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COPYRIGHT © 2023 POR KARYELLE KUHN

Título original: Um Contrato inesperado com o Mafioso

Capa: Casillas Editorial


Revisão: Rita Pavan
Diagramação: Grazi Fontes
Copidesque: Lain Verena
Leitura beta: Ayla Shaiene
Assessoria: @vpassessorialiteraria

Está é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos
reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer forma e/ou quaisquer
meios existentes sem prévia autorização por escrito da autora.
Os direitos morais foram assegurados.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Versão Digital — 2023.
SUMÁRIO
Sinopse
Nota da autora
Alerta de Gatilhos
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo Extra
Agradecimentos
Eu poderia mentir e fingir ser aquela pessoa que acredita
que “o amor está onde menos se espera”, ou dizer mais uma
frase clichê do tipo: “ninguém manda no coração”, mas a
verdade é que eu nunca estive preparada para me entregar aos
encantos de um mafioso.

Meu pai nunca mediu esforços para expandir os negócios


da família e, claro, uma hora isso ia respingar em mim, a filha
mais velha, que poderia facilmente ser negociada, em troca de
inúmeros benefícios para a família McNight.

Eu relutei, briguei, tentei, afinal, eu tinha o meu grande


amor e era com ele que eu fazia todos os meus planos de vida.
Até que meu pai cedeu e tentou negociar o tempo desse tal
contrato.
O contrato que mudou a minha vida, o meu desejo e os
meus sentimentos. Thomas, o meu futuro marido, estava longe
de ser a pessoa que eu sonharia para viver ao meu lado, mas,
como eu disse, nem a pessoa mais fria, manda em seu coração e,
hoje, tudo que eu quero é que esse contrato não acabe nunca.

Eu sou Bella McNight e essa é minha história. Que


começou com um acordo inusitado e apresentou um sentimento
inesperado.
Oi, leitores!

Chegamos à mais uma história da família McNight, dessa


vez é da nossa herdeira, assim como os seus pais, eles me
tocaram profundamente, aliás essa família mexe com a minha
estrutura, foi o gatilho para que eu me encontrasse.

Boa leitura!

Espero que gostem e se apaixonem por eles assim como eu


me apaixonei.
Assassinato, tortura, abandono, assédio sexual, traição, uso
de drogas lícitas e linguagem imprópria.

Se em algum momento você se sentir desconfortável, peço


para que pare a leitura e, quem sabe, dê uma chance aos meus
outros livros. Sua saúde mental em primeiro lugar.
Os gemidos da mulher se tornavam cada vez mais altos e
enquanto eu me movia atrás dela e a puxava com força pelo
quadril, — ela implorava por mais e suas unhas que mais se
pareciam com garras afiadas, afundava no colchão, a ponto de
praticamente rasgá-lo.

— Ah! Thomas! — Ela gemeu alto, seu corpo cedendo sobre


a cama enquanto eu puxava de vez o seu quadril contra mim,
para gozar uma última vez, antes de deixá-la descansar.
Ela grunhiu quando eu saí de dentro dela, tirando a
camisinha do meu pau e a jogando fora. Chloe se virou, sorrindo
pra mim e abrindo seus braços para que eu me juntasse a ela na
cama.

— Isso foi muito bom... — ela murmurou e eu sorri de


canto, deslizando meus dedos pelos meus cabelos.

— Eu sei que foi, — falo me sentando na cama e tirando um


cigarro da mesinha de cabeceira. O isqueiro dourado com o
brasão da família Kuhn, estava esculpido nele e quando apertei
para acender o meu cigarro, eu vi Chloé deslizar os dedos pelas
minhas costas, me abraçando por trás.

— Sabe Thomas... eu estive pensando sobre tudo isso... e...


bom... — ela sorriu, beijando minha nuca, — eu te amo.

Deus.

Amor?

Ela realmente queria falar sobre amor?

Besteira.

Amor era algo que não existia nesse mundo, uma ilusão
idiota a qual as pessoas se agarravam por puro desespero e
quando se nasce como um Kuhn, você não tem direito a pensar
em coisas idiotas como o amor.

—Thomas? — Ela me chamou, quando eu não a respondi, —


você não vai dizer nada?
Eu a encarei, meus olhos deslizando pelo corpo nu de Chloe.
Um corpo delicado, com curvas voluptuosas e muito
sinceramente, o único motivo para ainda me envolver com ela.

Chloe não era uma flor de Lis e muito menos uma das
melhores companhias que já tive, mas ela fodia bem, e era
obediente. Eu não queria espantá-la, tampouco, pretendia entrar
no teatro que ela desejava; aquele onde nós dois estávamos em
um relacionamento.

— O que você quer que eu diga? — Perguntei, sem muita


emoção impregnada em minha voz, o que nitidamente a
incomodou.

— Como assim o quê? Quero que você diga que me ama! —


Ela disse me olhando com nítida descrença, — nós estamos
juntos a três anos Tommy! Três anos e você nunca disse que me
amava!

Sim, porque eu não a amava.

Suspirei.

— Chloe...

— Não me venha com Chloé! — Ela disse parecendo brava


demais para algo tão bobo quanto isso, — você sempre age desse
jeito! Com esse maldito olhar de superioridade! Como se…
como se nada do que eu sinto fosse relevante! Quer saber?! Vai
embora daqui! — Ela falou se levantando e começando a catar as
minhas roupas que estavam jogadas pelo chão. Roupas que ela
mesma tinha jogado, na pressa me deixar completamente nu e
me arrastar pra sua cama. — Enquanto você não decidir o que
quer, eu não quero te ver mais, Thomas Kuhn!

Ela falou e sem esperar que eu sequer revidasse, jogou as


roupas em mim, me expulsando de seu quarto e obviamente, se
esquecendo do fato de que ainda frequentávamos a mesma
faculdade e consequentemente, iríamos nos ver.

Considerando que Chloé era uma daquelas herdeiras de


família rica, era normal esperar que ela tivesse surtos como
esses. Ela sempre esperava que as coisas fossem como ela
desejava, mas eu não tinha a menor pretensão de mudar a minha
vida, e não ia fazer algo pelo simples fato de Chloé querer,
muito menos mentir de forma tão descarada, dizendo que amava
uma mulher que não passava de uma boa foda pra mim.

Não.

Minha mãe me disse para ser gentil, não um completo


mentiroso.

Então, peguei minhas roupas, as vesti e sem olhar para trás,


saí dali. O dia já estava claro e eu sabia que isso queria dizer
que tinha uma família me esperando pro café da manhã. Um café
que eu não poderia evitar, e para o qual, eu não poderia me
atrasar.

Meus pais não eram exatamente o protótipo perfeito de casal


apaixonado, mas ainda assim, meu pai fazia questão de ter todos
na mesa durante o café da manhã. O que de acordo com a minha
mãe, era um costume alemão, e essa era só uma das grandes
diferenças entre eles, mas talvez fosse normal, porque não se
pode esperar muito ao se juntar uma donna italiana, aventureira
e cheia de vontade de viver, com um alemão que só pensa em
negócios e na honra da família.

Eles eram como água e vinho, — e para mim, eram o melhor


exemplo de que eu estava certo: amor não existia e se existia,
não era relevante.

— Tommy! Isso são horas? — Minha mãe me chamou


atenção, assim que pisei em nossa sala e eu sorri, me
aproximando dela e depositando um beijo em sua bochecha.

— Você está linda hoje, sabia?

Ela me fuzilou com os olhos.

— Acha que vai me ganhar com esses elogios? Seu


pestinha… — murmurou, — seu pai vai ficar furioso se chegar e
não te achar em casa.

Sibilei.

— Ele sabe que eu sou um homem solteiro, não sabe?

Minha mãe suspirou, e enquanto nós dois andávamos até a


mesa do café, — que obviamente tinha sido posta na sala com
vista para o jardim, como sempre, já preparada e com Pietro a
nossa espera.
— Querido, você sabe que o seu pai não pensa assim, ele
espera que esse noivado entre você e Bella McNight aconteça o
mais rápido possível, principalmente agora, que ela acabou de
fazer dezoito anos, ela disse, - e esse assunto me fazia enrugar a
testa de frustração.

Eu não tinha nada contra o fato de ser o herdeiro dos Kuhn,


muito menos sobre toda a responsabilidade que assumi desde os
dezesseis anos, mas ser forçado a me casar com a filha do nosso
inimigo e ainda menor de idade, pelo simples fato da família
precisar estabelecer seu poder na Itália, era ridículo. O
casamento dos meus pais, tinha sido uma tentativa óbvia de
trazer a família Kuhn e seus negócios para Roma, mas…
italianos não respeitavam alemães como respeitavam italianos.

Não importava que havia um acordo, que o sangue tinha se


unido na linhagem da minha mãe, — o que importava para eles,
era o fato de estarem recebendo ordens de um estrangeiro,
dentro do seu próprio país.

Claro: isso queria dizer que eu tinha que unir Kuhn e Rossi
em uma única vertente. E por isso, tinha desde cedo sido
ensinado que a minha vida era mais importante que qualquer
outra coisa. Eu era o futuro da família, era aquele que realmente
finalizaria o contrato que foi selado com o casamento entre a
minha mãe e o meu pai.

Bella McNight era o “ponto final” e eu sabia disso, todos


sabiam. Ela era a minha certeza de encerramento. A força que
me faltava para conquistar aqueles anciões idiotas que
continuavam a se opor aos negócios de Kuhn na Itália. Ela era a
genitora perfeita para os herdeiros da nossa família, mas isso
não queria dizer que eu desejava me casar com ela?

Não!

Eu via o casamento dos meus pais e eu sabia muito bem, —


que uma mulher italiana, não é fácil de ser domada.

— Thomas… — minha mãe me chamou outra vez, me


tirando dos meus pensamentos com aquele tom claro e gentil,
aquele que ela sempre usava comigo, — vocês podem acabar se
apaixonando um pelo outro, essas coisas… acontecem, — ela
disse tentando obviamente me consolar, mas… eu tinha crescido
ali, naquela família, e eu sabia bem que o amor não surgia
assim.

Então, sibilei.

— E por quanto tempo ele espera que eu fique casado com


ela? Por quanto tempo o contrato deve durar?

— Casamentos não são temporários, Tommy… — Minha


mãe disse e eu revirei meus olhos, me sentando entre ela e
Pietro, que encarava nós dois com nítido interesse.

Teve uma época na qual acreditei naquelas palavras e até


cheguei a acreditar que meus pais se amavam, mas isso foi antes
de ver meu pai dando um tapa no rosto da minha mãe. Antes de
descobrir que ela o traia e que todo o teatro que faziam de casal
feliz, não passava disso: teatro.
— Casamentos podem não ser, mas isso é um trato. Um
contrato que tem validade, — ressaltei, — então nesse caso, eu
quero saber quando vou estar livre dessa ninfeta com a qual ele
quer me casar.

Pietro riu, obviamente se divertindo por não ser ele a ser


jogado na forca.

— Então o Thomas vai se casar com ela, para expandir os


negócios da máfia?

— Não, eu vou me casar com ela, porque o nosso pai não foi
capaz de tomar conta dos negócios da família Rossi e Kuhn,
sozinho, — ronronei, jogando o meu velho na forca enquanto
cortava um pedaço de queijo e comia.

— Cara, ele te mata se ouvir você falando isso, — Pietro


zombou e eu dei de ombros.

— E ele vai ficar com quem no meu lugar? Você? — Meus


lábios se arquearam, — ele não é burro, você precisaria nascer
de novo pra ser metade do que eu sou.

Pietro bufou e mamãe nos encarou com os olhos cheios de


raiva.

— Meninos! Chega! Daqui a pouco o seu pai chega e vocês


dois vão estar encrencados, — ela disse parecendo frustrada,
jogando os fios loiros para trás enquanto encarava a mesa a
frente dela.
— Sinceramente… — a encarei, havia maquiagem em seu
pescoço, e o vestido de manga longa, deixava claro que ela tinha
arrumado um novo amante, era o padrão, — eu não sei por que
você ainda mantém essa farsa… — desabafei e ela pigarreou.

— Isso é… só até a Valen ficar maior… — ela disse, como


sempre, e eu soltei um riso soprado, que a fez me olhar feio e
tirar um envelope que havia sido posto ao lado de seu prato,
para me mostrar, — mas veja, voltando ao que é
verdadeiramente importante, essa é a sua noiva.

Encarei aquele retrato de uma garota sorridente, mas era


exatamente isso que tinha ali. Uma garota. Não uma mulher,
mas uma menina.

— Eu me recuso a dar uma resposta sobre isso, — falei de


forma simplória e o meu pai pigarreou.

— Do que estão falando? — Ele perguntou, sua voz grave,


fazendo todos nós endireitarmos a nossa postura.

— A mamma estava mostrando uma foto da noiva do


Thomas, — Pietro diz, parecendo animado como uma criança
que ele ainda era, mesmo já tendo dezoito anos.

— Ah… Bella! — Meu pai diz com um sorriso de canto, se


sentando e me encarando, — viu como ela é tão bonita quanto o
nome sugere?

Ergui uma das sobrancelhas.


— Se estiver procurando por uma namorada pro Pietro,
realmente, — zombei, — mas não me importa a beleza da
garota, eu quero saber… até onde vai esse maldito contrato.

Ele me encara.

— Achei que nunca perguntaria, — diz sorrindo enquanto a


funcionária serve o café em sua xícara, — eternidade está bom
pra você? — Pisquei, incrédulo.

— Vater! Das ist verrückt!¹ (Pai! Isso é uma loucura!) —


Eu soltei quase gritando e ele riu.

— Não seja escandaloso, junge². — Ele me diz começando a


beber seu café, — os nossos negócios precisam de estabilidade e
você não vai foder com tudo com a simples ideia da porra de um
divórcio, nem tente cogitar essa ideia idiota. Sibilei.

— Tem que haver outra opção.

Os olhos frios e afiados do meu pai pousam sobre mim.

— E tem, — ele diz enfim, — você matar ela ou ela te


matar!

— Sem chances! O que ela diz sobre esse contrato?

Ele não podia esperar que eu dormisse com uma garota tão
nova! Ela nem mesmo parecia ter mais de quinze anos! Por
acaso aquele velho maldito tinha perdido o pouco juízo que
parecia ter restado?

Todos pareciam ter enlouquecido.


— Eu não sei, — ele disse de forma direta, dando de
ombros, — não me interessa o que ela diz ou deixa de dizer. O
acordo que eu tenho com Henry é esse e é apenas isso que me
importa.

Eu senti as veias saltarem em minha testa. Aquele velho


tinha enlouquecido.

— Tommy… — eu ouvi minha mãe me chamar, como se


soubesse que eu estava prestes a explodir, mas bem naquele
instante, meu celular começou a tocar e eu atendi um Brian
furioso.

— Tommy… é melhor você vir pra cá, o maledetto acabou de


entrar.

— Certo, — respondi com simplicidade e me levantei da


cadeira onde estava sentado, desligando o celular e encarando
meu pai, — se me dá licença, eu tenho um trabalho pra resolver.

— Tome cuidado com o rosto, — ouvi meu pai dizer, com


um sorriso de canto, cheio de zombaria, — a sua festa de
noivado vai ser hoje à noite e seria uma pena que a sua noiva te
visse deformado.

Arregalei meus olhos com surpresa e encarei minha mãe,


que desviava o olhar com aquela expressão de: eu não sabia
como contar.

Merda.

Quanto tempo eu tinha até a porra da festa? Oito horas?


Agora eu realmente queria matar alguém.
Assim que eu desci do meu carro em frente ao bordel onde
Brian me esperava, — eu o vi sorrir e me senti ainda mais mal-
humorado. Porque como se não bastasse toda aquela merda com
o meu velho e o noivado que eles não pareciam dispostos a me
contar antes do último segundo: eu tinha que aguentar essa
bosta de lugar.

— Que cara de enterro, é essa? — Brian me pergunta,


puxando sua arma e destravando, — achei que ia ver a Chloé
ontem, depois da faculdade.

— Nem me lembre da Chloé, — rosnei, puxando minha


própria arma do quadril, engatilhando e jogando meu blazer no
banco de trás do conversível daquele idiota, — ela e o meu pai,
parecem ter se juntado para me deixar de mau humor.

— O que rolou dessa vez? — Ele perguntou, abrindo a porta


do bordel e apontando a arma pro segurança, que encarou nos
dois com os olhos arregalados, — vaza, se quiser continuar vivo,
— Brian disse e eu bufei, vendo o homem tatuado correr pra
longe.

— Eu estou noivo, e a festa? É hoje. — Falei com a raiva


impregnada em cada palavra, — e pra piorar, a porra da minha
noiva, parece uma criança!

Brian gargalhou enquanto entravamos no lugar e quando as


garotas nos viram por lá e tentaram se aproximar, ele sorriu,
dando um beijo em suas bochechas antes de dispensá-las de
forma gentil.

— Hoje não, mia cara, — ele disse antes de me encarar, e


empurrando a porta do escritório do dono do bordel, — olá,
Rico, não esperava que a gente deixasse você continuar com essa
palhaçada, esperava?

Eu bufei, e apontando minha arma pra cara do desgraçado,


me aproximei.
— O que diabos vocês estão fazendo aqui! — Ele gritou e
eu o empurrei de volta a cadeira em que ele estava sentado, o
enforcando enquanto colocava a minha arma em sua testa.

— Cala a boca seu desgraçado, — falei sem paciência, —


você não esperava que a família Kuhn fosse continuar
permitindo essa palhaçada, esperava? Esse é o nosso território,
Rico. Se você quer abrir um bordel, uma loja de chaveiros ou a
porra de um motel, você precisa seguir as regras, — ronronei, —
e você não anda fazendo isso.

— M-me… per-perdoe! — Ele disse com os olhos cheios de


lágrimas, mas não havia expressão alguma em meu rosto, porque
eu não tinha pena daquele desgraçado.

Eu era um Kuhn.

Eu não tinha uma alma, ou um coração. E se alguém tentasse


roubar de mim… — conheceria o inferno.

— É meio tarde pra pedir perdão, — falei enfiando a minha


arma na boca dele, e antes que Rico pudesse falar alguma outra
merda, eu atirei.

— Cara… — Brian bufou, — você podia só ter pegado 70%


dos lucros do lugar, não precisava matar o bostinha, — ele disse
me encarando com aquele sorriso de descrença.

Eu limpei com um lenço que tinha no bolso, o sangue da


minha arma e o pouco que havia respingado em meu rosto.
— Não existe perdão pra alguém que se recusa a seguir as
nossas regras, — falei, — e por que eu me contentaria com 70%,
se podemos pegar o bordel para a família Kuhn?

Brian sorriu.

— Quem deve ficar responsável pelo lugar?

— Deixe alguém de dentro, responsável pela organização e


deixe claro para todos que as regras mudaram nesse lugar, —
encarei o cadáver na cadeira e bufei, — a família Kuhn, não
pega o dinheiro de prostitutas, nossos lucros vem das drogas e
das bebidas.

— Quanta generosidade, um verdadeiro gentleman, — Brian


zombou e eu revirei meus olhos, saindo dali. Eu tinha coisas
mais importantes com as quais me preocupar.

Tinha um noivado para comparecer.

Eu fiz e refiz o nó naquela maldita gravata, cinco vezes


antes de parecer bom, — mas isso não amenizava o quão
frustrado eu estava. Eu queria uma opção de fuga e o que o meu
pai me deu, foi uma sinuca de bico.

— Tommy? — Ouvi Brian me chamar abrindo a porta e eu o


encarei com a mesma expressão de antes. Puro e simples, mau
humor. — Me diz que não vai olhar pra ela com essa cara de cu,
a garota vai se assustar e sair chorando.

Eu bufei.

— Seria bom, assim eu me livraria dessa merda, — falei de


forma brusca, arrancando aquela gravata do meu pescoço e a
jogando longe.

— Olha, eu não diria isso se fosse você, — ele zombou e eu


o encarei com uma sobrancelha erguida.

— Por quê?

Brian sorriu.

— Sua noivinha acabou de chegar, logo você descobre.

Bufei e quando ele saiu do quarto, me dizendo para me


apressar, — eu deslizei meus dedos pelos meus cabelos, os
jogando para trás, e respirei fundo.

Eu era um Kuhn. Eu faria tudo pela família, e tudo isso…


era apenas mais um sacrifício. Eu ia descer, sorrir, ser gentil e
encantar a minha doce noivinha. Eu faria as coisas ocorrerem
como meu pai esperava e no fim, eu daria um jeito de tornar
tudo maleável para mim, afinal, logo eu seria o líder da família
Kuhn.

Me aproximei da escada para descer e ouvi as vozes dos


meus pais, junto as conversas e risadas dos convidados. Se eu
conhecia bem a minha mãe, o lugar estava impecável, mas o
número de convidados, — era no mínimo, superior a duzentos.
Eu comecei a descer as escadas e encarei o salão que estava
ricamente decorado.

Os lustres, as luzes, a tapeçaria tinham sido completamente


trocadas, — e os convidados, exageradamente bem-vestidos. Era
quase como se houvesse uma guerra entre todas aquelas pessoas,
como se todas quisessem disputar para descobrir quem seria o
centro das atenções. O que era obviamente uma bobagem,
porque a única pessoa digna de olhares e sorrisos essa noite:
seria eu.

Eu estava distraído em meus próprios pensamentos,


repassando rostos e nomes ali presentes, — até ver a mulher que
estava ao lado da minha mãe. Uma linda mulher de olhos
amendoados e rosto delicado. Seu corpo era como uma escultura
escupida por algum louco apaixonado, um daqueles artistas que
havia parado em seu tempo, vivendo pela sua arte. Eu demorei
alguns segundos para entender que aquela mulher… era Bella
McNight.

As ondas de seus cabelos caiam por suas costas como uma


cascata e quando seu olhar cruzou o meu, eu senti uma corrente
estática entre nós, preenchendo o vatio que existia entre nossos
corpos, e quando o rosto de Bella corou levemente, enquanto ela
perdia o ar, — eu soube que a queria pra mim.

Bella, seria minha, e apenas minha.


O teto branco de meu quarto, sinaliza o mesmo vatio em
meu peito. Em alguns meses faço dezenove anos e logo depois
me caso com um homem que nunca sequer vi em minha vida.

Nasci para ser a esposa troféu. É meu papel, meu dever com
a nossa família, uma vertente da máfia italiana. Meu pai a muito
custo se tornou um dos maiores nomes no submundo. E fora
dele, Henry McNight sustenta a imagem impecável. A imagem
que eu carrego como legado.

E dentre muitas mulheres da máfia posso dizer que tenho


sorte, pois depois de muitos anos de tradição, meu pai me
possibilitou a escolha de me unir ou não a um homem, sem amá-
lo, e uma parte minha, queria aceitar essa escolha. Contudo,
apesar de meu pai, ser o capo di Capi e que sua palavra ser lei,
eu sabia que tinha que fazer sacrifícios pela minha família.
Porque na máfia, não existe outra forma de fazer uma trégua de
paz e expandir os negócios, além de usando a união que vem
junto com o casamento. E era exatamente isso que teríamos,
quando eu me casasse com Thomas Rossi Kuhn, o herdeiro da
máfia alemã.

— Vamos Bella, — eu ouço a voz da minha mãe do outro


lado da porta de meu quarto, me trazendo de volta a realidade.

— Já estou descendo, — gritei de volta, me levantando e


encarando, o meu reflexo que acabava por parecer… estranho.

A pouco tempo eu era uma menina, que podia sonhar e


escolher mais do que a cor que iria usar naquela noite, e logo…
eu me tornaria a esposa de alguém.

O vestido longo, delineava meu corpo e me fazia parecer


mais “adulta” e talvez tenha sido isso que me fez titubear por
um momento, porque a imagem à minha frente não demonstrava
meu verdadeiro eu.
— Pipoca? — O meu pai chama, e eu acabo sorrindo. Ele
realmente não tinha jeito, sempre impaciente, e se Jenny
estivesse aqui, ela certamente diria que ele está ansioso e que eu
deveria me apressar.

Céus.

Eu queria Jenny aqui, e agora. Contudo mesmo ela sendo


minha prima de coração, esse era um momento… de família. E
isso queria dizer, pai, mamãe, meus irmãos e eu.

Enquanto descia pelos degraus da escada de madeira escura


e o carpete vermelho, me dei conta de como tudo na minha casa
— que antes era comum —, agora parecia teatral e totalmente
envolvida naquela trama.

— Ah, meu Deus! Você está tão linda! — Ela murmurou


com a voz esganiçada, as lágrimas já prestes a serem
derramadas.

— Mamma, não chore, — pedi enquanto encarava meu pai,


que agora estava ao lado dela, — como estou, papá? — Eu o
perguntei, descendo enfim o último degrau e dando uma voltinha
para que eles pudessem me ver, por completo.

— Maravilhosa minha pipoca, — ele estendeu sua mão


grande, enlaçando a minha tão pequena, me puxando para si e
depositando um beijo na minha testa.

Minha mãe, que parecia querer fugir do assunto para não


chorar, fungou enquanto dizia:
— Eu vou apressar os gêmeos, eles estão demorando demais
e não é de bom tom aparecer no noivado da irmã, atrasados, — a
ruga em sua testa demonstrava o quando ela estava tentando
fingir que não estava brava ou preocupada, antes de finalmente
ir para a cozinha.

Pai suspirou.

— Desculpa por isso, — ele disse quando teve certeza de


que estávamos sozinhos, — eu realmente não queria que você
estivesse nesse tipo de situação, pipoca.

— Papá, eu concordei com o casamento, mas gostaria de


saber se...

— O que você quer dizer com isso? — me interrompe, seu


rosto contraído de preocupação. Seria um grande vexame para
minha família eu voltar atrás sobre o casamento em última
hora.

Apesar do acordo não estar totalmente decidido, eu sou a


princesa da máfia italiana, e quando eu dou minha palavra, eu
não volto atrás. Entretanto, não sou uma completa idiota em
entrar de cabeça nisso e não tirar um proveito. — Eu quero
negociar, acrescentar algumas cláusulas. — Levanto a cabeça,
indicando ao meu pai que estou decidida a isso, e que como uma
boa McNight, não irei baixá-la!

Eu sabia que esse acordo não dependia apenas do meu pai,


mas ainda queria saber se tinha uma chance, se as coisas
poderiam realmente ser diferentes do que estavam destinadas a
ser. Eu era alguém que acreditava no amor, e estava disposta a
encarar esse casamento, pelo bem da minha família, mas isso
não queria dizer que eu não entendesse o que vinha com preço, e
se eu tinha a chance, eu iria negociar.

Eu queria ter a chance de me resguardar, eu e meu futuro


noivos nunca tivemos contato, mas os boatos sobre ele correm
por toda a Itália. Um homem, sem escrúpulos, que faz tudo para
conseguir o que quer sem medir as consequências. Impiedoso e
sanguinário. E eu quero ter a possibilidade de voltar para minha
família, respaldada e com honra estabelecida caso ele não
cumpra nosso acordo, como nunca me tocar contra minha
própria vontade. Ou tocar em outra, pelo menos fazendo o que
seus casos fazem na imprensa e eu seja envergonhada.

— Bella, querida… você sabe que isso não depende apenas


de mim, esse é um trato entre Vicente e eu, então, também
depende dele — paii me lembrou fazendo uma pausa, para olhar
em direção a cozinha, obviamente checando se minha mãe estava
vindo antes de continuar — você sabe que em primeiro ligar virá
sempre sua segurança, eu sei o que deve estar passando em sua
cabecinha. E não se preocupe mia figlia. Não há contrato ou
acordo nenhum que me impossibilitaria cuidar do seu bem-estar,
eu iria ao inferno por você. Mas ainda assim eu vou te perguntar
mais uma vez, você realmente quer se casar, com o Thomas?

Suspirei.

— Papá… se não for com ele, será com outro desconhecido,


não será? — Eu perguntei, porque sabia bem como aquela
conversa terminaria, eu sei que no fundo, eu fui educada para
ser uma esposa troféu, por mais que minha mãe não aceite isso,
é uma tradição da máfia — afirmei —, então eu sei que não seria
tão simples mudar. Se não me casar com ele, será outro.

— Tudo depende sendo o chefe da máfia, posso fazer


algumas mudanças. Eu posso fazer tudo pela sua felicidade,
querida, porém, claro, terá questionamento de algumas partes e
com certeza muito derramamento de sangue. — Meu pai me
explicou, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha, mas isso era algo que eu já tinha conhecimento.

— E para isso, um casamento arranjado é a melhor opção,


— eu murmurei, frisando meus lábios enquanto fechava minhas
mãos em punhos.

Eu queria tanto uma chance para falar a verdade ao meu pai,


que eu amava outro homem, que tinha me apaixonado por ele da
forma certa e que dificilmente… meu coração poderia pertencer
a outra pessoa.

— Pronto! — Pude ouvir o som do salto da minha mãe


enquanto se aproximava novamente, me trazendo de volta e
interrompendo nossa conversa antes que eu pudesse finalmente
falar. — Vamos? — Ela perguntou se pondo ao lado do meu pai
e ele assentiu.

Meus irmãos gêmeos, Donna e Tefo vinham logo atrás dela.


Eles definitivamente não eram idênticos. Mas agiam como uma
unidade. Nós tínhamos quase três anos de diferença, e talvez
isso tenha influenciado também com que eu os visse como
realmente são unidos, mas totalmente diferentes, no físico e
personalidade. Stefano sempre teve os traços da minha mãe.
nariz fino, mas do tamanho perfeito. Olhos verdes, orelhas
pequenas, os lábios carnudos, cabelo loiro escuro. Mas ele
sempre foi genioso como nosso pai. Donna por outro lado, tem
olhos verdes, assim como os meus, cabelo longo e loiro claro. O
nariz fino igual ao da nossa mãe, e como eu, ela tem algumas
sardas de leve no rosto.

Essas diferenças tornava os gêmeos tão únicos e também,


era o que me fazia amá-los, — porque eu amava todos na minha
família e por isso também, pensei que poderia negociar meu
casamento com o meu pai, mas obviamente me enganei, eu teria
que ir além. Teria que conseguir que Vicente me ouvisse e aí, —
talvez, — eu pudesse ter o meu final feliz.

Eu passei tanto tempo pensando nisso, que nem vi o tempo


passar, e quando me dei conta, o nosso carro estava parado em
frente a uma enorme mansão.

— Todos prontos? — Pai pergunta me tirando dos meus


pensamentos e me trazendo de volta a vida real, aos meus irmãos
e a minha mãe que desciam sem preocupações. Ele sorriu, e
então, estendendo a mão para mim, me pergunta, — e você,
minha pequena?

— Eu vou ficar bem, papá. — Falei e no fundo eu nem sabia


se estava falando aquilo para tranquilizar ele ou a mim mesma,
porque a verdade, era que eu estava cheia de medos em relação a
esse casamento arranjado.
As borboletas começam a crescer dentro da minha barriga. E
uma parte minha, não consegue evitar a ansiedade de tudo isso
estar se tornando real. Mas era hora de ser forte, de fazer algo
importante pela família e não pensar em um futuro que não irá
se concretizar — eu Charles e tudo o que desejamos para nós
dois —, e eu não vou falhar.

Eu vi meu pai entregar a chave do nosso carro para um


manobrista e enquanto tomava o braço da minha mãe, eu via
Jenny, Pietro e Dante, vindo atrás dos meus tios, Paola e
Hendrick, que tinham nos acompanhados em outro carro.

Quanto todos nós colocamos os pés na entrada daquela


mansão, eu soube que não havia volta, — porque todos os
convidados ficaram em silêncio e olharam para nós. Para… o
verdadeiro centro das atenções.

Com naturalidade, meu pai sorriu e enquanto ele ia em


direção a um homem de cabelo grisalho, terno azul e olhos
escuros, — eu via uma linda mulher vir em direção a minha mãe
e a mim.

— Oh Deus! Essa é a Bella, não é? Que menina mais linda!


— Aquela mulher disse olhando para mim, como se eu fosse
algo precioso, e quando sorri, sem graça, mamãe se adiantou em
perguntar:

— Sim, e onde está o noivo?

— Ele já está descendo... Entre fiquem à vontade em minha


casa, em breve seremos apenas uma família.
A mulher loira sorriu alegremente.

O grande salão da mansão dos Kuhn parece majestoso, e


entrar aqui pela primeira vez me causa calafrios, nossas mães
praticamente enlouqueceram, e decidiram entre si que cada uma
faria um evento, Francesca faria o noivado e minha mãe, Liz,
faria o casamento.

Ao percorrer meus olhos pelo ambiente, minha atenção é


arrebatada pelo homem sobre o mezanino. Sua pose máscula e
forte, sua aura sombria, seus olhos de um tom azuis penetrantes
se prenderam nos meus, sugando todo o ar de meus pulmões.
Seus passos firmes sobre a escada entalhada de cristais – como
se ele estivesse sugando minha alma para si, ele era o diabo em
forma física de anjo – e por alguns segundos eu apenas quis que
ele envolvesse minha cintura com suas mãos que imagino serem
grandes por estarem escondidas nos bolsos de sua calça escura,
que abraça perfeitamente suas pernas tonificadas. O terno de
três peças elegante, o sorriso sedutor e os cabelos perfeitamente
alinhados, penteados para trás. Porra, o homem mais lindo que
já vi em minha vida.

— Ah, aí está ele. — Francesca anuncia apontando para o


homem que caminha em nossa direção, sem desviar os olhos dos
meus.

Não pode ser ele. Deus, eu estou perdida.

No que eu estava pensando?


— Suponho que a senhorita seja a minha prometida, Srta.
McNight, — ele disse estendendo para mim, uma de suas mãos,
— é um prazer conhecê-la, Bella.

Eu senti meu corpo inteiro estremecer quando minha mão


tocou a sua, e pude jurar que meu coração idiota, errou uma
batida, antes que eu pudesse responder.

— É um prazer conhecê-lo, senhor Kuhn — eu tentei


impregnar a minha voz com calmaria, mas a verdade, era que eu
estava perdida, desconsertada, e os olhos profundamente azuis
de Thomas, pareciam enxergar dentro da minha alma. É claro
que para piorar a situação, todos ali nos encaravam, como se
fossemos algum tipo de espetáculo.

— Se me dão licença… — Thomas disse, me pegando de


surpresa, e obviamente, também aos seus pais, — minha noiva
parece precisar de um pouco de ar fresco, então se me permitem,
eu a acompanharei, — ele simplesmente sugeriu, ainda
segurando minha mão.

— Claro, — Vicente disse como se não fosse nada, — leve a


Srta. McNight para tomar um ar, será bom para vocês dois.

Uma parte minha, queria recusar pela simples ousadia de


Thomas ao me usar para sair daquela situação, mas a outra,
estava agradecida demais para isso, então, eu me contive em
dizer.

— Obrigada, — enquanto nos afastávamos da multidão e


entravamos em uma das grandes varandas da mansão Kuhn. —
Uau… — me ouvi dizer, encarando aquele gigantesco jardim,
que era obviamente bem maior que o nosso.

Thomas que antes tinha uma postura elegante e sorridente,


educado como um verdadeiro diplomata, agora parecia mais
despojado, enquanto se debruçava sobre a varanda, com um
cigarro pendendo entre os dedos, prestes a acender. Alguns fios
rebeldes caiam sobre seu rosto quando ele me encarou, e o olhar
daquele homem… me fazia perder o ar.

— Então, Srta. McNight… — ele me chamou outra vez e eu


estremeci, — o que pensa sobre esse casamento? — Thomas me
questionou, seu tom agora, parecia menos cavaleiro, menos…
cortes. Era sagaz e direto, quase… sarcástico.
Quando eu ouvi ele me perguntar o que eu pensava sobre o
casamento, tive vontade de simplesmente falar a verdade, mas
uma parte minha, estava indecisa. Afinal, tudo isso era novo e
eu não tinha certeza se podia ou não confiar em Thomas.

— É o que é, faz parte do nosso dever., — dei de ombros,


encarando o jardim que tínhamos à frente, e Thomas me
surpreendeu ao bufar, como se a minha resposta não fosse
realmente boa.
— Céus… — ele resmungou, tragando o cigarro, — se esses
velhos não fossem tão teimosos, as coisas poderiam ser
diferentes, mas não há mesmo o que se fazer a respeito, o que
talvez poderíamos fazer, é tornar as coisas mais… agradáveis
para nós dois, não acha? — ele disse e o seu tom parecia…
lascivo.

— Como assim, o que você quer dizer com tornar as coisas


agradáveis?

— A primeira coisa que temos que concordar, querida, é


jamais mentir um para o outro. É claro que estamos nos casando
apenas para um benefício de terceiros, eu ganho mais força com
meus homens, você se torna a mulher de um Capo. E nossa
família cresce comercialmente. O acordo perfeito, mas... a algo
que não está sendo levado em consideração aqui.

— Como o quê por exemplo?

— Somo nós dois que teremos que manter esse teto de


cristal em cima da nossa cabeça. Então volto a repetir, primeiro
nunca, em hipótese nenhuma minta pra mim — seu pedido
pareceu mais uma ameaça — e eu te garanto que nunca mentirei
para você.

— Verdade? — Perguntei, sentindo a esperança retornar ao


meu corpo.

— Por que eu mentiria para você, querida? Você é a única


em quem eu devo confiar. Depois que os votos forem feitos,
estaremos ligados para sempre. — Ele diz, e aquele “querida”,
veio com um tom cantarolado, cheio de provocações.

— Acha mesmo que conseguiremos construir algo dentro


desse casamento arranjado? — acabei perguntando e ele me
encarou.

— Nós temos que construir, porque não existe uma forma


desse casamento ser encerrado sem a morte de um de nós, —
suspirou, — mas isso não quer dizer que não possamos nos
divertir.

— Divertir?

— Minha doce Bella, não existe um motivo para nós dois


nos mantermos fiéis dentro desse casamento, — Thomas sibilou,
— a não ser que acabemos por nos apaixonar, não vejo problema
em termos amantes, desde que seja feito de forma correta.
Afinal, traição não é bem-vista no nosso meio.

— Isso parece… bem melhor do que eu havia pensado que


poderia ser…

— Qual parte? — Ele zombou, um sorriso malicioso


brotando em seus lábios.

— A parte em que eu fodo quem eu quiser, ou a parte em


que você se apaixona por mim?

Deus. Como eu iria viver sob o mesmo teto que esse


homem? Thomas Kuhn parecia ser… o próprio diabo, — com
aqueles olhos felinos e um sorriso ardiloso.
— E caso seja eu que queira foder com outros homens.

Lentamente ele solta mais uma baforada de fumaça, e antes


mesmo que eu possa notar, Thomas já está em cima de mim, me
prendendo contra a parede. Seu cheiro misturado com o tabaco e
algo parecido a almiscarado. Seu hálito quente sopra contra
minha orelha. Sua voz rouca, alucinando meus batimentos
cardíacos, quando ele enfim sussurra:

— Eu não me importo!

Ele se afasta dando as costas para mim, eu não consigo ver


seus olhos e muito menos decifrar o que ele pode estar pensado.

— Olha, Thomas… nós dois sabemos que esse casamento


surgiu de um acordo de negócios e levando em consideração o
que você mesmo já falou, nenhum de nós tem pretensão de se
envolver romanticamente com o outro, — esclareci, — sem falar
que… você já deve ter alguém.

Thomas Kuhn podia até ser ardiloso e para mim, ter uma
placa de neon em sua cabeça, acenando com “perigo, não se
aproxime”, mas isso infelizmente não diminuía o quão bonito e
obviamente carismático, ele era. Sem falar, claro, que ele era
mais velho.

A probabilidade daquele homem ter alguém em sua vida, era


80%, nem que fosse ao menos, uma amante ou prostituta que ele
mantinha.
— Sim, — ele acabou dizendo, com um sorriso de canto
enquanto olhava para frente, dando batidinhas no cigarro para
que as cinzas caíssem, — eu tenho alguém, bom… acho que
ainda tenho.

— Por que acha? — Questionei com uma das sobrancelhas


erguidas e ele me encarou.

— Digamos que ela… as coisas são mais complicadas para


pessoas como nós dois, querida, — ele explicou de forma
“resumida”, — acho que você pode me entender.

Deus, como eu poderia não entender? Afinal, esse era


justamente o medo que eu tinha, — que o meu Charles não
entendesse a situação na qual estou nesse exato momento. Que
tudo desse errado entre nós dois.

— Mas… você gosta dela? — Acabei questionando, me


aproximando de Thomas e me debruçando sobre a sacada, e ele
me olhou de canto.

— Sim, estou com ela há três anos, então suponho que


sim… — murmurou, — mas isso não é algo tão simples assim.

— Por quê? — Questionei.

— Não posso assumir nosso relacionamento, — ele explica


e então, vira para mim, com o corpo apoiado de lado na varanda,
— não vivemos na barbieland, Bella. Isso aqui é o submundo e
dentro do submundo, relacionamentos são eternos. O nosso
divórcio é um passo que o meu pai espera não ter que
testemunhar, e para eu assumir alguém de fora do nosso mundo,
seria inviável. Minha mãe e ele jamais a aceitariam tão
facilmente, ainda mais com esse casamento em vista.

Ele tinha um ponto e eu tinha que admitir, não estava


errado. Na máfia nada era simples e Thomas obviamente estava
se preparando para tomar o lugar de seu pai, a pressão sobre ele
deveria ser bem maior do que a que eu carregava. Ser um troféu
não chega nem perto do peso de se tornar o líder de uma
família.

— Thomas… — eu o chamei e ele assentiu, — o que


pretende fazer, para que isso entre nós dê certo, ou pelo menos
para que todos acreditem que isso — gesticulo — entre mim e
você — seja verdadeiro?

— É bem simples, querida… — ele diz em um ronronar, —


aos olhos deles, nós seremos o casal perfeito, e por trás das
cortinas, seremos sinceros e respeitosos um com o outro, o que
acha?

— Se esse é o caso, então tem algo, que eu preciso te


confessar, — falo com aquele nó em minha garganta, parecendo
cada vez maior, — eu já tenho alguém que amo, — acabei por
dizer, e finalmente poder pronunciar aquelas palavras para outra
pessoa, era quase como tornar real, era como se… um peso
estivesse saindo do meu peito.

Por um momento, tive a impressão de que os olhos de


Thomas tinham se tornado mais escuros, mas ele ainda assim,
sorriu.
— Então você gostaria de mantê-lo? — Ele perguntou, com
os lábios arqueados e aquela expressão de que ainda desejava
saber mais.

Sorri, — se ele queria saber mais, eu poderia falar.

— Sinceramente, sim, mas isso não depende apenas de mim.


Eu o conheci no ensino médio, — confessei, — foi algo…
mágico. Eu queria ter apresentado ele pra família, queria ter…
feito muitas coisas, mas como você disse, não é tão fácil, certo?
Mas… ele nem faz ideia do nosso casamento, do motivo pelo
qual eu fui criada, e eu nem sei como ele vai reagir, —
murmurei, — talvez, nem mesmo aceitei a ideia de que eu
preciso me casar com um outro homem… e eu nem posso julgá-
lo por isso.

— Querida, ele seria um idiota se não entendesse você, —


ouvi Thomas dizer e de alguma forma, seu tom parecia
diferente.

— Não é tão simples assim.

— Na verdade é, — ele falou, — e nós podemos fazer um


acordo.

Pisquei.

— Acordo?

— Sim, — Thomas se aproximou, seus dedos segurando uma


mecha do meu cabelo, — minha cara… o nosso mundo é baseado
em acordos, então, por que não fazermos o nosso casamento da
mesma forma?

Seus olhos percorreram o meu corpo e eu vacilei por um


segundo. Por que o meu futuro marido tinha que ser tão…
atraente? Deus! Olhe o tipo de coisa na qual eu estava
pensando!

— Que tipo de… acordo? — Acabei perguntando, fechando


meus olhos por alguns segundos para pensar de forma coerente,
mas essa certamente foi uma péssima ideia, porque quando abri
meus olhos, Thomas estava mais perto, seus lábios arqueados em
um sorriso malicioso, e seus olhos tão fixos nos meus, que senti
minha alma sendo despida naquele exato momento.

— É bem simples, minha cara, — ele disse com aquele tom


ardiloso e aveludado, — eles querem um casamento feliz para
prosperidade dos negócios da família, e nós podemos dar isso a
eles, — Thomas disse como se não fosse grande coisa, — na
frente da mídia e de nossas famílias, seremos um casal perfeito,
apaixonado, — ronronou e agora seus dedos acariciavam minha
bochecha, um toque quente que fez uma corrente elétrica passar
pelo meu corpo, — e quando estivermos a sós… — ele fez uma
pausa, seu sorriso se tornando ainda maior, ao ponto de quase
me fazer perder o ar, — nós finalmente poderemos encontrar
com as pessoas das quais gostamos.

Ele disse, voltando drasticamente ao normal e me fazendo


piscar, demorando alguns segundos para entender.

— Como?
Thomas sorriu, se afastando de mim.

— É um acordo bem simples, querida. Assim, nenhum de


nós dois terá que sofrer, — ele disse deslizando uma das mãos
pelos cabelos, — você pode estar com o seu amor “mágico”, e
ainda poderemos manter as aparências, — ele falou com aquele
sorriso de canto de quem sempre sabia o que estava fazendo.

Não era um acordo ruim, na verdade, — era bem melhor do


que eu sequer havia sonhado, mas… era verdade? Eu realmente
podia confiar em Thomas?

— Eu… — mordi meu lábio sentindo certa ansiedade tomar


conta de mim, — eu posso concordar com isso, mas… como
faríamos tal coisa sem que ninguém desconfie? Sempre vai
existir seguranças por todos os lados, e você sabe que no
submundo, existem olhos onde quer que você vá, — argumentei,
mas Thomas bufou, como se não fosse relevante.

— Querida… existem coisas com as quais você nunca mais


vai ter que se preocupar, depois que se tornar minha, — ele
ronronou, se aproximando e me segurando pelo queixo, — a
única coisa que precisa fazer, é me dizer sim.

Sim?

Sobre qual parte em específico?

Em nosso casamento? No fato de me tornar sua? No


acordo?
Minha mente já havia se tornado turva a essa altura do
campeonato, — aquele perfume cítrico que Thomas usava, já
tinha inundado minhas narinas e eu me perguntava… em qual
parte eu tinha me perdido. Tudo em torno daquele homem era
diferente, mas a forma como meu corpo e minha mente reagiam,
certamente não estava dentro dos padrões.

— Bella? — Ele me chamou, me tirando do meu transe, —


você está me ouvindo?

— Ahm? Sim, é claro que sim, — falei pigarreando e


tentando voltar a mim, a minha versão que estava mais
preocupada com aquele casamento, do que o quanto aqueles
olhos azuis e lábios rosados, me atraiam.

Thomas e eu, tínhamos um acordo. Isso era suficiente pra


mim, era algo no qual eu poderia me agarrar e se o meu Charles
concordasse com tudo isso, em manter um relacionamento
extraconjugal, nós enfim poderíamos ter nosso final feliz.

— Thomas? Bella? — A voz da mãe de Thomas surge


próximo a nós dois e nos viramos para encará-la, quando ela
abre a porta, — Deus! Vocês vieram tomar um ar ou fugir da
festa? Venham! Vicente está esperando por vocês para anunciar
o noivado.

— Já estamos indo, mamma, — Thomas disse tomando


minha mão, para me guiar de volta ao salão.

No momento em que entrei no salão pela segunda vez, eu


encarei todas aquelas pessoas e grunhi.
— Por que tanta gente?

Thomas sorriu.

— Acostume-se, querida. Minha mãe é sempre exagerada


quando se trata de convidados, — ele disse com naturalidade, —
espere para ver quantos convidados teremos em nosso
casamento, isso sim vai te surpreender.

Talvez fosse pela forma gentil com a qual Thomas me


tratava, ou talvez pelo jeito que ele agiu desde que cheguei, —
que fazia uma parte minha se sentir confortável ao lado dele,
quase como se eu estivesse… segura.

— Ah! Aqui estão vocês! — Eu ouço Vicente falar e então,


ele pega uma taça de champanhe e proclama em alto e bom tom,
fazendo todos os convidados pararem o que faziam, para olhar
para ele, — boa noite a todos! Como todos vocês que estão aqui
presentes, sabem, hoje é um dia muito especial, — ele diz cheio
de orgulho, — É o dia em que a família Kuhn e a família
McNight, oficializam a união que está por vir. Thomas… não
tem algo que você queira falar?

Eu encarei Thomas e ele assentiu, tomando a frente do pai, e


me guiando para o meio do salão.

— Nessa noite tão linda, eu agradeço pela presença de


todos, mas principalmente, pela presença dessa linda mulher,
com quem terei o prazer de estar pelo resto da minha vida, se ela
assim desejar, — ele disse com aquele tom aveludado e sedutor,
que fazia meu corpo estremecer, — senhorita Bella McNight…
— ele se ajoelhou, tirando uma caixinha de veludo preto do
bolso, — você me daria a honra de ser seu marido?

Eu pisquei, encarando aquele anel solitário de esmeralda, o


designer delicado e a forma como parecia ter sido feito com
tanto cuidado, era quase emocionante, mas uma parte minha não
pode evitar de se sentir desnorteada, porque em minha
imaginação, era Charles quem me faria esse pedido.

Olhei para Thomas com o joelho no chão, esperando uma


resposta minha, e não pude evitar de dizer, me sentindo de certa
forma, emocionada com aquele pedido.

— É claro que sim…

Thomas se levantou, tirando o anel com cuidado da caixa e


tomando minha mão, ele o colocou em meu dedo anelar, apenas
para em seguida, me puxar pelo quadril e depositar sobre meus
lábios um beijo avassalador que me envolveu por completo.

Por um segundo, — durante aquele momento em que o beijo


durou, — não havia contrato, acordo, nem nada mais em minha
mente. Havia apenas nós dois, nossos corpos tão próximos e os
seus lábios nos meus. Até ele finalmente separar-se de mim, e
sorrir ao murmurar em meu ouvido.

— Não se preocupe com isso, querida… é apenas parte do


teatro, porque os jogos já começaram por aqui.

Eu me vi sorrindo, e agarrada ao seu terno por instinto, eu


murmurei.
— Sobre isso, precisamos conversar.

Thomas piscou.

— Teremos tempo para isso, a nossa noite, acabou de


começar.
Depois do pedido de Thomas, nós tivemos que agir como o
que éramos: o motivo daquela festa estar acontecendo, e por uns
trinta minutos, ficamos presos entre os convidados e os sorrisos
de felicitações pelo noivado, — mas logo depois, todos voltaram
ao que realmente queriam fazer: beber e tratar de negócios.
Graças a isso, Thomas e eu nos esquivamos dali, e tomando uma
das salas daquela mansão, nos sentamos para conversar.

Cada detalhe do nosso acordo foi estabelecido, e Thomas até


mesmo sugeriu redigir um contrato, caso isso me deixasse um
pouco mais segura, — mas se tinha algo que eu tinha aprendido
sobre a máfia, era que não se mantinha provas de algo que você
não quer que descubram. Então, eu cuidadosamente neguei.
Afinal, nosso acordo consistia em manter as aparências, então
beijos, contato físico e interações intimas em público, era
claramente algo necessário, mas não havia motivos para isso
acontecer quando estivéssemos sozinhos.

Então, enfim, pude retornar para casa e enquanto meus tios


e meus pais brincavam sobre o quão bonito meu noivo era, — eu
me perguntava como eu contaria para Charles sobre Thomas, e
se ele em algum momento, aceitaria essa loucura que era a
minha vida e o mundo onde eu havia nascido.
Os dias começaram a se passar mais rápido depois daquilo
tudo, e eu sinceramente não tinha criado coragem para contar
toda a verdade para Charles, porque mesmo com aquele acordo,
eu não tinha ideia de como ele poderia reagir.

Eu tinha muito medo de que ele não entendesse, que… não


conseguisse aceitar, não somente a ideia de que eu fazia parte de
uma família como a minha, mas… sobre o casamento.

O fato dele vir de uma família humilde, sempre pareceu


deixar ele inseguro em relação ao nosso relacionamento, e eu
sabia disso, porque sempre fomos abertos um com o outro. Nós
nos conhecemos no primeiro dia de aula, e como Charles entrou
como bolsista em nossa escola do ensino médio, — ele sempre
pareceu se sentir mal com algumas coisas que deixavam óbvio
demais a nossa diferença social, mas foi tão natural a forma
como ele se tornou amigo de Jenny e logo em seguida meu, que
nenhuma de nós se importava muito com isso.

Mas agora, isso era um pouco diferente, porque quando se


tratava do nosso relacionamento, a insegurança dele começava a
pesar. O que eu poderia fazer se ele simplesmente resolvesse que
não importava como eu me sentia em relação a ele?

Charles não me parecia alguém que poderia simplesmente


aceitar um acordo como aquele feito por Thomas, com a mesma
facilidade com a qual se dá bom dia. Não. O meu Charles era
diferente de Thomas e eu, ele vivia de outra forma e certamente
em outro mundo. Ele sempre se mostrou prestativo, sempre
preocupado em como eu me sentia, nunca me deixando sozinha
no intervalo, foram coisas assim que foram me conquistando.
Com o seu jeito simples de ser, Charles se mostrava cada vez
mais incrível e eu ainda me surpreendia pela forma como ele
nunca parecia estar triste.

Não. Charles era uma daquelas pessoas que sempre tinha um


lindo sorriso em seus lábios e talvez… isso tenha sido um dos
muitos motivos pelos quais eu me vi, completamente apaixonada
por ele nesse período de um ano desde que nos conhecemos.

— E aí, já falou com ele? — Jenny me perguntou jogando


sua bolsa em cima da mesa do refeitório da faculdade, fazendo o
barulho me arrancar do meu devaneio e me jogar na realidade
fria e cruel, onde talvez… eu estivesse prestes a perder o meu
namorado.

Havia menos de dois minutos que eu tinha me sentado ali,


numa tentativa idiota de reservar os nossos lugares, porque
como em todos os outros dias desde que entramos na mesma
faculdade, eu esperava que nós três — Jenny, Charles e eu —,
nos reuniríamos ali para almoçar, mas Charles estava atrasado e
isso me dava… mais tempo para pensar.

— Não. — Eu falei simplesmente e encarei Jenny enquanto


ela se sentava à minha frente sem a menor preocupação aparente
em seu rosto.

Deus, como eu a invejava em momentos como esses.

— Quer que eu fale com ele? — Jenny me pergunta, porque


no fim, todos nós éramos bem próximos, mas isso não era algo
tão simples de se resolver e muito menos de se… falar. Eu não
podia simplesmente, deixar para ela falar.

Era pessoal.

— Não, sou eu que preciso fazer isso. — Falei respirando


fundo e pensando na desculpa que daria, na forma que diria a ele
que teria que me casar com outro homem. Como diabos isso
poderia soar… descente sem que eu o colocasse em risco? Sem
que… ele descobrisse sobre a minha família? Era praticamente
impossível.

— Se precisar de ajuda, é só me chamar, — eu ouvi Jenny


dizer, como sempre tentando me ajudar e eu sabia que no fim,
Jenny era a única em quem eu poderia confiar.

— Eu sei… — murmurei com um sorriso, sinceramente feliz


pelas coisas que aconteceram em nosso passado não interferir na
amizade que Jenny e eu construímos enquanto crescíamos
juntas.

— Então… como vão os preparativos para o casamento?

Ela acabou me perguntando e eu senti um arrepio percorrer


todo o meu corpo, ao simplesmente ouvir a palavra casamento
sair pelos lábios da minha prima. A verdade, era que no fim, eu
ainda não tinha conseguido me acostumar com a ideia de que
logo, eu estaria… casada.

— Eu não sei. — Acabei respondendo com toda sinceridade


e Jenny me encarou.
— Como não? — Ela franziu o cenho sem entender.

— A minha mamma e a Francesca estão organizando tudo,


então… não é como se eu… tivesse que me envolver, ou como se
tudo isso, fosse sobre mim, — expliquei, suspirando enquanto de
certa forma, agradecia a Deus por não estar envolvida
diretamente nisso, mas antes que eu pudesse sequer por isso em
palavras, Charles surgiu, me pegando de surpresa.

— O que estão organizando? — Ele perguntou, se sentando


do meu lado e me encarando com aquele sorriso largo.

— A... é... — Balbuciei, como uma verdadeira idiota.

Eu nem conseguia pronunciar uma frase, fazer com que algo


fizesse sentido na minha cabeça, porque… eu não sabia mentir
pra ele.

— Uma festa do pijama. — Jenny então disse, mentindo


enquanto tomava a frente da situação, mas aquela obviamente
não era a melhor mentira que ela já tinha contado.

— Uma festa do pijama? Sério? — Ele perguntou com os


lábios arqueados, — não estão grandinhas pra isso?

— Isso não é da sua conta, — Jenny disse mostrando a


língua pra ele e Charles bufou, de forma descontraída.

— Okay, então… quando vai ser? Eu também estou


convidado, certo?
— Não. É só de meninas. — Jenny diz de forma direta, o
que faz Charles me encarar.

— Certo, então… quando eu vou conhecer os seus pais? —


Ele me pergunta, selando meus lábios e me olhando com
expectativa.

— Desculpa… — murmurei, — eles mal chegaram e já


foram viajar outra vez, — acabei dizendo como sempre fazia.
Porque no fim, essa era a desculpa que eu sempre usava para que
eles não se conhecessem: meus pais estão sempre viajando a
trabalho.

Eu estava ficando tão cansada disso. Era tão errado mentir


para Charles, e eu sinceramente não sabia até quando ia
conseguir levar essa mentira, mas no momento, eu só precisava
me preocupar com o contrato entre meu pai e Vicente, e
também… o meu acordo com Thomas.

