabam enjoando, pequena. —
Sorrio.
— Mas são as preferidas do papai! — retruca.
— E pelo visto, sua também — brinco.
— Se o papai gosta, eu também gosto, tia Brenda!
De repente, sinto meu coração bater acelerado com a sua
confissão.
Ela já gosta de mim... E o pai dela, pelo visto, também. E
se...
— Brenda, me acompanhe até o meu escritório, por favor.
Meu corpo arrepia todo com a voz grossa e levemente
rouca de Matteo. Minha respiração acelera e minhas pernas
estremecem.
— Sim, senhor. — Viro-me para ele, que está parado perto
da porta que leva para os outros cômodos da casa. Matteo agora
está usando uma camisa preta de manga longa e tecido fino que
desenha o seu tronco definido.
Ele fica tão bem todo vestido de preto...
— Tina, a Madalena está ocupada no andar de cima, você
pode ficar com Maria Alice por enquanto?
Engulo em seco com o pedido dele.
O rosto, o olhar... Há uma seriedade que mexe comigo, e
não é de uma maneira boa. Será que vai me demitir? Mas
minutos atrás estava diferente, poderia dizer que flertou comigo
a distância, lá fora.
— Claro, sr. Matteo.
— Papai, por que não posso ir com vocês? — a pequena se
manifesta.
— Teremos uma conversa de adulto, filha.
Eu diria que há duplo sentido nas suas palavras pelo seu
tom, mas estou vendo-o tão sério que descarto essa
possibilidade.
— Ah, tá bom, papai! — Maria Alice se contenta.
— Obrigado, Tina. Brenda, me acompanhe. — Ele gira nos
calcanhares, nos dando as costas.
Em silêncio, sigo-o até ele, que me espera no corredor que
dá para o seu escritório, encostado na parede com os braços
cruzados.
Homem lindo dos infernos.
— Teremos a nossa conversa aqui mesmo? — Ponho-me em
sua frente e olho ao redor.
— Não seria apropriado — define, sério demais, e o meu
estômago congela.
— O.k. — Balanço a cabeça, vendo-o seguir para o seu
escritório.
— Entre. — Estuda-me dos pés à cabeça com aquele olhar
penetrante.
Desconcertada, esfrego as mãos em meu uniforme e entro
na sala. Matteo vai me enlouquecer, a cada minuto ele
demonstra uma coisa e depois é outra.
De pé, avalio o seu escritório e respiro fundo ao ouvir a
porta atrás de mim ser trancada.
— Eu diria para você se sentar... — Os passos dele se
aproximam e o meu ritmo cardíaco aumenta. — Mas a minha
intenção não é que tenhamos essa conversa com você sentada na
minha cadeira. — Sinto a respiração dele bater em minha nuca.
— Não? — Estou tremendo. E não é de medo.
— Não. Você tem me evitado por dias, Brenda. — Ele
inclina o rosto na curva do meu pescoço e a sua respiração
quente me causa um formigamento entre as pernas.
— Eu não... — Calo-me quando Matteo passa o braço por
minha cintura, unindo nossos corpos.
— Não tente negar, sabe que não estou mentindo. — Perco
o meu raciocínio ao sentir o nariz do meu chefe deslizar em
minha pele sensível. — Por acaso, o que aconteceu dias atrás te
assustou? — Ele acaricia a minha cintura e beija de leve o meu
pescoço.
Como vou respondê-lo dessa maneira? Nem sequer consigo
formular uma palavra direito.
— Matteo, não foi bem assim. E mesmo percebendo que
tenho te evitado, você também fez o mesmo. — Limpo a
garganta, virando-me para ele dentro do seu abraço.
— Eu só estava respeitando o seu espaço, mas quando
percebi que continuaria afastada, decidi te procurar. — Desliza a
mão até a minha bunda, enquanto a outra toca o meu rosto.
— Por quê? — Fito a sua boca curvada em um sorriso de
canto sensual. Ele dá alguns passos para a frente e eu para trás,
sentindo a minha bunda bater contra o tampo de madeira da
mesa.
— Porque gosto de você. Estou com uma fodida atração
pela babá da minha filha e não suportaria fingir que não estou
incomodado em te ver fugindo de mim. — Ele encara a minha
boca e morde o seu lábio inferior, me causando um arrepio pelo
corpo com a sua declaração e o seu gesto.
Atordoada com a aproximação dele e com o que diz, ofego
baixinho.
— Matteo, eu estaria mentindo se dissesse que não sinto o
mesmo por você, mas... — Antes de conseguir concluir, ele me
interrompe.
— Por que não deixa as coisas fluírem naturalmente? Não
sou mais um adolescente para querer perder tempo. Nos
desejamos e é isso que devemos levar em consideração aqui, não
acha? — Seus olhos deixam os meus, voltando a encarar meus
lábios. Sinto o calor do seu polegar sobre eles, contornando-os
preguiçosamente.
E isso faz com que eu respire com dificuldade e o meio das
minhas pernas se aqueça. Se estou excitada apenas por tê-lo
perto de mim e por seu simples toque, como seria quando
realmente me entregasse?
— Eu concordo, Matteo, mas tenho algumas condições. —
Uso um tom firme, mesmo desejando agarrar o homem para
beijá-lo.
— Certo. E quais são? — Encara-me com curiosidade.
— Não quero que ninguém saiba sobre nós, não quero
magoar a sua filha com o nosso envolvimento. — Respiro fundo,
notando a sua expressão surpresa. — Ninguém, nem mesmo os
meus colegas de trabalho, deve saber. Para não desconfiarem de
nada, nunca iremos demonstrar qualquer tipo de intimidade na
frente deles. Gosto muito da Maria Alice e não quero estragar o
vínculo que criei com ela por algo passageiro — termino de
dizer.
— Tudo bem, como você quiser — concorda, parecendo
surpreso com o meu pedido.
Talvez outra mulher em meu lugar faria o contrário, ficaria
louca para ser assumida por ele. Não que eu não queria isso, mas
um passo de cada vez. Ainda vamos nos conhecer como homem
e mulher. E se Matteo realmente quiser algo sério comigo
depois, irá demonstrar ao longo do tempo.
— Obrigada por isso. Eu adoro a Maria Alice, então
precisamos ir com calma, porque se não dermos certo, ela não
será magoada. — Espalmo as mãos em seus ombros e ele me
coloca sentada na mesa, como se eu não pesasse nada.
— Estou de acordo com tudo, mas agora preciso te beijar.
— Seus olhos fixam nos meus antes de descerem para os meus
lábios entreabertos.
Sem que eu espere, ele afasta as minhas pernas com o
quadril e fica entre elas, então aproxima o rosto do meu e
deposita um beijo no canto da minha boca de modo provocante,
fingindo que vai me beijar, mas desliza os lábios pelo meu
pescoço.
— Confesso que desde a última vez que estive com você
não consigo parar de pensar em cada parte que toquei, com a
minha boca, com as minhas mãos... E olha que o que aconteceu
nem chegou perto do que farei com você. — Ele sorri contra a
minha pele.
— Céus... Matteo, não faça isso. — Arfo ao senti-lo sugar
meu pescoço e morder de leve.
— Eu quero fazer muito mais, Brenda. Infelizmente, meu
dia será agitado e não nos permitirá aproveitar muito, só que
nada me impede de te dar uma prévia. — Ele me encara
enquanto leva uma mão aos botões da blusa do meu uniforme e
abre um por um, sem quebrar o nosso contato visual.
A casa está cheia e nós estamos trancados no escritório
dele, prestes a fazer sacanagem, e mesmo assim, estou ansiosa
para ver o que Matteo tem para me oferecer.
— Você trancou a porta? — sondo-o para me assegurar.
— Ninguém passa por ela sem que eu permita, mesmo que
estivesse destrancada, mas sim, eu tranquei. — Espalma a mão
em minha barriga e acaricia, apertando-me entre os seus dedos,
me arrancando alguns suspiros. — Abra o botão da sua bermuda,
Brenda, e depois erga os quadris. — Fita meus peitos cobertos
pelo tecido preto rendado.
— O que...
— Apenas siga as minhas instruções, ou serei obrigado a te
colocar de costas nessa mesa com a bunda empinada para te dar
algumas palmadas.
A sua promessa é tentadora, contudo, anseio em saber o
seu próximo passo.
— Assim? — Apoio meu corpo nos braços e faço o que ele
me pede, logo após Matteo se afasta um pouco e me surpreende
ao colocar as mãos em minha calcinha e descer a peça com o
short até os meus calcanhares.
Ligeiramente, sinto meu rosto arder ao vê-lo se agachar e
tirar minhas sandálias e se livrar das minhas peças, jogando-as
no sofá ali perto.
— Tire a blusa e o sutiã, eu quero apreciar cada detalhe do
seu corpo enquanto ele treme com o meu toque. — Seu olhar
febril recai sobre a minha boceta, então esfrego minhas pernas
ao me sentir melada.
— O.k. — murmuro, hipnotizada ao notar que ele fica a
uma distância considerável, me dando o vislumbre do seu pau
endurecido marcando a calça moletom.
— Vê como o meu pau fica por você? Estou todo melado
sem nem mesmo ter te tocado. — Ele aponta para a mancha no
tecido da sua calça.
— Pois estou do mesmo jeito — confesso baixinho quando
ele vem até mim e me ajuda a tirar a última peça do meu
uniforme.
— Pensar me mim comendo você a deixa quão molhada,
Brenda?
— Não sabia que era tão presunçoso. — Atiço-o e ele ri
baixinho.
— Um homem precisa ter um pouco de presunção —
retruca, divertido.
Sorrio mais relaxada mesmo estando diante dele quase nua.
— Não discordo, em você acho um charme. — Estalo a
língua, vendo-o gargalhar.
— Eu sou um charme.
— Convencido demais — murmuro, observando-o separar
as minhas pernas com o seu corpo e se colocar entre elas
novamente.
— Um pouquinho. — Leva a mão às minhas costas e abre o
fecho do sutiã. O seu semblante suave é substituído por um
carregado de excitação. — Eu não tive a oportunidade de dizer,
mas os seus peitos são lindos e eu adoraria mamar neles
novamente. — Eu o deixo que me tenha completamente despida
quando ele desliza as alças da lingerie por meus ombros.
Ofegante, prendo os lábios nos dentes ao mirar em Matteo
soprando meus mamilos, que ficam ligeiramente intumescidos.
Ele abocanha primeiro o mamilo esquerdo e suga com força,
enquanto agarro o seu cabelo ao soltar um gemido contido.
— Ahh, Matteo... ahhh. — Excito-me ainda mais com o
toque dos seus dedos no meio das minhas pernas, que deslizam
até a minha boceta e começam a me dedilhar levemente.
A língua dele rodeia meu mamilo e sua barba roça na
minha pele, me causando uma deliciosa sensação. Ele troca de
seio, mamando o outro com mais intensidade, esfomeado,
enquanto me fode com os dedos.
— Ohh... Céus, Matteo! — Abafo meu grito com uma mão
ao receber uma mordida no mamilo, e arqueio o quadril na
direção da sua mão, implorando para que me faça gozar de uma
vez.
Matteo ergue os olhos e estuda-me por alguns segundos
antes de descer a boca pela minha barriga. Ele beija, chupa e
mordisca cada centímetro da minha pele no caminho. Arfante e
com o peito subindo e descendo, apoio-me nos braços e jogo a
cabeça para trás.
— Vou chupar a sua boceta como ninguém nunca chupou,
Brenda. — Passa a língua por cima do meu umbigo e desce até
chegar à minha vagina.
Ele coloca minhas pernas em seus ombros e me deixa mais
aberta. Com a respiração oscilante, meus gemidos soam baixos e
contidos enquanto os dedos de Matteo deslizam por meu clitóris,
lambuzando-o com a minha excitação.
— Delícia.
Matteo me abre toda, me deixando exposta o suficiente
para enterrar o rosto ali e abocanhar a minha boceta e sugar meu
clitóris com força. Contendo o gemido na garganta, deito meu
corpo sobre a mesa espaçosa e meu penteado se desfaz. Espalmo
minhas mãos na madeira fria e Matteo me chupa ao mesmo
tempo que me masturba. Desliza a língua por minhas dobras
molhadas, e cada vez que me ouve chamar o seu nome bem
baixinho, intensifica as suas investidas.
Sendo sucumbida pelo deleite, arqueio minhas costas e
esfrego minha boceta melada em seu rosto. Ele aproveita e
agarra a minha bunda, adorando a ousadia em me oferecer para
ele, então enfia a língua em meu interior em uma velocidade que
preciso abafar meu grito com a mão.
Meu chefe me faz suar em pequenas reboladas.
Me faz perder o fôlego com as suas chupadas.
E eu preciso buscar ar para os meus pulmões.
No ápice do prazer, lágrimas escorrem. Meio atordoada,
descanso minhas costas na madeira da mesa e mordo minha boca
ao gozar violentamente para Matteo.
Ele me fez gozar fortemente.
Não foi um simples gozar, ele me deu algo mais
arrebatador e digno de Matteo Bianco.
Com a pulsação acelerada e o coração quase saltando pela
boca, fecho os olhos e busco por ar através de uma longa
respiração.
— O seu gosto ficou grudado em minha boca, Brenda, vai
ser difícil esquecer isso. — Ele quebra o silêncio.
— E você tem alguma pretensão de esquecer? — sondo-o,
ao ser acariciada na coxa.
— Nenhuma.
Quase recuperada, volto a me sentar com a ajuda dele.
Nossos olhares se cruzam quando ele traz o seu rosto para perto
do meu.
— Você é muito bom com a boca. — Olho os seus lábios e
ele sorri safado.
— Quer sentir? — propõe, tentador.
— Sim. — Balanço a cabeça, hipnotizada pelo homem que
me toma em um beijo feroz, sugando minha língua, mordendo a
minha boca e passando uma das mãos por minhas costas. — M-
m-matteo, j-já ficamos trancados muito tempo aqui. — Solto um
gemido com nossas bocas encostadas uma na outra, mas ele
destrói qualquer pensamento que eu tenha ao cobrir meus lábios
com os seus em um beijo bruto e arrebatador.
Em poucos minutos, ele está me masturbando com
velocidade. A mercê dos meus anseios por ele, passo um braço
em seu pescoço e levo uma mão à sua nuca. Os dedos grossos e
largos dele me dedilham sem parar e eu gemo contra a sua boca,
quase gozando novamente.
— Vou passar o dia inteiro pensando em você, nos seus
gemidos e nessa boceta que estou louco para comer — diz,
contra meus lábios. Trêmula, eu arfo ao vê-lo se afastar para
levar os dedos que estavam dentro de mim até a sua boca,
sugando-os sem desviar o olhar do meu. — O seu gosto... hmm,
é uma delícia. — Fita-me, com as íris castanhas mais escuras.
— Queria poder retribuir o orgasmo maravilhoso que me
deu, mas hoje é o primeiro dia de aula da Maria Alice e eu
preciso verificar se está tudo o.k. — Passo a mão por seu ombro
e vou deslizando por seu abdômen musculoso até chegar ao seu
pau.
— Não use o uniforme para levarmos a Mali.
Fecho meus dedos em seu membro por cima do tecido
molhado e ele solta um gemido rouco.
— Não acho que seria...
Interrompe-me ao tocar o meu queixo para que eu o encare.
— Não é um pedido, Brenda, é uma ordem. — Ele encosta
nossas bocas e tira a minha mão de cima do seu pau, induzindo-a
para dentro da calça. — Sinta o que faz comigo.
Preciso gemer ao sentir as veias avantajadas em seu
membro lambuzado e pulsante nos meus dedos. Excitada, mordo
o lábio e fito o semblante de Matteo. O seu maxilar está travado
e a sua respiração se altera quando me vê tirar o membro para
fora da roupa e começar uma masturbação.
— Puta merda, Brenda... Espero que termine o que está
começando, porque agora não sou mais capaz de te deixar sair
desse lugar sem me fazer gozar em sua mão. — Geme rouco,
passando a língua entre os lábios.
— Esse é o meu propósito. — Inclino o rosto na altura do
seu abdômen e cuspo na cabeça do pau dele. O homem
enlouquece com o meu gesto, porque fica mais duro e solta um
gemido animalesco.
— Porra! — Solta um palavrão e fecha os olhos ao ser
masturbado com velocidade.
Deslizo meu corpo um pouquinho mais para trás na mesa e
abro minhas pernas para que Matteo tenha uma visão
privilegiada da minha boceta enquanto bato uma punheta nele.
— Não me provoque, Brenda, posso te foder agora mesmo
e acabar com o nosso acordo em manter a nossa relação em
sigilo. — Ele fecha uma mão na minha que o masturba e me
ajuda com os movimentos, enquanto a outra vai para um dos
meus seios, apertando com força ao alcançar o clímax.
Abro a boca e fecho, e quando estou prestes a respondê-lo,
o telefone ao nosso lado começa a tocar. Com o cenho franzido,
Matteo se afasta de mim e arruma o seu moletom, em seguida
atende à ligação.
— Quem é? — pergunta, com a expressão suavizada. De
repente, seu rosto empalidece e ele começa a falar em italiano.
Não entendo o que ele diz, somente que se trata da avó,
pois falou nonna.
Percebendo que não é mais conveniente ficar ali por se
tratar de um assunto pessoal, salto da mesa sentindo minhas
pernas pegajosas e recolho meu uniforme, vestindo-o sob o olhar
aflito do Matteo, que nesse momento está completamente
distraído.
Ele anda de um lado a outro, ainda conversando no
telefone, com o rosto vermelho parecendo ser de raiva.
Passo as mãos em meu cabelo, depois refaço o penteado
nele, que não fica como antes, mas pelo menos não está tão
bagunçado, só então saio de fininho.
Respirando fundo, sigo até o meu quarto para que ninguém
me veja para tomar banho e voltar para as minhas atividades.
A minha demora no escritório do Matteo me rendeu uma
pequena confusão. Depois que retornei para a cozinha, Tina me
perguntou se estava tudo bem comigo, já que surgi sem o meu
uniforme. A coitadinha achou que eu tinha sido demitida, uma
vez que Matteo estava sério quando me chamou para uma
conversa, e ao me ver sem o uniforme, deduziu que eu tinha ido
me despedir dela.
No momento em que ela demonstrou preocupação, fiquei
me sentindo culpada, porque Matteo estava longe de me demitir.
Só depois que expliquei a razão de estar sem o uniforme, a
mulher riu e disse que ficou tão preocupada com a minha
possível demissão que nem pensou direito.
No mesmo instante, Madalena surgiu com Maria Alice e
ouviu a conversa por alto. A governanta também se mostrou
aflita, mas Tina se adiantou e contou tudo o que aconteceu.
Madalena, depois de ouvir a explicação, apenas me encarou por
alguns segundos parecendo pensativa e não disse nada. Só que o
seu olhar demorado me causou um arrepio na espinha.
Fiquei tão desconcertada com o clima tenso entre mim e
ela pairando no ar, que disfarcei meu leve incômodo
perguntando a Tina se já poderia colocar o almoço de Maria
Alice, porque queria que ela comesse antes de estar arrumada
para não sujar o uniforme do colégio.
Após terminar de dar comida à menina, subi com ela para
que descansasse um pouco antes de começar a arrumá-la. Isso
serviu também para evitar o contato visual com Madalena.
— Eu tô linda, né, tia Brenda?
Fito Maria Alice, que sorri genuinamente para mim.
— Muito, princesa! — Estudo a sua expressão de
felicidade, ela está deslumbrada desde que vesti o uniforme
nela.
A camisa é amarela e cinza, e o short-saia é cinza com
algumas linhas amarelas nas bordas. Estou morrendo de vontade
de apertar as bochechas dela por estar achando uma fofura só,
mas a deixarei brava se fizer isso. O cabelo dela demorei um
pouco para fazer, mas valeu a pena. Fiz um penteado estilo
coroa de trança, e para ganhar mais um ar de delicadeza,
coloquei algumas presilhas miúdas em formato de flores.
— Que horas vamos? — Ela pega a mochila no canto da
cômoda e começa a andar pelo quarto.
— Em exatos... — Olho para o relógio na parede por
alguns segundos, mas batidas à porta me interrompem.
— Brenda, o Matteo está aguardando por vocês para que
possam sair — diz Madalena, do outro lado da porta.
Levanto-me da cama e passo a mão pelo meu vestido.
— O.k. Já vamos descer.
— O.k. — responde, em seguida ouço alguns passos se
afastando.
— Vamos, mocinha? — Volto-me para Maria Alice, que
está vibrante.
— Vamos!! — Sorri, animada, vindo em minha direção com
a sua mochila.
Sigo atrás de Maria Alice, que arrasta a mochila pelo
corredor, mas quando chegamos ao topo da escada, pego a
mochila e seguro em sua mão e descemos os degraus
cuidadosamente.
Sentado de costas para nós no sofá, Matteo gira o corpo na
nossa direção ao ouvir nossos passos. Sorrindo, ele examina a
filha e os seus olhos brilham cheios de amor, em seguida, o
homem mira em mim com um olhar diferente. Mais quente e
cheio de intenções. Eu poderia dizer que pelo tom escurecido
que suas íris ficam, ele está pensando em alguma sacanagem que
envolve nós dois.
— Você está linda, Mali! — ele elogia a filha, que dá uma
risadinha boba.
— Eu sei, papai! — A menina nos faz dar risada.
— Acho que podemos ir. — Ele se levanta olhando para as
horas no relógio em seu pulso.
Matteo fica lindo usando roupas pretas, mas a camisa de
manga longa azul num tom escuro, e a calça jeans clara, muda
completamente a minha opinião. Ele fica lindo usando qualquer
coisa.
— Matteo, aqui está a lancheira da Maria Alice. —
Madalena surge na sala. A menina solta a minha mão para pegar
a sua lancheira com a governanta, que entrega a ela com um
sorriso enorme. — Você está muito linda, Mali! — A mais velha
se emociona ao ver a criança uniformizada.
E eu a entendo, ela a viu bebê e agora, Maria Alice está
indo para o colégio.
— Todo mundo me disse isso, Lena!
Rimos com a pequena serelepe.
— Como o tempo passa rápido, não é? Um dia desses era
apenas um bebê, agora está indo para o primeiro dia de aula. —
A voz dela soa embargada e os seus olhos se enchem de
lágrimas.
— Os anos passaram voando, Madalena — ele responde.
Não sei por que, mas sou afetada pelas palavras da
governanta, e ao fitar Matteo, esse sentimento só piora. Meu
coração se aperta ao ver que ele está pensativo e distante.
— Agora não sou mais um bebê, Lena! Sou uma mocinha,
não é, papai?! — Somente Maria Alice consegue trazer a atenção
do pai de volta.
— Sim, filha, isso mesmo. — Ele limpa a garganta. —
Madalena, diga a Tina que não precisa preparar o jantar essa
noite, vou comprar pizza para comemorar o primeiro dia de aula
de Maria Alice.
— O.k.
— Brenda e Mali, vamos.
Assinto, vendo Maria Alice ir até o pai e pegar na mão
dele.
Pai e filha se despedem de Madalena, logo eu faço o
mesmo antes de seguir os passos dos dois até o carro.
Nos três primeiros dias de Maria Alice no colégio, eu a
levei e busquei, mas depois Brenda assumiu essa
responsabilidade. A minha filha me surpreendeu positivamente
em seu primeiro dia de aula, imaginava que ela fosse chorar por
ter que passar algumas horas em um lugar estranho para ela,
contudo, Maria Alice fez o contrário, ficou sorridente desde a
nossa chegada até a nossa despedida no Anchieta. No segundo
dia, fez o mesmo, e no terceiro, nem se fala, já tinha uma
coleguinha para dar “tchau e até amanhã”. A sua rápida
adaptação me encheu de orgulho e satisfação.
Quem resolveu dar as caras depois de dias me evitando foi
Daniele. Ontem, ela me mandou uma mensagem de voz avisando
que o evento que ocorreria no shopping foi cancelado e
remarcaram para outro mês. O seu tom foi estritamente
profissional, em momento algum soou indiferente.
Eu perguntei como ela estava e se eu poderia ligar, quando
ela disse sim, não perdi tempo e fiz a ligação. A sua primeira
pergunta foi sobre Maria Alice, queria saber como ela estava. Eu
contei sobre o primeiro dia da minha filha no colégio, e aos
poucos pude perceber que a minha antiga amiga estava de volta.
Através da ligação, notei que Daniele não parecia estar chateada
comigo, acredito que o nosso distanciamento serviu para que ela
refletisse e entendesse que a nossa amizade não poderia ter sido
interrompida de uma maneira tão brusca.
Antes de encerrar a ligação, eu a convidei para almoçar na
minha casa, Daniele ficou muito feliz e disse que fazia questão
de trazer a sobremesa, mesmo eu dizendo que não era
necessário.
Assim que Tina chegou, solicitei a ela que preparasse
macarrão a carbonara, e que a Dani almoçaria conosco. No
mesmo instante, percebi o semblante da minha cozinheira mudar
do suave para tenso, foi como se a informação não a agradasse
muito. Ela apenas balançou a cabeça e disse que capricharia na
refeição.
Nunca parei para observar a convivência dos meus
funcionários com a Daniele. Ela pode ser uma mulher um pouco
difícil às vezes, mas acredito que jamais trataria mal as pessoas
que gosto, e sabe muito bem que nunca compactuaria com isso.
Tina, Madalena e Pedro estão comigo há anos, são como uma
família para mim, a minha rede de apoio. E isso nunca irá
mudar.
Sentado na cadeira do meu escritório, observo a tela do
iPad em minhas mãos, terminando de ler os exames recentes da
minha nonna que o Dr. Carlo Ricci enviou por e-mail. Ele é o
médico de confiança da família Bianco há mais de duas décadas.
Receber a ligação de Martina, a cuidadora de anos da
minha avó, me deixou em alerta. Raramente recebo ligações
dela, mas dias atrás descobri que ela andou comendo doces
escondido. De imediato, fiquei preocupado, uma vez que na casa
dela não entra doce desde que foi diagnosticada com diabetes.
Ela é uma idosa de mais de oitenta anos e a saúde já está
fragilizada demais, todo cuidado com ela é pouco. E ter comido
doce ocasionou o aumento da glicemia, quase foi internada, mas
por sorte foi socorrida a tempo.
Soube por Martina que a origem do doce que minha nonna
comeu veio de uma das suas filhas. Ela ficou tão constrangida e
se sentindo culpada que quase chorou, mas pedi que se
acalmasse e me contasse detalhadamente o que aconteceu. Foi
então que soube que a caçula da cuidadora tem nove anos de
idade, e sem saber a gravidade do que poderia acontecer a uma
senhora de idade com saúde frágil, ofereceu a ela algumas balas.
A minha avó escondeu debaixo do travesseiro para comer sem
que ninguém visse. Mas durante a madrugada começou a passar
mal, e Martina só soube o que a filha fez através da primogênita,
que confessou ter visto a irmã entrar no quarto com uma
sacolinha com doces.
Estava pronto para deixar tudo aqui para visitá-la, até que
nonna falou comigo por ligação e me tranquilizou pedindo que
eu não me preocupasse com ela, porque já estava velha e eu
tinha uma filha para cuidar, e não deveria ficar saindo às pressas
de um país para outro porque ela comeu umas “balinhas”. Eu a
repreendi com uma enorme dor no peito e deixei claro que se for
preciso eu a trago para o Brasil para que possa ficar sob meus
cuidados.
Inúmeras vezes, eu quis que ela viesse morar comigo,
desde a época em que perdi meus pais, contudo, minha avó
decidiu que ficaria no país que nasceu e viveu. Ela me disse uma
vez que quando chegasse o dia da sua partida, gostaria de estar
em seu lar, e eu respeito a sua escolha, tanto que, mesmo ela
sendo uma senhora de idade, permito que viva sob os cuidados
da Martina, uma vizinha que ficou viúva jovem após o marido
ter falecido. A mulher perdeu tudo, e por ser alguém de
confiança da família, permiti que fosse morar sob o mesmo teto
que a minha avó. E em uma década desse arranjo, é a primeira
vez que acontece esse tipo de coisa.
A pobre coitada ficou com medo de que eu a demitisse,
porém, eu a tranquilizei dizendo que erros acontecem, só pedi
que fosse mais cautelosa e conversasse com a filha, explicando
que doce faz muito mal à minha avó. Por fim, resolvemos tudo.
Dr. Carlo me explicou algumas coisas que me deixou mais
calmo. Vovó fez exames, e hoje, o médico me mandou os
resultados e afirmou novamente que o seu único problema é o
maldito diabetes, que pode ser controlado com uma boa
alimentação e alguns exercícios físicos leves.
Respirando fundo, coloco o iPad com a tela desligada
dentro da gaveta ao lado e retiro os óculos de leitura do rosto,
deixando-o no canto da mesa.
Estou no escritório desde cedo, vim revisar algumas
páginas do meu livro, e depois que recebi o e-mail do Dr. Carlo,
interrompi o meu trabalho para dar atenção ao que ele tinha me
enviado. Mas não vou passar horas trancado aqui, minhas costas
já estão moídas e eu preciso de um descanso.
Uma batida à porta interrompe meus pensamentos.
— Quem é? — sondo-o, levantando-me da poltrona e
alongando o meu corpo que está completamente travado por ter
passado horas na mesma posição.
— Sou eu, Matteo. — É Madalena. Toda vez que ela vem
ao meu escritório e sabe que estou trabalhando, nunca entra sem
avisar.
— Entre, Lena — peço, alongando o pescoço.
Minha governanta entra com um sorriso no rosto e fecha a
porta atrás dela. Eu aponto para o sofá no canto e ela se senta.
— Precisa de algo? — Encosto-me na borda da mesa, cruzo
as pernas e os braços.
Madalena balança a cabeça e passa a mão no cabelo
grisalho.
— Sim. É sobre a Maria Alice ir para a minha casa nesse
fim de semana para brincar com a Luísa e a Isabela. — Seus
olhos brilham, ela ama as netas e eu a entendo.
— Mas não é combinado desde sempre ela ir aos sábados?
Houve alguma mudança? — Franzo o cenho.
— Não, mas é que dessa vez será um pouco diferente o
meu pedido. — Ela passa a mão na roupa, como se estivesse
