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Um

romance de

Danny Denaro

2019
1ª Edição

Revisão e diagramação: Danny Denaro
E-mail: autoradannydenaro@gmail.com

Capa: Joe Editorial
Instagram: @joeeditorial




É proibida a reprodução, total ou parcial, do conteúdo sem prévia autorização do autor da obra.

Edição Digital ǁ Criado no Brasil

Casamento Roots Copyright© 2019 Danny Denaro

Essa é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência. Essa obra segue as regras da Nova Ortografia da língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. É
proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

“Quando há amor… tudo se transforma”



Depois que o senhor Brusque determinou que seus três filhos se casassem no prazo de
45 dias, Felipe, o caçula, se vê obrigado a encontrar uma esposa. Por causa do seu jeito
alternativo de enxergar a vida, percebe que Camila seria a escolha perfeita. Disposto a
conquistá-la, dá início ao seu plano, porém, não imaginava o quão difícil seria.
Camila se vê perdida diante de uma repentina reaproximação. Receosa, tenta fugir de
Felipe como o diabo da cruz. Mesmo ele lhe mostrando um lado, que até então não
conhecia.

Casamento Roots é o primeiro livro da série: Casamentos Arranjados, que contará a
história dos três irmãos Diogo, João e Felipe. Eles são obrigados pelo pai a se casarem, e
agora, iniciarão uma corrida contra o tempo.






— Eu não acredito que Felipe ainda dorme! — bradou seu pai, subindo pela
ornamentada escada de mármore Carrara, apoiando-se no corrimão de vidro. — Ele tem
26 anos, não é mais um moleque!

— Já tinha pedido para acordá-lo — informei, subindo em seu encalço.

— Camila você é como da família — bufou olhando para trás —, poderia tê-lo
chamado.

— Eu?! — Arregalei meu olhos. — Jamais entraria naquele quarto sozinha, Sr.
Brusque.

Ele andou pelo corredor, iluminado pelas elegantes luzes dicroicas e parou diante da
porta branca fechada; inflou suas narinas, inalando o odor que passava pela fresta.
— Que… fedor é esse? — crispou seu semblante. — É o que estou pen…

— Por que o senhor não volta para o escritório? — sugeri, reconhecendo o cheiro da
erva. — Chamo Felipe e já me encontro com o senhor. — Sorri demonstrando uma falsa
alegria.
Ai meu Deus, se ele soubesse o quanto evito me aproximar desse seu filho,
principalmente agora que descobri que é um drogado!

De todos os irmãos, o caçula Felipe era o mais lindo — mas ele nunca saberia disso
—, ainda que fosse o mais acomodado e vivesse com a cabeça no mundo da lua.
— Mas — me olhou desconfiado —, não acabou de dizer que jamais entraria no
quarto dele sozinha?

— Pois é… — O virei, segurando em seus ombros, afastando-o da porta e voltando


para a direção da escada. — Mas pensando bem, o senhor tem razão. Afinal, temos quase
a mesma idade e convivemos como… irmãos. — Ele me fitou de soslaio e mostrei meus
dentes, já que não afirmaria que aquilo fosse um sorriso.

Sinto muito carinho pelo senhor Bruno, que me amparou quando perdi os meus pais
em um acidente de carro; o que quase me matou também. Trabalho há anos como
secretária pessoal da conhecida família Brusque, líderes no ramo da construção civil. E
por não querer que ele sofresse um ataque do coração, ao saber o que o filho fumava,
preferi passar por cima do meu orgulho e entrar naquele antro sozinha.

— Okay… A autorizo a entrar naquele quarto, seja lá o que ele estiver fazendo —
disse descendo a escada. — E diga que eu o espero no escritório para uma reunião
urgente… — E ergueu o dedo indicador em riste, enquanto continuou a reclamar. — E o
prepare para a bronca que darei. Onde já viu, um homem de sua idade agindo como um
adolescente, e no meio da semana…

Assim que o Sr. Bruno sumiu pela escada, endireitei meu tailleur e abaixei minha
saia; respirei fundo e voltei para o quarto. Bati três vezes e nada. Aguardei por alguns
instantes e, conferindo que não havia ninguém no corredor, encostei o ouvido na porta.
Ouvi o som, como se fosse um farfalhar da roupa de cama. Bati novamente e apoiei-me na
maçaneta.
— Aí merda! — chiei quando ela se abriu.

Expeli o ar dos pulmões e entrei. Abanando a mão na minha frente, para espantar o
forte cheiro, andei pelo pequeno corredor de acesso, quase no escuro, o que me remeteu a
algo que não queria recordar. Assim que me aproximei da parede, de frente para a cama,
tateei até alcançar o interruptor e ouvi um baixo riso.
Acendi a luz.

— Ai meu Deus! — gritei, tampando meu rosto com uma mão.


Mas aquele ditado: “A curiosidade matou o gato”, me caiu como uma luva. Porque no
ápice do meu repentino interesse em vê-lo nu, afastei os dedos e me arrependi no mesmo
instante.
— Camila?! — questionou ele. Virando sua cabeça, deu alguns sutis tapas na coxa da
parceira, que estava com as pernas enlaçadas no seu quadril, e parou os movimentos. — O
que faz aqui?

Saiu de cima dela e ficou em pé, o que me fez ter uma bela visão da sua bunda
redonda. Até aqui gostava do que via, mas quando ele se virou, com aquele membro em
riste, arregalei meus olhos e abri a boca. E esse foi o pior erro que já cometi na vida! Com
um sorriso sacana ele o segurou e o apontou na minha direção, batendo-o na sua outra
palma aberta.

— Gosta do que vê? — indagou.


Se eu gostava?! Ô…! Ouvia o baque de seu falo chocando contra a sua mão e
divaguei no quanto deveria ser pesado; da glande rosada escorria sua lubrificação e foi
então que caí em mim. Meu Deus… estou avaliando o pênis do filho do meu chefe!

— Cubra-se! — ralhei, tampando a minha visão novamente e joguei uma roupa, que
estava sobre o home. — Seu pai deseja falar com você.

— Porra… logo cedo o velho já quer me encher o saco! — reclamou enquanto


ajeitava seu membro, vestindo a bermuda sem a cueca e deixando o botão aberto.

Preciso me concentrar… antes que minha mente me leve para um lugar sem volta!

— E… ele percebeu o cheiro de maconha — avisei.

— Mas eu não fumo, foi ela… — Apontou para a jovem, que pegava o baseado do
cinzeiro, apoiado no criado-mudo. E virando-se para morena, que permanecia nua, ralhou
do seu jeito: — Tá vendo, Lorena, disse que não era para ter acendido. Agora ouvirei até
minha próxima vida…

Felipe era o cara mais calmo que conhecia; nunca o vi perder a paciência ou elevar
sua voz; vivia com um sorriso no rosto e tudo era motivo para agradecer ao universo. E
agora mesmo, acabou de dar uma “bronca” na sua namoradinha. Se ele soubesse como eu
gritava quando estava com as minhas amigas…
— Mas não expliquei do que se tratava o cheiro — afirmei, o que fez ele se virar.

Andei até a larga porta, que dava para a sacada, e puxei as pesadas cortinas.
— Para que isso? — reclamou a jovem. — Ainda é tão cedo!

Não respondi e as abri. Felipe cerrou seus olhos, diante da claridade. Me virei e, ao
passar por ele, o instruiu:
— Sugiro que abra as outras janelas — disse ao escancarar a porta da sacada —, para
que esse fedor saia. Além de se livrar desse baseado e descer para conversar com o seu pai
— cheguei à porta do quarto, abaixei a maçaneta e antes de sair o fitei novamente, já que
me acompanhou até o meio do corredor. — E aconselho a tomar um banho antes, está
fedendo a sexo.

Bati a porta atrás de mim e me recostei nela. Puxei a respiração repetidas vezes, com
meus olhos fechados. Não deixaria minha mente me levar por esse caminho, Felipe era o
meu fim.

Mas se antes o achava lindo, agora vendo-o nu e sabendo que é superdotado…


— Manhã difícil? — questionou Diogo, o irmão mais velho e o mais sério deles.

Tenho certeza que em minha testa havia um letreiro: “Socorre aqui, estou morrendo
de tesão!”, pois ele me olhava com certo divertimento.

— Não… — Sorri timidamente, tentando disfarçar seu interesse. — Apenas mais


uma peripécia do seu irmão.

— O que Felipe fez? — inquiriu se aproximando.

— Nada demais — respondi indo ao seu encontro, já que seu quarto ficava próximo
da escada, e impedindo-o de se aproximar pois ainda sentia o cheiro da erva. — Seu pai
convocou a todos para uma reunião.

— Agora?! — perguntou com sua voz grave.

— Sim… — delicadamente toquei em seu braço e apontei para a escada. — Vamos?


Ainda tenho que encontrar João, já que não dormiu em casa. Aliás — o olhei curiosa —,
dormiu aqui hoje?
— Fiquei a pedido de minha mãe — explicou com seu modo seco. Olhou para o seu
caro relógio de pulso. — Tenho outra reunião na empresa daqui a uma hora — resmungou,
já tirando o telefone do bolso interno do paletó. — Avisarei Nathalia.

Desci pela escada, bem atrás dele, quando respirei aliviada por ter livrado Felipe de
outra bronca. Instantaneamente olhei para trás.
— Definitivamente mereço um aumento — resmunguei baixo. — Te livrei de duas
hoje!

Desanimado, entrei no banheiro, abri o chuveiro e enquanto aquecia, regressei para o


quarto.
— Melhor apagar isso aí, Lorena — pedi com calma. — E se troca, preciso ver o que
o coroa quer comigo. Se demorar, ele cortará a minha grana; daí já era os nossos rolês.

Voltei para o banheiro, já abaixando a minha bermuda, a joguei no cesto de roupa e


entrei no box. Por não querer molhar meus dreads, os prendi no alto da cabeça e banhei-
me.

Me enxaguava quando senti uma mão tocar o meu quadril, enquanto a outra, segurava
meu pau relaxado.

— Tô com pressa, gata — disse fitando-a, enquanto a via levá-lo à boca. Suspirei e
sorri de lado, quando ele reagiu. — Mas acho que dá tempo para uma boa chupada… —
Alisei sua cabeça e finquei meus dedos no seu couro cabeludo. — E… está me devendo
uma gozada mesmo…

***

Assim que deixei Lorena na cozinha, para que tomasse seu café, peguei um copo de
suco, alguns pães de queijos e fui em direção ao escritório. Abri a porta e Camila trombou
comigo, estava ao telefone e nem me deu atenção. A vi se afastar em direção da antessala,
próxima da porta, enquanto abaixava sua saia preta.
Lembrei-me de quando brincávamos no jardim, enquanto nossos pais jogavam tênis.
Ela era tão alegre e sorridente. Vivíamos juntos, até que na adolescência… nos afastamos.

Fiquei acompanhando-a quando colocou uma mecha de seu cabelo loiro-avermelhado


— acho que era essa a cor — para trás da orelha e pegava algo na mesa de centro.
— Ela não é para o seu bico — retrucou Diogo atrás de mim, ao notar que
acompanhava o movimento dela, fitando seu quadril empinado. — Nem pense nisso!
— Até que ela ficou bonitinha… — brinquei, o olhando de soslaio, e fiz uma careta.
Ele maneou a cabeça em desaprovação. — Que Deus me livre! — afirmei, mordendo um
dos pães. — Ela é jovem, mas tem alma de velho… olha como age. Tô fora!

Entrei na sala e vi meu pai conversando com o seu advogado, Rubens. Assim que me
fitou, fechou o semblante e bufou.

— O que você fez dessa vez? — questionou meu irmão, ao meu lado.
Não entendia a perseguição do meu pai só porque optei em ter qualidade de vida.

— Sei lá… — Dei de ombros e enfiei mais um pão de queijo na boca. — Acho que
ele não curte esse meu jeito roots de ser.
— O que era para ter mudado, né Felipe?! — afirmou. — Já é um homem e precisa
amadurecer. Até quando mamará na teta do papai? — perguntou e quando abri a boca para
respondê-lo, ergueu seu indicador e saiu para atender à ligação. — Nathalia preciso que
você…

— Mamando na teta do papai?! — resmunguei. — Vá para a puta que pariu… a boca


é minha, a teta é dele e enquanto me oferecer, continuarei assim.
Acomodei o copo na mesinha lateral e me joguei no sofá de couro caramelo, apoiei
meu pé descalço no assento. Camila entrou e me encarou, claramente reprovando a minha
postura. Ergui meu queixo com desdém e tomei um gole do suco. Tiraram o dia para me
atacar, só pode… Ela empinou seu nariz e saiu. O que eu fiz para que ela me tratasse
sempre assim?! Foi então que me dei conta de como mudou comigo desde que…

— Muito bem, vamos começar. João logo chegará, então darei início com os dois —
começou meu pai, com Diogo fechando a porta atrás de si. — Sente-se ao lado do Felipe
— pediu para ele, que desabotoou seu blazer e sentou-se com elegância, cruzando uma
perna sobre a outra. — Como sabem, estou velho e resolvi tomar alguns cuidados com o
nosso patrimônio. — Olhou para o advogado, sentado na cadeira de frente da mesa. —
Com a ajuda de Rubens, estou fazendo a partilha dos bens e deixarei tudo pronto para o
meu testamento.
Apoiei o copo na mesinha.

— Para que isso? — questionei num sussurro para Diogo, que não me deu atenção.
— Será que ele sabe que vai morrer…
— Portanto — continuou meu pai —, determinei que: 1. Para que continuem tendo
direito às ações da empresa, deverão se casar…
— Casar?! — gritamos.

Ai merda! Que porra é essa?!


— Como é?! — Diogo descruzou a pernas, firmou seu pé no chão e inclinou-se para
a frente.

— Isso mesmo o que ouviram — continuou meu pai, se levantando e andando para a
frente da mesa. — João já está com 35 anos; você, Diogo, com 38 anos e Felipe… —
ergueu as mãos — Não sei o que fará da sua vida. Precisa…
— E o que a nossa idade tem a ver com casamento? — argumentou meu irmão,
visivelmente contrariado.
— Porque quero que sejam pessoas realizadas e que não vivam somente em função
da empresa. Quer dizer, você e João — respondeu olhando para Diogo. E me fitando,
revirou os olhos. — E você, Felipe, precisa ter um rumo na vida!

— Espera aí… — disse me levantando. — Eu tenho profissão…


— Mas não se dedica realmente! — Ele me cortou.

— É que…
— Ainda não terminei! — Me interrompeu de novo e continuou: — 2. Deverão se
casar no prazo de 45 dias…
— Absurdo! — Diogo se levantou irritado, jogando seu blazer para trás. — Isso é
ridículo!
— … Findado este prazo aquele que não estiver vivendo em matrimônio, todas as
ações passarão, automaticamente, para o que já estiver casado.

— Oi!? — Não acreditei no que acabara de ouvir. — Está querendo dizer…


— Aquele que se casar receberá as ações; o que não, ficará sem nada.

— Isso é loucura! — chiou Diogo, apoiando as mãos no quadril, enquanto andava de


um lado para o outro. — Não percebe que está incitando uma disputa entre nós?

— Não meu filho, sei que neste momento não entenderão; reclamarão e até me
xingarão de velho louco e do que mais quiserem me chamar — falou, gesticulando e
voltando para trás da mesa. — Mas, mais para frente, me agradecerão.
— Quer dizer que para eu receber a minha grana mensal, terei que me casar? —
questionei.
— Não… — respondeu e suspirei aliviado. Ufa… — No seu caso tem mais uma
cláusula: 3. Felipe terá que trabalhar todos os dias na empresa…

— Puta que pariu! — Tampei meu rosto com as mãos e me larguei no encosto do
sofá.

— … para que continue recendo seu salário. — Concluiu e me encarou sério, pois eu
fazia uma careta, descrente de tudo aquilo. — É isso mesmo, Felipe. Se quiser receber,
terá que trabalhar; caso contrário, não te darei nem mais um centavo.

Foi neste momento que respirei fundo e repeti meu mantra, mentalmente. Não
deixaria que aquela energia negativa se aproximasse de mim. O universo sempre
conspirou a meu favor e não seria diferente agora. Peguei meu copo de suco e enquanto
procurava me acalmar, acompanhando o ritmo da minha respiração, a porta se abriu e João
passou por ela, ansioso.
— Desculpem a demora, foi difícil me livrar da gata de hoje… — disse, fechando-a e
se virando para todos, analisou nossos semblantes. — O que tá pegando?

— Papai quer que nos casemos — respondi com calma e sorvi um gole do suco.
— É o que?! — gritou, franzindo a testa. — Casar… que porra é essa?!

— Para termos direito das ações da nossa construtora, teremos que nos casar no prazo
de 45 dias, do contrário, nada! — Resumiu Diogo, nervoso.
— Meu pai — João se aproximou e apoiou as mãos na mesa —, sabe que isso não
nos obrigará e que, legalmente, temos direito às ações…
— São estas as minhas condições. — O cortou. — Rubens deixará uma cópia com
vocês. Peço que leiam atentamente a todas, mas é basicamente isso que conversamos —
disse contundente e se levantou. — Ah… quase me esqueci, tem a cláusula que fala sobre
meus netos.

O encaramos assustados.

— Netos?! — João sussurrou, enquanto Diogo fitou nosso pai com seu olhar glacial.

— E se não aceitarmos? — Ele se aproximou da mesa o encarando. — O que fará


com as ações se nenhum de nós se casar?

O coroa pensou brevemente e sustentou seu olhar firmemente. Diogo era o mais
velho e o mais centrado de nós; sua vida era aquela construtora e certamente não abriria
mão de todo trabalho, e tempo, que dedicou ali.

— Então deixarei para Rubens, meu braço direito… — Neste momento, até eu ergui
a minha voz e debati sobre o que ele falava. Nós três desaprovávamos todo aquele
absurdo, mas ele fingia não nos ouvir. — Viajarei para o litoral e retorno daqui uns dias —
continuamos todos juntos, reclamando, mas ele simplesmente passou por nós e abriu a
porta, com Rubens atrás dele. — Espero que até o meu regresso já tenham escolhido a
minha futura nora. Até mesmo porque, organizar uma festa de casamento é demorado
demais. — Olhando para nossas caras, sorriu. — Aconselho a iniciarem suas buscas logo.
E você — apontou para mim —, sua jornada começa hoje mesmo. Adeus!

— Mas pai! — João o chamou, mas ele bateu a porta assim que nos deixou sozinho.
— Que caralho é esse?!
— Vocês só terão que se casarem, e eu, que além disso, terei que trabalhar!? —
Suspirei fundo, peguei meu copo e me levantei. — Não sei o que será de mim… tô fodido.

Eita… que o babado tá pegando fogo! Com o ouvido encostado no escritório,


escutava toda a conversa; só que o barulho do porta da frente me fez afastar a tempo do
João não me pegar no flagra. Seus cabelos, castanho-claros, estavam molhados e
penteados para trás; sua fragrância amadeirada marcou o ambiente e se aproximou com
sua postura máscula, o que faria qualquer mulher se derreter. Ele era muito bonito e o mais
mulherengo dos três.
— Estão aí dentro, Cami? — questionou apontando para o escritório.

— Sim. — Sorri e ele me deu um beijo na bochecha.

— Depois quero conversar contigo… — avisou e fechou a cara, ao entrar.


Fiz uma careta para as suas costas.

— Mesmo sendo um pedaço de homem… — iniciei, mas fui interrompida.

— Que sortuda eu sou, não é? — disse Angela.

Virei-me constrangida e a vi na entrada da antessala, andando apoiada na sua bengala.


Recostei-me contra o alto encosto da poltrona da saleta.

— Me perdoe — pedi sem graça —, não quis parecer ousada.

— Bah[1] — acenou, sentando-se na poltrona com extrema elegância —, estou


acostumada com mulheres babando por meus filhos. — Abriu sua bolsa de grife e retirou
seu celular. — Uma pena eles continuarem solteiros… mas isso logo mudará — afirmou,
colocando seus óculos para leitura. — Recebi uma mensagem e queria mandar aquelas
carinhas amarelas, mas ainda não aprendi a mexer nesses… negócios.

Caminhei na sua direção.


— Deixe-me te ajudar. — Abaixei-me e expliquei, novamente, como funcionava o
aplicativo.

— Tu és sempre tão prestativa e carinhosa — disse tocando no meu rosto, fazendo


com que o erguesse. — Queria tanto ver um brilho nesse seu olhar, minha filha.
Angela era como uma segunda mãe. Depois do acidente, fora ela quem cuidara de
mim, pois minha família morava no interior de São Paulo e não mantínhamos muito
contato, já que minha mãe também era filha única e só tinha amizade com uma prima. Por
estar no início da faculdade, de Secretariado Executivo, eles fizeram com que eu
continuasse morando aqui e até me deram um quarto, mas não aceitei e disse que só
permaneceria com eles se ficasse na ala dos empregados. Obrigaram-me a aceitar que
pagassem o curso e quando precisei de estágio, contrataram-me na empresa. Mas Angela
adoeceu e precisavam de uma secretária particular para que a acompanhasse no tratamento
contra o tumor ósseo na bacia e que administrasse os assuntos pessoais da família. Desde
então, e por ser grata a eles, continuo assessorando-os. E não posso negar que ganho muito
bem para isso.
— Mas eu sou feliz, Angel — disse com um sorriso mudo, a chamando pelo apelido
carinhoso.
— Não… o teu sorriso não chega aos olhos — afirmou e me fitou com carinho. —
Mas ei de ver-te muito feliz e realizada, guria. — Puxou meu rosto e beijou minha testa.
Naquele momento o Sr. Bruno saiu do escritório junto com Rubens, que fechou a
porta atrás de si.

— Pronto… — Soltou o ar e ajeitou seu terno claro de linho. Veio em nossa direção.
— Está feito, meu amor. Em breve teremos nossos netos correndo por aqui.

— Ah… — Ela sorriu e lhe estendeu uma mão, que a pegou e levou-a aos lábios. Se
um dia me casasse, que fosse com um homem como o senhor Bruno, aliás, os dois eram
exemplos de uma vida matrimonial. — Que bom… e reclamaram muito?

— De todos, Diogo fora o que mais me assustou.

— Imaginei que agiria assim, sabe de sua resistência em relacionar-se… — Com um


sútil sorriso, me fitou. — Cami, meu amor, será que tu pedirias para que me trouxessem
um mate?

Angela era do Sul e ainda mantinha o hábito de matear. Em várias vezes a


acompanhava, o que acabou despertando esse costume em mim.
— Claro, eu mesma o prepararei. — Me levantei e depois de pedir licença, os deixei
sozinhos. Sei quando pedem por privacidade, fiz um curso de etiqueta.

Ao me aproximar do escritório, que ficava perto do corredor, a porta se abriu e Felipe


saiu com pressa, andando em minha frente, na direção da cozinha. Abaixei meu olhar e vi
o movimento de sua bunda, marcada na calça de moletom cinza; estava descalço e usava
uma camiseta básica branca, dobrada nos braços, marcando seus discretos músculos. Não,
ele não era daquele tipo como em livros românticos: mega musculoso e tal; era um homem
alto e esbelto, de porte físico másculo, mas nada exagerado. Parte de seus dreads
balançavam no meio das costas, enquanto a metade continuava presa no alto da cabeça.
Era tão sexy aquele seu jeito rústico… às vezes me pagava pensando no homem que havia
se tornado.

Ele entrou na cozinha e se acomodou ao lado de Lorena, que comia na mesa da copa.
Iniciaram uma baixa conversa e segui para a pia. Enquanto preparava a erva mate na cuia,
e aguardava a água aquecer, disfarçadamente, prestava atenção neles.

— Você pirou?! — Lorena elevou sua voz. — Não tô a fim não, Felipe. Na boa…
nossa vibe é daora[2], mas casar… não rola não!
— Mas não precisamos nos casar de verdade… — insistiu ele a acompanhando, ao
vê-la se levantar. — É só… fingirmos!

— Não… Ihhh… tô fora! — Ela pegou um pedaço de bolo e saiu em direção da sala.
— Depois seus velhos pedirão netos e… na moral, não quero!
— Mas Lorena… — Ele andava atrás dela, até que sumiram pelo corredor.

Arregalei meus olhos enquanto despejava a água na cuia e fincava a bomba; depois
coloquei o restante na chaleira de porcelana e a arrumei na bandeja, junto com o
chimarrão pronto.

— Você ouviu, Cami? — questionou Maria, a nossa cozinheira, cochichando. — Ele


pediu para casar e ela não quis, foi isso mesmo?

— Pois é… parece que sim — respondi, contornando a ilha. — Mas já sabemos que
casar Felipe será quase impossível. Quem aguentaria esse seu jeito largado?!
— Eu! — E revirou os olhos, enquanto mordia seu lábio inferior. — Se fosse mais
magra… certeza que ele me notaria!

— Assanhada! — gargalhamos juntas. — Contarei para dona Angela, agora


mesmo…
E sai, segurando a bandeja, rindo sozinha. Assim que me aproximei da antessala, vi
Diogo e João em pé, ao lado da mãe. Ela me chamou e parei na sua frente; a servi,
enquanto eles continuavam a conversar.
— Mas mãe — falava Diogo —, presta atenção: não sou obrigado a me casar por
causa de um capricho!

— E viverá infeliz pelo resto da vida? — questionou ela, enquanto pegava sua cuia.
— E desde quando casamento é sinônimo de felicidade? — crispou.

— Fala isso porque ainda não encontrou o amor, Di — falou depois de sorver um
gole de sua bebida fumegante. — Vai por mim, meu amor, quando encontrar a pessoa
certa, o seu mundo passará a ser ela.

— Jamais! — exasperou e se afastou em direção à porta. — Se meu pai me quer


casado, não reclame se for por contrato! — Saiu batendo a porta.

— Pai… não conseguirei ficar com uma só mulher… — começou João, mas o senhor
se levantou e caminhou na direção da cozinha, com o filho em seu encalço. — Presta
atenção, tenho vários contatos e algumas fixas…

— Não voltarei atrás, João! — bradou, o interrompendo. — Já está na hora de você


deixar de ser esse mulherengo…

Os acompanhei, com o olhar, até que sumiram pelo corredor que levava para a
cozinha.

— Filhos… não entendem quando agimos em prol deles.

— Acabei de ouvir Felipe pedir sua namorada em casamento — contei e ela


semicerrou seus olhos. — Mas ela não aceitou.

— Lorena não é mulher para ele — afirmou, voltando a sugar a bomba. — Felipe
precisa de alguém forte, que lhe impulsione na vida e não de uma encostada como ele.

— Mas será difícil arranjar alguém assim, Angel — falei, me levantando. — Uma
mulher decidida, deseja ter ao seu lado um homem como ela.
— Nada é impossível, Cami. Quando há amor… tudo se transforma.
Ela se calou diante de passos na escada e a voz de Felipe ecoando pela casa.

— Mas Lorena, se você me ama… — Ele andava atrás dela.


— De onde tirou isso, Felipe?!

— Mas você disse mais cedo, enquanto estávamos… — Apontou na direção do seu
quarto. — Tenho certeza que ouvi…
— Deve ter sido a brisa da marola… — disse, negando com a cabeça. — E chega…
Não é não! — bradou, se aproximando da saleta, segurando uma mochila nas costas.
Parou na frente de Angela. — Obrigada por tudo, viu dona Angela. Mas me casar com ele,
não vai rolar! — Se virou, abriu a porta da casa e saiu na direção do seu carro.
— Lorena! — gritou Felipe parando no batente, a acompanhando enquanto saia da
garagem. Entrou e, com o semblante caído, se jogou na poltrona de frente para a mãe. —
Poxa, pensei que ela gostasse de mim.
— Não se importe, meu filho. Ela não é a mulher certa para você.

— Justamente agora que meu pai inventou essa merda toda… — bufou. — E onde
arranjarei alguém que queira se casar comigo?

O olhei segurando a vontade de rir, era cômico vê-lo desesperado para casar-se só
para não perder a grana do pai. Ele ergueu suas mãos à cabeça e, como estava com as
pernas abertas, vi a marca do seu volume; disfarcei e me virei para Angela, que
acompanhava o meu olhar. Morri de vergonha por ter sido pega e não soube onde enfiar a
cara.

— Se… — Limpei a garganta. — Precisar de mim… estarei no seu quarto —


informei já me virando; sentia meu rosto queimar. — Conferirei se Ivone passou aquele
vestido que pediu.

— Cami… — Ela segurou minha mão e com carinho pediu: — Será que poderia
ajudar Felipe com o seu terno?

— Ajudar com o que? — Ele se endireitou.

— Ele terá que ir para a empresa, junto com os irmãos, e faz tempo que não usa um…
— Me olhou com intensidade.

— Terei que ir hoje? — questionou desanimado.

Ela concordou e depois voltou-se para mim, aguardando por minha resposta. Fitei de
seus olhos azuis para Felipe, que me encarava com os seus curiosos olhos verdes.
— Claro — concordei, forçando um sorriso. — Em um minuto o ajudo, só falarei
com Ivone.

Angela me sorriu e notei um brilho diferente no seu olhar. Ai meu Senhor, era só o
que me faltava!


Assim que conferi que as malas de Angela estavam prontas, deixei o vestido aberto
sobre a chaise do closet.

— Quer que eu passe algo para você levar, Cami? — questionou Ivone. Como neguei
calada, ela se aproximou de mim. — Está tudo bem?

— Ah Voni, sei lá — respondi respirando fundo, sentia uma aflição. — Sabe quando
prevemos que algo acontecerá?! — Ela concordou com a cabeça e continuei: — Pois é,
estou com esse pressentimento…
— Talvez seja algo para o seu bem. — Apertou meu ombro, carinhosamente. — Se
acalme.

— Não sei… — Soltei o ar, andei até o grande espelho e me encarei; abaixei minha
saia e arrumei o penteado, pois alguns fios ruivos se soltaram. Retirei a presilha e prendi
parte da mecha solta atrás da cabeça. — Preciso ajudar Felipe com o seu terno, antes de
pegar minha mala e partimos para Ilha Bela.
— Estarei na copa, se precisar de ajuda… — piscou para mim e saímos do quarto do
casal. — No que precisar, conte comigo.

— Obrigada, meu amor. — Sorri e mandei um beijo.


Ela passou por mim, quando parei na porta do quarto dele. Olhei fixamente para a
madeira branca por alguns instantes, respirei fundo e bati.

— Nossa… É assim tão difícil estar perto de mim? — questionou.

Continuei olhando para a porta e fechei meus olhos brevemente. Merda… E percebi
que se aproximava.

— Só estou com pressa por causa da viagem, Felipe. — Virei-me em sua direção,
mas me arrependi ao perceber que estava quase colado em mim e seu perfume cítrico
invadiu as minhas narinas.
— Então vamos nos apressar para que termine logo e parta para a sua viagem —
disse abrindo a porta; estendeu a mão para o interior e deu um passo para o lado. —
Damas primeiro. — Com um sorriso mudo, me fitou com seus olhos alegres.

Ahhh… nem vem com essa cara feliz para o meu lado!
— Obrigada. — Forcei meus lábios a sorrirem, mas certeza que não deu muito certo.

Entrei e com convicção soube que um tsunami passara por ali; ainda continha um
sútil cheiro da erva e havia roupas, misturadas com as de cama, espalhada por todo o
quarto; bem como toalhas sobre o lençol cinza.

— Acho que está meio bagunçado. Peço para que não repare, Mila.
— É Camila. — O corrigi, com meus olhos focados na cama.

Não queria que ele evocasse recordações que não deveriam nem ter existido.

— Mas nos tratávamos assim, no passado…

— Disse bem… — Me virei e o encarei. — Aquele tempo ficou para trás. Hoje sou
Camila e você, é Felipe. Okay? — questionei impondo minha voz.
— Tudo bem, braveza… — Fechei o semblante e ele ergueu suas mãos, rendendo-se.
— Quer dizer, Camila — corrigiu-se.

— Vamos logo arrumar esse seu terno, Felipe — disse, passando por ele e indo em
direção ao closet. Entrei e notei a desorganização. Bufei e pulei algumas roupas pelo chão.
— Deveria chamar Ivone, isso aqui está uma bagunça!
— É que andei ocupado — falou e me virei para fitá-lo.

Ele enfiou as mãos no bolso da calça cinza, que baixou um pouco mais e mostrou
parte de seu baixo abdômen, e se encostou no batente da porta.
— Ocupado com o quê? — inquiri, arqueando uma sobrancelha.
— Estou pensando em abrir um espaço esotérico — esclareceu entrando e se
abaixando, enquanto recolheu as peças caídas pelo carpete de madeira. — Estou fazendo
uns cursos aí… — As apoiou no móvel central e me fitou, com um charmoso sorriso. — E
venho praticando meditação e yoga.

— Entendi… quer dizer que você não é de todo largado?

— Não sou, Mi… Camila. — Se corrigiu. — Apenas optei em buscar algumas


respostas e vi que essa vida corporativa andava contra certos princípios.

— Mas é preciso trabalhar para sobreviver. Ninguém vive sem dinheiro.

— Não mesmo, mas não podemos nos tornar escravo dele… muito menos viver entre
disputa de egos, por sua causa.

Ficamos nos fitando e perscrutei seu rosto. Felipe tornara-se um homem bonito,
mesmo com aquele seu estilo rústico, era charmoso. Sua pele era bronzeada e seus cabelos
loiro-escuro, com vários fios claros, misturavam-se à goma dos dreadlocks. Ele coçou sua
barba cerrada, com variados tons entre o castanho-escuro e loiro-claro, e abriu um enorme
sorriso, mostrando seus dentes alinhados.

— Está me deixando constrangido, Cami. — Baixou seu olhar com charme.

Só então percebi o que fazia, rapidamente me virei em direção às portas de vidros,


iluminados pelas leds brancas, mostrando o interior de cada compartimento do closet. Ai
meu Deus… O que está acontecendo comigo? Não posso mais ficar perto dele, muito
deixar que esse sentimento regresse!


— Cadê esses ternos… — Ela girou nos calcanhares e se concentrou na sua busca.
Estavam atrás de mim, já sabia disso, mas tê-la ali, naquele apertado ambiente e
envergonhada por ter sido flagrada me avaliando… era divertido. — Achei! — Andou na
minha direção e quando viu que estava na sua frente, me fitou envergonhada. Ainda
sorrindo, dei passagem e ela deslizou a porta para o lado. — Alguma preferência de cor?
— questionou, sem me encarar.
Camila era transparente, sempre foi, e naquele momento percebi seu interesse sobre
mim. Há tempos não ficávamos próximos. Mesmo trabalhando em casa, quase nunca nos
esbarrávamos e raramente permanecia no mesmo ambiente onde eu estava. Agora percebi
que sempre me evitou. Mas confesso que curti esse lance de vê-la encabulada. Quero
provocá-la mais um pouco…

— Não… — disse bem atrás dela, com minha boca em seu ouvido. — Por mim iria
com as minhas roupas mesmo. — Sentindo a minha aproximação, deu um passo para o
lado.

— O que acha deste cinza? — Pegou o elegante conjunto e o ergueu. — Acho que
combina com o dia ensolarado, Li… quer dizer, Felipe — fechou o semblante e piscou
rapidamente, mirando o chão.

Touché… então se lembrava de como nos tratávamos?! Isso era um bom sinal, não
me esqueceu de todo.

— Se você diz… — O segurei por cima da sua delicada mão e, instantaneamente, ela
ergueu seu olhar até encontrar com o meu.

Oi, Mila… ainda estou aqui, gatinha. Aquele Lipe ainda está bem aqui… Ela se
perdeu em mim e sorri alegre. Disfarçando, ela limpou sua garganta e sugeriu com uma
voz mais aguda:
— Prove ele! — E retirou sua mão da minha. Então, decidido em provocá-la mais um
pouco, tirei minha camiseta e a joguei no chão. Ela me olhou franzindo seu semblante. —
O que está fazendo?

— Provando, como me pediu — aleguei de forma inocente.


Quero ver como reagirá ao me ver novamente… retirei o moletom e fiquei somente
com a boxer branca. Ela já tinha visto meu pau mais cedo, então não me importei pelo
volume que estava marcado. De forma embaraçada ela abaixou seu olhar e o notou.
Rapidamente bradou:

— Esperasse eu sair Felipe! — E virou sua cabeça.


— Ah… corta essa… — Peguei a calça e a vesti. — Vai me dizer que nunca viu um
homem pelado!?
— Você não está pelado…

— Mas me viu hoje… A menos que tenha ficado encabulada por nunca ter visto
alguém transado… — Arregalei meus olhos.
— Minha vida sexual não te diz respeito — resmungou, me fitando de soslaio.

— Não perguntei sobre sua vida sexual, apenas disse…

— Chega! — Se afastou e deslizou a outra porta de vidro, mexendo nas camisas


sociais brancas. — Aqui. — Me entregou uma.

— Desde quando se tornou essa pessoa séria que não tolera uma brincadeira? —
questionei, vestindo as mangas da camisa e a arrumando na minha frente.

— Desde que a vida me tirou meus pais e perdi o chão — falou com dureza, abrindo
as gavetas do móvel central. — Precisa de uma gravata…

— Mas pensei que tivesse superado a morte deles — aleguei, ajeitando a camisa para
dentro da calça e começando a abotoá-la.

— Nunca superamos, Felipe. — Ela ficou na minha frente e abotoou o último, depois
passou a gravata pelo meu pescoço. — Privar-se de alguém que se ama já é irreparável,
mas perder aqueles que são o seu alicerce… — falava concentrada no nó que fazia — é…
algo indescritível… insuperável. Meus pais eram tudo para mim — afirmou com tristeza
nos olhos.

— Me perdoe por ter evocado um assunto tão doloroso — pedi e toquei no seu braço.

Ela fitou meus olhos e forçou um sorriso, quando ajustou o nó no meu pescoço.
— Tudo bem… Hoje aprendi a falar deles com saudade e não com o sofrimento —
afastou-se e avaliou a gravata. — Essa não ficou boa, mas não tem outra aqui… — Olhou
para a gaveta e disse: — Termine de se vestir e calçar os sapatos, pegarei uma do Sr.
Bruno que combine. — Saindo pela porta, gritou: — Já volto.
Camila era uma mulher muito forte, determinada e resiliente. Passar pela perda brutal
de seus pais e ainda manter-se firme mesmo quando quase morreu, não era para qualquer
um. Terminei de me arrumar e andei até o espelho, vi minha imagem refletida e arrumei
metade dos meus rastas no alto de minha cabeça. Comecei a passar a mão em minha
barba, arrumando-a.

— Então você perdeu um outro amor, além de seus pais… — sussurrei para mim,
lembrando-me de sua fala.
Depois de alguns instantes ouvi o barulho de seus saltos e me virei em sua direção.
Camila me fitava com seus incríveis olhos azuis, pequenos e marcados pela pintura; não
conseguindo esconder sua surpresa. Ela puxou o ar e veio na minha direção, segurando
uma gravata rosa nas mãos.

— Acho que essa combinará — sua voz saiu baixa e um pouco rouca. Parou na
minha frente e ergueu seu olhar, permanecendo presa no meu por alguns instantes. — Erga
a cabeça, darei o nó… para você.

Assim eu fiz, mas mantive meu olhar nela. Seu rosto estava avermelhado e ela
puxava o ar com rapidez; evitava ao máximo me tocar e me olhar. Assim que terminou,
apertou o nó em direção do meu pescoço e ao segurar a gola da camisa, seus dedos
tocaram-me; foi então que senti um arrepio no local. Percebi a mudança de nossa energia e
a fitei sério; ela alisou a lapela do blazer e desceu suas mãos até a parte superior do meu
peitoral.

— Você ficou… bonito — sussurrou.

— Talvez o que precisasse… — disse tocando na parte posterior de seu braço. — Era
de alguém para me ajudar… — E a puxei para mais perto.

Umedeci meus lábios, atraindo seu olhar, e perscrutei seu rosto quadrado, o nariz
arrebitado e a boca carnuda, com um convidativo brilho nos lábios. Ela correu a língua por
eles e o mordeu; senti meu pau reagir.

Lembrei-me da primeira vez que nos beijamos, quando tínhamos pouco mais de 15
anos. Fora seu primeiro beijo e ela nem sabia o que fazer com a língua. Assustada, ela o
interrompeu e saiu correndo, tampando seu rosto envergonhada.
Voltando para a realidade, segurei seu rosto com uma mão e a acarinhei; então desci
minha cabeça, aproximando nossas bocas.

— Por favor, não fuja desta vez… — pedi através de um sussurro, desconhecendo-
me.
E quando nossos lábios se tocaram, ela me parou, olhou-me aflita e saiu correndo.
Deixando-me sozinho — novamente —, só que desta vez com a forte ereção.

— Merda! — Soquei o ar. — Por que tive que lembrá-la?!


Percebendo meu estado alterado, soltei o ar e sentei-me na cadeira; apoiei meus
cotovelos no joelhos e segurei minha cabeça. Preciso me acalmar… respirei com calma e
busquei pelo equilíbrio. Quando recomposto, me levantei e voltei a me fitar no espelho.
Lembrei de todos os momentos que passei com Camila e aquela paixão da adolescência,
reacendeu.

— Talvez dê início nesta merda de corrida matrimonial… — sorri contente pela ideia
que surgira.


Sai correndo daquele closet, desci as escadas com pressa e fui em direção ao meu
quarto.

— Cami…
— Já venho, Maria — respondi passando por ela apressada, sem dar-lhe atenção.

Entrei no meu espaço, o meu canto, tranquei a porta e recostei-me nela. Meu peito
subia e descia de forma acelerada e forte.
— Meu deus… quase nos beijamos! — Sorri de forma nervosa e toquei meus lábios.
— Mas não posso… não quero sofrer outra desilusão.

Andei até chegar na minha cama e me joguei de bruços. Então as cenas, que lutei para
esquecer, regressaram:

Depois do nosso beijo, do qual não sabia que tinha que enfiar a língua em sua boca,
alimentei a falsa esperança de que poderíamos ter algo a mais, tipo um namoro.
Assim que regressei da escola, no dia seguinte, almoçávamos e minha mãe remexeu
no bolso do seu avental.

— Ah… quase me esqueci. — Me entregou um envelope. — Pediram para te entregar


isso, Mila.

— Para mim? — questionei ansiosa o pegando.

Só tinha meu nome escrito e reconheci sua letra bastão. Sorri esperançosa e o abri.

— O que é, meu amor? — questionou curiosa.

— Nada demais… — O guardei.


— E desde quando passou a mentir para mim? — Ela se aproximou e ergueu meu
queixo. — Conheço esse brilho no olhar e esse sorriso bobo. Está apaixonada!

— Não mãe! — Me levantei encabulada.


— Está apaixonada pelo Felipe? — sondou e baixei minha cabeça. — Mila, somos de
mundos diferentes e vocês são apenas adolescentes descobrindo os prazeres e as emoções.
Tome cuidado para não se machucar, meu amor. — Sorriu e me apertou em seus braços.
— Não se iluda, ele é de outra realidade e ainda terá toda uma juventude pela frente.
Conhecerá outras garotas, muitas… e você…

— Não se preocupe — a cortei —, não sinto nada por ele — menti.


— Se gosta dele, não tenho o que fazer. Mas não aceite migalhas, você é uma jovem
forte e muito inteligente para se contentar com elas. Prometa-me que nunca as aceitará.
— Nunca, mãe. Fique tranquila.

Para disfarçar, o evitei pelos dias seguintes. Fugi de Felipe como o diabo da cruz.
Mas depois de semanas e por estar sozinha, já que meus pais acompanharam os senhores
Brusque em uma viagem à Ilha Bela, resolvi atender o que me pedira no seu recado:
tentar novamente. Me olhei no espelho e ajeitei meus longos cabelos, passei um brilho
labial, sabor de morango, e fui procurar por ele.