— Hoje vai ter uma festinha, na minha casa. — Charles fala


todo empolgado, me tirando do meu devaneio, e me encarando
com expectativa, — você vem, não é? Eu vou ficar triste se a
minha namorada não aparecer, — ele falou, e Jenny e eu nos
entreolhamos, porque era naqueles momentos que o fato de
termos crescido juntas, ajudava muito. Um olhar era suficiente
para ela saber que outra vez, eu vou precisar de ajuda.

— Claro que sim, meu amor, — eu acabo dizendo, beijando


Charles e acariciando seu rosto, — eu nunca te deixaria
sozinho.
Ele sorriu, parecendo satisfeito com a minha resposta e
graças a isso, nós podemos terminar o nosso lanche a tempo de
voltarmos para nossas salas.

Assim que as minhas aulas acabaram e eu saí da sala, a


primeira coisa que eu consegui ver naquele corredor extenso que
possuía paredes brancas e bem iluminadas, foram os olhos de
Jenny, me encarando com uma clara expressão que dizia: “o que
você pretende fazer?”

E a mais pura verdade, era que eu também não fazia a


mínima ideia, tanto que naquele presente momento, eu estava me
amaldiçoando dentro da minha própria cabeça por isso.

— E então? — Jenny apenas se aproximou, aquele ar


preocupado começando a pairar em seu semblante, — o que a
princesa vai fazer para conseguir encontrar o seu príncipe está
noite?

Eu suspirei com nítida frustração, até porque… isso tudo


parecia complicado demais, ainda mais, para uma mera saída,
uma que era apenas para ir em uma festa.

Uma que… não podia ter vindo em um momento pior para


ser bem honesta, porque era logo quando eu estava com coisas
até o pescoço para falar, para me organizar.
— Acho que a única forma que eu tenho para ir naquela
festa, é sair escondida, — nem eu mesma acreditei naquelas
palavras quando elas saíram da minha boca, isso enquanto a
minha prima parecia sorrir, como se sentisse que havia voltado
ao ápice de sua adolescência, — por que você parece tão feliz
com isso?

— Um pouco de emoção não faz mal pra vida, certo? — Ela


falou com uma empolgação que eu não conseguia compreender.

— Jenny, eu acredito que a minha vida já tenha emoção


demais para o meu gosto, — bufei, ao dizer, até porque… eu
estava literalmente vivendo aquelas coisas que você geralmente
só encontrava em livros, com contratos de casamento, e tudo
mais.

Já era o suficiente pra mim.

Eu não precisava mais que isso.

— Exatamente, Bella! Você já está passando por tanto


estresse, talvez um pouco de romance adolescente não te faria
mal, uma coisa mais… Romeu e Julieta? — Ela soltou, o que
apenas me fez sentar no banco no pátio da faculdade, cinza e
cercado por uma grama baixa, bem embaixo da sombra de uma
árvore, — então, sim, eu estou empolgada, e sim… eu vou te
ajudar nisso, e te dar a sua noite de princesa.

Do jeito que a minha prima falava, parecia que eu estava


indo fazer a loucura da minha vida, e sinceramente? Eu não
sabia se aquela suposição estava tão errada. Afinal, eu sairia
sem os homens dos meus pais — já que eu sairia sem ninguém
saber —, e também… eu não sabia o que a noite me reservava,
principalmente… se eu resolvesse contar tudo de uma vez para o
Charles. Porque no fim, eu sabia que teria que contar para ele
uma hora ou outra, e também tínhamos o fator de: era sempre
pior quando a pessoa descobria sozinha.

Mas de qualquer forma, tanto eu quanto Jenny fomos para a


minha casa nos arrumar, enquanto ela parecia me usar de
boneca, praticamente querendo escolher tudo para mim, e até
mesmo, fazer o meu penteado. Claro, teve uma coisa ou outra
que eu não podia deixar do jeito que ela queria, mas… esse não
era o foco.

O foco era… como nós iriamos sair dali, sem sermos


notadas pelo meu pai, e muito menos, pelos homens dele.

Mas eu tinha uma vantagem por sempre ter prestado atenção


em algumas coisas, e uma delas, eram os horários de ronda, e as
partes que em certos horários, não havia ninguém, e uma dessas
partes no presente momento, era o jardim. Jardim esse que era
extenso, e tinha uma bela portinha nos fundos, que seria o foco
da minha fuga com Jenny.

Foi meio complicado sair do meu quarto sem ser vista — o


que seria meio complicado por conta das roupas e maquiagem de
festa —, mas nada que um pouco de calma e uma escondida ou
outra nas coLunnas e nas paredes, não ajudasse. Tanto que
quando finalmente chegamos na parte de baixo, e eu vi aquela
bela porta que dava para a parte de trás do jardim. Eu consegui
sentir os meus pulmões respirando novamente.
A primeira coisa que eu fiz, depois de conhecer Bella
McNight, — foi colocar todos os meus homens de confiança,
investigando a vida daquela garota. Eu queria saber cada
detalhe, do momento em que Bella nasceu, até o segundo antes
de estar em frente a mim.

Assim que coloquei meus olhos sobre ela eu sabia para onde
isso iria dar, então eu a guiei para longe dali, pedindo licença a
todos e dando a desculpa de sempre, que ela precisava de um
pouco de ar. Mesmo que a verdade, fosse que eu a queria um
pouco mais, apenas para mim. Eu queria saber mais sobre ela,
sobre o que aquela mulher que era tão diferente da foto que
minha mãe me mostrou, pensava, mas Bella, parecia
apreensiva.

Era como ver um animal acuado, morrendo de medo, sem


saber onde poderia pisar e o que poderia falar, então… eu tive
que medir minhas palavras e meus gestos. Bella era algo frágil
que eu tinha que cuidar e proteger, manter ao meu lado, até que
ela já não pudesse mais respirar sem olhar pra mim.

Sim.

Ela seria minha e eu faria com que amasse isso, mas antes,
eu precisava que ela confiasse em mim, então precisava saber…
até onde ela odiava a ideia de ser minha futura esposa.

Eu tinha beleza, charme e carisma ao meu lado, mas se


houvesse alguém no coração de Bella, eu teria que arrancar
antes que criasse raízes. Do contrário, ela jamais seria
completamente minha.

E para meu desgosto, ao fim da investigação, eu descobri


exatamente o que ela me falou: que minha doce Bella, tinha um
infeliz que ela considerava seu namorado.

Charles.

Esse era o nome do desgraçado.


Um serzinho mediano e medíocre que nitidamente não era
nada perto de mim e muito menos perto de Bella.

Aquele garoto era tão medíocre, que eu me perguntava como


ele teve a ousadia de se aproximar da minha noiva, mas
aparentemente, pessoas como ele estavam sempre desesperadas
para subir de patamar e ele faria de tudo, para estar onde Bella
poderia levá-lo.

Obviamente aquele infeliz não sabia nada sobre o


submundo, sobre a máfia ou sobre a verdadeira identidade de
Bella, mas ele sabia do que importava: que a família McNight,
era poderosa.

Idiota.

Ele provavelmente nem gostava da garota, e agora, ela


estava preocupada com ele.

Estalei a língua no céu da boca e quando Brian terminou de


folhear o dossiê que eu tinha preparado com tanto cuidado, ele
riu.

— Sério, você é maluco, — ele disse com descaso,


colocando os pés sobre a mesa de mogno que eu tinha no meu
escritório e eu o fuzilei com os olhos.

— Eu estou cuidando do que me pertence.

Brian sorriu.
— Te pertence? Não era você quem estava puto por ter que
se casar com uma criança? — Ele perguntou, zombando de mim
e das minhas atitudes do passado, mas eu estalei a língua no céu
da boca, ignorando as provocações de Brian.

— Bella não é uma criança.

Ele me encarou.

— Ela está pra fazer dezenove, eu sei.

Ergui uma das minhas sobrancelhas.

— Como sabe?

— Bom, a gostosa da prima dela está no meu círculo de


amizades e o idiota com quem sua noiva namora, é uma espécie
de amigo, — ele fala piscando, o que me faz encará-lo com
descaso.

— Então agora, você faz amizade com uns merdas que


pegam a mulher dos outros?

Brian me ignorou, e girando uma caneta entre os dedos, ele


apontou pra mim.

— Você não deveria estar mais preocupado com o fato da


sua noivinha, estar indo para uma festa na casa do namorado
dela? — Ele perguntou e em seus lábios eu vi aquele sorriso
cheio de sugestão.

— Ela não faria isso, Henry pode não ter ligado de início
para esse relacionamento, mas eu duvido que ele permita…
Brian riu.

— Quem disse que garotinhas rebeldes, ouvem o papai? —


Ele zombou, — qual é, Tommy… acha mesmo que ela vai pedir
permissão? Sua noivinha já tem dezoito.

Sibilei.

Fazia dois meses desde que a nossa festa de noivado havia


acontecido, e enquanto eu levantava o dossiê da Bella, —
também me perguntei se não deveria me aproximar, mas Bella
era como um animal selvagem que fugiria na menor aproximação
suspeita, e eu não ia correr o risco de ter uma relação como a
dos meus pais.

— E o que você sugere? — Perguntei e Brian sorriu.

— Sugiro que você seja mais educado, — ele pisca pra mim,
— e tenha um cugino educado e sociável, que obviamente foi
convidado pra festa.

Ergui uma das minhas sobrancelhas.

— Ótimo, eu vou com você.

Ele bufou.

— Eu não te convidei, convidei?

Sorri.

— Você quer o bordel que acabamos de conquistar, não


quer?
Brian me encarou com descrença, e eu me aconcheguei à
minha poltrona, cruzando as mãos enquanto relaxava na minha
cadeira, por que eu conhecia aquele desgraçado a tempo
suficiente para saber exatamente o que ele queria e no momento!
Brian queria muito aquele bordel. Ele queria provar que podia
ser mais do que esperavam dele e eu tinha certeza disso.

— Vai fazer isso mesmo?

Assenti.

— Ninguém foi destinado ao lugar, se você me levar na


festa do namorado da Bella… eu te dou carta branca, para
liderar o bordel. Você só precisa seguir as regras. — Expliquei e
o sorriso nos lábios dele se tornou tão largo quanto se era
possível ser.

E foi assim, que me vi tendo que trocar os meus ternos


caros, — por roupas casuais, — e até mesmo deixar meus
cabelos mais bagunçados que o comum. E mesmo assim, era
impossível que eu não me destacasse, mas no instante em que
entrei naquele casebre que o tal Charles chamava de casa, eu vi
Bella.

A minha Bella.
Tínhamos conseguido, e tínhamos chegado até o carro da
Jenny para ir até aquela festa. Mas assim que chegamos até lá, e
eu vi aquele quintal enorme com apenas uma simples grama
cortada, que tinha um pequeno caminho de pedra até a entrada,
eu me toquei que eu nunca tinha vindo até a casa do meu
namorado; tanto que quando eu entrei… aquilo veio como um
tapa na minha.

Eu logo me deparei com a sala, que como tudo ali, parecia


ser bem humilde. Possuía um sofá enorme e duas poltronas na
cor cinza, que combinam com a cor do sofá, no canto da sala
tem uma tv de led em cima de um rack na cor preto, na
prateleira de cima tem várias fotos em família, o que dava um ar
até que… aconchegante ao lugar.

Mas eu não fiquei muito tempo por ali, já que eu apenas


queria alguma coisa para beber, alguma coisa que me deixasse
alegre como aquelas pessoas que estavam dançando e sorrindo
sem simplesmente se importarem com o amanhã.

— BELLA! — Ouço uma voz masculina gritar o meu nome,


o que me fez virar junto a um sobressalto que quase me fez
derrubar a cerveja que eu havia pegado.
— Thomas... — Fiquei espantada ao vê-lo, logo aqui, na
casa do Charles. — Que surpresa? O que veio fazer aqui?

Perguntei enquanto os meus olhos percorriam por ele, por


aquele rosto que possuía uma barba impecável — como de
costume —, e cabelos jogados para trás.

— Sou eu que estou surpreso por encontrá-la aqui. — Ele


fala ao se aproximar, um sorriso brotando em seus lábios rosados
enquanto ele me puxava pela cintura.

— Thomas, aqui não somos nada. — Eu o empurro ao dizer,


até porque nós realmente não tínhamos obrigação de agirmos
como um casal. Estávamos em uma festa, completamente fora
dos olhos da mídia, e das nossas famílias.

— Isso é o que você pensa, querida. — Ele fala ao pegar a


minha mão, depositando com isso, um beijo na mesma ao se
aproximar ainda mais, — porque os homens do seu pai podem
não estar aqui, mas os do meu, estão.

Pisquei.

— Como é? — Eu questionei, não querendo acreditar que


logo quando eu acho que vou ter um momento de sossego, uma
bomba dessas caia no meu colo.

Desse jeito, eu não conseguiria conversar com Charles, e


muito menos… ter qualquer interação que fosse com ele.

— Isso mesmo que ouviu, então sim… nós temos algo aqui
também, — ele soltou de um jeito despreocupado, um que me
deu inveja.

— Só porque eu achei que tinha conseguido chegar até a


casa de Charles sem… tudo isso. — Suspirei ao jogar os meus
fios para trás, os meus olhos indo até o chão enquanto eu me
apoiava no balcão da cozinha.

— Quem é Charles? — ele perguntou, apenas para fazer


aquela expressão de quem tinha descoberto a América, — oh…
creio que eu entendi.

— Você veio em uma festa sem saber quem era o anfitrião?


— Falei com uma das minhas sobrancelhas arqueadas, —
céus…

— Meu amigo apenas me chamou, não me culpe, — ele deu


de ombros, apenas para eu ver Charles caminhando em minha
direção.

— Bella! Você veio! — Ele me abraçou, mas quando ele foi


me beijar, eu tive que dar um jeito de desviar, e apenas dar um
breve beijo em sua bochecha como forma de "cumprimento", —
e quem é esse? Você conhece? — Ele simplesmente olhou
Thomas de cima a baixo ao dizer aquilo, o que me forçou a dar
um sorriso forçado, completamente social.

— Eu também não sei, ele ia se apresentar quando você


chegou. — Menti de forma descarada para o meu namorado,
apenas para Thomas estender a própria mão, os lábios dele com
isso se arqueando.
— Thomas, muito prazer.

Eu vi os dois darem um aperto de mão breve, um que


parecia deixar claro a diferença que aqueles dois tinham.

E ela… era gritante.

— O prazer é meu, mas… você veio com alguém? —


Charles não evitou de questionar, a sua testa se franzido, —
você tem um aperto de mão forte, né?

— Sério? Sempre achei que fosse normal, — ele parecia ter


dito com certo sarcasmo, mas ao mesmo tempo… isso podia ser
apenas coisa da minha cabeça, — e sim, eu vim com o Brian.

— Ah, o Brian é um dos meus melhores amigos. — Charles


afirmou, agora tudo parecendo fazer total sentido para ele, —
bem que eu estranhei, eu tinha certeza de que nunca tinha te
visto.

— Claro que não. — Thomas apenas soltou, um sorriso de


canto brotando em seus lábios, — mas isso acabou de mudar,
certo?

Arqueei uma das minhas sobrancelhas.

Novamente, era impressão da minha ou ele… não, não tinha


como isso ter acontecido, era Thomas.

Não tinha sentido ele esnobar de Charles, certo?

— Bom, eu… vou para o toilette. — Acabei dizendo depois


daquilo, até porque… ficar entre o meu namorado e o meu
suposto noivo, que trouxe a vigília para essa festa, estava me
fazendo sentir sufocada.

— Está bem, volta logo. — Charles falou de um jeito fofo, e


Thomas por outro lado, apenas acenou com a cabeça.

Eu quase não conseguia sentir o ar nos meus pulmões


naquele momento, e quando eu finalmente consegui entrar em
um dos banheiros que aquela casa possuía, e me vi realmente
respirando.

— Isso não pode estar acontecendo, não é? — Respirei


fundo, os meus olhos vidrados no espelho que estava a minha
frente, — fala sério, quais são as chances?

Bom, não importava.

Eu tinha que me recuperar logo, eu não podia… ficar


surtando por tanto tempo, ainda mais… com os homens dos
Kuhn. Isso tudo podia por Charles em perigo.

Sendo assim, eu saí do banheiro depois de ter arrumado o


meu cabelo, e ter ensaiado tantos sorrisos falsos, que agora as
minhas bochechas doíam.

— Bella? Já está passando mal? — Eu me deparei com


Jenny assim que eu abri a porta, enquanto ela tinha um sorriso
no rosto, e zombava da minha cara.

— Eu ainda nem bebi para isso acontecer. — Ela riu quando


falei, e a minha vontade naquele momento? Era apenas de enfiar
o meu rosto em qualquer lugar que eu pudesse. — E tente
adivinhar quem está aqui.

— Eu não faço ideia. — Jenny falou com certa curiosidade


em seu olhar, apreensão, — mas pela sua cara… não é algo
bom.

— O Thomas. — Falei de modo sucinto.

— O... quem? — Ela cuspiu a bebida que tinha acabado de


colocar na boca, com uma das minhas mãos limpo os respingos
que vieram em minha direção.

— Isso mesmo que você ouviu, — suspirei, — fiquei tão


incrédula quanto você.

— Desde quando ele conhece o Charles? — Ela me


perguntou com nítida surpresa, confusão.

— Eles são amigos em comum de um tal de Brian. — Falei


com certo descaso ao massagear as minhas têmporas, — e agora?
Tem homens dos Kuhn por toda parte.

— Isso é sério? — Ela respirou fundo, até deixando a


cerveja que ela estava na mão de lado, — assim você…

— Não vai conseguir falar com o Charles? É, eu sei. — Eu


nem queria pensar muito no assunto para ser bem honesta, mas
como eu poderia, certo?

Ainda mais, quando nada naquele lugar me deixaria fazer


isso, muito menos a minha cabeça que agora estava em estado de
alerta.

— Onde eles estão agora?

— Os dois estão na cozinha conversando, acabei deixando-


os lá, falando que vinha até o banheiro.

— O pior de tudo é se os dois virarem amigos. — Eu não


sabia se Jenny estava tão preocupada quanto eu, ou apenas
tentando brincar naquele instante, — as coisas ficariam
complicadas assim.

— Eu sei, vou pedir para o Thomas se afastar, vai ser


melhor para nós três. — Afirmei, com o meu corpo logo se
movendo para ir até a cozinha. — Pelo menos até eu contar tudo
para ele.

— Deixa isso pra depois, vem dançar, você precisa se


distrair. — Jenny falou ao me impedir e me puxar pelo braço,
com isso me levando até a sala.

Música eletrônica estava tocando e ecoando pela casa, e


Jenny havia conseguido algumas cervejas para nós duas, o que
apenas me fez virar a garrafa assim que eu a abri. Eu realmente
precisava relaxar, até porque… aquilo era uma festa, e eu não ia
deixar todo aquele casamento me atrapalhar.

Até porque, eu já tinha perdido a oportunidade de falar com


Charlie, então… eu não deixaria que eles me tirassem outra
coisa.
Jenny apenas riu como de costume quando fiz aquilo —
óbvio —, e começou a dançar comigo, enquanto eu sentia a
música para a minha cabeça ir para qualquer outro lugar.

Porém, enquanto eu dançava eu senti alguém se colocar


atrás do meu corpo, as mãos vindo até a minha cintura, o que me
fez pensar que quem estava fazendo isso, era Charles. Afinal,
era o comum a se pensar, certo? E isso me fez continuar ali,
colocando as minhas mãos em cima das que estavam em cima da
minha cintura, o meu corpo e o de Charles se encaixando até que
eu sinto uma barba no meu pescoço.
— Querida, se acalme. — Ele falou junto de um tom
aveludado, — não deixe tão óbvio a sua surpresa em ser eu, está
bem? Não se esqueça… tem olhos demais por aqui.

Revolta tomou conta do meu ser, mas infelizmente… ele


estava certo. O que apenas me fez virar e ficar de cara com ele.

Ele simplesmente me olhou com aqueles olhos azuis tão


profundos como o mar, que consegue hipnotizar qualquer pessoa
que se coloque na sua frente. Um sorriso surge, e ele me puxa
para si novamente.

— O que faz aqui? E se Charles…

— Não tem problema. — Ele me interrompe ao sussurrar em


meu ouvido. — O seu namorado é fraco para a bebida.

— E o que isso tem haver? — questionei indignada, —


mesmo bêbado ele pode nos ver!

— Ele está dormindo em um dos quartos, eu o ajudei. — Ele


pareceu dizer com certo descaso, o que me fez bufar.

— Isso não importa, nós estamos mais perto do que


deveríamos, — eu comecei a me sentir culpada de certo modo,
até porque, eu estava na casa do meu namorado, enquanto tinha
que ficar literalmente colada a Thomas, aqui ainda é a casa de
Charles, então, pelo menos um pouco de limite seria bom.

— Acredite, querida, eu sei disso. — Ele ronronou, — mas a


não ser que você o queira em uma vala, eu acho melhor você
seguir o teatro.

Por que ele tinha que ter razão?

Por que eu tinha que… estar no meio disso tudo?

— Quer saber, eu quero ir pra casa. — O mau humor era


nítido nas minhas palavras, — já que você fez o favor de apagar
ele, não vejo razão para continuar aqui.
— Ótimo, quer uma carona? — Thomas logo se ofereceu, —
posso te levar até a sua casa.

— Não será necessário… — eu estava o puro desânimo ao


negar, — e outra, eu vim com a minha prima.

— Isso eu notei. — Ele olhou para Jenny que ainda estava


ali perto, — mas, você tem certeza disso? Eles poderiam achar
estranho, e quem sabe…

— Eu já entendi. — Eu só desisti de tentar insistir, o que me


fez cutucar um dos braços de Jenny, para avisar a ela que eu
estava indo embora.

De início, ela se ofereceu para me levar, mas Thomas apenas


explicou a situação para ela, o que fez a minha prima — mesmo
a contragosto — apenas me deixar ir com o meu suposto noivo.

— Primeiro as damas. — Thomas falou ao abrir a porta do


carro pra mim.

— Obrigada. — Agradeci ao entrar, e ele fez o mesmo logo


depois, enquanto olhava para os lados.

— Bom, ninguém a vista por enquanto. — Ele falou ao se


ajeitar no banco, — então, você só veio para a festa para falar
com o tal do Charles?

— Algo assim. — Dei de ombros, — ele precisava saber,


mas… eu nunca consigo dizer quando eu tenho chance, e agora
que eu tinha um juntado um pouco mais de coragem… ele
apaga.
— Ninguém mandou gostar de um peso leve. — Thomas
zombou ao rir, — ah… acho que já nos acharam.

Revirei os olhos quando escutei aquilo, o meu corpo já


sentindo o cansaço aumentar em cada centímetro dele.

— Ótimo, e o que a gente faz ago... — os meus olhos se


arregalaram, se arregalaram porque Thomas veio com tudo pra
cima de mim, e o seu rosto? Estava praticamente grudado no
meu.

— Não se preocupe, é só seguir o teatro, — ele falou ao


levantar o meu rosto com o queixo, o que me fez sentir as
minhas bochechas corarem, e o meu coração acelerar, — por que
não coloca os braços em volta do meu pescoço, huh?

Eu apenas fiz como ele sugeriu, e foi tão automático, que eu


acabei questionando a minha sanidade. E quando ele beijou
próximo a minha boca? Eu achei que eu iria explodir.

Mas o transe não durou por muito tempo, já que eu jurava


que… eu tinha visto Charles de revesgueio. Porém, assim que eu
tentei olhar direito, eu não havia visto nada.

Talvez… fosse um delírio, ou até mesmo… culpa por estar


fazendo algo assim, ainda mais, na frente da casa dele.

— Acho que… isso é o suficiente. — Afastei Thomas de


forma lenta, as minhas mãos sobre o seu peito, — agora… só me
leva pra casa, por favor.
— Claro. — Ele voltou para o próprio banco, o cinto de
segurança sendo colocado em volta de seu corpo, e eu fiz o
mesmo um pouco após.

— Eu vim escondida pra não ter os homens do meu pai aqui,


— confessei, — então, por favor… me deixe nos fundos da casa,
está bem?

— Tão romântico, tudo para não colocar o seu namoradinho


em perigo? — Ele riu, para finalmente iniciar o carro.

— Com você falando assim, parece tão tosco… — eu


suspirei, — mas então, vai me deixar nos fundos?

— Sim, eu vou. — Thomas respondeu quando começou a


dirigir, — não se preocupe, eu não estou aqui para te levar para
casa e te entregar, não sou um monstro.

Me senti aliviada ao ouvir aquelas palavras, e isso até tinha


me feito pensar que talvez… Thomas fosse uma pessoa melhor
do que eu pensava que ele era.

Claro, não conversamos muito durante o caminho para a


minha casa, mas mesmo assim, ele abriu a porta para mim de
novo quando chegamos, e até me acompanhou até o portão,
como um verdadeiro cavalheiro.

Talvez o casamento com ele não vá… ser tão ruim. Eu me vi


pensando ao subir até o meu quarto como se eu fosse uma
criminosa procurada, para finalmente conseguir tomar um banho
e apagar de vez.
Porque por mais que eu tenha me acalmado — por conta de
Thomas —, aquela noite estava bem longe de ter sido o que eu
queria, além de claro… eu não ter cumprido o meu objetivo.

Assim que eu despertei por conta do sol que chegou aos


meus olhos, o que queria dizer que o dia estava lindo, e que
talvez… esse dia que estava se iniciando, não fosse ser tão ruim
quanto o anterior, o que me deu até que certo ânimo para
começar o meu dia, e a minha rotina.

Tomei o meu tempo para me arrumar para o café da manhã,


e quando eu desci, vi apenas a minha mãe sentada na mesa.

— Bom dia, mãe. — Sorri ao dizer, e a minha mãe por sua


vez, sorriu.

— Bom dia, princesa. — Ela abriu os braços para eu me


aproximar, e quando eu o fiz, ela me deu um beijo na testa.

— Cadê o papai? — Pergunto. — E a vovó?

— O seu pai foi para a sede, e os seus avós, ainda não


voltaram.

— Gente, eles ainda não voltaram? — perguntei surpresa, —


eles devem estar aproveitando bastante.
— Mas assim que é bom. — A minha mãe falou entre risos.
— Ah! Antes que eu me esqueça, seu pai pediu para avisar que
vamos jantar na casa dos Kuhn essa noite.

— Perdão? — Eu disse, para ver se eu não havia escutado


errado, — essa noite?

— Sim. Agora somos uma família e precisamos manter você


e o Thomas perto, eles estão pensando em fazer uma viagem nas
férias e querem que você vá junto. — Minha mãe jogou aquelas
palavras para mim, e isso me fez sentir um certo…
desconforto.

Porque eu tinha passado por um inferno noite passada, por


não poder ter um momento com o meu namorado por conta dos
homens dos Kuhn, e agora isso? Eu não podia ter mais de um
momento de paz? Um momento longe… deles? E além disso,
uma viagem?

Eu iria enlouquecer, principalmente porque… isso apenas


atrasaria os meus planos de contar tudo para Charles.

— Eu não sei… — falei sem rodeios, — não é muito cedo?


— Tentei mostrar um dos meus pontos para a minha mãe, para
quem sabe… ela ter um pouco de piedade da minha alma.

— E por que seria? — A minha mãe perguntou, como se


uma viagem com uma família que eu nunca tive muito contato,
não fosse algo para se preocupar.
— Olha, eu nunca viajei sem vocês, e além disso… eu ainda
não tive muitas interações com eles, entende? — Dei uma
desculpa esfarrapada, porque naquele momento, qualquer coisa
serviria.

— Meu amor, agora você vai ter que aprender a viver sem
nós, e logo, logo… — ela suspirou, — você estará casada com
Thomas, o que vai fazer com que você tenha que conviver com a
família dele de qualquer jeito, — argumentou, como se aquilo
deixasse a situação melhor, — então, por que não começar
agora?

— Está bem… — respirei fundo já me sentindo derrotada,


até porque era nítido que nada do que eu dissesse, ia convencer
a minha querida mãe, de que aquilo era uma má ideia.

Eu não tinha para onde correr.


Eu podia ter beijado Bella naquele carro, eu podia, mas a
verdade era que eu queria deixá-la na expectativa, eu queria que
ela acreditasse naquele teatro, naquela historinha de que no fim,
eu era o único ao seu lado, porque graças a isso, eu teria espaço
em sua vida. Um espaço que o tal Charles, nunca poderia ter.
Mas o meu pai, parecia disposto a arruinar tudo, inclusive, os
meus planos.
Quando voltei pra casa depois daquela festa, eu o ouvi
conversando com a minha mãe sobre adiantarem o casamento e
tive que praticamente entrar em um confronto com ele, para isso
não acontecer.

Depois de muito tentar, eu convenci o cabeça dura de que a


melhor coisa a se fazer, era realmente eu conquistar a minha
noiva, e graças a isso, consegui manter a viagem de verão para o
vinhedo da família Kuhn.

Não era algo tão incrível, mas era o suficiente. Era um lugar
afastado que deixaria Bella longe do alcance do tal namorado,
— e claro, nos meus braços. Com ela tão próxima de mim, eu
teria tempo pra fazer as coisas acontecerem exatamente como eu
queria que acontecesse, começando, claro, por Lunna, uma
prima que cumpriria exatamente o que estava em meus planos.

— Se certifique que ela apareça, — eu falei para Brian que


me encarou como se não conseguisse me entender.

— Você não está… queimando o seu próprio filme, fazendo


isso?

Ele me perguntou e eu sorri, cruzando os braços sobre o


peito.

— Você realmente não entende nada sobre as mulheres, não


é? — ronronei, — Bella é uma italiana, meu caro… e como tal,
ela jamais iria admitir que outra tentasse roubar seu lugar, —
pisquei, — eu só preciso que ela entenda o lugar que pode ter ao
meu lado, e sinta que alguém pode tirá-lo, isso é o suficiente.
Brian bufou.

— Eu tenho pena da pobre Bella, — ele disse rindo, — por


estar nas mãos de um completo maluco.

Sorri.

— Eu não sou maluco, diria que sou um futuro marido,


muito dedicado, e se me der licença, eu preciso visitar a minha
noiva.

— O que você vai aprontar dessa vez?

Sorri.

— Nada que seja do seu interesse, — falei antes de piscar e


sair.

Eu tinha todas as peças prontas para serem usadas. O


tabuleiro estava exatamente como deveria estar, e a rainha —
Bella —, só precisava começar a se mover.
Aqueles dedos quentes subiam pela minha perna, enquanto
os olhos azuis de Thomas me penetravam de forma intensa,
deixando a minha respiração cada vez mais ofegante.

— O que você... — eu tentava perguntar, apenas para ter um


dedo em frente a minha boca, aqueles lábios rosados se
arqueando em uma meia lua perfeita.

— Querida… você sabe muito bem o que eu estou fazendo


—, senti a sua boca no meu pescoço depois que ele disse aquilo,
o seu corpo ficando mais próximo ao meu —, não se faça de
inocente.

Eu senti um calor subir pelo meu corpo naquele momento, e


quando uma de suas mãos parecia estar indo em direção ao zíper
do meu vestido, eu achei que eu iria entrar em combustão.

Pelo menos, até eu finalmente despertar, e sentir a luz do


sol chegar até os meus olhos.

Foi um sonho.

Outro sonho.

— Céus… — eu me amaldiçoei, desde aquela maldita festa,


Thomas tem povoado meus pensamentos, e se infiltrado em meus
sonhos até nos mais densos pesadelos ele está lá pra me salvar,
arrancando minha roupa e tocando meu corpo como nunca fui
tocado.

Tudo piorou após eu receber uma mensagem desconhecida,


logo após entrar em meu quarto:

Prendo a luz do abajur, não querendo alertar aos meus pais


de que eu estava acordada. O toque quente das mãos de Thomas
ainda estava sobre minha pele, e o cheiro cítrico de seu
perfurme, impregnado nas minhas roupas.

Meu celular vibra dentro de minha bolsa, o pego pensando


ser uma mensagem de Jenny avisando que chegou em casa.

[Desconhecido]: Já está deitada?

Aquele não era o número dela, mas de um número


desconhecido. Fico intrigada, porque não é fácil alguém
aleatório conseguir meu telefone, as linhas são altamente
vigiadas. Então penso que só pode ter sido um engano, até ver o
próximo texto:

[Desconhecido]: Responda querida, eu não sou muito


paciente.

Há não ser quer que você queira que eu entre

pela sua janela para ver com meus próprios olhos.

[Eu]: Thomas?
[Thomas]: Quem mais seria?

[Eu]: Como você conseguiu meu número?

[Thomas]: Eu sou seu noivo querida,

antes mesmo de você sair pela

janela do seu quarto eu já tinha seu número

assim como a sua localização.

[Eu]: Você estava me espionando esse tempo todo? Toda


aquela história de estarmos rodiados

por homens do seu clã era mentira, certo?

[Thomas]: Estou apenas cuidando do que é meu.

[Eu]: Eu ainda não sou sua.

[Thomas]: É o que veremos, querida.

E bastou isso essas poucas palavras escritas para ele não


sair da minha mente. Mas então... tem o Charles.

Eu sei que não posso fazer isso com ele, mas mesmo quando
eu consegui um tempo para conversar com ele na faculdade hoje
— porque Jenny havia ido embora mais cedo —, eu não consegui
manter um diálogo por muito tempo, porque a minha cabeça
estava a todo momento indo até Thomas. Tanto que quando
Charles me chamou para sair, eu apenas dei uma desculpa
qualquer para voltar para casa.

Eu queria apenas descansar e fingir que nem Thomas e


Charles existiam naquele momento, para ver se assim eu parava
de ter aqueles pensamentos impróprios e voltava para a minha
vida normal. Mas imagine a minha surpresa… quando eu chego
em casa, e me deparo com o carro do meu querido noivo na
garagem da minha casa.

Subi as escadas com certa pressa por conta daquilo —


porque eu não sabia muito bem por que ele estava na minha
casa, e aquilo me deu uma certa ansiedade —, mas assim que eu
abri a porta, me deparei com Jenny e Thomas rindo, como se
fossem amigos de longa data.

E aquilo? Me incomodou por algum motivo.

— Bella! — Jenny falou ao me ver, — que demora, hein!

— Não acredito que eu tenha chegado muito depois de você,


— respondi de forma ríspida, — onde estão os meus pais?

— Estão no trabalho. — Jenny responde ao se levantar,


olhando tanto para mim quanto para Thomas com um sorriso
malicioso, — vou deixar os pombinhos a sós.

Revirei os olhos quando ela soltou aquela pérola, apenas


para sentir os olhos azuis de Thomas pairando sobre mim.

— Eu… posso saber por que você está na minha casa? —


Pergunto, já sentindo o meu coração bater mais forte por conta
de não ter nem uma pista sobre o que era e também porque eu
ainda me sentia estranha quando ele estava ali. Deus. Aqueles
sonhos estavam acabando comigo!

— Por que não toma o seu tempo primeiro? Vá vestir algo


confortável ou comer alguma coisa, você deve estar exausta, —
Thomas sugeriu, e mesmo que eu apenas quisesse fazer com que
ele me dissesse logo o que queria, eu concordei.

— Está bem. Então… só um segundo. — Falei ao subir até o


meu quarto, e me deparar com Jenny em cima da minha cama,
com as pernas levantadas balançando enquanto ela mexia no
celular.

— Como foi com o seu príncipe encantado? — Jenny


pergunta assim que me vê, mas aquela cena deles rindo, não saía
da minha cabeça.

— Ele não é o meu príncipe encantado, você sabe disso. —


Eu disse emburrada, procurando algo no meu guarda-roupa para
usar, — e outra, do que vocês estavam rindo quando eu
cheguei?

— Ele estava me contando sobre o Brian. — Ela soltou entre


risos, — descobri que além de gostoso, ele também é bem
engraçadinho.

— Hum… — foi tudo o que eu me limitei a dizer, uma


sensação ruim tomando conta do meu peito.
— Não precisa ficar com ciúmes. — Jenny falou com um
sorriso travesso, claramente tentando me provocar.

— E quem disse que estou com ciúmes? — Bufei, — eu e


Thomas não temos nada de qualquer forma, não comece.

— Priminha, o seu ciúme está estampado na sua cara, — ela


fala com nítido descaso, como se aquilo fosse apenas algo
natural de se acontecer.

— Jenny, eu já tenho um namorado para ter ciúme, e esse


namorado, claramente não é Thomas Kuhn. — Falei, pegando
um vestido que era fofo e confortável de se usar em casa, o que
fez Jenny me olhar de cima a baixo.

— Se você diz… — ela deu de ombros ao se levantar, e


soltar o meu cabelo do rabo de cavalo, — bem melhor, Thomas
vai gostar.

Suspirei.

Eu acabei aceitando Jenny ficar ajeitando cada detalhe do


meu vestido e cabelo, e até os meus sapatos… ela quis dar
pitaco para escolher.

Céus! Isso não era um encontro, qual era o problema dela?

No fim, eu fui feita de boneca de novo, — antes de descer e


me deparar com um Thomas que parecia distraído enquanto
olhava para o nada, com uma das mãos sobre o queixo.

Ele parecia, literalmente, uma escultura de um deus grego.


— Você está linda, — eu o ouvi dizer, assim que notou
minha presença e eu acabei corando.

— Obrigada, — foi tudo que consegui falar, descendo o


último degrau da escada, — então… do que você queria falar,
para vir até a minha casa?

— Minha cara Bella, — ele me chamou com aquele sorriso


de canto, — você não acha que anda afoita demais?

Pisquei, sem entender.

— O quê?

— Estou falando do nosso acordo, — ele murmurou, e eu


senti meus ossos gelarem.

— O que isso tem haver com você estar aqui?

Os olhos de Thomas deslizaram pelo meu corpo e ele


indicou o lugar onde eu deveria me sentar, se colocando ao meu
lado e segurando em minha mão. O toque dele, fez uma corrente
elétrica percorrer o meu corpo, enquanto ele sorria.

— Bella… eu estou tentando te ajudar, porque como você


sabe, eu também tenho alguém de quem gosto, mas… você
realmente acha que as coisas vão ficar bem, assim?

Ele sugeriu e eu engoli em seco.

— Eu...
— Eu sei com quem você estava, Bella… — ele disse de
forma direta, — e esse não é o problema, — murmurou, e agora,
ele realmente parecia preocupado, — Eu sei que você está
acostumada à vista grossa que o seu pai parece fazer com
relação ao seu namoro, mas… quanto tempo, você acha que isso
vai durar, até o meu pai descobrir? — Thomas suspirou
profundamente e apertando minha mão, me olhou nos olhos, —
os Kuhn não são gentis com traição Bella, mesmo que esse seja
um acordo, ainda será a minha esposa e qualquer um que ouse te
tocar, terá suas mãos decepadas e a cabeça cortada.

Meu corpo inteiro gelou.

— Não!

— Fico feliz que tenha me entendido, — Thomas falou, me


dando um sorriso complacente, — eu não tenho nada contra o
Charles e espero de verdade que ele possa ser feliz, mas se você
continuar a ser tão óbvia em seu relacionamento com ele. Tão…
pública, isso realmente não vai funcionar.

Frisei meus lábios, me sentindo perdida quanto aquela


situação.

— E o que eu deveria… fazer?

— Converse com ele, querida… — Thomas disse beijando


minha mão, — eu sempre serei o seu apoio, eu estou do seu lado
Bella, e eu quero o seu bem, então… não pense que está sozinha.
Eu vou te ajudar, mas você precisa começar a me ajudar
também.
Assenti, me dando finalmente conta de que as coisas eram
mais sérias do que pareciam.

— Foi por isso que veio? — Eu perguntei e Thomas


pigarreou.

— Bom, — ele me encarou, — de certo modo, sim, mas


também admito que usei isso como uma desculpa.

Pisquei sem entender e Thomas sorriu de canto.

— O que importa por agora, é que logo virá a viagem para o


nosso vinhedo e isso é suficiente, — expliquei, — você poderá
conhecer um pouco mais da nossa família e também teremos
mais tempo para nos conhecer melhor.

Tempo.

Tempo com… Thomas.

Meu rosto queimou quando pensei nisso, — porque


naturalmente, eu me vi pensando em coisas… que não deveria.

— Certo… então, eu te vejo na viagem, — falei me


levantando rapidamente do sofá e Thomas me encarou com
surpresa, como se não acreditasse que eu o estava praticamente
o mandando embora, mas… era a verdade. — Obrigada por vir
me avisar e… me visitar.

Ele bufou.

— Não foi nada, querida, afinal… logo seremos um casal,


— ele ronronou e beijou o topo da minha mão antes de ir, me
fazendo pensar em como eu sobreviveria a maldita viagem com
a família Kuhn.

(…)

Depois daquele dia, eu não vi o Thomas de novo, — a não


ser na droga dos meus sonhos, — e agradeci por isso, de certa
forma, porque a ideia de ter que lidar com aquele homem de
sorriso afiado, me fazia perder a cabeça por alguns segundos,
mas a droga da viagem estava cada vez mais próxima e quando
enfim estava prestes a chegar, eu tive que… fazer minhas malas,
o que acabou me levando a falar com Thomas… de novo.

Eu precisava saber o que levar.

[Eu]: Oi, tudo bem? É a Bella.

[Thomas]: Olá, querida pensei que você nunca me enviaria


mensagens. Sentiu saudades?

[Eu]: Na verdade, não!

[Thomas]: Que pena, porque não vejo a hora de ficarmos


sozinhos.

[Eu]: Thomas!!!

[Thomas]: Sim, Bellisima?

Droga imaginar ele falando isso.

[Eu]: Eu sou estou meio indecisa, eu não sei o que levar


para essa viagem.
[Thomas]: Ah! Entendi. É um vinhedo na Sicília, tem praias
próximas, flores, e alguns bistrôs interessantes para se visitar.
Posso te apresentar alguns, caso tenha interesse em
gastronomia.

[Eu]: Roupas de verão?

[Thomas]: A previsão do tempo diz que vai fazer sol todos


os dias que estivermos lá, e se mudar, te garanto que podemos
comprar algo em uma das lojas.

[Eu]: Obrigada.

[Thomas]: Imagina, querida. Seria um pecado não ajudar a


minha futura esposa.

Eu sabia que ele não estava falando sério sobre isso, mas de
alguma forma, não fazia diferença, e eu me vi sorrindo para a
droga da tela do celular, enquanto borboletas pareciam voar pelo
meu estômago; e infelizmente, eu não consegui me livrar dessa
sensação até o dia da viagem.

Quando me despedi dos meus pais e parei em frente a porta


da casa de Thomas, me perguntei se não estava fazendo tudo
errado, mas a porta se abriu e um rapaz alto me cumprimentou.
Ele tinha traços parecidos com os de Thomas e eu supus que
aquele era o irmão dele.

— Oi, cunhada. — Ele disse com uma naturalidade que era


surpreendente.

— Ah! Oi. — Respondi sem graça.


— Não fomos apresentados, — Fala. — Sou o Pietro, irmão
do Thomas.

Assim que ele se apresenta, vem uma menininha correndo


atrás dele.

— Pi, onde você vai? — Ela pergunta.

— Vim ver a Bella. — Ele fala para ela, com um tom doce.
Era fofo ver aquela relação entre irmãos.

— Quem é você? — A menininha me pergunta, os olhos


brilhando com curiosidade.

— Eu sou a Bella, e qual o seu nome? — Me vi


questionando, enquanto aquela coisinha sorria de canto a
canto.

— Valentina. — Ela diz com aquele tom cantante, e eu


acabo me encantando com a menina, tem os olhos verdes, os
seus cabelos são praticamente brancos, assim como as suas
sobrancelhas.

— Que nome lindo. — Eu digo agachando em frente a ela,


para ficarmos na mesma altura.

— Você vai com a gente? — Ela pergunta sem rodeios e essa


é uma das coisas que eu amo em crianças.

— Sim.

— Bella. — Ouço a voz da Francesca, e me levantando,


encaro aquela mulher que parece mais bonita sempre que eu a
vejo.

— Oi, sen...

— Sem formalidades, me chama só de Francesca. — Ela me


interrompe, um sorriso nos lábios que torna impossível qualquer
tipo de incomodo com a forma como ela age. — Vejo que já
conheceu os irmãos mais novos do Thomas!

— Sim. — Respondi com sinceridade, — a senhora tem


filhos lindos.

Acabo dizendo e Pietro da uma risadinha bufada, que me faz


notar o que eu acabei de dizer, tornando meu rosto quente e
avermelhado.

— Pietro, cadê o Thomas? — A Francesca pergunta,


mudando de assunto e eu tenho que agradecê-la por isso.

— Acho que está no quarto, — ele fala com certo descaso e


Thomas pigarreia descendo as escadas.

— Estou aqui. — Ele diz sorrindo pra mim, — me


desculpem pelo atraso, olá. — Ele fala e segura firme a minha
cintura enquanto sela os nossos lábios.

Por um momento, eu fui pega de surpresa, mas isso estava


dentro do nosso acordo. Sermos um casal na frente da família
dele. Mas Deus… eu não podia negar que era bom sentir os
lábios dele nos meus!

Jesus! No que diabos eu estou pensando!?


— Vejo que já estão se dando bem. — O Vicente fala
quando entra na sala, me impedindo de me estender no meu
momento cheio de julgamentos próprios, — mas nós temos que
ir, todos estão prontos, não estão? — Ele pergunta, mas não
parece esperar uma resposta, porque assim que faz isso, vira
para sair para fora da casa.

Todos ali, agem com naturalidade, como se aquele fosse


apenas mais um dia, e eu acabo seguindo o fluxo.

— Não se preocupe, meu pai não morde, — ele zomba, — só


é um alemão meio frio.

Ele fala e eu acabo rindo.

— Vocês vão com o Brian. — Vicente avisa para Thomas,


ignorando totalmente a nossa conversa e Thomas assente.

— Brian? — Uni as sobrancelhas, porque mesmo


conhecendo o nome, tinha a impressão de não ter sido
apresentada para ele.

— Nosso primo. — Pietro fala com simplicidade, e Thomas


me guia para o carro.

— Não se preocupe, Brian é um idiota, mas é útil. Ele é o


meu homem de confiança, — ele explica e eu acabo entendendo.
O tal Brian de quem Jenny parecia estar falando com Thomas,
era parte da família e obviamente, parte da máfia.

Eu estava perdida em pensamentos, quando uma Ferrari


amarela, em alta velocidade, freia bruscamente e aproxima de
nós, estacionando em frente a Thomas.

— Oi família.

Um homem sorridente disse, tirando os óculos de sol do


rosto e piscando pra gente.

— Esse é o Brian. — Thomas fala com descaso, — você não


precisa perder tempo com ele, mas pode pedir tudo que quiser,
ele é obediente.

— Tommy, é maldade você apresentar o seu melhor amigo


como um empregado da sua noiva, — Brian reclamou e Thomas
bufou.

— Ignore ele, — eu o ouvi dizer e pela primeira vez,


Thomas parecia mais leve.

Vicente por outro lado, conversava com Francesca antes de


voltar até nós.

— Thomas, você dirige. O capitão está nos esperando, assim


que chegarmos ao porto, podemos zarpar, — Seu pai
praticamente ordena, seus olhos indo friamente para Brian, —
não queremos um acidente na estrada, então será você o
responsável.

— Ah tio! È stato solo una volta!¹ — O Brian reclama,


parecendo se sentir injustiçado, mas isso nem parecia ser
relevante, porque Vicente joga as chaves para o Thomas,
ignorando a reclamação e o descontentamento de Brian.
E Thomas ri da expressão do primo.

— Se não gostou, deveria ter pensado duas vezes antes de


ter aprontado, — sugeriu, como uma criança implicando com
outra.

Aparentemente, quando saía com a sua família, até Thomas


Kuhn tinha uma personalidade mais aberta e divertida.
A viagem de carro foi divertida. Thomas parecia mais leve,
conversando com Pietro e Brian que pareciam duas crianças que
não podiam perder a chance de zoar com ele. A situação toda era
tão leve, que eu cheguei a me esquecer que aquela família estava
vivendo uma fantasia que não era real. Ao menos, até Pietro
citar uma tal de Chloé e o clima se tornar… pesado.

— Já falou com ela, né? Tipo… vocês vão se casar então


tem que avisar pra Chloé, ou ela vai surtar legal, — Pietro diz
como se não conseguisse entender o silêncio que tinha se
formado enquanto Thomas estacionava o carro em frente ao
porto.

— Isso não é da sua conta, Pietro. — Thomas simplesmente


rebateu sem olhar para trás.

— Bom, eu me sinto aliviado! — Brian disse rindo, —


quando pensei que você se casaria com a Chloé, eu comecei a
me questionar se poderia abdicar do meu lugar de direito.

Ele zombou, mas de certa forma, não parecia uma


brincadeira.

— Pois é, a Bella é muito mais divertida, — Pietro falou


como uma criança, e Thomas sibilou.

— Chega desse assunto, vocês estão sendo inconvenientes!


— Falou entre os dentes.

Tanto Pietro quanto Brian, se calaram depois disso e quando


descemos do carro para embarcarmos no iate, Thomas se
aproximou, segurando uma das minhas mãos.

— Vamos? — Ele me perguntou e depois de estarmos a


bordo, quando a brisa do mar batia em meu rosto, de forma
agradável, meu noivo se aproximou e nos afastando dos outros,
falou, — sobre Chloé…

Eu o encarei.

— É a sua namorada?
— Não, — ele disse pigarreando e encarando o mar, seus
olhos pareciam perdidos por ali, — Chloé disse que já não
queria me ver.

Eu pisquei, uma parte minha, surpresa ao ouvir aquilo,


porque eu realmente não esperava que Thomas houvesse…
terminado com a tal Chloé. Não depois do que ele disse sobre
ela na nossa festa de noivado.

— Por quê? — Eu perguntei e ele me deu um sorriso de


canto. — Ela disse que depois de cinco anos, eu ainda não sabia
o que queria e que dessa forma, ela não queria continuar, — ele
disse.

— Deus… — murmurei e uma parte minha, estava triste por


Thomas, mas outra… parecia feliz, — eu sinto muito…

Thomas negou com a cabeça.

— Está tudo bem, Bella, — ele disse segurando minha mão,


— eu só, não quero falar sobre Chloé, — murmurou e eu
assenti.

Eu entendia.

Chloé parecia ter sido importante para Thomas e me dar


conta disso, fazia algo doer em meu peito.

Depois daquela conversa, Thomas retornou ao estado


anterior e quando finalmente chegamos ao porto e descemos do
iate, junto das nossas malas, havia empregados esperando para
nos levar.
— Eu senti falta desse lugar, — Pietro disse enquanto se
espreguiçava e Brian riu.

— Você nem sairia daqui se pudesse, — zombou, e Thomas


bufou, porque no fim, todos ali pareciam gostar da Sicília e do
ambiente onde iriamos passar os próximos dias. E eu certamente
entendia o porquê.

A água era cristalina e azulada ao mesmo tempo, com aquele


tom vivo que te fazia sentir-se bem. A brisa em seu rosto era
refrescante e trazia paz, mas era a música ao fundo, de artistas
que pareciam estar por todos os lados na Sicília, que fazia tudo
se tornar ainda mais mágico.

As flores nas pequenas barracas, os caminhos de pedras


angulares que se estendiam como em um conto de fadas, e claro:
as casas, tapetes, as roupas penduradas. O sorriso no rosto das
pessoas, tudo na Sicília, parecia mais bonito, mais pacífico.

— Andiamo! Voglio cambiarmi e fare una nuotata prima che


scenda la notte!¹ (Vamos! Quero me trocar e dar um mergulho
antes que anoiteça! ) — Pietro disse parecendo animado e
quando me vi encarando as janelas grandes da casa que eles
tinham na Sicília, não pude evitar de pensar no quão agradável
seria estar ali… mais vezes.

As paredes brancas, as pilastras de gesso, a piscina de água


cristalina, as árvores que se espalhavam pelo lugar e as flores.
Havia flores por todos os lados, no caminho até a praia e em
volta da varanda. Árvores floridas que lembravam cerejeiras.
— Gostou? — O Thomas pergunta, com uma das mãos
posando atrás das minhas costas.

— É lindo, — eu falei por instinto, mas era a verdade.

— Ainda tem mais. — Ele afirma, com um sorriso orgulhoso


nos lábios, — Você vai se surpreender com a Sicília, esse lugar
é… incrível e dizem também que é um ótimo lugar para se
encontrar novos amores, — sugeriu, mas com um sorriso de
canto, desconversou, — vamos, vamos trocar de roupa, e eu te
mostro tudo depois.

Eu senti vontade de perguntar, de questionar Thomas, mas


uma parte minha, preferia deixar assim, então me concentrei em
responder um simples e singelo.

— Ok.

Eu já estava maravilhada apenas com a frente da casa e


quando cheguei na parte de trás, quando vi aquela varanda
gigantesca com a vista pro mar… Deus. Era divino. Mas a
decoração interna, os moveis praianos, o modo como tudo
parecia rústico e elegante, dava um ar aconchegante, embora
obviamente mantivesse o tom sério da família Kuhn.

— Então Bella, o que achou da sua casa pelas próximas


semanas? — Francesca me pergunta e eu acabo sorrindo.

— Linda. — Falei me aproximando dela, — você tem um


gosto impecável pra decoração.
— Você é muito boa com adulação! — Ela disse rindo, —
mas vamos, eu vou te mostrar qual vai ser o seu quarto.

Eu abri a boca para responder que sim, mas Thomas tomou a


frente, falando para ela.

— Eu levo a Bella, pode deixar Mamma, — estendeu um


braço para mim sorrindo.

— Então tá! Vou aproveitar para dar um banho na Valen,


está muito quente por aqui, — Francesca falou e de certa forma,
me pegou de surpresa, porque eu não esperava que com a
quantidade de empregados ali, ela fosse mesmo cuidar da
própria filha.

Claro.

Minha mamma sempre fazia isso, mas era diferente. Ela era
diferente.

Eu tinha consciência que mulheres como Francesca, não


tinham o mesmo costume.

— Vamos. — Thomas segura uma das minhas mãos. — Eu


vou te guiar.

Seguimos nós dois pela casa, enquanto ele me ditava onde


ficava cada coisa e subíamos as escadas para o corredor que
levava aos quartos.

— Esse é o quarto do Pietro, e esse é o do Brian, esse é o da


Valen, — ele apontou para cada uma das portas enquanto íamos
andando. — E esse é o seu. — Thomas falou, parando em frente
a uma das muitas portas brancas, mas essa, diferente das outras
que tinham adesivos ou rasuras na madeira, estava impecável. —
E claro, no final do corredor é o dos meus pais... Ah! E a última
porta a direita é o banheiro social, mas todos os quartos são
suítes, então não se preocupe quanto a isso. Se precisar de
alguma coisa, pode chamar uma das funcionárias e sempre pode
me chamar, claro.

Ele explicou e eu o encarei, porque de todos os quartos


citados, ele havia se esquecido de um.

— E o seu? — Perguntei por impulso e Thomas sorriu,


abrindo a porta do meu quarto para mim e ficando ali, parado na
porta.

— O meu o quê?

Tenho certeza que ele se faz de desentendido, mas sobre a


minha cama, já estava a minha mala e isso me deixou com um
humor um pouco melhor, então apenas entrei, deixando Thomas
para trás e ele pigarreou, ainda na porta, me fazendo olhar para
ele.

— Bella. — Thomas me chama, — eu sei que você não


queria vir para cá, mas eu te garanto, vai ser divertido. E bom,
você sabe, nós dois precisamos parecer mais próximos, então
espero que esteja preparada.

Ele sugeriu e um arrepio me percorreu, só de imaginar o


toque dos dedos dele pelo meu corpo, fazia meu rosto corar com
a simples memória daqueles sonhos.

— Eu sei. — Tento não gaguejar, mas é difícil a esse ponto


do campeonato e Thomas sorri pra mim, como se tentasse me
consolar.

Deus, se ele soubesse as coisas impuras nas quais eu ando


pensando!

— Vamos para a praia? — Ouço a voz do Brian de fundo,


parecendo falar do corredor e Thomas bufa como se não quisesse
ouvir ele.

— Ta bom, só vamos nos trocar antes, ninguém aqui é


selvagem igual a você, — Thomas diz com um tom zombeteiro.

— Não consegue ficar um minuto longe da sua noiva? —


Brian pergunta com aquele tom cheio de zombaria que parece
fazer Thomas querer espancar ele até a morte. A relação deles
dois, parecer realmente boa.

— Vou me trocar, sugiro que vista algo praiano, — ele disse


se virando pra mim e ignorando o primo, e isso me fez rir. Mas
com praiano, ele queria dizer um biquini? Deus, eu sabia que
teria que usar, mas admito que não pensava que precisasse por
um tão cedo.

Eu não tinha tido muitas experiencias do gênero e como


nunca tive muitos amigos, jamais tinha ido a praia em fins de
semana ou férias. No fim, eu me vi encarando a minha mala,
com os biquinis e as roupas de praia que a minha mãe a Jenny
tinham enfiado de última hora, já que eu sinceramente não fazia
ideia do que trazer para usar.

Eh... Bella! É isso que dá não sair mais com os amigos.

Sim! Eu só viajo com os meus pais, ou seja, sempre estou na


minha zona de conforto, se não sei o que vestir, sempre peço
opinião para a minha mamma ou para a Jenny, só que agora…
não tinha essa opção, e eu sabia que depois de me casar com
Thomas, mesmo que por 2 anos, eu não teria essa opção.

Pensei em perguntar para Francesca o que usar, mas no fim,


me vi querendo saber a opinião de Thomas. Porque no fim,
quando se tratava de me sentir familiarizada com algo, era ele
que vinha a minha mente, — a ligação que parecíamos ter criado
desde a nossa festa de noivado.

Thomas era confiável, era gentil, doce… — e eu realmente


queria ter uma boa amizade com ele. Eu saio do meu quarto com
esse pensamento e me lembrando de ver Thomas entrar no
quarto em frente ao meu, eu bato na porta, enquanto ouço as
vozes de Francesca e Valen, conversando no quarto do lado.

