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Gabriel Aquino

Gabriel Aquino

Trionte
O segredo do Império

MouraSA
Curitiba – Brasil
2021
Copyright © da MouraSA Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da MouraSA
Revisão: Analista de Escrita e Artes

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506

AQ656

Aquino, Gabriel.
Trionte: o segredo do Império / Gabriel Aquino – Curitiba : CRV, 2021.
140 p. (Coleção Trionte – volume 1)

Bibliografia
ISBN coleção digital 978-65-5868-666-8
ISBN coleção físico 978-65-5868-661-3
ISBN volume digital 978-65-5868-662-0
ISBN volume físico 978-65-5868-663-7
DOI 10.24824/978655868663.7

1. Literatura brasileira 2. Ficção brasileira I. Título II. Série.

CDU 821.134.3(81) CDD B869.93


Índice para catálogo sistemático
1. Literatura brasileira B869.93

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2021
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da MouraSA
Todos os direitos desta edição reservados pela: MouraSA – um selo da Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 - E-mail: sac@editoracrv.com.br
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D edico esta história às pessoas que, ainda no período de trevas, guiadas pelos
rios da desmotivação, me serviram de luz e continuaram me incentivando
a acreditar, até o fim:

a Eli Lice, minha avó,

ao Raphael, meu pai,

ao Davi, Julie, Monique, Álvaro e Daniel, meus primos,

ao Álvaro Gabriel, meu tio,

a Priscila, minha tia,

a Alice, minha irmã,

a Vanessa, minha copydesk,

ao Pedro, que foi quem a leu primeiro,

e a você, leitor, que é quem me acompanhará nesta jornada ao longo do mundo


mágico de Trionte.
Sumário

– Capítulo 1 –
O horizonte encantado 9

– Capítulo 2 –
A amizade de um traidor 17

– Capítulo 3 –
O palácio dos gnomos 25

– Capítulo 4 –
Um grande milagre 33

– Capítulo 5 –
O início dos escombros 41

– Capítulo 6 –
O retorno do rei 49

– Capítulo 7 –
A louca 55

– Capítulo 8 –
O aprendiz 63

– Capítulo 9 –
A descoberta 71

– Capítulo 10 –
A aliança da vilania 79
– Capítulo 11 –
A Revelação 87

– Capítulo 12 –
Navio dos bárbaros 95

– Capítulo 13 –
A Aliança da luz 103

– Capítulo 14 –
Sacada do castelo dourado 111

– Capítulo 15 –
Os primórdios do fogo 117

– Capítulo 16 –
Memórias de um rei 123

– Capítulo 17 –
Os caminhos do sangue 129

Um ano depois... 135


– Capítulo 1 –

O horizonte encantado

T rionte era uma terra mística, de árvores altas, frondosas e envoltas em cipós
espessos, um lugar repleto de ninfas e vaga-lumes por todos os lados, ao
meio escorrera um rio de águas cristalinas e calmas, tal como a música prove-
niente das águas, que ouvira pairar no ar, como uma harpa a tocar uma canção
para adormecer os homens que dali faziam sua morada. O céu era azul e limpo
e as nuvens caminhavam lentamente, criando sombras sob a copa das árvores.
Em Trionte, haviam quatro reinos; Kwaizahdar, ao Norte; Castindell, ao Sul;
Dyllewalt, ao Leste e Agaroff ao Oeste. Sendo estes os seus reis: Simon Blackston,
de Kwazahdar; Helena Goldflower, de Castindell; Thomas Afftton, de Agaroff e
Suzana Ediphy de Dyllewalt. Todos estes reis e rainhas tinham perfis e caracte-
rísticas de governo próprias, mas mantinham um padrão rígido de união entre si.
Com entardecer, toda a realeza se reunira no reino de Agaroff para um ban-
quete, e, em seguida, brincavam e discutiam importantes assuntos governamentais
pelos corredores de pedra, até chegar à varanda da torre principal. Ali ficaram con-
versando até o levantar da lua e na manhã seguinte, ambos os reis se encontram no
estábulo do castelo, Helena e Suzana planejavam voltar para seus reinos a cavalo.
– Vocês não preferem ficar?
– Posso ordenar aos meus servos, que preparem a carruagem para adentrar-
mos os campos do reino! – fala Thomas, entusiasmado.
– Não será preciso Thomas! Agradecemos a sua hospitalidade, mas eu e
Helena precisamos realmente ir! – responde Suzana, demonstrando pressa.
Então, atiçando seus cavalos, as duas rainhas seguem viagem até seus castelos.
Deixando Thomas, que decide perguntar a Simon, se o mesmo ficaria e o acom-
panharia na caçada das sete arcas, que aconteceria mais tarde, naquele mesmo
dia. O mesmo reforça sua presença em tal caçada, sendo levado por Thomas até
a área destinada ao treino de cavaleiros e arqueiros de seu reino.
Ao chegar em seu castelo, Suzana descobre que seu reino, fora atacado, por
soldados enviados por algum reino, fora das terras maravilhosas. A rainha olhou
para baixo e observou um símbolo gravado em um dos escudos do exército ini-
migo, símbolo equivalente, ao brasão de um reino do sul, também via vestígios,
do que parecia ter sido uma grande batalha, com muito poder de fogo envolvido,
já que a metade de seu reino, estava sob chamas. Vendo aquela cena deplorável,
ela decide, então, descer de sua montaria, pegar uma espada, no suporte que ficara
ao lado dos portões de entrada e seguir para o grande salão do trono.
Chegando em tal cômodo, a rainha se depara com um homem de armadura,
coroa de quartzo escuro e capa esverdeada, sentado em seu trono, com as pernas
apoiadas no braço do mesmo. Ao ver aquilo, Suzana interpretou como uma afronta,
além de ser um convite prematuro para um duelo. A sua volta, haviam corpos
de seus milhares de soldados no chão, tal como, na entrada e em todo o resto do
cômodo. Tão antes que a rainha pudesse se aproximar, o estranho homem diz:
– Eu estava ansioso para conhecer-lhe pessoalmente, cobra!
– Você vai pagar por isso! – grita Suzana, enfurecida.
– Não, você vai pagar!
– Com grandes juros, devo admitir!
– Você me tirou, tudo o que eu tinha!
– Está na hora, de retomar meu reino de volta! – responde o estranho
homem, sacando sua espada.
– Veremos! – murmura Suzana, desafiando o homem.
– Curve-se perante mim ou morra! – grita o misterioso homem.
– Eu morro lutando, mas eu nunca me curvarei perante você! – grita Suzana,
indicando que não receberia ordens vindas dele, de modo algum e ao mesmo tempo,
também sacando sua espada, que a esta altura, já representava avidez por um duelo.
Por fim, entrando em tal duelo, a majestosa rainha, arranca a espada do
inimigo e empurra-o sob uma lança, que perfurou seu peito, levitando o cora-
ção e deixando um enorme buraco no corpo do homem. Ela caminhou até seu
trono, onde sentou-se, pegando um pergaminho em branco e uma pena com a
intenção de relatar a Thomas o ataque ao seu reino. Então, eis que dos destroços
levantou-se um soldado ferido e Suzana saiu de seu trono, rasgando um pedaço
de seu vestido, secando os ferimentos do homem e o fazendo de mensageiro,
assim, pedindo a tal para levar o pergaminho até o reino de Agaroff.
O soldado, prossegue no percurso entre os dois reinos a cavalo e após meses
de cavalgada, sem parar, chega a Agaroff abaixo de uma chuva pesada, entregando,
assim, nas mãos do corajoso rei, tal pergaminho. O mesmo, ao levar em consi-
deração a hora avançada e as condições climáticas, presumia que sua irmã estava
em perigo, e, desesperadamente, abrira e começara a ler a mensagem, ficando ao
mesmo tempo irado, ao desvendar o ataque descrito por sua irmã.
Thomas, manda um de seus servos, avisar Helena e Simon, selando outro
pergaminho em resposta ao da rainha e ordenando, que um dos almirantes de
seu exército, leve este ao reino de Dyllewalt, junto a uma pequena tropa, com
seus melhores soldados, a fim de reerguer os destroços.
Preocupado também, com a situação do servo de sua irmã, que estava cheio
de cortes e hematomas visíveis, Thomas, decide deixá-lo aos cuidados dos médi-
cos de seu reino, já que toda a vila de sua irmã, havia sido devastada e nenhum
médico em todo o reino, estava vivo.

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Chegando a Dyllewalt, a tropa entra pelo portão principal, marchando com
tochas acesas e espadas à mão; acompanhavam a tropa, quatro escudeiros, cada
um, com um estandarte do reino de Agaroff nas mãos. Os soldados cantarolavam
um cântico místico, milenar, dado aos primeiros reis de Trionte, por um peregrino
desconhecido, que havia passado pelas terras. A canção falava sobre a majestade
da ampla terra, o poderio e a sabedoria de HARAGUM (ser supremo, criador de
tudo existente). Contudo, era cantada em Mavulês, idioma falado em Trionte e
nas redondezas milênios antes. Ao se aproximar, a tropa parou, o almirante Elias
suspendeu tal canção e só então disse:
– Majestade, somos a tropa enviada pelo reino de Agaroff e viemos ao
vosso socorro!
– Gesto admirável, almirante!
– Saiba, que eu os recompensarei! – responde Suzana, mostrando toda a
sua gratidão.
– Não se preocupe, Alteza, Sua Majestade, rei Thomas, ordenou, que eu lhe
entregasse isto! – fala o almirante, entregando-lhe o pergaminho do rei.
Suzana, então, abriu e começou a ler tal pergaminho, fincando admirada
com a bravura de seu irmão, em relação à defesa de seu reino.

Reino de Agaroff, 4 de Julho de 1536


Olá minha cara irmã,
Fiquei inconformado ao saber o que aconteceu com seu reino. Para ajudá-lhe,
decidi que enviaria minha melhor tropa, a fim de reconstruir Dyllewalt.
Eu, Helena e Simon, estamos partindo hoje para Livesburn, em uma caravela
triontina e levamos conosco, suas suspeitas sobre as terras do sul.
Estamos indo investigar, qual a relação dos cinco reinos com a invasão á
Dyllewalt e estamos levando um grande arsenal de armas, para o caso do
diálogo não funcionar.
Peço que você fique e reconstrua o seu reino, Elias é meu melhor servo, pode
confiar nele.
Passaremos três meses em Livesburn, acredito que a minha tropa terá tempo
suficiente para reconstruir Dyllewalt.
Sentiremos sua falta, até breve!
V.M. Thomas Afftton

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Uma semana e meia depois, Thomas encontra Helena e Simon na esplanada
principal de seu castelo, ambos estavam apostos.
– Helena, Simon! Acredito que vocês receberam a minha carta! – expressa
Thomas, ao ver os irmãos.
– Sim, o que faremos? – pergunta Simon.
– Precisamos agir agora! – acrescenta Helena, decidida.
– Vejo que vocês estão despreparados! – acrescenta Thomas, observando o
descuido em relação a ausência das armas de seus irmãos.
– Como alguém pode estar preparado para isso? – pergunta Helena.
Venham comigo! – responde Thomas.
Enfim, os reis vão até o paiol do castelo e equipam-se com uma armadura,
dois punhais, uma espada e um escudo. Simon então pergunta:
– Para que tudo isso, Thomas?
– Eu achei que faríamos um acordo pacífico, ou algo do tipo!
– Devemos estar preparados para tudo, Simon! – responde Thomas, segu-
rando um pequeno barril de vinho nos ombros.
– Você só pode ter ficado louco, Simon!
– Nossa irmã acaba de ser atacada e você quer um acordo pacífico? – per-
gunta Helena, alterada.
– Helena está certa, Simon! Eles atearam fogo primeiro, não podemos baixar
a guarda! – fala Thomas, dando apoio à irmã.
– Se deixarmos como está, Livesburn vai atacar sempre que achar conveniente.
– Precisamos mostrar, qual lado ruge mais alto!
– Sem falar, que se eles assumirem o poder absoluto, tomarão nossas terras
e nos jogarão nas masmorras.
– É isso que você quer? – pergunta Helena aos gritos.
– Você sabe que não! – responde Simon.
– Bom, vamos! Tem um barco esperando por nós! – acrescenta Thomas.
– Vamos agora? – pergunta Simon.
– Algum problema? – pergunta Thomas, virando-se e olhando para
seu irmão.
– Nenhum, só achei que você tinha percebido que é noite e faz frio lá fora!
– responde Simon, arrumando sua veste.
– Como você pode ser tão egoísta?
– Suzana quase foi morta e você está pensando no frio! – fala Helena, indig-
nada, com sua voz estridente.
– Chega, parem os dois!
– Vamos hoje e sem reclamações! – grita Thomas, impondo ordem.
– Thomas, você ao menos sabe sobre as ilhas do sul? – pergunta Helena.

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– Sim, Helena! Pedi a uma tropa de meus soldados para que explorassem
a área há alguns anos e eles me trouxeram isso! – responde Thomas, mostrando
um pedaço de papel em que constavam as seguintes informações:
Os reinos principais de Livesburn ficam na costa litorânea de Willdust,
são eles: Niwdem, ao Norte; Sawdyo, ao Sul; Apél, ao Leste; Monalriatsh, ao
Oeste e Prionsee, ao centro. Sendo estes, os seus reis: Luan Suntyse, de Niwden;
Evan Bach, de Sawdyo; Cristian Kenbridge, de Prionsee; Lucas Twedy, de Apél
e Ingredy Spell, de Monalriatsh.
Assim, ambos desceram até a margem do rio cristalino que passava por trás
do castelo e encontram o guardião esperando perto dos barcos.
– Boa noite, Majestade! – cumprimenta Max, se curvando perante os reis.
– Boa noite, Max! – responde Thomas.
– A que devo a vossa visita, Majestade? – pergunta o guardião, curioso.
– Queremos que você nos leve em segurança à Livesburn! – responde Thomas.
– Imediatamente, Majestade! – responde o guardião, estendendo a mão para
a rainha Helena, na tentativa de ajudá-la a subir a rampa de madeira que ligava
a embarcação a terra firme.
Assim, os gloriosos reis partem em busca de justiça e horas depois, a caravela
em que os reis estavam é pega por uma tempestade que acentuava os chuviscos de
Agaroff. Raios, relâmpagos e trovões beijavam a face das enormes e ameaçadoras
ondas, até que em um estridente barulho metade da tripulação acorda desespe-
rada, inclusive os três reis que sobem ao convés superior carregando consigo as
suas espadas guardadas. Ao chegar em tal parte do barco, a tripulação encontra o
capitão adormecido e o seu imediato bêbado, segurando o timão. Simon empurra
o imediato, assumindo o timão da pequena caravela e tenta guiá-la até Livesburn
em segurança, contrariando, assim, a bússola que apontava para o lado oposto
devido à tempestade que desviou a caravela de sua rota. Thomas pega uma corda
que estava amarrada ao mastro principal e dá para Helena, pedindo para a rainha
erguer as velas enquanto que o mesmo acendera as tochas do convés inferior para
acordar os marujos que haviam ficado dormindo. Contudo os esforços foram em
vão e não demorou muito até que a embarcação naufragasse no mar.
Cinco meses depois, Suzana que já tinha acabado de reerguer o salão de
seu trono e recuperar os itens de grande valor que haviam sido deteriorados pelo
fogo, recebe um pergaminho do reino de Niwdem informando que a caravela
em que os três reis estavam havia naufragado e os corpos de todos não foram
encontrados. A mensagem finalizava dizendo que eles foram dados como mortos
por nômades originários de Willdust que navegavam pelos arredores e localizaram
os destroços da caravela triontina. Suzana estática, com um olhar vazio e fixo no
horizonte, cai de joelhos e começa a chorar a perda de seus irmãos.
Mais tarde, naquele mesmo dia, a rainha decide enviar convites aos reinos
de Trionte para um funeral simbólico em homenagens aos reis finados. O tal

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funeral seria cortejado na praia de Kollóssus, localizada no reino de Castindell.
A areia estava enfeitada com todos os objetos presentes em um funeral verídico:
cadeiras, pinturas dos reis finados e velas, tal como um grande tapete vermelho
no qual as damas de luto caminhavam para debruçar-se acima dos caixões. Logo
o Clero chega e dá iniciativa ao velório fazendo o seu sermão.
– Meus filhos, é com profunda tristeza que dou início a este sermão para
homenagear nossos grandes reis, que não só mostraram a sua fraternidade para
com a nossa aclamada rainha, Suzana, no período em que ela estava sendo atacada
e não tinha soldados nem servos para ampará-la, como também demonstraram
grande coragem na defesa contra as terras do sul e arriscaram suas vidas desbra-
vando o oceano inexplorado para defender a honra desta grande terra repleta
de bênçãos.
– Meus filhos, HARAGUM deu poder aos reis para que eles pudessem
governar em seu nome e deu-lhes coragem para erguer montanhas e derrotar
exércitos para a sua glória!
– É com infelizes sentimentos que eu encerro o funeral e abro espaço para
que a Sua Majestade e os servos mais próximos venham até os caixões prestar
seus últimos tributos aos reis finados. – finaliza o clero, saindo de seu púlpito.
Suzana levanta de sua cadeira, cabisbaixa, caminha lentamente até o caixão
do meio cuja foto fazia referência a Simon, deixando acima do dito cujo um lírio
branco que esteve segurando durante toda a homenagem. Dando meia volta, é
chegada a vez dos servos mais próximos prestarem tributos. Elias se levanta de sua
cadeira chorando e corre para debruçar-se em cima do caixão de seu rei. Suzana
observa a devoção de Elias com orgulho e, levantando-se, segue em direção ao
servo oferecendo-lhe consolo.
Ao fim da homenagem, a rainha e os servos assistem ao enterro de ambos
os caixões. O coveiro do reino cava as três covas, enterra os caixões e as cobre de
areia. Depois, ele coloca pedras acima das covas para que os convidados pudessem
identificá-las toda vez que quisessem visitar os reis. Suzana, então, virou-se de
costas e caminhou até a beira do mar onde manteve a sua performance extática,
sempre olhando para o horizonte com o sentimento de perca. Elias percebe que
Suzana havia ficado abalada e decide oferecer seus conselhos em agradecimento
ao gesto de empatia da rainha momentos antes. Caminhando até a rainha gélida,
Elias fala:
– Estou preocupado com a Vossa Majestade!
– Saiba que antes de servo e almirante, o rei Thomas me considerava seu
conselheiro particular!
– Você? – pergunta Suzana, desacreditando na coragem de seu irmão de
conviver com plebeus.
– Sim, Majestade!

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– Sua Majestade, tinha muita confiança em mim!
– Se quiser um servo, ou um conselheiro, saiba que eu estou inteiramente
ao seu dispor! – conclui Elias, na tentativa de amenizar o sofrimento e a solidão
da rainha.
Ele caminhara em direção ao seu cavalo, subira na sela da bela montaria
e seguira viagem para Agaroff. Enquanto isso, Suzana permanecera olhando
fixamente para o horizonte, mas dessa vez ela não pensava nos seus irmãos,
mas, sim, na proposta de ter um servo tão leal quanto Elias. Então, um de seus
guardas a chama e pede para que ela os acompanhe de volta para Dyllewalt. Já
estava anoitecendo.

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Simon Imperador Thomas Helena
Matoel

Suzana Mitrelli Luan Imperador


Haniseff
– Capítulo 2 –

A amizade de um traidor

C om o balançar da carruagem, a rainha não conseguira parar de pensar em


Elias, aquele rapaz realmente a deixou envolvida e ela estava, cada vez mais,
sendo tomada por uma vontade incontrolável de encontrá-lo novamente. Já
no caminho para Dyllewalt, a mesma espiava as árvores caminharem sentido
contrário à carruagem e se assusta com a repentina aparição de um velho senhor
plantado ao longe, o mesmo parecia olhar fixamente para ela. A rainha então
decide pedir ao seu cocheiro para que ele pare a carruagem, decidindo, assim,
descer para investigar o fato.
Já com os pés fora de seu conforto, a rainha percebe que não havia nada ali e
começa a pensar que essa estranha aparição seria fruto de sua mente previamente
abalada com a morte de seus irmãos. Mas acreditara também que essa aparição
poderia ter a ver com a história da floresta. Logo a mesma pergunta-se:
– Onde está?
– Onde está o quê, minha rainha? – pergunta o cocheiro, curioso.
– Nada, Kaylow!
– Pode ir! – responde Suzana.
– Mas eu não posso deixar a Vossa Majestade aqui!
– É muito perigoso! Além disso, Vossa Alteza sabe que existem saqueadores
pela floresta! – fala o cocheiro, expressando preocupação com a rainha.
– Pode ir, Kaylow!
– Isto é uma ordem! – ordena Suzana.
Então, o cocheiro segue viagem e Suzana arma-se com a espada que estava
amarrada em sua cintura. Sem ter a certeza do motivo daquela aparição, a mesma
decide entrar floresta adentro para explorar. À medida que Suzana adentrava a
floresta, a temperatura aumentava e ela já estava desconfortável com essa reali-
dade; contudo, resolveu prosseguir abrindo caminho até chegar a uma espécie
de clareira. Ela não sabia explicar o que acontecia naquele lugar, parecia mais um
“déjà vu” misturado com um desejo profundo de aventura e mistério.
Quanto mais a rainha levantava sua vista, mais ela ficava admirada com o
que via, lá estava um castelo em ruínas com duas estátuas colossais de seus reis
na frente. Essas figuras estavam com uma postura autoritária, olhavam fixamente
para o horizonte e tinham enormes rachaduras, uma delas até estava com a sua
espada e cabeça caídas no chão.
Suzana havia ficado entusiasmada e assustada com a sua descoberta, logo
decide entrar no castelo esquecido pelo tempo em buscas de respostas. Caminhara
lentamente pelo que antes seria o salão dos tronos enquanto ouve seus próprios
passos e o cantar dos pássaros.
Ao se aproximar dos tronos banhados a ouro, já deteriorados pelo tempo,
Suzana encontra um pergaminho sem data; provavelmente seria dos tempos do
descobrimento das terras Triontinas, ou da criação da península de Nozarim.
Então, Suzana abre o pergaminho que revela uma mensagem do Imperador
Matoel, para o rei Haseniff.
Após entender de quem eram aquelas enormes estátuas na entrada do castelo,
Suzana resolve ler este.

Rei Haseniff!
Sei de seus planos contra minha posição, Elias me contou tudo.
Este é o fim de nossa irmandade e logo virá a morte assolar tuas terras e
tornar infértil teu solo.
Com a separação de nossos reinos, não haverá paz, fique avisado de que este é
o fim da aliança entre Adagun e Eldeen.
Agora é guerra!
V.M.I Matoel

Ao terminar de ler aquela declaração de guerra, Suzana começa a olhar para


os lados em sinal de compreensão, realmente aquela mensagem fazia jus ao castelo
devastado, isso esclarecia tudo, com exceção da aparição na entrada da mata. Ela
também havia achado estranha a menção do nome de Elias no tal pergaminho,
mas pensou que estava delirando mais uma vez.
Tendo pleno conhecimento de que faltava pouco para anoitecer, a rainha
decidira ir para seu castelo caminhando dentre as árvores que balançavam com
o vento. Mas não demorou muito para que a mesma se perdesse na escuridão da
vasta floresta e debruçando-se em uma arvore, diz:
– Ahh!
– Que caminho longo!
– Recuso-me a andar mais um toco sequer.

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– Vou descansar! Em breve voltarei para meu reino! – fala a rainha, com
sua respiração ofegante.
Ao amanhecer, Suzana segue caminho para seu reino. Passaram-se três dias
de caminhada e a rainha já estava na entrada de seu vilarejo, todos os moradores
começam a olhar para a estranha moça que vinha caminhando no horizonte. Ela
parecia estranha, porém não era desconhecida. Estava toda descabelada e com
as roupas rasgadas, como se tivesse sido atacada por algo, ou alguém. Logo, um
dos guardas reais a reconhece, pega pelo seu braço e a leva para o castelo. Com
medo de que os moradores a confundissem e a atacassem imaginando que pelo
seu estado que ela era uma párea da sociedade, o guarda aos gritos então fala:
– Não se preocupem, ela é uma foragida e deve ser presa!
Ao chegar no castelo, a rainha é surpreendida pela sua dama de companhia
que a aguardava no salão do trono. Ansiosa e, ao mesmo tempo, angustiada pelo
desparecimento da mesma.
– Venha, minha rainha!
– Vou preparar-lhe um banho de espumas e depois pedirei para que pre-
parem seu jantar. – fala a dama de companhia, agarrando o braço de Suzana.
– Não será preciso, Ilda!
– Eu tomarei banho e irei direto para meus aposentos. – fala a rainha, se
desgrudando de sua dama.
– Mas... alteza... – gagueja a dama.
– Chega, Ilda! Boa noite! – finaliza a rainha, subindo a enorme escadaria
do grande salão.
Naquela mesma noite o sono de Suzana fora interrompido por uma lem-
brança que não a deixava em paz. Ela lembrou de um livro que havia lido há
muito tempo. O tal livro chamava-se, Feitiços Rochosos, Vol. 1 e mostrara um mapa
de Trionte e de outras terras que ficavam nas redondezas. Contudo, existia uma
pequena localização perto da floresta de araucárias marcada com tinta vermelha,
abaixo da marcação informava: Casa do mago, 1.400 tocos. E, desesperada, a rainha
pega uma tocha no corredor de seu quarto e desce até o estábulo real, pegara seu
cavalo e seguira ligeiramente a galopes em busca de tal localização.
Chegando no coração da floresta, Suzana se depara com uma taberna aparente-
mente abandonada, suas janelas estavam quebradas e tudo a sua volta estava coberto
de musgo, o que indicava o abandono há muito tempo, ao aproximar-se, decidiu
adentrar e explorar o local. Era como o esperado, o ambiente estava entregue as
moscas e as únicas coisas chamativas aos olhos da rainha eram um pedaço de perga-
minho que o velho mago havia deixado em cima da mesa e um caldeirão enferrujado.
No pergaminho havia um feitiço de ressurreição que por um acaso do des-
tino, era exatamente o que Suzana estava buscando para seus irmãos. Lá estava
o seguinte preparo:

19
Talismã de NABULORK
Ingredientes:
7 Ácimos Imperiais, maduros
7 Shíluns Silvestres
13 gotas de extrato de Helga Selvagem
12 rosas do além
Preparo:
Esmague os Ácimos Imperiais, junto aos Shíluns Silvestres em um pilão
de pedra, em seguida, acrescente as gotas de extrato de Helga Selvagem e as
rosas do além, depois volte a espremer e extraia apenas o suco dos componentes.
Jogue o resultado no caldeirão, misture tudo e deixe borbulhar até obter o
resultado esperado.

Suzana vasculha a taberna em busca dos ingredientes e encontra todos, com


exceção dos Ácimos Imperiais. Por sorte havia uma horta ao lado da taberna, lá
tinham Ácimos; contudo, estavam verdes e o feitiço precisava de Ácimos maduros.
Mesmo assim ela decide prosseguir com o preparo.
Ao terminar de fazer o feitiço, o caldeirão explode liberando um grande raio
de luz esverdeada e reluzente, com seu brilho é possível ver apenas uma pedra
luminosa. Suzana havia conseguido.
Abaixo da assinatura do mago, havia a seguinte informação:

Atenção: o resultado derivado do feitiço deverá ser usado exatamente à meia-


-noite, perto do lugar de desapego dos entes queridos. Estando posicionado sobre
a lua, diga as seguintes palavras:
“Aos que tiveram a oportunidade de partir, mas não de voltar, eu ordeno
agora que retornem!”
“Do mar, terra e lava, se levantarão sem tardar, Simon, Helena e Thomas.”

Então, com a pedra e as palavras certas, Suzana subira em seu cavalo e par-
tira para o rio que cortava os reinos. Chegara lá exatamente às vinte e três horas
e cinquenta e sete minutos, e já descera do cavalo e segurara a pedra nas mãos
aguardando os poucos minutos para a lua se alinhar com sua sombra, sem notar
que ali tinha mais alguém a lhe observar.

20
É chegada a hora Suzana move a mão em direção à margem do rio e pro-
nuncia as palavras mencionadas no pergaminho; então o cristal vibra e sua magia
ilumina seu interior, o chão treme e se racha no meio abrindo uma enorme
ravina. Eis que dos confins da terra, Suzana ouve gritos e choros de lamentações,
mas seus irmãos não se fizeram presentes ali, tudo o que ela conseguiu foi que
seres estranhos que emergiam dos confins a perseguissem, mas rapidamente a
mesma pegara sua espada e partira para se defender. Contudo eles eram muitos
e sua única alternativa seria recuar, assim a rainha volta para seu reino onde é
recebida por uma chuva demasiada e grosseira pouco antes de chegar aos portões
de seu vilarejo.
Chegando em seu castelo, encontra as luzes todas apagadas e seus servos
dormindo em seus retiros. Era provavelmente a primeira vez em sua vida que ela
estava sozinha de verdade. Ela subiu para seus aposentos e tentou dormir, mas os
trovões e os raios a fizeram ficar de olhos abertos, ela não conseguia entender o que
tinha dado errado naquele feitiço. Parecia tão certo que seus irmãos iam voltar.
E enfim, na manhã seguinte, o cheiro do fracasso era persistente. Ela preci-
sava de alguém para se distrair um pouco e o bobo da corte nunca fora interes-
sante, que dirá engraçado.
– Ilda, quero que você me traga Elias! – grita a rainha, ordenando que a
dama busque imediatamente um cavaleiro para executar o serviço.
– Mas, Majestade, não sabemos onde o senhor Elias está! – responde Ilda.
– Vai logo, Ilda! – ordena a rainha, tomada por sua prepotência.
– Sim, Vossa Majestade! – finaliza Ilda.
Ilda desce correndo as escadarias e chega à esplanada do castelo, lá estava
Grimório, um cavaleiro de Kwazahdar. Bem honrado com sua armadura e espada.
Antes que o nobre cavaleiro pudesse desejar um bom dia, a dama o interrompe.
– Bom d.... – gagueja o cavaleiro.
– Grimório, a rainha Suzana quer que você traga o almirante do rei Thomas
aqui, imediatamente! – interrompe a dama, quase sem ar.
– Tudo bem!
– Meu preço é quarenta triontos de ouro. – responde Gremório, com
suas brincadeiras.
– Vai ousar cobrar uma dama? – pergunta Ilda, imaginado o absurdo.
– Pra você é vinte, gracinha! – responde o cavaleiro, tomando liberdade
para com a dama.
– Abusado! – murmura Ilda, estendendo sob a face do cavaleiro um tapa.
– Que é isso, gracinha? – responde Gremório, carregando seu susto repentino
e a marca ardida do tapa de Ilda.
– Vá logo! – grita Ilda.
– Vamos Argus! Temos trabalho, amigo. – sussurra Gremório, ao seu cavalo
enquanto montava no mesmo.

21
Ilda volta correndo para o grande salão e informa para sua rainha que sua
mensagem havia sido enviada com sucesso, aproveitando assim para denunciar
as investidas de Gremório.
– Alteza, pedi para Gremório ir em busca de Elias.
– Quem é Gremório, Ilda? – pergunta Suzana, desacreditada na capacidade
de Ilda de sempre esquecer de apresentar detalhes.
– Um dos cavaleiros de seu irmão, Majestade! – responde Ilda.
– Qual irmão, Ilda?
– Tenho dois, especifique! – fala Suzana, se convencendo, de que precisaria
de muita paciência para aturar as trapalhadas de sua dama de companhia.
– O rei de Kwazahdar, Majestade! – responde Ilda.
– Simon?
– Mas o que um cavaleiro do Simon faz por aqui? – pergunta Suzana, com
sua curiosidade aflorada.
– Ele estava amarrando seu cavalo no estábulo do castelo, Majestade! –
responde Ilda.
– Estranho! – sussurra Suzana.
– Ele me cobrou pelo serviço, majestade! – denuncia Ilda, colocando em
seu rosto um sorriso tímido.
– Quanto? – pergunta Suzana, não contendo sua escandalosa risada, com
os abusos sofridos pela dama.
– Quarenta triontos de ouro! – responde Ilda.
– Que insolência!
– Quero que você traga ele aqui, Ilda! – grita Suzana.
– Ele virá com Elias, Majestade! – responde Ilda.
– Você não parece muito incomodada com isso!
– Tem certeza de que não gostou, Ilda? – pergunta Suzana, notando as
bochechas rosadas de Ilda e seu sorriso tímido.
– Toda a certeza que não, Majestade! – responde Ilda, ficando ainda
mais envergonhada.
– Compreendo! – responde a rainha.
Ao chegar no castelo de Agaroff, Gremório é surpreendido nos portões de
entrada por dez soldados apostos. Eles estavam armados com espadas e lanças.
Gremório desce de seu cavalo e o general do exército se aproxima fala:
– Ninguém entra em Agaroff!
– O que houve com Agaroff?
– Pensei que vocês fossem mais receptivos com um irmão de batalha! –
fala Gremório.
– Identificação, por favor! – pede o general, a identificação do cavaleiro
para análise.