A casa estava silenciosa e não vi ninguém; avancei em direção do seu quarto e bati,
a porta entreabriu e entrei. O interior estava escuro, por causa das cortinas fechadas,
somente com a fraca iluminação do abajur. Ouvi sussurros e segui pelo corredor. Então
estanquei-me no lugar. Felipe estava deitado com uma jovem em cima dele; pelados… e
ela gemia enquanto se esfregava sobre o seu quadril, tão forte que a cama rangia.

Senti meu coração parar de bater e depois acelerar. Da mesma forma que entrei, saí.
Com lágrimas banhando meu rosto, corri de volta para a minha casa.

— Nunca te perdoarei Felipe. Nunca! — resmunguei ao me jogar na minha cama,


enterrando meu rosto no travesseiro.

Sentei-me e limpei as lágrimas que insistiam em cair por causa da dolorida


recordação.

— Já sou adulta e ele não significa mais nada para mim… — afirmei em voz alta e
me levantei. Entrei no meu banheiro e lavei meu rosto; depois fitei meu reflexo. — Ele é
apenas o filho do seu patrão. Nada mais do que isso. O que aconteceu foi enterrado junto
com o passado.
Retoquei minha maquiagem; andei até a porta, respirei profundamente e quando ia
sair, meu celular tocou. Era minha prima Bárbara.
— Babi?
— Camila, tudo bem? — questionou com sua voz alegre.

E depois de uma breve conversa me explicou o porquê da ligação.


— Então ficarei por alguns dias em São Paulo, já reservei um hotel, que fica próximo
do curso — emendou rapidamente. — Só queria mesmo que fosse me buscar na
rodoviária, porque morro de medo de me perder aí, nessa selva de pedra.
— Claro, minha linda, diga o dia e a hora, que lhe buscarei. — Sorri contente ao
saber que teria alguém com laços sanguíneos por perto.

Então combinamos tudo e, depois que desliguei sorrindo para o celular, sai. Retornei
para a cozinha e encontrei Maria conversando com Ivone.
— Dona Angela pediu para te chamar — me avisou Ivone. — Está tudo bem?

— Sim… — assumi. — Pensei que tivesse descido para mim… por isso passei
correndo!

— Ah… — Maria me fitou, sem acreditar.

— Acho que estão me esperando — me virei e voltei para o quarto. Peguei minha
mala e a bolsa. — Tchau meninas, regressamos daqui a alguns dias. Qualquer coisa, se
precisarem, é só me ligar.

— Perderá o forró de amanhã. — Lembrou-me Maria.

— Puts… Esqueci que seria nesta sexta-feira… — fechei os olhos brevemente. — E


terei que desmarcar com a Nathi.


Depois de me arrumar; reforcei o perfume, desci e me encontrei com João no
corredor dos quartos.

— Aonde vai? — questionou com cara de espanto. — Exame de fezes? — E


gargalhou.
— Nossa… tô morrendo de rir… — Mostrei o dedo do meio para ele. — Tenho que
ir para a empresa, retorno hoje.

Ele me olhou com descrença e gesticulei com minhas mãos, “dizendo”: fazer o quê?!
— Me espera e te dou uma carona — disse andando na direção do seu quarto, o
último do longo corredor. — Só tomarei um banho.
— Mas chegou com os cabelos molhados… — arqueei uma sobrancelha. — Pensei
que já tivesse tomado.

— Banho de motel não serve… e a gata desta noite, exigiu muito desse corpo aqui —
piscou, enquanto batia no peito como um atacante quando faz um gol, e sumiu para dentro
do quarto.

— Não entendo por que gastam dinheiro com motel, se temos quartos enormes… —
desci pela escada e encontrei meus pais na saleta.

— Como você está lindo! — Minha mãe abriu seus braços e me abaixei para que me
abraçasse.

— Ainda sou contra essa história de ter que voltar para a empresa — resmunguei, me
jogando no sofá. — Não vejo problema em continuar com as maquetes daqui de casa. Se
temos o escritório para isso.

— Não! — chiou meu pai, erguendo seus olhos do jornal. — Preciso de você na
empresa; lidando com clientes; mostrando para todos que somos bons… e que valeu a
pena o que investi em você!

— Mas as maquetes carregam o nome da empresa, então onde eu as faço… — calei-


me ao vê-la vindo pelo corredor da cozinha e me endireitei.

Camila vacilou um passo ao me ver, mas disfarçou e continuou o seu caminhar.


Assim que parou na nossa frente, encostou sua mala junto com as dos meus pais; forçou
um sorriso e se dirigiu à minha mãe.
— Estou pronta, Angel. — Abaixou-se ao seu lado. — Seu vestido já está passado,
quer se trocar antes de partimos?

— Não, acho que irei com essa roupa mesmo. — Gesticulou com sua mão e a fitou
séria. — Na realidade, meu amor… — Minha mãe olhou dela para mim e estranhei aquele
brilho no seu olhar. — Conversei com Bruno e achamos melhor que tu fiques para me
auxiliar com algo aqui em São Paulo.

— Não precisará de mim? — Camila se levantou e aguardou, camuflando sua


inquietude.
— Preciso de ti mais do que nunca, mas desta vez, para auxiliar-nos de outra forma…

— Diga logo de uma vez, mulher — bradou meu pai, se levantando, e ficou de frente
para ela. — Preciso que acompanhe Felipe e quero que você seja meus olhos e ouvidos.
Camila abriu a boca e eu arregalei meus olhos. Caralho… isso era muita sacanagem!

— Co-como?

— Sabemos que Felipe resistirá em voltar para a empresa — afirmou meu pai, dando
sinal para o motorista, que começou a pegar as malas. — Portanto… preciso de alguém
com pulso firme e que o monitore — e virando-se para mim, zombou: —, já que o
bebezinho ainda mama nas tetas dos papais.

— Nada a ver… — Me levantei e percebendo o constrangimento de Camila, intervi.


— Não preciso de babá. — Olhei para ela, que continuava calada mas claramente irritada.
— Pode seguir com eles, Camila, comprometo-me em fazer meu trabalho na empresa.

— Já está resolvido. — Minha mãe se apoiou na bengala e corri para ajudá-la, ao


mesmo tempo que Mila fez o mesmo. Nos esbarramos e nos encaramos; nossos rostos
ficaram próximos e desci meu olhar para a sua boca. — Cami, meu amor, tu farias isso por
essa mãe preocupada? — Ela se livrou do meu olhar e fitou minha mãe; fiz o mesmo.

— Claro, Angel… pode contar comigo — confirmou, apertando sua mão de forma
carinhosa. — Ficarei de olho em Felipe.

— Ótimo! — Minha mãe abriu um enorme sorriso e juntando as nossas mãos, as


segurou. — Espero que esse tempo seja… próspero… para ambos. — Puxou-nos e nos
beijou. — Agora vamos, Bruno… quero parar naquele rancho e tomar um suco de milho,
antes do almoço!

Os acompanhamos até a garagem e acenamos; assim que o carro sumiu pelas ruas do
condomínio, ela ficou séria e se virou para mim.
— Nem pense em agir daquela forma de novo — avisou séria. — E para que isso dê
certo — gesticulou com seu dedo, de mim para ela —, quero que mantenha distância. —
Virou-se e marchou de volta para a casa. — E iremos no meu carro, não gosto de depender
de homem. Partimos em 10 minutos!
— Sim, senhora — concordei andando atrás dela.

João que saia pela porta, se afastou rapidamente ao vê-la passar pisando duro.
— Não enche João! — E sumiu para dentro para casa.
Confuso olhou dela para mim.

— Ela não acompanharia a mãe?


— Longa história… te conto depois — resmunguei e, apertando seu ombro, suspirei.
— Só me deseje sorte.

— Olha lá, mano. Camila é como uma irmã para nós — alertou sério. — Por mais
que tenha se tornado uma bela mulher, existe o respeito por aquelas que nos são especiais.
— Não tá rolando nada. Só que a terei como a minha babá — elucidei, ocultando o
que aconteceu mais cedo. — Nosso pai disse que ela será seus olhos e ouvidos enquanto
estiver viajando.

— Entendi… então precisará mesmo. — Com ironia desejou: — Boa sorte… ela é
foda! — Me dando um tapa nas costas, colocou seu óculos escuros e seguiu para seu carro
esportivo azul, estacionado na calçada. — Não queria estar na sua pele! — gritou e entrou,
fechando a porta; ligou o som alto e arrancou.

— Tomara que tenha sorte mesmo…



— Está pronto? — Camila parou na porta do escritório com o semblante fechado.

— Sim. — Peguei uma caixa, com meus utensílios pessoais. — Pode me ajudar, por
favor? — E apontei com o queixo para o início da maquete que fazia. Ela revirou os olhos
e bufou. — Valeu… — disse com sarcasmo.

— Vamos logo. — Saiu do escritório indo em direção a porta da frente. — E quero


que saiba que não ficarei ao seu lado o dia todo. Já é um absurdo essa história de ter…

Ela reclamava e eu só conseguia acompanhar o balanço do seu quadril e da sua


bunda, imaginando como ela era por baixo de todo aquele tecido. Ela destravou um Fiat
Mobi vermelho e, abrindo a porta de trás, se abaixou, acomodando a maquete e
empinando seu quadril. Caralho… que visão. Ela de quatro deve ser uma delícia!

— Estava olhando para a minha bunda?! — Apoiou as mãos na cintura e me fitou


com olhos semicerrados.
Nem percebi que ela tinha se virado. Não tinha como negar, já que fora pego, então
abri meu melhor sorriso.

— Foi mais forte do que eu… — assumi e ela deu a volta no carro, pisando duro.
Coloquei a caixa no banco de trás, ao lado da maquete, e entrei no apertado veículo,
ficando com minhas pernas comprimidas, e bati a porta. — Eu não caibo aqui.
— Afasta o banco! — chiou, colocando o óculos de sol e ligou o carro.

Assim que encontrei a alavanca, debaixo do banco, ela pisou no acelerador e fui para
trás com tudo. Ela mordeu seu lábio inferior, segurando um riso. Puxei o ar, mantendo a
calma, e depois da curva fechada que dava para a portaria, ajustei o banco; ainda assim,
meus joelhos ficaram flexionados, já que tinha 1,90 m de altura.

— Até mais, meninos… — Se despediu do porteiro, e dos seguranças, e seguimos na


direção da Avenida Pacaembu.

Ela acionou sua playlist no painel e o ritmo do baião Morena Bela, do Jackson do
Pandeiro, preencheu o interior do veículo. Ergui as sobrancelhas e a fitei. Camila
cantarolava baixinho, enquanto tamborilava seus dedos no volante. Desci meu olhar pelo
seu corpo esguio até chegar nas coxas a mostras, por causa da saia que subira.

— Se continuar a me comer com os olhos, ligo agora mesmo para o seu pai — disse,
enquanto guiava pela movimentada avenida.

— Não estou te comendo… apenas notando sua mudança — reconheci. — Você se


tornou uma bela mulher, Cami.

— Não começa, Felipe! — Paramos no semáforo e ela se virou para mim, abaixou
seu óculos e fitou-me por cima deles. — O que aconteceu agora a pouco, não se repetirá…
nunca mais.

— Nunca é… muito tempo — sorri de canto. Estávamos bem próximos, por causa do
estreito espaço e, aproveitando-me disso, inclinei minha cabeça na sua direção. — E não
devemos falar nunca… sabe o que acontece com quem renega…
— Para… esse tipo de cantada não funcionará comigo. — Sua voz era baixa, como se
sua mente dissesse aquilo mas seu corpo pedisse o contrário. — Aliás, não gaste nenhuma
das suas cantadas baratas.
— Não preciso de cantadas, Mila. — Fitei seus lábios próximos. — Prefiro o
contato…

Fui interrompido pelo toque do seu celular, que preencheu os alto-falantes. Piscando
rápido, ela se desviou de mim, virou-se para frente e atendeu a chamada.
— Cami… e aí, confirmado o forró de amanhã? — questionou uma voz aguda e
efusiva.

— Nathi… — respondeu contida e sem graça, acelerando pela avenida.


— Amanhã o Bicho de Pé tocará! — Calou-se brevemente. — Tudo certo, né
amiga?!

— Cla-claro! — Ela se virou sem graça e encenou um sorriso.


— Beleza… Não vejo a hora de curtir um pouco. Sabe como é a minha vida e que
raramente consigo sair...
Naquele momento Camila pegou seu celular e alterou a chamada para o aparelho,
impedindo-me de ouvir o restante. Virei-me em sua direção e fiquei assistindo-a enquanto
continuava com a conversa de forma monossilábica.

— Ficará me encarando?! — cochichou ela, ainda com a ligação rolando.


Eu nada respondi, apenas voltei minha cabeça para o outro lado e sorri. Então quer
dizer que ela curte forró… Apoiei meu cotovelo na porta e mordi meu polegar,
estranhando meu repentino interesse em saber o que ela fazia nas horas livres;
principalmente com quer saia. Será mesmo possível que aquela aproximação pela manhã
tenha reacendido algo do passado?! Então fui notificado de uma mensagem de Lorena,
que me pedia desculpas, e engatei numa conversa.

— Chegamos — anunciou Mila, ao descer a rampa do estacionamento do prédio, na


Avenida Angélica.

Desci do carro e puxei a maçaneta da porta de trás, enquanto Camila abriu a do seu
lado e me ajudou pegando a maquete.

— Quer dizer que você frequenta forró? — Sondei, enquanto pegava a pesada caixa.

— E qual o problema? — Ela me fitou, enquanto fechava a porta do carro, acionando


o alarme, e andava em direção ao elevador. — Forró é bom para relaxar e… — Ela me
fitou, no momento que parei ao seu lado.
— E?

— Encontrar… parceiros — respondeu, segurando um sorriso. Passou seu crachá


pela catraca e me fitou. — Cadê o seu?
— Não… não sei onde eu o enfiei. — Não me lembrava onde estava a porra do
crachá.

Ela revirou os olhos e passou o seu novamente. O elevador chegou e entramos. Ela
apertou o térreo e se apoiou na parede metálica.
— Como assim encontrar parceiros? — questionei, franzindo o cenho, e ela me fitou
confusa, até que se lembrou do que me referia.

Não entendi o que sentia naquele momento, apenas precisava saber que tipo de
parceiros Camila buscava. Ela se virou e arrumou uma mecha de cabelo.
— Parceiros para… — umedeceu seus lábios, atraindo o meu olhar, e me aproximei
— dançar, Felipe. — Soltei minha respiração, que nem percebi que segurava. — O que
pensou que fosse?

— Não pensei em nada… — omiti e a porta se abriu. Aproveitei a oportunidade e saí


rapidamente, lhe dando as costas. — Você sabe onde ficarei? — questionei assim que
chegamos na porta de vidro e vi a recepcionista me fitando curiosa.

— Na sala com Daniel, afinal, é ele quem faz as maquetes quando você não está… O
que acontece com frequência, não é?!

Passou por mim, abriu a porta e cumprimentou a bela loira da recepção.

— Oi Jamile, preciso que providencie outro crachá para Felipe; ele perdeu o seu.

— Claro — respondeu toda solicita e pegou um de sua gaveta. Mexeu no computador


e me entregou. — Este é provisório, mas solicitarei o definitivo para o senhor. — Seu
sorriso era largo demais.; a voz efusiva demais… Agradeci e o peguei. — Tenha um bom
dia, Felipe — desejou-me, visivelmente interessada.

Respondi com um mudo sorriso e caminhei atrás de Camila, que seguia para a escada.
Subimos um lance e ela andou pelo corredor entre as salas.

— Vai forrozear amanhã? — questionei e ela parou subitamente, fazendo-me esbarrar


nela.
— Presta bem atenção, Felipe. — Me fitou com um olho semicerrado. — O que faço
da minha vida não lhe diz respeito. — Arregalei meus olhos por causa da grosseria. Ela
percebeu que fora rude e piscou algumas vezes. — Como sabe que usamos esse termo? —
Abrandou sua voz.

— Digamos que eu…


— Felipe?! — Daniel abriu a porta da sua sala e colocou a cabeça para fora; ergueu
suas largas calças, com o cinto preto, para cima de sua barriga e se aproximou. — O que
aconteceu? Por que está aqui?

— Ele retornará para a empresa — disse Camila e entregou a base da maquete. —


Espero que seu dia seja proveitoso — sorriu forçado e passou por mim.
— E você… continuará por aqui? — Virei-me na sua direção, ainda segurando a
pesada caixa.

Ela parou e virou-se ligeiramente.


— Fui incumbida de ficar de olho em você, não ouviu? — Me olhou por cima dos
ombros e voltou para a escada.
— Essa magrela… o que tem de linda, tem de brava…

Daniel calou-se ao ver a expressão que lhe direcionei. Respirei fundo e indiquei a
sala, com o queixo.

— Vamos? — Assim que entrei, repeti meu mantra internamente. — Que desordem é
essa?

— Está um pouco bagunçada, mas logo arrumarei um espaço para você. — Daniel
sorriu sem graça, retirando alguns restos de materiais de cima da mesa que era minha.

Confesso que não sou um exemplo em organização, mas quando se refere a trabalho,
sou exigente. Apoiei minha caixa na mesa central e retirei meu blazer.
Mãos à obra…

***

Depois de toda uma manhã de faxina naquela sala, apoiei minhas mãos no quadril e
sorri contente pelo resultado.
— Agora sim se parece com uma sala… — Batidas na portas me calaram.

— Tá a fim de almoçar? — João enfiou a cabeça pela fresta.


— Opá… só pegar minha carteira. — Daniel andou até a gaveta da sua mesa e a
colocou no bolso de trás de sua calça jeans. O cara era todo atrapalhado.

— Na realidade… — começou meu irmão. — Me dirigi a Felipe. Precisamos tratar


de alguns assuntos pessoais. — Sorriu de canto e mordeu seu lábio inferior.
— Claro… eu… — Daniel olhou para os lados.
— Amanhã almoçamos juntos, beleza? — sugeri e ele arregalou os olhos. — Sim, a
partir de hoje, virei todos os dias.

— Fechou.
— Então vamos? — chamou João e apalpei os bolsos do blazer até encontrar minha
carteira e celular.
Saímos da sala e fomos para o 3º andar.

— Já tem alguém em vista? — questionei, enquanto ele bagunçava ainda mais o seu
cabelo.

— Tenho vários contatos — ainda se fitava no espelho —, mas para casar… nem uma
sequer — bufou. — Talvez seja porque eu nunca fiquei com uma mulher com esse
propósito. — Chegamos no andar da diretoria e seguimos pelo corredor. — Mas tenho
certeza que sairei na frente dessa corrida maluca. Afinal, sou o mais atraente dos três… —
Piscou.

Paramos na antessala e nos deparamos com Nathalia.

— Felipe?! — A morena se aproximou e estendeu sua mão. — Que bom rever-lhe.

— E aí, Nathi… — Beijei sua mão estendida e ela se encabulou. — Continua bela…
como sempre. E como está a família e a pequena?

— Bem… cada dia está mais linda!

— Com certeza deve estar, se puxou a…


— Espero que não esteja cortejando a minha secretária. — Diogo estava parado no
batente da porta da sua sala.

— Jamais… — respondi rapidamente, mas mantive sua mão nas minhas. — Não por
você, querida, mas não gostaria que a minha garota trabalhasse com um ceifador como
ele!
— Idiota… — Semicerrou seus olhos. — Entrem. — Diogo deu um passo para o lado
e com sua postura ereta e elegante, nos indicou o interior de sua sala. — Rápido porque
estou com a tarde lotada.
Voltei a beijar a mão cativa e pisquei. Nathalia sorriu e colocou uma mecha de seu
cabelo negro para trás da orelha. Nos viramos e passamos por Diogo, que caminhou atrás
de nós depois de fechar a porta.
— Não sabia que puxara o jeito de João — anunciou sério.

— Não sou cafajeste como ele — respondi.

— Opá! — João me deu um fraco soco e nos acomodamos na mesa de reunião. —


Não sou cafajeste, apenas não recuso aquilo que querem me dar… — e sorriu com
deboche.
— Não íamos almoçar?

— E vamos… — Diogo discou o ramal. — Nathalia, pode nos servir. — Voltou-se na


nossa direção e, desabotoando o blazer, acomodou-se na cadeira da ponta. — O que o
nosso pai exigiu não tem cabimento. Foi a loucura mais surreal que já vivenciei.
— Talvez ele esteja querendo que…

— Concordo com Diogo. — João me ignorou, recostou-se na cadeira e cruzou a


perna, despojado. — Ele passou de todos os limites desta vez.

— Deve ter um jeito para que não precisemos nos casar. — Diogo apoiou os
cotovelos na mesa e cruzou as mãos.
— Mas ele disse que se não nos casarmos — calei-me, pois Nathi entrou com a
copeira segurando as bandejas.
Assim que arrumaram a lasanha e as saladas, saíram. Comecei a me servir, estava
faminto.

— Felipe… — Diogo me encarava.


Sorvi um gole do suco e me limpei.

— Ah… então, disse que se não nos casarmos, todas as ações serão de Rubens —
conclui, já fincando o garfo na salada e o levando à boca.
— Não entendo o porquê de tudo isso! — reclamou João, se servindo.

— Mamãe disse que quer netos — expliquei, com a boca cheia.


— E ela perguntou se queremos ser pais? — Diogo serviu-se de salada.

— Acho que deve ser legal ter um filho… — sorri de canto, imaginado como seria
segurar uma criança nos braços.
— Que porra é essa?! — João me fitou confuso. — Esse lance de esoterismo anda
mexendo com os seus miolos.
— Qual o problema em querer ser pai?

— Porque antes de ser pai, deve-se ser um homem, para sustentar a sua família —
disse Diogo, que levou uma garfada à boca e me fitou sério.
— E para isso temos que ser… como você?

— Parou! Ele já se tratou Felipe! — João interviu. — Vamos focar no nosso


problema aqui?!

Diogo e eu nos encaramos, calados, por mais alguns instantes. Há alguns anos ele
teve um surto e fora diagnosticado com Transtorno de Despersonalização, que é um tipo
de transtorno dissociativo decorrente do grave estresse que o assolou. Ele não sentia
empatia e nem sentimentos pelos demais. Era como se enxergasse a sua vida fora de si,
como um telespectador, sem sentir amor.

— O que faremos, nos mataremos ou fugiremos? — João tentou brincar para aliviar o
clima.

— Me perdoe, Diogo — pedi. — Não gosto de ferir as pessoas, principalmente


usando um problema. — Dei um toque em seu braço. — Me desculpe, mano.

— Já superei isso. — Ele tentou sorrir, mas fora em vão. Voltou-se para João. — Se
ao menos Rubens saísse deste inventário.

— Não temos como tirá-lo, somente nosso pai poderia fazê-lo— alegou João
preparando outra garfada.

— Só se ele sumisse de uma vez por todas. — Diogo mastigou sua salada.
— E como faríamos isso? — João riu.
— Se morresse… — Paramos e encaramos Diogo assustados. Ele riu e voltou a
mexer na sua salada com o garfo. — Estou brincando. Só queria ver como reagiriam com
essa sugestão.
Um arrepio percorreu minha espinha, não senti que fora brincadeira já que ele
raramente fazia aquilo. Diogo, às vezes, me assustava com a sua frieza.


Já me sentia entediada ali, aguardando o término do expediente para acompanhar se
Felipe concluiria a sua jornada de trabalho.

— Não aguentarei! — Suspirei, apoiando o livro que lia sobre a mesa.


— Até quando ficará como babá? — Elisabete, a secretária do senhor Bruno, olhou-
me por cima de seus óculos de leitura.

— Ai Bete… estou pensando em me afastar dessa família — ela arregalou os olhos


—, eu sei… seria muita ingratidão. Mas não quero continuar sendo vista como uma
simples empregada, sabe? — Me arrumei na cadeira, aproximando-me da mesa. — Quero
ser reconhecida pelo que me formei… e fico pensando o que será de mim se Angela partir.

— Se está se sentindo mal, arranje um outro emprego que pague, no mínimo, o que
recebe. — Ela me olhou de forma sugestiva e me calei.
Era fato, meu salário estava acima da média e tinha regalias que em outra empresa
jamais conseguiria. Olhei para meu relógio e já passava das 16:00 horas.

— Para mim já deu! — Levantei-me e peguei minha bolsa. — Passarei na sala dele e
verei se realmente cumpre com o que lhe fora mandado.
— Por que não tira uma foto e manda para o Sr. Brusque?

— Boa sugestão, Bete… obrigada! — Andei até detrás da mesa e me despedi.


Deixei-a e segui pelo corredor; passei pelas diversas portas das salas, fechadas pelas
persianas e encontrei Nathalia.

— Cami? — Se assustou ao me ver ali.


— Oi, amiga — sussurrei, pois sabia que Diogo não gostava que conversássemos na
empresa. — Só passei para te dar um beijo. Quando cheguei estava na reunião com ele. —
E apontei para a porta fechada atrás dela.

— Nem me fale… — Revirou seus olhos. — Não imagina o que ele me pediu para
organizar… nem sai para almoçar hoje. — Vendo minha expressão, questionou: — Está
tudo bem?

— Sim… quer dizer, não… Ah.. depois conversamos.

Nos despedimos e desci até o 1º andar. Caminhei pelo corredor até que vi a persiana
da sala de Felipe aberta. Peguei o celular da bolsa para tirar uma foto dele concentrado,
montando a estrutura da miniatura do futuro edifício. Estava sem o blazer; com as mangas
da camisa dobradas no meio do antebraço e com as duas mãos apoiadas na mesa. Seus
rastas caiam em volta de suas costas, marcadas pela camisa, e sua bunda redonda estava
levemente empinada. Seu estilo contrastava com seus trajes, mas, impressionantemente, o
deixava ainda mais bonito… e sexy.
Tirei a foto e andei até a porta, bati e abaixei a maçaneta. Daniel fora quem me viu
primeiro, mas não conseguia tirar meus olhos de Felipe, que ainda se concentrava no que
fazia.

— Eu… — Assim que minha voz soou pela sala, ele me fitou com o semblante sério,
mas que logo fora substituído pelo conhecido sorriso. — Estou indo. — Felipe olhou no
seu relógio de pulso, em um movimento másculo, e voltou-se para mim. — Sei que é bem
antes do horário, mas preciso resolver algo na rua.

— Não posso sair agora, Mi… Camila — se corrigiu, aproximando-se de mim.


— Se quiser, deixo meu carro e pego um taxi…

Quê? Acabei de oferecer meu carro?!


— Imagina — ele segurou minha mão —, jamais deixaria você a pé. — Seus lindos
olhos verdes brilharam e notei o sorriso neles.

Ficamos a nos encarar em silêncio até que Daniel limpou sua garganta, o que me fez
voltar a realidade.
— Bom… então… já vou — anunciei sem graça, recolhendo minha mão.

— Até mais. — Felipe deu um passo para frente, encurtando o espaço entre nós, e
pegou minha mão novamente. Levou-a à boca e depositou um suave beijo entre os nós dos
meus dedos. — Gostaria de conversar contigo mais tarde — sussurrou, fitando-me com
intensidade.

Aquele olhar era tão perigoso, do tipo que me cativaria e aprisionaria… para sempre.

— Não sei que horas retornarei — aleguei com a voz vacilante.


— Sei quando mente, Mila… — Ergueu sua outra mão e tocou em uma mexa do meu
cabelo, a colocando para trás da minha orelha. Seus dedos roçaram levemente a minha
face direita e estremeci. — Até mais tarde, então… — Desceu seu dedo polegar até a
minha boca, roçando-o sobre meu lábio inferior e se afastou. — Vamos Daniel… temos
muito trabalho a fazer ainda! — Ergueu sua voz, num tom de brincadeira, e retornou para
a mesa onde montavam a maquete. Virou seu rosto, por cima dos ombros, e piscou para
mim.

Foi então que percebi que continuava parada, inebriada por seu toque. Rapidamente
saí da sala e quase corri pelo corredor. Meu coração batia tão forte no peito que parecia
que sairia pela boca; sem contar a lubrificação em minha vulva latejante. Que droga!
Bastou um toque para me incendiar… Preciso me policiar… me distanciar!

***


Já era noite e meus pés estavam me matando, encontrar um presente para Angela não
era tarefa fácil; a mulher já tinha tudo. Depois do passeio pelo shopping, tomei meu banho
e assim que me enrolei na toalha branca e macia, ouvi batidas na minha porta. Peguei meu
celular, que tocava Nos da dupla ANAVITÓRIA, e conferi a hora. Sabia que era Maria e,
certeza, que estava ansiosa para o nosso encontro de amanhã.
— Já vou! — gritei e escancarei a porta. — Mas você sofre mesmo de ansiedade não
é Ma… — Travei emudecida. Felipe me encarava com olhos curiosos, inspecionando cada
parte descoberta do meu corpo. Usava somente a calça de moletom cinza, caída no
quadril, mostrando o cós da cueca branca; deixando seu peito à mostra, bem como suas
tatuagens. Arregalei meus olhos ao perceber o quanto era definido e minha garganta
secou. — O-O que você faz aqui? — As palavras quase não saiam.
Ao invés de responder, ele deu um passo para frente — e eu um para trás — e entrou
no quarto; ocupando um espaço que era somente meu. Fechou a porta atrás de si, enquanto
mantinha seu olhar fixo no meu.

— Conferindo… se chegou bem. — Sua voz estava rouca e seu peito desnudo subia e
descia com força, claramente buscando por controle.
— Estou bem — sussurrei e apertei o nó, na frente da toalha, com a minha mão
esquerda. — Como vê… estou meio ocupada…

Seu olhar desceu vagarosamente pelo meu corpo e, depois de avaliar-me, voltou para
meus olhos.

— Vejo que está ótima mesmo… — Andou na minha direção e eu me afastei até
encostar na parede atrás de mim. Felipe se aproximou e apoiou as duas mãos ladeando-
me. — Parece que sente medo de mim… ou será que está fugindo?! — Seu rosto estava
próximo do meu e seu cheiro cítrico invadiu minhas narinas.

Abaixei meu rosto, em defesa.

— Felipe…

— Mila… — Segurou meu queixo com uma mão e me fez fitá-lo. — Não entendo
por que me evita.

— Somos diferentes — afirmei. — E tem a sua namorada…


— Ex… eu e Lorena terminamos. — Manteve seu olhar fixo em mim. —
Conversamos hoje; ela me pediu desculpas pela forma como saiu daqui mais cedo, mas
afirmou que não daríamos certo. — Senti meu peito bater mais forte. — Agora… — Ele
encostou seu corpo em mim e soltei o ar com força. — Não existe impedimento algum…

— Mesmo assim — apoiei minha mão direita no seu peito e senti os batimentos
acelerados do seu coração —, acho melhor…
Felipe olhava para minha boca e aproximou a sua; desceu seu rosto e ao sentir sua
boca tocar a minha, virei a cabeça.

— Mila… — sussurrou no meu ouvido — Me deixa entrar…


Fechei meus olhos, tentando recobrar meu controle.
— Diferente da letra da música — puxei o ar com força e disse com firmeza —, não
esqueci de me trancar.

Nos silenciamos por um longo minuto.


— Não sei o que te levou a trancafiar-se desse jeito. — Apertei meus olhos e contrai
minha boca, sentindo meu peito inflar. — Olhe para mim… — pediu e ao virar meu rosto,
seus lábios tocaram minha face até pairar sobre a minha boca. Ele estava com os olhos
cerrados, ofegante, e senti sua excitação roçar-me de leve. — Permita-me sentir o seu
sabor… — Me provocou, roçando seus lábios nos meus e senti minhas pernas falharem; a
lubrificação surgir e os bicos dos meus seios intumescerem. — Há tempos ensaiamos esse
beijo que nunca se concretiza…

— Não… — minha voz vacilou quando ele esfregou sua barba cerrada em minha
face, descendo até meu pescoço.

Meu Deus… dai-me forças para negar… Mas sentia a minha vulva contrair, ansiando
por ele.

— Sua boca diz não, mas seu corpo roga por mim… — Desta vez esfregou seu
membro, o que me excitou ainda mais, e depois de beijar meu pescoço, segurou meu rosto
entre suas mãos e me fitou.
— Chega! — O empurrei e me afastei. Só então percebi a rigidez que ele sustentava.
— Você tem razão e talvez esse beijo não deva acontecer. — Abri a porta. — Por favor,
Felipe.

— Não entendo, você luta contra… mesmo me desejando. — Andou e parou na


minha frente. — Será por causa do seu amor do passado? — Naquele momento minhas
pernas vacilaram e me apoiei na maçaneta. Como ele sabe que o amei algum dia?! Ele
semicerrou um olho. — Então é isso, você amou alguém. — Busquei por ar. — Resta
saber se ele ainda está presente em seus sentimentos hoje em…

— Já disse que minha vida pessoal não lhe diz respeito! — Minha voz soou mais alto
do que queria. — Preciso ficar sozinha.
Não tinha mais forças e baixei minha cabeça, fitando o chão.

— Acho que sempre esteve, Mila… — Se aproximou e segurou meu queixo,


erguendo meu rosto. — Talvez tenha se acostumado tanto à solidão que sente medo de
alguém invadir o espaço que foi preenchido pela tristeza. — Me deu um beijo casto e me
soltou. — Mas sou paciente… e saiba que você será minha. — Piscou e saiu, me deixando
sozinha… mais uma vez.

Bati a porta com força e pisei duro.

— Se soubesse que é você quem ocupa o meu coração… — sussurrei.

Toquei minha boca, desejando descobrir o sabor que ele possuía. Mas o medo de me
abrir e deixá-lo entrar, era maior.

Subi as escadas correndo, acompanhado pela forte ereção. Entrei no meu quarto e
andei até a sacada. Fitei a lua e mexi no meu cabelo.

— Não posso perder a cabeça… — respirei fundo e tentei me acalmar. — Preciso


meditar.

Andei até meu criado-mudo e peguei um incenso; sentei-me no meu futon e


posicionei o incenso no incensário; acionei a playlist para meditação e concentrei-me em
minha respiração. Alguns instantes depois a boca de Camila surgiu em minha mente e
aquele seu cheiro doce…

Puxei o ar com força para voltar a me concentrar, mas seus olhos azuis me fitavam,
clamando por mim, enquanto ela insistia em me afastar. Desisti da meditação, flexionei
uma perna e apoiei meu braço no joelho.
— O que você está fazendo comigo, Camila?! — Observei que minha ereção não
diminuía. — Olha o estado que estou… Além de mexer com a minha concentração, me
deixa sedento por ti… — Apoiei minha cabeça contra a parede atrás de mim e tomei
minha decisão. — Mas amanhã te tomarei para mim…


Acordei em cima da hora e tomei um banho rápido; depois de pronta, passei voando
pela cozinha.

— Você atrasada? — Maria apoiou uma mão na cintura. — O que ficou fazendo já
que não consegui ir ao seu quarto?

— Insônia… como há tempos não tinha. — Peguei dois pães de queijos e enfiei um
na boca. — Tenho que chamar Felipe se não…

— Ele não está no quarto. — Ivone me interrompeu e a encarei. — Pois é… fui


atender ao senhor João e vi a porta do quarto dele aberta; estranhei e entrei. — Engoli e
me aproximei, curiosa. — Pois menina, a cama estava arrumada; sem nem uma roupa no
chão; o closet organizado e tudo limpinho.

Abri a boca em espanto.


— Onde será que ele está? — questionei preocupada.

— Partiu logo cedo — avisou Maria. — Fui receber o garoto da padaria e o vi sair
sem tomar o café. Coitado… foi sem comer. — Abriu um tímido sorriso.
— Sua safada… por você levaria o café dele na cama, não é? — Ivone tirou sarro.
— Tenho que achá-lo. — Peguei uma maçã e sai apressada. — Antes que o Sr.
Brusque queira saber dele.

Cheguei na empresa cedo e me concentrei na maquete. Aproveitei que estava sozinho


e coloquei minha playlist de Los Hermanos para tocar. O Vento tocava baixo quando ouvi
saltos correndo pelo corredor. É ela…

— Ah… — Ela surgiu na porta da minha sala e recostou-se sobre o batente. — Ainda
bem que está aqui.
— Meu pai já ligou atrás de mim? — questionei sem dar-lhe atenção, continuando a
manusear o pequeno vidro no prédio.

— Saiba que isso é desagradável para mim, tanto quanto para você. — Ouvi se
aproximar. — Está tudo bem?

— Sim… — Fixei o pequeno objeto. — Por que não estaria?


— Ivone me disse que você arrumou todo o seu quarto.

— Sabia que fofocavam entre si, mas não imaginei que fosse tão rápido — sorri,
pegando a minúscula janela do banheiro.
— Insônia? — inquiriu.

— Não… — Fixei-a na maquete e limpei o excesso de cola, com delicadeza e


concentração. — Precisava alinhar-me e não estava conseguindo com aquela bagunça.
Digamos que Lorena me bagunçou um pouco.
— Hummm… — Ela se aproximou e parou ao meu lado. Senti o aroma de seu
perfume e fechei brevemente os olhos, apreciando-o. — Bom… está concentrado e não
quero te atrapalhar.
Girou e a segurei pelo braço, o que a fez se virar e me fitar.
— Almoça comigo? — Perscrutei seu lindo rosto, com os olhos pintados, e a puxei
pela cintura.

— Felipe… — sussurrou, mas seu olhar focou na minha boca próxima.

Ela me queria, Camila nunca conseguiu esconder o que se passava em seu interior e
seu corpo clamava pelo meu. Só preciso romper esse muro que ela erguera e tomá-la para
mim.
— Às 12:00 horas passo na mesa de Elisabete — avisei e aproximei meu rosto do
dela, mirando sua boca carnuda.
Camila puxou o ar com dificuldade e ergueu seu queixo, permitindo o beijo.

— Bom dia! — Daniel entrou e rapidamente nos afastamos. Merda! — Opá…


atrapalho?

— Não. Camila já estava de saída, não é meu amor?

— Idiota! — sussurrou. Se virou enraivecida e ao passar por Daniel afirmou: — Não


sou nada dele. Muito menos o seu amor!

Saiu pisando duro e me dispensou um gélido olhar através da parede de vidro. Sorri
mudo, feliz por ter conseguido o que queria: a autorização para o beijo.

Você nem imagina que está a um passo de tornar-se o meu amor…

***

Às 12:00 horas em ponto vesti meu blazer, peguei minha carteira, o celular e rumei
para a sala que Elisabete ocupava no 3º andar. Ao me aproximar, estranhei o murmúrio de
vozes. Encontrei a secretária do meu pai sozinha.
— Bete… onde está Camila? — Não a vi ali.

— Teve que sair para iniciar os preparativos para a festa de dona Angela.
— Minha mãe decidiu comemorar seu aniversário? — Estranhei pois ela dissera que
não queria festa.
— Parece que mudou de ideia…

— Ah… e que barulho todo é esse? — questionei apontando para a sala de reunião.

— Diogo resolveu entrevistar candidatas para se casar — disse revirando os olhos.

— É o que?!
— Pois é… — E colocando seus óculos de leitura, me olhou por cima deles. — Tem
certeza que ele se curou?

— Absoluta… quer dizer… já não sei mais.


Acenei e andei até a sala de reunião, abri a porta e as garotas se calaram, me olhando
curiosas. Só tinha gata! Pedi desculpas e saí. Fui até a sala dele e encontrei Nathalia
alterada.

— O que o meu irmão está fazendo?

— Nem me diga, Felipe… — Ela ergueu um monte de currículo. — Acredita que


decidiu entrevistar todas essas mulheres para ver se encontra alguma que sirva para casar-
se com ele?! Seu irmão me enlouquecerá!

— Ele está aí? — Ela concordou e permitiu que eu entrasse.

Depois de bater na porta, a abri e entrei. Diogo ergueu seu olhos e levou o indicador à
boca, pedindo-me silêncio; falava ao telefone. Aguardei até que terminasse.

— O que deseja? — questionou, enquanto retornava o fone para a base.

— Nossa… sua simpatia é algo tocante… — debochei e ele fingiu um sorriso. — Por
que esse tanto de gostosas na sala de reunião?
— Nosso pai não quer que nos casemos, então… contratarei alguém para isso.

— Mas casamento deve envolver amor, Diogo.


— Casavam-se assim antigamente e durava até a morte — respondeu pegando um
currículo. — E não ficarei casado por muito tempo, apenas por alguns meses. Só para não
perder as minhas ações.

— Papai deixou bem claro que quer netos — relembrei, me levantando.


— Sou vasectomizado, nunca terei filhos. — O que mais me surpreendia em Diogo
era a sua frieza. Ele disse aquilo como se fosse uma coisa natural.

— Bom… cada um que aceite as consequências de seus atos e escolhas, não é


mesmo? — Arrumei minha cadeira e sorri de forma muda. — Vou almoçar, topa?! — Ele
me encarou de forma dura e entendi seu recado. — Não vi João hoje, sabe dele?

— Foi atender um cliente antigo; parece que a filha está com problemas e ele pagou
para decorar um pequeno apartamento aqui perto. — Ele me olhou com intensidade e
saquei que João comeria a filha do tal cliente. Diogo pegou o telefone e discou o ramal. —
Nathalia, mande entrar a próxima. Obrigado. — Virou-se para mim e apontou a porta. —
Se me der licença, tenho que contratar a minha futura esposa… — Abriu um falso sorriso.

— Cara, você não é normal…


Sai dali e esbarrei na bela morena que entrava. Se ela soubesse a burrada que estava
se metendo.

— Maria… estou morta! — Me joguei na cama.

— Imagino… andar na 25 de Março não é fácil. — Ela se sentou na pequena poltrona


que tinha no meu quarto. — Mas vá tomar seu banho, nos encontraremos com a Nathi
daqui a três horas!
— Okay… — resmunguei, sentindo sono.

— Vai Cami… senão não chegaremos a tempo.


— Tá bom… — Me levantei. — Nos vemos daqui a duas horas. Prometo!

Assim que ela saiu, tranquei minha porta, pois não queria ter nenhuma surpresa
desagradável de nome: Felipe. Corri para o banho; depois, enrolada na toalha escolhi o
que vestir. Forró é simplicidade e comodidade, então optei por um vestido de alça, com a
parte de baixo solta; vesti um shorts preto, curto e de lycra, por baixo; calcei minhas
sapatilhas, próprias para forró; prendi uma mexa na lateral do meu cabelo ruivo com uma
presilha que imitava um girassol, pois combinava com as cores do meu vestido; me
maquiei e peguei um casaquinho. Transpassei minha pequena bolsa e segui para buscar
Nathi, com Maria faladeira ao meu lado.

Como combinado, Nathalia me esperava na portaria do seu apartamento e seguimos


para o Canto da Ema. A noite estava agradável e a casa estava começando a encher. Os
frequentadores sabem que para quem quer forrozear mais à vontade, tem que chegar antes
do show. Dançávamos animadas, entre uma dose e outra de Xiboquinha.

— Manera Cami! — Nathi tirou o copo da minha mão. — Sabe que esse trem dá um
esquentão nas partes… — disse levando uma mão embaixo do seu vestido e se abanou. —
Ui… as minhas já estão queimando!

Ríamos animadas até que ouvi uma voz no pé do meu ouvido, bem atrás de mim:

— Dança essa comigo… Magrela?

Maria arregalou os olhos e Nathalia abriu a boca, incrédula. Somente uma pessoa me
chamava daquela forma… Me virei lentamente e senti o chão sumir. Felipe estava parado
bem na minha frente, com uma camisa florida e bermuda caqui; calçava uma sandália
típica de forró. Mas o que mais me chamou a atenção foi o brilho no seu olhar e o lindo
sorriso, de ponta a ponta, que ele sustentava.


