Uma Cronica para Lobisomem: o Apocalipse

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Créditos Agradecimentos Especiais:
Desenvolvimento: Pedro Ribeiro Nogueira, André Luna, Luís Gonzaga e a banda Cangaço
Grinberg, Denison Martinelli
Autor: Pedro Ribeiro Nogueira
Edição: Matheus Chokos Veloso
Diagramação: Matheus Chokos Veloso
Leitura Crítica: Bruno Gabryell
Arte: Rafael TrilhadoVento Figueiredo, Luís Gustavo
Sobral, Guilherme Skarma Lopes, Diego Bonfiglio,
Corvinho, Pedro Ribeiro Nogueira

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2 CORDEL DA FOME
 Sumário
A Última Melodia de Asa Branca 5
Introdução 9
Capítulo Um: Grande Sertão Vermelho 13
Capítulo Dois: Morte e Vida Severas 21
Capítulo Três: Auto dos Compadecidos 47
Apêndice 63
Últimas Palavras 75

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A Última Melodia
de Asa Branca

A carne dilacerada e trêmula

no bico do Carcará
ainda lembra e teme a Fúria
dos Cancioneiros do Luar.
Sua corrida era sozinha,
Caçando o mal onde quer que vá
Era a lei, a litania
e a paixão a cintilar
Na jornada com a família
chora a sanfona da paixão
pela luta no Cangaço
com ferro, sangue e maldição.
Mas o líder na empreitada
sob a lua da emoção
partiu pra batalha
e pra salvar o seu irmão.
Eles haviam chegado juntos,
com a orientação do Galliard
e o Lua-Nova que era esperto
viu a congregação a se formar
Os espíritos esconjurados

A ÚLTIMA MELODIA DE ASA BRANCA 5

 Malditos demônios da corrupção
haviam se alastrado na terra e tripas do Sertão
A Serpente da Voracidade
que mora no ventre de todos nós
por canibais era cultuada
Na Catedral da Fome Atroz
A carne nua titubeava
em um altar de pura dor
e os presentes devoravam
experimentando novo sabor
Pelo vício da carne viva
os ventres cantavam uma canção
e todos ficaram perturbados
com a liturgia da corrupção
Tinha início o ciclo da vida
e terminava com a extinção
tornada feita pelos seus filhos
fome, genocídio, escravidão.
O ciclo da vida corrompido
pelo vício canibal
havia perdido seu reinício
e se tornado espiral
o ódio supitava à pele
com violência animal

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 todos os membros da matilha
Foram pra vitória e funeral.
Nem mesmo a serpente da fome
é voraz contra o amor
pois ao devorar a matilha
o demônio vomitou.
Na úlcera incinerada
pelo fogo da ressurreição
Doeu o ventre seco
com o espírito da união.
Mesmo com Glória Póstuma
A canção irá perdurar
Voando na Asa Branca
da Gralha e do Carcará
O culto foi destruído
mas a fome restará
e quem souber do sacrifício
contra Wakoru triunfará.
Toda a matilha seguiu o alfa
para um sacrifício em comunhão
aumentando assim as chamas
da fúria, força e revolução.

A ÚLTIMA MELODIA DE ASA BRANCA 7

 Introdução

Do verão pro inverno

eu não perco a calma
Vou beber a lágrima que você chorar
- Guerreiro, Alceu Valença

Cordel da Fome é uma aventura situada no Brasil,
especificamente no Sertão Nordestino, explorando o perío-
do e os temas importantes para o fenômeno do Cangaço.
Trata-se de uma aventura situada no cenário estabelecido
em Brasil em Fúria, e dá continuidade à crônica Caminhos do
Brasil, sendo a terceira aventura, depois de Pontes Queimadas
e Rios Profundos. Tal qual as aventuras anteriores, no entanto,
Cordel da Fome pode ser jogado de forma independente.
Como Usar Este Livro
Por se tratar de uma aventura que envolve um período
do passado brasileiro, utilizamos como base para sistema
dois livros: a edição de 20 anos de Lobisomem: o Apocalipse,
e o suplemento Werewolf: Wild West, da mesma edição. Al-
ternativamente, uma parte da aventura pode ser expandida
para história de crossover com Wraith: The Oblivion. Além
deste, usaremos como referência o livro Ghost Towns, a
fim de apresentar possibilidades para aqueles que desejem
INTRODUÇÃO
se aventurar nos domínios dos mortos.
Cordel da Fome se divide em:
A Última Melodia de Asa Branca - Canção de im-
portância central para a aventura.
Introdução - O capítulo que você está lendo, explicando
o material e propósito da aventura.
Capítulo Um: Grande Sertão Vermelho - O capítulo
dedicado a apresentar o Sertão e a Caatinga, as adaptações
adequadas para a crônica Caminhos do Brasil, e um resumo
dos acontecimentos anteriores (relativos a Pontes Queimadas
e Rios Profundos)
Capítulo Dois: Morte e Vida Severas - Capítulo dedica-
do a apresentar as localidades e personalidades importantes
para a aventura.
Capítulo Três: Auto dos Compadecidos - A aventura em
si, dividida em três atos, com todos os elementos explicados
detalhadamente.
Apêndice - Onde são reunidas as informações acerca
9
de um novo Antecedente, regras opcionais, além de instru-
mentos espirituais, tabela de armas, e mais.
Indicações
Para muitos jogadores o imaginário do Sertão e do
Cangaço pode ser tão distante quanto as imagens fictícias
pertencentes à Umbra. Para aqueles que não reconhecem a
familiaridade a cultura do Cangaço, as agruras da caatinga e
suas belezas, recomendamos obras artísticas para tornarem
mais familiares os caminhos do Sertão.
Filmes
O Cangaceiro (1953), Lampião: O rei do Cangaço (1963),
Vidas Secas (1963), Memórias do Cangaço (1964), Deus e o
Diabo na Terra do Sol (1964), O Dragão da Maldade contra
o Santo Guerreiro (1969), Cabra Marcado para Morrer
(1984), Corisco e Dadá (1996), Baile Perfumado (1997), O
Auto da Compadecida (1999), A Luneta do Tempo (2014),
Entre Irmãs (2017), O Matador (2017).
Música
Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Zé Ramalho, Elba Ramal-
ho, Dominguinhos, Quinteto Armorial, El Efecto, Cordel
do Fogo Encantado, Cangaço, Kracmun.
Literatura
Os Sertões (Euclides da Cunha); Auto da Compade-
cida (Ariano Suassuna); Vidas Secas (Graciliano Ramos);
Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço
(Adriana Negreiros); Capitães da Areia (Jorge Amado); O
quinze (Rachel de Queiróz); Morte e Vida Severina (João
Cabral de Melo Neto); Grande Sertão: Veredas (João Gui-
marães Rosa), Torto Arado (Itamar Vieira Junior).

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INTRODUÇÃO 11
 Capítulo Um:
Grande Sertão
Vermelho
Vi a seca, vi a fome, lobisomem e assombração
Riacho virou caminho, graveto virou tição
E as pedras ardendo em brasa, Asa Branca na amplidão
Riacho virou caminho de pedras queimando em brasa
No poço secou a água, menino morreu sem nome
Na Caatinga o homem chora, o boi que morreu de sede
A roça que era verde, a seca torrou garrancho
- A Seca, Alceu Valença

Cordel da Fome é um livro-aventura, situado no cenário
de Brasil em Fúria, um suplemento regional para Lobisomem:
O Apocalipse (edição comemorativa de 20 anos). Para con-
templar todo o escopo deste jogo, sugerimos também que
sejam utilizados os livros Werewolf: Wild West (da edição
comemorativa de 20 anos) e as aventuras pregressas tam-
bém publicadas pelo Nação Garou: Pontes Queimadas e Rios
Profundos (ambas disponíveis para download na plataforma
Storyteller’s Vault).
Neste capítulo, apresentamos um resumo de Cordel
da Fome (todos os pontos da narrativa são expandidos e
explicados no Capítulo 3), e indicamos também os pontos de
adaptação, algumas informações cruciais para entendimento
sobre o cenário, período e local, bem como dicas de narrativa
para criar uma maior sensação de imersão no sertão e no
CAPÍTULO UM: GRANDE SERTÃO VERMELHO
passado marcado por paixão e violência.
Cordel da Fome é a terceira aventura da crônica
Caminhos do Brasil situada no universo de Brasil em Fúria e
publicada pelo Nação Garou. Desta forma, a maneira mais
simples de introduzir a aventura é logo após o grupo ter
jogado, respectivamente, Pontes Queimadas e Rios Profundos.
Entretanto, não é a única forma de aplicar o material deste
livro. Narradores podem optar, também, por utilizar Cordel
da Fome como uma aventura avulsa ou parte integrante de
suas próprias crônicas já iniciadas. Este capítulo propõe
contextualizar e resumir o enredo das histórias passadas,
assim como orientar os Narradores de como introduzir
novos personagens de jogadores à trama e como realizar
adaptações, caso sejam necessárias.
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Passado, Presente e Futuro
Passado
Os eventos expostos a seguir são acontecimentos das
aventuras Pontes Queimadas e Rios Profundos:
Os Garou brasileiros enfrentam problemas seríssimos
no âmbito espiritual. As Pontes da Lua começaram a ser
infiltradas, atacadas e destruídas por Malditos. A primeira
e mais significativa perda devido a isso foi a queda da Seita
do Rio do Céu (na Amazônia) que se tornou mais uma base
de poder dos Dançarinos da Espiral Negra. Por sorte, a Pere-
grina Silenciosa Ianna Testemunha-do-Invisível e o Crias de
Fenris Ezequiel Fúria-das-Almas-Perdidas estavam presentes
no momento do ataque e conseguiram, por pouco, escapar
com vida. Isto fez com que os movimentos dos servos da
Corruptora não se mantivessem em segredo.
Ianna correu pelo país, passando em todas as seitas
que pôde, alertando a respeito do perigo. Desta forma, as
Pontes da Lua começaram a ser fechadas e as defesas dos
caerns fortificadas, impedindo que mais locais sagrados
fossem tomados. Entretanto, a Seita dos Corações Anti-
gos, em Minas Gerais, agiu de forma diferente. Diversas
matilhas foram enviadas através de uma Ponte da Lua até
a Amazônia com o objetivo de retomar a Seita do Rio do
Céu. Esta Ponte da Lua foi atacada e destruída por servos
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de K’ulmatu, o Incarna da Escravidão, levando à morte
muitos Garou ou os lançando pela eternidade nos confins
da Umbra. Entretanto, alguns sobreviventes conseguiram
chegar ao seu destino na Amazônia e selar uma aliança de
guerra entre as seitas remanescentes da região. Assim, os
enviados sobreviventes da Seita dos Corações Antigos, os
Uktena da Seita dos Espíritos da Chuva e as Fúrias Negras
da Seita do Coração Oco desferiram um poderoso ataque
sobre os Dançarinos da Espiral Negra e tomaram de volta o
caern do Rio do Céu para a tutela dos guerreiros de Gaia.
Entre os espólios do combate foi encontrado um caderno
que pertencia a Oxtrach Rasga-Mortalha, líder dos Dançari-
nos da Espiral Negra no Rio do Céu. As anotações haviam
sido feitas na língua da Wyrm e nenhum Garou presente foi
capaz de interpretar. Junto com Ezequiel, uma matilha buscou
Mãe Jamila de Logun Edé (uma Parente dos Uktena) que, ao
incorporar seu Orixá, foi capaz de compreender tais palavras.
Eram partes dos planos e movimentos da Corruptora. Não
eram apenas as Pontes da Lua que cruzavam os céus umbrais
que estavam comprometidas pelos servos da Wyrm. Os rios
do Brasil haviam sido infiltrados por Halaiki, o Incarna do
Genocídio e, agora, suas emanações se espalhavam de forma
poderosa por todo o território nacional.
Sem ao menos terem tempo de verdadeiramente comem-
orar a vitória sobre os Dançarinos da Espiral Negra, os Garou
foram arrebatados por estas notícias terríveis a respeito do
crescimento do poder da Wyrm. Mas uma fagulha de esperança
surgiu quando Logun Edé presenteou a matilha com o
conhecimento do Ritual das Veias da Terra. A realização
correta do ritual seria capaz de purificar novamente os
rios e criar caminhos alternativos às Pontes de Lua, os
Rios de Luna (Rios Profundos, pg. 71). Entretanto, isto só
seria possível se o ritual fosse realizado de forma massiva
nos principais rios do país. Dezenas de Garou precisariam
agir em uníssono para tal empreitada. A única alternativa
provável seria uma ordem direta dos Presas de Prata para
que todas as seitas se mobilizassem.
Mas a mensagem e o conhecimento do ritual não
chegariam rápido, pois os centros de poder dos reis dos
Garou estavam há muitos quilômetros dali, divididos
entre a Seita do Ninho da Harpia, no Paraná, e a Seita
da Realeza Selvagem, no Rio de Janeiro – somado ao
fato que as Pontes da Lua não eram uma alternativa
mais viável. Assim, Ezequiel Fúria-das-Almas-Perdidas
parte para Umbra em busca de mais informações sobre
o que está acontecendo e a matilha ruma por terra para
informar os Presas de Prata da necessidade da mobilização
da Nação Garou.
Após um mês de viagem pelas estradas brasileiras,
vivenciando e testemunhando o crescente poder de Ha-
laiki, a matilha chega às seitas dos Presas de Prata e se vê
obrigada a lidar com as burocracias, políticas e rivalidades
entre as Casas Coroa Austral e Coração Irrompível. Mas
a mensagem é entregue e a mobilização dos Garou do
Brasil tem início. Devido à rixa entre as duas Casas dos
filhos do Falcão, nem todas as seitas do Brasil são acio-
nadas ou respondem ao chamado, mas muitas atendem
e enviam matilhas para aprender o Ritual das Veias da
Terra. Essas matilhas então são enviadas para e realização
do ritual massivo pelos rios do país.
O resultado do Ritual das Veias da Terra não ocorre
como o esperado. Apesar de alguns rios se tornarem de
fato Rios de Luna, na maioria dos locais o ritual falha
quando diversas criaturas, antes humanos, mas agora
vítimas e servos de Halaiki, surgem das profundezas
das águas e atacam os mestres de ritual, causando
morte, destruição e uma severa quebra do Véu. Os
Garou ganham a consciência de que a situação é pior
do que o imaginado, visto que o Incarna do Genocídio
não apenas se infiltrou nos corpos d’água, mas como
corrompeu Boiuná, o espírito totêmico que esculpiu os
rios brasileiros.
Presente
Cordel da Fome tem início imediatamente após os
acontecimentos narrados anteriormente. Os personagens
dos jogadores avistarão, boiando nas águas de um rio e
muito ferido, Benedito Sem-Futuro. O Roedor de Ossos
conseguiu, através das passagens espirituais abertas com
a realização do Ritual das Veias da Terra, fugir do cárcere
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onde era mantido na Umbra.
Para grupos que jogaram Rios Profundos, não há nenhu-
ma necessidade de adaptação. Após a última cena de Rios
Profundos, ao tentarem realizar o ritual, a narrativa já segue
para esta primeira cena, nas margens do próprio rio onde
enfrentaram os servos de Halaiki. A história terá uma con-
tinuidade natural e fluida. Entretanto, Cordel da Fome se
tornará um desafio muito maior, visto que os personagens
não terão tempo de se curarem e recuperarem recursos tais
quais Fúria, Gnose e Força de Vontade.
Alternativamente, caso o Narrador não deseje utilizar o
material de Rios Profundos, basta contextualizar os jogadores
narrando a história prévia do cenário, contando os acon-
tecimentos como foram descritos no início deste capítulo.
A matilha dos personagens pode ser colocada como uma
das matilhas que tentou realizar o Ritual das Veias da Terra
(mesmo não tendo sido feito em jogo) ou como uma matilha
que vigiava os arredores e protegia a matilha responsável
pelo ritual.
Por fim, nada impede que tudo isso seja ignorado e os
personagens encontrem Benedito Sem-Futuro nas águas
de qualquer rio. Pode ser próximo ao caern onde vivem,
enquanto passam despreocupados por uma ponte na cidade
ou em meio a uma missão parte integrante da crônica que
o grupo já desenvolve. Mesmo nesse caso, a pouca contex-
tualização não afetará o andamento de Cordel da Fome, a
única perda será a simplificação do cenário e o sentimento
de perigo e fragilidade perante às forças da Wyrm que os
Garou estão sentindo no momento.
Futuro
A seguir, está exposto um pequeno resumo de todos os
acontecimentos que seguirão em Cordel da Fome:
Após salvar Benedito Sem-Futuro, o Roedor de Ossos
contará sobre seu cativeiro nas mãos de servos de Wakoru,
o Incarna da Fome, e que estes buscavam pelo paradeiro
do Peregrino Silencioso Marco Sombra-dos-Túmulos. A
forma que a história será narrada, trará a importância e a
urgência de encontrar Marco; e os personagens partirão
em sua procura.
A busca os levará até Cococi, uma pequena cidade fan-
tasma no Ceará, onde encontrarão o Peregrino Silencioso
em meio a Procissão dos Mortos. Depois de o auxiliarem
em sua demanda com um fantasma, o Philodox irá contar
que conhece parte de uma canção, cantada por um Corax,
o Asa-Branca, morto há muito tempo atrás e que, além deste
pequeno trecho, tudo o que sabe é que os Corax também
buscavam o resto da canção.
Com esta dica, os personagens poderão buscar mais in-
formações em um Parlamento das Gralhas, mas ao cantarem
a parte conhecida da canção, ela surtirá um efeito inesperado:
um ovo místico, guardado há mais de 100 anos pelos Corax
irá chocar. De dentro do ovo surgirá uma memória. Uma
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história guardada para ser achada, cantada e lembrada pela
posteridade. A canção de Asa-Branca então transportará
os personagens para a própria lembrança viva da história.
A partir deste momento, os jogadores interpretarão
a matilha Cancioneiros do Luar Sozinho e vivenciarão as
memórias guardadas no ovo místico pelo Corax Asa-Branca.
Esta matilha viveu no sertão muitos anos atrás, na época do
cangaço. Três temáticas perpassam o Ato II: jogadores lidarão
com a volante, os soldados da república, e presenciarão
de forma discreta manifestações de servos de Wakoru. A
temática deste momento será cangaceiros versus o mundo.
No papel de Garou cangaceiros, os jogadores lidarão com
conflitos com outra matilha de cangaceiros, os Calangos, em
uma luta mortal por Campos de Caça. Cangaceiros versus
cangaceiros, Garou versus Garou. E, por fim, a luta por
território guiará a descoberta da manifestação umbral da
Igreja da Fome e a lidar com a realidade de lobisomens do
cangaço versus a Wyrm. No momento final da aventura, os
personagens invadirão o antro da Corruptora e presenciarão
uma orgia canibal que invocará um avatar de Wakoru. Não
haverá outra alternativa, a não ser os Cancioneiros do Luar
Sozinho se sacrificarem para aplacar o Maldito.
Os personagens então recobrarão suas consciências
na atualidade, trazendo consigo não apenas as memórias
cantadas por Asa-Branca, mas também a informação de
extrema importância da localização da Igreja da Fome no
presente, e que existe mais de uma manifestada na Penumbra
brasileira. Mas antes que possam alertar outros lobisomens,
há um último grande risco a ser controlado, pois um aliado
é capturado no final de Cordel da Fome por um servo de
Wakoru.
Sertões
Em Cordel da Fome os personagens desbravarão
o Sertão e vivenciarão as belezas e mazelas dessa região
única no mundo. A seguir são apresentadas informações
geográficas e históricas para que o Narrador possa descrever
e contextualizar a aventura e facilitar a imersão dos jogadores
e seus personagens.
Geografia
O Sertão é a maior sub-região do nordeste brasileiro,
se estendendo pelo Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Per-
nambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. É um
semideserto e, como tal, quente e extremamente seco. De
todo o território nacional é o que possui a menor índice de
precipitação, sendo que comumente ocorrem períodos de
estiagem e seca. As chuvas, quando ocorrem, se concentram
no verão, não se dividindo de forma proporcional no ano,
mantendo a umidade realmente baixa. Inclusive, muitos
rios da região são intermitentes, que desaparecem durante a
seca e reaparecem nas épocas de chuva. Além disso, a maior
parte do solo é pouco fértil para o plantio, raso e bastante
pedregoso.
Essa condição climática faz com que a vegetação pre-
dominante seja de caatinga (que em tupi significa “mata
branca”, devido a coloração das plantas nos períodos de
seca). A paisagem é caracterizada por árvores baixas, com
espinhos e com troncos retorcidos. Os cactos são comuns
e símbolos desse bioma. Entre eles destaca-se o mandacaru.
Esta planta, que pode chegar a seis metros de altura e possui
o formato que lembra um candelabro, é muito importante
para conservação e biodiversidade da região. Suas flores, que
brotam no verão, desabrocham à noite e se fecham durante
o dia, e seus frutos servem de alimento para muitas aves e
animais silvestres, além de serem utilizados para nutrir re-
banhos. Adicionalmente, o mandacaru possui propriedades
medicinais que são utilizadas em muitos rituais de cura e
purificação dos Garou e dos Fera.
Outras plantas dignas de nota são o umbuzeiro, uma ár-
vore baixa com copa larga capaz de fornecer abrigo e aconche-
go na sombra. Também possui frutos e folhas comestíveis
e suas raízes podem reter até mil litros de água, garantindo
a hidratação daquele que souber extrair. Por esses motivos
é conhecido como “a árvore sagrada do Sertão”, pois é um
verdadeiro oásis nas terras duras do semiárido brasileiro. O
juazeiro, uma das maiores árvores da região, pode atingir
até quinze metros de altura, e além dos frutos comestíveis
possui casca utilizada na produção de sabonete, creme dental
e outros cosméticos. Contudo, a substância encontrada na
casca pode ser tóxica se ingerida em grandes quantidades.
Recentemente a Libra S.A., através da sua subsidiária Flor de
Acônito Cosméticos desenvolve pesquisas para intoxicar sua
população consumidora (para saber mais sobre as empresas
que compõem as subsidiárias nacionais da Pentex, veja Sangue
Nativo). Há também as bromélias, famosas por suas flores
em forma de cálice capazes de armazenar água. E a jurema;
sua casca possui propriedades psicoativas e quando fervida
produz o Vinho de Jurema (ver Apêndice) que é utilizado
em rituais tanto mortais quanto dos metamorfos.
A fauna do Sertão, assim como a flora, é extremamente
adaptada ao ambiente seco e quente. Muitos animais apre-
sentam hábitos noturnos, comportamentos migratórios
ou possuem a capacidade de entrar em estivação. Entre
os mais famosos estão a ararinha-azul, asa-branca, cutia,
macaco-prego, onça-pintada, onça-parda, preá, sagui-de-tu-
fos-brancos, tatu-bola, tatupeba e veado-catingueiro. Além de
incontáveis espécies de lagartos, cobras, morcegos e abelhas.
Muitos destes animais apresentam grande representatividade
espiritual, inclusive como totens de matilhas (ver Apêndice).
História
O Sertão originalmente era habitado por diversos povos
de etnias distintas, em sua grande maioria vinculados ao
tronco linguístico Macro-Jê, principalmente das famílias
linguísticas Kariri e Tarairiús. No início da colonização por-
tuguesa, o contato entre europeus e os nativos do interior
17
foi pouco intenso, já que o homem branco concentrava sua
atenção para com os povos e as lavouras de cana-de-açúcar no
litoral. Durante a invasão holandesa, os Tarairiús se uniram
a estes europeus na tentativa de expulsar os portugueses.
Apenas na metade do século XVII, quando os holandeses
abandonaram o nordeste brasileiro, que as incursões para
o interior se tornam mais intensas.
A produção de açúcar cresceu exponencialmente, o que
gerou conflitos por território entre os senhores de engenho
e os pecuaristas, que se viram obrigados a se mudar junto
com seus rebanhos para o interior, assim iniciando de forma
intensiva a invasão nas terras do Sertão. Obviamente, os
nativos não aceitaram de bom grado o roubo de suas terras
(sempre acompanhado de abusos, mortes e escravidão) e
iniciaram um grande movimento de resistência chamado
Confederação dos Cariris, no qual diversas tribos se uniram
para organizar fugas de cativeiro, proteção das aldeias e
ataques contra vilas e fazendas que tentavam se estabelecer.
A resistência foi tão intensa e violenta que o governo
se viu obrigado a contratar os bandeirantes paulistas para
tentar sobrepujar a Confederação. Os conflitos duraram por
trinta anos (até as primeiras décadas século XVIII), quando
um regimento de ordenanças conhecedor das formas de
combate do inimigo cavalgou cruzando parte do que hoje
é o estado do Ceará em uma empreitada genocida contra os
nativos, exterminando todos que encontrou pelo caminho
sem distinção de gênero ou idade. Os Kariri sobreviventes
foram enviados para aldeamentos missionários, que mais
tarde, alguns, se tornaram vilas ou cidades ou, hoje em dia,
terras indígenas protegidas.
Com o final da Confederação dos Cariris, os fazendeiros
pecuaristas, se estabeleceram de forma definitiva no Sertão,
junto com seus rebanhos, suas famílias, funcionários e
escravizados. Devido à distância do centro do Governo, os
Coronéis (como eram conhecidos os donos das fazendas)
tinham liberdade para impor as próprias leis. Entre muitas
consequências, conflitos entre famílias da elite começaram
a surgir envolvendo rivalidades por terras e poder.
Para fazer valer a sua vontade e se proteger de outros
Coronéis, uma relação de fidelidade foi criada entre os fazen-
deiros e seus funcionários, os vaqueiros. Estes últimos eram
armados e pagos para defender todo e qualquer interesse
de seus patrões. Verdadeiros exércitos de jagunços foram
formados, cada um defendendo sua fazenda e seu Coronel.
Contudo, não tardou para surgir os primeiros grupos ar-
mados livres do domínio dos fazendeiros: os Cangaceiros.
O Cangaço foi um movimento social iniciado no século
XVIII, mas que ganhou força nos séculos XIX e XX. Foi
motivado pela grande desigualdade social, os abusos sofridos
pelos sertanejos nas mãos dos Coronéis e a situação precária
vivida pela população, devido ao abandono pelo Estado e
sua ineficiência em aplicar a lei. Os Cangaceiros eram grupos
18
nômades, profundos conhecedores do Sertão e da caatinga.
Vestiam-se de couro, para se proteger do sol, espinhos e
animais. Suas roupas eram muito ornamentadas com fitas
coloridas e moedas e metais costurados, quase como arma-
duras. O chapéu de abas largas e dobradas e o lenço para
cobrir a boca se tornaram símbolos no imaginário popular.
Sempre bem armados e munidos com revólveres, espingardas
e peixeiras, além de carregarem bolsas de remédios e cantis
de água ou cachaça. Percorriam o Sertão atacando fazendas e
cidades, em sangrentos conflitos com os jagunços, pilhando
e destruindo propriedades.
Com a elite sendo afetada, o Estado voltou seus olhos
novamente para a região, mas não para se preocupar com
o povo, e sim para caçar e acabar com os Cangaceiros. Para
as autoridades eles representavam a violência, a falta de
moral; eram vistos como criminosos que precisavam ser
erradicados. Por outro lado, para parte da população, eram
sinônimo de coragem, honra e heroísmo. A verdade é que,
com a proliferação de diversos grupos, existiam aqueles
que agiam como verdadeiros Robin Hoods, roubando dos
ricos para dar para os pobres, e aqueles que eram crápulas,
assassinos e atacavam os menos favorecidos, pensando tão
somente em ganhos pessoais. E, claro, existiam bandos que
se localizavam dentro do espectro entre esses dois extremos.
O Governo formou grupos de soldados, de todos os
estados da confederação, chamados de Volantes, com o
intuito de procurar e destruir os Cangaceiros. Com fardas
marrons e armamento moderno e mortal, somado aos
exércitos de jagunços dos Coronéis, os Volantes caçaram
incansavelmente os foras da lei. Todavia, esses, conheciam
a caatinga: suas fontes de água, plantas medicinais, rotas de
fuga e locais de difícil acesso. Além de receberem a ajuda
da população com abrigo e alimento.
Essas pessoas que prestavam auxílio aos Cangaceiros
eram conhecidas como Coiteros, e desempenhavam tais
papéis por diversos motivos: eram familiares, amigos, ou
ajudavam em troca de presentes – alguns bandos ofereciam
bailes e caridade para a comunidade – ou por medo.
Por dois séculos as guerras entre Cangaceiros e Volantes,
Cangaceiros e jagunços e Cangaceiros e Cangaceiros existiu
no Sertão, moldando o folclore e a cultura. Na década de
1930, o mais famoso dos bandos, o de Lampião e Maria
Bonita, foi apanhado e morto com requintes de sensacio-
nalismo. Esse evento incentivou muitos Cangaceiros a se
entregarem para as autoridades, com medo de penas tão
severas. Com isso, pouco a pouco mingou o movimento
até sua extinção. Outros Cangaceiros famosos foram Lucas
Evangelista, Inacinha, Antônio Silvino, Dadá, Corisco,
Cristina, Neném, Zé Sereno, Lídia, Inocêncio Vermelho e
João Calangro.
Hoje em dia, o Sertão é a região que apresenta os piores
indicadores de desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
Existem apenas 7 grandes pólos urbanos, dos quais apenas
um é uma capital (Fortaleza – CE). A fome, a miséria e o
trabalho infantil são problemas muito graves, sobretudo
nas zonas rurais. O êxodo para outras localidades do país
em busca de melhores condições de vida é muito intenso.

Paisagem Umbral
À primeira vista, a Penumbra dos sertões pode parecer
um local seguro e mais agradável que o mundo real. Sem
Hélios presente no céu, a região se torna menos quente,
apesar de ainda abafada. Entretanto, na prática, o mundo
espiritual é muito mais inóspito e perigoso. O primeiro
ponto de atenção é que a estiagem é eterna. Não existe
água na Penumbra dos sertões. Nunca chove, os rios
estão sempre secos, e espíritos elementais da água não
permanecem por muito tempo, mesmo quando invocados.
O único local onde pode ser encontrada água é nas raízes
dos poucos Mandacarus e Umbuzeiros velhos o suficiente
para se manifestarem de forma espiritual. A fauna não
é escassa, mas os espíritos animais são reclusos e escon-
didos, muito raramente um Garou irá cruzar com um
espírito animal sem estar efetivamente rastreando ele.
A exceção são insetos e répteis, que na grande maioria
das vezes não são amigáveis aos lobisomens. Por outro
lado, os fantasmas e a Procissão dos Mortos muitas vezes
cruzam o caminho dos desavisados e Malditos servos
de Wakoru são abundantes. O solo é seco e repleto de
rachaduras. Essas fissuras, apesar de estreitas, são extrema-
mente profundas e sons como que de vozes ou gemidos
emanam delas. Olhar para dentro de uma faz com que o
indivíduo se sinta fraco e como se seu espírito estivesse
sendo sugado. Não há relatos de que algo mais grave
tenha acontecido, mas não é uma sensação agradável.
Mesmo sem dar atenção para as fendas, é comum que
quem caminhe sobre elas sinta como se olhos famintos
o observassem da escuridão.

