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TEMPO DO DESPREZO
Andrzej Sapkowski
Tradução do polonês
TOMASZ BARCINSKI
ÍNDICE
Capítulo primeiro
Capítulo segundo
Capítulo terceiro
Capítulo quarto
Capítulo quinto
Capítulo sexto
Capítulo sétimo
Sangue em suas mãos,
Falka, e sangue em suas
vestes.
Arda, arda por seus erros,
Falka,
e padeça horrível morte!
Canção entoada pelas crianças durante
a queima das bonecas de Falka na
véspera de Saovine
CAPÍTULO PRIMEIRO
– Geralt!
– Ciri.
– Não é hora para sentimentalismos – falou a coruja de
cima do muro, transformando-se aos poucos numa mulher
de cabelos negros. – Fujam! Os Esquilos estão vindo para
cá!
Ciri desvencilhou-se dos braços de Geralt e olhou com
espanto. A mulher-coruja sentada no muro tinha um aspecto
horrível: estava imunda, chamuscada, esfarrapada e
coberta de cinzas e sangue.
– Seu pequeno monstro – disse ela, olhando para Ciri de
cima do muro. – Por aquela sua inoportuna profecia eu
deveria… Mas prometi algo a seu bruxo, e sempre cumpro
minhas promessas. Não pude dar-lhe Rience, Geralt. Em
troca disso, dou-lhe ela. Viva. Fujam!
Falka.
Não conseguia adormecer. Cavalos galopavam e
relinchavam no meio da escuridão; o vento murmurava
entre os pinheiros. O céu estava coberto de estrelas.
Brilhava intensamente o Olho, que por tantos dias fora seu
guia no deserto. O Olho indicava o oeste, mas Ciri já não
estava certa de que aquela seria a direção adequada. Na
verdade, não tinha certeza de nada.
Não conseguia adormecer, apesar de pela primeira vez
em muitos dias sentir-se segura. Não estava mais sozinha.
Fizera a cama de ramos longe dos Ratos, que dormiam no
aquecido piso de barro de uma choupana destroçada.
Estava afastada deles, mas sentia sua proximidade, sua
presença. Não estava mais sozinha.
De repente, ouviu passos silenciosos.
– Não tenha medo.
Kayleigh.
– Não direi a eles – sussurrou o Rato louro, ajoelhando-se
a seu lado – que você está sendo procurada por Nilfgaard,
nem que o prefeito de Amarillo prometeu um prêmio por
você. Lá, na taberna, você salvou minha vida. Vim lhe
retribuir com algo muito gostoso.
Deitou-se ao lado dela devagar e cuidadosamente. Ciri
tentou se levantar, porém ele apertou-a contra o leito de
ramos com um gesto não violento, porém forte e definitivo.
Com toda a delicadeza, colocou um dedo sobre seus lábios.
Não era preciso. Ciri estava paralisada de medo e sua
garganta ressecada não lhe permitia emitir grito algum,
mesmo que quisesse gritar. Mas não queria. O silêncio e a
escuridão eram melhores, mais seguros, mais íntimos; eles
serviam para ocultar o pavor e a vergonha que a assolavam.
Gemeu.
– Fique quietinha, pequena – sussurrou Kayleigh,
desamarrando lentamente os cordões de sua blusa.
Devagar e com gestos suaves, ergueu a parte inferior da
blusa acima de seus quadris. – E não tenha medo. Você vai
ver como isto é gostoso.
Ciri estremeceu ao sentir o toque da seca, dura e áspera
mão do Rato. Permaneceu imóvel e estirada, tomada por
um medo paralisante e constrangedor e por uma sensação
de asco que lhe atacavam as têmporas e as bochechas com
ondas de calor. Kayleigh enfiou o braço direito debaixo de
sua cabeça, puxou-a para mais junto de si, tentando afastar
a mão que procurava inutilmente puxar a borda inferior da
blusa para baixo. Ciri começou a tremer.
No meio da escuridão que a cercava, sentiu
repentinamente um movimento brusco, uma sacudidela e o
som de um chute.
– Você enlouqueceu, Mistle? – rosnou Kayleigh, erguendo-
se um pouco.
– Deixe-a em paz, seu porco.
– Suma daqui. Vá dormir.
– Já lhe disse: deixe-a em paz.
– E por acaso eu a estou importunando? Ela está gritando
ou querendo fugir? Tudo o que quero é acalentá-la. Não
atrapalhe.
– Suma daqui se não quiser se ferir.
Ciri ouviu o som de uma adaga sendo retirada de uma
bainha metálica.
– Não estou brincando – continuou Mistle, mal visível na
escuridão. – Vá juntar-se aos rapazes. Imediatamente.
Kayleigh sentou-se e soltou um palavrão. Depois ergueu-
se e foi embora sem dizer mais nada.
Ciri sentiu lágrimas deslizando pelas bochechas e
enfiando-se depressa, como vermes, nos cabelos junto das
orelhas. Mistle deitou-se a seu lado e cobriu-a
cuidadosamente com a pele. Mas não arrumou sua blusa,
deixando-a como estava. Ciri voltou a tremer.
– Fique quieta, Falka. Agora está tudo bem.
Mistle era quente, cheirando a resina e fumaça. Sua mão
era menor que a de Kayleigh, mais delicada, mais suave.
Mais agradável. No entanto, seu toque fez com que Ciri
ficasse novamente tensa, travando os maxilares e
apertando a garganta. Mistle abraçou-a, aninhando-a de
maneira protetora e sussurrando palavras tranquilizadoras.
Ao mesmo tempo, porém, sua pequena mão avançava como
um quente caracol calmo, seguro de si, decidido e
consciente de seu caminho e de seu alvo. Ciri sentiu as
tenazes de medo e asco se abrirem, sentiu como se livrava
de seu aperto e despencava num cada vez mais profundo,
quente e úmido atoleiro de resignação e de irresistível
submissão. Uma submissão prazerosa, embora abominável
e humilhante.
Gemeu surda e desesperadamente. A respiração de
Mistle queimava seu pescoço, aveludados e úmidos lábios
acariciavam seu ombro, sua clavícula, descendo lentamente
cada vez mais para baixo. Ciri voltou a gemer.
– Quieta, meu falcãozinho – sussurrou Mistle, enfiando
cuidadosamente o braço debaixo de sua cabeça. – Você não
estará mais sozinha. Não mais.
Tradução
TOMASZ BARCINSKI
Acompanhamento editorial
Márcia Leme
Edição de texto
Márcia Menin
Revisões gráficas
Ana Paula Luccisano
Letícia Castello Branco Braun
Edição de arte
Katia Harumi Terasaka
Paginação
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
Produção do arquivo ePub
Simplíssimo Livros
Sapkowski, Andrzej
Tempo do desprezo [livro eletrônico] / Andrzej Sapkowski ; tradução
do polonês Tomasz Barcinsky. -- São Paulo : Editora WMF Martins Fontes,
2014.
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BRUXO A espada do destino – vol. 2
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