Surpreender Camila foi melhor do que imaginei. Ela estava linda com aquele
vestido curto, mostrando suas deliciosas pernas; além do decote, que expunha a curva dos
seus convidativos seios. Usava uma flor em um lado da cabeça, deixando-a ainda mais
atraente.

— O-O — gaguejou, ainda não acreditando que eu estava ali, bem na sua frente —
que você faz aqui?

— Frequento o Canto da Ema há bastante tempo — respondi, acenando para Nathalia


e Maria —; apenas estava afastado porque Lorena não curtia forró — expliquei,
detalhando cada centímetro daquele marcante rosto. — Dança comigo? — Estendi minha
mão.
Ela encolheu seus braços, tapando o decote de seus seios, e piscou repetida vezes.
Percebi que era sua mania. Notei que sua respiração se alterou e ela empurrou uma mecha
de cabelo para trás da orelha. Outra mania.

— Acho melhor não… — disse baixo e forcei minha audição para que a escutasse,
devido ao som alto.
Me aproximei, a pegando desprevenida, e abaixei meu rosto até meus lábios
encostarem em seu ouvido.
— Não entendi — menti. Claro que tinha ouvido sua recusa, mas não sairia daquele
forró sem beijá-la.

— Acho melhor não. — Ela repetiu e seus lábios quase tocaram o meu ouvido.
Um delicioso arrepio espalhou pelo local e virei minha cabeça para fitá-la.

— E o que faz em um forró se não quer dançar? — Minha boca estava perto da dela e
nossos olhares se conectaram. Camila ficou sem reação e fitou meu sorriso, umedecendo
seus lábios. Touché… — Será apenas uma dança… — Levei minha mão até a sua cintura e
a trouxe para mim.

— Não acredito que… saiba forrozear. — Provocou-me, me fitando com intensidade.


Ah mulher… não me chame para brincar se não souber jogar. Ao invés de respondê-
la a puxei com força, encaixando-a entre a minha perna direita, e iniciando o molejo do
xote que tocava. Meu quadril balançava na marcação do forró, gerando o famoso roçar da
dança.

— Deixe que eu te prove o que sei… — sussurrei em seu ouvido e ela apertou meu
ombro entregue. Sem perder tempo, a levei para a pista e iniciei o passo básico. — Agora
o seu corpo terá que corresponder aos meus comandos. — Esfreguei minha excitação nela,
que rebolava seu quadril na marcação do ritmo, e a segurei pela cintura, para que ela
rebolasse sobre a minha coxa. Sorri e mordi meu lábio inferior. — Isso… se esfrega em
mim… — disse com meu rosto colado no dela e suguei o lóbulo de sua orelha. Ela soltou
um gemido.

Naquele momento o baião A Morte do Vaqueiro, do ícone Luis Gonzaga, começou a


tocar.
— Quero ver se conhece forró de verdade. — Ela me provocou e iniciou a dança com
seu quadril. Merda… agora eu gozo! Esse baião é sensual demais; o rebolado é lento e os
parceiros ficam grudados um no outro. Ela jogou sua cabeça para trás, o que me deu uma
bela visão de seu convidativo pescoço, e rebolou bem devagar, esfregando-se no meu pau
duro. — Também sei provocar… Felipe.
— O jogo da sedução só é válido quando dois participam… — A preparei para um
giro e a deixei de costas. Camila apoiou sua cabeça em meu peito e espalmei a mão em
seu ventre. Continuamos com o passo, e sentir a sua bunda roçar contra o meu pau, foi
uma tentação. Uma devassa e deliciosa tortura. — Espero que esteja ciente do que está
fazendo — sussurrei em seu ouvido e mordisquei o seu maxilar, descendo para seu
pescoço.

Meu pau latejou e como não queria me constranger nem marcar minha bermuda, a
girei e voltamos para o básico. A embalei em alguns outros passos do referido ritmo e a
trouxe novamente para o meu quadril.

— Não aguentaria por muito mais tempo, não é? — Camila cravou sua mão em
minha nuca e sugou meu lóbulo da orelha de forma sexy. Virei meu rosto e nossos narizes
se tocaram. Fitei seus olhos, tomados pela luxúria, e a levei para a parede. Ela fitou meus
lábios e os lambeu. — Quero que a mesma lubrificação que me enlouquece, se aposse de
você…

Desci minha mão para a sua bunda e a apertei contra o meu pau. Ela fechou os olhos
e abriu levemente sua boca. Mordi seu queixo e beijei seu pescoço, esfregando minha
barba nela. A música parou e então percebi o estado em que nos encontrávamos.

Camila abriu seus olhos, me fitou confusa. Então me empurrou.

— Eu… — piscou algumas vezes. — Obrigada pela dança… — Se afastou, quase


correndo, e foi em direção ao banheiro.

Fiquei sozinho na pista, com o xote que começou a tocar, e uma bela morena, que me
fitava atrás da faixa amarela no chão, se aproximou de mim; olhava-me implorando para
que a tirasse para dançar. Sorri, desculpando-me e marchei em direção ao bar.

— Hoje você será minha Mila… só minha.

Me tranquei dentro de um dos privativos e recostei-me contra a porta. Meu Deus… o


que está acontecendo comigo?! Toquei em meu pescoço, ainda sentindo seus lábios
mordiscando-me… A pulsação no meu sexo, desejava por seu toque… Desci minhas mãos
e as resvalei de leve por meus seios.
— Cami… — Nathalia me chamou e interrompi meu movimento.

— Aqui! — Nervosa, acionei a descarga e abri a porta, mexendo no vestido, fingindo


que tinha usado o banheiro.
— Está tudo bem? — inspecionou-me, detalhando o meu rosto.

— Sim… — Abri a torneira e peguei um pouco do sabonete líquido. — Por que não
estaria? — Sorri através do espelho.

— Vi o jeito como correu de Felipe. — Encostou na parede e sorriu. — Aliás, de


onde ele surgiu?! Meu Deus… e que dança foi aquela? — Fiquei de costas, enquanto
pegava a toalha de papel.
— Pois é… — sussurrei e me virei. Apoiei-me na pia. — E cometi o pior erro da
minha vida: a merda de dançar com ele.
Nathi estava surpresa.

— Mas garanto que foi a melhor dança, não foi, amiga? — Ela se aproximou e baixei
a cabeça, respirei fundo e a encarei. — Meu Deus — ela levou a mão à boca —, gosta
dele! — Soltei o ar com força e me virei para o espelho novamente. — Cami… por que
nunca me contou?

— Por ser algo impossível de acontecer, Nathi. Ele é o filho do nosso patrão. É lindo
e rico; tem a mulher que quiser… e eu? — A fitei aflita, assumindo o que sentia. — Sou
apenas a sua secretária particular; a empregada órfã que fora acolhida pela família!

— Não foi o que vi no olhar dele…


— Mas é o que sou! — A cortei. — Não aceitarei ser migalha para ninguém… —
Descartei o papel no lixo. — E para mim, essa noite já deu.

— Meninas… — Maria entrava no banheiro, junto com outras duas desconhecidas.


— Meu Deus do céu… O que foi aquilo que aconteceu entre você e o Felipe!? — Estava
empolgada e com as faces vermelhas.
— Uma burrice — respondi, já andando em direção a porta de saída. — Um terrível e
inefável erro!

Assim que saí do banheiro, fui surpreendida por Felipe à minha espera, terminou de
beber o conteúdo de sua garrafinha de água e a jogou no lixo; olhava-me com um sorriso
no rosto e com o olhar iluminado. Ai… merda! Ele se aproximou, esbanjando charme em
seu caminhar, e parou na minha frente. Desceu seu rosto na direção lateral do meu.
— Começará o show — anunciou, com sua boca próxima do meu ouvido, e seu
cheiro me inebriou novamente. Meu coração disparou. Ele empertigou-se e me fitou, ainda
bem próximo de mim. — Venha… vamos dançar. — Não tive tempo de negar, ele pegou
em minha mão, entrelaçando nossos dedos, e me levou de volta para a pista de dança.

Pessoas encheram a pequena arquibancada e casais se emaranhavam em meio ao


forró: Eu só quero ver da banda Bicho de Pé, que iniciava a sua apresentação. Felipe
andava comigo por entre as duplas. Ao chegarmos próximos do palco, me puxou,
acomodando minha mão esquerda em seu ombro, e iniciou os passos. Desta vez, não
houve provocações, apenas dançamos juntos e curtimos a música, como os demais.

Depois de algum tempo localizei as meninas dançando com seus pares. Felipe me
girava no ritmo dos xotes e meus cabelos grudavam no meu pescoço suado; ríamos e
curtíamos juntos. Até que a banda começou a tocar Que seja e então a atmosfera ao nosso
redor pesou. Felipe, que sustentava um lindo sorriso no rosto, ficou sério e com a
respiração entrecortada, apertou minha cintura, enquanto seu olhar percorreu todo o meu
rosto.

— Mila… é só uma música. — Me colou no seu corpo e nos encaixamos.

Seus braços me envolveram e senti-me acolhida entre eles; como se ali fosse o meu
lugar. Felipe encostou seu rosto no meu e fechei meus olhos. Ele não me afastava,
dançávamos grudados, de forma lenta e intensa, e por vezes nossas bocas se
aproximavam. Felipe me provocava de forma carinhosa. Sua mão desceu até aproximar da
parte de cima da bunda e me apertou contra a sua excitação.
— Tomara que seja amor… — Ele sussurrou em meu ouvido a frase da música. O
fitei e seus olhos miraram minha boca. — Que seja amor… de qualquer maneira… —
acompanhou a letra. — Me aceite, Mila.

— Felipe… acho melhor…


Mas ele não permitiu que eu terminasse a frase, segurou meu rosto com sua mão
esquerda e me beijou. Seus lábios eram macios e calmos; tomou-me e invadiu-me com sua
língua mansa e suave. Era um beijo gostoso, sem pressa… Como se fosse uma troca de
sentimentos… um reencontro de almas.
Precisava admitir, Felipe dominava a arte de beijar. Seus lábios se moviam de uma
forma que fazia com que eu quisesse mais. Sabe aquele beijo que não queremos que tenha
fim? Pois é… Felipe me tinha.
Ao som da música, me entreguei. O abracei e o trouxe para mim. Percebi que ele
andava pela pista, até sentir a parede atrás de mim. Me envolveu por entre seus braços, me
apertando na medida certa, enquanto sua boca me devorava de forma calma e precisa. Sua
língua era macia e a cada contato com a minha, despertava a vontade do mais. Queria
mais… muito mais do que aquele delicioso e maravilhoso beijo.
Senti ele descer sua mão até o meu quadril e o puxar, no momento em que esfregou
seu sexo duro contra a minha barriga. Gememos juntos e o puxei pela cintura. Precisava
dele…queria tê-lo… Então Felipe inverteu a posição sua cabeça e como um lampejo,
recobrei o juízo, abri meus olhos. Mas estava tão bom, que não conseguia interrompê-lo.
Aquele beijo representava todos os longos anos em que mantive minha paixão escondida;
que alimentei essa relação impossível pensando que jamais daria certo.

Felipe diminuiu o ritmo e depois de alguns beijos castos, separou nossas bocas e
encostou sua testa na minha.

— Até que enfim o nosso beijo aconteceu… — disse, roçando seu nariz no meu. — E
que beijo… sua boca é deliciosa. — Ergueu sua cabeça e a apoiou no alto da minha,
enquanto me abraçava. — Não sei se conseguirei me afastar de você…

E agora, me perdi de vez… ou será que me encontrei?



Camila se moldava em mim, encaixando-se perfeitamente ao meu corpo. Sua pele
era macia e aveludada, e o seu sabor… Eu a queria ao meu lado e não era apenas para
inflar meu ego, diante dessa batalha que travei em conquistá-la. Sua boca era deliciosa e
era quase impossível de interromper o beijo.

— Felipe… — Me afastou e fitou-me sem graça. Parecia outra pessoa; estava séria e
arisca, como se travasse uma luta interna. — Eu… tenho que ir.

— Não… — A abracei. Queria provar mais do seu sabor e do seu calor. — Quero
dançar contigo a música que mais gosto da banda…
— Sua mãe pediu para que eu fosse encontrá-la — explicou, me empurrando. —
Descerei pela manhã.

— Podemos ir juntos…
— Não Felipe. — Me cortou e fitou-me séria. — O que aconteceu aqui foi erro e não
se repetirá.

Soltou sua mão e deu um passo para o lado.


— Mas Mila, esse beijo só comprova o que… — segurei sua mão.
— Por favor, não insista. — Me interrompeu, retirando sua mão da minha. — Eu não
quero. Deixamo-nos levar pelo momento, foi apenas isso. Nós… isso não daria certo… —
Calou-se, com os olhos aflitos, e se afastou de mim, fugindo.

— Camila! — A chamei, tentei segurá-la mas ela se livrou do aperto da minha mão e
tive a impressão de que estava chorando.
Foi então que percebi como Nathalia me olhava, claramente condenando-me por ter
feito algo que nem sabia o que era. Merda… o que está acontecendo? Ela correu atrás de
Camila, que se dirigia para a saída da casa, seguida pela outra amiga. Não adiantaria
correr atrás dela naquele momento. Levei as mãos aos cabelos e prendi alguns dreads que
caíram. O que foi que eu fiz de errado?

***

Entrei em casa no escuro, andei até a cozinha para comer algo, enquanto pensava se
Camila estaria bem. Resolvi conferir. Entrei pelo corredor, que dava para a ala dos
empregados, e parei na porta do quarto dela; ergui minha mão, mas antes de bater, percebi
o silêncio. Não deve estar aqui. Regressei para a cozinha, preparei um misto; peguei um
copo de suco e voltei para a sala, foi então que percebi a iluminação vinda pela fresta da
porta do escritório. Estranhei e bati de leve na porta; a abri e encontrei Diogo concentrado
com algo no notebook.
— O que faz aqui tão tarde? — questionei me aproximando da mesa e apoiei o prato
e o copo. — Há tempos não dorme aqui em casa. Está com problema no seu apartamento?

— Estou tentando encontrar um brecha nestas cláusulas — respondeu seco, ainda


com o olhar fixo na tela. — Mas não temos saída. Terei que seguir com o contrato nupcial.
— Quer dizer que encontrou o amor da sua vida entre as entrevistadas? — debochei e
sorvi um longo gole do meu suco.
— Não. E acho que será muito difícil encontrá-lo algum dia. — Me fitou, por cima de
seus óculos de grau. — Só preciso achar uma mulher que entenda que não teremos
nenhum vínculo emocional e nem sexual, apenas via contrato mesmo. Amanhã termino de
entrevistar outras que selecionei. — Voltou-se para o que fazia.
— Mas não a levará para morar contigo? — questionei curioso.

— Pelo que li, é uma das exigências: a de que temos que dormir juntos — afirmou
desgostoso. — Mas nosso pai não estará presente a todo momento, então, já mandei que
preparassem o quarto ao lado do meu para a minha futura esposa…

— Quer dizer que continuará com essa ideia de casamento por contrato? —
questionou João, passando pela porta, nos surpreendendo. Olhei para ele e apoiei meu pé
na cadeira, enquanto comia meu lanche. — Me dá uma mordida… — pediu e enquanto
mastigava, sentou-se na cadeira ao meu lado. — E aí, quando será a festa?
— Não terá festa — respondeu de forma seca —, quem sabe me caso na próxima
semana. Mas será somente no cartório…

— Já?! — indagamos juntos, eu e João. — Mas e a festa? — complementou meu


irmão.

— Farei uma recepção simples, somente para os nossos pais.

— Mas ele foi categórico em afirmar que quer que façamos uma baita festa — disse e
os dois me encararam. Sorvi um gole do suco e contrai meus ombros. — Só estou
lembrando as exigências.

— E você, por falar nisso — João virou-se para mim —, como está na empresa?

— Bem… Por incrível que pareça aquele Daniel consegue ser mais desorganizado do
que eu.

— Semelhante atrai semelhante, não é assim? — Diogo ousou sorrir, mas fora em
vão.
Mostrei o dedo do meio para ele, que revirou seus olhos e voltou a digitar.

— Já arranjou alguém para casar-se? — perguntou João e mexeu no seu celular.


— Tenho uma garota em mente — respondi e os dois me olharam surpresos. — Por
que o espanto? Também tenho meus atributos.

— Só se for de uma mulher portadora de TOC e que se incomode com essa cola no
seu cabelo.
— Boa Diogo! — João ria.

— Vão se foder! — Levantei-me e recolhi o prato, já que o copo João virava o


restante do conteúdo do meu suco. — Se tudo der certo… também me casarei; só que no
meu caso, será por amor mesmo. — Virei-me e marchei em direção à porta. — E isso é
goma. Acredite, chama uma atenção danada… — pisquei e sai.

Depois de deixar o prato na cozinha, peguei uma maçã e subi para o meu quarto.
Retirei minha roupa e ao passar a camisa pela cabeça, senti a fragrância do perfume de
Camila, aproximei meu nariz do foco e o inalei.

— Ah garota… o que está fazendo comigo?

Desabotoei a bermuda e me joguei na cama somente de cueca. Acendi o abajur e


fiquei a fitar o teto. Lembrei-me da nossa noite e da forma como dançamos animados;
recordei-me da maciez de sua pele e do sabor dos seus lábios. Camila deveria ser deliciosa
na cama…

Vire-me para o lado e o sono não vinha. Foi então que tive uma ideia. Levantei-me
apressado e corri para dar início ao meu plano.

No carro, Promise, de Ben Howard, me acompanhava pela Rodovia dos Tamoios e


sua belíssima paisagem. O sol despontava por entre os vales tornando a viagem mais
gostosa. Mesmo com tanta distração, a noite de ontem não me saia da cabeça e a imagem
de Felipe, insistia em torturar-me. Apertei meus lábios, lembrando-me do intenso e o
melhor beijo da minha vida. Refleti como nos encaixamos; era como se pertencêssemos
um ao outro. Pensei em ousar a deixá-lo entrar, mas o medo de me ferir era maior.

Continuei pela rodovia até me aproximar da serra. Depois de chegar em São


Sebastião, peguei a fila para a balsa, que me levaria para a Ilha Bela. Enquanto a barca
iniciava a travessia, desci do carro e deixei que o vento bagunçasse meus fios soltos. O
visual do canal era lindo e justificava as paradas dos navios de cruzeiros, já que a ilha
tinha uma beleza peculiar. Assim que chegamos, contornei a rotatória e peguei para a
esquerda, na direção da Praia do Sino. Seguia pela avenida e o sol transpassava pelos
coqueiros, que ladeavam as margens, tornando a visão ainda mais bela. Sem dúvida aquele
lugar era único.

Assim que avistei a placa da praia, dei seta e entrei na pequena estrada de terra batida,
à esquerda. Adorava estar na casa de veraneio da família, que dava acesso direto à uma
praia privativa. Passei pelos seguranças e estacionei o carro. Assim que desci, inspirei
aquele ar puro, mas como não passei repelente, corri e peguei minha mala.

Entrei pela cozinha e Fátima preparava algo no fogão.

— Bom dia, Cami! — cumprimentou-me alegremente. — Chegou cedo, pensei que


viesse mais tarde.

— Na realidade quase nem dormi — assumi, servindo-me de uma xícara de café


puro. — Estou morta!

— Por que não toma café com eles? — Colocou os ovos mexidos na travessa. —
Estão na sala de jantar.

— Só passarei repelente e já desço. — A segui até o corredor, mas subi a escada,


antes de chegarmos na sala de jantar.

No quarto tomei uma ducha rápida e me embatumei de repelente. Vesti uma roupa
mais leve, já que o dia prometia ser quente, e desci para me encontrar com eles.
Certamente Angela queria saber sobre os preparativos de sua festa de 65 anos. Assim que
cheguei na sala de estar vi que comiam calados, enquanto fitavam o canal na frente da
enorme sacada.
— Cami, meu amor. — Ela se virou para mim e sorriu. — Que bom que chegou cedo,
estávamos planejando um passeio de barco hoje!

— Ah é… que legal. — Beijei sua testa e cumprimentei Bruno. — Estou feliz em ver
sua animação.
— Na realidade estamos surpresos, isso sim — reclamou Bruno, levando sua xícara à
boca. O fitei sem entender. — Sente-se e coma conosco, minha filha. — Pediu, apontando
para a cadeira, que ficava de frente para a paradisíaca paisagem, e de costas para o interior
da casa.
— Bruno está surpreso porque fazia tempo que ele não vinha. — Ela piscou para o
esposo. — Bobagem desse velho bobo…

Sorri, mas não entendi.


— Você vem conosco para o passeio de barco, não é, meu amor?!

— Claro, Angel… — confirmei, servindo-me de leite e café. — Tudo para ver esse
seu sorriso lindo!
— Que bom… pena não poder me contar como foi com Felipe — reclamou Bruno.

— E por que não? — Questionei pegando o açucareiro.

— Não falei mãe, que hoje o tempo melhoraria… e o sol brilharia?! — Deixei a louça
cair e me virei na direção que vinha a voz. Felipe usava somente uma calça larga, para a
prática de Yoga, e seus dreads caiam ao redor do seu torso desnudo. Estava lindo. —
Camila, com a sua beleza, iluminará o nosso fim de semana. — Beijou a bochecha de sua
mãe e sorriu para mim.

— O-o que faz… aqui? — questionei em um sussurro.


— Também queria saber, já que há tempos não descia para cá?! — inquiriu Bruno.

— Vim porque soube que este lugar possui uma energia única… — respondeu, com o
olhar fixo em mim. — E como desejo algo que é especial demais para mim, pensei em
aproveitar-me dessa energia para… tê-la. — E antes de se sentar ao meu lado esquerdo,
deu um beijo no alto da minha cabeça. — Bom dia, Mila… que bom que você veio.

Sem graça, corri meu olhar para o senhor Bruno, que nos olhava sem entender, e
depois para Angela, que sustentava um discreto sorriso, iluminando o seu semblante.

Bruno questionou algo para o filho, que não prestei atenção, e me voltei para Angela.

— E-eu…
— Não precisa dizer nada, meu bem. — Ela sussurrou para que somente eu a ouvisse.
— Agora sei o que o motivou… — Deu alguns tapinhas em minha mão e piscou.

Felipe apoiou sua mão sobre a minha coxa descoberta e, pega pela surpresa, arregalei
meus olhos. Discretamente o fitei e ele sorriu. Ai meu Deus…

Ao ver Camila, relembrei da nossa noite anterior e meu corpo incendiou. Agora, ao
saber que sua boca era macia, queria senti-la de novo, e de novo… E o mais estranho de
toda essa grande loucura, era que ela despertara algo dentro de mim que ia além do desejo
carnal.

Mantive minha mão em sua coxa, enquanto meus pais iniciaram uma conversa. A
fitei, com um mudo sorriso, e ela me fuzilou com o seu olhar. Deveria estar muito puta por
eu ter lhe dado um beijo na frente deles, afinal, quase nunca nos viam juntos pois ela
sempre fugia de mim; impedindo-me qualquer tipo de aproximação.
— Fico muito feliz em saber que voltaram a serem amigos — disse minha mãe
sorrindo e apertou a mão de Mila. — Se soubesse o quanto torci para que fizessem as
pazes…

— Nem sabia que tinham brigado! — resmungou meu pai, mordendo um pedaço de
seu pão com queijo branco.
— Na realidade… — Camila, discretamente, colocou sua mão sobre a minha e,
enquanto sorria, retirou a minha de sua perna. — Não houve briga alguma. — Virou-se
para mim. — Não é?! Foi apenas o desencontro natural que a vida nos força a ter… —
Apoiou suas duas mãos sobre a mesa.
— Mas a verdade — retornei minha mão para sua perna e a apertei — é que Camila
me evitava sim. Mas acho que foi porque se apaixonou por alguém. Né? — Sorri enquanto
ela me fitava com raiva.

— Um amor!? — Minha mãe, romântica como era, se entusiasmou. — Nunca me


contou, meu bem. Quem é ele?
— Era… — A corrigi e deslizei minha mão pela extensão de sua coxa descoberta. —
Camila está desimpedida.
— Ah… então fora o seu primeiro amor? — questionou minha mãe.

Senti algo estranho e franzi o cenho. Não soube identificar que sentimento era esse.
Então apalpei sua pele, perto do joelho.

— Responda Mila… — pedi, a fitando com curiosidade.

Ela respirou fundo e olhou para cada um de nós. Percebi seu nervosismo.

— É… — limpou sua garganta e apertou seus dedos.

— Não precisa nos dizer algo tão pessoal, querida…

— Precisa sim… — cortei minha mãe. — Você não sente mais nada por ele… não é?

Ela me olhou profundamente e umedeceu seus lábios.

— E-eu… — Soltou o ar com força e fitou-me com intensidade. — Ainda o amo…


Aquelas palavras foram como facadas em meu peito aflito, que subia e descia
intensamente. Semicerrei meus olhos e retirei minha mão de sua perna. O olhar de Camila
mudou para confuso e alternaram de meus olhos para minha mão, que apoiei na mesa.

— Então… ainda possui contato com ele — balbuciei, absorto em sua expressão.
— Quase todos os dias… — afirmou. Piscou repetidas vezes e sua face afogueou;
baixou seu olhar, envergonhada. — Se me dão licença… — Apoiou o guardanapo de
tecido na mesa e se levantou.
Virei-me em sua direção e a acompanhei com a cabeça, até que sumiu pelo corredor
que dava para a escada. Meu coração batia descompassado e minhas mãos gelaram.
Aprumei-me e me servi do suco.

— Espero que não esteja flertando com ela — alegou meu pai, se levantando. —
Camila é como uma filha para nós. — Devolveu a cadeira no lugar. — Irei até a marina.
Arrumem-se, pois os embarcarei no deque.
Saiu pisando firme e colocou seu chapéu Panamá.
— Felipe… — chamou-me e a fitei. — Meu filho, você… gosta dela?

Fiquei sem ação. Estava tão na cara assim?! Talvez fosse bom me abrir com alguém
como minha mãe, para saber se não estava ficando louco.
— Não sei… — sussurrei e soltei o ar de forma lânguida. — Mas confesso que ando
confuso e penso nela mais do que o normal. — Ela me fitou curiosa. — Quando éramos
adolescentes… Quase nos beijamos. — Então arregalou seus olhos, visivelmente receosa.
—Mas não nada demais…

— E depois?

— Nos afastamos… Quer dizer, ela passou a me evitar.


Ficamos em silêncio e minha mãe parecia pensar em algo; já eu, só procurava uma
forma de me aproximar de Camila, e conquistá-la, mesmo que ainda amasse o tal cara.
— E o que sentiu ao ouvir o que sente pelo seu primeiro amor? — Percebi
curiosidade em seu olhar.

Interpretei o que senti ao escutar aquilo.


— Ciúmes… — Levei minha mão à boca e apertei meu queixo. — Nem eu acredito
que senti isso. — A fitei confuso. — O que acha que devo fazer, mãe?
— Se gosta dela verdadeiramente… conquiste-a! — disse com firmeza e senti
esperança. — Quando amamos, devemos lutar por esse alguém… E não importa o que
tenha acontecido em seu passado, ofereça bons momentos no presente… Camila é solitária
e já sofreu muito nesta sua jornada, já está na hora de encontrar a felicidade.
Sorri e me entusiasmei. Minha mãe estava certa, Camila merecia o céu e eu lhe daria
as estrelas, se fosse preciso, só para vê-la feliz.

— E farei de tudo para que ela seja, minha mãe… — afirmei e senti uma boa energia
surgir.
Seu sorriso alargou.

— Então o ajudarei.


Andava de um lado para o outro, no quarto que ocupava. Esfregava a mão pelo meu
rosto, ainda sem acreditar que revelei, na frente de todos, que amava Felipe. Tudo bem
que não disse seu nome, mas com toda a certeza soube que me referi a ele. Olhava no
profundo dos seus olhos quando assumi meus sentimentos, só se fosse muito burro para
não sacar.

— Merda… e agora, o que farei?! — Mordia meu lábio inferior, sem saber como agir.
— Quer saber… vou embora!

Abri o armário, peguei minha mala, que ainda nem tinha desfeito, e a coloquei sobre
a cama. Arrumei as poucas peças que tirara dela. Corri no banheiro e coloquei meus
pertences de volta à necessaire. Até que batidas na porta me interromperam. Gelei. E se
for ele…. Me fitei no espelho e vi minha expressão aflita. Respirei fundo, para me
acalmar, e andei até parar de frente para a porta. Soltei o ar de forma lenta e a abri.

— Posso entrar? — Angela, que se apoiava na bengala, me fitava com sorriso que
iluminava seus olhos.
— Claro! — A ajudei a entrar. Corri e puxei a poltrona para que se acomodasse. —
Me desculpe sair da mesa daquela forma…

— Não precisa se explicar, meu amor. — Ela me cortou e se sentou. Corri e fechei a
porta. — Fomos indelicados, forçando que se expusesse daquela forma. — Apertou minha
mão. — Eu que devo desculpas…

— Imagina — sorri sem jeito —, foi apenas uma conversa informal… — Sentei-me
na beirada da cama e a fitei curiosa.
— Ia embora? — questionou depois de notar minha mala aberta.

E agora… o que inventaria, Angela era perspicaz!?


— Esqueci que tinha marcado a degustação com o buffet — disse sem encará-la.
— Cami… não precisa mentir para mim… Vi como ficou ao ver Felipe aqui — disse
mantendo atenção na minha reação. E, claro, demonstrei nervosismo. Seu filho, desde
nossa adolescência, era o meu amor. — Sempre me considerei como uma mãe para
você…
— E a tenho como. — Apertei sua mão. — Ah Angel… eu… — Não aguentava mais
me esconder, precisava colocar para fora todo aquele sentimento que mantinha escondido
há anos. — Eu o amo… — Ela arregalou seus olhos e depois de breves instantes, sorriu.
— Sei que fui uma tola por ter fomentado esse sentimento, mas… eu o amo desde quando
erámos jovens. E depois de nos beijarmos ontem…

— Espera! — Me cortou. — Vocês se beijaram?!

— Sim… aí meu Deus…. — Me encolhi e escorreguei para o chão, tampando meu


rosto.

Ela me puxou pelos ombros e apoiou minha cabeça em seu colo.

— Estou tão feliz que não tenho palavras, Cami — alegou, por fim, e ergui minha
cabeça para fitá-la. — Sim, meu amor, não existe mulher melhor para estar ao lado de
Felipe do que você!

— Mas receio que ele não sinta o mesmo por mim.

— E como saberá se não o permite se aproximar? — Me fitou com carinho,


acarinhando minha face. — Para amarmos, temos que nos abrir e permitir que o outro
entre; do contrário, como receberemos o amor?!

— E se me machucar, Angel? — Limpei minha face, já que algumas lágrimas


romperam. — Não sei se conseguirei lidar com o sofrimento, caso ele me rejeite.

— Privar-se da felicidade por medo de sofrer, é o mesmo que deixar de viver por
medo de morrer. — Afagou meus cabelos. — Não pode deixar de amar por causa de uma
incerteza.
— Tem razão… — concordei timidamente. — Mas não sei como agir.

— O primeiro passo é permitir que ele se aproxime e então, o que tiver de ser…
acontecerá de forma natural. — Sorriu com carinho. — Permita-se sentir e o restante
fluirá.
— Entendi… — Minha voz saiu embargada. — Obrigada… Não imagina como é
triste não ter a sua mãe para lhe ajudar sobre qual caminho seguir.
— Sim, meu amor, eu sei como é. — Segurou meu rosto por entre suas delicadas
mãos. — Por isso vim até aqui, minha filha… — Beijou o alto da minha cabeça e a deitou
em seu colo, afagando meus cabelos. — Conte sempre comigo, Cami… Sei que ninguém,
nunca, ocupará o lugar que era de sua mãe. Mas o amor semelhante, posso lhe dar.
— E isso me é tão importante…

Ficamos assim por alguns minutos e depois de me sentar, a fitei com carinho.
— Então pegue a sua mala pois iremos para Ubatuba — disse entusiasmada e se
apoiando para se levantar.
— Hoje?!

— Sim, agora mesmo. Navegaremos até lá… será um belo dia.

Depois de longos minutos, estava impaciente pela demora de minha mãe. Então
peguei minha mochila e desci as escadas; segui para a sacada da sala e tomei a direção do
deque de madeira. Assim que cheguei no fim, vi o barco de meu pai se aproximar,
deixando uma espessa onda branca para trás. Assim que ancorou no deque, o marinheiro
saltou e me ajudou a embarcar.
— Elas não vêm? — questionou meu pai, assim que adentrei na praça da popa.

— Está com a Camila — expliquei, ao apoiar minha mochila na cadeira da mesa. —


Acho que ela não gostou em expor-se daquela forma…
— Presta atenção, Felipe — me olhou sério —, pois não falarei de novo: Camila é
como uma filha para nós e não permitirei que você a trate como uma conquista barata.

— Jamais meu pai…


— Vou ajudá-las, senhor! — gritou o marinheiro e virei-me.
Ele corria pelo deque e pegou as suas malas. Com cuidado e calma, ajudou minha
mãe; e tão logo se aproximou do barco, meu pai a segurou pela mão. Assim que regressei
meu olhar, deparei-me com o de Mila e meu coração bateu mais forte.
— É muito mais do que somente uma conquista, meu pai… — cochichei para ele,
que estava ao meu lado. A fitei inebriado. Ela usava um negro vestido; por ser leve, suas
pontas voavam diante da brisa, mostrando suas pernas; era um pouco transparente,
deixando seu biquini visível e o contorno de seu esbelto corpo. — Ela é… especial para
mim.

Estendi minha mão para ajudá-la e quando nos tocamos, senti meu peito inflar e meu
coração bater descompassado. Sorri abertamente e ela me fitou, enquanto sua outra mão
segurava seu chapéu preto.

— Obrigada. — Um belo sorriso iluminou sua face e vislumbrei um brilho diferente


em seu olhar.

Emudecido, a deixei passar e antes de adentrar para a sala de estar, seguindo meus
pais, olhou-me novamente e sorriu de forma tímida.
— Parabéns pela namorada, senhor Felipe… — disse o marinheiro, que esqueci o
nome. — É uma bela mulher.
— Sim… a mais bela de todas.


Tinha me esquecido do quão bonito era o interior de Angela´s, há tempos não
passeava nele. O moderno iate, era um modelo de 60 pés da Intermarine; seu interior era
luxuoso, de couro branco e madeira na cor chocolate; com um elegante acabamento e
iluminação nas escadas.

— Felipe — chamou Angela e ele parou atrás de mim, senti sua aproximação mas
não me virei. — Acomode Cami no quarto da popa. — Arregalei meus olhos, pois sabia
que era a suíte principal. — Prefiro o outro. Gosto de ler sentada na chaise.

— Imagina, ficarei na suíte de solteiro…


— De maneira alguma contrariaremos uma determinação de minha mãe… — Felipe
apoiou suas mãos em meus ombros e me incitou a andar em direção à estreita escada, ao
lado da mesa de navegação/comando. — Ficará na suíte master como ela deseja.

— Mas Felipe… — Virei meu rosto para ele, mas fora em vão, continuou a me
empurrar pela escada abaixo.
— Deixe que eu levo isso — pediu para o marinheiro e pegou minha mala.

Chegamos no deck inferior e ao meu lado direito estava a suíte de solteiro; à minha
frente a master e à minha esquerda, havia dois degraus que levavam à suíte de casal.
Enquanto Felipe abria as cortinas da master, dei uma olhada na que Angela ocuparia;
realmente era mais ampla e possuía a visão de ambos os lados do barco, então fiquei mais
calma.

— Venha Mila… — Felipe estendeu sua mão, parado na porta da que eu ficaria. A
aceitei e sorri de forma muda, estava muito nervosa. — Espero que goste.

Ela ficava na popa e no formato de “V” invertido; a cama estava de fronte para a
estreita porta e ladeada pelas duas janelas. Acima, e bem no centro da cama, uma pequena
escotilha que permitia que a iluminação do dia adentrasse em seu interior. Havia dois
guarda-roupas, um de cada lado, aos pés da cama e à minha esquerda estava o luxuoso
banheiro, claro e muito bem planejado. Algumas dicroicas de leds iluminavam, de forma
requintada, seu interior. Voltei-me para o quarto e Felipe parecia tocar o teto, por causa de
sua altura.

— Lindo!

— Obrigado… — Ele piscou um olho e abriu um enorme sorriso.

— Não! — Andei até ele, que me olhou confuso. — Me referi ao barco.

— Ah… — Simulou tristeza e baixou sua cabeça. — E por um momento me senti a


última bolacha do pacote.

— Seu bobo… — Ri. — Você também é… — ele se aproximou e calei-me quando


parou bem na minha frente — bonitinho…

— Bonitinho?! — Fez uma careta e gargalhamos. Ele ergueu sua mão e acarinhou
meu rosto. — Lindo é esse seu sorriso.

— Felipe. — Mesmo o querendo, não me sentia confortável sabendo que seus pais
estavam acima de nós. — Seus pais…
— Desencana…

Aproximou-se mais e desceu sua cabeça para a minha direção; fechou seus olhos e
assim que nossas bocas se tocaram, senti meu corpo aquecer. Ele me deu um delicado
beijo casto e segurou meu queixo, erguendo meu rosto. Seus olhos perscrutaram-me e ele
me fitou sério. Mordi meu lábio inferior, querendo mais.
— Espero que essa viagem fique marcada para nós dois — disse com uma voz rouca.

— Eu também… — E esquecendo-me de todo o mundo ao nosso redor, o segurei


pela nuca. Já era hora de deixar meus medos de lado. Angel estava certa, precisava abrir-
me e permitir que ele se aproximasse. — Quero que esta seja a viagem da minha vida. —
Encorajada, o beijei.

O abracei, com meu outro braço, e o puxei. Felipe me enlaçou pela cintura e
aprofundou o beijo. Como no primeiro, era calmo e suave. Ele não tinha pressa, parece
que queria desvendar cada canto da minha boca. Sua língua era macia e roçava a minha
com maestria. Claro que em instantes senti a excitação pulsar em meu interior. Se apenas
com um beijo ele conseguia provocar aquilo, nem queria imaginar como seria transando.

Ele me levou para trás e me encostou contra o armário; senti sua ereção crescer,
enquanto sua boca me devorava com suavidade e precisão. Desci minha mão pelo seu
braço e o apertei pelo quadril, trazendo-o ainda mais; na verdade, queria senti-lo dentro
de mim. Ergui uma perna e ele, se aproveitando, esfregou-se. Segurou meu pescoço, com
suas duas mãos, e afastou sua boca, interrompendo o beijo.

— Tenho que tomar cuidado — disse com a respiração ofegante. — Seu beijo me
leva a loucura… — E tomou minha boca com mais entusiasmo, desta vez não estava tão
calmo, mas sim, urgente.


Senti a atmosfera alterar ao nosso redor, aquilo que era romântico passou a pesar e
nossa sexualidade começou a assumir nossos movimentos. Eu a queria, claro, mas não
agora, nestas condições. Camila merecia algo especial, e era isso que planejava. Controlei
minha excitação. Mas não era tarefa fácil afastar seu pau duro de uma perna entreaberta.

Diminui o beijo, até passar a alguns castos. Encostei minha testa na dela e puxei o ar
com força. Afastei minha cabeça e a fitei. Camila continuava com seus olhos fechados,
ainda saboreando nosso delicioso momento. Detalhei seu rosto e assim que abriu os olhos,
sorri.

— Pensei que fosse me recusar.


— E deveria — mordeu seu lábio inferior —, mas você não me deu tempo.
— E nem darei. — Afaguei sua face e passei meu polegar por sua boca entreaberta.
— Mas confesso que tenho que me policiar, principalmente quando nos beijarmos em
público. — Ela me olhou confusa e baixei meu olhar, indicando o ponto que roçava nela.
Gargalhamos. — É sério!

Ela sorriu e roçou seu rosto contra minha mão.

— Vamos subir? — sugeriu. E me afastou de forma delicada. — Não quero que


imaginem alguma besteira.

— Relaxa gata… Já somos adultos. — Virei-me de costas e ajeitei meu pau, para
disfarçar a forte ereção.

— Mesmo assim — ela pegou sua mala e a colocou sobre a cama —, não me sinto
preparada. — Me fitou sem graça por cima dos ombros, enquanto abria o pequeno
armário. — Para que nos vejam…

— Juntos? — completei, já que percebi sua dificuldade ao pronunciar aquilo. Ela


confirmou com a cabeça e me aproximei, a virando para que ficasse de frente para mim.
— Mila, não quero me precipitar, mas… — Tirei uma mecha de cabelo do seu rosto. —
Quero você. — Ela me encarou e depois de breves instantes baixou seu olhar.

— Cada coisa a seu tempo, Felipe. — Retirou minhas mãos de seu rosto e se abaixou,
pegando algo de sua mala. — Preciso… — Apontou para o banheiro. — Se me der
licença…

— Claro. — Notei sua mudança. Se a quisesse, teria que saber a hora de avançar e a
de recuar. — Te espero lá em cima. — Andei até a porta e antes de sair a chamei. — Fique
tranquila, faremos tudo do seu jeito. Não forçarei nada. — Sorri e antes de fechar a porta,
ela me devovleu um mudo sorriso.

Soltei o ar. Camila era difícil, mas tudo que é valioso nos dá trabalho para conquistar.
E sem sombra de dúvidas, ela valia à pena… cada batalha.
Senti o barco iniciar a navegação e subi a escada. Meu pai assumia a direção. Minha
mãe, sentada na mesa de jantar atrás dele, tomava um drink. Cumprimentei a ajudante, na
cozinha, e me segurei, ficando ao lado de meu pai.

— Demorou.
— Estava mostrando os cômodos para ela — menti, olhando para frente. — Vamos
para Ubatuba?
— Sim, Angel quer ir à Ilha das Couves — falou, aumentando a velocidade.

— Está tudo bem? — questionou minha mãe.

— Sim. — Forcei um sorriso e a fitei brevemente. — Gosto de sentir a brisa. Já volto.

Passei por eles e sai para a praça da popa; acessei a escada lateral e subi para o
Flybridge; Arranquei minha bermuda e sentei-me no estofado frontal, senti o vento no
rosto. O que falei para Camila mudar daquele jeito?!

Assim que Felipe saiu, soltei o ar dos pulmões e me sentei na confortável cama
queen. Ergui minhas pernas e as abracei. Ouvi-lo dizer que me queria, foi como um balde
de agua gelada.

— Como sou tola — sussurrei para mim mesma. — Claro que o que ele desejava era
somente sexo; e assim que conseguisse, me deixaria.

Restava saber se aguentaria seu afastamento depois de transarmos. Sim, porque eu o


desejava também.
— Preciso me preparar para isso.

Senti o barco se movimentar e assim que me estabilizei, levantei-me e arrumei meus


pertences pessoais. Resolvi não desfazer a mala, pois não sabia se navegaríamos por mais
dias ou se regressaríamos ainda hoje.
Subi e me deparei com o olhar inquisidor de Bruno. Sorri sem graça e encontrei
Angel, bebericando um Gim-tônica com hibisco. Soube que era, pois sempre pedia o
mesmo drink.

— E então? — questionou, assim que me sentei ao seu lado. Bruno não nos escutava,
pois engatou uma conversa com Rodrigo, o marinheiro. — Conversaram?
A olhei timidamente. Como era difícil me abrir.

— Mais ou menos. — Senti meu rosto queimar.

