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1° edição – outubro de 2022

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A MARINA TORRES

Ilustração: Aika Ilustra

Edição: Eryka Saboia e Krol Viana

Diagramação: Marina Torres

Revisão: Eryka Saboia e Krol Viana


SUMÁRIO
SINOPSE
PLAYLIST
NOTAS DA AUTORA
GATILHOS
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01 — VITÓRIA
CAPÍTULO 02 — VINO
CAPÍTULO 04 — VITÓRIA
CAPÍTULO 05 — VINO
CAPÍTULO 06 — VINO
CAPÍTULO 07 — VINO
CAPÍTULO 08 — VINO
CAPÍTULO 09 — VINO
CAPÍTULO 10 — VITÓRIA
CAPÍTULO 11 — VITÓRIA
CAPÍTULO 12 — VITÓRIA
CAPÍTULO 13 — VITÓRIA
CAPÍTULO 14 — VITÓRIA
CAPÍTULO 15 — VITÓRIA
CAPÍTULO 16 — VINO
CAPÍTULO 17 — VITÓRIA
CAPÍTULO 18 — VINO
CAPÍTULO 19 — VITÓRIA
CAPÍTULO 20 — NAYA
CAPÍTULO 21 — VITÓRIA
CAPÍTULO 22 — VINO
CAPÍTULO 23 — VITÓRIA
CAPÍTULO 24 — VITÓRIA
CAPÍTULO 25 — VITÓRIA
CAPÍTULO 26 — VITÓRIA
CAPÍTULO 27 — VINO
CAPÍTULO 28 — VITÓRIA
CAPÍTULO 29 — VINO
CAPÍTULO 30 — VITÓRIA
CAPÍTULO 31 — VINO
CAPÍTULO 32 — VITÓRIA
CAPÍTULO 33 — VINO
CAPÍTULO 34 — VITÓRIA
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
NOVEMBRO/2022
OUTRAS OBRAS
CONTATOS
Vivi minha vida inteira em Missouri, Centro-Oeste dos
Estados Unidos, em uma pequena cidade do interior. Com uma

vizinhança tranquila e pessoas amigáveis. Aos 18 anos, me alistei


no exército, seis anos depois, já era sargento, mas decidi me
aposentar depois de levar dois tiros em uma operação. Minha vida

mudou completamente quando descobri que seria pai, e Erick é o


melhor presente que eu já ganhei da vida.

Perdi minha esposa ainda muito jovem, durante o parto do


nosso filho, e desde então tenho vivido apenas para ela. Depois que

fiquei viúvo, não consegui me envolver emocionalmente com mais

ninguém, foram anos de encontros casuais, eu só não esperava que


ela fosse aparecer.

  Aos 41 anos, me vejo apaixonado por uma garota vinte anos


mais nova. A mulher que com um olhar fez com que eu me sentisse
respirando novamente. Só existe um problema, a doce garota me

roubou por completo, é a melhor amiga do meu filho.

  Eu não tenho nada a oferecer, nem um futuro ou uma vida


estável, porém, no momento que meus olhos a encontraram, um

filme do nosso futuro passou pela minha cabeça e a vida então me

mostrou: Vitória Bianucci nasceu para ser minha.


 
Se você gosta de intensidade, está no livro certo. Afinal, O
Pai do Meu Melhor Amigo sempre foi um livro rodeado de muita

intensidade, desde seus personagens até tudo que representa. Esse


casal surgiu na minha cabeça há seis anos atrás e desde então eles
tem transformado muita coisa em mim. Nele você vai encontrar um

homem vinte e um anos mais velho, que se apaixona pela melhor


amiga do filho sem saber.

É um age gap, com uma mocinha determinada a conquistar


seus sonhos e o homem pelo qual se apaixonou. Não espere

mulheres menos do que poderosas e homens completamente

rendidos por suas paixões.

Esse livro é absurdamente especial para mim, principalmente

por ser uma reescrita. Reviver a Marina de 2016 é ver o quanto já

aprendi e o quanto toda a minha luta valeu a pena. Se eu


encontrasse a minha versão adolescente hoje, poderia dizer a ela

que nós conseguimos e que ainda temos muito mais coisas para
conquistar.

Do fundo do meu coração, espero que você possa sentir

cada palavra sobre perda, recomeços, tempo, determinação,


descobertas, amizade e amor. Que Vino e Vitória consigam fazer

você perceber que nosso bem mais precioso é o hoje e podemos

fazer nele o que quisermos, inclusive, amar.

Com muito carinho,

Marina Torres.

 
Cenas de sexo explícito, luto, abuso psicológico familiar,

palavras de baixo calão, aborto e violência física.


 

 
 

 
Para aqueles que salvam a si

mesmos todos os dias, sejam


sempre o seu primeiro amor.
 
Sentado no chão do corredor deste hospital, vejo a vida da
minha mulher ir embora. Lily estava bem até entrar na sala de

cirurgia. As imagens dela se despedindo e dizendo o quanto me


amava e logo depois sumindo entre as portas brancas, ainda ficam
indo e vindo na minha mente. Uma enfermeira me conduziu até o

local apropriado para esterilizar minhas roupas e vestir o uniforme


adequado para entrar e acompanhar Lily.

Meu maior desejo era estar ao lado da minha mulher.

Quando sentei ao lado dela, segurei sua mão e ganhei um


dos seus lindos sorrisos. Observei seus olhos, que sempre foram a

coisa mais brilhante do mundo. Lily sempre foi a minha estrela.

Era hora da chegada do nosso filho Erick, e minha esposa

estava resplandecente. Estávamos juntos há anos, mas os nove

meses da sua gestação foram os mais felizes das nossas vidas.


Minha atenção voltou para a sala quando ouvi a médica mandar Lily

respirar e fazer força, que logo o bebê estaria conosco.

Lilian fez tudo o que lhe falaram, seguiu à risca todos os

comandos, mas quando Erick começou a nascer, percebi uma


movimentação inquieta entre os enfermeiros, até que começaram a

buscar instrumentos, gazes e uma correria que me fez quase entrar

em pânico. Eu não entendi o que estava acontecendo até ouvir: os


sinais vitais dela estão caindo.

Olhei para Lily e seus olhos estavam cansados demais, o

aperto em minha mão estava mais frouxo e o rosto mais pálido.

Gritei perguntando o que estava acontecendo, mas ninguém me


respondia. Senti Lilian puxando minha mão e a olhei.

— Sentirei sua falta amor, sentirei a cada dia. — sua voz era

quase um sussurro.

— Ei, Lily. Não fale essas coisas. — peço, sentindo meu

coração apertar.

— Cuide dele, Erick precisará de você. — respira fundo.

— Lily. — tento falar, mas ela me corta.

Sua mão continua na minha e sei que a cada respiração ela


tenta unir forças para me dizer o que está sentindo agora.
— Continue a ser esse homem incrível que você é. — pede e
lágrimas correm pelo seu rosto. — Vino, seu coração é a melhor

coisa que Deus já fez.

— Shiii! Amor, nada vai acontecer a você. — toco seu rosto.

Meu coração está a ponto de explodir, sinto meu corpo

pesado, minha cabeça parece uma névoa porque nada faz sentido.

— Eu te amo. Diga que me ama, eu preciso ouvir. Sempre

sinto um frio na barriga quando você responde. — me deu um

sorriso fraco.

— Eu te amo, Lily. Te amo mais que a mim mesmo. — Beijo

seus lábios. — Amor, não me deixe. Aguente firme, por nós três,

Lily.

— Sempre serei sua estrela. — ela sussurra e seus olhos se

fecham.

Naquele momento o mundo à minha volta desapareceu.

Várias pessoas falando ao mesmo tempo, máquinas apitando e o

embrulho no estômago me tomou.

Erick estava berrando nos braços da enfermeira que

realizava os primeiros cuidados necessários. A médica gritou que

Lilian estava tendo uma hemorragia e senti o desespero tomar conta


de mim. A sala de parto se tornou um centro cirúrgico em segundos.

Gritei de volta para que ela salvasse a minha mulher, mas eles não
pareciam me escutar.

Perdi completamente o controle. Esmurrei um enfermeiro e


quatro homens me expulsaram da sala, tentando brigar contra a

minha fúria porta a fora.

— Deus! Deus, por favor, não a deixe partir. Sei que ela é um
anjo, mas, o Senhor não precisa de mais um contigo. Eu preciso

dela, Erick precisa dela. Por favor! — pedia enquanto as lágrimas


escorriam dos meus olhos. A família de Lilian e a minha estavam

reunidas do outro lado do corredor e todos choravam muito.

É desesperador!

O pai dela caminhou até mim e me acolheu em um abraço. O


homem que conheci desde a adolescência sussurrou palavras

reconfortantes em meu ouvido e isso fez com que eu me sentisse


ainda pior. Ele acabou de perder a filha, eu deveria estar ajudando-
o. Alfred disse que Lily me amava e que ficaríamos todos bem,

reforçou que eu era um bom rapaz e que sempre cuidei da sua filha.
Porém, nada do que ele dissesse faria a dor de sua perda diminuir.
Vinte minutos depois, a médica saiu da sala, se desculpou e

disse que fez o que pode. Eu não queria ouvir mais nenhuma
palavra. Corri para a sala de parto e gritei para Lilian voltar para

mim, voltar para Erick e nossa família. Eu beijei o seu rosto pálido
por completo, e isso sempre a fazia sorrir, mas não aconteceu dessa

vez.

Ela não estava ali. Ela partiu! Minha Lilian morreu.

Fui arrastado mais uma vez para fora da sala, dessa vez não

lutei contra. Eu não tinha forças. Ver Lilian deitada naquela maca,
em uma sala fria e sem vida, me fez lembrar a garota radiante que

ela sempre foi.

Minha garota não estava mais ali. Eu não a veria sorrir, nem

ouviria a sua voz. Ela não cantaria comigo, não diria que amava
quando eu cortava o cabelo quase careca, não brigaria quando eu
quisesse fazer mais uma tatuagem. Não iria ao Theo’s comigo nas

noites de sexta, não estaria me esperando quando eu chegasse do


alistamento a cada quatro meses. Ela não estará mais em lugar

algum.

Mas sempre estará viva em mim!


Os pais de Lily estavam abraçados no corredor. Minha mãe
chorava nos braços do meu pai e a primeira coisa que fiz quando
saí da sala foi socar a máquina de comida que tinha ali. Eu a destruí

com apenas socos e chutes. Era como se meu peito fosse explodir a
qualquer momento. Minhas mãos se cortaram com o vidro da

máquina e meus braços doíam, mas nada se comparava a ter tido


meu coração arrancado do peito.

Ninguém se aproximou até que eu parasse por conta própria,


colocando de alguma forma aquilo para fora. Então, meu pai
caminhou até mim, após depositar um beijo na cabeça da minha

mãe.

— Agora existe alguém que precisa ver você. Ele também

perdeu alguém Vino, cuide do seu filho. Chegou o momento de olhar


por ele. — falou, tocando meu braço.

Com o pingo de noção que ainda me restou, segui suas


palavras. Lavei as mãos para me livrar dos resquícios de sangue
dos cortes feitos pelo vidro, troquei a roupa e caminhei até o

berçário. Eu não estava completamente sozinho. Erick estava ali,


ele precisava de mim. Pedi à enfermeira para pegá-lo e ela permitiu

a minha entrada. De acordo com a mulher, ele está forte e nasceu


no tempo certo.
Caminhei até o bercinho e lá estava o meu filho. Erick mexia
os bracinhos e as pernas roliças, sua boca era tão pequena e
rosada que eu poderia jurar que era menor do que a unha do meu

polegar. Seu rostinho era redondo e seu pequeno queixinho


mostrava que seu rosto seria quadrado como o meu. Seus olhos

eram iguais aos de Lily, verdes como as mais belas esmeraldas.

— Posso segurá-lo? — perguntei esperançoso.

— Claro. Vou te mostrar a maneira certa de pegá-lo, assim

você nunca precisará sentir medo de estar com ele em seus braços.

— ela falou docemente.

Perguntei-me se ela tinha conhecimento da morte de Lily.

Ela me instruiu e com uma mão apoiei as costas de Erick e

com a outra sua cabeça, o guiando para o meu peito. Ele se

aninhou a mim, segurando com os pequenos dedinhos no tecido da


minha blusa. Erick estava vestido em um macacão azul claro, com

sapatinhos do mesmo material, tinha sido um presente da minha

irmã.

— Ei, garotão, você é uma bola. — falei e ele procura o meu


rosto.
Sempre conversei com a barriga de Lilian, ela dizia que isso

era importante para o desenvolvimento dele e uma forma do bebê


me conhecer.

— Temos que cuidar um do outro Erick, mas vamos ficar

bem, ok? O papai promete te dar o melhor. Não posso ser como a
sua mãe, mas farei o possível para ser cinquenta por cento do que

ela seria. Sentiremos falta dela, mas prometo ser o seu melhor

amigo. Seremos nós dois contra o mundo, garotão. — Erick passou

a mãozinha no meu queixo e pareceu um carinho ainda um tanto


desengonçado, mas não segurei o sorriso que se abriu em meu

rosto. Beijei sua testa e decorei todos os seus mínimos detalhes.

Parado em meio a esse hospital, no mesmo dia em que perdi


parte de mim, soube o que era ter um motivo para viver novamente.

 
Existem dias que desejo ficar em casa e nem guindaste me
tirar da cama. Hoje é um dia como esses, mas o meu guindaste se

chama Naya, conhecida também como minha melhor amiga.


Cheguei da faculdade cansada, mas ela estacionou o carro em
frente à minha casa e pediu ao meu pai que me deixasse sair. O

homem simplesmente a adora, então não foi tão difícil convencê-lo a

me deixar ir sem hora para voltar.

Sim, mesmo sendo maior de idade ainda preciso pedir

autorização para sair. Tenho vinte e um anos, porém, meu pai ainda
me trata como uma criança e como ele sempre diz: enquanto eu

morar embaixo do seu teto, tenho que seguir suas regras.

Tirei as coisas da aula da mochila e coloquei tudo que usaria

essa noite. Entrei no carro de Naya e fomos para sua casa. Não
demoramos muito a nos arrumar, então logo estávamos prontas

para chegar ao nosso destino de hoje.

— Você já esteve aqui? — questiono quando ela estaciona

do outro lado da rua.

— Sim e sei que você vai adorar. Sabe que sou a melhor
avaliadora de bares da região. — pisca para mim e desce do carro.

— É a sua cara.

— Porque é a minha cara? — acompanho-a.

— É aquele estilo rústico moderno. Quase um bar de velho


oeste só que em uma versão século 21. As bebidas são ótimas e

baratas, atendimento de boa qualidade e música boa a noite toda.

Sem contar que o dono é um colírio e tanto. — se abana com a mão


e reviro os olhos sorrindo.

— Espero que seja tudo isso mesmo. — faço uma falsa

ameaça.

Olho através da avenida e a quantidade de carros e motos

estacionadas no local podem confirmar o que Naya falou, não


estaria tão lotado se não fosse ruim.

— Você chamou o Erick? — tenta descobrir


despretensiosamente.
— Quando você vai ter coragem de revelar para ele essa
quedinha que sente? — cutuco seu braço.

— Amiga, essa quedinha está mais para precipício. Ele é


lindo, educado, galante e uma delícia, impossível não desejar. —

finjo cara de nojo e ela sorri.

Erick completa minha dupla de melhores amigos e Naya está

se apaixonando por ele, mas ainda não admite.

— Já sei esse texto decorado.  — ela me olha esperando que

eu responda sua principal pergunta. — Chamei, mas ele disse que


tem trabalho do Sr. Harry para terminar.

— Eu ainda furo todos os pneus do carro daquele professor

chato. — amaldiçoa e rio.

Erick e eu nos tornamos amigos desde que nos sentamos

juntos para um debate no primeiro dia de aula da faculdade. Naya


cursa jornalismo, então só nos vemos nos intervalos e isso foi o

suficiente para que ela se encantasse pelo Walter. Minha amiga tem

razão quando diz o quanto ele é lindo e fariam um casal perfeito, só

não tem coragem de tomar iniciativa.

Vou precisar colocar meus dotes de cupido em prática.

— Chegamos. — ela aponta para o letreiro.


De perto o lugar é enorme e em um grande letreiro neon está

escrito: Theo’s.

— Por fora é bem bonito. — confesso.

— Assim como o proprietário, já te avisei né, não baba


quando ver ele balançando os litros de bebida lá dentro. — rimos.

— Você não tem jeito. — segura meu braço e entramos.

— Estou apaixonada, não cega. — se defende e me puxa

para dentro.

Naya é linda, tem o cabelo castanho quase loiro, olhos

verdes, pele clara e um corpo lindo. Nos conhecemos em um


acampamento de verão quando éramos mais jovens e nunca mais

nos desgrudamos. Trocamos cartas por toda a juventude, até as


ligações surgirem na adolescência e finalmente ela se mudar para
estudar. Assim como eu, ela não tem uma boa relação com a

família, mas logo entendi que seu caso era mais complicado que o
meu, já que ela se mantém o mais afastada possível deles para se

proteger.

Não são todos os pais que nascem amando seus filhos.

Mas quem vê de fora a garota sorridente que está

cumprimentando as pessoas nesse bar, jamais imaginaria o quanto


ela já foi machucada. Finalmente, olho em volta e o barulho nos

envolve assim que cruzamos a porta.

Em uma primeira impressão, descreveria o Theo’s como

aconchegante. O lugar parece ser maior por dentro do que por fora,
tem um bar enorme de frente para as mesas, um espaço para

danças e um palco que caberia uma banda completa. Como Naya


disse, parece um bar de faroeste, mesas redondas cobertas por

toalhas vermelhas e uma garrafa vazia de cerveja com uma flor


dentro, as cortinas e estofados dos móveis são no mesmo tom dos
tecidos que cobrem as mesas.

Acho que descobri a cor favorita do dono do lugar.

Sentamos em uma mesa que nos dá acesso fácil ao bar e

nos permite ver bem o palco, muitas pessoas conversam e bebem


por todo o salão. Um cara sobe no palco e anuncia que, em poucos
minutos, o seu “maior talento” iria começar o show. Espero que seja

realmente bom, porque não gosto muito de música country e é o


que está saindo pelas caixas de som nesse momento.

— Boa noite garotas. — a garçonete nos cumprimenta.

— Boa noite... — olho o nome escrito no seu uniforme. —


Jenny. — completo e ela sorri.
— O que vão querer para abrir a noite? — segura a
caderneta.

— Algo forte, o que indica? — Naya fala empolgada.

— Nada de algo forte. — interrompo-a. — Você está dirigindo


e eu não quero morrer. — Jenny ri. — Um refrigerante bem gelado

para ela e uma Margarita[1] pra mim.

— Já volto com os pedidos. — Jenny se afasta das mesas

indo até o balcão.

— Você é insuportável. — Naya faz cara de triste, mas não

me convence.

— E você sem noção. — afirmo e rio.

Um clássico dos anos setenta está tocando e me sinto


extremamente confortável no lugar, o que é novo para mim, sempre
fico alerta quando estou em locais onde eu possa estar vulnerável e

bares não são completamente confiáveis porque bebida e homens


que acreditam ter poder sobre mulheres, são uma péssima

combinação. Mas alguma coisa nesse lugar me deixava


despreocupada.

Logo nossos pedidos chegaram e começamos a nos divertir.


Minha atenção se voltou para o palco quando ouvi a voz do locutor
novamente.

— Chegou a hora pessoal. O meu, o seu, o nosso talento.

Vino Walter. — as pessoas gritam enfurecidas, o que me deixa


surpresa, afinal, é uma atração local.

E então um homem muito alto entra, dando um abraço

cúmplice no anunciante. Vino, como foi apresentado, pega um

banco alto, posiciona-o  no centro do palco e ajusta a altura do


microfone.

— Boa noite pessoal. — PUTA.QUE.PARIU. É a voz mais

bonita que já ouvi. Isso saiu desse homem? Ouvi-lo falar me causou
arrepios por todo o corpo. Seu timbre é grosso e potente. — Essa é

uma canção muito especial pra mim e senti que deveria tocá-la

nessa noite. Espero que gostem tanto quanto eu. — pega o violão e

toca as primeiras notas.


Trouble
Trouble, trouble, trouble, trouble
Trouble been doggin' my soul since the day I was born
Worry, worry, worry, worry, worry
Worry just will not seem to leave my mind alone
Well I've been saved by a woman
I've been saved by a woman
She won't let me go
She won't let me go now
She good to me now
She gave me love and affection
I Said I love her, Yes I love her
I said I love her, I said I love
She good to me now
She's good to me[2]
 

Sinto meu corpo paralisar. Não conhecia essa música, mas

ela se tornou minha favorita, principalmente na voz desse homem.


Nunca ouvi algo assim, sua voz pode ser comparada a algo divino.

Naya falava alguma coisa com um cara que se aproximou da mesa,

mas não consegui ouvir, todos os meus sentidos estavam voltados

naquele ponto específico no palco. Para aquele homem.

Ele é realmente alto, tem o corpo largo, os braço fortes

parecem querer sair da prisão que são as mangas longas da blusa

branca que usa. Ele é muito mais bonito agora que realmente posso
ver todo o seu rosto.

Ele continuou e cantou mais algumas músicas, quando se

despediu a plateia pediu mais uma e ele obedeceu. Naya e eu

acompanhamos a letra animadamente, era uma das nossas


favoritas e acabamos atraindo sua atenção, ele nos olhou e abriu

um sorriso genuíno.

Era possível ele ficar mais bonito!

Um homem chamado Alec se aproximou da nossa mesa e


perguntou se poderia se juntar a nós depois de conversar um pouco.
Ele pareceu legal, não foi invasivo e mesmo sendo claro seu

interesse por Naya, ele não tornou o clima chato e isso a

conquistou. Mas na hora que Naya levantou e foi para os fundos do


bar dar “uns amassos”, como ela diz, o detestei. Odiava ficar

sozinha em mesas de bar, porque os babacas acham que isso é um

convite para te fazer companhia e não estou com energia para

brigar hoje.

Levanto e vou até o balcão, pelo menos aqui posso conversar

com Jenny. Peço outra Margarita e começo a conhecer os outros

funcionários que estão servindo as bebidas. Peço o terceiro drink e

percebo alguém sentando no banco ao meu lado.

— Will, o de sempre. — aquela voz...

Olho rapidamente para suas mãos cruzados sobre o balcão e

não vejo aliança.

— Pode colocar na minha conta Will. — aviso e o homem

olha em minha direção. — Você é o cantor não é? — mantenho o

olhar fixo no seu.

— Sim. — afirma e me observa com atenção. — Agradeço,


mas não preciso que pague minha bebida. — ele fala, mas não

parece incomodado com minha atitude, apenas surpreso.


— Seu show me fez ganhar o dia, é só uma forma de

agradecimento. — dou de ombros. — Sua voz é magnífica, você


deveria estar sendo uma estrela do rock por aí. — recebo um sorriso

que nasce no canto dos seus lábios.

— Obrigado. Você deve saber o meu nome, mas eu ainda

não sei o seu. — estende a mão para que eu aperte.

— Vitória. — seguro sua mão e sinto meu coração acelerar.

Seu toque é forte e sua mão parece cobrir a minha pela

nossa diferença de tamanho. Sinto algo despertar no meu corpo e


não sei se ele sentiu, mas a corrente elétrica entre nós foi quase

palpável.

— Vitória. — ele repete. — Bonito nome.

Sorrio em agradecimento e Will traz o Whisky dele. Vino


agradece, mas logo seus olhos voltam para mim. Dessa vez, com

novas intenções. Ele analisa meu corpo bem devagar. Minha roupa

não mostra muita pele, jeans e blusa de mangas compridas, mas

meu corpo tem curvas acentuadas e meus seios são fartos. Os


cachos do cabelo caindo sobre os ombros e pouca maquiagem,

como quase sempre uso. Mas os olhos deles demoraram um pouco

mais no meu decote.


Vino volta os olhos para os meus e tenta esconder o quanto

gostou do que viu tomando mais um gole da sua bebida, mas vi o

sorrisinho em seus lábios.

— Adoro essa música. Dança comigo? — convida.

— Claro. — ele pega minha mão, que some entre a dele e

caminhamos até a pista de dança. Não conheço essa música, mas é

lenta, daquelas que você dança juntinho.

Vou amar juntar meu corpo ao dele.

Ele toca minhas costas, apoiando uma mão na base da

minha cintura e com a outra segura a minha, com nossos corpos

colados o seu cheiro másculo me atinge. Tenho certeza que não


estou bêbada o suficiente para sentir tudo aflorado, é único e

exclusivamente o efeito de Vino em mim. O que esse homem tem

que me faz querer permanecer colada a ele?

Conversamos um pouco sobre música e pergunto sobre as


tatuagens, ele diz que já não lembra quantas tem espalhadas pelo

corpo e penso o quanto adoraria contá-las pessoalmente. Duas

músicas se passam e continuamos ali, cada vez mais próximos um


do outro, envolvidos em uma conversa tranquila, entre risadas e

opiniões, ele diz que sou uma garota doce.


— Estou fascinado pelos seus lábios. — sussurra em meu

ouvido durante a dança. — Estou me perguntando se eles são


realmente incríveis como parecem ser.

— Eu também não sei, você teria que provar e me dizer. —

Vino me encara e parece surpreso com a minha resposta.

— Será se eles são doces como você? — provoca.

— Responda-me você. — ele não espera e cola sua boca na

minha.

Abro os lábios para recebê-lo e ele vem sem modéstia. Peço

espaço para minha língua vasculhar sua boca e ele dá de bom


grado. Vino me devora e eu estou completamente perdida nele.

Suas mãos envolvem os fios do meu cabelo e as minhas estão na

sua cintura, consigo sentir seu corpo definido pela forma como
estamos colados um no outro. — Ele deve ser um gostoso sem

essas roupas. — Cessamos o beijo sem fôlego e eu não queria

desgrudar meus lábios dos seus pelas próximas horas.

— Eles são bem mais doces do que imaginei. — faz carinho


com o polegar na minha bochecha.

— Espero que isso seja bom. — sorrio, sentindo sua

respiração em meu rosto com a nossa proximidade.


— Isso é viciante. — sussurra com a voz grossa.

Nossa noite seguiu entre conversas, beijos e bebidas até às

duas da manhã. Naya não voltou, mas me avisou que estava no

carro de Alec no estacionamento, contei que arrumei companhia e


que qualquer coisa ela me ligasse. Vino ouviu e sorriu. Mas o

cansaço logo me bateu e avisei que iria para casa, ele me

acompanhou até a parte de fora do bar e andamos pelo

estacionamento, mas sem que eu esperasse, Vino me encostou na


lataria gelada de algum carro e minha boca foi invadida mais uma

vez.

Ele é diferente dos outros rapazes que já fiquei. É perceptível


pela forma que me toca que sabe o que está fazendo, sem avançar

limites, mas alcançando lugares que me deixam ansiosa para que


ele me toque um pouco mais. Vino é um homem feito, não perguntei

sua idade, mas é perceptível que é alguns anos mais velho que eu.
É experiente e decidido, ao mesmo tempo em que é galante e
respeitador.

— Posso te levar para casa? — questiona, com os lábios


quase tocando os meus.
Acordei mais um dia pensando por onde ela estaria. Onde a
garota de cabelos cacheados, sorriso atrevido e lábios doces

estava. Provavelmente eu nunca mais a encontraria ou cruzaria com


ela de novo pelo Theo’s, mas aquela noite foi diferente.

Diferente de todos os encontros que já tive nos últimos anos.


Ela fez com que eu me sentisse disposto a conquistar alguém de

novo e não apenas levar uma mulher para cama. Talvez por isso
finalizamos a noite frustrados depois de bons amassos no carro, que

não deram em nada.

Eu não sou um garoto, sei me controlar e senti que nós não

deveríamos começar assim. Não quero que ela faça parte das
pessoas que vou lembrar porque estiveram na minha cama, quero

que minha primeira lembrança dela seja a da garota que me fez

sentir como se tivesse vinte anos a menos novamente.


Minha segunda começou movimentada, os negócios na

oficina estão ótimos. Quando saí do exército, mesmo recebendo


uma aposentadoria que permitia que Erick e eu vivêssemos bem,

não queria ficar parado. Quando estava alistado, aprendi com um

grande amigo a mexer com carros, motos, tanques de guerra,


caminhões e isso só somou ao que meu pai me ensinava na

adolescência.

Juntei o útil ao agradável, acabei me apaixonando pela

mecânica e resolvi montar minha própria oficina na garagem de

casa. As coisas começaram pequenas, mas hoje meu galpão está


totalmente equipado. Ficar com a cabeça dentro daqueles carros e

esquecer do mundo faz um bem da porra. Fundei a Destroyer com a

ajuda de Theo, aliás, acho que Theodore Holt viveu minha vida por

mim depois da morte de Lily.

Quando voltei para casa depois de tudo aquilo, Theo tinha

vendido a antiga casa em que vivia com Lilian e comprado uma

nova, deixou-a pronta para que Erick e eu apenas entrássemos e

começássemos nossa nova vida. Ele foi meu sócio para abrir a

oficina, me deixou cantar no seu bar mesmo depois de eu ter


praticamente o destruído — tudo bem, nesse dia ele quase me
matou, mas depois paguei todos os danos e aquela espelunca ficou
bem mais apresentável.

Até hoje, 21 anos depois, o dia do nascimento de Erick ainda


é complicado para mim, porque também é o aniversário de morte da

sua mãe. Enquanto ele crescia, tentei fazer desse o melhor dia da

sua vida. Nós saíamos pela manhã para tomar café em algum lugar

bacana e passear, quando retornávamos seus amigos estavam lhe

esperando com uma festa enorme.

Quando ele completou treze anos, mudamos. Começamos a

frequentar as lutas, corridas de carro, comer pizza, cinema. No

aniversário de dezesseis anos, Theo disse que estava na hora de

darmos um porre nele, e foi o que fizemos. A primeira vez que deixei

Erick colocar cerveja na boca foi aos quinze, estávamos jantando no


Theo’s e dividimos uma, não sei se ele bebeu por aí depois, mas

quando ficou de porre ele disse que não beberia nunca mais.

Eu sei que os jovens têm uma vida fora da casa dos pais. Eu
já tive a idade deles e sei como as coisas funcionam.

Quando Erick completou quatorze anos, me falou de uma


namoradinha no colégio, foi a primeira vez que falamos abertamente

sobre sexo. Ainda o achava muito jovem para iniciar a vida sexual,

mas é necessário instruir as crianças de forma segura para que elas


entendam a maneira correta de fazer algo tão sério, para que

conheçam seus limites e respeitem seus parceiros.

Ano passado, no dia do aniversário de Erick, ele me

perguntou o que eu fazia quando saía à noite depois que


finalizávamos a festa. Sempre que ele dormia, eu ia para o Theo 's

beber até cair inconsciente por aí e quando acordava caminhava até


em casa com a cabeça explodindo. No dia que quebrei o bar, tinha
pouco mais de seis meses da morte de Lily, íamos fazer um ano de

noivado, provavelmente estaríamos casados naquela data.

Sua pergunta me pegou de surpresa, ainda pensei em mentir.

Não queria falar para o meu filho que o aniversário dele era uma
data complicada para mim, mas se eu tivesse inventado alguma
coisa a confiança que criamos acabaria, então contei. Lilian era um

assunto recorrente entre nós, sempre desejei que Erick tivesse


certeza do quanto sua mãe era incrível.

Com a cabeça enfiada na picape velha do meu vizinho ouço


a porta de um carro bater do lado de fora da oficina, olho por cima

do capô e o vejo.

— Que surpresa inesperada. — limpo as mãos com um pano

e me aproximo de um homem que não vejo há muitos anos, mas


que seria impossível não reconhecer. — Se você está tão velho,

acho que cheguei no meu limite. — brinco.

— Não tenho culpa se a minha geração envelhece bem mais

bonita. — dá de ombros e gargalho.

O abraço forte e me surpreendo como, mesmo agora sendo

um homem, Otto ainda tem as mesmas feições de quando fez parte


do meu pelotão no exército.

— Lembro que você tinha um pouco mais de cabelo. —


provoca e o mando ir a merda.

— Há quantos anos não nos vemos? — questiono, o


convidando a entrar na até os fundos da oficina.

— Talvez uns seis ou sete, já que tive que continuar seu


trabalho quando saiu. — dá de ombros.

— Se tornou capitão? — sinto meu sangue correr mais forte

de empolgação.

Otto concorda com um sorriso e o abraço mais uma vez,

parabenizando-lhe . Ele ainda é muito jovem para conseguir chegar


a essa patente, sei porque comigo também foi assim, me aposentar

como capitão foi uma honra.


Sempre gostei de ser próximo do meu pelotão, então todos
os meninos que eu comandava eram como minha família. Não me
arrependo de ter aberto mão de tudo para ter uma vida sem tantos

riscos com o meu filho, mas já senti muita falta daquela sensação de
que aquele grupo de pessoas seria capaz de qualquer coisa para te

proteger, assim como você faria por elas.

Foram anos muito difíceis e incertos. Estar dentro dos

SEALs[3] é uma batalha travada a cada hora com você mesmo e


contra o mundo, é impossível viver aquilo e não sair transformado

de alguma forma.

— Recebi uma dispensa de comemoração e não pude deixar


de vir visitar o meu capitão e agradecê-lo pessoalmente. —

sorrimos.

— Estou feliz que esteja alcançando algo tão importante e

por ter lembrado de mim, afinal, sempre poderemos contar um com


o outro, mas me conte como estão todos? Soube que alguns dos

nossos faleceram com os anos, outros estão doentes ou se


recuperando de algo, como você está, Otto?

—Tento sobreviver todos os dias. Esse é o meu lema,


sobreviver. Estou fazendo o que amo, com a minha família, lidando
com os meus pais e conhecendo pessoas pelo mundo. Tenho
trabalhado muito, mas estou orgulhoso por ter sido reconhecido
após tantos anos de serviço.

Conheci Otto quando ele se alistou. Ele é oito anos mais


novo que eu, era um garoto quando nos vimos pela primeira vez.

Com o dia a dia em batalha, ele entrou para o meu pelotão e


acabamos nos tornando bons amigos. Era engraçado vê-lo
conhecendo o mundo. Seus pais viajavam muito então em algumas

das nossas dispensas eu o trazia para casa, junto com os

companheiros da nossa equipe,  e isso fez com que minha família o


adorasse, inclusive minha mãe.

— E você, Capitão Walter, como tem sido sua vida? —

questiona e sorrio.

A primeira coisa que me vem à mente quando escuto essa


pergunta é alívio. É a tranquilidade de uma vida serena, ao lado das

pessoas que amo, apenas fazendo o que gosto. Mas, dessa vez, me

surpreendi com a nova imagem que surgiu a todas as memórias


boas, um vislumbre dela surge em minha mente, porque fazia muito

tempo em que não me divertia tanto ao lado de uma garota como

naquela sexta.
Fazia a porra de séculos que eu não me perdia nos lábios de

alguém como me perdi nos dela.

Compartilho com Otto todas as coisas que vivi nesses últimos

anos, sobre as coisas que conquistei, sobre os clientes

descontrolados que aparecem na minha porta e sobre as sextas no


Theo’s, o que o animou, afinal, se tinha algo que ele recordava, era

do bar de Theodore Holt.

— Vou até a casa dos seus pais quando sair daqui, quero

muito vê-los. — Otto afirma e sei que ele é apaixonado pelos meus
pais desde a adolescência.

Ouço dois toques no portão e sei quem está chegando, esse

sempre foi o sinal do meu melhor amigo.

— Venho fazer uma visita a um amigo e acabo encontrando o


Pequeno Rogers. — Theo praticamente grita e abraça Otto.

— Grande T, pensei que o sexo e o rock ‘n roll já tinham

matado você. — rimos.

— Nada derruba um caça US NAVY. — se gaba. — Você era

bem menor da última vez que te vi. — Theo bate em seu ombro.

— As crianças de hoje em dia estão crescendo rápido demais

Theo. — provoco e Otto revira os olhos.


— E os velhos ficando rabugentos mais rápido.

Otto e Theo se conheceram em uma das nossas temporadas

na casa dos meus pais e desde então nos tornamos um trio de

marmanjos alistados apaixonados por mulheres e pela vida.

— Está legal esse lugar. — fala sobre a oficina. — Da última

vez que nos vimos, não estava assim.

— Vino gosta de dar uma de designer de interiores. Você


precisa ver o que ele fez no meu bar. — me olha feio e rio. — Já

está casado com alguma gostosa, Rogers? Você é um garoto para

compromisso, não é um puto como eu, mas claro que precisamos

aprovar a dama antes que ela te algeme pelo dedo.

Uma porta de carro é fechada do lado de fora e isso atrai

nossa atenção.

— Eu casaria com ela. — Otto aponta para fora. — Isso é um

monumento. Gos…

— Olha como fala da minha irmã idiota. — jogo a flanela que

estava no meu ombro nele.

— Ah meu Deus, Carly Walter. — ele acaba falando alto, pela


surpresa de não reconhecer minha irmã de cara. — Eu preciso vir
aqui mais vezes e aí sim garanto que deixo ela me algemar não só

no dedo.

— Vai sonhando florzinha. — digo. Carly comeria eles no

jantar. — Ela se tornou inacessível para você, ninguém mandou ser

meu amigo.

Otto me olha por um tempo, tentando buscar formas de

argumentar comigo sobre a regra principal da amizade masculina.

Nada de pegar as irmãs e a mãe do amigo.

— Cara, já tentei, ele não deixa nem chegar perto. — diz


Theo.

— Vai dizer que não tirou nem uma casquinha? Vocês são

próximos a vida inteira. — parece incrédulo.

— Algumas vezes. — Theo faz um gesto mostrando o volume


baixo de vezes em que tentou flertar com a minha irmã.

Espera… Merda.. Meu melhor amigo quer dormir com a

minha irmã?!?

— Como é que é? — pergunto, ficando puto.

— O que? Eu não fiz nada, não disse nada. Já estou até indo

embora. — diz Theo, erguendo as mãos em rendição e se afastando

rápido.
Carly entra na oficina em seus enormes saltos e um vestido

colado no corpo. Ela cresceu e se tornou uma mulher maravilhosa.

É advogada e super bem sucedida, não quis casar, ficou noiva de

um cara por cinco anos e terminou porque disse que não estava
vivendo sua vida presa a um homem que só estava a enrolando, se

ela quisesse realmente casar, já tinha casado.

Carly é alta e cheia de curvas herdadas da minha mãe, seu


rosto é meigo, mas exala poder por onde passa.

Minha irmã é uma gata, eu sei disso.

— Vino preciso de carona, meu carro quebrou e eu tenho que

chegar em casa antes das onze, tenho outra audiência hoje. — falei
que ela é uma matraca?

— Gatinha, você está maravilhosa hoje. — Theo já a

cumprimenta pedindo para receber seu ódio.

— Argh, você aqui. — ela revira os olhos, se dando conta que


estou acompanhado.

Afinal, Carly atravessou o cômodo como um furacão.

— Eu posso te dar uma carona. — Otto se oferece.

Carly o olha de cima a baixo como um estranho que acabou


de lhe incomodar. Minha vontade foi de rir.
— E você, quem é? — aponta para ele.

— Sua eterna paixão de adolescência.

— Ta de brincadeira. Otto? — eles se abraçam — Mamãe vai

morrer quando te ver. — Carly afirma e está completamente certa.

— Estou louco para vê-la, então é mais um motivo para que

possamos ir juntos. — Otto dá de ombros.

— Não moro mais com eles, mas vou almoçar lá. Então, sim,

convite aceito. — ela sorri.

É incrível ver que quando gostamos verdadeiramente de

alguém, não importa quanto tempo passe longe dela, nada vai
mudar. O carinho que temos por Otto nunca foi modificado, assim

como também o que ele sente por nós, já que viajou de carro da

cidade vizinha, onde seus pais moram, apenas para me encontrar.

— Vino, deixei meu carro na porta. — Carly larga o braço de

Otto e vem até mim. — Você pode dar uma olhadinha nele? Sabe

que com os milhares de julgamentos que tenho não posso ficar sem
ele. — beijo sua testa e ela sorri.

— Você é a prioridade desse estabelecimento, já que sempre

está com o carro quebrado, é cliente vip. — comento e ela revira os

olhos.
— Ela é mão de vaca. — Theo a provoca. — Advogada e
anda em um carro que por fora é lindo, mas que ela já destruiu

inteiro.

— Quem chamou você na conversa? — Carly responde e se


volta para mim.

Conversamos um pouco mais e combinamos de nos vermos

no Theo’s hoje a noite, assim Otto poderia ficar mais tempo na visita
a minha mãe. Carly saiu de braços dados com ele, toda sorridente e

isso me fez lembrar  de algo…

— Que história é essa que você tirou uma casquinha da

minha irmã? — olho feio para Theodore.

— O que? — seus olhos se arregalam. — Cara isso foi

brincadeira.

Sei quando o safado mente de longe.

— Theodore Holt, se existe alguém no mundo que te

conhece, sou eu.

Ele me observa por um tempo e depois olha para a saída. Sei


que está calculando quanto tempo leva para correr de mim, porque

esse é o tipo de coisa que ele faria.


— Aaaaaaaaã, nós transamos duas ou três vezes. — quase
sussurra.

Meu queixo cai. Como nunca percebi isso?

— Que porra é essa Theo? — quase grito. — Você nunca ia


me contar? Consegue imaginar a vontade que eu estou de te

matar?

— Eu tenho uma ideia, mas cara você pararia de falar comigo

e já faz um tempo. — tenta se explicar.

Os pontos não se ligam na minha cabeça, porque até onde


eu sei, Carly odeia ele. Vivem em pé de guerra e provocações.

— Não se pode pegar a irmã do melhor amigo, eu sei. Mas a


primeira vez estávamos bêbados, a segunda foi quando ela
terminou o noivado, e teve uma vez durante o noivado, a outra...

— Você disse duas ou três. — quase o xingo.

— Eu acho que vou embora. — começa a se afastar. — Se


não vou acabar falando merda demais. Até mais tarde. — ele sai
quase correndo.

— Filho da puta. — xingo o meu melhor amigo.

A manhã passou rápido e a tarde mais ainda. Erick estava o


dia inteiro na faculdade, então aproveitei para ver meus pais, e
minha mãe quase não para de falar que Otto está um pedaço de
mau caminho.

Eu mereço!

Voltei às seis e passei em uma loja de conveniência para

comprar ingredientes para jantar. Quando passei pela seção de


roupas femininas lembrei de Vitória, fazia dois dias desde a noite
que dançamos e de vez em quando me via pensando nela. Seu

gosto doce, seu jeito atrevido, seu corpo delicioso e Deus, aqueles
seios. Todo homem gosta de peitos, não importa o tamanho, se são
artificiais ou não. Eu tenho um tesão do caralho por seios grandes e

os de Vitória se tornaram o meu desejo.

A cozinha estava um calor infernal, abri todas as janelas e

joguei a camisa de lado. Enquanto terminava de preparar a carne,


ouço a porta da frente abrir.

— Pai. — grita Erick — Cheguei.

— Estou na cozinha. — ele caminha até mim e vai deixando


os tênis jogados de todo jeito na sala.

— Pode voltar e ajustar. — ele bufa e revira os olhos.

— Você está cada vez mais rabugento. — provoca e o olho

sério.
— Essa é a minha semana de limpeza, então não aceito
bagunças.

— Mas deixar um tênis fora do lugar não é bagunça. — ri e


pega uma garrafa de água na geladeira.

Erick é uma mistura minha e de Lily, mas às vezes olho para


ele e posso jurar que estou admirando o jovem Vino que um dia fui.

Cheio de sonhos, motivações e em busca de uma vida tranquila,


mas cheia de realizações. Ele é a melhor coisa que já fiz na vida.

— Eu sei, mas não quero nada jogado aqui embaixo. Qual é

a regra? — falo por cima do ombro.

— Posso fazer o que quiser no meu quarto, mas não no resto

da casa.

— Bom garoto. — ele ri — Como foi a faculdade?

— Foi ótimo, só cansativo. Estamos começando um projeto


novo, uma pesquisa para atender idosos de uma casa de repouso.

Tenho muito orgulho do trajeto que ele tem feito, mesmo


depois de sair do colégio, ele não quis esperar e logo ingressou na
faculdade, passou com ótimas notas e encantou os olheiros nas

entrevistas. Ele sempre foi muito inteligente.


— Que bacana. Passaram a tarde fazendo esse trabalho? —

lavo minhas mãos ao finalizar o que estava fazendo e fico de frente


para ele.

— Começamos as pesquisas. Inclusive, quero te pedir uma

coisa.

— Claro. — apoio os cotovelos na bancada e espero que


fale.

— Uma amiga pode vir almoçar aqui amanhã? É que o carro

dela quebrou e não tem como ela ir para casa e depois voltar para
cá de ônibus. Aí pensei que se ela viesse comigo da faculdade eu
poderia ir deixá-la quando terminássemos.

— Claro, sem problemas. Vão ser só você e ela? Posso


cozinhar algo para almoçarmos. — ofereço, porque a comida de

Erick feita às pressas não é tão boa.

— Você é o melhor. — aponta para mim e rio da sua


bajulação.

— Mas é só amiga mesmo ou vocês tem alguma coisa? —


pergunto desconfiado e observo sua reação à pergunta.

Já que ele sempre trouxe os amigos homens da faculdade


aqui, mas nunca vi as meninas que ele quase sempre comenta.
— Somos apenas amigos, muito amigos. Inclusive, ela não
para de falar de um cara que conheceu. — dá de ombros.

— E isso te chateia? — procuro entender.

— De forma alguma. Sinceramente, acho que estou me

interessando por outra pessoa. — respira fundo e sorrio.

Já tive a idade dele e adorava as paixonites que encontrava


no meu caminho.

— Isso é novidade. — me empolgo. — Me fale sobre ela.


Preciso conhecê-la.

— Nada de se sentir como sogro, sr. Walter. Nunca nem nos

beijamos. — rimos. — Mas Nay é incrível.

— E a outra? — pergunto. — A que vem amanhã.

— A Bia? Não temos e nunca teremos nada. Somos amigos


desde que entrei na faculdade.

— E porque não a conheço?

— O pai dela é muito cheio de frescuras, eu posso ir lá, mas


ela não pode vir pra cá. — revira os olhos. — Foi um sacrifício fazer

ele deixar que ela viesse para cá.

— Então essa é a que você sempre tem que basicamente


atravessar a cidade para ir fazer as coisas da faculdade. — lembro
dos seus comentários.

— Sim, já fui várias vezes até lá, mas ela nunca podia vir até

aqui. Os pais dela são meio malucos, mas gostam de mim.

— Você é um bom rapaz, seriam uns idiotas se não

gostassem. — ele sorri.

— E quantos anos ela tem para o pai ser tão rígido?

— A minha idade, vinte e um. — ele parece se incomodar


com a situação da amiga. — Enquanto morar embaixo do teto dele,
tem que seguir as regras deles. — imita a voz do pai da garota e rio.

— Eles são uns idiotas, Bia é a pessoa mais responsável que


conheço.

Eu entendo os pais da garota, mesmo não concordando com

esse tipo de educação.

— Entendi. Então o nome dela é Bia? — questiono.

— Não. É um apelido por causa do seu sobrenome. —


levanta da bancada e pega a mochila para subir para seu quarto.

— Qual é o sobrenome dela?

— Bianucci. — responde, sumindo pelo corredor.


Cheguei quase quatro horas da manhã em casa, as cervejas
com Otto e Theo renderam bem mais que o esperado. Às onze, nós
já estamos no bar, conversamos sobre tudo, rimos muito e um
pouco mais tarde conhecemos algumas mulheres. E Deus, que

gostosas. Abby tinha uns trinta e oito anos, ruiva e quase da minha
altura, olhos claros e boca carnuda. Uma tentação. E claro que essa

não era a primeira vez que eu a levava para a cama, nós éramos
bons nisso.

Ela também é viúva, foi uma das minhas fodas por alguns
meses, fazia tempo que não nos víamos. Era hora de tirar o atraso e

tiramos. Fomos para a casa dela, Abby tem um filho que está na

faculdade e só volta no final da semana, podíamos usar a casa toda.


Ela tinha um corpo bonito, seios médios, quadris largos, a barriga

quase chapada e o boquete mais gostoso de todo Missouri.


Depois de varias rodadas de sexo tomei um banho relaxante

e me despedi dela. Só percebi a hora quando já estava saindo de lá.


Cheguei em casa e fui direto para o meu quarto, tirei a roupa e me

joguei só de cueca na cama. Dormi como um anjo e acho que ouvi

Erick avisando que ia sair. Quando acordei já eram quase dez.

Levantei, tomei banho e vesti uma regata branca com uma

calça de moletom. Olhei meu reflexo no espelho grande do meu

banheiro e me dei conta que preciso cortar o cabelo. Depois de


anos tendo que manter os padrões militares, não consigo mais

manter o cabelo muito grande. De pés descalços, procuro meu

celular entre as cobertas e o encontro debaixo do travesseiro.

Envio uma mensagem para Erick e logo vejo que Theo já


começou a comentar sobre não lembrar de quase nada da noite de

ontem. Um fato sobre nossa relação: passamos o dia inteiro

trocando mensagens. Dois fofoqueiros, como diz Erick. Faz parte da

nossa rotina conversar a maioria do tempo e depois ele chegar de

surpresa aqui ou eu aparecer pelo bar.

Em uma das mensagens de Erick ele me lembrava da sua

amiga que vem almoçar aqui. Tinha que ligar para ele, essa hora
deve estar no intervalo.
— Oi pai. — ouço sua voz após o terceiro toque.

— Filho, preciso saber se sua amiga tem alguma restrição

com comida, tenho que fazer o almoço e estou em dúvida. — sou

sincero.

— Bia, o que você quer comer no almoço? – o ouço


perguntar, mas não escuto a resposta. — Pai, ela disse que não tem

frescura, que o senhor a surpreenda. — rio

— Bom, tudo bem. — dou de ombros. — Vou procurar algo


simples e gostoso, preciso me recuperar do álcool de ontem. —

Erick ri.

— Obrigada pelo almoço, Tio. – uma voz suave e ao mesmo

tempo rouca gritou do outro lado.