22
– Gremório Wytiz, cavaleiro chefe, da guarda real de Kwazahdar!
– Sétima honraria na Ordem d´Aquino!
– “Espada de fogo, escudo de ouro”. – responde Gremório, informando o
bordão da sua honraria dentro da ordem d´Aquino.
– Oh, desculpe, senhor!
– Abram alas para o chefe dos cavaleiros de Kwazahdar! – grita o general
aos outros soldados, para que saissem do caminho de Gremório.
Ao entrar na esplanada principal do castelo, o cavaleiro se depara com
milhares de outros soldados com arcos e flechas localizados acima dos muros,
perto das portas e janelas. Gremório, caminhando em direção ao estábulo real,
amarra seu cavalo e segue para o salão principal, encontrando, assim, Abraham,
um dos principais cozinheiros do castelo que estava fugindo em sua charrete.
– Ouça, senhor..? – pergunta Gremório, gaguejando, por não saber o nome
do homem.
– Abraham! – responde o cozinheiro.
– O que está havendo aqui? – pergunta Gremório, ainda não entendendo o
alvoroço das pessoas, que corriam desesperadas em direção às suas casas.
– Todos os servos estão abandonando o reino. Não há regente para assumir
o trono de Agaroff. – responde o cozinheiro.
– Onde está Elias? – pergunta Gremório.
– Pelo que ouvi, Elias está no parlamento! – responde o cozinheiro.
– Parlamento?
– Desculpe, senhor, mas isso é impossível!
– Ainda que o parlamento esteja em terras Triontinas, o próprio rei Thomas
deixou bem claro que não temos nenhuma relação amigável, ou comercial com
eles. – fala Gremório.
– Bom, foi isso o que ouvi! – responde o cozinheiro, tentando se esquivar
das demais perguntas do cavaleiro.
– E como chego lá? – pergunta Gremório, com a estranheza da informação
passada pelo cozinheiro.
– Fica em Linowland, terras ao leste de Agaroff.
– Depois da floresta de araucárias! – responde o cozinheiro.
– Obrigado! – agradece Gremório.
Gremório pega seu cavalo no estábulo, monta e segue para o parlamento.

23
– Capítulo 3 –

O palácio dos gnomos

C hegando na entrada do parlamento, Gremório vê uma grande escadaria,


paredes esculpidas em ouro e várias colunas feitas de pedra branca susten-
tando a grande construção triangular que sobrepunha o recinto, via também,
reis de outros lugares transitando com suas carruagens e cavalos. Por último ele
vê um enorme campo onde as Majestades deixavam seus cavalos aos cuidados de
Athlas, um anão para lá de arrogante que trabalhava limpando e dando comida
aos animais próximos ao parlamento.
– Bom dia! –fala Gremório.
– Bom dia, senhor!
– Em que posso ser útil? – pergunta Athlas, estendendo uma maçã ao cavalo
de Gremório.
– Aqui é o parlamento? – pergunta Gremório.
– Sim, senhor! – responde Athlas.
– Então, você poderá ser útil!
– Como faço para entrar? – pergunta Gremório.
– As portas do parlamento, estão abertas apenas para a realeza e membros
do parlamento, senhor!
– Cavaleiros e serviçais não podem entrar! – responde o Athlas, represen-
tando toda sua arrogância e ignorância.
– E o que lhe faz pensar que eu não sou da realeza, homenzinho? – pergunta
Gremório, acrescentando seu deboche pelo tamanho de Athlas.
– Talvez o cavalo e a armadura! – responde Athlas, olhando o cavaleiro de
baixo para cima.
– Leve meu cavalo, homenzinho! – pede Gremório, descendo do cavalo.
– Meu nome é Athlas, senhor! – responde Athlas, mostrando ao cavaleiro
que não gostaria de ser chamado por outro nome, a não ser o seu.
– Tudo bem, Athlas! Apenas leve meu cavalo! – pede Gremório, ignorando
as investidas do anão para tirar-lhe do sério.
– Sim, senhor! – responde Athlas, amarrando o cavalo de Gremório.
Então, Gremório sobe as escadas do parlamento, onde é parado por
um goblin.
– Ah, fala sério, mais anões? – debocha Gremório.
– Não sou um anão, senhor!
– Sou um goblin! – responde o goblin.
– Goblins? Pensei que vocês estavam extintos! – surpreende-se Gremório,
tendo em vista a ausência das criaturas místicas em seu tempo.
– Nenhuma criatura mística está realmente extinta, senhor!
– Fadas, anões, gnomos, goblins e outras criaturas místicas, vivem escondidas
dos humanos nas florestas.
– Outras trabalham para eles! – responde o goblin.
– Você trabalha para o parlamento? – pergunta Gremório.
– Não. Trabalho para minha rainha, Helena! – responde o goblin.
– Helena de Castindell? – pergunta Gremório, surpreendido ao achar que
se tratava da Sua Majestade.
– Não!
– Helena de Losmalt. – responde o goblin.
– Entendo! – fala Gremório.
– Ficarei honrado, em lutar por Trionte quando a guerra chegar! – fala
o goblin.
– Guerra?
– Que guerra? – pergunta Gremório, desencaminhado.
– A guerra milenar de Trionte.
– O senhor pode nunca ter ouvido falar, mas as criaturas da floresta, mur-
muram há séculos sobre a guerra prometida pelo majestoso Imperador Matoel!
– responde o goblin.
– Imperador Matoel?
– Nunca ouvi falar! – fala Gremório.
– Há mil anos, Trionte era povoada por nativos que viviam na floresta, eles
não eram civilizados, não tinham funções, nem deveres.
– E as criaturas, não precisavam temê-los, pois, eles eram como nós, fazíamos
parte de um só povo e não existiam guerras sangrentas, ou doenças congiosas
como a peste...
– Mas tudo mudou, quando um povo vindo do oriente desembarcou em
Agaroff, a partir daí, eles começaram primeiro com uma pequena clareira.
– Das árvores derrubadas, fizeram casas, das casas, fizeram grandes vilas,
depois, veio a época da mineração, então, extraíram ouro e esmeraldas, bem
como, toneladas e toneladas de pedras, com as quais construíram um enorme
castelo no meio da floresta, ao término da construção do primeiro reino, eles
deram-no o nome de Hondor, em homenagem à divindade que acreditavam ser
deus do fogo e do sol.
– Vendo toda a devastação, que o homem fazia em prol do progresso e das
ambições, as criaturas se espalharam e com o tempo desenvolveram aquilo que

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podemos chamar de proteção, invisível aos olhos da humanidade, entretanto,
com o tempo, o Imperador Matoel, enxergou os males que eles haviam feito aos
nativos e tomou a dor deles para si.
– Um dia o rei Haseniff, irmão do Imperador, começou a agir contra os
nativos, ele os perseguiu, os aprisionou e usou seus poderes para aperfeiçoar sua
magia, com interesses maléficos, causando assim a morte das mesmas.
– Contudo, o Imperador Matoel, não se agradou das maldades do rei e caiu
em desgosto, quebrando, assim, a aliança da irmandade entre eles, e, dividindo
o reino de Hondor em dois, reinos de Adagun e Eldeen.
– Foram divididas também as terras e os povos: Haseniff foi para o Sul,
onde reergueu seu reino e Matoel tomou Trionte para seu império, a partir daí
a paz reinou, até o imperador Matoel declarar guerra ao reinado de Haseniff.
– Assim, os dois, cruzaram as espadas no campo de batalha, até, que
uma enorme luz branca incandescente, surgiu no céu e os dois reis sumiram
para sempre!
– O tempo passou e os reinos de Adagun e Eldeen prosperaram e se difundi-
ram por enormes extensões territoriais, criando, assim, outros reinos governados
por descendentes diretos destes.
– Mas eu não sei o nome dos reinos, nem de seus governantes! – explica
o goblin.
– É uma bela história! Mas acredito que não haverá guerras!
– Trionte tem outras prioridades no momento!
– Estamos enfrentando praticamente uma guerra diplomática com o par-
lamento pela divisão das terras Triontinas!
– Acham que podem mandar nos reis, só por que desejam estabelecer uma
república em Linowland, que tolice! – debocha Gremório.
– Não acredito que estamos salvos!
– O mal ataca em momentos incertos! – responde o goblin, indicando ao
cavaleiro que todos corriam perigo.
– Bom, tenho que ir! – fala Gremório, retomando sua caminhada.
– Quem procuras não está aí dentro! – fala o goblin.
– Impossível! Agaroff não erra! – fala Gremório, convicto da certeza expressa
pelo cozinheiro, que por sua vez, também era devoto de Agaroff.
– O almirante do rei Thomas saiu há alguns minutos do parlamento! –
responde o goblin.
– Como sabe que eu busco o almirante do rei Thomas? – pergunta Gremó-
rio, ainda não se dando conta de que falava com uma criatura dotada de poderes
que se estendiam além de sua compreensão.
– Sou uma criatura mágica, senhor Gremório!
– Trabalhar para humanos não diminui minha essência mística, nem
meus poderes.

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– Vá e lembre-se, o que você busca está nas ruínas do passado!
– Lá a história desta vasta terra se esconde e a origem de todos nós também!
– finaliza o goblin.
Gremório desce a escadaria do parlamento, enquanto maquinava a história
do goblin que havia achado absurda.
– Senhor, o.... – gagueja Athlas, tentando informar ao cavaleiro que sua
montaria havia mordido uma das estacas de madeira do campo.
– Saia da minha frente, homenzinho!
– Dê-me meu cavalo! – finaliza Gremório, empurrando o anão.
Então, Gremório sobe em seu cavalo, olha para o goblin que estava sendo
levado por luzes flutuantes e intensas que impossibilitavam ver seu corpo, e volta
velozmente para Dyllewalt.
Ao chegar no reino, Gremório desce e leva seu cavalo para o estábulo. Ilda,
que espiava na janela do quinto andar da torre oeste do castelo, correu para
receber o cavaleiro.
– Gremório, cadê o serviçal do rei Thomas?
– Preciso falar com a rainha Suzana, Ilda! – fala Gremório, descendo as
pressas de sua montaria.
– Mas o que houve? – pergunta Ilda, agarrando com suas mãos os braços
de Gremório.
– Depois falo com você!
– Leve-me a até ela agora! – fala Gremório.
Com isso, Ilda interrompe a rainha que estava em seu salão de jantar.
– Majestade?
– Sim, Ilda? – responde Suzana.
– O cavaleiro de Kwazahdar está aqui para ver a Vossa Majestade!
– Diga que eu não estou disposta no momento! – fala Suzana, sem notar a
presença do cavaleiro, que estava oculto pela sombra proveniente da porta fechada.
– Mas... – gagueja Ilda, tentando avisar sobre a presença do cavaleiro.
– Com licença, Alteza, mas o almirante do rei Thomas não estava em seu
castelo! – fala Gremório.
– Onde ele estava? – pergunta Suzana, esmagando sua taça de vidro por sua
raiva em não obter o que desejava.
– No parlamento, majestade! – responde Gremório, assustado.
– E onde ele está? – pergunta Suzana, tentando conter sua raiva.
– Bom, assim que eu cheguei no parlamento, Elias já havia partido! – res-
ponde Gremório.
– Você entrou no parlamento? – pergunta Suzana.
– Não tive a oportunidade, Alteza! – responde Gremório.
– Então, como você sabe? – pergunta Suzana, supondo uma mentira vinda
de Gremório.

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– Um goblin, Alteza! – responde Gremório.
– Goblin? Bobagem! Os goblins estão extintos há séculos! – fala Suzana,
debochando do cavaleiro.
– Este não, Majestade!
– Ele falou umas coisas sobre uma profecia de Trionte! – responde Gremório.
– Profecia? – pergunta Suzana, assustada por já saber sobre a profecia desde
sua visita ao castelo em ruínas.
– Sim, sobre os reis fundadores de Trionte, guerras.... – fala Gremório.
– Você acredita nessas coisas, sir? – pergunta Suzana, olhando assustada
para Gremório.
– Gremório, Majestade!
– E não!
– Não acredito nessas coisas! – responde Gremório, mentindo por medo de
ser confundido com um bruxo e consequentemente levado à fogueira.
– E, o que fazia em Dyllewalt? – pergunta Suazana.
– Vim comprar uma sela para meu cavalo, Alteza! – responde Gremório.
– Acabaram tendas de mercadores em Kwaizahdar, foi? – debocha Suzana
em sua pergunta.
– Não, Majestade!
– É que em Dyllewalt, os acessórios são mais baratos! – responde Gremório.
– Ahh!
– É verdade, Majestade! Eu fui nas tendas daqui semana passada e.... –
gagueja Ilda, tentando explicar, em defesa do cavaleiro.
– Cale a boca, Ilda! – grita Suzana, controlando a língua da dama.
– Por que a maltrata? – pergunta Gremório, notando a injustiça da rainha.
– Isso não é da sua conta, cavaleiro!
– Ponha-se no seu lugar! – grita Suzana, repreendendo Gremório.
– Meu dever é defender todos aqueles que necessitarem da minha ajuda,
Alteza! – responde Gremório, desafiando a rainha.
– Aqui quem decide quem é bem tratado, ou não, sou eu!
– Entendeu? – grita Suzana, obrigando-o a respeitar sua soberania.
– Sim, Majestade!
– Com Licença, Majestade! – responde Gremório, planejando fugir com
a dama.
– Vamos, Ilda! – fala Gremório, pegando no braço de Ilda e puxando-a até
a saída.
– Para onde, Gremório? – pergunta Ilda, assustada.
– Para Kwaizahdar! – responde Gremório.
– Não posso, Gremório!
– Meu reino é Dyllewalt! – fala Ilda, demonstrando sua lealdade para com
a rainha.

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– Você prefere ficar aqui, sendo maltratada por essa maluca? – pergunta
Gremório aos gritos.
– A rainha Suzana, passou maus bocados depois que seus irmãos se foram.
– Tenha calma com ela! – responde Ilda, defendendo a rainha.
– Calma? Perdoe-me, mas eu não tenho paciência para quem paga de boa
gente e pelas costas pisa e enterra pessoas inocentes!
– Em Kwaizahdar, você seria respeitada! – fala Gremório, aumentando as
esperanças de Ilda em Kwaizahdar.
– Eu agradeço o convite, mas devo ficar! – responde Ilda, apartando-se
do cavaleiro.
– Você quem sabe! – fala Gremório.
– Ilda! – grita Suzana, quebrando os pratos e taças do grande salão de jantar.
– Já estou indo, Majestade! – responde Ilda.
Ilda vai ao encontro de Sua Majestade, correndo e Gremório parte para
Kwaizahdar em seu cavalo.
Já em seu reino, o cavaleiro é surpreendido por Eleonor, uma das damas
da corte triontina.
– Sir Gremório? – clama a dama, na tentativa de reconhecer o cavaleiro.
– Sim? –responde Gremório.
– O senhor foi nomeado pela corte triontina, para assumir o trono do reino
de Kwaizahdar. – fala Eleonor.
– Não tenho interesse em assumir nenhum reino! – responde Gremório,
esquivando-se de sua responsabilidade.
– A corte triontina o obriga por falta de regentes! – responde Eleonor.
– Sendo assim....
– Eu assumo! – fala Gremório, sem alternativas.
– Ótimo, entre em seu castelo!
– Seus serviçais já o aguardam no grande salão! – finaliza Eleonor
– Tudo bem, só vou guardar meu cavalo! – responde Gremório, descendo
de seu cavalo e amarrando-o no estábulo.
No grande salão, Gremório se depara com cerca de cento e quarenta serviçais
arrumando o lugar, caminhando sob os enormes corredores, Gremório podia ver
seu reflexo e o do candelabro de cristal no chão do castelo, tal como as cortinas
de cor verde folha e os vitrais.
Aproximando-se de um dos serviçais, Gremório fala:
– Bom trabalho, Ingston!
– Obrigado, Gremório!
– Soube que você foi nomeado o regente de Kwaizahdar. – fala Ingston.
– Sim. Mas isso não irá mudar a amizade que tenho com todos! – responde
Gremório, não relevando sua humildade.

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– Que bom ouvir isso, Majestade! – fala Ingston.
– Por favor, me chame de Gremório!
– Não quero que as coisas mudem por aqui!
– Nosso rei é Simon Blackston! – responde Gremório, imortalizando seu rei.
– Simon Blackston está morto!
– Você é nosso rei agora! – fala Ingston.
– Não acredito que nosso rei esteja morto!
– Agora, se me der licença, irei subir e descansar um pouco! – responde
Gremório, exausto.
– Entendido! – fala Ingston.

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– Capítulo 4 –

Um grande milagre

A pós o naufrágio, Thomas e Helena são levados pela correnteza até uma
ilha com pouca vegetação. Ao acordar, Thomas levanta da areia com um
semblante perturbado olhando para os lados à procura de seus irmãos, porém só
encontra Helena desmaiada a cinquenta tocos de distância dali. Ele corre para
ajudar a irmã.
– Helena?
– Helena, acorda! – grita Thomas, agarrando sua irmã pelos braços e
a sacudindo.
– Thomas?
– Onde a gente tá? – pergunta Helena, tonta.
– Não sei!
– Vem, levanta! – fala Thomas, segurando-a.
– Estamos em uma ilha, Tom! – murmura Helena, enquanto olhava para
a mata assustada.
– É, parece que sim! – responde Thomas, também olhando para a mata.
– O que faremos? – pergunta Helena, retornando o olhar para seu irmão.
– Precisamos de abrigo! – responde Thomas, olhando fixamente para um
graveto que vinha boiando nas ondas.
– Como vamos fazer abrigo?
– Não temos nada! – fala Helena, notando a ausência de recursos para
a construção.
– Venha!
– Vamos achar um jeito! – responde Thomas, ajudando a irmã a levantar
da areia.
– Precisamos primeiro achar comida.
– Veja se você consegue alguma coisa naqueles matos ali. Eu vou tentar pegar
alguns peixes no meio destas rochas. – fala Thomas, iniciando a busca por comida.
Caminhando entre o enorme labirinto de rochas, Thomas encontrou vários
crustáceos e algas que poderiam servir de alimento, mas nenhum peixe. Já Helena,
encontrou algumas ervas medicinais e algo maior do que esperava achar em uma
ilha aparentemente tomada pela escassez. Lá estava, no desnível do solo, sob o
horizonte, um vilarejo de proporções consideráveis.
A mesma, então decidira chamar
seu irmão para que ele testemunhasse Dyllewalt
tal descoberta.
– Thomas!
– Tom! – grita Helena, buscando
seu irmão.
– O que foi, Helena? – per-
gunta Thomas, ocupado, catando
os crustáceos.
– Venha ver isso! – grita Helena,
enquanto sorria e vibrava de felicidade.
– Mas como pode? – pergunta
Thomas, sem entender.
– Isso é um milagre! – responde
Helena, compartilhando da reação
do irmão.
– Você acha que eles são hostis?
– pergunta Helena.
– Pelo tamanho da muralha,
acho que não!
– São muito desenvolvidos em
técnica de defesa para serem hostis.
– Vamos lá, Helena! – responde
Thomas, analisando as características
básicas de defesa do lugar.
Diante das enormes muralhas,
os dois são pegos por um grupo de
nativos da ilha que os cercam e os
aprisionam em uma jaula feita de
bambu, levando assim os irmãos para
uma caverna junto ao labirinto da praia. Lá, só era possível ver uma pequena
fogueira e osso do que parecia ser um animal marinho de grandes proporções,
ao jugar pelo tamanho de seus ossos. Helena, assustada, decide então perguntar
a seu irmão se ele tinha algum plano para tirá-los dali.
– Thomas!
– O que faremos?
– Esses seres são pouco inteligentes e se comportam como primatas. Bambu
é um material pouco resistente. – responde Thomas.
– Bela observação, gênio!

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– Eu me referia ao seu plano para sairmos dessa jaula. – zomba Helena, das
explicações cheias de fundamentos de seu irmão.
– Se você deixasse eu terminar de falar, pode ser que você entenda o que
eu quero dizer!
– Como eu estava dizendo...
– Com um chute sairemos daqui, mas precisamos encontrar o momento certo!
– Eu arriscaria durante a noite. – responde Thomas.
– E se eles forem canibais? – pergunta Helena, imaginando a possibilidade
de ser comida.
– Aí estamos ferrados! – responde Thomas, espiando os nativos pela grade
de bambu.
Com a presença da noite, os nativos começam um ritual estranho que con-
sistia em oferecer os irmãos em sacrifício à Hondor para que ele derramasse suas
bênçãos sobre eles, com isso, Thomas percebe a presença da mitologia seguida
pelos antigos na vida daquele povo.
No local onde seria realizado o sacrifício existia um grande círculo desenhado
sobre a areia e mais dois que sobrepunham o mesmo. À volta do ponto central,
existiam algumas tochas feitas da casca da árvore de Hassarim, uma espécie que
tinha como características principais sua folhagem preta e seu perfume hipnótico
muito usada na caça e encontrada em grande quantidade na ilha.
O líder dos nativos então chega e inicia a prática do ritual, evocando algumas
palavras nunca antes vistas pelos reis, enquanto jogava em meio ao círculo, um
pó estranho e inflamável ao tocar em qualquer superfície sólida.
– Hanuakum, idmaual, sheode, niocatu, izopaonaluton, isensoriam, isa-
fua, solranim...
– Você sabe que língua é essa, Thomas? – pergunta Helena.
– Nunca vi essa língua! – responde Thomas, foleando o pequeno diário
deixado pelo seu pai, que havia tirado há poucos minutos do bolso em busca
de respostas.
– O que faremos agora? – pergunta Helena, expressando sua perturbação
por não achar saídas em sua mente.
– Vamos pular fora desse culto! – responde Thomas.
– Você pirou?
– Tem muitos deles! – fala Helena, segurando o braço do irmão que quase
esbofeteou a grade e estragou todo o plano.
– Nos escondemos nas rochas – responde Thomas, acalmando a irmã com
seu plano pós-fuga.
– Mas... – gagueja Helena, receosa.
– Helena, confie em mim!
– 1, 2, 3, agora! – fala Thomas, pedindo cooperação da rainha.

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Thomas consegue correr e se esconder nas rochas, porém sua irmã não tivera
a mesma sorte, pois enquanto corria, alguns nativos acompanharam seus movi-
mentos e a seguraram pela perna, impossibilitando, assim, maiores movimentos
da parte da rainha. Thomas no intuito de ajudar a irmã, rapidamente analisa
a área a sua volta em busca de algo que pudesse ajudar no combate contra os
nativos. Ele encontra um cacho de cocos podres que destacou e aos poucos foi
arremessando na cabeça dos perseguidores, deixando-os assim, desacordados.
De frente às muralhas que protegiam o lugar, um soldado que vigiara a torre
de madeira pergunta aos reis viajantes:
– Quem são vocês?
– Mostrem os rostos!
– Somos reis de Trionte! – grita Helena, percebendo a altura da muralha e
o entendimento do soldado.
– O que querem aqui? – pergunta o soldado aos gritos.
– Queremos abrigo por alguns dias. – grita Thomas.
– Um momento, por favor! – responde o soldado também aos gritos.
– Chame a rainha! – cochicha o soldado, com outro soldado.
– Pois não Majestades, podem entrar! – grita o soldado, após obter a auto-
rização para a entrada dos reis.
Ao entrar, Thomas e Helena ficaram admirados com toda aquela ilumina-
ção demasiada que emanava das casas, nunca fora igual em Agaroff e Castindell,
pois lá tudo era sempre escuro, com exceção das festividades. Logo, o soldado
prossegue com as ordens até a chegada da rainha.
– Fiquem aqui! – pede o soldado, para que os reis aguardassem a chegada
da rainha.
– O que está havendo aqui Linow? – pergunta a rainha, muito bem vestida,
que vinha ao longe ultrapassando.
– Esse homem diz ser rei de Trionte! – responde o soldado.
– Trionte? As terras maravilhosas? – pergunta a rainha, surpreendida.
– Sim, Sua Majestade! – responde Thomas.
– Vamos para dentro! – fala a rainha colocando o casaco que usara na rainha
e os acolhendo.
Caminhando dentre o vilarejo, logo a neblina cai e se torna nítida a ima-
gem de um grande castelo, os irmãos mais uma vez se admiram com a vista, se
o vilarejo já era bonito, que dirá o castelo. Pois bem, era enorme e ao seu redor,
bem como o próprio vilarejo, existia um lindo bosque com inúmeras árvores
frutíferas e uma vastidão de plantas muito raras.
– Pensamos que aqui fosse uma aldeia, ou algo do tipo. – fala Thomas,
parando diante do castelo.
– Bom, nosso vilarejo é pequeno, mas existe um reino aqui. – fala a rainha,
com sua doce voz.

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– Onde estamos exatamente? – pergunta Helena, ainda sem acreditar no
que via.
– Lostmalt! – responde a rainha.
– Já ouvi falar de vocês; “Lute como um guerreiro, mate como um justi-
ceiro”. – fala Thomas, lembrando o bordão dos reis de Lostmalt que havia lido
em um livro.
– Isso! – fala a rainha, confirmando a informação.
– Qual seu nome? – pergunta a rainha à Thomas.
– Eu sou Thomas e minha irmã se chama Helena! – responde Thomas.
– Prazer, H. Mitrelli!
– Rainha de Lostmalt. – fala a rainha.
– Majestade, estamos prontos para receber o carregamento de armas do reino
de Dulawnzeh! – informa o goblin, lembrando à rainha sobre o carregamento
para o melhoramento de seu arsenal.
– Excelente! – responde a rainha.
– Oh, Sua Majestade!
– Encontrei-me com seu cavaleiro há poucos dias no parlamento – fala o
goblin, se curvando diante de Thomas.
– Cavaleiro?
– Mas eu não mandei nenhum cavaleiro ao parlamento! – responde Thomas,
desconhecendo tal cavaleiro.
– Ele estava atrás de seu conselheiro. – fala o goblin.
– Tá bom, Maly!
– Você já falou demais!
– Ahh, esse é Maly! Meu goblin.
– Muito tagarela! – interrompe a rainha.
– Goblin?
– Mas eles não estavam extintos? – pergunta Thomas.
– Grande parte, sim!
– Resgatamos este na praia há cinco anos!
– Vamos entrar, seria melhor os moradores não verem vocês!
– Eles detestam estranhos. – responde a rainha, praticamente empurrando
os reis para o interior o castelo.
Chegam ao salão principal onde existia uma escada que se dividia em uma
bifurcação. Assim rainha fez com que os dois irmãos passem a noite no castelo,
afirmando que já estava tarde para prosseguirem sua jornada.
– Preciso insistir que fiquem!
– Temos excelentes quartos aqui.
– Lado direito, Homens, lado esquerdo, Mulheres!
– Fiquem à vontade! – explica a rainha, indicando os quartos com seu
braço direito.

37
Durante a madrugada, Thomas só conseguia pensar no quão estranha era
aquela rainha e no que seu goblin havia dito para ele, tudo isso era muito difícil
de compreender. Thomas decidiu sair de seu quarto e procurar Helena para inda-
gá-la sobre o caso e, por coincidência, a mesma estava de pé diante da janela. O
rei então bateu na porta de seu quarto e quase sussurrou a chamando.
– Helena?
– Você está bem? – pergunta o rei.
– Sim, Thomas.
– Estou sim! – responde Helena.
– Eu não consigo dormir – fala Thomas.
– Bem. Nem eu!
– Na verdade, estive a noite toda pensando sobre o que aquele goblin falou.
– fala Helena.
– Acho estranho o fato da pequena criatura se referir a mim como um
alguém íntimo! – responde Thomas, caminhando em direção à janela e direcio-
nando seu olhar ao lado de fora.
– Thomas, não te inquieta saber que um cavaleiro seu saiu de seu reino
e foi até o parlamento sem uma ordem sua? – pergunta Helena, olhando para
seu irmão.
– Meus servos são muito leais a mim, Helena!
– Duvido que um deles tenha realmente saído sem a autorização de um
superior, ainda mais sabendo de minha proibição de qualquer parceria com o
parlamento – responde Thomas.
– Mas você é a autoridade máxima em Agaroff e em Trionte!
– É o mais velho dos irmãos! – fala Helena, exaltando seu irmão.
– Ser rei não exige só idade, ou autoridade, Helena.
– Exige também muita sabedoria!
– Por isso, divido meu governo com generais e almirantes.
– Pois, abaixo de mim, eles são a autoridade máxima em nossas terras –res-
ponde Thomas, se orgulhando da certeza de nunca ter cometido a irresponsabi-
lidade de deixar os reinos sem regente.
– Mas você vai procurar saber quem foi que mandou um soldado seu ao
ministério, não é? – pergunta Helena, sedenta por justiça.
– Nem sei se isso vale a pena, mas sim! – responde Thomas.
– Thomas, você acha que pode ter sido Suzana quem mandou seu cavaleiro?
– pergunta Helena, desconfiada da irmã por ter noção da megalomania da irmã.
– Isso é um absurdo!
– Suzana sabe muito bem que Trionte não se alia ao parlamento –responde
Thomas, defendendo a irmã e acreditando em seu lado certo.
– Pensa bem, Thomas. Suzana ficou sozinha. – fala Helena, tentando fazer
o irmão voltar a razão.

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– Não Helena, ela é nossa irmã!
– Não vou acreditar que ela nos traiu!
– Vou dormir, boa noite! – responde Thomas, se ausentando dos aposentos
da rainha.
Naquela madrugada, Thomas continuou sem conseguir dormir pensando
na possibilidade de ser traído por sua própria irmã, esse seria um duro golpe
para o mesmo e para Helena, mas ele não era um bobo e sabia do que Suzana
era realmente capaz para assumir o poder absoluto de Trionte.

39
– Capítulo 5 –

O início dos escombros

C om o nascer do sol, Thomas e Helena se encontram no jardim do castelo,


onde a rainha esperava ao lado de um enorme chafariz, junto a uma mesa
de banquete recheada.
– Bom dia, Majestades! – cumprimenta Mitrelli.
– O que é isso? – pergunta Thomas, apontando para o chafariz.
– Um chafariz. – responde a rainha.
– Em Trionte não temos isso! – fala Thomas.
– Sentem-se!
– Conte-me mais sobre Trionte, Thomas! – fala a rainha, demonstrando
interesse nas terras maravilhosas.
– Trionte é um lugar simples de povoados pobres, mas de uma beleza extraor-
dinária – responde Thomas.
– E o que torna Trionte tão bela? – pergunta Mitrelli.
– Além das belezas naturais?
– Sem dúvidas, a união banha nossa de nossa irmandade!
– Sabemos que temos uns aos outros em todos os momentos, sejam dias
ensolarados, ou chuvosos! – responde Thomas, enquanto Helena olha para seu
irmão aumentando assim sua admiração por ele.
Ao ouvir Thomas falar aquilo, Mitrelli começou a olhar para o vasto jar-
dim, de seus olhos caiu a primeira gota, seguida pela segunda. Thomas ficou
com remorso por ver a rainha tão deprimida e decidiu perguntar qual a razão
de tamanha amargura.
– Sua Majestade está bem?
– Sim, não vos preocupe! – responde a rainha, secando seus olhos com
a mão.
– Falei algo de errado? – pergunta Thomas, preocupado em ter desapontado
a rainha.
– Não, apenas me lembrei de meu irmão – responde a rainha, respi-
rando fundo.
Thomas e Helena se olharam ainda sem compreender a dor de Mitrelli.
Helena então decide perguntar o que houve com tal rei outrora não mencionado.
– Se me permite...
– Desejo saber o que houve com ele?
– Ele está muito mal desde que sua filha foi sequestrada – responde a rainha,
relembrando o passado.
– Sequestrada? – pergunta Thomas, surpreendido.
– Mas por quem? – pergunta Helena, frisando a testa ainda sem conse-
guir entender.
– Os seres das ilhas tropicais – responde a rainha.
– Nunca ouvi falar! – fala Thomas.
– Estão presentes na Mitologia Haglopeia – fala a rainha, citando a mitologia
em que estavam presentes todas as criaturas místicas de Trionte.
– Não temos acesso às obras literaturas, presentes fora de Trionte –res-
ponde Helena.
– Mas nós podemos ajudar seu irmão – fala Thomas, oferecendo-os para
a missão.
– Não podemos, não!
– Precisamos ir – responde Helena, tentando tirar a responsabilidade
das costas.
– Não, podemos sim, Helena! – fala Thomas, assumindo novamente
a responsabilidade.
– Thomas, o que você está fazendo?
– Temos que voltar a Trionte. – fala Helena, lembrando o irmão dos pla-
nos iniciais.
– Helena, um rei deve ajudar aos seus semelhantes, isso faz parte do
meu governo!
– Podemos, sim, Sua Majestade! – fala Thomas, pondo um fim na discussão.
– Ahh, isso é ótimo!
– Venham!
– Vou mostrar a vocês onde meu irmão está! – responde a rainha, empolgada.
Ela os leva até um quarto onde a única luz que clareava era a de uma janela
que dava para o porto do reino, seu irmão estava no canto da parede recuado
com a cabeça entre as pernas. Thomas pergunta aos cochichos para a rainha o
nome de seu irmão.
– Qual o nome dele?
– Howard! – responde a rainha.
– Rei Howard? – clama Thomas ao rei.
– Saia daqui!
– Não quero falar com ninguém!
– Foi você que os trouxe aqui, não foi?
– Sua bruxa!
– A culpa foi sua! – grita o rei, com seu psicológico quase dissolvido
pelo tempo.