nervosa. — Pensei na Mali dormir em casa no sábado com as
meninas, para que façam a noite do pijama, e no domingo ela
vem embora. — Seu tom é esperançoso.
Maria Alice nunca dormiu em outro lugar que não fosse
aqui, mas se a minha governanta tivesse me pedido outras vezes,
com certeza permitiria. Confio nela de olhos fechados, ela pode
levar a minha filha para onde for que eu saberei que estará em
boas mãos.
— Não vejo problema nisso. — Ela sorri, animada e
aliviada. — Só que antes precisamos saber se a Maria Alice vai
querer dormir lá, mas aposto que vai adorar a ideia.
— Tudo bem! — concorda.
— Ela ainda está na aula de piano?
— Já deve estar encerrando. — Observa as horas em seu
relógio.
— O.k. Vou falar com ela, mais tarde te dou uma resposta.
— Massageio a nuca.
— Certo. Agora vou verificar como está o preparo do
almoço.
Só então me lembro que não a comuniquei sobre a vinda da
Dani.
— Lena, não te avisei, mas a Daniele vem almoçar
conosco.
Madalena não demonstra surpresa quando a informo.
— A Tina já me disse, não se preocupe, tratei de preparar
tudo antes que a dona Daniele chegue — comunica, um pouco
séria. A sua expressão é quase a mesma da Tina.
Curioso para saber o motivo da segunda pessoa mudar
rapidamente de humor ao mencionar a minha amiga, limpo a
garganta e me aproximo da minha governanta.
— Lena, você é como uma segunda mãe para mim, está
nesta casa há muitos anos. Preciso fazer uma pergunta para você
e quero que seja sincera. — Toco em seu ombro e ela arregala os
olhos.
— Claro, Matteo. — Assente, insegura.
— Por acaso a Daniele já se comportou mal com vocês na
minha ausência? — Respiro fundo ao notar que a minha
governanta fica levemente pálida.
Seria uma afirmação?
— É-é... b-bom... Ela nunca... nunca nos maltratou,
Matteo, mas a dona Daniele é um pouco exigente, sabe? Quando
não está perto do senhor... só que isso não é um problema para
nós, sabemos o nosso lugar e...
— Madalena, ela pode ser a minha amiga, mas jamais
permitiria que maltratasse vocês. E pare com essa comparação
besta de “o nosso lugar”. Não quero mais te ouvir falar uma
bobagem dessas — repreendo-a.
— A dona Daniele não nos maltrata, Matteo, ela é só
exigente e às vezes é chato. Apenas isso. Mas é o jeito dela,
conheço a Dani há anos, ela é aquilo ali mesmo — afirma, com
um pequeno sorriso.
— Sim, é, mas se em algum momento ela fizer algo que
não agrade ou ofenda vocês, preciso saber, o.k.?
— Pode deixar, Matteo — assegura.
— O.k. Vou confiar na sua palavra. — Afasto-me dela.
— Vou para a cozinha verificar como tudo está. Com
licença — pede.
Eu assinto e a vejo se retirar da sala. Pego meu celular de
cima da mesa e o guardo no bolso antes de sair do escritório e
seguir até o cômodo onde Maria Alice está tendo aula de piano,
com a professora Sofia.
Minha filha está sentada no banquinho, em frente ao piano
preto. Ela toca nas teclas delicadamente, e está tão concentrada
que nem percebe a minha presença. Ao lado dela está a
professora, com um sorriso enorme, e está tão distraída quanto a
aluna. Mas assim que me nota ali, acena com a cabeça para não
tirar a atenção de Mali.
Encosto-me na parede da sala e um sorriso rasga em minha
boca ao notar a evolução de Maria Alice, a cada dia que passa
ela me dá mais orgulho. Ela termina de tocar e Sofia aplaude a
pequena, que também bate palmas.
— Parabéns, Mali, você foi excelente! — elogia, tão
orgulhosa quanto eu, arrumando os óculos de grau no rosto.
— Verdade, professola? — Minha filha vibra.
— Sim, querida. Mas pergunte ao seu pai se não tenho
razão.
Maria Alice gira o rosto na minha direção, e quando me vê,
salta do banco e vem até mim toda sorridente.
— Eu tô boa mesmo, papai?!
Assinto, sorrindo de orelha a orelha.
— Perfeita é a palavra ideal. — Agacho-me na frente dela.
— Hmmm, então tá bom, né! — Arranca-me uma risada
genuína ao girar o corpo na direção da professora, que está
arrumando a sua bolsa.
— Mali, esse fim de semana você vai para a casa da Lena
para brincar com as netas dela. — Os olhinhos dela chegam a
brilhar.
— Uhull, tô com muita saudade da Isabela e Luísa! —
Comemora dando alguns saltinhos.
— Mas a Madalena me fez um pedido especial. — Pisco
para ela, que me fita entusiasmada.
— Qual? Conta, papai! — Bate os cílios.
— Você gostaria de dormir com as meninas na casa da Lena
e voltar no domingo de manhã? Mas tem que prometer ao papai
que não vai chorar. — Rio baixinho ao vê-la arregalar os olhos.
— Você e as meninas terão uma noite de pijama, o que acha?
— Eu quero! — decide, risonha.
Um pigarreio atrai a minha atenção. Sofia.
— Senhor Bianco, estou de saída. Mali, até a próxima
semana! — A professora se despede de nós e eu me levanto.
— Tchau, professola!
— Vou te levar até a porta, Sofia. Muito obrigado pela
dedicação com a minha filha — agradeço, e ela sorri feliz.
— Eu amo trabalhar com a Maria Alice, ela é uma menina
muito especial — elogia, deixando a criança com as bochechas
vermelhas e toda alegre.
— Vamos, eu te acompanho.
A mulher balança a cabeça, concordando.
— Obrigada — agradece gentilmente.
Permito que ela saia na frente e a sigo até a sala com Maria
Alice, que entrelaça nossas mãos. Minha filha corre na frente
para abrir a porta para a professora e eu observo o pequeno
diálogo delas antes da profissional ir embora.
— Papai, hoje você pode me levar ao colégio? — Ela
tranca a porta e se vira para mim.
— Filha, eu... — Sou interrompido por meu celular
tocando. — Já falo com você — murmuro para Maria Alice, que
passa por mim e se senta no sofá.
Tiro o celular do bolso e vejo que Daniele é quem está me
ligando.
— Oi, Dani. — Vou até a minha filha e me sento ao lado
dela, que me observa em silêncio enquanto balança as pernas.
— Matteo, infelizmente não vou poder almoçar na sua casa
hoje, tive um imprevisto aqui. — Sua voz está nitidamente
alegre, deve ser algo bom.
— Tudo bem, marcamos outro dia. — Passo a mão por
baixo do meu queixo.
— O.k. Você lembra do Thomas, não é? — Ela ri do outro
lado da linha e uma voz masculina sobressai ao fundo,
reconheço-a de algum lugar.
Thomas. Já ouvi esse nome em algum lugar.
— Não me recordo — confesso.
— Thomas Ferrer, o meu ex-namorado — revela, e só
assim para que eu me recorde dele.
Daniele e ele namoraram por algum tempo, mas depois o
homem teve que morar no exterior com a família.
— Ah, lembrei agora.
— O Thom voltou hoje para o Brasil e veio me visitar, e eu
não poderia perder essa oportunidade de revê-lo. — A felicidade
dela me contagia a ponto de sorrir.
Me lembro como hoje. A Camila e eu ainda éramos noivos
quando a prima dela era perdidamente apaixonada pelo
namorado. Eles faziam um belo casal e pareciam se amar, até
que Thomas teve que ir embora para longe e romperam por causa
da distância.
— Está certa. Espero que curta bastante o seu dia. — Sou
sincero.
— Eu vou, sim. Obrigada. — Ri baixinho, sem me dar
muita atenção.
De longe, ouço um “você continua usando o mesmo
perfume daquela época”. É nesse momento que me despeço dela
e deixo que aproveite o seu dia ao lado de alguém que lhe faz
muito bem. De coração, espero que Daniele e Thomas possam se
reconciliar. Que entre esses encontros e desencontros, que
consigam viver esse amor que foi interrompido anos atrás, caso
ainda haja algum sentimento. E pela animação da mulher, é
óbvio que existe.
— Papai, vai me levar ao colégio? — insiste Maria Alice,
me tirando dos devaneios.
— Vou, filha — confirmo, guardando o celular.
— A tia Brenda também vai, né? — A sua pergunta me
arranca uma risada.
— Vai sim. — Mordo os lábios ao pensar na mulher.
— Obaaaa, vou contar a Lena e a Tina! — decide, saltando
do sofá e correndo na direção da cozinha.
Me recosto no sofá e jogo a cabeça para trás, fechando os
olhos e ficando ali por alguns minutos, até que um aroma
adocicado e delicioso atrai a minha atenção. Sorrindo, viro o
rosto para o lado esquerdo e deparo-me com Brenda, usando o
seu habitual uniforme cor salmão que fica particularmente sexy
pra caralho nela. Em suas mãos ela segura um balde e uma
vassoura.
Eu ainda não a tinha visto essa manhã, passei a maior parte
do meu tempo no escritório, e se soubesse que estava limpando a
sala de brinquedos de Maria Alice, teria chamado a sua atenção.
A única função dela dentro dessa casa é cuidar da Mali, e não
fazer o serviço de outra pessoa.
— Bom dia, Matteo. — Sorri, apoiando a vassoura debaixo
do braço e tentando arrumar alguns fios do seu cabelo que estão
bagunçados.
— Bom dia. O que estava fazendo? — pergunto o óbvio,
mas quero ouvir dela.
— Fazendo uma faxina na sala de brinquedos, estava
precisando — murmura.
— Brenda, a sua função não é fazer limpeza, não importa
se é no quarto da Maria Alice ou na sala de brinquedos dela. Há
alguém para fazer isso e essa pessoa não é você. — A mulher
congela com a minha repreensão. — Hoje é a última vez que a
vejo fazendo limpeza, o.k.? — Estudo-a, seriamente.
— Tudo bem — concorda, sem jeito.
— Eu preciso que dê a Mali cem por cento da sua atenção
— relembro-a o que disse no dia da entrevista.
— Sim, eu sei, mas achei que não teria problema em
ajudar. Não gosto de ficar parada, sendo que sei que posso ser
útil — justifica.
— Quando estiver entediada, procure um livro para ler ou
qualquer outra coisa.
Ela entende o recado e balança a cabeça.
— Farei isso, senhor. — Limpa a garganta.
— Preciso falar com você no meu escritório. — Passeio os
olhos por seu short, e o tecido um pouco apertado nas suas
pernas deixa a minha imaginação fértil até demais. Eu me pego
desejando arrastá-la para algum canto dessa sala para que
possamos fazer várias sacanagens.
— Agora? — Assinto para ela. Não tenho nada para falar,
mas nunca perco uma boa oportunidade. — Vou deixar essas
coisas na área de serviço. Com licença. — Sua respiração fica
pesada e ela cruza as pernas disfarçadamente ao perceber meu
olhar analítico nela.
Nego, levantando-me e indo até ela, que se cala ao ver a
minha movimentação.
— Não é necessário.
Franze o cenho.
— É tão importante assim? — Usa um tom preocupado.
— Muito. — Minha expressão é a mais descarada de todas,
séria a ponto de ela nem desconfiar do que se trata.
— O.k. — Brenda encosta o balde e a vassoura no canto.
— Me siga. — Dou as costas para ela e rumo até o meu
escritório. No meio do caminho contenho o meu riso ao vê-la me
seguir. — Entre. — Abro a porta para que ela passe e noto o seu
semblante aflito. Eu me sinto um filho da mãe por fazê-la pensar
que o assunto que temos a tratar é sério.
Brenda entra em meu escritório e eu faço o mesmo, em
seguida, tranco a porta.
— Do que se trata? — Une as mãos na frente do corpo e
encara-me ansiosa.
Dou passos na direção dela, e conforme me aproximo,
suavizo minha expressão. A babá da minha filha entende as
minhas intenções quando estou perto o suficiente para segurar
em seus ombros e encostá-la na parede mais próxima.
— Não tenho nada para falar com você, mas sei que só
assim conseguiria te trazer aqui — explico, vendo-a ficar
perplexa.
— Por Deus, quase tive um infarto! — repreende-me,
brava.
Eu toco em seu rosto e acaricio suas maçãs com os
polegares.
— Me desculpe. — Fito a sua boca, depois seus lindos
olhos.
— O que você quer? — Observa a minha boca também, já
com a respiração oscilante.
— Está mesmo me perguntando isso? — Roço meu nariz no
seu e dou um selinho nela.
— Uhum, estou... — Prende meus lábios em seus dentes e
solta devagar.
Sorrio, ficando excitado com o seu gesto.
— Você é a única coisa que quero neste exato momento. —
Acaricio sua coxa por cima do tecido da roupa.
— Estou suada, Matteo — me recrimina.
— Bobagem. — Minha mão fica entre o seu maxilar e o seu
pescoço, então inclino o rosto na curva dele e sinto o seu
perfume gostoso. — Eu adoro esse cheiro. — Lambo a sua pele e
mordo de leve.
— Ei, eu estava mexendo com produto de limpeza —
resmunga, com o timbre baixinho.
— Não me importo. — Asseguro-a ao segurar na lateral do
seu short. — Vou tirar essa peça de você.
Brenda inclina a cabeça para trás na parede e eu desço o
short até os seus pés, no processo, o seu penteado se desfaz e a
cena é tão deliciosa que o meu pau cresce e pulsa dentro da
cueca.
— Matteo — geme ao me sentir colocar a calcinha molhada
dela de lado e espalmar a mão em sua boceta.
— Você quer que eu te toque? — Uma onda de excitação
me preenche por inteiro quando percorro meus olhos por seu
corpo.
— Aham. — Empurra o quadril para a frente.
Eu deslizo dois dedos por seu clitóris já lambuzado.
— Porra, você está encharcada. — Preciso gemer em
satisfação.
— Muito. — Morde a boca e rebola em meus dedos.
Faço círculos suaves e rápidos, entro e saio dela,
arrancando-lhe gemidos intensos a ponto de fazê-la arquear a
coluna. Ela se move em sincronia a cada estocada que recebe, e
eu preciso calar os seus gemidos com a minha boca, esmagando
os meus lábios nos seus.
Empurro a língua em sua garganta e, em resposta, Brenda
segura em minha nuca e puxa o meu couro cabeludo. Eu movo os
dedos de um lado a outro, para cima e para baixo, causando um
som gostoso em suas dobras molhadas.
Nem preciso que ela me toque para alcançar o clímax, só
em tê-la entregue, masturbando-a habilmente, sinto a cabeça do
meu pau melar o tecido da minha cueca. Gozo no caralho da
calça apenas dando prazer a Brenda.
Porra!
— Ahhh, M-m-matteo... — Ela goza fortemente, afastando
um pouco a boca da minha para buscar fôlego, mas logo volta a
me beijar cheia de tremores.
Em meio a um beijo desesperado, nossos dentes batem,
fazendo barulho na boca um do outro. Arfante, a mulher encosta
a testa na minha e eu retiro os dedos do seu interior lentamente.
— Gozei só de tocar em você — confesso, atraindo um
brilho diferente em seus olhos.
— Estou com as pernas tremendo — revela.
Prendo o riso e recebo um tapinha no ombro.
— É sério — murmura, tentando normalizar a respiração
rápida.
— Logo passa a sensação. — Arrumo a sua calcinha e
coloco o seu short no lugar cuidadosamente.
— Nem sei se consigo andar — exagera, e eu
gargalho.
— Só usei meus dedos, Brenda. — Acaricio a cintura dela.
— E que dedos — elogia, sorrindo relaxada.
— Em breve, vou te mostrar o que realmente pode te deixar
sem conseguir andar direito — prometo, escutando sua
respiração pesar mais uma vez.
Ela abre a boca para me responder, mas é interrompida por
batidas à porta.
— Papai, papai, você tá aí?
— Ai, Senhor, é a Maria Alice. — Brenda empalidece e se
afasta de mim, já arrumando o cabelo.
— Papai, abre pra mim se tiver aí! — minha filha insiste
do outro lado da porta e eu encaro minha roupa.
— O que iremos fazer? — A mulher treme, nervosa,
passando a mão por seu uniforme.
— Relaxa e respira fundo, Brenda. É a Mali, uma criança,
não um bicho de sete cabeças. — Tento tranquilizá-la enquanto
puxo minha camisa para baixo, para esconder a marca do meu
gozo no moletom.
— Sim, eu sei, mas tínhamos combinado, lembra? —
Mostra-se aflita ao olhar para a porta.
— Ela nem vai entender nada — garanto.
— Papai, tô ouvindo vozes! — Maria Alice volta a bater à
porta.
— Já abro, querida — aviso. — Vou lavar as mãos, abre a
porta para ela logo, para não alarmar os outros.
Brenda assente e corre para abrir para Mali enquanto vou
até o banheiro.
Encosto a porta e lavo as mãos, depois passo água no rosto
e me encaro no espelho por alguns segundos, antes de enxugá-lo
com a toalha que tiro do armário. Novamente, miro a minha
calça e percebo que não tenho como esconder a bagunça.
Ao me lembrar que sempre guardo algumas peças de roupa
no banheiro porque às vezes tomo banho aqui, encontro outro
moletom em um dos armários. Faço uma troca rápida e logo
retorno, encontrando Maria Alice sentada no sofá com os braços
cruzados, já Brenda está de pé, com a postura rígida.
— Papai, você e a tia Brenda estavam tendo uma conversa
de adultos?
Sem que eu tenha chance de responder, vejo a mulher se
engasgar com a própria saliva.
— Sim, filha. — Respiro fundo, usando o tom mais sério
que consigo, mas ao mesmo tempo preocupado, por ver Brenda
tentar se recuperar da tosse.
— Ahhh, por isso a demora! — Ela balança a cabeça,
sorridente. Tão inocente.
— E-eu vou ao meu quarto e já volto. — Brenda ainda
tosse.
— O que foi, tia? — inquire a pequena curiosa.
A mulher está vermelha igual a um pimentão.
— Nada, meu amor, a tia já volta. — Sai em disparada do
meu escritório. Mesmo que eu tentasse ajudar, ela recusaria.
— Papai, quando eu vou poder ter também uma conversa
de adultos?
Dessa vez quem se engasga sou eu, um acesso de tosse me
atinge e eu preciso buscar por água no aparador mais próximo.
— Daqui a uns quarenta anos, Maria Alice — respondo,
sério, sentindo minha garganta arder por causa da tosse.
A semana voou, e o dia mais esperado por Maria Alice
chegou. Ela está fascinada com a ideia de ir à casa da Madalena,
para uma noite de pijama com as amiguinhas.
A sua mochila está pronta desde ontem à noite, fiz questão
de deixar tudo certinho, uma vez que hoje será meu dia de folga.
Ontem, liguei para Fernanda e eu acabei falando como tem
sido o meu envolvimento com meu chefe. Como sempre, ela
ficou aos suspiros criando fanfics onde eu e ele nos casaríamos e
seríamos felizes até o último dia de nossas vidas, me arrancando
algumas risadas sinceras. E acabamos combinando de ir a um
barzinho com alguns amigos, já que faz um bom tempo que não
saímos juntas.
Prometi que dessa vez eu vou, não tenho mais desculpas
para dar, e se o abutre do André aparecer por lá, vou fingir que
nem o conheço, e ponto final. Vida que segue, eu já estou
seguindo a minha bem longe dele. Não vou dizer que agradeço a
ele por ter me sacaneado, uma coisa não tem nada a ver com a
outra, mas sou grata por não estar mais em um relacionamento
com André, se ainda estivéssemos juntos, eu não estaria me
envolvendo com o Matteo.
Faz alguns minutos que Matteo foi brincar com Maria
Alice no parquinho. Como é um pai coruja, ele levou a pequena
para se divertir um pouco até dar o horário da Madalena levar a
filha para casa dela. Esse homem é maravilhoso, nem sei
descrever tamanha a admiração que sinto por ele ser quem é. O
carinho, zelo e amor que demonstra pela filha faz com que eu
fique cada dia mais caidinha por Matteo. Eu devo admitir que
não se trata mais de uma admiração, está se tornando algo mais,
confesso que aos poucos ele tem conquistado um espaço em meu
coração.
Sabe quando você sente que encontrou um homem de
verdade, que não tem nada a ver com a sua aparência, e sim com
as atitudes? Por ser quem é? Matteo é um homem sensacional,
um paizão, gentil, tem um coração enorme. As atitudes dele me
fazem entender que toda mulher deve ser valorizada, que não é
porque um cara não o fez que ela não mereça. O que rola entre
mim e Matteo não é apenas sexo, embora eu achasse que fosse
isso no início, e sabemos que nunca será só isso.
Até um tempo atrás, eu estava com medo de me magoar e
não queria colocar a carroça na frente dos bois por receio de ser
desiludida novamente, contudo, não há como não nutrir
sentimentos profundos por Matteo. Não que eu esteja colocando
Matteo em um pedestal como um homem perfeito, entretanto, o
que temos vivido nos últimos dias deixou claro que devo me dar
a oportunidade de tentar novamente amar e ser amada. Sei que
ainda não chegamos a esse nível, mas se continuarmos como
estamos, vamos acabar nos envolvendo muito mais do que
planejamos e, para ser sincera, estou disposta a dar a esse
homem cada partícula do meu coração.
— Brenda, acho que você pode ir para casa depois que eu
levar a Maria Alice — comenta Madalena, do outro lado da ilha,
me observando enquanto eu afundo o garfo em uma fatia de torta
de frango.
— Sim, sim, estava pensando nisso mesmo. — Balanço a
cabeça, em seguida, levo o pedaço da torta à boca e o mastigo.
— É melhor você vir com a gente, assim o Pedro te deixa
em casa e depois ele nos leva para a minha casa — sugere.
— Pode ser — concordo, ao terminar de mastigar.
— Como está a Lorena? Ela me disse que você vai dar uma
ajuda para ela começar a vender bolo, eu achei uma ótima ideia!
Assinto, sorrindo.
— A tia Lore está bem e muito animada com a ideia de ter
um negócio próprio. — Descanso o garfo no prato e pego o copo
de suco de maracujá para tomar. — O que vou receber aqui vai
dar para ela começar, e aos poucos vou investindo mais. —
Tomo um gole do suco.
— É um gesto muito bonito o seu, Brenda. Parabéns. — A
governanta pisca para mim.
— Ela é como uma segunda mãe para mim, e nada me deixa
mais alegre do que ajudá-la de alguma maneira. Finalmente!
Depois de tanto tempo desempregada, e quase depressiva, você
apareceu na minha vida. E graças a você, meu salário
maravilhoso está garantido! — Fico emocionada, com os olhos
cheios de lágrimas.
— Pode ter certeza de que esse trabalho era para ser seu,
querida. Meu coração velho nunca se engana.
Rimos enquanto continuo como uma manteiga derretida,
muito tocada com as suas palavras.
— Sempre ouvi que quando algo é para ser nosso, ele será,
não importa quanto tempo demore — murmuro, olhando para
Madalena.
— Não tenha dúvidas disso.
— Lena, sei que está cansada de ouvir os meus
agradecimentos, mas obrigada mesmo. Sou grata a você por
tudo. — Enfatizo a última palavra ao me lembrar de que em
momento algum julgou o meu envolvimento com Matteo.
— Você é uma boa menina, Brenda, merece tudo de bom.
Uma felicidade me toma com a sua sinceridade.
— Digo o mesmo para você, Madalena. — Antes de voltar
a comer, sorrio para ela.
— Você pode me ajudar a esquentar o almoço?
Embora Matteo tenha me proibido de fazer qualquer outro
tipo de atividades na casa que não seja cuidar da Mali, nunca
que vou ficar vendo os meus colegas de trabalho precisando de
ajuda enquanto fico sem fazer nada. Óbvio que quando Maria
Alice estiver precisando da minha atenção, não vou fazer nada
além de cuidar dela, mas se eu estiver desocupada, claro que vou
oferecer o meu apoio.
— Conte comigo. — Salto da banqueta e sigo para a pia
para lavar o meu prato.
— Daqui a uma hora, tiro as travessas da geladeira —
avisa, e eu a observo por cima do ombro.
— O.k. Eu vou lavar a louça do café da manhã, é pouca
coisa. — Tem somente alguns pratos e xícaras, vou acabar
rapidinho.
— Não se preocupe com isso, depois dou um jeito em tudo.
— Eu lavo e não se fala mais nisso — resmungo, ouvindo a
sua risada.
— Tudo bem, então vou aproveitar para ligar para a minha
filha, quero saber das minhas netas. Daqui a pouquinho eu volto.
— Sai rapidamente da cozinha.
— O.k. — Separo os pratos das xícaras e começo a lavar.
Cantarolando uma música da Lana Del Rey e mexendo o
quadril de um lado para o outro em um movimento meio
desengonçado, rio da minha própria loucura. Nos últimos dias,
tenho me sentido tão bem que parece até mentira. Esse lugar me
traz uma sensação de acolhimento, não tenho do que reclamar.
— Eu sabia que era teimosa, mas não tanto. — A voz de
Matteo soa atrás de mim.
— Que susto! — exclamo, assustada, levando a mão suja
de espuma ao peito. Puta que pariu, meu coração está acelerado.
— Não era a minha intenção te assustar, você estava tão...
animada que não quis interromper. — Ele ri suavemente. —
Você fala inglês e não me contou?
Fecho a expressão ao notar seu tom brincalhão.
— Você está brincando comigo? — Perplexa e quase rindo,
eu me viro para ele e o encontro a alguns metros da porta,
segurando uma garrafinha rosa da Barbie.
Sei praticamente nada de inglês. Sou péssima. Na verdade,
péssima é apelido, mas atire a primeira pedra quem não se anima
quando vai cantar uma música em inglês.
Eu esqueço tudo ao meu redor.
— Eu? Nunca faria isso. — Pigarreia, tentando ficar sério,
mas o seu sorriso torto e triunfante o entrega.
— Sei... — Semicerro os olhos, voltando a minha atenção
para as xícaras que estou enxaguando.
Ouço o som dos seus passos se aproximarem, mas finjo
normalidade mesmo que esteja com o coração disparado.
— A Maria Alice vai com a Madalena depois do almoço, se
você quiser, pode ir com elas e o Pedro te deixa em casa —
sugere, enquanto sinto o calor do seu corpo atrás do meu. — Ou
você pode aceitar o meu convite e ficar até domingo de manhã
comigo... — Pressiona seu peito nas minhas costas e encosta a
boca em minha orelha.
— Ficar com você? — Um arrepio gostoso percorre por
minha coluna ao sentir as mãos grandes e másculas de Matteo se
fecharem em minha cintura.
— Sim. Posso fazer um jantar para nós enquanto tomamos
um bom vinho. — Suas mãos sobem até meus peitos e ele os
aperta por cima do uniforme. — Pense na minha proposta e
depois me diga o que resolveu. Agora preciso voltar para a
Maria Alice. — Ele raspa os dentes no lóbulo e mordisca
levemente, fazendo com que eu solte um gemidinho.
— Matteo, se contenha. A Madalena ou a Mali podem
aparecer.
— Não vão. Pense com carinho, Brenda — pede, como se
eu fosse capaz de esquecer o seu pedido.
Puxo o ar com força para os pulmões e encosto-me na pia,
espalmando as mãos nela.
Matteo nem precisou dizer as palavras para que eu
entendesse o que ele realmente quer. Ele claramente me chamou
para ficar para que possamos transar, e querendo ser um
cavalheiro, sugeriu um jantar antes.
Que mal faria se eu aceitasse? Estamos há dias só nos
beijos e mãos bobas, uma hora vamos ter que partir para o sexo.
Antes tarde do que nunca.
Não sei quando teremos outra oportunidade para ficarmos
sozinhos, a Mali não dorme fora de casa e hoje é o dia perfeito
para que isso aconteça.
Vou remarcar a saída com a minha amiga para domingo à
noite, aposto que ela vai me apoiar ao saber dos meus planos. E
a tia Lorena nem sabia que eu ia embora hoje, eu pretendia fazer
uma surpresa.
Termino de arrumar a cozinha e sigo para o meu quarto
para falar com a Fernanda, já pronta para ouvir a sua
comemoração.
Pego o meu celular na cama e me sento, já clicando no
nome salvo em minha agenda. Nanda não demora para me
atender.
— Bom dia, amiga. Por que me ligas neste sábado? — Seu
tom é animado.
— Boba. — Rio baixinho. — Tive um imprevisto aqui no
emprego, então só posso ir para casa amanhã cedo. — Mordo os
lábios enquanto Fernanda explode em uma gargalhada do outro
lado da linha.
— Brenda, eu te conheço. Somos melhores amigas, não se
esqueça jamais disso! — acusa, risonha.
— Você é muito fofoqueira! — reclamo, rindo também.
— Vamos lá, querida, me conte o que está escondendo da
sua única e melhor best — cantarola.
— O.k. — Suspiro, me levantando e trancando a porta. —
O Matteo me convidou para jantar com ele essa noite e eu estou
pensando em aceitar. — Meu tom sai baixo, e o meu sorriso
surge sem que eu tenha controle sobre ele.
— PUTA QUE PARIU! — O surto da Fernanda é tanto, que
preciso afastar o telefone da orelha. — PENSANDO? COMO
OUSA PENSAR? BRENDA CORREIA? NÃO SE RECUSA UM
CONVITE DE MATTEO BIANCO.
Coloco a mão na boca, abafando a gargalhada.
— Nanda, respira fundo e pare de gritar — peço, divertida.
— O.k. O.k. Eu te ordeno dizer a esse homem que aceita
jantar com ele, e se quiser, pode até colocar uma aliança em seu
dedo!
Gargalho com as suas loucuras.
— Não seja exagerada, Fernanda. É só um jantar. — Que
vai acabar em algo mais, e eu quero muito que isso aconteça.
— Que vai fechar com chave de ouro em UM SEXO
sensacional! — Ela parece ler meus pensamentos.
— Não vou discordar de você porque sei que sim. — Vibro
por dentro.
— Só aceita, amiga! Agarra logo esse homem, ele está tão
na sua e você na dele. — Suspira, sonhadora.
— Eu também estou muito a fim dele, e vou aceitar o
convite, claro — decido.
— Lógico que vai! Brenda, dê, dê, até o sol nascer, você
está precisando tirar essas teias da pepeca. Só tem vinte e quatro
anos, precisa viver intensamente, transar e gozar muito!
Quando eu digo que a minha amiga é meio maluquinha,
ninguém acredita.
— Anotado. — Bufo, risonha. Ao fundo, ouço seu nome ser
chamado.
— Amiga, preciso ir agora, meu gerente está me chamando.
— Até. — Comprimo os lábios ao perceber que ela desliga
na minha cara.