— Entra. — Ele fala com simplicidade e eu abro a porta,


dando dois passos para frente, já entrando no quarto, sem sequer
levantar o olhar.

— Thomas, eu... —, simplesmente não consigo continuar


falando, eu sinto o meu rosto esquentar ao ponto de parecer
prestes a explodir e ele me encara com uma expressão risonha de
quem não estava nem um pouco preocupado com o fato de eu
estar vendo-o… completamente nu.

— Bella... Achei que era o Brian, — ele disse de forma


descontraída e eu cobri meu rosto com uma das mãos.

Ele estava nu! Meu Deus! Como ele conseguia não se


importar!? E MEU DEUS! Como ele pode ser tão grande!?

O corpo de Thomas já parecia incrível antes, mas agora, eu


podia ver ele com perfeição. Aquele peitoral e abdômen
definito, cicatrizes pequenas pelos ombros e quadril. Uma
tatuagem descendo pela lateral do seu corpo.

Céus.

Era como se Charles parecesse uma criança perto dele.


Agora, em todos os sentidos.

O celular de Thomas começa a tocar, me tirando do meu


devaneio, e a minha mente começa a girar. Eu sou virgem, mas
não idiota, eu sabia bem como o meu corpo funcionava, e sabia
ainda mais, que eu não deveria me sentir da forma como estava
me sentindo, ao ver Thomas daquele jeito.

— Me desculpa, — Eu falo saindo do quarto sem dar


chances a ele de me responder. Porque tudo que eu queria era
fugir pro meu quarto, e quando entro nele, eu bato a porta com
força atrás de mim, e me permito descer, com uma das mãos
sobre a boca, o rosto em chamas, enquanto me julgo
mentalmente.
Ah, meu deus!

Como eu vou olhar para ele depois do que aconteceu?

A minha vida estava se tornando uma verdadeira novela


mexicana e eu sinceramente não fazia ideia do que eu estava
fazendo dela, e agora, fazia ainda menos ... do que eu sentia
pelo meu suposto noivo.
As coisas estão indo rápido demais, já não estou sentindo
tanta falta do Charles como antes e isso começa a pesar em meu
peito. Eu queria tanto acreditar que tudo estava como
antigamente, mas a verdade era que desde a noite do meu
noivado, o meu mundo girou e eu me sentia perdida e cheia de
novas sensações.

O beijo do Thomas era diferente, e a forma como me fazia


me sentir, era completamente novo, e mesmo que uma parte
minha achasse que podia conviver com isso, outra pensava que
talvez… não fosse esse o caso.

Eu não sei... a única certeza que tenho, é que estou confusa.


Confusa sobre o casamento, sobre Charles, sobretudo. Ainda não
sei bem como me comportar depois que eu vi Thomas pelado.
Aquilo foi… algo difícil de lidar, mas ainda assim, eu coloquei
o meu biquini e pegando uma saída de banho, coloquei sobre
ele, me sentindo mais confortável e também, mais livre.

A sorte era que Francesca e os outros estarem ali dava uma


imagem mais familiar para aquela viagem, e quando todos nós
descemos para a praia, e pude ignorar o contato direto com
Thomas; mas ainda assim, eu observei enquanto ele tirava sua
camisa e junto de Brian e Pietro, se preparavam para entrar na
água.

— Sabe nadar? — Ele me pergunta, virando em minha


direção e eu acabo sorrindo, quase que no automático, porque
desde então… era essa a minha reação para ele.

— Sei… — eu falo tentando voltar ao normal e Thomas


estende a mão para mim.

— Vamos entrar na água então? A essa altura, deve estar


bem gostosa, — ele sugere e eu não consigo dizer não. Eu tiro
minha saída de praia e sinto os olhos de Thomas pelo meu
corpo, delineando cada curva, cada pedaço. Como se ele
quisesse se lembrar de cada detalhe.
Eu sinto meu rosto corar enquanto o olhar dele queima
minha pele, parecendo notar, Thomas me puxa para perto, para
entrarmos na água e eu acabo rindo, e tropeçando pela areia
molhada da praia, me vejo perdendo o equilíbrio, e caindo sobre
Thomas.

Ele ri e me segurando junto ao seu corpo, me olha


profundamente, — os cabelos loiros bagunçados, molhados, — e
aqueles lindos olhos azuis, me encarando como se o mundo
inteiro estivesse em seus braços.

— Você não acha que estamos ficando cada vez mais


próximos? — Eu acabo perguntando e ele me olha com um
sorriso de canto.

— E você não gosta? — Ele me devolve a pergunta, sem ao


menos se dar ao trabalho de nos afastar.

— Você tem a Chloe, não tem? Sei que disse que


terminaram, mas… — Eu enfim, cheguei no assunto que uma
parte minha, ainda queria saber.

— Eu sabia que você não ia esquecer isso, — Ele diz e seus


braços me soltam, me libertando e me permitindo me levantar.

— Thomas, — Eu o chamo e ele me encara, — você não a


ama?

— Bella… — ele diz erguendo-se e estendendo outra vez, a


mão para mim, — venha, vamos caminhar um pouco, eu vou ser
sincero com você, vou contar tudo, porque eu não quero que
haja mentiras entre nós. — Ele fala e quando eu seguro em sua
mão e começamos a andar, Thomas pigarreia antes de contar. —
Já tem alguns anos que eu conheço a Chloe, nos dois nos
conhecemos na faculdade...

— Vocês cursam o mesmo curso? — Pergunto e ele nega


com a cabeça.

— Não, mas frequentamos a mesma instituição, — ele


explica de forma lenta, — Chloé é uma garota inteligente e
embora seja mimada e tenha sido acostumada a ter tudo que
deseja, ela não é uma pessoa ruim, — ele falou e eu me senti
incomodado com a forma como ele a pintava, — nós acabamos
nos mesmos ciclos sociais e a conversa fluiu, quando me dei
conta, estávamos envolvidos e acabamos unindo o útil ao
agradável.

Pisquei, sem entender.

— O que quer dizer com isso? — Perguntei realmente


curiosa e ele sorriu de canto.

— Nós estávamos atraídos um pelo outro… — Thomas


explicou, — e nenhum de nós, estava preso a um
relacionamento, foi apenas natural.

— Ah… — eu soltei e senti algo se revirar em meu


estômago, — e aí… começaram a namorar?

— Não exatamente, — Thomas disse deslizando uma das


mãos pelos cabelos, — Chloé… bom, eu não queria por ela em
perigo, — ele falou de forma meiga, o que fez um nó se formar
em minha garganta, — nós dois sabemos como o nosso mundo
funciona, Bella. Ela não é como você e nunca estaria a salvo, a
não ser que realmente se tornasse a senhora Kuhn, e mesmo
assim, ainda teriam perigos rondando a sua vida.

— Então você nunca a assumiu… — murmurei e Thomas


assentiu.

— Mas Chloé é uma mulher difícil, — ele disse com a voz


baixa, — quando disse que me amava e eu não respondi, ela…
disse que não queria me ver de novo. Não até que eu tivesse me
resolvido.

Eu o encarei, meus olhos fixos em Thomas, o fato dele estar


sem camisa, não me ajudava a me concentrar, mas eu poderia
lidar com isso.

— Por que você não disse que a amava? — Eu perguntei,


sentindo uma “esperança” cintilar em meu peito, uma esperança
que não deveria estar ali.

— Porque eu não sei se eu a amo, — Thomas soltou e eu


arregalei meus olhos com surpresa. Ele realmente não tinha dito
que amava Chloé, mas uma parte minha, apenas havia acreditado
que sim, que o que ele sentia… era amor.

— Você… não sabe se a ama? — Perguntei, — como pode


não saber?

Thomas parou e soltando minha mão, me encarou.


— Bella. Como você sabe que ama o Charles? — Ele me
perguntou e agora, seu tom era sério e seus olhos me encaravam
como se pudessem decifrar minha alma, — eu tentei descobrir se
o que eu sentia pela Chloé era amor, mas… sinceramente?
Depois de três anos, eu ainda não conseguia dizer para ela que
eu a amava e quando eu te vi naquele dia… no dia em que você
foi prometida a mim em frente a tantas pessoas, eu senti o meu
coração vacilar.

Eu pisquei, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Como?

— Você me ouviu, — ele simplesmente me respondeu e sem


esperar por mim, começou a andar, me deixando para trás.

Eu não sabia o que sentir, não sabia o que falar e por mais
que eu quisesse ir atrás dele e questionar, — eu não sabia… o
que perguntar. Eu tinha me apaixonado por Charles aos poucos,
pelos detalhes que envolviam ele e a mim, e pela forma como
ele sempre parecia um príncipe encantado, saído de um conto de
fadas.

Mas agora? Deus, eu estava confusa, porque com Thomas


Kuhn, tudo parecia um turbilhão. Era selvagem, direto, me
levava a loucura em segundos. Eu queria estar com Thomas,
queria sempre ver seus olhos em mim, e quando aquela corrente
elétrica passava pelo meu corpo com o mais simples de seus
toques, eu sentia que estava prestes a flutuar.
Frisei meus lábios me dando conta da diferença entre eles, e
enquanto observo todos conversando e se divertindo, me dou
conta de que… eu preciso tomar uma decisão. Eu preciso
escolher, entre Thomas e Charles.

O meu namorado fofo e gentil, meu príncipe encantado que


talvez… nunca entendesse o mundo onde eu nasci, — ou o meu
noivo. Destinado a mim por um acordo entre nossos pais, um
homem que sabia exatamente como eu me sentia e que além de
me entender e me apoiar, parecia ter sentimentos por mim.

Chloé era tudo que havia entre Thomas e eu, mas ele havia
acabado de me falar… que não a amava.

— Eu vou enlouquecer, — grunhi, sentindo minha cabeça


girar, e depois de ceder ao chão e me ver ali, encarando o mar
até minha barriga roncar, eu procurei por Thomas pela praia, até
encontrá-lo no lado leste, sentado com sua mãe e Valentina.

Vincent estava sentado em uma cadeira de praia, no deque


que ficava próximo a praia, com um tablet em mãos, obviamente
trabalhando, e os outros garotos, voltavam de mais um
mergulho.

Eu fiquei observando aquela família de longe, aquela


família que podia ser minha, caso eu escolhesse Thomas, e me
dei conta de que… eu não sabia nada sobre Charles. O meu
namorado que tinha estado comigo no último ano, era um
completo desconhecido, e até mesmo o noivo que eu via agora,
com sua família ao lado e uma máfia para comandar… estava
mais próximo de mim.
Como isso podia soar tão estranho?

Como eu nem mesmo me dei conta disso antes?

Vencida pela fome, eu me levantei dali, e mesmo com a


minha mente a mil, fui em direção a Francesca e Thomas, onde
alguns funcionários haviam deixado sucos, tortas e sanduiches.

— Está com fome, querida? — Francesca pergunta, assim


que seus olhos encontram os meus e eu me sinto levemente
acolhida.

— Sim, — eu disse com simplicidade, me juntando a eles no


deque, enquanto olhava para Thomas com Valen, que agora,
construíam um castelo de areia. Perto da irmã, Thomas perdia
sua postura perfeita e rígida, e adotava um sorriso gentil, ele
tomava cuidado com as coisas em torno de Valentina e quando
me dei conta, eu estava sorrindo ao observá-los, pensando que
Thomas Kuhn… seria um ótimo pai.

— Eu pedi sanduiches e bolo, porque as crianças sempre


gostaram, mas você pode me dizer se quiser algo em específico,
vai demorar só uns minutinhos pra ficar pronto, — Francesca
falou com um sorriso e eu peguei de volta a minha saída de
praia, vestindo-a enquanto me sentava ao lado dela.

— Obrigada, um sanduiche está ótimo, — digo pegando um


dos muitos sanduiches naturais, e Francesca, notando meu olhar
sobre Thomas, pigarreia.
— Tommy sempre foi ótimo lidando com os irmãos, — ela
diz, sorrindo pra mim, — eu fiquei feliz ao ver que ele não
mudou, mesmo depois de todos esses anos. Quando Tommy
começou a se envolver nos negócios da família Kuhn, eu tive
medo, — ela me confessou e eu me senti mais íntima daquela
mulher, que antes, era apenas uma figura distante, — eu tive
medo de que o meu filho, o meu menino… se perdesse, mas
Tommy conseguiu o que poucas pessoas conseguem, — falou, —
ele conseguiu separar a sua gentileza e amor, do quão duro e
sombrio ele precisa ser para sobreviver ao submundo.

Assenti, porque eu sabia que era verdade. Eu tinha


conhecido ao menos um pouco de Thomas e isso era suficiente
para encarar a realidade: Thomas era definitivamente, diferente.
Mas… a pergunta que ficava era, isso era suficiente?

Eu tinha sonhado com um príncipe encantado, tinha sonhado


com uma vida diferente da que eu teria ao lado de Thomas, e eu
verdadeiramente queria me casar com alguém que eu amasse de
todo o meu coração. Eu queria estar ao lado desse alguém e ser
verdadeiramente feliz ao lado dessa pessoa, mas eu não sabia
mais se essa pessoa era Charles, e certamente, não sabia se essa
pessoa, era ou um dia seria… Thomas Kuhn.
Bella podia se enganar ao pensar que ainda tinha interesse
naquele tal Charles, — mas eu sabia que não era verdade, — e
agora parecia cada vez mais óbvio o quanto ela estava se
entregando aos sentimentos que surgiam por mim.

Normalmente, eu preferiria que em nosso relacionamento,


não houvesse o menor sinal de envolvimento romântico, mas se
a mulher com quem eu iria me relacionar, era Bella, a coisa
mudava de figura.
Eu não a amava e não poderia dizer isso para ela, sem estar
mentindo, mas fazê-la me amar, era a forma mais segura de
manter o nosso casamento intacto, — e no fim das contas, Bella
apenas ganharia com tudo isso, — já que ela teria um marido
exemplar, que sempre iria se esforçar para mantê-la feliz.

Eu tinha consciência de que Bella não poderia ignorar o que


eu disse na praia, e que os sentimentos dela por mim, viriam à
tona, mais cedo ou mais tarde; então agora, o que restava, era
deixar que ela se entendesse com os próprios sentimentos, e
claro, usar Lunna, para acelerar o processo.

Assim que o dia amanheceu, eu vi o carro do meu tio Paul


estacionar em frente à nossa casa, — e isso queria dizer, que os
meus planos estavam correndo assim como eu esperava que
acontecesse, — com perfeição. Eu saí do meu quarto, ouvindo o
burburinho lá embaixo e quando bati na porta do quarto de
Bella, não obtive respostas e acabei entrando.

Ela podia ainda estar acostumada a dormir até um pouco


mais tarde, mas infelizmente nessa família, não deixava passar o
costume de que todos tinham que estar presentes no café da
manhã —, porém para minha surpresa, — quando abri a porta,
Bella não estava na cama, e em seu celular, eu vi uma
notificação brilhar na tela com uma mensagem de Charles.

[Jenny]: Bella, você poderia me responder?


A mensagem estava cortada, mas eu sorri enquanto encarava
aquela notificação. Eu não fazia ideia do que tinha acontecido,
mas saber que havia desentendimentos no paraíso, era o
suficiente pra mim.

— Thomas?! — Ouvi a voz de Bella que parecia surpresa ao


me ver e eu ergui meus olhos para encará-la. Seu corpo parado
na porta do banheiro, o rosto corado —, o que você faz aqui?

— Bati na porta, mas quando não tive resposta, pensei que


ainda dormia e entrei para te acordar —, eu acabei dizendo de
forma sincera — me perdoe pelo incomodo —, falei e
pigarreou.

— Não, eu só… — Bella franziu os lábios, como se não


soubesse bem o que responder, — pode me esperar um pouco?
Eu só vou me vestir e… nós podemos descer.

— Claro, vou te esperar no corredor, — falei e com um


sorriso de canto, virei meu rosto de lado, para encará-la, quando
estava prestes a sair —, a não ser que você queira alguma ajuda
para se vestir.

— Thomas! — Ela gritou e eu ri, saindo do quarto e


fechando a porta atrás de mim. Bella era adorável e se não fosse
por eu ter sido escolhido como seu noivo, ela poderia ter uma
vida comum e mediana, como desejava ter ao lado do tal
Charles, mas agora era tarde demais.

Ela era minha, e eu só precisava que ela se desse conta


disso, para enfim termos o nosso final feliz. Bella seria minha
esposa e mãe dos meus filhos, porque ela era a mulher perfeita
para estar ao meu lado.
Eu gostaria de dizer que descansei bem, mas a verdade era
que eu mal dormi. Minha consciência estava pesada graças a
toda aquela bagunça e a forma como Thomas tinha falado com
tanta naturalidade sobre os próprios sentimentos.

Mas de qualquer forma, o que estava feito, e não era algo


que se podia mudar, — sendo assim, — eu me espreguicei, me
dando por vencida e decidindo tomar um banho para despertar
de vez.

Eu me enfiei naquela água quente que parecia estar me


trazendo de volta a vida, mas assim que eu saí dela, enrolada em
uma toalha, me deparei com o motivo da minha insônia, Thomas
Kuhn.

Ele estava parado, olhando para minha cama, até me ouvir


chamá-lo por seu nome, e para piorar… ele sorriu pra mim com
aquele olhar cheio de segundas intenções, antes de sugerir que
iria me ajudar a me vestir.

Deus.

Ele queria me enlouquecer, não queria?

Quando a porta do meu quarto se fechou, eu grunhi de


frustração e sentada na cama, vi meu celular vibrar enquanto
Charles me ligava, pela quinta vez desde que cheguei a Sicília.
Eu queria tanto poder falar com ele, mas… eu não tinha forças
pra isso, e sinceramente, nem sabia o que dizer.

As mensagens não pareciam parar de chegar e quando vi


acumularem uma após a outra, me dei por vencida, — até
porque, seria bem pior se outra pessoa as visse por acidente, —
então pigarreando antes de atender aquela ligação, eu deslizei
meus dedos por meus cabelos ainda bagunçados, antes de falar.
— Alo?

— Bella? Aconteceu alguma coisa? — Ele me perguntou e


sua voz do outro lado da ligação, parecia preocupada.

— Charles… não eu estou bem, — falei sentindo um nó se


formando em minha garganta.

— Você não me respondia, eu comecei a me sentir


preocupado…

— Eu estava… ocupada, — falei e de certa forma eu não


estava mentindo, — acabei tendo que viajar.

— Você não me disse nada sobre viajar… aconteceu alguma


coisa?

Droga.

Por que ele tinha que fazer tantas perguntas?

— Não, eu só tive que viajar de última hora com os meus


pais, — murmurei e ele pigarreou.
— Bom, pelo menos agora faz sentido, eu fui até a sua casa,
mas a Jenny me disse que você não estava lá.

Pisquei.

— Você o quê?

— Eu estava preocupado com você, Bella.

— Charles! Você não pode só ir à minha casa assim! —


Falei me sentindo irritada com aquela atitude. Mesmo com tanto
tempo juntos, Charles nunca tinha sido tão invasivo e
impaciente. O que diabos estava acontecendo com ele?

— O que você tem, Bella? O que tem de errado em ir à casa


da minha namorada? — Ele perguntou parecendo bravo e eu me
senti completamente frustrada.

— Céus! — Grunhi, — eu volto depois do feriado, não seja


tão exagerado, — acabo dizendo e ele bufa do outro lado da
linha.

— Certo, Bella! Eu sou o exagerado, não é? Você nem


sequer se deu ao trabalho de responder as minhas mensagens e
me dizer que ia viajar. Eu sequer ia saber disso, se não fosse
pela Jenny? — Perguntou de forma incisiva, — você ao menos
pensou me apresentar pros seus pais?

— Olha Charles…

— Chega, Bella… — ele diz parecendo cansado, — eu não


entendo você. Não entendo por que continua comigo. Você diz
que me ama, mas não age assim. Você continua arrumando
desculpas e me excluindo da sua vida. Ao menos admita, você
tem vergonha de mim, não é? Isso tudo é porque eu sou pobre.

— Pelo amor de Deus Charles! — Falei já me irritando com


ele, — eu não me importo com você ser pobre, eu só…

Eu só não posso falar. Eu só não posso te colocar em perigo!


Eu só… estou tentando te manter em segurança!

Droga.

— Só o quê, Bella? Ao menos uma vez me fale algo até o


fim! — Charles reclamou e eu grunhi.

— Eu não posso, não por ligação. Quando eu voltar, a gente


conversa, — eu falei e sem esperar que ele me respondesse,
desliguei.

Porra!

Charles parecia estar mudando de uns tempos para cá, me


pressionando mais, — eu gostava de pensar que não, mas era a
verdade, — e eu sei bem que o que tinha acontecido com ele, era
em partes, minha culpa. Eu adiei tanto, eu menti tanto, porque
não pude contar a ele a verdade sobre mim, sobre a minha
família e sobre o fato de que tudo que ele seria na minha vida:
um amante.

Jogo meu celular na cama, frustrada e me levanto para me


arrumar. Eu estava cansada de tudo isso e tinha um café da
manhã para comparecer.
Quando Bella saiu de seu quarto, eu a acompanhei
gentilmente até o andar de baixo, onde toda a família parecia
animada com a chegada dos convidados, “inesperados”.

— Was für ein faszinierendes Mädchen.¹ (Que moça


fascinante.) — O meu tio Paul diz, com os olhos fixos em Bella,
que me encara, sem saber o que ele estava falando e isso me faz
sorrir de canto.

— Sim, tio Paul, ela é, — eu respondo, e Bella aperta sua


mão em meu braço.

— Paul! Essa é Bella, a noiva de Thomas, — minha mãe


apresenta Bella, e a minha doce noiva, dá a ele, um sorriso
singelo.

— É um prazer conhecê-lo, Paul…

— Sim, certamente um prazer, — meu tio completa e vejo


Lunna saindo de trás dele, com os olhos afiados que deslizam
dos pés à cabeça de Bella.

— Deus… realmente é um prazer! Eu nunca pensei que o


Tommy teria uma noiva tão linda! — Lunna falou e com um
sorriso de canto, sugeriu, — quer dizer, a não ser na época em
que dizíamos que iriamos nos casar.
— Lunna, querida… a noiva do Thomas pode acabar
entendendo tudo errado se você falar dessa forma, — meu tio
disse com aquela risada bufada, e Lunna arregalou os olhos com
incredulidade.

— Meu Deus, papai! Claro que não! Não é Bella? Ela sabe
que estou brincando, afinal, Tommy e eu éramos crianças! —
Ela falou, com aquele tom inocente que só Lunna conseguia ter,
os lábios rosados, os olhos felinos.

— Claro, — Bella disse nitidamente a contragosto, —


entendo.

— Então, para quando é o casamento? — Lunna pergunta, e


o tio Paul ri.

— Querida, não se lembra? Recebemos o convite para o


casamento do Tommy. Será ao fim do outono, — ele disse e
Lunna encarou Bella com um enorme sorriso nos lábios.

— Será lindo! Como estão os preparativos? — Ela pergunta


e se aproximando de nós, segura uma das mãos de Bella, — se
precisar de ajuda, pode me chamar, sou parte da família,
afinal.

Bella sorri para ela, mas sua expressão não parecia


condizente com o seu sorriso.

— Vamos tomar café antes que esfrie? Eu vou pedir a


empregada para trazer mais talheres e pratos, — minha mãe fala,
pigarreando e tentando tirar a atenção de Lunna e Paul.
— Anda Charles... — A minha irmã me apressava pela
quinta vez e eu estalei a língua no céu da boca, já sem
paciência.

— Já estou indo. — Falo mal-humorado, indo em direção ao


nosso carro.

— Já sabe o que fazer, não é? — Ela me pergunta enquanto


dirigi para o meu novo colégio, onde eu passaria meu último ano
do ensino médio, e onde havia entrado com muito esforço.
— Sim, eu sei. — Murmurei.

Nós tínhamos acabado de nos mudar, bem depois dos nossos


pais morreram num acidente de carro, que praticamente arruinou
as nossas vidas. Desde então a Jess cuidava de mim, e éramos
apenas nós dois.

Foi algo bem natural na verdade, — porque depois de se


meter em muitas confusões, — ela apenas decidiu que
deveríamos mudar. E agora, eu estava prestes a começar a
estudar em um daqueles colégios de playboyzinhos.

Tudo que tive que fazer foi uma prova, e acabei por
conseguir metade da bolsa, e quando Jess pesquisou sobre o
colégio, ela selecionou algumas meninas para que eu me desse
bem. E isso era para o “bem do nosso futuro”, de acordo com
ela.

— Você é o único que pode nos salvar. — Jess falou pela


quinta vez, naquele dia. — Qualquer casamento, já nos ajuda,
você sabe.

Para a Jess o dinheiro é tudo, e talvez seja pelo fato de que


nós já fomos ricos. Claro, o nosso pai fez o favor de passar tudo
para a sua amante, e assim, nós dois acabamos ficando pobres.
Até porque, logo em seguida, veio o acidente, e a única coisa
que nos restou, foi uma casa abandonada e o carro de Jess.

— Irmã, está tudo bem, eu já entendi... — Falo beijando sua


bochecha antes de descer do carro e me preparar para meu
primeiro dia, porque no fim, Jess era a coisa mais importante pra
mim e eu realmente faria tudo por ela.

Os dias naquele colégio foram se passando, e eu não


demorei para fazer novas amizades; e claro que eu comecei com
a Jenny, que me ligou diretamente a Bella. Eu sempre a achei
fofa, mas não era mais nada que isso, contudo, para minha irmã,
Bella era perfeita para mim, e colocou na minha cabeça que eu
tinha que conquistá-la a todo custo.

Foi… normal, eu acho. Porque Jess acabou descobrindo que


a família de Bella, era podre de rica. E o objetivo, era eu me
casar com ela e tomar posse da empresa dos seus pais. Pois de
acordo com Jess, é assim que funcionam com famílias ricas.

Eu me preparei por meses, para conseguir pedir Bella em


namoro de forma adequada, e quando Jess ficou sabendo que
Bella tinha aceitado o meu pedido de namoro, — ela ficou me
enchendo, — e dizendo que eu precisava conhecer os pais da
Bella, que isso era fundamental para que eu me tornasse de
confiança e recebesse a posse das empresas.

Claro, essa parte era bem mais complicada, — porque de


acordo com Bella, — seus pais eram bem fechados no trabalho.

O único problema, era que depois que entramos na


faculdade, Bella pareceu se distanciar. De início eu pensei que
era bobagem, que era coisa da minha cabeça e que a rotina dos
estudos havia falado mais alto, mas agora eu via que não. A cada
dia que se passava, Bella se distanciava mais e mais, ao ponto
de começar a nem mesmo querer estar ao meu lado depois das
aulas, e sempre ter uma boa desculpa para voltar para casa. Não
demorou muito pra minha irmã descobrir o motivo daquela
distância.

Eu estava sentado na mesa da nossa casa, quando ela


chegou, com aquela expressão de quem sabe todos os segredos
do universo.

— Olha o que eu descobri sobre a sua namoradinha —, falou


enquanto se sentava na mesa, e jogava o seu celular para mim.

— O que é isso? — Perguntei, sinceramente curioso, porque


tudo que eu via, era Bella vestida em um vestido longo, ao lado
de um monte de pessoas estranhas.

— Uma foto do noivado dela — Jess diz e isso não fazia


sentido.

— Noivado? Como assim, noivado? E como você conseguiu


essa foto?

— Eu falo que é uma foto do noivado dela, e essa é a sua


pergunta? Qual o seu problema?! — Jess fica indignada, mas eu
não me importava, apenas passei a foto para a próxima e me
deparei com um homem loiro ao lado de Bella, abraçando-a pelo
quadril.
— Quem é esse cara? — Pergunto apontando para o loiro e
Jess sorri.

— Esse é o noivo dela, — Ela disse com descaso, — sabe,


aquele que conhece os pais dela e com quem ela pretende se
casar.

Bufei de raiva.

— Isso não faz sentido! Bella não mentiria pra mim!

— Olha, ela mentiu, — Jess falou sem se importar muito


com os meus sentimentos, — porque o noivado aconteceu a um
bom tempo, então irmãozinho… qual de vocês é o amante?

— Cala a boca, Jess! — Falei irritado e ela bufou, com pura


frustração.

— Ela vem de uma Família rica, você tem que tomar a


frente! Acorda, Charles! Se mexa! Faça alguma coisa! Quer
viver nessa miséria pelo resto da sua vida? — Rosnou.

Por um lado, Jess tinha razão, eu não queria viver o resto da


minha vida assim, — dependendo de uma mísera pensão que
recebo da morte dos meus pais, — e quando eu chegar na maior
idade, ela será cancelada, o que me faria viver às custas da Jess.

Não, isso era humilhante e definitivamente não era o que eu


queria pra mim.

— Esse casamento não vai acontecer. — Digo com os olhos


fixos naquela foto e Jess põe uma das mãos em meu ombro.
— É assim que se fala, você vai ter que fazê-la mudar de
ideia, mas eu sei que você consegue, — Jess fala enquanto sorri
pra mim.

— Como assim?

— Irmãozinho… você é bonito e charmoso, use isso ao seu


favor, — Jess sugeriu, — trepe com ela.

— O quê?

— Bella é virgem, não é? — Ela perguntou e eu assenti, —


então? Trepe com ela, e ela não vai conseguir te superar. Você
será o primeiro na vida dela, e também, pode aproveitar e gravar
o momento, para caso ela queira terminar.

Eu pisquei, surpreso com aquela sugestão. Eu não tinha


certeza se isso era uma boa ideia, até porque… Bella queria
esperar. Mas eu também não sabia se Jess estava completamente
errada na sua sugestão. Talvez, tudo se encerasse se Bella e eu,
acabássemos transando. Se o casamento não fosse por água
abaixo por ela notar que me ama de vez, ele iria por ela ter
traído seu noivo, e Bella teria apenas a mim.

Depois da conversa que tive com a Jess, decidi dar uma


festa em casa, e para a minha surpresa o noivo da Bella também
estava na minha festa, na minha casa. Eu pensei que a Bella não
havia contado a verdade para ele, mas tudo parecia… estranho.

Depois disso eu fiquei em cima dela. Eu sabia que tinha dias


que eu não a deixava respirar, mas era precisava disso, precisava
insistir. Ao menos, até que ela simplesmente sumiu, e claro que
a Jess não deixou isso barato.

— Não vai sair com a sua namoradinha? — Minha irmã me


perguntou, se recostando a geladeira e eu bufei.

— Não Jess, eu não vou.

— Como não?! — Ela ri. — É feriado, trate de ligar para


ela.

Peguei o meu celular e liguei para a Bella, mas ela não


atendeu. Eu pensei que ela podia estar ocupada, mas mandei
mensagens e depois eu insisti mais algumas vezes, e nada.

Ela simplesmente não queria me responder.

— Ela não está atendendo? — Jess perguntou, vendo minha


expressão frustrada e eu sibilei.

— Não, Jess.

— Oh… então ela já está interessada no outro, — ela


debocha e isso faz meu sangue ferver. E o que acaba me vindo a
cabeça, é a última coisa que eu deveria fazer: ir até ela.

Peguei meu casaco, as chaves do nosso carro e fui sem


pensar duas vezes, mas quando bati no portão da casa de Bella,
eu me deparei com Jenny e não com ela.

— O que foi, Charles? — Ela me pergunta me olhando da


cabeça aos pés, como se procurasse algo de errado em mim, —
aconteceu alguma coisa?
— Eu quem pergunto isso… onde está a Bella?

Jenny piscou.

— Como assim onde está a Bella?

— Ela não me atende e eu vim ver ela, nós dois precisamos


conversar, — expliquei e Jenny grunhiu como se não quisesse
me contar.

— Charles, a Bella viajou com os pais. Foi coisa de última


hora, então ela nem deve ter tido tempo de te contar, — ela me
disse, mas isso era mentira. Obviamente mentira.

— Entendo, — falei me forçando a sorrir, — obrigado por


me contar, te vejo na volta as aulas.

Jenny assentiu e eu voltei pra casa depois daquilo, mas não


desisti de falar com Bella, então naquela noite eu mandei
diversas mensagens e quando o dia amanheceu, eu voltei a ligar.
Ela podia estar com os pais, mas ela também podia estar com o
maldito noivo.

Eu estava estalando de raiva, quando ela finalmente


atendeu, e eu tive um sobressalto enquanto me forçava a parecer
doce.

— Bella? Aconteceu alguma coisa? — Perguntei e Jess fez


sinal para que eu colocasse na viva voz, entrando no meu quarto
e parecendo mais ansiosa por aquilo, do que eu.
— Charles… não, eu estou bem! — foi a resposta que ela
me deu com a voz trêmula do outro lado da linha e eu soube bem
ali, que ela estava com o maldito noivo.

Eu tentei ser gentil com ela, tentei parecer preocupado e


doce, mas eu estava bravo e acabei deixando coisas passar, até
que eu perguntei sobre os pais. Sobre… nós, e Bella
desconversou.

Merda!

— Eu não entendo você. Não entendo por que continua


comigo. Você diz que me ama, mas não age assim. Você continua
arrumando desculpas e me excluindo da sua vida. Ao menos
admita, você tem vergonha de mim, não é? Isso tudo é porque eu
sou pobre?

Eu soltei e ela pareceu brava do outro lado, enquanto Jess


me olhava com raiva, como se eu estivesse errado de falar, mas
eu não ia parar.

Bella estava me irritando com todas essas mentiras e esse


maldito noivado.

— Pelo amor de Deus Charles! — Ela falou parecendo


frustrada, — eu não me importo com você ser pobre, eu só…

— Só o quê, Bella? Ao menos uma vez me fale algo até o


fim!

Rosnei e ela grunhiu do outro lado da linha, enquanto Jess


batia com ambas as mãos em seu rosto.
— Eu não posso, não por ligação. Quando eu voltar, a gente
conversa, — ela falou e eu gelei, enquanto Jess batia em minha
cabeça com força.

— Bella! Espera, não… — eu falei, mas era tarde demais,


ela já tinha… desligado.

Jess sibila de raiva e eu acabo me sentindo frustrado.

— Merda! — Grito, jogando meu celular para longe.

— Ela está com o outro, ela vai te deixar. — Jess diz com
descaso, — mas nem tudo ta perdido.

Ergui uma das minhas sobrancelhas.

— O que eu faço? — Perguntei, porque se Jess estava


falando aquilo, ela tinha uma ideia.

— Agora? Começa a ignorá-la, porque assim que voltar, ela


vai querer terminar.
Depois daquele café da manhã, Francesca me chamou para
dar uma caminhada com ela, o que sinceramente? Me fez
agradecer a Deus que havia me ajudado naquele momento,
porque a presença daquela tal Lunna, era irritante.

Talvez, eu não devesse pensar muito sobre isso, porque tudo


que eu tinha a respeito de Lunna eram os seus olhares que me
incomodavam, e os sorrisos direcionados a Thomas, mas eu não
podia negar, que o que mais me incomodava, era a óbvia
diferença entre nós duas.

Lunna era uma mulher, com cabelos negros, olhos verdes


impactantes, felinos e cortantes, — e eu…, — eu era uma
garota. Notar isso, me incomodou e me fez pensar se isso… não
faria Thomas perder o interesse em mim.

— Então, o que achou do Paul e da Lunna? — Francesca


acabou me perguntando em dado momento, me tirando dos meus
devaneios pessoais, e enquanto andávamos, os meus olhos vão
até ela.

— Bom, Paul parece ser alguém agradável de se estar perto,


mas… — eu dou uma pausa, me perguntando se eu deveria falar
aquilo ou não, — no caso da Lunna, ela… parecia bem…
próxima ao Thomas, não? — Dei algumas voltas para não deixar
tão na cara o meu incômodo, mas Francesca por sua vez, pareceu
apenas sorrir.

— Está tudo bem, Bella. Você pode falar o que pensa, você
e Thomas logo estarão casados.

Ela me falou aquilo, e mesmo que eu estivesse levemente


receosa, eu respirei fundo.

— Sendo assim, eu não gostei muito dela, não sinto que ela
seja tão verdadeira quanto aos seus sentimentos felizes em
relação ao meu casamento com Thomas. — Eu soltei, o que fez
Francesca soltar uma risada leve, como se estivesse se
perguntando se eu estava fazendo toda aquela cerimônia, por
conta de algo que se mostrava tão óbvio.

— Não leve a mal, Bella. Ela sempre foi assim, Paul nunca
colocou freios nela. Mas… — ela respirou fundo, como se
estivesse procurando as palavras certas para me dizer o que ela
queria, — se algo assim está te incomodando tanto, você com
toda certeza, vai precisar marcar o seu território. — Ela
simplesmente respondeu, o que me fez arquear uma de minhas
sobrancelhas.

— Marcar território? — Os meus olhos olharam para ela


com certa confusão, — como assim?

— Minha cara… — a postura de Francesca parecia com a de


uma raposa, o seu sorriso ficando ardiloso, — eu e você somos
italianas, e você deve saber que isso quer dizer que… nós não
gostamos que alguém encoste no que é nosso. — Ela insinuou,
— e talvez, você tenha que fazer isso rápido, porque se um
herdeiro não aparecer na família, Thomas terá permissão para ter
uma amante.

Indignação tomou conta do meu semblante, mas ao mesmo


tempo? Seria compreensível, porque se eu não conseguisse ou
não quisesse ter um filho com Thomas… alguém teria.

— E claro… você terá que adotar, e cuidar da criança como


sua. — Francesca terminou, de dizer, o que me fez engolir em
seco.

E isso, me fez querer voltar no assunto de antes.


— Francesa, posso te fazer uma pergunta? — Foi o que eu
acabei dizendo, o semblante de Francesca agora, parecendo um
pouco mais ameno.

— Claro que pode.

— O que há entre o Thomas e a Lunna? — Perguntei


simplesmente, o que talvez, tenha feito ela esperar que eu
tomaria uma atitude quanto a isso.

— Eles foram criados praticamente juntos. — Risos leves


saíram pelos seus lábios. — Teve um tempo em que todos diziam
que os dois iriam se casar, mas era apenas por incentivo de Paul
e a forma como eles sempre foram próximos, não diria que
houve realmente algo entre eles.

— Havia chance de eles realmente se casarem? — Minha


testa se franziu, uma pontada sendo sentida em meu peito.

— Não se preocupe, Bella… você não vai ter que se


preocupar com algo tão insignificante quanto isso. Tudo que
precisa fazer, é deixar o meu filho bem do seu lado. — Ela falou
com uma tranquilidade, que para mim, era algo invejável. — A
não ser que você não queira, aí as coisas mudam, e eu tenho
certeza de que a Lunna pode esperar o tempo que for para ficar
com o Thomas, mesmo que seja apenas como a mãe de seu
futuro filho.

As palavras da Francesca foram sinceras, mas eu não tinha


gostado daquilo — mesmo sabendo que era a realidade —, o
jeito que a Lunna estava próxima de Thomas, era incômodo,
principalmente quando a minha mente parecia me mostrar as
expressões de Lunna, com cada mísero detalhe e eu podia sentir
que ela faria de tudo, para estar com ele e tomar o meu lugar, se
isso fosse possível.

Depois daquela conversa, Francesca e eu voltamos para


casa. Eu vi Thomas sentado na frente da casa com Lunna ao seu
lado, conversando como se fossem grandes amigos, e aquela
expressão de felicidade no rosto dela, me incomodava
profundamente.

Thomas parecia mais leve com os cabelos jogados para trás,


e quando me dei conta, eu já estava parada ao lado dele, e o
puxava com um sorriso forçado nos lábios.

Francesca tinha me dito para marcar território, e era isso


que eu iria fazer. Eu iria garantir que Lunna entendesse que não
havia brechas para ela no nosso relacionamento, e ia fazer isso a
minha maneira.

— Thomas, querido… eu estava pensando em visitarmos um


daqueles bistrôs que você se ofereceu para me mostrar, o que
você acha? — Eu perguntei e os olhos de Thomas se fixaram em
mim com surpresa.

— Claro, nesse caso, irei avisar que não estaremos em casa


para o jantar, — ele diz e Lunna nos dá um longo sorriso.

— Se vai apresentar os bistrôs para a Bella, eu posso ir com


vocês! Afinal, morar na Sicília tem os seus méritos! Garanto que
conheço os melhores bistrôs daqui como ninguém. — Ela disse e
eu quis voar na garganta daquela sonsa.

Lunna podia ter aquela pose de mulher fatal, com os lábios


rosados e aquele sorriso amplo, mas eu não caia naquele
joguinho.

— Não, — falei sem pensar duas vezes, — eu prefiro


desbravar a Sicília ao lado do meu noivo, — ronronei, — acho
que você me entende, não é?

Thomas pareceu segurar o riso, enquanto desviava o olhar e


Lunna estendeu para mim, um sorriso sensual.

— Claro, me desculpe… acho que me empolguei por ter


alguém nova na família, — ela falou com aquele tom doce que
me causava náuseas, — foi um erro meu me envolver em um
encontro de casal, espero que aproveitem o resto do dia e o
jantar.

Sugeriu e eu sibilei quando ela saiu para dentro da casa.


Aquele teatro de boa moça, não colava comigo.
Eu vi Bella se contorcer de ciúmes assim que Lunna surgiu
em frente aos seus olhos e foi gratificante encarar a sua
mudança de atitude. Mas foi quando entramos em meu carro,
para irmos para um dos bistrôs que ela disse querer visitar, que
Bella começou a falar.

— Thomas, — ela me chama e eu viro o rosto para encará-


la.

— Sim?

— O que tem entre você e a Lunna? — Ela me perguntou e


eu a encarei com uma das sobrancelhas erguida, deixando um
riso soprado, sair por meus lábios; o que obviamente não
agradou ela, — por que você está rindo?

— Não é nada, Bella, — eu acabo dizendo com um sorriso


de canto, — só acho que você precisa decidir de uma vez o que
você quer.

Ela me encarou.

— O que você quer dizer com isso?

— Você me disse que tinha alguém, que tinha o Charles,


mas agora, está agindo como se eu a estivesse traindo, —
ronronei, — não acha que é contraditório?

Ela me fuzilou com os olhos, parecendo frustrada.

— Então existe algo entre vocês? É isso?

Eu parei o carro bruscamente, encarando Bella com os olhos


semicerrados.

— E se tiver? — Perguntei e inclinei meu corpo em direção


ao dela, — o que você vai fazer, se eu andar fodendo com
Lunna? Você não foi a primeira a ficar feliz com a minha
sugestão de ter um amante?

— Você é meu noivo! — Ela disse parecendo realmente


revoltada, — eu tenho direito de saber com quem você dorme ou
deixa de dormir!

Bufei, e com o meu corpo inclinado sobre o dela, eu segurei


Bella pelo queixo e a trouxe para perto.

— Eu entendi, mas o que eu te perguntei, foi o que você vai


fazer, se eu estiver, — eu disse com a minha voz rouca e falha,
baixa ao ponto de parecer um sussurro, — se não vai fazer nada,
então pare de drama, Bella, porque eu não tenho tempo para
perder com uma criança mimada.

As mãos dela atingiram meu peito com força e Bella me


empurrou no meu banco, subindo em mim, com a raiva de uma
donna que queria assassinar o próprio marido.
— Seu… quem você está chamando de criança? — Ela
vociferou e eu segurei seus pulsos com força, a puxando para
perto e colando meus lábios aos dela, os braços de Bella
amoleceram e quando eu soltei seus pulsos, ela os envolveu em
torno do meu pescoço. Minhas mãos deslizaram por suas costas,
parando em seus quadris onde apertei a puxando para mim.

Ela se entregou ao beijo, assim como tinha se entregado nas


outras vezes, mas agora, era óbvio que ela sabia muito bem o
que queria.

— Thomas… — ela grunhiu meu nome com a respiração


ofegante e eu sorri de canto, mordendo seu lábio inferior.

— O que foi, querida? — Eu perguntei e seus olhos


cintilaram, fixos nos meus.

— Você está me deixando confusa… — ela murmurou e eu


deslizei meus dedos pelo seu rosto com certo carinho. Bella
agora estava exatamente onde eu queria, e eu não deixaria todo o
meu trabalho, ser em vão.

— Minha doce Bella… — ronronei, — não existe motivo


para confusão, eu nunca descartei a opção de nos apaixonarmos
um pelo outro.

Ela piscou, parecendo não saber se o que eu havia acabado


de dizer era real.

— Então… está me dizendo que… você não terá amantes?

Eu sorri.
— É isso que você quer?

Ela vacilou, os olhos parecendo vagar.

— Mas… Chloé e Charles… — murmurou e eu sibilei.

— Charles? — Perguntei apertando seu quadril, — não me


fale o nome dele, depois de praticamente se jogar sobre meu
colo. Você não o ama, Bella, não se faça de tola. Tudo que sente
por aquele garoto, é o desejo por algo que não pode ter.

Ela se afastou, os olhos fixos em mim com raiva.

— Você não pode sair por aí dizendo o que os outros


sentem, Thomas Kuhn!

Eu segurei seus pulsos com força e a puxei para perto,


colando nossos corpos e parando meus lábios bem próximos do
seu ouvido.

— Eu posso sim, — sussurrei, — assim como posso dizer,


que você está apaixonada por mim.

— Eu não estou! — Ela disse enquanto lutava para se soltar


e eu bufei, largando seus braços e segurando seu queixo.

— Não? Então eu tomarei Lunna como minha amante, —


sugeri, — farei dela a futura mãe do meu filho e…

— Não ouse. — Bella rosnou, me fazendo ampliar o sorriso


em meus lábios.
— Você quer saber o que existe entre Lunna e eu? —
Perguntei, a trazendo novamente para perto, — eu posso te
contar.

— Por que eu deveria acreditar em você? — Ela me


perguntou, parecendo brava comigo.

— Porque eu disse que não deveria haver mentiras dentro


desse relacionamento, — a lembrei e eu certamente não mentiria
sobre Lunna, pra você.

— Então me diga… — ela pediu e eu deslizei meus dedos


por seus cabelos trazendo seu rosto para perto do meu.

— Nada.

Bella piscou.

— Então…

— Lunna é minha prima — falei com um tom doce e gentil,


— tudo que houve entre nós, foi um beijo há muito tempo atrás
—, expliquei e Bella piscou, com incredulidade estampada em
seu rosto.

Existia um interesse de Lunna por mim, mas eu jamais havia


tocado naquela mulher, porque como minha prima, ela era parte
da família, e eu só me relacionaria com Lunna, caso fosse:
necessário.

— Idiota… — Bella disse colando seus lábios aos meus, —


você podia ter me dito isso antes…
Thomas me provocou e me levou ao limite, para me ouvir
admitir a verdade: que eu sentia algo por ele, e que eu não
queria que ele tivesse uma amante. Eu tentei tolerar a ideia de
ele estar com Chloé, porque para mim, ela era como Charles,
alguém que com quem ele já havia se envolvido, alguém que
vinha antes de mim, mas… Lunna?

Talvez fosse por ela estar ali de verdade. Por eu poder vê-la
em minha frente, e não apenas um nome a ser citado, — mas isso
me incomodava profundamente, — eu não a queria próxima de
Thomas e muito menos tendo a chance de se tornar a mãe do
filho dele. Da criança que eu teria que criar como minha.

Quando Thomas me beijou e me disse a verdade, eu senti


um peso sendo tirado do meu peito, mas ainda havia… tanta
coisa a ser decidida.

Chloé era um ponto no passado de Thomas, mas Charles


ainda não era um ponto no meu presente. Ele era atual, era a
realidade. Era alguém que ainda esperava por mim. Eu tinha que
mudar isso, e esse foi o primeiro ponto que nós dois
estabelecemos naquele jantar em um pequeno bistrô no centro da
Sicília.

Thomas cuidou de tudo, — obviamente, — e depois de


irmos as compras e nos trocarmos, ele me levou ao lugar mais
lindo que eu já tinha ido. Um bistrô fofo, iluminado por velas,
com uma bela visão do pôr do sol, e uma vista perfeita do mar.

Nós dois nos sentamos ali, em uma das mesas na sacada, e


paramos para conversar, como na noite do nosso noivado.

— Se o nosso acordo vai mudar, o que estará decidido dessa


vez? — Eu perguntei e Thomas me mostrou um sorriso de canto,
como se estivesse esperando esse tempo todo, por essa
pergunta.

— Não vejo necessidade de mudar as regras, para ser bem


sincero, — ele me disse, — respeito e a verdade, são a melhor
base para um casamento saudável, já quanto a amantes,
claramente não serão tolerados.

— Concordo com essa parte, — falei com os braços


cruzados sobre o peito, — e se possível, desconvide Lunna para
o nosso casamento.

Ele riu, como se minha atitude fosse infantil e fofa ao


mesmo tempo.

— Querida, Lunna, é família e não podemos exclui-la depois


de já ter convidado, mas posso garantir que ela não chegue em
frente aos seus olhos, — ele ronronou de forma sedutora, o que
agora me fazia tremer.

Deus. Como ele podia se tornar ainda mais atraente? Talvez


fosse culpa daquela camisa preta com alguns botões abertos e a
calça de alfaiataria que parecia cair perfeitamente nele.

— Certo, — pigarreie, — então, sobre o teatro, não será


mais necessário, afinal somos um casal.

Thomas negou com a cabeça e eu pisquei sem entender.

— O teatro é necessário, — ele disse sem pestanejar, — nós


dois seremos um casal, mas isso não muda que a nossa imagem
perante todos, deve ser impecável.

Uni as sobrancelhas com pura confusão.

— E o que isso quer dizer?


— Quer dizer que independentemente de como estejamos um
com o outro, teremos que sorrir, nos beijar e ser gentil, em
frente aos olhos alheios, — ele explicou, e eu estremeci.

— Quer que finjamos sempre estar bem?

— Somos figuras públicas, querida. Um casal de verdade ou


não, viveremos sobre um teto de vidro, — ele disse de forma
séria e eu tinha que aceitar que aquilo era verdade.

— Está bem… — acabo por dizer, — não vejo mal quanto a


isso.

— Ótimo, — Thomas disse com os lábios levemente


arqueados, — agora, quanto ao seu… Charles.

Estremeci.

— Eu irei terminar com ele, — falei antes mesmo que ele


tivesse a chance de continuar, — Charles e eu… não existe um
futuro para nós, e eu realmente devo ter confundido as coisas.

Thomas me encarou, como se tentasse decifrar se o que eu


estava falando era uma verdade ou apenas algo que dizia para
me consolar, mas a pior parte de tudo, era que era uma verdade
inegável. Eu nunca havia amado o Charles.

— Se esse é o caso, fico feliz que finalmente tenha notado,


— ele disse, parecendo tentar me consolar, — mas não se culpe,
Bella, — murmurou, — é normal que pessoas como nós, ainda
mais jovens como você, desejem o que não podem ter.
Neguei com a cabeça.

— Isso não vem mais ao caso.

Thomas sorriu.

— Claro, porque agora, você deseja algo que já é seu, — ele


sugeriu e eu senti todo o meu corpo, estremecer, porque aquela
era uma verdade imutável.

Eu desejava.

Desejava Thomas Kuhn.

Depois daquela nossa conversa, tudo pareceu se acalmar e


Thomas passou todo o restante da viagem, me tratando como
uma verdadeira princesa. Ele me levou para o centro comercial
da Sicília, me mostrou os campos de flores e quando as noites
chegavam, nós sempre íamos a um bistrô diferente.

A comida, as flores, e o vinho… era tudo perfeito, mas


Thomas era ainda mais.

Era diferente de Charles em todos os sentidos, e talvez por


isso eu tenha notado por completo, como já nem mesmo havia
encanto entre Charles e eu. Claro. Eu ainda sentia carinho por
ele, porque Charles era parte da minha vida e alguém que foi
importante pra mim, mas a ideia de estar com ele outra vez, não
parecia certa.

Quando o nosso último dia na Sicília chegou, Paul e Lunna


se despediram de nós, e eu me dei conta de que por todos
aqueles dias, ela tinha estado na casa, mas não tinha nem mesmo
se aproximado de mim. Foi como Thomas disse que seria em
nosso casamento e isso só reforçava o quanto eu podia confiar
em meu noivo.

Era bom, admito. Eu me sentia cuidada e protegida por


aquele lindo homem, que logo seria o meu marido e o futuro pai
dos meus filhos.

Deus.

Filhos?!

Nós dois realmente teríamos filhos.

Eu não sabia muito bem o que pensar a respeito de tudo


aquilo, mas eu sabia que não odiava a ideia, ainda mais, se ele
estivesse ao meu lado.

— Vamos, querida? Eu te levo até em casa, — Thomas disse


para mim, me tirando dos meus pensamentos, enquanto colocava
minhas malas em seu carro, depois de já termos voltado para
Roma.

— Claro, — falei com um sorriso de canto e entrando em


seu carro, me despedi de Brian, Pietro e Valen, que parecia mais
encantadora ao fim da viagem, do que no começo.

Francesca e Vicente, haviam se despedido de mim


anteriormente, já que ambos tinham coisas demais para lidar
quando voltássemos, e agora, comigo e Thomas sozinhos em um
carro, indo direto para Florença, onde havia se tornado o
território dos McNight.
Quando eu cheguei da viagem, eu estava exausta, e por mais
que eu estivesse esperando uma recepção mais calorosa da
minha família, eu apenas vi a minha mãe chegando até mim, com
uma expressão séria em seu semblante.

— Bella… — ela falou com um certo pesar em sua voz, os


seus olhos entrando em contato com os meus, com preocupação
nos mesmos, — o seu pai quer falar com você.
Arqueei uma das sobrancelhas, porque pela expressão que a
minha mãe estava fazendo… ele não queria me receber com
flores e sorrisos. E mesmo que uma parte minha quisesse
perguntar sobre o que ele queria falar comigo com tanta
urgência, eu me abstive.

— Onde o papai está agora? — Perguntei, o que fez minha


mãe suspirando logo em seguida.

— Ele está no escritório. — Ela falou, o que já fez a minha


espinha gelar, porque se ele tinha que me falar algo no
escritório, isso queria dizer duas coisas.

Número um, que aquilo iria demorar.

Ou número dois… ele tinha alguma coisa para me mostrar.

Mas de qualquer forma, eu apenas fui para o escritório dele


sem tentar pensar de mais — e claramente falhando no processo
—, uma das minhas mãos abrindo a porta assim que eu cheguei,
e vendo várias e várias pastas… em cima daquela mesa de
madeira maciça.

— O que… é tudo isso? — Eu tentei procurar e ver sobre o


que aquilo se tratava, mas o meu pai pigarreou.

— Se sente, pipoca. — Ele disse com aquele tom sério, que


me faria ter pensado seriamente quão fodida eu estava, se ele
não tivesse usado o meu apelido.

— O que aconteceu, papà? — Eu pergunto, me sentando e


ele abre uma das pastas, me mostrando fotos minhas e de
Charles. Aquelas eram versões mais novas de nós dois, versões
nossas do colegial, bem quando eu conheci o Charles, —
como…

— Pipoca, eu sou o seu pai, mas também sou o líder da


família McNight, você não acha que eu apenas abriria a mão da
sua segurança, pela sua privacidade, acha? — Ele me perguntou
e eu nem sabia como me sentir.

— Então estava me espionando?

— Não, — ele disse de forma sincera, — eu estava cuidando


de você. Só investigamos com quem andava se relacionando, não
queria invadir a sua vida, — ele sibilou, — mas isso, Bella?

Estremeci.

— Foi…

— Foi um namoro, eu sei! — Ele estalou a língua no céu da


boca, — eu deixei isso acontecer, porque sinceramente pensei
que você iria recusar a ideia de se casar, mas você não fez! E
quando não fez isso, eu pensei que era a hora perfeita para me
contar sobre o garoto e terminar com ele, mas outra vez… você
não fez isso.

Grunhi.

— Eu não consegui.

— Não é assim que a vida funciona, Bella, você tinha que


terminar! — Ele disse de forma incisiva, — eu acreditei que
você terminaria com ele após o noivado, e até mesmo um pouco
depois, mas agora, não dá para continuar adiando. Você logo irá
se casar.

— Eu sei… — murmurei, — mas eu não… não sabia como


falar para ele.

— Você precisa falar, Bella, ou não será apenas ele quem


estará em perigo, — meu pai disse, parecendo desapontado, —
sabe o que acontece se os nossos inimigos, ou os meus homens
descobrirem sobre ele? Se Thomas descobrir sobre ele?

Neguei com a cabeça.

— Não se preocupe, papà… Thomas já sabe sobre o


Charles.

Meu pai arregalou seus olhos, como se não conseguisse


acreditar.

— Por Deus…

— Ele e eu tínhamos um acordo, — expliquei, — tínhamos


concordado em manter amantes durante o nosso casamento, em
segredo.

— Então você o ama, Bella? O ama ao ponto de arriscar a


sua própria vida? — Meu pai perguntou e eu neguei com a
cabeça.

— Não, eu não amo o Charles, — murmurei, — eu


realmente pensei que o amava, mas descobri que não é a
verdade. Eu só… gostava dele, mas agora nem mesmo isso. Eu
estou… apaixonada pelo Thomas e não pretendemos continuar
com o acordo sobre amantes.

Meu pai me encarou, com surpresa e felicidade.

— Pipoca… eu fico feliz de ouvir isso, mas sobre o


garoto…

— Eu irei terminar tudo, — falo de forma direta, — assim


que vir Charles, irei terminar nosso relacionamento de uma vez
por todas.

Ele sorriu.

— Eu fico feliz de ouvir isso, — papai disse me puxando


para seus braços, — me desculpe por ser tão duro com você, mas
Bella… eu não posso te proteger do mundo, não mais. Agora,
você irá se tornar a senhora Kuhn e isso quer dizer, que estará
por conta própria.

Sorri, porque antes, a ideia era assustadora, mas agora… eu


sabia que tinha Thomas ao meu lado.

