Uma Cronica para Lobisomem: o Apocalipse

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 Um Rio que Cai
Na Seita dos Corações Antigos, Ianna Testemunha-do-Invisível
conta sua história. Os Galliards percebem: as sombras dançam na
caverna como se respondessem aos relatos de mau agouro...
As minhas pernas giravam mergulhadas na água e eu sentia
os peixes e as plantinhas acariciando as solas maltratadas dos
meus pés. Luna se escondia em sombras e eu aproveitava a
escuridão pra descansar. Em todos esses anos de andanças eu
ouvi as pessoas listarem vários motivos pra ‘largar tudo e pegar
a estrada’; algumas delas conseguiam reunir certa dignidade
em explicar suas razões, mas a maioria era bem mesquinha...
Eu perdi a conta de quantos pais e mães abandonaram os
próprios filhos dizendo que só iam comprar um maço de
cigarros. Apesar de tudo o que ouvi em incontáveis paradas
de caminhoneiros e motéis vagabundos à beira de estrada,
nenhum motivo me parecia tão absurdo quanto o meu.
Fantasmas.
Eu não sei bem no que estava pensando enquanto des-
cansava, mas lembro que naquele instante eu estava em paz,
a salvo das vozes que não me deixavam dormir. Mas minha
tranquilidade cessou quando o corpinho de plástico duma
Barbie enrolou nas plantinhas aquáticas e tocou minha
perna. Eu peguei a boneca e olhei ao redor. A princípio
não vi ninguém, mas logo percebi olhinhos entre as folhas
na margem do grande rio.
Sabendo o que eu deveria fazer, deixei a boneca no
chão e me afastei, mas me mantive perto o bastante para
UM RIO QUE CAI
observar. Uma garotinha num vestidinho puído saltou e
correu em direção à boneca, e depois de pegá-la começou a
traçar o caminho de volta. Senti um alívio, pois de fato a Lua
Nova parecia ter me concedido uma trégua dos fantasmas
que perturbavam meu descanso, mas o que veio a seguir
foi pior. Ouvi com cuidado uma voz masculina embolar o
nome da menina.
- Thaynara! – gritou o homem que se aproximava.
Quando ele surgiu, com uma garrafa de pinga na mão e
olhando para os lados, senti um calafrio na espinha. Ele
não devia ter mais de trinta anos, e a menina parecia ter no
máximo doze. No olhar embriagado dele, as mesmas feições
acobreadas e nativas da garota. Era o pai dela. Sem ter me
percebido, ele não teve pudores e esbofeteou a menina três
vezes, antes continuar falando.
- Já falei pra não sumir. Tá querendo apanhar mais,
é? Vem logo, desgraça! Vem, que cê tem que me ajudar a
carregar o barco.
Eu não lembro bem o que estava pensando nesse
instante, mas lembro que aquilo já havia sido o suficiente
pra me tirar o sossego, e por isso eu resolvi segui-los. Não
me entenda mal, eu não estava nem um pouco disposta
a arrumar confusão, mas eu não precisava esperar até o
nascer do próximo dia pra saber que, caso eu não seguisse
meus instintos, os fantasmas me puniriam com visões mais
perturbadoras que um pai batendo na própria filha. Além
disso, a face Ragabash de Luna iria me ajudar a espreitar um
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filho da puta bêbado que bate sem motivo na própria filha.
Se não fosse nada sério, eu poderia voltar pro meu descanso.
Mas, infelizmente, meus instintos estavam certos. Não
foi difícil me manter encoberta pelas sombras entre as ár-
vores e mato alto na beira do rio Amazonas. Ao chegarem a
um barquinho simples com um motor já velho, o homem e
Thaynara começaram a colocar galões de gasolina no barco.
Aproveitei a chance para me aproximar mais e ouvir.
- Você não pode sumir, Thaynara, quantas vezes já te falei?
- Desculpa, pai.
- Não quero saber de desculpas, não quero ter que
repetir. Pela última vez, coloca isso na sua cabeça: se você
sumir, não vou ter como fazer dinheiro. E sem dinheiro, já
sabe né? Sua vó não vai ter como pagar os remédios dela.
Thaynara arregalou os olhos exibindo culpa e subiu
no barquinho enquanto seu pai depositava os galões de
gasolina restantes. Logo em seguida, ele subiu no barco e
partiu, traçando na superfície escura do rio um caminho
iluminado por um lampião antigo. Quando estavam bem
longe percebi Thaynara havia deixado sua bonequinha na
margem do rio.
Na manhã seguinte eu ainda estava no mesmo lugar. A
noite não me permitiu mais descanso, mas o dia começou
com luzes e vozes familiares. Ainda ao nascer do sol vi o barco
surgir, dessa vez carregando o dobro de galões de gasolina.
A menina tinha uma expressão desolada em seu rostinho de
doze anos, diferente do pai que parecia satisfeito. Ao descer
do barco o homem esticou o próprio corpo e depois me ob-
servou. Ele não foi o único: percebi que a menina também
tinha os olhos pregados em mim, mas com uma expressão
totalmente diferente. Entre minhas mãos estava a Barbie dela.
- Bom dia – eu disse.
- Bom dia... – respondeu o homem.
- Aquela é sua filha?
- É sim. – um sorriso brilhou no rosto do homem. –
Thaynara é minha filhinha, meu amor.
Eu me lembro de sorrir em resposta, mas não me senti
bem com a resposta dele. Entreguei ao homem a boneca
e disse.
- Você acha que ela vai gostar?
O homem pegou a boneca, andou até o barco e a en-
tregou para Thaynara. A menina apertou a boneca entre as
mãos e olhou pra mim, mas o pai não pareceu perceber que
aquela boneca já pertencia a ela.
- Obrigado pelo presente. – ele disse, enquanto voltava pra
perto de mim. – você precisa de uma carona pra outra margem?
- Sim, mas não tenho dinheiro.
Ele sorriu e respondeu que não precisava, e que estava
mais do que feliz em me conduzir ao outro lado, já que eu
tinha sido gentil ao dar um presentinho para a filha dele...
Idiota.
4 PONTES QUEIMADAS
Subi no barco e fiquei calada o resto do tempo. Thay-
nara e o pai não falaram nada, mas nessa viagem eu fiquei
sabendo de tudo que eu precisava para agir. Não era apenas
a gasolina que tinha um odor pungente. Não era apenas a
cachaça que ele bebericava, nem o cigarro vagabundo que ele
puxava antes de oferecer para a própria filha. Era algo pior,
um cheiro mais antigo, mais depravado e mais pernicioso. O
cheiro de quarto fechado. Um dos perfumes da corrupção.
Wyrm.
Não lembro o que pensei naquele instante, mas confesso
que me arrependi. Eu não queria mais confusão; eu havia
peregrinado até a Amazônia pra me afastar das lembranças,
das vozes dos mortos, dos arrependimentos... Ledo engano.
Quanto mais fugia, mais o destino parecia colocar no meu
caminho desafios que eu não desejava. Eu não lembro o
que pensei naquele instante, mas eu soube instintivamente
o que eu tinha que fazer.
“Combaterás a Wyrm onde quer que ela esteja e sempre que
se proliferar”.
Quando me levantei, o barco sacudiu, fazendo que os
galões batessem uns nos outros e balançassem. Num movi-
mento instintivo, o filho da puta esticou o braço mantendo
os galões de gasolina no lugar, enquanto virava para me
encarar. Thaynara também olhou para mim, enquanto eu
dava passos desequilibrados indo na direção do homem,
mas bem atrás dele, na margem do rio, algo chamou ainda
mais a minha atenção.
Lá na margem eu vi um homem loiro, vestido de forma
errada para a selva, e rodeado de Crinos translúcidos. Três
deles. Os lobisomens fantasmagóricos olhavam direto pra
mim, mas o homem entre eles apenas olhava o rio, como
se esperasse por uma carona também.
O que me deteve não foi a presença de outros Garou. Foi
perceber que a maior parte deles eram espíritos ancestrais.
Assim que minha atenção se voltou para eles, eles evaporaram
no cenário amazônico, zombando da maldição de Sutekh
que recai sobre meu povo.
- Que foi, moça? - A voz era de Thaynara.
- Ahm. Nada.
Sentei de volta no meu lugar e esperei. Quando o barco
aproximou da margem, o pai de Thaynara pegou dinheiro
da mão do homem loiro, e indicou um assento pra ele,
reiniciando em seguida o percurso pelo rio.
- É mais pra frente que fica bom pra descer – ele me disse.
Esperei pelo momento certo observando a água. Quando
ela ficou mais escura e os peixes maiores, me levantei. Com
um dom sussurrei um recado ao Garou loiro. Ele recebeu
a mensagem com choque, assustado pelo reconhecimento
imediato, mas agiu bem, e manteve a calma. Eu havia sus-
surrado na mente dele que o homem prostituía a garotinha,
e com um simples assentir de cabeça, concordou com o que
eu ia fazer.
 Eu dei poucos passos pelo barquinho enquanto deixava
o lobo surgir em mim. Tencionei os meus músculos como
massas brutas de caçadora. Uma forma Glabro bem mais
selvagem que a maioria. Deixei o sol às minhas costas, e
produzi uma sombra do tamanho do Amazonas sobre o
homem. As sombras de minhas folhas eram pêlos escuros.
Os meus ramos eram presas e garras.
O filho da puta se virou pra mim, e eu contive o grito
de pavor dele com minha mão primitiva, e sem esforço
desloquei seu maxilar. As pernas dele amoleceram com a
dor, mas ele se manteve à mesma altura, erguido apenas
pelo meu braço. Foi aí que comecei a socar a cabeça dele.
Não sei quantas vezes soquei a cabeça dele, mas lembro
que ele ainda estava vivo quando olhei para trás e vi que o
homem loiro segurava Thaynara, que estava se debatendo.
Em retrospecto, eu deveria ter sido mais comedida, mas
a fúria já tinha me dominado; e enquanto a filha assistia, eu
afundei a cabeça do homem no rio a apenas um palmo de
profundidade. Antes da surra ele não seria capaz de lutar
contra minha força em Glabro, então depois de ter sido
surrado, ele praticamente só se entregou. Numa mancha
vermelha no Amazonas o pai de Thaynara morreu afogado.
Em seguida, joguei o corpo do desgraçado no rio e fechei os
olhos, desejando que isto funcionasse como um chiminage
para os espíritos da vingança.
Eu achei que estava fazendo bem, mas quando o homem
loiro soltou Thaynara, ela avançou sobre mim irada, fazendo
com que o barco balançasse ainda mais. Eu tentei acalmá-la,
mas foi inútil. Apenas o estrangeiro parecia capaz de deixá-la
em paz. Ele a abraçou e me fitou por um longo tempo. Nos
olhos dele eu percebi a mesma dualidade de todos os Garou.
É cruel matar a sangue frio um “pai” que prostituía a
própria filha? Porra, é lógico que é cruel; mas por outro lado,
o que um filho da puta desses merece, se não for morrer
enquanto uma de suas vítimas testemunha tudo? Eu sei
que não estou com a razão quando digo isso, mas nenhuma
razão é capaz de superar a fúria quando ela surge. Eu sabia
que aquele Garou de cabelos loiros pertencia à mesma
dualidade, porque em seu olhar também senti a resignação
dos horrores da guerra.
- Qual é seu nome? – ele perguntou.
- Ianna “Testemunha-do-Invisível”. Galliard das Pere-
grinas Silenciosas.
- Sou Ezequiel “Fúria-das-Almas-Perdidas”. Meia-Lua dos
Crias de Fenris. Agora quer me explicar o que está acontecendo?
- Ela vai ficar bem. O que o pai dela estava fazendo não
era certo, e o que aconteceu já passou.
Ele não pareceu gostar da minha resposta, então continuei:
- Se quer uma prova, você está convidado a me acom-
panhar, Ezequiel. Eu tenho certeza que ele tinha a mácula
da Wyrm. E tô pensando em fazer uma visita ao lugar onde
ele a levava.
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 Ele demorou a responder como se estudasse as mi-
nhas intenções.
- Eu não vim à Amazônia pra isso.
- É verdade... Pra que você veio?
Ele não me respondeu.
- Você veio visitar a Seita do Coração Oco, né? Então
as notícias se espalharam...
Ezequiel me olhou surpreso.
- Que notícias?
Bingo.
- Golgol “Presas-Primeiro” está desaparecido. Electra
“Dama-das-Armas” quebrou antigos acordos espirituais e está
buscando aliados na mata profunda. A guerra da Amazônia
nunca acabou de verdade, mas a liderança interina de Electra
tem sido desastrosa.
Os olhos dele brilhavam com tanta informação. Fiz ques-
tão de aumentar a dose da narrativa para tê-lo na minha mão.
- Os Garou mais próximos de Golgol se revoltaram com
Electra. Muitos disseram que ela é covarde e idiota por ter
abandonado o sistema de Wargs e implorado ao Totem do
Sapo-da-Árvore que camuflasse o Caern.
- Camuflasse?
- É... Eu sinto muito Ezequiel, mas acho que você não
vai conseguir o que está procurando. O Coração Oco tá
fechado, escondido. O caern inteiro foi camuflado pelos
espíritos. Eu mesma todas as vezes que tentei fazer uma
visita acabei perdida num labirinto verde.
Frustrado, o Cria de Fenris fez o mais difícil e se controlou.
- Não. – ele disse – Você me disse tudo que eu precisava saber.
Ele olhou mais uma vez para Thaynara, e mudou o tom.
- Pra onde o pai a levava?
***
Sem dificuldades nós singramos pelo rio até uma co-
munidade que se equilibrava em toras e tábuas de madeira
em casinhas irregulares na beira do grande rio. As casas
eram precárias, mas coloridas. Tábuas verdes e amarelas
sustentavam tetos de amianto, e outras vezes folhas secas.
Entre as casas se estendiam fios de varal, redes de dormir e
redes de pescaria, além dos inescapáveis anúncios de cerveja.
Na casa mais iluminada – e também mais repleta de
anúncios e música – reconheci um barzinho... ou algo do
tipo. Um lugar aonde as pessoas vão pra escapar das dores
do cotidiano, provocando dores de outros tipos. Ezequiel
investigou o rosto de Thaynara e com o dom de sua lua
obteve a verdade. Era pra lá que o pai dela a levava. Era lá
onde ela era vendida.
Por algumas horas os “clientes” levavam as garotas para
suas próprias redes, às vezes para canoas ou quartos, porque
nem todos eram visitantes. Alguns eram clientes regulares,
e tinham o benefício de desfrutar do prazer imundo e cor-
rompido no conforto de uma cama.
PONTES QUEIMADAS
Ezequiel foi muito habilidoso com Thaynara. Ele a dei-
xou mais calma quando mostrou como a violência pode ser
justa e um pouco menos cruel. De pé no barco, ele pegou
dois galões de gasolina e começou a molhar as folhas secas
no telhado das casinhas à beira do rio.
- Espero seu sinal – ele disse, enquanto enxugava as
mãos na camisa. Logo depois ele a tirou, e fez uma bola de
pano embebido em gasolina.
Como uma sombra eu saí do barco, deixando a água
molhar metade do meu corpo. Em seguida, subi com os pés
enlameados pela margem do rio, me agarrando às toras e
tábuas que serviam de fundação flutuante para o prostíbulo
infantil. Oculta pela música tocada num DVD, eu entrei
sem chamar atenção. Havia duas mulheres velhas e uns sete
homens de várias idades. Pra cada um dos filhos da puta
havia pelo menos duas meninas, mas essas não variavam
tanto na idade. A mais velha devia ter uns dezesseis, e a
mais nova algo em torno de nove.
Embora a fúria quisesse me dominar só de estar em um
lugar como esse, o primeiro sentimento foi de desolação. Eu
me lembro de me perguntar “o quê Electra, uma Fúria Negra,
estava fazendo se permitia que algo assim acontecesse por
perto?” Mas também me lembro de ficar resignada, sabendo
que um indivíduo sozinho não é capaz de solucionar todos
os problemas do mundo.
Aquele problema, entretanto, eu podia resolver. Só
quando fiquei no centro da salinha mal iluminada que os
olhares embriagados e tortos viraram na minha direção;
eles me olharam como se também me quisessem. Dessa vez
eu não me conteria em Glabro. Com um urro saltei para
Crinos, mas preservei a precisão da raiva.
Às vezes a fúria te deixa cega, mas outras vezes te permite
ser uma espécie de cirurgiã da matança; o vértice de uma
eficiência vermelha. Com uma garrada retalhei os músculos
e esmaguei ossos da caixa torácica do primeiro desgraçado
à minha frente. Era um homenzinho desprezível, de seus
cinquenta e poucos anos, com a barriga redonda e reluzente,
agora pintada de sangue. A calça jeans dele estava com o
zíper aberto, e ele se mijou enquanto morria engasgado no
próprio sangue. Antes de me virar para o restante, o ar do
lugar parecia ter ficado mais denso.
Respingos de sangue atingiram a lâmpada incandescen-
te. De amarelado, o lugar passou a ser rubro e escuro, e as
pessoas começaram a gritar. Mesmo na confusão de pernas
e braços, eu ainda conseguia ser precisa com meus ataques.
Enquanto uma menina escapava pela porta, um homem de
vinte e poucos anos escorregou no sangue e tripas esparra-
mados no chão, enquanto chorava pela mamãe.
Com um pisão, parti a coluna dele. Com outro pisão joguei
todo meu peso, e os olhos dele se injetaram de sangue. Mordi a
lateral do corpo e enchi a boca com aquela carne imunda. Cuspi
e uivei. Algumas das meninas devem ter ficado traumatizadas,
e as mais sortudas devem ter bloqueado a lembrança daquilo
tudo. De qualquer forma, eu estava resolvendo um problema
à maneira Garou. Mesmo que não fosse bonito, era eficaz.
Não lembro como matei todos eles, mas me lembro bem
da sonoplastia quase vegetal de ossos quebrando, além dos
choros. Ao fim de tudo, eu estava ofegante e voltando à minha
forma natural. Tudo estava sujo e repleto de carne mutilada,
e o telhado já começava a se iluminar com fogo de gasolina.
Eu era a última coisa viva dentro daquela casinha de madeira.
Graças a Gaia, todas as crianças estavam vivas, e todos os
seus algozes, mortos. Antes de sair daquela construçãozinha
condenada eu olhei mais uma vez pro lugar, que se enchia
de fumaça e chamas.
E segundos antes que eu pudesse sair, eu vi: A silhueta
de um homem muito maior do que eu, vestindo um terno
branquíssimo. Sua pele era vermelha – ou talvez fosse apenas
a iluminação de sangue e chamas - e ele carregava um açoite
de muitas pontas. Em meio às chamas, ele riu, e os olhos dele
também pareceram pegar fogo. E então ele se desfez em labaredas.
Saí correndo de lá, e encontrei Ezequiel e Thaynara.
Todas as meninas fugiram de mim, mas escaparam de algo
bem pior: de uma vida em escravidão sexual. Elas fugiram
apavoradas, mas foi melhor assim. Thaynara, entretanto,
fitava as chamas consumirem o local.
***
Ezequiel ficou taciturno o resto da noite. Enquanto nos
afastávamos da casinha de madeira pegando fogo, deslizamos
pelo Amazonas acalmando os sentidos, mas ele ainda parecia
tenso; mesmo assim não ousei fazer uma pergunta. Thaynara
ficou fitando o antigo local de sua escravidão sumir na noite,
e logo depois dormiu, pesada e silenciosa. Estiquei meu corpo
para descansar, mas sabendo que eu não iria conseguir pegar
no sono, então apenas mantive os olhos fechados.
Depois de algum tempo assim eu comecei a ouvir, a
testemunhar o invisível - como diz o meu nome. De olhos
fechados, eu senti outras presenças. Espíritos, fantasmas, o
perfume de flores há muito tempo consumidas pelo chão.
Mas, dessa vez, os fantasmas acompanhavam o Cria de
Fenris. Eu soube sem esforço que eram Espíritos Ancestrais
da tribo dele, algo que me fora usurpado pela maldição de
Suthek. Não ousei abrir os olhos, para que não desapare-
cessem mais uma vez.
Na mente de Ezequiel eles travaram um diálogo. Se eu
mantivesse os olhos fechados, a lua minguante me permitia
ser uma testemunha parcial.
- O nome dele está perdido – sussurrou um guerreiro
com voz cansada.
- A linhagem dele está morta – impôs outro fantasma.
- O espírito de Golgol não está em nosso reino – retum-
bou a voz mais antiga dos espíritos ancestrais.
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 - E a porta da casa dele está fechada – disse Ezequiel. – Será
que foi ele, e não Electra, que decidiu pela covardia de se esconder?
- Não.
- Não.
- Não.
- Vou questionar a Peregrina. Ela conhece esses rios e
pode nos conduzir a outro caern.
Mas ao invés de me perguntar sobre um novo rumo,
Ezequiel se virou para mim e disse em voz baixa:
- Você sabe que nós não ajudamos ninguém, né?
- Como assim?
- O que fizemos ontem, Ianna. Esse tipo de coisa não
resolve nada. Quando as garotas fugiram, pra onde você acha
que elas foram? Para as mesmas casas onde moravam, para
as mesmas famílias que as obrigam àquele tipo de merda.
E pior, sem o dinheiro.
- Eu sei.
Ele me olhou. Eu olhei pra ele.
- Certo – ele disse – Eu também não teria feito diferente.
Mas é confuso, sabe?
- É claro que é. Ninguém nos fornece um manual de
ética do Apocalipse.
Rimos, mas sem muito humor.
- Ao menos podemos fazer algo por Thaynara. Deixá-la
com Parentes, talvez?
Parentes Garou – pensei.
- É claro.
Então assumi o controle do barquinho, tomando um
afluente coberto por plantas e habitado por serpentes e
araras multicoloridas. O sol já ia alto pela manhã, mas
tinha dificuldades em atravessar as árvores, tornando o rio
um caminho tortuoso e sombrio. Quando ouvi o primeiro
urro de um macaco bugio, fiquei atenta.
Ezequiel levantou-se assustado, sacudindo o barco e
acordando Thaynara. O grito do animal era assustador, pro-
fundo e cavernoso. Algo como um berro gutural de alguns
dos Fera; mas para esse local, representava algo muito mais
importante: os limites de um caern irmão do Coração Oco.
Nós estávamos nos limites de um antigo posto avançado de
Golgol Presas-Primeiro, o caern do Rio do Céu.
Antigamente, Golgol havia colocado um Cria de Fenris
para liderar o Warg na parte sul de Manaus, mas agora não havia
sinal de estrangeiros por aqui – exceto nós. Dois anos atrás,
a liderança da seita foi tomada por um meia-lua dos Uktena,
um velho cego chamado “Vigia-a-Noite-e-o-Trovão”. O totem
do macaco bugio estava avisando sobre nossa aproximação.
Logo, Ezequiel também percebeu que o rio fluía mais
rápido, conduzindo o barco sob galhos e sob olhares de
animais ferozes. O Uktena não precisava nos ver ou ouvir
para saber de nossa presença, pois ela já havia sido avisada
pelos espíritos do local. As sombras cobriam a totalidade do