Maria Alice e Madalena já estão prestes a deixar a


propriedade Bianco com o motorista. Nós almoçamos na sala de
jantar a convite do Matteo, e quando me ofereci para lavar as
louças, ele brincou dizendo que seria obrigado a comprar uma
lavar-louças só por minha causa, já que não aguento ver nada
sujo. Como se na cozinha já não tivesse uma.
Espontaneamente, retruquei sorrindo orelha a orelha que
não seria uma má ideia, assim eu teria mais tempo livre. Quando
Matteo gargalhou, eu me dei conta da intimidade que demonstrei
ter com Matteo na frente de Madalena, que apenas nos observava
em silêncio, e vez ou outra sorria.
Sinto que ela não tem nada contra “nós”, mas fica receosa
com a reação da ex-sogra dele, uma vez que ela já me disse que
a mulher não é nada fácil. Ou será que existe algo que eu não sei
ainda? A curiosidade sempre fala mais alto, e agora estou
intrigada com as minhas próprias teorias.
Desde que estou aqui, a Maria Alice e o Matteo nunca
mencionaram a mulher. Essa senhora sequer ligou ou apareceu
para uma visita.
Pensando bem, é muito estranho.
Como alguém pode não querer a felicidade do genro? É um
absurdo isso. Já se passaram muitos anos, essa senhora só pode
ter algum problema.
— Brenda, você já fez uma festa do pijama? — A garotinha
está radiante, com a mochila nas costas e esperando por
Madalena, que foi ao escritório conversar com Matteo.
— Sim, pequena, já tive muitos com a minha melhor
amiga, a Fernanda. — Pisco para ela, que se aproxima do sofá
onde estou sentada.
— Você tem uma melhor amiga? — Os olhos dela brilham.
— Tenho, sim. Nos conhecemos desde criança, e agora,
adultas, continuamos amigas.
— Isso tudo? — Maria Alice fica boquiaberta,
impressionada.
— Sim! — Sorrio.
— Eu também quero ter uma melhor amiga assim —
decide, colocando a mão no queixo e soando pensativa.
— Você pode ter não somente uma, mas duas. — A menina
adora a ideia. — As netas da Madalena, por exemplo. Vocês se
conhecem desde criança, e quando crescerem, podem manter a
amizade. Então serão como eu e a Fernanda — explico.
— Verdade! Então, vou ter duas melhores amigas! —
exclama, animada.
— Isso mesmo, mocinha. — Rio baixinho com os pulinhos
que ela dá.
— Não se preocupe, Matteo, não vou deixar a Mali dormir
muito tarde. — A voz de Madalena ressoa na sala.
Ergo o rosto na direção dela, encontrando nosso chefe ao
seu lado, com as mesmas roupas de mais cedo, um moletom e
uma camiseta.
— Sei que não, Lena, mas você me conhece, às vezes
exagero um pouco no meu cuidado. — Esfrega a nunca, dando
um meio-sorriso para ela.
— Tudo bem, filho, eu te entendo. E faria o mesmo. — A
mulher sorri enquanto eles se aproximam de nós. — Vamos,
Mali e Brenda? — Ao chamar por mim, ela olha ao redor
procurando a mala que levo quando vou para casa e não encontra
nada.
— Vamos! — Maria Alice vai até o pai e se agarra na perna
dele.
— Madalena, eu vou de Uber. Preciso passar em alguns
lugares antes. — Uso meu tom mais firme mesmo sob o olhar
brilhante de Matteo. Ele sabe que essa é a resposta que estava
esperando.
— Certo. — A expressão dela é neutra quando apenas
balança a cabeça. — Maria Alice, se despeça do seu pai. — Ela
olha para Matteo, que se agacha para ficar na altura da filha e
segura o rosto dela com as duas mãos.
— Mali, se comporte e obedeça a Madalena, tá bom? Ela é
como uma avó, sabe disso.
A menina assente e logo o abraça.
— Sei disso, papai! — Se afasta dele e beija a sua
bochecha. — Até amanhã. Te amo muito! — Dá uma risadinha
quando ele faz cócegas na barriga dela.
— Boa menina! Também te amo, o meu amor por você é do
tamanho do mundo — declara, derretendo não só a filha, mas a
mim igualmente.
— Mas o mundo é grandão, pai! — Gargalha ao receber
vários beijos no rosto.
A felicidade deles me contagia e eu me vejo sorrindo
também.
— Por isso mesmo! Agora vá com a Lena, te vejo amanhã.
Quando ele se afasta dela, eu solto um suspiro com a cena
fofa.
— Até amanhã, papai. — Ela vai até Madalena e segura na
mão dela. — Não vai se despedir de mim, tia Brenda? — A
sapequinha pisca para mim completamente risonha.
— Claro. — Vou até ela e deposito um beijo na sua cabeça.
— Até segunda-feira.
— Até! — Ela se solta da governanta e envolve os braços
na minha cintura.
— Vou levar vocês até o carro — interrompe Matteo.
— Eu também vou. — Maria Alice segura a minha mão e
me puxa na direção da porta, com seu pai e Madalena seguindo
logo atrás.
— Se ela chorar na madrugada, não hesite em me ligar,
Lena — pede ele.
Entendo o seu receio, é a primeira vez que a filha dorme
fora.
— Papai, se vai sentir tanta saudade, vem com a gente pra
noite do pijama! — convida a garotinha, arrancando uma risada
genuína de nós ao atravessarmos o gramado aparado e verdinho.
— É uma noite de meninas, filha — justifica o homem,
rindo.
— Ah, verdade! — Ela dá uma risadinha, se solta de mim e
corre até Pedro e entrega a mochila.
— Matteo, a Mali está em boas mãos, então não se
preocupe e aproveite a sua noite sossegado.
Não sei muito bem se é uma indireta, mas a mulher me
observa e depois ao nosso chefe, que assente.
— O.k. Confio em você, sabe disso. — Ele dá um abraço
rápido nela.
— Sei que sim. Bom sábado para os dois. — Ela me inclui
de uma maneira que dá a entender que sabe que não vou a lugar
algum.
— Pra você também. — Pigarreio, mirando em Pedro
colocando a Mali na cadeirinha e prendendo o cinto de
segurança.
Girando nos calcanhares, Madalena segue até o carro.
Assim que entra, ela acena para nós. Maria Alice fica dando
tchau enquanto o motorista sai da propriedade.
— Ter ficado é uma resposta para o meu convite, ou vai
mesmo embora?
Giro o rosto para o lado e estudo a expressão curiosa dele.
— O que você acha? — Mordo os lábios e ele segue o
movimento com seus olhos castanhos.
— Que vai ficar. — Ele fica de frente para mim,
envolvendo os braços em minha cintura e sorrindo
maliciosamente.
— Sim, eu vou. — Meu coração bate forte no peito ao vê-
lo aproximar o seu rosto do meu, ainda com um sorriso safado.
— Eu sabia. — Ele roça os lábios nos meus ao mesmo
tempo em que olha em meus olhos.
— Nem um pouco convencido, não é? — Levo meus braços
ao seu pescoço e ele desliza as mãos por minha bunda,
massageando-a em seguida.
— Nem um pingo. — O timbre de Matteo é baixo e cínico
contra a minha boca.
— Gosto da sua sinceridade. — Puxo seu lábio inferior
com os dentes e depois sugo-o.
— Você está querendo que eu pule o jantar e te foda agora
mesmo com essa provocação deliciosa, Brenda? — Suas íris
estão brilhando.
— Tanto fa... — Ele me cala ao engolir as minhas palavras
com um beijo.
Sua língua invade a minha boca e eu preciso gemer ao ser
erguida do chão pela bunda. Nosso beijo se torna duro e intenso
quando passo as unhas por seus ombros e vou subindo até a
nuca, deixando ali alguns arranhões.
— Vamos entrar antes que eu te deite na grama e encha de
beijos cada parte do seu corpo — diz, com a respiração quente e
irregular ao desgrudar nossas bocas.
— Não seria uma má ideia — atiço-o, já com a boceta
babando por ele.
— Brenda, não me dê ideias. — Sorri de canto.
— Primeiro o jantar, depois a sobremesa, senhor Bianco —
brinco, vendo o seu sorriso charmoso surgir.
— Não vejo problema em mudarmos de ordem — provoca-
me.
— Não mesmo! O que vai cozinhar para mim? — Salto do
seu colo e ele segura na minha mão.
— Você escolhe, tenho um livro de receitas da minha
nonna em meu escritório, posso fazer uma receita de lá —
sugere, dando-me uma faísca de curiosidade ao mencionar a sua
avó.
— Se você sabe mesmo cozinhar, vou adorar escolher
alguma receita desse livro. — Toco em seu maxilar e sua barba
por fazer pinica a minha pele.
— Vou te surpreender essa noite de todas as maneiras. —
Ele me vira de costas para ele e eu roço a bunda em seu pau, que
fica duro com o nosso contato.
— Não tenho dúvidas disso. — Olho-o por cima do ombro
e ele segura em meu pescoço para erguer meu rosto, beijando
meus lábios em seguida.
— Óbvio que não. — Essa confiança dele é sexy pra
caramba, me excita muito. — Vamos entrar que eu quero te
mostrar os meus melhores talentos.
Uma agitação se instala em meu estômago quando sou
puxada para a casa.
Como resistir a esse homem e não me apaixonar por ele?
Deus me ajude, porque acho que já estou perdidamente
apaixonada, e só preciso admitir isso alto bom tom.
Depois de anos, estou deixando uma mulher entrar na
minha vida. Por muito tempo me privei de viver um
relacionamento sério. Todos os meus envolvimentos
durante esses anos foram apenas sexo, mas nunca significativo.
Qualquer parceira minha que tentasse algo a mais comigo, eu
deixava claras as minhas intenções, porque ainda não me sentia
pronto para permitir que uma terceira pessoa fizesse parte da
minha família.
Incluir uma mulher em minha vida de uma forma tão íntima
me obrigaria a trazer essa pessoa para perto da Maria Alice.
Crianças se confundem, elas se apegam facilmente – a minha
filha, pelo menos – e eu nunca achei certo trazer minhas fodas
casuais para dentro da minha casa.
Era assim que eu pensava até a babá de Maria Alice surgir
para que meus ideais mudassem e a regra que criei lá atrás
caísse em esquecimento. Desde que beijei e toquei na Brenda
tenho me sentido confuso. Mesmo carregando uma bagagem
enorme, confesso que esse sentimento que tem se desencadeado
em meu peito me deixa mais assustado do que quero admitir.
Tenho agido e me comportado como um adolescente
quando tem a sua primeira namoradinha. Tudo nela me fascina,
dos cuidados com a minha filha, até aos pequenos detalhes, e
posso afirmar que o sentimento que estou nutrindo por ela vai
além da atração sexual.
Brenda tem se tornado alguém especial para mim de uma
maneira avassaladora, é a pessoa por quem desejo ter mais do
que uma noite de prazer. Ela desperta em mim sentimentos que
nunca havia experimentado antes, nem mesmo com a mãe de
Mali, algo que nem mesmo consigo explicar. Eu sei que pode
parecer loucura, afinal, nos conhecemos há pouco tempo, mas a
conexão que se construiu é tão forte e intensa que parece que
nos conhecemos desde sempre. Estar ao lado dela me causa uma
sensação deliciosa de paz.
— No que você tanto pensa? — A voz de Brenda me
arranca dos devaneios.
Com as costas encostada em meu peito, ela folheia o livro
com a capa desgastada de receitas da minha nonna.
— Hm, o quê? — Balanço a cabeça.
— Você está tão quieto, distante. — Ela se vira e me
encara com o cenho franzido.
— Nada com que tenha que se preocupar. — Toco em seus
ombros e massageio de leve. — Já decidiu o que vamos comer?
— Sorrio, estudando o seu rosto que expressa uma felicidade
contagiante.
— Tudo bem. São tantas receitas que eu não sei qual
escolher, Matteo. — Morde os lábios.
— Se quiser, posso fazer uma surpresa, mas seria mais
interessante se você escolhesse. — Faz anos que não uso o livro
de receitas.
— Então me surpreenda, porque se eu ficar nessa
indecisão, não vamos jantar tão cedo — murmura, voltando a
ficar de costas para mim e dando novamente a sua atenção ao
livro.
Passo os braços ao seu redor e apoio o queixo em seu
ombro, encarando as folhas que ela passa lentamente para que eu
a acompanhe.
— Risoto à Carbonara. Já comeu? É uma delícia. Vou fazer
para você. — Beijo seu rosto.
— Estou ansiosa por isso. — Ergue o rosto e eu beijo seus
lábios. — Você quer ajuda? — sonda-me ao me ver afastar dela.
— Você pode ler para mim a receita, e o resto, deixa
comigo — sugiro, olhando-a por cima do ombro enquanto abro o
armário.
— O.k. O que acha de me oferecer agora aquele vinho
enquanto cozinha para mim?
— É uma ótima ideia, Brenda.
— Também acho. — Seus olhos brilham.
— Tem alguma preferência? — indago, indo até a adega de
vidro embutida ao lado do armário.
— Não tenho, Matteo.
Fui presenteado com várias garrafas, outras adquiri ao
longo dos anos, e só as abro em ocasiões especiais. Hoje,
considero que é uma.