O sotaque forte da voz doce chama toda a minha atenção.


Uma bela voz para uma garota jovem. Troco mais algumas palavras

com Erick e desligo para conseguir me concentrar.

Quando desliguei fui direto para a cozinha, já pensando em

fazer o famoso e delicioso risoto de carne que é minha

especialidade. Fui até o supermercado comprar algumas coisas que

estavam faltando e logo fiquei o restante da manhã preparando

tudo. O relógio no meu pulso dizia que ainda dava tempo de descer
até a Destroyer e adiantar algumas coisas das muitas entregas que

me esperavam lá embaixo. Eu tinha quinze minutos para adiantar o


detalhe de uma entrega e voltar antes do risoto precisar ser retirado

do forno sem o queijo por cima gratinar demais.

A oficina é na antiga garagem da minha casa. Aumentei o


espaço e fiz um grande galpão, da minha casa consigo ter acesso

ao trabalho e adoro isso. Aprender a trabalhar em casa significa


colocar regras e impor limites para você mesmo, então quando
estou na oficina, estou no meu horário de trabalho, que funciona de

segunda a sexta, normalmente, quando não tenho algum imprevisto


ou compromisso inadiável.

Adianto o que consigo nesses poucos minutos e corro para a


cozinha.

— Puta que pariu. — reclamo, tirando o refratário quente de

dentro do forno.

Ouço a porta ser aberta e sei que Erick chegou pelas risadas.

— Pai, espero que não esteja pelado porque temos uma


garota nos visitando hoje — Erick grita. Limpo minhas mãos com o

pano de prato e me viro para olhá-los.

Mil vezes puta que me pariu


A Docinho está aqui. Na minha casa. Sinto-me

completamente sem saber como agir diante a garota ao lado do


meu filho.

Vitória está com um vestido florido de alças finas, ele é acima

dos seus joelhos, mas nada muito curto. Suas curvas bem
delineadas estão ainda mais lindas dentro desse pedaço de pano,

seu cabelo volumoso e cacheado está solto e levemente


bagunçado.

Vejo a surpresa em seu rosto. Ela me olhava sem acreditar e


minha vontade agora é deixar meu queixo cair, mas me mantenho
neutro.

É gatinha, fomos pegos de surpresa.

— Pai, essa é a Bia. Bia, esse é o famoso Sr. Walter. — Erick


fala, se aproximando mais de mim.

— Olá, eu sou a Vitória. Obrigada por me receber, Tio. — ela

estica a mão para me cumprimentar.

Ela fingiu que não me conhece.

Pera… Tio? Que porra.


— Seja bem vinda Vitoria, eu sou o Vino. — sorrio e retribuo
seu cumprimento. A senti estremecer com a eletricidade entre nós.
Isso linda, reaja a mim.

Se você quer jogar, Docinho, saiba que sempre sou o melhor

oponente em uma disputa.

— Obrigada. – ela sorri meiga. Diaba.

Milhares de perguntas se passam na minha cabeça, mas o


que mais se destaca é a afirmação do quanto ela é ainda mais linda
assim, simples. Se ela está mentindo para Erick sobre me conhecer,

será que já sabia desde a noite no bar que eu era pai do seu melhor
amigo? Não é possível.

— Erick, coloque as coisas de vocês no sofá e venha me

ajudar a colocar a mesa, vocês devem está com fome. — sorrio


para ele.

— Eu estou morrendo de fome. — ele não precisava nem

concordar, eu conheço minha cria.

— Quando você não está com fome, Walter? — Vitória brinca

e ele revira os olhos.

Merda, eles são íntimos.


Como nunca prestei atenção nessa garota?

Erick faz o que eu disse e nos deixa sozinhos na cozinha


enquanto vai até guardar as coisas deles no quarto.

— Tio? — pergunto com a sobrancelha erguida.

Ela sorri e dá de ombros. Seus olhos descem pelo meu corpo


sem nenhum pudor e vejo os olhos da garota do bar novamente,

cheio de chamas e ousadia. Não sou os garotos que ela deve se

relacionar, consigo ler uma mulher muito bem e já percebi que ao


mesmo tempo em que ela parece inocente, também consegue ser

uma completa perdição.

 Gosta do que vê, Docinho?

— Eu ajudo a colocar a mesa. — Vitória oferece ajuda.

— Tudo bem. Os pratos estão no armário de cima. — aponto

para a porta em que estão guardados. — Os copos estão ao lado.

Eu pego a toalha e os talheres. — indico e ela caminha até onde


mostrei, rebolando aquela bunda deliciosa.

Vitória fica na ponta dos pés para alcançar os pratos. Ela está
de tênis e me dou conta do quanto ela é pequena sem os saltos da

noite em que nos conhecemos.


Vou até a gaveta e pego a toalha, ajeito a mesa sem tirar os

olhos de Vitória. Pego os talheres e ela me entrega os pratos,


coloco os três lugares e a observo tentando pegar os copos mais

distantes. Eles ficam sempre na prateleira de cima já que Erick e eu

somos altos nunca foi um problema para nós que eles ficassem no
lugar mais distante.

Caminho até ela e encosto meu corpo no dela. Vitória

paralisa. Estico o braço e os pego com a maior facilidade. Como ela

estava na ponta dos pés sua bunda ficou empinada e agora ela está

parada exatamente onde eu a queria sexta-feira passada. Pego os


copos e me afasto no exato momento que Erick entra na cozinha.

— Sentem crianças, hora de comer.— olho para Vitória e


sinto o leve deboche em seu olhar por chamá-la de criança.

Sempre sento na cadeira da ponta, Vitória ficou na lateral, de

frente para Erick, que tinha colocado a comida entre nós.

— Então, o que te levou a escolher esse curso? — pergunto

a ela.

— Sofri um acidente com o meu pai na estrada quando tinha

doze anos e vi ele recuperar sua vida depois da fisioterapia. Me


apaixonei desde então.
— Erick comentou que seus pais são bem rígidos, eles te

apoiam? — ela sorri, mas por um segundo vejo algo em seus olhos

diminuir.

— Eles pensam muito no meu futuro, tudo que envolva meus

estudos eles me apoiam. E sim, são bem rígidos quanto a todos os


outros assuntos que envolva minha vida.

— Isso é bom até certo ponto. Sou pai e entendo um pouco


dos motivos que os levam a fazer isso. — dou de ombros. —

Quantos anos você tem?

Porque eu imaginava que você era nova, mas não dessa

forma.

— Vinte e um. — me olha curiosa, analisando minhas

reações.

A mulher desejei no meio de um bar e me deu o beijo mais


inesquecível de todos, tem idade para ser minha filha.

Merda!

— Nova, assim como Erick. — olho com ela com aviso de


que o jogo acabou. — Ainda tem muito o que viver.
— Com certeza. — sorri safada. — E o senhor? Soube que

era do exército.

Senhor é o merda do pai dela.

— Se existe alguém que ame a nação, esse é o meu pai. —

Erick brinca, mas com fundo de verdade.

Eu amo tudo que envolve os SEALs.

— Era capitão e me aposentei há alguns anos. — levanto um


pouco da camiseta e mostro as duas cicatrizes de bala. — Dois

tiros, por sorte não atingiram algum órgão. E eu tinha um filho

pequeno, foi quando decidi parar tudo e repensar se valia realmente

a pena arriscar nunca ver Erick crescer.

— Que bom que nada de mais sério aconteceu. — sorri. — E


agora, o que faz da vida?

— Tenho minha própria oficina mecânica, descobri que adoro


trabalhar com isso.

— Sério? Posso trazer o meu carro para o senhor dar uma

olhada? — pergunta inocente.

Eu juro que estou puto com essa história de senhor, há

alguns dias ela estava com a língua dentro da minha boca.


— Claro, será um prazer ajudar você. — ela entendeu o

duplo sentido no prazer.

— Pensei que o Theo vinha almoçar com a gente. — Erick

muda o rumo da conversa.

— Ele tinha algumas coisas do bar para repor, mas

provavelmente vem jantar por aqui se eu disser que não vou

aparecer no bar hoje.

— Vai chegar às quatro da manhã de novo? — brinca.

— Você estava acordado quando cheguei? — questiono


surpreso, Erick tem um sono de pedra.

— Você fez um pouco mais de barulho dessa vez. — rimos.

O restante do almoço seguiu tranquilo, conseguimos


conversar sobre assuntos diversos. Conheci um lado mais jovem de

Vitória, uma nova parte da mulher sexy da noite passada, uma parte

tão bonita quanto. Vi uma Vitória calma, diferente da atrevidinha do

dia do bar. Às vezes, ela me dava uns olhares e sorrisos safados,


mas perto de Erick ela era diferente.

— Você cozinha muito bem, obrigada pelo almoço. — Vitória

fala.
— Não precisa agradecer, adoro cozinhar. — sorrio. — Erick,

é sua vez de lavar a louça.

— Eu ia mostrar a casa para a Bia. — tenta se livrar, mas rio


e nego.

— Eu não me importo de mostrar, pode ficar com a pia. —


Vitória sorri para ele como uma amiga que usará isso contra ele.

Nos afastamos da cozinha e lhe mostro a sala. Vitória presta

atenção nas fotos que temos nas paredes. Amo a maneira como

conseguimos colecionar lembranças, então sempre estou

registrando esses momentos. Ela comenta sobre minha foto com


Erick bebê no braço, lhe mostro nossa família e ela escuta tudo com

atenção.

Nosso andar de baixo é dividido em quatro cômodos:

cozinha, sala, um lavabo e um escritório que Erick e eu dividimos. 

Subimos as escadas e seu olhar se direciona a mim pela primeira


vez.

— Então quer dizer que a gostosa do bar tem idade para ser

minha filha? — encosto na parede e lhe lanço um olhar provocativo.

— E você não pareceu ligar para minha idade na sexta,

enquanto me beijava. — cruza os braços de frente ao peito e sorri


inocente.

Porque merda eu iniciei essa conversa? Qual a necessidade,


Vino?

— Tem razão, eu deveria ter perguntado sua idade. —


concordo. — Até pessoas perfeitas acabam errando, às vezes. —

dou de ombros e ela gargalha.

— Quem iria imaginar que o cantor do Theo’s, que foi me

deixar em casa, é o famoso Senhor Walter. — sua voz é serena. —


Ou seria melhor Tio Vino?

— De tio eu não tenho nada, Docinho. — ela me olha dos pés


à cabeça.

— Realmente, você é delicioso demais pra ser tio. — adoro

sua petulância e travamos uma guerra de olhares.

— Não sei se te considero corajosa ou atrevida. — provoco.

— Nenhum dos dois, Tio Vino, eu sou sincera. É diferente.

Eu não deveria estar tendo uma conversa dessas com essa

garota depois de ter descoberto quem ela é. Mas jogar com ela me
causa uma sensação nova, boa. Uma disputa que acabará com nós
nunca mais nos vendo ou com ela na minha cama.
— Me responda uma coisa. — ela me olha com atenção,
sempre com um sorrisinho preso no canto de seus lábios. — Eu sou
o cara que você não para de falar para o Erick?

Ela ri e não posso evitar o pensamento do quanto ela é

bonita.

— Porque a curiosidade? — claro que ela não responderia de

cara.

— Perdeu a coragem de responder? — devolvo com uma


pergunta porque sei que é dessa forma que ela se sentirá desafiada.

Vejo seus olhos mudarem e sei que acertei no ponto certo.

— Eu não preciso esconder nada, Tio Vino. Era sobre você


sim.

— E o que você falou sobre mim? — seguro seu cotovelo e a


puxo para mais perto.

Eu só posso está perdendo a sanidade. O que Erick falaria se

subisse os degraus e me visse flertando com a amiga dele.

— Ele te contou tantas coisas, não falou o principal? —


provoca.
— Vamos lá, Vitória. — quase sussurro. — Você acabou de
dizer que não tem nada a esconder.

— Eu falei que aquele cara era encantador, mas não homem

o suficiente para me levar para cama. — me olha inocente, mas o


veneno escorrendo pela boca.

— Ele é homem o suficiente para muito mais que isso. — nos


aproximo ainda mais.

— Sério? Eu acho que não, sabe como é tio Vino, a idade. —


ela tenta se afastar de mim, mas sou mais rápido e a imprenso na

parede.

— Você gosta de provocar, mas não sei se aguenta fazer


mais que isso. — nossos rostos estão quase colados.

Posso sentir seu corpo pequeno por toda a extensão do meu.


Ela parece capaz de quebrar se eu a segurar com muita força, mas

quando abre a boca, é capaz de derrotar qualquer um.

— Eu? — franze as sobrancelhas. — Até que me provem o

contrário, não posso ter outra opinião. — o atrevimento no seu olhar


é explícito.

Consigo perceber sua respiração acelerando e sei que a


minha não está tão diferente. Esse é um dos efeitos que ela tem
sobre mim, ainda mais quando percebo que nos encaixamos tão
bem.

Ela sabe como me fazer perder a cabeça.

— Não brinque com fogo, Vitória. — aviso.

— Eu sempre adorei me queimar. — sorri.

Provocadora.

— Depois não diga que eu não avisei. — começo a soltá-la

da parede, mas é a vez dela de me manter ali. Suas mãos delicadas


seguram meus braços.

— É a minha vez de relembrar se você é doce. — em um


movimento rápido suas mãos sobem até minha nuca e puxa o meu
pescoço para baixo atacando meus lábios.

É o mesmo gosto viciante da noite que nos conhecemos. O

beijo cheio de desejo e calor da outra vez, mas agora mais íntimo,
porque nossas bocas já se conhecem e sua língua sabe trabalhar
muito bem para me enlouquecer. Minhas mãos vão para a sua fina

cintura e a colo ainda mais ao meu corpo. É um encaixe perfeito,


como as peças de um jogo se encaixando.
Eu senti naquele momento que seríamos como um quebra

cabeça de mil peças, daqueles que você passa meses para finalizar.
Que a caixa vem cheia de pecinhas pequenas e é desesperador
quando você olha, mas aí aceita o desafio e começa a encaixá-las.

Nesse caso, eu sou o quebra cabeça, com as mil peças soltas


esperando para ser montado e ela será a pessoa que aceitou me
completar.

Será que eu quero que ela me monte? Será que ela quer me

montar? Em todos os sentidos…

Isso soa tão errado para mim, ela é tão jovem. Poderia ser

minha filha e eu não deveria gostar do seu atrevimento ou deixá-la


me beijar. Mas a língua afiada, seu cheiro e, por Deus, o seu gosto

doce estão me fazendo perder os sentidos.

Porra, eu não sou nenhum adolescente para cair aos pés de


uma garota que acabou de conhecer.

Isso não vai dar certo, eu sei disso, mas não quero parar.
Eu acho que meu coração parou naquele momento. Ele
estava ali, naquela cozinha. O cara que não sai da minha cabeça há
dias. Foi tão estranha e rápida a forma como tudo aconteceu na
sexta, fiquei encantada com a sua voz, como se ele tivesse me

enfeitiçado. Adorei me sentir desejada por ele, mas ainda mais, a


forma como ele parecia achar incrível tudo que eu falava. A sintonia

que tivemos foi diferente de tudo que já tive com outra pessoa.

Nunca fui de me apegar com facilidade, nem de confiar em

homem, mas naquela noite ele me fez esquecer todos os meus


receios. Eu só pude ser eu mesma, por isso estou estática olhando

para a delícia de homem à minha frente. Pensei que nunca mais

encontraria ele de novo.


Vino está ainda mais bonito do que na outra noite, acho que o

jeito despojado o deixa ainda mais sexy, e eu achava que isso não
era possível. Seus pés descalços são bem mais convidativos do que

naquele coturno militar e com certeza seu corpo é mais tentador

sem aquela camisa de mangas cobrindo suas tatuagens.

Quando Erick falou sobre o almoço em sua casa, eu não

imaginava que seu pai seria o cara que eu quis realizar o meu

fetiche de transar dentro de um carro.

Você deve achar que eu sou uma pervertida, mas eu não


sou.  A verdade é que eu não vou gaguejar quando estiver perto do

cara que eu estou afim, nem ser uma idiota quando ele estiver

próximo. Quando ele me tocar, não vou parecer uma jovem que
nunca foi tocada. Eu sou apenas uma garota normal de vinte e um

anos, que talvez tenha um pouquinho de falta de juízo e que perdeu

o filtro entre o cérebro e a boca. Uma mulher que vive seus desejos

em uma sociedade que tenta reprimir isso o tempo inteiro.

Vino não é mais um garoto, sei como posso agir com ele.

Homens não gostam de garotas fingidas, eles passaram a vida toda

procurando um desafio, algo novo. Tiveram mulheres de todos os


jeitos, que lhe ofereceram todos os tipos de sentimentos e eles são
acostumados com isso. Vino já teve tudo isso e agora ele precisa de
algo que o provoque. Eu serei o seu desafio.

Nunca fui muito atrevida, mas gosto das faíscas que seus

olhos mostram quando o enfrento e isso me faz quere-lo ainda mais.

Não quero apenas seduzi-lo, quero algo maior. Desde o dia


do bar, vi em nós uma coisa grande, e depois que o destino o

colocou no meu caminho novamente é como se o que eu acreditei

estivesse se confirmando.

Quando entrei naquela casa e o vi na minha frente, eu sabia

que tinha que sentir seu gosto de novo, estava viciada e precisava

senti-lo.

Quando o beijei, esperei ele recusar. Vino tem toda força para

me empurrar, ele poderia parar, mas não, ele correspondeu. Ele me

queria e ali eu soube que não pararia mais, eu o teria.

É quinta, quase final de semana e eu agradeço por isso.

Estou exausta de tanto estudar, não tive tempo de nada. Não sou

uma aluna exemplar, apenas faço o que é preciso para me manter

na faculdade e ser uma boa profissional futuramente.

Quando o último toque soou pela faculdade, eu recolhi

minhas coisas, jogando-as dentro da bolsa e caminhei para fora da


sala. Minhas calças jeans e o cardigã rosa que eu usava hoje não

fizeram efeito contra o frio do ar-condicionado. Às vezes queria


poder explodir aquele negócio, mas quando lembro do calor que

estamos passando nessa época do ano, prefiro deixá-lo lá.

Caminho pelos corredores externos da faculdade a procura


de Naya, mas não a vejo. Se não a encontrar irei para casa sozinha

e já imagino as bolhas que essa sapatilha irá deixar nos meus


dedos, se eu for caminhando. Carros de aplicativo demorariam
horrores para aceitar corrida a essa hora, porque a maioria das

pessoas que trabalham estão indo para o horário de almoço. E os


ônibus que vão até  minha casa só saem da universidade daqui a

uma hora.

Atravessei o gramado cumprimentando alguns alunos e algo

me chamou atenção, um carro vermelho parado no acostamento.


Podia ser apenas coincidência, mas não era tão comum uma Ford
F-150 Platinum do ano ser vista pelas ruas da cidade, apenas o

dele. O carro dos meus sonhos eróticos desde aquele dia no Theo’s.

Rústico e selvagem. Bem a cara do dono.

Com um sorriso estampado no rosto, ajeitei a alça da bolsa

no meu ombro e caminhei até ele. Percebi que havia garotas


babando por ele, eu as entendo.

Os quarenta anos mais bem distribuídos da existência, com


uma cara de vinte e nove, Vino esbanja tesão por onde passa. Deus
foi generoso nos genes desse homem.

— Olha quem eu achei perdido por aqui. — sorrio ao me


aproximar dele.

Vino está encostado na lateral do carro, olhos atentos no

campus e celular na orelha.

— Boa tarde pra você também Vitória. — fala sério.

— Boa tarde Tio Vino, perdão pela minha falta de modos, o

senhor pode me castigar se quiser. — ele tenta, mas não consegue


evitar gargalhar.

— Você não tem jeito, garota. — volta a digitar algo no


celular.

— E você adora isso. – sorrio e seus olhos descem em um

movimento rápido dos meus olhos a minha boca e depois olhos de


novo.

Balança a cabeça como se estivesse tentando voltar a se


concentrar.
— Você viu o Erick? — pergunta. — Estou tentando falar com
ele, mas o celular dele chama até cair.

— Não temos essa aula juntos, a última vez que o vi foi no


intervalo.

— Estou a vinte minutos parado nessa porra de calçada


esperando ele e nada. — Preciso dizer que ele fica mais sexy

quando está com raiva?

— Costumamos nos ver na saída, mas hoje não aconteceu.


Estou tentando encontrar minha carona também. — olho em volta

para ver se avisto Naya.

— Vou matar aquele garoto. Odeio atrasos. — ele está


impaciente.

Lista de coisas sobre Vino Walter (e que talvez possam me


ajudar a provocá-lo):
1)    Odeia atrasos.

Anotado!
— Ele deve está resolvendo alguma coisa, ele não é de se

atrasar. – Vino me olha com deboche e ri.

— Você realmente conhece o Erick? — pergunta irônico. —

Está para nascer alguém que se atrase mais do que aquele garoto,
mas nunca comigo, sempre o coloquei na linha em relação a
horários quando me envolve. – Durão.

2)    Gosta de impor regras.

Anotado!

— Ele nunca se atrasou comigo. — dou de ombros.

— Deve ser porque você não tem um pau no meio das


pernas. Ele costuma ser pontual com garotas.

3)    Escroto.

Anotado.

Vejo o cabelo bagunçado de Erick surgir entre as pessoas,


ele está correndo em nossa direção, os olhos assustados e as

bochechas coradas. É impossível não achar engraçado.

— Pai, me desculpe, eu perdi a hora completamente. Sinto

muito. — fala de uma só vez.

— Você estava beijando alguém. — Vino afirma e a boca de

Erick o denuncia. — Porra, você me fez esperar quase meia hora


porque perdeu a hora fodendo com alguém na faculdade?

— Eu...Eu... — gagueja e olha pra mim. — Oi, Bia. — me


abraça.
— Sei lá onde você estava com essa boca, não me beije. —

brinco com ele quando vem beijar minha bochecha.

— Ela estava na boca de outra pessoa. — responde sorrindo.

— Menos mal, pelo menos era só na boca. – digo ele ri. –

Mesmo assim, não quero a saliva dela no meu rosto, não sei onde
ela estava com a boca antes de te beijar. — Vino ri e Erick faz uma

careta.

— Só você mesmo, Bia. — ele ri.

— Admita, eu sou bem melhor do que qualquer amigo

homem que você tenha. — dou de ombros, convencida.

Ele sabe que é verdade.

— Não deixe de levar o seu carro para o meu pai dar uma

olhada. — toca no assunto que conversamos mais cedo.

— Erick já para dentro desse carro, eu estou puto com você.

— Erick se despede e caminha para o seu lugar no carro.

— Nos vemos mais tarde, Tio Vino. — pisco para ele e sorrio
inocente.

O sorriso no canto de seus lábios mostra o quanto ele quer


me provocar de volta, mas não tem coragem de fazer nada na frente
de Erick. Nem eu, afinal, não era para eu estar pensando em

milhares de maneiras de como levar o pai do meu melhor amigo

para a cama.

Eles somem da minha vista e vejo o carro de Naya buzinar

para mim mais na frente.

— Acho que a sua boca inchada explica a boca inchada do

Erick.— falo chocada quando sento no banco do passageiro.

—  Eu não sei como isso aconteceu, mas aconteceu. — fala


empolgada e rio. — Eu estava saindo da sala e ele me puxou para o

vestiário, falou algumas coisas e me beijou.

— Ahhhhh. — grito em comemoração. — Não acredito que

ele teve essa coragem. — comemoro. — Eu vou interrogar ele para

saber de tudo.

— Eu não sei. Mas quando ele olhou com aqueles olhos


lindos e aquela boca desenhada e disse: eu preciso fazer isso ou

vou enlouquecer. – ela tenta imitar a voz dele me fazendo rir. — E

me beijou, eu quase morri.

— É estranho perguntar isso, porque eu não sei se quero

saber se o meu melhor amigo beija bem, mas como foi?


— Eu estou em chamas até agora. O garoto tem uma pegada

que só Jesus. — Deve ter puxado ao pai.

Já contei para Naya que o homem que conheci no bar era o


pai de Erick, ela disse que realmente achou seu rosto familiar no

dia, mas não se atentou. Ainda me pergunto como não percebi as

semelhanças, porque agora que descobri vejo que olhar para Erick

é como estar vendo uma versão mais nova de Vino.

Avisei a ela que levaria meu carro para a Destroyer e faria


todas as orações para que o motor aguentasse até lá. Ganhei ele de

presente quando passei na faculdade, já era de segunda mão, então

não precisou de muito para começar a aparecer alguns defeitos.

Mas não me importo, é nesse carro que vivo minhas maiores


aventuras, não posso ficar sem ele.

Naya me deixou em casa e fez com que eu prometesse que

lhe contaria sobre tudo quando chegasse da oficina.

O cansaço me venceu e dormi a tarde inteira, acordei no final

da tarde e corri para tomar um banho. Vesti um short jeans, meu

vans clássico e uma blusa de mangas, alcancei minha bolsa na


penteadeira e corri para o andar de baixo. Avisei aos meus pais que

levaria a Srta. Hepburn[4] para o conserto. Isso, se ela ligasse.


Tentei uma, duas, três, quatro e nada. Na quinta vez, quando

o meu pai resolveu empurrá-la, consegui ligar e não podia desligar

até chegar ao meu destino. Fui o caminho inteiro implorando para

que os sinais não estivessem fechados e atravessei alguns quando


já estava amarelo, mas consegui chegar. Levei mais tempo do que

normalmente deveria, mas finalmente cheguei. Estaciono em frente

ao portão da oficina e o nome Destroyer em letras grandes chama


minha atenção.

— É isso que você chama de carro? — saio do meus

devaneios quando ouço a voz potente vindo de dentro da oficina.

Vino está com a calça jeans preta de mais cedo e uma regata

da mesma cor. Divino, tentador, sedutor.

— Qual o problema com o meu carro? — pergunto.

— Isso é uma barata, não um carro. — se aproxima.

— Não ofenda a Srta. Hepburn. — dou duas batidinhas no

capô e sorrio.

— O que? Seu carro tem um nome? — gargalha. — Você

realmente é uma criança. Coloque-o para dentro. — manda.

— Ela provavelmente não liga mais. Foi um sacrifício trazê-la

aqui. — explico.
— Tenta ligar e eu empurro. — diz e faço exatamente isso.

Entro no meu New Beetle e tento ligá-lo, na terceira tentativa

ele pega e consigo colocá-lo dentro da oficina. Vino começa a pegar


algumas ferramentas na sua bancada, escolhendo o que vai ser

melhor para começar a desvendar o que está acontecendo com o

meu carro.

Ele me pergunta quais os problemas que tenho percebido e

lhe digo tudo. Seu ar profissional e concentrado o deixa ainda mais

bonito. Ele começa a trabalhar no motor e sei que deveria entrar e ir


atrás de Erick, mas é muito mais divertido assistir aqueles músculos

se contraindo a cada movimento.

— Porque você chama o seu carro de Srta. Hepburn? — ele

quebra o silêncio.

— Sou apaixonada por Bonequinha de Luxo desde os doze

anos. — seus olhos param em mim por um momento e vejo algo


diferente neles. Só não sei o que é.

— Não me diga que tem um pôster na parede. — provoca.

Ele quis me comparar a uma adolescente, o ruim para ele é


que isso não vai me fazer desejá-lo menos, só me prova que ele

está tentando mentir para si mesmo.


— Com a foto oficial da capa do filme. – ele me olha mais
uma vez, sorri e volta a se concentrar no carro.

Deixo-o trabalhar em paz e vou até o quarto de Erick, está

ficando tarde e preciso voltar para casa logo, Vino não vai terminar o

conserto agora. Pergunto sobre o beijo em Naya e ele diz estar


confuso, então conversamos sobre todas as chances que teria de

dar certo e todas que poderiam dar errado. Deixo claro para ele que

acredito que eles formariam um lindo casal e me despeço.

Claro que vou ser a fã número um desse casal!

Erick é calmaria, tranquilidade e Naya é um sopro de vida,

adrenalina. Eles são a junção perfeita, o equilíbrio exato.

Desço para a oficina novamente e Vino me confirma que não

conseguirá finalizar hoje.

— Vou cuidar dela pra você, deve ser coisa simples, mas
quero olhar com atenção para ter certeza.

— Quando posso vir buscar? — questiono.

— Entrega a domicílio. — limpa as mãos em um pano e larga


ele na bancada.
— O mecânico vem de brinde? — provoco, com o tom de
seriedade.

Ele me observa e sei que sua cabeça está travando uma


guerra com sua emoção. Já percebi que ele adora corresponder às

minhas provocações, isso faz uma chama surgir em seus olhos, e


eu posso vê-la querendo surgir por trás daquelas duas piscinas
azuis. Mas ele respira fundo e sei que seu lado racional ganhou

dessa vez.

— Você não pode ter uma conversa sem se jogar em cima de

mim? — me olha com as mãos na cintura, como se estivesse


chateado.

— Me leve pra jantar e teremos uma conversa normal. —


rebato tranquilamente. — Um jantar. Sem piadinhas, sem flertar,

sem nada. Apenas duas pessoas se conhecendo.

Concluo antes que ele possa negar.

— Porque eu te levaria pra jantar? — me aproximo dele, mas


apenas o suficiente para que ele pense que irei lhe beijar.

Toco seu peito e meu dedo brinca com seus músculos por
cima da camisa.
— Porque eu não saio da sua cabeça, assim como você não
sai da minha. — falo quase como um sussurro.

O nosso segredinho sujo.

— E porque você acha isso? — ele não impede meu toque.

— Porque é o que o seu corpo diz. — afirmo.

Caminho ao seu redor e beijo a tatuagem em seu ombro,


uma rosa de traços finos. Depois, beijo suavemente sua clavícula e

ele expira com força.

— E o que o seu corpo diz? — questiona com a voz rouca.

— Essa é fácil, que quer você. — nossos olhos se

encontram.

— Você é a porra de uma tentação. — ele segura meus


braços e me afasta do seu corpo. — Um jantar, sem provocações,
brincadeirinhas e besteiras. É isso que você quer? — confirmo com

a cabeça. — Ok, vamos ter um jantar.

— Pensei que isso seria mais difícil. — provoco.

Ele caminha para o outro lado da oficina e começa a mexer

em algumas coisas de costas pra mim.


— Quanto mais rápido isso acabar, mais rápido me livro de
você. — diz, me fazendo rir.

— Tio Vino, a quem está querendo enganar? — caminho até

ele.

Coloco minhas mãos dentro da sua regata e as levo até para

os gominhos do seu peitoral, dou um beijo nas suas costas e sinto


sua pele arrepiar.

— Você também me quer. — afirmo.

Em um movimento rápido, Vino se desfaz do meu toque e me

prende no capô de um dos carros. Seu corpo quase entre minhas


pernas e seu toque firme em mim.

— Se você quer brincar, nós vamos brincar, porra. Mas se


você sair quebrada disso, não diga que eu não avisei.
Estacionei o carro em frente a sua casa, Vitória morava em
um bairro de classe média, sua casa parecia ser um pouco menor
do que a minha. Paredes brancas, com várias janelas, uma varanda
no andar de baixo e um jardim com árvores enormes, uma típica

casa americana.

Buzinei e desci para esperá-la. Pouco tempo depois ela


apareceu e estava mais linda do que o normal. Seus cachos foram

substituídos por fios lisos que quase chegavam a sua bunda — não

posso nem pensar naquela bunda agora —, sua cintura estava


marcada por um vestido rosa e saltos altos delinearam suas pernas

grossas.

Analisei cada parte do seu corpo, os detalhes da sua roupa,

seu lindo rosto com uma maquiagem suave, mas a boca marcada
com um batom vermelho vivo. Quase fiquei duro só de olhar,

imagens dos seus lábios ao redor do meu pau eram divinas.

Vamos lá Vino, se controla, isso é só pra deixar claro que ela

não vai ficar na sua vida.

—  Cuidado pra não babar, tio Vino. — ela fica na ponta dos

pés e beija minha bochecha.

— Você está linda! — afirmo e ela sorri.

— Você é sempre uma ótima visão, mas acho que roupas


pretas favorecem você. — ela me olha dos pés à cabeça.

Deus, esses olhos em chamas vão me levar ao inferno.

— Pare de me olhar assim. — repreendo-a.

— Assim como? — se faz de desentendida.

— Como se fosse me comer. — abro a porta do carro para


ela entrar.

Vitória continua de pé na minha frente, segurando a alça da

bolsa com a face mais angelical que alguém poderia ter.

— Mas essa é a intenção. — da de ombros.

Diaba.
— Vitória. Carro. Agora. — ela sorri, porque sabe que venceu
e entra no carro.

Dou a volta e ocupo o lado do motorista dando partida. O

cheiro dela já está por todo lugar e isso me faz pensar em quão ruim
foi a ideia de fingir que esse encontro não iria me afetar. Estou

tentando me enganar porque sei que o certo seria afastá-la, mas no

fundo não quero que aconteça.

— Pensei que não entraria de novo nesse carro. — ela

quebra o silêncio.

— Por quê? — ligo o rádio do carro e deixo a música tocando

baixa.

— Da última vez que estive nele você era apenas o cantor

gato com quem eu queria dormir, agora você é o cantor gato com

quem eu quero dormir e pai do meu melhor amigo.

— Nós tínhamos combinado sem flertes. — a repreendo.

— Não estou flertando, estou sendo sincera. — rebate e

sorrio.

— Você é sempre bem sincera, pelo o que percebi.


— Odeio mentiras e muita enrolação não é comigo, gosto de

ser direta em tudo que faço.

Ela sorri e me pego pensando em como Vitória é linda. Seu


corpo exala confiança, mas pela forma como mantém a bolsa no

colo, sei que está ansiosa. Consegue disfarçar muito bem, mas eu
adoro a maneira como ela é corajosa, principalmente porque é sem

esforços, faz parte dela, não deixa o melhor lhe paralisar.

— Aprecio a parte de odiar mentiras, primeira coisa que

temos em comum. — confesso.

— Temos outra coisa em comum. — ela fala olhando pela


janela.

— O quê? — espero que conclua.

— Não posso dizer, você vai achar que estou flertando com

você.

Sou pego de surpresa por sua resposta e gargalho.

— Você é engraçada, mais uma coisa que aprecio.

— Vamos lá, Tio Vino. Eu sou muitas coisas a mais do que


engraçada. — me olha sugestiva.
Mal sabe ela que tenho uma lista inteira de adjetivos perfeitos

para ela e que engraçada é um dos últimos da lista, porque tem


outros que se sobressaem bem mais antes desse.

— Concordo, mas se eu falar, você vai achar que estou

flertando com você. – ela gargalha me fazendo sorrir.

— Eu sabia que uma hora você deixaria o personagem de

lado e mostraria o verdadeiro Vino Walter. — me acusa com um


sorriso no rosto. — Estava esperando você tomar jeito de homem e

me corresponder de verdade. Eu sei ler suas entrelinhas, mas


comigo você sempre terá que dizer as palavras. — me olha
galanteadora.

Sou salvo pelo gongo e finalmente chegamos. Desço do


carro para abrir a porta para ela e entrego a chave ao manobrista.
Caminhamos até a entrada e digo que as reservas estão em meu

nome.

— É engraçado, você com essa cara de Shrek em uma


versão bonita, abrindo a porta do carro para uma donzela. — sorrio.

— Shrek em versão bonita?

— É que você é grandão, forte, cabelo curtinho e cheio de


tatuagens. Um ogro, mas também uma ótima visão.
Nos conduziram até nossa mesa e somos guiados até a parte
que escolhi. Puxo a cadeira para ela e ocupo o lugar de frente a ela.
Um garçom veio nos entregar os cardápios e o reconheço, seu pai

conserta o carro comigo há muitos anos. Ele nos cumprimenta e


logo se afasta.

— Você já veio aqui outras vezes? — questiona, folheando o

cardápio.

— Trouxe Erick uma vez, nós adoramos a comida e o

ambiente é tranquilo. — observo-a por cima do cardápio.

— Você costuma levar mulheres para jantares?

— Normalmente, elas são a refeição. — provoco e seu


queixo cai me fazendo gargalhar.

— Mesmo a sua resposta sendo de um babaca, gosto


quando sorri assim. — olho-a intrigado. — Você parece mais
tranquilo, mais jovem, quase como se não tivesse milhares de

preocupações.

Ela é observadora. Mesmo sendo jovem, Vitória tem uma

maturidade só dela. Sua coragem mostra isso. A maneira como não


tem medo de falar o que sente e o que quer, sem se importar com o

que vão pensar ou falar. Ela é real.


— Mais jovem? — ergo a sobrancelha.

— Você parece ser uns dez anos mais novo que a sua idade
e sabe disso.

— E isso é bom? — lhe questiono mais uma vez, tentando


entender o que se passa nessa cabeça rápida.

— Me diga você. Pelo menos quando as pessoas nos verem

juntos na rua não vão saber que você tem idade pra ser meu pai,

Tio Vino. — debocha sorridente.

— Minha idade é um problema pra você?

Ela revira os olhos com minha pergunta e seguro o sorriso


para que ela não veja. Seus olhos se prendem aos meus por um

tempo e ela parece estar me analisando.

— Você tem algum problema? — questiona séria. — Eu

estou praticamente me jogando de pernas abertas na sua cara e

você está perguntando se eu tenho problema com a sua idade?


Acho que sabemos muito bem que isso não impede nada.

Decido não dar continuidade ao assunto, então faço minha


escolha e ela me pede para surpreendê-la e lhe indicar um prato.

Assim descubro que ela é uma amante de frutos do mar, massa e

uma boa taça de vinho.


— Quero a torta de Brownies de chocolate com pimenta. —

responde quando lhe pergunto da sobremesa. — Sempre olho a


parte dos doces antes, são a minha parte preferida.

Nada é mais doce do que a boca dela.

— Chocolate com pimenta? — é o meu favorito.

—  Minha mãe sempre foi muito preocupada com nossa


alimentação, mas a minha avó começou a burlar isso quando eu

tinha uns oito anos. Então saímos para fazer compras uma vez e ela

me levou até uma cafeteria e disse que eu poderia escolher o que


quisesse. Então eu vi uma torta de chocolate com pimenta e se

tornou o meu preferido.

— O meu e o da… — paro e ela sorri, porque sabe o que eu

iria falar.

— O da Lilian? — pergunta, mas já sabe a resposta. — Erick

me falou isso quando lhe contei essa mesma história quando nos
conhecemos. Ele não fala muito dela, mas sempre compartilha uma

história ou outra.

— Eu imaginei que soubesse algo sobre ela, mas não esses

detalhes. — sorrio sem graça.


Sempre que toco no nome de Lilian sinto paz, como se ela

estivesse me abraçando. Já fazem muitos anos que a perdi e é uma

dor que nunca irei esquecer, mas que não me assombra mais. Hoje
ela se tornou o símbolo das nossas melhores lembranças e nosso

anjo da guarda.

— Só trocamos algumas figurinhas. Quando perdi minha avó

também sofri muito e acho que Erick sente mais falta de ter tido a

chance de conhecê-la do que de realmente tê-la perdido.

— Sempre foi assim e por mais que eu tenha tentado ser

tudo que ele precisou, nunca vai ser do mesmo jeito de como seria
se ela estivesse aqui.

— Bom, o meu melhor amigo é um cara incrível e sei que

isso aconteceu porque você foi o melhor pai que ele poderia ter. —

seus dedos brincam com os meus sobre a mesa. — Compartilhe

mais sobre ela com ele, talvez isso faça bem para vocês dois. Mas
compartilhe aquelas coisas que apenas você sabe, histórias

especiais, de momentos que façam ele sentir que estava lá também.

Eu vou me foder com essa garota!

Sorrio para ela e desvio o olhar do seu, porque não consigo

mais travar uma guerra com ela quando parece que aquela
imensidão verde está lendo minha alma. Seu jeito meigo e doce

junto com essa língua afiada e esse lado atrevido, descarado e


safado dela me encantam. Alguns minutos atrás ela estava falando

sobre transar comigo, depois foi doce e agora está me conselhos.

Ela realmente existe?

Me sinto leve perto dela. Seu jeito extrovertido me contagia

inteiro. Nada disso deveria acontecer, eu não tenho mais idade de


me envolver com garotinhas, mas e se essa mulher for o que falta

em mim?

— Me fale sobre o seu futuro. — pede.

— Eu não costumo planejar muitas coisas, acho que o futuro

de Erick é minha prioridade agora. — dou de ombros.

— Por quê? — me olha intrigada.

— Eu já vivi coisas que ninguém no mundo deveria precisar

viver, acho que já fiz de tudo um pouco e agora não tenho mais

muito o que fazer. — dou de ombros.

— Isso é sério? Vino, o mundo é enorme, não é possível que


não tenha sonhos. — fala quase com indignação.

— Acho que conquistei tudo que pretendi. Tudo que um


homem na minha idade quer é ser bem sucedido, ter uma família,
fazer o que gosta e ter tido uma juventude de se orgulhar. Eu tenho

tudo isso.

— Receba um conselho de uma jovem mulher. Temos até o

dia da nossa morte para conquistar o mundo, Vino Walter. Sempre

devemos ter algo novo para conquistar, seja algo simples ou algo
imenso.

Sorrio para ela e tento desviar os olhos dos seus lábios


desenhados, porque tudo que quero fazer agora é beijá-la. Porque

ela tinha que ser tão nova? O diabo só pode estar me testando

enviando essa garota para minha vida.

— E de que maneira quer conquistar o mundo? — questiono.

— Primeiro, conhecendo tudo que ele pode me oferecer.

Acho que sair do país, conhecer novas culturas, viajar muito. Amo a
minha profissão, então usá-la para cuidar de pessoas que não tem

condições de buscar tratamento. Comprar uma Harley-Davidson,

pular de paraquedas, casar e encontrar o amor da minha vida.

— Eu tenho uma Harley. — seus olhos brilharam.

— Se pensou que iria se livrar de mim com esse jantar,

depois de me dar essa informação está muito enganado. Eu preciso


de um passeio nessa moto.
Tento não pensar nela montada na garupa da minha moto ou

minha calça vai me incomodar a noite inteira.

— Prometo pensar nisso com carinho.

Seus olhos brilham para mim e é impossível não sorrir para a

mulher encantadora à minha frente.

Nossos pratos chegam e começamos a comer. Sou um


apreciador de uma boa culinária, mas pelo som de satisfação que

saiu da sua boca de Vitória — e foi direto à minha espinha causando

sensações por todo o corpo — ela tinha gostado ainda mais.

Conversamos sobre um pouco de tudo. Ela me contou sobre

sua família, seus estudos, o quanto adora correr, sobre amar a


natureza e ser uma leitora compulsiva. Descobri que café é sua

bebida favorita, que sua música favorita é Sweet Caroline e que ela

entrou na faculdade com honras por ser líder de torcida durante o

colegial. Ela é uma caixinha de surpresas, sabe conversar sobre


questões políticas como uma incrível defensora de seus direitos,

assim como adora desenhos animados e deseja ser livre de todas

as amarras que ainda lhe prendem.

— Adorei nossa noite. — confesso.


— Você tem que ser mais aberto a novas experiências, Tio
Vino. — rio da intenção da sua fala. — Fico feliz que tenha sido bom

para você também, afinal, eu te obriguei a estar aqui.

— Vitória, de uma coisa tenha certeza, se eu não quisesse

estar aqui essa noite, eu não estaria. — afirmo.

— Sinceramente, cheguei a pensar que você nem apareceria.

— ri. — Não me entenda mal, mas, talvez, se eu fosse você, estaria


correndo de mim. — é a minha vez de rir.

— No início, tentei me convencer de que aceitei apenas para

depois afastar você, mas eu queria vir. Saber se você seria mais a

mulher do bar ou a garota da universidade. — ela apenas sorri me

olhando e balança a cabeça.

— E chegou a qual conclusão? — questiona.

— A junção perfeita das duas.

Somos servidos de mais vinho e da sobremesa. Estava tudo

maravilhoso, rimos e conversamos por um bom tempo até que a


ficha caiu e me dei conta da hora. Preciso deixá-la em casa.

E não gosto da sensação de ter que deixá-la ir.


Minha mão está na base da sua coluna e posso sentir o
começo da curva que leva a sua bunda. Caminhamos em silêncio
até o carro, abro a porta para ela, vou para o banco do motorista e

pegamos o caminho para casa. — Nenhum de nós queria encerrar a


noite agora. — A viagem não é muito longa, assim não demora
muito para que eu estacione em frente a sua casa.

— Obrigado pela noite de hoje. — digo ao estacionar. — Há

muito tempo não saia assim.

— Foi tudo incrível, obrigada por tudo. — sorri. — Mas não

esqueça do meu passeio de moto.

— Tenho certeza que você não me deixará esquecer.

Sorrimos e o silêncio toma conta do carro. Nossos olhares


travam uma guerra, mas logo ela olha para minha boca e não
consigo evitar de desejar aqueles lábios doces nos meus. Esse foi o

meu erro, porque o meu ponto fraco é essa língua afiada e esse
sorriso fácil. Ela estava sexy pra caralho.

— Posso te pedir uma coisa? — fala baixinho. — Mesmo que

você não aceite, vou fazer mesmo assim. — rio.

— Peça. — quase ordeno.

— Me beija.
Ela quase não consegue concluir, porque minha mão envolve
seu rosto e eu tomo sua boca com sede. Meus dedos fazem carinho
na sua pele, desço minha mão até sua nuca e ela me dá espaço

para beijá-la. As mãos de Vitória alcançam meus braços, e seu


toque me desperta ainda mais.

Aprofundo o beijo e me sinto caindo em seu encantamento

mais uma vez. Ela é viciante! O beijo se torna urgente e cheio de


desejo, Vitória traz seu corpo para o meu colo e acaba batendo na
buzina nos fazendo rir.

Mas isso não atrapalha o momento, porque no segundo


seguinte eu coloco o banco mais para trás e ela rebola sobre meu

colo. Eu estou pronto desde que a peguei em casa horas atrás.

Suas mãos estão no meu pescoço e as minhas na sua fina


cintura, passeando entre a bunda deliciosa e a base do seu quadril.
A imagem dela dentro desse carro me cavalgando, mesmo com

todas as peças de roupa no lugar, é sem explicação. Sem modéstia,


afasto o tecido do seu vestido e libero um dos seus seios perfeitos
de dentro daquele vestido.

Seus seios são a porra mais perfeita que já vi, cheios e

prontos para receber tudo que eu imaginar fazer com eles. Levo um
deles à boca e Vitória geme rebolando ainda mais sobre mim.

Com a outra mão aperto sua bunda e suas unhas afundam


em meus ombros. Ela afasta o tecido que cobria o outro seio,

oferecendo-o a mim e isso me deixa louco. Afasto sua minúscula


calcinha e sinto o quanto ela está pronta para mim. Quente,

molhada e sinto meu pau se apertar só em imaginar entrar nela.


Deus, eu já estou duro como uma rocha.

Ela morde meu pescoço enquanto estimulo seu ponto mais

sensível. Quando estou quase chegando na sua entrada um carro


passa buzinando  e em alta velocidade ao nosso lado me trazendo

de volta a realidade.

O que porra eu estou fazendo?

Estamos dentro de um carro, parados no meio da rua, quase


em frente a casa dela. Todos os vizinhos podem nos ver, qualquer
um que passar aqui poderia ver a cena. Não, eu só posso estar

enlouquecendo.

— Vitória. — afasto seus lábios dos meus. — Eu não posso. 

— O quê? — volta a me beijar e a impeço antes que perca

completamente o controle.

— Não podemos continuar. — ela me olha sem entender.


— Você só pode estar de brincadeira! — a raiva em seu rosto

é clara. Ela espera mais alguma resposta minha, mas não digo
nada. — Que porra, isso é sério?

— Desculpe, não posso.  — passo as mãos nos olhos


tentando recobrar minha consciência com os seios dela ainda quase

no meu rosto.

— Não pode o caralho. — ela sai de cima de mim voltando ao

banco do carona, pega sua bolsa e ajeita o vestido. Respira fundo


passando as mãos no cabelo. Abre a porta e sai, mas antes de
fecha-la me olha e fala – Ou eu sou muito burra ou muito idiota.

Talvez os dois, mas isso não acabou, senhor Walter. — ela fecha a
porta e caminha para a casa.

Dou alguns socos no volante e respiro fundo. Que filho da

puta é você, Vino Walter.

Preciso de uma bebida ou talvez um soco.


Faz exatamente duas semanas que eu não vejo Vitória. Ela
não apareceu na minha casa, nem na oficina, ou no Theo's e não a
vi quando fui pegar Erick na faculdade. Ele nem falou mais nada
sobre ela. Seu carro ainda está aqui e todos os dias, olho para

aquela barata em forma de automóvel e penso: onde diabos se


meteu aquela garota?

Acredito que ela realmente ficou magoada com o que

aconteceu no carro, mas eu não quero ser um idiota como esses

garotos que transam em qualquer lugar e não se importam com o


depois, pelo menos não com ela.  Não quero tratá-la como mais

uma das minhas fodas rápidas. O que também me deixa surpreso,

porque nós jamais deveríamos ter algo além do casual, mas quero
que com ela seja algo bom para nós dois.
Como ela tinha que ser especial e importante.

Sei que Vitória não é nenhuma virgem, mas se acabarmos na

cama um do outro, quero que seja algo memorável. Posso ser um

ogro em muitas situações, só que uma das coisas que Lily me

ensinou foi sobre respeitar uma mulher durante o sexo. Vitória é o


meu botão de rosa, ainda desabrochando, mas já mostra a sua

força e sua delicadeza.

Eu amei conhecer a garota daquele jantar, ela fez com que

eu me sentisse vivo. Não me sentia bem daquela forma há muito


tempo e em uma coisa ela tinha razão, quando aceitei o jantar, não

estava tão feliz com a ideia. Mas quando estacionei na sua porta e a

vi deslumbrante naquele vestido, tive certeza que só estava


tentando me enganar. Meu corpo não queria estar em outro lugar,

meus olhos não queriam ver outra pessoa, apenas ela.

Quando ela estava em meus braços, eu estava pronto para

entrar nela, só queria fazer com que ela fosse minha, mas não ali e

nem daquele jeito.