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rio, e embora os grandes bugios e serpentes fossem visíveis
para nós, os cantos das araras e outros pássaros passavam
por cima das árvores. O rio continuou nos levando, até que
todas as sombras deram lugar para o sol pleno de meio-dia.
O rio, que se alargou abruptamente, soltou os dedos
entrelaçados de galhos de árvores, permitindo novamente
o céu. E lá estava o céu, o rio do céu. E à nossa frente, uma
ilhota que aparecia apenas no reflexo da água. Eu e Ezequiel
esfregamos os olhos, mas era isso mesmo. Não havia ilha
alguma na superfície da água, mas o reflexo estava lá.
- A Penumbra! – eu disse.
Ezequiel assentiu, e acrescentou:
- Estes devem ser os limites do caern. Faz sentido, não é?
- O quê?
- O nome deste lugar. Rio do Céu. Estamos flutuando
acima dele.
Observamos atentamente o furo na Película e lá, naquela
imagem invertida de uma ilha que não existia, havia um
homem. Um nativo idoso.
- Ezequiel, precisamos ir para o outro lado.
- Merda – ele disse – eu odeio essa parte.
De olhos fechados, toquei a superfície da água sem deixar
que meu toque furasse a pele delicada do rio. Concentrei
em sentir meu próprio toque do outro lado. Quando a
percepção se tornou sutil e senti a minha própria pulsação,
fechei a mão como se eu fosse agarrar meus próprios dedos
espirituais. Abri os olhos, e agora eu estava do lado inverti-
do do rio, com a ilhota e o velho bem à minha frente. Ele
não olhava pra mim, estava com o rosto virado para o céu.
Arrastei meu corpo pela correnteza até pisar na parte
seca da ilha. O velho permanecia sentado. O rosto dele era
fustigado pelo sol e endurecido em ondas e fissuras. Ezequiel
chegou logo depois.
- Vigia-a-Noite-e-o-Trovão, eu sou Testemunha-do-Invi-
sível. Este é Fúria-das-Almas-Perdidas. Rios diferentes nos
trouxeram até aqui, mas viemos com perguntas.
- Não sei o que dizer a dois estrangeiros. – disse o velho Uktena.
Ezequiel tentou falar algo, mas com um sinal o impedi.
- Saberá. – impus. – Eu não sou estrangeira, porque não
sou de lugar algum. Eu nasci na encruzilhada de alguma
estrada brasileira, e ele – apontei para Ezequiel – veio de
muito longe porque os Ancestrais do povo dele exigiram.
Temos perguntas; a primeira é sobre o Coração Oco. Como
podemos alcançar o caern?
- Ninguém pode. Ele está escondido.
- Por quê?
- Por que você acha? Estão com medo. O caern está se
escondendo.
- De que? – A voz de Ezequiel exibiu impaciência.
- Quem pode saber? – disse o velho Uktena, antes de
começar a girar a cabeça para nos fitar. No lugar de olhos
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ele tinha cavidades escuras. Com a negritude da ausência
de olhos, ele nos encarou e disse:
- Se a Corruptora está organizando um grande ataque,
Electra certamente deixou os nativos desprotegidos. Eles se
esconderam e nos deixaram para morrer, como sempre fizeram.
Dessa vez, eu quem fiquei impaciente.
- Você não está falando nada com nada, velho. Olhe
para ele – agarrei Ezequiel pelo braço – ele parece nativo
pra você? Com esse cabelo loiro? Se o Coração Oco está se
escondendo de um ataque, ele deixou vários Garou de fora,
nativos e estrangeiros, sem distinção.
- Pode até ser – respondeu o velho, e logo depois apontou
para Ezequiel – mas até os Ancestrais dele parece que querer
se proteger do que está vindo, não é mesmo?
Saltando para Glabro, o Philodox dos Cria de Fenris
perdeu a temperança e começou a gritar.
- Calem a boca! Co-como vocês... Vocês podem vê-los?!
O velho cego sorriu, e eu respondi:
- Eu posso percebê-los quando fecho meus olhos.
Confuso, o Cria de Fenris coçou a cabeça e respirou
profundamente, andando de um lado para o outro, se for-
çando a voltar para a forma natural.
- Isso nunca aconteceu antes. Sempre ouvi as vozes, e
às vezes os vejo em sonhos...
- ...mas nunca nenhum outro Garou partilhou de
suas visões – completou o Uktena – a verdade é que os
espíritos de toda essa terra ainda podem ser ouvidos onde
ocorreram massacres.
Ezequiel me encarou com uma expressão surreal, que-
rendo que eu esclarecesse melhor.
- Desde que Antélios brilhou no céu, os fantasmas têm
se mostrado para alguns Garou. Há relatos de enormes
procissões de antigos escravos, índios do período do Des-
cobrimento, e todo tipo de gente mutilada aparecendo na
margem de rios e estradas por todo o país. Alguns Galliards
chamam o fenômeno de Procissão dos Mortos, mas ninguém
entende bem o que está acontecendo. Eu posso vê-los, e
Vigia-a-Noite-e-o-Trovão também pode.
- Acredito que Golgol Presas-Primeiro também pudesse
ver os mortos, e por isso agiu como um covarde. Sumiu e es-
condeu o caern, como um vira-lata com o rabo entre as pernas.
Mais uma vez, a fúria eclodiu em Ezequiel. Agora na
forma Crinos, o monstro cinza-branco rosnou e arranhou
o chão ameaçando o velho Uktena; mas ele nem se mexeu.
Entre os dois, eu agi como uma Philodox que eu não sou.
- Ezequiel!
- Deixe – disse o Uktena sentado no chão – Se ele tentar
alguma coisa o Grande Bugio vai tirar a carne dos ossos dele.
- Ezequiel! – gritei mais uma vez, e então apontei para as
costas dele, para a água onde, do outro lado, estava o barco
com uma menininha Parente dos Uktena.
10 PONTES QUEIMADAS
- Thaynara.
E com a lembrança, o Cria de Fenris conseguiu controlar
a raiva. O Uktena então perguntou.
- Thaynara?
Esperei até que Ezequiel estivesse calmo, então expliquei
que eu achava que a menina fosse uma Parente do povo Uk-
tena. Contei com detalhes o que aconteceu, mas não pude
perceber nenhuma expressão de interesse no rosto do velho.
Só quando falei sobre o espírito de chamas, açoite e terno
branco que ele demonstrou emoção. E a emoção era pavor.
- K’ulmatu – ele disse – K’ulmatu está de volta.
Foi aí que ele se levantou, e observou o céu mais uma vez.
- Eu devia ter percebido – ele apontou para o céu - eles
invadiram as pontes. K’ulmatu e seus irmãos estão vindo. É
por isso que o Coração Oco está escondido. K’ulmatu! - E
então o velho Garou assumiu uma bizarra forma Lupina e
sumiu nas sombras da ilhota.
Ao cruzar novamente a Película estávamos na margem
do rio, distantes do barco. Lá, no meio do rio, estava o
barquinho com Thaynara. Ela olhava para nós, confusa,
mas alegre de estar nos vendo mais uma vez.
E então, um estouro. Um tiro. Uma revoada de pássaros
fugiu, e o peito de Thaynara se abriu, borrifando sangue no
ar. Olhei para outro lado da margem, de onde veio o som do
tiro. Lá longe mais uma vez o Espírito da Escravidão apareceu,
com sua pele vermelha, olhos de fogo, terno branco e açoite.
K’ulmatu – eu repeti pra não esquecer o nome. Em seguida,
os uivos de frenesi tomaram conta do Cria de Fenris, e eu caí
sentada e desolada. O espírito sumiu nas sombras. Quando
a fúria de Ezequiel começou a arrefecer eu observei o céu:
misteriosos pássaros vermelhos voavam. Um deles pousou na
canoa onde estava Thaynara e andou sobre o corpinho dela.
Então o pássaro brilhou e o fantasma de Thaynara se levantou.
Ela olhou para mim e foi embora com a procissão de mortos
que flutuava no leito do rio enquanto pássaros vermelhos os
conduziam pelo céu.
***
- E o quê aconteceu depois? – perguntou “Rói-com-Ran-
cor”, o Roedor de Ossos.
- Quando a noite caiu os urros do Macaco Bugio foram
silenciados por uivos estridentes de Dançarinos da Espiral
Negra. Eu mesma vi K’ulmatu açoitando aqueles Dançarinos,
escravizando e usando o poder deles para absorver a gnose
do Rio do Céu. Aquele caern agora pertence à Wyrm, e o
Macaco Bugio que antes foi cultuado por Uktena e Crias
de Fenris se fortalece com Dançarinos da Espiral Negra.
Nada mais precisava ser dito na Seita dos Corações Antigos,
porque todos batiam alarmados, como antigos corações aflitos.
Velocidade-do-Trovão olhou para Ianna e para seus irmãos de
matilha, e essa foi toda a comunicação que precisavam. Era hora
de se preparar para a batalha.
Sob Um Céu, Mil Caminhos e Conflitos
Brasil em Fúria 11
Créditos
Desenvolvido por: Matheus Chokos Veloso e Pedro
Ribeiro Nogueira
Escrito por: Pedro Ribeiro Nogueira e Matheus
Chokos Veloso
Editado por: Matheus Chokos Veloso e Pedro Ribeiro
Nogueira
Diagramação: Rafael Tschope
Imagens: Rafael Trilha-do-Vento Figueiredo, Indi
Corvinho Medeiros e Storytellers Vault

© 2017 White Wolf Entertainment AB. All rights reserved. Vampire: The
Masquerade®, World of Darkness®, Storytelling System™, and Storytellers Vault™
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rights reserved.
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visit: www.white-wolf.com, www.worldofdarkness.com and www.storytellersvault.com.

12 BRASIL EM FÚRIA
 Sumário
Um Rio que Cai 1
Pontes Queimadas 11
Introdução 14
Capítulo Um: Ambientação 16
Capítulo Dois: Locais e Pessoas 18
Capítulo Três: Narrativa 26
Apêndice 50
Palavras Finais: Às Armas 62

Brasil em Fúria 13
 Introdução
Assim como “Um Rio que cai”, o conto que abre este
suplemento, todo o conteúdo de Pontes Queimadas tem como
base o RPG Lobisomem: O Apocalipse e o suplemento regional
Brasil em Fúria, produzido pela Nação Garou-GarouCast. Mui-
tos dos elementos foram retirados do suplemento Rage Across
the Amazon, mas foram adaptados para o cenário atual e a para
as regras de Werewolf: The Apocalypse 20th Anniversary Edition.
Ianna, a Peregrina Silenciosa que presenciou a queda do caern
do Rio do Céu e a manifestação de K’ulmatu, percorreu todos as
estradas que foi capaz para alertar os demais Garou que Malditos e
outros servos da Wyrm estão infiltrando as Pontes Lua e atacando
as seitas de todo o país. Este suplemento apresenta uma aventura
pronta para ser narrada neste cenário, logo após a chegada da
Peregrina Silenciosa na Seita dos Corações Antigos, em Ouro
Preto-MG (mais informações da seita em Brasil em Fúria). A despeito
da exortações de Ianna, Velocidade-do-Trovão, o alfa da seita, decide
abrir uma Ponte de Lua até a Amazônia para investigar justamente
a origem destes ataques. O Senhor das Sombras pretende com essa
ordem atrair a atenção dos servos da Wyrm, e garantir uma rota
de fuga ou de ataque. Mas as possibilidades que se descortinam a
partir desta decisão temerária podem trazer Glória e Honra, mas
também muita tragédia e aprendizados indesejáveis.
Inicie esta jornada numa Assembleia, viaje pelo céu,
e encontre entre as sombras das florestas e das cidades os
perigos e segredos ignorados pelos sortudos e pelos covardes
Plano de Fundo e Adaptações
Pontes Queimadas lida com boa parte do metaplot central de
Brasil em Fúria, e por isso boa parte das explicações e definições
(como, por exemplo, os dados dos caerns, personagens, espí-
ritos brasileiros, etc.) são tratadas aqui como já estabelecidas.
Um desses fatos estabelecidos diz respeito à atual situação da
Seita do Coração Oco, na Amazônia, e o enfraquecimento das
Pontes de Lua, que permitiu que servos da Wyrm infiltrassem
ou as destruíssem. É neste cenário de perigo iminente que se
desenrola Pontes Queimadas.
Há, evidentemente, a possibilidade que os Narradores
façam adaptações e ajustes para que a aventura fique mais
adequada às suas pretensões narrativas, mas alguns elementos
são mais facilmente ajustáveis do que outros.
INTRODUÇÃO
A parte mais facilmente adaptável é justamente o primeiro
ambiente apresentado na narrativa: A Seita dos Corações Antigos
(ver Brasil em Fúria), onde a aventura começa. É permitido ao
Narrador alterar este ponto de partida para... onde quiser. Quanto
ao restante da aventura, incluindo os outros locais frequentados,
a adaptação é mais complicada. É claro que nada impede que os
jogadores e Narradores mudem estes locais e personagens em
suas crônicas, mas algumas relações são cruciais para que esta
aventura se desenrole até o fim conforme planejado.
Nas seções Para os Ouvidos dos Jogadores as informações
apresentadas são gerais, e podem inclusive apresentar algumas
mentiras e verdades mal contadas. Os elementos imutáveis ou de
difícil adaptação serão apresentados nas seções Para os Olhos do
Narrador, que também contém spoilers, o que reforça a ideia de
que os jogadores não devem ler as informações ali apresentadas.
Como Usar Esse Livro:
O suplemento Pontes Queimadas se divide da maneira
mostrada abaixo:
Um Rio Que Cai: Esse conto é a história original,
contada por Ianna Testemunha dos Invisíveis na Seita dos
Corações Antigos. É o primeiro aviso dos acontecimentos
e o chamado para batalha.
Introdução: Contém avisos aos jogadores e Narradores,
bem como as linhas gerais da aventura.
Capítulo 1: Esse capítulo se propõe a fornecer uma am-
bientação e microhistória dos eventos que levam à aventura
Pontes Queimadas.
Capítulo 2: O segundo capítulo trata de informações
adicionais (além das encontradas em Brasil em Fúria) sobre
os locais, personagens e relacionamentos entre NPCs.
Capítulo 3: Aqui se encontra toda a narrativa de Pontes
Queimadas, divididas em três atos. O primeiro ato contém
o cenário de Ouro Preto e uma missão secreta. O segundo
ato apresenta um novo reino umbral. O terceiro ato liga
o cenário do Brasil atual aos resultados catastróficos da
Guerra da Amazônia.
Apêndice: Nesta parte são apresentadas as regras com-
piladas e adaptadas para Combate Massivo em Lobisomem:
O Apocalipse
 Capítulo 1:
Ambientação
“Verás que filho teu não foge à luta”
(Francisco Manuel da Silva – Hino Nacional Brasileiro)
Pontes Queimadas é uma aventura de média a longa
duração composta de três cenários bem diferentes entre si.
Embora vários ajustes sejam possíveis, recomendamos que
a maior das adaptações seja feita na primeira parte do jogo,
uma vez que o restante da narrativa depende de elementos
pré-estabelecidos pelo metaplot de Brasil em Fúria.
O clima da aventura é de perigo iminente. Embora
existam momentos de ritmo menos acelerado, Pontes Quei-
madas é uma corrida contra o tempo e, em muitos aspectos,
uma perseguição prolongada. As marcas da corrupção
serão perceptíveis de formas diferentes ao longo de toda a
história, e dicas de descrição serão inspiradas em elementos
da metafísica da Wyrm, embora isso sirva mais para criar o
clima do que para impulsionar a história.
Os três cenários são: a Seita dos Corações Antigos, em
Ouro Preto – Minas Gerais, o Reino Vera Cruz (que será
apresentado mais adiante) e a Amazônia devastada pela guerra.
Ouro Preto é uma cidade antiga, pequena, mas bastante
populosa e rica em cultura. A ambientação é melancólica,
pois a gnose do caern é alimentada pelos espíritos de escravos
que lá viveram. A Seita é nova e o alfa Senhor das Sombras,
Velocidade-do-Trovão, é um político nato. Ele soube aproveitar
de um vácuo na liderança nacional para fazer da Seita dos
Corações Antigos uma referência para todos os Garou. Por isso
todas as tribos são bem vindas no Pico do Itacolomi, onde a
gnose do local brilha com o fogo do totem Tata’Krenak. Neste
cenário, a Devoradora de Almas é extremamente poderosa, e
os espíritos de escravos se aliam a Tata’Krenak para vencê-la.
Vera Cruz é um reino umbral pouco conhecido pelos
Garou, embora outras raças metamórficas conheçam os
caminhos para o reino do Brasil mítico há milhares de anos.
Neste reino, o antigo e o recente colidem, e as lendas folclóri-
cas vivem. Seres feéricos vivem em Vera Cruz e afirmam que
todo o Reino faz parte do Sonhar. Como uma das histórias
mais bem difundidas no Brasil diz respeito à corrupção, toda
o reino umbral sofre com as emanações da Corruptora.
PONTES QUEIMADAS
A Amazônia encontra-se em estado deplorável após
anos de conflito (ver Rage Across the Amazon). O maior caern
encontra-se camuflado, e seu caern irmão foi dominado por
espíritos da Wyrm e Dançarinos da Espiral Negra. A Fera da
Guerra ainda se sacia com as vítimas deste cenário.
Micro-história
- Ianna Testemunha-do-Invisível chega à Seita dos
Corações Antigos. Ela traz a notícia da queda do caern do Rio
do Céu e da invasão por Pontes de Lua. Velocidade-do-Trovão,
o alfa da Seita, exige que matilhas investiguem a Penumbra
local para buscarem por Pedras do Trovão.
- Com as Pedras do Trovão coletadas pelos jogadores
e por outras matilhas, Velocidade-do-Trovão faz um breve
discurso para os Garou, no qual afirma que os Corações
Antigos não perecerão, mas que não fugirão à luta. Ao invés
de fechar todas as Pontes de Lua, como recomendado por
Ianna, Velocidade-do-Trovão deixa apenas uma aberta, direto
para a Amazônia. As Pedras do Trovão são utilizadas para
fortalecerem os espíritos que acompanham Garou enviados
para a Amazônia.
- No meio do caminho a Ponte de Lua é atacada por
uma horda de Malditos. Os Garou batalham, mas o embate
eventualmente leva à destruição da ponte.
- Os Garou caem à deriva pela Umbra, e encontram-se na
terra de folclores chamado Reino Vera Cruz. Lá, eles devem
presenciar histórias, prestar favores, sangrar e fazer acordos
para que o caminho de volta lhes seja revelado.
- De volta ao mundo físico, os Garou encontram-se
na Amazônia, onde enfrentarão problemas aterrorizantes
e gloriosos: descobrirão caminhos para o Coração Oco,
que encontra-se fechado e camuflado, farão acordos
com outros metamorfos, lutarão contra poderosos
Dançarinos da Espiral Negra que dominaram a Seita
do Rio do Céu e farão aliança com a reclusa Seita dos
Espíritos da Chuva.
 Capítulo 2:
Locais e Pessoas
“We who are not as others”
(Sepultura – We Who Are Not As Others)
Como já foi dito, três são os cenários que compõem
a crônica Pontes Queimadas. A seguir, apresentamos uma
lista de informações para duas destas localidades. As infor-
mações apresentadas aqui devem ser utilizadas apenas como
referência durante o jogo. Aqui você encontrará mapas de
relacionamentos dos NPCs da aventura, além de mapas de
localidades e fichas de personagens. Como o Reino Vera
Cruz compõe todo o segundo ato do jogo, escolhemos
apresenta-lo também no Capítulo 3.
A cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, é uma das mais
antigas do Brasil. Fundada em 1711, a história da localidade
se concentra bastante na escravidão. Atualmente, tem uma
população de cerca de 75 mil pessoas, e é composta por uma
população ou muito nova ou idosa. Isso acontece porque,
sendo também um polo estudantil, muitos jovens residem em
Ouro Preto. Por outro lado, quando atingem a idade adulta
a maioria se muda, uma vez que a cidade é muito pequena,
e atrai majoritariamente profissionais da educação ou do
turismo. Em comparação com outras cidades do Brasil, Ouro
Preto é notadamente europeia na arquitetura, ou algo próximo
do que brasileiros imaginariam de uma cidade europeia: ruas
estreitas com calçamento de paralelepípedos, casas antigas com
estilo barroco e as imponentes, apesar de decadentes, igrejas
cheias de ouro manchado com sangue negro. Ouro Preto,
uma cidade melancólica de neblina, cultura e dor.
Brasil em Fúria
A Seita dos Corações Antigos (ver Brasil em Fúria para
mais detalhes) é situada no Pico do Itacolomi, no horizonte de
Ouro Preto. Os Galliards contam histórias sobre os escravos
que foram sacrificados com fogo nas sombras do Pico e cujos
espíritos esperaram por séculos para serem relembrados,
quando Tata’Krenak, a ave de fogo, fez daquele lugar seu
ninho e sua pira funerária. O totem do caern abençoou os
mortos e por isso eles habitam toda a dimensão do caern.
Velocidade-do-Trovão é o alfa da seita e da matilha das Vozes
do Fogo. Para maiores detalhes sobre Velocidade-do-Trovão
(bem como sua matilha e Ianna Testemunha-do-Invisível)
ver Brasil em Fúria.
A Mina do Chico Rei se situa dentro da cidade e pode
ser visitada num passeio turístico. Ela possui diversas gale-
rias, mas somente o primeiro andar é visitável como turista.
Durante o jogo apenas alguns andares devem ser explorados.
No terceiro ato da crônica, os jogadores encontram-se na
Amazônia, e três são os caerns que podem estar envolvidos
na narrativa. Tratam-se da Seita dos Espíritos da Chuva, Seita
do Rio do Céu e Seita do Coração Oco, todos apresentados
no Brasil em Fúria. Aqui são apresentadas as fichas dos perso-
nagens para cada um dos caerns. Perceba que alguns destes
personagens foram apresentados originalmente no Rage
Across the Amazon, e estas versões foram adaptadas para o
sistema da edição comemorativa de 20 anos de Lobisomem: O
19
Apocalipse, além do status atual de cada um dos personagens
ter sido atualizado. Primeiramente, os falecidos:
Peter Ward, Tanzut, Dag “Mão do Ódio”, Jurgen,
Roshen e Shandy (apresentados no Rage Across the Amazon)
estão mortos ou considerados desaparecidos. Golgol Pre-
sas-Primeiro também.
Além destes personagens listados no Mapa de Rela-
cionamentos, há outros dois Garou que estão na região
Amazônica, mas não frequentam caern nenhum. Tratam-se
de Crick Rumwrangler e Sherrick (ambos apresentados orig-
inalmente no Rage Across the Amazon). Crick, o Roedor de
Ossos, pertencia à Seita do Rio do Céu na época da Guerra
da Amazônia. Ele presenciou a debandada dos Crias de
Fenris daquele caern depois do desaparecimento de Golgol
Presas-Primeiro. Sob liderança Uktena, a Seita do Rio do
Céu caiu para os Dançarinos da Espiral Negra (conforme
relatado no conto que abre este livro), e isso também foi
presenciado por Crick, que caiu em Harano. Sherrick, um
Senhor das Sombras, quer ajudar Crick a se recuperar, pois
acredita que o Roedor de Ossos merece liderar o Rio do
Céu, e que ele próprio deve destronar Electra e se tornar o
novo alfa do Coração Oco. Mas para isso ele precisa ser capaz
de descobrir o caminho para o caern que está camuflado
espiritualmente.
Quanto aos personagens da Seita dos Espíritos da
Chuva, não é necessário apresentar um mapa de relaciona-
mentos. Conforme exposto no Brasil em Fúria (página 55),
a estrutura tribal da seita é bastante fechada, embora não
totalmente. A natureza misteriosa dos Uktena garante que
o relacionamento dos indivíduos seja mantida em segredo
de outros Garou como forma de se manterem seguros. No
entanto, ao serem encontrados (se forem encontrados), os
jogadores que ainda estiverem portando alguma Pedra-Tro-
vão, terão menor dificuldade em interagir com os Uktena
dos Espíritos da Chuva, que seguem o totem do Rei Trovão
(Tupã), ver Brasil em Fúria.