— Entendi… — Deu alguns singelos tapinhas em minha mão. — Acho que gostará
do lugar que pedi para Bruno nos levar. Tenho certeza que será… perfeito. — Olhei ao
redor em busca dele, mas não o encontrei. — Está lá em cima. Por que não leva a
caipirinha dele? — Piscou e chamou a copeira, que logo trouxe a bandeja com o copo.

O peguei e com cautela subi atrás dele. Assim que o vento bagunçou meus cabelos o
avistei na última esteira acolchoada e caminhei na sua direção. Seus dreads balançavam,
diante do vento, e senti o rastro do seu perfume.

— Trouxe sua caipirinha — anunciei e ele se virou abruptamente. — Me desculpe,


não quis te assustar.

Naquele momento, dos alto-falantes, a voz de Vinícius de Moraes passou a cantar o


bolero Por Onde Anda Você. Bruno e Angel eram amantes da Bossa-Nova e certamente
colocaram a sua playlist para tocar.

— Não me assustou, só… — Calou-se, foi para o lado e ergueu seu braço esquerdo.
— Vem, fique aqui comigo. — Assim que me sentei, ele me abraçou pelo ombro e
entreguei o copo para ele, que sorveu um gole. Depois se virou para mim e seus olhos
verdes, iluminados pelo sol, me fitaram com intensidade. Felipe era lindo! — Quero me
desculpar por agora a pouco, acho que não soube me expressar direto. — Se remexeu e
ficou de frente para mim. — Quando eu disse que queria você, não me referia à sexo.

Não?! Arregalei meus olhos.


— Felipe…

— Deixe-me terminar. — Me cortou. Estava sério. — Você é especial, Mila. E por


mais que eu tenha um forte tesão por você, como deve ter notado, quero mais do que
somente sexo. — Minha respiração acelerou. — Eu quero você… por completo.
Perscrutei seu rosto e sorri abertamente. Se aquilo fosse um plano para me levar para
a cama, tinha acabado de conseguir o que queria. Naquele momento, Felipe me ganhara.


Nos beijávamos enquanto a forte brisa acarinhava os nossos corpos e dos alto-
falantes, a doce voz de João Gilberto cantava Chega de Saudade[3]. Não conhecia esse
lado galanteador de Felipe; pensei que João fosse o dominante nesta arte. Mas a cada vez,
ele me conquistava mais.

Ele apoiou o copo no estofado, esticou suas pernas e me puxou para o seu colo.
Sentei-me de lado, mas senti minha bunda roçar contra sua pele. Foi então que percebi que
ele estava somente de sunga e excitado. Interrompi o beijo, envergonhada.
— O que foi?

— Acho melhor eu descer — balbuciei. — Seu pai pode suspeitar de algo.


— Que bobagem — disse, tentando domar meus cabelos, que voavam na direção do
seu rosto. — Uma hora eles saberão sobre nós. — Semicerrou seus olhos e virou,
levemente, seu rosto para a direita, o que fez seu piercing, da narina esquerda, reluzir. —
Aliás, é melhor que saibam de uma vez por todas… — E se arrastou pelo estofado,
comigo em seu colo.
— Não Felipe! — gritei e assim que ficamos de pé, o segurei pela mão. — Por favor,
ainda é muito recente… — Ele se apoiou na poltrona de comando e me segurou pela
cintura; algumas ondas batiam contra o casco, fazendo com que o barco chacoalhasse um
pouco. — Antes… preciso saber se o que… — Baixei meu olhar, pois não conseguia
pronunciar aquilo.

— O que temos? — Completou e o fitei. Ele sorriu de lado, de modo charmoso, e me


puxou para mais perto. — Aceito qualquer tipo de nomenclatura que queira dar. O que me
importa… é estar com você.

O fitei inebriada. Certeza que ele percebeu o efeito que aquela frase causou em mim.
Então me beijou, tomando posse daquilo que sempre fora dele: eu. Por mais que a voz de
minha mãe, continuasse a avisar-me para me afastar dele, eu o queria; sempre quis. Felipe
fora meu primeiro e único amor. E estar em torno de seus braços, só dificultava meu
raciocínio. A razão não me dominava mais, estava totalmente entregue à emoção e à
mercê do desejo.

— Mas respeitarei o seu tempo — afirmou ele, depois do nosso longo beijo,
abraçando-me e apoiando o queixo acima da minha cabeça. — Sei o quanto deve ser
difícil para você, afinal de contas, sou o filho do seu patrão.

Pronto, outro balde de gelo. A realidade, nua e crua, desanuviando a magia do


momento. Ele estava certo, independente do que eu sentia, ele era o filho do patrão. E
mais uma vez, vejo a imagem da minha mãe alertando-me para me afastar antes que fosse
um caminho sem volta. O problema era que talvez já tivesse escolhido esse caminho há
tempo.


Camila sempre mudava quando falava algo sobre mim ou de minha família. E mais
uma vez, se fechou e sumiu, dando uma desculpa qualquer. Assim que fiquei sozinho,
peguei meu copo e o virei; deitei-me no estofado e pensei no porquê ela agir daquela
forma. Será que ainda sentia algo pelo cara que gostou? Afinal ela disse que o via quase
todos os dias…
— Mas… quando, se ela estava sempre na companhia de minha mãe?!

Me levantei correndo e desci os degraus, apressado, mas parei no último ao ouvir


Camila:
— … o de acampar. Deitar-me sob o céu e contemplar a beleza das estrelas a noite
toda e ter ao meu lado… — calou-se de repente — esquece!
— Sabe que tem um camping bem próximo de nossa casa… — disse minha mãe.
Olhei com cautela e vi que Camila estava de costas para mim. Minha mãe sorriu ao me
notar ali. — Quem sabe um dia esse seu sonho não se realize?!

Voltei para o andar de cima e procurei o bolso da bermuda, peguei meu celular e
iniciei uma breve pesquisa.

— Se Camila tinha o sonho de acampar sob o céu estrelado, eu o realizaria…


***

Garota de Ipanema, de Tom Jobim, nos embalava quando aportamos na Ilha das
Couves, em Ubatuba. Meu pai encheu o meu saco para que tocasse violão, mas deixaria
para mais tarde. O marinheiro preparou o bote para nos levar até a curta praia. Por sorte,
estava quase vazia. Virei-me para Camila, que permaneceu ao lado de minha mãe o
restante do trajeto.
— E aí, Magrela, que tal um mergulho? — propus e ela arregalou seus olhos para
logo depois me fuzilar.

Sabia que odiaria quando a chamasse com o apelido de antes, na frente de todos.
Disfarçadamente, me mostrou o dedo do meio e gargalhei.
— Sabe nadar, meu amor? — Minha mãe, como sempre delicada, tocou em seu
braço. Ela a fitou sem saber se mentiria; captei a sua intenção. — Vá… estamos bem perto
da encosta! Se eu pudesse, mergulharia nesta imensidão verde…
— Não descerá conosco?! — questionou ela.

— Prefiro não arriscar um mergulho — sorriu —, esperarei Rodrigo me ajudar com o


bote.
— Então vamos?! — A chamei, ainda com um sorriso no rosto.

Andei até a popa e subi na lateral. Me virei e encontrei Camila retirando seu vestido,
ou seja lá o que aquilo fosse, só sei que era transparente demais; e foi ali, naquele
momento, que quase tive um infarto. Camila tinha o corpo lindo, mesmo magra, possuía
curvas nos lugares certos; seus seios, quase saltavam por entre aquele minúsculo pedaço
de pano. Segurei-me como pude e tentei acalmar minha mente, que insistia em imaginá-la
nua e de quatro; sem contar a reação inoportuna do meu pau.

Ela veio na minha direção e deixou seus chinelos; ergueu suas mãos e as levou até
seus cabelos. Aquele movimento fez seus seios empinarem de forma provocativa. Mordi
meus lábios, contento a vontade de tê-los em minha boca. Meu pau latejou. Porra, estava
duro bem na frente da minha mãe! Virei-me de lado e coloquei uma mão na frente para
disfarçar.
— Vamos? — A voz de Camila me despertou, o que era incomum de acontecer
comigo, e a vi com a mão esticada, oferecendo-me.
A peguei e a ajudei a subir ao meu lado. Ela sorriu de forma sensual e piscou algumas
vezes. Parecia estar em câmera lenta. Que porra estava acontecendo comigo, nunca fiquei
assim?! Fixei meus olhos nela e aproximei minha boca do seu ouvido.

— Você é gostosa… imagino como deve ser…


Não tive tempo para terminar a frase, ela me empurrou e caí igual merda na água.
Senti o baque nas costas. Afundei e depois me impulsionei para a superfície; então percebi
a vibração da água próximo de mim. Assim que emergi, vi Camila nadando em direção da
ilha e a segui, com braçadas fortes.
Ela chegou na minha frente e quando ficou em pé, parecia uma sereia saindo do mar;
arrumou a parte de baixo do biquini, o retirando da bunda, e se virou. Puta que pariu… vai
ser gostosa assim lá na casa do cara…

— Que lugar lindo! — Girou com os braços abertos, andando em direção das pedras,
no lado norte. — Você não vem?! — gritou.
Me ergui, caminhei para a sua direção, enquanto meu pau marcava a sunga. Já que ela
me provocou, que aguentasse… agora era a minha vez.
Me aproximei e ela, discretamente, moveu seu olhar de mim para ele. Sorri de canto.
Mulher diz que não, mas gosta de avaliar o tamanho do pau dos caras. Assim que parei na
sua frente a segurei pela cintura.
— Felipe… — E me empurrou, olhando na direção do barco. — Seus pais.

— Acha que eles já não se ligaram?! — perguntei me aproximando de novo. — E que


se danem!

Apertei sua cintura, a trazendo para mim. Precisava senti-la.


— Não é assim… — Me fitou brava e retirou minhas mãos da sua cintura. — Eles
são os meus patrões e tenho muita gratidão por eles.
Respirei fundo e a fitei por alguns instantes. Ela estava certa, tinha prometido que a
respeitaria e faríamos tudo no seu tempo. Porra… como é difícil conquistar alguém!
— Me desculpe — pedi e ela abrandou seu semblante. — Só é difícil de me
controlar… — Apertei meu pau. — Você… me deixa louco.

— Não exagera… — Virou-se e continuou a caminhar em direção das pedras. —


Quero conhecer esse lugar paradisíaco. — Paradisíaco deve ser estar dentro de você, isso
sim… — Felipe!

— Me desculpa… — Novamente fiquei sonhando acordado. Que merda é essa?! —


Vamos lá.

Felipe estava com a mente longe, enquanto seus olhos passeavam pelo meu corpo.
Sei que estou brincando com fogo e que uma hora me machucaria; mas a realidade é que
quero é me queimar… por inteira.
Ele estava lindo com aquela sunga floral verde, caminhando na minha direção e
sustentando a majestosa ereção. Já o tinha visto, só precisava comprovar se era gostoso e
sabia trabalhar…

— Se continuar a me olhar assim — disse ao parar na minha frente. — Juro que


mandarei meu controle para os ares e tomarei essa sua boca… — Sua voz estava rouca e
seu peito subia a descia com força. Ergui meu olhar e mirei seus lábios. — Não deveria
me provocar desse jeito… Não se cutuca a onça com vara curta.

Não aguentei e gargalhei.

— Que cantada horrível, Felipe! — Apoiei uma mão em seu peito e deixei meu corpo
chacoalhar por causa do riso. Ele segurou meu pulso, e com a outra mão, me puxou pela
cintura; fazendo com que me chocasse contra ele. Fiquei séria. — Não…

Me encarando como a uma presa, a mão que segurava meu pulso foi parar na minha
nuca, e me prendeu. Sua boca tomou a minha com sofreguidão. Seus lábios moviam de
forma rude, como se fosse um outro Felipe. No meio do beijo ele inverteu a posição da sua
cabeça, enquanto mordiscava meu lábio inferior. Estava cativa, aprisionada pelo desejo e a
excitação. Felipe se remexeu e me ergueu com um braço, ainda sugando-me, levando tudo
de mim, incluindo a minha sanidade.
Ele reduziu o ritmo até que nossos lábios se afastaram. Continuei de olhos fechados,
ainda saboreando as sensações que ele me proporcionara.
— Me provoca de novo…

Me soltou e então percebi que o bote, que trazia seus pais, se aproximava da beirada
da praia. Felipe me largou sozinha, com a lubrificação e o meu sexo pulsante, e andou na
direção deles.

***


Permanecemos o tempo suficiente na ilha e fora uma experiência única; Rodrigo
trouxe alguns snorkels e interagi com os diversos peixes naquela água cristalina e de um
verde bem claro; o visual era belíssimo, com sua mata intocável e ostensiva. Angela
aproveitou bastante e eu a mantive por perto. Nos divertimos muito.
De volta ao barco, mas ainda ancorados, Bruno comandava a churrasqueira e Angela
beliscava uma tulipa de frango. Felipe me ajudou a embarcar, pois optamos por dar uma
volta e curtir mais um pouco na praia, e claro que tirou uma casquinha ao me segurar pela
cintura.

— Larga ela, Felipe! — bradou seu pai, com um sorriso sútil. — Não quero
complicação, já avisei: Camila é como uma filha para nós.

— Só farei aquilo que ela me permitir… — Me olhou com intensidade. Fiquei


vermelha e senti minha face queimar. — E sei o que ela quer… — sussurrou.
Arregalei meus olhos. Sem jeito, me afastei, e de forma atrapalhada olhei para
Angela.

— Precisa de alguma coisa, Angel?! — questionei indo para o seu lado.

— Sim… que pegue um drink e vá curtir esse dia lindo. — Sorriu e tentei relaxar.

Almoçamos sem pressa, ali no barco mesmo; rimos; contamos piadas e algumas
passagens da infância de Felipe, nos fazendo relembrar de alguns dos nossos momentos
juntos.

Bruno mergulhou e, com minha ajuda, acomodamos Angel na plataforma da popa,


onde pode se refrescar. Felipe saltou no mar e foi em direção do pai, nadaram lado-a-lado.
Foi uma interação muito importante para os dois. Então depois do nosso momento família,
Angel pediu para descansar e a ajudei a se recolher em sua suíte. Assim que a acomodei,
retornei para o andar de cima. Bruno voltara de seu mergulho e foi de encontro à sua
esposa, alegando que tomaria um banho.
Sozinhos, Felipe me fitou e abriu um enorme sorriso. Sem emitir um único som, me
segurou pela cintura e me levou para o Flybridge; apossou-se de minha boca e me deitou
no acolchoado. Suas mãos me tocavam de forma quase urgente e seu quadril roçava contra
mim. Levada pelo momento, abri minhas pernas, dando-lhe mais acesso, e ele estocou,
mesmo com os tecidos entre nossos sexos. Minha vulva pulsou e uma umidade, nunca
sentida, molhou minha calcinha do biquini. Gemi.
— Nossa… tá difícil de me controlar — rosnou, ainda com a sua boca colada na
minha, e o puxei para outro beijo. — Não vejo a hora de foder gostoso com você…

Ele beijou meu pescoço e desceu, lambendo-me, até chegar no espaço entre os meus
seios; os apertou, cada um com uma mão, e mordiscou, ainda por cima do fino tecido.
Joguei minha cabeça para trás e deixei um gemido escapar pela garganta. O enlacei com
minhas pernas, para senti-lo em mim. E foi o que ele fez: moveu seu quadril de forma
firme e sensual, enquanto abocanhava um seio desnudo.

A maciez de sua língua me levava a loucura. Sugava-me com exatidão e me mordia


usando a pressão certa; depois que se satisfez com um seio, descobriu o outro e o tomou;
deixando sua mão sobre o abandonado. Rebolei contra sua ereção, o desejando. Ele ergueu
seu rosto e o puxei; o segurei, com minhas duas mãos, e o beijei com desejo. Felipe
desceu a mão pela minha lateral até encontrar meu quadril e apertou parte da minha
bunda, enquanto eu devorava sua boca. Sua mão deslizou para a minha fenda e tocou o
local molhado. Fora a sua vez de gemer.

— Está pronta para mim… — Sorriu de lado e me beijou com sofreguidão.

Rebolou contra o meu sexo e seu dedo encontrou meu ponto sensível. Tocou-o por
cima do tecido. O estimulando ao mesmo tempo em que eu perdia todo resto de pudor.
Felipe o manteve pressionado, enquanto se esfregava em mim. Se continuássemos daquela
forma, logo eu gozaria; estava a ponto de explodir. Percebendo isso, ele intensificou seu
toque e eu cravei minhas unhas em suas costas.

— Eu te quero… — gemi.

— Sei disso… — estocou. — Também quero… — Circundou meu clitóris. — Goza


para mim, Mila… Goza… — sussurrou em meu ouvido.

Apertou meu ponto com mais força e senti o orgasmo romper, como as barragens de
uma represa revolta. Meu corpo arrepiou e gemi alto. Felipe, com a sua boca, me calou e
sua língua acariciou a minha com calma. Senti ele arrumando meu biquini superior e ao
abrir meus olhos, sorriu para mim.
— Você é linda gozando. — Me acarinhou a face. — Não vejo a hora de estar dentro
de você… e será hoje!


— Felipe! — chamou Bruno abaixo de nós.

— Seu pai! — cochichei e o empurrei; saí debaixo dele correndo. Sentei-me no


acolchoado da frente, enquanto ergui minha mão para que Felipe continuasse no que
estava. — Você fica aí! — Gesticulei com minha boca, sem emitir som.

Ele riu e enfiou a mão dentro de sua sunga, arrumando seu sexo rígido, enquanto seu
pai subia a escada.

— Felipe? — A voz ficou mais próxima e ele só retirou sua mão, quando a cabeça de
seu pai surgiu pela escada estreita. — O que estão fazendo aqui? — Olhou de mim para o
seu filho.

Ele riu e seu pai crispou o semblante, confuso.


— Nada, senhor Bruno… — Antecipei-me e pus-me de pé. — Nem vi que Felipe
estava aqui. Jurava que… — fingi.

E de forma deliciosa Felipe gargalhou alto.


— And the Oscar goes to… — Me interrompeu, entre o riso.
— O que está acontecendo aqui?! — Bruno se irritou.

— Nada meu pai… — Ele se arrastou pela almofada e ficou de pé, ainda com um
fraco riso. — Camila que tem vergonha de assumir que estamos…

— Que voltamos a ser amigos! — interpus minha voz e o fitei com raiva. — Somos
apenas amigos e ele deveria estar armando algo para mim, senhor Bruno. Foi isso… com
certeza!

— Hummm… — Seu pai semicerrou seus olhos e alternou seu olhar entre nós dois.
Naquele momento fitei Felipe, que gesticulou com seus lábios: Estou é armado… e
segurou seu sexo por entre sua mão, mostrando-me que ainda sustentava a forte ereção.
— Verei se Angela precisa de mim… — balbuciei.

— Ela está dormindo — disse Bruno. E apontando seu dedo para nós, afirmou: —
Vocês dois andam muito estranhos.

— Impressão… senhor. — Mostrei os dentes, esforçando-me para que se parecesse


com um sorriso sincero.

Felipe virou e se espreguiçou, ficando de costas para nós.

— O que foi isso?! — Bruno questionou, se aproximando do filho.

Arregalei meus olhos ao ver os arranhões causados pelas minhas unhas. Quando agi
assim na cama? Nunca!

— Ele deve ter se ralado nas pedras — interferi. — Não foi Felipe?

Ele recostou-se sobre o parapeito com um sorriso sacana.

— Sim… me arranhei em uma linda pedra…


Nos encaramos por alguns instantes e ao perceber que Bruno nos avaliava, me
repreendi por deixar tão claro o quanto Felipe mexia comigo.

— Com licença! — Desci as escadas correndo, sem dar tempo para me chamarem.
Precisava dar um fim àquilo, ou acabaria me machucando de novo.

— Não pense que me fizeram de trouxa — resmungou meu pai, apoiando seu chapéu
na cabeça e se sentou no sofá da mesa. — Vocês estavam…

— Gosto dela, meu pai — interrompi. Não queria denegrir a imagem de Camila. —
Quando éramos jovens, quase nos envolvemos e… recentemente… esse interesse
ressurgiu.
Ele me fitou, calado. Acendeu seu charuto e depois de soltar a fumaça questionou:

— Não é só tesão? — O fitei confuso. — Não achou que acreditei que essas marcas
de unhas fossem arranhões em uma pedra?! — Ri e cocei meus olhos, o cansaço começara
a bater. — Só quero que a trate com respeito, sabe o quanto Camila nos é importante.

— Fica sussa[4], inclusive tenho algo em mente para conquistá-la… — contei o que
planejava e ele me olhou surpreso. — Então só preciso que me deixe no centrinho.

— Pode contar comigo — sorriu —, e fico feliz em saber que fora ela quem o
despertou. Camila é a mulher certa para você, meu filho.

***


Tirei um bom cochilo depois do banho. Levantei e percebi que o sol enfraquecia.
Peguei minhas coisas e subi. Assim que passei pelo marinheiro, que não me lembrava seu
nome de jeito nenhum, avistei meu pai, sentado na sala de estar ao lado da minha mãe.
— Já ia te chamar. Estamos em Ilha Bela e aportaremos no portinho.

— Ótimo! — Sorri e beijei o alto da cabeça de minha mãe.


— O que está aprontando?!
— Nada dona Angela… nada. — Passei a alça da minha mochila pelos braços e
calcei meus chinelos. — Só dando início ao plano de levar a felicidade para alguém que só
conheceu a tristeza.
— Que os anjos te ajudem. — Mandou-me um beijo e sorriu animada. — A faça
feliz!

— Todos sabiam, menos eu?! — questionou meu pai.


Ri e os deixei conversando. Corri para preparar tudo. Faria Camila a mulher mais
feliz desta ilha.

Vi o momento quando Felipe desembarcou no portinho e o acompanhei até perdê-lo


de vista. Desci do Deck superior e encontrei Bruno e Angela conversando.

— Felipe ficou no centro?

— Pedi para ele resolver uma coisa para mim — respondeu-me Bruno e, depois de
beijar a face da esposa, se dirigiu para o lado de Rodrigo.

— Coisas de homens. — Angela apontou para o seu lado e me sentei. — O que fará
de bom hoje?

— Trouxe um livro, pensei em lê-lo… se bem que estou tão cansada — assumi,
esfregando os olhos.
Mesmo tendo tirado um cochilo, enquanto tomava sol, continuava com sono.

— Veio até este lugar para ler? — Suspirou. — Não que o livro seja uma péssima
companhia, pelo contrário, amo; mas teremos uma bela noite estrelada… Por que não a
aproveita?!
— Não conheço ninguém aqui.

— Chame Felipe… certamente ele adorará desfrutar de sua companhia. — Sorriu


timidamente e piscou.
Sorri de volta e me virei para Bruno, que falava ao telefone. Parece que o clima
esquentou e ele ficou vermelho pela raiva.

— Porque eu já expliquei e não voltarei atrás! — chiou. Semicerrei um olho e fitei


Angela, que o acompanhava também. — Faça o que quiser Diogo, apenas siga as minhas
exigências… — Depois de ouvir algo, retrucou: — Não, não retirarei Rubens do
testamento… Então mate! — Riu amargamente. — Já disse: ou vocês se casam, ou
ninguém receberá mais nada meu! — Ouviu por um momento. — Pois saiba que dos três,
Felipe está mais perto de cruzar a chegada dessa corrida absurda! — E desligou.

Por um breve instante, trocou olhar com sua esposa e se virou para Rodrigo, que
manobrava o barco, para ancorar no deque de madeira. Do que será que ele se referiu?
Que corrida era essa?

— De todos, o que mais nos preocupa é Diogo — explicou-me Angela. — Sabe do


problema que ele teve? — assenti. — Pois bem, sabíamos que ele nos causaria problemas;
mais do que João, que não se contenta com uma mulher só.

— Falam sobre o casamento? — Ela confirmou. — E… Felipe se casará? —


disfarcei, ou tentei.
Ela sobrepôs sua mão na minha.

— Talvez Felipe seja o único que se casará por amor… — Abriu um sorriso que
iluminou seus olhos. — E estou ansiosa para assistir a este casamento.

Senti meu coração bater mais forte. Será que Lorena voltou atrás ou era de mim que
Angela falava?! Não… seria muita pretensão de minha parte. Como, se há uma semana ele
nem me olhava e hoje me pediria em casamento?! E o pior de tudo: se realmente, por uma
máxima utopia, ele me pedisse… o que eu o responderia?! Me casaria com Felipe?
— Rubens, sou eu! — Bruno iniciava outra ligação. — Sim, aconteceu! — Puxou o
ar. — Diogo ameaçando que matará… só para não ter que se casar! — Calou-se por um
breve momento. — Mesmo assim… sabe do problema que ele teve… e se…
— Bruno… — Angela o chamou, ele pediu um momento e se virou para ela. —
Diogo jamais faria uma coisa dessas. Não propague essa desconfiança descabida por aí…
— e sussurrando pediu: — por favor, é do nosso filho que você está falando!

Sr. Brusque concordou com a cabeça e soltou o ar com força.


— Rubens… olha… ele estava nervoso. Tem medo de acontecer algo com eles e tudo
o que construímos ficar para você. — Calou-se. — Sei disso, por isso confio em ti. Mas
acho melhor retirar aquela cláusula que passo todas as ações para você… — Ouviu por um
tempo. — Sem que eles saibam. Do contrário, não se casarão. — Outra pausa. —
Providencie e assim que retornar para São Paulo, o quero na minha mesa. — Escutou algo
e concordou. — Ótimo, sabia que me entenderia. — Sorriu de forma muda. — Perfeito,
meu amigo.

— Conto com a sua descrição referente a essa informação que acabou de ouvir —
pediu-me, apertando minha mão.

— Claro, jamais comentaria — assumi. E de fato não falaria nada para ninguém.

Angela se levantou e, apoiando-se na sua bengala, foi em direção ao esposo;


iniciaram uma baixa conversa. Deixei a sala de estar e fiquei na popa, me apoiei, fitando a
espessa onda que se formava, ao cortamos a água. Mirei para o centrinho e suspirei alto.

— O que será que Diogo dissera para seu pai?

Queria que Felipe estivesse aqui, perto de mim. Já sentia falta de sua presença, mais
ainda de seus beijos.

***

Depois do demorado banho, escolhi um vestido branco, básico de algodão e de gola


polo, e calcei um sapatênis rosado. Passei meu brilho labial e amarrei um lenço floral rosa,
nos meus cabelos ruivos tingidos. Gostei do resultado e me mandei um beijo pelo espelho.
Desci para jantar, conforme Angela me fizera prometer que compareceria.

Assim que cheguei na sala de estar, avistei Felipe sentado, relaxado e conversando
com o pai. O dia de sol bronzeou ainda mais a sua pele, e seus cabelos, bem como a rala
barba, estavam mais claros. Seu olhar encontrou o meu e ele sorriu, mostrando seus dentes
brancos, destacados.
— Você está linda! — elogiou-me e ficou de pé. Usava uma bermuda verde e uma
camiseta básica branca, com as mangas dobradas mostrando seus braços tatuados, e
descalço. Em seu tornozelo havia tornozeleiras de cordas e tecido, no estilo hippie. —
Preparei para você. — Foi então que percebi que parou na minha frente e me entregava
uma caipirosca de morango.

— Obrigada. — Sorri e beberiquei.

Dos alto-falantes, reconheci o delicioso Sax de Stan Getz, Tonight I Shall Sleep With
a Smile On My Face, reverberava no ambiente; a fraca iluminação, tornava-o propício
para um encontro.
— Dança comigo? — Pediu, retirando minha bebida e a apoiou na mesa de canto.

— Seu pai…

Segurou minha mão e me puxou pela cintura; aninhou a cabeça em meu pescoço e o
inalou, enquanto nossos corpos balançavam lentamente, acompanhando a calma melodia.

— Tão cheirosa… — Seus lábios roçaram contra minha pele e senti um delicioso
arrepio. — Vontade de beijar essa sua boca… — sussurrou no meu ouvido e afastei meu
rosto para fitá-lo.

Seu olhar brilhava e de seus lábios surgira um lindo sorriso. Felipe detalhou meu
rosto e se aproximou para me beijar. Limpei minha garganta e o barrei; procurei por seu
pai, que nos acompanhava sorrindo da poltrona branca, com detalhes de bambu, e senti
meu rosto queimar pela vergonha.

— Venham… já vão nos servir. — Angela nos chamou da mesa de jantar.

Felipe entregou meu copo e pegou o seu; virei-me e ele apoiou sua mão no meio das
minhas costas. Nos sentamos do mesmo jeito, como no café da manhã. E ele, mais uma
vez, apoiou sua mão sobre a minha coxa; mas diferente de mais cedo, gostei e confesso
que esperava por aquele contato.
Jantamos camarão na moranga; arroz com nozes e saladas; além das pequenas
porções de batatas soutés, fritas e palhas, dispostas na mesa. Bebíamos cada um o seu
drink e dispensamos o vinho. Depois de satisfeitos, nos serviram pudim; pêssegos em
calda e mousse de chocolate com licor de Amarula.

— Está satisfeita? — questionou-me Felipe, com sua boca bem próxima de mim.
Confirmei e ele beijou minha mão, na frente de todos. — Então… se me derem licença —
pediu, olhando para seus pais, que nos encaravam com certo brilho no olhar. — Tenho
algo para mostrar para Camila.

— Pa-para mim? — Gaguejei surpresa.


— Vire-se — pediu, já me girando e usou um guardanapo de tecido para me vendar.
— Não pode trapacear… — Beijou-me em um breve beijo casto. — Até mais…

Se despediu e me guiou, puxando-me. Despedi-me como pude, estava muito


envergonhada; de certa forma foi bom estar vendada, assim não vi as expressões dos meus
patrões. Felipe me levou até a sacada e seguimos para o deque. Soube por causa do piso e
do ranger das madeiras.

— O que…

— Shhhh… Sem perguntas. — Andamos mais um pouco e ele me parou e virou-me.


— Pise com cuidado e caminhe devagar. — Instruiu-me.

Com sua ajuda embarquei e senti o leve molejo do barco. Ele continuou a me guiar
por seu interior e retirou a venda; o encontrei sorrindo, parado na minha frente.

— Precisava de tudo isso?


— Tive medo que fugisse — assumiu e se aproximou de mim. Fez um leve carinho
no meu rosto, enquanto seus olhos me fitavam com ternura. — Espero que curta a surpresa
que preparei para você.

— Tenho certeza que sim. — Inebriada, detalhei seu rosto.

— Senhor Felipe — chamou Rodrigo. — Podemos zarpar?


— Por favor, Rodrigo. — Acenou com a cabeça e ele andou em direção à mesa de
navegação. — O que acha de subirmos? Vamos navegar um pouco.

Concordei e ele me levou para o Flybridge. Nos sentamos no estofado da frente e ele
me abraçou. Angela´s começou a flutuar e logo ganhou velocidade, mas não como mais
cedo.
— Rodrigo avisou que a navegação noturna tem que ser reduzida em 20%, por isso
demoraremos um pouco mais — explicou e beijou o alto da minha cabeça.
— Não me importo. Olha essa lua… — disse ao vê-la, linda e majestosa, iluminando
o caminho que seguíamos.

Ao nosso redor, somente o barulho das ondas batendo contra o casco e o fraco ranger
do motor. Ajeitei-me no peito de Felipe e sorri satisfeita, enquanto ele fazia-me carinho.
Que seja eterno enquanto dure…[5]



***

Senti Felipe me chamar, foi então que percebi que adormeci. Também pudera, com
aquele molejo e Felipe me acarinhando.

Descemos e ele pegou uma mochila e a jogou para Rodrigo, que já estava dentro do
bote. Com a sua ajuda, embarquei e Felipe veio logo em seguida. Rodrigo, como
marinheiro experiente que era, nos deixou em segurança na praia deserta. Lipe conversou
algo com Rodrigo, enquanto eu saia da água.

Depois de um certo tempo, o vi caminhar na minha direção e Rodrigo voltar para o


iate.

— Pronta? — questionou, já me virando e tapando-me os olhos. Resmunguei, mas


por dentro estava adorando tudo aquilo. — Venha comigo…

Andamos um pouco e devagar, não era tarefa fácil andar com os olhos vendados.
Felipe me parou e o ouvi cochichar com alguém e então, voltamos a caminhar. Ele me
parou, virou-me e tirou a minha venda.
— Para você, minha gata!

Arregalei meus olhos e levei minhas mão à boca.


Vi uma barraca, verde-bandeira, com pequenas lanternas no formato de estrela,
pendurados em suas laterais, iluminando-a. Havia duas cadeiras de praias em sua frente.
Felipe se mexeu ao meu lado esquerdo e o fitei com a vista embaçada pelas lágrimas que
se formavam. Ainda estava com as mãos na boca.

— Está tudo bem?


Saltei em sua direção, o que o pegou de surpresa, e me agarrei em seu pescoço. Beijei
todo o seu rosto e boca, de forma efusiva, enquanto ele me sustentava pela cintura.
— Que bom que gostou…
— Eu amei! — gritei entusiasmada e ele me desceu. — Você… — calei-me. — Está
tudo perfeito! — Girei e apontei para a barraca. — Como descobriu e… conseguiu
arrumar tudo em tão pouco tempo?
Ele sorriu de canto.

— Ainda tem mais…


Andou até o zíper e o abriu; abaixou-se e retirou do seu interior uma geladeira portátil
e uma lanterna. Ajoelhou-se e engatinhou, sumindo em seu interior. Depois de alguns
minutos, saiu segurando seu violão.

— Não acredito que ainda o tem! — Me espantei ao reconhecê-lo; o adesivo do


menino, com o logo da banda Natiruts, continuava grudado no mesmo lugar. — Como o
trouxe?

— Pedi para Rodrigo vir comigo antes do jantar — explicou. — Lembra de quando
estava aprendendo? — questionou e concordei. Ele se sentou em uma das cadeiras. —
Passou repelente? — Anui e ele me puxou pela mão. — Então se senta aí e vamos curtir a
nossa noite… — dedilhou as cordas e me olhou com intensidade. — Que está apenas
começando. — Havia algo por trás daquela curta frase. Tanta expectativa e promessa
imbuída.

Felipe abriu a geladeira, retirou duas cervejas e me entregou uma. Olhei com
divertimento e ele sorriu, captando o que insinuei. Reproduzia a mesma noite que nos
beijamos pela primeira vez.

— Não esqueci do que fazíamos escondidos… — disse e retirou o maço de cigarro


do bolso da mochila.

— Onde conseguiu isso? — Ri, pois era o mentolado de uma marca antiga.

Não fumava, mas quando adolescentes, era moda aquele cigarro.

— De vez e nunca, um cigarrinho não faz mal…

Acendemos um e ele arrumou uma posição confortável, enquanto corria o dedão


pelas cordas, o afinando. Soltou uma lufada de fumaça e prendeu o cigarro por entre as
frestas da cabeça do violão. De repente iniciou as notas de Somos quem podemos ser, da
banda Engenheiros Do Hawaii, e meus pelos se eriçaram. Aquela música nos marcara de
diversas formas. Felipe começou a cantar e mesmo sua voz não sendo profissional,
naquele momento, estava perfeita! Ele me olhava fixamente, enquanto dedilhava e a
parafraseava. Ousei acompanhá-lo no refrão e rimos da minha voz, que mais parecia como
a de uma taquara rachada.

As horas foram se passando, bem como as cervejas e o repertório. Cantamos Natiruts,


Paralamas, Charlie Brown Jr. e até Avril Lavigne! Riamos e relembrávamos as histórias
por trás de cada uma daquelas canções; exceto pela de Avril, I´m With You, me lembrei do
quanto chorei enquanto a ouvia, depois que o flagrei com aquela garota.
Ele insistia para que eu tocasse, mas a vergonha e a timidez, me roubavam a
oportunidade de experimentar aquilo que, no fundo, queria vivenciar.

Em certo momento, Felipe ficou sério; arrumou seus dreads, que caíram de forma
sexy por entre seu rosto másculo, e começou a cantar:
— Seja para mim o que você quiser… contanto que seja o meu amor…[6] — Ele
fechou os olhos e sua voz, rouca, se encaixou perfeitamente à melodia.
Precisava superar meus medos. Felipe sabia disso e de uma forma carinhosa,
mostrava que estaria do meu lado, para tudo. No meio da música ele abriu os olhos e me
fitou com tamanha intensidade, que, naquele momento, tomei a decisão que marcaria a
minha vida para todo o sempre.

Cantava, torcendo para que Camila entendesse que me declarava; que soubesse que
eu estava aqui, de peito aberto, para protegê-la e fazê-la feliz. Eu a queria e não era apenas
sexualmente. Depois de hoje, e dos nossos momentos juntos, percebi que nos
encaixávamos, que fomos feitos um para o outro; ela me conhecia a ponto de identificar o
que dizia o meu olhar e eu também conseguia decifrá-la. Aquela paixão da adolescência,
ainda existia entre nós. Acho que sempre esteve presente, só não tinha me dado conta.

As notas terminavam, então a vi se levantar, parou na minha frente e retirou o violão


de minhas mãos. A fitei com um sorriso contido; ansioso em saber se tinha aceitado o que
tentei demonstrar. Ela acomodou o violão, com cuidado, na cadeira vazia e se sentou no
meu colo.

— Eu te quero… — Acarinhou meu rosto e meu sorriso se alargou. — Estou te


permitindo… Lipe.
Surpreso. Foi assim que me senti. Me chamar com o apelido carinhoso, que somente
ela o fazia, me pegou desprevenido. Se aquilo não fosse a permissão que pedira, então não
a conhecia tão bem como imaginava.

Mesmo ansioso por tocá-la, e de tê-la da forma que desejava, aguardei. Este era um
momento onde ela teria que abaixar sua guarda e permitir que eu adentrasse no seu
espaço. E foi exatamente o que ela fez; aproximou seu rosto e me beijou. Não um beijo
qualquer, neste, senti que não vinha acompanhado dos medos, traumas ou de
arrependimentos posteriores; ela o desejou. Estava aberta e me permitia entrar no seu
mundo.
A abracei como pude e aprofundei nosso beijo. Sua boca era deliciosa e se espelhava
à minha calmaria. Gosto de experenciar o beijo, provar, saborear… sem pressa ou
afobação. Assim como dizem que o olhar é a porta da alma; o beijo é o que une um ao
outro; é íntimo, muito mais do que o sexo; é a conexão única entre um casal; a maior
demonstração de carinho e cumplicidade.

Sentia Camila se desmanchar em meus braços; nossas línguas se tocavam com calma
e precisão. Então ela se remexeu e senti sua respiração ofegar; a energia mudou e sua
sexualidade aflorou. Senti o leve roçar de sua bunda contra meu pau e então deixei meu
autocontrole de lado. Nossos corpos se atraiam, como magnetismo; erámos puramente
desejo. Chegara a hora de nos conectarmos de verdade.

A afastei e suspendi o contato de nossas bocas; abri meus olhos e contemplei a


expressão libidinosa que a apossou. Camila era linda, mesmo com sua forte personalidade;
dona de um rosto marcante e ao mesmo tempo angelical. Uma beleza exótica e incomum.
A incentivei a levantar-se e fiz o mesmo. As poucas luzes do camping diminuíram;
informando que já adentrávamos no período de silêncio obrigatório, como me fora
informado.

De pé, aproximei-me e segurei seu rosto por entre as minhas mãos — que pareciam
imensas o circundando —, e, com a respiração ansiosa, busquei sua permissão. O que
faríamos a seguir seria intenso demais e, mesmo querendo-a, sabia de sua resistência. Ela
sorriu, de forma nervosa, e em seu olhar tive a confirmação para prosseguir.
— Eu te quero… Lipe.

Contornei seu lábio com o meu polegar e mirei no que sua boca acabara de proferir.
Ela moveu seu rosto e capturou meu dedo, o mordiscando com extrema sensualidade. Meu
pau latejou e a fitei sério. Se Camila me queria, então ela me teria… por completo.

— Serei teu…



Claro que aquela declaração me incendiou, mas o que me surpreendeu era a forma
que Felipe me olhava, como se estivesse diante de uma deusa. Seu olhar era diferente de
todos os outros homens que já passaram pela minha vida. Havia sentimento, demonstrava
seu respeito e carinho.

Ainda me segurando pelo rosto, abaixou o seu lentamente e me beijou com ternura. O
apertei pela cintura e o puxei para mim, com demasiada expectativa. O desejava há tanto
tempo, que estava impaciente para senti-lo.

— A ansiedade atrapalha as sensações… — balbuciou entre o beijo. Ele desceu seu


dedo pelo meu rosto, passou por meu pescoço, contornou meu colo, abriu os botões e
desceu sua mão por entre os meus seios. Puxei o ar com força. — A partir do momento em
que entrarmos na barraca, deixaremos tudo para trás; principalmente a ansiedade e a
pressa. Teremos a noite inteira para nos saciarmos… — concordei.

Ele tinha razão, não precisávamos ter pressa, além do mais, este era o momento pelo
qual sempre esperei: ter Felipe e ser sua.

Ele se afastou, segurando minhas mãos, e me direcionou para a barraca, atrás de nós.
Se virou e abaixou; abriu o zíper e se sentou, estendendo sua mão. Meu peito subia e
descia, em expectativa; minhas mãos gelaram e um tremor tomou conta de todo o meu
corpo. Parecia ser a minha primeira vez; na realidade era. Seria a primeira vez com Felipe,
meu grande e único amor.
Segurei em sua mão, como se ela fosse a minha salvação, e me abaixei. Limpei meus
pés na pequena toalha no chão e Felipe se afastou, para que eu passasse por ele. Me
arrastei até o fundo da barraca, que não era tão pequena quanto a imaginei; tinha um bom
espaço, bem como em altura; um colchonete a deixara confortável; travesseiros e algumas
almofadas a decorava, bem como algumas velas nos cantos. Ouvi o zíper se fechar,
enquanto avaliava o interior, e me virei em sua direção.
Ele me fitou, estava sério, o que contribuiu para o aumento do meu nervosismo.
Cruzei as mãos sobre as minhas coxas, sem saber como agir. Felipe se arrastou até se
sentar na minha frente. Sorriu, de forma muda, e ergueu sua mão. Assim que tocou meu
rosto, fechei meus olhos e tombei a cabeça na direção da sua palma. Ele me afagou, a
desceu até meu queixo e o ergueu.
— Abra seus olhos, Mila… — O atendi. Felipe passeou seu dedo sobre minha boca e
seus olhos acompanharam o movimento; ele mordeu seu lábio inferior, demonstrando seu
desejo. — Sua boca é tão linda… resta saber o quão apertada é…

Minha vulva se contraiu e corri minha linga sobre meus lábios, imaginando como
seria chupá-lo. Desci meu olhar e foi então que percebi que Felipe apertava seu sexo com
sua outra mão, num gesto extremamente sensual.

— Não aguento mais… — resmunguei.

Me lancei sobre ele, que abriu seus braços e me recebeu. Segurando seu rosto, enfiei
minha língua na sua boca. O beijo era intenso, carregado de desejo. Ainda sentado, me
apertou e posicionou uma perna minha na sua lateral; capturando o que queria que fizesse,
passei a outra pela sua lateral e o montei. Meu vestido subiu para acima do meu quadril,
ele o segurou pela barra e o ergueu lentamente. Afastamos nossas bocas, para passá-lo
pela minha cabeça, e assim que Felipe o jogou para o lado, desceu seus olhos para meus
seios. Encorajada, levei minhas mãos até o fecho do sutiã e o desabotoei; abaixei as alças
e o dispensei ao lado do vestido. Felipe puxou o ar e ergueu suas mãos.