— Eu vou ficar bem, papà. — Falei o abraçando forte, —


Thomas e eu, ficaremos bem.

Foi o que eu disse, mas nos dias seguintes, enquanto tentava


falar com Charles, ele nem mesmo apareceu. Ele não atendia ao
celular, não respondia minhas mensagens e nem mesmo foi as
aulas durante as duas semanas seguintes ao meu retorno.
Uma parte minha, estava começando a ficar preocupada, e a
outra, se perguntava se algo realmente havia acontecido, ou se
ele estava me evitando por conta da última ligação. Ele parecia
chateado acima de tudo e eu não saberia dizer se Charles ainda
estava sequer disposto a olhar na minha cara, e por mais que
isso fosse doloroso, eu sentia que isso podia ser bom para
facilitar o nosso término.

— Nada ainda? — Jenny me perguntou, enquanto


andávamos juntas para a saída da faculdade.

— Nem sinal, — resmunguei e o carro de Thomas parou em


frente a nós duas, me pegando de surpresa.

— O que é isso? — Jenny exclamou e Thomas riu.

— Olá, — ele disse para ela e então, me encarou, — eu vim


sequestrar a Bella.

Sorri.

— Sequestro é crime, sabia?

Ele gargalhou.

— Sim, o estudante de direito aqui, sou eu, — disse


piscando pra mim, e descendo para abrir a porta do carro, —
agora vamos, entre… você é minha pelo resto da semana.

— Jenny! — Eu gritei rindo enquanto entrava no quarto e


ela revirou os olhos com um sorriso nos lábios.
— Por Deus, vão embora de uma vez! Odeio casais felizes!
— Ela zombou e Thomas entrou no carro, me dando um beijo de
canto e acelerando.

— Para onde vamos? — Eu perguntei e ele sorriu.

— Para a cidade do amor.


Eu havia planejado aquela viagem com todo cuidado, porque
eu queria que Bella entendesse a diferença entre estar com
aquele moleque e comigo. Claro, isso nem mesmo era
necessário, já que ela mesma tinha admitido não sentir nada por
ele, — mas o tal Charles, parecia disposto a tentar de novo, — e
eu queria ter certeza de que nada do que ele fizesse, chegasse
perto do que eu pretendia proporcionar a Bella, pelo resto da
sua vida.
Bella era minha, do momento em que meus olhos pousaram
sobre ela, até o fim de sua vida, e eu jamais abriria mão dessa
mulher.

Então, enquanto Bella terminava suas aulas da Faculdade,


eu agendei todo o fim de semana em Veneza, e me certifiquei de
avisar aos pais dela, — que ela não voltaria, até a segunda, —
porque eu faria de Bella, a mulher mais apaixonada e feliz de
toda a Itália.

Eu podia não amar ela, mas isso não queria dizer que ela
não deveria me amar.

Não. Bella deveria me amar, deveria sentir por mim, tudo


que pensou sentir por aquele garoto. Então, assim que tudo
estava pronto, eu peguei o meu carro e fiz todo o trajeto até
Florença para encontrá-la, e sem bagagem ou preparação, eu
parei em frente a faculdade dela e a coloquei em meu carro.

— Para onde vamos? — Ela perguntou e eu dei a ela um


grande sorriso.

— Para a cidade do amor.

Os olhos de Bella brilharam com pura empolgação.

— Veneza? Estamos indo para… Veneza?

— Sim, — falei com simplicidade, — já visitou antes?

Bella negou com a cabeça.


— Viajei apenas com meus pais para fora da Itália, nunca
pela Itália, — ela disse com a voz cheia de empolgação, —
Deus! Eu sempre quis ir a Veneza, mas nunca tinha tempo e…

Ela parou, e eu sabia que ela ia falar daquele namoradinho


sem graça, mas a forma como ela parou e deu de ombros, me fez
rir.

— Então se prepare, — ronronei, — porque Veneza será


apenas sua por duas noites.

Bella piscou sem entender e eu ri, porque ela realmente não


perdia por esperar. Eu havia tido um certo trabalho para
convencer algumas pessoas a fazerem o que eu queria, mas com
o poder da família Kuhn e alguns negócios a serem finalizados,
eu consegui alugar uma parte de Veneza por duas noites.

Não havia hospedes, pedestres e nada além de vendedores e


lojas para visitar. As ruas foram enfeitadas com luzes por toda
parte e a casa onde Bella e eu ficaríamos, seria limpa e
organizada, assim que saíssemos para andar pela cidade; porque
eu queria que Bella focasse apenas em nós dois.
Quando chegamos a Veneza, depois de algumas horas de
carro, eu me senti viva, porque aquela cidade era absurdamente
linda. As casinhas coloridas, as luzes, as barcas e o grande arco.
Thomas preparou um lugar que mais parecia uma pousada, mas
que aparentemente, estava lá apenas para nós dois.

Havia flores na sacada, e as pequenas ruas de tijolos, eram


lindas e aconchegantes. A única parte surpreendente, era o quão
vazias elas pareciam.

— Onde estão nossas malas? — Eu perguntei, quando


entramos na casa e Thomas riu.

— Não temos malas, teremos que sair para comprar


qualquer coisa que você precise, — ele disse, me entregando um
cartão preto com detalhes em dourado, — fiz isso para você,
como será a futura Sra. Kuhn, não precisa se preocupar com
coisas como malas ou pertences. Se deseja algo, compre, sem
pensar duas vezes.

Ele falou com naturalidade e depois dessa declaração, nós


realmente tivemos que sair para compras, — porque Thomas
havia preparado cada detalhe daquela viagem.
Nos andamos pelas ruas de Veneza, entramos em loja após
loja e depois de rirmos e escolhermos roupas para os próximos
dias, nós caminhamos para que eu escolhesse um dentre todos
aqueles restaurantes e bistrôs.

— Por que não tem ninguém andando pelas ruas? — Eu


acabei perguntando, porque depois de algumas horas, começou a
parecer estranho e Thomas sorriu.

— Eu te disse, querida, a cidade de Veneza, é sua por duas


noites.

Pisquei e Thomas me guiou até o restaurante que no fim, eu


escolhi. Um lindo restaurante que servia frutos do mar.

— O que você quer dizer com a cidade ser apenas minha por
duas noites? — Acabei perguntando assim que ele puxou a
cadeira para eu me sentar, e Thomas me encarou, sentando-se do
outro lado, em frente a mim.

— Que eu aluguei metade de Veneza, e paguei todas as lojas


e restaurantes para servirem apenas a nós dois, — ele disse com
a mesma naturalidade que se diz a alguém, que foi comprar pão
na padaria.

— Você fez o quê? — Perguntei incrédula e Thomas sorriu


pra mim, pegando os cardápios de vinhos e pratos a serem
servidos.

— O que te surpreende tanto? — Perguntou, segurando uma


das minhas mãos, sobre a mesa, — eu te disse, Bella. Veneza
será apenas sua, — ele ressaltou, — e isso? É apenas uma
amostra de como será o resto da sua vida ao meu lado.

Eu não sabia o que responder, mas Thomas obviamente sabia o


que estava fazendo, porque naquele momento, eu senti como se
existisse apenas nós dois em todo o mundo. Foi mágico.

— Ah, Bella… isso é para você, — Thomas disse me


pegando de surpresa, colocando uma caixinha sobre a mesa.

— Para mim?

— Eu ia te dar apenas no seu aniversário, mas… pensei que


seria bom te presentear antes, em um momento só nosso, — ele
disse com naturalidade e eu pisquei. Quando abri a caixa, me
deparei com um colar lindo e delicado, que tinha um pingente
em formato de coração e bem dentro da pedrinha no pingente,
havia uma foto minha e de Thomas.

— Meu Deus… isso é tão lindo, — falei emocionada e ele


sorriu.

— Fico feliz que pense assim, minha ragazze, — ele


ronronou.
Tudo parecia tão mágico que quando eu notei, eu já estava
no quarto da pousada, olhando pela varanda as luzes que a
cidade possuía, aquela brisa refrescante atingindo o meu rosto
com delicadeza, e Thomas? Ele logo se aproximou por trás.

— Está gostando da vista, querida? — Ele perguntou junto


de um sorriso de canto, e como se aquilo fosse algo natural, eu
peguei as suas mãos e as posicionei em volta do meu corpo.
— Sim, muito. — Acabei respondendo ao olhar para o seu
rosto, aqueles olhos claros parecendo brilhar como estrelas em
um céu noturno.

— Entendo, mas eu estava falando daquela vista. — Ele


zomba, apontando com o rosto para o horizonte, — porque essa
aqui, eu notei enquanto você me encarava no restaurante.

Eu corei quando ele falou aquelas palavras, mas ao mesmo


tempo? Eu sorri.

Sorri porque os nossos rostos estavam próximos, ao ponto


de eu sentir o hálito quente de Thomas atingir a minha pele,
enquanto os olhos dele ficaram fixos na minha boca.

Pelo menos… até os nossos lábios se selarem, e eu sentir um


calor subir pelo meu corpo, juntos das mãos de Thomas, o que
fez o meu corpo inteiro se arrepiar.

Eu acabei virando o meu corpo em direção a ele em dado


momento, o que fez as minhas mãos irem até a sua nuca, o
trazendo mais para perto, fazendo aquele beijo ficar mais fundo,
mais intenso, ao ponto de quase estar me fazendo delirar.

Os nossos pés começaram a se mover enquanto o beijo


acontecia, porque nenhum de nós dois parecia querer que aquilo
terminasse, e quando finalmente saímos da varanda — e quase
desarrumamos toda a casa —, Thomas se afastou para abrir a
porta do quarto, e me puxar para dentro do mesmo.
Thomas me deitou na cama com delicadeza, e começou a
beijar o meu pescoço, a cada toque o meu corpo se arrepiava e
arqueava ao mesmo tempo. Ele percorre os seus lábios no início
da curvatura dos meus seios.

— Thomas... — murmurei o seu nome ao trazê-lo para mais


perto, os seus olhos me olhando de forma breve.

Após isso, ele aos poucos jogou o seu peso em cima do meu
corpo, os seus dedos deslizando pela minha barriga, por cima do
meu vestido e o meu corpo respondia a cada toque seu. Ele
desceu uma das suas mãos até a minha coxa, para me olhar
novamente, como se esperasse uma resposta.

— Pode continuar. — Acabo dizendo, por que


honestamente? Eu queria mais.

Queria mais do toque de Thomas.

Eu queria mais… de Thomas.

Isso fez ele erguer o meu vestido até a altura dos meus
seios. E ele ficou observando atentamente a renda do meu sutiã
vermelho enquanto tocava a linha dos meus seios, com os seus
dedos quentes, e isso… fez eu sentir os meus seios se
enrijecerem.

— Você gosta? — Thomas sussurrou em meu ouvido.


Começando a brincar com um dos meus seios por cima da renda
fina do meu sutiã, fazendo com que eu me arqueasse cada vez
mais para ele.
— Bella? — Ele continuou movimentando os seus dedos ao
me chamar, um sorriso sádico brotando em seu rosto.

Mas eu não consegui responder, porque eu estava ocupada


demais sentindo aquela sensação que se alastrava pelo meu
corpo, e me fazia gemer.

E isso? Pareceu ser um incentivo para Thomas piorar ainda


mais a minha situação, porque ele afastou a renda do meu sutiã,
e passou a sua língua úmida ao redor do meu mamilo, para
depois ir descendo.

Ele segurou os meus pulsos na altura da minha cabeça, a sua


boca agora chupando um dos meus seios, o que fez com que eu
me sentisse molhada, e até mesmo… apertada.

Comecei a me contorcer ao sentir os lábios do Thomas no


meu corpo, e pressionando o meu quadril contra o dele, pude
sentir o seu pau que já estava rígido, e claro, latejando.

Ele beijou a minha barriga, e tocou a minha intimidade, por


cima da minha calcinha. Bella

— Ah! T-Thomas! — Os meus gemidos começaram a ficar


cada vez mais altos.

Thomas começou a fazer movimentos circulares no meu


clitóris com um dos seus dedos, por fim ele afasta a minha
calcinha e toca diretamente na minha pele.

Puta merda! Que sensação deliciosa.


Aquilo já era o suficiente para fazer os meus olhos
revirarem, o meu corpo se aquecer ainda mais enquanto o
puxava com as pernas, mas novamente… Thomas sempre
conseguia piorar.

Porque agora, a sua boca estava no meu clitóris, e os seus


dedos? Estavam dentro de mim.

Eu não conseguia mais controlar os meus gemidos, sinto o


meu corpo todo estremecer, a sensação é boa e estranha ao
mesmo tempo, até que eu descubro que estou tendo o meu
primeiro orgasmo.

— Ah! Thomas… — Eu gritei por ele quando me derreti


toda em sua boca. O meu corpo todo já estava trêmulo de desejo,
eu precisava dele.

Eu apenas vi Thomas se ajeitando na cama depois daquilo, a


sua camisa sendo tirada por conta do suor que parecia percorrer
pelo seu corpo, a sua calça sendo puxada para baixo enquanto
ele se posicionava entre as minhas pernas.

Ele volta a beijar o meu pescoço e a minha orelha, quando


ele começa a entrar dentro de mim, paro de respirar por um
momento.

Thomas pareceu me olhar preocupado quando notou, o seu


corpo parando, como se estivesse esperando uma resposta.

— Pode continuar. — Eu falei ao colocar os meus braços em


volta de seu pescoço, — eu quero… mais…
Ele começou a fazer movimentos suaves com o quadril, no
início parecia um pouco desconfortável, mas eu estava tão úmida
que ele conseguiu me invadir com facilidade.

— Pode… ir mais rápido… — eu pedi, quase que em uma


súplica.

Não sabia decifrar o que eu estou sentindo, a ardência vai e


vem, mas as sensações estão me deixando sem fôlego, a vontade
de gritar e de gemer cada vez mais alto, me consumindo.

— Ah… Thomas! Tho… mas! — A minha voz começou a


ecoar pelo quarto, o que me fez tentar segurar.

— Querida… eu quero ouvir. — Ele falou, o que fez os


lábios dele voltarem a beijar o meu corpo.

Ele começa a acelerar as investidas dentro de mim. As


estocadas começam a ir mais rápido. Os nossos gemidos ecoam
no quarto todo. O meu corpo começa a dar sinais de espasmos,
por fim, eu gozo mais uma vez, e Thomas também logo depois.

— Vamos tomar um banho? — Ele me pergunta, sua mão se


entendendo em minha direção depois de sair de dentro de mim,
— creio que precisamos.

Acabei rindo com o seu comentário, apenas para pegar a sua


mão e ir junto a ele até o chuveiro.

Thomas me abraçou assim que entramos no box, beijos


sendo depositados em minha pele, e quando eu empinei… senti o
seu pau duro novamente, o meu corpo se virando para olhar para
ele.

Thomas apenas sorriu, malícia tomando conta de seu rosto


novamente, e a minha mão segurou o seu pau entre as minhas
mãos, o que fez ele me trazer para perto, e os nossos lábios… se
selaram mais uma vez.
Ver os olhos de Bella repletos de luxúria me deixou apenas
excitado, o arquear dos meus lábios com isso, ficando ainda
mais largos.

Apertei o seu corpo contra o meu o suficiente para ouvir da


sua boca um suspiro pesado. Enquanto a minha mão caminhava
pelo seu corpo sentindo a sua pele arrepiada, a sua língua
adentrando a minha boca com destreza, passeando sua mão por
meu ombro.

Arrastei a língua por seu seio, intumescido, duro e rosinha,


chupando e mordiscando o seu bico, sentindo a curva daquele
corpo gostoso apertando a minha ereção angustiante. Enquanto
minha boca tratava de seus seios, minha mão caminhou até a sua
intimidade, e mais uma vez ela estava pronta para mim. O meu
dedo escorreu facilmente por seu interior e a cada sugada na sua
auréola eu a sentia contrair o seu interior em prazer.

— Céus… — Ela exclamou, puxando os cabelos da


minha nuca, com força enquanto se desfazia nos meus dedos que
investiam contra o seu corpo.

Eu ergui o corpo de Bella depois disso, as suas pernas se


enrolando em volta da minha cintura enquanto eu me movia
dentro dela, ainda com movimentos lentos, o que fazia ela
contrair ainda mais, me deixando cada vez mais louco por ela.

Bella gemia contra o meu ouvido enquanto eu saia com ela


do chuveiro e me sentava no vaso, segurando firme a sua
cintura, o que faz com que um sorriso travesso brote em seus
lábios — ela havia entendido que estava no comando.

Enquanto ela quica e rebola no meu cacete, eu beijo e chupo


os seus seios.

Essa mulher… vai acabar comigo.

— Bella... — Sussurrei em seu ouvido, enquanto a segurava


pela nuca e a beijava ferozmente.

Bella começa a contrair, mas dessa vez é o seu orgasmo que


está chegando, um tempo depois, sou eu que gozo, o meu corpo
saindo de dentro dela logo depois.

— Agora, vamos realmente tomar um banho. — Sussurrei no


seu ouvido, para logo depois, depositar um beijo em sua testa.

E depois daquele banho? Nós apenas caímos na cama, o


corpo de Bella ficando grudado no meu, como se o meu corpo
fosse o lugar mais confortável que ela já havia se deitado.
— O que foi? — Eu acabo pergunto quando abro os meus
olhos e Thomas me encara com aquele sorriso de canto e os
lábios arqueados.

— É assim que me trata depois de tudo que houve entre nós?


— Ele pergunta de forma zombeteira e eu acabo rindo.

— Me desculpa, — falo limpando a garganta de forma


exagerada, — bom dia, senhor Thomas.
Ele se aproxima e beijando meu rosto, murmura.

— Agora sim, mas podia me chamar de “amor”, ao invés de


senhor ou Thomas, — ele diz de forma brincalhona, — afinal, eu
sei que eu sou o amor da sua vida.

— Nossa! — Fico surpresa, mas ao mesmo tempo, acho


divertido a forma como tudo parece mais leve entre nós.

— Está tudo bem, eu estou brincando e nós vamos com


calma. — Ele disse abrindo um longo sorriso. — Você ainda tem
um tempo para escolher uma forma carinhosa para me chamar,
minha... doce Bella. — Ele fala e me beija.

O meu corpo parece que entra em combustão com o seu


toque, sem me conter, eu já me levanto e subo nele, deixando
uma perna de cada lado do seu corpo.

— Vamos tomar café primeiro, e precisamos comprar


preservativos, — ele fala e sinto o meu rosto corar. — Eu sei
que precisamos ter um herdeiro, mas isso pode esperar, —
completa.

— Tem algum problema se isso acontecer? — Pergunto.

— É claro que não. — Os seus olhos brilham com a minha


pergunta. — Mas eu quero aproveitar um pouco o nosso
casamento, antes de ter que te dividir com mais alguém. —
Thomas segura o meu rosto entre as suas mãos e me beija outra
vez. Seus lábios nos meus parecem tão suaves que eu me
pergunto se alguma vez já me senti assim.
— Eu acredito que estou começando a ficar viciada nisso, —
murmurei, deslizando meus dedos por sua nuca, puxando
Thomas para perto.

— Nisso? — Ele pergunta com a voz ainda rouca e eu acabo


sorrindo.

— É... em sexo. — Respondo, sentindo meu rosto


esquentar.

— Isso é bom. — Thomas diz com aquele arquear leve e


cheio de malícia, — porque teremos a nossa lua de mel,
dedicada a isso.

— Eu me sinto que nem um “recém-criado.” — Acabo


dizendo, em meio a uma zombaria de cultura pop e ele ergue
uma sobrancelha sem entender.

— Que nem o quê?

— Um recém-criado. — Falo outra vez e quando a expressão


de Thomas não muda, eu suspiro, — você nunca assistiu
Crepúsculo? — Pergunto e ele responde um simples e sonoro
não.

— Não.

— Um recém-criado, é quando um humano acabou de se


tornar um “vampiro”, e ele fica sedento por sangue, e não
consegue se controlar. — Faço uma pausa. — Agora, é mais o
menos assim, que eu me sinto. — Completo.
— Ah! Como o frenesi de drácula. — Ele diz com um
sorriso de canto e por Deus! O sorriso dele é tão perfeito.

Eu estou nos céus, nem nos meus melhores sonho eu


imaginei que me renderia a um contrato de casamento, já li
vários romances nesse estilo, mas nunca pensei que isso
aconteceria comigo e daria certo, a única coisa que eu preciso, é
falar com o Charles, e encerrar de uma vez por todas, essa
confusão. Eu realmente não posso continuar enganando-o.

— O que está se passando nessa cabecinha? — Thomas


pergunta, quando nós dois estamos na pequena cozinha da casa
que ele reservou para nós dois, preparando o nosso café.

— Preciso terminar com o Charles, — eu digo de forma


direta, sem querer esconder nada dele e Thomas assenti.

— Já sabe quando vai fazer isso?

— Amanhã mesmo, ao menos, eu espero que seja amanhã.


Ele me evita e nem mesmo aparece na faculdade. Não me atende
e nem sequer se dá ao trabalho de responder minhas mensagens,
mas eu sei que após esse fim de semana, terão provas de fim de
semestre. Ele não pode continuar a faltar, — expliquei e Thomas
suspirou, parecendo preocupado.

— Você quer que eu te acompanhe? Talvez ele não lide bem


com o término.

— Não precisa, Charles é um menino bom, ele vai entender.


— Eu falo para ele, mas a verdade era que eu não tinha certeza
disso, porque… Charles andava diferente.

Depois do café, Thomas e eu descemos para andar pelas ruas


de Veneza, navegamos em uma das barcas e até mesmo comemos
algumas comidas de rua que pareciam deliciosas. Mesmo sem
turistas e pessoas pelo lugar, havia ali alguns músicos de rua,
que continuavam a tocar, dançar e fazer seus teatros musicais.
Nós dois acabamos passando a maior parte do tempo lá e por
mim, o domingo não teria fim. A companhia do Thomas me
completava de uma forma surreal e era como estar vivendo em
um sonho.

Quando voltamos para aquela casinha, já ao entardecer,


Thomas preparou o nosso jantar e eu fiquei abismado com as
suas habilidades na cozinha. Sempre que eu achava que aquele
homem não podia ser mais sexy, ele me mostrava o contrário;
mas foi depois do jantar que as coisas esquentaram uma vez
mais e depois de transarmos por todo o quarto e até mesmo na
sacada, com a luz da lua sobre nós dois. Eu me vi adormecendo
nos braços dele, apenas para ser arrancada dali ao amanhecer.
Arrancada do meu sonho de verão, para a realidade.

Thomas dirigiu até a minha casa e quando desci com as


malas, — cheias de coisas que comprei na Veneza, — ele me
beijou e me disse com um sorriso de canto.

— Está entregue, minha doce Bella, — Thomas fala quando


para o carro na frente da minha casa, — espero que tenha
gostado do nosso fim de semana.
— Eu amei… — falo com sinceridade e a porta da casa se
abre, com meu pai e minha mãe nos encarando com um sorriso
amplo nos lábios.

— Pipoca. — O meu pai me chama e eu acabo devolvendo o


sorriso.

— Papá, cheguei.

— Eu já estava com saudades. — O meu pai fala, me


puxando para um abraço.

— Senhor McNight. — Thomas o cumprimenta, entregando


minhas malas a ele e sorrindo de forma polida, — é um prazer
rever o senhor.

— Pode me chamar apenas de Henry, garoto. Logo seremos


uma família, — meu pai diz e Thomas parece menos rígido ao
ouvir isso.

— Certo, Henry.

— Como foi a viagem? — A minha mãe pergunta,


interrompendo eles dois e eu saio do abraço do meu pai e
caminho em direção da minha mãe, e a abraço.

— Foi maravilhosa, nós fomos a Veneza!

— Fico feliz que tenha se divertido, querida… — A minha


mãe sussurra no meu ouvido.

— Você não imagina o quanto. — Eu confesso a ela, com


um sorriso de canto, enquanto meu pai segura no ombro de
Thomas e o puxa para dentro da nossa casa.

— Thomas, fique conosco, você deve estar cansado. Entre e


tome café, você não precisa viajar de volta para casa hoje, — ele
diz e Thomas acaba assentindo.

— Obrigado. — Um sorriso surge no canto dos lábios dele,


— eu adoraria ficar, assim, posso levar a Bella na faculdade.

— Ótimo, — papai disse, — falarei para prepararem o


quarto de hospedes para você.

Eu acabo entrando na frente com a minha mãe e logo, vejo


Thomas seguindo atrás de nós, ao lado do meu pai. Eu subi para
o quarto com a minha mãe, já que por estarmos ali tão cedo, eu
tinha que me trocar rápido e descer para o café, antes de ir para
a faculdade.

— Bella, tem alguma coisa que você queira me contar? —


Ela pergunta assim que se senta na beira da banheira, onde eu já
estava terminando de preparar para o meu banho. Um banho
merecido antes de um longo dia cansativo que viria a surgir.

A minha mãe é pior que gavião, não deixa nada passar.


Então era claro que ela havia notado alguma coisa.

— O momento certo, chegou. — Eu acabo dizendo, sentindo


o meu rosto corar enquanto falo.

— Uau! E como foi? — Ela perguntou parecendo curiosa e


eu respondi.
— Dolorido..., mas bom.

— Ele não te pressionou, não é? Porque se ele… — ela


começou e eu neguei com a cabeça.

— Não mamma, muito pelo contrário, ele foi maravilhoso.


— Fecho os meus olhos enquanto falo, e me lembro de cada
toque dele sob o meu corpo. — Thomas é maravilhoso.

— Deus — ela ri, — precisamos ir ao médico depois.

— Por quê? Você acha que eu estou grávida? — Pergunto já


entrando em desespero e ela nega enquanto ri.

— Não, você só precisa fazer alguns exames. — Ela diz,


parecendo se divertir, — e claro, não se esqueça de continuar
com os anticoncepcionais.

— Ok, não vou me esquecer.

Murmurei, afundando na banheira, enquanto ela deslizava


uma das mãos por meus cabelos.

— Mas querida… e o Charles?

— Hoje. Hoje mesmo eu vou falar com ele, espero que ele
entenda. — Falo em um grunhido baixo e ela suspira
pesadamente.

— Se ele realmente te ama mesmo, ele vai entender e


respeitar a sua escolha, meu amor.
— Eu espero que sim, mamma. — Digo com a voz trêmula,
— eu não queria machucar o Charles, nunca quis.

— Eu sei disso, e tenho certeza de que ele também sabe. —


Ela disse com um sorriso de canto e eu me senti ao menos um
pouco, mais confiante.
Os dias haviam se passado e Bella estava praticamente me ligando todos os
dias, ao ponto de quase parecer algo desesperado. Mas como Jess tinha me dito
para ignorar qualquer contato que Bella estivesse tentando fazer, era isso que eu
estava fazendo.

— A sua namorada foi viajar com o noivinho dela pra


Veneza, sabia? — A minha irmã soltou assim que entrou no
quarto, os seus olhos revirando com claro desdém.
— E você por acaso… poderia me dizer como você
descobriu isso? — Perguntei com as minhas sobrancelhas
unidas, — arranjou um namorado também pra te contar tudo?

— Não, esse trabalho é totalmente seu. — Ela soltou, um


sorriso pairando em seus lábios, — eu contratei um detetive.

— Como é que é? — Falei, enquanto a minha cabeça tentava


me convencer, que aquilo era alguma brincadeira que Jess estava
fazendo comigo, — me diga que você não está usando as suas
economias para isso.

— Deixa que eu me viro, e deixa que eu resolvo, pode ser?


— Ela falou ao se sentar ao meu lado na cama. — Tenho os
meus métodos.

Bufei.

— Então, ela está com ele? — Eu resolvi não focar na


questão das finanças naquele momento, para ir ao foco onde
provavelmente a minha irmã queria chegar desde o começo.

— Sim, mas eu já tenho um plano, irmãozinho, nem


esquenta muito com isso. — Ela falou com tanta confiança, que
eu me perguntava de onde ela havia tirado a mesma.

— E qual seria? — Já perguntei com certa descrença.

— Ela vai querer conversar com você... para terminar e você


vai levá-la para andar a cavalo. — Ela começou a dizer, o um
arquear largo se mostrando em seu semblante, — e você vai ser
um príncipe encantado, um que vai fazê-la questionar, com qual
dos dois ela quer ficar.

— E se mesmo assim ela preferir aquele noivo dela? —


Questionei, até porque… um dia sendo um príncipe encantado,
não ia mudar a minha imagem, nem a minha vida.

— Você pode… se acidentar. — Ela me disse aquilo como se


não fosse nada.

— Perdão?

— O que foi? Dá pra fingir alguma coisa, ou sei lá… pelo


menos faça um esforço e quebre uma perna. Ela é rica, não é?
Pode te pagar um bom tratamento.

A cara de pau que ela teve de falar aquela merda pra mim,
foi sem tamanho, mas ao mesmo tempo? Eu sabia que ia dar
algum jeito de resolver aquilo, de receber a piedade de Bella.

— E isso vai ser para ela não conseguir terminar comigo,


certo?

— Você pegou rápido, irmãozinho. — Jess riu, um de seus


braços ficando em torno dos meus ombros, — ela vai ficar com
tanto dó de você, que isso… vai se estender mais um pouco.

— Certo, você já resolveu grande parte, mas… e o haras?


Aquilo não é caro? — Não evitei de dizer, porque
convenhamos… a não ser que ela tirasse aquele dinheiro de
algum lugar oculto, nós não tínhamos condições para pagar
aquilo.
— Eu já paguei.

Os meus olhos se arregalaram.

Eu até pensei em perguntar de novo como raios, mas


honestamente? Eu sabia que a resposta seria a mesma de antes.

— Enfim… — suspirei, — você acha que isso vai dar


certo?

— Claro que vai, escuta a sua irmã aqui. — Jess falou com
aquela convicção de sempre antes de me abraçar, e bagunçar o
meu cabelo por completo.

E eu não sabia por que eu ainda ia na dela, mas


honestamente? Acho que era porque não tinha muito para onde
correr.

Eu acabei indo para faculdade um pouco depois de acordar e


ter toda aquela rotina repetitiva de sempre, apenas para chegar e
ficar parado naquele portão, esperando Bella chegar para falar a
minha proposta.

Mas isso não demora muito, já que Bella logo chega com o
seu suposto noivo, em um carro que era claramente de luxo, e
esbanjava isso.
— Bom dia, minha princesa. — Tento agir como de
costume, fazendo até mesmo um sorriso brotar nos meus lábios.

— Bom dia. — Bella fala, e o seu tom… realmente não era


mais o mesmo de antes.

Eu realmente esperava que o plano de Jess, desse certo.

— Charles… eu preciso conversar com você sobre algo. —


Ela logo lançou, o que me surpreendeu, porque eu pelo menos
achava que teria mais tempo.

— Pode ser… depois que as aulas acabarem? — Perguntei


com certa apreensão — eu também tenho algo para te dizer.

— Claro. — Ela acabou sorrindo, apenas para começar a


andar, e ir em direção a própria sala, nem mesmo parecendo se
importar mais se eu estava ao seu lado ou não.

Mas de qualquer forma, talvez fosse o esperado, o que me


fez ficar esperando um certo tempo, até todas as nossas aulas do
dia acabarem. Uma parte minha se questionando como eu
convenceria Bella a ir junto comigo naquele haras.

Porque convenhamos, nem eu era tão iludido para achar que


Bella aceitaria ir para aquele lugar, ainda mais… com alguém
que ela queria terminar.

Contudo, esses pensamentos apenas me fizeram passar por


aquele dia, porque eu fiquei tão preso na minha cabeça, que as
aulas pareciam até mesmo, terem acontecido em um flash, o que
me fez ir logo para o departamento de Bella.
Ela deu um sorriso fraco quando me viu, para logo depois,
ela se aproximar, com aquele ar de quem só queria acabar logo
com tudo aquilo, e esquecer quando chegasse em casa.

Mas não seria isso que iria acontecer.

— Bom… o que você queria me dizer? — Ela me perguntou


primeiro, e eu agradeci aos céus por isso, pelo menos, enquanto
a levava para sentar-se em um banco que aquele campus possuía,
um que ficava um pouco ao canto, praticamente isolado dos
outros.

— Olha, eu… paguei um lugar para andarmos a cavalo. —


Eu falei, fingindo que eu estava meio sem jeito, — e eu queria
saber se você queria ir, até porque… eu fiz isso porque queria ir
com você, você sempre falava tanto em como andava de cavalo
na infância.

Culpa.

Era isso que estava estampado em seu rosto, o que fez com
que ela risse de nervoso.

— Sério? Isso é ótimo… — Ela soltou, nem parecendo saber


como mentir direito, os seus olhos desviando dos meus.

— Que bom que gostou, porque… eu tinha agendado a nossa


visita para hoje, — sorri, — inclusive, eu não estava falando
com vocês esses dias, porque… eu estava em um emprego de
primeiro período, para conseguir a reserva. — Expliquei,
tentando me dar uma justifica para aqueles dias em que eu
estava ausente, — vamos? — Me levantei e estendi a minha mão
para ela, que ela aceitou.

Nós pegamos um táxi para irmos até o haras, e apenas para


fingir mais um pouco que eu não sabia de nada, eu não pude
evitar de perguntar.

— E perdão, o que você queria me dizer? Sinto que era algo


importante.

— Não era nada demais... — Ela acabou deixando de lado,


os seus olhos vidrados na janela, enquanto nós seguimos aquele
trajeto de vinte minutos… em total silêncio.

E quando chegamos até lá, eu abri a porta para ela, e a


ajudei a descer do carro, e como no haras tinha um lugar para
comer, eu também a levei até lá, agindo como um príncipe
encantado a cada passo que eu dava.

Bella claramente não conseguia se sentir confortável com


aquilo, e isso me fez notar até que rápido que… eu iria ter que
me acidentar de alguma forma.

Céus… eu não queria quebrar uma perna.

Contudo, eu precisava continuar, não precisava? Então, eu


acabei levando-a até o celeiro, o que fez Bella já ir até um dos
cavalos para dar-lhe carinho.

— Você é o irmão da Jess? — Um homem que possuía uma


barba volumosa, pergunta ao se aproximar.
— Sim, sou. — Respondi, o que fez o homem baixar o
próprio tom.

— Os cavalos já estão prontos, pegue o da sela marrom. —


Ele me aconselha, o corpo dele saindo de perto, logo em
seguida.

— O que aconteceu? — Bella acaba perguntando ao se


aproximar.

— Ah, não foi nada demais, o moço só veio avisar que os


cavalos já estavam prontos. — Falei junto de um sorriso.

— Então, vamos. — Ela diz ao ir na frente, como se


quisesse mesmo que de algum modo, se distanciar.

Eu acabo ajudando Bella a subir no cavalo, e eu vou até o


outro que tem uma cela remendada — o que na minha cabeça,
fazia sentido ser o que me ajudaria a me acidentar.

Eu suspirei ao pensar naquilo, os nossos cavalos começando


a andar devagar enquanto segurávamos as rédeas.

Pelo menos, até um barulho alto surgir, e o cavalo de Bella


se assustar, começando a correr de modo descontrolado.

— SOCORRO! ALGUÉM! SOCORRO! — Bella começou a


gritar, o que fez com que o cavalo se movesse de forma ainda
mais agressiva, mesmo com Bella puxando as rédeas para ele
parar, e quando o cavalo se deparou com um muro, ele ficou de
pé e… a cela não estava firme.
Bella… havia caído do cavalo.
Depois que deixei a Bella na faculdade, eu me foquei em
voltar para a Roma e também, para o dossiê que havia
finalmente chegado. O dossiê do tal namoradinho de Bella.
Charles.

Eu tinha tentado encontrar tudo antes da viagem, porque


precisava saber onde a minha noivinha tinha se metido antes de
ser entregue a mim, — mas não havia sinais dele em Florença,
— e eu tive que ir a fundo, para descobrir onde o tal Charles
havia morado antes disso.

Foi decepcionante saber que aquele imbecil tinha


conseguido se aproximar de Bella com tanta facilidade. Era
obviamente um relacionamento baseado em interesse, e eu só
conseguia pensar em como ela tinha sido tão boba ao ponto de
acreditar na aproximação daquele garoto.

Deus.

Como Bella podia ser uma pessoa tão boa?

Sibilei.

Agora me sentia mais preocupado com essa conversa, —


onde ela supostamente terminaria com ele, — porque alguém
que foi capaz de se aproximar por puro interesse, não deixaria
Bella sair tão facilmente.

Não.

A irmã do tal Charles, parecia problemática e difícil de se


ter por perto, e o rapaz? Nada além de um fracassado. Ele era
um menino mediano, nada além disso e obviamente, manipulável
ao extremo, então… até onde ele iria pela ideia de manter Bella
ao seu lado?

— Chega… eu vou até a Bella. — Resmunguei, e pegando


minha arma, puxei o meu celular para chamar os meus homens,
mas a minha mãe entrou no meu escritório, com aquela
expressão de que tinha algo para me falar.
— Filho... — A minha mãe me chama e eu acabo a
encarando com o meu corpo rígido.

— O que aconteceu? — Perguntei e ela grunhiu.

— A Bella…

O nome de Bella saindo da boca dela, me fez travar.

— O que aconteceu com a Bella? — Eu perguntei e agora,


minha voz estava carregada de um sentimento que eu
desconhecia. Preocupação.

— Ela sofreu um acidente, Thomas. A Liz me ligou, porque


acabaram de chegar no hospital para onde a Bella foi levada.

Depois de ouvir aquilo, meu corpo se moveu sozinho e


quando me dei conta, eu estava dirigindo para Florença. Para a
minha Bella.

O que diabos tinha acontecido? O que aquele maldito


moleque tinha feito a ela? Bella disse que iria terminar, então
qual era o problema daquele moleque? Por que ela tinha sido
envolvida em um acidente?

Eu vi o carro dos homens dos Kuhn atrás de mim, e me senti


aliviado, — porque se eu tivesse que me livrar do corpo daquele
filho de uma puta, — eu não teria que me dar ao trabalho de
esperar que eles chegassem a Florença.

Eu não sei quantas horas demorei na estrada da minha casa


até o hospital; mas quando cheguei lá, já estava perto de
escurecer. A primeira coisa que eu vi após passar pela porta da
emergência, foi a Liz, sentada. O olhar dela parecendo
cansado.

— Thomas… — ela diz com aquele tom terno.

Mas sinceramente, não é ela quem me preocupa e nem quem


eu quero ver.

— Cadê a Bella? O que aconteceu com ela? — Eu perguntei


e Liz suspirou.

— Ela está fazendo alguns exames.

— O que aconteceu? — Perguntei uma segunda vez e Jenny


pigarreou.

— Bela caiu de um cavalo.

Impossível. Por que isso aconteceria? Nem mesmo fazia


sentido.

— O que ela estava fazendo? Como ela caiu de um cavalo,


onde ela estava? — Perguntei, minha cabeça a mil, e Jenny
pigarreou enquanto Liz olhava para o chão.

— Ela estava com o... — Jenny faz uma pausa, como se não
quisesse continuar e isso já dizia muita coisa sobre quem estava
com ela, então quando ela continuou, não me surpreendeu nem
um pouco. — Bella estava com o Charles.

Jenny concluiu, mas não parecia feliz com aquilo.


— E onde aquele desgraçado está? — Perguntei com o
maxilar travado.

— Thomas…

Quando ela abre a boca para falar, eu ouço a porta se


abrindo atrás de mim. Eu me viro para ver quem era e dou de
cara com o Charles. Ele era ainda mais insignificante
pessoalmente.

— Você é mesmo muito cara de pau! — Rosnei e sem pensar


duas vezes, fui pra cima dele, meu punho fechado atingindo
aquele rosto quadrado em cheio, — seu desgraçado! O que você
fez com a Bella? — Perguntei o segurando pela gola da camisa,
sacando sem nem pensar duas vezes minha pistola e apontando
para a cabeça dele.

Pouco me importava que eu estava em público e em um


hospital, se algo acontecer com minha noiva, os miolos de desse
insignificante será recolhido das paredes.

— Thomas, fique calmo! — Jenny me pede, mas eu estou


bravo demais, bravo demais para pensar ou me controlar. Eu só
quero estourar os miolos desse filho de uma puta.

— Você achou mesmo que ia sair impune depois de


machucar a bela? — Perguntei e vi o medo nos olhos daquele
moleque.

— Tia Liz! Faça alguma coisa! — Jenny pede, mas Liz a


encara e depois, olha para Charles no chão.
— Ele merece isso e muito mais. — Ela fala, — a Bella
disse que ia terminar com ele… ele fez algo a minha menina.

— Você acha mesmo que ela vai ficar com você? A Bella me
ama, ela vai se casar comigo! — Aquele desgraçado teve a cara
de pau de dizer e eu bati outra vez na cara dele, e dessa vez foi
com a minha arma.

— Para de falar merda, seu desgraçado! — Eu falo e quando


engatilho minha arma para atirar e dar fim ao filho da puta,
Brian surge e me arrancada de cima dele.

— Thomas! Você não pode, guarda essa arma! Aqui é um


lugar público, você precisa se conter, — ele diz e eu sibilo de
raiva.

— Eu vou…

— Você vai me ouvir, — Brian diz ofegante, limpando o


suor da própria testa. Ele devia ter se matado pra chegar ali a
tempo e eu não podia negar que ele tinha razão.

Guardei minha arma e segurando Charles pelo colarinho, eu


cuspi as palavras na cara dele.

— Se acontecer alguma coisa com ela eu te mato, está me


ouvindo? Eu mato você, mas antes eu destruo a vida da vadia da
sua irmã.

Brian me afasta de Charles e os homens dos McNight, levam


ele dali, me deixando na sala com Liz e Jenny, à espera de
Henry.
(…)

O expandir e o contrair seu peito, a pele pálida, mas ainda


quente. São as únicas coisas que não me deixam enlouquecer de
vez.

Bella ao cair da sela do cavalo, bateu a cabeça sofrendo um


traumatismo craniano, provocando um edema cerebral. Os
médicos decidiram deixá-la sedada para que o inchaço
desaparecesse. Hoje é o dia em que a medicação foi reduzida, o
dia em que eu espero para ver mais uma vez os brilhos dos olhos
de minha noiva.

Não deixei o hospital um minuto sequer nestes últimos dias.


Mesmo quando seu pai me deu um ultimato, eu nunca a
abandonaria nesse momento.

E a dor dela simplesmente não acordar, me destruía por


dentro.

Me aproximo da cama, tomando suas mãos nas minhas. Me


debruço sobre seu corpo, beijando sua testa demoradamente.

— Volta logo para mim, querida. — Sussurrei, querendo


poder beijar seus lábios, abraçá-la enquanto ela sorria. Ver o
rubor tomar conta de seu rosto, quando eu falava alguma
sacanagem. — Eu, preciso de você, Bella. — Confesso — eu te
amo.

O barulho ensurdecedor preenche o quarto e eu olho para o


aparelho ao lado totalmente alarmado, a linha reta agora não
produzia um bipar, mas um som continuo.

— Não, porra, não... Bellaaa — grito por ela por seu nome
enquanto Jenny e Brian, entram na sala seguidos pela equipe
médica.

Eles me forçam a sair dali, mas eu não quero, eu não posso


deixá-la, lá.

— Vou pegar um café, você quer? — Jenny pergunta, mas eu


nego com a cabeça. E bem quando ela estava prestes a sair, o
médico de Bella parou em frente a nós.

— Vocês são os familiares da Bella McNight? — Ele


pergunta e Liz se levanta.

— Sim, eu sou a mãe. Como ela está?

— Ela está bem, acabou de acordar.

— Graças a Deus! — sussurramos em uníssono.

— Podemos ver ela? — Liz pergunta com a voz chorosa e o


médico sorri.

— Sim. Só temos um pequeno adendo aos familiares.

— Qual? — Eu pergunto tomando a frente.


— Fizemos mais alguns exames e edema desinchou, mas a
senhorita McNight, sofreu devido a concussão. Ela pode sofrer
com dores de cabeça, tontura, visão embaçada, náusea e vômito
por um tempo. Também é normal que sinta dificuldade para se
lembrar de novas informações e em casos extremos, pode até
mesmo causar confusão e uma leve amnesia.

Pisquei.

— Amnesia?

— Sim, — o médico pigarreou, — isso quer dizer que a


senhorita Bella pode não se lembrar de algumas coisas.

— Como o quê? — Liz questionou e o médico suspirou.

— Como o acidente que a fez se machucar. Nós checamos e


ela está saudável, mas… não se lembra de nada. Precisamos que
a família se aproxime, para vermos até onde sua memória foi
danificada.

Depois de ouvir tudo aquilo, nós acabamos seguindo o


médico, e pela primeira vez na minha vida, o meu coração
estava acelerado. Uma parte minha, achava possível que ela não
se lembrasse de nós dois e principalmente de mim, mas a outra
estava… irritantemente ansiosa com tudo isso. E ali, bem
quando abrimos a porta, Bella sorriu para Liz.

— Mamma... — Bella fala estendendo uma mão para a mãe.

Ela está pálida, tem um roxo no canto da sua testa e aquela


roupa de hospital, conseguia ainda assim a deixar bonita.
— Bella, como você está? — Jenny pergunta quando se
aproxima e Bella continua a sorrir.

— Com um pouco de dor de cabeça. — Ela diz não


parecendo muito feliz.

— Você nos deu um susto e tanto, — é a vez de Liz falar,


abraçando Bella, que me encara com curiosidade.

— O que aconteceu? — Bella pergunta, olhando agora para


sua mãe.

— Você… caiu de um cavalo. — Liz conta com a voz falha e


então, olha para mim. Pedindo em silêncio para que eu me
aproxime.

Meus passos são lentos e comedido, seus olhos se viram em


minha direção, direciono um sorriso a ela, mas sei que não
chega aos meus olhos, quando uma ruga surge em sua testa.

Bella olha de mim para sua mãe e novamente, seus olhos


voltam aos meus. E aquele brilho, o brilho que eu via sempre
que ela olhava para mim, não se faz mais presente. Porque... ela
se esqueceu de mim?

Bella querida, você não lembra de Thomas? — Liz a


questiona, quando toco a mão de Bella e ela se afasta como se
meu toque a queimasse.

— Thomas é meu noivo, certo, mamãe?

— Isso, minha pequena.


Eu me mantenho ainda calado sem querer assustá-la.

— Mas o que tem ele, mamãe. Que dia é hoje? Amanhã não
seria o dia do nosso noivado?

Eu engulo em seco, porque Bella realmente, não se lembra


de mim.

— Bella, você realmente não se lembra do que aconteceu,


nada do que aconteceu nos últimos dias? — Jenny questiona e
depois, olha pra mim, — nem do Thomas?

— Não. A última coisa que me lembro, é de estar na


faculdade com Charles. — Bella fala com simplicidade.

Porra e nada mais me dói, depois de ouvir que sua última


lembrança se diz em relação a ele.

Mais uma vez ela olha para mim.

— Quem é você?

— Eu sou Thomas Kuhn, o seu… noivo. — Eu falo e ela


sorri pra mim.

— Ah! É com você que eu vou me casar. — Ela pergunta


com inocência e eu sinto minha cabeça girar.

— O noivado já aconteceu, não se lembra? — Liz pergunta,


parecendo preocupada e ela nega com a cabeça.

— Não, eu só me lembro que eu ia conhecer ele no


noivado... — Ela faz uma pausa e me encara. — Me desculpa,
Thomas.

— Tudo bem. — É a única coisa que eu consigo dizer, a


raiva se juntando a indignação. — Eu vou esperar lá fora,
realmente não quero atrapalhar.

Bella nem sequer olha para mim quando eu saio pela porta e
tudo que eu consigo pensar: é que eu vou matar o maldito do
Charles.
Eu acordei no hospital e todos estavam falando sobre coisas
que eu me esqueci, mas tudo que eu conseguia me lembrar, —
depois de me esforçar muito, — era de estar pronta para ir à
casa do Thomas para o noivado, e depois escuridão.

Não consigo me lembrar dele naquela noite e muito menos o


que aconteceu entre nós depois disso, minhas lembranças vagam
apenas em torno de Charles, mas meus sentimentos parecem
bagunçados.
É frustrante saber que perdi a memória, e que já noivei com
o Thomas. Não vou negar que ele é um homem muito lindo, os
seus olhos azuis são penetrantes e a forma como ele me olhou
quase me fez suspirar por um segundo.

Com tudo isso eu me lembro do Charles, e preciso saber


como tudo aconteceu nos últimos meses. Eu preciso saber como
o meu Charles ficou em meio a toda essa situação. Eu não queria
por ele em perigo e certamente não queria envolvê-lo no meu
mundo, mas sabia que não havia outras saídas, principalmente
porque agora, eu já estava noiva e prestes a me casar.

— Mamma, você pode trazer o meu celular? — Eu pergunto


quando todos parecem mais calmos, e ela me encara com um
sorriso de canto.

— Você o perdeu, meu amor. — Ela me fala com


simplicidade.

— Sério? Que droga…

— Sim, mas eu pedi para o seu tio Hendrick comprar outro,


e daqui uns minutos ele chega. Ele e a sua tia estavam ansiosos
pra te ver.

— Obrigada. — Faço uma pausa, meus olhos indo para a


janela, — posso lhe fazer uma pergunta?

— Claro meu amor, — ela me disse se sentando do lado da


minha cama.
— Eu e o Thomas… parecemos nos dar bem? — Pergunto
com curiosidade e o meu rosto acaba corando.

— Na verdade sim, querida, — ela diz e segurando em uma


das minhas mãos, continua, — nós não esperávamos que você e
ele acabassem se sentindo assim um pelo outro, mas aconteceu.

— Aconteceu?

— Sim, você e o Thomas se tornaram próximos e pareciam


realmente apaixonados.

— Por que você diz isso? — Acabei perguntando e a minha


mãe riu.

— Querida, vocês foram para Veneza nesse último fim de


semana. Thomas preparou tudo e até mesmo reservou grande
parte da cidade para você.

Eu pisquei, incrédula com o que tinha acabado de ouvir.


Alguém realmente poderia fazer isso? Deus. Thomas Kuhn
parecia completamente louco, mas ainda assim, eu não
conseguia me lembrar de absolutamente nada. Era um vácuo,
apenas um vazio.

No fim, aquela conversa não foi tão útil, mas eu não


consegui esquecê-la, e depois que o meu tio Hendrick chegou
com o meu celular, eu configurei tudo de novo e agradeci a Deus
por ter mantido meu antigo número.

Graças a isso, a primeira coisa que fiz, foi enviar uma


mensagem para Charles.
[Eu]: Oi, como você está?

[Charles]:Bella, eu estou bem, estou

preocupado com você. Como você está?

Um sorriso surgiu em meus lábios, porque o meu Charles


era sempre tão doce e preocupado, que tornava essa mensagem,
reconfortante. Ao menos uma coisa não havia mudado.

[Eu]:Estou bem, com um pouco de dor de cabeça, mas não é


nada demais.

[Charles]:A culpa foi minha, me desculpa.

[Eu]:Charles, não sei o que aconteceu, acabei perdendo


algumas das minhas memórias, mas… eu sei que não tem
como isso ser culpa sua, tenho certeza. É que eu não me lembro
de nada.

[Charles]:Nós fomos ao haras para passarmos um tempo


juntos.

[Eu]:Tenho certeza de que me diverti, mas… está tudo bem


entre nós?

[Charles]:Ah, sim! Claro que está. Você amou o lugar, e


até falamos sobre você me apresentar aos seus pais. Por que
não estaríamos bem?

Eu vi a mensagem que Charles me mandou e aquilo não


parecia fazer sentido pra mim, mas Charles não tinha motivos
para mentir. Ele era o meu namorado e isso realmente… fazia
sentido com o que vínhamos falando a tanto tempo.

[Eu]:Sério? Fico feliz em saber.

[Charles]:Eu te amo, minha princesa.

Ele me mandou, mas aquilo pareceu estranho, — e ainda


assim, — eu enviei a resposta que era esperada que eu
enviasse.

[Eu]:Também te amo.

Eu não fazia a menor ideia do que fazer, nem de como seria


depois disso, mas… uma parte minha estava feliz de ao menos
ter Charles comigo. O problema era… como eu poderia manter
ele?
Já perdi as contas de quantas doses de whisky eu tomei, a
minha cabeça está rodando e quando olho para o palco do bar,
tem uma ruiva dançando e cantando.

— Tommy, por que você não atende o telefone? — Quando


olho para o outro lado dou de cara com a Lunna.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto com uma cara


fechada e ela bufa como se não fizesse sentido.

— O tio Vicente pediu para eu vir atrás de você.

— Como me achou? — Eu pergunto irritado, — vocês nem


deveriam saber onde eu estava.

— Tenho os meus contatos. — Ela fala e eu acabo bufando


com frustração, — Venha, vamos embora.

Ela tentou me segurar, me puxar pelo braço, mas eu não


queria. Não queria lidar com aquela merda de realidade, onde a
Bella havia me esquecido por completo. Eu tinha me esforçado
demais para acabar assim!

— Não! Eu não vou a lugar nenhum! — Acabei dizendo


irritado, me soltando dos braços de Lunna.
— Você não pode ficar assim por causa de uma mulher, e ela
nem é tudo isso! — Lunna falou e isso me irritou.

— E que porra você entende de amor? — Perguntei


irritado.

— Olha... logo ela recupera a memória e vocês se acertam.

Ela tentou, mas isso não era suficiente pra mudar minha
mente e meu coração.

— E se ela não recuperar? E se toda essa merda foi em vão?


— Resmunguei, — Bella estará presa a mim de qualquer forma,
mas isso não muda a verdade… ela não se lembra de nada.

— Você se casa comigo. — Ela diz rindo, mas isso não faz o
menor sentido.

— Nunca, Lunna. Isso não aconteceria em hipótese alguma,


por que você? Você não passa de uma vadia louca.
Parece que um caminhão passou por cima da minha cabeça,
preciso me controlar quando eu for beber e principalmente,
quando faço a merda de dispensar todos os meus homens e
mandar Brian para longe. Eu ainda tinha a minha arma, ainda
tinha o meu renome e sabia que tinha um dos homens de
confiança do meu pai, do meu lado, — mas ainda assim, — era
perigoso fazer esse tipo de merda.
Quando abro os olhos percebo que não estou no meu quarto,
os “flashs” da noite passada, surgem. Droga!

Eu estou na porra da cama da Lunna.

— Bom dia, Tommy. — Ela fala quando entra no quarto, seu


olhar parecendo mais doce.

— O que aconteceu? — Pergunto enquanto me sento na


cama e ela bufa olhando para baixo, para mim. É aí que eu
percebo que estou literalmente nu, e espero que eu não tenha
feito nada com aquela maluca; mas isso sequer faria diferença?

Minha noiva não se lembrava de mim e nosso casamento


estava fadado a porra do descaso. Eu teria que me esforçar outra
vez para mostrar a Bella o seu erro em estar com aquele traste, o
único problema era que agora, eu tinha o peso dos meus
sentimentos sobre a minha razão.

— Nossa! É assim que vai me tratar depois da noite que


tivemos? — Ela pergunta e eu sibilo com raiva.

Lunna usava uma camisola vermelha, e eu não vou negar


que ela estava gostosa dentro dela, mas nessa altura do
campeonato, ela não me atrai mais.

— Tenho certeza de que não aconteceu nada entre nós, —


afirmo e ela bufa.

— Como não? Acha que não dormiria comigo?


— Acho que você não estaria andando com tanta facilidade,
se eu tivesse dormido com você na noite anterior, — eu falei e
Lunna sorriu de canto, seus lábios arqueados como se ela
soubesse que era verdade.

— Olha Tommy, eu não vou discutir com você, a sua cabeça


deve estar cheia, e se não quer assumir o que aconteceu, que
seja… — ela diz e eu a ignoro, porque a minha cabeça está
girando e eu já não sei se o meu estômago está embrulhado pela
bebida, ou pela frustração.

— Onde estão as minhas roupas? — Pergunto de forma seca,


e ela aponta para uma porta cinza.

— No banheiro.

Me levanto sem me dar ao trabalho de me enrolar no lençol,


e vou direto para o banheiro. Enquanto penso que merda que eu
fiz, e principalmente… como eu não lembro de nada?

(…)

Sai às pressas da casa da Lunna, passei numa floricultura e


comprei uma rosa para a minha noiva. Claro, ela não parecia se
lembrar de mim ainda e isso só me deixou mais frustrado ao
ponto de que decidi ver o Brian, eu precisava falar com ele.

— Você, na minha casa! — Brian fala com aquele enorme


sorriso nos lábios. — O mundo deve estar acabando para você
estar aqui.

— Precisamos conversar.
Eu até entendo a surpresa dele, era mais fácil ele ir até a
minha casa do que eu na dele, mas aquele exagero estava me
irritando. Porque tudo estava me irritando nesse ponto da vida.

— A coisa é séria. — Ele fala, — Vamos até o jardim.

— Já está sabendo da Bella? — Pergunto enquanto


caminhamos como ele sugere, e Brian assenti.

— Sim, eu sinto muito. — Ele fala quando nos sentamos


próximo à piscina.

— O pior de tudo é que ela não se lembra de mim, — acabo


dizendo, — nem de nada que eu fiz ou falei.

— Eu sei que deve ser difícil, mas tenha paciência, logo ela
se lembra, afinal é passageiro.

— Eu acho que não. — Resmungo, — se fosse, ela já teria


se lembrado e eu posso ter feito merda.

— O que aconteceu?

— Eu fui em um bar ontem, e a Lunna foi me buscar. Eu não


me lembro do que aconteceu, só sei que hoje eu acordei nu na
cama dela. — A frustração toma conta de mim. — Estou com
ódio de mim mesmo.

— Sério isso? — Brian ri.

— Sim, como eu fui um idiota, não me lembro de nada o que


aconteceu depois que eu disse que nunca me casaria com ela.
Bebi demais.
— Sabe que a Lunna joga sujo.

