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JEWEL E.

ANN
JEWEL E. ANN

Apresenta:

ONE
by Jewel E. Ann

TRADUÇÃO e REVISÃO INICIAL: WIVIAN

REVISÃO FINAL: DANI

LEITURA FINAL: MISS MARPLE e KEIRA

FORMATAÇÃO: EVA

Fevereiro/2020
JEWEL E. ANN

Lake Jones é garota propaganda de próteses ortopédicas de alta


tecnologia, uma espectadora compulsiva da Netflix, que espia seus
vizinhos pelo olho mágico da porta e fã de brincadeiras com laser com seu
gato sem pelos. Ela também é um pouco frustrada sexualmente.

Até que…

Deus lhe concede um sopro de misericórdia na forma do


quarterback titular do Minnesota na NFL. Mas esse presente divino não é
um desconhecido para ela. Lake conheceu Cage Monaghan três anos
atrás.

Foi em UM dia.

UM momento.

UM beijo que ressuscitou seus sonhos de encontrar o amor.


O sorriso dele tem covinhas que disfarçam suas imperfeições, que
incluem: paixão por música country, pesca e uma namorada que odeia
felinos.

Quando a vida finalmente dá uma chance aos dois, vemos uma


jornada bem-humorada e comovente para encontrarem seu lugar no
mundo.

“Seremos Cage e Lake. Seremos imprevisíveis. Seremos


imprudentes. Mostraremos nosso dedo médio para a normalidade do
mundo.”

Nota do Autor: One é uma derivação da série Jack & Jill - End of Day, Middle of Knight,
Dawn of Forever. Pode ser lido como um romance único, no entanto, traz muitos spoilers
da série Jack & Jill.
JEWEL E. ANN

DEDICATÓRIA

Para os verdadeiros amantes da vida.


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO UM

10.000 Lagos e um King Kong

Três meses após o desembarque em Minneapolis, um


gorila se muda para o apartamento do outro lado da minha
porta. Ok, talvez não seja um gorila, mas chega perto. A visão
pelo meu olho mágico pode não ser totalmente precisa. No
entanto, meu globo ocular permanece colado a ele sem
piscar. Sou viciada no meu olho mágico — e em Netflix,
marshmallows e canela.

“Não vai caber”, narro a situação para mim mesma.

Dois rapazes magricelas e de pele clara andam com uma


poltrona de couro preta de grandes dimensões, trabalhando
para manobrar o móvel através da porta. King Kong está do
outro lado da minha porta com os braços do tamanho de
tronco de árvore cruzados sobre o peito. O cara pode carregar
a poltrona no dedo mindinho com Beavis e Butt-Head
sentados em cima, mas ele não faz nada além de um leve
movimento da cabeça.

Meus murmúrios continuam. “Vire para o outro lado.”

“Não arranhem os pés”, ele diz, provocando uma nova


rodada de suor nos carregadores.

Esquerda. Direita. Acima. Abaixo.

“Ah!” Já basta. Abro minha porta. “Vire para o outro


lado. Essa é a única maneira que fazer passar.”

Depois de alguns segundos de silêncio constrangedor e


três olhares que dizem quem diabos é você, os caras da
mudança voltam a girar, virar e a colocam dentro do
apartamento em menos de dez segundos.
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Eu observo. Não é um gorila.

Olho mágico estúpido.

Ele é uma montanha de músculos envoltos em perfeita


de pele escura. Negro? Afro-americano? Não consigo
acompanhar a linguagem social adequada. Eu me sinto como
Ann Darrow perto dele.

“Homens supostamente deveriam ter melhores


habilidades espaciais do que mulheres, mas mesmo assim
ainda tenho que testemunhar em primeira mão.” Dou de
ombros e sorrio.

Seus olhos se voltam para os meus, os braços ainda


cruzados sobre o enorme peito. Ele levanta uma sobrancelha.

“Eu sou um homem.”

Nenhuma palavra jamais foi mais verdadeira. O homem


diante de mim está perto dos 1,85m e talvez 125 kg, com
panturrilhas da circunferência da minha cintura. Uma rocha
sólida com algumas tatuagens espalhadas no bíceps,
parcialmente cobertas por sua camiseta cinza. E aquela voz...
vibra meu corpo em todos os lugares que ainda não foram
despertados pelo leve aroma apimentado, que tem que ser de
algo que paira sobre sua pele. Seja o que for, meu nariz
aprova.

“Esse foi o meu primeiro palpite.” Meu sorriso de lábios


apertados acompanha um aceno determinado.

Seus olhos se voltam para o meu peito.

Por favor, não aperte os olhos.

Com um arqueio sutil das minhas costas, tento parecer


confiante, porque nada diz confiança tanto quanto um bom
sutiã meia taça. Meus seios não são as mangas mais
maduras da árvore, mas estão um passo à frente das nozes
carnudas. Parece improvável que Kong seja o tipo de cara que
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se impressionaria com seios de tamanho médio, mas uma


garota pode ter esperanças.

Um sorriso sutil repuxa seus lábios. Sei que eles


escondem um lindo conjunto de dentes brancos... eu apenas
sei. No entanto, ele não me dá nenhum vislumbre. Que pena.

Seu olhar se move para minhas pernas — uma perna


verdadeira e uma protética em exibição sob o short verde de
corrida.

“Você perdeu sua perna.”

“Gênio. Dois a zero para você hoje.” Eu pisco.

Ele continua olhando, inclinando a cabeça de um lado


para o outro como se fosse um quebra-cabeça para resolver.
Eu não sou um quebra-cabeça, apenas uma amputada
abaixo do joelho com um protótipo robótico.

“Hmm...” Ele respira rapidamente pelo nariz enquanto


balança a cabeça. “Estranho.”

Estreito os olhos, enquanto ele passa por mim até sua


porta enquanto os dois caras saem apertados por ela.
“Estranho?”

“Sim.” Ele se vira, olhando minha perna mais uma vez.


“Nunca vi uma perna assim.”

“É um protótipo. A propósito, eu sou Lake Jones.”

“Ok”, ele fala, já de costas para mim. Dois segundos


depois, sua porta se fecha.

Mordendo meus lábios, toco-os com o dedo e bufo.


“Ótima conversa.”

Depois de voltar à santidade do meu apartamento,


situado em um bairro pitoresco nos arredores do centro de
Minneapolis, digito uma mensagem para minha melhor
amiga, Lindsay.
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Lake: Alerta de cara gostoso.

Coloco o telefone no meu criado espanhol listrado em


amarelo e caminho até a janela. Abro minhas cortinas azuis
violeta — porque é o melhor tom de azul de todos os tempos
— e faço uma careta para as nuvens escuras que sombreiam
a cidade, confirmando a previsão da chuva de abril hoje à
tarde. Meu telefone soa. Sorrio enquanto o pego. Tenho muito
a dizer sobre independência, abrir as asas e me mudar para
um novo lugar, sem família e amigos.

Palavras como ousada, aventureira e motivada


descrevem meu estado de espírito quando decidi deixar para
trás tudo o que era familiar. Dois meses depois... morrendo
de tédio seria a descrição exata de como minha nova
liberdade está indo.

Que pessoa, com um pouco de sanidade, se muda para


Minnesota no meio de fevereiro? Garotas teimosas de 24 anos
que querem exercer sua independência o mais rápido
possível. Recusei todas as ofertas de ajuda na mudança. A
necessidade de ajudar demais é um efeito colateral trágico de
se viver com uma deficiência. Pessoas sem deficiência
aceitariam ajuda; é a coisa normal a se fazer. Eu? Nem tanto.

Meu irmão, um psiquiatra extraordinário, me chama de


cabeçuda — teimosamente desobediente. Tanto faz. Consegui
me mudar com a ajuda de uma empresa de mudanças, que
chegou três dias atrasada. Esse pequeno detalhe foi omitido
quando contei a meus pais que a mudança ocorreu sem
problemas.
Lindsay: Sexo?

Lake: Não. Acho que há câmeras de segurança no corredor. Mas adoro por você
acreditar, que depois de um ano sem sexo, eu pularia no meu novo vizinho, no meio do
corredor, em nosso primeiro encontro.

Lindsay: É exatamente por isso. Você deve estar muito desesperada.

Lake: Obrigada por me lembrar.


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Lindsay: Sempre. Eu preciso de detalhes!

Lake: Eu desisti do meu vibrador. Isso me faz sentir como uma completa
perdedora. Eu ainda questiono a existência de Deus. Se Ele existe, isso significa que há
um paraíso e Ben está lá, me vendo enfiar um plástico vibratório em mim mesma com
uma mão, enquanto estímulo meus mamilos com a outra. Eu sei que ele está pensando
‘Que porra é essa?’ mas deve dizer algo mais bíblico como ‘Por que isso, Pai?’

Lindsay: NOJENTO — Eu quis dizer detalhes sobre o cara gostoso, mas obrigada
pela imagem mental.

Lake: Constrangedor

Lindsay: Um pouco. O cara. Fale sobre o cara!

“O cara.” Eu gostaria que houvesse um cara.


Declarações abrangentes, como ‘terrível’, são reservadas para
as rainhas do drama. Não uso muito, mas quando se trata de
homens, reservo-me o direito de dizer, ‘Tenho a pior sorte
com os homens’. É seguro dizer que nunca encontraria
‘aquele’, pois conheci dois ‘aqueles’, que foram contra todas
as leis matemáticas da natureza. Dois caras perfeitos e perdi
os dois.

Ben…

Foi isso que aprendi com ele. A vida é uma jornada


peculiar — uma maratona para alguns, uma corrida para
outros. Um dia acordei e descobri que a parte de merda era
que ninguém sabia qual receberia. Uma maratona exigia um
estado de espírito diferente de uma corrida.

Viver o momento. O que isso significa? Qual? Quantos?


Com quem?

Ben morreu e eu vivi.

Três meses depois, acordei do coma, com uma


infinidade de espaços em branco abaixo do joelho esquerdo. A
parte de merda? O dedo mindinho do meu pé direito sofreu
dois acidentes diferentes anos antes, e era doloroso usar
sapatos bonitos, completamente inviável, porque nunca se
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curaram adequadamente. Mas... eu tive que perder o pé com


o dedo mindinho bom. É um pensamento embaraçoso, mas
completamente humano, que passou pela minha cabeça,
porque o pensamento que quis se instalar em meu cérebro
era insuportável demais: Ben morreu e eu vivi.

Uma segunda chance na vida merecia um propósito


profundo, um compromisso de mudar o mundo. Não perder
um minuto. Não tomar nada como garantido. Nunca se
esquecendo...

Ben morreu e eu vivi.

O problema: eu não estou vivendo. Não estou dormindo.


Não estou mudando o mundo.

Mais de quatro anos depois, tudo ao meu redor


permanece preto e branco com um toque ocasional de cor que
desaparece rapidamente. Não tenho certeza se é tristeza ou
culpa, mas tudo ao meu redor, tudo o que prezo — família,
amigos, minha cidade favorita na baía — tornou-se
sufocante.

Então parti.
Lake: Nada a dizer. Ele tem o dobro e meio do meu tamanho. Olhou para meus
peitos e minha perna e disse, “Que estranho.”

Lindsay: Para seus peitos ou sua perna?

Lake: LOL, minha perna. Eu espero.

Lindsay: Um cara desse tamanho pode quebrar você. Eu não acho que um
relacionamento funcionaria se ele nunca pudesse lhe colocar dentro de você mais do
que só a cabecinha

Lake: Obrigada por isso

Lindsay: A qualquer momento. ;) Tenho que correr, querida. Mantenha-me


informada e não pense em Deus ou Ben no céu quando estiver se masturbando. Muito
estranho.

*
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Paredes à prova de som minha bunda!

Kong gosta de sua música ensurdecedoramente alta,


com um toque extra do baixo, e ele as curte durante as horas
do meu melhor sono.

Bang bang bang

Bato meu punho contra sua porta até meus dedos


protestarem contra tal agressão.

A porta se abre. Seus feromônios masculinos, colônia ou


apelo sexual flutuam em minha direção. Respiro pela boca
para impedir meu cérebro de se liquefazer. Ele traz um copo
alto de algo que parece sangue aos lábios e toma um gole
lento antes de lambê-los.

“E aí?”

“E aí?” Eu coloco meus punhos nos meus quadris. “O


que há é que estou tentando dormir e parece que você está
comandando uma boate aqui! Sério que sou a primeira
pessoa a vir se queixar?”

Ele levanta o copo, desenrolando o dedo indicador e


fazendo um gesto de ‘vem cá’ com ele, e então se vira,
desaparecendo ao virar em um canto. Dou um passo para
dentro, esticando o pescoço para ver para onde ele foi.

Paredes brancas austeras. Ele precisa de um decorador.


Por outro lado, as paredes provavelmente têm dez camadas
de primer para encobrir as manchas de sangue. Rumores
dizem que o inquilino anterior atirou na cabeça de sua
esposa e depois em si mesmo. Acho que foi por isso que o
lugar ficou vago por tanto tempo. Quem quer morar em um
apartamento onde ocorreu um assassinato/suicídio? Falam
sobre más vibrações.

Faço uma anotação mental para oferecer meus serviços.


Azul violeta. Ele precisa da parede pintada de azul violeta
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com persianas de estanho. A música é interrompida e eu me


arrasto de volta para o corredor.

“Desculpe, o que você estava dizendo?”

Meus olhos se estreitam. “A música está muito alta.


Você acordou todo o maldito bairro.”

Lá está — e não menos brilhante do que pensei que


seria — um sorriso. Brancos, perolados, grandes e
perfeitamente alinhados. Eu meio que gosto de sorrisos, e
homens de pele negra têm os melhores.

Tenho muitas teorias. Elas estão corretas na metade do


tempo.

“Escute, Stick (Vareta)... são onze e meia da manhã.


Acho que você é a única que ainda está dormindo na
vizinhança.” Ele toma outro gole daquela bebida vermelha
misteriosa.

Se soubesse o que aconteceu nesse apartamento, não


teria escolhido suco de beterraba, suco de tomate ou o que
diabos tem no copo.

Meu nariz franze para o copo, depois meus olhos se


voltam para os dele. “Você acabou de me chamar de Stick?”

Ele assente uma vez, seu olhar fazendo outra avaliação


do meu corpo inteiro. “Angry Bird, hein?” Ele encolhe os
ombros. “Combina com você, pássaro irritado, suponho. Mas
essa camiseta é a pior coisa que já vi.”

Sim, estou de short boxer do Angry Bird e camisa do


time 49ers.”

“O que há de errado com os 49ers?”

“Você está no país de Minnesota Kings. É isso que há de


errado com ela.”
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Balanço minha cabeça. “É uma roupa de dormir. E


quem se importa? Foi um presente. Eu não curto futebol.”

“Nós terminamos, Stick?”

“Por que você está me chamando de Stick?”

“Por que você dorme às 11:30 da manhã?”

“Eu trabalho à noite.” Isso é parte da verdade.

Ele sorri, uma expressão que faz o resto do meu corpo


acordar, mesmo que meus olhos ainda precisem dormir. Eu
quero escalá-lo como uma árvore e...

“Fazendo o que?”

“O quê?” Balanço minha cabeça. Eu estava no meio da


árvore. “Ah... bate-papo por vídeo.”

“Pornô?”

“Não é da sua conta.” Eu bufo. Não. Não foi uma


resposta. Por que simplesmente não disse não? Eu quero que
ele pense que gosto de pornô?

Descansando o ombro contra o batente da porta, ele


toma um gole de bebida novamente e sorri. “Agora estou
curioso.”

Meu queixo se projeta para frente quando estreito os


olhos. “Você Kong? Você está realmente curioso?”

“Kong?” Uma risada barulhenta retumba de seu peito.


“Você nem viu meu Kong ainda.”

“O quê?” Meus olhos se arregalam. “Não estou me


referindo ao seu pau. Apenas... apenas…”, aceno minha mão
para cima e para baixo. “É uma referência ao seu tamanho
geral. Kong? King Kong?”

Ele coloca a mão livre na boca.

“Você está rindo de mim?”


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Ele balança a cabeça, mas seu punho enorme ainda não


é grande o suficiente para esconder seu sorriso.

“Já chega!” Aponto um dedo duro para ele. “Eu não vou
ficar aqui, recebendo isso.” Minha personalidade teimosa
busca por um fragmento fantasma de dignidade. Virando-me,
volto ao meu apartamento com tanta confiança quanto uma
amputada usando boxers do Angry Bird pode ter.

“Espero que essa não seja sua maneira de bancar a


difícil, Stick. Não vai rolar nada entre nós. Você não faz meu
tipo.”

O atrevimento dele...

“Não estou bancando a difícil, e nunca insinuei que


queria que algo acontecesse.” Posso ter pensado sobre a
cabecinha dele, mas nada, além disso. “É muito arrogante da
sua parte supor que pensei que algo aconteceria entre nós. E
não tenho um stick enfiado na minha bunda!”

Bato a porta e a abro novamente dois segundos depois.


“E só para ficar claro... por que exatamente não sou do seu
tipo?”

Ele termina o último gole e limpa a boca com as costas


da mão. “Porque você é uma garota branca, magra como uma
vareta, sem nada para agarrar.”

Bato a porta novamente.

*
Consegui um emprego dos sonhos há dois anos —
emprego dos sonhos porque, quando eu tinha duas pernas
completas, nunca sonharia em ser uma ‘modelo’ ou
‘testadora’ de pernas protéticas. No entanto, usar o rótulo
‘perna protética’ perto do meu chefe está fora dos limites.

Um designer na Inglaterra me fez várias pernas bonitas


com unhas pintadas. Elas parecem assustadoramente reais.
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Meu chefe as odeia. Ele diz que são ‘fodidamente


impraticáveis como um par de sapatos de salto alto’. Essas
pernas são ‘protéticas’, e usá-las apenas revela minha
vaidade. Ele projeta pernas robóticas, e compará-las com a
prótese é um insulto grave.

“Ei amor, conte-me sobre meu bebê.” Thaddeus ‘Thad’


Westbrook não é britânico, mas ele sempre me chama de
amor. Por quê? Não faço ideia. Não sou o bebê dele, mas acho
que o bebê dele é melhor que o amor dele. O ‘membro
inteligente’, também conhecido como minha perna biônica, é
o seu bebê. Eu tenho muitos filhos dele, mas nunca fizemos
sexo.

Thad foi meu primeiro encontro em um site de namoros.


E, para constar, ele não era um dos ‘aqueles’. Deveríamos ter
feito sexo. Ele me levou à beira de um orgasmo, mas não
tinha ideia do que fazer comigo. Eu fui aberta sobre a minha
deficiência no site de namoro, mas ele não. Thad perdeu uma
mão e dois dedos da outra em um acidente de equipamento
agrícola quando tinha doze anos.

Ele se convidou para o meu apartamento depois do


jantar e depois removeu minha perna. Não foi exatamente
uma preliminar, mas quando suas mãos deslizaram por
minha pele, inspecionando meu membro residual, estremeci,
com o coração acelerado. No começo, fez cócegas no meu
joelho, mas depois enviou arrepios ao longo da minha pele,
enquanto a área muito negligenciada entre as minhas coxas
gritava: SIM! Mas não ― nunca aconteceu.

Eu o coloco no viva voz e penteio meus cabelos


molhados depois de uma longa corrida e um banho. “Eu
gosto dela... muito. Na verdade, acho que vou ficar com essa.
Ela não é sexy, mas é macia. Sem mancar, nem mesmo ao
subir as escadas. Outro dia fui pega pela chuva e fiquei
preocupada que o eletrodo sensorial pudesse falhar, mas...”

“Ela é à prova d’água, amor.”


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“Sim, onde ouvi isso antes? Ah, está certo, com seu
último bebê que deu um curto e quase incendiou minhas
calças. Essa merda nunca aconteceria com uma perna
protética.”

“Meus membros inteligentes são feitos para imitar o


movimento de um ser humano em todos os sentidos, só que
melhor. Mas, assim como o corpo humano, às vezes podem
ocorrer algumas falhas. É por isso que eu tenho você.”

“A cobaia...”

“Meu sujeito de testes, não cobaia, amor.”

“Tanto faz, então por que você ligou?”

Minhas lembranças de Thad são surreais. As pessoas


simplesmente não se encontram assim. Eu arranjei um
emprego remunerado oficial até o final de nosso primeiro e
único encontro. Eu também me dediquei a uma bagunça
suada naquela noite na cama, mas foi um pequeno sacrifício.
Thad admitiu que estava procurando uma ‘modelo’ para se
juntar a sua equipe de especialistas em próteses, robótica,
aprendizado de máquina e biomecânica ― nerd não é a minha
palavra ― para ‘testar o futuro da robótica que tornaria
obsoletas as deficiências físicas’. Também confessou que sua
atração por mim não era planejada e não daria certo se eu
aceitasse o trabalho. Thad é um defensor de não misturar
negócios com prazer.

Trabalho versus orgasmo induzido por homens ― quero


dizer namorado. Foi difícil, mas no final, tomei a decisão
certa. Graças a Thad e sua infinita equipe de nerds, me sinto
uma super-heroína, não uma jovem mulher com deficiência.
Graças a Thad, minha incapacidade é inexistente.

“Eu já reservei seu voo e hotel”, ele diz com sua voz
passiva de sempre. Sempre multitarefa. O cara pode fazer
uma cirurgia no cérebro enquanto pratica seu swing de golfe
e recita Pi até o infinito.
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“Para?” Paro no meio do movimento de pentear e olho


para o meu telefone.

“Pequim. Próxima quarta-feira. Você estará lá por cerca


de uma semana.”

Reviro os olhos. “Jerry Chu. Fiquei acordada metade da


noite conversando com ele. Mostrei a ele nosso bebê mais
recente, e ele precisa fazer ajustes no dele antes que eu faça
uma tentativa com ela.”

“Sim, amor, eu sei. Acabei de falar com ele e ele precisa


de você lá para fazer os ajustes. Essa deverá ser ainda melhor
para escaladas. Além disso, metade das partes do meu bebê
que você está usando foram projetadas por Jerry.”

“Eu odeio voar para a China.”

“Você me disse que ama Pequim.”

“Amo. Eu odeio é chegar lá. Quatorze horas em um


avião. Fico inquieta.”

“Leve um amigo.”

“Não tenho muitos amigos aqui ainda.”

“Tome um sedativo.”

“Eu não gosto de como eles me fazem sentir.”

“Você está sendo difícil, amor.”

“Forte. Eu estou sendo obstinada. Por isso me


contratou.”

“Eu te contratei porque você é ativa, mas submissa.”

“O quê?”

“Não aja como se estivesse ofendida. Quem deixa um


cara ir com ‘quero tirar sua perna’, no primeiro encontro ―
antes de um beijo?”
JEWEL E. ANN

“Você era bonito.”

“Era?”

“Sim. Agora você é apenas mandão, e isso não é muito


atraente para você.”

“Próxima quarta-feira. Bunda no avião, amor.”

“Imbecil e mandão.” Suspiro, ligando o secador.

“Mmm hmm.” Ele desliga a nossa chamada.

Aponto o secador para o meu telefone e o jogo longe com


um olhar maligno.
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CAPÍTULO DOIS

Inesquecível

Kong se tornou minha nova obsessão. Eu preciso sair,


ter um encontro e fazer amigos, mas não consigo sair do meu
apartamento durante o horário de pico, que é das sete às
onze da noite. É quando meu vizinho está em casa com
visitas entrando e saindo.

O olho mágico não está me ajudando.

Com relutância persistente, conheci um cara em um site


de namoro. Tucker Bailey é um quiroprático de St. Paul, 28
anos, que gosta de nadar, andar de bicicleta e viajar.

Confere.

Confere.

Confere.

Somos uma combinação quase perfeita de acordo com o


site de namoro. No entanto, é sua foto de perfil que me atrai:
um cara magro e em forma, com um sorriso enorme
enquanto cruza a linha de chegada de uma maratona...
empurrando um jovem em uma cadeira de rodas.

Um cara que não age de um jeito bem estranho sobre a


minha perna de super-herói é difícil de encontrar. Também é
difícil me comprometer com o visual da noite.

Rabo de cavalo.

Não, solto.

Franja trançada e alisada para trás.

Franja atrás da minha orelha.


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Eu deveria ter tirado uma noite de folga do ‘Assistindo


Kong’ para cortar o cabelo. A desvantagem do meu cabelo
comprido, liso e preto, que rejeita todos os esforços com uma
chapinha, mas são as pontas duplas que se destacam.

A forte força magnética do olho mágico suga meu olho


direto para ele. “O que você está fazendo, Kong? Grande festa
hoje à noite?” Murmuro para mim mesma.

Você não é meu tipo tem uma quantidade incomum de


movimento em torno de sua casa. Ele sabe que tenho um
encontro e não serei capaz de espionar... quero dizer, cumprir
meu posto de vigia do bairro?

Todos os nervosismos normais anteriores ao encontro,


incluindo uma troca de roupa de última hora e uma checada
dos meus dentes, são esquecidos. Tucker terá que aceitar
minha primeira escolha de jeans preto e uma blusa branca de
botão com gola em V e minhas botas de couro favoritas. A
perna robótica de Thad está esquecida durante a noite para
que eu possa me sentir mais como uma dama e menos como
um humano híbrido.

Miau.

“Trzy, vou te alimentar quando chegar em casa. Nós


duas sabemos que será antes das dez.”

Ela ronrona, batendo o corpo contra a minha perna e


pulando ao redor como uma dançarina sedutora. Tenho que
lhe dar crédito, para o gato mais feio do mundo, ela é cheia
de confiança.

“Seja boazinha.” Sopro um beijo para ela, pego meu


telefone e abro a porta. “Bolsa... posso precisar da minha
bolsa.” Reviro os olhos com o meu esquecimento quando volto
para dentro para pegá-la.

“AHH!”

“EEK!”
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“OH MEU DEUS!”

Eu me viro enquanto os gritos estridentes do outro lado


do corredor são ouvidos por metade da cidade.

“O QUE É ISSO?”

“MERDA!”

“FILHO DA MÃE, SAIA DAQUI!”

Depois de uma rápida ronda no cômodo, faço uma


careta. “Trzy”, digo entre os dentes.

Duas mulheres de vestidos curtos e sapatos de salto alto


se arrastam como patos correndo de cães de caça para fora
do apartamento de Kong enquanto os pedidos de ajuda
continuam. Movo-me através da multidão de corpos magros.
Deve ter um limite mínimo de peso para ser convidado para o
seu apartamento. É como uma convenção de seguranças,
exceto pelas poucas mulheres remanescentes que não noto
imediatamente porque estão todas empoleiradas nos balcões
e nas costas do sofá com terror gravado em seus rostos
cheios de maquiagem.

“Desculpe. Perdoem-me. Com licença.” Vejo minha felina


curvada, pronta para pular no sofá e causar às duas donzelas
encurraladas um avc ou ataque cardíaco.

“Vamos lá, Trzy.” Eu a pego. “Você não foi convidada


para a festa. Eu também não.” Murmuro.

“Stick, o que em nome de Deus é isso?”

Eu a abraço mais perto de mim, olhando para Kong que


está bloqueando a saída. “Pergunta estúpida, Kong.
Claramente, Trzy é uma gata.”

“Ela não tem pelo.”

“Ela é hipoalergênica.”

“Você é alérgica a gatos?”


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“Eu não sou.”

“Ela tem três pernas.”

Dou de ombros. “Daí o nome Trzy (três), e são duas a


mais do que eu tenho.”

Ele estreita os olhos. “Parte da orelha dela está


faltando.”

“Ela sofreu um acidente. Aparentemente, se envolveu


com um grupo ciclistas. Acho que é por isso que ela não vai
andar de bicicleta comigo.”

“Você anda de bicicleta?”

“Eu ando.”

“Com um gato?”

“Ah! Não, Kong! Acabei de dizer que ela não vai comigo.”

“Kong?” Um cara atrás de mim diz com uma risada.

Olho por cima do ombro. O Hulk esconde o sorriso atrás


do braço, mas reprime o riso como uma tosse. A testosterona
na sala derrete minha calcinha. O coque loiro de Hulk prende
meu olhar por alguns segundos extras, e ele tem cheiro de
sexo. Eu nem sei o que isso significa, mas passou pela minha
cabeça quando dei um segundo suspiro. Visitar um
ginecologista está na minha lista de tarefas. Há noventa por
cento de chance que eu esteja no cio.

“Trzy significa três?” O Hulk pergunta com um sorriso.

“Sim. É o que o cartão dizia quando ela foi entregue a


mim. É a tradução polonesa para três.”

Hulk balança a cabeça. “Eu nem quero saber que tipo


de pessoa te dá isso...”, ele acena para Trzy, “… como um
presente. Mas posso dizer que o número três em polonês é
pronunciado ‘shi’ e não ‘tr-zy.’
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Aperto os olhos. “O bilhete dizia Trzy. Tr-zy.”

Hulk balança a cabeça. “É ‘shi’.”

“‘Shi? Como merda sem o T (shit)?”

“Não. Como merda com o T no começo. Shi.”

Eu não consigo ouvi-lo pronunciar o T e, em geral,


parece o barulho que Trzy faz quando está cuspindo uma
bola de pelo.

Balanço minha cabeça. “Não importa. Ela responde


quando a chama de Tr-zy.”

Hulk sorri. É um sorriso belo também. “Tanto faz. E, a


propósito... meu cachorro mastiga um brinquedo chamado
Kong.” Ele acena com a cabeça em direção ao meu vizinho.

Molhando os lábios, volto minha atenção para Kong.


Inclinando minha cabeça um pouco, um sorriso reivindica os
cantos da minha boca. “Ele não vai me dizer seu nome ou me
deixar mastigar seu Kong.”

Meu comentário é recebido com risadas de todos, exceto


do grande e tatuado homem negro que bloqueia minha fuga.

“Não leve para o lado pessoal, Stick. Você ainda não faz
meu tipo.” Ele se afasta.

Olho para seu sorriso arrogante enquanto passo por ele.

“Oh doce Jesus! Mas que…” Uma mulher arfa.

“O que há com vocês, Trzy é apenas uma…”

Mesmo a loira com careta de nojo no rosto sendo um


espetáculo a ser admirado, ela esvanece no segundo em que
coloco meus olhos no homem atrás dela.

“Você”, eu sussurro.

Ele ― meu outro ‘único’ ― olha para mim por um longo


momento. A estrela de todos os meus sonhos nos últimos três
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anos está diante de mim, e não posso ver um pingo de


reconhecimento em seus olhos. Eu sou mesmo tão
esquecível?

“Banks, você a conhece?” A loira começa a fazer uma


careta para Trzy.

“Stick mora do outro lado do corredor”, Banks responde.

Viro minha cabeça, dando-lhe um olhar de reprovação.


“Banks Kong ou Kong Banks?”

Ele sorri, pressionando os lábios em uma linha


apertada.

“Everson Banks. Sério, você não conhece seu vizinho?


Como você pode viver ao lado de uma estrela do esporte e não
saber disso?” A loira respira fundo e se vira de lado para
passar por mim e Trzy sem nos tocar. “Cage, você vem?”

“Em um minuto”, Cage responde.

“Monaghan, você conhece Stick?” Everson pergunta.

Cage sorri. Morro um pouco porque realmente... eu mal


posso respirar. Talvez não tenha sido tão esquecível.

“Sim, conheço a Lake.”

Ele se lembra do meu nome. Ele se lembra do meu nome!


ELE LEMBRA O MEU NOME!

Mordo minha língua para que essas palavras não saiam


da minha boca. O loiro alto e cheio de covinhas se lembra do
meu nome. Isso significa que se lembra do beijo.

Seus olhos se voltam para os meus lábios enquanto eu


os esfrego. Sim, ele lembra do beijo.

Nós dois sorrimos.

“Sabe, você não tem permissão para ter animais de


estimação nesses apartamentos, Stick.”
JEWEL E. ANN

“Vai se danar, Everson.” Não consigo desviar meus olhos


de Cage, nem posso limpar o sorriso ridículo do meu rosto.
Minhas bochechas doem, mas continuo sorrindo.

A porta se fecha, deixando apenas nós dois tolos


sorridentes no corredor.

Três anos antes, conheci Cage Monaghan, quarterback


do Nebraska, nas piores circunstâncias. A noiva de meu
irmão, Jessica, desapareceu e nossa busca por ela nos levou
a Omaha, onde ela vivia sob o nome de Jillian Knight e em
um relacionamento com o pai de Cage. Nossas vidas estavam
em risco porque havia pessoas perigosas que não queriam
que ela fosse encontrada.

Foi em um dia.

Nós nos conhecemos.

Houve uma conexão.

Nós não encontramos Jessica naquele dia. Em vez disso,


encontramos o homem dos meus sonhos, e ele acabara de
perder o pai para o câncer. Havia perdido Ben e minha perna
um ano antes. Eu estava uma bagunça, literal e
figurativamente tropeçando no meu caminho pela vida.
Minha necessidade de declarar o óbvio ‘eu tenho uma perna
protética’ era digna de horror. Cage era Joe Cool. Para
proteger vidas, eu não podia dizer que morava em São
Francisco, então ele acreditou que eu morava em Nova York.

Conversamos muito sobre nada, comemos pizza,


bebemos cerveja e então tive que sair para Nova York, que na
verdade era São Francisco. Ele pediu meu telefone, mas não
pude dar a ele. Eu queria ― muito, muito, muito mesmo.
Mas... estava correndo risco e toda essa história.

“Me dê seu número de telefone”, ele pediu enquanto eu


caminhava para o carro.
JEWEL E. ANN

Parei e fechei os olhos por um momento, querendo apenas


saborear a sensação. Então eu me virei. “Não posso.”

Cage pergunta. “Você não pode ou não quer?”

“Ambos. Não, realmente só... não posso.”

“Então você vai me deixar sem nada?”

Minha mente gritou ‘dane-se’. Voltei e agarrei seu rosto


com as duas mãos enluvadas, puxando sua bochecha em
direção aos meus lábios. No último segundo, ele se virou e
seus lábios pressionaram os meus. Eu não ia beijá-lo nos
lábios. Ele fez isso. Ele transformou em meu beijo. Nenhum de
nós se mexeu. Não foi um beijo apaixonado de boca aberta,
mas também não foi um selinho. Nossos lábios simplesmente
grudaram, ociosos como uma estátua, nenhum deles querendo
acabar com aquela sensação, porque era a melhor sensação.

Eu o conheci por algumas horas.

Um dia.

Um beijo.

Um momento.

Uma lembrança inesquecível.

“Como...” Cage balança a cabeça “... há quanto tempo


você mora aqui?”

“Poucos meses.”

“O que a trouxe de Nova York a Minnesota?”

“Oh, bem...” Só então me ocorre que ele não sabe toda a


verdade. Ele não sabe que Jillian Knight se tornou Jessica
Jones. Ele não sabe que Nova York era uma mentira. Seu pai
morreu, Jillian foi embora e Cage seguiu em frente com sua
vida.
JEWEL E. ANN

Vidas não estão mais em risco, mas a história por trás


disso é longa demais para ser explicada com uma Trzy
impetuosa em meus braços e meu encontro me esperando no
restaurante.

“Há mais na minha história de Nova York, mas estou


aqui procurando uma mudança ― um tipo de liberdade.
Minha família não ficou muito emocionada, mas…” Dou de
ombros. “Então... você ainda está jogando futebol?” Eu
realmente não sei. Depois de um dia, segui sua carreira no
futebol da faculdade online por um ano inteiro, antes de
decidir duas coisas: que ele era uma fantasia ― um motivo
para evitar a realidade ― e que odeio o futebol.

Cage ri, enfiando as mãos nos bolsos traseiros do jeans.


“Uh... sim.” Sua testa franze. “Presumo que você não
acompanha o futebol americano.”

Meu nariz enruga. “Não tanto.” Nem um pouco. Pior jogo


de todos os tempos.

Ele assente. “Eu sou o quarterback do Minnesota Kings.


Banks é da linha defensiva.”

Não é surpreendente, mas estranho, muito estranho. É


um enorme desafio físico não fazer careta.

“Oh... uau.” Sorrio. “Você deve pensar que eu...”

“Está bem.”

“Não, quero dizer... você é uma estrela do esporte. Eu


deveria, não sei ― pedir seu autógrafo ou algo assim. Talvez
devêssemos tirar uma selfie juntos.”

Uma ideia brilhante. Palmas pra mim. O que há de


errado comigo?

“Espere aqui.”

“Lake...”
JEWEL E. ANN

Corro para o meu apartamento, depositando Trzy no


sofá antes de pegar uma caneta na minha gaveta da cozinha.

“Onde assinar, onde assinar, onde assinar?” Sussurro


para mim mesma, em busca frenética de algo para ele
autografar.

“Lake?”

“Um segundo!” Pego a primeira coisa que vejo no balcão.


“Aqui.” Voltando para o corredor, entrego a ele a caneta.

“Cereal Crocante?” Ele olha para a caixa de cereal


genérico que eu lhe entreguei com a caneta. “Você quer que
autografe uma caixa de cereais?”

Não, eu não queria. Mas não tem como voltar atrás,


então abraço o meu momento de insanidade.

“Sim. Quero dizer, você não está na caixa ainda, mas


talvez um dia. Porque todos os quarterbacks da NFL sonham
em ter sua foto na frente de uma marca genérica de cereal de
arroz crocante.”

Eu sou teimosa ao ponto de minha própria morte. Se


tivesse pegado uma caixa de absorventes, teria levantado o
queixo e insistido para que ele a autografasse.

Cage balança a cabeça, mas ele assina.

Levanto minha câmera. “Selfie?”

Ele morde o sorriso e me entrega o cereal e a caneta, em


seguida, pega meu celular. Pulo quando ele passa o braço
esquerdo em volta de mim.

“Você está bem?”

Assinto, engolindo em seco.

“Cereal crocante em três.” Ele levanta minha câmera


com a mão direita.
JEWEL E. ANN

Dou o meu melhor sorriso do tipo eu sou o mundo


enquanto seguro a caixa de cereal.

Idiota. Que idiota.

“Obrigada.” Coloco o telefone no bolso de trás e abraço a


caixa de cereal no peito. “Adoraria ficar e conversar ou me
envergonhar um pouco mais, mas estou atrasada para um
encontro.”

Cage aponta o polegar para a porta de Everson. “Sim,


eles provavelmente estão se perguntando o que está me
fazendo demorar.”

Eu concordo.

“Foi bom vê-la novamente.” Ele sorri e é genuíno, não o


sorriso largo de merda de morcego que tinha antes.

“Você também. Talvez eu te veja por aí algum dia.


Everson e eu somos bem próximos.”

Ele aperta os olhos. “Mesmo?”

“Oh, sim. Acho que ele tem uma queda por mim. É fofo.”

Amo o olhar de humor misturado com confusão no rosto


de Cage, especialmente sincero e isso traz suas covinhas.

“Enfim... estou indo. Deseje-me sorte.” Vou para o


elevador.

“Você vai levar o cereal ao seu encontro?”

Entro no elevador e me viro para ele. “Claro que sim. O


quarterback de Minnesota acabou de assinar minha caixa de
cerais. Estou mostrando isso a todos que encontrar hoje à
noite.” As portas do elevador começam a se fechar. “E a selfie
também!” Não significa absolutamente nada para mim ter a
assinatura de um quarterback da NFL, mas como é de Cage
Monaghan, há uma boa chance de eu encoxar a caixa mais
tarde nessa noite.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRÊS

Fadas do dente e bonecas

Meu encontro é péssimo. Sim, Tucker empurrou a


cadeira de rodas de seu amigo em uma maratona, mas ele
também tem um fetiche de verdade com membros ausentes,
ou mais precisamente... a prótese em si. Antes de a
sobremesa ser servida, ele perguntou quantas próteses eu
possuía e se tinha alguma que pudesse lhe dar, porque ele
meio que ‘gostava’ delas.

Pensei em me oferecer para enfiar a que eu tinha na


bunda dele, mas uma vozinha assustadora na minha cabeça
me avisou que ele provavelmente gostaria.

Pulei a sobremesa.

Fingi uma enxaqueca.

Paguei minha metade da conta porque não havia como


deixar Tucker pensar que eu lhe devia algo.

Dirijo para casa em um padrão louco de ziguezague, e


muitas voltas para garantir que o maluco com fetiches não
estivesse me seguindo.

“Stiiiick...” Everson sai de sua porta quando enfio minha


chave na fechadura.

Sorrio, mantendo as costas para ele. “Você está bêbado.”

“Um pouco. É meu aniversário.”

“Feliz aniversário! Como foi a sua festa?” Eu me viro.

Ele solta uma garrafa de cerveja âmbar e esfrega os


lábios. “Foi boa depois que seu rato saiu.”

“Trzy é um gato. Eu te falei isso. Todo mundo se foi?”


JEWEL E. ANN

Ele assente. Everson bêbado não olha para mim como se


eu não fosse o tipo dele.

“Eu tive um encontro ruim. Você deveria me convidar


para tomar uma cerveja.”

“Deixe-me adivinhar... o covarde ficou com medo da sua


perna.”

Gosto da versão bêbada de Everson. O sóbrio Everson


precisa pegar algumas dicas com esse.

“Ah... você gosta de mim.” Parando na frente dele,


encaro para seus olhos vidrados.

Ele balança sua cabeça. “Nunca disse isso.”

“Você realmente disse. Se ficar com medo da minha


perna faz do meu encontro um covarde, então... você gosta de
mim.”

Ele sorri, recuando alguns passos para me permitir


entrar em seu apartamento.

Copos de plástico vermelhos, pratos de papel e garrafas


de álcool vazias estão por todo o local.

Everson pega uma cerveja da geladeira. “Você ainda não


é meu tipo, mesmo bêbado.” Ele abre a tampa e me entrega a
garrafa gelada.

“Acalme suas bolas, gostoso. Não vou pular em você.”


Dou um longo gole na cerveja. “Fale-me sobre o seu
quarterback?”

Everson levanta uma sobrancelha. “Fale você. Você


parecia conhecê-lo mais cedo.”

Dou de ombros. “Nos conhecemos. Eu não estava


disponível na época. Eu estava... estava disponível como um
sofá no final de uma garagem. Mas... vivendo em risco.”

“Isso não é uma chatice? Ele não está disponível agora.”


JEWEL E. ANN

Sua resposta me leva a beber o resto da minha cerveja.


Depois de recuperar o fôlego e suprimir um arroto não-
infantil, sorrio para esconder minha decepção. Ver o homem
dos meus sonhos pela primeira vez em três anos enquanto
segurava Trzy não foi o melhor momento para avaliar minha
competição. Ela insultou minha gata e o fato de eu não saber
quem era meu vizinho, mas não consegui me concentrar nela
porquê... O. Cara. Dos. Meus. Sonhos.

“Casado?”

“Não, namorada.”

Aceno concordando. “Sério?”

Ele ri enquanto recolhe um pouco do lixo no balcão.


“Escute, Stick, não vamos trançar o cabelo um do outro e
falar sobre essa merda.”

Pego um dos sacos de lixo vazios que ele pegou e vou


trabalhar na sala de estar.

“E você?” Nós não terminamos de falar sobre Cage. Só


preciso trabalhar de um ângulo diferente.

“Eu?”

“Você tem uma namorada ― uma não branca, não


magrela com coisas para agarrar ou segurar?”

Everson cai na gargalhada. “Não se preocupe comigo. Eu


recebo minha parte.”

Concordo. “Sim... bem, eu também recebo.” Ou talvez eu


tenha; não tenho cem por cento de certeza do que ele quis
dizer com isso. Encontros? Sexo? Ambos? “Você poderia usar
um pouco de cor aqui. Paredes brancas. Móveis pretos. Você
é daltônico?”

“Eu não fico aqui o suficiente para precisar de cor, e


quando estou aqui, minha bunda está plantada no sofá, os
JEWEL E. ANN

olhos colados na televisão. Por quê? Você é algum tipo de


decoradora ou algo assim?”

“Não. Mas sua casa é seu santuário, então...”

“O estádio é meu santuário. É aqui que durmo e transo.”

Murmuro: “Ok... Uau.”

“Diga-me, Stick, como você se permite viver neste lugar


e dirigir o carro que você tem?”

“Carro? Você está me espionando?”

“Percebo as coisas, só isso.”

“Eu administro um site pornô de amputados.”

Everson para, olhando por cima do ombro, o saco de lixo


pendurado na mão enorme. “Você é uma aberração. Eu sabia
que você era uma aberração.” Voltando à sua tarefa, ele
balança a cabeça e ri como se estivesse imaginando.

Definitivamente há uma aberração na sala


monocromática, mas não sou eu. Assim que abro minha boca
para confessar meu humor seco que ele parece não ter
entendido, há uma batida em sua porta.

“Quem será?”

Dou de ombros. “Desculpe, meus superpoderes não se


estendem além da minha perna biônica.”

Ele suspira como se, de alguma forma, fosse minha


culpa que meu caminho para a recuperação não incluísse
visão de raio-x.

“Eu acho que você está no apartamento errado”, diz


Everson à pessoa à sua porta.

Continuo a limpar a bagunça.

“Você fala? Tem alguém aqui com você? O que é isso?”


JEWEL E. ANN

“Por favor, cuide dela!” A voz de uma mulher soa ao


longe.

“Espere! Que diabos? Para onde você vai?” Everson grita


para o corredor, depois bate com o punho contra a moldura
da porta.

O suspense é demais para aguentar. Olho seu corpo


enorme. “Oi.” Eu sorrio para a menina.

Seus olhos castanhos se fixam em meu olhar por um


momento antes de ela dobrar o queixo e encarar seus pés.
Cachos apertados e escuros cobrem seu rosto. Manchas
sujam sua camiseta amarela com um arco íris de glitter, e
seus jeans são dois tamanhos grandes demais, pendurados
em sua cintura minúscula. Ela parece ter seis ou sete anos.

Everson sacode a cabeça lentamente enquanto lê o


pedaço de papel amassado na mão. Ela tem que ser filha
dele. Eu tenho meu discurso todo planejado.

Uma noite.

Um esperma.

Um preservativo esquecido.

Uma enorme responsabilidade pelo resto de sua vida.

Darei a ele a versão gentil do sermão, já que sua


expressão mumificada transmite choque completo. Ele não
escapará sem um sermão. Ele poderia engravidar o mundo
inteiro sem a menor consciência. Deveriam, pelo menos,
reduzir seus paus meio centímetro para cada óvulo
fertilizado.

“Bem, conversaremos amanhã, Everson, depois que você


a instalar.”

A garota olha para mim com grandes olhos avelã e sim,


Everson também. Eu disse algo chocante? Nunca vi um
homem negro parecer tão branco.
JEWEL E. ANN

“Prazer em conhecê-la. Sou Lake, a propósito.” Ofereço


minha mão à garota. Ela coloca sua mochila vermelha e cheia
de bichinhos de pelúcia nos ombros estreitos e descansa a
mão pequena na minha.

“Shayna”, ela sussurra.

“Shayna.” Eu sorrio. “Esse é um nome bonito.”

Ela sorri de volta. É fraco, mas vejo.

“Boa noite, senhorita Shayna. Talvez eu te veja por aí.”

Inclinando o queixo, ela assente.

“Noite, Everson. Feliz aniversário e obrigada pela


cerveja.”

Sua língua parece estar paralisada, mandíbula aberta.

Depois de trancar a porta, jogo minha bolsa no balcão e


percebo que esqueci a caixa de cereal crocante no carro e não
tenho nada para beliscar.

“Ah! Você me assustou!” Eu pulo, abrindo minha porta


para encontrar Everson se elevando sobre mim.

“Aonde você vai?”

“Para o meu carro”, respondo com a mão ainda no meu


peito.

“Preciso de um favor.”

Eu aperto os olhos. “Um favor?”

“Você pode ficar com ela pela manhã enquanto eu tento


resolver tudo isso?”

“Você vai apenas deixá-la com uma estranha?”

“Você é minha vizinha.”

“Eu poderia ser uma assassina em série.”


JEWEL E. ANN

“Você é?”

“Se eu fosse, certamente não diria a você, diria?”

Everson suspira como se meu argumento legítimo de


alguma forma o irritasse. “Eu vou correr o risco. Então você
pode fazer isso?”

“Sim! Mas depois que você voltar amanhã, teremos uma


conversa séria sobre preservativos.”

A cabeça de Everson recua, depois ele se vira, olhando


para Shayna parada do lado de fora da porta. “Ela não é...”
Ele volta sua atenção para mim e abaixa a voz. “Ela não é
minha filha. Ela é minha irmã.”

Não tenho resposta. Não esperava por essa.

“Se você está tentando fazer as contas na sua cabeça,


deixe-me ajudá-la. Minha mãe tinha quatorze anos quando
me teve. Eu tenho vinte e cinco anos. Ela tinha trinta e oito
anos quando morreu no ano passado.” Sua voz falha no final.
Então ele pigarreia e olha para o teto. “Apenas me faça esse
favor, por favor.”

Quando ele olha para mim, eu concordo. Ainda assim,


nenhuma palavra vem. Meu coração as mantém em cativeiro.

“Oito, cedo demais?”

Eu balanço minha cabeça. É muito cedo, mas dizer isso


a ele nessa situação não é necessário, então será as oito.

*
A batida na minha porta me tira do meu sonho de um
quarterback nu. Pensei que tivesse colocado meu alarme para
tocar. Aparentemente não.

“Só um minuto!” Eu grito. “Dê a uma garota um minuto


para colocar a perna, senhor estressadinho”, murmuro.
JEWEL E. ANN

“Você esqueceu.” Everson inspeciona meus shorts e


camiseta xadrez da Hello Kitty.

“Sim, em menos de sete horas eu esqueci.” Estreito


meus olhos. Sério? “Eu não esqueci, simplesmente não me
levantei. Bom dia, Shayna.” Sorrio. “Entre.”

Seus olhos permanecem fixos na minha perna, o que


não era óbvio ontem à noite debaixo da minha calça.

“Faz uns truques legais. Eu vou te mostrar mais tarde.”

Lançando seu olhar para o meu, ela respira fundo como


se eu a tivesse pego fazendo algo errado.

“Estou falando sério. Sou paga para brincar com pernas


robóticas.” Pisco para ela e ela sorri com um suspiro.

“E não de um jeito excêntrico?” Everson levanta uma


sobrancelha.

Eu sorrio. “Não. Não de um jeito excêntrico. Claramente


você não entendeu minha piada.”

Ele assente, talvez um pouco aliviado, talvez


decepcionado. Everson Banks é um homem difícil de
interpretar. “Então, uh... aprecio isso. Acho que devo a você.”

“Sim.” Estalo meus lábios. “Você me deve uma sessão de


trança de cabelo enquanto falo sobre garotos que eu gosto.”

Ele balança sua cabeça. “Ainda não vai fazer com que
ele fique disponível.”

“Mas ele não é casado. Ele está noivo?”

“Não há tempo para isso, Stick.” Everson vira-se e vai


em direção ao elevador.

O cara é um animal. Um animal sexy, não estou


interessada no garoto da porta ao lado, mas ainda assim...
um animal.
JEWEL E. ANN

“Apenas responda! Ele está noivo ou mora com ela?”

Entrando no elevador, ele se vira e me dá um sorriso. É


um sorriso de ‘não’. Eu apenas sei. O homem dos meus
sonhos ainda não está oficialmente fora do mercado. Eu não
o perseguirei ou tentarei roubá-lo daquela que odeia gatos.
Isso não é elegante, e todos que me conhecem atestariam
minha elegância.

Ok, ninguém me chamaria de elegante. Com quem estou


brincando?

Meu plano: ser a garota que ele virou a cabeça há três


anos, a garota cujos lábios ele queria beijar. É um plano
brilhante, exceto pela parte de que ele é uma superestrela
inacreditavelmente inacessível. Até os melhores planos tem
alguns empecilhos para resolver.

“Com fome?” Faço um gesto para Shayna entrar.

Ela assente, dando passos lentos como se tivesse gelo


rachando embaixo dela.

“Trzy!” Eu faço uma careta quando minha gata pula na


direção de Shayna. O grito angustiante que eu esperava
nunca veio.

“Bonita gatinha.” Shayna deixa cair a mochila aos pés e


se abaixa, pegando Trzy.

Gatinha bonita? Talvez Shayna precise de óculos. Eu


quase desmaio quando ela roça os lábios sobre a pele sem
pelos e enrugada de Trzy, parando para beijar sua orelha
parcialmente amputada. Trzy ronrona como alguém ligando
um cortador de grama.

“Você gosta de gatinhos?”

Shayna olha para mim, abraçando Trzy no peito. “Eu


gosto de gatinhos.”
JEWEL E. ANN

“Eu também.” Aponto para meu pijama da Hello Kitty e


sorrio. “Torrada? Ovos? Cereal? O que você quer comer?”

“Torrada.”

“Torrada, é isso. Adoro torradas... e waffles com


manteiga de avelã e chocolate.”

Os olhos de Shayna crescem quando digo chocolate.

“Vamos guardar waffles para outro dia.”

Ela assente com um sorriso enorme.

Apreciamos torradas com manteiga, canela e açúcar


enquanto descansamos no sofá; Trzy espalhada entre nós.

“Almofadas amarelas.” Ela salta um pouco contra o


travesseiro de decoração. “Eu gosto de amarelo. Eu também
gosto de vermelho.”

A garota tem um gosto excelente.

“Quantos anos você tem?”

“Seis.”

Eu assinto. Se ela tivesse sete anos, poderia explicar os


muitos tons de amarelo, incluindo meu travesseiro amarelo
espanhol, um pouco mais brilhante que o açafrão que minha
mãe ama. Talvez uma vez que ela se sinta mais tranquila,
discutiremos amostras de cores. Uma coisa é certa: Shayna é
o caleidoscópio resplandecente que Everson precisa em sua
vida.

“Quem te trouxe na noite passada pra casa de Everson?”


Isso não é da minha conta, mas meu passatempo favorito é
espreitar, então é claro que tenho que perguntar a ela.

“Judy.” Ela lambe o açúcar do dedo.

“Você mora com Judy?”

Shayna assente.
JEWEL E. ANN

“Judy é sua família?”

Ela assente. “Irmã da minha mãe.”

“Onde está sua mãe”

“Com Jesus.” Shayna não hesita. Ela diz isso como se


ela tivesse corrido para o supermercado.

Eu, no entanto, luto contra as lágrimas enquanto o nó


na minha garganta começa a inchar.

“Everson vai cuidar de mim. Judy diz que ele vai


comprar bonecas para mim.”

A única coisa mais feia que o felino sem pelos entre nós
é o grito que tento segurar.

“Everson é minha família agora. Ele vai me amar.”

Eu pisco e afasto minhas lágrimas antes que ela as veja.


Para alguém tão pequena, Shayna pode dar um soco forte nos
sentimentos. Luto para respirar.

“Então você dormiu bem ontem à noite?” Limpo minha


garganta e a umidade restante dos meus olhos.

“Fiquei com medo no sofá, então entrei na cama de


Everson.” Seus olhos se arregalam de emoção. “É a maior
cama que eu já vi!”

Eu sorrio. “Ele acordou?”

Ela balança a cabeça. “Não. Apenas abracei seu braço


até mamãe me visitar. Ela só vem se eu dormir... nos meus
sonhos. Ela está sempre nos meus sonhos.”

Eeee... mais lágrimas! Pulo e levo nossos pratos para a


cozinha, pegando um maço de toalhas de papel para lidar
com minhas emoções fora de controle.

Shayna desliza do sofá, carregando Trzy com ela. Minha


gata diva prova ser bastante submissa. Eu nunca teria
JEWEL E. ANN

adivinhado. Elas sentam no chão perto da mochila de


Shayna.

“O que aconteceu com a sua perna?” Ela pergunta,


mantendo o foco no conteúdo da bolsa que jogou no meu
chão.

Coloco nossos pratos na máquina de lavar louça.


“Aconteceu algo ruim e perdi parte dela. Agora tenho essa
nova perna legal e tenho outras no meu armário. Eu vou te
mostrar algum dia.”

“Perdi dois dentes.”

“A fada dos dentes veio?”

“O que é uma fada dos dentes?”

Everson precisa terminar suas coisas antes que sua


irmãzinha me destrua completamente.

“Se você colocar o dente embaixo do travesseiro à noite,


a fada dos dentes bem buscar quando você dorme e deixa
dinheiro para você. Tenho certeza que da próxima vez que
você perder um dente, a fada dos dentes virá.”

A garota me faz prometer coisas que eu não posso


garantir, mas simplesmente não consigo me conter. Maior
diarreia verbal. Quero vê-la sorrir e não quero chorar mais.
Apesar da parte que falta da perna e do namorado que
morreu, eu estou bem.

Os melhores pais de todos os tempos!

Quatro irmãos.

Um bando de sobrinhas e sobrinhos.

Amigos.

Um trabalho.

Dinheiro.
JEWEL E. ANN

Independência.

O homem dos meus sonhos. Na. Mesma. Cidade!

Entre as poucas roupas de Shayna, uma escova de


dentes com cerdas retorcidas, vários lápis de cera quebrados
e um carro Matchbox que parece ter sido atropelado por um
carro de verdade, há uma foto de uma mulher beijando uma
Shayna mais jovem na bochecha. Eu pego a foto.

“Mamãe e Shay.”

“Esta é sua mãe?” Estreito os olhos, olhando para


Shayna e depois de volta para a foto.

Ela assente.

“Sua mãe era linda.”

E branca.

E magra... sem nada para segurar.

“Mamãe ama Shay.”

Eu sorrio, entregando a foto para ela. “Sim, eu tenho


certeza que sua mãe te amou muito.”

Shayna será uma destruidora de corações, com sua


perfeita pele clara e longos cachos que saltam a cada
movimento que ela faz. Mas aqueles olhos... eles contêm uma
vida inteira, e me fazem querer devolver a ela toda a inocência
que puder lhe dar. Fadas dos dentes. Papai Noel. O Coelho da
Páscoa.

Brincamos com Trzy, rindo da diversão sem fim com


uma ponteira de laser por quase uma hora antes de ouvir
uma batida na porta.

“Oh!” Olho para Shayna com os olhos arregalados. “Eu


aposto que é Everson.”

Ela sorri e sei que tudo ficará bem para ela.


JEWEL E. ANN

“Oi!” Eu cumprimento Everson.

“Sim, oi, como está indo?”

“Bem.” Estreito meus olhos um pouco.

O homem que conheci como nada além de músculos e


confiança parece diferente. Fraco? Tímido? Ele não olha nos
meus olhos. Em vez disso, muda seu peso de um pé para o
outro, olhando apenas para eles.

“Escute, este é um dia grande para um evento de


equipe, começando com um passeio de golfe beneficente,
então você se importaria de esperar com ela no meu
apartamento até que eles venham buscá-la?”

“Eles?”

“Meu advogado está lidando com isso. Alguém do


Serviço de Proteção às Crianças estará aqui dentro de uma
hora para buscá-la.”

Eu me viro para verificar Shayna. Ela sorri e beija a


cabeça de Trzy. “Eu vou no corredor por um segundo, ok,
querida?”

Ela sorri e assente.

Fechando a porta atrás de mim, olho para Everson.


“Serviços de proteção à criança?”

“Sim.”

“E por que estão vindo buscá-la?”

“Porque a avó dela morreu outro dia e ela é órfã.”

“Ela é sua irmã, não órfã.” Eu cerro os dentes.

“Eu a conheci na última noite. Não estou em posição de


criar uma filha.”
JEWEL E. ANN

“Você provavelmente ganha mais dinheiro em uma


semana do que a maioria das pessoas em um ano. Acho que
você está em uma posição muito boa para cuidar dela.”

Ele balança sua cabeça. “Eu não disse que não vou
cuidar dela. Vou garantir que ela seja cuidada. Não posso
criá-la. Eu nunca estou aqui. Ela merece uma família, um
quintal com um balanço. Vou garantir que ela tenha isso.
Simplesmente não comigo.”

Foda-se, lágrimas! Mantenham-se juntas!

Engulo minha raiva e emoção crua. “Você é a única


família dela. Ela precisa de você.”

“Ela nem me conhece e em uma semana não se


lembrará de mim. Aqui...”, ele enfia a mão no bolso e tira um
maço de dinheiro e estende para mim, “… pelo incômodo hoje
e aqui está a chave da minha casa. Certifique-se de que ela
não deixe cabelo na pia do banheiro.”

Atordoada.

Fico sem palavras, com o coração partido, com raiva e


apenas... atordoada. Ele pega minha mão e enfia o dinheiro e
a chave nela.

“Vamos conversar sobre Monaghan mais tarde”. Ele se


vira e sai.

Uma guerra de emoções palpita na minha cabeça.


Mesmo depois que as portas do elevador se fecham, fico ali
esperando uma emoção emergir como dominante, algo que
guiará meu próximo passo.

Lívida. Essa é a emoção que se separa das outras e se


sobressai.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO QUATRO

Prisioneira

Eu dirijo para Target como uma vovó. Desde que Ben


morreu e eu sobrevivi, os passeios de carro de domingo
desapareceram da minha vida. É tudo sobre ir do ponto A ao
ponto B sem morrer. Meu utilitário esportivo, um SUV
vermelho obteve nota alta em todos os testes de segurança,
mas não tenho assento infantil. Shayna disse que não precisa
de um. Eu discordo.

Depois de encontrar o melhor assento de elevação com o


tempo mínimo que eu tinha para fazer qualquer tipo de
pesquisa sobre a marca mais segura, pesquiso o inferno e
identifico entre todas as conexões possíveis com Minnesota e
eventos de caridade, encontro o local, dirijo até lá, e
estaciono... então me ocorre que eu posso ter sequestrado
uma criança. Pelo menos, o Serviço de Proteção à Criança e a
polícia pensarão que sim.

Toc toc toc

Abro a porta, forçando o policial a recuar.

“Senhorita, você não pode estacionar aqui.”

“Bem, o estacionamento está fechado. Onde devo


estacionar?”

Ele olha para minha perna.

Suspiro. Normalmente, meu nível de paciência é muito


maior, assim como meu respeito pelos homens de farda.
“Sim. Tenho uma perna biônica, e eu poderia literalmente
esmagar seu bagulho além do reconhecimento se eu te
chutasse entre as pernas...”
JEWEL E. ANN

“Senhorita, você está ameaçando um policial?”

“De modo nenhum. Estou simplesmente afirmando um


fato. Essa perna foi projetada e tem uma patente pendente de
Thaddeus Westbrook, e ele me disse que poderia literalmente
esmagar a bola de um homem, além do reconhecimento. Não
estou mais ameaçando você do que um vendedor de carros
dizendo que um determinado carro chega a vinte e oito
quilômetros por galão e vai de zero a sessenta em menos de
três segundos. Estou afirmando um fato.”

Abro a porta dos fundos e solto Shayna, esperando que


ele não queira me algemar. Meu cérebro não está
funcionando corretamente. A adrenalina alimenta tudo o que
faço.

“Senhorita, eu lhe disse que essa é uma zona de


estacionamento proibido, e o clube está fechado hoje para um
evento privado.”

“Escute...” Puxo Shayna na minha frente e cubro seus


ouvidos com as mãos, depois abaixo a voz para um sussurro
“... está vendo essa garotinha? A avó dela acabou de morrer e
seu único parente vivo está jogando golfe aqui hoje, mas ele
não atende ao telefone.” Porque, é claro, não tenho o número
dele. “Então, isso é meio que uma situação de emergência.”

Seu olhar flutua entre mim e Shayna. Conflito


estampando em seu rosto. “Eu vou te multar em trinta
minutos. Rebocarei seu carro em uma hora.”

Eu sorrio. “Obrigada por sua solidariedade.” Eu não me


importo com isso, então temos uma hora. Rebocar meu
veículo está na minha lista de coisas a evitar. Acabar na
cadeia por sequestro de crianças também está nessa lista.

“Vamos, querida.”

“Onde está Everson?”


JEWEL E. ANN

Eu a conduzo através das barreiras e do estacionamento


cheio de veículos de luxo, mas o segurança na entrada parece
um pouco mais inteligente e cruel do que o Senhor Eu visto
Uma Farda e Distribuo Multas de Estacionamento.

“Everson está aqui. Vamos vê-lo em breve.” Outra


promessa que não posso garantir. Como minha manhã se
transformou em uma passagem para o inferno?

Mentiras. Mentiras. E mais mentiras. No dia anterior, eu


me consideraria uma pessoa bastante honesta.

“Você tem um passe de imprensa ou convite?” Pergunta


o segurança.

Não. Eu tenho uma criança sequestrada.

“Meu nome é Lake Jones, babá de Everson Banks, e


essa é a...” Cubro os ouvidos de Shayna novamente porque
tem que haver pontos de brownie com Deus por não deixar
uma criança ouvir minhas mentiras “... filha.” Irmã parecia
inacreditável. “Há uma emergência familiar e Everson não
está atendendo ao telefone. Você poderia entrar em contato
com ele por mim?”

“Este é um evento televisionado. Vou precisar saber que


tipo de emergência você tem.”

“Morte na família.” Descubro seus ouvidos quando as


mentiras terminam.

Ele estreita os olhos para mim e depois olha para


Shayna.

Não se atreva... seu bastardo sem emoção!

“Ei, querida... será que alguém morreu?” Ele se inclina


para baixo alguns centímetros do seu rosto.

Quem diabos pergunta isso a uma criança? Quero


gritar!
JEWEL E. ANN

Shayna assente. “Mamãe e Ne-ma foram ver Jesus.”

Ele faz uma careta, voltando a ficar em pé. “Sinto muito


pela sua perda. Vou mandar alguém rastrear o Sr. Banks
imediatamente.”

“Obrigada.” Dou a ele o meu melhor sorriso carregado de


queixas enquanto a parte superior do meu joelho tem
espasmos, como quando o médico bate para verificar meu
reflexo, apenas mais intenso ― muito mais intenso. Minha
perna biônica empurra para frente aterrissando diretamente
em sua canela.

“Ah!” Ele geme, abaixando-se para agarrar a perna.

“Oh meu Deus! Sinto muito.” Finjo que não fiz de


propósito. “Não queria chutá-lo”. Tento explicar enquanto um
policial me algema.

Somos escoltadas para dentro do prédio enquanto eles


encontram Everson. Sento algemada em uma cadeira no
escritório do gerente com o queixo abaixado, sussurrando
“shh, tudo vai ficar bem”, para uma Shayna de olhos
chorosos sentada ao meu lado. O guarda ferido foi levado
para atendimento médico, enquanto o policial desaprovador
me vigia.

Tenho a sensação de que meu próximo assento será na


traseira de um carro da polícia. Tanta coisa para evitar que
meu carro seja rebocado. Quais são as chances de Thaddeus
voar para Minneapolis para me tirar da prisão e testemunhar
perante um juiz que chutar o guarda não é minha culpa, mas
um defeito de sua invenção?

“Lake? Quer me dizer o que diabos está acontecendo?”


Everson me chama de Lake. Eu imaginei que soaria mais
sexy. Eu também imaginei não estar algemada. Risque isso...
haveria algemas, mas eu estaria algemada em uma cama,
não em uma cadeira no escritório do gerente em um campo
de golfe.
JEWEL E. ANN

“Sr. Banks, sua babá atacou um dos guardas de


segurança.”

“Explique isso pra mim de novo? Quem fez o que?”

“A senhorita Jones exigiu que encontrássemos você para


notificá-lo de uma emergência familiar, então ela atacou um
guarda com isso...”

Olho para o policial com a boca aberta, como se a


palavra politicamente correta para a minha perna protética,
que não parece uma perna protética, caísse magicamente de
seus lábios.

“Perna? Essa é a palavra que você está procurando?


Perna de verdade. Perna falsa. Prótese de perna. Perna
biônica. Seja como for, a palavra é perna, porque substitui a
parte do meu corpo que está faltando. Alguém sabe que parte
do meu corpo está faltando?”

Tique tique tique

O relógio de parede é o único som na sala.

“Perna... a perna de Lake é legal.” A criança na sala é a


única que não tem medo de chamá-la como ela a vê.

“Posso falar com a senhorita Jones sozinha sobre a


emergência da família?” Everson olha para o policial. “Talvez
você possa dar a essa garotinha um doce ou algo assim?”

O oficial se mantém firme, mandíbula cerrada, olhos


estreitados.

“Dez minutos?” Everson pergunta.

“Cinco.” O policial resmunga.

Everson faz um sinal para Shayna ir com o policial. “Ele


vai fazer um lanche para você.”

“Everson…”
JEWEL E. ANN

“Cale a boca, Lake.”

Olho para ele enquanto Shayna segue o oficial para fora


do escritório.

Não importa que meu Kong esteja vestido com shorts


xadrez ofuscantemente brilhantes e uma camisa de mangas
curtas de colarinho branco. Eu não deixarei seus olhares me
distraírem da minha raiva.

“Ele poderia estar molestando a menina enquanto


falamos. Você não manda sua filha embora com um estranho,
mesmo que esteja usando um crachá.”

“É isso aí!” Ele ruge, curvando-se na cintura para que


seu rosto fique nivelado e a alguns centímetros do meu. “Ela
não é minha filha. Ela não deveria estar aqui. Você não
deveria ter vindo aqui com ela. Eu paguei para você ficar com
ela até o Serviço de Proteção à Criança chegar e você não
seguiu minhas instruções! Qual é o seu problema?”

Meus dentes doem por apertá-los com tanta força. Meu


pulso dispara. Minha pele queima.

“Você é a família dela.” Eu tenho um milhão de


respostas, mas essa é a única que importa.

“Compartilhamos alguns genes. Ela não pensa em mim


como sua família…”

“Ela pensa.”

Ele fica ereto, coloca as mãos nos quadris e anda pela


pequena sala.

“Ela pensa. Ela sabe que você é sua família e acha que
vai cuidar dela. Aquela garotinha perdeu as duas pessoas
mais importantes em sua vida. Ela perdeu dois dentes e não
sabe quem é a fada dos dentes... e bonecas... ela não tem
nenhuma boneca.”

“Isso não é da sua conta.” Ele continua a andar.


JEWEL E. ANN

Encaro meu colo. “Eu sei”, sussurro.

Culpa. Sinto culpa. Arrependimento? Nunca. Eu não


consigo imaginar Shayna ou ouvir sua vozinha na minha
cabeça e me arrepender de qualquer coisa que fiz nessa
manhã. Ok, talvez me arrependa de agredir o guarda, mas
isso realmente não foi minha culpa.

“Há uma enorme quantidade de imprensa por aí


esperando para descobrir por que não segui para o terceiro
buraco.”

“Eu sei.”

“Meu pessoal de relações públicas está a caminho e eles


vão querer saber qual é o acordo com você e essa garota.”

“Shayna.”

“O quê?” Ele para na minha frente novamente.

“Shayna. O nome dela é Shayna, não ‘essa garota’.”

“Eu sei o nome dela, porra!”

Eu estremeço.

Ele solta um grande suspiro. “Qual foi o seu objetivo ao


vir aqui? O que é a emergência familiar?”

Essas são realmente boas perguntas. Uma hora antes,


enquanto corria com pura adrenalina devido às minhas
emoções lívidas, eu tinha um discurso inteiro na cabeça.
Parecia bom naquele momento, o tipo de bem que faria
Everson repensar sua decisão precipitada de colocar sua irmã
para adoção.

Sob a intensidade de seu olhar e o calor que irradia da


proximidade de seu corpo, todo o meu caso por fazer o que eu
faço meio que... desmorona. Eu direi as palavras porque,
assim como a caixa de cereal de arroz crocante, eu mantenho
minha loucura a todo custo.
JEWEL E. ANN

“A Ne-ma de Shayna... sua Ne-ma, morreu há alguns


dias. Sua mãe morreu dois anos antes. Você tem amigos,
uma equipe, uma espécie de família e dinheiro. Shayna não
tem nada além de uma promessa de Judy de que você vai
amá-la, cuidar dela e comprar bonecas. Se você tirar isso, ela
não terá nada. E me preocupo que, por mais maravilhosa que
seja a família que a adotará, ela nunca se recuperará do
abandono que certamente sentirá quando você também
desaparecer da vida dela.”

Sim, parecia melhor na minha cabeça. Vindo da minha


boca, parece infantil. Everson tem um trabalho que exige sua
atenção total. Ele não terá muito tempo para passar com ela.
Ela será criada por uma babá e como isso será melhor do que
uma família amorosa com um quintal grande, outras crianças
para brincar e talvez um cachorro grande e fofo que persegue
coelhos?

O policial abre a porta do escritório. Shayna senta ao


meu lado, segurando um pretzel macio com sal.

“Estamos levando a senhorita Jones para a delegacia


agora.”

Shayna olha para mim com olhos suplicantes, do tipo


que faz um milhão de perguntas comoventes sem uma única
palavra. Eu não acho que ela sabe o que exatamente está
prestes a acontecer, mas sente algo. Sinto o medo dela tanto
quanto vejo naqueles olhos.

Inclino para frente, meus pulsos algemados puxando


meus ombros para trás. Então eu a beijo na testa. “Shayna”,
sussurro. “Repita comigo. ‘Eu sou linda’.”

Ela pisca várias vezes, mas nunca para de olhar nos


meus olhos.

“Eu sou linda.”

Eu sorrio, assentindo. “Diga ‘eu sou amada’.”


JEWEL E. ANN

“Eu sou amada.”

Outro aceno. “Diga ‘ eu vou ser feliz’.”

Seus olhos se voltam para Everson por um breve


momento e depois de volta para mim. “Eu vou ser feliz.”

Depois de depositar um último beijo em sua cabeça,


levanto.

Balanço a cabeça para o oficial.

“Eu vou te libertar...” Everson começa.

“Não se preocupe com isso.” Não olho para trás quando


o policial me leva para fora da sala.

*
Uma multidão de jornalistas espera na entrada. Apenas
algumas fotos são tiradas de mim. Afinal, quem eu sou? Eu
deveria me sentir humilhada, mas ninguém me conhece.

“Lake?”

Olho por cima do ombro enquanto o policial me escolta


até o carro da polícia.

“Não.” Eu faço uma careta e viro minha cabeça para


frente, queixo para baixo, então meu cabelo cobre meu rosto.

Dezoito buracos espalhados por muitos quilômetros.


Como consegui ser escoltada por um policial justo enquanto
Cage Monaghan passeia na parte logo acima da cerca à
minha direita?

Ele se aproxima. Sei disso pelos fotógrafos lutando com


suas câmeras e disputando a melhor posição para tirar fotos
de nós! Assim, fui de ninguém para a amputada algemada,
atraindo a atenção de um famoso quarterback. Não é como
queria captar sua atenção.

“Lake? Oficial, você pode aguardar um minuto?”


JEWEL E. ANN

Fecho os olhos, respiro fundo e olho com o meu melhor


sorriso absoluto de todos os tempos. “Cage! Ei, como está
indo? Você está tendo um bom jogo de golfe hoje? O tempo
não poderia estar melhor para esta época do ano em
Minnesota.”

Ele estreita os olhos, como se nenhuma palavra que


acabei de falar fosse em inglês. “Você está sendo presa?”

Puxo as algemas. “Oh, isso?” Sugo o ar através do meu


sorriso de dentes à mostra. “Sim, houve uma espécie de falha
com a minha perna.” A câmera se fecha quando o policial
abre a porta na parte de trás do carro da polícia. “Você
deveria ir. Hoje não sou boa publicidade.”

Dou uma última olhada para o homem dos meus


sonhos em sua camisa polo azul royal que destaca o céu em
seus olhos e acentua os tons bronzeados de seus cabelos
claros. A careta em seu rosto esconde suas covinhas; isso é
lamentável. A porta se fecha e o carro se afasta do meio-fio.

“Nada de embaraçoso nisso”, murmuro para mim


mesma. Eu não posso dizer com certeza, mas acho que o
careca de uniforme atrás do volante sorri. Sim, eu sempre fui
boa em fazer os outros rirem.

*
“Você está livre, Jones.”

Isso foi rápido. Eu nem precisei fazer meu telefonema.

O policial abre a cela.

“Por quem? Eu não liguei para ninguém.”

“Não sei. Apenas faço o que me mandam.” Eu sigo o


oficial robusto e grisalho. Ele devolve minha bolsa e seu
conteúdo para mim em um saco plástico e depois acena para
a entrada. “Aquele cara.”

Aperto os olhos. “Eu não o conheço.”


JEWEL E. ANN

“Você está livre. Quem se importa? O cara retirou as


acusações antes de serem oficialmente registradas. Você não
precisa ir com ele, mas eu diria que pelo menos um
agradecimento seria bom.”

Meu herói, com cabelos pretos perfeitamente separados


e um terno que serve muito bem para não ser sob medida,
está encostado na parede ao lado da porta, um tornozelo
cruzado sobre o outro enquanto passa o dedo pela tela do
telefone. O relógio de ouro, a maneira confiante de segurar os
ombros e o brilho ofuscante de seus sapatos perfeitamente
polidos grita dinheiro e poder.

Quando me aproximo, ele mantém a cabeça baixa. Eu


não espero nada menos que um homem que exale confiança.
O mundo espera por ele.

“Eu não vou posar nua para você, então se você tem um
estranho fetiche por amputadas, você salvou a garota
errada.”

Um sorriso aparece em seus lábios, mas ainda não


conquistei seu contato visual. “Como você perdeu sua
perna?”

“Acidente de carro.”

“Como você chegou à cadeia?” Ele desliga o telefone e o


enfia no bolso interno do paletó. Olhos castanhos dourados
encontram os meus.

“Um engenheiro brilhante teve uma falha com sua


última invenção. Quem é você?”

Ele olha para mim por alguns segundos, como se a


resposta estivesse a caminho, mas ainda nada. “Sou Flint.
Meu garoto me pediu para esclarecer essa confusão e
acompanhá-la até em casa.”

“Everson enviou você?” Ajusto a alça da bolsa no ombro


e cruzo os braços sobre o peito.
JEWEL E. ANN

“Você está pronta?”

“Por que acha que eu preciso de uma carona? Tenho um


carro, você sabe.”

Ele espelha minha posição e fica melhor nele. Um cara


sexy chamado Flint quer me levar para casa. Melhor oferta
que recebi em semanas. Infelizmente, ainda respeito a regra
de um estranho ser perigoso.

“Sim, eu sei, e foi rebocado há mais de uma hora, mas


também estou trabalhando nisso. Ele será devolvido até o
final do dia, se você me der sua chave.”

“Realmente? Você acha que eu vou entregar minha


chave para que você possa roubar meu carro?”

Ele inclina a cabeça para o lado. “Sim. Eu fiz essa coisa


toda de sua prisão por agredir um guarda de segurança
desaparecer só para que eu pudesse roubar seu carro.”

Balanço minha cabeça, mas tiro a chave da minha bolsa


de qualquer maneira.

“Ótimo.” Ele pega de mim. “Eu vou levá-la para casa


agora.”

Presunçoso. No entanto, admiro sua personalidade


responsável.

“Você é muito bonito.” Torço meus lábios, esperando por


sua resposta. Até os mais duros respondem a elogios.

Seu sorriso cresce até que o branco perolado aparece


por entre os lábios abertos, as sobrancelhas erguidas uma
fração.

Previsível. Eu o ganhei. “Mas não posso ir com você.


Obrigada e agradeça Everson se você o vir antes de mim, mas
prefiro pegar um táxi. Quanto devo a você?”
JEWEL E. ANN

“Me deve?” Ele ri, balançando a cabeça. “Você não me


deve nada. Apenas fazendo o meu trabalho, mantendo a
reputação do meu garoto completamente limpa.”

Eu assinto. “Você faz o trabalho sujo dele?”

Ele encolhe os ombros. “Algo parecido.”

“E Shayna?”

Olhos intensos ficam colados aos meus. Ele tem uma


cara de paisagem assassina. Eu não espero nada menos de
um cara de terno bem cortado, chamado Flint. Meus olhos?
Eles imploram para que ele me diga que Everson mudou de
ideia sobre desistir de Shayna.

“Então é um não para carona?”

“Ele a deixou ir, não foi?” Meu coração afunda. Ele já


sabe a resposta.

“Tenha um bom dia, Srta. Jones.” Ele coloca os óculos


escuros e abre a porta da frente.

Ligo para o táxi.


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO CINCO

Pensamentos Poderosos

Como prometido, meu carro é devolvido. Flint não é o


entregador, é um cara mais jovem que não consegue
responder a uma única pergunta que faço a ele ― nenhuma
pergunta entre as dúzias que faço. Ele me devolve meu
chaveiro e um cartão, depois se afasta.
CAPÍTULO UM

Capítulo um? Estou acostumada ao estranho. Fui criada


do jeito estranho. O cartão me dá uma sensação estranha.
Coloco na geladeira e prendo-a com um ímã, depois vou
correr para clarear minha cabeça. Os olhos suplicantes de
Shayna e o sorriso inocente dela me assombram a cada
passo. Não posso salvar o mundo ― toda criança, todo animal
abandonado ―, mas essa realidade não a torna menos
comovente.

Depois do banho, Thad me liga enquanto derreto


marshmallows e manteiga no micro-ondas.

“Eu desisto.”

“Agora, amor, não seja tão precipitada. Nas dez


mensagens que você me deixou anteriormente, pude
entender, que temos um avanço monumental em nossas
mãos.”

Eu rio. “Um avanço monumental? É possível que um


segurança esteja envolvido nos próximos meses devido ao seu
erro monumental. Ah, e você sabe da parte de eu ter ido para
a cadeia, certo?”
JEWEL E. ANN

“Sim, sim, sim, vamos à parte boa. Você disse que não
pretendia chutá-lo, que sentiu uma contração muscular e
aconteceu, mas pensou em chutá-lo. Certo?”

“Sim, mas...”

“Foda-se Einstein, amor. Você percebe como isso é


incrível? Somente seus pensamentos fizeram acontecer.
Aquele chip sensorial detectou a contração e bang! Assim,
meu bebê entrou em ação.”

“Pare de chamar uma parte de mim de seu bebê. É


assustador. E pare de comemorar o que é um defeito sério e
perigoso. Você entende o que isso realmente significa? Tenho
que controlar meus pensamentos! As pessoas não podem
controlar seus pensamentos, apenas suas ações, mas eu
também não posso. E se, toda vez que você visse uma mulher
e se imaginasse fazendo sexo com ela, não pudesse controlar
seu corpo e no instante seguinte estivesse prendendo-a na
parede com seu pau nela. Você estaria na prisão por estupro.
Isso não é um avanço, é um crime!”

Pego minha tigela no micro-ondas e mexo os


marshmallows e a manteiga derretidos.

“Eu nunca disse que é perfeito. Ele precisa de alguns


ajustes, mas isso é grande, muito grande. Também estou
reservando um voo para Pequim. Encontro você lá semana
que vem. Os testículos de Jerry vão explodir quando ele
descobrir.”

Uma viagem à China para ver as bolas de um homem


explodirem, o que mais eu poderia pedir?

“Não vou mais usá-la até chegar lá.” Derramo cereal


crocante de arroz na minha mistura pegajosa ― guloseimas
crocantes de arroz no micro-ondas, minha fraqueza e
obsessão.
JEWEL E. ANN

“Você tem que usá-la para passar a segurança. Se você


empacotá-la, em alguma embalagem de monstro com um TSA
escrito em cima, o roubarão e o colocarão no eBay antes do
pôr-do-sol.”

“Eu poderia derrubar o avião com minha perna robótica


de kung-fu.”

Thad ri. “Só se você estiver pensando sobre isso.”

“Bem, já que estamos tendo essa conversa, é tudo em


que vou pensar, porque é assim que a mente funciona. Não
pense em comida. Sim, é só nisso que vou pensar. Cobras?
Aranhas? Sexo? Minha mente vai para lá por conta própria,
especialmente se souber que não é necessário!” Coloco uma
colher na boca.

“Sexo, hein?”

“Cale a boca”, murmuro entre minha mastigação.

“Apenas se concentre em coisas felizes, gentis e não


violentas. Não acho que você pode derrubar um avião com
uma perna se seus outros três membros estiverem se
comportando bem. Mas se você optar por usar sua ‘falha’
para obter um pouco de conforto extra no avião, essa é sua
prerrogativa. Enviarei uma mensagem de texto com as
informações do hotel em alguns dias. Tenho que correr,
amor.”

“Thad...”

E é isso.

Olho para o autógrafo de celebridade na minha caixa de


cereal. Até que ponto os eventos dessa manhã influenciaram
meu plano de fazer o homem dos meus sonhos se apaixonar
por mim? Difícil dizer. Caio no sofá, coloco a tigela ao meu
lado e pego meu laptop.
JEWEL E. ANN

“Afaste-se, Trzy.” Dou a ela um olhar feio quando ela


cutuca o nariz perto do meu doce de marshmallow.

Uma rápida pesquisa por Cage Monaghan na Internet


traz fotos minhas.
O quarterback de Minnesota demonstra preocupação por
mulher com deficiência presa no torneio de golfe de caridade.

Mulher não identificada ameaça segurança no torneio de


caridade ― Monaghan ajuda a polícia a pegá-la.

Sim, claro, isso realmente aconteceu. Depois de ler mais


do mesmo e ver mais fotos para acompanhar todas as
manchetes, fecho meu laptop e assisto Sons of Anarchy na
Netflix. Alguns dias a realidade é péssima. A Netflix é a droga
perfeita e meu vício em séries de compulsão alimentar é
minha condição necessária.

Sinto falta da minha amiga Lindsay, mas não sinto falta


de ser sua colega de quarto. Há pessoas na vida que estão
destinadas a viver vidas produtivas, pessoas reais de ‘Seja a
Mudança’, depois há aquelas que se inscrevem no Netflix
como uma religião. Lindsay é uma enfermeira que viaja com
médicos sem fronteiras. Assisti na Netflix. Cada episódio.

No momento em que já passou uma boa parte dos


episódios e minha gata ronrona no meu colo, há uma batida
na minha porta. Faço uma pausa na minha série. “Jax, Jax,
Jax, eu amo essa sua bunda.” Pisco para a tela que está
pausada nas costas nuas de Charlie Hunnam.

Everson está do outro lado do meu olho mágico. “Seja


legal, Lake. Ele conseguiu que você fosse solta”, murmuro
para mim mesma.

Abro a porta, forçando um sorriso. “Sim?”

Seu olhar se move ao longo do meu rosto sem olhar nos


meus olhos, depois no meu pescoço e no meu peito enquanto
JEWEL E. ANN

sua cabeça avança um pouco para frente, os olhos levemente


apertados.

“Caspa?”

“O quê?” Eu olho para o meu peito. “Oh, não, é...” Afasto


as migalhas e limpo a boca e as bochechas com as costas da
mão, porque estou apenas nada sexy. “Isso é arroz crocante.”

Everson sempre olha para mim da mesma maneira, do


jeito que eu imagino que ele olharia para um acidente de
trem.

“Sobre esta manhã...”

“Não.” Balanço a cabeça e levanto minha mão.