Respirava com força e, ansiosa pelo toque, senti meus bicos intumescerem. Ele os
apertou, com ambas mãos, e fechei meus olhos. Com o dedão, Felipe circundava-os. Soltei
o ar dos pulmões, categoricamente, e gemi, quando sua boca quente cobriu um. Roçou seu
queixo por entre eles e abocanhou o outro. Gani e apoiei minhas mãos em seu rosto; o
ergui e tomei sua boca. As mãos de Felipe correram para minhas costas e alternadamente,
desciam até minha cintura; provocando-me deliciosos arrepios.

Depois de um curto tempo, ele me afastou e retirou sua camiseta. Abriu suas pernas e
eu me sentei no acolchoado, o que me deixou na sua altura, e nos beijamos. Colamos
nossos corpos, como se fossemos um. Sentir sua pele em contato com a minha, aumentou
ainda mais o meu desejo. Ele se remexeu, sem interromper nosso beijo, e logo depois me
prendeu pela cintura, erguendo-me. Assim que me devolveu para o colchonete, senti o
calor da ponta do seu sexo tocar minha virilha. Desci minha mão por sua lateral,
passeando-a pelo seu abdômen e o alcancei. Fora ele quem gemeu. Sua glande estava
lubrificada e o circundei, acariciando-o com meu dedão.
A cada movimento, nosso desejo aumentava e me instigava; sei que ele disse para
curtimos esse momento, mas queria senti-lo dentro de mim. Iniciei o movimento de sobe e
desce e ele rosnou em minha boca, prendendo-me pela nuca. O afastei, e olhei para seu
membro rosado. Mesmo com a fraca iluminação, vinda das velas e das lanternas do lado
de fora, o enxergava bem. Olhei para aqueles intensos olhos verdes, com as pupilas
dilatadas, e espalmei minha mão em seu peito; o fiz se deitar e, mantendo meu olhar no
dele, abocanhei seu membro, que pulsou em minha boca. Ele era gostoso, de espessura
adequada, e o levei até o meu limite.

— Que boca… — Me apoiei em um braço e com o outro, emaranhei minha mão no


seu cabelo, rente ao couro, e segurei sua cabeça. — Sua boca é apertada na medida exata.
— Ela intensificou o ritmo, o levando para mais fundo. Gemi alto e estoquei na sua
direção. — Que delícia, Mila… — Ela me fitava com uma cara de safada e eu via meu
pau sumindo naquela boca deliciosamente quente. — Isso… continue a me olhar assim…
Ergui meu quadril e iniciei o movimento de entra e sai. Socava na sua boca e ela o
engolia. Até que o segurou pela base e o retirou, buscando por ar. Continuou os
movimentos com a sua mão e retirou os cabelos de frente do seu rosto.

— Seu… — Ia dizer algo, mas hesitou.


— Pau — completei, já percebendo que sentia vergonha em pronunciar. — Fala…
não há julgamentos aqui. Pode dizer o que quiser e tiver vontade…

Ela desviou seu olhar e o fitou. Estava excitadíssimo por conta de todas as
provocações no decorrer do dia; meu pau estava muito duro e latejava; me controlava para
não gozar, mas estava difícil. Ela ergueu seu olhar e o lambeu, como se fosse um sorvete.
Caralho… ela sabe como chupar… Joguei a cabeça para trás. Busquei por controle e
respirei fundo. Senti a lubrificação aumentar. Voltei meu olhar para ela.

— Seu pau… — Lambeu de novo. — É delicioso…


E o engoliu, senti o fundo da sua garganta e ouvi o barulho de sua ânsia. Ela o retirou,
completamente babado, mas logo depois o devorou, indo até onde conseguia.

— Mila… — disse entredentes, contraindo minhas pernas. Ela desceu até minhas
bolas e as chupou. Precisava interromper aquilo ou gozaria. — Maravilhoso foder essa
boca… Mas… Eu também quero te provar.


Felipe me puxou e de repente estava em cima dele. Devorava a minha boca, que
estava lambuzada, com um beijo lascivo e voraz. Me virou, deitando-me de costas e
estocou seu sexo contra o meu ventre. Ele parecia outro homem, e o romantismo de
outrora, dera lugar a luxúria.

Ele abandonou minha boca e mordeu meu queixo, enquanto seus dedos apertavam o
bico de um dos meus seios. Mordiscando-me, desceu até sugar o outro, o que me arrancou
um gemido. Dispensou algum tempo, dividindo sua atenção entre os dois e desceu,
fitando-me. Suas mão puxaram o elástico da minha calcinha e a abaixou por entre as
minhas pernas. Ficando de joelho.

— Muito gata! — Abriu um sorriso de lado ao ver minha parte íntima. Subiu suas
mãos e parou nos meus joelhos. — Abra as pernas… — Meio envergonhada, as afastei. —
Quero te provar… — Tocou-me com um dedo e o deslizou por entre meus lábios,
lambuzado pela minha excitação. — Tão molhada… está encharcada!

Sem hesitação, abaixou-se e me lambeu. Sua língua era ávida e macia; provocou um
delicioso arrepio por todo o meu corpo. Da mesma forma que beijou minha boca, tomou
meus lábios lentamente até concentrar-se no meu clitóris. De forma exata, o pressionava e
o sugava. Remexi minhas pernas e me agarrei em seus dreads.
— Felipe… — rosnei entredentes. Ergui meu quadril, de forma desesperada,
buscando por mais. Sua boca era maravilhosa e ele chupava com furor. — Assim… eu vou
gozar…

Ao ouvir aquilo, penetrou-me com um dedo, enquanto sua boca continuava a provar-
me. Sua língua movia-se ora lenta, ora rápida, e alternava a pressão. Sentia-me encharcada
e logo ele penetrou outro dedo, alargando-me. Gritei e puxei seus cabelos. Ele iniciou uma
lenta penetração; esfreguei-me contra sua cabeça e me desfiz. Liberei meu orgasmo, com
os pelos eriçados e gemendo alto.

Ao voltar a mim, Felipe me fitava com um sorriso bobo no rosto. Suspirei. Mantendo
seu olhar no meu, abaixou-se e me lambeu. E, como uma pantera, subiu até pairar sobre
mim. Me beijou na boca e senti meu sabor nele. Felipe se deitou e abri minhas pernas para
recebê-lo; precisava senti-lo dentro de mim. Ele me apertou a cintura e se encaixou;
posicionou sua glande e seu dedão brincou com meu ponto intumescido.
— Mantenha os olhos nos meus, enquanto deslizo para dentro de você… — pediu
com a voz rouca.

E senti seu sexo me invadir. Uma onda de calor irradiou pelo meu corpo e me
arrepiei. Felipe buscou por ar e continuou a penetrar-me, de um modo torturantemente
lento.

Meu rosto deveria espelhar o que via: excitação. Algumas veias, na lateral de seu
rosto, surgiram; bem como a fina camada de suor. Seu rosto ficou vermelho e seu olhar
cravou no meu. Seu membro era grosso e alargava-me de forma deliciosa. Beijou-me
enquanto saia de mim e de repente estocou fundo, num movimento seco e duro.

Virei a cabeça, buscando por ar.


— Gostosa… — sussurrou no meu ouvido. — Apertada e quente… — Gemeu. —
Não aguentarei por muito tempo.

Virei-me para fitá-lo e segurei seu rosto com minhas duas mãos.

— Me fode… — disse ela e eu semicerrei meus olhos. — Me fode gostoso…

Puta que pariu… Um pedido desses, bicho!

— Ah… Mila… — Retirei meu pau e o esfreguei contra seu ponto sensível. A olhei
com desejo. — Seu pedido é uma ordem…

E a penetrei em uma só estocada. Ela gritou e jogou a cabeça para trás, arqueando
suas costas. Fechou os olhos e um sensual sorriso surgiu em sua face. Tirei meu pau e ela
reclamou; soquei de novo. Outro grito. Repeti a sequência e fitei seus seios, que saltavam
a cada estocada. Camila era deliciosamente apertada e estava extremamente molhada.
Fiquei de joelhos, apoiei suas pernas no meu ombro e a segurei pela cintura. Saia e
socava com força. Repeti por diversas vezes e aumentei meu ritmo até que seus peitos
balançassem do jeito que eu gostava. Estendi um braço e apertei um; depois desci minha
mão, estimulei seu clitóris e ela gritou, alegando que gozaria. Retesei meu corpo todo e
meti fundo. Então senti sua boceta apertar-me e ela gritar, vi quando atingiu outro
orgasmo. Não aguentava mais me segurar e meti com força. A cabeça do meu pau latejou
e minhas bolas contraíram, então minha porra escorreu para o fundo de Camila.

Me arrepiei e soquei mais algumas vezes, até me esvaziar por completo. Cai em cima
dela, que me abraçou, e beijei sua boca. Escorreguei meu corpo para o lado e aguardei
nossas respirações se acalmarem, bem como nossos batimentos cardíacos. Camila se
aninhou a mim e a acomodei sobre o meu peito. Ajeitei um travesseiro abaixo de mim e
soltei o ar lentamente. Ela acariciava meu peito com um dedo e beijei o alto da sua cabeça.
— Porra… você é muito gostosa… — puxei o ar. — Gozei muito.
Naquele momento ela se retesou e se ergueu sobre um braço.

— Você gozou dentro? — questionou com os olhos arregalados.


— Gozei… — Levei minhas mãos à cabeça. — Puta que pariu!

Que merda que eu fiz?!


— Felipe! — Ela se sentou, desnorteada. — Eu não tomo nada!

— Aí caralho… — A olhei envergonhado. — Me perdoe, Mila… Amanhã mesmo


compro a pílula do seguinte e…
— E quanto as doenças? — Me cortou. Olhando-me séria. — Já imaginou o riscou
que corremos agora?
— Sei disso… Olha — mostrei as camisinhas dentro do bolso da minha bermuda —,
tinha planejado tudo… Mas bastou estar dentro de você… Meo[7]… você é gostosa pra
caralho! Não imagina o quanto foi difícil de me controlar para não gozar na sua boca!

Ela abrandou sua fisionomia.


— Também foi uma irresponsabilidade minha, afinal, eu quem deveria ser a parte
mais interessada e prevenir-me…
Ficamos em silêncio. Ela estava certa, a responsabilidade era de ambos. Mas como
homem, deveria ter agido da forma correta. O índice de Aids e outras DST´s[8]
aumentaram nos últimos anos.
— Sobre as doenças, passei recentemente por uma bateria de exames — adverti.

— Eu… também.

Nos olhamos envergonhados. Agimos errados, deixamo-nos levar pelo tesão.

— Pensei que você tomasse remédio.

— Não… — disse e voltou a se deitar no meu peito. — Estou sozinha há anos e… —


Então calou-se e eu fiquei surpreso com aquela revelação.

Percebi que se retraiu, ou se arrependeu de ter-me dito aquilo. Resolvi não aprofundar
a conversa, já que notei seu afastamento.

— Está com sede? — questionei e ela concordou muda. — Pegarei algo para nós.

Me sentei e me arrastei até a entrada da barraca, abaixei o zíper; olhei em volta e não
tinha ninguém. Então tapei meu pau com uma mão e com a outra alcancei a geladeira
portátil; peguei uma garrafinha de água, a joguei para dentro, e depois peguei mais uma.
— Aqui é o ponto mais estrelado de toda a ilha… — disse, assim que me acomodei
ao seu lado, e entreguei uma para ela. — Quer dar uma volta?

Sorriu encabulada. Camila estava com vergonha pelo sexo que fizemos, ou puta por
ter gozado dentro dela, e estava coberta de razão.
— Mila… olha… me perdoe por ter…

— Amanhã compro a pílula do dia seguinte. — Me cortou. — Fica tranquilo. Quem


nunca recorreu a ela, não é mesmo? — Sorri de lado e ela sorveu um gole de sua água. —
Vamos, quero ver as estrelas! — proferiu. Parecia mais animada.
Nos vestimos e deixei a barraca, que cheirava a sexo. Do lado de fora, assim que
Camila saiu, a puxei pela cintura e a beijei com vontade. Ela me abraçou e correspondeu.
Não queria que passasse pela sua cabeça que a queria somente para sexo; Camila era
especial e agora, depois de prová-la, a almejava cada vez mais.
Depois de nos beijarmos por um bom tempo, ela me afastou delicadamente.

— Preciso ir ao banheiro e me limpar. — Me olhou e indiquei o caminho. Dei um


passo para acompanhá-la mas ela me parou. — Posso ir sozinha…

— Claro.
— Eu já volto, Lipe — disse com sua voz calma. Ficou nas pontas dos pés e me deu
um beijo casto.
Assim que se afastou, sentei-me na cadeira e dedilhei algumas notas no violão. Pensei
no que ela me revelara. Mas se ela disse que vê o tal carinha que ama quase todos os dias,
como não toma remédio? Não transavam?! Aquele pensamento de ter outro cara a
tocando, me deixou puto. Mas voltando a raciocinar pensei que das duas uma: ou esse cara
era um grande idiota ou ela mentiu…

— Vamos? — Me chamou.

Nem a vi chegar. Me levantei e deixei o violão na cadeira. Ofereci meus chinelos, que
os calçou, e peguei na sua mão, entrelaçando nossos dedos. Camila sorriu abertamente e
capturei o brilho no seu olhar. Caminhamos pelo gramado e saímos do camping. Na praia,
nos deparamos com o belo luar.

— Que lugar lindo!

Dava para enxergar bem; a lua estava cheia e iluminava a noite. Andamos para mais
perto da água e nos sentamos. Me acomodei e estendi meu braço para a acolher, mas
Camila sorriu e se deitou, apoiando a cabeça na minha coxa esquerda. Arrumei seus
cabelos e fiquei acariciando-os, enquanto olhávamos para o céu repleto de estrelas.
— Que praia é essa? — questionou, olhando para a mata virgem ao nosso redor. —
Nunca vim aqui.

— Praia do Bonete — esclareci. Apoiei minha mão esquerda na areia. — O acesso é


difícil, por isso não é tão visitada. Mas é muito frequentada por surfistas; as ondas chegam
a 3 metros.

— De que lado estamos?


— Leste. Atrás da ilha.
— Como a conhece se nunca vem para cá? — questionou com certo deboche.

— Costumava surfar quando vinha. — Gesticulei com a mão. — Não lembra quando
meu pai ficava puto, por que sumia com João?
— Verdade! — Riu.

— João quase me levou para o caminho errado… — Ri da recordação. — Meu


irmão, por onde andava, estava sempre envolvido com uma mulher… ou duas.

— Ele é terrível mesmo… já o avisei que precisa mudar aquele seu jeito. — Suspirou.
— Se desse a sorte — disse com a voz suave e voltei meu olhar apreensivo para ela — de
ver uma estrela cadente.
Respirei aliviado, pensei que se referiria à João.

— O que pediria? — questionei sem maldade, ainda acariciando seus cabelos


sedosos. Mas ela me direcionou um duro olhar. Ri e fitei o céu. — Pois eu pedira para que
essa noite se repetisse por muitas e muitas vezes… — desabafei. — Mesmo sabendo que
estrela cadente, na realidade, trata-se de um meteorito que quando entra em contato com a
nossa atmosfera se desfaz, pois isso vemos o rastro luminoso…

— Prefiro a ideia de que seja uma estrela e de que realiza os nossos pedidos. —
Sobrepôs sua voz, me cortando.

Baixei meu olhar para ela e sorri. Acarinhei seu rosto, curtindo esse nosso momento.

— Então saiba que… no que depender de mim, Magrela, farei de tudo para realizar
cada desejo seu.


Só de estar deitada, no colo de Felipe, e tê-lo fazendo-me carinho, já era um sonho
realizado. Ainda mais depois de termos transado. Meu Deus… acabei de transar com
Felipe! Sorri, timidamente, e suspirei diante do que acabara de pensar. Então ele vem e me
diz que realizará todos os meus desejos… Alguém me belisca, por favor!

Continuávamos apreciando as constelações, enquanto ele me acarinhava.


— Dizem que na Mitologia — começou —, eles viam algumas formas nas estrelas.
— O fitei, ele inspecionava o céu acima de nós e com a outra perna flexionada, onde
apoiava seu braço direito. — Eles viam escorpião e o Órion… — Com sua voz calma,
explicou: — Segundo a lenda, ele era um gigante caçador que se apaixonou mas não fora
correspondido. Com raiva, decidiu matar todos os animais da Terra de Artêmis. Então a
deusa da caça exigiu que parasse, mas ele a ignorou; foi aí que ela enviou um escorpião
que o feriu no calcanhar. Zeus transformou o escorpião em uma constelação, por ter
prestado serviço à deusa, e Órion… está por aí… Dizem que as três marias, são, na
verdade, o cinturão dele.
— Não enxergo o escorpião — disse forçando a vista, o procurando.

— Teve uma época que eu conseguia identificar — respondeu, voltando seu olhar
para mim —, hoje em dia não o acho mais.
Nos calamos e voltamos nossa atenção para aquele céu que iluminava o imenso mar à
nossa frente. De repente vimos o lastro de iluminação.
— Uma estrela cadente! — gritei e me sentei, apontando.

— Faça um pedido!

Fechei meus olhos com força e me concentrei no Felipe ao mau lado; roguei para que
pudesse passar os restos dos meus dias ao seu lado… e que ele me amasse da mesma
forma que eu o amava. Assim que abri os olhos, o rastro começou a sumir e me voltei para
Felipe, que me olhava com um sorriso lindo.

— Fez o seu? — questionei animada.


— Uhum… quer dizer… — Ele se virou e ficou de frente para mim, segurando
minhas mãos. — Camila… você quer…

Aguardei mas ele calou-se e me olhou como se pensasse em algo.


— O quê…? — questionei ansiosa.


Sabia que Camila ficaria surpresa se eu a pedisse em casamento naquele momento.
E a conhecendo bem, terei que provar que a quero de verdade e não somente para
continuar a receber sobre as ações da empresa. Preciso pensar em algo…

Seus olhos me fitavam curiosos, via a ansiedade neles. Sorri mudo e inventei uma
desculpa qualquer.
— Quer voltar… para a barraca?

Senti como se murchasse, como a flor ao ser arrancada do pé que acaba perdendo seu
visgo. Percebi que esperava que eu falasse outra coisa. Mas o quê?! Encolheu seus ombros
e se abraçou ao próprio corpo. Começou a soprar uma brisa fria e ela se arrepiou. A puxei
para um abraço e cheirei seu cabelo.

— Vamos? — Me fitou, erguendo seu rosto. — Está esfriando…


Concordei e abraçados, retornamos. Fomos ao banheiro e assim que percebi que ela
demorava, retornei para a barraca e aproveitei para retirar a minha roupa. Acendi mais
algumas velas, conferi se tudo estava como planejara. Baforei na minha mão, para
certificar-me de que estava com o hálito bom; afofei um travesseiro e me deitei, peguei a
manta e a joguei sobre mim. Lembrei-me de como era estar dentro dela e meu pau reagiu
ante a expectativa de repetir aquela deliciosa experiência.
Assim que ouvi o deslizar do zíper iniciei meu plano para conquistar Camila; apertei
o play, e ao acordes do violão de Orange Sky, do Alexi Murdoch, preencheu o interior da
barraca. Ela sorriu ao conferir o clima que tinha criado. Seu olhar buscou o meu e abri
meus braços, para que se deitasse sobre mim. Ela se aproximou e afastei a manta,
parcialmente. Assim que se acomodou, e passou uma perna por cima do meu corpo,
percebeu que eu estava nu, então procurou pelo meu olhar.

— Estava com calor… — sussurrei.

— Sei… — Rimos e se apoiou sobre um braço. — Sabe que… — Sentou-se e retirou


seu vestido — De repente… — Levou suas mãos nas costas e seus peitos saltaram para
fora do sutiã. Sorri de lado. — Esse calor se apossou de mim também…

Mila se deitou em mim e, segurando meu rosto, tomou minha boca; beijamo-nos de
forma intensa e marcante. A segurava pela nuca, mantendo-a junto a mim, até que a senti
se esfregar sobre meu pau. Desci uma mão e comprovei que estava sem calcinha. A
danada já veio na intenção de transar… Ela se livrou da minha boca e esfregou seu
pescoço na minha barba, com os olhos fechados.

— Sempre quis senti-la… — disse com sensualidade. — Arranhando a minha pele…

Mordisquei seu queixo, a segurei pela cintura e a virei abruptamente.


— Então realizaremos todas as suas vontades — segredei em seu ouvido e iniciei
minha expedição pelo seu corpo nu.

Sua pele era macia e a arranhava levemente, enquanto minhas mãos vagueavam por
entre seus pontos erógenos; para logo depois minha boca beijar cada centímetro de sua
pele arrepiada. Quando cheguei no seu ventre, lambi sua boceta molhada, e esfreguei meu
queixo com suavidade. Ouvi seu gemido. Mas quando minha língua brincou com seu
ponto sensível, suas mãos agarram meus cabelos e nossos olhares se encontraram.

— Você, com essa música… está me matando… — Passei a língua por seus lábios
com extrema sensualidade. — Eu te quero, Lipe…
Soprei sobre sua vulva sedenta por mim e ela jogou a cabeça para trás.

— Sua boceta tem um sabor maravilhoso. — A lambi. — Só não é melhor do que o


seu gozo… — Suguei-a enquanto metia um dedo nela, que arqueou suas costas e gemeu
alto.
A chupei, sem pressa, até que gozou na minha boca. Quando a vi completamente
entregue, revesti meu pau com a camisinha e me deslizei para o seu interior. Deixei que
um rouco gemido escapasse pela minha garganta e iniciei o ritmo das estocadas.

Quando estava perto de gozar, sai dela e a virei de quatro. Deitei seu dorso e empinei
aquela bunda deliciosa.
— Estava doido para te ver assim. — A segurei com firmeza. — Vou te foder…

Sem aguardar por resposta, meti de uma só vez e ela gritou, mas logo rebolou no meu
pau.

— Mete… — rogou, com a voz rouca.

Sem delongas, a firmei pelo quadril e arremeti com furor. A cada estocada ia mais
fundo. O clima romântico esvaiu-se e éramos pura selvageria. Dois corpos irracionais,
entregues ao desejo e a paixão. Sua boceta se comprimiu e ela gozou. Meti mais algumas
vezes e me desfiz.
Saciado, despenquei-me sobre ela, que sussurrava palavras indecifráveis. Mordisquei
seu ombro e me deitei ao seu lado, de frente para ela. Seu rosto estava vermelho e com
uma expressão extremamente sexy; Mila ficava linda depois do sexo.

Arrumei o travesseiro e me acomodei, a puxei para mim e iniciei um carinho em suas


costas.

— Posso me viciar nisso… — sussurrou, me abraçando.

Sorri e a apertei. Era delicioso tê-la em meus braços.

— Espero mesmo que se vicie… cada vez mais. — Ela ergueu seu rosto, sorrindo, e
beijei sua boca. — Se soubesse o quanto era bom ter você, teria corrido atrás de ti, quando
me afastou. — Semicerrei um olho, recordando daquela época que fiquei perdido quando
ela sumiu. — Aliás, por que você fugiu tanto de mim, Mila? Sempre me evitava e se
afastava toda vez que ficava no mesmo ambiente que você… — Ela se remexeu e apoiou
sua cabeça de volta no meu peito. — Cami…

— Não… não quero falar sobre isso — disse baixo. — Não agora… neste momento.
— Tem a ver com o carinha que você… amou?

Dizer aquilo em voz alta era estranho. Por mais que fosse coisa do passado, nosso ego
sempre inflama. E ainda mais com ela ali, nos meus braços. Neste momento a apertei
firme e beijei o alto de sua cabeça.
Seja lá quem fosse esse idiota, faria de tudo para que ficasse longe. Conquistaria o
amor de Camila e a teria somente para mim.

Não era possível que Felipe não sacou que me referi a ele?! Ouvi-lo mencionar que
amava outro homem, me deu vontade de rir. Mas ao se queixar sobre minha ausência, quis
gritar bem alto que me referia a ele. Sempre foi e será… ele.

Assim que o senti me apertar contra si, uma calmaria se apossou de mim; como se
estivesse segura, e agora, ele fosse o meu porto seguro. O problema era que me fechei
durante tanto tempo, e em minha vida só conheci a tristeza e a solidão, que agora, ao sentir
essa felicidade, tinha medo de tudo acabar… e não sei se conseguiria me refazer, se Felipe
me deixasse. Foi depois deste pensamento que percebi que teria que procurar ajuda e me
permitir. Felipe estava sendo sincero, sentia isso, e nada mais justo que retribuísse todo
esse afeto.

Encorajada, me ergui e o fitei.

— A única coisa que posso afirmar é que… não fugirei mais — afirmei e seus olhos
se iluminaram, junto com o sorriso que surgiu no seu rosto. — Ficarei aqui, Lipe… bem
do seu lado.
Reconheci a voz de Dermot Kennedy, cantando After Rain. Ele me puxou para cima
dele e segurou meu rosto por entre suas mãos.

— Além de estar do meu lado, quero você em cima de mim… — Estocou-me,


roçando seu membro por entre meu sexo. — E dentro de mim… sendo a dona dos meus
pensamentos e do meu coração. — Me beijou.
Meus olhos se embaçaram, Felipe dizia que queria e estava aberto para me amar.
Sorri em meio a uma lágrima que escorreu sobre minha face direita. Ele a limpou e me
fitou com sua pupila dilatada.
— Gosto demais de você, Mila. — Seu olhar perscrutou-me e seu dedão acarinhava
meu rosto. — Não me lembrava do quanto, mas sempre gostei… — E aquele charmoso
sorriso de lado, surgiu; deixando-o ainda mais lindo. — Mas é o que dizem: tudo acontece
no tempo exato de ser… e, talvez, não estava preparado para sentir isso que hoje está
tomando posse de mim.
Não me contive e ri em meio as lágrimas. Funguei e ele secou algumas.

— Você não imagina o quanto esperei para ouvir isso… — confessei.


Nos beijamos de forma apaixonada e foi neste momento que me joguei de corpo e
alma. Sempre fui dele, então nada mais justo do que ele receber o que sempre lhe
pertencera.

Segurei seu falo e sentei-me lentamente sobre ele. Felipe fechou seus olhos e o senti
fundo dentro de mim. Iniciei uma lenta e sensual cavalgada. Ele me puxou e se apossou
dos meus lábios, enquanto continuava com os meus letárgicos movimentos.

Fizemos amor, com carinho; fora uma troca de sentimentos, um reencontro de almas.
É verdade que há dias de lutas e de glória; lutei por muitos anos contra a solidão. Mas
chegara a hora de encontrar a felicidade e era o que Felipe me proporcionava, com a sua
companhia.

***


Despertei mas ainda estava escuro; conferi a hora no meu celular. Vagarosamente me
espreguicei e bocejei. Sentei-me e me virei, em busca de Felipe, mas o que encontrei foi
uma flor amarela e um recado, anotado no verso do cartão do camping:



NÃO SAIA!
ESPERE POR MIM AQUI…
LIPE

Sorri e me abracei àquele pequeno pedaço de papel. Peguei a flor e a cheirei, mas
rapidamente a afastei, coçando o nariz; não era cheirosa e tinha um mosquitinho dentro.
Tentei alinhar meu cabelo, que deveria estar horrível, e foi então que o zíper deslizou.
Deitei-me novamente e fingi que dormia.

Senti o cheiro cítrico do seu perfume e o colchonete afundar do meu lado esquerdo.

— Acordou, minha linda? — Ouvi o barulho de louças tilintarem. — Caralho! —


resmungou. Não me contive e ri, me virando na sua direção. — Essa merda quase caiu…
— disse ao apontar para o copo de suco de laranja.

— Desastrado… — Me sentei, com a manta enrolada em mim.

— Você finge mal pra caramba e eu te vi segurando o riso! — Ele se sentou ao meu
lado e me entregou o resto do que continha no copo. — Bom dia, minha gata. — Sorri e
sorvi um longo gole. Ele me olhava diferente. Será que era paixão? — Vamos tomar o
nosso café, porque teremos um longo dia pela frente.

— Sério? — Peguei uma torrada e passei cream cheese. — E o que faremos? —


Levei-a à boca.

— Amor — disse e me engasguei. — E muito sexo bruto… — cochichou no meu


ouvido: — Ainda não te peguei de verdade. — Rimos e ele arrumou uma mecha do meu
cabelo. — Quero curtir o dia com você; te levar em alguns lugares bacanas… e… quero te
fazer minha. Só minha!
Se aproximou de mim, segurando meu queixo com uma mão, e me deu um duro
beijo. Felipe esbanjava uma masculinidade que nunca imaginei possuir. Claro que senti
uma pontada no meu ventre e minha vagina pulsou, diante dessa promessa. Já estava
excitada e o queria de novo…


Depois do inusitado café, ele pegou nossos pertences e saímos da barraca. Então me
chamou em direção à praia.

— Deixaremos o resto aqui?


— A barraca eu aluguei. O colchonete… não o levarei — respondeu. — Agora
vamos, Rodrigo nos espera na areia e temos que passar pela rebentação antes que as ondas
fiquem fortes.

— E por que tanta pressa? — Estava curiosa. — Ainda é tão cedo. — O dia
começava a clarear.
— Por isso mesmo… — disse entusiasmado e pegou na minha mão. — Quero ver o
nascer do sol ao seu lado. Vamos! — Felipe me abraçou por trás, enfiou sua cabeça no
meu pescoço e o inalou. Arrepiei-me. Virou-me e me beijou na boca. Quando me soltou,
seus olhos brilhavam como quando nos fitávamos antigamente. — Não vejo a hora de
estar ca… — calou-se e mordeu seu lábio inferior. — Vamos logo antes que eu diga mais
do que devo!
Concordei confusa, na realidade, curiosa para saber o que ele falaria. Peguei a mala
mais leve e seguimos para a praia. Rodrigo nos ajudou e me deixou sentada, enquanto ele
e Felipe empurravam o bote. Assim que atingiram a profundidade para usar o motor,
saltaram para dentro e passamos pela rebentação.
— Esse lugar é lindo — disse, assim que ele se sentou ao meu lado.

— Poderemos voltar outro dia e te levarei para contemplar a bela vista do mirante. —
E apontou para as extremidades da praia. — Tem aquela mais alta e a menor, que dá para a
Praia das Enchovas, que também é linda. — O olhava encantada. — Voltaremos com mais
calma…

Assim que embarcamos no iate, e Rodrigo prendeu o bote, Felipe o agradeceu e


pegou nossas coisas. Fiquei olhando para aquele interior, todo iluminado de forma
elegante.
— Seu pai… — questionava, entrando na sala de estar.

— Sim. — Me cortou e me puxou para os seus braços. — Ele já sabe sobre nós. —
Apertei meus olhos, envergonhada. — Relaxa, Magrela, em breve seremos um…

Não tive tempo para raciocinar, Felipe cobriu a minha boca com a sua e seu beijo
roubou o fio de raciocínio que possuía. Assim que diminuímos o ritmo, ouvimos Rodrigo
limpar a garganta atrás de nós.

— Podemos seguir, senhor?

— Sim, Rodrigo — respondeu, ainda me olhando e colocando uma mecha de cabelo


para trás da minha orelha. Com dificuldade rompeu nosso contato e o fitou. — Siga para
onde combinamos, por favor. — Piscou e voltou sua atenção para mim.

— Iniciarei a navegação. Com licença.— E foi em direção à mesa de comando.

— Venha…
Me puxou em direção da popa e me indicou a passagem da lateral. Andamos com
cuidado e assim que nos acomodamos na ponta da proa, sentimos o barco se mover.
Segurei-me firme e Felipe, às minhas costas, me sustentou com seu tronco. Angela´s
ganhava vida sobre aquele belíssimo mar. Senti que inclinamos um pouco e a velocidade
aumentou; fazendo com que a leve brisa passasse a bater fortemente contra nossos rostos.

— Felipe! — resmunguei quando uma onda fez respingar a agua gelada em nossas
pernas.
Me abraçou pela cintura, colando seu corpo no meu, e abriu meus braços, para
receber o vento de frente. Claramente imitando a famosa cena do filme Titanic. Rimos
alegremente.
— Hoje você será a minha Rose — disse no pé do meu ouvido.
Virei meu rosto, apoiado no seu peito, e o fitei ainda sorrindo.

— Desde que você não me deixe… Jack. — Ri, mas Felipe me fitou sério.

— Nunca… Nunca mais nos afastaremos, Mila. — Roçou seu nariz no meu. — Você
será minha… — E me beijou com suavidade. — Para todo o sempre.

Segurou meu rosto e aprofundou o beijo. Senti meu peito bater mais forte e minha
respiração acelerar. Enquanto alguns respingos nos molhavam e a brisa nos abraçava.

E, mais uma vez, Felipe conquistou outra parte do meu coração e o restante da minha
confiança.

Chegamos na Praia de Castelhanos e o céu atingiu a coloração alaranjada; a ponta do


Sol surgiu, vindo da linha do horizonte daquela imensidão de mar. Abraçado à Camila,
inalei o cheiro do seu pescoço. Ela apertou meus braços, que a circundava, e sorriu de
forma graciosa.

Assistimos calados e em diversos momentos, nos olhávamos encantados. Acho que


isso era amor… ou paixão… sei lá. Só sei que o que sentia com Camila era diferente de
tudo o que experimentei com todas as mulheres que já tive. Assim que o sol se revelou por
inteiro, majestoso na nossa frente, decidimos tomar um café de verdade. Segurando-a, por
causa do balanço do barco, voltamos para a sala de jantar. Rodrigo tinha trazido sua
esposa, que era a copeira, e a mesa já estava posta.

Comemos e conversamos trivialidades. Camila me contava, animada, sobre a festa


que estava organizando para o aniversário da minha mãe; segundo ela, dona Angela queria
que fosse no tema de Festa Junina, com direito a tudo, incluindo altar e padre; pois ela
cismou que faria o casamento e quadrilha.
— Lipe… preciso de um banho… — disse, encabulada. — Sabe como é…
— Claro… — Terminei de beber meu suco e me levantei. — Venha, quero te mostrar
algo antes.

Peguei-a pela mão e a conduzi para o deck inferior. Abri a suíte master e me afastei,
dando-lhe passagem. Camila adentrou e não sabia se ela sorria ou chorava. Ás vezes é
difícil compreender as expressões que as mulheres fazem.

— Felipe… você… — Pulou no meu pescoço e me assustei. — Eu amei! — E me


beijou repetidas vezes.

Ufa… que bom que gostou. Não imaginei o poder que algumas pétalas, de rosa
vermelha, possuíam. Sorri e depois de nos beijarmos ela pediu para que eu a deixasse usar
o banheiro. Acho que queria cagar e estava com vergonha de falar. Qual o problema que as
mulheres têm em assumir isso, se todos nós fazemos?!

Aproveitei que ela se trancou e fui até a outra suíte. Liguei para João. Na terceira vez,
me atendeu.

— Caralho, Felipe! — reclamou com a voz rouca de sono. — Viu que horas são?!

— Puts… verdade. — Olhei no relógio e conferi: era 06:36 am. — Pô… foi mal!

— Fala logo o que quer? Deve ser algo muito urgente para me ligar à essa hora da
madrugada!

— Mas o dia já clareou.

— Não para alguém que foi dormir as 5 horas. — Bocejou.

— Aconteceu alguma coisa para ir dormir tão tarde? — questionei mas na mesma
hora me arrependi. Esqueci que falava com João e não com Diogo.
— Estava com uma mulher, caralho… — Outro bocejo.

— Já sei, trepou a noite toda.


— Exatamente… — Bufou. — Mas conta aí, o que aconteceu para me ligar agora?

— Deu certo aquele lance das pétalas… Liguei para agradecer.


— Putz… Isso é certeiro. Elas amam… Mas precisava me agradecer agora?!

— Foi mal… E Diogo, conseguiu contratar a sua esposa?


— Nada… E está desesperado, com medo de não encontrar alguém e perdemos
nossas ações.
— Bom… estou na frente dessa corrida, então — disse com certo orgulho. Seria a
primeira vez que me destacaria em algo, perante os dois.

— É nada!? E quem é a doida? Sim, porque para te aceitar, só mesmo sendo alguém
com algum retardo mental. — Ouvi sua gargalhada.

— De doida não tem nada. Saiba que passamos a noite inteira juntos… Eu e minha
futura esposa. — Me sentia orgulhoso em ter Camila ao meu lado.

Silêncio.
— Diogo infartará… Deixa-me te confessar uma coisa: ele está muito estranho;
nervoso e aflito. Acredita que nesses últimos dias, não está dormindo? Diz que fica
pensando e a única solução que encontrou é dar um sumiço em Rubens; só assim nos
livraríamos dessa merda toda. — Soltou o ar com força e me preocupei. Diogo era
estranho e em certos momentos, me assustava com toda aquela sua frieza. — Tenho medo
dele ter outra crise por causa do estresse.

— Mas já não se curou? — Conferi os minutos, ainda queria participar do banho de


Camila.

— Ele continua com a terapia, mas sabe como é durão. — Puxou o ar. — Mas… me
conta aí, quem é a doida?

Nem fodendo revelaria que era Camila, não neste momento, principalmente depois de
assumir que passamos a noite juntos. Conhecendo João, das duas uma: ou ele me mataria,
por serem amigos, ou daria em cima dela, só para me provocar.
— Saberão no momento certo. Só posso dizer que meu casamento está mais perto do
que possam imaginar.

— Ah… mas é um cagão mesmo… — Riu. — Escondendo o jogo com medo de


perder a mina para os irmãos… Quer dizer, para mim, né. Porque Diogo é outro Zé
Mané…
— Falou João… — o interrompi. — Agora tomarei um banho com a minha amada…

— Amada?! Já está assim? — Ouvi outra gargalhada. — Falou cara, vai lá e pega
ela de jeito. Lembre-se: mulher gosta de homem com pegada forte!
— Valeu… — Desliguei e fiquei olhando para o aparelho. — Minha amada? Que
merda é essa que está acontecendo comigo?


Me ensaboava, pensando na imensa loucura que estava acontecendo comigo. Não
esperava que esse nosso envolvimento seria tão intenso, como estava sendo. Felipe era um
cavalheiro, mas no sexo… Ouvi a leve batida na porta do banheiro. Sorri e mordi meu
lábio inferior. Meu corpo tremeu em expectativa, ansioso pelo o que aconteceria assim que
ele entrasse.

Pisando, com a ponta do pé, na toalha de chão, destravei o trinco e voltei para o
pequeno box. Ouvi a porta abrir e meu coração disparou. Coloquei minha cabeça embaixo
da forte ducha e senti o corpo de Felipe colar no meu, preenchendo o pouco espaço que
sobrava. Sua boca mordiscou meu ombro e foi subindo até meu ouvido. Meu interior
pulsou e já senti a umidade se formar. Suas mãos apertaram meus seios e recostei minha
cabeça em seu peito. Ele puxou meu rosto e tomou minha boca, enfiando sua língua de
forma dura. Felipe estava diferente, com toques mais firmes e intensos. Mesmo assim,
gostava daquela pegada mais brusca.
Ele me virou e me ergueu pelos quadris. O abracei com as pernas e fiquei presa entre
seu corpo e as estreitas paredes do pequeno box. Ele notando que não conseguiríamos nos
mover, desligou o chuveiro e me apoiou na pia, defronte ao box. Tomou meus seios, os
sugando com certa urgência, e depois desceu sua mão; penetrou um dedo e ao confirmar
minha lubrificação, mirou sua glande e se afundou em mim de uma vez. Joguei minha
cabeça para trás e gemi.
Sem me dar tempo para me acostumar com sua presença dentro de mim, iniciou as
duras penetrações, ao mesmo tempo que alternava mordidas e chupadas pelo meu
pescoço, queixo e boca.
O apertei, excitada.

— Delícia… quero mais — pedi entre gemidos.


Felipe prendeu uma mão no meu couro cabeludo e puxou minha cabeça para trás; abri
meus olhos e ele me beijou quase de forma animalesca. Comecei a rebolar contra seu
quadril, enquanto ele metia fundo. Aquele seu jeito estava acabando comigo e senti um
tesão fora do comum.

— Quero mais, meu amor… — implorei, choramingando. — Mete esse pau com
força!

Abri meus olhos e Felipe me fitava sério. Acho que percebeu o quão excitada estava.
Então me desceu da pia e me fez apoiar as mãos na tampa do vaso sanitário; empinou meu
quadril e me preencheu com força. Gritei. Mudo, só ouvia seus roucos gemidos, iniciou
um ritmo duro com estocadas firmes. O barulho dos nossos quadris se chocando, me
excitava ainda mais.

Foi então que senti minha bunda queimar com a palmada que ele me desferiu. Minha
pernas fraquejaram. Felipe se debruçou em mim e alcançou meu clitóris, iniciou um
rápido estímulo e depois de alguns minutos, gozei. Espalmei minha mão na parede, em
busca de apoio, do contrário cairia, e continuei a mover meu quadril em sua direção.

Ainda sentia as sensações do intenso orgasmo quando Felipe, apertando meu quadril
com mais força, meteu forte e gozou. Estocou-me por mais algumas vezes e saiu de dentro
de mim. Enfraquecida, me sentei na tampa do vaso sanitário e busquei por ar. Felipe se
recostou sobre a parede e puxou o ar com força, enquanto apoiava a mão no batente da
estreita porta. Vi o líquido esbranquiçado preso no interior do preservativo.

— Você é gostosa… pra caralho! — disse, entre a respiração ofegante.


Ele retirou a camisinha, deu um nó e a descartou no lixo. Segurou-me pelos ombros e
me ergueu. Beijou o alto da minha cabeça e me apertou por entre seus braços.

— Você… gostou? — perguntou e percebi sua hesitação.


Ergui meu rosto.

— Não… — Ele arregalou seus olhos para depois semicerrá-los. — Eu amei. — O


empurrei contra a parede. — Quero que me pegue assim mais vezes… — E tomei sua
boca.

Ainda estava excitada e agora, sedenta por mais


Puta que pariu. Como assim, ela queria mais?! Camila devorava minha boca e
esfregava seu corpo em mim, claramente buscando por mais sexo. Essa mulher, ou era de
ferro ou não trepava há bastante tempo!

Estava exausto, mesmo que meu pau ainda sustentasse uma fraca ereção.

A vi se agachar e o abocanhar. Mas não ia rolar, a cabeça estava muito sensível e


precisava de um intervalo. Não é fácil para o homem como para as mulheres. Foder exige
muito mais de nós do que delas.

Camila o sugava e batia uma para mim. Claro que estava gostoso e a foderia, mas
demoraria um pouco para atingir outra ereção. Sou humano e não como aqueles caras de
filmes pornôs que gozam e ficam de pau duro, prontos para a próxima.
A ergui e a segurei com firmeza.

— Você quer gozar, não é? — questionei e ela concordou com sua cabeça, chupando
meu dedão que estava na sua boca. Ah… danada. — Então… vou te foder com a minha
boca e você vai implorar para que eu pare…
A deitei na cama e ela sorriu. Fiquei de joelhos na sua frente e arreganhei suas pernas.
Dava para ver a lubrificação escorrer de sua boceta. Mordi minha boca e esfreguei meu
dedo nela. Camila estava tão excitada que gemeu com esse simples contato. Então a
penetrei com dois dedos, enquanto com a outra mão estimulava seu clitóris. Ela se
remexeu e a mantive presa ali.
— Quer gozar, safada… — falei entredentes, saboreando seu rosto transfigurado pelo
tesão. — Então você vai jorrar para mim!

Depois de vários estímulos, gozou. Meu pau ressuscitou e meti sem dó, enquanto
comprimia seu ponto sensível com meu dedão. Camila gritava, pedindo para parar e ao
mesmo por mais. Então aumentei a velocidade do meu dedão e ela gozou tão forte, que
parecia ter mijado no meu pau. O lençol ficou todo molhado.