Ele diz e isso não me ajuda muito.

— Brian, eu sei que ela é capaz de tudo. — Eu falo e ele


sibila.

— Merda, a pior parte, é que eu e ela, dormimos juntos na


noite anterior. — Brian confessa.

— O que essa maluca está pensando? — Eu pergunto com as


sobrancelhas unidas e Brian dá de ombros.

— Vamos esperar, e ver o que ela está tramando, agora você


precisa focar na Bella.

— Eu estou focado na Bella, mas agora? Estou cansado e de


ressaca.

(…)

Amanhã é o aniversário da Bella, não sei nem mesmo se ela


se lembra depois de tudo o que aconteceu.

— Aonde você vai? — Mamma pergunta quando entra na


cozinha e eu a encaro.

— No haras, preciso checar algumas coisas. — Falo e tomo


o último gole do meu café

— Eu já pedi para investigarem o que aconteceu.

— Obrigado mãe, mas eu quero ir ver se consigo descobrir


algo sozinho. Do meu jeito.
— Então ao menos leve o Brian com você. — Ela pede.

— Pode deixar, — falo sem resistência alguma, — apenas


precisava de um tempo ontem.

— Amanhã é o aniversário da Bella. — Ela diz, mudando de


assunto bruscamente e me fazendo pigarrear.

— Você pode… falar com a Liz? — Pergunto, encarando a


minha mãe, que sorri pra mim, enquanto eu admito, — quero
fazer uma surpresa para ela.

— Flores? — Ela me pergunta e eu acabo assentindo.

— Rosas, mamma, muitas rosas.

— Certo, — ela diz rindo, — eu vou me certificar de que


aconteça.

Ela me garante e me despedindo dela pego as chaves do meu


carro e vou direto para o Haras, onde espero pelo Brian.

Um Brian que chega lá minutos depois, com uma expressão


de puro mau humor.

— O que diabos estamos fazendo aqui? Odeio merda de


cavalo, — ele resmunga enquanto me espera responder.

— Preciso encontrar o colar que eu dei para a Bella.

— E você acha que vai encontrar aqui? — Ele pergunta com


descaso e eu bufo.
— Foi onde ela sofreu o acidente, e tenho certeza de que
aqui, eu vou encontrar alguma coisa. — Falo enquanto saímos
do carro, mas Brian não parece nem um pouco convencido.

— Por que você não pede para alguns dos nossos homens
verificar isso? — Ele pergunta e eu acabo sibilando.

— Já pedi, só que eu não tenho paciência para esperar, eu


quero que seja feito agora, e do meu jeito.

— Você não consegue tolerar que as coisas não saiam do seu


jeito, consegue?

Bufei.

— Eu deveria?

Brian riu e enquanto andávamos em direção ao Haras,


encaramos um homem que parecia estar lá para atender quem
quer que chegasse.

— Boa tarde! — O homem barbudo diz enquanto se


aproxima. — No que eu posso ajudar o senhor?

— A minha namorada veio aqui nos últimos dias, e ela


perdeu o seu colar. — Falo de forma sincera e sucinta. — Quero
saber se vocês encontraram algo.

— Ah! Tem um colar com pingente de coração. — Ele fala e


tira o colar do bolso. O mesmo colar que eu tinha dado a ela.

— É esse mesmo. — Falo e ele me entrega, com um sorriso


no rosto. — Você se lembra do acidente que aconteceu?
— Acidente? — Ele fica todo vermelho, parecendo confuso.
— Eu não me lembro, não.

— Tem certeza? — O Brian fala e mostra uma “nota” para


ele. Suborno era sempre bom pra fazer as pessoas falarem, só
não era melhor do que a boa e velha violência. Mas dessa vez,
faríamos ao modo de Brian.

— Acho que estou começando a me lembrar de algo. — Ele


diz, e eu acabo bufando.

— Tem muito mais de onde saiu essa daqui. — Brian falou e


ele sorriu, um sorriso amplo e cheio de malícia.

— O que o senhor quer saber?

— O que aconteceu com os cavalos no dia do acidente? —


Sou eu quem pergunto e ele pigarreou.

— Uma moça me pagou para cortar uma das selas, mas não
fiz nada aos cavalos.

Pisquei.

— E quando a moça caiu do cavalo, para quem vocês


ligaram? — Questionei e ele assentiu.

— Ligamos para a mesma moça que me pagou para cortar a


sela.

— Consegue descrever como ela é? — Brian é quem


pergunta dessa vez ele assenti.
— Sim.

O homem descreve a tal moça e ela tem alguns traços


parecidos com os de Charles, faço um cheque para ele com um
valor bem generoso; e encaro Brian, já sabendo que a pessoa por
trás do acidente, foi a vagabunda da irmã daquele imbecil do
Charles.

Jess.
— Te trouxe um presente. — A Jenny falou ao entrar em
meu quarto, um sorriso largo brotando em seu semblante.

— O que é? — Perguntei, os meus olhos se levantando para


ver o que era.

— Abra o pacote. — Ela me entregou o mesmo, os seus


olhos brilhando como estrelas em um céu limpo e noturno.
Rasguei o pacote com certa urgência — por conta da
curiosidade —, apenas para os meus olhos encararem aquele
Coppead amarelo com o decote em “V”, ele era lindo, mas… eu
não sabia se iria usar.

— Não gostou? — Jenny perguntou, o seu sorriso se


desmanchando.

— É lindo, mas eu não sei se vou usar. — Admiti ao colocá-


lo em cima da minha cama.

— Como não, foi você que me pediu de aniversário. — Ela


me falou com incredulidade, o que me fez arquear uma das
minhas sobrancelhas com pura descrença.

— Sério que eu estava me vestindo assim?

— Sim, depois do seu noivado, você começou a se arrumar


melhor e estava bem feliz. — Ela se sentou ao meu lado ao
dizer, o que me fez suspirar.

— Mas eu ainda estou feliz. — Falei, porque no fim… essa


era a realidade.

— Não Bella, o brilho dos seus olhos não é mais o mesmo,


quando você estava com o Thomas, você parecia estar viva. —
Ela acabou soltando aquilo, o que me fez questionar as suas
intenções.

— Está contra o Charles? — Acabei perguntando, — Vocês


não são amigos?
— Por mais que ele seja meu amigo, para mim, você é mais
importante, e a sua felicidade é em primeiro lugar. Mas… acho
que no momento, isso é mais algo que você precisa resolver
consigo mesma. — Ela fala e ergue as mãos para cima, em forma
de rendição.

— Não é isso que eu estou querendo dizer. — Falei ao ir até


o meu closet, para escolher a roupa que eu usaria para sair. —
Pode me ajudar a escolher?

— Claro que sim. — Jenny fica com nítida empolgação em


seu semblante, para escolher a roupa que eu iria usar. — É o dia
de escolher os bolos hoje, certo?

— Sim. Dia de degustação. — Confirmei, um sorriso


aparecendo nos meus lábios. — Queria que fosse aqui em casa,
mas a minha mãe insistiu que fosse na casa do... Thomas.

— Ah! sim. — Jenny acaba escolhendo uma calça preta, e


me entregando logo em seguida. — Falando em Thomas, ele não
veio mais aqui?

— Não. — Neguei com a cabeça, algumas dúvidas com isso


começando a surgir na minha cabeça, mas… honestamente? Eu
não sei se quero as respostas.

— Que estranho. — Foi tudo o que Jenny fala ao dar de


ombros, apenas para ela se sentar na minha cama de novo.

A minha cabeça começou a ir a um milhão com aquilo,


mas… eu novamente, só preferi não perguntar.
Tanto que eu apenas me troquei depois de Jenny ter
escolhido toda a minha roupa, os meus olhos fixos no espelho.

Eu estava linda.

— Vamos Bella! — A minha mãe me chamou para descer.

— É melhor você ir, sua mãe não gosta de atrasos. — Jenny


soltou enquanto olhava para mim, com aquele olhar amedrontado
de uma criança que havia recebido umas broncas por conta da
falta de pontualidade.

— Não se preocupe Jenny, ainda me lembro que a minha


mãe odeia atrasos, — falei ao ir em direção a porta, os meus pés
descendo as escadas, — já estou descendo!

— Como você está linda, Bella… — A minha mãe falou.

— Estou normal, mamma. — Falo enquanto caminho em


direção ao carro.

— Ah é?

— Sim, mamma. — Já estou ficando irritada. — Podemos


ir?

— Claro. — Mamma ri.

Não sei qual a surpresa, estou vestida como de costume,


pelo menos foi o que a Jenny me disse.
Seguimos em silêncio o caminho, na verdade, eu preferi
ligar o rádio ao invés de conversar com a minha mamma.

— Chegamos!

Mamma fala assim que para o carro na frente de uma


enorme mansão, aparentemente ela tem o mesmo tamanho que a
nossa, e eu me sinto como se já estivesse aqui, uns “flashs” vêm
à minha mente, como se eu entrasse aqui com o meu papá e a
minha mamma... acho que é mais um déjá vu.

— Você está bem? — a minha mamma pergunta quando saio


do carro e fico parada na porta.

— É que parece que isso já aconteceu, mas o papá estava


junto e era noite. — Conto.

— Foi no dia do seu noivado. — Ela me abraça.

— Achei que era mais um déjá vu. — Confesso com a mente


meio desnorteada.

— As coisas vão voltar aos poucos, só espero que não seja


tarde quando a sua memória voltar.

— Está falando por causa do Thomas? — Pergunto.

— Vou deixar você descobrir sozinha, mas sim Bella, tem


muita coisa a se lembrar sobre o Thomas. Vocês dois
surpreenderam todos nós.

Caminhamos para dentro de casa.

Assim que passamos pela sala, uma mulher aparentemente


jovem com os olhos azuis, cabelo curto e com um belo sorriso,
se aproxima.

— Bella, como você está? — Ela pergunta e já me abraça.


— Sou a Francesca, mamma do Thomas. — Sinto um choque
quando ela me abraça.

Forço a minha cabeça, preciso me lembrar de alguma coisa


que já vivemos juntas, mas nada vem.

— Oi, Francesca. — A minha mãe a cumprimenta.

— Liz, como está?

— Bem.

— Vamos para a piscina, como está fresco, achei que lá


seria o melhor lugar.

— Como você preferir. — A minha mamma fala e


caminhamos em direção à piscina.

Mas eu paro quando chegamos próximo às escadas e no topo


dela está o Thomas, ele me encara, sinto um frio na barriga e
depois ele sai.

— Vamos Bella. — A minha mamma me grita e corro atrás


delas.
Fico me lembrando do Thomas e não sei o porquê, mas a
atitude dele me incomodou, no dia que ele foi me visitar, ele
está super atencioso, e hoje ele praticamente me ignorou, sei que
não nos falamos e nem nada do tipo, mas vamos nos casar, ele
poderia aos menos me cumprimentar.
Aquela foi uma das melhores manhãs que já tive, ter a
minha família e a família do Thomas reunidas, até que foi legal,
e comecei a acreditar que posso conviver com tudo isso. Com
esse casamento e principalmente com o Thomas.

— Espero que tenha gostado das rosas. — Ele me falou se


aproximando de mim, na porta da minha casa e eu acabo
sorrindo.
— Eu amei, — acabo dizendo e ele parece se alegrar com
isso.

1X0 para você, Thomas.

Penso, e ao mesmo tempo me questiono se ele deveria ser


tão fofo.

— Está tudo bem? — ele pergunta, e eu encaro meu


celular.

— Sim, é que estou esperando por uma mensagem. — Falo e


olho o pingente que tem no seu colar. — É de alguém
importante? — Acabo questionando e ele suspira.

— Não sei bem se ainda é. — Thomas me encara. — Acho


que nos vemos daqui três dias.

— Sim. Vê se não foge — Eu acabo brincando e ele ri.

— Acredite, eu não vou, — ele murmurou e me piscou pra


mim, — vê se não foge também.

— Eu não vou, eu serei a de branco, — falo piscando pra ele


de volta e Thomas me dá um sorriso de canto.

— Não tenho dúvidas de que será.

Fico esperando que ele me beije, mas dessa vez ele me dá


um beijo na testa.

Bella, você ama o Charles, tento reforçar isso na minha


cabeça.
Os dias estão se passando, fiquei superfeliz quando fiz a
prova do meu vestido, — nunca me senti tão linda assim, — e a
única coisa que eu estou pensando, é como Charles fica no meio
de tudo isso.

— O que foi? — A minha mamma pergunta, enquanto me


deito para dormir.

— Não é nada. — Eu digo com um sorriso e ela me beija na


testa.

— Nervosa por causa do casamento? — Ela pergunta.

— Amanhã eu serei uma mulher casada, achei que isso iria


demorar. — Admito pra ela, e minha mamma ri.

— Ele demorou, querida. Por causa do acidente, você


esqueceu, mas os últimos meses foram os melhores da sua vida.
— Ela disse com gentileza e naturalidade e eu não pude evitar
de questionar.

— Como você sabe?

— O seu brilho mudou quando você se apaixonou por ele,


você parecia uma nova mulher, Bella.

— Será que isso pode mudar? — Eu pergunto e a minha


mamma me encara. — Eu posso me apaixonar por ele e esquecer
o Charles?

— Isso já aconteceu uma vez, ou seja, tem chances de


acontecer novamente. — Minha mãe sorri enquanto me diz e eu
me pergunto se é real.

— Agora eu preciso dormir, sono de princesa. — Falo no


fim, para evitar de continuar aquela conversa.

— Durma bem. — A minha mãe murmura e me dá um beijo


na testa, me deixa sozinha no quarto. Eu fico ali pensando que
amanhã é o grande dia, e o meu coração está acelerado. Já não
sei dizer o que eu estou sentindo.

A única coisa que sei é que estou sentindo dúvidas sobre o


que eu sinto pelo Charles. E quando acordo com a claridade,
isso não muda, porque eu ainda vou me casar.

— Sorella, acorda. — Donna entra aos gritos no meu quarto.


— Hoje é o grande dia. — Ela parece mais empolgada do que eu
enquanto me diz isso e eu acabo rindo.

— Até parece que você é a noiva. — Falo enquanto ela se


joga na cama, os olhos cheios de vida e um rosto sorridente.

— Eu quero me casar só para usar o vestido de noiva. —


Donna admite, — Sou apaixonada por vestidos de noivas.

— Desde quando? — Pergunto.

— Desde quando fomos no seu noivado e eu decidi olhar


revistas de noivas.
— Meninas, se levantem. — A nossa mamma entra no
quarto, achando obviamente fofo a forma como Donna estava
agindo. — Vamos para o spa, dia de princesa.

Ela proclama e nós duas nos levantamos. Enquanto Donna


surta, eu tomo o meu banho e todas vamos para o tal SPA.
Quando chegamos são quase nova da manhã e claro que minha
mãe nos colocou na área exclusiva.

— Sejam bem-vindas! — Uma senhora, com os olhos cor de


mel, e sorriso doce se aproxima enquanto fala. — Me chamo
Andrea.

— Olá Andrea, essa é a Bella, a nossa noivinha. —


Francesca, a mãe do Thomas, fala, se aproximando de nós.

— Feliz dia, Bella. O casamento é o dia mais mágico na


vida de uma mulher.

— Obrigada, Andrea. — Eu falo e enquanto o dia continua,


me vejo perdidamente encantada com tudo. É o dia perfeito.
Como eu nunca pedi para minha mãe me trazer em um SPA? Só
pelo fato de ter alguém para cuidar de cada centímetro do meu
corpo e me deixar relaxada a esse ponto, eu já amei.

Nos maquiamos ali mesmo e saímos de lá, direto para o


“castelo” que será realizado a cerimônia. Quando chegamos lá,
eu fico pasma com a beleza do lugar, e ele realmente parece um
castelo.
— Vamos para o seu quarto. — Francesca fala e me abraça,
com aquele olhar maternal. — Que sorte o meu Thomas tem.

Fico observando atentamente os detalhes, por dentro parece


um castelo de conto de fadas, estou me sentindo com uma das
princesas da “Disney”.

Me sento na cadeira quando Francesca diz que precisa


descer para ajudar minha mãe nos últimos pontos e fico
pensando em qual a desculpa que o Charles vai me dar, pois ele
ignorou todas as minhas ligações.

— Pode entrar. — Falo quando alguém bate na porta.

— Oi, Bella. Eu soube que perdeu a memória, então vou me


apresentar de novo. Sou Lunna, prima do Thomas, — Uma
morena diz com um sorriso nos lábios.

— Ah! Oi. — Eu não sabia que ela tinha sido convidada.

Eu deveria ter acompanhado a lista de convidados. Merda.


Já era tarde demais.

— Está nervosa? — Ela me pergunta e eu não sei bem o


porquê de não gostar dela.

— Um pouco, — Confesso em um murmurar baixo.

— Tenho uma ótima notícia. — Ela fala toda empolgada.

— Notícia?
— Você não precisa se preocupar em dar um herdeiro pro
Tommy, porque eu já estou grávida dele, — ela ronrona aquelas
palavras e eu sinto meu sangue ferver, mesmo sem saber o
porquê.

— Você e o Thomas…

— Sim! — Ela diz rindo, — mas você entende né? Você já


tem alguém.

Engulo em seco.

— Claro.

— Então está feliz por nós, não é?

— Você não imagina quanto. — Me forço a sorrir.

— Agora eu preciso ir, pois quero desejar felicidades ao


Tommy e dizer que estarei esperando por ele no quarto ao lado
de vocês, — ela me fala piscando, e saindo antes que eu possa
dizer alguma coisa.

Qual o problema do Thomas? Ele está me deixando confusa,


ou alguém está mentindo muito em toda essa história. Mas
quem? E por quê?

— Bella. — Dessa vez é o Thomas quem entra.

— Veio aqui me contar algo novo que eu não me lembro? —


Pergunto já brava e ele engole em seco.

Thomas me encara, ele parece não entender nada.


— Você… certo, eu só… queria te dar isso, — ele diz — me
desculpe por te pressionar sobre as memórias. Vou te dar o seu
tempo e não interferir. — Murmura passando uma das suas mãos
no rosto.

— Sim, é a melhor coisa a se fazer. — Falo com um nó na


garganta.

— Como quiser. — Faz uma pausa e franze o cenho, coloca


a mão em um dos bolsos da calça e tira algo de dentro dele. —
Só vim te trazer isso. — Ele diz e coloca em cima da bancada o
colar que ele estava usando no dia do meu aniversário.

— Eu não quero nada. — Cruzo os braços na altura dos


seios e fico de costa para ele.

— Vou deixar aqui de qualquer jeito. — Caminha em


direção da porta. — Até o altar. — Sua voz falha e fecha a
porta.

Droga! Eu não posso me abalar, sinto uma vontade imensa


de chorar, e quando me dou conta, as lágrimas já estão
escorrendo pelo meu rosto e borrando a minha maquiagem.

— Pode entrar! — Hoje é o dia de me incomodarem.

— Senhorita, vim fazer o seu cabelo. — Uma moça com os


traços coreano entra. — Sou a Julia.

— Oi, Julia. — Sorrio. — Você consegue alguém para


ajeitar a minha maquiagem? — Pergunto.
— Claro, só um momento. — Ela pede e sai.

Julia termina de me ajudar e me deixa sozinha com a


maquiadora e eu fico pensando em tudo o que aconteceu, pego o
pingente que o Thomas me deu e coloco no meio das flores do
meu buquê.

As minhas mãos estão suando, o meu coração está


acelerado, a minha cabeça está a mil, assinei um contrato e não
posso voltar.

Fiz isso para que a minha família possa expandir os


negócios, e é claro que o Thomas me disse que em dez anos nos
separaremos e eu posso ficar com o Charles e ele com a Lunna,
como os dois não fazem parte desse mundo de mafiosos, aí fica
mais difícil de nos casarmos, depois desse primeiro ano de
casada, as coisas tendem a ficar mais fáceis, pelo menos é o que
eu espero.

— Bella. — Ouço a minha mamma batendo na porta.

— Está aberta. — A porta se abre.

— Ah meu Deus! Como você está linda. — Os olhos da


minha mamma já estão marejados.
Até agora eu tinha feito o cabelo, e a maquiadora terminava
a maquiagem.

— Mamma, a maquiagem. — Sorri tentando segurar o


choro.

A minha mãe usava um vestido azul, com as alças


ciganinhas e o decote no formato de coração, o seu vestido é
longo e cheio de brilho, ela fez um coque frouxo e tem alguns
fios soltos. Como já estava começando a anoitecer, a minha mãe
certamente vai se destacar.

— Vamos colocar o vestido. — A minha cerimonialista, fala


assim que entra no quarto.

— Vamos, mãe. — Eu seguro a minha mãe pela mão, e então


caminhamos para o quarto ao lado.

O meu casamento vai ser meio que uma festa de gala, tem
uns 500 convidados, a minha futura sogra e minha mãe acabaram
organizando tudo juntas.

Aliás, até que elas estão se dando bem. À minha sogra,


parece que falta alguns parafusos, ela é jovem e linda, já o meu
futuro sogro, já é bem mais velho que ela, e não parece ser nada
romântico ou presente.

O meu vestido também é com alças de ciganinha, ele marca


bem a minha cintura, e o restante dele é bem redondo, o meu
vestido realmente se parece com o de uma princesa, sabe,
daqueles que realmente saíram de um conto de fadas.
— Ah minha Bella, você está radiante. — A minha sogra
fala quando entra no quarto, parecendo emocionada.

— Obrigada, Francesca, — digo com um sorriso de canto.

— O meu Thomas vai ser o homem mais feliz desse mundo.


— Ela fala com aquele ar cheio de felicidade.

Francesca usa um vestido também na cor azul, o que realça


os seus olhos azuis, é um tomara que caia, estilo sereia, bem
justo, o que valoriza o seu belo corpo.

— Ei, você. — Ela chama um dos garçons que vinham às


vezes me trazer alguns petiscos. — Me traga uma taça de vinho.
— Ela ordena e ele apenas concorda com a cabeça e sai,
enquanto Francesca olha pra mim, e sorri. — Ainda temos 5
minutos.

O vinho é o seu ponto fraco, se deixar, ela passa o dia todo


com a sua taça cheia e se eu parar para pensar, não posso julgá-
la.

— Está preparada para a sua lua de mel? — A minha mãe


me pergunta e eu me forço a sorrir.

— Ah, acho que sim. — Na verdade, não teríamos uma lua


de mel. O Thomas não ia encostar um dedo em mim, no máximo
que o faríamos, seria um beijo, e é claro que algumas
demonstrações de afeto na frente dos outros.

Eu sentia que isso era certo e seria assim que aconteceria,


porque se ele tentasse encostar em mim sem permissão, eu o
faria entender que não funciona desse jeito com uma McNight.

— Qualquer coisa, é só me ligar, — ela disse e eu assenti.

— Não se preocupe, eu vou ficar bem.

Eu disse, mas tudo que eu conseguia pensar era em como eu


seria obrigada a contar para Charles toda a verdade, porque
depois do casamento, Thomas e eu estaríamos em todos os
jornais.

— Está quase na hora. — O cerimonialista fala.

Alguns minutos depois o meu papá entra no quarto.

— A minha pipoca, como você está graciosa. — Os olhos


verdes do meu papá, chegam a brilhar. — Você está perfeita.
Não está, Liz?

— Sim, a nossa menina está radiante, Henry.

Estamos atrás de uma enorme porta, as portas são de


madeiras com o vidro fumê, eu consigo ver todos que estão do
outro lado, o salão está cheio, na verdade, esse lugar mais
parece um castelo, do que um salão. É, eu realmente estou me
sentindo uma princesa, o que muda é que eu assinei um contrato
e que o meu príncipe não virá para me resgatar. Então o que em
resta é lembrar de minutos atrás, quando eu ainda estava
sozinha, e meu pai me pediu algo.

— Você pode me ajudar? — Meu papá pergunta assim que


começamos a dançar.

— Sabe que sim. — Digo.

— Eu vou pedir a sua mamma em casamento. — Ele fala


todo orgulhoso.

— De volta?

— Sim, precisamos de uma segunda lua de mel, e sendo


sócio do Vicente, e o seu tio Hendrick cuidando das coisas para
mim, eu posso viajar mais tranquilo.

— E como pretende fazer isso?

— Quero que ela se lembre da primeira vez que a pedi em


casamento, vai ser no momento em que você for jogar o buquê.

— Ao invés de jogar eu entrego a ela, é isso?

— É. — Meu pai me dá um beijo na testa quando a música


termina. — Obrigado minha pipoca.

— Eu te amo.

Aquela memória me dá esperanças, e me faz acreditar que


talvez, tudo possa realmente acabar bem no fim das contas.

— Você está pronta? — O meu papá pergunta, me tirando


dos meus próprios pensamentos.
— Sim.

— Bella, você tem certeza de que o ama? — Ele me


perguntou, me pegando de surpresa e eu suspirei.

— Você sabe q...

— Não o Thomas, mas sim o outro. — Ele disse me


interrompendo, e eu sinto o desprezo na voz do meu pai, quando
se refere a Charles.

— Se o que eu sinto por ele não for amor, eu não sei bem o
que é. — Falo sem saber bem o que dizer e o meu pai ri, como
se soubesse mais do meu coração do que eu.

Na verdade, eu já estou confusa com tudo com o que está


acontecendo, e o Charles está deixando a desejar com o seu
comportamento estranho, mas isso é suficiente para dizer que
não o amo?

— O amor, é algo incrível. Primeiro vem à paixão, ela pode


te enganar, e você acreditar ser o “Amor”, no começo foi assim
com a sua mãe, mas eu não me importei que os meus
sentimentos me enganassem, pois, eu me apaixonei
perdidamente por ela quando a vi pela primeira vez. E isso só
foi aumentando e aumentando. Hoje em dia eu posso dizer com
toda a certeza de que a sua mamma, é a mulher da minha vida.

Assim que o meu papá termina a frase a marcha nupcial


começa tocar, o meu coração está acelerado, e mais uma vez o
medo toma conta de mim.
As enormes portas se abrem, os convidados se levantam, a
decoração está impecável, as flores são aquelas “mosquitinho”,
e entre elas tem algumas rosas brancas.

O corredor que nos leva até o altar, eu achei que teria um


tapete vermelho, como em outros casamentos, mas não, não é um
tapete, e sim um corredor de “espelho”, consigo me ver
perfeitamente nele.

Ao lado das cadeiras tem um arranjo de flor, no corredor


tem uma trilha de rosas, e no “altar”, tem um arco com uma
mistura das flores com as rosas, e eu sei que foi a minha mamma
que escolheu, isso era o que eu mais queria na decoração do
nosso casamento.

Os meus olhos estão doloridos pela quantidade de flash que


dispara a cada segundo, fico feliz que já estamos perto o
suficiente do altar, e eu olho para o Thomas, que está ali, todo
sorridente com o seu terno azul-marinho, o que realça a sua pele
clara, a sua barba está impecável, o seu sorriso então, é
maravilhoso, o seu cabelo está penteado para trás, e os seus
olhos azuis me encaram.

— Obrigado, pipoca. — O meu pai me agradece e me dá um


beijo na testa. E então o Thomas se aproxima, o meu pai me
entrega para ele. — Cuida da minha menina, — ele diz olhando
nos olhos do Thomas, que assenti.

— Pode deixar, senhor McNight. — Eles se cumprimentam e


eu sinto que agora, minha vida está nas mãos do homem que eu
mal conheço. Thomas Kuhn, um noivo de quem eu deveria me
lembrar.
Sentir o toque do Thomas me deixa confusa e as borboletas
começam a “voar no meu estômago”. Eu realmente não sabia o
que sentia em relação a ele, e quando olho para o lado e vejo a
minha mãe, ela já está com os olhos todos marejados, e o mais
engraçado é quando eu olho na direção das madrinhas e
padrinhos, eu não conheço nenhum deles.

Me volto para o altar e como a observar os traços do juiz de


paz, ele já é um senhor de meia idade, com o cabelo todo
grisalho e já com algumas rugas bem-marcadas em seu rosto.

— Estamos aqui hoje reunidos. — Ele começa. — Para


realizar a união de Thomas Rossi Kuhn e Bella McNight.

— Todos serão testemunhas desse amor. — O juiz fala e o


Thomas me olha e sorri. — Antes de continuar, eu quero citar
um verso que eu acho muito importante para os noivos. — O juiz
pega um papel e começa. — “O amor é paciente, o amor é
bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não
maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente,
não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas
se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta.” Nessa última frase, quero que vocês prestem bem
atenção, “tudo sofre e tudo suporta”, não é ser capacho um do
outro, e sim superarem as dificuldades juntos, é claro que haverá
momentos que vocês vão querer largar tudo, e não é bem assim,
a maioria das coisas se resolvem na base da conversa, e espero
que vocês se lembrem disso, diálogo é tudo num
relacionamento.

Os convidados aplaudem o pequeno discurso.

— Onde estão as alianças? — O Juiz pergunta.

A orquestra começa a tocar a música do “Ed Sheeran


Photograph”, e todos nós viramos para a direção da entrada, e
quando as portas se abrem, a Valentina entra segurando uma
pequena almofada com as alianças, ela está toda sorridente, o
seu vestido é curto e bem assentadinho na cor branca, o que
realça a cor da sua pele.
Quando a Valen se aproxima, Thomas solta a minha mão e
se agacha, e então os dois se abraçam.

— Obrigado, meu amor. — Thomas fala para a Valen.

— Bella McNight. — O Juiz começa. — Você, aceita


Thomas Rossi Kuhn, como o seu legítimo esposo e promete amá-
lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, por todos os dias da sua vida, até que a
morte os separe? — Me inclino e pego uma das alianças com a
Valen.

— Eu aceito. — Falo e coloco a aliança no seu dedo.

O juiz de paz faz a mesma pergunta a ele, mas Thomas mal


dá tempo a ele de terminar.

— Thomas Rossi Kuhn, você aceita Bella McNight...

— Com toda certeza. — Thomas fala e se inclina e pega a


aliança com a Valen.

Valen dá um beijo no seu rosto e sai toda sorridente.

— Eu vou sempre te proteger, Bella, — Ele fala enquanto


coloca a aliança no meu dedo.

— Pela autoridade em mim investida como juiz de paz,


declaro Thomas Rossi Kuhn e Bella McNight Kuhn marido e
mulher. — O juiz faz sinal para que os convidados aplaudam. —
Pode beijar a noiva.
Thomas me segura gentil pela cintura e me beija de forma
apaixonada, e quando paramos o nosso beijo, ele encosta a sua
testa na minha.

— Eu vou fazer você se lembrar de cada momento que


tivemos. — Ele murmura. — Nem que eu leve a minha vida toda
tentando.

Eu suspiro fundo, pois ele está determinado a me ajudar


com a minha memória, ao contrário do Charles. E mesmo que
tudo ainda fosse confuso, eu sentia que podia confiar em
Thomas. Nós saímos antes que todos os outros, de braços dados,
ao som do "Coldplay Paradise", e em seguida vinham os nossos
pais.

— Vamos fazer algumas fotos antes. — A cerimonialista


fala, quando estamos todos no salão de festas.

— Claro. — Concordo, sabendo que essas fotos vão parar


nos jornais.

— Me acompanhem.

Acompanhamos ela e o fotógrafo; cliques e mais cliques


depois, os convidados já haviam se instalado no lugar. Os nossos
pais nos acompanham em algumas das fotos e ao fim, entramos
de vez no salão, quando a cerimonialista avisa a todos da nossa
entrada.

Os convidados nos felicitaram, e eu só sei que tem muita


gente que eu nunca vi na vida. Fico mais à vontade quando
nossos pais e parentes nos felicitam e depois nos sentamos.

— Vamos dançar? — Thomas pergunta.

— Não, eu não danço muito bem.

— Mas é a valsa dos noivos, é uma tradição. — Ele fala


como argumento e eu pigarreio.

— Vamos, pipoca. — O meu papá fala. — Vai lá e mostra o


que o papá lhe ensinou.

Sim, o meu pai me ensinou a dançar valsa e tango. E agora,


era impossível negar isso para Thomas, graças a ele.

— Está tentando me enganar? — Thomas pergunta com certa


indignação.

— Vamos. — Falo e já me levanto, ignorando o que ele


sentia quanto a isso.

Nesse momento o meu buquê cai da mesa, e o colar que o


Thomas me deu cai junto, nos abaixamos juntos para pegá-lo, e
quando as nossas mãos se tocam e encostam no colar, eu sinto
que a minha cabeça começa a girar.

— Bella, você está bem? — Thomas pergunta.

— Estou. — Eu digo, mas nem tenho certeza se isso é


verdade.

Um filme começa a passar na minha mente, como uns


“flashs”, começo a lembrar de alguns momentos com o Thomas e
com o Charles, e claro, até mesmo com Lunna. Agora eu só
preciso encaixar as peças.

— Filha, você está bem? — Minha mãe se aproxima, me


questionando.

— Sim, eu estou. — Seguro o colar com todas as minhas


forças, meus olhos vagando entre todos, — eu só… eu estou
bem.

— Não é melhor descansar? — Francesca pergunta e eu


nego com a cabeça.

— Vamos dançar, somos os noivos, deveríamos dançar, —


falo e caminho para a pista de dança.

Thomas se aproxima e faz cara feia, como se não entendesse


o porquê de eu estar fazendo isso.

— Não precisamos fazer isso se você não estiver bem. —


Ele sussurra no meu ouvido quando uma das suas mãos vai até a
minha cintura e a outra segura a minha mão.

— Eu já disse que estou.

E a música começa a tocar.


— Não precisamos fazer isso se você não estiver bem. — Eu
sussurro no seu ouvido quando uma das minhas mãos vai até a
sua cintura e a outra segura a sua mão.

— Eu já disse que estou. — Bella fecha a cara.

E a música começa a tocar.

Começamos a dançar, e todos nos observam, com o tempo a


expressão da Bella vai ficando cada vez mais leve.
— O que tem nesse colar? — Ela pergunta, e eu só aí eu me
dei conta que ele estava enrolado no seu pulso.

— É o seu presente de aniversário, te dei antes do acidente.


— Eu contei. — Olha na pedrinha, talvez você se lembre de
alguma coisa.

— O que você sente por mim? — Ela pergunta.

— Me senti atraído por você desde a primeira vez que a vi.


— Confesso. — Depois da nossa primeira viagem, eu me
apaixonei...

— E agora?

— Eu te amo. — Ela cora com as minhas palavras.

— A música terminou. — Henry diz e se aproxima. — Posso


dançar com a minha pipoca?

— É claro Henry. — Entrego a Bella para ele e saio da pista


de dança, apenas para ver eles dois lá, sorrindo.

Era impossível não me questionar se um dia Bella se


lembraria de tudo que aconteceu entre nós.

— Thomas, vamos... — Minha mãe começa, mas eu não


quero. Não estou nem um pouco disposto a ter uma conversa no
momento, então a interrompo.

— Depois, mamma, pode ser?


— Tudo bem. — Ela diz de forma compreensiva, e eu saio
de canto, indo para a cozinha onde pego uma garrafa de Whisky
e vejo os empregados me encarando com espanto.

— Senhor...

— Eu sou o noivo. — O interrompo antes que ele fale


qualquer coisa, — eu posso.

Tomo um gole daquela bebida no gargalo, e sinto que desce


queimando a minha garganta. Eu sabia que precisava voltar para
o salão, e algum tempo depois o DJ começa a tocar algumas
músicas mais agitadas, indicando que obviamente todos estavam
dançando a essa altura.

— E essa cara? — Brian pergunta quando se aproxima,


chegando ao meu lado e eu bufo. Isso tinha cara de ser a minha
mãe mandando-o até mim.

— Não é nada.

— Triste por estar amarrado? — Ele me provoca, ou pelo


menos tenta.

— Cala a boca, — resmunguei.

— Oi meninos. — A Jenny se aproxima, pegando nós dois


de surpresa, — Brian, podemos conversar? — Ela pergunta e eu
suspiro.

— Oi, Jenny, vou deixá-los a sós.


Falo com um gesto breve de cabeça, mas ela segura em meu
braço.

— Thomas, já que está aqui, e se puder ficar, é sobre você e


a Bella. — Ela fala e isso me chama atenção.

— Então fala de uma vez. — Brian pede e eu confirmo com


a cabeça.

— A Lunna foi ver a Bella, e disse que está grávida de você,


disse que o filho dela será o herdeiro, — Ela dá de ombros, e eu
pisco, me perguntando se eu realmente ouvi isso.

— A Lunna não dá ponto sem nó. — Brian fala e eu sinto


vontade de estrangular aquela filha da puta, porque agora era um
momento delicado demais pra ela resolver me inventar uma
merda dessas.

— Preciso saber o que ela está tramando, e se realmente está


grávida. — Digo já puto e Brian sibila.

— O que você pensa fazer? — Jenny pergunta, parecendo


preocupada.

— Eu não sei, se eu a pressionar, ela vai negar até o último


segundo… e agora, eu tenho outras prioridades. — Resmunguei.

— Então vamos deixar para ver até onde ela vai. — Jenny
sugere. — Mas conte a verdade para a Bella, seja lá qual for, e
peça para ela se fazer forte todas as vezes que a Lunna for falar
com ela.
— Preciso que vocês façam o mesmo. — Peço sentindo
minha cabeça latejar. — Jenny, o que você sabe sobre o
Charles?

— Ele é bolsista e eu fui uma das únicas pessoas que ele se


aproximou.

— A aproximação dele foi muito rápida? — Pergunto,


porque uma parte minha tentou não acreditar no que eu já tinha
certeza.

— Olha Thomas, pensando bem, eu fui a única pessoa que


ele se aproximou, quer dizer… fora a Bella.

— Isso já responde muitas perguntas. — Brian fala e eu


suspiro. Porque até nisso eu estava certo e as investigações
coincidiam. Aquele merda estava com ela por interesse.

— Com licença. — Bella diz, entrando na cozinha, — Eu


vou jogar o buquê e depois podemos ir, então preciso de você.

— Como quiser. — Eu digo deixando a garrafa de whisky de


lado, e indo atrás dela.

— Vamos para a pista de dança? — A Bella pergunta. — Vai


ser lá que vou jogá-lo. — Ela fala erguendo o buquê.

Eu acabo assentindo e observo no canto, enquanto todas as


convidadas se aproximam da pista de dança quando a Bella
anunciou que ia jogar o buquê, e até as nossas mães estavam no
meio.
Bella conta até dez e ao invés de jogar o buquê, ela se vira e
caminha em direção à sua mãe.

Liz começa a procurar por alguém no meio dos convidados e


Bella sorri.

— Mamma, atrás de você. — Bella fala e a Liz se vira,


apenas para se deparar com o Henry, ajoelhado e segurando uma
caixa com um anel.

— Por que eu ainda me surpreendo? — Liz pergunta com os


olhos marejados.

— Liz McNight, você aceita se casar comigo, mais uma


vez? — Henry a questiona com aquele sorriso de canto a canto.

— é claro que sim. — Ela fala emocionada e Henry coloca o


anel no seu dedo.

— Eu te amo, senhora McNight. — Henry diz com a voz


doce e cheia de amor.

Eu o vejo beijando e abraçando-a.

Todos aplaudem e eu não posso evitar de me sentir perdido.


Porque aquilo era exatamente o que eu queria.

— Eu quero ter um casamento como o deles. — Brian fala e


eu acabo assentindo.

— Eu também.
Depois de me emocionar com o momento dos meus pais, a
Francesca me chama e diz que já está na nossa hora.

— Você já sabe para onde vão na lua de mel? — Ela


pergunta e eu nego com a cabeça, ela sorri, — vocês vão para a
Sicília, — ela me diz e eu pisco.

— Para o vinhedo?

— Sim, — Francesca diz com um enorme sorriso, — espero


que vocês aproveitem bastante e que isso refresque a sua
memória.

Depois de ouvir isso de Francesca, eu acabo tentando me


lembrar de tudo que já aconteceu, mas outra vez, vem apenas o
vazio. Thomas e eu nos despedimos dos convidados e diferente
do esperado, havia um helicóptero nos esperando.

— Nós demoraríamos muito no trajeto normal, — Thomas


diz de forma simplória, enquanto me ajudava a entrar no
helicóptero — vai ser rápido, — ele fala como se quisesse me
consolar, mas a verdade era que eu não me sentia mal sobre
isso.
Graças a irmos de helicóptero, a viagem foi bem curta, e
quando chegamos ao vinhedo, já estava tudo preparado. Havia
velas por toda parte, pétalas pelo chão, e quando entro no quarto
tem um vestido pendurado na arara me esperando, ele é branco,
curto e de alcinhas. Eu me troco e respiro fundo, porque sendo
bem sincera, não sei como vai ser a minha primeira noite de
casada.

— Você está linda, minha ragazze. — Thomas fala depois


que eu me troco e eu sinto o meu rosto corar, — o que você
achou da casa?

— É lindo. — Digo com um sorriso de canto, porque


realmente era. O lugar estava maravilhoso. Tudo estava tão
perfeito.

— Você está bem? — Ele pergunta se aproximando de mim e


eu falo com um sorriso enquanto me esforço para lembrar.

— Estou.

E enquanto em encaro aquele lugar, mais flashs vêm em


minha mente.

— Eu pedi para preparem dois quartos. — Thomas fala


assim que me vê olhando pelo lugar. — Esse é o seu, eu ficarei
no quarto do lado.

Thomas diz com simplicidade e antes que eu possa


perguntar algo, ele saiu, indo para seu quarto. Como tudo que
me resta é desfazer as minhas malas, eu começo a olhar as
minhas roupas e não encontro nada além de camisolas e lingeries
sexys. Deus, o que a minha mamma estava pensando?

Bom, provavelmente em uma lua de mel normal.

Quando pego uma das camisolas para decidir qual usar para
dormir, o pingente que estava no meu pulso cai. Eu me sento na
cama e o pego do chão, e me lembro que o Thomas disse que
tinha me preparado como presente de aniversário. Eu olho com
atenção e vejo que tem algo na pedrinha, então, resolvo olhar
mais de perto, e lá está uma foto nossa, juntos. Mas dessa vez as
coisas estão diferentes, é como se as peças do quebra cabeça
estivessem se encaixando.

“A chácara.”

“O Nosso passeio por Veneza.”

“O jantar no bistrô”

“O noivado.”

“A nossa primeira vez.”

Eu saio do quarto às pressas, sentindo minhas pernas


vacilarem e meu corpo tremer. Thomas. Eu precisava ver
Thomas. E corri para ele, batendo na porta de seu quarto e
entrando com tudo.

— Bella, aconteceu alguma coisa? — ele pergunta


assustado, ainda tirando a camisa e eu acabo sorrindo, sentindo
meus olhos se encherem de lágrimas.
— Me desculpa… — eu falei sentindo minha voz falha e ele
me encarou.

— Desculpe? Bella… você…

— Me desculpe por ter te esquecido e por tê-lo feito passar


por tudo isso… — murmurei, — está tudo bem agora.

Falei e Thomas se aproxima, parecendo ter medo de tocar


em mim e eu me desfazer em frente aos seus olhos.

— Você se lembrou…

— Como eu poderia passar a minha primeira noite de casada


sem o meu marido? — Pergunto com os olhos marejados.

— Ragazza…
— Eu me lembro daqui, me lembro de Veneza, de tudo, mas
quando tento me lembrar do acidente, não vem nada. Não me
lembro do dia em que eu fui conversar com o Charles, apenas de
estarmos voltando para casa. — Conto para ele e Thomas segura
uma das minhas mãos.

— Então, você se lembra da nossa última viagem? — Ele


pergunta enquanto se aproxima, seus olhos fixos nos meus,
— Como eu poderia esquecer da nossa última viagem? — É
a minha vez de questionar, meu coração parecendo prestes a
saltar para fora do peito.

— Ah! Minha Ragazze, como esperei por esse dia... —


Thomas segura o meu rosto entre as suas mãos e me beija como
se não houvesse amanhã, e eu acho que nesse momento, ele
realmente acredita que no que não pode haver.

— Foi o pingente. — Falo quando paramos o nosso beijo,


com as mãos em torno do corpo dele, — quando olhei para ele,
para a foto… me lembrei.

— Se eu soubesse, teria ido... — ele começou a falar, mas


eu o parei, porque naquele momento… eu queria outra coisa.

— Podemos deixar essa conversa para depois? — Pergunto,


deslizando minhas mãos pelo corpo de Thomas, puxando aquela
camisa para longe, — Estou morrendo de saudades de você.

A boca de Thomas engoliu a minha, e em questão de


segundos, a sua mão já estava apertando um dos meus seios
dentro da camisola. A sua língua habilidosa se refugiou em cada
canto da minha boca, misturando as nossas salivas, chupando os
meus lábios, descendo pelo pescoço e ombros. Caminhamos em
direção da cama sem parar o nosso beijo.

— Deita! — ele ordena, tentando respirar e falar ao mesmo


tempo.
Não tive tempo de terminar, porque o que eu senti foi algo
quente, úmido, extremamente macio e leve, abocanhar o alto
monte onde ficava a carne sensível. Arqueei as costas fechando
os olhos com força, os dentes trincados eu estava sentindo
aquilo novamente, — o prazer que apenas ele me mostrou, — eu
nunca tinha sentido algo parecido com aquilo.

— Thomas!!! — Grito seu nome, sentindo meu corpo pela


sensação de que seus toques me proporcionavam. Eu estava
sendo afogada em tesão, prazer e outras coisas que nem saberia
nomear.

Senti a sua língua estapear meu clitóris, chupar a minha


entrada como se saísse doce dali, massagear meus grandes e
pequenos lábios, mas não consegui aguentar tanto tempo, era
algo desconhecido demais para que eu pudesse precaver ou
tentar segurar ou manter. Prendi a cabeça de Thomas entre as
pernas, puxando a sua cabeça através dos cabelos com toda a
força quando senti uma onda de prazer tão intensa que arrastou a
minha consciência para um lugar que eu não sabia onde era.

Tentei afastar a sua boca do meio das minhas pernas, mas


ele ainda continuou chupando-me como se o amanhã não
existisse mais, como se a batida do seu coração dependesse do
meu orgasmo.

— Ah! Thomas!! — Gemi seu nome, tão alto que agradeci


por sermos os únicos naquela mansão.

Ah! Que alívio e que gostoso.


O meu corpo já estava todo suado, as minhas pernas estão
bambas, e mesmo assim eu o quero dentro de mim, preciso dele.

— Thomas, — Sussurro o seu nome, o chamando para perto,


— eu quero mais… quero você.

Ele me encara e respira fundo, seus olhos me fitando de


forma lasciva.

— Abre as pernas, — ele manda e eu vejo seus dedos


deslizarem pelos cabelos, os jogando para trás e me dando uma
visão perfeita do seu corpo a luz da lua que entrava pela janela.
Aquele corpo escultural, com músculos definidos.

Afasto as minhas pernas sem hesitar. E ele agarra o meu


quadril e começa a pincelar a cabeça do seu pau na minha
boceta.

— Tommy… o que está esperando? Eu quero você… —


murmurei e aquelas palavras parecem ter sido o gatilho perfeito
para ele entrar em mim.

E eu senti os seus dedos no meu clitóris, preparando o que


já estava pronto, Thomas entra e saia com muita facilidade.

— Isso é… bom — murmuro, agarrando os lençóis.

Thomas apenas sorri entre um suspiro e outro, mas agora,


ele estava inteiramente dentro. Sinto ele começar a me beijar, e
assim que encontra os meus lábios, eu me dou conta de como
estou a cada segundo, mais apaixonada por ele.
— Ah! — Um gemido escapa dos meus lábios, e Thomas me
preenche de todas as formas, parece que ele foi feito exatamente
para mim, como um encache perfeito.

— Mais rápido... — Eu falo e ele sorri, fechando os olhos,


enquanto começa a acelerar os movimentos. A cada estocada que
ele me dá, é impossível não gemer cada vez mais alto. Ele estava
me levando a loucura.

— Você é minha, Ragazze, — ele murmura ao meu ouvido,


as suas estocadas começam a se tornarem mais rápidas. Eu me
sinto tão perto de ter outro orgasmo, mas antes que isso
aconteça, Thomas me vira, me deixando de quatro para ele. Seus
lábios começam a beijar as minhas costas, e com uma das suas
mãos ele começa a estimular o meu clitóris.

— Tho... — a minha voz sai num sussurro.

— Ainda não, a minha Ragazze...

— Eu...

Ele para com os movimentos no meu clitóris e os beijos.

— Empina para mim. — Ele me deixa mais empinada para


ele, me dá um tapa na bunda e me penetra sem dó e com força.
Os seus movimentos estão ficando cada vez mais rápidos, e eu
sinto o meu corpo começar a dar espasmos de que vou gozar
mais uma vez, seguro o lençol entre as minhas mãos e começo a
reprimir um gemido, quando penso que vou gozar, Thomas
diminui os seus movimentos.
— Thomas... Por favor... — Eu praticamente imploro. Eu
precisava disso…

Ele volta a acelerar os seus movimentos, e não me controlo,


começo a gemer alto. Ouço Thomas arfas, as nossas respirações
e os gemidos são a única coisa que posso ouvir no quarto, junto
aos movimentos de nossos corpos.

— Thomas! — Acabo gritando o seu nome, enquanto gozo,


alguns segundos depois, ele se derrama dentro de mim.
Continuamos na mesma posição, Thomas me segura pela cintura,
o meu corpo já está todo mole, exausto.

Ele sai de dentro de mim e continua me segurando pela


cintura, ele se vira e me puxa para deitar-se no seu peito. E sem
dizer uma só palavra ele começa a acariciar o meu cabelo.
Nem preciso dizer como foi a nossa primeira noite de
casados, Bella está me levando a loucura; mas quando nossos
corpos chegaram ao limite, eu me vi deitado ao lado dela, e
minha cabeça foi a mil outra vez. Tanta coisa tinha acontecido
naquele meio tempo, que era difícil assimilar cada detalhe.

— O que foi? — Bella me pergunta com a voz rouca de


sono, os olhos entreabertos pelo cansaço e eu sei que parte
disso, é minha culpa.
— Só estou pensando como teria sido a nossa primeira noite
de casados se você não tivesse recuperado a memória, — eu
acabo admitindo e ela suspira, deslizando a mão pelo meu
rosto.

— Não pense nisso, apenas me abrace e vamos dormir, —


ela diz, ficando de costas pra mim. Eu a abraço, e nós ficamos
de conchinha.

O dia estava começando a clarear a essa altura, e eu não


conseguia não pensar naquilo.

— Bella, não é assim, nós precisamos conversar, — eu digo


e ela bufa.

— Desde quando você ficou tão ansioso assim?

— Quero saber o que a Lunna te disse. Jenny citou, mas…


eu quero saber exatamente o que ela te falou. — Murmuro, —
temos que deixar isso as claras.

Bella suspira.

— Ela me disse que está grávida, e que o filho é seu, que


graças a ela, não precisarei gerar o herdeiro dos Kuhn, — ela me
diz e suspira de forma exaustiva.

— Bella…

— Eu sei que é mentira, — Bella disse e isso me preocupou,


porque mesmo que eu não acreditasse que eu tinha dormido com
a Lunna, — naquela noite, — isso ainda era algo que Bella
precisava saber.

— Bella, — eu a parei, — eu tenho uma coisa para te


contar.

Bella parou e piscando, me encarou.

— Como é?

— Não se preocupe, eu não te traí, — falei antes que ela se


levantasse daquela cama, pronta para atirar na minha cara e isso
pareceu acalmar a minha esposa.

— Então desembucha, Thomas, — ela diz de forma ríspida,


— porque eu não gostei desse tom.

Pigarreei.

— No dia em que você perdeu a memória, quando… não me


reconheceu. Eu acabei indo ao bar. Eu queria beber, porque
naquele dia eu me dei conta do quanto eu amava você e de como
isso ia acabar me destruindo… — murmurei e eu nunca tinha
sido tão sincero em toda a minha vida, — mas… — eu segurei o
rosto de Bella entre minhas mãos, — Lunna apareceu no bar. Ela
me chamou e tentou me levar com ela, mas eu recusei. Me
lembro de brigar com ela, de beber e depois… de mais nada.

O corpo de Bella enrijeceu.

— E?
— E depois… eu estava na cama dela, no quarto dela… —
confessei, — não havia marcas no meu corpo e nem no dela,
nem o menor sinal de que transamos. Mas ela afirma que sim, e
eu estava completamente nu. Não sei o que aconteceu de
verdade, porque eu não me lembro, mas eu sei Bella… —
segurei a mão dela entre as minhas, — eu sei que não fiz isso.
Não transei com a Lunna.

Bella suspirou, como se medisse minhas palavras e minhas


expressões.

— Está bem… — ela murmura, — eu acredito em você.

Aquelas quatro palavras foram o suficiente para tirar um


peso gigantesco do meu peito, e eu suspirei aliviado, — com o
rosto dela tão próximo ao meu.

— Obrigada por confiar em mim, Ragazze… — ronronei, —


Mas… o que você se lembra do dia do seu acidente?

Ela se vira e se apoia em um dos seus braços, parecendo


tentar pensar a respeito.

— Eu me lembro de ter ido até Charles e de ser convidada


para ir ao haras. Eu nem pude dizer não, e quando chegamos lá,
ele parecia… estranho, — ela explica, e então, franze o cenho,
— mas depois disso? Não me vem nada… tudo parece confuso.

— Vamos ter paciência. — Tento manter a calma, porque


não quero que ela se machuque tentando se lembrar, — eu fui
investigar, e acabei descobrindo algumas coisas sobre o Charles
e a irmã dele. Eles estavam armando desde o começo.

Falei para ela e Bella pareceu empolgada.

— Me conta tudo.

— A irmã dele foi quem pediu para cortar as selas, e com


certeza ele sabia de algo, — expliquei e Bella franziu o cenho
outra vez.

— Eu nunca vi a irmã dele, e que tipo de interesse ela tinha


em me machucar?

— Eu não sei… — admito, — tudo isso é estranho, Bella e


não sabemos bem o que eles pretendem e por isso, eu quero te
pedir uma coisa, tudo bem?

— Claro, o que você quiser. — Ela fala com um sorriso nos


lábios, um lindo sorriso do qual eu senti falta.

— Vamos deixar que todos acreditem que você ainda não se


lembra de nada, assim podemos descobrir o que o Charles e a
Lunna estão tramando. Eles podem se desesperar se voltarmos
com você já ciente de tudo, mas se ainda estiver sem memórias,
eles vão se aproximar de você e vão acabar se queimando
sozinhos, — explico e Bella simplesmente me encara com um
sorriso.

— Claro, — ela diz e para minha surpresa, segundos depois,


ela se levanta e corre para o banheiro.
— O que aconteceu, você está bem? — Pergunto enquanto
corro atrás dela, mas Bella está jogada sobre o sanitário,
colocando tudo para fora.

— Devo ter comido algo que me fez mal. — Ela fala


parecendo ainda enjoada, — você pode pegar a minha necessaire
que está no meu quarto?

— Claro. — Digo antes de sair e quando chego a porta, ouço


ela voltar a vomitar. Céus… semanas já haviam se passado? Era
outro daqueles sintomas que o médico falou?

Entro às pressas no seu quarto, procuro em sua mala e pego


a necessaire. Mas quando volto ao quarto, Bella ainda está sobre
o vaso, jogada com os cabelos bagunçados. Ajudo ela,
prendendo seus cabelos e Bella grunhiu depois de vomitar uma
terceira vez.

— Aqui está, ragazze. — Digo entregando a ela o que me


pediu, e Bella fica pálida quando a abre.
Me sento ao lado do vaso, e quando abro a necessaire, dou
de cara com os absorventes que haviam sido colocados ali por
precaução. Eu estava uma semana atrasada, mas como estava
sem memórias, — era difícil pensar que poderia estar grávida,
— já que nem mesmo me lembrava de ter perdido a virgindade
com o Thomas, só que agora? Era diferente.

1 semana de atraso? Deus…

Eu não podia estar grávida, certo?

— Ragazze, me conte o que está acontecendo. — Thomas


está mais pálido que eu, ele parece tão assustado que é
surpreendente. Foi a minha perda de memória que o deixou
assim? Era como se eu estivesse vendo um novo Thomas.

— A minha menstruação está atrasada, — falo com a voz


falha, — eu não tinha me preocupado antes, porque estava sem
memórias, mas… — pigarreio e Thomas suspira, parecendo
aliviado.

— Tudo bem. — Ele fala e me abraça, me pegando de


surpresa.

— Tudo bem? — me vejo perguntando, porque isso nem


sequer parecia real.
— Sim, eu te amo, e acabamos de nos casar, — Thomas diz
com uma naturalidade que eu queria genuinamente ter, — um
filho só vai multiplicar o que temos e não será nada mais que
uma alegria.

Como o Thomas consegue ser tão carinhoso e doce? A cada


segundo que passa, eu me sinto mais apaixonada por esse
homem.

— Obrigada… — acabo dizendo, sentindo lágrimas em meus


olhos, — mas não vamos nos encher de esperança, porque as
vezes pode não ser nada, só o estresse. — Eu explico e Thomas
sorri.

— Tudo bem, vamos tomar um banho, eu vou preparar um


chá para você e podemos dormir. Você precisa descansar,
Ragazze. — Ele fala com aquele tom aveludado e eu admito, não
consigo resistir.

Não vou negar que estou com medo, não quero ter um filho,
— pelo menos não agora, — porque eu quero fazer a minha
faculdade, aproveitar o meu casamento e viver um pouco a
minha vida, antes de cogitar ser mãe e dedicar os próximos anos
da minha vida ao meu bebê.