19
 Capítulo Dois:
Morte e Vida
Severas
Gitirana, moita-brava, meia-noite, zambelê
Quando degolaram minha cabeça
Passei mais de dois minutos
Vendo o meu corpo tremendo
E não sabia o que fazer
Morrer, viver, morrer, viver!
- Sangue de Bairro, Nação Zumbi

Neste capítulo apresentamos todos os NPCs importantes

para Cordel da Fome, bem como as localidades importantes
e possibilidades narrativas que não fazem parte direta desta
aventura, podendo ser expandidas conforme a vontade do
Narrador. Todos os NPCs podem ter as fichas alteradas,
para a melhor adequação à narrativa de cada mesa. No en-
tanto, como os personagens da Matilha dos Cancioneiros
do Luar Sozinho serão interpretados como personagens dos
jogadores, desaconselhamos que suas fichas sejam alteradas;
uma vez que os desafios no Ato III serão propostos para o
nível da matilha; além de servir como um gostinho para os
jogadores do poder de personagens de quarto e quinto Posto.
CAPÍTULO DOIS: MORTE E VIDA SEVERAS
Benedito “Sem-Futuro”
A Maldição já acompanhava Benedito antes mesmo de
seu nascimento. Como sétimo filho de um sétimo filho, a des-
graça estaria no centro de sua vida, e a primeira demonstração
deste destino aconteceu numa sexta-feira, dia 13 de agosto,
dia em que nasceu o Benedito e morreu sua mãe, durante
o parto. Naquele mesmo dia seu pai, Álvaro, sentiu ódio
do novo filho, mas o futuro se provaria ainda pior. Quando
Benedito tinha 5 anos, dois de seus seis irmãos haviam se
juntado à mãe no além, um deles vítima de uma moléstia
súbita e misteriosa, e o outro de acidente de carro. Sua vida
seguiu com tragédias, e quanto Benedito chegou ao sétimo
21
ano de vida, perdeu o único irmão que restava para a fome. angulosos e músculos endurecidos. Nas formas Crinos,
Seu Álvaro se entregou à cachaça e logo morreu de cirrose. Hispo e Lupino Benedito tem a pelagem marrom e cinza,
Logo Benedito estava sozinho numa casa ampla e miserável, de pelos duros, com partes falhadas. Seu corpo ainda tem
envolto de lembranças e consumido pela fome. Sem saber articulações e ossos de formas angulosas e grosseiras, mas
para onde ir, Benedito partiu para o sertão da Paraíba. No os músculos parecem ainda mais terríveis e adaptados para
meio da Mata Branca aprendeu a caçar como um bicho, o sertão. Em todas as formas o pelo é grosso, duro e curto.
vivendo pelos impulsos e pela fome, sempre guiado por um Raça: Hominídeo
senso de loucura, desespero e ódio. Em uma noite sem lua Augúrio: Ragabash
a fúria supitou e ele invadiu uma fazendinha no Sertão; Tribo: Roedor de Ossos
matou todos os que ali moravam e lutavam para cultivar Posto: Fostern (2)
algo no solo miserável. Depois do frenesi, Benedito viu a Físicos: Força 3, Destreza 5, Vigor 5
matança que provocou e fugiu. Por algumas luas, correu
Sociais: Carisma 5, Manipulação 2, Aparência 1
sozinho no Sertão, sempre temendo o dia em que a Fúria
Mentais: Percepção 4, Inteligência 1, Raciocínio 3
voltaria a tomar conta dele. No entanto, quando a Fúria
retornou, houve um Peregrino sombrio em meio à noite Talentos: Prontidão 2, Esportes 3, Briga 4, Empatia 1,
Intimidação 2, Instinto Primitivo 5, Manha 4
clara do Sertão. Ele estava caçando à distância e mantendo
um olhar cuidadoso, vinha acompanhado os passos de Perícias: Empatia com Animais 2, Armas de Fogo 1,
Furtividade 4, Sobrevivência 5
Benedito por dias, pois havia reconhecido naquele selvagem
“sem futuro” a natureza Garou. Este era Marco “Sombra dos Conhecimentos: Enigmas 4, Ocultismo 3, Rituais 2
Túmulos”, um filho da Coruja que viajava sozinho pelo Nor- Antecedentes: Totem 5 (Rato, como Totem pessoal)
deste exorcizando demônios e apaziguando os fantasmas da Dons: (1) Mestre do Fogo, Embaçamento da Própria
região. Quando encontrou o Garou amaldiçoado, o ajudou Forma, Comunicação com Espíritos, Face do Mentiroso,
a chegar a uma seita onde ele poderia realizar o Ritual de Força Desesperada, Risada Infecciosa, Resistência à Toxi-
nas, (2) Canção da Aranha, Odor Repugnante, Aparência
Passagem, tornando-se um dos mais solitários Roedores de
de Cachorro
Ossos do Nordeste. Embora Benedito e Marco já tenham
Fúria 4, Gnose 3, Força de Vontade 6
corrido em uma matilha, nenhum deles se sente bem na
companhia de outros Garou. Para Benedito, a Maldição o Cicatriz de Batalha: Dano na Coluna e Dedos Perdidos
acompanha, e apenas ele tem a alma calejada o suficiente Defeito: Maldição do Sétimo Filho (Brasil em Fúria)
para torná-lo capaz de suportar seu destino. E por isso
ele o faz sozinho.
Dicas de Interpretação: Benedito não possui um pingo
de formalidade em seu jeito de ser. Diferente da maioria
dos Garou, Benedito se sente controvertido ao lidar com a
hierarquia e com o mundo dos espíritos. Embora entenda
perfeitamente a importância da liderança entre os Garou,
bem como não rejeite todo o poder espiritual que pulsa
no mundo e através de sua espécie, Benedito sempre teve
experiências tenebrosas em sua vida, o que o impediu de
nutrir sentimentos normais para todos os Garou. Embora
ele sinta a necessidade de correr com outros Garou, ele
o fará por pouquíssimo tempo, buscando sempre uma
forma de se isolar. Embora saiba lidar com espíritos e
tenha aprendido os caminhos da Umbra, sua própria
alma parece ímã para desastres e morte, e isso faz com
que “Sem-Futuro” seja particularmente desconfiado dos
espíritos. Quando Benedito está mais bem humorado,
sua disposição é irônica, crítica e insistente.
Imagem: Um homem magro, feio, selvagem e assusta-
dor. Benedito tem a coluna torta devido a um ferimento
de batalha; suas roupas são sujas, velhas, rasgadas e tem
a mesma cor da terra na Caatinga. Na forma Glabro,
“Sem-Futuro” parece um homem primitivo com ossos

22
Marco “Sombra-dos-Túmulos” árabes. É um homem reservado, de físico atlético, e com olhar
atento. Sua postura é régia, com uma fisionomia de alguém
Desde pequeno, Marco foi um problema para sua família. que está sempre enxergando além de onde a vista alcança.
Com a situação financeira difícil, seus pais pouco podiam Sua voz é grave e denota respeito, tanto a quem Marco se
fazer por um menino que demandava tantos gastos. Diag- dirige, como a ele mesmo. Em suas formas lupinas, seu pelo
nosticado com distúrbios, seus pais gastaram o que podiam é curto, seu focinho comprido e físico esguio e atlético. Sua
e o que não tinham para tentar curar a criança. Quando linhagem pura entre os Peregrinos Silenciosos faz com que
todo o dinheiro já tinha ido embora, seu pai encontrou sua seus passos sejam apressados e determinados, como o chacal.
solução pessoal na ponta de uma arma, tirando sua própria Raça: Hominídeo
vida e pondo um fim a seu sofrimento. Desesperada, sua mãe Augúrio: Philodox
buscou em diversas casas de cura espiritual uma solução, até
Tribo: Peregrinos Silenciosos
que veio uma resposta: Marco enxergava espíritos daqueles
Posto: Fostern (2)
que partiram de nosso mundo. Com essa revelação, o jovem
passou a ser muito respeitado nas casas espirituais e estimu- Físicos: Força 3, Destreza 4, Vigor 3
lado a seguir o caminho da fé, tendo muito contato com os Sociais: Carisma 2, Manipulação 2, Aparência 2
mais diversos livros sobre espiritualidade e vida após a morte. Mentais: Percepção 3, Inteligência 3, Raciocínio 3
E foi estudando sobre a vida após a morte que se deu Talentos: Prontidão 2, Esportes 2, Briga 2, Empatia 1,
sua Primeira Mudança. Em uma cidade do interior do Ceará Intimidação 1, Liderança 2, Instinto Primitivo 2, Lábia 2
havia uma casa em que se acreditava existir manifestações Perícias: Ofícios 2, Armas de Fogo 2, Armas Brancas
de fantasmas. Algumas visitas eram agendadas e Marco con- 3, Sobrevivência 2
seguiu ir ao lugar. Ali, descobriu que a casa estava possuída Conhecimentos: Enigmas 5, Investigação 3, Ocultismo
por uma entidade espiritual, e a entidade clamava por seu 5, Rituais 5
sangue. Sentindo seu espírito deixar seu corpo, Marco foi Antecedentes: Raça Pura 2, Fetiche 1 (Bracelete de
até o “outro plano”, onde travou uma batalha contra tal Ogum, ver Apêndice), Rituais 5, Recursos 1
entidade. Em seu auxílio, outros vieram, e como ele, também Dons: (1) Benção do Macaco Artesão, Presas do Julga-
vestiam a forma do lobo. Eles o guiaram, deram uma razão mento, Sentir a Wyrm, Velocidade do Pensamento, Sentir
para sua nova vida, e Marco tornou-se Sombra-dos-Túmulos, Trauma, Visões do Duat; (2) Chamado do Dever, Caminhar
viajando de local em local, investigando o surgimento de nas Costas de Sebek, Axis Mundi
fantasmas e possíveis invasores da Umbra Negra, que buscam Fúria 4, Gnose 6, Força de Vontade 7
ter seu sentimento de inquietude aplacado. Em suas viagens
Qualidades: Visão Espectral
esteve por praticamente todos os rincões assombrados do
Nordeste, e na Paraíba conheceu Benedito Sem-Futuro, tendo Defeitos: Amaldiçoado (Rodeado pela Morte)
acompanhado o Roedor de Ossos quando este ainda era um
filhote embrutecido e burro. Embora sejam diferentes, Marco
e Benedito possuem uma forte relação de cumplicidade.
Apesar de nenhum dos dois verbalizar tal sentimento, eles
entendem que essa cumplicidade existe pelo fato de serem
almas atormentadas e solitárias.
Dica de Interpretação: Marco é calmo e pensativo. Seus
modos parecerão sempre comedidos, mas sua natureza íntima
é mais obscura do que o Philodox deixa transparecer. Por
debaixo da apresentação estóica Marco é um Garou com a
mente focada em apenas um propósito: explorar, entender
e manipular os domínios da morte. Também por este mo-
tivo, seu comportamento é bastante trágico e propenso ao
fatalismo e à misantropia.
Imagem: Em todas as formas a Raça Pura pode ser
percebida, embora não seja tão pujante e evidente quanto
a de um Presa de Prata. Apesar de desconhecer sua própria
origem, o sangue de Sombra-dos-Túmulos remonta aos
sacerdotes egípcios responsáveis pelos rituais fúnebres de sua
tribo. Marco tem a pele queimada de sol, com cabelos pretos
ondulados e grossos. Sua mandíbula e nariz tem claros traços
23
Cococi
Isolada no Sertão dos Inhamus, no sul do Ceará, quase
divisa com o Piauí, ergue-se a cidade fantasma de Cococi.
Está a mais de 400 km da capital Fortaleza e o município
mais próximo é Parambu. O acesso é complicado, quase
uma hora de carro por uma estrada de terra batida com
pedregulhos avermelhados. O local estimula a curiosidade e
a fé dos mortais, mas é pouco conhecido dos Garou, apesar
de parecer um imã para eventos misteriosos e sobrenaturais.
No decorrer de Cordel da Fome, os personagens pas-
sarão por Cococi com uma missão específica. Contudo, por
se tratar de uma localização ímpar no universo Brasil em
Fúria, ela será descrita por completo, incluindo informações
que não serão utilizadas nesta aventura. Os Narradores que
desejarem podem utilizar essas informações como missões
paralelas, ganchos para jogos futuros ou, até mesmo, como
cenário base para outras crônicas.
A colonização do local teve início nos primórdios do
século XVIII, com a concessão de sesmarias feitas pela Co-
roa Portuguesa a Coronéis. Entre os beneficiados estavam
os irmãos Cambará, que receberam 30 mil quilômetros
quadrados de terras para povoar e desenvolver. Conforme
os colonos chegavam em busca de moradia e trabalho, rece-
biam lotes de terras para cuidar e insumos para iniciar suas
atividades. Desta forma, ficavam em dívida com os grandes
latifundiários e presos à terra. Muito trabalho de pessoas
24
escravizadas também era utilizado pelos irmãos Cambará.
As terras e as duas fazendas dos irmãos prosperaram com
a criação de gado e produção de couro; e antes da metade do
século foi erguida uma igreja para Nossa Senhora da Con-
ceição. Ao redor do local sagrado, casas foram construídas
e logo o povoado de Cococi começou a tomar forma entre
as duas fazendas dos Cambará. A família se tornou uma das
maiores oligarquias da história do Sertão.
Com a morte dos irmãos, as terras foram divididas entre
seus filhos, e posteriormente entre os netos. As duas fazendas
se tornaram inúmeras, o que gerou diversos conflitos por
terras e poder entre os descendentes dos Cambará.
O local foi elevado ao status de município em 1957.
Poucos anos depois, durante o regime militar, escândalos
envolvendo assassinato e corrupção estouraram. Major
Cambará, segundo e último prefeito de Cococi, matou seu
próprio irmão (Leonardo Cambará) para vencer as eleições
para o seu segundo mandato. Também utilizou dinheiro
público para adquirir cabeças de gado particulares. Apesar
de se livrar da prisão, ou qualquer punição, o governo federal
rebaixou a cidade a distrito de Parambu, a fim de abafar os
casos em 1965.
Indignados com a situação, a família Cambará mudou
seus negócios e suas criações para outra localidade, indo
embora de Cococi. Como toda a economia da cidade era
baseada nas fazendas dos Cambarás, a pobreza e a fome se
abateram de forma mais intensa sobre todos que ali viviam
e, logo, a cidade se tornou deserta (ou quase)
Rua Única
Cococi possui apenas uma rua de terra, todos os outros
caminhos são pequenas estradas que cortam as fazendas
abandonadas na caatinga. Algumas poucas construções
tomadas pela natureza, com portas e janelas quebradas e
móveis se desfazendo, margeiam a passagem. Estes imóveis
abrigaram restaurantes, mercearias, cartório, correios, escola
e farmácia, mas hoje não passam de refúgios para animais e
plantas. Existe também uma pequena praça de tijolos bran-
cos, envelhecidos e encardidos. O local é marcado pelo que
um dia viria a ser um coreto, que nunca fora construído.
Todos os dias, assim que o sol se põe, é possível ouvir
um cântico melancólico soar ao longe. Logo em seguida,
a Procissão dos Mortos surge nos limites da Rua Única
e segue a passos lentos atravessando toda a cidade. Ela é
composta pela imagem de todos aqueles que pereceram na
região durante os anos marcados pela violência da família
Cambará. Em sua maioria do povo Candandus, escraviza-
dos negros, jagunços e vaqueiros. Mas também é possível
vislumbrar coronéis, religiosos, volantes e cangaceiros. Eles
caminham segurando velas brancas que iluminam a noite e
não interagem com ninguém, apenas andam e cantam seus
lamentos. Comumente fantasmas se misturam à procissão,
provavelmente em uma esperança vã de compreender sua
condição. O cortejo sempre é encabeçado por dois homens
que carregam um palanquim de varal único com uma rede
pendurada. Na rede sempre está um bebê, a única manifes-
tação de Procissão do Mortos que permanece em silêncio sem
acompanhar o cântico. A caminhada dura a noite inteira,
e assim que o primeiro raio de sol surge no horizonte ela
desaparece sem deixar nenhum vestígio da sua passagem, a
não ser dois calangos que sempre aparecem no lugar onde
estavam os homens que carregavam o palanquim. Os animais
logo correm e se escondem nas ruínas de Cococi.
Tesouro Calon
Após os irmãos Cambará expulsarem os nativos da
região de Cococi e estabelecerem suas fazendas, um grupo
de Calons (também chamados de Kalé. Trata-se de um povo
nômade de origem ibérica que migaram para a América do
Sul e viajaram por todo o Brasil) chegou às terras. Furiosos
com sua presença, os coronéis mais de uma vez expulsaram
os estrangeiros, que sempre retornavam. Assim, em uma
noite sem lua, um exército de jagunços de ambas as fazen-
das foi reunido e surpreendeu os nômades com peixeiras
e balas. Todos os Calons foram mortos, sem distinção de
gênero ou idade.
Diz a lenda que após o massacre um dos coronéis en-
controu um valioso tesouro entre os espólios e o enterrou
em suas terras. Por muitos anos viajantes chegaram a Cococi
em busca deste tesouro, que nunca foi encontrado. Após o
abandono da cidade, sonhadores em busca da lenda con-
tinuaram a chegar, mas muitos desapareceram ou morreram
de sede antes de colocarem as mãos no prêmio.
Se esta história é real ou não, ninguém é capaz de afirmar,
porém os fantasmas dos Calons permanecem nos arredores
de Cococi. Aqueles que se afastam das ruínas e se aproximam
das antigas fazendas podem ouvir a música de suas rabecas e
o chacoalhar das moedas presas em suas roupas. Os menos
afortunados, ou que se embrenham mais profundamente
na caatinga, se encontrarão com eles, e a visão destas almas
condenadas nunca será apagada de suas mentes.
Fantasma Calon
Estes fantasmas podem ser encontrados em seus assen-
tamentos nos arredores de Cococi. Eles nunca estão em um
grupo menor do que 7, mas o mais comum é encontrá-los
em grupos de 13 ou 27. Sempre festejando e cantando, não
irão interagir a menos que sejam perturbados e mesmo
assim tenderão a serem pacíficos, convidando seja quem
for a festejar. Apesar da alegria da festa, todos os vivos que
participam, quando vão embora se sentem exauridos e tristes,
com lembranças vívidas dos momentos mais difíceis de suas
vidas. Fiannas e Peregrinos Silenciosos que já participaram
destas festas relatam que sofreram a pior ressaca de suas vidas.
Entretanto em alguns casos os Fantasmas Calon se tornam
violentos e agressivos, não poupando a vida de ninguém
que cruzar o seu caminho, inclusive perseguindo a vítima
de forma incansável. O motivo deste comportamento dual
não é claro. Alguns dizem que eles agridem todos aqueles
que buscam o seu tesouro perdido, outros que atacam
aqueles que simplesmente se aproximam de onde o tesouro
está enterrado e outros defendem que estes ataques sempre
ocorrem na Lua Nova, quando a lembrança do massacre que
sofreram se torna vívida e eles são tomados pela ira.
Fúria 5, Gnose 4, Força de Vontade 5, Essência 14
Encantos: Materializar, Reforma, Criar Fogo, Criar
Vento, Rastrear.
Lua Cambará
Nascida em meados do século XIX, Lua Cambará viveu
seus primeiros anos na senzala. Filha de um coronel Cam-
bará com uma escravizada, quando sua mãe morreu seu pai,
seguindo algum senso de compaixão deturpado, a levou para
viver consigo na Casa Grande. Contudo, a menina nunca
foi verdadeiramente aceita. Apesar de cumprir os papéis
cobrados pela “honra” da paternidade, como alimentação,
um quarto para dormir, roupas e estudo, o coronel Cambará
nunca a agraciou com afeto ou amor. A elite econômica e a
família nunca a aceitaram socialmente, sempre a trataram
como bastarda e inferior. Sozinha e vítima constante de
humilhações no início da juventude, Lua se aproximou dos
vaqueiros que trabalhavam na fazenda, onde encontrou um
espaço mais cômodo para si. Aprendeu a montar, cuidar do
25
gado e atirar. Adulta já liderava os homens fiéis a seu pai
tanto nos negócios quanto nas batalhas contra cangaceiros
e outros jagunços.
Quando seu pai morreu esperava herdar as terras e a
fortuna, mas legalmente não possuía direitos sobre elas e seus
tios e primos estavam dispostos a tomá-las. Seus funcionári-
os, agora leais a ela, defenderam seus interesses, e combates
foram travados nas terras, prenunciando uma violenta onda
de parricídios. Para defender o que era seu, Lua recorreu
a forças ocultas em busca de poder. Servos de Halaiki e
K’ulmatu atenderam aos seus pedidos e ela se tornou uma
Fomor. Sua sede de sangue cresceu e proferiu várias ordens
para que seus tios e primos fossem assassinados. Também se
tornou mais cruel com os escravizados, se deleitando com
torturas, castigos físicos e mortes. Ela manteve suas terras,
mas não sua humanidade. Lua Cambará morreu em um
incêndio em sua fazenda, e neste momento teve início o
seu maior tormento. Em vida havia pago sua dívida com o
Incarna do Genocídio. Mas em morte pagaria ao Incarna da
Escravidão. Sua alma não retornou ao ciclo, mas também
não se tornou um fantasma. Lua tornou-se um Maldito
(Phantasmi) condenada eternamente à servidão. Hoje habita
as ruínas incendiadas de sua fazenda, onde é servida por
Gafflings de K’ulmatu (Pontes Queimadas, pg. 29) e ataca
com violência todos que se aproximam a fim de escravizar
suas almas para o serviço ao seu senhor.
Fúria 10, Gnose 7, Força de Vontade 7, Essência 25
Encantos: Sentido de Orientação, Materializar, Refor-
ma, Rajada (tiros e correntes), Corrupção e Incitar Frenesi.
Poço Seco
No século XVIII foi cavado um poço para fornecer água e
possibilitar o estabelecimento dos colonos que se assentavam
na região. Mas em poucos anos a água que brotava da terra
secou. O local, então, tornou-se envolto em lendas e mitos.
Acredita-se que mesmo sem água, o poço é capaz de realizar
desejos e milagres atribuídos à Nossa Senhora da Conceição.
As pessoas arremessam moedas dentro do poço em busca de
sonhos de todos os tipos: água, riqueza, amor. Mesmo com
o abandono de Cococi, viajantes de terras distantes rumam
em busca do poderoso poço. Infelizmente, muitos perecem
ali mesmo, vítimas da jornada e da sede sem nunca terem
seus sonhos realizados, tornando-se fantasmas ou apenas
imagens na Procissão dos Mortos.
O fundo do poço está repleto de antigas moedas, mas
também pedras e tampas de garrafa lançadas por aqueles que
procuravam milagres, mas não possuíam nem um mísero
trocado. Todavia não são apenas esses objetos que habitam
a escuridão muitos metros abaixo da terra. Quem escutar
com atenção ouvirá murmúrios e lamentos vindos de dentro
do poço. O pensamento mais óbvio é a da existência de
mais um dos inúmeros fantasmas de Cococi, mas isso está
26
muito longe da verdade. O poço se tornou a morada de um
Espectro, que se nutre e fortalece dos sonhos embutidos em
cada moeda arremessada que ele destrói.
Moedas de Sonhos: As moedas arremessadas ao poço
alimentam tanto o poder do Espectro, quanto se imbui de
poder onírico associado ao pedido feito pela pessoa que
arremessou a moeda. Esses pedidos são, quase que invari-
avelmente, sonhos de salvação desesperada, posto que a
grande maioria de pessoas que chega ao Poço o faz mediante
sofrimento e privação. Não obstante, será possível encontrar
a rara moeda dos sonhos que contém desejos de amor que
remontam ao século XIX, e talvez até mais antigos. Em
termos de jogo, as Moedas de Sonho são artefatos místicos
desconhecidos para os Garou (leia Colecionador de Moedas,
a seguir, para entender a real natureza destes artefatos). A
maioria dos Garou os associará com Fetiches e Talismãs, mas
estas moedas não possuem Gnose, e nem podem ser harmo-
nizadas. Quem portar qualquer uma dessas moedas terá os
próprios sonhos invadidos por visões e lembranças alheias,
pertencentes à pessoa que fez o pedido daquela moeda em
questão. Muitas vezes essas imagens oníricas representam o
desejado, outras vezes revelam a falta que provocou o pedido
ao Poço Seco. Aqueles que dormirem na proximidade do
Poço terão uma noite convoluta de sonhos febris, paixões
alucinadas e viagens psíquicas incompreensíveis, posto que
seu sonho será afetados por todas as moedas na proximidade.
O Colecionador de Moedas
No fundo do Poço, onde o sol não alcança e a lua apenas
reflete as moedas arremessadas com pedidos suplicantes,
habita um Espectro. Este Espectro foi, em um tempo es-
quecido, um fantasma consumido pelo vício e pela pulsão
auto destrutiva. Antes de morrer havia sido alguém que
buscava no álcool e nas drogas alguma sensação de prazer
e deslumbramento que superasse as penúrias da vida. E
de fato ele alcançou este momento de apoteose, quando
morreu delirando em uma overdose violenta. No entanto,
ao despertar em sua pós-vida, a sensação de incompletude
continuava; na verdade se tornara ainda maior: Como um
fantasma, havia perdido a habilidade de sentir, lembran-
do-se apenas da sensação de morte. Para suprir esse vazio
fundamental, buscou usurpar as sensações de outrem,
fossem boas ou ruins. E depois de muito buscar o fantasma
finalmente achou um método para seu plano ao se deparar
com o Poço Seco. Lá no fundo havia moedas que guardavam
os mais intensos desejos daqueles que, assim como ele, já
haviam morrido. Essas moedas não apenas representavam
os desejos íntimos de falecidos, elas os prendiam, como
verdadeiros Grilhões para Aparições. Essas ancoragens
com o mundo dos vivos serviram para alimentar o desejo
por sensações do Fantasma, que passou a colecioná-las e
consumi-las, levando outras aparições para o Esquecimen-
to, e deformando a própria essência do Colecionador. Na
beirada do Poço Seco o Colecionador escreveu “Deixe uma
moeda e faça um pedido”, embora a promessa fosse na
verdade um engodo. As moedas arremessadas alimentaram
o vício eterno do Colecionador de Moedas, que continua
buscando incessantemente sentir, mesmo que as sensações
sejam roubadas, e dotadas de intensidade extrema, como
esperança e desespero. Se houve, outrora, um resquício de
humanidade no Colecionador, essa lembrança se perdeu na
Sombra do Fantasma, tornando-o um Espectro do Vício. Sua
aparência é tão fina e esguia quanto uma sombra, embora
o ventre seja inchado. No lugar de dentes, o Espectro tem
pedras angulosas grosseiramente fincadas em seu crânio,
obtidas nos séculos em que o Espectro cavou a terra com
a boca para achar algum conforto alucinógeno. Os dedos
do Espectro são curtíssimos, de tanto cavar, e no lugar de
olhos o Colecionador tem Moedas.
Fúria 5, Gnose 8, Força de Vontade 7, Essência 20
Encantos: Reformar, Congelar, Espiar, Curto Circuito,
Desorientar, Influência Maléfica
Fantasma Sedento
Seu nome já foi esquecido, talvez nunca tenha sido lem-
brado. Esse homem viu sua família sofrer com a estiagem e a
seca. Em um ato de fé, ou desespero, partiu sozinho de onde
vivia rumo a Cococi, na esperança de encontrar o Tesouro
Calon ou pelo menos água para melhorar a vida de sua espo-
sa e filhos. Mas quando chegou à cidade fantasma, já fraco
e desnutrido, não encontrou viva alma ou qualquer pista
sobre o tesouro. O último centavo que possuía foi atirado
no fundo do poço seco, levando com sigo a pouca esperança
que lhe restava. Tomado pela sede, bebeu da água maldita
que verte do catavento e este foi seu fim. Sua família, que o
aguardava em casa, nunca mais teve notícias suas.
Hoje, seu fantasma vaga por Cococi, ainda sem consciên-
cia de sua condição de morto. Anda entre as Procissão dos
Mortos tentando se comunicar em vão e sua angústia faz com
que equipamentos elétricos e luzes falhem em sua presença.
Ele está preso à região, atraído pela moeda depositada no
poço. Se um dia ele a vir e a tocar ganhará o entendimento
que está no pós vida, mas isso não aplacará sua sede.
Fúria 4, Gnose 5, Força de Vontade 4, Essência 13
Encantos: Reformar, Materializar, Curto-circuito, Co-
municação Onírica (como o Dom dos Galliards),
O Catavento
Após o poço secar, foi instalado um catavento com
uma alavanca de Arquimedes na entrada de Cococi para
bombear a água existente a mais de 80 metros abaixo do
solo. Atualmente o mecanismo não possui manutenção e
está envelhecido e enferrujado. Entretanto ele funciona
sem explicação aparente. Sua rotação, que ocorre mesmo
quando não existe vento, faz ranger os mecanismos irritando
o ouvido e arrepiando a nuca. Um fino fio de água escorre
para dentro de um tanque de tijolos. Apesar da água pare-
cer pura e límpida, um observador mais atento perceberá
que nenhum animal bebe dali, além de uma velha placa
de madeira indicar, com dizeres escritos com sangue de
boi: “Não beba”. Mesmo com esses sinais, muitas pessoas