Em meio a assuntos triviais e algumas risadas depois das


taças de vinho que tomamos, consegui levar o nosso jantar ao
fogo com sucesso. Enquanto eu preparava a comida, Brenda
ficava enchendo a minha taça e a dela, e agora não estou bêbado,
apenas relaxado e alegre de um modo que não acontecia há anos.
E estou certo de que não pelo efeito do álcool, e sim a
companhia da mulher que tem mexido comigo mais do que o
esperado.
— Nunca pensei que você poderia ser um excelente
cozinheiro, Matteo. — Brenda desliza o polegar na lateral da
taça e sorri para mim.
— Ainda nem provou e já está elogiando? — Rio divertido,
bebericando o líquido.
— Só de sentir o cheiro sei que está uma delícia — retruca,
levando a taça à boca sem tirar os seus olhos dos meus.
— Eu não teria tanta certeza assim — brinco. Passo a
língua nos lábios e noto que ela acompanha o movimento.
— Vou preferir arriscar o meu elogio — garante, firme.
— Em breve saberemos se está falando a verdade. —
Desfaço o laço do avental em minhas costas e vou até o fogão
para empratar o nosso jantar.
Modéstia à parte, eu sei que sou bom em muitas coisas,
mas ouvir de outras pessoas é muito mais satisfatório,
principalmente quando percebo que é um elogio verdadeiro.
Brenda não economizou em seus elogios ao provar meu Risoto à
Carbonara. Ela fez com que eu me sentisse um verdadeiro
MasterChef ao vê-la saborear a comida e soltar alguns gemidos
baixos de satisfação.
— Além de ser um bom pai, escritor, cozinheiro, o que
mais você sabe fazer? — Estuda-me com o semblante cheio de
admiração, e eu gosto disso.
— Sou muito bom em massagens.
— Sério? — Morde um sorriso, com os olhos grudados nos
meus.
— Sim. — Pisco para ela com charme. — O que acha de
irmos para a hidro, lá posso fazer uma massagem relaxante em
você. — Minha voz não sai tão firme quanto eu queria.
Levar Brenda até o meu quarto é um enorme passo.
Nenhuma outra esteve lá.
Brenda respira fundo e o seu rosto fica desanimado de
repente, então ela baixa os olhos. Isso tudo soa como um alerta
para mim.
— O meu convite te ofendeu? Está tudo bem? — Toco em
sua mão, que noto estar gelada.
— Estou um pouco preocupada com a nossa situação,
Matteo. — Quando ergue os olhos, vejo a insegurança dela ali.
— Estamos prestes a ter uma noite incrível, e jamais imaginei
que iríamos nos envolver, uma vez que você é meu chefe. Fico
preocupada com o que pode vir depois, você sabe que eu tenho
um carinho especial pela Maria Alice. — Exala uma respiração
pesada.
— Esta noite é nossa, e estamos aqui como pessoas
comuns, não chefe e funcionária, esqueça isso. Iremos nos curtir
como Matteo e Brenda. — Toco em seu rosto e acaricio
levemente, e ela relaxa aos poucos. — Vamos viver um dia de
cada vez, sem pressa. — Nossos olhares se encontram e ela sorri
para mim.
— Sim, é verdade — afirma, mais segura.
— Ainda vai querer vinho? Podemos levar uma garrafa
para a suíte. — Encerro o assunto.
— Quero estar bem sóbria, preciso aproveitar cada segundo
ao seu lado, memorizar cada detalhe dessa noite. — Ela soa
apaixonada.
— Então faremos isso, cada momento será inesquecível.
Ao nos levantarmos da mesa, a minha primeira iniciativa é
unir nossas mãos. Seguimos até a escada como se fôssemos um
casal há anos, e antes que ela pise no primeiro degrau, eu a pego
em meu colo. Suas sandálias caem no chão, e Brenda dá uma
risada genuína, apoiando o rosto na curva do meu pescoço.
— Você costuma ser cavalheiro sempre? — Passa a ponta
das unhas em minha nuca enquanto subo os degraus.
— Estou fazendo o mínimo. Gosto de dar o meu melhor em
tudo, seja na cama ou fora dela — afirmo e nos encaramos por
alguns instantes.
— Assim fica difícil não me apaixonar por você — brinca,
mas sinto uma nota de verdade ali.
— E você não quer se apaixonar por mim? — retruco,
ansioso por sua resposta e com o meu coração batendo
disparado.
— E você quer que eu me apaixone? — Devolve a minha
pergunta com outra.
Eu quero? Faz muito tempo que não sei o que é isso.
— Vamos apenas deixar rolar, em breve teremos a resposta.
— Paro em frente à porta e a abro com o pé esquerdo.
Entro no quarto e não posso evitar o sorriso que desenha os
meus lábios por não estar com aquele sentimento de culpa que
achei que sentiria se em algum momento trouxesse uma mulher
para cá. Eu não deveria ter esse pensamento me massacrando por
longos anos, afinal, nada é como antes.
— Vou encher a hidro, fique à vontade. — Desço Brenda
do meu colo, em seguida beijo carinhosamente sua testa.
— Obrigada. — Ela observa ao redor.
Afastando-me dela, sigo para o banheiro sentindo os seus
olhos em minhas costas.
No banheiro, ligo o registro da hidromassagem e deixo a
água encher a banheira, em seguida, retorno para o quarto em
busca da Brenda, mas não a encontro ali. Basta que eu sinta uma
brisa bater contra a minha pele para que olhe na direção da
varanda e a encontre ali, de costas para mim, com os cotovelos
apoiados no parapeito de vidro. Mesmo a alguns metros de
distância dela, sinto que o que está prendendo a sua atenção
nesse momento é a vista do meu quarto para a piscina, que está
sendo iluminada pelo reflexo da lua.
Eu me aproximo silenciosamente e me encosto ao lado
dela, apreciando a mesma vista. Por um momento, ficamos em
silêncio, até que ela me encara curiosa.
— É uma bela piscina e vista.
— Sim — murmuro.
— Por que nunca é usada... Existe alguma história por
trás?
Comprimindo os lábios, miro em seu rosto e fico pensativo
por alguns segundos.
— Existe, mas essa noite não quero falar sobre isso. —
Respiro fundo, observando a piscina.
Não acho legal falar a ela sobre algo que faz parte do meu
passado e que irá incluir a mãe da Mali, quero respeitar ambos
os lados.
— Tudo bem, no seu tempo. — Toca em meu braço e me
olha. — Mas saiba que estou aqui para te ouvir também, não
importa o que seja.
Balanço a cabeça.
— Só não quero cortar o clima, Brenda, é um assunto que
envolve a mãe da Mali, pode soar chato — confesso.
— Matteo, eu jamais vou te impedir de falar sobre a mãe
da Maria Alice. Nos conhecemos recentemente, ainda assim, não
teria esse direito, você foi casado com ela, vocês têm uma
história juntos muito antes de mim. — Um orgulho cresce dentro
de mim ao ouvi-la falar com tanta maturidade, outras, no lugar
dela, não reagiriam bem. — Saiba que te admiro muito, e o fato
de querer se abrir comigo sobre algo do seu passado não vai
diminuir o que sinto por você, ao contrário, só irá fortalecer
esses sentimentos. — Mira em meus olhos e sorri para mim com
sinceridade.
— Nunca me abri com ninguém sobre isso, e essa é a
primeira vez que me sinto à vontade em abordar esse assunto. —
Pigarreio e volto a observar a piscina, logo sinto Brenda
entrelaçar nossas mãos e encostar a cabeça em meu braço.
— Fico feliz em saber que se sente confortável comigo. —
Sua voz é suave, como a calmaria.
— Perdi meus pais em Veneza em um acidente de
gôndola... — começo. Ela beija meu braço carinhosamente,
como se quisesse me passar confiança para prosseguir, e é isso
que faço. — Depois disso, fiquei traumatizado, e quando eu
descobri que a casa tinha piscina, o pavor tomou conta de mim.
O meu maior medo era que Maria Alice pudesse se acidentar e
ter o mesmo fim trágico que os avós. Pode parecer bobo, mas...
Ela me interrompe ao colocar o dedo indicador em meus
lábios, me pedindo silêncio.
— Matteo, um trauma é um trauma, só quem vive sabe o
que é. Ninguém tem o direito de te julgar por isso. — Assinto,
notando que os olhos dela estão lacrimejados. — Eu sinto muito
pelo que passou, imagino o quanto deve ter sido duro. Mas sabe
de uma coisa? — Ficamos um de frente para o outro, então ela
toca em meu rosto com as duas mãos.
— Sim?
Vejo-a analisar a piscina, em seguida fazer o mesmo
comigo e engolir em seco.
— Você sabe nadar? — A sua pergunta me causa confusão,
mas balanço a cabeça em afirmativa.
— Eu sei.
— Confia em mim? — Não sei o que ela está planejando,
porém, o seu pequeno sorriso me acalenta.
— O que pretende? — Estudo o seu semblante carregado de
mistério.
— Confia em mim, Matteo? — repete as palavras,
ignorando a minha pergunta.
— Sim. — Pigarreio.
Eu acho que sim.
— O primeiro passo é desligar a hidro. — Ela espalma uma
das mãos em meu peito e o acaricia. — Depois, vamos para a
piscina. Só peço que confie em mim. — Nossos olhares se
cruzam.
— Brenda — murmuro, tocando em suas costas.
— Shiu. Eu já volto, me espere aqui. — Ela rouba um beijo
meu e pisca para mim antes de correr para o quarto, me
deixando sozinho na varanda, sendo bombardeado por
pensamentos.
Viro-me novamente para a piscina e fico ali pensativo por
alguns instantes, até que escuto a voz de Brenda atrás de mim.
— Matteo, vamos. — Não soa bem como um pedido, ela
está determinada.
— É noite, está frio...
— Sim, realmente está, mas daremos um jeito. — Ela se
aproxima e segura em minhas mãos.
— Brenda, não precisa fazer isso por mim, não vamos
estragar a nossa noite. Não contei tudo para que se dispusesse a
me ajudar com o meu trauma. — Umedeço os lábios.
Eu quero ir lá, mas ao mesmo tempo não. É a primeira vez,
após anos, que me desmonto por inteiro diante de uma mulher.
— Matteo, eu quero te ajudar a dar o primeiro passo, e se
está disposto a superar esse medo, vamos fazer isso juntos. —
Ela se mantém firme, sem soltar as minhas mãos. — Sabemos
que o que rola entre nós não é somente sexo... então, me deixe te
ajudar. — Sua expressão me passa uma segurança admirável.
Não discordo de nada.
— Eu quero, sim. — Minha voz sai baixa e rouca, quase
trêmula.
— Então vem. — Ela me puxa de volta para o quarto.
Minha respiração pesa e meu peito fica apertado por estar
cada vez mais perto de algo que há muitos anos venho evitando.
Ultrapassamos a porta do meu quarto e Brenda não larga a minha
mão de forma alguma, ela me encara de relance enquanto
seguimos até o andar de baixo.
— Enquanto não soltar a minha mão, não vou soltar a sua
— garante, como se lesse meus pensamentos, então descemos os
degraus da escada e seguimos em direção à porta da sala.
Brenda me guia até a parte de fora da casa, e a cada passo
que damos meu coração bate acelerado e minhas pernas
amolecem.
Embora seja um homem adulto, estou me sentindo um
garotinho assustado com medo do escuro ao me aproximar mais
da piscina. Mesmo que a água azul esteja iluminada pela luz da
lua e alguns refletores espalhados pelo jardim, ali parece um
abismo assustador diante dos meus olhos. Sinto meu coração
acelerar ainda mais e minhas pernas tremem involuntariamente.
Uma sensação de sufocamento preenche meu peito e uma
queimação sobe por minha garganta com um nó que a aperta. Eu
já estive perto dela várias vezes, mas dessa vez é diferente,
estou prestes a tentar superar o meu trauma e esse sentimento
agonizante dentro de mim me consome a ponto de me fazer
fraquejar. Mas ter Brenda ao meu lado, segurando a minha mão e
me apoiando de alguma maneira, se torna a minha maior força
no momento.
Meu corpo inteiro gela quando chegamos na borda da
piscina e um arrepio percorre minha coluna.
— Matteo, você está gelado — comenta.
Respiro fundo e tento controlar minha ansiedade.
— Estou bem — murmuro. Olho para a água e um medo
paralisante toma conta de mim.
— Está mesmo? Eu estou sendo intrometida demais, né? Se
quiser, podemos parar por aqui, não quero te forçar a algo que
não está te fazendo bem. — Ela soa preocupada, e ao perceber a
minha hesitação, aperta minha mão com mais força.
— Sim. Não, Brenda, o que está fazendo por mim é uma
coisa boa. — Que poucos tentaram fazer.
— Você realmente sabe nadar, não é? — Quer confirmar o
que perguntou minutos atrás.
— Eu sei. — Minha garganta trava.
— Eu vou entrar primeiro, você vem depois, tudo bem? —
Nos aproximamos da borda da piscina onde tem a escada.
— O.k. — Ela solta minhas mãos, e antes de passar por
mim, tira sua roupa, ficando apenas de calcinha e sutiã.
— Agora é a sua vez. — O seu sorriso é enorme, e eu sei
que ela está a todo custo tentando me tranquilizar através de
suas palavras.
Sob o olhar de Brenda, começo a abrir os primeiros botões
da minha camisa, poucos minutos depois, estou me livrando da
peça de baixo e ficando somente com a cueca.
— Vamos ver se essa água está muito gelada.
Com o coração batendo descontroladamente, observo a
mulher descer os degraus da escada e entrar na água. Assisto a
Brenda dar um mergulho e depois voltar para a superfície, com a
minha respiração pesada.
— Está um pouquinho gelada. — Apoia os braços na borda
e o seu queixo bate.
Em outra ocasião, eu riria.
— Você vem? — Ela se aproxima da escada e segura no
corrimão.
Em silêncio, piso no primeiro degrau, já sentindo o gelo da
água em meus dedos. No segundo, minhas pernas tremem, mas
me concentro na mulher diante de mim, que está na maior
expectativa me esperando.
— Só mais um... — murmura. Sinto a água cobrir a metade
do meu corpo. — Você conseguiu, está vendo?
Travado, sem conseguir olhar ao meu redor, com a
sensação de que a qualquer momento posso afundar, mesmo
sabendo que é impossível, engulo em seco e começo a
hiperventilar. Não consigo emitir nenhum som, e percebendo
meu comportamento, Brenda traz o seu corpo para perto do meu
e toca em meu rosto com as duas mãos.
— Eu quero que você olhe em meus olhos, o.k.? Inspire e
expire, Matteo. — Seu tom é carinhoso e paciente.
Faço o que me é pedido, enquanto fito suas pupilas
dilatadas.
— A piscina, o mar, não são um bicho de sete cabeças.
Eles não são o seu algoz, Matteo. — Acaricia meu rosto com
suavidade. — Infelizmente, o que aconteceu no passado foi uma
fatalidade, mas isso não quer dizer que vai acontecer com você,
Maria Alice ou com outras pessoas que você ama, entende? Não
digo para deixar a sua filha à vontade perto de uma piscina, ela
ainda é pequena e acidentes podem acontecer. Você ou outro
adulto com ela, não há problema algum, o importante é ter
cuidado e está tudo bem. — Balanço a cabeça, focado nela.
A voz de Brenda soa em meus ouvidos com tanta
serenidade, que meus batimentos cardíacos vão se normalizando
aos poucos.
— É normal ter medo, zelo, faz parte, mas coloque aqui e
aqui — aponta para a minha cabeça e depois coração —, que se
você ou a sua filha entrarem na piscina, não irá acontecer o
mesmo que anos atrás. — Seus olhos enchem de lágrimas e eu
vejo a emoção neles.
— Obrigado por tudo, Brenda. — Solto a minha primeira
respiração de alívio e meus pés se firmam no chão sem aquela
tremedeira inicial.
— Não agradeça. — Ela encosta o rosto no meu e eu passo
um braço em sua cintura. — Matteo, você é um ser humano
incrível, e mesmo que já tenha se tornado repetitivo, quero dizer
que te admiro muito como homem, como um pai. E gosto ainda
mais de você por ser quem é — declara, baixinho o suficiente
para que somente eu escute.
— Eu também te admiro muito e eu tenho várias razões
para isso. — Toco em sua nuca, fazendo um carinho com a ponta
dos dedos.
— Horas atrás, você me perguntou se eu queria me
apaixonar por você, mas acho que não é possível mais. — Ela
afasta o seu rosto do meu e nos encaramos por longos segundos.
— Por que não? — Franzo o cenho, fitando dessa vez a sua
boca que se move em um pequeno sorriso.
— Seria possível se apaixonar pela mesma pessoa, já se
encontrando apaixonada por ela? Porque se for, estou me
apaixonando pela segunda vez por você. — A sua risada genuína
estremece meu coração, principalmente por sua declaração. —
Eu sei que o nosso envolvimento é novo, mas talvez o meu erro
seja me apegar rápido demais às pessoas. E convivendo sob o
mesmo teto que você me...
— Brenda, não fale mais nada — eu a interrompo e sua
pele fica pálida, mas ao ver o meu sorriso, sua expressão
suaviza.
Antes que diga algo, eu a puxo para um beijo, acabando
com todas as suas incertezas e confirmando para ela os meus
sentimentos também, mesmo que não seja da mesma maneira que
fez comigo.
Não estava em meus planos me declarar para o Matteo.
Não hoje.
Meu objetivo era ajudá-lo com o seu trauma, mas um
sentimento de proteção, cumplicidade e carinho me dominou.
Um turbilhão de sentimentos que nem sei explicar quando o vi
tão vulnerável, mostrando um lado que ainda não conhecia, me
invadiu.
Não sei se foi precipitado, mas está feito, não posso voltar
atrás. Em algum momento isso aconteceria, só não gostaria que
tivesse sido agora, em um momento inapropriado como este.
Espero que Matteo não tenha se assustado com a maneira intensa
que me declarei para ele.
Sem perceber, isso aconteceu em meio a uma conversa, me
empolguei demais depois do momento emocionante ao perceber
que se encontrava tão leve após minutos de tensão e insegurança
dele em tentar superar o seu maior medo.
Ele me pediu para não falar mais nada e me calou com um
beijão.
Devo encarar isso como algo positivo ou negativo? E ele
nem disse o mesmo, apenas me beijou, e tenho quase certeza de
que foi para me calar. Não importa, preciso corrigir a minha
cagada para que ele não pense que estou muito “emocionada”.
Antes que possamos aprofundar o beijo, afasto-me de
Matteo e ele me encara com o semblante sério e confuso.
Nervosa, dou dois passos para trás.
— Me desculpe, as palavras saíram no calor do momento.
Não quero que me interprete mal e se sinta pressionado a dizer o
mesmo. — Minha garganta se aperta e meus batimentos
cardíacos ficam tão acelerados, que posso senti-lo em minha
garganta.
— Brenda — quando seu olhar sério fixa nos meus, penso
que ele vai romper algo que mal começamos —, dessa vez é
você que precisa inspirar e expirar, e o próximo passo é me
escutar. — Matteo se aproxima e suas mãos envolvem meu rosto
enquanto ele cola nossos corpos.
Atenta aos seus movimentos, balanço a cabeça.
— O.k. — murmuro, envergonhada, e repito o mesmo gesto
que pedi para ele fazer minutos atrás.
— Eu gosto de você, Brenda, mas ainda não posso afirmar
que estou apaixonado. — Um gosto amargo explode em minha
boca, mas continuo o ouvindo em silêncio. — Só que isso não
quer dizer que não vai acontecer, pode ser daqui a uma semana,
um mês ou dois, não sei, mas tenho certeza de que em algum
momento acontecerá, porque nunca senti por ninguém o que
estou sentindo por você. — Encosta a testa na minha e desliza as
mãos por meus ombros.
Eu só consigo me sentir frustrada por ser uma pessoa tão
adiantada. E o que eu queria? Que ele me devolvesse um “eu
também estou apaixonado por você”? Óbvio que não seria assim,
como sou tola.
Matteo sempre diz que é para deixar as coisas acontecerem
naturalmente e eu até concordava, no início. Só que agora
estraguei tudo sem pensar nas consequências e pedi para ouvir o
que não queria.
De repente, me recordo de quando André chutou a minha
bunda. Naquele dia infeliz, o maldito me disse que seria difícil
eu encontrar outro homem que conseguisse me suportar como ele
fez, e que seria uma sorte se alguém realmente chegasse a se
apaixonar ou me amar de verdade. Isso me atingiu de uma
maneira, que acabei me forçando a esquecer, só que agora
Matteo me fez recordar disso.
— Tudo bem, eu entendo. — Minha voz sai firme e baixa.
— Eu estou com frio, você não está? — Afasto meu rosto do
dele, desviando o olhar.
— De alguma maneira te magoei, não é? — pergunta,
tocando novamente em meu rosto e me obrigando a encará-lo.
— Não, Matteo, eu sou uma pessoa muito esperançosa, só
isso. Mas estou bem. — Comprimo os lábios.
— Eu te magoei, Brenda? Não minta pra mim. A sua
expressão está desanimada, os seus olhos não estão brilhando
como antes, normalmente eles...
— Brilham muito quando estou feliz — interrompo-o,
lembrando que a filha dele fez a mesma observação uma vez.
— Isso. — Anui.
— A Maria Alice já fez essa mesma observação. Tal pai,
tal filha — falo, bem-humorada.
— Sinto que as minhas palavras não foram as que você
esperava, mas prefiro ser sincero a te enganar, entende? Não
posso mentir pra você, forçar um sentimento que ainda está
nascendo em mim. Quando isso acontecer, pode ter certeza de
que você será a primeira pessoa a saber — promete, soltando
uma respiração longa. — Não fique chateada comigo, nem pense
que quero apenas te usar, não sou esse tipo de homem. Se eu
quisesse apenas uma aventura, jamais me envolveria com a
pessoa que mais amo no mundo. Assim como você é importante
para ela, se tornou para mim também. — Seu tom é tão sincero
que aquece meu coração.
— Acredito em você, sei que é uma pessoa verdadeira. —
Miro em seu rosto.
— Então, estamos bem? — sonda-me, carinhoso.
— É claro que estamos. — Abro um pequeno sorriso.
— De verdade?
Balanço a cabeça, envolvendo meus braços em seu
pescoço.
— Sim. — Sorrio para ele.
Matteo me pega no colo, fazendo com que eu envolva seu
quadril com as minhas pernas, sentindo o vento da noite fria
soprar em meus ombros.
— Eu te quero muito, não só essa noite, mas em todas as
outras — declara, roçando a boca na minha.
— Eu também. — Faço que vou beijá-lo, mas saio dos seus
braços e mergulho para o outro lado da piscina, divertindo-o,
arrancando uma gargalhada dele.
— Às vezes me sinto um adolescente quando estamos
juntos, sabia? — confesso, rindo baixinho e me encostando na
parede, tão sorridente quanto ele. — Isso é bom ou ruim? —
Arqueio uma sobrancelha e mordo os lábios.
— O que poderia ser ruim vindo de você? — retruca.
Fico abalada com sua resposta ousada, deixando meu
coração disparado.
— Um elogio e tanto.
Ele mergulha em minha direção e logo está diante de mim,
com a água deslizando por seu pescoço e descendo por seu peito,
deixando-o incrivelmente mais atraente.
— Você merece muito deles, tenho uma vasta lista. — A
respiração quente dele bate em meu rosto. — Mas nesse
momento, tudo o que mais quero é te beijar.
A mão dele envolve minha nuca e sua boca se choca na
minha, e em resposta, deslizo a língua para dentro da sua,
iniciando um beijo molhado.
Ainda me beijando, Matteo abre o meu sutiã e eu sorrio
contra seus lábios, ajudando-o a se livrar da peça em questão de
segundos. Soltando um gemido ao sentir minhas auréolas
enrijecerem com o contato pele a pele, afundo a língua na boca
dele e sou muito bem recebida, que me suga, me lambe, me faz
perder completamente a sanidade em um beijo oscilante entre a
leveza e a intensidade, carregando a promessa de que esta noite
será inesquecível.
Cravo as unhas em seu ombro e o aperto mais contra o meu
corpo com as pernas entrelaçadas ao seu redor. Me roço nele a
ponto de conseguir sentir o pau aumentar de tamanho e pulsar
em minha boceta que derrete com o contato, mesmo que seja por
cima do tecido da calcinha.
— Vou tocar na sua boceta, Brenda. — Ele afasta o corpo
do meu alguns centímetros, com suas pupilas dilatadas e suas
íris escurecidas.
— Só toque. — Arfo.
Matteo abre um sorriso delicioso e sua mão alcança o meio
das minhas pernas. Ele afasta a calcinha para o lado e esfrega os
dedos em meu feixe de nervos e, choramingando, inclino a
cabeça para trás. Ele enfia um dedo em meu interior e u volto a
encará-lo, com os lábios entreabertos e soltando pequenos
gemidos ao senti-lo me penetrar com dois dedos dessa vez.
— Matteo... — Rebolo, me abrindo mais.
— Shiu. Não diga nada, apenas sinta meus dedos entrando
e saindo da sua boceta molhada pra mim. — Cochicha em meu
ouvido, arrepiando todos os pelos do meu corpo.
Mordo meu lábio inferior, reprimindo um gemido agudo, e
agarro sua nuca, cravando as unhas na sua pele, aproximando
minha boca da sua orelha parar liberar gemidos baixinhos, que o
atiçam o bastante para me foder com rapidez.
— Está me deixando louca de tesão — digo, com a
respiração entrecortada.
— E o que mais? — sussurra, logo captura o lóbulo da
minha orelha, afundando ainda mais os dedos dentro de mim.
— Oh, céus... Ahh... Eu vou... — Nem consigo responder a
ele.
— Isso, goza pra mim enquanto meto meus dedos nessa
boceta melada. — A respiração dele está acelerada, mas não
como a minha.
A essa altura do campeonato, nem me lembro mais que
estamos na piscina e expostos em uma noite fria, porque tudo ao
meu redor esquenta com o toque intenso de Matteo em meu
interior.
À medida que faz movimentos de vai e vem, estimulando
meu clitóris, fico mais próxima de alcançar o orgasmo. Vendo
meus lábios entreabertos, ele puxa meu lábio inferior em seus
dentes, logo sou atingida por uma onda de calor e gozo
intensamente.
— Ahhhh. — Arfo, com fortes vibrações e formigamentos
me tomando dos pés à cabeça.
— Nem mesmo as sete maravilhas do mundo poderiam
competir com você quando está gozando para mim. A sua
entrega... você me fascina.
Oh, Senhor. Ele abre um sorriso genuíno, que rouba todo o
meu raciocínio a ponto da minha resposta ser um ofego.
— Eu preciso de você dentro de mim agora. — É só o que
consigo expressar.
— Vamos entrar, lá em cima tenho camisinhas — sugere,
levemente rouco. Ainda comigo em seus braços, ele nos guia até
a escada. Matteo sai primeiro e me estende a mão. Sorrindo,
aceito, mas ao me lembrar do meu sutiã, eu olho para trás.
— Depois eu pego para você.
Se ele fosse capaz de ler mentes, eu diria que leu a minha,
porque sabe exatamente o que estou pensando.
— Tudo bem.
Matteo recolhe nossas roupas no chão e as põe na
espreguiçadeira próxima, logo seguimos para dentro da casa. Ele
nota que me encolho um pouco, então me cobre com o seu corpo
por trás, passando os braços em minha cintura antes de dar um
beijo em meu pescoço carinhosamente.
— Você está toda arrepiada e os seus mamilos estão
enrijecidos, deliciosos — murmura em minha orelha, passando a
mão na lateral do meu braço como se quisesse me aquecer.
— É o frio. — Dou uma risadinha ao atravessarmos a porta
da cozinha.
— Estou muito tentado, sabia? — Matteo beija novamente
meu pescoço e suas mãos se fecham em meus seios.
— Com quê? — Inclino a cabeça para trás e roço a bunda
em seu pau ao sentir a sua ereção.
— Em te comer naquela ilha. — Uma mão desce por minha
barriga e faz um caminho lento até a minha boceta.
— E o que mais, hm? — Esfrego-me nele e solto um
gemido ao ter minha boceta apalpada por cima do tecido da
calcinha.
— Eu te colocaria de costas para mim, com esse rabo
gostoso empinado, e socaria fundo, assistindo ao seu gozo
escorrer por suas pernas. — Ele geme baixinho, excitado.
— Você pode ir lá em cima pegar as camisinhas, eu te
espero aqui, prontinha pra você — sugiro, virando-me para ele.
— Mesmo que a ideia me deixe com o pau ainda mais duro
— segura meu rosto com as duas mãos e eu miro em seus olhos
brilhantes —, você merece que a nossa primeira vez seja na
minha cama. Teremos outras oportunidades para explorar cada
canto dessa casa. — Soa romântico e o meu coração dispara.
— Então me leve para o seu quarto, Matteo, me faça de
uma vez sua. Me mostre como é ser sua por inteira — peço, em
um sussurro.
— Eu mostrarei. — Devolve sussurrando, encostando a sua
boca na minha. Penso que vai me beijar, mas ele entrelaça
nossas mãos e me puxa para o andar de cima.
Assim que entramos no quarto, Matteo me puxa pela
cintura e me beija, com uma mão envolvida em meu pescoço
enquanto a outra passeia por minhas costas até a minha bunda.
Aos beijos, ele nos conduz para a cama e me deita nela,
ficando por cima de mim, explorando cada centímetro da minha
pele com suas mãos. Sua língua envolve a minha, seus gemidos
se misturam aos meus, eu mordo os lábios dele e ele morde os
meus. É uma troca deliciosa entre duas pessoas que se entregam
ao outro sem reservas.
Matteo abandona nosso beijo e me observa por alguns
segundos antes de descer a boca por meu colo e trilhar beijos
por minha barriga, indo de encontro ao meio das minhas pernas.
Ele prende a minha pele em seus dentes e a suga, e quanto
mais perto fica da minha boceta, mais sinto como um vulcão
prestes a entrar em erupção. Suas mãos firmes se fecham em
meus quadris e os seus dedos apertam minha carne, me fazendo
queimar, arder... me enlouquecendo.
Ele está tão perto... Ahh, Senhor. Quando Matteo beija o
interior da minha coxa, é o suficiente para que meus mamilos
fiquem duros e eu feche os olhos.
— Estou morrendo de vontade de provar sua boceta, tesoro.
— Seu tom é sensual. — Agora levante o quadril, vou tirar a sua
calcinha.
Ele segura as laterais da calcinha e desliza a peça por
minhas pernas até se livrar dela, com o olhar fixo em mim o
tempo todo. Matteo joga a calcinha longe e volta a ser pôr entre
minhas pernas, de joelhos.
— Deliciosa só de ver. — Examina-me como se estivesse
tentando memorizar cada detalhe meu. — Vai me deixar provar
dessa boceta melada antes de te comer? — Passa os dedos pelos
grandes lábios, causando um frenesi em meu clitóris. Eu arfo,
desejosa e ansiosa para que me faça logo dele.
— É toda sua... — Sopro em um fiapo de voz.
Ele dá um sorriso de canto antes de abocanhar a minha
boceta com calma, mantendo seus olhos carregados de tesão nos
meus. Jogo a cabeça para trás assim que suga meu clitóris com
força, fazendo arrepios percorrerem por meu corpo e minha
boceta ficar mais encharcada. Em seguida, minhas pernas são
encaixadas em seus ombros, deixando-me exposta o suficiente
para me chupar deliciosamente.
Sua boca e língua trabalham habilmente em me deixar cada
vez mais enlouquecida de prazer, o calor dentro de mim passa
ser ainda difícil de suportar. Dominada pelo desejo, sinto
quando desliza sua língua do meu clitóris até o meu canal e a
enfia ali algumas vezes. Essa é a primeira vez que sinto essa
avalanche de tesão e passo a me questionar se sairei viva de toda
essa intensidade que ele está me proporcionando.
Empurrando minhas divagações para longe, prendo meus
dedos nos lençóis e aperto os olhos, gemendo em forma de
sussurro.
Céus!
Fome. Ele tem muita fome por minha boceta, se esbalda
nela como se fosse a sua sobremesa favorita. Matteo explora um
pouco mais o meu canal, enfiando a língua diversas vezes e o
mais fundo que consegue, e ao se dar por satisfeito, volta,
deslizando-a até o meu clitóris. Ele o circunda com lentidão e
tenho quase certeza que irei desmaiar a qualquer momento de
tão alucinante.
Sinto minha boceta molhando e ele suga todo meu líquido,
lambendo por dentro de minhas dobras, dentro e fora.
Como se não fosse o suficiente, volta a me foder com a
língua devagar, forte... Duro, intenso e delicioso.
— Mais, eu preciso de mais... — Me contorço, agarrando
meu seio e espremendo-o contra meus dedos.
— Gostosa pra caralho. — Seu tom causa uma vibração
maravilhosa por todo meu corpo, me arrepiando por inteira.
Sucumbida pelo deleite, arqueio minhas costas e dou leves
reboladas contra sua boca. Ele sorri satisfeito e grunhe feito um
animal selvagem, desferindo um tapa na lateral da minha bunda.
Grito de prazer ao sentir a ardência em minha pele e tenho
certeza de que estará marcada no dia seguinte.
— Gosta disso, não é? — profere contra o meu clitóris.
Contraio minha boceta, tomada pela luxúria que nos cerca.
— Sim... — Minha voz quase não sai.
— Delícia de boceta. Eu poderia ficar aqui, horas e horas
te chupando só para continuar olhando as expressões que você
faz quando estou te tocando.
Suas palavras me deixam arfante, sem saber o que dizer.
Puxo o ar para os meus pulmões e então ele volta a tomar minha
boceta em sua boca, sugando meu clitóris com maior
intensidade.
— Rebola na minha boca, gostosa. Preciso que esfregue
essa boceta na minha cara. Quero te ver gozando lindamente
enquanto remexe esse rabo gostoso pra mim.
Seu modo sujo de falar apenas intensifica o calor
exorbitante existente dentro de mim e faz meu clitóris pulsar
freneticamente.
— Goza na minha boca, cuore — pede, dando uma
mordidinha de leve em meu clitóris inchado.
— O que significa? — resfolego, ao ouvir a sua risadinha
contra minha pele sensível.
Ele não responde.
No mesmo instante, deixo que o tesão e toda a vontade
enlouquecida de ser dele me tome por completo e me entrego
inteiramente. Olhando em seus olhos, faço como me pede,
rebolando contra seus lábios que me chupam com fervor, e
agarro seu cabelo, não suportando mais.
A sensação acalorada cresce cada vez mais e eu aumento o
ritmo do meu quadril, remexendo cada vez mais rápido, sentindo
sua língua golpeando meu interior, que fica a cada segundo mais
sensível. De repente, algo parece finalmente ter explodido
dentro de mim.
Sem forças, deito minhas costas completamente no
colchão, sentindo meu gozo escorrer da minha boceta. De olhos
fechados e ofegante, tento recuperar as forças que se esvaíram
do meu corpo.
Mordo meu lábio inferior e gemo baixinho quando sua boca
e língua trabalham em minha boceta, capturando cada gota.
Cristo... Esse homem vai me matar de tanto prazer.
Minutos depois, ele vem ao meu encontro e captura minha
boca com a sua, me dando um beijo rápido.
— Vou pegar camisinhas. — Roça seu lábio no meu,
acariciando meu rosto com ternura antes de sair de cima de mim
e seguir até o banheiro.
Sento-me na cama, observando ao meu redor. De repente,
Maria Alice vem em minha mente quando vejo o porta-retratos
na mesa de cabeceira – ela está abraçada ao pai, talvez com seus
três aninhos.
Eu sei que ela é apenas uma criança de seis anos, mas
como reagiria se soubesse que estou me envolvendo com o pai
dela? Ficaria chateada ou pensaria que estou tentando tomar o
lugar da mãe dela? Afinal, sou a sua babá, moro na casa com
eles. Ela me rejeitaria ou gostaria da ideia de me ver com o
Matteo? Eu gosto muito da pequena e seria doloroso perder o
carinho dela.
Bem, por ora, não está em meus planos nos revelar, e
acredito que no dele também não. Ainda não existe um “nós”
oficialmente, por mais que estejamos muito envolvidos. Para
uma relação dar certo, deve existir sentimentos verdadeiros dos
dois lados, e Matteo não parece ser o tipo de homem que se
prende a uma mulher apenas por sexo.
— Demorei muito? — Sua voz chama a minha atenção,
então ergo os olhos e miro em sua direção, mas me perco na
visão que tenho dele.
Puta merda. Que homem gostoso. Ele está nu, o seu pau
está ereto, pulsante e babado. Ver Matteo seminu não é a mesma
coisa de poder contemplar cada centímetro dele sem roupa.
— Não.
Me coloco de pé, e quando vejo, estou indo na direção dele
e sendo devorada por seu olhar ardente que percorre por meu
corpo.
— Estava procurando as camisinhas — explica, só assim
para que eu note os preservativos entre seus dedos.
— Tudo bem, o importante é que achou. — Mordo a boca
ao vê-lo colocar a mão em meu quadril.
— Você quer colocar a camisinha? — sonda-me.
— Sim, mas antes preciso fazer algo. — Agarro seu pau na
mão esquerda, melando meus dedos, e movimento devagar,
arrancando um gemido dele. — Você me chupou tão gostoso, que
agora quero te recompensar. — Beijo seu peitoral e dou uma
mordidinha antes de fazer uma trilha com a minha boca por seu
abdômen duro, cheio de gominhos.
— Porra, Brenda... — Meu nome soa sexy e rouco.
Com a minha umidade escorrendo por minhas pernas,
ajoelho-me à sua frente e beijo sua pélvis, descendo por sua
virilha. Ele fica arrepiado quando puxo a sua pele nos dentes.
— Puta merda. — Arfa, rouco.
Sorrindo, aproximo o rosto do seu membro e passo a língua
em seu eixo pulsante, sentindo a textura de algumas veias
saltadas. Com água na boca, abocanho a cabeça do seu pênis e
faço movimentos circulares com a língua bem devagarinho. E
aos poucos enfio o seu pau inteiro dentro da boca, aumentando a
velocidade.
— Você vai me enlouquecer!
Ao ouvi-lo soltar um gemido alto e ofegar, chupo-o
vigorosamente, alternando com lambidas e sugadas.
Movo minha cabeça para a frente e para trás, e me engasgo
no ritmo elevado que uso para o boquete. Quase no seu limite,
Matteo agarra meu cabelo e empurra seu quadril para a frente,
me fodendo na boca.
— Ohh, além da boca ser perfeita me beijando, é ainda
mais me chupando. Eu vou jorrar a minha porra nela e você vai
engolir tudo, cada gotinha do meu gozo.
Um arrepio percorre o meu corpo e a minha boceta se torna
uma cachoeira de tão molhada que se encontra. Aperto meus
lábios ao seu redor e raspo os dentes em seu ponto sensível.
— Olhe pra mim, Brenda, quero gozar na sua boca com
esses lindos olhos fixos nos meus. — O tom é deliciosamente
autoritário.
Ergo o rosto e deparo-me com sua expressão pesada de
prazer, desejo, adoração e algo mais.
As pernas dele tremem e eu cravo as unhas em sua coxa
esquerda, fazendo uma carícia que o estimula a gozar fortemente
em minha garganta.
Eu engulo tudo, gemendo baixinho e observando Matteo
abrir uma das embalagens das camisinhas e jogar as outras na
cama.
— Preciso mais do que nunca estar dentro de você —
declara.
Eu me levanto, pegando a camisinha e a deslizando em seu
pau sem tirar os olhos dos dele.
— Eu estava contando os minutos para isso — murmuro,
mirando em sua boca que se curva em um sorriso.
— Então, éramos dois.
Ele segura a minha mão e me guia até a cama. Matteo se
senta na beirada da cama e me puxa para o seu colo, então passo
as pernas de cada lado do seu corpo, ficando de frente para ele.
Um friozinho se instala em meu estômago ao ser avaliada por
ele em silêncio, atento a cada movimento meu.
Suas mãos passeiam por minha bunda, subindo por minhas
costas e fazendo um caminho por meus seios. Ele aperta meus
mamilos entre os dedos, me arrancando gemidos, em seguida
inclina a cabeça e abocanha um mamilo. Sua língua faz
movimentos de sucção em meu biquinho, então ele morde, puxa
entre os dentes, afetando na vagina. Estou pulsando, ardendo,
delirando com suas sugadas firmes e as alterações em meus
seios. Ele consegue dar atenção aos dois, os abocanhando
esfomeado, pincelando com a sua língua safada e muito
habilidosa.
Seguro-o pelos ombros e empurro minha boceta em seu
pau, me espremendo contra a sua ereção sem pudor algum para
que entenda de uma vez que não aguento mais. E a sua resposta
é rápida, certeira. Ele me pega pelo quadril e me ergue um
pouco.
— Me engole com essa boceta.
Assentindo, pego na base do seu pau e encaixo em minha
entrada quente e escorregadia. Desço em seu comprimento até
tê-lo por completo dentro de mim, e quando nossos olhares se
fixam, gememos alto ao nos tornarmos um só.
— Ahh, Matteo... — balbucio, chorosa por seu tamanho me
alargar um pouco.
— Vem comigo, cuore. — Agarra meu quadril, então arfo,
me abrindo mais para recebê-lo e novamente não passa
despercebido o apelido que ele me chama em outra língua.
— Você é grande — murmuro.
Ele me prende em seus braços, pressionando meus seios
contra o seu peitoral.
— Em todos os sentidos — brinca, me arrancando uma
risada sincera, e assim vou relaxando ao perceber que ele coloca