Planilhas de NPCs
Electra Dama-das-Armas
Tribo: Fúrias Negras
Raça: Hominídeo
Augúrio: Galliard
Posto: 5 (Anciã)
Físicos: Força 4, Destreza 3, Vigor 4
Sociais: Carisma 4, Manipulação 3, Aparência 2
Mentais: Percepção 4, Inteligência 3, Raciocínio 3
Habilidades: Prontidão 3, Esportes 4, Briga 4, Empatia
2, Expressão 4, Intimidação 2, Instinto Primitivo 2,
Manha 2, Lábia 3; Empatia com Animais 2, Ofícios 2,
Condução 2, Etiqueta 3, Liderança 3, Armas Brancas 3,
Performance 4, Furtividade 3, Sobrevivência 4; Enigmas
20
 2, Investigação 3, Direito 1, Linguística 2, Medicina 2,
Rituais 4, Ciências 2
Antecedentes: Aliados 2, Contatos 2, Parentes 1, Raça Pura 4
Fúria: 7
Gnose: 6
Força de Vontade: 8
Dons: Comunicação com Animais, Chamado da Wyld, Sen-
tidos Aguçados, Inspiração, Comunicação Telepática,
Persuasão, Sentir a Wyrm; Chamado da Wyrm, Maldição
do Éolo, Comunicação Onírica, Sentir a Presa, Fitar,
Inquietar, Olho de Cobra, Chamas de Héstia, Canção
da Fúria; Andarilho da Ponte, Teatro das Sombras,
Olhar da Górgona, Invocar a Wyld
Rituais: Electra conhece todos os rituais menores e os rituais
de pacto e de renome. Ela também conhece o Ritual de
Assembleia, Ritual de Abertura de Caern, Cerimônia
pelos Falecidos, Ritual da Pedra Caçadora, Ritual de
Conjuração, Ritual de Dedicação do Talismã, Ritual
do Ostracismo, Pedra do Escárnio, Voz do Chacal, A
Caçada, Ritual Satírico e Mitigar a Cicatriz
História: Electra é a atual alfa do Coração Oco. Desde
que assumiu a liderança no lugar de Golgol Presas-Pri-
meiro, ela tem enfrentado descontentamentos de todos
os lados. Buscou alianças com os Balam e com Uktena
nativos, mas o progresso que estava tendo foi interrom-
Fúria: 4
pido e atrasado com sua controversa decisão de pedir ao
totem do Coração Oco que o camuflasse espiritualmente. Gnose: 7
Muitos acreditam que Electra soube antes da maioria dos Força de Vontade: 6
Garou e metamorfos que as Pontes de Lua estavam sendo Dons: Criar Elemento, Sentir a Wyrm, Sentidos
infiltradas por servos da Wyrm e, ao invés de alertar os Aguçados, Comunicação com Espíritos, Cavar,
demais, se acovardou e fechou o caern. Ninguém sabe Maldição do Ódio, Visões, Língua de Kali, Ca-
ao certo o que passou na cabeça da Fúria Negra, exceto maleão, Olhos de Gato, A gonia Visceral
talvez sua fiel aliada, Ioba Olhar-Distante. Além dela, Deformidade de Impuro: Garras Frágeis
Electra tem um amigo em Jubati, o Uktena que possui Rituais: Ritual de Dedicação do Talismã, Ritual da Ravina
(possuía?) aliados Balam e Mokolé. Encoberta
Ioba Olhar-Distante Fetiches: Flechas Malditas (aljava com 20), Pele de Maldito,
Klaive
Tribo: Fúrias Negras
História: O braço direito de Electra, Ioba Olhar-Distante
Raça: Impura é uma impura de garras frágeis e intelecto de ferro. Enfurecida
Augúrio: Theurge pela forma que era tratada por Golgol Presas-Primeiro, ela
Posto: 3 (Adren) riu e celebrou quando Electra assumiu o lugar que ele havia
Físicos: Força 3, Destreza 3, Vigor 4 abandonado. Ela é especialmente desconfiada dos Crias de
Sociais: Carisma 3, Manipulação 3, Aparência 3 Fenris, e apoiará cegamente Electra Dama-das-Armas, que
Mentais: Percepção 5, Inteligência 3, Raciocínio 4 ela considera sua irmã mais velha.
Habilidades: Prontidão 5, Arqueirismo 3, Esportes 5, Briga
1, Instinto Primitivo 3, Manha 1, Empatia com Animais
Alestro
2, Condução 2, Armas de Fogo 4, Armas Brancas 2, Tribo: Fúria Negra
Ofícios 3, Furtividade 3, Sobrevivência 4, Enigmas 2, Raça: Hominídeo
Linguística 2 (Yanomami, Português), Ocultismo 3, Augúrio: Ahroun
Rituais 1, Ciência 2 Posto: 4 (Athro)
Antecedentes: Contatos 2, Recursos 2 Físicos: Força 3, Destreza 4, Vigor 4
21
Sociais: Carisma 3, Manipulação 2, Aparência 3
Mentais: Percepção 3, Inteligência 3, Raciocínio 4
Habilidades: Prontidão 3, Esportes 5, Arqueirismo 5, Bri-
ga 4, Empatia 3, Expressão 3, Intimidação 4, Instinto
Primitivo 4; Empatia com Animais 3, Etiqueta 1,
Armas Brancas 5 (Lanças), Liderança 2, Furtividade 3,
Sobrevivência 4, Enigmas 3, Linguística 1, Medicina 4,
Ocultismo 4, Rituais 3
Antecedentes: Ancestrais 3, Raça Pura 2, Recursos 5
Armas: Arco e flecha (com pontas de prata), lanças com
lâminas de prata
Fúria: 7
Gnose: 6
Força de Vontade: 8
Dons: Persuasão, Garras Afiadas, Sentir a Wyrm, Medo
Verdadeiro, Cura em Combate, Maldição do Éolo,
Ajoelhar, Sentir Prata, Fitar, Coup de Grace, Chamas
da Héstia, Agonia Visceral, Garras-Ferrões, Atiçar
Fornalha da Fúria
História: Alestro é uma Fúria Negra tradicionalista,
selvagem e experiente. Ela viveu durante muito tempo
no Reino Vera Cruz, perseguindo a ilusão de El Dorado,
junto com o Balam Ballengash. Neste período, ela se aprox-
imou dos homens-onça e começou a aprender sobre seus
caminhos e estilos de vida. Ela não chegou a presenciar
a morte do Balam, pois havia voltado para a Amazônia
para atender ao chamado para a Guerra da Amazônia.
Anos se passaram desde aqueles eventos, e muita coisa
mudou. Alestro teve um relacionamento proibido com
Jubati, e juntos tiveram Raoni Presas-de-Sucuri. No en-
tanto, ela atualmente se sente melhor afastada dos dois.
Por conhecer o caminho para o Reino Vera Cruz, Alestro
a
desconfiança mútu
VELOCIDADE-DO-TROVÃO
mente da
sabe secriaetada wyrm
t o que ’ulmat
di
o mal vo de
ece se r
onh como
nc
rec
influê
VELHO URUTU
22 PONTES QUEIMADAS
também conhece Garra Negra e o Recanto Espiritual
que ele habita. No passado, os dois lutaram juntos, e
se consideram amigos. No entanto, Alestro pertence à
Seita do Coração Oco, e obedece a ordem de Electra de
não atravessar as divisas do caern para não comprome-
ter a camuflagem espiritual concedida pelo totem Sapo
de Árvore.
Jubati
Tribo: Uktena
Raça: Hominídeo
Augúrio: Ragabash
Posto: 2 (Fostern)
Físicos: Força 2, Destreza 2, Vigor 3
Sociais: Carisma 3, Manipulação 2, Aparência 2
Mentais: Percepção 3, Inteligência 4, Raciocínio 4
Habilidades: Prontidão 2, Esportes 3, Briga 2, Empatia 3, In-
stinto Primitivo 4, Empatia com Animais 4, Furtividade
3, Sobrevivência 5, Enigmas 3, Ocultismo 2, Rituais 2
Antecedentes: Aliados 5 (Balam e Mokolé), Mentor 4
(ancião nativo)
Fúria: 4
Gnose: 8
Força de Vontade: 5
Fetiches: Zarabatana de Tsansti (Nível 4, Gnose 7): Essa
zarabatana de cerca de 3 metros de comprimento
pertenceu a um antigo herói Uktena local. Ela possui
algumas habilidades mágicas: um alcance de 40 metros e
uma parada de dados de dano de 5 dados, usada apenas
para penetrar em armaduras. Jubati possui 15 dardos,
que podem ser usados com os venenos Curare e a droga
mística Ayahuasca.
L
IANNA TESTEMUNHA-DO-INVISÍVE
ncia
flue
i
o u n
K
 graças a um relacionamento proibido com Alestro, a Fúria
Negra Ahroun misteriosa. Desta relação nasceu Raoni
Presas-de-Sucuri, um impuro que é muito amado pelo
pai. Há muito tempo Jubati e Alestro não se falam, mas
ninguém sabe exatamente o que aconteceu entre os dois.
Raoni “Presas de Sucuri”
Tribo: Uktena
Raça: Impuro
Augúrio: Ahroun
Posto: 2 (Fostern)
Físicos: Força 4, Destreza 3, Vigor 3
Sociais: Carisma 3, Manipulação 2, Aparência 2
Mentais: Percepção 3, Inteligência 2, Raciocínio 4
Habilidades: Prontidão 3, Esportes 2, Briga 4, Empatia 1,
Intimidação 2, Instinto Primitivo 3, Ofícios 2, Armas
Brancas 3, Furtividade 2, Sobrevivência 2, Enigmas 2,
Ocultismo 1, Rituais 3
Antecedentes:
Fúria: 6
Gnose: 4
Força de Vontade: 6
Dons: Sentir a Wyrm, Mortalha, Garras Afiadas, Criar El-
emento, Cavar, Sentir Prata Espírito da Batalha, Medo
Verdadeiro Espírito do Peixe, Espirais da Serpente
História: Filho de Alestro e Jubati, Raoni nasceu
na Penumbra do Coração Oco, na parte espiritual do

Dons: Simular Odor de Homem, Embaçamento da Própria

Forma, Mortalha, Espírito do Peixe, Alterar Cheiro
Rituais: Ritual da Pedra Caçadora, Ritual de Dedicação do
Talismã, Ritual do Compromisso, Ritual para Despertar
Espíritos, Ritual de Conjuração
História: Jubati é mais um veterano da Guerra da
Amazônia. Este indígena da tribo Yanomami nasceu
sob a lua nova, e foi um dos primeiros a testemunhar a
destruição que a Pentex trouxe às florestas. Ao longo de
sua vida, Jubati fez algumas alianças com Balam e Mokolé,
mais notoriamente Atahualpa e Nyi Trovão-Emplumado
(ambos apresentados no Rage Across the Amazon. Ambos
se encontram atualmente mortos). Jubati e Garra Negra
nunca estabeleceram um relacionamento, porque a aprox-
imação de Jubati de Golgol Presas-Primeiro enfurecia o
Balam. Por ter presenciado inúmeros horrores e mortes,
Jubati quase foi tomado pelo Harano, mas se salvou
23
 Rio Amazonas. Segundo Jubati, os deuses abençoaram
o nascimento dele, concedendo “Presas de Sucuri”. No
entanto, para os demais Garou, o nascimento de Raoni
não tem nada de abençoado, sendo na verdade uma
maldição. O impuro é amplamente desprezado pelos
Garou da Seita do Coração Oco, e por isso às vezes ele
perambula pra fora das divisas do caern, a despeito da
proibição da alfa Electra Dama-de-Armas. Ele é próximo
do pai, Jubati, e se ressente um pouco de Alestro por ter
se tornado uma mãe ausente.
Crick Rumwrangler
Tribo: Roedores de Ossos
Raça: Lupino
Augúrio: Philodox
Posto: 3 (Adren)
Físicos: Força 2, Destreza 4, Vigor 3
Sociais: Carisma 3, Manipulação 4, Aparência 2
Mentais: Percepção 4, Inteligência 4, Raciocínio 5
Habilidades: Prontidão 4, Briga 3, Esquiva 5, Empatia 2,
Expressão 2, Instinto Primitivo 3, Manha 3, Lábia 2,
Empatia com Animais 2, Condução 3, Armas de Fogo 4,
Armas Brancas 1, Liderança 1, Ofícios 2, Computador
2, Enigmas 1, Política 2, Rituais 1
Antecedentes: Parentes 2 (matilha de cães selvagens)
Fúria: 3
Gnose: 4
Força de Vontade: 6
Dons: Sentidos Aguçados, Culinária, Faro para Forma Ver-
dadeira, Chamado do Dever, Dom do Cupim
Fetiches: Cobertor dos Sonhos Pacíficos, Anel da Amizade,
Pedra Quicadora (com funda)
Rituais: Ritual de Dedicação do Talismã
História: Crick sempre foi um Garou da Seita do Rio
do Céu, e isso foi o que acabou com sua mente e com
seu espírito. Quando chegou à Amazônia, o Roedor de
Ossos se sentia pronto pra guerra. Assumiu uma posição
importante como Mestre de Guerra do Warg do Rio do
Céu. Naquele período, o Rio do Céu era liderado por
Dag Mão-do-Ódio, um Cria de Fenris aliado de Golgol
Presas-Primeiro. Depois que Golgol desapareceu, Dag foi
assassinado em confrontos políticos que desestabilizaram
os Crias de Fenris na região. Quando Electra tomou a
liderança do Coração Oco, o Rio do Céu passou também
a ser liderado por outra tribo, desta vez os Uktena. Crick
se afeiçoou ao novo líder, Vigia-a-Noite-e-Trovão, mas caiu
em Harano quando soube que o caern fora atacado por
Malditos e Dançarinos da Espiral Negra. Todos no Rio

ELECTRA “DAMA-DE-ARMAS” aliados por um ideal

quer us JUBATI
á-la pa
inabalánvçeal

ra contr am
olar os Bala evit
confia

de m se
sc
on
fia ALESTRO
ilho

nç
lutaram sjuantdos

a
LOBA OLHAR DISTANTE
f
no pas o

mú
pai/

tua
mãe/
filho

RAONI “PRESAS-DE-SUCURI”

GARRA NEGRA (NO REINO VERA CRUZ

)

24 PONTES QUEIMADAS
do Céu foram assassinados. Crick escapou do massacre
porque estava com Parentes em Manaus. Desde então,
ele tem viajado de canoa, sentindo o espírito vazio e as
esperanças no fim.

Sherrick Drast
Tribo: Senhores das Sombras
Raça: Hominídeo
Augúrio: Philodox
Posto: 3 (Adren)
Físicos: Força 3, Destreza 4, Vigor 3
Sociais: Carisma 2, Manipulação 3, Aparência 2
Mentais: Percepção 3, Inteligência 5, Raciocínio 4
Habilidades: Prontidão 3, Esportes 3, Briga 4, Intimidação
4, Instinto Primitivo 2, Armas de Fogo 2, Armas Brancas
4, Furtividade 3, Enigmas 2, Ocultismo 2, Rituais 2
Antecedentes: Contatos 2 (inimigos locais de Golgol),
Ancestrais 1, Raça Pura 2
Fúria: 6
Gnose: 5
Força de Vontade: 8
Dons: Simular Odor de Homem, Verdade de Gaia, Fraquezas
Fatais, Resistência a Dor, Palma do Trovão, Descobrir
Calcanhar-de-Aquiles, Arrepio do Desespero
Rituais: Ritual de Dedicação do Talismã, A Voz do Chacal
Fetiches: Cimitarra de Prata, Cicatriz Fetiche de Armadura
(Nível 3, Gnose 5): É uma pequena tatuagem de um
escudo. O fetiche age como uma proteção mágica para
todo o corpo de Sherrick, dando a ele dois dados de
armadura).
História: Sherrick, hoje em dia chamado de “Xerife”
pelos locais, já foi uma peça importante no xadrez imagina-
do por Golgol Presas-Primeiro para derrotar os servos da
Wyrm. Mas os tempos da Guerra da Amazônia passaram,
e as aspirações de poder do “Xerife” acabaram deixando-o
sem poder algum. Depois do sumiço de Golgol, Sherrick
fez alianças com os Uktena do Rio do Céu, e aproximou-se
de Crick Rumwrangler. Quando o Rio do Céu foi atacado,
Sherrick teve uma impressão sobre os eventos bem diferente
do Roedor de Ossos, pois viu uma oportunidade: ele acredita
que o Roedor de Ossos merece a posição de líder daquele
caern, enquanto ele próprio deve liderar a Seita do Coração
Oco no lugar de Electra Dama-das-Armas. Mas para isso ele
precisa descobrir como chegar ao caern.
25
 Capítulo 3:
Narrativa
“So now the bridges are burnt
A lesson learned?
Promises broken
Tender lies softly spoken”
(Burning Bridges – Arch Enemy)
Neste capítulo, descrevemos os eventos da narrativa de
forma cronológica, apresentando as consequências, alternativas
e possíveis desafios. Como já mencionado, consideramos que
a parte mais facilmente adaptável é justamente o primeiro ato
do jogo, situado em Ouro Preto. Os Narradores devem prestar
atenção às particularidades do local para transportá-lo para outro
caern ou local, para que o cenário permaneça fazendo sentido.
A divisão em cenas como apresentadas a seguir deve servir como
guia, mas os Narradores também devem se sentir livres para acres-
centar quaisquer eventos que façam sentido para a história – apesar
desta liberdade, alertamos que Pontes Queimadas é uma aventura
de perigos iminentes, então, mesmo o tempo livre assumido pelo
Narrador deve comportar essa ideia de corrida contra o tempo.
ATO I - Fogo e Trovão
“Thunder and Lightning, the gods take revenge
Senseless destruction.
Victims of fury are cowardly now
Running for safety”
(Metallica – Metal Militia)
PONTES QUEIMADAS
Cena Um: A Chegada de
Ianna e a Assembleia
Lua cheia. O jogo tem início com a chegada da Peregri-
na Silenciosa Ianna “Testemunha do Invisível” à Seita dos
Corações Antigos, em Ouro Preto. Recebida por membros
da matilha das Vozes do Fogo, Ianna é levada para uma
reunião particular com os anciões da seita (ver Testemunho
dos Invisíveis, conto de abertura de Brasil em Fúria). Nesta
reunião particular, Ianna conta para Velocidade-do-Trovão,
alfa da seita, e seus irmãos de matilha sobre a queda do
caern do Rio do Céu, no Amazonas, e sobre o ataque de
Malditos que as Pontes de Lua estão sofrendo em todo o
Brasil (ver Um Rio que Cai, conto de abertura deste livro e
continuação de Testemunho dos Invisíveis). Ouro Preto não
é o primeiro lugar que ela visita com esta notícia, e todos
os caerns que não levaram a sério a notícia foram ataca-
dos brutalmente por servos da Wyrm. Os que fecharam
todas as Pontes de Lua tiveram sucesso em armar defesa
contra os invasores, que ficaram limitados a ataques pelo
mundo físico.
27

Após a reunião, Velocidade-do-Trovão convoca uma assem-
bleia com um uivo de chamado entoado no Pico do Itacolomi.
Após a abertura da assembleia, ele conta sobre as notícias trazidas
pela Peregrina Silenciosa. Apesar da gravidade das novidades,
Velocidade-do-Trovão não exibe muita consternação, e sim
calma. Ao fim de sua declaração, ele se senta cansado e afirma
que as matilhas receberão missões diferentes para reforçar a
defesa do caern. Uma matilha fica encarregada de patrulhar
as divisas físicas do Pico do Itacolomi. Outra matilha é destina
para a cidade para proteger os Parentes. Uma terceira matilha de
Garou mais experientes pode ser enviada ao mundo espiritual
para defender a Seita dos Corações Antigos “do lado de lá”.
Os jogadores receberão uma missão secreta dada pessoal-
mente por Velocidade-do-Trovão. Para passar esta missão,
ele espera que todas as outras matilhas se dirijam para seus
objetivos, restando apenas os personagens dos jogadores.
A missão é relativamente simples: entrar numa antiga
mina e extrair as Pedras-Trovão, que são capazes de despertar
espíritos. Com estas Pedras-Trovão, a Seita dos Corações
Antigos pode se fortalecer ainda mais contra os servos
da Wyrm. No entanto, não fica claro de imediato porque
Velocidade-do-Trovão faz tanta questão em manter esta
missão em segredo dos demais, mas a informação que ele
deseja manter em segredo é quem guarda tais Pedras-Trovão
na Mina do Chico Rei.
Cena 2: A Mina do Chico Rei
Resumo: Os jogadores recebem a missão secreta de entrar
na Mina do Chico Rei e voltarem de lá com as Pedras-Trovão.
Ao receberem a missão, os Garou são alertados que não devem
confundir as Pedras-Trovão reais com as Pedras-Trovão de
Tolo (para identificar uma Pedra-Trovão real, o Garou deve
testar Ocultismo + Inteligência, dificuldade 8, ou utilizar
algum dom que revele a natureza espiritual do objeto. Tes-
tes de Ciência podem levar o jogador ao erro, uma vez que
materialmente podem ser o mesmo tipo de mineral, sendo
diferentes apenas nas propriedades espirituais do fetiche).
Ambientação específica: A mina é famosa por Galanga,
rei do Congo que foi sequestrado, assim como sua tribo, por
portugueses para trabalhar nas minas de Vila Rica, como
era chamada a cidade de Ouro Preto no período colonial.
Depois de sofrer o batismo forçado, Galanga foi nomeado
Francisco, e logo ficou conhecido como Chico Rei. Por ser
um líder de destaque entre os negros escravizados, afeiçoou
Major Augusto, que lhe vendeu parte da mina. Alforriado e
com propriedades, Chico Rei passou a amenizar o trabalho
cruel dos indivíduos de sua tribo.
Com uma história assim, toda a região é marcada com a
mesma gnose melancólica que nutre o restante da região. No
entanto, na Mina do Chico Rei isto é mais palpável: talvez
seja pela presença das Pedras-Trovão, capazes de despertar
espíritos em Modorra. Ou, talvez, seja por um segredo muito
bem guardado: há um Maldito adormecido no quinto (e mais
profundo) andar das galerias subterrâneas. Este Maldito é
controlado por um Uktena do Campo Vigia dos Malditos
chamado Velho Urutu (detalhes do NPC no Capítulo Dois).
Parte dos segredos de Velocidade-do-Trovão diz respeito à
situação atual de Velho Urutu, que vem apresentando sinais
de corrupção.
Detalhes: o primeiro andar da Mina do Chico Rei é
aberto para a visitação. Para visitar o local sem a possibili-
dade de encontro com humanos os jogadores devem ir ao
local à noite. A vigilância é mínima, e o vigia não possuirá
armas, ou capacidade de se defender se for enfrentado pelos
Garou, mas poderá alertar as autoridades, caso os jogadores
falharem em invadir o local de maneira furtiva. Recomenda-se
ao Narrador um teste de Furtividade de dificuldade padrão.
Depois do primeiro andar, a mina não é iluminada,
então todos os testes de Percepção daí em diante tem +1
de dificuldade. Se os jogadores optarem por assumirem a
forma Lupina eles só poderão se guiar pelo faro (sem pena-
lidades), mas terão +2 de dificuldade para enxergarem. Ao
final do primeiro andar, logo após a última luz instalada
na mina, os jogadores devem Percorrer Atalhos. Do outro
lado, os jogadores que tiverem o dom Sentir a Wyrm devem
JAGGLINGS E GAFFLINGS DE K’ULMATU
Jagglings
Fúria 6, Gnose 5, Força de Vontade 5, Essência 15
Encantos: Sentido de Orientação, Reformar, Cor-
rupção, Incitar Frenesi
Gafflings
Fúria 7, Gnose 5, Força de Vontade 7, Essência 20
Encantos: Sentido de Orientação, Reformar,
Corrupção, Incitar Frenesi, Possessão, Rajada
(pedaços de correntes)
imediatamente fazer testes. O cheiro de corrupção está
concentrado nas galerias mais profundas da mina, mas há
Jagglings e Gafflings da Wyrm que atacarão os jogadores
assim que forem percebidos.
Esses Jagglings e Gafflings se alimentam da Gnose local
como qualquer espírito, e por isso tem a mesma essência
melancólica do lugar. A diferença é que estas manifestações
 são servas de K’ulmatu, o espírito da Escravidão (ver Brasil
em Fúria). Estes espíritos tentarão enganar os jogadores
VELHO URUTU através de ilusões, memórias de dor e fracasso. Se algum
Tribo: Uktena jogador tentar se comunicar com um dos espíritos as falas
Raça: Hominídeo mostrarão sofrimento, confusão e uma incapacidade de
Augúrio: Theurge perceber a própria situação: os espíritos afirmarão não pos-
Campo: Vigia dos Malditos suírem nome nem identidade. A dificuldade para resistir às
influências mentais destes Jagglings e Gafflings de K’ulmatu
Posto: 4 (Athro)
deve aumentar conforme os Garou descem para as galerias
Físicos: Força 2, Destreza 3, Vigor 3 mais profundas da mina.
Sociais: Carisma 3, Manipulação 4, Aparência 1 Narradores não devem descrever uma jornada muito
Mentais: Percepção 3, Inteligência 4, Raciocínio 4 longa na Mina do Chico Rei, uma vez que ela se estende
Habilidades: Prontidão 3, Esportes 2, Briga 3, Em- por mais de duzentas galerias subterrâneas. Para dinamizar
patia 2, Intimidação 4, Liderança 2, Instinto a narrativa, considere cinco “andares” com algumas galerias
Primitivo 2, Lábia 4, Ofícios 2, Etiqueta 2, a serem exploradas pelos jogadores.
Armas Brancas 3, Sobrevivência 1, Enigmas 4, No último andar explorado, os jogadores encontrarão
Medicina 3, Ocultismo 5, Rituais 5 o Uktena Velho Urutu, que luta para manter o maldito
Antecedentes: Ancestrais 3, Raça Pura 2, Herança aprisionado. Ele tem marcas da corrupção, que devem ser
Espiritual 2 (Malditos) reveladas após uma breve cena de diálogo com os personagens.
Fúria: 6 A forma que este Uktena revela sobre sua corrupção (caso
isto ainda não esteja claro pela utilização de Dons) é afirmar
Gnose: 8
que ele próprio não está mantendo o Maldito aprisionado
Força de Vontade: 8 ali, e sim o inverso: é ele que está preso com o Maldito, pois
Dons: Persuasão, Toque da Mãe, Comunicação com seu novo Deus é o Mestre das Correntes.
Espíritos, Sentir Magia, Sentir a Wyrm, Mortalha, Neste ponto, os jogadores devem lutar contra Velho
Marca do Lobo, Espirais da Serpente, Mandala Urutu, que será vencido. Ao morrer, o Maldito que era
de Batalha, Comandar Espíritos, Visões, Fitar,
Exorcismo, Camuflagem Umbral, Banir Totem,
Invisibilidade, Invocar Elemental, Drenagem Espir-
itual, Defesa contra Espíritos, Força do Guardião
Rituais: Ritual da Gaiola Espiritual, Ritual de Con-
finamento de Malditos, Ritual de Conjuração,
Ritual de Compromisso, Ritual para Despertar
Espíritos, Ritual de Purificação
História: Muito pouco se sabe sobre Velho Urutu.
Mesmo ele não se lembra de muita coisa, pois sua mente
está consumida por K’ulmatu e pela Devoradora de
Almas. O que se sabe é que ele é o último guardião
de um Maldito que é mantido em modorra na Mina
do Chico-Rei, em Ouro Preto-MG. Sabe-se que, além
dele, havia outros dois Uktena que emprestavam poder
e força de vontade para manter o Maldito adormecido,
e que há mais de uma década ele está sozinho. Também
é possível perceber que Velho Urutu é poderoso, pois
apesar de estar sob influência da Wyrm, as marcas da
corrupção são novas, como se apenas recentemente
ele tivesse cedido à corrupção. E por último, mas não
menos importante, Velho Urutu é um segredo mantido
por Velocidade-do-Trovão, o alfa da Seita dos Corações
Antigos. Talvez o Iluminado dos Senhores das Sombras
tenha planos secretos para o Uktena Vigia dos Malditos.