ESPÍRITOS OU FANTASMAS?
Para alguns Narradores e jogadores o uso dos termos espíritos, fantasmas e Procissão dos Mortos pode se
tornar confuso. Apesar de coloquialmente parecer que se referem às mesmas coisas, no cenário de Lobisomem: O
Apocalipse eles definem manifestações distintas tanto em conceito quanto em regras.
Espíritos (apresentados em Lobisomem: O Apocalipse) são manifestações da criação, os mais conhecidos e
íntimos dos Garou. Divididos entre Celestinos, Incarnas, Jagglings e Gafflings, muitas vezes a serviço de algum
membro da tríade ou até mesmo a Gaia. Nascidos na Umbra, possuem nela seu habitat natural.
Fantasmas, de forma diferente, já foram humanos que ao morrerem não retornaram ao ciclo. Agora vagam
entre o mundo real e o espiritual presos a Grilhões (locais, objetos ou pessoas que foram significativos em vida)
e se alimentam de Paixões (que podem variar de formas infinitas. Desde aterrorizar humanos até presenciar o
surgimento do amor). São os seres conhecidos como Aparições, apresentados no livro Wraith: The Oblivion. Já
a Procissão dos Mortos (Brasil em Fúria, pg. 31) não se encaixa nem como Espírito nem como Fantasma. Desta
forma, nenhum dos dois tipos de poderes descritos acima a afetam. Essa manifestação começou a ser percebida
por alguns Garou após o renascimento de Tata’Krenak, porém ninguém ainda conseguiu compreender sua real
natureza. Alguns místicos acreditam que seja um reflexo residual da memória de locais martirizados pelos filhos
da Extinção, banhados por dor e sofrimento. Em uma linha de raciocínio próxima, porém com percepções
distintas, alguns Mokolé defendem que se trate de uma manifestação da própria Mnese. Em todo o caso, assim
como um Garou podem andar entre a procissão, também é possível, às vezes, encontrar Espíritos e Fantasmas
misturados a ela.
No capítulo Apêndice reunimos conceitos, orientações e regras para o crossover entre Lobisomem: O Apocalipse
e Wraith: The Oblivion.
27
acabam bebendo dali. Quem o faz é acometido por uma
sede insaciável e acabam não saindo com vida da cidade.
A fonte está maculada por um Wakshaani (espécie de
Maldito descrito na edição comemorativa de 20 anos de
Lobisomem: O Apocalipse, pg.448) e a corrupção pode ser
facilmente sentida por Dons como Sentir a Wyrm.
Wakshaani (Toxinas)
Aparenta uma poça de fluido púrpura, repleta de
manchas, veias e verrugas borbulhantes que muda de forma
continuamente. Quando ataca, eleva-se passando por cima
de suas presas como uma vela ao vento.
Fúria 7, Gnose 7, Força de Vontade 3, Essência 20
Encantos: Influência Maléfica, Inundação.
Igreja de Nossa Senhora da
Conceição
Apenas um imóvel não está em ruínas em Cococi: a
Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Erguida em 1740, o
templo se mantém simples, porém belo. Suas paredes bran-
cas, com linhas azuis e a grande cruz na entrada chamam
a atenção de qualquer um que caminhar pela Rua Única.
Seu interior é composto por bancos de madeira irregulares
pintados de azul que se estendem por toda a nave de piso de
cimento queimado e o altar exibe uma grande escultura de
Jesus Cristo crucificado, além é claro, da imagem de Nossa
Senhora da Conceição. A luz entra através de pequenas
janelas redondas próximas ao telhado formado por forquilhas
e telhas de barro.
Quem mantém o lugar, com tanto zelo, é o Padre
Claudinei Pires, o único habitante de Cococi. Um homem
de muita fé, acredita que a cidade condenada ainda pode
ser salva e batalha por doações para manter o solo sagrado
e seu sustento. Nenhum fantasma ou espírito maligno é
capaz de adentrar a Igreja. Se isso é um poder do local, ou
fruto da fé do padre é impossível dizer, provavelmente uma
combinação das duas coisas.
Todo o ano, entre os dias 29 de novembro e 8 de
dezembro, centenas de romeiros chegam a Cococi para as
novenas dedicadas à Nossa Senhora da Conceição. Nesse
período a cidade recebe cerca de 3000 fiéis que são rece-
bidos de forma carinhosa pelo Padre Claudinei. Durante
estes 9 dias, a fé é tão intensa que os poderes da Igreja se
estendem para além de seus muros e todas as manifestações
sobrenaturais (os fantasmas, os Malditos, etc) desaparecem
do município. Existem diversos relatos de pessoas que tiveram
graças alcançadas enquanto participavam do evento.
Padre Claudinei Pires
Físicos: Força 2, Destreza 2, Vigor 2
Sociais: Carisma 5, Manipulação 2, Aparência 3
Mentais: Percepção 2, Inteligência 3, Raciocínio 3
28
Talentos: Prontidão 2, Esportes 1, Empatia 5, Expressão
4, Intimidação 1, Intuição 4, Liderança 4, Manha 1, Lábia 3
Perícias: Empatia com Animais 2, Ofícios 3, Condução
1, Etiqueta 3, Performance 3
Conhecimentos: Acadêmicos 4 (Teologia), Computador
1, Enigmas 3, Direito 1, Medicina 1, Ocultismo 3, Ciência
2, Tecnologia 1.
Antecedentes: Recursos 2, Contatos 2, Aliados 3, Fama 1
Força de Vontade 8, Fé Verdadeira 5
Mandacaru do Sol e o
Parlamento das Gralhas
A pouco mais de um quilômetro de Cococi, em meio
a caatinga, se ergue um enorme Mandacaru com mais de 6
metros de altura e incontáveis ramificações. Seus espinhos
medem mais de um palmo aberto e suas flores chegam
ao tamanho de bolas de futebol. Apesar da magnitude da
planta, ela só é visível durante o dia. Isto também ocorre na
Penumbra, mesmo o local sendo eternamente banhado por
Luna. Esse estranho fenômeno acontece pois o Mandacaru
do Sol possui um Filho da Clareira desperto, que protege
seus segredos e poderes.
Há mais de um século, um Corax chamado Asa-Branca
depositou um Ovo Místico dentro de uma das flores do
Mandacaru do Sol e despertou seu espírito para que este
o protegesse. Os poderes ali investidos transformaram a
planta, concedendo-a propriedades mágicas, como se es-
conder e transformar a água de suas raízes em uma espécie
de amuleto da Wyld capaz de cessar qualquer sede, inclusive
Paixões de fantasmas (ver Água do Mandacaru do Sol no
Apêndice). O Ovo Místico permanece sem ser chocado, e
o que ele guarda continua um mistério. Obviamente isso
atraiu a atenção dos Corax, em especial daquele que ficou
conhecido como Sentado-no-Ninho.
Sentado-no-Ninho tomou para si a missão de proteger
tanto o Ovo Místico quanto o Mandacaru do Sol. Renun-
ciou ao seu anseio por viajar e conhecer tudo aquilo que é
possível. Ele permanece pousado na planta à noite e sempre
nas proximidades durante o dia. Ele defende a planta com
uma ferocidade incomum para os Corax. Mas a sua natureza
curiosa não foi extinta, ele ainda ama novidades, notícias
e fofocas. Seu sacrifício (e o mistério do Ovo Místico) atrai
outros Corax, que trazem novidades de outras terras. Esses
Corax frequentemente se satisfazem com a Água do Man-
dacaru do Sol e partem. Assim, sobre esta magnífica planta,
existe um contínuo Parlamento das Gralhas, nunca composto
pelos mesmos indivíduos, com exceção de Sentado-no-Ninho,
que se aproxima da sétima década de vida.
Indivíduos normalmente solitários, mas apreciadores
de papos e segredos, os Corax se unem esporadicamente no
que chamam de Parlamento das Gralhas. Não existe muita
formalidade, é apenas uma reunião em qualquer lugar a
qualquer momento em que eles contam as novidades e as
informações que descobriram durante os seus voos. De-
pois partem seguindo as suas vidas. O fato do Parlamento
do Mandacaru do Sol ser uma reunião contínua, apenas
mudando seus integrantes, fez com que o local se tornasse
um ponto de pouso dos homens-corvos e conhecido por
todos do Brasil.
Mandacaru do Sol (Filho da Clareira)
Fúria 3, Gnose 8, Força de Vontade 7, Essência 30
Encantos: Purificar Domínios Sombrios, Sentir o Reino,
Curar, Invisibilidade.
Sentado-no-Ninho
Raça: Corvídeo
Posto: Ales (3)
Físicos: Força 2, Destreza 3, Vigor 5
Sociais: Carisma 4, Manipulação 4, Aparência 3
Mentais: Percepção 5, Inteligência 2, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 5, Esportes 3, Briga 3, Empatia 4,
Expressão 2, Vôo 4, Intimidação 3, Liderança 2, Instinto
Primitivo 3, Lábia 4
Perícias: Empatia com Animais 3, Etiqueta 3, Performance
2, Furtividade 3, Sobrevivência 4
Conhecimentos: Enigmas 3, Investigação 2, Medicina 1,
Ocultismo 3, Rituais 4 Medicina 2,
Antecedentes: Parentes 3, Contatos 5, Aliados 2, Segredos 5
Dons: (1) Caminho dos Inimigos, Código Morse, Faro
para a Forma Verdadeira, Comunicação com Espíritos, Palavra
do Além, (2) Chamado da Carniça, Penas Afiadas, Capturar
Sussurros, (3) Conversa Morta, Olhos de Águia, Senso do
Sobrenatural, Proteção Solar, Dardo do Beija-Flor
Fúria 4, Gnose 6, Força de Vontade 9
Corax comum no Parlamento do
Mandacaru do Sol
Posto: Neocornix (2)
Físicos: Força 2, Destreza 2, Vigor 2
Sociais: Carisma 3, Manipulação 3, Aparência 2
Mentais: Percepção 4, Inteligência 3, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 3, Esportes 3, Briga 2, Empatia 2,
Expressão 2, Vôo 3, Instinto Primitivo 2, Manha 2, Lábia 3
Perícias: Empatia com Animais 1, Etiqueta 3, Crime
2, Furtividade 3, Sobrevivência 3
Conhecimentos: Enigmas 3, Investigação 3, Ocultismo
2, Rituais 2
Antecedentes: Contatos 2, Aliados 1, Segredos 2,
Mapas Umbrais 2
Dons: (1) Abrir Objetos, Persuasão, Avaliação do Cor-
vo, Voz do Mímico, (2) Resistência do Mensageiro, Penas
Afiadas, Línguas do Mundo.
Fúria 2, Gnose 5, Força de Vontade 5
Outros Locais
Os locais adiante descritos pertencem ao Ato II de
Cordel da Fome, isto é, estão especificamente localizadas
no recorte temporal do Cangaço. Dito isso, é importante
esclarecer que são locais fictícios, e qualquer semelhança com
locais factuais é mera coincidência. Cabe aos Narradores
incrementarem cada local com suas descrições e imagens
adequadas ao cenário proposto. Por serem locais de menor
importância descritiva, nos limitaremos a apontar a maior
presença de Parentes ligados à matilha dos Cancioneiros do
Luar Sozinho ou da matilha dos Calangos (ambas descritas
mais adiante), e como cada um desses locais pode compor
os Campos de Caça
Fazenda Monte Belo - Fazenda abandonada após o
Coronel Feitosa ser brutalmente assassinado por Clarindo
Diabo-Menino da Matilha dos Calangos. A região é tomada
por Parentes dos Calangos, e parece funcionar como principal
ponto “civilizado” frequentemente visitado pelos seguidores
do Teiú, liderados por Venâncio “Matalindo”. A Fazenda
tem uma casa grande, uma pequena casa de ferramentas e
um estábulo. Como ficou abandonada por muito tempo,
e nenhum dos Cangaceiros Calangos tem pretensão de se
tornar fazendeiro, o local está à ruína, mas os Parentes so-
brevivem no local a despeito da boa conservação da fazenda
do Coronel morto.
Povoado de Água Boa - O Povoado de Água Boa
compreende uma intersecção entre os campos de caça dos
Calangos e dos Cancioneiros do Luar Sozinho, sendo,
portanto, um local de importância estratégica e de perigos
iminentes, devido à rixa entre os Alfas das Matilhas. Todos
os humanos residentes da região são Parentes, sendo relacio-
nados a esta ou àquela Matilha. Aqui moram Mãe Preta da
Viola e Antônio Coiteiro que serão descritos mais adiante.
Serra das Tragédias - Coração do Campo de Caça dos
Cancioneiros do Luar Sozinho. Situado no meio da caatinga, o
local tem apenas uma igrejinha e algumas lápides. Construída
para marcar o local onde um grande número de pessoas foi
morta pela Volante, a igrejinha ganhou significado para os
Cancioneiros do Luar Sozinho. Existem Parentes que vem
sempre à região, e Asa Branca tomou o cruz da igrejinha
como seu poleiro especial, por onde ele vigia e canta os
feitos de seus companheiros Garou. Asa Branca está descrito
mais adiante.
Vila de São Carmo das Misericórdias - Pequeno povo-
ado habitado por Parentes de ambas as matilhas. Alguns
residentes da região lembram de “Caprichoso” (descrito
adiante), e alguns o descrevem como herói cangaceiro, vin-
gador dos pobres, e outros o chamam de bandido assassino,
ladrão e deflorador.
29
Matilha dos Cancioneiros
do Luar Sozinho
Ver a luz do passado e do presente
viajar pelas veredas do céu
pra colher três estrelas cintilantes
e pregar nas abas do meu chapéu
(Espelho Cristalino, Alceu Valença)
A seguir apresentamos as histórias, personalidades, fichas
e dicas de interpretação para a Matilha dos Cancioneiros
do Luar Sozinho. Os jogadores assumirão o papel destes
personagens no Ato II de Cordel da Fome, sendo portanto
imprescindível que os jogadores se familiarizem com todos
os detalhes acerca destes personagens. Evidentemente, os
elementos aqui apresentados podem ser modificados para
adequação às necessidades de cada mesa, mas fazemos
alguns apontamentos: A rivalidade entre a Matilha dos
Cancioneiros do Luar Sozinho e a matilha dos Calangos
é importante, e deve ser preservada (de uma forma ou de
outra) caso os narradores e jogadores decidam adaptar as
ideias aqui apresentadas. Caso existam mais jogadores do
que personagens, caberá ao Narrador criar outra personagem
para apresentar aos seus jogadores. Caso os jogadores es-
tejam em menor número do que personagens, sugerimos
30
que os demais membros da matilha sejam utilizados pelo
narrador como NPCs; excluir algum dos personagens pode
ser bastante prejudicial, uma vez que desbalanceará o nível
de desafio representado pela matilha rival, os Calangos. A
matilha segue o Totem do Carcará (ver Apêndice), e toma
um Campo de Caça no meio do sertão.
Diro “Serra-Bucho”
O famoso pé-de-cana. Não existe quantidade nem tipo
de cana que Diro não tenha bebido. O Ragabash da Matilha
Cancioneiros do Luar Sozinho é um exímio lutador com
peixeira e um conhecedor nato do submundo nordestino.
Armas, pólvora e os melhores prostíbulos de todo o sertão, se
você quiser saber onde encontrar é com Diro que você deve
falar. De origem humilde, trabalhava com os pais no roçado,
pois a vida era custosa e sofrida; sua infância foi marcada
pelas secas e pelo desejo de que tudo mudasse. E tudo mudou
quando a volante assassinou seus pais numa operação trágica
que vitimou várias pessoas por engano, acusados de serem
coiteiros. O ódio desencadeou sua primeira transformação
e num súbito de Fúria toda a volante foi despedaçada por
Diro. Naquela época as volantes chamavam o ocorrido de
O Massacre de Paudalho.
Ele vagou pelo sertão e logo passou a ser seguido por um
Gaffling do Vento que o encaminhou até os Cancioneiros do
Luar Sozinho. Em muitas das investidas de sua matilha - uma
ficou marcada pra todos como o maior feito de Diro - ele
invadiu a casa grande da fazenda de um coronel que era um
Fomor conhecido por suas investidas contra a Cancioneiros
do Luar Sozinho, e com a peixeira e um serrote lutou a
madrugada inteira com o fomor. O combate só terminou
quando ele literalmente serrou o do Coronel em dois. Desde
então ficou conhecido como “Serra-Bucho”.
Dicas de Interpretação: A desgraça acompanha “Ser-
ra-Bucho” para que ele possa distribuí-la. Enquanto houver
cangaço, volante e servos da Wyrm, Diro estará pronto para
subverter a lógica da dominação e levar aos seus inimigos
um punhado de azar. Quando não está planejando formas
de derrubar seus inimigos, Diro tem a responsabilidade de
vigiar as fronteiras do Campo de Caça da Matilha, sempre
reportando a Melquisedeque e Isabel. Diro é um alcoólatra
inveterado, e nem mesmo os Fianna da Matilha ousam
desafiar o Roedor em uma disputa de gole.
Raça: Hominídeo
Augúrio: Ragabash
Tribo: Roedores de Ossos
Matilha: Cancioneiros do Luar Sozinho
Totem: Carcará
Posto: Adren (3)
Físicos: Força 4, Destreza 4, Vigor 4
Sociais: Carisma 2, Manipulação 4, Aparência 2
Mentais: Percepção 5, Inteligência 2, Raciocínio 2
Talentos: Prontidão 4, Esportes 4, Briga 3, Intimidação
2, Instinto Primitivo 2, Manha 5, Lábia 4
Perícias: Ofícios 1, Armas de Fogo 3, Crime 4, Armas
Brancas 3, Performance 2, Furtividade 4, Sobrevivência 4
Conhecimentos: Investigação 3, Medicina, 1 Ocultismo
1, Rituais 1, Sabedoria Popular 1
Antecedentes: Contatos 3, Aliados 3, Parentes 2, Fetiche
4 (Peixeira do Sol, ver Brasil em Fúria), Numem 2 (Vento –
Sabedoria), Totem 1, Campo de Caça 1, Destino 2
Dons: (1) Persuasão, Simular Odor de Água Corrente,
Resistência à Toxinas, Simular Odor de Mel, Embaçamento
da Própria Forma; (2) Perturbar Tecnologia, Ferocidade do
Rato Acuado, Sentir a Presa; (3) Risada da Hiena, Intimidar
Balas, Bafo Quente
Fúria 5 , Gnose 4 , Força de Vontade 5
Zé de Arimatéia “Coroa-de-
Frade”
A vida de um impuro não é fácil em nenhuma das tribos
da Nação Garou, mas com toda a certeza entre os Fianna a
situação é mais tenebrosa. E foi sob abusos e distratos sofri-
dos pela mãe que dois impuros gêmeos nasceram naquele
dia, um deles já morto, segundo as fofocas que rondavam
a seita, enforcado pelo próprio irmão. Quando retiraram
Zé de Arimatéia de dentro de sua mãe, suas mãos estavam
esmagando o pescoço de seu irmão moribundo. A Garou
que lhe deu à luz morreu logo após o parto. Seu pai ninguém
sabia quem era, nem os espíritos conseguiram identificar o
transgressor. Nos primeiros anos ele foi criado pela Mãe-da-
Toca, uma velha impura que lhe ensinou como sobreviver e
sobre os modos de vida de um Theurge. Após sua primeira
mudança, Zé de Arimatéia estava pronto para ser treinado
e colaborar com a seita e não ser um fardo para seu povo.
Seu Ritual de Passagem não foi simples, os impuros se
cobram muito mais em relação às suas conquistas do que os
não-impuros, até para que a aceitação seja geral seja conquis-
tada e ninguém tenha dúvidas em relação às suas capacidades;
mas a manifestação do cervo ao final lhe deu um senso de
pertencimento à tribo que ele jamais imaginou que teria. E
quando foi aceito como parte da Matilha Cancioneiros do
Luar Sozinho, o Theurge teve certeza de seu papel naquele
lugar. O Carcará, totem de respeito dos Fianna nordestinos
aceitou Zé de Arimatéia como filho no instante em que o
conheceu e o reconheceu como irmão. Seu nome de feito
“Coroa-de-Frade” uma referência ao cacto nativo do sertão
nordestino por conta de seus pelos eriçados e couro duro.
Dicas de Interpretação: Acostumado ao desprezo desde
muito cedo, “Coroa-de-Frade” sente-se muito bem em sua
própria companhia, apreciando o silêncio como canção, a
ausência como companhia e o sertão como casa. Apesar de
sua deformidade muito aparente, as ofensas esperadas não
são presentes em sua vida com os novos companheiros.
Agora ele vem aprendendo a lidar com família de forma
a honrar o totem dos Fianna, uma vez que desde quando
foi acolhido por Melquisedeque e os outros, não foi alvo
de ofensas, troça ou desprezo pelos novos companheiros.
Raça: Impuro
Augúrio: Theurge
Tribo: Fianna
Matilha: Cancioneiros do Luar Sozinho
Totem: Carcará
Posto: Adren (3)
Físicos: Força 5, Destreza 1, Vigor 5
Sociais: Carisma 4, Manipulação 2, Aparência 1
Mentais: Percepção 5, Inteligência 4, Raciocínio 4
Talentos: Prontidão 3, Esportes 2, Briga 3, Empatia 3,
Intimidação 4, Instinto Primitivo 4
Perícias: Empatia com Animais 2, Ofícios 1, Armas de
Fogo 2, Crime 2, Armas Brancas 3, Furtividade 1, Sobre-
vivência 4
Conhecimentos: Enigmas 4, Investigação 1, Medicina
3, Ocultismo 4, Rituais 4, Sabedoria Popular 1
Antecedentes: Rituais 5, Herança Espiritual 3 (Man-
dacaru), Fetiche 6 (Olho de Cabra e Gibão de Couro Seco),
Totem 3, Campo de Caça 1, Destino 2
Dons: (1) Sentir a Wyrm, Toque da Mãe, Comunicação
31
 com Espíritos, Criar Elemento, Espantalho Umbral, Salto
da Lebre; (2) Cavar, Nome do Espírito, Uivo do Invisível,
Visões; (3) Sorte Justa, Linhas de Ley
Fúria 5 , Gnose 8 , Força de Vontade 8
Deformidade de Impuro: Couro Duro (pelos como
espinhos de Mandacaru)

Isabel “Segue o Rastro

Agreste”
Nascida entre o povo Calon, Isabel sempre fora a voz
da razão de seu povo. Mesmo quando eles se deparavam
coisas que exigiam medidas mais enérgicas, era nos seus
conselhos que todos se alicerçavam para agir. Desde
muito moça já tinha os dons das visões dos Calon e sua
crença nos mortos era uma tradição passada de mãe pra
filha. Uma fase de lua antes de se casar, recebeu a visita
de um mensageiro sobrenatural: Nome-Perdido era um
Theurge dos Peregrinos Silenciosos que veio avisar a Isa-
bel que sua viagem se tornaria mais solitária, e que seu
destino não era com os Calon, e sim com os seus outros
antepassados, que também amavam e odiavam a vida
em eterna peregrinação. Naquela mesma noite, quando
a lua mediou no céu, de forma natural Isabel sofreu sua
primeira mudança e nos seus ombros uma grande coruja
pousou. Os desígnios de Luna para a Meia-Lua eram de
seguir os rastros de sangue dos mortos injustiçados e dar
a eles a devida vingança e descanso, equilibrando assim
a balança que pesa o coração dos mortos. Em muitas
de suas andanças Isabel viu tudo o que o sertão pode
proporcionar, tanto de bom, quanto de ruim.
Ajudou fantasmas de escravizados vingativos, de
sertanejos perdidos, de mulheres traídas e até de solda-
dos desesperados, mas nada perturbava mais o sono de
Isabel do que os pobres inocentes mortos pela volante
e pelo cangaço; e nesse tempo eles eram muitos. Foram
as experiências com tais espíritos que fizeram Isabel se
aproximar dos Cancioneiros do Luar Sozinho. O discurso
de Melquisedeque de findar com as injustiças sofridas
pelos menos abastados fez a Peregrina Silenciosa olhá-lo
com bons olhos e seguir sua liderança. Essa proximi-
dade dos dois gerou desconfiança entre os membros da
matilha, que acusavam Isabel de soprar maus conselhos
nos ouvidos de Melquisedeque, e de até que entre eles
houve amor de casal. A Philodox usa da autoridade de
seu augúrio para calar esses boatos maldosos com ameaças
veladas de rituais de punições.
Dicas de Interpretação: O que é leve incomoda a Pere-
grina Silenciosa. Abençoada pela Meia Lua e Amaldiçoada
por Sutek, Isabel “Segue-o-Rastro-Agreste” caminha pelo
fio da navalha entre a vida alegre em família e a serie-
dade de seu papel. Como mediadora dos Cancioneiros
do Luar Sozinho, ela se vê na obrigação de trazer certa
32
seriedade e profundidade à matilha, levando os seus irmãos
a cumprirem com seus papéis, defenderem o território de
Caça, honrar o Carcará e proteger os Parentes no Sertão.
A única pessoa que parece fazer aliviar a enorme carga que
a Philodox carrega é o Alfa da Matilha, Melquisedeque
“Risca-Faca”. É bem sabido por todos que ela só sorri para
os inimigos e (de forma mais sincera) para seu Alfa.
Raça: Hominídea
Augúrio: Philodox
Tribo: Peregrinos Silenciosos
Matilha: Cancioneiros do Luar Sozinho
Totem: Carcará
Posto: Adren (3)
Físicos: Força 2, Destreza 2, Vigor 3
Sociais: Carisma 4, Manipulação 4, Aparência 4
Mentais: Percepção 3, Inteligência 3, Raciocínio 4
Talentos: Prontidão 2, Esportes 2, Briga 2, Empatia
4, Expressão 2, Intimidação 2, Liderança 3, Instinto
Primitivo 2, Lábia 1
Perícias: Empatia com Animais 1, Ofícios 1, Etiqueta
3, Armas de Fogo 2, Crime 1, Armas Brancas 2, Furtivi-
dade 2, Sobrevivência 3
Conhecimentos: Acadêmicos 3, Enigmas 3, Investi-
gação 2, Direito 4, Medicina 1, Ocultismo 3, Rituais 3,
Sabedoria Popular 4
Antecedentes: Parentes 2, Contatos 1, Totem 2,
Campo de Caça 1, Raça Pura 1, Rituais 3, Destino 2
Dons: (1) Persuasão, Verdade de Gaia, Faro Para a
Forma Verdadeira, Olhos da Extinção, Visões do Duat;
(2) Comandar a Assembleia, Determinação, Fitar; (3)
Adaptação, Sentir o Infrator, Acalmar a Besta Selvagem
Fúria 4 , Gnose 6 , Força de Vontade 9