“Intrometi-me emocionalmente demais em uma situação que
não era da minha conta e peço desculpas. Tenho o péssimo
hábito de acender um fósforo antes de ver se alguma coisa ao
meu redor é inflamável. Eu só... ajo por impulso. Agradeço
por ter enviado Flint para me tirar da cadeia e lidar com meu
veículo apreendido. Honestamente, eu não sabia o que ia
fazer. Não tenho família aqui e ainda não fiz amigos.”

Outra desvantagem de ser uma viciada em Netflix.

“Flint?”

“Sim.”

Everson sacode a cabeça. “Flint disse que eu o enviei?”

“Sim... bem, pensando bem, ele nunca disse seu nome,


só que estava protegendo seu garoto, o que não foi tão difícil
de entender, tinha que ser você. Eu suponho que ele é seu
RP? Agente? Assistente Pessoal?”

“Sim, Flint cuida de seu garoto, com certeza.”

“Sortudo.”

“Não exatamente, mas não importa. Você é fã de Twins?”


Ele segura uma entrada. “O jogo começa em uma hora.
JEWEL E. ANN

Sugiro que cubra a perna, passe protetor e compre um boné


para colocar assim que chegar lá.”

“Do que você está falando?”

“Minnesota Twins. É beisebol.”

“Eu sei quem são os Twins, estou falando do resto. Por


que você está me oferecendo um ingresso e dizendo para
cobrir minha perna e...”

“Eu não posso ir. Pensei em oferecer a você por ajudar


Shay, mas depois do frenesi da mídia, acho melhor não
chamar mais atenção hoje.”

“É um ingresso.”

Ele ri. “Melhor lugar do estádio e você está ficando


gananciosa comigo?”

“Eu não conheço ninguém lá.”

“Você conhece sim.”

“Eu conheço... Cage? Ele vai? Você está falando sério?”

“Pegue.” Ele sorri, entregando-me o ingresso. “Vá se


arrumar e saia daqui.”

Pego o ingresso. “A namorada dele? Ela estará lá?”

Ele caminha em direção a sua porta e dá de ombros.


“Haverá muitas mulheres lá. É uma oportunidade, Stick. O
resto é com você.”

“Everson?”

Ele se vira antes de fechar a porta.

“Obrigada.”

Ele assente. “Para registro, eu tinha planejado vir


buscá-la pessoalmente, mas algo surgiu.”

Sorrio e fecho a porta.


JEWEL E. ANN

“EEEEH!” Everson me ouve, inferno, todo o bairro


provavelmente me ouve, mas não me importo. Em uma hora
verei Cage novamente. “Uma hora. Merda! Tenho que me
arrumar.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO SEIS

Namorado Traidor

Da prisão para a cabine vip em um jogo de beisebol. Não


é ruim. A perna robótica de Thaddeus fica aposentada
durante a noite. Peguei uma das minhas belas pernas
protéticas que servem sob meu jeans e botas altas. Em
termos de conforto, é como sair de um Cadillac para um Ford
Escort, mas Everson está certo; eu não poderia aparecer com
minha perna de super-herói que se destaca em qualquer
multidão, não depois de ter sido colada em toda a Internet
mais cedo naquela manhã.

Puxo meu cabelo para trás em um rabo de cavalo e


compro um boné dos Twins antes de ir para a cabine. Meu
nervosismo elimina minha confiança. Eu poderia muito bem
estar nua. A vibração na boca do estômago causa uma leve
sensação de náusea. Tento molhar meus lábios, mas minha
boca está muito seca. Quando o guarda me deixa entrar na
cabine, quase desmaio de falta de ar e palpitações cardíacas.
Se eles tivessem me pedido para cantar o Hino Nacional antes
do jogo, eu não ficaria tão nervosa como estou quando o vejo.

As costas de Cage estão para mim quando ele fica de pé


junto às grandes janelas com vista para a varanda privativa e
uma vista espetacular do campo. Sua camiseta preta de
manga comprida o abraça do jeito que eu quero abraçá-lo; o
ciúme que sinto por suas mãos enfiadas nos bolsos traseiros
de seu jeans escuro é um pouco doentio. O cara de cabelos
castanhos que está ao lado dele olha para mim primeiro.
Então Cage olha por cima do ombro como se quisesse ver o
que chamou a atenção de seu amigo.

Dou um pequeno aceno como uma miss, depois abaixo


minha mão e a fecho em punho para tentar conter os
JEWEL E. ANN

tremores. Ele se aproxima de mim, colocando a tampa de


volta na garrafa de água.

“Prisioneira.”

Sorrio.

Ele sorri tanto que meu coração explode. Amo o jeito que
o cabelo bronzeado escuro cai sobre a testa, como se ontem
estivesse muito curto e amanhã muito longo, mas hoje está
perfeito. Amo seus olhos azuis que refletem os meus. Mais do
que tudo, amo como, com um olhar, ele acalma meu
nervosismo.

“Acho que, para ganhar o título oficial de prisioneira,


teria que ser uma reincidente. Esta manhã foi minha
primeira prisão.”

Ele assente, roçando os dentes ao longo do lábio inferior.


“Bem, a noite ainda é uma criança.” Ele puxa a ponta do meu
boné.

Sinto entre minhas pernas. O cara me deixa molhada só


de tocar no meu boné de beisebol. Na realidade, ele me deixa
molhada só de existir.

“Engraçadinho.” Reviro os olhos.

“Suponho que Everson lhe deu seu ingresso?”

Levanto o rosto. “Sim.”

“Então você segue mais o beisebol do que o futebol?”

Inclino minha cabeça para um lado e depois para o


outro enquanto franzo os lábios. “Eu diria que sim.”

Ele ri. Sim, também amo isso.

“O que você vai beber hoje à noite?”

Dou de ombros. “Provavelmente apenas água pois estou


dirigindo.”
JEWEL E. ANN

“É água.” Ele anda até a área do bar para me pegar uma


água.

“Obrigada.” Abro a garrafa e tomo um pequeno gole.

“Então você conhece mais alguém aqui?”

Nada como ser colocada em seu lugar. No entanto, a


resposta ‘Não, só vim aqui para fazer você me amar’, não
parece apropriada.

“Hum... reconheço algumas pessoas da festa de


aniversário de Everson.”

“Sim? Com quem você falou lá?”

“Oh, bem...” O calor sobe pelo meu pescoço até que


posso senti-lo arder minhas bochechas.

A multidão explode em aplausos. Nós dois olhamos pela


janela.

“Você quer sentar lá fora?” Cage pergunta.

“Claro.” Qualquer coisa. Quero fazer literalmente


qualquer coisa, além de discutir quem conheci ou não em
uma festa para a qual não fui convidada, mas acabei lá
porque minha gata assustadora fugiu.

Nós nos sentamos e Cage me apresenta a alguns de


seus companheiros de equipe e suas esposas, que
naturalmente não conheci na festa de Everson.

“Então, como vocês se conheceram?” Brea, uma das


esposas, me pergunta enquanto Cage e o marido conversam.
Ela deve ter pensado que estamos aqui juntos. A maneira
como me encara com o lábio inferior saliente em uma
expressão de coitadinha me diz que ela também acha que eu
pareço menos do que apresentável em comparação com todas
as outras mulheres presentes. Com o cabelo para trás e o
boné puxado para baixo na cabeça para sombrear meu rosto,
JEWEL E. ANN

parece que minha próxima parada pode ser roubando uma


loja de conveniência.

“É uma história longa e realmente estranha, mas


aconteceu por acaso há vários anos e não nos víamos desde
então, até nos encontrarmos na festa de aniversário de
Everson.”

Ela se inclina perto de mim, olhando além das sombras


do meu chapéu. “Oh meu Deus, você é aquela mulher da
gata!”

Lá está, aquele rótulo que ficará para sempre.

“Você tinha aquela gata que parecia... como e... uh...”

Eu a deixo atrapalhar em suas palavras. Se ela pensa


que vou ajudar e admitir ser a mulher da gata, ela está muito
errada.

Cada nervo ao longo da minha pele dispara arrepios


quando o hálito quente de Cage banha minha orelha. “Brea e
seu marido, Michael, gostam de encenar durante o sexo. Ela
prende o cabelo em um penteado que parece uma colmeia e
ele chupa uma chupeta e a chama de mamãe.” Ele sussurra.

Eu sorrio. Brea nos lança um olhar curioso. Então eu


sorrio um pouco mais e simplesmente não consigo parar. Ela
balança a cabeça e volta sua atenção para o jogo. Cubro
minha boca com a mão, mas o riso continua. Cage coloca o
braço em volta dos meus ombros e me puxa para seu peito
para ajudar a esconder meu acesso de riso.

“Eu estava apenas brincando.” Ele ri.

“O quê?” Eu me levanto.

“Shh...” Ele sorri, batendo o lado do dedo sobre os


lábios.

Ao mesmo tempo, nossos sorrisos desaparecem. Não sei


o que é para ele. Imagino que pensamentos sobre sua
JEWEL E. ANN

namorada vem à mente. Para mim, é meu corpo registrando


completamente o braço dele em volta dos meus ombros,
minhas mãos segurando sua camisa e nossos rostos a poucos
centímetros de distância. A ponta do meu boné roça sua
testa. Não é uma boa ideia olhar para os lábios dele, mas não
posso evitar, porque ele olha para os meus. Afasto-me um
centímetro e vejo o pomo de adão dele balançar enquanto
engole em seco.

Por que eu me sinto tão confortável com ele me tocando


e eu tocando ele? Tivemos breves interações em três ocasiões
diferentes ao longo de mais de três anos, mas o beijei pela
primeira vez, tirei uma selfie pateta e feminina na segunda e
fiquei muito perto dos lábios na terceira vez. O problema é
que não parece muito próximo.

Solto a camisa dele e me sento direito. Ele tira o braço


de mim. Ficamos em silêncio por alguns minutos, olhando
para o campo. Eu pulo quando seu ombro bate no meu
enquanto ele se inclina em minha direção.

“Brea estava sendo uma vadia chamando você de


mulher da gata. Eu só queria ver você sorrir de novo, então
inventei essa merda.” Ele sussurra.

Mantendo meus olhos focados no segundo jogador


consecutivo a atacar, eu assinto. “Foi uma merda engraçada.
Muito bom para você.” Sorrio irritada e pelo canto do olho,
posso vê-lo sorrindo também.

Leva tudo o que tenho para não perguntar sobre a


namorada dele. Eu não quero chamar sua atenção para o fato
que sei que ele tem uma namorada. Afinal, ele não me
apresentou a ela na noite da festa de Everson.

“Então... nunca morei em Nova York.”

“O que?”
JEWEL E. ANN

Meus olhos continuam focados no jogo. “Em Omaha, eu


te disse que era de Nova York. Meu irmão Luke e eu
estávamos procurando ‘Jillian’, e ela estava em perigo... nós
também estávamos em perigo. Eu sou de Tahoe e me mudei
para cá de São Francisco...”

“Ela me ligou. Jillian... ela me ligou.” A voz de Cage


corta minha linha de pensamento.

Eu não sabia disso. Nossa família raramente discute o


tempo de Jessica/Jillian em Omaha. Ela fingiu sua morte e
se apaixonou por outro homem. Ela e Luke passaram muitos
meses em aconselhamento para reconstituir o relacionamento
depois que tudo acabou. Por mais que eu quisesse perguntar
a ela sobre Cage, nunca perguntei. Eu amo Jessica e Luke
demais para mencionar qualquer coisa relacionada a esse
momento de nossas vidas.

“Então ela te contou tudo?”

“Ela não me disse praticamente nada. Ela até ofereceu,


mas eu não queria saber sobre sua nova vida. Eu sei que isso
parece ruim, mas simplesmente não consigo lidar, com nada
disso.”

“Ela é minha cunhada agora.”

“Não...”

Eu olho para ele.

Ele força um sorriso de desculpas. “Eu sinto muito. Eu


não quero saber. Ainda não, apenas... ainda não.”

Eu assinto. “Entendo.” É a verdade, mas ainda me deixa


triste. Faz três anos, mas suas feridas ainda estão abertas. É
como se ele simplesmente as enterrasse sem nenhum tipo de
ponto final, e elas sempre parecem novas já que ele as ignora.
Do meu jeito, eu realmente entendo. Afinal, ainda não posso
passar um dia sem pensar: Ben morreu e eu vivi.
JEWEL E. ANN

Não conversamos pelo resto do jogo. Em um minuto,


sinto os acontecimentos de nosso passado como uma parede
entre nós, e no minuto seguinte sinto um puxão ― uma
tensão sexual. Para ser honesta, pode ter sido apenas eu.
Ficar muito tempo sem sexo, ter Everson como vizinho e
assistir Charlie Hunnam nu não ajuda em minha situação.

Os Twins estão ganhando, então a multidão começa a


diminuir antes do final. Acho que é melhor eu escapar
também. Cage voltou para dentro. Enquanto eu caminho até
ele, vários caras me dão um aceno e dizem: “Oi.” Paro atrás
de Cage, me sentindo uma tola porque quero dizer adeus,
mas não quero interromper sua conversa. Finalmente, um
dos caras em seu pequeno círculo acena em minha direção e
Cage se vira.

“Desculpe, não estou tentando interromper. Estou indo


embora e só queria me despedir.”

“Oh, o jogo não acabou. Você tem um encontro quente


ou algo assim?” Cage meche as sobrancelhas.

Sim, Charlie nu, mas depois do encontro com o homem


dos meus sonhos, vou assistir Charlie, mas pensar em Cage
enquanto me toco. Naquele momento, rezo para que ele não
possa ler minha mente imunda.

“Mais como um vício em Netflix.” Dou de ombros. “Isso é


o que nós, mulheres dos gatos, fazemos.”

Depois de me observar por alguns instantes, talvez para


ver se estou apenas brincando ― infelizmente não estou ― ele
volta para seus amigos. “Estou indo. Falo com vocês na
próxima semana.”

Há alguns protestos, mas ele ignora.

“Está pronta?”

“Pronta?”
JEWEL E. ANN

“Para ir?”

Balanço minha cabeça. “Você não precisa ir também.


Posso encontrar a saída muito bem.”

“Tem certeza? Porque a última vez que te vi saindo de


um edifício, você estava algemada.”

“Um cara tão engraçado.” Eu sorrio.

“Um sorriso tão bonito.”

Isso não é o que eu esperava que ele dissesse. Seu rosto


não tem um pingo de arrependimento. Como ele pode me
dizer isso sem pensar nela? Quero a atenção dele, mas com
ele em pé na minha frente, dando-a tão livremente, não sinto
nada além de culpa. Não é um beijo ou qualquer coisa física,
é um elogio, mas esse elogio naquele momento parece tão
íntimo quanto seus lábios nos meus ou a mão dele roçando
meu peito. Não que eu tenha pensado na mão dele no meu
peito... com quem estou brincando? Claro que pensei na mão
dele no meu peito.

Preciso fazer a coisa certa.

“Ok, vou deixar você me escoltar do prédio.” Isso não é a


coisa certa.

Cage ri. “Parece tão formal, mas tudo bem, vamos lá.”
Ele acena com a cabeça em direção à porta.

É formal. Tem que ser formal.

Sem toque.

Sem flerte.

Nada de beijos.

Nada de roçar em meus seios.

Ele pressiona a mão nas minhas costas e, assim, quebra


a regra número um. Chegamos ao andar mais baixo antes
JEWEL E. ANN

que alguém o pare para um autógrafo e uma foto. Continuo


andando como se não estivéssemos juntos.

Ele puxa meu rabo de cavalo quando saio do prédio.


“Você não tem que fugir de mim.”

Dou de ombros. “Eu não fugi. Esta não é minha perna


de corrida, é minha perna sexy. Quero dizer...”

“Sua perna sexy, hein?”

“Não. Eu não quis dizer isso dessa maneira, como se eu


fosse sexy. É a que mais parece uma perna de verdade, não
que você possa vê-la com meu jeans e botas cobrindo. É a
perna que me faz sentir sexy. Ah!” Balanço a cabeça e tento
dar alguns passos à frente dele para que ele não veja meu
rosto corado.

“Isso também parece ruim. A perna realmente não faz


nada para me fazer sentir sexy, ela não vibra ou algo
estranho assim. Não que eu esteja sugerindo coisas quem
vibram e que me façam sentir bem.”

“Não está?” Ele ri.

Abro a porta e me viro antes de entrar. “Estou tão


envergonhada.” Batendo as mãos no rosto, inclino o queixo
para baixo.

“Eu acho que você é refrescante.”

Algumas fãs começam a se aproximar do meu veículo,


canetas e telefones com câmera na mão. Puxo a ponta do
meu boné. Cage abre minha porta e subo no banco do
motorista. Ele bloqueia a visão deles de mim com seu corpo
grande e depois me esconde.

“Me dê seu número, Lake.”

Por que ele tem que destruir a imagem perfeita que eu


tinha dele? O homem dos meus sonhos não é um traidor.
JEWEL E. ANN

“Eu não posso.”

“De novo?” Ele ri, balançando a cabeça.

Anos atrás, quando ele pediu meu número, eu disse a


mesma coisa, mas por razões diferentes ― vivia em risco e
todo esse rolo.

Suspiro. “Eu gosto de você. Gostei de você por mais


tempo do que provavelmente é saudável, dada a quantidade
mínima de tempo que passamos juntos, mas gosto de ganhar
o cara de forma justa e honesta. Não quero ser um
segredinho sujo. E se você está disposto a trair uma garota,
então você está disposto a trair qualquer garota, e isso me
deixa triste porque tenho você neste enorme pedestal desde
que nos conhecemos. Agora que você me pediu o meu
número, você acabou de descer um pouco e, embora ainda
seja incrivelmente sexy ― excessivamente sexy ― acho que o
que você está tentando fazer aqui é feio.”

“Cage, podemos pegar seu autógrafo?” Uma das fãs


pergunta, parada diretamente atrás dele.

Ele se vira, não parecendo nem um pouco chateado com


a invasão delas, e autografa uma bolsa, um boné e uma
camisa, embora não no busto onde a espertinha pediu que
assinasse. Depois de algumas fotos rápidas, elas saem entre
gritos e risadinhas.

“Então...”, ele se vira para mim, “... você não vai me dar
seu número de telefone desta vez por causa da minha
‘namorada’?”

Eu concordo. “Não me interprete mal. Eu nem gosto


dela. Na noite da festa de Everson, ela agiu como se Trzy
fosse uma praga e qualquer um que não goste de Trzy
provavelmente não vai gostar de mim, então ela pode
engasgar até morrer por sua generosidade por tudo que me
importo, mas isso ainda não significa que quero roubar o
namorado traíra dela.”
JEWEL E. ANN

Cage estreita os olhos um pouco. Por que ele tem que


cheirar tão bem? É como estar sentada à mesa olhando a
minha sobremesa favorita e listando todas as razões pelas
quais eu não deveria comer. Eu quero comê-lo? Sim, é o que
pensei. Quero comer esse cara.

“Trzy é sua gata?”

“Uh huh.”

“E eu sou o namorado traíra?”

Dou de ombros, dando-lhe uma careta.

Ele assente lentamente, os olhos me encarando com um


mundo de pensamento por trás deles. “Bem, eis a questão: eu
não tenho namorada, então você vai me dar o seu número ou
vai me beijar de novo. Como vai ser?”

Poof. Lá se vão minhas calcinhas.

Dois grandes goles depois... “Ela não é sua namorada?”

“Ela era.”

“Mas ela não é mais?”

“Ela não é.”

“Por quê?”

Ótimo! Ele está disponível. É demais para aguentar. Por


dentro morro um pouco. Há uma chance de noventa e nove
por cento de eu perder minha segunda chance em uma das
minhas duas, o que é um fenômeno matemático.

Ele sorri. “Você é curiosa.”

“Eu sou.” Mordo meus lábios.

“Não tínhamos nada tão sério, e eu queria pedir o


número do telefone de Lake Jones sem ser um namorado
traidor.”
JEWEL E. ANN

Eu continuo a morder meu sorriso, sempre com a minha


necessidade de correr, pular e gritar. Por fora, permaneço
como a Islândia. Ok, talvez não a Islândia, porque há lugares
mais legais do que a Islândia.

Antártica. Eu sou tão legal assim.

“Escolha.”

“Você escolhe.” Meu sorriso escapa antes que eu possa


contê-lo.

Cage inclina a cabeça em direção à minha. O beijo, ele


quer o beijo. Todo o ar é sugado para fora do carro. Meus
pulmões ligam para a emergência, enquanto o galope do meu
coração torna impossível ouvir qualquer coisa, exceto meu
próprio pulso. Fecho os olhos.

“Eu quero o seu número”, ele sussurra sobre os meus


lábios sem tocá-los.

Que sádico. Minha libido se inflama. Eu precisarei de


uma limpeza 5 em 1 para limpar do meu assento de couro
mais tarde.

Meus olhos se abrem. Os dele brilham com diversão.

“Meu número?”

Ele assente, sem se afastar um centímetro do meu rosto


como se tivesse me desafiando a beijá-lo.

“Eu não vou te beijar”, sussurro. Empurrá-lo no banco


de trás e fazer sexo com ele é outra coisa, mas eu poderia
fazer isso sem beijá-lo.

“Não?”

“Não.”

Ele volta e meus pulmões gritam SIM! enquanto


respiram. Cage pega o telefone do bolso, destrava e entrega
para mim.
JEWEL E. ANN

“Estou viajando para Pequim em alguns dias.” Digito


meu nome e número em seus contatos.

“Realmente? Por quê?”

Devolvo o telefone para ele. “É trabalho. Em termos


leigos, eu testo protótipos de robôs. A empresa tem
engenheiros em todo o mundo que fazem protótipos para
amputados. Jerry Chu, 28 anos e pouco mais de um metro e
oitenta e com uma predileção em responder a todas as
perguntas com ‘excelente’ ou ‘você verá’, tem dois novos
protótipos para mim ― um para nadar e outro para escalar
rochas. Então, basicamente, eu vou para a China nadar e
escalar.”

“Você escala?”

“Eu faço um pouco de tudo. Foi por isso que meu chefe,
Thaddeus Westbrook, me contratou. Membros diferentes para
atividades diferentes que não são novidade, mas são únicos.
Eles ‘sentem’ ou respondem aos meus reflexos musculares.
Você poderia chamá-los de membros inteligentes, com sorte.
No entanto, o que eu estava usando essa manhã era muito
inteligente para o seu próprio bem quando pousou na canela
do segurança.”

“Prisioneira.” Ele sorri.

“Cale a boca.” Meus olhos se voltam para os lábios dele,


implorando que ele me beije.

“A sua prótese sexy também é inteligente?”

Eu sorrio enquanto esfrego minha mão sobre ela. “Não,


ela não tem noção. As inteligentes não são sexy. Thaddeus
diz que funcionalidade vem antes da beleza. Ele espera um
dia tornar obsoletas as deficiências físicas.”

“Grandes sonhos.”

“Sim, mas ele é muito esperto, então não duvido dele.”


JEWEL E. ANN

Cage enfia o telefone no bolso. “Bem, boa viagem.”

Eu sorrio. “Obrigada.”

Espero ele fechar a minha porta, mas Cage apenas olha


para mim. Ninguém me olha como Cage Monaghan. Pensei
isso na primeira vez em que nos vimos e, anos depois, ainda
parece o mesmo. Ele olha para mim como as pessoas olham
para filhotes, arrulhando bebês, pôr do sol com vista para o
mar e... milagres.

Nem um pouco de piedade.

Nenhuma reserva.

Nem um indício de nada, mas com total admiração.

“Eu vou te ligar.”

“Até parece.” Reviro os olhos. “Você não vai se lembrar


de mim pela manhã.”

“Não vou me esquecer de você nem quando estiver


morto.” Ele fecha a porta.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO SETE

Esfregando um Patinho de Borracha

Alguns dias depois um familiar bang bang bang me tira


do melhor sonho, um com um quarterback sexy da NFL que
pode ou não estar vestindo qualquer roupa.

“Trzy, atenda a porta. Preciso terminar o meu sonho.”

Miau

“Você é realmente inútil, sabe disso, certo? Mas eu


também te amo.”

As batidas continuam enquanto caminho para o olho


mágico, mas sei que é Everson. Ele tem a batida mais
estranha: bang bang (dez segundos depois) bang bang bang
bang. O mesmo padrão continua sem variação. O cara sabe
que tenho que me montar antes que possa abrir a porta.

“Sim, eu vou me casar com Cage.”

Everson sorri ― o sorriso grande que eu amo. É melhor


porque sei que ele não quer admitir que realmente gosta de
mim. Ou que se diverte comigo ― a mesma coisa.

“Monaghan é casado com a equipe. Ele não vai se casar


tão cedo, se souber o que é bom para ele. Distração demais.”

“Bom dia para você também.” Cruzo os braços sobre o


peito.

“É quase meio-dia, Stick.”

“Eu tive uma farra até tarde da noite.”

Ele levanta a mão. “Eu não preciso ouvir sobre você e


suas aberrações.”
JEWEL E. ANN

“Sons of Anarchy até 2 da manhã dificilmente está me


deixando louca. O que você quer?”

“Condicionador.”

Meu olhar muda para o cabelo curto e ondulado. Ele


revira os olhos.

“Ooohhh...” Eu falo. “Você tem uma amiga que ficou


para passar a noite.”

“Uma amiga? Sério, Stick? Ninguém diz isso. E não, não


é isso.”

“Antes de tudo, acabei de dizer, então você não pode


dizer ‘ninguém’ diz. Eu sou alguém, sabe? E quanto ao stick...
vi uma foto da mãe de Shayna ― sua mãe.”

Sua sobrancelha atinge o pico.

Eu estreito meus olhos, mas ele ignora meu gesto.

Depois de alguns segundos de silêncio que ele se recusa


a preencher com o assunto de sua mãe, suspiro. “Se o
condicionador não é para cabelos, eu tenho uma boa ideia do
que você fará com ele e eu lhe darei um pouco. Eu uso um
bom condicionador. Tenho certeza de que algum tipo de óleo
de cozinha funcionaria tão bem. Você já pensou em tentar
isso?”

Everson sacode a cabeça. “Site pornô ou não, você é


uma aberração, mulher, ponto final.”

“Evson?”

A porta do apartamento dele se abre.

Fico tão perto de explodir em lágrimas. Eu não consigo


nem falar além do nó na garganta.

“Não sei ao certo quais são as regras para ajudá-la a


tomar banho. Sou um cara, o irmão dela, não o pai dela e...”
JEWEL E. ANN

Eu balanço minha cabeça até que ele para de falar,


então eu assinto. “Cuidarei dela”, engasgo, piscando de volta
minhas lágrimas.

“Pegue suas roupas”, ele diz a ela, em seguida, vira-se


para mim quando a menina volta para dentro de seu
apartamento. “Não me olhe assim. Não estou fazendo
nenhuma promessa. Um dia de cada vez. É tudo o que tenho
para dar. Não se apegue muito a ela, Stick. Entendeu?”

Concordo, completamente mentindo. Shayna já me


ganhou desde o seu primeiro sorriso.

*
Enquanto Shayna brinca na banheira, sento na bancada
e rolo meus e-mails procurando minha confirmação de voo.
Meu telefone vibra e uma mensagem de texto aparece na
parte superior da minha tela.
Este sou eu querendo ligar para você, mas não estou sozinho. Oi.

Não perco tempo e logo estou inserindo o nome do meu


futuro marido em meus contatos com o número da
mensagem de texto.
Lake: Oi. É rude me mandar uma mensagem com outra pessoa na sua cama.

Cage: É tarde. Quem ainda está na cama?

Lake: Não importa.

Cage: O que você está fazendo?

Lake: Dando banho na menina mais fofa.

Cage: Você tem uma filha?

Lake: Não. Ela é de Everson.

Cage: Banks tem uma filha?

Lake: Não. É a irmã dele. Longa história e você não ouviu isso de mim.

Cage: Claramente, já que você não me contou a história.


JEWEL E. ANN

Lake: O que você está fazendo?

Cage: Recebendo uma massagem.

Lake: Vida difícil.

Cage: Não é uma massagem de spa. Terapia esportiva.

Lake: Não está fora de temporada?

Cage: Eu ainda treino na baixa temporada.

Lake: Queridinho do treinador.

Cage: Foi o que ouvi.

Eu sorrio. Shayna ergue os olhos da banheira


ensaboada e sorri.

“Você está pronta para se enxaguar e sair?”

Ela balança a cabeça.

Dou de ombros. “Ok, mas a água não ficará quente para


sempre.”

Ela pega um dos copos de plástico que eu lhe dei e joga


dentro do coador da minha cozinha.
Cage: Quando você viaja para a China?

Lake: Amanhã de manhã.

Cage: Precisa de uma carona para o aeroporto?

Lake: Não. Meu chefe paga pelo estacionamento.

Cage: ―pigarreando― Você quer que eu a leve ao aeroporto?

“Eu amo esse cara”, sussurro para mim mesma


enquanto meu coração palpita no peito no mesmo ritmo das
borboletas no estômago.
Lake: Você teria que acordar cedo demais.

Cage: Você ainda não respondeu minha pergunta.

Lake: O sol ainda não terá nascido.


JEWEL E. ANN

Cage: E???

Prendo meus lábios entre os dentes e respiro fundo.


Lake: Eu adoraria que você me levasse ao aeroporto.

Cage: A que horas?

Lake: Meu voo sai às 10:05, então você precisa estar aqui às 7:30.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO OITO

O beijo

CAGE

Eu não posso conter meu riso. Ela pensa que 7:30 da


manhã é cedo.

“Algo engraçado?” Kevin, meu massoterapeuta, pergunta


enquanto pressiona com força minhas panturrilhas.

“Sim. Vou levar uma amiga para o aeroporto de manhã e


ela acha que ainda está escuro às 7:30. Eu me pergunto a
que horas normalmente acorda.”

“Amiga? Uma mulher?”

“Oficialmente sim. Ela é uma amiga.”

“Extraoficialmente?”

Olho para a tela do meu telefone. “Extraoficialmente,


não consigo parar de pensar nela. Eu a conheci logo depois
que meu pai morreu. Foi apenas um dia, mas ela deixou uma
ótima impressão em mim. Eu a vi na festa de aniversário de
Banks. Ela mora no apartamento em frente ao dele e... eu
não sei.” Balanço minha cabeça.
Cage: Como você gosta do seu café?

Lake: Gosto de chá, mel ― sem leite.

Cage: Vejo você de manhã. Posso até trazer o sol comigo.

Lake: Eu temo que você esteja tirando sarro de mim.

Cage: Nunca.

“E Kelsey?”
JEWEL E. ANN

“Eu terminei com ela na noite da festa. Não tínhamos


nada tão sério, então não houve nenhum drama ou coisa
assim. Mas foi impulsivo e não sou impulsivo. Eu vi essa
garota segurando o gato mais feio do mundo, e ela estava
louca por todo o lugar, mas eu a achei muito sexy.” Sorrio só
de pensar nisso. “Ela não acompanha futebol, então não
tinha ideia do que eu faço.”

Por alguma razão, gosto que ela não seja uma fã de


futebol.

“Ela correu para o apartamento dela e pegou uma


caneta e uma caixa de cereal barata e depois me pediu para
autografar a caixa.”

Kevin ri. “Isso deve ter sido um golpe no seu ego, como
se ela estivesse tentando reconhecer sua fama para não
ofendê-lo.”

“Na verdade, teve o efeito oposto em mim. Ela não


parece do tipo que tenta impressionar ninguém, mas é uma
das pessoas mais impressionantes que já conheci. Louca,
mas impressionante. De qualquer forma, ela estava saindo
para ir a um encontro e mexeu com minha cabeça. Tentei
aproveitar a festa, levei Kelsey para casa e terminei.”

“Garotas brincando com a sua cabeça dois meses antes


da concentração de treinamento provavelmente não são a
melhor coisa para alguém no seu lugar.”

Jogando o telefone na minha bolsa, descanso minha


cabeça na mesa e fecho os olhos. “Você provavelmente está
certo.”

*
JEWEL E. ANN

LAKE

Mais bang bang bang, só que em um ritmo diferente.


Não é Everson. Por que uma garota não consegue dormir um
pouco decentemente?

Miau

“Miau para você. Atenda a porta. Impressione-me. Não


deixo minha deficiência me segurar.” Rolo em direção ao meu
relógio. As manhãs não são para mim. Meu cérebro se recusa
a funcionar corretamente até o meio dia.

“Merda!” A mala meio cheia no chão dá uma sacudida


rápida na minha memória. “Merda, merda, merda... estou tão
atrasada. Por que meu alarme não tocou? Por que você não
me acordou, Trzy?”

Eu me arrasto para a porta.

Olho.

O olho mágico.

Merda, merda, merda!

Abro a porta. Não há um segundo sequer para olhar


para o homem dos meus sonhos diante de mim em um jeans
azul escuro e uma camisa azul que combina com seus olhos,
mas eu pego o segundo de qualquer maneira.

“Você me disse 7:30, certo?”

Pulo do meu transe. “Sim, uh... dormi demais. Entre.”


Corro de volta para o meu quarto. Não há tempo para tomar
banho.

“Qualquer coisa que eu possa fazer?” Cage chama.

“Alimente Trzy. A tigela está no chão, a comida está no


armário perto da geladeira. E se você não se importa de tirar
JEWEL E. ANN

a merda da caixa de areia dela, está na lavanderia. O saco de


lixo está embaixo da pia.”

Quando decido impressionar um cara, me esforço


bastante.

O pior dia para dormir demais? O dia em que voo para a


China e o gostosão da NFL me oferece uma carona. Eu jogo
junto e não é bonito. Então jogo o resto das minhas coisas
nas malas. Quando chego à cozinha, Trzy está com o nariz
enterrado no prato de comida e Cage espera na porta com
uma faísca de diversão iluminando seu rosto.

Dou a ele um sorriso fraco e muitas desculpas. “Estou


ciente de que acabei de cruzar uma linha pedindo que você
recolha cocô de gato para mim, mas a Sra. Leonard do 2A
acabou de fazer uma cirurgia nas costas; ela vai alimentar
Trzy para mim, mas não quero que ela tenha que tirar o cocô,
então acho melhor deixar a caixa limpa esta manhã.”

“Está bem.”

Checando duas vezes se meu passaporte está na bolsa,


balanço a cabeça. “Não está bem. Não sei como consigo
dormir demais o tempo todo, e você acordou mais cedo para
fazer isso por mim esta manhã...”

“Eu acordo antes das seis todas as manhãs. Já corri,


tomei banho e tomei café da manhã.”

Olho para cima, jogando a bolsa por cima do ombro.


“Uau, você deve ir para a cama muito cedo.”

Cage encolhe os ombros. “Onze na maioria das noites.”

“Cedo.” Levo minhas duas malas para a porta.

“Onze é cedo?”

“Um pouco, mas o que eu sei? Pronto?”


JEWEL E. ANN

Ele pega minhas malas enquanto me despeço de Trzy e


tranco a porta.

“Seu apartamento ― a decoração é muito legal. Você


contratou alguém?”

“Não.” Eu sorrio enquanto o elevador desce. “Eu adorava


moda, decoração, design... todas essas coisas artísticas. Foi
isso que comecei a estudar na faculdade antes do acidente.”
Sorrio. “Sapatos. Eu adorava sapatos ― sapatos sexys,
bonitos, que ferram seus tornozelos e quebram os dedos. Eu
gastava todo salário em sapatos. Estúpida.”

Balanço minha cabeça. “É louco como a vida coloca as


coisas em perspectiva. Minha mãe pegou todos os meus
sapatos elegantes após o acidente. Eu não conseguia nem
olhar para eles. Então um dia...”, dou a ele um olhar tímido
enquanto saímos do elevador, “… conheci esse cara. Foi
apenas um dia, mas ele mudou meu mundo inteiro. Ele era o
cara por quem as garotas venderiam suas almas, e ele flertou
comigo e depois me beijou. E mesmo receando nunca mais
vê-lo, fui embora com essa louca confiança de ter perdido
totalmente o dia do acidente. Eu queria uma nova perna,
uma que eu pudesse usar com salto alto e que pudesse
pintar as unhas dos pés. E sapatos... eu queria sapatos sexys
novamente.”

Cage abre a porta da frente do prédio. “Eu? Era eu?”

Eu balanço a cabeça com um sorriso enorme. “Sim.”

Ele balança a cabeça com um sorriso que rivaliza com o


meu. “Isso é... tão louco.”

Estacionado em frente ao prédio está a mesma


caminhonete que ele usava em Omaha.

“Uau. Você ainda tem essa caminhonete? Nenhum carro


esportivo ridiculamente caro para o Sr. NFL?”

Cage coloca minhas malas no porta-malas. “Ainda não.”


JEWEL E. ANN

Ele me lança uma careta quando não espero que abra


minha porta. Dou de ombros com um sorriso. Quando ele
entra, aperto o cinto de segurança, ajusto o cinto e puxo-o
várias vezes. Então, estendo a mão e dou um puxão firme no
cinto de segurança dele. É instinto. Ele olha para mim com os
olhos estreitados por um momento. Olho para frente.

“Aqui.” Ele puxa um copo com suporte entre nós. “Chá


com mel, sem leite.”

Minha boca diz obrigada, mas meu coração diz eu te


amo. Meu cérebro foi removido da equação.

“De qualquer jeito...”, ele continua afastando-se do


meio-fio, “… não posso trocar minha caminhonete até não
poder mais imaginar o rosto de desaprovação de meu pai. Ele
era o epítome da prática. Já sei que estarei de castigo na vida
após a morte pela casa que comprei e, comparada com a casa
de outros jogadores, é bastante conservadora.”

“Tão conservadora quanto a de Everson?”

Ele ri. “Vocês dois moram em apartamentos de luxo,


com ênfase no luxo. Tudo o que posso dizer é que testar
próteses deve pagar muito bem.” Ele me dá um rápido olhar
de soslaio.

Eu sorrio.

“Everson tem mais um ano antes de se tornar um


agente independente. Não tenho dúvida de que vamos mantê-
lo, mas ele tinha uma oferta em sua mansão ― e era uma
mansão ― então ele a vendeu e alugou o apartamento até
saber com certeza onde estará em mais um ano.”

“É difícil estabelecer raízes como atleta profissional.”

“Depende. Alguns jogadores permanecem no mesmo


time por toda a carreira.”

“É isso que você espera fazer?”


JEWEL E. ANN

“Claro. Se estou em um bom time e estou jogando, esse


é o sonho.”

Eu concordo. Depois de alguns minutos, ligo o rádio.


“Nenhuma entrada USB para o seu telefone aqui. Você é tão
antiquado nessa caminhonete. Hora de ficar pessoal. O que
está programado no seu rádio?” Dou a ele um sorriso
diabólico, ligo o rádio. “Country?” Faço uma careta.

Ele dá de ombros, mantendo os olhos na estrada, um


pequeno sorriso provocando seus lábios.

Pressiono o botão para a próxima estação pré-definida.


“Country.” Eu balanço minha cabeça e aperto o próximo
botão.

“Country.”

Próximo.

“Country.”

Próximo botão. “Oh! Graças a Deus. Pop-rock.”

“Fiquei sem estações Country nesta área.”

Eu sorrio. “Uau... então você é um garoto do campo.”

Cage sorri. “Não no sentido caubói, mas sim, gosto de


música country. Presumo que você não?”

“Gosto de alguns dos artistas, mas a maioria é


exagerada para mim e algumas das letras são tristes demais
― minha garota me deixou, meu cara me traiu, meu
caminhão tem pneus grandes e meu cachorro morreu.”

Ele tosse uma risada. “Porque o pau-rock é muito


melhor. Vamos ver... eu tenho certeza que a maioria dessas
músicas são sobre sexo, drogas, prostituição e pessoas ricas
comprando sucessos.”

O chá na minha boca tenta sair do meu nariz quando o


riso enche meu peito. “Pau-rock? Como... balançando o pau?”
JEWEL E. ANN

“Então você já ouviu o termo?”

“Não.” Sorrio um pouco mais. “Esse não é um termo


real.” Batendo meu dedo no console entre nós, dou de
ombros. “Mas pelo menos as vozes são sensuais, não
vibrantes.”

“Então não é o que diz a letra, é como diz?”

“Exatamente.” Minha cabeça balança em um aceno


exagerado.

“Então eu poderia te chamar de prostituta e dizer para


você se curvar enquanto cheiro uma carreira da sua bunda
doce com uma nota de cem dólares antes de te foder, se eu
dissesse na voz certa, isso parece sexy para você?”

“Até parece... não.” Reviro os olhos. Então, é claro, me


pergunto se o comentário da ‘bunda doce’ é literal ou apenas
um exemplo lírico.

Ok, pode ter parecido sexy para mim. Eu não vou pedir
para ele realmente dizer isso em sua voz mais sexy, mas com
certeza me deixou pensando nas músicas que eu gosto. Então
eu me concentro nas letras reais... sim, ele pode ter dito isso
para mim e me faz querer deixá-lo fazer isso. O setor religioso
está certo: a música está corrompendo as mentes jovens e eu
sou uma delas. Uma batida única e cativante pode fazer as
pessoas dançarem e celebrarem algumas coisas realmente
terríveis.

“Então...” Busco uma rápida mudança de assunto que


me faz sentir menos como uma vagabunda. “Thaddeus é
bastante rico. Ele tem toneladas de patentes em coisas além
da tecnologia robótica. Ele me paga bem, mas também recebi
uma indenização pesada do meu acidente. Também fui
fotografada para várias revistas fitness e de tecnologia. Thad
arruma tudo isso para mim. É uma boa publicidade para ele
também, e o dinheiro que vem dos lançamentos de fotos é
muito bom.”
JEWEL E. ANN

“Parece que você tem tudo a seu favor.”

Nem tudo.

Ele para no terminal da minha companhia aérea e tira


minha bagagem da parte de trás.

“Quanto tempo você ficará em Pequim?”

“Uma semana a dez dias. Depende da quantidade de


ajustes que serão necessários.” Dou de ombros. “Então, se
você estiver na área de Pequim, ligue para mim. Podemos
jantar ou algo assim.”

Cage sorri. “Claro, vou verificar minha agenda. De


alguma forma, acho que meus exercícios de seis dias por
semana, treinamento pré-temporada e pesca me impedirão de
estar no seu bairro.”

“Pescaria? Você pesca?”

“Minnesota é conhecida como A Terra dos Dez Mil Lagos,


é claro que eu pesco.”

Balanço a cabeça, imaginando Cage em um barco de


pesca, tentando ouvir música country. Surpreende-me o
quanto gosto desse visual. “É melhor eu ir. Quem sabe
quanto tempo levarei para passar pela segurança com
minhas peças de metal. Obrigada pela carona.”

“O prazer é meu.” Ele não se mexe.

Eu não me mexo.

Pelo que estamos esperando? Um beijo? Eu espero que


sim. Ele se aproxima de mim. Prendo a respiração. O chão
treme. As nuvens se abrem. Anjos tocam suas trombetas. Ok,
isso pode ser um leve exagero, mas por dentro é como me
sinto até o maior idiota do mundo tocar sua buzina.

“Aqui não é uma área de estacionamento”, ele grita pela


janela.
JEWEL E. ANN

Cage dá um passo atrás.

Não, não dê um passo atrás!

“Vamos trocar mensagens.”

Eu sorrio, mas parece mais uma careta. “Tchau.”


Virando, certifico-me de dar um olhar maligno para o idiota
antes de ir para a entrada.

*
Primeira classe. Thaddeus cuidou de mim, mas mesmo
com algum espaço extra e atenção extra, o voo será brutal.
Ninguém senta ao meu lado no voo para Seattle; só espero ter
tanta sorte no avião de Seattle para Pequim.

Com minha conexão de duas horas em Seattle, pego um


sanduíche, água e um saco de batatas fritas sabor churrasco,
depois tomo meu assento junto ao portão, apoiando as
pernas na mala de mão. Depois de saborear o sabor do
churrasco, tiro meu telefone do modo avião e uma mensagem
chega imediatamente.
Cage: Eu deveria ter te beijado. Sou estúpido.

“Por que, por que, por que!” Fecho os olhos quando meu
queixo cai no meu peito.

Quando os abro, várias pessoas ao meu redor me dão


aquele olhar de você está bem ou é apenas louca?

“Desculpe”, sussurro, em seguida, enfio o sanduíche na


minha boca, arrancando uma mordida do tamanho de uma
pessoa.
Lake: Eu não deixei o país. Em quanto tempo você pode chegar a
Seattle?

Lake: Você se lembra do nosso primeiro beijo?

Lake: Você virou a cabeça. Eu não ia te beijar na boca.

Lake: Obrigada por virar a cabeça. Melhor. Beijo. De sempre.


JEWEL E. ANN

Lake: Você ainda está aí?

Cage: Apenas sendo educado e ouvindo você.

Lake: Desculpe. Eu falo muito.

Cage: Eu notei, especialmente consigo.

Lake: Eu não falo comigo mesma.

Cage: Você fala. O dia em que nos conhecemos? Você nos levou ao
banheiro na casa do meu pai e ouvi você falando consigo mesma.

Ele me ouviu. Eu não posso acreditar que ele me ouviu.


Muito. Embaraçoso.

Depois de fechar a porta do banheiro, descansei minhas


mãos na beira da pia, olhando no espelho o rosto corado de
uma garota que não dera uma segunda olhada para um
homem desde o acidente. “Ele é lindo, Lake. Pare de pensar
nessa merda estúpida sobre um cara lindo que mora a milhões
de quilômetros de distância, e sim... ele naturalmente será
atraído por mulheres lindas com todos os seus membros
intactos.”

Talvez eu tivesse alguns problemas de autoestima logo


após o acidente.
Lake: Eu não falo comigo mesma. Às vezes apenas penso alto. Por
que você estava escutando meus pensamentos?

Cage: Haha, porque você pensa muito alto.

Lake: Eu tenho vergonha.

Cage: Por quê?

Lake: Porque você estava sofrendo por seu pai naquele dia. Eu me
solidarizei, mas isso não me impediu de desejar você também. Eu estava
sozinha e insegura.

Cage: E agora?

Ele faz algumas perguntas muito boas. Levo alguns


minutos para aproveitar o resto do meu almoço enquanto
JEWEL E. ANN

penso sobre isso. Cage não me manda mensagem novamente.


Ele espera por mim. Amo sua paciência.
Lake: Agora estou sozinha, mas não estou mais sozinha ― Netflix,
Trzy, etc., e não sou insegura sobre o meu corpo.

Meias verdades. Um gato e a Netflix são um trecho para


definir companheirismo. Faz tanto tempo desde que tive
intimidade com alguém, que não posso dizer honestamente o
quão insegura me sentirei deitada nua em uma cama na
frente de um homem sexy como Cage. Claramente, meus
pensamentos estão saltando à frente para... talvez nunca.
Cage: Quando você arranjou Trzy? Ela é bastante gata.

Eu sorrio.
Lake: Ela foi um presente.

Cage: Ela estava inteira quando você a pegou?

Lake: Haha! Não. Eles dizem que a verdade é mais inacreditável


do que ficção, bem, aqui está... ela foi presente de um cara que conheci
em um site de namoro online. Eu sabia a falta da minha perna o deixava
nervoso e não haveria um segundo encontro, mas acho que ele confundiu
minha gentileza por atração. No dia seguinte, um amigo dele me entregou
um pacote com um bilhete que dizia, “Desculpe, não deu certo, espero que
ela te faça companhia até encontrar o cara certo. O nome dela é Trzy, que
significa três em polonês. Eu sou meio polonês e você perdeu uma perna,
então pensei que era um lembrete adequado do nosso encontro. O abrigo
de animais disse que ela perdeu a perna e parte da orelha quando se
enroscou em um grupo de ciclistas. Espero que vocês duas se unam e
pensem em mim com frequência.

Cage: Você está brincando.

Lake: Infelizmente... não. Eu a coloquei no carro e andei meio


caminho para o abrigo para devolvê-la, pelo menos uma dúzia de vezes.
Mas não posso fazer isso. Me irrita que ela esteja tão apegada a mim.

Cage: Você tem certeza que não é você que é tão apegada a ela?

Balanço minha cabeça.


Lake: Preciso embarcar no meu avião. Beijos.
JEWEL E. ANN

Cage: Boa viagem. E, Lake... lembro do beijo. Eu me lembro bem


dele.

Eu flutuo no avião. Minha cabeça está enorme e nas


nuvens. É um milagre que até coube na aeronave. Depois de
jogar minha bolsa no assento, abro o zíper do bolso frontal da
bagagem de mão para pegar meus fones de ouvido. Quando
os tiro, algo cai no chão. Um senhor mais velho, esperando
que eu saia do corredor, inclina-se e o pega.

“Você deixou cair isso.”

“Obrigada.” Olho para ele sem reconhecimento e dou um


passo para trás. É um cartão branco sem nada escrito, então
eu o viro.
CAPÍTULO DOIS

Balanço minha cabeça. Flint? Everson? Não faz sentido.


Cage foi o único perto da minha bagagem de mão, mas ele
não teve nada a ver com o primeiro cartão. Tem que ser ele,
mas não pode ser. É muito estranho e misterioso. Sento no
meu lugar e, durante as doze horas seguintes, penso sem
parar nos cartões e no beijo que não aconteceu enquanto
ouço música country que baixei no aeroporto.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO NOVE

Fuso horário

O estranho típico segurando uma placa com meu nome


no aeroporto de Pequim não existe. Em vez disso, sou
recebida com o sorriso arrogante que conheço muito bem.
Seus dentes inferiores são um pouco avantajados, como se
não tivesse usado aparelho por tempo suficiente quando
criança, mas a versão loiro-castanho dos cabelos de Einstein
e os olhos verde-avelã compensam essa pequena imperfeição.
Com quase um metro e oitenta, é impossível não notar
Thaddeus Westbrook esperando do outro lado da segurança,
sorrindo como um completo pateta.

“Amor!”

Reviro meus olhos cansados. No início da tarde, o


horário de Pequim é de manhã cedo, também conhecido como
hora de dormir nos Estados Unidos.

“Emocionado ao ver que você não derrubou o avião com


meu bebê.”

“Cale a boca.” Solto minha bagagem de mão e caio em


seus braços. “Estou cansada. Hotel. Agora.”

“Desculpa, amor. Jerry espera. Venha, vamos parar


para tomar um café a caminho.”

“Eu não tomo café.”

“Sim, sim... chá. Bem, você está no lugar certo para


isso.”

“O que diabos tem em sua mão?”

Ele segura sua nova invenção em frente a ele enquanto


vamos andando para pegar a bagagem. “Você gosta?”
JEWEL E. ANN

“Tem oito dedos.”

“De fato tem. A tecnologia não se limita aos padrões


biológicos. Você já ouviu alguém dizer que precisava de outra
mão?”

“Eles são dedos, Thad.”

“É apenas um exemplo. Confie em mim. As mulheres


adoram.”

“Você é um pervertido.”

“Sou um cavalheiro e você sabe disso.”

“Não é justo. Acho que as mulheres olham para os


homens amputados de maneira diferente que os homens
olham para as mulheres amputadas.”

“Somos criaturas visuais, amor. Não se preocupe, você


encontrará seu homem... ele pode ter apenas cinco dedos
para lhe dar, mas se for bom com eles...”

“Chega, caramba.” Minha mente se prende ao


comentário estúpido de Thad e todos os meus pensamentos
saltam para Cage e cinco de seus dedos.

O motorista nos leva diretamente ao laboratório de


Jerry, apesar dos meus protestos e pedidos desesperados
para ir dormir. Não paramos para tomar um chá, mas Jerry
tem uma chaleira de ferro fundido de Oolong e três xícaras
pequenas esperando por nós quando chegamos.

“Excelente! Você conseguiu!” O pequeno Jerry faz uma


reverência quando tiramos os sapatos na porta.

“Eu sou um zumbi, Jerry. Podemos fazer isso daqui,


digamos... seis a oito horas?” Jogo minha bolsa no chão de
madeira.

“Não, não... eu vou dormir.”


JEWEL E. ANN

“Você sabe, o jet lag me mata toda vez que viajo.” Olho
para Thad enquanto ele balança os oito dedos de metal para
Jerry. “A partir de agora, você precisa me dar 24 horas para
me ambientar antes de me colocar para fazer qualquer
trabalho.”

Ambos me ignoram, seus olhares deslumbrados fixados


apenas na mão louca.

“Pare de choramingar, amor. Você é linda demais para


andar por aí fazendo biquinho.”

Suspiro. “Tanto faz. Vamos explodir as bolas de Jerry


para que possamos voltar para o hotel.”

Jerry para de mexer com o Sr. Oito Dedos e inclina o


queixo para baixo, revirando os olhos para nos dar um olhar
desaprovador. “Eu não sou gay. Então, se isso é alguma
expressão americana para sugerir que eu sou gay...”

“Não é.” Thad balança a cabeça.

“Porque eu não sou.”

Meu sorriso, embora enterrado sob minha profunda


necessidade de dormir, consegue fazer uma breve aparição.
“Oh, estou afim de você, Jerry.”

Nada arruína uma boa linha de pensamento como dois


grandes empreendedores intelectuais, dando à garota imbecil
da sala uma olhada de ‘que merda é essa?!’

“Isso é alguma gíria, amor?”

Não. É conversa de Everson, mas aparentemente falhei


em apresentá-la com precisão ou no contexto correto.

“Vocês dois nunca sobreviveriam na natureza. Vocês


sabem disso, certo?” É uma recuperação fraca, mas a
privação do sono deixa meu cérebro funcionando em menos
de vinte por cento.
JEWEL E. ANN

“Nossa querida Lake está em Minnesota há muito


tempo.” Thad retira o “O” como se fosse ooo-da. “Temo que
ela tenha se transformado em uma reminiscência dos anos
noventa. Lake, meu amor, as mulheres de lá ainda usam
bobs no cabelo?”

“Sério, Thad? Você cresceu no Kansas.”

Thad vira a cabeça para Jerry.

“Kansas?” Jerry pergunta. “Você disse que é de Boston e


foi para o Massachusetts.”

Thad dá de ombros, encarando sua mão protética como


uma mulher contemplando sua necessidade de manicure.
“Verdadeiro e verdadeiro.”

“Explique.” Jerry cruza os braços sobre o peito.

Tento reprimir uma risada. É um espetáculo, ver um


cara que é alto o suficiente para jogar no centro da NBA
parecendo muito menor do que o homem asiático que não é
alto o suficiente para andar de montanha-russa no Six Flags.

“Eu fui para o Massachusetts e tecnicamente não ‘cresci’


até o meu último ano na faculdade, que aconteceu em
Boston. Mas se estamos sendo técnicos...” Thad me dá um
rápido olhar indiferente “… então pode-se dizer que nasci e
passei minha infância no Kansas.”

Eu bufo. “Duh, Jerry. Quantos acidentes agrícolas você


acha que acontecem em torno de Boston?”

“Você disse que perdeu as mãos e os dedos no frio ao


escalar o Everest.”

“Estava frio naquele ano na época da colheita e a


máquina que quase tirou minha vida era grande... e alta,
muito parecida com o Everest.”

Jerry suspira como se tivesse acabado de descobrir que


seu ídolo é uma fraude.
JEWEL E. ANN

“Para ser justo com Thaddeus, ele chegou ao Everest,


mas isso foi depois do acidente.” Eu balanço a cabeça,
tentando consolar o fã número um de Thad.

Jerry olha para Thad em busca de confirmação, um


pedacinho de esperança de que Thaddeus, o Grande, não seja
uma farsa completa.

“É verdade.”

“Então por que você mentiu?”

Thad suspira. “Eu não sei. Soou melhor no meu


currículo.”

“Você me contratou.”

“É verdade, mas eu queria que você aceitasse o trabalho.


Eu precisava de você e achei que pareceria impressionante
porque sabia que pelo menos dez outras empresas estavam
tentando recrutá-lo.”

Jerry sorri, seu rosto corando um pouco enquanto ele


agita os cílios. “Estou emocionado.”

Thad sacode a cabeça. “Ótimo. Fabuloso. Maravilhoso.


Agora podemos trabalhar? Eu tenho que lhe contar sobre o
motivo de Lake ter entrado na cadeia. É isso que fará seus
testículos explodirem. É o maior avanço que já tive e vai
mudar o futuro.”

*
Quando os dois nerds terminam de me fazer ficar
acordada ― me preparando para a perna robótica de escalada
de Jerry ― e testando a ação do bebê rebelde de Thad, minha
bateria está descarregada. Não tenho certeza de como
chegamos ao hotel, mas acho que Thad pode ter me jogado
por cima do ombro dele e apalpado minha bunda com os oito
dedos. Em um minuto, estou balançando na porta de Jerry,
esperando que parem com suas intermináveis divagações, e
JEWEL E. ANN

no outro eu estou acordando em uma cama grande. Os


números vermelhos no relógio digital mostram: 11:30.

Sento-me vestindo nada além de meu sutiã e calcinha.

“Pervertido”, eu murmuro.

As luzes da rua mal iluminada abaixo lançam um brilho


nebuloso ao longo das bordas das cortinas, onde não
encontram a parede. Pulo para a mesa para pegar meu
telefone e volto para a cama.

Cinco horas de sono me dão função cerebral suficiente


para querer ligar para certo garoto com covinhas em
Minnesota.

“Tendo problemas para se ajustar ao horário?” Ele


responde no segundo toque.

“Estou tão ferrada. Não tenho qualquer noção das


coisas. Acabo de acordar, mas o resto de Pequim está
apagando as luzes para a noite.”

“Como foi seu voo?”

Foi horrível, mas a voz do outro lado da linha apaga


tudo isso.

“Longo e estranho.”

“Estranho?”

“Sim. No dia em que fui presa e o cara de Everson me


resgatou e depois devolveu meu carro? Bem, o garoto que
trouxe o carro de volta me deu um cartão que dizia:
CAPÍTULO UM. Então, no avião, encontrei outro cartão na
minha bagagem de mão que dizia: CAPÍTULO DOIS. Acho que
estou sendo perseguida por um escritor. Isso é loucura?”

“Sem dúvida.”
JEWEL E. ANN

Eu sorrio, passando meus dedos pelos meus cabelos


emaranhados. A voz de Cage tem verdadeira personalidade.
Se as palavras podem sorrir, então as dele sorriem.

“Chega de falar de mim e do meu perseguidor literário.


Diga-me o que você tem feito.”

“Vamos ver... eu me exercitei hoje de manhã, ajudei no


acampamento da juventude e depois passei uma hora no
telefone com minha mãe. Minhas irmãs têm um aniversário
chegando, e ela quer que eu voe para casa, mas minha
agenda é maluca e até mesmo ir ao banheiro é não
recomendado neste momento. Sair da cidade? Não seria
bom.”

“Omaha?”

“Não. Eles moram em Portland.”

“Hmm, eu não sabia que você tinha irmãs.”

“Meias-irmãs, gêmeas. Minha mãe se casou novamente


depois que ela e meu pai se divorciaram.”

“Quantos anos suas irmãs têm?”

“Elas estão fazendo oito anos.”

“Bem, isso parece divertido. Você deveria ir.”

“Eu deveria, hein? Você me ouviu dizer que não é um


bom momento para sair da cidade, certo?”

“Família não é uma carreira. É por isso que você tem


uma carreira. Se você não pode estar presente nos grandes
momentos, por que está fazendo isso? Além disso, não tenho
dúvidas de que suas irmãs te admiram, Sr. NFL Sensação.”

“Como você sabe que eu sou uma sensação? Você não


segue futebol.”

“O Google me disse.”
JEWEL E. ANN

“Google?”

“Sim.” Viro de bruços, apoio os cotovelos. “O Google me


disse que Cage Monaghan venceu o Heisman Trophye e foi o
número um no draft. Eu também sei que o seu número de
camisa é um, o que é legal porque um é o melhor número.”

Sua risada faz cócegas na minha pele. Sim, posso senti-


lo rir e a maneira como isso me faz sentir é indescritível,
verdadeiramente como nada que já senti antes.

“Diga-me por que um é o melhor.”

“Um é suficiente. É único. É uma chance, uma


oportunidade, uma experiência. Um nunca é ganancioso. Um
é independente. Pode mudar tudo.”

“Um é o melhor.”

Prendo meu lábio inferior entre os dentes e concordo.


“Sim. Ele é.”

“Então, eu vou ganhar o Super Bowl nesta temporada?”

“Um dia eu acredito que você vai.”

“E se eu quiser ganhar mais de uma vez?”

“Então você está apenas sendo ganancioso.”

“Você é gananciosa?”

“Sem dúvida.”

“Quando?”

“Eu não sei, muitas vezes. Eu sou humana. Nós somos


gananciosos. Não tenho certeza se é da natureza ou criação,
mas todo mundo tem seus momentos gananciosos.”

“Como quando?”

“Pare.” Eu sorrio.

“Apenas um. Me dê um de seus momentos gananciosos.”


JEWEL E. ANN

“Por quê?”

“Porque eu quero conhecer sua fraqueza.”

“Então, se eu disser que é chocolate, você vai me enviar


uma caixa enorme de trufas?”

“Sim.”

Eu sorrio. “Você é terrível.”

“Estou esperando.”

“Netflix.”

“Não conta. Me dê algo mais tangível.”

Fecho os olhos e pulo da ponte. “Seu beijo.”

A linha fica em silêncio, até meu coração para por


alguns segundos ― esperando.

“Meu beijo?”

Nós não estamos no mesmo continente. Como posso


estar tão envergonhada? Minha mão cobre meu rosto. Por
quê? Porque esse é o meu nível de completa loucura.

“Bem... mais ou menos... sim.”

“Hmm, eu realmente gosto...”

“Monaghan, vamos lá!” Ecoa a voz de um homem.

“Sim, sim, me dê trinta segundos.”

“Vinte”, responde o homem.

A interrupção me deixa ofegante, à beira de uma parada


cardíaca total. Ele realmente gosta do que? O beijo? Eu?
Pizza? Cães? Gatos de três pernas?

“Eu tenho que correr. Tenho uma entrevista.”


JEWEL E. ANN

“Não.” Eu balanço minha cabeça. Preciso praticar a não


soar tão desesperada. “Quero dizer, tudo bem. Estarei aqui,
talvez por tempo indeterminado, desde que disse falei.”

“Oh, Lake...” Ele ri. “Ligo para você mais tarde.”

“Tchau.” Aperto End e martelo minha cabeça no


travesseiro. “Você não é essa garota, Lake. Pare de ser tão
estúpida como uma garota de quinze anos em um show de
Justin Bieber.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO DEZ

Impulsividade

As profundezas azuis da piscina olímpica me


assombram, junto com os espectadores tirando fotos da
garota com uma perna biótica nadando. Eu tenho que me
lembrar de que o incidente de quase afogamento no ano
anterior, quando Thad me salvou, foi um momento de
fraqueza. Eu não sou mais aquela garota.

À tarde, estaremos na escalada.

Coloque a perna.

Escale a parede.

Fazem ajustes.

Suba na parede novamente.

Repetir. Repetir. Repetir.

Três dias se passam sem palavra, sem ligação de ‘mais


tarde’ de Cage. Falei demais. Minha boca e cérebro
funcionam de forma independente. Jerry e Thad dançam
sapateado em cima do que resta da minha paciência. Eles
brigam como um casal depois de cinquenta anos de
casamento.

“Vamos jantar, amor. Você vem?” Thad pergunta, como


se ele e Jerry não estivessem prestes a se matar por causa de
um detalhe sensorial na nova perna.

“Acho que preciso de um tempo...”, eu sorrio, “... das


pessoas.”
JEWEL E. ANN

“Você quer dizer de nós.” Jerry não precisa levantar os


olhos do computador. O cara é perspicaz. Heterossexual e
perspicaz.

Thad estreita os olhos do jeito que diz ‘diga que não é


verdade’.

“Vocês dois são realmente...”

“Sério?” Thad cutuca.

“Desgastantes.” Jerry brinca, os olhos ainda focados em


sua tela. “Nós sugamos a vida de tudo e de todos à nossa
volta, Thaddeus.”

“Isso é verdade, Lake?”

Faço uma careta, levantando meus ombros. “Não é


totalmente falso.”

“Tudo bem.” O queixo de Thad se projeta. “Vamos. Nos


vemos amanhã. Não precisamos que seu pênis fique nos
bloqueando esta noite de qualquer maneira.”

“Pela última vez! Eu não sou gay!”

Mordo meu sorriso enquanto Thad revira os olhos. “Não


um com o outro, seu idiota! Com mulheres em bares ou
clubes. Não queremos nos apegar se queremos transar.”

“Oh.” Jerry espia de seu computador. “Desculpa.”

Há mais chance de crescer espontaneamente uma nova


perna em mim antes que Jerry transe, mas mantenho essa
teoria para mim.

Eu tenho muitas teorias. Elas estão corretas na metade


do tempo.

“Bem, espero que vocês e seus paus tenham uma noite


adorável.” Pego minha bolsa e coloco meu sapato.
JEWEL E. ANN

“Engraçado, Amor. Só que não realmente. Aproveite sua


liberdade. Amanhã de manhã vou bater na porta do seu
quarto de hotel. Tente ser pelo menos um pouco coerente
quando abrir a porta.”

“Desculpe, não tenho ‘massagistas’ chegando no meu


quarto tarde da noite para ler uma história para dormir e
liberar minha tensão do dia.”

“Eu irei para o seu quarto, Lake.”

“Entendi, Jerry, você não é gay. Não me importaria se


você fosse. Mas fique longe do meu quarto de hotel.”

“Oh, amor, a tensão sexual entre você e Jerry pode


provocar um grande terremoto. Pelo bem de vinte milhões de
pessoas, tente se controlar.”

Preciso de um aumento.

“Vá para a Capital M, diga a eles que eu te enviei. Eles


vão te arrumar um lugar. A vista noturna da Praça da Paz
Celestial é excelente. Você tem um cartão de crédito da
empresa? Certifique-se de que Thaddeus pague.” Jerry
instrui.

Eu sorrio. “Eu nunca viajo sem ele.”

Thad balança a cabeça.

*
O nome de Jerry Chu não significou nada para mim
quando o conheci, mas a equipe da Capital M trata apenas a
menção de seu nome como o código secreto de um tesouro
enterrado. Como prometido, a vista noturna da Praça da Paz
Celestial é excelente.

Meu telefone vibrando desvia minha atenção da


paisagem e minha mesa se enche de muita comida e vinho
caro. Uso o cartão de crédito de Thad, é claro.
JEWEL E. ANN

Cage: Você fala chinês?

Eu sorrio.
Lake: Desculpe. Quem é você mesmo? Lembro vagamente de um cara com seu
nome.

Cage: Eu estive ocupado.

Lake: Desculpe, seu zagueiro da realeza.

Cage: Você está com raiva de mim?

Sim. Não. Um pouco. Por que ele não ligou?


Lake: Estou cansada e estressada de passar tanto tempo com meu chefe e seu
companheiro de quarto, e a TV é uma merda no meu hotel. Estou entediada.

Cage: Você deveria ir passear.

Lake: Já conheço tudo. Este não é o meu primeiro rodeio em Pequim.

Cage: Eles têm rodeio na China?

Lake: Hahaha

Cage: Onde você está?

Lake: Capital M. Público demais para sexo por telefone, então nem pergunte.

Lá está, eu dizendo as coisas mais inadequadas.


Cage: Uau... eu...

Lake: Estou brincando. Eu tenho um senso de humor estranho. Desculpa.

Cage: O que você está comendo?

Lake: Nada, mas tem pato e talvez algum tipo de bolinho de massa no meu
prato e uma garrafa de vinho muito cara na mesa, já que meu chefe paga pelas minhas
refeições. Isso não é terrível? Já estou me arrependendo. A coisa toda de pessoas
famintas pesa muito na minha consciência. Eu deveria ter optado por um saco de
biscoitos no hotel e encerrado a noite.

Continuamos a trocar mensagens por quase quarenta e


cinco minutos antes de jogar o cartão de crédito de Thad em
cima da mesa. Cage parece como alguém que eu conheço
toda a minha vida. A conversa vem facilmente.
JEWEL E. ANN

Lake: Vou pegar um táxi de volta ao meu hotel. Estou cansada. Fato: não durmo
bem desde o meu acidente. Eu me sinto cronicamente privada de sono. Nem chamo o
que faço de adormecer. É realmente apenas desmaiar depois de bater em uma parede.
Eu pareço ir de 100 a 0 em questão de segundos.

Cage: Isso é péssimo.

Assino a conta e vou para a entrada, esquivando-me das


pessoas e mesas enquanto minha cabeça está baixa, olhando
para o meu telefone.
Lake: Chega de falar de mim. O que você está fazendo?

Cage: Apenas aproveitando a noite.

Lake: Não é noite aí.

“Eu sei.”

Bato nessa parede. De cara com um muro. É um sonho.


Tem que ser um sonho. Tenho que estar delirando. A
miragem ao lado de um táxi na calçada em frente ao
restaurante é o homem dos meus sonhos. Ele sorri.
Permaneço estática com meu queixo desequilibrado. Preciso
acordar do meu sonho, mas não quero, é muito bom.

“De todos os lugares do mundo, você tinha que vir


trabalhar aqui. Você sabe como é incrivelmente difícil chegar
aqui? Um passaporte não foi bom o suficiente. Eu tive que
acelerar um visto. A segurança me violou em muitos níveis,
tenho certeza de que ficarei emocionalmente traumatizado
para sempre e nem me fale no impacto que essa pequena
fuga pode ter na minha carreira.”

Pisco.

Pisco.

Pisco.

Preciso de uma resposta melhor do que um piscar de


olhos. Cada vez penso que ele desapareceria porque não está
a cinco metros de mim. Não tem como isso ser possível.
JEWEL E. ANN

“Você disse que se eu estivesse no bairro...”

Assinto lentamente. É progresso, outro sinal de vida.

“Você, você é... oh meu Deus. Você veio a Pequim por


mim?”

Cage devolve um encolher de ombros culpado como se


não fosse grande coisa. Fico surpresa toda vez que um cara
retorna minha ligação. Flores fazer meu coração acelerar. Me
seguir a Pequim? Parada cardíaca completa.

“Aqui está a coisa...”, ele caminha em minha direção, “...


eu deveria ter te beijado no jogo de beisebol. E depois que
recolhi a merda de Trzy, e novamente no aeroporto.”

Engulo.

Ele roça os polegares ao longo das minhas bochechas,


em seguida, desliza as mãos de volta para segurar minha
cabeça. Tenho que parecer a mais nova adição ao The Blue
Man Show. Eu não estou respirando. Não há oxigênio para
ser consumido.

Pisco.

Pisco.

Pisco.

Engulo.

“Oi”, ele sussurra sobre meus lábios uma fração de


segundo antes de me beijar.

Eu morri. Fim. História terminada.

Lembro vagamente de algo sobre demonstrações


públicas de afeto sendo desaprovadas ou ilegais ou talvez
puníveis com a morte na China. Vale as consequências.
JEWEL E. ANN

Meu coração troveja embaraçosamente alto. Um


momento que pode provocar um terremoto. Milhões de vidas
estão em risco. Um beijo vale a pena?

Sim. Oh querido. Deus. Sim!

Não sou a especialista líder mundial em beijos, mas sei


o que gosto, e Cage Monaghan também. Ele demora sentindo
meus lábios nos dele. Não é até que sente cada centímetro
deles várias vezes que apenas a ponta da língua provoca meu
lábio superior. Adoro aquele momento em que o sentimento
se transforma em degustação. Eu amo o jeito que suas mãos
seguram meu cabelo, segurando toda a sua tensão para que
seus lábios possam permanecer lentos e pacientes.

Mais do que tudo, eu amo quando ele aprofunda o beijo,


trazendo o meu corpo para perto do dele, seu coração
martelando contra o meu.

Eventualmente, a necessidade de ar supera a


necessidade de beijos. Meus pulmões de esportes são
estragados. Cage sorri, esfregando os lábios. Eu sorrio
também.

“Oi”, sussurro.

“Posso te oferecer uma carona de volta ao seu hotel


antes de voltar para o aeroporto?”

Meus olhos saltam para fora de suas órbitas. “O que?


Aeroporto! Você acabou de chegar aqui.”

Cage me dá um olhar de reconhecimento.

Fecho os olhos com força e esfrego as mãos no rosto.


Tem que ser um sonho ou um pesadelo. Preciso acordar. Mas
quando tiro minhas mãos, ele ainda está lá.

“Você pediu um visto e veio na China só para me


beijar?”
JEWEL E. ANN

Ele assente. “Totalmente vale a pena. Você não


concorda?”

“Bem, sim... não...” Balanço minha cabeça. “Eu não sei.


Quem faz isso? Quem voa do outro lado do mundo para beijar
alguém que já viu cinco vezes em toda a sua vida?”

“Então você está contando?” Ele sorri.

“Não.”

Sim. Contei cada segundo que passamos juntos desde o


nosso primeiro encontro.

Contei os sorrisos.

As covinhas quando ficaram aparentes.

As vezes que seus olhos vagaram pelo meu corpo.

As borboletas no meu estômago.

Cada toque. Todo olhar. Todo momento que parecia que


nossa conexão já existia antes de nos conhecermos.

Sim, eu contei. Cada. Um.

“Lake?”

Levanto os olhos da minha distração olhando para o


chão entre nós. “O quê?”

“Estou brincando. Eu não voei aqui só para te beijar.”

Eu sorrio. “Isso seria loucura.”

“Provavelmente.” Ele se vira e abre a porta traseira do


táxi. “Mas eu teria voado”, ele diz enquanto deslizo no banco
de trás.

Só há uma coisa a fazer. Fecho os punhos no centro do


peito como um super-herói arrancando suas roupas, mas
rasgo meu peito e silenciosamente digo, “Aqui está meu
coração, apenas pegue-o.”
JEWEL E. ANN

*
“Você está muito quieta para alguém que pensa tão
alto.”

Eu me viro para ele enquanto o táxi passa pelo tráfego


da noite. “Você está aqui e eu estou... sem palavras. Tem
certeza de que não tem mais nada acontecendo? Encontros?
Terapia? Treinamento?”

Ele inclina a cabeça para trás e fecha os olhos, um


sorriso cresce em seu rosto bonito. “Acho que Pequim seria
um lugar muito estranho para fazer reuniões, terapia ou
qualquer tipo de treinamento de futebol americano. É tão
difícil acreditar que eu vim aqui só para vê-la?” Ele levanta a
cabeça e abre os olhos, me encarando com um olhar intenso
que exige uma resposta.

“Bem... sim, é. Não que eu não seja digna de ser seguida


por meio do mundo.” Eu lhe dou um sorriso sedutor. “É só
que esse é um grande gesto, de proporções épicas. Você é
esse cara? Aquele que é ACT com tudo?”

“ACT?” Ele estreita os olhos.

“Acima do topo.”

Cage ri e olha pela janela. “Não. Eu sou o cara que


decidiu colocar minha carreira em primeiro lugar no dia em
que fui convocado. Eu sou o cara que basicamente entrega a
uma garota um contrato de namoro que diz que nunca será
nada além de casual porque o futebol vem em primeiro lugar.
Eu sou o cara que prefere assistir a cenas de jogos a
pornografia. Eu sou o cara que está focado cem por cento do
tempo.”

Ele olha para mim e o tempo parece parar enquanto


apenas nos olhamos.

“Você voou para a China para me beijar”, sussurro.


JEWEL E. ANN

Cage assente, mas seu sorriso brincalhão desaparece. É


como se a realidade de seu comportamento precipitado
finalmente o atingisse.

Chego entre nós e pego sua mão, apertando-a com força.


“Não vou contar para o ‘cara’ de quem você estava falando.
Este será o nosso pequeno segredo.”

Ele olha para os nossos dedos entrelaçados. “Obrigado.


Ele ficaria realmente chateado comigo por ser tão impulsivo.”

“Ele parece um verdadeiro infortúnio.”

O sorriso de Cage retorna e tudo está do nosso lado do


mundo novamente. “Ele está apenas focado. Fora isso, ele é
um cara muito bom.”

“Sim?”

Seus olhos encontram os meus. “Sim.”

Quando chegamos ao meu hotel, Cage parece ser seu eu


jovial novamente.

“Você reservou um quarto aqui? E se sim, como você


sabia que eu estava aqui?”

O taxista pega a mala de Cage do porta-malas.

“Eu não sabia onde você estava hospedada e ainda não


tenho quarto. Eu só fiz os planos necessários para chegar
aqui.”

Paramos na recepção, mas não há quartos disponíveis,


nem mesmo para uma celebridade americana.

“Você fica comigo.”

“O que? Não.” Cage balança a cabeça.

O cara voou para a China para me beijar, mas ele é


cavalheiro demais para ficar no mesmo quarto comigo. Cara,
eu já o amava antes que isso fizesse sentido.
JEWEL E. ANN

“Eu vou para outro hotel.”

“De jeito nenhum.”

Ele sorri.

Minha pele esquenta com o seu olhar. “Só estou dizendo


que é bobagem quando tenho esse quarto e que meu chefe
está pagando e nem é tão tarde. Ainda poderíamos fazer algo
hoje à noite.”

O sorriso de Cage se aprofunda.

“E por algo eu não estou sugerindo nada como...”

“Como?”

Reviro os olhos. “Eu não vou pular em você. Não quero


dizer nada disso de uma maneira sexual.”

Sim, apenas de um jeito, arranque minhas roupas e


enfia sua cabeça entre minhas pernas. Isso é exatamente o
que eu quis dizer, porque preciso de sexo e preciso com ele. O
suor começa a escorrer pela minha pele.

Ele levanta uma sobrancelha. “Pular em mim?”

“Só quero dizer que podemos dividir um quarto sem


fazer sexo, se é com isso que você está preocupado.”

Cage examina rapidamente o saguão. “Você acha que


estou preocupado em fazer sexo com você?” Ele diz em voz
baixa.

“Não, eu só não quero que você se sinta obrigado a fazer


sexo comigo. O beijo foi suficiente.”

Não foi o suficiente. Oh minha palavra, quero muito


mais. O que aconteceu comigo? Quando eu me tornei uma
mentirosa? Deve haver algo na água de Minneapolis,
provavelmente escoamento de pesticidas, e nada é seguro
para beber em Pequim, pelo menos foi o que Thad me disse.
JEWEL E. ANN

Primeiro Shayna e depois Cage. Qual é o meu trato com toda


essa mentira?

“Esta é a conversa mais maluca que já tive.”

Suspiro. “Apenas venha.”

Os olhos dele se arregalam.

Eu balanço minha cabeça. “Venha para o meu quarto,


er... apenas...” Eu fui transportada para o ensino médio
novamente, onde cada palavra significa algo sexual aos olhos
de garotas imaturas e risonhas. Como eu me tornei aquela
garota de novo aos 24 anos?
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO ONZE

O presente

CAGE

Voar para a China por capricho foi recebido com uma


tempestade de oposição das pessoas em minha vida que
contratei para me manter focado e sem problemas. Eu não
sou um cara propenso a problemas, mas no dia em que
assinei com Minnesota, problemas parecem me perseguir,
geralmente na forma de pessoas gananciosas que afirmavam
serem meus melhores amigos no ensino fundamental ou
mulheres desesperadas para rastejar em minha cama.

Setenta e duas horas depois de ameaçar demitir as


mesmas pessoas que contratei para me impedir de tomar
decisões precipitadas, me encontro em uma suíte em um
hotel de Pequim com uma mulher que me faz questionar
minha direção na vida. Isso me assusta. Ela me assusta.

“Então, o que você quer fazer que não envolva sexo?”


Lake joga a bolsa no sofá preto perto da janela com vista para
a cidade.

Dormir. A cama king-size no meio do quarto parece


convidativa após a minha longa viagem, mas preciso ficar o
mais longe possível da cama dela. Meu tempo será
igualmente dividido entre o sofá e os chuveiros frios.

Eu assinto. “Eu amo que a ideia de fazermos sexo agora


se torne uma espécie de piada.” Coloco minha mala no
suporte de bagagem.

Lake levanta os ombros e sorri. “Você está me


encarando.”
JEWEL E. ANN

Eu pisco várias vezes. “Desculpe, apenas... tentando te


compreender.”

“Sim?” Ela estende os braços para o lado por um


momento e depois os deixa cair contra seu corpo. “E o que
você vê?”

Cruzo meus braços sobre o peito. “Você está procurando


elogios, Jones?”

“Jones?” Ela ri.

Meus lábios torcem para o lado quando estreito os


olhos. Ela não derrete sob o meu olhar examinador. Lake tem
suas inseguranças, são pequenos momentos fugazes, brilha
aqui e ali, mas nunca parecem ser sobre sua aparência, sua
perna ou qualquer coisa do lado de fora. Eu não consigo
entender direito.

“Você se encaixa aqui. Grandes olhos de boneca da


China. Cabelo comprido, liso e preto. Pele impecável. Nariz
minúsculo. Corpo pequeno. As orelhas, porém...”

Ela agarra suas orelhas. “O que há de errado com


minhas orelhas?”

Dou de ombros. “Elas se destacam um pouco, mas não


se preocupe. Tenho certeza de que ninguém percebe, a menos
que você use seu cabelo para trás.”

“Orelhas de Dumbo? Você está sugerindo que eu tenho


orelhas de Dumbo?” Sua voz eleva algumas oitavas.

Porra. Lake Jones é a mulher mais sexy que já conheci,


e acho que sabia disso no momento em que a vi. A áurea
espacial parecendo protética abaixo do joelho? Isso só a faz
mais sexy aos meus olhos. Ela mantém a cabeça erguida, os
ombros para trás, um sorriso confiante. Ela se garante
completamente.

“Não. Não estou sugerindo que você possa voar.”


JEWEL E. ANN

Ela aperta os olhos. “Não foi isso que perguntei.”

Eu me aproximo dela. Ela não se encolhe. Preciso parar.


Precisamos sentar em extremidades separadas do sofá e
assistir a algo como a Lista de Schindler. Meu pau precisa ser
removido da equação, mas é difícil ― em todos os sentidos da
palavra ― porque se os eventos dos dias anteriores fossem
despojados até a verdade nua... eu voei metade do mundo
apenas para ver se seus lábios tinham o mesmo gosto que eu
me lembrava de três anos antes. Eles têm, é ainda melhor.

Minhas mãos flexionam; elas anseiam por tocá-la. Eu as


coloco no bolso, esperando que um receptor se abra, paciente
e calmo, enquanto meus homens da linha trabalham para
afastar os caras que tentam plantar minha bunda no chão.
Eu tenho controle. Com Lake, eu sou a criança correndo para
a rua atrás de uma bola de praia de arco-íris brilhante. A
mulher me rouba toda a autopreservação simplesmente
existindo no meu mundo.

Uma batida na porta tira a carranca em seu rosto e me


salva dos meus pensamentos errantes.

Ela aponta um dedo duro para mim. “Você não se livrou


dessa ainda.”

Talvez eu não tenha sido salvo de nada.

Lake verifica o olho mágico. “Eu não sou obrigada a vê-


lo até de manhã”, ela grita.

A voz abafada de um homem responde. “Oh, vamos lá,


amor. Estou passando para dizer boa noite.”

‘Amor’ não está ok para mim, nem o ciúme que isso


evoca.

Lake abre a porta, resmungando algo baixinho. “Boa


noite, Thad.” Ela começa a fechar a porta, mas a mão dele a
para.
JEWEL E. ANN

Eu me aproximo.

“Você tem companhia?” Ele olha dela para mim.

Ela suspira, voltando quando Thad dá um passo dentro


do quarto. Ele levanta a mão, um híbrido de homem de ferro.
Oito dedos.

“Ele não parece chinês, amor.” Ele me olha.

“Ele é. É a pouca iluminação.” Ela bate no peito dele,


mas seu corpinho causa o impacto de uma mosca. “Vejo você
de manhã.”

Thad sorri, olhando para Lake. Não gosto da maneira


como ele olha para ela. Talvez seja porque ele a chama de
‘amor’. Talvez um não tenha nada a ver com o outro, ou
talvez eles tenham tudo a ver um com o outro. Não importa.
Isso me deixa tenso.

“Você está pagando a ele?”

Aperto minhas mãos, mas a resposta de Lake à


esquerda desvia minha raiva.

“Sim.” Ela o empurra em direção à porta com todo o seu


corpo, e ele dá um passo para trás. “Estou pagando por sexo,
agora vá porque você está desperdiçando meu dinheiro.”

“Então você está tentando me dizer que o quarterback


vencedor do Troféu Heisman do Minnesota faz bicos em
Pequim entre os jogos?”

Lake resmunga novamente, mais alto, mas ainda


pensamentos indiscerníveis. Ela se vira para o lado,
gesticulando para Thad entrar. “Thaddeus Westbrook,
conheça Cage Monaghan. Cage, este é Thad, meu chefe
intrometido.”

“Oi.” Eu sorrio, fazendo o meu melhor para dar a ele o


benefício de todas as dúvidas que tenho na minha cabeça.
JEWEL E. ANN

“Eu sou um grande fã.” Ele sorri, mas ao mesmo tempo


vejo o olhar protetor em seus olhos ― o que apenas outro cara
notaria. Thad acha que estou violando seu território, e Lake
não percebe.

“Sério?” Lake estreita os olhos para ele.

Thad olha rapidamente para ela antes de voltar sua


atenção para mim. “Sim. Na verdade, tenho várias patentes
nas joelheiras que colocam os jogadores lesionados de volta
em campo em metade do tempo, com risco limitado de mais
lesões.” Ele dá de ombros. “Assisto muitos esportes. É
pesquisa.”

“Tenho tido muita sorte até agora, sem ferimentos


graves.”

“Não é se, é quando, mas tenho certeza que você sabe


disso.”

Eu concordo. Claro que sei disso, mas não gosto de me


debruçar sobre o desconhecido.

“Você vai ver Lake em ação amanhã? Jerry Chu está


preparando-a para natação e escalada também. Ela é natural
em tudo o que tenta fazer. Essa é uma das razões pelas quais
a contratei. Ela é destemida.” Ele descansa a mão na parte
inferior das costas dela.

Também não gosto disso.

“Adoraria, mas não quero atrapalhar ou ser uma


distração.”

Seus olhos se voltam para mim, mas ela não diz nada.
Uma das coisas que notei imediatamente quando nos
conhecemos foi como suas emoções se revelam em seus olhos
ou em seu sorriso antes que ela diga uma palavra. Ela
literalmente parece honesta. No entanto, naquele momento,
ela não revela nada.
JEWEL E. ANN

“Mais alguma coisa, Thad?”

Sua expressão franzida reflete minha própria confusão.


Depois de alguns momentos de palavras não ditas entre eles,
Thad vira-se para a porta. “É um enorme prazer conhecê-lo,
Cage.” Thad continua olhando para Lake.

“Você também.”

“Seja boazinha.” Ele bate a ponta de um de seus dedos


robóticos no nariz de Lake duas vezes antes de desaparecer
pela porta.

Ela fecha e descansa as costas contra ela.

“Desculpe, ele é... ele.”

Dou de ombros. “Ele parece legal. Você não gosta dele?”

As sobrancelhas dela se erguem. “Não, é claro que gosto


dele. Eu nunca trabalharia para alguém que não gosto. A
vida é muito curta para essa miséria. Ele é apenas...” Ela
roça os dentes ao longo do lábio inferior repetidamente. É um
novo lado para ela, um gesto verdadeiramente nervoso.