— Agora é a minha vez… — disse e a prendi pela cintura, metendo fundo.

— Continua… — pediu, apertando o lençol à sua volta enquanto vinha contra o meu
pau.

Continuei a dar o meu melhor. A foderia de um jeito que não conseguiria se sentar
pelo resto do dia.

***

Despertei com o toque do alarme do meu celular. Apertei meus olhos e me remexi na
cama. Camila ainda dormia, como um anjo. Anjo? Aquilo era o demônio na pele de
cordeiro… isso sim! Também, depois de gozar tantas vezes, devia estar relaxada mesmo.
Já eu… só o chassi do frango.
Me levantei e tomei uma ducha rápida. Vesti a sunga, com uma bermuda por cima, e
subi. Ainda era cedo, então a deixei descansar mais um pouco. Rodrigo não estava no
deck superior, nem sua esposa, então subi para o Flybridge e o encontrei atrás do volante.

— Daqui a pouco chegaremos na próxima praia, senhor — avisou-me e me joguei na


poltrona da mesa, exausto.
— Camila capotou… — bocejei. — Assim que chegarmos a acordarei.

— Então por que não descansa um pouco? Quando estiver lá, desço e aviso vocês. —
Sorriu com empatia.
Deve ter nos escutado trepando, certeza. Camila gemeu muito alto. Eu também sai
fora de mim; estávamos muito excitados.
— Tá certo…
Desci e parei na pequena cozinha; peguei uma garrafinha de água e fui para o quarto.
Camila continuava a dormir. Deitei-me ao seu lado, mas o sono não vinha. Virei-me de
lado e fiquei observando-a. Seu cabelo loiro e meio vermelho, sei lá que cor era aquela,
caia sobre parte do seu rosto, enquanto ela puxava o ar, com a boca ligeiramente aberta.
Essa boca… gulosa.
Sorri. Nunca passou pela minha cabeça que ela fosse tão ousada na cama. Se bem que
com a personalidade que possuía, só poderia ser assim mesmo. Fitei seu corpo, deitado de
lado, todo curvilíneo. Sua pele alva misturava-se com o lençol branco de seda. O ergui, a
cobrindo. Retirei a mecha de seu rosto e acarinhei sua face direita.

Eu a queria do meu lado, mas para que isso acontecesse, teria que me tornar
responsável. Camila sempre fora uma mulher forte e determinada, jamais aceitaria alguém
que não se assemelhasse a ela.
Me levantei e corri até alcançar Rodrigo.

— Mudança de planos, cara. Pararemos somente naquela praia deserta, depois


seguiremos para o centrinho e almoçaremos por lá; daí voltamos para casa — disse de
uma vez. — Amanhã tenho que estar cedo na empresa e não quero voltar tarde para São
Paulo. Não dormi quase nada esses dias…

— Como o senhor quiser.

Desci, sentindo orgulho de mim. Diogo estava certo, para ter uma família, primeiro
era preciso amadurecer e me tornar um homem.


Dormi algumas horas e despertei com as batidas na porta. Rodrigo me chamava,
pois tínhamos chegado na Praia do Pacuíba. Com carinho, chamei Camila, mas ela se
aninhou em meu corpo e me abraçou. Depois de insistir, consegui despertá-la. Avisando
que a esperaria na popa, subi e fui conferir o visual. Era minha primeira vez ali também;
pesquisei algumas praias da ilha, para mostrar à Mila, e muitas eu não conhecia.

— Lindo o visual, hein! — disse para Rodrigo, que preparava o bote. — Não precisa,
nadaremos até a praia. Quero aproveitar essa água cristalina.

Apoiei-me na lateral do barco e tirei uma foto, com meu celular, daquele pequeno
paraíso na terra. A água atingia vários tons, de verdes e azuis; de mata virgem, com as
copas das árvores envergadas quase tocando o mar; a praia era estreita e curta, com alguns
“Chapéu de Praia” criando sombras.
Fiz algumas selfs e resolvi usar o sistema de som. Peguei o controle do barco e pareei
com meu celular. Acionei minha playlist e Bonnie & Clyde, de Vance Joy, soou pelos alto-
falantes. Ao virar-me, para apoiar o IPad na mesa, a vi caminhar na minha direção.
Arregalei meus olhos e quase deixei o objeto cair da minha mão. Lá vinha Camila, com
um biquini minúsculo, verde ou amarelo — não consegui identificar só sei que era de uma
cor viva e forte —, tornando-a o centro das atenções. Ela girou, para se mostrar, e o vi
quase todo enfiado na sua bunda.
Preocupado, procurei por Rodrigo e ele desviou seu olhar dela. Filho da puta…
pagando pau pra minha mina! Voltei minha atenção para ela, que parava na minha frente
sorridente.
— Precisa usar isso? — questionei num sussurro e apontei para a peça que não cobria
quase nada.

— Não gostou? — Ela fez graça com os ombros e, ficando na ponta dos pés, me deu
um selinho. — Posso trocar, então… — Aliviei minha expressão e iniciei um sorriso
vitorioso. — Por outro menor! — concluiu e abri minha boca.
Caralho, se usasse um menor, ficaria nua! Pisquei algumas vezes e ergui um dedo
para contestar, mas ela já subia na plataforma e, abrindo seus braços, contemplou o visual.

— Você não vem? — chamou-me e se inclinou para mergulhar.

Aquele movimento mostrou boa parte da peça por entre sua bunda. Corri para ficar
atrás dela e a cobrir, mas ela saltou e só ouvi o barulho da água. Virei-me para trás e
Rodrigo ria sozinho.

— Elas são terríveis… Minha esposa também usa uns que quero morrer… —
assumiu. — Se quer um conselho, não implique. Vai por mim…

— Valeu… — O olhei de rabo de olho e me preparei para saltar.

— Passaram repe…

Mas não o ouvi mais, mergulhei fundo e ao emergir, nadei a braçadas fortes, para
alcançar Camila, que já se aproximava da desértica praia.
O sol brilhava forte, e mesmo estando no outono, fazia um calor intenso.
Caminhamos pela praia; por entre as pedras; corremos alegremente e namoramos um
pouco. Mas os borrachudos usaram-me como banquete e fiquei todo picado.

— Você não passou repelente?! — questionou Mila, entre o riso.


— Esqueci… — resmunguei, tentando matar alguns, que sugavam todo o meu
sangue.

— Vamos voltar! — Passou por mim e a parei pela cintura.


A puxei para mim e lhe dei um beijo. Camila me apertou pela nuca e depois que
finalizamos nosso beijo, sorriu com contentamento.

— Eu… — começou, mas calou-se com um brilho no olhar.


— Adoro você, Mila — assumi e notei sua surpresa.

— Eu também… Adoro você, Lipe!

Nos abraçamos e nomearia esse como um dos momentos mais lindos, se não estivesse
sendo comido vivo por aqueles malditos borrachudos. Dando alguns tapas pelo corpo, na
tentativa de espantá-los, corremos para o mar e retornamos para o barco.
A primeira coisa que fiz, depois de me secar, foi passar a porra do repelente. Mas
aquela coceira não cessava e comecei a ficar puto. Mas Mila me trouxe uma caipirinha e
depois da segunda, já não me importei mais. Me pediu para tocar violão, e escolhi Dia
Clarear, da Banda do Mar. Como fã do Marcelo Camelo, vocalista de Los Hermanos,
cantava quase tudo dele; e aquela música refletia o que se passava naquele momento.

— Se eu vir você mais tarde… eu vou até o dia clarear… — cantava feliz. — É só
você querer, que tudo pode acontecer…

Assim que terminei, ela segurou meu rosto e me beijou. Tomei alguns goles da minha
bebida e sequei minha mão.

— Que linda… nunca a tinha ouvido… Mas me encantei. — Camila sorria.

— Achei que casava certinho contigo…

Estava linda, com o céu azul, como pano de fundo; subia e descia, acompanhando o
balanço do mar. Estávamos sentados no acolchoado na proa; imersos em nós, trancafiados
em nossa bolha. O sol reluzia forte, acima de nós, queimando a nossa pele; mas não nos
importávamos.

Depois toquei Time after Time, com os acordes e melodia de Iron & Wine — o cara
manda muito bem. Ela me acompanhou no refrão e nos beijamos apaixonados. É… acho
que me apaixonei, de novo, por Camila.
Demos uma pausa, mergulhamos e nadamos juntos. Voltamos para a proa e ela me
trouxe outro drink. Já alegre por causa da bebida, pediu o violão.

— Ah… mentira que cantará uma! — A provoquei e ela me mostrou a língua.


Sentada, com as pernas cruzadas, apoiou o violão de lado e correu seu dedo por entre
as cordas. Me recostei sobre o estofado e flexionei um joelho.

— Pra falar a verdade, às vezes minto… — iniciou o canto, de forma baixa e suave.
— Tentando ser metade do inteiro que eu sinto… Pra dizer as vezes que às vezes não
digo… Sou capaz de fazer da minha briga, meu abrigo…
Camila tinha a voz doce; tocava as notas com lentidão e quase a recitava, de tão lento
que cantava. Me empertiguei e prestei atenção na letra.

— Eu busquei quem sou… Você pra mim mostrou que eu não sou sozinha nesse
mundo…

De olhos fechados, ela sentia a música de forma única. E eu admirei sua coragem,
pois ela se declarava e mostrava a tristeza que a habitava.

Abriu seus olhos e, deles, lágrimas romperam, banhando suas faces.


— Cuida de mim enquanto não me esqueço de você… cuida de mim, enquanto finjo
que sou quem eu queria ser… Cuida de mim enquanto finjo… enquanto fujo…[9] —
cantou, o que achei ser o refrão.

Me aproximei e ela tapou seu rosto; retirei o violão de seu colo e a puxei para os
meus braços. Seu corpo sacolejava diante do forte choro. Mesmo sem entender o que se
passava, a abracei forte e esperei até que se acalmasse.

— Estou aqui… — sussurrei em seu ouvido e beijei sua testa. — Shhh… você não
está mais sozinha, meu amor… Agora você me tem.

Camila fungou e ergueu seu rosto, vermelho por causa do choro. Ela acarinhou a
minha face, enquanto eu secava a sua. Então seus olhos azuis me fitaram com intensidade
e soube naquele momento que não suportaria vê-la daquele jeito; ela merecia somente
coisas boas. E eu moveria terra e mar, para lhe fazer feliz.

— Felipe… eu… — fechou os olhos e puxou o ar.


— Nunca mais te deixarei… — Arrumei seus cabelos, os tirando de seu rosto. — Sou
teu, Mila. — Ela suspirou, emocionada. Tão linda… tão indefesa… Era este o momento
para torná-la minha. — Casa comigo? — Ela arregalou seus olhos, descrente do que
acabara de falar. — É isso mesmo o que você ouviu. Casa comigo, Mila?
— Felipe… — Me fitou desnorteada.
— Eu sei que levava uma vida à toa; que nunca me dediquei, nem sou referência de
homem. — Falava rapidamente, com medo de perder a oportunidade de me justificar. —
Sempre mamei nas tetas do meu pai… Mas… — Segurei seus delicados ombros, para que
visse que eu falava a verdade. — Mas estou disposto a mudar, a-amadurecer… E farei de
tudo para que você sinta orgulho de mim. — Sorri de forma nervosa. Nunca me senti tão
ansioso. — Casa comigo?

Felipe aguardava por minha resposta, com a ansiedade estampada no rosto. Essa fora
a pergunta que sempre sonhei ouvir. Mas não naquele momento, sabendo o quanto ele
estava desesperado para arranjar alguém e não perder sua parte nas ações. Eu o queria, o
aceitava mesmo tendo aquele jeito roots. Ele mostrou-me um lado que jamais pensei que
possuísse. Era zeloso e carinhoso; se importava e se fazia presente. Mas será que ele me
propunha casamento por me amar?

— Pelo amor de Deus… — segredou, com uma expressão engraçada. — Estou quase
morrendo aqui, enquanto você me olha desse jeito.

Limpei meu nariz e algumas lágrimas que tinham molhado meu rosto. Baixei meu
olhar e me afastei. Precisava de tempo. Tempo para saber o que o motivou aquilo.

— Não pense que te peço por causa das ações da empresa — disse, parecendo ler
meus pensamentos e arregalei meus olhos — Gosto de você e te quero do meu lado, Mila.
— Ele ergueu meu queixo e me encarou. — Não precisa me responder agora. Mas saiba
que não desistirei de ti. — Me deu um beijo casto. — Você será minha… somente minha.
— Desculpe interromper — disse Rodrigo, atrás de nós. — Mas o senhor me pediu
para avisá-lo.

Felipe desviou seu olhar para ele e sorriu mudo.


— Claro. Podemos zarpar.

— Okay. — E nos deixou.


Ele voltou seu olhar para mim e foi como se o visse pela primeira vez. Havia um
novo homem na minha frente, de expressão séria e responsável.

— Adoro você, Mila. E nenhum outro homem tocará o seu corpo, pois agora, ele me
pertence. — E me beijou de forma firme e possessiva.
Emaranhei meus dedos nos cabelos da sua nuca e o trouxe para mim. Voltei a ser
aquela garota indefesa e inexperiente, que só sonhava em ser amada por ele.

Lipe me deitou sobre a esteira acolchoada e se acomodou parcialmente sobre mim.


Sua boca me devorava, com seu jeito calmo; mas senti a rapidez que sua ereção surgiu.
Flexionei uma perna e o puxei pela cintura. Precisava senti-lo dentro de mim, mas ele se
afastou e sorriu, na minha boca.

— Seria maravilhoso te foder aqui — segredou. — Mas não com um telespectador…


— Olhou para o vidro atrás de nós e segui seu olhar; foi então que percebi que Rodrigo
estava bem ali atrás, guiando o barco, que começou a mover-se.

— Tem razão… — sorri timidamente. — Melhor… em outra hora.

— Sem contar que a cabeça do meu pau está esfolada — assumiu, pegando seu
membro na sunga, e disfarçadamente o colocou para fora. — Olha… — E vi a
vermelhidão ao redor da cabeça. — Mas isso não quer dizer que daqui a algumas horas
não possamos repetir a dose…

— Esperarei ansiosa para isso. — Sorri.

Ele segurou meu rosto e me fitando com carinho, roçou seu nariz no meu.

— Me deixa te fazer feliz, Mila?

Vi a verdade no seu olhar. Não erámos mais aqueles adolescentes inexperientes.


Felipe estava sendo sincero.

— Sim… — assenti com a cabeça. — Me faça feliz, Lipe.


Um belíssimo sorriso surgiu no seu rosto, iluminando seu olhar, e me beijou contente.


Camila surgiu, vindo do deck inferior. Estava sentado na sala de jantar, pesquisando
sobre um material que não encontrava, para terminar minha maquete. Ela beijou o alto da
minha cabeça e se sentou ao meu lado.

— Está… trabalhando? — questionou depois de bisbilhotar a tela.

— Pois é, não achava esse material e como te esperava, resolvi pesquisar. — Finalizei
a compra, travei a tela do meu IPad e me virei para ela. — Descansou?

— Uhum… — respondeu manhosa e se aconchegou a mim. — Ué, já estamos


voltando? — questionou ao reconhecer onde estávamos.
— Sim… amanhã entro cedo na empresa e não quero subir para São Paulo tarde. —
Camila se virou abruptamente e me fitou abismada. — Pois é… falei sério quando disse
que mudaria e faria de tudo para te ter ao meu lado.
— Mas isso você já tem. — Se aproximou e acariciou meu rosto. — Eu sou sua,
Lipe. Mas não negarei que essa sua atitude me surpreende de forma positiva.

Sorri. Caralho… agora me empenharia, ainda mais, e daria o meu melhor; tudo por
ela. A puxei e a apertei entre meus braços. Fiz a escolha certa: não há, neste mundo,
mulher melhor para ser minha esposa do que Camila.

Depois de almoçarmos no centrinho, e de tomarmos sorvete enquanto caminhávamos


pelas aconchegantes ruas, resolvemos voltar. Felipe falava sobre o quão difícil era montar
uma maquete, e o quanto de atenção e concentração aquilo exigia.

Caminhávamos de mãos dadas, como um casal. De tempo em tempo, o fitava


discretamente, sem acreditar que estávamos juntos, e o melhor, do quão carinhoso era e da
forma atenciosa que me tratava. Se antes já o amava, agora, conhecendo esse seu lado, não
o deixaria nunca mais.

De volta ao barco, fizemos o resto do trajeto calados, abraçados, acompanhando o


conhecido deque de madeira se aproximar. Acabava o nosso passeio e teríamos que sair da
nossa bolha. A realidade se mostrava diante de nós, e uma faísca de insegurança me
assolou.
Assim que Rodrigo ancorou Angela´s, com a sua ajuda, desembarquei no deque e
esperei por Felipe, que trazia nossas malas. Peguei a minha e a puxei pela alça.
— Está tudo bem? — questionou ele, caminhando ao meu lado.

— Somente o receio de encarar seus pais — assumi.


Ele parou, apoiou sua mala no chão e segurou meu rosto.

— Enfrentaremos juntos, Mila — afirmou sério. — Agora somos um e ninguém nos


separará. — Beijou o alto da minha cabeça, com carinho, e me reconfortei naquele
contato.
Seguimos pelo caminho e chegamos na área da piscina, a contornamos e adentramos
a sacada, que estava aberta. Árvores arrodeavam a casa, tornando o lugar isolado e
intimista. Angela se balançava na cadeira de vime, lia um livro, e aos nos ver, sorriu. O
apoiou na mesinha de centro e, pegando sua bengala, tentou se erguer; corri para ajudá-la.
— Bah… mas já voltaram? — questionou, beijando nossas testas.
— Sim, mãe. Tenho que retornar para São Paulo; amanhã preciso chegar cedo na
empresa. — Angela arregalou seus olhos em surpresa. — Agora terei uma esposa para
sustentar. — E me puxou para o seu lado, dando-me um selinho.
O fitei com os olhos esbugalhados.

— Felipe! — bradei, dando um tapa no seu ombro. — Não aceitei…


— E nem o negou… — Piscou.

Angela o abraçou, contente, e me puxou, nos parabenizando. Sua alegria era


contagiante, mas me concentrava mesmo no olhar que Felipe dirigia para mim. Ele sorria
tão entusiasmado, que acabei rindo.
— Venham… — disse ela, andando apressada, como conseguia, para o interior da
casa. — Bruno! — gritou na direção do escritório.
Não tardou e ele surgiu, com a expressão de preocupado.

— O que foi, mulher?!

— Nosso guri e Camila vão se casar! — anunciou com alegria e Bruno se espantou.
Assim como eu. — Tu não falarás nada?

— É sério isso? — questionou se aproximando de nós.

— Senhor Bruno — ergui minha mão, chamando sua atenção. Precisava esclarecer
que aquilo não era verdade. Ainda não tinha respondido. — Na realidade seu filho…

Felipe segurou meu rosto e tascou um beijou na minha boca. O empurrei, tentando
afastá-lo. Mas enfiou a língua em mim. Dei vários tapas nele, até me soltar. Com
divertimento no olhar, se virou na direção do pai.

— Eu e a Magrela vamos nos casar sim! — anunciou feliz.


E naquele momento Rubens, o advogado, surgiu atrás do seu pai. Estava sério e nos
fitava curioso. Bruno abriu os braços e sorriu, andando na nossa direção.

— Não imaginam como me deixaram feliz! — Nos abraçou e Angela se juntou a nós.
— Agora sim, nossa família ficará completa!
Ergui minha cabeça, em busca de ar, e me deparei com uma expressão estranha no
rosto do advogado. Ao perceber que o fitava, abrandou e sorriu na minha direção.

— Fico feliz, Felipe. Parabéns pelo matrimônio — disse.


Nos separamos e Lipe o procurou.
— Não sabia que estava aqui. — Andou na sua direção e o cumprimentou. — Como
vai Rubens?

— Ele veio para… me ajudar com um detalhe do testamento — explicou Bruno,


parando ao lado do advogado. — Desejo toda a felicidade do mundo para vocês. — E
olhando sério para o filho, ergueu seu dedo em riste. — Mas ainda conversaremos sobre
isso…

Felipe ergueu suas mãos e os dois voltaram para o escritório.

— Pedirei para prepararem um jantar… Precisamos comemorar…

— Não mãe! — Ele a interrompeu, entrando na sua frente. — Preciso voltar, amanhã
entro cedo na empresa e não posso subir…

— Bah… — Angela tapeou o ar. — Uma dia a mais, um a menos, não fará diferença.
— Não. — Repetiu sério. — Sairei mais cedo. Comemoraremos quando regressarem
para São Paulo.

Angel olhou do filho para mim, orgulhosa da sua postura, e sorriu.


— Está certo, meu filho. — Deu alguns tapinhas no seu peito. — Agora precisa ter
responsabilidade. Assim que estivermos em casa, darei um jantar comemorativo.
Felipe a abraçou e lhe deu um beijo no alto de sua cabeça.

— Se me der licença, dona Angela, tenho que arrumar minhas coisas. — Virou-se
para mim. — Você vem, Mila?
— Também arrumarei as minhas. — Apontei para minha mala, na porta da varanda.
— Por que não toma um banho e nos encontramos aqui embaixo? — Sugeri e ele
concordou.

Veio até mim, me beijou com carinho; pegou sua mala e foi em direção da escada.
Assim que voltei minha atenção a Angel, ela me chamou para um abraço. Depois do breve
relato, onde expliquei que não tinha aceitado nada, ela riu.

— Bobagem… — disse segurando minhas mãos. — Tu responderás no jantar


então…
Acabei concordando; peguei minha mala e fui para o meu quarto. Tomei um banho e
enquanto penteava meus cabelos, ouvi uma voz do lado de fora, embaixo da janela do
quarto. Me aproximei e forcei minha audição.
— Sim, isso mesmo o que ouviu: Felipe se casará com Camila… — Reconheci a voz
de Rubens. Houve um silêncio. — Eu não sei, acabei de ouvi-los na sala. — Limpou a
garganta e voltou a falar: — Também não sei… — Calou-se como se escutasse. — Felipe
subirá hoje. Okay, te aviso assim que sair daqui. Até logo Diogo.

Ouvi passos e depois se distanciou. Pisquei confusa.

— Por que Rubens relatou tudo para Diogo?


Bati a porta do carro e me virei para me despedir.

— Você sobe amanhã? — perguntei, puxando Mila pela cintura, e me encostei na


lateral do meu carro.
— Angela quer voltar comigo, mas não gosta de viajar à noite — disse ela, enquanto
contornava meu musculo do peito. — Por mim, voltaria contigo.

— Fiz planos… — Mordisquei o lóbulo da sua orelha e ela riu baixinho. — De


dormir dentro de você…
— Felipe! — Ela olhou para os lados, com receio de que alguém tenha ouvido.

— Relaxa, Magrela… — Me deu tapa; odiava aquele apelido. Mas eu amava a cara
que fazia ao ouvi-lo. — Então amanhã dormirei socado em você… — Ela mordeu seu
lábio inferior e concordou. Rocei meu dedo por sua boca. — Sentirei sua falta.
— Eu também… mais do que imagina — confessou.

Ficamos nos encarando. Era como se quiséssemos falar mais do que aquelas simples
palavras. Não soube identificar exatamente o que, precisei de um bom momento para sacar
o que era: queria pronunciar aquela pequena palavra, mas que possui o maior de todos os
pesos. Nunca a tinha dito para alguém e não a pronunciaria sem ter certeza do que sentia.
— Então tchau… — disse. — Senão fica tarde.

A beijei devagar, saboreando seus lábios e a maciez de sua língua. Camila se aninhou
ao meu corpo e me puxou para si. Meu pau despertou, discretamente ela desceu sua mão e
o apertou. Gemi em sua boca e desci minha mão para a sua bunda; a encaixei em mim e o
beijo mudou de ritmo.

— Para… — disse na minha boca, mas a ignorei e a prendi novamente.

Segurei sua nuca e enfiei minha língua mais fundo. Inverti a posição da cabeça e
mordisquei seus lábios, desci para seu queixo e deslizei para a sua orelha, contornando o
maxilar.

— Como queria estar dentro de você… — Rocei meu pau e ela gemeu baixo, no meu
ouvido. — Metendo fundo… enquanto apertava esses seus peitos…

— Acho melhor pararmos… — disse ofegante e me afastou. Deu um passo para trás,
olhando ao redor. — Mas confesso… que queria chupar seu pau… — E o apertou de
novo.

— Ah… — Tentei puxá-la mas ela se desvencilhou e se afastou rindo.

Abri a porta do carro e entrei. Sentado, a fechei e Mila voltou a se aproximar da


janela.

— Me avisa assim que chegar — pediu e se abraçou, ajeitando a blusa de frio.

— Pode deixar, minha esposa… — pisquei e ela sorriu encabulada.

— Ainda não aceitei.


— Mas aceitará… — Sorri de lado.

— Tchau… — disse em meio ao encabulado sorriso. — Vá com cuidado.


Liguei o carro e mexi no câmbio, que era automático.

— Até mais, minha gata. — Mandei um beijo e parti.


Ainda a olhei pelo retrovisor e ela ergueu uma mão. Interessante como alguém se
torna tão importante na nossa, ao ponto de um simples afastamento, ser tão doloroso. Pus
a mão para fora da janela e acenei.



***

Lucky Man, do The Verve, me acompanhou durante todo o trajeto. Pensei o quão
louco fora esse meu reencontro com Camila, e como era forte o que sentíamos um pelo
outro. No caminho pensei que deveríamos que ter o nosso canto, então compraria um
apartamento para nós; veria minhas economias e falaria com ela a respeito.

— Que loucura… — falei comigo mesmo, ao chegar na Avenida Pacaembu. —


Semana passada transava com Lorena, que só se importava com o seu baseado, e agora
estou pensando em comprar um Apê para morar com Camila… — Sorri. — A vida é foda
e não passamos de um objeto na mão do destino…

Foi então que notei, pelo retrovisor, um carro todo filmado, me seguindo desde um
certo tempo. Receoso, resolvi mudar meu trajeto e continuei reto, quando o correto seria
virar à direita, ele fez o mesmo. Subi para a Avenida Doutor Arnaldo, e ele continuou atrás
de mim; desci a Cardeal Arcoverde, com ele no meu encalço.

Liguei para João, que me atendeu no segundo toque.

— Oi.

— João, tem um carro me seguindo — relatei, fitando o retrovisor.


— Ah Felipe, dá um tempo! — chiou. — Com tanto problema, você reaparece com
um papinho desses!

— Mas é verdade, cara!


Houve um breve silêncio.

— Consegue ver o modelo? — questionou e o reconheci, mesmo com os faróis


estando alto. — Onde você está? — inquiriu e o informei. — Estou tentando falar com
Diogo o dia inteiro, mas ele não me atende. Vá para o apartamento dele, nos encontramos
lá.
— Beleza.

Fiz o retorno e subi a Teodoro Sampaio até cair na Doutor Arnaldo de novo. Cortei
por algumas ruas e entrei na Av. Angélica, então ele sumiu.
Respirei aliviado e desci até passar na frente do Shopping Higienópolis; depois entrei
na rua de Diogo. Assim que parei na frente do prédio, vi pelo retrovisor seu carro entrando
na garagem. Era do mesmo modelo do que me perseguiu há pouco.

Franzi o semblante e retesei meu maxilar. Que estranho…


— E aí? — questionou João, ao parar o carro ao lado do meu. Acenei. — Deixa-me
estacionar e subimos.


— E por que você acha que estava te perseguindo? — Diogo me questionou
impaciente.

Estava estranho, andando de um lado para o outro, enquanto mordia seu dedão,
demonstrando nervosismo.

— Caralho, qual a parte de que eu fui seguido desde que entrei na Pacaembu você
não entendeu? — Elevei minha voz, o que era muito difícil de acontecer.

— Felipe moramos em São Paulo, uma das cidades mais violentas para se viver. É
comum sequestros relâmpagos, assaltos ou coisas do tipo — respondeu e se sentou,
apoiando seus braços nas pernas e com o copo de Whisky por entre as mãos.

Mesmo usando jeans, mantinha sua formalidade nos gestos.


— E onde você esteve o dia todo? — questionou João, ao seu lado.
Diogo o fitou com a cara fechada, por cima do ombro.

— E desde quando sou obrigado a falar o que faço na vida pessoal?


— Cara, te liguei o dia inteiro e nem para me retornar! — João reclamou. — Onde
você estava?

— Na rua… resolvendo umas coisas… — respondeu cauteloso e sorveu um longo


gole.

Semicerrei meu olhar. Diogo estava mentindo, mas por quê?

— Quer saber — João se levantou e colocou seu copo na mesa de centro —, já vi que
está bem… E você está certo, já é bem grandinho e sabe se cuidar. — Andou até o
aparador, perto da porta, e recolheu os seus pertences. — Você não vem, Felipe?
— Daqui a pouco…

— Falou então. — Abriu a porta. — Não dormirei em casa — avisou e a bateu,


depois que saiu.

Diogo expeliu o ar e apertou os olhos, demonstrando cansaço.

— Você está bem? — sondei.

— Essa merda de situação que nosso pai nos colocou. — Recostou-se no sofá, com as
pernas abertas. — Desde que ele anunciou aquilo, eu não consigo dormir.

— Por não ter arranjando uma mulher dentre todas aquelas candidatas?

— Qualquer mulher interesseira aceitaria esse contrato, Felipe. — Se levantou,


andando até a porta da sua sacada. — E foi isso o que mais vi entre elas.

Calado, olhou para além das luzes, que iluminavam aquela selva de prédios.

— Então não entendi o que te aflige. — O acompanhei com meu olhar.

— Acho que eu me… — calou-se. Seria um milagre muito grande se ele se abrisse
naquele momento. Expeliu o ar dos pulmões, criando uma mancha de vapor no vidro à sua
frente. — Só estou confuso e agi por impulso. É… foi isso — completou, como se falasse
para ele mesmo. Virou o conteúdo do seu copo e o dispensou sobre o bar, cheio de
garrafas caras. — Meu quarto de hóspedes está em reforma, mas tem o meu escritório; se
quiser dormir aqui, é só puxar o sofá que vira uma cama. — E atravessou a sala indo na
direção do corredor, que levava para os quartos. — Deixarei roupa de cama para você.
Caso não queira, é só bater a porta ao sair. Boa noite — disse sem se virar e sumiu pelo
corredor, que se iluminava automaticamente ao caminharmos por ele.

Fiquei sozinho naquela sala fria e sem vida. Ele nunca me convidou para dormir na
sua casa, e se o fez, é porque precisava de companhia.
— Você não está bem, mano… senti isso… — sussurrei para mim, olhando ao redor.

O apartamento de Diogo era bacana, moderno e tal; mas ele optou por cores escuras e
frias, assemelhando à sua personalidade.

Meu celular vibrou e vi a notificação de uma mensagem de Camila. Digitei a


resposta, avisando que chegara bem, e me levantei, indo em direção ao escritório.
Seria uma noite bem… estranha.

***

Gemidos e gritos me despertaram. Abri meus olhos, confuso, e me apoiei em um


braço. Olhei ao redor e somente a fraca luz do abajur iluminava o escritório, refletindo
sombras entre as prateleiras, repletas de livros. Puxei meu celular, apoiado no braço do
sofá, e conferi a hora: 03:39 am. Outro grito. Um leve tremor assolou-me.
Afastei a manta, que cobria meu corpo, e pisei no assoalho de madeira; andei até a
porta e a entreabri, estava tudo escuro do lado de fora. Gemidos ecoaram do fundo do
corredor e me assustei. Era Diogo.

— Caralho… tinha que morar num apartamento estranho desses….

Escancarei minha porta e fitei para escuridão. Medo do caralho de pôr meu pé e uma
mão o puxar… Respirei fundo e assim que pisei no corredor, a elegante iluminação surgiu.
Soltei o ar, aliviado. Andei até a última porta e bati, o chamando. Colei meu ouvido na
madeira e ouvi o farfalhar de tecidos.

— Diogo! — Elevei minha voz.


— Não! — gritou ele. — Me deixa em paz!
— Foi mal! — gritei de volta e me afastei. Mas o ouvir gemer de novo e gritar,
repetindo a mesma frase. — Diogo! — gritei. — Merda…
Abri sua porta e o vi se remexendo na cama; jogava a cabeça para trás e se debatia.
Estava no meio de um pesadelo. O quarto era iluminado pelas luzes que vinham de fora,
entrando pela imensa janela aberta. Não sabia como agir. Li que pessoas poderiam se
tornar agressivas durante um. Me aproximei com calma e bati no colchão.
— Diogo… — chamei com cautela. — Meu irmão, acorde…

Mexi no seu pé e ele se sentou abruptamente, gritando.

— Aí caralho! — berrei, correndo para longe daquela cama, com o cú na mão.

Ele respirava com dificuldade e olhava ao seu redor, aturdido.


— O-O que você está fazendo aqui? — questionou-me com os olhos semicerrados.

Eu estava estirado na parede, com os braços abertos, e os olhos arregalados; meu


coração batia de forma descompassada e se não tivesse ido ao banheiro antes, certamente
estaria todo cagado.

— Que susto da porra você deu, cara! — Soltei o ar com força e levei a mão no peito.
— Você está bem? — questionei, o olhando de soslaio.

Precisava me certificar de que estava mesmo acordado, vai que fosse sonambulo… ou
pior, que estivesse dominado por alguma força maligna. Fiz o sinal da cruz e comecei a
rogar ao universo para que mandasse seres de luzes para cá.

Ele levou as mãos à lateral da sua cabeça e apertou suas têmporas.

— Sim… — Se virou, pendurando as pernas para fora da cama. — Tive outro


pesadelo. — Desceu da cama e calçou seus chinelos. Virou-se na minha direção e
caminhou de frente para mim. Senti um leve tremor por todo o meu corpo. — Vai me
acompanhar ou ficará segurando a parede a noite toda? — Passou do meu lado e saiu pelo
corredor escuro, que logo se acendeu.

— Susto da porra… — O segui, saindo daquele quarto fantasmagórico.


Diogo chegou na cozinha, no estilo americano, abriu a geladeira e pegou a garrafa de
água; apoiou dois copos na bancada de mármore e se sentou em uma banqueta.

— Você… — Encheu os dois copos e me deu um. — Eu falei alguma coisa? —


sondou.
Sentei-me na banqueta do lado da sala e peguei o copo.

— Não. Só gritava e gemia… — O fitei curioso. — Sempre tem pesadelos?


— Voltaram desde que… você sabe. — E sorveu um longo gole.

— Ainda faz terapia?


Diogo nunca falava disso conosco.
— Todas terças-feiras — assumiu seco. Soltou o ar de forma longa e me olhou sério.
— Mas na realidade não é isso o que tem tirado o meu sono.

— Já sei, é o lance de não ter arrumado uma esposa por contrato, mas cara…
— Acho que me… É uma mulher — assumiu, me cortando.

O olhei incrédulo, com a boca aberta, e apoiei meu copo no mármore. Diogo estava
se abrindo… comigo?!

Durante o caminho de volta, Angela e eu conversávamos sobre como ela queria que
fosse a sua festa; disse-me que convidaria poucas pessoas, pois seria uma comemoração
intimista, mas que queria que estivesse bem decorada; pediu para que eu a acompanhasse
na escolha do que serviríamos no buffet, bem como o bolo, queria um bem bonito.
— Sabe que tu tens um gosto apurado para isso, meu amor. — Sorriu. Estava tão
alegre, que acabou me contagiando.

Paramos no Rancho da Pamonha e ela bebeu seu suco de milho; morreria se eu não
parasse.
— Estou tão feliz que se casarão! — disse levando as mãos à boca. — E já não vejo a
hora de ter meus netinhos correndo pela casa…

Arregalei meus olhos. Ai merda… a pílula, esqueci! Ela continuou a falar, mas já não
prestava atenção; preocupada por ter passado tantas horas. Voltamos para o carro e o resto
do caminho, fiquei calculando quando daria as 48 horas para a eficácia do remédio.

Assim que chegamos em São Paulo, parei na primeira farmácia e tomei a pílula no
carro mesmo.
— Está com alguma dor, meu bem?
— Muita… — disfarcei. — De cabeça, sabe?

— E que remédio é esse, nunca vi dele…

— É um… — escondi a caixa, embaixo da minha perna — é novo… — Sorri forçado


e ela voltou a falar sobre a festa; agora era sobre os trajes.

Seguimos para casa. Estacionei o carro na minha vaga e ajudei Angela a descer; a
acompanhei até o pequeno elevador, que o Sr. Bruno instalou para ela, e subi as escadas
correndo, fazendo o máximo de barulho. Caminhei com ela pelo corredor encarpetado e
quando passamos na frente do quarto dele, sorri. Não conseguia esconder minha ansiedade
em querer vê-lo. Dormimos juntos uma única noite, mas o nosso fim de semana foi tão
intenso que não aguentaria mais ficar sem Felipe.

— Por que não liga, guria? — questionou Angela e a fitei. — Ele deve estar na
empresa. Aliás… precisamos escolher o que serviremos no jantar de amanhã.

— Jantar?

— Sim, o que anunciaremos o casamento de vocês!

Fechei meus olhos, brevemente, e sacudi minha cabeça.

— Angel, meu bem, não precisa…


— Bah… faço questão. — Segurou minhas mãos. — Tu és como uma filha, e
seguirei todo rito. — Ergueu sua mão e tocou meu rosto. — Quero continuar a ver esse
brilho nos seus olhos.

A fitei por um momento e assenti.


— Está certo… — disse baixo. — Escolheremos juntas o que servir amanhã.

— Convide quem quiser — disse, andando em direção ao seu quarto. — Afinal essa
casa sempre foi sua, e agora, ainda mais…

***


O dia fora puxado, depois de escolhermos a empresa e o que serviríamos, ela me
obrigou a aceitar que me desse o vestido que usaria na noite de amanhã. Como não
adiantaria discutir, escolhi um verde florido, pois combinava com os olhos de Felipe.

Minha prima Bárbara ligou, informando a hora que chegaria em São Paulo. Então, a
convidei para que participasse do jantar; seria minha única parente presente.

Me joguei na cama, exausta. Peguei meu celular e reli as mensagens trocadas com
Felipe. Queria tanto vê-lo, mas não iria até o seu quarto, principalmente com os meus
patrões dormindo a poucos metros dali; nem, tampouco, o chamaria para o meu.

— Tão perto e ao mesmo tempo tão longe… — Bufei e lhe dei boa noite, dizendo
que tomaria um banho e capotaria por causa do cansaço.

Depositei o aparelho no criado-mudo e tirei minha roupa; entrei no meu banheiro e


liguei o chuveiro. Precisava de um bom banho para relaxar.

Assim que terminei, enrolei uma toalha no corpo, enquanto com a outra, enxugava
meus cabelos molhados. Sai do banheiro e me deparei com Felipe, seminu, deitado na
minha cama. Dei um pulo para trás.

— O que faz aqui?!

— Shhh… — Ele se levantou, com um dedo nos lábios, me pedindo silêncio. — Não
estava aguentando de saudades…

Estava lindo, usando somente aquela cueca boxer branca, que destacava ainda mais o
seu bronzeado. Ele se aproximou e segurou meu rosto por entre suas mãos.

— Me deitei mas não parava de pensar em você… — Roçou seus lábios nos meus. —
E nessa sua boca… — Levou suas mãos para a toalha, que segurava, e a soltou; fazendo-a
cair, amontoando-se ao redor dos meus pés. — E nesse seu corpo… que me deixou louco
de tanto de prazer… — Mordiscou meu maxilar, descendo para o meu pescoço.
— Recitando Vinicius de Moraes a essa hora? — questionei, o abraçando pela nuca.

— Vinícius é sempre bem-vindo a qualquer hora… — Sorriu e levou suas mãos até o
cos da sua cueca; a abaixou e seu membro saltou, livre e duro, na minha direção.
— Ah… — lambi meus lábios ao vê-lo daquele jeito — que saudade de você, Lipe…
— Pulei na sua direção e o beijei com furor.

Ele me segurou pelo quadril, girou e me deitou na cama.


— Então bora matar essa saudade… Hoje dormirei dentro de você…
E mais uma vez Felipe tomou minha boca; meu corpo e tudo o que havia em mim.


Abri os olhos e senti meu braço esquerdo dormente; cabelos irritavam meu nariz e
meu pau roçava a ereção matinal entre as bandas da bunda de Camila. Dormíamos de
conchinha. Então relembrei da intensa noite de sexo que tivemos e, como prometido,
dormi dentro dela. Sorri e o contraí, friccionando-o entre sua pele quente. Ela resmungou
algo e empinou a bunda. Busquei por seu rosto e vi que sorria. Segurei meu pau e o
encachei na sua boceta. Comecei um leve movimento de entra e sai, só com a cabecinha,
até que a senti molhada; então mergulhei para o seu interior.
— Você sempre acorda assim? — questionou sorrindo, se empinando ainda mais, me
dando livre acesso.

— Com você… qualquer hora é hora… — E intensifiquei as estocadas. Meu pau


escorregava para seu interior, extremamente molhado.
Mila se debruçou e eu a acompanhei, soquei, empinando aquela bunda gostosa. O
quarto já estava iluminado pela claridade do dia e vi seu cuzinho contraindo, a cada vez
que ela se movia na minha direção. O toquei com um dedo, o estimulando.
— Felipe… — gemeu, mas depois de alguns instantes, fugiu do meu toque. — Não…
nunca fiz anal…
Me debrucei nela e sussurrei no seu ouvido:
— Depois que nos casarmos — continuei metendo lentamente. — Comerei esse
cuzinho… — Ela gemeu alto e rebolou no meu pau. — E então você será toda minha… —
E voltei a fodê-la como gostava.
— Sim… — Senti sua boceta me apertar. — Sua por inteiro… — E gozou. Aumentei
a velocidade e deixei meu líquido fluir, deixando um rouco gemido escapar.

Depois de saciados, nos deitamos na cama e nos encaramos. Retirei o cabelo de seu
rosto e sorri, sem graça.

— Te adoro, Mila… Mas não me mata, okay? — Ela me fitou confusa. — Gozei
dentro de novo…

— Ontem tomei a pílula do dia seguinte… — disse ela e respirei aliviado, colocando
alguns dos meus dreads para trás. — Mas acho melhor procurar um meio contraceptivo
seguro, já que… — a fitei, curioso. — Já que tenho a intenção de transar todos os dias…

— Ah… mas não tenha dúvida disso… — E a puxei para mim.

— Espera… que horas são? — questionou, pegando o celular no criado-mudo, atrás


de nós. Então deu um grito e saltou por mim, indo em direção ao banheiro. — Felipe
estamos atrasados, já são 7:30 am!

— Ai caralho… — Me arrastei pela cama e vesti minha cueca, apressado. — Nos


vemos mais tarde?!

Andei na sua direção e lhe dei um selinho.

— Não esquece do nosso jantar hoje — disse, enquanto eu destrancava a porta do seu
quarto. — Espera! — gritou e eu parei. — Aonde você vai só de cueca?
— Ontem desci como estava deitado…

— Ai merda! — jogou uma toalha na minha direção. — Nunca mais faça isso.
— Ah… pois pode me esperar hoje à noite…
Saí correndo, enrolando a toalha no quadril. Parei na porta que dava para a cozinha e
ouvi o bater de louças. Soltei o ar e andei calmamente.
— Bom dia… — cumprimentei, acenando para as meninas que interromperam o que
faziam e me fitavam chocadas, com seus olhos esbugalhados. — Bom dia para todas…

Sai da cozinha e ao passar pela porta de vidro, vi meu pai e Rubens entrando no
escritório.
— O que faz de toalha aqui embaixo, Felipe? — bradou meu pai, com o cenho
fechado.