Melquisedeque
“Risca - Faca”
Melquisedeque é o Alfa da matilha Cancioneiros do
Luar Sozinho, um Galliard astuto e corajoso, capaz de
feitos grandiosos que ele mesmo depois transformava
em canção com sanfona, viola e exagero, iluminado
pelo fogo da festa em família e a luz de Luna. Embora
tenha nascido em João Pessoa, e ainda na juventude
tenha visitado outras das maiores cidades do litoral, a
paixão pelas histórias da força do sertanejo o levaram
cada vez mais para o cerne dessas narrativas: o Cangaço.
Atraído como tantos outros pela promessa de uma vida
livre do jugo republicano e coronelista, Melquisedeque
se meteu em um estilo de vida marcado pela privação,
pela violência e bandidagem. Apesar de aterrorizante
para a maioria dos homens comuns, essa vida apaziguava
a Fúria de Melquisedeque, que já era conhecido como
“Risca-Faca”no Bando de Inocêncio “Caprichoso”, devido
33
à sua habilidade tanto com a peixeira quanto com a sanfona.
Melquisedeque carregaria essa alcunha para a nova vida, que
se revelou após a primeira mudança, quando Melquisedeque
presenciou o próprio “Caprichoso” tentando se aproveitar
da irmã de um de seus companheiros.
No entanto, surpreendentemente essa primeira transfor-
mação causou delírio apenas na garota, pois “Caprichoso” era
um Garou da tribo dos Crias de Fenris, abençoado pela Meia
Lua. O Garou mais experiente conteve a fúria de “Risca-Faca”
e o subjugou. O que veio a seguir foi uma longa humilhação
para Melquisedeque: por mais de um ano ele continuou
seguindo “Caprichoso” como seu líder de bando e Alfa de
sua primeira matilha. No entanto, dentro de seu coração
ardia a fúria de uma vingança, e Melquisedeque sabia que
teria de esperar o momento certo para punir “Caprichoso”
pelo que fizera à jovem. Esta ocasião foi justamente no Rito
de Passagem de Melquisedeque, quando foi apresentado à
Nação Garou como “Risca-Faca”, um habilidoso Galliard
dos Fianna. O Rito de Passagem fora difícil, Melquisedeque
deveria trazer a cabeça da Cabra Cabriola (um poderoso
maldito, também conhecido como Face do Diabo, que
assombrava a região). Mas Melquisedeque não deixaria que
apenas uma prova se opusesse à sua missão. Após apresentar à
matilha de “Caprichoso” a cabeça do Maldito, “Risca-Faca” o
desafiou alegando que os tempos de guerra haviam acabado,
e portanto ele poderia desafiá-lo à liderança do Bando e da
34
Matilha. Isso deixou todos os Garou e Parentes presentes
com os cabelos em pé, pois à época “Caprichoso” era um
Athro, e “Risca-Faca” havia acabado de se tornar um Cliath.
“Caprichoso” sentiu vontade de matar o Fianna pela
insolência, mas como Philodox lembrou-se do mandamento
de Respeitar os Inferiores, e limitou-se a calar a boca do Gal-
liard com um soco poderoso. Melquisedeque sorriu com os
dentes manchados de vermelho e cuspiu o sangue na cabeça
da Cabra Cabriola, que ganhou vida momentaneamente. Em
segredo, o Galliard havia transformado a cabeça do Maldito
em um Talismã para executar sua vingança. Melquisedeque
então começou a cantar uma canção de vingança, e a cabeça
flutuante da Cabra do Demo voou e arrancou o rosto do
Cria de Fenris à dentadas. O Athro morreu ali, de forma
rápida e cruel, e toda a matilha ficou consternada enquanto
o sangue era derramado. Por muito pouco Melquisedeque
não consegue fugir com vida, mas sua vingança, incompreen-
dida pelos antigos membros de matilha e pelo bando de
“Caprichoso” criaram uma inimizade capaz de causar uma
cisão no grupo. Os poucos que seguiram Melquisedeque
formaram a matilha dos Cancioneiros do Luar Sozinho. Os
antigos seguidores de “Caprichoso” que vêem no Fianna
um traidor, se reorganizaram como a Matilha dos Calangos,
liderada pelo mais fiel pupilo de “Caprichoso”, o Cria de
Fenris Ahroun Venâncio Matalindo.
Dicas de Interpretação: O amor e a guerra são dois lados
da mesma moeda. A canção é feita de som e silêncio, assim
como a lua tem seu lado escuro. Melquisedeque “Risca-Faca”
nasceu para incorporar essas dicotomias sem qualquer dis-
sonância, através da luta, das músicas e da defesa do território
de caça. Como Galliard, ele entende que seu papel é o de
animar a moral da matilha e seu bando, resgatar e guardar
as histórias maravilhosas de seu povo, e exercer a vontade de
Gaia, do Cervo e do Carcará onde quer que a matilha vá. O
humor de Melquisedeque é constante, embora ele não seja
um palhaço. Na verdade, Melquisedeque tira prazer da vida
que vive por se enxergar como um personagem na história
das eras, como uma vontade corporificada por um escritor
que só pode ser entendido como Deus, ou um Santo, ou
Gaia, ou Luna e seus padroeiros espirituais. Melquisedeque
ama a família, os Parentes que os acompanham, seus irmãos
e irmãs de matilha, a música, a boa comida e a energia da
batalha.
Raça: Hominídeo
Augúrio: Galliard
Tribo: Fianna
Matilha: Cancioneiros do Luar Sozinho
Totem: Carcará
Posto: Athro (4)
Físicos: Força 3, Destreza 3, Vigor 3
Sociais: Carisma 5, Manipulação 5, Aparência 4
Mentais: Percepção 2, Inteligência 2, Raciocínio 4
Talentos: Prontidão 2, Esportes 3, Briga 3, Empatia 4,
Expressão 4, Intimidação 4, Liderança 5, Instinto Primitivo
2, Manha 2, Lábia 4
Perícias: Empatia com Animais 1, Ofícios 2, Etiqueta
3, Armas de Fogo 2, Crime 3, Armas Brancas 4, Furtividade
2, Sobrevivência 4
Conhecimentos: Acadêmicos 1, Enigmas 1, Investigação
1, Direito 1, Medicina 1, Ocultismo 3, Rituais 2, Sabedoria
Popular 5
Antecedentes: Parentes 4, Contatos 2, Totem 2, Campo
de Caça 1, Raça Pura 3, Aliados 3, Rituais 2, Destino 3
Dons: (1) Persuasão, Chamado da Wyld, Sentidos Aguça-
dos, Luz das Fadas, Resistência à Toxinas (2) Fitar, Distrações,
A Ligeireza do Repente, Óbvio Ululante, Blá-blá-blá, Dança
das Chamas; (3) Remodelar Objetos, Canção dos Heróis,
Canção da Fúria, Montaria Azarape (4) Imagem Ancestral
Fúria 7 , Gnose 5 , Força de Vontade 10
Iracema “Degola-Coronel”
“Degola-Coronel” é sem dúvida alguma a Lua Cheia
mais temida do sertão. Os rumores contam que seu pai fora
casado com um indígena e dessa união nasceu Iracema. O
velho era meio maluco e trocou a menina por uma saca de
milho com um Coronel de Serra Talhada, em Pernambu-
co. Iracema foi criada como empregada da casa, trocando
seus serviços por um prato de comida e dormida durante a
noite. Não era uma vida digna, mas para quem fora trocada
por uma saca de milho, era o necessário para sobreviver.
Durante o início de sua adolescência, Iracema passou a ter
pesadelos recorrentes, envolvendo morte, incêndio e um
gigantesco tiroteio. O velho coronel achou que a menina
estava endemoniada e a expulsou da casa grande e a colocou
para dormir com os animais.
Em uma dessas noites dormindo nas baias dos cavalos,
Iracema sofreu o pior dos homens, um dos vaqueiros da
casa tentou molestá-la e em um súbito autodefesa, Iracema
arremessou o vaqueiro de cabeça numa viga e o matou
acidentalmente. Com medo das consequências de seu ato,
a menina fugiu da fazenda, mas não foi muito longe, os
homens do Coronel a encontraram e trouxeram de volta
amarrada, como era feito aos escravizados num passado não
tão distante. Seu ódio inflamou quando ao chegar na fazenda
viu que o Coronel tinha armado um circo para se vingar
da morte de seu vaqueiro: no velho tronco dos escravizados
Iracema fora colocada e açoitada como era feito em outros
tempos pelo avô do Coronel, aquilo queimou o coração de
Iracema e tomada pela Fúria sua primeira mudança ocorreu,
todos ali foram mortos pela recém transformada Garou.
Quando os espíritos dos ventos avisaram os Garou sobre
a filhote, já a chamavam de a “Degola-Coronel”. Quando
os Garou chegaram ao local se depararam com uma noite
de horror, um amontoado de cabeças arrancadas e Iracema
sentada na escada da casa grande com a cabeça do Coronel
em suas mãos.
Dicas de Interpretação: Embora admire “Risca-Faca”
e “Serra-Bucho”, Iracema se afeiçoa verdadeiramente com
“Coroa-de-Frade” e “Segue-o-Rastro-Agreste”, pois assim
como o Theurge e a Philodox, Iracema “Degola-Coronel”
compõe a parte mais séria da matilha. Enquanto o Theurge
se sente melhor sozinho, e a Philodox sente que um mundo
de responsabilidades recai sobre seus ombros, “Degola-Cor-
onel” é séria por puro prazer de intimidação e terror. É
bem verdade que, caso desejasse fazer uma piada, Iracema
falharia monumentalmente, mas isso não quer dizer que ela
não veja uma graça sombria na vida: Depois de ter sido alvo
de tantos maltratos, ela aprecia o valor da violência contra
quem realmente merece. Ela jamais maltrataria outros que
se encontrem em estado de vulnerabilidade, mas não se
importará em eviscerar servos da Wyrm (que nem precisam,
no julgamento da Ahroun, estarem corrompidos de fato.
Basta que perpetuem o mal para que a Lua Cheia se veja
no direito de fazer sangrar o desgraçado culpado). Como
executora dos planos da Matilha, a Lua Cheia aprendeu a
guardar o quinhão da matança para o momento preciso,
e na maior parte do tempo anda com Diro “Serra-Bucho”
fazendo a guarda e vigilância do Território de Caça dos
Cancioneiros do Luar Sozinho.
Raça: Hominídea
35
 Augúrio: Ahroun
Tribo: Roedores de Ossos
Matilha: Cancioneiros do Luar Sozinho
Totem: Carcará
Posto: Adren (3)
Físicos: Força 5, Destreza 4, Vigor 5
Sociais: Carisma 2, Manipulação 2, Aparência 2
Mentais: Percepção 3, Inteligência 2, Raciocínio 4
Talentos: Prontidão 2, Esportes 3, Briga 5, Empatia 3,
Intimidação 5, Liderança 2, Instinto Primitivo 3
Perícias: Empatia com Animais 1, Ofícios 3, Etiqueta
2, Armas de Fogo 3, Crime 2, Armas Brancas 4, Furtividade
2, Sobrevivência 4
Conhecimentos: Acadêmicos 1, Investigação 2, Direito
1, Medicina 1, Ocultismo 1, Rituais 1, Sabedoria Popular 3
Antecedentes: Parentes 2, Campo de Caça 2, Totem
2, Destino 2
Dons: (1) Benção do Macaco Artesão , Mestre do Fogo,
Garras Afiadas, Garras-Espora, Força Desesperada; (2)
Ferocidade do Rato Acuado, Espírito da Batalha, Medo
Verdadeiro, (3) Cura em Combate, Arcabuz Alumiado,
Chumbo na Fogueira
Fúria 9 , Gnose 4 , Força de Vontade 8
Parentes (aliados dos Cancioneiros do
Luar Sozinho):
• Antônio Fabiano: Coiteiro. Fugiu da vida em
Catolé do Rocha por ser muito chucro e por ser um bêbado
inveterado. Quando era mais novo tinha uma pulsão de
morte que o levou a lidar com o pior tipo de desgraçado que
o Sertão já viu, mas depois de conhecer Josefina Mãe-Preta e
perceber nela o amor de mãe que nunca tivera, Antônio se
tornou menos bruto, e desistiu de tentar “matar o diabo que
morava no corpo dele”. Isso tudo antes de ter pêlo na cara.
Embora ainda seja muito ríspido e ignorante, o Coiteiro tem
se transformado numa pessoa um pouquinho mais sensata,
e tem até aprendido a cantar de forma bonita o suficiente
para acompanhar Josefina e Melquisedeque quando o clima
é rastapé e forrobodó.
• Josefina Mãe-Preta da Viola: Uma mulher velha que já
foi escravizada, que cozinha e alimenta a matilha e ainda
humilha o galliard nos repentes. Ela é, sem dúvidas, a pes-
soa mais sensata, amorosa e sábia a acompanhar a matilha.
Embora não possua o conhecimento sobrenatural de
“Coroa-de-Frade”, ou a compreensão das leis Garou como
“Segue-o-Rastro-Agreste”, Melquisedeque sempre consulta
Josefina quando tem uma decisão importante a tomar.
• Asa Branca: Um Corax que sobrevoa o Sertão,
cantando e difundindo as histórias dos Corax e Garou
menos conhecidos pelos seus respectivos corpos políticos.
Asa Branca é exímio em diversos instrumentos musicais,
36
possuindo uma grave voz que faz até o mais chucro sertanejo
sentir a alegria e a tristeza das canções em seus corações. Ele
é baixo, gordinho, extremamente carismático, e se veste de
forma colorida, embora suas roupas sejam detonadas pelas
intempéries da Caatinga. Nas formas voadoras, Asa Branca é
uma Gralha Cancã, com asas brancas e olhos curiosos. Sua
voz continua sendo bela, independente da forma assumida
por Asa Branca.
Matilha dos Calangos
Na memória da vingança
Um desejo de menino
Um cavaleiro do diabo
Corre atrás do seu destino
Condenado em sua terra
Coronéis em pés-de-guerra
Beatos e cangaceiros
(Cavalos do Cão, Cangaço)
Os Calangos foram formados após a cisão provocada
pelo assassinato de Inocêncio “Caprichoso”, Cria de Fenris e
antigo líder de bando de Garou e Cangaceiros. Melquisedeque
formou uma nova matilha, os Cancioneiros do Luar Sozinho,
composta por Garou desgarrados e proscritos, enquanto
Vênancio “Matalindo” mobilizou os antigos seguidores de
Inocêncio num propósito de vingança. Embora não tenha
conseguido tantos seguidores quanto seu falecido padrinho,
“Matalindo” foi capaz de escolher cabras cruéis e honrados,
e alcançou a bênção do Teiú.
Venâncio “Matalindo”
Quando Venâncio tinha sete anos de idade, os avós
com quem morava faleceram. Primeiro foi a avó, cansada
de uma vida sofrida no sertão, logo em seguida se foi o avô,
tomado pela saudade e coração partido. Então o garoto pas-
sou aos cuidados de um velho amigo da família, Inocêncio
“Caprichoso”, um Cria de Fenris que na época iniciava sua
jornada de glória sangrenta entre os Cangaceiros e os Garou.
“Caprichoso” era tão violento quanto carismático, e liderava
um bando composto por Lobisomens e Parentes. Venâncio
rapidamente se apegou ao líder, e passou a seguir seus pas-
sos e aprender com ele a excelência da batalha, as rotas da
caatinga e os métodos da matança. Embora “Caprichoso” já
soubesse que o sangue Garou corria nas veias de Venâncio,
o Alfa ficou surpreso com a primeira mudança, que veio
muito cedo; Venâncio tinha apenas dez anos de idade. O
filhote foi nomeado “Matalindo”, graças à sua habilidade
de degolar inimigos provocando um jorro escarlate quando
o punhal saía da cavidade no pescoço chamada saboneteira.
Com os anos, “Matalindo” e “Caprichoso” se tornaram mais
próximos, e um laço de confiança sincero se formou. Este
laço, entretanto, talvez tivesse também servido de viseira,
pois “Matalindo” parecia não enxergar os crimes de seu
mentor e aliado.
Embora poucos tenham sobrevivido depois de criti-
carem Inocêncio “Caprichoso”, houve um tempo de grande
insatisfação e tensão entre os que seguiam o agora velho
Cria de Fenris. Dizia-se à boca pequena que suas decisões
pareciam cada vez mais insensatas, e ele vinha até mesmo
agindo como um desgramado fura-olho, um velho abilolado e
pervertido. Mas na mesma medida que essas acusações eram
feitas, havia aqueles que dariam um olho por “Caprichoso”.
Na verdade, havia alguns que de fato tinham perdido um
olho ou outra parte do corpo ao seguirem e obedecerem o
Cria de Fenris, e mesmo assim permaneciam fiéis ao líder.
Dentre os defensores de “Caprichoso”, o mais vocal sempre
foi Venâncio Matalindo. Mas o que se inicou como falatório
e tensão, terminou em vingança espiritual. Um Fianna de
menor posto, Melquisedeque “Risca Faca”, cometeu um
crime que fez com que Venâncio jurasse vingança eterna,
uma rixa de sangue.
O Fianna assassinou Inocêncio “Caprichoso” na frente
de todos seus seguidores, usando de pactos ardilosos com
os espíritos sombrios. E tudo isso através de música, como
se houvesse uma comemoração em trair o próprio Alfa.
“Matalindo” atualmente expande seu território de caça e
fortalece seus aliados para executar uma vingança definitiva
sobre Melquisedeque e os Cancioneiros do Luar Sozinho.
“Matalindo” tem mais de um motivo para afirmar que
Melquisedeque e sua “trupe de féladaputa” estão maculados
pela Wyrm. “Matalindo” sempre recorda do tenebroso troféu
transformado em arma que deu fim à vida de seu líder e
salvador: a cabeça ressurreta da Cabra Cabriola, como uma
máscara do demo, trazida à vida para executar a traição.
Raça: Hominídeo
Augúrio: Ahroun
Tribo: Crias de Fenris
Matilha: Os Calangos
Totem: Teiú
Posto: Athro (4)
Físicos: Força 5, Destreza 5, Vigor 5
Sociais: Carisma 3, Manipulação 2, Aparência 2
Mentais: Percepção 3, Inteligência 3, Raciocínio 4
Talentos: Prontidão 3, Esportes 4, Briga 5, Empatia 1,
Intimidação 5, Liderança 5, Instinto Primitivo 3, Manha
1, Lábia 2
Perícias: Empatia com Animais 1, Ofícios 2, Etiqueta
1, Armas de Fogo 4, Crime 4, Armas Brancas 5, Furtividade
4, Sobrevivência 5
Conhecimentos: Investigação 2, Direito 3, Medicina 1,
Ocultismo 3, Rituais 3, Sabedoria Popular 3
Antecedentes: Parentes 3, Campo de Caça 2, Totem 3,
Contatos 3, Raça Pura 2, Ancestrais 2, Fetiche 4 (Vergalho
de Boi, ver Apêndice), Destino 2
Dons: (1) Simular Odor de Homem, Inspiração, Re-
sistência à Dor, Garras Afiadas, Táticas de Matilha, Semblante
do Fenris; (2) Medo Verdadeiro, Marca do Lobo, Espírito da
Batalha, Rugido do Predador (3) Garras de Prata, Intimidar
Balas, Força de Thor; (4) Alterar Corpo, Atiçar a Fornalha
da Fúria, Grito de Gaia
Fúria 10 , Gnose 6 , Força de Vontade 10
Clarindo “Diabo-Menino”
Quando ainda era uma criança, Carlos Almeida, o
irmão mais velho de Clarindo Almeida, se complicou com
Sinhô Feitosa, um poderoso Coronel. Carlos se meteu na
caatinga a fim de fugir do castigo, mas os jagunços do Sinhô
Feitosa foram capazes de encontrar Carlos em seu esconder-
ijo, dormindo junto dos animais da Fazenda Monte Belo.
Os jagunços o capturaram e levaram até o Sinhô Feitosa,
amarrado e amordaçado. Lá chegando o rapaz foi surrado e
colocado em uma caixa de metal com apenas uma pequena
abertura. No terceiro dia, quando o Sinhô Feitosa mandou
que a caixa fosse aberta, Carlos já estava morto.
Não demorou até que a notícia se espalhasse, e Clarindo
jurou vingança. Durante semanas ele se escondeu na Caatin-
ga, dormindo ao relento, sempre abraçado a uma espingarda.
Durante essas semanas ele observou os jagunços de Sinhô
Feitosa, e passou a eliminá-los um a um, com uma precisão
digna de um Lua Nova. Apesar disso, sua lua seria outra,
quando fosse revelada. Depois de enterrar a maior parte dos
homens do Coronel, Clarindo foi, de fato, à fazenda Monte
Belo para punir o verdadeiro culpado. Chegando lá, foi
surpreendido pelo velho Sinhô Feitosa, sentado no alpendre
do casarão, como que se preparasse para a vinda do irmão
vingador. O velho tinha um revólver na mão, e assim que
viu Clarindo, apontou-lhe o cano da arma e ameaçou atirar,
caso o rapaz não dissesse imediatamente a que tinha vindo.
“Pra lhe matar” - respondeu Clarindo, que foi respon-
dido com um sorriso e um assobio pelo Sinhô Feitosa. O
assobio era um sinal, e vários jagunços apareceram em meio
ao mato e das janelas da casa; Clarindo podia até matar o
Coronel e se vingar, mas certamente morreria pelo chumbo
de seus homens logo em seguida. “Tu cava, menino.” - disse
o Sinhô Feitosa, que pôs-se de pé, catou uma pá que estava
ali mesmo no alpendre, e tacou aos pés de Clarindo. “Cave
tua cova”. Clarindo pegou a pá aos seus pés e obedeceu.
Depois de algumas horas, com uma cova de sete palmos
feita ali mesmo em frente à casa de seu inimigo, Clarindo
disse que havia terminado. Ele não estava completamente
resignado com a morte iminente, mas sentia que não tinha
como escapar dessa.
Sinhô Feitosa apontou o revólver, fez mira, e chegou a
puxar o cão do revólver para matar Clarindo, mas não chegou
37
a apertar o gatilho. Todos ficaram estarrecidos enquanto
Clarindo se transformava pela primeira vez em um terrível
lobisomem, com a Fúria da Lua Cheia vinda como salvação
sangrenta, uma benção de Luna, recheada de violência. Os
jagunços do Sinhô Feitosa atiraram, mas apavorados erraram
a maioria dos tiros, e os que não sucumbiram ao pavor
do delírio, foram desmembrados pelo recém despertado
monstro. Quando recobrou-se do ocorrido, havia matado
todos os homens do Sinhô Feitosa. O Coronel havia sido
reduzido a uma poça vermelha no meio do Sertão. Naquela
noite Clarindo deitou na cova e dormiu. Depois de acordar,
ainda cercado por cadáveres dilacerados, ele havia se transfor-
mado, não apenas na carne, mas em seu espírito. Ele sentia
como se tivesse renascido. Desse dia em diante se tornou
“Diabo-Menino”, um Lua Cheia dos Fianna.
Foi logo nesse período que “Diabo-Menino” percebeu
que não poderia voltar à vida normal, e correu sozinho pelo
Sertão, buscando entender sua nova vida. Foi acolhido por
outro Lobisomem, Venâncio “Matalindo”, que à época
tentava fortalecer seu bando e sua matilha, para clamar um
grande Território de Caça em meio à Caatinga. Embora
Clarindo “Diabo-Menino” seja fiel ao Alfa, seu coração
bate no mesmo compasso de com seus outros dois irmãos
de matilha, Jonas “Vereda-de-Sangue” e “Chicote”. O trio
tem grande afinidade, embora as personalidades sejam
bastante díspares.
38
Raça: Hominídeo
Augúrio: Ahroun
Tribo: Fianna
Matilha: Os Calangos
Totem: Teiú
Posto: Adren (3)
Físicos: Força 3, Destreza 5, Vigor 4
Sociais: Carisma 3, Manipulação 2, Aparência 3
Mentais: Percepção 2, Inteligência 2, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 3, Esportes 3, Briga 4, Intimidação
3, Liderança 2, Instinto Primitivo 3
Perícias: Ofícios 1, Armas de Fogo 3, Crime 2, Armas
Brancas 3, Furtividade 2, Sobrevivência 4
Conhecimentos: Medicina 1, Ocultismo 2, Rituais 1,
Sabedoria Popular 2
Antecedentes: Parentes 2, Campo de Caça 2, Totem 2,
Aliados1, Contatos 1, Totem 1
Dons: (1) Benção do Macado Artesão, Persuasão, Toque
da Queda, Salto da Lebre, Resistência à Toxinas (2) Medo
Verdadeiro, Perturbar Tecnologia, Uivo da Banshee, Espírito
da Batalha; (3) Coração da Fúria, Parente Fada, Linhas de Ley
Fúria 6 , Gnose 6 , Força de Vontade 6
Jonas “Vereda-de-Sangue”
Nascido e criado no povoado de São Carmo das Mi-
sericórdias, Jonas era o caçula em uma família de artistas.
Como Lua Minguante, ele teve uma infância repleta de músi-
ca e imaginação, tendo desde cedo desenvolvido um amor
intenso pela literatura de cordel, especialmente aquelas que
contavam histórias de paixão e volúpia. Conforme crescia,
Jonas se tornava mais habilidoso Jonas no violão, no piano
e no acordeão, além de possuir uma voz mais bonita do que
o pássaro currupião. Apesar de ser admirado pelos primos e
tias pela grande habilidade musical, Jonas era pelos mesmos
familiares tido como uma pessoa a ser evitada a todo custo,
devido ao estilo de vida libertino que desenvolveu logo no
início da mocidade. Ao invés de cantar a beleza e honra de
Cristo, o jovem compunha paródias cheias de heresia aos
hinos católicos. Ele também cortejava mulheres casadas e -
diziam as fofocas - até mesmo alguns rapazes. Com o passar
dos anos o comportamento considerado rebelde e zombeteiro
passou a de fato se tornar perigoso: cheio de frustração e
humor sombrio, o jovem era por vezes visto nas ruas da cidade
logo de manhãzinha com uma garrafa de cachaça na mão,
sorridente e sangrando, depois de ter sido surrado pelo pai
de alguma jovem noiva; ou talvez depois de ter discutido e
ameaçado algum bêbado contumaz no bar da cidade. Inde-
pendente do motivo e do alvo escolhido, era evidente para
quem conhecia Jonas que algo estava mudando no coração
dele. Não era apenas seu jeito incomum e desafiador, uma
profunda raiva tomava conta dele, fazendo com que cada
ação se tornasse mais rude e imprevisível.
Em uma noite de domingo a lua brilhava incompleta, e
embora sua luz minguasse, a fúria fervia no coração de Jonas.
Naquela missa de domingo, ao soar da nona badalada, o
rapaz se tornou um monstro, e calou o padre em sua liturgia
com um ataque à jugular. A matança na igreja foi atroz, e
as velas derrubadas no alvoroço da chacina acabaram por
esconder em cinzas e escombros o resultado do morticínio.
O delírio, entretanto, não seria capaz de apagar da memória
de tantas testemunhas o que Jonas fizera e no que havia se
transformado; e por isso ele teve de abandonar aquela vida
e partir para o sertão, viver uma história de lendas como
aquelas cantadas nas canções e na literatura de cordel.
Acolhido por Venâncio “Matalindo” e Clarindo
“Diabo-Menino”, o rapaz recebeu a alcunha de “Vereda-de-
Sangue” devido à grande marca que deixara na memória do
povoado de São Carmo das Misericórdias, e também devido
à forma que traçou seu caminho até os novos irmãos: Na
forma Crinos, destruindo tudo o que se pusesse em seu
caminho, uivando e sem qualquer pudor com discrição ou
segurança, como uma tão esperada canção de libertação.
Raça: Hominídeo
Augúrio: Galliard
Tribo: Fianna
Matilha: Os Calangos
Totem: Teiú
Posto: Adren (3)
Físicos: Força 2, Destreza 3, Vigor 2
Sociais: Carisma 4, Manipulação 5, Aparência 3
Mentais: Percepção 3, Inteligência 2, Raciocínio 4
Talentos: Prontidão 3, Esportes 2, Briga 3, Empatia 3,
Expressão 4, Intimidação 1, Instinto Primitivo 2, Manha
3, Lábia 5
Perícias: Empatia com Animais 1, Ofícios 1, Armas de
Fogo 3, Crime 3, Armas Brancas 3, Performance 5, Furtivi-
dade 2, Sobrevivência 3
Conhecimentos: Enigmas 2, Medicina 1, Ocultismo 3,
Rituais 2, Sabedoria Popular 4
Antecedentes: Parentes 2, Campo de Caça 1, Totem 1,
Contatos 3, Ancestrais 2
Dons: (1) Persuasão, Benção do Macaco Artesão, Senti-
dos Aguçados, Comunicação com Animais, Duas Línguas,
Resistência à Toxinas; (2) Línguas do Mundo, Distrações,
Uivos na Noite; (3) Canção da Sereia, Sorte Justa, Remod-
elar Objetos
Fúria 6 , Gnose 4 , Força de Vontade 7
“Chicote”
Fruto de uma união proibida, o impuro conhecido sim-
plesmente como “Chicote” poderia ter sido um Dançarino
da Espiral Negra. Seus pais eram servos da Wyrm que, antes
da primeira mudança, foram escravizados na Província de
São Paulo. O pai, Caça-de-Noite, era um Capitão do Mato,
e a mãe, Sombra-Dançarina, havia matado os senhores em
sua primeira mudança, e passara a morar na casa grande
como nova senhora de escravos. Quando a gravidez se tornou
aparente, o casal entrou em grande conflito, e Sombra-Dança-
rina se viu obrigada a fugir, pois sabia que Caça-de-Noite
iria devorar o filhote recém-nascido; ele já havia se gabado
de ter feito isso em outras ocasiões, com filhos com outras
mulheres. Mas Sombra-Dançarina já sonhava em criar o
Impuro como seu escravo favorito, e por isso fugiu para o
Nordeste do Brasil. No sertão do Rio Grande do Norte o
filhote nasceu, mas a mãe foi rapidamente encontrada por
uma matilha de Roedores de Ossos e morta. O filhote im-
puro, apesar de descendente de lobisomens corrompidos,
não carregava a mácula da Wyrm, e era muitíssimo pequeno,
o que fez despertar a caridade da Alfa da Matilha das Tripas
Secas, a Theruge Valdívia “Morde-Rabo”.
O órfão tornou-se, então, um filhote adotivo dos Roe-
dores de Ossos, e foi treinado na arte da sobrevivência, da
fúria coletiva e da trapaça. Sua lua era a mais sombria, e
seus métodos se mostraram aterrorizantes contra o inimigo,
e cirúrgicos no combate. Apesar de muito baixo, é extrema-
39

