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BRILHO ETERNO DE

UMA MENTE SEM


LEMBRANÇAS
Uma análise visual
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto
Arquitetura e Cinema – Prof. Luís Urbano
Aluna – Caroline Oishi
Sinopse e Detalhes
■ SINÓPSE E DETALHES:
■ Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) formavam um casal que durante anos tentaram fazer
com que o relacionamento desse certo. Desiludida com o fracasso, Clementine decide esquecer
Joel para sempre e, para tanto, aceita se submeter a um tratamento experimental, que retira de
sua memória os momentos vividos com ele. Após saber de sua atitude Joel entra em depressão,
frustrado por ainda estar apaixonado por alguém que quer esquecê-lo. Decidido a superar a
questão, Joel também se submete ao tratamento experimental. Porém ele acaba desistindo de
tentar esquecê-la e começa a encaixar Clementine em momentos de sua memória os quais ela
não participa.
■ Título original : Eternal Sunshine of the Spotless Mind
■ Distribuidor : UNIVERSAL PICTURES
■ Ano de produção : 2004
■ Tipo de filme : longa-metragem
■ Fonte: http://www.adorocinema.com/
“Nada se conhece em sí próprio, mas em relação ao seu meio
ambiente, à cadeia precedente de acontecimentos, à recordação de
experiências passadas.” - Kevin Lynch
Nessa análise relacionamos a representação da memória como algo intrínseco ao espaço e
arquitetura, aos conceitos de Kevin Lynch em seu livro “A Imagem da Cidade”.

O Longa “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” explora a relação entre arquitetura e
a construção da memória na jornada de Joel em tentar preservar Clementine em suas memórias.

Temendo esquecê-la, arrependido de ter se submetido ao procedimento, Joel procura


esconder a memória de Clementine fora do “mapa mental” que criara com o Dr. Howard, levando-a às
suas lembranças mais ocultas, no seu medo, na sua humilhação, na sua infância.

O Conceito da criação de um “mapa mental” para orientação, apesar de ser direcionado no


livro à localização urbana, é um fenômeno estudado por Lynch e considerado fundamental para
sobrevivência humana.

“Estruturar e identificar o meio ambiente é uma atividade vital


de todo o animal móvel. São muitas as espécies de orientações
usadas: a sensação visual da cor, da forma, do movimento ou
polarização da luz, assim como outros sentidos, tais como o cheiro, o
ouvido, o tacto, a cinestesia, a noção de gravidade, e talvez as de
campos magnéticos ou elétricos.” - Kevin Lynch
No início do filme acompanhamos Joel em seu retorno à praia de suas lembranças apagadas
e sua chegada a casa, que para ele é um “ponto marcante” no espaço, definido por Lynch como um
referência externa, que desempenha a função de símbolo de direção.
Tal ponto é para o personagem a primeira lembrança que tem de Clementine, portanto o
último link que o separa de esquecê-la para sempre. Sua importância como marco visual e simbólico é
evidente, sendo parte central da estruturação de sua memória, que ao ser apagada se distorce e se
destrói.
Percorrendo suas memórias, através de seu “mapa mental” de Clementine, notamos as distorções
ocorridas pela perda de referencia de suas lembranças quando elas são apagadas e como isso afeta o
espaço e a arquitetura ao redor, que fica vazia, escura, fora de proporção e de lugar.
As distorções causadas pela percepção pessoal de Joel do espaço ficam mais evidentes em sua
tentativa de sair do mapa e guardar Clementine em suas memórias da infância que possuem a maior
“clareza de imagem”, maior familiaridade.

Transportando os conceitos urbanísticos de Lynch, para esta análise do mapa mental psicológico
de Joel, vemos exemplificado nesta imagem sua definição de “clareza de imagem”. Uma imagem para ser
suficientemente clara para que se torne um marco na memória primeiramente deve possuir uma
identificação do objeto, uma distinção de outras coisas, no exemplo sua memória mais antiga. Em segundo
lugar, a imagem tem de incluir a relação estrutural ou espacial do objeto com o observador e outros objetos,
que é clara na distorção ocorrida na lembrança para se adaptar a percepção infantil do espaço. E finalmente,
o objeto tem de possuir significado prático ou emocional, no caso, a memória possui um significado
emocional para Joel ao lembrar de seu relacionamento com sua mãe.
“A Coerência da imagem pode surgir de vários modos. No
obejto real pode existir pouco a ordenar ou a observar e, no entanto, a
figura mental pode ter ganho identidade e organização através de
uma longa familiaridade.” - Kevin Lynch
Sua lembranças mais claras de sua infância são as que são infundidas de grande
familiaridade. Em sua representação da memória, a arquitetura (ponto marcante) aparece como
elemento estruturador, como pontos de referência guias em seu mapa mental, visto que ao se
transportar em suas lembranças, há sempre uma referência espacial, que possui grande significado
para o personagem.
Sua importância como elemento base fica evidente conforme as memórias são apagadas por
sua deterioração e distorção, dado que a perda da memória para Joel, é traduzida na perda de seus
referenciais, tornando a memória em si algo imemorável.
O uso da cor também é feito para dar “imaginabilidade” para a memória, tornando-a mais viva e
legível no mapa mental.

“Imaginabilidade: àquela qualidade de um objeto físico que lhe


dá grande probabilidade de evocar uma imagem forte num dado
observador. É essa forma, cor disposição que facilita a produção de
imagens mentais vivamente identificadas, poderosamente
estruturadas e altamente úteis no meio ambiente.” - Kevin Lynch
Conclusão
O longa, apesar de uma obra de ficção, nos mostra o processo de construção da memória como
uma sucessão de imagens do meio ambiente que através de sua legibilidade e imaginabilidade se tornam
forte o suficiente para se tornarem pontos marcantes do nosso mapa mental.
Lugares, arquitetura, pessoas, cores e formas se juntam em nossa percepção da vida e são
guardados em nossas lembranças afetivas e espaciais, nos tornando capazes de nos locomover
mentalmente e fisicamente através desses marcos a qualquer destino que escolhermos.
Clementine e Joel compartilhavam memórias tão fortes que mesmo após apagadas, o vazio
deixado por elas, os atraíam aos pontos marcantes de suas lembranças, causando o reencontro na casa da
praia.
“Os elementos móveis de uma cidade, especialmente as
pessoas e as suas atividades, são tão importantes como as partes
físicas e imóveis. Não somos apenas observadores deste espetáculo,
mas sim uma parte ativa dele, participando com os outros num
mesmo palco.” - Kevin Lynch
Bibliografia
■ Lynch, Kevin. A imagem da cidade. Editora Martins Fontes, São Paulo, 1982.
■ Eternal Sunshine of the Spotless Mind, UNIVERSAL PICTURES, 2004

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