“Conte-me.”

Ela olha para cima e solta um suspiro lento que faz seu
cabelo se afastar da testa. “Thaddeus viu um lado muito
vulnerável de mim. Ele me viu tropeçar e cair mais vezes do
que posso enumerar. No ano passado, ele me salvou de me
afogar em uma piscina quando uma prótese do tipo
barbatana caiu durante a minha primeira volta. É claro que
eu poderia nadar muito bem sem ela, mas isso me assustou
naquele momento. Não foi um momento ‘corajoso’ para mim.”

“Ele só te faz elogios.”

Ela assente devagar.

“Eu não tenho que ir amanhã. Esse é o seu trabalho.


Podemos nos encontrar mais tarde quando terminar.”
JEWEL E. ANN

“Quer assistir TV?”

Tomo isso como um ‘sim, vamos nos encontrar mais


tarde e parar de falar sobre isso agora’.

“Certo.”

*
LAKE

Minha mãe me deu seis meses após o acidente para eu


ficar me lamentando, me arrepender, sentir pena de mim
mesma. Eu usei todos os dias. Nada que fiz durante esses
seis meses trouxe Ben de volta, ou minha perna, ou os
sonhos que acreditava serem o propósito da minha vida. Ela
poderia ter me dado dez anos e, no primeiro dia do décimo
primeiro ano, o resultado teria sido o mesmo: nenhum Ben,
nenhuma perna, sonhos destruídos.

Mês sete, primeiro dia, rasguei minhas roupas e fiquei


diante de um espelho de corpo inteiro, apoiada em uma só
perna. Eu disse um adeus final e silencioso a Ben, minha
perna e os sonhos que tinha com eles. Então me apresentei
ao reflexo no espelho. Eu pisquei e naquele momento Lake
Jones estava inteira de novo.

Garota nova.

Solteira.

Solteira com novos sonhos.

Cage Monaghan voou para a China para me beijar. Se


ele não se casar comigo, será muito constrangedor para meu
futuro marido ou filhos ouvir que minha maior lembrança é
outro homem voando para a China para me beijar.
JEWEL E. ANN

“Você está bocejando. Você parece cansado.” Falo


enquanto relaxamos no sofá assistindo aos piores programas
de TV de todos os tempos.

Cage olha para o relógio. “Bem, eu não durmo há quase


vinte horas, então sim, estou um pouco cansado.”

“Eu vou desligar a TV. Você se prepara para dormir.”

Ele balança a cabeça, levando o punho à boca para


esconder outro bocejo. “Está bem.”

Gosto do cabelo loiro um pouco bagunçado, da camiseta


branca um pouco enrugada e dos pés descalços apoiados na
mesa de centro em frente ao sofá. Assim. Muito. Sexy.

Eu vou até a ponta do sofá. “Aqui, deite-se.”

Sorrio quando ele tenta manobrar seu corpo grande no


sofá sem invadir o meu espaço.

“Coloque sua cabeça no meu colo, bobo.”

Ele me dá um olhar interrogativo.

“Não vou raspar uma sobrancelha nem escrever idiota


na sua testa com um marcador permanente.” Bato no meu
colo.

Desenrolando seu corpo amassado, ele descansa a


cabeça no meu colo.

“Nenhum pênis ou urso cagando no meu rosto também.”

“Shh...” Pressiono meu dedo em seus lábios. “Durma.”

Cage passa a mão em volta do meu pulso, mantendo


meu dedo pressionado em seus lábios enquanto ele o beija.
Então ele beija o interior do meu pulso antes de colocar
minha mão sobre seu coração e cobri-la com a dele enquanto
fecha os olhos. Eu tenho que me lembrar de respirar. Com a
outra mão, passo os dedos sobre o rosto em padrões
JEWEL E. ANN

aleatórios e provoco suavemente o cabelo dele. Ele cantarola


ou talvez ronrona como Trzy.

Depois que seu corpo está visivelmente relaxado e tenho


certeza de que ele está dormindo, olho na direção de Deus e
sussurro, “Posso ficar com ele? Sim, por favor?” Eu não quero
bancar aquela garota que joga um você me deve essa com o
criador do mundo, mas... Ele me deve.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO DOZE

Espreitador Literário

Eu passo quatro horas assistindo televisão estrangeira


apenas para que poder olhar para Cage e sentir seu coração
batendo contra a palma da minha mão. Eventualmente,
tenho que fazer xixi. Bexiga estúpida. Meu cara bonitão ―
sim, porque eu já o reivindiquei ― está morto para o mundo
enquanto manobro debaixo dele. Depois de uma visita ao
banheiro, decido que é minha hora de desmaiar também.
Bato na minha parede mágica e o mundo fica preto.

O som penetrante de metal sendo amassado me tira do


meu sono, ofegando e suando. É o mesmo pesadelo. Mesmos
sons. Mesmos sentimentos.

“Apenas um sonho”, eu sussurro para mim mesma entre


respirações difíceis enquanto me sento.

Uma lasca de luz escapa do fundo da porta do banheiro


e o chuveiro está correndo. Ontem aconteceu, não foi um
sonho. Só esse pensamento alivia a ansiedade do meu
pesadelo. Pego meu telefone na mesa.

“Não. De jeito nenhum.”

Apoiado na base da lâmpada de cabeceira está um


cartão com a inscrição.
CAPÍTULO TRÊS

Não faz sentido. O que? Como? Por quê? Escorrego na


minha perna e vou direto para o banheiro, entrando sem
aviso prévio.

“Capítulo três?”
JEWEL E. ANN

“Porra! Lake!” No chuveiro, Cage vira as costas para


mim.

As portas de vidro cobertas de condensação obscurecem


minha visão de suas costas nuas, mas só um pouco. Meu
cérebro faz uma anotação mental, como os cérebros fazem
melhor, surta na forma de uma dança feliz muito particular
ao ver seu corpo incrível. No entanto, minha boca tem sua
própria vontade que parece estar alguns passos à frente dos
pensamentos reais movidos pelo cérebro.

“Você é responsável por esses cartões? O que estava na


minha bagagem de mão e o outro... oh meu Deus, você
contratou o Flint para me tirar da cadeia? Você enviou aquele
garoto para devolver meu carro? E você me deu esse cartão?”

Cage pigarreia. Suas mãos estão pressionadas contra a


parede do chuveiro, a cabeça inclinada. “Estou no banho. Por
acaso, isso é algo que podemos discutir em talvez cinco
minutos e não no banheiro comigo nu?”

Então ele se vira. Meu cérebro alcança minha


impulsividade. Droga! O homem NFL dos meus sonhos é tão
sexy. Eu tenho que apenas tomar um momento e olhar.
Fisicamente não há outra escolha. Músculos de bunda,
glúteos... Tanto faz. Eu amo um homem com músculos
definidos, e suas pernas, costas e ombros... magnífico.

“Lake Jones, você vai tomar banho comigo?”

Limpo minha testa. Cara, está quente aqui dentro. “O


quê? Hum... não.”

“Então saia.”

“Oh... ok.”

Eu saio. Assim que me jogo na cama, grito no


travesseiro, meu corpo empurra em todas as direções. É
demais para uma garota, então pego meu telefone e mando
uma mensagem para Lindsay.
JEWEL E. ANN

Lake: Estou em Pequim com o homem dos meus sonhos e ele está no chuveiro.
Eu o vi nu e não fizemos sexo. Estou morrendo. O que eu faço?

Dou batidinhas na tela do meu telefone como se minha


impaciência acelerasse sua resposta.
Lindsay: Por favor, me diga que não é aquele cara, Jerry.

Lake: Não. Cara de futebol de Omaha.

Infelizmente, esse é o codinome de Cage entre eu e


Lindsay. Ela conhece toda a experiência ‘um dia, um tudo’
que tive três anos antes. No entanto, ela não sabe nada sobre
o nosso encontro ao acaso em Minneapolis.
Lindsay: O cara do futebol? Caralho!!!!

Lake: Tenho que ir. O chuveiro acabou de desligar.

Lindsay: Depressa, monte nele antes que ele se vista. Apenas faça isso, querida!

Lake: vou ver o que posso fazer.

Sim... não, isso não está acontecendo. As palavras são


minhas. Eu praticamente falo sem parar, mas ‘Antes de vestir
suas roupas, você poderia me deixar montar seu pau?’ não
está no repertório de frases que me sinto confiante em dizer a
um cara.

A porta se abre. O homem mais sexy vivo aparece no


canto em um jeans e uma camiseta verde desbotada, os
cabelos ainda pingando.

“Você estava falando sério sobre eu tomar banho com


você?” Outro exemplo clássico da minha boca ficando
desonesta. Isso não está no teleprompter. Eu devo falar sobre
os cartões.

Cage esfrega a toalha branca sobre a cabeça e a joga nas


costas da cadeira. “Normalmente, se uma mulher entra no
banheiro enquanto estou no chuveiro, isso significa que ela
quer se juntar a mim.”
JEWEL E. ANN

Faço uma careta. “Oh. Então é comum que as mulheres


se aproximem de você enquanto você está tomando banho?”
Ainda assim, estou fora do tópico, mas uma questão mais
urgente teve precedência.

Ele ri, balançando a cabeça. “Não.”

Tento não agir muito aliviada, mas certamente estou.

“Por que os cartões?” Puxo o lençol sobre o peito; me


ocorre que eu não estou usando sutiã. É justo eu esconder
meus mamilos cobertos de camiseta depois de olhar para ele
completamente nu? Provavelmente não.

“Você não lembra?”

Lembro-me de tudo, até de coisas que fingia não me


lembrar, porque não quero parecer uma perdedora sem vida.
Cartões de capítulos? Não me lembro disso.

Eu torço o nariz. “Eu não. Conte-me.”

“Não. Você acabará se lembrando.” Ele ri um pouco.


“Estou realmente feliz por você não se lembrar. Terá um
impacto maior quando finalmente a ficha cair.”

“Você não pode estar falando sério. Você não vai me


dizer.”

“Não.” Ele senta na beira da cama, trazendo seu


perfume limpo e sabão com ele. Eu cruzo minhas pernas sob
o lençol, esperando aliviar a dor miserável que se desenvolve
a partir de sua proximidade. “Posso ver sua perna?”

“Hum...” Esfrego meus lábios. Não vi esse pedido


chegando. “Claro.” Tiro o lençol e descruzo minhas pernas.
Eu não estou envergonhada. Aprendi muito cedo a não
esconder. Sou eu, toda eu, cem por cento completa.

“Posso?” Sua mão paira sobre a ponta da minha perna.

Eu concordo.
JEWEL E. ANN

Cage roça as pontas dos dedos ao longo da minha


perna, dando um olhar ocasional até os meus olhos.

“Isso te assusta?”

Ele sorri e balança a cabeça. “Nada sobre você me


assusta... bem, invadir minha chuveirada me assustou um
pouco.” Sua mão sobe pela minha perna.

Eu sigo seu caminho, parte de mim implora para que ele


continue se movendo para cima e a outra parte acha que ele
deveria parar. Eu considero que um por cento é uma falha
que chegaria aos outros noventa e nove por cento, se ele
continuasse.

“Não vi nada. Tinha muito vapor.”

Mentira. Mentira. Mentira. Por que se tornou tão


viciante?

Cage sorri, encontrando meus olhos. “Você não viu


nada?”

*
CAGE

O que você está fazendo? Eu falo repetidamente na


minha cabeça. Eu menti. Ela me assustou muito e isso não
tem nada a ver com a perna. São os sentimentos ― os
malditos sentimentos femininos que tenho ao seu redor. Eu
não consigo controlar as coisas que falo ou a maneira como
me sinto, assim como não consigo controlar minha ereção
crescente.

Claro, quis tocar sua perna como um gesto que não me


incomodava, mas eu realmente só queria tocá-la. Minha mão
sobe em sua perna por conta própria. Lake respira fundo
rapidamente. Faço uma pausa, mas seus expressivos olhos
azuis me dizem para continuar.
JEWEL E. ANN

Essa é a minha defesa. Os olhos dela dizem que sim. E


os mamilos dela? Eles me dão uma ovação de pé. Meu Deus,
sua camiseta azul clara poderia ser mais apertada? Mais
fina? Os shorts, porém, são pequenos e, com a perna
dobrada, posso ver sua calcinha branca e juro que está
molhada. Estou dolorosamente duro. O quarto parece ter
mais de cem graus de temperatura, e a cada três segundos
tenho que engolir quantidades abundantes de saliva porque
eu a desejo tanto.

Ela umedece os lábios de novo e de novo e de novo.


Cada vez que eu quero me inclinar e fazer isso por ela. Eu
levanto minha mão um pouco mais. Lake respira fundo outra
vez, mas aqueles olhos ainda pedem que continue. Eu quero,
preciso saber se a calcinha dela está realmente molhada, e
preciso saber o quão molhada a faço ficar. Fui desonesto,
deixando minhas responsabilidades para trás e
provavelmente minha posição inicial também ― tudo por uma
garota.

Os únicos sons na sala são os ecos da cidade lá fora,


minha constante deglutição e suas respirações ofegantes que
escapam toda vez que sua língua rosa dispara para molhar
aqueles lábios que eu quero provar novamente.

Mais um centímetro ou dois, minha mão sobe sua perna


até meu polegar descansar em sua parte interna da coxa a
meia polegada daquela calcinha branca e molhada. Ela não
diz nada. Por que ela não me diz para parar ou pega minha
mão? Por que não paro por conta própria? Eu quero beijá-la,
mas meu desejo de vê-la reagir ao meu toque vence.

“Lake, me diga para parar.”

Ela apenas olha para mim, lábios abertos.

“Lake, me diga que é rápido demais. Diga-me o que está


acontecendo entre nós é loucura porque...” Meus olhos vão
entre os dela e minha mão no alto de sua perna.
JEWEL E. ANN

“Porque...”, ela sussurra, “...parece que nos conhecemos


desde sempre. Assim, um dia, três anos atrás, deteve o
significado de todos os dias antes dele. Porque um dia você
precisava sentir uma conexão com a vida novamente, apareci
na sua porta. Eu fui sua conexão.”

Ela é. Ela bateu na minha porta quando a dor, raiva e


perda eram demais. Eu estava tão bravo com meu pai por me
deixar, por desistir, por morrer. Nada no meu mundo fazia
sentido até que abri a porta naquele dia, então, magicamente,
tudo fez sentido.

“Sim”, sussurro.

Lake assente. “Eu sei, pois você também era o meu.


Você confirmou o que eu estava tentando convencer o meu eu
no ano anterior ― o ontem importa.”

*
LAKE

Quero que ele me toque, mas mais do que isso, quero


que ele saiba que sinto tudo o que sentia no dia em que nos
conhecemos. Esses sentimentos nunca foram embora de
mim; eles se tornaram o padrão com o qual eu comparei
todos os outros sentimentos. Claro, quero sexo ― inferno,
estou desesperada por isso ― mas quero mais do que sexo
com Cage.

Quero o homem.

Eu o quero.

Quero sempre lembrar que todos os meus ontem não


importam.

Quando ele olha para mim, quando ele me toca... isso se


torna minha realidade, minha verdade.
JEWEL E. ANN

“Eu não faço sexo há muito tempo e mesmo assim foi...”


Eu bato minha mão na minha boca.

Cage começa a remover a mão da minha perna e eu o


paro com a outra mão.

“Não pare”, murmuro, em seguida, tiro minha mão da


boca, mordendo os lábios com força.

Sua expressão passa de confiante e sexy, um pouco


mortificada e totalmente confusa.

“Eu sinto muito. Eu apenas disse isso para que você não
tivesse grandes expectativas. Não que eu não saiba o que
estou fazendo... é que, se fizermos isso, progredirá
rapidamente para mim ― como um garoto de quinze anos
com uma supermodelo.”

Cage não consegue esconder seu sorriso.

“E só para esclarecer... você é a supermodelo e eu sou o


garoto de quinze anos nesse cenário.”

“Eu não sei o que dizer.” Seus olhos voam entre os meus
e minha mão segurando a dele na minha perna.

Trzy não tem nada contra mim. Minhas habilidades


sacanas de toque-me-pegue-me-ame-me superaram as dela.
Desesperada. Eu certamente pareço pateticamente
desesperada. Rendendo-me à realidade de que minha boca
grande roubou minha vagina de alguma atenção necessária,
solto sua mão e me jogo de lado, cobrindo minha cabeça com
um travesseiro.

“Não consigo parar de pensar em você.” Ah! Alguém atire


em mim, por favor.

“Você quer que eu saia?”

Eu levanto. “Não!”

Cage tira meu cabelo do meu rosto. “Não?”


JEWEL E. ANN

“Prefiro ser uma idiota chorona com você aqui do que


uma gênia bem falada sem você.”

“Isso é sexy.” Ele passa as mãos pelo meu cabelo,


segurando minha cabeça como se estivesse se preparando
para pegar algo que é dele. Mulher independente, não preciso
de nenhum homem, blá, blá, blá... eu quero ser dele. O
desejo de encontrar o único cara que me fez querer acenar
com minha bandeira branca vivia na parte não feminista do
meu cérebro. Cage é digno de bandeira branca.

Eu sorrio. “Realmente não é, mas sou eu e quero que


você goste de mim.”

Ele me puxa um fôlego para longe de seus lábios. “Estou


aqui, Lake. Acho que somos bons no departamento de ‘gostar’
de você.” Então ele me beija.

“Meus dentes”, eu murmuro contra seus lábios. “Eu...


preciso... escovar...”

“Cale a boca”, ele murmura de volta.

Sem interromper nosso beijo, apoio minhas mãos em


seus bíceps enquanto ele segura minha cabeça. Ficando de
joelhos, minhas mãos deslizam para baixo e juntam
punhados de sua camisa, puxando-a pelo torso. Eu não
falarei novamente. A vida é para ser vivida. Ben morreu, mas
eu vivi... eu vivi.

Cage interrompe nosso beijo e sorri tanto que meu


coração quase explode em um mar vermelho de brilho
cintilante. Ele estende a mão e agarra sua camisa,
removendo-a em um movimento rápido. Eu tenho que me
lembrar de respirar. O cara da NFL que me seguiu até a
China tem um corpo ridiculamente lindo.

Ele deve notar minha mandíbula frouxa e o peito


balançando à beira de hiperventilar. “Não precisamos fazer
isso.”
JEWEL E. ANN

Meus olhos se voltam para os dele. “Cale a boca.” Eu


sorrio e me jogo nele. Ele cai de volta na cama comigo em
cima dele.

“Ooh...” Sua resistência simulada não me perturba


quando beijo seu peito e seu pescoço. “Melhor café da
manhã.”

“Por favor, por favor, por favor, diga-me que você tem
camisinha”, murmuro sobre sua mandíbula, trabalhando até
os lábios dele quando ele agarra a parte de trás das minhas
pernas para me colocar sobre seu pau.

“Se eu disser que sim, isso significa que sou muito


presunçoso?”

Eu paro, pairando sobre seu rosto, nossos narizes quase


se tocando, meus cabelos caindo ao nosso redor como uma
cortina. “Não. Acho que se você dizer sim, significa que vai se
dar bem esta manhã, Monaghan.”

Seu olhar passa pelo meu rosto. Se ao menos eu


pudesse ler sua expressão, mas não consigo. Eu só sei como
isso me faz sentir ― em algum lugar entre a nostalgia
embriagada e completa.

Em um empurrão repentino, ele se senta comigo


montando em seu colo, suas mãos segurando minha cintura.
“Eu preciso que você ouça.” Uma ruga de preocupação cobre
sua testa.

“O... K...” Meus olhos se estreitam um pouco.

“Eu não posso definir isso, nós, mas você precisa saber
que significa alguma coisa. Ok?”

Eu balanço a cabeça lentamente, mantendo meu olhar


fixo no dele quando levanto meus braços acima da minha
cabeça. Ele leva uma eternidade para remover minha
camiseta, avançando tão lentamente no meu corpo que acho
que posso ter um orgasmo de quão malditamente sexy ele faz
JEWEL E. ANN

algo tão simples quanto tirar a minha camisa. Sua confiança


é rivalizada apenas por sua sensualidade.

Quando minha camisa cai no chão e meu cabelo pende


em cascata nas minhas costas e peito, eu respiro fundo. Cage
não se mexe, exceto pelos olhos. Eles engolem cada
centímetro da minha pele nua.

“Concentre-se, Monaghan... não se atrapalhe.”

O calor em seus olhos queima os meus, mas ele ainda


dá um sorriso arrogante que nunca vi antes. Porra, estou
mais do que pronta para comê-lo vivo. A abstinência me
deixou com muita fome.

“Eu tenho isso.”

Assim ele reivindica meu orgasmo. Três palavras


simples, ditas com total confiança, encharcam minha
calcinha.

Seus olhos voltam para os meus seios à mostra, sem


tocar, sem lamber, apenas... olhando. Tortura completa. Eu
me contorço um pouco no colo dele. O aperto que ele tem nos
meus quadris aumenta. Aparentemente, esfregar-me contra
seu pau não é permitido. Apenas... olhar.

Ah! Ele está me matando!

Cage molha os lábios. “Diga-me, Lake... que parte de


meu corpo deve dar–lhe o seu primeiro orgasmo, esta
manhã?”

Engulo.

Quão embaraçoso é que ele está a caminho de me dar


um com nada mais que suas palavras? Muito. Muito
embaraçoso.

Ele espera.
JEWEL E. ANN

Oh Deus... ele realmente espera que eu responda a essa


pergunta.

Assim que abro minha boca para declarar meu pedido,


uma batida forte na porta quebra nosso momento como uma
marreta.

“Pior timing de todos os tempos!” Grito alto o suficiente


para Thaddeus e o resto do décimo quinto andar ouvirem.

Saltando do colo de Cage, pego minha camiseta, coloco-


a sobre a cabeça e entro na minha perna antes de pisar para
a porta como uma criança birrenta sendo enviada para o
quarto.

“Bom dia para você também, amor.” Thad pega um copo


branco com uma tampa preta de uma bandeja de bebidas.
“Chá. Agora você tem que me perdoar pelo que fiz, o que, é
claro, não tenho ideia do que foi.” Ele entra. “Aí está nossa
estrela do esporte.” Ele ergue outro copo. “Por favor, me diga
que você é um homem de café.”

Eu me viro e, para minha decepção, Cage vestiu a


camisa dele.

“Sim. Obrigado.” Ele pega o copo de Thad.

“Por que você não está pronta para ir, amor?”

Porque eu estava prestes a fazer sexo muito atrasado


com o homem dos meus sonhos.

“Vinte minutos. Encontro você no saguão.”

“E seu amigo? Ele está se juntando a nós hoje?”

É uma pergunta razoável, dada a minha reação


irracional a Thad fazer a oferta a Cage na noite anterior.
Alguns dias meu trabalho me infunde confiança, alguns dias
eu enlouqueço na piscina. É impossível prever que Lake Cage
irá assistir hoje. Na noite anterior eu não sabia como me
sentia por Cage me ver tropeçar. No entanto, naquela
JEWEL E. ANN

manhã...? Eu só quero que ele me veja. Os dois homens


olham para mim, mas apenas olho para Cage.

“Sim. Eu adoraria que ele se juntasse a nós hoje.”

Nós compartilhamos sorrisos de sabedoria.

“Ótimo então... vou encontrar vocês dois lá embaixo em


vinte.”

“Mais uma vez obrigado pelo café”, Cage diz quando


Thad sai.

Thad levanta a mão. “Não mencione isso.”

Cage toma um gole de café, a outra mão enfiada


casualmente no bolso da calça jeans, como se não
estivéssemos seminus cinco minutos antes.

Por falta das palavras certas para dizer, suspiro. Cage


sorri. Tiro a tampa do chá que está quente demais para beber
e coloco na mesa de cabeceira.

“Eu preciso tomar banho.”

Ele assente.

“Desculpe pela intromissão de Thad.”

Cage dá de ombros, tomando outro gole de café. “Você


está aqui a trabalho.”

“Eu deveria pedir demissão.”

Ele sorri. “Você realmente deveria.”


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TREZE
CAGE

Pequim está em outro mundo em todos os sentidos.


Ainda é tecnicamente minha baixa temporada, não um
retrato preciso da minha vida. Bem, é a minha vida. Eu
sempre tenho uma baixa temporada, simplesmente não é
meu dia normal todos os dias. Seguir uma garota para a
China também não faz parte do meu dia normal ou de
qualquer outro dia. Estou louco? Provavelmente.

Flint explodiu meu telefone com mensagens que escolhi


ignorar.
Flint: 2 dias. Eu te disse que 2 dias eram tudo o que você teria. Obrigações...

Flint: Todos os dias que você não está treinando, algum outro quarterback está
trabalhando para ser melhor que você.

Flint: Espero que ela valha a pena.

Flint: Espero que você a tire do seu sistema antes que a temporada comece.

Flint: Está me deixando louco por você não estar respondendo!

A parte mais difícil do dia não é imaginar os seios de


Lake, porque eu os vi e não posso vê-los, não que eu queira,
mas faz coisas em certas partes do meu corpo que tornam o
dia menos confortável. Quando chegamos à instalação
esportiva com paredes de escalada extremamente altas, Thad
diz que uma ‘equipe’ estaria lá para avaliar a escalada de
Lake na nova perna do protótipo. Eu não esperava uma área
grande e isolada apenas para ela, com outras vinte pessoas
tirando fotos, vídeos, digitando notas em seus iPads e
lançando uma quantidade insana de perguntas enquanto ela
sobe na parede como um macaco.
JEWEL E. ANN

Depois de várias horas de escalada, eles a levam para a


piscina, deixando um rastro de pessoas com câmeras
correndo para alcançá-la. Lake sai do vestiário e começo a
suar. Meu Deus... ela tem esse maiô. Eu não consigo parar de
olhar para os peitos dela ― seios. Com quem estou
brincando? É o meu pau falando, e eles são peitos.

Tudo o que ela faz me deixa sem um único pensamento


coerente ou palavra articulada a dizer. A mulher é boa ―
muito boa. Uma atleta que não mostra deficiência. Ela atrai
uma multidão. Eu não esperava isso. Ela ri, responde a todas
as perguntas e troca brincadeiras divertidas com Thad e
Jerry. Lake se envolve com todos ao seu redor e eles a amam.
Eu sorrio como um idiota, puxando meu boné de beisebol
para baixo para impedir o reconhecimento, mas não sou nada
além do cara alto que está no caminho de uma boa foto de
Lake Jones.

No entanto, muitas pessoas ainda tiram minha foto.


Jerry me disse que é porque sou branco e muito alto, não que
eles necessariamente me reconhecem. Aparentemente, Thad
também é muito fotografado. Jerry diz que a maioria das
pessoas acha que ele provavelmente é um jogador da NBA.

Depois de mais duas horas com quatro versões


diferentes do protótipo, Thad e Jerry dão a Lake o resto do
dia livre. Eu acho que deveríamos voltar para o quarto de
hotel dela, porque é isso que qualquer homem normal
pensaria depois de focar no corpo dela o dia todo.

“Estou faminta. Almoço?” Lake pergunta quando sai do


vestiário com um jeans, Nike preto e uma camisa branca de
mangas compridas. Ela solta o cabelo úmido do rabo de
cavalo.

“Você é uma celebridade e tanto aqui.”

Ela revira os olhos. “É só porque eles isolam a área. As


pessoas são atraídas para o que acreditam que está fora dos
limites. Uma pessoa morta na rua com um contorno de giz
JEWEL E. ANN

também atrai uma multidão. Não significa que são uma


celebridade.”

“Eu sei o que vi, e eles gostam de ver você, e adoram


como você interage com eles.”

Nós caminhamos para a saída. “Acho que quatro deles


falavam inglês. Eu sorrio. É assim que interajo com eles.”

“Eles amaram.”

“Ok, Sr. Celebridade De Verdade. Percebi que você


manteve o boné baixo e o queixo ainda mais baixo. Você é um
grande negócio por aqui?”

Um motorista abre a porta de um SUV preto e compacto.


Thad contratou um motorista para Lake e seu ‘hóspede’ pelo
resto do dia ― em qualquer lugar que quiséssemos ir. Lake
entra e eu também.

“Não. Eu não acho que seja um grande negócio aqui,


mas, para ser mais honesto, não achei que seria um grande
negócio na primeira vez que fui às compras depois de me
mudar para Minneapolis. Quando autografei meu caminho
para o meu carro e voltei para casa, meus itens perecíveis
haviam realmente perecido.”

“Para onde?” O motorista pergunta, em inglês. Muito


bom, Thad.

“Comida. Preciso de comida e não sou exigente. Algum


lugar agradável, mas casual, e de preferência onde não
existam fãs de futebol americano”, Lake pede e pisca para
mim.

Balanço minha cabeça, mas ainda sorrio quando o


motorista retorna um olhar estranho no espelho retrovisor e
depois assente antes de sair do estacionamento.

“Obrigada.” Lake agarra minha mão.

“Por?”
JEWEL E. ANN

“Por estar aqui. Por passar horas após horas chatas me


assistindo trabalhar. Os nerds bastardos nem puxaram uma
cadeira para você. Desculpa.”

Eu beijo a parte interna do pulso dela. “Adorei cada


minuto. Quando você disse que estava subindo com uma
perna protótipo, imaginei uma pequena parede de pedras
com algumas almofadas de impacto. Eu não esperava que
você liderasse escalando uma parede de quinze metros como
uma competidora. Você é boa. Muito boa. E a piscina... fiquei
impressionado. E para constar, não me impressiono
facilmente.”

Meu elogio é recebido com um olhar intenso e alguns


momentos de silêncio. O ‘você está falando sério’ brilha em
neon em seu lindo rosto. Sua mão treme na minha. Ela
aperta e sorri como se ela acreditasse em mim. Eu não quero
que ela discuta. Não quero que ela questione minha
sinceridade. Não quero que ela nunca veja seu reflexo como
menos do que incrível.

“Obrigada”, ela sussurra.

*
LAKE

Passamos uma tarde perfeita visitando Pequim com


nosso motorista particular, finalizando com um jantar e vinho
à luz de velas. Cage não bebe. Eu bebo, provavelmente
demais, mas preciso de algo para entorpecer meus nervos,
que ele alimentou a tarde toda com suas palavras, suas
covinhas e as mensagens roubadas que ele aproveitou todas
as chances que tinha.

“Quer ir um pouco para o meu quarto?” Pergunto


quando o motorista para em frente ao hotel.
JEWEL E. ANN

Cage olha para o relógio inexistente no pulso. “Hmm...


talvez só por um tempo. Meu visto expira em vinte e oito
dias.”

Covinhas.

Eu sou um caso perdido.

No elevador, mando uma mensagem para Thad.


Lake: Vejo você amanhã. Se bater na porta do meu quarto de hotel de novo,
deixará este país precisando de peças protéticas para homens.

Thad: Não deixe sua estrela do esporte te engravidar. O peso extra exigirá
novas pernas. Basicamente... não faça sexo. Boa noite amor.

A mensagem de Thad me dá um momento de pausa.


Não faça sexo? Ele está sendo engraçado ou possessivo? Sei
que a ideia é ridícula, então desisto.

“Mandou uma mensagem para o seu namorado de


Pequim antes de ir para cama?”

Sorrio, graças ao copo extra de vinho, enquanto olho


para a tela do meu telefone. “Você é ciumento? Por favor,
tenha ciúmes. Geralmente não gosto desse comportamento,
mas você é diferente. Se eu honestamente pensasse que você
poderia estar com ciúmes, juro que nem voltaríamos para o
quarto de hotel antes...”, balanço a cabeça.

As portas do elevador se abrem. Coloco meu telefone na


bolsa e vou em direção ao quarto.

“Antes do que, Lake?” Ele diz atrás de mim.

O baixo no meu peito continua batendo para o som que


toca no meu corpo. É essa música que contém todas as
minhas emoções. A música que me dá coragem para me virar.

Thump thump thump…

Não seria mentira se dissesse que pulei no corredor. É


exatamente o que faço. Eu me viro e dou dois passos antes de
JEWEL E. ANN

demonstrar minhas habilidades de salto em altura. Sorte a


minha, ele me pega. Coloco meus braços e pernas em volta
dele e o beijo de uma maneira que diz: “AGORA. AGORA
MESMO!”

Ele agarra minhas pernas, me segurando nele enquanto


empurra minhas costas contra a parede. Tiro o boné e coloco
minhas mãos em seus cabelos quando minha língua invade
sua boca. Trzy teria orgulho de mim.

Suas mãos sobem pelos meus lados e sobre meus seios.


Minhas costas arqueiam, interrompendo nosso beijo. Eu não
consigo respirar. O desespero é um pouco guloso de oxigênio.
Cage aproveita meu pescoço exposto quando minha cabeça
bate contra a parede.

“Não pare... quero isso... assim... muito... forte...”

Sua resposta é um gemido profundo que dispara direto


para minha buceta ansiosa.

“Chave do quarto”, ele murmura sobre a minha pele.

“Tel... telefone, bolsa...”, estou ajudando através da


minha respiração ofegante.

Os hormônios são pequenos coquetéis que superam os


efeitos do álcool, da decência pública e de todas as razões em
geral. Cage me coloca de pé. Pego meu telefone da minha
bolsa. A chave do meu quarto está no meu telefone.

Eu tento.

Não dá certo.

Eu tento de novo e de novo.

Não dá certo.

“Lake...” Cage pressiona-se nas minhas costas e espalha


a mão sobre a minha barriga, as pontas dos dedos passando
a cintura da minha calça jeans. “Você está me matando.”
JEWEL E. ANN

Minha testa cai contra a porta e fecho os olhos. “Não


funciona.”

“Lake...” Nem mesmo o desespero em sua voz ou o


deslizar de sua mão na frente da minha calça abrem
magicamente a porta.

Eu tento uma última vez quando seu dedo médio


alcança o topo da minha calcinha. “Funcionou, caramba!”
Isso é o que acontece. Eu só precisava ser firme com isso.

Assim que a porta se abre, seus lábios estão de volta aos


meus, meus pés no chão, e dois segundos depois caímos na
cama com seu corpo pressionando o meu no colchão.

“Podemos desacelerar”, Cage sussurra no meu ouvido


antes que sua língua alcance meu lóbulo da orelha.

Talvez pudéssemos, mas meu cérebro não consegue


entender essa ideia ou muita coisa.

“Dedos, língua, pau”, sussurro com os olhos revirados


na cabeça enquanto me contorço embaixo dele, disputando
cada pedaço de ficção que eu possa obter contra minhas
partes mais sensíveis. Simplificando, estou moendo meu
corpo contra o dele, porque minha necessidade de sexo atinge
o nível desesperadamente vergonhoso.

Meus olhos se abrem quando sinto sua respiração sobre


o meu rosto.

“O que você acabou de dizer?”

“Estava na sua pergunta esta manhã.”

Que parte do meu corpo você quer que eu use para lhe
dar seu primeiro orgasmo?

Graças a Deus, o reconhecimento ilumina seu rosto. Eu


realmente não quero dizer isso em voz alta.

“Dedos? Língua? Pau?”


JEWEL E. ANN

Eu assinto. Se ele tivesse dito isso mais uma vez com a


mesma voz de eu sou sexy e sei muito bem disso, então ele
não terá que fazer nada.

Sim, estou muito excitada ― dolorosamente excitada.

Meu telefone toca. Deus me odeia. Realmente não tem


outra explicação. Ele sabe que estou me preparando para
pecar. Eu balanço minha cabeça quando Cage me dá um
olhar interrogativo.

“Ignore.”

“Você tem certeza?”

Eu balanço a cabeça e agarro sua cabeça, trazendo-o


aos meus lábios. Para de tocar. Peço desculpas a Deus e
agradeço ao mesmo tempo. Meu telefone toca novamente. Ok,
claramente Deus é persistente.

“Apenas atenda.” Cage rola de cima de mim.

Eu sento. “Eu vou fazer isso rápido.” Empurro minha


camisa que ele tinha tirado até o meio do meu tronco, então
pego meu telefone ao lado da minha bolsa no chão.

“Mãe, oi.”

“Olá bebê. Pensei em ligar para você antes de dormir. Eu


tenho um pouco de tempo antes de começar a fazer o café da
manhã para nossos convidados.”

Meus pais são donos de uma pousada em Tahoe, e


minha mãe sempre acorda antes do amanhecer.

“Obrigada, sim, estou prestes a ir para a cama.”

Cage entrelaça os dedos atrás da cabeça e sorri.

“Como está sua viagem? Você está gostando dos


protótipos que Jerry fez para você?”
JEWEL E. ANN

“Sim, são ótimos. Vou ter que ligar quando chegar em


casa e contar tudo sobre eles.”

“Você já conversou com seu irmão ou Jessica?”

“Sobre?”

“Jessica está grávida.”

“O quê?” Eu grito.

Cage rola a cabeça para o lado, olhos arregalados


olhando para mim. Meu sorriso toma conta do meu rosto.

“Ela está prevista para o dia 10 de outubro.”

“Fantástico. Grant precisa de uma irmã.”

“Você tem que deixar que eles lhe digam e se surpreenda


quando o fizerem. Ok?”

Reviro os olhos. “Sim, Sim.”

“Oh, eu te contei sobre o novo projeto do seu pai?”

“Acho que não.”

A história do novo projeto de meu pai se transforma em


atualizações completas de todos os meus irmãos. Minha mãe
é realmente minha melhor amiga, então não tenho coragem
de cortá-la. Eu sei o quanto ela se preocupa comigo, e
também sei o quanto falar comigo ao telefone a ajuda a se
sentir mais perto de mim, aliviando sua ansiedade.

Trinta minutos depois que atendi meu telefone, ela


ainda está falando. Apesar dos meus olhares de desculpas,
Cage desaparece no banheiro e retorna alguns minutos
depois. Ele me dá um sorriso educado. O meu ainda diz
‘Sinto muito’.

Ele murmura, ‘está tudo bem’, e se despe, ficando


apenas de cueca boxer preta. Não escuto absolutamente nada
que minha mãe diz depois desse ponto. Ele pega um
JEWEL E. ANN

travesseiro da cama e o cobertor extra no final e depois


começa a arrumar sua cama no sofá. Quando ele olha na
minha direção, balanço a cabeça e aponto para o local na
cama king size ao meu lado. Deveríamos estar fazendo sexo
naquele exato momento; ele viu meus seios naquela manhã.
Não há como deixá-lo dormir no sofá.

Cage tem a coragem de parecer em conflito.

Dou-lhe o olhar ‘sério mesmo’, apunhalando meu dedo


ao meu lado e murmurando ‘cama’. Ele concorda com um
pequeno aceno de cabeça.

“Querida, você ainda está aí?”

“Uh, sim, mãe.”

Ela continua. Eu terei um cara alto, musculoso, com


bíceps maior do que minhas pernas na cama ao meu lado.
Ele vira as costas para mim. Eu quero acreditar que é para
me dar uma sensação de privacidade que realmente não
preciso e não que ele esteja chateado comigo por nossa
segunda tentativa frustrada de fazer sexo.

Minha mãe continua por mais meia hora. Talvez eu


devesse ter dito a ela que tinha alguém comigo, mas isso só
tornaria a conversa mais longa.

“Bem, é melhor eu começar o café da manhã. Amo você,


Lake. Por favor, se cuide. Você sabe que odeio você viajando
sozinha.”

“Eu estou bem, mãe. Eu também te amo.”

Eu abaixo meu telefone e deixo meus olhos vagarem


pelas costas de Cage. O lençol repousa no quadril dele. Ele
está dormindo, e não posso culpá-lo. Saio da cama e tomo
um banho muito necessário, escovo os dentes e sento na
beira da cama para esfregar hidratante nas pernas e braços.
JEWEL E. ANN

Depois de desligar a luz, tento dormir, mas não consigo.


Não é uma grande surpresa. Meu corpo não funciona no
mesmo horário que os humanos normais. Então, muitas
coisas mudaram depois do meu acidente.

O homem dos meus sonhos está ao meu lado na cama.


O que estou pensando? Tiro meu short, calcinha e minha
camiseta, jogando-os no final da cama. Aproximando-me de
Cage, descanso minha cabeça na borda de seu travesseiro. E
aproximo minha mão das costas dele, quase o tocando, e
então a afasto. Como a medrosa que sou, faço a mesma coisa
várias vezes antes de ter coragem de tocá-lo, mas não com a
minha mão. Eu pressiono meus lábios entre as omoplatas
dele.

Ele se mexe. Afasto e prendo a respiração quando ele se


vira para mim. Despir-me foi uma má ideia; pelo menos é o
que minha amiga do mal, a insegurança, me diz. As cortinas,
que não foram completamente fechadas, deixam passar o
suficiente para que eu possa ver seu rosto, seus olhos
cansados e a maneira como ele os pisca como se quisesse
verificar sua visão, porque certamente a mulher ao seu lado
não estaria nua.

“Ei”, ele sussurra.

Eu sorrio.

Meus braços estão dobrados contra os meus seios. Ele


move lentamente meu braço superior para o meu lado e
depois meu braço inferior. Não tem como esconder a rápida
ascensão e queda do meu peito ou o desenrolar dos arrepios
ao longo da minha pele. É apenas para ele saber exatamente
o que ele faz comigo.

Cage passa os dedos sobre o meu pescoço, em seguida,


desce até o meu peito, colocando um seio na mão enquanto
seu polegar circula sobre o meu mamilo. Uma pulsação lenta
e pesada se estabelece entre minhas pernas. Como se ele
JEWEL E. ANN

também sentisse, seus dedos roçam meu abdômen, parando


uma polegada acima do local que implora por seu toque.

Ele inclina a cabeça em minha direção, dando um beijo


agonizante em meus lábios. “Abra suas pernas”, ele sussurra
sobre os meus lábios.

Oh inferno. Como ele faz esse som tão obsceno e tão


sexy?

Abro um centímetro, talvez meio.

Sua língua provoca meus lábios quando ele se desliza


mais ao sul. “Mais aberto.”

Engulo!

Dou outro centímetro.

Ele sorri contra os meus lábios. “Mais.” Ele desvia a mão


para a minha coxa e abre minhas pernas bem amplamente.

Meus quadris saltam da cama quando a ponta do dedo


roça meu clitóris.

“Quer isto?”

Eu balanço a cabeça, mal, mas é um aceno de cabeça.


Seu toque paralisa meu corpo inteiro.

“Diga.”

Engulo em seco novamente. “Eu quero isso.”

Sua boca cobre a minha ao mesmo tempo em que dois


de seus dedos deslizam dentro de mim. Ele absorve meus
gemidos enquanto sua língua imita o movimento de seus
dedos. Eu gozo embaraçosamente rápido. A culpa é minha,
não dele. Quando ele tira os dedos de mim, move a boca pelo
meu pescoço até o meu peito. Eu rolo de costas.

“Cage...” Eu gemo quando sua boca faz amor com meus


seios.
JEWEL E. ANN

Enfio meus dedos em seus cabelos enquanto ele


posiciona seu corpo entre as minhas pernas. Sua língua
mergulha no meu umbigo enquanto ele desliza seu corpo
para o final da cama.

“Não.” Eu me contorço embaixo dele, apertando meu


cabelo.

“Você disse dedos...”, beijo no meu abdômen, “...


língua...”, ele lambe um caminho mais baixo, “...e pau.”

Dou um último puxão implacável no cabelo dele. Ele ri,


mas para de descer. “Sem língua?”

Talvez fosse muito tempo sem estar com um homem.


Talvez fosse o lento crescimento e os ‘quase’ nesse dia. Talvez
fossem os efeitos persistentes do primeiro orgasmo. Fosse o
que fosse, minha buceta não consegue segurar sua boca lá.
Estou tão hipersensível.

“Isso é embaraçoso”, digo com uma voz ofegante.

Cage sobe pelo meu corpo. O alívio instantâneo toma


conta de mim até que ele se ajeita entre as minhas pernas.
Seu pau ereto embaixo da cueca boxer pressiona bem ali.

Eu suspiro.

Ele deixa beijos suaves ao longo da minha mandíbula e


do meu ouvido. “Nunca fique envergonhada comigo. Nós
podemos parar.”

É uma péssima ideia. Claro, estou uma bagunça quente,


mas não temos que parar. Eu passo minhas mãos pelas
costas dele e as coloco em sua cueca.

“Jesus... Lake...” Ele geme enquanto enrolo meus dedos


em seus glúteos duros.

Sua pélvis balança na minha, minha respiração fica


presa novamente. Preciso de outro copo de vinho. Minha mãe
JEWEL E. ANN

arruinou meu estado de espírito e descarrilou meu momento


para continuar com isso sem pensar demais.

“Eu preciso saber...”, ele balança em mim novamente e


meus dedos se enrolam com mais força em sua pele, “... se eu
preciso de uma camisinha ou tomar um banho frio. Eu...”, ele
ofega em meu ouvido, “... estou bem com o que você decidir.”
O desespero em sua voz trai suas palavras.

Eu sorrio. Ele não pode ver, mas é enorme. É


exatamente o que preciso para sair da minha cabeça. Um
pequeno pedaço de sua vulnerabilidade é o suficiente.

“Um banho frio parece realmente... frio.”

Ele ri um pouco, pressionando os lábios no meu ombro.


“Realmente é.”

“Talvez...” Empurro sua cueca apenas o suficiente para


liberar sua ereção.

Suas respirações no meu ouvido ficam irregulares.


“Foda-se”, ele sussurra enquanto envolvo minha mão em
torno de seu pau, quente e duro sob meus dedos.

“Talvez devêssemos suar antes de nos preocupar com


um banho.”

“Eu seu jeito de pensar.” Nossas bocas colidem e nós


fazemos o que temos que fazer.

Suor. Muito suor.

E a boca dele? Depois que me solto, imploro por ela.

Muitos pedidos.

Gritos abafados.

Dois preservativos depois, desmaio em seus braços, nós


dois exaustos demais para ter um banho até a manhã
seguinte.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO QUATORZE

Pula-pula e timing ruim

Três dias na China. É o tempo que levo para me


apaixonar oficialmente pelo homem dos meus sonhos.
Embora, pela definição da minha avó, acho que o amo desde
o dia em que nos conhecemos. O amor é imune ao tempo.
Fodam-se os pessimistas e antirromânticos. Eles não são
nada além de pessoas amargas que nunca conheceram o seu
‘único’.

Na manhã seguinte ao sexo pela primeira vez, começo a


menstruar. Eu culpo Cage no começo, alegando que ele
quebrou minha vagina. Depois que ele faz uma oferta sincera
de me levar ao hospital para um raio-X, admito que a
provável explicação é o início da minha menstruação. Nos
meus sonhos ― onde eu controlo o mundo ― os homens
sangram pelo pênis uma semana por mês. Justo? Sim, eu
também acho.

“Minha passagem está errada.” Olho para o meu telefone


a caminho do aeroporto. “Thad estragou tudo. Preciso ligar
para ele. Tenho reserva para Portland, mas é isso. Não vejo
passagem para Minneapolis.”

“Thad não reservou seu voo... Bem, ele ajudou, mas eu


reservei nossos voos.”

Olho para Cage e seu sorriso sombrio. “Oh?”

“Eu pensei que poderíamos ficar em Portland por alguns


dias.”

“Oh?” Meus olhos crescem a cada ‘oh’.


JEWEL E. ANN

Ele apoia a mão no meu joelho, apertando-o um pouco.


“Lembra que eu disse que minhas irmãs têm uma festa de
aniversário que queriam que eu participasse?”

Eu concordo.

“É amanhã. Momento perfeito, certo? Posso estar sem


emprego, mas... família.” Outro aperto no meu joelho.

Ele ouviu o meu discurso sobre família. É tão sem


personalidade dele. Os caras podem ouvir, mas a capacidade
de ouvir é baixa. Outra teoria minha. “Eu sou seu encontro
na festa de aniversário de suas irmãs?”

“Não é realmente uma festa grande, talvez um buffet,


mas nada formal. Você está bem em conhecer minha
família?”

Uma pergunta tão simples, mas a resposta é um pouco


mais complicada.

“Você está?”

Ele ri. “Eu sou a razão pela qual sua passagem termina
em Portland. Sim, acho justo dizer que estou bem em
apresentar você à minha família. Eles vão te amar.”

Você me ama?

“Então você dirá a eles que nos conhecemos há três


semanas e que você voou para a China para me beijar, e eles
pensarão que eu sou uma bruxa que lançou um feitiço em
você. Acredito que você tenha me dito que não é impulsivo.”

“Três anos. Nós nos conhecemos há três anos, não três


semanas.” Ele pisca.

“Essa é a nossa história? Realmente?”

“Não. A história está na sua bolsa.”


JEWEL E. ANN

Estreito meus olhos. Ele acena com a cabeça em direção


a minha bolsa sob o assento na minha frente. Pego e abro o
zíper da parte superior. Um cartão, é claro.
CAPÍTULO QUATRO

“Diga-me o que é, isso está me matando! O que isso


significa?”

Um sorriso, é tudo que ganho. Ele parece bastante


orgulhoso de si mesmo. Por quê? Não faço ideia.

*
“É oficial. Estou nervosa. Isso é loucura.” Aperto a mão
de Cage quando o táxi entra na garagem de sua mãe. “Você
está levando uma garota para casa para conhecer sua família
e nunca mencionou meu nome.”

“Você está certa. Provavelmente vão fazer você dormir na


varanda com os cães até que possam confiar em você.”

“Estou falando sério.” Olho para ele por cima do teto do


táxi quando fecho a porta.

Ele paga o motorista do táxi e pega nossa bagagem. “Eu


também. Mas não se preocupe. A rede na varanda é
ridiculamente confortável e Dora e Diego, os dois cães spaniel
bretão, adoram companhia.”

“Dora e Diego?” Eu o sigo até a porta da frente da casa


de tijolos de dois andares. As luzes da varanda da frente
estão acesas enquanto o sol, baixo no céu, sai.

“Minhas irmãs, Hayden e Isa, deram os nomes. Elas


tinham seis anos na época.”

Ele abre a porta da frente e coloca a bagagem dentro.


“Onde está o coro de boas-vindas?” Ele chama.

Um fluxo de guinchos agudos e latidos precede o


tornado de dois cães brancos e cor de avelã pulando nas
JEWEL E. ANN

pernas de Cage enquanto duas garotas com longos cabelos


loiros praticamente o derrubam no chão.

“Cage! É Cage! Mamãe? É Cage!” Uma grita.

“Você veio! Não acredito que você veio! Você vai ficar na
nossa festa de aniversário?” A outra pergunta com os braços
em volta do pescoço dele.

“Aniversário? Que aniversário?” Ele brinca.

“É nosso aniversário amanhã, bobo.”

“Oh, bem, acho que posso ficar por um dia ou dois, se


você estiver disposta a compartilhar seu bolo.”

A menina presa a ele como um macaco, beija sua


bochecha. “Claro que vamos compartilhar nosso bolo. O meu
vai ser limão com cobertura de baunilha e Isa vai comer
chocolate com cobertura de biscoito.”

“Aí está meu garoto favorito!” Uma loira alta e muito


magra, claramente a mãe deles, abraça Cage assim que ele
coloca sua irmã no chão.

Mãe linda.

Lindas irmãs.

E eu: uma garota desgrenhada, pendurada na varanda,


com cabelos que mal sobreviveram ao longo voo e,
provavelmente, manchas hediondas afundando sob meus
olhos cansados.

“Mãe, eu gostaria que você conhecesse Lake Jones.” Ele


estende a mão.

Eu sorrio apesar do meu medo avassalador e entro na


casa, aceitando sua mão.

“Lake, esta é minha mãe, Brooke Hathaway.” Cage me


puxa para o lado dele.
JEWEL E. ANN

Os olhos de sua mãe se movem sobre nossos corpos


unidos e um grande sorriso cresce ao longo de seu rosto.
“Lake, é um verdadeiro prazer conhecê-la.” Ela estende a
mão.

“O prazer é meu, Sra. Hathaway.” Aperto a mão dela.

“Brooke, apenas Brooke, querida.”

“Brooke.” Balanço a cabeça com um sorriso.

“Essas são Hayden e Isa.” Brooke revira os olhos quando


as meninas se agarram a Cage novamente. “Meninas,
coloquem Dora e Diego na varanda dos fundos e depois
tomem banho.” Brooke nos faz sinal e fecha a porta atrás de
mim. “Elas estão um pouco animadas por vê-lo.”

Cage sorri. “Bem, funcionou perfeitamente. Nós estamos


em nosso caminho de volta para Minnesota de Pequim. Lake
tinha uma viagem de negócios lá.”

Brooke envolve seu casaco branco com capuz em volta


dela, como se a porta aberta tivesse deixado entrar muito ar
frio. “Você esteve na China?” Ela dá a Cage um olhar
arregalado. Isso confirma para mim. Cage não voa meio
mundo por qualquer garota.

“Sim.” Ele me leva em direção à cozinha. “Lake testa


pernas robóticas para esta empresa de ponta. Ela estava
testando próteses para natação e escalando. Ela é incrível.”

Eu quero rastejar debaixo da mesa da cozinha. Incrível


nunca foi a palavra que costumo me descrever. Brooke olha
para as minhas pernas. Ambas estão cobertas pelo meu jeans
e Nikes. Eu só uso minha perna bonita... bem, quando quero
parecer bonita, o que parece acontecer com bastante
frequência desde que Cage chegou em Pequim.

“Acidente de carro.” Levanto a perna esquerda da calça


jeans.
JEWEL E. ANN

A cabeça de Brooke se projeta para frente quando seus


olhos apertam um pouco. “Uau, isso é uma prótese?”

“Louco, certo?” Cage sorri. “Tem folículos pilosos, veias


na parte superior do pé; um calcanhar e o pé é ligeiramente
rosa.”

Sim, naqueles poucos dias, Cage se tornou um


especialista em minhas muitas pernas.

“Isso é incrível.”

Dou de ombros. “É basicamente uma perna protética


comum embaixo de uma perna cosmética de silicone. Eu
chamo de minha perna bonita. Também tenho várias para
usar com sapatos de salto alto diferentes.”

“Você me disse que são suas pernas sexy.”

Com meu rosto corado, viro para Cage, que está


mordendo uma maçã, e me inclino contra a bancada de
granito da ilha da cozinha. “Sim...”, cerro minha ética por
trás do meu sorriso tenso, “...mas como estamos conversando
com sua mãe, estou usando bonita, em vez de sexy, mas
obrigada por me corrigir.”

“De nada.” Ele pisca.

Eu balanço a cabeça enquanto solto uma risada


nervosa.

“Cage herdou a franqueza do pai.” Brooke lança um


olhar desafiador ao filho.

“Mmm, talvez.” Ele não parece nem um pouco


incomodado com essa avaliação. “Onde está o Rob?”

“De plantão. Ele teve um paciente com o dente


nocauteado, então ele saiu cerca de uma hora atrás.”

“Dentista”, Cage me diz.

Eu assinto.
JEWEL E. ANN

“De qualquer forma, ele pode demorar um pouco. Aposto


que vocês dois estão exaustos com fuso horário ou algo
assim. Você terá que desculpar minha franqueza, mas meu
querido filho não mencionou que estava trazendo uma amiga,
então não tenho certeza se preciso arrumar outra cama ou...”

Nada estranho nesse momento.

“Meu quarto está bem, mãe.”

Eu sorrio, sem saber o que ou se preciso acrescentar


algo à conversa desconfortável. Cage parece completamente
relaxado quando termina sua maçã, como discutir arranjos
de dormir para suas... namoradas? fosse uma ocorrência
diária.

“Bem, eu não preciso dizer para você se sentir em casa.


Vou garantir que as meninas estejam se preparando para
dormir. Vejo vocês dois de manhã.”

“Boa noite, mãe.”

“Boa noite, Brooke.”

Ela acena enquanto caminha em direção à escada.

“Você não disse a ela que eu estava vindo?”

Ele dá de ombros e joga o miolo da maçã no lixo.

“Gosto de surpreender as pessoas.”

Coloco meu cabelo atrás das orelhas e assinto. “Ela


parece surpresa. Chocada pode ser a descrição mais precisa.”

Agarrando meu pulso, ele me puxa para seu peito e


depois me levanta na ilha, colocando seu corpo entre as
minhas pernas. Coloco meus braços em volta do seu pescoço,
enquanto ele belisca provocativamente meus lábios.

“Diga-me que seus dias... terminaram...” Ele beija


minha bochecha na minha orelha, chupando minha orelha
em sua boca.
JEWEL E. ANN

“Dias?” Eu sorrio. “Menstruação?”

“Hummhmm. Uma noite com você e depois nada por


dias. Estou morrendo um pouco.”

“Você compraria absorventes para mim na loja?”

Ele se afasta, as sobrancelhas franzidas. “Você precisa


de alguns?”

“Não. Meu período terminou. Eu só me perguntei se você


era esse tipo de cara.”

“Tipo de cara?”

“Sim. O cara que compra absorventes para uma


mulher.” Eu toco minha têmpora. “Na minha cabeça, você
sempre foi esse cara.”

“Mariquinha?”

“Não.” Eu sorrio.

“É lisonjeiro estar na sua cabeça, no entanto, prefiro


ficar nu ou fazer parte de alguma fantasia, não comprando
absorventes.”

“Todas as melhores fantasias começam com um cara


comprando absorventes.”

Os olhos de Cage se arregalam, um sorriso brinca nos


cantos de sua boca. “Absorventes para parar o sangramento
depois que o cara da fantasia quebra a vagina da garota?”

Mordendo meu lábio superior, assinto. “Isso acontece.”

“Entendo. Algo me diz que minha resposta à pergunta


sobre o absorvente pode ser um momento crucial entre nós.”

Dou de ombros, tentando muito não sorrir. “Um ficar ou


correr.”
JEWEL E. ANN

“Ai. Estamos um pouco adiantados para ultimatos.” Ele


me levanta do balcão. “Vamos. Meu quarto fica lá embaixo.
Temos o porão só para nós.”

Pego minha mala de mão e Cage pega nossas malas.

“Uau. Porão legal. Ou santuário. É realmente mais um


santuário.”

Cage ri, levando nossa bagagem para o quarto.

Meus olhos continuam colados na parede. “Fico feliz que


você veja o humor, para não me sentir tão mal quando digo
‘Oh. Meu. Deus’. Quero dizer, o senso comum me diz que
deve haver uma parede por trás de todos esses pôsteres e
fotos, mas sem esse senso comum realmente parece que os
pôsteres e as fotos são a parede.” Eu me aproximo,
inspecionando o espaçamento inexistente entre os quadros.

Cage no ensino médio.

Cage na faculdade.

Cage em Minnesota.

Cage recebendo prêmio após prêmio.

Cage.

Cage.

Cage.

“Minha mãe é minha fã número um.”

“Não brinca. Eu já havia pensado em assumir o papel,


mas claramente estou fora do páreo.”

Ele coloca meu cabelo para um lado e beija meu


pescoço, pressionando seu corpo nas minhas costas. “Eu já
te disse hoje como você é linda?”
JEWEL E. ANN

“Não. N... ainda não.” Fecho meus olhos quando suas


mãos deslizam sob a minha camisa, encontrando o caminho
para os meus seios.

“Você é. Você é muito linda em todos os sentidos.”

Seu toque me deixa louco. O fim da minha menstruação


me deixa excitada. A combinação de ambos me faz não me
importar onde estamos. Eu viro nos braços dele. Meu sorriso
diz ‘vem aqui’.

“Sofá, Monaghan.”

Ele levanta uma sobrancelha.

“Não me faça dizer de novo.”

Ele sorri, dando vários passos para trás antes de cair no


enorme sofá marrom. Pego um de seus tênis e o tiro e depois
o outro. Suas meias seguem o caminho.

“Você consegue sentir, Monaghan? Você está se


preparando para marcar novamente. E se o seu recorde de
entressafra pode ultrapassar o seu recorde de temporada
regular?” Eu tiro minha camisa.

Seu olhar cai no meu peito. “Adoro quando você fala


minha língua.”

Tiro meu sapato. Cada peça de roupa é jogada em uma


direção diferente.

Minhas covinhas favoritas aparecem, aprovando a


provocação de strip-tease.

“Se importa se eu tirar a perna?” Pergunto.

Ele balança sua cabeça. Realmente não tenho palavras


para descrever como sua falta de qualquer tipo de reação me
faz sentir.

Nem uma vacilada.


JEWEL E. ANN

Nem um olhar nervoso para a minha perna.

Nem um segundo de hesitação.

É como se eu perguntasse se podemos ouvir música


enquanto fazemos sexo. Cage não vê minha deficiência. Ele
acha todas as versões de mim sexy. Eu encontro meu coração
doendo com o medo de que algum dia ele olhe para mim e
pense ‘Santa merda! Está faltando parte da sua perna’.

Com o mesmo talento, jogo minha perna por cima do


encosto do sofá e monto sua cintura apenas de sutiã preto e
calça.

“Acho que podemos ser honestos um com o outro,


Monaghan, por isso vou contar um pequeno segredo
feminino.”

Ele tira os olhos dos meus seios e encontra o meu olhar.

“No final do ciclo ou menstruação de uma mulher, como


você não gosta de chamar...”, ele revira os olhos, “... ficamos
com tesão, então, provavelmente há um intervalo de vinte a
quatro a quarenta e oito horas em que você poderia foder
uma mulher sem sentido e ela ainda imploraria por mais.”

O pomo de Adão dele balança, engolindo aquela


pequena pepita de informação. “Merda! Trouxe você para a
casa da minha mãe durante esse período.”

Dou de ombros, estendendo a mão para trás e


desabotoando meu sutiã, que é jogado sobre o sofá. “Erro de
principiante, Monaghan. Agora... a verdadeira questão é...”,
eu molho meus lábios enquanto desabotoo sua calça jeans,
“...que parte do meu corpo vai lhe dar seu primeiro orgasmo
hoje à noite?”

“Jesus, Lake...” Sua respiração fica presa quando eu


termino de puxar o zíper.

“AHHHHHHHH!!!!!!”
JEWEL E. ANN

“AHHHHHHHH!!!!!”

Meus ouvidos sangram com os gritos estridentes. Trzy


está em Minneapolis, por isso não foi ela quem causou os
gritos.

“Mamãe! Pai!” As vozes de duas meninas gritam em


uníssono.

Pulo para o cobertor do outro lado do sofá e me cubro. É


claro que o único cobertor disponível é um fofo e tricotado
com orifícios do tamanho de um quarto. Cage tem o jeans
novamente fechado antes de duas meninas e dois adultos
chegarem ao pé da escada.

“É uma perna! É uma perna!” Hayden enterra a cabeça


na camisa de Brooke enquanto Isa cobre a boca, olhos
arregalados olhando para a minha perna no chão, ao pé da
escada. Próxima. Ao. Meu. Sutiã.

“Sshh... não é uma perna de verdade. Vamos lá


meninas.” Brooke faz uma careta para Cage e depois para
mim antes de conduzir as meninas para o andar de cima.

Um homem alto e magro, com óculos de armação


metálica e um caso infeliz de calvície masculina, avalia a
situação com a mandíbula frouxa ― claramente estupefato.

“Rob!” Cage estende a mão.

Depois de mais alguns segundos constrangedores, Rob


aperta a mão de Cage. Adorável. Os dois homens se
cumprimentam separados apenas pelo meu membro protético
e sutiã de renda preta. Fico enrolada no canto do sofá,
envolta na desculpa mais patética de um cobertor de todos os
tempos.

“Cage, uh...” Rob me dá uma rápida olhada antes de


focar sua atenção em Cage “... bom te ver.”
JEWEL E. ANN

“Rob, esta é Lake Jones. Lake, este é o marido da minha


mãe, Rob.”

“Oi.” Eu balanço meu dedo indicador que passa através


de um dos grandes orifícios. Um aceno de um dedo, muito,
mas muito embaraçoso.

“Prazer... em... te conhecer.”

Mordendo meus lábios, concordo.

Por favor, quero morrer.

“Eu... apenas...” Rob aponta para o banheiro ao lado do


quarto de Cage. “Meu kit de barbear está aqui em baixo. Eu
só vou pegá-lo e conversaremos mais pela manhã.”

“Claro.” Cage sorri.

Eu? Não sorrio. Realmente, estou me perguntando por


que Rob tem que fazer a barba. Ele é basicamente careca e
não notei pelos faciais. Então ― bolas. Brooke provavelmente
faz o homem aparar sua paisagem abaixo da cintura. Eu
gosto de pensar que ele precisa do seu kit de barbear para
raspar as bolas. Eu gosto de pensar em qualquer coisa que
faça de outro alguém o elefante branco na sala. É um tiro no
escuro, na melhor das hipóteses, mas aceito.

“Entendi. Sinta-se em casa, er...”, Rob dá uma última


olhada na minha perna e sutiã, “… você sabe, tanto faz. Boa
noite.” Ele levanta a mão.

Dou um aceno final com o dedo indicador. É óbvio que


eu já me sinto em casa. Cage pega minha perna, sutiã e o
resto das minhas roupas e depois as leva para o quarto
enquanto Rob e seu kit de barbear escapam pelas escadas.

“Estou ligando para um táxi, vou ficar em um hotel e


pegar um voo para casa de manhã. Eu gosto de você, então
isso é realmente péssimo, mas terminamos porque nunca
mais poderei encarar sua família e acho que você não quer
JEWEL E. ANN

perder tempo com uma garota que nunca será capaz de levar
para casa. Obrigada por vir até a China. Melhor beijo de
todos. Desejo-lhe sorte e felicidade em sua vida. Foi um
prazer conhecê-lo.”

Cage reprime seu sorriso, fazendo um esforço de merda


para agir com seriedade. “Eu... eu acho que eles nem
notaram nada fora do comum.”

“Diz o Deus totalmente vestido que todos nesta casa


prestam homenagem nessas paredes. Mas depois há a
mulher nua que ninguém viu ou ouviu falar antes de hoje,
sentada no sofá apenas com um tipo de...” Olho para o
cobertor “… seis fios de lã enrolados em torno de seu corpo
nu. Suas irmãs vão precisar de terapia. Elas vão ter
pesadelos sobre partes do corpo… andando pela casa. Sua
mãe deve pensar que eu sou uma puta completa tentando
seduzir seu filho. Provavelmente pensa que sou uma
garimpeira deficiente. E nem me fale do que Rob deve estar
pensando...”

“Bem, vamos fazer isso, então.” Ele me pega, com fio e


tudo.

“Fazer o que?”

“Foder sem sentido enquanto esperamos pelo seu táxi.”

“Pare de zombar de mim.”

Cage me deposita em sua cama, depois fecha a porta e a


tranca. “Primeiro, nunca se chame de deficiente. Você é a
pessoa menos deficiente que conheço.” Ele tira a camisa. Eu
não faço objeção. “Segundo, caso você não tenha reparado no
‘santuário’ de Cage Monaghan, minha mãe pensa muito de
mim para acreditar que eu traria uma escavadora de ouro
para conhecê-la.”

Eu espero. Ele não diz mais nada e apenas fica ao pé da


cama.
JEWEL E. ANN

“Existe um terceiro?”

Ele balança sua cabeça. “Como você estava.”

Meus olhos voam de um lado para o outro. O que estou


perdendo? “Como eu estava o quê?”

“Antes de sermos interrompidos, você estava


desabotoando minhas calças como se tivesse uma missão ―
um plano. Continue.”

Meu sorriso desaparece. Eu não quero, mas os


sentimentos são pequenas criaturas precárias que surgem no
pior momento possível e insistem em seguir o seu caminho.

“Ei...” Cage senta na beira da cama e puxa a mim e meu


cobertorzinho em um abraço. “O que há de errado?”

“Droga, nada.” Abaixo minha cabeça.

“Não parece nada.” Ele se inclina para trás e levanta


meu queixo com o dedo.

Eu fungo e sorrio com o momento estúpido que estamos


vivendo. “Desculpe, eu não acredito que você se ofereceu para
mim e comecei a chorar. É só que...” A ponta da minha língua
passa ao longo do canto da minha boca enquanto olho para
cima e luto contra mais lágrimas. “Eu não sou aquela que
trabalha duro para impressionar alguém. Eu tive que deixar
isso depois do meu acidente. Foi minha maior incapacidade
por um longo tempo, mas quero que sua família me aceite
porque...” respiro fundo.

“Por quê?” Ele sussurra.

Meu olhar se fixa no dele. “Porque eu meio que gosto


muito de você.”

A intensidade em seus olhos acaba com toda a besteira,


toda a autopreservação, e é ele olhando para mim com meu
coração, mais uma vez, oferecido em uma bandeja de prata.
JEWEL E. ANN

Depois de um lento aceno de cabeça de resposta para


mim, ele se levanta e tira o resto de suas roupas. Falei
demais. Minha boca idiota e tagarela. Ele queria sexo e eu lhe
dei um episódio do Show de Oprah. Não é legal da minha
parte. Não é nada legal. Em um esforço para me redimir, jogo
o cobertor no chão e ofereço-lhe meu corpo em vez de meu
coração. Ele pega de novo e de novo, mas nem uma vez ele
diz alguma coisa para mim. Nossos gemidos suaves são os
únicos sons que enchem o ar.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO QUINZE

Diga isso com um absorvente

Mexe. Lambe. Lambe. Mexe. Lambe.

“Trzy...”, eu murmuro. “Agora não.” Viro e é quando a


cama não parece familiar que meu cérebro dá um pulo. Abro
um olho e depois o outro. “Cage?”

“Bom Dia. Você fala enquanto dorme.” Ele fica no final


da cama com as mãos enfiadas nos bolsos.

“Eu não.” Esfrego meus olhos.

“Você fala.”

“O que é...”, sento, “... tudo isso?”

Caixas e caixas de absorventes cobrem os pés da cama.

“Super, regular, com abas, sem abas, orgânico...”

“Hum... não estou m...”

“Menstruação. Sim, eu sei. Eu testemunhei esse fato


mais de uma vez na noite passada.” Ele sorri.

Eu coro.

“Eu quero ser aquele cara.”

Absorvente interno. Absorventes internos cor de rosa, de


haste longa. Os absorventes ganham meu coração.

“Você comprou absorventes para mim”, sussurro, ainda


atordoada.

A cama mergulha quando ele se senta na beirada. E


passa os dedos pelos meus cabelos e segura minha cabeça
JEWEL E. ANN

enquanto seus lábios roçam minha orelha. “Comprei


absorventes para você porque gosto muito de você ― muito.”

Eu amo isso. Eu o amo tanto que traz uma verdadeira


dor ao meu peito.

“Agora, como você perdeu o táxi e o hotel na noite


passada, é melhor pedir um café da manhã de aniversário.”

“Café da manhã de aniversário?”

“Sim.” Ele pega a bolsa e empilha os absorventes nela.


“Todas as opções de comida são de Hayden e Isa hoje, então
elas concordaram em panquecas de chocolate com bananas e
chantilly no café da manhã.”

“E minha perna?”

Ele ri. “Não se preocupe. Minha mãe explicou a elas na


noite passada. Agora é sua vez de fazer o que você faz de
melhor.”

“Mas você não tem camisinha e isso não parece um


pouco inapropriado para uma festa de aniversário?”

“Sim”. Ele se ajusta. “E também não é o tesão que você


está me dando, falando sobre isso.” Ele joga a sacola de
absorventes perto da minha mala. “Comprei preservativos
também.” Ele pisca. “Não se apresse, as panquecas estarão
esperando, e então você pode mostrar sua perna linda para
minhas irmãs. Outra coisa que você faz melhor.”

*
Convenhamos o que eu faço de melhor é comer
panquecas de chocolate com duas meninas de oito anos.
Depois que lhes mostro minha perna e as outras duas na
minha mala, elas querem experimentá-las e ficam chateadas
por não poderem, porque já têm dois pés.

Aww, aos oito anos de novo.


JEWEL E. ANN

“Então, como vocês se conheceram?” Brooke pergunta.


“Não leve a mal, mas não sabia nada sobre você até aparecer
ontem.”

Seco os pratos do café da manhã depois que ela os lava.

“Na verdade, eu conheci Cage em Omaha logo após a


morte do seu pai.”

“Sério?”

“Sim.”

“Ela é cunhada de Jillian”, Cage me assusta quando se


esgueira atrás de mim, pegando a panela seca de mim.

O tópico fora do limite entre nós foi violado. Eu não sei


para onde ir a partir daí.

O problema é que não conheço Jillian Knight. Eu


conheço Jessica Day ― Jessica Jones. É claro que são a
mesma pessoa, mas vivia em risco e tudo o que complica a
situação. Minha cunhada já esteve envolvida romanticamente
com o pai de Cage. Foi uma situação extremamente estranha.
Cage me disse que Jessica/Jillian o contatou depois que seu
pai morreu. Ela não compartilhou muito porque ele não quis
saber, então ela lhe ofereceu suas condolências atrasadas e
se despediu oficialmente.

Eu supus que ele queria se lembrar dela como Jillian, a


mulher que, de várias maneiras, deu uma vida a seu pai,
mesmo que o câncer tenha acabado com ela. Eu não sei o
que dizer. Jessica é minha família. Nosso relacionamento não
tem para onde ir se nunca pudermos falar sobre ela.

“Jillian se casou? Isso é ótimo.” Brooke parece


genuinamente feliz. “Crianças?” Ela já fez mais perguntas do
que Cage.

Dou a ele um olhar desconfortável. Ele me dá um sorriso


fraco, mas parece certo responder sua mãe. “Sim, um garoto.
JEWEL E. ANN

Grant Thomas Orion Jones ― GTO Jones. A história é que ele


foi concebido na traseira do mesmo veículo ― um GTO
vermelho de 1967 ― como meu irmão Luke. Grant tem 18
meses e é tão bonitinho. Ele parece com o meu irmão, mas
tem a personalidade da mãe ― divertida.” Eu provavelmente
fui longe demais. Eu nem olho para Cage. O entusiasmo pelo
meu sobrinho e a cunhada que eu praticamente adoro são
muito difíceis de esconder.

Cage pousa a panela e pega o telefone do bolso.

“Banks, o que houve?”

Eu o sigo enquanto ele anda pela cozinha.

“Eu estou. Ela, sim. Espere.” Ele estende o telefone.


“Banks. Ele quer falar com você.”

Meus olhos se estreitam para o telefone quando eu o


pego. “Everson?”

“Já faz mais de uma semana. Você disse que iria ficar
fora por uma semana. Você não me deixou seu número de
celular.”

“Eu disse uma semana mais ou menos. Você nunca


pediu meu número. O que há de errado? É Shayna?”

“Entrevistei quinze babás diferentes, mas não posso


decidir e isso é provavelmente porque não sei o que diabos
estou fazendo. Ela não toma banho desde que você deu um
nela. Isso parece ruim, certo? Não posso fazer isso, não posso
fazer isso, porra.”

“Calma aí. Está tudo bem. Ela está bem. A coisa do


banho é muito ruim, mas eu ajudo você.”

“Como você pode me ajudar quando você não está


aqui?”

“Por favor, me diga que ela não está aí enquanto você


joga todas essas bombas.”
JEWEL E. ANN

“Ela está assistindo TV no outro quarto. Quando você


volta pra casa?”

“Hum... eu não tenho certeza.”

“Hoje. Pagarei sua passagem.”

Eu sorrio. “Eu não preciso que você me compre uma


passagem.”

Cage continua secando a louça com Brooke, dando-me


um olhar ocasional de olhos estreitos.

“Hoje não. Vou pegar um voo para casa amanhã.”

“Um voo matinal.”

“Um voo disponível. Tchau.”

Entrego o telefone a Cage.

Ele coloca no bolso. “Então... vamos voltar amanhã?”

Brooke puxa o ralo da água e limpa as mãos. “Vou dar


privacidade a vocês dois.”

“Eu sinto muito. Ele está tendo dificuldades com


Shayna.”

“Está bem.”

Nós somos um casal? Estamos tendo nossa primeira


briga? Não parece uma, mas o seu “bem” não parece muito
bem.

“Você não precisa ir amanhã. De fato, você deveria ficar


com sua família. Tenho certeza que eles adorariam passar o
máximo de tempo possível com você antes da temporada
começar.”

Cage assente devagar, mais um aceno de processamento


do que um aceno de aprovação. “Isso é... tudo bem.” Seu
sorriso não alcança seus olhos.
JEWEL E. ANN

Coloco meus braços em volta da cintura dele. “Sou sua


por um dia, Monaghan. Acredito que você me prometeu pula-
pula e um pouco de bolo.”

Ele puxa meu rabo de cavalo. “Eu já mencionei que meio


que gosto muito de você?”

Eu sorrio. “Você mencionou e disse isso com produtos


de higiene feminina. Vá em frente, príncipe encantado.”

Ele me beija, deixando sua língua fazer uma exploração


lenta da minha boca. Minhas mãos deslizam até a bunda
dele, dando-lhe um aperto firme.

Ele geme. “Lake... solta a minha bunda, a menos que


você queira ir para cima do meu ombro e ter sua bunda sexy
lá embaixo.”

Eu mantenho minhas mãos exatamente onde estão.

Ele ri, mordendo meu lábio inferior. “Eu tenho um


relacionamento de amor/ódio com a sua teimosia de sempre
pedir para ver meu blefe.”

“Você ama que eu queira que você arraste minha bunda


lá para baixo, mas você odeia que não vamos fazer isso
realmente porque, enquanto falamos, há pessoas se reunindo
para as brincadeiras infantis.”

“Mmm... depois. Você foi avisada.”

Não é um aviso. É uma promessa, que pretendo cumprir


a noite toda.

*
Eu quase choro quando Cage me leva para o aeroporto
no carro de sua mãe na manhã seguinte. Por alguma razão,
Minneapolis parece realidade, e Pequim e Portland são
apenas um sonho ― aquele em que Cage Monaghan estrela
como meu protagonista. Minha carruagem se transformará
em abóbora quando o avião pousar em Minnesota?
JEWEL E. ANN

“Eu voltarei amanhã. Eu já estou na lista negra de Flint


por ter ficado fora tanto tempo... e provavelmente alguns dos
meus treinadores também. Fique longe de problemas.” Ele
passa os braços em volta de mim quando estamos na entrada
do aeroporto.

“E por problemas você quer dizer prisão.”

“Vou pedir para Flint e Banks ficarem de olho em você.”

“Você nunca vai me falar sobre Flint? Quem é ele?”

“Ele foi um receptor no Nebraska, dois anos mais velho


que eu. Saiu após uma lesão no Ligamento Cruzado anterior.
Agora ele é meu agente, mas do tipo que vai além porque
somos amigos também.”

Esfrego meus lábios e concordo. Ele agarra minha


bunda e aperta com mais força do que já apertei a dele. Meus
olhos ficam arregalados.

“E você deve ver Flint antes de eu chegar em casa, não


dê em cima dele.”

Minha cabeça recua.

“E não me dê esse olhar de que você não sabe do que


estou falando.”

“Eu...”

“Ele me disse que no dia em que te libertou da prisão


que você flertou com ele.” Ele arqueia uma sobrancelha.

“Ele é cheio de si.”

“Ele disse que você o chamou de estranho.”

Dou de ombros. “Bem, ele não é desagradável de se


olhar e seu nome é Flint.”

“Você gosta do nome dele?”

“Uh... sim.” Olho para ele e sorrio. “Você é ciumento?”


JEWEL E. ANN

Ele morde o lábio inferior e assente. “Talvez.”

“Eu gosto...”

“Não ouse dizer que gosta de mim com ciúmes. Você


acha que gosta agora, mas com um aviso justo, os caras não
gostam de ficar com ciúmes, e eu ganho a vida com as mãos,
de modo que arrebentá-las contra o rosto de outro cara não é
bom.”

Ele está certo, mas Oh. Meu. Deus. Isso me excita tanto
que quero jogá-lo no assento e dar um último adeus que
provavelmente resultaria em uma prisão.

“Então me beije como você quis dizer.”

Ele beija. Ele me beija como se nunca fosse me beijar


novamente.

“Tchau”, sussurro, completamente sem fôlego.

“Tchau.” Ele deixa um último beijo no meu nariz antes


de me soltar.

Tenho certeza de que entro como uma bêbada no


aeroporto.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO DEZESSEIS

Três palavras

CAGE

Estou me afogando em um lago (Lake). Minha Lake. Ela


é minha? Deus, eu quero que seja. Nunca na minha vida me
senti tão protetor ― possessivo ― com uma mulher.

“Eu gosto de Lake, ela é muito simpática”, minha mãe


diz e ri. “Suas irmãs a adoram. Eu acho que ela selou o
acordo quando brincou no pula-pula mais do que os amigos
delas. Ela jogou todos os jogos infantis e trançou fitas nos
cabelos das meninas. Se você não ficar com ela, vou adotá-la
como sua irmã mais velha.”

Sentamos em cadeiras na varanda da frente, assistindo


Hayden e Isa andarem de bicicleta nova por toda a entrada
enquanto Rob lava o carro.

“Eu gosto dela também.”

Ela toma um gole de café. “Você não parece muito


convencido.”

“Eu a conheci antes desta vida, essa... vida pública


louca. Não é que ela seja frágil, ela não é. Só estou
preocupado que a publicidade, minha agenda maluca e toda
a porcaria que vem como um pacote junto comigo sejam mais
do que ela quer. E honestamente, eu não a culpo.”

“Você não precisa se ajoelhar, querido. Quero dizer... eu


vou adotá-la, mas...”

Eu sorrio. “Flint acha que sou louco. Acho que as


palavras dele foram como ‘o pior timing de todos os tempos’.
JEWEL E. ANN

Eu disse a mim mesmo que daria tudo a essa carreira


futebolística e só estou começando, mas depois...”

Minha mãe descansa a mão no meu braço. “Mas nada.


Você está focado, sempre focado. Você pode ter uma carreira
e uma vida. Não precisa ser uma escolha. Ela me falou sobre
a China.”

“Falou para você?”

“Lake me disse que você voou para Pequim apenas para


beijá-la.”

Mordo meus lábios, um pouco surpreso que Lake disse


isso para minha mãe. “Ela disse, hein?” Meus olhos
permanecem fixos nas meninas, mas vejo o sorriso da minha
mãe pelo canto do meu olho. “Que tipo de idiota faria algo
assim?” Levanto. “Vou dar uma corrida. Acho que a chuva
parece que vai demorar.”

“Ok. Amo você, meu querido idiota.”

*
LAKE

Quando desfaço as malas, encontro um cartão com a


anotação:
CAPÍTULO CINCO

Meu cérebro dói porque não consigo lembrar, mas,


mesmo assim, ele causa um ótimo calafrio na espinha. Eu
termino de desfazer as malas e cuido das necessidades de
Trzy, que incluem a limpeza de sua caixa de areia, muito
carinho e algumas brincadeiras com o laser, então bato na
porta de Everson.

“Sentiu minha falta, Kong?” Eu lhe dou meu melhor


sorriso quando ele abre a porta.
JEWEL E. ANN

“Isso foi longe demais.”

“Oh, bem, nesse caso, tenho outras coisas para fazer.”


Eu me viro.

“Espere.”

Olho por cima do ombro. “Sim?”

Everson sacode a cabeça. Não há necessidade de fazê-lo


implorar, mas não posso me conter.

“Senti sua falta, mas você ainda não terá nada disso.”
Ele aponta para seu corpo.

Eu sorrio, virando e jogando meus ombros para trás,


levantando o queixo. “Não se iluda, Kong. Eu recebo minha
parte.” Oh Senhor... já estou recebendo o que eu quero.

Lá está o sorriso cheio, dentes brancos perolados e tudo.


“Vindo da sua boca, isso soa errado.” Eu faço uma careta.
Como eu deveria dizer isso?

“Onde está Shayna?”

Ele sai da porta. “No quarto dela.”

“Deixe-me ver o contrato que você tem para suas


candidatas a babá.”

“Contrato?” Suas sobrancelhas estão levantadas.

“Sim, um contrato. Você sabe, as expectativas que você


tem, seus deveres, como: atividades de aprendizado,
atividades recreativas, refeições, excursões, tarefas
domésticas, etc. E regras como: não fumar, beber ou drogas,
não tirar uma soneca, não fazer festas ou convidar amigos,
nenhuma mídia social, fotos e compartilhar fotos ou locais
reveladores, televisão ou jogos...”

“Por favor, não me diga que está entrevistando babás


como quem está procurando alguém para cortar a grama.
Você teve que assinar um contrato extenso para perseguir
JEWEL E. ANN

uma bola e dar tapinhas na bunda. Pelo amor de Deus,


Everson, você precisa de um contrato para empregar alguém
que vai cuidar de uma criança, um ser humano frágil.”

“Eu te disse que não sou bom nessa merda. Eu disse.”

“Shh...” Balanço minha cabeça apontando para o


quarto.

Ele revira os olhos.

“Você levou dez segundos para entrar em contato com


seu advogado para obter ajuda quando você resolver que não
ia ficar com ela. Uma ligação rápida para pedir ajuda a ele
com um contrato para uma babá deve ser fácil.”

“Lake!” Shayna grita, correndo em minha direção.

Inclino e a abraço, olhando para Everson. Como ele pode


não estar apaixonado por ela? Mesmo que ela precise de um
banho.

“Eu cuidarei disso.”

“Cuidar disso?” Ele pergunta.

“Vou contratar uma babá para você.”

Everson olha para mim como se eu tivesse um ‘mas’ ou


um ‘você me deve’ que ainda não compartilhei.

“Agora, acho que alguém precisa de um banho


novamente e talvez amanhã eu a leve ao salão.”

Olhos castanhos perfeitos olham para mim. “Salão?”

“Um corte de cabelo e talvez também possamos pintar as


unhas dos pés.”

Shayna sorri e olha para o irmão. “Everson, posso ir?”

Lá está, a menina lascou sua fachada dura como eu


sabia que faria. A confusão em seu rosto diz que ele não
esperava que ela pedisse permissão.
JEWEL E. ANN

Ela olha para ele.

Ela o respeita.

Ela confia nele.

É um presente e sei que ele começaria a vê-la um pouco


mais a cada dia.

“Uh... sim, tanto faz.”

*
Cage liga para me dizer boa noite. É uma ligação curta
com suas irmãs o incomodando para deixá-las dizer ‘oi’. Ele
planeja voltar para casa tarde no dia seguinte. Eu não
planejava sentir tanta falta dele.

No dia seguinte, levo Shayna ao salão e depois compro


mais roupas. Tolice a minha, presumi que Everson já teria
feito isso. Errado. Ah! Homens.

“Que diabos?” Everson olha para as pilhas de sacolas


que transportamos em seu apartamento.

Eu olho para a TV. “Desligue.”

Ele desliga o jogo Xbox que não passa de horrível


violência animada. “Sim, mãe.”

“Hora de crescer. Ela tem seis anos e se você quiser que


ela pare de engatinhar em sua cama no meio da noite,
precisará parar de deixá-la ver coisas que lhe darão
pesadelos.”

Everson não aceita meu conselho, mas acena com a


cabeça para as sacolas. “Já que estamos falando de ela ter
seis anos, lembre-me de me dizer porque parece que você
comprou a loja Macy’s hoje.”