as mãos em minha bunda, acariciando levemente. — Se ficar
muito incomodada me avise, o.k.? — Matteo é tão carinhoso que
parece até a minha primeira vez fazendo sexo. Mas não é ruim,
acho extremamente fofa a sua atitude.
Começo a rebolar lentamente e tenho a sua ajuda, que
firma as mãos em minhas nádegas, me fazendo subir e descer
nele, ao me movimentar com mais precisão. Matteo geme o meu
nome, jogando a cabeça para trás. Com a respiração pesada e
quente, empurro-o pelos ombros e o deito no colchão, então me
arreganho, subindo e descendo meu quadril, ouvindo um barulho
vindo da minha vagina. Estou tão molhada.
Deitada sobre o peito de Matteo, busco a sua boca, mas não
perco o ritmo dos movimentos. Beijo seus lábios
desesperadamente, nossas línguas se entrelaçam e nos perdemos
em um beijo molhado e apaixonado. Fecho os olhos,
choramingando e movendo o quadril sem parar.
— Ahhhh. — Estremeço dos pés à cabeça ao receber um
tapa forte na bunda.
— Me aperta mais com essa boceta, Brenda — pede, e eu
aperto minhas pernas ao redor, rebolando em seu membro como
se estivesse ensaiando uma dança sensual. — Oh, porra... Isso
— geme, castigando minha carne com palmadas deliciosas que
liberam a minha adrenalina.
Ousada, ergo-me e espalmo as mãos em sua barriga, me
movimentando em um vai e vem rápido. Matteo entreabre os
lábios e segura a minha cintura, e em um movimento inverte
nossas posições.
Ele mete fundo, me segurando pelos joelhos, me abrindo e
observando seu pau me penetrar. Ele entra. Sai. Repete os
movimentos por um tempo, já arfante e trêmulo.
— Ai... Ai... Céus.
Gemo a cada estocada dura. Cruzo minhas pernas ao redor
da sua cintura e o puxo mais para dentro de mim, até sentir suas
bolas baterem em minha boceta.
— Gosta de ser comida com força, né? — Geme
guturalmente.
— Oh, sim...
Ele acelera cada vez mais, me comendo vorazmente,
girando os quadris com reboladas precisas e rápidas.
Nós dois gememos alto em puro êxtase. Meu corpo treme,
meus seios sobem e descem, meu canal estreita ao redor do seu
pau e Matteo rosna entredentes, inclinando o seu corpo por cima
do meu.
Sei que você está quase gozando, assim como eu. — Ele
bombeia e eu fecho os olhos ao ouvir sua voz tão perto da minha
orelha.
— Ahhh, goza comigo, por favor... — imploro, delirando.
Meu coração explode em batidas irregulares. Ele soca em
mim, se enterrando fundo, esticando minhas paredes internas e
me proporcionando sensações inesquecíveis.
Matteo me come com tanta adoração e habilidade, que
meus olhos se enchem de lágrimas e eu choro ao ser inundada
por um orgasmo arrebatador que respinga em seu lençol e o
lambuza por inteiro.
Fito o seu semblante contorcido e noto que ele goza logo
depois, deitando seu rosto suado no vale dos meus seios.
Cada centímetro da minha pele queima.
Meu coração parece que vai sair pela minha boca.
Minha boceta pulsa no pau de Matteo que ainda está dentro
de mim.
— Foi incrível. Nunca me senti tão bem nos braços de
alguém como hoje — murmuro, afundando os dedos em seu
cabelo e sentindo os fios macios suados.
— E eu me sinto revigorado, como não acontecia há anos
— confessa, acariciando a lateral do meu braço.
— Hm, isso é bom. — Massageio seu couro cabeludo com a
ponta dos dedos.
— Muito. — Seu tom sai baixinho.
— Matteo, o que significa “cuore”? Você me chamou assim
duas vezes.
A risada dele soa profunda, gostosa de ouvir.
— Qualquer dia eu te conto — promete, sonolento.
— Não pode ser hoje?
Ele nega, balançando a cabeça.
— Vamos dormir um pouco, cuore. Posso até te contar mais
tarde.
Deve ser algo muito bom. Mesmo tentada a pesquisar
depois a tradução, decido deixar para ouvir dele, pois sei que
será mais significativo para mim.
— Vou cobrar.
— Faça isso. — Ele ergue o rosto e beija meus lábios
carinhosamente. — Vou me livrar da camisinha, não demoro. E
não durma, quero dormir de conchinha com você. — Ele sai de
dentro de mim e eu solto um gemido, não só por sentir um vazio,
mas por seu desejo em dormir agarradinho a mim.
Matteo vai até o banheiro e eu fico na cama, olhando na
direção em que ele foi. Não tenho dúvida alguma, esse homem
roubou meu coração.
Ele retorna minutos depois, ainda nu e com uma toalha na
mão direita.
— Vou limpar você e depois podemos dormir por algumas
horas. — Ele se senta na beirada da cama e se vira para mim,
então abro as pernas para ele sem vergonha alguma. — A sua
boceta está avermelhada, quer que eu passe uma pomada? — Ele
desliza o tecido úmido em meus lábios vaginais de modo
delicado.
— Não precisa, estou bem. — Mordo o lábio, babando no
homem que está nitidamente preocupado comigo.
— Se estiver se sentindo incomodada, me fale para que eu
cuide de você, tudo bem? — Ele termina de me limpar, mirando
em meu rosto.
— Pode deixar. — Suspiro, apaixonada por seu gesto.
Ele coloca a toalha na mesa de cabeceira e pede para que
eu dê espaço para ele na cama, então se deita ao meu lado.
— Boa noite, Brenda. — Nossos olhares se encontram e eu
observo seus lábios se curvarem em um sorriso genuíno.
— Boa noite, Matteo — sussurro, sorrindo para ele e
virando-me de costas. Logo sou rodeada por seu braço forte, que
me puxa para perto do seu corpo acolhedor e quentinho.
— Sonhe com os anjos. — Sua voz soa perto da minha
orelha.
— Prefiro sonhar com você. — Dou uma risadinha,
apoiando a cabeça em seu braço.
Ele ri e não diz nada.
Aos poucos, o silêncio se apodera do quarto e nossas
respirações vão se acalmando. Lentamente minhas pálpebras se
fecham e meu corpo amolece.
Eu acordo na manhã seguinte assobiando, me sentindo a
própria Giselle do filme Encantada. Só faltam os pássaros e o
ratos para reproduzir a cena toda.
Matteo ainda dorme, deixei-o na cama há uma hora. Tomei
banho em seu banheiro e fiquei tentada a pegar uma camisa dele
que encontrei no closet, mas desisti da ideia e desci para colocar
uma roupa minha limpa. Coloquei um vestido florido soltinho e
deixei o cabelo solto.
Risonha, observo a mesa de jantar com algumas frutas,
torradas, geleia, suco e outras coisas gostosas que preparei para
nosso desjejum. O que não poderia faltar é o café, ele adora
tomar assim que acorda.
— Agora só falta ele — murmuro, esfregando as mãos e
sorrindo como uma boba apaixonada.
Não consigo apagar da minha mente a nossa noite, cada
detalhe está vivo em mim. Respiro fundo, dando uma última
conferida na mesa antes de ir seguir até o segundo piso da casa
para chamar o meu... Matteo para tomarmos café.
Estou prestes a pisar no primeiro degrau da escada quando
ouço a campainha tocar. Confusa, olho para cima e depois para a
porta.
Se fosse a Madalena com a Maria Alice, ela teria apenas
entrado, afinal, tem as chaves e não precisa de permissão para
entrar na casa. E se fosse o motorista, mas ele não trabalha
hoje...
Quem será?
Eu devo atender ou chamar o Matteo?
— Já vai! — digo, assim que decido ver quem é a essa
hora.
Abro a porta e me deparo com uma mulher bem mais velha
do que eu. Ela é bastante alta, magra, cabelo loiro grisalho. Seus
olhos são azul-claros e seu rosto tem uma ruga aqui e outra ali.
A desconhecida me estuda dos pés à cabeça com a
expressão dura e cheia de ódio. Desconfortável com a sua
avaliação demorada, encolho meus dedos dos pés e engulo em
seco ao vê-la invadir a casa, nem mesmo me pede licença ou
pergunta se pode entrar.
— Ei, senhora, quem pensa que é para entrar assim? —
Assustada com o seu atrevimento, eu a sigo até o sofá, onde ela
se senta com as pernas cruzadas e me encara com amargura ao
colocar a sua bolsa chique no colo.
Ela é alguma parente... Ou amiga da família do Matteo?
— Sou mãe da dona disso tudo aqui. — Ela gira o dedo no
ar.
Meus olhos se arregalam.
— M-mãe? — gaguejo, me recordando das palavras da
Madalena.
Ela é a sogra megera dele. Meu Deus.
— Como a senhora entrou? — Firmo meu tom, mas sem
soar grosseira.
A mulher me ignora ao olhar para cada canto da casa.
— Fico louca de raiva ao saber que a minha filha não está
mais aqui e o miserável tem coragem de enfiar a amante no lar
dela. — Ela não se dirige diretamente a mim, porém, é nítido
que está me atacando.
— Eu vou chamar o Matteo, com licença. — Minhas mãos
ficam geladas.
Por Deus, que ela não tenha vindo brigar com ele. Não
quero ser o motivo de desentendimento entre eles.
— Uma empregada chamando o patrão com tanta
intimidade assim? — reclama. — Cadê a minha neta, garota? —
A velha é ácida.
— Vou chamar o senhor Bianco. — Limpo a garganta e me
refiro a ele de maneira formal para que a bruxa não comece a
atirar pedras novamente.
— Não precisa, Brenda, já estou aqui. — A voz dura de
Matteo me estremece dos pés à cabeça, seu tom sai como um
trovão violento.
Ele está usando roupas casuais e seu cabelo está molhado,
certamente acabou de sair do banho, e está descalço, assim como
eu. Em seu semblante não há nada de agradável, a veia em seu
pescoço pulsa e os seus dentes estão trincados.
— Como entrou na minha casa, Maria Luiza? — inquire,
revoltado.
A mulher o avalia, assim como fez comigo, e dá uma risada
fria.
— Eu não quis acreditar quando a Daniele me falou que
você estava quase se envolvendo com a empregada. — Ofego
com a revelação e Matteo fecha os punhos. — Eu tinha que ver
com meus próprios olhos, e tive a confirmação ao ser recebida
por sua amante.
Não somos amantes. Ele é viúvo... Livre para se relacionar
com quem quiser, mas a mulher me acusa como se eu tivesse
roubado o marido da filha dela.
— Como você passou pelo portão da minha propriedade?
— Ele ignora o que ela fala.
— Você não tem vergonha, Matteo? Essa casa é o lar da
minha filha! Como pôde trazer o seu caso para a casa onde a
minha neta vive? — Ela se levanta, ignorando-o também.
Meu Deus, como vou parar esses dois?
— Vergonha do quê, Maria Luiza? A Mila se foi há anos, e
eu não estou traindo ninguém. Você fala como se eu estivesse
cometendo adultério! — diz, irado. — E você menciona a minha
filha como sua neta, mas nunca se deu ao trabalho de ligar para
saber dela, para ficar com ela, cuidar dela quando estive sozinho
tentando dar conta de um bebê, sendo pai de primeira viagem. —
Aponta o dedo para ela.
— A minha filha poderia estar viva hoje se você...
— Nem continue, porra! — Matteo avança para perto dela.
— Eu sei que você me culpa pela morte dela, mas não sou um
assassino. Foi a decisão da Camila deixar a Maria Alice viver.
Acha mesmo que eu iria desejar perder a mulher que amava?
Levo a mão à boca ao notar que ele e a mulher estão
chorando. Os dois estão machucados.
— Eu estava ferida, a minha única filha havia morrido.
Você nunca vai entender isso! — rebate Maria Luiza, então ele
ri.
— Você só pensa em seu rabo. Onde você estava depois
que o luto passou? Acha que a minha vida era mil maravilhas?
Eu tive que lidar com a Mali, com o luto, com tudo, mas você só
estava pensando na própria dor, como se tivéssemos tirado a
vida da Camila! — Ele limpa as lágrimas do rosto.
— Eu não consegui. Confesso que ver a Maria Alice me
causava dor, a criança só me trazia lembranças ruins.
Arfo com a declaração de Maria Luiza.
Como alguém pode pensar assim de um anjinho?
— Ela era só um bebê, caralho! — Matteo defende a filha
com fúria.
— Eu sei! — A mulher chora alto, e eu fico com pena por
alguns segundos.
— Se sabe disso tudo, por que nunca se deu ao trabalho de
procurá-la? Nem sequer liga quando ela faz aniversário — ele
acusa, raivoso.
— Acha que eu ficaria feliz na data em que a minha filha
morreu? — A sua risada é incrédula.
— Nunca quis que você ficasse radiante no dia da morte da
Camila, mas que apenas ligasse, se importasse com a sua neta.
Somente isso. — Os olhos dele estão vermelhos.
Estou no completo esquecimento com a discussão deles.
— Eu não consigo aceitar isso, não entra na minha cabeça
— murmura Maria Luiza.
— Isso é um problema seu. Só não culpe a mim,
principalmente a minha filha, pela sua dor. A mesma dor que
você sente, eu carrego comigo. — Ele engole em seco, só então
olha em minha direção e pede desculpas com o olhar.
— Eu vim ver a minha neta. — A mulher vira o rosto na
direção da escada.
— Ela não está. Como você entrou na minha casa? —
Matteo insiste em saber.
— Onde está, então? — Empina o nariz, voltando a ser uma
bruxa má.
— Responda primeiro a minha pergunta. — A persistência
dele é impressionante.
— Não sei se lembra, mas fiquei com os objetos pessoais
da minha filha, eu tenho as chaves do portão — revela,
baixinho.
— Invadir propriedade privada é crime, sabia? Me dê um
bom motivo para não te colocar na cadeia por ter invadido a
minha casa. — Matteo se senta no sofá e fita a sogra, que
arregala os olhos.
— Eu não invadi. É a casa da minha filha.
— Vou para a cozinha — aviso. Eu deveria ter feito isso
minutos atrás.
— Nem deveria ter estado presente, menina — rosna a
mulher, raivosa.
— Você fica, Brenda. E essa casa não é mais da Camila,
Maria Luiza. Sem ofensa, mas não entrou um tostão dela aqui
para você tentar justificar o seu erro. Tudo o que tem aqui é da
minha filha. Aceite que a Mila partiu e não volta mais.
Ela fica vermelha.
— Está falando isso porque a sua amante...
— Brenda não é a minha amante, sou viúvo há anos. Meus
relacionamentos não são da sua conta. Eu respeitei a minha
esposa em vida e até no luto, sigo respeitando, mas não posso
deixar de viver e de ser feliz por achar que estou traindo, porque
não é verdade.
Escondo o sorriso ao vê-lo rebater as acusações.
— O que nossos amigos e familiares vão falar quando
souberem que a babá que você contratou para cuidar da minha
filha é a sua...
— Eu pago as minhas contas. Quando alguém pagar alguma
conta minha, aí sim vou me preocupar com opiniões alheias —
ele a interrompe, implacável.
— Que tipo de exemplo quer dar a Maria Alice, enfiando o
seu casinho embaixo do mesmo teto que ela?
A mulher não para de ser uma escrota, e a minha língua
está coçando, mas esse é um assunto deles, não meu.
— Brenda não é meu casinho, minha aventura, é alguém
muito importante para mim e para a minha filha. Mali a adora.
Ah, que lindo.
Seu olhar encontra o meu.
— Eu não vim aqui discutir com você, só quero permissão
para conviver com a minha neta. Quero estar perto dela, quero
poder tomar decisões em relação à sua educação.
Quando penso que a mulher vai acertar uma, ela desce
ladeira abaixo.
Rindo, Matteo apoia os cotovelos nas coxas e balança a
cabeça.
— Como é? — Ergue o rosto e fita a sogra.
— Isso mesmo que ouviu.
— Maria Luiza, você pode até conviver com a sua neta,
mas nunca pense que vai educar ou tomar decisões da vida da
minha filha. Eu já faço isso por ela e estamos bem assim. — A
expressão dura dele a faz se encolher.
— Tudo bem, eu aceito. — Ela assente, recolhendo as
garras.
— Ótimo. Agora pode ir embora, a Maria Alice não está.
Não há nada para fazer aqui, e da próxima vez que decidir fazer
uma visita, avise antes. E nunca mais entre sem permissão. —
Ele se levanta. — Me dê as chaves que tem. — Ele estende a
mão na direção dela, que hesita por alguns instantes, mas
entrega a ele.
— Matteo, quero te pedir um favor. — A mulher soa mansa
demais. — Não brigue com a minha sobrinha, ela te adora.
Vocês são amigos, e a Daniele sente muito carinho por você. Se
eu vim aqui hoje, foi contra a vontade dela.
— Isso é algo que será tratado com a Daniele, não precisa
tentar aliviar a barra dela. — A voz dele não é nada contente.
— O.k. Estou de saída. Até breve. — Ela passa por ele,
depois por mim e sai da casa sem olhar para trás.
Matteo se levanta e vai atrás da sogra, talvez queira se
certificar da saída dela. Que loucura. Quem imaginaria que essa
mulher iria aparecer aqui em um domingo de manhã? Acho que
não ter vestido a camisa dele foi um tipo de pressentimento, essa
mulher já queria saltar em meu pescoço, imagina se eu estivesse
usando uma roupa do Matteo?
Massageando meus ombros, solto um suspiro longo ao me
sentar no sofá para esperar por Matteo.
Depois dessa cena toda fiquei até desanimada.
Que bosta!
Alguns minutos se passam e nada de ele voltar. Aflita,
levanto-me e começo a andar de um lado para o outro. Que eles
não estejam discutindo novamente.
— Ela já foi.
Olho na direção da porta e vejo Matteo se encostar no
batente, com os braços cruzados.
— Eu nunca poderia imaginar que era ela... deveria ter te
chamado — me justifico, indo até ele, ao sentir um pouco de
culpa. — Não queria que as coisas tivessem...
— Brenda, não — me interrompe, sério. — A Maria Luiza
tem que saber qual é o lugar dela. Ela não tinha esse direito,
esta é a minha casa. Meu lar, minhas regras. Só que a mãe da
Camila nunca soube o que é isso, sempre foi invasiva —
lamenta, frustrado.
— Não está chateado comigo? — murmuro, vendo-o abrir
um sorriso.
— Por que estaria? — Estende a mão para mim e eu aceito,
logo sou puxada para os seus braços. — O que você fez de
errado, hum?
Ergo o rosto, percebendo o seu divertimento, esse sim é o
Matteo de ontem.
— Talvez tenha preparado uma bela mesa de café? — Faço
um biquinho ridículo e ele ri gostoso.
— Estou tão bem assim com você, é? — Morde meu
biquinho e pisca para mim.
— Ontem fui muito bem recompensada, quero retribuir. —
Provocante, beijo o canto da sua boca e estudo a sua expressão.
— Já comece me beijando aqui — aponta para a boca — e
não aqui — agora aponta para a bochecha.
— Sim, senhor. — Rio baixinho.
— Estou esperando. — Ergue a sobrancelha.
— O.k. O.k. — Gargalho, segurando o seu rosto com as
duas mãos e o beijando na boca.
— Não gostei, quero a sua língua dentro da minha boca. —
Bate em minha bunda e eu me desvencilho dos seus braços, me
afastando dele aos risos.
— Depois do café, você pode ter a minha língua em todos
os lugares que quiser — falo, e seus olhos brilham com malícia.
— Gosto da ideia. — Ele vem ao meu encontro e eu sigo
para a sala de jantar.
— Caprichou, hein? — elogia, puxando uma cadeira para
mim, então me sento.
— Obrigada. — Sorrio, e ele se senta ao meu lado.
— Temos até café. — Ele balança o bule, orgulhoso.
— O melhor de todos — gabo-me, ouvindo sua risada.
— O que você quer comer? Frutas ou vai querer o café? —
murmuro, pegando o prato para o servir.
— E o que você vai querer? — Ele beija o meu ombro,
pegando um prato também.
— O que vai fazer? — Me viro para ele e encaro sua boca
safada que está sorrindo de canto.
— Te alimentar.
Meu coração dispara.
Apaixonada. Estou loucamente apaixonada por esse
homem.
— Como? — Não estou acostumada com esse tipo de
cavalheirismo.
— Em vez de você me servir, eu vou servir você. E não
aceito um não como resposta. — Ele me dá um selinho.
— Acho que a essa altura não sou mais capaz de te negar
coisa alguma. — Sorrio, derretida.
— Que bom. O que você vai querer? Suco, café? — Matteo
foca na mesa, parecendo empenhado em me agradar. Se ele
soubesse que não precisa disso... estou completamente na dele.
— Suco — murmuro, observando-o.
Ele aponta para as frutas que coloca em meu prato e meus
pensamentos voam, criando cenas em minha mente. Como seria
se fôssemos uma família? Se eu fosse a sua esposa daqui a
alguns anos, e nessa mesa estivesse ele, Maria Alice e eu
comendo, rindo e conversando... E se todas as manhãs eu
acordasse em seus braços? Seria um sonho e é o que está
acontecendo neste exato momento, estou sonhando acordada.
Ele ainda nem está apaixonado por mim, que dirá me pedir
em casamento.
— Quer torrada com geleia? — Sou cutucada no braço,
então o encaro, envergonhada por ter me distraído.
— Sim, quero. — Anuo com um pequeno sorriso.
— Você fica adorável quando está envergonhada, cuore.
Lá vem ele de novo.
— O que significa? — indago, ao notar que ele nem mesmo
percebe do que me chamou.
— O quê? — Franze o cenho.
— A maneira como me chama desde ontem. — Encolho os
ombros, reparando na sombra do seu sorriso que tenta conter.
— E do que eu te chamo? — Une as sobrancelhas.
Safado. Ele sabe como é.
— Cuore, algo assim.
— É coração em italiano. — Ele lambe os lábios.
Puta merda. Matteo é objetivo em suas palavras, não
esperava que a tradução fosse “coração”.
— Por que está me chamando assim? — Tenho certeza de
que os meus olhos estão brilhando.
— Combina com você. — Ele se vira para mim e coloca a
torrada em minha boca com um pouco de geleia.
Seria para me calar? Mastigando, eu o vejo colocar um
pouco de café em sua xícara.
Ele me deu um apelido carinhoso e ainda nega estar
apaixonado. De 0 a 10, qual a possibilidade de ele já ter
sentimentos por mim, só que ainda não se deu conta disso?
Dez. Dez. Dez, diz meu subconsciente, e eu quero acreditar
nele.
Dias depois da visita inesperada de Maria Luiza, a Daniele
enviou uma carta de demissão para o RH da Bianbooks alegando
motivos pessoais e solicitando afastamento imediato das suas
funções na editora. Mas eu não soube no mesmo dia, apenas
ontem fui comunicado por Bruno, o gestor do RH.
Ele perguntou se havia acontecido algo grave para ela sair
assim, já que até dias atrás estava indo tudo tão bem. Apenas
disse a ele que não estava sabendo de nada, mas que se ela pediu
para deixar o cargo foi por algum motivo importante. E antes
que encerrássemos o assunto, pedi que encontrasse uma pessoa
para ocupar a vaga dela o mais rápido possível.
Eu jamais vou levar meus problemas pessoais para o meu
ambiente de trabalho, mas agora sei o motivo de ela ter feito
isso. Daniele me ligou na noite passada e disse que ficou
chateada comigo por ter destratado a tia dela, contudo, não
apoiava o comportamento de Maria Luiza comigo. Ela até pediu
desculpas por ter contado coisas da minha vida para a tia. Ela
sabe muito bem como sou e antecipou a explicação. Gostei de
ela ter tomado essa decisão, reconheceu que errou e eu não
precisei repreendê-la.
Além disso, revelou que saiu da editora porque ela reatou
com o seu ex, Thomas Ferrer, e eles decidiram tirar um ano
sabático e vão viajar mundo afora.
Eu a felicitei pelo noivado, pois espero, de coração, que
ela seja feliz ao lado do homem que a ama. Por fim, me despedi
desejando uma boa viagem.
A conversa com Daniele me faz lembrar o que aconteceu
dias atrás, na minha casa.
Nada nem ninguém pode me impedir de tocar a minha vida
com outra mulher, nem mesmo Maria Luiza. Fui fiel à minha
esposa desde o primeiro momento em que entramos em um
relacionamento até o seu último dia de vida. Então, não admito
que a mãe da Camila me acuse de estar manchando a imagem da
filha ao colocar a minha amante sob o mesmo teto que a Maria.
A sorte dela é que sou um homem misericordioso, senão a
pegava pelos braços e a colocava para fora da minha casa.
Como ela pode ser tão audaciosa? A que ponto um ser humano
pode chegar com tamanha arrogância? Insanidade de Maria
Luiza dizer que Brenda e eu somos amantes, ainda por cima
desmerecer a mulher como se ela não estivesse ali, assistindo ao
seu showzinho.
Eu deixei bem clara a minha decisão. Fui tão firme, que eu
vi pela primeira vez aquela mulher temer algo.
— Maria Luiza, não se apresse tanto, precisamos trocar
algumas palavrinhas. — Em passadas largas, eu a alcanço.
— Você não queria que eu saísse da sua propriedade,
Matteo? É isso que estou fazendo. — Seu tom é duro, então a
seguro pelo braço.
— Se não fosse algo sério, eu não viria atrás de você,
acredite.
A mulher para de andar e me encara com aqueles olhos
idênticos aos da minha filha.
— Estou te ouvindo. — Mira em minha mão em seu braço,
então eu a solto e limpo a garganta.
— Hoje, foi a primeira e a última vez que você entrou
nessa casa dessa maneira. — Cruzo os braços e fito-a com
seriedade.
— Você já disse isso minutos atrás, e eu já entendi que a
mãe da sua esposa é como uma estranha para você. — Ergue a
sobrancelha.
— Não me venha com drama. Você teve anos para querer
conviver com a minha filha, mas nunca se importou, então não
tente me transformar em um vilão, porque não sou. — Meu
maxilar trava.
— Como sempre, querendo ser o bom moço. Eu já entendi,
Matteo. Não venho mais à sua casa, mas não abro mão de fazer
parte da vida da minha neta.
Ela realmente está decidida a não desistir dessa ideia.
— Você quer mesmo conviver com a Maria Alice? —
Sorrio, sarcástico.
— Claro que sim. É um direito meu. — Seu rosto está
vermelho.
— Você o perdeu a partir do momento em que deu as costas
para ela quando a mãe dela morreu, naquela sala de parto. —
Aponto o dedo em sua direção. — Para você é muito fácil vir
aqui cobrar os seus direitos, não é? — Esfrego a nuca, rindo
baixinho com amargura.
— Matteo...
— Se você está mesmo disposta a ter a Maria Alice como
neta — eu a interrompo, fazendo uma breve pausa —, primeiro
vai ter que aprender a amar a menina de verdade e arrancar do
seu coração mágoas que nem deveriam existir, Maria Luiza.
Os olhos da avó da minha filha se enchem de lágrimas, e
ela agarra a bolsa com força. Está doendo nela as minhas
palavras, eu sei.
— A Mali é uma criança adorável, amorosa, talentosa... —
minha voz embarga. — Se você tivesse acompanhado os
primeiros passos dela, falas... — Meus olhos ardem e forma um
nó em minha garganta.
— Ela se parece tanto com a Camila quando criança, e
isso dói. Os anos se passaram, Matteo, mas a minha filha ainda
está viva aqui dentro. — Ela aponta para o coração e começa a
chorar. — O filho pode ter partido há décadas e mais décadas,
mas uma mãe nunca vai aceitar a sua morte. Ter perdido a
minha única filha me tornou o que sou hoje, uma mulher injusta,
amargurada... Com medo de uma criança inocente, que tem o
meu sangue. — Ela treme e eu abaixo minha guarda ao notar
que está sendo sincera pela primeira vez.
— Anos atrás, você perdeu a sua única filha, e eu, a
mulher que mais amei nessa vida e a mãe da minha filha. Foram
duas dores, a de saber que nunca mais iria tê-la em meus
braços, e por Mali, que nunca poderia ver o rosto da mãe
pessoalmente e nem ter privilégio de ouvir a sua voz. — Então
libero as lágrimas que estava segurando.
— Nós dois sofremos, Matteo, mas a dor de um marido
passa, você está morando com essa mulher na sua casa, com a
minha neta, já eu... O que tenho? Nada. — Funga, e eu limpo
meu rosto.
Apertando as pálpebras, respiro fundo.
— Maria Luiza, eu não te devo satisfação da minha vida,
mas já que a sua sobrinha te informou como andam as coisas
por aqui, deveria ter dito que a Brenda foi uma indicação da
Madalena. Até pouco tempo, nem conhecia a babá da minha
filha. — Observo a casa, em seguida ao nosso redor, e suspiro.
— Ela é a babá da sua filha, uma funcionária! Ela pode
confundir as coisas, achar que essa casa é dela por morar aqui
e...
Com um gesto de mão, eu a interrompo.
— O seu problema é a Maria Alice ou a minha casa?
Porque se for a casa, saiba que nunca mais verá o rosto da
Maria Alice na sua frente. Eu já disse e não vou repetir mais, eu
respeitei a Camila durante todos esses anos, mas não aceito que
você se comporte como se pudesse me controlar, porque não
pode. — Sua expressão é de choque. — A minha relação com
Brenda é algo que só cabe a mim. Se algum dia eu decidir que a
pedirei em namoro, casamento, divórcio ou seja lá o que for,
não é da sua conta.
— Eu não aceito...
— Você não precisa aceitar nada. Eu entendo a sua dor,
mas se ficarmos nos martirizando sempre, nunca chegaremos a
lugar algum. Maria Luiza, a sua filha te amava e ela nunca iria
querer te ver assim. Deixe o rancor de lado, carregue a sua
filha em seu coração, mas solte essa dor que tem aí dentro de
você, isso só vai te deixar doente — aconselho, suavizando a
voz.
— Eu preciso ir embora... Depois te ligo. Se me permitir,
quero falar com a Maria Alice — murmura, soluçando.
— Enquanto tiver raiva em seu coração e enxergar minha
filha como uma dor para você, não te quero perto dela.
Primeiro, vá se cuidar. Você tem muito tempo ainda para ver a
sua neta — decido, deixando-a perplexa. — Essa é a minha
condição para ver a Maria Alice.
Ela abaixa a cabeça e volta a chorar.
— Não vou dizer que não te entendo, porque estaria
mentindo. — O seu choro é sincero, mas eu preciso mais do que
isso.
Quando se trata da minha filha, me torno um leão. Nunca
vou permitir que partam o coraçãozinho da minha menina. Ela
pode se tornar adulta, construir uma família, mas sempre
estarei ali para ela.
— Até breve, Maria Luiza.
— Até, Matteo — murmura, me dando as costas e seguindo
para fora da minha propriedade.
Batidas soam à porta, me tirando das minhas lembranças.
— Quem é?
Encaro o monitor ligado e vejo o e-mail que meu advogado
me enviou com o contrato da compra da casa de Vale Santo. O
evento do Alberto está próximo e será à noite, não quero
incomodar ficando na casa dele ou em alguma pousada, então
decidi fazer a compra de uma mansão próxima à casa do
prefeito. É uma boa propriedade em uma cidade hospitaleira,
onde podemos passar as férias, finais de semana, e quem sabe,
nos mudarmos para lá daqui a alguns anos.
— Sou eu.
Rapidamente, consigo identificar a voz de Madalena do
outro lado.
— Pode entrar.
Minha governanta entra em minha sala com uma expressão
preocupada, e é o suficiente para que eu fique também.
— Aconteceu algo, Madalena? — sondo-a, que une as mãos
na frente do corpo e encara-me com os lábios comprimidos.
— Não é algo tão grave, vai depender do que você vai
achar. — Dá uma risada nervosa.
— É algo com a Maria Alice? — Engulo em seco, me
levantando da cadeira.
Há quase uma hora ela, e Brenda foram até o parquinho ao
lado da casa. Só consigo pensar em minha filha ter se
machucado, ou aprontando alguma coisa para a minha
governanta vir até a minha sala.
É raro que me procurem em meu horário de trabalho,
sabem que não gosto de ser incomodado. Muitas vezes perco a
inspiração para escrever ao ser interrompido. Distrações acabam
com o meu momento de criatividade e não há nada que me faça
voltar ao normal depois, então acabo adiando a escrita para
outro dia ou outra hora. Porém gosto de ser pontual, e por conta
disso todos na casa sabem que interrupção somente se for um
assunto de suma importância.
— É sim. Venha até a sala e vai ver o que é, mas não se
assuste, não é grave a ponto de ficar preocupado. — Embora
esteja cheia de mistério, me tranquilizo ao ver o seu pequeno
sorriso.
— Por Deus, Lena, sabe que não tem como ficar relaxado
quando se trata da Mali. — Solto uma lufada de ar e vou ao seu
encontro.
— Eu sei, mas vamos, confie em mim. — Deixo que ela
saia na frente e eu vou logo atrás.
— Por que tanto mistério, Madalena? — Semicerro os
olhos ao caminhar ao lado dela, que dá uma risadinha.
— Só posso dizer que a Maria Alice está prestes a te deixar
de cabelo branco com a nova aquisição.
Como assim? Eu não dei nada a minha filha para que ela...
— Oh, que dengoso lindinho, tia Brenda.
Ouço a voz infantil soar divertida.
— Deus... Seu pai vai surtar, Mali — quem diz é Brenda,
com o tom abafado.
Aproximo-me do arco principal do corredor da sala e travo
meus pés ao observar a garotinha de costas sentada no carpete,
com a babá na mesma posição.
— Vai nada, o papai é bom — afirma Maria Alice. Elas
ainda não notaram a nossa presença.
Miau.
Miau.
Um gato.
— O que é isso? — Minha voz sai alta o bastante para que
eu chame atenção da minha filha e de Brenda, que mira em nossa
direção com o rosto pálido.
— Papai! — A miniloirinha se levanta, virando-se para
mim, mas só consigo avaliar a coisa pequena em suas mãos.
— Acha que isso pode ser grave? — diz Madalena, rindo
baixinho.
— Um gato? Sim, é muito. — Limpo a garganta. — Onde
arrumou esse... Essa criaturinha, Mali? — Passo a mão no
maxilar coberto pela barba por fazer.
É um bendito filhote de gato de pelagem cinza e olhos
cobre vibrantes. Em que lugar ela arrumou isso? Ele é um
British Shorthair, de origem inglesa. Uma raça dessa é caríssima
aqui no Brasil. Mas não é isso que importa, é o fascínio que
Mali demonstra pelo bichano.
Brenda se põe de pé e me lança um sorriso, como se
quisesse dizer “desculpa.” Logo após, nervosa, passa a mão em
seu cabelo.
— Conta pra ele, tia Brenda! — A espertinha joga a
responsabilidade para a mulher ao seu lado, que arregala os
olhos.
— Eu?! — inquire Brenda, arrancando uma risada da
Madalena.
— Me ajuda, tia — pede a menina baixinho, quase não
ouço.
— Pois se resolvam, vou para a cozinha. — Minha
governanta passa por mim, risonha.
— Papai, achamos esse fofinho perdido perto do portão —
explica a criança, derretida pelo felino que volta a miar.
— Como foi possível, já que o parquinho é ao lado de
casa? — Rumo até elas e me sento no sofá.
Além da propriedade ser enorme, nessa área são poucos
moradores, as mansões são afastadas umas das outras.
— Provavelmente, alguém o abandonou no portão... Ele
estava dentro de uma caixa de papelão — interfere Brenda,
mordendo os lábios de um jeito sexy pra caramba, me lembrando
da noite passada, quando esperamos a Maria Alice dormir para
irmos ao meu quarto aproveitar o restante da noite.
Essa danada quase não ficou para dormir comigo, tive que
prendê-la em meus braços, como tenho feito todos os dias nessa
semana. Ela estava com receio da minha filha entrar a qualquer
momento no quarto e nos flagrar juntos, mas Maria Alice tem
um sono pesado.
Hoje, como sempre, Brenda acordou antes das seis e correu
para o quarto dela no piso de baixo, me deixando sozinho. Estou
quase mandando interditar todos os quartos de lá só para que ela
possa ficar agarradinha comigo e não ter para onde ir. Mas
certamente a mulher me esganaria. Ela me disse que só vamos
deixar a Mali saber que estamos juntos se realmente nosso
envolvimento der certo. Como pode dar mais errado? Ela já
conquistou um espaço em meu coração, só não sabe disso ainda.
— Quanta crueldade, mas não podemos ficar com esse
felino, vamos arrumar algum lar para ele. — Coço a nuca. —
Maria Alice, coloca esse bichano no chão, não sabemos se ele
tem alguma doença ou algo do tipo — peço, ao vê-la colocá-lo
contra o seu peito.
— Ahh não, pai. Me deixa ficar com o Bambam, por favor?
Ele é bonzinho e nem me arranha. — Ela me encara com aqueles
olhos pidões e faz um biquinho de choro.
— Já colocou até nome nele? — Massageio as têmporas.
— Bem, aconteceu na primeira oportunidade, foi amor à
primeira vista. — Brenda comprime os lábios, escondendo o
sorriso.
— Verdade, papai — interrompe Maria Alice, deixando o
bichano no chão. — Você me deixa ficar com ele? Eu prometo
cuidar dele. — Une as mãos em modo de oração e bate os cílios.
— Mali... — Respiro fundo e fecho os olhos, porém, sou
surpreendido por um miado e a textura do pelo do gato em meu
pé. — Por Deus... Isso já é chantagem emocional — murmuro,
vendo o animal ronronar e esfregar a cabeça em meu calcanhar.
— Uma vez, me falaram que não os escolhemos, são eles
que nos escolhem — se manifesta Brenda, risonha e analisando
os movimentos do Bambam.
Miau.
Miau.
A criaturinha mia como se concordasse e a minha filha dá
uma risadinha animada.
— Vai, papai, vamos ficar com o Bambam, ele gostou de
você — insiste Maria Alice, vindo até mim e se agachando ao
lado do bichano que ainda tenta me manipular. — Olha para ele,
é lindinho, parece um leãozinho peludo e tem uns olhinhos bem
redondos.
Realmente, o gato é fofo.
— E se ele tiver um dono? É ruim se apegar a algo e depois
ver partir. — Pigarreio, relutante.
— Matteo, não acho que ele tenha um dono, estava em uma
caixa de papelão — diz Brenda, se aproximando da minha filha e
colocando as mãos nos ombros dela.
— Por favor, pai...
— Prometo pensar, Maria Alice. É muita responsabilidade,
e o gato vai precisar de cuidados, ele não é um brinquedo. —
Suspiro, notando o semblante triste da criança.
— Eu me responsabilizo. Se você permitir, posso cuidar
dele com a Mali — Brenda se oferece ao perceber que os ombros
da minha filha caem.
— Vamos cuidar bem dele, papai. — Os olhinhos dela
cintilam com lágrimas.
Como vou dizer não a ela? Eu deveria ser mais firme em
minhas decisões.
— Primeiro, vamos levar o bichinho a um veterinário para
ver como está a saúde, depois compraremos ração e o que for
necessário. — Sou vencido pelo cansaço. As duas garotas à
minha frente vibram, dando saltinhos, e a cena deixa meu
coração inchado.
— Ebaaaa, vou contar a Lena que o Bambam é o mais novo
membro da família! — Maria Alice se afasta da mulher, e antes
que vá até a cozinha atrás da Madalena, eu a paro.
— Filha, deixe-o aqui, não vá para a cozinha com ele, pode
soltar pelos — recomendo.
Ela assente e o deixa com Brenda, correndo em seguida
para o outro cômodo para contar as novidades.
— Você quase não deixou o Bambam ficar, não é? —
indaga, afagando a cabeça do bichano, que fecha os olhos
gostando do carinho.
— Será que realmente o abandonaram, Brenda? Ele não
parece ter sofrido maus-tratos — murmuro, pensativo.
— Como você costuma dizer mesmo? — Ergue a
sobrancelha.
— Vamos deixar rolar? — Franzo o cenho.
— Isso mesmo. Se ninguém aparecer atrás dele, é a
resposta que estamos esperando, ele não tem dono.
O gato mia nas mãos dela.
— O.k.
— Esse final de semana vou ficar com a minha tia, tá bom?
No outro fico com você. — Muda de assunto ao colocar o
bichano no carpete.
— Vou ficar contando os dias e as horas. — Pisco para ela.
— Você tem estado tão romântico nos últimos dias —
comenta, mordendo os lábios de maneira provocante.
— Eu sou um homem romântico — afirmo, rindo baixinho.
— Um pouquinho. — Encolhe os ombros.
— Tem certeza disso? — Dou passos na sua direção e a
agarro pela cintura.
— Matteo, a Mali pode aparecer. — Me empurra levemente
pelo ombro.
Agora, o único “problema” dela é a Maria Alice, porque
todos na casa já sabem sobre nós.
— Um beijo e eu te solto. — Aproximo meu rosto do seu.
— Só um — resmunga, deliciosa, prestes a me beijar. Mas
a voz da nossa pequena soa eletrizante na sala.
— Contei a Lena que o Bambam é o novo membro da
família, papai e tia Brenda.
A mulher se afasta de mim como um raio e pigarreia ao
observar a menina nos encarar com os olhos desconfiados com
um sorrisinho travesso. O que Maria Alice está pensando ou
aprontando, não sei, mas eu a conheço o bastante para saber que
há algo.
— Mais tarde você pode nos levar ao veterinário, Matteo?
Assim verificamos se está tudo o.k. com o Bambam — sugere
Brenda.
— Sim, claro — concordo.
— Obaaaaaa, agora vamos brincar, fofinho. — Minha filha
pega o bichano no colo.
— Maria Alice, não quero você toda hora com ele nos
braços, pode ser desconfortável para ele — aviso.
— Tá bom, papai, mas como ele não sabe onde fica a
minha sala de brinquedos, vou levar ele até lá — explica, saindo
da sala sem olhar para trás.
— Serão longos dias...
Suspiro, ouvindo a risada feminina confirmando a minha
teoria.