30
mantido preso se liberta e desaparece. Resta então aos
jogadores coletar as Pedras-Trovão (ver Brasil em Fúria para
saber como devem ser mineiradas).
Se os jogadores não tiverem sido furtivos ao entrar na
Mina do Chico Rei, irão se deparar com a polícia na saída.
Este não deve ser um enfrentamento de real perigo para os
jogadores, mas sim uma oportunidade de lidarem com as
dificuldades secundárias em serem lobisomens e terem, por
consequência, que levarem vidas duplas. É a chance que o
Narrador tem de colocar os jogadores numa situação que
quase os obriga a serem monstros violentos, ou pelo menos
muitos espertos para saírem tranquilos dali. Caso os joga-
dores tenham sido bem sucedidos ao entrar furtivamente,
isso não quer dizer que não enfrentarão dificuldades ao sair,
pois o ato de minerar as Pedras-Trovão provoca um estrondo
enorme que dignifica o nome do mineral-fetiche. Neste caso,
o tempo não terá sido suficiente para que a polícia ou os
bombeiros (convocados pelo vigia, por telefone) tenham
chegado à entrada da mina, mas estarão a caminho. Se os
jogadores demorarem, ou se provocarem maiores problemas
(matando o vigia, por exemplo), terão mais dificuldades
para voltarem ao caern sem terem que lidar com problemas
indesejados que podem, entre outras coisas, levar ao levan-
tamento do Véu. Relembre os jogadores que é lua cheia e,
portanto, os ânimos devem estar a mil. Ter o final de uma
missão atrapalhado por um mero contratempo pode levar
qualquer Garou a uma fúria impensada.
Depois disso tudo, os personagens devem voltar à Seita
dos Corações Antigos com as Pedras-Trovão. Cabe aos
jogadores decidir o que fazer com as informações recém
descobertas sobre os espíritos que habitam a Mina do Chico
Rei e o que aconteceu com o Velho Urutu. É possível que
os jogadores desejem mantê-lo vivo para ser levado à seita.
Se este for o caso, permita que assim façam. No entanto,
guarde o momento de julgamento deste Uktena para depois.
A justificativa dada por Velocidade-do-Trovão para adiar o
julgamento faz sentido: a seita tem que combater a Wyrm
antes de punir infratores da Litania. Além do mais, uma
vez preso, ele poderia ser muito mais útil do que morto.
No entanto, os jogadores podem se perguntar porque Ve-
locidade-do-Trovão não escolheu punir o Uktena antes. Os
jogadores podem especular que o Senhor das Sombras alfa
do caern provavelmente já sabia da corrupção do Uktena,
uma vez que ele era o único com conhecimento do que
estava escondido na Mina do Chico rei. Além do mais, se
os jogadores descreverem o Maldito para Ianna, ela revelará
que se trata de um servo de K’ulmatu (ver Brasil em Fúria).
Velocidade-do-Trovão toma algumas das Pedras-Trovão
para si, mas deixa alguns fragmentos com os personagens
dos jogadores. Ele afirma que os jogadores não podem
perder estes fragmentos, pois eles servirão para buscar
auxílio dos indígenas da Seita dos Espíritos da Chuva na
Amazônia, para onde estão indo. Levar os fragmentos de
Capítulo 3: Narrativa
Pedras-Trovão para lá é apenas o primeiro passo da missão,
servindo apenas como sinal de afinidade espiritual. Depois
de apresentarem o mineral-fetiche para os Garou da Seita
dos Espíritos da Chuva, os jogadores deverão combater os
Dançarinos da Espiral Negra que tomaram o caern do Rio
do Céu. Se forem capazes de contatar também a Seita do
Coração Oco, melhor ainda, mas Velocidade-do-Trovão
relembra o que explicou Ianna Testemunha-do-Invisível: o
Coração Oco está camuflado espiritualmente.
Cena 3: A Travessia
Com as Pedras-Trovão reais coletadas por Velocid-
ade-do-Trovão, um ritual passa a ser realizado no caern. Os
primeiros espíritos a se manifestarem com as marteladas
são aqueles ligados à natureza, especialmente espíritos
ligados ao fogo. Em seguida, uivos potentes são ouvi-
dos junto com as marteladas, e depois trovões no céu.
Com um teste de Enigmas + Rituais (dificuldade 7), um
jogador pode identificar as emanações de três espíritos
importantes da seita se fortalecendo durante a realização
do ritual: a fênix, representada pelo fogo; Akelá, o lobo
de Luna, o Arauto do Uivo; e o Avô Trovão. Com três
ou mais sucessos, os Garou também poderão identificar
quimeras, espíritos da dor e lunos sendo fortalecidos
com a realização do ritual. Depois de 12 marteladas,
Velocidade-do-Trovão toma seu lugar ao centro de todos
os Garou reunidos e diz:
–“Eu vi o pavor no olhar de cada um de vocês quando contei
a história trazida por Ianna, a Peregrina Silenciosa. Eu vi o medo
e pensei ‘ótimo’. É com medo que os grandes feitos são realizados.
Não se enganem: coragem não é ausência de medo. É a decisão
clara e brilhante como prata de que, apesar do pavor, apesar do
pesadelo, enfrentaremos a Wyrm onde quer que esteja e sempre que
proliferar; coragem é isso! Mas não quero que apenas tenham medo,
quero que o usem como a mais afiada das adagas, uma adaga de
ódio e vingança, no coração do nosso inimigo. Ianna nos alertou
da invasão de Malditos, nos falou da fraqueza das nossas Pontes
de Lua. Mas não vamos nos fechar como o Coração Oco ou cair
como tantos outros. Nós lutamos!”
Com uma décima terceira martelada os espíritos des-
pertos e fortalecidos se reúnem sobre os Garou e rodopiam,
formando uma ponte luminosa brilhante como prata. Com
um teste de Percepção (dificuldade 6), os jogadores poderão
perceber uma Pedra da Lua junto com os fragmentos escuros
das Pedras-Trovão.
A Ponte de Lua liga o caern dos Corações Antigos ao
caern dos Espíritos da Chuva, na Amazônia. Os jogadores
devem entrar na Ponte de Lua acompanhados de vários
espíritos ligados à seita. Estes espíritos ajudarão os Garou
na travessia, e boa parte deles é composta por Corvos da
Tempestade, avatares da Fênix, bem como espíritos das
ninhadas das tribos dos jogadores. Além dos jogadores,
31
outros Garou também entram na Ponte de Lua, mas estes
não verão o fim da jornada. Os Anciões permanecem no
caern para defendê-lo.
Se os jogadores tiverem questionado as reais intenções de
Velocidade-do-Trovão (e sua relação com o Uktena corrompido),
o Narrador por pedir aos jogadores que façam um teste de Rituais
+ Inteligência durante a travessia. Este teste pode servir para
revelar que alguns dos Corvos da Tempestade acompanham
os jogadores muito de perto, como se estivessem observando
e guardando informações. Isso não serve a nenhum propósito
narrativo, exceto distrair os jogadores do real perigo que estará
logo adiante. Provocar intrigas é um excelente gatilho narrativo,
especialmente para provocar surpresa. No entanto, é bem ver-
dade que Velocidade-do-Trovão está de fato usando os Corvos
da Tempestade para observação, mas o interesse dele é no que
está prestes a acontecer, e não sobre os jogadores: Ele quer
saber como se dá a infiltração de Malditos nas Pontes de Lua.
Cena 4: Pontes Quebradas,
Pontes Queimadas,
Pontes Caídas
“As I travel through the astral plains
I see the break ahead
As though the sky has burst in flames
Before the storm I dread”
(Iced Earth – Stormrider)
No meio da travessia por Ponte de Lua, uma horda
gigante de Malditos menores se infiltrará pela Ponte. Cor-
rer de volta não é uma opção, pois a infiltração acontece
por todo o cumprimento da Ponte de Lua. Se os jogadores
tiverem conversado com Ianna sobre o Maldito na Mina do
Chico Rei, permitindo que ela o descreva como sendo servo
de K’ulmatu, ficará claro para os jogadores que a maioria
dos Malditos neste ataque também é serva do Espírito da
Escravidão. Se os jogadores não tiverem tido este diálogo
com Ianna, descreva os Malditos de maneira semelhante à
descrição do Maldito da Mina: cheio de lacerações, pústulas,
grilhões e correntes. O Narrador pode utilizar os dados apre-
sentados dos Jagglings e Gafflings de K’ulmatu, no quadro
lateral. Este não deve ser um simples combate: as ameaças
devem realmente se apresentar nesse momento. A maneira
particular de cada Narrador impor riscos é variável, mas
recomendamos que pelo menos algum dos jogadores saia com
uma cicatriz de batalha. Os outros Garou que entraram na
Ponte de Lua devem ser massacrados na frente dos jogadores.
A luta, entretanto, nunca chega a um final de fato.
Antes que os jogadores saiam vitoriosos, ou antes que se-
jam derrotados, a Ponte de Lua se quebra. A forma como
isso acontece depende da imaginação do Narrador, mas
muitas podem ser as formas: a luz prateada “sólida” pode
se fragmentar e rachar (como exposto na arte que ilustra a
capa deste livro), ou o portal de luz lunar pode se incendiar
com chamas igualmente prateadas, fazendo que a travessia
até então segura acabe no vácuo, por onde os Garou cairão
à deriva no mundo espiritual. Os Corvos da Tempestade,
avatares da Fênix e outros aliados espirituais, entretanto,
continuam voando na travessia e não caem como os Garou.
ATO II - Perdidos
no Tempo
“Like a wolf in sheep’s clothing
You try to hide your deepest sins
Of all the things that you’ve done wrong
And I know where you belong”
(Iron Maiden – Caught Somewhere in Time)
Após o ataque na Ponte de Lua, os personagens dos
jogadores caem pelo céu da Umbra passando por inter-
mináveis reinos espirituais. Quando a realidade começa a
se conformar de maneira mais compreensível, eles se veem
num reino muito pouco conhecido pelos Garou brasileiros,
mas que representa muito o espírito da terra em que estão:
o Reino Vera Cruz. Nesta parte da crônica, os Narradores
devem se sentir mais livres para levarem o jogo para onde
quiserem, uma vez que o Reino apresentado a seguir traz
inúmeras alternativas para ambientação, desafios e embates.
Já foi dito anteriormente que Pontes Queimadas é um
jogo de corrida contra o tempo. No entanto, nesta parte
do jogo o ritmo pode ser menos acelerado, uma vez que o
tempo corre de maneira diferente no mundo espiritual. De
qualquer forma, se o Narrador desejar passar mais tempo no
Reino Vera Cruz, a ideia que deve passar para os jogadores
é a de que eles devem sair de lá o mais rápido possível para
voltarem à missão original. O objetivo dos jogadores deve
ser escapar do Reino, o que deve se mostrar desafiador, mas
não impossível.
A partir do momento que chegam no Reino, os joga-
dores estarão sendo vigiados por um Balam chamado Garra
Negra (originalmente apresentado no Rage Across the Amazon.
Ver ficha e história atualizados mais adiante). Este Balam
tem histórico com os Garou do Amazonas e pode levar os
jogadores de volta ao mundo físico, mas convencê-lo será
apenas um dos desafios que enfrentarão, pois Garra Negra
tem grandes desconfianças de praticamente todos Garou.
Inicialmente, o Balam ficará furtivo, e só será percebido pelos
jogadores com certa dificuldade e após terem se envolvido
em uma das muitas possibilidades de encontros e desafios no
Reino Vera Cruz. Após um primeiro encontro, o Narrador
por exigir dos jogadores um teste de Percepção para notar
o Balam escondido enquanto os observa.
Garra Negra não é o único a conhecer o caminho de
volta para o mundo físico, mas é o que mais regularmente
deixa o Reino Vera Cruz. E, embora sua disposição para
com lobisomens não seja amigável, as outras criaturas
podem ter atitudes ainda piores.
Se, por qualquer motivo, os jogadores ativarem o fetiche
Pedra-Trovão no Reino Vera Cruz, muitas coisas podem
acontecer. Primeiramente, a ativação provoca um trovão,
o que pode dispersar animais, causar susto, ou servir de
alerta. No entanto, os espíritos nativos do Reino Vera Cruz
perceberão a natureza espiritual, e se interessarão pelo
objeto. Mati-Taperê e Garra Negra (apresentados logo a
seguir) serão os mais interessados, e perseguirão os Garou
imediatamente. No caso de Mati-Taperê, não é necessário
nem que o fetiche seja utilizado; se por acaso o objeto cair
no campo de visão desta Corax sinistra, ela gritará e caçará
o portador até ter conseguido a Pedra-Trovão para si. Out-
ras criaturas do reino podem reagir de maneira diversa, de
acordo com suas naturezas.
O Reino Vera Cruz
“Brasil, condenado à esperança”
(Millor Fernandes)
O Reino umbral Vera Cruz ainda é amplamente ig-
norado pelos Garou brasileiros. Talvez a falta de contato
com uma cultura nacional unificada tenha feito com que
o acesso ao reino do Brasil mítico seja desconhecido pela
maioria.
33
 Embora possa parecer, o Reino Vera Cruz não é um
retrato de um Brasil do passado. Vera Cruz também não é
a origem incontestável dos espíritos tipicamente brasileiros
ou qualquer coisa assim. Os Theurge poderão discutir
longamente, mas a verdade é conhecida pelos Mokolé e
por espíritos ancestrais dos Uktena: o reino é resultado
de uma colisão de crenças, lendas e histórias que foram
reinterpretadas e rearranjadas ao longo dos cinco séculos
de história brasileira.
Neste Reino, qualquer crença popular tipicamente
brasileira pode ganhar corpo e poder. No entanto, pela
imprecisão narrativa dos mitos brasileiros, graças aos vários
extermínios culturais que aconteceram, a própria geografia
do reino se torna imprecisa e estranha. Algumas tribos
compreendem o reino Vera Cruz de forma bastante peculiar,
como é o caso dos Fianna. Para eles o reino é Hy-Brazil, a
lendária ilha capaz de migrar pelos mares e até flutuar sobre
as nuvens. Alguns filhos do Cervo relatam que a chegada
no reino pela Umbra evidencia essa crença, pois, ao se
aproximarem pelo oceano umbral, a terra parece de fato
flutuar sobre nuvens. Alguns também chamam o Reino de
Terra de São Brandão.
Alguns Uktena, por outro lado, associam Vera Cruz
com Paititi, uma cidade lendária escondida na selva. Ao
contrário dos Fianna, a chegada ou a saída do Reino, con-
forme relatada pelos Uktena, descreve uma selva profunda e
extremamente hostil. É nessas regiões escondidas do Reino
Vera Cruz onde existem criaturas nativas monstruosas, além
de espíritos de indígenas que ainda praticam o canibalismo e
atacam violentamente qualquer invasor. Os Garou chamam
estas regiões de Selva Profunda e A Aldeia.
Outros marcos na geografia mutante do reino Vera Cruz
incluem A Casa do Governo e Engenho, local onde as auto-
ridades mais nefastas da história brasileira ainda têm poder;
o Quilombo das Rainhas e Reis, uma imponente fortaleza
onde os maiores líderes negros de outrora são cultuados; e
o Grande Latifúndio e as Jazidas, que dão corpo aos locais
onde Gaia foi conspurcada pela ganancia do ser humano.
Há ainda a Furna da Princesa, situada nas praias do Reino.
As lendas afirmam que quem entrar por uma gruta secreta
quando a maré está baixa, pode encontrar um refúgio repleto
de riquezas e conforto habitado por uma serpente mágica.
Muitíssimas são as criaturas que podem ser encontradas
em todo o reino, e algumas delas também transitam pelo
mundo físico, como é o caso do Mapinguari (ver Brasil em
Fúria). Há seres nativos, visitantes e invasores, mas pou-
quíssimos tem acesso livre ao mundo material; há alguns
que sequer possuem conhecimento da Tellurian. Algumas
lendas do folclore brasileiro percorrem as matas misteriosas
do Reino Vera Cruz, como o Capelobo, Gorjala, Caiporas,
Mati-Taperê, mas não há apenas os mitos tradicionais do país.
Muitos heróis da história brasileira também aparecem
aqui, mas estes jamais podem deixá-lo. Além disso, esses
heróis nacionais nunca se apresentam de uma única ma-
neira, e estas manifestações causam enorme debate entre as
tribos. Figuras semi-folclóricas, como Tiradentes e Antônio
Conselheiro, podem aparecer em Vera Cruz, mas essas
manifestações não são os espíritos do Tiradentes e Antônio
Conselheiro históricos. Na verdade, essas manifestações são
da mesma natureza do Reino: uma colisão de interpretações
imprecisas, que se revestiram de caráter mitológico e ganha-
ram poder com o tempo. É por isso que as personalidades
históricas causam muita controvérsia entre as tribos; um
indivíduo que pode ser cultuado como um herói por parte
da população brasileira pode ser visto como um dos piores
criminosos por outra camada da sociedade.
Na geografia Umbral, o Reino Vera Cruz está próximo
dos Reinos Lendário e da Pangéia, e é bem mais conhecido e
mapeado pelas outras raças metamórficas. Há alguns Balam
cujos Recantos Espirituais são fronteiriços à Vera Cruz, e os
Mokolé afirmam que todos os rios os levam aos passados
míticos do Brasil.
Locais
Viajar pelo Reino Vera Cruz é muito difícil, pois a
geografia está em constante transformação. Isso é ainda
mais verdade nas regiões mais ermas e inabitadas do Reino,
notadamente as águas cobertas de névoas que indicam a
proximidade do Reino pela Umbra, e as selvas densas que
delimitam sua porção mais desconhecida. Os Garou cham-
am os dois lugares de Névoas Umbrais e Selva Profunda,
respectivamente. Apenas um nativo do Reino Vera Cruz
pode ajudar os Garou perdidos nestas regiões limítrofes. No
caso da Selva Profunda, há ainda um perigo muito famoso:
A Aldeia. Apesar de todos conhecerem a lenda da aldeia
indígena de canibais extremamente hostis a qualquer inva-
sor, ninguém sabe qualquer coisa além disso. Estes espíritos
indígenas são considerados violentos e implacáveis, e como
muito pouco se sabe deles, ninguém foi capaz de ligar essa
lenda a um povo nativo brasileiro em específico. Acredita-se
que A Aldeia tenha se formado a partir do medo que homens
brancos tiveram dos verdadeiros brasileiros originários. Além
dos indígenas canibais, há nas florestas também monstros
gigantescos, como Gorjala e o Mapinguari (este segundo
também pode habitar o mundo físico. Ver Brasil em Fúria)
e o famoso Balam Garra Negra.
 A forma mais segura de viajar pelo Reino é seguindo o
curso dos rios. A integridade desses caminhos foi preservada
graças ao poder de Mnese dos Mokolé, que são extrema-
mente abundantes no Reino Vera Cruz. Aqui, eles jamais
assumem a forma hominídea (apesar de poderem fazê-lo.
Trata-se de um chiminage aos vários espíritos do passado).
Há na confluência do maior desses rios um enorme lamaçal
de Mokolé chamado apenas Longo Pântano. As dimensões
deste lamaçal são desconhecidas para todos que não forem
Mokolé e, por isso, as outras raças metamórficas acreditam
que o Longo Pântano está sempre mudando de lugar, como
se suas águas mudassem de acordo com as estações do ano.
Se um Garou for capaz de escapar da ameaça dos
homens-crocodilo e navegar pelos rios do Reino, poderá
encontrar outros locais menos hostis. No entanto, as pas-
sagens para regiões menos selvagens são guardadas por vários
seres folclóricos, como os Caiporas, Capelobos, Curupira,
ou mesmo algumas personalidades folclóricas mais notórias,
como o Homem-Onça, Mati-Taperê ou a Princesa Serpente.
Nas partes mais urbanizadas destaca-se A Casa do Governo
& Engenho, que, apesar do nome, não contem apenas uma
repartição pública e um engenho do período colonial.
Esta região é assim chamada por ser o centro de
poder da Weaver dentro do Reino Vera Cruz;