Sorrio para Shayna e encontro minha voz feliz em vez da


condescendente que Everson merece. “Porque uma garota
JEWEL E. ANN

precisa de mais do que apenas duas roupas e um par de


roupas íntimas. Certo, querida?”

Ela sorri, cílios longos esvoaçando para Everson, e


depois vai com uma das sacolas para o quarto.

Everson dá de ombros, enfiando as mãos nos bolsos do


short. “Como eu deveria saber o que ela tinha?”

“Oh, eu não sei... você poderia ter olhado em sua


pequena mochila, ou talvez você poderia ter perguntado a ela
por que ela está usando as mesmas duas peças
repetidamente.”

“Eu não queria invadir a privacidade dela ou fazê-la se


sentir mal.”

A parte louca? Eu acredito nele.

“Agora me sinto uma merda. Eu não sabia.”

“Não importa. Volto mais tarde para ajudá-la a guardar


tudo. Agora ela tem uma banheira e seus produtos de higiene
pessoal, então vou ajudá-la a descobrir como tomar banho
sozinha aqui na sua casa. Mas ela é jovem, Everson. Se você
vê-la nua, não é estranho ou é um grande problema, a menos
que você a perverta, e se você fizer isso, eu vou arrebentar
suas bolas com meu pé robótico. Ok?”

“Foda-se”, ele diz da maneira mais divertida possível, e


com um sorriso.

Eu sopro um beijo para ele. “Olha a boca... mas também


gosto de você, Kong. Até logo. Ligue-me se precisar de mim...
agora que você tem meu número.” Balanço minha cabeça.
“Tchau, Kong.”

Meu telefone toca no bolso quando destranco minha


porta.
Cage: Voo atrasado. Chego tarde em casa. Treino cedo pela manhã, seguido de
duas reuniões para ver se ainda tenho um emprego. Jantar amanhã à noite?
JEWEL E. ANN

Lake: Sim!

Ele me manda uma mensagem com seu endereço.


Lake: Sua casa? Posso levar alguma coisa?

Cage: Uma bolsa para a noite.

Eu sorrio.
Lake: Volte para casa em segurança. Eu meio que gosto muito de você. Beijos.

Cage: O sentimento é meio mútuo.

O dia seguinte consiste em testar mais pernas. Jerry e


Thad me enviam uma nova perna para corrida, duas
diferentes para nadar e uma para andar de bicicleta. O vento
faz uma tentativa louvável de me matar na minha bicicleta,
mas eu persevero. A piscina da instalação de treinamento
está fechada para uma competição, então minhas pernas de
natação têm que esperar.

Eu ligo para várias candidatas de Everson para agendar


uma entrevista. Uma está disponível para me encontrar
naquela tarde, então nos encontramos em um café para uma
entrevista casual. No dia anterior, fiz quatro entrevistas por
telefone que não me impressionaram o suficiente para
justificar uma reunião cara a cara.

Muito jovem.

Experiência insuficiente.

Muito afobada.

Muito instável.

Então... a mágica acontece. Eu encontro uma. É quem


me encontra para tomar um café.

Everson e Shayna entram na garagem ao mesmo tempo


em que volto da entrevista.
JEWEL E. ANN

“Como foi?” Everson pergunta enquanto Shayna sorri


para mim antes de correr para o elevador.

“Perfeito. Melhor que perfeito. Eu contratei sua babá.


Marquei um horário para a pessoa conhecer Shayna amanhã
às onze. Se, se derem bem, pronto.”

“Ótimo. Obrigada. Agradeço por fazer isso.”

“O prazer é meu. Este currículo é insano. Vou ligar para


as referências indicadas hoje à noite, mas prevejo que seja
fácil.” Ando em direção à porta.

“Não é uma vovó de noventa anos que vai deixar seus


dentes no meu balcão, certo?”

Eu sorrio. “Realmente importa como é a sua babá?”

“Não, mas apenas me dê detalhes. Ela é gostosa?”

Eu balanço minha cabeça. “Sem comentários. Até


amanhã.” Enfio minha chave na fechadura.

*
“Uau... apenas... uau...”, sussurro depois que digito o
código no portão no final da unidade de Cage. A casa dele é
bem escondida por árvores altas, mas depois que ela aparece,
eu tenho problemas para acreditar que é um pouco menor do
que a de qualquer um dos colegas de equipe.

Dou uma volta no caminho de paralelepípedos com uma


fonte no meio e estaciono meu carro. Cage sai de sua
gigantesca porta de madeira com enormes janelas em três
lados. Fecho minha boca antes que a baba escorra pelo meu
queixo. Minha frequência cardíaca duplica a cada passo que
meu bonitão de jeans, uma camiseta branca e os pés
descalços dá em minha direção. Seu cabelo parece um pouco
mais escuro, como se ele tivesse acabado de tomar banho.

Saio, jogo minha bolsa no ombro e fecho a porta do


carro. Meu sorriso ridículo tem que parecer tão pateta quanto
JEWEL E. ANN

parece o seu. “Estou tentando parecer calma, mas estou


muito empolgada demais por vê-lo.”

Ele não diz nada. Ele apenas tira um cartão do bolso e o


levanta.
CAPÍTULO SEIS

Cage sorri e joga-o de lado. Faço uma anotação mental


para pegá-lo mais tarde, porque guardo todos eles, esperando
por um pingo de reconhecimento em minha mente, mas
naquele momento tudo em que eu consigo me concentrar são
nas mãos dele reivindicando meu rosto e o beijo que faz
minhas pernas ficarem desossadas.

O beijo de olá não para. Torna-se um beijo faminto que


diz que eu serei o jantar. Por mim tudo bem.

Agarrando a parte de trás das minhas pernas, ele me


levanta sem parar nosso beijo e me carrega para dentro. Tudo
o que capto são algumas imagens borradas através da minha
visão periférica, enquanto ele me carrega por um longo
corredor largo e depois por outro. O impacto de um colchão
quebra nosso beijo, mas ele ainda não diz nada.

Engulo em seco quando ele me mantém presa à cama


com olhos famintos enquanto suas mãos ficam ocupadas
removendo minhas roupas e minha perna. Ele a tira como se
tirasse meu sapato, nunca deixando seus olhos se afastarem
dos meus.

“Lugar agradável”, sussurro. Nervos loucos.

Ele tira a camisa e abre o zíper da calça jeans.


“Obrigado.” Ele sorri e bastam aquelas covinhas para me
fazer sentar e correr até a beira da cama. Elas me lembram
que três anos antes eu me apaixonei pelo garoto. O Cage na
minha frente é todo homem e não há nada que eu queira
mais do que mostrar o meu apreço para o homem.
JEWEL E. ANN

Abaixo sua cueca, expondo sua ereção. Quando olho


para ele, seus lábios se separam enquanto seu peito sobe e
desce lentamente. Há algo tão indescritível ― tão erótico ― no
seu olhar quando passo a mão pelo seu comprimento. É
desejo misturado com dor. Diz ‘você não precisa’, mas ao
mesmo tempo a escuridão em seus olhos entreabertos me
implora para envolver meus lábios em torno dele.

Suas mãos enfiam através do meu cabelo enquanto


minha língua prova sua pele quente. Fecho os olhos, vendo
flashbacks de sua boca em mim ― a maneira como ele
encontrou meu olhar com a língua pressionada contra mim e
a maneira que me fez cair em pedaços.

A rendição mais bonita.

O calor.

O lento desenrolar.

A vontade de provar alguém tão intimamente ―


desejando-o tão completamente. Eu quero que ele sinta ―
tudo isso ― tudo de mim.

“Porra, Lake...” Seu rosto fica tenso em torno de suas


pálpebras pesadas. Ele se afasta e termina de tirar a calça
antes de seguir um caminho com a língua no interior das
minhas pernas. Recosto-me, as pálpebras parecendo tão
pesadas quanto as dele. Em segundos, grito, empurrando
meus quadris quando sua língua encontra meu clitóris.

“Cage...” Seguro seu cabelo, bombeando meus quadris


contra ele.

Ele não fica lá por muito tempo. Ele prova cada


centímetro do meu corpo, me levando ao limite uma e outra
vez enquanto eu faço o mesmo com ele. Faço sexo e depois
amor com o desejo de continuar, encontrando prazer
insondável em muito mais do que a liberação. Fazemos o tipo
de sexo que parece durar horas, e quando finalmente
JEWEL E. ANN

encontramos nossa liberação, começamos novamente até


alcançarmos a exaustão física total.

“Senti sua falta”, ele murmura com uma voz sonolenta


com a bochecha pressionada na minha barriga.

Meu novo lugar oficial no mundo é nua, suada e


emaranhada nos lençóis cinza-escuros da enorme cama
redonda de Cage no centro de um salão que é grande demais
para um quarto.

“Eu não teria imaginado.” Eu sorrio.

Ele enfia os dedos nos meus lados.

“Pare!” Eu gemo, me contorcendo debaixo dele.

Ele lambe minha barriga e depois morde a pele das


minhas costelas. “Humm... você tem gosto salgado.”

Eu sorrio quando meus dedos brincam com seus


cabelos. “Isso é suor.”

“É sexo. Eu amo o gosto que tem em você.”

Meu interior aperta. Ele é sexo ― do jeito que ele olha,


das palavras que diz e do jeito que as diz.

“Então, vou fazer o grande tour pela sua casa de


solteiro, e podemos começar na cozinha, especificamente na
geladeira?”

Sua risada vibra na cama. “Está com fome?”

“Não. Eu superei a fome há mais de uma hora. Estou


morrendo de fome, faminta, definhando ao vento.”

*
JEWEL E. ANN

CAGE

“Nova regra. Quando você estiver em minha casa, você


não pode usar nada além de uma camiseta branca minha.”

A garota sexy com cabelos pretos e selvagens e lábios


inchados que parecem ter sido completamente beijados
espreita no canto da minha geladeira que ela invadiu, mesmo
que eu tenha acabado de colocar salmão na grelha.

“Humm, eu gosto da sensação que sinto por saber que a


camiseta que abraçava seu peito sexy está cobrindo meu
corpo nu.” Ela pisca e retoma o ataque.

“Sim, bem, imagine como vou me sentir quando tirar o


seu corpo nu para recuperá-lo.”

“Recuperar a camisa ou meu corpo nu?”

Sinceramente, não consigo me lembrar de um momento


na minha vida que me senti tão feliz.

Nem quando ganhei o Heisman.

Nem quando fui o titular no jogo.

Nem quando assinei meu contrato com o Minnesota.

Naquele momento, tenho certeza de que desistiria de


tudo só para ver Lake estalar os lábios várias vezes,
contemplando o que será seu lanche antes do jantar.
Inexplicavelmente, ela possui uma parte de mim desde o
momento em que nasceu, e levou vinte e um anos para me
encontrar e balançar na frente do meu rosto de uma maneira
que você está perdendo.

“Você tem marshmallows?”

Cruzo os braços sobre o balcão, com os pés apoiados no


degrau do banquinho. “Desculpa. Sem marshmallows. Eu
não como muito açúcar.”
JEWEL E. ANN

“Hmm.” Ela fecha a porta da geladeira, colocando uma


tigela de vidro cheia de uvas vermelhas no balcão. “Você
precisa de marshmallow e cereal de arroz crocante.”
Colocando uma uva na boca, ela sorri.

“Eu preciso, hein?”

Ela assente. “Waffles de linho, manteiga de avelã e


chocolate.”

“Algo mais?”

Tocando uma uva nos lábios enrugados, ela revira os


olhos para o teto. “Vou pensar sobre isso e informá-lo.”

Arranco um cacho de uvas. “Faça isso. Vamos lá,


preciso checar o jantar.” Vou até o deck.

“Você está de jeans, sem camisa. Eu estou em uma


camiseta e nada mais. E se seus vizinhos me verem?”

“Ninguém pode ver meu deck. Venha para fora.”

“Está escuro e frio.”

“Venha. Aqui.” Sorrio, colocando o salmão em uma


tábua de churrasco.

“Oh...” ela pisa no deck. “É quentinho.”

Aponto para os dois aquecedores em lados opostos e


montados acima de nós.

“Aproximadamente mais cinco minutos, então eu vou


alimentá-la antes que você ‘definhe’.” Sentada na ponta de
uma espreguiçadeira, puxo a mão dela, trazendo-a para o
meu colo, tentando não me concentrar na falta de calcinha.

“Obrigada por me convidar para o jantar.” Ela coloca um


pequeno beijo nos meus lábios.

Eu balanço a cabeça, contemplando minhas próximas


palavras. Encontrar alguma palavra na presença da única
JEWEL E. ANN

mulher que conseguiu me deixar sem palavras é um feito


quase impossível.

“Você parece tão sério.” Ela estreita os olhos.

“Lake Jones...” As palavras, onde estão as palavras e por


que estou com medo de dizê-las, mas com o mesmo medo de
não dizê-las? “O que você diria se eu dissesse que te amo?”

*
LAKE

Certo.

Ali.

Nesse momento.

Cage Monaghan vira a cabeça e me beija nos lábios de


uma maneira proverbial, fazendo meu coração estremecer. Eu
tenho um objetivo: fazê-lo virar a cabeça.

Balanço a minha. “Eu não diria nada. Você me deixaria


sem palavras.”

Ele embala meu rosto. Meus olhos se enchem de


lágrimas.

“Você é a garota, Lake. Se você não tivesse desaparecido


depois daquele dia em Omaha, eu seria um professor do
ensino fundamental. Eu não teria escolhido essa vida, porque
o futebol é a minha vida agora. Não sei mais como equilibrar
as coisas e, para ser sincero, não quero equilibrar. Eu quero
desistir por você. Quero estar com você para ser isso o que
faço todos os dias, porque juro por Deus que sei que posso
fazer isso melhor do que qualquer outra pessoa. Eu amo
você, Lake. Eu te amo de uma maneira que me deixa incerto
de tudo na minha vida, menos você. Eu te amo de uma
maneira que me faz querer nada além de você.”
JEWEL E. ANN

Pode ter parecido que meu rosto está em suas mãos,


mas é realmente meu coração. Ele olha para mim. Eu não
tenho nada, então dou de ombros e deixo grandes e gordas
lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Ele beija minhas lágrimas.

“Eu amo... você também.” As palavras ficam presas na


minha garganta. Elas estão lá por tanto tempo, crescendo a
cada dia, precisando tão desesperadamente ser ditas. Parte
de mim lamenta ter esperado ele dizer isso. Se há uma coisa
que meu contato com a morte me ensinou, é a verdadeira
fragilidade da vida e a importância de dizer o que importa no
exato momento em que importa.

Ben morreu e eu vivi.

E então, bem aqui... sei o porquê.


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO DEZESSETE

Babás e vizinhos

O compromisso das nove me leva para casa tarde da


noite. Eu quero ficar, mas preciso estar de pé e pronta para
falar com a babá de Shayna, e o cara que fez uma
reivindicação oficial ao título Homem dos meus sonhos é
distração demais. Sair da cama de manhã seria impossível
depois da noite perfeita.

Seguindo o melhor salmão de todos os tempos, ele fez


amor comigo no deck, sussurrando aquele amor mágico para
mim várias vezes. Eu não tenho certeza se há profundidade
em nosso amor, mas se houver, então estou tão longe que sei
que morreria antes de escapar.

Eu não quero fugir. Cage deixar a NFL para ser


professor e passar mais tempo comigo? Também não quero
isso. Eu já o vi jogar na faculdade. A euforia em seu rosto
quando ele passa para um receptor na zona final não é um
olhar que diz que ele quer ser professor e passar seu tempo
livre com uma garota. Concordamos que a noite nos deixou
em uma nuvem de nostalgia e que a tomada de decisões que
mudam a vida será melhor se for tomada com a cabeça em
claro.

O que sei com certeza é que Cage Monaghan é a razão


pela qual minha vida foi poupada. Não sei como sei... apenas
sinto.

“Não vou conseguir ficar muito tempo. Tenho uma


reunião.” Everson diz, enquanto esperamos a babá chegar.

“Isso é bom. Tenho a sensação de que você vão se dar


bem em menos de sessenta segundos. Então você será
dispensado e eu vou esperar um cheque considerável
JEWEL E. ANN

referente às minhas taxas de intermediação, preso à minha


porta no jantar.”

“Taxas de intermediação?”

“Por encontrar a melhor babá do mundo.”

“Você parece bem segura de si.”

Eu sorrio quando Shayna entra na sala. “Essa é uma


coisa certa. Ela vai amar Jamie, e Jamie vai adorar essa doce
garotinha.” Eu a abraço.

“Quantos anos Jamie tem?” Everson pergunta.

“Trinta e um.”

Bem na hora, ouvimos três batidas rápidas na porta.


Everson poderia aprender com Jamie uma batida adequada,
como em: estou na sua porta, mas não estou tentando
incomodá-la.

Everson abre a porta. “Posso ajudar?”

“Oi, eu sou Jamie Law.”

“Não, você não é.” Everson balança a cabeça.

“Everson!” Puxo seu braço para tirá-lo do caminho. “Não


seja rude.”

“Stick...”

“Lake”. Eu olho com uma carranca para ele antes de dar


um sorriso para Jamie. A pessoa não precisa ouvir nossos
nomes de animais um para o outro. “Entre, Jamie.”

“Lake, posso falar com você por um minuto?” Everson


pergunta em um tom que não pergunta, mas exige.

“Claro, só um segundo. Jamie, gostaria que você


conhecesse Shayna e seu irmão Everson Banks.”

Shayna estende a mão para Jamie. Everson não.


JEWEL E. ANN

“Uma palavra. Agora!”

Lanço a Everson outra carranca seguida por outro


sorriso de desculpas para Jamie.

“Shayna, por que você não conta a Jamie sobre suas


aulas de natação e quais livros você gosta? Sairei por alguns
momentos, já volto.”

“Não tenha pressa.” Jamie sorri.

Fecho a porta do quarto de Everson. “Oh... meu Deus.


Qual é o seu problema? Você tem alguma ideia de como
Jamie é qualificado em comparação com todas as outras
pessoas que entrevistei? Então Deus me ajude se você
estragar tudo, vou ficar com raiva de você.”

Ele descansa as mãos nos quadris. “Você é cega? Jamie


é um homem. Não vou contratar um cara para ser babá da
minha irmã. Essa merda simplesmente não está certa.”

“Uau... uau! Você poderia ser mais sexista?”

“Sim, na verdade, eu poderia, mas vou poupar você e


manter as coisas simples. Não. Não vou contratar esse cara.”

“Porque ele é um homem?”

Everson é odioso. “Isso mesmo.”

“Dois anos atrás, ele se interessou pela realeza na


Inglaterra. Ele é formado em educação. Ele é um técnico de
emergência médica — EMT em tempo parcial. Ele fala quatro
idiomas diferentes. Já completou sete provas do Ironman. E
chegou à lista de mais vendidos do New York Times por uma
série de livros infantis que escreveu. Você está louco? Não
existe nada melhor que Jamie.”

“Você ainda vai me ajudar com ela às vezes?”


JEWEL E. ANN

“O que? Sim. Mas não posso garantir meu tempo com a


imprevisibilidade do meu trabalho, então não posso ser babá
dela, caso contrário, já teria oferecido.”

“Eu entendo, Stick. Mas você estará por perto quando


puder?”

Dou de ombros. “Claro.”

“Você vai sair com Shayna e seu babá?”

“Sim, às vezes.”

“Ótimo. Espere aqui.”

Eu espero. Por quê? Eu não tenho certeza.

“Jamie, cara... importa se eu tirar uma foto sua por


motivos de segurança?”

Eu espio no canto quando Everson tira uma foto de


Jamie.

“O que é isso tudo?” Eu pergunto quando Everson volta


para o quarto.

Ele bate na tela do seu telefone. “Quais eram todas


essas credenciais novamente? Realeza... professor, EMT,
quatro idiomas...”, ele continua digitando em seu telefone, “…
Provas do Ironman, oh e Best Seller do New York Times.”

“O que você está fazendo?”

Ele levanta o telefone. “Acabei de enviar uma foto de


Jamie e seu incrível currículo para Monaghan para ver como
ele se sente sobre eu contratá-lo para trabalhar ao seu lado.”

Reviro os olhos. “Ele não vai se importar. Se alguma


coisa, ele ficará impressionado com minhas habilidades para
encontrar a pessoa perfeita para cuidar de Shayna.”
JEWEL E. ANN

Everson levanta o telefone quando ele toca com uma


resposta de Cage. Ele sorri. “Sim, foi o que achei que ele
diria.”
Monaghan: Não. Porra. De maneira nenhuma!

Meu queixo cai. Não posso acreditar que é a reação de


Cage. No entanto, eu me recuso a deixar Everson ver meu
choque.

“Você tem trinta segundos para defender de forma


inteligente a dispensa de Jamie, caso contrário, ele é nosso
cara. Sei muito bem que você tem planos para as próximas
semanas e eu não posso ser seu apoio todas as vezes, então
vamos ouvi-lo.”

“Ele é um homem!”

Grunho um zumbido. “Tente novamente, vinte segundos


restantes.”

“Não faz sentido que ele queira ser babá. Só isso já deve
levantar suspeitas suficientes.”

Outro bufo sai de mim. “Última chance, dez segundos.”

“Eu vou ouvir merdas de todo mundo que conheço por


ter uma babá homem...”, ele aponta para a outra sala, “... que
parece muito bonito por aí.”

“É por isso que você não quer contratá-lo? Porque ele


é...”

Everson cruza os braços sobre o peito. “Ele é o que,


Stick? Termine seu pensamento.”

Eu não mordo a isca. “Dê-lhe duas semanas e se você


não gostar de Jamie, procuraremos outra pessoa.”

Nossa encarada dura um bom minuto ou mais.

“Uma semana e sou eu quem decide se vamos continuar


com ele. Entendeu?”
JEWEL E. ANN

Eu concordo.

Sigo Everson e me sento ao lado de Shayna, que está


rindo e já se divertindo muito com Jamie. Everson fala todo o
processo de uma semana para ver se Jamie é realmente uma
boa combinação, enquanto dou uma boa olhada na babá
masculina. Talvez um certo zagueiro tenha me impedido de
avaliar a aparência de Jamie ou, se fiz isso, foi totalmente
inconscientemente.

Durante uma inspeção mais detalhada, tenho que


admitir que Jamie está um pouco do lado deslumbrante: alto,
em forma, um sorriso bonito, cabelos e olhos escuros. Pode
haver um pouco de semelhança de Tom Hardy acontecendo e
um sotaque britânico que teria derretido a calcinha de certa
amputada em uma vida anterior à Cage.

“Eu não sou um grande fã de futebol americano, mas


estou ansioso para vê-lo jogar neste outono.”

Eu me encolho. Jamie precisa sair antes que Everson


tenha mais ataques contra ele. Fica claro pelo modo como o
corpo de Everson fica tenso que ele não gosta de alguém
fazendo parecer que há outro tipo de futebol que não o
americano ― o futebol.

“Então, Jamie, obrigada por ter vindo, parece que você e


Shayna vão se dar muito bem. Amanhã às oito?”

Jamie sorri. Sim, ele é uma gracinha.

“Ótimo! Tchau, Shayna, vejo você de manhã.”

Quando a porta se fecha, eu me recosto nela. “Shayna,


você gostou de Jamie?”

Ela assente muito com um sorriso descritivo. Eu sorrio


para Everson, cujo rosto sustenta uma carranca permanente.
Parece que não conseguirei ver seu sorriso ofuscante tão
cedo.
JEWEL E. ANN

*
Quando volto ao meu apartamento, cuido da minha
primeira ordem de trabalhos.
Lake: “Não. Porra. Sério! Diga-me que você não baseou as qualificações de
babá de uma pessoa só por uma foto.”

Cage: Pronto para entrevistá-lo. Falo com você mais tarde.

Assim que solto um suspiro de frustração, ouço uma


batida na minha porta. Um novo tipo de batida, com base nos
meus conhecimentos de batida.

O olho mágico revela uma mulher com longos cabelos


ruivos que se aproxima demais, apertando os olhos, tentando
ver pelo meu olho mágico do outro lado. Eu pulo de volta.
Essa é a primeira vez. Então não é legal da parte dela. Eu
abro a porta.

“Olá, você é Lake Jones?” Ela pergunta com um sotaque


do sul.

Por que uma estranha pedindo confirmação do meu


nome parece um teste?

“Quem quer saber?”

Ela sorri um sorriso adorável que acentua seus olhos


azuis macios e translúcidos. Eles parecem muito menos
assustadores do que através do olho mágico. “Sou Penny
Weiss, sua nova vizinha do outro lado do elevador. Meu
marido e eu nos mudamos na semana passada.”

Eu olho para o canto e aceno. “Ah, sim, esse


apartamento está vazio há um tempo.”

Ela torce o nariz. “A vista não é ótima, mas não nos


importamos. Enfim, eu só queria me apresentar. Nós nos
mudamos para cá de San Antônio, agora com ninhos vazios.
Os pais de meu marido estão se mudando para uma
instalação de cuidados e assistência por perto, então
JEWEL E. ANN

decidimos nos mudar para cá pelo menos por alguns anos.


Quando nossos filhos decidirem se casar e nos dar netos,
sairemos daqui.”

Eu assinto. Penny não parece velha o suficiente para ser


avó. Ela parece ter trinta e cinco anos, magra, com uma
braçadeira de prata logo abaixo do bíceps do braço esquerdo,
vários anéis de prata nos dedos e grandes brincos de argola
de prata.

“Enfim, isso é tudo. Só queria fazer a introdução. O


gerente do apartamento me disse que poderíamos ser uma
boa opção. Saímos de um ótimo bairro e tenho certeza de que
os moradores de apartamentos não socializam como
proprietários de casas, mas sou da velha guarda. Você bebe
vinho?”

“Eu bebo.” Sorrio porque Penny faladora é agradável e


despretensiosa. Deus sabe que preciso de uma amiga com
toda a testosterona na minha vida. Sem ofensa a Trzy.

Ela olha para baixo. “Wow, nunca vi uma perna assim


antes. Rupert, meu marido, perdeu metade do dedo aos
quatorze anos. Saiu do lado mais curto da roleta de descarte
de lixo.”

Eu faço uma careta.

“Eu sei, certo?” Ela assente lentamente.

“O meu foi um acidente de carro. Se Rupert precisar de


um dedo extra ‘ou oito’ eu conheço um cara.”

Penny ri. “Direi a ele. Ele não sabe o que fazer com os
nove e meio que tem, então não acho que isso importe.”

Eu conheço Penny há dois segundos e, no entanto,


tenho certeza de que ela está compartilhando detalhes dignos
de arrepios sobre sua vida sexual. É oficial ― gosto de Penny
Weiss.
JEWEL E. ANN

“É um pouco cedo para vinho, mas tomo chá se você


gostaria de entrar.”

“Tem certeza? Não quero interromper o seu dia.”

“Tenho uma criança de seis anos para cuidar em uma


hora, então tenho tempo.”

Penny não surta com Trzy, mas confessa alergia ao gato.


É um bom teste para a característica hipoalérgica de Trzy.

“Você parece jovem demais para se aposentar.” Entrego


a Penny uma xícara de chá e me sento na cadeira em frente a
ela na minha mesa da cozinha.

“Eu tenho quarenta e cinco e Rupert tem cinquenta e


nove.” Ela me dá um sorriso tímido. “Nós somos o casal
esnobe que as pessoas gostam de falar. Nós éramos o tópico
caso de fofocas. Rupert foi professor titular de finanças na
mesma faculdade em que meu pai era o reitor. Rupert teve
dois filhos e estava em um casamento miserável. Eu estava
grávida de oito semanas, com dois anos de faculdade em
expansão, com um mestrado em desonra para meu pai.”

“Rupert e eu nos vimos pela primeira vez do lado de fora


do escritório de meu pai. Eu tinha acabado de dizer a papai
sobre minha gravidez, e é claro que saí chorando porque meu
pai foi um idiota total. Uma hora depois, houve uma batida
na janela do meu carro. Eu estava chorando, não conseguia
ir para casa. Era Rupert, um completo estranho para mim na
época. Ele me ofereceu uma carona para casa. E como eu era
jovem e burra, daí a gravidez não planejada, aceitei a oferta
dele.”

“Quando chegamos ao meu apartamento, convidei-o


para tomar um café, vomitei os detalhes da minha vida
trágica e drenei todas as minhas lágrimas na camisa dele,
usando sua gravata de seda como lenço. Duas horas depois,
estávamos na minha cama, nus e completamente satisfeitos.
JEWEL E. ANN

Você acredita que um cara da idade dele nunca teve uma


garota que o atacasse?”

Penny sorri. Eu perco todas as funções faciais enquanto


meu queixo pende no ar.

“Ah, então respondendo sua pergunta sobre a


aposentadoria. Rupert está aposentado; ele fez investimentos
muito sábios ao longo dos anos. Quanto a mim... não preciso
trabalhar, mas sempre tive empregos estranhos. Apenas algo
para me manter ocupada e sã. Não posso ficar com Rupert o
dia inteiro. Nós nos mataríamos.”

Penny é uma parte tão inesperada do meu dia, mas


estranhamente refrescante. Ela tem o poder de quebrar meu
vício em Netflix. Eu sei que a história de como conheceu seu
marido é apenas um pedacinho de sua vida.

“Então o pai de seu filho saiu de cena?”

“Querida, ele estava fora de cena antes da foto entrar em


foco. Você conhece aquelas coisas na vida que realmente não
são representativas de seus momentos mais delicados?”

Assinto, bebendo meu chá. Eu amo o sotaque sulista e o


jeito que ela me chama de querida.

“Bem, durante a fase de juventude com minha


selvageria, meio que caí em uma rotina de puta.”

Minha sobrancelha se levanta.

“Fiquei chapada e fodi com alguns paus.” Ela bate na


borda da xícara com a unha. “Inferno, quem estou
brincando? Tenho certeza de que havia algumas mulheres na
mistura também.” Penny suspira. Um leve sorriso cresce em
seu rosto como se ela estivesse lembrando os bons e velhos
tempos.

“Você viveu bem a vida até agora.”


JEWEL E. ANN

“Eu vivi. Muitos erros, mas sem arrependimentos. E


você?”

“Eu não sou tão emocionante. Perdi minha perna e meu


namorado em um acidente de carro. Mudei-me para cá há
alguns meses, vim de São Francisco. Ganho a vida com
minha ‘deficiência’ testando próteses de ponta e fazendo
sessões de fotos ocasionais.”

“Que tal outro significado? Você é bonita demais para


não ter namorado... ou namorada. Igualdade de
oportunidades, certo?”

Eu sorrio, olhando para o meu chá. “Eu tenho alguém.


É meio novo e meio velho, mas na maioria das vezes é difícil
de explicar, mas ele é... um bom partido.”

“Gosto do som disso.”

Uma batida na porta me traz de volta à realidade, assim


que as lembranças da noite anterior começam a aquecer
minha pele.

“Vou embora.” Penny se levanta.

“Não, você não precisa ir.”

“Não, eu vou. Conversamos mais tarde, querida.”

Olho pelo olho mágico.

“Essas coisas não são viciantes? Eles não funcionam tão


bem do outro lado.”

Eu sorrio, em parte pelo comentário de Penny e em


parte pelo meu belo rapaz do lado oposto da porta.

“Sim, são bastante viciantes. Olho mágico é um dos


meus passatempos favoritos.” Abro a porta.

“Oh doce Jesus! Você é Cage Monaghan.”

Os olhos de Cage voam entre mim e Penny.


JEWEL E. ANN

“Sim, Penny, esse é Cage. Cage conheça Penny, minha


nova vizinha.” E uma vagabunda extraordinária pela qual
estou apaixonada.

“Oh meu Deus... é um enorme prazer. Eu acompanho o


futebol como o nariz de um cachorro até a bunda de um gato.
Você se importaria se eu pedisse seu autógrafo?”

Cage olha para mim novamente. Eu estremeço.

“Vou pegar um marcador.” Pego um na gaveta da


cozinha. “Você quer um pedaço de papel ou algo assim,
Penny?”

“Não.” Ela continua olhando boquiaberta para Cage.

“Aqui.” Entrego o marcador para Cage.

“Bem aqui, gatão, se você não se importa.” Penny


levanta a blusa cerca de dez centímetros, apontando para a
parte inferior das costas. “Logo acima do meu coração e asas,
seria perfeito.”

Cage olha para mim novamente. Mais uma vez, dou de


ombros. Ele autografa as costas dela e tampa o marcador.

“Ah, perfeito. Rupert e eu vamos transar hoje à noite


para que ele possa encarar seu autógrafo. Nada melhor do
que um cara com ciúmes. Anima o jogo deles, se você
entende o que quero dizer.” Penny pisca o olho e segue pelo
corredor.

Cage ainda não disse uma palavra.

“Ela é ótima, hein?” Pego o marcador dele e volto para


dentro.

“Eu realmente não tenho palavras para Penny.”

Fecho a gaveta e me encosto ao balcão. “Mas você tem


algumas para dizer sobre Jamie, certo?”
JEWEL E. ANN

“Quem é Jamie?” Ele desliza as mãos atrás de mim,


apalpando minha bunda enquanto me puxa para seu corpo.

Fecho os olhos quando ele beija a pele abaixo da minha


orelha. “Babá de Shayna.”

Cage fica ereto, olhando para mim com os olhos


estreitados. “Então a foto não era uma piada?”

Eu agarro sua bunda também, apertando-a com força.


“Então o ‘de jeito nenhum’ foi uma piada?”

“Sim. Não... Eu não sei. Você contratou mesmo um babá


para a irmã de Banks?”

“Contratei o babá mais qualificado que, por acaso, é um


homem. Por favor, não me mostre seu lado sexista, se você
tiver um. Eu não quero ver. Sim, é oficial: as mulheres podem
ser pilotos e médicos, e os homens podem ser enfermeiras e
babás.”

“Seja como for, isso não me afeta.”

“Verdade. Agora me beije para que eu possa ver se ainda


o afeto.”

Cage sorri quando seus lábios mostram aos meus que


eu realmente ainda o afeto. “Senti sua falta na minha cama
esta manhã”, ele murmura sobre os meus lábios enquanto
suas mãos deslizam pela minha camisa.

Pressiono minhas mãos em seu peito. “Não podemos


fazer isso.” Olho para o relógio no meu micro-ondas. “Shayna
está vindo enquanto Everson faz o que diabos ele faz nesta
época do ano.”

“Agora?”

“Dez minutos.”
JEWEL E. ANN

“Posso trabalhar com isso.” Ele me beija com força, me


apoiando no balcão enquanto sua ereção pressiona minha
barriga.

Eu sorrio, me contorcendo de seu aperto em mim. “Pare!


Dez minutos não são suficientes.” Esfrego meus lábios. Eles
já estão entorpecidos por seu ataque a eles.

Cage suspira. “Se adapte você, então. Vou me encontrar


com dois dos meus receptores para praticar alguns
arremessos.”

Endireito meu sutiã que ele puxou para baixo, expondo


meus seios. “Basicamente, você está indo a um parque para
brincar com seus amigos.”

Ele coloca meus dois pulsos atrás das costas com sua
mão direita e morde meu pescoço. Cage é um mordedor e, oh
meu Deus, eu amo o que isso faz comigo.

“Sim, basicamente”, ele sussurra no meu ouvido antes


de me deixar encolhida no chão da cozinha enquanto
caminha em direção à minha porta. “Até mais tarde.”

Depois que a porta se fecha, sussurro, “Mais tarde.”


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO DEZOITO

Pegue e solte

Então acontece. Eu encontro minha vila em


Minneapolis. Eu encontro minha vida novamente em
Minneapolis. Terra dos 10.000 lagos. Duh, estava ali o tempo
todo.

Jamie sobrevive ao julgamento de uma semana. Apesar


das intenções de Everson de ser o tomador de decisão,
fazemos uma votação. São dois contra um. Jamie fica.

Penny se torna minha nova melhor amiga, que não


compartilho com Lindsay por razões de poupar sentimentos.
Eu preciso de alguém mais bagunçado do que eu para
realmente me aceitar. Penny preenche a lacuna entre meu
namorado e minha mãe. Ela me ouve como Lindsay, apenas
com menos julgamento, mas dá conselhos maternais, apenas
com menos ética. Sim, eu amo Penny Weiss.

Shayna e Everson se tornam meus novos irmãos,


embora me sinta muito mais uma mãe para Shayna do que
uma irmã, e Everson seja apenas... Everson. Eu ainda não
rompi sua resistente camada externa para encontrar o que
sei que é um meio-pegajoso.

Outra teoria minha.

Cage é a vantagem de todos os dias, não importa o quê.


O fato de estarmos a apenas algumas semanas dele partindo
para a concentração de treinamento é agridoce. Meu espiar
pela manhã revela um encontro de Everson e alguns outros
caras da equipe no corredor, outra vantagem da minha vida
em Minneapolis. Um dos outros caras é o meu cara. Inclino-
me e termino de amarrar o sapato, depois abro a porta. O riso
JEWEL E. ANN

barulhento e a conversa silenciam quando todos os olhares


caem em mim.

Eu sorrio. “Rapazes.”

“Droga, Monaghan!” Um dos caras assobia. “Você


escolheu ir pescar hoje?” Seus olhos percorrem meu corpo,
vestindo shorts de corrida apertados e um sutiã esportivo.

“Mantenha seus olhos longe dela.” Cage brinca


empurrando o cara antes de se mover em minha direção. Ele
agarra minha cabeça e me beija, provocando alguns gritos e
assobios. “Eu mal te vi ontem à noite”, ele sussurra em meu
ouvido.

Eu o deixei nu e saciado em sua cama para chegar em


casa para que eu pudesse conversar com Jerry por vídeo
sobre o ajuste da minha perna mais nova. Limpando minha
garganta, dou um passo para trás antes de começar a suar
com seu toque. “Pescaria? Então você estava falando sério?”

“Seu garoto tem o barco de pesca mais bacana de todos


os tempos, Stick. Cara, como você ainda não a levou para
passear?” Pergunta Everson.

Lembro vagamente de Cage mencionando algo sobre


pescar uma vez, mas não pensei muito nisso. “Você tem um
barco? Um barco de pesca de verdade?”

Os caras riem.

“Vamos pela cerveja e das brincadeiras, mas Monaghan


realmente leva isso a sério, dando-nos o terror se ficarmos
muito barulhentos.”

Inclino minha cabeça para o lado. Cage sorri quando dá


de ombros.

“Pesca e solta, ou você come peixe?”

“Depende.” Ele enfia as mãos nos bolsos do short.


JEWEL E. ANN

Aceno, ainda um pouco surpresa.

Cage aponta para minha perna de corrida. “Testando


uma nova perna?”

Eu balanço minha cabeça. “Roupas íntimas.”

Sua testa se enruga e os caras atrás dele se aproximam


um pouco mais, curiosos.

“O quê?” Cage pergunta.

“Minha calcinha favorita saiu de linha. Estou


experimentando uma nova marca e a melhor maneira de
testá-las é correr. Eu quero se elas vão subir demais onde
não devem, saber antes de comprar dez peças. Eu não sou
uma garota de fio dental. Não gosto de nada enfiado na
minha bunda.”

Suas bochechas ficam vermelhas enquanto engole em


seco. A equipe de pesca tenta e falha em esconder suas
risadas. Um dos caras dá um tapa no ombro dele.

“Nós vamos encontrá-lo lá fora.” Ele limpa a garganta.


“Nossas condolências sobre as notícias da bunda.”

Isso provoca uma nova rodada de risadas quando os


caras entram no elevador. Quando as portas se fecham, Cage
aperta os lábios e suspira. “Obrigado por isso.”

Dou de ombros. “O que?”

“O que...” É possível que sua intenção seja parecer sério


ou talvez chateado, mas ele não consegue terminar seu
pensamento sem esfregar a mão sobre a boca para esconder
seu sorriso. “Você não gosta de ‘qualquer coisa enfiada na
sua bunda’. Sério, Lake?” Revirando os olhos para o teto, ele
balança a cabeça.

“Então você gosta muito de pescar, hein?”


JEWEL E. ANN

“Não mude de assunto.” Ele estreita os olhos para mim.


Pena que ele ainda não consegue manter uma cara séria. Isso
daria ao seu caso muito mais mérito. Esses são os meus
momentos favoritos, quando ele tem noventa por cento de
certeza de que minhas ações são um efeito colateral
embaraçoso do meu humor no deserto do Saara, e ainda
assim dez por cento de merda, ela é séria.

Eu amo esses dez por cento. Trabalho duro por esses


dez por cento.

“Sinto muito, qual era o assunto? Oh sim, coisas que eu


não gosto na minha bunda. Parece uma categoria de
Jeopardy ou uma pesquisa de Family Feud. Diga algo que
Lake Jones não gosta na sua bunda. Roupas íntimas. O que
a pesquisa diz? Ding ding ding... noventa e quatro pessoas
pesquisaram e responderam calcinha, as outras seis
disseram pau. E acredito que esses seis idiotas lascivos estão
lá embaixo esperando por você.”

Cage me olha; não apenas um olhar indiferente ou


persistente. Seus olhos se estreitam uma fração, mas nunca
perdem o brilho. O umedecimento de seus lábios é seguido
por mordê-los juntos, como se recusasse a falar até que ele
me descubra. E logo antes de falar, suas covinhas se rendem
ao seu sorriso iminente.

“Vou enviar uma mensagem para você. Encontre-me lá


em três horas.”

“E se eu não tiver resolvido essa situação de roupas


íntimas até então?” Minha cabeça inclina para o lado quando
minha cara de paisagem escorrega um pouco, revelando meu
próprio sorriso iminente.

“Hmm...” Ele me puxa para ele, suas mãos passando


pela parte de trás do meu short de corrida. “Não se preocupe
com isso”, ele sussurra antes de chupar meu lóbulo da orelha
em sua boca.
JEWEL E. ANN

Meus lábios se separam e os olhos se fecham, enquanto


eu seguro seus bíceps para manter meus joelhos dobrados.

“Calcinhas são opcionais.”

Três palavras e meus joelhos dobram. Felizmente – mas


não muito ― ele pega a parte de trás da minha calcinha nova
e puxa. Meu herói? Não. A calcinha rasga alguns segundos
antes de meus joelhos cederem.

Eu gaguejo.

Ele sorri.

“Eu acho que você deveria considerar se acostumar com


a ideia ― a sensação ― de algo enfiado nessa sua bunda
sexy.”

Poucas coisas me deixam sem palavras, mas minha


calcinha sendo rasgada por um homem me deixa com olhos
arregalados e uma língua entorpecida.

Ele pisca um pouco antes das portas do elevador se


fecharem.

*
Ser a caçula de cinco e ter três irmãos mais velhos que
se vingavam diariamente, tramando travessuras foi parte
integrante da minha infância. O endereço que Cage me
manda é para um lago. Estaciono ao lado de sua
caminhonete com o trailer vazio do barco.
Lake: estou aqui.

Cage: Eu vou buscá-la. Por favor, ignore qualquer um dos bêbados.

Sorrio enquanto balanço a cabeça e pego meus óculos


de sol. Quando entro no cais, ecoam assobios e gritos quando
um barco se aproxima.

“Estamos sendo abandonados por uma garota”, diz um


dos caras enquanto o barco se arrasta ao longo da doca.
JEWEL E. ANN

Acho que havia cinco caras no total, mas eu só tenho


olhos para minha vingança... ou o sortudo usando o chapéu
caqui mais bagunçado, com várias iscas penduradas nele.

“Lake é o meu lago favorito.”

“Você está mal, cara. Estamos na terra dos dez mil lagos
e você tem um lago favorito?” Um dos caras diz enquanto
pisam no cais, alguns um pouco mais trêmulos que outros.

“Stick.”

Eu levanto uma sobrancelha. “Kong.”

Ele sorri. Cage deve ter tomado um pouco de cerveja


também; é a única poção que parece trazer seu sorriso
completo, pelo menos para mim.

“Mais tarde, Monaghan.”

“Bender está dirigindo, seus idiotas.”

O último cara do barco assente com um sorriso


educado. Eu o reconheço como o cara loiro da festa de
Everson, aquele que parecia saber como pronunciar Trzy. Ele
balança um conjunto de chaves do carro.

“Você deve ser Bender.”

“Holden Bender, sóbrio e ao seu serviço. Como está sua


gata?”

Ele se lembra de mim. Adorável.

“Ela ainda é um verdadeiro animal de festa, um dos


bichanos mais procurados do prédio.”

Os olhos de Holden se erguem por um segundo antes


que ria alto, dando uma rápida olhada de volta no barco para
Cage, que balança a cabeça.

“Eu gosto dela, Monaghan.” Ele continua a rir enquanto


caminha pela rampa.
JEWEL E. ANN

Cage e eu ficamos nos olhando até o som dos pneus de


Bender derraparem na estrada, sinalizando sua partida.

“Eu não pesco.”

Cage sorri. “Você cresceu em Tahoe. Como você pode


não pescar?”

“Simples. Eu simplesmente não pesco. Passeios de


barco? Sim. Esquiar? Sim. Caminhada? Pode apostar.
Pescar? Não é minha coisa.” Jogo minha bolsa no barco e sigo
em frente sem pegar a mão estendida de Cage. “Quando
exatamente você se tornou um pescador?” Eu brinco com
uma das iscas presas ao seu chapéu.

Cage agarra meu pulso, me dando um olhar de aviso


que se derrete em um sorriso quando ele pressiona seus
lábios na parte interna do meu pulso. “Meu avô pescava e
meu pai também quando eu era muito jovem. Pescar,
acampar... basicamente qualquer coisa ao ar livre.” Ele
engancha minha cintura com um braço e me puxa para seu
colo enquanto o barco zumbe, sentado ocioso ao lado da
doca.

“E beijos? Quem te ensinou a dar beijos?” Aperto os


olhos.

Ele encolhe os ombros. “As crianças do bairro quando


eu morava em Portland.”

Eu mantenho o ‘você vai pagar por isso, querido’ para


mim. O elemento surpresa é minha melhor aposta para o
sucesso.

“Você parece ter setenta anos com esse chapéu.”

“Você não gosta do meu chapéu?”

Gosto de sua camisa branca e suas pernas definidas sob


as minhas ― as covinhas são um bônus ―, mas o chapéu de
JEWEL E. ANN

pescador é... nada sexy. No entanto, o cara consegue fazê-lo


funcionar.

“Então, eu sou o seu lago favorito, hein?”

Seu olhar cai nos meus lábios. É louco como a menor


mudança de seus olhos me afeta tanto. Minha boca seca
quando meu pulso acelera.

Eu molho meus lábios.

Seu olhar desce para o meu peito.

Meus mamilos endurecem.

Sr. Faço os Chapéus Estúpidos parecerem sensuais


manipula meu corpo com nada mais que um olhar. É sutil,
mas profundo, como o efeito do sol.

“Você é meu tudo favorito.” Ele encontra meus olhos


novamente e sorri. Claro que ele sabe o que faz comigo. Não
há como esconder isso.

“Seu tudo favorito, sério?” Estreito os olhos.

“Realmente.”

“Qual é o seu dia favorito?”

Ele sorri. “Qualquer dia que vou te ver.”

“Cor favorita?”

“Azul, como seus olhos.”

“Animal favorito?”

“Elefante.”

“Dane-se.”

Seus olhos dançam divertidos.


JEWEL E. ANN

“Comida favorita?” Apesar do barco e de todo o


equipamento de pesca, não posso recolocar esse comentário.
Não, eu já o lancei e ele mordeu.

A excitação debaixo de mim e a maneira agonizante e


lenta de sua língua aliviarem todo o lábio inferior respondem
a essa pergunta.

“Lake”, ele sussurra. “Estou morrendo de fome agora.”

Engulo.

Eu estou um pouco faminta também. “Hum...” Limpo


minha garganta. “Acho que o que você tem em mente é mais
uma refeição particular.”

Ele abaixa a cabeça e beija meu ombro nu ao lado da


alça fina preta da blusa da minha blusa e lambe uma trilha
até minha orelha. “Eu te amo.”

Inesperado. É como andar de montanha-russa com os


olhos vendados. Eu antecipo o ‘eu te amo’ dois segundos
antes de ele me dar um beijo, e quando espero um
comentário de piquenique no barco, ele tira meu fôlego como
uma gota mergulhada com aquelas três palavras simples.

“Eu também te amo.” Eu sorrio e puxo seu chapéu. “Até


do seu chapéu começo a gostar.”

“Oh, sim?” Ele senta.

Eu assinto.

“Bem...”, ele se inclina para o lado e levanta um assento


com um compartimento de armazenamento por baixo, “...
então é o destino eu ter um para você.”

Um chapéu de pescador cor de lavanda com iscas


penduradas. É horrível e de tirar o fôlego ao mesmo tempo.

“Não quero piolhos. Quantas mulheres já usaram isso


antes de mim?”
JEWEL E. ANN

“Você é a primeira mulher a pisar neste barco. Eu


comprei para você. Coloquei as iscas para você.”

Perder minha perna foi fácil comparado a perder meu


coração para Cage, mesmo que eu o entregue de bom grado.
A cada dia que passa, sei que nunca vou recuperá-lo
inteiramente. Ele leu o aviso? Ele viu o ‘Frágil. Manuseie com
cuidado?’

“Quando sua temporada começar e nós não nos vermos


tanto...” Pego o chapéu e o coloco, Cage sorri “... você pode
me fazer um grande favor?”

“Qualquer coisa.”

Pressionando minhas mãos em suas bochechas,


sussurro “Não se esqueça de me amar.”

*
CAGE

O chapéu roxo de pesca combina perfeitamente com ela.


Eu não consigo tirar o sorriso do meu rosto. Verdade total:
Lake é a primeira mulher a pisar no meu barco de pesca.

“Vou esquecer como jogar uma bola de futebol antes de


esquecer-me de amar você.”

Seus lábios roçam os meus. Inalo seu perfume floral, o


que me faz precisar provar seus doces lábios. Na maioria das
vezes, ela tem sabor de canela em sua gengiva, mas nas
minhas ocasiões favoritas ela tem gosto de marshmallow.
Peço ao homem lá em cima que vire o destino a meu favor:
nunca deixe outro homem provar seus lábios.

“Ambos seriam uma tragédia.”

Eu balanço a cabeça, mas se for honesto, o primeiro


seria péssimo, o último seria o fim do mundo.
JEWEL E. ANN

“Vamos pegar um peixe.”

Demora cerca de quinze minutos para chegar ao meu


lugar favorito. Poderíamos fazer em melhor tempo, mas vou
devagar. Eu poderia observar Lake o dia todo com o rosto
sorridente ao sol, os olhos fechados, segurando o chapéu na
cabeça enquanto os cabelos escuros chicoteiam no vento.

“É isso.”

Ela abre os olhos, girando a cabeça em uma direção e


depois na outra. “Legal a pequena enseada aconchegante.”

“Sim.” Pego minha vara e caixa de equipamento.

“Você é introvertido.”

“Um pouco. Aqui.” Jogo a linha. “Pegue-me um peixe.”

“Sua vara? Você vai me deixar usar sua vara especial?”

“Baby, você pode usar qualquer coisa minha, quando


quiser.”

Ela senta ao meu lado e pega a vara. “Você deixou seus


amigos usarem sua vara?”

“De jeito nenhum.”

Pescamos por menos de uma hora antes que a chuva


nos mande de volta ao cais. Eu teria ficado seco se não
tivéssemos que dar a volta para recuperar meu chapéu que
ela jogou para o lado quando perguntei como estava sua
calcinha nova. Aparentemente, ela está contando pontos.

“Não foi legal, querida.” Pego meu chapéu da superfície e


coloco de volta na minha cabeça.

Ela ri quando a água pinga no meu rosto e corpo.

“Eu não estou rindo.”

“Pobre menina, não coloque suas calcinhas em risco...


ou coloque.”
JEWEL E. ANN

O trovão retumba quando uma brisa fresca nos envolve.

“Você precisa de ajuda para colocar o barco no trailer?”

Eu balanço minha cabeça, muito teimoso para dizer


mais alguma coisa com meu chapéu encharcado na cabeça.

“Bom.” Lake pula assim que chegamos ao cais. “Porque


está se preparando para chover em nós.” Ela corre para o
carro.

Cinco segundos depois, as nuvens se abrem.

“Foda-se.” Eu balanço minha cabeça, mas não me


incomodo em me apressar nesse momento, pois já estou
molhado em segundos. Depois que prendo o barco no trailer,
Lake me dá um sorriso quando sai do estacionamento atrás
de mim. Ela é irritante e sexy, e aquele sorriso... Droga! Eu
quero chupar aquele sorriso bem no rosto dela. Eu quero
sugar cada centímetro dela até que a única expressão que
tenha seja a careta que acompanha seus gemidos e gritos
altos.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO DEZENOVE

Fantasmas

LAKE

Monaghan e Banks de Minnesota são apanhados em um


triângulo amoroso com uma amputada de São Francisco

Monaghan em encontro com Amputada ― Prova que ele é o


Verdadeiro Garoto de Ouro.

O jogo de Monaghan será afetado por sua namorada


exigente?

O burburinho da mídia me garante chá quente todas as


manhãs, no meu apartamento ou na casa de Cage, com
cumprimentos de Flint Hopkins.

“O babá. Você tem que ficar bem longe do babá!” Flint


passa por Cage na porta da frente, indo direto para mim na
cozinha. Normalmente ele me entrega meu chá; naquele dia,
o ele bate no balcão.

Espalho manteiga de amendoim e chocolate nos waffles


da torradeira, vestindo apenas a camiseta branca de Cage e
um sorriso. “Bom dia, Flint. É domingo. Você nunca tira um
dia de folga?”

No momento em que começo a me virar para Flint, meu


amante protetor estende um roupão branco atoalhado que eu
posso ou não ter pegado de um hotel. Deslizo meus braços e
Cage amarra a frente enquanto me beija.

“Vou dar uma corrida. Toma banho comigo quando eu


voltar?” Ele sussurra.

Aperto minhas pernas e concordo.


JEWEL E. ANN

Cage aponta um dedo duro para Flint enquanto passa


por ele. “Incomode-a e você está demitido.”

Flint revira os olhos, e eu também. Tornou-se o lema


diário de Cage. Eu sei que a prioridade número um de Flint é
proteger a reputação de Cage. Ele sabe que não dou a mínima
para as manchetes e fotos. Temos toda uma rotina: Cage sai,
treinamos nossos ataques verbais habituais e depois
sorrimos quando nosso garoto volta.

“Estou falando sério desta vez. A concentração de


treinos começa em duas semanas. A mídia está em alerta
máximo para abocanhar praticamente qualquer pedaço de
notícia com que possam correr.” Flint aponta o dedo para
uma página impressa de postagens de mídia social,
manchetes de jornais e fotos minhas e de Jamie com Shayna.
Todas as manchetes dizem ‘Caso Secreto’.

Eu vejo o carro de Cage sair da garagem. Ele gosta de


encontrar uma trilha no lago para correr por mais ou menos
uma hora de manhã.

“Shayna é como uma filha para mim. Jamie é babá dela.


Às vezes saio com eles quando tenho tempo livre. Everson
sabe. Cage sabe. Qual é o grande problema? Shayna está
sempre conosco. Ele trabalha para Everson por mais ou
menos... dois segundos, pouco tempo para um caso
escandaloso. Eu nunca estive sozinha com Jamie desde que o
entrevistei.”

“Você vê Shayna em alguma dessas fotos?”

Olho para as fotos. Ela não está em nenhuma delas.

Jamie e eu em um banco do parque, rindo.

Jamie e eu tomando sorvete.

Jamie tirando uma bolsa do meu ombro, a bolsa de


Shayna, mas parece íntimo.
JEWEL E. ANN

Eu faço uma careta. Shayna estava ali, sentada ao meu


lado enquanto tomamos sorvete. Ela estava andando ao lado
de Jamie quando ele pegou a bolsa. Ela estava brincando no
campo de jogo, talvez a dez metros de distância, quando
estávamos rindo no banco ― provavelmente sobre algo pateta
que Shayna fez. Mas ela não está em nenhuma das fotos.

“Os tabloides disseram que eu estava tendo um caso


com Thaddeus na semana passada porque fomos
fotografados jantando quando voei para São Francisco.”

“Ele é seu chefe. É fácil de explicar.”

“Então, Jamie é babá de Shayna.”

“Mas Shayna não é sua filha ou irmã, nem nada fácil de


explicar. É por isso que ela não está nas fotos, porque as
pessoas não se importam com ela. Eles se preocupam com a
mulher que tirou um dos solteiros mais qualificados do
mercado. Eles querem saber que você é digna dele, e se por
um segundo pensarem que você não é, vão te separar porque
existem milhares de outras mulheres por aí que adorariam
ter a chance que você recebeu.”

Minha cabeça recua. “O que? A chance que recebi?”


Como se meu nome tivesse saído de um chapéu para ser a
namorada de Cage Monaghan?

Flint solta um longo suspiro. “Eu sei que parece que


minhas intenções são apenas manter a reputação de Cage
completamente limpa, mas você não entende o impacto que
isso terá no seu relacionamento com ele, especialmente
quando a temporada começar e ele estiver sob a pressão da
mídia vinte e quatro horas. A linha entre a verdade e as
mentiras começa a ficar borrada e a dúvida se aproxima. Ele
olha para esta foto e começa a se perguntar. Você vê uma foto
da mão de uma garota na bunda dele antes que ele tenha
tempo de removê-la e começa a se perguntar.”
JEWEL E. ANN

“Vocês são jovens. Seu relacionamento está


engatinhando. Em condições perfeitamente normais e sem
celebridades, é difícil fazê-lo funcionar. Isso...” Ele balança a
cabeça. “Isso vai destruir o que vocês têm se você não for
proativa em manter as coisas simples.”

Essa será a minha vida para sempre? Pisando em ovos,


preocupada em encontrar clareza com essa linha entre a
verdade e as mentiras? É por isso que Cage quer desistir?

*
CAGE

Preciso muito correr com meus pés. Eu preciso dos


meus pulmões queimando. Preciso de algo para apagar a
preocupação na minha cabeça. Flint faz o seu trabalho. Ele
faz meu conserto. Ele faz os trabalhos de merda para que eu
possa me concentrar na minha carreira. Mas Lake não é
minha carreira. Ela é meu... tudo.

Posso jogar futebol profissional e ter tudo?

Eu deixo Flint ter suas conversas com ela porque sei


que suas palavras não significam nada para ela. Ela encolhe
os ombros, e ele se sente melhor por ter ‘feito o trabalho dele’.
Estar no meio é uma droga, mas a verdade é que preciso dos
dois. Eu não quero ter que escolher.

Quando finalmente chego ao meu limite de esforço, ando


em alguns círculos com as mãos entrelaçadas na cabeça e
depois caio na grama fresca.

“Bom dia, estranho.”

Levanto minha cabeça, apertando os olhos contra o sol.


“Kelsey, oi.” Deixo minha cabeça cair para trás e fecho os
olhos. Nada como a ex-namorada aparecendo do nada.
JEWEL E. ANN

“Meu cara não costumava ser tão visível na mídia


durante o verão.”

“Eu não era seu cara.” Nunca estivemos juntos durante


o verão. Ela não tem ideia do que está falando.

“Costumávamos percorrer esses caminhos juntos.


Lembra? Então voltávamos para a sua casa e...”

“Eu tenho vinte e quatro anos e não noventa e quatro.


Minha memória está ótima.”

“Diga-me, ela remove a perna quando vocês estão


juntos? É meio estranho? Eu teria que insistir para que as
luzes se apagassem ― escurecer completamente o quarto.”

Eu rolo minha cabeça de um lado para o outro. “Você


não era uma puta quando estávamos juntos; nunca teria
pensado isso de você. Porque agora? Por que descer tão
baixo?”

“Por que ela? Os tabloides estão certos? Ela é um caso


de caridade? Um filhote de cachorro abandonado?”

Levanto meus cotovelos e olho para ela novamente. Por


que ela é tão feia? Como não vi isso antes?

“Eu a amo. É por isso.”

A falsidade de Kelsey recua alguns passos. “Amor?” Ela


ri. “Você me disse que não estava procurando amor. Você me
disse que sua carreira era seu único amor. Ela sabe disso?
Ela sabe que seu ‘amor’ não significa nada, porque se você
tiver que escolher, você escolherá seu amor pelo jogo?”

“Eu sinto muito.”

“Não preciso de suas desculpas. Vou assistir você


quebrar o coração de outra garota e isso será tudo o que
preciso para me lembrar de que você foi uma perda de
tempo.”
JEWEL E. ANN

Eu sinceramente pensei que tínhamos tido um término


amigável. Claramente estava errado. Levanto e escovo a
grama das minhas pernas. “Aproveite sua corrida.”

“Cage?” Meu nome cai suavemente de seus lábios.

Eu me viro para ela.

“Você faria isso? Você desistiria por ela?” A dor em sua


voz aparece um pouco. Subestimei seus sentimentos por
mim.

“Eu daria a ela o meu último suspiro.”

Kelsey morde os lábios e assente. Ignoro as lágrimas nos


olhos dela. Eu preciso.

“Fique bem, Kelsey.”

*
LAKE

“Lake?”

“No deck.” Sentada na espreguiçadeira.

“Vinho antes do almoço? Se Flint...”

Balanço minha cabeça. “É domingo e são onze e meia.


Perto o suficiente, certo?” O vinho tem tudo a ver com Flint,
mas Cage não precisa saber disso. Flint não é apenas seu
agente, eles são amigos. Posso lidar com Flint. “Eu sou uma
garota de sorte.” Meus olhos examinam seu peito nu e quão
sexy é seu short de corrida pendurado nos quadris,
provocando o V que minha língua traçou inúmeras vezes.

“Esse é o vinho falando.” Ele se agacha na frente da


minha cadeira e passa as mãos grandes pelas minhas pernas
nuas, parando no meu short. “Você tomou banho sem mim.”

Eu concordo.
JEWEL E. ANN

“O que há de errado?”

Eu tento esconder minhas emoções, especialmente de


Cage. Colocando a taça no chão, vou para o final da poltrona.
“Você viu as fotos?”

Seus olhos ficam tensos, como se ele não quisesse que


eu visse sua reação. “As fotos?”

“De mim e Jamie?”

O pomo de Adão dele balança. Ele as viu. Não preciso


que me responda.

“Eu disse a Flint que nunca fiquei sozinha com Jamie


desde o dia em que o entrevistei. Fui com eles porque tinha
um dia livre e Shayna queria que eu fosse.”

“Está tudo bem. Eu confio em você.”

Provoco minhas unhas ao longo de seus ombros. “Eu sei


que você confia em mim, mas você confia em sua cabeça para
separar a verdade das mentiras? Você confia no ciúme que
você odeia tanto para não reagir demais? Para não duvidar de
mim? Para não se perguntar?”

“É minha vida. Você não pediu por isso. Não vou deixar
isso mudar você. Não vou deixar você mudar para onde vai, o
que faz e com quem faz. Eu confio em você. Mesmo se um
milhão de pessoas lendo tabloides idiotas ou que não têm
nada melhor a fazer do que enfiar o nariz nos meus
negócios... mesmo que não confiem em você. Não me importo
e você também não deveria.”

“Jamie é atraente. As pessoas vão ver isso.”

Os músculos da mandíbula de Cage se flexionam.

“Mas eu não penso nele. Nem um minuto...”, meu dedo


brinca em seu peito, “... nem um segundo...”, minha mão
desliza sob a cintura, “... do dia.” Ele endurece em minha
mão instantaneamente enquanto seu queixo relaxa.
JEWEL E. ANN

“Você acabou de tomar banho”, ele sussurra.

“Você gosta quando estou suja?”

Ele balança a cabeça lentamente, seus olhos fixos nos


meus lábios enquanto sua boca fica mais irregular a cada
golpe da minha mão.

Inclinando-me para frente, sussurro em seu ouvido, “Eu


também gosto de você sujo... especialmente sua boca.”

Suas mãos deslizam sob minha bunda e cavam minha


pele como se meu short não existisse. A dor me excita. Por
quê? Não sei. Apenas excita. Eu o beijo. Nossas línguas lutam
quando ele geme na minha boca antes de devorar a pele ao
longo do meu pescoço até o inchaço dos meus seios expostos
ao longo da minha camiseta decotada.

“Mostre”, sussurro. “Mostre-me sua boca suja.”


Soltando-o, eu me inclino para trás.

Ele balança para frente, caindo de joelhos enquanto


desliza o polegar sob a minha calcinha. “Eu vou te foder,
Lake.”

Fecho os olhos, arqueando as costas. “Por quê?” Eu


suspiro.

“Porque eu te amo...” Sua voz baixa para algo tão


profundo e rouco, quase doloroso.

“E?” Eu gemo, balançando minha pélvis em seu toque.

Dois de seus dedos deslizam dentro de mim enquanto


ele se arrasta sobre o meu corpo, pressionando os lábios na
minha orelha. “E você é minha, então vou te foder quando,
onde e como eu quiser.”

“Sim...” Eu falo, estendendo a mão atrás de mim,


apoiando as mãos na cadeira enquanto ele me leva com nada
mais do que a mão entre as minhas pernas e a boca suja no
meu ouvido.
JEWEL E. ANN

*
CAGE

Lake me cutuca com o pé. A única coisa que ela ama


mais do que minha piscina coberta é a sala de cinema. Eu
pensei que ela estava brincando sobre seu vício em Netflix.
Mas, não.

Tiro meus fones de ouvido. Ela assiste Sons of Anarchy


na tela grande enquanto assisto a um jogo da temporada
anterior no meu laptop.

“O que é, gostosa?”

Ela morde a unha do polegar, um gesto que reconheço


como sua maneira de arranjar coragem de me perguntar algo
importante.

“Eu tenho uma sessão de fotos em Los Angeles para


uma revista fitness. Como é perto de quatro de julho, vou
voar para Tahoe para passar o feriado com minha família.
Quer me encontrar em Tahoe? Quer conhecer minha
família?”

Eu desligo meu computador. “Sua família, hein?”

Ela assente, roendo a unha novamente.

“Toda a sua família?”

“Talvez. Ainda não tenho certeza se Luke, Jess e Grant


estarão lá. Acredito que sim.”

Eu quero estar com Lake e conhecer os pais dela, só não


estou pronto para ver Jessica ― Jillian. As lembranças do
meu pai voltariam à tona.

“Eu vou ver.”


JEWEL E. ANN

“Você vai ver? O que isso significa? Você tem planos que
não mencionou para os próximos três dias?”

Dou de ombros. “Ainda não tenho certeza. Eu realmente


não pensei sobre isso.”

“‘Lake, eu tenho planos, desculpe’. ou ‘Lake, eu adoraria


ir’. Posso entender essas respostas, mas não aceito o ‘ainda
não tenho certeza’. Você está esperando uma oferta melhor?”

“Não, eu só... eu...” Fechando os olhos, balanço a


cabeça.

“Por favor, não deixe que isso seja sobre Jillian.”

“E se for?”

Ela senta. “Não é permitido ser sobre Jillian, Jessica,


seu pai ou meu irmão. Acabou, e não digo isso como
desrespeito a você ou à memória do seu pai. Eu só quero que
seja sobre Lake Jones apresentando o homem que ela ama à
sua família.”

“Eu não sei o que aconteceu.”

“Como assim, você não sabe o que aconteceu?”

Colocando meu computador de lado, fico de pé, andando


pela sala, mãos nos quadris, cabeça baixa. “Quero dizer, eu
não sei nada sobre Jessica Day. Quando ela me ligou, ela se
ofereceu para me contar tudo, mas não queria saber como ela
acabou em nossas vidas ou por que ela estava indo embora.
Eu só queria... só precisava saber uma coisa.”

“O que era?” Lake sussurra.

“Se ela realmente amava meu pai.”

Lake se levanta e caminha em direção à porta.

“Você não quer saber o que ela disse?” Eu falo, odiando


a raiva na minha voz porque realmente não estou bravo com
ela.
JEWEL E. ANN

“Não.” Ela mantém as costas para mim, parando na


porta.

“Por que não?”

“Porque eu já sei.”

“Então me diga o que você acha que ela disse.”

“Eu não estou fazendo isso.”

Eu a persigo. “É porque você não sabe. Aposto que ela


nunca contou a você ou a seu irmão.”

“Estou indo para casa. Eu não quis aborrecê-lo.”

“Não estou chateado! Eu só quero saber o que você acha


que ela disse.”

Lake corre para o quarto e pega sua bolsa do fim de


semana, colocando as coisas lá dentro o mais rápido que
pode.

“Conte-me.”

Ela me ignora. Agarro seu braço enquanto ela tenta


passar por mim. O olhar de choque em seu rosto quando
seus olhos voam entre mim e minha mão nela parece uma
faca no meu coração. É como se ela não me reconhecesse.

Eu a solto; ela não precisa pedir.

“Por que você não me conta?”

“Porque não deveria importar.” Ela abre a porta da


frente.

“Isso importa a mim!”

A cabeça dela cai em derrota. Eu sinto que cada palavra


que pronunciei foi um soco para ela, mas preciso saber. É
uma parte de mim que não reconheço ― uma parte que não
posso controlar.
JEWEL E. ANN

“Ela disse que amava seu pai. Foi o que ela te disse. Ela
disse que não se arrependia de um segundo com ele. E você
acreditou nela, mas a odiou por encontrar a felicidade no lado
oposto do túmulo de seu pai. Você o odiava por ter escolhido
passar seus últimos dias com ela. Você se odiava por ser
muito jovem e com medo de fazer qualquer coisa sobre a
situação dele.”

Lake se vira. “Isso resolve as coisas para você? Vai te


ajudar a dormir à noite ao saber que minha família não só a
perdeu, mas de certa forma nunca a recuperamos porque ela
deu uma parte de si mesma ao seu pai? Faz você se sentir
bem em esfregar na minha cara?”

Quando ela pisca, lágrimas caem por suas bochechas, e


eu sou o bastardo de todos os bastardos.

“Você não quer a história. Você não quer que ninguém


apareça e atrapalhe suas memórias, mas você está muito
bem em desenterrar meu passado, um passado que você nem
entende completamente porque Jessica... Jillian tem sido o
assunto que não pode ser mencionado entre nós, e se eu não
posso te dizer que ela estava em um vestido de noiva, se
preparando para andar pelo corredor enquanto eu estava a
caminho do hospital, e que acordei três meses depois para
saber não apenas as novidades da minha perna e Ben, mas
que meu irmão não se casou por causa do meu acidente e
que ela ‘cometeu suicídio’ depois que seus pais foram
assassinados... se eu não posso te dizer isso...”, ela afasta
mais lágrimas e sua voz falha, “... então você nunca
entenderá que minhas grandes deficiências não têm nada a
ver com o meu membro desaparecido. São as noites sem
dormir, os pesadelos e a necessidade de seguir em frente com
a minha vida e encontrar algo que me faça sentir que sou eu
quem merece viver.”

“Lake...” Vou em direção a ela.


JEWEL E. ANN

Ela balança a cabeça e sai pela porta. “Eu não quero


sua pena, e não quero suas desculpas. Eu só queria passar o
quatro de julho com todas as pessoas que mais amo neste
mundo. Mas você arruinou isso para mim, porque de alguma
forma nossas perdas na vida se tornaram uma competição.
Bem... você venceu. Lamento seu pai ter morrido. Tenha um
bom feriado.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE

Perseguindo o Sol

LAKE

“Vinho?” Estendo uma garrafa de sauvignon blanc,


quando Penny abre a porta.

“Você parece uma merda, cara de boneca.” Ela se afasta.


“Entre. Rupert foi visitar seus pais.”

Ela serve o vinho enquanto caio no sofá dela.

“Problemas com garotos? Não pode ser isso, pode?”

Penny sabe do meu passado, muito mais do que Cage.


Recapitulo a briga que tivemos. Duas vezes. A primeira vez
que eu estava sóbria e dei a Cage muito sacrifício, porque ele
estava vivendo com demônios não abordados há três anos. Na
segunda vez que meu ego se aproximou do microfone, sob a
influência de três copos de vinho, e disse tudo o que eu
queria dizer a Cage.

Razão quinhentos e cinquenta e um por que Penny


Weiss é a melhor absoluta: ela nunca xingou Cage. Rupert?
Ele foi sua vítima e foi jogado debaixo do ônibus. De alguma
forma, ela sabe que preciso de uma caixa de ressonância,
mas ao mesmo tempo sabe que amo Cage com ferocidade. Eu
estou sempre falando com Flint e mantendo nosso cara
‘completamente limpo’ porque, apesar de tudo, Cage
Monaghan realmente é uma alma gentil e genuína.

Meu amante.

Meu amigo.
JEWEL E. ANN

Minha razão.

“Espero que você não esteja muito bêbada para se


lembrar disso.” Ela ri. “Inferno, espero não estar muito
bêbada para dizer isso corretamente. Eu poderia facilmente
estragar esse conselho e você vai sair daqui e dar um fora no
cara. Então, o que quer que você faça... não importa o que eu
diga, não chute a bunda dele.”

Inclino minha cabeça para trás, fechando os olhos. O


álcool faz a sala girar um pouco demais. “Pode falar, Penny
Poo.”

“Ele te deu algo muito pessoal e, embora eu tenha


certeza que saiu um pouco duro, o fato é que ele confiou em
você explicitamente com algo tão primitivo. Parecia feio
porque não fluía apenas dele, passou por seu coração para
chegar até você. E pelo que você me disse, acho que você
reagiu muito melhor do que a maioria, se não todas as outras
mulheres, teria feito. O amor que vocês têm um pelo outro é
algo tão... tão real, tão incrível e devastador que, não importa
o que aconteça... você sobreviverá.”

“Você mesmo disse que, mesmo quando ele tenta falar


bravo com você, ele não pode fazer isso sem dizer ‘eu te amo’.
Isso é raro e tão especial, cara de boneca. Você entende? Não
sei se outro cara, se tivesse a chance de falar bravo com a
mulher, desperdiçaria três de suas palavras em ‘eu te amo’.
Você não pede que ele diga isso, diabos, você praticamente
lhe dá permissão para não dizer, mas ele precisa. Por ele. Ele
não pode estar com você e não dizê-lo. É tão importante para
ele. Você é importante para ele.”

Suspiro. Ela está certa. “Eu deveria ir vê-lo, consertar as


coisas.”

“Oh... de jeito nenhum, querida. Suas ações são cem por


cento desculpáveis, mas ainda são mesquinhas. Você precisa
deixá-lo ferver com elas e esperar que ele venha até você.
Obviamente, ele tem muita merda emocional com a qual está
JEWEL E. ANN

lidando. Sei que parece clichê, mas o tempo é realmente a


resposta.”

*
Preciso sair.

Preciso respirar.

Eu também preciso de tempo.

Voo para Los Angeles na manhã seguinte. Penny


concorda em cuidar de Trzy; o gato sem pelos não é um
problema para suas alergias.

Também envio uma mensagem para Cage antes de


embarcar no avião.
Lake: Eu sinto muito. Só preciso que você saiba que sinto sua dor, de maneira
diferente. Tenha um feriado seguro. Eu te amo.

Desligo o telefone e vejo Minneapolis se afastar pela


janela do avião. Isso faz meu coração doer.

Quando chego em LA, me sinto melhor. Talvez nós dois


precisássemos dizer o que fizemos, mesmo que doesse ao
outro ouvir isso. A única coisa mais difícil do que lidar com
sentimentos é permitir que outras pessoas também os
tenham, principalmente quando não são iguais aos meus. Eu
tenho que confiar no tempo.

Tempo de curar.

Tempo de perdoar.

Tempo de deixar o passado para trás.

Tempo de segurar o futuro.

O hotel que a revista reservou para eu ficar durante as


filmagens não tem quartos disponíveis até a data original do
check-in, então consigo um quarto em um hotel menos
glamoroso, mas que fica na praia, então não importa. Preciso
JEWEL E. ANN

das águas azuis da Mãe Terra para me lembrar da minha


insignificância e de como meus problemas não importam
porque... Ben morreu e eu vivi.

Eu não estive na praia desde o meu acidente. A certa


altura, tive certeza de que nunca iria a outra praia da minha
vida. Meu pé bom sentiu falta da sensação de ter areia entre
os dedos. Partes da minha pele não veem o sol há anos. Nada
comparado com a sensação do sol no meu rosto, como se
nascesse naquela manhã apenas para mim.

Obrigada, sol.

Não ligo para as fotos que sei que estão tirando de mim.
A namorada da estrela do esporte, de férias sem ele, corpo
pálido espalhado na praia com uma perna de prótese saindo
da areia como um pedaço de pau. Sim, sim, eu não dou a
mínima porque realmente... Sol. Em. Meu. Rosto.

O momento parece tangível, como se os elementos


estivessem me abraçando fisicamente. Então, em uma praia
em Los Angeles, sob um céu perfeito, com o vento soprando
uma bela canção de ninar ao longo da minha pele... descubro
o que me não percebi por tanto tempo.

Durmo.

Três horas depois, acordo com uma trilha seca de baba


do canto da boca até o ombro. Dói abrir meus olhos. Meu
rosto inteiro está inchado e... queimado.

“Oh meu Deus!”

Vermelho.

“Não, não, não...” Eu procuro pela minha perna. Não


está aqui.

Não. Está. Aqui!

Os banhistas diminuíram para algumas pessoas


caminhando ao longo da costa ao longe. Eu viro, fazendo uma
JEWEL E. ANN

careta para a areia esfregando contra minhas pernas


queimadas.

“Ai, ai, ai!”

Deixando de lado minha dor, cavo como um cachorro na


areia. Por quê? Por que alguém pegaria minha perna? Quem
faz isso?

Não tenho certeza de quando começa. No começo eu


acho que é chuva. Não. As gotas na areia são minhas
lágrimas. Recosto-me na toalha e gentilmente escovo a areia
dos meus braços e pernas.

“Ai, ai, ai!”

Tantos pensamentos lutam pela minha atenção. Thad


vai me matar. Perdi a perna dele que, sem dúvida, custa mais
do que meu carro. Estou sozinha em Los Angeles, encalhada
em uma praia que parece mais abandonada a cada momento
que passa quando o sol começa a se pôr. O último
pensamento é a pior parte: eu não consigo andar. Minhas
habilidades de salto são muito boas, mas não na areia. A
sessão de fotos que nunca acontecerá. Não preciso de um
espelho para ver meu rosto. Meus braços e pernas dizem
tudo.

Olhando para baixo, afasto minha blusa do peito apenas


para confirmar. “Puta merda!” Eu pareço um camarão. A
entrada do meu hotel fica a duzentos metros de distância.
Considero rastejar, mas não tem como isso terminar bem.
Outra varredura da área não revela ninguém ao alcance da
voz. Felizmente, minha bolsa que usei como travesseiro ainda
está lá. Eu pego meu telefone, franzindo a testa ao ver a
última barra.

“Vamos lá, Deus. Não quero acreditar que você me


odeia, mas alguns dias são realmente difíceis de engolir.
Apenas diga...” O tempo está esgotando o dia, e minha
bateria do telefone também. O problema é que não tenho
JEWEL E. ANN

ideia de para quem ligar. Todo mundo que conheço está a


pelo menos seis horas de distância, e eu não posso justificar
ter amigos e familiares preocupados que realmente não
podem me ajudar.

Solto uma risada angustiada. Eu tenho que rir. “Sério,


Lake? Você vai ser teimosa com sua própria morte?”

O 9-1-1 parece ser a escolha mais sensata, mas eu não


quero a comoção de notícias que pode acompanhar a ligação.
Eu preciso de alguém que saiba como lidar com meu ato
epicamente estúpido.

“Por favor, não morra”, imploro à minha bateria para


aguentar enquanto faço minha ligação.

“Flint”, ele responde.

“É Lake e minha bateria vai acabar, então ouça e


responda o mais rápido possível. Estou presa em Reef Beach,
em Los Angeles, provavelmente com queimaduras solares de
segundo grau e alguém roubou minha perna. Estou sozinha e
não quero atrair a atenção da mídia ligando para o 9-1-1,
mas sinceramente acho que não tenho escolha.” Tento
reprimir um soluço, mas sei que ele ouviu. “Estou com dor.”
Desisto de esconder meus soluços. Verdade? Estou com medo
e minha pulsação pode ser sentida ao longo da minha pele e
dói muito.

“Entendi. Quinze minutos. Alguém estará aí.”

É difícil falar com o nó na garganta. “O-obrigada”, eu


sussurro.

Pouco antes de meu telefone morrer, noto uma


mensagem perdida de Cage que ele enviou enquanto eu
estava me fritando.
Cage: Eu também te amo.
JEWEL E. ANN

Isso me faz chorar ainda mais quando meu corpo treme


de calafrios e meu estômago revira de náusea.

*
CAGE

Quatro horas de filmagem de jogo depois, ainda não


consigo tirar Lake da cabeça. Eu fui um idiota com ela. Todos
disseram, “Você realmente deveria conversar com alguém
sobre seu pai.” Não, não. Eu não precisava de um psiquiatra
para analisar meus sentimentos pela morte de meu pai e os
eventos que levaram a isso. Tudo que eu precisava era me
concentrar no jogo. Isso é o que ele queria.

Três. Fodidos. Anos de emoções reprimidas de mim e


dentre todos, escolhi deixá-los explodir em Lake. Eu deveria
ter ido atrás dela. Eu deveria estar no próximo avião para Los
Angeles para pedir perdão, mas preciso acertar as coisas na
minha cabeça primeiro. A mensagem dela disparou uma bala
no meu coração. Claro que ela me perdoaria antes que eu
pedisse. Essa é apenas uma das milhões de razões pelas
quais eu a amo. Mantenho minha resposta simples, porque o
que eu quero dizer não pode ser dito em por mensagem.

Ao desligar o computador, rendendo-me à minha falta


de foco, meu telefone toca. Eu queria que fosse ela. Não é.

“Flint, o que houve?”

“Ei amigo. Eu realmente odeio ligar para você sobre isso,


e sei que é um erro, mas tenho a sensação de que, se não
contar, você descobrirá que eu sabia e a ameaça que você
sempre faz sobre me demitir... se tornará minha realidade.”

“Palavras eficientes, Flint. Você nunca usa tantas


palavras sem apresentar um argumento real. Que diabos é
isso?”

“Lake me ligou cerca de trinta minutos atrás.”


JEWEL E. ANN

Sento em linha reta quando um sentimento perturbador


desliza pela minha espinha. “Por quê?”

“Ela está em Los Angeles”

“Sim, eu sei.”

“Ela se meteu em uma situação difícil.”

“Palavras, Flint! Diga logo!”

“Ela estava presa em uma praia com queimaduras


solares de segundo grau e alguém roubou sua perna
protética. Estou ligando para você porque ela parecia
assustada.”

“Porra! Você está falando sério?” Estou no meio do meu


quarto, jogando o resto da minha merda em uma bolsa de
viagem antes que ele responda. Minha bolsa está
basicamente cheia, porque eu já sabia que iria pegar minha
garota e fazer a coisa certa. Só não achei que seria uma
correria para um hospital. A vida é boa em dar um soco
sólido no estômago quando menos se espera.

“Infelizmente sim.”

“Por que diabos ela ligou para você e não pra mim?”

“Porque a bateria do celular dela estava quase acabando


e ela é inteligente... bem, eu acho. Estou reservando
julgamento até ouvir todos os detalhes de sua situação. Acho
que ela sabia que se ligasse para você, você faria muitas
perguntas e, finalmente, teria que ligar para mim para fazer o
que eu faço de melhor.”

Consertar. É isso que ele faz. Eu não posso nem refutar


qualquer coisa que ele disser, porque é a verdade.

“Onde ela está agora?”

“Hospital.”
JEWEL E. ANN

“Reserve o primeiro voo e envie-me o número do hospital


e do quarto.”

“Verifique seu telefone. Eu já mandei uma mensagem


para você com as informações e seu voo parte em noventa
minutos, então vá em frente.”

“Flint?”

Ele ri. “Nós vemos isso depois. Por enquanto... de nada.”

*
Meu coração dispara na garganta por todo o caminho de
Los Angeles. Amar uma mulher do jeito que eu amo Lake é
tão dolorosamente fodido. Ela me fez sentir tudo.

Um carro me espera no aeroporto; eu não esperava nada


menos de Flint. O motorista sabe para onde ir sem
instruções. Eu não espero o veículo parar completamente
antes de sair e correr para a entrada do hospital, depois
passar pela recepção, ignorando as enfermeiras me dizendo
para parar e algumas besteiras sobre não ser permitido
entrar naquele corredor que leva para Lake.

324… 325… 326

Com meu coração batendo forte, inspiro calmamente


antes de abrir a porta do quarto dela. Uma enfermeira está ao
lado de sua cama, tocando na tela de um iPad. Ela olha para
mim e sorri.

“Você é da família?”

Pelo menos é o que acho que ela disse. Eu não consigo


pensar, então apenas concordo. Lake abre os olhos, uma leve
careta repuxa seu rosto vermelho, inchado e cheio de bolhas.

“Monaghan”, ela diz com uma voz grave.


JEWEL E. ANN

“Vou dar privacidade a vocês dois. Descanse um pouco e


você voltará para casa amanhã.” A enfermeira sorri quando
passa por mim.

“Deixe-me adivinhar, você estava na vizinhança.”

Balanço minha cabeça, sentando na beira da cama dela.


“Nem perto.”

“Uma vergonha. Eu poderia ter usado sua ajuda quando


precisei de uma prótese reserva. Alguém roubou a minha.”

“Que tipo de escória de vida baixa no fundo do mar leva


a perna de um amputado na praia?”

Ela ri, mas não esconde sua careta. “Exatamente!


Thaddeus vai me matar. Eles provavelmente a estão
mantendo refém e de manhã receberei um aviso de resgate.”

O humor fracassa e a realidade começa.

“Lake, sinto muito. Sinto muito pelo que eu disse.


Desculpe-me por não estar aqui. Sinto muito por tudo.”

“Não.” Ela descansa a mão na minha. “Não se desculpe


por seus sentimentos. Você é humano.”

“Sim, os humanos têm sentimentos, mas bastardos


imprudentes os libertam em cima da única pessoa que mais
amam, e isso é uma bagunça.”

Ela segura os braços na frente dela; a superfície de sua


pele vermelha está cheia com pequenas bolhas. “Adormeci ao
sol sem filtro solar e acordei parecendo uma lagosta sem uma
perna. Isso é fodido.”

Inclino até meus lábios pairarem sobre os dela. Minhas


mãos coçam para tocá-la, mas não quero machucá-la. “Lake”,
eu sussurro. “Me desculpe. Deixe-me ter medo de que algo
muito pior possa ter acontecido com você hoje. Deixe-me ter
todas as emoções que acompanham você. Deixe-me te amar.
Ok?”
JEWEL E. ANN

“Ok”, ela sussurra.

Coloco meus lábios nos dela.

“O sol”, ela diz.

Eu me recosto.