Não demonstre os seus sentimentos apenas com palavras,


mas com gestos também. E é o que estou fazendo neste exato
momento, indo buscar a mulher que me fez perder o sono duas
noites por não a ter em meus braços. Isso que dá se apegar tanto
a alguém, e eu não estou reclamando, pelo contrário.
Pedro se surpreendeu quando o dispensei dessa tarefa. Mas
Madalena e Joana, que estavam presentes, sorriram abobalhadas.
Elas também adoram a Brenda.
O final de semana sem Brenda em casa pareceu uma
eternidade, e olha que foram apenas dois dias sem ela. Contudo,
as horas demoravam para passar. Fiquei como Maria Alice,
ansioso para que segunda-feira chegasse e nossa Brenda
estivesse novamente conosco, nos arrancando boas risadas e nos
encantando com a sua maravilhosa companhia.
Eu sei que buscá-la na casa dela pode ser também uma
brecha para conhecer a sua tia, então vou aproveitar a
oportunidade e fazer uma coisa só.
Quando Mali soube que eu iria até casa da “tia Brenda”,
enlouqueceu e me pediu para ir junto. Não pude negar o seu
pedido, então a trouxe comigo.
O bairro onde ela mora é perto do centro, não demoramos
para chegar, mas estou demorando para encontrar a casa dela.
— Papai, já chegamos? — indaga Maria Alice, sentada em
sua cadeirinha no banco de trás.
— Sim.
As casas por aqui são quase grudadas umas nas outras e a
estrutura não é ruim. É um bairro simples, mas a rua é
pavimentada.
Com a minha janela aberta, procuro pelo número 30B.
Passo lentamente com o carro pelo menos por duas casas
numeradas 30, mas não têm a letra B, então não é ela.
Avanço mais e a minha busca termina ao ver Brenda sair de
uma varanda gradeada e com as paredes revestidas de azul-
escuro. Ela ainda não me notou ao volante, apenas olha de
relance, porque uma mulher surge ao seu lado, tomando a sua
atenção e entregando uma mochila.
Ela sorri para algo que a mulher diz e balança a cabeça. E
de repente, meu coração acelera.
— Olha a tia ali, papai! — exclama minha filha, animada.
— Estou vendo.
Não me contenho e buzino, recebendo a atenção das duas
mulheres paradas na calçada.
— Matteo?! — Brenda arregala os olhos, desacreditada,
antes de olhar para o banco de trás e ver Mali. — Pequena?! —
Sorri, perplexa. Ela encara a mulher ao seu lado, então noto a
semelhança entre elas.
A cor dos olhos, cabelo e o rosto. Ela parece uma versão
mais velha da Brenda, a diferença são os fios grisalhos e a
altura, a senhora é mais alta. Essa será a famosa tia Lorena?!
— Tiaaaaa, estávamos com saudade! — Maria Alice
responde por nós dois.
Dou uma risada baixa e envergonhada ao ser analisado pela
mulher.
— Oh, por isso a cavalaria veio me buscar? — brinca, bem-
humorada, com um brilho nos olhos.
— Sim. O papai é o príncipe, e eu, a princesa! — diz a
criança, risonha, nos fazendo acompanhá-la.
— Bom dia, Brenda. Senhora — cumprimento-as,
engolindo em seco por estar sendo muito estudado pela mulher.
O que ela está pensando, não sei, mas fico desconcertado
com seu olhar analítico.
— Bom dia — elas respondem.
— Matteo, essa é a minha tia Lorena. Tia, esse é o
Matteo... O meu... patrão. — Ela morde os lábios e encara a
senhora.
— Ele é o...
— Isso, tia! — O seu rosto fica vermelho ao interromper a
pobre da mulher.
Para não passar a impressão de mal-educado, desligo o
carro e saio em seguida, tirando Maria Alice, que não perde
tempo e se agarra nas pernas de Brenda.
— Isso tudo é saudade? — Ela ri, deliciosa.
— Claro, eu estava contando as horas para te ver — revela
a garotinha, apaixonada.
— Hm, eu também estava. — Brenda pisca para ela e se
agacha, depositando um beijo em sua bochecha.
— Você fez uma coisa feia. — Minha pequena se afasta
dela e cruza os braços.
— O que eu fiz? — Brenda franze o cenho.
— Não me apresentou para a sua Lore, você vive falando
dela. — Descruza os braços.
— Como pude me esquecer disso? — Ela leva a mão à
testa, rindo baixinho. — Tia, essa princesinha aqui é a garotinha
mais inteligente que já conheci.
Minha filha se põe na frente da senhora e estende a mão.
— Oi, tia Lorena. Você é bonita como a tia Brenda. E ela
disse para mim que te ama muito e que você faz bolos gostosos.
Lorena parece impressionada com a desenvoltura de Mali,
que conversa como uma adulta.
— Oi, Maria Alice. Obrigada! A minha sobrinha também
fala muito de você, e eu faço bolos gostosos, sim. — A tia de
Brenda sorri.
— É verdade que você vai vender bolos? Se for verdade, o
meu papai vai comprar um monte, porque eu amo. Gosto muito
do de chocolate, mas eu como todos. — Finaliza a pequena
tagarela.
— Sim, é verdade. Quando você provar um pedaço do meu
bolo, vai poder dizer se é bom ou não. — A mulher dá uma
risada.
— Hm, tá bom! Ouviu, né, papai?!
— Ouvi, filha. É um prazer te conhecer, dona Lorena, a
Brenda fala muito da senhora. A Madalena também. — Estendo
a mão para a mulher, que aceita o meu cumprimento.
— Digo o mesmo. É bom poder te conhecer pessoalmente,
você também tem sido muito elogiado pela minha sobrinha. — O
olhar dela é como se dissesse “eu sei que a relação de vocês é
mais do que chefe e funcionária”.
— Tia Lore! — A repreensão vem logo em seguida.
— Podemos trocar algumas palavrinhas, senhor Matteo? —
Lorena finge não ouvir a sobrinha e se mantém firme.
— Só Matteo, por favor. Sim, podemos — concordo.
Eu sabia que uma hora esse momento iria chegar. Ela é a
tia da Brenda, é normal que se preocupe e queira saber quais as
minhas intenções com a sobrinha.
— Tia, vocês podem conversar outra hora. — Brenda tenta
encerrar o assunto, mas eu a encaro.
— Está tudo bem, não se preocupe — aviso.
Ela respira fundo, acariciando a lateral do rosto de Mali,
que está com o corpo encostado em sua perna.
— Filha, leve a Maria Alice para conhecer a nossa casa —
pede a mulher gentilmente.
— O.k. Já tomou café, Mali? — Brenda entrelaça sua mão
na da criança e a leva para dentro.
— Eu já comi cedinho!
É a última coisa que consigo ouvir depois que somem do
nosso campo de visão.
— Acho que já deve saber o motivo de ter pedido para
conversar com você, não é?
Anuo, sério.
— Eu sei que a Brenda é maior de idade e que não preciso
me envolver na vida dela, mas é impossível não fazer isso. Eu
cuido dela desde pequena, é como uma filha. — Ela faz uma
pausa e respira fundo, o seu tom é baixo, não querendo chamar a
atenção. — Mas preciso saber quais as suas intenções com a
minha sobrinha. Ela é uma moça de família, jovem e cheia de
sonhos, e se você só a vê como um relacionamento passageiro,
peço que a deixe antes que as coisas fiquem mais complicadas.
— A firmeza dela é admirável.
As minhas intenções? São as melhores.
— Brenda pode parecer e se comportar como uma pessoa
forte, mas bem lá no fundo ainda é uma garota, tem apenas vinte
e quatro anos, não tem tanta experiência quanto você, que já
construiu uma família — continua falando. — E eu não quero
que ela se machuque. Já foi enganada uma vez por um pilantra,
então agora estou mais esperta. Não vou deixar que mais
nenhum homem use a minha menina e depois a descarte.
A Brenda já foi enganada? Ela nunca me disse nada. Esse
assunto nunca surgiu em nossas conversas.
— Eu não vou agir como um moleque com a sua sobrinha,
dona Lorena. A partir do momento que começamos a nos
relacionar, eu sabia o que estava fazendo. Sou um homem
íntegro, responsável e que gosta muito da Brenda, nunca seria
capaz de magoá-la — murmuro, curioso para saber mais sobre
esse tal homem que a enganou.
— Vou confiar em sua palavra.
— Pode confiar. Eu jamais a usaria, o carinho que sinto por
ela é enorme, e vou fazer de tudo para que ela seja feliz —
confesso, vendo a sua expressão suavizar.
— É muito bom ouvir isso, Matteo.
— Se não for intromissão da minha parte, poderia me dizer
quem é o homem que a enganou? — Comprimo os lábios.
— Eu nem deveria ter mencionado isso, mas só de pensar
que ela poderia passar por aquilo tudo de novo... — Ela não me
responde de imediato. — O cafajeste que magoou a Brenda foi o
ex-namorado, um gigolô que a largou porque era muito
ambicioso e queria luxo, e a minha sobrinha não é rica para
bancar aquele preguiçoso. — O desgosto dela é visível, assim
como a minha raiva também.
Que filho da puta...
— O André a fez sofrer muito, mas fico mais tranquila em
saber que agora encontrou alguém que realmente parece estar
disposto a dar o que ela merece. — A mulher me encara.
Sim, eu vou dar. Algo grita dentro de mim.
— Papai, papai, eu vi fotos da tia Brenda criança. Ela era
fofinha, tinha umas bochechas maiores que as minhas! — Somos
interrompidos por uma Maria Alice eufórica. Brenda vem logo
atrás dela, com um sorriso enorme.
— Obrigado pela conversa, Lorena — agradeço, encerrando
o assunto.
— Sou eu quem agradeço — ela diz, séria.
— Acho que podemos ir, né? — questiona Brenda.
— Sim.
Balanço a cabeça e observo tia e sobrinha se despedirem.
Lorena se despede de Mali, depois de mim.
DOIS MESES DEPOIS
Saí mais cedo para fazer a minha corrida matinal e deixei
Brenda dormindo em minha cama. Agora que estou de volta, eu
a encontro no mesmo lugar, a diferença é que ela se espalhou no
colchão, deitada de bruços com a bunda bonita à mostra na
camisola curta e branca que está enrolada em seu quadril.
Linda e minha.
O quarto está silencioso, com exceção do som suave da
minha respiração um pouco ofegante.
Em passos leves e cuidadosos, aproximo-me da cama. Seu
rosto está sereno, e eu não posso deixar de sorrir ao vê-la tão
pacífica. Tentado a beijá-la, controlo-me. Vou deixá-la descansar
um pouco mais e aproveitar para me refrescar antes de acordá-la
para tomarmos café da manhã.
Ontem, tivemos uma noite agitada. Comemos pizza no
jantar, assistimos a alguns desenhos de princesas com a Maria
Alice, que não demorou para querer dormir. Logo contamos uma
história para ela em seu quarto, em seguida, viemos para o nosso
aproveitar um momento a sós, então Brenda dormiu primeiro. No
meio da madrugada, dei uma escapadinha para escrever um
pouco até que o sono chegasse.
Enquanto me dirijo ao banheiro, sinto as gotas de suor
escorrendo pelo meu rosto e corpo. Retiro a calça moletom e
entro no boxe, ligando o chuveiro e sentindo a água morna
caindo em mim, lavando o suor e refrescando meu corpo.
— Hmm... — Solto um gemido baixo ao lavar os fios do
meu cabelo.
Em dois meses, muitas coisas mudaram por aqui. Essa
mulher tem sido uma das coisas mais importantes para mim. Em
primeiro lugar, a minha filha, em segundo, ela.
Seu cuidado, amor e dedicação por Maria Alice e por mim
são algumas das coisas que me fizeram perceber que não posso
mais viver longe dela. Então, aqui estou eu, apaixonado por essa
mulher incrível.
Ela cuida de Mali como se fosse sua própria filha, mas
sempre respeitando e mantendo a memória da Camila intacta.
Jamais demonstrando ou tentando tomar o lugar da mãe, como
quis insinuar a venenosa da Maria Luiza. Se algum dia eu viesse
a ter uma segunda esposa, é óbvio que ter uma boa relação com
a minha filha é essencial, que Mali possa escolher considerar ou
não a madrasta como uma segunda mãe. E minha pequena a
escolheu há muito tempo.
Ambos estamos perdidamente apaixonados por Brenda
Correia. Ela é minha. Ela é nossa, e não estamos dispostos a
deixá-la partir.
Brenda está sempre presente quando preciso de apoio, me
encorajando e ajudando em meus dias caóticos no trabalho. Nos
últimos meses, temos conhecido bastante um do outro e nos
tornamos confidentes a ponto de me fazer sentir completo e
amado de uma maneira que nunca pensei ser possível acontecer
novamente.
Ela me ouve, e eu a ouço também. É uma linda troca de
companheirismo. Temos sido além de um ótimo sexo. Nunca foi
somente uma boa transa. A cada contato nosso, sentimos a
intensidade ser transmitida por olhares, sorrisos, conversas, em
pequenos detalhes que aos poucos foram se tornando
inesquecíveis.
Somos bons um para outro e sabemos disso.
No último mês, fomos jantar em um restaurante no centro
da cidade com a sua tia Lorena, para comemorar a abertura do
negócio de bolos dela. Quando eu soube que ela estava tentando
juntar uma parte do salário para investir em um negócio, ofereci
um empréstimo. Custou para Brenda aceitar, até fui questionado
se não estivéssemos juntos eu faria isso. Confesso que fiquei um
pouco ofendido, mas depois a compreendi, ela disse que iria se
sentir muito mal em receber a minha ajuda só porque dividíamos
a cama. Mas eu deixei bem claro que qualquer funcionário meu
que precise do mesmo tipo de investimento que ela, se estiver ao
meu alcance, ajudarei da mesma maneira.
Agora ela faz questão de me lembrar do empréstimo
quando o seu pagamento é feito. No dia em que saímos, a Maria
Alice estava na casa da Madalena, com as netas dela. Como
minha filha não voltaria para casa naquela noite, tínhamos
combinado de dormir fora de casa, mas Brenda se lembrou do
Bambam e rapidamente mudamos de ideia, já que não podemos
deixar o gato sapeca sozinho por muito tempo.
Pois é, o bichano continua sendo nosso, e acredito que a
sua estadia aqui é definitiva. Ninguém o procurou, e se o fizer,
não sei se sou capaz de devolver o gato. Assim como a minha
filha se apegou a ele, todos na casa nos apegamos. Ele até
ganhou o seu próprio espaço em um dos cômodos. E o pior que
fui eu quem deu a ideia, Brenda achou engraçado, uma vez que
até dias atrás, eu nem o queria na casa.
O que eu poderia fazer? Não controlamos os nossos
sentimentos. Aquela bola de pelos cinzentos é um bichano
amoroso, já cansei de encontrá-lo na porta do meu escritório,
miando para que eu abra a porta para ele. Sem contar as
incontáveis vezes que ele corre para o meu colo, todo manhoso,
quando me vê sentado no sofá da sala.
Estou parecendo aqueles pais que dizem não querer os
netos em casa, mas depois estão ali, babando. O Bambam não
tem somente uma caixa de transporte quando saímos e o
levamos, tem três e de cores diferentes. Essa semana já busquei
a coleira dele personalizada que carrega o seu nome. Detalhe,
não é a primeira.
Sem perceber, me tornei pai de pet, e Brenda, mãe. Ela fica
encarregada de levar quando necessário ao veterinário, enquanto
eu compro a ração e tudo que ele precisa.
Termino meu banho, me sentindo revigorado novamente.
Saio do banheiro com a toalha enrolada em meu quadril e me
deparo com uma cena engraçada; Brenda está atrás da porta do
quarto, com o cabelo desgrenhado, e ao notar a minha presença,
me lança um olhar desesperado.
— É a Maria Alice. — Seu tom sai baixinho enquanto
aponta com a cabeça. — Ela está batendo na porta e te
chamando.
Brenda temia por esse dia, essa não é a primeira vez que
tenta se esconder da minha filha e consegue.
— Papai, já acordou? Hoje eu acordei mais cedo.
As batidas deixam o rosto da mulher pálido.
— O que faremos? — pergunta, mais baixo ainda.
— Abrimos a porta. Está na hora de ela saber de nós —
aviso, tranquilo, seguindo até o closet para pegar a minha roupa.
— Matteo!! — ela me repreende.
— Papai, eu e o Bambam estamos te esperando, abre a
porta! — Ela não bate mais, mas não desiste.
— É sério, Brenda. Ela precisa saber que estamos juntos —
digo, enquanto passo perfume, e visto uma calça moletom e
camiseta de manga longa.
— Pai, você ainda está dormindo, né? Vamos voltar para o
quarto, Bambam, o papai é um dorminhoco. Mas ele precisa
acordar, porque vamos viajar para outra cidade logo!
— Já vou, Mali. Eu estava ocupado — digo em um tom alto
para que ela escute.
— Tá bom, papai! — Dá uma risadinha animada.
— Tem razão. Eu quero muito que ela saiba, mas tenho
medo da sua reação, só que não podemos mais ficar assim...
Escondidos dela, que é a coisa mais importante para nós dois. —
Brenda se afasta da porta e coloca a mão na maçaneta, então vou
até ela e toco em seu rosto para que me encare.
— Cuore, a minha filha te ama. — Os olhos dela cintilam
de emoção e um sorriso nasce em seus lábios. — Ela jamais vai
te rejeitar. Se ainda não percebeu, a Maria Alice está muito mais
apegada a você do que antes.
— Sim, é verdade. E eu também a amo — murmura,
emocionada.
— Vamos abrir para ela. — Eu a encorajo, colocando a mão
por cima da dela na maçaneta.
Respirando fundo, Brenda e eu abrimos a porta. Minha
filha entra em meu quarto ainda usando seu pijama verde da
Princesa e o Sapo, com Bambam no colo.
A primeira coisa que Maria Alice vê na sua frente não sou
eu. A boquinha dela se abre, em seguida arregala os olhos.
— Tia Brenda?! — A garotinha põe o gato no chão.
O rosto da mulher está vermelho.
— Oi, Mali — Ela pigarreia.
— O que está fazendo no quarto do papai? — Minha filha
espia a camisola dela. — Você dormiu aqui, tia? — indaga a
pequena, colocando a mão na cintura.
— Maria Alice, eu e o seu pai precisamos conversar com
você. — Brenda pula as perguntas da criança e vai até ela, se
agachando na sua frente.
Miau.
Miau.
Bambam começa a miar e esfregar a cabeça no meu pé na
hora errada.
— Agora não garotão, segura as pontas aí. — Comprimo os
lábios ao observar Brenda levar Maria Alice até a cama e a
sentar em uma das suas pernas.
Puxo o ar para os pulmões e me reúno às garotas, sentando-
me ao lado de Brenda.
— Você e o papai são namorados? — A pergunta da minha
filha me pega de surpresa.
— Como assim namorados? Em que lugar você aprendeu
isso? — Me vejo questionando-a.
— A minha amiguinha do colégio, a Juju, disse que o papai
dela tem uma namorada e eles dormem no mesmo quarto. E ela
usa roupa igual à da tia Brenda — explica Maria Alice, olhando
para a mulher, que está sem palavras.
— A sua amiguinha não deveria estar conversando esse
tipo de coisa com você. As duas são crianças, e isso é assunto de
adulto — repreendo-a. Vou precisar ir ao colégio urgentemente.
— Eu sei, pai, já briguei com ela. Disse que crianças tem
que brincar, e não falar dos papais. — Balança a cabeça, e eu
seguro a mão dela.
— Isso mesmo — concordo.
— Mas você e a tia Brenda são namorados mesmo? — Ela
alterna o olhar entre nós dois.
— Sim — respondo. Mesmo que não tenha feito um pedido
formal, não posso dizer a uma criança algo complicado que ela
não vai entender.
Compreendo o receio de Brenda e ela não está errada.
Como ela iria argumentar com a minha filha, sendo que nem
formalizei o que temos? Nos últimos meses, temos apenas nos
curtido sem rotular a nossa relação. Nem posso julgá-la por não
querer contar a Maria Alice.
— Estamos? — Brenda ergue a sobrancelha, divertida.
— Claro que sim. — Pisco para ela.
— Sim, verdade. — Ri baixinho e coloca a sua mão em
cima da minha que está segurando a de Maria Alice. — Você
aceita a tia como namorada do seu papai, amor? — inquire,
carinhosa.
— Sim, ué. E eu também já desconfiava, porque a Juju me
disse que namorados dão beijinhos aqui. — Aponta para a minha
boca e depois para a da Brenda, ambos arregalamos os olhos. —
E eu vi vocês dando ontem à noite, na hora em que estávamos
assistindo ao desenho — revela.
Achávamos que ela já estava dormindo. Ainda bem que
demos um selinho, não foi nada obsceno, eu jamais teria feito
isso na frente da minha filha.
— Preciso ter uma conversa com os pais dessa sua
amiguinha e com a diretora. Você vai ao colégio estudar, e não
saber dessas coisas. — Pigarreio, perplexo.
— Eu vou ter um irmãozinho também? — A pergunta de
Maria Alice nos assusta.
— O quê? — perguntamos ao mesmo tempo, boquiabertos.
Jesus, essa Juju sabe de muita coisa errada.
— Eu posso ter um irmãozinho ou irmãzinha para brincar
comigo? — Mantém as suas palavras, porém, ainda estamos nos
recuperando do choque.
Brenda tem mais tato do que eu para responder.
— Princesa — faz uma pausa, e sem olhar para mim,
segura o rosto da minha filha —, o seu pai e eu começamos a
namorar faz pouco tempo, estamos nos conhecendo, então não
temos planos de ter um bebê tão cedo.
A sua explicação é boa, mas me revolta.
Nos conhecendo é o cacete.
Estamos dormindo na mesma cama há meses.
Fazendo todas as refeições juntos.
Fazendo quase tudo juntos.
Um sabe dos sonhos e dos medos do outro, e ela vem dizer
que estamos nos conhecendo? Mas a culpa é minha, uma vez que
já comprei uma aliança e a deixei guardada. Eu tenho adiado
para fazer o pedido no momento certo, e assim os dias estão
passando. Mas estou prestes a mudar essa situação.
— Isso mesmo, filha. — Forço um sorriso, mas estou me
corroendo por dentro.
— Hm, então tá bom. Eu posso contar para todo mundo que
você tem uma namorada, papai? Para a Lena, Joana, o Pedro...
— Ela lista até os professores e os coleguinhas do colégio.
Temos uma fofoqueirinha aqui.
— Pode.
— Estou sendo pedida em namoro indiretamente? — indaga
a mulher quando Maria Alice salta do seu colo.
Mordendo os lábios, contenho um sorriso.
— Não acha que já estou muito velho para ser namorado de
alguém?
Ela franze a testa, confusa. Está prestes a dizer algo, mas
outra coisa nos chama a atenção.
— Bambam, eu te disse que o papai e a tia Brenda eram
namoradinhos, lembra? — Viro o rosto e observo a criança
sentada no chão, afagando o pelo do gato e conversando com ele
como se não estivéssemos aqui. — Eu gostei que eles são
namorados, porque aí a tia não vai embora nunca mais e o papai
não fica sozinho.
Sorrindo, encaro Brenda, então rimos juntos.
— Nosso dia será agitado — afirma a mulher, se
levantando.
— Sim, será. — Rio baixinho ao perceber que Maria Alice
continua dialogando com o gato. — Temos uma viagem para
fazer daqui a algumas horas. — Olho para o relógio na mesa de
cabeceira.
— Vou tomar um banho — murmura, arrumando o cabelo
em um coque firme.
— Enquanto isso, vou preparar o nosso café — aviso, então
travo no lugar ao notar uma coisa.
Estamos vivendo como uma família há muito tempo, temos
feito isso todos os dias.
— Tudo bem, não demoro. — Sorri para mim e segue para
o banheiro.
— Mali, o que vai querer comer? — pergunto, coçando a
barba que já está crescendo.
Ontem, dispensei quase todos, menos o Pedro, que vai nos
levar a Vale Santo.
— Cereal com bastante leite! — exclama, se levantando e
trazendo o Bambam com ela.
— O.k. Venha me ajudar a preparar um café gostoso para
nós.
— Vamos! — Ela passa por mim a passos rápidos, animada.
Brenda pensou que seria assustador Maria Alice saber de
nós, mas até eu fui surpreendido. E isso só fortalece a minha
decisão em não esquecer da coleguinha Juju dela. Vê se pode,
uma criança saber o que são namoradinhos.
Já estamos a caminho de Vale Santo, em pouco menos de
duas horas chegamos lá. Maria Alice está no meio, sentada em
sua cadeirinha, entre mim e o pai dela.
A ideia de arrumar as malas antecipadamente foi a melhor
decisão que tomei. Imaginei a correria que seria se eu deixasse
para fazer tudo hoje. Com tudo organizado, pudemos almoçar
com calma e tirar algumas horas de descanso, até que o carro
ficasse pronto para Pedro nos levar até o nosso destino.
O dia tão esperado por ele finalmente chegou, só eu sei o
quanto estava ansioso por isso. Foram dois meses de espera.
Matteo me disse que Alberto Mancini é um amigo de longa data
e está feliz por se encontrarem depois de tanto tempo afastados.
O evento vai ocorrer à noite, mas certamente o Matteo vai
me deixar com a Maria Alice em casa. Embora o evento seja em
um local familiar, no final irão oferecer um coquetel, então não
será um lugar para uma criança estar.
Ouço uma notificação de uma nova mensagem do meu
celular, então o pego da bolsa e vejo que é a Fernanda. Abro a
sua mensagem e leio.
Nanda: Boa tarde, minha best favorita. Já foi viajar?
Brenda: Boa tarde, Fernanda. Pelo que eu saiba, sou a sua
única amiga (envio um emoji com uma sobrancelha erguida). Já
sim, logo estaremos em Vale Santo.
Nanda: Ciúmes, Brenda? Sabe que sou a amiga mais fiel
desse mundo, não te troco nem por uma latinha de Heineken.
Rio baixinho e balanço a cabeça, então ergo os olhos na
direção de Matteo e noto que ele está me observando por trás
dos seus óculos escuros, aparentemente curioso.
— É a Fernanda — digo.
— Estou mais aliviado em saber que a pessoa que a faz
sorrir é a sua melhor amiga, e não um concorrente. — Seu tom é
brincalhão. Um sorriso surge no canto da sua boca, porque sabe
que não há concorrência alguma, sou completamente dele.
— Tranquilize o seu coração, a Nanda não se interessa
amorosamente por mim, você continua sendo o único. — Entro
na brincadeira, risonha.
— Eu vou ser o único, Brenda. “Continua sendo” não
combina com alguém que não pretende ir a lugar algum. — Ele
tira os óculos e me encara. — Se depender de mim, você vai ser
apenas minha.
Já sou, caramba. E como sou!
— Você me tem por inteira, Matteo, eu também não tenho
pretensão de ir a lugar algum.
A mão dele alcança a minha por cima das pernas de Maria
Alice, então entrelaçamos nossos dedos.
Uma notificação me faz lembrar da Fernanda. Ficamos nos
provocando em nossa troca de mensagens, até que ela toca no
nome do Matteo e o quanto ele me faz feliz.
Meus olhos enchem de lágrimas, então volto a digitar para
ela.
Depois que o Matteo fez um empréstimo para o tão
sonhado negócio da minha tia, ela decidiu alugar um local para
montar a sua confeitaria, e em pouco tempo e com uma pequena
reforma, deixou o lugar lindo demais. Ela ficou tão radiante, não
tenho nem palavras para escrever a sua emoção.
Matteo até nos levou ao restaurante mais chique do centro
da cidade para comemorar a inauguração da confeitaria.
Sou sortuda demais. Estou me sentindo em um conto de
fadas, onde sou a princesa, e o Matteo, um príncipe. Na verdade,
ele me trata como uma rainha em todos os sentidos. Seja na
cama ou fora dela.
Depois de me despedir de Nanda, guardo o celular na bolsa
e viro o rosto na direção de Maria Alice, sorrindo para a
pequena que ainda dorme, enquanto o pai dela está com o rosto
virado para a janela, observando a paisagem lá fora.
Respirando fundo, apoio a cabeça no encosto do banco,
fechando os olhos, ouvindo somente o barulho dos carros.