este poder se consolida pelas estruturas hi-
erárquicas clássicas de comando: nesta região
ainda prevalecem as estruturas de Senhor
e Escravo, Clero e Nobreza, e Empregador e Assalariado...
Apesar de extrair poder de estruturas sociais notoriamente
perniciosas, muitos Garou se sentem à vontade nesta região
do Reino. Isso se dá porque os Garou estão bem familiarizados
com hierarquia nas matilhas, seitas e tribos. Nesta região, todos
os indivíduos são constantemente vigiados pelos espíritos, que
diligentemente se reportam para a autoridade vigente no mo-
mento. Até mesmo os mais cruéis e caóticos servos da Wyrm
acabam se sentindo absolutamente dominados pelos poderes
da lei e das tradições neste local, e a região inteira acaba se
tornando um palco para pactos e relações improváveis. Caso
a autoridade vigente na Casa do Governo & Engenho for,
por exemplo, uma figura ligada à religião, os Garou podem
ser obrigados a prestarem chiminage para Nossa Senhora
Aparecida. Se, por outro lado, a autoridade for o espírito
de um bandeirante sanguinário, pode ser exigido aos Garou
que entrem na Selva Profunda para desbravarem as matas e
aniquilarem todos aqueles que entrarem no caminho.
O Quilombo das Rainhas e Reis há séculos deixou de
ser um refúgio para escravos fugidos. Este é um Quilombo
mítico que engloba todas as histórias reais e ficcionais
dos maiores heróis da resistência negra. Este qui-
lombo é um templo de homenagem aos heróis e
heroínas do passado. Muitos
Roedores de Ossos, Pere-
grinos Silenciosos, Fúrias
Negras e Filhos de Gaia
buscam no mundo físico os locais que foram refúgios de
escravos; e cada vez que descobrem mais sobre o passado
desses locais, mais rico e opulento o Quilombo das Rainhas
e Reis se torna, enriquecido pelo passado redescoberto.
Apesar de toda sua opulência, essa região ainda perman-
ece bem escondida no mato. Aquele que conseguir chegar
ao templo verá estátuas, construções, vestimentas, adornos e
sons típicos da África. Aqui, o Totem da Mãe África tem sua
segunda casa, pois a primeira é no próprio continente africano.
O Grande Latifúndio e Jazidas não são apenas um lugar,
mas vários lugares que se assemelham pela profunda devastação
que os habitantes provocam na terra. No Latifúndio e nas Jazidas
o corpo de Gaia é conspurcado, enquanto minas são criadas,
enormes porções de terra virgem são devastadas para serem
transformadas em agricultura de larga escala, e onde espíritos da
natureza tem seu propósito dominando pela ganância lendária
que habita o coração corrupto do Brasil. Ambientalistas e devotos
da Wyld podem encontrar motivos para travarem guerra nestes
locais, mas muitos Ragabash aprenderam a se valer da distância
das autoridades e de seres selvagens caóticos para fazerem pactos
escusos e executarem planos confidenciais. É nessas regiões
também que mais costumeiramente se manifestam os espíritos
do Bumbá e da Mula-sem-Cabeça. Acredita-se que o Bumbá
represente o renascimento furioso da natureza (Bumbá é um
touro imortal ou um touro capaz de ressuscitar), enquanto
que a Mula-sem-Cabeça representa os limites da moralidade
que são frequentemente ultrapassados nessas regiões do Reino
Vera Cruz. Mati-Taperê é outra criatura lendária que prefere
o Latifúndio e as Jazidas, embora de vez em quando percorra
todo o Reino voando na forma de pássaro.
A Furna da Princesa é um dos locais mais misteriosos do
Reino Vera Cruz. Trata-se de uma caverna na praia. Quando
a maré está baixa é possível entrar na caverna e percorrer um
caminho tortuoso e alagado até encontrar um salão repleto
de tesouros. Esse tesouro, entretanto, é guardado por uma
serpente mágica que se apresenta como A Princesa. A real
natureza e as intenções da Princesa são desconhecidas pelos
Garou, mas alguns afirmam que o tesouro que ela guarda é na
verdade uma ilusão, e que seus planos envolvem atrair uma
vítima para um sacrifício terrível. Esta lenda é intimamente
associada à região de Jericoacoara, no Ceará.
Leis do Reino:
• Caso a lua cheia estiver visível no céu do reino Vera Cruz,
todos os Garou passam forçadamente para a forma lupina;
• As lendas brasileiras são recontadas eternamente em Vera
Cruz. Esse recontar, entretanto, produz mais mudanças
narrativas do que preserva os detalhes de cada história
folclórica nacional. Isso acontece porque no Brasil, mais
do que em outros lugares, o senso de folclore como
história do povo é multifacetado e mutante, graças à
enormidade de povos que compõem o Brasil. Ou seja,
a Mula-sem-Cabeça que assombra os campos na noite
Capítulo 3: Narrativa
AOS NARRADORES E JOGADORES
Pontes Queimadas e Brasil em Fúria lidam com
temáticas delicadas que fazem parte da realidade
histórica e contemporânea do nosso país. A escolha
de tratar de temas como a escravidão, a memória
dos falecidos e a luta contra o esquecimento foi feita
reconhecendo a responsabilidade inerente ao tratar
destes temas. Assim, pedimos e recomendamos que
não utilizem levianamente estes elementos em jogo.
Se escolhêssemos nos esquivar de representar as
atrocidades na nossa história, estaríamos negando
a necessidade de melhorarmos como sociedade. Por
outro lado, se não nos atentarmos para a necessi-
dade de tratar de tais temas de maneira respeitosa,
nenhum benefício é alcançado para ninguém. A
escravidão é um dos elementos de plano de fundo
do jogo; mas não é o jogo em si.
de lua cheia pode ter sido uma moça que seduziu um
padre e o fez quebrar com o voto de celibato; outra
aparição idêntica sob a lua nova, entretanto, pode
representar a própria alma do padre que não resistiu à
tentação. Este exemplo serve para demonstrar que as
lendas brasileiras no Reino Vera Cruz também sofrem
de múltiplas interpretações e versões contraditórias.
• Todos os Garou recebem 3 pontos de Ancestrais quando
no Reino Vera Cruz. Isso também é verdade para os
Andarilhos do Asfalto e Roedores de Ossos; as demais
tribos, no entanto, podem ter o valor acima de 5. Porém,
os Peregrinos Silenciosos, Wendigo e Garras Vermelhas
não recebem este benefício. Os Mokolé também recebem
um bônus equivalente, porém no Antecedente Mnese;
• Lendas são histórias fluidas, e por isso Vera Cruz está
sempre expandindo, mudando e sendo reinterpretada.
Assim, é impossível mapear o reino (embora Portadores
da Luz Interior tenham interesse em fazê-lo);
• O Reino Vera Cruz é habitado não apenas por Raças
Metamórficas, mas também pelos Changelings, que o
•
entendem como parte do Sonhar;
Diferente do que ocorre com os lobisomens, os outros
metamorfos não têm transformação forçada, e parecem
possuir maior representatividade espiritual. A corte de
espíritos nativos do Reino será mais favorável a Bastet,
Mokolé, Nagah e Ananasi do que aos Garou.
Entrada e Saída
Os portões de Vera Cruz só se abrem de sete em
sete anos, mas quando se abrem permanecem abertos
durante todo um ano. Por isso, para entrar ou sair, é
necessário alguém que conheça os caminhos.
37
 O Reino possui duas maneiras de sair de seus limites.
O Garou deve completar uma missão atribuída por algum
ser nativo do Reino. Essas missões sempre dizem respeito
à realidade do espírito e do Reino Vera Cruz, e raramente
tratam de seres da Wyrm ou quaisquer desafios comuns
para um Garou. Geralmente essas missões estão de acordo
com algum elemento mais popular de uma lenda. Perseguir
e aprisionar um Caipora pode ser uma missão difícil, mas
certamente nem de perto tão desafiadora quanto fazer
cumprir a profecia de que “o mar vai virar sertão e o sertão
vai virar mar”. As possibilidades são muitas, e encorajamos
os Narradores a se debruçarem sobre mitos e folclores bra-
sileiros para utilizarem quando os jogadores desejarem fugir
do Reino Vera Cruz.
Nativos, habitantes e invasores
Capelobo
O Capelobo é uma criatura muito semelhante aos lo-
bisomens e algumas outras criaturas metamórficas. Alguns
Garou acreditam que o primeiro Capelobo surgiu quando
os Uktena vieram para a América do Sul, e os espíritos da
Wyld brasileira, que até então não conheciam os lobos,
criaram uma versão estranha, mimetizando os guerreiros de
Gaia. Outros acreditam que o Capelobo é bem mais antigo,
e talvez seja uma raça metamórfica caída, e transformada
ao longo das eras numa versão corrompida. Duas verdades
incontestáveis são: Capelobos são Górgonas, criaturas trans-
formadas pela Wyld permanentemente. A segunda verdade
é que são nativos do Reino Vera Cruz, e pouquíssimas vezes
foram encontrados no mundo físico. Outras Górgonas
mais vorazes, como o Mapinguari, mais frequentemente
visitam o mundo físico (ver Brasil em Fúria). No entanto,
assim como os Mapinguari, os Capelobos são muito raros.
A Wyld nunca cria Górgonas a partir de seres hu-
manos, preferindo animais silvestres. Os preferidos para
os Capelobo são: Cachorros Selvagens, Antas, Tatus e
Tamanduás. Completamente idiotas, os Capelobo não
são capazes de se comunicarem, e estão sempre com fome.
Suas vítimas preferidas são os mesmos animais que são
usados pela Wyld para criar os Capelobos, além de gatos e
bebês. Ao capturar uma vítima, o Capelobo não come toda
a carne, preferindo beber o sangue e devorar o cérebro de
suas presas.
Fúria 7, Gnose 3, Força de Vontade 8, Essência 20
Encantos: Garras e Presas, Fúria (5 pontos na Carac-
terística), Regeneração, Armadura
Curupira
Os Curupiras são seres
nativos do Reino Vera
Cruz, e muitos Change-
lings os entendem como
38
quimeras de sonhos, seres feérico em todos os aspectos.
Também conhecido no Brasil como “demônio da floresta”,
o Curupira é um devoto ferrenho da Wyld, e uma criatura
capaz de atos de violência (inclusive violência sexual ou
psicológica). Há casos em que crianças foram raptadas por
Curupiras, o que reforça a possível ligação destes seres com
os Changeling e os Fae.
Curupiras são agressivos, mas muito espertos e engen-
hosos. Possuem pés virados ao contrário para poderem
enganar caçadores e confundir quem tente encontrá-los.
São baixos como anões, têm cabelos vermelhos e, às vezes,
se manifestam com pele esverdeada, como se o Curupira
fosse composto de plantas. Noutras vezes, aparece simples-
mente com um índio bem baixo, cabelos de fogo, pernas
deformadas e sorriso malicioso.
O Curupira não gosta de locais movimentados e é hostil
com as pessoas que danificam a natureza. Apesar do compor-
tamento antissocial e animalesco, tem gostos bem humanos:
gosta de fumar e beber pinga. Curupiras são defensores das
plantas e selvas e odeiam profundamente os lenhadores, as
madeireiras, grandes agricultores, seringueiros e qualquer
um que destrua o verde do Reino Vera Cruz.
Fúria 6, Gnose 7, Força de Vontade 6, Essência 20
Encantos: Sentido de Orientação, Reformar, Rastrear,
Purificar os Domínios Sombrios, Desorientar, Voo
Ligeiro, Criar Chamas
Caipora
Caipora é um ser feérico e também é um nativo do
Reino Vera Cruz. Primo do Curupira, o Caipora guarda
muitas semelhantes, inclusive na possível ligação com os
Changelings. Os menos esclarecidos não perceberão dif-
erenças entre Curupira e Caipora, mas o conhecimento do
folclore revela diferenças importantes: Enquanto o Curupira
parece defender a floresta dando especial atenção ao mundo
verde, Caipora impera sobre todos os animais. Ele pode ser
visto montando um javali selvagem, portando uma lança.
Sua estatura também é baixa, ele também possui pés virados
e cabelos vermelhos, mas seu corpo não parece com o de
plantas. Na verdade, Caiporas são cobertos de pelos e têm
garras e presas. Alguns dizem que já viram o rabo de um
Caipora, mas ninguém confirmou isso. Suas habilidades
incluem imitar o som de animais, disfarçar-se de qualquer
animal da selva brasileira e inutilizar armadilhas de caçadores.
Durante a noite o Caipora caça os caçadores.
Fúria 7, Gnose 7, Força de Vontade 7, Essência 20
Encantos: Sentido de Orientação, Reformar, Rastrear, Garras
e Presas, Purificar os Domínios Sombrios, Desorientar,
Voo Ligeiro
Boto Rosa
O Boto Rosa é uma lenda do norte do Brasil que tem
contornos morais questionáveis. Segundo a lenda, o Boto
Capítulo 3: Narrativa
seria capaz de se transformar em um jovem moreno, muito
bem vestido e perfumado, com terno, gravata e chapéu.
Transformado, ia às festas populares para seduzir jovens.
Dois poderiam ser o destino destas jovens: o desapareci-
mento, ou uma gravidez indesejada. Portanto, as mães e
avós ensinaram suas filhas a evitarem jovens sedutores que
se encaixassem na descrição do Boto Rosa, para que seus
destinos continuassem seguros. Uma forma de identificar
o Boto seria, de acordo com a crença popular, verificar a
cabeça do homem, pois se houvesse um buraco (por onde
ele respiraria, uma vez que Botos são golfinhos de água doce)
aquele seria o sedutor Boto Rosa. Acredita-se que também
seja um ser feérico, possivelmente ligado aos Selkie, mas
há um poder não muito explorado pelas lendas que torna
o Boto um verdadeiro perigo assombroso. Trata-se desta
capacidade de transformar-se em homem. Na verdade, o
que o Boto faz é roubar a aparência de um homem, que
morre desfigurado. A partir daí, o Boto pode assumir o lugar
daquele homem na vida normal, como um Doppelganger.
As vítimas preferidas do Boto são rapazes jovens, bonitos e
cheios de saúde.
Fúria 5, Gnose 8, Força de Vontade 6, Essência 20
Encantos: Sentido de Orientação, Reformar, Metamorfose,
Curar, Inundação
Bumbá
O Bumbá é o espírito nativo de Vera Cruz mais ampla-
mente conhecido e cultuado. Há quem acredite que o Bumbá
é o verdadeiro salvador de Vera Cruz, uma espécie de messias
ressurreto, em primeiro lugar um símbolo de força bruta,
em segundo lugar um símbolo da esperança e renascimento.
Como as Festas e Celebrações do Boi-Bumbá são amplas
em todo o Brasil, este espírito raramente se manifesta no
mundo físico, preferindo fazer de seu lar o Reino Vera Cruz,
onde lendas vivem. Em todas as partes do Reino acontece
uma celebração anual, quando Bumbá morre e ressuscita.
Segundo a lenda, uma escrava chamada Catarina, ao desco-
brir que estava grávida, pede ao seu marido, Francisco, que
lhe traga uma língua de boi para comer. Francisco respeita
o pedido de Catarina e mata o boi. Ao ficar sabendo disso
o dono da fazenda ordenam que Francisco seja preso. Os
curandeiros, então, ressuscitam o boi para que Francisco
fosse libertado pelo dono da fazenda. Em algumas versões
desta história, Francisco também é morto e ressuscitado
com ajuda dos escravos curandeiros. Às vezes, Francisco é
chamado de Mateus.
De qualquer forma, Bumbá é este espírito majestoso e
imponente, e cujo sacrifício acontece movido por cuidado e
amor, e cuja ressurreição também acontece movida por cuidado
e amor. É bastante popular em todo o Reino, embora prefira
ser deixado sozinho. Para se aproximar do Bumbá sem des-
pertar sua animosidade, recomenda-se tocar música ritmada
com maracá, matraca, pandeirão, tambor-onça e zabumba.
39
 O Bumbá conhece os caminhos por todo o Reino, e
também conhece as passagens para a Umbra Negra.
Fúria 8, Gnose 8, Força de Vontade 8, Essência 25
Encantos: Sentido de Orientação, Reformar, Rastrear,
Abrir Ponte da Lua, Metamorfose, Umbramoto, Espiar,
Armadura, Curar
Mula-sem-Cabeça
Mula-sem-Cabeça é um espírito famoso no Reino, mas
muito temido. Trata-se de um espírito de vingança, mas de um
tipo de vingança muito específico. A Mula, que no lugar da
cabeça possui chamas vibrantes, corre pelas madrugadas como
um fantasma que quer punir o culpado por fazer com que um
sevo de Deus quebrasse com seus votos sagrados. Às vezes, a
Mula-sem-Cabeça é o espírito de um padre que foi seduzido,
e com isso levado à corrupção da alma. Outras vezes, quem é
transformada no espírito de vingança é a pessoa que seduziu o
servo de Deus, e fez com que ele/ela quebrasse com seus votos.
Da forma que for, o espírito surge para vingar-se e espalhar
terror entre os outros habitantes, como uma mensagem de
mau agouro àqueles cujo compasso moral frequentemente
se desvia do norte de Deus, ou do Sagrado. Alguns Garou
dizem que no passado a Mula-sem-Cabeça se manifestou em
pesadelos para um Impuro dos Presas de Prata. Segundo o
próprio Presa de Prata, a Mula era o espírito de sua mãe,
que envergonhada de ter quebrado a Litania, voltava para
40 PONTES QUEIMADAS
consertar o passado, assassinando o próprio filho. No início
a matilha não deu ouvidos, acreditando que o Presa de Prata
estava enlouquecendo, mas pouco tempo se passou até que o
corpo dele foi encontrado sem cabeça no Reino Vera Cruz.
Fúria 8, Gnose 5, Força de Vontade 8, Essência 20
Encantos: Sentido de Orientação, Reformar, Purificar os
Domínios Sombrios, Rajada (Chamas), Armadura, Voo
Ligeiro, Criar Chamas
Gorjala
Gorjala é um gigante cinza, de um só olho, que habita
montanhas e regiões densas da floresta. Muito semelhante
a um ciclope da mitologia grega, especula-se que o Gorjala
tenha se formado a partir da imaginação e crença das pri-
meiras Fúrias Negras a chegarem no Brasil.
Gorjala é muito burro e voraz. Sua única motivação
é comer. Ele nem parece ter instinto sexual ou o básico
instinto de autopreservação. Se houver comida o sufici-
ente, um Gorjala pode ser facilmente atraído para uma
armadilha. No entanto, como ele é muito alto e de força
descomunal, Gorjala nunca foi capturado de verdade.
Na verdade, não se sabe se Gorjala é uma espécie, ou
apenas um indivíduo no Reino Vera Cruz. Como nunca
se manifesta no mundo físico, todo o conhecimento que
existe sobre Gorjala diz respeito aos testemunhos do
poder destrutivo dele.
 antigas vítimas. Ninguém conseguiu decifrar os que alguma
dessas vozes pode estar gritando, mas especula-se que sejam
as últimas palavras das vítimas, todas elas mescladas num
poderoso grito fantasma. Se Mati-Taperê não conseguir o
que deseja, ela atormentará a vítima por mais uma noite e
lançará uma maldição. Algumas vítimas adoeceram, outras
acordaram com feridas e algumas até morreram. Supõe-se que
os gritos de morte das vítimas fatais passaram a incorporar
o berro tétrico de Mati-Taperê.
O que os Garou não sabem é que Mati-Taperê é na
verdade uma Corax. Uma observação mais apurada revelará
que a idosa tem penas negras nos braços, e que suas pernas
são enrugadas e possuem garras. O grito fantasmagórico de
Mati-Taperê é, de fato, uma reprodução dos gritos de suas
vítimas, e sua capacidade de mesclar todos em um só grito
gélido é um dos poderes especiais desta Corax. Da linhagem
africana Makunguru, Mati-Taperê eclodiu de seu ovo espir-
itual dentro do Reino Vera Cruz. Ninguém, nem mesmo
ela, sabe quantos anos tem. Sua personalidade é sombria
e ela está claramente dominada pela Wyrm. No entanto,
pela natureza mutante do Reino Vera Cruz, o alastramento
da corrupção frequentemente retrocede. Garra Negra, o
Balam, afirma que quando chegou ao Reino Mati-Taperê
era uma Corax zombeteira e sábia, nada parecida com esta
versão maligna.