“Isso é pra você aprender Bella, transar sem camisinha e


acha que vai ganhar uma televisão de 70 polegadas.” O meu
subconsciente me repreende, mas sinceramente? Eu o ignoro,
porque com Thomas… tudo poderia ser facilmente resolvido e
essa era uma das muitas vantagens de ter me casado com aquele
homem.
Depois do banho, eu fui para a cama e Thomas voltou com
uma bandeja cheia de torradinhas e sanduiches, junto de um chá
adoçado com mel. Ele me disse para descansar e depois de
comer um pouco, eu simplesmente apaguei.

Quando meus olhos se abriram, eu sorri olhando pela janela


do quarto, para a vista maravilhosa que tínhamos da praia, da
piscina e daquele lindo céu azul. Estávamos no fim do outono e
na Sicília, era tempo de colheita de uvas. E eu não via a hora de
descer, de me jogar no mar e sentir a brisa no meu rosto.

— Bom dia, ragazze. — Thomas fala e me abraça. — como


você está?

— Estou bem melhor, — digo com um sorriso e ele me


beija, me puxando pra perto.

— Fico feliz em ouvir isso, fiquei preocupado ontem, — ele


admite e eu acaricio o seu rosto.

— Está tudo bem, Tommy. Nada que um pouco de água com


gás e tempo não resolva, — murmurei com um sorriso de canto,
— não precisa se preocupar.

Thomas para e coloca as suas mãos em meu rosto, os olhos


fixos nos meus.

— Bella, eu sinto que deveria ter te falado isso ontem, mas


você parecia cansada e achei que não seria o melhor momento
para ter essa conversa, mas… não se preocupe com a possível
gravidez, — ele disse, — eu vou respeitar qualquer decisão que
você venha a tomar, e estarei aqui para você. Então aproveite a
nossa lua de mel, e se você realmente estiver grávida, pode ter
certeza de que serei um homem muito feliz por ter um filho com
você. Eu não irei te deixar sozinha em nenhum momento, porque
você é a mulher que eu amo.

— Obrigada por tentar me acalmar, — falei e eu estava


sendo sincera sobre isso, — eu só… me preocupo, porque tem
tantas coisas que eu ainda quero fazer, como terminar a minha
faculdade…

— É claro que vai fazer tudo que você quiser, não espero
que sacrifique nada pelo nosso filho, Bella, — Thomas disse me
pegando de surpresa, — eu sou o seu marido, e esse filho
também é meu. Não existe motivos para que você pare a sua vida
pelo nosso filho, — ele disse colocando uma das mãos sobre
minha barriga, — se acontecer, seremos felizes e faremos tudo
juntos.

Acabo sorrindo, porque eu sei que existem milhares de


formas de lidar com tudo isso. Thomas e eu, somos milionários.
Nós sempre podemos contratar babás e pessoas para cuidar dos
nossos filhos, mas assim como a minha mãe, eu queria cuidar do
meu filho. Então, fiquei genuinamente feliz ao ouvir o meu
marido me dizer que estaria lá pela nossa criança. Foi nesse
momento que notei que tinha feito a escolha perfeita.

E no fundo, eu me rendi ao meu contrato de casamento, ao


futuro que tinha sido escolhido pra mim, — mas a verdade, —
era que isso tinha se tornado a melhor coisa da minha vida.
— Agora venha, vamos tomar um banho. — Thomas fala
enquanto segura uma das minhas mãos com um sorriso de canto
e eu o olho da cabeça aos pés. Aqueles cabelos bagunçados, o
corpo envolto do lençol amassado no qual dormimos.

Deus, eu me casei com uma estátua grega.

— Isso quer dizer que você vem junto? — Pergunto e mordo


o meu lábio inferior, o que faz Thomas sorrir enquanto
caminhamos em direção ao banheiro.

Thomas sorri e eu caminho em direção ao banheiro.

Tiro a minha roupa e ligo o chuveiro, a água fria cai nas


minhas costas, o que me deixa aliviada, e eu ouço o Thomas
entrando e me abraçando por trás. Ele começa a beijar o meu
ombro, mas eu me viro e fico de joelhos em sua frente, seguro o
seu membro em minhas mãos e começo a colocá-lo aos poucos
em minha boca, começo a passar a língua devagar na cabecinha
e depois começo a descer, e começo a masturbar o restante com
a ajuda das minhas mãos, Thomas segura meus cabelos e começa
a foder com minha boca, isso é novo para mim.

Ele começa acelerar os movimentos segurando a minha


cabeça, e eu sinto o seu corpo todo vibrar, sua respiração
ficando cada vez mais ofegante.

— Ragazza... — Ele para os movimentos e me levanta e


começa a me beijar sentindo o seu gosto. Thomas para o nosso
beijo e me vira. Ele dá mais alguns tapas na minha bunda e
sussurra ao meu ouvido, — Empina pra mim…
Obedeço sem reclamar. E as mãos dele deslizam por todo o
meu corpo, antes dele começar a pincelar na minha entrada, —
me torturando, — até me penetrar de vez, com força e com
vontade. Não consigo, — e nem quero, — conter os meus
gemidos. E a única coisa além do som da água e dos nossos
corpos se chocando, é o som da minha voz, implorando por
mais.

Thomas acelera os movimentos cada vez mais, ele enrola


uma das suas mãos no meu cabelo e me puxa para ele, enquanto
massageia o meu clítoris.

Meu corpo começa a dar sinais que vou gozar, — sinto


borboletas em meu ventre — e quando minhas pernas parecem
prestes a ceder, eu sinto cada centímetro do meu corpo,
estremecer, enquanto eu gozo.

— Isso, ragazze. — Thomas fala depois do meu orgasmo, e


mais algumas investidas depois, ele também goza, mas começa a
beijar meus ombros e pescoço, — eu te amo, Bella… — Sussurra
no meu ouvido, e eu me viro para encará-lo, enquanto sorrio.

— Eu também te amo, Thomas…


Depois que a Bella caiu do cavalo, eu liguei para a minha
irmã e disse que o plano falhou, e obviamente, Jess gritou
comigo, me falando que eu havia estragado tudo.

Um dos empregados do Haras chamou uma ambulância e em


poucos minutos estávamos a caminho do hospital, peguei o
celular da Bella e encontrei o número do Henry, ele não ficou
muito feliz quando disse que ela tinha sofrido um acidente, —
principalmente quando estava em uma viagem e preso longe da
filha, — mas ele não tinha o que fazer, então, acionou “toda a
família” da Bella e segundos depois, o hospital estava cheio.

Fiquei com ódio quando o Thomas apareceu no hospital e os


idiotas da família da Bella não fizeram bosta nenhuma! Só
deixaram ele lá e me trataram como um pedaço de lixo
descartável. O que me salvou foi a enfermeira.

— Posso saber o motivo da briga? — Ela me perguntou,


enquanto limpava um pequeno corte que o Thomas fez em meu
rosto.

— Gostamos da mesma garota. — Minto, e ela sorri.

— A que sofreu uma queda?

— Sim, essa mesma. — Digo engolindo em seco. — Sabe


me dizer como ela está? A família dela… tem uma obvia
preferência.

Falo e admito que a esse ponto, eu já havia começado a


gostar do papel de vítima, — ele me caía bem, — e sempre fazia
com que todos abrissem seus corações para mim.

— Ouvi os médicos falarem que foi bem grave. Ela teve um


traumatismo craniano, teve que ficar em coma induzido para ver
se o inchaço diminuía, — ela me explicou, — mas ninguém sabe
bem o que vai acontecer quando ela acordar.

Pisquei, assustado com aquilo.

— Mas… ela está bem?


A enfermeira suspirou.

— Sim, ela vai ficar bem, — diz com um sorriso de canto,


— não se preocupe, menino. Só que… talvez, ela possa ter
alguns problemas, como perda de memória.

— Sério? — Pergunto com uma das sobrancelhas erguida e


ela assenti.

— Sim, ela pode esquecer de algumas coisas, — explica, —


o inchaço se apresentou na área do hipocampo, e isso pode
afetar a memória da garota.

Eu senti alívio tomar conta de mim naquele instante, então,


depois de estar bem, eu fui para casa. Quando a Bella me ligou,
algum tempo depois, — isso só provou que ela tinha perdido a
memória por completo, — e eu só podia esperar que fosse
definitivo.

— Charles, tem uma morena querendo falar com você. —


Jess entra no meu quarto, agora com um humor bem melhor, já
que eu tinha “de certa forma”, consertado tudo, mas ainda assim,
ela sempre me pegava de surpresa.

— Morena? — Pergunto, erguendo uma das sobrancelhas e


Jess bufa.

— Olha que ela é linda. — Jess fala. — Agora vem, ela está
na sala te esperando.

Me levanto às pressas, porque mesmo que eu não me lembre


de nenhuma morena, pode ser alguém da família de Bella. Mas
quando chego na sala, me deparo com uma moça que não tem
nada em comum com ela.

— Charles? — Ela pergunta, e isso deixa claro que ela


nunca me viu na vida.

— Sim? — Respondo com os braços cruzados sobre o peito.

— Sou a Lunna, uma amiga do Thomas. — Ela diz e isso é


suficiente para me irritar, mesmo assim, quero saber até onde
isso vai e por isso, indico o sofá.

— Sente-se por favor. — Peço e ela olha ao redor da sala,


com uma expressão de nojo.

— Não se preocupe, a casa é bem simples e limpa. — Jess


fala com aquele tom sagaz e direto. Jess está encostada na
soleira da porta, uma das sobrancelhas erguida, com nítida
curiosidade, uma curiosidade que só surge quando dinheiro é
uma possibilidade.

— Ah! — Lunna se senta com um sorriso forçado, — claro


que é.

— No que eu posso ajudar? — Eu a questiono, porque já


estou ficando sem paciência a essa altura e ela suspira.

— Sei que você está com a Bella por interesse, — Lunna


fala com um sorriso que não me dava uma boa impressão, — e
vim falar com você sobre isso.
— Claro que não. — Jess tenta mentir, — como ousa sugerir
que o meu irmãozinho-…

Lunna bufou, levantando uma das mãos para pará-la.

— Olha, vocês dois não me enganam, e eu não sei o que a


Bella viu em você queridinho, mas o que esperar de uma garota
como ela? Não é, — Ela fala com deboche. — Eu preciso que
você se aproveite que agora ela não se lembra de nada e faça ela
fugir ou desistir desse casamento.

— O que você ganha com isso? — Pergunto com as


sobrancelhas unidas e ela sorri.

— Não é óbvio? Eu ganho o noivo dela.

— Eu quero mais que isso. — Jess fala com rapidez, se


aproximando.

— Dinheiro? — Lunna pergunta com descaso, — isso não é


problema pra mim.

— Não queremos mixaria. — Jess avisa de forma agressiva


e eu penso que é por isso que sempre temos problemas.

— Dá um tempo. — Lunna fala com um revirar de olhos, e


me encarando outra vez, sorri. — Posso contar com você,
queridinho? — Ela me pergunta e eu suspiro.

Eu já pretendia fazer isso de qualquer forma.

— Claro, por que não? — Falo sem pensar muito.


— Por acaso você ficou com o celular dela? — Lunna me
questiona e isso me pega de surpresa.

— Como você sabe? — Eu a questiono assustado e ela


sorri.

— Queridinho, eu sempre sei de coisas que podem me


beneficiar. — Ela fala e olha para a Jess. — E a sua irmã? Ela
grita interesseira, então deve ser no mínimo, inteligente. Agora,
se desfaça desse aparelho e apague tudo que possa fazer a Bella
se lembrar do Thomas. Eu quero o caminho livre pra mim.

— Pode deixar, — eu disse com sinceridade, mas agora? Eu


me sentia perdido.

Faltavam apenas 4 dias para o aniversário da Bella. Ela


tinha me ligado todos os dias, desde que Lunna apareceu na
minha porta, o que era obviamente bom, mas… ela nem mesmo
uma vez, me chamou para ir em sua casa. Era como se mesmo
depois de se esquecer dele, ela ainda planejasse permanecer
naquele noivado. Claro, ela se mantinha por perto e isso queria
dizer que ela não tem sentido nada pelo merda do seu noivo, e o
fato de lembrar somente de mim, me dava vantagens. Eu só
precisava organizar algo muito bom, para que ela olhe
novamente só para mim, e não dê nenhuma brecha para que
Thomas possa se infiltrar na vida dela novamente.

Lunna ficou de me enviar dinheiro para que eu compre algo


interessante para a Bella, mas o problema, era que a Bella nem
sequer havia me convidado para sua festa de aniversário. Era
como se eu… não existisse.
Minha irmã me disse para esperar que ela chegasse em casa,
assim ela poderia me ajudar com isso, — só que eu estou
ficando preocupado, — já que, já era para ela estar em casa a
duas horas atrás e nem mesmo havia sinal dela.

Fico mais uma hora esperando por ela, sentado no sofá da


nossa sala, — até que o meu celular toca, — e é um número
desconhecido. Quando eu atendendo, uma voz feminina do outro
lado da linha, me pergunta meu nome e se eu conheço uma moça
chamada Jess.

Meu corpo inteiro estremece e eu engulo em seco, enquanto


a ouço dizer que Jess foi atropelada.

Não penso duas vezes antes de pegar um taxi e correr para


lá, para o hospital que por sorte, ficava perto da nossa casa; e
quando chego na recepção, já estou em puro desespero.

— Jess Moree. — Falo para a recepcionista, — onde ela


está?

— Boa noite! O que você é dela? — Ela me pergunta e eu


sinto um peso no peito.

— Irmão.

— Ela está passando por uma cirurgia, pode esperar na


próxima sala. — Diz com frieza e o meu estômago embrulha.

— Sabe ao menos me dizer qual o estado dela? — Tento


descobrir e ela nega com a cabeça.
— Infelizmente não, sinto muito, senhor.

O medo e o desespero tomam conta de mim, porque ela é


tudo que eu tenho e eu não quero perder a Jess. Ela é a minha
irmã e mesmo que não seja perfeita, mesmo que me arraste para
problemas, é a minha família.
Depois da conversa que tive com Thomas, a gente resolveu
tirar a dúvida de uma vez por todas, então, após o nosso almoço
em um dos deques a beira mar, resolvemos, ir até a área
comercial. Thomas estava ansioso para me mostrar como a
cidade ficava para o festival do vinho. O primeiro domingo de
outubro estava para chegar e Thomas disse que queria ter certeza
sobre a gravidez, antes que ele chegasse.

— Seria uma pena te privar de provar bons vinhos, por uma


gravidez que não está acontecendo, — ele disse, mas parecia
mais ansioso para saber se era ou não verdade, então eu
concordei. Já estaríamos próximos de farmácias, não fazia mal
checar.

Fomos a um laboratório e uma farmácia, — fiz ambos os


exames, — e para minha surpresa, todos, deram negativo. Eu
oficialmente, não estava grávida. Mas Thomas parecia triste com
isso, ou ao menos, cabisbaixo.

— Não fique assim, — eu falo para o Thomas quando


saímos da emergência de um dos hospitais daqui.

— Eu já estava ficando feliz com a hipótese de ser pai. —


Ele admite e beija uma das minhas mãos — mas você parece
aliviada, então, fico feliz com isso.
Não vou negar que senti um alívio imenso quando o exame
de sangue deu negativo, mas uma parte minha ficou um pouco
triste por Thomas.

— Eu sei, mas na hora certa, teremos. — Tento confortá-lo e


Thomas sorri, me beijando outra vez, — agora, vamos
aproveitar, certo? Porque… eu posso provar os vinhos, — o
lembrei e Thomas riu.

— Então, meu amor… teremos um outro fim de semana


inesquecível.

Ele falou e eu soube que seria verdade, porque Thomas


sabia como tornar tudo, inesquecível e mágico.

Depois de uma tarde maravilhosa pelas ruas da Sicília,


apreciando a música, queijos e alguns vinhos que já haviam
começado a serem servidos, — Thomas e eu acabamos voltando
para casa enquanto ele me contava sobre o evento que ocorreria
no vinhedo onde estávamos, — tudo parecia incrível e como
seria minha primeira vez presenciando algo assim de perto, eu
estava verdadeiramente empolgada.

Thomas por outro lado, parecia acostumado e parecia mais


feliz por mim, do que qualquer coisa. Então, assim que
chegamos, ele foi para o banheiro se trocar, — e enquanto eu
escolhia entre os 6 biquinis diferentes que deixei como opção de
roupa de banho, — ouvi Thomas saindo do banheiro.

— Ragazza... — ele me chama, mas não termina a frase e


quando me vê, eu estava segurando minha saída de praia nas
mãos. Eu estava terminando de me vestir quando ele me
chamou.

Thomas continua me encarado, e consigo ver pela sua sunga


o tesão crescendo dentro dele, o que também me deixou
excitada. Deus, ele sempre se sentiu assim perto de mim, ou era
apenas essa energia de recém-casados?

— O que foi? — Eu pergunto e simplesmente jogo a minha


saída de praia, no chão e começo a andar na sua direção.

— Você está deslumbrante. — Ele diz com aquele sorriso de


canto, cheio de malicia.

— É apenas um biquíni, — eu falo com os lábios


arqueados.

— E você conseguiu deixá-lo maravilhoso, mas eu tenho


que confessar, eu prefiro como você fica sem ele.

— Céus… eu deveria andar sem ele por aí? Se o meu marido


gosta tanto, talvez eu deva tentar, — zombei e Thomas me
puxou pelo quadril com força.

— Não ouse, querida. — Ele disse e sua voz rouca, parecia


uma caricia pelo meu corpo, — você é minha, Bella. Ninguém
além de mim, pode te ver dessa forma.
Thomas falou e por um momento, aquilo pareceu mais um
rosnado, — e o problema, — era que aquele ar dominante me
deixava cada vez mais molhada.

Nunca imaginei que a minha lua de mel seria tão incrível.

Minhas mãos descem pelo corpo do meu marido, e eu


desamarro a parte de cima do meu biquíni, enquanto ele aperta
meu quadril com força, encarando meus seios.

— Se esse é o caso… — ronronei, — então aprecie,


querido.

Thomas sorriu com a minha provocação e puxou o outro fio


do meu biquíni o desamarrando, e o joga no chão; me deixando
completamente nua em seus braços.

Eu senti sua mão em um dos meus seios, apertando com


força, enquanto a boca dele descia por meu pescoço, até o meu
ombro. A boca dele desce para o meu seio e quando sinto o calor
de sua língua em meu mamilo, a sua outra mão desliza por entre
minhas pernas, me tocando de um jeito familiar e delicioso.

— Ah! — Eu não consigo me conter com o seu toque, meu


rosto esquentando, meu corpo arqueando.

Deus… eu poderia ficar aqui, presa nessa ilha com ele, para
sempre.
Thomas passa as suas mãos por todo o meu corpo e isso me
faz arfar.

Ainda não consigo descrever o que sinto quando ele me


toca, é um misto de várias sensações, e são as melhores que já
senti na minha vida. Eu entrelaço as minhas pernas na sua
cintura, e consigo sentir seu pau pulsando contra mim.

Thomas anda em direção da cama, enquanto continua me


tocando nos lugares certos, me levando com ele.
Ele me deita na cama com delicadeza e eu sinto seu olhar
pelo meu corpo.

Ele desce beijando minhas coxas e eu quero muito transar,


quero muito sentir ele dentro de mim de novo. Ele se encaixa
entre minhas pernas e eu sinto seu olhar no meu por um
instante.

— Como você é linda… — Ele sussurra e antes que eu possa


falar qualquer coisa, ele começa a me chupar do jeito que só ele
sabe.

— Hmm… — eu acabo grunhindo ele sorri, deslizando a


língua pela minha intimidade.

— Isso ragazza, geme para mim... — ouvi o Thomas


sussurrar, me deixando louca. E quando seus lábios sobem de
novo e começam a chupar os meus seios, eu me sinto indo ao
êxtase.

— Que delícia você é Bella. — Ele fala com aquela voz


aveludada que faz meu coração acelerar. Eu quero logo senti-lo.
Quero tanto que olho para ele de uma forma suplicante e Thomas
entende o que eu quero, ele sorri e morde o seu lábio inferior.

— Sou o homem mais sortudo nesse mundo. — Ele fala e eu


arqueio meus quadris.

Ele se coloca de joelhos entre as minhas pernas, se


encaixando e começando a pincelar o seu pau na minha entrada,
seus olhos fixos nos meus...
— Ah! — Gemo quando ele me penetra, arfando enquanto
ele começou a movimentar-se rápido, mas com cuidado.

— Não para... — Eu disse querendo o meu ápice de prazer,


mas Thomas não estava disposto a ser tão bondoso comigo
daquela vez e então, mudamos de posição, de novo e de novo; e
ele parecia querer me enlouquecer, mas enfim, quando eu já
estava sentindo minha mente se desfazer, ele gozou e eu recebi o
meu prêmio. Meu corpo cedendo sobre a cama enquanto ainda
estremecia, sensível com o orgasmo que tive.

Ele me dá um beijo na testa e me puxa para deitar-se em seu


peito, assim como todas as outras vezes.
Faço parte de um pequeno número de mulheres que é
apaixonada por alguém desde a infância e esse amor nunca foi e
nunca será correspondido.

Não vou negar que gosto um pouquinho do Brian, e que o


tempo que passamos juntos foi maravilhoso. Mas sim, eu apenas
me aproveitei dele para fazer ciúmes no Thomas. Só que não deu
muito certo, e quando eu percebi que o Brian estava começando
a se apaixonar por mim, resolvi terminar e ficar com outro cara.
Naquele momento era o melhor a se fazer, mas isso continuou
não me ajudando com Thomas.

Após alguns anos reencontrei o Thomas, e fiquei sabendo


que ele estava noivo e isso não fazia o menor sentido pra mim.
Deus, o que o meu tio não faz pela família?! Ou eu deveria dizer
por si mesmo?

Por que o meu papá não tem o poder que a família daquela
sem-sal tem?!

Isso é frustrante, mas vou virar o jogo, ou o Thomas fica


comigo, ou ele fica comigo. Não existe a possibilidade de ele
estar ao lado de outra mulher. Mas quando conheci aquela
noivinha insuportável dele, eu me vi irritada, porque Thomas
parecia genuinamente interessado nela, mesmo que na época,
nem tivesse se dado conta.

O problema de verdade veio depois que eles “se acertaram”,


mas por sorte, o acidente aconteceu e me deu a chance perfeita
de consertar as coisas. Quando vi que a tal Bella tinha um
namoradinho e que estava agora sem as memórias, me dei conta
de como aquela história poderia se desenrolar, e a primeira coisa
que fiz, foi convidar Brian para ir ao meu apartamento. Foi mais
fácil do que eu imaginava, para falar a verdade.

— Oi. — Falo de um jeito manhosa. — Achei que não


viria…

— Pensei em não vir. — Ele diz, mas me entrega uma


garrafa de vinho com aquele olhar que deixa claro o fato dele
ainda não ter me esquecido.

Idiota.

Todos os homens eram assim, idiotas. Exceto o Thomas.

— Venha, preparei o seu prato preferido. — Eu digo com um


sorriso nos lábios e algum tipo de esperança cintila nos olhos
dele.

— Lasanha?

— Sim, e já está pronta. — Digo quando ouço o forno


apitar.
Graças a comida e ao vinho, nós ficamos conversando sobre
coisas aleatórias por horas, e eu tinha que admitir que ele é uma
pessoa maravilhosa para se conversar, mas isso nunca foi e ainda
não é o suficiente.

— Por que você se matriculou na mesma faculdade que nós?


Sabe que o Thomas tem uma noiva agora, não sabe? — Brian
pergunta e eu forço um sorriso.

— Está tudo bem, Brian. Eu só vou ficar em Roma por um


tempo, e a universidade é a mais próxima daqui. — Falo,
tentando parecer convincente.

— Hum. — Ele não acredita no que eu falo, e seus olhos me


escaneiam, procurando qualquer coisa alarmante, enquanto ele
me questiona — E por que o convite?

— Brian… eu estou com saudades.

Eu digo e como estávamos sentados no sofá, coloco minha


taça de vinho em cima da mesa de centro, para me aproximar
dele.

— O que você está fazendo? — Ele diz, assumindo aquela


postura rígida. Digna do homem de confiança do Thomas.

— Apenas sinta… — sussurro ao seu ouvido, beijando sua


orelha, — eu sei que também sentiu minha falta…

Fico em pé na sua frente e começo a desabotoar o meu


vestido, Brian me encara e eu sinto seus olhos me devorarem
viva.
— Lunna... — ele começa, mas fica sem palavras quando o
meu vestido cai no chão, eu estava completamente nua por baixo
daquilo.

Eu me ajoelho na sua frente e abro o zíper da sua calça, a


puxando para baixo junto com a sua boxer branca. Brian me
encara e suspira fundo, então eu começo a chupar o seu pau. Ele
começa a gemer, e segura a minha cabeça, começando a foder a
minha boca.

O pior de tudo, é que eu estava com saudades de transar


com ele.

— Eu vou gozar. — Ele fala.

— Mais já? — Debocho e ele me segura pelas mãos e me


puxa para sentar-se no seu pau e porra! Como ele é gostoso!

— Gostosa… — Brian diz e dá um tapa na minha bunda, —


isso, Lunna… rebola no meu cacete.

Aquilo durou horas e eu tenho que admitir que adorei cada


segundo, mas quando a noite acabou, ele me fez o favor de ir
embora enquanto eu dormia.

Não foi fácil trazer o Thomas para o meu apartamento,


depois disso, — eu tive até que subornar um dos homens do meu
tio, — e ele não parava de falar sobre a Bella, e do quanto ele a
amava. Aquilo já estava começando a me deixar com nojo.

Quando o Thomas que eu amava, tinha ficado daquele


jeito?
Mas no fim, eu não consegui transar com ele, porque assim
que cheguei em casa com o Thomas, ele simplesmente apagou, e
eu suspirei aliviada, porque eu tinha me prevenido e mais uma
vez, usado o Brian.

Depois disso, o plano foi mais fácil. A sem-sal não sabia de


nada, e eu só tive que mentir em seu casamento. Usei o mesmo
homem do meu tio, para me deixar entrar na sala da noiva, e
depois de contar tudo para a noivinha eu saí.

O problema, é que o casamento continuou mesmo assim, e


os dias estavam se passando, só que o casalzinho recém-casado,
se esqueceu de voltar para a vida de adulto. Já tinha um mês que
a droga da lua de mel deles tinha começado, e nada deles
voltarem.

Eu estava cansada de esperar, mas não tinha outra escolha, e


o que me confortava, era saber que ao menos eles não estavam
fodendo. Thomas não tocaria na vadia da esposa, sem ela desejar
e ela? Ainda pensava amar o palerma do Charles.

— O que você vai fazer? — O Charles me pergunta pela


quinta vez e eu suspiro pesadamente.

— Estou grávida e o filho é do Thomas, vou fazer o meu pai


falar com o meu tio Vicente, pois o meu filho não pode ficar sem
um pai. Não me importo com as consequências, quero o Thomas
pra mim.

Estou no hospital com ele, a sua irmã ainda está se


recuperando aos poucos de um acidente que ferrou os meus
planos sobre o aniversário da Bella. Talvez se ele tivesse
conseguido ir, esse casamento nem tivesse acontecido.

Sim.

Meu tio Vicente não permitiria um absurdo como esses,


onde Charles era o namorado da futura esposa do seu filho.

— Acha que a Bella vai acreditar? — Charles me questiona


e eu estalo a língua no céu da boca.

— Claro que sim, Charles. — Digo de forma didática. — O


Thomas deve ter estendido essa viagem achando que ela vai se
lembrar dele. Coitadinho.

— Ok. Eu não sabia que ia sair nos jornais as fotos do


casamento. — Ele resmungou, parecendo insatisfeito e eu bufei.

— A Francesca é uma social light, é claro que isso ia


acontecer. — Falo com descaso — e não se esqueça que meu tio
é rico, assim como Henry McNight.

Charles assenti, parecendo irritado com a verdade, mas isso


não me importava nem um pouco. O que me importava, era que o
Tommy voltava amanhã, e eu aproveitei que estava no hospital e
paguei uma moça para falsificar os meus exames de gravidez e
ultrassom.

Já fazia dois meses que eu havia dormido com Thomas, e


agora, era o momento certo, para resolvermos as coisas. Aquela
sem sal teria uma surpresa quando chegasse da lua de mel.
(…)

No dia seguinte, eu vou direto para a casa do meu tio


Vicente e quando Pietro abre a porta, ele não parece nada feliz
em me ver.

— Lunna. O que você quer? — Me pergunta de forma direta.


Aquele pivete nunca gostou de mim.

— O meu pai está aqui, certo? — Perguntei, já dentro do


meu teatro e ele suspirou.

— Você sabe que sim. Ele está no escritório com o meu


pai.

— Você pode chamar a tia Francesca? — Fungo enquanto


seguro o envelope pardo em minhas mãos e ele me analisa, como
se eu fosse um monstro.

Deus, era pecado amar?

— Estou aqui, o que está acontecendo? — Francesca


pergunta, se aproximando da porta, com cara de poucos amigos.

— Tenho algo importante para falar com você, — eu digo e


ela ergue uma das sobrancelhas.

— Então fale.

Direta.

Eu realmente odeio essa mulher.


— O meu pai e o tio Vicente têm que estar juntos, eu…
prefiro assim, — digo, continuando o meu teatro.

— Então vamos até lá, — ela sibila, finalmente me deixando


entrar e eu ando atrás dela, enquanto ela bate na porta do
escritório do meu tio.

— Entra. — Vicente fala na segunda batida e é isso que


fazemos, mas quando meu pai me vê, seus olhos se arregalam.

— Lunna, o que faz aqui? — O meu pai pergunta,


preocupado. — Aconteceu algo?

— Francesca? — Vicente a encara, esperando uma resposta


e ela dá de ombros.

— Ela quer falar com todos nós, não me pergunte o porquê.

— Pois bem, então fale! — Vicente ordena, aquele ar


autoritário e direto. Thomas realmente se parece com ele.

— Eu estou grávida. — Digo, sem rodeios.

— Você o quê? — O meu papá fica em choque,


desacreditado, porque na cabeça dele isso não pode ser verdade.
Sou a sua filhinha, e ele sempre faz o que eu peço, é claro que
ele não esperava essa notícia.

— E daí? — e como sempre o Vicente é indiferente, e


parece irritado pela “perda” do seu tempo.

— O Thomas é o pai do meu filho, — eu digo enfim e


Francesca arregala seus olhos com surpresa.
— Isso é impossível. — Ela diz rindo de nervoso.

— Como isso foi acontecer? — O meu pai pergunta, eu


funguei, como uma boa vítima.

— No dia do bar, eu tentei ser forte, mas o senhor sabe que


eu sempre o amei. — Começo a chorar, como a mãe do filho
ilegítimo de Thomas.

— Isso é impossível. — Vicente fala, irritado com aquela


situação.

— Impossível? Todo mundo sabe como o seu filho é! O que


vamos fazer agora que ele já está casado? — Meu papá pergunta,
furioso. — Ele tem que assumir a sua responsabilidade!
Depois do incidente da possível gravidez de Bella, tudo se
tornou relativamente comum em nossa lua de mel, — então, eu
resolvi dar uma nova experiência pra minha esposa, — e me
esforcei para mostrar para ela, tudo que havia para se ver no
festival do vinho.

Das danças, música e degustações, até o processo geral para


a preparação do vinho. Foi incrível ver Bella rindo e dançando
com pessoas que trabalhavam naquele vinhedo a mais de 10
anos. Ela até mesmo aceitou o convite para entrar com as outras
mulheres em uma daquelas bacias de uvas, onde estavam
pisando para amassar as uvas recém-colhidas. Mas claro, coisas
assim duram pouco, e ao fim da quarta semana, estava na hora
de voltarmos para casa.

Nós tínhamos que sustentar um novo teatro em frente a


todos, porque a segurança da Bella dependia disso, e suspirando
pesadamente, eu estendi minha mão para ela, quando descemos
do carro.

— Pronta? — Pergunto para a Bella quando paramos na


frente da porta da casa dos meus pais.

Infelizmente, ela tinha perdido a memória antes que


pudéssemos escolher uma casa para nós, e entre ficarmos em um
hotel ou naquela casa gigantesca, — achei que seria melhor,
para todos, — ficarmos ali.

— Quero ver como vamos nos manter longe um do outro. —


Ela diz e isso me pega de surpresa, porque realmente não
esperava que Bella fosse tão sincera. Era quase como se uma
parte dela tivesse se desprendido de vez.

— Está preocupada? — Pergunto com um sorriso e ela


suspira.

— Um pouco. — Confessa e isso me deixa feliz. Admito.

— Amanhã vamos procurar uma casa para nós, — eu disse


tentando confortá-la e Bella riu.
— Não vejo a hora. — Bella fica toda empolgada e eu a
puxo, a beijando e sorrindo enquanto olho nos olhos daquela
mulher. A minha mulher.

Nós deixamos espaço entre nós dois, — o suficiente para


não parecermos próximos demais, — e então, toco a campainha,
mas diferente do esperado, é o Pietro quem abre a porta.

— Sejam bem-vindos. — Ele fala, mas não parece feliz.

— Nossa! Que recepção calorosa. — Digo de forma irônica


e ele suspira.

— É que as coisas não estão muito boas no escritório do


papa.

Estranho.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto enquanto entro


com a Bella e Pietro resmunga.

— A Lunna, ela está lá e disse que está grávida.

Porra. Ela ia continuar com essa ideia idiota? Não fazia o


menor sentido.

— E daí? — Pergunto de forma direta e ele sibila.

— O filho é seu.

— Isso é impossível. — Bella fala, segurando em meu braço


e Pietro a encara.

— A sua memória voltou?


— Não, mas o Thomas me contou grande parte das coisas
que aconteceram entre nós e sobre… Lunna. — Ela tenta mentir,
mas Bella não me parece muito boa nisso.

— Ah! — Pietro parece acreditar, porque no fim, aquele


garoto é doce demais pro mundo que nasceu, — bom, de
qualquer forma, estão todos no escritório, melhor irem para lá.

Sibilei. Mal tínhamos chegado e já tinha isso? Que merda.


Lunna estava me tirando do sério com essa palhaçada. Ela por
acaso sabia como as coisas iriam acabar se continuasse assim?

Era impossível não me questionar, enquanto andava ao lado


de Bella, para o escritório do meu pai.

— Ele vai ter que assumir Lunna e o seu filho. — Ouço o


meu tio Paul gritando, assim que chegamos à porta e minha mãe,
que não parece nada feliz com aquela coisa toda, grita de volta.

— Ele vai assumir a criança, e fazer o seu papel de pai, mas


não me venha com esse absurdo de divórcio, quer colocar nossas
cabeças em jogo?

— Francesca tem razão, — meu pai diz irritado, — não seja


estúpido Paul.

Eu abro a porta e todos me encaram.

— O que está acontecendo aqui? — Pergunto, mesmo já


sabendo e Paul me encara como se eu fosse um monstro.
— Você tirou a honra da minha filha, vai ter que se casar
com ela!

— Honra?! — Eu acabo rindo e isso porque me contive para


não gargalhar, — não seja estúpido tio. Todos sabem que Lunna
é tão honrada quanto Maria Madalena quando estava sendo
apedrejada.

— O Thomas não vai se separar de mim para se casar com


essa daí. Nós fomos unidos por contrato feito pelas famílias.
Quebrar o nosso casamento é quebrar um acordo entre as
famílias e isso não acaba bem para ninguém. — Bella diz,
pegando todos nós de surpresa.

— Cale a boca, menina. Você não tem nada a ver com isso!
É uma intrusa nessa família! — Paul grita com Bella e isso faz
uma veia saltar em minha testa.

— Olha como você fala com a minha esposa. — Eu falo e


agora, minhas palavras soam como lâminas afiadas, — não se
esqueça tio que aqui dentro, você não é nada além de nosso
subordinado. Se quer ouvir as asneiras da sua filha e criar um
alvoroço, tudo bem, mas não se esqueça a quem você deve
lealdade.

— Se você queria manter esse tal trato, não deveria ter


dormido comigo, Tommy! — Lunna disse com aquela cara de
pau e eu senti vontade de atirar na cara daquela vagabunda. Ela
queria me foder? Arruinar a minha vida?
— Você sabe muito bem que eu não dormi com você, — falei
em um sibilar baixo, — afinal, você se certificou de ter dormido
com Brian na noite anterior ao golpe que tentou me dar, não foi
Lunna? — Joguei e os olhos do meu tio Paul se arregalaram.

— Lunna?

— É mentira! — Ela disse irritada, — Thomas está


mentindo para não assumir a responsabilidade, papá! Eu juro! O
filho é dele e essa garota não é digna de estar como esposa dele!
Eu sou a mãe do filho dele!

— Como é que é? — Bella questionou irritada e Lunna a


fuzilou com os olhos.

— Você é uma vadia que mentiu e enganou o Tommy! — Ela


diz e eu vejo o sorriso vitorioso em seus lábios, — achou que
ninguém ia descobrir sobre o seu namorado? Sobre o tal
Charles? Ela traia você, Thomas! — Lunna diz chorando, —
esse contrato já foi arruinado, no momento em que escolheram
ela como sua esposa! Quem ela pensa que é para agir assim com
a família Kuhn?

— Eu sou a esposa do homem que você acusa ser o pai do


seu filho. Eu não traí o Thomas e ele sabe disso. — Bella diz de
forma direta, e agora, ela olha para o meu pai, — eu sinto muito
pela minha atitude, senhor Kuhn. Eu sei que não deveria ter me
envolvido em nenhum relacionamento após o noivado, mas
garanto ao senhor que não traí o nosso trato e que o meu
relacionamento anterior ao casamento, não interfere em nada,
relacionado ao acordo entre as famílias, — ela fala e cada
palavra, parece carregada pelo peso da verdade, — mas vamos
deixar isso claro, Lunna. Não existe a menor possibilidade de
Thomas e eu, nos divorciarmos. Ele no máximo vai assumir o
seu bebê, e isso se ele for filho do Thomas.

— Você acha mesmo que é alguma coisa, não acha? —


Lunna pergunta com fogo nos olhos e Bella bufa.

— Eu sou a esposa do próximo capo. — Bella fala de forma


direta e o meu pai sorri.

— Isso não muda nada. — Paul fala. — Lunna vai ter que
morar aqui, terá que ser aceita como parte da família, ela está
gerando o próximo herdeiro! — Ordena.

— Só depois do exame de DNA. — Eu digo de forma


sucinta, — e claro, se ela se recusar a fazer, será acusada de
traição. Você sabe o que acontece com traidores, não sabe, tio
Paul?

— Moleque… — Paul está praticamente rugindo a essa


altura e isso me faz rir.

— A minha gravidez é de risco, só depois que o bebê nascer


que poderemos fazer. — Lunna fala e passa uma das suas mãos
na barriga, — eu me sinto suja com a sua dúvida, Tommy.

— Me poupe do teatro, Lunna, e como isso tudo é


conveniente, não é? — Eu digo já bufando de raiva e estalando a
língua resmungo — aproveitem a minha piedade e vão embora
daqui de uma vez, eu estou cansado desse alvoroço
desnecessário, minha esposa e eu acabamos de chegar e eu só
quero respirar.

— Vicente... temos negócios para terminar. — Paul tenta


argumentar, olhando para meu pai em busca de ajuda, mas o meu
velho não ia ajudar ele.

— Outra hora, agora saiam daqui. Thomas tem razão, —


meu pai diz com um gesto simples e frio.

Paul e Lunna saem revoltados daquela sala e enquanto nós


quatro nos olhamos, minha mãe suspira.

— Bella, a sua memória voltou? Como você está, minha


querida? — Ela questiona e Bella sorri.

— Não, tudo ainda está confuso pra mim, mas eu não ia


deixar alguém falar assim de mim ou do meu marido, — ela diz
e dessa vez é um pouco mais convincente. — E me desculpe por
ter falado daquele jeito.

— Não por isso! — meu pai fala. — Isso só prova que você
está honrando essa família e o contrato entre nós, mas por agora,
deixem-nos a sós. Preciso falar com o Thomas.

— Venha Bella, vamos. — Minha mãe a chama, e quando as


duas saem, meu pai me encara.

— A irmã do Charles está internada, e a Lunna foi visitá-la


essa manhã. — A naturalidade com a qual ele diz isso, me faz
ficar intrigado.
— O que aconteceu com a irmã dele? — Pergunto, e ele
bufa.

— Pedi para os meus homens darem um pequeno susto nela.


— Ele diz com aquele olhar de sempre, — E como o destino é
irônico, ela foi atropelada. Essas pessoas precisam saber onde
estão se metendo. — Ele dá de ombros.

— Certo, mas não toque no desgraçado do Charles. — Sou


eu quem peço, porque não havia nada na minha cabeça que me
fizesse acreditar que ele não havia provocado o acidente de
proposito.

— Por que eu não faria? — Meu pai pergunta com uma das
sobrancelhas erguidas e eu bufo.

— Pois eu quero torturá-lo. Aquele desgraçado, é meu. —


Digo.

— Achei que tinha mudado de ideia. — Ele fala com aquele


tom zombeteiro e eu acabo soltando um riso soprado.

— Bella poderia ter morrido naquele acidente, e eu quero


que ele sofra como eu sofri. Não mudei de ideia, eu apenas não
sou tão selvagem quanto você. — Digo enquanto o ódio me
domina.
— Como foi a lua de mel? — Francesca perguntou enquanto
tomávamos chá na cozinha, os meus olhos se levantando para
olhar em sua direção ao colocar a xícara na mesa.

— Foi boa, eu diria. — Me limitei a dizer, porque eu sabia


que se falasse tudo o que eu realmente achei daquela lua de mel,
eu me empolgaria mais do que eu deveria.

— Bom, e vocês… — ela arqueou levemente os seus lábios,


como se estivesse se preparando para fazer aquela pergunta, —
sabe, foram até o final?

Respirei fundo.

— Não, Thomas foi um cavalheiro, nem mesmo insistiu para


fazermos algo do gênero. — Menti, porque eu ainda tinha que
fingir que tudo aquilo não tinha acontecido.

— Fico triste e feliz ao mesmo tempo, vejo que criei um


homem de verdade. — Ela falou com orgulho, os seus olhos até
parecendo brilhar de forma breve. — Eu ainda tenho esperança
de que a sua memória volte, e que você perceba que o meu
Thomas é precioso.

A minha vontade naquele momento, era dizer para ela que


sim, eu sabia disso, e que eu também tinha visto cada uma de
suas partes boas.

Mas… eu não podia.

Eu ainda tinha que fingir que a minha memória não havia


voltado.

— Enfim… — eu suspirei, voltando a pegar a minha xícara


para dar um gole na mesma, até porque eu precisava mudar de
assunto de um jeito que parecesse meramente natural, — o que a
senhora acha dessa história da Lunna?

— Ela até pode estar grávida, mas não é do meu menino,


você ouviu o que Thomas disse sobre Brian. Lunna está tentando
perder a cabeça e levar a nossa junto. — Francesca disse com
tanta certeza, que até mesmo eu acabei acreditando em suas
palavras.

Porque sim, eu queria acreditar que aquela criança não era


de Thomas, mas ao mesmo tempo? Uma parte minha não
conseguia parar de questionar, se perguntar.

— Eu… espero que não. — Falei, apenas para virar o rosto


por conta dos passos que eu havia escutado, os passos que
depois… eu vi que eram de Thomas.

— Ragazza, vamos? — Foi a primeira coisa que ele me


perguntou ao entrar na cozinha, um sorriso brotando em seus
lábios assim que os seus olhos pousaram em mim.

— Eu preciso saber se vocês vão dividir o mesmo quarto, ou


vão dormir em quartos separados. — Francesca perguntou, como
se aquela resposta, fosse dar o mínimo de esperança.

— Separados. — Respondi sem nem pensar muito, e por


mais que Thomas e eu tivéssemos um acordo sobre isso, ele
parecia querer falar o contrário.

— Sendo assim, vou pedir para preparem o quarto de


hóspede para a Bella. — Francesca diz ao se afastar.

— Deixa que eu fico com o quarto de hóspede, e a Bella fica


no meu, pode ser? — Thomas falou antes de sua mãe sair do
cômodo, o que fez Francesca apenas assentir com a cabeça.

— Vou desfazer as minhas malas. Obrigada pelo chá,


Francesca. — Eu aproveitei para agradecer, com seu rosto se
virando para mim, junto de um arquear meigo.

— Imagina, minha menina. — O seu tom estava cheio de


ternura, e isso… aqueceu o meu peito de certo modo, e também
me fez sentir um pouco de culpa por estar mentindo para ela.

Francesca fez exatamente o que propôs e minutos depois,


Thomas e eu estávamos sozinhos no quarto dele, que agora, era
meu.

— A minha vontade era de pegar a Lunna pelos cabelos, e


dar uns tabefes na sua cara, como ela consegue se fazer de
coitadinha?! — Falo irritada e ele me encara, como se não
esperasse isso de mim.

— Quem é você, e o que fez com a minha esposa? —


Thomas pergunta aos risos.
— Eu não sei. — Digo e me viro para ele. — E o que vamos
fazer? Você viu o que ela fez? Ela usou o Charles pra tentar
piorar a minha situação! Achei que o seu pai ia surtar! — Acabo
falando e Thomas suspira.

— Eu não sei se ela realmente está grávida, e se eu sou o


pai da criança, então… não sei te dizer. Mas o meu pai já sabia
sobre Charles, ele não vai fazer nada a respeito.

Thomas diz e eu engulo em seco.

— Eu sinto muito por isso, eu deveria ter notado antes a


verdade sobre Charles — falo e para confortá-lo continuo, — e
se o filho for seu...

— O que vamos fazer? — Ele me pergunta, porque sabe


como as coisas funcionam na máfia. Eu teria que adotar a tal
criança e cria-lo como meu.

— O bebê não tem culpa, e a sua responsabilidade é com ele


e não com ela. — Digo para acalmá-lo e também, porque é
verdade. — Faça o seu papel de pai e deixemos todo o resto,
para trás.

— Você tem razão, mas a Lunna não faz ideia de onde está
se metendo. Ela está comprando briga com alguém que não pode
vencer, — ele disse, — Lunna podia ter causado uma guerra com
uma declaração dessas, e se não for verdade, ela vai causar a
própria morte.
— Se esse for o caso, ela vai ter o que merece, — Eu falo e
isso faz Thomas rir.

— Eu gosto da Bella autoritária. — Ele diz. — Agora vem


cá.

Thomas me puxa e me beija, contra a porta do quarto.

— Alguém pode nos ver. — Falo quando o empurro.

— Eu posso dizer que estou te reconquistando. — Ele


sussurra e me beija novamente.

— Essa vai ser a sua desculpa? — Pergunto rindo e os


lábios dele se arqueiam de forma maldosa.

— Foi a única que eu pensei. — Fala e morde o meu lábio


inferior. — As noites eu vou vir pegar umas peças de roupa…

— Só as noites?

— E quando você quiser. — Ele começa a beijar o meu


pescoço.

Passo uma das minhas mãos no seu calção, e o seu pau já


está duro, e eu já estou toda molhada. Caminhamos em direção
da cama e o empurro, ele cai e ri, começo abrindo o zíper da
minha calça.

— Você não estava preocupada de alguém entrar? —


Thomas pergunta quando tiro a minha calça junto com a minha
calcinha.
— Vai ser bem rapidinho. — Eu argumento com um sorriso
e ele ri, abrindo o zíper da sua calça e a puxando para baixo
junto com a sua boxer.

Eu fico de costas para ele, e me sento bem devagar no seu


pau, meu corpo inteiro estremecendo com aquela sensação.

— Ahhh! — Não consigo me conter, e o gemido escapa por


meus lábios antes do esperado.

— Geme baixo querida, você não quer que eles ouçam nós
dois, quer? — Ele sussurra e ao mesmo tempo que eu quero
matá-lo, também quero sentar tão forte nele, que Thomas nem
mesmo será capaz de pensar em algo para me falar.
Eu estava arqueando ainda mais o meu quadril, subindo
enquanto me preparava para sentar outra vez em cima de
Thomas, quando ouço batidas na porta e paro, sentindo ele
pulsar dentro de mim.

— Bella, eu posso entrar? — É a voz da Francesca falando


do outro lado e eu encaro Thomas, sentindo meu rosto corar.

— É a sua mãe... — Sussurro e ele parece se divertir com


aquela situação, enquanto eu grito desesperada, saindo de cima
dele. — Só um momento. — Eu me viro para ele, e enquanto
visto minhas calças, sussurro para ele — vai para o banheiro.

— Está bem… — ele diz pegando sua cueca e a minha


calcinha, junto de suas calças.

— Bella, você está bem, minha querida? — Francesca


pergunta, parecendo aflita e eu quase engasgo de ansiedade.

— Sim, é que estou no banheiro. — Grito, sentindo meu


rosto queimar.

— Eu volto depois. — Ela fala e eu só consigo grunhir.

— Obrigada. — Grito, afundando na cama com o rosto em


chamas.

— Agora podemos terminar o que começamos. — Thomas


sussurra no meu ouvido, voltando do banheiro e lambendo o meu
pescoço.
Eu não conseguia acreditar que Thomas tinha agido daquela
forma, muito menos aquela sem sal que do nada tinha resolvido
ter personalidade. Sério isso?

Ainda mais agora que eu precisava que ela ficasse quieta,


ela resolvia dar uma de “a mulher do chefe?”

Céus.

Devia ser provação divina, só pode.

— Você tem certeza de que está grávida, Lunna? — Eu tive


que ouvir o meu pai perguntar quando entramos no carro, e
naquele momento, eu tive que fazer a minha melhor cara de
magoada.

— Claro que sim, pai. — Murmurei. — Por que eu mentiria


sobre isso? — Perguntei com a voz falha.

— Você sempre foi apaixonada pelo Thomas. — Ele diz e eu


tenho que me segurar para não demonstrar meu
descontentamento pela sua observação.

— Papá… foi naquela noite, no bar. A noiva dele tinha


acabado de perder a memória e o Tommy estava bêbado, —
admito, — eu fui ajudá-lo, mas… o Tommy acabou me beijando
quando chegamos no meu apartamento, — minto
descaradamente, — quando me dei conta, estávamos na minha
cama e papá… eu não pude dizer não. Eu… eu realmente amo o
Tommy, você sabe, — falo com a voz abafada pelas lágrimas que
fingi derramar, — mesmo que ele tenha chamado o nome da
noiva enquanto transávamos, não consegui não guardar aquela
noite com carinho.

Meu pai suspirou, deslizando uma das mãos pelo rosto.

— Lunna, você sabe que se estiver mentindo, eles podem te


matar, não sabe? — Ele pergunta e eu acabo assentindo.

— Eu sei pai, eu nunca faria algo assim, — falei e suspirei


pesadamente. Eu sabia disso, e por isso, tinha dormido com
Brian, porque queria garantir uma gravidez, mas claro, isso não
aconteceu.

Meu corpo me traiu e eu agora, tinha que engravidar antes


que suspeitassem por minha barriga não estar crescendo. Quanto
a exames de DNA? Nada que eu não pudesse falsificar até o
bebê nascer. Meu tio e Thomas, nunca descobririam.

— Você precisa ter cem por cento de certeza que ele é do


Thomas. — O meu pai falou. O homem que antes gritava, agora
parecia cheio de medo.

— Eu tenho. — Minto para confortá-lo. — Pai, você precisa


me ajudar. Eu não quero que o meu filho seja um bastardo,
preciso me casar com o Thomas, a família precisa de um
herdeiro e eu… eu seria bem melhor que aquela garota, você
sabe.

Ele fechou os olhos.

— Sim, querida. Eu sei… eu vou ver o que consigo fazer.

— Obrigada, pai. — Falei com um sorriso de canto,


enxugando as lágrimas que derramei. Claro, assim que ele me
deixou em casa, eu liguei para o Brian, porque eu sabia que ele
não ia resistir a outra tentativa minha. E se eu engravidasse de
Brian, não teríamos problemas.

Afinal, ele e Thomas sempre foram parecidos.

— Brian… você não quer vir jantar comigo hoje? —


Perguntei e ele bufou do outro lado da linha.

— Pare de brincar comigo, Lunna.

— Por favor Brian, estou com saudades. — Murmuro no


telefone, — você não faz ideia de como estou sozinha…

— Você só está me usando. — Ele fala cheio de rancor, —


acha que eu não sei o que está fazendo? Por acaso pensou que o
bebê pode ser meu, se é que ele existe?

Senti meu maxilar travar e mesmo assim, me forcei a sorrir


para não transparecer em minha voz.

— Claro que não, Brian… você sabe que eu não faria isso,
— murmuro, — eu só estou sentindo a sua falta, estou me
sentindo desamparada e completamente sozinha. Venha me ver,
pelos velhos tempos... — Peço, mas ele suspira do outro lado e
eu desligo, antes que ele tenha a chance de me dizer não.

Brian é obediente. Ele é como um cachorrinho treinado e eu


sei que se eu fizer direito, ele vem, mas as horas vão se
passando e nada dele aparecer. Eu adormeci em dado momento e
quando acordei, me dei conta de que aquela, era a primeira vez
que Brian não veio quando eu o chamei.

Droga!

Por que tudo tinha que começar a dar errado?

Suspirei, e depois de um bom banho e uma troca de roupas,


decidi ir até a casa do desgraçado do Charles. Porque se eu
estava falhando, era a hora de usar o meu novo peão. Mas logo
que eu cheguei lá, ele me encarou com aquela cara de batata
quadrada.

Sério… o que a Bella via nele?

Eu entendia que ela era sem sal e sem graça, mas… ele?
Além de nada fora do comum, ele era pobre.

— O que você faz aqui? — Ele fica surpreso com a minha


visita repentina e me pergunta sem nem se dar conta de que não
tem modos.

— Vim saber como vocês estão. — Minto, porque na


verdade, eu estava frustrada com o Brian e precisava espairecer.

— A Jess está bem. — Ele fala. — Entra.


— Fico feliz que ela já esteja em casa. — Digo, e caminho
em direção da sala, fingindo que ao menos estou interessada
naquela coisinha.

— Achei que ela nunca mais voltaria.

Ele falou e eu o encarei.

— Essa é a pior sensação. — Afirmo.

— Já perdeu alguém? — O Charles pergunta e eu acabo


franzindo meus lábios.

— Minha mãe.

— Sinto muito. — Ele diz e parece genuinamente se sentir


culpado.

— Agora a Jess não pode nos ajudar. — Tento mudar de


assunto, pigarreando, porque tudo que eu não quero, é entrar em
um assunto pessoal com aquele traste. — Eu preciso engravidar
e não sei como fazer isso.

Acabo dizendo e ele ergue uma das sobrancelhas.

— Pensei que tinha tudo sobre controle. — Ele fala e eu


sibilo.

— Você vai mesmo me irritar agora?

Charles sorri.

— Olha, se não se tiver outras opções, eu estou disposto a


ajudar. — Ele disse e eu acabei rindo.
— Deus… se você fosse mais parecido com o Thomas…
podia dar certo.

Nesse momento o meu celular começa a tocar e eu olho no


visor, é o meu pai.

— Papa, aconteceu alguma coisa? — Pergunto virando de


costas para Charles, que agora tinha uma expressão estranha no
rosto.

— Prepare as suas malas, vou viajar e você vai ficar na


casa do Vicente. — Ele fala de forma sucinta e eu acabo
sorrindo.

— Já estou fazendo isso. Obrigada papá! — Falo e olho para


Charles assim que desligo o celular, — preciso ir, até mais
queridinho.

— Pelo visto, resolveu algo, — ele diz e eu sorrio, sem me


dar ao trabalho de responder. Eu tinha que ir para casa, preparar
minhas malas e aí sim, ter o meu momento. Porque perto de
Thomas, eu poderia suprir sua carência.
A noite anterior foi maravilhosa, tanto que a ideia de
Thomas falar que queria pegar alguma roupa no quarto, céus…
eu me senti em um daqueles filmes dos anos 80.

— Bom dia! — Falei assim que entrei na sala, um sorriso


largo tomando conta dos meus lábios.

— Bom dia, minha filha. — Francesca falou, os seus olhos


vindos até a minha direção. — E… me desculpe por ontem.

— Eu que peço desculpas, acabei dormindo. — Não pude


evitar de mentir, mas de qualquer forma, eu tinha que me manter
naquele teatro.

Mesmo assim, era meio complicado saber se Francesca


havia visto Thomas sair do meu quarto na noite anterior ou
não.

— Bom dia. — Vicente disse ao abrir as portas, — Tenho


péssimas notícias. — Sua expressão se tornou séria como a
morte, e o seu olhar? Estava claramente cansado.

— O que aconteceu? — Thomas brotou atrás dele logo


depois, o seu semblante estando repleto de confusão, assim
como o de todos os presentes.
— Paul vai fazer uma viagem de negócios. — Ele soltou
como se fosse a pior coisa que poderia acontecer naquele
momento.

— E o que tem de tão surpreendente nisso? Ele não vive


fazendo viagem de negócios? — Thomas pergunta.

— Lunna vai ficar aqui, ele disse que foi ao médico com
ela, e que a sua gravidez é realmente é de risco. Falou que ela
precisa de cuidados e que teremos que cuidar dela.

Os meus olhos se arregalaram naquele momento, e Thomas?


Começou a passar uma de suas mãos em seu rosto, e depois em
seus fios.

— Por que ele… não contratou ninguém para ficar com ela?
— Falei tentando não soar grossa demais, porque dentro de
mim… apenas raiva estava me preenchendo.

— Ele disse que não conseguiu ninguém. — Vicente se


mostrou tão frustrado quanto eu com aquela situação. — E ainda
teve a ousadia de nos ameaçar.

— Ele fez o que? — Francesca já se encontrava


completamente possessa, o seu corpo se levantando do lugar que
estava.

— Isso mesmo que ouviu, ele nos ameaçou para cuidar da


Lunna, — Vicente fala e aperta o jornal que segura entre as
mãos, — e pelo visto, o comportamento dele só irá piorar.
— A gente tem que fazer alguma coisa! Não podemos deixar
ele sair depois de nos ameaçar, só porque ele quer. — Thomas
fala junto de um semblante sério, o seu corpo praticamente
avançando em direção a porta.