— Brenda, Brenda, acorda! — Escuto a voz de Maria Alice


soar quase distante. Confusa, abro os olhos lentamente e encaro
o rosto miúdo que tem um sorriso travesso.
Eu dormi.
Ainda tentando assimilar o que está acontecendo, olho ao
meu redor e encontro Matteo fora do carro. A pequena está a
alguns metros de distância, com a sua boneca nos braços e
encostada na porta do passageiro.
— Maria Alice, eu te disse para não acordar a Brenda
assim — Matteo a repreende.
— Mas você já ia acordar ela — acusa a garotinha.
— Hm, já chegamos, né? — Remexo-me no banco e
desfivelo o cinto de segurança.
— Claro, tia Brenda. Estamos na casa que vamos ficar. —
Ela se vira e aponta para a porta aberta, então lembro-me da foto
que Matteo me mostrou dias atrás. Rapidamente identifico os
muros altos pintados de branco e a piscina. — Você dormiu
tanto, tia — diz, risonha.
— Mali... — O pai dela fecha os olhos.
— Está tudo bem, Matteo — murmuro, saindo do carro e
indo até o pai dela, que está analisando ao nosso redor. E eu
acabo fazendo o mesmo.
O portão branco está aberto, daqui posso ver que a
vizinhança é composta por casarões de luxo, e a propriedade que
Matteo comprou não passa despercebida também, é muito bonita
e elegante. Diferente da cidade de Monte Verde, essa é uma casa
térrea e com a fachada em vidro.
Com certeza é um bairro de classe alta. Eu sei que algumas
famílias de Monte Verde passam os finais de semanas ou festas
nessa cidade, por ser mais tranquila.
— Sr. Matteo, as bagagens já estão lá dentro — diz Pedro,
saindo da casa.
— Obrigado, Pedro. Você já pode voltar para casa, eu ligo
quando for para nos buscar — avisa Matteo.
— Tem certeza de que não vai precisar de mim, patrão? —
O motorista, coça a nuca.
— Não vamos, Pedro. O Alberto deixou à nossa disposição
um motorista, então volte para a casa e curta a sua família esses
dias.
O sorriso do Pedro é enorme.
— Muito obrigado, chefe! — agradece o funcionário e
entra no carro em seguida.
— Tia Brenda, olha aquilo ali — Mali se aproxima,
atraindo a minha atenção ao pegar a minha mão, me puxando
para perto da piscina que fica na frente da casa. — O papai
nunca me deixou tomar banho de piscina, e essa é pequena, não
é grandona como a de casa. — Repara a menina, muito
observadora.
Na verdade, ele tinha um trauma. Mas não posso dizer isso
a uma criança, ela não vai entender nada.
— Quem sabe ele te deixa entrar nessa. No caso, ele entra
com você no colo, porque ainda é muito pequenina e pode se
machucar — falo, evitando a palavra afogar, que é muito
assustadora.
A piscina não é infantil, mas não se compara com a de
Monte Verde.
— Hm, podemos pedir a ele para entrar hoje? — sonda-me,
com os olhos brilhando, tirando as sandálias com os próprios pés
e ficando descalça no gramado aparado.
— Daqui a pouco vai escurecer e esfriar. — Olho para o
céu, o sol quase indo embora. — Vamos deixar para amanhã, tá
bom?
Ela assente, conformada, então ouvimos o barulho do carro
sendo ligado.
Pedro está saindo e Matteo vindo em nossa direção.
— Tchau, Pedro! — Maria Alice acena para o motorista,
que buzina antes de sair da propriedade.
— O que as garotas estão fazendo perto da piscina? —
Ergue a sobrancelha, curioso, ao fechar o portão com o controle
remoto e guardá-lo em seu bolso.
— Conversando se amanhã vamos tomarmos um banho de
piscina, já que hoje não dá mais. — Pisco para ele, que encara a
filha e depois a mim.
— Gosto da ideia — por fim responde, sorrindo.
— Obaaaaaaaaa. Você vai me ensinar a nadar, papai? Eu
não sei. — A menina murcha, soltando a minha mão e indo para
o pai, que a pega no colo.
— Vou, mas a tia Brenda também sabe, ela é uma ótima
nadadora. — Ele vem até mim e passa o braço em minha cintura,
então nós três ficamos grudadinhos, como uma família.
— Verdade, tia? — A garotinha se anima.
— Aham. — Balanço a cabeça, sorrindo de orelha a orelha.
— Então, primeiro você me ensina, e depois o papai! —
decide Maria Alice, risonha.
— Filha, até agora pouco eu não era o seu preferido? —
Matteo finge uma careta.
— Ah, papai, mas você não diz que os rapazes devem ser
bons e deixarem as moças sempre irem primeiro? — Ela deixa o
pai boquiaberto, e a mim também.
— Isso mesmo, Mali, primeiro as damas! — Apoio-a,
gargalhando.
— Isso é um complô das garotas. — Ele ri, nos levando a
fazer o mesmo.
— A Brenda e eu somos amigas, e as amigas ficam do lado
uma da outra!
Meu sorriso fica enorme, assim como meu coração que bate
disparado por essa família linda.
Meus. Que sejam meus por muito tempo.

A casa por dentro é mais confortável ainda. Na sala há uma


lareira moderna e alguns móveis luxuosos espalhados, mas o que
roubou a atenção de Maria Alice quando entramos foi a televisão
de noventa e oito polegadas que agora está ligada na Netflix,
passando o desenho “Masha e o Urso”. Não sei quantas vezes
ouvimos a risada dela e o gritinho nas cenas em que a menininha
aprontava alguma coisa. Como a cozinha é em conceito aberto,
podemos ficar de olho nela enquanto preparamos algo para
comer.
— Ela adora assistir a desenhos, se pudesse, passaria horas
na frente da televisão — comento com Matteo, que está ao meu
lado, cortando frutas para a filha.
— E eu adoro saber que você observa esses detalhes na
Mali. — Ele deixa a faca na tábua e se aproxima de mim,
depositando um beijo em meu ombro.
— Ela é especial, Matteo, eu amo a sua filha — confesso,
ao ouvir a gargalhada gostosa da criança quando a Masha foge
do urso.
— Ela também te ama, é louca por você, assim como eu. —
Beija meu pescoço carinhosamente.
— Eu sei. — Suspiro, derretida por receber mais beijos
dele. — Que horas o motorista do prefeito vem te buscar?
Precisamos adiantar o jantar, não é bom você ir sem comer algo
— aconselho, sentindo o seu sorriso contra a minha pele.
— Você cuida de mim como se fôssemos casados, amo isso
— fala em minha orelha, me deixando arrepiada.
— Pelo modo como temos vivido, basta colocar um
anelzinho aqui para oficializar. — Ousada, ergo o dedo anelar
esquerdo. Quando ele solta uma risada baixa, fico afetada em
várias partes do meu corpo.
— Tenho um presente para você. — Se afasta, mudando de
assunto e fazendo com que uma sensação estranha tome meu
peito.
— O que é? — Franzo a testa, vendo-o arrumar as frutas
picadas no prato.
— Já vai ver, está no quarto — avisa, lavando as mãos na
pia antes de passar por mim. — Venha comigo — pede, e eu o
sigo.
Ele dá o prato para Maria Alice e beija a testa dela.
— Obrigada, papai! — agradece.
— De nada, querida. — Sorri para ela e se afasta. — Vou
buscar o seu presente, não demoro — promete, seguindo para o
corredor.
Suspirando, acomodo-me no sofá ao lado da garotinha, que
come e assiste ao desenho completamente hipnotizada.
— Daqui a pouco está na hora de tomar banho, mocinha. —
Beijo o alto da sua cabeça.
— Tá bom — diz, depois que termina de mastigar.
— Como não estamos em casa, essa noite você vai dormir
com a gente, o.k.? — Acaricio seu cabelo.
— Vai contar uma historinha para mim? — indaga, levando
um pedaço de melancia à boca.
— Nunca vou deixar de contar, meu amor.
Alguns minutos passam e nada do Matteo retornar. Assim
como Maria Alice, rendo-me ao desenho e sou contagiada por
suas risadas.
— Atrapalho o momento das garotas? — A voz atrás de nós
soa boba.
— Talvez a Mali, sim, ela está fascinada pelo desenho.
— Percebi. — Ele se junta a nós, sentando-se ao meu lado.
— Aqui. É seu. — Viro o rosto e noto uma sacola de grife em
suas mãos.
— Meu? — Arqueio a sobrancelha, não me recordando de
ter guardado a sacola na mala dele. — Eu não vi...
— Sim. Coloquei depois, você não viu — explica.
— O que é? — sondo-o e observo a sua expressão
divertida.
— Abra e veja com seus próprios olhos, mas já aviso que
não aceito devoluções. — Pisca para mim.
Tiro um vestido de dentro da sacola e um estojo preto que
se parece com um porta-joias.
O vestido é lindíssimo, dá para notar que é caríssimo. Ele é
longo e vermelho, com decote um ombro só e uma fenda lateral.
E a numeração é exatamente a minha, tenho quase certeza que
irá servir perfeitamente em meu corpo. Coloco o vestido no colo
e abro a caixinha, deparando-me com um par de brincos em
formato de flor de lótus e um colar delicado com algumas
pedrinhas de diamante. As peças brilham muito, não tem como
serem confundidas com réplicas, são joias originais.
— É lindo... Muito obrigada. — Dou um pequeno sorriso
para ele.
— Eu quero que me acompanhe no evento do prefeito,
Brenda. — Matteo se adianta em falar.
Mordo os lábios, não contendo o sorriso.
— Mas tínhamos combinado que eu ficaria com a Maria
Alice — lembro-o.
— Isso foi antes, agora eu a quero como a minha
acompanhante. Não vou demorar muito, só quero prestigiar o
meu amigo. A Mali vai também, eu jamais deixaria a minha
mulher e filha em casa, para ficar em um coquetel.
Meu raciocínio começa a ficar lento com o “minha mulher”
que ele lança.
— Sua mulher, é? — repito, tentando encontrar alguma
correção nas palavras dele, mas ele se mantém firme.
Guardo o vestido na sacola e o deixo no sofá, me
levantando com Matteo. Seguimos para a cozinha, o único lugar
onde podemos manter um pouco de distância da Mali e ao
mesmo tempo ficar de olho nela.
Encosto-me na ilha e ele se põe em minha frente, tocando
em meu rosto.
— Estamos juntos há meses, Brenda — faz uma pausa e
sorri —, me acostumei com você acordando ao meu lado,
fazendo as refeições comigo, se tornando a minha melhor amiga,
e não menos importante, amando e cuidando da coisa mais
importante da minha vida, a Maria Alice. Eu adoro poder te
conhecer mais a cada dia, ter descoberto que nunca é tarde para
se apaixonar de novo. E eu me viciei em ter você, estou tão mal-
acostumado com a sua presença, que ouso dizer que nunca mais
quero dormir ou acordar sem você ao meu lado.
Oh, Deus, ele está se declarando? Sim, com certeza.
— “Nunca lhe confessei abertamente o meu amor, mas, se é
verdade que os olhos falam, até um idiota teria percebido que eu
estava perdidamente apaixonado” — murmura, acariciando a
lateral do meu rosto.
Ele está citando O Morro dos Ventos Uivantes. Li esse
livro na época da faculdade para fazer um trabalho.
— Brenda, eu estou completamente apaixonado por você, e
esse sentimento não apareceu ontem, muito menos hoje. —
Encosta seu rosto no meu. — Embora não dissesse com
palavras...
— Demonstrava com gestos — interrompo-o, completando
a sua fala e sentindo meu coração bater violentamente no peito.
— Sim, isso mesmo. — Balança a cabeça.
Me lembro da frustração que senti meses atrás, ao ter me
declarado para ele e não ter recebido uma resposta recíproca,
agora percebo que tudo tem o seu tempo. Talvez, se ele se
declarasse antes, eu não teria o prazer de ouvi-lo citar um trecho
de um livro, muito menos o ver tão romântico quanto nesse
momento.
— Sempre me peguei imaginando como seria quando você
se declarasse, e deixei que as coisas fluíssem naturalmente,
agora vejo que tomei a melhor decisão. — Meus olhos se
enchem de lágrimas. — Não é qualquer um que recebe um trecho
de um livro como declaração. Eu amei. — Eu o abraço pelo
pescoço, ouvindo-o rir.
— Além de ser um bom escritor, sou um ótimo leitor
também. Já li esse livro tantas vezes, que sei de cor alguns
trechos — se gaba, passando os braços em minha cintura.
— Nem preciso te perguntar qual o seu livro preferido —
murmuro, contra a sua boca.
— Não mesmo. — Ele me dá selinhos. — Eu poderia citar
uma lista vasta...
— Podemos fazer isso quando voltarmos, logo teremos um
compromisso importantíssimo! — apresso em dizer, arrancando
uma risada dele.
— Sim, senhora. — Matteo se afasta de mim e bate
continência.
— Enquanto preparo o nosso jantar, faça companhia para a
Maria Alice.
— Vamos fazer ao contrário, você fica com ela e eu
preparo o nosso jantar — sugere.
— Posso te ajudar — ofereço-me.
— Nada disso. — Ele me beija na boca carinhosamente. —
Fique com a Mali.
— Então vou tomar um banho e dar um banho nela, é
tempo de o jantar ficar pronto. — Massageio seus ombros.
— Brenda, eu não quero mais que você seja a babá da
minha filha.
— Como assim? — Minha bile sobe e o meu corpo congela.
Preciso pagar as minhas contas.
— Eu te quero como minha mulher, Brenda. Não acho certo
que continue com o título de babá da Maria Alice.
Respiro aliviada ao ouvir sua explicação.
— Está me demitindo? — Franzo a testa.
— Sim. — Seu tom é firme.
— Matteo, preciso pagar as minhas contas, e para isso,
preciso de um emprego.
— Você tem a mim agora, não precisa de um trabalho. —
Ele olha em meus olhos. — Posso te dar tudo o que quiser.
— Eu sei disso, mas não me sinto confortável com isso. Eu
sempre fui independente, nunca tive um homem que me
oferecesse algo assim — murmuro.
— Brenda, pare de comparar o presente com o passado —
pede, acariciando o meu rosto com os polegares. — Eu sou o seu
presente e o seu futuro. Não quero dividir apenas a cama com
você, o meu dinheiro também. O que é meu será seu para que
desfrute como quiser.
— Matteo, isso está parecendo um pedido de casamento. —
Me emociono, com a voz embargada.
— Porque é, Brenda, desde o momento em que me declarei
para você. — Usa um tom divertido e meus lábios tremem com a
sua afirmação. — Sabe por que durante esses meses não te pedi
em namoro? — Ele se ajoelha à minha frente, deixando-me
perplexa.
— Não... — falo em um sussurro, quase chorando.
— Porque não gosto de perder tempo, não tenho mais idade
para isso. Eu quero que você seja a minha mulher legalmente. —
Ele segura a minha mão enquanto sua outra mão tira do bolso
uma caixinha preta. — Brenda, você me aceita, e também a
minha filha, em sua vida? Aceita ser a minha esposa? — Ele
mostra uma aliança de ouro branco com algumas pedrinhas ao
redor.
Preciso piscar três vezes para confirmar que não estou
delirando.
Estou sendo pedida em casamento.
É real.
Matteo Bianco quer se casar comigo.
— É-é c-claro que sim! — Meu timbre sai embargado e as
lágrimas caem por minhas bochechas. — Tudo o que mais quero
é ter você e a nossa princesinha em minha vida. Eu amo vocês,
Matteo.
Noto seus olhos brilharem com lágrimas.
— Estava guardando esse anel há tanto tempo... tive medo
de que você me recusasse. — A sua risada é baixa e sexy.
— Achou mesmo que eu te diria não?
Ele nega, convencido.
— Só estava esperando o momento certo, e acabei
prolongando demais — resmunga.
Sorrio ao vê-lo deslizar o solitário em meu dedo.
— Ficou lindo... Obrigada — murmuro, apaixonada por ele
e pela joia que foi escolhida com muito amor, tenho certeza.
— Papai e tia Brenda, o desenho acabou! Agora tô cansada
de assistir! — Escutamos a Maria Alice e rimos.
— Vamos contar para ela? — indaga.
— Lógico, precisamos da bênção dela — brinco,
abobalhada.
— Verdade.
Matteo se levanta e me puxa pela mão até a sala.
— Filha, a Brenda e eu temos algo para te contar. — Nos
sentamos no sofá e ele coloca Maria Alice sentada na perna
direita dele.
— O que é, papai? — Ela encosta a cabeça no ombro dele e
sorri.
— Eu pedi a Brenda em casamento. A partir de agora, ela
vai morar com a gente — revela Matteo.
A garotinha arregala os olhos.
— Para sempre, pai? — pergunta a sapequinha, animada.
— Se depender de mim, sim. — Então ele olha para mim e
entrelaça nossas mãos.
— Eu gosto muitoooo. Agora vou ver a tia Brenda até nos
finais de semana, e quando ela for para a casa da tia Lorena,
quero ir junto para comer bolo. — A menininha lambe os lábios,
nos fazendo gargalhar.
— Isso mesmo! — concordo, rindo.
— Brenda, você quer ser a minha segunda mamãe, já que
vai se casar com o meu papai?
A pergunta de Mali nos pega de surpresa, deixando Matteo
paralisado.
Involuntariamente, as lágrimas rolam por minhas
bochechas e eu choro a ponto de soluçar, sem acreditar no que
estou ouvindo. Matteo entende a minha reação e passa o braço
por minha cintura, me aconchegando em seu corpo. Mas Maria
Alice não, os lábios dela tremem e os seus olhos se enchem de
lágrimas.
— Você não quer ser a minha segunda mãe? É por isso que
está chorando? — pergunta a menina, quase chorando comigo.
— Não, meu amor, caiu um cisco em meus olhos — falo
rapidamente, para que não entenda errado, e limpo meu rosto.
— Mas os ciscos não fazem chorar tanto. Você aceita
minha poposta, Brenda? — Cruza os braços e me encara ansiosa.
— É claro! Será um prazer ser a sua segunda mamãe. —
Ergo o rosto e noto que Matteo está com a respiração pesada e
os olhos avermelhados.
— Ela disse sim, papai! — Minha filha sai do colo do pai e
vem para mim, sentando-se em meu colo e me abraçando pelo
pescoço.
— Sim, querida. — A voz dele soa embargada.
— Eu te amo, Brenda — declara a pequena.
— Eu também te amo, princesa. — Soluço, derretida.
— Acho que depois de tanta emoção, merecemos um
abraço em família, não é? — inquire Matteo.
Olhamos para ele e balançamos a cabeça. Ele passa o braço
ao nosso redor e nos abraçamos com força. Nos separamos assim
que o celular de Matteo toca e ele vai ver quem é, e ao
identificar a ligação do prefeito, ele nos pede licença e vai
atendê-lo.
— Vamos tomar banho? — Cutuco a barriga dela,
arrancando-lhe uma risada genuína.
— Simmm!!!
O evento do Alberto é apenas para as pessoas mais
próximas, e Maria Luiza provavelmente vai marcar presença
com o esposo, Donato. Depois de tanto tempo, eles irão ver a
neta. Não sei qual será a reação deles, muito menos da Maria
Alice, contudo, não os impedirei de se aproximarem da minha
filha.
Querendo ou não, a Mali é um pedaço da filha deles, eles
têm o direito de ter a neta na vida deles. Estou em uma fase que
só quero paz, e a primeira coisa que farei é dar mais uma chance
para que meus ex-sogros possam se redimir e recuperar o tempo
que perderam longe da neta.
— Papai, a mamãe Brenda está demorando muito — diz
Maria Alice.
Meu coração acelera com as suas palavras.
O pedido da minha filha à Brenda me emocionou mais do
que me surpreendeu. Claro que fiquei sem reação naquele
momento, porque não esperava presenciar aquela cena tão cedo.
Eu já sentia que isso aconteceria, mas foi mais rápido do que o
esperado, e ainda assim, foi perfeito.
— Tenha mais um pouquinho de paciência, Mali, ela já
vem — digo, arrumando o laço que Brenda colocou no cabelo
dela, mas que já está bagunçado porque ela não consegue ficar
parada no lugar.
— Tá bom! — Balança a cabeça e se afasta quando termino
de ajeitar o laço rosa.
— Filha, se não parar quieta, o seu cabelo vai ficar todo
bagunçado — aviso e ela ri.
— Posso assistir a um desenho enquanto não saímos? —
sonda-me.
— Agora não dá mais tempo, o motorista já está nos
esperando lá fora.
Mais cedo, Alberto me ligou para avisar que o motorista
dele entraria em contato quando estivesse a caminho, e minutos
atrás o homem enviou uma mensagem comunicando que estava
vindo nos buscar.
— Tá certo. — Fica desanimada, sentando-se no sofá e
balançando as pernas.
— Vamos ver se a Brenda já está pronta — sugiro. Ainda
não a vi, mas pela demora, com certeza está belíssima.
— Não precisam, já estou aqui.
A voz dela soa atrás de nós, então nos viramos ao mesmo
tempo.
O vestido vermelho molda as suas curvas, a fenda na
lateral da perna lhe dá uma aparência sexy, e os saltos pretos
complementam o visual. Mas não é isso que chama a minha
atenção, nem mesmo os diamantes que brilham em seu pescoço,
orelha ou dedo... é a sua simplicidade.
Ela está linda, usando uma maquiagem leve e um batom
nude. Seu cabelo ondulado molda seu rosto, contudo, fico
encantado com o brilho de felicidade que aparece em seus olhos
e no seu sorriso largo. O que mais poderia me cativar, se não
esses pequenos detalhes?
— Você está linda, mamãe Brenda. — Maria Alice é a
primeira a reagir.
O “mamãe” vindo dela faz a mulher ofegar, tocada como
soou natural.
— Estamos, minha princesa. — A voz dela sai um pouco
embargada de emoção.
Sorrindo como um bobo, vou até ela quase sem piscar.
— Você será a mulher mais linda do evento, futura senhora
Bianco. — Pego a mão que ela carrega a aliança do nosso
compromisso e a trago à minha boca, depositando um beijo em
seguida.
— Obrigada. E você o homem. — Seu olhar analítico
passeia por meu corpo, antes de dar um sorriso apaixonado. —
Você fica maravilhoso todo de preto — elogia, suspirando.
— Obrigado. — Pisco com charme e beijo a sua mão de
novo, mas dessa vez na aliança em seu dedo.
— Acho que já podemos ir, né? Pela minha demora, tenho
certeza de que estamos atrasados. — Ela faz uma careta.
— Só um pouquinho. — Faço um gesto com os dedos e ela
ri.
— Então, vamos logo!
— Vamos.
— Papai, vocês esqueceram de mim? — Maria Alice se
aproxima, então nós a encaramos e a encontramos com os braços
cruzados.
— Como se esquecer de você, querida? — Eu a pego no
colo e beijo sua bochecha.
— Pois é, como esquecer a nossa menina preciosa? —
Brenda beija a bochecha dela também.
— Hm, que bom. Se esquecerem de mim, falo pra Tina não
fazer zelope e nem tilamisù para vocês. — Ela passa os braços
pelo meu pescoço e o de Brenda.
Divertidos, rimos.
— Não estamos invertendo os papéis aqui, mocinha? —
Ergo a sobrancelha.
— Tô brincando, papai! — Dá uma risadinha.
— Hm, sei.
Semicerro os olhos, escondendo o sorriso ao vê-la colocar
o rosto na curva do pescoço de Brenda.
— Amor, não podemos chegar no final do evento, será
deselegante. E ele está contando com a sua presença — fala
Brenda.
Entre tantas palavras, o meu foco é no “amor”, ela nem
mesmo percebe como acabou de me chamar.
— Verdade, cuore. — Balanço a cabeça.
— Se me chamar de coração mais uma vez em italiano,
caso com você agora mesmo — Brinca, e eu beijo sua testa,
rindo.
— Cuore — provoco-a, vendo suas íris brilharem. — Me dê
a Maria Alice, o motorista está nos esperando, o coitado já deve
ter criado raízes.
Coloco Maria Alice no chão e nós três seguimos até o
carro.
O motorista não leva nem cinco minutos para nos deixar na
mansão do prefeito de Vale Santo. Do lado de fora, há dois
seguranças, uma hostess na porta e alguns carros estacionados.
Saímos do veículo e rumamos até a casa. Cumprimentamos os
seguranças e paramos em frente à jovem que veste um terninho.
— Boa noite. Nomes, por favor — pede a hostess, mirando
em nossos rostos, depois na pasta em sua mão.
— Matteo Bianco, Brenda Correia e Maria Alice —
informo, segurando a mão de Brenda e Maria Alice.
A hostess, que logo identifico como Raíssa, encontra os
nossos nomes e nos permite a passagem.
— Vou acompanhar vocês até o salão — diz a profissional,
nos deixando passar na frente.
No caminho, vejo alguns garçons transitando com
bandejas. Uma criança passa entre nós correndo, e um homem
todo tatuado, usando uma jaqueta preta, surge com a expressão
divertida. Logo o reconheço, é o Andreo Mancini, filho do meu
amigo. Acredito que ele não se lembre de mim, porque apenas
me cumprimenta e segue atrás da criança.
— Por aqui, senhores. — Indica a hostess.
Como esperado, nos deparamos com algumas pessoas da
alta sociedade de Vale Santo e Monte Verde espalhadas pelo
local, conversando e tomando champanhe. O prefeito está perto
da mesa retangular que contém alguns livros, a autobiografia
dele. E ainda vejo dois fotógrafos no ambiente.
— Fiquem à vontade. Com licença — fala a hostess.
Ao meu lado, noto Brenda observar ao redor e ficar tensa.
Quando meu olhar segue o dela, vejo Maria Luiza a alguns
metros de distância, sentada a uma mesa com um casal e o
esposo.
— Está tudo bem — garanto, ainda segurando a mão dela.
— Espero que sim — murmura, em uma respiração funda.
Eles conversam animadamente, completamente distraídos,
mas isso dura pouco tempo. Quando minha ex-sogra olha em
nossa direção, ela mira primeiro em minha mão entrelaçada na
de Brenda, e depois na neta em meus braços. Maria Luiza não
demonstra nenhuma reação, até se dar conta do anel no dedo de
Brenda. Ao seu lado, Donato segue o olhar da esposa e se
assusta ao perceber que estou acompanhando de uma mulher e
de Maria Alice.
Minha ex-sogra diz algo ao marido, em seguida se levanta.
Não demora para que ela venha em nossa direção, com Donato
logo atrás.
Vai dar tudo certo, Matteo.
Já deu.
Essa noite será de paz.
— Boa noite, Matteo. — A voz de Maria Luiza chega
primeiro do que ela.
— Boa noite, Maria Luiza. Donato. — Eu os encaro e noto
que o pai de Camila está com o semblante pálido.
— Boa noite, senhores — Brenda os cumprimenta
educadamente.
— Boa noite — Donato é o primeiro a responder. A esposa
dele demora um pouco, mas pelo menos não ignora Brenda. —
Essa é a nossa neta, não é? — O homem está nitidamente
emocionado ao ver a Mali.
— Sim, é ela — respondo.
— Esse é meu vô, papai? — A minha mocinha curiosa
pergunta.
Donato se derrete, seus olhos se enchem de lágrimas.
— Sim, filha. Esse é o Donato, pai da sua mãe. E essa
senhora ao lado dele é a Maria Luiza, sua avó. — Pigarreio,
vendo Donato passar a mão por seu cabelo branco de modo
nervoso.
— São dois? — A boquinha dela se abre.
— Sim, querida. — Quem responde é Maria Luiza, com a
expressão chorosa enquanto avalia o rosto da neta.
— Mas eu não lembro de vocês — diz minha filha,
confusa.
— É que quando te vimos você era pequeninha. — Minha
ex-sogra parece envergonhada, com o semblante desanimado.
— Ah, entendi. — Franze o cenho.
— Eu posso te abraçar, querida? — A pergunta vem de
Donato.
— Pode. Vovós abraçam os netos, não é, papai?
Minha filha ergue o rosto e me encara. Engulo em seco e
Brenda aperta minha mão, como se quisesse me passar força. Já
Donato e Maria Luiza ficam na expectativa da minha resposta.
— Sim, Mali. — Eu a coloco no chão e solto uma
respiração profunda.
— Eu também posso? — Maria Luiza está me pedindo
permissão primeiro, então balanço a cabeça.
— Pode, vovó. — Basta que Maria Alice fale isso para que
a avó solte um soluço e chore.
Brenda e eu nos afastamos um pouco da nossa menina para
que os avós tenham mais espaço. Donato pega a neta no colo e a
abraça, em seguida Maria Luiza se junta a eles. É nesse
momento que um dos fotógrafos captura a cena.
— Ela é linda, Malu... Se parece tanto com a nossa Camila
quando tinha essa idade — murmura Donato, contendo o choro.
— Sim, ela é muito linda — a esposa concorda, passando a
mão no rosto da Maria Alice e deixando as lágrimas rolarem por
suas bochechas. — Matteo, aqui não é muito apropriado para
termos uma conversa, será que podemos fazer isso depois? —
indaga, com os olhos vermelhos.
— Claro, Maria Luiza. Hoje viemos prestigiar o Alberto e
estamos chamando a atenção dos convidados dele. — Observo ao
redor e vejo algumas pessoas olhando para nós.
— Será que podemos apresentar a nossa neta aos nossos
amigos? — inquire Donato.
Olho para Brenda e ela aperta meus dedos, me
incentivando.
— Mali, você quer ir com os seus avós? — pergunto para a
minha filha primeiro.
— Quero, papai. Mamãe Brenda, você vem com a gente? —
A pergunta inocente da criança se torna a maior dor de Maria
Luiza. Os olhos dela se enchem de lágrimas e ela recua, quase
chorando.
Eu a entendo, mas as coisas não são como deve estar
imaginando.
— Meu amor, vá com eles, depois nos vemos, tá bom? — O
tom de Brenda é quase baixo.
— Tá bom — a menina assente.
— Cuidem dela, por favor — peço a eles, pigarreando e
arrumando a minha postura.
— Iremos, não se preocupe — garante Donato, beijando a
testa da neta.
— Obrigada, Matteo. — Maria Luiza limpa o rosto
discretamente.
Apenas balanço a cabeça em silêncio, então eles se afastam
com a minha filha, que acena para nós toda sorridente.
— Ela ficou magoada, não era para ser assim. Eu a
entendo, é difícil — murmura Brenda, chateada.
— Eu sei que é, mas se passaram anos. — Fico de frente
para Brenda e toco no rosto dela com as duas mãos. — Ela
precisa entender que a vida continua. É óbvio que uma mãe
nunca vai se esquecer de um filho, mas Maria Luiza não pode
me impedir de ser feliz ao lado da mulher que amo. Essa noite
estou pronto para deixar que eles se aproximem da neta, e não
esperando uma aprovação do meu casamento com você. Quem
tem que gostar de você sou eu, não eles. — Acaricio suas maçãs
do rosto.
— Você se ouviu? — Olha ao redor, depois para mim.
— Em qual parte? Falei muitas coisas. — Rio baixinho.
— Que me ama. — Seus lábios tremem.
— Mas é verdade. Eu não estou somente apaixonado por
você, me encontro te amando também, cuore. — Seguro as suas
mãos.
— Por Deus, Matteo, você poderia ter me dito isso em casa
— resmunga, chorosa. — Quer borrar a minha maquiagem? —
Bufa, brava, e eu a abraço.
— Quero muitas coisas de você, cuore, mas vamos deixar
para mais tarde — digo na orelha dela.
— Safado, se comporte, estamos em público. — Me cutuca
e se afasta.
— O.k. Vamos falar com o Alberto. — Procuro-o entre os
convidados e o encontro tirando fotos com um casal, perto dos
seus livros.
— Vamos. E não ouse me surpreender mais essa noite. Não
aguento tantas emoções — diz.
Eu entrelaço minha mão na dela e a puxo até o prefeito.
— Não prometo nada. — Encolho os ombros e sorrio ao
parar perto de Alberto.
— Matteo, meu amigo! — O homem pede licença ao casal
e vem até nós.
— Alberto! — Aumento meu sorriso e nos
cumprimentamos com um aperto de mãos.
— Estou tão feliz por você estar aqui. É uma honra ter um
dos melhores escritores do nosso país em meu evento — elogia,
em seguida se vira para Brenda ao meu lado.
— Boa noite, Alberto. Está tudo muito lindo, parabéns! —
Seu tom é educado.
— Meu amigo, a honra é minha de estar aqui. Deixe-me
apresentar a minha futura esposa. — Abraço a minha mulher
pela cintura e beijo a bochecha dela. — Alberto, esta é a Brenda,
a mulher que conquistou o meu coração.
— É um prazer conhecer a mulher que está fazendo o meu
amigo tão feliz. — Eles se cumprimentam com um aperto de
mãos.
— O prazer é meu, Alberto. O Matteo sempre fala de você,
principalmente do quanto ele o admira. — Brenda arranca uma
risada do prefeito.
— Me sinto lisonjeado. — Alberto sorri. — Não trouxe a
sua filha, Matteo? — inquire.
— Trouxe. Ela está com Maria Luiza e Donato. — Miro
onde os avós da Mali estão com ela.
Minha filha está no colo da avó, pelo menos não parece
desconfortável, e está recebendo bastante atenção.
— A sua menina é muito linda — elogia Alberto.
— Ela é mesmo. Obrigado, amigo. — Soo orgulhoso, como
um pai babão.
— Eu ia te apresentar à minha nora, mas ela está cuidando
da minha neta que pegou uma virose. E o Andreo saiu daqui há
alguns minutos, com o Nicolas — comenta.
— Teremos outras oportunidades, não se preocupe com
isso.
— Sim, verdade — ele concorda. — Venham ver o meu
livro, ficou perfeito. Tudo está como eu imaginava.
— A segunda edição podemos fazer na Bianbooks — sugiro
a ele.
— É uma ótima ideia. A minha autobiografia é
independente, mas será muito bom ter uma casa editorial. —
Alberto pega um exemplar e me entrega.
— Então seja bem-vindo à minha editora. — Estendo a mão
para ele e sorrimos. — Está de parabéns, ficou realmente bonito.
— Avalio a capa que tem a foto dele do ombro para cima e o
título em azul-escuro “A trajetória de Alberto Mancini”.
— Foram muitos anos para este livro sair, agora me sinto
muito orgulhoso — murmura, nitidamente emocionado. E eu
entendo esse sentimento dele.
— É para se sentir mesmo, afinal, é uma conquista. — Bato
no ombro dele.
— Fique com esse exemplar.
— Mas sem um autógrafo? De forma alguma!
Alberto pega uma caneta e eu lhe entrego o livro para
autografar.
— Está feito. — Me devolve o livro.
— Agora sim! Obrigado.
— Com licença, posso tirar uma foto de vocês? — Uma voz
surge atrás de nós, nos viramos e nos deparamos com um
fotógrafo.
— Por mim, tudo bem. — Sou o primeiro a aceitar, Brenda
e o prefeito não se opõem.
Nós três nos juntamos lado a lado, sorridentes, então o
fotógrafo tira a foto. Mas a segunda ele faz somente minha e da
minha noiva, a meu pedido.
— Alberto, a Maria Alice logo dorme, vou ter que voltar
para casa mais cedo. Se importa? — falo, vendo-o negar.
— Que isso, meu amigo. Sou pai e avó, sei muito bem
como são nossas crianças. Vá em paz, depois nos falamos.
Quando volta para Monte Verde? — sonda-me.
— Estamos retornando depois de amanhã — decido em
cima da hora.
— Hm, então venham almoçar conosco amanhã! Meus
netos vão amar ter uma amiguinha para brincar — convida,
sorridente.
— Claro, estaremos aqui para o almoço — aviso-o.
— Meus amigos, sintam-se em casa. Vou ali receber um
amigo que acaba de chegar — diz Alberto, indo até um homem
que está parado na entrada do salão, acompanhando de uma
mulher.
— A Maria Alice está nos chamando — diz Brenda, e eu
sigo seu olhar.
Mali está acenando para nós com a mão, aposto que já quer
dormir. Ela está bocejando. Nos movemos ao encontro deles e
Maria Luiza e Donato se põem de pé.
— Papai, tô com sono. — Minha filha boceja.
— Imaginei que fosse isso.
A avó me entrega a neta, e ela descansa o rosto em meu
ombro.
— Matteo, será que podemos conversar agora? Será rápido
— indaga Maria Luiza, apreensiva, parecendo com medo de
algo.
— Querida, fique com a Mali, por favor. Não demoro —
peço, dando Maria Alice para Brenda, que se acomoda em uma
das cadeiras.
— Acho que podemos conversar em outro lugar — sugere
Donato, afrouxando a gravata.
— O.k.
Deixo que eles sigam na frente. Passamos pelo corredor e
paramos na sala de Alberto. Maria Luiza me encara sem dizer
nada, nota-se o seu desconforto.
— Matteo, Donato e eu não queremos perder a nossa neta,
e o que fez hoje só nos mostrou o quanto fomos injustos com
você. A minha mente fechada não me permitia enxergar as
coisas com clareza. — A mulher abaixa a cabeça e respira
fundo. — Nesses últimos meses procurei ajuda, estou fazendo
terapia, e foi a melhor coisa que fiz. Deveria ter feito antes,
assim não teria perdido tantos anos da vida da minha neta. —
Funga.
— Temos a consciência do nosso abandono, e quando
percebemos o quanto estávamos agindo errado, era tarde demais,
Matteo — se manifesta Donato. — A Maria Alice é sangue do
nosso sangue, a única coisa que nos restou da Camila, então te
pedimos para nos deixar conviver com ela, ter a oportunidade de
conquistar o amor dela. Mais do que isso, a sua confiança
novamente, porque sabemos que quando a nossa menina era
viva, você a amou mais do que tudo, deu a ela muitos anos de
alegria, e quando ela se foi, não agimos com você como
deveríamos.
— Sabemos que o perdão é um processo, que não se
conquista do dia para noite, mas peço que tenha paciência
conosco. Nos dê a oportunidade de nos redimirmos dos nossos
erros. — Maria Luiza começa a chorar. — Não vou mentir, ainda
é duro saber que está morando com outra mulher na casa que
conviveu com a Camila, mas eu também entendo que é a sua
vida, você precisa ser feliz, se casar, ter outros filhos... Seguir
em frente.
— Só te pedimos uma segunda chance, prometemos que
dessa vez faremos dar certo — interfere Donato ao notar que a
esposa chora muito.
Eu os ouvi em silêncio por longos minutos para poder
analisar cada uma de suas palavras e todas elas soaram sinceras,
assim como suas expressões de arrependimento e dor.
— Hoje eu vim aqui para duas coisas — respiro fundo —, e
uma delas era para dar uma oportunidade para se redimirem,
agora estou vendo que querem de verdade ter a neta na vida de
vocês.
— Queremos muito, Matteo... — Maria Luiza soluça.
— É um direito de vocês conviverem com ela. O meu medo
era apenas que a magoassem, mas percebi que não podem fazer
isso, porque no fundo, sei que vocês a amam tanto quanto
amavam a Camila. — Fito o casal que chora na minha frente sem
vergonha de demonstrar os seus reais sentimentos. — Vou
confiar em vocês, sei que serão bons avós para a minha filha.
Maria Luiza dá um passo à minha frente e toca em minhas
mãos.
— Matteo, me perdoe por algum dia ter acreditado que
você era culpado pela morte da Camila. — Lágrimas caem por
seu rosto e minha garganta se fecha. — Eu estava buscando um
culpado, só que nunca houve e um, eu sabia disso. Me perdoe,
por favor. — Seus lábios tremem.
— Maria Luiza, o importante é que você encontrou a
verdade — digo, sendo sincero. — Não vou mentir dizendo que
esse sentimento dentro de mim passará do dia para noite, as suas
acusações me magoaram muito, mas estou disposto a perdoar
vocês. Não gosto de guardar rancor, e por minha filha, sou capaz
de tudo, e construir uma boa relação com vocês é o primeiro
passo.
— Eu admiro o seu gesto nobre, me sinto até envergonhada
por tudo. — Ela se afasta. — Peça perdão a Brenda, diga a ela
que...
— Já estamos aqui, não é? Ela está lá no salão, é uma boa
oportunidade para você falar com ela — incentivo.
— Sim, é verdade — concorda.
— Eu preciso levar a Maria Alice para casa — informo e
eles assentem.
Voltamos para o salão e encontramos Brenda com a minha
filha adormecida em seu colo. A cena é de fazer qualquer um
perceber o amor entre elas e o cuidado da minha mulher com a
Mali.
— Ela cuida muito bem dela — sussurra Maria Luiza,
emocionada.
— A Brenda ama a minha filha — afirmo, sorrindo, indo
até as duas mulheres da minha vida enquanto o casal me segue.
— Querida, me dê ela — peço, carinhoso, pegando a Mali.
— Brenda, poderíamos trocar algumas palavras, por favor?
Dou espaço para Maria Luiza e ela se senta na cadeira na
frente da minha mulher.
— Claro, senhora. — Seu tom é gentil e preocupado.
— Eu fiz algo com você que não deveria, fui grosseira, eu
a tratei mal, e não sou assim. — A mulher toca na mão de
Brenda, que arregala os olhos, perplexa. — Posso ser enxerida
algumas vezes, mas quem é que não tem defeito, não é? Ainda
assim, peço que me perdoe por tudo. Você parece ser uma boa
mulher e eu sei que vai cuidar bem da minha neta e do Matteo,
sei que eles estão em boas mãos.
— Senhora...
— Eu fui rude com você, Brenda, descontei a minha raiva
em quem não tinha nada a ver com os meus problemas. Fui
aquele dia à casa do Matteo procurar briga, estava frustrada e fiz
besteira.
Até eu me surpreendo com o reconhecimento dela.
— Está tudo bem, errar é humano, mas o mais importante é
reconhecer os erros e tentar corrigi-los.
— Sim, é verdade. Estou muito admirada por ser tão
diferente do que eu imaginava. — Maria Luiza toca no ombro de
Brenda.
— Às vezes, temos a mania de julgar os outros pela
aparência e tirar nossas próprias conclusões. — Minha mulher
encara-me e eu fico orgulhoso do que diz.
— E eu fiz isso com você, me sinto imensamente chateada
com as minhas atitudes.
— Senhora, está tudo bem. Foi bonito da sua parte
reconhecer o que fez — Brenda pigarreia. — Bem, precisamos
ir, a pequena dormiu. — Ela se levanta.
— Compreendo. Nos vemos em breve, obrigada por me
ouvir. — A vó da minha filha olha para mim e depois para
Brenda.
— Boa noite — desejamos a eles, antes de deixarmos o
salão.