mente forte e robusto, e mais ágil do que poderia parecer, e
ele aprendeu desde cedo a compensar pelo tamanho sendo
um desgraçado cruel. Sua arma escolhida serviu de bênção
para a alcunha entre os Roedores: “Chicote”, às vezes
referido pejorativamente como “Chiquin” tem orgulho de
ser um Garou, e por isso mesmo detesta o apelido humano.
A melhor forma de irritar o Ragabash é chamá-lo de “Seu
Francisco”, e qualquer menção à sua origem seria garantia
de um frenesi. Mas tanto seus antigos companheiros, quanto
a nova matilha, sempre compreenderam que independente
de quem eram seus pais, o caminho dele estava livre para ser
escrito de acordo com a vontade pessoal e as leis de Gaia.
Assim, “Chicote” se tornou bastante respeitoso quanto aos
espíritos Gaianos e responsável quanto ao combate contra
a Wyrm.
Sua natureza Ragabash, entretanto, o levou a nunca
preferir ataques diretos, sempre arquitetando formas de
surpreender seus inimigos quando eles menos esperam,
causando o máximo de dano possível. A matilha das Tripas
Secas foi desmantelada, uma vez que metade da matilha
acompanhou “Morde-Rabo” em uma jornada para os Sertões
Umbrais sob ordem de um Presa de Prata. Furioso com a
complacência da matilha, o eterno rebelde abandonou os
Tripas Secas e passou a correr com os Calangos. “Chicote”,
“Vereda-de-Sangue” e “Diabo-Menino” são grandes amigos,
sempre estão juntos.
Raça: Impuro
Augúrio: Ragabash
Tribo: Roedores de Ossos
Matilha: Os Calangos
Totem: Teiú
Posto: Adren (3)
Físicos: Força 3, Destreza 5, Vigor 2
Sociais: Carisma 3, Manipulação 4, Aparência 2
Mentais: Percepção 4, Inteligência 2, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 4, Esportes 4, Briga 3, Empatia
1,Instinto Primitivo 3, Manha 2, Lábia 4
Perícias: Empatia com Animais 2, Ofícios 2, Armas de
Fogo 1, Crime 4, Armas Brancas 4, Performance 1, Furtivi-
dade 4, Sobrevivência 3,
Conhecimentos: Enigmas 1, Investigação 3, Medicina
1, Ocultismo 2, Rituais 2, Sabedoria Popular 1
Antecedentes: Campo de Caça 1, Totem 1, Fetiche 3
(Sun Whip)
Dons: (1) Cabeça de Rato, Soltar Pelos, Tesouro no
Lixo, Embaçamento da Própria Forma, Simular Odor de
Água Corrente; (2) Maldição do Ódio, Gerar Ignorância,
Entre as Rachaduras, Aparência de Cachorro; (3) Camaleão,
Cauda de Macaco
Fúria 4, Gnose 6 , Força de Vontade 6
40
Odila “Olho-de-Gato”
A impura dos Uktena é originária do sertão baiano e
abençoada pela meia luz de Luna. Acostumada desde os
primeiros anos de vida a um tratamento menos atencioso,
Odila aproveitou este distanciamento para aprender a avaliar
as pessoas e os Garou ao seu redor. Em silêncio a Uktena
desenvolveu um olhar apurado, que parecia fazer juz à sua
deformidade de impuro, pois além de atentos, seus olhos
eram também dourados e reflexivos, como os de felinos.
Essa sabedoria em avaliar os outros agradou Luna, mas o
Grande Uktena queria que sua filha se aventurasse entre
outros seres, para aprender a se equilibrar e ser a mediadora
não apenas entre os Garou.
Em uma jornada sozinha, Odila foi ao Sertão e depois de
semanas sozinha um encontro profético aconteceu: Odila se
deparou com Esturro-Sanguíneo, um Pumonca. Este encon-
tro ensinou muito a Odila, sendo a primeira uma lição de
orgulho. Assim como Esturro-Sanguíneo, os olhos de Odila
eram brilhantes e chamativos, mas Esturro-Sanguíneo não
demonstrava vergonha. Em segundo lugar, Odila aprendeu
durante várias noites sobre a ameaça da privação, pois para
se aproximar da onça parda, que era muito territorialista,
Odila teve que se submeter à mesma situação que ela estava
experimentando: a inanição. Odila propositalmente se fez
passar fome, para que a Onça não visse nela uma ameaça, e
por noites as duas guardaram seus lugares em meio à caatinga.
Quando ambas estavam à beira da morte, Odila conse-
guiu a chance de lidar com a Pumonca pacificamente, pois
nenhuma das duas tinha forças para atacar ou defender o
território. A paz motivada pela fome fez com que as duas
caçassem juntas e se alimentassem juntas, e pudessem, depois
disso tudo, lidar com diplomacia, sem fúria. Esturro-San-
guíneo explicou que aquele era seu Recanto Espiritual, seu
campo de caça, e que o avanço de homens, do Garou e dos
caçadores de homens havia prejudicado a caça na região.
Compreendendo o dilema da Onça Parda, Odila prometeu
interceder em nome dela perante os Garou. Com sucesso,
Odila adotou o nome “Olho-de-Gato” como sinal de orgulho
e nobreza, e forma de se lembrar do papel de mediadora
para o qual fora talhada. Apesar do sucesso, a fome marcou
permanentemente o corpo e o espírito da Philodox, deixan-
do-a bastante vulnerável aos poderes de Wakoru.
Ficha: Como ficará evidente no Capítulo 3, Ato II, Odila
“Olho-de-Gato” será de importância pivotal para a história a
ser narrada em Cordel da Fome. mas tal importância se dá
com sua morte. Assim, optamos por não apresentar ficha,
uma vez que desnecessária, e também porque acreditamos
que “se tem ficha, tem chance de matar ou de ser morto”.
Preferimos impedir que o evento de morte de Odila ocorra
de maneira diferente.
Rufino “Cartucheira”
O Cliath dos Calangos é Rufino “Cartucheira”,
um Cavaleiro do Ferro vindo de Juazeiro. Instruído e
educado, Rufino se destacou na sociedade humana como
uma pessoa de boa índole, de bons antecedentes e mente
perspicaz. Seus pais acreditavam que ele poderia ser um
padre ou um advogado, pois sua retórica era afiada e sua
compostura inabalável. Mas Jorge Rufino havia nascido
numa Lua Cheia, e sua primeira mudança em meio à uma
missa de Sexta Feira de Páscoa resultou num morticínio
nunca antes visto naquele pobre vilarejo. O evento foi
uma verdadeira tragédia, e a pior parte foi ter acontecido
em dia santo e ainda dentro de uma igreja; o resultado
não poderia ser outro a não ser um grande pânico sobre
a influência do demônio naquela região.
O caminho para Rufino, então, foi o de fuga, indo
de fazenda em fazenda, vilarejo em vilarejo, roubando
e matando para poder se alimentar. Por muito tempo
Rufino sobreviveu sozinho, nem como Macaco da Vo-
lante, nem como Coiteiro do Cangaço. Nem no Sertão,
nem na cidade. Mas quando a Lua Cheia voltava, Rufi-
no recorria à imensidão da caatinga para não provocar
mortes desnecessárias e evitar de ser tido como demônio
encarnado. Em uma dessas luas Rufino se deparou com
um cadáver encostado em um cacto que tinha a cara
coberta de teias de aranha. Tratava-se de um falecido
cangaceiro, que possuído pelo espírito de uma serva
da Weaver começou a falar: “pegue essa cartucheira e
esta arma, guerreiro, sua lua é de batalha, está findada
a sua fuga”. Mesmo sem entender, Rufino obedeceu o
que parecia ser a voz de um morto, e adotou a arma e o
nome. Naquela mesma noite o caminho dele se cruzaria
com seu futuro líder, Venâncio “Matalindo”, que havia
recebido uma mensagem espiritual de um novo guerreiro
de Gaia pronto para o Ritual de Passagem.
Raça: Hominídeo
Augúrio: Ahroun
Tribo: Cavaleiros do Ferro
Matilha: Os Calangos
Totem: Teiú
Posto: Cliath (1)
Físicos: Força 3, Destreza 4, Vigor 3
Sociais: Carisma 3, Manipulação 2, Aparência 2
Mentais: Percepção 2, Inteligência 3, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 2, Esportes 2, Briga 1, Empatia
2, Instinto Primitivo 1, Manha 2, Lábia 1
Perícias: Empatia com Animais 1, Ofícios 3, Etiqueta
3, Armas de Fogo 4, Crime 2, Armas Brancas 1, Furtiv-
idade 2, Sobrevivência 2,
Conhecimentos: Acadêmicos 4, Enigmas 1, Investi-
41
gação 1, Direito 3, Medicina 1, Sabedoria Popular 1
Antecedentes: Campo de Caça 1, Totem 1, Contatos
3, Fetiche 4 (Trabuco do Ponto de Vista)
Dons: (1) Persuasão, Benção do Macaco Artesão,
Corrida Urbana, Inspiração, Truque de Tiro, Controle de
Máquinas Simples
Fúria 5, Gnose 3 , Força de Vontade 5
Filhos da Peste
Quando a covardia gangrena uma família
Espadas se enterram no coração
O grito por vingança então habita
As sete orelhas num cordão
Um por um saciei meu apetite
De sangue e sofrimento dos culpados
(Sete Orelhas, Cangaço)
Soldados da Volante
Simples Soldados enviados à região para combater o
Cangaço e o banditismo social. Estes soldados possuem rifles,
pistolas luger p-08 parabellum e cavalos. Para confundir os
coiteiros e obter vantagens, a vestimenta dos soldados eram
semelhante a dos cangaceiros.
Físicos: Força 3, Destreza 3, Vigor 4
42
Sociais: Carisma 2, Manipulação 2, Aparência 2
Mentais: Percepção 3, Inteligência 2, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 2, Esportes 2, Briga 3, Intimidação
2, Liderança 1, Manha 2, Lábia 1
Perícias: Empatia com Animais 1, Ofícios 2, Cavalgar
1, Armas de Fogo 3, Crime 1, Armas Brancas 2, Furtividade
1, Sobrevivência 2
Conhecimentos: Investigação 2, Direito 2, Tecnologia 1
Antecedentes: Recursos 1, Equipamento 2, Contatos 2
Força de Vontade 5
Carniceiros da Volante
(fomori de Wakoru)
São Carniceiros da Volante os Soldados que foram
transformados em Fomori pela influência da Fome. Avatares
de Wakoru possuem o corpo do Soldado e o transformam
em criaturas vorazes com inteligência, mas movidas por uma
fome incontrolável e infinita.
Físicos: Força 6, Destreza 4, Vigor 5
Sociais: Carisma 1, Manipulação 1, Aparência 1
Mentais: Percepção 4, Inteligência 2, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 3, Esportes 3, Briga 4, Intimidação 4
Perícias: Ofícios 2, Cavalgar 1, Armas de Fogo 3, Crime
1, Armas Brancas 2, Furtividade 3, Sobrevivência 3
Conhecimentos: Investigação 2, Direito 2, Tecnologia 1
 Antecedentes: Recursos 1, Equipamento 2
Poderes: Selvageria, Presas, Orifício Dentado, Imuni-
dade ao Delírio, Bocarra da Wyrm, Mega Atributo (Força),
Bomba Estomacal, Resistência à Dor (como o Dom de
Philodox)
Fúria 5, Força de Vontade 5
Besta Fera
Presume-se que esta criatura famosa no folclore brasile-
iro tenha sido inspirada por relatos de portugueses que, ao
colonizarem o Brasil, trouxeram consigo os medos bíblicos
de uma criatura endemoniada, parte cavalo, parte humano,
que surge à noite para assombrar os vilarejos, desaparecendo
ao alcançar o cemitério. Seja verdade ou não que este mito
atravessou o oceano até o Brasil, o fato indiscutível é que se
trata de um arauto de forças da Wyrm. Ninguém compreende
bem o propósito, mas a Besta Fera se manifesta para anunciar
piores males que virão. Embora não tenha associação direta
com os Fantasmas ou os Famintos da narrativa central de
Cordel da Fome, a Besta Fera serve para criar uma nova am-
plitude para o imaginário espiritual do Brasil, especialmente
com a aproximação do Apocalipse, quando suas aparições
serão cada vez mais frequentes.
Fúria 10, Gnose 4, Força de Vontade 7, Essência 21
Encantos: Materializar, Sentir o Reino, Armadura, Voo
Ligeiro (porém apenas cavalga, não voa), Rajada (Fogo),
Causar Frenesi
Labatut
Esta Górgona possui uma ligação forte com Wakoru, o
Incarna da Fome. Labatut é uma criatura da Wyld descrita
como um gigante de pés redondos, cabelos compridos e
emaranhados, pêlos que cobrem todo o corpo como espinhos
grosseiros, dentes gigantescos que saem da boca, um único
olho no meio da testa, e mãos compridas. Esta criatura da
Wyld sempre teve predileção por alimento fresco e suculen-
to, mas foi sob influência de Wakoru que a corrupção da
Wyrm se instaurou, transformando Labatut num monstro
devorador de crianças.
Físicos: Força 8, Destreza 5, Vigor 8
Sociais: Carisma 1, Manipulação 1, Aparência 0
Mentais: Percepção 5, Inteligência 2, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 3, Esportes 4, Briga 5, Intimidação
5, Instinto Primitivo 4
Perícias: Furtividade 4, Sobrevivência 4
Conhecimentos: Investigação 3
Poderes: Couro Blindado (+3 dados de Absorção de
dano), Selvageria, Mutação Bestial, Massivo, Devorar (ga-
stando 1 ponto de Força de Vontade e testando Vigor +
Esportes, o Labatut pode engolir um alvo não maior que
uma criança por inteiro. Caso o alvo permaneça vivo ele
começará a sufocar. É possível tentar abrir caminho de dentro
para fora do estômago do monstro, ataques são realizados
com dificuldade 7 e o Labatut pode absorver ignorando o
poder Couraça), Garras e Presas, Regeneração, Tamanho
Gigantesco, Conexão Espiritual, Percorrer Atalhos
Fúria 3, Gnose 1 , Força de Vontade 5
Vitalidade: Ok, Ok, Ok, Ok -1, -1, -1, -2, -2, -5, Inca-
pacitado
Devorador de Fígados
Devorador de Fígados, ou Papa Figo, como é mais
conhecido, é na verdade um vampiro do clã dos Giovanni
chamado Pedro Lucas. Reza a lenda que este “homem” as-
sustador ronda as cidades do interior em busca de crianças
para devorar-lhes os órgãos. No entanto, apesar do tenebroso
instinto voraz, o infanticida possui algum resquício de hu-
manidade, pois sempre presenteia os parentes enlutados com
uma grande quantia de dinheiro, que é deixada na barriga
parcialmente devorada das crianças. A origem desta fortuna
faz parte da origem do necromante. Nascido em família rica,
Pedro Lucas estudou medicina e tornou-se um diletante da
alta sociedade, vivendo dos prazeres e do excesso. Em suas
muitas viagens a vida de Pedro tomou um rumo sinistro,
quando a maldição de Caim foi inoculada nas veias e no
coração dele. De aparência pálida e assombrado por nunca
mais ver o sol, a fome dele se tornou incontrolável. Acreditan-
do que a carne de crianças poderia curar sua condição, ele
passou a atraí-las para devorá-las e estudar os poderes da
morte, aprendendo a medicina do não-viver e os segredos
acerca dos sombrios domínios das Aparições e Espectros.
Atualmente seu conhecimento e poder são imensos, e ele
busca viver sozinho, mediante suas próprias leis, evitando
contato com outros Cainitas, em especial os Giovanni, com
os quais compartilha o sangue, mas há uma diferença essen-
cial no fato que Pedro Lucas é um individualista extremo,
mais se assemelhando a um Capadócio ou Lamia. Em suas
buscas no mundo dos fantasmas, acabou influenciado por
Wakoru, o que apenas intensificou seu individualismo.
Atualmente ele compreende a realidade da Fome, e como
tal se dedica inteiramente e eternamente a saciá-la. Apenas
sua fome importa.
Clã: Giovanni
Geração: Sétima
Natureza: Monstro
Comportamento: Penitente
Físicos: Força 5, Destreza 5, Vigor 5
Sociais: Carisma 4, Manipulação 6, Aparência 1
Mentais: Percepção 6, Inteligência 5, Raciocínio 5
Talentos: Prontidão 3, Esportes 3, Awarenes 6, Briga
4, Empatia 1, Expressão 2, Intimidação 6, Liderança 5,
Manha 3, Lábia 5
43
 Perícias: Empatia com Animais 2, Ofícios 4, Etiqueta 5,
Armas de Fogo 3, Crime 3, Armas Brancas 3, Performance
2, Furtividade 5, Sobrevivência 3
Conhecimentos: Acadêmicos 5, Finanças 5, Investigação
4, Direito 4, Medicina 6, Ocultismo 6, Políticas 3, Ciência 4
Disciplinas: Auspícios 5, Rapidez 3, Dominação 3,
Fortitude 5, Necromancia (Caminho do Sepulcro) 5, Necro-
mancia (Caminho das Cinzas) 5, Necromancia (Caminho dos
Ossos) 5, Necromancia (Caminho Cenotaph) 3, Ofuscação
2, Potência 5, Presença 2, Metamorfose 2
Rituais: (1) Chamado dos Mortos Famintos, Farol Miste-
rioso, (2) Occhio d’Uomo Morto, Fantoche, (3) Estrondo dos
Amaldiçoados, Tambores do Pesadelo, (5) Posse Fantasmagórica
Virtudes: Convicção 4, Autocontrole 1, Coragem 5
Força de Vontade: 10
Trilha dos Ossos: 4
Pontos de Sangue: 20
Corpo Seco
Corpo Seco é uma entidade da ninhada de Wakoru, um
avatar do poder da fome, personificado por um ser humano
esquálido, gigantesco e de enorme força. Embora Corpo
Seco tenha inteligência, ela é usada exclusivamente em prol
dos desígnios de Wakoru. Corpo Seco se manifesta a partir
do cadáver de algum ser humano (e mais raramente algum
animal) que tenha em vida agido de forma semelhante ao
Incarna da Fome. A partir do momento que o Corpo Seco
possui o cadáver desta pessoa, entretanto, qualquer resquício
de aparência ou memória é perdida. Sua fome é constante,
seu olhar é tenebroso e impossível de ignorar.
Físicos: Força 9, Destreza 6, Vigor 8
Sociais: Carisma 3, Manipulação 5, Aparência 0
Mentais: Percepção 5, Inteligência 3, Raciocínio 4
Talentos: Prontidão 5, Esportes 5, Briga 5, Empatia 1,
Expressão 3, Liderança 4, Intimidação 5, Instinto Primitivo 5
Perícias: Furtividade 4, Sobrevivência 4
Conhecimentos: Ocultismo 5, Rituais 5
Poderes: Controle Animal, Selvageria, Comer Cére-
bros, Causar Insanidade (fome), Garras e Presas, Genitália
Selvagem, Olhos da Wyrm, Homogeneidade, Imunidade ao
Delírio, Bocarra da Wyrm, Mega Atributo (x2), Entoperci-
mento, Regeneração, Sentir Gaia, Senso do Sobrenatural,
Tamanho, Conexão Espiritual, Bomba Estomacal, Força
Sobrenatural, Voz da Wyrm, Passagem Umbral
Fúria 6, Gnose 5, Força de Vontade 7
Vitalidade: Ok, Ok -1, -1, -1, -2, -2, -5, Incapacitado
Voz-das-Entranhas
Voz-das-Entranhas é uma Dançarina da Espiral que
teve sua primeira vida entre os Garou de Gaia. Entre os
humanos era chamada Isadora; como Peregrina Silenciosa,
44
seu nome era Hatshepsut, pois a tribo nômade tem a tradição
de adotar nomes de feitos com temas egípcios, como forma
de lembrar aos eternos despossuídos de sua terra e cultura
originários. E o batismo com o nome Hatshepsut deu à
Galliard uma enorme responsabilidade. Assim, com nome
da primeira faraó, esperava-se da Garou que alcançasse a
mesma grandiosidade em domínio, liderança, bem como
visão artística e estratégica, da mesma forma que fora a filha
do faraó Tutmés I. Mas Isadora nunca tivera esse tipo de
inclinação. Sua paixão não se voltava para as questões políticas
de sua tribo ou da Nação Garou. Seu peito queimava com
a paixão dos Galliard, é verdade, mas sua personalidade era
sombria e silenciosa. Ao invés de festejar e guerrear, a Lua
havia lhe abençoado com uma curiosidade profunda sobre
História, mitologia e todo tipo de Lenda Garou. Embora seu
comportamento se assemelhasse mais ao de uma Theurge, a
curiosidade que a impulsionava era bem mercurial, cheia de
paixão e impaciência, com uma voracidade pelos segredos
do passado que beiravam a obsessão.
Quando atingiu o posto de Adren, Hatshepsut peregri-
nou até o antigo continente, buscando um acesso seguro à
terra natal de sua tribo. Ela estava ciente das dificuldades e
maldições que seu povo carregava ao voltar às areias do Egito,
mas o destino a havia levado até ali e ela pretendia cumprir
a jornada, e por isso fez pactos espirituais para se fortalecer
e seguiu, com a mente focada apenas na missão: aprender o
infame ritual que a permitiria consumir o conhecimento dos
falecidos, e se tornar, de fato, uma Devoradora dos Mortos.
Não se sabe o que ela precisou sacrificar ou comprometer
para se tornar uma Devoradora dos Mortos, mas é sabido
que nos anos ela permaneceu na África sua mente ainda não
havia sido dominada pela Wyrm, e que mesmo praticando
o ritual, seu coração ainda pertencia a Gaia.
Quando voltou para o Brasil, entretanto, tudo mudou.
Depois de combater e derrotar alguns Garou que estavam
dominados pelo poder de Wakoru, Hatshepsut decidiu
descobrir que tipo de espírito havia dominado aqueles Lob-
isomens, e realizou o ritual, devorando os cérebros daqueles
que ela havia matado. A fome, então, se manifestou na mente
e no corpo da Peregrina, levando-a a um frenesi da Wyrm
que durou 3 noites. Ao raiar do dia, ela caía desacordada
e exausta, mas assim que a noite surgia ela voltava ao com-
portamento frenético, sempre em busca de mais alimento.
Ela comeu animais, humanos, garou, fomori, vampiros, e
devorou também sua mão esquerda. O que não sangrava em
grandes quantidades não era interessante para ela. Quando
sua fúria finalmente arrefeceu, ela estava louca. Sozinha
caminhou até o labirinto para descer a dança da espiral e
alcançar seu novo nome e seu novo propósito. Voz-das-Ent-
ranhas não é uma escolhida de Wakoru, mas uma profunda
estudiosa da história e das manifestações da Fome. Embora
a fúria das Três Noites Vorazes (como ficou conhecido o
evento pelos Dançarinos da Espiral Negra) nunca tenha se
manifestado de forma sequer parecida, Voz-das-Entranhas Perícias: Condução 2, Etiqueta 2, Armas de Fogo 1,
parece cada vez mais fanática pelo conhecimento que a Crime 3, Armas Brancas 2, Performance 4, Furtividade 2,
Fome lhe proporcionou. Quando questionada, ela relatará Sobrevivência 4
o evento como tendo sido um despertar religioso, ou uma
Conhecimentos: Acadêmicos 5, Computador 3, Enig-
revelação da real natureza do universo.
mas 5, Investigação 5, Direito 2, Medicina 3, Ocultismo 5,
Ficha: Como ficará claro ao ler o Ato III de Cordel da
Rituais 5, Ciência 1
Fome, Voz-das-Entranhas é uma antagonista a ser enfrentada
em aventuras futuras, servindo como cliff-hanger e também Antecedentes: Numem 4 (Espírito de Wakuru – Sabe-
como algoz de Marco Sombra-dos-Túmulos. Assim, apre- doria), Aliados 2, Destino 4, Contatos 4, Fetiche 5 (Dream
sentamos a ficha de personagem para os Narradores que Stealer e Partridge Wing), Recursos 2, Rituais 5, Totem 5
desejarem usá-la como um vilão em Cordel da Fome, e não Dons: (1) Persuasão, Visões do Duat, Sentidos Aguçados,
querem esperar por aventuras futuras. Para os Narradores que Comunicação Telepática, Aura de Veneno, Memória Perfeita,
desejam utilizá-la dentro do contexto da Crônica Caminhos Resistência à Toxinas, Sentir a Wyrm, Chamado da Wyld;
do Brasil, recomendamos que sigam as orientações do Ato III
(2) Línguas do Mundo, Gerar Ignorância, Comandar a
desta aventura, e impossibilitem o enfrentamento imediato.
Assembleia, Comunicação Onírica, Garras de Sepultura;
Raça: Hominídea
(3) Adaptação, Marca do Lobo, Senso do Sobrenatural,
Augúrio: Galliard
Canção da Sereia, Canção da Fúria, Bela Mentira; (4) Es-
Tribo: Dançarinos da Espiral Negra
conder o Lobo, Andarilho da Ponte, Bênção dos Sonhos,
Posto: Ancião (5)
Invocar Elemental, Banquete da Carne Humana, Uivo do
Físicos: Força 3, Destreza 3, Vigor 4
Maldito; (5) Assimilação, Humano Superior, Materialização
Sociais: Carisma 4, Manipulação 5, Aparência 2
de Sonhos, Loucura, O Uivo Branco
Mentais: Percepção 5, Inteligência 5, Raciocínio 5
Fúria 8, Gnose 9 , Força de Vontade 9
Talentos: Prontidão 4, Esportes 3, Briga 3, Empatia 4,
Expressão 5, Intimidação 3, Liderança 3, Instinto Primitivo
5, Manha 3, Lábia 2

45
 Capítulo Três:
Auto dos
Compadecidos
O cabra atira, eu me abaixo,
A bala passa...
Na catinga da fumaça,
Pego o nêgo no punhá
(Cantar às excelências das armas brancas, Cangaço)

Ato I: Pária Marcado

Adiante apresentamos os eventos encadeados de toda
a narrativa de Cordel da Fome. Ressaltamos que os testes

pra Morrer
indicados, bem como cada um dos passos da aventura, po-
dem ser adaptados de acordo com a vontade do narrador,
e também para equilibrar o nível de desafio apresentado
My legs ache
aos jogadores. Perceba que alguns elementos podem ser
expandidos, no entanto poucas são as adaptações possíveis my heart is sore
no ato I e no ato II. No entanto, o Ato III traz uma resolução the well is full of pennies
que envolve os dois períodos abordados pela aventura, e (Tom Waits - The Fall of Troy)
permite que os narradores explorem e expandam a aventura
como quiserem.
Cena Zero
Cordel da Fome se inicia, conforme já explicado, após a
realização do Ritual das Veias da Terra (veja Rios Profundos).
Este Ritual teve como propósito despertar o espírito do rio
e transformá-lo numa passagem espiritual em substituição
CAPÍTULO TRÊS: AUTO DOS COMPADECIDOS 47
às Pontes de Lua (uma vez que estas estão sofrendo ataques
em todo o Brasil). Tudo isso deve ficar explícito para os
jogadores, especialmente caso eles não tenham jogado
as aventuras Pontes Queimadas e Rios Profundos antes
de Cordel da Fome. A realização do Ritual, então, serve
como apresentação deste conceito para a narrativa que irá
transcorrer.
Após a realização do ritual as águas do rio parecem mais
profundas, caudalosas e límpidas, possuindo tons prateados
que seguem o curso das águas como partes emprestadas da
Lua que se reflete no rio penumbral. Os Personagens dos
Jogadores contemplam satisfeitos a manifestação de lunos,
que indicam o sucesso na realização do ritual. Agora eles
poderão pegar o atalho espiritual pelas “veias da terra”. Mas
as veias sangram… Logo que o rio se torna uma passagem
espiritual, suas águas são tingidas de escarlate. E logo vem
um homem boiando, à beira da morte.
Os jogadores devem socorrer o homem e trazê-lo para
as margens. Trata-se de Benedito Sem-Futuro (ver capítulo
2), um Ragabash dos Roedores de Ossos. Neste momento
alguns testes podem ser pertinentes, mas a dificuldade apli-
cada deve ser baixa. Considere fazer testes de Percepção +
Medicina para averiguar o estado de saúde de Sem-Futuro.
Sucessos indicam que ele está bastante ferido, e provavel-
mente acabou de ganhar alguma Cicatriz de Batalha. No
entanto, ele resistiu bem aos ferimentos, e o simples fato
de ter conseguido chegar ao local onde estão os jogadores
sem ter morrido afogado já indica que ele sobreviverá aos
ferimentos. Três ou mais sucessos indicam que ele tem
várias marcas de mordidas mal-cicatrizadas e apenas três
dedos na mão esquerda. Considere também pedir testes de
Percepção + Empatia para perceber a disposição mental dele.
Se os jogadores desejarem cuidar das feridas de Benedito,
seja através de cuidados simples ou mediante utilização de
dons, permita, mas assegure que o humor do Roedor de
Ossos permaneça soturno. Benedito “Sem-Futuro” então
agradecerá, e sem qualquer sombra de cerimônias explicará
o que aconteceu:
“E eu sou Benedito Sem-Futuro, brigado por terem me aju-
dado. Eu venho da Paraíba, mas eu… tava enjaulado num... eu
num sei dizer o que mizéra era aquele lugar, um calabouço? Uns fi
da peste me pegaro e me jogaro nesse lugar, sem janela, sem porra
nenhuma, um calabouço com catinga de merda e sangue véi. Nem
sei quanto tempo eu fiquei naquele lugar, mas eles sempre voltava,
os Maldito… Umas alma sebosa mais carnicenta que Lucifér. Eles
parecia gente, se tu considerar que gente tem braço, perna e quengo.
Mas de parecido parava por aí. Eles tinha uns dente diferente,
pontudo e… eles queria me comer. Tavam me guardano igual se
guarda banquete na dispensa, mas ao invés de me engordar, eles me
deixaram foi passano fome. No início isso me deixou muito confuso
e fraco também, é lógico; mas mais confuso do que fraco… Que tipo
de desgraça é essa que ao invés de me devorarem gordo, me deixaram
à míngua? É pra chupar meus ossos secos? Era meu tutano que
48
eles queriam? Todo dia eles voltavam pra me cheirar, me lamber,
morder meus braços e minhas coxas, e ficavam satisfeitos quando
a fome fazia a minha barriga urrar de dor… eles tavo se divertino
comigo, e foi numa dessas que eles tentaro arrancar minha orelha.
Eu tava magro que nem a miséria, mas ainda tava claro feito
o dia que eles tavam me preparando prum banquete, mas não era
só meu tutano que eles queriam não. Eles também queriam saber
onde estava Sombra-dos-Túmulos (Benedito parece mais sério ao
mencionar este nome, mas continua). Sombra-dos-Túmulos é
um cabra bom, um Peregrino Silencioso Philodox. Nós já corremos
juntos, mas nossos caminhos se separaram... E por isso mesmo eu
num fazia a mais puta ideia o que os Malditos queriam com o
Peregrino. Eles vinham, arrancavam um pedaço de mim na dentada,
e perguntavam “Onde está Sombra-dos-Túmulos?” mas mermão eu
num tinha mais nada pra dizer praqueles desgraçados. Eles tinham
pegado o cabra errado, e se eles iam me comer, eles podiam começar
pela língua, porque eu não ia falar nadinha. Num é porque Som-
bra-dos-Túmulos tá distante que eu vou trair meu irmão.
Então era isso, eu ia morrer, mas ia morrer calado. Só que
antes disso o Rato veio e me salvou. Ele roeu e cavou até onde
eu tava, e guinchou um nome enquanto eu tava delirando; Ele
gritou “Wakoru!”. Eu tava alucinando, mas pensei que talvez,
só talvez, os Malditos quisessem Sombra-dos-Túmulos pro mesmo
propósito que tinham me escolhido: Sofrer de fome pra servir de
alimento numa Orgia Canibal onde todo mundo é o prato do
dia. Eu não sei donde veio essa ideia, talvez fosse uma visão dada
pelo Rato, talvez fosse a fome me deixando maluco, mas eu sabia
que de alguma forma isso tudo era verdade. Mas eu ainda tava
preso por correntes de prata num calabouço sem janela. Mas se o
Rato tinha chegado até ali, eu não ia decepcionar, eu ia seguir a
inspiração e sobreviver, sair daquela merda de lugar. Eu roí meus
dedos pra me soltar... (Benedito mostra a mão com 3 dedos,
e sorri ironicamente, ainda combalido pela dor) acho que
honrei o nome da minha tribo. Daí eu peguei aquele rato e comi
ele. Não era carne de verdade, mas o sangue do espírito me deu o
suficiente só preu sair de lá. Cavei meu caminho, desesperado e
sem dedo, sem o lobo, sem força... e fugi.”
Após essa explicação, Benedito pedirá que os jogadores
assegurem que Marco “Sombra-dos-Túmulos” está bem, uma
vez que ele mesmo não sabe se seu companheiro foi capturado
pelos mesmos servos da Wyrm. Benedito “Sem-Futuro” de
fato não sabe a atual localização do Peregrino Silencioso, mas
informará aos jogadores que ele tem costume de peregrinar
pela caatinga cearense sozinho, se valendo apenas do auxílio
dos espíritos de Gaia e dos fantasmas que assombram seu
caminho. Cabe aos jogadores decidirem a forma que irão
procurar o Peregrino Silencioso, mas algumas possibilidades
comuns são: utilização de dons e fetiches específicos para
rastreamento, ritual da pedra caçadora, acordos com espíritos.
Aconselhamos aos Narradores que “acelerem o pas-
so” desta busca por “Sombra-dos-Túmulos”, uma vez que
encontrá-lo não deve ser um desafio maior do que o que
está por vir. No entanto, esta é uma boa oportunidade para
descrever as mudanças na paisagem conforme os Garou
se aproximam do Estado do Ceará (onde Sombra-dos-Tu-
mulos está, mais especificamente na cidade de Cococi
- ver capítulo 2). Descreva as estradas que dão lugar para
as trilhas na caatinga e a amplitude das regiões ermas do
interior. Destaque a drástica mudança de temperatura,
ressaltando a secura do ar, a forma como a vegetação se
torna esparsa, retorcida e ressequida, além da inclemência
do sol e a vastidão árida da Mata Branca* (*outro nome
utilizado para a Caatinga). Exigir testes nesta etapa pode
contribuir para essa sensação avassaladora do clima da
região, mas tais testes devem servir para ressaltar a árdua
vida do sertão e não como desafio real; considere Vigor
+ Sobrevivência, dif. 6.
Cena Um
Depois de uma busca monótona, marcada pelo mor-
maço e pela escassez, os Jogadores entenderão que o local
onde “Sombra-dos-Túmulos” está é uma verdadeira cidade
fantasma chamada Cococi (ver Capítulo 2 para maiores
informações). A chegada na cidade se dá durante o dia,
e os jogadores avistam um portentoso Mandacaru do Sol
como única forma de vida naquela região. É importante
que o narrador descreva o Mandacaru na chegada, para
que posteriormente, durante a noite, ele fique invisível,
causando estranhamento entre os jogadores.
Além do Mandacaru do Sol há alguns calangos
no chão e gralhas e carcarás que sobrevoam Cococi,
mas além disso não há alma viva no lugar. Se Marco
“Sombra-dos-Túmulos” está na cidade, deve estar se
escondendo nas muitas ruínas deste antigo povoado que
mais parece uma nódoa no meio do sertão. Neste lugar
a película é quase tão fina quanto em um Caern, mas
a aproximação com o Mundo Espiritual não traz uma
sensação agradável de segurança. Muito pelo contrário,
até mesmo sob o sol a pino o suor escorre gelado pela
espinha de quem lá pisa, pois Cococi não abriga almas
vivas, mas diversas desencarnadas.
No céu de azul intenso voam pássaros escuros em
torno do disco solar, enquanto os jogadores chegam à
cidade num calor punitivo. Na cidade não há manifes-
tações fantasmagóricas para serem vislumbradas durante
o dia, a não ser que os Jogadores estejam ativamente in-
vestigando o local (e eles estarão, uma vez que buscam por
Marco “Sombra-dos-Túmulos”). No entanto, espere que
os jogadores peçam para investigar a região e a Penumbra
para só então descrever as manifestações fantasmagóricas.
Mesmo assim, durante o dia elas serão mais sutis, menos
intensas. Aproveite para deixar que os jogadores andem
pelas construções abandonadas, cheias de tijolos, mato,
insetos e lixo velho… Aproveite para olhar o capítulo dois
e inserir em sua narrativa algumas informações do local.
No entanto, Marco não parece estar lá…
49
Cena Dois
Ao cair da noite os Mortos se manifestam na cidade
fantasma, e neste momento os jogadores poderão encontrar
o Peregrino Silencioso. No entanto, ele estará numa situação
bastante incomum: enterrado por completo na terra dura e
ressecada da caatinga, com apenas o rosto à mostra, como
alguém que se afoga na terra e tem apenas o nariz e boca sobre
a superfície, buscando por ar, mas cheio de areia nas narinas,
língua e entre os dentes. Para perceber Marco enterrado na
terra batida da Rua Única em meio à Procissão dos Mortos,
exija um teste de Percepção + Ocultismo (sim, isso mesmo.
Ocultismo. O motivo será esclarecido adiante). Na verdade
Marco está aprisionado nas teias da Película do lugar, e os
Fantasmas que o rodeiam em meio à procissão se amontoam
para exigir sua atenção (isto significa que Marco, como um
Peregrino Silencioso, teve uma falha crítica ao atravessar a
Película em Cococi, e ficou preso nas teias da Weaver. Como
defeito tribal, os Fantasmas foram atraídos para onde ele
estava). Para desenterrar Marco serão necessários testes de
Gnose com a dificuldade da película local, 5. Depois de
solto, Sombra-dos-Túmulos tosse muito, cospe uma grande
quantidade de terra, e se esforça para falar:
Saiam daqui! Esse lugar está cheio de mortos, vocês não
deviam estar aqui!
Apesar de aconselhar com veemência para que deixem
o local, Marco mudará sua disposição quando os jogadores
explicarem sobre Benedito “Sem-Futuro”. O Peregrino Si-
lencioso demonstrará preocupação com o Roedor de Ossos,
mas dirá que não pode sair deste lugar até que tenha satis-
feito a vontade dos mortos. Esta decisão, entretanto, deve
parecer muito arriscada, uma decisão quase suicida. Para os
jogadores que viram o estado deplorável de “Sem-Futuro”,
a escolha de permanecer em Cococi deve equivaler a servir
de isca para os mesmos servos de Wakoru que sequestraram
Sem-Futuro.
Questionado, o Peregrino tentará se esquivar de
responder, mas eventualmente explicará que uma alma
penada de Cococi implora por descanso (ver Fantasma
Sedento, Cap. 2) e o impede de sair deste lugar. Mas sua
busca tem sido infrutífera, e talvez o auxílio dos jogadores
o permita sair mais rapidamente de Cococi, e se livrar de
quaisquer Servos de Wakoru que possam estar no encalço
de “Sombra-dos-Túmulos”.
“Já estou aqui há algumas luas. Cheguei aqui seguindo essa…
procissão de mortos. No início foi uma confusão, porque todas essas
almas suplicavam por ajuda, e alívio, e perdão, e outras coisas...
E eu já aprendi que você não ignora a exigência de um morto, a
não ser que queira ser acompanhado para onde quer que vá. Só
que nem em sonho eu poderia resolver as dores de todos os mortos,
nem mesmo num lugarzinho miúdo que nem Cococi; eu sou um só.
Então eu tive que decidir que se eu não ia silenciar todas as almas
vagantes, eu podia pelo menos me focar numa só dor... Eu comecei
50
sentindo aqui, na minha garganta. Era como se tivesse cascas de
ferida e areia, minha vista também começou a embaçar. Então
eu ouvi lamentos no chão. Eu… ouvi choros, vindo do subsolo. Eu
sabia que não ia adiantar só cavar, então percorri atalhos, mas ao
fazer isso o morto que chorava ergueu a mão do chão e me agarrou,
e começou a me puxar para baixo, pra onde ele tava, enterrado
no pó ressecado. Se não fosse por vocês terem me achado eu logo,
logo ia me juntar aos mortos. Mas enquanto a alma me puxava
eu comecei a entender: Era uma pobre alma entre as centenas do
Sertão, alguém que só queria um pouco d’água. Havia percorrido
a caatinga até chegar aqui, mas ao encontrar a cidade abando-
nada, fez um pedido com o único dinheiro que tinha, e morreu
com o estômago vazio, delirando. E não há nessa mizéra de lugar,
nem uma gota pra saciar a sede dessa alma. Nem no poço, nem
na fonte, muito menos nas nuvens. E eu não tenho como sair
daqui sem ajudar a saciar a sede do morto, senão a sede dele vai
me perseguir pra onde eu for, e vai me transformar em mais uma
alma vagante de Cococi.”
Permita que os Jogadores interajam com Marco, e repita
as informações por ele ditas, especialmente citando o poço, o
subsolo, a sede. Testes de Inteligência + Enigmas (dificuldade
6) revelam uma relação entre esses elementos: Se o morto
desejava beber, e arremessou no poço a única moeda que
tinha antes de morrer de sede, talvez seja por esse motivo
que ele estava arrastando Marco “Sombra-dos-Túmulos”
para debaixo da terra. Testes de Inteligência + Ocultismo
(dificuldade 7) bem sucedidos corroboram esta tese, uma
vez que os espíritos de mortos frequentemente se vinculam
a objetos, lugares e pessoas no mundo material, como uma
ancoragem de seus sofrimentos; são os chamados Grilhões,
e um Theurge experiente saberá que a moeda arremessada
concentra o desejo por água que salve a vida daquele que
já morreu e ainda sofre de sede.
OBSERVAÇÃO AOS NARRADORES
Procure mostrar que Marco “Sombra-dos-Túmu-
los” parece bem inteligente, embora sua insistência
em não adiar a missão do Fantasma possa parecer
insensata, e até mesmo tão louca quanto um Presa
de Prata que se recusa a mudar de percurso mesmo
quando sua matilha está indo despreparada para o
covil de inimigos. No entanto, caso os personagens
de jogadores sejam Peregrinos Silenciosos, Uktena,
ou tenham relações intensas com os espíritos de
mortos, as motivações de Sombra-dos-Túmulos
talvez não pareçam assim tão sem sentido. Mas é
importante que os jogadores se vejam compelidos
a ajudar o Peregrino Silencioso, para assim garantir
que ele não demore em sua missão, e todos eles não
sejam capturados pelos mesmos servos da Wyrm que
sequestraram e torturaram Benedito Sem-Futuro.
Cena Três
Na proximidade do Poço Seco os jogadores sentirão sutis
emanações do poder emocional que se concentra ali, graças
à presença das Moedas de Sonhos e também o espectro do
Poço, o Colecionador de Moedas (veja o capítulo 2, para
informações detalhadas). Os jogadores deverão interagir com
o espectro, mas para isso precisam deliberar e decidir sobre
a melhor maneira de fazê-lo. Entrar no poço exigirá testes
de Força + Esportes (dificuldade 8), feito necessariamente
nas formas Hominídea ou Glabro, pois a forma Crinos é
grande demais para o espaço e as formas Hispo e Lupina
não são capazes de executar tal escalada. Falhar neste teste
resulta em 4 níveis de dano contusivo. Mas o verdadeiro
desafio está em interagir com o Espectro. Em primeiro
lugar, a criatura não se assemelha com qualquer coisa que
eles conheçam (exceto, é claro, se interações com Aparições
já tenham ocorrido previamente nos jogos, ou caso façam
parte dos backgrounds dos personagens em questão). Em
segundo lugar, a criatura parece extremamente hostil, e é
difícil mensurar seus poderes ou capacidades (narradores
podem pedir testes de Raciocínio + Ocultismo, ou Percepção
+ Ocultismo para que os personagens possam extrair qualquer
informação sobre o Espectro. Como é interessante que os
jogadores aprendam uma ou outra informação sobre o Co-
lecionador de Moedas, sugerimos dificuldades baixas para
esse teste, mas não baixas o suficiente para que os jogadores
aprendam tudo o que há para se descobrir. Lembrem-se: o
terror é construído, principalmente, pela falta de informação
e pelas lacunas no conhecimento. Permita um espaço para o
estranhamento. Desta forma, sugerimos que a dificuldade seja
5, caso a parada de dados dos jogadores seja muito baixa, ou
6, caso a parada seja de 4 ou mais dados). Mas mesmo que
o Narrador decida por não pedir testes, os Jogadores devem
perceber com clareza que o Espectro se apega ferozmente às
moedas jogadas no poço. Depois de perceberem isso, Marco
“Sombra-dos-Túmulos” dirá com uma voz fantasmagórica:
“O último desejo de vida, consumido por uma sombra perdida.
O último pedido, um gole de água, uma gota que seja um dilúvio,
para acabar com a caminhada oprimida. Eu sonho com o descanso
plácido em águas cristalinas”.
Testes de Inteligência + Enigmas (dificuldade 6) revelam
que Marco está falando com a voz de um Fantasma. Não
se trata do Espectro Colecionador de Moedas, mas sim
do Fantasma Sedento (capítulo 2), que atormenta Marco,
buscando por descanso. E o que impede o descanso deste
Fantasma é justamente o Espectro, o Colecionador que
suga da moeda arremessada pelo fantasma (pouco antes de
morrer) a paixão materializada naquele objeto mundano.
“Não traga as sombras pra mim, elas são tuas, espectro! Não
beba o que pedi, pois essa sede é minha! Me devolva meu desejo,
e me deixe descansar”
Neste momento o Colecionador de Moedas falará
pela primeira vez, em resposta ao Fantasma Sedento que
controla Marco:
“Uma moeda é um instrumento de troca. O que você me oferece?”
“Pelo meu descanso? O que quiser”
“Eu quero um sonho, eu quero uma emoção, eu quero uma
lembrança, eu quero uma visão”.