“Foi tão incrível. A areia. O oceano, a poucos passos de


mim. Eu realmente lutei com minha autoimagem logo após o
acidente. Achei que nunca mais voltaria a ir à praia.” Ela
inclina a cabeça. “Mas não me importei com o que alguém
pensava de mim ou de minha perna enfiada na areia perto de
mim. Se existe um Deus, tenho certeza que ele nunca quis
tirar o oceano, a praia... o sol longe de mim. E dormir... Deus,
faz tanto tempo desde que acordei com baba escorrendo pelo
rosto.”

Eu sorrio.

“Eu sei, nojento, mas eu dormi, Cage. Eu dormi de


verdade. Não colidi com meu muro normal de exaustão. Eu
me levantei em paz. Então, embora provavelmente acabe com
câncer de pele em alguns anos, não me arrependo. Quando
as bolhas e a queimadura desaparecerem, ainda terei a
lembrança de um sono bonito e sereno.”

“Eu sei que você está sempre acordada quando


adormeço, e você disse que tem problemas para dormir e até
alguns pesadelos, mas não tinha ideia do quão ruim é para
você.”

Ela encolhe os ombros. “Para explicar isso, eu teria que


compartilhar meu passado, e meu passado não pode ser
completamente separado do seu ― de Jillian Knight ― e é por
isso que você não sabe.”

Bastardo total. Como posso alegar amá-la e realmente


não a conhecer?
JEWEL E. ANN

“Está tarde. Você deve dormir e acho que o pessoal aqui


vai adicionar algo bastante impressionante ao seu soro
intravenoso para ajudar. Amanhã podemos ir ao seu hotel e
você me contará sua história ― tudo. Depois vamos voar para
Tahoe para passar o feriado com sua família.”

Lágrimas enchem seus olhos.

“Não chore.”

Ela pisca para longe. “Eu não vou chorar.”

Sorrio quando uma lágrima escapa por sua bochecha.

“Estamos voando para São Francisco antes de Tahoe.


Eu preciso ver um cara sobre uma perna.”

Eu beijo o topo da cabeça dela. “Durma, querida. Sonhe


comigo e saiba que eu te amo de uma maneira que muito
maior do que quatro pequenas letras.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E UM
Conheça os Jones

LAKE

Drogas. Sim, isso é tudo que eu precisava para dormir


um pouco. Acordo com uma bandeja na minha frente com
uma xícara de chá, uma margarida rosa e um cartão.
CAPÍTULO SETE

Sorrio. Talvez sejam as drogas ou talvez seja apenas a


hora, mas naquele momento, eu lembro.

Cage olhou para baixo, coçando a nuca. “Sim, meu pai


não era um acumulador ou daqueles que guardava um monte
de bugigangas, mas meus pais eram divorciados. Sou filho
único dele e meus avós moram em Portland, então acho que é
minha responsabilidade decidir o que fazer com tudo. Agora é
tudo meu, incluindo a casa. A parte engraçada? Não quero
nada disso.”

“A noiva do meu irmão morreu há um ano. As coisas dela


ainda estão penduradas no armário dele. São apenas coisas,
mas deve ser um tipo de ponto final ter que se livrar delas.
Aposto que você sentirá quando a última coisa for removida
daqui e alguém comprar o local. As ‘coisas’ são o epílogo. A
história acabou, mas parte dela vive como um fantasma por
apenas mais algumas páginas. O que resta ao final do
epílogo?”
“Nada”, ele respondeu.

Inclinei minha cabeça para o lado e estreitei os olhos.


“Depende de como você olha para isso.”
JEWEL E. ANN

“E como você olharia para isso?”

“Eu ainda não tenho certeza. Meu namorado morreu no


acidente que perdi minha perna. Quando saí do coma, o
funeral já havia terminado, os pais dele haviam limpado o
apartamento dele e outra pessoa morava lá. Virei a página
depois do capítulo final apenas para não encontrar epílogo. O
autor da minha vida me deu um soco.”
“Alguns diriam que o autor de sua vida é Deus.”
“E eu concordo. Mas nenhuma fé pode realmente
confortar um coração angustiado que não pode dar sentido a
essa tragédia. Não perdi a fé, mas senti que Deus me deu um
soco. Sem epílogo. Mas ele é Deus, então provavelmente vou
perdoá-lo um dia.”
Cage riu. “Tenho certeza que ele ficará agradecido.”

Nós flertamos. Tentei fingir que meu irmão não estava


me esperando no carro, mas antes de sair pela porta fiz uma
última referência à história da vida.

“Cage?”

Ele virou. “Sim?”

“Você quer saber o que vem depois do epílogo?”


“O que?”
“Um novo livro cheio de infinitas possibilidades.”

Cage espia do canto, soprando o vapor rodopiante de


sua xícara de café. “Bom Dia.”

Pressiono a mão gentilmente no meu peito. Algo tão


imperfeitamente perfeito quanto a nossa jornada até esse
ponto se passa entre nós sem uma palavra. Eu vejo o
JEWEL E. ANN

reconhecimento em seus olhos. Ele sabe que me lembro... e


ele sorri.

“Sou seu novo livro. Eu sou suas infinitas


possibilidades.” Sussurro com o último suspiro que me resta
depois que a realização bate no meu peito, deixando meu
coração inchar com tanto amor.
“Você é.”

Limpo minha garganta, reunindo algo parecido com uma


voz verdadeira. “Você sente isso?”

“Sente o que?” Ele senta na beira da minha cama.


“Meu coração bate em suas mãos.”

Cage olha para mim, mais como dentro de mim. Depois


de alguns momentos... ele assente.

*
Aquele homem — o dos meus sonhos. Ele voou para
Pequim para me beijar. Então ele viajou para Los Angeles
para realmente me ver pela primeira vez. Minha mãe
costumava me dizer para parar de desejar que minha vida
desaparecesse porque o começo e o fim são separados por
nada mais do que um piscar de olhos. Com Cage, eu me
recuso a piscar.

“Eu posso carregar você.”


Sorrio quando o motorista para em frente ao hotel. “Eu
posso usar as muletas. E preciso me acostumar com elas de
qualquer maneira. Não vou poder usar minhas pernas
protéticas até que as queimaduras na minha perna melhorem
um pouco mais, pelo menos até as bolhas se curarem.”
Balanço a cabeça em direção à sua porta. “Fãs em LA,
impressionante.”

Cage suspira. “Fotógrafos. Não são fãs. Talvez haja uma


entrada nos fundos.”
JEWEL E. ANN

“Por quê? Tem com vergonha de ser visto comigo?”


Levanto uma sobrancelha.

Ele sorri. “Pelo amor de Deus, você já se olhou no


espelho?”

Eu sorrio. “Tenho certeza que eles vão pirar. Lake Jones,


namorada do quarterback de Minnesota, sofreu queimaduras
graves e perda de um membro na explosão de um laboratório
de metanfetamina.”
“Flint adoraria isso. Vamos, torradinha.” Cage pula para
fora e caminha ao meu lado, abrindo a porta enquanto os
dois caras com câmeras tiram algumas fotos.

“Cage, o que aconteceu com sua namorada?” Um deles


pergunta.
Eu me afasto quando Cage segura minhas muletas para
mim.
“Nada.” Ele pisca para o fotógrafo com um sorriso
atrevido. “Por que você pergunta?”

Ele poderia ter ignorado a pergunta do fotógrafo ou dito


que não era da conta deles.
Eu sorrio quando o rosto sorridente de Cage foca em
mim.

“Entendeu?”
Eu balanço a cabeça, sorrindo através da dor enquanto
as câmeras clicam repetidamente.

“O que a traz a LA?” O mesmo fotógrafo me pergunta.

“Sexo na praia.”
Cage ajeita o boné de beisebol no rosto, para esconder
sua diversão ou vergonha. Eu não sei dizer.
“Sexo na praia?” Ele pergunta depois que deixamos os
repórteres para trás.
JEWEL E. ANN

Dou de ombros quando o elevador nos leva para o


quarto andar. “É uma manchete melhor do que o cenário do
laboratório de metanfetamina.”
“Você já fez sexo na praia?” Ele pergunta.

“Apenas em uma barraca. Você?”

“Sem comentários.”

“Qual era o nome dela? Bambi? Summer? Fantasia?


Acredito que a areia não é amiga dos órgãos genitais. Então,
esperançosamente, você não arrastou sua tromba de elefante
pela areia antes de colocá-la em sua delicada concha.”
Ele coloca a mão na boca e balança a cabeça quando o
riso que se recusa a compartilhar balança o resto do corpo.
“Só você... só você...”

Mantendo meus olhos voltados para as portas do


elevador quando elas se abrem, um sorriso cresce ao longo do
meu rosto. “Vamos lá, Monaghan. Não faz sentido falar de ex
até que você possa me olhar sem fazer uma careta.”

“Eu não...”
“Sim, você...” Meus ouvidos começam a apitar e minha
visão fica borrada com manchas quando o corredor parece se
mover.

“Lake!” Ele me pega quando a tontura me chama para o


chão.
“Não... me sentindo tão... nós vamos. Fraca.” Fecho os
olhos enquanto as estrelas na minha visão me deixam
enjoada.

“Fique comigo. Qual quarto, querida?”

Tento me concentrar na respiração para não desmaiar


completamente. “412”, eu sussurro.
“A chave está na sua bolsa?”
“Uh huh.”
JEWEL E. ANN

“Está tudo bem?” Pergunta uma voz desconhecida.

Estou muito fraca para abrir meus olhos.


“Poderia estar melhor. Você se importaria de procurar
nesta bolsa a chave do nosso quarto?”

“Claro.” É a voz de uma mulher. Isso eu reconheço.


“Aqui está. Qual quarto?”

“412”, Cage responde.


“Aqui.”

“Muito obrigado.”
“Tem certeza de que não precisa de mais nada?”
“Não. Está tudo bem. Apenas um pouco de insolação.
Ela ficará bem. Obrigado.”
“Cuidem-se.”
A porta se fecha.
“Lake?”

“Uh huh?”

“Eu vou te deitar.”

“Ok.”
Estar à beira do desmaio é uma sensação
miseravelmente incontrolável.

Pulo quando ele pressiona uma toalha fria na minha


testa.

“Desculpa. Não quero machucar sua queimadura,


querida.”

“Tudo bem”, sussurro, porque o frio realmente é bom.


Eu tento abrir os olhos.
“Bem-vinda de volta.” Ele sorri. “Eu disse que deveria ter
carregado você por todo o caminho.”
JEWEL E. ANN

Tudo que tenho para dar a ele é um sorriso fraco, mas é


dele. Ele possui todos os meus sorrisos.

*
“Sente-se melhor?”

Balanço a cabeça, olhando para o prato vazio no meu


colo, minhas pernas esticadas na cama, travesseiros
apoiados atrás das minhas costas.

“Eu me senti um pouco enjoada, então acredito que não


comi a coisa toda.”

“Foi doloroso assistir, como um abutre na beira da


estrada com uma nova matança. Não acredito que o prato
tenha sobrevivido.” Da cadeira ao lado da janela, Cage sorri,
batendo levemente o garfo no lábio inferior.

“O insulto impetuoso funcionou para você no passado


com... Bambi, Summer, Fantasia? Quero dizer, seu cérebro
toma uma decisão consciente entre dizer a uma garota que
ela é sexy e bonita ou que é um porco com orelhas de
Dumbo?”

Ele balança a cabeça. “Realmente não é para seu


benefício, é para o meu.”

Engasgo com minha risada. “Benefício? Esclareça. Como


me insultar te beneficia?”

“É minha tentativa de vê-la sob uma luz diferente, para


que minha mente não se concentre em fazer coisas muito
obscenas com você.”
Meu queixo cai.

Cage dá de ombros, como se não pudesse culpar um


cara por ser honesto.

“Enn... então em Pequim você disse que minhas orelhas


eram grandes para não pensar em fazer coisas muito
obscenas comigo?”
JEWEL E. ANN

“Sim”, ele responde diplomaticamente.

“Então você realmente não acha que eu tenho orelhas


grandes?”

“Eu não disse que inventei uma merda. Apenas sugeri


que tentei me concentrar em algo menos sexy.”

Minhas mãos avançam em direção a minhas orelhas,


como sempre acontece quando ele as menciona. “Posso,
quero dizer... você acha que orelhas podem realmente ser
sexy?”

“Lake?”
“Huh?” Minha testa fica tensa enquanto cubro meus
ouvidos.
“Eu amo suas orelhas.”
“Tudo bem se você não gostar delas. Não é um
rompimento de acordo, certo?”
“Eu amo suas orelhas.”

“Estou tentando lembrar... talvez um dos meus irmãos


as tenha puxado quando eu era mais jovem. Talvez minha
mãe tenha me arrastado por elas para o meu quarto quando
me meti em encrencas.”

“Eu amo suas orelhas.”


“Realmente não deveria importar... não é como se você
enfiasse seu pau nos meus ouvidos. No entanto, você já leu
algum livro ou viu filmes em que os caras dizem que querem
foder todos os buracos ou orifícios do corpo de uma mulher?
Isso teria que incluir ouvidos e...” Eu paro. “Narinas também.
Esses caras devem ter paus de lápis. Acho que você teria que
ter um pau de lápis para dizer algo tão ridículo.”

Mordo meus lábios quando Cage joga a cabeça para


trás, rindo. “Para minha sorte, seu pau é grande demais para
caber no meu nariz ou nos meus ouvidos. Você acha que o
sêmen dissolve cera ou limpa as narinas?”
JEWEL E. ANN

“Pare!” Ele continua rindo. “Você ganhou.”

“Sim, também acho.” Eu sorrio e jogo um travesseiro em


sua cabeça.

Ele o pega e abraça, escondendo seu sorriso forçado.

“Chega de orelhas. Ah! Você está me deixando com um


complexo. Como você gostaria se eu apontasse suas
imperfeições para não querer fazer coisas muito obscenas
com você?”
Ele se anima. “Estou intrigado. Então você pensa em
fazer coisas muito obscenas comigo? O que mexe com seu
desejo? Os meus pneuzinhos?”

“Você não tem pneuzinhos.”


Ele levanta a camisa. “Verdade. E esse dente que lasquei
anos atrás?” Ele abre a boca e aponta para um dente inferior.
Nunca notei aquilo antes. “São minhas mãos? Elas são
realmente grandes demais para o meu corpo, mas são úteis
para segurar uma bola de futebol.”

Suas mãos têm um mestrado em fazer as coisas mais


incríveis para o meu corpo. Elas são perfeitas.
“Eu não vou te dizer, porque não quero que você seja
tímido sobre isso, como o que você fez comigo.” Não tenho
nada. Absolutamente nada sobre ele.
“Então me conte sobre as coisas muito obscenas que
você pensa em fazer comigo.”

Queimaduras de segundo grau não são muito úteis,


exceto para esconder meu constrangimento. “Quero lhe
contar sobre mim. Você disse que eu poderia e estou pronta.”

O clima jovial no quarto morre e seu sorriso também.

Ele limpa a garganta e senta na cadeira. “Ok. Conte-me.


‘A Lake que eu não sei seu nome do meio Jones nasceu...’”
JEWEL E. ANN

Eu balanço minha cabeça. “Apenas destaques. Os que


mais importam.”

Ele se inclina para frente, apoiando os braços nas


pernas. “Estou ouvindo.” Me dói vê-lo encarar o chão, como
se precisasse se preparar emocionalmente.

“Eu conheci Ben em um passeio de bicicleta por São


Francisco. Minha amiga Lindsay insistiu em fazer o passeio
porque o namorado dela era o dono da pequena empresa de
turismo. Eles não estavam em atividade há muito tempo,
então precisavam de pessoas para fazer os passeios, escrever
uma crítica, etc.”

Cage olha para cima. “Você é uma cobaia muito


disposta.”
Concordo. “Estou pronta para praticamente qualquer
coisa pelo menos uma vez. De qualquer forma, Ben foi nosso
guia para o passeio de quatro horas naquela manhã. No final,
ele me entregou uma bala roxa em formato de coração que
dizia: ‘Diga sim.’ Eu olhei para ele com confusão por alguns
segundos, e então ele me convidou para um encontro. Foi
estranhamente romântico e totalmente inesperado. Eu tinha
certeza de que nenhum cara iria superar seu gesto único. Até
eu conhecer você. Pequim te deu a vitória, querido.”
Seu pequeno sorriso me incentiva a continuar.
“Ele me deu uma bala de coração com uma frase em
todos os encontros. Foi assim que disse que me amava. É
louco como eu vivi por essas duas ou três palavras simples.
Eu nunca as comi. Em vez disso, guardei-as em um pote. Na
manhã do casamento de Luke e Jessica, eu deveria ir à igreja
com o resto das damas de honra, mas não fui. Eu queria meu
coração. Eu queria aquelas pequenas palavras que
significavam muito para mim. Então pedi para Ben me pegar
e me levar para o café da manhã antes de ir para a igreja.” Eu
ri, do tipo que não faz nada para aliviar a dor.
JEWEL E. ANN

“Ben tentou me fazer desistir dá ideia. Ele disse que eu


deveria passar minha manhã com as outras mulheres. No
entanto, minha insistência, minha total obstinação, venceram
e ele cedeu.”
“Você se culpa.”

Meus olhos encontram os de Cage. Eu concordo. Como


não? “O caminhão nos atingiu em uma estrada em que nunca
estaríamos se eu não tivesse alterado os planos da manhã.”
Fecho os olhos e sussurro: “Ben morreu e eu vivi”.

A cama afunda. Abro meus olhos.


“Venha aqui.” Ele encosta as costas na cabeceira da
cama e abre as pernas.
Eu relaxo entre elas, então minhas costas descansam
contra seu peito. Ele afasta meu cabelo e beija minha nuca.

“A morte está cheia de porquês e daí, e tanto


arrependimento que pode engolir toda a porra do seu mundo,
se você deixar. Ben morreu e você viveu. É apenas um fato.
Não é nada mais e nada menos. Você pode se agarrar a isso
ou deixá-lo ir, mas de qualquer maneira, não mudará o fato.”
Eu descanso minhas mãos em suas pernas e minha
cabeça contra seu ombro. “É isso que você diz sobre seu pai?”
“Todo santo dia.”
“Ajuda?”
“Às vezes.”

“Não me lembro do acidente, mas me lembro da bala de


coração. Dizia ‘Beije-me’. Então eu beijei. Inclinei-me sobre o
console e beijei sua bochecha. Lembro de me sentar no banco
e ajustar o cinto no ombro e no peito, e lembro dele me dando
um olhar de adoração mais fofo. E é isso aí. É tudo o que
lembro até que acordei três meses depois, sem Ben... sem
minha perna... e sem Jessica.”
JEWEL E. ANN

O corpo de Cage fica tenso contra o meu. Eu continuo,


como o ditado de arrancar um Band-Aid.

“Os pais de Jessica foram assassinados, e então ela e o


irmão se suicidaram, ou pelo menos é o que acreditávamos.
Eles receberam novas identidades e se mudaram para
Omaha, enquanto minha família lamentava minha perna, a
incerteza de acordar do coma e meu irmão, que foi deixado
tão completamente devastado com tudo.”
“Jessica é a pessoa mais forte que já conheci. Eu a
tenho no status de estrela do rock e não tenho dúvidas de
que seu pai a amava porque ela é impossível não amar. E ela
nunca me disse o que disse a você, mas eu a conheço, e sua
capacidade de amar é enorme e suas emoções são reais,
verdadeiras e completamente sem desculpas. Mas eis a
questão, meu irmão a amava, toda a minha família a amava
e, quando a viu ― viva ― quase a matou. Se seu pai não
tivesse morrido, não sei o que ela teria feito, quem ela
escolheria, mas isso não importa mais. E sinto muito ― sinto
muito por isso não acontecer.”
Eu minto. Minto para poupar o último fragmento de
seus sentimentos. Jessica teria escolhido Luke, eu apostaria
minha vida nisso.
“Quando meu pai foi embora para ficar com ela — para
morrer com ela — eu a odiei por levá-lo. Eu o odiava por
escolhê-la. Mas...” Ele pressiona os lábios na minha cabeça.
“Mas?”
“Mas agora eu tenho essa pessoa na minha vida, e ela
derrete manteiga e calda quente em waffles, uma música de
blues no rádio ao pôr do sol com uma cerveja gelada na mão
e o sorriso no rosto quando está sozinha. E se alguém me
pedisse para escolher uma imagem duradoura para levar
comigo antes de morrer... eu escolheria o rosto dela.”
Eu sou ‘ela’. Eu sou ‘ela’. As palavras que deixam seus
lábios nunca vão realmente penetrar na minha consciência
JEWEL E. ANN

completamente. O acidente levou muito mais do que minha


perna e, no entanto, Cage me devolveu tudo dez vezes. Ele
não me completa com uma parte de si mesmo; ele apenas me
coloca de volta com todas as minhas próprias peças. Eu
quebrei e ele caiu no chão me entregando minha confiança,
minha esperança, meus sonhos, minha voz, meu futuro. Ele
me consertou, depois beijou minhas cicatrizes e olhou para
mim como se eu fosse uma obra-prima atemporal.
Fechando os olhos, sorrio. “Eu amo nossa história. Eu
amo tanto porque em cada capítulo você faz eu me apaixonar
por você mais uma vez. Vamos viver no amor. Vamos cair
todos os dias sem nunca tocar o chão.”
“Foda-se a gravidade.” Ele descansa sua bochecha na
minha cabeça.
Eu sorrio. “Exatamente, foda-se a gravidade.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E DOIS


Papai tem uma arma

CAGE

“Eles vão te amar. Mais ainda quando eles te


reconhecerem. Meus pais acompanham futebol.” Lake faz
uma careta quando carimba Thaddeus na perna
‘emprestada’.
Ela tem três outras pernas embaladas, mas nenhuma
que ‘mataria’ para usá-las com as queimaduras na perna. O
rosto dela não me leva a acreditar que a de Thad é melhor.
“Por que você não abre mão da perna e me deixa
carregá-la?”
“Sim, não vai rolar.”

Pego nossas malas na parte de trás do carro alugado.


“Minha mãe não sabe do meu acidente na praia e prefiro
não contar a ela. Ela já se preocupa o suficiente.”
“Certo. Entendi. Porque será muito fácil esconder
quando toda a sua frente parece que você perdeu uma
batalha com um dragão.”

“Você está passando aloe vera em mim. Eu acho que


está melhor.”

“Tenho certeza que o olhar no rosto de sua mãe


confirmará isso de uma maneira ou de outra. E posso
perguntar por que você não contou a seus pais quem eu
sou?”
JEWEL E. ANN

Ela para na escada, olhando para elas como se fossem


uma montanha. Coloco as malas no chão e a pego em meus
braços.
“Eu tinha tudo sob controle.”

“Bom saber. Enquanto isso, eu levo você.”

“Pare”, ela sussurra quando chegamos à porta.

Eu não a coloco no chão porque realmente não há nada


que goste mais do que tê-la em meus braços.

“Há uma parte do meu passado que não te contei.”

“Você é adotada.”
Ela ri. “Não. Pelo menos acho que não. É sobre você.
Quando Jessica chegou em casa depois que seu pai morreu,
eu queria perguntar a ela sobre você. Queria saber se você
tinha uma namorada. Eu queria saber seu endereço, seu
número de telefone, apenas... alguma coisa. Mas não
perguntei a ela, porque ela e Luke estavam tentando deixar o
passado exatamente onde ele pertencia. Eu te persegui, mas
não pude ir atrás de você. Sonhei com você vindo atrás de
mim, mas você não veio, então aceitei que você não me queria
do jeito que eu te queria.”
“Você não sabia de nada, senhorita ‘moro em Nova
York’.”
Ela esfrega minha orelha entre os dedos. Deus, eu amo
quando ela brinca com meu cabelo, passa as mãos pelo meu
rosto ou me toca de alguma maneira.
“Meu argumento é que, se alguém me dissesse que
estaríamos aqui assim, eu nunca teria acreditado, porque
você tem sido um sonho completamente fora de alcance
desde o dia em que nos conhecemos. Hoje o sonho é real, e é
por isso que eu não disse a eles seu nome, mas estou falando
de você há meses. Acho que, até este exato momento, não
acreditei totalmente que você estivesse aqui.”
JEWEL E. ANN

“Oh, doce menina, por favor, me diga que vocês dois não
fugiram para casar.” A mãe de Lake abre a porta de tela.

Vimos fotos de sua família em seu telefone quando


ficamos no hotel em Los Angeles. Ela pensou que me sentiria
mais confortável se pudesse associar nomes facilmente com
rostos. Sua mãe, Felicity, é fácil de reconhecer com seus
cabelos pretos e cinza na altura do queixo e seu corpo alto e
esbelto.
“Não, mãe, não nos casamos.”

Eu a coloco de pé.
“Oh querida! O que aconteceu com você?”

Sim, sua pele ainda está muito vermelha.


“Pequenas queimaduras solares. Eu estava em Los
Angeles com um protetor solar de baixo fator. Nada demais.
Acontece.”
“Você tem certeza de que está bem... Oh. Bom. Senhor!
Você é Cage Monaghan. Lake, o que ele está fazendo aqui?”
Felicity bate a mão no peito. “Tom!?! Venha aqui. Você nunca
vai acreditar nisso.”
Eu sorrio. “Prazer em conhecê-la, Sra. Jones.” Eu
ofereço minha mão.

Ela apenas olha para mim com uma expressão de olhos


arregalados estampada no rosto. “Felicity... por favor, e... o
que você está fazendo aqui?”

Lake pega minha mão e me puxa para a mãe dela que


foi para o vestíbulo. “Ele está comigo, mãe, ele é meu...” Ela
olha para mim como se precisasse da minha permissão para
terminar sua apresentação.
“Namorado?” Eu digo para Lake.

Ela sorri, como se a minha confirmação na frente de sua


mãe fizesse o seu dia. “Sim.” Ela continua a sorrir para mim,
mesmo que suas palavras sejam para a mãe. “Cage
JEWEL E. ANN

Monaghan é meu namorado. Eu não te contei na época, mas


ele voou para Pequim só para me beijar.”

A boca de Felicity cai aberta quando volta seu olhar para


mim.

Com um encolher de ombros, sorrio. “História real.”

“Sobre o que estamos falando? Whoa!” O pai dela para


no momento em que vê Lake. “Que diabos, menina?”

“Um pouco de insolação, pai. Nada demais.”

Seu olhar permanece nela por alguns segundos, como se


não soubesse se deveria acreditar nela. É claro que ele não
deveria, mas eu valorizo minha vida, então fico de boca
fechada.
Após o breve olhar que Lake ganha, seu pai volta sua
atenção para mim. “Caralho! Você é o quarterback do
Minnesota... Monaghan. O que... por que você está aqui?”
Lake revira os olhos. “Eita... obrigada, pais, por não
assumirem que Cage é meu namorado. O céu proíbe que a
garota sem perna tenha um bom partido.”
Tom aponta um dedo para mim enquanto encontra o
rosto zangado de Lake. “Isso não é uma piada?”

Estendo minha mão. “Não é uma piada, Sr. Jones.


Estou namorando sua filha. Sou Cage, mas acho que você já
sabe disso. De qualquer forma, é um prazer conhecê-lo.”
Tom aperta minha mão. Um sorriso generoso se forma
em seu rosto, por baixo da barba grisalha curta que combina
com os cabelos grisalhos misturados a um loiro avermelhado.
“Prazer em conhecê-lo, Cage. Não vou mentir, não somos fãs
do Minnesota, mas sou seu fã desde que você jogou na
faculdade.”

Assentindo, eu sorrio. “Obrigado. E agradeço a sua


honestidade. Duvido que haja muitos fãs do Minnesota por
aqui.”
JEWEL E. ANN

“Eu sou fã.” Lake abraça minhas costas.

Descanso minha mão sobre a dela. “Obrigado. Isso


significa muito vindo de uma entusiasta em futebol como
você, querida.”

Os pais dela riem.

Tom pisca para Lake. “Se vocês ainda estiverem juntos


quando a temporada começar, por favor, não desperdice bons
ingressos com ela. Me faria mal vê-la nas arquibancadas,
completamente entediada e sem entender nada. Nunca
conseguimos fazê-la assistir futebol.”
“Ugh... sério? Podemos passar para um assunto que não
envolve jogar sua filha embaixo do ônibus? Pai, por que você
não ajuda Cage a trazer nossas malas?”
Antes de voltar para fora, a coisa mais incrivelmente
louca acontece. Felicity gentilmente agarra as orelhas de Lake
e beija sua bochecha, em seguida, sussurra alto o suficiente
para que eu ouça: “Ele é bem legal, menina, mas você
também e você nunca deve se esquecer disso.”

Os olhos de Lake se arregalam quando seus lábios se


separam e nossos olhares se encontram. Meus olhos
conversam com os dela, e eu tenho que morder meu sorriso
porque... Puta merda! Sua mãe puxou suas orelhas.
Assim que trazemos a bagagem, Lake olha para as
escadas do segundo andar — outra montanha para enfrentar.
Posso ver no rosto dela.

“Algo errado, querida?” Felicity pergunta.


“Hum... eu apenas...”

“Você ainda tem problemas com as escadas, não é?


Pensei que você tivesse dito que as pernas de Thad pareciam
a coisa de verdade, nem mesmo um indício de mancar,
mesmo nas escadas.”
JEWEL E. ANN

“Sim... a perna está boa. Acabei com uma pequena


queimadura na minha perna, então qualquer coisa que
esfregue contra ela é um pouco desconfortável.”
“Eu levo ela”, digo, subindo os degraus dois de cada vez
para colocar nossas malas no topo antes de descer.

“Isso é embaraçoso”, ela murmura quando a levanto em


meus braços.

“Sua mãe já arrumou seu quarto, Lake”, o pai diz. “Cage


pode dormir no quarto azul.”

Casa deles. As regras deles. Não vou questionar uma


palavra. É assim que crianças militares são criadas. Minha
namorada? Ela não é tão submissa às regras deles.
“Ah, pai. Novidades, eu tenho vinte e quatro anos. Nós já
fizemos sexo.”
Fecho os olhos, tentando fingir que ela não disse isso.
“Lake...”, o pai dela tenta argumentar.
“É verdade. Lide com isso. Tivemos muito sexo em
muitos lugares diferentes e satisfatoriamente...”
“Lake!” Felicity reprime sua risada.
Tom está nas minhas costas, então não posso vê-lo. Eu
apenas rezo para que ele não tenha uma arma.
“Espere”, murmuro sobre meu constrangimento
enquanto a carrego para cima.
“O quê?” Ela sorri quando eu a jogo na cama em seu
quarto rosa.

“‘Oi, mamãe e papai, conheçam Cage. Ele é meu


namorado e só para que saibam... nós tivemos sexo em um
monte de lugares e posições diferentes e satisfatoriamente?’ É
isso que você estava se preparando para dizer, certo?”
Ela recua, apoiando as mãos na barriga. “Desculpe,
alguma parte do que eu disse foi imprecisa? Você quer que eu
JEWEL E. ANN

liste todos os horários, lugares e posições em que fizemos


sexo, porque eu posso. Lembro de cada uma delas.”

Meu pau está como aço nas minhas calças. Apenas falar
sobre isso me deixa tão fodidamente duro, mesmo que meu
cérebro ainda não possa aceitar ela dizendo isso para seus
pais. Meu pau? Não. Tudo o que ouviu foi ela dizer a palavra
sexo e sua visão de raio-x a viu nua e embaixo de mim.
“Você está pensando sobre isso, não é?”
Vou em direção à janela, verificando a vista do lago
menos sedutor enquanto me ajusto. “Não estou pensando em
nada, exceto você me envergonhando. Quais são as chances
de seu pai ter uma arma?”
“Cem por cento.” Ela ri.
“Ótimo. Não vou fazer sexo com você aqui. Primeiro,
você ainda sente muita dor, mesmo que não queira admitir, e
segundo... não quero desrespeitar seus pais.”
Ela senta. “Primeiro, você não sabe o meu nível de dor, e
segundo, meus pais foram nadar no lago com Jessica e Luke.
Meus pais exibem uma quantidade inadequada de
demonstrações públicas de afeto, o tempo todo, e espere... se
ficarmos o tempo suficiente, você vai poder ouvi-los.”

Eu me viro, encostando as costas na parede pintada de


rosa. “Ouvir seus pais?”

Ela mexe as sobrancelhas.

“Não.” Eu balanço minha cabeça. Ela deve estar


inventando isso apenas para conseguir alguma reação minha.

“É verdade. Eles gostam da música alta e do sexo ainda


mais alto. Se eles ainda fizerem a mesma rotina, posso até
sincronizá-la com você. Eles têm que ficar calados quando
recebem hóspedes que dormem aqui, mas quando somos
apenas nós, crianças, eles não escondem isso. Gostaria de
saber se meu pai enfia a calcinha da minha mãe na boca dela
para mantê-la quieta ou...”
JEWEL E. ANN

“Não!” Eu balanço minha cabeça. “Não. Não. Não.” Eu


faço uma careta. “Não quero saber disso. Acabei de conhecê-
los. Quando olhar para eles, quero ver as duas belas pessoas
que fizeram você. Na verdade, não quero pensar neles
‘fazendo você’. E definitivamente não em sua mãe
amordaçada com sua própria calcinha.”

“Oh...” Lake balança a cabeça. “Não diga nada a eles


sobre a calcinha. Isso é apenas especulação da minha parte.
Não estou tentando espalhar boatos.”

“Sério!?! Você honestamente acha que eu diria algo


sobre isso para eles?”

Ela tenta esconder o sorriso, mas vejo em seus olhos


antes que ela deixe os lábios livres do confinamento dos
dentes. “Não.” Ela ri. “Mas meu Deus! Você tinha que ver sua
cara. Você parece horrorizado.”
“Você é tão...” Eu balanço minha cabeça, esfregando as
mãos sobre o rosto.
“O quê?”

“Uma chata. Uma conspiradora diabólica. Um pouco...


mais que um pouco. Então, tudo isso sobre seus pais foi
apenas para causar uma reação.”

Ela joga a cabeça para trás. “O quê? Não. A única parte


sobre a qual eu estava brincando era mencionar a calcinha,
porque sei que você nunca faria isso. Mas o resto? O
mergulho? As demonstrações de afeto? O sexo barulhento?
Tudo verdade.”

Descanso uma mão no meu quadril enquanto esfrego a


parte de trás do pescoço com a outra mão. “E a arma?”

“Ele provavelmente é dono de pelo menos uma dúzia,


mas nunca usou nenhuma em um dos meus namorados. Ele
chegou perto de Ben, mas minha mãe interveio como a voz da
razão para salvar o dia.”
“O que Ben fez?” Olho para cima.
JEWEL E. ANN

“Tomou minha virgindade... no quarto verde. Você sabia


que existem balas de coração com frases picantes? É verdade.
Não tenho orgulho disso, mas bastou uma balinha de coração
que dizia: ‘Vamos fazer amor’, para eu subir minha saia e
arrancar minha calcinha. Não importava se ele me desse
mais duas imediatamente, que diziam ‘Curve-se’ e ‘Chupe-
me’. Fui banida permanentemente daquele quarto, o que é
uma pena, porque é o único com uma cama king-size; o resto
é queen. Espero que você trabalhe bem em pequenos
espaços.”

“Nós não vamos fazer sexo aqui.” Eu balanço minha


cabeça, em parte para afirmar minha declaração e em parte
para livrar minha cabeça de Lake fazendo sexo com outro
cara. Estou com ciúmes de um cara morto. Essa é uma nova
e patética queda para mim.
“Então você diria não se eu me oferecesse envolver meus
lábios em seu pau agora.”
“Jesus, Lake...” Eu tenho que me virar e me ajustar
novamente. Preciso de um banho frio para esfriar minhas
bolas e me acordar desse pesadelo de um longo fim de
semana que apenas começou.
Sua risada sempre me deixa impotente. Sou um babaca
por seu riso.

“Amo brincar com você”, ela ri.

Sim, adoro quando ela brinca comigo também, mas


minha preferência é mais física e menos psicológica.
Eu mudo de assunto. “Sua mãe agarrou suas orelhas.”

“Meu Deus! Eu sei. Só quando ela fez isso que eu


percebi que acontecia há anos. Se você tivesse me
perguntado, eu teria dito que ela embalava minha cabeça,
mas não. Ela agarra minhas orelhas. Ela arruinou minhas
orelhas! Elas nunca voltarão à sua posição original.”
JEWEL E. ANN

Eu sorrio. Lake é o seu próprio universo, e quando


tenho o prazer de fazer parte dele, não sou um jogador de
futebol famoso e nem o homem que está de luto pelo pai. Eu
sou o cara que gostaria que ficar com ela fosse sua profissão
em tempo integral.

“Eu amo suas orelhas. Adoro o jeito que você geme


quando arrasto seu lóbulo da orelha entre meus dentes.”
Também amo como ela fica sem fôlego quando digo
coisas assim para ela.

Ela engole em seco. “Ivy”


“Ivy?”

“Sim.” Seus ombros se levantam. “Outro dia você disse


que não sabia meu nome do meio. É Ivy.”

“Nomes muito campestres.”


“Meus pais afirmam que não eram hippies, mas... não
tenho tanta certeza.”
“Meu nome do meio é James.”

“Eu sei.” Com um leve movimento da cabeça, ela revira


os olhos.
“Você sabe?”

“Dã. Se você pesquisar seu nome no Google, toda a


coluna da direita será sobre você: nome completo, data de
nascimento, altura, equipe atual, formação, pais. Sim, está
tudo lá.”

“Você me pesquisou no Google?”

“Talvez.” Ela puxa uma pele descascada em seu braço.

“Para descobrir minhas estatísticas?”

Ela encolhe os ombros. “Entre outras coisas.”


JEWEL E. ANN

Sento na cama ao lado dela, abaixando a cabeça para


ver seu rosto que ela tenta esconder com o queixo abaixado.
“Que outras coisas?”
“Apenas coisas. Ok? Como lugares em que você foi
fotografado ou...”

“Ou?”

“Ou talvez com quem você foi fotografado.”

“Você ficou online para avaliar sua concorrência?” Eu


sorrio.

“Talvez.” Ela aperta os lábios.

“E?”
“É muito duro.” Lake me lança um olhar rápido, com o
nariz franzido. “Você não gosta da garota comum.”
Eu balanço minha cabeça. “Na verdade, eu não namoro
muito.”
Sua mandíbula torce. “Uh... posso fazer uma pesquisa
no meu telefone agora e provar que você está errado.”
“Fotos não significam nada. Se eu me inclinar muito
perto de uma garçonete em um bar ou restaurante
barulhento para fazer meu pedido, algum idiota tira uma foto
e, assim, diz que a garçonete e eu temos uma coisa.”
“Sim, bem, então você deve sair em alguns lugares
chiques que só contratam mulheres muito sexy para
trabalharem lá.”

“O sol também fritou seu cérebro um pouco? Porque


este é um novo lado seu. Ciúme não combina com você.”

“Eu não sou ciumenta. Disse que sabia o seu nome do


meio. Você perguntou como. Eu te disse e isso levou a essa
conversa. Eu não disse nada por ciúmes. Simplesmente fiz
observações, só isso.”
JEWEL E. ANN

Dou de ombros. “Eu não sei, parece um pouco com


ciúmes.”

“Você é uma droga. Ciúme é: quem era a loira? Como


vocês se conheceram? Você fez sexo? Quanto? Você a amou?
Você sente falta dela? Aposto que você está pensando nela
agora. Quando foi a última vez que você falou com ela? Mas
se você tivesse me ouvido, saberia que não perguntei nada.
Eu disse que vi algumas fotos suas online. Depois, observei
que as mulheres em todas as fotos eram muito atraentes. É
isso aí. Acabou.”
“Lake?” Sua mãe chama. “Desça aqui. Luke e Jessica
acabaram de chegar!”

Ela respira fundo rapidamente. A emoção em seus olhos


e o sorriso em seu rosto alivia minha ansiedade, mas só um
pouco.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E TRÊS


Virgindade desaparecida

LAKE

“GTO Jones!” Eu falo do topo da escada. Um passo para


baixo me deixa fervendo com alguns palavrões murmurados.
Eu não estou pronta para usar nenhuma prótese ainda,
mas... teimosa.
“Eu vou te carregar.”
Antes que Cage possa terminar sua oferta, caio de
bunda e deslizo escada abaixo. Não é incrível, mas pelo
menos meu traseiro não parece carne crua. O garoto
bagunçado de cabelos escuros no pé da escada ri para mim.
“Grant, tia Lake precisa de beijos.” Estendo meus
braços.
Ele pula neles. Tento esconder meu vacilo, mas até
mesmo o corpinho dele causa minha dor.
“Bom Deus, Lake. O que você fez?”

Mantendo Grant preso em meu abraço, olho para meu


irmão Luke. Ele é a minha versão masculina: cabelos pretos,
olhos azuis e, sim, após inspeção, suas orelhas também se
destacam um pouco.

“Acidente em um laboratório de metanfetamina.”

Ele continua a me olhar sem reação. Jessica ri.


“Protetor solar, Lake”, diz Luke. “Filtro 75 para a sua
pele branca.”
JEWEL E. ANN

“Obrigado, Dr. Jones. Vou levar isso em consideração na


próxima vez que adormecer na praia. Oi, Jess.” Soltando
Grant, agarro a escada para me erguer sem colocar muito
peso na minha perna.
“Nós sentimos sua falta. Quando você vai voltar?” Ela
pisca e me dá um abraço gentil.
Seu corpo se enrijece e naquele momento eu sei que
Cage desceu as escadas.
O filho de seu ex-amante.

O namorado cujo nome eu nunca mencionei.


O homem que eu quero que minha família ame e aceite
mais do que absolutamente qualquer coisa.
Luke. Ele é o único na minha família que sabe sobre o
meu encontro único na vida com Cage. Eu contei tudo depois
daquele dia para ele e Jessica. Luke olha para mim e é um
momento muito agridoce. Eu vejo o homem que não quer se
lembrar daquele momento na vida de sua esposa, mas
também vejo o irmão que se lembra do dia em que sua irmã
encontrou ‘o cara’.

Luke tamborilou no topo do volante com as mãos. Ele


estava cansado de dirigir pelo quarteirão.
“Você não precisou buzinar.” Escorreguei no assento e
bati a porta.

“Então o que você descobriu?”

“Ele é maravilhoso. Ele é quarterback no Nebraska. Ah...


e acho que ele me ama e também ama minha perna protética.”

Essa não era a informação que ele queria. Luke


precisava saber se encontrei alguma pista do paradeiro de
Jessica. Eu não quis derramar tudo isso sobre Cage, mas
tinha que contar a alguém... apenas precisava. Vamos em
silêncio de volta ao nosso hotel em Omaha. Dor por sua
JEWEL E. ANN

amada irradiava dele. Eu queria melhorar as coisas, mas


assim que entramos na garagem, Luke me lembrou de por
que eu o amava tanto.
Esfreguei o topo da minha perna, olhando pela janela.

“Sua perna está incomodando hoje?” Luke perguntou.

“Não.” Eu parei minha mão. “É apenas um hábito. Isso é


tudo.”

“Não tenho dúvidas de que você está certa.”

Eu olhei para ele. “O que? Que isso é um hábito?”

“Não. Não tenho dúvidas de que você está certa sobre


Cage. Tenho certeza que ele ama você e sua perna. Qualquer
cara seria um tolo se não amasse.”

Era uma loucura minha sugerir que Cage poderia me


amar depois de um encontro, mas significava muito para
mim que Luke dissesse isso com total sinceridade.

“Cage”, Jessica sussurra como se ele fosse um


fantasma. “O que você está fazendo aqui?”
Eu entro, olhando entre ela e Luke.
Luke pigarreia e eu sei... sei que ele irá dizer algo para
ajeitar as coisas. É o que ele faz. Ele luta pelas pessoas que
mais ama no mundo, e estou nessa lista privilegiada.
“Lake e Cage se conheceram em Omaha quando
estávamos lá procurando por você. Acho que minha querida
irmã se apaixonou por seu enteado, Jess.”

E assim... Luke rouba meu coração. Ele deixa o passado


para trás e me dá uma chance de futuro. Eu quase choro
quando ele sorri, daquele jeito que diz que está feliz por mim.
Cage dá os dois últimos passos e um sorriso triste para
Jessica. Então ele a abraça. Sim, eu tenho os melhores
homens na minha vida. Jessica o abraça com força, como se
JEWEL E. ANN

precisasse de um minuto para controlar suas emoções antes


que ele a solte.

“Eu fiquei pensando se foi por isso que você se mudou


para Minneapolis entre tantos lugares.” Luke sorri enquanto
pega Grant, que está com os braços estendidos para ele.

“O quê?” Estreito os olhos. “Você sabia que ele jogava no


Minnesota?”

Luke dá de ombros. “Claro. Você quer dizer...” ele ri “...


você não?”

Eu balanço minha cabeça, me sentindo a pessoa mais


burra do mundo. Como todos na minha família conheciam e
seguiam o homem dos meus sonhos, exceto eu?
Jessica solta Cage e respira fundo. Tanto meu irmão
quanto eu esperamos que eles troquem algo mais do que
apenas um abraço, mas isso não acontece, e eu os amo por
isso.
“Ele é um bom partido, Lake.” Jessica pisca um olho
para Cage. “Mas Lake é minha irmã, então aí vai um aviso,
Monaghan, se você machucá-la, eu mato você.”
“Obrigado, querida.” Luke balança a cabeça. “Essa era
para ser a minha fala. Você é tão incrível.”
“Tanto faz, Jones. Estou faminta. Vamos invadir a
cozinha. Carregar seu bebê exige muita energia.” Ela esfrega
a barriga enquanto se dirigem para a cozinha.

Eu me viro e pego a camisa de Cage, olhando para ele.


“Disse que eles iriam amar você.”

“Mmm”, ele cantarola. Seu sorriso com covinhas derrete


tudo abaixo da minha cintura. “Você sabe o que eu amo?”
“A mim, espero.”

Cage ri, passando os dedos pelos meus cabelos. “Sim, e


eu amo que você se mudar para Minneapolis não tenha nada
a ver comigo... que acabamos por nos encontrar
JEWEL E. ANN

casualmente.” Ele pressiona seus lábios nos meus, me


beijando lentamente.

A verdade para mim não é explicada por simples


coincidência. Tudo o que aconteceu na minha vida me forçou
a encontrar um sentido e uma direção — uma razão para
seguir em frente. Eu acredito que minha mudança para
Minneapolis, entre tantos infinitos destinos possíveis, tem
tudo a ver com Cage. O tempo conta muitas histórias e é hora
da nossa.

*
“Estou deixando seu pai e roubando seu namorado.
Isso vai ser um problema, Lake?” Minha mãe pergunta
enquanto olhamos pelas janelas com vista para o círculo de
testosterona.
Meu pai, Cage, Luke, meus outros irmãos, Lane e Liam,
e meu cunhado, Drake, estão em volta da churrasqueira
bebendo cerveja. Até Cage está traindo sua rotina sem álcool,
deixando de tratar seu corpo como um templo e tomando
uma cerveja com os outros homens que mais amo no mundo.

Eu sorrio como uma colegial com o comentário da


minha mãe. Pensamentos de Cage fazem isso comigo. “Acho
que pode ser um problema, mas fique à vontade para
perguntar se ele está interessado.”
“Eu posso perguntar a ele também.” Lara brinca com a
borda da taça de vinho ao longo do lábio inferior enquanto
baba sobre o meu cara. “Você acha que ele toparia uma
mulher mais velha com estrias e seios murchos?”
“Talvez.” Dou de ombros, terminando o último gole de
vinho na minha taça. “Ouvi dizer que ele namorou uma
amputada antes. Deve significar que está bem com algumas
pequenas imperfeições.”

“Quanto tempo ele levou para perceber que você não


tinha uma perna?” Minha mãe pergunta com um sorriso de
gato de Cheshire no rosto.
JEWEL E. ANN

“Hmm... acho que talvez tenha sido na quarta ou quinta


vez que estávamos fazendo sexo — na mesma noite, é claro.”
Eu pisco para Anne, minha cunhada.
Ela fica quase tão vermelha quanto eu.

Ela sabe que a nossa família é louca e mais vezes do que


não, é inadequadamente grosseira. Mas nunca conseguiu
participar e lançar as besteiras como o resto de nós. Jessica?
Ela pode fazer isso como se tivesse nascido em nossa família,
mas está no andar de baixo com todas as crianças já que seu
estado de gravidez a impede de beber conosco.

“De qualquer forma, ele tirou seu corpo quente, suado e


musculoso do meu e soltou entre respirações difíceis:
‘Querida, acho que está faltando alguma coisa’. Eu gritei. Ele
me acalmou e depois procuramos minha perna que havia
sumido. Nunca encontramos a coisa maldita.”
Caímos em uma gargalhada, exceto Anne. Ela tem uma
careta permanente gravada em seu rosto. Tenho certeza que
se pergunta como podemos brincar sobre minha perna
amputada.

Fácil. Aconteceu.

Não pode ser desfeito.

Nós já cumprimos nossa cota de luto anos antes.


A vida é muito curta, então fizemos o que as mulheres
Jones fazem de melhor... bebemos até cair em um estupor
risonho.

“Você está namorando uma celebridade, Lake. Já caiu


sua ficha?” Pergunta Lara.

“Na verdade, não. Quero dizer... nós não namoramos


durante a temporada regular dele. Sempre tem alguém
tirando uma foto ou pedindo seu autógrafo, mas tenho essa
sensação que quando os treinamentos começarem, as coisas
vão mudar... muito.”
JEWEL E. ANN

“Haverá porcaria nos tabloides o tempo todo”, minha


mãe acrescenta.

Eu balanço a cabeça, enchendo meu copo. “Sim, nós já


tivemos um pouco disso. Honestamente, não acredito que
nenhum de vocês não tenha me visto em alguma revista fútil.
Eu nunca sonhei que duraria tanto tempo sem vocês
descobrirem a identidade secreta do meu novo namorado.”
“Você me disse o nome dele, querida.” Minha mãe me dá
um olhar sério. “Apenas não o sobrenome.”

Sorrio atrás da taça de vinho. “Eu queria que você o


conhecesse antes de ter alguma ideia preconcebida sobre o
meu namorado ‘celebridade’. E eu queria me sentir segura em
meu relacionamento com ele antes de trazê-lo para... este
lugar.”
“Esperta.” Anne sorri.
Cage olha para cima e nos pega olhando para ele através
da janela, e ele sorri e pisca.

“Oh. Querido. Deus. Ele piscou para mim. Você acha


que Drake o viu piscar para mim?” Lara se abana.
“Vinho... posso tomar um gole e não vou matar meu
bebê, certo?” Jessica entra na cozinha com Grant no quadril
e exaustão no rosto.
“Troca de turnos.” Anne pega Grant dela. “Além disso,
você pode lidar com a conversa inapropriada melhor do que
eu.”
Jess me beija no topo da minha cabeça. “Sirva-me um
dedinho de vinho, mana, e lhe darei meu primeiro filho.”

Eu sorrio, servindo um dedinho, talvez dois. “Não deixe


o Jones Controlador te pegar.”

Jessica senta ao meu lado e revira os olhos, levando o


copo aos lábios.
JEWEL E. ANN

Os olhos de minha mãe e de Lara se arregalam, seus


sorrisos congelados em caretas.

“Não. De. Maneira. Nenhuma.”

Jessica fecha os olhos e resmunga quando me viro. Luke


está atrás dela com a taça de vinho interceptada na mão.

“Droga, Jones! Você é tão controlador.”

Eu sorrio, sentindo falta da brincadeira zangada que


sempre se transforma em Luke dizendo algo que deixa Jess
sem palavras. Aquele dia não é exceção.

Depois de colocar o copo no balcão, ele se inclina e beija


sua bochecha enquanto descansa as mãos na barriga dela.
“Como é carregar uma parte tão importante de mim dentro de
você?”

Ela faz uma careta. “Você não joga limpo. Você nunca
joga limpo.”
Luke fica com um sorriso orgulhoso grudado no rosto.
“Papai está tirando os hambúrgueres da grelha.”

“Vou preparar as saladas e batatas fritas.” Minha mãe


se levanta, drenando o resto de seu vinho com um suspiro
satisfeito enquanto Jessica a encara. “Oh, Tom se lembrou do
seu hambúrguer vegetariano?”

“As mulheres que carregam uma parte tão importante


do seu filho não conseguem nem experimentar o churrasco.”
“Seu prato de quinoa está no forno ao lado da batata
frita com ruibarbo”, Luke fala enquanto sai.

Tenho quase certeza que vejo pelo canto do olho Jess


sorrir.

*
JEWEL E. ANN

CAGE

Tom Jones. Eu passei quase dois anos sem uma gota de


álcool e, com um olhar de ‘é sério que você não vai tomar
uma cerveja comigo’, tenho uma garrafa fria na mão, a suave
cerveja cobrindo minha garganta. Os homens da família de
Lake são o oposto dela: adoram futebol. Até Luke, que Lake
descreveu como ‘engomadinho’, sabe estatísticas e nomes de
jogadores.

Carne vermelha também está na lista de coisas que eu


não como há muito tempo, mas um dos hambúrgueres que
Tom jogou na churrasqueira a carvão é meu. Como me tornei
o calouro querendo se encaixar? É uma loucura, porque eu
nunca estive nesse papel, mas quero que todos os homens na
vida de Lake gostem de mim.
Depois de bons vinte minutos discutindo futebol com os
homens amontoados em volta da churrasqueira, e justamente
quando começo a ter essa sensação de adequação, Tom me
faz a pergunta que me faz engasgar com minha cerveja.
“Há quanto tempo você dorme com minha filha?”
Olho para Luke, mas ele mantém a cabeça baixa, a
garrafa de cerveja nos lábios, assim como Lane e Liam.
Drake levanta um dedo. “Vou ver se eles precisam de
ajuda com as crianças.”
Será que Tom fez a mesma pergunta sobre Lara quando
eles se conheceram?

Ou Tom tem a melhor cara de pôquer do mundo ou está


falando sério. Até seus olhos se estreitam uma fração.
“Amo sua filha.”

Luke espia e pisca para mim.


“Você a amava quando tirou a virgindade dela?”
JEWEL E. ANN

Meus olhos passam entre Tom e seus irmãos, que


continuam a manter os olhos fixos na churrasqueira.

Minha sobrancelha se franze. Lake me disse que seu pai


a pegou na cama com Ben. Não foi? Começo a duvidar de
tudo enquanto o silêncio se arrasta. Eu não tenho outra
escolha, então vou com a melhor resposta, a que mais gosto
também. É aquela onde eu sou o único homem que já esteve
com Lake.
“Sim. Amava sua filha quando tirei a virgindade dela.”
Tomo um longo gole de cerveja, rezando para que o estado de
embriaguez comece, mas uma cerveja nunca poderia me
deixar meio alto.

Minha resposta motiva todos os três irmãos a olharem


para mim com seus próprios rostos confusos. Assim como
imaginei — ela não era virgem e todo mundo sabia disso.
“Você amou tirar a virgindade dela?”
Os homens Jones duram dois segundos antes de cada
um deles cair na gargalhada. Eu sorrio enquanto balanço a
cabeça. Nunca esperei que a iniciação fosse tão brutal. Se eu
tivesse uma filha, seria capaz de brincar sobre sua vida
sexual? Provavelmente não. Com toda a justiça, Lake me
avisou que sua família era completamente o oposto do
normal.
“Cinquenta dólares se você responder a ele?” Liam ri,
ainda se curvando para recuperar o fôlego.
“Cem, se você não responder.” Luke balança a cabeça. A
perspectiva da oferta de Liam traz um pouco de preocupação
ao rosto de Luke quando seu sorriso desaparece.

Olho para Tom. Ele apoia a mão no meu ombro,


apertando com firmeza.

“Você passou. Não precisa dizer mais nada.” Ele ri.


Puxo minha camiseta para longe do meu peito. “Merda.
Estou suando. Isso foi apenas...”
JEWEL E. ANN

“Malditamente cruel.” Liam pisca. “Drake correu porque


ele passou pela mesma tortura sobre Lara. Acho que assistir
seu trote foi demais para ele.”
“O grau em psiquiatria é mais terapia pessoal de crescer
nesta família do que um verdadeiro emprego dos sonhos.”
Luke sorri antes de tomar um gole de cerveja.
“Mmm...” Mordo meus lábios e concordo. “Sem
comentários.”
“Tom?” Felicity chama. “Luke disse que os
hambúrgueres estavam quase prontos. Por que vocês estão
demorando tanto?”

Ele os pega na grelha. “Chegando.”


“Nós não vamos ganhar ingressos para nenhum jogo
agora, certo?” Liam pergunta enquanto nos dirigimos para a
porta.
“Sem chance.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E QUATRO


Como salvar uma vida

LAKE

Nós ficamos dois dias com minha família, terminando


com uma impressionante queima de fogos ao longo do lago.
Eu já vi aquilo um milhão de vezes, mas nunca com Cage, o
que a fez parecer nova em folha novamente. Ele faz toda a
minha vida parecer nova de novo.
Jessica uma vez me disse que realmente sentia uma
separação completa de Jillian Knight. Ela sempre foi Jessica
com Luke. Eu acho que ela precisava dessa distinção clara
para deixar AJ e dar sua vida inteira ao meu irmão. Eu
nunca realmente a entendi, até Cage. Ele não está com a
‘namorada de Ben’. Parte dela morreu no dia em que Ben
morreu. É uma realização dolorosa.
Os sobreviventes sacrificam um pedaço de si mesmos
para seguir em frente, uma proverbial descarga de peso para
não se afogar. Jillian deixou parte de seu coração no passado
para seguir em frente como Jessica. O dia em que aceitei a
perda da minha perna foi o dia em que o que restava da
namorada de Ben morreu, e naquele momento me tornei uma
verdadeira sobrevivente. É ela que Cage ama, não a garota
que usava uma capa de amargura e odiava o mundo —
odiava a Deus.

Nós piscamos e os treinamentos ocupam os dias de Cage


e sua presença. Minnesota ainda mantém sua concentração
de treinamento no campus da faculdade — algo a ver com
‘vínculo’.
Sem Cage.
JEWEL E. ANN

Sem sexo.

Não é divertido.
Até o aniversário dele cai bem no meio da concentração
de treinamento. Conversamos por vinte minutos no telefone
antes de ele ser levado pelos amigos.

Depois que minha nova camada de pele se assemelha a


algo humano novamente, voo de volta para Los Angeles para
a sessão de fotos — sem praia. Nossos empregos conseguem
nos separar. Quando ele está livre, eu estou ocupada e vice-
versa. Shayna reivindicou algum do meu tempo livre também,
mas o mais qualificado e quente babá do mundo ainda
continua a causar notícia.
Jamie também continua com o título de melhor batedor.
Três rebatidas rápidas. Eu sorrio, sabendo que encontrarei
sua carranca habitual enquanto Shayna defende seu caso.
Espio pelo olho mágico. Sim, os dois estão do outro lado
da minha porta com toalhas de praia em volta do pescoço.
“Lake! Você tem que vir conosco!”

Sorrio para Shayna e depois encontro a cara de Jamie


com o mesmo sorriso.
“Ela é implacável”, ele diz com seu sotaque britânico
perfeito.
Minhas respostas a ele sempre têm um atraso de dois
segundos, porque gosto de deixar o jeito que ele diz suas
palavras pairando no ar.
“Sim, ela pode ser.” Belisco seu nariz e o balanço até
que ela torce o rosto.

“Para a piscina! Temos que ir!” Shayna aperta as mãos


sob o queixo.

Eu sei que se não responder logo, ela cairá de joelhos.


JEWEL E. ANN

Por que minha decisão tem que vir depois de pesar as


possíveis consequências de ser vista em público com Jamie?
Cage me disse para não alterar minha vida por causa da sua
reputação ou por causa da mídia. Flint? Ele não é da mesma
opinião. Eu fico em algum lugar no meio.

“A piscina não ficará aberta por muito mais tempo...”


Jamie inclina a cabeça para o lado e aperta os lábios.
Ótimo. Exatamente o que eu preciso, ambos com olhos
de cachorrinho abandonado.

“Eu tenho regulado minha exposição solar desde o meu


incidente em Los Angeles.”

Shayna morde o lábio inferior. Jamie olha para ela e


depois para mim.
“Use um chapéu grande e sente-se sob um dos guarda-
sóis. Só ficaremos lá por duas horas, no máximo.”
Soltando um grande suspiro, concordo. “Ok. Qual
piscina?”

“A nova piscina natural.”


“Tudo bem.” Dou um passo para trás. “Entrem, me
deem dez minutos.”

Depois de arrumar minha bolsa, mando uma mensagem


para Flint.
Lake: Para sua informação, vou para a nova piscina com Shayna e Jamie.

Apenas um segundo passa antes que ele me mande uma


mensagem de volta.
Flint: Não.

Balanço minha cabeça.


Lake: Não estou pedindo permissão. Apenas comunicando a você por cortesia.

Flint: Ainda assim, não. O primeiro jogo da pré-temporada está chegando. Cage
precisa de sua cabeça limpa, sem distração com os tabloides.
JEWEL E. ANN

Lake: Não falo com Cage há dois dias. Eu acho que a cabeça dele está “limpa”.
Vou me sentar no lado oposto de Jamie, na piscina.

Flint: Não seja ingênua.

Jogo meu telefone na minha bolsa. “Prontos?”

Shayna dá um pulo. “Sim! Sim! Sim! Lake está vindo!”


Ela dá a Jamie um olhar triunfante.
Ele sorri para mim. “Parece que você fez o dia dela.”
“Hmm... sim, mas aqui está o acordo. Nós...”, eu
gesticulo entre nós dois, “… temos que ficar em lados opostos
da piscina.”

Jamie ri. “O que? Como um casal divorciado levando a


filha para nadar.”
“Não. Como duas pessoas que nunca se conheceram e
não se encontram, falam ou sequer se olham.”
“Combinado.”
E essa é apenas mais uma razão para Jamie ser o
melhor babá. Ele aceita instruções sem discutir.

*
“Você é péssima em fazer parte da equipe.”
Desligando o Kindle, levanto a aba do meu chapéu de
sol e olho para Flint.
“Você está vestido demais para uma piscina.” Meus
olhos fazem uma rápida inspeção do seu terno preto, sem
gravata, com os botões de cima abertos. Sua cara colônia
anuncia sua presença diante de sua voz.

“Você está pouco vestida para estar em público.”

Eu sorrio. “É uma piscina.”


“Você não tem um maiô... ou talvez uma daquelas
longas saídas de praia?”
JEWEL E. ANN

Estreitando um olho para ele, balanço minha cabeça.


“Desculpa. Se você está preocupado com o fato de eu me
queimar de novo, então gostaria de chamar sua atenção para
o grande guarda-sol sobre minha cabeça.”
Ele ajeita os óculos de sol e olha em volta da piscina
lotada. “Pensei que tivéssemos concordado com a reputação
de Cage.”
“Claro, chefe. É por isso que estou sentada aqui
sozinha.”

“Mas o Dom Juan está do outro lado da piscina, você


não está enganando ninguém.”

“Dom Juan, hein? Bem, isso explica tudo.”


“Explica o que?”

“Por que um cara bonito como você nunca está com


uma mulher. Você tem uma queda pelo babá de Shayna.”
“Foda-se.”
O foda-se de Flint, não é nada como o de Everson. Não
detecto brincadeira ou piada nas palavras dele.
“Eu não me importo se você é gay. Não é da minha conta
e, ao contrário de algumas pessoas, sei como cuidar da
minha própria vida.”
Besteira total. Eu sou a rainha do olho mágico. Meu
hobby favorito é invadir a vida de outras pessoas.

“Você não sabe nada, Lake.” Flint se afasta. Nenhuma


outra palavra ou mesmo um rápido olhar para trás.

Jamie estreita os olhos para mim enquanto ajuda


Shayna a nadar de costas. Eu balanço minha cabeça e viro
meu chapéu de volta.
Um tempo depois, Shayna me chama. “Lake, estamos
indo embora agora. Eu quero ir para casa com você.”
JEWEL E. ANN

Sim, até viemos em carros separados. Quaisquer


problemas que Flint tenha sobre o meu passeio é uma
excessiva obsessão da parte dele. Eu balanço a cabeça e
sorrio enquanto Shayna caminha em minha direção, enrolada
em uma grande toalha rosa que é arrastada pelo chão.

Jamie levanta a mão. “Vejo você em casa.”


“Sorvete! Por favor, Lake.” Shayna aperta as mãos
novamente sob o queixo.
Minha força de vontade não é páreo para seu adorável
pedido. “Sim, claro, sorvete.” Pego a ponta da toalha e tiro a
água do seu rabo de cavalo.

“Obrigada, Lake.”
“De nada. Vamos.”

Paramos em sua sorveteria favorita, e ela pega o de


sempre: sorvete arco-íris com chicletes. Eu balanço minha
cabeça toda vez. Como ela pode gostar de chicletes frios e
duros que tem que cuspir em um guardanapo para mastigar
quando o sorvete acaba? Compro sorvete de manteiga de
amendoim com pedaços de biscoitos de chocolate.
“Sinto falta de Everson.” Shayna passa a língua pelo
lábio superior, sentindo a mancha rosa na ponta do nariz.
“Eu sei querida. A concentração de treinamento está
quase no fim e você poderá vê-lo com mais frequência.”
“Eu amo Everson.”

Claro que sim. Amor é tudo o que Shayna tem para dar.

“Você disse ‘eu te amo’ para Everson?”

Ela assente.

Coloco minha colher no sorvete. “Everson disse ‘eu te


amo’ para você?”
Ela assente.
JEWEL E. ANN

Eu quero chorar, mas não faço isso. Em vez disso,


sorrio. Cada centímetro de mim sorri. Parece uma grande
vitória. Eu sabia que ele a amaria. Eu sabia que seria
impossível para ele não a amar. Não é mais minha ilusão que
ela vai ficar bem — que eles vão ficar bem — eles estão
chegando lá.

Eu limpo um pouco de sorvete do nariz dela.


Ela ri e respira fundo. Seu sorriso desaparece quando
seus olhos se arregalam de pânico e sua colher cai no chão.

“Shayna?”
Sua mãozinha dispara para sua garganta.

“Shayna?” Eu pulo, derrubando minha cadeira no chão


atrás de mim.

Ela está engasgada, realmente engasgada. Nenhuma


tosse ou qualquer sinal de troca de ar. Os olhos dela
lacrimejam.

“Socorro!” Minha voz estridente atravessa o ar. Eu nem


a reconheço enquanto meu coração dispara na minha
garganta. Eu sinto como se também estivesse sufocando. Tive
aula de primeiros socorros muitos anos antes, mas
simplesmente não consigo pensar. Eu dou um tapinha nas
costas dela. Os lábios dela ficam azuis.
“Afaste-se.” Uma voz familiar aparece do nada.
“Flint! Oh meu Deus, ela está engasgada.”

Ele a segura contra ele, enfiando as mãos em punho no


estômago dela.

“Ligue para emergência!” Grito para quem queira ouvir.


Meu celular está a um metro de distância de mim na mesa,
mas meu cérebro não funciona. O medo me rouba tudo, e
entro em pânico como quando o protótipo da perna de
natação caiu na piscina e Thad teve que pular para me
resgatar.
JEWEL E. ANN

Shayna desmaia e lágrimas inundam minhas


bochechas. “Shayna! Flint!”

Ele a abaixa no chão e eu apenas fico lá. Em câmera


lenta. Vozes abafadas em ecos. Pessoas se reúnem ao redor.
Shayna tosse e Flint a rola para o lado e da sua boca cai uma
bola de chiclete. Uma porra de chiclete. Por que eu a deixei
pegar chicletes? Alguns segundos depois, as sirenes soam, as
luzes brilham e todos se afastam quando os paramédicos
empurram a porta.

Eu pulo quando as mãos de Flint envolvem meus


braços, me afastando de Shayna enquanto os paramédicos se
aproximam dela.

Ben morreu e eu vivi.


Shayna quase morreu e eu teria vivido. Tomo decisões
ruins que colocam outras pessoas em perigo.
“Dê-lhes espaço, Lake”, diz Flint, enquanto me afasta
dela.
Não consigo falar.

Eu não posso nem piscar.


“Vamos segui-los até o hospital.”

Eu balanço minha cabeça. “Eu vou com ela.”

“Você é a mãe dela?” Pergunta um dos paramédicos.


Flint diz: “Não”, e eu digo: “Sim”.
Os olhos do paramédico voam entre nós. Não tem como
eles me impedirem de ir junto com ela.

“Eu sou a mãe dela.” Me solto das mãos Flint.

“Ela está respirando bem, mas vamos levá-la ao hospital


para que faça check-in. Você pode ir com ela.”

Eu concordo.
JEWEL E. ANN

“Lake...”

Não olho para Flint. Ele salvou a vida dela e, por isso,
sempre lhe serei grata, até mesmo em dívida, mas não quero
ouvir nenhuma besteira sobre fotógrafos, mídia ou como os
eventos do dia podem manchar a reputação de alguém.

Shayna está sorrindo quando chegamos ao hospital. Eu


ainda estou em ruínas. No caminho, mando uma mensagem
para Jamie. Ele tecnicamente é o encarregado dela enquanto
Everson está na concentração de treinamento. Ele tem as
informações médicas e de seguros dela.

“Oi.” Jamie me abraça quando eles levam Shayna para


ser examinada.
Eu surto de novo. Uma nova rodada de lágrimas sai das
comportas.
“E... eu sinto muito. Ela quase morreu.”
“Shh...” Jamie descansa seu queixo na minha cabeça
enquanto soluços assolam meu corpo.

A culpa e o ‘e se’ são tão dolorosos.


“Ela vai ficar bem. Você viu o sorriso no rosto dela?”

“Mas ela poderia ter...”

“Não importa agora. Isso não aconteceu e ela está bem.


Você está bem. Está tudo bem, boneca.”
“Vocês são os pais de Shayna?” Uma enfermeira
interrompe.

Jamie me solta e limpo meu rosto e olhos.

“Eu sou babá dela.”

“Eu preciso revisar algumas informações médicas com


você.”

Jamie assente, olhando para mim com uma sobrancelha


arqueada.
JEWEL E. ANN

Balanço minha cabeça. “Estou bem. Vá. Eles precisam


de você. Ela precisa de você.”

Quando me viro, meu corpo bate em Flint. Respiro


fundo. “Deus! Você me assustou.”

“Liguei para Everson. Ele sabe o que aconteceu e que


Shayna ficará bem.”

“E Cage?”

Flint balança a cabeça. “Everson não vai dizer nada para


ele.”

“Eu vou ligar para ele.”

“Ele sairá para vir até aqui com você. É isso que é
realmente melhor para todos?”
“Você quer dizer para Cage.”
“Sim.” O tom de Flint não tem arrependimento. “Depois
de vê-la, vou te levar para casa. Jamie levará Shayna para
casa e a vida voltará a ser monótona, indigna de notícias.”

Pisco. Pisco. Pisco.


Eu apenas olho para ele. Tudo dentro de mim parece
entorpecido, incluindo minha língua.
“Nós podemos vê-la.”

Minha cabeça aponta para Jamie. Balanço a cabeça e o


sigo para a sala de exames.
“Oi, eu sou o Dr. Brody.”

Jamie aperta sua mão.

“Lake!” Shayna pula da mesa e me abraça como se não


tivesse quase morrido uma hora antes.
Eu pisco para afastar a terceira rodada de lágrimas.
“Ela está bem. Os sinais vitais dela são normais e você
pode levá-la para casa.”
JEWEL E. ANN

“Obrigado”, Jamie diz ao médico.

“Foi um prazer.” Ele bagunça os cabelos de Shayna um


pouco. “Talvez você escolha um novo sabor de sorvete na
próxima vez.”

Ela sorri.

Eu? Meu coração dói e meu estômago revira com muita


náusea para eu sorrir.

“Vamos, Shay.” Jamie a pega. Eu os sigo até a frente.

“Eu quero me despedir de Lake.”

Aquela garotinha preciosa não tem ideia de que quase


morreu porque eu travei quando ela mais precisava de mim.
Sua inocência e amor incondicional quase quebram meu
coração dolorido.
“Oi Shayna. O carro de Lake não está aqui. Vou levá-la
para casa. Você pode vê-la amanhã.” Flint sorri para ela. Eu
não estou acostumada a ver Flint sorrir. Talvez Shayna
consiga o melhor de todos.

“Querida, você se lembra de Flint?” Pergunto.


Ela concorda.
“Bem, ele tirou aquele chiclete da sua garganta. Flint é
seu herói hoje.” Dou um pequeno sorriso.
Os olhos de Shayna ficam grandes quando ela olha para
Flint. “Você?”
Flint dá de ombros, como se salvar garotinhas de
chicletes alojados na garganta fosse uma ocorrência diária
para ele.
“O que você diz, Shay?” Jamie solicita.

“Obrigada.” Mesmo Shayna não está imune à aura de


importância e autoridade que sempre parece envolver o
espaço ao redor de Flint Hopkins. Os olhos dela ficam
grudados nele.
JEWEL E. ANN

“De nada.”

“Estou tão aliviada que você está bem.” Eu a abraço.


“Vejo você em casa.”

Ela assente enquanto Jamie acena e a leva para a saída.

“Devemos?”

Eu balanço a cabeça, dando a Flint um olhar vazio. O


homem é um enigma — um idiota com um milhão de
camadas, e não tenho ideia do que ele esconde embaixo
delas. Eu não tenho certeza se realmente quero saber.

*
Flint me acompanha até o meu apartamento. Eu devo
estar em péssimas condições.
“Meu carro.”

“Eu já tenho alguém o trazendo.”


“A minha chave...”

“Tirei da sua bolsa.”

Meus olhos se estreitam.


“Você estava um pouco distraída.”
Eu abro minha porta. “Você roubou minha carteira
também?”

“Não, mas pensei em esconder seu telefone para que não


ficasse tentada a ligar para o nosso garoto.”

Precisando de Cage tão desesperadamente e sentindo-


me afastada dele, é um tipo especial de dor. “Quão ruim isso
tem que ficar?”
“O que você quer dizer?” Flint fica no limiar do meu
apartamento enquanto jogo minha bolsa no balcão e pego
Trzy.
JEWEL E. ANN

“Se Shayna quase morrendo não merece incomodar


Cage, então o que vai ser necessário?”

“Se ela tivesse morrido, eu o teria chamado.”

“Foda-se.” Olho para ele. Eu não sei se essa é sua versão


esquisita de tentar ser engraçado, mas não encontro humor
nisso. Eu preciso tanto de Cage que dói tudo.

“Pergunte a qualquer esposa da NFL e ela lhe dirá que a


vida é assim. Sacrifício. Sacrifício. Sacrifício.”
“Eu não sou esposa dele.”

“Mais uma razão para não ligar para ele.”

“Ele pode me ligar. Ele não liga há alguns dias.”


“Eu não vou fazer isso com você, Lake. Você sabe o que
é melhor. Basta tomar um banho, tomar uma taça de vinho,
o que for necessário para deixar o dia para trás.” Ele começa
a fechar a porta.
“Flint?”

Ele se vira.
“Obrigada.”
Não prevejo a pausa, o desvio de seus olhos no chão
entre nós, as rugas de dor em sua testa. “Eu bebi.”

É uma declaração ou uma confissão?

Meu corpo congela. Eu temo que um único movimento o


assuste e ele engula as palavras que sei que precisa dizer.

“Eu tinha uma esposa... e um problema com bebida. Eu


tive um filho... e um problema com a bebida. Era meu
aniversário. Fomos jantar. Eu sempre bebia. Ela tentou pegar
as chaves. Eu não deixei. Disse a ela que estava bem... não
estava bem. Você sabe o quão ensurdecedor é o som dos
pneus gritando em seus ouvidos?” Ele olha para o chão ou
para o passado. “Você sabe como o som do metal dobrado se
JEWEL E. ANN

incorpora tão profundamente em sua mente que você nunca


pode esquecê-lo?”

Eu sei. Eu sei exatamente como é o som e como nunca


desaparece.

“Cage estava voltando para casa atrás de nós. Ela estava


presa.”

Eu suspiro. Eu fiquei travada.

“O carro estava pegando fogo. Cage tirou nosso filho. Ele


me tirou... ele não pôde tirá-la. Ela estava presa.” Ele olha
para cima. “Cage salvou a mim e meu filho. Eu devo a ele. Eu
sempre estarei em dívida com ele. O futebol é o sonho dele.
Eu quero dar-lhe seu sonho.”
Eu tento concordar. Talvez eu concorde. Do outro lado
do país, Flint me resgatou da praia com apenas um
telefonema. Ele apareceu como um anjo da guarda quando
Shayna não estava respirando. E eu sei que se lhe perguntar
o porquê, ele dirá que fez isso por Cage. Eu finalmente sei o
porquê.

“Hoje você deu a Shayna uma segunda chance na vida.


Acho que seu talento vai além das estrelas do esporte e dos
escândalos nas manchetes.”

Flint assente uma vez, ainda exibindo um mundo de


confusão em sua expressão.

“Boa noite.”

“Noite, Flint.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E CINCO


Dia de jogo

“É uma merda ver meus colegas beijando suas esposas e


namoradas ou brincando com seus filhos no campo entre os
treinos.”

Eu mal dormi. Entre meu padrão de sono tortuoso e


Shayna quase morrendo no dia anterior, meu cérebro abriu
caminho por uma névoa espessa. Mas a voz de Cage, como o
resto dele, me desperta de todas as maneiras possíveis.

“Então não fique olhando para eles.” Eu bocejo,


esparramada no sofá, esfregando a orelha parcial de Trzy. Ela
gosta. Por quê? Porque ela é Trzy.

“Eu já lhe disse que é bem-vinda, até encorajada, a vir


me visitar. Certo?”

Tryz balança a cabeça bem rápido. Ela atingiu seu limite


de carinho nas orelhas.

“Sim. Você mencionou isso algumas dezenas de vezes.”


“Mas... eu ainda tenho que te ver, e sinto tanto a sua
falta que estou começando a...”, ele abaixa a voz, “... odiar
futebol.”

Eu suspiro. “Não.”
“Sim.”

“Você deveria pedir demissão e eu também deixarei meu


emprego. Podemos brincar com Trzy o dia todo ou pescar.
Aposto que Trzy gostaria de pescar.” Eu sorrio.
JEWEL E. ANN

“Que coincidência. Nós dois estamos sonhando em


deixar nossos empregos para brincar com uma bichana1.”

“Isso é grosseiro.”

Cage ri. “Você acha?”

“Eu acho.”

“Sério. Por que você está me torturando ficando longe?”


Prendo meu lábio inferior enquanto formulo uma
resposta que fará sentido. “Estou muito ocupada.”

“É uma viagem de um dia. É melhor você ter algo mais


concreto que isso.”
Reviro os olhos. Ainda bem que ele não pode ver meu
sorriso culpado. “Eu não sei... realmente não ouvi nenhum
feedback de Flint ou de qualquer outra pessoa sobre como
você está... como está se comportando. Quero dizer... você
pode estar indo muito mal em campo. Pelo que sei, eles
podem ter escolhido ou negociado um zagueiro incrível que
está pronto para colocar sua bunda para o banco. Eu tenho
muitas pessoas que me seguem ou me veem nas mídias
sociais. Não posso ser aquela garota que fica com o cara do
futebol que está no banco de reservas. Seria muito
embaraçoso. Eu tenho minha própria reputação para
pensar.”
“Você precisa vir me ver, para que eu possa enfiar algo
em sua boca para impedir sua interminável tagarelice. Sério,
por que você não vem pra cá?”

Ligo a ponteiro a laser que lança Trzy em uma


perseguição convulsiva. “Eu acho que te distraio.”

“Flint. Ele disse alguma coisa, não disse? Filho da puta,


estúpido.”

“Não. Bem, não mais do que seu discurso normal.


Vamos encarar. Há um mês, você estava pronto para deixar a

1
Pussy no original = forma de se referir à buceta
JEWEL E. ANN

NFL para ensinar e ficar comigo. Em uma escala de um a dez,


fiquei lisonjeada com aquele gesto, então foi um onze. No
entanto, acho que você é jovem demais para jogar tudo isso
pela janela. Não estou fazendo você escolher entre mim e seu
trabalho. Nunca faria você escolher. Preciso saber que sua
cabeça está onde precisa estar agora. Você mesmo disse que
não vale a pena fazer nada pela metade. Estarei no seu
primeiro jogo de pré-temporada neste fim de semana. A
concentração de treinos está quase acabando, e então você
pode enfiar o que quiser na minha boca. Ok?”

“Foda-se, Lake... pare de dizer essa merda. Estou tão


desesperado para estar enterrado dentro de você.”
Eu me dou um tapinha nas costas, o que não estou
acostumada a fazer, mas é louco como essas palavras
simplesmente saíram da minha boca e quis dizer cada uma
delas. Elas expulsaram e bloquearam a dor do que aconteceu
com Shayna. Flint está certo. Ela está bem e o se não
importa. A vida existe com base no que é, não no que era ou
se. Ben morreu. Shayna viveu. Nada disso precisa afetar
Cage naquele momento.

“Eu tenho que ir, querida. Vejo você depois do jogo. Ok?”

Eu balanço a cabeça, limpando minhas lágrimas. Ah! As


emoções. Eu as sinto. Elas confirmam todos os dias que
ainda estou viva. “Cage?”
“Sim?”
“Não se esqueça de me amar.”

“Impossível.”

*
“Law?” Olho para a parte de trás da camisa de Jamie
em Minnesota.
“É o meu sobrenome.”
JEWEL E. ANN

“Eu sei. Mas Shayna tem Banks. Por que você não tem
uma com o nome real de um jogador?”

Jamie nos leva aos nossos lugares como se fosse o dono


do lugar. “Como você veste uma camisa uma vez e depois o
cara com o nome nas costas dela, levanta e sai do time e você
fica preso com uma camisa que não é mais relevante. Pelo
menos para Shayna, também é o sobrenome dela. E por que
você está me dando uma bronca? Você nem está vestindo
uma camisa ou qualquer uniforme de time.”

Eu sorrio. “Flint disse para me vestir de forma neutra. É


um jogo de pré-temporada, mas ele disse que os fãs ainda
podem ficar fora de controle, e desde que eu estive na mídia,
usar uma camiseta do Monaghan pode ser como um alvo nas
minhas costas.”

“Oh. Puxa!” Shayna ofega quando o estádio aparece, as


duas equipes em campo fazendo aquecimento antes do jogo.

“Ahh...” Eu sorrio, fechando meus olhos por um breve


momento. “Nada como o cheiro de suor e grama.”
“É relva artificial.”

“Cale a boca, Jamie.” Eu cutuco seu cotovelo enquanto


passamos pelos fãs que já estão sentados. “Estou aqui. Estou
animada para ver Cage e Everson. Deixe-me ter meu
momento para entrar no clima.”
“Entrar no clima?” Ele levanta uma sobrancelha quando
nos sentamos com Shayna entre nós. “Olhe a sua volta. Eu
não acho que esses fãs estão entrando no clima. Eles estão
morrendo de vontade de começar a temporada desde o jogo
final da última temporada. Você faz parecer que você não
gosta...”

Eu faço uma careta, mordendo meus lábios.

“É isso aí.”
Eu balanço minha cabeça antes que ele possa terminar.
JEWEL E. ANN

“Sim. É isso aí.” Os olhos de Jamie se arregalam. “Você


não gosta de futebol.”

Minha cabeça continua a tremer.

“Eu estou certo. Ele sabe? Sua sensação do futebol sabe


que você não gosta do esporte dele?”

“Eu não sei do que você está falando e nem você. Eu


gosto muito do jogo dele.” Meus olhos se deparam com a
referida sensação do futebol arremessando para outro jogador
na linha lateral, enquanto o resto do time passa por uma
rotina de alongamento.
“Lake Jones não gosta de futebol.” A risada de Jamie se
transforma em uma gargalhada.
“Shh...” Eu olho para ele.

“Nem um pio. Seu segredo está a salvo comigo.”


Reviro os olhos. Algo me diz que meu segredo está longe
de estar a salvo.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E SEIS

Com toda a sinceridade, tenho que admitir que assistir a


um jogo da linha das cinquenta jardas é muito mais
emocionante do que assistir pela televisão. Babar sobre meu
rapaz e ver o entusiasmo da multidão por ele e sua equipe
vencedora naquele dia também ajuda a acender o meu status
de fã de futebol adormecida.

Após o jogo, Jamie leva Shayna para casa e Flint me


acompanha até uma área abaixo dos vestiários para esperar
Cage tomar banho e passar pelas entrevistas.
“Ele estava chateado por eu não ter vindo visita-lo na
concentração.” Eu giro meus polegares, me sentindo como
uma idiota encostada em uma parede de concreto enquanto
jogadores e pessoas da imprensa promovem o caos.
Flint está ao meu lado, uma perna dobrada, o pé
apoiado na parede atrás de nós enquanto mexe no telefone.
“Ele foi muito bem nos treinos. Seus treinadores estão
extasiados com a temporada. Você o viu hoje? Três passes
para TouchDown, sem interceptações, sem roubadas de bola.
Monaghan é o cara, algo especial que não aparece todos os
dias. Ele tem potencial para ser comparado aos grandes. Dar
espaço é a melhor coisa que você pode fazer por ele.”
Ele foi incrível. Eu não posso negar. Dar espaço como se
eu fosse uma espécie de má influência, dói um pouco, mas
aprendi que discutir com Flint é inútil, na melhor das
hipóteses.

“Jones, traga sua bunda aqui.”

Apenas o som faz meu nariz começar a arder e envia


uma onda de lágrimas aos meus olhos. Não é até aquele
momento que percebo o quanto senti falta dele nas três
semanas anteriores.
JEWEL E. ANN

Eu olho para cima. Meu sorriso está em todo o meu


rosto enquanto Cage caminha em minha direção em um terno
preto, camisa branca e gravata violeta, cinza e branca. Na
mão dele há um cartão.
CAPÍTULO OITO

Dane-se o lema de controle e aparência de Flint, ideal


para a mídia. Danem-se os fotógrafos e repórteres. Corro para
seus braços e Meu Deus, como gosto daquilo.
“Eu senti sua falta”, eu arfo.

Cage me abraça com tanta força que a respiração se


torna um desafio. Eu não me importo.
“Se alguém pelo menos a tivesse convidado a me visitar
na concentração de treinamento.”

“Cale a boca.” Sorrio e engulo minhas lágrimas antes


que muitas câmeras deem zoom no meu estado emocional.

“Stick, você está chorando seriamente?”


Cage afrouxa seu abraço, deixando-me deslizar de pé.

“Sentiu minha falta, Kong?”


Seu sorriso desaparece. “Como está Shay?”
Cage franze a testa. Eu dou um sorriso tenso.

“Ela está bem.”


Flint, ainda empoleirado na parede, olha o telefone,
sacudindo a cabeça quase imperceptível.

“Ela esteve doente?” Cage pergunta.

Eu olho para Everson.


“Sim, mas ela está bem agora. Certo?”

Minha resposta chega atrasada. Eu ainda não consigo


pensar nisso sem querer me arrastar para um canto e chorar
JEWEL E. ANN

sobre o que poderia ter acontecido. “Ela está ótima. Adorou o


jogo e mal pode esperar você chegar em casa.”