No dia seguinte acordo sozinho.


Me viro no colchão procurando por Brenda e Maria Alice,
que dormiu com a gente, mas não as encontro. Rolo novamente
na cama e me levanto para ir ao banheiro.
Lavo o rosto, escovo os dentes e encaro o meu reflexo no
espelho. Não há vestígio algum de olheiras, aliás, nos últimos
dias tenho dormido muito bem.
Saio do banheiro à procura das garotas e vozes misturadas
com risadas me atraem até a sala. Brenda está sentada no sofá,
gargalhando, e Maria Alice de pé em frente a ela, usando um
maiô amarelo de bolinhas brancas, batendo palmas e rindo.
Pelo visto, estão preparadas para a piscina.
— Por acaso iam tomar um solzinho sem mim? — indago,
me aproximando de Brenda e beijando o seu pescoço por trás.
— Bom dia, amor. Você estava em um sono tão pesado, que
não quisemos te acordar — ela murmura, dengosa.
— Pois deveriam.
Dou a volta no sofá e me sento ao seu lado, vendo que ela
também usa um maiô da mesma cor que o de Mali, a diferença
são os detalhes.
— Bom dia, papai! — Minha filha sobe no sofá e me agarra
pelo pescoço, beijando minha bochecha.
— Bom dia. — Beijo o rosto dela de volta.
— Você vai tomar banho de piscina com a gente, né? A
mamãe Brenda disse que sim. — Minha pequena pisca os cílios
de um modo fofo.
— Vou sim. — Sorrio para ela.
— Obaaaa. Vai me ensinar a nadar? — indaga, indo até
Brenda e se sentando no colo dela.
— Sim, mocinha.
— Podemos ir agora? — pergunta, ansiosa.
— Vamos depois que o seu pai se alimentar, lembra? —
interfere Brenda.
— Verdade, mamãe, eu tinha esquecido. — Cruza os
braços.
— Enquanto isso, podemos preparar algumas coisas
gostosas para comermos na piscina. O que me diz? — Brenda
beija a testa dela.
— Gosto da ideia! — Maria Alice sorri.
— Deixei o seu café pronto. Tem torradas, geleia, ovos e
um suco, se quiser também — minha futura esposa avisa.
— Isso tudo só para mim? — Sorrio, bobo.
— Preciso te alimentar bem. — Usa um tom bem-
humorado.
— Prometo te recompensar em breve. — Ela sabe do que
estou falando, porque ri baixinho.
— Eu amo ser retribuída. — Morde os lábios, risonha.
— Papai, vai comer logo para a gente nadar na piscina! —
Mali se levanta e corre descalça na direção de cozinha. — Vem
também, mamãe, vamos fazer nosso lanchinho!
Sorrindo um para o outro, Brenda e eu nos levantamos.
Será que todos os dias serão assim? Pois vou fazer de tudo
para que seja. Nunca tive a sensação de ter uma família
completa e eu estou tendo a oportunidade de viver isso agora.
Nunca é tarde para se alcançar a plena felicidade, eu sou a prova
disso.
— Papai, será que depois podemos ligar para a Lena? —
indaga Maria Alice, sentada na banqueta da ilha que Brenda a
colocou.
— Para quê? — murmuro, lavando as mãos.
— Para falarmos com o Bambam. Vou dizer a ele que já
estamos com saudade — diz minha filha, me arrancando uma
gargalhada.
— Querida, o Bambam é um gatinho, ele não vai entender
o que falamos — digo, sentindo minha barriga doer de tanto rir.
— Ah, mas eu falei com ele uma vez que não podia fazer
cocô fora da caixinha e ele entendeu! — justifica.
— Tudo bem, Mali. Mas fazemos isso mais tarde —
concordo.
— Tá bom! — Ela por fim concorda.
— Meu amor, quer uma salada de frutas? — Brenda
pergunta a Maria Alice.
— Quero!
Monto meu café, observando a interação das garotas, e me
pego sorrindo, sendo tomado por um sentimento de calmaria e
amor. Brenda e Maria Alice riem, e eu faço o mesmo sem saber
o contexto, mas elas me contagiam de uma maneira que nem sei
descrever.
Apaixonado.
Bobo.
Me chamem do que quiser, pois é a pura verdade.
— Amor, está no mundo da lua? — A voz de Brenda soa
divertida e ela se põe na minha frente, estalando os dedos.
— Não. — Franzo o cenho, mordendo uma torrada.
— E a lua tem mundo? — nossa garotinha curiosa
pergunta.
Sorrir.
Gargalhar.
Ser felizes. É o que temos feito nos últimos meses juntos.
Nos tornamos uma equipe e tanto.
— É uma expressão, pequena — responde Brenda,
limpando o canto da minha boca. — Estava sujo de geleia —
explica, olhando para meus lábios.
— Eu te amo, sabia? — repito o que disse ontem à noite.
— Pensei que só estava apaixonado. — Arqueia a
sobrancelha, provocante.
— Não posso estar os dois? — retruco, tocando em sua
cintura.
— Você pode tudo. — Ela me dá um selinho.
— E você? — Acaricio suas costas.
— Eu o quê? — Se faz de desentendida.
— Não vai dizer que me ama? — Finjo uma careta.
— Como se diz “te amo” em italiano?
— Ti amo.
— Ti amo, Matteo Bianco.
— Sono pazzo di te, cuore.
— Traduz, por favor? — Sua risada acelera meu coração.
— Sou louco por você, coração. — Beijo a ponta do seu
nariz e ela fecha os olhos.
— E eu por você.
Três anos atrás, Matteo e eu dissemos sim na igreja.
Dois anos atrás, nosso filho estava nascendo.
Um ano atrás, adotamos mais um gato para fazer
companhia ao Bambam.
E seis meses atrás, a nonna do meu marido veio morar
conosco.
Matteo não quis mais que ela morasse na Itália sozinha.
Eles conversaram e, por fim, dona Noemi Bianco aceitou vir
para cá para ficar mais perto dos bisnetos. A nonna adora as
crianças e nós a ela, então tudo se encaixou.
Esse será o primeiro Natal dela conosco e ela está tão
animada, que parece uma criança, a sua alegria em nos ajudar a
montar a árvore foi contagiante. Maria Alice, que já está uma
mocinha com seus dez anos, ficou responsável por colocar os
enfeites com a bisavó, mas custou para terminarem, porque o
Bambam e o Mingau (que a minha filha nomeou em homenagem
A Turma da Mônica) ficaram brincado com as bolinhas o tempo
todo. Nossos filhos felinos até que estão bem-comportados, só
derrubaram algumas bolinhas dos galhos, até agora está tudo
correndo bem, pois ainda não tentaram derrubar a árvore. É uma
vitória e tanto.
Apenas os presentes que deixamos para colocar embaixo da
árvore hoje, tudo indica que Bambam e o Mingau não vão
aprontar, uma vez que o pai deles comprou novos brinquedinhos,
dois ratinhos à pilha que ficam perambulando pelo chão, então
vão ficar entretidos o resto do dia.
— Mamãe! — A voz do meu filho chama a minha atenção.
Maria Alice surge na cozinha carregando o Ben no colo.
Benjamin tem os meus olhos, mas o cabelo é mais parecido com
o do pai, até mais escuro.
— Oi, príncipe! — Lanço um beijo no ar para ele, que se
derrete em um sorriso fofo.
— Mãe, a tia Fernanda realmente não vai poder vir para
passar o Natal com a gente?
— Infelizmente, não, Mali, a sua tia e o marido decidiram
passar Natal com a família dele, em Nova Iorque — aviso,
observando o peru no forno, que ainda não está no ponto.
Minha melhor amiga, dois anos atrás, deu match em um
nova-iorquino que se descrevia como um bilionário no Tinder.
Foi apenas uma brincadeira da parte dela, porque não acreditava
que um homem com tanto dinheiro iria perder tempo procurando
mulher em um aplicativo, e a bio dela não ajudava muito. A
maluca colocou que estava à procura de um sugar daddy, e o
Henry entrou em contato com ela dizendo que poderia ser mais
do que ela estava procurando. Nessa brincadeira deles, o cara
veio para o Brasil conhecê-la, ficaram conversando por um
tempo até que Nanda se sentiu mais segura e começaram um
relacionamento que acabou em um casamento muito feliz. E para
completar a felicidade deles, daqui a três meses, Emma está
vindo ao mundo.
— Poxa, que pena, queria que ela viesse! — fala minha
filha, parecendo triste.
Elas agora são bastante próximas, e a Fernanda adora
mimar a sobrinha, quando viaja traz presentes para ela e o
afilhado. Minha amiga e o Alberto Mancini batizaram o
Benjamin, eu escolhi a Nanda, e o meu marido, o amigo dele.
— Maria Alice, o Natal passamos com a família. A
Fernanda prometeu que virá passar o Ano Novo conosco —
murmuro, fechando o forno.
— Mas somos a família dela também. — Ela coloca o
irmão no chão e vai até a geladeira.
— Filha, a sua tia agora tem a própria família, é claro que
também somos, mas ela tem o esposo, e em breve, a Emma —
lembro-a, pegando alguns ingredientes para finalizar o arroz que
estou fazendo, sem passas, porque o Benjamin e a nonna não
gostam.
Liberamos nossos funcionários para que pudessem
aproveitar o Natal em família, e eu só me encarreguei de
aprontar a nossa comida hoje. A Tina já havia adiantado algumas
coisas para mim, fiquei com a parte mais fácil e agradeço a ela
por ser meu anjo todos esses anos.
— Eu sei — murmura, enchendo um copo com suco de
maracujá e entregando para o irmão beber. — Bom, pelo menos
ela vem no Ano Novo. — Sua expressão suaviza e ela sorri para
o irmão, que devolve o copo vazio.
— Sim.
Balanço a cabeça.
— E a tia Lorena vem que horas? — sonda-me, se
encostando na ilha.
— Ela vem assim que puder, hoje está com muitas
encomendas para fazer.
Tia Lorena recebeu muitos pedidos neste Natal. No ano
passado, ela teve bastante, mas este ano surpreendeu.
— Tá bom, mãe. Vou voltar para a sala com o Ben, estamos
fazendo companhia para a nonna, já que o papai está ocupado no
escritório — diz, passando a mão em seu cabelo loiro preso em
um rabo de cavalo firme.
— Certo, meu bem.
— Mamãe, quelo fica com voxe — diz Benjamin,
estendendo os braços em minha direção.
— Ben, agora estou cozinhando, daqui a pouco termino e
vou ficar com você, tá bom? — Pisco para ele, que faz um
biquinho de choro.
— Benjamin, a mamãe está ocupada, vamos ficar com a
nonna. Eu levo biscoito para nós comermos. — Mali tenta
convencer o irmão, que adora biscoitos e pode facilmente ceder.
— Bixcoito? — O pequeno interesseiro abre um sorriso.
— Aham, daquele que você ama. — A irmã dele coloca a
mão na cintura e sorri.
Meus filhos lindos.
— Eu quelo — o danado concorda, e eu gargalho.
— Ótimo, vamos pegar! — Ela comemora, pegando-o no
colo novamente.
— Hmm, que cheirinho delicioso é esse? Senti da sala.
Matteo entra na cozinha com um sorriso enorme, dobrando
a manga da sua camisa até os cotovelos.
— Papai! — Benjamin é o primeiro a se manifestar e
estender os braços para o pai, que nunca deixa de ser coruja e
vai pegá-lo.
— Oi, garotão. — Meu marido beija a testa do nosso
menino e olha para mim.
— Vou ficar com a nonna — avisa Maria Alice, saindo da
cozinha.
— Já li alguns capítulos da revisão final. Quer ajuda,
amor? — pergunta, avaliando-me cortar os legumes.
— Querido, estou dando conta — digo, o que não é
mentira. — O que você pode fazer é ficar com as crianças e
Noemi. A única ajuda que vou querer é mais tarde, para colocar
a mesa, por ora, estou me virando.
— Saiba que posso ser muito útil, sra. Bianco. — Ele vem
até mim e beija meu ombro.
— Sei que pode. Mas fique com as crianças, se precisar eu
chamo. — Ergo o rosto e ele me dá um selinho.
— Tudo bem — concorda.
— Você põe a mesa enquanto eu estiver tomando banho —
sugiro.
— De acordo. — Pisca para mim.
— Papai, quelo bixcoito, ela não deu!
Matteo franze o cenho.
— A Mali prometeu a ele biscoito e não deu — explico.
— O.k. Garotão, iremos resolver esse problema agora.
Ele abre um dos armários atrás de nós e o nosso filho passa
longos minutos tentado escolher qual biscoito prefere. O tempo
que Matteo passa com ele, consigo temperar o arroz e começar a
aprontar a farofa.
— Esse, eu quelo.
— Graças a Deus, filho, pensei que você nunca se decidiria
— resmunga, sentando-se na banqueta da ilha e colocando o Ben
para se sentar na frente dele, no mármore. — Pronto, pode
comer agora. — Ele abre a embalagem para Benjamin.
— Qué, papai? — A criança pergunta, mas não espera por
resposta, empurra um biscoito na boca do pai e eu gargalho.
Eu amo demais a minha família.

Ceamos uma hora atrás. Tia Lorena chegou a tempo, ainda


trouxe duas sobremesas. Benjamin nos arrancou algumas risadas
ao se lambuzar todo com o pedaço de peru que o pai deu para ele
comer.
Depois que provamos os doces que minha tia trouxe,
viemos para a sala conversar um pouco enquanto Matteo
organizava os presentes para que pudéssemos fazer a troca,
como temos feito nos últimos anos. Os avós de Maria Alice
ligaram para nos desejar um feliz Natal e falar com a neta.
No ano passado, fizemos um amigo secreto com Fernanda,
o marido dela, a minha família e os avós de Mali, mas este ano
tivemos outros compromissos. Maria Luiza foi passar o Natal
com a sobrinha e o marido, que moram em São Paulo.
— Mãe, que horas vamos trocar os presentes? Estou
ansiosa para saber o que o papai comprou para mim! — indaga
Maria Alice, com os olhos fixos na árvore de Natal iluminada
pelo pisca-pisca.
— O seu pai foi buscar algo no escritório, logo ele aparece
— digo, observando tia Lorena e Noemi dialogarem. A nonna
está contando as suas aventuras quando era mais jovem.
Ela é uma idosa ainda bem lúcida, e suas histórias nos
prendem de um jeito impressionante.
— A senhora sabe o que ele comprou para mim? — indaga
minha filha, curiosa, se levantando do sofá.
— Ele não me contou — murmuro, arrumando Benjamin
em meus braços, ele está quase dormindo.
— Tomara que seja o celular que ele disse que me daria. —
Os olhos dela brilham.
Matteo prometeu para a Maria Alice um celular quando ela
completasse dez anos, mas só faria o uso do WhatsApp, as
outras redes ela só terá acesso quando tiver mais idade.
— Filha, ele está quase dormindo — avisa tia Lorena,
mirando em meu filho que está quase cochilando e chupando a
chupeta com força.
— Já, já, ele dorme mesmo.
— Não qué domi — fala meu rapazinho, com os olhos
vermelhos de sono.
— Tá bom, bebê.
— Demorei muito? — Meu marido aparece, com um
presente que eu tenho certeza de que é para Maria Alice. —
Estava tentando encontrar isto — Matteo explica, erguendo a
caixa. Ele comprou pela internet na semana passada, estava
esperando chegar.
— Pai, é o meu celular? — inquire Mali, animada.
— Sim, Maria Alice. Comprei o seu iPhone — ele revela,
entregando a caixa para ela, que pula nos braços dele.
— É sério, papai? — A menina comemora, abraçando o pai.
— Sim, filha. — Ela se afasta dele e se senta no sofá,
abrindo a embalagem.
— Obrigada! — agradece, sorridente.
— Agora podemos fazer a troca de presentes — declara
Matteo, indo até a árvore de Natal.
Como tradição, nos sentamos no carpete com algumas
almofadas e logo minha tia, Noemi e Maria Alice se juntam a
nós, então começamos a fazer a troca de presentes.
— Este ano, decidi comprar presente para todo mundo —
diz Matteo, mostrando os presentes dele.
— Mas todo ano você compra, amor! — falo, e rimos.
— Mas este ano é diferente.
— Não é, não. — Balanço a cabeça.
— Concordo com a mamãe, papai — Maria Alice se
intromete.
— Esse ano comprei três presentes para cada, ano passado,
não — justifica.
— Amor... — repreendo-o por ser tão exagerado. E para
não me ouvir mais reclamar, ele me cala com um beijo rápido.
— Feliz Natal, querida. Não esqueça que te amo. — Dá
uma risadinha.
— Feliz Natal, Matteo. Eu também te amo, seu bobo. —
Rio baixinho.
— Feliz Natal, família — dizemos juntos.
Estou me sentindo em um enredo de um livro de romance
clichê. Estou vivendo a melhor fase da minha vida, do lado do
homem que era apenas para ser o meu chefe, mas que se tornou
o meu melhor amigo, marido, pai dos meus filhos e o meu maior
confidente. Eu encontrei o meu mocinho, e o melhor disso tudo,
é que a nossa história tem um final feliz.
FIM.

Você também pode gostar