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A rainha sai da sala chorando com seu desgosto. Thomas troca olhares com
Helena novamente e a mesma vai até a rainha para consolar-lhe.
– Rei, Howard!
– Eu também sou rei! – fala Thomas, na tentativa de acalmar o rei.
– Mentira! Ela lhe trouxe aqui para me envenenar – grita o rei, com seu
medo aflorado e suas acusações para cima de Mitrelli.
– Senhor, eu preciso que me conte o que houve!
– Eu quero ajudá-lo a salvar sua filha – fala Thomas, mais uma vez na ten-
tativa de acalmar o rei.
Howard, então, olha para Thomas e em seguida olha para a foto de sua filha
na parede, induzindo Thomas a mudar seu olhar para o mesmo ângulo.
– É ela? – pergunta Thomas, olhando a foto fixamente.
– Ela era só uma garotinha inocente – responde o rei, derramando suas
lágrimas depois de anos de sofrimento retido e loucuras.
– Senhor, me conte tudo para que eu possa o ajudar! – fala Thomas, se
agachando diante do rei.
– Você não entende? Eles a levaram! –grita o rei.
– Quem, senhor? – pergunta Thomas.
– Os demônios das ilhas tropicais – responde o rei.
– Onde fica essa ilha, senhor? – pergunta Thomas, mencionando sua falta
de conhecimento geográfico da área.
– Não, não se tem como chegar por mapas.
– A ilha é mágica. Todo o seu redor é repleto de investidas diabólicas –
explica o rei.
– E como chego lá? – pergunta Thomas.
– Reza o rito que você tem que ser tocado por HARAGUM para poder
achar a ilha e sobreviver aos demônios que lá habitam!
– Mas eu tenho uma coisa que pode lhe ajudar!
– Tome este escudo! – responde o rei, entregado à Thomas um escudo com
a gravura de um leão entalhada no mesmo.
– Mas para quê, senhor? – pergunta Thomas, curioso.
– Este é o escudo do reino de Eldeen – responde o rei.
– Quando o sol estiver alto no céu, consagre o escudo à HARAGUM e diga
que é o enviado de Eldeen.
– Ele abrirá o caminho para você! – fala o rei, aliviando seu peito.
– Mas a Sua Majestade é de Lostmalt!
– Por que está me dando isso? – pergunta Thomas, ainda não compreen-
dendo que havia sido presenteado com a chave para um portal.
– O destino escolheu você, jovem rei!
– Não tenho muito tempo, vá! – explica o rei, apressando Thomas.

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E ele sai do quarto, encontrando, assim, Helena e a rainha conversando,
ele conta sobre os detalhes expressos pelo rei Howard e a rainha menciona que
tem um navio que pode levá-los à mesma rota que o rei havia seguido anos atrás.
Lá se foram mais alguns meses de viagem até chegarem perto da localização
exata, Thomas faz todos os procedimentos mencionados pelo rei e ao levantar o
escudo para o céu, ouve-se uma grande trovoada, só então, o rei pode gritar que
era o escolhido de Eldeen.
Neste momento, o oceano liberou correntes que impulsionaram o barco em
direção ao horizonte, mas nada havia lá. Eles, então, decidem esperar até que o
sol se ponha novamente, eis que exatamente no momento em que o sol se pôs,
uma grande rocha subiu à superfície e pôde-se ver uma grande luz azulada descer
do céu criando terra e vegetação, das profundezas da rocha escorreu magma, do
oceano emergiram criaturas, metade ciclopes, metade humanas e, por último,
viu-se uma grande rajada de vento dar finalização à criação. Thomas e Helena
tinham acabado de testemunhar a criação de HARAGUM.
Decidido a acabar com aquele mistério, os reis com a ajuda da tripulação
colocaram o bote na água e prosseguiram a remadas. Ao desembarcar na praia,
os marujos que remaram até a terra firme retornaram ao navio por medo das
lendas envolvendo as criaturas, deixando, assim, os irmãos sozinhos, que são
surpreendidos pelas criaturas da ilha que se reuniram em bando para atacar-lhes.
Sendo assim, Thomas e Helena se armaram com suas espadas e isso fez com que
grande parte das estranhas criaturas recuassem; contudo grande parte persistiu.
E lá, estavam os dois reis em meio à areia da praia, lutando com aqueles seres até
que, em um momento, Thomas tem uma ideia excelente para salvar a si e a sua
irmã, eles se fingiriam de mortos com a intenção de serem levados ao mesmo
lugar para onde levaram a princesa.
Thomas então troca olhares com sua irmã e acena com a cabeça. Imediata-
mente, Helena compreende que deve fazer exatamente aquilo que Thomas fizer,
assim, os dois caem no chão e esperam o plano dar certo, mas acabam cansando
de esperar e dormindo. As criaturas observam de longe, ao mesmo tempo se
aproximando lentamente dos corpos imóveis. Então, ao amanhecer, os dois são
levados até uma clareira cheia de tendas e armas no meio da floresta, o lugar,
inexplicavelmente, parecia ser literalmente um paraíso. Os reis acordam olhando
para todos os lados, sem acreditar no ambiente presente ao seu redor e logo
podem ver uma bela dama que usara um vestido verde com detalhes floridos na
cor branca; ela era um tanto simpática.
– Vocês estão bem? – pergunta a bela dama, segurando a mão de Thomas
enquanto o ajudava a se levantar.
– Ahh, onde estou? – pergunta Thomas, ainda assustado.
– Não sei exatamente, mas você não está bem! – responde a bela dama, que
havia perdido a noção do tempo e do lugar em que estava.

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– Quem é você? – pergunta Helena.
– Eu me chamo Perla!
– E vocês? – pergunta a bela dama, estendendo em seu rosto seu belo sor-
riso branco.
– Chamo-me Helena e meu irmão chama-se Thomas!
– Você que é a princesa de Lostmalt? – pergunta Thomas, com seus olhos
brilhando por tamanha beleza da princesa.
– Como sabe sobre isso? – pergunta a bela dama.
– Seu pai me pediu para resgatá-la, Majestade! – responde Thomas.
– E você é servo de meu pai? –pergunta a bela dama.
– Não, somos reis de Trionte, bela princesa! – fala Thomas, reverenciando-se
diante da princesa.
– Uma realeza além de mim por aqui? Isso que é surpresa! – fala a bela dama,
sentindo-se sortuda por ter companhia.
– Sim, mas vamos andando! – fala Thomas, com medo do sol nascer, a ilha
imergir e todos ficarem presos.
– Seu pai, tem muita pressa em vê-la – explica Helena.
– Espere, eu não posso! – responde a princesa, assumindo seu compromisso
para com aqueles seres.
– Prefere ficar aqui? – pergunta Thomas, imaginando que a mesma havia
perdido a cabeça como seu pai.
– Eu tenho que ficar!
– Tenho que cuidar deles! – responde a princesa, olhando para os
seres deformados.
– O quê? Esses monstrinhos? – debocha Helena, imaginando o mesmo que
Thomas sobre a loucura da princesa.
– Eles podem enganar pela aparência e jeito bruto. Mas são bons!
– Eles até me deram esse colar de conchas que estou usando.
– Agora vão!
– Vocês ainda têm muito o que viver em Trionte! – responde a princesa, que
empurrava aos reis em direção à praia para que eles partissem.
– Mas o que diremos ao seu pai? – pergunta Thomas, tentando imaginar
o rei desapontado.
– Digam que prefiro ficar! – responde a princesa, mostrando seu poder
de decisão.
– Mas, princesa... – gagueja Thomas, tentando convencê-la.
– Voltem para aquele barco! – grita a princesa.
Thomas então acena com sua espada à mão para que os marujos retornem
à praia e voltando para o navio, mudam a rota da embarcação para Lostmalt.
No caminho, Helena está debruçada no corrimão de madeira olhando a ilha

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se distanciar cada vez mais do barco enquanto seu semblante mudou para um
semblante triste e amargurado, Thomas nota a tristeza de sua irmã e tenta puxar
conversa com a mesma.
– O que foi Helena? – pergunta Thomas, demonstrando em seu rosto sua
preocupação com a irmã.
– Sabe Tom...
– É que nós não temos mais rumo, Simon provavelmente morreu e o que nós
fizemos de gratificante para este mundo? – responde Helena com outra pergunta
que fez a cabeça de Thomas parar por alguns segundos.
– Helen, Nós somos grandes!
– Com um espírito magnífico.
– Isso não basta para você? – pergunta Thomas, convencido de que isso era
o bastante para eles.
– Sim, Tom. Mas não é tudo! – responde Helena, sentindo-se incompleta.
– Nós ajudamos pessoas, isso é muito bom! – fala Thomas, levando em
consideração os benefícios da caridade.
– Mas é que às vezes me dá uma sensação de vazio, entende? – pergunta
Helena, em sua explicação.
– Helen, desde que o mundo foi criado somos assim, sozinhos.
– Mas o segredo está em saber dividir seus fardos com alguém que se importe
com você.
– Isso lhe fará se sentir um pouco mais leve.
– Você não precisa se sentir só!
– Você tem a mim, tem a Suzana e tem o Simon! – responde Thomas, cla-
reando a escuridão que se formava na mente de sua irmã.
– Obrigada, Tom!
– Você sempre sabe como me confortar! – agradece Helena, se sentindo
bem melhor.
– É que eu já passei por esse vazio, Helen! – responde Thomas, relembrando
a grande prova que ele teve que passar.
– Você?
– Mas Você é sempre tão implacável! – fala Helena, desiludida com a per-
feição do irmão.
– Até o mais implacável, frio e sanguinário dos homens já foi uma pequena
criança e ansiava por amor e carinho.
– No meu caso, não tive isso!
– Tive que aprender a dura realidade das responsabilidades desde muito
cedo – explica Thomas.
– Nossa, Tom, eu não sabia disso! – responde Helena, com outros olhos
sob o irmão.

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– Você ainda era muito pequena, Helen!
– Não teria como se lembrar disso! – fala Thomas, tirando a culpa das costas
da rainha.
Então os dois irmãos se abraçam, Thomas coloca seu queixo por cima da
cabeça de Helena e continua observando o horizonte, enquanto fala na tentativa
de acalmá-la:
– Vai ficar tudo bem, Helen.
– Estamos indo para casa!

47
– Capítulo 6 –

O retorno do rei

C om a chegada da embarcação em Lostmalt, Thomas e Helena encontram


o vilarejo deserto e todas as casas fechadas por completas. Ambos então
dirigem suas atenções ao castelo onde podia ouvir-se um cântico fúnebre e sem
nada entender, os irmãos adentram o vilarejo em direção ao castelo, para desco-
brir a origem do funeral. Chegando no recinto, se deparam com um caixão que
vinha sendo trazido para fora por membros do mais alto escalão do parlamento.
Ao ver aqueles homens, Helena diz:
– Viu, Thomas?
– Eu avisei que a gente não deveria ajudar!
– Ele era um bom homem, Helena! – responde Thomas.
– Mas o que o parlamento está fazendo aqui então? – pergunta Helena.
– Não é nosso trabalho jugar isso!
– Além disso, somos contra o parlamento!
– Não contra esse pobre homem! – responde Thomas, afirmando que mais
valia o caráter do rei naquele último momento, do que suas preferências e escolhas.
– Tomara que você esteja certo, Thomas! – fala Helena, torcendo para seu
irmão acertar em suas palavras.
Logo chega a rainha aos prantos e Thomas decide perguntar quem havia
morrido, agravando ainda mais o sofrimento da rainha que, nem podia sequer
falar de tanto que chorava.
– O que está acontecendo aqui, Majestade?
– Buááá... – chora a rainha, enquanto fazia pequenas pausas para assoar seu
nariz em um lenço de seda que carregava.
– Thomas, qual é seu problema? – pergunta Helena, repreendendo seu
irmão pela inconveniência.
– O que foi? – pergunta Thomas, sem entender a delicadeza que a oca-
sião pedia.
– Meus pêsames Majestade! – fala Helena, apoiando sua mão direita sob o
ombro direito da rainha.
– Obrigada! – responde a rainha, contendo as lágrimas.
– Foi meu irmão!
– Ele amanheceu morto.
– Os médicos disseram, que Howard pode ter-se envenenado! – responde
a rainha.
– Mas onde ele achou veneno? – pergunta Helena, desconfiada.
– Não sei!
– Aqui no castelo nunca vi nenhum veneno!
– Os soldados estão estudando o quarto dele para ter mais verídicos! – fala
a rainha apontando para a torre onde localizava-se os aposentos do rei.
– Isso explica o porquê do parlamento! – responde Thomas.
– Nós temos uma notícia, Majestade! – informa Helena, indicando sobre
o acontecimento nas ilhas tropicais.
– Sim, desculpe o drama, Snif, Snif...
– Pode falar! – responde a rainha, com seu nariz vermelho devido ao choro
momentos antes.
– É que a princesa não quis vir conosco! – explica Helena.
– Sinto muito em ouvir isso!
– Howard, realmente gostava dela!
– Bom. Obrigada por tudo! – agradece a rainha, que neste momento achava
a informação bastante irrelevante, por só pensar na morte do rei.
– Sempre que precisar, conte com Trionte, Majestade! – responde Thomas,
iniciando uma nova aliança com Lostmalt.
– E vocês com Lostmalt!
– A propósito, tem uma embarcação lá no porto, esperando para levar-lhes
para casa.
– Seu nome é BlackCastle.
– Procurem no cais do porto! – informa a rainha.
– Acompanharemos o cortejo e depois partiremos, Majestade! – res-
ponde Thomas.
– Agradeço mais uma vez! – agradece a rainha, caindo mais uma vez em
prantos diante da imagem do caixão, que era carregado pelos guardas reais.
Os irmãos cumprem a promessa e a acompanham até o local de enterro,
depois os dois finalmente partiram para o cais, onde acharam a embarcação. Já
dentro da mesma, o capitão anuncia que eles irão demorar um pouco pela cir-
cunstância de haver um carregamento de maçãs em andamento e alguns barris
de cerveja, que seriam colocados cuidadosamente no porão da embarcação.
Thomas, que estava debruçado sob o corrimão de madeira do barco, de
repente começa a lembrar de seu tempo com aquela princesa, deixando escapar
um sorriso envergonhado e Helena rapidamente percebeu a felicidade do irmão
e decidiu perguntar o que acontecera para ele estar daquele modo, levando em
consideração que eles haviam acabado de sair de um enterro.
– Eu vi enh! – zomba Helena, ao perceber o sorriso de seu irmão.

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– Viu nada! – fala Thomas, esquivando-se da verdade.
– Lembraste de quem? – pergunta Helena, curiosa.
– Da princesa! – responde Thomas, estampando em si toda a sua sinceridade
ao mencionar que havia sido cativado pela mesma.
– Ah! Sério? – pergunta Helena, em seu tom de zombaria.
– Eh! – responde Thomas, entendendo que a irmã queria na verdade, apenas
curtir com os sentimentos seus sentimentos.
– Mas acho que não daríamos certo! – fala Thomas, desmotivado ao perceber
a dificuldade que a distância impunha em um possível relacionamento futuro.
– Você já tentou? – pergunta Helena, estimulando o irmão a continuar
acreditando em seu amor.
– Não! – responde Thomas.
– Então, como pode dizer que não vai dar certo? – pergunta Helena.
– Sabe, até que você está me saindo uma bela conselheira, sabia? –debocha
Thomas, do talento de aconselhar da irmã.
– Ri, ri, ri, essa foi boa! – responde Helena, expressando seu tom irônico.
– Ah, ah, ah!
– Vem aqui! – grita Thomas, enquanto corria atrás de Helena por todo o
convés em uma brincadeira íntima dos dois.
O capitão, então, chega e solicita que os dois parem de correr, sendo ao
mesmo tempo repreendido por Thomas que o faz descer de seu posto e se curvar
diante deles.
– Ei, vocês, parem de fazer bagunça no meu navio, ou não sairão de Lostmalt!
– Turistas! – grita o capitão, tratando-os como crianças mimadas.
– Você deveria ter mais respeito com seus reis! – grita Thomas.
– Viemos ao reino de Lostmalt por acidente. Mas posso dizer a sua rainha
que você foi extremamente grosso com suas Majestades –responde Helena, amea-
çando o capitão.
– Oh, mil perdões, Majestades!
– Como não pude notar a magnificência de Vossa Majestade?! – pergunta-se
o capitão, amedrontado.
– É bom reconhecer mesmo e ande logo com isso! – grita Thomas,
ordenando-o.
– Imediatamente, Majestade!
– Seu desejo é uma ordem!
– Vamos, Rafael!
– Coloca esses barris aí para dentro! – grita o capitão, com um de
seus marujos.
– Sim senhor, capitão! – responde o marujo, se apressando.

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O carregamento termina de ser movido e a embarcação finalmente pôde
zarpar do porto em direção a Trionte. O capitão, então, decide saber mais sobre
a vida dos reis enquanto segurava firmemente o timão.
– Perdão Majestades, mas o que Vossas Altezas faziam em Lostmalt?
– Bom. Fomos pegos por uma tempestade e quando nos demos conta,
estávamos em Lostmalt.
– Até encontramos alguns nativos! – responde Helena.
– Os nativos, são um tanto complicados.
– Eu e meu irmão Clancy nos deparamos com eles uma vez! – lembra o
capitão, uma velha história.
– É, e como foi? – pergunta Thomas, curioso.
– Amarraram nossos pés e braços, colocaram uma maçã na nossa boca e
nos jogaram em um caldeirão de fogo alto para cozinhar! – responde o capitão.
– Nossa! – fala Helena, surpresa.
– Tivemos sorte de sair vivos dessa! – responde o capitão.
Tudo silencia e só é possível ouvir o barulho das ondas, até que os irmãos,
mais uma vez, se debruçaram no corrimão de madeira e voltaram a conversar.
Thomas se abre com Helena olhando fundo em seus olhos.
– Ouça Helena!
– Não se esqueça da promessa que lhe fiz!
– Se tudo parecer que está contra você, lembre-se, eu estarei com você! – fala
Thomas, segurando seu rosto enquanto olhava fixamente em seus olhos.
– Tom, obrigada por tudo que você está fazendo!
– Sabe Tom, no mundo eu nunca vi alguém como você.
– Generoso, educado, corajoso...
– Tenho orgulho de ter o mesmo sangue que você! – responde Helena,
enquanto oferecia um abraço ao rei.
– Vai dar tudo certo, Tom! – fala Helena, desejando o melhor para os dois.
– Dentro de poucas horas estaremos em casa com nossa irmã!
– Espero que ela tenha reconstruído seu reino! – responde Thomas.
– Já deu tempo dela ter construído trezentos castelos.
– Ainda mais com a quantidade de servo que você enviou para ela. – fala
Helena, acreditando que tudo estaria bem nos reinos.
Mas a conversa é interrompida quando outro marujo avista piratas ao longe
e grita para avisar o capitão.
– Piratas, capitão!
– Piratas? – pergunta Thomas, mudando sua visão para o horizonte na
tentativa de observar mais atentamente o navio inimigo.
– A este bordo. – fala o marujo, apontando para a direita.
– Majestades, se preparem!

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– A coisa vai esquentar aqui – grita o capitão, enquanto observa os reis
puxarem sua espada.
Do outro lado ouviu-se o capitão da outra embarcação ordenar que seus
confrades preparassem os canhões. Então, o capitão do BlackCastle, imediata-
mente, mandou os marujos do convés inferior abrir as comportas e preparar
igualmente os canhões, pois haveria uma batalha. Logo o capitão pirata dá o
sinal de ataque e o navio inimigo ativou o primeiro canhão, que teve seu tiro
malsucedido. Após isso, ativaram-se então, todos os canhões que acertam em
cheio o casco do BlackCastle.
O capitão inimigo faz uma virada drástica na embarcação com o intuito de
passar seus confrades para a outra embarcação, o navio pirata avança para cima
e bate de frente com o mesmo, transferindo assim a tropa de piratas e iniciando
um duelo de espadas entre ambas as tripulações, deixando, assim, espaço para
que os reis partissem de vez, para a defensiva.
Vendo que um dos inimigos ateou fogo nas velas do BlackCastle, Thomas
mata o incendiário, pegando para si a atenção dos inimigos. Juntam-se cinquenta
homens diante do rei na tentativa de desarmá-lo e Helena salta do mastro superior
segurando-se apenas em uma corda fina que estava fixada no mesmo, caindo,
assim, diante de Thomas e o ajudando a vencer os inimigos.
O capitão do BlackCastle pede, então, para Thomas e Helena fugirem, tendo
em vista que apareciam cada vez mais piratas, contudo, na tentativa de provarem
aos outros e a si mesmos sua bravura, os mesmos decidem ficar lutando, até verem
que não tinha mais solução, a não ser, fazer o que o capitão pedia. Então, com o
cheiro da derrota, eles empurram o bote para a água e fogem. Ao fim da batalha,
o capitão pirata consegue capturar toda a tripulação do BlackCastle e o capitão
se recusa a entregar-se, se suicidando e jogando-se no oceano para os tubarões
que estavam em recifes próximos ao lugar onde a batalha foi travada.
Assim, Thomas e Helena observam ao longe o BlackCastle se desfazer em
chamas e depois naufragar. De tudo o que eles tinham passado, até agora, essa,
sem dúvidas, foi a pior experiência de todas, e foi assim durante 5 semanas, não
tinham água doce, nem comida e ficaram à deriva no vasto oceano azul, claro
que Thomas tinha muitos planos para capturar água da chuva e caçar, mas nem
toda vez estava acompanhado da sorte.
Seu bote foi achado por pescadores triontinos, eles reconheceram seus reis
e logo aproximaram suas canoas ao bote, amarrando uma corda no mesmo e
puxando-o até a praia de Kollósus, onde desembarcaram. Infelizmente os reis
foram achados desacordados e com várias manchas de insolação no corpo, mesmo,
assim, foram levados para dentro do reino de Castindell onde foram cuidados
por médicos que lá já os aguardavam.

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Tendo isso em vista, Suzana, não mede esforços para constatar a veracidade
dos fatos após um dos pescadores chegar à Dyllewalt informando à sua rainha
que seus irmãos estavam vivos.
– Majestade, venha ver! – clama o pescador, para que a rainha o siga.
– O que você quer pescador? – pergunta Suzana, sentando em seu trono
enquanto tomava uma xícara de chá.
– Seus irmãos. – responde o pescador.
– Não fale bobagens!
– Eles estão mortos! – grita Suzana, interrompendo o pescador após se
engasgar com o chá.
– Não, Majestade, eles estão em Castindell!
– Foram achados à deriva em mar aberto.
– Nós amarramos o bote e o trouxemos para a praia de Kollóssus! –explica
o pescador, apontando para a saída.
– Como disse? – pergunta Suzana, em choque.
– Foi isso mesmo que Vossa Majestade ouviu!
– Seus irmãos estão vivos! – responde o pescador.
– Eu irei pessoalmente resolver isso!
– Ilda! – grita Suzana, pela sua dama.
– Sim, Majestade? – responde Ilda, correndo ao encontro da rainha.
– Chame Kaylow!
– Mande preparar minha carruagem!
– Vamos para Castindell! – ordena Suzana, tentando esconder sua fúria.
Então Suzana parte em direção a Castindell para constatar a veracidade da
informação dada pelo pescador.

54
– Capítulo 7 –

A louca

Chegando no reino de sua irmã, Suzana ultrapassa os guardas que estavam


de vigília nos portões de entrada e corre para os aposentos reais, onde os irmãos
estavam descansando após serem salvos. Ela olha para eles, pergunta ao médico
qual o diagnóstico e o mesmo responde que não se tratava de nada grave, só
tiveram insolação e precisavam se alimentar, logo, se ausentando, enquanto, que
Suzana ficara observando seus irmãos e imaginando tudo o que havia acontecido
com eles. Neste momento, ela se lembra do feitiço que fizera e compreende, como
uma epifania, o motivo do atalho mágico não ter funcionado conforme as expec-
tativas, o feitiço trazia de volta quem já tivera partido; contudo, seus irmãos não
estavam realmente mortos para que o cristal pudesse liberar seu verdadeiro poder,
– Vocês não fazem ideia do perigo que eu corri para trazer vocês de volta!
– fala a rainha, aos cochichos no ouvido de seu irmão por acreditar que ele não
a ouvia.
Ela não contava com o fato de Thomas estar apenas com seus olhos fechados,
o rei, então, ouviu tudo atentamente e assim que a rainha saiu dos aposentos, ele
imediatamente se levantou e já descendo a escadaria que levara ao andar de baixo,
sentiu uma forte dor de cabeça que se agravava a cada degrau descido, de forma
a lhe deixar estonteado. Matilda, a serviçal de Helena, virou-se para observar a
postura do rei que julgava não passar bem.
Vendo que seu rei se encontrava em tal estado, a serviçal corre para ajudá-lo
a descer os degraus que lhe faltavam para pisar no chão de pedra.
– Majestade?
– Vossa Majestade, está bem? – pergunta a moça, demonstrando sua preo-
cupação para com o rei ao perguntar sobre sua saúde.
– Não muito, ahh!
– Estou com uma dor na cabeça daquelas – responde Thomas.
– Deixa eu ver!
– Mas, Vossa Majestade está com febre!
– Vamos até a cozinha.
– Farei um chá! – afirma a moça, retirando a mão com que acabara de medir
a temperatura da testa do rei.
Eles vão até a cozinha onde a moça passa um pano molhado no rosto do rei,
dando-lhe após, o chá que acabara de retirar da chaleira de bronze. Logo após,
ela o leva de volta para os aposentos e retorna aos seus afazeres; contudo, mais
uma vez, tem seus serviços interrompidos por uma pessoa que batia à grande
porta revestida de madeira da entrada. Ao aproximar-se de tal porta, os guardas
a abrem e só então é possível ver de quem se tratava, Gremório, que vinha em
busca de notícias dos reis, já que os boatos do reaparecimento de ambos estavam
se espalhando rápido pelas terras.
– Olá, minha senhora!
– Eu desejo falar com as Vossas Majestades! – fala Gremório, tirando seu
elmo de ouro da cabeça e o colocando entre os braços.
– Desculpe, sir? – pergunta a moça, no objetivo de saber o nome do cavaleiro.
– Gremório!
– Regente do trono de Kwaizahdar! – responde Gremório, mostrando-lhe
um sorriso e estendendo-lhe a mão para cumprimentar lhe.
– Mas o rei Simon é quem governa Kwaizahdar! – fala a moça, ignorando
a mão indutiva de Gremório.
– Bom, eu esperava encontrá-lo aqui! – responde Gremório, expressando
confusão em sua mente.
– Mas o rei Simon não está aqui! – fala a moça.
– Onde ele está então? – pergunta Gremório.
– Ele não veio com as Majestades!
– Aqui só estão o rei Thomas e a rainha Helena.
– Mesmo assim, eles estão dormindo em seus aposentos – responde a moça,
deixando claro que os reis não poderiam ser incomodados.
– Bom, obrigado!
– Voltarei mais tarde então!
– Adeus! – despede-se Gremório, retornando ao seu cavalo, ainda sem a
resposta da moça, que retornou à seus afazeres enquanto as portas de madeira
eram fechadas lentamente.
O cavaleiro cumpriu sua promessa, mais tarde, naquele mesmo dia, Gre-
mório retorna a Castindell mais uma vez para falar com Suas Majestades e, por
sorte, avista a rainha na varanda de sua torre admirando a paisagem. Ele, então,
decide mais uma vez, bater à porta, e, novamente, a moça a abre.
– Eu vim novamente! – fala Gremório.
– Entre!
– E aguarde aqui!
– Eu irei buscá-los! – responde a moça, áspera.
Ao ver Thomas descendo as escadas e segurando um pano molhado
que encostava de hora em hora na sua cabeça, Gremório também expressou

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preocupação com o rei e, logo após, o regente de Kwaizahdar decide fazer algumas
perguntas aos irmãos com a finalidade de descobrir o paradeiro de Simon e obter
massivos detalhes sobre a trajetória dos reis.
– Onde está o rei Simon? – pergunta Gremório.
– Você fala, ou eu falo, Thomas? – pergunta Helena, olhando para seu irmão
para saber quem daria a péssima notícia sobre o desparecimento de Simon.
– Fala você, Helena!
– Minha cabeça está fervilhando! – responde Thomas, tirando o pano de
sua cabeça.
– Fomos pegos por uma tempestade e o navio naufragou, eu e Thomas
fomos levados até o reino de Lostmalt pelas correntezas, mas Simon não estava
mais entre nós! – explica Helena deixando suas rápidas lágrimas mostrarem seu
pesar pela morte do irmão
– Lostmalt? – pergunta Gremório, ignorando a notícia triste enquanto
lembrava do goblin que encontrara no parlamento.
– Sim! – responde Helena, enxugando os olhos.
– Como eu pude ser tão ignorante? – pergunta Gremório a si mesmo, des-
falecendo sua vista e levando em consideração sua incapacidade de entender a
ligação daquele momento com a profecia rezada pela criatura.
– Mas o que houve? – pergunta Thomas, confuso pelo ato incomum de
Gremório de julgar-se em voz alta.
– Perdoe-me, Majestade!
– É que eu conheci um goblin de Lostmalt no Parlamento! – responde
Gremório, retornando seu olhar aos reis.
– Ah! Mas então era por isso que ele nos conhecia – fala Thomas, recordan-
do-se do encontro com a criatura.
– Vossas Majestades por acaso viram esse goblin? – pergunta Gremório.
– Sim. Ele é um dos criados da rainha Helena Mitrelli!
– Mas, o que ele queria com você? – pergunta Helena, cercada pela percep-
ção alheia da ligação dos fatos.
– Bom, era sobre isso que eu ia falar.
– Ele falou sobre uma profecia de Trionte – responde Gremório.
Então, o cavaleiro contou a profecia aos reis que ficaram impressionados
ao ouvir cada detalhe, ele contou sobre a guerra milenar dos irmãos e sobre as
previsões do goblin para Trionte pós-batalha, deixando assim, os reis perderem
completamente a expressão de seus rostos ao ouvir aquilo.
– Eu não sou muito de acreditar em coisas que os estranhos falam, mas
vendo Vossas Majestades aqui, depois de tudo isso, e tendo pleno conhecimento
de que... – fala Gremório, levantando teorias sobre a conspiração armada por
Suzana para derrubar lhes do trono e assumir o poder absoluto de Trionte.