PORRADA NO FANTASMA!
Narradores devem estar atentos para três fatos: Em se tratando de um jogo de Lobisomem, os jogadores
podem muito bem decidir resolver tudo isso “na base da porrada”, tanto com o Espectro, quanto com os Corax.
No entanto, essas atitudes serão infrutíferas, posto que os Fantasmas não habitam e não interagem com os mun-
dos da mesma forma que os Garou (e portanto o Espectro pode simplesmente sumir do poço, levando consigo
as moedas), e os Corax levantam vôo com o mínimo sinal de perigo, mas atacarão à distância impedindo que os
Garou cheguem ao Mandacaru do Sol. Adicionalmente, novos Corax chegarão em defesa da planta a cada turno,
deixando claro que essa batalha não obterá o resultado desejado. Em segundo lugar, a Fúria é uma constante, e
mesmo que os jogadores não decidam sozinhos que vão agir de forma agressiva, a situação pode levá-los a isso.
Independente do motivador, caso o jogo caminhe para a violência nessa parte, permita; mas demonstre de forma
inequívoca que este não é um método adequado para lidar com os Fantasmas e com os Corax. Isso pode acarretar
na situação desagradável, mas por vezes incontornável: exigir que os jogadores “tentem novamente”, dessa vez de
forma não-agressiva, e com as dificuldades levemente aumentadas. Isso não deve representar uma punição, mas sim
uma forma de ilustrar que as atitudes agressivas terão consequências negativas e frustrantes para os personagens
dos jogadores ao lidarem com Corax e Aparições. E por último, caso os jogadores encontrem formas criativas
para fazer a troca com o Espectro sem precisarem da Água de Mandacaru do Sol ou o Olho do Morto, permita.
Valorize as ideias dos jogadores. Talvez o que eles tragam para a mesa não seja uma troca tão perfeita quanto a
Moeda dos Sonhos pela Água de Mandacaru do Sol ou o Olho do Morto, mas se eles alcançarem o objetivo do
desafio de forma criativa, efetivamente fornecendo uma emoção real (e alheia) ao Espectro, recomendamos que
os Narradores valorizem a ação tomada pelos jogadores, facilitando as interações posteriores com os Corax. Neste
caso ignore a Cena 4 e vá direto para a Cena 5.
51
 Peça por um teste Inteligência + Enigmas (dificuldade
5), embora muito provavelmente os jogadores possam in-
tuir facilmente o que o Espectro deseja: uma forte emoção
roubada. Mesmo assim exija o teste, para que a resposta
que eles buscam fique clara e para que as opções sejam mais
amplas. Os sucessos fornecem pistas de como os jogadores
podem agir: Eles podem oferecer ao Espectro algum tipo
de história ou canção, podem solicitar aos espíritos de Gaia
algum favor mediante rituais de compromisso, podem sac-
rificar algum Fetiche que abrigasse Espírito de Sabedoria
ou de Guerra; mas nenhuma dessas opções agradará tanto
o Espectro do que uma literal troca de emoções. A não ser
que os jogadores tenham uma ideia muito criativa para
solucionar este problema, exija uma quantidade mínima
de 5 sucessos (coletivos) no teste de enigmas para a melhor
solução possível, que é obter Água de Mandacaru do Sol,
capaz de saciar qualquer paixão. Os personagens avistaram
um Mandacaru do Sol ao chegar a Cococi.
Cena Quatro
Ao se aproximarem do Mandacaru do Sol, os Corax
do Parlamento das Gralhas pousarão na planta de forma
hostil e impedirão que qualquer um se aproxime. Um teste
bem sucedido de Inteligência + Ocultismo ou Rituais fará
os personagens estranharem tal comportamento, visto que
mesmo em menor número, a matilha oferece grande ameaça
ao povo-corvo e o mais comum seria que as aves voassem para
longe. Um teste de Percepção + Empatia também deixará
claro que os Corax guardam algo de especial no local.
Para lidar com os Corax vários testes sociais podem
ser pensados, a critério do narrador. O metamorfos corvos
não permitirão que o Mandacaru do Sol seja violado, mas
podem se compadecer com o drama que envolve o Fantasma
Sedento e Marco Sombra-dos-Túmulos, e afirmarão que
possuem uma solução para a sede espiritual; mas que para
isso será necessário que eles jurem não se aproximar ou
interagir com o Mandacaru do Sol. Se o acordo for selado,
Sentado-no-Ninho (ver Capítulo 2) presenteará a matilha
com um Olho do Morto, repleto de energia emocional que
poderá ser trocado pela Moeda dos Sonhos com o Espectro.
Cena Cinco
Assim que a troca da Moeda dos Sonhos for realizada
(seja pela Água de Mandacaru do Sol, pelo Olho do Morto
ou por qualquer outra opção criativa trazida pelos joga-
dores), Marco Sombra-dos-Túmulos voltará a si, e dirá que
o Fantasma Sedento se foi. Ele estará muito agradecido e
dirá que não possui posses para oferecer aos personagens,
mas irá presenteá-los com aquele presente que nunca pode
ser perdido depois de recebido: uma canção. Então cantará,
como agradecimento, A Última Melodia de Asa Branca (ver
Lendas Garou no início deste livro).
Embora não cante a canção inteira, as primeiras estrofes
52
cantadas são acompanhadas de um som grave e alto;, como
uma vibração contínua vinda de fora da cidade. Logo em
seguida o crocitar de dezenas de corvos agitados. Seguindo
o som, chegarão ao Mandacaru do Sol, onde o Parlamento
das Gralhas está alvoroçado sobrevoando um grande Ovo
Místico acomodado dentro de uma grande flor de Mandaca-
ru. O ovo brilha e vibra.
“E-eu já vi isso antes!” dirá Marco “Mas não assim, de
perto. Só como visões mesmo, que eram trazidas por outros mortos.
Isso é… o Ovo de Asa Branca, o verdadeiro?”
O velho Corax, Sentado-no-Ninho confirmará que se
trata do Ovo de Asa Branca.
“Sim. Ele está aqui há décadas e eu o protejo com a minha
vida. Mas ele nunca chocou, nunca soubemos seu real significado”.
“Então só pode ser isso, os servos da Wyrm que pegaram Sem-Fu-
turo deviam estar atrás disso.” - o olhar de Sombra-dos-Túmulos se
enche de humor sombrio - “vocês querem ouvir a história deste ovo?
Pois o que ele guarda não é outro pássaro ou um tesouro Calon.
Se vocês quiserem saber, eu conto. Ou melhor, eu canto, pois o que
esse ovo guarda de Asa Branca é sua última melodia, um espírito
em forma de Canção”.
Neste momento, Marco Sombra-dos-Túmulos começará
a cantar a Última Melodia de Asa Branca (ver o conto que
abre o livro), e recomendamos que os Narradores realmente
cantem esta canção. A música não é apenas uma música
composta por um Corax do passado, ela é uma canção
que resume as aventuras de uma lendária Matilha de Can-
gaceiros, e tem o poder de dar vida à história. Em outras
palavras, a canção terá o poder de fazer com que os jogadores
incorporem memórias, levando-os ao passado, nos corpos e
consciências de outros Garou: a matilha dos Cancioneiros
do Luar Sozinho.
A canção fará o ovo brilhar e vibrar mais intensamente.
E Marco incentivará que outros cantem com ele. Aos poucos
os Corax entrarão no coro, fazendo com que o ovo brilhe
e vibre mais, porém, ele só irá chocar quando toda uma
matilha de Garou cantar a Última Melodia de Asa Branca.
Ato II: Deus e o Diabo
na Terra da Fúria
History recedes in my rear-view mirror
Carried away on a wave of music down a desert road
(Workin’ Them Angels, Rush)
Muitas considerações e cuidados são importantes nesta
fase de Cordel da Fome, pois a proposta a partir daqui é
que os jogadores assumam o papel de outros personagens.
A primeira e mais importante consideração é que os perso-
nagens criados pelos jogadores não serão jogados fora, não
serão esquecidos, não ficarão estacionados na narrativa por
muito tempo, e nenhum prejuízo cairá sobre eles enquanto os
jogadores estiverem interpretando os cangaceiros da matilha
Cancioneiros do Luar Sozinho. Embora para muitos essa
preocupação possa parecer zelo excessivo, é importante que
Narradores não deixem de fazer esse esclarecimento, pois
muitos jogadores se tornam bastante apegados aos seus
personagens.
Em segundo lugar, é importante dizer que toda experiên-
cia que se ganhe com os Cangaceiros servirá para ambos os
personagens, isto é, os jogadores receberão a experiência
duas vezes: a primeira vez para que seja gasta apenas com o
Antecedente Campo de Caça, no papel dos Cancioneiros
do Luar Sozinho, e posteriormente redistribuída (mesmas
pontuações) para que os personagens criados pelos jogadores
gastem da maneira que desejarem. Como a consciência
dos personagens de jogadores presenciam e atuam como
memórias dos Cancioneiros, tanto os Cangaceiros quanto
os Garou da atualidade se valem da experiência obtida.
Em terceiro lugar, é importante que os Narradores per-
mitam aos jogadores se adaptarem aos novos personagens.
Sugerimos que a transição entre personagens de jogadores
e cangaceiros ocorra entre uma sessão e outra, para que os
jogadores possam ler os backgrounds e passem a se familiarizar
com Diro, Zé de Arimatéia, Isabel, Melquisedeque e Iracema.
E, finalmente, os personagens de jogadores receberão
um benefício após a jornada como Cancioneiros do Luar
Sozinho, um benefício que vai além da experiência: os joga-
dores ganharão, cada um, 1 ponto do antecedente Númen
(ver Werewolf: The Apocalypse 20th Anniversary Edition), com
o espírito do Carcará (totem dos Cancioneiros do Luar
Sozinho, que abençoará de forma diferenciada cada um dos
jogadores, por terem redescoberto a lembrança da matilha
do cangaço).
Cena Zero
A Canção tem uma simples e harmoniosa melodia, que
é repetitiva, mas demonstra uma progressão. Ela incha com
paixão e os acordes abandonam sutilezas para trovejarem
no ritmo de corações, bombeando o sangue até uma brusca
pausa. É no retomar repentino que o sangue passa a circular
ao contrário, conforme ecoam os trovões e explodem as
emoções para fora das caixas torácicas, atingindo como flechas
mágicas o firmamento. O céu ganha uma enorme rachadura,
que se expande para permitir que o mundo se desfaça. Na
verdade o mundo não acaba, ele se abre. A compreensão vem
como lampejos dolorosos: A Canção de Asa Branca ressoou
pelas teias e amarras da Weaver e as rompeu, distorcendo o
espaço-tempo, com um convite para uma viagem. A recusa
é impossível. Os Garou enxergam o céu se abrindo como
se eles fossem as aves rompendo o ovo, a primeira forma
de suas vidas. Assim como a ave, seja Tata’Krenak ou um
Carcará, o primeiro mundo se quebra e uma nova realidade
se descortina. Vocês escorregam pelo tempo.
Aos teus olhos a história retrocede em passo cada vez
mais acelerado. Vocês escutam a badalada dos sinos como se
os momentos estivessem acumulados, sobrepostos, e a tessi-
tura do tempo pudesse ser percorrida com aquela melodia.
Vocês veem o passado correndo enquanto sobrevoam na
Canção de Asa Branca até o tempo pretérito, onde começa
a primeira estrofe.
A carne dilacerada e trêmula, / no bico do Carcará, / ainda
lembra e teme a fúria / dos Cancioneiros do Luar.
Vocês avistam tal ave enquanto sobrevoam o passado na
Melodia de Asa Branca, mas são arremessados. Vocês caem e
rodopiam, com medo, como personagens de uma história de
cordel. Um Cordel através do tempo. O Carcará se alimenta

PROBLEMA DE CANCIONEIRO
A Matilha dos Cancioneiros do Luar Sozinho é composta de cinco membros, cada um pertencente a um
augúrio. Ao início do Ato II, os jogadores devem decidir quem ficará com cada personagem. Há três possibilidades
em que problemas podem surgir: Em primeiro lugar, a matilha do presente pode ser menor do que a matilha
dos Cancioneiros do Luar Sozinho. Nesta hipótese os jogadores escolhem os papéis que desejam interpretar,
e os demais ficam sob controle do Narrador como NPCs. O único papel que deve sempre necessariamente ser
interpretado por um jogador é o Melquisedeque “Risca-Faca”.
A segunda hipótese é a de que faltem personagens entre os Cancioneiros para uma matilha grande no tempo
presente. Caso existam mais jogadores do que papéis a serem interpretados no passado, importe o personagem
Rufino “Cartucheira” para a matilha dos Cancioneiros do Luar Sozinho, uma vez que o background histórico
dele é o mais facilmente adaptável. Caso ainda faltem personagens; na hipótese mais rara, de uma matilha de
sete membros no tempo presente, aproveite para criar novos personagens para a matilha.
Em terceiro lugar, caso exista um número de jogadores menor do que o número de integrantes da matilha,
o narrador pode pedir para que os jogadores interpretem todos os personagens durante as cenas 0, 1, 2, 3 e 4.
Apenas na cena 5, quando todos os membros da matilha estão reunidos, os Jogadores teriam de escolher qual
daqueles que interpretaram que mais gostaram.

53
da carcaça de uma presa abatida sob a lua minguante, em
honra ao bando, ao Cangaço, aos Parentes e à lua da paixão.
Empoleirado em uma árvore retorcida ele observa a Matilha,
logo após a caçada, reunidos em sintonia. Melquisedeque
“Risca-Faca” é o primeiro a comer, mas sua compaixão o leva
a compartilhar com seus irmãos. Diro “Serra-Bucho”, com
cheiro de cachaça e sangue. “Coroa-de-Frade”, abençoado
e amaldiçoado pelo nome de Impuro, Iracema “Dego-
la-Coronel”, a mais furiosa dentre os presentes, e Isabel
“Segue-o-rastro-Agreste”, com a parcimônia crepuscular de
uma Philodox. A presa abatida era um veado-virá, um bicho
pequeno, mas que deveria ser o bastante para saciar... Não
era, mas a vida no sertão havia ensinado aos Cancioneiros
do Luar Sozinho a disciplina para calar a fúria enquanto
houvesse algo pra comer, ainda que pouco; era uma bênção
de Gaia poder se alimentar.
- Encham o bucho, irmãs e irmãos. A bóia é pouca, mas é
assim que a gente garante que pros Parente não vai faltar.
É “Risca-Faca” quem diz, enquanto limpa a boca.
Sua palavra é inspiradora, mas carrega a ordem de um Alfa
que respeita o Dogma do totem da Matilha, que ainda está
pousado sobre o galho retorcido de uma árvore entre os
Cancioneiros e o Luar. Assim que todos se alimentam, o
Carcará canta e alça voo, indo na direção de um dos vilarejos e
fazendas próximas, onde há Parentes tanto dos Cancioneiros
do Luar Sozinho, quanto o da matilha liderada pelo arqui-rival
54
de Melquisedeque, o Cria de Fenris Venâncio Matalindo,
Alfa dos Calangos. Melquisedeque “Risca-Faca” observa
a imagem do totem ir em direção à Lua e aos Parentes, e
entende a mensagem.
- Eu devo ir. É a minha lua que brilha e os Parentes já começam
o festejo na Serra das Tragédias. Vou encontrar Asa Branca.
Mas vocês, terminem logo de comer, e se aprumem aí. Vou passar
missões para vocês. Diro e Iracema, Antônio tá sumido há dois
dias. Diz ele que recebeu uma pista de uns macaco da volante se
aproximando do nosso rastro. Ele foi para o sul e disse que na noite
de hoje teria voltado, mas até agora não apareceu. Cês vão até
a estrada pela caatinga, descobre se Antônio Coiteiro tá vivo ou
tá morto, e também se os boatos que ele ouviu eram verdadeiros.
- A estrada a sul daqui não é a única rota a ser defendida, “Risca
-Faca”
- Tu tem razão, Isabel. Então tu honra teu nome e segue o rastro
agreste até Água Boa. Lá ao Norte há outros Parentes. Segue pra
lá com “Coroa-de-Frade”.
“Coroa-de-Frade”, também chamado Zé de Arimatéia,
é um impuro com a pele grossa como um Cacto, cheia de
espinhos e pêlos endurecidos. Ele não se sente à vontade
para ter com humanos, mesmo que sejam Parentes. Mas o
real motivo da recusa é outro. Coroa-de-Frade explica:
- Como tu disseste, “Risca-Faca”. É lua minguante. A lua
das paixões, mas das visões também. Eu não vou até os Parentes,
porque os espíritos me esperam no Sertão. É meu papel como
Theurge dessa matilha.
- Pois bem. Lua Nova e Lua Cheia para as divisas ao sul,
Meia-Lua para o povoado a norte daqui. Eu vou ter com os Parentes,
e o Lua Crescente com os Espíritos.
Tudo isso serve para guiar o início da narrativa
do Ato II, permitindo algum tempo para o Narra-
dor e Jogadores encontrarem o tom e se sentirem
confortáveis neste cenário. Adiante a narrativa
começa a ficar um pouco mais solta, e com maior
participação dos Jogadores. A partir deste ponto o
Narrador e jogadores terão maior liberdade para
atuarem de maneira livre, embora o encadeamento
de cenas precise ser o mesmo apresentado aqui. Esta
maior liberdade não deve ser confundida com um
estilo de jogo sandbox, onde diversos plots estão
dispostos para serem encontrados de acordo com
a ação exclusiva dos jogadores. A liberdade da
qual falamos representa apenas uma possibilidade
de fazer com que cada cena seja maior, ou menor,
de acordo com a necessidade do Narrador e do
interesse dos jogadores.
Cena Um (Diro e Iracema)
Os Garou se dividem, e apenas Diro e Iracema agem em
dupla. Eles conhecem muito bem as trilhas e esconderijos
da caatinga, e vão se aproveitando das sombras da noite e
da esperteza do Ragabash e da estratégia da Ahroun para
encontrarem o melhor caminho até as estradas ao sul. Caso o
Narrador considere interessante neste momento, exija testes
de Sobrevivência + Percepção, para descobrir os melhores
caminhos, Destreza + Furtividade para se aproveitar melhor
dos esconderijos e da mata, e Inteligência + Sobrevivência
para calcular os caminhos a serem evitados (normalmente
estes caminhos serão os de maior proximidade com pequenas
vilas, fazendas e estradas, além de qualquer terreno por onde
seja fácil cavalgar. A melhor opção para Diro e Iracema é
buscar locais inabitados onde há alguma mata, e que seja
próximo o suficiente das estradas, sem que a presença deles
seja notável); peça dificuldades baixas para estes testes, uma
vez que são mais preparação de terreno do que desafios reais.
Ao chegarem à região destinada ao encontro com Antô-
nio Coiteiro, estarão bem próximos da estrada por onde a
Volante passará. Não demora até que o Coiteiro apareça
confirmando a aproximação dos soldados, e informa que
são muitos, e estão cientes da existência de pelo menos dois
bandos de Cangaceiros para a região do Povoado de Água
Boa. Deve ficar evidente para os Jogadores que os referidos
Bandos são os grupos compostos de Garou e Parentes dos
Cancioneiros do Luar Sozinho e dos Calangos.
Neste momento testes de Inteligência + Briga podem
ser pedidos para que os Garou analisem a região e percebam
locais por onde poderiam ser atacados, possíveis rotas de
fuga, e onde seria o melhor local para uma batalha, caso
seja necessário. Logo eles ouvirão o tropel da Volante se
aproximando e não terão muito mais tempo para traçar
planos ou pensar em estratégia.
Apesar da Volante cavalgar com calma, a aproximação
dos animais pode suscitar encontros catastróficos. A Fúria
pode ser sentida por estes animais, e durante a fase Galliard
as paixões são mais efervescentes. Peça testes de Raciocínio
+ Instinto Primitivo (dificuldade 7), ou Racicínio + Em-
patia com Animais (dificuldade 8), para que os jogadores
se lembrem deste fato. Caso se lembrem, sugira que eles
acompanhem a Volante mantendo uma distância maior,
observando menos, mas por mais tempo, para que a aprox-
imação não perturbe os animais. Caso não passem no teste,
não diga coisa alguma sobre os animais, e deixe que eles
sintam a presença dos Garou.
Independente do resultado, entretanto, ficará claro para
os Garou que: o número de homens armados na Volante
é muito alto para eles. Mas além disso, todos eles parecem
portar algum tipo de ferida: muitos têm bandagens san-
grentas e feridas abertas. Caso os Garou tenham mantido
proximidade, ou atraído atenção da Volante de alguma forma,
poderão perceber com detalhes as feridas, mediante testes
de Percepção + Medicina. No entanto, se tiverem mantido
a distância e acompanhado a Volante, terão de esperar por
um momento em que os homens param para descansar
e comer. Neste momento os Garou podem se aproximar
(mediante testes de Furtividade), e testar Percepção + Inves-
tigação. Sucesso nos testes, independente das circunstâncias
dos Jogadores em relação aos soldados, revelam que as
feridas são, sem exceção, provocadas por mordidas. Muitos
sucessos podem até mesmo informar que as mordidas não
parecem terem sido feitas por Garou ou metamorfos, mas
por humanos mesmo.
Não demora para que essa descoberta traga novos des-
dobramentos: mediante testes de Percepção + Prontidão os
Garou perceberão que outro caçador anda furtivo, se esguei-
rando pelo mato (para atacar enquanto a volante interage
com os Garou, ou enquanto eles descansam e os Garou os
observam). A pessoa que se aproxima tem cheiro de sangue
(Percepção + Instinto Primitivo), roupas rasgadas de soldados
da Volante (Raciocínio + Investigação) e um olhar primiti-
vo e sádico (Percepção + Empatia). Caso os jogadores não
peçam por testes de Sentir a Wyrm, ou qualquer indicação
neste sentido, sugira sutilmente a presença da Wyrm no
olhar do homem, talvez dizendo que “o olhar dele parece tão
voraz quanto o da Devoradora de Almas deve ser”. O homem irá
atacar os outros soldados da Volante quando estes estiverem
descansando. O ato de se esgueirar e esperar pelo momento
certo sugere inteligência, embora o comportamento dele seja
bestial (Inteligência + Empatia, dif. 7). Ele ataca os homens
55
com mordidas, babando muito e grunhindo de satisfação e
pressa ao devorar carne humana.
Os jogadores podem estar apenas observando o ataque,
ou estar também no alvo dos ataques do soldado voraz.
Independente da situação, cabe aos jogadores decidir como
eliminar a ameaça. Para maiores informações sobre os Solda-
dos da Volante e o Carniceiro de Wakoru, veja o capítulo 2.
Cena Dois (Zé de Arimatéia):
Sua corrida era sozinha, caçando o mal onde quer que vá,
“Coroa de Frade” peregrina sem companhia na secura ab-
soluta do sertão. Há horas ele está andando pela caatinga
em busca de visões. Ele observa o céu tomado pela lua
minguante e por estrelas. A temperatura muda enquanto
o Theurge cruza a Película, ficando mais fria, ainda mais
iluminada pela força prateada de Luna Galliard. Mas ao che-
gar do outro lado, a visão que buscava finalmente acontece
para o Impuro dos Fianna: “Coroa-de-Frade” vê uma Garou
mordendo o próprio braço e as pernas, se alimentando da
própria carne. Chocado, “Coroa-de-Frade” pede a bênção
de Gaia e vai até a Garou para salvá-la desse tormento, mas
a Garou avança contra ele. É nesse momento fugidio que
o Theurge reconhece a Garou no olhar que abençoava seu
nome. Tratava-se de Odila “Olho-de-Gato”, a Philodox dos
Calangos. Ela está fora de si enquanto ataca com mordidas no
ar, desesperada pelo sabor de carne, seja dela ou de qualquer
outro. Enlouquecida num frenesi mais tenebroso do que
qualquer um que “Coroa-de-Frade” já tenha presenciado,
ela ataca, faminta. Mas quando “Coroa-de-Frade” tenta se
defender ou contra-atacar, percebe que tratava-se apenas da
visão que ele buscava. Odila “Olho-de-Gato” não estava ali,
não de verdade. Luna trouxera ao Theurge uma visão do
que Odila havia se transformado, uma serva do Maldito da
Fome, uma criatura de Wyrm, sem inteligência, mas com
uma voracidade infinita.
(Não peça testes, mas narre esta cena permitindo que o
Garou se defenda, revide, tente falar e interagir com Odila.
A falta de exigência de testes e o fato de “Coroa-de-Frade”
estar buscando por uma visão acabam por revelar ao Jogador
a natureza daquela interação. Se for necessário, peça apenas
por um teste de Inteligência + Enigmas, para que o Jogador
entenda sem sombra de dúvidas que tudo aquilo se tratava
de um sinal, e não uma interação direta e real).
Cena Três (Isabel)
Ao chegar no Povoado de Água Boa a situação é inco-
mum. As pessoas estão todas reunidas em uma casa, que é
a única coisa além de Luna que ilumina a noite. A pequena
luz amarelada treme ao som de uma cantiga dissonante e
triste, uma ladainha de pesar. Testes de Raciocínio + Empatia
ou Sabedoria Popular (dificuldade 5. Este Conhecimento
não está listado entre as Habilidades da edição de 20 anos
de Lobisomem: O Apocalipse. Considerando que é uma
56
habilidade apropriada para o cenário de Cordel da Fome,
trazemos a descrição no Apêndice) indicam que os vivos estão
velando algum ente querido; um ente querido para todo
aquele minúsculo povoado de Água Boa, um Parente dos
Garou. Ao se aproximar Isabel enxergará por cima da cabeça
das pessoas mais de um corpo repousado sobre as mesas da
casa. Há pelo menos quatro falecidos sendo velados juntos,
e os corpos estão cobertos por lençóis brancos. O choro das
crianças de colo e das senhoras é quase ensurdecedor, mas o
silêncio nos corpos é ainda mais devastador. Isabel observa a
cena até perceber entre os presentes Mãe Preta, uma Parente
muito próxima de Melquisedeque “Risca-Faca”. Para o Alfa
aquela senhora é quase uma avó, alguém em que ele busca
conselho, acalento, e quem puxa a orelha dele quando está
se comportando como um imbecil. Mãe Preta chora pelos
falecidos: Zé Nílio, Costa, Ildenilson, Carminha. Nomes
banais, exceto para os familiares que se despediam.
Com o passar do tempo as pessoas se dispersam e des-
pedem, e Mãe Preta da Viola, ainda perto dos falecidos, diz
sem nem olhar para os lados:
- Foi Odila, ó mia fia. Foi Odila do bando de “Matalindo”.
Que Deus me arranque a língua se eu tiver mentindo, ou então
que me arranque os olhos, porque eu sei o que eu vi. Ela andou
que nem um bicho por Água Boa, e feito um caçador nas mata
ela escolheu o alvo. Os menino tava bebendo, e ela aproveitou. Foi
lá e atacou eles. Com os dente de bicho dela.
Com o relato, Mãe Preta descobre os corpos, revelando
faces, pescoços, membros, peito e barriga dilacerados, feitos
com as presas animalescas de um grande predador. Não é
necessário testes, Isabel “Segue-o-Rastro-Agreste” sabe muito
bem o tipo de devastação bestial as presas de um Crinos
podem fazer.
Cena Quatro (Melquisedeque)
Na Serra das Tragédias Melquisedeque se encontra
com alguns Parentes e amigos. Entre eles está Asa Branca, o
Corax cantor. Há alguns banquinhos sob a única lamparina
no local onde estão sentados ele e Seu Galdino, um violeiro
de grande habilidade e sentimento As famílias estão em
volta dos dois, sob a pequena luz amarelada da lamparina
e a imensa prateada lua minguante. A música é melodiosa,
doce e devocional, uma ode às belezas da terra e do céu,
os amores da vida e a glória de Jesus Cristo. Aos poucos a
música vai tomando um compasso mais acelerado, e o teor,
o tema e o sentimento se transformam, assim como a mãe
mercurial muda de face e os Garou mudam de forma. A
transformação foi suave e harmônica, e logo Melquisedeque
não estava mais em uma reunião religiosa com os Parentes,
estava festejando com eles num forró.
A alegria não era uma regalia apenas do Alfa da Matilha,
todos os outros partilhariam desse momento em outras noi-
tes, em outros dias... mas mais do que isso, como Galliard
e Fianna, esta era a função de Melquisedeque. Seu coração
pulsava ritmado e ele sentia que os espíritos abençoavam
seus Parentes, tornando aquela reunião um refúgio sagra-
do, como a lei, a litania, e a paixão a cintilar. (ver Ritual do
Rastapé, Apêndice).
A música é alta, e a poeira que se levanta com a dança
cria uma espécie de cortina para as famílias, crianças e casais.
Em meio à festa um Boi Bumbá surge dançando com seu
corpo colorido de pano remendado com chifres de verdade
e olhos acobreados. A fantasia escondia alguma pessoa,
que corria entre os presentes como um espírito de bom
agouro, sacudindo as fitas coloridas, o lenço azul celeste
que lhe servia de corpo, e o sino amarrado ao pescoço.
Muitos aplaudem a chegada do Boi Bumbá, e a música
acompanha o ritmo.
No entanto, as coisas estão para mudar de clima mais
uma vez. Logo chegam à serra os outros membros da
matilha dos Cancioneiros do Luar Sozinho, Iracema “De-
gola-Coronel” e Diro “Serra-Bucho” trazem informações
assombrosas sobre a Volante. Isabel “Segue-o-Rastro -Agreste”
e “Coroa-de-Frade” têm notícias de Odila “Olho-de-Gato”,
uma Garou pertencente à matilha dos Calangos, liderada
pelo rival de Melquisedeque “Risca-Faca”, um Cria de
Fenris chamado Venâncio “Matalindo”.
Neste momento os jogadores devem reunir, trocar
informações, decidir como agir em relação a tudo isso
enquanto a festa continua. É presumível que eles se
afastem um pouco das pessoas para terem essa conversa,
mas como narrador não permita que eles se afastem
demais. Relembre a todos a necessidade de proteger e
vigiar os Parentes. No entanto, mesmo se desejarem sair
do local em busca de uma solução imediata, algo os fará
interromper o passo: um tiro ressoa na noite. O som não
vem da festa, mas a música pára e o som de um tropel
fica mais audível. O homem escondido na roupa de Boi
Bumbá se mostra, é Clarindo “Diabo-Menino”. O fato
dele estar na Serra das Tragédias não causa surpresa, pois
ele também tem Parentes por aqui, mas ele tira a fantasia
para se mostrar ao seu Alfa, Venâncio “Matalindo”, que
chega com outros Garou dos Calangos, além de Parentes
Cangaceiros.
A voz de “Matalindo” soa mais alto:
- “Risca-Faca”, traíra desgraçado, fio de uma égua, eu vim
aqui pra te sangrá! O que vocês fizeram com Odila, miserável?
Permita que o jogador que interpreta Melquisedeque
interaja com “Matalindo”, e ressalte outras questões exis-
tente entre eles, especialmente o assassinato de Inocêncio
“Caprichoso”. No entanto, a questão atual gira em torno
de Odila. Os outros personagens de jogadores poderão
estudar os rivais e interagir com “Matalindo” e o restante
da matilha dele, e o clima da cena deve ser de crescente
tensão. No entanto, nenhum arriscará um golpe, pois ali
estão Parentes de ambas as Matilhas, e permitir que essa
57
tensão se tornasse ação acarretaria em ainda mais tragédia
para aquele lugar e praquela gente. Além do mais, logo a
tensão entre as matilhas terá o foco redirecionado. Há mais
gente que se aproxima, e quem avisa todos os presentes
deste fato é Antônio Fabiano, o coiteiro que ainda estava
calado desde que voltou da mata com “Degola-Coronel” e
“Serra-Bucho”. Ele grita, tentando fazer com que sua voz
seja escutada sobre as vozes imponentes dos Garou, ele avisa
da aproximação da Volante.
Ambas as matilhas devem decidir como agir, mesmo que
inflamadas pelo ódio e pela vontade de matar, e devem agir
com um mesmo propósito: proteger os Parentes, lutar ou se
esconder da Volante, combater a Wyrm, caso o Narrador
decida colocar neste ataque mais um dos Carniceiros da Vo-
lante. Ao fim da cena alguns Parentes podem restar mortos,
e as matilhas terão dispersado enquanto caçam soldados em
meio ao combate, ou correm para proteger Parentes.
Na jornada com a família / chora a sanfona da paixão / pela
luta no Cangaço / com ferro, sangue e maldição.
Apesar do caos, a situação deve alcançar uma resolução
que, apesar de provocar danos, suscita mais dúvidas do que
finaliza a história. Dispersadas, as matilhas correm para seus
refúgios nos Campos de Caça, e traçam planos.
Cena Cinco (Cancioneiros do Luar Sozinho)
Reunidos depois do caos, os Garou devem traçar pla-
nos para saber como agir. Os problemas a serem tratados
são: a presença da volante nos territórios de caça das duas
matilhas, os sinais de que alguns soldados da Volante estão
corrompidos; a constante invasão de membros da matilha
dos Calangos no campo de caça dos Cancioneiros do Luar
Sozinho; a proteção dos Parentes nos povoados vizinhos e
pertencentes aos campos de caça; a necessidade de patrulhar
a região pela presença de mais sinais de corrupção; e a in-
vestigação sobre o que ocorreu com Odila Olho-de-Gato.
Nesta parte optamos por permitir aos Jogadores e Narradores
maior liberdade, podendo o jogo ser conduzido de maneira
mais solta e disposta à necessidade narrativa de cada mesa.
Em outras palavras, esta parte do jogo pode ser ampliada ou
reduzida, a critério de cada narrador. Adiante esclarecemos
apenas algumas particularidades sobre cada possível evento.
Evento 1: A presença da Volante no campo de caça e
a corrupção de alguns soldados - Os soldados da volante
que ainda não foram totalmente dominados por Wakoru
estão aflitos e temerosos. Na verdade a incursão deles ao
Campo de Caça das matilhas foi erro estratégico provocado
pela ameaça dos Carniceiros da Volante. Isto é, os soldados
não afetados por Wakoru estão sendo vitimados por esses
fomori da fome. Após enfrentamentos, rituais de purificação
são necessários, e os rituais de pacto com espíritos locais
fortalecem o campo de caça.
Evento 2: A constante invasão dos Calangos - O campo
de caça dos Cancioneiros é adjacente ao campo de caça dos
58
Calangos. Não bastasse a constante (e instintiva) luta por
território dos Garou, os líderes de ambas as matilhas são
rivais. O restante da matilha, entretanto, não compartilha da
rixa, e todos percebem a necessidade de proteger os Parentes
(especialmente os Philodox de ambas as matilhas). Fica a
critério dos jogadores considerarem se desejarão engajar nas
empreitadas de rivalidade dos Alfas, ou se perceberão aquelas
lutas como infrutíferas. É importante que os Narradores
saibam que, mesmo com as dúvidas sobre o que ocorreu
com Odila, ninguém pode morrer até o último momento.
Ambas as matilhas estarão dedicadas a encontrarem Odila
Olho-de-Gato, ou pelo menos descobrirem o que aconteceu
com ela, embora por motivos distintos: Os Calangos querem
encontrar sua irmã, e os Cancioneiros desejam provar a
inocência.
Evento 3: Proteção aos Parentes - Permeando os demais
eventos há a constante necessidade de proteger os Parentes,
que estão sujeitos a três tipos de ameaça: serem possuídos
pelo espírito da fome, serem devorados por pessoas possuídas
pelo espírito da fome, ou morrerem como efeito colateral
da rixa entre as matilhas.
Evento 4: O destino de Odila - Por último os Garou
descobrirão o destino de Odila quando, interrompendo um
momento de enfrentamento entre matilhas, a Besta Fera
(ver capitulo 2) se manifesta no mundo físico e sai correndo
para uma região perdida no meio da do Sertão. Seguindo a
Besta Fera, os Garou descobrirão o corpo de Odila morto,
ainda exibindo sinais claros de corrupção. Isto deverá bastar
como prova de inocência de Melquisedeque e os demais
Cancioneiros do Luar Sozinho, mas independente disso,
há um problema bem mais evidente: o lugar onde Odila
foi encontrada foi o mesmo escolhido pela Besta Fera para
“desaparecer”: o cemitério de uma igrejinha. Não peça testes,
afirme que a Besta-Fera desapareceu cruzando a película.
Quando os Jogadores também cruzarem a película, en-
contrarão uma cena dantesca. No lugar da igrejinha há uma
enorme catedral profana que zomba da estética e simbologia
cristã. É Diro “Serra-Bucho” o primeiro a perceber que há
um gigantesco número de espíritos que se encaminham para
a igreja por céu e por terra.
Testes de Inteligência+Enigmas revelarão que este
lugar é uma confluência da Penumbra e das Shadowlands.
Uma região onde o reflexo penumbral da Terra encontra o
Mundo dos Mortos. Sucessos adicionais revelarão que isso
se dá graças ao poder de Wakoru. Como espírito da Fome,
ele tem uma força de pulsão vital, mas quando corrompida
se torna vício canibal. Em outras palavras, Wakoru repre-
senta tanto a energia da vida quanto da morte, e por isso
em sua igreja os mundos se tocam. Guardando a igreja está
Labatut (ver capitulo 2).
Eles haviam chegado juntos, / com a orientação do Galliard,
/ e o Lua-Nova que era esperto viu a congregação a se formar
Cena Seis (Igreja da Fome)
Os Cancioneiros do Luar Sozinho e os Calangos entram
juntos na Igreja da Fome depois de terem derrotado Labatut,
que guardava a Igreja como um Gárgula endemoniado. A
cena no interior é tétrica: Um grande número de pessoas
participa com devoção de uma orgia canibal. Impossível
saber a quantidade de pessoas mortas na igreja, a cena toda
causa uma sensação de pesadelo. Todos presentes devem
testar Fúria, dificuldade 6 (lua Galliard).
Os espíritos esconjurados, / Malditos demônios da corrupção
/ haviam se alastrado / na terra e tripas do Sertão. / A Serpente
da Voracidade / que mora no ventre de todos nós / por canibais
era cultuada / na Catedral da Fome Atroz / A carne nua ti-
tubeava / em um altar de pura dor / e os presentes devoravam /
experimentando novo sabor. / Pelo vício da carne viva / os ventres
cantavam uma canção / e todos ficaram perturbados / com a
liturgia da corrupção. / Tinha início o ciclo da vida / e terminava
com a extinção / tornada feita pelos seus filhos / fome, genocídio,
escravidão. / O ciclo da vida corrompido / pelo vício canibal /
havia perdido seu reinício / e se tornado espiral.
Ato III - A Serpente
da Fome contra o Santo
Guerreiro
Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável,
aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele
fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho
de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.
(O Auto da Compadecida, Ariano Suassuna)
Cena Um (Igreja da Fome)
Uma intensa luta se inicia, as duas matilhas têm de se
proteger contra os humanos possuídos pela fome (usar as
fichas dos Carnideiros da Volante, capítulo 2). O número
destes humanos famintos fica a critério do narrador. Após
esta batalha, entretanto, eles vêem enquanto o Devorador
de Fígados invoca uma criatura mística para servir de sacri-
fício definitivo, materializando assim o perfeito Bispo de
Wakoru: o Corpo Seco. O espírito invocado pelo Devorador
de Fígados é o verdadeiro Bumbá (ver Pontes Queimadas).
O cainita silenciosamente corta a cabeça e abre o ventre
de Bumbá, que derrama uma quantidade assombrosa de
sangue no altar da Igreja da Fome. De dentro do animal
surge uma gigantesca entidade da Fome: o Corpo Seco.
Ambas as matilhas começam a lutar simultaneamente
contra o Devorador de Fígados e o Corpo Seco. Em um
momento crucial (a ser escolhido pelo Narrador), os joga-
dores perceberão que o líder da outra matilha, Venâncio
“Matalindo” é o único dos Calangos a restar lutando contra
os inimigos. Cabe ao jogador que interpreta Melquisedeque
decidir neste momento entre uma de três opções: Ele pode
deixar que “Matalindo” morra, ele pode combater ao lado
de “Matalindo”, ou ele pode se sacrificar para salvar o líder
dos Calangos e eterno rival. Todas as três escolhas são formas
legítimas de encerrar a jornada como Cangaceiros, pois após
este épico enfrentamento na Igreja da Fome, os jogadores
voltarão à pele e consciência de seus personagens no tempo
presente. Ainda que o jogador de Melquisedeque não opte
pelo auto-sacrifício, Melquisedeque morrerá salvando um
dos irmãos de matilha.
O ódio supitava à pele / com violência animal / todos os
membros da matilha / Foram pra vitória e funeral. / Nem mesmo
a serpente da fome / é voraz contra o amor / pois ao devorar a
matilha / o diabo vomitou. / Na úlcera incinerada / pelo fogo
da ressurreição / Doeu o ventre seco / com o espírito da união. /
Mesmo com Glória Póstuma / A canção irá perdurar / Voando
na Asa Branca / da Gralha e do Carcará / O culto foi destruído /
mas a fome restará / e quem souber do sacrifício / contra Wakoru
triunfará. / Toda a matilha seguiu o alfa / para um sacrifício
em comunhão / aumentando assim as chamas / da fúria, força
e revolução. /
A ESCOLHA DE MELQUISEDEQUE
A escolha feita por Melquisedeque afetará o fu-
turo do jogo, quando os jogadores voltam a assumir
seus personagens no presente. Caso Melquisedeque
não tenha se sacrificado, deixando Matalindo
morrer, então os Jogadores voltarão ao presente
apenas com a sabedoria e experiência adquiridos,
e o conhecimento de que outras igrejas existem
no presente, espalhadas pela Penumbra do Brasil.
Como os jogadores conseguiram o conhecimento
de tais locais é um mistério, pois mais se assemelha
a uma memória atávica, adquirida por todos aque-
les que pisaram no terreno conspurcado. É como
se os presentes no Culto da Fome possam sempre
encontrá-lo, bastando ouvir o sussurro da fome em
seus ventres. Caso Melquisedeque tenha lutado
ao lado de Matalindo, os jogadores ganham além
da experiência e conhecimento 1 ponto cada no
antecedente Numen com o espírito do Carcará (ver
Apêndice). Caso Melquisedeque tenha se sacrificado
para salvar Matalindo, os jogadores ganham todos
os benefícios já citados, e podem optar entre ter 3
pontos de Númen com o Carcará ou com o Calango.
59
Cena Final
A história chega ao fim, a melodia não ressoa mais na
mente e nos espíritos dos Garou de Gaia. O ovo chocado
de Sentado-no-Ninho desapareceu, mas agora os Garou
tem um conhecimento tenebroso: Eles sentem que, embora
tenham combatido a Igreja da Fome como Cangaceiros do
passado, Wakoru ainda se fortalece no presente. A igreja
da fome no passado era apenas uma memória como um
alerta. Uma memória como agouro de Asa Branca e do
Carcará, que guardaram por gerações o conhecimento para
aqueles capazes de defender Gaia de Wakoru. Atualmente
há inúmeras igrejas da fome na Penumbra brasileira, e os
Garou sentem isso em seus ventres, vibrando com o horror
do que agora sabem. Mas há novas bênçãos: O Carcará, a
memória dos Cancioneiros do Luar Sozinho, todos os es-
píritos honrados no passado percebem os Cancioneiros do
Luar no olhar daqueles que vivem no Presente.
Cliff-hanger
Mas nem tudo está resolvido. No lugar onde antes
estava Marco Sombra-dos-Túmulos, há apenas uma grande
poça de sangue com um rastro. Ao perseguirem o rastro os
Garou verão uma última cena, como golpe desprevenido ao
final de uma história já trágica: Uma Dançarina da Espiral
Negra come o cérebro de Marco Sombra-dos-Túmulos, que
está morto de forma grotesca no chão de Cococi. Os Garou
podem tentar atacar, mas a Dançarina da Espiral Negra fu-
girá invocando uma Ponte de Lua sem a necessidade de um
ritual. Esta é Voz-das-Entranhas, uma Dançarina da Espiral
60
Negra Galliard que fora, em outros tempos, uma Peregrina
Silenciosa Devoradora dos Mortos. Quando a Ponte de Lua
se abre, outros dois Dançarinos da Espiral Negra aparecem:
Vergasta (ver Brasil em Fúria), um Philodox que serve K’ul-
matu com devoção cega, e Duquesa Quatorze, a Theurge
escolhida por Halaiki vinda de São Paulo.
Vergasta porta incontáveis cicatrizes em todo o corpo,
além de ter uma horrenda máscara de flandres, e usar
chicotes como armas. A Duquesa é grande, forte, com ol-
har sanguinolento e genocida. Apaixonada, mas cruel. Os
Garou de Gaia aprenderam a não enfrentarem Pontes de
Lua desde os eventos de Pontes Queimadas, e a presença
de três dos mais poderosos Dançarinos da Espiral Negra do
Brasil deverá dissuadir os Jogadores a tentarem qualquer
enfrentamento neste momento. Enquanto os Dançarinos
fogem, os Fantasmas de Cococi se lamentam ao redor de
Marco, atemorizados por seus destinos e suplicando aos
céus como Garou que choram para a Lua, afinal de contas,
eles haviam perdido aquele que se esforçava para aplacar o
sofrimento dos mortos.
Em meio às preces e pesares Fantasmagóricos os Ga-
rou escutam o nome dos Dançarinos da Espiral Negra.
Voz-das-Entranhas, Vergasta, Duquesa Quatorze. Descorti-
na-se, assim, o futuro para eles, pois agora sabem o nome
de quem aprendeu sobre as Igrejas da Fome, ainda que de
forma mais sangrenta e desonrosa. A “Galliard de Wakoru”
aprendeu a localização dos centros de poder do espírito da
fome sugando as memórias de um falecido amigo. O maior
assombro é imaginar o que os três devotos de Ukupewa
sabem e podem fazer, agora que seus poderes estão reunidos.
61
 Apêndice