— Eu… — Apontei para trás e depois para a escada. Não sabia o que dizer. —
Preciso me arrumar, estou atrasado…

Passei por eles e o ouvi falar com Rubens.


— Que nada… eles se amam. Felipe se casará por amor…

Parei com o pé no primeiro degrau. Olhei para trás e sorri.

— Sim… nos amamos…

***

— Então será hoje à noite o jantar? — questionou João, arrumando seu prato na mesa
do restaurante.

— Vai se casar… por amor? — Diogo questionou com descrença e o fitei.

— Sim… e vocês entenderão quando a virem.

— Que bom para você, meu irmão. — João ergueu seu olhar. — Além de encontrar
uma esposa em menos de uma semana, se casará porque a ama — disse com ironia e
bufou. — Já eu…

— O certo era não nos casarmos e arranjarmos um jeito de tirar Rubens do circuito.
— E como faremos Diogo? — João o fitou exaltado. — Não aguento mais essa
mesma ladainha… O que sugere, matarmos ele?!

— Fala isso porque para você é fácil en… — retrucou, mas calou-se. De repente
empurrou seu prato e se levantou. — Querem saber… que se dane. Cansei dessa merda
toda! — Jogou o guardanapo de tecido com força sobre a mesa. — Façam o que quiserem,
só não me julguem, pois agirei da minha maneira.
— Ei… — Me levantei e o segurei pelo braço. — Você vai no jantar, não é? — Ele
retesou seu maxilar e me direcionou seu corriqueiro olhar glacial. — É importante para
mim.

— Não garanto. — Se desvencilhou do meu aperto e saiu abotoando seu blazer.

— Ele anda muito estranho — disse João e voltei a me sentar, de frente para ele. —
Aquela noite que fomos no apartamento dele, tinha acabado de chegar de carro. E ontem o
vi saindo da sala de Rubens, com um envelope. — João me olhou preocupado. — Ele não
me viu, estávamos sozinhos naquela hora.

— O que acha que era? — questionei curioso.


— Não sei, mas Diogo planeja alguma coisa.

Um arrepio tomou meu corpo e olhei para a direção de Diogo, caminhando com seu
jeito marcante. Podia ver a raiva exalando por seu semblante e postura.

Alisei o tecido floral que emoldurava meu corpo; ajustei o detalhe do vestido Evasê,
que acentuava a minha cintura, e sorri para o meu reflexo emocionada. Essa seria a noite
que mudaria, para sempre, a minha vida. Ajustei o fecho de uma das minhas sandálias
verdes, Open Toe, pois me incomodava, e retoquei meu brilho labial.
Soltei o ar categoricamente.

— Você está linda… — disse Bárbara, atrás de mim.


A agradeci tanto, porque desde a manhã, quando a busquei na rodoviária, ela me
ajudou e esteve ao meu lado todo tempo. Conversamos; trocamos confidencias e rimos
diante das poucas recordações que tínhamos. Barbara era cheia de vida, mesmo com
aquele seu jeito reservado, típico de quem mora no interior, era uma mulher decidida e
com personalidade forte. Acho que era uma característica das mulheres da nossa família.
— Estou tão nervosa… — disse, me virando na sua direção, e ela pegou as minhas
mãos.

— Se acalme, o cara que você ama está a poucos metros daqui, ansioso para te ver. —
Sorriu. — Vamos?
Anui e marchamos em direção da sala de estar, onde ouvia algumas vozes junto com
o elegante jazz de Stan Getz[10]. Apareci primeiro e algumas cabeças se voltaram para
mim. Não havia muita gente, realmente alguns parentes próximos da família Brusque,
Nathalia, dois amigos de Felipe, Rubens e Bárbara.

Felipe, que conversava com João, se virou e sorriu; apoiou sua taça na mesinha de
centro e caminhou na minha direção. Vestia uma calça branca, com uma camisa floral
verde. Ri, pela coincidência das estampas.

— Você está linda! — sussurrou ao parar na minha frente. — Viu como fomos feitos
um para o outro? Até nas cores concordamos… — Sorrimos e ele pegou na minha mão,
ficando sério. Tocou minha boca, levemente, enquanto a encarava de forma intensa. — Eu
amo quando usa esse brilho… deixa sua boca ainda mais sexy. — Minha respiração
ofegou e pisquei algumas vezes. — Amo seu cabelo… — Tocou em uma mecha,
acompanhando a curvatura do cacho que eu fizera. — Tudo em você é perfeito… — Meu
coração disparou. — Magrela… eu te a…

— Caralho Felipe, está de casamento marcado e fica azarando a Cami! — zombou


João, surgindo ao nosso lado. E o empurrando, parou na minha frente. — E aí, como está a
minha irmãzinha? — Beijou meu rosto e apertou minha bochecha. Revirei meus olhos,
pelo exagero. — Conhece a doida que aceitou se casar com esse daí?
— João… — Felipe intercedeu.

— Conheço — respondi com firmeza. — E soube que ela é… apaixonada por ele —
disse e fitei Felipe, que sorriu de forma muda.
— Só sendo louca mesmo… — Calou-se, encarando alguém atrás de mim. Virei-me e
encontrei Bárbara; ergui minha mão a chamando. — Quem é ela? — Sussurrou ele no pé
do meu ouvido, enquanto ela se aproximava.

— Minha prima — respondi, sem virar-me. E assim que ela chegou a apresentei. —
Bárbara, esse é João. — Apontei para ele, que a fitava inebriado.
— Prazer — cumprimentou-o timidamente.

— O prazer é todo meu… Bárbara… — E beijou, de forma lenta, a mão que ela lhe
oferecera.

— Este é Felipe — continuei, tocando no ombro dele.

— Camila, meu bem, venha até aqui. — Angela me chamou. — Faremos um brinde.

Assenti e virei-me para Bárbara.


— Tudo bem se te deixar com João? — questionei e depois que ela o fitou
discretamente, concordou. Virei-me para João e sussurrei para que somente ele me
ouvisse: — Se encostar nela, eu te capo… — Ele ergueu sua cabeça e me olhou com seus
incríveis olhos azuis arregalados. Forcei um sorriso para ele.

Voltei-me para Angela e dei um passo na sua direção. Felipe apoiou sua mão no
centro das minhas costas.

— Larga ela… — Ouvi o tapa que João lhe deu. — Já avisei que Camila é nossa
irmã.

— Sai fora, cara! — reclamou.

Continuei e Felipe voltou a sua mão em mim. Assim que parei ao lado de Angela, ela
beijou-me e depois do forte abraço, se virou para os demais convidados. O garçom me
entregou a taça com o espumante e sorri, o agradecendo.
— Meus amigos queridos, peço a atenção de todos — disse elevando sua voz e
batendo na sua taça de cristal. — Felipe fará um breve discurso. — Ele se moveu ao meu
lado e Angela sorriu, emocionada. Aproximou-se de nós e segredou: — Eu amo vocês,
meus filhos… — Meus olhos se embaçaram, nunca conseguiria retribuir todo aquele
carinho que ela dirigia para mim.
— Antes — intercedeu Bruno, caminhando até onde estávamos. — Quero
parabenizar a escolha do meu filho. — E sorriu para mim. — Não há mulher mais doce e
gentil… Estou muito feliz por tê-la em nossa família. — Virou para me abraçar e quando
me apertou nos braços, segredou: — Obrigada por aceitar esse desmiolado… Mas sei que
se amam e que ele moverá céus e montanhas para te fazer feliz, meu bem.

— Já me faz… — assumi, emocionada. E ele acarinhou meu rosto.


Depois se virou para Felipe e segredou algo, enquanto o abraçava. Seu filho arregalou
os olhos e se desconcertou, para então sorrir.

— Pode deixar… — disse emocionado e Bruno se afastou.


Felipe chacoalhou os braços e pegou sua taça; deu um passo para frente e me fitou
nervoso.


Estava nervoso. Pela segunda vez me desestabilizei e deixei a ansiedade tomar conta
de mim. Tinha ensaiado aquilo várias vezes na frente do espelho, mas simplesmente, ao
vê-la parada ao meu lado, travei.

Camila apoiou uma mão no meu ombro e sorriu, encorajando-me. Até nisso ela me
conhecia. Limpei minha garganta, virei o conteúdo da taça e sorri.
— Nossa… eu… — soltei o ar com força. — Ensaiei um poema, mas acho que
palavras vindas do coração será melhor. — Olhei para ela e sorri. — Antes de formalizar o
pedido, preciso contar que me apaixonei duas vezes nesta vida — Camila semicerrou seus
olhos — e ambas, pela mesma mulher. E foram três vezes me senti tão nervoso. A
primeira quando perdi a virgindade — Ouvi alguns risos — e as outras duas, foram diante
dessa mulher que escolhi ter ao meu lado. — Virei-me na sua direção e segurei sua mão.
— Camila, desde o nosso primeiro beijo, quer dizer…
— Eu te mato se contar — cochichou entredentes.

— Então… desde o nosso primeiro beijo, algo mudou em mim — continuei e fiquei
sério. — E então, como você disse, a vida nos afastou e acabamos trilhando caminhos
diferentes. Mesmo trabalhando tão perto, mantivemo-nos longe. Mas naquela manhã,
quando nos olhamos e nos reencontramos, senti a velha chama reacender. E bastou um
único contato entre os nossos lábios, para eu saber que era você, a mulher por quem eu me
apaixonei duas vezes nesta vida. — Busquei no meu bolso da calça, as alianças que
comprara em Ilha Bela. Olhei para meu amigo e dei o sinal. Eu e Você da banda Bicho de
Pé, começou a tocar na sala. — Camila, eu e você… é isso o que quero para o resto da
minha vida. — Mostrei as alianças de madeira e ela riu, bem como os demais convidados.
Me ajoelhei. — Eu te amo… — Levou a outra mão à boca e de seu olho escorreu uma
lágrima. — Você aceita se casar comigo?

Ela sorriu e limpou seu rosto. Me puxou, para que ficasse de pé, e segurou meu rosto
por entre suas mãos. Beijou meus lábios com suavidade e se afastou, me encarando. Este
foi o minuto mais longo da minha vida.

— Sim — respondeu e palmas surgiram ao nosso redor. — Nada me faria mais feliz,
do que dividir meus dias contigo.

Respirei aliviado e a abracei. Segurei-a pela cintura e começamos a dançar o xote que
tocava.

— Queria tê-lo dançado contigo naquela noite… — disse no pé do seu ouvido.

— Tudo acontece no tempo certo, meu amor… — Respondeu-me e afastei meu rosto
para fitá-la.

Vê-la sorrindo daquele jeito, me certificou que fizera a escolha certa. Camila será a
mulher mais feliz deste mundo, mesmo que custe a minha vida.

Ainda não acreditava no que me acontecia. Meu Deus, estava tudo perfeito. Depois
dos cumprimentos e de João ter dito algo para Felipe, que gargalhou. Fomos para o jardim
lateral, onde tínhamos organizados algumas mesas e cadeiras, para recepcionar os
convidados. O serviço de buffet logo começou a servir e jantamos felizes.
— Boa noite a todos. — A voz de Diogo soou acima de nós. Seu olhar percorreu por
todos da mesa e parou em nós dois. — Passei para desejar felicidades ao casal.
— Opá… — Felipe se levantou e andou até abraçar o irmão, que manteve a
expressão fechada. — Valeu meu irmão.

— Cadê as alianças? — questionou e Felipe lhe mostrou. Ele riu e pela primeira vez
contemplei um sorriso verdadeiro. — Alianças de coquinho?

— Qual o problema? — Felipe deu de ombros. — Não é um objeto que definirá o


nosso amor; isso aqui é apenas uma simbologia…

— Combina com suas sandálias couro! — O cortou, puxando Felipe para um abraço,
e beijou o alto de sua cabeça. Depois de bagunçar o coque, que soltou alguns rastas, virou-
se para mim. — Parabéns, Cami. Meu irmão é meio pancada da cabeça, mas é um homem
de bom coração — falou fitando-o. — Não poderia estar em melhor companhia. —
Acenou com a cabeça e sorriu.

— Obrigada, Diogo… — Apontei para a cadeira vazia, ao lado de Nathalia. — Sente-


se conosco.

Ele a fitou por alguns instantes e seu sorriso esvaiu-se.

— Agradeço mas tenho que ir… — Voltou-se para o irmão. — Tome cuidado… — O
fitou sério, deu dois tapas no ombro do Felipe e se afastou, seguindo para a direção da rua.

— Por que Diogo é sempre fechado assim? — questionei, ao vê-lo sumir.

— Cada um é do jeito que deve ser… — disse Felipe e voltou a se sentar ao meu
lado. — Como seria o mundo se todos fôssemos iguais? — Piscou e beijou minha mão.

Sim… ele tinha razão. É a peculiaridade de cada um que nos faz escolher quem
queremos ter ao nosso lado.
— Você viu Bárbara? — questionei, procurando-a.

— Está com João — respondeu levando uma garfada à boca. — Disse que mostraria
algo para ela. — Então arregalou os olhos e conferiu as horas no seu relógio de pulso. —
Aí caralho… quase me esqueci! — Se levantou e começou a chamar os convidados, para
que o acompanhasse. — Vem, meu amor… está quase na hora.
Me levantei e contornamos a casa, parando na frente, onde tinha algumas girandolas
de fogos. Os convidados ficaram ao nosso redor e Felipe deu sinal para Henrique, o outro
amigo que também usava dreads, aliás, eram bem parecidos. Então começou a contar de
forma regressiva.
— 10… 9… 8… — Vislumbrei o lindo sorriso de Felipe, contando animado. — 7…
6… 5… — Vi quando o senhor Bruno parou ao meu lado, junto com Angela, ambos
estavam felizes e sorridentes. — 3… 2… 1!

E os fogos iniciaram, vários deles, de diversas cores e formatos. Foram longos


minutos e o último deles fora o de formato de coração. Felipe me ergueu pela cintura e me
beijou apaixonadamente.

— Fogos servem para espantar a negatividade. E como iniciaremos um novo ciclo


juntos, queria que fosse marcado por uma nova energia. — Segurei seu rosto e o beijei de
forma apaixonada. — Eu te amo, Magrela… E não vejo a hora de dar o seu presente…
Sorria feliz, Felipe acabou de falar que me amava! Tudo estava tão perfeito, como
nunca imaginei que pudesse ser. Ele me apoiou no chão e foi abraçar os amigos, que
gritavam enquanto pulavam juntos.

Foi então que sons de pneus cantando surgiram na esquina. Felipe parou com os
braços abertos, com um amigo de cada lado. A cena pareceu passar em câmera lenta
quando o cano da arma surgiu pela janela do passageiro do carro, mirando neles.

— Cuidado! — gritei e me soltei do abraço de Angela.

Bruno virou e correu na direção do filho. Rubens, que estava próximo dos meninos,
apertou o ombro de Felipe, o puxando, e ouvirmos os vários disparos.

— Filho! — Bruno se jogou na frente dele.

Os convidados corriam, cada um para uma direção.

— Bruno! Felipe…! — Angela gritou, se apoiando em João.


Os dois caíram no gramado, bem como Rubens e Henrique, um dos amigos de Felipe.
— Não! — gritei e corri na sua direção.

O carro saiu em disparada, cantando pneus. Depois de alguns segundos, surgiu o


carro da ronda noturna o perseguindo.
Assim que me abaixei diante deles, vi sangue. Muito sangue. Toquei no peito de
Felipe e fitei minhas mãos, tingidas por uma coloração vermelho-vivo.
— Chamem uma ambulância! — Uivei. — Temos que levá-los para um hospital
agora mesmo! — gritei indo em direção à Bruno, que gemia. — Corre! Alguém…

Então João me tirou de cima deles, me afastando e me levando para dentro da casa.
— Não! — berrei, fazendo minha garganta arder, enquanto me debatia para ficar ao
lado de Felipe, que estava desacordado. — Tenho que levá-los…

— Se acalme! — João segurou meu rosto, para que o visse, já que continuei a gritar e
tentava me soltar do seu aperto. — Olhe para mim! — gritou e o enxerguei. — Se acalme,
pelo amor de Deus… pela minha mãe… ela está em choque! Todos estamos! — Ele falava
com lágrimas nos olhos. — Já chamamos a ambulância do condomínio; e a polícia já está
a caminho.

— E-eu… vou com Felipe… — gaguejei. Meu corpo tremia descontroladamente.


Minhas mãos estavam geladas e minhas pernas vacilaram.
— O que houve?! — gritou Diogo, descendo do seu carro, que parara na frente da
casa, e vindo na nossa direção.

— Foi você, não é?! — bradou João, o empurrando pelo peito.

— Eu o quê? — bradou, afastando João. — Está louco!?

— Você queria matar Rubens! — Gritou para o advogado, que se sentou, segurando o
ombro baleado.

Ouvi a sirene e vi a ambulância parar em frente à casa. Desceram os paramédicos e


iniciaram o atendimento. Logo outras surgiram, bem como a polícia.

— Você está louco?! Jamais faria uma coisa dessas!

— Chega!!! — Angela gritou atrás de nós e nos viramos. — Não é hora para
julgamentos e sim para socorrê-los… — E levou uma mão à cabeça.

Corri para o seu lado e a ajudei a se sentar.


— Fique calma, Angel… Eles serão socorridos e sairão dessa… — disse, mais para
mim do que para ela.

— Eu fico com ela… — Bárbara se agachou na frente de Angel, com um copo de


água. — Pode ir com ele…
A agradeci, beijei o alto da cabeça de Angela e andei para perto da maca, que Felipe
era colocado. Arregalei meus olhos e levei às mãos na boca, ao vê-lo tremer por inteiro.
— Não! — Tentei correr para entrar com eles na Ambulância, mas ela partiu em
disparada. — Meu amor…! — gritei.

— Camila! — João me segurou mas não vi mais nada.


Fui levada pela escuridão.


Acordei com uma forte claridade e com Nathalia cochilando na cadeira ao meu lado.
Pisquei algumas vezes e ergui minha mão para coçar os olhos, então percebi o acesso na
minha mão. Ergui meu olhar e fitei a bolsa de soro acima da minha cabeça. Me mexi na
cama e Nati despertou.

— Acordou… como você está se sentindo? — questionou preocupada.


Engoli em seco e senti-me letárgica.

— Sonolenta… — Fitei-a. — Felipe… preciso saber…


— Calma… — disse com doçura e me acarinhou os cabelos. — João está com ele.

— Mas quero saber o que está acontecendo… O senhor Bruno…


— Ele está bem — interrompeu-me. — Já está no quarto e fora de perigo.

— Por que estou aqui? — inquiri, olhando para os lados.


— Sente-se melhor? — questionou-me uma mulher com jaleco branco, parada nos
pés da cama hospitalar. A fitei confusa. — Sou Andrea, a médica de plantão. Você estava
em choque e ministrei um calmante, a pedido da família — explicou.

— Estou com sono, meu corpo está mole… — respondi, com um gosto amargo na
boca. — Quero ver Felipe, saber como está.
— Continua em cirurgia. — Andou até mim e mexeu no controle do soro. — Deixe-
me avaliá-la. — E depois de me examinar, sorriu. — Pedirei para tirarem o seu acesso e
você poderá vê-lo. — Virou-se para Nathalia. — Só peço que a acompanhe, pois ainda
está sob o efeito do calmante.

Minha amiga assentiu e sorriu, apertando a minha mão. Agradeci e a médica saiu.

— Viu… Felipe já está sendo socorrido.

Meu peito se apertou e mesmo sob o efeito do calmante, senti uma agitação interna;
medo de que algo de ruim lhe acontecesse.

***


Andava, abraçada à Nathalia. Assim que dobramos para o corredor, que dava para a
sala de espera, avistamos Diogo; encostado na parede, com as mãos dentro do bolso de sua
calça; estava com a expressão dura; preocupado. Assim que nos viu se empertigou e veio
na nossa direção.

— Cami… — Buscou pelo meu olhar. — Como você está, querida? — Sua voz
denotava aflição e preocupação.
— Felipe…
— Continua na sala de cirurgia. — Soltou o ar dos pulmões e mexeu na sua testa,
apertando seus cabelos, que já estavam bagunçados fora do seu corriqueiro penteado.
Fechou os olhos brevemente e mordeu seu dedão, com a mão fechada em punho.
— Me conte — pedi, apreensiva.

— Ele levou dos tiros: um no peito, que o atravessou e saiu, e o outro que se alojou
na nuca — relatou e comecei a chorar.
— Calma, Cami… — Nathalia me abraçou e fechei os olhos. — Ainda está na
cirurgia e vamos torcer para que saia dessa.

Ergui minha cabeça e encarei Diogo, que vacilou com seu firme olhar.
— Ainda não sabemos se ficará com alguma sequela… — relatou e soltou o ar com
força. — O médico disse que retornaria com mais notícia sobre o seu quadro, mas… —
Ergueu suas mãos. — Continuamos à sua espera.
— Cami! — gritou João e me desvencilhei de Nathalia e corri para a sua direção.

Ele me apertou forte e chorou junto comigo. Depois de alguns minutos nos
afastamos.

— Será que ficará com sequela?


— Não sabemos, Cami… — João soprou o ar dos pulmões, com as mãos apoiadas na
cintura. — Pelo o que o médico relatou, se ela atingir… uma vértebra lá — franziu o
cenho —, não me lembro qual, ou a medula; ele poderá ficar… — E voltou a chorar.

— Não… — Levei minha mão à boca e não enxerguei mais nada, lágrimas
embaçaram a minha visão e me entreguei ao choro.

— Calma… — Ele me abraçou e me aninhei a ele. — Vamos torcer para que não
tenha atingido nada e que aquele folgado saia dessa.

Sorri em meio ao soluço, mas a verdade é que estava acabada. Se algo acontecesse à
Felipe eu não suportaria. Ouvi passos e João me soltou. Diogo me trazia um copo de água.
Aceitei e agradeci a gentileza. Eles se entreolharam e senti uma forte tensão entre eles.
Diogo voltou para o lado de Nathalia, mas manteve-se afastado dela, sentou-se na cadeira
da frente.

— O que houve? — questionei para João, que ainda olhava para o irmão com a cara
fechada.

— Tenho certeza que Diogo tem alguma coisa a ver com tudo o que aconteceu… —
sussurrou e o fiz se virar para mim. — Peguei ele saindo da sala de Rubens, que também
levou um tiro, mas passa bem.
— Mas o que isso tem a ver? — inquiri.

— Diogo vinha falando que tínhamos que nos livrar de Rubens, para não precisarmos
nos casar — revelou e me surpreendi. — E uma vez sugeriu que o matássemos.
— Mas João — olhei para Diogo, que estava com a cabeça apoiada na parede e
fitando o teto —, não acho que ele colocaria em risco a vida de sua família. Veja como ele
está… acabado!
— Pode ser fingimento. — João me fitou. — Não se esqueça que ele teve aquele
transtorno e tinha perdido a empatia… Vai saber se realmente se curou.

Sugeriu e o olhamos novamente. Nathalia lhe entregava um copo de café e ele a


agradeceu com o velho e conhecido semblante fechado.

***

Ouvi passos vacilantes, seguidos de uma abafada batida ritmada. Assim que me
levantei da cadeira, vi Angela entrar no espaço da sala de espera.

— Cami… — disse e corri para abraçá-la. — Eu já soube de tudo. Felipe és guri


forte, mamou até os dois anos…

— Quer dizer, até semana passada, né mãe. — Provocou João e sorrimos.

— Tenho certeza que sairá dessa — concluiu.

— Eu também, Angel… — Apertei sua mão e a conduzi para a cadeira. — Deus não
me tiraria ele, não depois de me dar a felicidade de sua companhia…

Naquele momento saiu por entre as portas da emergência o médico, vestido com
roupas azuis, toucas e protetores nos pés.

— Responsável por Felipe Brusque — chamou.


Corremos e paramos na sua frente..

— Aqui doutor! — João fora quem chegou primeiro


Ele se aproximou e fizemos um semicírculo ao seu redor.

— A bala não alcançou nenhuma vértebra, nem a medula — explicou e suspiramos


aliviadas. — Conseguimos retirar o projétil, mas ele teve uma forte hemorragia. Ficará em
observação alguns dias e depois refaremos alguns exames, para nos certificarmos que
realmente ficará bem.
— Podemos vê-los? — indagou Angela aflita.

— Não, ainda está sedado e em observação.


— Ficará na UTI? — perguntou João concentrado.
— Sim…

— Quantos dias? — insistiu.

— Dependerá da sua recuperação… — O médico gesticulou com as mãos. — Não


temos como saber.

— Ele ficará com alguma sequela? — questionou Diogo, com sua gélida voz.

Todos nos viramos para ele, que acompanhava o relato um pouco afastado de nós.

— Não… — O doutor piscou algumas vezes. — Quer dizer, não temos como
garantir. Mas pelo que observamos na cirurgia… ele possui boas chances de não ficar. Mas
volto a dizer, não tenho como garantir nada — respondeu e começou a se afastar. — Se
me dão licença.

— Doutor! — O chamei e ele se virou para mim. — Obrigada por salvar o meu
noivo.

Nos encaramos por alguns segundos.

— Exerço essa profissão para isso, senhora. — Ergueu um dos cantos da boca, em
um meio sorriso, e nos deixou.

Nos fitamos aliviados e nos abraçamos. Ergui minha cabeça e vi Diogo se afastar,
evitando o nosso contato.

— Vamos contar a boa nova para o teu pai! — sugeriu Angela e caminhamos para o
quarto que ele ocupava.
Fitei a porta atrás de mim, que ainda balançava pela recente passagem do médico. Eu
te amo, meu amor… e em breve estaremos juntos.

***


Depois de nos certificamos que Bruno estava bem, contamos sobre Felipe.

— Tem certeza de que ele não ficará com sequela? — questionou fazendo uma careta
pois tentou se mexer na cama.
— O senhor está bem? — questionei preocupada.

— Sim… o tiro pegou de raspão nas costelas, mas estou bem. — Se acomodou e
suspirou. — Quando me mexo dói. E então?
— Segundo o médico, não — respondeu Angela. — A bala não pegou nenhuma
vértebra ou a medula.
— Graças a Deus! — Ergueu sua mão direita, já que a esquerda estava enfaixada,
apoiada no seu tronco.
Ouvimos batidas na porta e Rubens entrou mancando e com o braço direito
enfaixado.
— Boa noite… — Nos cumprimentou e se aproximou da cama. — Que bom que saiu
ileso. — E com sua mão esquerda, tocou no ombro de Bruno.
— Nem me fale, Rubens… Se não fosse por você, meu amigo, Felipe teria recebido
mais tiros. — Sorriu mudo e acenou com sua cabeça. — Obrigado, você salvou meu filho.

— Faria tudo de novo, Bruno. — Deu alguns fracos tapas no ombro do amigo. —
Tenho um grande carinho por eles… — Seu celular apitou e ele se afastou para responder
a mensagem.

Rubens era um homem bem apessoado, deveria ter pouco mais de 50 anos. Alto, com
cabelos grisalhos e cavanhaque.

— O tenente da polícia está aqui — disse João, abrindo a porta e dando passagem
para os dois policiais entrarem.
— Bom… — disse Angela, que deu um beijo no marido e com minha ajuda, andou
na direção da porta. — Os deixarei à vontade. — Segurou a minha mão e me puxou com
ela. — Venha, minha filha, te darei algo para comer.

Os deixamos no quarto e saímos. Antes de passar pela porta, vi quando Rubens


voltou a se aproximar de João e Bruno, com o semblante tenso.
— Senhor Brusque, preciso que me relate o que aconteceu… — fechei a porta.

Semicerrei meus olhos pensando na grande desgraça que poderia ter acontecido; em
quantas pessoas poderiam ter morrido. Foi então que me lembrei do amigo de Felipe.
— Angel… sabe sobre o Henrique, o amigo de Lipe?

Ela baixou o seu olhar.


— Infelizmente faleceu. Ele recebeu a maioria dos tiros e morreu na hora.

— Oh meu Deus…

— Sim… uma pena não ter tido a mesma sorte dos demais.

A maioria dos tiros… que estranho essa ação, está parecendo mais uma execução.
Então lembrei-me de João, gritando com Diogo, o acusando de ter planejado tudo pois
queria tirar Rubens do caminho. Será…?


Abri meus olhos lentamente, a fraca luz do ambiente me incomodou e pisquei para
acostumar minha visão. Minha garganta estava seca, umedeci meus lábios e engoli a
espessa saliva. Tentei mover minha cabeça, mas sentia uma pressão forte na nuca, com
uma dor latejante. Meus ombros e costas doíam; bem como puxar o ar. Olhei ao meu
redor, até onde conseguia sem ter que mexer a cabeça, e percebi que estava na UTI. A
reconheci pois já estive internado por causa de uma infecção de urina, que subira para o
canal do rim.
Ouvi somente o monitoramento dos meus sinais. Silêncio na UTI, não era normal…
Ai caralho, só falta eu ter morrido…

Então mexi meus pés e os vi se moverem sob o lençol. Okay. As mãos. Okay. Ergui
um braço e depois o outro. Okay. Arregalei meus olhos e ergui o lençol, vi meu pau e o
contrai. Ufa… está tudo certo!
— Felipe?! — Ouvi sua voz ao meu lado direito e logo depois surgiu seu rosto,
amassado pelo recém-despertar. — Meu amor… — Camila se aproximou e segurou na
minha mão, eu a apertei, e ela sorriu. — Você… está bem?
— Só uma dor na cabeça, nas costas e nuca.
— Mas… do resto… — Ela olhou para o restante do meu corpo. — Sente tudo?
A fitei confuso.

— Ué… por que não sentiria?

Ela se aproximou e beijou minha bochecha.

— Deixe-me testar… — Tocou meus ombros e resmunguei. — Aqui já notei que sim.
— Apertou meu peito e tossi, fazendo uma careta. — Aqui também.

Ela conferiu cada parte minha e suspirava aliviada.

— Falta a mais importante, Mila — disse e ela me fitou assustada. — Meu pau… não
estou sentindo-o.

— Mas…

— Falo sério… — Então, olhando para os lados, levou sua mão até ele e o envolveu.
Apertou e o contrai, abrindo meu sorriso de lado. — Oh delícia, mulher…

— Felipe!

Reclamou e a puxei, pela mão.

— Estou inteiro para você, meu amor.

Ela me encarou emocionada e me deu um beijo casto, com suavidade.


— Você está proibido de morrer. Entendeu?! — exigiu com o dedo em riste.

— Só morrerei se for de amor…

— Nem assim! — E sorriu, me acarinhando. — Se você morrer… vou atrás de você e


te mato!

15 dias depois

— Mas Angel, não posso aceitar uma coisas dessas — protestei.

— Bah… claro que pode — retrucou. — É presente, e presente não se recusa. É falta
de educação.

— Sei disso… — baixei meu olhar para o vestido que reluzia diante da elegante luz
do provador. — Mas este é… caríssimo.

— E daí, graças ao meu bom marido, temos dinheiro.

— Mesmo assim, meu amor… — Sai do tablado central e me abaixei, para lhe fitar
de perto. — É um vestido muito caro para quem será apenas a noiva em uma quadrilha.

— Não me importo.

E fez bico, ficando nervosa.

— Por que não façamos assim: me deixa provar aquele — apontei para o que tinha
escolhido primeiro —, e se ele ficar bonito, aceito que o me dê de presente.

Ela alternou seu olhar do que eu vestia para o que estava pendurado na nossa frente.

— Mas aquele é tão… — fez uma careta — tão… simples.

— Gosto de simplicidade, Angel. — Sorri e aguardei.

— Okay… — disse contrariada. — Mas se ficar feio em você, ficaremos com este.

— Fechado! — Beijei sua face e autorizei a vendedora a desabotoar os infindáveis


botões.


Já era noite quando meu pai entrou na minha sala e bateu na madeira do batente.
— Posso entrar?

Olhei por cima do ombro, rapidamente.

— Claro… — disse, voltando minha atenção para a grama que colava.

— Ficará até tarde? — questionou, parando ao meu lado direito. — Sabe das
recomendações.

— Já estou terminando e não me esforcei. Aqueles dias no hospital, me atrasam. — O


fitei, dividindo minha atenção com o que fazia. — O que foi, por que está me olhando
assim?

Ele nada respondeu, andou até mim e me apertou em um torto abraço. Senti o
chacoalhar do seu corpo, por causa do choro.

— Ei… — Larguei o que fazia e passei meu braço direito por cima dele, o puxando
para meus braços. — O que foi pai?

— Você tem noção que quase o perdi… — disse entre o choro contido. — Você
poderia ter morrido e… o que seria da minha vida sem um de vocês?!
— Mas não perdeu; estou aqui, vivinho da Silva. — O apertei contra mim. —
Prometo nunca morrer!
Ele sorriu em meio às lágrimas.

— Me diz que não andou tomando nenhum elixir que o fez imortal?!

Rimos alto.

— Juro que só dei um gole!


Ele bagunçou meus cabelos, soltando alguns rastas do meu coque.

— Eu te amo, moleque… E minha vida seria um tédio sem você por perto.
— Por falar nisso… — comecei e ele me fitou sério. — Andei conversando com a
Magrela e…

— Não… — Virou as costas e começou a andar em direção da porta. — Nem pensem


nisso!
— Mas pai… queremos o nosso canto! — O segui pelo corredor. — Sabe como é a
vida de recém-casado… — Semicerrei um olho. — Quer dizer, você sabe, né? Você e
minha mãe se pegavam… — Ela parou e virou com a cara fechada. Ergui minhas mãos.
— Okay… okay… não falaremos sobre a sua intimidade. — Ele apertou o botão do
elevador e o aguardou. — Poxa pai… quero pegar a minha mulher na bancada da pia…

— Felipe!

— No chão da sala… na escada… sacada. Sei lá… pendurados no lustre…

— Chega! — bradou. — Não se esqueça que Camila será a sua esposa e eu a tenho
como uma filha!

— Mas você me entendeu, não é? — insisti e o elevador chegou.

Meu pai parou, segurando as portas, e soltou o ar com força.


— Não — respondeu. — Eu e sua mãe não permitiremos que nos deixem. — Abri
minha boca para argumentar, mas ele nem me deixou falar. — Já dei a nossa resposta. Saio
daqui 20 minutos, esteja pronto pois voltaremos juntos. — E as portas se fecharam.

— Merda! — Soquei o ar e senti uma pontada nas costas e na nuca. — Camila me


matará…

***

Depois de Camila quase ter me matado por não ter consigo convencer meu pai, e de
termos feito amor de reconciliação, conversávamos, enquanto eu fazia carinho nas suas
costas nua.
— Mila posso te fazer uma pergunta? — Ela concordou e joguei para fora o que me
incomodava. — Você disse que amava o tal carinha do passado. — Aquelas palavras
queimaram a minha garganta. Ela se apoiou no meu peito e me fitou. — Você ainda sente
alguma coisa por esse… babaca?!

Mila me fitou e gargalhou. Eu aguardei passar a crise de riso, com o semblante sério.
Depois dizem que nós é que somos estranhos.
Ela se sentou e apoiei minhas costas na cabeceira estofada, da minha cama.

— Presta atenção: diferente de você, me apaixonei somente uma vez.


A fitei sem entender. Por que mulher floreia e não vai direto ao assunto?
— Felipe… só fui apaixonada por uma única pessoa nesta vida: você!

— Está me dizendo…

— Que você é o único dono do meu coração — completou ela.

Sorri abertamente. Não negaria que me meu ego inflou. Mas daí me surgiu uma outra
dúvida.

— Caralho… e por que não me disse antes?

— Mas eu falei…
— Quando? — A olhei de soslaio.

— No café da manhã, na praia… — Busquei na mente e não lembrei de ter-me dito


aquilo. — Aí, Felipe… Quando disse que amava alguém do passado… e que o via quase
todos os dias, era de você que falava.

— Puta que pariu, Mila… — Ergui minhas mãos. — Deveria ter falado de uma vez e
não ficar florindo… — Ela riu, enquanto bufava. Foi então que raciocinei sobre aquilo. —
E se era apaixonada, por que então você se afastou de mim?

Ela se fechou e seu semblante tensionou. Abraçou-se às pernas e me aproximei.

— Depois do nosso beijo… — iniciou. — Fiquei morrendo de vergonha. — Baixou


sua cabeça.

— Ei… não sabemos como agir no primeiro beijo… por mais que treinamos. A boca
é completamente diferente de uma manga.

— Manga?
— Você nunca treinou na manga? — Ela negou. — Ahh… tá explicado então… —
Me fitou confusa. — Vai, continua.

— Quando minha mãe me entregou o recado que tinha me mandado… — Forcei


minha mente. — O que me pedia para tentar de novo… — Me lembrei. — Então tivemos
uma conversa e… decidi te evitar. Só que os dias se passaram e eu não conseguia te
esquecer. — Ela puxou o ar e continuou. — Então no fim de semana em que os nossos
pais foram para Ilha Bela, resolvi te procurar. Subi até o seu quarto e bati, só que a porta
abriu e entrei. — Calou-se.

— O que você viu?


Ela fechou seus olhos e se controlou para não chorar.
— Te peguei transando com uma mulher; estava montada em você…

Vi seus olhos se encherem de lágrimas.

— Mila… — A abracei. — Não me recordo disso. — A apertei em meus braços,


enquanto forçava minha memória. — Se lembra exatamente de quando foi?

— Estávamos nas férias de Julho — respondeu entre os soluços.

— Estranho, porque depois do nosso beijo, me recordo que fui para a praia junto com
o Henrique e uns colegas…

Ela se afastou e me fitou confusa.

— Mas eu vi…

— Você me viu aqui? — questionei firme. — Porque transei pela primeira vez, muito
tempo depois. — Ela me fitou curiosa e confessei: — Eu esperava que você quisesse
repetir a experiência e quem sabe…

— Você queria tirar a minha virgindade? — Se afastou.

Eu a puxei e a prendi pela nuca.

— Será que você não entendeu que eu quero você só para mim? — Fitei no fundo de
seus olhos azuis, que estavam com a pupila dilatada. — Sempre quis… — A deitei contra
o colchão e fiquei em cima dela. Meu pau despertou e abri suas pernas e o esfreguei nela.
— Aliás… — Mordi meu lábio inferior. — Você ainda tem um cabaço… — Rocei meus
lábios no dela e me afastei. Desci minha mão pela sua lateral e apertei sua bunda. — Que
tirarei em breve. — Toquei-o, levemente, e ela sorriu.
— Sim… — sussurrou, já respirando com dificuldade, e remexeu seu quadril para
mim.

— Depois do casamento você sabe que será toda minha, não é? — Meu pau
endureceu e friccionei ele contra seus lábios. Depois posicionei a cabeça e a penetrei
fundo. Estoquei a cada palavra: — Você… é… só… minha!

— Sim… — Ela me puxou e beijou minha boca com desejo. — Sempre fui… —
Ergueu seu quadril, movendo-se na minha direção em mim. — Eu te amo…
Sorri e meti. Agora sim era um homem feliz.


— Tem certeza de que ela não suspeitou de nada? — questionei. Andava de um lado
para o outro do meu closet, enquanto coçava minha barba rala. — Ontem mesmo a enrolei
sobre a data; disse que queria me casar na praia e que isso levaria algum tempo para
organizar.

— Fica tranquilo, cara! — João me parou na sua frente e terminou de me ajudar com
a gravata vermelha xadrez. — Bárbara está com ela.

E o que isso tinha a ver? Aliás, como João sabia disso?


— Vocês… — Semicerrei um olho.
— Quem me dera… — Repuxou a boca para o lado. — Aquela dali é dura na queda.

— Nem um beijo? — O fitei de soslaio.


João não conseguir seduzir uma mulher era novidade para mim.

— Bárbara é diferente — explicou, terminando o nó. — É reservada e de


temperamento forte. Mas ao mesmo tempo, possuiu uma delicadeza… uma pureza
genuína, sabe?
— Camila diz te capar se encostar nela — reforcei. — E meu irmão, não queira vê-la
com raiva.
— E já não vi! — Fez uma careta, soltou-me e sorriu. — É isso aí… está pronto para
se casar. — Apoiou sua mão no meu ombro e o apertou. — Te desejo toda a felicidade
deste mundo, mano. Vocês formam um belo casal. — E me puxou para um abraço, dando-
me um forte tapa nas costas. João era um desses caras que fazem questão de exibir o corpo
malhado e a força que tem.
Ouvi a porta se abrir e vi Diogo passar por ela. Assim que nos avistou, parou no
lugar, sem jeito.

— Mano! — O saudei e João me soltou. Virou-se e o fitou com o semblante fechado.


— Não sabia que já tinha ajuda — falou e se aproximou do meu gaveteiro central. —
Isto é para você e Camila… — Apoiou uma pequena caixa, embalada em um azul
marinho, com um elegante laço cinza. — É meu presente de casamento, tenho certeza que
não… pensou nisso. — E apontou para a caixa.

Mexendo na sua jaqueta, de couro marrom, ergueu um mão e acenou sem jeito.

— Espera! — O chamei e ele parou, pois já andava em direção da porta. Percorri meu
closet e o abracei. Diogo fora pego de surpresa e ergueu seus braços; depois de alguns
instantes os envolveu em mim. — Eu te amo, cara. — Levantei minha cabeça e sorri. —
Sou muito sortudo por ter vocês dois. — Olhei para João e voltei para ele.
Diogo, sem graça, agradeceu com um sorriu mudo.

— Eu… — limpou sua garganta e piscou algumas vezes. — Espero que nunca mais
nos dê um susto como o que pôs a sua vida em risco… — E apertou meu ombro.
Ele me amava, apenas não conseguia externar seus sentimentos. Soube que ficou
preocupado e mesmo não podendo receber visitas naquele momento pós-cirurgia, dormiu
na sala de espera e só saiu do hospital depois que conferiu que eu estava bem.

— Vem João… — chamei.


Já era hora de fazerem as pazes.

— Não… — Diogo se remexeu e se afastou do meu abraço. — Melhor respeitarmos


o espaço um do outro. Joao tem suas dúvidas e eu…
— Me desculpa — disse nosso irmão, vencendo o espaço entre nós. — Te acusei de
algo muito grave — continuou. — Me perdoe. Sei que você não teria coragem de matar
ninguém; principalmente em uma noite festiva como aquela, onde nossos parentes
estariam presentes. — João tocou o ombro de Diogo e sorriu. — Me perdoe.
— Estávamos sob a influência do stress e do medo de perdermos nossos… — Diogo
calou-se e tive a certeza que sua voz embargou, mas como era durão, negaria. Abriu um
sorriso mudo para nós dois e depois se virou para mim. — Está pronto? Nosso pai pediu
para te chamar pois logo iniciarão a quadrilha.

— Já… só preciso de um pequeno detalhe — disse e eles me fitaram curiosos. Apoiei


uma mão, no ombro de cada um. — Que nunca mais, um suspeite do outro novamente. —
Alternei meu olhar entre os dois. E eles assentiram. — Agora sim… um abraço de irmãos.

Reclamaram, mas depois de alguns instantes, nos juntamos em um abraço apertado.


Assim que nos soltamos, sorri abertamente. Estava muito feliz.

— Cara… você está muito feio! — disse Diogo e os dois caíram na gargalhada.

— Se eu fosse Camila, fugiria enquanto há tempo!

Mostrei o dedo do meio para eles. Voltei até o espelho, coloquei o chapéu de palha e
sorri. Nos viramos para sair do closet.

— O presente, Felipe, precisará dele! — Lembrou Diogo sem se virar.

O peguei em cima do móvel e os segui.