Espero poder realizar o seu fetiche de transar no meu carro,

já que desde que ela me falou isso, eu não paro de sonhar com o

dia em que vou fode-la no banco de trás da picape. Mas não posso
negar a forma como me incomoda não falar sobre isso com Erick.
Por mais que eu tenha a conhecido antes de saber quem ela era,

ainda parece estranho demais me sentir atraído pela melhor amiga

do meu filho.

Não sei como reagiria e não sei se quero arriscar uma briga

por algo que provavelmente vai acabar em pouco tempo. Eu sou

uma fantasia para Vitória, a personificação do sonho jovem de ficar

com um homem mais velho, a sensação de poder, o prazer da

conquista, a sedução e a forma de saciar os desejos ainda vivos

dentro dela. Não que me importe. Eu seria o objeto dos seus


desejos por quanto tempo ela quisesse, se pudesse continuar

sentindo seus seios entre minhas mãos.

Às vezes parece que seu cheiro ainda está impregnado no

couro dos bancos. Sempre que abro as portas é como se ela

estivesse ali ainda.

Perdi completamente a noção e estou queimando meus

neurônios com uma garota vinte anos mais nova.

— Terra chamando Vino. — Theo bate na minha cabeça, me

fazendo voltar à realidade.


— O que você quer? — pergunto, experimentando minha

bebida.

— Que você acorde, porra. Está realmente com a cabeça


naquela garota? — parece incrédulo.

— Estou tentando não estar com a cabeça nela. — confesso.

— Não está não, você está louco para vê-la de novo. —


revira os olhos e me xinga.

Theodore tem razão e não irei mentir para ele, não adianta.
Se existe alguém que me conhece é esse cara. Já vivemos tantas
coisas que seria impossível ele não reconhecer quando algo está

bagunçando minha mente. E, assim como eu, ele sabe, há muito


tempo uma mulher não comanda meus pensamentos.

— Não quero falar sobre isso, me deixe beber em paz. —

peço, mas é claro que ele me ignora.

— Vino, você quer transar com uma garota mais nova, e daí?

Ela é maior de idade. Come logo ela e para de ficar enlouquecendo.


— dá de ombros.

Se existem níveis de quão cafajeste alguém consegue ser,

Theodore Holt está no maior deles.


— Não é simples assim.

— É sim, é muito simples. Com todas as outras, nos últimos


vinte anos foi, porque agora não seria? — me olha com deboche. —
Inclusive, eu lembro que ela tem uma amiga linda, você deveria me

apresentar a ela.

— Vai a merda, Theo. — tomo o litro do whisky da sua mão e

encho meu copo novamente.

— Diferente de você, eu não tenho problema com as


novinhas, eu adoro que elas tem um fogo inapagável. — sorri

safado. — Quando você pegar a Vigostosa, você vai ver. Ai ai, as


mulheres são realmente magníficas. — suspira.

— Do que a chamou? — questiono.

— É um apelido carinhoso — tenta se defender. — Eu sei

que a Vitória é uma delícia, já a vi aqui e aqueles peitos dela devem


ser melhores ainda ao vivo. Estou certo?

— E como está, são magníficos... — paro no momento que


me dou conta do que ele falou. — O quê? Você está falando que

fica olhando para os peitos dela na minha cara?

Theo jamais ficaria com a mesma mulher que eu, nós nunca
dividimos e respeitamos muito as relações que temos. Mesmo
sendo dois cafajestes, conhecemos nossos limites e somos dois
possessivos do caralho quando estamos com alguém.

— Perdão, amigo, mas é meio impossível não olhar. Juro que


foi só uma vezinha, nunca mais vou direcionar o meu olhar para

nada abaixo da linha do pescoço dela.

— Eu queria muito socar a sua cara agora. —  aviso e ele

gargalha.

— Vou falar a última coisa antes de você ir trabalhar que já


está na hora do seu show. Invista na garota. Nem começa com essa

história de complicado ou o caralho a quatro. Ela deixou bem claro


que quer você e eu sei que você está louco para levá-la para a

cama. O que você está esperando? Honre suas calças e pare de ser
um frouxo, ela demonstrou ter mais atitude que você. Agora termina
logo essa cerveja e vai tocar, os clientes estão esperando.

— Sim, chefe. – rio e seco o copo de uma vez.

— Ah, e Vino. — ele me chama. —  Arruma a amiga pra mim.


—  mostro-lhe o dedo do meio e ele ri.

Coloco a garrafa no balcão e vou para o palco. É sexta, dia


de rock e muita música ao vivo no Theo’s. — O momento mais feliz

da semana. — Minha plateia é dividida entre os amigos que sempre


estão por aqui, pessoas que acabei conhecendo e os novos
frequentadores. Escolho um novo repertório toda semana, mas
sempre tem as que são mais pedidas.

Um hora de show e eu me encaminho para a última música,


uma das minhas preferidas na adolescência e uma das primeiras

que dedilhei no violão.

Time is going by
So much faster than I
And I'm starting to regret
Not spending all of it with you
Now I'm wondering why
I've kept this bottled inside
So I'm starting to regret
Not telling all of this to you
So if I haven't yet
I've gotta let you know[5]
 

Abri os olhos e lá estava ela. Do outro lado do salão,


encostada na parede com cortinas vermelhas. De jeans e botas,

como uma garota sexy do Texas. Os braços cruzados à frente dos

seios e seus cachos rebeldes soltos. Seus olhos estavam em mim e

o sorrisinho no seu rosto era como se estivesse me dizendo olá.


Quando finalizei a música, ela apenas sorriu e começou a

caminhar para a saída, sumindo entre as portas de entrada do


Theo’s. Despedi-me rápido e agradeci as pessoas com um aceno.

Eu preciso ir até ela.

Consegui alcançá-la ainda no estacionamento, mas ela está


indo em direção à rodovia. Consigo ver um carro do outro lado da

rua, os faróis estão ligados, alguém deve estar esperando por ela.

Ela veio apenas me ver?

— Vitória. — grito quando vejo que não vou acompanhá-la.


Ela pára e vira na minha direção. Seus olhos verdes me

olham com intensidade, mas não consigo descrever o que está

presente neles e isso me perturba.


O que merda eu estou fazendo?

— Oi. — ela sorri.

— Como você está? — questiono, sem saber como falar o


que realmente quero. — Você simplesmente sumiu.

— Eu só pensei melhor sobre tudo que estava acontecendo e

decidi te deixar em paz. — fala com tranquilidade.

— Como assim? — pergunto, surpreso.

— Se você não me quer, não vou ficar insistindo. — o vento


gelado nos atinge e tenho vontade de abraçá-la quando ela cruza os
braços na frente do corpo. — Sou jovem, mas não sou ingênua,

Vino. Sei entender quando não estou sendo correspondida. Adorei

os momentos que tivemos, você é um cara legal, mas finalizamos


com o jantar, como foi combinado.

— Não pensei que você desistiria tão fácil. — a alfineto,

porque sim, estou puto com essa história de combinado.

Lembro quando ela me disse na oficina que se eu aceitasse o

convite do jantar, ela me deixaria em paz. É isso que ela está


fazendo, cumprindo sua palavra, principalmente porque eu sou um

idiota e deixei ela pensar que eu não quero compartilhar isso com

ela.

— Fácil? — sorri sem humor. — Você praticamente me


rejeitou, duas vezes.

— Eu não rejeitei você, por favor, não pense assim, é que

você não entende…

— Eu realmente não entendo. — corta minha fala. — Mas

não vou mais forçar você a nada que não queira.

Ela vira as costas e volta a caminhar para o carro. Corro atrás


dela e a pego pelo braço.
— E se eu não quiser que você desista? — olho no fundo dos

seus olhos.

— Olha, não dá... — a beijo, porque não quero que ela repita
o que sei que vai falar.

Porra, eu não posso fraquejar assim. Caralho de beijo bom,


de mulher boa. Suas mãos estão espalmadas no meu peito e eu a

seguro pela cintura. Vitória corresponde de maneira genuína, ela se

encaixa tão perfeitamente no meu corpo, na minha boca e


provavelmente em todos os outros lugares também.

— Por alguma razão, eu não quero que você desista de nós.

— sou sincero.

— Agora “você e eu” passou a ser um “nós”? — questiona


confusa.

— Talvez. — ela se desvencilha dos meus braços e se afasta.

— Desculpe, mas eu não quero ser o seu talvez, quero ser a

sua certeza.

Ela me deixa sozinho no estacionamento e vejo o carro se

afastar pelo horizonte até sumir de vista.

Eu não quero que isso acabe, seja lá o que for.


Ouço a campainha tocar mais uma vez, mas a dor na minha
cabeça me impede de levantar. O relógio me mostra que já passam
das dez da manhã, mas hoje eu só quero dormir durante o dia

inteiro. Levanto a contragosto apenas para fazer a pessoa parar de


fazer esse barulho infernal.
Devo estar com a cara péssima, mas só quero me livrar da

visita e voltar para minha cama.


— Posso ajudar? — pergunto ao rapaz parado na minha

porta,

— Aqui é a oficina do senhor Walter? — questiona, me


olhando um pouco preocupado.

— Sou eu mesmo, por quê?


A claridade está queimando meus olhos e esse menino não

diz logo o que quer comigo.


— Minha namorada, quer dizer, quase isso. — sorri sem jeito.

— Deixou o carro aqui para que consertasse e pediu para que eu


viesse buscar já que ela está na aula.

— Ótimo. Qual o nome dela? — tento recordar os nomes de

mulheres que deixaram carro comigo nas últimas semanas e não


recordo nenhuma.

— Vitória Bianucci. — minhas sobrancelhas se unem em

questionamento.

Está quase namorando com a Vitória? Desde quando?


— Sério? — finjo surpresa. — Uma ótima garota, é amiga do

meu filho. Há quanto tempo estão saindo?

— Há poucas semanas. — essa resposta é muito relativa,

babaca.
 

— Que legal, felicidades ao casal. — minto. — Mas o carro

ainda não está pronto. Avise a ela que quando finalizar ligo para que

ela possa vir buscar.

O garoto agradece e se despede. Se ele pensa que vai ficar

com ela, está muito enganado.


Não sei se isso é apenas provocação de Vitória ou uma
maneira de avisar que realmente não quer mais nada comigo, mas

ela terá que me esclarecer pessoalmente.

Esse carro não sai da minha oficina se não for ela que venha

buscar.

Me dei o restante da manhã de folga, tomei um remédio para

ajudar na ressaca e fui para a oficina esquecer do mundo dentro

daqueles carros. Me dei conta que tinha quase perdido a hora do


jantar na casa de Carly quando minha mãe enviou uma mensagem

avisando que não conseguiria ir.

Organizei tudo, me ajeitei rapidamente e escolhi aproveitar o

vento da noite na minha moto. Nossos endereços não são tão

distantes, assim não demora para que eu chegue até lá.

— Ainda bem que chegou, venha me ajudar. — Carly me


puxa em direção à cozinha assim que abre a porta.

— Boa noite para você também, irmãzinha. Estou bem e

você? — debocho e ela revira os olhos.

— Não preciso de cordialidades com você. — me abraça

rapidamente e rio. — Cheguei tarde da empresa hoje e me atrasei


inteira com o jantar, odeio coisas que atrapalhem os meus planos.

Carly e sua mania de querer controlar tudo à sua volta.


— Preciso que você abra a massa para mim, Grandão. —

aponta para o local onde as coisas estão.


Ela me conta sobre seu dia e eu adoro ouvir as histórias
sobre seu trabalho. Conversamos enquanto finalizamos o jantar e

ela pede para que eu fique de olho em tudo que está no forno
enquanto ela toma um banho antes dos convidados chegarem.

A campainha toca antes mesmo que ela chegue até a escada


e rio dela xingando.

— Vino, quem convidou ele? — ouço ela gritar da sala e sei


que Theodore acabou de chegar.
— Eu não fiz nada. — grito de volta.

Ouço passos se aproximando, mas eles discutem tão rápido


que não entendo o que estão dizendo.

— Porque você está aqui? — cruza os braços chateada.


— Porque você estava doidinha para me convidar e sei que

ficou com vergonha, então facilitei sua vida e vim. — ele dá de


ombros.
Theo se encosta no balcão e sorri para ela.
— Eu deveria expulsar você da minha casa. — ameaça. —

Mas não vou arriscar ganhar uma ruga por sua causa, então vou
ignorar sua existência.

— Não precisa fazer charme, linda, sei que adorou que eu


vim. — ele pisca, provocando-a.

— Em alguns minutos estou de volta, não toque nas minhas


panelas ou vou quebrar elas na sua cabeça. — aponta para ele e
some pelo corredor.

Sempre foi assim, a relação mais instável que já acompanhei.


Crescemos juntos, Theo é meu melhor amigo desde que sei o que

significa essas duas palavras, mas Carly e ele nunca tiveram uma
relação tranquila e nós apenas nos divertimos vendo a implicância
entre os dois.

Arrumamos a mesa com todas as coisas que Carly separou e


deixamos tudo pronto. Por um segundo, juro que vi um brilho

diferente nos olhos de Theo quando a viu descer as escadas com o


cabelo molhado, um vestido curto delicado e os pés descalços.

Talvez existam muito mais coisas entre esses dois que eu não sei.
Ouvi um carro parar do lado de fora e sabia que era Erick. Ele
estava atrasado, muito atrasado e isso está começando a me
incomodar. Por mais que ele esteja perdendo a hora porque está
vivendo aventuras com a garota que gosta, odeio esperar.
A porta da frente se abre e pelos sussurros ele

provavelmente trouxe a garota que está ficando. Mas quando Erick


entra na sala, estanco no meio do caminho quando o vejo de mãos

dadas com Vitória.


E cá está ela, sentada ao meu lado no sofá da casa de Carly.
Theo, sentado à nossa frente, não consegue tirar o sorriso
debochado do rosto. Erick está em uma conversa calorosa com a tia
na cozinha, enquanto nós estávamos tentando fugir do clima que

tomou conta do lugar.

Se ela acha que não vai me explicar sobre aquele frangote


que bateu na minha porta, está muito enganada.

— E como está aquela sua amiga, Vitória? — Theo

questiona.

— Naya está bem e até me chamou para ir no seu bar hoje a

noite, mas acabei vindo com Erick e marcamos para outro dia.

— Você precisa dar um jeito no seu filho, Vino. — ele me


avisa e Vitória ri.
— Mesmo que ela fosse, você não a veria, porque não para

de tentar dar em cima da minha irmã e veio de penetra em um jantar


apenas de família. — enfatizo o final da minha fala e Vitória ergue a

sobrancelha para mim.

— Isso foi a tentativa de uma indireta? — ela me questiona.


— Está incomodado por que estou aqui?

— Se a carapuça serviu. — dou de ombros.

Sei que pareço infantil e não estou chateado porque ela está
aqui, muito pelo contrário, estou adorando tê-la tão perto depois de

tantos dias. Mas depois da audácia de mandar aquele cara bater na

minha porta, quero que ela veja que estou chateado.


— Só para você saber, não que seja da sua conta, fui

convidada pela dona da casa. — levanta e sai, nos deixando


sozinhos.

Ouço a risadinha de Theo e o olho com raiva.

— Ela vai te colocar na linha rapidinho. — ri.

Odeio agir como um babaca, mas perco o controle quando se

trata dela. E merda, eu estou me mordendo de ciúmes porque ela

simplesmente conseguiu seguir com uma nova pessoa, enquanto eu


só penso nela.
— Carly deve estar achando que ela é a namorada do Erick.
— concordo. — Ela fica uma delicinha de jeans.

— Não me faça socar sua cara na frente de todo mundo, por

favor. — passo as mãos no cabelo e ele ri.

Theodore adora me fazer perder a paciência.

Às vezes, me pego pensando porque Vitória se tornou quase

uma obsessão. Talvez por todos os motivos óbvios dela ser linda e
cheia de vida ou pelo meu ego que infla pela forma como ela me faz

sentir desejado. Porém, por mais que esses tenham sido os

pensamentos que tive nas primeiras vezes que nos encontramos,

depois do nosso jantar, tudo mudou.

Algo girou dentro de mim. Eu quero conhecê-la, quero

redescobrir o mundo através dos seus olhos. Quero poder admirá-la

a qualquer momento. Sentir sua boca doce, seu olhar avassalador,


provocá-la. Não sei responder com certeza porquê, mas sinto que

preciso dela.

— Vino Allan Walter. — Carly diz brava, entrando na sala. —

O que você disse para a minha convidada? Ouvimos uns

burburinhos aqui e depois ela chegou chateada.

— Ela fica mais bonita quando tá com raiva né?! — Theo fala
para mim, sem um pingo de vergonha na cara.
— Não fiz nada, apenas trocamos algumas palavras. — dou

de ombros e ela me olha desconfiada.


— Seu irmão é só um velho rabugento. — Theo me defende.

— Mas, cara, assim você vai acabar perdendo a garota.


Merda.
— Como assim perdendo a garota? — Carly me olha

assustada.
— Você pode, por favor, expulsar ele agora da sua casa? —

peço.
— Se você não falar, tenho maneira de fazer o Theo me

contar. — sorri diabólica.


— Fiquem ai tentando não se matar ou se agarrar, que eu
vou tentar falar com Vitória.

Encontro Erick e Vitória sentados no chão da varanda do


quintal. Conversam e riem alto sobre algo, a conexão deles é clara.

Eles deveriam ficar juntos, dois jovens conhecendo o mundo,


aprendendo coisas novas, se envolvendo em loucuras, começando

a viver. Vitória merece alguém assim, que possa lhe oferecer algo
mais que algumas noites de sexo quente, merece alguém que possa
lhe dar um futuro.
Não tenho muito o que lhe oferecer e talvez eu seja um

egoísta por continuar querendo que ela esteja presa a mim, mas
quando ela me olha, sinto que posso recomeçar. Muitas vezes, sinto

que estou completamente errado, que ela é só uma garotinha e não


deveria ter esse efeito em mim.

— Crianças. — chamo-os. — Iremos servir o jantar, entrem e


lavem as mãos antes de irem para a mesa.
— Me senti como se tivesse cinco anos de novo. — Erick

brinca, entrando na casa.


— Você sempre vai ser…

— Não conclua essa frase, porque é patético demais ouvir.


Você está parecendo a vovó. — rimos.
Ele passa por mim e observo Vitória ainda parada nos

degraus. Parece pensativa sobre algo que lhe incomoda pela forma
como suas sobrancelhas estão tensionadas.

— O que está se passando nessa cabecinha mirabolante? —


tento brincar e ela volta a si.

— Em como é estranho ver pessoas tendo uma relação


assim com os pais. É completamente diferente do que eu conheço.
Lembro que Erick comentou sobre os pais dela serem bem

rígidos.
— Bom, algo eles fizeram certo, afinal, você é uma boa
garota apesar de todos os problemas que tem com eles. — ela
concorda com a cabeça.

— Você acredita que seria tão próximo do Erick se Lilian


ainda fosse viva? — sou pego de surpresa com sua pergunta.

— Acredito que sim. Pelo menos, nós tentaríamos sempre.


Era um sonho criarmos Erick juntos.
— Que bom que ele tem alguém que está ao lado dele. —

seu sorriso não chega aos olhos. — Você é um bom homem, Vino
Walter.

Seu tom é sério, vejo sinceridade em seu olhar e mesmo com


a voz aveludada bagunçando minha mente, percebo que ela está

triste.
— Pensei que quando estivesse mais velha, eles acabariam
me entendendo mais. Só que nada mudou. — dá de ombros. —

Nada é como queremos.


Quero abraçá-la.

— Ei. — me aproximo dela. — Você não está bem. —


concluo e coloco a mecha solta do seu cabelo atrás da orelha. — Se
precisar de alguma coisa ou de alguém para conversar, eu estou
aqui. Sei que você tem grandes amigos, mas pessoas velhas tem
bons conselhos. — brinco e consigo arrancar um sorrisinho dela.
— Obrigada, vou me lembrar disso. — ela some, entrando na

casa.
Entro atrás dela e dou de cara com Carly. Minha irmã está de

braços cruzados, me observando com um olhar matador. Com toda


certeza Theo contou tudo sobre Vitória. Ela se aproxima e espero
todos os questionamentos do mundo.

— Primeira coisa, você é um safado de pegar a melhor amiga

do seu filho e não falar nada para ele. Segundo, seja homem e
honre suas calças, não a trate como qualquer uma. Terceiro, se for

tratá-la como uma qualquer, se afaste dela imediatamente. Quarto,

ela é jovem, mas muito madura e sabe o que quer com mais

convicção que você. Quinto, tenha cuidado com as decisões que vai
tomar, não é para agir por impulso. Sexto, espero que ela faça você

rastejar de tão apaixonado.

Antes que eu possa responder, ela se afasta, me deixando


sozinho.

Ninguém vai ficar do meu lado nessa história? Estou tão

errado assim?
Erick e Vitória sentaram um ao lado do outro, Carly na ponta

da mesa e eu acabei sentando de frente para Vitória.


— Tenho que confessar que fico um pouco triste de você e

Erick não serem um casal. — minha irmã fala.

— Erick gosta de outra pessoa e sou a maior fã do casal. —


ela e Erick trocam um sorriso cúmplice.

— E você? Não está gostando de ninguém? — sei que ela

está tentando me provocar e caio direitinho.

— Sim, ela também está vendo alguém. Um homem super


misterioso. — quase engasgo com a comida, então bebo um pouco

da cerveja para ajudar.

— Me fale sobre ele, talvez eu possa ajudar. — Carly fala


empolgada.— É um daqueles jogadores de basquete da

universidade? Eu era alucinada por aqueles atletas, correndo pelo

gramado suados e com todos os músculos à mostra.


— Carly, deixe a Vitória jantar sem precisar passar por um

interrogatório. — a repreendo e ela me ignora.

— Bom, ele não é nenhum atleta, mas é o meu pecado

particular. — riem juntas e apenas observo.


Carly e Vitória entram em uma conversa animada e

compartilham vários momentos que já viveram, fazendo todos nós


rirmos.

— Vino, como estão sendo os shows no prostíbulo que

Theodore chama de bar? — faz careta.


— Não fale assim do meu bar. — Theo se defende. — Meu

estabelecimento é incrível e um lugar de respeito. — Theo se gaba,

mas ele tem razão de que seu estabelecimento é o melhor de toda a

nossa região.
— Você está tentando convencer a si mesmo com essa

mentira? — Carly debocha. — Theo, você dorme com umas

cinquenta mulheres por semana naquele lugar, fora os outros


clientes. — ela olha para mim e ergo minhas mãos em rendição.

— Eu nunca transei com ninguém no Theo’s. — me defendo.

— Claro, porque vocês são dois jovens meigos e virgens. —

revira os olhos.
Erick e Vitória se divertem com a situação e eu fico feliz em

ver a leveza que eles parecem ter um com o outro. Sempre

precisaremos de pessoas nas quais podemos confiar, nada é capaz


de substituir um verdadeiro amigo. Se Theodore não estivesse ao

meu lado durante tantos momentos difíceis, não sei como teria

suportado.
— Talvez você esteja falando porque tenha propriedade

sobre o assunto. — Theo a alfineta e Carly quase engasga, fazendo


Erick rir alto.

— Ei, vocês dois, parou. — afirmo.

Não vou ficar ouvindo insinuações sobre a vida sexual da


minha irmã. Carly fuzila Theo com os olhos e posso jurar que ela

está imaginando como seria furar ele com uma das facas que estão

na mesa.

— Carly, as noites estão cada vez mais cheias, as pessoas


têm adorado minhas apresentações. Sou atração confirmada desde

sempre, todos já me conhecem. — mudo de assunto e respondo

sua pergunta.
— Erick disse que você já foi algumas vezes ao Theo’s,

Vitória.

Sei qual é a intenção da minha irmã.

— Sim, tenho uma amiga que me apresentou. Inclusive, Erick


é quem sempre nos dá um bolo e quase nunca vai. — Vitória fala e

Theo concorda com ela.

Assim engatamos em uma conversa tranquila, com muitas


risadas e provocações. Vitória despertou a fera em Theo e ele

passou o jantar inteiro falando sobre a quanto tempo Erick não vai
visitar seu bar, e acabamos marcando de todos irmos juntos logo

mais.

Carly obrigou os homens a lavarem todas as louças enquanto

Vitória e ela tomavam vinho na varanda. Sentamos todos juntos na


parte de trás e Theo acabou cantando algumas músicas comigo.

Erick puxou Carly para dançar enquanto tocamos e Vitória

gargalhava deles. Seu celular tocou e percebi o momento em que


sua expressão mudou. Ela se afastou e quando vi que estava

demorando dei uma desculpa e fui atrás dela.

Quando dobrei no corredor, os olhos dela encontraram os

meus e ela se despediu da pessoa na ligação.


— Então quer dizer que você não terminou o meu carro? —

pergunta. — Aquele mesmo carro que estava com problemas bem

simples e você ia apenas conferir.


— Seu namoradinho deu recado que mandei por ele? —

rebato.

— Ele ainda não é meu namorado, tio Vino.

— Ainda? — apoio o corpo na parede e cruzo os braços, a


observando com cautela.

— Sim, ainda. Porque diferente de certos caras por aí, ele

demonstra querer estar comigo. — aquele sorriso doce surge em


seu rosto.

Ele só tenta disfarçar a diaba que existe por trás dele.


— Nem nos seus maiores sonhos ele conseguiria ser melhor

que eu. — afirmo e ela ri.

— Não tenho como saber, já que você se negou a me

mostrar do que era capaz. — da de ombros.


— Vitória, não me provoque. — aviso e ela revira os olhos. —

Você acredita mesmo que eu não queria foder você naquele dia? Só

não quero que a nossa primeira vez seja em um carro, mas tenha
certeza, quando acontecer, vai ser a melhor noite da sua vida.

— Você é muito convencido, sabia? — ela tenta manter a

postura firme, mas sua respiração está mais rápida.


— Eu sou realista, Docinho. — me aproximo dela e sinto seu

cheiro me inebriar. Me aproximo do seu pescoço e passeio o nariz

por toda a extensão até sua orelha. — No dia em que eu tocar de

verdade em você, nunca mais esquecerá.


Dou alguns passos para trás, me afastando dela antes

mesmo que eu caia na minha própria armadilha.

— Não peça para o seu namoradinho bater na minha porta


novamente, você não é sempre tão corajosa, então pare de tentar
fugir de mim. Quando quiser seu carro de volta, vá buscar você
mesma.

Ela cruza os braços na frente do corpo e sei que está

tentando clarear seus pensamentos antes de rebater o que eu disse.


Seu corpo ainda está sentindo a reação que causei nela, porque o

meu também está.

— Porque não assume que está com ciúmes, Tio Vino. Está
estampado no seu rosto bonito. — sorri.

— Eu não tenho ciúmes de garotinhas. — provoco.

— Garotinha que você está louco para levar para a cama.

— Garota essa que está louca para que eu a foda. — em dois


passos largos estou de frente para ela de novo.

Olhando aquelas esferas verdes presas em mim. A escuridão

tomando espaço em seus olhos. Meu rosto não está colado no dela
porque sou muito mais alto. Os lábios perfeitos tão perto dos meus.

Como eu quero beijá-la.


— Seja homem e decida-se. O que quer de mim, Vino
Walter? — fala firme.

— Eu quero você.
Eu não paro de pensar nela. Vitória está me enlouquecendo
de uma forma inexplicável. Desde o jantar na casa de Carly não nos
vemos, mas porra, eu estou com uma saudade desgraçada daquela
menina.

Eu não sei explicar bem o porquê, mas sinto falta de tê-la por
perto.

O meu corpo tem pedido por ela a cada segundo. Preciso tê-
la pelo menos uma vez, mas o receio de não conseguir parar é o

que me perturba. Se o seu beijo me enfeitiçou, seu corpo será

minha perdição.

Preciso dar um basta nisso, seja a fazendo minha de uma

vez ou nos afastando completamente.


Erick me avisou que sua aula terminaria mais cedo hoje e

essa vai ser a minha oportunidade de sair sem que ele perceba.
Mando uma mensagem para que ele saiba que não estarei em casa

quando retornar da faculdade e vou tomar um banho rápido.

Dirigi até o campus rezando para que não desse de cara com
Erick. Estacionei em um lugar mais afastado e fora do fluxo maior de

alunos. Olhei em volta  e antes que me arrependesse, digitei uma

mensagem para ela.

Estou te esperando aqui fora, despiste o Erick e venha me


encontrar. Na saída do bloco de letras.

Não demora quase nada para que a resposta chegue.

Você só pode estar bêbado. EU NÃO VOU!

Diaba. Agora que eu estou indo atrás dela, ela quer que eu

prove do meu próprio veneno e passe vontade.

Se você não aparecer em dez minutos, eu entro para te

buscar.

Não recebi resposta, mas estava falando sério, se ela não

chegar, irei dar um jeito de encontrá-la. Os minutos no relógio

pareciam não passar e eu já estava prestes a descer o carro quando

ela apareceu na calçada.


— Estava pronto para ir buscá-la. — avisei.

— O que porra você está fazendo aqui? — pergunta

chateada.

— Eu adoro essa sua boca suja. — toco seu rosto e desenho

seus lábios com o polegar.

Vitória se afasta do meu toque. 

— Pode parar com isso. Tem noção de quantas pessoas

poderiam nos ver agora? O que está fazendo aqui?

— Eu quero você. Te avisei. E quando eu quero algo, corro

os riscos necessários.

— Você é inacreditável. — fala brava e abre a porta para sair

do carro.

Alcanço a porta antes que ela consiga sair e fecho

novamente.

— Me escuta. — peço. — Isso é complicado pra mim. Não

sei como agir em relação a você, então faço tudo por impulso. Você

e eu, é uma coisa tecnicamente impossível, somos errados, mas

quando você está perto eu esqueço tudo e só quero entrar nesse

jogo de sedução que me faz perder a cabeça. Isso é complicado


demais, caralho. É tão difícil te ter por perto e resistir, mas eu tentei,

por mim, por você, pela sua relação com Erick, pelas nossas idades
e por milhares de outras coisas. Por que você tem que ser tão

autêntica, bonita e determinada? — seus olhos bonitos me


observam com atenção. — Você acha que é bom ficar de pau duro o
dia todo quando eu te vejo? Estou aqui para correr os riscos com

você, Docinho.

Vitória fica em silêncio. Como se estivesse tentando


compreender tudo que acabei de colocar para fora. Talvez ela nunca

entenda todas as coisas que se passam na minha cabeça, mas


quero que agora ela saiba que por mais que eu esteja consciente de

tudo que pode dar errado, quero tentar mesmo assim.

— Você está cedendo, Tio Vino? — aquele sorriso safado

que me deixa louco surge em seu rosto.

— Digamos que estou tentando. — me rendo.

— Tentando fazer o quê? — ela sorri.

— Ver até onde conseguimos ir. Sem compromisso, sem


promessas e sem segundas vezes. — ela me olha com curiosidade.

Ela se ajeita no banco do passageiro, prende o cinto de


segurança e volta sua atenção para mim.
— Então, pra onde você vai me levar? — questiona.

— Surpresa. — pisco pra ela.

Dou partida no carro e começamos a nos afastar do centro.

Ela está digitando algo no celular e deixo uma música tocando


enquanto observo bem a rua. Involuntariamente, descanso a mão
na sua coxa e sinto sua pele macia contra meus dedos.

— Vino Walter gosta de surpresas. — afirma. — Posso

adicionar isso na minha lista de coisas sobre você?

— Eu vou querer saber o que tem escrito nessa lista? — olho


rapidamente para ela e a vejo sorrindo.

— Talvez um dia eu te mostre, por enquanto vou mantê-la em


segredo. Eu já fiz coisas demais para que isso que existe entre nós
acontecesse, agora é a sua vez.

— Na hora certa, vamos realizar tudo que você tem


esperado. — faço carinho em sua pele.

Pegamos a estrada para as montanhas. Eu construí algo


longe e calmo o suficiente para me desligar da cidade. No inverno, o
frio da serra é o melhor remédio para qualquer coisa, e no verão, o

pôr do sol é a coisa mais linda de se ver. É o meu refúgio e quero


que ela conheça um pouco mais sobre mim.
— Estou começando a acreditar que você está me
sequestrando. — brinca quando observa o caminho cheio de
árvores.

— Quero mantê-la em cativeiro de uma outra forma. — ela

prende os lábios entre os dentes e subo um pouco mais minha mão


em sua perna. — A área dos celulares fica muito ruim aqui em cima,

se quiser falar com alguém, aproveite enquanto estamos na estrada.

— Isso seria o que um sequestrador diria para me fazer

avisar que estou bem enquanto ele vai me trancar em algum lugar
no meio do nada. — debocha e rio.

— Ei, que tipo de pensamentos você tem sobre mim? —

brinco.

— Não seria adequado falar sobre isso agora, Tio Vino. —


seu tom de voz muda e sinto meu corpo aquecer.

Em um movimento rápido, levo a mão até um pouco além da

barra do seu short e a ouço suspirar.

— Eu adoraria ouvi-los.

— Desde quando você ficou tão ousado? — tenta me

provocar e rio. — Esse era o meu papel.


— Desde que percebi que não adianta resistir ao que eu
quero. — dou de ombros.

— Falar que quer e não fazer nada para realmente ter algo,

são coisas que não combinam. — afirma.

— Ainda não está na hora, Vitória. Você precisa ter paciência.

— Isso é um tipo de teste? — ri. — Eu acho que um mês é

paciência demais.

— Só mais um pouco, Docinho, só mais um pouco.

Dirijo pelo resto do caminho ouvindo ela me contar sobre seu

dia e lhe falo um pouco sobre o local para onde estamos indo.
Vitória é curiosa e atenta, ela é uma ótima ouvinte e conseguimos

discutir sobre diversos assuntos de forma leve.

Não demorou muito para entrarmos no terreno e estacionar

na frente da cabana. O lugar não é tão grande, mas tem dois

quartos, uma cozinha grande, lareira pelos cômodos e uma varanda


para admirarmos a noite. Sempre mantenho tudo organizado porque

costumo vir ficar um tempo durante a semana 

— Pronta para conhecer o meu lugar favorito no mundo,

Docinho? — pergunto abrindo a porta do passageiro para que ela

desça.
— Porque “Docinho”? — pergunta enquanto abro a carroceria

do carro.

— Só você pode dar apelidos? — brinco. — Por que Tio


Vino?

— Nós, jovens. — provoca e rio. — Costumamos chamar os


pais dos nossos amigos de tio ou tia. — dá de ombro.

— E eu sou o pai do seu melhor amigo! — concluo e ela

concorda.

Me aproximo dela com a cesta que trouxe com coisas para

comermos.

— Isso mesmo. Agora me responda, por que Docinho? —

insiste.

— Porque você tem o melhor gosto que eu já provei. —

respondo sem rodeios.

Vejo o exato momento em que suas pupilas ganham um tom


mais escuro. Isso, se prepare para mim, Docinho.

— Alguém está muito saidinho nas suas respostas hoje. —

enlaço seus dedos nos meus e caminho em direção a porta de


entrada. — Continue assim, Tio Vino. Colocar para fora o que sente,

está te fazendo bem. Te deixa sexy.

Rio e abro a porta para que ela entre. Vitória olha em volta e

observa tudo com atenção. Deixo tudo que trouxe na cozinha e volto

até o carro para pegar a mochila que esqueci.

— É sua? — ela pergunta observando as fotos que ficam em

cima da lareira.

— Sim, construí há alguns anos. Acho que depois de todos


os anos ouvindo coisas explodindo, eu precisava de um lugar onde

eu não ouvisse nada além do silêncio.

— É um lugar lindo. Tanto lá fora, como aqui dentro. —

elogia.

— Não sei se Erick já comentou, mas sempre comemoramos

a ação de graças aqui. Gosto de trazer toda a família.

— Em dezembro isso tudo deve ficar magnífico. — olha as

árvores pela janela. — O lago congela?

— Algumas vezes, mas sempre fica bem frio. — é perceptível


o quanto está encantada com tudo. — Vou te trazer aqui em

dezembro.
Porque estou fazendo planos?

— Promete?

— Você gosta de me fazer prometer as coisas. — brinco e a

puxo para mim.

— Sabemos que podemos confiar em alguém quando ela é

honesta com suas promessas. — afaga meu peitoral com as mãos


pequenas.

— Se não confiasse em mim, não estaria aqui. — afirmo,

decorando todas as pequenas sardas que vejo em seu nariz.

— No meio do mato, sem sinal de telefone e com um homem

que pode me matar facilmente. — brinca. — É, acho que realmente

confio em você. — rimos.

Encosto meu nariz no seu e deposito um beijo ali.

— Vamos conhecer a parte mais legal. — envolvo nossas

mãos de novo e seguimos para a parte de fora da casa.

Ela está de tênis e isso me deixa mais tranquilo para


conseguirmos entrar na mata. O lago não é longe, mas nunca

sabemos se encontraremos um bicho no caminho. Descemos com


cuidado as pedras e as pequenas ribanceiras. Estendo o lençol na

parte plana e sentamos juntos.

Passo meu braço pela cintura dela e ela apoia a cabeça em

meu ombro. Admiramos a água cristalina e rimos dos peixinhos que

pareciam disputar corrida contra a correnteza. Ouço-a falar sobre as


férias que passava em um acampamento quando era apenas uma

criança e das aventuras que ela aprontava.

Vitória não foi atrevida apenas comigo. Ela é atrevida com a

vida. É desafiadora, determinada e uma conquistadora, no sentido

de buscar aquilo que quer. Seus olhos brilham sempre que ela fala
sobre algo que gosta muito e isso me encanta. Ela é o equilíbrio

perfeito de uma mulher que seria capaz de dominar o mundo com

todo o amor que seu coração carrega.

— Por que me trouxe justamente aqui?

— Nós somos um furacão, acho que precisávamos de um

pouco de calmaria. — mesmo sem conseguir ver seu rosto sei que
ela está sorrindo.

— Não me diga que Vino Walter é um romântico incurável?

— ela fica de frente para mim.


— Não chego nem perto, mas você merece que eu tente ser.

— brinco com seus dedos.

— E como você vai me mostrar o seu romantismo? 

— Primeiro, eu serei um cavalheiro e nós teremos um

piquenique. Depois nós iremos comer, conversar, rir muito, porque


você sempre me faz sorrir e vou acabar te roubando um beijo.

— Só um? — brinca, fazendo uma cara de triste.

— Com certeza não. — sorrio. — Inclusive, acho que vou


pular tudo isso e ir direto para o beijo.

Agora que ela está de frente para mim é fácil deitar seu corpo

sobre o tecido. Suas lindas curvas parecem gritar para serem

exploradas, seus cachos espalhados, os olhos verdes brilhando e a


mais doce boca pronta para me receber.

Fico por cima dela. Aproximo nossos rostos e apenas


encosto meus lábios nos dela levemente, minha mão faz carinho na

maçã do seu rosto descendo pelo pescoço, enquanto meus dedos

contornam a curva do seu seio. Meus olhos encontram os dela e

eles mostram desejo. É tudo que preciso para tomar sua boca.

De início, quero apenas saborear sua boca, mas quando ela


pede passagem e nossas línguas parecem querer duelar, perco
completamente a razão. Meus dedos envolvem seus cachos com
força, minha boca devora a sua, as pernas dela abraçam minha

cintura fazendo com que nossos corpos se encaixem perfeitamente

e tudo que eu quero é estar dentro dela.

— Eu quero você na minha cama agora. — sussurro em seus


lábios.

 
Seu grande corpo estava sobre mim, ainda deitado no lençol

debaixo do céu frio daquela manhã chuvosa, seus olhos claros tão
profundos me fitavam enquanto minha mão acariciava sua barba por
fazer. Mesmo com os olhos cansados e com pequenas rugas que
apareciam quando ele sorria, as linhas de expressão fortes ganhas

pelo tempo só o deixam mais bonito.

Vino Walter é o homem mais bonito que já tive o prazer de


colocar meus olhos. Seu sorriso fácil encanta a qualquer um, seu

corpo forte desperta o desejo em qualquer corpo, sua voz potente


faz qualquer um delirar e sua boca, Deus, essa boca é capaz de te

levar ao paraíso.

— Você me quer, então me mostre. — quase ordeno.

Seus lábios voltam aos meus, mas dessa vez em um beijo

calmo e cheio de desejo. Minha mão desce pelo seu peitoral


definido e logo chega a barra da sua blusa, eu tento tirar, mas ele

não deixa.

— Vamos entrar, quero você na minha cama. — repete.

Ele levanta e de mãos dadas voltamos para a cabana. Antes

mesmo que eu consiga terminar de subir os degraus, Vino me

ergueu em seus braços e me prendeu contra a porta. Pude sentir a


protuberância na sua calça e rebolo contra ele.  Arfamos juntos.

Com a maior facilidade, ele me carrega para dentro e,


enquanto exploro seu pescoço, ele nos conduz até o quarto. Vino

toma meus lábios e me deita na cama sem quebrar nosso beijo.

Suas mãos invadem minha blusa e eu não consigo esperar mais


nem um segundo. Me afasto dele apenas o suficiente para

conseguir tirar sua camisa, ele me ajuda e seu peito desenhado está
na minha frente.

Ele é definido, todos os músculos bem desenhados e todas

as tatuagens espalhadas pela sua pele clara me fazem querer trilhar


elas com a minha língua.

Ele tem a porra do corpo de um Deus.

Em um movimento rápido, ele se livra da minha blusa e do

meu sutiã.
— Eles são bem melhores do que eu imaginei todas essas
semanas. Você é maravilhosa. —  ele começa uma trilha de beijos

do meu pescoço até os meus seios, Vino brinca com eles. Morde,

chupa, aperta na medida certa, me levando a loucura.

— Preciso sentir você dentro de mim. — peço.

— Docinho, eu ainda vou provar você inteira antes de

finalmente estar dentro de você. — morde minha orelha e gemo

contra seu corpo.

— Quero sentir você, Vino, por toda parte. — ele abre meu

short, sem desgrudar os olhos dos meus.

Levanto para me livrar da peça e aproveito para empurrar seu

peito e o fazer deitar na cama. Monto seu corpo apenas com um

calcinha minúscula e ele difere um tapa na minha bunda, fazendo-

me mover mais uma vez contra ele.

Passeio as mãos por todo o seu peito, sentindo cada

gominho. Assim como ele fez em mim, beijo e mordisco cada

pedacinho e quando chego ao seu “caminho da perdição” realmente

me perco, com a língua o traço todo. Sua respiração está acelerada

e Deus, eu quero esse homem agora.


Deslizo sobre seu corpo e vou deitando sobre ele, até minha

boca está quase colada na sua.

— Me foda agora. — mando.

— Com todo prazer. — solto um gritinho quando ele nos

muda de posição com facilidade.

Fico de bunda para cima e os dedos dele tiram minha


calcinha sem pressa. Aproveito para lhe dar uma bela visão e o

ouço xingar. Suas mãos apertam minha bunda com força e sinto sua
língua tocar minha entrada.

— Eu já sabia que você era maravilhosa, mas a visão do seu

corpo assim, deitado na minha cama, é a melhor coisa do mundo. —


diz, inebriado.

— Não me faça esperar. — quase imploro.

Meu corpo está queimando, em todas as partes. Ele se  livra


da calça e quando ouço rasgar o pacote de camisinha, me viro e fico

de frente para ele, já abrindo bem as pernas para lhe dar  a melhor
visão de mim.

— Gostosa para um caralho. — dá uma tapa na minha coxa e

eu acabo gemendo. — Toda lisinha, Docinho. — ele passa dois


dedos no meu ponto sensível e eu me contorço. — Molhadinha para

mim. Será que você é tão doce aqui em baixo também?

Esse homem só pode ser de mentira, ele é todo perfeito.


Corpo escultural, rosto de homem poderoso e um pênis magnífico.

Grande e grosso, na medida certa. — Obrigada universo, por não


ter me feito desistir.

Ele coloca o meu corpo no centro da cama e enrolo minhas


pernas ao seu redor, passa seu membro duro na minha entrada e

para.

— O que aconteceu? — seus olhos estão fixos no meu.

— Você é virgem? — pergunta e quero mandá-lo ir  a merda.

— Isso é sério? Não, Vino, eu não sou virgem. Agora cala a


boca e me... — ele me penetra e solto um gemido alto.

Ele espera um segundo para me acostumar com o seu


tamanho e começa a se mover. Sua cabeça pende e ele fecha os

olhos, sentindo meu corpo apertar contra o dele. O prazer se


espalha até as pontas do meu pé. Nunca foi assim, nunca foi tão

intenso.

— Você é tão gostosa, Docinho. — solta um gemido rouco


que me leva à loucura.
Ele continua em um movimento de vai e vem enlouquecedor,
mas eu o quero forte.

— Vino, não se controle, eu quero tudo de você.

— Eu não...

— Eu não vou quebrar, Tio Vino, me dê tudo. — provoco e


prendo seu lábio entre os dentes.

Ele começa a me penetrar rápido e com força. Nossos

gemidos são abafados com beijos, minhas mãos exploram suas


costas até chegar a sua bela bunda. Os sons dos nossos corpos se

encontrando, da respiração descompassada e dos nossos gemidos


tomam todo o lugar.

A cada estocada, ele atinge o ponto certo em mim, chamo

seu nome quando ele leva meu seio a boca enquanto vai mais fundo
dentro de mim. Vino me penetra com força, estocadas violentas que
me fazem delirar, segura meus seios e me dá vários beijos de tirar o

fôlego.

Gemidos, gritos, mordidas, beijos, carícias, tesão.

Seu corpo estava entre as minhas pernas mais uma vez, e

com algumas estocadas chego ao clímax. Vino vem logo depois,


gozando forte.
Exaustos, ele me puxa para seu peito e faz carinho no meu
cabelo enquanto tentamos recobrar a consciência e a respiração.

— Machuquei você? — sua mãos fazem carinho nas minhas

costas.

— Querido, com certeza não. – rimos, ele coloca minha


cabeça no travesseiro e apoia-se no braço, fazendo carinho no meu
rosto e me olhando nos olhos.

— Você está completamente ferrada, porque eu nunca mais


vou querer sair de dentro de você. — ele sussurra e rimos.
— Foi o melhor sexo da minha vida, mas nem comece a se

gabar. — confesso.

— Com quantos você já esteve antes de mim? — continua o

carinho em meu rosto e cabelo.

— Uns cinco. O primeiro foi um namorado da adolescência,

estivemos juntos por quase dois anos. Não gosto de dormir com

qualquer cara, por mais que tenha sido bem corajosa com você, não

sou assim com todas as pessoas, tive um certo tipo de envolvimento

mais sério com todos os caras com quem dormi.

— E o seu lado pervertida só apareceu comigo? — rimos.

— Não me pergunte porque, mas você chamou a atenção

dela. — mordo o lábio inferior e seus olhos mudam. — Você


conheceu a minha verdadeira versão, só não sou atrevida com os
outros homens, nem gosto de chamar muita atenção, mas eu quis
você e uso todas as armas para conseguir o que eu quero.

Ele deposita um beijo quente em meus lábios e levanta para

se livrar da camisinha. Aproveito para respirar fundo e me recuperar


da intensidade que é está com ele. — independente do que

aconteça entre nós, sei que nunca mais esquecerei esse toque. —
Caminho até o banheiro, amarro meu cabelo em um coque alto e me

enrolo com um roupão.

— E o que acontece agora? — Vino me pergunta pelo reflexo


no espelho. — Já que conseguiu o que queria.

— Não é minha intenção ir embora, mas somos uma dupla,


cabe a você também dizer se ainda quer continuar.

Ele faz uma careta linda e sorri. Se aproxima de mim e apoia


o peito em minhas costas.

— Agora eu só te quero ainda mais. — afirma e me vira para

ele.

— Então temos o mesmo objetivo, Senhor Walter. — ele me

beija.

E nos rendemos mais uma vez um ao outro, dessa vez contra

a pia do banheiro, nos assistindo pelo espelho enquanto ele me


toma por trás.

Depois de um banho juntos, conversamos até cairmos no

sono. Quando acordei, Vino não estava na cama e o relógio marcava

quase seis da tarde.

Vesti minha calcinha e a blusa que ele estava mais cedo.


Quando me aproximo da cozinha, ouço sua gargalhada. Ele está

sozinho, mas seu celular mostra que está em chamada de vídeo e

eu paro para admirar seu corpo largo vestido apenas em uma calça

de moletom.

Carly fala algo e ele se despede dela.

— Oi. — falo encostada na moldura da porta e ele vira para

mim.

— Finalmente, você acordou. — ele sorri lindamente e enlaça


minha cintura.

— Acho que estava precisando descansar.

— Não posso culpá-la depois da tarde que tivemos. — sorri

sugestivo e bato em seu peito. — Você está linda vestida na minha

blusa. Teremos uma regra a partir de agora, quando estivermos

juntos ou você ficará sem roupas ou com minhas blusas.


— Quando estivermos juntos, ou você fica pelado ou fica
pelado. – brinco e ele gargalha.

Ele beija minha testa e sentamos no sofá. Tinha lenha na

fogueira e Vino explicou que a noite o lugar sempre fica muito frio,
então para que possamos nos aquecer até a hora de ir embora,

preferiu acender. Deito entre suas pernas e ficamos ali, abraçados.

— Está com fome? — beija meu pescoço.

— Um pouco. — confesso.

— Trouxe coisas para fazermos sanduíches.

— Tenho certeza que serei uma negação construindo até um

sanduíche do seu lado.

A cozinha espaçosa nos deixa livres para nos movimentar por

toda sua extensão enquanto pegamos tudo o que precisamos.

Preparo um café enquanto ele finaliza tudo.

— Precisamos conversar sobre algumas coisas. — Vino fala.

— Se queremos continuar nos vendo, precisamos decidir se vamos


contar ao Erick ou não. Como também precisamos ser sinceros um

com o outro, caso estejamos nos envolvendo sentimentalmente,

para que ninguém se machuque.


— Não sabemos o que é essa relação, não sabemos por

quanto tempo iremos querer ficar nela. Podemos deixar para contar
caso as coisas fiquem mais sérias? — sou sincera. — Porém,

enquanto estiver dormindo comigo, não pode ver outras mulheres.

— Por que isso te preocupa?

— Não é preocupação, eu quero respeito. Não estamos

namorando, mas um relacionamento é a dois, se você ficar comigo e

com outra não teremos mais nada. — afirmo.