Quando uma matilha composta por Crias de Fenris e Uktena

tentou capturar definitivamente um Gorjala para ser utilizado
como arma na Guerra da Amazônia, Gorjala deixou ser atraído
e encurralado numa jaula onde havia muita carne. Depois de
refestelar-se na comida deixada como isca, Gorjala quebrou a
jaula onde estava preso, capturou o Ahroun dos Crias de Fenris,
colocou-o no sovaco, e foi andando calmamente de volta para a
floresta, enquanto ia devorando o Garou parte por parte.
Fúria 9, Gnose 4, Força de Vontade 8, Essência 20
Encantos: Sentido de Orientação, Reformar, Armadura,
Garras e Presas, Umbramoto, Curar, Rastrear, Romper
Realidade, Estilhaçar Vidros (funciona com qualquer
material que o prenda)
Mati-Taperê
Mati-Taperê, ou Matinta-Perera, é uma entidade antiga
do norte do Brasil. Trata-se de uma idosa de vestes sombrias
que muitas vezes é vista em cima de muros, telhados e
galhos gritando com uma voz estridente e fantasmagórica
como o vento. Segundo a lenda, uma forma de não ser
assombrado por Mati-Taperê seria oferecer a ela comida,
tabaco, quinquilharias brilhantes e drogas naturais. Desta
forma, Mati-Taperê cessaria o barulho e iria embora das
proximidades. Há quem diga, entretanto, que o grito de
Mati-Taperê é na verdade a reprodução das vozes de suas
Capítulo 3: Narrativa 41
Raça: Corvídeo morrer sozinho na Umbra. Isolado e sem um foco para seu
Tribo: Makunguru ódio, Garra Negra fez o que anos anteriores seria impensável:
Posto: Ales (3) buscou se aproximar dos Garou, mas dessa vez entrando em
Atributos: Força 2, Destreza 4, Vigor 3, Carisma 4, Ma- contato com Electra Dama-das-Armas. A Fúria Negra foi
nipulação 5, Aparência 2, Percepção 5, Inteligência 3, receptiva à aproximação, mas não permitiu que esse conta-
Raciocínio 4 to se estendesse a outros Garou, com medo de um motim
Habilidades: Prontidão 3, Esportes 4, Briga 1, Empatia 3, na seita que ela acabara de tomar a liderança (no lugar do
Vôo 4, Instinto Primitivo 2, Intimidação 5, Lábia 2, Lid- desaparecido Golgol).
erança 3, Armas Brancas 2, Furtividade 3, Sobrevivência Por algumas luas, os dois confabularam e trocaram
2, Enigmas 4, Medicina 2, Ocultismo 5, Rituais 4 informações úteis para o fortalecimento das raças na luta
Antecedentes: Mapas Umbrais 3, Rituais 1 contra os servos da Wyrm; no entanto, pouco tempo se
passou e Electra nunca mais apareceu para Garra Negra,
Dons: Faro para Forma Verdadeira, Comunicação com Es-
e logo ficou evidente que ela, assim como toda a Seita
píritos, Caminhos Inimigos, Voz do Mímico, Palavra do
Além, Resistência do Mensageiro, Capturar Sussurros, do Coração Oco, havia se fechado para todos os outros
Chamado da Carniça, Penas Afiadas, Conversa Morta, (ver Brasil em Fúria). Furioso e desolado, Garra Negra
Dardo do Beija-Flor decidiu buscar por Ballengash na Umbra. Perseguindo a
Lenda de El Dorado, o que Garra Negra encontrou foi
Fúria: 4
algo incrível, mas igualmente triste... de fato Ballengash
Gnose: 8
havia encontrado um reino espiritual de lendas e folclo-
Força de Vontade: 8 re, mas o tesouro a que ele se referia como El Dorado
Rituais: Ritual do Roubo da Memória era apenas uma ilusão antiga. O Reino era bem maior,
Garra Negra e guardava mitos e histórias contadas pelos vários povos
brasileiros. Neste reino, boiando numa praia, estava o
Garra Negra é, sem dúvidas, o mais notório Balam corpo decapitado de Ballengash.
do Brasil, junto com seus antigos companheiros de luta,
Como uma forma de iniciar uma nova vida e honrar
Atahualpa, Matúa e Ballengash, agora mortos (ver Rage
seus antigos companheiros, Garra Negra se refugiou num
Across the Amazon). Embora Garra Negra ainda seja o mais
Recanto Espiritual na Selva Profunda, nos limites do Reino
poderoso felino da América do Sul, sua disposição quanto às
Vera Cruz. Garra Negra conhece os caminhos para entrar e
batalhas e ao Brasil em si mudou muito desde a Guerra da
sair do Reino, e também conhece outros residentes, como
Amazônia. Naquele período, o ódio pelos Garou era o que
Mati-Taperê e Gorjala. Sua atual disposição para com os
definia a vida e ações de Garra Negra, que usava de táticas
Garou é de desconfiança, mas sem todo o ódio que tinha
de guerrilha para atacar os Garou, a despeito de ambos os
em sua juventude. Ele possui até uma certa amizade com
lados, Garou e Bastet, possuírem um inimigo em comum:
a Pentex. Apesar da ameaça representada pelos Dançarinos Alestro, embora os dois não se vejam há anos.
da Espiral Negra e agentes da Pentex ser muito séria, a fúria
que Garra Negra tinha quanto aos Garou o deixava cego.
Com o tempo o Balam foi capaz de compreender que o ódio
era mal direcionado, e que, na verdade, atribuía a todos
os lobisomens a culpa que deveria recair sobre apenas um
indivíduo: Golgol Presas-Primeiro. E o ódio do Balam era
justificado, pois para estabelecer pontos avançados e instau-
rar um novo poderio contra a Wyrm na Amazônia, Golgol
conspurcou Recantos dos Balam que estavam intocados a
séculos, e chacinou Parentes dos homens-onça diretamente
ligados a Garra Negra.
Apesar disso, Garra Negra não pôde executar sua
vingança contra Presas-Primeiro, pois o Cria de Fenris
desaparecera em embate contra Wakoru, (o Incarna da
Fome; ver Brasil em Fúria). Foi nesse período também que
Garra Negra testemunhou a loucura da Wyrm tomar conta
de Atahualpa. Ballengash, que já era bastante elusivo até
mesmo para um felino, desapareceu em suas idas e vindas
do misterioso El Dorado, e Matúa envelheceu e escolheu
42
Raça: Felino
Pryio: Noite
Tribo: Balam
Posto: Tilau (4)
Atributos: Força 5, Destreza 4, Vigor 4, Carisma 3, Ma-
nipulação 3, Aparência 2, Percepção 4, Inteligência 5,
Raciocínio 4.
Habilidades: Prontidão 5, Esportes 4, Briga 5, Intimidação
5, Instinto Primitivo 3, Empatia com Animais 3, Fur-
tividade 5, Sobrevivência 4, Conhecimento de Área 5,
Enigmas 4, Rituais 5, Cosmologia 3, Cultura Garou 3
Antecedentes: Ninhada 5 (Onças), Parentes 1 (Nativos
Yanomami), Recanto Espiritual 5.
Dons: Sentidos Aguçados, Garras Afiadas, Sentir a Wyrm, Ol-
hos de Gato, Olhos Assustadores, Chamado da Ninhada,
Bramido, Floresta Perambulante, Harmonia, Caminhar
Entre Mundos, Canção da Grande Fera (Garra Negra
pode invocar uma Onça Negra primitiva, maior do que
uma onça normal, mais ágil e forte também – os dados
ficam a critério do Narrador).
Fúria: 9
Gnose: 6
Força de Vontade: 10
Fetiches: Pele de Sapo (Nível 4, Gnose 5). É a pele arrancada
de um sapo venenoso. Garra Negra passa essa pele nas
patas e garras, dando a elas uma cobertura viscosa, grossa
o suficiente para não pingar. Essa gosma é venenosa e
permite que Garra Negra envenene os alvos com simples
ataques de garra. A vítima deve ser bem sucedida num
teste de Vigor, dificuldade 8, ou perder três pontos de
vitalidade por toque).
A Princesa Serpente
A Princesa Serpente é a origem da lenda da Princesa
de Jericoacoara, no Ceará. A verdade é que esta “princesa”
é uma prisioneira do Reino Vera Cruz por uma maldição
antiga. Quando esta Nagah visitou o Reino pela primeira vez
encontrou tesouros fulgurosos. Os espíritos nativos de Vera
Cruz se referiam ao lugar encontrado como El Dorado, um
tesouro geográfico. À primeira vista, a Nagah decidiu que
seria imperadora de El Dorado, e se autoproclamou princesa.
Durante três décadas a Serpente usou seus poderes para
roubar e assassinar os guerreiros-onça e rainhas-crocodilo
que moravam em El Dorado, além de promover intrigas
até conseguir se tornar, de fato, a mais rica dentre os sobre-
viventes da região. Mas, ao final dos trinta anos, só havia
sobrado ruínas onde um dia havia uma cidade fulgurante
e dourada. Quando se tornou princesa, todo o seu tesouro
cabia em uma pequena caverna à beira mar.
Com medo de ser perseguida pelos sobreviventes, a
Princesa Serpente se escondeu com seu pequeno tesouro na
caverna submersa e esperou. Os sobreviventes descobriram a
Capítulo 3: Narrativa
localização dela e fizeram um ritual para aprisioná-la. Presa
com seu tesouro, a Serpente passou a arremessar moedas de
ouro e joias para a praia, afim de atrair curiosos que pudessem
lhe servir como alimento ou para que ela pudesse usá-los pra
se libertar. Isso aconteceu séculos atrás e o tesouro dela está
quase no fim. Tudo o que restou da preciosa El Dorado se
resume a algumas moedas de ouro numa furna pequena na
praia do Reino. A Princesa Serpente, entretanto, é capaz de
criar ilusões para que os que se aventuram na furna enxer-
guem tesouros resplandecentes dentro da caverna submersa.
A última vez que tentou se libertar resultou na morte de
Ballengash, um Balam da Amazônia que ainda buscava a
lenda de El Dorado. Ele foi o último crente nesta fábula.
A Princesa o atraiu com moedas para dentro da caverna
e tentou usá-lo para se libertar, mas o Balam percebeu o
engodo a tempo e atacou a Princesa. Furiosa, ela revidou e
decapitou o Bastet. O corpo decapitado foi levado com a
maré, mas a Princesa continuou presa na furna. Agora ela
precisa de uma vez por todas se libertar, pois lhe restam
poucas moedas para atrais pessoas, e se não conseguir se
livrar da prisão, logo não terá nem como conseguir comida.
Raça: Ahi
Augúrio: Kartikeya
Posto: Trovão Chakram (4)
Atributos: Força 3, Destreza 5, Vigor 4, Carisma 3, Ma-
nipulação 3, Aparência 4, Percepção 4, Inteligência 3,
Raciocínio 4
Habilidades: Prontidão 3, Esportes 3, Briga 4, Empatia 2,
Intimidação 4, Instinto Primitivo 2, Lábia 4, Ofícios 2,
Etiqueta 2, Armas Brancas 2, Furtividade 4, Sobrevivên-
cia 2, Enigmas 3, Medicina 2, Ocultismo 3, Rituais 2
Antecedentes: Raça Pura 3, Recursos 3, Ancestrais 2,
Dons: Olhos dos Reis Dragões, Favor do Lagarto, Pele de
Cobra, Ferrão do Sono, Véu dos Wani, Bênçãos de Kali,
Puro Veneno, Olhar da Serpente, Sentir a Weaver, Con-
vocar as Marés, Breve Sentimento, A Voz da Serpente
Fúria: 7
Gnose: 6
Força de Vontade: 8
ATO III - Velhos
Guerreiros, Novas
Guerras
“O verde em brasas, triturado, mutilado
O amarelo ouro roubado
Meu céu estrelado está banguelo
Minhas palavras tragam de volta - Revolta”
(Black Oil – Amazônia)
43
 As formas de sair do reino Vera Cruz foram descritas, dificuldade; pois exigirá que os Garou sigam o Touro como
e os Narradores devem utilizar a forma que escolherem e Totem e abandonem o Totem que os abençoa atualmente.
que forem mais adequadas para seus planos de jogo, mas O Boto Rosa tentará ludibriar os Garou, levando-os para
nenhuma dessas formas deve ser fácil ou executada sem o Sonhar. Os Garou podem perceber o engodo com testes
ajuda. Como já explicado, os jogadores não podem fugir de Percepção + Empatia (dificuldade 7), ou com testes de
do Reino sem auxílio ou sem prestarem favores em troca Raciocínio + Enigmas (dificuldade 8) pra identificarem a
do caminho de volta. região umbral como sendo diferente da prometida.
Se buscarem ajuda de Garra Negra, o Balam nativo da Independente de quanto tempo passarem no Reino
Amazônia, ele só prestará ajuda facilmente se os jogadores Vera Cruz, ao voltarem para a Penumbra da Amazônia os
lhe presentearem com uma das Pedras-Trovão. Mesmo assim, personagens dos jogadores se encontrarão no meio de uma
Garra Negra os levará por um caminho tortuoso e difícil pela floresta densa, e perceberão claramente que pouquíssimo
floresta densa. Testes de Destreza + Sobrevivência (dificuldade tempo se passou neste lugar desde que se perderam: eles
8) podem ser exigidos para que os Garou se mantenham podem perceber isso pela rápida aproximação de Corvos da
próximos de Garra Negra. Caso os jogadores falharem Tempestade e Avatares da Fênix, que haviam se dispersado
e se perderem do Balam, ele voltará atrás para reunir os depois do ataque e da destruição da Ponte de Lua, mas que
lobisomens perdidos, mas o fará com muita irritação. Dois não caíram pelos Reinos Umbrais como aconteceu com
erros consecutivos em se manterem próximos de Garra Negra os jogadores. Outra coisa que os jogadores podem perce-
implicam em serem abandonados pelo Balam no meio da ber imediatamente é que estão na Penumbra da floresta
Selva Profunda, a região mais perigosa (mas também mais amazônica, pois a manifestação espiritual é muito intensa.
próxima das fronteiras) do Reino Vera Cruz. Com um teste de Raciocínio + Enigmas (dificuldade 6), os
Se por outro lado, os jogadores não derem uma das Pe- Garou podem perceber lunos caídos por toda a região, como
dras-Trovão para Garra Negra, eles ainda podem conseguir a fragmentos espalhados da Ponte de Lua (lembre-se que, caso
ajuda do Balam, mas será muito difícil. Terão primeiramente tenha descrito as Pontes de Lua se queimando, ao invés de
de capturá-lo ou serem capturados por ele, para poderem rachando, estes fragmentos dos espíritos de Luna também
conversar de maneira apropriada. Depois disso devem podem apresentar chamas prateadas).
conseguir convencê-lo, o que não deve ser fácil. Se algum
dos jogadores tiver um histórico relacionado à Amazônia,
ou se for um Uktena com o Antecedente Ancestrais, o
Narrador poderá informá-lo diretamente que Garra Negra
possui uma aliada Garou ainda viva na Amazônia: trata-se
de Alestro (ver Mapa de Relacionamentos, no Capítulo 2).
Se os jogadores não buscarem ajuda de Garra Negra,
ainda podem conseguir sair do Reino Vera Cruz. Uma
das formas mais evidentes é fazer com que os jogadores
aprendam mais sobre o Reino umbral e suas leis, para que
encontrem ou aprendam sobre quem pode auxiliá-los, ou
qual o caminho mais apropriado. Os Narradores devem se
alertar para o fato de que os portões do Reino só se abrem
de 7 em 7 anos, então os portões devem estar abertos du-
rante o período do jogo. Outros espíritos que conhecem os
caminhos de volta são: Mati-Taperê, A Princesa Serpente
(que deseja escapar do Reino tanto quanto os jogadores),
Bumbá e Boto Rosa.
Mati-Taperê exigirá que alguma vítima seja trazida para
que ela se alimente de seus olhos. Se os Garou conceder-
em esse chiminage de sangue, a Corax as levará de volta
para a Penumbra da Amazônia. Se a Princesa Serpente
for encontrada em sua furna, ela tentará atrair os Garou
para dentro de sua prisão mágica. Se for bem sucedida
em fazê-lo, ela tentará matar os Garou, para que com o
sangue derramado possa fazer um ritual para quebrar o
feitiço e se ver livre do Reino Vera Cruz. Bumbá terá um
pedido que pode ser também uma bênção, ou uma grande
44 PONTES QUEIMADAS
Cena 1 - Recanto Bastet
Caso tenham sidos conduzidos por Garra Negra, os Garou
estarão na Penumbra do estado brasileiro de Rondônia, onde há
um Recanto Bastet. Este refúgio espiritual fora muito grande no
passado, e isso é facilmente perceptível (Percepção + Investigação,
ou Percepção + Rituais, dificuldade 7) pelos inúmeros entalhes
meticulosos e finos produzidos pelos Balam. Estes símbolos e glifos
dançam no mundo espiritual, e mesmo sem conhecimento da
linguagem dos Balam, os Garou poderão sentir a importância dos
símbolos e que representavam algo grandioso (teste de Inteligência
+ Instinto Primitivo, dificuldade 7). A disposição ascendente (os
glifos e símbolos “sobem e escalam” árvores e pedras) representa
altivez e poder, e a forma furiosa como foram grafados representa
domínio. Mesmo assim, o Recanto está vazio. Ao chegarem lá,
Garra Negra explicará que os outros homens-gato que se refugiam
ali atacarão os jogadores se eles tentarem “alguma gracinha”. No
entanto, os jogadores não verão nenhum outro Balam, nem
onças ou pessoas. Há apenas Garra Negra e os jogadores. Garra
Negra também falará que outrora este lugar abrigava inúmeros
homens-gato (e mulheres), bem como outros Balam que rejeit-
avam totalmente a forma humana – ele atribui o atual estado
de abandono do Recanto a Golgol Presas-Primeiro, antigo líder
da Seita do Coração Oco. Neste momento, os jogadores devem
decidir os planos que seguirão, pois existem três caminhos pos-
síveis, que serão abordados a seguir.
Cena 2 - Três caminhos
Depois de terem enfrentado os desafios do Reino
Vera Cruz e terem conseguido escapar de lá, os Garou
retornam ao mundo físico, agora na Amazônia. A partir
deste ponto os jogadores devem voltar à missão dada por
Velocidade-do-Trovão e combater os servos da Wyrm que
se apossaram do caern do Rio do Céu. No entanto, há três
caminhos até a conclusão final desta aventura, e a forma
de conclusão depende bastante da decisão tomada neste
ponto da narrativa.
Se os jogadores não tiverem buscado ajuda de Garra
Negra, mas sim de algum outro espírito nativo do Reino
Vera Cruz, chegarão à Penumbra amazônica perceben-
do a devastação de várias regiões espirituais: verão rios
poluídos, desmatamento, incêndios, além de muitos
animais e outros espíritos da natureza agonizando. Se os
jogadores tiverem chegado à Penumbra da Amazônia com
o auxílio de Garra Negra, perceberão as mesmas marcas
de destruição, mas apenas depois de saírem do Recan-
to Bastet. Acompanhados por Garra Negra, os Garou
também poderão aprender que aquela região no mundo
físico pertencera, outrora, a Parentes dos Garou (de Gaia
e de Dançarinos da Espiral Negra) que foram pegos no
fogo cruzado da Guerra da Amazônia, não restando nem
memória dos nomes dos falecidos.
 Uma vez no mundo físico, os Garou podem escolher
irem para: 1- Seita dos Espíritos da Chuva; 2- Seita do
Coração Oco; ou 3- Seita do Rio do Céu. Cada uma das
escolhas implica em situações diferentes. Se forem para
a Seita dos Espíritos da Chuva, dos Uktena, os Garou
devem apresentar as Pedras-Trovão. Se ainda possuírem
os fragmentos de Pedras-Trovão, os Uktena receberão os
Garou, e explicarão que aqueles fetiches são importantes
para o totem da seita, o Rei Trovão (ou Tupã. Os Senhores
das Sombras o consideram um espírito ligado ao Avô
Trovão, mas os Uktena desconsideram esta ideia. Para
mais detalhes, ver Brasil em Fúria). Depois das apresen-
tações formais, os Garou são levados por um nativo para
o Coração do Caern, onde estão os Uktena e espíritos do
caern. Os jogadores poderão tentar convencer os Uktena a
se juntarem ao ataque do Rio do Céu, que está dominado
por Dançarinos da Espiral Negra. Para fins narrativos,
aconselhamos que esta tentativa de convencimento seja
mais focada na interpretação do que em rolagens de dados,
portanto os Narradores devem encorajar os jogadores
a fazerem exortações convincentes e emocionadas. De
qualquer forma, a rolagem de Carisma + Liderança ou
Manipulação + Expressão (dificuldade 8) pode ser usada
para guiar o processo interpretativo. Os jogadores também
46 PONTES QUEIMADAS
podem usar dons ou fetiches (se possuírem) que possam
ajudar em situações de desafios sociais. A quantidade de
sucessos em convencer será igual ao número de Uktena
do caern dos Espíritos da Chuva que prestarão auxílio
no ataque ao caern do Rio do Céu.
Caso a tentativa de convencimento fracasse, apenas dois
Uktena irão auxiliar. Na verdade, estes Uktena são fracos
e irão acompanhar os jogadores muitos mais para saciar a
curiosidade do restante da seita sobre os acontecimentos
futuros, do que pra sangrarem ao lado dos personagens
dos jogadores. É claro que estes Uktena não fugirão do
combate, mas devem ser retratados como menos preparados
pro combate do que o que seria ideal.
Se os jogadores não possuírem as Pedras-Trovão, eles
podem até buscar auxílio dos Uktena, mas não serão
auxiliados. A única coisa permitida é que entrem no
caern, sejam tratados pelos curandeiros Uktena, e só.
Se os Garou buscarem auxílio dos espíritos do caern,
entretanto, podem conseguir alguma ajuda, desde que
saibam os rituais apropriados.
Entretanto, se os jogadores decidirem buscar al-
gum caminho para a Seita do Coração Oco, ao invés
de irem diretamente cumprir a missão dada por Ve-
locidade-do-Trovão, muitas são as possibilidades. Se
souberem da relação entre Garra Negra e Alestro (ver
Mapa de Relacionamentos, Capítulo 2), os jogadores
podem tentar convencer o Balam de levá-los até ela. No
entanto, Garra Negra também desconhece o caminho
para a seita, mas pode informar os jogadores sobre
Raoni Presas-de-Sucuri, o impuro filho de Alestro
(ver Mapa de Relacionamentos, Capítulo 2). Raoni
conhece o caminho para o Coração Oco, mas ele não
possui prestígio algum na seita (por ser um impuro),
e aparecer no caern que se camuflou com visitantes
não-anunciados certamente provocaria uma punição
terrível, que Raoni irá preferir evitar.
Sherrick, hoje em dia conhecido como “Xerife”
pelos amazonenses, é um Senhor das Sombras que no
passado foi um líder de Warg na Guerra da Amazônia.
Desde que Electra Dama-das-Armas assumiu a liderança
do Coração Oco e o camuflou espiritualmente, Sherrick
perdeu muito poder político. Depois disso, com a queda
do Rio do Céu para os Dançarinos da Espiral Negra, ele
decidiu que acharia um caminho para o Coração Oco
e que se tornaria o novo líder daquela seita. Depois de
destronar Electra, faria aquilo que nem ela nem Golgol
não conseguiram: reunir todos os Garou para dizimar os
Dançarinos da Espiral Negra. Para isso, ele espera contar
com a ajuda de Crick, um Roedor de Ossos que está em
Harano (depois de ter visto duas lideranças fracassarem
na Seita do Rio do Céu). Ambos podem se envolver com
os Garou que estejam buscando o Coração Oco, e aux-
iliarem os jogadores. Se o jogo caminhar nesta direção,
Sherrick pode ser avisado por espíritos da presença dos
jogadores, e passar a estudar as intenções deles.
Todas as tentativas de chegar ao Coração Oco devem
ser feitas através das relações apresentadas entre NPCs,
sendo inútil qualquer teste, dom ou ritual que tenha como
objetivo descobrir o caminho para o caern de maneira
direta e irrestrita. Deve ser difícil e envolver socialização
com os NPCs apresentados no Capítulo 2. Se forem bem
sucedidos, os Garou visitarão o vaern do Coração Oco e
poderão lidar com quaisquer Garou daquela seita. Con-
vencê-los a participar do ataque contra o Rio do Céu não
será tão difícil quando comparado com os Uktena dos
Espíritos da Chuva; pois aqui a maior dificuldade deve ser
encontrar o caern. Para o convencimento dos Garou da
seita a interpretação é mais importante do que a rolagem
de dados, então exija que os jogadores façam discursos
emocionados e convincentes. Carisma (ou Manipulação)
+Liderança, dificuldade 6. O número de sucessos corre-
sponde ao número de Garou que irão ajudar os jogadores
no ataque ao Rio do Céu.
Se, por outro lado, os jogadores preferirem atacar
o Rio do Céu sem buscar auxílio de qualquer um dos
caerns dos Espíritos da Chuva, ou do Coração Oco...
Bem, então o jogo termina em tragédia. Se tiverem ajuda,
entretanto, os jogadores e NPCs terão uma chance de
derrotar os Dançarinos da Espiral Negra que tomaram
o Rio do Céu.
Na hipótese de terem auxílio dos outros dois caerns,
o número de lobisomens que participará da batalha será
muito alto de ambos os lados. Trata-se de uma guerra entre
seitas, algo muito maior do que a típica luta entre matil-
has. Para isso, os Narradores devem aplicar as Regras de
Combate em Tropa, apresentadas no Apêndice. As fichas
dos Garou notáveis dos caerns dos Espíritos da Chuva e
do Coração Oco podem ser encontradas no Capítulo 2.
Abaixo encontram-se as estatísticas dos heróis mais “des-
cartáveis” dos caerns Garou . Há um Dançarino da Espiral
Negra notadamente mais poderoso que os demais, e este é
o novo alfa da Seita do Rio do Céu. Considere que ele tem
os benefícios concedidos pelo Totem do Macaco Bugio (ver
Brasil em Fúria). Os outros Dançarinos da Espiral Negra,
bem como seu alfa, tem suas planilhas apresentadas abaixo.
Os Narradores tem total liberdade de inflar ou diminuir
o número de Garou presentes nesta batalha em ambos os
lados, mas devem se atentar para os detalhes das regras de
Combate em Tropa.
NPCs Uktena da Seita dos
Espíritos da Chuva
Tribo: Uktena
Raça: Hominídeo
Augúrio: Ahroun
Capítulo 3: Narrativa
Posto: 2 (Fostern)
Físicos: Força 4, Destreza 3, Vigor 3
Sociais: Carisma 2, Manipulação 3, Aparência 2
Mentais: Percepção 4, Inteligência 2, Raciocínio 3
Habilidades: Prontidão 2, Esportes 3, Briga 3, Empatia 1,
Instinto Primitivo 2, Lábia 2, Empatia com Animais 1,
Ofícios 2, Armas Brancas 3, Furtividade 2, Sobrevivência
3, Enigmas 1, Medicina 1, Ocultismo 2, Rituais 1
Antecedentes: Raça Pura 2
Fúria: 6
Gnose: 3
Força de Vontade: 5
Dons: Persuasão, Inspiração, Garras Afiadas, Espírito da
Batalha, Garras-Esporas, Fitar, Sentir a Wyrm, Sentir
Magia, Espírito do Peixe, Espírito do Pássaro
Oxtrarch Rasga-Mortalha
Tribo: Dançarinos da Espiral Negra
Raça: Impuro
Augúrio: Philodox
Posto: 4 (Athro)
Físicos: Força 4, Destreza 4, Vigor 5
Sociais: Carisma 3, Manipulação 3, Aparência 2
Mentais: Percepção 3, Inteligência 4, Raciocínio 4
Habilidades: Prontidão 4, Esportes 3, Briga 4, Empatia 2,
Intimidação 5, Liderança 3, Instinto Primitivo 3, Lábia 3,
Ofícios 2, Etiqueta 2, Armas de Fogo 2, Armas Brancas
4, Furtividade 2, Sobrevivência 2, Enigmas 1, Investi-
gação 2, Direito 2, Medicina 3, Ocultismo 3, Rituais 4
Antecedentes: Ancestrais 3, Fetiches 3, Raça Pura 1, Aliados
4 (Seita do Rio do Céu), Contatos 2
Fúria: 6
Gnose: 6
Força de Vontade: 9
Dons: : Sentir a Wyrm, Persuasão, Faro para a Forma
Verdadeira, Raiva Primitiva, Criar Elemento, Farejar
Medo, Chamado do Dever, Determinação, Orelhas de
Morcego, Patágio, Maldito Protetor, Resistência a Dor,
Escudo da Fúria, Couraça da Wyrm, Cavar, Maldição
do Ódio, Olhos de Gato, Baba da Fúria, Descobrir
Calcanhar-de-Aquiles, Imposição, Abrir Feridas, Injetar
Veneno, Assumir a Forma Verdadeira
História: Nascido na Amazônia, o Impuro Oxtrarch
foi forjado pela cultura brutal dos filhos do Curiango e
sob tutela do terrível totem Dragão Verde, na Colmeia do
Inferno Verde em Ulianópolis. Suas aspirações se mostraram,
desde a infância, mais voltadas para as conspirações e para
a engenhosidade perversa do que para a violência gratuita,
e isso foi importante para o futuro de Oxtrarch, pois em-
bora tenha lutado como soldado na Guerra da Amazônia,
no início dos anos 90, seu grande sucesso se deu graças à
47
sua capacidade de articular poderes com calma e paciência.
Quando os combates da Guerra da Amazônia arrefeceram,
Oxtrarch, agora chamado Rasga-Mortalha (graças às suas
habilidades em ataques surpresa durante a madrugada),
fez acordos com líderes da Colmeia Verde, no Pará, e os
diretores da Pentex, no Amazonas, para garantir que a
influência da Wyrm não fosse diminuída na região, mas
ficasse apenas escondida. Com isso, Rasga-Mortalha esperava
por um momento propício para executar um ataque brutal
e definitivo, e essa oportunidade aconteceu recentemente,
com a queda do caern do Rio do Céu. Nesta ocasião, Ox-
trarch Rasga-Mortalha alcançou a posição de Athro entre os
Dançarinos da Espiral Negra por seu sucesso em conspurcar
o solo sagrado de Gaia e toma-lo para a Corruptora e para
o poder do totem do Macaco Bugio.
NPCs Dançarinos da Espiral Negra da