“Eu ligo para ela. Alguns de nós estamos saindo para


jantar. Vocês vão?”

Meus olhos se voltam para Cage. “Você pode ir... eu não


tenho que...”

“Algumas outras esposas também estarão lá”,


acrescenta Everson.
“Ela não é a esposa dele.” Flint acha necessário afirmar
o óbvio.
“Fato.” Everson apoia a mão no ombro de Cage. “Mas ela
está disputando esse lugar cobiçado.” Ele sorri para mim.
“Depois do jogo dos Twins, ela disse que se casaria com você.”

Eu quero morrer, como uma brutal matança na praça


da cidade. Eu não posso acreditar que ele disse isso.
Cage aperta os olhos um pouco enquanto meus olhos
continuam do tamanho moedinhas de centavos.

“Não se preocupe. Eu disse a ela que você é casado com


o jogo por enquanto.”

“Porra, certo”, acrescenta Flint. “Melhor Jogador em


Campo do Super Bowl, amigo. Se você continuar jogando
como jogou hoje... se ficar focado...” Eu não preciso olhar
para Flint para saber que ele está olhando para mim. “Então
acho que dançaremos debaixo de confetes em fevereiro.”

Cage assente, seu olhar ainda grudado em mim


enquanto murcho embaixo dele. “Acho que vamos para casa,
Banks. Mas obrigado... fica para a próxima vez. Vamos lá,
Lake.” Ele pega minha mão e me puxa em direção às portas.
“Até mais tarde.” Everson sorri para mim como um
irmão que acabou de colocar a culpa do incidente do vaso
quebrado na criança mais nova e está vendo ser levado para
punição.
JEWEL E. ANN

Quando chegamos ao carro, meu coração está preso na


minha garganta. “Foi uma piada.” Mordo meu lábio e faço
uma careta antes que ele feche minha porta. É uma meia-
verdade. É claro que quero me casar com Cage, mas não quis
dizer isso como um objetivo, pois minha intenção era
persegui-lo e agarrá-lo.

“Está tudo bem, Lake.” Ele sorri e fecha minha porta.


Por instinto, minha mente muda o foco para tentar
analisar seu sorriso, o tom de sua voz e até seus passos
enquanto ele se move pela frente do carro. Ele está bravo?
Assustado? Confuso? Decepcionado?

“Você está bravo?” Eu nem termino antes de me


arrepender de perguntar a pergunta mais clichê de todos os
tempos. Eu sou a caçula de cinco filhos. Eu já vi meus pais e
todos os meus irmãos e cônjuges terem brigas típicas com as
falas típicas, e jurei que nunca iria me envolver nesse mesmo
comportamento. Aprender a não julgar foi uma lição muito
humilhante.

“Eu não estou bravo.”

Ótimo. Cage conhece a resposta típica. ‘Não estou bravo’


pode significar ‘Não estou bravo’ ou ‘Estou chateado, mas não
estou pronto para falar sobre isso’.
Eu imploro a mim mesma para não falar, para cavar
mais fundo e encontrar meu controle. O silêncio detém um
poder invisível. Se eu pudesse deixar as coisas como estão,
então tudo ficaria bem. As emoções precisam de tempo para
encontrar palavras.

Quando chegamos a casa dele, saio da caminhonete e o


sigo para dentro. Ele não diz nada. Eu não digo nada. Ele
pega uma bebida esportiva no refrigerador e bebe de costas
para mim. Cage parece incrivelmente bonito em seu terno. Eu
quero dizer isso a ele. Quero dizer a ele o quanto minhas
mãos anseiam tocá-lo. Quero rasgar minha alma e implorar
que ele me ame como uma amiga, como uma amante, como
JEWEL E. ANN

absolutamente qualquer pessoa que ele quiser que eu seja,


desde que eu esteja com ele. Isso é tudo o que importa.

Ele é bom em silêncio. Eu? Não muito.

“Eu não quero casar com você.” Mentira. Por que as


mentiras? Eu simplesmente não consigo descobrir. O silêncio
está me matando, e tudo que eu quero é que pare. Como uma
arma na minha cabeça, eu faço o que for preciso para fazê-lo
parar. “De fato, se você me pedisse em casamento, eu diria
que não, então... realmente, esqueça. Tenho certeza de que
ainda estava dormindo quando Everson bateu na minha
porta.”

Cage se vira. Deus... ele é tão bonito, meu coração luta


para acompanhar meus pulmões ou talvez seja o contrário.
Seja o que for, ele me deixa tão sem fôlego, cativada e à mercê
completa de seu próximo passo, sua próxima palavra, seu
próximo suspiro.

Um pequeno sorriso tenta tomar conta dos seus lábios


quando ele exala o que parece ser a sugestão de uma risada.
“Eu joguei para impressionar você hoje.”

Meus lábios se abrem quando meu corpo endurece, os


olhos se movendo de um lado para o outro como se alguém
estivesse na sala, porque o cara a quem Flint se referiu como
o futuro Melhor Jogador em Campo do Super Bowl disse
apenas que jogou para me impressionar?!

“É a única maneira de fazer isso. Não posso mais amar o


jogo, a menos que consiga me convencer de que estou
jogando por você. Eu costumava jogar para o meu pai, mas
então te conheci e...” Ele coloca a garrafa de plástico no
balcão e dá de ombros, ainda olhando para ela como se suas
próximas palavras estivessem escritas no rótulo “... eu meio
que gosto muito de você. Eu gosto da nossa história. Gosto de
me apaixonar por você todos os dias. Eu gosto de ver todas as
suas emoções nos seus olhos...”
JEWEL E. ANN

“São as lágrimas.” Reviro os olhos, com lágrimas nos


olhos, em direção ao teto e luto com piscadas rápidas. “Estou
tão cansada de você me fazer chorar.”
Ele ri enquanto tira o paletó, dobrando-o e apoiando-o
na parte de trás da banqueta antes de enfiar os dedos nos
meus cabelos. “Só para você saber, ouvi todas as palavras
que você disse. Prometo que nunca pedirei que você se case
comigo. Ok?”
Não, não. NÃOOO!!!

Eu prefiro ser a garota que foi comida por um lobo do


que a garota que nunca foi pedida em casamento pelo homem
dos seus sonhos. Mentiras. Malditas mentiras!
Limpo minha garganta, forçando-me a respirar
enquanto o show de terror acontece na minha frente. Cage
nunca vai me pedir em casamento. Fan-porra-tástico. Por que
simplesmente não declaramos abstinência e concordamos
com o status de amigos por correspondência, para que nem
tenhamos tempo para nos ver?”
“Diga algo. Parece que você acabou de ver um
fantasma.” Ele sorri.

Meus olhos se movem — para cima, para baixo, de um


lado para o outro — mas o resto do meu corpo permanece
paralisado. Posso imaginar como devo parecer assustada.
“Não. Estou feliz.” Não seja teimosa, Lake. Não deixe que
sua teimosia seja a espada que mata seus sonhos. Muito
tarde. “Eu não posso te dizer quão... uh... aliviada estou, sei
que posso apenas desfrutar do nosso relacionamento sem o
medo iminente de você fazer algo ridículo como me pedir em
casamento e arruinar tudo.” Idiota. Quem inventou esse
termo em minha mente. Minha foto deveria ser colada ao lado
dessa palavra no dicionário.

Cage roça seus lábios nos meus. “No entanto...”, ele


sussurra, “...quero filhos um dia.”
JEWEL E. ANN

Engulo.

“Você consideraria ser minha querida mamãe bebê?”


Minha cabeça vira para trás. “Mamãe bebê?”

Ele assente.
Meus lábios se movem, mas nenhuma palavra audível é
formada a princípio. “V... você quer que eu tenha seus
bebês?”
“Absolutamente. Não uma dúzia ou algo assim, e não
imediatamente. Talvez dois nos próximos oito a dez anos.”

É uma piada, certo? Tem que ser uma piada, um


chamado clássico do meu blefe.
Cabeçuda.
Cabeçuda.

Cabeçuda.
Dou de ombros. O que diabos você está fazendo, Lake!
“Certo. Absolutamente. Por que não começar agora?” Eu não
posso dizer com certeza se é a adrenalina de seu jogo, as
semanas que passamos separados ou a experiência de quase
morte de Shayna, mas a razão — todo o senso comum —
desaparece da sala. A única coisa que me impede de ser
engravidada ali na cozinha é Cage. Ele apelaria?
Seus olhos se arregalam uma fração. “Agora?”
“Certo. Carpe diem. É agosto. Nove meses nos daria um
bebê em maio, ainda fora da temporada para você.”

Ele tem que ouvir meu coração. Eu posso controlar


minhas expressões faciais, mesmo minhas respirações
difíceis são fáceis de sufocar, mas meu coração dispara em
meu peito, como se estivesse vibrando por toda a casa.
“Vamos fazer isso. Carpe diem!”
Oh. Meu. Fodido. Inferno!
JEWEL E. ANN

Cage lança sua boca na minha. Ele tem gosto da bala de


menta que colocou na boca no caminho para casa, misturado
com uma essência doce de sua bebida. Em segundos, isso
desaparece e tudo que eu provo é sua fome. Eu sinto sua
impaciência. E o respiro tão completamente. Ele é oxigênio e
todas as células do meu corpo imploram por mais dele.
Paralisia continua a tomar conta do meu corpo inteiro, mas
não importa. Suas mãos se apressam arrancando minhas
roupas.

“Eu te amo.” Essas três palavras saem de seus lábios


quando ele os passa pelo meu ouvido. Essas três palavras
sempre afirmam o que ele me disse na China. Isso significa
alguma coisa.
Penny está certa. Cage tem que dizê-las. Às vezes elas
saem misturadas com uma série de palavrões obscenos, mas
ele sempre... sempre diz isso.
“Eu também te amo”, sussurro, procurando minha
respiração quando inclino a cabeça para trás e fecho os
olhos. “Eu senti tanto sua falta...”

Quando ele alcança o fecho do meu sutiã, eu me afasto


e balanço minha cabeça lentamente. Um sorriso sedutor
brinca nos meus lábios. “Isso é um crime.” Eu pego a gravata
dele e a afrouxo. “Estou tão em conflito. Você de terno é tão
injusto com o resto da população masculina. Eu sei o que
está por baixo e minhas mãos estão loucas para sentir você,
mas meus olhos sedentos não conseguem parar de te
admirar. Este terno foi feito para você.” Eu sorrio, deslizando
a gravata por baixo do colarinho, amando o quanto isso me
transforma, estou desembrulhando-o como o maior de todos
os presentes. “Ele foi feito para você. Não é mesmo?”

Ele sorri e umedece os lábios, um pedaço do céu aceso


em seus olhos azuis. “Eu o vesti para você.”

Colocando a gravata no balcão da cozinha, mordo o


lábio e sorrio. “Para mim, hein?” Meus dedos apertam os
botões de sua camisa branca. “Isso é muito. Você jogou para
JEWEL E. ANN

me impressionar hoje e vestiu esse terno sexy que me deixa


de joelhos também?”

Ele começa a desabotoar sua camisa na parte inferior e


nos encontramos no meio, seus dedos passando sobre os
meus, enviando arrepios ao longo da minha pele. Meu corpo
se arrepia. Cage ri. Dou de ombros. Não tem como esconder o
efeito palpável, visível e completamente fenomenal que ele
tem sobre mim.
Minhas mãos pressionam contra os músculos rígidos de
seu peito. Ele respira fundo. Nossos sorrisos desaparecem.
Seus olhos enevoados se abrem quando sua mandíbula se
aperta.

“Lake?”
“Hmm?” Minha respiração está acelerada. Sempre que
nos tocamos, sinto as chamas ao longo da minha pele. O
calor dificulta a respiração.
“Eu estava falando sério.”
Eu assinto. Todos os nervos ao longo da minha pele
imploram uma olhada sua, um toque, uma respiração. A
verdade? Naquele momento eu não faço a conexão. Ele disse
tantas coisas para mim.

Ele embala meu rosto e me beija enquanto desabotoo


sua calça. Eu como cada pedacinho de sua fome e a faço a
minha. Cage me toca de uma maneira que me faz sentir
invencível e totalmente frágil ao mesmo tempo. No momento
em que minhas costas atingem o balcão, ele me levanta,
nunca soltando meus lábios. Meus dedos relaxam em seus
cabelos quando ele desabotoa meu sutiã com dedos hábeis.

“Jesus, Cage...” Minha boca se afasta da dele, puxando


o ar enquanto ele apalpa meus seios, deslizando o polegar
direito sobre o meu mamilo. Alimentando a necessidade
pesada entre as minhas pernas.
JEWEL E. ANN

“Tanto...”, ele distribui beijos no meu pescoço, no meu


peito, “...amor...”, sua língua suaviza ao longo do inchaço dos
meus seios enquanto suas mãos seguram meus quadris,
“...por essa mulher.”
Minha respiração fica presa. Essa mulher... é como se as
palavras dele não fossem para mim. Parece um sussurro de
gratidão a... Deus?
Inclinando meu queixo, eu apenas o observo me amar.
Nunca esquecerei a maneira como seus lábios se moldam tão
perfeitamente aos meus ou a maneira como seus longos cílios
descansam em suas bochechas, olhos fechados como se tudo
fosse apenas um sonho.

Olhos que me veem mais do que eu me vejo, olham para


mim. Ele fica em pé e desliza a calça e cueca para baixo
apenas o suficiente para liberar sua ereção.
Puta merda.
Vejo sua pele bronzeada que espreita para fora da
camisa branca que ainda pende de seus ombros largos, e seu
pau pronto e esperando por mim. Acorde, Lake... isso é tudo
que eu consigo pensar.

Seus dedos se curvam sob o cós da minha calcinha, e


ele a puxa para baixo e por sobre as minhas pernas. Quando
a deixa cair no chão, seus olhos permanecem na minha bela
perna protética por um momento antes de encontrar meus
olhos com um olhar interrogativo. Meus olhos voam entre os
dele e seu pau.

“Deixe para lá”, digo com muita desaprovação em minha


voz.

Agora. Esse deveria ser o momento, porque esse sempre


foi o momento em que ele usa sua magia para aparecer com
um preservativo do nada. Ok, do bolso dele, mas realmente...
é a mesma coisa. Não há mágica nessa noite. Apenas seus
dedos provocando minha entrada até que ele me considere
JEWEL E. ANN

pronta para ele — molhada, sem fôlego, desesperada e cega


para qualquer coisa, exceto seu toque.

Pare. Espere. Não. Ou um milhão de outros sinônimos


seria apropriado no momento.

Ele não diz nada.

Eu não digo nada.

Nossas bocas conectadas. Ele me levanta do balcão.


Enrolo minhas pernas em torno dele e, pela primeira vez,
sinto seu comprimento quente e duro deslizar dentro de mim
— pele com pele. É a sensação mais indescritível. É o
momento mais indescritível. É amor, luxúria e emoções
ofuscantes, esmagando cada grama de bom senso.
Foda-se o bom senso.

Foda-se a gravidade.
Com Cage, eu nunca quero parar de cair.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E SETE


Oh Querida!

CAGE

Meu pai me manteve focado. Eu nunca pedi mais do que


precisava. Os desejos eram um luxo para os gananciosos.
Toda ação era precedida de contemplação intelectual. Não
havia espaço para impulsividade se a mente permanecesse
concentrada.
Eu nunca usei drogas, nem mesmo um baseado. Eu
nunca bebi além do limite legal, a menos que estivesse em
meu próprio apartamento e, no último ano da faculdade, me
abstive de usar álcool. Algo mudou quando meu pai morreu.
Toda a raiva que eu tinha foi canalizada para esse foco nítido
em ser o melhor. Meu corpo se tornou um templo. O jogo se
tornou tudo.
Mas então... Lake.
Ela se tornou minha droga, um inebriante coquetel de
tudo um pouco. O barato que tiro dela está além de qualquer
coisa imaginável. Estou viciado e ajo como um maldito
viciado em torno dela. Eu a quero e tomo uma e outra vez. A
ganância é uma droga própria, assim como a impulsividade.
Com ela, eu pularia de qualquer penhasco sem olhar para
baixo... sem olhar para trás.

Eu sinto. Poderia ter parado. Eu poderia ter desistido,


mas — vício, ganância, impulsividade, ela. Com as costas de
Lake presas na porta enorme da minha despensa, eu meto
nela uma última vez. Enchendo-a com tudo de mim. Seu grito
ofegante e sua buceta apertada esmagando meu pau me
deixam mais duro, mesmo quando entro nela.
JEWEL E. ANN

Gozei dentro dela.

Deveria ter puxado para fora, mas não. Em vez disso,


passo meus dentes ao longo do ombro dela. O sabor salgado
me seduz a tomar mais. Abaixando minha cabeça, chupo seu
mamilo na minha boca. Quando mordo, sua buceta aperta
novamente em volta do meu pau e, assim, estou duro de
novo.
“Cage”, ela geme meu nome, sua cabeça caindo contra a
porta enquanto se choca contra mim. “Mais...”

Uma droga... Lake Jones é a minha droga. Eu morreria


feliz por ela. Sem arrependimentos.

*
LAKE

Meus dedos abandonam sua camisa, que não é mais


branca e bem passada. O tecido molhado e manchado de
suor se agarrou ao seu peito enquanto ele me colocava na
cama, lentamente saindo de mim enquanto se levanta. Ele
poderia ter me deixado de pé na cozinha, mas não fez isso.
Foi apenas mais um milhão de coisas que Cage faz e que me
mostra o quanto ele me ama.

Com olhos estreitos e focados em mim, ele veste a cueca


novamente.
Sinto o olhar dele. Sinto alguma coisa quente e
começando a sair de mim.

O que. Nós. Fizemos?

Sento e corro para o banheiro.

“Lake?” Ele chama atrás de mim.

“Eu... só vou tomar um banho rápido.” A realidade


dispara em minhas veias, provocando uma nova rodada de
JEWEL E. ANN

suor, sacudindo meu coração com força e roubando todo o


oxigênio dos pulmões.

O que. Nós. Fizemos?

Depois de me sentar no banheiro rezando para que a


gravidade seja mais forte que o esperma, abro a torneira.
Apoio minha prótese contra a parede e me sento na beira da
banheira para remover a meia e retirar o forro. Entrando na
água fumegante, me sinto tão bem que gemo. Será meu
último banho quente? As mulheres grávidas podem tomar
banhos quentes? Eu estou grávida? Posso estar grávida tão
rápido?

Um turbilhão caótico de pensamentos toma conta de


minha mente. Há sempre a pílula do dia seguinte. Isso
derrotaria o propósito de me oferecer para ser a mãe do bebê
de Cage? Thaddeus... ele me mataria. Eu não tenho certeza
se ele estava falando sério sobre eu precisar de novas pernas
para a gravidez. Uma barriga em crescimento realmente
mudaria minha perna?

“Ei.” Cage sorri quando abre a porta, como se precisasse


de um convite para entrar em seu próprio banheiro.
“Oi.” Reúno o máximo de entusiasmo, tanto quanto é
possível na minha voz. As linhas ao longo de sua testa
mostram que eu não atingi a marca. Talvez não seja uma
mentirosa tão boa, afinal. “Você parece cansado.”

Ele tira a camisa. “Apenas um efeito colateral do dia de


jogo. Quando a adrenalina baixa, especialmente depois de
uma vitória, tudo o que resta é um corpo dolorido e
exaustão.”

Naquele momento, me sinto culpada pelo sexo, além do


pequeno detalhe de que podemos ter de fato criado uma vida.
Fui eu quem pediu para que ele me pregasse na parede. Ok,
eu não usei essas palavras exatas, mas quando ele começou
a me levar para fora da cozinha, eu disse: ‘Não. Bem aqui’. A
JEWEL E. ANN

única maneira que ele poderia fazer aqui funcionar era usar a
porta da despensa.

“Merda. Eu nem pensei nisso. Sinto Muito. Não


deveríamos ter...”

Ele balança sua cabeça. “Está tudo bem.” Ele tira a


calça e a cueca.

Bem. O que está bem? Pregar-me na parede ou sexo


desprotegido? Não tem nada de estranho naquele momento. A
parte patética é que ele já me deixou excitada de novo,
parado ali, nu.
Fecho os olhos e tento fazer o impossível: limpar minha
mente. Ouço o chuveiro e alguns segundos depois Cage geme.
Ele está com dor. Fui um pouco exigente e gananciosa.
Respirando fundo, deslizo sob a água. Eu adoro essa
sensação que só pode ser experimentada sob a água, como
prender a respiração por um tempo parada, mesmo que por
apenas alguns segundos.
“Ah!” Eu ofego quando Cage me puxa do meu abismo.

“Jesus, Lake!” Ele está em cima de mim pingando água


fria, olhos arregalados.

“O quê?” Eu tusso. Assustada com as mãos inesperadas


segurando meus braços, engoli um pouco de água no
caminho para cima.

“Você não estava se mexendo.”

Tusso um pouco mais, limpando a última gota de água


da minha traqueia. “Isso é porque eu estava parada.”

Ele solta meus braços e entra na banheira, colocando


seu corpo frio atrás do meu enquanto exala um suspiro
pesado.

“Por que você está tão frio?”


“Banho gelado. Recuperação muscular.”
JEWEL E. ANN

Inclino minhas costas contra seu peito quando ele passa


os braços a minha volta. Ele é como um gigantesco cubo de
gelo roubando o calor da minha água.
“Eu não quis te assustar.”

“O que você estava fazendo?” Sua voz ainda contém uma


ponta de raiva ou talvez apenas preocupação.

“Eu estava molhando meu cabelo.”

“Por tipo... cinco minutos?”

Eu sorrio. “Não, por uns dez segundos.”

“Lake... precisamos conversar.” Suas mãos grandes


cobrem as minhas, entrelaçando nossos dedos.
Mesmo na água, eu posso sentir as manchas calejadas
em seus dedos e palmas. “Sobre?”
“Tudo.”

Eu me preparo para o mesmo sermão que já me deu


cem vezes desde o incidente na cozinha. O fato de eu pensar
nisso como um ‘incidente’ apenas prova que precisamos
discuti-lo.
“Eu tenho esse relacionamento de amor e ódio com
meus sentimentos por você.”

“Oh Deus... você está terminando comigo.” Tento me


sentar enquanto meu coração se prepara para o impacto.
Cage me aperta mais forte. “O quê? Não. Não. Por que
você acha isso?”

“Porque as pessoas têm um ‘relacionamento de amor e


ódio’ com coisas pelas quais se sentem culpadas, e culpa é o
equivalente a uma bactéria devoradora de emoções.”

“Não me arrependo de nada. Nem mesmo de aceitar seu


blefe da maneira mais ridícula.”
JEWEL E. ANN

“Aceitar meu blefe?” Essa é nova. Só quero que isso


acabe. Eu sou tão covarde.

Ele beija o topo da minha cabeça. “Quero saber mais do


que seus vizinhos, Lake. Se você vai se casar comigo, quero
saber antes de Banks.”

“Foi uma brincadeira...” Eu pulo quando ele morde a


parte de trás da minha orelha.

“Não foi uma piada. Não querer se casar comigo... isso


foi uma piada.”

“Agora você está apenas sendo arrogante.” Eu bato meu


joelho em sua perna.

“Eu não estou. Só estou sendo honesto. Nunca quero


que outro homem toque em você. Quero que todo bebê que
cresça na sua barriga seja meu.”
Foda-se as lágrimas... aqui vêm elas.
“Quero que você me ligue primeiro quando alguém
roubar sua perna... mesmo que eu não possa ajudar e tenha
que ligar para Flint.”
Eu sorrio, mordendo meus lábios para manter as
emoções sob controle.

“E quando falo com você da concentração de


treinamento é porque estou morrendo de vontade de vê-la,
espero que você esteja lá sem se preocupar com como isso me
afetará. Futebol é o meu trabalho. Deixe eu me preocupar
com isso. Você é minha vida... se preocupe com isso.
Preocupe-se em manter-se segura para eu não perder outra
pessoa que amo. Concentre-se no nosso futuro, porque,
Lake... você é o meu futuro e eu vou me casar com você,
mesmo que tenha que arrastá-la para o altar e foder um sim
de você.”
Eu praticamente engasgo com essa afirmação.
Promessa? Ameaça? Então eu espero. Ele abordou tudo,
exceto a questão mais iminente do nosso futuro.
JEWEL E. ANN

“Pergunte”, ele sussurra no meu ouvido.

O nó na minha garganta tem seu próprio pulso como o


temporizador de uma bomba em contagem regressiva. Eu não
tenho nada a temer e sei disso, mas simplesmente não
consigo afastar meus nervos.

“E se eu estiver grávida?”

Ele ri. “Você quer dizer com o bebê que concordamos em


ter... uma hora atrás?”
Concordo. “Sim, esse.”

“Perguntei a você.”

“Eu sei.”
“Eu lhe dei uma chance de mudar de ideia.”
Todas afirmações verdadeiras.

“Eu sei.”
Ele belisca minha cintura, provocando um pulo. “Sua
vez.”

“Minha vez?”

“De aceitar o meu blefe.”

Minha cabeça avança de um lado para o outro. “Eu não


sei do que você está falando.”

“Oh, vamos lá... esta é a parte em que você me diz que


está tomando a pílula e me repreende por ser tão
irresponsável.”

Meus olhos arregalam. “Você já teve essa conversa


antes?”
“Não, mas meus amigos já.”

Liberto-me dos braços dele e me levanto até a beira da


banheira.
JEWEL E. ANN

“Aonde você vai?”

Pego uma toalha e me limpo. “Casa.”


“O quê? Está tarde. Apenas fique.”

Minhas mãos tremem quando luto com meu forro. É


uma merda entrar nele se minha perna não estiver bem seca.

“Você está brava?”


Uma vez que minha perna está presa, levanto-me,
enrolando a toalha em volta de mim. “Não sejamos aquele
casal que pergunta se o outro está bravo quando claramente
o outro está bravo. Eu perguntei isso antes e não deveria.
Então... me desculpe...”

“Eu realmente não estava bravo, apenas confuso com a


sua reação ao que Banks disse, só isso. Mas você... você está
realmente com raiva de mim.”
“Sim! Sim, estou.” Saio para pegar minhas roupas na
cozinha, mas não preciso, porque ele as colocou
cuidadosamente sobre as costas da cadeira ao lado da porta
do armário. Sua consideração me irrita demais.
“Que diabos? Eu não entendo.”

Recuso-me a olhar para ele pairando sobre mim com


uma toalha preta amarrada na cintura, riachos de água
correndo por sua pele.
“Eu não jogo esse jogo, seu grande idiota!” Coloco meu
jeans e puxo minha camisa, deixando o sutiã na cadeira.

“Lake!”

Eu corro para a porta dos fundos. “Droga!” Eu pressiono


as palmas das mãos na minha testa. “Eu não vim dirigindo”,
sussurro para mim mesma. Tanta coisa para minha
dramática saída.
JEWEL E. ANN

Quando suas mãos agarram meus braços para me virar


em sua direção, eu nem luto contra. Meus olhos vagam por
seu peito nu e shorts de corrida.
Cage suspira e levanta meu queixo com o dedo. A
derrota rouba minhas lágrimas, deixando-me com um olhar
vazio e um piscar ocasional.
“Você não está tomando pílula”, ele diz em uma voz
monótona, como se a resposta para dois mais dois apenas lhe
tivesse ocorrido quando ele deveria saber disso o tempo todo.

“Eu não estou tomando pílula”, sussurro.

*
CAGE

Meu pai ri de mim do céu ou do inferno, ou talvez seja o


fantasma dele me vigiando todos os dias. Eu posso ouvi-lo me
chamando de jovem e estúpido. A verdade? Eu ainda sou
jovem e estúpido.

Lake olha para mim e sei que ela está me esperando,


mas não mentirei para ela. No entanto, eu sei que a parte
mais difícil será convencê-la de que minhas palavras são, de
fato, a verdade.

“Sinto muito por fazer uma suposição terrivelmente


irresponsável. Sinto muito se você estiver grávida e não
quiser isso. Mas se eu for totalmente honesto com você,
desejei tudo o que aconteceu na cozinha. E mesmo dando por
certo que você estivesse tomando pílula, não foi... tem uma
parte muito visceral de mim que quer colocar uma vida
dentro de você. E por isso, não sinto arrependimento.”

Ela não fala. Preciso que ela diga alguma coisa.


Qualquer coisa.
“Você concordou em ser mãe dos meus filhos, Lake.
Você me deixou entrar em você... duas vezes.”
JEWEL E. ANN

O rosto dela fica vermelho. “Eu não tenho meu carro


aqui.”

“Ótimo. Você não vai a lugar nenhum.” Eu a agarro.


“Vamos. Estou faminto. Meu bebê provavelmente também
está.”

“Não é engraçado”, ela resmunga, me segue até a


cozinha.

“Sente-se. Levante os pés antes que seus tornozelos


comecem a inchar.”

“Ainda não é engraçado. Na verdade... é um pouco


engraçado. Eu só tenho um pé e um tornozelo.”

“Lake.” Dando-lhe um olhar de olhos estreitados, agarro


sua cintura e a levanto no balcão, onde tudo começou mais
cedo. Ela brinca com os dedos pelas minhas bochechas e
pelos meus cabelos. Deus, eu amo o toque dela.
“E se nós estivermos tendo um bebê?” Ela sussurra.

Viro minha cabeça e beijo o interior de seu pulso. Eu


anseio pela sensação de sua pele macia naquele mesmo local,
talvez porque sempre cheira a flores, é ali que ela passa seu
perfume.
“E se nós estivermos tendo um bebê?” Meus lábios,
pressionados contra sua pele, se curvam no maior sorriso de
comer merda.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E OITO


A coceira

LAKE

“Deixe-me ver se entendi. Ele meio que, mas não 100%,


pensou que você estava tomando a pílula e você apenas...
estava bem em ser sua mãe bebê?” Penny me entrega uma
taça de vinho.
Eu balanço minha cabeça. “Bebê.”
Ela revira os olhos e coloca a perna debaixo dela
enquanto se senta à minha mesa da cozinha em frente a
mim. “Um pouco de vinho tinto é bom para o bebê e para a
mamãe, presumindo que você esteja grávida. Por favor, diga-
me que você considerou a possibilidade real de não estar
realmente grávida.”
“Considerei, mas tenho essa sensação realmente forte de
que sou.”
“Náusea?”
Eu balanço minha cabeça.

“Muito cansada?”

Dou de ombros. “Bem, não mais do que o normal.”

“Seios doloridos e inchados?”

Balanço a cabeça.
“Menstruação atrasada?”

Reviro os olhos. “Isso aconteceu ontem.”


JEWEL E. ANN

“Exatamente, querida. Baboseira. Aceite da


especialista.” Penny aponta o polegar para o peito. “Não é tão
fácil engravidar quanto você pensa. Se fosse... eu teria vinte
filhos.” Ela sorri. “Com vinte pais diferentes.”
“Mas nós fizemos duas vezes. São muitos
espermatozoides e eles podem sobreviver no meu fluido
cervical por três a cinco dias.”
“Primeiro, pare de se gabar de ter sido pregada na porta
da despensa duas vezes.”

Eu sorrio, balançando a cabeça.


“E segundo, acho que você precisa ficar fora da internet.
Pornô do Google, minha jovem e sexy amiga com um
quarterback. Não pesquise no Google a expectativa de vida
dos espermatozoides.”
Eu olho para o meu copo de água. “Isto é tão estranho.
Estamos namorando há três meses e poderíamos ter um bebê
juntos. Minha amiga Lindsay me chamará de irresponsável.
Ela cumpre a regra do tempo. Nada de amor instantâneo.
Todo evento na vida deve ser devidamente espaçado em uma
linha do tempo. Ela não entende como chegar tão perto da
morte muda tudo isso. O tempo é precioso demais para ser
desperdiçado. Eu não quero planejar. Quero viver.”
“Eu ouvi você, querida. Mas esteja preparada... vocês
dois estão bem altos agora. Não há para onde ir além de
descer. Tente voltar à superfície antes que a vida faça isso por
você. Viver vem com muita dor de cabeça, especialmente para
aqueles que realmente vivem.” Ela pisca. “Mas vale a pena,
mesmo quando você fica acordado até tarde lendo pornô
enquanto seu marido ronca e solta gazes, do tipo que queima
seus pulmões e faz os olhos lacrimejarem. Do tipo que você
realmente pode provar.”
Meu nariz enruga. “Não.”
“Sim, senhora. Não vou mentir para você. Aqueles
feromônios que você deseja? Os que escondem o hálito do
JEWEL E. ANN

alho, o odor das axilas e os gazes? Você se torna imune ao


poder deles e acaba presa a um filho da puta fedido. Não me
interprete mal. Isso não significa que você não ama o
fedorento, isso significa apenas que é preciso muito mais do
que um olhar para deixar sua buceta molhadinha. É preciso
lua cheia, um banho fresco, um vidro de perfume, um litro de
água na boca e pelo menos três taças de vinho... ah, e um
frasco de lubrificante.” Penny suspira. “Malditos hormônios.”
“Isso é tão...” Eu faço uma careta, porque essa é minha
vida ‘ilusória’ com Cage. Só dei uma olhada, e sinceramente
não consigo me lembrar de pensar que ele é fedorento. Eu até
amo — desejo — seu suor depois de um treino.
“Vida, tudo bem. É apenas vida. Eu nunca prometi a
Rupert para sempre... nem mesmo em nossos votos de
casamento. Acho que as chances de ir ao meu túmulo como
sua esposa são muito boas neste momento, mas se não, eu
sei que vamos acabar tudo de forma amigável. Eu realmente
não acredito que os humanos sejam feitos para se acasalar
por toda a vida. Acho que esse comportamento é para
animais que sobrevivem por instinto, não por razão.”

“E ele concorda?”
“Absolutamente. Afinal, sou sua segunda esposa.”
“Eu estou... sem palavras. Meus pais ainda fazem isso
como coelhos.”

Penny dá de ombros. “Talvez eles sejam exceção. Ou


talvez eles apreciem de drogas recreativas.”
“Eu duvido que meus pais...” Mordo meu lábio e reviro
os olhos para o teto. “Hmm, você pode estar certa.”

“Todo mundo tem sua própria história.” Ela pisca e eu


sei que está se referindo à minha ‘história’ com Cage. “Faça a
sua memorável. É o melhor que você pode esperar.”

“E se eu estiver grávida?”
JEWEL E. ANN

Penny ri um pouco antes de terminar o último gole de


seu vinho. “Seria uma reviravolta louca na trama. Posso
garantir a você.”
Estamos prontos para uma reviravolta na trama?

*
Depois da terapia com Penny, faço alguns trabalhos
manuais e as malas para a minha viagem a São Francisco
para me encontrar com Thaddeus para um novo acessório.
Cage manda uma mensagem em todas as chances que tem de
ver como estou me sentindo. É doce e um pouco irritante ao
mesmo tempo. Eu posso lidar com nove meses de constantes
verificações em mim?
Há uma batida suave na minha porta. Eu checo o olho
mágico, piscando várias vezes antes de ver a figura do
tamanho de um pintinho com tranças.
“Shayna! Oi querida, onde está...” Assim que Jamie
aparece na porta de Everson, aperto os olhos. “Brincando de
polícia e ladrão?” Examino seu rosto coberto com uma
bandana, óculos de cozinha e luvas de vinil. “Ou você entupiu
o banheiro?”
“Você já teve catapora?” Ele pergunta.
“Hum ... sim. Por quê?”

Shayna levanta a blusa, expondo seu tronco tomado de


manchas vermelhas e com bolhas. “Eu não comi frango2.”
Eu sorrio. “Claro que você não comeu.”
“Eu ainda não tive catapora. Também não tomei a
vacina.” Murmura Jamie por trás da bandana.
“Babá que não teve catapora. Isso é maluquice.”

2
Em inglês a doença se chama Chickenpox, algo como “praga das galinhas” se fosse traduzido ao pé da
letra.
JEWEL E. ANN

Ele encolhe os ombros. “A maioria das crianças é


vacinada. As vacinas contra gripe são as mais comuns a
serem pedidas no meu trabalho.”
“É bem possível que você já tenha sido exposto.”

“Eu também temo isso.” Ele suspira.

“Estou saindo para São Francisco de manhã.”

“Eu enviei uma mensagem para Everson. Ele também


não teve catapora ainda.”

“O que? Eita, vocês dois foram criados em casas


estéreis?”

“Eu posso ver com Penny.”


“Lake...”, Shayna me lança seu olhar de filhote de
cachorrinho e lábio fazendo biquinho, “... eu preciso de você.
Eu estou com lebre.”
“Você quer dizer febre?”
Ela assente.

“Eu fico te devendo uma”, acrescenta Jamie.

“Você sempre me deve. Everson sempre me deve. Algo


me diz que nunca serei paga.”

“Ei, estou mantendo seu segredo bem guardado.”

“Que segredo?” Minha testa franze.


“O seu segredo de ódio ao futebol.”
“Eu não...”
“Você odeia futebol?” Shayna pergunta.

Ele está exagerando. Cage sabe que eu não ‘sigo’ futebol,


mas dizer que eu odeio isso não é bom.

Jamie não precisa se preocupar com catapora; estou


pronta para matá-lo agora mesmo.
JEWEL E. ANN

“Não. Eu não odeio futebol. Vá.” Eu balanço a cabeça


para Jamie. “Vá para casa e se coce. Espero que você tenha
uma dose pesada de erupções cutâneas em seus t-e-s-t-í-c-u-
l-o-s.”
“Testículos?” Shayna olha para mim.

Meu queixo cai no chão. Jamie ri.

“Esqueci de mencionar que estamos trabalhando muito


em soletrar. Ela é realmente inteligente.”
Meus lábios torcem. “Hmm... sim, ela é.”

“O que são testículos?”

“Uma parte do corpo que apenas os meninos têm.”


“Como o pênis?”
Suspiro. Realmente não adianta tentar fazer nada além
de ser sincera com ela. “Sim. Os testículos são amigos
íntimos do pênis.”
Ela assente com uma expressão pensativa no rosto.

“Então... você está bem?” Jamie está a meio caminho do


elevador.
“Coceira, te desejo muita coceira.” Eu olho para ele e
sorrio para Shayna.

*
Lake: Shayna está com catapora. Nem Jamie nem Everson tiveram, então eu
não vou para SF amanhã porque tenho uma colega de quarto com coceira pela
próxima semana ou até que não seja mais contagiosa.

Cage: Eu soube. Banks vai ficar em um hotel a noite inteira até que sua
faxineira possa descontaminar seu apartamento de manhã.

Lake: Patético. Você já teve?

Cage: Claro. Como você está se sentindo?

Eu sorrio. Lá está.
JEWEL E. ANN

Lake: Com fome. Não tenho comida em casa, pois planejava sair da cidade, mas
agora não fui.

Cage: Entendi.

Um merecido revirar os olhos segue seu texto.


Lake: Por favor, não mande Flint ao supermercado para mim.

Cage: Por que não?

Lake: Não é o trabalho dele.

Cage: O trabalho dele é fazer o que eu lhe peço.

Lake: Ele não saberia o que comprar.

Cage: Eu direi a ele.

Lake: Você não sabe.

Cage: Marshmallow, pão, waffles de linho, leite de amêndoa, manteiga de


avelã com chocolate, banana com ponta verde, abacate maduro, ovo orgânico, arroz
espanhol com baixo teor de sódio... Eu sei o que você come. ;) Vou pedir que ele pegue
coisas para a coceira de Shayna, juntamente com homus e cenouras para ela. Banks
disse que ela come uma tonelada. Trabalho chamando. Irei mais tarde.

Lake: Não se esqueça de me amar.

Cage: Impossível.

Ele me derruba com as suas observações astutas dos


meus hábitos alimentares e o fato de Everson saber que
Shayna ama homus também é um pouco cativante. Eu sei
que ele a ama.

“Você está se sentindo mal?” Faço uma careta para


Shayna enrolada no meu sofá.

“Eu acho que...”

“Oh, querida...” Corro para o sofá, mas não antes que


ela esteja deitada de lado, vomitando. Felizmente, ela erra
meu tapete, ficando restrita ao piso de madeira.

“Lake...” Lágrimas enchem seus olhos.


JEWEL E. ANN

Pego alguns lenços da mesinha e enxugo seus olhos e


depois a boca. “Eu sei. Não é fácil ficar doente.”

Três horas depois, Flint chega com sacolas de compras.

“Eu realmente aprecio você fazer isso. Sei que


provavelmente não está na sua descrição do trabalho.”
Começo a tirar as compras das sacolas enquanto Flint se
aproxima do sofá e observa Shay dormindo.

“O que é isso?” Pergunto.


“Coisas para Shayna. Tudo nessa sacola é para ela:
bicarbonato de sódio, sal Epsom, vinagre marrom, aveia
moída, pomada anticoceira caseira, óleos essenciais, chá de
jasmim, coentro e suco de cenoura com mel, e eu trouxe as
frutas e legumes da lista Cage me deu. Ela precisa comer
bem para se curar direitinho.”
Quem é o cara na minha frente?
“Uma pomada anticoceira ‘caseira’. De quem é a casa?”
Eu sorrio, olhando para o recipiente de vidro âmbar sem
etiqueta, apenas ‘comichão’ escrito em marcador permanente
na tampa branca.
“Eu fiz isso.”
Eu olho para ele com os olhos arregalados. “Você?”

Ele encolhe os ombros. “Uma simples pesquisa na


Internet e uma viagem ao WholeFoods. Nada demais.
Também lhe enviei instruções sobre como usar tudo.”

Flint Hopkins é Madre Teresa em um terno sob medida.


Imagino-o preparando uma pomada de coceira na cozinha,
vestindo um avental viril por cima do terno, talvez com a
jaqueta e as mangas arregaçadas até os cotovelos.
“Obrigada. Estou meio que... sem palavras.”

Ele levanta a mão. “Realmente não foi nada.” Ele gira a


maçaneta da porta. “Ligue para mim se você tiver alguma
dúvida ou precisar de mais alguma coisa.”
JEWEL E. ANN

Eu me viro para ele, passando os braços em volta do seu


pescoço. Ele fica rígido como uma tábua. Então beijo sua
bochecha. Ele limpa a garganta quando eu o solto.
“Você é um bom homem, Flint.”

Ele me dá um sorriso fraco.

“Lake...” Shayna chama com uma voz rouca.

Corro até ela, certificando-me de que o balde de vômito


esteja ao seu alcance. Quando olho para trás, Flint se foi.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO VINTE E NOVE


Deixe-me te amar

CAGE

Eu bato na porta dela.

Sem resposta.

Bato de novo.
“Estou com vontade de vomitar, entre!”
Uma careta aparece no meu rosto antes mesmo de abrir
a porta. Está errado, tão errado que fico duro
instantaneamente quando seu traseiro minúsculo e vestido
me recebe, balançando de um lado para o outro enquanto ela
esfrega o chão sobre as mãos e os joelhos.

“Ei.” Mordo minha língua antes de ‘Como você está?’


sair. “Onde está Shay?”

“Banheira. O vômito de aveia está limpo.” Ela joga a


esponja e o maço de toalhas de papel no balde e se levanta,
os cabelos suados e emaranhados no rosto. Mesmo assim,
com luvas azuis de cozinha até os cotovelos e a camisa suja
agarrada ao peito, eu quero agarrá-la e beijá-la.

“Alguma coisa que eu possa fazer? Alimentar Trzy?


Limpar a caixa de areia dela?”

Lake suspira. “Engraçado, mas não. Vou tirá-la da


banheira, cobri-la com a pomada anticoceira de Flint e
colocá-la na cama.” Ela coloca o balde no balcão e tira as
luvas. Depois de passar por mim em direção ao banheiro, ela
para e recua alguns passos. “Oi.” Um pequeno sorriso
JEWEL E. ANN

aparece em seu rosto, e ela aperta minha camisa e me puxa


para seus lábios para um beijo.

“Oi.” Eu sorrio.

“Durma um pouco. Você parece cansado.” Ela continua


em direção ao banheiro.

Poucos minutos depois, Shayna está de pijama e cabelos


molhados e senta no sofá.

“Ei, abóbora. Não está se sentindo bem, hein?”

Ela franze a testa e balança a cabeça.

“Venho em um minuto. Vou colocar algumas toalhas


sobre os lençóis para que a pomada oleosa não os manche.”
“Estamos bem.” Eu sorrio para Shayna. “Everson veio
vê-la?”
Ela balança a cabeça. “Ele ligou.”

O cara é um marica para nem ao menos espiá-la para


dizer oi.

“Eu vou ficar com Lake. Jamie foi para casa com seus
testículos.”
Dou a ela alguns minutos, porque devo não ter ouvido
direito.

“O que você disse?”

“Ficarei com Lake. Jamie foi para casa com seus


testículos. Lake disse...” Ela coça as costelas, uma leve careta
no rosto.

“Lake disse?”

Ela encolhe os ombros. “O pênis e os testículos dele...


acho que eles er... são amigos porque...” Sua sobrancelha
franze como se estivesse procurando as palavras certas.
“Porque ela odeia futebol. Mas eu gosto de futebol.”
JEWEL E. ANN

“Ok, querida, vamos te colocar na cama.” Lake sorri


para Shayna. “Como está o troço para coceiras de Flint, está
funcionando?”
Shayna dá de ombros. “Coça.” Ela se coça novamente.
“Um pouco.”

“Espere um pouco e vai se sentir melhor. Foi legal da


parte de Flint fazer isso por você. Pena que você estava
dormindo, ou poderia ter lhe agradecido.”
“Eu vi. Vi você abraçá-lo e beijá-lo antes que ele fosse
embora.” Seu olhar se volta para mim.
O meu é rígido. Eu não consigo parar minha mandíbula
de ranger meus dentes. Tudo que posso ver é vermelho e o
pânico no rosto de Lake o confirma.
“Tchauzinho.” Shayna me dá um sorriso triste antes de
ir para o quarto.
Lake levanta um dedo. “Espere aqui e não exagere.”
Depois de um breve olhar para garantir que eu não fosse
embora, Lake se vira e segue Shayna.

Alguém vai morrer. É tudo o que passa pela minha


cabeça.
“Que porra é essa, Lake?” Tento manter minha voz baixa
e calma, mas é quase impossível.
“Não é o que você pensa.” Ela se aproxima e toca meu
braço.

Eu me afasto. Não é como eu quero reagir, mas reajo de


qualquer maneira e me arrependo no momento em que vejo o
choque... a dor no rosto dela. Odeio essa parte de mim. Isso
me lembra do meu pai e, por mais que eu o amasse, não
quero ser como ele. Ele destruiu minha mãe. Pelo menos ele
tinha uma desculpa. Eu não tenho, mas também não tenho
controle.
JEWEL E. ANN

“Não sei o que pensar, já que nos últimos cinco minutos


fui informado de que você é ‘amiga do pênis e dos testículos
de Jamie’.”
Ela se encolhe quando seu rosto se contorce, mas não
em choque... em culpa.

“E que você ‘odeia futebol’ e... beijou Flint!”

Ela coloca um dedo sobre os lábios para me calar. Eu


tenho muita raiva fervendo por dentro para ser abafada.
Poderia deixar a coisa de Jamie de lado e interpretá-la como
um mal-entendido de alguém com seis anos de idade, mas
depois da revelação de Flint, eu simplesmente não consigo.

“Estou exausta. Shayna vomitou três vezes hoje, e Trzy


tentou comer o vômito três vezes e depois fez sua própria
bagunça para eu limpar. Quando Shayna não estava
vomitando, ela queria que eu ficasse aconchegada com ela, e
sua temperatura corporal estava em mais de cinquenta graus
e agora estou uma bagunça pegajosa, suja, que precisa
desesperadamente de um banho. Então, simplesmente vou
lhe contar o que aconteceu e não vamos mais falar sobre
isso.”
Eu não me mexo. Tudo o que posso fazer é encará-la,
meu queixo fixo.
Ela solta um longo suspiro. “Fiz um comentário
sarcástico para Jamie dizendo que esperava que ele acabasse
com catapora nos testículos, sem perceber o quão bem
Shayna já sabe soletrar. Ela perguntou sobre eles, depois
perguntou se eles eram como um pênis, então eu disse que
sim, eles eram amigos. Fim da história. Quanto à coisa de
Flint...”, fechando os olhos por um momento, ela balança a
cabeça, “…ele não só me trouxe mantimentos, mas também
trouxe todas essas coisas para Shayna... que ele não
precisava trazer. Flint fez muito por mim, e antes de ele sair,
dei-lhe um abraço ‘amigável’ e um rápido beijo na bochecha.”
Ciúmes. O pior sentimento de todos os tempos.
JEWEL E. ANN

“Também tive um longo dia. Estou indo para casa antes


de dizer algo que vou me arrepender.”

*
LAKE

Ir embora. Essa é a resposta dele? Sair? Tudo foi tão


inocente e não significou nada. Como ele pode não ver isso?

“Realmente? Depois de ontem, você honestamente acha


que estou interessada em outro cara?”
“Eu não sei o que pensar, é só...” Ele pressiona as
palmas das mãos nas têmporas e esfrega. “Você beija o
entregador de pacotes? Se um cara abre uma porta para você
ou pega algo que você deixou cair, você o beija?”
“Não é justo. Flint é diferente.”
Seu queixo endurece novamente. “Flint é meu
funcionário.”

“Flint é seu amigo.”


Os olhos dele se estreitam, o queixo se projeta para
frente. “Mais um motivo para manter seus lábios longe dele.”

Esse é um bom soco. E não tenho forças para a luta que


ele quer ter.

“Eu sei que você acha que ele é bonito. Você disse isso a
ele no primeiro dia que vocês se conheceram. Você gosta do
nome dele. Você liga para ele quando está com problemas...”

“Foda-se.” Eu não consigo segurar as palavras. Não as


disse de brincadeira como Everson, e no momento em que
elas cruzam meus lábios, sinto uma dor forte no coração.
Os olhos de Cage se arregalam. Ele não esperava que eu
dissesse isso também. Depois de alguns momentos, balança a
cabeça, passando as mãos pelos cabelos. “Eu odeio isso”, ele
sussurra. “Eu odeio essa merda...” Ele para tão
JEWEL E. ANN

abruptamente que parece um carro batendo em uma parede


de concreto.

Palavras doem tanto. Meus olhos se enchem de


lágrimas.

“Sinto muito...” Eu vejo tanta dor em seu rosto quanto


sinto em meu coração. Ele pisca várias vezes, seus olhos
suavizando um pouco. “Estou cansado. Não é desculpa.
Estou com ciúmes. Também não é uma desculpa, mas sou
humano, então não posso evitar. Entendi. Ele salvou você
naquele dia na praia, mas eu também teria salvado. Você
poderia ter ligado para emergência ou...”

“Jesus, Cage! Ele não apenas me salvou na praia. Ele


salvou a vida de Shayna quando eu não pude.” É isso... as
lágrimas não podem mais ser contidas. “Depois do jogo,
quando Everson perguntou sobre ela, ele estava se referindo
ao nosso passeio que se transformou em Shayna engasgando
com uma bola de chiclete enquanto eu apenas fiquei lá,
impotente. Teve...” Eu respiro fundo porque a ideia do que
teria acontecido se Flint não estivesse lá ainda é insuportável.
“Se Flint não estivesse me seguindo... ela...” Minha mão bate
na boca e solto um soluço. “Ele salvou a vida dela...”
Antes que eu possa respirar fundo, ele me pega nos
braços. É que eu sinto tanto desespero desde o dia em que
aconteceu. No sentido mais literal, luto todos os dias para ser
forte e me manter em pé, mas às vezes até pessoas fortes
precisam de um porto seguro para desmoronar.

“Lake...”

Aperto sua camisa e apenas choro. Sem expectativas.


Não há necessidade de palavras. Tudo que quero é que ele
seja forte o suficiente para suportar a dor que eu não posso
mais segurar no meu coração.
“Eu matei Ben e Shayna quase...”
JEWEL E. ANN

“Shh... não... você está tão errada.” Ele segura minha


cabeça, escovando os polegares sobre minhas bochechas
molhadas. “Lake Ivy Jones...”
Eu solto uma risada que ainda é um soluço parcial.

“Deste dia em diante... você deve compartilhar tudo


comigo. Quero saber se você bate o joelho ou quebra uma
unha.” A voz dele cai para um sussurro e as sobrancelhas se
unem. “Você deveria ter me contado.”
“Eu quero proteger você...”

“Não.” Ele balança a cabeça. “É um trabalho.”

“Você ama seu trabalho.”

Ele descansa a testa na minha. “Eu amo você.”

*
CAGE

“Eu tenho uma reunião amanhã cedo. Você vai ficar


bem?”

Ela se afasta e pega um lenço de papel da mesa de


centro. “Sim. Se você não acha que sou a prostituta do
bairro, então estou bem.”
Isso dói, mas eu mereço. “Eu sou um idiota.”

Ela resmunga uma risada. “Você está com ciúmes. Isso


me irrita e me excita ao mesmo tempo.”
Quando ela aprenderá? “Eu não gosto de ficar com
ciúmes.”

“É o que você diz.” Ela joga o lenço de papel no lixo da


cozinha e enche um copo com água, bebendo a coisa toda
sem parar.
JEWEL E. ANN

Eu odeio ver seus olhos manchados de lágrimas e sua


aparência geral de exaustão física e emocional.
Principalmente, odeio ser responsável por parte disso.
Ela passa os braços em volta de mim. “Preciso alimentar
Trzy, tomar um banho e, espero, dormir por algumas horas
antes que Shayna acorde. Duvido muito que ela durma a
noite toda. Não que eu também vá.”
“Você parecia dormir bem ontem à noite.”
“Eu durmo melhor com você.”

“Sim? Então você deveria morar comigo.”


“Whoa!” Ela levanta as mãos. “Pare aí mesmo. Uma
coisa é ser mãe, mas também a coabitação?”
Meu olhar volta para sua barriga. “Por quê?” Porque eu
sou um idiota que por um momento insano acha que vinte e
quatro horas após a possível concepção há algo para ver.
“Vá.” Ela revira os olhos. “Você tem ‘trabalho’ de manhã
cedo.”

“Eu vou ficar...”


Ela balança a cabeça e agarra meu rosto, exigindo meus
lábios — apenas outra coisa que a mulher faz que se tornou
impossível não querer gastar cada respiração com ela.

“Boa noite”, ela sussurra.


“Noite.” Eu beijo seu nariz e me viro, agarrando a
maçaneta da porta. “Lake?”

“Sim?”

Mantendo as costas para ela, fecho os olhos. “Peça-me


para ficar.”

“Você não tem...”


JEWEL E. ANN

“Peça. Se você precisar de mim do jeito que preciso de


você, peça. Peça isso a mim se suas necessidades importam
mais do que o meu trabalho.”
Eu juro que posso ouvi-la engolir com tanta força. Eu
quero que ela diga ao seu orgulho que se foda ao meu redor.
Mais do que qualquer coisa no mundo inteiro, eu quero que
ela entregue suas emoções, suas necessidades para mim do
jeito que entregou seu corpo. Talvez isso tenha me feito um
bastardo ganancioso, mas não posso evitar. Com Lake, quero
desesperadamente ter tudo.

“Fique”, ela sussurra.

*
LAKE

“Se você disser a alguém que eu fiz isso, terei meu


cartão de homem roubado em troca de uma vagina. Eu nunca
ouvi falar de um cara fazendo isso, e se eu for honesto...
minhas bolas estão encolhendo um pouco a cada escovada.”

Eu sorrio. Não vou contar a ninguém. Isso significa que


eu não contaria a ninguém que não pudesse esconder isso
dele. “Em uma escala de um a dez, quanto você estava
dolorido esta manhã? Quero dizer, você não deveria estar tão
mal. Você não foi derrubado nas roubadas de bola ontem,
mas o sexo na cozinha... em pé... com uma performance
também em pé... tem que ter um efeito residual.” Eu sorrio
para o reflexo de Cage no espelho.
Depois do meu banho, ele perguntou se havia algo que
ele pudesse fazer para aliviar a tensão do dia. Optei por
solicitar uma massagem, já que seu corpo provavelmente
estava muito mais dolorido que o meu. Em vez disso, pedi
para ele escovar meu cabelo. Eu amo, amo, amo ter meu
cabelo escovado.
JEWEL E. ANN

Ele me dá um olhar desafiador no espelho enquanto


está atrás de mim passando repetidas vezes a escova.

Eu sorrio, empoleirada na minha cadeira com minha


blusa de alças do Angry Bird e shorts.

“Em uma escala de um a dez, eu estava no limite e me


inclinei para as onze, porque embora não tenha sido
oficialmente derrubado ontem, acabei no chão depois de
quase todos os passes que fiz. Dos provavelmente cinco hits
fortes, apenas um foi considerado um hit tardio. Mas eu não
espero que alguém que odeie futebol entenda ou observe o
que aconteceu no jogo.”

Lá está. Eu estava esperando por isso. Uma pequena


parte de mim tinha esperança de que, no ápice mais alto de
nossa briga, o comentário sobre futebol fosse enterrado sob
os testículos de Jamie — figurativamente, é claro — e o beijo
em Flint. Eu estava errada.

“As crianças dizem as coisas mais sombrias.”


“As crianças repetem o que ouvem os adultos dizerem.
Então, quem disse a Shayna que ‘Lake odeia futebol?’”

“Jamie. Ele está tentando nos fazer terminar para me


levar para Londres”, falo com o meu melhor — ou pior —
sotaque britânico.
“Eu vou acabar com ele.”

Balanço minha cabeça. “Não pode... suas mãos valem


muito dinheiro para desperdiçá-las no nariz daquele cara.
Além disso, ele pode ter chegado à conclusão sobre odiar o
futebol de algo que eu disse. E eu...”, levanto um dedo e ele
exala lentamente, em vez de se intrometer com uma
discussão “… nunca disse ‘eu odeio futebol’.”

Cage para com a escova no topo da minha cabeça, as


sobrancelhas levantadas. “Então o que você disse que ele
pode ter interpretado mal?”
JEWEL E. ANN

“Acho que disse algo sobre a necessidade de entrar no


clima do seu último jogo, e ele tomou o caminho errado.”

“Entendo. Bem, estou com vontade de fazer sexo com


você, ou vê-la falar enquanto dorme, ou ouvi-la falar com voz
de bebê com Trzy, ou realmente qualquer coisa na vida que
envolva você.” Ele sorri. “Até escovar os cabelos ou comprar
absorventes.”
Virando, pego a escova dele, torço meus lábios e exalo
uma respiração lenta. “Verdade?”

Ele inclina a cabeça para o lado e cruza os braços sobre


o peito. “Sempre.”

“Eu fui atrás de você, meio que te persegui depois que


nos conhecemos. Eu segui a maior parte do seu último ano
no Nebraska. Eu assisti os jogos.” Sorrio. “Eu fui para ver
você.” Com a respiração seguinte, meu sorriso desaparece.
“Mas o que começou como nostalgia completa ao ver o
homem dos meus sonhos — o cara que me beijou e me fez
querer usar sapatos bonitos novamente — apenas começou a
me deixar triste e deprimida. Ver você me fez sentir falta de
algo que pensei que nunca teria. Comecei a sentir sua falta
como a da minha perna. Então eu conheci Thad e ele me deu
um motivo para acreditar em novos sonhos. Deixei o sonho
de você. E futebol? Assistir futebol era como olhar fotos de
antes de perder minha perna.”

“E agora?” Ele me pega e me leva para a minha cama.


Estou não indefesa, mas mesmo se não tivesse perdido minha
perna, acho que queria ser carregada pelo meu homem
musculoso.
Eu me mantenho presa ao seu tronco quando ele se
senta na cama. “Digamos que no segundo em que te vi no
campo, me tornei fanática. Agora tudo sobre futebol me faz...
feliz. Nervosa, pois fico morrendo de medo de que você possa
se machucar, mas quando vejo você sair do campo inteiro
como depois do jogo de ontem, fico muito feliz e tonta.”
JEWEL E. ANN

Ele me solta e deslizo para baixo dos lençóis, enquanto


ele tira a camisa e a calça e desliza ao meu lado. Eu aninho
meu rosto em seu peito, respirando fundo.
“Então você não odeia mais o futebol. Você não precisa
mais entrar no clima para isso?”

Eu sorrio, inclinando minha cintura e pressionando


meus lábios na curva de seu pescoço quando ele me puxa
para perto. “Estou com vontade de fazer sexo com você, ou
ouvi-lo roncar, ou assistir você gritar consigo mesmo quando
assiste a cenas de jogos antigos, ou realmente qualquer coisa
que o envolva. Até ir pescar com você ou brincar em casas
com você nas festas de aniversário de oito anos de idade.”

Ele estende a mão e apaga a luz no suporte da cama.


“Desculpe... eu não ouvi nada do que você disse depois de
‘Estou com vontade de fazer sexo com você’.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA
Um pouco tarde demais para amar

Uma semana depois, Jamie está com catapora, embora


supostamente não tenha erupções em seus testículos. A de
Shayna se curou o suficiente para ela voltar a morar com
Everson. Preciso recuperar o atraso no trabalho, então
Everson pede a Judy, irmã da Ne-ma de Shayna, que
originalmente deixou Shayna, se ela ficaria alguns dias
olhando a menina até Jamie superar seu pior estágio e não
ser mais contagioso ou até eu chegar em casa, o que
ocorresse primeiro. Judy concorda em vir; ela queria visitar
de qualquer maneira.
Cage fica comigo todas as noites até eu sair da cidade. A
verdade é que durmo melhor com ele. Minhas noites sem
pesadelos superam as que os tenho. Eu sinto que ele estava
falando sério quando disse que precisava de mim. O sexo é
um extra, uma verdadeira cereja no topo do bolo. Apenas
estar juntos é tudo o que importa. Há algo de extraordinário
em precisar tanto de alguém e eles precisando de você de
volta.
E o bebê? À noite, Cage pousa a mão na minha barriga
de uma maneira gentil que nunca fez antes. Perfeito. É a
única palavra para descrever minha vida nesses momentos.
Estou desesperada para sentir alguma coisa... seios
doloridos, náusea, fadiga incomum, qualquer coisa que
confirme que estou grávida, pois é muito cedo para fazer um
teste de gravidez. Minha família perderá a cabeça se
souberem que estou rezando para estar grávida.
“Amor!” Thaddeus me cumprimenta no estúdio onde a
sessão de fotos está agendada.
JEWEL E. ANN

“Ei, desculpe, por adiar.”

“Está bem. Está tudo certo.” Ele me abraça, mas mais


apertado do que costuma me abraçar, e sua rápida resposta
‘está bem’ é fora do comum para meu chefe obsessivo
compulsivo. Algo está acontecendo.

Eu quase compartilho minhas possíveis notícias sobre o


bebê só porque ele está em uma forma tão rara e agradável
naquele dia, mas antes que eu possa abrir a boca para falar,
ele diz algo que me deixa sem palavras e rouba todos os
pensamentos do bebê.

“Então...”, ele sorri ou faz uma careta, talvez um pouco


de ambos “...eu mencionei que as fotos de hoje são nuas,
certo?” Ele pisca rapidamente.
Eu não pisco. “Por favor, diga-me que ‘nu’ é código para
sem maquiagem.”
“Oh Deus não! Você terá maquiagem completa, mas...
além da maquiagem e da nova perna que fiz para você, você
não usará mais nada.”

“Thad...”
“Espere! Antes de tentar se opor, deixe-me dizer-lhe que
esta será a filmagem mais bonita e artística que você já fez, e
a redação que a acompanha vai te deixar de boca aberta. Eu
já li, exceto suas citações e de alguns dos outros modelos que
serão adicionados. É sobre imagem corporal e o que torna as
pessoas bonitas. É sobre confiança e... aquela coisinha que
você tinha pouco quando nos conhecemos. Lembra?”

“Mas você está me pedindo para posar nua.”

Thad inclina o queixo para baixo, me prendendo com os


olhos arregalados.
Suspiro. “É apenas um corpo. Quem eu sou existia antes
dele e continuará muito depois que ele se for. Sou muito mais
do que a carne que cobre meus ossos restantes.”
JEWEL E. ANN

Thad sorri quando assente uma vez. “E?”

Outro suspiro. “E...” Ainda me emociona dizer as


palavras — as mesmas palavras que fiz Shayna dizer no dia
em que fui presa. “Eu sou bonita.”

Seu dedo de metal bate no meu nariz. “Eu não deveria


ter contratado você.”

Eu faço uma careta.

Thad dá de ombros. “Eu deveria ter namorado você. Eu


sou idiota.” Ele caminha em direção aos fotógrafos montando
seus equipamentos com uma mulher com um rabo de cavalo
loiro mais longo que o de um pônei de verdade e um sorriso
branco falso manchado com um pouco de batom vermelho
gesticulando para que eu a siga. Meus passos parecem
pesados sob o peso da confissão de Thad, o que ele disse com
a facilidade de anunciar seu arrependimento de comer bife no
almoço em vez de frango.
Meu telefone toca apenas um instante. Deixo minha
bolsa no vestiário para entrar no figurino, que na verdade
acaba sendo uma túnica branca que será descartada antes de
eu pisar na frente da câmera.
Cage: Penny tem que sair da cidade. Emergência familiar. O pai dela teve um
derrame. Eu estou no comando de Trzy. Você acha que ela vai urinar por toda minha
casa se eu a levar lá?

Lake: O pai de Penny está bem?

Cage: Ele está no hospital, mas é tudo que sei. Ela ia mandar uma mensagem
para você, mas não queria te preocupar, pois você parecia estressada por deixar
Shayna.

Lake: Você já viu Judy? Ela tem tipo 100!

Cage: Seja legal. Banks disse que ela tem apenas 85 anos.

Lake: HaHa. Desculpa. Trzy te ama. Você pode levá-la para qualquer lugar,
desde que ela tenha uma caixa de areia e comida. Ela é diva demais para sujar seu
chão. Apenas certifique- se de ter uma tigela de água para ela e leve a caneta a laser
para brincar com ela.
JEWEL E. ANN

Cage: Então agora tenho que brincar com ela também?

Lake: Eu tenho que implorar para você brincar com minha bichana?

Cage: Pare com essa merda. Eu não preciso de uma ereção antes da minha
massagem.

Lake: Outra massagem? Com certeza é difícil ser você. Brinque com Trzy e a
acaricie. Muitas carícias.

Cage: Ela não tem pelos. Não tenho certeza se gosta.

Lake: A última bichana que você acariciou também não tinha pelos e acredite
em mim, ela com certeza gostou de você acariciando-a... e lambendo-a... e...

Cage: Foda-se!! Eu tenho que ir bater uma antes da minha massagem. Muito
obrigado.

Lake: Monaghan… não se esqueça de me amar.

Cage: Impossível.

Espero que os fotógrafos queiram uma modelo


sorridente, porque levará um tempo para limpar o enorme
sorriso do meu rosto.

*
“É... incrível, lindo e... uau.” Sorrio para Thad enquanto
seguro minha túnica e visto meu novo original de Thaddeus
Westbrook.

“Meu amor disse que ela queria tudo: moda e


funcionalidade.” Ele encolhe os ombros, mas mostra uma
rara vulnerabilidade que nunca vi antes. Ele parece um
garoto nervoso em seu primeiro encontro.

E o peso volta ao meu coração. “As unhas dos pés são


pintadas.” Eu sorrio como se ele não tivesse tentado
transformar meu mundo do avesso trinta minutos antes.

“Eu te ensinei que funcionalidade vem antes da beleza,


mas acho que você me ensinou que um inventor brilhante
também não deve sacrificar nenhum dos dois.”
JEWEL E. ANN

Eu sorrio. “Fico feliz em saber que seu ego ainda é maior


que a vida.” Ando alguns metros em uma direção, pulo para
cima e para baixo, depois corro para o outro lado da sala. A
perna parece e se apresenta como minhas outras pernas
robóticas, mas parece minha linda perna, talvez até mais
bonita. “Você é brilhante, Thaddeus Westbrook.” Eu o abraço.

Seu corpo enrijece sob meus braços, algo que ele nunca
havia feito antes com qualquer outro milhão de abraços que
lhe dei ao longo dos anos. Até os braços dele me envolvem,
descansando levemente nas minhas costas da maneira mais
estranha. Quando o solto, seu sorriso desaparece enquanto
pigarreia e desvia o olhar para o fotógrafo.
“Pronto?” Ele diz.

“Assim que Lake estiver”, responde o fotógrafo.


“É com você, amor.” O sorriso triste de Thad quebra algo
em mim, mas não posso nem dizer com certeza o que é.
“O fotógrafo é um homem.” Aperto a faixa da minha
túnica.

“Seus dois assistentes são mulheres.”


Olho para eles esperando por mim. Eles sorriem. Eu
sorrio, mais ou menos. “Eu não quero que você fique
assistindo.”
Por que ele tem que parecer decepcionado, como se eu o
tivesse rejeitado?

“Vou ver as fotos, amor. E você vai mudar de perna


quatro vezes. Pense em mim como seu assistente.”

Eu balanço a cabeça para a dama de rabo de cavalo.


“Ela fez minha maquiagem, pode trazer minhas pernas.”
“Eu mencionei que vou ver as fotos? O mundo inteiro
verá as fotos, amor. Isso vai ser enorme.”
O mundo inteiro. Cage.
JEWEL E. ANN

Thad agarra a gola do meu roupão e me puxa para perto


de seu rosto. Minha respiração fica presa na garganta.

“Mude o mundo, Lake. Não deixe o mundo mudar você”,


ele sussurra, em seguida, dá um beijo suave no canto da
minha boca.

Ele beijou minhas bochechas milhares de vezes, mas


esse beijo é mais íntimo. Um beijo que cruza uma linha que
não existe entre nós desde o nosso primeiro encontro porque
não precisava dela. Nós trabalhamos juntos. Ele se tornou
parte da minha família. Aquele beijo muda tudo. Eu o odeio
por fazer isso. Eu o odeio por pegar algo tão perfeito e
arruiná-lo.

Eu não sou dele.


Eu nunca seria dele.
Eu pertenço a Cage.
Eu pertenço ao homem que me fez acreditar que seu
único objetivo na vida é me amar.

Virando-me, largo meu roupão, deixando-o ficar a meus


pés, a poucos centímetros de onde Thad está atrás de mim.
Ele respira fundo. Eu sorrio porque... ele que se foda por
fazer isso comigo.
O fotógrafo, o belo fotógrafo que faria meus ossos
tremerem nos meus dias antes de Cage Monaghan, assente,
mantendo uma expressão profissional e neutra. “Rae e Brit
vão colocá-la em posição.”

As duas assistentes assumem e em poucos minutos


toda a minha modéstia desaparece. Cada pose é angulada
para me esconder, expondo completamente qualquer parte do
meu corpo que qualifica minhas fotos como sendo de bom
gosto. Fotografamos por quase duas horas com vários
intervalos curtos. Faço trocas frequentes de pernas, mas a
maioria das fotos parece não ter uma prótese ou perna
robótica, parecem realmente fotos nuas minhas.
JEWEL E. ANN

“Meu chefe enviará provas para você aprovar e assinar


as fotos finais para a publicação.” O fotógrafo me entrega seu
cartão de visita quando saio do provador, completamente
vestida novamente. “Ligue para mim se você quiser alguma
das fotos.”

“Obrigada.” Eu sorrio. É estranho o quão bem eu me


sinto naquele momento. Nua? Não. Mas com minhas roupas
a atmosfera muda como se tivéssemos um segredo. Suponho
que o segredo é que ele me viu por ângulos bem íntimos
através de uma grande lente de câmera.
“A propósito. Sou um grande fã do seu namorado.” O
fotógrafo fala quando chego à porta.

Virando, assinto. Se Cage soubesse o que ele viu nas


duas horas anteriores, o fotógrafo provavelmente teria seus
olhos extraídos fisicamente.
“Você foi incrível, amor.”
“Foda-se.” Passo por Thad esperando do lado de fora do
prédio.

“Desculpe?”
Eu me viro. “Não faça! Não ouse agir como se nada
tivesse acontecido lá.”
“O que... eu não...”
“Você deveria ter me namorado? Mesmo? Agora você
está dizendo isso? O olhar? O beijo? Que diabos?”

Sua estatura encolhe vários centímetros quando o


queixo cai no peito, os ombros voltados para dentro. “O
momento é terrível. Eu sei disso. Os eventos da minha vida
até agora foram uma compilação de um timing terrível. Eu sei
que minha chance é pequena, na melhor das hipóteses, mas
e se você for a mulher certa para mim? Escolhi minhas
ambições e deixei o amor, e não deveria. Eu deveria ter
escolhido você.”
JEWEL E. ANN

Balanço minha cabeça. “Você me quer porque não pode


me ter. Você gosta do desafio, da perseguição.”

“Eu quero você porque você está na minha cabeça o


tempo todo. Você está na minha cabeça desde o dia em que
nos conhecemos, mas o timing era errado, e agora o tempo
está se esgotando e não posso simplesmente deixar você ir
sem lutar. Toda a porra da minha vida gira em torno de você.
Eu gasto mais dinheiro e tempo com você do que qualquer
outra coisa. Você tem ideia de quantos prazos eu perdi, de
quantas oportunidades deixei escapar porque tudo em que eu
podia me concentrar era em criar uma nova perna para você,
fazer você feliz, fazer você...”
Essa não é a minha vida. Não tem como eu estar diante
de Thaddeus Westbrook ouvindo essas palavras saírem de
sua boca. Nem me sinto em meu próprio corpo. É uma cena
de um filme ou programa da Netflix, mas não é a minha vida.
Não pode ser a minha vida.
“Fazer eu o quê?” Eu sussurro ou acho que sussurro.
Talvez nem tenha falado. Não há razão para falar com algo
que realmente não está acontecendo.

Thad dá um passo em minha direção, segurando


gentilmente meus ombros. “Fazendo você me amar. Eu estava
tentando fazer você me amar. Só não sabia como te mostrar
de outra maneira. Eu estava com medo de lhe dizer que fiz a
escolha errada. Mas então você conheceu o Sr. Maravilhoso e
não quero te deixar ir, porque nunca me perdoaria por não
pedir que você... me escolhesse.”

Mordendo meus lábios trêmulos, balanço a cabeça.


“Você realmente me ama?”

A testa de Thad se enruga como se minha pergunta


fosse de alguma forma um tapa na cara, como se eu soubesse
a resposta. “Sim”, ele sussurra.
JEWEL E. ANN

“Então eu vou lhe contar uma coisa e, quando terminar,


você esquecerá este dia como se nunca tivesse acontecido e o
fará porque o amor é dar tudo e não pedir nada.”
A derrota em seus olhos me diz que ele sabe a resposta,
mas preciso dizer as palavras porque eu amo o alto e bonito
nerd diante de mim, mesmo que ele me faça odiá-lo naquele
dia.
“Eu não sou a escolha certa para você. Só posso ser a
pessoa certa para um homem e ele é o motivo de você não ter
me escolhido naquele dia. O universo sabia algo que não
sabíamos na época. Cage foi meu antes de eu tivesse a minha
primeira respiração, e ele vai ser o único mesmo depois que
eu der meu último suspiro.”

“Como você pode dizer isso?” Thad balança a cabeça. “E


o Ben? Se ele estivesse bem aqui, você ainda diria que é o
Cage?”

Isso dói. Eu amei Ben e sempre o amaria. O que mais


machuca é a verdade — o destino levou Ben para que eu
pudesse estar com Cage.
“Sim. Eu escolheria Cage. Ben foi meu primeiro amor.
Cage é meu amor eterno. E você...” Passo a mão pela
bochecha de Thad. “Você é a razão pela qual estou mudando
o mundo. Não quero te perder, mas também não quero te
prender.”

“Você está partindo meu maldito coração.”


Limpo uma lágrima perdida. “Você está quebrando o
meu.”

Ele revira os olhos para o céu e balança a cabeça. “Você


está apenas preocupada que eu não farei mais pernas para
você.”

“Não estou preocupada. Estou aterrorizada.”


JEWEL E. ANN

A cabeça dele volta a cair. Sinto a tensão entre nós


diminuir um pouco, deixando meu coração desacelerar e
meus pulmões respirando.
“O que você faria por uma perna original de Thaddeus
Westbrook?” Eu vejo meu Thaddeus novamente em seu
sorriso e quase choro porque honestamente o amo como
minha família. “Sexo?” Sua sobrancelha levanta uma fração.
O constrangimento desaparece. Meu amigo está de volta
com um movimento sugestivo e pateta de sobrancelhas. Não
perco um minuto, deixando que ele saiba que preciso de ‘nós’
de volta — as brincadeiras divertidas que definem nossa
amizade.

Torcendo meus lábios, como se eu estivesse realmente


considerando, estreito os olhos e balanço a cabeça.
“Boquete.”
“Hmm...”, ele coça o queixo. “Garganta Profunda?”
“Pirulito.”
“Vai engolir?”

“Termino com a mão.”


“Sobre seus peitos?”

“No rosto de Jerry Chu... oh, espere... ele não é gay.”

Seus olhos arregalados dançam com humor, e engulo


meu sorriso, então nós dois caímos na gargalhada. E mais
uma vez... tudo está correto no mundo.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E UM
A Verdade Nua

Nem tudo está certo no mundo novamente. Pouco antes


de eu sair para voltar casa, Penny me manda uma mensagem
dizendo que seu pai morreu. O destino não parece funcionar
para todos, porque a mãe de Rupert caiu e quebrou o quadril
e ele precisa ficar no hospital enquanto ela faz uma cirurgia,
já que o pai dele não está bem o suficiente para estar lá. A
mãe de Penny morreu vários anos antes e ela não tem
irmãos. Penny é uma mulher malvada e independente, e
quando uma mulher malvada e independente quebra ao
telefone e implora que sua vizinha favorita vá a San Antonio,
só há uma coisa a fazer: ir a San Antonio.
Lake: Mudança de planos. O pai de Penny morreu. Rupert não
pode estar com ela, então estou trocando minha passagem e indo para
San Antonio.

Cage não responde até eu desembarcar em San Antonio.


Cage: Dê a ela minhas condolências. Eu sinto tanto sua falta!

Lake: Eu dou. Também sinto sua falta! Tenho muito a lhe dizer, mas não quero
fazer isso por telefone. Como está Shayna? Everson nunca responde minhas
mensagens. Como está Trzy?

Cage: Judy saiu cedo depois de um incidente, então Banks teve que implorar ao
seu babá para voltar ao trabalho antes que estivesse pronto. Então, adivinhe quem fica
comigo até que o babá não esteja mais com uma doença contagiosa?

Lake: Homem do futebol, por favor, diga que você sabe que ‘o babá’ tem um
nome e é Jamie.

Cage: Eu sinto sua falta.

Meu coração se contrai. Deus... também sinto falta dele.


JEWEL E. ANN

Lake: Ligue para mim quando estiver em casa e tiver colocado as crianças na
cama.

Cage: Crianças?

Lake: Trzy e Everson

Cage: Como está meu bebê? Eu preciso de boas notícias.

Meu coração contraído se rasga um pouco, porque nem


tudo está certo no mundo. Eu fiquei menstruada naquela
manhã, mas eu meio que sabia, pois fiz um teste de gravidez
após a sessão de fotos e foi negativo. No entanto, pensei que
provavelmente era muito cedo para poder ter certeza.

Ele precisa de boas notícias. Eu não tenho nenhuma


para dar.
Lake: Eu estou bem. Não se esqueça de me amar.

Oh, o nó crescente na minha garganta — a única coisa


que cresce no meu corpo. Meu telefone toca. É ele. Ele sabe.
Claro que ele sabe. Ele conhece minhas palavras. Ele me
conhece.

Assim que um táxi para, pressiono ignorar. Se eu tivesse


atendido, teria perdido minha cabeça.
Cage: Sinto muito e nunca esquecerei de te amar.

Limpo a garganta e jogo o telefone na bolsa, depois dou


o endereço ao motorista.

*
CAGE

Eu não tenho pressa para iniciar uma família quando


minha carreira ainda está no início. Então, por que Lake não
estar grávida é um soco no meu estômago?

Eu sei que ela não atenderá até estar pronta e capaz de


falar sobre isso. Penny precisa dela e leva tudo o que eu
tenho em mim para ser a pessoa madura e reconhecer que
JEWEL E. ANN

posso esperar. Minhas necessidades não são tão importantes.


Nosso bebê não morreu. Ela nunca esteve grávida. Mas...
ainda sinto uma perda inexplicável.
“Oi”, ela finalmente responde na minha última tentativa
antes de ir para a cama.

“Ei, como está Penny?”

“Ela está bem. Acho que ela está de luto pelas coisas
que aconteceram entre ela e o pai antes de ele morrer, mais
do que pela morte dele. As desculpas não ditas.”

“Quando é o funeral?”
“Sábado. Haverá uma homenagem amanhã.”

“Você vem para casa no domingo?”


“Sim.”
Suspiro. “Estou partindo no sábado para o jogo de
domingo em Detroit. Volto tarde no domingo.”
“Eu vou ficar com o meu...”

Eu espero, mas ela não termina.

“Seu?”
“Nada.”
“Conte-me.”

Ela ri, do tipo que faz um trabalho de merda escondendo


a dor por trás disso. “Eu ia dizer que vou manter minhas
demandas sexuais na cama em vez de...”

Recosto-me no travesseiro e fecho os olhos, esfregando-


os com os polegares. “Em vez da porta da despensa.”
“Sim”, ela sussurra.

“Quero dizer algo para fazer você rir. Adoro o seu riso.
Juro que é o meu som favorito em todo o mundo e já ouvi
algumas coisas interessantes. Mas sua risada... é o melhor.
JEWEL E. ANN

Não consigo parar de sorrir quando você ri, e depois de um


tempo nem me lembro do que foi dito que fez você rir porque
eu me perco em você. Deus... soo tão fodidamente
sentimental agora. Eu... eu só não quero ser Penny. Eu
nunca quero deixar nada não dito entre nós.”

“Eu culpo o seu esperma fraco.” Ela ri e, assim, me


perco nela. “Não é assim que acontece na vida? Os grandes
atletas, com paus do tamanho de pepinos ingleses, têm os
nadadores mais patéticos com… zero resistência. E os
pequenos lápis magricelas, você sabe de quem estou falando,
os que poderiam de fato foder todos os orifícios do corpo de
uma mulher? O líquido seminal antes da ejaculação já é
capaz de engravidar metade do mundo.”
Suas risadas trazem um sorriso agridoce no meu rosto,
porque sinto sua falta. Droga. Demais.
Eu limpo minha garganta. “Judy foi embora por causa
de um massacre de bonecas. Quando ela estava guardando
algumas das roupas de Shayna, encontrou uma gaveta cheia
de bonecas e todas estavam sem a perna esquerda abaixo do
joelho. No fundo da gaveta havia uma faca de bife serrilhada
e uma pilha de membros de boneca amputados. Banks
convenceu Judy a não informar o Conselho Tutelar, mas ele
não conseguiu convencê-la a ficar. É por isso que o seu babá,
Jamie, teve que voltar ao trabalho antes de se sentir 100%.”

“Não!” Ela ofega. “Ela não cortou as pernas de suas


bonecas.”

“Ela cortou. Banks ainda não pode contar a história sem


se irritar. Você é a ídolo dela, querida.”
“Oh garoto, oh garoto, oh garoto... amo essa garota.”
Vou dizer algo, mas não consigo. A hesitação diz isso
para mim.

“Cage, eu também sinto. É realmente louco. Nós não


somos casados. Filhos? Por que os consideraríamos neste
momento? Provavelmente somos as duas únicas pessoas no
JEWEL E. ANN

mundo que conseguem entender por que não estar grávida é


uma decepção. Foi uma aposta, ou desafio, ou apenas um
impasse estranho que aconteceu naquele dia em sua cozinha.
Eu estava aterrorizada e emocionada ao mesmo tempo. E
ainda não tinha considerado crianças, tudo que sabia era que
queria você. Mas depois que fizemos... percebi que também
queria essa parte de você.”

“Mas eu tenho espermatozoides fracos?”


“Incrivelmente fracos.”

“Talvez você tenha um ambiente inóspito. Provavelmente


toda a comida lixo que você come.”

“Cuidado, Monaghan. Você tem um bom histórico


comigo, mas essas são algumas palavras de provocação. Se
você não dar um passo atrás, eu diria que as chances de você
emplacar comigo tão cedo serão muito pequenas.”
“Estamos separados por três estados. Eu não consigo
nem ver sua zona final.”

Lake ri. “Ok. Está mais como uma zona de guerra


agora.”
“Eu te amo. E preciso dormir. Longo dia.”
“Você não quer mais discutir minha menstruação?”

“Tenho certeza que Penny se encaixaria melhor nessa


conversa.”

“Não. Penny perdeu o útero. Não acho que ela queira


discutir esse assunto comigo.”

“Jesus, ela fez um boletim de ocorrência da perda?


Aposto que o mesmo idiota que pegou sua perna também tem
o útero dela. Suspeito que ambos tenham sido vendidos no
mercado negro.”

E lá está — a risada dela. Eu faria coisas loucas a noite


toda por mais risadas dela.
JEWEL E. ANN

“Bons sonhos, minha estrela do esporte. Não se esqueça


de m...”

“É o que eu faço melhor. Boa noite, sexy.”

*
Acordo com um texto da mulher que consegue me
desvendar um pouco mais à medida que ela se afasta de
mim. Lake me marcou. É uma constatação assustadora de
que qualquer pessoa tenha um efeito profundo em minha
existência.
Lake: Onde ficará Trzy quando você viajar? Veja com a Sra. Leonard no 2A,
apenas exiba suas covinhas. Ou peça a Jamie. <3.

Cage: Exibi minhas covinhas a Sra. Leonard. Ela desmaiou. Os paramédicos


vieram. Quando o oficial tomou meu depoimento, eu entendi... você não estava
falando das minhas covinhas da bunda, não é? Tão constrangedor...

Lake: Cara engraçado. Minha língua ama as covinhas da sua bunda. Você foi
preso? Seria legal se nós dois tivéssemos uma ficha criminal? Espero que você tenha
realmente gostado dela, isso tornará a essência que tenho para lhe dar muito mais
fácil.

Cage: Quê?

Lake: Estamos na igreja. Eu tenho que ir. Mantenha sua bunda fora do gramado
domingo. Diga aos seus combatentes para protegê-la. Boa sorte.

Cage: Jogadores de linha. Amo você. Vou ficar de pé se você mantiver suas
malditas roupas!

Lake: Realmente, tenho que ir... mas o desafio foi aceito. Vou assistir ao jogo de
domingo em um bar de esportes no centro da cidade e toda vez que você cair de
bunda, vou tirar uma peça da minha roupa. Beijos.

Digito dez respostas diferentes e as apago. Ela me pegou


pelas bolas. Mulher teimosa.

“Coloque sua bunda no ônibus, Monaghan. Temos um


avião para pegar.”

Eu balanço a cabeça para o meu treinador e deslizo meu


telefone no bolso. Imagens de Lake despindo-se em um bar de
JEWEL E. ANN

esportes me assombram. É uma piada. Tem que ser uma


piada.

Porra!