***

Chegamos no espaçoso gramado na lateral da casa. Mesas estavam dispostas,


decoradas conforme o tema. No centro, havia a pista de dança, com o altar na sua frente;
diversas bandeirinhas alegravam o espaço, bem como alguns bonecos de espantalhos,
recheados com palhas; em um outro canto, muitos blocos de palhas prensadas. Camila
pensou em tudo, até nas bancas de comidas, bebidas; a pescaria, derruba latas e a barraca
do beijo.

Olhei para João de forma sugestiva.


— Acha que daria certo? — questionou.

— Camila não poderia brigar…


— Isso vai dar merda. — Diogo disse atrás de nós. Mas sua cabeça virou para a
direita, acompanhando alguém, que vinha de dentro da casa.

— Boa ideia, mano… — João sorriu animado e saiu apressado para a direção da
barraca.

— Felipe… — Ouvi me chamarem e me virei. Rubens, de mãos dadas a uma bela


morena, esticava a sua mão. — Como está?

Estiquei a minha e o cumprimentei.


— Bem, obrigado. E você? — Notei que ainda usava uma tipoia.

— O tiro trincou o osso e ainda usarei isso por alguns dias — explicou. Alternou seu
olhar para Diogo, que estava colado em mim. — Diogo, como vai? — Não obteve
resposta e ficou desconsertado. — Bom, deixe-me procurar por sua mão e parabenizá-la.
Com licença.

— O que foi? — questionei sem entender aquele olhar raivoso que Diogo lhe dirigia.

— Vamos procurar por nosso pai — sussurrou, tensionando seu maxilar.


Voltei a andar por entre os convidados e vi alguns pares dançando ao som de Luiz
Gonzaga, rebolei, curtindo o som de Xamêgo, e deixei que Diogo continuasse em sua
busca pelo nosso pai.

— Felipe… — Chamaram-me. Virei e me deparei com Nathalia vestida de caipira e


tranças nas suas laterais da cabeça. Sorri e ela gargalhou, levando uma mão à boca. —
Você está horrível!
— Tô chique que só, uai… Simbora forrozear?! — A puxei e iniciamos os passos do
forró.

No meio da dança percebi que Diogo nos olhava com o semblante fechado. Nathalia
ria, jogando a cabeça para cima, e quando voltou seu olhar na sua direção, encabulou-se.
— Aconteceu alguma coisa? — sondei.

— Esqueço que seu irmão não gosta que eu misture as coisas — revelou e a girei,
fugindo do ângulo do olhar de Diogo. — Ele acha que, como sua secretária, devo manter a
postura e o profissionalismo.
Abri os braços, a levando para o passo lateral.

— Mas você está apenas dançando.


— Mesmo assim. — O fitou por cima dos ombros. — Se pararmos para analisar, você
é irmão dele e filho do meu patrão, então… ele está certo.

— Desencana… — A girei e a trouxe para o meu lado. — Hoje você é convidada da


noiva, está aqui como sua amiga e não como a secretária do ranzinza de Diogo.

Ficou em silêncio por alguns instantes, como se refletisse sobre aquilo.


— Quer saber? — Ela semicerrou seu olhos. — Tem razão… — Abriu um enorme
sorriso. — Bora forrozear!
— Bora!

Dançamos duas músicas e então avistei meus pais. O Dj anunciou que a barraca do
beijo fora aberta e que João já estava à postos.

— Camila o matará… — sussurrei.

— Por que, o que João fez?

— Nada. — respondi e ela franziu o cenho. — Mas fará…

Minha mãe fez o sinal e, a agradecendo pela dança, soltei Nathalia. Me virei para
onde meu pai apontava e deslumbrei a segunda visão que nomearia como espetacular — a
primeira fora quando a vi nua. Camila andava por entre os convidados com um vestido
branco rendado e justo. Ela se virou para abraçar Nathalia e vi que ele mostrava quase
toda as suas costas.

Nossos olhares se encontraram e ela sorriu alegremente. Correu na minha direção,


levantando a barra da vestido, com um mão. Mas parou e retornou para pegar um arranjo
de flores azuis, que caíra da sua cabeça.
— Meu amor! — Me beijou. Então escancarei um sorriso e ela riu alto. — Você
está… lindo! — Ajeitou o arranjo de volta na cabeça.
— Linda é você… — A puxei pela cintura e beijei sua boca. — Não via a hora de te
ver…

Felipe me olhava com um brilho diferente. Foi então que percebi que seus lábios
estavam manchados de preto. Arregalei meus olhos e toquei minha boca; conferi que
continha a mesma tinta preta que ele usara para pintar seus dentes da frente.

— Felipe!

Ele gargalhou e segurou meu rosto, beijando-me novamente.

— Hoje a nossa é toda nossa… Podemos tudo!

E me puxou para o centro da pista. Tocava São João do Carneirinho do nosso eterno
rei do baião, Luiz Gonzaga. Dançamos alegremente algumas músicas. Todos nos olhavam
sorridentes e estranhei aquilo.

— Por que estão nos olhando?

— Você… — falou no pé do meu ouvido. — Você está linda, meu amor.

Dançamos mais uma e então Angela pegou o microfone.

— Daremos início a quadrilha.


Ri animada, quando a vi trajando um vestido caipira vermelho; com sardas falsas,
feitas com lápis preto, e batom vermelho vivo. Bruno, ao seu lado a auxiliando, usava uma
calça marrom no meio da canela, com suspensórios, e camisa xadrez amarela.
— Os trajes estão fantásticos! — elogiei, procurando pelos demais.
João vestia uma calça de sarja caqui, com uma camisa xadrez verde e a gravata no
meio da barriga; na cabeça, um chapéu de palha e marcou as costeletas com tinta preta.
Sorri.
Diogo era o único que estava mais arrumado; com uma calça de sarja preta, camisa
xadrez, nas cores preta e branca, e jaqueta de couro. Ele conversava, de modo contido,
com Nathalia, que usava um curto vestido caipira na cor azul, de saia rodada; seus negros
cabelos estavam trançados na laterais da cabeça; um batom vermelho-vivo, no formato de
coração a deixava parecida como uma boneca de pano.

— Por favor… — Angela falava ao microfone. — Peço que os pares se juntem e


formem o círculo na pista.
E assim, João pegou na mão de Bárbara, vestida de amarelo; seus longos cabelos
loiros estavam presos em uma trança embutida e seus olhos brilharam quando encontrou
com os meus. Aconteceu alguma coisa…

Diogo apoiou uma mão nas costas de Nathalia, com o semblante sisudo. Angela se
aproximou, com senhor Bruno ao seu lado. E assim, outros casais se organizaram no
círculo.

A famosa música de quadrilha soou e demos início a dança. Nos divertimos muito;
ríamos, quando errávamos os passos, já que ninguém os ensaiou; Pulamos quando o Dj
disse: “Olha a Cobra!”; os homens cobriram as mulheres, com seu blazer, no: “Olha a
Chuva!”; e gargalhamos.

A quadrilha acabou e Angela pegou o microfone.

— Peço por gentileza que se aprumem. Daremos início ao casamento. — Ouvi uma
forte salva de palmas e muitos assobios.

Felipe retirou seu enorme chapéu de palha; soltou seus dreads e limpou o resto de
tinta que havia nos dentes. Puxou-me para mais perto e me limpou; ajeitou meu arranjo
turquesa com flores brancas, na cabeça e limpou minha boca. João arrumou o blazer azul
marinho que Felipe usava, enquanto Bárbara me entregara um buquê, na mesma cor do
meu arranjo.
— O que… — Tentei falar, mas ela começou a retocar o meu batom.

— Shhh… — disse ela, arrumando meus cabelos. — Depois me agradecerá. —


Beijou meu rosto e saiu correndo.
Corri meus olhos e percebi que todos nos encaravam. Deparei-me com Nathalia, que
me fitava emocionada.

— O-o que está aconte… — Tentei questioná-la, mas fui impedida.


Angela pediu para irmos até a linha marcada no chão, então Felipe me levou e vimos
o padre surgir no altar. Olhei para os lados e estavam todos atrás de nós.

Felipe segurou minhas mãos e me virei para fitá-lo.


— Nos casaremos agora…


Camila estava em choque; levou uma mão à boca e olhava para todos os lados,
incrédula. Puxei sua mão e a transpassei pelo arco do meu braço.

— Basta dizer sim, que tudo ficará bem… — Pisquei e me virei para frente.
Fiz o sinal para o Dj e De Janeiro a Janeiro, de Roberta Campos com Nando Reis,
começou a tocar. Então demos início a nossa caminhada, que me esforçaria para que
durasse até o último segundo da minha vida.

Mila apertou meu braço e a fitei, estava emocionada, mas sustentava um largo
sorriso. Paramos na frente do altar, com um arco de arranjos florais sobre nós. O padre deu
início a cerimônia, que pedi para que fosse curta. E enquanto ele falava, nos olhávamos
apaixonados.

— As alianças, meu filho — pediu e arregalei meus olhos.


— Aí cara… — calei-me pois falaria um palavrão. Camila direcionou-me um duro
olhar. — Eu…

— O presente, Felipe! — sibilou Diogo, bem atrás de mim.


Virei-me na sua direção e ele apontou para o bolso do meu blazer. O apalpei e
resgatei a pequena caixa; soltei o laço prateado e no seu interior vislumbrei duas alianças
de madeira, revestidas de ouro no seu interior e em suas bordas. Sorri e ergui meu olhar
para a sua direção.

— Valeu… — sussurrei e Diogo piscou, discretamente.

Voltei-me para o padre e as mostrei. As segurando, repeti no microfone o que o padre


cochichava para mim, enquanto a deslizava no dedo de Camila. Uma lágrima escorreu de
seu olho e ela sorriu lindamente.
— E eu juro que de hoje em diante, todos os meus dias serão seus — disse, beijando
sua mão. — Eu te amo, Magrela.
Ela mordeu sua boca, enquanto chorava e sorria ao mesmo tempo. Não aguentei e a
puxei, beijei sua boca. Camila espalmou sua mão, tentando me afastar.
— É depois, caralho! — gritou João e eu a soltei.

— João! — Ouvi minha mãe chamar a sua atenção. — Estamos diante de um


representante da palavra de Deus!

— Desculpa aí, seu padre… — falei sem graça. — Então devolvo o beijo. — E dei
um selinho em Camila, que riu. — Pronto. — O fitei. — Pode continuar.
Ele seguiu com o rito. Mila repetiu as frases e deslizou o anel pelo meu dedo.

— E eu prometo que te acompanharei até o meu último suspiro — disse e se


aproximou. — Eu te amo, Lipe. — Acarinhou o meu rosto, com o olhar apaixonado. —
Você é o único na minha vida… sempre foi.

A apertei pela cintura e olhei aflito para o padre, pedindo sua permissão.
— Pode beijar a noiva! — permitiu em meio a um sorriso.

E foi o que fiz, a beijei com paixão. Segurei-a firme e, sem me importar com os
outros ao nosso redor, enfiei minha língua em sua boca e desfrutei do seu maravilhoso
gosto. Camila me apertou pela nuca, mantendo-me ali, cativo nela. Perdi a noção de tempo
e depois de longos instantes, ouvi um limpar de garganta. Diminuímos o ritmo até nos
afastarmos.

— Agora sim… você é toda minha — disse, a segurando pela nuca.


— Toda sua… para sempre.
Nos olhávamos absortos em nossa bolha até que minha mãe nos chamou e viramos
para receber seu cumprimento.
— Desejo toda a felicidade deste mundo a vocês, meus filhos. — Beijou o alto das
nossas cabeças e vi a marca do seu batom na testa de Camila. — Agora sim, nossa família
está completa. — Virou-se e mostrou o túnel formado pelos pares; as mulheres criaram um
arco com seus braços, enquanto os homens seguravam um saquinho com arroz. — É para
dar sorte.

Segurei a mão de Mila e entrelacei nossos dedos. Sorrindo, caminhamos por eles,
enquanto uma chuva de arroz recaída sobre nós. Claro que ao passar por João, e meus
amigos, eles vieram com mais força.

Não conseguia descrever toda aquela emoção que sentia. Caminhamos por entre eles,
com Felipe me guiando; a chuva de arroz nos banhava e conseguia sentir o calor
emanando de cada um ali, despejando suas energias positivas para nós. Ao chegarmos no
outro lado, Felipe me puxou para os seus braços e me ergueu pela cintura, girando-me. Ao
descer, selou nossas bocas e nos beijamos de forma apaixonada.

— Este é o momento mais feliz da minha vida! — confessei.


— Não… — Ele me apoiou no chão, subiu suas mãos pelo meu corpo e segurou meu
rosto por entre elas. — Este é o primeiro de muitos momentos que viveremos… felizes.

Nos beijamos, mas senti Felipe se afastar e abri meus olhos. Era levado por João e
seus amigos, então pegaram um saco de 5 kg de arroz e o despejou sobre a sua cabeça.
— É para tira toda a zica! — diziam enquanto os esfregavam na sua cabeça,
bagunçando seus dreads.

***

Curtimos a nossa festa; dançamos, comemos e bebemos rodeados por aqueles que
amávamos. Mas em dado momento percebi que Bárbara sumira, fui procurá-la e a
encontrei com Nathalia, que ao me avistar, apressou para limpar o seu rosto.
— O que aconteceu? — questionei, abaixando-me na frente delas, que estavam
sentadas no banco na frente da casa.
— Nathalia recebeu outra ameaça — relatou Bárbara.

Desde que chegara à São Paulo, eu e Nathalia, acabamos nos aproximando dela e nos
tornamos confidentes uma das outras.

— O que foi desta vez? — Limpei seu rosto.

— O de sempre — respondeu entre um fungado. — Mas desta vez foi estranho… —


Voltou a chorar.

— Acabou de receber uma ameaça de morte — concluiu Bárbara.

— Já disse que precisamos procurar a polícia! — A abracei e ouvi passos atrás de


nós.

— Está tudo bem? — questionou Diogo e me virei.

— Sim. — Nathalia se levantou, enxugando as lágrimas. — Estava apenas me


despedindo. Não sei quando retornarão da lua-de-mel…

A abracei forte e cochichei no seu ouvido:


— Peça para Bárbara te acompanhar… Vá à polícia!

Me afastei e ela concordou.


— Tenho que resolver… — dizia Diogo, mas limpou a garganta. — Se quiser, te dou
uma carona — anunciou com a sua postura rígida.

— Não… não há nece..


— Precisa sim! — disse e ela me fitou nervosa. Me aproximei dele. — Ficaria muito
grata se a deixasse em casa.

— Okay. — Deu um passo na minha direção e tocou no meu braço. — Parabéns e


desejo que sejam felizes. A festa estava linda, Cami. — E para a minha surpresa, Diogo
sorriu abertamente. — E foi bem divertido derrubar Felipe na piscina…

— O que?! — Levei uma mão ao peito. Virei-me e dei um beijo em Nathalia. — Vá


com Diogo, ficarei mais tranquila se ele a deixar em casa. — A puxei para um abraço e
segredei: — E pelo amor de Deus, se notar alguma movimentação estranha, peça para que
ele te traga para cá ou vá para um hotel, mas não fique sozinha na sua casa. — Nos
fitamos e ela concordou. Sorri mais tranquila. Virei-me para Diogo. — Obrigada pela
ajuda.

Nos despedimos e Bárbara trouxe a bolsa de Nathi, que andou sem graça, ao lado de
Diogo. Ele abriu a porta, para que ela entrasse, como um cavalheiro. Deu a volta, acenou e
tomou seu lugar. Assim que seu carro sumiu na esquina, virei-me para Bárbara.

— Temo pela segurança dela — assumi e andamos pelo jardim.

— Acha que corre perigo? — questionou preocupada.

— Eles tiveram um curto envolvimento… mas foi o suficiente para que ele tornasse a
sua vida em um inferno — relatei.

— Bárbara — chamou João e paramos. Ela o fitou de soslaio. — Posso conversar


contigo?

Se encararam por alguns segundos e ela alternou seu olhar para mim.

— Rápido porque tenho que acordar cedo amanhã… — disse com firmeza.

Andou para a direção de João e caminharam para o interior da casa.

— João! — O chamei e ele se virou. — Já sabe… — E fiz o movimento de decepar,


na altura do meu ventre.
— Deus me livre… — Benzeu-se e tapou seu sexo com uma mão.

Ri e os perdi de vista. Voltei para a pista de dança e Felipe estava encharcado. Ao me


ver, correu na minha direção.
— Não! — gritei.

Pegou-me pela cintura e me abraçou, provocando-me um arrepio, por estar gelado.


Mas logo me esqueci, pois seus lábios despertaram uma onda de desejo em mim.
— O que acha de sairmos à francesa? — sussurrou e me puxou pela mão.

Entramos pela sala de estar e, conferindo que não havia ninguém, subimos para o seu
quarto, correndo. Assim que passamos pela porta, ele a trancou e rimos como crianças.
Felipe andou na minha direção e me prendeu contra a parede, apoiando uma mão de
cada lado.

— Agora sim… — sussurrou e roçou sua boca na minha, de forma extremamente


sensual. — Poderei te beijar como quis a noite toda…

Sem dar-me tempo, tomou-me e colou seu corpo no meu. Sua boca se apossou da
minha e iniciou um beijo lento e delicioso. Suas mãos desceram pela lateral do meu corpo
e apertou minha bunda, me puxando para o seu sexo desperto. Me entreguei e logo o tesão
tomou conta do meu corpo.
— Antes, preciso dar seu presente… — sussurrou, entre a minha boca.

— Depois… — O puxei.

Estava acesa, tomada pelo desejo de senti-lo dentro de mim.


— Só um instante… — Afastou-se e entrou no closet, depois de alguns instantes,
voltou com uma pequena caixa. — Para você… — Sorriu e eu a abri rapidamente. Assim
que vi seu conteúdo, arregalei meus olhos e meu sexo se contraiu em expectativa. — Quer
dizer… — Continuou ele, coçando a nuca. — É um presente para nós…

— Vem aqui… — O puxei pela gravata. — Vamos testá-lo agora mesmo…


Felipe andou comigo, enquanto nos beijávamos, e paramos ao lado da sua cama.
Delicadamente abaixou o tecido de um de meus ombros, e depois, a do outro. Desceu-o
lentamente e meus seios saltaram na sua direção.

— Como eu amo esses peitos… — Inclinou-se e os tomou na sua boca.

Arfei e meus bicos intumesceram-se. Deslizou sua mão pelas minhas costas até se
deparar com o zíper no meu quadril e o abriu. A peça caiu, deixando-me somente com a
calcinha fio dental que usava.
— Gostosa… — Apertou minha bunda e me puxou com força, chocando nossos
quadris.

Sustentado seu olhar sedutor, retirei seu blazer e o joguei longe; o puxei pela gravata
e lambi sua boca, para depois enfiar minha língua de forma invasiva. Felipe gemeu,
roucamente na minha boca; deslizou sua mão para o interior da minha bunda e tocou meu
orifício.
— Hoje eu comerei esse…

Voltei a beijá-lo com fervor. Dominada pela excitação. Soltei sua gravata e desabotoei
os primeiros botões de sua camisa, mas estava transformada e num rompante, forcei o
tecido, arrebentando os demais, que quicaram sobre o assoalho de madeira.
— Selvagem… — Provocou-me, com seu sorrido de lado. — Gosto disso.

O empurrei contra a parede e ele mordeu seu lábio inferior. Desci, tocando seu
abdômen e abri sua calça; a deslizei, junto com a cueca, e seu membro surgiu rígido, bem
na minha frente. Sua glande estava lubrificada e, mantendo meu olhar no seu, o lambi.
Felipe fechou seus olhos, desfrutando do contato, e quando voltou a abri-los estava
tomado pela perversidade.

— Chupa… — Segurou minha cabeça, pelo couro cabeludo, e a firmou. — Engole


todo o meu pau — ordenou num sussurro.
Tomada pela luxúria, o segurei pela base e o direcionei para o fundo da minha boca.
Claro que até onde conseguia, mas pela sua expressão de prazer, soube que gostara
daquilo. Repeti meus movimentos de forma lenta, sempre o fitando. Então ele fixou minha
cabeça e começou a estocar na minha boca e cada vez, ia mais fundo. O afastei, para
tomar folego, mas substituí o movimento da boca, pela minha mão.

— Se continuar, gozarei nessa sua boca… — alertou-me e como sempre tive


curiosidade em sentir o sabor do seu sêmen, o abocanhei de volta. — Camila… — Se
contraiu, enquanto eu o chupava com vontade, como se minha vida dependesse daquilo. O
senti inchar em meu interior e com o auxílio da mão, o estimulei ainda mais. — Vou gozar
— rosnou.

Continuei firme, mesmo sentindo a baba escorrer pelo meu queixo. A cara que Felipe
fazia era a coisa mais sexy que já vira neste mundo. Senti o primeiro jato, quente,
inundando-me e logo veio a acidez. Sem saber o que fazer, o engoli, seguidos dos demais.
Felipe se esvaziou e relaxou, apoiando a cabeça na parede. Quando percebi que tinha
terminado, o retirei da minha boca e ele olhou para baixo. Sustentando seu olhar, limpei
meu queixo.

— Puta que pariu… — disse e alisou meu cabelo. — Vai chupar gostoso assim, lá na
casa do…
Me levantei e tomei sua boca. Ainda sentia o gosto do seu sêmen. Ele me empurrou
para a cama e se deitou sobre mim.
— Agora é a minha vez…
Beijou-me com força e desceu sua boca por meu corpo, até chegar na parte coberta
pela calcinha. A rasgou e jogou-a para trás. Esfregou seu dedo na minha intimidade e
desfrutou da intensa lubrificação. Sem avisar-me, penetrou-me e iniciou um forte
movimento de entre e sai. Sugou meu clitóris e gemi, repuxando o lençol cinza. Felipe me
possuía sem dó, em uma mistura de prazer e selvageria.

Senti se mover e retirou seu dedo de mim, mas tão breve se ausentou, seu membro me
preencheu em uma firme e profunda estocada. Gritei. O fitei, respirando com dificuldade,
estava de joelho e segurou minha cintura.

— Não serei carinhoso…

— Mete logo! — ordenei entredentes.


Ele iniciou suas investidas e joguei minha cabeça para trás. Usava de tamanha força,
que mesmo a cama sendo pesada, deslizava pelo piso.
Estava prestes a gozar, quando Felipe saiu de mim.

— Hora de te preparar… — Alcançou a caixa do presente, próxima dele, e retirou o


plug no formato de joia. — Vire-se… — Debrucei-me e empinei minha bunda. Ele o
enfiou na minha vagina, para lubrificá-lo, e o retirou. — No começo sentirá um
desconforto, mas logo passará.

E voltou a meter seu pau em mim. Gemi e logo senti o calor se formar. Felipe
continuou com suas investidas, mas agora, eram lentas. Então surgiu o gelado do metal
apontando no meu orifício. Felipe continuou a estocar-me, enquanto introduzia o objeto
em mim. Apertei o lençol abaixo de mim e gritei. Era uma sensação indescritível.
Estranha… mas gostosa.

— Relaxe… tenho certeza de que você gostará. — E o afundou em mim.

Aguardou, para que eu me acostumasse com aquela sensação e retornou a me estocar


com seu pau. A cada vez que se movia, sentia o plug atrás friccionar um ponto que junto
com o seu pau, gerava um tesão fora do comum.
— Tá sentindo? — questionou ele, segurando-me pelo quadril. — Não imagina a bela
visão que tenho desse seu rabo… — Gemeu. — Não aguento, preciso socar em você.

— Mete — pedi de forma sôfrega. — Mete com força…


E foi o que ele fez. Fixou seus joelhos e me penetrou com força. Sentia os estímulos
vindo dos meus dois orifícios e aquilo fez meu corpo inteiro se arrepiar. Mordi a fronha do
travesseiro, abaixo de mim, para abafar meus gritos. Felipe metia com vontade, então senti
seu dedo esfregar meu clitóris e foi o meu fim. Explodi e senti um jato molhar o colchão.
— Sua gostosa! — Deu-me um forte tapa na bunda e arremeteu com mais
intensidade, então seu pau contraiu dentro de mim, esvaziando-se por inteiro.

Felipe tombou sobre mim e se acomodou ao meu lado. Nos olhamos, ainda tomados
pela expressão do desejo. Não conseguíamos falar, mas nossos olhares relatavam que esta
fora a mais intensa transa de nossas vidas. Deitei-me de lado, ainda sentindo o roçar do
metal dentro de mim e contrai-me.

— Vou retirá-lo… — Felipe se arrastou pelo colchão. — Relaxe… — Pediu, tocando


minha bunda. Assim que fiz o que pediu, o senti puxá-lo e uma sensação de vazio me
assolou. Ouvi quando ele o depositou no criado-mudo, atrás de mim. E logo Felipe subiu
no colchão, deitando-se na minha frente. — Como se sente?

— Exausta… — Umedeci meus lábios. — Da próxima vez, quero o seu pau no lugar
do plug.

Ele sorriu de lado e seu olhar voltou a ficar intenso.

— Não vejo a hora…

Ouvimos um bater na porta do quarto.

— Estão aí? — questionou João. — A mãe está atrás de vocês, parece que quer cortar
o bolo — disse com sua voz abafada pela madeira.

Arregalamos os olhos e me sentei.

— Felipe… o bolo! — cochichei e ele riu.

Caçou sua cueca e a vestiu.


— Já desceremos… — gritou ele.

Deslizei pela cama e corri para o banheiro.


— Beleza… te espero na saleta — avisou João.

— O que fará? — questionou ele, vindo atrás de mim.


— Me lavarei — expliquei apontando para o chuveiro.

— Esquece… não dará tempo. — Então sorriu de canto. — A menos que queira que
saibam o que fizemos.
— Sem essa… me assearei rapidamente. — Corri para a ducha e, gelada mesmo,
comecei a me lavar.

— Dois minutos — gritou, saindo do banheiro. — Enquanto me visto.


Descemos as escadas e espreitei, para não sermos pegos.

— Bonito hein!? — João nos deu um susto, saindo debaixo da escada de mármore. —
O que dona Angela falaria ao saber que saíram escondidos para…

— Trocar a roupa dele… — interviu Camila.

— Larga a mão de ser empata foda… — resmunguei, voltando a puxar Camila. — O


que fomos fazer não é da conta de ninguém.

— Sei… — nos olhou de soslaio.

— Vai arranjar uma mulher para passar esse seu ócio.

Saímos pela porta lateral e caminhamos pelo gramado, em direção aos convidados.

— Juro que estou tentando — assumiu João, ao nosso lado. — Mas Bárbara é muito
difícil…

De repente senti um puxão e parei. Virei-me e peguei Camila apontando um dedo


para ele.
— Já te avisei que não quero que se assanhe para o lado dela.

— Não… — Ele ergueu suas mãos. — Juro que não fiz nada. Estamos apenas nos…
— Chega! — bradou ela. — Sei como você é, João, e por mais que te ame, você não
é o tipo de homem que não quero ao lado da Babi.

Se encararam por mais alguns instantes e então Mila voltou a caminhar.


— Quero parabenizá-los pelo belo casamento — disse Rubens, parando na nossa
frente.

O fitei de soslaio. De onde ele surgiu?!


— Obrigada, Rubens… — agradeceu Mila, ao meu lado.

— Já formalizaram no cartório? — questionou e a bela mulher, que o acompanhava


surgiu ao seu lado.
— Não sei — respondi. — Foi Diogo quem correu atrás de tudo, mas acho que…

— Vamos? Temos que cortar o bolo. — Camila me interrompeu, ainda nervosa. —

Ele a fitou com um sorriso no rosto e deu um passo para o lado.

— Se me dão licença… — pedi e os deixei, conversando baixo. — Por que ficou


nervosa?

— Seu irmão está dando em cima da Babi — revelou. — Mas conheço João e tenho
medo dela se apaixonar e ele…

A parei e a fiz me olhar.

— Mila, não pode interferir nisso. Cada um colhe as consequências de suas escolhas.
— Ela suspirou fundo. — Se sua prima quiser, ela o escolherá. E não sabemos o que pode
acontecer. Vai que João se apaixone também!

Ela riu amargamente.

— João se apaixonar? Mais fácil Diogo se casar por amor! — Voltamos a caminhar.
— Mas você tem razão, é uma escolha de Bárbara. Mas eu terei uma séria conversinha
com ela…

Chegamos onde todos estavam e quando minha mãe nos avistou, suspirou aliviada.
Paramos ao seu lado e Camila levou as duas mãos à boca.

— Angela!
Ficou conversando baixo com ela, enquanto eu só pensava em comer um pedaço
daquele bolo. Era alto, de três andares, e com uma decoração bonita, cheias de flores
azuis. Vi quando meu pai apoiou um outro menor, de paçoca, com a vela de 65 anos da
minha mãe.

Cantamos o parabéns e ela sorria alegremente. Foi então que dei por falta de Diogo.
Aproximei minha cabeça para meu pai.
— Onde está Diogo? — sussurrei.

— Precisou atender a um chamado — explicou com o semblante fechado. — Depois


te explicaremos.
Acenei com a cabeça e Camila chamou minha atenção. Pegou uma faca e apoiou
minha mão sobre a dela.

— Quando cortamos o nosso bolo, faça o seu pedido — orientou-me e assenti.


Ela direcionou nossas mãos e iniciamos o corte. Não desejava mais nada, já me sentia
completo; então pedi para que o desejo de Camila se realizasse.
Ela sorriu emocionada e diante de palmas a puxei para mim.

— Sabe o que pedi? — questionei baixo e ela negou. Aproximei minha boca do seu
ouvido e segredei: — Que você ande mais vezes sem calcinha… — Ela arregalou seus
olhos e rimos. A apertei contra a minha excitação, que começava a regressar. — Ainda não
terminamos…

— Não vejo a hora de ficarmos sozinhos — cochichou no meu ouvido, libertando um


delicioso arrepio.

Me afastei para fitá-la e rocei meu nariz no dela.

— Você é a melhor mulher deste mundo. E é somente minha… Minha esposa.


Seus olhos se iluminaram e ela tocou no meu rosto.

— Para sempre sua…

***
Alguns dias depois

Fitava ao longe a imensidão verde daquele mar. Meu pai insistiu para que não
fôssemos para longe então Cami escolheu regressar para a Ilha bela.
Fechei os olhos e recordei os maravilhosos momentos que tivemos em nossa lua-de-
mel. Mas ao desligar aquela ligação lamentei ter que interromper seu sonho. Suas mãos
tocaram meus ombros e ela me abraçou pela cintura.

— Está tudo bem, meu amor?


Soltei o ar de forma categórica e a puxei para a minha frente. Percebendo que estava
sério, vi seu amplo sorriso murchar.
— Parece que descobriram algo sobre o atentado que sofremos — anunciei e sua leve
expressão deu lugar à preocupação. — João acabou de me ligar avisando que preciso
depor. Teremos que voltar.
— Claro… — concordou nervosa. — Mas… alguém corre algum perigo?

Mordi meu lábio e apertei os olhos.


— Segundo João… todos nós. — Ela puxou o ar e a abracei forte. — Mas fique
tranquila, não deixarei que nada, nem ninguém, lhe faça algum mal. — A afastei, para que
pudesse encará-la. — Você é o que tenho de mais valioso e nunca, nunca, encostarão um
dedo em você.

Ela me abraçou e ficamos a encarar o movimento do mar, que de onde estávamos,


parecia letárgico, mas por baixo, sabia sobre a forte correnteza que existia. Assim era eu,
precisava passar que estava tudo sob controle, quando na realidade, o medo assolava meu
interior.

Segundo João, todos corriam perigo e era impossível prometer que nada aconteceria à
minha esposa.

E eu daria a minha vida, se preciso fosse, mas nada aconteceria à Camila

Bônus do próximo livro




Tateei o móvel ao meu lado e achei meu aparelho que tocava de forma irritante.
— Oi — atendi.
— João… — chamou-me e resmunguei. — Acorda João!
— O que você quer, Cami? — Bocejei e a loira ao meu lado se remexeu, roçando sua
majestosa bunda contra o meu pau e minha ereção matinal.
— Seu pai convocou a todos para uma reunião urgente — relatou. Aí caralho…
Esfreguei minha mão no rosto, para despertar. — Está me ouvindo?
— Sim Cami… — confirmei.
— Então venha para casa, pois ele aguarda por você. — A ligação ficou muda. —
Acorda João! — gritou e me sentei de prontidão.
— Caralho, Camila, já ouvi!
— Você tem 20 minutos para chegar aqui! — avisou e desligou.
Depositei o aparelho no móvel e segurei minha cabeça entre as mãos. Estava exausto,
quase não dormi. Olhei para fogosa mulher deitada atrás de mim, com a bunda descoberta,
e me deu uma vontade de reprisar o sexo gostoso que fizemos. Olhei no relógio e vi que se
fosse uma rapidinha até daria tempo.
Alisei o contorno do seu quadril e ela se remexeu. Beijei uma banda da sua bunda e
ela resmungou. Subi pela sua lateral, dando-lhe beijos macios e a arranhando com a minha
barba por fazer.
— Impossível que queira mais… — sussurrou com a voz rouca.
— Preciso ir, linda — expliquei, enquanto continuava beijar vários pontos daquele
corpo esculpido. — Acabei de ser convocado para uma reunião emergencial. A virei e seus
enormes peitos, de aureolas rosadas, me hipnotizaram. — Mas juro que morrerei se não
provar desses peitos novamente…
Os apertei e mergulhei minha cabeça entre eles. A loira, que já esquecera o nome,
sorriu e se moveu embaixo de mim, abrindo suas pernas e se encaixando.
— Então me fode, garanhão… — pediu, mordendo seu dedo de forma provocante.
Encapei meu pau e meti com força. Trepamos de forma selvagem.
Depois da rápida ducha, troquei-me e a apressei. Sai do Motel correndo, olhando para
meu relógio de pulso.
— Tenho uma festa para ir amanhã, é de uma amiga — começou e eu já sabia aonde
isso daria. — Você topa ir comigo? — Bingo!
Minhas regras: 1. Nunca sair mais de duas vezes com a mesma mulher; 2. Jamais, em
hipótese alguma, conhecer seus amigos ou parentes; 3. Sempre chama-las de “Linda”,
assim nunca erraria seus nomes, e a mais importante de todas: 4. Nunca dizer Eu te amo.
Alternei meu olhar para ela, rapidamente, e voltei minha atenção para a direção.
— Então, minha linda… — repuxei minha boca. — Acho que não vai dar… Como
disse, tenho essa reunião que surgiu, que nem sei do que se trata, e já tinha marcado de
levar minha mãe no médico. — Enruguei minha testa. — Uma pena… mas família em
primeiro lugar, né? Morreria se algo de mal acontecesse a minha, tudo porque decidi ir à
uma festa. — A ouvi suspirar e sorrir ao meu lado. Apoiei uma mão em sua coxa e sorri de
lado. — Mas juro que ligo para você e combinamos algo. Pode ser?
— Claro!
— Tome, adicione seu número… — Lhe dei meu celular, destravado, e ela o
registrou.
Assim que o peguei de volta, li seu nome. Era assim que me salvava. A deixei no
metrô e segurei seu rosto por entre minhas mãos.
— Laura… você foi incrível. Diria que a melhor que já fiquei nesta minha vida. —
Beijei sua boca como se meu ar derivasse dela.
— João… quero muito te ver de novo — confessou, sorrindo, com um brilho no
olhar.
— E nos veremos… — Me estiquei, abri a porta e destravei seu cinto. — Te ligo mais
tarde. — Mordisquei seus lábios e dei um beijo casto. — Mas agora tenho mesmo que
correr.
— Claro… — Saiu e acenou, da calçada. — Me liga mesmo! — gritou e acelerei.
— Até… — bradei e a vi pelo retrovisor. Peguei para a esquerda e ela sumiu da
minha vista. — Até nunca mais…
Com uma mão, apaguei seu número. Abri o porta-luvas, peguei uma goma de mascar
e aumentei o som.

***


Entrei em casa e peguei Camila escutando atrás da porta; fingi que não vi. Ela se
desconcertou e sorriu sem jeito.

— Estão aí dentro, Cami? — questionei apontando para o escritório.

— Sim, pode entrar. — Sorriu e notei seu embaraço.

Beijei seu rosto. Camila era como minha irmã caçula. Mas tinha que parar de ouvir
nossas conversas.

— Depois quero conversar contigo… — avisei e fechei minha cara, para demonstrar
que era assunto sério.

Abri a porta e ouvi o final da conversa.


— Desculpem a demora, foi difícil me livrar da gata de hoje… — disse, fechando-a e
me virando para todos. Foi então que percebi que estavam nervosos. — O que tá pegando?

— Papai quer que nos casemos — respondeu Felipe, com sua conhecida calma, e
tomou um gole do suco.
— É o que?! — gritei, nervoso. — Casar… que porra é essa?!

Meu pai devia ter ficado doido, só pode. Não tenho plano algum de me casar.
— Para termos direito as ações da nossa construtora, teremos que nos casar no prazo
de 45 dias, do contrário, nada! — Resumiu Diogo, estava extremamente nervoso.

Se para mim era questão de morte, imagino para ele, que não conseguia se envolver
com ninguém.
— Meu pai — me aproximei e apoiei minhas mãos na mesa —, sabe que isso não nos
obrigará e que, legalmente, temos direito às ações…

— São estas as minhas condições — me interrompeu com firmeza. — Rubens


deixará uma cópia das cláusulas com vocês. Peço que leiam atentamente a todas, mas é
basicamente isso que conversamos — disse contundente e se levantou. — Ah… quase me
esqueci, tem a cláusula que fala sobre meus netos.

O encaramos assustados.

— Netos?! — sussurrei espantado.

Jamais me imaginei com filhos. Nem pensar!


— E se não aceitarmos? — questionou Diogo de forma fria e se aproximou da mesa o
encarando. — O que fará com as ações se nenhum de nós se casar?
Vi quando meu pai titubeou, afinal, eu e Diogo erguemos aquela empresa. Demos os
nossos sangues, e tempo, para que ele tivesse o reconhecimento de hoje. Fomos nós dois
que corremos atrás e vencemos muitas das licitações, por isso havia tantas obras pela
cidade que carregavam a nossa marca.

— Então deixarei para Rubens, meu braço direito… — O que?! Ele só poderia estar
de sacanagem. Dar tudo o que construímos para o advogado?! Nem fodendo eu permitiria
aquilo! — Viajarei para o litoral e retorno daqui uns dias — disse e reclamei, juntos com
meus irmãos. Eu pai abriu a porta, com o filha da puta do Rubens atrás. — Espero que até
o meu regresso já tenham escolhido a minha futura nora. Até mesmo porque, organizar
uma festa de casamento é demorado demais. — Olhou para cada um de nós e sorriu. —
Aconselho a iniciarem suas buscas logo. E você — apontou para o folgado do Felipe —,
sua jornada começa hoje mesmo. Adeus!

— Mas pai! — Até tentei argumentar, mas ele bateu a porta assim que a atravessou.
— Que caralho é esse?! — gritei.
— Vocês só terão que se casarem, e eu, que além disso, terei que trabalhar!? — Felipe
suspirou, descontente. — Não sei o que será de mim… tô fodido. — E saiu.

Virei-me para Diogo, que continuava com as mão apoiadas no quadril.


— O que faremos? — questionei e ele se aproximou de mim.

— Temos que saber se não é blefe… — Expeliu o ar de forma nervosa. — Não me


casarei… e não há no mundo alguém que me obrigue a isso.
— Nem eu… jamais conseguiria ficar com uma só mulher. — Deixamos o escritório
e nos deparamos com mamãe na saleta, acompanhada de meu pai.

Não sou homem de uma mulher só, e se um dia, alguém despertar essa vontade de me
casar, preferiria a morte.

Guardami
OLHE PARA MIM


“… Em seu quarto, só ele sabia a dor e o sofrimento que estava sentido. Trancou-se, chorou. Gritou. Quebrou tudo o
que tinha pela frente. E os pedaços das coisas que quebrou espalhados pelo chão estavam mais inteiros do que seu
coração…”


Giorgio Castielli depois de uma forte perda na juventude, se transformou em alguém completamente diferente do
que era, concentrando toda sua vida nos negócios. Entretanto, a chegada de uma jovem alegre e extremamente sensual
mexe com sua concentração, despertando sentimentos que, até então, estavam adormecidos.
Mariah, uma jovem romântica e sonhadora, acorda cansada da vida exaustiva que leva na Editora em que
trabalha. Disposta a pôr um fim nesta situação, resolve pedir demissão, mas, uma agradável surpresa faz com que mude
de função e passe a ter contato com o enigmático e irresistível Giorgio Castielli.
Com muita sabedoria e a ajuda de seu melhor amigo, Raffa, ela se empenha para conquistar seu amor platônico.
Porém, más lembranças do passado de Giorgio retornam com força, e um incêndio no vinhedo, aonde ele vivenciou suas
dores, faz com que ele retorne para uma investigação. Será que o amor de Mariah é forte o bastante para transpor as
barreiras erguidas novamente?

Por Você


“às vezes, o pior caminho é o único a seguir”

Aretha, a mulher errada, no lugar errado. Uma advogada criminalista — arrogante,
prepotente e mimada — com uma sólida carreira, é vítima de um sequestro que a deixa
entre e a vida e a morte. Um acontecimento divisor em sua vida, que a leva em busca de
vingança e justiça.
Elijah, o filho perfeito, carinhoso e preocupado com sua sofrida família, se vê
encurralado diante do orgulho em negar uma simples proposta, que mudou sua vida,
tirando dele a oportunidade que tanto aguardava.

O destino, com sua ironia, cruza o caminho de um com o outro. E a traidora paixão,
toma conta dos dois, mesmo sendo, completamente diferentes. Aretha é a energia alpha
entre eles; Elijah, com suas sofridas experiências, tentará domar essa mulher empoderada.
E mostrará à Aretha, os verdadeiros valores da vida.

Será que o amor é capaz de dissolver a busca por justiça?

Despertar



“Tudo o que queremos, está do outro lado do medo”

Melodee, a tímida e reservada jovem da pacata cidade de Pear Beach, prestes a completar seus 18 anos, passa por
uma série de exames para tentar identificar alguns sintomas incomuns que lhe surgiram. Apaixonada pelo mar e sua
imponência, despede-se de mais um dia, quando tromba com um misterioso homem e seus impressionantes olhos claros.
Tristan está no meio de sua busca, mas ao conhecer a jovem de cabelos longos e de olhos intensos, permite-se
distrair e entregar-se ao desconhecido. O que ele não esperava é que fossem atrás dele, colocando em risco a vida da
jovem que o despertou, bem como a daqueles que ela ama.
Um romance fantástico, repleto de descobertas e ação, paixão e erotismo… magia e revelações.


Leitura não recomendada para menores de 18 anos, por conter cenas de sexo e luta.

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[1]
Bah – Termo utilizado por gaúchos. Costumeiramente usado para expressar surpresa, tristeza, espanto, dúvida, alívio
etc.
[2]
Daora é uma gíria usada pelos paulistanos, como sinônimo de: algo legal, bom ou divertido.
[3]
Chega de Saudade – música composta por Antônio Carlos Jobim.
[4]
Sussa é um termo usado pelos paulistanos, significando: sossego, calma.
[5]
Retirado do poema Soneto de Fidelidade, do poeta Vinícius de Moraes .
[6]
Início da música Seja para Mim da banda Maneva.
[7]
Meo – gíria usada pelos paulistanos; o mesmo que: cara, mano, parceiro .
[8]
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis.
[9]
Trechos da música: Cuida de Mim, de Fernando Anitelli - vocalista da banda O Teatro Mágico.
[10]
Tocava a música: I Migth as Well be Spring.

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