Seita do Rio do Céu
Tribo: Dançarinos da Espiral Negra
Raça: Impuro
Augúrio: Ahroun
Posto: 3 (Adren)
Físicos: Força 4, Destreza 4, Vigor 4
Sociais: Carisma 2, Manipulação 3, Aparência 1
Mentais: Percepção 3, Inteligência 3, Raciocínio 4
48 PONTES QUEIMADAS
Habilidades: Prontidão 3, Esportes 3, Briga 3, Intimidação
4, Lábia 2, Ofícios 3, Armas Brancas 3, Armas de Fogo
2, Sobrevivência 2, Enigmas 1, Ocultismo 3, Rituais 3
Antecedentes: Ancestrais 3
Fúria: 7
Gnose: 5
Força de Vontade: 5
Dons: Sentir a Wyrm, Raiva Primitiva, Criar Elemento,
Maldito Protetor, Resistência a Dor, Toque da Queda,
Garras Afiadas, Escudo da Fúria, Medo Verdadeiro,
Couraça da Wyrm, Chifres do Impalador, Cavar, Mal-
dição do Ódio, Olhos de Gato, Baba da Fúria
Cena 3 - Conclusões,
“As I walk through the blackened forest
Thoughts of hate and anger fill my soul
The charred remains of the holy rollers
Scream repentance though it’s far too late”
(Iced Earth – Angel’s Holocaust)
Depois dos embates, resta a destruição, os mortos,
e todas as possibilidades criadas e propositalmente
não-exploradas desta aventura. Escolhemos deixar muitas
questões sem resposta para que a resolução do combate
não implique necessariamente no fim do jogo. É fato que
a missão atribuída por Velocidade-do-Trovão é cumprida
e finalizada se os jogadores tomarem a Seita do Rio do
Céu de volta para o domínio de Gaia; no entanto, há
várias coisas que podem desenrolar de pontas soltas
deixadas num “final em aberto”.
Os jogadores podem querer reestabelecer o caern
do Rio do Céu, integrando o caern como novos
membros fixos; ou podem desejar ajudar Sherrick em
tomar a liderança do Coração Oco, ou podem retornar
a Ouro Preto para participarem da punição de
Velho Urutu, e podem também tentar inves-
tigar as reais intenções de Velocidade-do-Trovão, bem
como seus métodos pouco ortodoxos; podem voltar
ao Reino Vera Cruz para explorarem mais das lendas
e folclores, ou até buscar estreitarem os relaciona-
mentos com Garra Negra.
As possibilidades são infinitas e os caminhos
são múltiplos... desde que as pontes não estejam
queimadas.
Joguem, pois a Litania é clara: devemos combater
a Wyrm onde quer que esteja e sempre que proliferar,
e defender os locais sagrados de Gaia.
 Apêndice
Combate em Wargs
Embora exista menção sobre a tática adotada por Golgol
Presas Primeiro na Guerra da Amazônia, em que as matilhas
foram organizadas em tropas maciças chamadas Wargs, pou-
co, ou praticamente nada, foi definido quanto à utilização
destes conceitos em jogo. Na ausência de maiores definições
e explicações, propusemos no suplemento Brasil em Fúria
que o notório Cria de Fenris havia estudado os métodos dos
Muras de guerra na selva, mas como a Guerra da Amazônia
já havia acabado, também não foi necessário apresentar um
sistema de regras de combate massivo para os Garou.
Na verdade, há mais motivos para esse tipo de conceito
não ser apresentado em lugar algum, pelo menos de ma-
neira extensiva e detalhada, nos livros de Lobisomem: O
Apocalipse – o motivo é que os lobisomens simplesmente não
combatem assim. Não normalmente. As táticas de matilha,
caça e combate individual já descritas nos módulos básicos
são suficientes para a realidade dos Garou; no entanto, o
Brasil, a Guerra da Amazônia e a selva sul americana não são
parte da realidade dos Garou. É nesse sentido que Golgol
Presas Primeiro foi um gênio estrategista – pois percebeu
que o modo combativo típico dos Garou seria insuficiente
neste ambiente tão diferenciado.
Desta forma, seguindo o conceito apresentado no Rage
Across the Amazon, justificado pela realidade histórica do
PONTES QUEIMADAS
Brasil e sua inadequação para os Garou, encontramos no
livro Vampire: Dark Ages Companion um sistema que
serviu de base para as regras que são apresentadas a seguir.
Os Cães de Guerra
O sistema de combate em Wargs é criado a partir da
perspectiva individual. Você não controla a matilha, ou
o Warg como uma tropa (embora seu personagem possa
liderá-los, se for um líder de guerra); mas ao invés disso
você controla um único Garou, que se vê no meio de uma
batalha, onde a morte pode acometê-lo vinda de qualquer
direção, a qualquer instante. Os personagens não tem tempo
para planejar, reconsiderar decisões ou mesmo pensar – o
combate é um arrastão de confrontos e eventos caóticos. A
regra é o instinto. E a Fúria é irresistível.
Um combate em Warg normalmente acontece em
estágios regulares. Arqueiros ou atiradores (caso existam)
disparam primeiro e mantêm os inimigos sob fogo até que
suas tropas aliadas entrem na área de fogo. As tropas a pé
se dirigem para o campo de batalha e investem contra seus
inimigos nos últimos metros. Tropas pesadas costumam
ser enviadas antes da infantaria para quebrar as linhas
inimigas, ou são enviadas após o ataque da infantaria para
perseguir inimigos. Tropas leves podem circundar o campo
de batalha a fim de flanquear o inimigo. O vencedor da
batalha costumeiramente é a força que consegue manter
51
seu território; a maior parte das batalhas é vencida quando
as tropas inimigas fogem.
A verdadeira batalha é travada quando as forças colidem.
Indivíduos em meio à multidão enfrentam obstáculos e
ameaças constantes. O Narrador nunca deve pegar leve com
os personagens que se encontram na batalha. Deve existir
alguém (ou múltiplos oponentes) para enfrenta-los a cada
turno. Da mesma forma, o terreno e os eventos do combate
devem constantemente conspirar contra cada personagem.
A seguir está uma lista de desafios que cada Garou pode
enfrentar em todo e qualquer momento da batalha:
• Oponentes múltiplos atacam de várias direções (uma
constante);
• Solo irregular, ensanguentado e escorregadio torna o
avanço difícil;
• Corpos no chão (humano e animal);
• Flechas, lanças, machados, pedras, tiros, armas e escudos
aleatórios voando pelo ar;
• Tropas em investida, se unindo ao combate ou fugindo;
• Barreiras e obstáculos que impedem o avanço (rios,
cercas, árvores, construções, barricadas, etc.)
• Fumaça, névoa ou outros fatores que obscurecem a visão;
• Tropas desorientadas que atacam seus aliados erronea-
mente; etc.
52 PONTES QUEIMADAS
Utilize de uma variedade dessas situações e eventos a
todos os momentos, estejam os personagens aguardando
pelas ameaças ou tentando avançar pelo campo de batalha.
Uma batalha normalmente dura de cinco a oito turnos
antes de se ter uma resolução (um turno pode durar de alguns
segundos até alguns minutos, dependendo dos eventos). Após
esse período, lide com os inimigos remanescentes, inimigos
capturados são aprisionados e os adversários em fuga são
perseguidos. Esse é o momento em que os Garou em frenesi
possuem uma chance de se acalmarem e se recomporem,
assumindo que eles não partam em perseguição aos fugitivos.
As Regras
Para montar batalhas em Warg rápida e dramaticamente,
simplificamos o sistema de combate de Storyteller em al-
guns poucos testes representativos. Vocês são estimulados
a alterar tais regras à maneira que lhes for conveniente, mas
é recomendado que coloquem ênfase na narrativa acima de
infinitos testes.
O ápice do combate em Warg persiste por cerca de
cinco a dez turnos. Nesse período, cada personagem encara
uma variedade de oponentes e obstáculos que o Narrador
impõe sobre eles. Os jogadores declaram suas ações como de
costume, mesmo que seus personagens estejam separados.
Iniciativa
A iniciativa é baseada apenas em Destreza; os personagens
com pontuação mais alta agem primeiro, os personagens e
oponentes com pontuação baixa agem depois.
Ações
Cada Garou ou Parente possui um número de ações em
um único turno de combate de Warg igual à sua pontuação
de Destreza. Cada “ponto” pode ser usado para atacar, ex-
ecutar alguma ação rápida, correr, saltar, curar ou ativar e
usar um Dom “rápido” (trate cada ponto como um turno
que seria conduzido normalmente nas regras de combate
de Lobisomem: O Apocalipse, exceto pelo fato de que a
maioria dos personagens possuem uma pontuação de De-
streza de dois a quatro pontos, de forma que os personagens
serão capazes de realizar muitas ações em cada “turno de
combate em Warg”).
Caso um personagem deseje realizar mais de uma ação
por ponto, utilize as regras normais de ações múltiplas;
as Paradas de Dados são divididas entre as ações, desde
que as ações sejam baseadas no Atributo Destreza. Caso
um personagem dedique a ação de um ponto para atacar
com uma garrada e saltar uma trincheira para evitar seus
perseguidores, a Parada de Dados é divida entre tais ações.
Caso o mesmo personagem queira usar seu próximo ponto
de Destreza para fazer um outro ataque, o ataque é feito com
a Parada de Dados total (os dados não são alocados entre as
três ações, apenas as duas primeiras que “compartilharam”
o primeiro ponto de Destreza).
Efeitos das Ações
Estar no campo de batalha é obviamente muito perigoso,
não apenas devido ao combate corpo-a-corpo, mas devido
aos acontecimentos aleatórios e ataques inesperados. Um
inimigo pode lançar uma garrada contra um Garou, mas um
tiro cruza o ar e o acerta, o terreno pode ser irregular difi-
cultando o apoio, e objetos se chocam contra os combatentes.
Esses perigos “coincidentes” se refletem no sistema, mas de
uma forma simplista para que possamos seguir adiante nos
eventos de forma dinâmica.
Percalços e Contratempos
No começo de cada combate em Warg, após o teste
de Fúria, o jogador faz um teste de Destreza + Esportes
(dificuldade 6). Se for bem-sucedido no teste, o personagem
consegue manter o apoio dos pés (ou patas), e não é detido ou
atrapalhado por outros combatentes, terreno, conseguindo
lidar com as dificuldades de locomoção.
Se o teste falhar, esse personagem perde um ponto
de seus pontos de Destreza para as ações deste turno. O
personagem não leva dano, mas perde a habilidade de agir
normalmente, pois tropeça e cai, ou é empurrado, ou tempo-
Apêndice
CHAMANDO ATENÇÃO
Usar Dons ou ataques múltiplos para se livrar
de grandes números de inimigos de uma só vez prova
o poder de um Garou. Porém, também chama a
atenção dos líderes e campeões inimigos. Quando
um buraco subitamente se abre nas linhas de uma
tropa, os grandes campeões tendem a notar quem
é o responsável por aquilo. Isso pode significar
uma rajada de tiros ou flechas direcionada a um
personagem específico ou o avanço de inimigos sob
esse mesmo alvo. Nesse caso, adicione dois dados na
Parada de Dados de um contra-ataque (veja abaixo)
naquele turno.
rariamente imobilizado por um grupo de inimigos (a situação
é definida pelo Narrador). Caso o jogador tenha iniciado
a ativação de um Dom e não passa no teste de Destreza +
Esportes, será necessário um teste de concentração (Força de
Vontade, dificuldade 6; a dificuldade pode ser alterada de
acordo com o critério do Narrador, baseado no desenrolar
dos eventos que ele forneceu) para que o Dom tenha efeito.
Caso o jogador obtenha uma falha crítica, o personagem
perde todas as suas ações naquele turno, sendo impedido de
agir por algum evento ocorrido no campo de batalha. Nem
mesmo Dons podem ser ativados ou utilizados consciente-
mente. Os poderes que já estão em andamento continuam,
desde que eles não exijam a atenção constante do lobisomem.
Caso necessitem do foco do Garou, eles deixam de funcionar.
É importante ressaltar que o fato de passar no teste de
Destreza + Esportes não corresponde a esquiva, ou mano-
bras de quaisquer tipo. Representa apenas a capacidade de
se manter sobre os próprios pés e em movimento no caos
do combate. Se o jogador decidir saltar, um teste adequado
será necessário.
Sangue e Tripas
O que esperar de Garou lutando em tropa? Tripas,
sangue, muito gore, com efeitos ágeis e definitivos. Em termos
de jogo, os testes são feitos normalmente (Destreza + Briga,
ou Destreza + Armas Brancas, por exemplo) com a dificul-
dade 6. Para cada sucesso, um oponente é “despachado” A
vítima é morta, gravemente ferida, corre de medo ou fica
inconsciente. O oponente não é mais uma ameaça; e Pontos
de Vitalidade não são contados.
Se ações múltiplas forem feitas com um único ponto
de Destreza, os dados alocados para quaisquer ataques ain-
da são rolados, mas o número de oponentes que pode ser
eliminado deve ser, obviamente, reduzido.
53
 O uso de Dons e fetiches obviamente auxilia no combate,
mas a ativação dos fetiches deve ocorrer antes do início do
combate. O uso de Fúria auxilia bastante também, e para
cada ponto de Fúria gasto, corresponde a um ponto a mais
de Destreza nos testes daquele turno, tornando a matança
mais momentaneamente numerosa.
Contra-Ataques
Os Garou em um campo de batalha encaram um variado
número de oponentes diferentes a cada turno, à medida que
a maré da batalha se altera. Lobisomens individuais possuem
oportunidades múltiplas para agir e atacar em um turno do
combate em Warg; eles são sobrenaturalmente poderosos e
estão no cerne da história, de forma que faz sentido colocá-los
nos holofotes. Entretanto, o Narrador não deseja testar os
ataques de cada combatente específico que se depara com
um Garou. Os contra-ataques circunstanciais são, então,
representados por um único teste a cada turno de combate
em Warg (tais ataques não são testados a cada ação – ou
cada ponto de Desteza – que um lobisomem realiza em um
turno, e sim pelo turno completo).
O Narrador faz um teste genérico de sete dados (difi-
culdade 6) contra cada Garou, a cada turno. Esse teste rep-
resenta ataques feitos diretamente contra um personagem,
mas também abrange ataques aleatórios, como flechas ou
balas perdidas, ataques provindos de espíritos inimigos,
armas arremessadas erraticamente e golpes defletidos por
outros alvos. Dobre o número de sucessos obtidos no teste
de ataque e use esse valor como Parada de Dados de dano.
O Vigor do lobisomem, bem como possíveis Dons para
absorção e armadura ainda compõe sua parada de absorção,
a fim de reduzir o dano sofrido.
Tais ataques circunstanciais devem ser considerados
agravados a cada dois turnos de combate. Esse dano agravado
é provindo de garradas e mordidas dos adversários, fetiches,
ataques espirituais e o uso de Dons por parte dos inimigos.
Caso o Narrador faça um teste de ataque, agravado ou
não, e consiga sete sucessos, o lobisomem alvo do ataque
cai e deve testar Fúria para permanecer ativo (podendo ser
feito apenas uma vez por combate). Se ele passar no teste,
o Garou continua pode continuar a lutar e ganha uma
Cicatriz de Batalha. Caso o Garou não obtenha sucessos ou
falhe no teste de Fúria para se manter ativo, o lobisomem
morre em combate.
As regras de esquiva de Lobisomem: O Apocalipse
são suspensas durante as regras de combate em Warg, para
refletir o perigo constante e caos inerente de uma batalha
em massa, tornando impossível que um Garou antecipe cada
ataque feito contra ele. Mais uma vez, o campo de batalha
não é lugar para criaturas frágeis ou delicadas.
Momentos Dramáticos
Qual combate em massa estaria completo sem um duelo
pessoal entre os heróis e vilões da história? Os combates em
Warg não são diferentes. Os personagens estão destinados
a caçar e confrontar seus inimigos pessoais e os líderes
adversários. Monte tais duelos com as regras de combate
tradicionais do Storyteller, com uma distração sendo colocada
no palco de tempos em tempos. Um soldado inimigo pode
vir para defender seu líder e atacar o Garou, enquanto um
soldado aliado do lobisomem pode tentar golpear o líder
inimigo. Tais distrações podem ser tratadas aumentando a
dificuldade de um ataque feito contra o outro duelista, ou
diminuindo-se a Parada de Dados que cada duelista pode
usar por um turno. Por fim, os combatentes que interferem
no duelo não devem permanecer por mais de um turno
antes de serem abatidos ou fugirem.
Moral
Os Garou são bestas de fúria e instinto assassino, e
quando são treinados em táticas de Warg, acostumam-se a
situações de tensão ainda mais dramáticas, pois trata-se de
um tipo de combate incomum e extremamente perigoso
– embora eficiente. Garou que já tenham participado das
chacinas em combates massivos compreendem que esse
tipo de fúria coletiva expressa poder e selvageria de formas
absurdas, vulgares e traumatizantes.
Sabendo disso, as matilhas que acostumaram a combater
lado a lado nos Wargs da Amazônia começaram também a
empreender táticas para intimidar os oponentes antes do
início do combate, usando Dons, rituais e auxílio espiritual.
Talvez seja por isso que o totem Macaco Bugio, servo tanto
de Gaia quanto da Wyrm, foi tão cultuado nos caerns da
Amazônia: seu urro sombrio é assustador, e pode fazer
qualquer soldado correr.
Se vários Garou sucumbirem ao poder do medo, outros
podem ficar amedrontados e correrem também. O Narrador
decide quão difundido o medo fica, de acordo com sua
necessidade: mas é importante esclarecer que o fenômeno
não é instantâneo, acontecendo como efeito em cascata.
Uns correm e outros logo correm atrás.
Caso o Narrador deseje, ele pode exigir um teste de Fúria
no momento em que o Garou percebe algum companheiro
fugindo (independente do teste de Fúria realizado no início
de cada turno). Se obtiver 4 sucessos, o Garou é acometido
pelo Frenesi Raposa.
Frenesi
Poucos Garou em um combate massivo resistem ao
Frenesi. A ameaça imediata faz com que seu sangue pulse e
Apêndice
RESUMO DAS REGRAS
DE COMBATE EM WARGS
• O ápice do combate em Wargs dura de cinco a
oito turnos.
• Os Garou imediatamente iniciam testes estendidos
para resistir ao frenesi (Fúria, dificuldade 6). Um teste
é feito para cada turno do combate em massa. Seis
sucessos são necessários para entrar em frenesi; oito
sucessos colocam o Garou em um frenesi da Wyrm.
• Cada personagem de jogador testa Destreza +
Esportes (dificuldade 6) para evitar acidentes e
obstáculos a cada turno.
• A iniciativa é baseada em Destreza; os personagens
com níveis mais alto agem primeiro à medida que
as ações baseadas na pontuação de Destreza e os
turnos são resolvidos.
• Um lobisomem possui uma quantidade de ações
“rápidas” (ataques, manobras, chances de se curar)
em um turno de combate em Wargs igual à sua pon-
tuação de Destreza. Um único ponto dedicado a ações
múltiplas exige que tal Parada de Dados seja dividia.
• Paradas de Dados de ataque são testados nor-
malmente (dificuldade 6). Para cada sucesso, um
oponente é eliminado.
• Dons que não possuem efeitos instantâneos exigem
um turno inteiro para serem utilizados, bem como
Dons que necessitem um turno inteiro para serem
ativados. O número de alvos afetados por um Dom
é igual a duas vezes o nível do Dom (a menos que
o poder especifique o contrário).
• Um teste de concentração (Força de Vontade, di-
ficuldade 6) pode ser necessário para usar alguns
Dons em meio à batalha; a cargo do Narrador.
• Cada Garou está sujeito a um teste de contra-ataque por
turno. O contra-ataque possui uma Parada de Dados
igual a sete, com dificuldade 6. O número de sucessos
obtidos é dobrado, e esse é o número de dados testados
no teste de dano. Esse dano pode ser absorvido.
• Os testes de ataque feitos contra os Garou podem
ser considerados agravados a cada dois turnos.
• Caso um ataque feito contra um Garou obtenha
sete sucessos, o Garou cai em combate e deve testar
Fúria para se manter ativo (podendo ser feito apenas
uma vez por combate). Caso o Garou não obtenha
sucessos ou falhe no teste de Fúria para se manter
ativo, o lobisomem morre em combate.
• Nenhum ataque pode ser esquivado.
55
borbulhe, levando-os à excitação da violência. São necessários
testes de Fúria em todos turnos. O uso de Dons ou outros
meios espirituais (ativos anteriormente ao início do combate)
que impeçam ou reduzam as chances do Garou sucumbir à
Fúria ainda funcionarão. Seis sucessos são necessários para
entrar em frenesi; oito sucessos colocam o Garou em um
frenesi da Wyrm. Da mesma forma que os Dons, rituais
e outros meios espirituais que visem proteger o Garou da
influência da Fúria continuam funcionando normalmente
durante o combate massivo, o mesmo acontece para Dons e
meios espirituais que tenham como objetivo induzir o Frenesi.
Consequências
Após o ápice da batalha chegar ao fim, um lado (normalmente
aquele com mais tropas remanescentes no campo de guerra) é
o vencedor. O lado perdedor está quebrado, com sobreviventes
se rendendo ou fugindo. Os Garou podem usar esse momento
para perseguir aqueles em fuga, curandeiros são chamados para
recuperar os guerreiros ainda vivos e uivos de vitória são entoados.
O Frenesi chega ao fim nesse momento também, e os personagens
devem decidir o que fazer a seguir na história.
Conclusão
No fim, não importa como o combate em Warg se desen-
role, ele deve ser emocionante e aterrador ao mesmo tempo,
mesmo para os sobrenaturalmente poderosos Guerreiros de
Gaia. Nem os jogadores ou personagens devem ter a opor-
tunidade de manter registros precisos sobre os eventos. Os
personagens podem sequer reconhecer que sua presença na
batalha pode significar sua morte, pelo menos até a fumaça
abaixar e se tornar claro que os soldados inimigos venceram
a batalha – e que agora se voltam contra os Garou.
Novos Dons
Os leitores mais atentos perceberam que os representantes
das outras Raças Metamórficas presentes nesse suplemento
possuem uma gama de poder e Dons que não estão descritos
nos livros básicos de Lobisomem: O Apocalipse, justamente
por serem poderes exclusivos dos outros defensores de Gaia.
A fim de auxiliar nossos Narradores, disponibilizamos aqui
a tradução desses novos Dons. Salientamos que o texto de
cada um desses poderes foi retirado em sua completude dos
livros Changing Breeds W20, Bastet Breedbook, Nagah
Breedbook e Corax Breedbook.
Dons dos Balam:
• Olhos Assustadores (Nível Dois) - A Fúria queima nos
olhos do Bastet, causando medo nos corações dos mortais e
animais, fazendo com que eles corram por suas vidas. Quando
usado contra outro metamorfo, o alvo ficará imóvel ao invés de
fugir. Um espírito do carneiro ou da cobra ensina esse Dom.
Sistema: Esse Dom afeta apenas um alvo por vez. O
jogador testa Carisma + Intimidação (dificuldade 5 + o
Posto do alvo, caso aplicável). A vítima foge por um turno
por sucesso, apesar de que pode gastar um ponto de Força
de Vontade para resistir aos efeitos do Dom por um turno.
Caso o jogador tenha cinco ou mais sucessos, a vítima foge
pelo resto da cena. Garou e outros metamorfos com Fúria
não fogem, mas não atacam enquanto o Dom está em uso.
• Bramido (Nível Dois) – Com um grito capaz de rasgar
os ouvidos, o Bastet ensurdece todos ao seu redor.
Sistema: O jogador testa Vigor + Intimidação (difi-
culdade 7). Todos aqueles em um raio de 6 metros ficam
ensurdecidos (e com +1 de dificuldade em todos os testes)
por um turno por sucesso.
• Chamado da Ninhada (Nível Três) – Ao ronronar
ou emitir um rugido, o Bastet pode conjurar os gatos locais
(domésticos ou selvagens, dependendo de onde ele está)
para ajudá-lo. Apesar do Dom não ser um comando de
vida ou morte, os felinos convocados ajudarão o Bastet se
puderem. Alguns Bastet podem conjurar outras criaturas
para sua “ninhada”; os Bubasti geralmente mantêm chacais
por perto, os Qualmi convocam pássaros e os Pumonca são
conhecidos por convocarem águias, corujas e crocodilos
em sua defesa.
Sistema: Teste Carisma + Empatia com Animais (dificul-
dade 7). Para cada sucesso, quatro gatos comuns ou um grande
predador (caso exista algum nas proximidades) respondem
a seu tempo. O Dom pode chegar até a um quilometro e
meio; felinos mais distantes não serão de grande ajuda. A
ninhada permanece no local até que tenha realizado uma
função, e então vai embora. Criaturas variadas devem ser
aprovadas pelo Narrador, e funcionam da mesma maneira
que os felinos (quatro criaturas pequenas ou uma grande).
• Floresta Perambulante (Nível Três) – O Bastet
invoca os espíritos das regiões selvagens para iludir e con-
fundir qualquer um que invada seu lar. Humanos e outros
viajantes são confundidos por esse Dom, e até mesmo
habilidosos sobrevivencialistas e peregrinos logo se tornam
irremediavelmente perdidos. Mesmo outros metamorfos não
são completamente imunes aos efeitos. Qualquer espírito
selvagem pode ensinar esse Dom.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Gnose e testa
Inteligência + Instinto Primitivo (dificuldade 6). O Dom
afeta um raio de até duas milhas (3,2 km) por sucesso. Os
humanos falham automaticamente em todas as tentativas
de navegar pela região selvagem afetada. Outros metamor-
fos podem testar Percepção + Instinto Primitivo; se eles
obtiverem mais sucessos que o Bastet, eles são capazes de
se orientar normalmente. Aqueles conduzidos pelo próprio
Bastet através do domínio permanecem sem ser afetados.
Esse Dom dura até o próximo nascer do sol.
• Caminhar Entre Mundos (Nível Quatro) – O Bastet
pode percorrer atalhos da mesma maneira que os Garou o
fazem.
Sistema: Os efeitos desse Dom são permanentes.
• Harmonia (Nível Quatro) – O Bastet pode comungar
com os espíritos de uma região selvagem para obter infor-
mação sobre a área, incluindo a população aproximada,
enclaves de Garou ou de outros seres e a localização de
túneis secretos. Esse Dom não funciona em cidades, uma
vez que os Bastet não possuem tanta aptidão para conver-
sar com tais espíritos tão facilmente. Um espírito do rato
ensina esse Dom.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Gnose e testa
Percepção + Sobrevivência (dificuldade 6). A quantidade
e precisão da informação depende do número de sucessos
obtidos.
• Canção da Grande Fera (Nível Cinco) – O Bastet viaja
até as matas mais profundas e emite um longo e pesaroso uivo.
Uma das Grandes Feras da antiguidade responde o chamado,
aparecendo no Reino, próximo ao metamorfo – uma criatura
poderosa e selvagem que caminhou na Terra em eras passadas.
Tais criaturas incluem a Willawau (uma coruja gigante), o Tigre
Dentes-de-Sabre, os grandes tubarões Megalodon que nadaram
nos oceanos eras atrás e o poderoso Mamute, que chega com seu
rebanho. Quem sabe o que mais a Canção pode conjurar? As
Grandes Feras possuem poder no mundo físico para rivalizar com
os poderosos espíritos da Umbra. Uma vez que a antiga criatura
chegue, o Bastet pode fazer um pedido a ela, mas a Grande Fera
o cumprirá à sua maneira, de acordo com sua natureza. O uso
desse Dom é arriscado, mas os resultados podem ser realmente
espetaculares. Poucos espíritos conhecem esse Dom. É dito que
os reclusos Mokolé conhecem quais espíritos podem ensinar a
Canção da Grande Fera... caso alguém deles tenha sobrevivido
à Guerra da Fúria e estejam dispostos a falar com o metamorfo.
Sistema: O jogador gasta dois pontos de Gnose e testa
Carisma + Instinto Primitivo (dificuldade 8). Uma grande
quantidade de sucessos melhora a disposição da Grande Fera.
As suas Características são deixadas a cargo do Narrador,
mas devem sempre ser impressionantes.