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– De quê? – pergunta Thomas, curioso após a pausa feita por Gremório
em sua explicação.
– Majestades, vou lhes revelar uma coisa!
– Mas peço discrição de vossa parte! – responde Gremório, piorando o clima
de mistério que havia espalhado no ar.
– Diga! – fala Helena.
– Depois que Vossas Majestades, foram dados como mortos, a rainha Suzana
se tornou um tanto próxima de seu almirante, rei Thomas!
– E, inclusive, mandou-me ir em busca dele no parlamento! – confessa
Gremório, a estranheza da proximidade entre o almirante e a rainha.
– Mas o que o Elias foi fazer no parlamento?
– E o pior, por que o Elias está com Suzana? – pergunta Thomas, rancoroso
com a irresponsabilidade de seu almirante que deixara o reino sem regente.
– Isso eu não sei Majestade!
– Mas depois que houve o vosso enterro.... – responde Gremório.
– Enterro? – pergunta Thomas.
– Deixa ele falar, Thomas! – interrompe Helena, cansada de ver Thomas
interrompendo o cavaleiro.
– Bom, depois que houve o vosso enterro, Elias se aproximou dela!
– Agora, eles estão bem íntimos! – prossegue Gremório, respondendo
à pergunta.
– Mas que história é essa?
– E que enterro foi esse? Estamos aqui em carne e osso! – pergunta Thomas,
se levantando indignado de sua cadeira e esquecendo sua dor de cabeça.
– Pelo que sei, Niwdem enviou uma carta para a rainha Suzana informando-
-lhe que Suas Majestades foram dados como mortos por nômades que localizaram
os destroços do navio! – explica Gremório.
– Safados!
– Nos viram e nem sequer prestaram socorro!
– Mas...
– Espera um momento!
– Quando acordamos na ilha, Simon não estava lá.
– Seguindo a lógica, a correnteza deveria levar todos presentes naquelas
coordenadas à mesma ilha, tendo em vista que não caímos em direções opostas.
– Isso significa que ele pode ter sido sequestrado por Niwden. – responde
Thomas, levantando outra teoria sobre a participação do reino inimigo na trama.
– É uma boa teoria, Thomas!
– Mas até que tenhamos certeza, vamos vigiar! – fala Helena, tentando
manter a cabeça de todos no lugar.
– Pensa bem, Helena!

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– O maior sonho de Niwden é tomar Trionte e tem sido assim desde muito
antes de existirmos!
– Luan teve a oportunidade, e se ele sequestrou Simon para nos chantagear,
ou até torturá-lo?
– Vamos esperar isso acontecer para tomarmos alguma decisão? –pergunta
o rei, deixando a ira subir aos seus olhos.
– Thomas, se isso aconteceu mesmo, saberemos em breve!
– Não podemos cometer o erro de mandar um exército à Niwden e correr
o risco de despertar tensões entre os reinos! – responde Helena, tentando apa-
ziguar o irmão.
– E quem falou em exército?
– Vamos nós mesmos salvar nosso irmão! – grita Thomas, na tentativa de
iniciar uma missão de salvamento.
– Não está agindo com a cabeça, Thomas! – responde Helena, derrubando
a ideia.
– Quanta desgraça!
– Pensamos que viríamos para casa e tudo seria diferente!
– Aí encontramos essa bagunça! – fala Thomas, retornando ao seu assento
e recordando sua dor de cabeça.
– E tem mais. A rainha Suzana vem escravizando metade de Trionte depois
que vocês partiram –prossegue Gremório, denunciando ao rei as injustiças come-
tidas pela rainha.
– Ela o quê? – pergunta Thomas, aos gritos enquanto tentava puxar
sua espada.
– Calma Thomas!
– Olha a cabeça! – responde Helena, impedindo que o irmão se precipite.
– Calma, calma?
– Como pode me pedir calma, Helena?
– Ela destruiu Trionte!
– Esse é nosso reino, nosso lar!
– Deveria ser um lugar próspero.
– Ahh, isto é revoltante! – fala Thomas, com pesar pelas atitudes da irmã.
– És justo, Majestade!
– Sei que vais fazer algo a respeito – responde Gremório.
– Se é verdade o que diz, tenha certeza de que vou, sir? – pergunta Thomas,
com a finalidade de sabe o nome do cavaleiro e decidido a enfrentar o problema.
– Gremório, Majestade! – responde Gremório.
– Como seu rei, meu dever é ajudar a ti e aos teus semelhantes! – fala Tho-
mas, indicando que planejava algo.
– Isso é algo honroso, Majestade!

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– Mas a rainha Suzana não pensa assim! – responde Gremório, mencionando
a falta de caráter da mesma.
– Então eu vou ajudá-la a pensar melhor! – fala Thomas.
– Por favor, não digam que eu fui o informante! – implora Gremório,
sabendo do perigo que implicava trair a rainha.
– Recomponha-se, sir Gremório!
– Sua bravura será recompensada em breve! – responde Thomas.
– E quanto ao reino de Kwaizahdar?
– O que devo fazer? – pergunta Gremório, ainda sem respostas sobre o
próximo passo.
– Coloque um regente no trono! – responde Thomas, sem saber que ele
fora nomeado.
– Majestade, eu já sou o regente! – fala Gremório.
– Então governe! – responde Thomas.
– Como?
– Sou só um cavaleiro! – fala Gremório.
– Você tem sua bravura, sua coragem e sua espada.
– Poder não lhe faltará para erguer Kwaizahdar! – responde Thomas, dando
luz ao cavaleiro.
– Obrigado, Majestade! – agradece Gremório, pegando após seu cavalo
e voltando para Kwaizahdar enquanto que suas Majestades, voltam para seus
aposentos para conversar em particular.
– O que você acha Thomas? – pergunta Helena, intrigada com a história.
– Acho que ele está se arriscando muito vindo aqui! – responde Thomas,
imaginando que sua irmã perguntara sobre o cavaleiro.
– Eu não me referia à Gremório! – fala Helena.
– Eu realmente acredito que Suzana esteja fazendo isso, embora ainda
seja incompreensível o porquê em minha mente – responde Thomas, fazendo
vista grossa.
– Como assim, incompreensível? – pergunta Helena, não acreditando no
que acabara de ouvir da boca do irmão.
– Você não acredita mesmo que ela tenha feito tudo isso por vontade pró-
pria, não é? – pergunta Thomas, tentando acrescentar de forma subliminar, uma
presença misteriosa nos planos da rainha.
– Thomas, você a defende demais! – grita Helena, pensando que seu irmão
perdera o juízo ao defender Suzana, após todos seus atentados contra Trionte.
– Só estou tentando ser lógico, Helena! – responde Thomas, ainda tentando
encontrar justificativas plausíveis para defender a irmã.
– Lógico?
– Você a protege em tudo, Thomas – grita Helena, desejando estabelecer
sua razão.

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– Ela é nossa irmã, Helena. – responde Thomas, deixando bem claro para
Helena que sempre defenderia seus irmãos.
– Isso não significa que ela é pinha fora do pinheiro – fala Helena à Thomas,
para que ele não acreditasse na irmã até conhecer seus verdadeiros interesses.
– Eu sei, Helena!
– Só estou dizendo que não creio absolutamente que nossa irmã seja
uma vilã!
– Parece algo de outro mundo! – responde Thomas.
– Você é impossível, Thomas! – fala Helena, desistindo de convencer o irmão.
– Você não entende, Helena!
– Não quero julgar apenas com base no que nos foi contado por aquele
cavaleiro e de preferência, nem quero julgar, mas agir para defender Trionte!
– Além disso, não foi você mesma quem falou que devíamos vigiar? – per-
gunta Thomas, tentando explicar à Helena que pensara melhor antes de sair
julgando a rainha má e achava que ele estava sendo usada pelo almirante ou Luan.
– É verdade, Tom.
– Perdoe-me!
– Realmente não podemos escolher um lado por enquanto! – responde
Helena, depois de compreendê-lo.
– Tudo bem, vamos descansar!
– Resolveremos isso mais tarde! – fala Thomas.

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– Capítulo 8 –

O aprendiz

D iante do universo, a certeza de Thomas em sua teoria ecoou. Seu irmão


não estava morto, ou desaparecido. A verdade e que após o naufrágio,
Simon, ainda desacordado, foi levado a Willdust onde conhece Luan Suntyse,
rei de Niwdem, um dos descendentes de Haseniff, que tenta usar as ambições do
jovem rei para levá-lo ao encontro do lado obscuro típico do rei ancião e através
de torturas consegue arrancar de Simon, informações valiosas sobre Trionte e
suas táticas militares, elevando, assim, o seu arsenal e sua estratégia de ataque.
– Onde estou? – pergunta Simon, estonteado.
– Em Niwdem! – responde Luan, estendendo sua mão ao fingir que desejava
ajudar-lhe a levantar-se do chão, no qual havia ficado desmaiado horas antes de
ser acordado pelo rei.
– Quem é você? – pergunta Simon, sem reconhecer Luan.
– Chamo-me, Luan Suntyse!
– Seu rei! – responde Luan, forçando seu sorriso.
– Meu rei?
– Impossível, eu, sou Sua Majestade! – murmura Simon, se levantando
aos poucos.
– Ora, por que não disse logo?
– Outra realeza em Livesburn!
– Que maravilha! – finge festejar Luan, com a presença do rei.
– Livesburn?
– Mas aqui não era Niwdem? – pergunta Simon, ainda sem lembrar do mapa.
– Niwdem é o nome deste reino!
– Você está nas terras de Livesburn! – fala Luan.
Simon, então, lembra do mapa de seu irmão, ficando assim, assustado, pois
sabia que estava entre inimigos, observara todo o lugar sem dar uma só palavra.
– De onde você vem, jovem rei? – pergunta Luan, fingindo não saber.
– De Trionte? – responde Simon, apresentando desconfiança em relação
ao rei.
– Você tem irmãos, jovem rei? – pergunta Luan, na tentativa de confirmar
o parentesco de Simon com os demais reis Triontinos.
– Tenho! – responde Simon.
– Quantos? – pergunta Luan, pedindo a quantidade exata.
– Três! – reponde Simon, já preparado para se defender se preciso fosse.
– Interessante!
– Porém é estranho! – fala Luan, dando início ao seu plano de destoar
a irmandade.
– Por que diz isso? – pergunta Simon, já notando os rodeios de Luan.
– Seus irmãos ainda não deram sua falta!
– Você não deve ser importante para eles! – responde Luan, lançando sua
farpa envenenada para o jovem rei.
– Não acho que esse seja o caso! – fala Simon, mostrando à Luan seu poder
de resistência e sua lealdade para com seus irmãos.
– Não se engane, jovem rei!
– Foste esquecido! – responde Luan, sem desistir de convencer.
– Recuso-me a crer nisso! – fala Simon, suportando as investidas do rei.
– Pense melhor, jovem rei!
– Vejo uma força muito poderosa que emana de você! – responde Luan.
– Não me tente, cobra asquerosa! – grita Simon, puxando sua espada e a
apontando contra o rei.
– Abaixe essa espada jovem rei!
– Não seja tolo!
– Qual seu nome? – pergunta Luan, tentando hipnotizar Simon com sua
falsa bondade.
– Simon, Simon Blackston! – responde Simon, pronto para dar-lhe um só
golpe no peito e derrubar-lhe.
– Então, Simon!
– Eu irei lhe ajudar a voltar para casa, mas antes você vai ter que fazer três
coisas para mim – fala Luan.
– E quais seriam? – pergunta Simon, guardando sua espada ao imaginar
que só faria as tarefas e voltaria para casa.
– A primeira é recuperar uma das minhas espadas que um de meus anti-
gos cavaleiros roubou de mim há alguns dias – responde Luan, mostrando-lhe
um sorriso.
– E as outras? – pergunta Simon, na tentativa de se adiantar no assunto
relacionado às tarefas.
– Traga-me a espada e lhe darei a próxima tarefa! – responde Luan.
– Tudo bem!
– E como farei isso? – pergunta Simon, na intenção de ganhar mais instru-
ções sobre a missão.
– Bom, como eu não sei!
– Mas sei onde! – responde Luan, vendo que conseguiu manipular o rei
enquanto mostrava para o mesmo um mapa com a localização de um paiol em

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que, segundo ele, vivia o tal cavaleiro que roubara a sua espada. Assim, Simon
pediu um cavalo e o rei o concedeu.
Simon, então, vai ao paiol e pega a espada, levando a mesma para o reino de
Niwdem novamente, dirigindo-se, assim, ao encontro de Luan e informando-o
que a tarefa foi concluída com sucesso.
– Aqui está a espada! – fala Simon, enxugando o suor de sua testa, enquanto
estendia tal espada.
– Muito bem, jovem rei!
– Eis, então, a próxima tarefa.
– Você deverá atear fogo à uma tenda de mercadores que, segundo meus
soldados, localiza-se fora dos muros deste reino! – responde Luan.
– Desculpe, mas eu me recuso a matar inocentes – fala Simon, defendendo
seus princípios.
– Mas eles não são inocentes, meu caro rei!
– Segundo meus soldados, estes mesmos mercadores roubaram moedas de
ouro que caíram de um saco usado para recebimento de impostos.
– Certamente é de se esperar que um nobre rei, como Vossa Alteza, busque
justiça em mínimos detalhes – responde Luan, estendendo sob o rei um olhar
ameaçador, enquanto o mesmo baixava sua cabeça tendo que tomar a enorme
decisão de trair seus princípios para fazer o bem.
Vendo-se convencido mais uma vez pela lábia de Luan, o rei, honra a ordem
do mesmo, ateando fogo à uma pilha de fenos que estava em uma carroça ao
lado da tenda e, rapidamente, podia-se ver ao longe as enormes labaredas de
fogo que consumiam os alimentos e a grama seca à sua volta, via-se também os
pobres mercadores saírem correndo, desesperados para se salvarem em meio ao
fogo. Assim, Simon volta para Niwdem, traumatizado, com sua própria ação,
mais uma vez, mencionando ao rei tal sucesso na missão.
– Muito bem, Simon!
– Vejo que és de grande utilidade para Niwdem!
– A terceira tarefa é um presente...
– Eu diria até que é um presente açucarado tendo em vista meu mal-
humor ultimamente!
– Vossa Alteza, irá conquistar o coração da dama Elalis e a tomará como
sua esposa – fala Luan.
– Não entendi muito bem!
– A última tarefa será meu casamento? – pergunta Simon, desconexo dos
planos de Luan.
– Não é óbvio?
– Estou lhe presenteando pelos serviços prestados a Niwdem.

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– Eu poderia dar-lhe uma medalha, mas seria muito pouco para tanta deter-
minação e obediência. – responde Luan, com seu sorriso falso e suas tentativas
furadas de se tornar amigo do rei.
– Está bem, mas...
– Lembre-se bem, de que só estou aceitando fazer isso para voltar às minhas
terras, não tenho interesse em nada desse lugar! – fala Simon, enquanto olhava
fixamente para Luan.
– Está muito armado, jovem rei!
– Não devo representar uma ameaça a ti!
– Vá e pegue sua recompensa! – responde Luan.
– E sua promessa? – pergunta Simon, desejando saber se o rei cumpriria
mesmo o que prometera.
– Eu sou um homem de palavra, Agaroff
jovem rei.
– Vá, pegue sua futura esposa
e volte!
– Assim que estiver em Niwdem,
darei as ordens para que preparem o
navio! – responde Luan, passando
segurança ao rei.
Mais uma vez, Simon realiza os
caprichos de Luan com perfeição, ele
vai até a vila e procura por Elalis que,
de forma alguma, aceita acompanhar-
-lhe, fazendo-o assim perder a paciên-
cia e a sequestrar. Cumprindo, assim,
as três tarefas propostas por Luan. Ao
chegar à Niwdem, Simon desce de seu
cavalo, deixando, assim, a dama amar-
rada em cima do cavalo e adentra os
enormes corredores de pedras cinzen-
tas, até chegar a um jardim repleto de
árvores que não davam frutos, sempre
podadas no formato da cabeça do rei e
ao meio localizava-se uma grande fonte
de água envolta ao gramado verde,
igualmente bem cuidada.
Simon encontra o rei sentado em
uma pedra enquanto um artista pin-
tava sua imagem gloriosa; entretanto,

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mentirosa em sua tela, Simon, então, decidiu pedir à Luan para partir. O rei
Niwdeniano levanta-se da pedra sorrindo, dispensando assim o trabalho do artista
e como o esperado, trapaça, não cumprindo a sua promessa.
– E onde você pensa que vai? – pergunta Luan, fazendo o gesto para que
seus guardas se coloquem em posição de defesa.
– Como disse? – pergunta Simon, virando-se para Luan.
– Você é tão tolo e manipulável! – debocha Luan, mostrando sua verda-
deira face.
– O que? – pergunta Simon, para ter certeza de que não ouvira errado.
– Idiota!
– Você foi mais uma cobaia que cumpriu meu trabalhinho sujo nessa socie-
dade tosca!
– Ou você não notou ainda?
– Você roubou um pobre cavaleiro, matou pessoas inocentes e sequestrou
uma dama influente de Niwdem.
– Sinceramente eu nunca esperei que um sujeito lerdo como você fosse ter
algo, mas rapaz, acho que eu me enganei!
– Você mostrou ser um servo leal e obediente!
– Sugiro que você não saia do castelo, a essa altura os soldados já devem ter
notado a desordem que você causou! – responde Luan, sorrindo satisfeito por
ter criado um monstro.
– Guarde minhas palavras, Luan.
– Você vai pagar por cada erro que me fez cometer! – fala Simon, olhando
enfurecido para o rei.
– Isso é uma ameaça? – pergunta Luan, desafiando Simon.
– Considere como quiser! – responde Simon, puxando sua espada ao tomar
ciência de que os guardas reais se preparavam atrás do rei para pegá-lo.
– Guardas!
– Joguem esse homem no calabouço! – grita Luan, mostrando que com seus
guardas ao seu lado era intocável.
– Não se aproximem de mim!
– Eu estou avisando, Luan!
– A força de Trionte se voltará contra você – grita Simon, com sua fé fer-
vorosa em seus irmãos.
– Quero ver tentarem! – responde Luan, desafiando Trionte ao ver que os
guardas conseguiram deter Simon.
– Esperem!
– Levem-no para a sala da disciplina. – interrompe Luan, aos gritos a cami-
nho do calabouço.

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Chegando a tal sala, ele se surpreende com a quantidade de objetos de
tortura presente no local, certamente os prisioneiros experimentavam o inferno
literal de suas almas naquele lugar.
– Bom, se você não obedece por vontade própria, irá obedecer por meus
métodos! – fala Luan, pegando um chicote para açoitar o rei.
Então, como o planejado, Luan açoita-o e espanca-o, fazendo-o chegar ao
nível de submissão total, só então o corrupto rei consegue acessar o escravo que
acabara de formar diante dos males causados fisicamente e psicologicamente.
– Espero que você tenha aprendido a lição!
– Você agora pertence a mim!
– Vou usar-lhe para atacar Trionte...
– Você vale muito para eles e isso me dará grandes vantagens!
– Tranquem-no!
– Ele já viu a luz do sol demais por hoje! – grita Luan, ordenando que os
guardas joguem-no no canto mais escuro e frio da sela.
Enfim, Simon é arrastado ao canto indicado pelo rei, esperando que, mais
tarde, o mesmo, o procure para extrair mais informações sobre Trionte, e assim
aconteceu, o rei chegou ao calabouço no mais tardar e perguntou novamente
aos açoites sobre as estratégias de defesa adotadas por Trionte, mas não consegue
nada, pois Simon estará atordoado devido aos golpes que levou na cabeça mais
cedo. Mesmo assim, Luan, inconformado, com suas perguntas não respondidas,
ameaça Simon.
– É bom que você solte a língua em pouco tempo.
– Caso contrário, estará assinando sua sentença de morte! – fala Luan,
puxando os cabelos do rei que se contorcia de dor, gritava e chorava tirando o
silêncio do lugar.
– Com licença senhor! – interrompe, o general de seu exército.
– Diga, general! – responde Luan, ainda puxando os cabelos do rei.
– O que faremos com a dama que o homem trouxe! – pergunta o general,
sem ter conhecimento dos planos do rei para a dama.
– Hum!
– Ela é bonita? – pergunta Luan, tentando definir em sua mente um destino
para a dama.
– Positivo, senhor! – responde o general, amedrontado ao presenciar a tor-
tura de Simon que o olhava com seu olho inchado e sangue espalhado por toda
a face.
– Traga-a para jantar comigo – fala Luan, já desejando possuí-la.
– Sim senhor! – responde o general.
Durante aquela noite, Luan esperou incansavelmente em sua longa mesa de
jantar até que já no início da alvorada que recaía sob o reino, um dos soldados

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trouxe a dama que tinha suas mãos amarradas com uma corda e sua boca tapada
com um retalho de pano encardido. Então, o rei tenta mostrar para a moça sua
falsa bondade repreendendo o soldado pelo modo como a trouxe ao seu encontro.
– Hummm, Hummm! – tenta gritar a dama.
– Mas o que é isso? – repreende Luan, aos gritos os seus soldados.
– Senhor, ela não parava de gritar, então tivemos que tapar a sua boca com
esse pedaço de pano – fala o soldado, tentando se justificar.
– Idiotas!
– Vocês não sabem que não é assim que tratamos uma dama?
– Perdoe-me por meus guarda, senhorita! – responde Luan, se levantando
e cuidadosamente tirando os adereços da dama, enquanto a oferecia a mesa que
já estava posta e bem enfeitada.
– Eu quero sair daqui agora! – grita a dama, se debatendo contra a mesa.
– Sim, como quiser!
– Mas antes, que tal comermos?
– Sabe, e de nosso costume oferecer aos nossos convidados tudo de bom
que o castelo tem a oferecer – fala Luan tentando cativar a moça que aceita se
sentar com tal rei divertindo-se confessando temas polêmicos da vila enquanto,
sem notar, é lentamente embriagada com o vinho que continuamente era servido
em sua taça.

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– Capítulo 9 –

A descoberta

A pós uma longa noite de descanso, Thomas se levantou disposto a buscar


a verdade, nem bem amanhecia e o rei vestiu seu manto encapuzado para
evitar ser reconhecido e partira ao encontro do reino de Dyllewalt para ver se
as descrições de Gremório eram condizentes com a realidade representada no
reino. Ficara sem reação ao chegar no vilarejo, ao ver maior parte das casas aban-
donadas, soldados saqueando camponeses, queimando plantações e vendendo
crianças como escravas.
Ao ver o rei acima de seu cavalo, um mendigo aproximou-se e pediu-lhe
algumas esmolas, disse que estava com fome há vários dias e que os soldados
humilharam-no, empurrando-o e jogando seus poucos farelos na lama.
Thomas, então, sem demora colocou a mão em seu bolso, puxou dez triontos
de ouro e os deu ao mendigo que, ligeiramente, percebera que aquele homem era
um forasteiro, pois nenhum só cidadão daquele reino havia estendido a mão sem
julgamentos para o mesmo, este, então, perguntou sua identidade, já que o rei
estava encapuzado e o mesmo respondeu que era um amigo, e, que lhe desejava
tudo de bom que ele pudesse conseguir com tão poucos triontos, prosseguindo,
assim, aos galopes.
Thomas chegara ao castelo de sua irmã, onde se impressionava aos poucos
com a incrível, embora fora de contexto, construção que Suzana havia ordenado
aos seu soldados para que construíssem. Ela havia praticamente transformado seu
castelo em uma enorme masmorra, com paredes que chegavam acima de suas
torres mais altas, grades ultrarresistentes, colocadas nas janelas e revestimentos de
ferro nas portas, a rainha havia implantado em seu reino uma grande ditadura.
Um dos soldados, observando o estranho homem encapuzado que estava
parado em seu cavalo, alguns degraus abaixo de seu posto de vigília, assim, gritou
em tom de repressão e Thomas, na tentativa de proteger sua identidade, atiçou seu
cavalo que galopara velozmente em direção à saída, despertando a desconfiança
do soldado que demandou aos demais soldados ali presentes, uma perseguição.
Estes bloqueiam as saídas poucos minutos antes de Thomas chegar perto
da entrada do vilarejo e o rendem.
– Acabou, bandido!
– Entregue-se à ordem! – grita o capitão da guarda, que puxara sua espada
e apontara ao rei minutos antes de o encurralar.
– Do que me chamou, capitão? – pergunta Thomas, sem escapatória, des-
cendo de seu cavalo e tirando o capuz, enquanto deixava todos os camponeses e
os soldados assombrados ao ver que Sua Majestade não havia morrido.
– Ma...MaMaMajestade?
– Perdão, Majestade!
– Não reconhecemos Vossa Majestade! – tenta explicar o capitão da guarda,
percebendo o erro que havera cometido.
– Eu deveria acabar com vocês aqui mesmo! – ameaça Thomas.
– Não, eu imploro Majestade!
– Tenha piedade – implora o capitão da guarda.
– Vocês me enojam!
– Afinal, porque maltratam meu povo? – pergunta Thomas, descendo de
sua montaria.
– Ordens da rainha, Majestade! – responde um soldado, trêmulo, de medo
do rei.
– E desde quando, Suzana governa Trionte sozinha? – pergunta Thomas,
olhando fixamente para o soldado.
– Com todo respeito, Majestade!
– Pensamos que Vossa Majestade estivesse morto! – responde o capitão da
guarda, amedrontado.
– Pois saibam, que eu e a rainha Helena, estamos vivos e não iremos tolerar
maus tratos a este, e a nenhum povo!
– Eu exijo falar agora com Suzana! – grita Thomas, exigindo uma reunião
com sua irmã para debater o assunto.
– Agora mesmo, Majestade!
– Vamos chamar a rainha – responde o soldado, correndo a enorme escadaria
até chegar aos portões.
Os camponeses cercam Thomas, que esperava em frente à tal escadaria, os
mesmos murmuravam, ainda sem acreditar, que Thomas realmente estava ali. Já,
um deles, em meio à multidão, sobe em um barril e grita, seguido pela multidão
que apoia o anunciante.
– O rei Thomas voltou para nos libertar!
– Ele é nosso herói! – grita o camponês anônimo.
– Clap! plec! plec! plá! plá! – aplaude o povo.
Então, Suzana desce as escadas lentamente, e o que antes era uma expressão
de alegria nos rostos dos camponeses, agora se torna uma expressão de horror e
pânico, fazendo com que aquela comemoração silencie e dê espaço para os reis
falarem. Logo a rainha decide confrontar seu irmão.

72
– Ora, ora, Thomas!
– Decidiu finalmente fazer uma visitinha a sua irmã querida? – debo-
cha Suzana.
– Quando, exatamente, você se tornou ditadora, Suzana? – pergunta Tho-
mas, mostrando que não veio aturar o veneno da irmã e que ia direto ao assunto.
– Logo que vocês morreram, irmãozinho! – responde Suzana, expressando
sua indecência.
– Poupe a mim e ao povo de seu veneno! – fala Thomas, enfrentando a
irmã diante de todos.
– Sabe qual a diferença entre eu e você, Thomas?
– Você se importa em manter coisas, tão, insignificantes...
– União, irmandade, amor…essas coisas...
– Eu não!
– Eu quero poder a todo custo e exijo submissão de todos – responde
Suzana, mostrando sua verdadeira face ao irmão, que finalmente havia aceito a
verdade sobre a mesma.
– Eu costumo interpretar muito bem, meu papel como rei, Suzana!
– Eu cuido do meu reino ao todo, não priorizo o castelo – fala Thomas,
alfinetando Suzana.
– E acaba perdendo tudo, com isso! – responde Suzana, insatisfeita por não
conseguir humilhar o rei.
– Engana-se, se pensa dessa forma!
– Se para você, o poder e as riquezas vêm antes do bem-estar de cada cidadão,
é sinal de que em Trionte não há lugar para você!
– Pelo visto, você já perdeu o respeito pela aliança, desonrou nossos pais e
ignorou as regras do conselho de Esguardian – humilha Thomas, mostrando a
todos os maiores erros da irmã.
– Regras, que nos obrigam a viver como fantoches, para um bando de velhos
obcecados por seu deus fantasioso?
– Regras criadas para impedir, que façamos aquilo que nos é vantajoso, só
porque, eles acham que é errado?
– Mesmo sabendo que, o que é pecado, ou não, depende da decisão deles?
– revida Suzana, na tentativa de corromper Thomas.
– E é assim, que você pretende resolver tudo?
– Criando, uma ditadura?
– Matando e ferindo pessoas inocentes? – pergunta Thomas, empático com
a realidade vivida pelo povo.
– Quem liga para regras, Thomas?
– Trionte está bem melhor agora! – responde Suzana, preservando sua ideia.
– Trionte liga, Suzana!

73
– E tem mais, eu e Helena estamos prontos para defender os nossos, se
for necessário!
– Mesmo que isso signifique guerra! – ameaça Thomas, pronto para lutar
até a morte para consertar as coisa.
– Então, você está disposto a acabar com nossa irmandade, só por causa de
uma decisão contrária a sua? – pergunta Suzana, percebendo que não poderia
contar com o irmão.
– Você fala como se suas decisões fossem as melhores até agora, mas não
notou os males que sua loucura causou a esta gente.
– Você ignora o fato de quase ter matado metade de seus camponeses com
seus motins e roubos só para satisfazer seu desejo doentio por poder.
– Caso você não tenha notado, Suzana, em Trionte nós temos o amor do
nosso povo e a verdadeira lealdade, coisa que não encontrei em outros reinos! –
responde Thomas, olhando seriamente para sua irmã.
– Talvez os outros reinos estejam certos e só você, quer ser diferente, Tho-
mas! – alfineta Suzana.
– Então certamente você deverá se juntar a eles, já que nem eu, nem Helena
apoiaremos esse seu plano ridículo – responde Thomas, expulsando-a de Trionte.
– Você não teria coragem de botar a vida do seu povo em risco, só por causa
de uma desavença, isso seria tolo da sua parte! – fala Suzana, fingindo se importar
para ganhar o apoio do povo.
– Sim, eu não coloco a vida do meu povo em risco, nunca.
– Mas fique certa de uma coisa...
– Se eu tiver que escolher entre você e eles, eu os escolho e não vou permitir
que você inunde Trionte com suas ideias erradas. – responde Thomas, informan-
do-a de que àquela altura a rainha não valia nada.
– Isso se aplica à Helena também? – pergunta Suzana, provocando o irmão
ao mencionar o nome de Helena em desonra.
– Suzana, Helena é boa!
– Não a compare com você e com sua mente degenerada! – responde Tho-
mas, friamente indicando que a irmã não tinha propriedade para falar de Helena.
– Então é assim que vai ser? – pergunta Suzana, constatando a certeza nos
olhos do rei.
– É!
– Encoste, um dedo, em qualquer cidadão triontino e você verá o céu escu-
recer – responde Thomas, colocando mais medo ainda na irmã.
Enfim, os dois reis partem enfurecidos com a tensão que acabara de acon-
tecer entre ambos, Suzana entra em seu castelo e volta para seus aposentos, onde
Elias a esperava, despido em sua cama. Thomas volta à Castindell e conta à Helena
sobre o acontecido, que ficara igualmente enfurecida com Suzana.

74
Na manhã seguinte, Suzana vai ao encontro de seus irmão para tirar satisfa-
ções, ela havia ficado irada ao ser confrontada na frente de seus camponeses e por
isso batera incansavelmente na porta até que os serviçais notassem o escândalo
causado pela mesma.
– Majestade?
– Exijo ver meus irmãos, agora! – responde Suzana, de forma seca e arrogante.
– Sim, Majestade!
– Vou chamá-los, agora mesmo – fala a serviçal, enquanto estendera o braço
pedindo para que a rainha entrasse e se acomodasse.
– O que você quer Suzana?
– Já não bastou o escândalo ontem? – pergunta Thomas, descendo à esca-
daria do grande salão que levara às torres.
– Você não tinha o direito de me tratar daquele jeito, Thomas!
– O que o povo vai pensar de mim agora? – responde Suzana, preocupada
com os estragos causados pela briga no dia anterior.
– Deixe-me ver se eu entendi!
– Você veio aqui depois do escândalo de ontem, porque tem medo do que
eles irão pensar de você? – debocha Thomas, ao perceber mais um defeito na irmã.
– Você é desprezível, Suzana! – grita Helena, repreendendo a irmã.
– De qualquer forma, isso não ficará assim! – responde Suzana, dando a
entender que estava preparada.
– O que você vai fazer?
– Vai mandar seus guardas me prenderem? – debocha Thomas, dispondo da
consciência de que Suzana não tinha poder militar para enfrentar uma batalha
com Agaroff.
– Estou declarando guerra a vocês! – responde Suzana.
– Espero que você tenha noção de que está colocando em risco a vida
de milhares de camponeses inocentes – fala Helena, explicando a importância
da vida.
– Vale a pena o sacrifício para salvar minha imagem! – responde Suzana
dando a entender que sua imagem valia mais que Trionte e que estaria disposta
a matar tudo e todos para defender sua soberania.
– Saia de Castindell, agora! – grita Thomas, enquanto empurrava a irmã
em direção à saída.
– Você pode me expulsar, Thomas.
– Mas, em breve, vocês que sairão de Trionte! – grita Suzana, afrontando
o os irmãos.
– Isso, é o que a gente vai ver Suzana! – responde Helena, olhando com
desprezo para a irmã enquanto os guardas de Castindell a escoltavam até a saída.