— Eu já estou fazendo algo. — Vicente soltou ao colocar


um dos braços em frente ao corpo do filho, para impedir a sua
saída. — Eles vão ver que não se mexe com a nossa família.

Nesse momento a campainha tocou, o que fez os empregados


irem em direção a porta.

— Senhor Kuhn, O senhor e a senhorita-... — a funcionária


estava prestes a anunciar quem havia chegado (para
provavelmente perguntar se podia deixar os mesmos entrarem),
mas as portas haviam sido abertas de forma brusca, e tanto
Lunna quanto Paul, brotaram no lugar onde estávamos, com os
braços dados.

— Bom dia a todos. — Paul falou assim que os seus olhos


repousaram em nós, com aquela expressão de poucos amigos.

— Bom dia. — Vincent foi o único que respondeu, com um


tom que também não disfarçava o seu desdém. — Pode nos
informar quando irá voltar, Paul?

— Ainda não tenho certeza. — Paul respondeu de forma


seca, — mas isso não importa, porque até eu voltar… vocês
terão que cuidar da minha Lunna, e eu espero… que eu não
escute nada sobre maus tratos vindo da boca dela.
— Ela será tratada como uma convidada de honra, —
Vincent sorriu, sorriu ao ponto de mostrar os dentes. — Mas
espero que esteja ciente do que está fazendo, Paul.

— Não se preocupe, Vincent, eu estou bem ciente das


minhas ações. — Ele arqueou os próprios lábios de forma
maquiavélica, — agora, eu tenho que ir. Qualquer coisa me
ligue, está bem? — Ele se despede de Lunna junto de um beijo
na testa, — até depois, minha preciosa.

— Até papá. — Ela sorri ao acenar para Paul, como se ela


estivesse se despedindo para passar férias em algum lugar. Mas
aquelas, não eram as suas férias, era apenas ela invadindo a casa
dos Kuhn. Invadindo… a minha casa.

Mas eu me mantive sorrindo, — porque eu teoricamente,


ainda estava sem memórias —, enquanto aquela sonsa me
olhava, e fingia que nada de errado estava acontecendo.

— Bom, já que tivemos essa visita e informações repentinas


logo pela manhã, eu tenho que ir junto com a Bella para um
compromisso que nós havíamos marcado com antecedência. Com
licença. — Thomas falou com um tom sereno, e por mais que ele
tenha tido o impulso de me segurar pela mão, ele se conteve, e
apenas indicou a direção para mim com a cabeça, o que me fez
seguir ele.

— Do que você estava falando? — Eu não evitei perguntar,


porque por mais que fosse óbvio que aquilo era apenas uma
desculpa, Thomas se mostrava um tanto quanto… sem
paciência.

— Vamos escolher uma casa. — Ele soltou, — porque se ela


veio só para fazer alguma coisa com você, eu não vou deixar
isso acontecer.

Mesmo que ele estivesse com uma expressão séria em seu


rosto, eu não evitei de achar aquilo um tanto quanto fofo.

Tanto que entramos logo em seguida naquele caso, e


passamos por várias imobiliárias para escolher uma casa que
fosse algo ideal para nós, algo que nós poderíamos chamar de
casa.

Claro, também tivemos uma conversa se ficaríamos com


uma casa ou um apartamento, mas mesmo assim… foi algo até
que divertido. Era como olhar para folhas em branco, e pensar o
que eu poderia colocar ali, para deixar mais com a minha cara,
com… a cara de Thomas. E por mais que nós dois não
possuímos muita noção do queríamos, uma coisa era certa,
teríamos que ter um lugar rápido, porque não sabíamos quanto
tempo aquela coisa ficaria na casa dos Kuhn.

— Ah, nós… podemos ir para a casa dos meus pais? Sinto


falta deles. — Falo ao olhar para Thomas, porque afinal…
passamos o dia escolhendo um lugar para morar, e isso também
havia sido cansativo.
— Claro, creio que eles também sintam a sua de qualquer
modo. — Thomas logo mudou a trajetória em seu GPS, e
enquanto eu olhava para a paisagem, me senti viva e as horas se
passaram rapidamente, me fazendo logo me ver em frente à casa
onde eu havia crescido.

Passamos a tarde toda com a minha família, Thomas e o meu


pai se deram super bem, acabei contando para a minha mãe que a
minha memória tinha voltado, — até porque eu precisava do
número da médica que ela tinha me levado —, só que claro, eu
ainda não lembrava do dia em que o acidente aconteceu, e sendo
assim… pedi para ela ainda guardar segredo, até mesmo do meu
pai.

E falando nele, ele saiu para atender uma ligação importante


bem quando foi solícito.

— Se quiserem podem passar a noite aqui. — A minha mãe


acabou oferecendo em dado momento.

— Eu não vejo por que não. — Thomas apenas respondeu de


forma despreocupada, até porque ele parecia querer ver Lunna,
tanto quanto eu.

— Eu não quero ver a cara daquela Lunna, só de pensar já


me estressa. — Eu logo soltei, porque eu estava em casa no fim
das contas.

— O que você fez com a minha filha? — A minha mãe


perguntou ao olhar para Thomas entre risos.
— Nada... — Thomas também riu logo em seguida, — Bella
foi autoritária com a Lunna, a colocou em seu lugar. — Ele falou
com certo orgulho em seu tom. — Até o meu pai gostou.

— O que pretendem fazer? — a minha mãe não evita de


perguntar, me olhando com aquela expressão curiosa, — vocês
sabem que tem muita gente tentando atrapalhar vocês dois.

— Nós sabemos e é por isso que vamos ver até onde a


Lunna e o Charles vão levar essa história. — Thomas explicou
de forma resumida, o seu corpo se colocando mais para frente,
— mas honestamente? Eu espero que não levem ela muito longe,
não sei até onde a minha paciência dura.

Ele falou com aquela cara de quem destruiria o mundo caso


algo acontecesse comigo, e céus… aquilo foi tão sexy.

— Bom, eu não sei se vocês terão que se preocupar com a


parte de Charles por um tempo, — minha mãe falou ao ajustar a
própria postura e cruzar as pernas, — afinal, Jess sofreu um
acidente.

Eu olhei para Thomas assim que minha mãe jogou aquela


bomba, e eu vi pelo seu olhar que ele já sabia sobre aquilo, ele
só… não havia me contato ainda, por algum motivo.
— Por que você não me contou? — Perguntei junto de uma
das minhas sobrancelhas arqueadas.

— O meu pai me avisou a pouco tempo, — ele falou de um


jeito um tanto despreocupado, — eu deveria ter te avisado na
hora, sinto muito, mas não achei que seria relevante.

— Tudo bem, você provavelmente logo me contaria. — Eu


respirei fundo, vendo que eu acabei tendo uma reação que veio
antes de eu saber todos os fatores, — mas… quem fez isso?
— Vincent. — Thomas falou sem emoção alguma, — eu te
avisei que o meu pai era doído.

— Céus… — eu respirei fundo, a minha mão levando os


meus cabelos para trás. — Eu preciso falar com o Charles, se
não ele não vai acreditar que ainda não me lembro de nada.

— Você não vai sozinha. — Thomas se levantou, os seus


olhos me encarando de forma intensa, — aquela coisa quase te
matou.

— Eu sei, mas precisamos manter as aparências. — Falei de


modo sucinto, porque aquela era a realidade, nós precisávamos
daquilo.

— Bella, você não vai sozinha. — Ele tentou insistir, mas


eu apenas neguei com a cabeça.

— Ele vai desconfiar. — Falei ao me levantar também,


agora os meus olhos fixos nos dele. — É mais fácil a Jenny me
acompanhar, eles são amigos, eu acho.

— O Fred vai junto. — A minha mãe logo falou, talvez para


sentir que eu estaria mais segura.

— Quem é Fred? — Thomas acabou perguntando, junto da


sua testa franzida.

— O nosso motorista. — Expliquei, — e no caso dele, não


fica suspeito também.
— Então eu vou no meu carro, e caso você demore eu entro.
— Ele insistiu mais uma vez, o que me fez suspirar.

— Thomas, isso não será necessário. — Tentei dizer com


calma, porque se ele também fosse junto, eu não sabia se
Charles continuaria acreditando.

— Filha, se ele quer ir tanto, apenas deixe… talvez isso seja


realmente necessário. — Minha mãe pareceu ter se rendido aos
seus instintos maternos, o que me fez bufar.

— Já que vocês parecem que não vão me escutar, que assim


seja. — Falei a contragosto, e depois de uma ligação para falar
com Jenny para irmos juntos falar com Charles no dia seguinte,
e ela concordou praticamente de imediato. Então, depois de
dormirmos na casa dos meus pais, nós acordamos bem cedo para
tomarmos café juntos e irmos para a casa da Jenny, buscá-la.

— E então? — Jenny perguntou logo que entrou no carro, —


como foi a lua de mel, priminha? — Um sorriso malicioso tomou
conta de seus lábios, o seu olhar parecendo querer caçar cada
microexpressão minha.

— Foi uma boa viagem. — Respondi como se a minha lua


de mel não tivesse sido nada demais.

— Qual é! Não rolou nadinha? — Ela me perguntou mais


uma vez, o seu braço se envolvendo em torno dos meus
ombros.
— Não, e por que rolaria? Charles é o meu namorado, se
lembra? — Eu logo respondi, porque no fim, estávamos indo até
a casa de Charles, e do jeito que Jenny era desatenta… ela
provavelmente soltaria alguma coisa sem notar.

— Por isso está indo ver ele? — Ela se ajeitou no banco ao


perguntar, claramente desapontada.

— Sim, inclusive, não via a hora de ver ele de novo. —


Menti novamente, mesmo que aquelas palavras saíssem sem
emoção nenhuma dos meus lábios.

— A minha priminha é tão dedicada e fiel… — Jenny soltou


com nítido desdém.

— Você parece frustrada com isso. — Zombei, apenas para


ela dar de ombros.

— Eu? Claro que não. — Ela solta de forma sarcástica, —


mas quem sou eu para julgar se você prefere o Charles, ao
gostoso do seu marido.

— Vocês não são amigos? — Acabo perguntando entre risos,


— porque assim… quem precisa de inimigos com uma amizade
como a sua.

— Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. — Foi


tudo o que ela disse antes de Fred parar o carro, e anunciar que
havíamos chegado até a casa de Charles.

Mas assim que eu desci e pisei naquele gramado, aflição


começou a me preencher por algum motivo, como se… aquele já
não fosse mais o meu lugar, ou… um lugar que me trouxesse
qualquer conforto sequer — se é que já trouxe algum dia. Porém,
sabe que Thomas estava por ali… fez eu me acalmar um pouco.

Eu estava segura com o Thomas, ele nunca deixaria algo me


acontecer.

— Vamos? — Jenny segurou a minha mão para irmos até a


porta, e a cada passo que eu dava… mais ansiedade eu sentia.

Eu não esperava me sentir daquela forma — principalmente


ao visitar Charles —, até porque… eu me imaginava me casando
com ele, tendo uma família com ele, e… agora era quase como
se ele fosse um estranho pra mim.

Tanto que quando me dei conta, Jenny teve que me dar um


toque para eu acordar para a realidade e sair dos meus
pensamentos, apenas para me deparar diretamente… com
Charles.

— Bella. — O Charles sorriu assim que me viu, os seus


braços abrindo para me dar um abraço. — Eu estava com
saudades de você! E eu até te liguei, mas você não me
atendeu…

Ah… deus, eu nem queria falar disso. Ele tinha me ligado


tantas vezes que tive que esquecer o meu celular dentro da mala,
para não me irritar durante a lua de mel.

— Bom, eu vim aqui porque… precisamos conversar, — eu


acabei dizendo, o que fez Charles dar passagem, e estender uma
das mãos para indicar o caminho.

— Entrem. — Ele começa a andar em nossa frente, nos


guiando até a cozinha, — e… Bella, como você está?

— Eu estou bem, não se preocupe quanto a isso. — Falei de


forma direta antes de respirar fundo. — Mas não foi para isso
que eu vim, eu… preciso te falar algo, e esse algo, é que… eu
me casei.

— Eu vi as fotos num jornal. — Ele soltou ao bufar, — mas


o tal do Thomas não é o namorado da Jenny? — Ele obviamente
acabou perguntando.

— Sim, ele é. — Jenny finge estar abalada, colocando uma


de suas mãos sobre o rosto, — mas… motivos maiores surgem
quando você é de uma família renomada, não é? Sendo assim…
ele e Bella tiveram que se casar.

— E como você se sente com tudo isso, Jenny? Está bem?


— Ele pergunta, parecendo completamente preocupado, —
afinal… estamos no mesmo barco, e… deve estar sendo tão
difícil pra você, quanto está sendo pra mim.

— Olha Charles, não vou negar que isso está me


incomodando, mas… fazer o quê? Foi preciso… — Jenny como
sempre, usou as suas habilidades de mentirosa nata, soando a
mais natural e sentida possível.

— Então… se for para sustentar esse teatro, eles terão (isso


se já não estiverem), que morar juntos, certo? — Charles logo
soltou, os seus olhos vindos até mim, — como… eu vou poder
confiar em você com ele?

Antes que eu tivesse que responder aquela pergunta


carregada por insegurança, todos nós escutamos alguém bater em
alguma das paredes.

— Charles, quem está aí? — Comecei a escutar uma mulher


chamar por ele, uma que provavelmente era a sua irmã.

— Só um minuto, Jess. — Ele logo gritou ao virar o próprio


torso para trás,

— Quem é? — Perguntei para me fazer um pouco mais de


sonsa.

— A minha irmã, ela sofreu um acidente. — Ele resumiu, —


estou cuidando dela esses dias.

— Posso ver ela? — Acabo perguntando por um momento,


para dar uma de namorada dedicada. — Afinal, somos uma
família, certo?

— Charles. — Jess o chamou novamente, o que me fez


respirar fundo.

— Certo… então, vamos… — Charles logo falou ao se


dirigir em direção ao quarto da irmã, que logo sorriu ao nos
ver.

— Bella!? Até que enfim nos conhecemos! — Ela parece


empolgada por me conhecer, mas eu apenas aceno à distância.
— Olá, como você está? — Perguntei ao me aproximar de
forma leve, ainda mantendo uma distância que era confortável
para mim, — como isso aconteceu?

— Eu tinha ido até o mercado, e quando fui atravessar a rua,


uma das sacolas que eu carregava, rasgou, e nesse momento veio
um carro em alta velocidade, — ela contou como se não fosse
nada demais, o que de certo modo, me surpreendeu, — e como
pode ver, eu me encontro nesse estado por conta disso.

Ela estava com uma as pernas engessadas, e com pino em


um dos braços, e claro… roxos pelo rosto por conta do impacto
provavelmente.

Ela estava… quebrada.

— Foi por isso que eu não te liguei no seu aniversário, as


coisas aconteceram muito rápido, e eu só precisava que a Jess
ficasse bem. — Os olhos de Charles se encontravam cheios de
lágrimas naquele momento.

Bom, pelo menos com a própria irmã… ele realmente


parecia se importar.

— Não fique assim. — Eu o abracei para sustentar o meu


papel de namorada, junto de alguns tapinhas em suas costas.

— É maninho, não fique assim não. — Jess continuou. —


Você ainda tem a Bella.

“Você ainda tem a Bella.” Aquelas palavras começaram a


ecoar em minha mente, e quase me fizeram sufocar, como se
apenas aquilo fosse o suficiente para me prender.

— Sim, eu ainda tenho a Bella. — Ele me beijou depois de


dizer aquilo, e por mais que a minha vontade fosse me afastar
ele, eu retribuí.

Retribuí, e ainda tentei disfarçar o enjoo que eu acabei


sentindo. Mas é claro, eu não conseguiria por muito tempo, e
isso… fez com que eu me despedisse, e acabasse prometendo
que o veria no dia seguinte, — mesmo… a contragosto, — junto
das melhoras que eu desejei para Jess.

Eu só queria ir pra casa limpar a minha boca, e… quem


sabe, deitar com meu marido se eu conseguisse.
Eu já estava com os nervos à flor da pele naquele momento,
porque já não bastava ter Lunna dentro da minha casa, mas
agora? Agora eu tinha que aguentar Bella na casa daquele
psicopata, e pior ainda, sem poder fazer nada. A sensação de
ansiedade apenas foi aumentando cada vez mais em meu peito,
porque quanto mais eu olhava o relógio, mais os minutos iam se
passando, e passando ainda mais, pelo menos, até eu receber
uma mensagem de Bella.

[Bella]: Me encontre na praça que tem mais para frente,


fica na primeira curva à direita.

Foi tudo o que ela mandou, mas já foi o suficiente para eu ir


até lá na hora, apenas para ela chegar com o motorista que a
havia trazido antes. Mas, apenas ela saiu de dentro do carro.

— A sua prima vai continuar com o motorista? — Acabei


perguntando por achar aquilo estranho, mas Bella apenas deu de
ombros.

— Ela disse que tinha um encontro com o Brian, e pediu um


uber. — Ela fez um sinal de negação com a cabeça enquanto
estalava a língua no céu da boca, — Jenny e suas saídas.

— Entendo. — Foi tudo o que eu me limitei a dizer naquele


momento, — mas… como foi lá?

— A irmã do Charles parece estar se recuperando, e… —


Bella fez uma pausa, os seus olhos se afastando dos meus no
processo, — ele me beijou.

Uma parte minha sentiu o ódio me invadir por completo,


porque aquele merda… teve a ousadia de encostar aqueles lábios
imundos na minha Bella. Mesmo assim? Eu me obriguei a
respirar fundo, porque Bella não tinha culpa, Bella… tinha que
manter as aparências.

— Mas eu não gostei, eu… senti nojo e-


— Bella, não precisa continuar, eu entendo. — Eu a
interrompi, uma das minhas mãos acariciando a sua cabeça, —
você tinha que fingir que não possuía memórias, o errado foi ele
por se aproveitar disso.

— Que bom que entendeu… — Bella falou, com isso se


jogando no meu colo. — Só com você que eu sinto borboletas no
estômago, e só você me completa de todas as maneiras…

Ela sussurra no meu ouvido, o que fez com que as minhas


mãos deslizassem pelo seu corpo, porque porra… essa mulher
parecia que sempre conseguia me enlouquecer cada vez mais.

— Minha regazza, não era você quem estava falando que


não queria engravidar? Eu não tenho camisinhas comigo… — A
essa altura ela já tinha desabotoado, mas então… eu me lembrei
de algo. — Espera, você não tem médico hoje?

— Isso é algo importante? — Ela começou a descer os


próprios lábios, pelo menos, até eu me distanciar.

— Bella, você teve uma perda de memória há pouco tempos


atrás, você precisa da consulta. — Eu acabei falando sério, o
que fez ela bufar e se sentar em seu devido lugar para irmos para
a casa dos pais da Bella, e então para o hospital.

Claro, nós continuamos na casa dos pais da Bella — porque


nenhum de nós queria olhar para a cara de Lunna —, mas isso
foi bom, porque Bella queria matar a saudade de seus pais, e
honestamente? Eu não tinha nada contra a ficar naquele lugar,
principalmente, por conta do ar aconchegante. Porém… nem
tudo são flores, até porque, eu ainda tinha que aguentar o
desgraçado do Charles… ligando e mandando mensagens para
ela o tempo inteiro.
Já tem alguns dias que não vejo o Tomy e é obvio que
ninguém desta casa gosta de mim. Eu já sabia disso, mas eles
poderiam ao menos disfarçar. A minha gravidez é falsa, mas
para todos os efeitos? É uma gravidez de risco e nenhuma
daquelas pessoas, parecia se importar.

Já liguei várias vezes para o meu pai e nada dele atender. Eu


comecei a me preocupar nessa altura do campeonato, porque as
minhas atitudes não deveriam afetar o meu pai. Mas eu
precisava me aproximar de alguém na casa. Precisava de algo, e
foi aí que vi uma chance, uma porta aberta no corredor
principal.

— Posso entrar? — Pergunto quando vejo a porta do quarto


do Pietro aberta, e aqueles olhos azuis me fitam com irritação
pura.

— O que você quer? — Até ele está me tratando mal, não


que em algum momento aquele moleque tenha gostado de mim,
mas isso era um pouco demais.

— O seu irmão.

Pietro está deitado na cama mexendo no seu celular e finge


que eu nem mesmo importo.
— O que tem o Thomas? — Ele pergunta, sem me olhar.

— Quero saber onde ele está. — Digo de forma sucinta. —


Estou me sentindo muito sozinha.

Eu digo e essa parte não é mentira. Estou sentindo muita


falta do meu pai e também dos meus irmãos.

— Deve estar com a esposa dele. — Pietro fala e se levanta


da cama, me ignorando por completo e indo para a porta, — e
quando sair, fecha a porta.

Eu suspiro frustrada e volto para o meu quarto. Eu acabo


cochilando, mas quando acordo, alguém bate na minha porta e
eu tenho a breve esperança de que seja Thomas.

— Pode entrar. — Falo ajeitando minha postura e minhas


roupas, mas tudo que recebo é uma daquelas funcionárias velhas
do meu tio Vicente.

— Senhorita Lunna, o jantar já foi servido. — A empregada


me avisa com um sorriso e eu acabo retribuindo.

— Certo, já estou indo! Obrigada. — Eu digo e assim que


saio do meu quarto dou de cara com o Vicente. — Tio, cadê o
Tommy? — pergunto enquanto caminhamos para a sala de estar
e ele me encara.

— Eu não sei. — Diz de forma sucinta e isso me irrita.

— Como o senhor não? — Insisto, com um sorriso, — o


senhor sempre sabe de tudo.
Vicente bufa e a minha tentativa, é obviamente frustrada,
mas ainda havia uma esperança, — a tagarela sem causa da
Francesca. Então, assim que me sento a mesa e todos parecem
prontos para começar, eu pigarreio, olhando em volta.

— Tia, cadê o Tommy? Pensei que ele viria para jantar. —


Eu acabo falando e ela me olha como se eu fosse um monstro.

— Com a esposa dele. — Ela diz e sua resposta é incisiva e


direta.

— Isso eu sei, mas quero saber quando ele vem para cá —


falo me forçando a continuar sorrindo, porque isso era tudo que
eu tinha. — Vou fazer mais uma ecografia do nosso bebê, e eu
quero que ele vá junto. — Eu falo, tentando lembrá-los do
motivo de estar ali.

Francesca começa a rir e todos na mesa a encaram.

— Pena que a sua mãe não esteja aqui para colocá-la no seu
lugar. — Ela fala me olhando com desprezo, — talvez se ela
estivesse, você não tivesse se tornado uma vadia dissimulada
como se tornou. Elaine teria vergonha da filha que teve.

— Escuta aqui! — Eu grito me levantando da mesa, — eu


aceito ser ignorada e tratada mal, porque entendo a situação de
vocês, mas isso é ir longe demais! Não fale da minha mãe!

— Cale a sua boca, você não é ninguém nessa casa! — O


meu tio Vicente fala, me olhando com desprezo e eu tenho que
respirar fundo para não chorar.
— Certo… — eu digo, engolindo meu choro e sorrindo para
eles, — se me dão licença… estresse não faz bem para o meu
bebê, — murmuro com a mão sobre minha barriga e quando
chego em meu quarto, só consigo gritar no travesseiro de pura
frustração.

Eu queria chorar e chorar, mas não podia continuar, então,


liguei para um detetive de confiança e depois de algumas horas
ele me retornar com o paradeiro de Thomas. Florença. Ele está
na casa dos sogros, com a sem sal da esposa dele.

Thomas estava tentando se livrar de mim, ele estava


tentando… se mudar para uma nova casa com Bella.

Eu nem queria acreditar naquela palhaçada, mas era a


verdade. Thomas ia simplesmente fugir, se mudar para longe,
para não ter que lidar comigo e não atormentar a sua linda
esposinha. Eu pensei que ao menos teria tempo de falar ou fazer
alguma coisa, mas não, ele não queria me dar tempo para nada.
Então eu teria que mostrar ao Tommy que ele não pode fazer
tudo por conta própria e me ignorar por completo.
— Como você se sente? — Thomas pergunta quando coloco
na mala a última peça de roupa, e eu não consigo evitar o sorriso
radiante em meus lábios.

— Radiante. — Falo e me sento na cama, ao seu lado. — Eu


não aguento mais o Charles e nem a Lunna, vamos acabar com
essa história de vez, está bem? O seu plano é bom, mas eu
realmente não sei se consigo continuar com isso.
— Bella, no caso de Charles é simples de resolver, mas no
caso de Lunna? Precisamos de provas, — ele diz e isso me faz
sibilar.

— O homem do haras já é uma testemunha, a irmã do


Charles vai presa e pronto, pode ser? — Eu praticamente suplico
e Thomas parece se dar por vencido.

— Ok! Amanhã falamos com aquele homem e vamos até a


delegacia, mas você sabe que as coisas não vão acabar assim,
não sabe? Charles tem que pagar pelo que fez, — ele diz de
forma direta e eu suspiro.

— Está bem! — É tudo que eu posso dizer, porque fazer


parte da máfia não é opcional. É apenas isso, a realidade.

— Atrapalho? — A minha mamma pergunta, nos pegando de


surpresa ao entrar no quarto. — A porta está aberta. — Ela fala.

— Não, só estamos decidindo o que fazer com a Lunna e o


Charles. — Eu acabo dizendo e ela suspira.

— Eu posso te ensinar a matar, e olha que eu atiro muito


bem, mas isso pode dar problema para as famílias no caso da
Lunna. — Minha mamma fala e se aproxima de nós, — ela é
parte da família Kuhn e mesmo Thomas sendo o herdeiro, é uma
morte que Vicente precisa aprovar.

— É sério? — Eu a encaro, porque sinceramente não


acredito nisso.
— Sim, querida. Infelizmente, quando se faz parte da
família, as coisas funcionam diferente, — ela diz e olhando para
minhas malas, parece triste, — Já estão indo? Pensei que
teríamos um pouco mais de tempo com vocês por aqui…

— Sim. — Eu falo rindo, — mas nós voltaremos, mamma,


não daremos chance de se sentir solitária. Só precisamos do
nosso momento juntos. — Eu falo e o me celular começa a
tocar.

Assim que pego o meu celular na mesa de quarto, eu olho no


visor e vejo que é o Charles. Droga. De novo isso?

— Quem é? — Thomas pergunta e eu só franzo o cenho


como resposta. — Sério que é ele?

Balanço a cabeça como resposta e isso parece irritar o


Thomas.

— Oi, Charles, — eu falo atendendo e ele parece nervoso do


outro lado.

— Bella, é uma hora ruim? — ele me pergunta e eu tenho


que me segurar para não dizer que sim.

— Não, claro que não. — Minto. — Pode falar.

— Você pode vir aqui em casa?

— Na sua casa? — pergunto e vejo a expressão de raiva no


rosto de Thomas, aquele era um óbvio não.
— Sim, a Jess está piorando e eu não quero ficar sozinho.
— Ele diz, mas eu realmente não quero ir até lá.

Pense no plano, Bella. Tudo pelo fim que desejamos.


Pigarreio.

— Ok! Já estou indo.

— Obrigado. — Ele diz e Thomas me encara como se eu


tivesse acabado de cometer um pecado.

— O que ele quer dessa vez? — Minha mãe me pergunta e


Thomas sibila.

— Ele quer que ela vá até ele, de novo.

— Disse que a Jess está pior. — Eu explico. — Ele me pediu


para ir lá, para que ele não fique sozinho.

— Que se dane ele! — Thomas vocifera, mas essa não é


mesmo uma opção.

— Thomas, essa é a última vez. Se eu não for, ele vai notar


que algo mudou, — eu digo e ele parece irritado demais com
aquilo.

— Bella… — minha mãe me encara como se temesse por


mim e eu pego a arma de Thomas, que ele sempre carrega
consigo.

— Eu sei me proteger. Lembra? — Falei sorrindo e ela


beijou minha testa.
— Então se cuide, minha menina.

— Eu ainda sou contra essa ideia. — Thomas resmunga e eu


o beijo de forma demorada.

— Querido… será a última vez que isso irá acontecer.

— Certo, — ele diz e parecendo ter sido vencido, me olha


nos olhos antes de me soltar, — mas você levará os meus
homens. Se eles ouvirem qualquer coisa suspeitas, eles entram e
vão atirar para matar. Aquele maldito não vai encostar em
você.

Eu acabo rindo e depois de concordar para deixar Thomas


mais calmo, eu chamo Fred para me levar. Ele era nosso
motorista e não era suspeito que fosse com ele. Alguns minutos
depois ele para o carro na frente da casa do Charles, mas está
tudo apagado, e mesmo assim eu desço e bato na porta várias e
várias vezes, mas ninguém responde. Eu resolvo ligar para o
Charles, mas ele também não atende e isso começa a me irritar.

Se ele me queria ali? Por que não estava? Por que não
respondia?

Droga.

Ele me causou problemas para nada.

Eu peço para o Fred me levar para o condomínio onde moro,


e depois de algumas horas de viagem de carro, eu chego
finalmente no meu “lar”. O problema é que apenas o carro de
Thomas está estacionado no lado de fora, mas eu consigo ouvir
da porta da entrada, algumas vozes.
Eu nem queria acreditar naquela palhaçada, mas era a
verdade. Thomas ia simplesmente fugir, se mudar para longe,
para não ter que lidar comigo e não atormentar a sua linda
esposinha. Eu pensei que ao menos teria tempo de falar ou fazer
alguma coisa, mas não.

Thomas se certificou de sair para escolher uma casa no


mesmo dia em que eu cheguei na mansão, e agora? Eles haviam
comprado a droga do lugar. Os dias estavam se passando e eu
sabia que tinha chegado o dia em que ele ia se mudar para a sua
nova casa, porque o detetive que eu contratei, não tinha saído da
sua cola.

Então aproveitando disso tudo, eu decidi que faria uma


surpresa para ele.

Charles tinha me dito como Bella havia agido com ele nos
últimos tempos e isso queria dizer, que eu ainda podia ter
esperanças. Graças a isso, eu compro uma lingerie e uma garrafa
de champanhe. Consigo com um bom fornecedor, um boa noite
cinderela e vou até a casa que Thomas havia comprado para ele
e para aquela sonsa com quem tinha se casado.

Eu estaciono o mais longe possível e vejo um guarda se


aproximar.
— Pois não? — O guarda pergunta e eu sorrio.

— Acabei de me mudar, e perdi as minhas chaves. — Minto,


dando o meu melhor sorriso.

O lugar onde eles vão morar é um condomínio com várias


mansões, é claro que eu não espero menos do meu Tommy. Ele
era incrível e sempre seria.

— Qual o seu nome? — O senhor de meia idade pergunta,


como se me analisasse e eu pigarreio.

— Bella McNight. — Eu digo e ele pega seu tablet,


checando no sistema.

— Ah… senhora Kuhn? — Ele pergunta e eu engulo em


seco. Aquela vadia jamais seria a senhora Kuhn. Não enquanto
eu estivesse viva.

— Sim, eu me esqueço do sobrenome de casada. — Falo


tentando rir e ele retribui o sorriso.

— Tudo bem, senhora. Isso acontece, minha esposa é do


mesmo jeito. — Ele diz, — Por enquanto, a sua chave é a senha
padrão, ao menos, caso o seu marido e a senhora ainda não
tenham mudado.

— Deus… ainda não tivemos tempo, — falo suspirando, —


meu marido me deu um papel com a senha, e eu estava tentando
achá-lo pelo carro.
— Isso é normal. — Ele fala e eu olho no crachá da sua
blusa o seu nome.

— Deve ser, Antoni. — Digo e ele sorri mais uma vez.

— A senha provisória é do 1 até o 6, não se preocupe muito


com isso.

— Obrigada. — Eu acabo sorrindo e ele libera a minha


passagem.

A casa deles é a última do condomínio, é como se fosse a


“última da rua”, e eu tenho certeza que de lá, dá para ver todos
que entram e saem do lugar.

Deus, como aquele homem sempre me surpreende?

— Oi, Lunna.

— Charles, preciso de um favor seu. — Eu digo e ele


suspira.

— Pode pedir.

— Liga para a Bella e inventa qualquer coisa, diga que é


uma emergência, mas você não pode deixar que ela venha para
casa agora! Eu preciso de um momento com o Thomas, —
explico e ele bufa.

— Eu não sei se vou conseguir enrolar ela por muito tempo.


— diz e eu me pergunto porque eu trabalho com ele no fim das
contas.
— Faça o que você pôde, mas por favor, faça! — Exijo,
porque com pessoas como ele, não adianta surtar.

Eu desligo o telefone e desço do carro. Entrar na casa seria


um problema se eu não tivesse subornado alguns dos homens
que trabalhavam para Thomas, e depois de usar a senha que o
Antônio me deu, eu decido ir até o quarto deles. Assim que
chego no último andar, me deparo com um quarto enorme e um
closet gigantesco. Nem o meu é desse tamanho, e eu não consigo
evitar de me sentir irritada por tudo isso estar sendo dado a
Bella!

Por que um closet tão grande?

Por que uma casa tão grande? Ela sequer merecia estar
casada com o Tommy.

Decido bagunçar a cama deles e jogar no chão alguns


retratos do casamento deles.

Por fim eu me troco, e algum tempo depois olho pela janela


do quarto e vejo o carro do Tommy entrando, — eu desço as
escadas às pressas, e vou até à cozinha. Abro a champanhe e fico
escondida ali mesmo, — eu não vou negar que a casa deles é
muito linda, até sinto uma pontada de inveja, mas tenho certeza
de que não ficarão aqui por muito tempo.

Logo a casa seria minha e do Thomas, assim como o


casamento que se tornaria meu.
Depois de alguns minutos, Tommy entra na casa sem a sem
sal da Bella, e então ele tira a jaqueta e a joga em cima do sofá.
Eu observo enquanto em seguida ele se senta e afrouxa o nó da
sua gravata. Eu o vejo apoiar a cabeça na traseira do estofado e
fechar os olhos, obviamente cansado, e caminho na ponta dos
pés até sua direção.

Eu me aproximo e subo em cima dele, deixando uma perna


em cada lado da sua cintura. Ele leva um susto quando abre os
olhos e me vê ali, mas é o que eu queria.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunta parecendo


ainda em choque, — quem diabos deixou você entrar?

Tommy segura firme os meus pulsos e eu acabo rindo.

Esse era o lado negativo de se mudar. Thomas estava


acostumado a algo que ainda não tinha conseguido. Seguranças
por toda parte.

— Saia daqui. — Thomas diz irritado, me jogando para


longe do seu colo, — você acha que eu vou cair em um dos seus
joguinhos?

Nesse momento eu o agarro pelo pescoço com todas as


minhas forças e tento beijá-lo à força, mas Thomas me empurra
com uma grosseria que chega a me machucar.

— Me solta, Lunna. — Ele diz e em seus olhos eu vejo a


raiva que ele está sentindo, mas ignoro. Thomas era meu e
sempre seria, eu não ia me dar por vencida! Ele ia ver isso
quando aquela Bella sumisse da sua vida e do seu coração.

— Não! — Grito o puxando de novo e começando a beijar e


deixar marcas de batom onde posso. Ele é mais forte que eu e
graças a isso, mal consigo tocá-lo antes dele me jogar para longe
do sofá.

— Chega! Eu cansei! Vá embora daqui antes eu perca a


paciência e a pouca consideração que eu ainda tenho por você!

Sem dizer uma só palavra, — mesmo que o baque nas


minhas costas tenha doído, — eu me levanto e abro o meu hobby
que é na cor vermelha, e que combina com a minha lingerie, por
baixo. Delicada e sexy. Quando o meu hobby cai aos meus pés,
eu abro o meu sutiã, Thomas bufa vendo meus seios saltarem
para fora e eu acabo sorrindo.

— Admita Thomas, você gosta do que vê, não gosta? —


Pergunto e me aproximo aos poucos dele. — Vamos Tomy, me
responda! — Exijo e ele me fuzila com os olhos.

— Você está maluca, Lunna? — Ele me pergunta e eu tiro a


minha calcinha e a jogo em cima dele, me sento no chão, e fico
apoiada nos meus cotovelos. Eu abro as minhas pernas e começo
a me masturbar com uma das mãos, enquanto Thomas me olha
com incredulidade. — Você não me deseja? — Uso o tom de voz
mais sexy que posso e ele se aproxima.

— Lunna... — Ele me chama e eu sinto um fio de esperança


antes de ouvi-lo continuar, — eu não te desejaria, nem que fosse
a última mulher na face da terra. então some, antes que eu te
jogue lá fora, sem uma única peça de roupa para se cobrir.

Eu engulo em seco querendo chorar, mas tudo fica melhor


quando ouço a porta se abrir e vejo que ao menos uma parte do
meu plano… deu certo.
— Regazze. — Thomas me chama mais uma vez e eu acabo
me virando com raiva, para encará-lo.

— O que você quer?

— Eu quero conversar, Bella! — Ele diz subindo as escadas


atrás de mim. Nesse momento eu gostaria que o nosso quarto
fosse no terceiro andar, — você precisa me ouvir, não pode
acreditar que eu chamei aquela maluca para a nossa casa!
Bufei, ignorando suas palavras, mas quando entro no nosso
quarto, dou de cara com algumas coisas jogadas, fora os porta-
retratos que estão quebrados no chão, e a nossa cama está toda
bagunçada, havia roupas minhas e até mesmos itens como
perfumes, espalhados pelo chão. Eu não conseguia acreditar que
aquela piranha tinha chegado no meu quarto! Eu tinha mandado
os funcionários trazerem grande parte das minhas coisas no dia
anterior e o meu closet que estava perfeitamente organizado,
agora era uma zona.

— Que porra, aconteceu aqui? — Falo e me viro para ele, e


Thomas me encara, parecendo mais surpreso que eu.

— Bella, eu não sei, quando cheguei ela já estava aqui. Eu


não a notei e não fui notificado da sua chegada, — ele me disse
e eu sibilei respiro fundo mais uma vez.

Eu não desconfiava de Thomas e por isso, não podia gritar


com ele sobre isso, mas isso não queria dizer que eu iria
facilitar.

— Por que está me ignorando? — Ele me pergunta quando


vê que eu não vou respondê-lo e eu o encaro com raiva.

— Por que você não a mandou embora?

Aquelas palavras saem dos meus lábios cheias de rancor.

— Bella, eu a mandei embora! Eu estava prestes a jogar ela


para fora da nossa casa! — Ele diz e eu bufo.
— Você esperou, Thomas! Esperou que ela tirasse as roupas
na sua frente! Seu… — Eu suspirei, sentindo minha cabeça
latejar, — quer saber? Esquece, eu não quero ter essa conversa
com você.

— Ragazze, vamos conversar. — Ele segura o meu braço e


eu o fuzilo com os olhos.

— Eu não quero conversar com você. Não quero nem mesmo


olhar na sua cara, — falo de forma sincera, — me deixe,
Thomas.

Eu digo aquilo e ele me solta, seus olhos parecendo escuros


pela raiva.

— Certo, — ele diz e se virando saí do nosso quarto. Eu


fecho meus olhos com força e vejo a bolsa de Lunna jogada em
cima da minha cama.

— Eu deveria ter mais bom senso… — digo a mim mesma,


mas naquele momento, eu quero me torturar. Então, eu pego a
bolsa e revirando nas coisas da Lunna, acho cigarros,
maquiagens e o seu celular que vibrava naquele instante com
mensagens de Charles.
Eu deveria ter agido mais rápido. Deveria ter expulsado
Lunna da nossa casa, mas outra vez? Eu não fiz. Eu pensei
demais e pensar demais era ruim. Foi ruim quando não fui atrás
da Bella e agora? Parecia prestes a destruir o meu casamento.

Queria tanto poder voltar atrás, mas isso não era possível e
eu teria que viver com isso. Com a realidade que caia sobre
nossas cabeças.

— Merda! — Eu rosnei e ouvi Bella descer as escadas


rapidamente, parecendo preocupada.

— Thomas! — Ela me chamou e eu a encarei com surpresa.


Afinal, segundos antes ela nem mesmo olhava na minha cara.

— O que aconteceu? — A questionei e Bella franziu os


lábios com descontentamento.

— Lunna e Charles se conhecem, — ela disse me mostrando


o celular de Lunna com notificações de Charles. Eu sibilei,
sentindo a raiva tomar conta de mim, enquanto ela dizia, — não
consigo ver até onde eles estão juntos, porque precisamos de
uma senha para acessar…

— Isso é fácil de resolver, — eu digo de forma sucinta, —


me dê um segundo.
Puxo meu celular e com alguns toques, chamo Brian para
nossa casa. Bella o encara com surpresa quando ele surge em
nossa porta e ainda mais, quando Jenny surge atrás dele.

— Brian? — Ela o encara e eu acabo sorrindo.

— Eu sei que ele parece um idiota, mas ele é bom nisso, —


eu digo e Brian me fuzila com os olhos.

— Você deveria tratar melhor a pessoa que acabou de


estragar a própria noite, para vir te ajudar, — ele diz e Jenny
cruza os braços.

— Ele está certo, nem olha pra mim.

Bella a encara.

— Vocês estão mesmo juntos?

Ambos se entreolham e Brian pigarreia pegando o celular de


Lunna das minhas mãos e abrindo seu notebook sobre a nossa
mesinha de centro.

— Vou precisar de alguns minutos, — ele disse, mas na


verdade, levou quase duas horas. — Tinha muita coisa, — ele
disse, — e sinceramente? Eu não sei qual delas é pior.

Eu encarei a tela e vi o rosto de Bella se contorcer enquanto


ela via cada um dos arquivos do celular de Lunna. Os recibos, as
mensagens e claro: a prova de que ela tinha forjado aquela
gravidez. Lunna nunca esteve grávida, de mim e nem de
ninguém; mas foi no momento em que o histórico dela com
Charles foi aberto, que eu vi a minha esposa levar o verdadeiro
baque.
— Que desgraçado, filho de uma puta! — Jenny rosnou
entre dentes enquanto eu sentia o meu mundo desabar. Eu olhei
mensagem por mensagem que havia naquele histórico e me
sentando ao lado de Brian para tomar o controle do mouse, eu
me senti a pessoa mais burra e idiota de todo o mundo.

[Lunna]: Não seja estúpido, vai dar tudo certo.

[Charles]: É fácil para você falar.

[Lunna]: Também é fácil para você, não foi a sua irmã


quem pagou para cortarem a sela do cavalo da sem-sal da
Bella?

[Charles]: Eu já disse que isso não era para acontecer


desse jeito. Foi um acidente, Bella não deveria se machucar. O
que eu ganharia com isso? Eu deveria ser o único a me
acidentar.

[Lunna]: Pobrezinho de você.

[Charles]: Exatamente, pobrezinho de mim. Bella nunca me


deixaria se eu estivesse fragilizado.

Aquelas mensagens fizeram minha cabeça girar, mas a


conversa continuava e logo abaixo, havia mais.
[Charles]: Jess sofreu um acidente, descubra quem fez isso
com ela.

[Lunna]: Acha que os meus detetives trabalham de graça?


Estou fazendo o meu melhor.

Eu desci e desci, até chegar na última mensagem que havia


sido mandada hoje.

[Lunna]: Thomas acabou de chegar em casa, não deixei a


Bella vir antes que eu tenha tempo de pegar ele de jeito. Hoje
eu farei Thomas ser meu.

Lunna e Charles se conheciam e pelas conversas, pareciam


se conhecer bem. O rosto de Thomas parecia uma carranca cheia
de ódio e eu sabia que descobrir que Charles não planejou tudo,
não melhorava a situação dele.

— Bella… — Jenny se aproxima e eu nego com a cabeça.

— Me desculpem por atrapalhar a noite de vocês, — eu


murmurei com a cabeça baixa, — mas… poderiam nos deixar a
sós?

Brian suspirou.

— Claro, qualquer coisa… nos chamem.

Jenny assentiu e mesmo que ambos não parecessem querer ir


embora, eles foram e deixaram Thomas e eu, ali, — sozinhos.

As memórias do acidente, aquelas que até agora não


pareciam retornar, surgiram na minha mente e eu comecei a
chorar.

— Eu me lembro… — murmurei, — me lembro do dia do


meu acidente.

Thomas se sentou ao meu lado. Sinto um nó na garganta e as


lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— Oh, minha ragazze. — Thomas se aproxima e me abraça.


— Você está segura agora… — ele diz e eu fungo enquanto me
permito estar em seus braços.

— Imagina o que a minha vida teria se tornado, se eu


tivesse me casado com ele, — eu falo e Thomas nega com a
cabeça.

— Eu nunca deixaria isso acontecer, Bella. Está tudo bem,


eu estou aqui.

— Eles vão pagar muito caro por isso, — murmurei,


sentindo o rancor em meu peito, — eu fui ingênua e acreditei
nele…, mas ele vai me pagar por isso.

Falo e volto a chorar. Thomas me aninha nos seus braços e


começa a distribuir beijos por todo o meu rosto, até que os seus
lábios se encontram com os meus.

— Eu sei que vão, está tudo bem, querida… — ele diz e me


beija uma vez mais, — eu vou fazê-los implorar para morrer.
Sem dizer uma só palavra, eu o beijei, e quando eu senti
aqueles lábios, eu me vi esquecendo do resto do mundo, o meu
corpo se sentando no colo de Thomas logo depois. Quando me
dei conta, estávamos em nosso quarto, e eu comecei a rebolar no
seu pau, o que faz ele grunhir.

Nossas respirações estavam ofegantes demais, o que fez os


nossos corpos se distanciarem, para os meus lábios agora
começarem a descer pelo corpo de Thomas, enquanto depositava
beijos em sua pele, e quando eu cheguei lá embaixo… eu tirei o
seu pau de dentro da calça, e comecei a chupá-lo com vontade, a
minha língua passando por toda a sua extensão logo depois,
descendo até as suas bolas, as sugando e fazendo Thomas se
contorcer.

— Bella… — Ele sussurrou o meu nome, como se estivesse


quase no limite, os seus dedos agora se entrelaçando aos meus
fios. Isso me fez masturbá-lo com as minhas duas mãos enquanto
chupava a cabecinha do seu pau.

— Eu vou gozar... — Ele soltou junto de um arfar, o seu


gozo preenchendo a minha boca logo depois, apenas para eu ser
puxada por Thomas para cima.

Com apenas um movimento ele estava em cima de mim, o


meu corpo todo se arrepiando cada vez mais ao sentir o seu
toque em minha pele.

Ele levanta e tira a minha camisa, tirando o meu sutiã do


caminho e levando a sua boca cada vez mais para baixo,
enquanto depositava mordidas, beijos e chupões pelo meu
corpo.

E quando ele ficou entre as minhas pernas e tirou a minha


roupa? Céus…

— Thomas... — falei seu nome de forma soprada, e quando


eu senti a sua boca quente se mover no meu clitóris, eu arqueei
o meu corpo em sua direção, os meus olhos se revirando, —
droga… — acabo xingando por sentir arrepios em todo o meu
corpo, junto de um calor que me preenchia cada vez mais.

Porém, Thomas não parou por aí, porque agora os seus


dedos estavam dentro de mim, se movendo enquanto a sua boca
ainda me chupava com vontade, me fazendo afundar as minhas
unhas em seus ombros.

— Eu vou... — eu estava sentindo o orgasmo se aproximar


cada vez mais, pelo menos, até Thomas se levantar e jogar os
cabelos para trás, um sorriso agora tomando conta de seus
lábios.

— E quem disse que você pode gozar agora, huh? — Ele me


disse ao levantar-se, e ir em direção ao seu armário para,
aparentemente, pegar alguma coisa.

Bufei cheia de frustração naquele momento, mas então… ele


trouxe uma coisa que se parecia com um vibrador.

— Vamos ver quanto tempo você dura com isso.

Ele encaixou o vibrador bem no meu clitóris, isso enquanto


ele voltava a meter os seus dedos dentro de mim, fazendo eu
chegar a um estado de êxtase, um que eu quase não conseguia
mais respirar.

— Ah!... Thomas… — não consegui me conter ao gemer,


porque as sensações que eu estava sentindo eram inexplicáveis,
e a aquela vibração? Parecia fazer com que o meu corpo ficasse
cada vez mais sensível a tudo, o que fez o meu segundo orgasmo
não demorar muito.

E Thomas logo tirou a calça depois daquilo, metendo o seu


pau dentro de mim, indo cada vez mais fundo, e mais forte
dentro de mim, me fazendo puxar ele pelo quadril com as
minhas pernas.

A única coisa que dá para se escutar no quarto, é o barulho


dos nossos corpos se chocando. Mas Thomas logo me puxou
para subir em seu colo novamente, o que me fez rebolar em seu
pai, enquanto ele ajeitava o vibrador mais uma vez, no meu
clitóris.

— Eu não… vou aguentar por muito tempo... — falei em um


choramingar, o que fez ele dar um sorriso de canto.

Mas nós dois acabamos nem tendo tanto tempo para fazer
nada mais, porque eu… acabei tendo o meu primeiro squirt, e
Thomas? Gozou logo em seguida, e se deitou na cama, para logo
me puxar para os seus braços.

A festa de Thomas era hoje, e céus… eu fiquei horas me


perguntando o que eu daria de presente para, até porque… tudo
o que ele quer, ele já tem.
Sendo assim… eu acabei decidindo dar um carro para ele,
um que eu havia notado que ele tinha uma certa fixação, que no
caso, era uma Lamborghini. E como apenas um carro não fazia
um dia perfeito, eu decidi que seria uma boa ideia me levantar
antes dele para fazer o café da manhã.

— Bom dia, minha ragazze. — Ele falou ao me abraçar por


trás, um beijo sendo depositado na minha nuca.

— Bom dia, meu amor. — Soltei ao me virar, e assim que eu


o faço, eu selei os nossos lábios, — feliz aniversário.

— Obrigado. — Ele sorriu, uma de suas mãos me puxando


pela cintura, outro beijo com isso sendo dado.

— Ah, eu tenho algo para você. — Acabei dizendo com


muita empolgação, porque eu estava muito ansiosa para mostrar
o presente que eu havia comprado para ele.

— E o que seria? — Ele arqueou uma das sobrancelhas ao


perguntar, isso enquanto eu o puxava.

— Você já vai ver. — Nós começamos a descer as escadas, e


quando chegamos até a garagem, eu abri a porta da mesma,
apenas os olhos de Thomas se arregalaram e brilharem.

— Ragazze… — ele parecia não estar acreditando no que


via, os seus braços ficando em torno do meu corpo para me
abraçar. — Quando você planejou isso?

— Segredo. — Falei ao colocar um dos meus dedos em


frente a minha boca.
— Eu amei. — Ele continuou com um sorriso estampado no
rosto. — Esse é o segundo melhor presente que você já me deu.

— Segundo? — Pisquei ao perguntar, não sabendo muito


bem como reagir a aquilo.

— Sim, o segundo. — Ele logo confirmou, — porque o


primeiro, foi quando você me entregou o seu amor.

O meu peito se preencheu com alegria naquele momento,


uma que me fez pular em Thomas, e o abraçar com força.

— Céus, como eu te amo! — Falei, os nossos lábios se


selando novamente.

— Eu também te amo, ragazze… — ele disse com um


arquear nos lábios, — e eu com toda certeza… sou o homem
mais sortudo do mundo.

Eu só pude sorrir com a alegria que Thomas demonstrava


naquele momento, e como nós íamos novamente até a casa dos
meus pais, obviamente… fomos com a Lamborghini. Mas assim
que chegamos, nós fomos até a piscina, onde Brian e Jenny…
estavam bem próximos, dando risadas.

— Posso saber o que está acontecendo entre eles? —


Thomas me perguntou enquanto encarava os pombinhos com um
sorrisinho de canto.

— Eu não sei muito bem. — Eu respondi dando de ombros,


— mas… não sinto que vamos demorar muito para descobrir.
(…)
Quando aquela sem-sal me expulsou da casa do Thomas, eu
voltei pro meu carro e saí de lá direto para o meu apartamento,
— mas isso não melhorava a minha situação, — eu deixei minha
bolsa na casa do Thomas e isso me incomodou. Tive que
comprar outro celular e depois de recuperar o meu número, vi os
dias se passarem lentamente. As minhas memórias com Thomas
se enuviavam junto das coisas que sempre desejei viver ao seu
lado e quando toquei em minha barriga em frente ao espelho,
sorri, porque o bebê dentro dela, — podia mudar tudo.

— Seu pai ainda vai escolher nós dois, — eu disse para ele,
mesmo que uma voz em minha cabeça me falasse que ele nem
mesmo existia.

Foi ali que eu me lembrei. O exame havia dado negativo. Eu


tinha… perdido o meu bebê. Sim. Eu o perdi. Eu o perdi no
momento em que perdi Thomas. Eu o perdi naquela casa, quando
aquela louca me mandou embora. Eu precisava de outra chance
de fazer as coisas certo, e foi aí que ouvi que Francesca iria dar
uma de suas festas. Claro, ela faria isso porque era o aniversário
do Tommy, e eu pensei que nada poderia ser melhor para
destruir o casamento fadado ao fracasso, do que levar o Charles.
Decidido isso, eu acabei passando numa alfaiataria e escolhendo
um terno para ele, escolhendo um terno na cor preto, pois sei
que o Thomas vai usar um da mesma cor em sua festa. Ele
sempre faz isso e esse ano não seria diferente. Depois disso, eu
só preciso passar na designer pessoal da Francesca.

Alguns subornos depois, eu tinha o modelo que Bella usaria


naquela noite, — e o terno de Thomas, — preparados. A tal festa
seria um baile de máscaras e claro, que isso me dava a chance de
entrar sem ser notada.

Quando o dia enfim chegou, eu tinha tudo preparado,


inclusive o convite que consegui com um dos homens que tinha
subornado antes. E agora, tudo que faltava, era Charles.

— Lunna. — O Charles parece surpreso quando eu chego à


casa dele. — O que faz aqui? — Ele pergunta e eu mostro a ele o
meu melhor sorriso.

— Por que a surpresa? — Pergunto enquanto e entro na


casa. — O Thomas ainda não é meu. — Digo. — Enquanto isso
não acontecer, eu não vou me aquietar.

Caminho até a sala, e lá está a Jess.

— Que cara é essa? — Pergunto.

— E eu tenho motivos para estar feliz? — Ela pergunta


irritada, — olhe para mim.

— Você ainda não disse o que quer. — Charles fala


suspirando e eu acabo pigarreando.
— Vamos a uma festa fantasia hoje à noite, eu já pedi para
entregar a sua roupa, eu passo as 19h, e por favor, esteja pronto.
— Peço e ele suspira outra vez.

— Mas Lunna... isso está indo longe demais.

— Mas nada Charles. — Eu falo e saio da casa, porque não


tenho tempo pra perder com aquele moleque estúpido. Charles
era óbvio demais e eu já sabia que ele tinha feito grande parte
das coisas por dinheiro e a outra parte? Porque se sentia inferior
ao Thomas. Mas isso agora não importava, porque Thomas
entenderia que era meu, sim. Assim que ele me visse, assim que
eu contasse como sofri por culpa daquela mulher, tudo iria se
acertar.
Depois daquele incidente com Lunna, eu pensei em estourar
com Charles, mas sinceramente isso não traria bem nenhum a
nós dois e como o aniversário de Thomas estava próximo, —
resolvi que seria bom deixarmos tudo isso para depois daquela
festa, — porque agora, era o momento dele.

O que eu não esperava, era que Francesca transformasse um


aniversário, no evento do ano. Ela se empenhou tanto naquela
festa, que eu me vi surpresa ao descobrir que o tema seria baile
de máscaras. Thomas e eu estávamos tão ocupados com a nossa
casa, que ela se certificou de preparar tudo para nós dois. As
máscaras, as roupas e até mesmo preparou a festa em um grande
salão, que pertencia a família Kuhn.

— A sua mãe não para de surpreender-me. — Falo quando


paramos em frente a uma das fontes iluminadas.

— Isso é só o começo. — Thomas diz, como se tudo aquilo


fosse natural, — você sabe como a minha mãe é, ela convidou
poucas pessoas daquela vez, mas agora? Deve ter no mínimo 500
convidados.

— Sério?! — Eu acabei rindo, — eu me pergunto como ela


consegue conhecer tanta gente.

Falei, e foi o suficiente para fotógrafos virem de todas as


partes.

— Senhor Kuhn, podemos tirar uma foto? — Eles


perguntam e Thomas apenas sorri, me puxando de lado para
posar para a foto.

— Claro, — ele diz e quando olhamos para a câmera,


flashes de todos os lados surgem. Após muitos clicks, o
fotógrafo nos agradece e entramos para o salão. Enquanto
descemos as escadas, os convidados voltam a dançar, e eu não
sei como os garçons conseguem andar entre eles.

— Como está lindo, meu filho. — Francesca fala quando se


aproxima e me olhando com carinho ela continua, — Bella,
minha filha, você está radiante.

Francesca estava usando uma máscara branca de raposa, o


vestido que usava era no estilo sereia, com pedras pequenas e
delicados. Havia um casaco de pele em seus ombros e quando
Vicente se aproximou de nós, eu vi seu sorriso e o quanto ele
combinava com a máscara de lobo que ele havia escolhido. Um
lobo branco, para combinar com seu terno e com o vestido de
sua esposa.

— Obrigado, mãe. — Thomas deposita um beijo em sua


testa, — a festa está maravilhosa por sinal.

— Querido, eu sei. — Ela diz piscando pra ele, — agora,


você tem que aproveitar a festa, afinal, ela foi feita para você.

Francesca apenas sorri depois disso e saí.

— Eu não sabia que os seus pais combinavam as fantasias.


— Observei, e Thomas apenas deu de ombros.

— Por incrível que pareça, eles estão se acertando. — Ele


confessou, — Isso é muito bom, principalmente para a Valen.