— Esse é um ponto que concordamos, porque quero

exclusividade. Então pode finalizar seu romance com aquele garoto.


— avisa sério.

— Eu não tenho nenhum romance com Sam, ele é apenas

meu vizinho.

— Você mentiu pra mim? — pergunta incrédulo.

— Queria que você sentisse ciúmes. — dou de ombros.

— Eu quase o soquei, sabia? — rimos.

Tadinho do Sam.

Beijo seus lábios delicadamente. O micro-ondas apita

avisando que a comida está pronta e ele vai buscar enquanto eu


ajeito os lugares na mesa. Sentamos um de frente para o outro, Vino

riu quando eu fiquei suja de molho e eu joguei um pedaço de pão

nele, o que só piorou.

Quando terminamos, sentamos no sofá para assistir. Ele me

puxou para o seu peito e eu não me controlei a desenhar suas

tatuagens com os dedos. Eram lindas e eu sabia que cada uma tinha

um significado diferente, mas preferi deixar esse assunto para outra

hora.

— Acho que está na hora de ir pra casa. — aviso. — Estou

fora o dia todo, isso me causará problemas.

— Sinto muito por ter te prendido aqui o dia todo, mas isso

não significa que não te prenderei outras vezes. — rimos.

— Não sinta, foi maravilhoso.

— Vamos, eu deixo você em casa. — ele diz.

— Eu posso ir no meu carro, já seria uma desculpa melhor

para dar a eles. — lembro que meu carro ainda está na casa de

Vino. — Vamos buscar e de lá vou para casa.

Recolhemos as peças de roupa ainda no chão e vestimos,

pego minha bolsa e mando uma mensagem para Naya avisando que
estou indo para casa e precisarei de um álibi, mas como a área é

ruim demora para que a mensagem seja enviada.

Organizamos tudo e voltamos para casa aos beijos e com

mãos bobas dentro do carro. Estamos como dois jovens quando

saem pela primeira vez com a pessoa que gostam. Porém, o

caminho não é grande e logo estamos na oficina, mas Vino nega o

valor do conserto quando lhe estendo o dinheiro.

— Vino, deixe de idiotice. Você fez o seu trabalho e eu tenho

que pagar por isso. — falo, chateada.

— Fica como um presente.

— Não, eu quero pagar. — digo e lhe estendo o dinheiro mais

uma vez.

— Você me paga saindo para jantar comigo essa semana.

— Eu me sinto uma puta, trocando sexo pelo conserto do meu


carro. — afirmo.

— Não exagere, foi algo muito simples de se consertar, não

preciso do seu dinheiro.

Suspiro quase derrotada.

— Eu aceito o jantar se você aceitar metade do dinheiro.


— Você é teimosa. — rio.

— Tudo bem. Metade e dois encontros.

— Combinado. — beijo-o mais uma vez antes de entrar na

senhorita Hepburn e ir para casa.


Eu estava convencida de que nada mais aconteceria entre
nós. Eu queria que ele me visse como uma mulher, que ele
correspondesse o que eu sinto, mas sempre acreditei que não
podemos fazer alguém sentir algo que não quer. Se ele não queria,

eu não continuaria insistindo. Mas quando menos esperei,


aconteceu. 

Eu não consegui esquecer o toque dele por dias, era como se

os seus dedos ainda estivessem passeando sobre minha pele. Cada

toque, os olhares, os beijos. Cada mínimo detalhe ainda está ali. Eu


podia jurar, que seu cheiro ainda estava em mim.

Por mais que de início eu tenha ficado chateada por ele não ir

adiante nas vezes em que quase transamos, no fundo gosto que ele

tenha pensado que eu merecia algo melhor que o banco traseiro de


um carro, por mais casual que nosso encontro fosse. E é esse cara

que tem me encantado cada vez mais, o que ele guarda a sete
chaves dentro da armadura de homem crescido. Quero o que tem

além dele.

O homem que abre a porta para mim, que diz o tempo inteiro
o quanto sou bonita, o que ouve todas as minhas histórias e que dá

importância a cada coisa que sai da minha boca, seja uma

brincadeira ou algo realmente sério. Que respeita minhas vontades


e quer arriscar perder a cabeça por mim.

Ainda é cedo, nada será definido ou rotulado, mas eu sinto

que viveremos algo maior.

Eu sou a garota inconsequente que seduziu o pai do melhor

amigo e que agora está na lista dos apaixonados do mês. — O quão


absurdo isso parece ser? — Resolvemos apenas deixar as coisas

fluírem e viver um dia de cada vez até que o universo nos mostre o

que devemos fazer.

Temos trocado mensagens o tempo todo, fotos dos

momentos do nosso dia, memes e, algumas vezes, ele toca para

mim durante nossas ligações. Marcamos de nos ver na sua casa

hoje e estou ansiosa. Vino disse que Erick passaria a noite na casa
dos avós ajudando-os com alguma coisa, então teremos tempo para
nós.

Quando ele abriu a porta, meu coração acelerou só de ver

seu sorriso imenso. Mas antes que eu tivesse a chance de


cumprimentá-lo, seu braço envolveu minha cintura me fazendo

entrar e sua boca encontrou a minha em um beijo avassalador.

— Oi para você também. — sorrio, ainda ofegante.

— Eu estava morrendo de saudades dessa sua boca


atrevida. — confessa, com o rosto ainda bem próximo ao meu.

— Só da boca? — provoco e o sorriso safado surge no canto


de seus lábios.

— De você todinha. — reivindica meus lábios mais uma vez.

Seu toque é forte na medida certa. Ele pressiona minha

cintura e me aperta contra ele. Me sinto segura em seus braços,


desejada e capaz de conquistar o mundo.

— Eu quero que você me prove quão grande estava a sua

saudade. — sussurro em sua orelha e a mordo levemente.

Vino rosna e ganho uma tapa na bunda.


— Você é uma garota má, Docinho. E garotas malvadas 

merecem uma punição. — ameça e minha respiração perde o ritmo.

— Eu mereço ser punida, Tio Vino. — peço, quase como um


gemido.

— Eu queria ser romântico, te fazer um jantar e tomarmos


bons vinhos até que tivesse você na minha cama, mas agora, os

planos mudaram. — seus olhos de predador estão em mim. — Você


vai subir e me esperar só de calcinha na minha cama, agora.

É uma ordem e meu corpo inteiro implora por ele. Então

rebolo o máximo que posso enquanto subo as escadas para que


Vino veja.

Tiro a roupa e deixo as peças junto com a minha bolsa na

poltrona que ele tem no quarto. Assim como ele mandou, fico só de
calcinha, solto o cabelo e meus cachos caem sobre o ombro. Fico
de joelhos na cama e poucos minutos depois Vino entra no quarto

com uma garrafa de vinho nas mãos.

— Você quer me embebedar, Tio Vino? — brinco.

— Muito pelo contrário. — deposita a garrafa e as taças na


mesa de cabeceira. — Primeiro, quero deixar você o mais lúcida
possível, para depois descobrir como o seu gosto fica quando é

misturado com vinho.

Minha boca está seca, porque anseio em descobrir todas as


maneiras que ele vai me tocar dessa vez.

— Só eu vou ficar seminua nesse quarto? — questiono e ele


sorri.

— A paciência é uma das maiores dádivas que podemos ter,

Docinho.

Ainda parado do lado da cama, ele segura meu queixo e seu


polegar desenha meu lábio. Toco seu dedo com a minha língua e

sua respiração fica pesada.

— Eu gosto de ver você. — me aproximo mais do seu corpo


e começo a desabotoar sua camisa. O estilo casual de Vino é sexy,

mas essa blusa social preta o deixou inexplicável. — Prefiro assim.


— digo quando o livro da peça.

Com a mão em seu peito, beijo uma das suas tatuagens.

— Você gosta das minhas tatuagens?

— De cada uma delas. — admiro seu peito todo rabiscado. —


Você deveria me levar para fazer uma qualquer dia.
— Não vou te levar pra marcar seu corpo com uma coisa que
não sai. — ele afasta meu cabelo para atrás do ombro, tendo um
vislumbre perfeito dos meus seios.

Me ergo um pouco mais e pressiono meus mamilos no seu

tronco.

— Você foi a única coisa que marcou o meu corpo e não vai

sair. — sussuro, beijando seu pescoço.

— Vitória. — é uma repreensão pelo efeito que causa em seu


corpo.

Ele me deita na cama e fica por cima. Coloca a língua na


minha boca faminta, com avidez, buscando explorar cada
pedacinho. Retribuo o beijo na mesma intensidade, entre mordidas

e chupões nossos corpos vão ficando mais necessitados um do


outro.

Pego ele desprevenido e consigo ficar por cima, tiro sua

calça o deixando apenas de cueca, já marcada com a ereção


empurrando o tecido. Um sorriso cafajeste aparece no canto de

seus lábios e ele me põe na cama mais uma vez. Seus olhos
percorrem todo o meu corpo e ele coloca meu seio na boca.
Chupando, mordendo, passando a língua, dando atenção aos dois,
me fazendo ofegar e gemer, cravando minhas unhas nos seus
braços.

Desce pela minha barriga dando beijos até chegar à minha


calcinha, a puxa para baixo, rasgando-a em um movimento rápido.

Vino coloca dois dedos dentro de mim enquanto sua língua

brinca com o meu clitóris me fazendo gemer, agarrando seus


braços com força. Contorço-me na cama com a sensação que

cresce em meu ventre, mas ele continua me provando, levando-me


a um orgasmo. Vino se afasta tirando a cueca e pegando a

camisinha na mesa de cabeceira, enquanto eu tento recobrar a

consciência.

Puxo-o para mim e o beijo, mordendo seu lábio inferior.

Entrelaço minhas pernas em volta do seu corpo e ele me penetra

forte e fundo, me fazendo gemer alto. Entrando e saindo de mim

lentamente, ele deita sobre mim, sustentando seu peso e


investindo forte a cada estocada. Aumenta o ritmo e posso sentir

ele chegar fundo dentro de mim.

Nosso encaixe perfeito, sempre perfeito.


Depois de tomarmos um banho rápido e ele me provocar o

tempo inteiro, descemos para finalmente tomar o vinho e


experimentar o jantar que preparou para nós dois.

— Eu te convidei para um jantar, mas pensei melhor e


preferi fazer aqui. Arrumei a mesa na parte de fora, podemos

comer, ouvir música e talvez até aproveitar a piscina.

— Adorei a ideia. É bom ver como você age estando no seu


lugar. — ele abre a porta e me leva para a parte externa no fundo

da casa.

— Vamos jantar, Docinho. — sentamos e começamos a

comer.  — Como foi sua semana?

— Só a correria da faculdade e uma busca falida de


encontrar um emprego de meio período ou um estágio. — dou de

ombros. — E a sua?

— Muito trabalho, ajudando Carly em algumas coisas na


casa dela e Theo me convidou para viajar com ele em duas

semanas.

Não sei porque não gosto da ideia, mas não quero ficar

longe dele por duas semanas.

— Por que e para onde irão? — questiono e ele ri.


— São apenas alguns dias, ele precisa visitar alguns

fornecedores e me convidou para ir. Passaremos por algumas

cidades, não vai ser fixo. Serão apenas três ou quatro dias.

— Só não me deixe sem notícias, tudo bem? — peço e ele

beija meus dedos.

— Vou te ligar todos os dias. — promete.

Uma música lenta começou a tocar e ele me convidou para

dançar. Nossos pés descalços tocando o chão, as mãos dele no


meu corpo, seu cheiro me hipnotizando. Ele observa bem meu

rosto e brinca com meus cachos. Adoro a forma como ele é muito

mais alto que eu, então sempre preciso ficar na ponta dos pés para
lhe roubar um beijo ou dois.

— Pai. — a voz de Erick ecoa até nós e eu paraliso.

Me afasto do corpo de Vino como se estivesse tocando em

brasa quente.

— Puta que me pariu. — ele xinga. — Erick deveria chegar


tarde.

— Preciso me esconder. — sussurro, apavorada.

— Ele sabe que eu traria alguém aqui hoje, só não pode

descobrir assim que a convidada é você. Vou entrar e falar com

ele, fique longe do vidro das janelas.


Vino entra e ouço quando fala que ainda está acompanhado

e Erick diz que precisou pegar algumas coisas, mas que já está
saindo e não vai atrapalhar. Conversam algo que não entendo, e

riem. Alguns minutos depois ouço a porta da frente fechar e os

passos de Vino se aproximam novamente.

— Não podemos nos arriscar assim de novo. — falo.

Ele beija minha cabeça  e sentamos.

— Eu entendo que você não queira que Erick saiba agora,

mas uma hora ele vai saber e eu não vou ficar escondendo você.

— afirma, olhando nos meus olhos.

— Só acho que ele não entenderia, podemos ir tentando

procurar o momento certo para falar, mas precisamos conversar

com ele juntos. — indago e Vino concorda.

— Sei que está com medo de como ele vai reagir, mas Erick

não vai te odiar por estar comigo. — afaga meu rosto.

— Não temos como saber, mas espero muito que esteja

certo.

Coloco os pés sobre a cadeira e abraço os joelhos, Vino

puxa minha cadeira para ficar colada na sua e me aconchega ao

seu corpo. Ficamos aproveitando o contato um do outro até


conseguirmos relaxar completamente.
Ele pede para que eu lhe fale sobre Naya, afinal, é a futura

namorada do seu filho e conto o que posso sobre minha fiel

companheira. O tempo acabou esfriando demais e entramos para

a sala.

— Vou no quarto pegar meu celular que esqueci. — ele

avisa. — Erick pode ligar avisando que está vindo e se eu não ver,

vamos ter problemas.

Me dá um beijo rápido e sobe as escadas. Quando Vino

sumiu de vista a campainha tocou. Espiei pela cortina e vi que era


uma mulher, mas não a conheço, então atendo.

— Vino está? — pergunta, me olhando dos pés à cabeça.

Não gostei do jeito dela.

— Quem gostaria de saber? — pergunto.

— Oi Abby. — ouço a voz de Vino atrás de mim e sinto sua

mão na minha cintura.

Os olhos da mulher acompanham o movimento e é o

suficiente para que eu saia e os deixe sozinhos. Não vou gastar a

minha beleza brigando por homem, mas estou com os ouvidos

prontos para ouvir tudo que vão conversar.

Eles falam sobre algo que ele a emprestou e ela está

devolvendo. Não entendo o que é, porque não detalham nada.


Vino manda lembranças para o filho dela e conversam sobre mais

coisas desnecessárias. Não posso culpá-la, eu também arrumaria


motivos para ver esse homem. Não demora muito para que Vino

entre novamente.

— Eu preciso saber quem é a Abby? — questiono, fingindo


desinteresse.

— Um ex caso. — responde, sentando ao meu lado. — Uma


viúva como eu e nós já nos divertimos muito juntos.

— Ela é bonitona. — afirmo e ele ri de mim. — Espero que

eu não precise te avisar sobre a questão da exclusividade de novo.

— Abby é uma mulher muito bacana e não precisa de

muitas palavras para entender uma situação, ela viu que você

estava comigo e essa visita não vai se repetir.

Olho para ele desconfiada. Não tenho questão nenhuma

contra Abby, quem me deve qualquer tipo de satisfação caso algo

aconteça será ele.

— Elas vem assim na sua porta? — questiono. — Quanta

liberdade você tem dado para as mulheres que dorme. — Vino


gargalha e me puxa para seus braços.

— Nós costumávamos usar a casa dela, Abby deve ter visto

que Erick não estava em casa, a moto dele sempre fica


estacionada ai na frente.

— Espero que essas visitas não se repitam com outras

mulheres. — seguro seu rosto e vejo o divertimento em seus olhos.

Ele sabe que estou falando sério, mas está adorando a

situação.

— Alguém aqui é ciumenta. — sorri. — Eu só quero você,

Docinho.

— Acho bom. — falo e ele ri. — Para de rir de mim. — bato


em seu braço, rindo também.

— Você fica linda quando está com raiva.

— Eu quero bater em você. — ameaço e ele me aperta

ainda mais a ele. — As mulheres caem aos seus pés e eu odeio

isso. Você não deveria ser tão cafajeste e dormir com a cidade
toda.

— Eu não dormi com a cidade toda. — faz uma pausa. —


Só com metade. — me provoca e bato em seu braço novamente.

— Docinho, vamos pensar na minha vida depois de você e não


antes. Você também teve outras pessoas e eu tenho que aceitar
isso.

Ele me observa com atenção, prende meu cabelo atrás da


orelha e deixa vários beijos por todo o meu rosto. Sorrio e me
rendo ao seu carinho. Precisarei me preparar mentalmente para
aguentar todo o ciúme que irei sentir.

— Quantas vezes eu vou precisar dizer que desde que uma


pequena e doce garota entrou na minha vida e decidiu me
enfeitiçar, eu só tenho olhos para ela? — beija meu pescoço.

—  Muitas vezes. — finjo chateação e ele ri.


Depois de presenciar tantos corações sendo partidos é até
estranho ver alguém feliz por se apaixonar, e bom, eu sou uma
dessas pessoas. Nunca foi dessa forma. Nunca me apeguei tão
rápido, nem desejei alguém nessa intensidade, ainda não tinha me

sentido assim, pensar tanto em um homem e ficar ansiosa para vê-


lo. Nada se compara ao frio na barriga de tê-lo e a sensação de

pertencer a ele.

As coisas estão mais fluidas do que imaginei que ficariam,

mas já estou com saudade. Vino viajou com Theo essa madrugada,
apenas dois bonitões pelas estradas para fazer negócios. Se fosse

em outro momento, eu estaria achando sexy e louca para encontrar

com eles no meio de alguma estrada, porém, agora só quero que


eles voltem logo.
Erick aproveitou a viagem e chamou a mim e a Naya para

dormimos com ele essa noite. Há um bom tempo que não paro para
ficar apenas com os meus amigos e achei uma ótima oportunidade

de saber mais sobre Vino e se Erick aprovaria ou não a minha

relação com seu pai.

— Mãe. — grito da porta.

— Oi, querida. — aparece na entrada da cozinha.

— Naya está chegando, vamos dormir com Erick hoje.


Lembra que te disse que o pai dele viajou e ele está sozinho? — ela

concorda com a cabeça, mas sei que não está gostando nada dessa

ideia.

— Tudo bem, mas juízo vocês três. Mais tarde me ligue para

avisar se está tudo bem.

— Ligo sim. — beijo sua bochecha e ouço a campainha tocar.

— Deve ser ela. – digo e corro para pegar minha bolsa que está no

sofá.

Fecho a porta da frente e Naya me abraça.

— Vamos aproveitar a noite, fugitiva. — Naya sussurra e dá

pulinhos de animação.
— Estão pensando em fugir para onde? — pergunta minha
mãe abrindo a porta de uma vez nos assustando.

— Boa noite, Amélia. Vamos fugir para nos divertir. — Naya

beija sua bochecha e me mãe a olha desconfiada.

— Estou de olho nas duas, vão logo antes que eu desista de


permitir que saiam de casa. — diz e já nos afastamos em direção ao

carro.

Naya e eu apressamos o passo porque sabemos que ela


realmente pode mudar de ideia rapidamente. Erick nos convidou

para ficar com ele durante a viagem de Vino e eu só penso em

como me sentirei estranha com tantas novas lembranças daquele

lugar, sem poder compartilhar com meus melhores amigos.

— Como você e Erick estão? — questiono porque eles

andaram brigando nas últimas semanas.

— Não sei, as vezes estamos tão bem e do nada ele parece

estranho, inseguro. Não consigo entender.

— Vino disse que ele tem andado bem pensativo, não acho

que seja nada relacionado a você. — tento tranquilizá-la.

— As vezes acho que Erick não gosta realmente de mim, ou

só vai perceber que realmente gosta, quando me perder. — fala


triste.

— Vou tentar conversar com ele durante as aulas essa

semana, se algo está acontecendo com ele, precisamos saber para


ajudá-lo.

— Será ótimo, mas sinceramente, acho muito difícil ele


contar, já perguntei milhares de vezes e ele apenas desconversa.

Não gosto desses jogos, estou ficando cansada.

— Eu sei, mas não largue o que vocês tem tão fácil. Sei que
ama ele, vale a pena tentar um pouco mais.

— Você sabe que de homens instáveis a minha vida já está

lotada. Não quero alguém assim ao meu lado, preciso de uma base,
de tranquilidade. — respira fundo.

— Vamos descobrir o que ele tem e caso as coisas

continuem ruins, serei a primeira a te apoiar com o término. — sorrio


para ela.

Conversamos um pouco mais sobre Erick e ela, sobre meus


últimos dias com Vino e rimos horrores das fofocas da universidade.

Não demora muito e ela estaciona o carro em frente a casa de Vino


e descemos, Erick abre a porta sorridente.
— As minhas garotas chegaram. — me abraça e dá um beijo

rápido em Naya.

— Espero que tenha muita bebida alcoólica por aqui. — o


cheiro de Vino está por todo lugar.

— Meu pai não se importaria nem se bebessemos todo o


álcool que temos nessa casa. — rimos.

— Ele sabe que estamos aqui? — Naya pergunta.

— A ideia foi dele. — Erick responde, me entregando uma


garrafa de tequila.

— Tio Vino sempre sendo o melhor. — comemoro e ele ri.

Coitado do meu melhor amigo que não sabe como essa frase
tem várias segundas intenções.

— É engraçado te ouvir chamá-lo assim. — ele pega os

copos de shot. — Mas meu pai gosta muito de vocês.

— Ele gosta da Vitória. — Naya fala de sopetão e a olho feio.


— Porque ele mal me vê, ele a conhece bem melhor. — se explica.

— Mas ele sabe muito sobre você, afinal, é a minha garota e


sempre compartilho com ele o quanto você é incrível. — ele a puxa

para um beijo caloroso.


— Enquanto vocês se agarram vou procurar cervejas na
geladeira porque nem só de tequila se vive uma mulher. — subo
com minhas coisas e as de Naya, as deixo no quarto de Erick e

pego meu celular.

Envio uma mensagem para minha mãe dizendo que estamos


bem e com Erick. Espio dentro do quarto de Vino, que está com a

porta aberta e sinto falta daquela cama maravilhosa e do dono dela.

Volto para a sala e eles estão procurando algo na TV.

— O que vamos fazer primeiro? — pergunto.

— Assistir. — Erick dá de ombros.

— Nada disso, festa do pijama não é festa do pijama sem


verdade ou desafio na piscina. — Naya fala, já levantando.

Pegamos as pizzas que Erick tinha pedido e as bebidas.


Ligamos o som da parte externa e sentamos na borda da piscina
com as pernas dentro da água.

Nosso primeiro desafio era quem secava a garrafa de cerveja


primeiro para que pudéssemos jogar com ela. Os três, ao mesmo
tempo, bebem o líquido até que um finalize ela inteira. Erick ganhou

e agradeci ao universo porque senão já estaria bêbada.


Rodamos a garrafa e a brincadeira começou, a cada
pergunta feita tomaríamos uma dose de tequila. Quando já
estávamos começando a ficar alegrinhos, vi que era essa a minha

oportunidade de entender algumas coisas de Erick.

— Verdade ou desafio? — pergunto para ele.

— Verdade. — ele escolheu.

— Você se incomodaria se seu pai namorasse uma amiga

sua?

Se não perceber agora, não percebe nunca mais, amigo.

— Nunca parei para pensar, mas sei lá, nada a ver. Meu pai
não ficaria com alguém tão nova. Ele gosta de garotas experientes,

vocês não tem noção das mulheres que ele sai. — eu tenho sim,

porque Abby adora bater nas portas das casas. — Uma vez eu

acordei e a mulher estava só de calcinha e sutiã na cozinha, ela


parecia a Megan Fox de tão gostosa. Ele gosta de casos de uma

noite. Acho que ele não namoraria sério com mais ninguém, ele diz

que não tem mais idade para essas coisas.

— Nossa, meu sogro é bem ousado. — Naya tenta disfarçar

e rimos. — Mas será mesmo que ele não se envolveria com alguém
mais jovem? Quer dizer, ele é bonitão, as meninas devem flertar

com ele. E da sua idade, já não são mais tão novas.

— Seria muito estranho vê-lo com alguém da minha idade.


Acho que não funcionaria. — Dá de ombros e bebo a cerveja

tentado disfarçar a minha cara de tristeza.

Investiguei e tive uma resposta não tão agradável, mas já era

o que eu esperava. Por mais que esteja na ponta da língua para

contar a ele, ainda não tenho coragem e será como Vino e eu


combinamos, quando conseguirmos conversar juntos com ele.

Ficamos bebendo, dançando, aproveitando a piscina e

conversando até de madrugada. Já estamos alegres o suficiente e

preciso de uma boa noite de sono para me recuperar da dor de

cabeça que irei acordar amanhã.

— Já são quase três da manhã, vamos dormir. — Naya nos


chama e ninguém questiona.

Erick diz que no andar de cima só tem os banheiros dos

quartos, então precisaremos revezar. Naya entra com ele no do seu

quarto e eu aproveito para usar o de Vino.

Não vou ficar paranoica com o que Erick disse, claro que é

uma coisa para se pensar, mas eu não ficarei insegura, triste ou


magoada. Eu sei a vida que Vino levou antes de mim, e não o julgo.

Ele está mais do que certo. Ponha-se no lugar dele, um homem

feito, gostosão, com mulheres chovendo na sua horta e solteiro,


claro que pegaria todas as gostosas. Se fosse eu, pegaria também.

A única coisa que importa para mim é que ele é meu, está
comigo, me escolheu. Não deixo esse homem escapar nem que ele

queira.

Fecho a porta e o seu cheiro me invade. Realmente estou

com saudade dele. As portas da varanda estão fechadas, quando

ele está aqui elas sempre ficam abertas, Vino gosta de sentir a brisa
entrando no quarto.

Caminho pelo quarto e vejo a blusa que ele estava vestido na

primeira vez que nos encontramos, pego e a cheiro, se fechar os

olhos posso vê-lo na minha frente. Tiro minha blusa e visto a dele.

Deito em sua cama e lhe envio uma foto.

Essa cama fica vazia demais sem você aqui.

Não demora nada para que meu celular esteja recebendo


uma chamada.

— Você está na minha cama? — sua voz rouca me faz


arrepiar.
— Sua tequila me deu coragem e saudade. — faço biquinho

mesmo sem ele poder ver. — Suas blusas sempre vão ser a minha
peça de roupa favorita e essa branca me deixa sexy, posso ver os

meus mamilos através do tecido.

Ele xinga e rio.

— Você estava bebendo? — questiona.

— Talvez um pouquinho, Tio Vino. — respondo como se

tivesse sido repreendida.

— O que eu farei com você? Precisarei puni-la por me

provocar quando estou longe? — só de imaginar, meu corpo se

aquece.

— O que você vai fazer eu não sei, mas o que eu quero que
você faça está nítido na minha mente.

— Docinho, não me provoque enquanto estou longe de você.


— pede.

— Se eu te provocar você volta mais rápido?

—Também já estou com saudades, Docinho. Queria muito

estar nessa cama com você.


— Seu quarto cheira a você em cada cantinho. — meu tom

de voz baixa.

— Não me maltrate, mulher. — acabamos rindo.

Ele me conta que estão hospedados na casa de uma grande

amiga de Theodore, que fizeram várias reuniões durante a tarde e

amanhã pegarão a estrada de novo para conseguir finalizar tudo o

mais rápido possível e voltar para casa. Falo sobre nossa noite e
como é estranho estar aqui sem ele.

— Não estão sentindo sua falta? — questiona.

— Vim tomar banho no seu banheiro, enquanto eles tomam

no de Erick. Inclusive, não estava com sono, mas sua cama é tão

gostosa que poderia dormir agora nela.

— Estou imaginando seu corpo pequeno perdido dentro da

minha blusa, deitado na minha cama, deixando seu cheiro no meu


travesseiro. — sorrio.

— Posso ficar com essa blusa para mim? É a minha favorita.


— peço;

— Não, mas você pode usá-la quando estivermos juntos.


— Quando estivermos juntos eu quero estar sem roupa. —

provoco.

— Eu vou parar de falar com você porque não tenho


condições de ficar três dias de bolas roxas. — rio. — E está na hora

de você ir dormir também, Docinho.

— Sonhe comigo, Tio Vino.

— Sempre, linda. Sempre.


Aconteceu muito rápido, o meu dia começou tranquilo e
terminou terrível. É segunda, já fazem quase dois dias que dormi na
casa de Erick, essa é a mesma quantidade de dias que não tenho

nenhuma notícia de Vino. Estou tentando não pilhar, mas é meio


impossível não pensar em milhares de coisas.

O dia está chuvoso e normalmente eu adoro isso, porém hoje

parece que o céu está acompanhando o meu ânimo.

Cheguei à faculdade e fui direto para a aula, minha manhã


passou rápido e não consegui me concentrar em nada do que foi

falado. Hoje é o meu dia de dar carona a Naya, então espero por ela
no estacionamento.

— Nada ainda? — questiona, quando entramos no carro.


— Nada, espero que ele esteja bem só para que eu possa

matá-lo. — respiro fundo.

— Erick está tranquilo, então não deve ter acontecido nada


demais. — tenta me tranquilizar.

Sei que ela tem razão, mas então por que ele sumiu? Será

que isso é um sinal de que as coisas entre nós chegaram ao fim?


Que ele cansou de mim e simplesmente está sendo um babaca?

Mas essa não seria uma atitude que Vino teria. Ele não é assim.

— Mas ele não deixaria de dar notícias, Naya. — sinto a

angústia na minha voz.

— Amiga, é uma viagem de negócios, ele pode está

resolvendo algo, pode ter tido problemas com o celular.

— O que o Erick te disse hoje, quando perguntou?

— Que tinha falado com Theo hoje e Vino ainda estava

dormindo.

Estou cada vez mais convencida de que ele está se

preparando para terminar tudo comigo.

— A Vitória que eu conheço não fica tão preocupada quando

um cara não liga para ela. — brinca e sorrio.


— Sua amiga foi fisgada por um quarentão. — rimos.

Preferi mudar de assunto e perguntei sobre a viagem de

trabalho que a mãe de Naya está fazendo. Conversamos sobre as

aulas e combinamos de nos falar mais à noite.

Passei a tarde estudando, ajudei minha mãe com o jantar e


quando estava exausta demais para continuar acordada fui deitar,

mas o meu celular tocou e eu corri para atender. O nome de Vino

piscou na tela, mas quando atendi não escutei sua voz.

— Eu falo com a Vitória? — perguntou uma voz feminina do

outro lado.

— Sim, sou eu. Quem é?

— Me chamo Vanessa, sou enfermeira do Hospital Central de

Missouri. — meu coração para.

— Porque você está com o celular do Vino? — sinto meu


corpo arrepiar.

Ele está ferido!

— Senhora, ele sofreu um acidente de carro, houve uma

colisão na estrada. Tentamos entrar em contato com o número de


emergência, mas não conseguimos e o seu contato era o último
discado. Precisamos que você venha até o hospital e entre em

contato com a família.

— Estou indo agora mesmo. Ele está bem? — pergunto

preocupada.

— O atendimento correu bem, mas ele continua

desacordado. Vou lhe passar o endereço e o número do quarto. — a


moça passa todas as informações e eu desligo o celular.

Sinto meu corpo em choque. Não sei o que pensar ou como


agir, mas preciso chegar até ele.

Pego tudo que preciso o mais rápido possível e deixo um


bilhete para minha mãe explicando que um amigo sofreu um

acidente e corri para vê-lo no hospital. Rezo para que Srta. Hepburn
aguente as três horas de estrada até a capital, onde fica localizado o

hospital.

Não consigo nem pensar direito, a única coisa que está na

minha cabeça é, como isso foi acontecer? Ele sumiu faz dias e
agora que avisam isso? Será que o acidente foi hoje ou outro dia?

Como ele está? O que ele tem? Como Theo está? O que
aconteceu?

Deus, que eles estejam bem.


Sempre me disseram que quando algo ruim vai acontecer

com alguém que amamos recebemos um aviso, ele vem em forma


de sensação. Sentimos algo ruim, e logo essa pessoa vem na nossa

cabeça, mas eu nunca acreditei nisso, até hoje.

Na primeira hora da viagem, não consegui parar de pensar

nas causas para aquilo estar acontecendo. Eu culpei quem estava


dirigindo carro, culpei a mim, a Deus, o destino, o carro, a puta que

pariu. Mas eu não conseguia parar de pensar nas milhares de


maneiras que esse acidente poderia ter acontecido.

Na segunda hora, eu estava no automático, eu não sentia


nada, nem o meu corpo, minhas mãos apertavam o volante com
toda força, meus dedos estavam dormentes, meus pés apenas

freavam e aceleravam o carro, eu só queria chegar lá, naquele


maldito hospital.

Quando cheguei à capital eram três da manhã, acelerei nas


ruas ainda um pouco movimentadas e em cinco minutos estacionei

no hospital. Minhas pernas funcionaram e eu corri porta adentro até


a recepção.

Informei seu nome e a recepcionista me direcionou para o


andar. Um elevador nunca demorou tanto. O quarto de Vino é o
último do corredor e me sinto preste a desmaiar.

Abro a porta e Vino está lá. O grande corpo dele deitado

naquela cama estreita, vestido na típica roupa de hospital, seu rosto


tem um lado inchado e seus braços tem arranhões. Me aproximo da

cama e toco sua mão, que está muito machucada. Um dos seus
braços está imobilizado, seu corpo ligado a alguns aparelhos e
estão lhe dando soro.

Deus, o que aconteceu?

Minhas pernas se tornam fracas, me apoio na cama para não


cair e as lágrimas não param. Choro como uma criança, me dando
conta da gravidade do que aconteceu.

— Senhorita. — ouço uma voz grossa e levanto a cabeça. —


Você não deveria estar aqui. É familiar do paciente? — concordo. —

Eu sou o médico que está responsável pelo caso do senhor Walter.

— Sou namorada dele, me ligaram e vim direto para cá.

Como ele está?

— Os sinais vitais estão normais, mas ele ainda não acordou

desde a hora que chegou. Estamos esperando seu corpo reagir ao


trauma, isso acontece quando o nosso corpo é exposto a situações

muito fortes.
— E o homem que estava com ele? Theodore Holt. —
questiono nervosa.

— Quebrou o braço, mas já está consciente e assim como


Vino ele também teve alguns arranhões e machucados.

— Então eles ficarão bem? — questiono aflita. — Acredita


que ele pode demorar a acordar?

— Estamos apenas esperando Vino acordar para fazermos

os últimos exames e entendermos o porquê dessa demora em


acordar. Se quiser, pode visitar o Senhor Holt, ele está no quarto ao

lado.

Deixo o médico conferindo o prontuário de Vino e vou visitar


Theo. Ele me recebe com um sorriso fraco, mas parece aliviado em

me ver.

— Como você está? — pergunto.

— Dolorido. — indica o braço quebrado.

— Como isso aconteceu, Theo? — me aproximo da sua


cama.

— Nós estávamos indo para casa mais cedo, ele queria te

fazer uma surpresa. Paramos para comer e ele pediu para dirigir, foi
muito rápido. Um carro colidiu na nossa lateral, o carro capotou. O

impacto foi maior do lado dele, não estávamos em alta velocidade,


acho que nossa sorte foi essa.

— Meu Deus, Theo. — solto uma respiração pesada. — Fico

feliz que esteja bem.

— Obrigado, mas você andou chorando. Não conheço muito


bem você, mas conheço as mulheres, não aconteceu algo ruim com

ele, não é? — demonstra sua preocupação.

— Não, ele está como você, como alguns arranhões, mas

ainda não acordou. Os médicos estão averiguando o caso com


atenção, mas fisicamente tudo está bem.

— Ele ficará bem. – sorrimos.

Minha ficha ainda não caiu. Ver Theo bem me causa um

alívio imenso, mas a demora de Vino em acordar faz meu coração


se manter apertado. Quero vê-lo, ouvir sua voz, realmente ter

certeza de que nada grave aconteceu.

— Você já falou com Erick? — questiona.

— Não. Acredito que tentaram falar com ele, mas não

conseguiram e acabaram ligando para mim.


— Bom, então acho melhor você se preparar, porque eu

liguei e ele está vindo para cá.

Merda, claro que isso ia acabar acontecendo.

— Sinto muito, não sabia que tinham ligado para você, mas

quando acordei, Carly e ele foram as primeiras pessoas que entrei

em contato.

— Deus. — passo as mãos no rosto. — Quanta coisa de uma

só vez.

— Você vai contar? — parece preocupado.

— Tenho que contar, é agora ou nunca.

— Eu vou apoiar você, era isso que Vino iria querer. Não se

preocupe, Erick vai explodir, mas depois vai aceitar bem. —


concordo.

Erick, na maior parte do tempo, é a pessoa mais pacífica que

conheço, mas quando algo lhe abala, ele sente como se o mundo

estivesse desabando sob seus pés. Sei que ele se sentirá traído e

quando algo entra na sua cabeça é muito difícil fazê-lo mudar de


opinião.
— Agora vá cuidar do seu Tiozão, sei que está doida para

olhar para ele. — brinca e rio.

Theodore Holt é um bom homem! Depois de saber tudo que


ele já fez por Vino e Erick, observar a forma como ele ama seu

trabalho, sua dedicação e sua forma leve de encarar a vida, sei que

ele tem um coração gigante e não sustenta apenas o seu próprio

mundo, mas também o das pessoas que ele ama.

— Quero estar lá quando ele acordar, mas já volto para ficar


com você.

— Adorarei a visita, Cunhadinha. — sorrio e saio do quarto.

Quando entro no quarto de Vino, ele ainda está dormindo.


Sua expressão é calma, mesmo com o corpo todo machucado. Ele

parece estar em paz e espero que logo volte para mim. Seguro sua

mão e mesmo não tendo a voz bonita como a sua, cantarolo sua
música favorita no seu ouvido.

Talvez assim ele consiga encontrar o caminho de volta para


mim.

Sento na poltrona ao lado da sua cama e aviso a minha mãe

que estou bem, mando uma mensagem para Naya explicando tudo

e ficamos conversando até que eu sinta sono. Quando o relógio


marca seis da manhã, o sono me vence, mas desperto quando ouço

a voz de Erick me chamando.


— Bia, o que você está fazendo aqui? — ele me olha
confuso.

— Oi, Erick. — acordo ainda assustada.

— Oi, mas o que você está fazendo aqui? — ele está


completamente perdido.

— Ligaram para mim assim que eles chegaram e eu vim. —

levanto da poltrona e observo Vino, que ainda dorme.

— Porque ligaram para você, Vitória? — percebo seu tom de

voz mudar.

— O meu número era a última ligação que o seu pai fez antes

do acidente. — confesso.

Erick olha para mim e depois para Vino, como se não

estivesse compreendendo como eu vim parar aqui. Realmente,


nada deve está fazendo sentido agora, porque não existem

explicações plausíveis para que eu esteja aqui.

— Porque merda ligaram para você depois do meu pai sofrer

um acidente?

— Porque eu sou namorada dele. — Erick paralisa e me olha

espantado.

Minhas mãos estão geladas e eu não sei o que esperar. Ele

não desgruda os olhos de mim, então vejo o exato momento em que


o ódio toma conta do seu rosto.

— Você só pode estar de brincadeira. — quase grita.

— Nós queríamos te contar, mas ainda não tínhamos

encontrado o momento certo. — ele ergue a mão para que eu lhe


cale.

— Eu não quero ouvir essa merda. — me corta. — O que

importa agora é o meu pai ficar bem.

— Um carro bateu no deles, Theo está no quarto ao lado e


pode te explicar melhor. — falo. — Theodore quebrou o braço e seu

pai teve apenas alguns machucados, mas ainda não acordou. 


— Mas porque ele não recobrou a consciência ainda? — olha
preocupado para o pai.

— Ainda não sabemos. Os médicos dizem que ele está bem,

que o corpo dele só ainda não teve forças para retornar.

— Mas ele vai acordar não é? — vejo medo em seus olhos.

— Claro que vai, ele está bem. — quero abraçá-lo, quero

confortar o meu melhor amigo, mas ele já não me olha da mesma

forma. — Erick, precisamos conversar.

Ele está saindo do quarto para ver Theo, mas preciso que ele

me ouça.

— Não se preocupe, nós vamos ter uma conversa muito

longa, mas não aqui e nem agora. Meu pai precisa descansar e não

vou brigar com a peguete dele no meio do hospital.

Sai, me deixando sozinha. Peguete? Se ele pensa que irei


aceitar insultos, está muito enganado. Por mais que eu não queira

magoá-lo, e que saiba que deve está sendo uma loucura na sua

cabeça assimilar tudo isso, não o deixarei passar de qualquer limite.

Não me arrependo de nada que vivi com Vino e nós dois estávamos

muito conscientes de todos os riscos desde o início.


Volto a sentar na cadeira e durmo observando o peito de Vino

se mover, mostrando que ele ainda está vivo. Já são quase meio dia
e minha barriga ronca. Levanto e percebo que trocaram os curativos

de Vino, assim como a medicação no soro, os sinais vitais


continuam sendo anunciados na máquina, mas tudo que eu quero é
que ele não precise mais usá-la, que ele acorde logo.

— Oi, Grandão. — beijo seu rosto. — Eu tenho que ir buscar


algo para comer, estou morrendo de fome e bom, não posso estar
com cara de doente quando acordar porque adora como minhas

bochechas são rosadas. — rio. — Você tem que estar acordado


para quando Erick estiver querendo arrancar os meus cabelos de

ódio porque não contamos para ele sobre nós. Preciso de alguém
que me defenda. — gargalho sozinha imaginando o que ele estaria

resmungando agora. — Se você estivesse acordado estaria dizendo


que eu não precisaria de ninguém para me defender e que Erick que
deveria se cuidar para que eu não o machuque fisicamente. —

suspiro.

“— Estou com saudades da sua voz. Quando você acordar

quero que cante para mim, você nunca cantou só para mim, cara a
cara, depois de um sexo louco, em algum lugar bem longe e você

me deixando derretida com uma canção. Eu realmente senti sua


falta esses dias, Vino. Então trate de voltar logo para mim. — minha

barriga reclama mais uma vez. — Hora de comer, já volto. — beijo


seus lábios. — Se cuida e acorda logo para mim.”

Saio do quarto e vou para o restaurante do hospital.

Peguei uma bandeja e fiz minha escolha. Sentei em uma das


mesas e devorei tudo que tinha escolhido, quando estava quase

acabando vejo Erick atravessando o lugar, ele parece sentir minha


presença e me olha, muda o seu caminho e vem até mim.

— Eu quero ouvir da sua boca a história completa. — ordena,

sentado à minha frente.

— Se você mudou de ideia, provavelmente Theo já te contou.


— afirmo, provando meu sanduíche.

Vejo a raiva estampada em seu rosto. Erick não vai fazer um

escândalo aqui, mas ele também não se calará. Sei que ele deve ter
falado com Theo sobre isso, ele não deixaria de descobrir se foi o

último a saber sobre nós.

Theodore deve ter tentado acalmá-lo, mas ele irá colocar

tudo o que quer para fora.

— Você me engana há meses e não quer me dar uma


explicação? — ri sem humor. — Eu mereço saber. Foi ele quem
tomou a iniciativa?

— Não, eu dei em cima dele. — confesso. — Eu te falei sobre


o cara que eu estava afim.

Percebo o exato momento em que ele liga os momentos das


histórias. O choque de entender que o cara de quem falei não era
um qualquer, sobre todas as vezes que nos divertimos quando

comentamos sobre meu encontro com ele.

— Só esqueceu de mencionar que ele era a porra do meu


pai. — sua voz é fria.

— Tudo aconteceu antes do almoço na sua casa. Eu não


sabia que ele era o seu pai e ele também nunca imaginou que nós
éramos amigos.

— Então no almoço vocês já se conheciam. — ele se dá


conta e concordo. — Como conseguiram ser tão caras de pau e
fingirem esse tempo todo?

— Seu pai queria ter te contado, mas eu estava insegura.


Sabia que você não reagiria bem. E, de verdade, entendo que você

ache isso a maior loucura do mundo, nós também achamos, mas foi
inevitável.
— Não, Vitória, tudo isso poderia ter sido evitado. Era só
você ter se afastado dele quando descobriu quem ele era. Era fácil
ter olhado para mim e ter dito que o cara por quem ficou encantada

era o meu pai, que você não sabia, mas que agora pararia com isso.
Uma hora eu entenderia, mas vocês preferiram mentir para mim, se

encontrarem às escondidas, fingir, me trair e enganar.

Seus olhos mostram que naquele momento tudo mudou entre

nós. Não estou olhando para o meu melhor amigo, para o cara
bondoso e de sorriso acolhedor. Estou de frente para um estranho,

alguém que não se sente confortável na minha presença e que não

vai se preocupar se me machucar.

— Todos estavam sabendo? — concordo. — Naya, Theo,

Carly, menos eu?

— Naya estava comigo no dia em que conheci Vino, Theo


soube pelo seu pai e Carly acabou descobrindo.

— No dia em que cheguei em casa e ele estava


acompanhado, era você que estava lá? — seus punhos batem na

mesa com força.

— Sim, era eu que estava lá. Nós estamos namorando, Erick.

Não rotulamos nada ainda, mas decidimos manter algo exclusivo.


Estou completamente apaixonada por ele.

Ele passa as mãos no cabelo, demonstrando toda a sua

inquietação. Seu corpo está tenso, assim como o meu. Sei que ao
escolher estar com Vino perdi meu melhor amigo.

— Seus pais já sabem disso?

— Ninguém além de Naya, Theo e Carly. — ele cobre as


orelhas com as mãos por alguns segundos, como se não quisesse

mais me ouvir. — Erick eu quero que você entenda que foi uma

escolha minha, eu pedi ao seu pai para não contar porque eu estava
com medo da sua reação.

— A minha reação seria a mesma independente de quando


vocês me falassem. Preciso de um tempo pra digerir isso. Conversei

com Theo e quero que você vá para casa, ele não concorda, mas eu

preferiria.

O que? Quer que eu vá embora? Ele pirou?

— Eu não vou a lugar nenhum, só saio daqui quando o seu

pai for para casa. — olho séria para ele.

— Não adianta tanto esforço. — sorri debochado. — Logo ele


vai cansar de você. Só pegue suas coisas e vá para casa.
— Estou aqui desde às três da manhã, dormi em uma

poltrona, não comi quase nada desde ontem, o cara que eu amo

está desacordado depois de um acidente onde ele estava tentando


ir me fazer uma surpresa. Não é a sua opinião que vai me fazer sair

daqui.

— Você sabe que ele sempre vai escolher o lado onde eu

não me machuque, não é?

Me desafia, como se entendesse isso como uma competição.

Ele está cego pela raiva, pelos motivos que ele acredita serem

maiores do que a dificuldade do que estamos vivendo. Não vou


deixar que ele magoe Vino por só querer olhar para o seu umbigo.

— Isso não é sobre escolher um lado, Erick. Ouça o que está

falando. Seu pai já sofreu demais e você pode não acreditar, mas eu

sei que ele também está apaixonado, ele não merece sofrer mais

por causa da sua infantilidade. — levanto, perdendo totalmente o


apetite. — Eu não vou aceitar nenhuma palhaçada, Erick. Amo você

e sinto muito que se sinta traído, mas precisa existir respeito entre

nós, pela situação que seu pai está vivendo, ele precisa de paz. —
levanto da mesa e o deixo sozinho.
Não sei quanto tempo se passou desde que voltei para o

quarto. Minhas costas estão doendo da posição da poltrona e tento

me manter o mais confortável possível.

— Cunhadinha. — ouço Theo me chamar.

Acabei de tomar um banho gelado para tentar manter minha


sanidade.

— Vim ver como ele está. — aponta para Vino com o queixo

e sorrio.

— Ainda insistindo em ser um preguiçoso. — brinco.

— Bom, se existe alguém que adora dormir é esse cara. —

rimos. — Ele vai acordar logo. — fala com esperança.

— Estou esperando ansiosamente por isso. — me aproximo

dele. — Notícias de Erick?

— Foi comer e disse que precisava de um tempo para

pensar, que logo voltaria. — dá de ombros.

— Ele me questionou sobre minha relação com o pai dele e

tudo bem, o conheço, sabia que ele ficaria chateado, mas não quero
que ele acabe machucando Vino e a mim por não entender o que

estamos vivendo.

— Erick conhece uma vida onde Vino não se envolveu com

mais ninguém além de Lilian. Todas as outras foram coisas banais,

nada de namoradas. Sua reação é muito mais porque está vendo


Vino trilhando caminhos diferentes da imagem imaculada que Erick

tem de que o pai e mãe serão o casal perfeito para sempre. De não

ser mais apenas eles dois.

— Eu entendo que é difícil para ele e me parte o coração vê-

lo tão triste, porque em outros momentos eu estaria o consolando


agora. — me sinto cansada. — Mas só consigo pensar em o quanto

quero que Vino acorde logo.

Descobri que Theodore Holt é um ótimo ouvinte e uma

companhia confortável. Ele tem milhares de histórias para contar, do

seu tempo de alistamento e das noites malucas no balcão do bar. Ri


muito durante nosso momento juntos, mas a enfermeira veio avisar

que ele precisava voltar para o quarto e tomar os remédios.

— Adoro mulher de uniforme mandando em mim. — fala

quando ela nos deixa sozinhos de novo e rio.

— Nem doente você sossega?


— Eu preciso de cuidados e, me perdoe as palavras, nada

melhor do que um par de seios fartos para me curar. — pisca, como


um grande cafajeste.

— Neste momento, tenho nojo de você. — ele ri alto.

— Você já me adora, Cunhadinha. Primeiro, porque eu sou


irresistível. Segundo, porque toda mulher adora um homem ruivo.

Terceiro, porque eu sou a única pessoa que atura o seu namorado,

além de você. — gargalho.

— Theo, as mulheres gostam de homens gostosos e você

tem sua beleza, por isso elas se rendem.

— É porque elas não me conhecem de verdade, apenas a


parcela mais safada de mim. — se gaba.

— E você deixa alguma mulher conhecer o verdadeiro

Theodore Holt? — cruzo os braços e espero ele responder.

— Só existe uma mulher que me conhece por completo. —

seus olhos não se mantêm nos meus.

E posso jurar que vi um pouco de tristeza neles. Será que o

maior cafajeste de todos tem o coração machucado?