75
Então, Suzana sai de Castindell, mais uma vez humilhada por seu irmão e volta
para seu reino, onde convoca uma grande reunião entre os membros da corte e os
camponeses para anunciar a guerra. Vendo a insanidade da rainha ao declarar guerra
aos reinos de seus irmãos, os camponeses se revoltam e a mesma solicita a ajuda de
Elias para acalmar a todos, mas o povo ignora-o, fazendo assim com que a rainha
pratique profanações à Trionte para conseguir a atenção do povo. Ela beija Elias
na frente de seus servos e isso gera indignação em todos, pois, diante de Dyllewalt,
um reino, categoricamente religioso, tal como os reinos vizinhos, um membro da
realeza manter relações com um servo, era considerado um ato profano e impuro.
Seus irmãos, então, souberam pela boca dos camponeses de Castindell que
em uma semana haveria uma reunião, promovida por Suzana e decidiram par-
ticipar, mesmo sem um convite formal, o que àquela altura nunca seria o espe-
rado. Chegaram, trazendo com eles outra desavença de conhecimento público,
deixando, assim, mais um ponto negativo para a aceitação da imagem da rainha
diante de todos.
– Meu caro povo!
– É com pesar que anuncio que entramos em guerra com os reinos de Cas-
tindell e Agaroff – anuncia Suzana, tentando conter o sorriso de satisfação que
tentava se estabelecer em seu rosto.
– Pesar?
– Como pode pesar?
– Você não tem sentimento algum! – grita um camponês, apoiado moral-
mente na resistência que se levantava contra o domínio de Suzana.
– Sugiro que você segure a língua, camponês! – responde Suzana, tentando
reprimir a opinião dos camponeses.
– Estamos fartos dessa ditadura, rainha! – grita outro camponês.
– Por favor, meu povo, vamos manter a calma! – grita Elias, tentando assumir
o posto de rei de Dyllewalt.
– Cale-se!
– Você não é rei! – grita o camponês.
– Venha amor, vamos mostrar para eles quem manda!
– Smash! Smash! – responde Suzana, enquanto Elias a tomava em seus
braços e beijava sua boca.
– Wham! bam! – porta se fechando.
– Mas que pouca vergonha é essa? – pergunta Thomas, aos gritos
– Sua, profanazinha imunda! – grita Helena, descrendo no que acabara
de presenciar.
– Não me desrespeite em meu reino, Helena!
– Posso mandar prender você por desacato à autoridade! – grita Suzana,
tentando derrubar a irmã moralmente.
– Autoridade, você? – debocha Helena.

76
– Ela não respeitou nem os boatos da nossa morte, Helena, que dirá os
cidadãos do próprio reino –responde Thomas, lembrando à irmã da falta de
índole de Suzana.
– Você não pode falar nada!
– Você não sabe o que ela teve de fazer, para trazer vocês de volta! –grita
Elias, defendendo-a diante dos reis.
– Vejo que os subjugados, perderam o respeito por Suas Majestades!
– Parabéns, Suzana!
– Agora vejo, seus grandes feitos! – debocha Thomas, incomodado por Elias
o dirigir a palavra.
– Obrigada, Thomas!
– Vamos continuar, amor! – responde Suzana, se atirando nos braços de Elias.
– Um momento majestade!
– Nós não aceitamos continuar com essa profanação a Trionte, que Vossa
Majestade anda promovendo. – grita um camponês, interrompendo o momento
quente possivelmente se formaria entre os dois.
– Ora, cale a boca, criado!
– Que insolência! – grita Elias, inconformado com a resistência.
– Cale a boca, você, Elias!
– Você traiu seu reino para ficar do lado negro da aliança! – responde Helena,
encaminhando indiretas para a irmã.
– Não entendi o que você quis dizer com, “lado negro da aliança”, Helena!
– fala Suzana, fingindo desentendimento de sua parte com relação ao assunto.
– Você nunca foi, santa!
– Desde criança... – grita Thomas, ameaçando denunciar o passado sujo de
Suzana na frente de seu povo.
– Thomas, vamos embora! – implora Helena, puxando o braço do irmão.
– Solte-me, Helena!
– Agora, ela vai ouvir.
– Olhe, Suzana, desde criança você vem mantendo esse tempera-
mento agressivo.
– Vivia criando mentiras sobre a criadagem, só, para ver o papai perder
a cabeça!
– Jogando uns contra os outros no reino, destratando outros reis, subjugando
e oprimindo as damas de companhia...
– Você é uma desonra para nossa família!
– E por isso, pelo poder a mim investido, estou te banindo da família real
triontina! – grita Thomas, enquanto olhava fixamente para a rainha.
– Thomas, não! – interfere Helena, na tentativa de fazer-lhe mudar de ideia
e assim preservar a postura da família real.
– Como quiser, Thomas!

77
– Guardas, prendam eles! – grita Suzana, ignorando as investida de Helena
para manter a paz e dando seu famoso gesto aos guardas para que prendessem
os reis.
– Não ousem obedecer a essa ordem, ou eu juro que Agaroff vai se voltar
contra Dyllewalt hoje mesmo! – grita Thomas, puxando sua espada para se
defender dos guardas.
– Você tem o apoio de Castindell, Thomas! – grita Helena, também puxando
sua espada.
– Tarde demais, Thomas!
– A guerra já foi declarada por mim – grita Suzana, tentando colocar sua
ordem a frente à do rei.
– Isso não é uma disputa, Suzana – responde Thomas, presenciando um
suposto ciúme devido à uma demasiada competição promulgada apenas na mente
da rainha.
– Guardas, obedeçam! – grita Suzana.
– Antes de pegar os reis, terão que passar por cima de nós! – grita o campo-
nês, formando junto à resistência um paredão para a defesa dos reis.
– General, chame o batalhão! – grita Elias, tomado por seu medo de que
houvesse um motim em massa.
– Enquanto isso...
– Sua chegada foi oportuna, Thomas!
– É um bom momento para comunicar que eu e Elias estamos nos afi-
liando às terras do Sul – responde Suzana, acreditando que finalmente ganhara
de Thomas.
– Traidora! – grita Helena, indignada com a capacidade da irmã.
– Você não é muito esperta, não é?
– Vai se afiliar a um povo que atacou seu reino? – pergunta Thomas, lem-
brando-a do ataque à Dyllewalt.
– Matei o rei, que atacou meu reino!
– Agora são minhas terras! – responde Suzana, sem remorso ao trair
seus irmãos.
– Faça bom proveito! – debocha Thomas.
– Claro! – responde Suzana, com a chegada do batalhão ao grande salão.
– Isso é o que acontece com os traidores!
– Observem, e temam! – grita Suzana, enquanto presenciava com grande
prazer seus irmãos serem acorrentados.
– Esqueçam os prisioneiros, salvem a Majestade! – grita o general, ao ver os
cidadãos tentando atacar a rainha enquanto criavam distração para que os reis
pudessem executar sua fuga sem maiores surpresas.

78
– Capítulo 10 –

A aliança da vilania

A fim de não chamar a atenção, os reis foragidos, vão ao encontro de Gremó-


rio, que como o esperado, estava em seu reino e com a ajuda de sua irmã,
o rei conta com detalhes, o que aconteceu em Dyllewalt para o regente, que se
choca ao saber que a profecia feita pelo goblin estava prestes a se realizar e oferece
exílio aos reis até que a fumaça espalhada pela rainha má, baixasse por completa.
Receberam a notícia, então, de um camponês exausto, que tentara seguir os reis
para dar a notícia de que os camponeses foram mortos pelo exército Dyllewaltiano
e a resistência estava doravante dissolvida, restando apenas aos reis, tramarem o
golpe perfeito, para derrubar a rainha imponderada de seu trono.
Mas nem tudo estava de fato resolvido ao se esconder, Thomas e Helena
eram perseguidos, sem quaisquer possibilidades de se defender e, constantemente,
com grande dificuldade de ocultarem suas identidades, estavam em reuniões
secretas com alguns cavaleiros da Ordem d´Aquino, uma sociedade secreta de
cavaleiros que defendiam a permanência de Thomas no poder absoluto de Trionte.
Lá discutia-se, importantes estratégias de defesa e ataque, mas, o que era bastante
notório nestes homens, era a máxima cautela com relação à segurança de todos,
principalmente dos camponeses.
Contudo, até na mais perfeita irmandade, infelizmente existe a presença de
infiltrados. Certa noite, um dos membros de tal irmandade, tramou sua própria
vingança contra os reis, este almejava o poder da monarquia e faria tudo para
conquistá-la, inclusive, trair seu companheiros. Sem tardar, roubou um cavalo do
estábulo e saiu de seu reino com destino a Dyllewalt, onde revelou a localização
dos reis para Suzana que, deliberadamente e sem nenhuma estratégia, enfim, con-
segue prender os reis, acusados anteriormente de traição ao seu regime ditatorial,
não deixando Gremório de fora, que foi acusado por acobertar tal traição, tendo
como punição a pena de morte por açoitamento, que fora assinada e selada pela
corte Dylleclestiana, a qual apoiava o governo ditatorial de Suzana com base na
premissa da eficácia dos métodos de tortura para estabelecer a disciplina.
Já nas masmorras, Helena havia desistido completamente de lutar, enquanto
que Thomas e Gremório tentavam a todo custo achar maneiras inteligentes de
fugir daquele de sua cela.
– O que nós faremos, Majestade? – pergunta Gremório, imaginando que
Thomas tivera um plano em sua mente.
– Não sei Gremório!
– Mas estou pensando em algo rápido! – responde Thomas, olhando para
os cantos de tal cela, a procura de qualquer objeto pontiagudo que pudesse
servi-lhe de chave.
– Vocês não entendem?
– Acabou!
– Suzana venceu – fala Helena, enquanto limpava os olhos, após horas
de choro.
– Enquanto eu viver farei o impossível para proteger Trionte!
– Você entendeu?
– Gremório, me passa aquele prego ali!
– Trac! Track! Track! – responde Thomas, acreditando que o melhor estava
para acontecer, enquanto tentara abrir os portões da cela com um prego enfer-
rujado que acabara de avistar no canto da parede.
– Majestade, eu acho que esse prego é muito pequeno para essa fechadura!
–fala Gremório, observando o tamanho da fechadura.
– Hum!
– É verdade! – responde Thomas.
– Aqui, tente com este – fala Gremório, puxando outro prego que achara
em baixo das camas.
– Troc! Troc! Troc! – Thomas usa o prego maior.
– Innnnhhhhh!
– Bam! – os portões se abrem.
– Conseguimos!
– Vamos lá, Majestade, vamos salvar Trionte!
– Majestade? – fala Gremório, correndo em direção ao corredor que os
levaria direto à sala do trono.
– Vá à frente, Gremório!
– Eu já estou indo! – ordena Thomas, ao perceber a delicadeza do diálogo
que iniciaria com sua irmã.
– Sim, Majestade! – responde Gremório, tomando a frente.
– O que foi Helena? – pergunta Thomas, agachando-se diante da irmã, que
estava chorando sentada diante das grades de ferro.
– Acabou, Thomas!
– E nós perdemos!
– Buaaaaá! – responde Helena aos prantos.
– Ei, ei.
– Desde quando você tem medo das ameaças de Suzana? – pergunta Thomas,
amolecendo sua voz em solidariedade ao trauma de Helena.

80
– Isso é real Thomas!
– Não é como um de seus treinos de espadas – explica Helena, incompreen-
dido seu irmão que insistia em lutar.
– Helena, você se lembra do que eu falei para você quando estávamos
saindo de Lostmalt? – pergunta Thomas, sugerindo que a mesma lembrasse dos
momentos de aproximação entre os dois.
– Thomas, muita gente vai morrer! – responde Helena, descrente.
– Não se vencermos! – fala Thomas, restaurando sua postura.
– Suzana é poderosa agora, Thomas!
– Você ouviu, ela conseguiu se afilar às terras do sul – responde Helena.
– Suzana tem as terras do sul e nós temos Lostmalt ao nosso dispor!
– Não será uma guerra justa, eu sei!
– Mas vamos lutar sem sessar, até que a paz seja restaurada em Trionte! – fala
Thomas, com sua opinião imutável.
– E, o que, o faz pensar que temos chance de derrotar Suzana? – per-
gunta Helena.
– Suzana está ao lado do sul, por algo que eles nunca irão dar a ela –res-
ponde Thomas.
– Como assim? – pergunta Helena, confusa.
– Ela quer poder, Helena!
– Nada mais! – responde Thomas.
– Como você pode ter tanta certeza, de que não existe um pacto entre
Suzana e eles? – pergunta Helena.
– Você não acha estranho, o fato de que tudo que Suzana tem feito até agora
seja apenas para o bem dela e não para as terras do Sul?
– Ela quer apenas somar o poder dela, Helena!
– E se não a detivermos, será só questão de tempo até Trionte ser esmagada
pelos reinos de Willdust – responde Thomas.
– Vem comigo? – pergunta Thomas, estendendo sua mão à rainha.
– Sim! – responde Helena, convencida de que Suzana seria derrotada.
Então, os irmãos, juntamente com Gremório, iniciam o ataque ao castelo
de Dyllewalt e acabam matando todos os guardas à frente, até chegar no corredor
principal onde esbarram em Elias, que, ao ver as Majestades, lentamente puxou
a espada de sua cintura, deixando claro que haveria um duelo entre ambos.
– Sshusinnnnnh! – Elias puxa a sua espada.
– Fico frustrado com sua capacidade de sempre escapar da morte, Thomas!
– fala Elias.
– Então, sugiro que se mate, pois, não vou desistir tão cedo! – responde
Thomas, também puxando sua espada.
– Cobra asquerosa! – grita Helena, ofendendo Elias.

81
– Mande sua subordinada se calar se não quiser ser esquartejada aqui mesmo!
– grita Elias, ameaçando a rainha.
– Em primeiro lugar ela é a rainha de Trionte, não minha subordinada!
– E, em segundo, eu ordeno que você guarde sua espada e se renda! – res-
ponde Thomas, rebatendo as investidas de Elias.
– Você, não tem mais poder! – debocha Elias, conhecendo o temperamento
do rei.
– Qualquer um que pensar, que perdemos nosso poder nestas terras, está
enganado! – fala Helena, defendendo sua soberania.
– É o que ele diz!
– Sabemos muito bem que Suzana obteve grandes conquistas após sua
aliança com o sul! – responde Elias, armando um contra-ataque ao rei pelo viés
da dúvida.
– Vejo que você fez sua escolha! – fala Thomas, apontando sua espada
para Elias.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
Com sorte, o rei conseguiu, durante sua defesa, arremessar a espada de Elias
para longe de seu corpo e quando o mesmo estava prestes a alcançá-la, Thomas o
surpreende ao aparecer em sua frente, apontando a espada para seu rosto, a partir
daí, o jogo havia mudado. Enquanto isso, Suzana no salão de seu trono escreve
um pergaminho para Luan se vangloriando por conseguir tomar Trionte para si.

Reino de Dyllewalt, 10 de Setembro de 1536


Salve irmão Luan
Informo que detenho o completo poder de Trionte, espero ansiosamente a
chegada das tropas niwdenianas para completar a dominação destas terras.
As ameaças conhecidas como Thomas Afftton e Helena Goldflower já foram
confinadas nas masmorras.
Fez bem em sequestrar Simon, mas certifique-se de que estará sob nosso
controle quando o momento chegar.
Suzana Ediphy, a águia

82
Logo após, a rainha envia a carta para Niwden, aguardando, assim, a res-
posta do rei corrupto, enquanto ouvira os estranhos barulhos vindos do corredor,
decidindo, assim, dar uma olhada para ver se seu amado estava bem. Contudo,
surpreende-se ao ver seus irmãos e o cavaleiro soltos e seu amado desarmado no
chão. A mesma decide puxar sua espada e vingar Elias tentando acertar Thomas,
mas é neutralizada por Helena que defende o rei com um só golpe que inter-
rompera a ação de Suzana.
Ao ver que seu castelo havia sido tomado por seus irmãos, Suzana chama os
guardas e será a vez de Gremório mostrar valentia e defender os irmãos da ameaça
militar. O cavaleiro, revela a Thomas que durante um episódio em que Suzana
conversara em particular com Elias, a rainha havia confessado ao amante que seu
intuito era matar Simon para assumir o trono de Kwaizahdar, já que tal reino
detinha uma influência maior em Trionte e nos exterior, sem notar que Ilda ouvia
tudo pelo lado de fora do quarto. O rei que ficara irado ao ouvir tal depravação
vinda de sua irmã, acertou apenas um soco face de Elias, que caiu no chão, já
desmaiado, mudando, assim, o oponente para Suzana. O mesmo tenta matá-la
devido ao ódio que florescia dentro de si, mas, Helena e Gremório o impediram.
– Elias!
– Você está bem?
– Mas como? – pergunta-se Suzana, ao ver que seu irmão tinha mais força
que o traidor.
– Sshusinnnnnh!
– Ahhh, maldito! – grita Suzana, puxando a sua espada para matar seu irmão.
– Tsinnn! – defende Helena, cruzando imediatamente sua espada com
Suzana e liberando um som ensurdecedor de ferro trincando ao encostar da espada.
– O que?
– Não desta vez! – fala Helena, ainda sem entender o porquê de seus irmãos
continuarem insistindo.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Guardas! – grita Suzana, acionando os guardas para facilitar seu duelo.
– Não se aproximem dos reis, aqui quem fala é o chefe dos cavaleiros de
Kwaizahdar! – grita Gremório.
– Sim, Senhor! – respondem os soldados, obedecendo-o.
– O que estão fazendo?
– Aqui quem manda sou eu! – grita Suzana, tentando estabilizar seu poder.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Soldados, não obedeçam a ela! – grita Gremório, informando que havia
tirado o poder da rainha.

83
– Sim, Senhor! – respondem os soldados.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Cala a boca, vassalo! – grita Suzana, ofendendo o cavaleiro.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Thomas, ela pretende matar Simon para ter o trono de Kwaizahdar! – grita
Gremório, informando os planos da rainha.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Ela o quê? – pergunta Thomas, aos gritos enquanto seu corpo estremecia
devido à alta dose de raiva que estava sendo injetada no rei ao revelar das falca-
truas de sua irmã.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Gremório!
– Ele vai matá-la! – grita Helena, implorando para que o cavaleiro pare o
rei que a esta altura não respondia mais por si.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Majestade, pare!
– Não vale a pena! – grita Gremório.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Desgraçada! – grita Thomas, liberando seu ódio contido.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Ela acabou com tudo!
– Matou pessoas inocentes!
– Devastou Trionte! – lembra Thomas, ciente do choque de informações
que aconteciam em sua mente.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Não vale a pena, Thomas! – grita Helena, também tentando parar
seu irmão.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Ajude-me, Gremório! – grita Helena, correndo para segurar o irmão
juntamente com o cavaleiro.
– Tsinnn! Tsinnn!

84
– Tsinnn! Tsinnn! – espadas se cruzando.
– Ahhhhh, me soltem! – grita Thomas, golpeando o ar enquanto era levado
para longe da rainha, que o provocava constantemente.
– Calma, Thomas! – grita Helena, colocando toda a sua força nos braços
para que o irmão não escapasse.
– Vou matar essa desgraçada! – grita Thomas, enquanto as lágrimas caiam
de seus olhos e sua voz falhava.
– Isso não vai mudar nada, Majestade! – explica Gremório.
– Ouça seus amiguinhos, Thomas!
– Seja um tolo!
– Perca a chance de me matar, novamente! – debocha Suzana, enquanto se
afastava lentamente como uma víbora após seu bote.
– Deviam ter deixado eu matá-la! – grita Thomas, enquanto sua última
lágrima pingava de seu rosto.
– Em que isso acrescentaria, Thomas?
– O estrago já foi feito! – responde Helena, convencendo o irmão de que
aquilo acabara ali.
– Vamos, Majestade, os guardas já devem estar vindo! – alerta Gremório.

85
– Capítulo 11 –

A Revelação

A o conseguir escapar de Dyllewalt, os heróis enfrentaram mais um, grande


problema, eles precisavam de outro lugar que não fosse fácil de localizar
para passar uns tempos, já que, se esconder no reino de seu irmão, não havia
ajudado muito. Helena, então, menciona que em seu reino, havia um quarto
secreto onde eles poderiam ficar acomodados, e o rei, decide saber mais sobre, já
que, este, obviamente, não estava dentro da planta do castelo. A rainha, explicara,
então, que o pai havia mencionado sobre o quarto antes de morrer, ele havia
falado que tal cômodo só poderia ser usado em momentos emergenciais, para
esconder, bebês e itens de grande valor. Helena explica também, que não sabia
da localização exata do quarto, mas que era perfeito para a tal situação.
Na ausência de opções melhores, todos aceitaram a ideia e apressaram-se
para chegar ao reino de Castindell, antes do luar. Existiam, dois caminhos, a
floresta e o contorno pelo reino de Dyllewalt, voltar por Dyllewalt, estava fora
de cogitações; logo os reis, optam, pela primeira alternativa, encontrando, assim,
uma grande surpresa no caminho.
Ao seguir pela floresta, os heróis encontraram uma densa neblina que des-
via-os da rota inicial, levando-os, lentamente, para dentro da mata, onde, ao dar
o primeiro passo, deparavam-se com as ruínas do castelo dos reis anciões, logo,
os reis, sem palavras, observam a enorme construção, outrora visitada pela rainha
má. Misteriosamente, uma grande luz azulada surge no céu, acompanhada de
trovões que cessaram logo antes, da voz de HARAGUM, soar em proporções
extremas, alertando os heróis, de que eles eram os escolhidos que iriam lutar para
libertar o povo triontino, da presença do mal, e, da luz fez desce um totem de
ouro muito bem lapidado, com letras estranhas ,talhadas no mesmo, que mais
pareciam criar uma espécie de nome, ou frase, explicando, assim, que eles não
estariam sozinhos nessa guerra, que bastava segurar o totem e clamar para que a
ajuda se fizesse presente.
No meio das ruínas, move-se uma pedra que lentamente se guarda no
meio de outras, revelando uma escada que levara ao que parecia ser um grande
esconderijo no sub solo.
– Daqui o adversário não passará! – fala HARAGUM, passando-
-lhes segurança.
E, com receio, os heróis obedecem tal deus, entrando no lugar esquecido
pelo tempo. Ao fechar das portas de pedra que bloqueavam a passagem, Gremó-
rio olha para trás, podendo ver, assim, duas grandes imagens indescritíveis que
pareciam se fundir, criando, algum tipo de muro, dentre as arvores, não sendo
compreendido pelos outros ao contar sobre.
– Que raios foi isso? – grita Gremório, surpreendido com o que acabara
de acontecer.
– O quê? – pergunta Helena, sem compreendimento por não presenciar o
mesmo que o cavaleiro.
– Vocês não viram? – pergunta Gremório.
– Não! – responde Thomas, tentando se apoiar em algum lugar para se guiar
pela escuridão do recinto.
– Você está bem? – pergunta Helena, expressando preocupação com a saúde
mental do cavaleiro.
– Ahh, sim!
– Devo estar cansado, só isso! – responde Gremório, secando o suor de seu
rosto com um retalho que havia puxado do interior de sua armadura.
– Cuidado! – fala Helena, tentando achar as paredes para também se guiar
na escuridão.
– Sim!
– O que vamos fazer agora? – pergunta Gremório, enquanto ouvia os passos
dos mesmos cortarem o silêncio do esconderijo.
– Você não tem pedras ai? – pergunta Thomas, projetando uma fogueira
em sua mente.
– Para quê, Majestade? – pergunta Gremório, sem nem ao menos tentar
imaginar qual seria a ideia do rei.
– Fazer fogo! – responde Thomas.
– Acho que não! – fala Gremório.
Sem demora, as muitas tochas cobertas pela mesma escuridão, se acenderam
e ambos, mais uma vez, haviam ficado maravilhados com a magia que emanava
à sua volta, logo, perceberam ao explorar aquele lugar, que ali existia tudo o que
eles precisariam para entrar na guerra. O lugar dispunha de inúmeras armas, bem
como, objetos de defesa, como, armaduras e escudos de prata.
– Mas como pode? – pergunta Gremório, não acreditando na sorte grande
que haviam tirado.
– É claro!
– Então, era esse o lugar mencionado na caçada das sete arcas! – fala Thomas,
maravilhando-se ao avistar aquela paisagem dourada.
– Do que você está falando, Thomas? – pergunta Helena.
– A caçada das sete arcas, foi uma expedição realizada por nosso pai quando
ele se tornou rei – explica Thomas, retornando seu olhar para a irmã.

88
– Mas o que ele pretendia com isso, Majestade? – pergunta Gremório.
– Segundo os escritos, que ele deixou, um velho senhor havia revelado para
um soldado sobre a existência um lugar inundado de armas e riquezas dentro
de nossas florestas.
– Rapidamente, o mesmo, contou para seus familiares, que em pouco,
espalharam para o resto do reino, chegando assim aos ouvido de nosso pai.
– Durante anos, ele mandou várias, e, várias tropas para a floresta, mas
nunca obteve sucesso em sua busca! – responde Thomas.
– Como, você soube disso? – pergunta Helena.
– Tive acesso à alguns manuscritos dele – responde Thomas, após tomar
conhecimento das carta deixadas pelo pai.
– Isso tudo, é bastante estranho! – fala Helena.
– Por que diz isso? – pergunta Thomas.
– O papai, deixou um segredo em cada canto!
– Primeiro, foi o meu esconderijo e depois, sua caçada! – responde Helena,
estimulando sua imaginação.
– Não tenho certeza, mas acho que ele está querendo nos mostrar algo. –
fala Thomas.
– Com todo respeito, Majestade, acho, que já descobrimos! – responde
Gremório, apontando para o cenário vasto em armas.
– Como assim? – pergunta Thomas, incompreendendo onde o cavaleiro
queria chegar.
– A guerra é o segredo! – responde Gremório.
– Isso é um absurdo, Gremório! – fala Helena, olhando para o cavaleiro
que rapidamente cala-se.
– Talvez não!
– Se HARAGUM nos revelou este lugar e nos escolheu para lutar, isso já
é o bastante para nos assegurarmos de que ele tem grandes planos para nós! –
responde Thomas.
– Talvez o criador tenha testado o rei Nícolas para ver até onde a sua fé
estaria forte – fala Gremório.
– Eu mereço, mais loucos!
– Gente, não se esqueçam de que ainda temos um exército para formar! –
implica Helena com ambos.
– Perdão, Majestade! – responde Gremório olhando para a rainha.
– E como faremos isso? – pergunta Helena, na tentativa de absorver
mais informações.
– Não se esqueçam de que ainda temos uma arma secreta! – fala Thomas.
– Do que você está falando, Thomas? – pergunta Helena.
– Ainda temos nossos reinos – responde Thomas.

89
– Mas como vamos chegar lá?
– Suzana já deve ter tomado nossos reinos para seu sistema – fala Helena.
– Eu sei como ir sem ser visto! – responde Gremório.
Deste modo, o cavaleiro prossegue até a porta da passagem, mas não con-
segue abri-la. Então, mais uma vez, a magia de tal entidade divina surpreende os
herois, fazendo uma grande rachadura na rocha, abrindo, assim, um grande túnel.
Enfim, o cavaleiro adentrou o túnel, sem saber que daria de cara com o reino de
Agaroff, que, como o esperado, estava infestado de soldados enviados por Suzana.
– Urrrrrrrh!Bumm! – rochas se abrindo.
– O que foi isso? – pergunta Thomas ao se assustar.
– É, parece que ele quer mesmo que a gente vença essa guerra – fala Helena,
fazendo uma observação sobre os planos do deus.
– Ótimo, eu vou entrar! – responde Gremório.
– Você ficou louco? – pergunta Helena, puxando-o pelo ombro.
– Majestade, é nossa única chance!
– Preciso ver se esse túnel dá em alguma saída próxima – responde Gremório,
recompondo sua postura diante da rainha.
– Ele está certo! – fala Thomas.
– O que?
– Você vai permitir isso? – pergunta Helena, discordando.
– Precisamos de mais informações sobre nosso inimigo, Helena! – res-
ponde Thomas.
– Concordo, mas não seria mais conveniente fazer isso com um exercito ao
nosso lado? – pergunta a rainha, optando pela pós execução do plano sem pensar
no desenvolvimento de tal.
– É o que estamos tentando fazer aqui! – responde Thomas, tentando mos-
trar que o plano era promissor.
– Não, você está mandando um homem sozinho para lutar contra um
exército! – fala Helena, sem entendimento.
– Este homem indefeso ao qual você se refere, é o chefe dos cavaleiros de
nosso irmão!
– Não conheço homem mais qualificado, se não, não teria alcançado,
tal patente!
– Estou certo, Gremório? – pergunta Thomas, qualificando o cavaleiro
para a missão.
– Em absoluto, Vossa Majestade! – responde Gremório, se curvando em
respeito às Majestade.
– Pois bem, vá!
– E tome o máximo cuidado para não ser visto, queremos nosso melhor
cavaleiro bem, para a batalha! – responde Thomas, com um sorriso.

90
Ao descobrir que o fim da passagem se estendia até, uma viela do vilarejo
de Agaroff, Gremório encontra Hismat, um jovem camponês que passava pela
viela, enquanto carregava uma carroça com inúmeros pêssegos. O cavaleiro o
puxa para a saída da passagem e tapa a boca do camponês para que assim ele
entendesse que não poderia fazer barulho, acalmando-o e fazendo-o aceitar a
tarefa de recrutar pessoas para a batalha.
– Ahhh! – tenta gritar o camponês, ao ser agarrado pelo cavaleiro e puxado
para as sombras.
– Unh!Unh! – grito abafado.
– O que foi isso? – Alerta-se um soldado de Suzana, após ouvir o grito
inicial do camponês.
– Fique calmo, fique calmo!
– Sua Majestade, o rei Thomas me mandou – fala Gremório, soltando
o homem.
– Você, veja por ali! – grita outro soldado de Suzana, exigindo os outros
militares presentes vasculhassem o local.
– Precisamos da sua ajuda! – explica Gremório ao homem.
– Mas eu sou só um camponês, em que, eu posso ser útil? – pergunta
o camponês.
– Leve-me até sua casa, aqui não é seguro! – responde Gremório, despindo
sua capa e a colocando sob a sua cabeça com o objetivo de não ser reconhecido.
Ao chegar à casa do camponês, Gremório conta-lhe todo o acontecido
sonhando com uma resposta positiva do mesmo.
– Precisamos que você recrute os camponeses do reino de Agaroff e, em
seguida, passe para os demais reinos.
– Peça para seus seguidores, recrutarem camponeses de Kwaizadah e de
Castindell, precisaremos de todos nessa batalha.
– E que HARAGUM, esteja conosco! – fala Gremório, cheio de fé.
– Bem Senhor, farei o que pede! – responde o camponês.
– Concretize esse plano e será recompensado! – fala Gremório, estendendo
um leve sorriso de satisfação em seu rosto.
Ao voltar para o esconderijo, o cavaleiro conta o resultado de sua missão
para os reis que o parabenizam, assim reunindo as armas que encontram, para
os soldados que virão.
Vários meses depois, Hismat consegue secretamente convencer os campo-
neses de Agaroff a se unir ao rei, prosseguindo, como o combinado, até os reinos
de Kwaizadah e Castindell, obtendo, desta forma, sucesso em ambos.
Depois, o cavaleiro retorna ao reino de Thomas, tomado pelos camponeses
que haviam derrubado os soldados e assumido o poder dos reinos, tomando
conhecimento deste fato, Gremório os leva ao encontro dos reis e faz um discurso
motivacional onde é contestado por um simpatizante do governo da rainha.