Esse bosque de espingardas

mudas, mas logo assassinas,
sempre à espera dessa voz
que autorize o que é sua sina
(Arcabuzado, Cangaço)

A seguir apresentamos uma nova habilidade, novos
Dons, uma tabela de armas, antecedente campo de caça e
algumas orientações para o crossover entre Lobisomem: O
Apocalipse e Wraith: The Oblivion. Além disso, trazemos
também novos rituais, totens, amuletos e informações valiosas
para complementar esta (e qualquer) aventura.
de controlar a fúria de um “licantropo”; de forma similar,
com este conhecimento é possível saber sobre as lendas e
folclores da região, algumas características dos diversos seres
folclóricos da região, além de permitir que se conheça o
método de preparo de remédios simples com ervas, conhecer
os animais peçonhentos, quando não se deve beber de uma
determinada fonte d’água, etc.

Novas Habilidades
Sabedoria Popular (Conhecimento)
A sabedoria popular representa o conhecimento acerca
das superstições, folclore e lendas urbanas de uma região.
Este conhecimento não fornece uma noção das complexidades
dos costumes, mas informa o suficiente acerca de fábulas
e o imaginário sobrenatural, o que pode incluir o conheci-
mento de que Lobisomens são vulneráveis a prata, e que se
transformam na lua cheia, ou que apenas o acônito é capaz
APÊNDICE
• Diletante: Você ouviu as histórias que sua avó contava.
•• Estudante: Você pode reconhecer uma criatura
quando ouve falar dela, e aprendeu coisas com a benzedeira
da região.
••• Instruído: As pessoas vêm até você em busca de
conselhos e curas simples. Você está familiarizado com os
conhecimentos de regiões vizinhas, mas não é tão versado
nos costumes e crenças de tais vizinhos.
•••• Erudito: Você é uma fonte de conhecimento da
sua cultura nativa e de mais de uma ou duas. Alguns desses
63
conhecimentos vêm de experiência própria.
••••• Visionário: Seu conhecimento, embora enco-
berto por charadas e histórias, é lendário, e seu conheci-
mento pode ser considerado uma ameaça por alguns seres
sobrenaturais.
Possuído por: Anciões de Vilas, Benzedeiras, Pajés,
Bruxas, Feiticeiros, Enganadores, Eremitas, Herboristas,
Camponeses, Viajantes, Fazendeiros, Antropólogos, Fol-
cloristas
Especializações: Sertão Nordestino, Litoral Nordestino,
Folclore português, Folclore indígena, Folclore holandês,
Folclore francês, Folclore indígena de outras regiões do Brasil.
Dons do Sertão
• Espantalho Umbral (Nível Um, Theurge e Peregrinos
Silenciosos): Com este dom o Garou é capaz de projetar sua
imagem para o outro lado da película sem que efetivamente
precise percorrer atalhos. Normalmente este dom é usado
para distrair potenciais inimigos, atraí-los e ludibriá-los de
acordo com cada situação. Diomedes “Bradador-do-Lus-
co-Fusco”, um Theurge dos Peregrinos Silenciosos ganhou
notoriedade depois de usar este Dom para fazer com que
um poderoso Maldito voltasse a atenção para sua imagem
projetada na Penumbra, e chamasse todos os Dançarinos
da Espiral Negra que o seguiam, interrompendo assim, o
ataque que sua matilha estava sofrendo no Mundo Físico.
Um espírito Corvo ensina este dom.
Sistema: O Garou gasta 1 ponto de Gnose e testa
64
Aparência + Ocultismo, dificuldade igual à Película local. A
imagem projetada fica estática no reflexo correspondente ao
outro lado, servindo de chamariz, um espantalho espiritual.
Mediante o gasto de mais um ponto de Gnose, a imagem
refletida imita os movimentos do Garou que está do outro
lado. Observadores podem testar Percepção + Ocultismo
(dificuldade 8), e caso obtenham mais sucessos do que a
ativação do Dom, perceberão que aquela imagem é apenas
uma projeção.
• Olhos da Extinção (Nível Um, Philodox e Senhores
das Sombras): Este Dom permite ao Garou sentir através
de um faro sobrenatural qual emanação de Ukupewa, o
Incarna da Extinção, está atuante sobre o alvo. Os servos
de K’ulmatu, o espírito da escravidão possuem um fétido
cheiro de suor guardado e ferro, que faz lembrar grilhões
e o aroma de sangue, além de carne e cabelos queimados.
Os seguidores de Halaiki, espírito do Genocídio, têm o
miasma das máquinas de extermínio em massa, o cheiro de
desinfetante misturado com sangue, de matas incendiadas, e
de perfume de madame pra esconder o fedor. Os possuídos
pela fome, sob influência de Wakoru, tem o cheiro de saliva
ressecada, o cheiro de areia, como um aroma fumegante que
queima as narinas e elimina qualquer resquício de sabor.
Tata’Krena ensina este dom.
Sistema: O Garou testa gasta 1 ponto de Força de
Vontade (para suportar as emanações de Ukupewa) e testa
Percepção + Investigação, dificuldade 8. Caso o Garou não
possua pontos de Força de Vontade para gastar e desejar
realizar o teste, ele poderá, mas ficará suscetível às forças da
Extinção (caso de fato existam no alvo “farejado”), acarretan-
do num teste de Força de Vontade, dificuldade 8, para não
adquirir uma perturbação temporária, sempre associada ao
espírito em questão.
• A Ligeireza do Repente (Nível Dois, Galliard e
Roedores de Ossos): Assim como o Dom: Dança Caipira,
dos Roedores de Ossos Caipiras da América do Norte, os
Roedores de Ossos do Nordeste brasileiro são capazes de
invocar para a matilha a bênção da velocidade no ritmo de
um repente. Basicamente, o dom permite que os membros
da matilha executem ações de grande velocidade, como feitos
atléticos, corrida, fuga, salto, escalada, enquanto o Galliard
recita o repente o mais rápido que puder. Isso sem dúvidas
dá à matilha uma vantagem no combate. No entanto, assim
como acontece com Dança Caipira (também chamado de
Duelo de Banjos, na versão norte americana), os outros
membros da matilha se vêem compelidos a responder ao
Repente, com suas próprias rimas e frases de efeito, embora
o principal repentista seja sempre o Galliard. Este dom é
ensinado por um espírito Ancestral.
Sistema: Quando começa o Repente, o Garou gasta
Gnose e testa Manipulação + Performance. Se logo no
primeiro teste o Garou obtiver 3 sucessos, o dom é ativado.
Se não obtiver três sucessos, ele pode continuar testando
nos próximos turnos até que consiga. Pela duração da cena,
enquanto continuar cantando o Repente, cada Garou de sua
matilha pode jogar com 3 dados a mais quaisquer testes de
Destreza + Briga ou de Esportes. Cada membro da matilha
pode usar esses três dados apenas em uma ação por turno,
ou ele pode dividir o benefício em múltiplas ações, mas não
pode usar mais do que três dados deste dom em um turno
(em outras palavras, caso o Garou use Fúria para uma ação
extra, ele deve definir em qual ação obterá o benefício do
Dom).
• Óbvio Ululante (Nível Dois, Galliard e Fianna): Este
Dom permite que a matilha seja fortalecida com palavras
óbvias e desnecessárias, como uma reafirmação da evidente
ação que os Garou devem tomar. Espíritos associados a
Hélios podem ensinar este Dom.
Sistema: O Galliard dá uma instrução, ordem, ou exor-
tação de caráter óbvio, que não precisaria ser dita, como
por exemplo “Batam com força”, ou “seja persuasivo ao
conversar com ele” e “Cuidado para não serem atingidos”,
e testa Liderança + Carisma (acrescenta-se a parada de dados
de Raça Pura, se houver), com a dificuldade igual à Força de
Vontade mais alta do grupo a receber o benefício. Se for bem
sucedido, todos os testes para aquela ação anunciada pelo
Galliard são consideradas como sendo testes especializados
(isto é, qualquer valor igual a 10 pode ser jogado novamente
para tentar obter mais um sucesso). Caso o ativador do
dom obtenha uma falha crítica, entretanto, aquela ação em
específico terá a dificuldade aumentada em 1.
• Montaria Azarape (Nível Três, Ragabash e Fianna):
APÊNDICE
Apesar dos Guerreiros de Gaia possuírem a indissolúvel
missão de combater a Wyrm onde quer que esteja e sempre
que se proliferar, às vezes o combate se torna uma opção
inviável ou uma empreitada de risco fatal. Nesses momentos
até mesmo o Frenesi Raposa pode ser arriscado demais. Com
este dom ensinado por espíritos da astúcia, o Garou invoca
uma criatura quimérica para servir de montaria a algum
companheiro que esteja muito ferido, levando o amigo para
um local seguro, longe do centro da batalha. Um espírito
Cavalo ensina este dom.
Sistema: o Garou a ser salvo deve estar Aleijado em seus
níveis de vitalidade para usar a Montaria. Gasta-se um ponto
de Gnose e testa Carisma + Ocultismo, dificuldade igual
à Película local. Os sucessos indicam por quantos turnos o
Garou é levado para longe do combate montado na criatu-
ra. Ataques à montaria não são eficazes, e qualquer ataque
ou projétil atravessa a imagem quimérica do Azarape. Este
dom é ineficaz para salvar a si mesmo do combate, sendo
usado apenas em situações de heroísmo, nunca para fugir
covardemente.
• Arcabuz Alumiado (Nível Três, Ahroun, Fianna e
Crias de Fenris): Este dom faz com que a arma de fogo em-
punhada pelo Garou seja incendiária, desde que o tiro seja
dado à queima-roupa. Espíritos do Fogo ensinam este dom.
Sistema: O Garou gasta 1 ponto de Fúria e 1 ponto
de Gnose e realiza o tiro à queima-roupa. Isso faz com que
a explosão do tiro queime o alvo e crie chamas pequenas,
mas com força o suficiente para que se espalhem e cresçam.
Caso o Garou obtenha uma falha crítica no teste de tiro à
queima-roupa, as chamas se lançam sobre o braço do Garou,
queimando e se alastrando.
• Chumbo na Fogueira (Nível Três, Ahroun e Cava-
leiros do Ferro): Reza a lenda que depois de ver um soldado
jogar munição em uma fogueira de são joão para provocar
um falso tiroteio, e assim culpar os residentes da pobre vila
do sertão, um Cavaleiro do Ferro que presenciou a trapaça
se inspirou em buscar por um espírito que lhe ensinasse o
mesmo tipo de tática. A diferença é que o Garou desejava
moldar aquele tipo de ataque estratégico à sua própria
vontade, mais como execução de um plano assassino, do
que uma trapaça ladina. Com o espírito do Ferro, então, o
Garou aprendeu a explodir munição com as próprias mãos,
sem precisar de arma ou fogueira. Um espírito da Trapaça
ensina este dom.
Sistema: Com este dom o Garou posiciona a munição
na palma de sua mão apontando para seu inimigo, e depois
soca a palma da mão e a munição com o outro punho, dis-
parando assim o tiro, e surpreendendo a todos presentes.
O Garou testa Força + Armas de Fogo, dificuldade igual
à película local +2, máximo 9. O teste bem sucedido na
ativação do dom também serve para o acerto do tiro, o dano
é calculado a partir da arma a qual a munição perteceria.
65
 Caso o teste resulte numa falha crítica, o tiro se volta para
quem ativou o dom, como um tiro que sai pela culatra. A
bala pode explodir nas mãos do ativador, voar e atingi-lo
no peito, na cara, etc.
• Bafo Quente (Nível Três, Fianna, Roedores de
Ossos, Crias de Fenris e Ahroun): Às vezes tudo o que
o Garou precisa é de causar dano direto, dando um gole
de cachaça e cuspindo uma bola de fogo. Este Dom pode
ser ensinado por espíritos do fogo, bem como por espíri-
tos mitológicos, como o Basilisco e o Dragão de Fogo.
Incidentalmente, Tata’Krenak também ensina este dom.
Sistema: A cachaça é necessária. Após o gole, o Ga-
rou cospe gastando 1 ponto de Fúria e testando Vigor +
Instinto Primitivo, dificuldade 8. O dom causa 5 dados
de dano agravado como base, e sucessos na ativação são
somados ao dano base, e indicam a distância em metros
que a bola de fogo atinge.
• Imagem Ancestral (Nível Quatro, Theurge e
Fianna): Este Dom permite que o Fianna invoque um
Ancestral de sua tribo para batalhar ao seu lado. A imagem
reflete um grande herói de outrora, embora algumas vezes
a invocação traga uma amálgama de antigos guerreiros de
Gaia. Espíritos Ancestrais ensinam este dom.
Sistema: O Garou gasta dois pontos de Gnose e se
corta, fazendo o sangue verter sobre o chão. Da poça se
ergue um(a) guerreiro(a) ancestral com olhos de sangue e
fogo. Este Ancestral tem os mesmos atributos do Garou
invocador, além de 7 níveis de vitalidade. A imagem não
entra em frenesi e nem usa Pontos de Fúria, embora possa
assumir as cinco formas normalmente (sem precisar de
teste. Toda mudança de forma demora um turno de
combate para se completar). Após derrotada, a imagem
se desfaz em uma jorro de sangue. Caso o invocador
possua o Antecedente Ancestrais, ele pode fazer um teste
padrão do Antecedente para fornecer os sucessos à todas
as paradas de dados da Imagem Ancestral.

Novos Totens
Totem de Respeito
Carcará
Custo em Antecedentes: 7
Carcará é uma ave de rapina que sobrevoa o sertão
em busca de alimento com ferocidade e precisão. A ave
abençoa os caçadores que não se dão por vencidos nas
mais difíceis condições. Como grande caçador, a ave Car-
cará inspira histórias e canções sobre morte, privações e
a superação dos desafios impostos por Gaia.
Características: O Carcará ensina o Dom: Sentir a
Presa à matilha (para ser usado por 1 membro da matilha
66
por vez), concede +1 de Vigor para todos, além de +1 dado
de dano na mordida. Todos também ganham 2 pontos de
Honra e 1 ponto de Sabedoria.
Dogma: Carcará exige que seus seguidores deixem parte
da carne de todas as caças ainda nos ossos para o seu sustento.
A matilha deve dividir as porções por igual comer junto a
carcará que sempre posa para tomar o que é seu de direito.
Gaffling do Carcará
Fúria 6, Gnose 5, Força de Vontade 7, Essência 18
Encantos: Voo Ligeiro
Totem de Guerra
Teiú
Custo em Antecedentes: 7
O Teiú é um grande lagarto, dotado de mandíbula forte
e capaz de se alimentar de animais vertebrados e artrópo-
des, plantas, carniça. Caracterizado pela ferocidade e pelo
oportunismo, o Teiú é um totem de Guerra que inspira a
perseverança e sobrevivência, com uma atitude agressiva e
pragmática.
Características: O Teiú ensina o dom Camuflagem à
matilha (para ser usado por 1 membro da matilha por vez),
concede +1 de Força, e reduz a dificuldade de mordida em
1 na forma Crinos (apenas na forma Crinos). Além disso, o
Teiú concede 2 pontos de Força de Vontade à matilha (para
ser usada por apenas 1 membro da matilha a cada história).
Dogma: O Teiú, de forma diametralmente oposta ao
Carcará, exige que seus seguidores jamais deixem restos de
carne das caças que abaterem. Todo e qualquer alimento deve
ser consumido, sob ameaça de ser caçado pelo próprio totem
Gaffling do Teiú
Fúria 7, Gnose 5, Força de Vontade 6, Essência 18
Encantos: Armadura
Espírito do Vagante
Custo em Antecedente: 5
O Espírito do Vagante já foi um Roedor de Ossos ex-
tremamente envolvido em ajudar as pessoas mais pobres e os
animais, e por isso ele ficou conhecido entre os Parentes da
cidade e demais Garou, se tornando um avô dos Roedores.
O velho morreu durante um combate contra Dançarinos da
Espiral Negra, mas graças a todas suas boas ações, a comoção

INSTRUMENTOS DA MATANÇA
Retirada de Werewolf: Wild West, as armas a seguir ajudam a melhor localizar a aventura no recorte temporal do
Cangaço. É importante esclarecer que o período correspondente ao chamado “Oeste Selvagem” é bem próximo do
tempo do Cangaço.