— E porque vocês não ficam juntos? — questiono, curiosa.


— Porque eu sou assim, Cunhadinha, exatamente o péssimo
homem que você está vendo. Cheio de defeitos e com uma mania

de autodestruição capaz de machucar qualquer um. Ela merece

algo bem melhor.

— Talvez você seja tudo que ela precisa, Theo. Você só


precisa mostrar que ela pode confiar em você.

— Eu amo quando ela me liga no meio da noite, só precisa


de um toque e eu já sei que às três da manhã é ela quem me

chama. Eu posso estar fazendo qualquer coisa, eu corro até ela.

Nós fazemos amor, conversamos, comemos, fazemos amor de novo

e quando acordamos ela me faz uma grande xícara de café em uma


caneca preta, que eu a dei de presente quando ela fez dezoito anos.

Na época, não consegui comprar um presente melhor, estava

cruzando vários aeroportos para chegar de uma missão a tempo.


Ela guarda até hoje, doze anos depois.

Theodore está perdido em suas lembranças e isso me faz

perceber que talvez ele ame muito mais essa mulher do que até
assuma para si mesmo. E que ela o ama na mesma proporção.
Será uma pena se eles perderem a chance de viver o que sentem

por qualquer que seja o motivo.


— Ela também ama você, Theo. Tenho certeza.

— Ela quer ter uma família, filhos e um marido. Ela não vai
ficar esperando que eu sinta que estou pronto para isso Carly é uma
mulher deslumbrante, ela vai arrumar um cara maravilhoso que vai

lhe dar o valor que merece e eu vou ganhar um grande pé na bunda


oficialmente.

— Carly, irmã do Vino? — meu queixo cai.

— Essa mesma, minha pequena domadora de corações. —


ele sorri, com o olhar longe.

Não sei o que aconteceu entre eles, mas tenho certeza que
existem milhares de momentos que ele consegue lembrar em

detalhes. É possível sentir o quanto suas palavras carregam


intensidade, que existem sentimentos imensos guardados debaixo
de recaídas e resistências contra tudo isso. Não sei o que

aconteceu para separá-los, mas espero que eles possam ser felizes
juntos.

A enfermeira consegue levar Theo de volta para o seu quarto

e novamente sozinha, eu olho o homem que me encantou deitado


naquela cama. Depois de ouvir sobre o amor não vivido de
Theodore, tenho certeza que não quero me privar de sentir tudo que
Vino tem despertado em mim.

Não importa se nós iremos durar ou não, mas jamais irei me

arrepender de ter entregado meu coração a esse homem.

Caminho até Vino, beijo seu rosto e vou buscar um café.

Caminho um pouco pelos corredores do hospital e depois volto para


o quarto, acho um canal que está passando uma série que adoro.

— Docinho. — paro ao ouvir a voz fraca de Vino.


A luz branca machucou meus olhos. Eu odeio hospitais e
desde que perdi Lily não tenho uma boa relação com esses locais.
Hospitais são lugares de dor, doenças, mortes, tristezas e tragédias.
Corredores que carregam uma conquista entre mil derrotas.

Ouvi o barulho da televisão e tentei abrir os olhos algumas


vezes. Tentei me mexer, mas senti dores em um braço e nas
pernas, respirei fundo e minha garganta pedia para ser molhada,

ouço ela sorri e luto um pouco mais forte contra o cansaço do meu

corpo para conseguir alcançá-la.

Eu tentei chegar até ela.

Queria lhe fazer uma surpresa, passei dois dias sem ligar-lá

porque quando chegasse à cidade queria ir até sua casa, pular sua
janela e dormir com ela em meus braços em segredo. Mas as coisas

fugiram do controle.

— Docinho. — sinto minha garganta implorar por água e

acabo tossindo.

— Vino. – ela se aproxima de mim. — Eu estou aqui, amor.

— beija todo o meu rosto.

— Água. — peço e a tosse volta.

Ela me entrega a água e corre para chamar a enfermeira


para me examinar.

— Onde está o Theo? — questiono quando ela volta para o

quarto.

— Ele está bem. — me tranquiliza. — Já está paquerando as

enfermeiras.

Sorrio e sinto meu rosto doer. Todo o meu corpo está

dolorido.

Todas as imagens do acidente ainda estão vivas na minha

mente. Foi tão rápido que só senti o impacto forte e o carro

capotando várias vezes até que tudo apagou.

Vitória entra com Erick e o médico.


Merda…

— Que bom que acordou, senhor Walter. — o homem fala, se

aproximando da cama.

O doutor pergunta como estou me sentindo e questiono se já

sabem o motivo real da demora para que eu acordasse, mas o


homem me tranquiliza. Ele solicita vários exames e sou sincero ao

dizer que não sinto nada além do corpo dolorido e os arranhões

ardendo.

Ele me dá algumas instruções, faz alguns testes rápidos e diz

que logo uma enfermeira vem me acompanhar aos exames.

Erick está quieto, observando tudo, mas eu sou a pessoa que

mais o conhece no mundo. As sobrancelhas tensas, os braços

cruzados na frente do peito como uma defesa e a boca levemente

franzida, são o maior sinal de que ele está muito chateado, mas

quando vê que estou olhando para ele, sorri.

— Você me deu um susto do caralho, pai. — sua voz é doce

e seguro sua mão na minha.

— Em minha defesa, a culpa não foi minha. — brinco e ele

sorri.
— Sei que não, mas só de pensar na possibilidade de algo

ter acontecido com você, quase perdi minha sanidade. — beijo seus
dedos.

Meu filho é um bom homem, tem defeitos e qualidades, mas

sua essência é pura. Se ele e Vitória estão aqui, provavelmente ele


descobriu sobre nós, e sei que não reagiu nada bem.

— Ele está proibido de viajar até completar sessenta e cinco.


— brinca Vitória, sorrindo para mim.

— Ninguém te chamou na conversa. — Erick fala com

arrogância.

— Ei, que porcaria é essa? — repreendo-o — Você deve


respeito a Vitória, não aceito que fale assim com ela. 

— Nós precisamos conversar sobre isso depois. — olha com

desdém para Vitória. — Mas eu não sou obrigado a aceitar suas


escolhas, ainda mais uma errada como essa.

— Erick, sei que tratamos isso da maneira errada, mas agora


já aconteceu. Peço desculpas por você estar se sentindo traído,

mas nada justifica você ser rude com nenhum de nós.

Erick beija meu rosto e sai, nos deixando completamente


sozinhos. Sei que ele quer evitar briga, mas uma hora tudo que ele
está engolindo vai querer sair e ele vai explodir.

— Venha aqui, Docinho. — bato ao meu lado na cama e ela


deita comigo.

O corpo pequeno e curvilíneo cabe no espaço que sobra, seu


rosto no meu ombro e o braço circulando minha cintura levemente.

— Quando vocês chegaram, ligaram para mim, o meu


número era o último chamado. — começa a falar. — Não pensei em

mais nada e apenas vim. Eu não conseguia parar de pensar em


nada, só na esperança de que você estaria bem. Nunca senti um

medo tão grande na vida. — confessa e respiro fundo.

Meu cheiro favorito é o que exala dela e se eu estivesse


conseguindo virar sem tanta dor, eu já estava com o rosto enterrado

no seu pescoço bonito.

— Meu celular descarregou e só achei o carregador pouco


antes de pegarmos a estrada de volta, então pensei em te fazer

uma surpresa. Não aguentava mais ficar sem falar com você e não
podia mandar notícias por Erick ou pedir seu número a ele.

— Eu quase morri de preocupação, não faça isso nunca


mais. — pede.
— Tudo bem, na próxima viagem não farei surpresas. —
prometo.

— Nada de próxima viagem, pode tirar seu cavalinho da


chuva, você não viaja mais nem de avião. — gargalho.

— Mas eu quero te levar para conhecer novos lugares, que


eu saiba, você nunca saiu do estado. — ela me olha e posso ver a

felicidade estampada em seu rosto.

Também estou feliz em te ver, Docinho.

— Vamos conversar sobre isso depois. — duas enfermeiras

entram no quarto e Vitória desce da cama na velocidade de um raio.

As duas mulheres me levam para uma nova bateria de


exames, coisas que não sei nem o nome, quase uma hora depois

voltei para o quarto e Vitória estava dormindo encolhida como uma


bolinha na poltrona. Foi impossível não sorrir com a cena. Ela está
cansada, mas não saiu do meu lado um segundo.

Me deram um remédio para dor e comecei a sentir alguns


pontos menos doloridos. Consegui andar devagar até a cama e me

deitei novamente. Minhas pernas parecem pesar duas toneladas,


mas sei que logo estarei melhor.
— Docinho. — a chamo depois que as enfermeiras saem. Ela
nem se mexe. — Vitória. — falo mais alto e ela me olha com cara de
sono.— Vem deitar aqui, amor.

— Não, você está machucado e essa cama já é pequena


demais só pra você. — nega e volta a fechar os olhos.

— Docinho, eu não estou pedindo, estou mandando você vir


deitar comigo. — primeiro ela abre apenas um olho e depois me dá

aquele olhar mortal.

— E desde quando você manda em mim? — pergunta com

deboche.

— Não me faça levantar dessa cama e ir te dar umas boas

palmadas nessa bunda grande. — ameaço e ela ri.

— Vino, vá descansar e me deixe dormir. — ela se mexe na

poltrona, vira o rosto para o outro lado e fecha os olhos.

Mulher teimosa do caralho. Mas da mesma forma que ela tem


opinião forte, eu tenho duas vezes mais. Começo a me levantar da

cama devagar e ela me olha assustada.

— O que está fazendo? — xinga.

— Indo buscar você.


— Seu velho rabugento, volte para a cama, você está

machucado, não entendeu isso ainda?

Ela levanta da poltrona para me ajudar a voltar para a cama.

— Você me chamou de velho rabugento? — finjo estar

ofendido. — Agora sim eu vou te dar muitas palmadas.

Tento me posicionar para levantar novamente e ela coloca a


mão no meu peito para me impedir.

— Vino Walter, não me provoque. — briga. — Você sofreu um

acidente e quase não acorda, nós nem sabemos o porquê disso

ainda e você quer sair da cama por brincadeira. Não teste minha

paciência.

Estou morrendo de vontade de rir, mas me controlo para


manter a discussão falsa. Realmente estava com saudades dela,

muito mais do que pensei. Está cada vez mais impossível pensar na

possibilidade de deixá-la ir.

— Você fica uma delícia brava. — me rendo.

O mais rápido que consigo, envolvo meus braços na sua

cintura, a puxo para seu corpo cair sobre o meu peito. Vitória solta
um gritinho e eu um gemido de dor.
— Eu disse que você se machucaria, seu idiota. — ela briga

comigo e rio.

— Docinho, eu já fui baleado, isso aqui não é nada.

— Velho rabugento. — tenta se soltar do meu aperto.

— Novinha gostosa. — sorrio e a beijo.

Ela retribui sem nenhuma demora. Como alguém é capaz de


ter um encaixe tão perfeito com outra? Vitória tem o tudo na medida

certa, o toque firme e delicado, a boca capaz de me levar ao céu, o

cheiro mais envolvente e o sorriso mais contagiante.

Eu não lembrava mais como era estar apaixonado por


alguém até que ela apareceu.

— Ei, ei, ei... Podem ir parando, nada de saliências no


hospital. — ouço a voz de Theo e sorrio contra os lábios de Vitória.

— Disse o cara que estava querendo pegar uma das

enfermeiras. — ela senta na ponta da cama e seguro sua cintura.

— Onde Erick está? — pergunto.

— Está dormindo um pouco. Aquele garoto está perdendo o


controle desde que soube do romance de vocês. Ele não vai

perdoar vocês nem tão cedo.


— Iremos conversar e nos resolver. — afirmo, mas Theo me

olha estranho.

— Ele está acreditando que você seduziu o Vino e por ele


pensar com a cabeça debaixo, caiu nos seus encantos. Eu já lhe

disse que Vino não é uma criança que pode ser ludibriada, mas ele

não está vendo isso de uma boa forma.

— Ele só pode estar de brincadeira. — passo a mão no rosto.

— Tecnicamente, ele está certo. Eu seduzi o Vino, ele cedeu

e viu que gostava de mim. — Vitória dá de ombros.

O médico retornou à sala para trazer os pareceres dos novos

exames, brigou com Vitória por ela estar na cama comigo e ela me
acusou de ser o culpado de tudo. Tudo estava normal e ele afirmou

que o meu sono de horas profundas foi causado pelo susto que meu

corpo teve com tudo que aconteceu, ele precisou desligar e reiniciar.
Theodore, Vitória e eu ficamos conversando, mas algum tempo

depois somos interrompidos pela porta, que é aberta violentamente,

e uma Carly desesperada passa pela porta como um furacão.

— O que você tem na cabeça? — fala fria e calculista.  —

Como você está no hospital e não me avisa? A mamãe está


desesperada, seu irresponsável, eu larguei tudo para vir atrás de

notícias suas, idiota.

Faço menção de responder, mas ela continua.

— Cala a boca. Eu quase morro de preocupação, você não

tem direito de falar nada. E você. — aponta para Theo. — Outro

babaca idiota, não sabem nem dirigir um carro. Eu não sei onde fui

me meter arrumando dois homens burros desses. Meu Deus do céu.

— Alguém precisa parar essa mulher, ela é um furacão. —


Theo fala.

— Porque você está aqui? Era para estar no seu quarto

descansando. — cutuca o peito de Theo com o dedo. — Está vendo

o que essa viagem desnecessária causou? Você com o braço desse

jeito e ele em uma cama. Quem vai me explicar direito o que


aconteceu?

— Carly. — Vitória chama sua atenção. — Não avisamos

nada porque Vino estava desacordado até hoje cedo, não sabíamos

o porquê, mas foi uma loucura tão grande que nem tivemos tempo
de te ligar.

Os olhos da minha irmã se arregalaram, seu queixo caiu, ela


se apoia na cama e depois abraça Theo, que está ao seu lado.
— Você estava em coma? — sua voz sai em um sussurro e

seus olhos enchem de lágrimas.

— Já estamos bem, Carly, foque nisso. Não sofra por algo


que já foi resolvido. — Carly funga e concorda, respira um pouco,

parece está mais controlada, até se dar conta que está abraçando

Theo e para.

— Porque você está me tocando? — pergunta séria. — Não

me toque. — se afasta e eu e Vitória caímos na gargalhada.

Esses dois são impossíveis.

— Eu vou sair daqui porque essa mulher é doida e tem uma

enfermeira louca pra cuidar de mim na porta ao lado. — pisca para


Carly que faz careta de nojo.

— Não deixe sua enfermeira esperando, ela deve está

ansiosa, mas passa esse recadinho para ela: não é tão bom quanto

parece. — debocha do meu melhor amigo.

Os olhos de Theodore ganham um tom mais forte, ele está

pronto para a briga, o que é um inferno porque quando começam,

não param mais.

— Como é que é? — Theo pergunta e sei que ele vai falar


besteira.
— Ei, parou esse cabaré aqui dentro. Theo, para o seu quarto
e Carly venha aqui. — Carly anda até Vitória e Theo a olha furioso.

— Theo. Agora. – falo sério.

Ele sai batendo a porta.

— Porque você está tão instável hoje? — ela dá de ombros.

— Hormônios. — solta uma respiração pesada. — Vivi, eu sei

que você quer ficar com o Vino, mas deixa ele ficar um pouco com o

Erick e me acompanha até a cantina. — Carly pede e Vitória


concorda.

Antes de sair, Carly me lembra de uma das coisas mais


importantes na minha relação com Erick, ele sempre foi o meu maior

apoiador e não será diferente quando o assunto for meus

sentimentos, ele só precisa de tempo.

— Não seja duro com ele, ele quase perdeu você também. —
Carly fala. — Está assustado e é muita coisa para aquela cabecinha

absorver. Converse com ele e tente olhar o que está o magoando


ainda mais.

Elas saíram pela porta e respiro fundo, chegou a hora de


conversar com o meu filho.
Passou-se uma semana desde que Vino recebeu alta do
hospital. Está melhor das dores e os hematomas estão menos
escuros, tem reclamado por ter que ficar tanto tempo sem trabalho,

mas sabe que é para o seu bem. Tenho conseguido manter minha
mãe convencida que aconteceu um problema com a família de Naya
e estou com ela, fui buscar roupas em casa e as coisas da

faculdade, tentando manter mais real a minha mentira.


Erick tem trocado poucas palavras comigo, apenas o

necessário. Vino o obrigou a me dar carona alguns dias que fui

visitá-lo, mas fomos o caminho inteiro em silêncio.


—Como você se sente sobre ir falar com meus pais? — olho

para Vino, que está ao meu lado na cama. — Agora que Erick
descobriu, não temos porque manter em segredo. Só que meu pai é

um conservador, você teria que ir me pedir em namoro.


Ele pensa um pouco e me olha.

— Eu não tenho nenhum problema em ir falar com eles,


mesmo achando que não permitirão. — contorno sua tatuagem com

a unha e sorrio quando sua pele se arrepia.

— Só não quero repetir o mesmo erro que cometemos com


Erick. Já tem sido difícil demais. — ele deita de frente para mim,

apoiando a cabeça na mão. 

Sinto falta do meu melhor amigo todos os dias. Falta do seu


abraço, do seu ombro amigo, seu sorriso acolhedor, de falarmos

besteira e de simplesmente ele olhar para mim com carinho e não

como se eu fosse uma criminosa.


— Vamos dar um jeito, Docinho. — faz carinho no meu

cabelo. — Se seus pais nos derem a chance de falar, eles vão


gostar de mim.

Rio, porque é trágico demais. Nós sabemos o que vai

acontecer. 

Meu coração não está pronto para uma guerra depois dos

últimos dias, mas sei que precisarei lutar a maior delas agora.

— Eu não duvido disso. É impossível não se apaixonar por


Vino Walter. — sorri e vejo o brilho nos seus olhos. — Mas quando

falarmos que é meu namorado, o ódio surgirá. 


— Não desistirei de nós por conta disso. — afirma.
— Então que venham os sogrões. — falo com empolgação e

rimos.

Naquela noite, depois que Vino se rendeu ao sono pela

quantidade de remédios que está tomando, fui respirar um pouco

perto da piscina, me servi de uma taça de vinho branco, que agora

ele mantinha na geladeira porque sabia que eu adorava. Nada se


compara a sensação de se sentir em casa, e é assim que me sinto

quando estou com ele, mas sei que tudo isso está prestes a ser

abalado.

Por mais que eu saiba que ainda enfrentaremos muitas

batalhas, sei que tudo valerá a pena se no final ele estiver ao meu

lado.

Consegui finalizar minha aula mais cedo, então corri para

casa para aproveitar meus últimos dias com ele. Passar as últimas

semanas com Vino foram incríveis, conhecê-lo melhor foi apenas


uma comprovação da conexão que temos. Ele é um ótimo

companheiro de quarto, um cozinheiro incrível, completamente


organizado, está sempre cantarolando, adora filmes, é viciado em

trabalho e quer sempre provar algo doce.

Descobri que amo dormir em seus braços. Que amo seu


cheiro grudado em mim, que suas mãos encaixam perfeitamente no

meu corpo, que seu sorriso sempre me faz sorrir, que seu abraço
apertado faz com que eu sinta que o mundo inteiro está protegido.

Sua cama é o meu lugar preferido, suas camisas meus


pijamas mais bonitos, seu peito meu novo lar.

Quando cheguei em casa, o procurei no quarto e não

encontrei, desci para a oficina e lá estava ele. Com os pés


descalços, uma calça jeans surrada e a típica regata branca suja.

Seu dorso enfiado no capô do carro e só Deus sabe o quanto o


acho sexy com todas essas ferramentas em volta.

Vino tem um corpo escultural, ombros largos, pernas


torneadas e um peitoral digno de deuses gregos. Sou

completamente viciada em cada parte do homem que me tem por


inteira.

O som está ligado, a música tomando todo o ambiente,

caminho até o aparelho e ele não se dá conta da minha presença.


— Você deveria estar repousando. — ele tem um leve susto e

escondo o riso.

— E você chegou cedo demais. — sorri e fecha o capô.

— Então você anda trabalhando enquanto eu estou fora? —


cruzo os braços na frente do corpo, o questionando.

— Apenas algumas vezes. — confessa receoso.

— Você está muito desobediente, Tio Vino. — caminho até

ele. — Garotos desobedientes precisam ser castigados.

Seus olhos azuis ganham um tom escuro e o sorriso devasso


surge em seus lábios. Ele me observa, mas não me toca.

— Onde Erick está? — questiona.

— Foi para casa da Naya. — passo a ponta da unha sobre


seus músculos fortes.

— Você vai me castigar agora? — larga a ferramenta que

estava usando no chão.

Coloco as mãos nas suas costas largas e passeio elas por

seus braços e ombros largos. Dou a volta em seu corpo e fico de


frente para ele, minhas mãos avançam sob a barra da camisa e
sinto sua pele quente em contato com a minha. Toco seus músculos
e começo a puxar a peça para cima.

— Você combina bem mais sem isso. — jogo a peça no chão.


— Adoro você nessa calça.

— E eu gosto quando você está sem calças. — gargalho.

Quando sinto sua mão tocando minha cintura, me afasto do

seu toque. Ele me observa e faço não para ele, com o dedo. Me
aproximo da sua bancada e me encosto nela.

— Nada de tocar, Tio Vino. Hoje você vai apenas assistir. —

passo as mãos pelos meus seios. — Se você se mover, eu paro.

— Vitória, não me provoque. — avisa

Em resposta, tiro minha blusa e deixo ele aproveitar a visão

dos meus seios livres. Olhando para Vino, prendo meus mamilos
entre os dedos e brinco com eles, descendo as mãos pelo meu
corpo e voltando para dar atenção onde preciso. Sem desgrudar os

olhos dos dele, desço a mão por dentro da minha calça e começo a
me estimular.

— Só em olhar para você, já estou completamente molhada.

— minha respiração acelera e ele xinga.


Por mais que ele esteja desesperado para me tocar, sua
respiração pesada e os punhos tensos. Ele tenta se controlar para
não se aproximar e se mantém no lugar.

— Tire a calça e me deixe ver você. — pede e sorrio em


resposta.

— Seus sentidos ficam mais aguçados quando não consegue


ver ou tocar, Tio Vino. Você está de repouso médico, não pode se

esforçar. — sorrio maliciosa. — Feche os olhos, você vai conseguir

ouvir meus dedos entrando e saindo de mim. Eu estou imaginando

você aqui. — deixo um gemido escapar.

— Vou arrancar essa calça de você com uma faca. —


ameaça e reviro os olhos.

— É mesmo? — pego o canivete suíço que ele guarda dentro

da primeira gaveta da bancada e estendo para ele, o desafiando. —

Então tire-a de mim. — Vino me lança um olhar intenso e um sorriso

diabólico.

Por um segundo, duvidei que ele faria, mas em segundos ele


está tomando o objeto da minha mão e rasgando o tecido da calça.

Sinto o metal sobre minha pele e depois o som do jeans se


transformando em retalho. Ele faz dois cortes longos e a peça cai de

mim.

Quero rir da situação, mas a forma como ele larga o canivete


na bancada, me vira deitando meu tronco na madeira e sinto minha

bunda arder com a tapa que recebo, quase me fazem delirar. Ele se

posiciona atrás de mim, segura meu cabelo com uma mão e com a
outra brinca com meu mamilo. Marca minha nuca com a boca e arfo

com o contato da sua língua na minha pele.

— Você fica sexy para caralho dominando a situação, vou até

te comprar um chicote e deixo você usar em mim, mas eu estou a

três semanas sem sexo e estou explodindo com a visão da sua

bunda deliciosa e desses seios perfeitos, então quem manda hoje


sou eu e não serei muito gentil. — sussurra, mordiscando minha

orelha.

Consigo ficar de frente para ele novamente, ele ergue meu

corpo, envolvo sua cintura com as pernas e ele me senta no capô


do carro que estava consertando.

Seu corpo encaixa entre minhas pernas e reivindica meus


lábios em um beijo feroz.
Meu cabelo já está desgrenhado, nossos lábios estão

vermelhos e estou explodindo de tesão. Levo minhas mãos para os

botões da sua calça e solto um gemido quando vejo o quanto ele


está pronto para mim.

— Quero você agora dentro de mim. — imploro e ele quase


rosna.

Me deita sobre o carro e puxa minha calcinha. Ele tira sua


calça e toma meus lábios mais uma vez, sua mão desce até entre

minhas pernas e ele me toca.

— Você está incrivelmente pronta para ser fodida.

— E o que você está esperando? — ele ri e separa minhas

pernas. Desce beijando todo o meu corpo e quando chega no lugar

certo ele passa a língua pelo meu ponto sensível. Quase grito de
prazer. — Vino, se você não entrar em mim agora, eu mesma vou

cuidar disso.

Gememos juntos quando ele me penetra.

— Me dê tudo, eu quero tudo que pode me dar. — falo já

ofegante

Vino volta a tirar e entra forte em mim, me levando a loucura.

Minhas unhas marcam suas costas quando ele me aperta mais


ainda a si e me fode loucamente, rápido, duro e selvagem. Suas

mãos vão para minha bunda e me puxam ainda mais para si, o sinto
todo dentro de mim.

Aperto seus braços com força quando sinto que vou gozar e

chego ao clímax chamando seu nome. Mais duas estocadas e Vino

se derrama dentro de mim.

— Eu nunca vou me cansar disso. — ele fala ofegante. —

Nunca vou me cansar de você.

— Acho bom, porque eu nunca mais vou conseguir sentir isso

com outra pessoa. — confesso.

Passeio os dedos pelos seus cabelos curtos e ele me olha


com adoração.

— Só existe você, Docinho. Ninguém mais.

Faço carinho em seu rosto e o beijo com calma.

— Apenas você, Vino.

Ficamos emaranhados um no corpo do outro até nossas


respirações voltarem ao normal e nosso corpo ficar desconfortável

sobre o capô do carro.


— Eu quero tomar banho antes que Erick chegue, mas

minhas pernas estão fracas demais para sair daqui. — rio.

— Vou cuidar de você. — ele veste a calça e me leva nos

braços até o banheiro.

Depois do banho, deito na cama e espero Vino se juntar a

mim. Ele me puxa para seu corpo e ficamos cara a cara, beijo a

ponta do seu nariz e ele sorri.

— Como a minha garota pode ser selvagem em um segundo


e no outro a pessoa mais doce que já vi? — brinca.

— Você também é assim. O brutamontes mais romântico que

existe. – ele sorri e me beija calmo. — Eu decidi uma coisa. Vou

voltar para casa hoje.


Sexta a noite e hoje volto a tocar no Theo’s. Não aguentava
mais ficar em casa sendo cuidado por Vitória e Erick. Faz quatro
dias que a Docinho voltou para casa e, puta merda, a minha cama
parece completamente vazia. Me acostumei completamente com a

presença dela, em todos os cantos da casa, parecendo que sempre


pertenceu aquele lugar. Dormir abraçado ao seu corpo se tornou

minha coisa favorita e agora sinto falta de tudo que fazia com ela.

Encontro Erick na varanda do seu quarto, quieto e

pensativo, apenas observando o lado de fora.

— Podemos conversar? — pergunto, me aproximando.

— Claro, pai. — me apoio ao seu lado.

— Já sabe sobre o que quero falar. — ele concorda. —


Porque se sentiu tão mal quando soube de mim e Vitória?
— Porque é estranho pensar que o seu pai está namorando

uma garota que tem idade para ser filha dele e ainda mais quando
essa garota passa de sua melhor amiga, para sua madrasta. —

percebo a chateação em sua voz. — E vocês ainda mentiram para

mim.

— Eu entendo o quanto é estranho e difícil para você, não

quero pressioná-lo ou obrigá-lo a aceitar isso, mas você é a metade

de mim, Erick. Não consigo viver bem sabendo que você está
decepcionado comigo. Peço desculpas por ter escondido, mas juro

a você que iríamos te falar.

— Não duvido disso, você sempre foi verdadeiro comigo. —

solta uma respiração pesada, cansado.

— Filho, só quero te pedir que nos dê uma chance. — falo.


— Desde a sua mãe, pensei que não encontraria uma pessoa capaz

de me fazer entender que posso sim me apaixonar de novo. — ele

me olha com atenção. — Tudo isso me assusta também, mas

jamais me envolveria com ela se não fosse real.

— Eu fico feliz que esteja se sentindo vivo de novo, pai.

Você precisava disso. Eu só não esperava que a minha melhor

amiga fosse a causadora disso.


— Vitória sente absurdamente sua falta, machuca ela o fato
de ter se apaixonado juntamente pelo seu pai, mas não podemos

controlar nossos sentimentos e tentar fingir que eles não existem, só

iria acabar magoando todos nós de alguma forma. — ele volta a

olhar para a paisagem, pensativo. — Eu estou apaixonado por ela e

quero muito que a pessoa mais importante da minha vida, goste da

mulher que escolhi.

Ele dá um leve sorrio e concorda.

— Vou tentar, mas preciso de um tempo para conseguir lidar

com tudo. — concordo.

Abraço meu filho e o deixo sozinho, para que pense sobre o

que conversamos. Em outro momento conversarei com ele sobre

seu relacionamento com Naya também, porque ele está deixando

tudo acabar. Entendo sua chateação, só espero que isso não


demore demais a passar e por orgulho, ele perca pessoas que o

amam tanto.

Entro no meu carro e dirijo até o bar, olho para o violão no


banco do lado e tenho a ideia de levar Vitória a um encontro onde

eu possa tocar e cantar apenas para ela, coisa que ainda não fiz.
Estaciono na minha vaga de sempre e vejo que o bar já está

começando a lotar, conheço alguns rostos que estão sempre por


aqui nas sextas e os cumprimento. Vou procurar Theo, porque ele

tem dado trabalho para fazer seu repouso, seu braço ainda está
enfaixado, mas ele não para quieto. Está sentado no balcão
tomando sua bebida e sorrindo para a loira do outro lado do bar, me

aproximo e sento ao seu lado.

— Você não pode foder com o braço quebrado. – falo

— Você ficaria surpreso com as coisas que consigo fazer


com esse braço. — é sugestivo e finjo ânsia, o fazendo rir.

— Será que nenhuma mulher vai ser capaz de apagar esse

fogo no rabo que você tem? — questiono e ele gargalha.

— Assim como a Docinho fez com você? — me provoca.

— Sim, assim como não quero mais nenhuma outra mulher


além da minha.

— Isso tem nome e começa com “buceta” e termina com


“mágica”. – puxa a garrafa que estava atrás do balcão do bar e

encher nossos copos

— E tenho quase certeza que fui enfeitiçado para sempre.


— brindamos. — Assim como você também vai ser um dia.
— A única pessoa que me enfeitiçou, me largou

completamente.

Sei que está se referindo a Carly. Desde que soube que eles
já dormiram juntos, Theo costuma tocar no nome dela quase

sempre, mas nunca aprofunda a conversa. Por mais que seja


estranho ver o meu melhor amigo sendo rendido pela minha irmã,

somos todos adultos e por mais que Theo seja um cafajeste, com
Carly ele seria um homem perfeito.

— Sei que não falamos muito sobre isso, que não segui a
regra principal de não se envolver com a irmã do melhor amigo e um
dia vou chegar a te contar tudo que já aconteceu. — seu olhar está

perdido, focado em algo do outro lado do balcão. — Mas, nesse


momento, saiba que eu sou muito melhor do que aquele fotógrafo

engomadinho. — bebe seu gin com raiva. — Eu os vi chegando


juntos na casa dela essa semana. Ela parecia feliz, e cacete, eu

fazia ela se sentir daquele jeito.

— Carly não pode esperar você querer parar de foder


qualquer uma e ficar só com ela. — afirmo.

— Nós estávamos bem, eu não sei o que aconteceu para

ela parar de me ligar e depois esse cara apareceu.


— Ele deu a ela algo que você nunca deu, exclusividade. —
dou de ombro, dizendo o óbvio.

— Ele não a ama, não como eu. — Theodore falando sobre


amar uma mulher é a coisa mais inédita que ouvi.

— Você não a ama, Theo. Se realmente a amasse, quem


estaria com ela agora era você.

Ele me olha e vejo indignação em seus olhos, mas ele sabe


que estou mais certo do que errado. Mesmo sem saber os detalhes
de tudo, sei que algo aconteceu para que eles chegassem a esse

ponto. Carly é determinada, ela não ficaria longe de Theo sem


motivos, se realmente sentir algo por ele.

— Ela me ama, Vino. — afirma com convicção. — Ela pode

negar e tentar esconder para quem quiser, mas eu sei e tenho


provas de que sentimos a mesma coisa.

— Então faça por merecer esse amor, seu babaca. Não

quero ver você machucando a minha irmã. Carly merece ser feliz e
se você não é capaz de fazer com que ela seja o centro do seu

mundo, leve sua bunda para longe dela.

— Me mantive longe dela por todos esses anos tentando

evitar isso, que ela se machucasse e agora ela se afastou


completamente. Mas escreva o que irei te dizer, um dia vou casar
com aquela mulher.

— Vou pagar pra ver. — ele levanta e sai, termino de virar

meu copo e vou para o palco.

Theo me apresenta, converso um pouco com o pessoal e


tomo o meu lugar.

I lose control don't look at me like this


There's something in your eyes, is this love at first sight
Like a flower that grows, life just wants you to know
All the secrets of life
It's all written down in your lifelines
It's written down inside your heart
You and I just have a dream
To find our love a place where we can hide away
You and I were just made
To love each other now, forever and a day[6]
 

Toquei mais algumas músicas e me despedi das pessoas.


Desci do palco e antes de chegar até a sala de Theo, para guardar o

violão até a hora de ir embora, o nome de Vitória aparece na tela do

meu celular.

— Oi, Docinho. — falo ao atender.


— Vino, eu preciso que você venha até a minha casa. —

sinto o receio em sua voz.

— O que aconteceu? — largo tudo no escritório e pego a


chave do carro.

— Eu contei pra eles. — confessa. — Querem conhecer


você pessoalmente, agora.

— Isso vai ser um problema, não vai? — entro no carro e

dou partida. — Chego o mais rápido possível.

Quase atravessei todos os sinais vermelhos, me sentindo

confuso e diferente, não precisei conhecer os pais de alguém desde

Lily, porque éramos dois adolescentes na época. Não sei o que me


espera quando atravessar essa porta, mas vou mostrar a eles que

sou a melhor pessoa para a filha deles.

É agora ou nunca.

— Demorei? – pergunto. Ela dá um selinho nos meus lábios

e segura minha mão.

— Chegou na hora certa. — ela me puxa para dentro.

Entramos na casa e percebo o quanto o lugar é claro e

acolhedor, uma casa mais antiga, porém completamente


conservada e com decorações lindas. Caminhamos de mãos dadas

até a cozinha e repassei seus nomes mentalmente para não

esquecer.

— Boa noite. — cumprimento os dois e pego na mão de

Nicholas.

Os olhos da mãe de Vitória me analisam de cima a baixo.

— Sente-se rapaz. — diz o pai dela e nos sentamos.

Isso parece até piada, em quarenta anos eu nunca precisei

sentar na mesa das minhas namoradas e esperar a aprovação dos


pais dela. Nem com a Lilian foi assim, eu pedi e ela aceitou, depois

fui apenas conhecer os meus sogros. E agora, depois de velho,

estou nervoso com uma situação dessas.

— Vitória disse que você sofreu um acidente, está bem? —

pergunta Amélia.

Pelo visto Vitória contou tudo, não tenho o que esconder

também.

— Sim, obrigado. Sua filha cuidou muito bem de mim e


antes de tudo quero pedir desculpas por essa situação. Vitória

passou dias fora de casa por conta do meu acidente e não avisou

nada direito para vocês, peço desculpas. Não vai se repetir.


— Espero mesmo que não volte a acontecer nunca mais. —

diz sua mãe.

— Rapaz, você é mais velho que a minha filha, mais


experiente e quando for pai vai saber que as coisas com os filhos

são diferentes. Mas se Vitória arriscou trazê-lo até aqui é porque

gosta de você e por isso vou tentar conhecer você melhor. — o

homem me olha com tranquilidade.

— Eu agradeço muito e entendo perfeitamente o que quer


dizer. Sou pai de um garoto, sou sargento aposentado do exército e

tenho idade para ser seu irmão. Eu não sou mais um jovem e vou

cuidar muito bem da sua filha.

— Você é pai? Quantos anos você tem? — Amélia me olha

espantada.

— Sou pai solo de um jovem adulto e tenho quarenta e um


anos.

— Você aparenta ser bem mais jovem. — diz Nicholas.

— Isso é um absurdo. – Amélia fala exaltada. — Você tem


idade para ser pai dela, isso chega a ser nojento, eu não quero você

perto da minha filha. Vitória é como se o seu pai se envolvesse com

a Naya, pelo amor de Deus, você deveria se envergonhar disso.


— Amelia, pare com isso. — Nicholas a repreende.

— Não gosto de muita discussão, então vou direto ao ponto.


Sinto muita alegria em lhe informar que eu irei continuar com sua

filha independente da sua vontade. — aviso a Amélia. — Vitória é

maior de idade e já pode escolher o que quer, e ela me quer do


mesmo modo que eu a quero. Vamos ficar juntos. Estávamos

planejando contar para vocês a algum tempo, eu sou um homem

feito e não preciso dar satisfação das minhas ações, mas me


encaixarei na rotina e na vida de Vitória. Vejo que o seu marido está

tentando apoiar a felicidade da sua filha, mas se você não está, me

desculpe, mas o problema não é nosso. Eu não deixaria Vitória por

isso. Nós estamos muito felizes e vamos continuar assim.

— Eu não aceito isso, de jeito nenhum. — grita a mulher. 

— Pai, o que você acha? — pergunta Vitoria, ignorando a

mãe.

— Estou disposto a conhecer o Vino melhor e ver se ele


realmente é capaz de fazer você feliz. — Amélia sai da cozinha

transtornada.

Ele me pergunta sobre minha vida, sobre Erick, o que faço e

como conheci Vitória. Compartilho de bom grado todas as


informações e conversamos livremente. Tudo que eu quero é que

eles apoiem nossa relação porque sei o quanto sofreríamos caso


não aceitassem, então tentarei me aproximar de Nicholas e ter ele

ao nosso lado já é muito bom. Quanto a Amélia, espero que logo ela

entenda que está dando murro em ponta de faca, porque não

terminarei com Vitória.

Me despeço dele depois de algum tempo, agradeço por me


ouvir e nos apoiar, o homem apenas concorda com a cabeça, ele

realmente é sério e  conservador, mas nos surpreendeu. Vitória

caminha comigo até a porta.

— Deus, o que foi isso? — me abraça e enfia o rosto na

minha camisa, rindo.

— Eu pensei que seria bem pior. — confesso. — Minha mãe


ficará muito feliz de saber que encontrei uma mulher pela qual tive

que pedir a mão ao seu pai para namorá-la. — se aproxima de mim,

já longe de todos os olhos.

— Queria dormir com você hoje. — confessa e cheiro seu

cabelo.

— Sinto sua falta na minha cama. — me aproximo da sua


orelha. — Principalmente quando acordo e sua bunda não está no
meu pau. — sussuro e ela dá uma risadinha.

— Pervertido. — sussurra em resposta e me beija.

Me controlo por estarmos na frente da sua casa e por seus

pais estarem com certeza olhando da janela, porque era claramente


o que eu estaria fazendo se fosse eles.

Trocamos um beijo rápido, impossível de matar a saudades,

com muita resistência me afasto e vou embora.

Sem mais segredos, sem mais barreiras, ela é

completamente minha.
Olho-me no espelho e ele reflete uma nova mulher. O reflexo
de uma mulher sexy e charmosa é o que vejo no espelho. Naya me
ajudou a escolher um vestido bonito e sandálias não muito altas
para ficar confortável e acertou perfeitamente.

Ouço a buzina e sei que Vino chegou. Nas últimas semanas


temos tido problemas com a minha mãe e a insistência dela de
tentar dificultar nossa relação de todas as formas. Ele e meu pai tem

se dado bem, tem conversado algumas vezes e estou feliz por ter o

apoio dele. Mas parece que nada consegue fazer minha mãe
entender que não estamos fazendo nada de errado.

Desço rápido e me despeço da porta, para minha mãe não

ter chance de tentar estragar a noite. Pelo o que Vino me contou,


seus pais adoram reunir a família e ele quer me apresentar

oficialmente. Estou completamente nervosa.

Quando me aproximo do carro vejo que Erick ocupa o lugar

do passageiro e tento não deixar nosso clima tenso me atingir. Hoje

é um dia importante, tenho que estar feliz. Vino desce do carro e


sorri me abraçando, beijo sua bochecha e ele cheira meu cabelo.

— Você está linda. — ele me diz. — Espero que a madame

não se importe em ir de motorista hoje. — se refere a eu ter que ir

no banco de trás.

— Não me incomodo se o motorista me der uns amassos no

banco de trás  no final da noite. — brinco apenas para ele ouvir e


rio.

— Pode ter certeza disso. — sorrimos e ele abre a porta para

que eu entre.

Ocupo o lugar atrás de Erick e ele me olha do banco da

frente.

— Espero que não se importe de eu ter roubado o seu lugar.

— brinca e sou pega de surpresa.

O que aconteceu? Até a última vez que nos encontramos ele

estava me odiando. Mas o conheço e vi verdade em seu olhar.


— Claro que não, esse lugar é seu a mais tempo do que
meu. — sorrio.

— Nós vamos dividi-lo muito bem. — pisca para mim e volta

sua atenção para a frente.

Faço uma anotação mental para perguntar a Vino o que


aconteceu quando estivermos sozinhos. Porque não é possível que

da noite para o dia Erick tenha mudado de opinião.

Vino dá a partida no carro e pegamos a estrada para a casa


dos pais dele, que percebo não ser tão distante da minha casa.

Descemos do carro e Vino pega minha mão. Ele percebe que


estou nervosa porque meu toque está frio, então passa o braço pela

minha cintura e sussurra que tudo vai dar certo.

— Sei que sim, só estou nervosa. — confesso.

— Eu entendo, porque também fiquei uma pilha para


conhecer os seus pais. Mas eles vão amar você, é impossível não

amar você. — me perco em seus olhos e sorrio.

— Relaxa. — diz Erick. — Eles te amam só por fazer o meu


pai te amar. — meu coração acelera e concordo com a cabeça.
Será que foi isso que o fez mudar de ideia sobre mim,

finalmente aceitar o que sentimos?

Uma mulher de cabelos negros e olhos claros abre a porta.


Ela parece muito com Carly, mas seu sorriso é como o de Vino. Ela

é linda e sei exatamente quem seus filhos puxaram.

— Como sempre, a mais bonita de todas. — Vino a abraça.

— Obrigada, querido. Vocês demoraram. — ela sorri e solta

Vino para abraçar Erick.

— Quero conhecer essa linda mulher. — ela se refere a mim


e sorriu. — Oi, querida. Seja bem vinda a nossa família, eu sou a

Molly.

— Eu sou a Vitória, obrigada por me receber. — ela segura


minhas mãos.

— Ouvi coisas incríveis sobre você. Sinto que já a conheço,


mas vamos entrar que temos a noite inteira para conversar. — me

puxa para dentro. — Theodore já está atacando tudo.

Ela vê meu rosto de questionamento sobre porque Theo está


aqui e logo explica que ele é da família e sempre participa de tudo.

Vino dá de ombros e Erick concorda. Seguimos até a enorme parte


externa e fico encantada com o lindo jardim que Molly cultiva. Todos

estão sentados em uma grande mesa de madeira no meio do lugar.

Carly é a primeira a se aproximar de nós, ela nos apresenta


Paul, seu novo namorado, que é um homem muito bonito e

completamente simpático com todos. É perceptível que o pai de


Carly está adorando ele pela forma que riem juntos.

— Pai. — Vino me leva até ele e abraçam-se.

— É bom ver você e sua irmã finalmente desencalhando,


pensei que morreria sem ver mais crianças correndo por essa casa.

— Vino ri e eu o acompanho, mas é nervoso.

Que história é essa de crianças?

— Pai, essa é a Vitória. Docinho, esse é o meu pai, James.

— É um prazer conhecê-lo senhor. — digo e ele me abraça.

— É bom dar um rosto a mulher que colocou mais um Walter


de quatro. — gargalha.

— Controle-se, homem. — Vino diz. — Ela vai ficar se

gabando pelo mês inteiro.

— É apenas a verdade. — James se defende. — Você é uma

linda garota Vitória, espero que o meu filho não esteja te levando
para o mau caminho.

Vino olha para mim rapidamente e vejo diversão em seus


olhos, sei que ele está louco para dizer que eu quem estou lhe
levando para um mau caminho, mas fica calado porque nos

entendemos apenas na rápida troca de olhares.

— Ela não brigou quando viu Theo aqui? — Vino pergunta

sobre Carly.

— Só não quebrou toda a mesa na cabeça do rapaz porque


sua mãe gosta muito dele e o defendeu. Sua irmã não tem jeito. —

sorrio.

O jantar foi bem agradável, os pais de Vino são uns amores e


me trataram como uma velha conhecida, me senti parte de tudo.

Carly e Theo trocaram farpas o jantar inteiro, mas pelo que vi, Paul
está a fazendo muito feliz, ele é calmo e a olha com carinho.

— E você Vitória, como conheceu o Vino? — pergunta Molly

— Ele nunca contou para vocês? — Theo dá um sorriso


travesso. — Foi no melhor lugar do mundo. — pisca para mãe de

Vino que sorri.

— Foi no Theo’s. — conto. — Uma amiga me levou até lá e


Vino estava tocando, eu me apaixonei pela voz dele, no final da
noite lhe ofereci uma bebida e ele me convidou para jantar. Alguns
dias depois descobri que ele era pai do Erick e então nunca mais
paramos de nos ver.

— A diferença de idade não te incomoda? — Paul pergunta.

— Nenhum pouco. — afirmo, sem entender o objetivo da sua


pergunta.

— Por quê? Você está incomodado Paul? — Vino questiona,

percebendo o mesmo que eu.

— Claro que não, é só diferente ver um casal com tanta


diferença de idade.

— É melhor ficar calado, do que falar mais besteira. — Theo

fala relaxado e toma sua bebida.

— Theo, não seja chato com o Paul. — Molly o repreende. —

Vocês ainda terão que viver muitos momentos chatos pelo

preconceito que as pessoas terão com a relação de vocês, só não


deixem isso nunca ser motivo para que abale o que sentem. A única

coisa que importa é o amor que tem um pelo outro.

Amor. A tão pequena e poderosa palavra. Nós ainda não a

dissemos, mas é como se todos já soubessem.


Quando finalizamos o jantar, Molly delegou que todos os

rapazes fossem lavar a louça, enquanto nós tomávamos um pouco


mais de vinho. Foi o momento perfeito para conhecê-la melhor e

ouvir Carly contando como Paul e ela se conheceram. É engraçado,

mas é como se eu sempre tivesse pertencido a esse lugar.

O resto da noite foi ótima, nos juntamos todos nos sofás da


sala para conversar. James e Molly são um casal incrível, podemos

perceber o quanto se amam. Carly começou a ignorar Theo durante

toda a noite  e não tivemos mais questões com Paul. Erick não

largava o celular e eu me aconcheguei nos braços de Vino.

Quase dez horas da noite o meu celular tocou e o nome de

Naya apareceu na tela.

— Oi, Nay. – os olhos de Erick fixam em mim.

Até ontem, eles ainda estavam brigados.

— Eu preciso que você venha me buscar. — ela fala


chorando e sinto meu coração apertar.

— O que aconteceu? — questiono preocupada e Vino segura


minha mão.

— Meu pai esteve na cidade e...


— Merda. Onde você está? — ela me diz o endereço e

reconheço imediatamente. — No hospital próximo ao centro? —

pergunto nervosa e vejo Erick pegar a chave do carro com Vino

— Sim. — confirma e funga. — Eu estou bem, apenas alguns

hematomas.

— Estou indo agora, me espere aí. — desligo.

Todos os olhares da sala estão em mim, o rosto de Vino

expressa preocupação, mas Erick já está de pé ao meu lado.

— O que aconteceu? — Vino pergunta.

— Naya está no hospital e preciso ir até ela. — pego minha


bolsa. — Obrigada pelo jantar. — agradeço a Molly com pressa.

— Quer que eu vá com você? — questiona.

— Não, amor. Ela não se sentiria confortável, mas acredito


que Erick precisa ir.

Olho para o meu melhor amigo, ele apenas concorda.

— Vamos, precisamos chegar até ela logo. — Erick diz.

Quase corremos até a picape e repito o endereço para

Erick, ele voa com o carro pelas ruas da cidade e rezo para que ela
realmente esteja bem. Eu odeio aquela família e odeia ainda mais o

que fazem com ela, mas isso vai acabar hoje.

— Bia, eu preciso saber o que aconteceu. — Erick pede.

— Sei que ela nunca te contou, mas o pai dela não é uma

boa pessoa. Nunca foi e parece que Naya tem dele sempre a pior
versão, ele é violento, Erick, muito.
As pessoas pensam que quando você é filha única tudo são
maravilhas. E para algumas pessoas podem até ser, mas para mim
nunca foi.

Minha mãe não conseguia engravidar mesmo depois de anos

de casada. Depois de muitas tentativas eu cheguei, mas o meu pai


parecia não entender que filhos são sinônimo de amor.

Quando eu cresci, ele quis me fazer uma garota exemplar, e


não aceitava menos que a perfeição. Quando eu não conseguia ser

como ele queria, eu era punida.

Punida por não ganhar a competição de ballet aos doze anos,

punida aos treze por não ganhar a olimpíada de matemática, punida

aos quatorze por não fazer o filho do prefeito se apaixonar por mim,
punida aos quinze por não ser a garota mais popular do colégio,
punida aos dezesseis por não me destacar como líder de torcida,

punida aos dezessete por não ter sido a rainha do baile mais uma
vez, punida aos dezoito por não ser aceita na universidade que ele

queria, punida aos dezenove por está morando longe de casa,

punida aos vinte por ter faltado o natal e punida aos vinte e um por
namorar um homem que não tem poder.

Meu pai sempre foi um homem de aparências e interesses.

Ele esperava um filho para dar continuidade aos seus negócios,


mas quando uma garota nasceu ele teve que dar um jeito de

conseguir as coisas com os truques femininos.