91
– Devo admitir que não esperava ver, tantos homens reunidos em quatro
paredes! – brinca Thomas.
– HA!HA!HA!HA!HA! – riem os camponeses.
– TUUURUMMM! – Gremório soa uma trombeta que havia achado entre
as armas.
– Caros camponeses corajosos!
– Como vocês já devem saber Suzana se afiliou às terras do sul e tomou
conta de nossos exércitos por inteiro, restando apenas vocês, homens do campo,
para enfrentarem batalhões com centenas de soldados.
– É chegado o momento, de enfrentar uma das maiores e mais sanguinárias
batalhas de que já se teve registros em Trionte.
– Essa batalha, será um grande marco em nossas terras maravilhosas, para
mostrar aos outros reinos que temos poder nesta terra, que Trionte é nossa e
ninguém tem o direito de nos tomar! – explica Helena aos gritos.
– Por que nós iriamos nos matar por vocês monarcas?
– O que vocês têm feito por nós? – pergunta o simpatizante.
Os camponeses ficam em silêncio na tentativa de entender o confronto do
homem para com os reis, já que ambos eram tão justos e dedicados ao bem estar
de todo o povo e Gremório, defende os reis, fazendo-os lembrar dos grandes
feitos das Majestades.
– Como assim, “O que vocês têm feito por nós”?
– Esses são os reis, que todos os reinos quer ter!
– Eles, que partiram para nos defender, quando as terras do sul atacaram
o reino de Suzana!
– Eles, que foram dados como mortos, em mais uma tentativa falha dos
inimigos, de golpear Trionte, e, mesmo sabendo, dos riscos, voltaram para
lutar conosco?
– Eles que estão dispostos, a dar a vida para proteger cada um de vocês?
– É desses reis que você fala?
– Se, é, então você se esquece, de que, essas terras nunca foram tão prosperas,
como estão sendo agora e também se esquecem da condição miserável na qual
vocês se encontravam antes desses mesmos reis chegarem ao trono.
– O rei Thomas.
– Alavancou as produções por meio da mão de obra, diminuindo treze por
cento dos impostos, trazendo a vocês uma vida digna e cinquenta por cento de
suas colheitas.
– Ainda ofereceu, a carta espada, que lhes assegura a liberdade, sem tra-
balho escravo e um salário de cem triontos, quando, outros reinos pagam
com chicotadas.

92
– Devemos lembrar, que o rei Nícolas descendia de uma linhagem, devota
de práticas de escravidão e tortura, outrora abolidas durante o reinado da Vossa
Majestade, rei Thomas!
– A rainha Helena.
– Criou o forte dos limoeiros, na tentativa de nos defender de bárbaros,
que constantemente atacavam nossas plantações e roubavam tudo o que de mais
precioso existia em nossas casas.
– Potencializou o comércio marítimo e nos trouxe mercadorias de ilhas do
norte, nunca antes exploradas por Trionte.
– O rei Simon.
– Lutou arduamente para defender nossos recursos, quando os reinos do leste
ameaçaram enviar saqueadores para nossas florestas, derrubou a lei da proibição
de produção de armas, outrora decretada pelo parlamento, que sabemos que tem
o completo interesse em transformar Trionte em república e depois vender nossas
colônias e recursos para Willdust.
– Fincou-se, diante do rio que corta esta terra, para nos defender durante a
revolta da quatro embaixadas, que devastaram cinquenta por cento do território
de Kwaizardah.
– Se for desses reis que você fala, eu devo dizer que é com muita honra
que eu luto ao lado deles, pois nunca vi nenhum outro reino com monarcas tão
bravos e corajosos como estes. – responde Gremório.
Por um momento, todos abaixam suas cabeças envergonhados, e, é possível
escutar apenas outro camponês gritar:
– Por Trionte, eu me sacrifico!
Em seguida, um por um dos camponeses saudaram os reis , em sinal de
companheirismo e servidão.
– Salve o rei Thomas!
– Salve a rainha Helena!
– Salve o rei Simon!
– Salve Trionte!
– Heeeeeeeeehhhhh!

93
– Capítulo 12 –

Navio dos bárbaros

Luan recebe a carta de Suzana e envia cerca de duzentos navios, para invadir
Trionte, esses desembarcam na tão paradisíaca, praia de Kollóssus, onde dizimam
todos os pescadores e em seguida partem para o nordeste, em direção à Dyllewalt.
Ao chegar na entrada da vila, meses depois, os soldados do reino, logo
se põem em posição de defesa, com gritos de ordem, para que os soldados de
Niwdem se afastem. Então, Luan aparece e os convence de que veio em missão
diplomática. Mas os soldados, sabendo da influencia negativa de Niwdem em
Trionte, não acreditaram, deixando o trabalho de liberar a entrada dos solda-
dos Niwdemianos, para Suzana, que vinha descendo as escadas de seu castelo,
acompanhada de Elias.
– Deixe-os entrar! – ordena a rainha aos seus guardas.
– São inimigos, Majestade! – responde um guarda, após tomar conhecimento
dos perigos que trazer um Niwdemiano para Dyllewalt poderia acarretar à Trionte.
– Eu sei do que se trata! – fala Suzana, fazendo com que seus guardas abai-
xem as armas e permitam a entrada dos forasteiros no reino.
Ao fim, os soldados aguardam pacientemente em posição, na esplanada
do castelo, enquanto os reis, inimigos triontinos declarados, encontram-se em
uma reunião particular no salão dos vitrais, onde a rainha ocultava grandes
cristais que havia furtado de reinos inimigos do oriente. Os dois planejaram
iniciar um ataque massivo aos outros reinos, sem imaginar que estavam aban-
donados, e, por onde passavam, eles ficavam extremamente irritados ao saber
que aqueles, que se opunham às suas soberanias estavam planejando um ataque
mais estratégico.
Vendo que no último reino a ser atacado existia a mesma situação dos
anteriores, abandono completo, Suzana decide também fazer alterações em seus
planos, ela e Luan partem novamente ao encontro de Dyllewalt e resolveram que
o melhor a ser feito, seria dividir os batalhões em quatro e enviar cada um para
um lado diferente, na busca dos foragidos. Assim foram por longos meses de
busca incansável pelos adversários. Até com a volta das tropas, em 1537, Suzana
lembrou, que havia visto aquelas ruínas e que talvez houvesse a possibilidade de
seus inimigos terem se abrigado lá, informando, para Luan que imediatamente,
mandou mais quatro, de suas tropas ao local.
Se foram mais alguns
meses, até chegar na entrada Castindell
da vasta floresta e mais alguns
dias, até achar os escombros
do reino perdido, porém, com
sucesso avançaram à grande
clareira acima do esconderijo
de HARAGUM.
Abaixo, Thomas, Helena
e seu exército ouviam o mar-
char das tropas sob o solo e
um cavaleiro deles mencionar
que seu pai lhe contara sobre
tal lugar durante sua infância,
disse também, que o lugar era
coberto de mistérios selados
pelo deus, em pessoa, e isso
fez a cabeça do general palpitar,
fazendo-o, perguntar o porquê
da menção daqueles boatos,
forçando, o homem ameaçado,
a se calar.
Vendo, que o inimigo
jamais puderam acampar em
tal lugar, voltaram para Dyl-
lewalt, onde encontraram sua
rainha ausente, Suzana havia
acabado de sair para uma con-
ferência no parlamento e havia
deixado Luan no trono, como
seu regente, até seu retorno. Vendo que não existia outra alternativa a não ser falar
com tal regente, o general das tropas, conta que o lugar estava deserto. Fazendo,
assim, com que Luan defina trajetórias diferentes para seu plano de dominação.
O regente decide fazer os soldados revistarem, cada taberna e cada casa dos
reinos, até acharem os foragidos, e, assim, suas palavras se cumpriram por longos
dias, até que, finalmente, encontram, o mendigo que Thomas havia ajudado;
contudo, a sorte durou pouco, na tentativa de prender o pobre mendigo, o céu
escureceu repentinamente e relampejou deixando, os soldados incrivelmente
assustados. Assim, tal mendigo, que não parava de implorar para que o soltassem,
tira seu capuz e revela que na verdade era o mago.

96
– Eu lhes ensinarei a respeitar as verdadeiras autoridades deste mundo! –
fala o mago, deixando suas mãos emanarem as chamas do poder, que usaria para
se defender.
Ao ouvir tal heresia, o general parte para cima do mago, que o acerta com
um raio, rebelde, de cor roxa, envolvendo todo seu corpo e dissolvendo-o em
chamas. Acabando de presenciar a morte de um homem influente, derrotado por
aquele grande mago, os homens temeram e fugiram para Dyllewalt onde, mais
uma vez, relataram ao regente sobre o fracasso.
Luan, ficou abismado com a incompetência de seu exército, rosnou e rangeu
tanto os dentes de raiva, que quase os perdeu.
– Como deixaram-no escapar? – pergunta Luan aos gritos, que ecoavam
nas paredes de pedra da sala do trono.
– Alteza, o homem era muito poderoso! – responde o general, trêmulo.
– Besteira!
– Um homem que solta purpurina das mãos e prevê o futuro não pode
representar uma ameaça à nossa soberania.
– Somos a maior potência diante destes reinos e não podemos ser derrotados
por um cigano de araque!
– O que nossas alianças, pensarão de nossa força militar?
– Aposto que seremos motivo de piada! – fala Luan, com sua ignorância.
– Improvável, Vossa Alteza, demoraria muito para tal boato chegar
às extremidades!
– Julgo, pela demora na entrega de cartas, entre os reinos! – explica o con-
selheiro, que colocava-se de pé diante do rei, na tentativa de acalmá-lo.
– Boatos se espalham, mais rápido que cartas, disso tenha certeza! –responde
Luan ao conselheiro.
– Vossa Alteza, tenha plena consciência de que esse homem é infinitamente
mais poderoso do que nosso exército – responde um soldado, que acompanhava
o general.
– Como é?
– Acha que este cigano velho é mais poderoso que Niwdem? – pergunta
Luan ao soldado, se levantando de seu trono, pronto para matá-lo.
Neste momento, Thomas entra em Dyllewalt às pressas, montado em seu
cavalo, os soldados de Suzana, sabendo do perigo que encostar no rei trazia para
Dyllewalt, o observam ao longe e avisam Luan de que seu rival acabara de chegar
ao reino. O mesmo, que estava segurando sua taça de prata, a derruba no chão
devido ao profundo medo que sentia de Thomas; logo se põe a esconder tudo o
que provavelmente denunciaria sua presença naquele castelo, contudo, Thomas,
foi mais rápido e adentrou os portões da sala do trono, pegando, assim, o regente
de surpresa.

97
– Luan? – surpreende-se Thomas, ao ver Luan.
– O que faz aqui? – pergunta Luan, de forma abrupta.
– Eu quem pergunto-lhe!
– Este reino, não é seu! – responde Thomas, segurando o punho de sua
espada, já preparando-a para um possível duelo.
– Agora é! – fala Luan, olhando fixamente para o rei.
– Como disse? – pergunta Thomas, forçando-o a repetir sua fala enquanto
também o olhava fixamente.
– Sua irmãzinha querida, foi à uma conferência no parlamento – res-
ponde Luan.
– Suzana? No parlamento? – pergunta Thomas, aos deboches para esconder
sua surpresa ao receber a notícia.
– Pelo visto, nem o próprio irmão está sabendo. – debocha Luan, ao ver a
condição de desinformação na qual Trionte estava mergulhada.
– Sobre? – pergunta Thomas, testando-o.
– Sua, compreensão dos fatos é limitada, não, Thomas? – debocha Luan.
– Acho bom, você não tentar nenhuma gracinha aqui, Luan! – res-
ponde Thomas.
– Sshusinnnnnh! – Luan puxa sua espada da cintura.
– Sshusinnnnnh! – Thomas também puxa a sua e aponta para Luan.
– Sugiro que não me aponte a espada em meu próprio reino – ameaça
Luan, o rei.
– E o que você vai fazer? – pergunta Thomas, intimidando Luan.
– Quer pagar pra ver? – pergunta Luan, tentando intimidar Thomas.
– Tudo e mais um pouco!
– Saia de Trionte, Luan, esta terra não lhe pertence! – responde Thomas,
ameaçando o rei.
– Isso é o que vamos ver!
– Guardas! – grita Luan.
– Sim, Alteza! – respondem os soldados aos gritos.
– Prendam, este insolente! – ordena Luan aos gritos.
– Não podemos, Alteza!
– Ordens de Sua Majestade, rei Thomas! – responde um dos guardas,
enquanto se curvava diante do rei seguido por seus semelhantes.
– Mas como pode?
– Eu sou, Sua Majestade! – grita Luan, ao ver que seu poder nunca existira
sob a força militar triontina.
– Como pode ver, Trionte ainda me pertence!
– E estes soldados, pela sua lealdade e obediência, serão levados hoje mesmo
para anexo em meu exército! – responde Thomas.

98
– Você não pode os levar, são meus soldados! – intervém Luan.
– Acho que não ouvi direito, você falou, “meus soldados”?
– Luan, caia na real.
– Seu reino é tão fraco que só tem meia dúzia de soldados!
– Do meu lado existem centenas!
– Você realmente acha, que entrou para vencer?
– Todos têm pena de você! – zomba Thomas, da condição precária
de Niwdem.
Ao partir de Thomas, Luan corre em sua direção e tenta acertá-lo com sua
espada, mas Thomas é ágil o suficiente para desviar e revidar o golpe e já, com
o regente no chão, o rei cita o quão fraco e insignificante ele é. Logo após, o
mesmo vira-se e parte com os seus novos soldados, que agora veem a sua lealdade
alienada pela bondade e justiça de Thomas.
Com a chegada do exército de Dyllewalt, no esconderijo de HARAGUM,
os exércitos dos outros reinos sentem-se ameaçados, mas são, acalmados por
Thomas que separa os mal feitos de Suzana daqueles soldados, fazendo-lhes
entender, que os mesmos, eram apenas subordinados, e que não tinham culpa
das loucuras de sua irmã.
– Ohhhhh!
– Que absurdo!
– Trazer esses assassinos pra cá... – surpreendem-se os camponeses, que
cochicham entre si.
– Atenção, Trionte!
– Coloquem nos registros, o que direi agora!
– A partir de hoje, esta é a guarda oficial de Trionte.
– Este foi o último exército dos quatro reinos a ser salvo!
– De hoje em diante, o exército Dyllewaltiano estará a serviço de nossa
grande resistência! – grita Thomas, informando que daquele dia em diante haveria
uma aliança para a derrubada da rainha.
– Thomas, o que você foi fazer em Dyllewalt? – pergunta Helena, beliscando
seu irmão.
– Confie em mim Helena! – responde Thomas, enquanto observava os
exércitos se unirem e começarem os treinos de combate.
Dias depois, os reis encontram-se inesperadamente, por trás de um pequeno
arbusto perto de Dyllewalt, Thomas havia se ausentado, sem aviso prévio, para
rabiscar em sua mente as estratégias de ataque ao reino.
– Thomas, o que você está fazendo? – pergunta Helena, ao pegar o irmão
na espreita.
– Eu que lhe pergunto, Helena, você não deveria estar no esconderijo, cui-
dando das tropas? – pergunta Thomas, após ser flagrado pela irmã.

99
– Vi você saindo e decidi acompanhar-lhe! – responde Helena.
– Ótimo, então, se esconda e ouça! – fala Thomas.
– Por quê? – pergunta Helena.
– Estou estudando estratégias de ataque!
– Precisamos estar preparados! – responde Thomas, puxando a irmã para o
mais próximo possível do arbusto, apenas par não serem notados.
– Concordo! – fala Helena.
Mas, em um descuido da rainha, a mesma sai de sua posição, sendo avistada
por um dos guardas próximos ao local que, observava a silhueta da rainha na mata,
e, é socorrida por seu irmão que a segura pelo braço e a puxa para sua posição.
– Mas, o que temos aqui! – fala o guarda.
– Helena, cuidado!
– Rápido, por aqui! – sussurra Thomas, puxando sua irmã silenciosamente
de volta para dentro da floresta.
– Foi por pouco! – suspira Helena.
– Muito pouco!
– Tome cuidado! – fala Thomas.
– Sim! – responde Helena.
Ambos finalizam a sua missão a partir dali e Thomas conta a sua irmã, sua
ideia de ir ao parlamento ao tomar conhecimento das acusações feitas à Suzana,
e a mesma refuta a ideia imaginando que não valeria a pena.
– Amanhã, vou ao parlamento!
– Fazer o quê? – pergunta Helena.
– Preciso descobrir, o que fizeram com Suzana – responde Thomas, enquanto
mostrava que dentro de si ainda se importava com a irmã.
– Como assim? – pergunta Helena.
– Se Suzana foi levada ao parlamento, como dizem os boatos….
– Como irmãos, temos o direito de saber, não acha? – pergunta Thomas.
– Como é?
– Ela foi levada?
– O que houve com você, Thomas?
– Antes, você me colocava por dentro de cada detalhe de seus planos e agora
executa-os sem aviso, nem nada!
– O que houve com o, “irmãos para sempre”? – pergunta a rainha.
– Nada, Helena!
– Apenas, não quis preocupá-la, percebo que você está muito agitada com
o desenrolar desta história e não tiro sua razão! – responde Thomas.
– Você é um rei anormal Thomas! – fala Helena.
– Não me ofenda, Helena!

100
– Apenas tentei impedir que você sofresse mais!
– E desejo saber o que houve com nossa irmã! – responde Thomas.
– Ela vai ficar bem, tenho certeza! – fala Helena, tentando confortar o irmão.
– Acredito o contrário! – responde Thomas, dando a entender que o pior
estava por vir.
– Por que diz isso? – pergunta Helena, curiosa.
– Suzana praticou bruxaria, Helena!
– Esse é um ato repudiado por todos os reinos, com exceção dos reinos
de Livesburn.
– O que favorece a condenação dela à fogueira! – responde Thomas.
– Mas sua ida ao parlamento deixará os reinos triontinos em estado de
alerta máximo! – fala Helena, deixando uma lágrima cair de seus olhos ao ouvir
o estado de sua irmã.
– Não quero que você alerte ninguém! – responde Thomas, tentando conter
as suas lágrimas.
– Mas se algo acontecer a você e a Trionte... – gagueja Helena, na tentativa
de dizer que sem seu irmão, tudo estaria perdido.
– Não acontecerá nada, e se acontecer, os nossos reinos ficarão bem!
– Estão preparados! – responde Thomas, retomando sua postura.
– Não tente a sorte!
– Se tudo der errado é melhor dar meia volta, viu, Majestade! – fala Helena,
tentando brincar com seu irmão para descontrai-lo, depois da triste notícia.
– Pode deixar, Oh, Majestade das terras de ouro! – responde Thomas, sim-
pático colocando um sorriso em seu rosto.
– Vamos voltar? – pergunta Helena, cansada.
– Agora não, preciso ver onde essa loucura de Luan vai dar! – res-
ponde Thomas.
– Pois bem, estou voltando! – fala Helena.
– Boa noite e fique atenta aos guardas! – responde Thomas.
Helena volta para o esconderijo, deixando seu irmão de tocaia no lugar. O
mesmo decidira atacar o reino de Suzana pela dianteira, deixando assim a rainha
ficar à míngua, no que diz respeito às informações sobre os exércitos triontinos.
Mais tarde, Thomas também voltou para o esconderijo onde, na manhã
seguinte, compartilhou seus planos com seus todos.
– Caros camponeses e cavaleiros, ontem tomei conhecimento das melhores
táticas para vencermos essa grande batalha que se aproxima!
– Seguindo pelo norte do reino, existem as placas de mauth, podemos criar
uma linha de frente para encurralar os soldados Dyllewaltianos e acabar com a
defesa de Dyllewalt. – fala Thomas.
– É arriscado! – responde Helena em voz alta.

101
– Talvez não! – fala Gremório, indicando que entendera o plano.
– Se seguirmos o plano e nos depararmos com os soldados dyllewaltianos
esperando? – pergunta Helena, descrente da eficácia do plano.
– Impossível!
– Burros como são, ficarão de frente ao castelo, esperando que ataquemos
por lá!
– E Luan não tem estratégias de ataques muito fortes, pelo que vi ontem!
– responde Thomas.
– Não abuse da sorte, Thomas! – fala Helena.
– Pois bem!
– O que você sugere? – pergunta Thomas à irmã.
– Sugiro tentarmos um ataque surpresa ao reino!
– Espalhar tropas e atacar fora para dentro do reino.
– Encurralar todos! – responde Helena.
– E sujar a nossa possível vitória? – pergunta Thomas, olhando para a rainha.
– Nós precisamos proteger os nossos! – responde Helena, olhando para
seu irmão.
– É suicídio!
– Tá, e se colocarmos Gremório para assumir a linha de frente, pelo leste?
– Só de distração, enquanto nós os encurralamos pelo mar? – per-
gunta Thomas.
– Majestade, todo o território do leste, está sob tutela da corte Dylleclestiana!
– Qualquer movimento em falso e eles podem ser avisados de nossa presença
em suas terras! – explica Gremório.
– Então vamos ter que queimá-los antes! – fala Helena, mostrando seu
lado destrutivo.
– Quem sabe... – pensa Thomas, nas vastas possibilidades que tinha ao
seguir as estratégias e estatísticas.

102
– Capítulo 13 –

A Aliança da luz

S uzana estava em uma saia justa no parlamento. O peregrino que havia visto
a rainha fazendo bruxaria, tinha espalhado tais fatos por toda Trionte e isso
chegou ao conhecimento dos clãs parlamentares, (grupos de pessoas que regiam
e prorrogavam as leis em Linowland). Estes, ouviram o depoimento do peregrino
e acusaram-na de bruxaria, mas deram uma chance de se defender por causa
da lei que sua irmã havia criado, (a lei que permitia julgamento justo antes de
quaisquer condenações).
Suzana explica que recorreu à bruxaria por ter entrado em desespero, depois
da falsa morte de seus irmãos, mas os clãs, não ficaram satisfeitos com as explica-
ções dadas pela rainha e resolvem, à linha dura, mandar a mesma para a fogueira.
Porém, um parlocrata (nome dado a parlamentares sem clã), em forma de pro-
testo, levanta da arquibancada de madeira onde os parlamentares sentavam-se
de forma enfileirada, para atuar diante de um juiz.
– Eu não aceito que um inocente seja condenado por um crime compreen-
sível! – protesta o parlocrata.
– Perdão, Sr. Shaw!
– O senhor quer que acreditemos que um crime de bruxaria não deve ser jul-
gado, porque o desespero da acusada, rainha, é compreensível? – pergunta o Juiz.
– Perfeitamente, Excelência! – responde Shaw.
– Mas isso é uma traição aos nossos princípios!
– O senhor, Sr. Shaw, sabe muito bem que o parlamento foi fundado com
base na obediência á HARAGUM – fala o Juiz.
– Honestamente, Vossa Excelência, eu não acho que Sua Majestade, cometeu
tal atrocidade somente por prazer, foi uma necessidade – fala Shaw.
– Oooow! – espanta-se a arquibancada.
– Necessidade?
– Irmãos!
– Eu jamais ouvi tal heresia!
– Levemos a bruxa à fogueira e deixemos queimar na frente de toda realeza
que visita este parlamento.
– E que levem junto á ela, seu advogado que claramente foi convocado pelo
próprio senhor do submundo, para perverter e confundir pessoas de fé como
nós! – grita o Juiz.
– Heresia maior!
– Matarás um irmão teu, somente para provar teu poder ao povo? – per-
gunta Shaw aos gritos.
– Farei!
– Para seguir a vontade, daquele que nos criou! – grita o Juiz, obcecado por
sua crença limitante.
– És ele? – pergunta Shaw, tentando trazê-lo a razão.
– Que bobagem! – fala o Juiz, arrumando seus papéis em seu púlpito,
enquanto orgulhosamente discriminava o que o parlocrata falava.
– Como pode saber então a vontade de tal criador? – pergunta Shaw, obser-
vando a expressão de deboche do juiz mudar para a seriedade.
O parlamento ficou em silêncio e a vergonha era notória na face dos que
ali julgavam a rainha.
– Ousa criticar meus métodos? – pergunta o Juiz, quebrando o silêncio ao
lutar incansavelmente para defender sua ideia.
– Luto pela justiça, Vossa Excelência! – responde Shaw.
– Eu determino a justiça, Sr. Shaw – fala o Juiz.
– Se assim é a vossa justiça, eu me retiro deste parlamento! – responde Shaw.
– Eu o proíbo! – grita o Juiz, enquanto Shaw virava-o as costas.
– Pelo que exatamente, Vossa Excelência?
– Me permite saber? – pergunta Shaw, retornando seu olhar ao líder
do parlamento.
– De sair do parlamento, com a preliminar de desrespeito e abuso de poder
– responde o Juiz.
– Abuso de poder é o que Vossa Excelência, está fazendo agora!
– Diminuindo a autoridade e poder de um parlocrata para dar vez às suas
decisões descabidas! – fala Shaw, desafiando o juiz.
– Senhores, vamos manter a classe, por favor! – fala outro parlocrata, ten-
tando acalmar a tensão entre os dois.
– E você, nem opine!
– Eu sou o poder aqui! – responde o Juiz, empoderado.
– Como quiser! – fala Shaw, virando-se para a plateia infestada de clãs.
– Irmãos, vejam que ultraje esse homem comete...
– Sr. Shaw? – grita o Juiz, tentando reprimir o parlocrata.
– Até quando, permitiremos casos de abuso de poder como esse, que atenta
contra a vida? – questiona Shaw.
– Shaw, silêncio! – grita o Juiz.
– Esse homem está fora de si e seu cargo deve ser dissolvido, tal como seu
poder, dentro das decisões do parlamento! – fala Shaw aos clãs conservadores da
doutrina Haragunica.

104
– E quem exatamente irá fazer isso Sr. Shaw? – pergunta o Juiz, tentando
intimidar Shaw.
– O povo! – responde Shaw.
Sente-se! – ordena o Juiz.
– Irmãos, a decisão é de vocês! – grita Shaw, ao se retirar do julgamento.
Neste momento o barulho provocado pelo tumulto que emanava do parla-
mento era notório nos arredores, o que incomodou muito Thomas que chegara
em seu cavalo com muita pressa, adentrando, assim, a bem arquitetada estrutura
e encontrando, enfim, sua irmã com as mãos amarradas e os clãs envolvidos em
brigas físicas.
– Zinnnnhh! – range os portões do parlamento, enquanto eram abertos.
– Bummm! – fecham-se os portões.
– Silêncio! – grita Thomas, enquanto todos tementes ao rei calavam-se.
– Thomas? – surpreende-se Suzana, que levantava lentamente seu rosto que
indicavam seus olhos inchados de tanto chorar.
– O que você fez, Suzana? – pergunta Thomas, desapontado.
– Ela cometeu atos de profanação contra HARAGUM, Alteza! – responde
o Juiz.
– Eu não mandei, se calar? – pergunta Thomas, ao juiz enquanto todos
admiravam boquiabertos o poder e influência de Thomas sob todos, inclusive
os poderosos.
– Perdão, Majestade! – responde o juiz, recompondo-se.
– Vocês me enojam! – grita Thomas ao parlamento.
– Thomas, eu sinto muito! – fala Suzana.
– Você, você não sente nada por ninguém! – responde Thomas.
– Não...
– Snuf, Snuf!
– Deixe-me explicar! – implora Suzana, enxugando mais lágrimas de seus
olhos, ao mesmo tempo em que Thomas respira fundo, olha para baixo e retorna
o olhar à irmã.
– Não faça eu me arrepender de permitir.
– Thomas, acredite em mim, tudo que eu fiz foi para trazer vocês de volta!
– explica Suzana.
– Suzana, me dê provas, de que o que você fala é verdade! – responde Tho-
mas, ainda descrente.
– Você não acredita em mim? – pergunta Suzana.
– O olhar dela é puro.
– Ela fala a verdade! – grita Thomas, ao pensa e olhar para sua irmã.
– Majestade, a lei de Gros não permite que... – gagueja o Juiz, em
seu questionamento.

105
– Ela vai comigo!
– E não se meta! – grita Thomas, desamarrando Suzana.
– Eu o proíbo de levar a acusada! – grita o Juiz ao rei.
– Você quer mesmo contrariar, as vontades de um rei? – pergunta Thomas,
puxando sua espada.
– Eu sou a autoridade máxima aqui dentro e desejo ser respeitado como tal!
– grita o Juiz, diante de seus pares, que olhavam para ele já rezando pela sua alma.
– Cala a boca!
– Você está diante de Sua Majestade, aqui, você não exige nada! – grita
Thomas, carregando sua irmã para fora do recinto e a colocando a cima de seu
cavalo para assim partir em direção ao esconderijo.
Chegando ao encontro dos amigos, mais uma vez, Thomas enfrentou julga-
mentos de todos, pois nunca antes se viu trazer o inimigo a mesa de jantar. Porém,
Thomas amava demais sua irmã e isso se sobrepunha à todos os erros da mesma.
Assim, Suzana, teria seu perdão e mais tarde, o ajudaria a vencer a batalha
com seus conhecimentos sobre os planos de Luan. Helena, então, diante do
silenciar do exercito, puxa seu irmão até uma sala onde o interroga pelo absurdo
que ele havia cometido.
– Thomas, você ficou maluco de vez?
– Trouxe o exército e agora a rainha?
– Não estou entendendo qual seu plano! – grita Helena, furiosa e coberta
de razão.
– É muito simples, Helena, Suzana abriu o jogo comigo! – responde Thomas.
– Simples, não é nada simples!
– Você tem noção do erro, que você acabou de cometer? – pergunta Helena,
fazendo o possível para não estapear o irmão.
– Ela fez tudo isso, para nos trazer de volta, Helena! – responde Thomas.
– Ela quer nos encantar e você caiu como um patinho! – fala Helena.
– Não tenha tanta certeza! – responde Thomas, indicando que observara
Suzana para ver até onde ela seria capaz de ir.
– O que você está tramando! – pergunta Helena, assustada com as investidas
de Thomas.
– Helena, o fato de eu ter perdoado Suzana, não significa que confio intei-
ramente nela.
– Ela vai tentar se aproximar e continuar a irmandade, mas minha única
ideia para Suzana, é extrair as preciosas informações sobre o exército de Luan.
– responde Thomas.
– Tenha certeza de que, irei cooperar! – fala Suzana, pegando-os de surpresa..
– Droga! – xinga Thomas, ao ser pego contando seu plano para Helena.
– Suzana, o que você quer aqui? – pergunta Helena.

106
– Sei que fui desleal com vocês, mas me arrependi e já pedi perdão à Tho-
mas... – responde Suzana.
– Thomas pode ter lhe perdoado Suzana, mas eu não deixarei passar – fala
Helena, tomada por sua raiva que desistira de reprimir.
– Não seja tão vingativa, Helena! – responde Suzana.
– Muito pelo contrário, Suzana.
– Busco justiça! – fala Helena, intimidando a irmã.
– Não tenho interesse em prejudicar nenhum de vocês! – explica Suzana.
– Duvido muito!
– Não voltaremos a confiar em você! – responde Helena.
– Não posso pedir isso, de vocês!
– Mas posso mostrar, que mudei! – fala Suzana, enquanto Helena sai da
sala esbravejando.
– Ela vai acabar entendendo! – responde Suzana, dando assim a preliminar
para ambos entrarem em um acordo.
– Você não deveria ter vindo aqui, Suzana! – fala Thomas, enquanto limpava
sua espada.
– Thomas, se você não me perdoou por que me trouxe? – pergunta Suzana.
– Não é assim que o perdão funciona, Suzana!
– Ele vem com o tempo! – responde Thomas, pausando o trabalho de
suas mãos.
– Responda a minha pergunta Thomas! – pede Suzana, aumentando seu
tom de voz.
– Suzana, estou lhe dando mais uma, dentre tantas oportunidades que lhe
dei, de se redimir com Trionte – responde Thomas.
– Você estaria disposto a esquecer tudo por mim? – pergunta Suzana.
– Por você, não!
– Por Trionte e pela irmandade que tanto prezo, sim! – responde Thomas.
– Nada do que eu fiz foi por mal, Thomas! – explica-se Suzana, tentando
convencê-lo.
– Será mesmo, Suzana? – pergunta Thomas, indiretamente lembrando-a
de seus terríveis feitos.
– Cite uma coisa que fiz para lhe prejudicar! – fala Suzana.
– Preciso?
– Você devastou Trionte, nos deixou apodrecer na gaiola, mandou seus
soldados nos perseguir...
– Dentre tantas outras coisas que você fez de ruim, essas são, sem dúvida,
as mais gritantes – responde Thomas.
– Eu ajudei vocês! – fala Suzana.
– Ajudou?