Tipo Dificuldade Dano Alcance PENTE

PISTOLAS LEVES
Luger p08 Parabellum 5 4 10 6
Remington Derringer 5 4 10 2
.44 7 5 25 6
Remington Single Action 7 5 25 6
PISTOLAS PESADAS
Colt Peacemaker 7 6 30 6
Revólver Remingon 6 6 35 6
RIFLES
Henry Repeater lever action 6 7 150 12
Remington single shot 7 9 200 1
Winchester lever action 6 8 175 16
ESCOPETAS
Remington twelve gauge 6 9 35 2
Winchester single lever action 7 9 35 1
APÊNDICE 67
entre Parentes e Garou foi grandiosa, fazendo com que ele
surgisse como um espírito poderoso.
Hoje muitos dos Roedores de Ossos, Filhos de Gaia e
Andarilhos do Asfalto mantêm contato com esse espírito
e pedem para que ele os apadrinhe. Até mesmo alguns
Dançarinos da Espiral Negra de menor posto tremem ao ver
um espírito de trapos brancos extremamente sujos de terra,
face encoberta em escuridão e acompanhado de “vira-latas
caramelos” e de pelagem preta com uma listra branca em
suas barrigas.
Características: O Vagante concede a um de seus filhos
um dos seguintes Dons: Força Desesperada, Chamado da
Wyld. e todos os membros da matilha recebem benefícios
de +2 em Empatia com Animais ou Empatia, e +1 em
Sobrevivência.
Dogma: Espírito do Vagante exige que seus filhos
sempre ajudem os necessitados independentemente de ser
animal, humano ou Garou. Além de que os apadrinhados
por ele não demonstrem piedade para a Wyrm.
Novo Antecedente
Campo de Caça
O Antecedente Campo de Caça representa um grande
trecho territorial que pode ser selvagem ou urbano, e neste
espaço os Garou também podem caçar livremente, e se repro-
duzir. Esta área geralmente não contém humanos comuns,
embora os Garou que compartilhem deste Antecedente
possam escolher alguns para lá viverem. No caso dos campos
de caça urbanos, que são menos comuns, a pontuação indi-
ca, entre outras coisas, a quantidade de Parentes humanos
que compõem a população da região. Por outro lado, nada
impediria que o Campo de Caça urbano fosse, de fato,
deserto, uma vez que a maioria destes domínios territoriais
urbanos é escolhida em bairros afastados e distritos indus-
triais abandonados. Nos casos de Campos de Caça urrah a
influência da Weaver e da Wyrm são mantidas no mínimo,
e os Garou urbanos aprenderam rapidamente a se defenderem
de tais ameaças e limparem o território. Assim como o An-
tecedente Totem, a pontuação de Campo de Caça pode ser
compartilhada entre os membros de uma matilha, além de
poder ser comprada com Pontos de Experiência (custo de
2 pontos de experiência por nível).
Narradores e jogadores experientes podem acabar com-
parando este Antecedente com o Domínio, de Vampiros,
mas algumas distinções são importantes. O mais importante
é que os Garou não dominam e mandam em seus territórios.
Eles protegem a natureza e a terra, e obtém benefícios destas
ações. Eles caçam na região, mas não exaurem seus recursos.
Evidentemente, Presas de Prata, Senhores das Sombras e
outras tribos podem ter visões um pouco mais próximas
68
do domínio dos Vampiros, mas como regra geral os Garou
agem mais como protetores, servos e residentes do Campo
de Caça. E mesmo no caso dos Presas de Prata e Senhores
das Sombras, o domínio raramente se estende aos humanos
ou lobos comuns da região.
Tais humanos, por outro lado, podem representar um
grande benefício, se residentes no Campo de Caça. Já foi
dito que o número de humanos será reduzido, mas o que
morarem no território do Campo de Caça será considerado
Aliado, ou Contato, ou Parente (se de fato tiver sangue
Garou correndo nas veias).
Jogadores que comprarem Campo de Caça podem usar
pontos para aumentar a área e/ou a segurança, e podem
alocar pontos para:
• Reduzir a Película local em 1 nível (mínimo de 4);
• Tornar a área mais amena para a sobrevivência de
humanos (e Garou): reduz a dificuldade de testes de sobre-
vivência em 1. (este benefício só pode ser comprado três vezes);
• Tornar os animais da região mais pacíficos com os
Garou: reduz a dificuldade de testes de Empatia com Ani-
mais em 1. (este benefício só pode ser comprado três vezes);
• Tornar a flora mais útil: Reduz a dificuldade de todos
os testes que envolvam plantas em 1 (incluindo Medicina,
Ciência, Herborismo, Cultura Popular. Este benefício só
pode ser comprado três vezes);
• A matilha também pode decidir aumentar a difi-
culdade dos testes anteriormente citados, ganhando assim
pontos adicionais no nível de Campo de Caça. Por exemplo:
O Campo de Caça localizado na Caatinga Nordestina, onde
plantas medicinais são difíceis de serem encontradas, e o
clima é hostil. A matilha então decide aumentar em 2 as
dificuldades para obter plantas úteis no Campo de Caça, o
que adicionaria 2 pontos ao valor total de Campo de Caça,
tornando-o maior e mais bem protegido (como ficará mais
evidente a seguir). Além disso, aumentar a dificuldade para
os testes já citados pode garantir uma boa estratégia de defesa
contra invasores.
Perceba que os testes mencionados não incluem habil-
idades sobrenaturais, e que o aumento ou diminuição das
dificuldades não podem ultrapassar 9 e 2, respectivamente
• Um acre - espaço para correr, talvez algum esconderijo,
mas nada para caçar, exceto presas pequenas e pouco nu-
tritivas. / Para Territórios de Caça urbanos, considere o
espaço de 1 quarteirão, embora esconderijos e a presença
de humanos possa ser maior.
•• Um pequeno bosque, com o tamanho de alguns
acres. Há espaço para correr, presas pequenas e talvez um
riacho ou pequena lagoa. / Para Territórios de Caça urbanos,
considere o espaço de 3 quarteirões, embora esconderijos e
a presença de humanos possa ser maior. Há também uma
fonte de água potável acessível aos Garou.
••• Vários acres, abundante em vida selvagem / Para
Territórios de Caça urbanos, considere o espaço de 1 bairro
pequeno e afastado. Háabundânciadehumanoscom Parentesco
Garou, além de animais urbanos de pequeno porte.
•••• Dúzias de acres, abundante em vida, recursos,
diferentes localidades e coisas para serem descobertas. / Para
Territórios de Caça urbanos, considere o espaço de 1 bairro
de grande porte, com muitos em indústrias abandonadas,
prédios vazios, casas antigas e grande presença de Parentes.
••••• Uma grande e vicejante região de natureza
selvagem. Povoada por diversos tipos de animais selvagens,
plantas úteis e belas, regiões de topografia diferenciada,
além de regiões intocadas ou talvez regiões com importantes
marcos históricos, agora em ruínas ou abandonados / Para
Territórios de Caça urbanos, considere o espaço de 2 bairros
contíguos, com esconderijos, regiões a serem exploradas,
marcos históricos, e todo tipo de recurso urbano que a
matilha possa precisar.
Novos Rituais
Ritual Místico
Vinho de Jurema
Nível Três
Cria-se o Vinho de Jurema quando, ao redor da fogueira
enquanto continuas rezas e cânticos são proclamados, ferve-
se a casca da jurema, junto com vinho ou cachaça, frutas,
especiarias e guaraná para adoçar o amargor. Essa potente
bebida, possui propriedades místicas, mesmo sem ter um
espírito ligado a ela, sendo utilizada em rituais e buscas por
visões. No decorrer da noite onde o Vinho de Jurema foi
preparado, os participantes do ritual passam uma cabaça
contendo o líquido de mão em mão. Cada participante
bebe enquanto conta uma história para a noite e para os
espíritos e entidades que se aproximam atraídos pelo prepa-
ro do Vinho de Jurema. Em retribuição às rezas, músicas
e histórias, a Jurema e espíritos oníricos irão presentear
os participantes com histórias e imagens em seus sonhos
quando adormecerem após o ritual. Essas visões podem
conter revelações do futuro, lembranças do passado ou até
mesmo verdades ocultas do presente.
Sistema: O mestre de rituais deve separar todos os
ingredientes para o preparo do Vinho de Jurema e passar a
noite ao redor da fogueira recitando rezas e músicas. Esses
cânticos mudam de tradição para tradição, assim como o
acompanhamento rítmico com maracas ou tambores. Com
o Vinho de Jurema pronto (Raciocínio + Rituais, dif 7) ele
é servido em uma cabaça. Então, o mestre de rituais eleva
a cabaça sobre a sua cabeça e profere um agradecimento à
Jurema, em seguida bebe um gole. A cabaça é passada para
a pessoa à sua direita, que repete o procedimento. Essa ação
APÊNDICE
continua até que a cabaça retorne ao mestre de rituais. Ela
ainda deve conter Vinho de Jurema, e o mestre de rituais deve
beber todo o restante. Caso o vinho termine antes de retornar
ao mestre de rituais ou o mestre de rituais não consiga beber
tudo o que resta na cabaça, o ritual falha. Durante toda a
passagem do vinho entre os participantes, histórias devem ser
contadas. Após o término os participantes adormecem. Nesse
momento faz-se um teste de Gnose dificuldade 9 menos um
para cada história contada na noite. Se bem-sucedido, será
visitado em seus sonhos por espíritos que compartilharão
imagens e sonhos com revelações do passado, presente e/
ou futuro. A interpretação dessas visões não deve ser fácil
e seus significados ficam a cargo do narrador.
Rituais de Pacto
Ritual do Rastapé
Nível: Dois
Este Ritual tem como propósito buscar a proteção dos
Espíritos de Gaia para os Parentes. Para realizar este ritual
o Garou deve estar entre os Parentes e eles devem participar
ativamente do Ritual. Para tornar a realização efetiva e mais
participativa, os Garou aprenderam a adaptar a própria forma
de espiritualidade às manifestações humanas, associando
o ritual a cerimônias sagradas dos humanos, festividades,
atividades coletivas, e até mesmo peças de teatro. Durante a
realização do ritual um véu místico de areia ou névoa envolve
os Garou e os Parentes.
Sistema: Teste padrão para rituais de acordo, mas so-
ma-se à parada de dados o valor do antecedente Parentes.
A quantidade de sucessos obtida indica o número de noites
que os Parentes receberão proteção de algum espírito gaiano
já ligado ao ritualista e/ou matilha: Espíritos de Guerra
protegerão os Parentes de influências umbrais, Espíritos de
Respeito garantirão aos Parentes uma aura de respeitabilidade
inquestionável, Espíritos de Sabedoria permitirão que os
Garou compreendam mais do que poderiam sobre assuntos
místicos, e Espíritos de Astúcia ensinarão sobrevivência,
permitindo que os Parentes tenham somados à parada de
dados de Furtividade e Sobrevivência os sucessos obtidos
na realização do Ritual.
A Dança da Seda e Ferro
Nível Três
Um estranho tipo de duelo misturado com performance,
sendo bastante perigoso, mas raramente fatal. Na Dança de
Seda e Ferro, dois duelistas que possuam uma rixa verdadeira
podem se comprometer a um duelo formal, no qual lutam
com facões, enquanto mantêm um lenço estendido pelas
bocas. Os Garou seguram cada um uma ponta do lenço com
os dentes e duelam com facões procurando não afrouxar a
tensão no lenço (o que impossibilita que eles se aproximem
mais, o que é quase impossível quando a Fúria está crescendo),
69
não podendo rasgar o lenço, seja com os dentes ou
com os facões, e impedidos, obviamente, de deixar o
lenço cair, a fúria dominar os sentidos, ou atacar de
outra forma, senão com os facões. Este desafio formal
é extremamente difícil, dada a necessidade extrema de
controle, e os Garou são criaturas de paixões, fúria e
impulsividade instintiva. Desta forma, tornou-se um
ritual apreciado dentre os Portadores da Luz Interior,
Filhos de Gaia e Roedores de Ossos. Curiosamente,
foi desenvolvido por Crias de Fenris e Fianna.
Sistema: Os duelistas testam, cada um, Perfor-
mance + Destreza. Os sucessos obtidos são então
somados à disputa de Rituais + Carisma. O vencedor
obtêm uma vantagem moral sobre o alvo. Os efeitos
duram um número de dias igual ao número de
sucessos que o vencedor superou o perdedor. Esta
vantagem moral é subjetiva, mas todos perceberão
o vencedor como sendo mais alto, mais imponente,
mais respeitável, mais hábil, ou seja lá qual for a
qualidade a ser obtida sobre o oponente. Este efeito
nunca é permanente e o efeito só é real quando a
comparação é entre o vencedor e o perdedor. Perante
outras pessoas o perdedor não parece menos valoroso,
hábil ou forte, e o vencedor pode até ser reconhecido
por ter vencido um duelo formal, mas não obterá
um benefício com outras pessoas.

Novos Fetiches
Bracelete de Ogum
Nível 1, Gnose 5
Com este fetiche o usuário pode ver através
da Película, mas ao invés de enxergar a Penumbra,
enxergará o Mundo das Sombras, habitado por Fan-
tasmas e Espectros. Falha crítica na ativação deste
fetiche atrai Aparições.
Gibão de Couro Seco
Nível 3, Gnose 6
Muito popular entre os Garou do cangaço,
o Gibão de Couro Seco é criado ao adornar uma
velha vestimenta de couro, comumente utilizada por
vaqueiros, com fitas coloridas e moedas. A beleza
da roupa é usada como chamariz para o espírito
mandacaru que deve ser ligado ao objeto. Sem ser
ativado, atua como uma armadura de proteção
tanto às intempéries da caatinga, quanto a ataques,
fornecendo +2 dados de absorção de dano. Ao ser
ativado, o espírito mandacaru se faz manifesto no
Fetiche, transformando as moedas e fitas em longos
e afiados espinhos. Qualquer um que receber um
encontrão, agarrão ou imobilização do portador
70
do fetiche, sofrerá 5 dados de dano agravado por turno de
contato.
Olho da Cabra
Nível 3, Gnose 7
O Olho da Cabra foi arrancado da Cabeça Errante por
“Coroa-de-Frade” depois que esta foi utilizada por “Risca-Fa-
ca” para matar o Cria de Fenris Inocêncio “Caprichoso”.
Como eram partes do poderoso maldito Cabra Cabriola, o
Theurge dos Fianna acreditava que podia obter algum tipo
de conhecimento ou poder com o olho. Ao realizar o Ritual
de Fetiche “Coroa-de-Frade” aprisionou o Espírito da Dor.
O Espírito, entretanto, era um Gaffling da Dor Sentimental,
e por isso concedeu ao Fetiche o poder de permitir que o
portador enxergasse traumas. Isso tem uma dupla aplicação:
Serve para ver traumas em indivíduos (como o Dom Sentir
Trauma), e funciona também para identificar a proximidade
de fantasmas, espectros e locais assombrados de forma geral.
Para utilizar o Olho da Cabra, o portador deve ter o Olho
na palma de sua mão e manter os olhos fechados, para que
em sua mente as imagens de dor e os grilhões de aparições
se tornem visíveis.
Punhal do Amigo
Nível 2, Gnose 6
Apesar do nome, este Fetiche é utilizado apenas em
situações tristes. Com Punhal do Amigo, o Garou pode
descobrir quem matou um companheiro caído em batalha,
e como. Para descobrir o culpado e poder executar a vin-
gança, o portador do Punhal do Amigo deve sujar a arma
com o sangue ainda quente do amigo caído, e testar Gnose.
Sucessos indicam o culpado através de uma imagem que
aparece refletida no ferro sujo de sangue. Sucessos adicionais
revelam também a arma utilizada na morte (ou a forma que
o amigo foi morto).
Vergalho de Boi (Chicote de Nervo de
Boi)
Nível 4, Gnose 7
Utilizado para causar pavor, este Fetiche é capaz de somar
a pontuação de Intimidação na subsequente pontuação de
dano. Após a ativação, o Garou deve intimidar o inimigo.
Quaisquer sucessos obtidos são então somados ao dano
causado pelo Vergalho de Boi.
Amuletos
Cabeça Errante
Gnose 8
Assim como acontecido na história de Melquisedeque
“Risca-Faca”, a Cabeça Errante é um Amuleto feito a partir
da cabeça decapitada de um inimigo - normalmente um mal-
APÊNDICE
dito, embora o amuleto também possa ser produzido com a
cabeça de um mortal. Possuído por um espírito da Fúria, o
Amuleto deve ser ativado com sangue, para que o espírito ali
aprisionado desperte através de um Ritual de Compromisso
com ódio direcionado ao inimigo. Assim que for desperta, a
cabeça irá atacar o alvo com poderes capazes de fazê-la voar
até o inimigo com fúria assassina. Os sucessos no Ritual de
Compromisso são utilizados como parada de dados para o
ataque, que será sempre mordida (dificuldade 5), e o dano
que a cabeça errante causa é sempre igual à sua Gnose: 8.
Água do Mandacaru do Sol
Gnose 6
O mandacaru é um dos símbolos da vida na caatinga. Ele
oferece para humanos e animais alimento, sombra e água.
Muitas dessas plantas crescem tão fortes no mundo material
que seus reflexos na Penumbra são nítidos e poderosos, mui-
tos, inclusive, tornando-se Filhos da Clareira. Essas plantas
espirituais são uma das únicas fontes de água no mundo
espiritual da caatinga, e o líquido que verte de seu interior
possui propriedades impressionantes: um único gole é capaz
de matar qualquer sede, por pior que seja. E não apenas
a sede física. Qualquer desejo incontrolável é saciado pelo
período de um dia. Sejam obsessões psiquiátricas, Paixões
de fantasmas, curiosidades irresistíveis, laços de sangue, etc.
Apesar do nome “Água de Mandacaru do Sol” ser usado
devido ao mandacaru específico próximo à Cococi, muitos
outros cactos do sertão são capazes de fornecer essa água
espiritual. Não é possível criar a Água do Mandacaru do Sol
da forma que se criam amuletos, ela simplesmente surge,
sem a necessidade de estar imbuída de um espírito ou que
um ritual seja realizado. Ela é produto da vontade de Gaia
e da Wyld nas terras secas do sertão.
Eu Quero Assombrações!
I feel your presence amongst us
you cannot hide in the darkness
can you hear the rumble?
can you hear the rumble that’s calling?
(Cirice, Ghost)
Então você quer aventuras tenebrosas, cheias de decadên-
cia e escuridão? A seguir apresentamos pontos que são rele-
vantes para o melhor entendimento de como se relacionam
os universos dos Garou e das Aparições. Evidentemente,
isso não resume o que é Wraith: The Oblivion, mas serve
como guia para orientar as interações com Fantasmas em
uma Aventura de Lobisomem: O Apocalipse. Estas noções
foram adaptadas do livro Ghost Towns.
Como já foi brevemente explicitado no Capítulo 2,
Fantasmas (ou Aparições), Espíritos e a Procissão dos Mortos
(Brasil em Fúria) representam manifestações diferentes. Fan-
71
tasmas e Espectros são almas vagantes ainda presas por suas
paixões ao mundo da carne, embora sejam meros reflexos
sombrios do que foram em vida. Os espíritos, por sua vez,
são manifestações sutis e essenciais das forças primordiais da
natureza e pertencentes a ninhadas da cosmologia animista
dos Garou. Já a Procissão dos Mortos pode ser entendida
como uma manifestação do local, como reflexo de outro-
ra, quando as marcas de dor provocadas pela Escravidão,
Genocídio e Fome se fizeram presentes no mundo espiritual
do Brasil.
Primeiramente, então, podemos dizer que em termos
de regras o que diferencia Espíritos de Fantasmas é o que
pode ou não afetá-los. Dons que explicitamente se referem
a espíritos, como Comandar Espíritos, Chamado do Dever
e Drenagem Espiritual, não afetarão Fantasmas. Por outro
lado, dons que se referem a fantasmas como Visões do
Duat, Autoridade Espectral e Marca do Lobo da Morte não
afetarão Espíritos Naturae. Fantasmas também não podem
ser presos em Fetiches.
Metafísica Decadente
Embora não seja nosso propósito apresentar toda a
discussão cosmológica sobre como certas áreas e reinos
do Mundo Espiritual se sobrepõem e são habitados por
diferentes criaturas no Mundo das Trevas, é importante
esclarecer como que os Lobisomens e Aparições interagem
(majoritariamente) com partes distintas da realidade umbral.
Jogadores e Narradores com um mínimo de experiência em
72
Lobisomem: O Apocalipse já estarão acostumados com os
conceitos de Película e Penumbra, não sendo necessário
expandir sobre tais tópicos. Enquanto a Película separa o
mundo físico do Mundo Espiritual, a Penumbra é a a região
que se estende da Película até a Umbra Média (também
chamada apenas de Umbra), sendo um reflexo espiritual e
emocional do mundo físico. De forma semelhante, as Terras
das Sombras (Shadowlands) são como ecos do mundo físico,
mas com aspecto decadente e macabro, como uma sombra de
morte do mundo físico. Uma barreira semelhante à Película
separa o mundo físico das Terras das Sombras, esta barreira
é chamada de Mortalha. Para além das Terras das Sombras
há a Umbra Negra, um reino de absoluta entropia e morte.
Estas zonas espirituais normalmente não se sobrepõem,
mas em Cordel da Fome a mortalha e a película se afinam, e
tornam a cidade de Cococi uma verdadeira Cidade Fantasma.
Diferente do que acontece no cenário de Oeste Selvagem
com a Devoradora de Tempestades (para mais informações,
ver Werewolf: Wild West), no Brasil esta aproximação en-
tre o mundo da carne e a terra das sombras se dá graças à
ambiguidade de forças atuantes no cenário: O Incarna da
Extinção e o Pássaro de fogo na pira dos mortos.
A Sete Palmos
Os narradores que desejarem explorar o crossover devem,
em primeiro lugar, se atentar para o grau de interação que
irão permitir em seus jogos. Graças à natureza dos Fantas-
mas, mesmo uma interação mínima é capaz de garantir
momentos de grande poder narrativo e aventuras marcantes,
uma vez que quanto menor for a interação, maior será o
grau de suspense criado. O mistério facilmente ultrapassa
as interpretações e realmente toca e emociona os jogadores;
então se este for o desejo do narrador, sugerimos que dose
o nível de interpretação, para que as dúvidas e inconclusões
acompanhem os personagens e jogadores como verdadeiras
sombras e tormentos. Por outro lado, ao permitir um maior
grau de interação com as Aparições, os Narradores podem
provocar maiores doses de medo em seus jogadores, o que é
igualmente valioso para uma aventura como Cordel da Fome.
No entanto, há algumas considerações importantes:
com raras exceções, os Garou não se sentirão à vontade na
presença de Aparições, e não os compreenderão como outros
espíritos da natureza, com os quais estão acostumados a
interagir e com os quais nutrem um profundo sentimento
de identificação. Com as Aparições é bem o inverso: os
Garou percebem a natureza da morte como um domínio
que teria alguma semelhança com as emanações da Wyrm,
apesar de notadamente diferente. Se fosse exigida uma
articulação, alguns Theurges (mas não todos) talvez descre-
vessem a emanação dos mortos como semelhante ao que
se especula acerca da Wyrm do Equilíbrio. Notadamente,
é tudo suposição, e apesar de distintamente diferente das
emanações de corrupção, a decadência dos mortos é bastante
adversa aos Garou.
E de forma bastante similar, os impulsos e a Fúria dos
Garou é incompatível com a hierarquia e complexas políticas
dos mortos. E conforme as Aparições aprendem mais sobre
os Garou, mais fácil torna manipulá-los, o que dificulta ainda
mais uma interação onde as criaturas se enxerguem como
iguais, ou como potenciais aliados. A diferença se apresen-
ta a todo instante, e apenas as Aparições de Parentes dos
Garou podem estabelecer uma ponte de maior cooperação
e interação mútuas. É importante esclarecer que, diferente
de seus Parentes, os Garou não se tornam fantasmas ao
morrerem; seus espíritos são reconduzidos aos Reinos das
terras natais das Tribos. (obs: existem situações raríssimas
em que lobisomens podem se tornar aparições. No entanto,
estamos lidando com a situação geral e mais natural, e não
com as improváveis e raras situações de exceção).
Revirando Túmulos
Apesar do cenário da Umbra Negra ser semelhante ao da
Umbra Média, a Umbra Negra é uma região de decadência
onipresente, com uma depressiva atmosfera de morte, que
APÊNDICE
faz com que quaisquer Garou ou Espíritos Naturae que ali
se encontrem desejem sair de lá o mais rápido possível. Para
os Garou, em especial, que carregam a vitalidade de Gaia
em seus espíritos, o miasma de entropia é extremamente
desconcertante e desorientador. Caso narradores experientes
em Wraith: The Oblivion desejem expandir o jogo para
a Umbra Negra, confira algumas mecânicas importantes
(adaptadas do livro Ghost Towns):
• Os Garou que estejam na Umbra Negra adquirem
Sombras (normalmente de Arquétipos Abusador, Monstro
e Aberração), e seu nível de Angústia é igual ao seu nível de
Fúria. As Sombras dos Garou podem ter quaisquer Espinhos
que possam parecer adequados, mas devem ser como uma
“versão sombria” do personagem em questão.
• Lobisomens não possuem e nem podem aprender
Arcanoi. Mas podem usar Dons, aplicando um modifica-
dor de +1 de dificuldade para qualquer Dom que não seja
diretamente destinado para o uso com Aparições ou na
Umbra Negra. Dons como Benção do Macaco Artesão,
por exemplo, podem fornecer os benefícios comuns (caso
o Garou deseje utilizar um instrumento feito por homens
que exista na Umbra Negra). No entanto, a dificuldade será
aumentada, conforme mencionado.
• Fúria pode ser usada de forma normal para abastecer a
energia da regeneração, mudar de formas, adquirir ações extras.
• Lobisomens não tem Paixões ou Grilhões (e portanto,
não precisam de Pathos).
• Um Garou pode gastar um ponto de Gnose a qualquer
momento para sair da Umbra Negra e voltar para o Mundo
Físico.
• Lobisomens brilham como faróis no mundo dos mortos,
e a capacidade inerente das Aparições em sentir e ver a vida,
revela os Garou a todos os mortos da região como fortes seres
de vida pulsante.
• E conforme já foi dito, Lobisomens se tornam Aparições
em casos raríssimos. E nesses casos, eles não mantém seus
poderes de Garou. Tornam-se Aparições por completo
(utilizando todas as regras de Aparições) podendo apenas
manter sua aparência de Garou, na forma que fizer mais
sentido, ainda sim sem os benefícios mecânicos da forma.
73
 Últimas Palavras

Quando sinto o cheiro da caatinga

O sertão dá
Me dá vontade de matar
Sou Lampião
Sou bandido
Eu sei que algum dia
Minha cabeça vão degolar
(Cangaceiro, Soulfly)

Pedro “Devorador de Lótus” Nogueira
Finalmente, Cordel da Fome. Chegamos à terceira
etapa de nossa jornada de aventuras nos Caminhos do
Brasil, e logo de cara preciso começar com agradecimentos e
algumas observações. Esse livro, de certa forma, começou a
ser concebido dezesseis ou dezessete anos atrás quando tive
uma ideia para aventura de lobisomem, mas nunca conse-
gui realizar. A ideia envolvia uma narrativa entremeada de
passado e presente, Garou da atualidade e seus Ancestrais.
Tudo muito interessante e fácil quando se descreve assim,
mas a primeira dificuldade é que nem todas Tribos podem
acessar Ancestrais, e isso limitaria o jogo a um cenário bem
específico, mas independente das dificuldades iniciais, ainda
me lembro bem de quando falei pro Chokos “ei, essa ideia
seria legal”.
Quando escrevi o Brasil em Fúria, essa ideia ainda existia,
mas como um livro de cenário, eu me focava em outros
elementos, e um dos mais interessantes (para mim) era a
possibilidade de jogar com Garou do Cangaço num cenário
semelhante ao apresentado em Werewolf: Wild West. O re-
corte temporal é praticamente o mesmo, o cenário proposto
é parecido (quando o nosso não é simplesmente mais foda),
e com isso desde o primeiro livro que deu origem a toda essa
produção narrativa, a ideia dos Lobisomens Cangaceiros já
existia. Passa algum tempo e conheço Denison, que veio a
colaborar de forma essencial neste livro ajudando a conceber
os Cancioneiros do Luar Sozinho. Ele narrou para Chokos
e para mim uma aventura bem divertida no estado dele
(Chokos interpretava Marco Sombra-dos-Túmulos, e eu
interpretava Benedito Sem-Futuro), e no mesmo período
conheci Bruno Gabryell, com suas propostas de expansão

75
do cenário do Brasil para o Nordeste. Conversa vai, conversa
vem, a aventura começava a ser imaginada. Teríamos uma
história épica no Cangaço envolvendo a Igreja da Fome,
folclore brasileiro, Aparições e toda sorte de perigos.
É claro que o processo não foi tão fácil assim, mas os
aprendizados sobre o mundo do Cangaço e todas as horas
de divertimento criando este jogo fizeram tudo valer muito
à pena. Minha única e verdadeira preocupação é com uma
questão de representatividade. Sei e acredito que muitas
pessoas nordestinas se incomodam com o fato de que a
região é representada quase que exclusivamente com enfoque
nas questões da fome, da seca e do cangaço. É bem verdade
também que Cordel da Fome se encaixa perfeitamente nessa
descrição, e que eu não sou nordestino. Mas tive a preocu-
pação de bem localizar as falas e temas, tratando de forma
ampla o cenário escolhido com ajuda de pessoas do nordeste,
e é verdade também que enquanto produzia e imaginava
o Cordel da Fome com Denison, já debatia e começava
a produzir com o Bruno um livro que sairá futuramente,
com uma proposta mais semelhante ao Brasil em Fúria e
Sangue Nativo, focando no cenário Nordestino como um
todo. Acredito que com cada passo sendo dado a seu tem-
po, com cuidado e honestidade, conseguimos construir um
cenário amplo, inclusivo, com representatividade, divertido,
emocionante e caprichoso.
Tendo escrito tudo isso, me sinto meio envergonhado
de tanta presunção, então encerro na parcimônia com um
uivo de despedida, e com o sincero desejo que vocês se
divirtam muito com todas as nossas produções. Brasil em
Fúria, Sangue Nativo, Primeiros Uivos, Pontes Queimadas,
Rios Profundos, Cordel da Fome. E nossa viagem pelos
Caminhos do Brasil continua!
76
André “Malabarista-de-Argumentos”
Grinberg
Mais uma etapa da nossa jornada pelos Caminhos do
Brasil. Mas dessa vez não seguimos por terra, seguimos
pelo tempo, pelo cordel. E, dessa forma, o tempo de escrita
foi maior. A atenção e dedicação que tive que ter para a
pesquisa histórica e geográfica foi maior e mais lenta, apesar
de apaixonante. Mas em determinado momento me senti
vagando, sem rumo, pela caatinga.
O que me fez voltar ao rumo? Entender que eu tenho
medo de fantasmas e o Pedro de escorpiões. E que em
determinado momento havíamos, na nossa marcha pelo
tempo, encontrado um escorpião fantasma. Estávamos afasta-
dos escrevendo, cada um em suas ideias, conhecimentos e
planos. Perceber isso deixou mais claro aquilo que já era
óbvio: a parceria nos estimula. Neste momento, quase que
como uma salvação, nos encontramos aos pés do Mandacaru
do Sol, e nos inspiramos em suas águas, um gás surgiu e
Cordel da Fome nasceu. Nasceu do tempo, do afastamento
e do reencontro.
Juntos lidamos com esse escorpião fantasma. E, após
essa peleja, na minha opinião, Cordel da Fome se tornou
a história mais bonita até o momento do universo Brasil
em Fúria.
Não apenas no texto, mas em imagens, que também
pareceram ser afetadas pelas areias do tempo. Gus, Skarma,
Trilha-do-Vento e Voz-do-Trovão verdadeiramente me emo-
cionaram a cada nova ilustração que mandavam. Galera,
vocês são foda!
Espero que Cordel da Fome inspire vocês, como nos
inspirou.
Agora preciso abastecer o tanque, amarrar as botas e
partir, pois os caminhos continuam. Próxima parada... logo
vocês saberão! Logo nos encontraremos novamente.
Denison “Fome-de-Glória” Martinelli
Salve Nação! “É nóis, é tudo nosso!”
Esse livro além de uma realização pessoal é a forma que
eu encontrei de agradecer aos grandes narradores de Lobi-
somem O Apocalipse que eu tive nessa pequena trilha que
eu percorri como jogador e narrador. As citações honrosas
vão primeiramente para meu compadre Alessandro “Cego”
Santos, por ter sido meu primeiro narrador de Lobisomem,
a minha ex-esposa Raquel “Olhos-em-Brasas” Araújo por ter
insistido muito para eu ceder ao meu lado Garou, a Yuri
Petrov e suas narrativas excepcionais e não menos importante
a Yargo Taglia e sua mesa de Senhores das Sombras e nossa
paixão compartilhada pelos Wendigo!
No Cordel da Fome usei alguns elementos do que
vivenciei com cada um desses narradores/jogadores citei
alguns de seus personagens e histórias mais marcantes e foi
muito massa ter isso em forma de livro lançado pela Nação
Garou, usar o cenário do nosso nordeste tão rico de cultura
e referências foi um aprendizado enriquecedor demais e
acima de tudo muito gratificante! O Cordel da Fome tem
a nossa versão do sertão nordestino, do seu cangaço que
o nosso “velho oeste”, marcado por histórias heroicas e
bizarras com um misticismo único e muito além do que
se pode esperar de um livro de Lobisomem O Apocalipse.
Espero que todos que todos tenham gostado do livro, foi
feito com um carinho enorme! Pedro e André ‘cêis dois são
fodões, aprendi muito com os dois e adorei fazer parte dessa
pequena parte da história do Nação Garou!

77
 Os Acordes da Memória
Enquanto os Espíritos da Extinção se espalham pelo Brasil, os Garou viajam em uma canção
do Cangaço para combater a Wyrm e celebrar a glória, vivendo as belezas e assombros do
Sertão.

A Liturgia Canibal
As fantasmagóricas igrejas da fome se espalham no presente como fizeram no passado,
corrompendo o instinto vital e a sacralidade do alimento em uma profana orgia canibal.
A busca por compreensão dessas igrejas da fome levarão os Garou a descobrirem segredos
guardados por Corvos e Fantasmas acerca de uma vitória épica num passado não tão distante,
que será resgatada em mais uma nova vitória para Gaia e os Antepassados que sofreram as
dores de Wakoru.

Cordel da Fome inclui:

• Uma nova aventura da crônica Caminhos do Brasil;
• Novos antagonistas, figuras folclóricas, novos totens, Dons e fetiches;
• Personagens históricos que serão utilizados pelos jogadores;
• Uma viagem ao passado do Brasil, no recorte do Cangaço;
• Interações com outros seres do Mundo das Trevas, como Aparições, Corax e Vampiros;
• Expansão sobre as Igrejas da Fome como elemento de cenário para Brasil em Fúria.