Eu não tive escolha. Nunca.

Mas então veio o final do ensino médio e eu poderia sair de

perto do inferno que era a casa mais bonita da rua. Eu errei às


questões de propósito para não ter que ficar em uma universidade

perto de casa. Mandei minhas notas para Missouri e fui aceita.

Longe de casa, longe dele. Perfeito.

Minha mãe sempre foi boa para mim, mas não batia de frente

com o meu pai. Ele era o primeiro a falar e sua palavra bastava.

Eu sempre fui uma garota pequena, então nunca tive

chances de me defender dele e cada vez as punições eram mais


fortes. Todos achavam que nós éramos a família perfeita, só Vitória
sabia toda a verdade.

De alguma forma, meu pai descobriu sobre Erick, quando

cheguei em casa ele já estava me esperando e eu fui punida mais


uma vez. E dessa vez ele não ligou em esconder as marcas, já que

na cidade ninguém conhecia minha família.

Quando ele saiu, fui para o hospital, talvez alguma coisa

estivesse quebrada. Eu precisava da única pessoa que poderia me

ajudar agora, minha melhor amiga. Então a esperei chegar porque

não tinha forças para ir a qualquer lugar sem alguém que realmente

me amasse, mas ver Erick atravessar a porta com ela, me fez


congelar. Ele não pode me ver assim.

Vitória corre até mim e me abraça com cuidado, com receio

de me machucar ainda mais.

— Estou bem, não quebrou nada. — lhe tranquilizo.

— Ele não pode continuar fazendo isso, Nay. Precisamos

denunciar. — ela sempre tenta me fazer seguir o caminho certo,

mas é difícil demais.

— Ele é meu pai, minha mãe não aguentaria se ele fosse

preso. — nego.
— Aquele monstro nunca foi um pai de verdade, Nay. Não

tenha pena dele ou da sua mãe, pense em você.

— Não é hora e nem lugar para discutirmos isso. — levanto


da maca e sinto o impacto doer pelo corpo. — Quero ir pra casa e

por favor mande ele ir pra casa também. — olho apenas para
Vitória, mas todos sabem que estou me referindo a Erick

— Eu não vou deixar você assim. — ele afirma.

E eu o quero desesperadamente aqui, mas é vergonhoso


demais.

— Você não fala comigo direito desde que descobriu sobre o

namoro do seu pai, então não venha com esse teatro agora. —
cuspo minha raiva pelo seu distanciamento.

— Sei que eu fui um idiota, mas eu amo você e não quero te

ver assim. — tenta se aproximar e me afasto.

— Então sinta-se mais idiota e saiba que isso tudo é por

culpa sua, porque ele soube sobre nós e eu fui punida por está com
você. Quer dizer, punida por ter algo que eu nem sei mais o que é.

Pode ficar feliz porque você queria me ver magoada e agora eu


estou.
Ele não tem culpa alguma de nada disso, mas eu só preciso

que ele vá embora, que ele não veja o quanto eu sou fraca, como a
vida inteira fui lembrada que era.

— Ele fez isso porque soube sobre você e o Erick? — Vitória

parece ainda mais revoltada.

— Sim, mas não sei como descobriu.

Erick passa as mãos no cabelo com raiva, o conheço muito

bem para saber que está um turbilhão de sentimentos, mas por mais
que eu tente, sei que ele não sairá do meu lado.

E eu amo e odeio isso.

Explico para eles que o médico disse que vou ficar dolorida
por alguns dias e que disse a eles que tinha caído da escada.

— Vamos para minha casa. — Vitória sugere.

— Não, eu não vou aparecer assim na sua casa.

— Vamos levá-la para casa, eu vou ficar com ela. E se ele


voltar a aparecer eu vou quebrar a cara dele. — nos conduz com

calma pelo hospital.

— Eu não quero você lá. — tento mais uma vez.

— Mas eu estarei lá mesmo que você não queira.


Ele me pega nos braços e eu estou tão dolorida que não
tento sair. Carrega-me até o carro e me deita no banco de trás com
a cabeça no seu colo. Vitória dirige até o meu apartamento e tudo

está do jeito que sai. Ele não voltou e isso me faz soltar a respiração
que estou segurando desde que estacionamos.

— Você precisa de um banho. — Erick diz comigo ainda nos

braços e me leva para o banheiro.

— Você não vai me dar banho. — tento me afastar do seu

toque, mas ele me faz sentar na tampa do vaso sanitário.

— Se você se mexer muito vai sentir mais dor, pare de


questionar e se conforme que eu vou cuidar de você. — fala sério e

me calo. — Eu não estou fazendo isso para você ficar de bem


comigo, sei que fui um idiota, mas você é a minha garota e não vou
deixá-la assim. Você precisa de mim e eu vou cuidar de você.

Eu fiquei tão chateada pelas brigas idiotas que Erick fez


quando soube do namoro de Vitória e Vino, nós estávamos em pé
de guerra o tempo inteiro, cheguei a pensar que terminaríamos, mas

mesmo ele sendo infantil e babaca eu sou louca por ele.

— Não quero ficar nua na sua frente. — seguro a blusa


contra o corpo.
— Naya, eu já vi tudo que tem por baixo dessa roupa. —
tenta tornar o clima mais leve.

— Mas não viu como eu estou hoje. — ele entende o que

quero dizer.

— São apenas marcas e elas só mostram o quanto você é


forte em aguentar tudo isso a vida inteira. Venha aqui.

Ele pega meus pés e tira meus sapatos, depois tira minha

jaqueta e a minha blusa, fico de pé e ele tira minha calça. De


calcinha e sutiã posso ver marcas roxas nas minhas pernas e

costelas. Vejo Erick bufar de raiva e me apresso para tirar o resto

mesmo com dor.

Caminho para o chuveiro e vejo Erick ficar apenas de cueca e


me acompanhar.

— Eu não posso ficar pelado com a Vitória estando no


quarto. — sorri e deixa a água cair sobre mim.

Depois de me lavar com todo cuidado, com todo o amor e

atenção, ele penteia meu cabelo e me enrola em um roupão,

fazendo com que eu me sinta cuidada.

— Pensei que vocês tinham se afogado no chuveiro, que

demora. — Vitória reclama e sorrio. — Erick, na cozinha tem uma


pomada que ela passa nos machucados, está dentro da segunda

gaveta do armário, pegue enquanto eu ajudo ela a se vestir.

Erick segue para a cozinha e Vitória e eu vamos para o meu


quarto. Ela me ajuda a vestir o pijama.

— Você sabe que não deveria ter contado pra ele. — falo.

— Ele precisa conhecer a sua bagagem se quer está com


você, Nay. — me diz com carinho.

— Nós nem sabemos se isso vai durar, só é mais um motivo

para que ele não queria ficar.

— Ele gosta de você! Estava de birra até ontem e hoje me

tratou como sempre, ele e Vino conversaram. Passou o momento de

raiva.

— Eu estou tão chateada com ele por tudo que ele disse

nesses últimos dias.

— Deixe-o rastejar um pouco para compensar. — sorri, me


fazendo rir também.

— Ele vai, não se preocupe. — garanto.

— Mas como você está de verdade? — questiona


preocupada.
— Acostumada. São muitos anos passando pela mesma

coisa, dói, mas passa. Sempre passou. Pelo menos ele está longe

agora.

— Isso não pode acontecer de novo, Naya. Eu não posso

mais deixar ele espancar você, vamos denunciá-lo, por mais que
você não queira.

— Tudo bem. — concordo.

Sei que é o certo a ser feito.

Erick entra com a pomada na mão e conversamos um pouco


até todos ficarem menos tensos. Vitória diz que volta amanhã cedo

e Erick lhe garante que ficará comigo.

Deito e Erick se junta a mim já vestido de volta no seu short.

— Você pode passar onde eu não alcanço? — peço, lhe

oferecendo a pomada

— Claro. — ele responde e começa a passar na parte de trás

das minhas pernas e costas.

Quando termina, ele volta para o meu lado e me ajuda com

os travesseiros, para que eu fique o mais confortável possível.

— Vitória tem razão. — diz de repente.


— Sobre o que?

— Tudo. Me deixar rastejar e sobre o seu pai. — ficamos em

silêncio e sei que estamos completamente perdidos. — Ele fez isso


porque soube de nós?

— Ele não aceita que ao invés de está namorando o


quarterback do time da faculdade, que será uma estrela do esporte

e será herdeiro de uma imensa herança, eu esteja namorando

alguém que não tem status. Tudo para ele é sobre dinheiro e
política.

— Eu o odeio mesmo antes de conhecê-lo. — ele beija minha


testa. — Você é a minha garota, Nay. E prometo a você, ninguém

vai te machucar de novo. Nunca mais.


Estacionei o carro de Vino atrás do meu e entrei em casa,
minha mãe estava na sala me esperando.

— Onde você estava? — fala com raiva.

— Fui jantar com a família de Vino e depois a Naya precisou


de mim.

— Porque o carro dele está aí? Ele está te esperando?

— Não, mãe. Vino está na casa da irmã dele. Eu precisei ir

até Naya e ele me deu o carro. — explico-me sem paciência.

Ela fica em silêncio, apenas me observando e decidindo se


vai acreditar em mim ou não. Me vê guardando a chave do carro na

bolsa e parece relaxar um pouco.

— A Naya está bem? — questiona e concordo.


— Agora sim, Erick ficou lá com ela, já que eu precisei vir

para casa. — lhe faço perceber que por conta dela não estou com
alguém que precisa de mim. — Eles estão namorando há algum

tempo.

— Erick é um bom garoto, ele cuidará bem dela.

— É sim, e ele é filho do Vino. — seu queixo cai


completamente.

— O que? — parece espantada. — Isso só piora, meu Deus,


aquele homem tem idade para ser seu pai Vitória.

— E não nos importamos nem um pouco. — lhe corto. — Vou

subir, estou cansada e amanhã tenho aula.

Entro no meu quarto e arrumo tudo que deixei bagunçado


antes de sair, pego meu pijama e vou tomar banho, mas antes envio

uma mensagem para Vino avisando que estou em casa. Demoro o

máximo que consigo debaixo do chuveiro, pensando nas milhares

de coisas que aconteceram hoje, mas principalmente tentando

arquitetar uma maneira de ajudar a Naya.

Deito na cama e confiro se não chegou nenhuma resposta de

Vino. Pergunto a Erick se Naya está bem e sua resposta não

demora a chegar.
Ela dormiu, está melhorando. Passei a pomada e ela
tomou um remédio, vai ficar tudo bem.

Respiro um pouco mais aliviada ao ler aquilo.

Qualquer coisa me ligue, obrigada por ficar com ela.

O sono não demora a me derrubar, mas sinto no exato

momento que um braço circula minha cintura e me assusto.

— Shiii. — Vino faz baixinho e relaxo novamente.

— Você quase me matou do coração. — brigo com ele.

— Desculpa, eu queria fazer uma surpresa. — ri baixinho,

como um adolescente que acabou de invadir a casa da namorada

no meio da noite.

Pera… Foi exatamente isso que ele fez.

— Foi realmente uma surpresa. — ele sorri. — Como entrou


aqui?

— Pela janela. É muito fácil entrar no seu quarto, Docinho.

— Não é fácil para qualquer humano normal, tem uns cinco

metros do chão até aqui.

— As pessoas não têm a visão que um bom fuzileiro tem,

consigo perceber, por exemplo, que sua varanda da frente parece


não dar acesso aos quartos, mas ela dá com muita facilidade.

— Preciso ter cuidado, os tarados podem entrar aqui durante

a noite. — brinco.

— Eu sou o único com permissão de entrada a qualquer

hora. — rimos.

Ele conta que já fechou a porta de chave para que não


sejamos pegos desprevenidos e me aconchego ao seu peito.

— Não lembro a última vez que pulei a janela de uma garota.


— comenta.

— Me conte sobre uma dessas vezes.

— Eu era muito jovem, tinha conhecido Lily a alguns meses,


não era noite ainda, mas pulei sua janela e ficamos conversando por
horas. Passei a fazer isso várias vezes por semanas e um dia o pai

dela nos pegou e me colocou pra correr. Foi engraçado.

— Eu queria ter a conhecido. — confesso. — Ela parece ter


sido uma pessoa incrível.

— Ela teria adorado você, o seu espírito livre a encantaria. 


— me observa com atenção. — Você não tem ciúmes de ouvir sobre
a minha ex mulher? — pergunta.
— Não, ela é a mãe do seu filho, não tenho porque ter

ciúmes dela se todas essas histórias já passaram a tanto tempo. —


dou de ombros.

— Mas eu tenho ciúmes dos seus, então nada de falar deles

pra mim. – gargalho, mas ele cobre minha boca para que eu não
faça barulho.

Ficamos conversando sobre nossas histórias passadas,


abraçados como se não tivesse mais espaço na cama para nos

caber, mas tudo que eu queria era esse momento.

Nós dois, prontos para viver tudo o que o destino nos


reserva.

— O Tio Vino precisa de um beijo bem gostoso, demorado e

devasso, porque ele está morrendo de saudades da sua garota e


ela prometeu amassos no carro e não cumpriu. — rio e o beijo.

Aprofundo nosso beijo e o corpo de Vino fica por cima do

meu, ele começa a beijar meu pescoço e desce uma trilha de beijos
até entre meus seios.

— Vino, não podemos. Meus pais vão acordar.

— Nós podemos ser silenciosos. — sugere.


Ele continua sua trilha de beijos até meu umbigo, levanta, me
pega nos braços e me leva para o banheiro, me senta na bancada e
tranca a porta.

— Pronto, ninguém vai ouvir a gente aqui. — rio, ele se

encaixa entre minhas pernas e me beija.

Tira minha blusa e começa a brincar com meus seios,

tomando seu tempo com cada um. Minha respiração está irregular,
tiro sua blusa e Deus, eu não canso desse homem.

Ele fica nu e o ajudo a tirar meu short, nossas roupas são um

amontoado no chão. Vino brinca com o meu clitóris e depois entra


em mim com os dedos, com investidas horas rápidas, horas

torturantes, para dentro e fora de mim.

Quando aperto seu membro com a mão, ele geme e me


beija, se posiciona entre minhas pernas e me toma forte e rápido. O

som dos nossos corpos ecoavam pelo banheiro e eu tentava não


gritar com a intensidade do ato. Não demorou muito até que
gozamos juntos.

Voltamos para o quarto depois de um banho rápido e Vino


deita comigo.

— Você vai dormir aqui? — pergunto.


— Você achou que ia abusar do meu corpinho e eu iria pra
casa? — sorrio.

— Pensei que você tinha vindo apenas para me vê.

— Estou morrendo de saudades de dormir com você. — beija


meu lábio e me acomoda ao seu corpo.

Dormir nos braços de quem você ama não tem preço e

mesmo fazendo Vino parecer um adolescente que pula a janela da

namorada no meio da noite, foi prazeroso, engraçado e


maravilhoso.

Meu despertador tocou e logo o desliguei. Escondi meu rosto

no peito de Vino e ele aperta meu corpo ainda mais o seu..

— Bom dia, Docinho. — fala com a voz ainda rouca de sono

— Bom dia, baby. — beijo seu peito.

— Não faça isso, eu estou pronto para fazer você gritar e não

temos tempo. — rimos.

— Eu vou tomar banho e me arrumar para a faculdade, você

vai descer pela minha janela e bater lá embaixo fingindo que veio

buscar seu carro e aproveitou para me ver antes da faculdade. —


conto para ele o plano.
E é exatamente isso que fazemos, tomamos um banho rápido

e ele desce para seguir nosso combinado, espero alguns minutos e


ouço a campainha tocar.

Visto minha roupa, ajeito minha bolsa e desço. Encontro Vino

sentado na mesa conversando com o meu pai e tomando café.

— Bom dia. — falo e beijo meu pai na bochecha. — Amor,

você veio tomar café comigo? — sorrio e beijo seus lábios

rapidamente.

— Vim pegar o carro e aproveitei para ver minha garota. —


nós poderíamos ser atores.                                                 

Quando terminamos o café, nos despedimos dos meus pais e


saímos, depois de vários beijos dados entramos cada um nos seus

carros e seguimos caminho.


— Estou pensando em fazer um almoço aqui em casa. —
compartilho com Vitória. — Eu queria que sua família viesse, seus
pais e os meus. Talvez assim sua mãe baixe mais a guarda.

— Acho uma ótima ideia, talvez assim ela consiga se sentir

um pouco mais tranquila. Quem sabe não fica amiga da sua mãe. —
ela se anima.

— Sempre pensei que seria mais difícil lidar com o seu pai,
que ele iria me colocar para fora. — rimos.

— Eu também, mas minha mãe ficou muito estranha depois


da nossa relação. Ela nunca foi assim, sempre foi muito protetora,

mas não ao ponto de querer me impedir de sair de casa e controlar

todos os meus passos. — ela fala pensativa.


— Espero que ela consiga nos aceitar em algum momento,

para que possamos viver bem com seus pais. Família é muito
importante para mim, quero que possamos ter uma boa relação com

ela.

Ouço ela mexendo em alguma coisa e sei que está ocupada.

— Estou com saudade. — falo, me sentando no sofá da


oficina.

— Eu também, mas estou com tanta coisa para estudar que


não consigo parar agora.

— Eu sei, seu futuro é mais importante, não deixaria você

parar de estudar para me ver.

— Obrigada por entender, afinal, você é meu futuro também.


— sorrio pela possibilidade de tê-la comigo para sempre.

— São coisas diferentes, que vão estar juntas no futuro. —

afirmo.

Conto para ela que tenho alguns trabalhos para entregar e


que jantarei com Carly hoje. Ela me fala sobre o que pretende para

o dia e percebo o quanto amo ouvi-la falar sobre seus planos e

ainda mais saber que faço parte deles.


Desde que ela entrou na minha vida, voltei a ver o futuro com
novos olhos. Tenho novos planos, quero alcançar objetivos e

conquistar coisas novas com ela.

— Amanhã vou te ver no Theo’s. — fala animada. — Não


terei aula. Estou com saudades de te ouvir tocar.

— Eu posso tocar só para você ou tocar você. — sugiro e sei

que ela está sorrindo nesse momento.

— Quando as provas acabarem, serei só sua por uma


semana inteira. — rimos.

Lhe explico sobre tudo que quero fazer no jantar e


começamos a planejar maneiras de convencer a mãe dela de

aceitar vir ao jantar. Tentamos pensar no que podemos usar a nosso

favor e rimos muito sobre tudo que pode dar errado.

— Ela gosta do Erick. — Vitória fala.

— Ela adoraria que ele fosse seu namorado. — rimos. —

Infelizmente a filha rebelde se apaixonou pelo quarentão. — ela ri.

— Quebrando todas as regras da sociedade. — fala


orgulhosa.

— Nós nascemos para quebrar as regras, Docinho.


— Essa voz grossa me deixa com tesão. — gargalho

— Não fale de tesão quando não estou perto de você,

Docinho. Isso me deixa louco. — peço.

Desligamos depois de mais alguns minutos, me dei conta da

hora quando Erick entrou na oficina para me avisar que estávamos


quase atrasados para ir jantar. Fecho tudo e subo para me arrumar,

não demora muito para estarmos pegando a estrada.

Nos reunimos todos na mesa, meus pais, Carly, Paul e Erick.


O jantar correu como sempre, nosso barulho, nossa manias e nosso

amor um pelo outro sempre claro.

— Estou planejando um jantar para o sábado, quero que


vocês conheçam a família da Vitória, assim espero que a mãe dela

aceite melhor nosso relacionamento. — comunico.

— É uma ótima ideia, vamos adorar conhecer os pais dela. —


minha mãe fala.

— Será uma oportunidade até para que a mãe dela veja que
também queremos muito bem a filha dela. — meu pai completa.

A semana passou voando, na sexta eu cantei no Theo’s como

todas as semanas e Vitória foi me ver, eu estava morrendo de


saudades do meu, Docinho. Depois de um sexo louco no carro
deixei Vitoria em casa. Ela me contou que sua mãe aceitou depois

de muita conversa com Nicholas, então liguei para minha mãe e


avisei que às dezesseis horas do dia seguinte eles teriam que estar

na minha casa para o jantar.

Quando o sábado chegou eu consegui seguir tudo que


planejei, o jantar estava feito e a mesa posta, estava faltando

apenas eles chegarem.

— Pai, estou pronto. — Erick diz descendo as escadas.

— Que bom, meu filho, eles vão chegar logo. — falo ansioso.

— Nunca tivemos tantos jantares em tão pouco tempo. — ele

ri. — Mas nenhum será tenso como esse. — nos olhamos e


concordo com ele. — Porque a Tia Amélia é bem complicada.

— E ela me detesta. — dou de ombros.

— Mas você está fazendo sua parte, pai. E Vitória não vai
deixar você, então uma hora ela aceitará vocês.

— Minha última tentativa de fazê-la entender que não existe


problema no nosso relacionamento. Não desistirei de Vitória,
independente de qual seja o resultado de hoje.
Ouvimos o carro parar do lado de fora e nos olhamos. Eles
chegaram e espero que o universo tenha planejado coisas boas
para esta noite. Abro a porta e Amélia está com cara fechada,

Vitória nervosa e Nicholas sorrindo.

— Boa noite, sejam bem vindos a minha casa. — digo.

— Obrigado, rapaz. — diz Nicholas e aperta minha mão.

— Boa noite. — Amélia responde emburrada e sorrio.

Dou um beijo rápido em Vitória e eles entram. Amélia, por


algum milagre, sorri pra Erick e Nicholas conversa um pouco com

ele, roubo mais alguns beijos de Vitória sem eles verem e tento
passar tranquilidade para ela.

Conversamos um pouco no sofá e logo a campainha toca

novamente. Levanto e vou atender.

— Bom, esses são meus pais. — falo entrando na sala com


James e Molly.

— James? — a mãe de Vitória pergunta assustada e


surpresa ao mesmo tempo.

Meu pai a olha e para, vejo seu rosto ficar branco.


— Oh meu Deus, Amélia. — meu pai fala, completamente
surpreso.

Ela levanta do sofá como raio e puxa o marido.

— Vamos sair dessa casa agora, eu não fico aqui nem mais
um segundo. — a mãe de Vitória passa por nós vermelha de ódio e
Nicholas a segue.

— O que eu perdi? — minha mãe pergunta para o meu pai.

— É uma longa história. — meu pai fala, com o semblante

derrotado.

Amélia grita algo para Vitória no meio do jardim, Nicholas


entra no lado do motorista e saem na sequência.

— Amor, o que aconteceu? — pergunto, me aproximando e a


abraço.

— Ela gritou mil coisas e eu não entendi nada. — Vitória

parece atordoada.

— Você está nervosa, venha, vamos entrar e tomar um copo

de água, depois te levo pra casa. — seguro sua mão e a puxo para

mim. — Vem linda, vou cuidar de você!


Dizer que dormi na casa de Vino não seria correto, porque não
preguei os olhos durante a noite. Os acontecimentos do jantar me
fizeram criar várias hipóteses do que poderia realmente ter
acontecido, mas nada me levou a uma boa conclusão. James e

Molly foram para casa, ele estava visivelmente surpreso e chateado,


como se não acreditasse que estava acontecendo aquilo, o que me

deixou ainda mais intrigada.

Vino me deixou em casa cedo e o clima estava estranho entre

os meus pais. Tentei conversar com minha mãe durante todo o dia,
mas ela fugiu o tempo inteiro, mas agora não pode escapar de mim.

Me aproximo dela na varanda e sento ao seu lado.

— Mãe, preciso entender o que aconteceu. Você não age

daquela forma, mas foi só colocar os olhos em James, que alguma


coisa mudou. — peço.

— É uma longa história. — parece cansada. — Já fui uma jovem

como você, Vitória. Que se apaixona pelo incrível homem mais

velho e cheio de vida. Enfim, não é hora.

— Temos muito tempo. — digo e a observo com atenção.

— É complicado, eu não sabia que eles tinham parentesco. E

quero continuar deixando claro, não aprovo essa relação e nunca

vou aprovar.

— Só me conte o que aconteceu. — peço.

— Eu conheci um homem, ele era lindo e inteligente, bem mais

velho e diferente de todos os caras que eu conheci naquela época.

Ele estava trabalhando na cidade, começamos a nos conhecer e foi


maravilhoso. Nós estávamos felizes e nosso amor era intenso, nós

éramos o casal perfeito. — ela para e sei que filme está se

passando na sua cabeça. — Eu estava tão enlouquecida de amor,

que aceitei noivar com ele tendo apenas dezessete anos, quase

uma criança ainda.

A cada uma das suas palavras, vou ficando ainda mais

surpresa. Minha mãe foi noiva antes de conhecer meu pai? Tenho
milhares de questões rondando minha mente, mas quero ouvi-la
antes de tudo.

— Então, um belo dia,  ele me trocou pela ex, que tinha

aparecido do nada grávida de um filho dele. É por isso que não


quero você com esse Vino. Ele vai deixar você e você vai sofrer por

anos até se recuperar. Você é apenas uma aventura para ele, filha.

— afirma.

— É por isso que não aceita meu namoro? Por acreditar que

Vino será como o pai?

— Querida, eu sei que ele vai te deixar. — fala convicta. — Vai

enjoar  da bonitinha e inocente e vai atrás de uma mulher que esteja

no mesmo tempo de vida que ele.

— Mãe, não acredito que Vino fará comigo o que James fez

com você. — tento lhe avisar.

Eu entendo o quanto deve ter sido cruel viver a dor de ser

abandonada e depois descobrir que agora ele teria um filho com

outra. E pela forma como minha mãe fala, é possível perceber o

quanto gostava de James. Mas não é justo que ela tente refletir isso

em mim. São tempos, pessoas e histórias diferentes.


— Eu não sabia que ele era o tão famoso filho do James. —

fala, mas seu pensamento está distante.

— Mãe, você não pode acreditar que a mesma coisa acontecerá


comigo. — os detalhes da história voltam para minha mente. —

Você noivou aos dezessete anos? — pergunto.

Jamais imaginei que minha mãe seria tão rápida quando ela me

deu o tipo de criação mais reclusa de todas.

— Moramos em uma cidade pequena, naquele tempo ainda


casavamos muito jovens. — da de ombros.

— Quando você conheceu meu pai? — procuro entender.

— Algum tempo depois, eu já estava na faculdade. — explica.


— Vitória, eu jamais me importaria de vê-la namorando alguém da
sua idade ou com uma realidade como a sua, mas jamais aceitarei

esse homem na sua vida. Ele não trará nada de bom para você. —
avisa.

— Entendo sua dor, mãe. Mas ela não pode me privar de


viver a minha vida e fazer minhas próprias escolhas. — digo, triste.

— Quero ficar sozinha. — diz e se afasta.


Jamais imaginei que minha mãe teria se relacionado tão nova

com alguém e que esse alguém seria meu atual sogro. Vino e eu
ainda não tínhamos conversado sobre a história das nossas

famílias, não sei se ele sabe que seus pais estavam separados
quando sua mãe estava grávida dele. Não sei o que aconteceu

naquela época, mas sei que isso não pode interferir no presente.

O quão absurdo tudo isso parecia ser me surpreendeu. Como


o universo juntou nossas famílias duas vezes em épocas

completamente diferentes?

Isso não vai afetar minha relação com Vino, mas tornará mais
difícil algo que tanto queremos, que é tornar nossas famílias

próximas. Ligo para ele e lhe conto toda a história que acabei de
descobrir. Sua surpresa foi exatamente como a minha.

— Meu pai nunca comentou nada comigo. — fala.

— Ele nunca deve ter imaginado que o filho dele acabaria


namorando com a filha da sua ex-namorada.

— Meu Deus, como o universo gosta de armar surpresas. —

diz, pensativo.

— Ela afirmou pela milésima vez que não vai apoiar nosso
relacionamento. — indago, cansada.
— Deve ser estranho para ela descobrir tudo isso e com o
trauma que passou, entendo que fique receosa de que eu faça o
mesmo com você.

Compreensivo até com quem não gosta dele. Anotado na

listinha de coisas sobre ele.

— Só que ninguém mais consegue me fazer ficar longe de você,

Tio Vino. — sorrio.

— Ótimo, porque eu estou disposto a ir até o inferno por você.

Se eu pudesse descrever o que sinto por Vino, começaria com

avassalador. Depois Intenso, imperfeito e incrível. Amar Vino Walter


é a coisa mais bonita que já fiz na vida.
Vino estava evitando ao máximo cruzar com minha mãe, mas

mesmo com as escapadas que eu conseguia dar e as vezes que ele


pulou minha janela, estávamos cansados de sempre ter que viver
uma briga para conseguir nos ver. Então, Theodore disse que daria

um jeito de resolver isso e um belo dia voltei da faculdade e o


encontrei sentado na mesa da cozinha gargalhando com a minha

mãe.

Estamos cada vez mais surpresos como ela se rendeu tão


fácil ao jeito de Theo. Ele conseguiu fazer minha mãe ficar um

pouco menos carrancuda, pelo menos um pouquinho. Acredito que

ele tem falado sobre nós aos poucos com ela, mostrando que
mesmo sendo mais velho, ele tem uma vida repleta de boas

pessoas.
Nós não temos culpa do que aconteceu no passado dela.

Com todo o estresse das últimas semanas, meu pai acabou

tendo um pico de pressão alta e precisou ser internado, foi um susto

imenso. O médico pediu para ficar o observando por uma semana e

estou indo visitá-lo todos os dias.

Nunca pensei que tantas coisas aconteceriam em tão pouco


tempo, mas mesmo assim, no fundo, me sinto feliz, porque tive

certeza de que escolhi o homem certo para somar comigo. Vino foi

meu apoio, esteve ao meu lado, foi um grande amigo, me falou o


que eu precisava ouvir, me fez ver novas opções quando errei e não

soltou minha mão em nenhum momento. Isso fez com que eu o

amasse ainda mais.

Hoje resolvi fazer um jantar para as boas vindas do meu pai e


pedi para minha mãe não arrumar confusão com Vino, pois era

óbvio que o convidaria. Comecei a preparar tudo desde cedo e fiz os

pratos mais gostosos que consegui dentro da minha capacidade

limitada com comidas. 

Não demorou muito para ele chegar e já foi me encostando

na parede e me roubando um beijo devastador.


— Deus, estou com saudades de você. — sussuro contra
seus lábios.

— Se estivéssemos sozinhos, você já estaria nua. — me

beija novamente.

— Tio Vino, não me provoque quando não podemos fazer


nada além de nos beijar. — peço e ele sorri.

— Sua mãe mata a gente se chegar aqui. — se afasta.

— Ela foi buscar meu pai com o Theo, venha.

Puxo sua mão até a lavanderia, que é o cômodo mais

escondido da casa, e mesmo sem portas, não tem fácil acesso.

Beijo sua boca com desejo e toda a saudade acumulada nas últimas

semanas. Ele me toca, mas sei que está se controlando, ainda

tenso pela possibilidade de alguém nos pegar.

— Por favor, Vino. — imploro. — Preciso de você. — ele me


olha com intensidade e quando alcanço seu cinto, sei que o rendi

completamente.

Volto a lhe beijar e contenho a vontade de arrancar sua


camisa. Temos que ser rápidos, nada barulhentos e prestar atenção

se ninguém está vindo. Ele me ergue e me faz sentar na bancada


da pia, fica entre minhas pernas e cola nossos corpos, puxa meu

vestido para a cintura e seus dedos afastam minha calcinha.

— Eu adoro a forma como você sempre está pronta para


mim. — seu dedo brinca com meu ponto sensível.

— Eu adoro tudo em você, Tio Vino. — abro sua calça e


abaixo o suficiente para o seu membro ficar livre.

— Merda. — ele suspira. — Nada de preliminares hoje.

— Eu estou com tanto tesão acumulado que por mim você já


estaria me fodendo desde que atravessou aquela porta. — rimos.

— Seu pedido é uma ordem, Docinho. — ele entra em mim,

nós dois ainda vestidos, mas a sensação de tê-lo dentro de mim, é a


melhor possível.

Eu não tinha ideia do quanto precisava disso nesses últimos

dias. Estar com o Vino no meio de toda essa loucura, é como uma
lufada de ar fresco em meio a um incêndio.

O contato dos nossos corpos, a nossa conexão, não é

possível ser explicada. Somos o encaixe perfeito. Ele sabe todos os


lugares onde me tocar e idolatra meu corpo até me levar ao ápice,

vindo logo em seguida.


Quando meu pai chegou, estávamos os esperando na sala. O

abracei forte, feliz por estar em casa. Minha mãe quase não
cumprimentou Vino, mas meu pai engatou em uma conversa

calorosa com ele e Theo. Ajeitei a mesa e conseguimos ter uma


refeição agradável e saudável.

— Estava tudo ótimo, mas eu queria um hambúrguer para

recuperar minhas energias. — falo.

A campainha toca antes que alguém possa responder e vou


atender. Dona Margareth, nossa vizinha nos entregou uma torta

para o retorno do meu pai. Agradeço e quando volto para a cozinha,


sinto o mundo girar e me apoio na cadeira, no outro segundo Vino

está ao meu lado.

— Docinho, você está bem? — me ajuda a sentar.

— Sim, foi só uma tontura. — Só me dê um pouco de água e

ficarei bem. — ele faz o que peço.

— Tem certeza? Pode ter sido essa correria das últimas


semanas, já que você é teimosa e quer dar conta de tudo. — Theo

fala. — Você está se alimentando e dormindo direito?


— Está tudo bem, acho que foi só o cansaço mesmo. — da
mesma forma que me atingiu, foi embora, rápido.

Vino me observa, enquanto minha mãe pergunta tudo que


possa estar sentindo, mas realmente já me sinto bem. Seguimos o

jantar e meu pai logo se recolheu, Theo se despediu e ficamos


apenas Vino e eu relutando contra sua partida.

— O que eu faço com você, sua garota teimosa? — me beija


rápido, depois de me avisar que preciso comer.

— Me ama. — falo contra seus lábios

— Mais? É impossível. — o sorriso largo em seu rosto, faz


meu coração acelerar.

— Claro que não, eu te amo mais a cada dia. — confesso e

vejo seus olhos se iluminarem.

— Você foi feita para mim, Docinho. — sussurra e me beija.


— Tenho um presente para você.

Vino vai até o carro e espero ansiosamente na varanda, sem


imaginar o que pode ser. A ideia de ser o primeiro presente que
ganho dele me deixa ansiosa.
— Não quero que se esqueça de mim ou sinta-se sozinha se
precisarmos ficar um tempo longe um do outro novamente. — abre
a caixa e um ponto dourado chama minha atenção.

É um berloque dourado, para a pulseira que ganhei de


aniversário e nunca tirei do braço. Ele percebeu que sempre estou
com ela. Os detalhes formam uma flor, delicada e com pétalas

arredondadas, mas seu centro é em forma de coração azul, como a

cor dos olhos dele. É lindo e delicado, é perfeito.

— Vino, é lindo demais. Eu sempre levarei comigo. —

prometo para seu sorriso intenso.

Ele abre a pulseira, coloca o berloque e a devolve para o meu


braço. O abraço forte contra meu corpo e agradeço pelo presente.

Em uma única noite, ele disse que me amava e me deu algo

para sempre senti-lo comigo. Eu tenho cada dia mais certeza que

me apaixonar por Vino Walter foi a melhor coisa que poderia me

acontecer.

 
Olho para os três homens sentados na sala da minha casa e
cruzo os braços para que eles percebam o quanto estão delirando.
Theodore usou da sua aproximação com a minha mãe no último
mês para agora levar o meu pai para o bar dele. Só que isso não vai

acontecer.

— Noite dos homens, Docinho. — Vino dá de ombros.

— Você não vai levar meu pai para o Theo’s. — repito firme.

— Por que não? — papai pergunta, tentando esconder o riso.

— Porque não é lugar para você. — afirmo.

— Meu bar é lugar para qualquer pessoa maior de idade. —

Theo se defende e eles gargalham.

— Seu pai precisa de amigos novos, Docinho. — Vino tenta

me convencer. — Que saibam viver e tomar algumas cervejas com


ele.

Olho feio para os três e eles esperam minha aprovação.

Estou me fazendo de difícil porque adoro vê-los implorando nas

entrelinhas. Será legal ver o meu pai saindo já que depois da vida

de casado ele viveu em função de nós, assim como a minha mãe,


que também precisa desse incentivo e provavelmente seguirei o

exemplo dos meninos e a levarei para sair.

— Querida, já somos adultos, sabemos nos cuidar. — meu

pai fala.

— Vocês são homens, têm predisposição genética para

burrice, não podem ficar muito tempo sozinhos. — digo e Theo ri. —
Mas eu apoio, se chegarem cedo em casa.

Meu pai e Vino concordam e combinam o melhor dia para a

diversão. Me jogo no sofá entre eles e procuro algo na televisão

para nos distrair um pouco. Eu tenho amado a forma como Theo

conseguiu fazer minha mãe lidar melhor com a ideia de Vino me


visitar sempre que quiser.

Vino quem cozinhou hoje, ele tem ficado mais tempo aqui e
eu tenho amado poder vê-lo mais. Minha mãe ainda não fala com

ele e tenta manter o máximo de distância possível. Eu não sei por


que tanto ódio de uma pessoa que não tem culpa de nada. A
diferença de idade parece que foi colocada de lado e não importava

mais, mas foi o sobrenome de Vino que se tornou um problema. Ele

ser filho do James faz ela odiá-lo.

Vino não tem culpa de James não amá-la, porque mesmo

Molly estando grávida, se ele realmente amasse minha mãe, teria

assumido a criança e continuado com ela. Vino era apenas um bebê

sendo gerado, não tem porque ela nutrir tanta raiva dele.

Quando minha mãe se envolveu com James eles tinham

quase a mesma diferença de idade que Vino e eu temos, ela é

poucos anos mais velha que ele. Estou começando a pensar que o
fato que a incomoda de verdade é o fato de ver em nós tudo que ela

viveu e assim tem medo de Vino me abandonar.

Vino não é mais um garoto e por tudo que tive a chance de


conhecer sobre ele, não acredito que ele seria capaz de fazer algo

tão cruel. Se não sentisse mais nada por mim, ele me diria e iria

embora da minha vida.

Theo se despediu e foi embora, meu pai se recolheu e Vino e

eu deitamos no balanço de rede que tem no meu quintal. Ele me


puxou para ficar aconchegada ao seu corpo, deitei meu rosto em

seu pescoço e me permiti relaxar quando senti seu cheiro.

— No que está pensando? — faz carinho no meu cabelo.

— Em como gosto do seu cheiro. — confesso.

— Pode ter certeza que o meu nunca será melhor que o seu.
— leva minha mão até seus lábios e a beija.

— Senti Theo um pouco calado hoje. — falo. — Como agora

minha mãe quase o adotou, convivi bem mais com ele e posso
garantir que consigo lê-lo.

— Carly e ele estão em pé de guerra. Eles sempre tem essa

fase. Ele não a deixa em paz e ela o manda para a puta que pariu.
— rimos.

— Eles foram feitos um para o outro, deveriam se resolver de

uma vez. — afirmo e ele me olha de um jeito estranho. — Você não


acha? Carly é a única mulher que Theo gosta de verdade, ele nunca

vai ter uma pessoa permanente se não for ela.

Vino parece pensar sobre o que lhe disse e brinca com meus
dedos.
— Acho que você pode estar certa, só ainda é um pouco

estranho o fato de ter visto os dois crescerem juntos e nunca ter


desconfiado de nada. Theo é um grande amigo a minha vida inteira

e preferi fingir não perceber o que acontecia entre eles para não
precisar tomar partido e acabar com a relação que tinha com os

dois. — observo seu rosto bonito enquanto ele continua pensativo.


— Não aguento mais ouvir ele dizer que está cheio de porra
acumulada porque não transa com ninguém a um mês, porque não

consegue desde que começou a brigar com ela.

Gargalho e ele me acompanha.

— Você ainda tem dúvidas de quem ele é apaixonado por

ela? — pergunto e ele ri.

— Ele está subindo pelas paredes e fica na porra da minha


orelha o dia todo. — me puxa para o seu peito. — Sexta eu volto a

tocar, você vai me ver?

— Claro que sim. Sinto falta de ouvir você tocar mais vezes
para mim. — confesso e ele me olha surpreso. — Eu imagino você

pelado, tocando violão pra mim, na nossa cama daqui a um tempo.

Rimos e ele me puxa para um beijo rápido.


— Eu posso ficar nu agora para você. — lambe meu pescoço
e me faz arrepiar. — Então… Nossa cama?

— Um dia será nossa. Com você tocando violão para uma


criança, enquanto Erick e eu chegamos do trabalho. — brinco, mas

vejo um brilho novo nos seus olhos.

— Eu não pensava mais em viver nada disso, parecia não

fazer sentido, mas você fez tudo ter um novo significado, Docinho.
— faz carinho no meu rosto. — Consigo me imaginar vivendo tudo

com você.

Sinto meu coração acelerar e sorrio como uma jovem


apaixonada, porque é exatamente isso que eu sou.

— Bom, eu me formo em pouco tempo, quero trabalhar em

um grande hospital e nós vamos ter um filho, porque educar uma


criança é difícil demais, vamos viajar muito e conhecer várias

coisas.

Consigo nos imaginar vivendo cada uma dessas coisas. Vê-la


todos os dias saindo para trabalhar e voltar para me contar sobre

tudo que aconteceu, nossas viagens para desvendar o mundo, uma


criança correndo pela casa e tudo que construiremos com o passar
dos anos.
— Quero te falar uma coisa. — ela me olha com seriedade.

Me ajeito para conseguir ver seu rosto direito.

— E parece ser sério. — concordo com a cabeça.

— Estou pensando em começar a trabalhar, parar de

depender dos meus pais. Começar a ter minha independência.

— Eu acho isso incrível, amor. Se é isso que você quer, é


claro que vou te apoiar. Onde você está pensando em trabalhar? —

questiona.

— Não sei se você sabe, mas Erick e eu temos nossa

cafeteria preferida e surgiu uma vaga lá. Os donos me conhecem e


me perguntaram se eu não tinha interesse, disse que precisava

pensar, mas já sei que quero.

— Estou orgulhoso de você, Docinho. — beija minha testa. —

Vendo você buscar seus próprios caminhos. 

Encerramos a noite com muitos beijos de despedida e com o

coração preenchido. Tudo estava começando a melhorar. No outro

dia, depois que Erick, Naya e eu saímos da aula, fomos até a


Delicate Coffee e aceitei o trabalho.

Estou pronta para novos rumos.


Sexta. Meu primeiro dia de trabalho. Quando conversei com
meus pais, eles me apoiaram de cara, mesmo falando o quanto isso
não era necessário, mas estavam felizes em me ver buscando
novas coisas. Meus horários acabam variando entre os dias da

semana, porque todos eles foram ajustados às minhas aulas, mas


estou tão feliz que não me importo em ficar até alguns dias até mais

tarde.

Caminhei da faculdade até a Delicate, não é longe e sentir o

ar puro faz com que eu me acalme um pouco.

— Boa tarde, Charles. — o cumprimento ao entrar no lugar.

— Olá, Vitória. — ele sorri. — Estava ansioso para que

chegasse, fico muito feliz em ter aceitado a proposta. Mas, sem nos
alongar muito, venha, preciso te mostrar bastante coisa.
Charles é um senhor de sessenta e dois anos, cabelos

brancos e um sorriso fácil. Todos das redondezas o adoram e faz


trinta anos que ele e sua esposa, Luly, tem esse lugar. A cafeteria

sempre foi o grande sonho deles, então nunca abriram mão de

trabalhar nele.

Entramos em um corredor que nos leva para partes da

cafeteria que nunca vi. Existem várias portas, onde ele me explica

que estão os banheiros, escritório, estoque, contabilidade e o


vestiário. No final, tem uma grande porta com vidros e consigo ver

que lá é a cozinha.

A estrutura é de um prédio construído há muitos anos atrás,

mas é tudo muito bonito. Entramos em uma das portas e dentro do


cômodo tem vários armários e um banco grande entre eles.

— Esse é o seu armário. Número 32. — indica a porta

vermelha. — Seu uniforme está aí dentro, você terá seu cadeado e

sua chave, ninguém mexe além de você.

Ele me explica como funcionam os dois espaços de banho,

os horários que pegarei, quais as regras básicas de conduta da

empresa, sobre os produtos que vendem e o que os clientes

gostam. Já conheço bastante sobre o lugar, mas estou empolgada


em fazer parte do outro lado de tudo que acontece na minha
cafeteria favorita.

— Obrigada, Charles. Tudo entendido.

— Você vai revezar entre o balcão e as mesas com o

restante do pessoal, o caixa fica com Luly e comigo. As gorjetas são


suas. E não gosto que minhas garotas trabalhem de salto, vocês

andam muito o dia todo e isso machuca, procure sempre estar

confortável.

Ótimo, eu odiaria ter que trabalhar de salto.

— As meninas falaram que você usaria tamanho M, espero


que tenham acertado. — diz quando pego o uniforme. — Vou deixar

você se trocar e te encontro lá na frente.

— Obrigada, acho que vai servir sim.

Coloquei o vestido azul céu igual ao das meninas e meu


avental por cima. Guardei minhas coisas no armário e admirei meu

reflexo no espelho. O vestido ficou lindo no meu corpo, ele tem a

saia rodada, cintura marcada e mangas curtas. 

Se a intenção de Charles era fazer as atendentes parecerem

bonecas, ele conseguiu. Sinto-me a Dorothy[7]. Amarro meu cabelo


em um coque alto e fico com os tênis branco que já estava.

Guardo o restante das minhas coisas no armário e vou

encontrar Charles.

— Você ficou um doce, querida. — Luly sorri para mim. Ela

tem quase a mesma idade do marido. Ainda mantém seus cabelos


loiros, como era na juventude. Uma mulher tão delicada que dá

vontade de colocar em um potinho e guardar para sempre.

— Obrigada Luly, vocês escolheram um lindo uniforme para


as garotas.

Ouvimos o sino da porta tocar e vemos um grupo de alunos

entrando.

— Bom, são quase cinco e meia e o movimento vai aumentar.


Você sabe que servimos refeições e o jantar está chegando. Seus

colegas de faculdade tomarão conta deste lugar e como esse é o


seu primeiro dia vai pegar os pedidos na mesa, Ella vai ajudá-la a

entregar. No bolso do seu avental deverá ficar sempre esse


bloquinho. — Luly me entrega um caderninho e uma caneta. —
Anote o número da mesa e o pedido, quando chegar até a janelinha

da cozinha avise a Patt, o chef.  Somos todos uma grande equipe,


logo você se acostuma. — sorrimos. — Você fica até às dez da noite
e os homens bêbados já estão aqui nessa hora. Depois disso,

apenas o Jeff, nosso sobrinho, fica lidando com os brutamontes. Dia


de jogo aqui fica um inferno e eu e o meu velho não aguentamos

mais tanto assim. Mas, basicamente é isso, tudo bem para você?

— Sim, acho que entendi tudo e o que precisar pergunto para


Ella. — afirmo.

— Ótimo. Agora tenho clientes na mesa dois, vá atendê-los.


— ela aponta para mesa e vejo Vino sentado com Theo. — Eu sei, o

seu garoto está aqui, vá lá fazer ele ficar orgulhoso. — Luly fala e
volta a tomar seu lugar no caixa.

Eu já estive com Vino aqui algumas vezes e eles se

conhecem por conta de Erick também. Coloco meu celular e meu


bloquinho no bolso do meu avental e vou até eles.

— Olá rapazes, bem vindos ao Delicate. — sorrio para eles.

— O que vão querer hoje?

— Docinho. — Theo sorri amplamente. — Você está uma


personagem de contos de fadas eróticos com essa roupinha.

— Já começou a falar meda. — Vino o repreende aborrecido.


— Respeite minha mulher e o ambiente de trabalho dela.

— Eu vou levar isso como um elogio, Theo. — falo.


— Pode levar como o melhor, você está uma gostosa total. —
provoca Vino.

— Eu vou fazer você engolir essa cadeira pelo rabo se


continuar falando com ela assim. — Vino ameaça e Theodore

gargalha.

Eles olham o cardápio e começam a fazer seus pedidos.

Anoto tudo e confirmo com eles.

— Amor, você veio me ver no primeiro dia de trabalho. —


sorrio, feliz.

— Claro, eu tinha que prestigiar a minha garota.

— Se eu pudesse namorar no trabalho, te beijaria agora. —


sussurro.

— Nem uma bitoquinha? — brinca e sinto minhas bochechas


esquentarem. — Você está linda!

Me despeço deles com vontade de ficar e beijar meu

namorado, mas volto para a janela que dá acesso a cozinha e indico


meu primeiro pedido para Patt.

Mais clientes chegaram e eu tive que me dividir entre atender

no balcão e fazer os pedidos. Mesmo Ella me ajudando, vi que July


tinha razão quando disse que isso aqui é uma loucura no jantar.

Vino e Theo comeram e pediram várias cervejas,


continuaram assistindo o jogo que passava na TV,  até algumas

horas depois, mas Theo tinha que abrir o bar e Vino disse que
voltaria para me buscar às dez.

Ter aquele homem a menos de cinco metros de mim e não


querer beijá-lo a cada segundo é complicado.

Tive um intervalo às oito horas, consegui comer e descansar


um pouco antes de voltar a ativa. Perto das dez, Luly e Charles se

despediram e Jeff assumiu, vários grupos de caras ocuparam as

mesas, muita bebida e comida foi servida e o ambiente ganhou um


barulho descontrolado de pessoas rindo alto e conversando.

— Hey, você deve ser a novata. — Jeff veio até mim quando

consegui parar por alguns segundos. — Bem vinda a família, Vitória.

Como está seu primeiro dia? — questiona.

Jeff teve ter trinta e poucos anos, é um cara bonito e parece


ser durão.

— Bem, é diferente de quando estava do outro lado apenas


sendo a cliente, mas estou gostando bastante.
— Sei que deve estar cansada, mas logo você acostuma. —

sorri. — Bom, acho que os rapazes querem ver o jogo


acompanhados de cervejas, vou dar um pouco de atenção às

mesas.

O restante das horas passa rápido e logo vejo Vino

atravessando a porta da frente. Absurdamente pontual, como já


anotei na lista de coisas sobre ele. Jeff me libera e vou me trocar

para sair.