107
– Suzana, se não fosse o nosso dom de sobrevivência estaríamos mortos
agora – responde Thomas, rancoroso.
– Thomas, você é prova, de que eu pretendia trazer-lhes de volta –fala Suzana.
– Não importa, Suzana!
– Os males que você causou são irreparáveis!
– Afinal, a que custo você se aliou a Elias? – pergunta Thomas.
– Ele me deu amor! – responde Suzana.
– Amor?
– Ele lhe deu cumplicidade para depois, mandar em seu reino, Suzana! –
fala Thomas.
– O amor tem várias faces! – responde Suzana.
– Fale por você! – fala Thomas, insinuando que o sentimento da irmã
era defeituoso.
– Thomas, Elias também sofreu quando você sumiu!
– O conheci no seu enterro, ele estava desmoronando por dentro ao ver seu
caixão! – responde Suzana.
– Você conheceu Luan, no meu enterro também? – pergunta Thomas.
– Luan, veio como uma erva daninha e se fez de amigo nas horas de sofri-
mento, oferecendo o mundo! – responde Suzana.
– Acredite no que quiser Suzana, eu não vou mais lhe aconselhar.
– Agora você está sozinha!
– Mas, preste atenção, esta é a última vez que você terá a oportunidade de
se unir a nós! – fala Thomas, se segurando para não cometer mais um erro ao
entregar seu amor à irmã.
Thomas, então, retira-se para seu descanso e, quando todos, menos espe-
ram, recebem, através do sentinela, a notícia de que o mago aguardava Thomas,
na superfície do esconderijo e imediatamente o rei, vai ao encontro do mesmo.
– Majestades! – interrompe o sentinela.
– Sim? – responde Thomas, assustado.
– Um homem de chapéu pontudo aguarda-o lá fora! – fala o sentinela.
– À esta hora?
– Está certo do que fala? – pergunta Thomas.
– Certamente, Majestade! – responde o sentinela.
– Está bem, diga ao homem que já vou! – ordena Thomas, vestindo seu
uniforme militar e pegando sua espada.
– Sim, Majestade! – responde o sentinela, se encaminhando ao encontro
do mago para responder-lhe.
Chegando à superfície o rei logo indaga o mago sobre sua vinda à altas horas.
– Majestade, tenho algo, muito importante a contar-lhe! – explica o mago.

108
– Não podia esperar amanhecer? – pergunta o rei, enquanto bocejava
de sono.
– Infelizmente não, Majestade!
– HARAGUM, decidiu que seria hoje! – responde o mago.
– HARAGUM?
– Você veio em nome de, HARAGUM? – pergunta o rei, com o rápido
passar de seu sono, ao entender a resposta para suas preces.
– Sim, Majestade! – responde o mago.
– Venha, entre!
– Não é seguro conversarmos aqui! – fala o rei sugerindo-o, que entrasse no
esconderijo para conversar a sós.
– Diga-me, meu caro senhor, o que tem a me contar à esta hora? –pergunta
Thomas, ao chegar na sala de planejamentos.
– Meu rei, estes que estás a proteger, não são teus irmãos! – responde o mago.
– Não entendi! – fala Thomas, ainda confuso.
– A rainha má, o rei de Kwazahdar e a rainha de Castindell, não são teus
irmãos de verdade! – responde o mago, não exitando em sua explicação.
– Mas, nós estamos juntos, desde que... – gagueja Thomas.
– Desde que, o rei Nícolas, os roubou de seus antigos reinos!
– Suzana, era filha de uma escrava pertencente ao reino de Flhisemorh.
– Helena, era filha de Marvo, rei de Castle purple.
– Simon, era filho de Azodohr, um mago vindo do norte!
– E, por último, Vossa Majestade, filho de Eknnor, rei de Trionte, herdeiro
legítimo do Imperador Matoel! – completa o mago.
– Mas o rei de Trionte era... – gagueja Thomas.
– Seu tio, Nícolas Pórveru Sanctuvus!
– Seu tio, usurpou o trono de seu pai e roubou você – responde o mago.
– Então, eu não tenho nenhum irmão? – pergunta Thomas, ainda
sem acreditar.
– Na verdade tem, mas este sumiu há muito tempo, deixando para trás,
somente a pintura feita a mão, de uma misteriosa ilha! – responde o mago,
mostrando tal pintura.
Pegando, assim, tal pintura, Thomas o agradece e decide levá-lo até Helena,
com a intenção de fazer o homem repetir os fatos contados.

109
– Capítulo 14 –

Sacada do castelo dourado

O tempo estava fechando em Trionte, com as revelações que haviam sido


feitas, porém, os exércitos trabalhavam a todo vapor. Thomas, Gremório e
Helena discutiam sobre Suzana em uma das câmaras do esconderijo.
– Majestade, receio que não seja prudente voltar a confiar na rainha Suzana!
– fala Gremório, mantendo as mesmas desconfianças de Helena.
– Gremório, os meus planos para Suzana, são cheios de pluralidades! – res-
ponde Thomas, misterioso.
– O que você quis dizer com isso, Thomas? – pergunta Helena.
– O que informei-lhe que faria ontem!
– E vocês deverão me ajudar! – responde Thomas, deixando o cavaleiro às
escuras no assunto.
– Me ponho contra a estas práticas suas, Thomas! – fala Helena, rejeitando
os métodos do irmão.
– Por quê? – pergunta Thomas.
– Suzana é traidora! – responde Helena.
– E? – pergunta Thomas.
– Ela não vai nos passar informações, e se você acha que vai conseguir algo
mais além, engana-se! – responde Helena, conhecendo as maracutaias da irmã.
– Você não me conhece mesmo, não é, Helena!
– Pretendo virar amiguinho dela primeiro! – fala Thomas.
– Majestade? – surpreende-se Gremório.
– Thomas, isso é desumano! – responde Helena, contrariando o irmão.
– O quê? Não era você, que dava a maior força para sabotarmos os planos
de Suzana? – pergunta Thomas, à Helena lembrando-a das ideias expressas pela
mesma, para acabar com o reino da irmã.
– Pelo que parece as coisas, não acontecem sem uma certa ironia por aqui!
– Digo, talvez precisemos dispor de táticas equivocadas, para vencer essa
batalha e não terei remorso, agora que sei que ela nunca foi minha irmã de ver-
dade – fala Thomas.
– Ahh, nem me fale.
– Não preguei os olhos em toda a noite!
– Essa não foi a hora certa, para esse tal mago aparecer aqui com estas his-
tórias! – responde Helena.
– Não existe hora certa, para saber a verdade! – fala Thomas.
– Essa verdade não lhe incomoda? – pergunta Helena.
– Nem um pouco! – responde Thomas.
– Bom, penso que Simon, agora, ficará escantilhado – fala Helena.
– De forma alguma!
– Simon pode não ser o nosso irmão de sangue, mas não o deixarei para
apodrecer! – responde Thomas.
– Que bom, que você não mudou! – fala Helena, acalmando-se ao ver que o
desprezo de Thomas, era somente sob Suzana e ainda sim apenas pelos seus crimes.
– E por que eu mudaria? – pergunta Thomas.
– Imaginei que depois do duro golpe de Suzana, e da história do mago,
você nos deixaria.
– Afinal, agora você não tem compromisso, conosco! –responde Helena.
– Está enganada!
– Não ouviu o que acabei de falar sobre Simon?
– Ainda que vocês não sejam meus irmãos de sangue, cuidarei de todos!
– E tomarei as medidas necessárias para prevenir Trionte, de outras possíveis
ameaças vindas de Suzana, ou Luan! – responde Thomas, mostrando que apesar
das amarguras, seu interior e princípios ainda estavam inteiros.
– Isso é importante, Majestade – fala Gremório.
– Eu sei disso! – responde Thomas.
Thomas sai da câmara, pegando sua espada e escudo, e, já caminhando com
suas irmã e Gremório até os destroços do antigo reino, acima do esconderijo e lá
analisou, os montes que planavam sob a vasta floresta com sua luneta, dada ao rei
por um dos soldados que os acompanhavam. Ao longe, estavam alguns soldados
de Luan carregando ouro de um dos montes, aparentemente se tratava de uma
mina que haviam descoberto. Thomas, então, ordena aos guardas que ataquem
Luan e sem demora uma pequena tropa, parte do esconderijo, em direção, a tal
monte, onde, são avistados pelos soldados inimigos que os atacam com flechas e
lanças. Contudo, os triontinos conseguiram matar todos os soldados niwdenia-
nos e tomar suas riquezas, assim, voltando ao esconderijo onde os feridos, são
deixados aos cuidados, dos médicos de Agaroff.
– Droga, eles começaram o plano de dominação! – xinga Thomas, ao passar
a luneta para Gremório.
– O que faremos agora, Majestade! – pergunta Gremório, ao pegar a luneta.
– Luan não me falou dessa parte! – fala Suzana, indicando que teria mais
conhecimentos, que tentava ocultar.
– Você...

112
– Nos conte o que sabe, agora! – grita Helena, tentando empurrar a rainha
sob a rocha na entrada do esconderijo enquanto a enforcava.
– Calma, Helena! – grita Thomas, puxando o braço de Helena, o que ajudou
Suzana a retomar seu fôlego.
– Eu sei muito pouco, eu juro!
– Só o que contei a vocês!
– E...Sobre Simon! – gagueja Suzana.
– Simon?
– O que sabe sobre Simon? – pergunta Thomas aos gritos.
– Sei que eu pedi à Luan, para enviar soldados aos destroços do navio e
sequestrá-lo!
– Me diga que ele está bem!
– Vamos, Suzana! – grita Thomas, empurrando Helena e agarrando o pes-
coço de Suzana.
– Ahh, ele está bem!
– Apenas está preso! – responde Suzana, enquanto se engasgava com o
aperto de Thomas.
– Para seu próprio bem, é bom ter certeza do que fala, entendeu! – sussurra
Thomas, à rainha, ao soltá-la.
– Precisamos agir agora, Majestade! – informa Gremório, enquanto as Majes-
tade separavam-se, para analisar os preparos, pré-batalha.
– Já estou indo, Gremório!
– Como está a forja? – pergunta Thomas, já dentro do esconderijo, onde
caminhava, fiscalizando tais preparativos.
– Em pleno vapor, Majestade! – responde uma camponesa.
– Linha de frente? – pergunta Thomas.
– Checado Majestade, estão com a almirante! – responde o chefe dos cava-
leiros de Agaroff.
– A almirante? – surpreende-se Thomas.
– Sim, Majestade! – responde o chefe dos cavaleiros.
– Mas não era o general Ambrozi, que cuidava do seu exército, Thomas? –
pergunta Helena.
– Vamos ver isso agora! – responde Thomas.
Chegando na câmara de treino Thomas, encontra Suzana dando aulas de
como atacar Dyllewalt, para os cavaleiros; logo, O rei adentrou à câmara, inter-
rompendo, assim, as instruções de sua irmã e criando mais um episódio fatídico
de discussão familiar. Pelo menos, assim pensava Suzana, por sua falta de conhe-
cimento na história representada pelo mago.
– Você não desiste, não é, Suzana? – pergunta Thomas, cansado de ver as
investidas da irmã.

113
– Estou tentando ajudá-lo, como prometi! – responde Suzana, amaciando
sua garganta, na tentativa de amenizar a dor causada pelas mãos de Thomas.
– Eu não lhe pedi, para ofuscar o trabalho do general do meu exército. –
fala Thomas.
– Não fiz isso!
– Apenas não deixarei seu exército, às cegas nos campos de meu reino!
– Dyllewalt é muito grande, eles precisam da minha ajuda – responde
Suzana, dando-se a importância.
– Pensei que eu tivesse deixado bem claro, a sua posição aqui! – fala Thomas.
– Sim, mas, eu... – gagueja Suzana.
– Suzana, chega! – grita Helena, que acompanhava o rei.
– Helena, não tente me prejudicar, somos irmãs e estamos do mesmo lado!
– implora Suzana.
– Não, não somos, Suzana! – responde Helena.
– Helena, não! – sussurra Thomas, tentando fazer Helena se calar.
– O quê?
– Do que você está falando, Helena? – pergunta Suzana assustada.
– É isso mesmo, Suzana, nunca fomos irmãos! – confirma Helena, ignorando
o receio de Thomas em contar a verdade à Suzana.
– Mas, como?
– Crescemos juntos, desde... – gagueja Suzana, pausando sua fala
enquanto pensava.
– Desde criança, eu sei.
– Eu também pensava assim, mas descobrimos a verdade! – responde Tho-
mas, tomando coragem.
– E por que, não me contaram antes? – pergunta Suzana.
– Bom... – gagueja Thomas.
– É que... – gagueja Helena.
– Não importa! – interrompe Suzana, achando a informação irrelevante.
– Qual é a verdade? – pergunta Suzana.
– O rei Nícolas, nunca foi nosso pai Suzana!
– Ele nos roubou quando ainda éramos bebês, não tínhamos como saber
sobre isso! – responde Helena.
– Não pode ser! – fala Suzana, sem reação.
– Quer dizer então que não nos uniremos mais? – pergunta Suzana, enquanto
os soldados saiam, em respeito à dor da rainha.
– Não!
– Estamos diante de uma batalha monstruosa, é mais do que nosso dever,
nos unir para resolver isso! – responde Thomas.
– Ainda mais, se a própria rainha for a causadora do problema! – provoca
Helena, a rainha.

114
– Thomas, eu sei o quanto fui desleal com vocês e os erros que cometi com
Trionte, mas eu lhe peço perdão! – implora Suzana, ignorando a provocação
da irmã.
– Mais uma vez eu vou falar, Suzana!
– Os erros e as ofensas que você cometeu, não foram contra mim, mas
contra Trionte! – responde Thomas.
– Eu peço perdão a todos, de joelhos, se vocês acharem conveniente! – fala
Suzana, desesperada.
– Não é questão de conveniência, Suzana!
– Você deve achar um jeito, de se redimir com Trionte e nós já sabemos
muito bem qual é esse jeito! – responde Thomas.
– Sábias palavras, Majestade! – bajula Gremório, o rei.
– Obrigado, Gremório! – responde Thomas.
– Entendi Thomas!
– Farei o que for preciso, para ajudar Trionte! – fala Suzana.
– Agora sim, você está agindo com prudência e responsabilidade, Suzana,
parabéns! – responde Thomas.
– Eu ainda não consigo acreditar, nessa bondade toda! – fala Helena, impli-
cando .
– Helena, será que você é capaz de me perdoar? – pergunta Suzana.
– Nunca! – responde Helena.
– Helena! – sussurra Thomas, olhando para Helena em sinal de repúdio.
– Não Thomas!
– Não irei cair nas armadilhas dela, nunca mais!
– Ela é perversa e você sabe disso! – grita Helena.
– Espere aqui, Suzana! – pede Thomas, levando Helena para fora da câmara,
onde discutiu com a mesma por sua incapacidade de perdoar a Suzana.
– Helena, escute! – interrompe Thomas, puxando pelo braço da mesma.
– Nunca, Thomas!
– Você não percebe, que mais uma vez, está se encantando com essa cobra
disfarçada de sereia? – pergunta Helena.
– Existem limites para a teimosia, Helena! – responde Thomas.
– Ou é isso, ou ser enganado de novo!
– Você escolhe! – fala Helena, referindo-se ao seu comportamento momen-
tos antes.
– Ela mudou! – responde Thomas, começando a se convencer de que Suzana
estava tentando mudar.
– Vejo que você está, totalmente enfeitiçado! – fala Helena, retirando-se para
digerir todos os acontecimentos recentes, enquanto, Thomas vai ao encontro de
Suzana, que estava sentada em uma cadeira, desolada.

115
O rei a observa de longe, enquanto, também tentava engolir toda sua mágoa,
para, só então, tentar ajudar a rainha.
– Não se abale, Suzana, você sabe como Helena é difícil de dobrar! –responde
o rei, se aproximando cuidadosamente de Suzana.
– Será que vou ter o perdão dela algum dia? – pergunta Suzana, após abraçar
fortemente Thomas.
– É um trabalho difícil, mas não se preocupe com isso agora!
– Você ainda tem que conquistar a confiança de Trionte, novamente!
– Isso pode demorar, mas você consegue!
– Acredito em você! – responde Thomas, com muita dificuldade ao abraçar
Suzana, enquanto lentamente o amor florescia em si.
– Então você está do meu lado? – pergunta Suzana.
– Não, estou do lado de Trionte, Suzana.
– Mas, agora, confio em você!
– Não falhe, mais uma vez! – responde Thomas, segurando firmemente seus
braços e olhando fixamente em seus olhos.
– Obrigada, Thomas! – fala Suzana.
– Tudo bem!
– Ahh, quase ia me esquecendo...
– Você sabe muito sobre bruxaria, certo? – pergunta Thomas, parando
diante da porta da câmara.
– Bom, eu li sobre e aprendi alguns feitiços, mas, por que, quer saber? –
pergunta Suzana.
– Vamos precisar de magia, envolvida na batalha – responde Thomas.
– Thomas, Luan tem conhecimentos, mais vastos do que eu no que diz
respeito à magia! – fala Suzana.
– Você não acha mesmo, que eu vou confraternizar com o inimigo, acha?
– pergunta Thomas.
– Não, o que quero dizer é que o máximo que vou poder fazer é soltar algu-
mas bolinhas de fogo e criar um escudo em volta de todos. – responde Suzana.
– Dê o melhor de si, tudo bem? – fala Thomas.
– Sim! – responde Suzana, ao partir do rei que dava premissa para Suzana
montar em sua mente o ataque da linha de frente.
Mais tarde, naquele mesmo dia, todos os reis se reunirão com almirantes,
generais e chefes de cavaleiros para definir melhor suas trajetórias e estratégias
de ataque, tendo em vista que ainda faltava muito a ser feito, antes, que Trionte
pudesse chegar à grande batalha. E por fim, todos chegaram à um só plano,
causando o fim daquela chuva de ideias que emanavam da cabeça da elite.

116
– Capítulo 15 –

Os primórdios do fogo

A o luar do dia vinte e três de Setembro de 1537, Luan, manda sua ban-
deira verde a Livesburn, enviando um pergaminho revestido de ouro, onde
dizia a seus semelhantes, suas conquistas ao dominar as terras triontinas, dando,
deste modo, plenos poderes aos mesmos para aplicarem sua soberania nas terras
maravilhosas. Ao receber a carta do rei, Ingredy Spell, rainha de Monalriatsh,
perplexa, leva o abominável tal pergaminho, ao conhecimento do conselho de
Esguardian, alarmando, assim, todos os líderes religiosos, que representaram seu
poderio acima dos reis.
Algum tempo depois, os demais reis de Willdust, desembarcaram na praia de
White Gold, localizada ao leste de Castindell, às margens da floresta temperada.
Grandes famílias afortunadas de Willdust, juntamente, com a corte willdustiana,
não haviam tomado conhecimento da ascensão de Luan ao trono de Dyllewalt,
muito menos, do que estava acontecendo em Trionte; contudo, não agradavam-se
de tensões, optando por uma sociedade mais pacífica, assim, conhecendo as ideias
de Luan, se posicionariam contra a coroa Niwdemiana, sem qualquer diálogo.
O mestre, Lodyn Hight, atuante, como um dos anciões do conselho de
Esguardian, vendo que as ideias de Luan, eram sanguinárias e gananciosas, deixa
claro, que o apoio do concelho pertencia a Trionte. Por isso, tal homem se uniu
aos demais anciões e em um navio Niwdemiano, traçou a sua rota para Trionte,
para ver pessoalmente as conquistas do rei.
Enquanto organizava-se uma equipe de repressão em Willdust, Luan ateava
fogo ao que havia sobrado de sua dignidade, mais uma vez o rei corrupto, estava
caçando os seus oponentes, outrora esquecidos por seus interesses e frustrações,
que antes, haviam ofuscado o brilho de um novo império que emergia do poder
do majestoso, HARAGUM.
Luan, reúne seus soldados na enorme esplanada à frente do castelo e planeja,
junto a seus líderes militares, outra busca aos reis foragidos, pois ainda inconfor-
mava-se em não ter os reis mortos e Thomas, preso.
Já no esconderijo, o clima era de muita tensão entre os reis, Suzana, Tho-
mas e Helena discutiam entre si, o anexo de um plano especial, para encontrar
Simon, mesmo imaginando que Luan traria Simon com ele para chantageá-los.
Com a incrível confusão, pré-batalha, que acontecia entre os reis, Thomas,
nota que lá no canto da câmara, estava Gremório escorado na parede, bebendo
cerveja em uma caneca de vidro a qual segurava em uma das mãos, carregava
um olha triste e parecia pensar em alguém, rapidamente, Thomas interrompe a
discussão e pergunta à Suzana por sua dama de companhia.
– Suzana, onde está aquela sua serviçal mesmo? – pergunta Thomas, olhando
para o cavaleiro e ao mesmo tempo, percebendo a mudança de sua expressão.
– Você não a trouxe? – pergunta Suzana, a Thomas.
– Helena? – pergunta Thomas, olhando para Helena.
– Acho que ela preferiu ficar em vosso reino, Majestade! – responde Gre-
mório, sentindo falta de sua amada.
– Mas...por quê?
– Ah, já entendi! – diz Suzana, retoricamente.
– O que, Suzana? – pergunta Thomas.
– Quando, Luan, tomou posse de Dyllewalt, Ilda não estava em suas depen-
dências! – responde Suzana.
– Como assim?
– Onde ela estava? – pergunta Gremório.
Os reis olham para Gremório, que, rapidamente, se põe em seu lugar com
suas bochechas rosadas de vergonha, pois havia sido descoberto o seu amor pela
serviçal, ou pelo menos o seu interesse em tal moça. Rapidamente as Majestades,
retornam seus olhares para ambos e acenam com a cabeça em sinal de afirmação,
parecia que planejavam algo.
– Então será feito assim, partiremos em busca de Ilda, ainda hoje! –fala
Thomas, abrindo um largo sorriso.
– Precisaremos de duas tropas junto a nós nesta missão! – responde Suzana,
animada com o plano.
– Tenente Herbby! – clama Helena aos gritos.
– Ao seu dispor, Majestade! – responde o tenente, curvando diante
das Majestades.
– Chame a guarda real, e mande preparar os cavalos! – ordena Helena.
– Agora mesmo, Majestade! – responde o tenente.
– Derrubaremos aquele castelo se for preciso, mas traremos Ilda!
– Eu prometo! – fala Thomas.
– Reis como, Vossas Majestades, o mundo jamais viu!
– Principalmente Vossa Majestade, rei Thomas! – responde Gremório,
enchendo-se de felicidade.
– Trionte tem orgulho de ter um cavaleiro tão valioso quanto a ti, Sir Gre-
mório! – fala Thomas.
Já em meio aos ferreiros, Thomas, fiscalizava as forjas e a procedência das
espadas e dos escudos, Helena, vistoriava o preparo dos cavalos e dos soldados,

118
responsáveis pelo estábulo, e, por fim, Suzana, estudava junto a Gremório a
planta do castelo para recorrer, caso precisassem de rotas de fuga e de entradas
mais escondidas.
Após meses de viagem, finalmente, os reis chegam ao reino de Dyllewalt
pela madrugada, iniciando sua ofensiva à tal, era como ver um cemitério, de tão
vazio que o lugar estava, só havia alguns soldados marchando e duelando em
treino. Luan, estava em uma das torres, em reunião com a corte Dylleclestiana,
com todos os demais reinos de Willdust e com o conselho de Esguardian, que
haviam desembarcado em Trionte recentemente.
O rei comentara que havia dado poder a todos os aliados de Niwdem, para se
apossarem de Trionte. Cristian, Evan, e Lucas, aplaudiram Luan e o reverenciaram
como soberano supremo de Livesburn, já que aos olhos de Niwdem, o mesmo
era claramente, um conquistador nato, um excelente rei e o primeiro dentre toda
a realeza willdustiana a conseguir tal façanha. Porém, o mestre Lobyn Hight e
Ingredy, junto ao conselho, ficaram desapontados com o rei.
Terminando o rei, de apresentar a prévia de suas ideias pecaminosas e fora
de cogitações para Trionte, é chagada a hora do mestre e o conselho prestarem
suas indignações.
– Eu nunca vi discurso mais arrogante que esse em toda minha vida! – grita
o mestre, levantando-se rapidamente, de uma das cadeiras presentes na sala.
– Estou de acordo!
– Isso é faltar com os princípios de Livesburn, Alteza! – grita um dos anciões.
– O convite especificava bem, que os únicos que deveriam aparecer eram
aqueles que compactuavam com os ideais expressos aqui! – responde Lucas,
frisando sua testa.
– Não viemos por convênio!
– Viemos, para descobrir a veracidade da carta, que Sua Alteza nos enviou!
– fala o mestre.
– Pois então, eis a verdade, estamos invadindo Trionte de uma vez por todas
e passaremos por cima até do último homem para conseguir essa conquista! –
grita Luan, arrogante.
– Sendo assim, Sua Alteza, não terá o apoio de Esguardian! – responde o
ancião, calmamente ao sessar da voz escandalosa do rei.
– Que seja!
– Não preciso do apoio de vocês! – grita Luan.
– Tenho certeza que não! – debocha o mestre, enquanto saía acompanhado
do conselho de Esguardian.
– Luan, estou preparada para para-lhe! – manifesta-se Ingredy.
– Como você vai fazer isso? – pergunta Luan, deixando visível a expressão
de deboche em seu rosto.

119
– Você me conhece, usarei todo o meu poderio militar, sem dó, nem piedade
para destruí-lo! – ameaça Ingredy, o rei.
– Saia daqui você também, antes que eu chame meus guardas para tira-la a
força deste castelo! – grita Luan, ameaçando-a.
– Sairei, mas voltarei com meu exército!
– E se depender de mim, apoiarei Trionte até o último momento! –res-
ponde Ingredy.
– Hahahahahahaha! – reis caindo na gargalhada, antes de serem silenciados
pelo estrondoso barulho de explosão que vinha de fora da torre.
Depois, ouviu-se soldados gritando de dor, rangidos de espada se crizando
e viu-se, fogo e muralhas destruídas, tal como o sangue de alguns soldados trion-
tinos. Derrubando, assim, todo o reino, Thomas, Helena e Suzana adentram a
torre e se deparam com os reis armados e em suas posições, já os aguardando.
Lá aconteceu a primeira batalha entre os reinos, onde duas Majestades de
Willdust, foram arremessadas contra os grandes vitrais quebradiços e coloridos
da torre, restando apenas Luan, que ao ver a morte de seus companheiros, tinha
sua sede de vingança aumentada drasticamente. Agora a batalha seria justa, pois
o único oponente que Luan enxergava à sua frente era Thomas e isso o cegou
de tal forma que todos os seus planos e estratégias foram colocados a prova em
um único período, e, restando apenas Thomas e Luan para se enfrentarem, o rei
acaba entregando todos os seus movimentos de combate para Thomas que os
aprende e retorna-os, causando mais fúria em Luan.
Com o fim da batalha, Thomas, pega Luan pelo pescoço e o arremessa
contra a parede, enquanto perguntava, aos gritos, onde estavam Ilda e Simon,
aumentando, assim, o medo de Luan, desde que viu as chamas do ódio nos
olhos Thomas.
Luan consegue soltar-se de Thomas, entrando, assim, em um duelo de
espadas que determinaria o vencedor, contudo, o triunfo de Thomas recai sob
as costa de Luan, pois o rei conseguira encurralá-lo em um cubículo da torre e
com a ponta de sua espada quase encostando em seu pescoço, o mesmo confessa,
que os dois estavam no calabouço, Thomas, então, corre até o local para cumprir
sua promessa.
– Finalmente! – sussurra Thomas.
– Zinngghh! – Thomas abre os portões da cela.
– Thomas! – grita Simon, surpreendido.
– Obrigado, Majestade! – agradece Ilda.
– Pensei, que você estava morto! – fala Simon.
– Nenhum de nós morreu! – responde Thomas.
– Como vocês se salvaram? – pergunta Simon, enquanto Thomas tirava as
correntes que prendiam seu pé.

120
– Kabrummm! – pedra enorme caindo acima do calabouço.
– Sdrishhhh! – paredes se rachando.
– Conto-lhe no esconderijo!
– Vamos! – grita Thomas, já correndo, enquanto o rei e a dama o seguiam.
– Espere...esconderijo? – pergunta Simon.
– Não dá tempo, só sigam-me! – responde Thomas aos gritos.
Ao chegar na esplanada do castelo, a batalha estava a todo vapor, as chamas
haviam se espalhado e triplicado de tamanho, logo, Thomas puxa a sua espada,
sendo imitado por Simon, que pede para que Ilda corresse até a entrada da vila
e aguardasse o término da batalha, encontrando logo após Suzana e Helena, que
a esta altura já haviam derrubado metade dos soldados presentes ali.
– Simon? – surpreende-se Helena.
– Não falei, que ele estava vivo? – responde Thomas, mostrando que tinha
razão em sua teoria.
– Mas, como? – pergunta Suzana, enquanto fora interrompida pelo estri-
dente som de uma torre inteira desmoronando.
– Kabrummmm! – torre enorme caindo na esplanada.
– Vamos!
– Abortar, Tenente! – grita Thomas.
– Perfeitamente Majestade!
– Abortar, soldados!
– Abortaaaaar!
– Todos para fora deste reino! – responde o tenente, gritando com seus
soldados após a ordem do rei.
Passando pela calmaria de um campo de tulipas, os reis encontram-se, diante
de um esclarecimento de ideias. Era a primeira vez que estavam todos reunidos
depois de tantas tragédias vividas em um único ano, Simon, então, conta como
sobreviveu ao acidente e as missões absurdas que teve de fazer em Niwden, Tho-
mas e Helena contam sobre suas experiências em sua busca pelo retorno ao lar e,
por último, Suzana conta sobre sua traição por Elias e faz a engraçada revelação
de que o mesmo fugiu com uma cigana.
– Hahahahaha! – riem os reis da situação expressa por Suzana.
– Eh, Suzana, você teve sua punição de qualquer jeito! – zomba Thomas.
– Cale a boca, Thomas! – responde Suzana, colocando um sorriso em
seu rosto.
– Hahahahaah! – risos.
– Suzana e Elias vão se casar, no castelo, vão se beijar…. – cantam os reis,
zombando de Suzana.
– Hahahaahaha! – risos.
– Quem vem lá?

121
– Tenente de Castindell!
– Eu ordeno, que pare aí mesmo! – grita o tenente, tentando intimidar a
estranha figura que caminhava abaixo da sombra das árvores.
– Ora, pensei que Vossa Majestade, é quem desse as ordens por aqui! – res-
ponde o mago, colocando o tenente em seu lugar.
– Espere, eu conheço essa voz! – fala Thomas.
– Como não conheceria?
– Afinal, eu apresentei-lhes a verdade! – fala o mago, deixando sub entendida
sua identidade diante do rei.
– O mago! – responde Helena, também reconhecendo sua voz.
– Isso mesmo, Majestades! – responde o mago, saindo das sombras.
– Espere, eu o reconheço! – fala Suzana, recordando o dia em que foi apre-
sentada à grande construção perdida no tempo.
– Apenas, como um fantasma! – responde o mago.
– Você era o velho senhor que me observava, na entrada da mata, aquele
dia! – fala Suzana.
– Majestade, devo ordenar ataque? – pergunta o tenente.
– Não tenente, mande abaixarem as armas! – responde Thomas, dando o
sinal para abaixarem as armas.
– O que deseja, gentil homem? – pergunta Thomas, que acabara de entregar
seu cavalo aos cuidados de Gremório.
– Vejo que conseguiram se unir, apesar do grande mal que os separaram!
– Como fizeram isso? – pergunta o mago.
– Digamos, que, a irmandade e a lealdade, ainda está em nós! – responde
Helena, deixando sua felicidade exposta naquele momento.
– O amor! – responde Thomas, olhando fixamente para o mago com
uma epifania.
– Vocês aprenderam uma importante lição, neste tempo tão conturbado!
– Acho, que estão preparados! – fala o mago, tendo manipulado a epifania
do rei, para que ao responder a pergunta, passasse aos outros, seus sentimentos
mais puros.
– Preparados? – pergunta Suzana, sem entender.
– Venham comigo! – responde o mago, levando-os para dentro da
mata novamente.