E se não for uma piada?

*
Detroit consegue me derrubar três vezes. Temos a defesa
número um, eles a número dois. Cada centímetro do meu
corpo dói, lateja. Eu tenho dois segundos para lançar a bola.
Onde diabos estão os bloqueadores? Não seja interceptado.
Não seja derrubado. Olhe todo o campo. Encontre seu
receptor. Pare de pensar em Lake tirando a roupa.
Sou abordado para uma entrevista antes de sair do
campo ao final do jogo.

“Cage, você superou Detroit na prorrogação. Você


antecipou muito a defesa deles hoje e como vai se adaptar
quando chegar a Minnesota no próximo mês?”
“Jogamos contra a defesa número dois, mas nossas
ofensivas são as melhores, então estávamos prontos. É claro
que esperávamos que fossem difíceis, mas meus jogadores de
linha fizeram um ótimo trabalho ao me dar alguns segundos
extras para localizar meus receptores. Um jogo de cada vez,
mas no momento temos três e oh, então o plano é continuar
treinando duro fazer um bom trabalho nos dias de jogo.”

Os repórteres jogam perguntas da esquerda e da direita,


sabendo muito bem que eu só responderei àquelas da rede
que televisiona o jogo até chegar ao vestiário.

“Qual a sua opinião sobre Lake Jones posando nua para


a revista Breaking Barriers?”
Eu paro. Flint e vários seguranças me cutucam para
continuar.
“Vestiário.” Flint alerta.
JEWEL E. ANN

Olho para ele por um momento e depois continuo saindo


do campo.

“Que porra é essa, Flint?” Eu falo entre os dentes.

“Eu não sei.”

“Como diabos você não sabe? Eu te pago para saber


essa merda.”

“Você me paga para manter sua reputação limpa. Não a


dela. Não posso controlá-la mais do que você.”

Eu me viro antes de entrar no vestiário... “Descubra.”

Ele ri. “Você quer que eu ligue para ela?”


“Não... sim... caramba!” Balanço minha cabeça,
tentando não fazer mais uma cena. “Deixa para lá. Eu cuido
disso.”

*
LAKE

Minha cama. Como senti falta da minha cama.


Cage não responde à minha mensagem, mas está
marcada como ‘lida’, então sei que ele a viu. Não havia dúvida
em minha mente que ele viria direto para o meu apartamento
depois que saísse do avião — até que não veio. Através do
meu olho mágico, vejo Everson chegar em casa. Duas horas
depois... nada de Cage. Sem resposta. Tenho uma dor de
cabeça monstruosa de tanto estreitar os olhos pelo olho
mágico. Preciso de um novo passatempo.

Digito uma mensagem e apago, optando por um


telefonema, pois sei que ele já saiu do avião. Vai para a caixa
postal dele.
“Ei, hum... parabéns pelo seu jogo. Acho que você já
está dormindo, mas se não estiver, me ligue. Tenho certeza
JEWEL E. ANN

que ficarei acordada por mais uma hora ou mais. Então...


tchau.”

Depois de escovar os dentes, noto meu telefone acender


na minha cama enquanto tiro minha perna.
Cage: Fale-me sobre as fotos nua.

Ele não respondeu de propósito. Como ele descobriu?


Ligo para o telefone dele. Mais uma vez, não atende.
Cage: Apenas me diga se é verdade.

Eu ligo de novo. Mais uma vez, sem resposta. Meus


olhos vão do botão de chamada para o relógio: 00:45.

Trinta minutos depois, chego à sua porta. A casa está


escura.

Bang bang bang


A luz do corredor acende, seguida pela da entrada e pelo
clique da fechadura da porta. Ele aparece em um short de
corrida cinza e nada mais, olhos apertados contra a luz.
“Se você tem mais de dez pelos pubianos presos às suas
bolas, deveria ter atendido ao telefone como um adulto.”

Ele fica firme, bloqueando a porta.

Meus olhos se arregalam uma fração quando deslizo


minhas mãos para as mangas do meu casaco roxo, e me
abraço para me aquecer. “Uau. Sério? Vai me ignorar? Muito
maduro da sua parte.”

“É verdade?”

Eu sorrio. “Isso importa?”

Ele olha para mim como se isso importasse mais do que


tudo, e em um instante meu sorriso some. É o olhar que ele
me deu quando estava chateado com o pai e ia conhecer
minha família. Eu não conheço esse Cage. Eu nem o
reconheço.
JEWEL E. ANN

Digo adeus com um único aceno lento e me viro,


voltando para o meu carro. Enquanto eu aperto o cinto de
segurança, um estrondo no meu capô faz minha cabeça subir
rapidamente. Cage está com as mãos pressionadas no capô,
olhos fixos nos meus. Soltando o queixo no peito, ele apenas
fica lá e eu espero. O vislumbre ocasional de seus demônios
parte meu coração.

Um bom minuto depois, minha porta se abre. Eu


levanto meus olhos nos dele, esperando encontrar meu Cage
novamente. Ele se inclina e solta o cinto de segurança, depois
pega minha mão e me ajuda a sair. Depois de fechar a porta,
ele se aproxima até minhas costas pressionarem contra ela.
Tenho certeza de que tem as palavras certas para dizer, mas
não tenho certeza de quais são. Eu me recuso a me desculpar
por qualquer coisa. Não fiz nada de errado. Mas eu amo o
homem diante de mim mais do que minha própria vida,
então... sim, espero que ele me dê algo que eu possa
trabalhar, algo que eu possa ajudar a consertar.
Ele enfia as mãos nos meus cabelos e solta um suspiro
doloroso enquanto se inclina para frente. Seus lábios roçam
nos meus lábios como uma brisa suave, deslizando ao longo
da minha bochecha. Ele me cheira, enterrando o nariz no
meu cabelo, os lábios no meu ouvido. Minha pele floresce
com um milhão de arrepios.

“Não”, ele sussurra. “Não importa.”


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E DOIS


Amor

“Vou lhe contar sobre as fotos, se você me contar sobre


a camisinha.” Deitada de lado, passando os dedos sobre o
rosto, tiro uma centena de fotos mentais dele. É o que minha
mente faz quando a visão diante de mim parece um sonho.
Cage Monaghan nu na cama, lençóis cobrindo sua cintura,
uma perna em cima da roupa de cama é o sonho.
“Camisinha?” Ele espia por um olho.

“Duas semanas atrás, você estava decidido a me


engravidar, mas hoje à noite você usou um preservativo.”
Ele fecha os olhos novamente e sorri, mas não diz nada.
“Você encontrou uma mãe diferente para seu bebê?”
“Não. Ela ainda está na cama comigo. O ato foi
impulsivo. Você mesmo disse.”

“Um erro?”

Ele suspira. Eu posso sentir sua exaustão.


Provavelmente não é justo pedir a ele para processar
mentalmente qualquer coisa nesse momento. “Nada sobre
nós é ou será um erro.”
Eu balanço a cabeça lentamente para mim mesma,
mantendo meus dedos flutuando sobre seu rosto, pescoço e
até seu peito. Eu adoro senti-lo tanto quanto ele ama o meu
toque. “Eu não sabia que era uma sessão de fotos nua.”

Minha mão para quando seu corpo fica rígido sob ela.
“Eu poderia ter dito não. Não recusei. A revista não é
pornográfica. É sobre o poder da humanidade, da tecnologia,
de mudar o mundo. Thaddeus tirou minha incapacidade. Ele
JEWEL E. ANN

está mudando o mundo, está mudando vidas, e sou o rosto


que representa isso agora. Mesmo que Lake Jones não
importe para o mundo, minha história importa. É importante
para todas as pessoas nascidas com deficiência física, para
todos os soldados feridos em combate, todas as vítimas de
um acidente de carro que tem sua vida mudada. A única
coisa que me diferencia de qualquer outra pessoa no meu
lugar é a oportunidade. Thaddeus quer dar a toda pessoa
fisicamente desafiada essa oportunidade.”

Cage abre os olhos e muda de lado, encarando-me com


a cabeça apoiada em um braço. “O que as invenções de Thad
têm a ver com seu corpo nu?”
“Meu corpo é apenas isso... um corpo. Não define o que
posso fazer na vida. Não tenho vergonha da minha aparência,
não mais. Não podemos mudar o mundo até mudarmos a
maneira como o mundo vê a imagem corporal e as
deficiências.” Tiro os lençóis de cima de mim, expondo meu
corpo nu a ele. “O que você vê?”

Seus olhos percorrem meu corpo, eventualmente se


fixando nos meus olhos. “Você sabe o que vejo.”

“Sim, mas quero que você diga.”


“Eu te vejo.”
“Quanto de mim?”
“Toda.”

Eu assinto. “E é por isso que eu te amo, mas a maioria


das pessoas vê apenas uma coisa... elas veem aquela parte de
mim que acreditam estar faltando. Veem tudo o que pensam
que não posso fazer, não posso ser, não posso ter, não posso
alcançar.”

Sua mão desliza ao longo da minha bochecha e seu


polegar roça meu lábio inferior. “O que Lake Jones quer
fazer?” Ele sussurra enquanto minha temperatura sobe
alguns graus.
JEWEL E. ANN

Minha língua provoca a ponta do seu polegar. “Quero


você.”

Um sorriso aparece no canto da sua boca. “O que Lake


Jones quer ser?”

Minha mão desliza pelo estômago dele. “Quero ser


tomada por você.”

O pomo de Adão de Cage balança. “O que Lake Jones


quer ter?” Seu aperto no meu rosto aumenta.
Meus dentes cravam em seu polegar por alguns
segundos antes de beijá-lo. “Uma vida com você.”
Ele umedece os lábios antes de tomar engolir com força
outra vez. “O que Lake Jones quer alcançar?”
Minha mão faz um golpe lento em seu pênis duro.
“Tudo”, sussurro uma fração de segundo antes que sua boca
tome a minha e seu corpo role sobre mim.
Nossos dedos entrelaçam sobre minha cabeça enquanto
meus quadris se movem com os dele. Ele pararia para se
proteger? Eu não sei. Eu não me importo. A paixão pela qual
caímos profundamente no reino dos imprudentes parece o
propósito de existir naquele momento. Eu estou vivendo.
“Eu odeio...”, ele me beija com força, tirando o ar dos
meus pulmões, “...que mais alguém te enxergue como eu te
vejo...”, seus quadris balançam contra mim, minhas costas
arqueadas quando um gemido escapa da minha garganta,
“...mas se isso mudar o mundo...”, sua língua mergulha
profundamente em minha boca novamente e minhas unhas
cravam em suas mãos “...então vou sacrificar meu lado
possessivo para o bem maior.”
Ele se move sobre os cotovelos, balançando a pélvis em
mim com mais força, suor escorrendo pela testa. Enrolo
minhas pernas em torno dele. Ele vai puxar para fora?
Nossas necessidades impulsivas fazem sentido? Elas
precisam fazer sentido para alguém além de nós?
JEWEL E. ANN

Minhas mãos deslizam por seus braços, seu pescoço,


parando em seu rosto. “Monaghan, você é tão estúpido...”
Meus olhos se fecham por um momento enquanto ele angula
seus quadris para esfregar meu clitóris sensível. Deus,
poderia morrer naquele momento e estaria bem com isso.
Meus olhos se fixam nos dele novamente. “Ninguém nunca
vai me enxergar como você me vê.”

*
As fotos nuas importam, mas não da maneira que
jamais imaginei. Elas são o assunto por um tempo na
comunidade esportiva depois que o repórter as divulga. Cage
aperfeiçoa o discurso “Lake é uma mulher incrível e eu a
apoio totalmente”, e ele faz isso antes mesmo de ver as fotos
ou ler o artigo. Ele se desculpou naquela noite por ter
dificuldade em confiar. Acho que me apaixonei ainda mais
por ele.

Eu nunca poderia ficar com alguém que exija perfeição.


Essas pessoas nada mais são do que idiotas julgadores que
vivem em negação de sua humanidade. O ciúme de Cage, sua
raiva, sua dúvida... Isso o torna humano, mas ele
reconhecer? Isso o faz extraordinário.

Amor — a mão que puxa alguém para ficar de pé.

Amor — os lábios que beijam suas feridas.


Amor — o lenço oferecido para enxugar as lágrimas.
Amor — o sorriso que nos lembra de que somos todos
humanos.

Amor — a mente que não julga.

Amor — o propósito da nossa alma.


Amor — nosso único propósito.

Cage é meu amor e sou o amor dele.


Depois que a revista publica as fotos com o artigo sobre
minha jornada de deficiente a alguém com capacidades
JEWEL E. ANN

superiores, a conversa inapropriada na comunidade esportiva


é silenciada. A proverbial queda de mandíbula é sentida em
todo o mundo pelos fenômenos de notícias instantâneas da
internet. Thaddeus Westbrook e Lake Jones se destacam nas
mídias sociais mais do que qualquer sensação da NFL.

“Você é grande, menina”, minha mãe diz com orgulho,


enquanto conversamos por telefone pela manhã uma semana
após a publicação das fotos, o que não aconteceu até
novembro.

Eles guardaram tudo aquilo esperando até acertar o


artigo. Ele nunca admitiu, mas suspeito que Thaddeus
Westbrook, o obsessivo compulsivo, foi parte do processo. Eu
estou bem com isso, qualquer coisa para manter sua mente
focada nos negócios e não nas consequências imediatas de
nosso relacionamento. Não posso dizer que estamos de volta
a cem por cento, mas estamos perto.
“Eu não sou grande coisa.” Reviro os olhos enquanto
alimento Trzy na cozinha de Cage.

Não estamos oficialmente morando com ele; ainda tenho


meu apartamento. No entanto, eu não durmo lá desde que
retornei a Minneapolis no mês anterior, depois de visitar a
nova filha de Luke e Jessica, Harley. Cage trouxe quase tudo,
exceto meus móveis, enquanto eu estava fora. Ele disse que
foi ideia de Trzy.

“As fotos são lindas. E representam como eu te vejo a


vida toda.”
“Diz minha mãe.”

“Lake...”

Coloco dois waffles de linho congelados na torradeira.


“Desculpa. Eu sei, e você está certa.”

“Você vai voltar para casa nas férias?”


“Espero que sim, mas o futebol não faz uma pausa e
Thad não consegue acompanhar todos os pedidos de
JEWEL E. ANN

entrevista. Eu estou indo para Nova York amanhã. Thad e eu


temos duas entrevistas matinais diferentes nesta semana e
três talk shows. Depois, voo direto para Los Angeles para
mais entrevistas e talk shows. É uma loucura. Eu sou apenas
uma garota que perdeu a perna. Thad é a verdadeira estrela.
Ele está tornando certas deficiências físicas inexistentes. Ele
está criando coisas que permitem que as pessoas com
deficiência superem os atletas sem deficiência.”
“É verdade, mas o artigo é muito mais do que as
invenções de Thad. É sobre a luta emocional — sua luta
emocional — coisas que eu nunca soube.”

Eu concordo para mim mesma. Mesmo eu nunca previ


compartilhar tanto de mim depois da sessão de fotos quando
Brandon, o redator que escreveu o artigo, entrou em contato
comigo para responder a algumas perguntas. Tudo o que eu
disse a ele se encaixava perfeitamente nas fotos. Era eu —
crua, vulnerável, desconectada e nua.
“Eu nunca soube que você lamentou a perda de sua
identidade muito mais do que sua perna.”

Arrancando a parte superior do pacote do saquinho de


chá, coloco-o na minha caneca vermelha e a encho com água
quente. “Eu não nasci com deficiência. Não fazia parte de
mim por vinte anos. Eu me olhei no espelho e foi assim que
me identifiquei. Em um piscar de olhos, fiquei dependente de
todos ao meu redor. Estava com tanta raiva porque não
conseguia mais ver aquela garota no espelho. Eu estava à
beira da minha independência, apaixonada, esperançosa e
cheia de ambições. Então simplesmente... desapareceu.”

“O que você disse sobre os sapatos me fez chorar...


inferno, quem estou enganando. Cada citação sua no artigo
me levou às lágrimas. Mas os sapatos...”

Sorrio, lambendo a manteiga de avelã de chocolate do


meu dedo e colocando a tampa de volta no pote. “Adorava
sapatos.”
JEWEL E. ANN

“Eu sei que você adorava. Partiu meu coração quando


você pediu para eu me livrar deles. Cage sabia? Você disse a
ele que ele era a razão pela qual você queria uma perna nova
com a qual pudesse usar sapatos bonitos?”
“Eu disse a ele no dia em que ele me levou ao aeroporto
para voar para Pequim, mas sinceramente, não acho que ele
tenha percebido o verdadeiro impacto de mudança de vida
que causou em mim até que leu o artigo pela primeira vez na
semana passada. Ele nega totalmente, mas sei que ficou com
lágrimas nos olhos ao ler o artigo, e sei que foi na parte dele e
dos sapatos. Se eu não o conhecesse, acho que não teria
incomodado Luke para me ajudar a conseguir uma perna
mais bonita, e se não tivesse essa perna bonita e o impulso
de autoconfiança que ela me deu, eu não teria feito nada,
nem o perfil no site de namoro em que conheci Thaddeus.”
“Bem, espero que ele seja o homem da sua vida. Seria
um crime para uma das mulheres Jones não estar com o
quarterback bonitão com covinhas, e por mais que isso
quebre Lara e meu coração, você realmente é a escolha
óbvia.”

Eu sorrio porque, apesar da perda na minha vida, ainda


tenho as melhores pessoas. “Ele é o cara, mãe.”
Eu nunca contei a ela sobre nossa quase gravidez ou
nosso comportamento esporádico e imprudente desde então,
que me deixa em um constante estado de dúvida, estou ou
não estou? Esse segredo fica entre nós, tudo bem, e Penny,
mas ela não conta. Penny é minha psiquiatra livre, então
temos um sigilo médico-paciente acordado.

“Eles jogam contra o Green Bay neste fim de semana,


em casa.”

“Estarei em Los Angeles e ficarei fora por um total de


dez dias.”
“Como Cage se sente sobre isso?”
JEWEL E. ANN

Dou uma mordida no meu waffle e murmuro com a boca


cheia: “Ele acha que devemos pedir demissão de nossos
empregos e ficar na cama nus o dia todo.”
“Droga! Você está me dando um calorão.”

Eu sorrio. Apenas Felicity Jones, nudista de meio


período, diria isso à filha. “Estou brincando... eu acho. Quero
dizer... ele tem realmente dito essas palavras, mas ama jogar
e eu amo as oportunidades que me foram dadas em minha
própria vida. Acho que ambos sentimos essa obrigação de
aproveitar ao máximo a vida que recebemos. Mas é uma
merda também. Sinto falta dele o tempo todo.”

“É um piscar de olhos, bebê. Ele não vai jogar futebol


para sempre, e esse fogo que você tem com Thad também não
vai durar para sempre. Só não esqueça por que vocês dois
estão fazendo isso. Não perca o que vocês têm juntos.
Quando os holofotes não brilharem mais, você não quer ficar
sozinha.”

“Te amo, mãe.”


“Também te amo, Lake. Ligue quando chegar a Nova
York para não me preocupar.”

Eu sorrio. “Você sempre se preocupa.”

“Menos. Eu vou me preocupar menos.”

*
“Tão deprimente.”
Sorrio quando a voz que eu mais amo soa atrás de mim,
mesmo que possa sentir a carranca em seu lindo rosto.
Olhando para a grande mala na cama, transbordando de
roupas e sapatos para a mudança de temperatura da costa
leste para a oeste, tenho que concordar com ele.

“Nossos empregos são péssimos.”


“Eles são mesmo.”
JEWEL E. ANN

Os cabelos dos meus braços estão eretos quando eu o


sinto apenas um suspiro atrás de mim. Eu me viro, bebendo
a aparência do meu homem bonito em uma camiseta e jeans
do Minnesota.
“Deveríamos pedir demissão.”

Ele me puxa para seus braços que parecem maiores,


mais firmes e mais sexy toda vez que me envolve neles. “Você
não pode desistir.”
Segurando a camisa dele, enterro meu nariz em seu
peito e inspiro meu aroma favorito: Cage de banho recém-
tomado. Eu não consigo nem identificar o que está cheirando.
Tudo que eu sei é que é o afrodisíaco mais importante de
todos os tempos. “E você pode?”
Sua boca não perde tempo devorando meu pescoço.
“Sim...” Seus dentes vêm a seguir e meu corpo inteiro
estremece. “Eu apenas jogo futebol para ganhar a vida.” Suas
mãos deslizam para baixo e apalpam minha bunda, me
puxando o mais perto possível de seu corpo. “Você está
mudando o mundo. Você é inspiradora. Você é uma heroína
para todas as pessoas com deficiência por aí.”
“Eu não sou...” Minhas palavras saem como nada além
de pequenos sopros de ar.
“Bem, você com certeza balança meu mundo.”
Eu sorrio. “Diga que sim. Nós dois desistimos. Então o
que vamos fazer? Teria que ser algo tão legal como...” Balanço
minha cabeça. “Eu não tenho nada.”

Ele ri, me levantando, girando e sentando na cama


comigo abraçada ao seu peito. “Você provavelmente poderia
conseguir um emprego na área de relações públicas,
colocando rostos de atletas profissionais em caixas de cereal
de arroz crocante genérico.”

“Espertinho.” Mordo o lábio inferior e dou um puxão


firme, em seguida, sento, montando nele.
JEWEL E. ANN

“Bem, eu sei o que eu faria.” Ele enlaça as mãos atrás


da cabeça.

“Ensinar?” Esse é o seu diploma na Universidade do


Nebraska.

Os lábios dele torcem. “Hmm... isso pareceria a escolha


óbvia, mas não. Eu faria meu mestrado em Lake Jones.”

Eu estreito meus olhos. “Lake Jones?”

“Sim. Através de observação cuidadosa,


experimentação...”, ele balança as sobrancelhas, “…e
pesquisa completa, eu descobriria você completamente.
Poderá levar anos, uma vida inteira, mas acho que é o que eu
mais tenho qualificação para fazer.”
“Tudo bem, vou aceitar sua isca. Diga-me o que você já
descobriu.”

“Descobri toneladas de hábitos peculiares seus. Eu só


preciso descobrir por que você faz o que faz, como... o jeito
que você rabisca desenhos aleatórios na porta de vidro
quando toma banho, ou o jeito que você mastiga um pedaço e
meio de chiclete de canela e os motivos para que um não seja
suficiente, e dois sejam demais, ou por que você coloca
manteiga de avelã com chocolate nos waffles e depois limpa
cada buraquinho com o dedo antes de comer o waffle? Por
que você não come apenas uma colher de sopa e depois come
o waffle separado?”

Eu começo a falar

“Shh...” Ele balança a cabeça. “Essas foram perguntas


retóricas. Eu não quero que você me diga. Isso acabaria com
a diversão de descobrir sozinho. Acho que já descobri
algumas coisas, mas não estou nem um por cento certo.”

“Tal como?”
“O jeito que você me toca.”
JEWEL E. ANN

Eu balanço meus quadris sobre os dele, tentando


acompanhá-lo com um sorriso sexy.

Cage ri. “Não é desse toque que estou falando, mas não
pare.”

Franzindo a testa, paro.

Ele pega minha mão direita e a pressiona contra seu


peito. “Você me toca assim.” Movendo minha mão para o
ombro dele, ele sorri. “E assim... e em qualquer outro lugar —
o tempo todo. Quando estamos no meu carro, você brinca
com meu cabelo e amo isso. Quando comemos, você sempre
se senta ao meu lado, mesmo quando estamos em uma
cabine, você se senta ao meu lado e descansa a mão na
minha perna. À noite, parte do seu corpo está sempre em
contato com o meu, e você faz isso instintivamente.
Originalmente, pensei que era apenas um gesto íntimo, mas
não é. Às vezes acho que você nem percebe que seu corpo
está procurando o meu.” Ele encolhe os ombros. “Eu acho
que te encantei.”

Ele pode ler meu olhar em branco também? “Talvez eu


esteja apenas reivindicando você na frente das mulheres que
estão lá esperando que você me largue.”
“Existem pessoas, mulheres de quem você fala, em
nosso quarto, quando vamos dormir à noite?”
Ele ouve suas próprias palavras? Nosso quarto? Sem
dúvida, Cage me atrai, e talvez seja por isso que faço essas
coisas. Honestamente? Eu não percebi que faço isso. Talvez
subconscientemente precise do lembrete constante de que ele
é uma parte real e tangível da minha vida.

“Este é realmente o nosso quarto?”

“Trzy acha que sim.”

Olho para minha felina lambendo-se no topo de sua


torre de gatos no canto. “Sinto-me culpada por pagar pelo
meu apartamento quando não estou lá.”
JEWEL E. ANN

“Então o devolva quando o seu contrato terminar.”

“Simples assim?”
“Bem desse jeito. Nós já estamos morando juntos. Você
vai ter meus bebês. É apenas uma questão de tempo até você
adotar meu sobrenome, então... sim. Bem desse jeito.”

Meu corpo luta para ficar neutro, sem reação, mas é


impossível. Sinto minhas sobrancelhas se levantarem
sozinhas, como se simplesmente não dessem a mínima para
que meu cérebro que grita: “Não reaja!”

“Vou adotar seu sobrenome?”


“A menos que você queira ficar com Jones. Eu estou ok
com o que você decidir.”
“Uh... você está me pedindo em casamento?”
“Certo.”
Como um cara pode ser meu maior sonho e pior
pesadelo?

“Certo? Isso... é isso?”


“Eu não estou te entendendo.”
Alienígenas roubaram o homem dos meus sonhos.
Quem? Quando? Quem é esse impostor?

Descendo dele, fecho a minha mala e puxo o zíper. Está


cheia, muito cheia. Ele senta e pressiona a mão no topo,
liberando a tensão para que eu possa fechar.
“Você está brava.”

“Pare.” Eu balanço minha cabeça. “Lembre-se, não


somos o casal ‘você está bravo’.”

“Então diga.” Ele sorri.


É a primeira vez que odeio suas covinhas estúpidas. “Eu
desprezo clichês, realmente abomino. E amo como não
JEWEL E. ANN

fazemos sentido e perfeito sentido ao mesmo tempo. Eu até


amo não ter a mínima ideia se estou grávida ou não. Isso me
faz sentir tão... viva. Mas...” Eu balanço minha cabeça.
“Mas?”

“Mas ‘certo’? Sério? Você voou para a China para me


beijar. Deixe-me dizer isso de novo. Você. Voou. Para. China.
Para. Me. Beijar. A mim!”

“Você quer se casar na China?”


“Ah!” Jogo minhas mãos para cima, viro e entro no
banheiro. “Preciso tomar banho e ir para a cama. Meu voo é
bem cedo.”

“Cedo? Como o quê? Oito?” Ele ri.


Eu bato a porta. Meu voo é às nove, mas ele que se dane
por tirar sarro de mim.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS


A rixa

Eu voo para Nova York na manhã seguinte, de má


vontade e um namorado alheio à sua idiotice. Não é uma
palavra fascinante, ou real, mas é a mais apropriada. O
cartão na minha bolsa deveria ser um gesto de derreter o
coração.
CAPÍTULO NOVE

Mas não é.
Os dez dias seguintes são um borrão completo. A todo o
momento, recebo uma pergunta sobre as fotos e o artigo,
perguntas sobre meu relacionamento com Cage, perguntas
sobre meu caso secreto com o babá de Everson.
Thad e eu deveríamos estar mudando o mundo, mas
minha vida pessoal parece superar o resto. Seus olhos
incessantes rolando e mandíbula rangendo dizem que ele está
farto das perguntas sobre minha vida pessoal. Até as
entrevistas agendadas que deveriam ser apenas sobre o
artigo da revista e as invenções de Thad terminam com uma
ou duas perguntas sobre o meu relacionamento com o
famoso quarterback do Minnesota.

Mensagens de texto com Cage parecem focar na mesma


merda. Estou cansada disso.
Cage: Eu li que você está tendo um caso com Thad.

Lake: Quem é a loira com você na primeira página da seção de esportes?

Cage: Eu sinto sua falta.

Lake: Eu sinto mais.

Nossos horários fazem o melhor possível para nos


manter separados. Após meus dez dias com Thad e um jogo
JEWEL E. ANN

perdido de Cage, volto para casa para trocar as roupas da


minha mala, ter sexo quente e desesperado com Cage, e de
volta a um avião para mais uma semana de promoção.
Volto a tempo para o último jogo de Cage antes do Dia
de Ação de Graças. É um jogo em casa, então vou com
Shayna e Jamie.
“Você é uma celebridade.” Jamie sorri quando nos
sentamos, embrulhados para o frio jogo da noite.
“Eu sou um animal exótico em exibição. E odeio isso.
Thad está extremamente agitado. Estou surpresa por ainda
ter um emprego.”

“Olhe!” Shayna fica de pé. “Everson?” Ela grita, vendo-o


se aquecendo no campo.
“Ele não pode ouvir você, querida.”

Shayna se joga para trás em seu assento com uma


careta.

Dois caras na nossa frente, vestidos com roupas do time


adversário, se viram uma vez, depois o cara maior
diretamente na minha frente se levanta e se vira. “Você é ela.”
Ele sorri, do tipo que me faz estremecer.
Eu devolvo um sorriso educado, rezando para que ele se
sente e não fique mais bêbado do que ele já parece estar.
“Eu vi fotos deles.”
Engulo o nó grosso na minha garganta, tentando
esconder meus nervos quando Jamie se adianta em seu
assento.

Os olhos do cara bêbado se voltam para a minha perna,


coberta de jeans e altas botas amarelas da Bogs.

“Você é a garota nua sem uma perna.”


Jamie fica de pé.
JEWEL E. ANN

“A perna me deixa enjoado, mas seu corpo, eu fecharia


os olhos e te foderia em qualquer...”

E ele está caindo sobre as pessoas à nossa frente,


grunhindo como um porco esfaqueado e sangrando pelo nariz
como um também. Jamie balança o punho e Shayna chora,
enterrando o rosto no meu peito enquanto eu a abraço.
“Seu filho da puta!” O companheiro do bêbado dá um
soco desajeitado em Jamie, mas meu herói britânico também
o acerta no nariz.

“Lake, pegue Shayna e saia daqui”, Jamie adverte


enquanto a segurança se dirige para a briga em erupção.

O que começa como Jamie colocando dois caras em seu


lugar se transforma em uma guerra completa nas
arquibancadas. Os fãs de um time contra os fãs do outro
time.
Shayna não larga minha perna.
“Vamos querida. Temos que sair daqui. Shayna!”

Ela se recusa a se mover, então eu a pego e manobro


meu caminho até o corredor. É um caos descer as escadas
enquanto todo mundo empurra em direção à comoção.
“Shay!” Eu a abraço com força, segurando a parte de
trás de sua cabeça e enrolando meu corpo em torno do dela
enquanto perco o equilíbrio e caio para frente na descida
íngreme da escada.

Dor — minhas costas, meu braço, minha cabeça, minha


boca. Luzes, corpos e vozes turvas no caos.

“Lake!” A voz de Shayna ecoa enquanto seu rostinho


perfeito paira a poucos centímetros do meu.
Deus... a dor.

*
JEWEL E. ANN

CAGE

É um grande jogo, mas naquele momento, sendo uma


das poucas equipes invictas restantes na NFL, todos os jogos
se tornam um grande jogo. É difícil não pensar nos playoffs,
no Super Bowl.
Um jogo por vez.

“Merda está ficando real.” Nosso coordenador ofensivo


acena em direção às arquibancadas. “Quanto maior o jogo...
maiores são as brigas na multidão.”

Jogo a bola e depois me viro para a comoção.

“Lake.”
“O quê?” Ele pergunta.

Eu nunca a deixo me distrair durante o jogo, mas eu


sempre sei exatamente onde ela está sentada, e a briga na
multidão, salpicada de seguranças que não parecem ter
qualquer controle sobre os fãs, é exatamente onde fica o
assento dela e de Shayna e Jamie.
“Monaghan? Aonde você vai? Fique fora disso.” Grita
meu coordenador ofensivo.

Embora meu estômago queira esvaziar seu conteúdo no


campo porque eu tenho uma pressão realmente doentia sobre
a cena diante de mim, continuo, ganhando velocidade.
Saltando para a primeira fila, pulo por cima do parapeito e
abro meu caminho no meio do caos. Em segundos, vejo Flint
no pé da escada junto com os paramédicos.

Minha presença desperta um alvoroço quando os fãs


tentam chegar até mim para autógrafos, e todo mundo tem
um telefone com câmera na minha cara. Flint olha para cima
e balança a cabeça. Eu não consigo ver além do círculo de
pessoas em volta dos paramédicos, mas quando meus olhos
se voltam para Shayna ao lado de Flint, lágrimas rolando pelo
JEWEL E. ANN

rosto, eu sei. A familiar bota amarela cai ao lado de um dos


paramédicos curvados e confirma meu medo.

“Movam-se...” Eu empurro através da aglomeração de


pessoas nas escadas. “Movam-se... saia do meu caminho!”

Flint tem a coragem de tentar entrar na minha frente e


bloquear minha busca.

“Eu vou lidar com isso. Você coloca sua bunda de volta
em campo.”
Estreito meus olhos para ele. “Amigos ou não. Vou
plantar sua bunda no chão sem pensar duas vezes, se você
não sair. Fora. Do. Meu. Caminho. Porra.”

“Cage!” Shayna abraça minha perna.


Flint desvia o olhar teimoso para ela, então se afasta.
“Lake está sangrando...” Shayna chora.
“Fique com Flint.” Eu tiro suas mãos em punho da
minha calça e dou mais um passo à frente.

“Foda-se”, eu sussurro quando eles levantam seu corpo


na maca.
Ela está enfaixada, na cabeça e no pescoço e o sangue
escorre de uma gaze pressionada no nariz e na boca, mas
seus olhos estão arregalados.
“Lake...”, o nome dela escapa raspando da minha
garganta; e leva um bom tempo espremendo meu coração
alojado na base.

Os olhos dela rolam para o lado.

“Porra, querida...” Não é isso que eu quero dizer, mas


não consigo pensar em nada além de me perguntar o que
diabos aconteceu. “Estou aqui. Estou indo também. Não vou
deixar você.”
“Cage...”
JEWEL E. ANN

Eu me viro para Flint, desafiando-o a dizer uma palavra.


“É apenas um jogo.”

O olhar em seu rosto endurece. “Não é apenas um jogo e


você sabe disso. Ela é apenas uma garota e ficará bem.”

Agarro a mão de Shayna e a puxo em minha direção


enquanto me inclino para frente e sussurro no ouvido de
Flint.

“Foda-se... E você está demitido.”

*
LAKE

Dois dentes da frente faltando.


Pontos no meu lábio.
Costelas machucadas.
E um quarterback irritado.

Isso resume minha experiência de futebol na noite de


domingo.
“Estou desistindo.” Essas são as duas primeiras
palavras que escuto quando abro meus olhos e tenho a
primeira pista do que é lidar com um quarterback zangado.
Minha cabeça relaxa de um lado para o outro.
Ele descansa a testa suavemente no meu estômago.

Minha mão passa pela cabeça dele. Eu quero confortá-lo


com uma resposta espirituosa, mas quando minha língua
roça as bordas irregulares dos restos dos dentes da frente,
decido que nunca mais vou falar ou sorrir.

Ele vira a cabeça, olhando para mim. “Você não pode


falar, hein?”
JEWEL E. ANN

Eu levanto meus ombros uma fração, sentindo uma


pontada nas minhas costelas.

“Você tem pontos no lábio.”

Eu assinto.

Ele faz uma careta. “Seus dois dentes da frente estão


quebrados.”

Eu assinto.
“Suas costelas estão machucadas.”

Isso explica a pontada. Eu assinto.


“Jamie foi preso.”
Meus olhos se arregalam.

Cage senta e esfrega o rosto. “Eu demiti Flint, então


chamei meu advogado para lidar com a soltura de Jamie.”
Ele demitiu Flint. Meu coração se parte. Flint é seu
amigo. O que aconteceu comigo não teve nada a ver com
Flint.

Tento falar, mas minha primeira palavra termina em


uma careta que só piora a dor quando puxa os pontos no
meu lábio.

“Não.” Cage balança a cabeça. “Tudo está bem. Shayna


está com Penny até Everson chegar em casa. Liguei para seus
pais. Eles estão esperando que eu ligue de volta com mais
notícias. Eu disse que ligaria novamente quando você
acordasse. Pelo pânico que ocorreu na sala de sua mãe, acho
que ela já está em um avião.”

Ouvindo vozes por perto, examino o quarto, percebendo


que não estamos realmente em um quarto. Não passa de uma
cama de hospital e uma cadeira cercadas por uma parede de
máquinas nas minhas costas e uma cortina deslizante nos
outros três lados.
“Lake.”
JEWEL E. ANN

Meus olhos se voltam para a morena de uniforme azul


marinho, abrindo a cortina.

“Como está seu nível de dor? Você precisa de mais


remédio para dor?”

Eu balanço minha cabeça. Sim, sinto dor, mas nada


insuportável.

“Ok. Sem concussão. Você está livre para ir. Você pode
agradecer a esse jovem pelo seu lábio.”
Meus olhos se estreitam.

“Ele insistiu que chamássemos um cirurgião plástico


para costurar seu lábio, em vez do cirurgião de plantão.” Ela
dá um sorriso malicioso para Cage.
Ele não parece se importar.
“Nosso dentista de plantão fez o que pôde. Você terá que
agendar uma consulta com seu dentista. Gelo no seu rosto,
se puder, e gelo nas costelas, juntamente com medicação
para dor. Relaxe pelos próximos dias. Nada extenuante.
Concentre-se na respiração quando puder e tente respirar
devagar e profundamente, mesmo que isso possa doer um
pouco. Ok?”
Eu concordo.

“Verificamos a sua perna e ela parece bem; portanto,


desde que você não tenha tido nenhum problema com sua
prótese, você deve estar bem.”

Outro aceno. Droga! O pior prejuízo de todos os tempos


para uma pessoa falante como eu.

Cage agradece ao médico. Quando ele se levanta, noto


que ele ainda usa a calça uniforme com uma camiseta cinza
do Minnesota. Flint já estaria lá com uma muda completa de
roupas e seu carro esperando no estacionamento. Acho que
vejo os mesmos pensamentos passarem pela mente de Cage
quando o olho.
JEWEL E. ANN

“Calminha.” Ele me ajuda a sentar, um centímetro de


cada vez.

Saliva tingida de sangue pende em uma longa linha da


minha boca. Eu não consigo nem engolir direito ainda.
Atraente.

Realmente, há um limite para quantas visitas ao


hospital são permitidas nos primeiros seis meses de um
relacionamento. Cage deve estar pensando: ‘Ela está indo
para o hospital outra vez?’ Como eu poderia ser mais
desajeitada?

“Shay...” Eu tento falar sem mexer a boca. Parece que eu


estou brava, grunhindo a palavra entre os dentes cerrados.
“Eu disse que ela está com Penny. Ela está bem. Ela
disse que você a estava carregando no colo e você caiu.” Ele
balança a cabeça enquanto tira a camisola de hospital dos
meus ombros. “O que você fez, impediu que ela tivesse sequer
um arranhão. Você...”, seus olhos encontram os meus, “...não
teve tanta sorte.”
Isso é tudo o que importa para mim. Tudo aconteceu tão
rápido, mas me lembro do momento em que perdi o
equilíbrio. Tudo o que pensei foi em Shayna e a abracei,
protegendo-a.
Ele olha para o meu peito nu. Arqueio uma sobrancelha.
Não é o momento para isso. Cage balança a cabeça com um
pequeno sorriso.
“Só estou imaginando se devemos deixar seu sutiã. Pode
ser que pareça muito apertado em torno de suas costelas.”

Eu assinto. Ele ajuda a colocar minha perna, como o


profissional que se tornou com ela, depois ajuda com minha
camisa e calça.

“Devagar.” Ele me ajuda a sair da cama.


Minhas costelas... elas doem.
JEWEL E. ANN

“Você quer que eu busque uma cadeira de rodas?”

Eu balanço minha cabeça.


“Quer que carregue você?”

Dou a ele o olhar sério.


“É apenas uma oferta.”

Grande surpresa. Somos recebidos por uma pequena


multidão de fotógrafos quando saímos do hospital.

Inclino meu queixo e Cage segura uma mão na frente do


meu rosto enquanto me guia com a outra mão. Um familiar
Mercedes preto para.
“Vamos encontrar um táxi”, ele murmura para mim
quando Flint sai e abre a porta dos fundos.
“Não.” Cage balança a cabeça.

“Engula a porra do seu orgulho e coloque sua garota no


banco de trás do meu carro.”
Eles trocam um breve olhar.

“Isso não significa nada.”

Flint assente.

“Devagar”, Cage sussurra quando entro no banco de


trás.

Ele anda para o outro lado, trocando algumas palavras


com Flint que não consigo ouvir, e depois entra ao meu lado.
Os flashes da câmera brilham à noite enquanto Flint se
afasta do meio-fio.

“Seu carro está na sua casa.”


Cage não responde.

“Seu time perdeu. Bennigan sofreu cinco interceptações,


duas que levaram a conversões de touchdown.”
JEWEL E. ANN

Ainda sem resposta, mas o aperto que Cage dá na


minha perna fica um pouco mais forte com as palavras de
Flint. Olho para Cage, mas ele mantém os olhos fixos na
janela, observando a estrada passar.
Quando paramos na frente da casa de Cage, ele me
ajuda a sair e me leva em direção à porta sem uma palavra
ou olhar na direção de Flint. Eu paro.
Cage estreita a testa. “Você está bem?”
Eu me viro, me afasto de seus braços protetores e volto
para o carro onde Flint ainda está parado perto da porta do
motorista. Flint compartilha a mesma expressão confusa que
Cage.
Eu olho para cima. “Obrigada”, sussurro o melhor que
posso, mas não alto o suficiente para Cage ouvir.
Flint apenas olha para mim por alguns momentos e
depois assente uma vez.
Enquanto caminho de volta para Cage, eu posso ver o
olhar de traição em seus olhos, mas ele não diz nada.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO


Todas as palavras erradas

A palha que quebra as costas do camelo ou a expressão


sobre a última gota d’água não são apenas um ditado clichê.
Há verdade nisso. Uma que parece insignificante até ser
demais. Meu relacionamento com Cage parece invencível, até
que todos começam a se intrometer.

Ele não desiste. De fato, seus treinadores e toda a


equipe apoiaram sua decisão de abandonar o jogo para ficar
comigo, apesar de terem perdido. Cage diz que não é a pior
coisa do mundo. Muita pressão vem em se estar invicto. Ele
diz que eles são capazes de se concentrar novamente no
objetivo maior, em vez de se preocupar com a perda que pode
tirar o seu recorde de invencibilidade.
Eu meio que acredito nele. Só que ninguém gosta de
perder.
Jamie passa de constrangedor babá do sexo masculino
a herói másculo aos olhos de Everson e Cage. O cara acabou
pegando quatro bêbados, todos dos fãs do time adversário —
outro bônus — antes que a polícia o algemasse. Jamie ainda
tem uma data marcada para o tribunal, mas ele está fora da
prisão e o advogado de Cage disse que arquivar suas
acusações retiradas seria um tiro no pé.
Flint Hopkins conseguiu seu emprego de volta depois
que insisti que Cage o perdoasse. Eu sei que é difícil para
Cage porque ele não estava lá, mas nunca esquecerei que vi
Flint salvando Shayna. Ele teria que fazer algo muito pior do
que sugerir que Cage jogasse em vez de ir ao hospital para
justificar Cage demiti-lo.
Meus pais ficam para o Dia de Ação de Graças. Eu acho
que é um exagero para um lábio suturado e alguns dentes
JEWEL E. ANN

perdidos, mas guardo isso para mim, porque os jogadores de


futebol não tiram férias. A presença deles ajudou a superar
que só vi Cage por algumas horas no Dia de Ação de Graças.
Essas poucas horas foram de partir o coração. Cage
confessou que era o aniversário da morte do seu pai. Achei
difícil agradecer naquele dia.

Thad está bem em ir sozinho às nossas entrevistas


agendadas. Tenho certeza que ele ficou secretamente
emocionado por não ter que lidar com meu drama pessoal.
Eu? Eu fico assistindo meu rosto atravessar um arco-íris de
cores enquanto meus lábios se curam. O dia em que recebo
meus implantes dentários é o melhor dia de todos. Foi fácil
ignorar os dentes até que os dois mais proeminentes fossem
eliminados. Não é bonito, e falar sobre me sentir insegura...
Eu não me sentia tão insegura desde que acordei sem parte
da minha perna.
Loucura.
Lake: CAPÍTULO DEZ — Espero que eu também possa determinar o início de
novos capítulos!

Lake: XIS!

Envio uma foto do meu novo sorriso ao sair do


consultório do dentista. Cage está ocupado. Eu sei e entendo
completamente isso, mas ele não responde nada, nem mesmo
uma carinha sorridente.
“Sério, quem não tem tempo para mandar um maldito
emoji sorridente?”

Penny ri enquanto eu encho sua taça de vinho tinto.


Observamos as rajadas de início de dezembro dançar no ar, a
partir da grande parede de janelas da sala de jantar de Cage,
com vista para o terreno arborizado.

“Eu posso perguntar isso porque sou uma mulher, então


você não fique com raiva de mim, ok?”
“O que?”
JEWEL E. ANN

“Você está menstruada?”

Eu sorrio. Ela está certa. Se Cage tivesse me perguntado


isso, eu o teria decapitado. “Não.”

“Você está grávida?”

“Não. Não fizemos sexo desde a última vez que


menstruei.”

“Sem sexo?” As costas de Penny enrijecem, uma grande


surpresa em seus olhos.

“Eu estava viajando, e então eu estava menstruada


quando o acidente aconteceu, e desde então simplesmente
não fizemos nada. Eu acho que a coisa dos dentes da frente
faltando prejudicou as coisas — isso e ele sempre
desaparecendo ou assistindo as cenas do jogo até o toque de
recolher.”

“Prejudicou?”
“Sim. O sono é importante para desempenho,
recuperação, testosterona, HGH, etc.”

“E sexo?” Penny mexe as sobrancelhas.


Eu sorrio. “Sinto falta. Sinto falta dele.”
Ela olha para o telefone. “Ele não deveria estar em casa
em breve?”
“Provavelmente. Eu não sei. Ele está fazendo todas as
suas refeições lá, então, entre as oito e as nove, ele aparece,
assiste gravações de jogos e vai para a cama. É uma loucura
o quanto me sentia sozinha, mas não estava realmente
sozinha antes de conhecê-lo. É uma sensação tão estranha
que eu não tinha ideia de que algo estava faltando. Sua
presença me mimava e agora sinto falta dela. Eu sinto falta
de nós.”

“Mas você ainda está chateada com a falta de resposta à


sua selfie sorridente?”
JEWEL E. ANN

“Correto.” Eu torço o nariz quando ouço a porta ranger


um pouco. “Ele está em casa.”

Penny engole o resto do vinho.

“Você pode dirigir?”

“Perfeitamente...” Ela acena com a mão. “Infelizmente,


são necessários mais de dois copos para prejudicar essa
garota. Se cuide querida. Estou sempre aqui para você... se
você tiver vinho.”
Eu sorrio quando ela me abraça. “Obrigada, Penny.”

“Oi, Penny.” Cage dá um sorriso cansado quando ele


larga a bolsa no chão e joga as chaves no balcão.

“Oi, número um.” Ela pisca. “Ótimo jogo. Bela maneira


de chutar alguns traseiros de Chicago no domingo passado.”
“Obrigado.”
Ela passa por ele. “Jogue um osso para sua garota. Ela
sente sua falta.” Ela dá mais dois passos para ele. “Ah, e
responda as mensagens dela.”

Eu quero morrer. Maldita Penny e sua boca sem


censura.
Cage levanta uma sobrancelha para mim.

Meus lábios se repuxam em uma linha firme quando


fecho meus olhos brevemente enquanto balanço a cabeça.
Quando a porta da frente se fecha, eu os abro. “Oi.”
“O que significa jogar um osso para minha garota?”

“Nada.” Eu balanço minha cabeça, pegando nossos


copos de vinho e carregando-os para a cozinha.

“Não parece nada.”

Eu me viro, passando as mãos pelos meus cabelos. “Eu


sinto sua falta. E daí? Não é grande coisa.”
JEWEL E. ANN

Ele estende as mãos. “Bem, estou aqui. Você ainda está


sentindo minha falta?”

Eu resmungo uma risada cínica. “Nenhuma gravação de


jogo para assistir?”

“Você está chateada por eu assistir...”

Eu balanço minha cabeça. “Eu não estou. Por isso não


disse nada.”

“Bem, você disse algo a Penny sobre isso, e


aparentemente errei por não responder à sua foto.”

Ele viu a foto. Isso me irrita mais do que deveria.


Cruzando os braços sobre o peito, lanço um sorriso de lábios
fechados. “Como foi o seu dia?”
“Realmente? Você quer saber sobre o meu dia?”
Não, eu não quero. Só quero derrubar a maldita parede
entre nós e quero que ele me abrace porque precisa de mim.
Eu quero que ele precise do meu toque, tanto quanto eu
preciso do dele.

Ele toma minha hesitação como sua resposta. “Eu


estarei lá embaixo.”

“Cage...”

Seus passos desaparecem ao longe.

*
O passo natural que vem depois de uma briga é perdoar.
O problema é que não sei se estamos brigados ou não. As
coisas estão erradas entre nós, mas não de um jeito que
aponte o dedo. Cage não está por perto tempo suficiente para
ter uma briga completa. Ele não fica por perto o suficiente
para ter muita interação. Eu até comecei a dormir no quarto
de hóspedes porque... eu realmente não estou dormindo.
Netflix.
JEWEL E. ANN

Vídeo chamadas conversando com Thad e Jerry.

Pesadelos — porque comecei a tê-los novamente.


É isso que consome minhas noites. Pelo menos Cage
está dormindo sem perturbações, mas não posso evitar o
ressentimento que floresce dentro de mim. Depois da
primeira noite em que fiquei no quarto de hóspedes, ele
perguntou por que dormi lá e contei que não queria mantê-lo
acordado com a minha inquietação.
Ele disse “Ok” e deixou por isso mesmo.

Ok! Ele não tem ideia de como a simplicidade de suas


respostas irrita meu último nervo.

Quando sexta-feira chega, estou pronta para ele entrar


naquele avião e voar para o Texas. Pelo menos se ele estiver
fora da cidade, não me sentirei tão completamente ignorada.

“Você parece cansada.” Ele beija o topo da minha cabeça


enquanto passa por mim no closet, jogando roupas em sua
bolsa para a viagem enquanto eu penduro a roupa limpa.

“Eu estou.”
“Bem, talvez você possa dormir um pouco enquanto eu
estiver fora.”

“Talvez eu possa fazer sexo também”, eu murmuro para


mim mesma, não pretendendo que ele me ouvisse.
“O que você disse?” Ele se vira.

“Nada.” Eu balanço minha cabeça.

“Não. Você disse ‘talvez eu possa fazer sexo também’. O


que diabos quer dizer isso? Com quem diabos você está
transando?”

De costas para ele, descanso minhas mãos nos quadris


e olho para o teto, um suspiro exausto misturado com uma
risada me escapa. “Ninguém. Com absolutamente ninguém.
JEWEL E. ANN

Esse é o ponto. Apenas esqueça.” Pego uma camisa do cesto


de roupa e a coloco em um cabide.

“Não posso ser tudo, Lake. Não sei o que você quer que
eu...”

Eu me viro, raiva fervendo na minha barriga. “Não faça


isso. Não ouse dizer que não sabe o que eu quero que você
faça. Isso é besteira.”

Sua postura defensiva espelha a minha enquanto a


parede entre nós cresce mais um pouco. “Então, tudo o que
digo é besteira? Como se eu estivesse mentindo para você?”
Não é tarde demais. Tudo o que ele tem que fazer é me
pegar em seus braços. Realmente me pegar em seus braços,
não um beijo na cabeça, ou um beijo rápido nos lábios, ou
um abraço que dura menos que um batimento cardíaco. Eu
deveria me jogar nos braços dele, mas meu ego insiste em me
proteger dos meus sentimentos, e temo que ele não retribua.
Eu temo me sentir ainda mais rejeitada. Eu temo o vazio
entre nós.
Quando comecei a temer o que eu mais quero na vida?

“Não”, sussurro quando o arrependimento me chuta no


estômago.

“Estou sob muito estresse agora e estou tentando não


descontar em você. Tenho esse time incrível que pode ir até o
fim, e me deram essa oportunidade e não quero decepcioná-
los. Alguns desses caras jogam há anos e estão cansados e
querem se aposentar, mas querem o anel primeiro. Então eu
tenho que trabalhar duas vezes mais do que todos os
quarterback veteranos por aí, porque a probabilidade de eu
cometer algum erro de novato que pode custar a toda a
equipe e sua chance de conquistar o título é realmente muito
alta, porque de muitas maneiras ainda sou um novato.”

Esfregando as mãos sobre o rosto, tento me recompor


porque a chance de eu surtar no momento é tão alta quanto a
JEWEL E. ANN

chance de ele cometer esse erro de novato no final da


temporada. “Eu sinto muito.”

Mordida na língua.

Estou arrependida, mas também estou chateada e


confusa, e me perguntando por que diabos isso está
acontecendo conosco e se conseguiremos sair dessa juntos.

Cage suspira. “Eu não queria que isso fosse um erro.


Ainda não quero que seja um erro. Eu quero fazer isso dar
certo. Estou tentando, mas se for demais para você, então
você precisa me dizer. Eu vou entender. Ok?”
Oh meu Deus...

Ele parte meu coração, como se ninguém nunca tivesse


partido meu coração antes. Parece impossível respirar. Meus
pulmões se recusam a respirar.

Não chore, Lake! Aguente firme. Aguente firme. Aguente


firme…

“Vejo você em alguns dias. Te amo.” Ele joga a bolsa por


cima do ombro e agarra a parte de trás do meu pescoço, me
puxando para um beijo rápido.
“Tchau”, sussurro enquanto ele se afasta.

Quando escuto a porta dos fundos fechar, eu pressiono


uma mão na parede e a outra no meu coração, apertando a
faca que ele apenas espetou ali, enquanto me abaixo de
joelhos, soluços assolando meu corpo.

Eu fui um erro. Nós somos um erro.


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E CINCO


É você

“Eu não acredito nisso.” Penny pega a garrafa de vinho


de mim. “E chega de vinho porque você é um peso leve.
Aposto que não pode nem ficar em pé agora.”

Eu olho para as malas com meus pertences bagunçados


no chão, exatamente perto da minha porta da frente. Trzy e
eu estamos em casa novamente.

“Engraçado...” A palavra se arrasta pelos meus lábios.


“Eu deixaria de alugar esse lugar em fevereiro. Acho que o
destino sabia de algo que eu não sabia.”
Penny balança a cabeça. Ela pode balançar a cabeça o
quanto quiser, mas não mudará minha situação.
“Não tem como ele pensar que você é um erro. Eu nunca
na minha vida conheci um cara que olha e fala sobre uma
mulher da maneira Cage Monaghan adora você.”

Eu quero chorar mais, mas o álcool seca minhas


lágrimas. “Timing ruim, eu acho. Talvez eu fosse apenas a
sua aventura fora de temporada.”
“O cara tentou te engravidar, mais de uma vez. Isso não
é uma aventura, querida. É um compromisso vitalício. Ele
disse que queria se casar com você.”

Eu balanço minha cabeça. “Não. Quando perguntei se


ele estava me pedindo em casamento, ele disse: ‘certo’.” Eu
sorrio porque todas as outras reações doem muito. “Eu não
quero estar aqui. Quero deixar para ele um bilhete que diz:
‘boa sorte, espero que você consiga seu anel’; depois, quero
voltar para São Francisco e abraçar minha nova sobrinha,
Harley, almoçar com Jessica e dar um beijo em Luke no
trabalho entre pacientes.”
JEWEL E. ANN

Penny se inclina para o alto e agarra minha mão,


apertando-a com firmeza. “Você quer se sentir amada.”

Depois de olhar para a mão dela na minha por alguns


momentos, olho para cima e assinto. Meus canais lacrimais
decidem voltar a funcionar novamente. “Quero me sentir
firme novamente.”
Penny se levanta. “Entendo. E não me arrependo da
maioria das coisas na minha vida, mas de fugir? Disso me
arrependo. Espere até ele chegar em casa e, se você ainda
quiser ir, vá embora. Mas não fuja. ESTÁ BEM?”

Limpo o fluxo de lágrimas das minhas bochechas. “Ok.”

*
CAGE

Nós ganhamos. Mais um jogo até os playoffs, mas já


garantimos uma vaga na primeira rodada. No momento em
que saio do ônibus, corro para minha caminhonete,
desesperado para chegar em casa — desesperado para chegar
até Lake. Eu odeio como deixamos as coisas. Isso me comeu
vivo por três dias. Quis ligar. Eu queria escrever uma
mensagem, mas precisava manter o foco. Sabia que as
palavras significariam mais pessoalmente.

“Lake?” Eu chamo. Seu carro não está na garagem, mas


não faz sentido que ela não esteja lá, dada a hora tardia.

Acendo a luz do quarto. Nada de Lake. Nem Trzy.


Deixando cair minha bolsa no chão, vou até o armário e
acendo a luz.

Vazio.

Todas as suas coisas se foram. Parece tão estéril quanto


meu coração.
“Porra.” Fecho os olhos.
JEWEL E. ANN

Depois de procurar um bilhete ou qualquer sinal dela e


não achar, pulo de volta na minha caminhonete e dirijo para
o apartamento de Lake.
É tarde ou cedo. Eu não me importo quando bato na
porta dela. Mais ou menos um minuto depois, ela a abre,
diante de mim em uma blusa da Hello Kitty e shorts
combinando. É preciso toda a força que eu tenho para não
cair de joelhos e implorar para ela voltar para casa. Seus
olhos estão vermelhos, sua postura sem vida.

“Ei.” Ela sorri e odeio o quão forçado é. Eu quero possuir


cada um de seus sorrisos, mas naquele momento sinto que
possuo nada além de sua dor.

“Você se mudou.”
Um aceno lento.
Isso machuca. Dói tanto.
Limpo minha garganta. “Por quê?”

Ela umedece os lábios e os esfrega enquanto seus olhos


brilham com lágrimas. “Eu odeio ser seu erro.”
“O quê?” Estreito os olhos.

“Você disse que não queria que isso fosse um erro.” Ela
pisca e as lágrimas escorrem por suas belas bochechas. “Eu
não posso ficar esperando que você decida se somos um erro.
Não consigo lidar com a sensação de ser seu mundo inteiro
em um minuto e, em seguida, poder ser um ‘erro’. Eu não
posso estar com você e não estar com você. Não consigo lidar
com tê-lo tão perto e sentir que não posso tocá-lo.” Ela
enxuga o rosto e respira fundo.

“Jesus, Lake...” Pressiono minhas mãos no lado da


minha cabeça, sacudindo-a de um lado para o outro. “Eu não
quis dizer sobre nós.” Minhas mãos vão da minha cabeça
para a dela, apertando seus cabelos um pouco mais forte do
que eu deveria, mas preciso de sua atenção absoluta às
palavras que tenho a dizer. “Futebol... meu maldito trabalho.
JEWEL E. ANN

Foi isso que eu quis dizer quando disse que não queria que
fosse um erro. Foi isso que eu quis dizer quando disse que
entendia se fosse demais para você.”
Inclino-me até chegar ao nível dos olhos, nossos rostos a
centímetros de distância. “É você, Lake. É você todo maldito
dia da semana e duas vezes em qualquer dia de jogo. É você
hoje, é você amanhã, é um maldito milênio a partir de agora.
Sempre. Você.”

Um soluço rasga seu peito, e tenho que lutar contra


minhas próprias lágrimas. Nada em toda a minha vida jamais
me atingiu com tanta força quanto a constatação de que essa
mulher — todo o meu maldito mundo — não sente
verdadeiramente a profundidade infinita do meu amor por
ela.

*
LAKE

Mais forte.

Eu quero que ele me abrace mais forte. Preciso das


mãos dele em todos os lugares ao mesmo tempo. Eu preciso
do seu toque para trazer a vida de volta para mim, porque
deixá-lo parece uma morte lenta. Quando abri a porta, meu
coração mal batia.
“Cage...”

Ele me beija, me empurrando para dentro e chutando a


porta atrás dele.

“Você é tudo”, ele murmura no meu pescoço, puxando


minha blusa. Sua boca cai para sugar meu mamilo quando a
peça cai no chão.
Deslizo a camisa pelo torso enquanto ele continua me
levando para trás em direção ao meu quarto. Quando minhas
pernas atingem a beira da cama, Cage cai de joelhos e puxa
JEWEL E. ANN

meus shorts e calcinha, seus lábios ansiosos para devorar


cada centímetro da minha pele. “Sente-se”, ele sussurra com
os lábios pressionados no topo da minha perna esquerda.
Eu sento. Ele lentamente remove minha perna e rola o
forro, deixando-me completamente nua. Passamos de cem
milhas por hora para zero em questão de segundos.
Descansando a testa na minha perna, ele respira e expira
como se fosse uma força hercúlea para fazer cada troca
consciente de ar enquanto sua mão acaricia meu membro
residual, sentindo todos os ângulos como se precisasse
memorizá-lo.

“Lake?” Ele sussurra com a cabeça ainda pressionada


na minha perna.

Passo minha mão pela nuca dele, sentindo-me um


pouco instável — um pouco de medo — porque ele parece
muito vulnerável.

“Sim.” Exalo uma respiração lenta, tentando acalmar o


ritmo crescente do meu coração tentando romper meu peito.
Cage levanta a cabeça apenas o suficiente para
encontrar o meu olhar. “Eu amo você.” A dor em sua
expressão traz mais lágrimas aos meus olhos. Ele é o dono de
todas as minhas emoções. “Case comigo.”
Oh Deus...
Meus olhos e nariz ardem com um novo nível de emoção
desesperada para se libertar.

“Se entregue a mim. Dê-me cada lágrima. Cada


respiração. Dê-me cada toque. Todo sorriso. Dê-me todos os
dias.”

Ele abaixa a cabeça e beija uma trilha na minha perna e


no meu joelho até onde termina. Ele beija cada centímetro de
pele até que eu juro por Deus que posso sentir o restante da
minha perna, até que posso sentir todos os dez dedos
tocando o chão.
JEWEL E. ANN

“Lake...”, outro beijo, “Ivy...”, outro beijo, “...Jones...”,


seus olhos voltam para os meus “me dê o para sempre. A
única coisa que eu não posso viver sem...”, agarrando minhas
costas, ele me aproxima da beira da cama e pressiona os
lábios no meu peito sobre o meu coração, “…me dê você.”

*
Começo dando-lhe meu corpo enquanto minha mente
brinca. O único medo que tenho naquele momento é a
possibilidade de que ele tente fazer amor comigo com
movimentos calculados e pacientes. Não é disso que preciso.
Preciso que nosso amor físico consuma tudo. Eu preciso
sentir tudo tão doloroso quanto minhas emoções. Seu toque
— quero que fique marcado na minha pele, na minha alma.
Ele pega todas as partes de mim e toma sem desculpas.
Eu me sinto necessária, possuída e, sim, completamente
consumida. O amor? Dizima a dor e a dúvida que a vida
permitiu invadir minha mente. O toque dele? Ele me possui e
como se soubesse exatamente o que preciso, não espera que
eu dê qualquer coisa... Ele pega. Cage pega cada pedaço de
mim.
“Sim”, sussurro em seu pescoço, meu corpo suado e
completamente gasto, uma boneca de pano em cima dele.

“Quando?” Ele murmura, como se a exaustão tivesse


paralisado sua capacidade de falar.

“Eu me casaria com você ontem.” Meus lábios se curvam


em um sorriso contra sua pele.

Suas mãos levantam minha bunda.

“Perfeito.”

“Minha bunda?”

Ele ri. “Tudo.”


“Caso você esteja se perguntando, ‘certo’ não é um
pedido de casamento. Isso... o que você me disse, a coisa oh-
JEWEL E. ANN

meu-deus-que-sexo-de-outra-dimensão que acabou de


acontecer, foi a melhor proposta do mundo. Eu estava certa
na China por me preocupar com você se atrapalhando,
Monaghan. Erro clássico de novato. Mas você se redimiu com
a melhor jogada de todos os tempos, vencedor de jogos.
Parabéns.”

Seu aperto na minha bunda se transforma em um


machucado. “Você está me parabenizando pelo sexo ou pela
proposta? Se é o sexo, então vou ficar chateado. Alguma vez
eu me atrapalhei com o sexo? Cite uma vez que você fingiu
um orgasmo comigo. Diga uma vez que você não gritou meu
nome tão alto...”
“Calma garoto.” Eu sorrio. “Você nunca se atrapalhou
com o sexo.”

Ele alivia o aperto. “Sinto muito... sinto muito. Eu deixei


o estresse me consumir. Eu estava com tanto medo de lhe
dar um segundo do meu tempo, porque sabia que nunca
seria suficiente. Não consigo encontrar o equilíbrio. Eu sou
um viciado em você. Não posso apenas tomar um gole, um
golpe. Nunca é suficiente e essa necessidade me consome.”

“Bem, no seu mundo tudo ou nada, eu não posso ser o


nada. No entanto, não poderia viver comigo mesmo se você
me desse tudo agora. Você tem outras pessoas contando com
você, e quero ver você fazer isso tanto quanto eles. Então não
me transforme no motivo pelo qual você odeia, me faça o
motivo pelo qual você o ama. Você pode ter os dois. Pare de
fazer uma escolha.”

Cage passa os dedos pelas minhas costas e passa-os


pelos meus cabelos, levantando minha cabeça para olhá-lo.
“Mas, para deixar tudo perfeitamente claro, pedi que se
casasse comigo e você disse que sim. Certo?”

Meu sorriso dá a resposta primeiro. “Sim. Eu vou me


casar com você.”
JEWEL E. ANN

“Porque em um ponto você disse que se eu lhe


perguntasse, você diria não. Então, tecnicamente, você não
pode culpar um sujeito por facilitar isso com um comentário
como ‘certo’. Ninguém gosta de ser rejeitado.”
“Fiquei confusa por termos tido essa conversa. Você já
me disse que ia se casar comigo, mesmo que tivesse que ‘me
arrastar para o altar e arrancar um sim’.”
Seu peito vibra com o riso quando ele dobra um braço
atrás da cabeça, inclinando o queixo para mim. “E você está
bem com esse meu pedido de casamento oficial?”

“Bem...” Eu dou de ombros “...sim. É caloroso e


espontâneo e um pouco de homem das cavernas.”
“Você quer que eu seja um homem das cavernas com
você?”
“Eu poderia pensar em coisas piores, e aposto que você
ficaria bem em pele de animal, carregando um pedaço de pau
ou de madeira para proteger sua mulher.”
“Eu... hum... desculpe, não. O papel dos neandertais
não funciona para mim.”
“Ah, então nós estamos encenando. Bem, então, acho
que o jogador de futebol é a sua área de especialização. Você
já teve relações sexuais com uma líder de torcida?”
Cage balança a cabeça. “Não vou fazer isso. De jeito
nenhum. Eu não vou brincar de ‘com quantas meninas você
dormiu?’ Você gosta de dizer o que somos e o que não somos.
Bem, este é um ‘não somos nós’. Se você pode pensar no que
aconteceu na última hora, então sabe que o que temos é uma
tempestade... um fenômeno explosivo maior que a vida... algo
muito além de qualquer comparação.”

Minha respiração fica presa no meu peito. Nós ainda


estamos caindo. Foda-se a gravidade. Meu amor por esse
homem está tão além da saúde que eu deveria ter me
comprometido. Eu me levanto e o beijo, e então esfregando
JEWEL E. ANN

meu nariz ao longo do dele, sorrio. “Mas, falando sério, com


quantas mulheres você dormiu?”

Ele me vira, me prendendo na cama. “Apenas uma que


eu gostaria de lembrar.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E SEIS


CAGE

Eu deixo minha Bela Adormecida com um cartão CAPÍTULO

ONZE ao lado da cama.


Lake: Acho que vou gostar muito desse capítulo! Eu estava pensando em dizer à
minha família que vou me casar. O que você acha?

Eu tomo o resto do meu café da manhã antes de me


encontrar com meus treinadores para assistir às imagens do
jogo do dia anterior.

“Pornô?” Grayson, um dos meus grandes receptores


senta-se na minha frente.
Continuo encarando a mensagem de texto de Lake.
“Melhor que pornô.”
“Não é possível.”

“Claramente você não conhece minha LAKE favorita.”


“Mmm... não, mas já vi fotos dela.”
Olhando para cima, estreito os olhos.

Ele levanta as mãos. “É tudo de bom. De bom gosto. E


por respeito a você, tenho uma cópia da revista na minha
mesa de centro, não na minha cama.”

“É bom saber que você valoriza sua vida.”


Cage: Quem é o sortudo?

Lake: Aquele com o rosto enterrado entre as minhas pernas agora.

Cage: Sei.

Lake: Estou enviando presentes de natal hoje. Ainda não tenho nada para sua
família, e o natal é em uma semana.
JEWEL E. ANN

Cage: já cuidei disso.

Lake: De verdade?

Eu sorrio. Grayson me dá um sorriso.


Cage: De verdade.

Lake: O que você quer?

Cage: Eu acho que você mencionou a área entre as pernas. Jogue caramelo nela
e pra mim está ótimo.

Lake: Sim, então vou ligar para minha família agora e contar a eles.

Cage: Eu não pedi permissão ao seu pai. Talvez você deva esperar até eu falar
com ele. Enorme pressão da minha parte.

Lake: Claro. Você está tentando engravidar a filha dele há semanas. Tenho
certeza de que nada sobre o pedido de casamento é uma pressão, mas uma reflexão
posterior a esse ponto.

Um bebê. Deus, posso ouvir Tom Jones me interrogando


sobre isso. ‘Você tocou na minha menina? Você gostou de
tocar nela?’
Cage: Seria estranho se casar e até ter filhos sem contar à sua família?

Lake: Um…

Cage: Esqueça que eu perguntei. Diga a eles oi. Tenho que ir. Eu te amo.

“Sexo por telefone?”

Eu balanço minha cabeça. “Grayson, você precisa de


uma vida.”
“O futebol é a minha vida.”
De pé, limpo a boca uma última vez e jogo o guardanapo
no prato vazio.
“Não é uma vida. É um jogo — você não joga para
sempre. Uma vida... arranje uma vida, cara.”

*
JEWEL E. ANN

LAKE

O cara.
O pedido de casamento.
O anel.

Em janeiro eu já tenho tudo. Eu devo a Deus um pedido


de desculpas. Sonhos realmente se tornam realidade.

“É muito grande?”

Com o nariz na geladeira, de costas para mim, como ele


sabia que eu estava olhando para o meu anel?

“É.” Eu balanço meus dedos, sorrindo enquanto a luz da


manhã entra, espalhando um caleidoscópio de cores pelo teto
e paredes.
“Eu deveria trocá-lo.” Ele se vira, enchendo um copo
grande de suco de laranja.
Meus olhos permanecem colados à minha mão
esquerda, enquanto a direita tira manteiga de avelã de
chocolate dos meus waffles. “Você não deveria.”
“Seus pais sabem que tenho ingressos para os playoffs?”

“Uh huh.” É realmente perfeito — um diamante simples


e redondo. Um grande solitário sentado no topo de uma
banda de diamantes e safiras e platina.
“Eles estão nas arquibancadas com minha família. Você
está na cabine com Shayna e as famílias dos investidores.”

Eu volto meu olhar para ele. “Você está sendo


superprotetor.”

“Merda difícil.” Ele tira meu cabelo das minhas costas e


a beija, deixando seus lábios permanecerem até que minha
pele está coberta de arrepios e meu corpo treme. “Seus dias
de sentar nas arquibancadas acabaram. Além disso, não pedi
JEWEL E. ANN

um lugar na cabine, Gretchen, a esposa do proprietário,


insistiu que é onde você e Shayna devem se sentar após o
incidente.”
“Porque eles não querem perder outro jogo por causa do
quarterback salvando a namorada ferida durante o jogo.”

“Seria minha noiva ferida agora, mas tenho certeza de


que há mais de uma razão para a generosidade deles. Mais
uma vez, não dou a mínima. Sua segurança é minha
prioridade número um.”

Passo a língua no meu dedo e me viro para ele,


prendendo meus dedos nos passadores do jeans desbotado.
“Isso te assusta?”
Ele aperta os olhos. “O que?”
“Isso? Nossa vida? Parece perfeito demais? Nós… sua
temporada quase perfeita… a possibilidade real de vencer o
Super Bowl?”
Ele encolhe os ombros. “Um jogo por vez. Um dia de
cada vez.”

“Uma esposa de cada vez?” Eu sorrio.


Torcendo o anel no meu dedo, ele sorri. “Uma esposa
por toda a vida.”

Ele é bom, muito bom.


“Estou com medo.” Meus lábios exibem um sorriso
residual para esconder a verdadeira profundidade do meu
medo.

A mão de Cage desliza por trás do meu cabelo,


segurando gentilmente meu pescoço enquanto ele se inclina e
me beija. “Do que você está com medo?” Ele sussurra sobre
meus lábios.

“Acho que estamos muito chapados. Receio que o


universo — Deus — exija equilíbrio novamente. Receio que
JEWEL E. ANN

paremos de cair quando o chão nos atingir.” Descanso


minhas mãos no peito dele. “Eu tenho medo do chão.”

Descansando a testa na minha, ele a rola de um lado


para o outro. “Foda-se a gravidade.”

*
Para cima.

Para cima.
Para cima.

Minnesota chega ao Super Bowl e eles fazem isso no ano


em que Minneapolis será o anfitrião do jogo. As coisas não
podem melhorar. Estou noiva de uma estrela do esporte. Nem
sequer importa que todos os tabloides idiotas digam que
estamos nos traindo. Gravidade? Não estamos mais caindo.
Nós estamos voando.
“Apenas continue andando.” Flint e vários guarda-costas
me levam através do mar de fãs inundando o campo.
Confetes caem sobre nós quando a celebração dos campeões
da NFC em campo atinge o seu auge.
Eu não posso vê-lo.

Não posso vê-lo.

E então... eu o vejo e somente ele. Eu mal posso


respirar. Ele está atrás do palco vestindo sua camisa e boné
de campeonato. Ele parece um garoto que acabou de laçar a
lua. Entregando-me uma bola de futebol, a que ele recolheu
na end zone no jogo final do jogo, Cage balança a cabeça.
Então passa os braços em volta de mim e me levanta do chão.

“Agora é real. Deus eu te amo! Nada na minha vida é


real até que eu esteja compartilhando com você.” Ele me beija
e amo que ele não consegue conter o sorriso por tempo
suficiente para me beijar.
JEWEL E. ANN

“Parabéns! Bela maneira de não fazer trapalhadas,


Monaghan.” Eu sorrio, mordendo meu lábio inferior, sentindo
a alegria de tudo no meu próprio rosto.
Dez segundos. É o tempo que temos em nossa pequena
bolha antes que Flint e o grupo de seguranças sucumbam à
multidão de jogadores, fotógrafos e fãs.
“Vamos.” Cage pega minha mão e me leva para as
escadas subindo a parte de trás do palco onde será
apresentado o troféu.

Eu balanço minha cabeça, tentando tirar minha mão do


seu alcance. “É tudo seu.”

“Eu vou jogar você por cima do meu ombro.” Suas


sobrancelhas se levantam.
Meus olhos rolam como de costume quando cedo e o
sigo para o palco.
Gretchen, a esposa do proprietário, coloca o braço em
volta da minha cintura, mantendo-me firme enquanto Cage
toma seu lugar no centro das atenções com o marido e o
treinador quando o locutor começa a apresentação. Eu
preciso do apoio dela. Meu corpo inteiro treme de adrenalina.

“Encante as câmeras sorrindo. Eles também amam você,


sabe.” Gretchen pisca.
Eu não tenho tanta certeza de que ‘eles’ me amam
também. Tenho certeza de que há um grupo no Facebook
intitulado ‘Eu odeio Lake Jones’, com milhares de mulheres
invejosas batendo na garota sem a perna. O Facebook é um
festival de merda assim.

Eu não consigo ouvir nada além do meu próprio coração


batendo forte e o fluxo de sangue nos meus ouvidos. Alguns
minutos depois, Cage se vira, segurando um troféu de futebol
grande em uma mão e me alcançando com a outra. Ele me
beija enquanto um mar de flashes inunda o estádio e mais
aplausos irrompem.
JEWEL E. ANN

“Foda-se a gravidade”, ele sussurra no meu ouvido antes


de se virar para a multidão novamente.

Eu sorrio, mas por baixo está a pior sensação do


mundo. Um nó em meu íntimo se aperta tanto que acho que
poderia me curvar. Nós estamos muito chapados.

Muito. Chapados. Demais…

*
Volto com meus pais para que Cage termine suas
entrevistas pós-jogo. Paramos na farmácia para eu pegar um
creme dental. A bolsa que levo de volta ao carro tem uma
caixa de testes de gravidez, nenhuma pasta de dente. Meus
pais não são os mais sábios.
Brooke, Rob e as meninas nos abraçam e têm caixas de
pizza e cerveja esperando por todos.
“Você está se sentindo bem, querida?” Minha mãe
pergunta enquanto me dirijo para o nosso quarto.
Eu me viro, forçando um sorriso, o que é difícil de
acontecer com todo mundo praticamente brilhando. “Sim. Foi
apenas um dia louco. Bom, mas louco. Vou colocar minha
pasta de dente no banheiro. Eu volto já.”

Minha mãe assente, mas o ceticismo cobre sua testa.


Rasgando a caixa, puxo a primeira vareta.
Negativo.

O segundo e terceiro testes também são negativos.

“Merda.” Olho para o meu reflexo despenteado no


espelho. Quero tanto estar grávida, porque isso significaria o
pior sentimento de todos os tempos, pelo melhor motivo de
todos os tempos. Em vez disso, estou sentindo como se uma
bomba estivesse esperando para explodir. Por quê? Eu não
tenho ideia. É apenas uma sensação. Tão forte que me sinto a
beira das lágrimas. Eu ainda não consigo definir aquilo.
JEWEL E. ANN

“Cage!” Hayden e Isa gritam em uníssono.

Abro a torneira e jogo água fria no rosto. “Recomponha-


se”, eu murmuro na toalha enquanto rapidamente enxugo
meu rosto.

Espio pelo canto para a festa na cozinha.

Sorria. Apenas sorria.

Cage se vira, pousando a garrafa quase vazia de sua


bebida eletrolítica. “Ei.”

Eu sorrio. Parece todo tipo de erro, mas sorrio de


qualquer maneira. “Ei.” Ignorando o câncer que me come por
dentro, entro em seus braços à espera.

Seus lábios pousam perto do meu ouvido. “Nós


deveríamos colocá-los em um bom hotel”, ele sussurra. Sua
ereção firme no meu ventre me diz o porquê. Aparentemente,
chegar ao Super Bowl causou-lhe excitação extrema.
Eu deveria compartilhar seus desejos desesperados,
mas a nuvem do mundo que paira sobre mim não permite
nenhum sol na minha libido.
“Meninas, hora de dormir.” Brooke sorri para nós e
minha mãe também.

O calor sobe pelo meu pescoço. Elas sabem exatamente


o que o Sr. Sensação dos Esportes está sussurrando para
mim.

“Sr. Jones.” Minha mãe cutuca meu pai, que ainda tem
uma cerveja em uma mão e meio pedaço de pizza na outra.
“Hora de dormir. Estou muito cansada.”

Parece uma recepção de casamento, onde todos sabem


exatamente o que os noivos estão se preparando para fazer,
exceto que no cenário do casamento que eles não estão
fazendo aquilo na mesma casa que os pais e crianças de oito
anos.
JEWEL E. ANN

“Boa noite, meu garoto.” Brooke abraça Cage e sua voz


abaixa um pouco. “Seu pai teria ficado tão orgulhoso.”

Cage engole em seco e assente. Desvio o olhar, piscando


de volta minhas próprias lágrimas.

Meu pai me dá um abraço e depois aponta para Cage.


Cage sorri. “Muito bem, Lake.”

Reviro os olhos.

“Ele não pediu minha permissão para casar com você,


mas vou deixar passar se ele for nomeado o Melhor Jogador
em Campo do Super Bowl.”
Uma leve contração do rosto de Cage. Ele queria pedir
ao meu pai.
“Boa noite, Papai.”
Ele me solta e dá um tapinha no ombro de Cage
enquanto segue minha mãe até a saída.
“Quarto”, Cage murmura para mim enquanto estamos
sozinhos na cozinha.

“Eu deveria arrumar a coz... Cage!” Eu grito, mas não


antes que ele me jogue por cima do ombro, me levando para o
quarto como o homem das cavernas que alega não ser. “Tire
sua roupa”, ele exige no segundo em que meus pés tocam o
chão. A fechadura clica. Ele me encara com um olhar
faminto. “Tira.”
Respirando fundo, puxo meu suéter por cima da cabeça.
Seus olhos pousam nos meus seios por alguns segundos
antes de tirar a camisa. “Continue.” Um sorriso travesso
brinca ao longo de seus lábios.

“Minhas botas”, sussurro.

Ele se ajoelha diante de mim, tirando minhas botas


amarelas e deslizando para baixo a calça jeans, firmando-me
com uma mão na cintura enquanto com a outra termina de
tirar a calça pelas minhas pernas. Erguendo-se de joelhos,
JEWEL E. ANN

seus lábios pressionam meu umbigo enquanto suas mãos


deslizam atrás de mim, soltando meu sutiã. “Tão linda...”, ele
sussurra sobre minha carne.
Fecho os olhos, sentindo nada além da única lágrima
que desliza pela minha bochecha.

“Querida...”, o dedo do polegar a pega, traçando seu


caminho de volta ao meu olho. “O que há de errado?”

Muito. Chapados. Demais…


“Eu estou assustada.”

Ele balança a cabeça, me abraçando em seu corpo


enquanto está de pé, me levando com ele. Ele me coloca de
volta na cama, cobrindo minha boca com a dele. Nossas
línguas deslizam juntas e mais lágrimas arranham seu
caminho enquanto ele geme dentro de mim. Quando ele sai
da cama para tirar a calça, viro a cabeça e enxugo
rapidamente os olhos.
“Lake, olhe para mim.”

Engolindo em seco, mostro-lhe meus olhos.


Ele desliza minha calcinha enquanto se arrasta pelo
meu corpo, nunca tirando os olhos dos meus. “Não tenha
medo. Você é o meu mundo. Eu vou protegê-la com a minha
vida. Você sabe disso, certo?” Sua boca desce.
Meus olhos se fecham quando sua língua circula meu
mamilo. Por que é uma dor tão bonita? Tão linda.

Ele se enterra dentro de mim, seus lábios saboreando a


pele ao longo do meu pescoço.

Eu sinto... nada. Meus olhos permanecem fixos no teto


branco.
Sinto-me... entorpecida. Minhas mãos se movem contra
a parte de trás de sua cabeça quando ele se movimenta
dentro de mim.
JEWEL E. ANN

Eu me sinto... morta. Meu coração desacelera...


desacelera... desacelera...
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E SETE


Sonhos do pior tipo

“NÃAOO!”

Levanto na cama. Meus pulmões ofegam por ar como


um bebê dando o primeiro suspiro, mas parece mais o meu
último, enquanto o suor escorre pela minha testa e rola por
todo o meu corpo, sendo absorvido pela minha camisola.
“Lake!” Cage me puxa para seus braços. “Shh... estou
com você.”

Eu choro.
“Está tudo bem... shh... foi apenas um sonho, bebê.”
Não foi. Os sonhos não afundam suas garras na sua
alma e a rasgam em pedaços. Coloco meus braços em volta
do pescoço dele e o aperto. “Não vá. Por favor, não vá.”

“São três da manhã. Eu não estou indo a lugar


nenhum.”

Mantendo um abraço mortal em volta do seu pescoço,


balanço a cabeça. “Estou assustada.”

“Ei.” Ele tira meus braços do pescoço e acende a


lâmpada.

Nós dois apertamos os olhos contra a queima inicial de


nossas pupilas.

“Olhe para mim.” Ele segura meu rosto. “O que está


acontecendo com você? Este é o seu terceiro pesadelo na
semana.”

“Você em campo... machucado.”


“Estou aqui. Estou bem. É apenas um pesadelo. Ok?”
JEWEL E. ANN

“É tão real...”

“Não é. Estou aqui. Você pode me tocar. Estou bem.


Você está bem... nós estamos bem.”

“Não vá...”, sussurro.

Ele tira minha camisola encharcada, pega sua camiseta


branca do final da cama e a coloca sobre minha cabeça. “Eu
não vou a lugar nenhum.” Depois de desligar a luz, Cage
coloca minhas costas em seu peito e me segura firme até que
o sono vem para mim novamente.

*
“Deve ser sério.” Luke sorri, parado na porta.

Toda a minha família e Cage estão em Minneapolis para


o Super Bowl, que está a apenas três dias. Cage tem uma
casa grande, mas não grande o suficiente para todo o clã
Jones, então todos, exceto nossos pais, ficam em um hotel.

“Onde estão Jessica e as crianças?”

“Eles ficaram no hotel. Você disse que precisava falar


comigo... você disse que era realmente importante, então eu
vim sozinho.”

Eu concordo, fechando a porta atrás de nós.

“Onde estão os pais de Cage?”


“Eles levaram Hayden e Isa para fazer compras.
Shopping da América.”

Luke assente, sentando-se na cadeira lateral listrada em


preto e branco mais próxima das janelas da cozinha.

“Café? Chá? Cerveja? Vinho?”

“Água.” Ele sorri. “Você parece...”

“Você quer dizer um fodido náufrago nervoso?” Entrego-


lhe o copo de água e me sento em frente a ele.
JEWEL E. ANN

Ele toma um gole. “De irmão para irmã? Sim. Você


parece um náufrago nervoso. Eu estava fazendo o papel de
médico educado.”
“Você acredita em premonições?”

“Sexto sentido? Eu lidei com pacientes que tiveram


premonições. Não é um fenômeno bem compreendido, mas
não sou contra a possibilidade de algumas pessoas os terem.”

“Deus!” Eu balanço minha cabeça, passando os dedos


pelo meu cabelo. “É por isso que nunca falo com você sobre
essa merda. É uma pergunta simples, sim ou não.” E assim...
me atinge o quanto esse sentimento me afeta. Não é isso que
eu quero dizer a Luke.
Sua testa franze. Ele sabe disso também. “Sim”, ele diz
em voz baixa. “Acredito que as pessoas têm premonições...
sentimentos em seu interior que são verdades absolutas. Às
vezes é apenas uma sensação. Às vezes é mais vívido, algo
que chega a eles em um sonho. Eu tive um pressentimento
com Jess. Meu íntimo sabia que algo estava terrivelmente
errado antes que minha cabeça pudesse entender. Eu
apenas... sabia.”
Balanço a cabeça, olhando pelas janelas o sol brilhando
na neve como diamantes. Limpando as lágrimas das minhas
bochechas, respiro fundo. “Começou como uma sensação
para mim, como um câncer tomando conta do meu íntimo.
Tive dores físicas, mas depois...”, engulo em seco, “…eu tive o
sonho — pesadelo. Tão claro, tão real. O campo. O relógio do
jogo mostrando exatamente um minuto restante. Cage
estava...” Mais lágrimas correm pelo meu rosto. A dor foi real.
O sonho foi real.