Encontro Vino sentado em um banco no balcão e ele sorri

quando me vê, se despede dos homens que estava conversando,

pega minha mão e vamos para casa.

— Como foi o seu primeiro dia? — questiona.

Sinto a ansiedade e empolgação na sua voz e isso aquece

meu coração, porque por mais difícil que seja, saber que tenho
alguém que está torcendo para que seja tudo como esperei, faz com

que minhas energias se renovem.

— Muito legal, conheci várias pessoas novas e vi muitas

pessoas da faculdade, ainda não pude conhecer a equipe da

cozinha completa, mas todos foram muito legais comigo.


— Gosto de te ver sorrindo assim. — ele lê a minha alma

através daqueles oceanos azuis.

— Eu estou feliz, Vino. Hoje provei para mim mesma que não

preciso de outra pessoa além de mim para realizar meus sonhos. —

ele para no meio do estacionamento e beija meus lábios.

— Amo a sua força, Docinho. Mas amo ainda mais a forma

como você quer conquistar o mundo. — faz carinho no meu rosto.

Ele abre a porta do carro para que eu entre e logo ocupa o


lugar ao meu lado. Envolvo seu braço no meu e ele deposita a mão

sobre minha coxa.

— O que fez hoje a noite? — quero saber do seu dia

também.

— Toquei no Theo’s. — ele desgruda os olhos da estrada

rapidamente e vê minha cara de decepção. — Quis terminar mais


cedo e ficar livre para pegar você e assim consigo te sequestrar

para a minha casa. — brinca.

Rio, porque já imagino que ele fez Naya dizer aos meus pais

que eu dormiria na casa dela depois do trabalho.

— Eu não trouxe roupa para dormir. — aviso, surpresa.


— Docinho, não seja ingênua, na minha cama você só dorme

nua.

Não consigo evitar o sorriso, porque amo a forma como meu


corpo reage a ele e as suas insinuações.

— Você é um pervertido. — acuso.

— Não, eu sou um homem apaixonado, que gosta de admirar


o lindo corpo da sua amada. — dá de ombros. — Você está sexy

como o caralho dentro desse vestido. — solta uma respiração forte.

Me mecho no banco do carro e fico mais próxima o possível

dele. Beijo seu pescoço e mordo sua orelha.

— Eu adoro quando você xinga ao me elogiar, me deixa com

tesão. — sussuro.

— Então vou te confessar outro segredo, se seu cabelo

estivesse solto eu estaria duro desde a hora que entrei naquele


lugar hoje cedo.

— Você me acha irresistível com os cachos soltos? — rio.

— Eu gosto de você de todos os jeitos, mas enlouqueço

quando eles estão soltos e cacheados.


— Seu pedido é uma ordem, Tio Vino, eu tenho que

obedecer. — puxo o grampo do cabelo e o solto.

Ele me olha de relance e volta sua atenção para  a estrada,

mas vejo sua mandíbula travar.

— Não me provoque, estou dirigindo. — avisa antes que eu

tente algo.

— Eu não estou fazendo nada. — me defendo, circulando

seu braço ao meu novamente.

— Você não tem noção do quanto tem poder sobre mim,


Vitória. Seus peitos são meu vício e eles estão me pedindo para tirá-

los da prisão que é esse vestido. Seu sorriso doce, junto a esses

olhos de sedutora. Seu cheiro, seus cachos, sua voz. Tudo isso faz

com que eu queira parar esse carro e foder você agora mesmo. —
faço a expressão mais inocente que consigo quando ele me olha e

quase rio. — Você pode não ter noção de tudo isso, mas eu tenho e

minha ereção também.

Gargalho e beijo seu rosto.

— Pare de enrolar e acelere esse carro, quero chegar logo

em casa para você fazer comigo tudo que está pensando. — falo.
— Tudo que eu estou pensando é muito pesado, Docinho. —

sua voz forte me faz arrepiar.

— Eu aguento muito bem. — garanto.

— Tentadora do caralho. — sorri.

— Continue a me xingar, e eu vou precisar gozar sozinha

antes de chegarmos em casa. — ameaço.

— Eu vou amordaçar você. — promete e sorrio.

— Eu adoraria, Tio Vino. — passo a língua no ponto exato

próximo a sua orelha e ele xinga mais uma vez.


Give me a whisper
And give me a sign
Give me a kiss before you
Tell me goodbye
Don't you take it so hard now
And please don't take it so bad
I'll still be thinking of you
And the times we had... baby
And don't you cry tonight
Don't you cry tonight
Don't you cry tonight
There's a heaven above you baby
And don't you cry tonight [8]
 
Olho para o seu corpo enrolado no lençol branco da minha

cama, cabeça apoiada na mão, deitada de lado, cabelo bagunçado

pós-sexo, rosto sem maquiagem, sorriso meigo e com aquele olhar


forte que é só dela.

— Você semi nu tocando para mim é a melhor visão que eu


poderia ter. Imaginei isso várias vezes, mas nada supera a
realidade. — fala e sorrio.

Vejo admiração em seus olhos.

— Você me olhando desse jeito é a melhor coisa do mundo. 

— deixo o violão de lado e a observo. — Me deixa completamente

pronto para mais uma rodada. — provoco.

— Se eu não estivesse morrendo de fome e tão cansada

depois de dois orgasmos maravilhosos, eu estaria de quatro pra

você agora, mas preciso descansar.

— Então eu vou te alimentar. — a puxo para mim e beijo seu

rosto. — Você tem um cozinheiro de mão cheia só para você, jamais

vai ficar com fome. Agora vá tomar um banho, enquanto eu preparo


algo.

— Prepare apenas sanduíches. — sugere.

— Nada disso, Docinho. Você está fraca a algum tempo, vou

fazer comida de verdade.

Ela revira os olhos e me beija rápido. Sai da cama e não


resisto em bater naquela bunda deliciosa, ela grita me fazendo rir.

— Vino, não faça isso. — me repreende e apressa os passos

até o banheiro.
— Não tenho culpa se você é irresistível.

— A minha bunda está ardendo. — grita do banheiro e

gargalho.

Olho tudo que já tenho na geladeira e escolho arroz, faço

uma salada, pego pedaços de carne temperados na geladeira e levo


para a churrasqueira no quintal. Não demora muito para Vitória

aparecer com o cabelo molhado, vestida com uma das minhas

cuecas e uma blusa que fica enorme nela.

— O cheiro está delicioso. — consigo ver o semblante

cansado em seu rosto. — Quer ajuda?

Sinto necessidade de cuidar dela e é isso que quero fazer

para sempre, mantê-la segura e protegida.

— Não, quero que você fique paradinha aí apenas para que


eu possa te admirar. — ela sorri.

— Onde está o Erick? — questiona e vejo suas bochechas

ganharem um tom avermelhado.

Ela ainda sente-se um pouco estranha com a ideia de que


quando Erick está em casa ele pode ouvir algo sobre nossa

intimidade.
— Na casa da Naya. — aviso. — Ele não sai mais de lá.

— Esses dois estão vivendo um amor louco. — rouba um

tomate da salada.

— Sim, mas avisei a Erick o quanto isso é delicado. —

respiro fundo. — Estou preocupado com algumas questões e acho


que Erick vai acabar não tomando uma boa decisão.

— Por quê? — questiona.

— Eu ainda tenho muitos amigos no exército e sempre estou


em contato com eles. Nosso país sempre está em guerra com
alguém, as pessoas apenas não sabem, alguns jovens serão

chamados para o treinamento e consequentemente enviados para


lá. — sinto o peso em meus ombros. — Não quero que Erick vá, sei

como aquilo é um inferno, sei que viver em uma guerra pode


destruir um homem em todos os sentidos, já conversei com ele, mas
ele quer ir e parece muito certo em sua decisão.

— Isso é sério? — pergunta completamente surpresa. — O


que ele tem na cabeça?

Dou de ombros.

— Acredito que tenha sido um erro meu, eu fui um jovem


muito apaixonado pelo trabalho que fiz, quase dei a vida pelo meu
país e se não fosse o meu filho, eu ainda estaria lá. Talvez ele tenha

pego esse mesmo desejo sem que eu percebesse, mas sabe que
hoje minhas escolhas seriam diferentes.

— Isso é uma merda, Vino. — ela parece não acreditar. —

Erick não pode se alistar. E tudo que ele tem aqui?

— Quando um Walter decide que quer algo, ele nunca para

até que conquiste. E esse é o meu medo, da opinião forte que ele
tem não o permita nos ouvir. Se realmente acontecer, ele irá desistir

de tudo por isso.

— Naya não vai aceitar. — afirma.

No lugar de Naya eu também não sei se escolheria viver


anos de aflição pelo trabalho de outra pessoa. Erick precisará fazer

uma escolha entre abrir mão de tudo ou do seu objetivo. Jamais


sairei do seu lado, mas também não apoiarei sua escolha de colocar

sua vida em risco.

— A verdade, Docinho, é que ele está muito certo do que vai


fazer. Chegou apenas me comunicando sobre seus planos, chamei

Theo e conversamos com ele, mas nada parece fazê-lo mudar de


ideia. Erick não é mais uma criança, não posso obrigá-lo a ficar,
mesmo essa sendo a minha vontade. — confesso.
— Então eu espero que um milagre aconteça e ele mude sua
decisão.

A abraço e sinto o cheiro dos meus produtos nela, o que me


causa uma possessividade ainda maior.

Tento mudar de assunto, mas o clima pesou, agora não


somos apenas Theo e eu que estamos preocupados, Vitória

também, mas ao mesmo tempo isso acaba se tornando mais


pessoas capazes de fazê-lo desistir dessa ideia.

Seguimos nossa noite e tento não tocar mais no assunto.

— Sua carne está pronta. — ela avisa.

Vitória senta na mesa da parte externa e a sirvo, porque


adoro mimar minha mulher. Conversamos um pouco mais sobre o

trabalho e lhe conto que estou pensando em começar a mostrar um


pouco mais do meu trabalho para as pessoas, só ainda não decidi
como.

— Estou tão cansada que dormiria aqui mesmo sentada. —


apoia o braço da mesa e encosta sua cabeça na mão.

— Vamos subir, depois ajeito tudo aqui. — levanto e seguro

sua mão para que se junte a mim.


— Você tem braços tão fortes, poderia usá-los para me levar
até a cama. — estica os braços para mim e faz biquinho.

Gargalho do seu pedido, mas não penso muito antes de

erguê-la do chão e seus braços circularem meu pescoço, enquanto


ela deita a cabeça em meu peito e subimos até o quarto.

Nosso quarto.

Sinto seu aperto perder a força, mas ela não dormiu, então

fico um pouco mais atento a todo esse cansaço e fraqueza que ela
tem sentido.

— Você está se sentindo bem, Docinho?

— Acho que estou fraca. — fecha os olhos quando sente a

cama debaixo do seu corpo.

— Não vamos mais adiar, vou te levar ao médico.

—Não, só me deixa na cama que uma boa noite de sono e

um chá vão me fazer melhorar. — garante.

Ela se aconchega nos lençóis e no travesseiro, como se

fosse o melhor lugar do mundo.

— Vitória, eu não vou continuar vendo você doente, já

tivemos muitas cargas de hospital nesses últimos tempos, então se


você estiver sentindo algo, me avise.

É quase uma ordem.

— Tudo bem, garanhão. — beija meus lábios e volta a deitar.

Desço para fazer um chá e quando retorno ela já está

dormindo em um sono intenso e tranquilo.

Tenho achado Vitória estranha ultimamente, ela não tem se

sentindo bem e está escondendo isso, tanto de mim, como de seus


pais. Sempre odiei hospitais e vou odiar ainda mais ter que vê-la em

um, então vou convencê-la a marcar a consulta, nem que eu tenha

que trazer alguém até aqui, mas vou descobrir o que ela tem.

Caralho de mulher teimosa.

Deixo o chá na cabeceira e vou tomar um banho, depois deito

com ela e seu corpo se aconchega ao meu.

Na manhã seguinte acordo com vários beijos por todo rosto e

pescoço.

— Esse é o melhor bom dia que eu poderia receber, outras


partes do meu corpo também já acordaram pra você. — falo sem

abrir os olhos.
— Que informação desnecessária, eu não precisava saber

disso. — ouço Erick e abro os olhos.

Ele está sentado na poltrona e Vitória rindo deitada no meu

peito. Duas das minhas pessoas preferidas no mundo.

— Bom dia, Tio Vino. — ela fala sorridente.

Seu semblante está completamente diferente da noite

passada, está corada e feliz, como se tivesse descansado

completamente.

— Qual é a do “Tio Vino”? — Erick pergunta

— Nós somos melhores amigos, e amigos chamam os pais


um do outro de Tio ou Tia, eu chamava seu pai de Tio para

provocar. — ela explica.

— E provocava o caralho mesmo. — digo e eles riem.

— Vocês parecem um casal de adolescentes, eca. — Erick

diz e toma um gole da sua xícara.

— Eu deixei de ser adolescente a pouco tempo, então ainda

posso parecer uma. — Vitória dá de ombros e minha vontade é

bater na sua bunda.


— E eu sou apenas um velho curtindo com uma novinha. —

ela gargalha.

— Eu que me aproveitei de você, Tio Vino.

Ela me dá aquele olhar de foda-me agora.

— Parem com isso na minha frente. — Erick reclama.

Erick explica que me acordaram cedo porque não queriam ir

para a aula sem se despedirem. Eles já estão prontos e isso me diz


que já é um pouco mais tarde do que costumo acordar

normalmente.

Tenho amado a forma como a amizade deles tem voltado ao

normal e isso me deixa muito feliz porque assim as duas pessoas

que amo estão conseguindo se dar bem de novo.

— Hora de ir, Erick. — Vitória diz pulando da cama.

Ela vai para o banheiro escovar os dentes e Erick sai do

quarto. Levanto e vou até ela, me encosto na porta do banheiro e


ela limpa a boca de pasta e sorri para mim pelo reflexo do espelho.

Me aproximo do seu corpo bonito, coloco minhas mãos na sua

cintura e afundo meu rosto no seu pescoço sentindo seu cheiro

doce.
Vitória fica de frente para mim e beija meu ombro.

— Eu seria a porra de um homem muito feliz se acordasse


com você todos os dias aqui.

— Esse dia vai chegar. — afirma e sorrio.

— Tudo bem, Docinho, eu sou um homem paciente. Quando


o momento certo chegar, nada mais vai afastar você de mim. —

garanto e ela concorda.


Minha aula acabou cedo e fui direto para casa, aproveitar o
tempo que tenho livre hoje antes de ir para o trabalho. Naya avisou
que estava chegando para me ver e lembrei de enviar uma
mensagem para Erick combinando de estudarmos juntos no sábado.

— Você demorou. — reclamo e ela entra, me ignorando.

— Precisei fazer uma paradinha no caminho. — fala e


percebo que está diferente.

— O que aconteceu, Naya? — pergunto.

Ela segura minha mão e me leva para o andar de cima,


entramos no meu quarto e fecha a porta.

— Trouxe algo para você. — percebo sua aflição.

Ela mexe na sacola e tira um teste de gravidez.


— Você só pode estar pirando. — acuso.

— Acho que você pode estar grávida. — afirma.

Claro que não estou grávida. Eu não posso estar gravida.

— Só não estou me cuidando muito. — explico. — Não tenho

passado tão mal nos últimos dias, é apenas pelo cansaço e estresse
das últimas semanas.

— Amiga, não podemos arriscar a sorte. — percebo a aflição

em sua voz. — Quantas vezes já esqueceram a camisinha?

— Naya, eu não vou fazer isso. — nego.

Quantas vezes nós não usamos camisinha? Porque eu não

usei pílula do dia seguinte em nenhum momento… Merda.

— Não me obrigue a abrir as suas pernas até o xixi descer no

palitinho. — ameaça.

Se eu não estivesse tão apavorada, teria rido do seu

comentário, mas nada supera o medo que está tomando conta do

meu corpo agora.

— Eu não estou grávida. De onde você tirou isso?

— De todos os sintomas que você está demonstrando nessas

semanas. Tontura, fraqueza, dor de cabeça, enjoo, sono excessivo.


Não adianta, você vai fazer xixi nesse teste. — me entrega a caixa.

— Eu não estou grávida. — afirmo pela milésima vez.

— Está tentando convencer a você mesma ou a mim?

Há algumas semanas estou me sentindo muito cansada,

tonta e quase vomitei o café da manhã de hoje. Naya ficou

preocupada e ligou para Vino, perguntou se ele tinha reparado algo

estranho em mim nas vezes que estávamos juntos, ele confirmou

tudo que já tínhamos percebido. Ela ainda não tinha me dito que
estava desconfiando de gravidez, apenas que tinha marcado um

médico e que eu iria, mas hoje chegou com a sacola cheia de

testes.

Eu já disse que não é possível que eu esteja grávida, porque

mesmo as vezes em que acabamos esquecendo de nos proteger,

tomo anticoncepcional. Sei que não é garantia, mas não é um

deslize completo.

Sento na cama e olho para a caixa em minhas mãos. Isso

não é possível.

— Você não foi encher a cabeça do Vino com essas coisas,

né? — pergunto.
— Claro que não, preciso confirmar minhas suspeitas antes.

— dá de ombros. — Querida, vocês transam igual um casal de


coelhos, isso é muito provável de acontecer.

Senta ao meu lado e passa o braço pelos meus ombros.

Sinto meu coração acelerar e repasso todas as vezes no carro, na


cozinha da minha casa, na cama dele, na noite anterior… Quando

paramos de nos proteger assim?

— Faça o teste e passe na minha cara que estou

completamente errada.

A porta do meu quarto é aberta, nos assustando. Minha mãe


nos olha completamente apavorada, olhos arregalados. Aponta para

o teste em minha mão e sinto o exato momento em que o mundo se


abriu debaixo dos meus pés.

— O que vocês estão falando é verdade? — pergunta.

— Estava ouvindo atrás da porta? — questiono, sem

acreditar.

— Não importa, eu ouvi tudo. — grita. — Não acredito que

você foi burra a esse ponto. Você está realmente grávida daquele
homem?
Vejo o ódio, o nojo, a revolta em seus olhos e já não

reconheço a mulher parada ali. Aquela não é a pessoa que me


criou, muito menos a mulher que chamei de mãe a vida inteira.

— Mãe, não estou grávida, é isso que estou dizendo a Naya.

— tento explicar.

— Você é uma vagabunda, sua garota inconsequente. —

sinto meu rosto arder e percebo o que ela acabou de fazer.

Amélia nunca foi uma mãe exemplar, mas sei que ela sempre
fez tudo que podia por mim. E eu a amava, porque mesmo com

todos os defeitos, ela sempre foi a minha mãe, e talvez seja por isso
que dói tanto, porque estou percebendo que não a tenho mais.

Uma verdadeira mãe não faria isso com uma filha.

— Amélia, o que está acontecendo aqui? — meu pai

pergunta, entrando no quarto.

— Sua filha virou prostituta, isso que aconteceu. — ela grita.

Meu corpo está paralisado, não acredito que estou ouvindo


tudo isso.

— Pare de falar tanta porcaria, Amélia, respeite sua filha. —


meu pai grita de volta com ela. Volta sua atenção para mim e
abranda a voz. — Vitória, o que aconteceu?

Eu olho para ele e lágrimas transbordam do meu rosto, não


consigo responder porque minha mãe volta a falar.

— Ela está grávida daquele aproveitador. — minha mãe grita


mais uma vez.

— Você está grávida, querida? — meu pai me pergunta,

ignorando minha mãe.

— Eu não sei, pai. — sou sincera com ele.

— Ela acha que não. — Naya explica. — Eu trouxe o teste


para ela saber o que está acontecendo ou se está apenas doente.

— Se você estiver grávida daquele homem, não a quero mais


dentro dessa casa. — Amélia grita descontrolada.

— Cale a porra da sua boca, Amélia. — meu pai lhe devolve

o mesmo ódio que está destilando em mim. — Essa casa é minha e


se minha filha estiver grávida ela ficará aqui. Não vou desamparar

minha única filha por suas idiotices. E pare de insultá-la. Se ela


tivesse se tornado uma prostituta ainda continuaria minha filha e eu
ainda cuidaria dela. Se estiver achando ruim, saia você daqui.
O queixo da minha mãe cai, é atingida pela surpresa de não
ter o apoio do homem que sempre relevou tudo que ela fez.

— Como você pode apoiar isso? Como você é capaz de olhar

para ela como se fosse a nossa filha? Esse homem a transformou.


Ela não é a nossa Vitória.

— Saia desse quarto agora. — ele ordena.

Amélia sai gritando coisas pelo corredor, ele deposita um

beijo na minha testa, me passando confiança e mostrando que está


ao meu lado. O abraço e ele me acolhe em seus braços. Quando

estamos todos mais calmos, meu pai sai e Naya vai buscar água

para nós duas.

Pego o celular e disco o número de Vino, sentindo todas as

lágrimas se libertarem.

— Docinho. — sua voz é saudosa, me faz querer chorar


ainda mais.

— Preciso que venha me buscar. — falo tentando manter


minha voz o mais tranquila possível.
— Porque está chorando, Vitória? — seu tom muda e ouço

quando ele solta algo.

— A minha mãe perdeu completamente a noção, ela me


bateu e me disse coisas horríveis.

Sinto meu peito apertar. Como vou dizer a ele que posso
estar esperando um bebê?

— O que? Eu estou a caminho, me fale o que aconteceu. —

pede.

— Naya acha que estou grávida e me trouxe um teste, ela viu

e teve a pior reação possível. Eu não quero mais ficar aqui. —

choro.

— Docinho. — ele para. — Você está grávida? — posso ouvir


o sorriso em sua voz.

— Eu… — minha cabeça gira, minha visão fica turva..

Eu estou caindo…

Ainda ouço Vino me chamar, mas tudo fica escuro.


A luz forte atinge meu rosto e já sei onde estou, conheço

hospitais muito bem.

Abro os olhos devagar e procuro por alguém. Vino está de

costas para a cama, olhando pela persiana, seus braços cruzados

valorizam suas costas largas, a jaqueta jeans apertada em volta do


seu corpo, ele está de touca e não posso deixar de sorrir, eu amo

aquelas toquinhas.

— Vino. — o chamo baixinho e ele vira para me olhar, seu

rosto está manchado de lágrimas. — Amor. — o medo toma conta

de mim.

— Que bom que acordou, Docinho. — ele vem até mim e


beija meus lábios docemente.

— Eu estou aqui há muito tempo?  — pergunto.

— Um pouco mais de vinte e quatro horas. — diz e fico


surpresa. — Você estava fraca, amor.

— O que aconteceu?

— Você perdeu muito sangue. — ele fala quase como um


sussurro.

Eu não quero que ele diga o que acredito que vai falar.
— Nós estamos bem? — vou direto ao ponto e vejo tristeza

em seus olhos.

— Você teve um aborto, Docinho. —  ele fala com os olhos


cheios de lágrimas. — Você estava grávida, amor.

Eu perdi um bebê. Meu bebê. Um bebê que eu nem sabia


que existia, mas que fez meu mundo cair por saber que não o tenho

mais. Eu perdi o meu primeiro filho. Meu e de Vino. Uma parte de

nós. Nosso bebê.

— Docinho. — ele me chama de volta para a terra e beija

meus lábios. — Também estou tentando digerir, mas nós ficaremos


bem, temos um ao outro. — garante.

E não tenho dúvidas disso, mas não consigo evitar a tristeza

que toma conta de mim.

— Um bebê? — toco minha barriga. — Nosso bebê, Vino. Eu

perdi o nosso bebê. Não acredito que isso está acontecendo.

— Naya me contou tudo que aconteceu. — sinto a raiva em

sua voz.

— Não posso acreditar que estava grávida. Não posso. —

choro sem parar e Vino me abraça.


A médica que cuidou de mim avisou que eu estava entrando

no segundo mês de gestação, que todo o estresse que vinha


sofrendo nesses últimos meses e por não estar me alimentando

bem, tudo isso pode ter contribuído com o ocorrido, mas que

provavelmente o último episódio de estresse possa ter levado meu


corpo ao limite.

— Era a sua primeira gravidez, já fizemos alguns exames e


não houve nenhuma outra complicação física, poderá sim

engravidar futuramente, mas preciso que tenham paciência e

foquem agora em cuidar da Vitória. — fala e concordamos.

Ela diz que precisamos ficar algumas semanas sem ter


nenhum tipo de relação sexual e diz que preciso começar um

acompanhamento frequente com uma ginecologista.

— Querida, sei que nada que eu fale irá diminuir a sua dor,

essa não é a minha intenção aqui, sei que nunca conseguimos

esquecer algo desse tipo, mas só em olhar para você consigo sentir
que é uma guerreira. O tempo sempre cuida do nosso coração. E já

percebi que você é muito amada só pela fila que tem no corredor e
pela forma como esse homem queria revirar esse hospital. — ela

fala sorrindo e aponta para Vino. — Você não tem culpa em nada do
que aconteceu. Deixe com que todas essas pessoas cuidem de

você, ok?

— Obrigada. — agradeço. — Seguirei tudo que indicou.

Vino beija minha mão e só pelo o que ela comentou sei que

ele enlouqueceu a equipe médica nessas últimas horas.

— Primeiro, descanso é essencial. Repouso nunca é demais,

principalmente nesses primeiros dias. Você pode sentir algumas

dores, passarei alguns remédios para você tomar caso aconteça. Às


vezes, sangramentos podem acontecer, mas fique atenta e qualquer

coisa volte.

— E os papéis que entregou a Vino? — questiono.

— Seu esposo está com a tarefa de observar se você está

sentindo febre, se sentir dores de cabeça e cólicas, ele fará

compressas quentes. Garantirá que você tenha uma boa


alimentação e peço que os dois busquem suporte psicológico. Estão

passando pela perda de algo que não sabiam que tinham, existe a

sensação de que não poderiam ter a chance de conhecer essa


criança ao mesmo tempo em que ela os pertencia, isso pode trazer
muitos sentimentos confusos, então busquem ser o suporte um do
outro e busquem um profissional que possa lhes acolher.

Concordamos com tudo e ouvimos com atenção, Vino

parecia estar recebendo ordens de um comandante e aceitando

todas as suas novas tarefas. É lindo ver a forma como ele cuida de
mim.

A médica nos deixa sozinhos e Vino ajeita a cama para que


eu fique confortável. Conversamos um pouco e ele vai falar com

todo mundo que está nos esperando no corredor. Naya, Erick, Theo,

Carly, Molly e meu pai, entram e posso ver o quanto estão todos

aflitos, mas os tranquilizamos com as notícias que acabamos de


receber.

Respiro fundo e tento colocar minha cabeça em ordem, mas


tudo que aconteceu passa como um filme na minha cabeça.

Eu a odeio.

Foi tudo culpa dela.

Como uma mãe pode dizer aquelas coisas para uma filha?

Depois que todos saem, já que não posso demorar muito

com visitas por precisar descansar, ficamos apenas Vino e eu. Ele
senta na cama, com as mãos nas minhas e ajeita o cabelo que está
caindo no meu rosto. A médica tinha razão, eu sou amada. Amada
por um homem que não mede esforços para cuidar de mim, que é
dedicado, preocupado, carinhoso, digno e que faz com que eu me

sinta a mulher mais especial do mundo.

— Fiquei completamente assustado quando te chamei na


ligação e você não respondia mais. — conta. — Corri para o carro e
só parei quando cheguei até sua casa. Naya já tinha chamado a

ambulância, mas não consegui esperar quando te vi sangrando.


Morri de medo de perder você. — beija meus dedos. — Não sei
mais viver sem você. Eu não tinha parado para pensar em outros

filhos, mas quando você falou sobre a possibilidade de estar


grávida, senti meu coração vibrar.

— Eu estava tão assustada com a ideia de termos um bebê.


— confesso. — Mas não queria que tudo acabasse assim.

— Esse não é o fim, é o início de tudo que ainda vamos viver.


Quando te vi nessa cama, tive ainda mais certeza, de que não

existe nada que eu queria viver se não for com você ao meu lado.
Amo você, Docinho e nada, nem ninguém, machucará você outra

vez. — é uma promessa.


Beijo seus lábios e sinto uma lágrima solitária escorrer pelo
meu rosto, mas essa não é de tristeza, mas sim de alívio, por saber
que nunca mais me sentirei sozinha.

— Não sei como vou encarar Amélia novamente naquela


casa, depois de todos os absurdos que ela me falou. — respiro
fundo.

— Você não vai precisar. — afirma. — Nós vamos morar na


nossa casa.
Ainda estava difícil acreditar em tudo isso. Quando perdi Lily
comecei a odiar hospitais, mas ver Vitória deitada naquela cama
apagada por horas, me fez reviver o medo absurdo de perder a
mulher que amo. Não aguentaria viver isso de novo. Parecia que o

universo estava fazendo alguma piada comigo.

Primeiro, perdi a esposa e ganhei o filho. Agora minha mulher


sobreviveu e o nosso filho morreu.

Eu não sabia que Vitória estava grávida, mas quando ela me

disse que Naya estava desconfiando da gestação, imaginei uma

menininha correndo pela casa com os cachos de Vitória e os meus


olhos. Quando sentei aqui e a médica me avisou que infelizmente

ela tinha perdido o bebê, não sei explicar o quanto foi confuso e

doloroso. Eu queria aquela criança, mas não poderia tê-la.


Com a cabeça entre as mãos, sentado nesse corredor, eu

não sei o que fazer. A imagem de Vitória desmaiada não sai da


minha cabeça. A coloquei no carro com ajuda de Naya e corremos

para o hospital, e estou daqui a duas horas e nada dela ainda.

— Pai. — ouço a voz de Erick e o vejo correndo até mim.

Levanto e pego meu filho em um abraço.

— Eu sinto tanto, tanto. — ele diz e ouço sua voz embargada.

— Como ela está?

— Dormindo. Os médicos estão monitorando, mas ainda não

acordou.

Sinto uma mão em meu ombro e vejo Theo parando ao meu

lado. Erick abraça a namorada, que chora um pouco em seus


braços. Naya é uma garota forte, ela se manteve concentrada em

todos os momentos, fez tudo que conseguiu e apenas quando tudo

que podíamos fazer estava concluído, ela se permitiu desabar.

— Vamos tomar um café, irmão. — convida e concordo.

— Tia Carly e vovó estão chegando para ficar com Naya. —

Erick avisa e aponta para o final do corredor.


Minha mãe e Carly estão se aproximando de nós e trocamos
abraços. Por mais que tê-las aqui me traga conforto, ao mesmo

tempo meu peito aperta com a imagem da última vez em que elas

estiveram em um hospital por causa de uma mulher que teve um

filho meu.

Não posso perder Vitória.

— Venham garanhões, vamos comer alguma coisa. — Theo

fala e subimos até a lanchonete do hospital.

Escolhemos nossas comidas e mesas mais afastadas, estava

no horário mais movimentado e todas aquelas vozes estavam

perturbando minha cabeça.

— Como você está? — Theo pergunta.

— Arrasado. – suspiro

— Naya me ligou e contou tudo. — Erick avisa.

— Eu não tive cabeça para nada, só pedi para Carly avisar.

Ainda bem que Naya conseguiu falar com você também. — sorrio

para o meu filho.

— Vitória nem sabia que estava grávida e agora vai precisar

saber que perdeu um bebê. Puta que pariu. — xingo. — Eu deveria


ter percebido, sou mais experiente, era óbvio com tudo que ela

vinha sentindo.

— Pai, ela estava passando por coisas demais para


pensarmos nisso, muita coisa aconteceu. — Erick segura minha

mão.

Conto para eles tudo que Naya me disse que aconteceu. Já

falei com o pai de Vitória, que agora está resolvendo algumas


documentações por ainda ser o responsável legal por ela, e ele

também está inconformado com tudo que aconteceu. Amélia não


tinha o direito de agir dessa forma.

— Tia Amélia nunca foi assim, ela sempre foi super protetora,

mas nunca uma pessoa ruim. Não entendo como alguém mudou
tanto.

— Ela nos odeia Erick, odeia nossa família, o seu avô, a mim.
Aquela mulher vai se ver comigo. — prometo.

— Pai, não vale a pena. Você precisa pensar na Bia agora.


Amélia vai ter o que ela merece, mas no tempo certo.

Nem com a puta que a pariu eu deixaria essa história assim.


Ninguém ia magoar Vitória dessa forma e sair sem ouvir poucas e
boas. Se ela não teve respeito pela própria filha, também não

preciso ter com ela.

— Deus, eu seria tio de novo. — Theo diz. — Você faz com


que eu sinta o envelhecimento chegando. — brinca e acabamos

rindo.

— Bom, eu nunca pensei que deixaria de ser filho único,

agora não sou mais, porque temos um bebê anjo na família. — Erick
fala e dá um sorriso triste.

— Do jeito que o seu pai não sai de cima daquela mulher,

logo você vai está pedindo para ele parar de ter mais filhos, porque
não aguenta mais as oito crianças correndo pela casa. — Theo diz e

rimos.

— Cala a boca, seu idiota. — o repreendo.

— Sinto muito que isso tenha acontecido com você, amigo.


Mas estamos aqui. Também estamos sofrendo pela perda de vocês,

porque ela também é nossa, somos todos uma família. E vamos


estar sempre com você e a Docinho.

Agradeço e não tenho nenhuma dúvida sobre suas palavras.


Se existe alguém que não me desampara é Theodore e ele tem
razão quando fala que somos uma família, todos nós e seremos isso
para Vitória também.

Voltamos para os lugares de frente ao quarto de Vitória e


tudo continua da mesma forma. Sento em uma das cadeiras e

acabo cochilando, mas acordo algum tempo depois com uma dor
enorme no pescoço e pessoas discutindo. Procuro de onde vem o

barulho e vejo Naya falando com Amélia, enquanto Erick e Theo


tentam acalmar Carly.

Levanto com todo ódio que está circulando no meu corpo e


vou até eles.

— O que porra você está fazendo aqui? — minha voz é dura.

— Vim ver minha filha. —  a olho surpreso com a cara de

pau.

— Pode dar meia volta e ir para casa, você não vai vê-la até
que ela queira ver você. — afirmo.

— Quem você pensa que é? — me desafia.

— Cale a porra da boca e não comece com brigas aqui. —


aviso. — Não tem vergonha na cara? Acabamos de perder um bebê

por sua causa, Vitória está no hospital por tudo que você fez. Tenha
um pingo de decência e vá embora.
— Eu não vou a lugar nenhum. — diz.

Que mulherzinha nojenta.

— Não me faça tirá-la daqui a força. — ameaço. — Só vou

dizer uma vez, nunca mais você terá o meu respeito. Espero que a
vida faça você pagar por cada palavra que disse sobre Vitória hoje.
Que tenha consciência que ninguém vai amar você enquanto agir
dessa forma. — seus olhos enchem de lágrimas. — Você machucou

a sua filha de todas as formas possíveis, não a merece e nem a

família que tem, muito menos o neto que teria. Por mim, Vitória não

chegaria perto de você novamente, mas isso é uma escolha dela.


Quando ela acordar, se a vontade dela for vê-la, você saberá. Mas

até ela dar o sinal, faça um favor a todos nós de não aparecer.

Ela me olha com todo ódio e vejo que nada muda o coração

cheio de amargura e orgulho dessa mulher.

— Não deixe de me falar alguma coisa, por favor. — pede a

Naya. — Estarei com Nicholas.

Amélia sai e Naya abraça Erick, mas o que me chama

atenção é Theo segurando o rosto de Carly entre as mãos, eles

estão colados, ele fala algo e ela nega, ele abaixa a cabeça e cola

seus lábios nos dela rapidamente, e Carly aceita com facilidade. 


Que porra está acontecendo?

Eles vão terminar se matando e me enlouquecendo.

A médica me liberou para ficar no quarto com Vitória e as

visitas nas horas certas, mas ela ainda está desacordada. Passei a

noite na poltrona e tenho certeza que se continuar dormindo torto


assim vou acabar travando as costas, mas só quero poder tirá-la

daqui e levá-la para nossa casa.

Quando ela acordou fiquei ao seu lado o tempo todo. E ver

seus olhos tão destruídos é como me matar, mas ela sabe que
nunca vou deixá-la.

Estamos no carro a caminho de casa, nossa casa, até

quando ela quiser ficar, seja amanhã ou para sempre. Vitória teve
alta pela manhã, Theo e Carly foram os encarregados de

prepararem tudo para a chegada dela e Erick foi ficar com Naya o

restante do dia.

— Como a minha garota precisa de repouso, eu vou levá-la

para o quarto, vamos tomar um banho gostoso de banheira, depois


vamos almoçar e depois dormir.
Ela está quieta e sei que muita aconteceu de um dia para o

outro, respeitarei o seu tempo.

— Tudo bem. — Vitória concorda.

Antes de subirmos as escadas a surpreendo lhe pegando no

colo. Ela não contém o gritinho e o sorriso. Minha parte preferida

nela, depois daqueles olhos esmeraldas que me hipnotizaram, é o

sorriso cheio de vida que ela sempre carregou.

— Já estava com saudade do seu sorriso. — falo. — Precisa


de algo que não tenho aqui? — pergunto.

— Só quero ficar com você um pouco. — ela encosta a

cabeça no meu pescoço.

Quando chegamos ao quarto, a deitei na cama e coloco e

preparo nosso banho. Caminhamos juntos até a banheira, entro e

espero ela se juntar a mim. Observo Vitória se livrar as peças que


veste e logo ela encosta no meu peito, cabelos molhados, olhos

fechados e os dedos entrelaçados nos meus.

— Como está se sentindo? — faço carinho em sua pele.

— Fisicamente ou emocionalmente?

— Os dois.
— Fisicamente estou bem, sem dores até agora. — sei que

ela está falando do seu corpo e não do coração, mas prefiro não
insistir. — Sobre o restante, espero melhorar.

Beijo seu rosto e ela relaxa.

Tentei falar de outros assuntos e conversamos sobre coisas


diferentes, tirei Vitória da banheira, nos secamos e escolhi peças

confortáveis que tinham dela no meu closet. Faço uma nota mental

para lembrar de pedir para Naya ir buscar as coisas dela.

Descemos para almoçar a comida que Carly tinha preparado

para nós, e estava uma delícia. Vitória toma alguns remédios que a
médica lhe passou e voltamos para o quarto, ela deita e me chama.

— Deita um pouco comigo. — pede.

— Claro, Docinho. — me junto a ela e ficamos de conchinha.

— Como você está? — é a vez dela perguntar.

— Muito triste e você?

— Eu nem sei descrever o que está se passando aqui dentro.


É só vazio, vazio e vazio. Nada mais. Não acredito que não tivemos

nem a chance de saber que ele estava aqui, não acredito que minha
família se desfez e que minha mãe pôde ser tão cruel. É como se

tudo que conheci a vida inteira, tivesse sido uma mentira.

— Nós vamos ficar bem, amor. — garanto. — Sua mãe não

merece a filha incrível que tem e agora somos a nossa própria

família. Vamos passar por essa caminhada juntos.

— Eu o perdi, Vino. — sinto a dor em sua voz. — Como não

percebemos que eu estava grávida? Como deixamos isso


acontecer? Eu não consegui ter o nosso bebê. — ela chora.

— Ei, ei. — fico de frente para ela, para que possa olhar nos

meus olhos. — Nunca se culpe por algo que não foi

responsabilidade sua. Nunca mais me peça desculpas por isso, eu

jamais pensaria algo assim. Não era a nossa hora de sermos pais,
mas quando esse momento chegar, nós estaremos prontos de

verdade. Eu amo você, Docinho. Amo você e o que temos, quem

somos e a família linda que estamos construindo.

— Eu te amo. — ela fala e a beijo com toda delicadeza.

— Eu estou aqui com você, sempre. — garanto.

— Temos que cuidar um do outro. — seco suas lágrimas.

— Meu amor, nós vamos ajudar um ao outro, vamos passar

por isso juntos. Vamos ficar bem.


Ela chora em meu peito até não conseguir mais e sei que ela

precisa disso. Repito incontáveis vezes que temos um ao outro e


que nunca estaremos sozinhos, que nos protegeremos, que

seremos o que quisermos, se estivermos juntos.

Ela se acalma e sei que está quase dormindo de exaustão.

Meu celular não para de chegar mensagens da nossa família, todos

querendo saber como ela está, inclusive seu pai, que a noite virá
nos visitar.

— Você conquistou todo mundo. — brinco e ela sorri.

— Mas a melhor delas foi você. — pisca para mim e rio.

Beijo sua boca bonita e ela começa a se render ao sono.


Olho para ela e sei que somos capazes de enfrentar tudo se

estivermos um ao lado do outro.


É incrível imaginar como as coisas podem acontecer tão
rápido, como as pessoas chegam e saem da nossa vida em
momentos e horas inesperadas. Como somos capazes de ganhar e
perder coisas e pessoas de formas tão inusitadas, como tudo na

nossa vida é um ciclo que está sempre mudando. E, às vezes, as


coisas ruins são capazes de destruir tudo.

Tenho pensando em como fui capaz de amar um homem tão

rápido assim e de forma tão intensa. Em como é possível duas

pessoas se completarem e se encantarem instantaneamente uma


pela outra. Como o amor pode ser tão mágico e poderoso que é

capaz de atingir duas pessoas só a partir de um olhar?

Mesmo com tudo que tenho enfrentado, quando olho para o

dono do meu coração, sei que a vida e o destino não foram assim
tão cruéis comigo.

Vino é tudo que um dia eu ouvi as pessoas falarem nos

filmes, mas nunca acreditei que teria. Ele me fez acreditar que

amores épicos são reais.

Eu não sei como isso aconteceu, mas ele derrubou todos os

meus muros de uma vez só e chegou ao meu coração. Ele trouxe


consigo a leveza de uma vida que eu não conhecia.

Ele tem sido minha base todos os dias e mesmo com todas
as dificuldades de me reerguer, sei que vale a pena para que nós

possamos viver tudo que desejamos juntos.

— Acorda, dorminhoca. — sussurra no meu ouvido e sinto


seu braço me envolver.

— Só mais um pouco. — peço.

— Amor, você me diz isso há dois dias. — beija meu

pescoço.

— Eu só estou cansada.

É isso que digo a ele sempre que quero me render a tristeza

que pesa em meu peito todos os dias. Todo dia é um novo dia de
recomeçar e eu estou tentando, só que alguns são mais difíceis que
outros.

— Você não pode ficar o dia todo aqui dentro, Vitória. Precisa

de ar, precisa de sol, se alimentar direito, precisa começar suas


consultas e se exercitar. Carly veio ficar com a gente hoje.

— Ela vai subir se eu não descer. — afirmo.

— Isso mesmo. — sinto seu sorriso contra meu ombro. —

Então vamos tomar banho, eu tomo com você. — sussurra.

— Isso é bem tentador.

Sinto falta do toque íntimo dele. Da forma como me olha, me

torna sua e me ama.

— Tentadora é você, deitada na minha cama todos esses

dias. — sorrio e ele me roda em seus braços e levanta comigo no

colo.

— Eu consigo andar, baby. — digo, mas amo estar nos

braços dele.

Eu sei que estou o magoando, ele não está bem, mas tenta

me animar durante todo o dia. Hoje é um dos nossos dias difíceis,

em que não tenho vontade de sair da minha cama. Não quero que
nada de ruim aconteça com ele e muito menos que ele se sinta mal,

eu só ainda estou tentando melhorar. Vai passar, eu sei que vai.

— Me deixa passar sabonete nas suas costas. — peço e ele


sorri.

— Você pode fazer o que quiser. — fico na ponta dos pés e o


beijo.

Livro-me das minhas roupas e Vino das dele. Sinto saudade

do seu corpo e não posso tê-lo para mim. Ele entra no chuveiro e a
visão da água escorrendo pelo seu corpo grande é magnífica.

— Sinto sua falta. — passo as mãos nas suas costas.

— Eu estou aqui, Docinho. — ele se vira e me puxa para


água junto a ele, me fazendo rir. — Só precisamos ser pacientes.

— Eu não conseguiria sem você. — olho em seus olhos.

— Você é a minha força. — fala a frase que repetimos todos


os dias desde que cheguei do hospital um para o outro.

— E você, a minha. — completo.

Nós tomamos banho o mais colados possíveis, Vino lavou


meu cabelo e me roubou alguns beijos, quando estávamos
devidamente secos fomos nos vestir para ver Carly.
— Você é ridículo, não me ligue mais. — Carly grita para o

telefone e desliga na cara da pessoa.

— Problemas no paraíso? — Vino pergunta.

— Nem pergunte. — ela me abraça. — Estou com saudades


de você..

— Eu também. — sorrio.

Vino se despede de nós para voltar ao trabalho e sei que tem

se enfiado em suas entregas quando não está comigo. Erick e eu já


conversamos sobre isso também.

— Ele tem trabalhado desesperadamente. — ela suspira

preocupada.

— Não posso culpá-lo, ele está fazendo o que pode para lidar

com sua própria dor enquanto tenta cuidar de mim. — lamento.

— Ele daria tudo por você. — afirma e concordo.

Não tenho dúvidas disso.

— E eu por ele. — garanto.

Sentamos na bancada da cozinha, faço café para nós duas e

sirvo uma xícara grande para Vino. Vou até a oficina, deixo na sua
bancada, roubo um beijo rápido e volto para ficar com Carly.
— E a ligação, era Paul? — pela expressão que faz, sei que
errei a opção. — Theo?

— Sim. Ele me beijou no hospital no dia do seu acidente e


agora está me enlouquecendo. Ele estava indo na minha casa

algumas noites, fica parado lá na frente, me liga ou manda


mensagens, às vezes não respondo, outras vezes mando ele se

foder, mas nada adianta. — rio.

— Não sabia que ele tinha essa predisposição a perseguidor.

— brinco. — Porque ele te beijou no hospital?

— Eu estava descontrolada para esmurrar a cara da sua


mãe, ele me levou pro canto e conversou comigo, me acalmou e me

beijou. Foi espontâneo.

Foi natural, porque o toque deles se reconhece em todos os


momentos. Eles tentam fingir que não sabem, mas é perceptível a

força que atrai Theodore e Carly.

— E o que você fez? — pergunto e ela dá de ombros.

— Não se pode negar beijos, Vitória. — um sorrisinho safado

e levemente triste surge em seus lábios.

— Carly. — repreendo-a. — Vocês são dois masoquistas do


caralho. Isso não se faz, ou se largam de uma vez ou fiquem logo
juntos.

— Só é difícil demais negar algo que você sempre teve e


precisou abrir mão.

— Você ainda o ama!

— Eu não o amo, é só que ele é gostoso. — xingo e ela ri. —


Vino e você se amam. Theo e eu transformamos qualquer

sentimento em sexo e não passa disso.

Vejo a amargura em seus olhos, a mágoa. Não sei o que

aconteceu, mas o coração dela foi destruído e esse é o pior tipo de


sentimento, amar alguém que você sabe que pode te transformar

em pedaços a qualquer momento. O que Theodore fez?

— Se um dia existiu amor entre nós, ele foi esquecido. Theo

fez escolhas e eu jamais me deixaria suncubir pelo sentimento que

tenho por um homem. Sou mais importante que qualquer coisa e


tenho que me colocar em primeiro lugar. Estou feliz com Paul e vou

contar para ele sobre o beijo, vou deixá-lo escolher permanecer ou

não.

— E onde Paul estava quando você precisou dele no

hospital?
— Está viajando a trabalho, ele tem feito uma campanha

linda com uma marca de roupas grande, é um grande trabalho para


um fotógrafo, estou feliz por ele.

— Tudo bem, eu não conheço Paul muito bem, mas eu acho

que você deveria realmente analisar quem é o dono do seu coração,

porque pelo que estou vendo todo mundo vai terminar magoado
nessa história.  — sou sincera.

— Não quero falar sobre isso. — pega nossas xícaras e leva


para a pia. — Qual tal você fazer um almoço especial para o seu

boy? — sugere.

— É uma ótima ideia. — confesso. — Fazer algo que ele

goste de comer, quer dizer, vou tentar, porque não sei cozinhar

quase nada.

Gosto da ideia de Carly, porque por mais que seja algo


simples, também é uma forma de fazer com que ele se sinta bem.

Escolho preparar uma carne que ele adora e já procuro uma receita

de complemento na internet. Usamos a churrasqueira de Vino para

assar a carne e Carly me ajuda com os restante das comidas.

— As mulheres mais lindas da minha vida estão juntas hoje.


— Erick diz entrando na cozinha.
Vem até nós, nos abraça e belisca a salada que Carly está

fazendo.

— Não deixe Naya ouvir isso. — Carly brinca

— Com certeza, não iremos deixá-la ouvir isso. — ele fala e

rimos.

— Conseguimos tirar a Docinho da cama. — Carly diz.

— Fico muito feliz. — beija meus cabelos. — Sentimos falta

da sua gritaria pela casa.

— Para me fazer mais feliz, você vai ficar de olho na carne.

— digo para Erick.

— Pode deixar, madrasta. — provoca e jogo um tomate nele.

Rimos e ele vai para a churrasqueira.

Depois que estava quase tudo pronto, Erick começou a

arrumar a mesa e ouvimos Vino entrando na cozinha.

— É dia de banquete? — brinca. — Conheço o cheiro dessa

costela em qualquer lugar.

— Eu tentei fazer o mais parecido possível com o jeito que

você faz. — confesso e vejo um brilhinho nos seus olhos.


Sinto falta de ver a luz forte que existe dentro da imensidão

daquele mar azul.

Vino sobe para tomar banho e quando finalizo tudo com Carly
e Erick, vou até ele. O encontro ainda no banheiro, com a toalha

enrolada na cintura, o peito nu com todas aquelas tatuagens

expostas, enquanto ajeita a barba.

Me apoio na porta e o observo pelo reflexo do banheiro. Ele é

magnífico por fora, mas nada se compara ao coração que esse


homem tem.

— Gosta do que vê, Docinho? — apoia as mãos na bancada


e me olha pelo espelho.

Me aproximo e toco suas costas largas. Olho para ele pelo

reflexo com toda a intensidade daquele momento.

— É a minha obra de arte preferida. — pisco e ele sorri sexy.

Seu braço envolve minha cintura e me puxa pra ficar entre

ele e a pia. Faço carinho em seu rosto, que está a poucos

centímetros do meu. 