122
– Capítulo 16 –

Memórias de um rei

F oi de fato, uma missão explosiva e bem sucedida. O reino que antes amea-
çava os monarcas triontinos e se gabava por seus muitos pavilhões de sol-
dados, agora se via enfraquecido e envergonhado pelos mesmos reis que um dia
afirmaram que não tinham poder algum em Trionte.
Seu rei, estava completamente louco por não saber como os reis conseguiram
entrar em um reino, infestado de soldados e buscava incansavelmente respostas
em seus líderes militares, que rapidamente convocaram os batalhões restantes
para uma reunião, com direito a xingamentos vindos do rei afoito.
– Vocês fracassaram feio, esta noite!
– Muitas vidas inocentes, foram perdidas naquela esplanada! – grita Luan,
com seu exército.
– Alteza, devo lembrar-lhe de que, Dyllewalt foi pego de surpresa!
– Covardes, na minha opinião! – responde o almirante, que posicionava-se
ao lado do rei.
– Chamem, Sten-Han! – ordena Luan, mencionando um cavaleiro e caçador
de recompensas de seu âmbito social.
– Alteza, o Sir Han não vai-se, sem levar uma alma com ele! – responde o
general, que também estava ao lado do rei.
– É perfeito!
– Quero o Han aqui, até amanhã! – ordena Luan, em seu prazo apertado
para contra-ataque.
– Seu desejo, é uma ordem Alteza! – responde o general, se curvando diante
do rei, enquanto seguia ligeiramente para completar a ordem do mesmo.
– Qual a situação da artilharia? – pergunta Luan, ao seu almirante.
– Apenas alguns feridos, Alteza! – responde o almirante, que constantemente
checava as abas de sua veste, para ver se não estavam sujas ou desarrumadas.
– Perfeito!
– Assim que o Han chegar, organize uma cavalaria e coloque em nossos
homens armaduras mais forte e espadas mais duras e afiadas.
– Isso, ainda não acabou! – fala Luan, tomado pelo mesmo ódio do rei.
Os três reis, estavam bem próximos de encontrar a vontade de HARA-
GUM. O mago, havia levado as Majestades até um grande jardim florido, com
algumas colunas bem esculpidas
em pedra branca, como no par- Kwazahdar
lamento, com seus pés empu-
nhados na grama verde que
balançava com o vento, e lá, a
luz da lua cheia, acrescenta-se
alguns detalhes mais profundos,
sobre suas histórias.
– Afinal, por que nos trouxe
aqui, senhor? – pergunta Tho-
mas, ao mago que caminhava
ao seu lado.
– Vocês deveriam ter
achado este lugar, há muito
tempo, mas estavam tão ocupa-
dos brigando entre si, que esque-
ceram-se do mais importante!
– responde o mago.
– Perdão, Vossa Senhoria,
falou que aprendemos lições
importantes e agora diz que
esquecemos o mais importante?
– fala Suzana, contradizendo
o mago.
– Suzana! – sussurra Tho-
mas, reprimindo-a.
– Não, ela está certa,
jovem rei!
– Vocês aprenderam que o
amor é capaz de superar, até a
maior das traições e que o perdão, não é só uma palavra sem significado algum,
mas um grande recomeço com menos erros.
– Contudo, o mais importante neste momento é a batalha futura que Vossas
Majestades, estão perto de enfrentar!
– Sendo assim, HARAGUM preparou-lhes esse lugar! – responde o mago,
balançando as mãos sob duas arvores, que trancavam a passagem, dividindo as
mesmas enquanto gerava algo como um portal.
A magia havia acabado de revelar à frente dos olhos dos reis o grande jardim
de HARAGUM, um vasto campo de grama verde, viva, lindo de dia, belíssimo
de noite, onde era morada de vários vaga-lumes e fadas com poderes curativos.

124
Ao viajar noite e dia, sem parar, Sten-Han, finalmente avança a fronteira
entre Castindell e Dyllwalt, como o planejado adentrando os portões do reino
na data prevista. Nem bem chegava nos portões do castelo, e já via soldados
borrando as calças com sua presença, era compreensível, e, ao mesmo tempo,
reconfortante, saber que todos tinham medo do caçador de recompensas mais
famoso de Livesburn. Chegando, enfim, aos pés da grande escadaria, Sten nota
a presença de Luan, que já o aguardava impaciente, no último degrau.
– Ahh, Sua Alteza...
– Smash! – suspira Han, beijando a mão de Luan.
– Tá, tá, chega disso!
– Vamos direto ao assunto! – responde Luan, puxando sua mão de volta.
– Quem devo matar? – pergunta Sten, retornando sua coluna à posi-
ção original.
– Thomas Afftton! – responde Luan.
– Isso, vai custar seu trono! – fala Sten.
– Dou noventa e oito triontos de ouro, tá bom pra você? – pergunta Luan.
– Por que, quer tanto esse homem morto? – pergunta Sten, enxergando a
oferta do rei como uma humilhação.
– Você veio matar, ou me fazer perguntas? – pergunta Luan.
– Não concordo com o valor oferecido, por Sua Alteza! – responde Han.
– Não me desfaço de meu trono! – fala Luan.
– Então, passar bem! – responde Han, virando as costas ao rei.
– Espere!
– Vamos dobrar, então, para duzentos triontos! – fala Luan, desesperado.
– Agora, sim! – responde Han.
– Não sabia que tinha contratado um mercenário, mas tudo bem!
– Quanto pior for a sua índole, melhor! – fala Luan.
– Mas, quero saber mais sobre o sujeito que vou matar e o motivo pelo qual
Sua Majestade tem tanto repúdio do mesmo! – responde Sten.
– Não irei falar nada! – fala Luan.
– Como desejar!
– E como, Sua Alteza quer que o rei morra? – pergunta Sten.
– Tanto faz, só some com ele das minhas terras! – responde Luan.
– Vou incendiar o castelo! –fala Sten.
– Contratei um matador, não um incendiário! – responde Luan.
– De qualquer jeito, terá o rei morto! – fala Han.
– Ótimo! – responde Luan, enquanto o cavaleiro, caçador, partia em busca
do rei.
Enquanto isso, os mencionados estavam novamente no esconderijo e, desta
vez, o mago estava presente, ele havia escolhido acompanhar os reis em sua

125
última batalha, segundo o mesmo, a pedido do próprio HARAGUM. O feiti-
ceiro, até então, continuava expressando, sua profunda e notória admiração pelo
criador poderoso.
– Fascinante! – fala o mago.
– O quê? – pergunta Thomas.
– Os planos de HARAGUM! – responde o mago.
– Acho que não!
– Na verdade, houveram falhas no plano!
– Como ele quer que tenhamos vitória, se nem ao menos nos deu as respostas
certas sobre as profecias, ou sobre a ascensão de Luan ao meu trono? – indaga
Suzana o mago.
– Espere um pouco, você sabia da profecia? – pergunta Thomas, à Suzana,
agora confuso.
– Sim – responde o mago, pela rainha.
– Mas como.... – gagueja Helena.
– HARAGUM, mostra a verdade para todos, mesmo sendo inimigos!
– Mais uma vez, vos falo, o nosso interesse no momento é a batalha final!
– Preparem-se, pois o vosso inimigo está um passo a vossa frente! –responde
o mago, tirando o foco da conversa.
– Como pode?
– Devastamos Dyllewalt, há pouco tempo! – pergunta Simon.
– Aprendam que vocês são rápidos, mas seus inimigos são mais rápidos
ainda! – responde o mago.
– Como faremos isso, grande mago? – pergunta Thomas.
– Por que não perguntar, como falar com HARAGUM, isso sim é mais difícil!
– Ouça jovem rei, ouçam todos vocês.
– O poder, não está na espada, ou, no exército, mas em vocês mesmos...
– Dentro de cada um de vocês, existe um templo escuro onde o único
capaz de iluminar é o grande mestre, confiem nele até o fim e serão vitoriosos!
–responde o mago.
– Sabe, onde podemos encontrar o tesouro das sete arcas? – pergunta Suzana.
– Suzana! – reprime Helena, notando que haviam outras perguntas mais
sérias a serem feitas ao mago.
– Creio que, Vossa Majestade, já saiba dessa informação! – responde o mago.
– Do que está falando? – pergunta Suzana.
– Muitos perderam suas vidas atrás desse tesouro, mas fico admirado com
a rapidez com que, Vossas Majestades o encontraram!
– Contudo, devo confessar, que fui eu, quem deixei as pistas na taberna! –
responde o mago.
– Então a culpa foi sua! – fala Suzana.

126
– Não, de HARAGUM. – responde o mago.
– Eu poderia ter morrido no parlamento! – grita Suzana.
– Contudo, seu irmão a salvou, graças a ele!
– Não me condene, rainha, só fiz a vontade do criador! – responde o mago.
– Eu não teria feito bruxaria, se ele não tivesse tirado meus irmãos de mim,
eu não teria me aliado a Luan, nem destruído Trionte! – grita Suzana, indignada.
– Pode ser verdade!
– Mas não o culpe por seus mal feitos!
– HARAGUM nos dá desafios, mas cabe a nós, decidir se passaremos por
tais, ou se nos mantemos intactos!
– Quanto a sua aliança com o reino inimigo e a destruição de Trionte, foram
plenos frutos de seu desejo por poder e o reflexo de seu caráter e integridade
hábilmente abalados! – responde o mago.
– Suzana, cuidado com o que fala! – alerta Thomas.
– Certamente, não irá querer a ira de HARAGUM se voltando contra
ti, rainha.
– Além disso, as pessoas é que são perversas!
– A criação, poderia ter sido perfeita, contudo preferiu desonrar a mim.
–responde o mago, entregando sua real identidade aos monarcas.
– Como disse? – pergunta Helena, notando o deslize.
– Ahhhh, falei demais! – responde o mago.
– Quer dizer, que vo... voc... você é o criador? – pergunta Simon.
– Thomas, preciso falar com você a sós! – responde o mago, ignorando os
reis, que perderam suas expressões ao se darem conta da revelação.
– Sim, claro!
– Com licença a todos! – fala Thomas, em choque.
O rei e o criador, encontram-se novamente nos destroços acima do escon-
derijo, onde discutem.
– Então é verdade?
– Você é mesmo o criador? – pergunta Thomas.
– Sim, eu sou, filho meu! – responde o criador.
– Nossa!
– É muita informação em tão pouco tempo! – fala Thomas, ainda tomado
pelo choque da notícia.
– Espero que antes de tudo, vocês entendam que eu precisei fazer tudo isso!
– Precisei alimentar suas histórias com trevas e dor, para que existisse um
futuro melhor! – responde HARAGUM.
– Então, Suzana estava certa?
– Você causou tudo isso? – pergunta Thomas.
– Eu te mostrei a verdade!

127
– Quem estava realmente ao teu lado, basta ver quem ficou contigo depois
da separação de vossa família. – responde o criador.
– E os meus clamores?
– Eu clamei, mas você estava tão preocupado em fazer guerra, que esqueceu
de seus filhos! – grita Thomas, furioso.
– É pelo mal que estou lutando, Thomas, para destruí-lo! – responde
o criador.
– Alguma vez, pensou nos camponeses, ou em nós? – pergunta Thomas.
– Todos os dias!
– Vocês, eram meu orgulho!
– O diamante, da minha criação!
– Vocês, eram os mais importantes no jardim, até aquele fatídico dia em
que a escuridão chegou.
– No início parecia inofensiva, um erro na criação.
– Mas, com o tempo, ela consumiu os humanos, os transformou e sugou
sua luz, quando me dei conta, ela haviam escravizado todo o jardim e estava
querendo me matar para dominar o universo! – responde o criador.
– Se somos maus, por que está nos ajudando? – pergunta Thomas.
– Porque vocês, são a prova, de que nem toda a criação está perdida.
– Vocês, são os últimos humanos a receber a minha graça e estou fazendo
isso para que a geração de justos prevaleça!
– Se vencerem a guerra, derramarei sob Trionte a prosperidade e farei terem
vitória por mais trinta e oito gerações a partir da tua.
– Se perder, a escuridão vence, aí será o fim de Trionte e de todo o universo!
– responde o criador.
– O que faremos, então? – pergunta Thomas.
– Lutem, lutem até o final e use o totem! – responde o criador.
– Mas você está aqui e segundo o que dizem, você é o poder máximo! –
fala Thomas.
– O totem chama os antigos guardiões do jardim, para Trionte, não a mim!
– responde o criador.
– Mais uma vez.... – gagueja Thomas.
– Sim, eu menti sobre muitas coisas, mas foi para o bem de vocês!
– O roteiro que escrevi para a humanidade, como vocês chamam, “O Des-
tino”, deve ser preservado, ainda que seja o pior!
– É ele quem mantém o equilíbrio do universo! – responde o criador.
– Como contarei isso aos outros? – pergunta Thomas.
– Eles já desconfiam!
– Apenas, diga a verdade! – responde o criador.

128
– Capítulo 17 –

Os caminhos do sangue

É chegada a hora da guerra, e de frente ao campo de batalha, Thomas percebe


que o maior tesouro de Trionte, não era a guerra que iriam travar, mas
sim, aqueles que se desdobraram para defender os reinos lutando, bravamente.
Enfim, o grande plano de HARAGUM estará perto de se tornar realidade,
pois, lá estava o grande, frágil e recuperado exército de Luan, ao outro lado do
enorme campo. A ameaça que os reis triontinos enfrentariam era simplesmente
uma pequena chama, visto, que o grande vulcão estava por vir.
– Eu não falei?
– Não temos chance! – fala Helena, desencorajando-os a cruzar espadas.
– Helena, tudo vai acabar bem! – responde Thomas, confiante.
– Olha, quantos soldados! – debocha Suzana, amedrontando Helena.
– Suzana, não começa! – responde Thomas.
– O quê? – pergunta Suzana.
– Gremório, dê o sinal! – ordena Thomas.
– Sim, Majestade! – responde Gremório.
Diante aos fatos, o cavaleiro acena para o almirante com sua cabeça e o
mesmo soa a trombeta para o início da batalha. Assim, Trionte ataca primeiro,
os reis separam-se, e com isso, cada um encontra seu oponente, que alternava a
medida que entravam em novos ambientes.
– Já se acostumou com a ideia, de sumir do meu reino? – pergunta Luan,
com alguns defeitos notórios e pertencentes ao seu sistema nervoso em seu rosto.
– Dyllewalt?
– Hahahaha!
– Nunca foi seu! – responde Thomas, debochando da condição de escassez
militar, na qual o reino de Niwdem se encontrava.
– Sshusinnnnnh! – Luan puxa sua espada, enquanto, de seus olhos emanava
seu ódio, mais quente que a lava de um vulcão recém-acordado.
– Sshusinnnnnh! – Thomas também puxa sua espada, soltando seu suspiro
pausado, enquanto em sua mente passavam-se um turbilhão de táticas para vencer
Luan, de uma vez por todas.
– Você já perdeu. Thomas! – grita Luan, tentando também desencorajar
o rei.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! TsinnnTsinnn! – espadas se cruzando.
– Tsinnn! Tsinnn!
– Tsinnn! Tsinnn!
Já Suzana, se depara com uma situação que expressava a maldade pura do
coração Niwdeniano. Um soldado de Luan, estava prestes a matar uma criancinha
recém-nascida, foi, então, que a rainha puxou a rédea de seu cavalo, fazendo o
mesmo saltar sob um muro baixo de pedras, que servia de barricada, puxou a
espada de sua cintura e apunhalou as costas do soldado, pegando assim a criança
para si.
– Não! – grita Suzana.
– Sshusinnnnnh! – puxa a espada.
– Shixn! – crava a espada nas costas do militar.
– Ahhhhh! – grita o soldado ferido.
– Venha, pequena criança! – sussurra Suzana, pegando-a no colo.
– Buaaaaaá! –chora a criança.
– Onde estão seus pais, hum? – pergunta Suzana.
– Buaaaaá! –chora a criança.
– Eu sei, não vou lhe deixar sozinho aqui! – sussurra Suzana, levando a
criança em seus braços,
até os primórdios do
campo, deixando-a aos Apél
cuidados de Ilda.
Isso fez a rainha se
sentir bem mais leve e o
peso de sua culpa, já não
existia mais.
Helena, juntamente
à linha de frente, atacou os
soldados niwdenianos, e,
igualmente, obteve vitó-
ria plena em sua missão.
A rainha conseguiu varrer
cinquenta por cento dos
soldados inimigos do ter-
ritório, abrindo espaço,
assim, para HARAGUM
interferir diretamente.
Simon, foi atrás de
Thomas e se deparou com

130
o duelo entre os dois reis, rapidamente ajudara Thomas a liquidar o inimigo.
Mas Luan conhecia o ponto fraco de Simon, e usou dos erros do rei para ganhar
vantagem, colocando sua vida à prova na ponta de sua espada.
– Aaaaah!
– Olha quem temos aqui!
– O reizinho, traidor de seu próprio reino.
– Que vergonha! – revela Luan, amansando sua voz.
– Do que está falando? – pergunta Thomas.
– Ahh, ele não lhe contou?
– Hum, estranho!
– Afinal, ele ama tanto o irmãozinho dele! – debocha Luan, ainda em
voz mansa.
– Simon, do que ele está falando? – pergunta Thomas.
– Perdão! – implora Simon.
– Não importa!
– Se ele fez algo errado, foi porque você o pressionou! – grita Thomas.
– Tem certeza, Thomas?
– Olhe pra ele, o pobre rei, Simon!
– Aquele de quem ninguém se lembra, porque seu brilho foi ofuscado pelo
grande rei Thomas! – cita Luan, enquanto caminhava lentamente em volta de
Simon, que com sua cabeça baixa, escutava com atenção e pesar, as palavras
de Luan.
– Simon, isso é verdade? – pergunta Thomas, desacreditado em tamanha
maldade vinda de Simon.
– Sim!
– É verdade sim, Thomas!
– Eu sempre odiei, vê-lo lá em cima, enquanto nós não ganhávamos nada!
– responde Simon.
– Simon...eu... – gagueja Thomas.
– Você, sempre você...
– E o resto de nós, Thomas?
– Onde ficamos nisso tudo? – pergunta Simon aos gritos.
– Simon, não importa o que HARAGUM falou!
– Vocês, são e sempre serão meus irmãos! – responde Thomas.
– Mentira!
– Somos meros convidados! – grita Simon, tomado pelo ódio induzido
por Luan.
– Simon...r. – gagueja Thomas, tentando explicar-se.
– Estou do lado dele, Thomas! – responde Simon, escolhendo contra a sua
vontade e sob influência de Luan o lado obscuro.

131
– Pois bem!
– Eu não queria, ter que... – gagueja Thomas.
– Sshushinnh! – interrompe Simon, atacando Thomas.
– Tsinnn! – Thomas se defende com sua espada, cravando, assim, o pomo
na cabeça de Simon, que cai desmaiado no chão.
Luan, se aproveitando da situação, tenta atacar o rei e outro duelo começa, o
declarado inimigo triontino, com sua audácia, empunha sua espada sob o corpo
repousante de Simon, e Thomas o defende. Assim, a batalha prossegue, e, mais
tarde, veio o campo de batalha mais uma vez se fazer em chamas.
Os soldados de Luan, agora se viam face a face, com os tão afamados reis
das terras maravilhosas, dentro do enorme campo, foi então que no fraquejo
do exército triontino eles foram rodeados pelos inimigos. Thomas, por sua vez,
lembrou-se, de que guardara com Gremório o totem dado pelo criador e, rapi-
damente, faz o seu famoso sinal de entendimento com a cabeça, que logo é
compreendido pelo cavaleiro.
Então, envoltos naquele grande círculo de cobras, os reis secretamente tocam
no totem, mas no princípio nada vem a acontecer e todos perdem as esperanças.
Eis que neste momento do céu ouviram-se muitos trovões envoltos em grandes
raios e, sem esperar nada mais mágico, os soldados niwdenianos ficam desorien-
tados além de expressarem seus rostos completamente enrugados de medo.
Como se nada faltasse, do céu emanou uma luz branca incandescente e
dela desceram como prometido a Trionte, os seus dois grandes e milenares reis
que, rapidamente, se converteram em esferas de luz indo diretamente para os reis
Thomas e Luan. Os dois caem desmaiados no chão; a batalha cessa por alguns
minutos e, com o levantar dos reis, tem seu prosseguimento.
Novamente os dois batalhões encontram-se, no enorme campo de batalha
com seus reis, presentes na linha de frente. No rosto de Luan, existia a expressão
de ira, tal como no rosto dos três reis triontinos, assim, o segundo toque da
trombeta foi ordenado, e os dois batalhões se cruzam após o choque de Luan e
Thomas que rasgam suas espadas.
O rei golpeia a armadura de Luan, ao mesmo tempo que o inimigo acerta
o ar, errando sua estratégia, Simon, em outro relâmpago, abre seus olhos com
muita dificuldade e levanta-se com os estrondos provocados pela batalha, onde
consegue enxergar a grande destruição causada pelo fogo e a grama que estava
suja do sangue de milhares de vidas inocentes.
Vendo os outros reis, na batalha e estando aparentemente bem, Simon
envolveu-se, diretamente, correndo, assim, enquanto puxara a sua espada de
sua cintura e a levantava em um gesto de coragem, o rei havia retornado a sua
consciência e partira ao encontro dos reis. Simon, ajudando, Thomas, apunhala

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sua espada nas costas de Luan que cai sobre a mesma grama, ensanguentado. Era
o fim do pior rei que Trionte já havia visto.
– Obrigado!
– Eu sabia, que não tínhamos perdido você! – fala Thomas, feliz ao ver
Simon bem.
– Só precisei, levar um golpe na cabeça!
– HAHAHAHA! – brinca Simon.
– Agora, vamos! – responde Thomas.
– Onde estão os outros? – pergunta Simon.
– Ainda, lutando! – responde Thomas.
– Já usou o totem? – pergunta Simon.
– Já! – responde Thomas.
– E agora? – pergunta Simon.
– CABUM! – responde Thomas, mencionando indiretamente, que haveria
um plano que incluía grandes rochas, ou fogo, ao julgar pela onomatopeia usada
pelo rei.
– Catapultas? – pergunta Simon.
– Sim, convoque Gremório! – ordena Thomas.
– Tá! – responde Simon.
Simon avisa a Helena e Suzana, para tirar todos dali e avisa a Gremório que
as catapultas, deveriam ser acionadas a partir de seu sinal, que se dava pelo flash
de sua espada, iluminada aos raios do sol.
– Gremório, as catapultas! – grita Simon, ao ver que as rainhas
haviam conseguido.
– Agora, Majestade? – pergunta Gremório aos gritos.
– Ao, meu sinal! – grita Simon.
– Entendido! – finaliza Gremório.
Gremório ordena, então, que o grupo de artilharia acione as catapultas,
localizadas acima do monte próximo ao campo, e assim foi feito, o primeiro tiro,
recheado de fogo, acertou uma pilha de matos secos, o que gerou um incêndio
que se alastrou rapidamente e abriu uma grande cratera no chão, logo em seguida,
o segundo tiro acertou os soldados deixados para trás, que corriam para se salvar,
e o terceiro, seguido de outros quatro tiros, amassaram o resto que sobrara dos
ossos de soldados mortos e até os próprios vivos.
Ao longe, Suzana olha desolada o campo se desfazer em chamas; porém,
dessa não estava mas na presença de seus inimigos e isso fez uma grande diferença,
já que com o derramar de suas lágrimas foi abraçada por Helena, que finalmente,
lhe deu seu perdão. Thomas, Simon e Gremório, que vinham ao longe montados
em seus cavalos, se deparam com tal cena e exibiram um enorme sorriso, cheio

133
de orgulho pela conquista da nova vida de Suzana, oferecendo-lhe, um abraço
em conjunto, como sempre faziam.
Ao fim, seguem para Kwaizahdar, onde são acolhidos por HARAGUM.
– Criador! – clama Thomas, surpreso ao ver o deus.
HARAGUM, fica em silêncio por um minuto e só então responde:
– Quatro, jovens, reis, hoje vocês demonstraram sua coragem e serventia
no campo de batalha e por isso, teus reinos prosperarão por mais trinta e oito
gerações, bem como serão providas de vitória!
– Como o prometido, as tuas coroas, outrora sujas pela traição e pelo sangue
impuro, agora estão abençoadas!
– Quanto, ao bravo exército que escolheu lutar pela verdade e pela justiça,
será dada a fartura e a força de vontade, para que ninguém as tire, povo do criador!
– Lembrem-se, meu corpo está repousando sob Trionte agora e dentro de
vós coloquei a verdadeira Majestade, para que ninguém vos diga que não são
dignos de ser reis.
– Devo ir agora! – responde HARAGUM, deixando sua promessa e recom-
pensa aos reis.
Eis, que o criador se transforma em uma grande luz azulada e como um
canhão, dispara-se em direção ao céu, tocando assim as nuvens, que rapidamente
se espalham transferindo o céu nublado de guerra, para o céu azul e ensolarado
da paz.

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Um ano depois...

T rionte, estava à beira de um novo sistema, onde todos os restos pertencentes


às batalhas, foram devidamente enterrados, dando espaço, assim, às grandes
mudanças promovidas pelo concelho de Esguardian, que decidiu, destituir o
poder dado acidentalmente aos, antes, reis de Kwazahdar e Dyllewalt. Para que
a justiça pudesse prevalecer e manterem melhor controle sobre os assuntos refe-
rentes à realeza, decidiram também, que seria melhor fundir, todos os reinos de
Trionte, em um só, assim foi erguido o palácio pertencente ao mais novo, império
triontino, dominado por Thomas, já que era o verdadeiro e único rei de Trionte.
No dia da coroação, Thomas havia ordenado uma grande festa em tal palá-
cio, onde, no mudar de sua vista, durante a celebração, notara, que Simon estava
meio cabisbaixo e rapidamente expressara sua preocupação com o rei.
– Simon?
– Como você está? – pergunta Thomas.
– Estou com uma ferida no braço, só isso! – responde Simon.
– Irmão, venha comigo! – fala Thomas, puxando Simon.
– O que vai fazer? – pergunta Simon.
– Fique aqui! – responde Thomas, posicionando-o.
– Helena, Suzana! – clama Thomas, pelas irmãs.
– Atenção, todos!
– É de frente ao concelho, aos soldados e aos camponeses presentes neste
banquete, que proclamo, que os destituídos reis de Kwazahdar e Dyllewalt, rece-
berão o título de nobreza e poderão conviver, se quiserem, no palácio; pela sua
coragem e bravura diante das batalhas, mesmo não sendo reis por sangue, pro-
varam sua lealdade e força por Trionte.
– Deixando de lado, apenas, Sua Majestade, rainha, Helena, que teve de
abdicar do trono, por recentemente descobrir sua linhagem, junto aos outros e
assume-se a partir de agora como a rainha de Castle Purple, fazendo, junto a mim
a aliança entre reino e império, para garantir os laços futuros de amizade e paz.
– Thomas? – surpreende-se Suzana.
– Como assim? – surpreende-se Simon.
– Majestade, receio, que isto não será possível! – responde Gremório.
– Eu dou as ordens por aqui e se digo que meus irmãos receberão títulos de
nobreza, eles receberão e pronto!
– Isso é tudo! – finaliza Thomas.
A música é retomada junto às danças e comilanças.
– Thomas, por que fez isso? – pergunta Simon.
– E eu lá ia deixar o concelho escorraçar vocês de Trionte, depois de tudo
que fizeram! – responde Thomas.
– Eu sei porque ele fez isso! – responde Simon.
– Do que está falando? – pergunta Suzana.
– A culpa foi minha! – responde Simon, tomando a culpa para si.
– Não, Simon!
– Vocês, mereceram estar aqui tanto quanto eu, não seria justo deixar vocês,
fora de meus planos! – fala Thomas.
– Mas o concelho não vai aceitar, ainda mais sabendo que agora somos
meros plebeus!
– Por direito e pela lei, a coroa é só sua, tal como o trono! – responde Simon.
– Farei com que aceitem! – responde Thomas.
– Estaremos com você, Thomas, sempre! – fala Simon, aceitando a decisão
do irmão.
– Obrigado! – agradece Thomas, abraçando Simon.
– A propósito, o tesouro que a caçada das sete arcas buscava é o talismã de
NABULORK! – responde Suzana, interrompendo o silêncio.
– O que é isso? – pergunta Thomas.
– O cristal que tentei usar para trazer vocês de volta à vida!
– Li sobre e pelo que pude compreender, a Ordem d´Aquino tem a ver com
a distribuição dos primeiros boatos sobre o cristal! – responde Suzana, incrimi-
nando a ordem secreta.
– O que mais, dizia lá? – pergunta Helena, curiosa.
– Pelo que sei, o cristal dá a quem o possui o poder de materializar seus
entes queridos, independentemente do tempo do desapego! – responde Suzana.
– E onde está o cristal? – pergunta Thomas, também curioso.
– Esse é o problema, assim que o feitiço acabou o cristal desapareceu junto
com ele! – responde Suzana.
– Precisamos, achar o cristal! – fala Helena, interessada.
– Para quê? – pergunta Suzana.
– Estamos bem, Helena, que tal deixar assim! – responde Thomas.
– Na verdade, concordo com Helena!
– Precisamos, estudar o cristal – fala Simon.
– Quem é você e o que fez com nosso irmão? – pergunta Suzuna, zombando
por seu irmão se esquivar de seus padrões.
– HAHAHAHA... – todos riem.
Tudo acabou, relativamente bem. Gremório e Ilda se aliançaram, Helena
conheceu um jovem rei do leste e juntos tiveram um curto relacionamento. Já
Thomas, ainda estava focado demais na busca pelo poder e nunca abandonou

136
seu império, Simon partiu para os mares do sul, onde entrou para um grupo
seleto de nobres do oriente, Suzana dedicou todo seu tempo ao aprendizado, na
nova biblioteca do palácio triontino e assim, finalmente entendeu o significado
e a importância de um bom governo para Trionte.
Uma certa noite, HARAGUM decide presenteá-los mais uma vez. Acima
das cômodas, dos aposentos dos reis, revelam-se pergaminhos dourados, que só
foram descobertos por eles no dia seguinte.
– O que, isso significa?
– Simon, Suzana, Helena, venham aqui! – grita Thomas, ao acordar em seu
quarto e perceber tais pergaminhos.
– O que houve, Thomas? – pergunta Helena, seguida dos irmãos ofegantes.
– Vejam isto!
– Estava em cima da cômoda! – responde Thomas.
– Ouro? – surpreende-se Helena.
– Pergaminhos! – responde Suzana.
– Espera, vi um destes no meu quarto também! – fala Simon.
– No meu também! – responde Suzana.
– Pois bem, leia, Thomas! – pede Simon.
– Tudo bem! – responde Thomas, abrindo o pergaminho e iniciando
sua leitura.

Para os novos imperadores das minhas terras, eis meu presente, pois foram
abençoados pelo criador de tudo, não cairão e sob eles foi colocado o escudo uni-
versal, para que seus inimigos jamais o tentem pelo viés da traição, levando-os
para o fim.
Não morrerão de sede, ou de fome, pois sob teus trigais, foi derramada a fartura
e sob tuas parreiras a suculência das uvas.
Teus bosques, foram restaurados para darem frutos e sombras, as matas para
gerar recursos precisos à sobrevivência, pois mostraram que ainda que o mal
exista e os persiga, o bem sempre terá espaço em teus corações e estarão sempre
dispostos a cuidar e defender este, agora, império.
Voltarei, quando Trionte precisar!
Do Criador, para sua criação.

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Alfabeto Mavulês

A B C D E F G H I J

K L M N O P Q R S T

U V W X Y Z
SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 X 19,3 cm
Tipologia: Adobe Garamond Pro 11,5/12/16/18
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g em brilho (capa)

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