— Fico feliz por eles.

— Eu também, — ele admite, — sinceramente, achei que


não havia mais esperanças para aqueles dois.

Nós observamos o lugar e rimos e pegamos algumas bebidas


enquanto Thomas parecia genuinamente se divertir. A decoração
está um espetáculo, “bem a cara da Francesa”. Luxuosa e
elegante.
Me olho no espelho e estou radiante, até que a titia tem um
bom gosto, mas eu optei por uma máscara na cor preta, básica e
sem detalhes. Eu queria estar linda, mas não queria me destacar.
Pego a minha bolsa de mão e coloco apenas o necessário, é claro
que incluindo a pistola que meu pai havia me dado de presente
no meu aniversário de 16 anos. Eu nunca a tinha usado, mas
agora? Talvez estivesse na hora de usar.

Eu já tinha perdido o meu filho para aquela vadia, e eu não


ia deixá-la ficar com o meu Thomas. Não. Ele me amava, sempre
amou e ela ia ter que aceitar isso.

Quando eu parei na frente da casa do Charles, ele já estava


me esperando, e me dei conta de que quando ele não se vestia
como um mendigo, ele até que não era de todo mal.

— Nossa Lunna, você está muito bonita, — ele diz e eu


acabo rindo.

— O terno também te caiu bem, — sugiro e essa era a


verdade.

— Qual é o plano? — Ele pergunta e eu o encaro antes de


começar a dirigir.
— Você só precisa fazer com que o Thomás veja você e a
Bella se beijando, apenas isso. Ele precisa ver como ela
realmente é. Uma vadia dissimulada.

— E se ele tentar me bater ou me matar? — Charles


questiona e eu bufo.

— Para de ser frouxo! Você não quer que aquela sem-sal se


divorcie?

Ele estala a língua no céu da boca.

— Quero, mas não quero ter a minha cara quebrada.

— Então reaja! Ela e Thomas ainda não se entenderam e


agora, ele vai me ouvir e voltar para mim, principalmente se ver
a verdade sobre ela. — Eu falei e sem esperar uma resposta,
acelerei. Eu não tinha tempo para perder com o Charles.
Eu pego o copo do Thomas e bebo um gole generoso
daquela bebida amarga.

— É gin. — ele fala quando vê a minha cara.

— Como você consegue beber isso, é muito ruim. —


Reclamo, mas mesmo assim bebo mais um gole, o que faz
Thomas rir.

— Sendo assim, você não deveria dar outro gole, querida. —


Ele tirou o copo da minha mão, me fazendo olhar para o fundo
do salão, onde tem uma mesa enorme cheia de doces, e um bolo
redondo no centro, com provavelmente, uns 8 andares.

— Venha, vamos dançar. — Thomas me puxou para irmãos


até a pista de dança, e por conta do salto que eu estava usando,
eu quase não consegui o acompanhar. Além de claro… eu
comecei a suspeitar que a bebida bateu. Já estava um pouco
zonza, mas nada que afetasse os meus sentidos. Pelo menos…
foi o que eu achei até ver uma mulher com a roupa idêntica a
minha — com a diferença apenas nos detalhes da máscara —, e o
homem que a acompanhava? Também usava as mesmas roupas
que Thomas.
Foi impossível não me questionar se aquilo era algum tipo
de brincadeira, mas ironicamente, parecia que não.

Fechei os meus olhos para confirmar se eu não estava


louca, mas assim que eu os abri novamente… eles não estavam
mais lá — devia ser realmente, coisa da minha cabeça.

— Boa noite a todos. — Escutei a voz de Francesca, junto


de luzes que iam até o topo da escada, onde ela e Vincent
estavam. Era exatamente como Thomas dizia, eles dois,
pareciam mais próximos um do outro. — Queremos agradecer a
todos que vieram prestigiar o primogênito. — Ela fala e agora as
luzes estão no Thomas, o que o faz sorrir e acenar. — Logo mais
cantaremos parabéns, e espero que todos aproveitem cada
segundo dessa noite, — Francesca continua, — e aproveitando
esse momento especial, eu e o Vicente queremos dar uma notícia
a todos.

— Uma notícia? — Eu me viro para Thomas, em busca de


um norte, mas ele apenas dá de ombros.

— Eu não faço ideia do que a dona Francesca está armando.


— Thomas sussurra no meu ouvido e sorri, parecendo
acostumado com as surpresas da mãe.

— A nossa família está aumentando, e em breve chegará


mais um novo herdeiro. — Ela fala e o Vicente a abraça por
trás.

Eu encaro Thomas e ele parece tão surpreso com aquela


notícia, quanto todos os outros.
— Meu Deus… — ele disse, parecendo pálido e eu sorri.

— A sua mamma está muito feliz. — Falei, mas ele bufou


parecendo preocupado.

— Céus… espero que essa felicidade dure, — ele disse


parecendo preocupado, — mas você tem razão.

— Relaxe um pouco, eles parecem bem por agora, — foi


Brian quem nos surpreendeu ao falar e Thomas assentiu.

— Espero que esteja certo, — murmurou e Jenny, que estava


com o Brian, se aproximou.

— O que importa não é que eles estão felizes?

Sorri.

— Sim, acho que sim.


Se eu já não estivesse acostumado com a dona Francesca, eu
me daria ao trabalho de me sentir enganado e talvez, puto. Eu
sabia bem como as coisas entre os meus pais eram, e sabia que
isso não tinha feito tão bem assim ao Pietro.

Tudo bem, eu tinha que admitir que eles faziam um bom


trabalho com a Valen, mas um quarto filho? Deus, eu não tinha
certeza se isso era uma boa ideia.

“Mas isso não é da sua conta”, eu disse a mim mesmo, e


não tive coragem o suficiente para estragar a noite deles; então,
aproveitei a desculpa de que precisava de um pouco de ar, —
para deixar Bella com Brian e Jenny por um momento.

Eu me enfiei em uma das varandas do lugar, uma das poucas


que tinha uma vista espetacular para o jardim com as fontes
iluminadas; e enquanto eu fumava e sentia as dúvidas se
desfazerem no ar, ouvi a porta de vidro se abrir.

— Ragazze, você até que demorou, — eu murmurei


sorrindo, porque considerando que era Bella, ela tinha
desenvolvido uma habilidade surreal para entender meus
sentimentos e expressões.
— Tommy, a gente precisa conversar, — é a voz de Lunna
que eu escuto e isso me faz virar rapidamente para encará-la.

— O que demônios você está fazendo aqui? — Eu perguntei


e ela sibilou.

— Eu vim falar do nosso filho.

Isso já tinha passado dos limites.

— Filho? Que filho Lunna, você por acaso enlouqueceu? —


Eu rosnei, — se deixou levar pela sua própria loucura?

— Tommy, como pode falar assim comigo? — Ela começou


a chorar, — você deveria ser mais gentil! Eu… — começou a
soluçar, — como pode? Eu perdi o nosso bebê e é assim que
você me trata?

Bufei.

— Acha mesmo que eu vou cair nessa? Que eu vou acreditar


nessa palhaçada? — Perguntei e ela se aproximou. O vestido que
ela usava, era idêntico ao da Bella.

— Essa é a verdade. Eu perdi o nosso filho naquele dia, no


dia em que a sua esposa me expulsou da nossa futura casa, —
ela falou e eu tive a certeza de que ela havia enlouquecido.

— Lunna, pare com esse teatro, eu sei que tudo isso é


mentira, sei que nunca esteve grávida! — Falo irritado e Lunna
me encara como se não soubesse do que eu estava falando.
O que diabos aconteceu com ela? Havia realmente perdido o
juízo de vez?

— Thomas? — A voz de Bella me fez virar para encará-la e


quando fiz isso, Lunna tirou uma arma de dentro da bolsa e
apontou para mim.

— Não olhe para ela Thomas, olhe para mim! Eu estou


falando com você! — Ela falou e isso fez uma veia saltar na
minha testa.

Merda.

Eu não podia me mexer, não podia fazer nada. Como diabos


aquela garota tinha entrado no salão de festas? Como ela pode
encontrar falhas na segurança três vezes?

Era claro que havia um traidor. Alguém com quem Lunna


continuava a se comunicar.

— Eu estou olhando para você, — eu falei e Bella deu dois


passos para frente, antes de alguém a segurá-la por trás. Alguém
que eu soube de cara que era Charles.

— Me largue! — Bella rosnou e se soltando dele, tentou vir


em minha direção, mas Lunna apontou a arma para ela.

— Não chegue perto dele! Olhe o que você fez! — Ela grita,
— você destruiu a minha vida! Roubou o meu marido e me fez
perder o meu bebê!

Bella me encarou incrédula.


— Ela enlouqueceu?

Eu sibilei.

— Ragazze, vá embora… — murmuro, — Lunna e eu


precisamos conversar.

— Isso! Vá embora! — Lunna grita, descontrolada e eu vejo


Charles gargalhar.

— Pelo amor de Deus! Você não pode estar caindo na


conversa dele?! — Ele fala se aproximando e encarando Bella,
— acha que ele ama uma de vocês duas? Ele nem sequer se
importa.

Eu respirei fundo e Bella fuzilou Charles com o olhar.

— Eu não quero ouvir isso do homem que me usou até


então! — Ela diz e Charles para e encara nós dois.

— Ah… então foi isso… você se lembra, — ele ronronou,


— pobre Bella. Tão doce, tão manipulável, — ele falou e isso
me fez querer saltar em sua garganta.

— Seu desgraçado! — Bella grunhiu, mas Charles empurrou


Lunna e pegou a arma da mão dela, apontando para nós dois.

— Cala a boca! — Ele disse encarando Bella com raiva, —


acha que eu gostava de ficar ouvindo você se lamuriar? Acha
que eu gostei de fingir que amava você? Francamente! Você era
irritante! A pobre Bella! Tadinha dela! Tão rica, tão
privilegiada! — Ele rosnou cheio de raiva, — sabe o tipo de
coisa que a minha irmã e eu tivemos que passar para sobreviver?
Sabe o que é ter uma família de merda? Não, você não sabe, —
continuou, — você é a porra de uma mimada que nunca perdeu
nada na vida, então não me venha com o seu falso vitimismo.

— Você me enganou!

— E você tinha a porra de um noivo, sua vadia! — Ele


gritou.

— Charles! Me devolve a porra da arma! — Lunna disse


tentando tirar a pistola da mão dele, e eu me perguntei quanto
tempo eu teria para sacar a minha arma e matar os dois. Não o
suficiente, me dei conta.

Não se não quisesse que Bella se machucasse no processo.

— Bella… — eu murmurei, e Charles pareceu notar,


empurrando Lunna no chão e engatilhando a arma enquanto
apontava pra mim.

— Cale a porra da boca, seu filho da puta desgraçado. Você


tirou tudo de mim! Você fez essa vagabunda se apaixonar e me
tirou a minha chance de subir de vida. — Ele dizia cada palavra
com puro e simples desdém, — eu posso não ficar com ela, mas
quer saber? Eu vou gostar de pelo menos poder matar você.

— Não! — Lunna gritou, caindo em cima de Charles e eu


aproveitei esse momento, para empurrar Bella para longe, para
fora pela porta que ainda estava aberta.
— Thomas… — ela me chamou e eu sorri, sacando minha
arma enquanto dava as costas para os dois.

— Corra, querida, eu estou bem, — falei, e naquele


momento, um disparo foi escutado.
Tudo estava incrível, perfeito e então, ouço o disparo da
arma.

As lágrimas são as minhas únicas palavras.

Estar aqui, sentada no chão com Thomas nos meus braços, é


como se eu fosse “um castelo de cartas, a um golpe do
desmoronar.”
O meu vestido já está colado ao meu corpo, mas não por
causa do suor devido a dança, mas devido ao sangue do
Thomas.

— Vá Bella… — ele diz e eu não consigo me mover por


alguns segundos, até sentir meus olhos marejados e o meu corpo
ser tomado pela raiva.

— O que você fez, Charles? — A Lunna grita tentando


pegar a arma dele. — Seu doente! Você matou o pai do meu
filho! — Rebate, e depois cai no chão.

— Não! Eu não vou a lugar algum, — eu falo e olho para


frente, para Charles e Lunna, ambos segurando a arma que
disparou em meu marido.

Eu já não me importava com quem havia puxado o gatilho.


Eu os queria mortos.

Puxei a arma de Thomas de seu quadril e engatilhei sem


pensar duas vezes.

— Bella… você não quer fazer isso, — Charles falou


enquanto lutava com Lunna pela arma.

— Sim, eu quero, — rosnei e sem pensar, atirei naquela


vadia, mas quando ia atirar em Charles, ele pulou da varanda. Eu
corri sentindo meu corpo não me obedecer e quando me dei
conta, estava atirando nele enquanto ele corria pelo jardim,
sendo perseguido pelos seguranças. Quando vejo ele sendo
derrubado no chão e espancado, me sinto aliviada e volto para
Thomas, para o meu marido no chão.

— Thomas, por favor, não feche os olhos. — Peço sentindo


meu corpo tremer e largando a arma próximo ao corpo dele, —
por favor...

— Ragazze, eu estou bem. — Ele mente, sorrindo pra mim,


mas nem mesmo tem forças para levantar uma das mãos. Eu vejo
todos se movimentando no salão e eu sei que a ambulância já foi
chamada, mas o medo de perder Thomas é maior que tudo.

— Calma, — murmuro, — a ajuda já está vindo meu amor…


vai ficar tudo bem.

Não consigo ouvir mais ninguém, mas eu sei que as pessoas


estão tentando falar comigo e aos poucos os convidados que
estavam na festa, foram sendo mandados embora. Francesca
desmaiou quando viu o meu Thomas no chão e a última coisa
que eu vi, foi a ambulância chegando e Thomas sendo levado
dos meus braços. O seu rosto já estava pálido e sem vida, e eu
senti como se o meu coração estivesse indo embora ali, naquele
exato segundo. Foi aí que o meu corpo cedeu, e tudo se tornou
escuro e frio.
Aquele era para ser um dia feliz. A droga do aniversário de
Thomas e claro, a comemoração de um novo herdeiro.

Porra.

Eu tinha sugerido aquele maldito casamento com os


McNight, pela família e nunca esperei que o meu filho se
apaixonasse de verdade pela sua noiva, mas lá estava ele.
Envolvido em um verdadeiro escândalo romântico, e vítima de
uma brecha que eu deixei acontecer.

Sim. Eu.

A culpa era toda minha.

Eu estava tão ocupado tentando consertar o meu casamento,


— depois de anos em conflito com Francesca, — que não me dei
conta de como Paul estava criando laços e conseguindo poder
entre os meus homens. A filha dele havia morrido por conta
disso, mas… o meu filho também poderia morrer.

— Brian, — eu o chamo assim que chegamos no hospital.


Francesca foi levada para um quarto, onde está sendo medicada
e mantida a base de calmantes. Thomas está numa sala de
cirurgia, e nem mesmo sei se irá sobreviver, já que teve uma
parada cardiorrespiratória durante o trajeto até o hospital; então
tudo o que me restava, era descontar em alguém, — encontre os
filhos de uma puta que ajudaram a vadia da filha do Paul a
entrar na festa.

— Eu já fiz isso tio, — ele diz com o maxilar travado, — eu


verifiquei e havia um fator em comum nas duas situações em que
a Lunna se aproximou do Thomas sem que a segurança notasse,
— rosnou, — o bastardo do Isaque estava em ambas as
situações. No bar e na segurança da casa do Tommy. Eu mandei
que o levassem, assim como todos que estavam sobre o comando
dele.

Sibilei.

Isaque.

Claro que era Isaque. Aquele imbecil que achava que Paul
era mais apropriado para tomar o meu lugar, — do que o meu
próprio filho, — eu tinha tolerado as suas relutâncias em aceitar
as ordens de Thomas, mas agora? Ele tinha ido longe demais e
eu tinha que ensinar a eles, que não se brinca com os Kuhn.

— Ótimo, — rosnei, — fique aqui e cuide da sua tia.


Francesca está grávida, não pode se estressar ou se preocupar.
Garanta que ela esteja bem e se algo acontecer a Thomas, me
ligue.

Foi tudo que eu falei, antes de sair do hospital.

Eu poderia ter ficado lá, choramingando e implorando para


um Deus que não existe, — salvar o meu filho, — mas eu não
era assim e não faria isso. Eu iria me vingar dos verdadeiros
culpados.
Eu não conseguia e nem queria me mover, — e quando me
dei conta, — eu estava deitada em uma cama de hospital, com a
minha mãe ao meu lado, ainda vestida com sua roupa de gala.
Deus, eu nem tive tempo de falar com ela durante a festa.

— Mamma… — murmurei e ela se ergueu, vindo até mim.

— Bella, minha querida. — Ela me abraça, assim que nota


que despertei, — eu fiquei tão preocupada com você, meu
amor.

— Thomas…

Ela engoliu em seco.

— Ele está em cirurgia, Bella…

— Ele…

— Ele vai ficar bem, — ela disse, — eu sei que vai. Thomas
é um homem forte.

Eu queria acreditar, mas uma parte minha só conseguia se


lembrar do que tinha acontecido. De Thomas caído, do sangue,
do seu sorriso antes de seus olhos se fecharem.
— Bella, filha… se acalme, — ela me pediu e alguém deu
dois toques na porta do quarto onde eu estava.

— Com licença? — Uma voz feminina me fez erguer meu


olhar, apenas para me deparar com a minha médica, — olá, sra.
Kuhn, — ela disse me cumprimentando, — seus exames
acabaram de chegar e eu quis trazer a notícia pessoalmente.

A encarei, sem entender.

— Notícia?

Ela sorriu.

— Sim, sra. Kuhn, — falou me entregando um papel que


tinha em sua prancheta, — parabéns, você irá ser mamãe.

Pisquei.

— Como?

Minha mãe arfou, seus olhos lacrimejando de felicidade.

— Filha… isso é… maravilhoso! Seu pai vai ficar tão feliz


ao descobrir.

Eu senti meu coração pesar, minha mente estava confusa.

— O quê? Mas como…? — Perguntei e a médica sorriu, se


aproximando de mim.

— Me perdoe, senhora Kuhn, mas quando chegou ao


hospital estava desorientada e acabou por desmaiar. Nós
realizamos alguns exames e após um hemograma, notamos que o
valor do beta Hcg no seu sangue, estava alto. Realizei um teste
de gravidez para tirar todas as dúvidas e foram dois positivos. A
senhora está com três semanas de gestação, — me explicou e eu
suspirei, sentindo aquelas informações inundarem minha mente,
— sei da sua situação e sinto muito por ter que descobrir isso
agora, mas tente se acalmar, o nível alto de estresse, faz mal
para o seu bebê.

Deus.

Era tão fácil para ela falar, mas e eu?

Eu tinha apenas 19 anos. Tinha uma vida inteira pela frente


e… estava grávida. Eu nem sabia como ser mãe. Não sabia se
estava preparada para isso, — e foi quando me dei conta, — de
que talvez, ninguém estivesse realmente preparado para a
maternidade.

— Vai ficar tudo bem, meu amor… — minha mãe disse,


segurando em minha mão, — eu irei te ajudar. Estarei lá com
você.

Funguei.

— Obrigada, mamma… — murmurei, — mas… podemos


manter isso em segredo?

Ela piscou.

— Por que, meu amor?


— Porque eu quero que Thomas, seja o primeiro a saber…
— eu falei e ela sorriu.

— Ele será, logo ele irá acordar e você poderá contar tudo
para ele.

Encarei a médica.

— Quando… ele vai sair da cirurgia?

Ela me olhou com pesar.

— Não sabemos, mas logo deve haver uma resposta, —


explicou, — tente descansar um pouco por agora e se lembre,
você agora vive por dois.

Eu fiz o que ela sugeriu e depois de alguns calmantes,


consegui realmente adormecer, — mas quando abri meus olhos,
— a claridade era a única coisa que me incomodava.

— Bella? — Mamãe sorriu e eu senti meu coração errar uma


batida, — Thomas está bem, meu amor. Ele saiu da cirurgia.
Está vivo.

— Onde? Cadê? Eu quero vê-lo… — falei, sentindo minha


garganta seca e o sorriso dela amenizou.

— Querida, ele ainda está na UTI, mas assim que for


liberado para o quarto, você poderá visitá-lo.

— Mamma… eu preciso vê-lo… — murmurei e ela tocou


meu rosto de forma delicada.
— Verei o que posso fazer, meu amor.
Quando toda aquela confusão aconteceu, eu vi a minha filha
colapsar e vi Thomas ser levado, — praticamente morto, —
enquanto meus homens e os de Vicente, carregavam aquele
traste que havia enganado a Bella.

Porra.

Como eu me arrependia de não ter trucidado aquele moleque


antes. Eu queria ter destruído a vida dele, assim que descobri
sobre o namoro. Sobre a aproximação dele e de Bella, — mas
não, — eu queria que Bella fosse livre, que ela pudesse escolher
quem amar.

Besteira.

— É isso que eu ganho por ser bondoso, — rosnei entre


dentes e joguei meu paletó sobre a mesa, enquanto encarava o
corpo desacordado do traste do Charles e da irmã, Jess.

Depois de ver Liz indo ao hospital com Francesca e Bella,


— eu resolvi que tinha coisas melhores a resolver, — e enquanto
Vicente despachava o corpo da sobrinha morta e parecia
transtornado com o furo em sua segurança, eu me certifiquei de
que daria uma lição em Charles e Jess, antes dele colocar as
mãos sobre eles.
Aqueles dois passariam por um julgamento entre ambas as
famílias, mas antes? Eles receberiam o meu julgamento
pessoal.
— Vamos... acorde! — Ouço uma voz bem lá no fundo. —
Vamos... Seu frouxo. — Alguém grita. Sinto o meu corpo todo
gelado, e quando abro os meus olhos, estou num lugar
desconhecido, olho para um dos cantos e lá está a Jess, ainda
amordaçada e desacordada.

— Jess... Jess... — A chamo.

— Ela não vai ouvir você. — Um homem alto, loiro olhos


verdes fala e ri.

Merda. Era isso de novo. Tudo era culpa daquele


engomadinho, que além de um estraga prazeres, tinha arruinado
completamente a minha vida. Sim. Eu tinha atirado nele e
aqueles desgraçados da festa, tinham me capturado.

— ME DEIXE SAIR DAQUI! — Grito com pura frustração


e ele bufa de raiva.

— Tragam mais água e a arma de choque. — Ele fala e olha


para um dos homens que estava lá, e isso me pegou de surpresa,
porque agora que eu olhava de perto, conseguia ver que aquele
era o pai de Bella.
Só aí eu começo a observar o lugar em que estávamos,
parece ser no subsolo, a luz está fraca, tem alguns ratos
correndo, as paredes são de tijolos, mas estão úmidas, e tem uma
maca em um dos cantos.

— O que você vai fazer? Eu sou o namorado da Bella…


você não pode fazer isso comigo… — Eu falo, mas ele e os
homens dele me ignoram.

Eles me tiram da cadeira e me colocam na maca sem se


darem ao trabalho de me responder. Um dos homens coloca um
pano no meu rosto, e eu sinto que onde a minha cabeça está
apoiada, flexiona um pouco mais para baixo.

— Acha mesmo que essa merda vai colar? Você causou mal
demais para a minha filha, — ele fala e sua voz está cheia de
rancor, — agora. Despejem. — O pai de Bella ordena e jogam
água no meu rosto, para que eu comece a me afogar. Apenas
para ele rir e ordenar, — podem tirar o pano.

Eu começo a tossir sem parar, tentando buscar ar para pedir


por perdão, por redenção.

— Eu me daria ao trabalho de perguntar o que você queria


com as nossas famílias, mas eu sei o que você queria. Queria
dinheiro, não era? Queria mentir e enganar a minha menina, —
ele rosnava como um animal enfurecido, — adivinha? Ninguém
engana os McNight e saí vivo para contar a história.

— Charles... Não! — Ouço a Jess gritando, e só então me


dou conta de que ela despertou. — Por favor, ele não. — Ela
grita mais uma vez. — Fui eu que armei tudo, ele não tem culpa
de nada.

— Vocês dois tem culpa, agora… cale a boca, — Henry fala


e enfiam algo na boca da minha irmã, — cada um terá sua vez,
— ele diz, pegando uma arma de choque e se aproximando de
mim, — e eu vou me divertir muito, antes de entregar vocês para
o Vicente.

Eu ouço os gritos da minha irmã e isso faz o meu coração


doer. Eu queria que Jess tivesse uma vida feliz, mas agora, tudo
havia ido por água abaixo, — porque nós havíamos nos
envolvido com a família errada, — havia sido um erro do qual
não poderíamos nos livrar.
Alguns minutos depois da conversa com a minha mãe, vêm
uma enfermeira com uma cadeira de rodas para me levar, para
ver o meu Thomas. O corredor do hospital é enorme, parece uma
eternidade para chegar na UTI onde o Thomas está.

Assim que chegamos lá, eu o encaro por trás do vidro e


sinto meu corpo inteiro tremer. Deus. Como eu queria que ele
despertasse. Como eu queria ver ele sorrindo pra mim uma outra
vez.

Eu senti as lágrimas descendo por minhas bochechas e com


a ajuda da enfermeira, fiquei de pé, com uma das mãos sobre o
vidro.

— Thomas… volta pra mim, — eu pedi e enquanto eu


fungava, ouvi todas as máquinas ligadas ao seu corpo,
começarem a apitar. Meu peito se inundou com desespero e eu
encarei a enfermeira, — faça alguma coisa! Ele está morrendo!
Alguém por favor, faz alguma coisa!

— Senhora… se acalme, — ela disse e eu não queria me


acalmar. Eu queria que o meu marido, sobrevivesse.

Vi pessoas vindo de todos os lados para entrarem no quarto


e as lágrimas vieram aos meus olhos imediatamente. Eu não
podia perder ele, não podia perder o amor da minha vida.

— Thomas! — Eu gritei, e a enfermeira me segurou.

— Senhora, se sente, você não pode ir até lá, ele está bem,
ele está acordando… — ela me falou e eu a encarei, sem
entender.

— Como?

— Ele está bem, senhora Kuhn… — ela disse sorrindo e eu


encarei o vidro outra vez, para ver os enfermeiros e os médicos
tirando os tubos de Thomas para que ele pudesse respirar
sozinho e os seus olhos se abrindo levemente.

Ele estava vivo.

Thomas… estava vivo e desperto.

— Deus… — murmurei tapando minha boca enquanto meu


corpo inteiro tremia.

O meu Thomas, estava realmente bem.


Eu encarei Isaque que estava amarrado a uma cadeira e
sorri, mas não havia felicidade alguma em meu rosto.

— Você achou mesmo que ninguém iria notar? — Rosnei, —


achou que eu não saberia que você ajudou aquela filha da puta a
entrar? O meu filho quase morreu nessa porcaria de armadilha!

Ele cuspiu e seus olhos pareciam cheios de raiva.


— E você queria que eu continuasse calado? Aceitando
ordens daquele moleque? — Rosnou, — eu prefiro morrer.

Bufei.

— Ótimo, porque é exatamente isso que eu vou fazer com


você. — Eu falei e desferi um chute em sua barriga que jogou
ele ao chão, junto da cadeira onde estava sentado.

Eu vi Isaque tossir sangue enquanto se contorcia amarrado,


e peguei o meu soco inglês que havia sido deixado na mesinha
ao lado.

— Eu vou te matar, Isaque, mas eu vou fazer isso, devagar


— murmurei, — porque eu quero apreciar os nossos momentos
juntos.

Eu falei e a porta se abriu de supetão.

— Vicente, — a voz de Henry me fez virar o rosto de lado,


para encará-lo, — eu tenho um presente e claro… uma boa
notícia.

Ergui uma das sobrancelhas ao ouvir aquilo.

— Do que está falando? — Perguntei e ele jogou um


moleque de cabelo castanho para dentro. Ele estava amarrado e
vendado, mas seu corpo estava nitidamente surrado.

— Esse é o filho da puta que atirou no Thomas. — Henry


falou, — também é o desgraçado que enganou a minha filha e
essa… — ele puxou uma garota pelos cabelos, jogando-a como
lixo no chão, — é a vadia que causou o acidente da Bella.

Sibilei.

— Sim… eu sei.

Henry sorriu.

— Então também precisa saber que o seu filho, está bem.


Ele saiu da cirurgia e resistiu, — Henry fala, dando dois tapas
em meu ombro, — então vá. Sua esposa, precisa de você.

Eu o encarei.

— Você não deveria fazer o mesmo?

Henry bufou.

— Acredite, é melhor que eu fique por aqui. — Ele disse de


forma sincera, — Liz sabe bem o que fazer em momentos como
esses e nada consolará mais a Bella do que ver Thomas
despertando.

Assenti e largando o soco inglês encarei Isaque ainda no


chão.

— Não se preocupe, Isaque, eu irei voltar, — falei baixo e


sucinto, antes de sair pela porta para voltar ao hospital.

Eu tinha que dar atenção a Francesca e ao nosso bebê.


Henry tinha razão nesse quesito, e agora que Thomas estava para
acordar, — eu queria estar lá, — queria dizer a ele que tínhamos
capturado os culpados.

Quando cheguei no hospital, eu fui direto até Francesca e


para minha surpresa, ela me abraçou e sorriu.

— Vicente… o nosso filho acabou de acordar, — ela me


disse e eu a beijei.

— Me desculpe por não ter estado aqui com você, —


murmurei e ela negou com a cabeça.

— Eu sei que foi fazer o melhor pela nossa família, —


Francesca falou e segurando em minha mão, suspirou, —
tivemos nossas diferenças Vicente, mas eu nunca duvidei do fato
de que você amava a nossa família e sempre a prosaria. Thomas
é o seu filho e sei o quanto tudo isso te afetou.

Suspiro, me sentindo genuinamente aliviado.

Era difícil para mim, expressar coisas do gênero e eu sabia


que esse era o principal motivo para Francesca e eu estarmos tão
distantes um do outro durante todos esses anos. Ela jamais havia
me perdoado pelas coisas que aconteceram. Pela forma como
nunca consegui me expressar ao seu lado.

— Sim, eu me importo. Thomas é o nosso filho, — falei, —


e eu farei todos pagarem pelo que fizeram a ele.

Francesca assenti e então, abraça o meu braço.


— Mas agora, não pense nisso. Pense nas boas notícias, —
ela sussurrou e isso me pegou de surpresa.

— Boas notícias?

— Seremos avós, — ela sussurrou ao meu ouvido, — Bella


ainda não contou para ninguém, mas eu ouvi as enfermeiras
comentarem.

Bufei, sentindo que a vida era um pouco mais leve nesse


exato momento e esse era o principal motivo, pelo qual eu tinha
me apaixonado por aquela mulher.

Francesca não era alguém fácil de se lidar, e logicamente,


era tão bonita quanto era complicada, — mas se tinha algo nela
que sempre me encantou, — foi a forma como ela via o mundo
de um jeito tão positivo. Não havia nada capaz de tirá-la do
centro do seu próprio universo. Ela se bastava.

Foi por essa mulher que eu me apaixonei. Linda, inteligente,


carismática e confiante. E mesmo depois de anos, — nenhuma
dessas características, — haviam mudado. Não. Elas haviam se
tornado ainda mais aparentes e ainda mais visíveis, assim como
o meu amor por ela.

— Então, teremos um neto? — Eu perguntei e ela assentiu.

— Um lindo bebezinho que nascerá próximo ao nascimento


do nosso filho mais novo, — ela diz com a mão sobre a própria
barriga.

— Crescerão juntos, — ressaltei e ela riu.


— Deus… isso será maravilhoso.

Assenti.

— Sim, será… porque você vai estar ao meu lado.


Quando Thomas despertou, a felicidade tomou conta de
mim, e assim que ele foi enviado para um quarto, eu implorei
para que me permitissem ir até lá. Demoraria alguns dias até que
ele obtivesse alta, mas como tínhamos como resolver isso, —
Francesca organizou uma equipe médica particular, — e Thomas
recebeu alta no dia seguinte.

— Eu pensei que iria te perder… — eu falei enquanto estava


sentada ao lado dele na cama que havia sido preparada para ele
na mansão dos Kuhn, onde havíamos decidido ficar até que ele
estivesse bem fisicamente.

Mesmo sabendo que Lunna não havia resistido e já havia


chegado morta no hospital, não conseguíamos descansar ou
sossegar, — porque Paul ainda não havia sido encontrado ou
sequer se pronunciado, — e com Thomas frágil, pensamos que o
melhor seria estar em um lugar seguro.

— Eu jamais iria te deixar… — Thomas disse, segurando


em minha mão, — me desculpe pelo susto que te dei.

Sorri.

— Não, querido, você não teve culpa de nada, — murmurei,


— nós deveríamos ter tomado mais cuidado. Deveríamos ter
lidado com eles de forma rápida e limpa, — falei, — mas agora?
Está tudo bem… — eu falei e puxando sua mão, a coloquei sobre
minha barriga, — e tem algo que eu queria te contar.

Thomas piscou.

— Bella? O que-…

— Thomas… — sorri, — eu estou grávida.

— Isso… é verdade? — Ele perguntou e havia lágrimas em


seus olhos.

— Sim, — eu murmurei, — nós teremos um bebê.

Thomas me puxou para perto e me abraçou, rindo como se


eu tivesse acabado de lhe dar o melhor presente de todos, — e
todas as minhas dúvidas e questões, — se desfizeram em
pedaços, naquele último segundo. Porque era Thomas e se fosse
ao lado dele, eu sabia que tudo ficaria bem e que tudo daria
certo.

Vendo como tudo já iria acabar, um alívio tomou conta do


meu peito, porque como eu estava gestando… eu queria paz, paz
para o meu bebê ser calmo, e quem sabe, não ter uma montanha
russa de sentimentos em sua vida. Lunna ter falecido antes de
chegar ao hospital, — sinceramente, — ajudava muito nesse
quesito.

Só em saber que aquela mulher horrível não podia mais se


aproximar de mim ou do Thomas, já me fazia sentir melhor e
segura.
— Bella… como você está sobre isso? — Ele me questionou
e eu selei seus lábios, com carinho.

— Eu estou bem, — falei com sinceridade, — não vou dizer


que não tive medo, que não pensei que estava cedo demais,
mas… — olhei em seus olhos e suspirei, — eu tenho você,
amore mio, e com você… eu sei que consigo qualquer coisa.

— Nós conseguimos, — ele completou, entrelaçando seus


dedos aos meus, — e eu te prometo, Bella… eu sempre irei te
fazer feliz.

Suspirei ao ouvir aquilo e beijando Thomas uma outra vez,


eu sorri.

— Eu realmente te amo… — murmurei e ele riu.

— Eu sei, Ragazze… — ele beijou minha bochecha, — e eu


também amo você.

De todo os momentos que já havíamos vivido, aquele foi o


momento que me fez notar que não importava o que iria
acontecer ou quantas vidas eu poderia viver. Eu sempre amaria
Thomas e sempre voltaria a amá-lo. Porque a minha alma, o
havia escolhido naquele dia na varanda, no momento em que ele
sorriu para mim.

— Thomas… — eu o chamei, — eu estou feliz que tudo


esteja se acertando, mas… como está o Paul?

— Eu não sei. — Thomas deu de ombros, o seu olhar tinha


certa frieza ao dizer aquilo, — ele não faz mais parte da
família.

— Eu entendo, mas… isso não é ruim para os negócios? —


Acabei perguntando, porque por mais que eu soubesse sobre
todas as ações daquela desgraçada… eu também sabia da história
que aquelas duas famílias possuíam juntas.

— A Lunna nos traiu, e ela tinha ciência do que estava


fazendo. Mesmo que estivesse louca no fim. — Ele falou junto
de um tom sério, cortante, — então, os anos de amizade? Eles
foram por água abaixo, assim que ela decidiu fazer tudo aquilo e
assim que Paul a apoio naquela loucura. Não sei se ele desejava
poder ou apenas mimar a sua filha, mas fosse o que fosse, ele
estava errado e a morte dela, não é culpa de ninguém, além dele
mesmo.

Por mais que aquelas palavras tivessem me pego de


surpresa, eu também conseguia entender. Paul estava errado e os
Kuhn não poderiam relevar.

Suspirei e segurando na mão do meu marido, decidi: eu


jamais deixaria algo assim acontecer com o nosso bebê.
Os dias se passaram depois daquilo. Thomas se recuperou
rapidamente e claro, os nossos pais não podiam esperar tanto
para resolver as coisas, então, eles mesmos cuidaram de Charles
e Jess.

Eu não quis saber de forma explícita o que tinha acontecido,


mas descobri com Francesca, que as cinzas de Lunna, tinham
sido enviadas para Paul. Enquanto Charles e Jess, tinham sido
jogados em um lugar qualquer. Em uma vala, como pedaços de
merda.

Era difícil falar isso de alguém por quem eu já havia sentido


algo antes, — mas depois de todas as decepções com Charles, —
eu já não sentia mais nada além de asco e raiva. Agora, o meu
foco era Thomas e a nossa vida.

Sim. A nossa vida sem empecilhos.

Eu estava ansiosa demais para descobrir o sexo do meu


bebê, e quando eu descobri que tinha um teste que apenas
precisava do meu sangue — e que possuía uma margem de erro
muito baixa —, eu logo fui pesquisar para fazer o mesmo. Claro,
o fato de demorar no mínimo 8 semanas para saber o sexo do
bebê, não era tão animador, mas honestamente? Foi bem mais
rápido do que se eu tivesse que esperar até eu poder ver pelo
ultrassom.

— Ragazze, o que você acha que é? — Thomas me


perguntou enquanto dirigia, parecendo tão empolgado quanto eu,
enquanto íamos até o laboratório.

— Eu não sei. — Confessei, porque eu não tinha como


adivinhar algo do gênero, por mais que eu quisesse. — Poderia
ser um casal de gêmeos. — Acabei sugerindo, porque para mim,
não parecia ser uma má ideia. Afinal, eram dois de uma única
vez.

— Assim como a minha e a sua mãe? — Ele acabou rindo,


— essa família iria virar uma creche, ainda mais… porque a
minha mãe vai ter trigêmeos.

— Não, nada de trigêmeos, apenas gêmeos. — Acabei rindo


com certo desespero. — Imagina como deve ser cuidar de três,
sendo que de dois, não é nada fácil. — Eu senti cansaço, tanto
que eu não sabia mais se ter gêmeos, seria uma boa ideia.

— Podemos tentar mais um quando o nosso bebé nascer, o


que você acha? — Thomas deu um sorriso de canto ao dizer, o
seu olhar se fixando em mim enquanto o sinal estava fechado.

— Quem sabe? — Não evitei de dizer, porque aquela não


era uma ideia fora de cogitação, mas também, não era o meu
plano inicial. Então, quando o carro estacionou, eu sorri,
enquanto Thomas abria a porta do carro para mim, parecendo
completamente eufórico e nervoso. De qualquer forma, nós
entramos no lugar, e Thomas já chegou entregando os
documentos para a recepcionista.

— Bom dia, poderia me entregar sem ser no envelope? —


Ele falou como uma criança ansiosa, e eu pude jurar que eu
estava vendo Thomas, praticamente soar frio.

— Claro, como quiser, senhor. — Ela falou, apenas para


tirar o papel do envelope em que o mesmo estava, para nos
entregar o resultado.

— Obrigada. — Eu agradeci ao pegar o resultado para ir em


direção ao primeiro banco que eu avistei, porque se nós
ficássemos em pé, eu tinha a impressão de que Thomas iria cair
para trás.
— Ragazze, vamos ver juntos. — Ele falou ao segurar o
papel na outra extremidade.

Eu assenti com a cabeça, apenas para pular até o lugar onde


estava escrito: Resultado.

— Eu não acredito. — Ele falou ao se levantar, e me erguer


em seus braços, — é o nosso Benício! — Ele disse, porque
aquele era o nome que tínhamos escolhido no caso de ser um
menino.

Thomas me beijou depois disso, os seus olhos parecendo


brilhar como duas estrelas, e isso… me deixou ainda mais feliz
com tudo aquilo. Por mais que eu soubesse que Thomas, teria
esse resultado independentemente do gênero da criança.

Eu estava me olhando no espelho enquanto vi a minha


barriga por conta do vestido colado ao corpo — que possuía um
tom de royal blue —, que eu estava usando. Um sorriso brotando
em meus lábios por saber que dentro de mim, havia um belo
menino saudável crescendo.

Óbvio, nem tudo são flores, até porque eu estou sendo


resumida a um ser cheio de enjoos e ânsias, e a única coisa que
eu estou conseguindo comer ultimamente? É arroz com laranja.
Sim, eu reconheço que é estranho, mas eu sou uma grávida,
e isso me dá licença poética para comer coisas com essa
denominação.

— Vamos? — A tia Paola entra no quarto da minha mãe, um


arquear leve aparecendo em seus lábios enquanto ela me
chamava.

— Sim, claro. — Respondi assim que fui em direção a ela,


com o buquê da minha mãe já em mãos, para entregar para a
mesma.

Os meus pais resolveram renovar os votos, e como nenhum


dos dois gosta de coisas simples, eles resolveram alugar uma
ilha, apenas para a cerimônia, com a melhor decoração de praia
que se podia ter.

Todos os homens estavam com uma roupa creme, e o único


destaque era o meu pai, porque ele estava usando um colar de
flores, e claro… ele possuía um sorriso tão radiante em seu
rosto, que eu conseguia sentir o amor e a alegria que ele sentia,
apenas por estar se casando com a minha mãe novamente.

Ficamos ao seu lado naquele pequeno altar quando todos nos


posicionamos, e isso resultou na orquestra que havia sido
contratada para o casamento, começando a tocar “Speechless”.

A minha mãe fez o seu caminho para vir até o meu pai, e
meu deus… como ela estava linda, brilhante! E quando os olhos
deles se encontraram? Eu vi os olhos do meu pai se tornaram
marejados.
E óbvio, quando a minha mãe chegou até o altar — como um
bom casal casado que tinha praticamente décadas de casamento
—, eles se beijaram.

— Senhores, ainda não é o momento do beijo. — O vovô


Petter, brincou, porque no fim, era ele quem estava fazendo a
cerimônia.

Então, os votos começaram depois daquilo, e foi tudo tão…


lindo e comovente, e isso me fez pensar em como eu fui sortuda
por ter sido criada por um casal que nitidamente se amava tanto
quanto os meus pais. E como todo bom casamento, depois disso,
teve uma pequena festinha antes dos meus pais se despedirem
para irem em outra lua de mel.

— Voltamos antes do Beni nascer. — A minha mãe soltou,


mas pelo olhar que o meu pai lançou em sua direção, eu
suspeitava levemente, que aquele não seria o caso — ainda mais,
porque eles iriam para o Havaí comemorar.

— Aproveitem. — Thomas falou ao me puxar para perto,


isso enquanto eu via a minha mãe acenando até entrar no carro.

E quando eles finalmente foram, Thomas também parecia


disposto, a também ter a sua pequena lua de mel particular,
porque assim que chegamos em casa, ele me pegou em seus
braços, e começou a me beijar de forma intensa. O meu corpo
sendo colocado em cima da mesa logo depois, as nossas roupas
sendo tiradas com certa pressa.
Ele jogou a minha calça em algum canto da cozinha, as suas
mãos abrindo as minhas pernas para voltar a me beijar, o que me
fez morder o seu lábio inferior.

Ele sorriu de canto, a sua boca logo indo até o meu seio,
para começar a brincar com a sua língua no mesmo.

— Gosta assim, ragazze? — Ele pergunta quando pressiona


um dos seus dedos contra o meu clitóris. — Vamos, me
responda… — ele solta em um ronronar, e céus… como ele
conseguia sempre saber o que fazer?

— S-sim… — acabei falando entre os gemidos, — muito…

— E assim? — Ele desce beijando a minha barriga até


chegar na minha boceta, com isso passando a língua sobre a
renda fina.

— Ah… sim… — soltei de forma soprada, sem nem mesmo


saber como eu ainda tinha fôlego para dizer alguma coisa.

Thomas sorriu, por fim ele puxando a minha calcinha para o


lado, a sua língua passando pelos meus lábios, fazendo com que
cada parte do meu corpo estremecesse.

Entre uma sugada e outra, Thomas pressionou a sua língua


no meu clitóris, isso enquanto eu tentava reprimir os meus
gemidos e gritos, mas… estava sendo difícil de me controlar.

— Bella… não se segure. — Thomas fala junto de um tom


aveludado, um que me fez arrepiar por completo.
E como uma boa menina… eu obedeci.

— Melhor… — Ele arfou antes de voltar a me chupar, o que


me fez sentir o meu orgasmo chegando perto, o meu corpo
começando a dar espasmos.

— Ah!— Gemi alto, o meu quadril se arqueando enquanto


eu pressionava a cabeça de Thomas para baixo, sentindo o
êxtase me invadir. — Agora… é a minha vez. — Falei ao jogar o
meu corpo para trás, caindo na mesa.

— Não, hoje o prazer é todo seu. — Thomas falou ao


começar a abaixar as suas calças, o seu cabelo sendo jogado para
trás, junto de um arquear que nossa… me fez ficar ainda mais
molhada.

Ele me segurou firme pelo quadril, e com uma das mãos ele
puxou a minha calcinha para o lado e meteu dentro de mim com
força, o que me fez entrelaçar as pernas em sua cintura, e o
puxar mais para perto, fazendo ele entrar cada vez mais fundo, e
me preencher por completo.

— Eu não vou… aguentar por muito tempo… — acabo


dizendo com a respiração ofegante, o que faz Thomas sorrir de
forma maliciosa ao estocar na minha boceta.

— Quando você quiser. — Ele diz, os seus olhos com isso


brilhando de um jeito quase felino, o que faz aqueles choques se
repetirem, e um outro orgasmo me invadir.
Mas Thomas não parecia querer parar apenas com aquilo, já
que ele logo me levou até o quarto pelo colo enquanto nos
beijávamos, o meu corpo sendo deitado na cama logo em
seguida, apenas para ele ir até o armário.

— Thomas… eu quero tentar algo novo. — Eu falei, porque


eu já sabia o que ele iria pegar no armário.

— Diga. — Ele disse ao se aproximar com o vibrador em


mãos, o seu corpo se posicionando em minha frente.

— Eu… quero tentar sexo anal. — Soltei ao desviar o olhar,


mas ao contrário do que eu achei que aconteceria, Thomas
apenas pareceu concordar com aquilo.

— Sendo assim, querida… fica de quatro. — Ele ronronou, e


apenas aquilo… me fez arrepiar mais uma vez.

Fiquei na posição que ele havia me dito para ficar, e o


vibrador foi colocado no meu clitóris logo em seguida, o que me
deixou ainda mais molhada, e mais apertada. Ele começou a
passar a sua língua bem leve no meu anus, e no início… a
sensação era bem estranha, mas nada que não desse para se
acostumar, e mais uma vez… outro orgasmo veio até mim.

— Ragazze, talvez doa um pouco. — Ele avisou. — E se


quiser que eu pare, é só pedir, ok?

— Ok. — Concordo.

— Fique de ladinho. — Ele diz e começa a beijar o meu


corpo e coloca um dos dedos dentro do meu anus. Seu pau
penetra a minha boceta, e eu não vou negar que estou um pouco
tensa, mas eu quero tentar algo novo.

Algum tempo depois, ele abre um pacote de preservativo,


veste o seu pau, e passa um pouco de lubrificante na minha
entrada.

— Desde quando temos um lubrificante? — Pergunto.

— Desde quando temos um vibrador. — Responde e sorri,


me penetrando outra vez. No começo senti um pequeno
desconforto, não era dor, e por incrível que pareça ele entrou
com uma certa facilidade, acredito que seja devido à minha
lubrificação e do gel que ele usou.

Thomas segura o vibrador no meu clitóris, na verdade, ele


fica descendo e subindo o vibrador por toda a minha boceta, me
fazendo sentir mais prazer.

— Está doendo? — Pergunta entre um gemido e outro.

— Não, é uma sensação diferente. — Falo entre um gemido


e outro.

— Ragazze, eu não vou aguentar por muito tempo. — Ele


diz, arfando de prazer. — Isso está muito bom.

— Eu sei… — eu digo e minha respiração a esse ponto, está


descompassada.

A forma como Thomas metia em mim, me fazia delirar e eu


acabo agarrando no lençol, afundando minhas unhas na cama ao
ponto de que o único barulho que se ouve no quarto, é dos
nossos corpos se chocando e da nossa respiração ofegante.

Eu sinto meu corpo estremecer, e Thomas sussurra ao meu


ouvido enquanto nós dois gozamos juntos.

— Eu te amo, ragazze…

— Eu também te amo… — murmuro enquanto sinto ele me


puxar para o seu peito.
Depois de toda a bagunça que a nossa vida se tornou, o
mundo pareceu ter piedade das nossas almas, — e graças a isso,
— nos deu uma folga.

A gravidez de Bella foi tranquila e o nosso filho estava


perfeitamente saudável. Já a minha mãe? Deus. Ela e o meu pai
entraram em uma espécie de lua de mel, ao ponto de que Valen
teve que ficar uns dias comigo e com a Bella, enquanto Pietro
fingia que não tinha casa, e se enfiava na casa de Brian.

Claro. Brian.

Bom.

Não era uma surpresa que ele e Jenny estivessem juntos,


era? Eu só não sabia quando aquele desgraçado ia criar coragem
para pedi-la em casamento. Sim. Casamento, porque antes de
mais nada, Brian era um emocionado do caralho.

Ele tinha tomado a frente nos negócios da família, junto a


mim, — e agora que Bella tinha decidido mudar de curso para
entrar em direito, — estávamos os três, juntos.

Jenny parecia se sentir solitária e isso fazia ele ir com


frequência visitá-la. Com tanta frequência, que sua mãe
começou a questioná-lo se ele já não tinha mais uma casa.
Depois de enviarmos as cinzas de Lunna para Paul, não
tivemos mais uma resposta vinda dele, — e isso era em partes,
bom, — porque por mais que ele tenha errado como pai, ele era
tudo que os irmãos de Lunna, tinham. Agora, eu estava na casa
dos meus pais, em meio a uma das grandes festas da dona
Francesca, comemorando o aniversário de casamento dos dois.
Eu tinha conseguido fugir do salão, depois de ouvir uns 30
velhos querendo me empurrar seus negócios falidos, e
sinceramente? Eu tinha que admitir. Eu odiava o trabalho como
CEO das empresas Kuhn, bem mais do que odiava as
responsabilidades como capo que haviam sido jogadas nas
minhas costas por completo quando meu pai decidiu viver sua
segunda lua de mel.

— Tommy? — A voz de Bella me chamando, me fez sorrir e


eu me virei para encará-la. A barriga dela agora estava à mostra
naquele lindo vestido preto, colado ao corpo, — sério, você
disse que ia parar de fumar.

Ela ralhou e eu ri, jogando o cigarro fora, depois de apagá-


lo. Eu não deveria ter tentado fumar escondido dela, — mas por
mais que eu tenha prometido parar de fumar pelo bem do nosso
filho, — era difícil largar de uma hora para a outra.

— Desculpe, — eu falei com um sorriso de canto, — esse


foi o último, — eu falei e ela bufou.

— Você já disse isso sete vezes, — ela falou, uma das


sobrancelhas erguida e eu estalei a língua no céu da boca.
— Certo… — murmurei, — você venceu, eu realmente…
irei parar dessa vez.

Bella sorriu.

— Eu sei que sim, — ela disse, acariciando meu rosto e me


dando um beijo na bochecha, — porque se você não parar, eu
não vou te beijar mais.

Pisquei, incrédulo com aquilo.

— É isso mesmo? Você está me ameaçando? — Eu perguntei


e ela riu, se afastando e cruzando os braços sobre o peito.

— Ameaçando? Não, — falou e se inclinou sobre a sacada,


em uma pose que eu conhecia bem, — estou te propondo um
acordo.

Eu ri, porque aquela era a mesma varanda na qual nós dois


conversamos pela primeira vez. A varanda onde tudo começou.

— Que tipo de acordo está me propondo, sra. Kuhn? — Eu


pergunto, com um tom aveludado.

— Um acordo onde você estará comigo pelo resto da sua


vida, — ela diz, se aproximando e envolvendo os braços em
torno do meu pescoço, — então por favor, pare de fumar, —
falou piscando pra mim e dessa vez, eu não consegui resistir.

Eu havia desejado Bella, desde o momento em que a vi, —


mas ao estar ao lado dela, — eu aprendi a amá-la e agora, ela
era o meu mundo e o meu tudo.
— Esse acordo me parece mais uma dádiva, — ronronei,
selando seus lábios enquanto ela ria, com o corpo bem próximo
ao meu.

— Então viva essa dádiva comigo.

— Claro, querida, — sussurrei ao pé do seu ouvido, — eu


sempre irei fazer tudo que você quiser.

FIM.
Como a minha vida era perfeita com a minha Elaine, nos
dois conhecemos no ensino médio, e desde então nunca mais nos
separamos. Eu amei aquela mulher com todas as forças que
havia dentro de mim, e sabia mesmo depois de sua morte, que eu
jamais seria capaz de amar outra vez.

A minha sorte, — sendo bem sincero, — foi que a nossa


família já se conhecia, e não foi difícil nos casarmos e começar
a construir a nossa própria família.
Após o nosso casamento, nós dois fomos morar na Sicília, já
que Elaine sempre amou aquele lugar, — e ela dizia, — que não
havia lugar melhor para que os nossos filhos crescessem. Me
lembro quando ela me deu a notícia que estava grávida. Foi uma
das melhores coisas que aconteceu nas nossas vidas, mas a sua
gestação não foi fácil. Ela sempre foi frágil e passou mal
durante grande parte da sua gravidez. Claro, nós descobrimos
que ela tinha câncer de mama na 32ª semana de gestação e isso
piorou muito a situação.

Elaine escolheu priorizar o nosso bebê, — e graças a isso,


— houve uma época em que pensei que poderia perdê-la de vez.
Mas assim que a Lunna veio ao mundo, Elaine começou a se
tratar e depois de dois anos, ela se curou.

O nosso casamento era incrível, e com o tempo tivemos que


voltar para a Roma, devido ao falecimento do meu pai. E foi
assim que eu conheci o Vicente e a Francesca.

Meu pai sempre havia mantido negócios com a família Rossi


e agora? Vicente era o responsável por comandar o território
deles, assim como o território dos Kuhn, que evoluía a cada dia.
Óbvio, o fato da Elaine e Francesca não se desgrudarem mais,
ajudou muito na nossa amizade e foi assim que Lunna e Thomas,
cresceram juntos.

Todos diziam que os dois iam se casar, em partes pela


amizade entre as famílias e em partes? Pelo fato de Lunna e
Thomas serem grudados quando criança, mas agora eu via que
isso tinha feito mal a minha Lunna e eu me perguntava se não
deveria ter parado essas conversas e brincadeiras.

Após 12 anos veio ao mundo o nosso pequeno Nick, e 4


anos depois a nossa Aurora. E foi aí que o meu mundo
desabou.

A Elaine teve complicações no parto e não resistiu, — ela


foi embora, — me deixando com nossos três filhos e sem rumo
na vida. A Lunna era uma pré-adolescente, e eu não podia não
me questionar se não tinha feito tudo errado com ela, porque
com o tempo, a minha menininha ficou rebelde e começou a
aprontar.

Eu sei que a culpa era minha, pois não coloquei rédeas nela,
não a ajudei o suficiente, não expliquei como o mundo
funcionava, mas eu não conseguia. Eu estava ocupado…
sofrendo pela perda da Elaine. Não me envolvi com nenhuma
mulher, apenas me dediquei ao trabalho e na vida dos meus
filhos, mas isso obviamente não foi o suficiente.

Eu sabia que tinha que ter feito algo quando ela começou
com aquela loucura de amor pelo Thomas, mas pensei que não
haveria problema. Pensei que passaria e não passou.

Lunna fez de tudo para estar com ele, mas claramente… não
era recíproco e depois de mentir e se envolver na tentativa de
assassinato de Thomas, — a minha filha foi morta, — pela sua
esposa. Bella McNight.
Vicente não se deu ao trabalho de me avisar. Ele nem
mesmo concedeu a ela um enterro. Ele enviou as cinzas de
Lunna para mim, em uma caixa. A jogou fora como um pedaço
de lixo e eu sequer tinha forças para contar aos seus irmãos… o
que tinha acontecido. E talvez por isso, essa briga continue
dentro de mim. Eu já não sei se vingo minha família ou se
permaneço em paz com a família Kuhn.

Eu sei que a minha Lunna fez tudo aquilo por amor, mas
desde que voltei para a Sicília, — as memórias de Lunna e de
Elaine, — se tornaram mais e mais dolorosas. Mas ainda que eu
desejasse me vingar, a minha vingança teria que esperar um
pouco, porque eu precisava que os meus filhos tivessem alguém
que pudesse cuidar deles. E quando isso acontecesse, quando
ambos estivessem seguros e longe do alcance daqueles monstros,
— eu poderia mostrar para a família Kuhn e a família McNight,
— o gosto amargo que eu senti ao ter as cinzas de Lunna em
minhas mãos.
Nunca poderia esquecer das minhas queridas leitoras,
gratiluz por tanto, vocês são minhas âncoras, as pessoas que me
fazem escrever mais e mais a cada dia.

Deus, obrigada por mais uma etapa concluída com


sucesso.

Minha família, obrigada por sempre me apoiarem e


torcerem por mim.

Vanessa Pavan por fazer um trabalho incrível me


auxiliando a cada lançamento.

E se você me leu pela primeira vez, espero que me dê outra


oportunidade. Acredite, está vindo muita coisa por aí.

Beijos
PS: Se você encontrar algum erro ortográfico ou
gramatical, por favor, reporte a minha assessora
@vpassessorialiteraria. Farei as alterações assim que receber sua
notificação.

Beijos,

Karyelle Kuhn

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