“Cage estava?”
Eu olho para Luke. “Sem vida.”

Luke deixa minha confissão afundar enquanto assente


lentamente. “Ferido?”
JEWEL E. ANN

“Paramédicos. Treinadores. Jogadores de joelhos. E a


multidão... silenciosa. Mas Cage, ele não se move, nem um
músculo.”
Depois de mais alguns momentos de silêncio, eu sorrio
entre as lágrimas. “Diga-me que é loucura. Diga-me que
estou maluca. Diga que é impossível. Por favor, por favor, me
diga uma coisa que faça isso ir embora.”
Luke não diz nada, apenas me olha com o que parece
pena.

“Diga alguma coisa”, imploro.


“Sinto muito.” Ele balança a cabeça.

Eu pulo da minha cadeira, lançando-a ao chão de


ladrilhos e gritando. “Você sente muito? O que isso significa?
Você sente muito, pois estou ficando louca? Você sente muito
pois não há nada que possa fazer? Não há nada que eu possa
fazer?” Eu puxo alguns punhados do meu cabelo. Estou
maluca. Loucura é uma merda.
“Todas essas opções.”

“Isto não é justo. Você é um maldito psiquiatra! Diga o


que fazer.”
“Fale com ele.”

Eu sorrio, o tipo de risada lunática. “Fale com ele?


Brilhante, Luke. Eu disse a ele que estou com medo. Ele sabe
que tenho tido pesadelos.”

“Você disse a ele por que está com medo?”

Eu balanço minha cabeça. “Foi apenas uma sensação,


durante muito tempo. Não havia nada para contar.”

“E você contou a ele sobre os sonhos?”


“Ele sabe que eu os tive, mas não sabe exatamente do
que se trata.”
“Conte a ele.”
JEWEL E. ANN

Eu resmungo. “E então o que? Você realmente acha que


ele não vai jogar? É o auge da carreira de um jogador de
futebol. É a maldita razão de eles fazerem o que fazem. Ele
não vai simplesmente não jogar porque eu tive uma
premonição ou um sonho.”

“Você está certa. Ele ainda vai jogar o jogo.”


“Então qual é o objetivo?”

“O ponto é que você terá feito tudo o que poderia fazer.”


“Mas ele ainda vai jogar?”

“Sim.”

“E se machucar ou morrer ou o que diabos meu sonho


quis dizer.”
“Pode ser apenas um sonho.”
“Ou talvez não.”

Luke assente devagar. “Ou talvez não.”


Deus me odeia. Nem sei o que fiz, mas ele me odeia.

“Acho que damos a Deus crédito demais pelas coisas


que ele não controla e insuficiente pelas coisas que ele
controla.” Ele se levanta. “Eu tenho que ir. Tenho uma esposa
que quer tomar banho.” Puxando-me em seus braços, ele
sussurra ao lado da minha orelha: “Fale com ele e depois...
ore.”

*
Deveria ter sido fácil fazer Cage entender meu
pressentimento. Afinal, toda a equipe mantém um horário
rígido — refeições, treino, entrevistas, hora de dormir.
Ninguém muda nada. Para um monte de homens que não
querem se desviar nem um pouco do horário normal por
medo de estremecer as coisas, minha premonição não deveria
ser um fenômeno tão absurdo.
JEWEL E. ANN

Errado.

“A segurança será rigorosa. O número de pessoas


enlouquecidas será dobrado. Fique com Flint ou com um de
seus irmãos o tempo todo. Certo?” Cage fecha a mala.

Eu não tenho uma unha inteira, e a parte interna da


minha bochecha e meu lábio inferior estão roídos até nada.
“O que você acha de premonições?”

Cage ri. “Eu as tenho o tempo todo. Geralmente sobre


jogadas em um jogo.”

“E estão sempre certas?”


Ele dá de ombros quando enfia os pés nos tênis. “As
vezes. Por quê?”
“Meus pesadelos?”
“Sim?”
“Eles falam sobre mim e neles você se machuca.”
Ele me olha, arqueando uma sobrancelha. “Sério?”

Eu assinto.

Cage parece pensar sobre isso e, por um momento


fugaz, penso que ele fará ou dirá algo para mudar o que
parece ser o destino. “Eu tive alguns sonhos doidos
ultimamente também.” Ele diz. “Venha aqui.”

Dou passos cautelosos em direção a ele. Com o


sentimento de morte iminente parece que cada passo e cada
toque será o nosso último. “Não tenho tanta certeza de que
seja loucura. E se não for?”

Ele embala meu rosto em suas mãos e sorri. Tudo sobre


mim é uma ilusão. Estou segurando isso por dentro. Estou
morrendo e ele não pode ver.
“No seu sonho, pelo menos vencemos o jogo?”
“Foda-se.” Eu me afasto.
JEWEL E. ANN

“O que? Ei...” Ele agarra meu braço e me puxa de volta


para ele. “O que está acontecendo? Eu estou brincando.”

“Bem eu não estou! Eu tenho esse sexto sentido sobre o


jogo. Antes de sonhar, eu me sentia fisicamente doente e
simplesmente não tinha ideia — nem palavras — para
explicar adequadamente esse sentimento iminente de pavor.
Mas então eu tive os sonhos e você estava no campo
completamente sem vida com todos ao seu redor e o estádio...
congelado em silêncio e... e... o relógio parado, marcando um
minuto. Um!”
“Lake...”, ele balança a cabeça. “Eu não estou tentando
descartar seus sentimentos. Só não sei o que você quer que
eu faça? Não jogar? É isso que você está pedindo?”

Eu não sei o que estou pedindo. Quero que ele jogue


tanto quanto não quero que ele jogue. É a pergunta mais
impossível de responder. A decisão mais impossível de tomar.

Limpando meu rosto, dou um sorriso triste. A dor atinge


um tédio entorpecido. Tudo que posso sentir é a batida do
meu coração, porque ele está diante de mim. “Não sei o que
estou pedindo, então acho que não estou pedindo nada. Eu
só tinha que lhe contar, e sinto muito, porque sei como é
egoísta da minha parte falar isso a você agora, mas eu...”
Ele me abraça muito. Droga. Foda-se.
“Eu te amo”, sussurro. “Isso é tudo que você realmente
precisa saber.”
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E OITO


Um minuto

CAGE

Minha vida em flashes:

Lake.

Meu pai.
O momento do impacto.
A multidão.
Os lábios de Lake se movendo ao longo da minha pele.

O suor.
A luz no fim do túnel entra em foco.

Meu coração batendo forte no peito.


O rugido de 73.000 pessoas.

Meus pulmões lutando para respirar.


As costas de Lake se arqueando, olhos fechados, lábios
entreabertos, enquanto monta meu corpo nu.
A voz da minha mãe no meu ouvido.

Apertando minha mão repetidamente para evitar que ela


tremesse enquanto as bandeiras tremulam e alguém canta a
nota final do Hino Nacional.

Lágrimas de Lake.
Ela se afogando. Porra, se afogando em suas lágrimas.
JEWEL E. ANN

Uma moeda girando repetidamente no ar a caminho da


grama.

O eco da minha própria voz gritando.

E então... silêncio.

*
LAKE

Por favor, Deus... desta vez... apenas por favor não o leve.
Eu farei qualquer coisa.
Eu tenho o cartão que ele deixou na minha bolsa.
CAPÍTULO DOZE

Lake: Mantenha sua cabeça no jogo. Minha premonição foi apenas um


momento de insanidade. Aproveite este momento. Você merece! Amar você é o maior
prazer da minha vida. Mal posso esperar para ser sua esposa. <3

Eu não sei se ele verá isso antes do jogo, mas meu


nervosismo diminui ao pressionar enviar.

“Você vai?” Jessica agarra minha mão antes de Flint me


escoltar para a cabine do proprietário.
“Luke disse a você.” Olho por cima do ombro para o
resto da família, animada. Luke está de costas para nós.
Todos nós devemos muito a Penny por cuidar das crianças.
Jess esbarra na minha mão. “Eu acho que você mexeu
com a cabeça dele também.”

Eu balanço a cabeça, forçando um sorriso. Nunca quis


trazer de volta más lembranças para o meu irmão. “Eu não
deveria ter dito nada.”

Jessica se aproxima, apertando minha mão com mais


força. “Ele é forte como seus pais... talvez mais forte. Mas
você...” Ela sorri. “Você sou eu... talvez até mais forte.
Sobreviventes não são fabricados. Eles nascem. Você é uma
de nós.”
JEWEL E. ANN

“Ele pode se machucar.”

Ela assente. “Ele poderia.”


“Ele poderia...” Eu não posso nem dizer.

Ela assente. “Ele poderia.”


A mulher que eu idolatro desde o dia em que a conheci
acredita em mim. Não me sinto merecedora. Eu me sinto
como a garota que construiu seus sonhos em um homem —
um mortal — e tudo está pronto para desmoronar, me
levando em seus destroços.

“Ele é tudo para mim.”

Jessica balança a cabeça. “Ele é um momento.”


“Eu não estou pronta para esse momento acabar.”
Ela sorri, um sorriso pequeno, doloroso e cheio de seus
próprios momentos perdidos.

“Pronta?” Luke pega a mão de Jessica.


Respiro fundo e converto-o em um sorriso para aqueles
que seguram minha mão a vida inteira. “Vai, Minnesota! Vejo
vocês do outro lado.” Agarrando o braço de Flint, eu o sigo até
a cabine da equipe.
Gretchen me cumprimenta imediatamente. “Aí está
você!” Ela me abraça. “Pegue uma bebida e algo para comer.
Você está pronta?”
Eu não estou. Estou tão despreparada.
“Você não tem ideia.” Meus lábios puxam um sorriso
tenso.
“Não é um lugar ruim para ele estar apenas no segundo
ano.”

É o pior lugar de todos os tempos, eu sou a única que


vejo isso.
JEWEL E. ANN

*
Ben morreu e eu vivi.

Eu quero o coração. Quero o seu beijo. Eu quero aquela


menininha.

Não tem que haver uma razão para ele morrer e eu viver.
A vida é um milhão de coisas e algo profundamente diferente
para todos, mas despojada de sua verdade mais simplista, a
vida sempre é uma experiência.

Se houver um Deus, talvez ele realmente não me odeie.


Talvez ele me ame. Talvez ele me amou o suficiente para me
deixar experimentar a vida — sem limitações.
Eu amo Cage. Eu o amo o suficiente para deixá-lo
experimentar a vida — sem limitações.
Ao me sentar, vejo Monaghan no campo. É a experiência
para ele. Chamar aquilo de oportunidade única na vida é um
eufemismo.
O sonho de um menino.

O momento de maior orgulho de um pai.

Eu espero que AJ esteja assistindo seu filho.

Se Deus realmente sabe tudo, então ele sabia que Ben


iria morrer e eu viveria. Ele deixou a vida acontecer. Eu não
tenho outra escolha a não ser experimentar o dia — o
momento — com 73.000 outras pessoas.
“Você está tremendo.” Gretchen descansa as mãos nas
minhas que estão cruzadas no meu colo. “Gene jogou no
Baltimore há muitos anos. Você sabia disso?”

Eu balanço minha cabeça. Cage não fala muito sobre os


donos da equipe a não ser para dizer o quão grato está pela
oferta deles em me deixar sentar com eles.
“Ele também era quarterback. Nós nos conhecemos na
faculdade e nos casamos no verão antes de sua temporada de
JEWEL E. ANN

estreia. Eu acabei com uma úlcera em sua primeira


temporada. Estava tão preocupada com todos os ataques,
todas as quedas... para nós, não se trata da vitória. Todo jogo
que seu homem sai do campo sozinho é uma vitória.” Ela
aperta minhas mãos. “Sinto o cheiro de vitória hoje.”

Eu quero saber se as palavras dela são uma premonição


ou apenas besteira para me impedir de vomitar em seus
sapatos caros. Eu não pergunto.
Sessenta minutos no cronometro e quatro
oportunidades para ler 1:00.

Por favor, deixe que seja apenas um pesadelo.

No final do primeiro tempo, Cage ainda está bem e


Minnesota está sete pontos à frente.
No acréscimo, aos 14 minutos, Cage não está apenas
bem, ele faz uma jogada de quarterback e marca com três
segundos restantes no relógio. Ele não pode me ver, mas sabe
exatamente onde estou. Ele beija dois dedos e aponta-os para
a minha direção. Gretchen me abraça. Meu coração ainda
não está batendo.

Denver empata com dois minutos restantes no relógio


no quarto tempo. Assim como eu fiz nos três tempos
anteriores, prendo a respiração durante cada jogada, pois os
números no relógio estão andando. Eu só tenho que
sobreviver mais uma vez, que o relógio marcará 1:00.

Um minuto e dez segundos... o jogador do meio passa a


bola.

Nove segundos, Cage dá vários passos para trás e


levanta o braço pronto para jogar.

Oito segundos.
Sete segundos.
JEWEL E. ANN

Seguro meu estômago. Que dor? Isso dá um soco no


meu estômago. “NÃO!” Eu grito, forçando-me a ficar de pé
como se de alguma forma ele fosse me ouvir no campo.
Todo mundo na cabine olha para mim em choque de
olhos arregalados.

Cinco segundos

Quatro segundos

“Nããão!” Eu seguro minha camisa sobre o meu coração.


“CAGE!”

Ele traz a bola de volta ao peito, protegendo-a, depois


corre com ela.

Três segundos
Abaixando a cabeça e curvando os ombros, ele colide
primeiro com um defensor.
Dois segundos.
Todos os olhos na cabine desviam de mim para ele,
quando Cage cai no chão.
Um segundo.
Bato minhas mãos contra o vidro. “CAGE!”

Com o relógio parado em um minuto, meu mundo fica


sem vida no campo. Treinadores, treinadores e médicos
correm até ele e aquele silêncio sinistro se espalha pelo
estádio.

Gretchen abraça minhas costas. “Está tudo bem, ele


ficará bem.”
Eu balanço minha cabeça, lágrimas escorrendo pelo
meu rosto.

Foda-se o destino.
Fodam-se as premonições.
JEWEL E. ANN

Foda-se a vida.

Ben morreu e eu vivi. Besteira... naquele momento eu


estou longe de estar viva. Se Cage partir, eu também quero ir.

*
CAGE

“Me ajude... eu...” Minhas palavras não encontram a


voz. Meus pulmões imploram por ar. Não consigo me mexer.

Antes que os médicos cheguem a mim, vejo nos rostos


dos meus colegas de equipe — medo.
Por que minhas mãos não se mexem? Minhas pernas...
eu posso senti-las, mas não consigo movê-las. Meus
pulmões... o que diabos há de errado com meus pulmões. Por
que não estou respirando? Pequenos sopros de ar, isso é tudo
que posso aguentar. Não é o suficiente.
Eles me fazem tantas perguntas enquanto passam por
todas as suas verificações comigo.

“Junte suas pernas”, instrui um dos médicos.

Não posso.

Lake. Ela sabia.


Eles arrancam minha máscara e me colocam na maca,
amarrando-me enquanto alguém segura os dois lados do meu
capacete.

Eu fico paralisado.

Eu não consigo respirar.

Lake. Ela sabia.

“Você pode mexer a mão?” Pergunta um dos médicos.


JEWEL E. ANN

Meu polegar se move, mais parecido com uma


contração, mas isso é tudo. Mais de setenta mil pessoas no
estádio, e tudo que posso ouvir é meu coração. Parece fraco.
Lake. Onde está minha LAKE? Eu odeio que ela esteja
vendo isso. O que eu vou fazer? Não posso segurá-la e dizer a
ela que tudo ficará bem. Será? Eu a abraçaria novamente?
Então começa — medo. Estou tão assustado.

Estou paralisado? Eu voltarei a andar? Por que é tão


difícil respirar?

Lake... ela sabia...


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO TRINTA E NOVE


Definindo Sorte

LAKE

Após ficar debruçado em sua cadeira, com a cabeça


entre as mãos, Luke finalmente olha para mim. Se eu não
estivesse completamente entorpecida, acho que a dor em sua
expressão teria penetrado profundamente em meu coração.
Eu ainda tenho um coração batendo? Já não consigo
sentir.
“Eu deveria te...” Ele balança a cabeça.

Jessica descansa a mão no joelho dele. Além de Cage,


nós três somos os únicos que sabem da minha premonição.
Eu quero dizer à mãe dele que é minha culpa. Que deveria ter
feito mais para detê-lo. Antes do jogo, eu me convenci a
acreditar que o que quer que acontecesse não passaria de
livre arbítrio... vida.
Observar seu corpo mole sendo retirado do campo em
uma maca muda tudo. Culpa. Isso é tudo que eu tenho. Em
questão de segundos, ela me suga e me engole inteiro.
Horas depois, eles terminam os exames e o transferem
para a UTI.
“Vamos lá, Lake.” Brooke estende a mão quando a
enfermeira dá permissão à família para vê-lo pela primeira
vez.

Olho fixamente para a mão dela. Além de meus olhos


mudarem de um objeto inanimado para outro ao longo de
algumas horas, não acho que realmente me mudei da minha
posição na cadeira. Se o choque completo tem alguma
JEWEL E. ANN

aparência, tem que ser eu. Mesmo quando a sala de espera


fica lotada de jogadores que vêm vê-lo diretamente depois do
jogo, eu não me mexo. Não posso.
“Querida, você pode ir vê-lo agora.” Minha mãe toca meu
braço.

Meus olhos se voltam para a mão dela; outra coisa para


focar até meus olhos vidrarem novamente, tirando tudo fora
de foco e voltando para o espaço vazio da minha mente onde
nada faz sentido.

Jessica se curva na minha frente, pegando meu rosto


em suas mãos com um aperto firme. “É isso. É aqui que você
se afoga ou nada. É aqui que os sobreviventes são separados
das vítimas.” Ela agarra minha perna, minha perna protética.
“Você é uma sobrevivente. Levante-se.”
Tenho certeza de que as pessoas ao nosso redor pensam
que ela está sendo insensível. Eu sei o contrário. Ela me ama
demais para me ver ser uma vítima. Existe uma razão pela
qual a idolatro por tanto tempo.
Ela se levanta e estende a mão. “De pé.”

Um silêncio sinistro envolve toda a sala de espera. A


dormência começa a desaparecer, e a primeira coisa que sinto
é uma sala cheia de olhos em mim. Meu corpo nu circulou ao
redor do mundo em uma revista com um grande número de
leitores. Entreguei tudo para todos sem medo, mas estou com
tanto medo de dar os trinta passos que me separam de Cage.
Eu fico de pé.

Jess aperta minhas mãos. “A força reconhece fraqueza.


Ela tem um respeito saudável, mas nunca se submete.
Entendeu?”

“Entendi”, eu sussurro. Girando, sigo Brook até a UTI.

*
O olhar.
JEWEL E. ANN

Recuso-me a ter esse olhar. É o olhar que minha mãe e


meu pai exibiam quando saí do meu coma. O olhar estamos
tão felizes que você está viva, seguido do olhar que seu corpo
está tão bagunçado.

Brooke? Ela tem esse olhar no segundo em que


entramos no quarto. Eu canalizo toda a maldita força que
posso de algum lugar desconhecido e colo no meu rosto para
não ter nenhuma reação. Não é fácil, considerando os zilhões
de fios e máquinas presos ao corpo, o pescoço em uma cinta
enorme.

“Oi.” Sua voz é suave, um pouco trabalhosa, quando


seus olhos se voltam para Brooke.

“Ei.” Ela descansa a mão na dele. Não vacila. “Como


você está se sentindo?”
“Não estou sentindo muito... de nada.”
Eu dou outro passo em sua direção. Seu olhar se volta
para encontrar o meu.

“Capítulo Treze.” Ele tenta sorrir.

Não é engraçado. Não quero esse capítulo da nossa


história.
“Você sabia...” Ele sussurra.

Eu não sabia. Ele não pode ver isso? Se eu realmente


soubesse, teria me esforçado para mantê-lo fora de campo. A
verdade? Eu não sabia de nada e, ao vê-lo naquela cama de
hospital, parece que sabia de tudo.
“Sabia o quê?” Brooke olha para mim.

Eu balanço minha cabeça. “Nada.”

Ela volta sua atenção para Cage. “O médico nos disse


que é uma contusão na coluna vertebral e eles farão mais
testes amanhã, mas ele espera que você recupere todas as
funções corporais depois que o inchaço diminuir. Você
voltará a campo em pouco tempo.”
JEWEL E. ANN

Eu faço uma careta. Como ela pode dizer isso? Que mãe
vê seu filho sofrer um golpe que poderia ter acabado com sua
vida e diz isso? Eu amo Brooke, mas naquele momento perco
um pouco de respeito por ela. E espero que ela tenha dito
isso por ele e não por ela.

“Vamos ver”, diz Cage.


“Há uma tonelada de jogadores na sala de espera
querendo vê-lo, mas não vão deixar enquanto você ainda está
na UTI. Seu médico gostaria de te remover amanhã, terça-
feira, o mais tardar.”

Cage ri um pouco. “Ele disse que estou entupindo a UTI.


Até alguns pacientes que sabem que estou aqui querem vir
me ver. Bolsas de cateter, IVs e tudo. É louco.”
“Você parece tão sem fôlego.”
“Atingiu a área que controla minha respiração.”
Brooke estreita os olhos e assente. “Você venceu.” Ela
sorri um pouco. “Seus colegas de equipe por aí... eles estão
vestindo suas camisas e chapéus do Super Bowl
Championship.”
Cage sorri. Eu não vi nenhum sinal de movimento com o
resto do corpo, mas ele consegue sorrir apesar do elefante
gigantesco na sala — ele parece paralisado do pescoço para
baixo.

Brooke está sorrindo. Ele está sorrindo. Eu? Eu não


aguento mais um segundo. Essa fraqueza? Estou pronta para
reconhecê-la, mas exige o meu reconhecimento. Correndo
para o banheiro, pego meu cabelo e o afasto do rosto
enquanto vomito na privada.

“Oh, Lake...” Brooke esfrega minhas costas.


“Pobrezinha. Aqui.”
Enquanto desdobro meu corpo, sentindo um pouco de
alívio, ela me entrega uma toalha de papel molhada. Eu limpo
minha boca.
JEWEL E. ANN

“Eu sinto muito.”

“Não peça desculpas. Não sei dizer quantas vezes senti


vontade de fazer a mesma coisa desde que o tiraram do
campo. Nervos. Medo. Está cobrando seu preço em seu
corpo.”

Brooke está certa. Eu preciso me livrar daquele


sentimento que está me atormentando. É ridículo temer o que
já se concretizou. Cage está na UTI, paralisado — e eu não
posso fazer nada.

Saio do banheiro e dou de ombros enquanto Cage me


olha, sua testa franzida.

“Você poderia nos dar alguns minutos, mãe?”


Ela passa a mão sobre a dele novamente, depois sorri
para mim. “É claro.” As lágrimas em seus olhos não passam
despercebidas por mim. Brooke manteve-se forte para todos
os outros, mas em algum momento ela também terá que
soltar suas emoções.
“Obrigada”, sussurro antes que ela se vire para sair.

Eu apenas olho para ele. Não parece real.


“Lake... me toque.”

Meus olhos avançam em seu corpo. “Onde?”

Ele ri. “Qualquer lugar. Meu peito, meu braço, minha


perna. Coloque sua mão embaixo dos cobertores e acaricie
meu pau — só não tire meu cateter. Em qualquer lugar,
apenas me toque porque você está tão assustada agora.”

“Você não está?” Eu seguro minha mão várias vezes


antes de descansar no cobertor sobre o pé dele. “Você não
está assustado?”

“Demais da conta”, ele diz pouco acima de um sussurro


com uma voz crua que paira no ar como se fosse a primeira
coisa verdadeira que ele disse desde que caiu no campo.
JEWEL E. ANN

Coloco minha mão na perna dele e sobre seu quadril e


estômago até seu peito nu, descansando entre os fios de fios
e eletrodos presos a ele.
“Você é clarividente.”

Eu balanço minha cabeça. “Eu não sou.”

“Você sabia.”

“Eu não.” Afastando-me de sua cama, passo minhas


mãos pelos meus cabelos, respirando fundo quando dou as
costas para ele. “Eu não sei uma maldita coisa. Eu senti. Eu
sonhei. Tentei me esconder, negar. Desde que Ben morreu,
eu penso tudo. Eu vivo com medo constante de tomar a
decisão errada.”
Voltando para ele, pressiono minha mão na boca e
balanço lentamente a cabeça. “Não era uma premonição
sobre um avião que estava caindo que você poderia ter
tomado um voo diferente ou um acidente de carro que você
poderia ter tomado uma rota diferente. Era o maior dia da
sua carreira. Se você não tivesse jogado, nunca teríamos
certeza, mas sua carreira teria terminado. Você não podia
simplesmente não jogar porque sua namorada teve um
pesadelo.”

“Noiva.”
Paro um momento e depois assinto.

“Você não está jogando aos quatro ventos o casamento


por causa de algo tão trivial como eu não ser capaz de
caminhar ou ter uma ereção para você... certo?”
“Não é engraçado. Você está tentando fazer uma piada
de algo tão...”
“A alternativa é péssima. Se eu perder o humor, as
coisas podem ficar muito ruins.”

Eu não quero sorrir. Não é engraçado. “Dane-se você e


suas malditas covinhas.”
JEWEL E. ANN

“Eu amo o quão irresistível ainda sou para você, mesmo


com noventa por cento do meu corpo não funcionando
corretamente e o fedor que deve estar flutuando do meu
corpo pegajoso e suado”.
“Tenho certeza de que as enfermeiras já estão brigando
por quem vai lhe dar um banho de esponja.”
“Em... eu prefiro a loira com unhas azuis.”

“Você prefere, hein?” Reviro os olhos. “Eu não gosto de


ficar com ciúmes. Se você não tomar cuidado, Flint terá que
me libertar da prisão novamente por usar minha perna
biônica para chutar a bunda de uma enfermeira por tocar a
sua.”
“Eu acho que meu pau apenas se contraiu.” Ele pisca
com força, mas tenho certeza de que não tem nada a ver com
seu pau.
“Você está com dor.”
“Meu pescoço e cabeça tiveram dias melhores.”

“Monaghan.”
Eu paro. O médico que falou conosco na sala de espera
entra.

“Você está causando um estrago na minha UTI. A


notícia de vocês levou outros pacientes a pedirem para vê-lo,
alegando que esse é o desejo deles. E me disseram que o
estacionamento se transformou em uma mistura estranha de
uma vigília à luz de velas e uma celebração do Super Bowl.
Metade ou mais de seus colegas e treinadores tomaram conta
da minha sala de espera, mesmo que todos tenham sido
informados de que não poderão visitá-lo até amanhã. Então...
aqui está o que eu preciso de você. Amanhã de amanhã, se o
inchaço diminuir — como deve —, preciso que você mova
algumas partes do corpo para que possamos transferi-lo para
um quarto diferente, não na minha UTI. Você pode fazer isso
por mim?”
JEWEL E. ANN

Cage sorri o melhor que pode. “Verei o que posso fazer.”

O médico olha para mim. “Ele está em boas mãos. É


claro que você pode ficar, mas sugiro que descanse um pouco
porque tenho a sensação de que você será meu maior trunfo
amanhã para convencer nosso quarterback a ficar sentado...
em pé...” Ele torce os lábios, olhando para Cage. “Você pode
até caminhar. Você acha que ele vai nos ajudar amanhã?”
Meus olhos se arregalam e vão entre Cage e o cara de
jaleco branco. “Sim.” Eu sorrio e parece real, como se tivesse
esperança. “Caso contrário, conheço um cara que pode fazer
qualquer um andar.” Eu pisco para Cage.

Thaddeus teria um dia de glória com Cage. Inferno, ele


provavelmente esperará que Cage não recupere a função
completa apenas para que possa exibir uma nova invenção e
aparecer nas manchetes novamente.
“Vá para casa, querida.”
“Eu quero ficar.”
“Você vomitou há vinte minutos. Você precisa dormir e
comer antes de voltar para me dar um banho amanhã.” Ele
sorri para o médico.

Sinto minha pele esquentar de vergonha.


O médico mantém o queixo baixo, olhando para o iPad.
“Monaghan, se você caminhar para mim amanhã, vou deixar
você convidar dez mulheres para tomar um banho enquanto
você e seu fã-clube estiverem fora da minha UTI.”

“Só uma, doutor. Eu só quero uma mulher.”

Inclino-me cautelosamente, deixando meus lábios


pairarem sobre os dele. “Monaghan... não se esqueça de me
amar.” Eu pressiono um leve beijo em seus lábios.

“Impossível”, ele sussurra.


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO QUARENTA
Passo a passo

CAGE

Um piscar de olhos.

Qualquer um pode fechar os olhos e imaginar como


seria ser cego ou usar fones de ouvido com abafador de ruído
e tentar imaginar como seria ser surdo.

Perder todas as funções dos seus braços e pernas?


Nenhuma palavra pode descrever com precisão essa
sensação. O ‘sentimento’ não é uma sensação. É assim que o
cérebro desenterra medos que nunca soube que existiam:
medo de nunca sentir o chão sob meus pés, medo de nunca
sentir a mulher que eu amo em meus braços, medo de
tornar-me um desperdício de espaço — um fardo.
Gostaria de saber se meu pai sentiu o mesmo medo
antes de morrer. Quando eles me tiraram do campo amarrado
à maca, temi pela minha vida a cada respiração difícil, cada
olhar dos médicos, cada segundo de silêncio cercado por
73.000 pessoas.
“Se você não voltar a andar, quero ficar com seu barco
de pesca.”

“Foda-se, Banks.” Eu tusso, desesperado por um copo


de água, enquanto abro meus olhos. “Que horas são?”
“Hora de você tirar sua bunda dessa cama. Você vai
perder o desfile.”

“Sinto que fui atropelado por um desfile maldito.”


JEWEL E. ANN

Uma enfermeira entra com um sorriso brilhante demais


para o meu humor. “Vamos sentar e pegar um pouco de
água?”
Eu sorrio. Ela é oficialmente minha nova melhor amiga.

“Sim, por favor.”

Ela inclina um pouco a cama. Faço uma careta. Então


ela levanta um copo de água e guia o canudo para os meus
lábios. Eu o dreno em menos de cinco segundos.
“Sedento?” Ela ri.

“Sim.” Ofego. Quando beber menos de 30 mililitros de


água me esgotou tanto quanto correr o comprimento do
campo?
Ela verifica meus sinais vitais e digita algumas coisas
em seu iPad. “O doutor Feltz deve chegar em breve.”
“Obrigado.”
Banks a observa sair da sala como se ele estivesse
gostando um pouco demais de sua bunda se movendo a cada
passo. “Pare de encarar minha enfermeira.”
Ele chia. “Bem, você não estava dando-lhe o apreço que
ela merecia, então eu pensei que deveria.”

“Estou noivo, caso você não tenha ouvido.”


“Sim, eu sei que Stick trabalhou seu vodu esquisito em
você. Você é louco. Ela é uma coisa. O que diabos você estava
pensando?”

Eu olho para minhas mãos enquanto meu dedo se


curva. Eles funcionam.
Graças a Deus.

“Eu estava pensando que deveria pegá-la antes que ela


percebesse que não sou nada além de um cara chato que
ouve música country com uma vara de pescar na mão. Agora
JEWEL E. ANN

estou no caminho mais rápido para perder meu corpo. Ela vai
dar um chute na minha bunda.”

Banks sorri. “Você acha que ela apenas gosta de você


pelo seu corpo?”

“Isso aí.”

“Você acha que seu pau vai funcionar de novo?”

“Deus, eu espero que sim. Como... andar a pé, se eu


tiver que escolher entre meu pau e minhas pernas...”

“Você escolhe seu pau, sem dúvida.”

Nós nos entreolhamos com sorrisos estampados em


nossos rostos.
“Nós ganhamos.”
“Eu ouvi.”

“Você foi nomeado o Melhor Jogador em Campo, idiota.”


“Ouvi isso também. Como você pode ver, sou claramente
muito valioso agora.”

“O golpe em você foi uma penalidade de quinze jardas;


colocou-nos ao alcance do field goal. Três pontos para ganhar
o jogo sem tempo restante no relógio. Você conquistou muito
antes de sair do campo. Não duvide disso, cara.”

Eu não deveria estar em campo.

A enfermeira espia no quarto. Banks pisca para ela.


“O Dr. Westbrook e seus colegas estão aqui para vê-lo. O
Dr. Feltz me pediu para ver antes com você, porque ele não
sabia que você pediu para ver mais alguém hoje. Nem o Dr.
Westbrook e nenhum de seus colegas fazem parte da equipe
do hospital.”

Banks se levanta, erguendo o queixo. “Estou fora daqui.


Vejo você mais tarde.”
JEWEL E. ANN

“Obrigado, cara. Realmente.”

A enfermeira me dá um sorriso tenso.


“Eu vou vê-los. Obrigado.”

Surpreende-me que Lake não tenha mencionado que


ligou para Thad. Ainda mais surpreendente é a rapidez com
que ele chegou a Minneapolis.

“Sr. Monaghan.” Thad sorri quando ele e dois outros


homens que eu nunca vi antes o seguem.

“Thad. Eu não sabia que você é médico.”

“Eu fiz medicina, então sim... sou médico. Se isso faz


você se sentir melhor, eu trouxe dois outros médicos comigo.
O Dr. Coleman é PhD em Ergonomia com especialização em
biomecânica, e o Dr. Klein é PhD em Aprendizado de
Máquina. Doutores, esse é Cage Monaghan.”
Os dois homens assentem. O Dr. Coleman parece ter
cinquenta anos com uma cabeça cheia de cabelos grisalhos.
Klein tem que ser pelo menos dez anos mais jovem com os
óculos mais grossos do mundo.
“Você percebe que não perdi membros ou algo assim,
certo?”

“Cage, Cage, Cage... dói que você realmente não entenda


o que eu — nós — fazemos. Posso construir uma máquina ou
um robô completo, se necessário. Essencialmente, eu posso
pegar a parte mais fraca do seu corpo e substituí-la, mesmo
que apenas temporariamente, enquanto ao mesmo tempo
estou usando novas tecnologias, como métodos
computacionais que podem imitar processos neurais e
incorporando eletrodos que podem medir pulsos eletrônicos
de seus músculos e estimular quando necessário para reduzir
a degeneração muscular durante o processo de cicatrização.”
A parede atrás de mim está salpicada com suas
palavras, porque todas passam direto pela minha cabeça.
JEWEL E. ANN

“Este é o futuro, mas para você é o agora. Você não


precisa esperar. Máquinas ligadas ao nosso corpo podem nos
tornar mais rápidos, mais fortes e muito mais eficientes. Dou
às pessoas com ‘deficiência’ as ferramentas para superar
seus pares ‘não-deficientes’.”

“Você vai me ajudar a superar outros quarterbacks.”


Thad e seus dois colegas riem, trocando sorrisos. “Não
gostamos de robôs de boxe. O futebol é um esporte bárbaro.
Não construo coisas para destruí-las, como dublês
destruindo carros em um set de filmagem. Simplesmente
acredito que todos deveriam ter o direito de viver uma vida
plena sem deficiência.”

“E se eu quiser jogar futebol? Você pode me ajudar a


fazer isso?”
A verdade? Futebol é a coisa mais distante da minha
mente; eu só quero sair do hospital sozinho. Mas eu ainda
quero saber onde Thad está cumprindo suas promessas
tecnológicas.
“Sim. Se seus médicos acham que há a menor
possibilidade de você voltar a entrar em campo novamente,
posso aproveitar essa chance percentual, por menor que seja,
e torná-la cem por cento para você. Posso mantê-lo seguro no
campo? Não. Posso garantir que na próxima vez que você der
de frente com um defensor que sua cabeça não será
arrancada dos ombros? Não.”

“Toc, toc... estou interrompendo?” Dr. Feltz sorri.


“Não. Entre.”

Thad assente. “Por todos os meios, faça sua coisa. Não


se importe conosco; nós apenas seremos ratos no canto.” Ele
dá um passo atrás e os três nerds literalmente se amontoam,
ombro a ombro no canto.

“Como você se sente sentado?”


“Meu pescoço está dolorido.”
JEWEL E. ANN

Ele balança a cabeça e depois passa por uma série de


perguntas. Eu acho que vou bem. Eu tenho reflexos e sinto
os braços e pernas. E preciso urinar, mas quero usar o
banheiro, o que significa que tenho controle da bexiga. Com
quatro homens na sala, não é o melhor momento para
verificar meu pau, mas espero que também funcione.

Toda vez que o Dr. Feltz menciona possíveis cenários


para a minha recuperação, incluindo prazos estimados, a
galeria de nerds revira os olhos e me dá uma leve sacudida de
cabeça. Thad levanta os dedos a menos de uma polegada de
distância para sinalizar ‘menos que’, que ele aparentemente
acha que pode fazer todas as fases da minha recuperação
acontecerem ‘menos que’ a projeção que o Dr. Feltz me dá.
“Alguma pergunta?”

“Posso ir ao banheiro?”
Dr. Feltz sorri. “Acredito que sim. Você vai fazer o meu
dia completamente, se você conseguir. Ainda não são nem
nove horas e minha sala de espera está cheia de gente.” Ele
levanta um dedo. “Deixe-me buscar ajuda.”

“Eu tenho algo no meu quarto de hotel que pode fazer


você correr, correr até a arquibancada... o que for até o final
do dia.” Thad sorri.
“Vou manter isso em mente. Por enquanto, eu só quero
testar minhas partes dadas por Deus para ir ao banheiro.”

“Bom dia.” Duas enfermeiras entram enquanto seguem


o Dr. Feltz de volta para o quarto. “Olha quem encontramos
por aí do lado de fora da sua porta.”

Estreito os olhos, sem ver ninguém. Então Lake entra no


quarto como se estivesse com medo de me ver.

“EI.” Ela dá um sorriso tímido. “Thad?”


Os olhos dela se voltam para ele. O olhar em seu rosto
não é um olhar que diz que ela esperava que ele estivesse lá.
JEWEL E. ANN

“Amor.” Ele assente com um sorriso tenso.

Eu odeio que ele a chame assim. Ela não é o seu ‘amor’.


Faço uma anotação mental para chutar sua bunda por dizer
isso na frente de todo mundo... quando eu realmente puder
fazer um punho e segurá-lo por mais de dois segundos.

“O que você está fazendo aqui?”

“Eu assisti o jogo. Consegui um voo para cá no segundo


em que vi seu corpo sendo levado para fora do campo.”
“Oh...”, ela me olha por um segundo antes de voltar o
olhar para ele. “Obrigada... eu acho.”
“Se pudermos esvaziar o quarto por um minuto,
removeremos o cateter e levantaremos você.” A enfermeira
olha ao redor.

“Estaremos no corredor.” Thad acena com a cabeça para


a porta.
“Hum...” Lake começa a sair.
“Não é nada que você não tenha visto.”

Lake devolve um olhar arregalado. “Um... ok.” Ela se


move em direção à janela, mantendo as costas para mim.
“Você pode sentir um pouco de ardência. Isso é normal.”

Dou a ela meu pequeno sorriso de OK, pois assentir não


é uma opção com um colar cervical. Ela o remove enquanto a
outra enfermeira coloca uma camisola sobre mim.
“Nós vamos fazer isso devagar... bem devagar.” A
enfermeira instrui enquanto ela e a outra enfermeira me
levam a sentar, afastando meus pés do lado da cama e, em
seguida, ajudando a colocar meus braços na camisola antes
de amarrá-la atrás.
Eu me sinto um pouco tonto e fraco, tão malditamente
fraco.
JEWEL E. ANN

“Leve todo o tempo que você precisar.” Ela dá um passo


para trás quando o médico passa a fazer algumas verificações
de flexibilidade comigo sentado. Seguindo seus dedos.
Tocando meu dedo no meu nariz. Estalando os dedos ao lado
de uma orelha e depois da outra. Fazendo uma porcaria
diferente com as mãos e os pés.

“Bom. Você está indo melhor do que o esperado.” Ele


diz.
Eu ando em direção à beira da cama. As duas
enfermeiras saltam para o meu lado.

“Muito devagar e fácil.”

Lake tem dor suficiente para nós dois em sua expressão.


Eu sorrio. “Estou indo atrás de você, Jones.”

Seus olhos vão para os meus pés e ela sorri. “Você


consegue isso, Monaghan.”
Sinto o chão sob meus pés, não de uma maneira estável,
mas sinto e é tudo o que importa. Minha cabeça parece ser a
última a bordo, porque, enquanto eu me levanto, as duas
enfermeiras me segurando, tudo que quero é deixar meus
olhos revirarem na minha cabeça e desmoronar para trás.
“Foco, Monaghan. Meu gato de três pernas tem mais
equilíbrio do que você.”
Eu amo essa mulher. Eu a amo.
Um passo.

Deus, eu me sinto como um bebê dando o primeiro passo.

Mais um passo.
Não desmaie!

Mais um passo.

“Você está indo muito bem.” Dr. Feltz me observa com


um sorriso tranquilizador.
JEWEL E. ANN

Eu olho para Lake. Suor escorrendo por mim.

Ela boceja, passando a mão na boca. “Estou mofando


aqui.”

Mais um passo.

“Eu cheiro mal. Meu bafo deve estar ainda pior que o
resto... do meu corpo.”

Mais um passo.
Meu coração dispara no meu peito.

Lake sorri e dá o passo final para mim. Soltando seus


braços ao redor do meu corpo. Meus braços? Eles funcionam
e eu os uso para segurá-la. Se for honesto, acho que foi para
isso que meus braços foram feitos. Eu não serei capaz de
jogá-la por cima do ombro e levá-la para a minha caverna tão
cedo, mas chegarei lá.
“Eu te amo”, sussurro. Segurá-la em meus braços libera
uma avalanche de emoções. Meus olhos se fecham, lábios
presos entre os dentes, lutando contra eles. A tensão daquele
momento rivaliza com a morte de meu pai — um momento
que mudou a vida. Abraçá-la fisicamente no meu corpo,
depois de questionar se eu a abraçaria novamente, muda o
curso da minha vida. Foda-se o futebol. Minhas mãos foram
feitas para segurar cada pedaço daquela mulher. Todo o
tempo.

“Te amo mais.” Ela levanta o queixo e faz meus joelhos


tremerem com um sorriso.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO QUARENTA E UM
O futuro

LAKE

Dr. Feltz expulsa Cage da UTI nessa tarde e diz-lhe para


fazer um acompanhamento com ele — da melhor maneira
possível. Um número de esposas de jogadores e treinadores
me procurou oferecendo seu apoio, me avisando que Cage
provavelmente tentaria se distanciar de mim enquanto lida
com as ramificações físicas e emocionais de sua lesão.
Cage? Não. Quando alguém te ama tão completamente,
é quase de partir o coração. Cage Monaghan me ama assim.
Ser amada e confiada incondicionalmente por ele é uma das
maiores honras da minha vida. Não precisamos de votos
genéricos de casamento que prometem amor na doença e na
saúde. No dia em que ele chegou a Pequim, algo não verbal
passou entre nós — algo que dizia que sempre iríamos para
os confins da terra.
“Casa.” Cage sorri quando Rob e Flint caminham ao lado
dele até a porta, apenas por precaução.
Depois de sete dias no hospital, ele teve alta. A cirurgia
ainda é uma possibilidade para fundir duas de suas
vértebras, mas temos segunda, terceira e todo o caminho
para obter a vigésima opinião antes que ele considere ‘enfiar
a faca’.

Um dia.
Um passo de cada vez.

“Ok...”, Cage suspira enquanto afunda no sofá de couro,


“...todos podem sair, pelo menos por algumas horas. Sem
JEWEL E. ANN

ofensas, mas tive uma semana agitada, e só quero não ser o


centro das atenções por um tempo. Ok?”

Minha família foi embora três dias antes. Brooke e Rob


levaram as meninas para a casa dos avós de Cage dois dias
após o acidente, para que pudessem voltar à escola. Portanto,
‘todo mundo’ é Flint, Brooke, Rob e... eu.
Brooke dá-lhe um beijo na bochecha. “Vamos jantar e
correr até o mercado para reabastecer sua geladeira.”
“Obrigado.” Ele retorna um sorriso agradecido.

“Eu ligo para você de manhã e informo sua agenda.” Por


agenda, Flint se refere às consultas com os médicos e às
consultas de terapia.
“Obrigado, Flint.”

Depois que todos saem, aponto meu polegar para trás,


sem ter ideia de para onde ir. “Então... eu vou... hum...”
“Lake?”
“Sim?” Torcendo as mãos, sorrio.

“Traga sua bunda aqui.”


“Mas você disse...”
“O que eu disse foi o código para ‘Deem o fora daqui
para que eu possa ficar sozinha com minha namorada’.
Agora, tire os sapatos, abandone a perna, se quiser, as
roupas são opcionais e, na verdade, bastante
desencorajadas.”

Eu sorrio. “Eu acho que seus olhos são maiores que seu
apetite. Foi difícil você andar do carro para o sofá. Seu fôlego
ainda está um pouco fora. No entanto... você acha que pode
me controlar?” Eu me sento ao lado dele.
Ele levanta o braço sobre mim, mas mesmo isso parece
uma proeza. “Lidar com você, abraçar você... sua escolha.”
“Cale a boca... como você pode ser tão feliz?”
JEWEL E. ANN

“Bem, aqui está você. Estou acima do solo. Eu posso


andar sem um ‘exoesqueleto’ do Thad. Também tenho uma
vitória no Super Bowl e um troféu de Melhor Jogador. E agora
a pressão dessa vida se foi. Eu posso trabalhar duro para me
recuperar, me casar com a mulher que é dona do meu
coração e passar o resto da minha vida transando com ela.”

Eu me afasto para olhar para ele. “Como assim a


pressão dessa vida se foi?”
Sua testa franze. “Eu... não vou jogar de novo.”

“O que? Os médicos... seus treinadores... toda a


conversa foi sobre o que será necessário para você voltar ao
campo. É por isso que buscaram um milhão de opiniões
diferentes dos melhores médicos do país. Quando você disse
a eles que não vai mais jogar?”
“Eu não disse. Estou lhe dizendo agora. Estou lhe
contando primeiro.”
Meu queixo pende no ar.
“Você não pode querer que eu jogue novamente.”

Eu não quero. Isso é um fato. Então, por que estou tão


chocada? Eu esperava que seus planos de jogar novamente
fossem uma briga entre nós. Ele tira isso, e me sinto como
alguém que está de pé, pronta para fazer um discurso e o
teleprompter para de funcionar. Tudo o que eu tenho a dizer
é: ‘Estou tão aliviada’. Três palavras. Em vez disso, o próprio
diabo sequestrou meu cérebro para bancar o advogado do
diabo.

“Você ama o futebol. Como pode simplesmente desistir?


Jogadores se machucam o tempo todo. Faz parte do jogo.
Você sabe disso. Você já disse isso um milhão de vezes. O
médico da sua equipe disse que as chances de você ser
liberado para jogar no próximo ano são muito boas. Este é o
seu sonho.”
Uau. Que diabos, Lake!
JEWEL E. ANN

Os olhos arregalados de Cage dizem tudo — eu


enlouqueci. Estou maluca. Acabei de dizer tudo o que havia
me preparado para ouvir dele.
“Você quer que eu jogue de novo?”

Não. A resposta é não.

Diga, Lake. NÃO! Apenas diga não!

“Talvez... quero dizer...” Eu balanço minha cabeça


“...não sei. Não é minha decisão.”

“É nossa decisão. Isso nos afeta, não apenas a mim.”

“Não posso tomar essa decisão.”


“Mas você está tentando.”

Eu balanço minha cabeça. “Eu não estou.”


“Bem, acabei de lhe dizer que não estou pensando em
voltar e, em vez de alívio… alegria… vi essa decepção épica
em seu rosto. Não estou apelando para meu status na NFL?”
“Isso não é justo. Você sabe a resposta.” Eu continuo
andando pela sala para liberar um pouco da tensão.

“Jesus, Lake. Você viu tudo antes que acontecesse,


porra!”

“Exatamente!” Eu paro, apertando minhas mãos ao meu


lado. “E com Ben eu não vi nada. Para cada decisão certa em
minha vida, houve dez erros que pareceram corretos no
momento em que os tomei. Não perdi apenas meu namorado
e minha perna. Perdi minha intuição, minha confiança em
um nível muito mais profundo do que aquilo que os olhos
veem, e meus instintos são uma merda!”

Cage suspira. “Apenas me diga o que você quer que eu


faça, não o que você acha que eu deveria fazer.”
Eu balanço minha cabeça. “Não. Não posso.”
“Por que não?”
JEWEL E. ANN

Eu sento na mesa de centro na frente dele com as


pernas entre as dele. Tomando suas mãos, eu as aperto,
exigindo que ele olhe para mim. “Se eu não estivesse
envolvida, se você estivesse solteiro e nessa exata situação, o
que faria? Você desistiria?”

Ainda é muito cedo para ele responder honestamente.


Seu pescoço ainda está imobilizado, seu corpo está lento e
desequilibrado às vezes. É claro que não jogar de novo é uma
decisão instintiva. Mas em algum momento ele se sentirá
melhor, mais forte, e eu tenho dificuldade em acreditar que
ele não perderá o jogo e se arrependerá de sua decisão.

“Você não pode me responder, pode? O que isso lhe


diz?”

Cage resmunga e faz uma careta como se quisesse


balançar a cabeça para mim, mas seu colete não permite. Ele
se levanta, ficando de pé um centímetro de cada vez.

Agarro seu braço para ajudar a firmá-lo.


“Eu entendi.” Ele se afasta. “Você não entende e me
deixa louco por não entender.” Segurando a parte de trás do
sofá por alguns segundos, ele arrasta os pés pelo chão em
direção ao quarto.

Ele está certo. Eu não entendo nada, e é um sentimento


debilitante ter uma desconexão da vida.

*
CAGE

Sim.
A resposta é sim. Eu faria todas as coisas estúpidas ao
meu alcance para voltar ao campo se Lake não estivesse em
minha vida. O jogo sempre foi meu amor, a maior
homenagem ao meu maior fã — meu pai. Eu conheço muitos
caras que jogam futebol como se fosse sua vida inteira. Viver
JEWEL E. ANN

ou morrer no campo... não importa desde que a última coisa


que se lembrassem fosse o campo — desde que morressem
com um capacete na cabeça.
Eu era assim antes de Lake.

Minha mãe e Rob voltam várias horas depois, com


sacolas de compras quando eu finalmente saio do quarto. Há
um milhão de coisas a dizer a Lake, mas não quero que vão
embora como uma sequência de raiva. Eu não estou bravo
com ela. Estou de coração partido por ela. Ela está perdida
em um abismo de emoções, mas se recusa a soltar uma única
lágrima.

“Vocês estavam brigando”, minha mãe sussurra em meu


ouvido enquanto Rob ajuda Lake a descarregar as compras.
“Por que você diz isso?”
“Lake parece prestes a chorar.”
Faço uma careta. “É complicado.”

“Estamos voando de manhã, mas se você precisar que


eu fique...”
“Não. Temos algumas coisas para resolver e
provavelmente é melhor fazê-las sem plateia.”

“Devo me preocupar?”

“Espero que não.” Eu não sei o que será necessário para


Lake deixar de lado toda a merda que atrapalha sua mente e
mantém suas emoções em cativeiro.

Minha mãe e Rob vão para a cama cedo, porque têm um


voo cedo. Lake me ajuda a tomar banho, dizendo não mais do
que algumas palavras como ‘incline-se para frente’ e ‘sente-
se’. Depois que ela me ajuda a deitar, eu a observo a cada
movimento. Ela fica de mau humor entre o banheiro e o
armário, como se o mundo inteiro repousasse sobre seus
ombros.
Ela senta na cama e tira a perna.
JEWEL E. ANN

“Eu vou jogar se me derem alta.”

Ela vira. “Não faça isso por mim.”


Eu sorrio porque realmente... não tenho outra escolha.
“Não desistir por você. Não jogar por você. Parece que não
consigo acertar.”

Ela joga a perna no chão e desliza sob os lençóis de


costas para mim. “Eu não quero que você faça nada por mim.
Quero que faça por você. Ficarei feliz se você estiver feliz.”
“Estou feliz. Estou feliz. Eu estou feliz. Apenas... muito
feliz.” Eu sorrio novamente, sabendo que o sarcasmo
provavelmente a irritaria.

Ela senta, passando as pernas para o lado da cama,


deslizando o forro, depois estalando a perna como se
estivesse seriamente chateada com isso. “Maravilhoso. Você
pode dormir e ter seus sonhos felizes. Vou ficar no outro
quarto. Eu não estou cansada.”
“Lake.”

Ela parte em chamas de raiva.


Eu me sinto um merda. Se meu corpo funcionasse
corretamente, ela nunca teria saído pela porta do quarto, mas
sou a tartaruga na corrida — e longe de estar estável. No que
parece três dias depois, consigo chegar à sala de estar. Lake
fica de pé junto à janela, de costas para mim. Uma nova
rodada de neve dança no ar, iluminada pelas luzes que
revestem minha unidade dos dois lados.

“Ben morreu e eu vivi.” Toda emoção é retirada de sua


voz. “Se ele não tivesse morrido, eu não estaria com você, e...
isso parece mais trágico do que a morte dele. A vida é uma
merda. Dizemos o que devemos dizer, mas sentimos o que
não devemos sentir. Se Deus realmente ouve meus
pensamentos, então ele sabe que não me arrependo de ter
brigado com Ben. Ele sabe que não me arrependo da morte
JEWEL E. ANN

de Ben naquela manhã. Ele sabe que me sinto um monstro


por ter esses sentimentos.”

Ela vira. Sem lágrimas. Sem emoção. E me quebra ao


ver sua dor cortando todos os nervos, deixando-a sangrando
sem mais nenhum sinal.

“E meu medo? É que, com o tempo, não vou me


arrepender de você jogar esse jogo. Não vou me arrepender de
não ter parado você. Não vou me arrepender se você se
machucar, porque a única coisa pior do que odiar a Deus
pela tragédia que não faz sentido é odiá-lo por entender
completamente quando chega a hora. Mas a verdade mais
crua é que acho que ele não tem nada a ver com isso. Acho
que entendemos isso em nossas próprias mentes
bagunçadas. Acho que Deus é o maior de todos os bodes
expiatórios. E se eu optar por crer nele, tenho que reconhecer
que seu maior amor por nós é o livre arbítrio.”
Lake balança a cabeça. “Você escolheu jogar. Eu escolhi
sentar e assistir. Livre arbítrio. É tão assustador. Deus não é
uma rede de segurança. Viver com medo, sendo guiado por
ele, é uma vida miserável. Agora sou eu. Eu não confio em
mim — meus pensamentos, meus sentimentos, meu instinto
— e é como um câncer dentro de mim. Uma vez... uma vez
meu íntimo estava certo. Você vê como isso é debilitante?
Pode nunca estar certo de novo, mas sempre viverei com
medo de que possa acontecer outra vez.”
Eu me aproximo. “Você tem medo de eu jogar?”

Seus olhos percorrem meu corpo, pousando no meu


olhar. “Sim”, ela sussurra.

Dou o passo final. Minha mão desliza pelo ombro e pelo


braço, ela estremece sob o meu toque. “Você tem medo de eu
não jogar?”
Lágrimas enchem seus olhos. Meu toque a fez sentir
novamente. Eu nunca tomaria por garantido o efeito visceral
que tenho sobre ela. Reafirma a única coisa que sei ser
JEWEL E. ANN

verdade absoluta na minha vida — minhas mãos foram feitas


para tocá-la.

“Sim.” Ela pisca, liberando as lágrimas.


JEWEL E. ANN

CAPÍTULO QUARENTA E DOIS


Seremos Lake e Cage

LAKE

Brooke e Rob vão embora e a vida volta à realidade. Vou


a algumas consultas com Cage e Flint assume o cargo para
eu poder voltar ao meu trabalho. Três semanas depois que
voltou para casa do hospital, está sem o colar cervical, mas a
cirurgia ainda está em discussão. Eu aproveito todas as
chances para ir a uma entrevista sobre a minha revista, ou
passar o dia testando novas pernas, ou qualquer coisa para
manter minha mente longe de Cage e de sua decisão. É isso
que se tornou — a decisão dele.
Desisti dos meus sapatos de tristeza e perdi-me
instantaneamente depois do meu acidente. Não quero que
Cage desista do futebol pela mesma razão. Claro, eu também
não quero que ele jogue, mas... livre arbítrio, amor
incondicional e todas as emoções necessárias que vêm com a
vida.

“Você chegou em casa cedo.” Cage sorri enquanto pica


pimentão vermelho.

Ele é meu novo ídolo. O sujeito passa cinco a seis horas


por dia em terapia, mas chega em casa e janta todas as
noites com seu sorriso fracamente estampado no rosto.

“Cansada. Só estou cansada.” Eu me levanto no balcão


a um pé de onde está cortando.
“Bem, você trabalhou sete dias por semana nas últimas
duas semanas.” Ele segura uma fatia de pimentão nos meus
lábios.
JEWEL E. ANN

Abro minha boca e mastigo enquanto assinto para


reconhecer que ele está certo, estou trabalhando demais.
“Então amanhã é o dia.”
“Sim.” Ele mantém a cabeça baixa, olhos fixos para a
faca afiada se movendo rapidamente a poucos milímetros de
seus dedos.
“Você tomou sua decisão?”

“Nós vamos descobrir, não vamos?”


Concordamos que a decisão de jogar ou se aposentar
será dele e dele apenas. Pedi que não discutíssemos o
assunto e, com o verdadeiro jeito contumaz de Lake Jones,
disse a ele que não queria saber até que ele fizesse o anúncio
oficial na TV. Eu disse que queria assistir e descobrir o que
fazer com o resto do mundo. No entanto, tenho certeza de que
ele irá jogar. Ele teve muitas consultas de cirurgia e segundas
opiniões para uma cirurgia que só é necessária se ele planeja
tentar voltar ao futebol.
“Eu te amo, não importa o que você escolher.”

Cage ri. “Bom saber.”


Ah! Eu quero saber, mas não pergunto. Minha teimosia
tem vida própria.
“Deveríamos começar a planejar um casamento, você
não acha?”
Eu sorrio. “Sim. Acho que devemos. Você está pensando
na primavera, antes da concentração de treinamento?”
Cage passa os pimentões em cubos da tábua para a
saladeira, um sorriso malicioso puxa seus lábios. “Estou
pensando em voarmos para Las Vegas e apenas fazemos
isso.”

“Ha! Minha mãe me deserdaria. Lara e Drake fizeram a


coisa de Vegas, e acho que minha mãe ainda está chateada
com isso. Ela tem um vestido de noiva, uma coisa horrível,
JEWEL E. ANN

que foi o vestido de sua mãe. Acho que nunca foi branco, mas
agora é amarelo xixi. De qualquer forma, minha mãe
prometeu à mãe dela que usaria para o casamento, mas
depois de ter Luke antes de se casar, seus quadris e seios
não serviam mais no vestido feio. Então... ela prometeu à
minha avó, antes de morrer, que Lara ou eu o usaríamos.
Sinceramente, acho que foi por isso que Lara foi a Vegas.”

Cage enfia o prato de arroz e vegetais no forno. Ele


seguia uma dieta quase perfeita antes do acidente, mas
depois é ainda mais rigoroso com ela para ajudar seu corpo a
curar mais rapidamente. Eu tenho que comer escondida
minhas guloseimas de marshmallow porque odeio o olhar de
desaprovação que ele me dá quando eu as como na frente
dele.
“Então você vai usar um vestido de noiva amarelado de
duas gerações atrás apenas para fazer sua mãe feliz?”
“Sim. Eu sou a única que serve no vestido, então vou
combiná-lo com algum salto alto e usá-lo para que minha avó
sorria para mim e minha mãe não sinta mais sua ira.”

Ele tira as luvas de forno e agarra o interior dos meus


joelhos, espalhando-os para que ele possa ficar entre as
minhas pernas, me puxando para perto dele. “Você é uma
garota tão boazinha, Lake Jones.” Roçando o nariz contra o
meu, ele apalpa minha bunda.

Eu tento parecer calma, como se não estivesse morrendo


de vontade de ter intimidades com ele, mas já faz mais de um
mês desde que fizemos sexo e eu estou faminta.

Limpo minha garganta, serpenteando minhas mãos por


dentro de sua camisa. “Eu não sou.”
“Não?” Seu tom me provoca.

Respiro fundo quando ele beija meu lábio inferior antes


de puxá-lo para sua boca e arrastá-lo por entre os dentes.
JEWEL E. ANN

“Não”, eu sussurro, abrindo o botão e o zíper no jeans


dele.

“Lake...” Sua respiração trava quando minha mão


desliza em sua cueca.

“Cage...” Eu o acaricio quando ele esmaga seus lábios


nos meus.

Tudo naquele departamento parece funcionar muito


bem, mas me sinto obrigada a dar uma olhada para ter
certeza, e isso envolve ser qualquer coisa, menos ser uma
‘boa garota’.
Empurrando-o para trás alguns centímetros, afasto-me
do balcão e ajoelho.
“Lake...” Ele inclina o queixo para baixo, os lábios
entreabertos, as respirações se tornando mais irregulares a
cada segundo que passa.
“Continue dizendo meu nome, Monaghan... isso me
deixa tão molhada.”

Aquele olhar, aquele com olhos escuros queimando nos


meus quando ele agarra o balcão com uma mão e segura meu
cabelo com a outra, é a razão pela qual estou de joelhos,
puxando suas calças e levando-o em minha boca. Minhas
palavras vão embora. Eu não sou do tipo que fala
obscenidades, mas naquele momento me sinto de novo —
caindo... caindo... caindo.

Foda-se a gravidade.

Seremos Cage e Lake.

Seremos imprevisíveis.

Seremos imprudentes.

Iremos forçar os limites da sanidade e mostrar à


normalidade o dedo médio.
JEWEL E. ANN

“Jesus, baby... o que você está fazendo?” Seu punho no


meu cabelo se aperta.

Eu sorrio em torno de seu pau, uma mão segurando a


base. Ele acaba de perceber onde está minha outra mão —
deslizando pela frente da minha calça jeans, por baixo da
calcinha.
“Lake...” Ele diz com tanta coragem em sua voz que eu
perco todo o controle, me rendendo ao meu orgasmo.
E cantarolo sobre ele.

“Eu vou... Lake...”


Retirando a mão da minha calça, pego seus glúteos
duros e o seguro o mais fundo que posso até que sinto seu
calor derramando em minha boca.

“Foda-se... Lake...” Ambas as mãos seguram meu


cabelo.
Sim, esse é todo o incentivo que preciso para olhá-lo
com meu sorriso de ‘boa menina’ e... engulo.

*
Outro sonho ou premonição me tira do sono, suada e
sem fôlego. Depois de colocar minha perna, vou até o armário
e visto minhas roupas. Cage ainda está dormindo, como a
maioria das pessoas estaria às três da manhã. Minha viagem
leva menos de trinta minutos. Tenho certeza de que a maioria
das pessoas que frequentam uma farmácia vinte e quatro
horas àquela hora da madrugada provavelmente está
precisando de analgésicos ou outras necessidades, como
remédios antirressaca. A mulher mais velha da caixa me olha
com um leve sorriso quando lhe entrego uma nota de vinte
em troca do teste de gravidez que vem com três unidades.

“Lake?” A voz cansada de Cage chama da cama


enquanto saio de minhas roupas no armário, minha caixa de
testes de gravidez ainda na bolsa esperando.
JEWEL E. ANN

“Sim?” Corro de volta para a cama.

Ele passa o braço a minha volta e me puxa para perto.


“O que você estava fazendo?” O sono em sua voz grogue me
leva a acreditar que posso dizer qualquer coisa e ele não a
questionará.

“Esqueci de usar fio dental.” Reviro os olhos com a


minha resposta ridícula.

“Ok...” ele murmura, enterrando o rosto no meu cabelo


em um longo suspiro.

Estou presa em seus braços, o que não é um lugar ruim


para estar em outro momento, mas os testes não vão ser
feitos sozinhos. Eventualmente, volto a dormir, o tipo de sono
que leva um terremoto para me ressuscitar, o tipo de sono
que não nota Cage acordando ou tomando banho.
“Eu tenho que sair para a minha entrevista coletiva em
dez minutos.” Meu lado da cama afunda.
É esse o grande dia.

Meus olhos se abrem para Cage lendo alguma coisa. Eu


estreito meus olhos para o papel em suas mãos, então meus
olhos voltam para a mesa de cabeceira e a caixa de teste de
gravidez aberta ao lado de uma ficha que diz
CAPÍTULO CATORZE

“Dizem que de manhã é a melhor hora para fazer isso.


Sua urina está mais concentrada.”
Eu me esforço para ficar sentada. “O que você está
fazendo?” Eu capto alguma insinuação dele.

Ele sorri. “Você faltou às aulas de reprodução da escola,


não é?”

“Do que você está falando?”


“Baby, você não pode engravidar apenas engolindo. Não
funciona assim.”
JEWEL E. ANN

Por mais que eu tente não sorrir, não consigo segurar.


“Cale a boca, seu idiota.” Eu o empurro até que ele se mexe
para que eu possa colocar na minha perna.
“Por que você acha que está grávida?” Ele se levanta,
ajeitando a gravata de ametista, com uma aparência de dar
água na boca em seu terno preto e camisa branca.
Agarrando a caixa, passo por ele até o banheiro. “Porque
há duas coisas que não me lembro muito bem.”
“O que é?” Ele fica na porta. Não, ele é dono da porta.
Eu não consigo formar um pensamento coerente, muito
menos palavras reais com ele parecendo sexo em um terno.

“Converse comigo de costas por um segundo?”


“Você quer ver minha bunda neste terno.”

Querido Deus, sim!


“Não. Eu gostaria de fazer xixi sem você me olhando.”
Ele sorri e se vira. “Quais são as duas coisas?”

“Não me lembro ao certo quando menstruei ou a última


vez que usamos camisinha.”
Meu celular toca na mesa de cabeceira. “Ugh!” Molho as
três varetas o mais rápido que posso, jogo-as no balcão, lavo
as mãos e corro para pegar meu telefone. “Ei mãe.”
O timing dela é impecável.
“Bom dia, querida. Então hoje é o grande dia. Você está
nervosa?”

Cage sai do banheiro, dando-me uma piscadela e


dizendo ‘tenho que ir’.

Eu balanço a cabeça, dizendo ‘te amo’. Nós dois


sabemos que não há conversa curta com minha mãe. Eu não
posso acreditar que ele não vai esperar para ver o resultado
dos testes antes de partir, mas o mundo dos esportes está
esperando por seu anúncio — eu também.
JEWEL E. ANN

“Não sei como estou. Se ele sair para aquele campo


outra vez, não tenho certeza se meu coração sobreviverá, mas
ao mesmo tempo eu o amo. E quero vê-lo viver seus sonhos,
não importa onde o levem ou quanto tempo vão durar. Isso é
viver.” Volto para o banheiro. “Que diabos...”

“Lake, o que você está falando?”


“N-nada. Eu tenho que ir. Ligo para você depois da
entrevista coletiva.”
“Lake!”

Eu encerro a ligação e corro para a porta dos fundos.


Sua caminhonete sumiu. Eu tento ligar para ele. Ele não
atende. Depois de vestir minhas roupas em menos de trinta
segundos, pego a bolsa e pulo no meu carro. Meu chaveiro
não está lá. Corro para dentro pela porta dos fundos onde
tenho chaves sobressalentes. Também sumiram.
“Droga, Monaghan!” Eu bato meus pés como uma
criança birrenta.
Minhas chaves se foram.

Ele se foi.
Os testes de gravidez se foram.

*
Empoleirada no sofá, com as costas retas, observo os
comentaristas esportivos discutindo tudo sobre Cage
Monaghan. Os boatos são exatamente como eu suspeitava.
Ele jogaria novamente se os médicos da equipe o liberassem.
É claro que eles tiveram uma entrevista com um médico que
declarou o enorme risco de jogar novamente. Mesmo com a
cirurgia, sempre seria um ponto fraco em seu corpo e outra
lesão como essa poderia ser mais devastadora.

Quando o ladrão do teste de gravidez aparece na minha


tela, diante de um mar de jornalistas, tirando foto após foto,
todos ansiosos para fazer a primeira pergunta antes que ele
JEWEL E. ANN

faça algum tipo de afirmação, eu já mastiguei cada uma das


minhas unhas.

Pego meu telefone.


Lake: ME DIGA!

Ele ajusta o microfone, inclinando o queixo para o pódio.


Um sorriso se espalha por seu rosto. Ele viu. Ele viu minha
mensagem.
“Obrigado por virem hoje...” Ele agradece a todos os
treinadores, jogadores e médicos pelo apoio desde o acidente.
Em seguida, passa a agradecer seus fãs, familiares e amigos,
incluindo Flint. Em seguida, ele discute seu amor pelo jogo e
seu sonho de jogar pelo Minnesota e levar sua equipe ao seu
primeiro troféu do Super Bowl de todos os tempos. “Sou
jovem e meus médicos acham que, se optar pela cirurgia,
tenho uma boa chance de voltar ao campo com uma carreira
promissora pela frente.”
Engulo em seco de novo e de novo. Está chegando...

“No entanto, agora estou em um lugar muito diferente


do que estava há dois anos. A vida não é nada senão
imprevisível. Então, por mais que eu queira dizer que essa foi
uma decisão angustiante para mim, não posso. Foi a decisão
mais fácil da minha vida. Obrigado pela companhia. Embora
curto, foi tudo o que eu poderia imaginar, mas estou
anunciando minha aposentadoria da NFL.”
O som é um suspiro audível na multidão. Eu? Eu não
estou respirando.
“Como muitos de vocês sabem, minha linda Lake
concordou em se casar comigo...”
Puta merda...

Ele levanta uma vareta. MINHA. VARETA!

“Oh...”, ele sorri de orelha a orelha, covinhas em


exibição completa, “...e eu vou ser pai.”
JEWEL E. ANN

Lágrimas. Tantas lágrimas. As câmeras pipocam como


loucas. Perguntas são lançadas sobre ele de todas as
direções, mas tudo que posso fazer é me afogar em minhas
próprias lágrimas enquanto minha mão pressiona meu
ventre.

Eu fiz isso. Eu peguei o cara.


Ben morreu, mas eu vivi.
JEWEL E. ANN

CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS


Nosso Epílogo

CAGE

“O vestido mais brilhante de todos os tempos.” Olho


para a nossa foto de casamento na parede do nosso quarto.

“Mas os sapatos...”

“Sim, sim, saltos altos, baby.”


Lake e sua barriga de oito meses de gravidez estão na
minha frente, ajustando minha gravata. “Você está nervoso?”
“Aterrorizado.”
“Você percebe que pelo menos um vai molhar as calças,
outro vomitará e pedirá a lixeira, pelo menos dois serão
enviados para a diretoria e quando você menos notar que eles
têm piolhos, haverá xingamentos, choro, porque é o primeiro
dia deles, mas...”, ela sorri quando eu faço uma careta,
“…uma… uma garotinha, a quieta com tranças e talvez
sardas também, se apaixonará por você e o declarará como
seu futuro marido. Esse será o destaque do seu dia.”
Eu descanso minhas mãos nas laterais da sua barriga e
me abaixo para acariciar meu nariz em seu pescoço. “Você é o
destaque do meu dia. Todo dia.”

Eu amo minha vida. Estamos vivendo, estamos caindo,


somos nossos próprios fenômenos inexplicáveis, e eu não
gostaria que tivesse sido de outra maneira. Até nossa ‘vila’,
como Lake gosta de chamá-la, parece também seguir para
coisas melhores. Minnesota renovou o contrato de Banks,
então ele e Shayna se mudaram para uma casa, uma casa
cujo dono anterior era o quarterback recém-aposentado do
JEWEL E. ANN

Minnesota. Ele também encontrou uma namorada: a


professora de dança de Shayna. Lake disse que ela não tem
muito para segurar — seja lá o que isso significa.
O babá ‘Jamie’ continua trabalhando para Banks,
dependendo dele nunca olhar para a namorada de Banks. Eu
sinto a dor dele. Flint voltou para a escola para concluir seu
curso de direito, para que possa lutar para recuperar seu
filho, uma vez que lhe foi tirado após o acidente. Quanto a
Penny e Rupert... eles estão no apartamento de Minneapolis.
Lake ainda a procura para conversar como garotas, e Penny
ainda me viola com os olhos toda vez que a vejo.

“Seu almoço está no balcão da cozinha.”

Eu me levanto, respirando fundo. “Ok. Eu tenho meu


primeiro treino esta noite também.”
Quando vendemos a casa e nos mudamos para algo
menor e mais perto da escola primária particular, onde
comecei a lecionar na primeira série, decidi abraçar minha
nova vida discreta, ingressando em um dos times de futebol
amador do Park and Rec.

“Não acredito que você não conseguiu a posição de


quarterback.”

Dou de ombros. “Eu sei, certo? Não entendo por que eles
acham que seria uma vantagem injusta para a nossa equipe.
Não jogo futebol há vários meses.”

Lake assente. “Exatamente. Passamos o verão no barco.”

Melhor. Verão. Sempre.


Eu pesquei. Lake se esparramou na frente do barco de
biquíni, a barriga do bebê crescendo um pouco mais a cada
dia, um protetor solar com alto fator de proteção, um livro na
mão e o chapéu de pesca.
“Só espero que me deixem jogar. Sou novo no time,
então posso acabar ficando no banco por um tempo até
ganhar meu lugar.”
JEWEL E. ANN

Ela puxa minha gravata até que me abaixo para lhe dar
um beijo lento, então ela sorri. “Eu com certeza gostaria de te
usar no banco.”
Eu balanço minha cabeça.

“Muito brega?”

“Um pouco.” Eu me ajusto. “Mas claramente ainda


funciona para mim.”

“Monaghan?” Ela me chama enquanto caminho em


direção à porta, pegando minha lancheira.

Eu me viro.

“Não se esqueça de me amar.”


Eu sorrio. “Impossível.”

*
LAKE

Seis anos depois

“Ele me fez chamá-lo de Sr. Monaghan.” Amelia faz


beicinho, largando a mochila roxa no chão.

Cage olha, me dando uma revirada de olhos quando


abraço nossa filha após seu primeiro dia de aula. Acaricio seu
rabo de cavalo preto, meio bagunçado e que perdeu a trança
durante o dia.

“Então ele me levou para o corredor e disse que não


posso mais levantar a mão.”

Eu sorrio. Um balanço exagerado da cabeça acompanha


os olhos do meu marido revirando.

“Bem, nós conversamos sobre isso. Na escola, papai é


seu professor, então você deve chamá-lo de Sr. Monaghan
como todas as outras crianças.”
JEWEL E. ANN

“Mas ele é meu pai.”

Cage coloca uma mão sobre a outra, fazendo um


movimento de punhalada em direção ao coração. “As duas
mulheres na minha vida vão ser a minha morte.”

“Aqui.” Entrego-lhe uma guloseima crocante de arroz em


um prato. “Trzy está na varanda dos fundos. Vá dar-lhe um
pouco de carinho enquanto eu repreendo o Sr. Monaghan por
ser tão mau com meu bebê hoje.”
Amelia sorri, lançando a Cage um olhar que diz ‘você
está com problemas’ por cima de seu ombro, enquanto
caminha para fora da cozinha.

“Conte-me sobre o seu dia, Sr. Monaghan.” Pego a tigela


com sobras de marshmallow e me sento em uma cadeira na
mesa da cozinha.
Torcendo a tampa de uma cerveja suada, ele sorri
enquanto seus lábios se abrem sobre o vidro âmbar.
“Conversamos sobre o que significa fazer uma boa ação, e
todos se revezaram compartilhando um exemplo. Amelia
disse que seu pai estava ajudando a lavar a mãe no chuveiro
hoje de manhã e isso foi um exemplo de uma boa ação.”

“Mas que...”, eu digo. “O que? Você está falando sério?”

Cage toma um longo gole de cerveja e depois assente.


“Infelizmente. E a cereja no topo do bolo? O diretor estava
participando dessa discussão.”

Pressiono a ponta do dedo no canto do olho, enxugando


uma lágrima. “Isso é hilário.”
“Não é.” Ele puxa meu cabelo, forçando minha cabeça
para trás. “Da próxima vez, tranque a porta do banheiro
antes de se juntar a mim no chuveiro”, ele sussurra no meu
ouvido, seguido de uma mordida no meu pescoço.
“Eu queria dizer a ela que estávamos economizando
água. Foi a oportunidade perfeita para discutir a
JEWEL E. ANN

responsabilidade ambiental. Mas não, você teve que se


manifestar e dizer que estava ajudando a me lavar.”

Ele agarra minha cintura e me puxa para seu colo


enquanto se senta na cadeira ao lado da minha. Coloco meus
braços sobre seus ombros.

“Porque a responsabilidade ambiental pareceria muito


mais crível para o meu chefe do que minha explicação.”

Envolvendo minha mão no pescoço de sua cerveja, eu a


trago em meus lábios.

“De jeito nenhum.” Ele balança a cabeça, puxando-a


para longe de mim.

“Um gole.”
“Você poderia estar grávida.”
“Essa é a história da minha vida inteira com você! Você
não usou camisinha desde que nos casamos. Se não fosse
por toda a amamentação que manteve meus óvulos
afastados, teríamos dez filhos.”

“Sua matemática está errada, bebê. Só nos casamos há


seis anos. Sem múltiplos pontos, nunca teríamos sido
capazes de ter dez filhos agora.”

“Não banque o espertão comigo, senhor.” Eu seguro sua


camisa.
Ele sorri. “Onde estão meus rapazes?”

“Jeffrey está brincando com Brock ao lado, e Colton


ainda está dormindo.” Reviro os olhos em direção ao teto. “É
isso mesmo, né? Nós só temos três filhos. Não consigo
acompanhar. Toda vez que eu pisco, estou empurrando um
bebê seu para fora do meu corpo.”
Cage encolhe os ombros. “Eu te amo grávida.”
“Você me ama nua e montando seu pau.”
Ele sorri. “Isso também.”
JEWEL E. ANN

Eu não poderia ter sonhado com uma vida mais perfeita.


Thad seguiu em frente depois de me dar a perna ideal para a
gravidez. O mundo não é mais ‘nosso’ para transformar, é
dele. Eu estou bem ocupada com três crianças e meu blog.
Nos ofereceram um acordo insano para fazer um reality show
depois que Cage se aposentou do futebol, mas esse não é o
nosso estilo. Em vez disso, iniciei um blog. Eu nunca poderia
ter previsto milhões de pessoas me seguindo, mas aconteceu.
Uma voz familiar segue uma batida rápida na porta dos
fundos. “Vocês dois nunca desistem?”

Cage me puxa para mais perto. “Não.”

Eu me solto de seu abraço e depois retomo minha


obsessão com marshmallow. “Oi, Flint. Você fica para jantar
ou tem um encontro quente?”
“Sem encontros. Não há mais mulheres.”
Cage pega para Flint uma garrafa de café gelado com
leite de amêndoa da geladeira — que sempre deixamos à mão
apenas para ele — e entrega a ele. “É sobre a nova inquilina?”

“Nova inquilina?” Minhas sobrancelhas se levantam.


“Ela está sendo despejada assim que eu puder expulsá-
la legalmente.”
“Alguém me diz do que se trata.”
Cage sorri. “Ele encontrou alguém para alugar o espaço
em cima do escritório de advocacia.”

“E isso não é uma coisa boa?”

Flint faz uma careta para mim. “Não. Ela não é.”

Cage continua: “Os negócios dela são barulhentos e


perturbadores.”
“Ah? O que ela faz?”
“Me deixar louco.”
JEWEL E. ANN

Cage e eu rimos.

“Ela é uma terapeuta”, Cage pisca para Flint.


“E... os terapeutas fazem muito barulho, como?”

Flint suspira. “Ela é musicoterapeuta.”


Meus olhos se estreitam. “Isso existe?”

Ele segura o café com uma mão, engolindo-o, enquanto


afrouxa a gravata com a outra mão. “Pelo visto.”

“Flint tem uma lista de empresas que ele não permitiria


alugar o espaço, mas...”
“Mas eu não pude excluir alguma porra de profissão que
eu não sabia que existia, no acordo.”

“Então, do que estamos falando? Piano? Violão?”


“Depende do dia. Hoje foi bateria.”
“Não vejo o problema.” Enfio mais arroz crocante na
boca. “Se ela não contou sua profissão.”

“Ela contou.” Cage ri. “Mas Flint não pensou em


perguntar o que exatamente um musicoterapeuta faz porque
estava muito ocupado com os seios dela.”
“Cage!”
Ele encolhe os ombros. “Palavras de Flint, não minhas.”

Flint puxa a gaveta da lixeira e joga sua garrafa nela.


“Terapeuta. Apenas a palavra implica muito silêncio e
algumas palavras faladas em voz baixa. Eu presumi que um
musicoterapeuta...”, ele esfrega a nuca, “…eu não sei…
deixasse os pacientes deitarem em um sofá de couro caro
para ouvir música clássica, usando fones de ouvido com
abafador de ruído. Não em crianças autistas batendo em
bongôs.”

“Parece uma profissão legal.”


JEWEL E. ANN

Flint e Cage me olham.

“O que?” Sim. Parece que eu sou a única pessoa na sala


perceptiva o suficiente para ver o óbvio? “Harrison adora
música. Talvez você devesse mandá-lo para fazer terapia com
ela.”

“Meu filho não precisa de terapia”, Flint diz em uma voz


branda.

“Ele precisa porque seu pai o inscreveu para todos os


esportes possíveis, mas tudo o que ele quer fazer é tocar
música.” Meu nariz franze. “Eu sei que você odeia quando
digo isso, mas acho que Harrison é um gênio musical — um
prodígio.”
“Ele passou três anos muito influenciáveis de sua vida
sendo agredido pela minha ex-sogra. Ela o matriculou na
aula de dança. Se ele precisa de terapia, é para canalizar a
testosterona em seu corpo.”
“Diz o cara que inventou sua própria pomada de ervas e
anticoceira para Shayna quando ela teve catapora.”

“Sou bem-educado. Harrison pode tocar Bach e fazer


pirueta na sala de estar, mas ele não sabe jogar um lance
livre ou pegar uma bola de futebol para salvar sua vida.”

“Não acho que a falta de habilidade atlética seja uma


situação de vida ou morte. Certo, querido?”

O olhar de Cage passa entre nós. “Acho que está na


hora de Jeffrey voltar para casa.”

Ele aponta o polegar em direção à porta. “Eu vou deixar


vocês dois resolverem isso.”

“Covarde.”
“Simplesmente inteligente”, ele diz antes que a porta se
feche atrás dele.
Flint e eu nos entreolhamos por alguns segundos antes
de rirmos. “Parece como nos velhos tempos.”
JEWEL E. ANN

Flint assente. “No momento em que começávamos a


discutir, ele fugia.”

“Aqueles eram os dias.”

“Acha que ele sente falta?”

“Nós brigando?”

Flint balança a cabeça. “Do futebol. Eu nunca quis


perguntar.”
Coloco minha colher na tigela e a encaro por alguns
segundos. “Claro, quero dizer... vocês dois se reúnem para
assistir todos os jogos. Então sabe que ele ainda ama, mas
acho que Cage nunca se arrependeu de sua decisão. E não é
que eu não tenha observado. Quando ele está assistindo a
ESPN ou olhando fotos antigas, eu o encaro, esperando ver
um pequeno vislumbre de tristeza ou saudade daquela vida.”

Eu balanço minha cabeça. “Mas não vejo isso. Por mais


de seis anos, tudo que já vi é uma adoração completa por
essa vida que temos, nossos filhos e seu trabalho.” Um
sorriso aparece nos meus lábios. “Ele diz que o futebol era
apenas uma maneira divertida de ganhar ‘um pouco de
dinheiro’ enquanto esperava sua vida realmente começar —
enquanto esperava por mim.”

“Você se preocupa que, quando parar de ter filhos, ele


fique inquieto e comece a sentir um pouco de
arrependimento?”

“Ha! Preocupo-me de nunca pararmos de ter filhos e, se


esse dia chegar, sinto que ele será velho e cansado demais
para lembrar que já praticou o esporte.”

“Mamãe?” Amelia chama.


“Oi, querida.” Eu levanto um dedo para Flint quando me
viro em direção ao quarto para pegar Colton de seu berço.

Flint sorri quando volto com meu garotinho de seis


meses nos braços. “Ei amigo.”
JEWEL E. ANN

“Onde está Harrison, afinal?”

Flint bagunça a cabeça de Colton, com cabelos loiros e


grossos. “Festa de aniversário.” Ele olha para o relógio. “Eu
tenho que buscá-lo em uma hora.” Seus olhos se voltam para
Colton, em seguida, para Amelia quando ela traz o prato de
volta para a cozinha.
“Você precisa de uma esposa, Flint. E pelo menos mais
três crianças.”
“Não.” Ele balança a cabeça assim que Cage e Jeffrey
aparecem.
“Jeffrey Aric Monaghan! O que aconteceu com seu
cabelo?” Engasgo com seu moicano.
“A mãe de Brock pensou que eles estavam brincando no
porão. Eles estavam no banheiro com o aparador de barba do
pai dele.”
Jeffrey sorri. “É legal.”

É horrível. Apenas uma raspagem completa da cabeça


consertaria.
Flint me beija na bochecha e Colton na cabeça. “Claro,
Lake. Eu preciso de mais filhos e uma esposa.”

Não consigo apagar a careta do meu rosto enquanto


meus olhos permanecem fixos em Jeffrey.
“Está incrível, grandão.” Flint estende o punho e Jeffrey
bate nele com o seu. Então dá um abraço em Cage e sussurra
algo em seu ouvido que traz um enorme sorriso ao rosto de
Cage.

“Confie em mim. Eu sei”, Cage responde pouco antes de


Flint fechar a porta.

*
Depois do jantar, uma cabeça completamente raspada e
três banhos, finalmente caímos na cama, aproveitando o
JEWEL E. ANN

silêncio temporário ao nosso redor. Cage tira minha calcinha


e depois minha camiseta.

Eu amo como, depois de três filhos, ele ainda me olha


como um milagre.

“O que Flint sussurrou em seu ouvido antes de sair?”


Minhas palavras saem ofegantes quando sua língua circula
meu mamilo.

“A mesma coisa que me disse no dia do casamento,


quando você estava andando pelo corredor.”

“E o que foi?” Meus quadris estremecem quando sua


mão desliza entre as minhas pernas.

“Ele disse, ‘melhor decisão da sua vida, amigo’.”

Fim

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