— Você não pode cuidar só de mim, eu tenho que cuidar de

você também. — falo. — Estamos juntos nessa, somos eu e você,


passando pela mesma dor, é a nossa dor e vamos superá-la juntos.
— ele me observa com atenção. — Eu precisava desses dias,

obrigada por ter respeitado meu tempo, mas agora vou cuidar de

você também, um pouquinho todos os dias, assim como você faz

comigo. — envolvo meus braços ao redor do seu pescoço,


instantaneamente os braços dele circulam minha cintura. — Eu amo

você, Vino Walter. Você é meu e eu cuido daquilo que me pertence.

— ele me dá aquele sorriso matador.

Ele beija minha testa e a ponta do meu nariz, me fazendo


sorrir.

— Você é o meu mundo, futura senhora Walter.


Duas semanas se passaram e nós estamos muito melhores.
Vitória e eu criamos nosso próprio porto seguro, aprendemos a ser a
base um do outro. Conversamos sobre todos os sentimentos ruins,
os bons e tudo que estamos aprendo com tudo isso.

Ela voltou a trabalhar, está indo para as aulas finais, têm


começado a arriscar mais na cozinha e eu tenho sido sua cobaia. A
relação entre Erick e ela nunca esteve tão forte e hoje vejo que já

estamos construindo nossa própria família.

Morar juntos não tem sido difícil, conseguimos lidar bem com

as diferenças e buscamos um equilíbrio, mas no fundo ela sabe que


a última palavra agora é dela.

E eu estou encurralado, porque agora posso tê-la todos os


dias na minha cama, no meu banheiro, na minha cozinha, vinte e
quatro horas por dia. Me tornei um filho da puta completamente

viciado por ela.

Theo trouxe a moto dele para que eu consertasse, durante a

nossa conversa ele me deu uma ideia e agora estamos indo

executá-la.

— Eu já disse que te odeio? — Theo fala pela milésima vez.

— Essa é a centésima vez. — estaciono o carro.

— Vou repetir até você me deixar voltar pra casa.

— Cala a boca, idiota. — digo e ele me xinga, me fazendo rir.

— O meu plano era dormir na sua casa enquanto você

consertava a Matilda, não me fazer rodar a cidade quando quase

nem dormi. — reclama. — Trabalho até às quatro da manhã, tenho

que dormir até às quatro da tarde.

— Quem te conhece que te compre, às quatro da tarde você

já está muito bem acordado.

Descemos do carro e ele continua querendo me matar com

os olhos.

— Depende do dia. — dá de ombros.


— E da mulher que leva pra casa. — afirmo e ele revira os
olhos.

Caminhamos pelas ruas do centro à procura do lugar que

pesquisei na internet.

— Estou sem uma garota há muito tempo. Serei um novo


homem para sua irmã.

Olho para ele com o queixo caído.

Como assim para Carly?

— Então você tá sem sexo por causa da minha irmã? —

gargalho.

— Pode rir seu babaca. Ela vai perceber que consigo ser o

homem que ela merece ter e vai largar aquele fotógrafo por mim. —

olho para ele desacreditado. — Tudo bem, não acredite em mim e

verá, eu vou casar com aquela bandida.

Vitória e eu conversamos algumas vezes sobre Carly e Theo

e o quanto a relação deles é complexa. Procuro não me envolver

muito para não precisar tomar partido, mas espero que eles sejam
felizes, estando juntos ou não, só quero que se resolvam logo para

que deixem de se magoar tanto.


— Tenho pensado em voltar a tocar, acho que agora é o

momento certo.

— Como seu chefe nesse quesito, já estava na hora. —


rimos. — Cara, você ama cantar, deveria usar isso para te ajudar a

superar tudo que aconteceu. Chame Naya, Erick e Carly para


tomarem uma cerveja e leve a Vitória, ela vai adorar te ouvir tocar

de novo.

Sei que meu melhor amigo tem razão e é isso que irei fazer.

Ele avista o lugar que estamos procurando e entramos. O

cheiro de ração e coisas de animais já ocupa todo o ambiente.


Vitória ama animais, tanto que fez um local de alimentação para os

animais de rua na nossa calçada. Então, quando Theo falou sobre


um cãozinho, pensei em adotar um para ela.

— Bom dia, senhores. No que posso ajudá-los? —  uma


garota com a blusa da ong fala.

— Bom dia, eu estou procurando um cachorrinho para


adoção. Não entendo de raças, mas queria um de porte pequeno,
para conseguir criar no espaço que temos. — explico.

— Claro. — sorri. — Aqui temos muitos animais, resgatamos


as mais variadas raças e essa parte onde estamos é para
complementar a renda e ajudar a cuidarmos deles, então vou levar

vocês para conhecerem nossos animaizinhos. Tem alguma


peferencia pelo sexo?

— Minha garota diz que nós sentimos quando encontramos o animal

certo, então me mostre os que tem e saberei qual levar para casa.
— digo e ela concorda.

A mulher nos levou para um grande espaço, cheio de


casinha, com vários animais correndo, brincando, descansando. De

todas as cores, raças, tamanhos e idades. Todos muito bem


cuidados e prontos para serem levados para um lar cheio de amor.

—Acho que a Docinho tem razão sobre o negócio de sentir,

porque eu com certeza vou levar uma coisinha fofa dessas. —


Theodore diz.

Ele faz carinho na bolinha de pelos minúscula que seguro no

braço. É um filhote de cinco meses, sem raça definida, com pelos


pretos e brancos, um nariz pequenininho e sei que a Docinho vai
amar.

— Esse cachorro é do tamanho de um rato, Theo, você


sentaria em cima dele sem ver. — brinco e ele aponta para o outro
lado.
— Eu não quero um bonitinho desses ai, quero aquela coisa
linda ali. — ele aponta para um filhote que brincava sozinho na
casinha.

— Ela chegou essa semana na ong. — a mulher explica. —

Acreditamos que ela se perdeu da família ou foi abandonada, a


encontramos na rua, é uma mistura de husky siberiano e algum

cachorro de raça não definida. Ainda é jovem, acreditamos que


cerca de seis meses. — explica.

— Vou levar. — Theo sai andando pelo gramado.

Ele fala e brinca rapidamente com os animais que se


aproximam dele, mas se abaixa na casinha e depois de alguns

minutos volta com a cachorra no braço e um sorriso imenso no


rosto.

— Você vai cuidar de uma cachorra? Isso é muita

responsabilidade, Theodore.

— Já cuidei de várias mulheres que dão muito mais trabalho,


essa daqui vai ser tranquilidade. — a cachorra se debate em seu

braço e beija seu rosto.

É nítido que ela será enorme quando crescer, mas não tenho

dúvidas que Theodore cuidará bem dela.


A moça fala que eles tem um espaço para banho e tosa,
então já deixamos ela preparar os dois para que possamos levar.
Ficamos assistindo os profissionais cuidarem dos cachorros e a

mulher nos passa todas as informações necessárias, cartões de


vacina atualizados e tudo que precisamos saber.

Escolhemos coleiras, brinquedos, cama e tudo que

acreditamos que eles precisarão. Compramos tudo e não demora

muito para que nos entreguem os animais completamente cuidados,


recebemos o certificado de adoção e sei o quanto Vitória irá amar

isso.

Theo ficou o caminho inteiro conversando com a cachorra e

me avisando que eu iria me apegar a bolinha de pelos. Eu, um

homem desse tamanho com um cachorro do tamanho do meu pé,


meu Deus, era óbvio que eu iria me apegar.

Deixei Theo em casa e fui para a minha, parei o carro na

oficina e coloquei o cachorro dentro da caixa que a moça me deu.

Entrei e coloquei a caixa no chão de frente para a escada.

— Não faça barulho, amiguinho. — falo e tampo a caixa. —

Docinho, vem aqui embaixo. — grito.


Não demora muito para ela aparecer na ponta da escada. Ela

está vestida em uma das minhas blusas que tem o nome da oficina
escrito, amo vê-la com a minha marca nela, literalmente.

— Amor, não te ouvi chegar. — ela sorri.

— Eu entrei com cuidado. — ela me olha desconfiada e


repara na caixa branca com o grande laço.

— O que é isso? — começa a descer os degraus com calma.

— Vem abrir, é seu. — ela apressa os passos.

Se ajoelha de frente a caixa, mas antes que ela abra o

cachorro dá um pulo dentro da caixa, afastando a tampa e late. Nós

rimos e ela o liberta do cativeiro.

— Meu Deus, é um cachorrinho. — pega ele no colo e o

cachorro começa a lamber seu rosto. — Ele é lindo, Vino. Eu amei,

muito obrigada. – sento ao seu lado e ganho um beijo dela e uma


lambida do filhote.

— Já sabe que nome vai dar? — pergunto.

— Eu gosto de Teddy.

— Então, bem vindo a família Teddy. — ela solta o


cachorrinho e ele vai conhecer a casa.
Observamos a bolinha andar e cheirar a sala, enquanto sou

recompensado com vários beijos de agradecimento.

— Fico feliz por você ter gostado, mas ele está fazendo xixi

na nossa entrada. — aviso e ela dá uma risadinha.

—  É mais um integrante para a nossa linda família. — beija

meus lábios.

Assim que Vitória gruda o lábio nos meus, ouvimos a porta

abrir e Erick escorregando no chão.

— Eu escorreguei no xixi desse cachorro. — acusa e


gargalhamos, enquanto Teddy o cheira.

Não imaginei que um dia conseguiria me sentir assim, hoje

sei o que é realmente se sentir completo. Vitória e Erick são as duas

coisas mais preciosas da minha vida e é assim que quero viver o

resto dos meus dias, amando.


Saí da terapia e fui direto para a faculdade, as coisas estão
bem corridas esses últimos meses. Acabei perdendo alguns
trabalhos e provas nas semanas que fiquei em repouso, então estou
correndo para conseguir recuperar tudo. Erick tem estudado comigo

e Naya me ajudado com alguns trabalhos, nos tornamos um


esquadrão para me ajudar com as matérias finais.

Nesses meses, comecei a fazer terapia. Encontrei uma

psicóloga que me identifiquei e estamos no processo terapêutico

desde então. Vino encontrou uma outra profissional e tem cuidado


da sua saúde mental também. Isso tem mudado completamente a

nossa relação, nunca estivemos tão unidos como agora.

Meu pai tentou me convencer a voltar para casa, mas quando

entendeu que lá já não era mais o meu lugar, respeitou minha


decisão. Ele me entregou as chaves da Srta. Hepburn e tem vindo

me visitar quase todos os fins de semana. Estamos tendo uma


relação de muito companheirismo.

Erick saiu da aula e foi para a casa de Molly, ajudar James e

ela com os novos móveis que compraram, é por isso que assim que
me aproximo da nossa casa vejo que o carro parado ao lado do de

Vino não é o dele, mas o conheço muito bem.

Desci do carro e corri para casa, quando abri a porta só

confirmei a minha suspeita.

Ela está aqui.

— Pode ir embora. — falo, entrando na sala.

— Eu só preciso conversar com você. — ela fala, apertando o


copo de água em suas mãos.

— Se não for sobre o meu pai, pode voltar para sua casa. —

afirmo.

— Docinho, deixa ela falar. — ouço a voz de Vino atrás de


mim.

Pela cara dele sei que não está gostando da situação, mas

por ele paro e escuto.


— Não tenho muito tempo, então seja rápida. — digo

— Eu só queria me desculpar, hoje reconheço que não agi

certo com você. Sei que pode parecer fácil me desculpar depois que

tudo já aconteceu, mas não é. Tenho vergonha de tudo que fiz e


quase morri de preocupação com você naquele hospital. — ela para

um pouco e respira fundo. — Sei que ainda não sabe, mas seu pai

me deixou desde aquele dia. Sai de casa e fiquei com a sua tia por

todo esse tempo, procurei ajuda e estou tentando ficar bem e o

primeiro passo disso é vir até você e pedir perdão.

— Não sabia que você e o papai tinham se separado, ele me

disse que você estava viajando para se cuidar. — confesso,


surpresa.

— Ele me contou que tinha evitado te falar sobre mim até que

se recuperasse. Voltei há três semanas e estou tentando


reconquistar o amor da minha vida. — dá um sorrisinho.

— Então estão juntos de novo? — Vino pergunta.

— Bom, estou tentando me redimir e acredito que tudo se

acertará logo. Mas já voltamos a morar juntos. Estou fazendo

tratamento, estou buscando melhorar.

— Espero que sejam felizes. — desejo.


— Ela foi até a casa dos meus pais. — Vino diz.

— Eu precisava me desculpar com a Molly e James também.

Olho para Vino surpresa e só pelo olhar que me dá sei que


também está.

Por mais que reconheça a atitude de Amélia vir até aqui


tentar se desculpar, não quero ela de volta na minha vida. Pelo
menos, não por um bom tempo.

— Olha, eu só queria me desculpar e dizer que entendo


vocês me odiarem. Me culpo por toda a dor que causei a vocês,
principalmente a minha filha. — vejo seus olhos encherem de

lágrimas. — Sinto muito, de todo o coração. Sei que pode demorar


para você me perdoar de verdade ou talvez isso nunca aconteça,

mas quero que saiba que estou feliz por você ter encontrado o Vino,
sei que ele vai cuidar de você. — ela levanta e coloca o copo na
mesa de centro. — Afinal, quando um Walters amam de verdade

são capazes de dar a vida por você. — ela sorri.

— Amélia, tranquilize seu coração, cuide da sua saúde e


tente ser feliz, é a única coisa que pode ser feita agora. — falo e ela

concorda.
Ela está diferente, mas saudável, mais bonita e até mais

jovem. Ganhou um pouco de peso e seu cabelo está solto e maior,


ela está melhor do que estava nas últimas semanas que a vi meses

atrás.

Não sei quando vou conseguir perdoá-la, mas estou feliz que
ela esteja buscando melhorar e reconhecendo tudo de ruim que fez.

— Você está bem? — Vino pergunta.

Ele solta Teddy, que estava em seu braço todo esse tempo e
se aproxima de mim, assim como o cachorro, que vem para os

meus pés.

— Não sei, estou confusa, mas que bom que ela tem
buscado ajuda.

— Sinto muito, mas não consigo perdoá-la. — confessa.

— Também não, ainda não.  — ele me puxa para um abraço


e vou sem questionar.

Nós almoçamos e subo para estudar enquanto não dá minha


hora de trabalhar. Não vejo a hora passar até que recebo uma
mensagem de Naya perguntando qual lingerie deve usar para uma

noite especial. Respondo que gostei mais da primeira opção que ela
mandou e sinto as mãos grandes de Vino nos meus ombros.
— Acabei de descobrir que temos a casa só para nós. — giro
a cadeira para ficar de frente para ele.

— Sim. — sua mão desce pelo meu corpo.

Sinto meu corpo acordar.

— Feche as janelas e me espere no sofá. — ordeno e corro


para o andar de cima.

Desde que perdi o bebê Vino e eu temos sido cautelosos

quanto ao sexo, quase não nos tocamos intimamente todo esse


tempo. A médica já nos liberou, mas ainda ficamos receosos com

tudo que aconteceu.

Algumas semanas atrás fui às compras com Naya e acabei


comprando uma nova peça íntima que sei que ele irá adorar. Corro

para o quarto, tomo um banho rápido e visto a peça. Hidrato minha


pele e passo o perfume que ele ama, solto os cabelos e deixo os
cachos se espalharem.

Calço uma sandália alta preta, assim como a lingerie que


estou usando. O sutiã é completamente rendado, deixando à vista

meus mamilos por entre os desenhos no tecido. A calcinha é


pequena e vem com uma cinta liga delicada, suas tiras são de
cetim, então dei um laço na cintura, fazendo parecer que sou um
presente pronto para ser desembrulhado.

Vino está sentado no sofá, com os pés descalços, calça de

moletom, peito exposto e completamente ao meu dispor.

— Surpresa. — dou uma voltinha.

— Merda. — ele xinga e sorrio. — A surpresa mais deliciosa

de todas.

Caminho até ele e sento no seu colo de frente para ele com

seu corpo entre as minhas pernas. Minhas mãos passeiam pelo seu
pescoço e peitoral.

— Sinto sua falta, Tio Vino. — quase gemo.

— Sinto falta de você por inteira se entregando para mim,


Docinho. — beija minha clavícula. — Da minha pequena devassa.

— Você gosta da Vitória devassa? — rebolo no seu colo e

suas mãos vão para minha bunda.

— Não, eu amo. Essa sua boca suja, seu sorriso safado, seu

olhar cheio de desejo, essa bunda gostosa, sua boceta molhada,

esses peitos perfeitos, tudo em você.


— Então me faça gozar, Tio Vino. Várias vezes. Preciso sentir

você dentro de mim, fundo e duro. Quero sentir você escorrendo de


dentro de mim. Vamos batizar o sofá, a escada e a porta de entrada.

— peço e ele toma meus lábios.

Eu estava com saudades dos nossos beijos quentes e

intensos, quando as mãos de Vino circularam meu corpo minha


respiração já estava acelerada, mas quando sinto seu corpo todo

dominando o meu, perco os sentidos e sou completamente dele.

Suas mãos desfazem o fecho do meu sutiã e sua boca desce

da minha para os meus seios e ele os conduziu com maestria.

Chupa, morde, beija, me fazendo delirar.

— Não tire os sapatos. — ele diz e me deita no sofá.

Vino segura um dos meus seios, desce uma trilha de beijos

pelo meu corpo e me beija por cima da calcinha, fazendo-me gemer.

— Amor, vamos deixar as preliminares para a escada, agora


eu quero você dentro de mim. — ele ri contra minha pele.

— Não precisa falar duas vezes. — ele levanta e tira a calça


levando junto a cueca.

Que saudade desse corpo.


Ele tirou minha calcinha e se posicionou entre minhas pernas,

circulei seu corpo com minhas pernas, ele entra em mim e

gememos juntos. Vino coloca meu seio na boca e cravo minhas


unhas nas suas costas, seus movimentos aumentam e ganham

força a cada vez que tocamos um ao outro.

Quando ele me beija mais uma vez, aperto mais minhas

pernas a sua volta, o trago ainda mais para mim e ele entende. Me

segura pelo quadril e se movimenta mais rápido dentro de mim, sua


mão sobe para o meu cabelo e o segura forte, tomando meus

lábios.

Nossos corpos completamente colados, sinto-o cada vez

mais fundo dentro de mim. Amo a maneira como nossos corpos

parecem perfeitos um para o outro.

Não demora muito para me fazer gozar vindo junto comigo.

— Gostosa do caralho. — sussurra em meu pescoço.

— Sentia falta de te ouvir xingar depois do sexo. — rimos.

— Mal posso esperar para que possamos estrear a escada.

— faz carinho em meu braço.

— Você é insaciável.
— Por você, sempre.
Vitória e eu temos tido ótimos dias, Teddy trouxe uma
alegria a mais para a nossa casa, mas Erick tem me feito ganhar

novos cabelos brancos. Ele continua esperando um retorno do


alistamento, isso tem me deixado aflito e agora tem falado em morar
sozinho quando se formar, mas eu não vejo motivo.

Vitória diz que estou em negação por ele está crescendo e

querendo seguir novos passos além de mim. Ela pode estar certa,

mas não vejo porque ele está tão determinado a ir. Estamos tendo
uma ótima rotina, nada mudou e quero apenas que ele permaneça

com a gente até que possa se sustentar sozinho e ainda tem alguns

meses até sua formatura.

Não gosto de brigar com ele, mas passamos a semana toda

discutindo por isso. Foda-se, quem manda nessa merda sou eu, ele

não vai e acabou.


Estou tentando focar minha cabeça na apresentação que

fazer no Theo’s hoje. O bar irá fechar para alguns reparos e faremos
a despedida.

Theo fez uma viagem para o México e voltou cheio de ideias


para o bar, agora decidiu mudar. Uma das suas maiores

características é a determinação e o Theo’s é um dos grandes

objetivos da vida do meu amigo. Theodore sempre se dedicou


absurdamente pelas coisas que ele deseja, quando quer algo, só

para depois que alcança. Acredito que esse momento é uma prova

também para ele mesmo de que poderá tomar novos rumos na sua
vida.

— Você precisa voltar a malhar. — Theodore cutuca meu

braço.

— O quê? — pergunto pela sua audácia.

— Precisa sim, você está ficando velho, Vino. Seu corpo

ainda é bom, mas daqui uns dias isso tudo vai cair. — provoca.

— Qual o objetivo das ofensas gratuitas? — questiono e ele

sorri.

— Você deveria ir comigo para a aula de muay thai. — diz

sem rodeios. — Deveria levar Erick junto, se continuar do jeito que


está, vai acabar manchando a nossa fama de gostosões.

— Erick não tem mais paciência para essas coisas, ele foca

nos estudos e só. — defendo.

Erick se aproxima de nós e Theodore aponta para os braços

dele.

— Estou falando pro seu pai que você está se tornando um

frango, tem que começar a fazer alguma coisa da vida além de

estudar e foder. Vou te levar para uma aula de luta, topa?

— Claro, vai ser legal. Estou começando a correr no

campus, afinal estou treinando para o teste físico da SEALs.

A minha credibilidade como pai está zero. Não sei mais

nada sobre a vida do meu filho e ainda estamos em pé de guerra.

Ótimo, era o que me faltava.

— Combinado, amanhã iremos, os três. — olha para mim

como se fosse um aviso. —  Você conhece alguém que queira

trabalhar no meu bar? — Theo pergunta para ele.

Theo explica de quantas pessoas vai precisar e das coisas

que irão mudar. Tomamos algumas cervejas e brincamos com Kaila,

sua cachorra. Todas as pessoas do mundo deveriam ter a chance

de conhecer o verdadeiro significado de amizade. Sei que são raras


as pessoas que são capazes de suportar tudo ao nosso lado, que

sabem o verdadeiro significado de lealdade e que estão dispostas a


enfrentar os momentos bons e ruins.

Theodore não tem o mesmo sangue que eu, mas nós


escolhemos ser irmãos. Ele ama meu filho como se fosse dele,

protege minha mãe, é companheiro do meu pai, daria sua vida por
Carly. Confio as coisas mais preciosas da minha vida nas mãos
dele.

Nós até podemos aprender a viver sozinhos, mas nada se


compara a sensação de ter alguém lutando as batalhas da vida com

você.

Quando o final da tarde se aproxima, dirijo até em casa,

ansioso para ver a minha menina.

— Docinho, cheguei. — grito da porta.

— Estou na cozinha. — vou até ela. — Quer sorvete? —


oferece quando me vê.

Sorrio de vê-la tão linda e natural. Existe algo nessa mulher

que é inexplicável. Vitória tem uma luz só dela, capaz de iluminar


todos ao seu redor, inclusive eu. Ela iluminou minha vida.
Ela está sentada, com os braços apoiados na mesa,

comendo um pote de sorvete. Sua boca bonita está com o cantinho


sujo e quero beijá-la imediatamente.

— Só se for da sua boca. — me aproximo e com língua


limpo o canto dos seus lábios.

— Você pode me cumprimentar assim sempre que chegar


em casa. — sorri travessa.

— Com todo prazer. — a beijo de verdade.

Sento ao seu lado e ela me enche uma colher de sorvete e

leva até minha boca. Seus cachos bonitos estão presos no topo da
cabeça, com alguns fios soltos, bochechas rosadas, os olhos cheios
de vida.

Hoje, finalmente consigo dizer que estamos bem


novamente. Não iremos esquecer o que passamos, mas nada me

deixa mais feliz do que ver o brilho da alma dela de volta.

— Você ligou para Carly? — pergunta.

—  Sim, ela disse que quando Paul chegar do trabalho vai


aparecer lá.

Ela faz careta e rio. Ela está na fase de não se conformar


com a ideia de Carly continuar com Paul quando ama o Theo, mas
minha irmã segue resistente com a ideia.

— Estou feliz pelo Theo. — diz, quando lhe conto sobre

nossa conversa de hoje.

— Eu também, ele ama aquele bar. — concordo.

— Você vai cantar pra mim hoje? — ela pergunta com

aqueles olhos de criança pidona.

— Sempre toco pra você, amor, e em você. — mordo seu

ombro e ela ri.

Mela meu nariz de sorvete e rimos. Diz que me ama e sinto

borboletas no estômago. Nunca vou me cansar de ouvir essas


palavras saindo da sua boca.

— Preciso me arrumar cedo, tenho que estar linda mais

tarde.

— Você está sempre linda, Docinho.

— Ficarei mais bonita comendo a pizza que você vai pedir


para nós jantarmos. — gargalho.

A convenço de deitar um pouco comigo no pequeno espaço

que temos no sofá. Amo tê-la grudada em mim.

Quando chegou a hora de sairmos para o Theo’s, Vitoria


queria me matar do coração. A porra da mulher desceu com um
vestido preto todo colado naquele corpo de deusa, um salto enorme
que deixaram suas pernas torneadas, aqueles cachos soltos e com
a boca vermelha.

— Bia, o meu pai já tem idade para sofrer um ataque


cardíaco, não faça isso. — ele bate no meu ombro e ela ri, revirando

os olhos. — Você está linda!

Erick beija sua cabeça e ela ainda fica na ponta dos pés
para alcançar a bochecha dele.

— Você só pode estar querendo me matar, mulher! — ela dá

uma voltinha para me provocar e a puxo para mim.

— Vamos lá, Tio Vino, precisamos chegar na hora.

— Quero dedicar o show de hoje e essa música para a


minha garota. Docinho, você é o meu lar. — ela solta um beijo para

mim e continuo a música.


With every small disaster
I’ll let the waters still
Take me away to some place real
Cause they say home is where your heart is set in stone
Is where you go when you’re alone
Is where you go to rest your bones
It’s not just where you lay your head
It’s not just where you make your bed
As long as we’re together, does it matter where we go? Home.[9]
 

A mesa da minha família era a mais animada da noite.


Cantaram todas as músicas comigo e todos estavam se divertindo.

Cantei minhas músicas preferidas e as que o público do Theo’s

mais gostavam.

Quando terminei o show, desci do palco, mas não vi Vitória

pelos arredores. Paro no bar para pedir uma garrafa de bebida.

O microfone é ligado de novo e viro para ver quem está no


palco, já que acabei de ver Theodore ao lado de Erick na mesa.

Docinho? O que Vitória está fazendo em cima do palco?

— Boa noite a todos. — ela começa. — Me chamo Vitória,

vocês não me conhecem, mas hoje quero compartilhar com vocês


que sou completamente apaixonada pelo homem que acabou de

descer desse palco. — meu coração acelera. — Sei que muitos de

vocês conhecem Vino Walter, ele está aqui todas as sextas e faz

isso a muitos anos. Assim como vocês, eu também o conheci aqui.


Há quase um ano atrás, eu entrei por aquela porta e vi o cara que

seria o amor da minha vida pela primeira vez.


“Eu não imaginava o quanto me transformaria daquele dia

em diante, que conheceria o homem que me faria mais forte. A

música que define nosso relacionamento fala que um homem foi


salvo por uma mulher, mas foi você quem me salvou. — os olhos

dela não saem dos meus e eu estou completamente surpreso. —

Então, em uma noite tão especial, com as pessoas que amamos de

testemunha e você fazendo uma das coisas que ama, eu quero


eternizar nosso amor. — me aproximo do palco e ela sorri. — Vino

Walter, você aceita se casar comigo?

Meu corpo estagna no meio do bar.

PUTA QUE O PARIU.

A MINHA MULHER ACABOU DE ME PEDIR EM

CASAMENTO?

Subo no palco e tomo os seus lábios.

Deus, essa é a porra da mulher surpreendente que eu amo.

— Eu sempre direi sim para você, futura senhora Walter. —

beijo seus lábios.


O meu vestido tem uma saia longa da cintura até os pés,
nada tão princesa, mas também não tão justo. Na parte de cima tem

pequenas mangas caídas abaixo do ombro deixando o colo à


mostra. É rendado, cheio de aplicações de brilho e transparências.

É simples e lindo.

Eu nunca tinha pensado muito em como seria casar, não

tinha aquele sonho de viver um conto de fadas, apenas de encontrar

o homem que me fizesse sentir seu amor em cada um dos seus


atos. Esbarrar com Vino foi algo que não esperei, mas fico feliz de

ter sido ele a pessoa escolhida pelo universo para ser meu.

Não escolhemos uma cerimônia imensa, mas fizemos ser

digna de tudo que merecíamos. Escolhemos um lindo campo aberto


para a cerimônia, Vino me ajudou em tudo e quis participar de cada

detalhe, menos da escolha do vestido, é claro. O nosso dia foi


construído por nós dois.

E hoje finalmente chegamos ao nosso grande dia. Casarei

com o homem que amo.

Me aproximei da grande janela e observei os preparativos,


tudo estava correndo como desejamos. Preferimos bancos, brancos

e de madeira. Lindas flores, tecidos bonitos e um tapete enorme

entre as fileiras que já estão se enchendo com os convidados.

Me surpreendi em como adorei escolher as flores que seriam

usadas, então apostei em flores brancas e de um azul meio


esverdeado, todas mescladas com ramalhetes, formando arranjos

lindos. Porém, o meu buquê é todo de rosas brancas, se


destacando assim entre o vestido das madrinhas, que foram todos

azuis.

Para a festa, Vino quis uma coisa mais luxuosa, com direito a
lustre, grandes mesas de vidro e madeira antiga, muitos doces,

comidas e bebidas. E eu não sei se estou mais ansiosa para esse

momento ou para a noite de núpcias.


— Vitória, coloque já sua bunda naquela cadeira. — Naya
grita.

— Desculpe, estou olhando como está tudo lá embaixo.

— Está tudo perfeito, venha, precisa terminar a maquiagem.

Faço o que ela pede e tento relaxar enquanto a mulher

termina de fazer os últimos retoques no meu rosto.

— Seu vestido está pendurado no closet e ficou ainda mais

bonito do que imaginei. Você vai ficar linda nele. — fala empolgada.

— Estou ansiosa para me ver completamente pronta. — paro

de falar enquanto aplicam gloss nos meus lábios. — Vino já

chegou?

— Está no andar de baixo com os padrinhos.

— Ótimo. — respiro fundo. — Meus pais vieram?

— Sim, eles foram uns dos primeiros e estão reluzindo de

felicidade.

— A nova lua de mel fez bem para eles. — afirmo. — Estou

ansiosa para minha. — confesso e rimos.

Naya traz meu vestido e junto com a estilista me ajudam a

vesti-lo.
Eu estou pronta.

Pronta para subir no altar com o homem que amo.

Quando me olho no espelho vejo o quanto estou


deslumbrante. O vestido ficou perfeito em meu corpo, as joias

brilhando no ponto certo e a maquiagem fechou tudo com chave de


ouro.

— Vino acabou de descer, a entrada vai começar. — avisa e

dá pulinhos de animação.

Naya me avisa que a cerimonialista já está pronta para iniciar,


então desço até onde meu pai me espera e vejo seus olhos

marejarem. 

Todos os convidados estão em seus lugares. Os padrinhos e


madrinhas entram, logo depois Vino e Molly entraram e meu pai já

estava com nossos braços enlaçados.

— Respire, querida, assim vai acabar desmaiando. — sente

minha mão gelada e a beija. — Você é a mulher mais linda desse


mundo, pequena Vivi.

Sorrio ao ouvir o apelido que me chamava na infância.


— Tenho que lembrar de respirar. — brinco e rimos. —

Obrigada por estar aqui, papai.

— Sempre, querida. — me oferece o braço e aceito.

— Pode ficar tranquila, está tudo perfeito e como você


desejou.

— Fico feliz por estar comigo agora. — falo emocionada.

— Eu não desejaria estar em qualquer outro lugar. Sua mãe e

eu estamos imensamente felizes por vocês. Agora vamos ou seu


noivo vai pensar que você desistiu. — rimos.

Vejo todos os nossos amigos e familiares de pé, esperando

para assistir mais uma das nossas provas de amor. Theodore e


Erick estão lindos de padrinhos e Carly tem uma beleza impossível
de não ser notada. Estão todos felizes e isso faz com que eu me

sinta um pouco mais confiante.

Seguro o meu buquê com força, como se todo o meu

equilíbrio estivesse nele. Seguimos até o início do tapete e quando


olhei para frente, encontrei minha direção, os olhos dele focados em

mim.

Essa é a minha estrada de tijolos amarelos.


Vino está com a barba feita e o cabelo cortado, está vestindo
um terno preto completo e com um botão de rosa branca presa em
seu paletó.

Vejo no exato momento em que seus olhos enchem de

lágrimas e sinto meu coração apertar, porque minha real vontade é


correr até ele e me jogar em seus braços.

Nos últimos meses, ele tem me dito que quase sempre sonha
me vendo vestida de noiva, eu adorava todas as versões que ele me

contou desse momento, mas acredito que nenhuma delas chegou


aos pés de estarmos finalmente um de frente para o outro.

O lindo caminho de flores parecia infinito e quando finalmente

chegamos até ele e toquei sua mão, eu não poderia estar mais feliz.

— Você é a mulher mais linda do mundo. — ele fala e beija


minha testa

— E você está magnífico nessa roupa.

O padre fez uma cerimônia linda e delicada, mas eu não via a


hora do “eu vos declaro marido e mulher” e quando essas palavras

foram proferidas eu sabia que era apenas mais uma confirmação de


algo que já sabíamos, nossas almas se pertenciam.
— Eu poderia passar dias aqui falando sobre você. — me
olha com intensidade. — Quando você apareceu na minha vida eu
tinha certeza de quem já tinha vivido tudo o que a vida já tinha

reservado para mim, que agora meu futuro era cuidar do meu filho e
ficar na Destroyer até quando fosse velho o suficiente para fechar.

Então, quando te beijei naquela noite, eu soube que a minha vida


estava apenas começando.

“Ainda não tinha me dado conta até alguns dias atrás que
passei vinte anos sendo preparado para você. Vitória, estar com

você me faz desejar desvendar o mundo, experimentar coisas que

nunca vivi, aprender novas coisas, ser uma nova pessoa. Quero
estar ao seu lado e aprender todos os dias um pouco mais sobre o

universo ao seu lado. Não existe nenhum outro lugar que eu me

veja que não seja ao seu lado.”

“Prometo a você que todos os dias tentarei ser alguém

melhor para ser sempre digno de você. Prometo protegê-la e cuidar

de você em todas as circunstâncias. Assim como ser seu melhor


amigo e seu companheiro. Prometo cantar para você mais vezes,

sair mais para dançarmos e levar Teddy para passear. — rio,

emocionada. —  Obrigado por ter me oferecido aquela bebida e me


mostrado que um olhar é capaz de mudar tudo. Obrigado por ser
você, por está na minha vida, por me escolher e me salvar de mim

mesmo. Se palavras puderem ser eternizadas, quero que elas


jamais deixem o mundo esquecer o quanto amo você”.

— Me preparei a semana toda para falar coisas  bonitas hoje,

mas o nervosismo me fez esquecer tudo, então irei falar o que está

agora no meu coração. — ele segura forte minha mão. — Eu nunca


planejei encontrar um homem, me apaixonar loucamente e casar

antes dos trinta, até que você surgiu. Chegou como um furacão e

levou meu coração inteiro para você.

“Acredito que encontramos o amor quando não estamos o

procurando, porque assim é ele quem nos encontra. Você é o cara

que me encantou cantando em um bar, que tentou fugir de mim, que


se rendeu a mim, que se permitiu viver um amor complicado e que

enfrentou tantas coisas por mim. Você é a minha força, Senhor

Walter, assim como sou a sua. Obrigada por tudo, por ser o meu
tudo. Que esse seja o início do nosso para sempre. Amo você”.

Estamos emocionados e completos.

Com os braços em volta da minha cintura, Vino me dá o


nosso primeiro beijo depois de casados e é dessa imagem que
quero lembrar para sempre, do homem que eu amo feliz por ser

meu para sempre.


Lista de coisas sobre Vino Walter (e que talvez possam
me ajudar a provocá-lo):
Odeia atrasos;
Gosta de impor regras;
Escroto;
Compreensivo até com quem não gosta dele;
Absurdamente pontual;
Responsável;
Parece um ogro, mas tem coração mole;
É justo;
Um pai incrível;
O homem da minha vida!

  Muita coisa aconteceu desde que nos casamos. Vivemos


dias que guardaremos para sempre, como também alguns que

preferimos esquecer. Escolher dividir a vida com alguém é estar


disposto a somar na vida daquela pessoas e foi isso que aconteceu

com a gente.
Na época que conheci Vino eu não sabia que precisaria tanto

de alguém ao meu lado, assim como ele não imaginava que eu

transformaria tanto sua vida. Nós conquistamos sonhos, viajamos


por alguns lugares, terminei a faculdade, aumentamos a Destroyer,
vimos amores surgirem e outros despedaçarem, mas nunca

largamos a mão um do outro.

Desde muito nova eu entendi que são raros os amores reais

e por muito tempo pensei que eu não seria uma das escolhidas pela

vida para viver um deles, mas a cada dia tenho mais certeza que
Vino Walter é a personificação do amor para mim.

Existiram momentos em que tivemos que renunciar algumas

escolhas, mas sempre tivemos as pessoas certas ao nosso lado

para nos dar forças. Sinto saudade das pessoas que éramos
quando nos conhecemos e tenho orgulho daquela jovem corajosa

que defendeu aquilo que acreditava e me trouxe até aqui hoje

depois de muitas batalhas. Como também, sou completamente


apaixonada pela trajetória que Vino trilhou e pela sua força de nos

manter sempre firmes.

— Docinho, onde está Mandy? — Vino pergunta

— Dormindo, graças a Deus. — respiro.

Amanda ou Mandy, como costumamos chamá-la, completou

dois anos há alguns meses. Ela é a mistura perfeita entre os Walters


e os Bianucci. Os olhos que herdou do pai, unida a minha cor de

pele, o cabelo ondulado e a personalidade forte.


Ela é a nossa pequena anja.

Quando descobrimos da gravidez, Vino ficou radiante. Depois

de tantos anos do nascimento de Erick, ele estava completamente

pronto para cuidar de uma nova criança. Assim, Amanda se tornou


seu maior amor. Ele faz tudo por ela e a garota também é fascinada

pelo pai.

Quando nos casamos resolvemos reformar a casa, Vino quis

uma cozinha maior, banheiros grandes e espaçosos, nosso quarto

ganhou mais alguns metros assim como o de Erick. Construímos

dois novos quartos, o primeiro se tornou o de Amanda e o outro

ficou para visitas. Também ampliamos nosso escritório e às vezes


até conseguimos trabalhar juntos.

Eu nunca imaginei como seria decorar o quarto da minha filha

ou filho, mas quando Mandy chegou eu só queria comprar coisas


para ela. Tudo ficou exatamente como sonhei. Montamos uma

equipe com Vino, meu pai, o pai dele e Theo, que pintaram as

paredes, montaram os móveis, colocaram nichos nas paredes para

construir o quarto dela.

Quando se é mãe, todas as coisas mudam. É como se o

mundo ganhasse outros tons, alguns deles um pouco mais escuros


e difíceis de criar camadas, mas com outros que são capazes de

mudar tudo para melhor.

Com ela, aprendi a ser mais corajosa e desde que me formei


comecei a trabalhar, abri meu próprio consultório e recentemente

consegui minha vaga no tão sonhado hospital. Boa parte das


nossas vidas é direcionada para ela, mas conseguimos nos realocar

para que ninguém abra tanta mão daquilo que desejamos


conquistar.

Ela não transformou apenas Vino e eu, tudo a nossa volta


mudou.

— Então eu posso roubar um beijo da minha mulher? — Vino

pergunta, circulando minha cintura com os braços

— Deve. — fico na ponta dos pés e ele beija meus lábios


com facilidade.

Quanto mais os anos passam, mais eu o amo.

— Acho que devemos fazer um piquenique com a Mandy. —


sugere. — Seria o primeiro dela.

— Ela vai adorar correr descalça pela grama do parque. —

me dou conta e adoro a ideia. — Então temos que preparar algo


para comer lá, vem me ajudar. — o puxo pelo braço até a cozinha.
— Porque não passamos no mercado e compramos algo? —

ele diz e o olho surpresa.

Mas me dou conta de que ele não tem dormido direito nas
últimas semanas porque Mandy adoeceu. E ele não consegue

relaxar com medo de algo acontecer com ela na madrugada e não


vermos.

— Quando Erick era da idade dela se engasgou durante a


noite e eu quase não acordei para socorrê-lo, acho que estou

tentando evitar que algo desse tipo aconteça com ela também.
Preocupação de pai. — da de ombros.

— Preocupação de Vino. — brinco.

Seguramos um o olhar do outro e logo posso ver as chamas

em seus olhos se acendendo, já sei que ele pensou coisas


obscenas enquanto estamos sozinhos e ele sabe que já quero

descobrir o que ele tem em mente.

Ele se apoia na ilha da cozinha e me puxa para o seu corpo.


Me dá outro beijo tranquilo, mas que logo ganha intensidade. Suas

mãos descem para o meu bumbum e ele me ergue, nos muda de


posição e agora eu estou sentada no balcão, mas Amanda começa
a chorar.
Essa é a vida de quem tem crianças em casa…

— Eu vou buscá-la. — Vino avisa, beijando rapidamente


meus lábios.

— Obrigada, amor.

Ele some pela porta da sala, mas ouço seus passos fortes
subindo as escadas. Abro a geladeira e pego algumas frutas para

preparar nossa cesta de piquenique. Quando ele volta, Amanda já


está sorridente em seus braços.

— O que aconteceu, pequenina? — pergunto e beijo seu

pescoço gordinho.

— Ela está ficando pesada. — Vino comenta e rio.

Amanda se remexe nos braços do pai e segura o colar dele

com força, ela ama brincar com as plaquinhas militares que ele usa.

— Mama. — ela me chama.

— Vem para a mamãe, querida. — a pego nos braços. —


Você faz a cesta agora e eu te recompenso mais tarde provando

minha fruta favorita.

Primeiro ele me olha confuso, mas logo cai na gargalhada ao

entender o que quis dizer.


— Você não existe, mulher.

Amanda se lambuza inteira com as frutas enquanto partimos


e preparamos tudo. Espero Vino tomar banho com ela, para que eu

possa deixá-la pronta. Escolho roupas confortáveis para nós duas,


afinal, mãe de criança precisa de roupas confortáveis para curtir ao
máximo tudo com ela.

Coloquei Amanda na sua cadeirinha e entramos no carro. O

parque não é tão longe da nossa casa e adorávamos trazê-la para

tomar sol aqui desde que nasceu.

Escolhemos uma sombra debaixo de uma árvore grande,

estendo a toalha para sentarmos e logo Amanda começa a dar seus


passos um pouco vacilantes. Sempre que a vejo caminhar lembro

de Vino chorando emocionado quando a viu dar os primeiros

passos.

— Venha aqui, Docinho. — ele me senta entre suas pernas e

encosto em seu peito.

Ficamos olhando Amanda tentar se comunicar com algumas


outras crianças próximas de nós e brincar.

— Acho que nunca agradeci a você por isso. — ele diz


tranquilo. — Por tudo isso, por tudo que você trouxe para a minha
vida quando entrou nela, por toda a alegria, o amor, toda a

esperança e as outras coisas boas, as melhores coisas. — seguro


sua mão na minha. — Você é o meu anjo, Senhora Walter. Antes de

te conhecer eu jamais imaginei que seria pai de novo, que mudaria

minha casa, que casaria, que abriria uma oficina fora de casa e teria
pessoas trabalhando para mim lá. Quem diria que eu me

apaixonaria pela melhor amiga do meu filho? — rimos. — Eu não

acreditava que a minha vida seria nada mais do que cantar no

Theo’s toda sexta. Você me fez ver que a vida não precisava acabar
ali.

— Não temos que agradecer nada um ao outro, nós somos o

propósito um do outro, nos pertencemos. — faço carinho em seu

rosto. — Você é o meu príncipe tatuado, forte, barbudo e com cara


de durão, mas que no fundo ama com toda a sua imensidão. Vino,

você tem noção do quanto mudou a minha vida? Você me deu

Amanda, uma família, você me deu muito mais do que um dia eu

imaginei querer. Se é possível amar alguém para além do infinito, é


isso que sinto por você. — ele sorri para mim com carinho.

Segura meu rosto entre as mãos e me beija, como na noite


em que nos conhecemos,
— Mandy quer beijo. — Amanda grita e se joga em nós nos

fazendo gargalhar.

Nem nos meus melhores sonhos imaginei que algo tão

imenso poderia acontecer comigo, mas esse é o melhor futuro que

eu poderia ter.

E de uma coisa eu tenho certeza, Vino Walter foi a melhor

coisa que já aconteceu na minha vida.


Esse livro foi escrito e publicado no wattpad em 2016 e foi um
grande divisor de águas na minha vida. Muita coisa aconteceu todos
esses anos, mas foi a partir desses personagens que as pessoas

começaram a conhecer minha escrita. Foi por Vino Walter e Vitória


Bianucci que conquistei leitoras que até hoje estão comigo. Eles
trouxeram minha voz para o mundo. Desde então, não sou mais a

mesma.

Porém, esse livro não teria chegado até vocês se eu não

tivesse encontrado a Krol Viana (@cantinhodakrol), que foi muito


além de uma amiga, foi minha base e suporte para cada uma

dessas palavras. Obrigada por tudo, esse livro não estaria aqui se

não fosse você.

Preciso agradecer também a minha eterna companheira

literária, Eryka Saboia, que já há seis anos atrás inspirou o nome do


Erick e continua comigo até hoje, sendo minha beta e amiga.

Obrigada por acreditar em mim e não esqueça, você é capaz de


conquistar o mundo.

Em especial, quero dedicar esse livro para todas as pessoas


que leram ele no wattpad, às minhas meninas do grupo de leitoras,

que amam o Vino e sempre pediram para ele ser lançado. Meninas,

nós conseguimos, ele está na amazon e vocês poderão tê-lo


sempre que quiserem. Se não fosse vocês, isso não aconteceria.

Obrigada a você, que chegou até aqui e se permitiu sentir

todo o amor dos Walter. Garanto a você, esse é só o início dessa

família.
NOVEMBRO/2022
SINOPSE
A primeira vez que vi Theodore William Holt ainda era muito
jovem, ele sempre foi o melhor amigo do meu irmão e cresci como a

princesa entre dois homens que me idolatravam. Quanto mais


velhos eles ficavam, mais Theo estava presente em nossas vidas, o
que foi um problema para mim quando comecei a perceber que o

garoto ruivo da minha infância agora era o homem mais bonito que
já vi.

As coisas começaram a mudar no meu aniversário de


dezesseis anos, naquela noite ele me colocou contra a parede e me

roubou um beijo inexplicável. Desde então, parece que algo sempre


me faz voltar para ele. Bastava um toque e a paixão era inflamável,
nos tornavámos pura chama.

Até que um dia, depois de um beijo de despedida, ele disse

que nós tínhamos terminado ali. Eu o amava, mas não rastejaria em

seus pés. Theodore partiu e eu sofri, mas também cresci, conheci


novas pessoas e aprendi a me amar antes de entregar meu coração

para qualquer outra pessoa.

No passado, ele acreditou que nunca seria o que eu


precisava. Agora quer mostrar que me ama, só que é tarde demais
para recomeçar.

Eu o deixei e ele me quer de volta.

 
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CONTATOS
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[1] A margarita é um coquetel feito com tequila, sal, sumo de limão e licor de

laranja.
[2] “Problema, problema, problema, problema. Problema tem persistido na

minha alma desde o dia em que eu nasci. Preocupação... Preocupação,


preocupação, preocupação, preocupação. Preocupação não vai deixar
minha mente em paz. Bem, eu fui salvo por uma mulher.” Trouble, música
de Ray LaMontagne's, lançada em 2004.
[3] United States Navy's SEAL Teams ou SEAL (Sea, Air, and Land)

derivada de sua capacidade em operar no mar (SEa), no ar (Air) e em


terra (Land). Comumente chamados de Navy SEALs, são uma das
principais Forças de Operações Especiais da Marinha dos Estados
Unidos. Entre as principais funções dos SEALs está sua capacidade de
realizar operações militares com pequenos efetivos que se infiltram e se
infiltram em um território hostil através de um rio, oceano, pântano, delta
ou litoral. Os SEALs são treinados para operar em todos os ambientes
(Mar, Ar e Terra) para os quais são deslocados.
[4] Referência a atriz e filantropa britânica Audrey Hepburn. Após pequenas

aparições em vários filmes, ela estrelou na Broadway.


[5]“ O tempo está passando muito mais rápido do que eu e estou começando a me

arrepender de não passá-lo com você. Agora estou imaginando por que deixei isso
preso dentro de mim. Então, estou começando a me arrepender de não ter dito tudo
para você. Então, se eu ainda não te disse, tenho que deixar você saber que você
nunca vai estar sozinha.” Trecho da música Never Gonna Be Alone, da banda
Nickelback.
[6] “Eu perco o controle quando você me olha desse jeito. Há algo mágico

em seus olhos, é amor à primeira vista? Como uma flor que cresce a vida
quer que você saiba que todos os seus segredos. Está tudo escrito nas
linhas de sua vida, está escrito em seu coração, você e eu temos apenas
um sonho. Achar um lugar para nosso amor onde poderemos nos
esconder. Você e eu fomos feitos apenas para nos amar para todo o
sempre e mais um dia.”Trecho da canção You and I da banda Scorpions.
 
[7] Personagem do filme Mágico de Oz, clássico dos anos 30.
[8] “Me dê um sussurro e me dê um sinal. Me dê um beijo antes de você me

dizer adeus. Não leve isto tão a sério agora e por favor, não leve isto tão à
mal, eu ainda estarei pensando em você e nos momentos que tivemos,
querida. E não chore esta noite, há um paraíso acima de você e não chore
esta noite.” Canção Don’t Cry da banda Guns N' Roses.
 
[9] “Com cada pequeno desastre eu vou deixar as águas paradas me

levarem para algum lugar real, porque eles dizem que lar é onde seu
coração está gravado na pedra, é onde você vai quando está sozinho, é
onde você vai para descansar seus ossos. Não é apenas onde você deita
sua cabeça, não é apenas onde você faz sua cama. Contanto que
estejamos juntos, importa pra onde vamos? Lar.” Canção Home de
Michael Buble e Blake Shelton.

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