Dons dos Nagah

• Olhos dos Reis Dragões (Nível Um) – O Nagah ganha
uma claridade de visão perfeita em qualquer circunstância
– neblina, fumaça, água barrenta, até mesmo a escuridão
total não é capaz de impedi-lo. É necessário um objeto sólido
para bloquear sua linha de visão.
Sistema: O jogador faz um teste de Gnose, dificuldade 6.
Pelo restante da cena, o personagem é imune a penalidades,
de qualquer fonte, de testes de Percepção que envolvem
sua visão.
 • Favor do Lagarto (Nível Um) – O Nagah ganha a
habilidade de se mascarar como um Mokolé ao adicionar
características semelhantes a um lagarto a seu corpo.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Força de Vontade
e testa Vigor + Instinto Primitivo. Cada sucesso permite que
o personagem adicione uma característica – pernas, crista
real, pescoço pregueado, nadadeiras, etc. – em qualquer
forma que deseja. Apenas as pernas são completamente
funcionais; características como asas ou chifres são vestigiais
e não possuem impacto nas mecânicas.
• Pele de Cobra (Nível Um) – O Nagah pode soltar
uma camada de pele e escamas, se soltando das mãos de
um oponente ou escapando de amarras com facilidade.
Um espírito lagarto ou espírito da cobra ensina esse Dom.
Sistema: O jogador testa Destreza + Instinto Primitivo
(dificuldade 7). Se o teste for bem-sucedido, o personagem
perde uma camada de pele ou escamas (revelando uma nova
camada saudável), permitindo que ele se solte de agarrões
ou amarras, como cordas ou correntes.
• Sentir a Weaver (Nível Um): O Ahi é consciente aos
trabalhos e emanações da Weaver e seus servos. Ele pode
também ser capaz de perceber padrões onde deveria existir
aleatoriedade, ordem onde deveria existir o caos, e momentos
e locais onde essas forças estão fora de equilíbrio. A partir
do mundo físico, ele pode perceber os espíritos da Weaver
e a Teia-Padrão na Penumbra.
Sistema: O jogador testa Percepção + Enigmas (dificul-
dade igual a Película local). Além de perceber a influência da
Weaver, o personagem também pode “espiar” na Penumbra,
mas apenas para ver espíritos da Weaver e constructos. Esse
Dom dura por uma cena.
• Breve Sentimento (Nível Um): O Kartikeya pode
projetar uma breve sensação ilusória na mente de um alvo
– o cheiro de pão assado, a voz de um amante em meio à
multidão, um flash de luz do sol no metal vindo de uma
janela. Tais truques geralmente são tudo que um assassino
realmente habilidoso precisa.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Gnose e testa
Raciocínio + Lábia (dificuldade 6). O Nagah pode induzir
uma sensação fantasma por sucesso no alvo durante a
próxima cena.
• Ferrão do Sono (Nível Um) – Há momentos em que
é melhor para o propósito do Nagah induzir o sono, e não
a morte, a uma vítima. Esse Dom altera o veneno do Nagah
para que ele faça justamente isso.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Gnose; o Nagah
pode optar por mudar até três doses de seu veneno. O veneno
alterado causa sono ao invés de morte. Tal veneno é tratado
como letal, e não agravado, para propósitos de absorção
e cura, apesar de que ele não coloca a vida da vítima em
risco. O veneno que induz sono ainda causa penalidades de
ferimento, apesar deles serem resultados de uma sonolência
Apêndice
profunda, e não dor. Caso o alvo chegue a Incapacitado, ele
cai em um profundo sono por uma hora (mais uma hora
extra para cada nível de ferimento abaixo de Incapacitado
que tenha sido conferido pelo veneno).
• Véu dos Wani (Nível Dois) – Esse Dom permite que o Nagah
apague a memória de sua existência da mente das outras pessoas.
Sistema: O jogador gasta dois pontos de Gnose e
testa Manipulação + Lábia contra uma dificuldade igual à
Percepção do alvo +2. Quanto mais sucessos obtidos, mais
memórias do alvo a respeito do Nagah são obscurecidas e
distorcidas – um sucesso pode fazer com que um Garou se
lembre de encontrar uma fera serpentina da Wyrm, e não
com o Nagah, por exemplo, enquanto três sucessos apagam
as memórias sobre o homem-serpente completamente.
• A Voz da Serpente (Nível Um) – O Nagah pode
imitar perfeitamente qualquer voz ou som que ele já tenha
ouvido. Um espírito da mainá ensina esse Dom.
Sistema: Os efeitos desse Dom são permanentes.
• Bênçãos de Kali (Nível Três) – O homem-serpente
desenvolve uma armadura de escamas pontiagudas por todo
seu corpo, protegendo-o e fazendo com que seu combate
corpo-a-corpo seja ainda mais letal.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Força de Vontade
e Fúria. A armadura adiciona dois em todos os testes de
absorção, e aumenta o dano causado pelos ataques de garra
do Nagah em um dado. Essa armadura dura por uma cena.
• Puro Veneno (Nível Três) – O Nagah pode distilar
sua energia espiritual em seu veneno, deixando-o sobrenat-
uralmente potente.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Gnose. Seu próx-
imo ataque venenso (mordida ou cuspida) passa por todas
as resistências, incluindo Resistência a Toxinas, e aumenta
o teste para absorver o dano do veneno em 2.
• Convocar as Marés (Nível Três) – No mito indiano,
os metamorfos serpentes são creditados com a habilidade
de causar enchentes ou secas. Esse Dom dá ao Nagah o
controle sobre o subir e descer das marés.
Sistema: O Nagah deve estar nas proximidades de um
corpo d’água (oceano, mar, rio, estuário, etc.). O jogador
então faz um teste de Gnose, dificuldade 8. O número de
sucessos determina o resultado:
Sucessos Efeitos
1 A maré sobe ou desce duas vezes mais
rápida que o normal
2 A maré pode ser revertida, subindo quando
deveria descer e vice-versa
3 Marés altas ou baixas podem surgir na cena
4 Marés incomuns (maré viva ou maré morta)
podem surgirem uma cena
5+ Marés bizarras (ondas pesadas, por exemplo)
podem ocorrer em uma cena
59
 • Olhar da Serpente (Nível Quatro) – O Nagah trava
olhares com um oponente, petrificando-o com a intensidade
de seu olhar. Um inimigo sob a influência desse Dom é
incapaz de realizar quaisquer ações, exceto regenerar.
Sistema: O jogador testa Manipulação + Intimidação
contra a Força de Vontade do alvo. Mesmo um sucesso
paralisa o alvo com medo. O alvo pode passar horas ou dias
paralisado dessa maneira, experimentando o equivalente a
uma crise de ausência de um ataque epilético. Porém, os
efeitos desse Dom duram apenas até que o alvo seja distraído
(por, digamos, um ataque). Uma vez que o alvo seja pertur-
bado fisicamente, ele está livre do Olhar da Serpente. Esse
Dom funciona apenas contra um oponente por vez. Uma
vez que o alvo seja atingido por esse Dom, ele não pode
ser afetado pelo poder novamente, até a próxima cena. Os
Nagah frequentemente usam esse Dom para ajuda-los a
fugir de oponentes poderosos; alguns o usam como forma
de ganhar alguma vantagem em combate.
Dons dos Corax
• Caminhos Inimigos (Nível Um) – O Corax ganha
um apurado e preciso senso de perigo. Esse Dom é ensinado
por um dos Corvos da Tempestade do Avô-Trovão.
Sistema: O jogador testa Percepção + Instinto Primitivo,
dificuldade 7. Sucessos dão conhecimento sobre a quantidade
e natureza de entidades hostis nas proximidades (Sabedoria
x 20 metros), sendo que uma quantidade maior de sucessos
dá informações mais claras.
• Voz do Mímico (Nível Um) – O Corax pode imitar
perfeitamente qualquer voz ou som que ele já tenha ouvido.
Um espírito da mainá ensina esse Dom.
Sistema: Os efeitos desse Dom são permanentes.
• Palavra do Além (Nível Um) – Esse Dom permite que
o Corax crie uma mensagem a partir de qualquer material
enquanto está na Umbra; a mensagem pode ser instinti-
vamente compreendida por outros Corax. Um espírito da
ninhada do Coiote ensina esse Dom.
Sistema: O jogador testa Raciocínio + Expressão (dificul-
dade 6) para criar uma marcação a partir dos materiais umbrais
de seus arredores. O número de sucessos indica a complexidade
da mensagem que pode ser encriptada na marcação; um suces-
so seria o suficiente para conceitos simples como “perigo” ou
“refúgio seguro”, enquanto cinco sucessos poderiam fornecer
conceitos complexos equivalentes a um parágrafo curto. Nen-
huma outra criatura é capaz de ler tais marcações.
• Chamado da Carniça (Nível Dois) – Esse Dom aju-
da o Corax a executar seus deveres a respeito da matança,
levando-os até cadáveres frescos. O Dom é ensinado por
um espírito do abutre.
Sistema: O jogador testa Percepção + Empatia (dificul-
dade 6). O Corax fica ciente de todos os cadáveres em uma
área equivalente aos sucessos obtidos x 1,5 km.
60 PONTES QUEIMADAS
• Penas Afiadas (Nível Dois) – As penas das asas do
Corax se tornam rígidas e afiadas como aço. Esse Dom é
ensinado por um espírito do aço, e só funciona quando o
homem-corvo está na forma Crinos.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Gnose, per-
mitindo manobras de Golpes de Asas pelo restante da cena.
• Conversa Morta (Nível Três) – Algumas vezes a
última visão de um homem morto não é o suficiente. Esse
Dom permite que o Corax interrogue um cadáver fresco
(não mais do que 24 horas pós-morte). O dom é ensinado
por um espírito do abutre.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Gnose e testa
Percepção + Ocultismo (dificuldade 8). O número de sucessos
determina quão falante o cadáver está disposto a ser.
• Dardo do Beija-Flor (Nível Três) – O Corax arranca
uma de suas próprias penas e a arremessa como um dardo.
Um espírito do beija-flor ensina esse Dom.
Sistema: O jogador gasta um ponto de Fúria. Pelo
resto da cena, ele pode fazer um teste de Destreza + Armas
Brancas (dificuldade 5) para atacar alvos até a 15 metros de
distância, com um dano letal base de Destreza + 3. Com
Penas Afiadas ativo, esse dano é agravado. O Dom só pode
ser usado nas formas Corvídea e Crinos.
Novo Ritual dos Corax
Ritual do Roubo de Memória
Nível Quatro, Ritual de Punição
Esse ritual é reservado apenas para os maiores dos
erros dos Corax. Ele requer uma pequena caixa vazia de
madeira, preferivelmente pintada com cenas da vida do
alvo. Pelo menos três Corax, incluindo o metamorfo que
executa o ritual, devem cercar o alvo (que geralmente está
preso ou subjugado). A caixa então é aberta e uma litania
dos feitos da vítima é cantada. À medida que cada evento é
nomeado, as memórias desse momento voam da vítima para
a caixa, junto com todas as memórias relacionadas, até que
a mente da vítima esteja vazia de tudo além de sua Primeira
Mudança. O ritual é tudo ou nada – ele não pode ser usado
para excluir apenas memórias específicas.
O mestre do ritual deve selar e destruir a caixa, e nesse
momento todas as memórias contidas na caixa se tornam dele.
Sistema: Esse ritual custa um ponto de Gnose, Força de
Vontade e Fúria, e dura enquanto for necessário cantar os
feitos da vítima. Ele também requer um teste contestado de
Força de Vontade (dificuldade 8) entre o mestre do ritual e a
vítima, apesar de que cada Corax presente adicional diminui
a dificuldade do mestre do ritual em 1, até um mínimo de
3. Esse ritual só pode ser usado em outro Corax.
Apêndice 61
 Palavras Finais
Às Armas
Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais
Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar
Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons
Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral
Amém.

(Raul Seixas – O Trem das 7)

Pedro “Devorador de Lótus” Nogueira Matheus Chokos

Theurge Portador da Luz Interior Ancião “Velocidade do Trovão” Veloso
Pontes Queimadas quase se chamou Pontes Quebradas
– esse é o primeiro detalhe acerca desse livro, que diz muito
sobre a forma como foi produzido. Como Chokos e eu não
conseguíamos chegar a um acordo, ele ficou com o título e
eu descrevi a imagem para o Trilha-do-Vento, que capturou
perfeitamente a essência da aventura descrita nesse suple-
mento. Entre inúmeros debates e discordâncias, Chokos e
eu encontramos o fio da navalha por onde trilhar o caminho
até uma história bem contada, e essa história acaba sendo
também muito significativa para a história do grupo Nação
Garou/Garoucast perante o RPG.
Se por um lado tínhamos nos idos anos noventa o Rage
Across the Amazon para representar de forma incompleta
(e inconsistente) o cenário brasileiro, com o Brasil em
Fúria definimos um plano de fundo que nos pareceu bem
mais rico e apropriado. Mas cabia ainda uma aventura que
criasse uma ponte entre a nossa visão sobre Lobisomem:
O Apocalipse, no presente, e a antiga visão noventista
publicada pela White Wolf. Em busca da melhor síntese,
as Pontes Queimadas buscam num passado mitológico e
interpretativo soluções para aventuras sangrentas, cheias
de fúria e folclore.
Ragabash Senhor das Sombras Iluminado Ancião
Após escrevermos o Brasil em Fúria, Pedro e eu fomos
tomados por um sentimento de inquietude, afinal, queríamos
mais. Daí fizemos uma lista de quatro outros suplementos
que gostaríamos de escrever, todos eles com o Brasil como
cenário. A resposta dos ouvintes e leitores ao nosso primeiro
suplemento foi tamanha que começamos a desenvolver tais
suplementos no dia seguinte ao lançamento do BeF. Foi pre-
ciso conter a empolgação e focar no desenvolvimento de um
livro por vez, e o resultado está aqui, no Pontes Queimadas.
A ideia de escrever uma aventura a ser utilizada nas mesas
de todo o país se deu graças à necessidade de concatenar
as últimas pontas com o material escrito pela White Wolf.
Alguns personagens precisavam ser, de fato, sepultados e
uma visão mais atual jogada sobre o que fora escrito há
anos. Mas queríamos mais do que uma simples aventura.
Foi então que surgiu a ideia de um reino umbral totalmente
brasileiro, e puxando o fio, veio a necessidade de um sistema
de combate em massa. Torcemos para que vocês, ouvintes do
GarouCast e leitores dos materiais produzidos pelo Nação
Garou se divirtam jogando tanto quanto nós nos divertimos
escrevendo. E que venham mais livros!
 Uma Jornada a Guerra

'
Para os maiores guerreiros de Gaia, esperar não é uma opção. Quando as pontes de lua
se mostram uma ameaça aos Garou brasileiros, um grupo é enviado com a tarefa de levar a
guerra até as terras inimigas. Conseguirão os Garou percorrer atalhos e derramar o sangue
de seus adversários? Com seu maior herói caído, quem protegerá, por fim, a Amazônia?

Uma Ponte Através do Tempo

Em meio a tocaias e ataques os Garou se infiltram em um território que nunca foi seu
território de caça. Entre as selvas amazônicas e as cidades modernas se estende um caminho
que toca um passado mítico, povoado por antigos heróis estrangeiros e novos guerreiros
nativos. Por onde seu caminho te levará?

Pontes Queimadas Contém:

• Uma crônica ambientada no cenário apresentado em Brasil em Fúria;
• Novos antagonistas e possíveis aliados;
• Personagens canônicos revisitados;
• Interação com outros metamorfos;
• Um novo reino Umbral pouco visitado pela maioria dos Garou brasileiros, mas
reconhecido por seu caráter folclórico e multicultural;
• Um sistema de combate massivo para Lobisomem: O Apocalipse
.